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1.

Opções metodológicas

1.1. Objecto de estudo e contributos


O tema central e objecto de estudo nesta dissertação são Os media como atores
políticos: sua influência sobre a eclosão da crise política brasileira de 2016,
movimentos pró impeachment e opinião pública. Dentro deste contexto, espera-se
explorar e investigar, sob diferentes abordagens (bibliográfica, pesquisa quantitaitva e
qualitativa) o facto e, principalmente, suas dissidências na agenda mediática e na
agenda política, bem como na agenda pública.
Sendo obeto substancial para esta pesquisa identificar a permeabilidade da
agenda mediática sobre o processo de impeachment nas outras duas e suas
interferências mútuas no cenário nacional, a fim de compreender melhor o
posicionamento dos media, sua importância no quadro e a ambiência política.
É argumento e hipótese principal na relevância do projeto perceber e estudar a
influência dos media na ambiência de mudança política e na formação da opinião
pública diante desse panorama de crise e participação política. Salienta-se o peso e
apoio dos media na instauração do processo de impeachment, que, segundo
Greenwald1 (2016), foi possível apenas através do incentivo e incitação dos media
dominantes
Dessa forma, esta dissertação oferece contributo à academia e à sociedade, ao
facilitar a percepção do processo de impeachment, seus diversos aspectos inerentes e
analisar os atores ou influências diante de um novo cenário de participação política.
Tendo em vista objetivos acadêmicos, as análises e estudos traçados trabalham e
promovem inter e multidiscplinaridade, visto que ancoram-se na literatura e teorias da
comunicação, das ciências políticas e da sociologia. E, ainda, como contributo empírico,
testa a hipótese do agenda-setting e, como contributo teórico, expande a quaestão e
influência das agendas mediática, pública e política aplicadas a um contaxto real e de
grande importância social e política.

A literatura vem já trilhando a ideia de que os media influenciam o


desenvolvimento da realidade social (e.g. Berger & Luckmann, 1966; Gamson, 1992) e
de que, ao criarem uma imagem da realidade, os indivíduos reagem a essa imagem da
mesma forma que reagiriam à realidade de fato (e.g. Lippmann, 1922; Kepplinger &

1
Vencedor do prêmio Pulitzer em 2014
1
Roth, 1979, p. 295). Além de que, pela moldura teórica da hipótese do agenda-setting
(McCombs & Shaw, 1972) e do modelo da dependência (DeFleur & Ball-Rokeach,
1976), notamos respectivamente a influência dos media sobre a agenda pública e a
dependência dos cidadãos em relação aos media.

1.1.1. Pergunta de partida


A pergunta de partida é: qual o poder de agendamento ou influência dos media
na opinião pública brasileira sobre o processo de impeachment e, consequentemente,
na conjuntura política e social do país?

1.1.2. Objetivo geral


Analisar o comportamento dos media diante da crise política brasileira, com
estopim em 2016, e sua influência na formação da opinião pública e movimentos pró
impeachment.

1.1.3. Objetivos específicos


a) Entender e debater a composição e influência da agenda mediática, desde a
reeleição do atual governo, em relação à eclosão da crise política e origem e
evolução dos movimentos pró impeachment;
b) Observar e analisar os discursos e coberturas jornalísticos sobre o tema e
associá-los aos fatos políticos e movimentações sociais subsequentes que
possam ter sido impactados ou motivados pelos media, ou seja, perceber a
responsabilidade dos media na eclosão dos eventos em análise;
c) Apurar e compreender a influência dos media na opinião pública acerca dos
fatos em análise (crise política e posição pró impeachment);
d) Analisar e comparar as coberturas dos movimentos pró e anti impeachment
nos meios e órgãos de comunicação selecionados;
e) Analisar e comparar as coberturas informativas em órgãos nacionais e
internacionais no sentido de analisar o inter-media agenda-setting
transnacional.
1.1.4. Problemática

Sendo admitida nessa dissertação a abordagem da construção social da


realidade, a priori é importante delimitar qual aspecto de realidade será trabalhado.
Assumindo, então, que o conhecimento do senso comum é o conhecimento que os
indivíduos partilham e o qual se mostra evidente na vida cotidiana (Berger &
Luckmann, 2001), esta realidade da vida cotidiana é entendida por seus indivíduos
como a realidade de fato. Sendo assim, Berger e Luckmann (2001) assumem que o

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mundo da vida cotidiana se autoproclama e quando um de seus indivíduos queira
contestá-lo é necessário um deliberado esforço (p. 41) e, agregado a isso, comumente
há pouco interesse por parte dos indivíduos em ir além do conhecimento pragmático
necessário para a própria realidade, assim a validade do conhecimento da vida
cotidiana de cada um é suposta certa por si (p. 64).
Dessa forma, observar e analisar o influência mediática nas decisões políticas
acerca do impeachment não pode ser uma tarefa cotidiana executada pelo público,
pois este precisaria de um tremendo esforço para contestar a realidade que se supõe
correta: que cada esfera (mediática, pública e política) cumpre o seu papel de forma
isonômica e sem interesses que beneficiem a si ou corporações que fazem parte ou
interferências externas. Assim, estudar esse cenário exige um processo analítico e rigor
científico e acadêmico.

A expressividade humana é capaz de objetificações (p. 53), ou seja, está


presente em produtos da atividade humana observáveis também tanto pelos próprios
produtores quanto por outros, através do senso comum. E sendo a objetificação um
caso especial de significação (Id., p. 55), os sinais e sistemas de sinais são também
objetivações acessíveis além da expressão de intenções subjetivas “aqui e agora” (Id.,
p. 56). Já a linguagem, como sistema de signos, transcende o “aqui e agora” (se
aproximando cada vez mais da tipificação e do anonimato), estabelece pontes entre
diferentes pontos da mesma realidade e cria pontos de interesse no cruzamento das
estruturas de conveniência (Id. , p. 67). Assim como a interpretação dos sonhos, a
linguagem produz enclaves na transposição de sentidos entre realidades distintas (a
realidade da vida cotidiana e as outras).
Logo, o simbolismo e a linguagem simbólica tornam-se componentes essenciais
da vida cotidiana e da apreensão pelo senso comum da vida cotidiana (p.61). Não há
como, então, dissociar essa linguagem simbólica e a geração de símbolos e significados
dos media. Estes executam claramente o papel de significar e ressignificar a realidade
em que vivemos e, ao se aproximar da tipificação e do anonimato, tornam a sua
mensagem mais intangível e revestida de verdade aos olhos do leitor.
DeFleur e Ball-Rokeach (1993) entendem que as decisões de cada indivíduo,
seja comprar um produto, votar num candidato ou contribuir para um projeto são
formadas tanto por características pessoais quanto por pressões sociais para adequar-

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se às normas de um grupo ou significados de uma comunidade (p. 319). Por isso, a
importância dos media como instituição que norteia e explica as diferentes realidades.

O hábito de repetição e conversa sobre determinados temas (que podem ser


agendados pelos media através da hipótese do agenda-setting) faz com quem estes
entrem no panorama da realidade do mundo social que torna-se cada vez mais maciça
no curso de sua transmissão (Berger e Luckmann, 2001, p. 88). Assim, cada vez que a
notícia é replicada, contada de outra forma, repetida ou mesmo comentada
novamente pelos media, e, logo, se distancia do emissor primário, essa chega ao leitor
com mais força e veracidade. Por extensão, então, cria-se um correspondente manto
de legitimações que “estende sobre si uma cobertura protetora de interpretações
cognoscitivas e normativas” (Id., p. 88).
Os teóricos críticos apontam que utilizar a comunicação como estratégia para
moldar os significados efetivos compartilhados pelas pessoas é uma estratégia
bastante eficaz, seja para conseguir controle social, político ou econômico (DeFleur &
Ball-Rokeach, 1993, p. 319). Somado a isso, é possível enchergar um movimento
contemporâneo onde o poder e a liderança dos grandes conglomerados dos media se
restringe cada vez mais nas mãos de poucas pessoas e estas concomitantemente
detêm poder noutras esferas, sejam políticas ou econômicas (Herman e Chomsky,
2002, p. 17).
1.1.5. Modelo de análise

Sendo este um trabalho exploratório, traz perspectivas e ideias que devem ser
traduzidas numa linguagem e formas que permitam o trabalho sistemático de recolha e
análise de dados, de observação ou experimentação (Quivy & Campenhoudt, 1995, p.
15). A construção de um modelo de análise (ver figura 2) exemplifica a conexão entre a
problemática e o objeto de estudo e, a partir do modelo, serão definidas hipóteses
operacionais para testar a sua veracidade.

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Figura 1. Modelo de análise

Fonte: e.g. Rogers, Dearing & Bregman, 1988; Traquina, 2000.

Neste modelo, as esferas pública, mediática e política têm interseções entre si


de forma a permear mutuamente suas agendas. Ainda, os três campos são
diretamente influenciados pelas elites econômicas e políticas e por suas vez
influenciam os movimentos sociais.

2. Técnicas de recolha e análise de dados


Com o objetivo de perceber o tema da melhor forma possível, foi decidido
adotar uma abordagem quanti e qualitativa, as técnicas de recolha do material são a
pesquisa bibliográfica, o clipping, a entrevista e o inquérito por questionário, e as
técnicas de análise são a análise de conteúdo e a análise do discurso.
2.1. Inquérito por questionário
No âmbito da agenda pública (Rogers & Dearing, 1988), é importante para os
obejtivos deste estudo analisar e avaliar a opinião pública diante do cenário escolhido.
Assim, a fim de completar o estudo com dados quantitativos e representativos sobre a
perspectiva da opinião pública brasileira acerca da influência dos media na sociedade
sobre o tema em análise, foi elaborado um inquérito por questionário com uma
amostra representativa probabilística.
As amostras probabilísticas são essenciais nos modelos de pesquisas
transversais quantitativas, por inquérito, nos quais se pretende fazer estimativas e
variáveis da população (e.g. Sampieri, Collado & Lucio, 2006, p. 256). O questionário
abarcou questões tendencialmente fechadas, de modo a permitir a extração de
padrões de comportamento e opinião. Então, foi possível efectuar uma análise
estatística descritiva e inferencial, com recurso a testes de independência de variáveis.

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a) Objectivos operacionais
Esta técnica assume como objetivo geral entender a percepção da opinião
pública brasileira sobre a influência da agenda midiática (a) sobre si em relação ao
processo de impeachment no Brasil em 2016; e (b) sobre o próprio processo
de impeachment. Os objectivos operacionais assentam em:
I. Observar como a população se informa sobre política para, então, analisar a
permeabilidade da agenda midiática na agenda pública.
II. Inferir os hábitos informativos dos cidadãos: se é um consumidor passivo ou
ativo/ crítico das notícias e/ou se cria opiniões próprias e conteúdo novo a
partir delas.

III. Testar a hipótese do agenda-setting diante do contexto do


processo de impeachment e da participação política.

IV. Perceber como os inquiridos enxergam a influência dos media sobre o processo
de impeachment.

V. Entender como os inquiridos percepcionam as dimensões dos movimentos


contra e pró impeachment para comparar com os fatos contemporâneos.

VI. Utilizando a perspectiva do third person effect, que advoga que “as pessoas vão
tender a superestimar a influência que a comunicação de massa tem no
comportamento e nas posturas dos outros” (Davison, 1983, p. 3), perceber
como (e se) as pessoas acham que são influenciadas pelos media e como agiria
essa mesma influência nos demais cidadãos.
b) Universo e tipo de amostra

Devido à extensão territorial e inviabilidade fincanceira e logísitica de realizar a


pesquisa a nível nacional, foi utilizado como universo a cidade de Recife, com
população de 1.625.583 habitantes (IBGE, 2016). Através do cálculo da amostra
representativa para populações infinitas (mais de 100.000 elementos), conclui-se que a
amostra deve comportar 400 inquiridos (ver cálculo no Apêndice xxx). Esta cidade foi
escolhida como universo para a pesquisa por ser a residência da autora, além de ser a
9.ª cidade com maior concentração urbana brasileira entre os 309 municípios com mais
de 100 mil habitantes (IBGE, 2016) e apresentar similaridades geodemográficas
(conforme anexo X) entre a cidade escolhida e o país como um todo:
I. As correspondências entre cenário municipal e nacional mostram uma
pirâmide etária e de gênero semelhantes no caráter sociodemográfico;
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II. E, dentro do aspecto social, os níveis do índice de desenvolvimento
humano (IDH) são equivalentes;

III. Também se apresentam equivalentes o critério econônimo apresentado


pelas despesas orçamentárias públicas;

IV. Com a devida proporção territorial, pelo produto interno bruto – PIB;
V. E predominante no setor de serviços, seguido pelo setor da indústria e
nos dados correspondentes ao PIB per capita, onde a curva de crescimento é
semelhante, se iniciando cerca dos 22.500 reais e se aproximando dos 30.000 ao
decorrer da década.
Dessa forma, buscou-se maior homogeneidade entre os dados no universo
estudado e precisão científica.
Dentro dessa amostra, decidiu-se estratificá-la pelo critério de renda mensal
baseado na hipótese do knowledge gap, já que este critério económico apresenta
grande disparidade no país e com forte influência para a percepção e análise crítica das
mensagens passadas pelos media (Tichenor, Donohue e Olien, 1970). Sobre a hipótese
dno knowledge gap em si, Gaziano (1983), avaliando 58 outros estudos que testam a
hipótese, chega à conclusão que a renda é um critério substancial para entender a
opinião dos indivíduos e, em geral, (1) quanto maior o nível de educação, maior o
conhecimento sobre temas diversos, ou seja, quanto maior a renda, será mais provável
que aquele indivíduo tenha mais conhecimento e, também, opinião crítica sobre o
tema e (2) quanto maior a divulgação sobre um determinado tema nos media, menor
será o knowledge gap, ou seja, os indivíduos com uma renda menor terão mais acesso
à informação e opinião sobre temas de importância social a partir do media agenda-
setting. Dessa forma, o critério de renda torna-se fundamental para perceber a opinião
pública brasileira a respeito do tema.
Weakliem e Andersen (2005) realizaram um estudo em vários países (entre eles
o Brasil) questionando e associando a opinião pública à distribuição de renda através
da análise de pesquisas feitas pelo World Values Surveys e pelo International Social
Science Programme e, entre as conclusões dos pesquisadores, estão que (1) a opinião
de pessoas de renda mais alta "importa" mais do que a opinião de pessoas de renda
mais baixa, ou seja, socialmente a opinião daqueles que detêm maior poder
econômico é considerada mais importante e passa a ser seguida pelos outros, além de

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lhe creditarem maior sabedoria assumindo que por ter uma renda maior, esses
indivíduos seriam mais intelectuais e, além disso, (2) os efeitos da opinião pública são
mais fortes em regimes democráticos, ou seja, nos regimes democráticos, como não há
de surpreender, há mais espaço para debate e formação de uma opinião pública crítica
por parte da sociedade.
Estas conclusões influenciam diretamente o cenário aqui estudado, visto que há
uma grande disparidade de distribuição de renda no Brasil que alcança o Coeficiente
Gini2 de 0,50, conforme Relatório da Distribuição Pessoal da Renda e da Riqueza da
População Brasileira (2016).
Somado ao Coeficiente Gini, é possível observar o cenário de disparidade de
distribuição a partir dos salários declarados em 2015 (anexo X) e a comparação entre
quantos indivíduos se encaixam em casa quadrante.

Ademais da discrepância de renda no país, no contexto estudado, o governo e a


oposição defendiam, de modo genérico, interesses de classes diferentes. No Brasil,
Rocha e Urani (2007), analisando a distribuição de renda dentro do país, assumem que
(1) há um reconhecimento de forma geral sobre a desigualdade social, verificado
nos media, nas relações sociais do cotidiano e nas estatísticas oficiais, ou seja, a
população tem consciência de que há uma grande diferença entre os salários mais
altos e os mais baixos, (2) entretanto o pior dos quadros do ideário dos brasileiros
parece não se fundamentar no quadro real, isto é, embora tenham conhecimento da
desigualdade existente não conseguem enxerga-la, nem mensurá-la, (3) nota-se um
quadro de desconhecimento ainda mais amplo relacionado à questão da magnitude da
pobreza e da desigualdade de renda e (4) apura-se uma necessidade de
conscientização contínua sobre as desigualdades e sobre a posição que efetivamente
cabe a cada brasileiro no contrato social, principalmente nas classes mais elevadas.
O último censo realizado (IBGE, 2010) apresenta as diferenças estatísticas de
rendimento mensal familiar (ver tabela 1). Entretanto, não há dados relativos a renda
mensal individual, por isso, será utilizado aqui o número médio de indivíduos por
domicílio em Recife: 3,25 moradores/domicílio (IBGE, 2016), para estabelecer uma
média de rendimento por indivíduo e utilizá-la na estratificação da amostra.

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Medida de desigualdade social desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini, e publicada no
documento "Variabilità e mutabilità" ("Variabilidade e mutabilidade" em italiano).
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Tabela 1: Renda mensal familiar em Recife, no ano de 2015

Rendimento Rendimento por Domicílios Porcentagem


indivíduo
Sem rendimento Sem rendimento 20.765 4,4%
Renda familiar até 5 Renda até 309.906 65,8%
salários mínimos R$1441
Renda familiar mais Renda entre 65.011 13,8%
de 5 a 10 salários R$1442 e R$2883
mínimos
Renda familiar mais Renda entre 41.247 8,75%
de 10 a 20 salários R$2884 e R$5766
mínimos
Renda familiar mais Renda superior a 33.968 7,21%
de 20 salários R$5767
mínimos
Total 470.896 100%
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE, 2015

Sendo assim, após recorrer à literatura e aos dados estatísticos, foi possível
estratificar a amostra da pesquisa (400 inquiridos) conforme o critério de distribuição
de renda, exemplificado na tabela 2.
Tabela 2: Proporção de inquiridos por renda na amostra representativa

Rendimento Rendimento por indivíduo Inquieridos

Sem rendimento Sem rendimento 17,6 = 18


Renda familiar até 5 Renda até R$1441 263,2 = 263
salários mínimos
Renda familiar mais de 5 Renda entre R$1442 e R$2883 55,2 = 55
a 10 salários mínimos
Renda familiar mais de 10 Renda entre R$2884 e R$5766 35
a 20 salários mínimos
Renda familiar mais Renda superior a R$5767 28,84 = 29
de 20 salários mínimos
Total 400
Fonte: autoria própria

a. Dimensões do questionário
O inquérito elaborado conta com 20 perguntas divididas em 3 sessões
principais: Caracterização Sociodemográfica, Informação Política e Impeachment (ver
apêncide X) e foi aplicado através da plataforma do google drive.

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Antes da aplicação do questionário para a amostra, foi realizado um pré-teste
(ver apêndice X), a fim de testar a aplicabilidade do inquérito e minimizar os erros.

VI. Entrevistas
A entrevista em profundidade é escolhida, por ser mais flexível e aberta
(Sampieri, Collado & Lucio, 2006, p. 381), com guião semi-estruturado, para que os
pontos mais importantes não deixem de ser comentados, mas também não haja
restrições para possíveis complementos significativos por parte dos entrevistados. Para
isso, foram escolhidos atores envolvidos neste desfecho do cenário político e
estudiosos que possam somar outros pontos de vista à pesquisa.
Por ser um processo indutivo que tem como foco a fidelidade ao universo de
vida cotidiana dos sujeitos (Alves & Silva, 1992, p. 61), ou seja, se aproxima
consideravelmente do cenário real experienciado pelos entrevistados, a entrevista se
insere no estudo como método de pesquisa para agregar conhecimento, descobertas e
conclusões junto com os outros métodos aplicados anteriormente.

a. Objetivo geral
Entender o cenário do impeachment e atuação dos media a partir de diferentes
pontos de vista e perspectivas.
b. Objetivos específicos
I) Questionar a permeabilidade da agenda mediática na agenda política e
agenda pública;
II) Perceber a mudança da opinião pública, que elegeu Dilma Rousseff em
outubro de 2014 e aprovou o processo de impeachment menos de dois anos depois;
III) Indagar sobre a possibilidade das elites económicas e políticas induzirem
assuntos à agenda mediática;
IV) Interpelar sobre a conexão entre a agenda mediática sobre a temática
do impeachment e as manifestações a favor do impedimento – hipótese do agenda-
setting.

a) Painel de entrevistados
Com o propósito de entender melhor os acontecimentos sociais e as diferentes
perspectivas envolvidas no assunto, foram realizadas tentativas e entrevistas conforme
o painel de entrevitados (tabela X):

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Tabela 3:Painel de entrevistados

Nome Atuação Tentativas Obeteve


êxito
António Costa Pinto 2 Sim
Christianne 1 Sim
Alcantara
David Miranda 3 Sim
Dilma Rousseff 5 Não
Gleen 5 Não
Greennwald
Jean Wyllys 5 Não
Joana Mortágua Sim
Leonardo 5 Não
Sakamoto
Marília Arraes 2 Sim
Paolo Demuru 2 Sim
Rafael 2 Sim
Sérgio Resende 1 Sim
Silke Weber 1 Sim
Tiago Araújo 2 Sim
Fonte: autoria própria

VII. Análises

Focou-se na análise do conteúdo veiculado pelos principais media do Brasil


(país cenário do contexto em questão). Entretanto, o objetivo da pesquisa com esta
técnica não se restringiu em perceber apenas a quantidade de repetições que o mesmo
tema teve nos meios de comunicação, mas também no conteúdo dessas mensagens, se
positivas ou negativas, quais as características linguísticas e iconográficas, além de
observar os atributos simbólicos representados.

A análise de conteúdo inclui fases, que são: (1) a pré-análise, que inclui a
escolha, composição e justificação do corpus, bem como o período em que os dados
devem ser recolhidos), (2) a leitura flutuante e (3) o tratamento dos resultados,
inferências e interpretação.

a. Objetivos operacionais:
1) Perceber a incidência de notícias relacionadas ao impeachment em
relação aos demais temas mencionados no período de recolha de dados;
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2) Analisar a linguagem, direcionamento (favoravél, desfavorável ou
neutro) e ideologias trasnmitidas nessas mensagens relativas ao impeachment.
3) Observar aspectos presentes na agenda mediática compadamente aos
aspectos verificados nos inquéritos e análise da opinião pública

b. Análise de conteúdo
O emprego da análise de conteúdo nas ciências sociais é cada vez maior devido
à capacidade de conciliar o rigor metodológico e a profundidade inventiva (Quivy &
Campenhoudt, 1995). Esta técnica é utilizada com o obejtivo de sistematizar e
categorizar os dados coletados e, assim, estudá-los de forma eficaz. É utilizada, nesta
investigação, como um conjunto de técnicas de análise das comunicações (Bardin,
2009, p. 31).
A análise de conteúdo é uma técnica que “visa a sistematização de informação,
de acordo com a aplicação de processos de codificação, categorização e inferência
permitindo um alcance analítico de natureza quantitativa e/ou inferencial, consoante
os objetivos e técnicas de análise” (Espírito Santo, 2010, p. 66).
Opta-se pela análise temática e categorial, atendendo a que nos interessa o
tema e a organização do corpus em categorias. Recorre-se a uma pós-codificação, pois
as categorias são definidas a partir das especificidades do corpus e apuradas na leitura
flutuante. Assim, as dimensões de categorias analisadas foram divididas em conteúdo e
forma (conforme apêndices X e X).

Esta codificação foi feita a fim de tratar o corpus. Dessa forma, foi efetuada uma
transformação (seguindo regras precisas) do material recolhido numa representação
do conteúdo, possibilitando esclarecer características da mensagem (Bardin, 2009, p.
103). A partir da análise de conteúdo, foi realizada a análise estatística descritiva e
inferencial, recorrendo a alguns testes de independência.
VIII. Pré-análise
I) Escolha, composição e justificaçao do corpus e período de recolha de
dados

Para este estudo, foram escolhidos os jornais televisivos Jornal Nacional do


grupo Globo e Jornal do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) do grupo SBT (Sistema
Brasileiro de Televisão), selecionados seguindo primeiramente o critério de audiência
dos grupos nacionais e, depois, o número de emissoras no país (ver figuras 3 e tabela
6), que mostram a liderança do Grupo Globo com audiência média de 5 milhões de
12
domicílios no horário nobre, seguida pelo Sistema Brasileiro de Televisão- SBT com
audiência de 200 milhões de domicílios. Além disso, o primeiro grupo possui 110
emissoras no país, ou seja, 25% do total, enquanto o segundo possui 68 emissoras,
alcançando 14% de todas as emissoras nacionais.
Figura 2. Ranking de audiência semanal da televisão brasileira em maio de 2016

Fonte: Kantar IBOPE Media (www.kantaribopemedia)

Tabela 4: Oligopólio de emissoras de televisão no Brasil em 2010

Fonte: Observatório de Imprensa (www.observatóriodeimprensa.com.br)

No meio digital, foram analisadas as notícias dos portais Globo.com e UOL,


devido ao elevado tráfego de acesso, 616,5 milhões e 560 milhões respectivamente
(ver figuras 5 e 6).
Figura 3. Descrição de tráfego do portal Globo.com em maio de 2016

Fonte: Similar Web (www.similarweb.com)

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Figura 4. Descrição do tráfego do portal UOL em maio 2016

Fonte: Similar Web (www.similarweb.com)

Esses órgãos de comunicação social que são, também, os dois websites de


informação listados entre os dez mais visitados no país (ver figura 7), em 5º e 7º
lugares, ficando atrás apenas das redes sociais e do serviço de pesquisa google.
Figura 5. Ranking de websites mais visitados no Brasil em maio 2016

Fonte: Similar Web (www.similarweb.com)

Para análise do meio impresso, foram selecionados os jornais O Globo e Estado


de São Paulo. A escolha é baseada nas taxas médias de circulação de 2015 (analisadas
durante a elaboração do projeto), fornecidas pela Associação Nacional de Jornais (ANJ)
que são de 183.404 e 149.241 impressos, respectivamente. Já para o meio revista,
foram estudadas as capas veiculadas na Veja e na Época, as duas revistas semanais de
maior circulação média no país, segundo Instituto Verificador de Circulação (IVC), com
circulação média em fevereiro de 2016 de 1.108.918 e 314.411 exemplares,
respectivamente.

No que se refere aos media internacionais foram acompanhadas as notícias nos


websites da CNN e do The New York Times devido ao seu prestígio internacional e pelo
fato de que as notícias veiculadas nesses órgãos têm caráter de difusão mundial e,
assim, maior potencial ao nível de intermedia agenda-setting (Danielian e Reese,
14
1989), cuja hipótese se sustenta e é investigada a partir do quarto fator de influência
sobre e agenda mediática, segundo Rogers e Dearing (1989) que são: (1) a estrutura da
sociedade, (2) indicadores do mundo real, (3) novos eventos espetaculares e (4)
gatekeepers e influência dos media. Vliegenthart e Walgrave (2008) assumem que
intermedia agenda-setting é um processo dinâmico e rotineiro de difusão de notícias,
onde a cobertura de um órgão de comunicação social é influenciada pela agenda de
outros media. Além disso, os websites pesquisados registram um alto número de
visitantes por mês: 411 milhões para a CNN e 296,6 milhões para o The New York
Times (Similar Web, 2016).
Para compor o corpus nos meios online, serão selecionadas as notícias com as
palavras de pesquisa: Dilma, Lula, PT, impeachment, pedaladas fiscais (já que essa foi a
acusação pela qual a ex-presidente Dilma Rousseff foi acusada), governo, governo
federal, presidente, presidência, corrupção, corruptos, manifestação, passeata, apoio
ao governo, contra o governo e operação lava-jato (e devidas traduções nos media
internacionais), podendo ser utilizadas separadamente ou em conjunto. Já para os
jornais e revistas, serão analisadas as notícias de capa, já que as capas sintetizam as
principais notícias e apresentam o material sob o qual os media irão escrever naquele
volume. A importância dAas capas de jornais e revistas vêem sendo estudadas em
termos de influência política (Eshbaugh-Soha, Peake, 2008; Peake, 2007), já Medeiros,
Ramalho e Massarani (2010) entendem que “Capas são intertextuais e conjugam textos
escritos, fotos e legendas, ilustrações, infográficos e anúncios publicitários” (p. 440).
Porquê? Se precisar de bibliografia, peça-ma.; e nos jornais televisivos, as notícias de
entrada, pelas mesmas características que têm as capas de jornal e revista: sintetizar e
apresentar as notícias e pontos de vista mais importantes para aquele media. Porquê?
Se precisar de bibliografia, peça-ma.
O período para recolha de dados nos media foi de um ano retroativo ao dia de
instauração do processo de impeachment na Câmara dos Deputados até a instauração
do impeachment, ou seja, desde 17 de abril de 2015 a 31 de agosto de 2016.

IX. Leitura flutuante


Nessa fase de organização, foi feita uma leitura superficial, ou flutuante, do
conteúdo do corpus, para que surgissem impressões e orientações capazes de nortear
o caminho a ser percorrido na análise (Bardin, 2009).

15
Respeitando as regras da (1) exaustividade, ou seja, levando em consideração
todos os elementos do corpus, (2) da representatividade, ao analisar os media da
televisão, jornal impresso, revista, media digitais e media internacionais, (3) da
homogeneidade, já que o corpus foi definido através dos critérios de circulação e
audiência e, assim, os materiais de análise são homogêneos no critério da escolha e
não apresentam demasiada singularidade fora desses critérios, e (4) da pertinência,
visto que são os media de maior impacto no país e o tema abordado se refere a todo o
cenário político nacional (Bardin, 2009, pp. 96-98), foi definida a codificação utilizada
para a análise de conteúdo.
a. Análise do discurso

Buscando aprimorar e conceituar de forma qualitativa o estudo sobre o tema,


foram analisadas as mensagens e discursos contidos no corpus, assumindo aqui
discurso como um conjunto de enunciados que se apoiem na mesma formação
discursiva (Foucault, 1986, p. 135).

Ao entender que todo enunciado carrega consigo signos e significados, foram


observadas as mensagens segundo os quatro elementos básicos de Foucault (1986): a)
a referência a algo que se identifica; b) um sujeito que possa efetivamente afirmar
aquilo que foi dito; c) o enunciado não existe isolado, mas sim em diálogo com outros
enunciados do mesmo ou de outros discursos e, por fim, d) a materialidade do
enunciado, ou seja, as formas com as quais ele se apresenta de forma concreta.

Para opecionalizar a análise do discurso, estes serão analisados a partir de três


aspectos de construção simbólica: produção, reconhecimento e circulação. Sendo a
produção e o reconhecimento polos de produção de sentido e a circulação a
observação das formas diversas de produção de significante entre a produção e o
reconhecimento dos signos (Chaves, 2016). Segundo a autora, “o ponto de partida da
análise ou a reconstituição do processo de produção a partir do produto consiste em
considerar o texto na dinâmica de sua produção” (p. 495).
Faz-se necessária uma análise do discurso dos media, visto que a audiência nem
sempre está disposta a entender e absorver criticamente o conteúdo que lhe é
passado. Pois “ora, por mais que o enunciado não seja oculto, nem por isso é visível;
ele não se oferece à percepção como portador manifesto de seus limites e caracteres. É

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necessária uma certa conversão do olhar e da atitude para poder reconhecê-lo e
considerá-lo em si mesmo” (Foucault, 1986 , p. 126).

A análise do discurso tem caráter contraditório à medida que a mensagem em si


não é escrita apenas pelo sujeito de fala, mas também reverbera o lugar de fala, sua
dispersão, sua descontinuidade e as ideologias com as quais se cruza e, assim, através
do discursante outros ditos se dizem (Fischer, 2001, p. 207). Dessa forma, a análise do
discurso dos media não se encerra na absorção da mensagem daquele veículo de
comunicação, mas sim no reflexo de uma sociedade. Quais as ferramentas analíticas?

X. Hipóteses

Diante do contexto apresentado e levando em consideração as influências e


formações das três agendas (mediática, política e pública), ademais da construção
social da realidade através dos media, a hipótese do agenda-setting, a percepção da
opinião pública e do propaganda model (Herman e Chomsky, 2002), foram elaboradas
algumas hipóteses que foram ser testadas ao longo dessa dissetação.
H1: Os media contribuiram substancialmente na formação da opinião pública a
respeito do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff; assim, o processo de
impeachment obteve apoio e simpática da opinião pública a partir do media agenda-
setting. Aferindo essa hipótese tanto na pesquisa quantitativa de inquérito por
questionário quanto na análise de conteúdo.

H2: Seguindo a hipótese do agenda-setting, nesse contexto específico, os


media contribuiram não somente para dizer aos leitores sobre o que pensar, mas
também como pensar;
H3: Os indivíduos têm conhecimento da influência dos media na sociedade e
em suas percepções da realidade;
H4: Os media investigados nesse estudo (selecionados por critério de maior
audiência no país) seguem uma linha homogênea de editorial e ideologia que esteve a
favor do impeachment.

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