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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

LILIAN RIBEIRO ANTONIO

O CONHECIMENTO HUMANO ACERCA DO MUNDO EM


ARISTÓTELES, LEIBNIZ E SARTRE

São Bernardo do Campo


2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

LILIAN RIBEIRO ANTONIO

O CONHECIMENTO HUMANO ACERCA DO MUNDO EM


ARISTÓTELES, LEIBNIZ E SARTRE

Monografia desenvolvida para a disciplina de


Temas e Problemas em Filosofia ministrada
pelo Prof. Valter A. Bezerra, referente às
concepções filosóficas acerca do conhecimento
humano em relação ao mundo externo dos
filósofos Aristóteles, Leibniz e Sartre.

São Bernardo do Campo


2011
SUMÁRIO

1. Introdução.........................................................................................4

2. Aristóteles..........................................................................................5

3. Leibniz...............................................................................................9

4. Sartre...............................................................................................1
2

Bibliografia.....................................................................................15
2. ARISTÓTELES

Nascido na Macedônia, Aristóteles foi para Atenas por volta de 367 a.C. para
ingressar na Academia de Platão onde permaneceu por 20 anos. Tendo
grande interesse pela natureza, ele não foi somente o último grande filósofo
grego, mas também o primeiro biólogo da Europa. Por sua notável
capacidade de organização de idéias, foi considerado o grande organizador
de conceitos dos homens.
Na filosofia de Aristóteles, destacam-se a criação da lógica dedutiva
(silogismo), o estudo das causas e finalidades e o da essência dos seres, a
criação dos conceitos de “forma” e “substância”, a análise dos movimentos a
partir da ideia de “ato” e “potência” e, por fim, sua oposição feita em relação
ao idealismo de Platão, de quem foi discípulo.
Aristóteles, que era filho de um médico, desenvolveu grande interesse pela
natureza viva, pelas mudanças e pelos hoje chamados processos naturais ao
contrário de Platão que parece ter se interessado mais por questões mítico-
religiosas e de solução dada através da razão. As divergências entre Platão e
seu discípulo se mostram também nos seguintes aspectos: Aristóteles
utilizava um método de estudo sistemático e não dialético-dialógico como
seu mestre, além de não dar muita atenção às ciências matemáticas,
preferindo as ciências naturais e empíricas.
Para ilustrar a linha de raciocínio de Aristóteles acerca do conhecimento,
irei expor as ideias que considerei mais importantes, tratando em especial
da Metafísica e da Lógica. É importante colocar que Aristóteles dividiu as
ciências em três categorias: as “ciências teoréticas” que teriam como objetivo
único o conhecimento da verdade, buscando-o em si mesmo; as “ciências
práticas” que buscam o saber com o intuito de atingir, por meio dele, certa
perfeição moral; e as “ciências poiéticas” ou “ciências produtivas” que
buscam o saber com o escopo de produzir determinados objetos.
A ciência que Aristóteles considerou mais importante foi a teorética devido à
dignidade e os valores das mesmas, estas incluem a metafísica, a física e a
matemática. Abaixo está um trecho de “Metafísica” de Aristóteles para que
possamos compreender de maneira mais clara a metafísica descrita por ele.
“[...] A experiência, com efeito, [...] produz a arte, enquanto a
inexperiência produz o puro acaso. [...] Por exemplo, julgar que a
Callias, sofredor de determinada doença, certo remédio ajudou, e
que este ajudou também a Sócrates e a muitos outros indivíduos, é
próprio da experiência; ao contrário, julgar que a todos estes
indivíduos, reduzidos a unidades segundo a espécie, sofredores de
certa doença, certo remédio ajudou (por exemplo, aos fleumáticos,
ou aos biliosos ou aos febriciantes), é próprio da arte.
Pois bem, para os fins da atividade prática, a experiência não
parece diferir em nada da arte; ao contrário, os empíricos saem-se
até melhor do que aqueles que possuem a teoria sem a prática. E a
razão está no seguinte: a experiência é conhecimento dos
particulares, enquanto a arte é conhecimento dos universais; ora,
todas as ações e as produções se referem ao particular: com efeito,
o médico não cura o homem a não ser por acidente, mas cura
Callias ou Sócrates ou qualquer outro indivíduo que leva um nome
com estes, ao qual, justamente, acontece ser homem. Portanto, se
alguém possui a teoria sem a experiência e conhece o universal,
mas não conhece o particular que nele está contido, mais vezes
errará a cura, porque aquilo que se dirige a cura é, justamente, o
indivíduo particular [...] Os empíricos sabem o puro dado de fato,
mas não o porquê dele; os outros, ao contrário conhecem o porquê
e a causa.”

Aristóteles defende neste trecho que o conhecimento a posteriori, ou seja, o


conhecimento adquirido a partir da experiência traz menor possibilidade de
erro, pois somente desta forma pode-se conhecer – como ele cita no texto –
as causas e os porquês. Ele também faz menção à sua lógica analítica, o
silogismo, que é o conhecimento dedutivo que parte do particular para o
geral. Um exemplo de silogismo é o seguinte raciocínio: “toda vaca é verde”
(primeira premissa), “Mimosa é uma vaca, logo, Mimosa é verde”
(conclusão).
Apesar de acreditar no conhecimento pela experiência, Aristóteles não nega
que a razão seja inata, pelo contrário, ele acredita que todo homem possui
uma razão que é a ferramenta mais importante do mesmo. Porém ela não se
manifesta sem a presença de uma ideia que é adquirida a partir da
percepção. Portanto, a experiência e a razão trabalham juntas na obtenção
do conhecimento.
Veja por exemplo a seguinte situação: você vê uma imagem e assimila que o
objeto visto é cavalo. Há duas possibilidades. Uma é a de que você já
possuía conhecimento da “forma” de um cavalo, portanto a “ideia cavalo”
entrou na sua mente e foi reconhecida pela razão. A outra é a de você nunca
ter tido contato com um cavalo, então a imagem e as características
essenciais do cavalo entram em contato com a razão formulando assim a
“ideia cavalo”.
A “forma” é, para Aristóteles, toda característica essencial do objeto, ou seja,
aquela que faz com que o Objeto X seja independente do que aconteça,
exclusivamente o Objeto X, e nada mais. A forma encerra também a
possibilidade de transformação no Objeto X, ela diz tanto sobre as suas
possibilidades quanto sobre suas limitações. Já a “substância” consiste nas
características físicas do Objeto X, é a união de matéria e forma, sendo
divididas em “substâncias sensíveis corruptíveis”, “substâncias sensíveis
incorruptíveis” e “substâncias supra-sensíveis incorruptíveis”. A primeira é,
por exemplo, os entes do mundo sublunar; a segunda se mostra em corpos
celestes do mundo supralunar (feitos de éter); já a terceira e última, fica
clara quando observadas as inteligências divinas.
Um objeto, porém, pode se transmudar de Objeto X para Objeto Y
dependendo de sua possibilidade potencial. Por exemplo: uma semente é
nada menos do que uma planta em potência, enquanto a planta
propriamente dita é uma semente em ato. A forma do objeto muda quando
sua essência se transforma. A essência é aquilo que dá a identidade a um
ser, é aquilo sem o qual o Objeto X não poderia ser o Objeto X, por exemplo,
um livro sem uma história, ou informações científicas não pode ser
considerado um livro, somente um caderno ou uma junção de papéis em
branco. Já as características que não são necessariamente inerentes ao ser,
são chamadas de acidente. Um exemplo de acidente é a cor da parede de
uma casa, que não deixa de ser uma característica da mesma, porém não
altera a sua forma.
Entretanto, há um conector entre o ato e a potência, este é chamado de
“movimento”. É dele a função de realizar a passagem da potência para o ato,
mas para isso é necessária uma causa eficiente já em ato e uma causa final.
O movimento pode existir segundo a substância (ou seja, a geração ou
corrupção), segundo a qualidade (alteração), segundo a quantidade
(aumento ou diminuição) ou segundo o lugar (translação). A “causa
eficiente” é aquela que produz geração, movimento ou transformação, já a
“causa final” é a tarefa vital, o propósito do ser.
Não foram somente estas duas causas finais ou finalidades que Aristóteles
descreveu. Ele afirmou haver quatro causas: a causa eficiente, a causa final
– já destrinchadas no parágrafo anterior –, a causa formal e a causa
material. A “causa formal” é a que atribui forma e, por consequência, a
natureza e o que é essencial a cada realidade singular, e a “causa material”
ou “causa substancial” é aquilo de que é composta toda a realidade sensível.
Neste breve ensaio a respeito do conhecimento na visão de Aristóteles nota-
se o desvio de suas ideias em relação às de Platão. O maior contraste estava
no que dizia respeito às ideias e conceitos criados pelos homens e aquelas já
pré-existentes no mundo das ideias de Platão, Aristóteles discordava que a
“ideia objeto” viesse antes do objeto propriamente dito, ele acreditava que
seu mestre estava acorrentado a uma visão mítica do mundo, confundindo
assim a realidade do mundo com as noções humanas.
4. LEIBNIZ

Nascido na Alemanha, Leibniz foi muito influenciado por Hobbes, Galileu,


Bacon e Descartes, de quem mais tarde, veio a refutar as ideias. Acreditava
que qualquer filosofia podia ser unida, sob muitos aspectos. Ele resgatou a
visão escolástica-aristotélica que atribuía uma causa a tudo. Além de
escritos filosóficos, Leibniz se dedicou à matemática, destacando-se pela
importante descoberta do cálculo infinitesimal, mesmo os créditos desta
tendo sido dado a Newton. São exemplos da obra de Leibniz: “Discurso da
Metafísica”, “Novos Ensaios Sobre o Entendimento Humano”, “Sobre a
Origem das Coisas”, “Sobre o Verdadeiro Método da Filosofia, Teologia e
Correspondência”.
Escolhi, para destrinchar as ideias de Leibniz, o escrito “Sobre a Liberdade e
a Possibilidade”. O texto se inicia com a proposição: “Em Deus todas as
coisas são espontâneas”. Se assumirmos que Deus não vem a intervir
diretamente na vida do homem, a espontaneidade se dará tanto pelo livre
arbítrio que consta na Bíblia como pelo afastamento do homem em relação
ao livro sagrado. O livre arbítrio permite que o homem faça de sua vida, de
seu tempo o que bem entender. Acreditar que Deus em nada interfere em
nossas vidas não é negar sua existência, é apenas tomar como verdadeiro o
distanciamento Dele em relação humanidade, portanto, qualquer coisa
poderá ser feita, nada nem ninguém irá impedir. Entretanto, caso a vontade
de realizar uma vontade não for suficientemente grande, ou seja, se ela for
menor que a vontade de não concluí-la, ela pode deixar de ser feita, o que
nos leva a encerrar no fato de que o querer e o não querer nunca estarão em
paridade.
Duas proposições primárias foram elaboradas por Leibniz. Uma é o
“princípio das coisas necessárias” que implica que o que oferecer
contradição deve ser dado como falso, neste princípio, enquadram-se as
verdades absolutamente necessárias, tais como a lógica e a geometria. O
segundo é o “princípio das coisas contingentes”, que supõe que aquilo que é
mais perfeito ou possui maior razão, é tido como verdadeiro, neste,
encontram-se as verdades baseadas na vontade de Deus.
O “princípio da impossibilidade de contrário” inclui verdades que dizem
respeito a assuntos possíveis ou essências assim estabelecidas. As verdades
que partem das coisas contingentes ou à existência das coisas
compreendem o “princípio da perfeição”. Com exceção daquelas que falam
somente da existência ou inexistência de Deus, todas as ideias são
consideradas contingentes. A causa da existência particular deve tentar ser
provada visando apenas a sua definição, diminuindo assim o seu sentido e
valores, e sim por uma comparação com outras coisas existentes.
Liebniz se funda no plano de que possibilidade e necessidade com coisas
que são possíveis, mesmo que fundamentais e que, na realidade, nem
existem. Isto é, quando não escolhemos uma coisa em relação à outra não
significa que falte liberdade, mas a nossa necessidade de nos focar naquilo
que é de maior interesse, em favor de algo que seja melhor do que outra
coisa aleatória.
Para melhor compreensão da visão de conhecimento de Sartre, coloquei o
trecho abaixo, que será explanado logo em seguida:

“[...] Disso também está óbvio como as ações livres de Deus


devem ser distinguidas se Suas ações necessárias. E, assim, é
preciso que Deus ame a Si próprio, pois isso é demonstrável
da definição dele. Mas não pode ser demonstrado que Deus
faz aquilo que é mais perfeito, já que o contrário não implica
uma contradição; de outro modo o contrário não seria
possível, contrário a hipótese. Ademais, essa conclusão
deriva-se da noção de existência, pois apenas o mais perfeito
existe [...]”.

Temos duas coisas em contenda sendo que somente uma delas é perfeita –
isto é, é de necessidade existencial –, se for dado que a coisa perfeita é
correta, ela se torna necessária. Logo se conclui que algo passa a ser
inexistente no momento que existe outro objeto dotado de maior perfeição
que ele e por conseqüência, de maior necessidade.
Ao passo da seguinte frase de Leibniz: “Deus produz não por necessidade,
mas, porque o deseja” é colocada a próxima questão a ser discutida: Deus
deseja, pois sente necessidade de desejar ou deseja por simples vaidade?
Deus consegue enxergar a real necessidade do seu objeto de desejo, logo se
algo é de fato necessário o seu desejo é justificado. Assim o homem, Deus
pode descartar de seu pensamento aquilo que não lhe é necessário.
Entretanto, certas coisas ainda permanecem possível mesmo estas não
sendo escolhidas por Deus.
De acordo com a linha de pensamento de Leibniz é importante ter em mente
que algo dotado de possibilidade pode ser distintamente entendido. Uma
figura – mesmo que se imagine que ela não exista na natureza – conta com o
elemento da possibilidade já que é incompatível com objetos supostamente
mais perfeitos e que contenham mais realidade. No caso de avaliarmos a
proposição “a figura não existe, nem jamais existiu”, o sentido é correto, pois
o tempo não lhe foi abstraído, porém em “a figura não existe” há falsidade,
ao passo que, a proposição não pode ser demonstrada.
No que se segue no texto, o filósofo afirma que é possível eliminar
dificuldades no que se diz respeito ao pré-conhecimento dos futuros
contingentes. Segundo a sua visão, Deus é dotado do poder de prever as
razões futuras da existência de determinadas coisas e da inexistência de
outras, ao passo que, seu poder de antevisão é dotado do conhecimento
certo e ele as prevê em sua causa. Em favor de alguma necessidade
irrefutável, algo desnecessário pode ser excluído dos planos divinos. A
antevisão divina é uma ferramenta absoluta que faz possível o
discernimento das proposições corretas, elaboradas para o estabelecimento
de uma harmonia das coisas entre as coisas.
Ao final do texto, a conclusão que se chega a partir do conjunto de
raciocínios explicitados neste ensaio é a de que Deus, de fato, existe, já que
um objeto em sua essência precisa e exata é dotada de existência, este
objeto é mais perfeito que este mesmo objeto, mesmo que ele seja inexato.
Entretanto o que é inexato não é inerente a inexistência absoluta. Para
concluir raciocínio, fica mais uma frase de Leibniz: “O que Deus não deseja
que exista não existe, mas, devemos, portanto, negar sua necessidade”. Esta
frase nos leva a concluir algo já discutido anteriormente: mesmo que Deus
não deseje a existência de algo e este, de fato, não exista, o objeto ainda
encerra a possibilidade de existência.
3. SARTRE

Como segunda concepção filosófica acerca do conhecimento, escolhi o


Existencialismo. Este surge na Europa no período entre-guerras e vem a se
tornar popular nas duas décadas conseguintes à Segunda Guerra Mundial.
O existencialismo dirige-se a um homem concreto, jogado no mundo,
exposto aos absurdos da realidade e que, diferentemente dos animais e
seres inanimados possui conhecimento de sua existência, adquirindo por
consequência, certa responsabilidade sobre a sua vida e sobre seus atos.
Influenciado pela fenomenologia, o existencialismo abre um leque de
ramificações para outras concepções filosóficas que têm como ponto de
partida a situação existencial do homem. Neste contexto, os existencialistas
que mais se destacaram foram Martin Hudegger e Karl Jaspers na
Alemanha, Nicola Aboggnano na Itália e, na França, Gabriel Marcel, Maurice
Marleau-Ponty, Albert Camus e – juntamente com sua companheira Simone
de Beauvoir – Jean-Paul Sartre.
É dele – Sartre – de quem irei tratar para expor meu entendimento a
respeito do existencialismo. Jean-Paul Sartre foi o responsável por difundir
o pensamento existencialista em sua famosa obra “O Ser e o Nada”. Ele
costumava expor seus pensamentos através de escritos românticos como “A
Náusea” e a “Idade da Razão”, textos teatrais como “As Moscas” e “O
Sequestro de Altona” e também através de textos de natureza
especificamente filosófica como “O Existencialismo é um Humanismo” e o já
citado neste parágrafo “O Ser e o Nada”.

Para iniciar a exposição a respeito do discurso de Jean-Paul Sartre, irei


analisar trechos de um de seus mais importantes textos filosóficos “O
Existencialismo é um Humanismo”:

“O existencialismo, [...], pensa que é muito incômodo que Deus não


exista, pois com Deus desaparece toda possibilidade de reencontrar
valores em um céu inteligível; não pode mais haver um bem a priori
porque não existe nenhuma consciência infinita e perfeita para
pensá-lo; não está escrito em nenhum lugar que o bem existe, que
é preciso ser honestos, que não se deve mentir, e por esta precisa
razão: que estamos sobre um plano em que há apenas homens.”
Para Sartre a existência do homem se concretiza ao passo de que ele adquire
consciência de si em relação ao resto do mundo. O mundo, entretanto, não é
a consciência nem a existência, ele é apenas um conjunto de utilitários para
o homem na busca de seu objetivo cujo quando alcançado acaba por privar
o mundo de sentidos. Quando se toma conhecimento a respeito de sua
existência, ocorre a abertura da mente para o mundo, logo se descobre a
contingência essencial e o absurdo do real. Esta viravolta na concepção
homem-mundo é a descoberta do “ser-para-si” que causa no indivíduo uma
sensação de “náusea” descrita por Sartre em “O Ser e o Nada”.
Sartre defende que “a existência precede a essência”, isto é, o que vem
primeiro é a descoberta do “ser-para-si”, que é constituída da
descompreensão do ser e, somente depois “o homem cria a si mesmo”, ou
seja, ele passa a criar a sua essência, a sua identidade, os seus valores.

“Dostoiévski escreveu: “Se Deus não existe, tudo é permitido".


Eis o ponto de partida do existencialismo. Efetivamente, tudo
é lícito se Deus não existir e, por conseguinte, o homem
torna-se "abandonado" porque não encontra nem em si nem
fora de si uma possibilidade de se ancorar. E em primeiro
lugar não encontra sequer desculpas. Se de fato a existência
precede a essência não se poderá jamais chegar a uma
explicação referindo-se a uma natureza humana dada e
determinada; ou melhor, não há determinismo: o homem é
livre, o homem é liberdade.
Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos diante
de nós valores ou ordens que dêem o sinal da legitimidade de
nossa conduta. Assim, não temos nem diante de nós nem
atrás de nós, no luminoso reino dos valores, justificativas ou
desculpas. Situação que me parece poder caracterizar dizendo
que o homem é condenado a ser livre. Condenado porque não
se criou por si só, e mesmo assim nem menos livre porque,
uma vez jogado no mundo, é responsável por tudo aquilo que
faz.”

Assim que ocorre a descoberta do ser-para-si, automaticamente –


parafraseando Sartre – “o homem é condenado a ser livre [...] porque, uma
vez jogado no mundo, é responsável por tudo aquilo que faz”. Essa liberdade
não atende a possibilidade de atribuir razões externas às ações humanas,
por exemplo, se eu fracassei é porque em algum momento, eu escolhi o
fracasso. A liberdade trás consigo a completa autonomia sobre seus atos
juntamente com a inteira e irrefutável responsabilidade sobre eles. Como
resposta metafísica a descoberta da liberdade incondicional, o homem sente
a angústia assim como sente a náusea na descoberta do ser-para-si.
Desta forma o homem se vê responsável por si mesmo e descobre então o
ser-em-si, que é aquilo que simplesmente “é”, que não possui nenhuma
relação fora de si. Com base nisto, conclui-se que tudo é gratuito, nenhum
valor passa por cima do outro, as coisas e as ações humanas são, portanto,
desprovidas de sentido e fundamento e valor. O que, enfim, Sartre quer
explicitar no trecho é que, se a essência do homem é inata e de inteira
responsabilidade do próprio, não há o porquê de haver um Deus criador.

“E quando dizemos que o homem é responsável por si próprio,


não entendemos que o homem é responsável pela sua
individualidade estrita, mas que ele é responsável por todos
os homens. A palavra ‘subjetivismo’ tem dois significados com
os quais nossos adversários jogam. Subjetivismo quer dizer,
de um lado, escolha do sujeito individual para si próprio e, do
outro, impossibilidade para o homem de ultrapassar a
subjetividade humana. Este segundo é o sentido profundo do
existencialismo. Quando dizemos que o homem se escolhe,
entendemos que cada um de nós se escolhe, mas, com isso,
queremos também dizer que cada um de nós, escolhendo-se,
escolhe por todos os homens. Com efeito, não há só um de
nossos atos que, criando o homem que queremos ser, não crie
ao mesmo tempo uma imagem do homem tal qual julgamos
que deva ser. Escolher ser isto mais do que aquilo é afirmar,
ao mesmo tepo, o valor de nossas escolha, uma vez que não
podemos jamais escolher o mal; isso que escolhemos é
sempre o bem, e nada pode ser um bem para nós sem que o
seja para todos. Se a existência, por outro lado, precede a
essência e queremos existir ao mesmo tempo que formamos
nossa imagem, essa imagem é validade para todos e para toda
a nossa época. Assim, nossa responsabilidade é muito maior
do que poderíamos supor, pois ela envolve a humanidade
inteira”.

Neste trecho Sartre coloca que quando um homem se define – ou seja, define
sua essência –, ele está definindo também a essência de todos os homens do
mundo, pois, ele escolhe para si aquilo que acredita ser o ideal e, portanto,
espera que a humanidade se espelhe na forma que acredita ser a melhor. Ao
defender que a consciência não é nada até que se perceba algo, Sartre
conclui que somos nós que tributamos o que sentimos e percebemos, pois
somos nós que escolhemos aquilo que nos é importante. Com isto, Sartre
explicita no texto a ideia do subjetivismo, que deixa claro que nós
enxergamos ou percebemos aquilo que é de nossa vontade, nossa visão
sobre as coisas é, portanto, diretamente influenciada por nossa consciência
que é diferente para cada indivíduo, logo, nenhuma visão de mundo é igual
à outra.
BIBLIOGRAFIA

Aristóteles / A. Hoffe Otfried. - [s.l.] : Artmed, 2008.

Compreender Leibniz / A. PERKINS Franklins. - [s.l.] : Vozes, 2009.

História da Filosofia / A. REALE Giovanni / ANISTIERI, Dario. - [s.l.] :


Paulus, 2008. - Vol. 1.

História da Filosofia / A. REALE Giovanni / ANTISERI, Dario. - [s.l.] :


Paulus, 2008. - Vol. 6.

História do Existencialismo e da Fenomenologia / A. GILES Thomas


Ransom. - [s.l.] : E.P.U., 2011.

Leibniz / A. ROSS G. Mac Donald. - [s.l.] : Edições Loyola, 2001.

O Existencialismo é um Humanismo / A. SARTRE Jean-Paul. - [s.l.] :


Editora Vozes, 2010.

O Mundo de Sofia / A. GAARDER Joinstein. - [s.l.] : Cia. das Letras, 2001.

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