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UFCD 4478

TÉCNICAS DE
SOCORRISMO
PRINCÍPIOS BÁSICOS

2016

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ÍNDICE
1. Objetivos.................................................................................................................. 2
2. Conteúdos :.............................................................................................................. 2
3. Socorrismo, técnicas de socorrismo.........................................................................3
3.1. Objetivos Do Primeiro Socorro.............................................................................3
3.2. Cadeia de Sobrevivência....................................................................................... 8
3.3. Exame geral da vítima.........................................................................................11
3.4 Reanimação /Suporte Básico de Vida (SBV).......................................................16
4. ASFIXIA/SUFOCAÇÃO.......................................................................................22
5. CORPOS ESTRANHOS........................................................................................24
5.1. No olho................................................................................................................24
5.2. No ouvido............................................................................................................25
5.3 Nas vias respiratórias........................................................................................... 26
6. DESMAIO/PERDA SÚBITA DE CONSCIÊNCIA..............................................26
7. ELETROCUSSÃO (CHOQUE ELÉTRICO)........................................................ 28
8. ENTORSE..............................................................................................................28
9. ENVENENAMENTO............................................................................................29
10. EPISTAXIS/Hemorragia Nasal........................................................................... 32
11. FERIDAS............................................................................................................. 33
12. FRATURAS.........................................................................................................35
13. Crise de Hipoglicémia (Diabetes)........................................................................ 36
15. Convulsão.............................................................................................................38
16. Crise Asmática..................................................................................................... 40
BIBLIOGRAFIA:...................................................................................................... 42

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MANUAL DE TÉCNICAS DE SOCORRISMO
PRINCÍPIOS BÁSICOS

1. Objetivos

• Aplicar técnicas básicas de socorrismo;


• Definir corretamente uma ação de Primeiros Socorros, finalidades do socorrismo e
características do socorrista;
• Efetuar o exame primário da vítima corretamente de forma a evitar segundo trauma
ou evitar agravamento das lesões apresentadas;
• Saber estabelecer uma correta colaboração com as equipas de socorro especializado,
prestando informações que sejam importantes para um correto pré diagnóstico da
situação, sendo ativados os meios apropriados;
• Identificar precocemente uma paragem cárdio-respiratória ou obstrução das vias
aéreas, saber executar os protocolos, de forma a recuperar ou manter a sobrevivência
destas vítimas até à chegada dos meios de socorro adequados.

2. Conteúdos :

• Socorrismo, técnicas de socorrismo


• Exame geral da vítima (sintomatologia)
• Plano de ação do socorrista
• Choque
• Asfixia, respiração artificial
• Intoxicações
• Traumatismos
• Lesões (articulares, musculares e ósseas)
• Queimaduras
• Feridas
• Hemorragias (pulsação, garrote)

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3. Socorrismo, técnicas de socorrismo
A prestação de primeiros socorros só pode ser feita tendo a formação adequada. Os
princípios dos primeiros socorros são: preservar a vida, prevenir danos maiores e
promover a recuperação.

Se não frequentou nenhum curso de formação em primeiros socorros, não deverá


tentar prestá-los, porque a ajuda que tentar dar pode não ser útil e até prejudicar o
acidentado. Há uma técnica – a posição lateral de segurança – que é bastante simples de
aplicar. Este é o único procedimento a ser levado a cabo por quem não possui formação
em primeiros socorros.

3.1. Objetivos Do Primeiro Socorro

1ºPrevenir
2ºAlertar
3ºSocorrer

O que é um primeiro socorro?


Primeiro socorro é o tratamento inicial e temporário ministrado a acidentados e/ou
vítimas de doença súbita, num esforço de preservar a vida, diminuir a incapacidade e
minorar o sofrimento.

O primeiro socorro consiste, conforme a situação na:


 proteção de feridas,
 imobilização de fraturas,
 controlo de hemorragias externas,
 desobstrução das vias respiratórias e
 realização de manobras de Suporte Básico de Vida (SBV).

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Qualquer pessoa pode e deve ter formação em primeiros socorros. A sua
implementação não substitui nem deve atrasar a ativação dos serviços de emergência
médica, mas sim impedir ações intempestivas, alertar e ajudar, evitando o agravamento
do acidente.

Qualidades do socorrista:
- Autocontrolo e sentido de responsabilidade;
- Capacidade de organização e liderança;
- Capacidade de comunicação;
- Capacidade para tomar decisões;
- Compreensão e respeito pelo outro;
- Consciência das suas limitações.

Perante uma doença súbita ou um acidente grave, como ativar os serviços de


emergência médica?

a) Informar claramente o local onde se encontra a vítima;


b) Relatar de forma simples como se deu o acidente;
c) Dar indicações precisas sobre o estado da vítima;
d) Pedir a quem atendeu a chamada para repetir a mensagem, a fim de verificar se
esta foi devidamente entendida;
e) Contactar a família da vítima (de preferência o encarregado de educação, se se
tratar de um aluno). Promover um ambiente calmo, afastando eventuais curiosos e
evitando comentários;
f) Acalmar e, se possível, pedir informações à vítima sobre o sucedido;
g) Executar os primeiros socorros de acordo com o estado da vítima e as lesões
sofridas, seguindo as instruções contidas neste manual.

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kit de emergência transportável
É essencial num kit de emergência ter disponível e acessível material que o auxilie na
prestação de primeiros socorros.

Como organizar o kit?


Assegure que este contém o material indispensável e necessário.
O estojo de primeiros socorros deve, no mínimo, conter:
• 2 Pares de luvas esterilizadas, para evitar infeções. Também deve usá-las para sua
proteção, mesmo que não estejam esterilizadas;
• Pensos e compressas esterilizadas para estancar hemorragias;
• Anti-séptico para desinfeção da pele;
• Pomada para queimaduras;
• Ligaduras e adesivos de vários tamanhos e larguras;
• Soro fisiológico, nomeadamente para lavagem ocular;
• Termómetro;
• Algodão;
• Medicamentos de prescrição médica tomados regularmente.

Também será bom ter:


• Tesoura e pinça;
• Medicamento de venda livre (sem receita médica) para alívio da dor e da febre,
para obstipação e diarreia.

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O SIEM
Portugal tem, desde 1981, um Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM).
O SIEM é de um conjunto de entidades que cooperam com um objetivo: prestar
assistência às vítimas de acidente ou doença súbita. Essas entidades são a PSP, a GNR, o
INEM, os Bombeiros, a Cruz Vermelha Portuguesa e os Hospitais e Centros de Saúde.

O INEM é o organismo do Ministério da Saúde responsável por coordenar o


funcionamento, no território de Portugal Continental, do SIEM.

Conjunto de ações coordenadas, de âmbito extrahospitalar, hospitalar e inter-hospitalar,


que resultam da intervenção ativa e dinâmica dos vários componentes do sistema de
saúde nacional, de modo a possibilitar uma atuação rápida, eficaz e com economia de
meios em situações de emergência médica. Compreende toda a atividade de
urgência/emergência, nomeadamente o sistema de socorro pré-hospitalar, o transporte,
a receção hospitalar e a adequada referenciação do doente urgente/emergente.

FASES DO SIEM
Tendo como base o símbolo da ‘Estrela da Vida’, a cada uma das suas pontas
corresponde uma fase do SIEM.

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Deteção: Corresponde ao momento em que alguém se apercebe da existência de uma
ou mais vítimas de doença súbita ou acidente.
Alerta: É a fase em que se contactam os serviços de emergência, utilizando o Número
Europeu de Emergência - 112.
Pré-socorro: Conjunto de gestos simples que podem e devem ser efetuados até à
chegada do socorro.
Socorro: Corresponde aos cuidados de emergência iniciais efetuados às vítimas de
doença súbita ou de acidente, com o objetivo de as estabilizar, diminuindo assim a
morbilidade e a mortalidade.
Transporte: Consiste no transporte assistido da vítima numa ambulância com
características, tripulação e carga bem definidas, desde o local da ocorrência até à
unidade de saúde adequada, garantindo a continuidade dos cuidados de emergência
necessários.
Tratamento na Unidade de Saúde: Esta fase corresponde ao tratamento no serviço de
saúde mais adequado ao estado clínico da vítima. Em alguns casos excecionais, pode ser
necessária a intervenção inicial de um estabelecimento de saúde onde são prestados
cuidados imprescindíveis para a estabilização da vítima, com o objetivo de garantir um
transporte mais seguro para um hospital mais diferenciado e/ou mais adequado à
situação.

O Sistema começa quando alguém liga 112, o Número Europeu de Emergência. O


atendimento das chamadas cabe à PSP e à GNR, nas centrais de emergência. Sempre
que o motivo da chamada tenha a ver com a área da saúde, a mesma é encaminhada
para os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM.

Sempre que o CODU aciona um meio de emergência procura que o mesmo seja o que
está mais perto do local, independentemente da entidade a que pertence (INEM,
Bombeiros ou CVP).

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3.2. Cadeia de Sobrevivência

À luz do conhecimento médico atual, considera-se que há três atitudes que modificam o
resultado no socorro à vítima de paragem cárdio-respiratória (PCR):
1. Pedir ajuda, acionando de imediato o Sistema Integrado de Emergência Médica
(SIEM);
2. Iniciar de imediato manobras de Suporte Básico de Vida (SBV);
3. Aceder à desfibrilhação tão precocemente quanto possível mas apenas quando
indicado.

A paragem cárdio-respiratória é a paragem repentina do coração, que pode levar à


morte em poucos minutos se o indivíduo não for rápida e corretamente atendido.
Quando o coração deixa de bater, consequentemente o indivíduo deixa de respirar e a
falta de oxigénio no cérebro leva à morte dos neurónios, que pode gerar uma lesão
cerebral irreversível, em alguns casos.

Estes procedimentos sucedem-se de forma encadeada e constituem uma cadeia de


atitudes em que cada elo articula o procedimento anterior com o seguinte. Surge assim
o conceito de Cadeia de Sobrevivência, composta por quatro elos ou ações, em que o
funcionamento adequado de cada elo e a articulação eficaz entre os vários elos é vital
para que o resultado final seja uma vida salva.

Os quatro elos da cadeia de sobrevivência são:


1.Alerta: Acesso precoce ao Sistema Integrado de Emergência Médica - 112
2. Suporte Básico de Vida: Início precoce de SBV
3. Desfibrilhação Automática Externa: Desfibrilhação precoce
4. Suporte Avançado de Vida (SAV) precoce

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Fig. 1 – Elos da cadeia de sobrevivência

ACESSO PRECOCE
O rápido acesso ao SIEM assegura o início da Cadeia de Sobrevivência. Cada minuto sem
se chamar o socorro reduz a possibilidade de sobrevivência da vítima. Para o
funcionamento adequado deste elo é fundamental que quem presencia uma
determinada ocorrência seja capaz de reconhecer a gravidade da situação e saiba ativar
o sistema, ligando adequadamente 112 (para poder informar o quê, onde, como e
quem).
A incapacidade de adotar estes procedimentos significa falta de formação. A consciência
de que estes procedimentos podem salvar vidas humanas deve ser incorporada o mais
cedo possível na vida de cada cidadão.

SBV PRECOCE
Para que uma vítima em perigo de vida tenha maior hipótese de sobrevivência é
fundamental que sejam iniciadas, de imediato e no local onde ocorreu a situação,
manobras de SBV. Isto só se consegue se quem presencia a situação tiver a capacidade
de iniciar o SBV.
O SBV permite ganhar tempo, mantendo alguma circulação e alguma ventilação na
vítima, até à chegada de socorro mais diferenciado para instituir os procedimentos de
SAV.

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DESFIBRILHAÇÃO PRECOCE
A maioria das PCR no adulto ocorrem devido a uma perturbação do ritmo cardíaco a que
se chama Fibrilhação Ventricular (FV). Esta perturbação do ritmo cardíaco caracteriza-se
por uma atividade elétrica caótica de todo o coração, em que não há contração do
músculo cardíaco e, como tal, não é bombeado sangue para o organismo. O único
tratamento eficaz para esta arritmia é a desfibrilhação que consiste na aplicação de um
choque elétrico, externamente a nível do tórax da vítima, para que a passagem da
corrente elétrica pelo coração pare a atividade caótica que este apresenta. A
desfibrilhação eficaz é determinante na sobrevivência de uma PCR.
Também este elo da cadeia deve ser o mais precoce possível. A probabilidade de
conseguir tratar a FV com sucesso depende do fator tempo.

A desfibrilhação logo no 1º minuto em que se instala a FV pode ter uma taxa de sucesso
próxima dos 100%, mas ao fim de 8-10 minutos a probabilidade de sucesso é quase
nula.

SAV PRECOCE
Este elo da cadeia de sobrevivência é uma “mais-valia”. Nem sempre a desfibrilhação é
eficaz, por si só, para recuperar a vítima. Outras vezes a desfibrilhação pode não ser
sequer indicada. O SAV permite conseguir uma ventilação mais eficaz (através da
entubação endotraqueal) e uma circulação também mais eficaz (através da
administração de fármacos). Idealmente, o SAV deverá ser iniciado ainda na fase
pré-hospitalar e continuado no hospital, permitindo a estabilização das vítimas
recuperadas de PCR.
Integram também este elo os cuidados pós-reanimação, que têm o objetivo de
preservar as funções do cérebro e coração.

A Cadeia de Sobrevivência representa, simbolicamente, o conjunto de procedimentos


que permitem salvar vítimas de paragem cárdio-respiratória. Para que o resultado final
possa ser, efetivamente, uma vida salva, cada um dos elos da cadeia é vital e todos

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devem ter a mesma força. Todos os elos da cadeia são igualmente importantes: de nada
serve ter o melhor SAV se quem presencia a PCR não souber ligar 112.

3.3. Exame geral da vítima

Para iniciar o socorro às vítimas devemos estabelecer prioridades consoante a gravidade


das situações.

O diagnóstico da situação é feito através da Observação do Local e das Vítimas como


forma de obtermos o máximo de informação possível sobre o tipo de ocorrência e o
estado das mesmas.

Uma vez verificada a segurança do local, deve ser realizada de forma célere uma
avaliação inicial.

A avaliação da vítima divide-se em duas partes: avaliação inicial (primária) e avaliação


secundária.

Avaliação Inicial

Antes de qualquer outra atitude no atendimento às vítimas, deve-se obedecer a uma


sequência padronizada de procedimentos que permitirá determinar qual o principal
problema associado com a lesão ou doença e quais serão as medidas a serem tomadas
para corrigi-lo.

Essa sequência padronizada de procedimentos é conhecida como exame do paciente.


Durante o exame, a vítima deve ser atenta e sumariamente examinada para que, com
base nas lesões sofridas e nos seus sinais vitais, as prioridades do atendimento sejam
estabelecidas. O exame do paciente leva em conta aspetos subjetivos, tais como:

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 O local da ocorrência. É seguro? Será necessário movimentar a vítima? Há mais de
uma vítima? Pode-se dar conta de todas as vítimas?
 A vítima. Está consciente? Tenta falar alguma coisa ou aponta para qualquer parte
do corpo dela.
 As testemunhas. Elas estão tentando dar alguma informação? O socorrista deve
ouvir o que dizem a respeito dos momentos que antecederam o acidente.
 Mecanismos da lesão. Há algum objeto caído próximo da vítima, como escada,
moto, bicicleta, andaime e etc. A vítima pode ter sido ferida pelo volante do
veículo?
 Deformidades e lesões. A vítima está caída em posição estranha? Ela está queimada?
Há sinais de esmagamento de algum membro?
 Sinais. Há sangue nas vestes ou ao redor da vítima? Ela vomitou? Ela está tendo
convulsões?

As informações obtidas por esse processo, que não se estende por mais do que alguns
segundos, são extremamente valiosas na sequência do exame, que é subdividido em
duas partes: a análise primária e secundária da vítima.

2.1. Análise Primária

A análise primária é uma avaliação realizada sempre que a vítima está inconsciente e é
necessária para se detetar as condições que colocam em risco iminente a vida da vítima.
Ela se desenvolve obedecendo às seguintes etapas:

 determinar inconsciência;
 abrir vias aéreas;
 Verificar a respiração;
 Verificar a circulação; e
 Verificar grandes hemorragias.

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Exame Primário
As prioridades durante a avaliação de uma vítima são as seguintes:
1) Garantir a segurança da vítima, de terceiros e da equipa durante toda a intervenção;
2) Identificar e corrigir as situações que implicam risco de vida;
3) Não agravar o estado da vítima;
4) Limitar o tempo no local ao mínimo necessário para estabilizar a vítima, iniciar a
correção das situações que carecem de intervenção e preparar o seu transporte em
segurança;
5) Recolher informações relevantes: CHAMU (Circunstâncias, História, Alergias,
Medicação e Última refeição).

As seguintes 5 etapas constituem a avaliação inicial ou primária da vítima, pela seguinte


ordem de prioridade:
A. Airway: Permeabilização da Via Aérea com controlo da coluna Cervical;
B. Breathing: Ventilação e Oxigenação;
C. Circulation: Assegurar a Circulação com controlo da Hemorragia;
D. Disability: Disfunção Neurológica;
E. Expose/Environment: Exposição com controlo de Temperatura.

Primeiramente vamos avaliar o estado de consciência da vítima. Como vamos fazer? A


vítima está consciente ou inconsciente?
 Responde ou não a estímulos verbais, isto é, responde a perguntas simples como
o nome, a idade, recorda o que aconteceu (tentar chamar a pessoa,
perguntar-lhe o nome, pedir para abrir os olhos);
 Responde a estímulos dolorosos (bater levemente nos ombros).

1ª Situação: A Vítima está Consciente


Aproveitar o facto de a vítima estar ainda consciente para se conseguir o máximo de

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informações possível, pois em qualquer altura o estado de consciência pode alterar-se.
O que devemos perguntar?
 Consegue mobilizar (mexer) os seus membros (braços e pernas)?
 Tem dores? Onde? Em que zonas do seu corpo?
 Tem sensibilidade no seu corpo (sente tocar no corpo)?
 Onde estamos a tocar?
 Apresenta outras lesões?

2ª Situação: A Vítima está Inconsciente


O que devemos fazer?
Dado que a vítima não nos consegue transmitir nenhum tipo de informação porque está
inconsciente, uma das prioridades será Pesquisar as Funções Vitais e Identificar a Causa
que desencadeou a inconsciência. Para isso, é necessário:
 Avaliar a Ventilação (VOS):
 VER: verificar se existem movimentos respiratórios da caixa torácica (se o
tórax sobe e desce);
 OUVIR: tentar ouvir a respiração;
 SENTIR: sentir o ar expirado (a sair).
Durante 10 segundos

 Avaliar a Circulação: Pesquisar o pulso, em ambos os membros superiores


(braços) ou na artéria carótida (pescoço).
Durante 10 segundos

Exame Secundário
Em que consiste o Exame Secundário?
O Exame Secundário consiste numa observação mais detalhada da vítima, e em
interrogar a mesma, uma vez que todas as informações prestadas pela vítima são uma
mais-valia para se efetuar o diagnóstico da situação, pelo que devemos registar estas
informações não só para nós, mas para as transmitirmos aos profissionais de saúde.

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Existem 2 conjuntos de informações relevantes e que são:
SINAIS- É tudo aquilo que se Observa na vítima, como o diâmetro pupilar, a palidez, o
rubor, a existência ou não de pulso.
SINTOMAS- É tudo aquilo que a própria vítima diz Sentir, como a dor, as náuseas e
vómitos, as tonturas, a sensação de frio ou de calor.

Observação da Face: Verificar a existência de lesões na face como por exemplo


escoriações, queimaduras, edemas ou equimoses.
Observação da Pele: Coloração (normal, congestionada, pálida ou cianosada);
Temperatura (normal, quente ou fria); Grau de humidade da Pele (normal, seca ou
suada);
Observação das Pupilas: Diâmetro (normal, dilatada ou contraída); Simetria
(comparação dos diâmetros de ambas as pupilas); Reação à luz (Sim ou Não).

Posição Lateral de Segurança


A Posição Lateral de Segurança (PLS) deve ser utilizada nas pessoas inconscientes que
mantenham a ventilação. Esta posição previne a obstrução das vias aéreas superiores,
permitindo uma melhor ventilação.
Lateral - porque o indivíduo está deitado de Lado
De segurança - porque liberta as vias respiratórias, impedindo a queda da língua para
trás e a obstrução das vias aéreas pelo sangue, vómitos e mucosidade.

O que deve fazer (Fig. 2):


• Com a vítima deitada, rodar a cabeça para o lado (para impedir a queda da língua
para trás e a sufocação por sangue, vómitos ou secreções);
• Pôr o braço do lado para onde virou a cabeça ao longo do corpo;
• Fletir a coxa do lado oposto;
• Rodar lentamente o bloco cabeça-pescoço-tronco, mantendo a vítima estável;
• Manter a posição da cabeça virada para o lado.

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Fig. 2- Posição lateral de segurança

Posição do Socorrista:
 Coloca-se do lado para o qual pretende virar a vítima;
 Coloca um joelho em terra, os braços estendidos, as costas direitas;
 Uma das mãos sobre o joelho fletido e a outra sobre o cotovelo.

Colocação da Vítima em Posição Lateral de Segurança:


 Girar lentamente o bloco cabeça/pescoço/tronco através de um movimento de
báscula; puxar com suavidade a cabeça para trás, com a boca aberta;
 Ajeitar a perna que fica por cima, de forma a formar um ângulo reto;
 Manter a via aérea permeável, puxando a cabeça ligeiramente para trás de
forma a evitar a queda da língua e aspiração de vómito;
 Cobrir a vítima;
 Vigiar a respiração e o pulso frequentemente;
 Ajeitar o ombro da vítima.

3.4 Reanimação /Suporte Básico de Vida (SBV)

O QUE É O SUPORTE BÁSICO DE VIDA?


O SBV consiste num conjunto de procedimentos realizados sem recurso a equipamento
específico e que tem como objetivo a manutenção da vida e o ganho de tempo, até à
chegada de ajuda especializada. O SBV inclui:
• Avaliação inicial (verificar condições de segurança e se a vítima responde);

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• Permeabilização das vias respiratórias;
• Ventilação com ar expirado (respiração boca a boca);
• Compressão do tórax (compressão cardíaca externa).

Causas mais frequentes de paragem respiratória:


• Obstrução das vias respiratórias por corpo estranho;
• Afogamento;
• Eletrocussão (choque elétrico);
• Traumatismo craniano.

O que deve fazer:


Perante uma vítima inerte, aparentemente inconsciente, deve verificar:
 Se está inconsciente (verificar se responde);
 Se respira (ver os movimentos respiratórios, ouvir os sons respiratórios junto à
boca da vítima e sentir o ar na face, durante dez segundos);
 Se tem sinais de circulação (verificar se existe movimento e verificar o pulso na
artéria carótida, localizada no pescoço).

Estes procedimentos podem salvar a vida, sobretudo quando a causa de paragem


cárdio-respiratória está essencialmente relacionada com a obstrução da via
respiratória.

PERMEABILIZAÇÃO DAS VIAS RESPIRATÓRIAS


1. Deve certificar-se que as vias respiratórias se encontram desobstruídas e
proceder como recomendado;
2. Manter a vítima na posição em que foi encontrada (se possível), colocar-lhe uma
mão na testa, exercendo uma ligeira pressão para provocar a extensão da cabeça (Fig.3).

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Manter o polegar e o indicador livres para tapar o nariz, caso seja necessário iniciar a
ventilação boca a boca;
3. Com a ponta de dois dedos da outra mão colocados por debaixo do maxilar
inferior, levantar o queixo da vítima (Fig. 3). Esta manobra pode ajudar a reiniciar a
respiração;
4. Se tiver dificuldade em executar estas manobras na posição inicial, mobilizar a
vítima, virando-a de costas e proceder como recomendado nos pontos 1 e 2.

Fig.3

MUITA ATENÇÃO: se houver suspeita de traumatismo cervical, fazer a extensão do


queixo sem mobilizar nem fletir a cabeça.

Técnica de compressão cardíaca externa - SBV NO JOVEM/ADULTO


A decisão de iniciar o Suporte Básico de Vida (SBV) é tomada quando a vítima não
responde e não respira normalmente.
Os reanimadores devem colocar a mão no centro do tórax;
A relação compressões-ventilações no jovem/adulto é de trinta compressões
para duas insuflações (30:2);
A reanimação começa por 30 compressões torácicas, a iniciar imediatamente a
seguir à confirmação de paragem cárdio-respiratória e não pelas cinco
ventilações iniciais.

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Compressões Torácicas

Compressões / Ventilação

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30:

Ventilações

Boca-a-B Boca-Másc
 Soprar, observando a expansão do tórax da vítima
 Insuflações lentas (duração 1 segundos)
 Deixar sair o ar mantendo posicionamento da cabeça
 Repetir o procedimento

Compressões / Ventilação

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30
:

NÃO PÁRA ATÉ:


Chegada de SAV

Exaustão

Retorno de ventilação normal - Reavaliação

Em suma:

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Fig. 6 – Suporte Básico de Vida

Atenção:
Logo que a vítima respire normalmente, colocá-la em Posição Lateral de Segurança (PLS)
e mantê-la confortavelmente aquecida. Em qualquer situação, mesmo de aparente
recuperação total, a vítima deve ser enviada ao Hospital. É uma situação grave que
necessita transporte urgente para o Hospital.

4. ASFIXIA/SUFOCAÇÃO

Dificuldade respiratória que leva à falta de oxigénio no organismo. As causas podem ser
variadas, sendo a mais vulgar a obstrução das vias respiratórias por corpos estranhos
(objetos de pequenas dimensões, alimentos mal mastigados, etc.). Outras causas
possíveis de asfixia são: ingestão de bebidas ferventes ou cáusticas, pesos em cima do
peito ou costas, intoxicações diversas, paragem dos músculos respiratórios.
Quando algo bloqueia a passagem de ar, não há tempo suficiente para esperar pela
chegada de um socorro médico. A pessoa mais próxima precisa de agir rapidamente.

Sinais e Sintomas
Conforme a gravidade da asfixia, podem ir desde um estado de agitação, lividez,
dilatação das pupilas (olhos), respiração ruidosa e tosse, a um estado de inconsciência,
com paragem respiratória e cianose (tonalidade azulada) da face e extremidades.

O que deve fazer


A. Numa criança pequena:
Abra-lhe a boca e tente extrair o corpo estranho, se este ainda estiver visível, usando o
seu dedo indicador em gancho ou uma pinça, mas sempre com muito cuidado para não

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o empurrar!
Caso não esteja visível, coloque a criança de cabeça para baixo e dê-lhe algumas
pancadas a meio das costas, entre as omoplatas, com a mão aberta (figs. 7).

Fig.7

B. No jovem/adulto:
O socorrista deve atuar de imediato, aplicando 5 palmadas entre os ombros.
Se não surgir efeito deve aplicar a MANOBRA DE HEIMLICH!

Como efetuar a Manobra de Heimlich?


1. Coloque-se atrás da vítima com um pé ao lado e outro ligeiramente atrás da mesma e
com os braços a envolver o abdómen da vítima;
2. Coloque a sua mão fechada, abaixo do esterno e ligeiramente acima do umbigo, com
o polegar para dentro, contra o abdómen da vítima;
3. Agarre firmemente o punho com a outra mão;
4. Efetue 5 compressões abdominais, para dentro e para cima, de modo a aumentar a
pressão torácica, que irá expulsar o objeto. Note que cada compressão deve ser
suficientemente forte para deslocar a obstrução, mas não agressiva de forma a causar
fratura;
5. Reavalie a vítima, verificando se ainda tosse ou se já respira, verificando se o corpo
estranho saiu pela boca;
6. Se não obtiver êxito, repita a manobra de Heimlich, tantas vezes quanto as
necessárias.

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Se a respiração não se restabelecer e a vítima continuar cianosada (tonalidade azulada),
inicie o Suporte Básico de Vida. Logo que a respiração estiver restabelecida, ative o
Serviço de Emergência Médica para o transporte da vítima para o Hospital.

Fig. 8

Se as funções respiratórias não forem restabelecidas dentro de 3 a 4 minutos, as


atividades cerebrais cessarão totalmente, podendo levar à morte da vítima. O
oxigénio é vital para o cérebro!

5. CORPOS ESTRANHOS
Corpos estranhos são corpos que penetram no organismo, através de qualquer orifício,
ou após uma lesão de causa variável. Os corpos estranhos podem encontrar-se mais
frequentemente nos olhos, nariz, ouvidos ou vias respiratórias.

5.1. No olho
Os mais frequentes são: grãos de areia, insetos e limalhas.

SINAIS E SINTOMAS
• Dor ou picada local;
• Lágrimas;
• Dificuldade em manter as pálpebras abertas.

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O QUE DEVE FAZER
• Abrir as pálpebras do olho atingido com muito cuidado;
• Fazer correr água sobre o olho, do canto interno, junto ao nariz, para o externo
(fig. 9);
• Repetir a operação duas ou três vezes;
• Se não obtiver resultado, fazer um penso oclusivo, isto é, colocar uma compressa
e adesivo, e enviar ao Hospital.

Fig.9

O QUE NÃO DEVE FAZER


• Esfregar o olho;
• Tentar remover o corpo estranho com lenço, papel, algodão ou qualquer outro
objeto.

5.2. No ouvido
Os corpos estranhos mais frequentes são os insetos.

SINAIS E SINTOMAS
Pode existir surdez, zumbidos e dor, sobretudo se o inseto estiver vivo.

O QUE DEVE FAZER


Se se tratar de um inseto, deitar uma gota de azeite ou óleo e depois enviar ao Hospital.

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Outros corpos estranhos, enviar ao Hospital.

O QUE NÃO DEVE FAZER


Tentar remover o objeto.

5.3 Nas vias respiratórias


Os corpos estranhos podem causar perturbações nas vias respiratórias, de natureza
variável de acordo com a sua localização.

SINAIS E SINTOMAS
São também variáveis. Pode existir dificuldade respiratória, dor, vómitos e nos casos
mais graves asfixia, que pode conduzir à morte.

No nariz
Os mais frequentes, na criança, são os feijões ou objetos de pequenas dimensões, como
botões e peças de brinquedos.

O QUE DEVE FAZER


Pedir à criança para se assoar com força, comprimindo a narina contrária com o dedo,
tentando assim que o corpo seja expelido. Se não obtiver resultado, enviar ao Hospital.

6. DESMAIO/PERDA SÚBITA DE CONSCIÊNCIA

É provocado por falta de oxigénio no cérebro, à qual o organismo reage de forma


automática, com perda de consciência e queda brusca e desamparada do corpo.
Normalmente, o desmaio dura 2 a 3 minutos.
Pode ter diversas causas: excesso de calor, fadiga, jejum prolongado, permanência
de pé durante muito tempo, etc.

SINAIS E SINTOMAS
• Palidez;

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• Suores frios;
• Falta de força;
• Pulso fraco.

O QUE DEVE FAZER


1º. SE NOS APERCEBERMOS DE QUE UMA PESSOA ESTÁ PRESTES A DESMAIAR: (FIG.10)
• Sentá-la;
• Colocar-lhe a cabeça entre as pernas;
• Molhar-lhe a testa com água fria;
• Dar-lhe de beber chá ou café açucarados.

Fig. 10

2.º. SE A PESSOA JÁ ESTIVER DESMAIADA.(FIG.11)


• Deitá-la com a cabeça de lado e as pernas elevadas acima do tórax;
• Desapertar-lhe as roupas;
• Mantê-la confortavelmente aquecida, mas, sempre que possível, em local arejado;
• Logo que recupere os sentidos, dar-lhe uma bebida açucarada;
• Consultar posteriormente o médico.

Fig. 11

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7. ELETROCUSSÃO (CHOQUE ELÉTRICO)

Eletrocussão ou choque elétrico é uma situação provocada pela passagem de corrente


elétrica através do corpo.

O QUE DEVE FAZER


• Desligar o disjuntor para cortar imediatamente a corrente elétrica;
• Ter o máximo cuidado em não tocar na vítima sem previamente ter desligado a
corrente;
• Prevenir a queda do sinistrado;
• Aplicar o primeiro socorro conveniente:
– Reanimação Cárdio-respiratória.
– Aplicação de uma compressa ou de um pano bem limpo sobre a queimadura.

É UMA SITUAÇÃO GRAVE QUE NECESSITA TRANSPORTE URGENTE PARA O HOSPITAL.

O QUE NÃO DEVE FAZER


• Tocar na vítima se estiver em contacto com a corrente elétrica;
• Tentar afastar o fio de alta tensão com um objeto.

8. ENTORSE
A entorse é uma lesão nos tecidos moles (cápsula articular e/ou ligamentos) de uma
articulação.

SINAIS E SINTOMAS
• A dor na articulação é gradual ou imediata;
• Observa-se edema (inchaço) na articulação lesada;
• Verifica-se imediata ou gradualmente uma incapacidade para mexer a articulação.

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O QUE DEVE FAZER
• Evitar a movimentação da articulação lesionada e proceder à imobilização do
membro;
• Elevar o membro lesionado;
• Aplicar gelo ou deixar correr água fria sobre a articulação;
• Consultar posteriormente o médico.

9. ENVENENAMENTO

O envenenamento é o efeito produzido no organismo por um veneno, quer este seja


introduzido pela via digestiva, pela via respiratória ou pela pele.

A. ENVENENAMENTO POR VIA DIGESTIVA

9.1. PRODUTOS ALIMENTARES


SINAIS E SINTOMAS
Arrepios e sudação abundante, dores abdominais, náuseas e vómitos, diarreia,
vertigens, prostração, síncope (desmaio), agitação e delírio.

O QUE DEVE FAZER


• Recolher informação junto da vítima, no sentido de tentar perceber a origem do
envenenamento;
• Manter a vítima confortavelmente aquecida.

É UMA SITUAÇÃO GRAVE QUE NECESSITA TRANSPORTE URGENTE PARA O HOSPITAL.

9.2. MEDICAMENTOS
SINAIS E SINTOMAS
Dependem do medicamento ingerido: pode-se observar vómitos, dificuldade
respiratória, perda de consciência, sonolência, confusão mental, etc.

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O QUE DEVE FAZER
• Falar com a vítima no sentido de tentar obter o maior número possível de
informações sobre o envenenamento;
• Pedir imediatamente orientações para o Centro de Informação Anti-Venenos
(CIAV) do INEM – 808 250 143;
• Indicar o produto ingerido, a quantidade provável, a hora a que foi ingerido e a
hora da última refeição;
• Manter a vítima confortavelmente aquecida.

É UMA SITUAÇÃO GRAVE QUE NECESSITA TRANSPORTE URGENTE PARA O HOSPITAL.

9.3. PRODUTOS TÓXICOS


Muitos produtos químicos são altamente tóxicos quando ingeridos: detergentes, outros
produtos de limpeza, lixívia, álcool puro ou similares, amoníaco, pesticidas, produtos de
uso agrícola ou industrial, ácidos (sulfúrico, clorídrico, nítrico e outros), gasolina, potassa
cáustica, soda cáustica, etc.

SINAIS E SINTOMAS
É importante recolher informação junto da vítima, ou de alguém perto desta, sobre o
contacto com o veneno ou a presença de algum recipiente que possa ter contido ou
contenha veneno.

Os sintomas variam com a natureza do produto ingerido; podem ser:


• Vómitos e diarreia;
• Espuma na boca;
• Face, lábios e unhas azuladas;
• Dificuldade respiratória;
• Queimaduras à volta da boca (venenos corrosivos);
• Delírio e convulsões;
• Inconsciência.

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O QUE DEVE FAZER
• Se a vítima estiver consciente, questioná-la no sentido de tentar obter o maior
número possível de informações sobre o envenenamento;
• Pedir imediatamente orientações para o Centro de Informação Anti-Venenos(CIAV)
do INEM – 808 250 143;
• Ingestão de álcool – Apenas neste caso, dar uma bebida açucarada;
• Queimaduras nos lábios – Molhá-los suavemente com água, sem deixar engolir;
• Contacto com os olhos – Afastar as pálpebras e lavar com água corrente durante
15 minutos;
• Contaminação da pele – Retirar as roupas e lavar abundantemente com água
durante 15 minutos.

O QUE NÃO DEVE FAZER


• Dar de beber à vítima, pois pode favorecer a absorção de alguns venenos;
• Provocar o vómito se a vítima ingeriu um cáustico, um detergente ou um solvente;
• Aplicar quaisquer produtos nos olhos.
Em caso de intoxicação, conduzir a vítima imediatamente ao Hospital, levando
amostras do veneno encontrado.

B. ENVENENAMENTO POR VIA RESPIRATÓRIA

Os mais frequentes são o envenenamento pelo gás carbónico (fossas sépticas), pelo
monóxido de carbono, presente nos gases de combustão (braseiras, automóveis,
esquentadores, aquecimentos a gás, etc.) e pelo gás propano/butano (gás de uso
doméstico).

SINAIS E SINTOMAS
A vítima começa por sentir um ligeiro mal-estar, seguido de dor de cabeça, zumbidos,
tonturas, náuseas, vómitos e uma apatia profunda ou confusão que a impede de fugir

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do local onde se encontra.

Se a vítima não é rapidamente socorrida, este estado é seguido por perda gradual de
consciência e coma.

O QUE DEVE FAZER


• Entrar na sala onde ocorreu o acidente, contendo a respiração, e abrir a janela;
• Voltar ao exterior para respirar fundo;
• Entrar de novo e arrastar a vítima para o exterior, de preferência para o ar livre;
• Ligar para o Centro de Informação Anti-Venenos (CIAV ) – 808 250 143;
• Desapertar as roupas;
• Se necessário, realizar o Suporte Básico de Vida.

Atenção:
Se se tratar de uma fossa séptica, não tente retirar a vítima sem utilizar máscara
antigás. É uma situação grave que necessita transporte urgente para o Hospital.

10. EPISTAXIS/Hemorragia Nasal


Epistaxis é a hemorragia nasal provocada pela rutura de vasos sanguíneos da mucosa do
nariz.

SINAIS E SINTOMAS
• Saída de sangue pelo nariz, por vezes abundante e persistente.
• Se a hemorragia é grande, o sangue pode sair também pela boca.

O QUE DEVE FAZER


• Sentar a vítima com a cabeça direita no alinhamento do corpo (nem para trás,
nem para a frente);
• Comprimir com o dedo a narina que sangra, durante 10 minutos (Fig. 11);
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• Aplicar gelo exteriormente, não diretamente sobre a pele;
• Se a hemorragia não parar, introduzir um tampão coagulante na narina que
sangra (“Spongostan”, por exemplo), fazendo ligeira pressão para que a cavidade nasal
fique bem preenchida.

Fig. 12

O QUE NÃO DEVE FAZER:


Não ponha a cabeça entre os joelhos nem a coloque para trás. O último é o pior porque
existe a possibilidade da pessoa aspirar o próprio sangue para os pulmões ou para o
estômago causando acesso de vómitos.

Atenção:
Antes de qualquer procedimento o socorrista deve calçar luvas descartáveis. Se a
hemorragia persistir mais do que 10 minutos, transportar a vítima para o Hospital.

11. FERIDAS

Uma ferida é uma solução de continuidade da pele, quase sempre de origem traumática,
que além da pele (ferida superficial) pode atingir o tecido celular subcutâneo e muscular
(ferida profunda).

O QUE DEVE FAZER


• Antes de tudo, o socorrista deve lavar as mãos e calçar luvas descartáveis;
• Proteger provisoriamente a ferida com uma compressa esterilizada;
• Limpar a pele à volta da ferida com água e sabão;

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• Lavar, do centro para os bordos da ferida, com água e sabão, solução de
clorhexidina, por ex. Hibiscrub, ou similar, utilizando compressas;
• Secar a ferida com uma compressa através de pequenos toques, para não destruir
qualquer coágulo de sangue;
• Desinfetar com anti-séptico, por ex. Betadine em solução dérmica;
• Depois de limpa, se a ferida for superficial e de pequenas dimensões, deixá-la
preferencialmente ao ar, ou então aplicar uma compressa esterilizada;
• Se a ferida for mais extensa ou profunda, com tecidos esmagados ou infetados, ou
se contiver corpos estranhos, deverá proteger apenas com uma compressa esterilizada e
encaminhar para tratamento por profissionais de saúde. É uma situação grave que
necessita transporte urgente para o Hospital.

O QUE NÃO DEVE FAZER


• Tocar nas feridas sangrantes sem luvas;
• Utilizar o material (luvas, compressas, etc.) em mais de uma pessoa;
• Soprar, tossir ou espirrar para cima da ferida;
• Utilizar mercurocromo ou tintura de metiolato (deve utilizar Betadine dérmico);
• Fazer compressão direta em locais onde haja suspeita de fraturas ou de corpos
estranhos encravados, ou junto das articulações;
• Tentar tratar uma ferida mais grave, extensa ou profunda, com tecidos esmagados
ou infetados, ou que contenha corpos estranhos.

FERIDA NOS OLHOS


O QUE DEVE FAZER
• Deitar a vítima com a cabeça completamente imóvel e olhando para cima;
• Cobrir o olho com compressas esterilizadas;
• Evitar que a vítima tussa, prevenindo o aumento da pressão intra-ocular.

Atenção:
Deve-se pensar na possibilidade de existir uma ferida no olho sempre que haja uma

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ferida grave na face. É uma situação grave que necessita transporte para o Hospital.

12. FRATURAS

Uma fratura é uma solução de descontinuidade no tecido ósseo. Em caso de fratura ou


suspeita de fratura, o osso deve ser imobilizado. Qualquer movimento que provoque
dores intensas deve ser evitado.

SINAIS E SINTOMAS
Deve-se pensar na possibilidade de fratura sempre que haja um ou mais dos seguintes
sinais e sintomas:
• Dor intensa no local;
• Edema (inchaço);
• Perda total ou parcial dos movimentos;
• Encurtamento ou deformação do membro lesionado.

O QUE DEVE FAZER


• Expor a zona da lesão (desapertar ou se necessário cortar a roupa);
• Verificar se existem ferimentos;
• Tentar imobilizar as articulações que se encontram antes e depois da fratura,
utilizando talas apropriadas ou, na sua falta, improvisadas (Fig. 13/14).

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Fig. 13 Fig. 14

ATENÇÃO:
• As fraturas têm de ser tratadas no Hospital;
• As talas devem ser sempre previamente almofadadas e bastante sólidas. Quando
improvisadas, podem ser feitas com barras de metal ou varas de madeira;
• Se se utilizarem talas insufláveis, estas devem ser desinsufladas de 15 em 15
minutos para aliviar a pressão que pode dificultar a circulação do sangue.

O QUE NÃO DEVE FAZER


• Tentar fazer redução da fratura, isto é, tentar encaixar as extremidades do osso
partido;
• Provocar apertos ou compressões que dificultem a circulação do sangue;
• Procurar, numa fratura exposta, meter para dentro as partes dos ossos que
estejam visíveis.

13. Crise de Hipoglicémia (Diabetes)

A diabetes é uma doença crónica caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar no
sangue. Esta doença resulta de um deficiente funcionamento do pâncreas e da
capacidade do nosso organismo usar a glicose (açúcar). A diabetes da criança e do jovem
requer tratamento com insulina.
A complicação mais grave e frequente do diabético é a crise de HIPOGLICÉMIA (baixa de

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açúcar no sangue). Ocorre habitualmente por atraso ou falha de uma refeição, vómitos,
insulina em excesso, má técnica na administração de insulina ou atividade física intensa,
surgindo então alguns dos seguintes sinais e sintomas.

SINAIS E SINTOMAS
• Palidez, suores, tremores das mãos;
• Fome intensa;
• Confusão mental, raciocínio lento, bocejos repetidos, expressão apática,
“apalermada”;
• Voz entaramelada;
• Alterações de humor: irritabilidade, agressividade, “rabujice”, teimosia, apatia;
• Palpitações, pulso rápido;
• Perda da fala e dos movimentos ativos;
• Desmaio, convulsão, coma.

O QUE DEVE FAZER


HIPOGLICÉMIA MODERADA
• Lidar com a pessoa com calma, meiguice e delicadeza (habitualmente há rejeição
e teimosia em relação ao que lhe é proposto);
• Dar açúcar:
– 1 colher de sopa cheia ou 2 pacotes de açúcar (10 a 15 g). Aguardar 2-3 minutos e
repetir a operação até melhoria dos sintomas;
– Determinar, se possível, uma glicémia capilar com o kit individual que
habitualmente as pessoas diabéticas transportam consigo (fig.15);
– Após melhoria (mais ou menos 10 a 15 minutos), dar hidratos de carbono de
absorção lenta (pão de mistura, bolachas de água e sal ou integrais, ou tostas).

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Fig. 15

HIPOGLICÉMIA GRAVE
Vítima com alterações de consciência.
• Deitar a vítima em Posição Lateral de Segurança;
• Fazer uma papa de açúcar e colocá-la no interior da bochecha;
• Se a vítima não recuperar, chamar o 112.

O QUE NÃO DEVE FAZER


• Deixar a vítima sozinha;
• Dar líquidos açucarados à vítima com alterações de consciência.

Atenção:
Utilize o açúcar à menor suspeita, pois tomado em exagero de vez em quando não
prejudica, enquanto a falta ou o atraso ataca o cérebro e pode levar ao coma e à morte.
Se a vítima não consegue engolir, é uma situação grave que necessita transporte
urgente para o Hospital. Não perder tempo!

15. Convulsão
Uma convulsão é a resposta a uma descarga elétrica anormal no cérebro. É muitas vezes
conhecida por “ataque” e caracteriza-se por alguns dos seguintes sinais ou sintomas.

SINAIS E SINTOMAS
• Face arroxeada;
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• Movimentos bruscos e descontrolados da cabeça e/ou extremidades;
• Perda de consciência, com queda desamparada;
• Olhar vago, fixo e/ou “revirar dos olhos” (precede os anteriores);
• “Espumar pela boca”;
• Perda de urina e/ou fezes;
• Morder a língua e/ou lábios.

O QUE DEVE FAZER


• Afastar todos os objetos onde a vítima se possa magoar e amparar-lhe a cabeça
com a mão ou com um objeto macio (camisola, toalha);
• Desapertar a roupa à volta do pescoço;
• Tornar o ambiente calmo, afastando os curiosos;
• Anotar a duração da convulsão;
• Acabada a fase de movimentos bruscos, colocar a vítima na Posição Lateral de
Segurança (PLS);
• Manter a vítima num ambiente tranquilo e confortável;
• Avisar os Pais;
• Enviar a vítima ao Hospital sempre que:
– for a primeira convulsão;
– durar mais de 8 minutos;
– se repetir.

Atenção:
Na criança pequena (idade inferior a 5 anos), a convulsão pode ser provocada (ou
acompanhada) por febre.

Quando a crise terminar, deve verificar a temperatura axilar e se tiver mais de 37,5 ºC
administrar antipirético sob a forma de supositório (Paracetamol, por exemplo:
Ben-U-Ron, Tylenol ou similar).

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O QUE NÃO DEVE FAZER
• Tentar imobilizar a vítima durante a fase de movimentos bruscos;
• Tentar introduzir-lhe qualquer objeto na boca, nomeadamente dedos, lenços,
panos, espátulas, colheres, etc.;
• Tentar acordá-la ou forçá-la a levantar-se;
• Dar-lhe, seja o que for, a comer, a beber ou a cheirar.

16. Crise Asmática

A asma é uma doença respiratória crónica, na qual os brônquios reagem de forma


excessiva em algumas circunstâncias, dificultando o fluxo normal de ar. Esta obstrução
generalizada é variável e os sintomas podem reverter espontaneamente ou através de
tratamento. A criança/jovem com asma é capaz de reagir com uma crise de falta de ar
em situações de exercício intenso (nomeadamente corrida), conflito, ansiedade, castigos,
etc.

SINAIS E SINTOMAS
• Tosse seca e repetitiva;
• Dificuldade em respirar;
• Respiração sibilante, audível, ruidosa (“pieira” e/ou “farfalheira”);
• Sensação de falta de ar;
• Comportamento agitado;
• Respiração rápida e difícil;
• Pulso rápido, palidez e suores;
• Prostração, apatia (“ar parado”).

Atenção:
Na fase de agravamento da crise, a respiração é muito difícil, lenta e há cianose das
extremidades, isto é, as unhas e os lábios estão arroxeados. É uma situação grave que
necessita transporte urgente para o Hospital.

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O QUE DEVE FAZER
• É importante ser capaz de conter a angústia e a ansiedade da criança/jovem,
falando calmamente e assegurando-lhe rápida ajuda médica;
• Deve ficar com a criança/jovem num local arejado onde não haja pó, cheiros ou
fumos;
• Colocá-la numa posição que lhe facilite a respiração;
• Contactar e informar a família;
• Identificar e ajudar a administrar o tratamento prescrito (broncodilatador) que
normalmente acompanha a pessoa (fig.16).

Fig.16
Note bem:
Se não houver melhoria, a criança deve ser transportada para o Hospital.

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BIBLIOGRAFIA:

Isabel Reis, Manual de Primeiros Socorros- Situações de Urgência nas Escolas, Jardins de
Infância e Campos de Férias, Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular

Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, I.P., Manual de Situações de


Emergência e Primeiros Socorros

Capa: DO IT BETTER

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EDIÇÃO: OUTUBRO DE 2016

Manual elaborado, para uso exclusivo da DIB

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