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Audiodescrição: práticas e reflexões
Audiodescrição:
práticas e reflexões
1ª edição
Santa Cruz do Sul
2016
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Audiodescrição: práticas e reflexões
CONSELHO EDITORIAL
165 p.
Texto eletrônico.
Modo de acesso: World Wide Web.
CDD: 362.41
ISBN: 978-85-69563-04-4
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Audiodescrição: práticas e reflexões
Sumário
Apresentação 5
Prefácio 6
Lívia Maria Villela de Mello Motta
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Audiodescrição: práticas e reflexões
Apresentação
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Prefácio
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leitor terá uma verdadeira aula sobre elaboração de roteiros, escolhas tra-
dutórias e poderá refletir sobre questões que sempre vêm à baila quando
discutimos a audiodescrição: objetividade, neutralidade, carga imagética
e linguagem cinematográfica, dentre outros aspectos.
Juarez Nunes de Oliveira Júnior e Pedro Henrique Lima Praxedes
Filho, ambos pesquisadores do grupo LEAD da Universidade Estadual do
Ceará (UECE), fizeram um estudo com filmes curta metragem e com obras
de arte, buscando verificar os parâmetros de neutralidade. Chegaram à
conclusão que é não possível fazer o apagamento da voz do audiodescri-
tor e constataram a presença marcante de avaliações/interpretações nos
roteiros avaliados.
Melina Cardoso, jornalista e audiodescritora recém saída
do Curso de Especialização em Audiodescrição pela UFJF propõe a
audiodescrição de charges políticas em jornais de grande circulação
como a Folha de São Paulo. Ela fez uma pesquisa com pessoas cegas
sobre esse tema e chegou à conclusão que na sua grande maioria,
essas pessoas ainda têm dificuldades para ter acesso a todo o conteúdo
de um veículo de informação, considerando que estes ainda não oferecem
aos leitores o acesso ao conteúdo imagético, não fazendo a descrição
sistemática das imagens que ilustram as matérias. Poder fazer a leitura de
uma charge política, compreendendo seu significado, coloca as pessoas
com deficiência visual em igualdade de oportunidades, fazendo com que
se sintam respeitadas em seus direitos de acesso à comunicação.
Letícia Schwartz, assim como Mônica Magnani e Melina Cardoso, é
audiodescritora especialista pela UFJF, uma das primeiras profissionais a
trabalhar com o recurso no sul do país. Ela aborda um tema ainda pouco
estudado e que traz grandes desafios para o audiodescritor, que é a arte
de fazer rir, a audiodescrição de filmes de comédia. Como traduzir piadas
visuais que provocam riso nos espectadores, de forma a permitir que o
público com deficiência visual possa rir ao mesmo tempo. Falar sobre a
graça, sobre os trejeitos ou gestos que provocam riso, traduzir isso em
palavras nem sempre é tão engraçado quanto a visualização da cena hi-
lária. Nesse sentido, além do roteiro com escolhas lexicais adequadas ao
gênero, também a narração desempenha um papel crucial. A inflexão vo-
cal, entonação, pausas e uma certa interpretação do roteiro, certamente,
poderão contribuir para levar o espectador ao riso.
Patrícia Gomes de Almeida, artesã, poeta e designer de moda,
também formada pelo Curso de Especialização em Audiodescrição da
UFJF, relata sua experiência em fazer a audiodescrição de uma video-ins-
talação que mistura poesia com retalhos e como ela foi compreendida
pelas pessoas com deficiência visual. Conseguiu fazer chegar a sua arte,
como ela é, até esse público.
Lísia Regina Ferreira Michels e Mara Cristina Fortuna da Silva, uma
doutora em Educação e a outra mestranda, pesquisadoras da Universidade
Federal Fronteira Sul (UFFS) discutem a importância da audiodescrição na
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Consultoria em
audiodescrição:
alguns caminhos
e possibilidades
1 Graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/
RS). Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mes-
tre e Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pós-Doutora-
do pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA).
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1960, nos Estados Unidos, levando cerca de duas décadas para chegar
ao Brasil. Tais ideias baseadas nas diretrizes de Direitos Humanos que ti-
veram como principais metas a construção de oportunidades de convívio
e participação social de modo igualitário.
Desse período em diante, intensificaram-se muito as políticas pu-
blicas que objetivaram criar as condições de participação social desses
grupos minoritários, como o das pessoas com deficiência visual. Tais mo-
vimentos não ocorrem de maneira uniforme ou sem resistências, mas é
preciso reconhecer que trouxeram à tona a discussão que até hoje está
em curso: a acessibilidade e a inclusão das pessoas com deficiência, mais
especificamente o protagonismo das pessoas cegas e com baixa visão.
A cultura foi um importante cenário de reivindicação de direitos e
a luta pela acessibilidade nesses ambientes segue sendo uma das priori-
dades para esses grupos. Participar da vida social e cultural em igualda-
de de condições é fundamental tanto para o incremento de informações
quanto para o processo de fruição artística. Isso só é possível em sua
plenitude na medida em que existam recursos que contemplem as espe-
cificidades dos sujeitos.
Nesse contexto, a audiodescrição tem papel primordial para as
pessoas cegas e com baixa visão. Seu uso passou a ser desenvolvido a
algumas décadas, já que as primeiras experimentações começaram no
final dos anos 1950, mas que se tornaram consistentes nos anos 1980.
No Brasil, a AD teve seu marco inicial em 1999, quando Bell Ma-
chado realizou atividades de narração audiodescritiva de filmes em uma
associação de cegos de Campinas. Comercialmente, começou em 2003,
quando ocorreu o festival “Assim Vivemos”, cuja temática é voltada às
pessoas com deficiência (MOTTA; ROMEU FILHO, 2006, p 25). Ainda as-
sim, esse recurso de acessibilidade vem tendo maior repercussão com a
regulamentação do Decreto nº 5296, que determina sua obrigatoriedade
na televisão aberta brasileira, vigorando desde 20112. Desse modo, esse
é um momento de expansão da AD no Brasil e de sua reivindicação por
parte das pessoas com deficiência visual.
Meu envolvimento com a AD começou em 2010, quando conheci
o recurso efetivamente. Participei de uma sessão de cinema em que havia
audiodescrição e fiquei muito interessado em conhecer mais aquela for-
ma de acessibilidade que abria as portas para um novo e mais rico mun-
do de possibilidades de entender o cinema, já que possuo baixa visão.
No mesmo dia, realizei pesquisas na internet sobre o que era au-
diodescrição, como ela poderia ser usada e onde poderia encontrar mais
produtos audiodescritos. Em 2011, por conta de minhas atividades aca-
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quer pessoa cega ou com baixa visão possa ser consultora pelo simples
fato de não enxergar ou enxergar pouco.
Diante das representações e estereótipos estabelecidos sobre as
pessoas com deficiência visual, imagina-se que todas pensam e agem
mais ou menos da mesma forma. No entanto, é preciso perceber que
existem muitas diferenças entre os membros desse grupo, dependendo
das circunstâncias de vida, do tipo de limitações físicas e/ou psicológicas
advindas da deficiência e outros fatores.
Da mesma maneira, sujeitos cegos e com baixa visão têm formas
diferentes de se relacionar com os produtos culturais, como por exemplo,
com o cinema. Assim, de acordo com Vilaronga (2010, p. 68):
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imagens. Isso não quer dizer que todas as pessoas com deficiência vi-
sual tenham as mesmas necessidades ou que todos sintam e percebam o
mundo da mesma maneira.
Porém, cabe ao consultor expressar o que acredita que seria com-
preendido pela maioria das pessoas cegas e com baixa visão mesmo diante
de sua ampla diversidade. Eis uma de suas maiores responsabilidades: ates-
tar enquanto usuário pela qualidade e eficiência de um produto que será
destinado e multiplicado a tantas outras pessoas com deficiência visual.
A pluralidade existente entre as pessoas com deficiência visual
faz com que dificilmente haja consenso sobre qual a melhor forma de
descrever e de realizar a consultoria. É quase impossível realizar consul-
torias contemplando as especificidades de todas as pessoas desse grupo.
Assim, o que buscamos é atingir adequadamente a um público médio.
De minha parte, embora tenha baixa visão tento sempre perceber
a necessidade da maior parte das pessoas cegas, dado que aqueles que
têm baixa visão ainda conseguem obter algum tipo de estímulo visual.
Mais do que isso, procuro estabelecer diálogos constantes com outros
“colegas” com deficiência visual, com o objetivo de entender a necessi-
dade e os desejos de uma parcela considerável desse grupo, e não só
daquilo que imagino ser o mais adequado.
É fundamental que o consultor de AD tenha uma série de
competências que lhe permitam construir um pensamento critico e in-
terpretativo que proporcione a ele condições de aferir a qualidade e a
clareza do texto feito pelo roteirista. Isso significa que é preciso que o
consultor possua um mínimo de escolaridade, ou até trajetória acadêmi-
ca e trajetória de vida, que lhe confiram capacidade para refletir sobre
seu trabalho, tendo uma visão de mundo aguçada aliada ao fato de estar
sempre bem informado sobre o que acontece em nossa sociedade.
Também se faz necessário que possua um bom conhecimento da
língua portuguesa, tanto em sua estrutura e gramática, quanto em seu am-
plo vocabulário e seu uso adequado em diferentes contextos linguísticos e
sociais. A substituição de um adjetivo por outro mais pertinente pode ser
crucial para a interpretação adequada da AD de determinado produto.
O consultor em AD deve também dominar a temática do produto
a ser descrito. Caso não domine o tema completamente, a pessoa deve
ser capaz de pesquisar sobre o assunto e cercar-se de todo embasamento
possível para que possa expressar-se de modo claro e seguro, emitindo
opiniões bem fundamentadas e pertinentes para a compreensão da obra
ou produto cultural.
Se é verdade que para uma pessoa com deficiência visual exercer
a função de consultoria deve desenvolver competências para tal, também
é verdade dizer que uma equipe que objetive fazer AD sem consultoria
específica da pessoa com deficiência visual é, em minha opinião, uma
equipe incompleta.
É algo imperioso para a qualidade do trabalho as percepções do
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sujeito cego ou com baixa visão, dado que o ponto de vista daquele
que vivencia a necessidade de uma descrição é insubstituível. Nenhuma
sensibilização ou tentativa de vendar os olhos ou assistir a um filme de
olhos fechados equivale à experiência da deficiência na prática, afinal,
colocar-se no lugar do outro é fundamental, mas ser o outro e viver suas
experiências não é algo possível.
Experimentando a consultoria
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4 Os grifos nos excertos representam as observações que faço sobre a parte do roteiro
que creio dever ser alterada, apresentando também uma solução ou questionamento.
5 Os excertos retirados de determinados roteiros de audiodescrição dos quais fiz a con-
sultoria não serão denominados com o objetivo de manter o anonimato. Mesmo porque,
a ideia não é olhar para quem os fez, e sim, de usá-los como exemplos.
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Considerações finais
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deve ser modificado além daquilo que satisfaz à maioria dos consultores
em AD. Então, há ainda árduos e prazerosos desafios pela frente, que
pretendo tatear, sentir suas nuances e fazer da AD, não só um recurso
de acessibilidade, mas um mundo de possibilidades inclusive no âmbito
político de empoderamento das pessoas com deficiência visual.
Referências
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A (não)neutralidade
em roteiros de
audiodescrição-AD de filmes
de curta-metragem via
sistema de avaliatividade
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1. Introdução
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TIPOS DE ATITUDE:
• ‘afeto’ – remete aos sentimentos emotivos positivos e negativos
que demonstramos através da língua, como por exemplo: “O dia em que
eu deixei o orfanato – aquele foi um dia muito triste para mim”6 (p. 42)
(ênfase dos autores).
• ‘julgamento’ – remete a posições adotadas em relação ao
comportamento das pessoas, ou melhor, a sentimentos éticos, tal como
exposto no exemplo: “[...] nós podemos descrever você como brutal,
mas honesto”7 (p. 43) (ênfase dos autores).
6 Fonte: “[...] The day I left the Orphanage –that was a very sad day for me.” Todos os
exemplos foram retirados de Martin e White (2005). Esta e as demais traduções são de
nossa autoria.
7 Fonte: “[...] we could describe you as brutal, but honest.”
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TIPOS DE ENGAJAMENTO
• ‘monoglossia’ – relacionada com asserções categóricas
que não permitem o questionamento ou que não dão margem à dialogia,
como no exemplo: “Os bancos foram gananciosos”9 (p. 100). Contudo,
para o registro mais geral ‘roteiro de AD’, Praxedes Filho e Magalhães
(2015) determinaram que as avaliações monoglóssicas se definem por
desvios descritivos assertivos (quando o audiodescritor, de modo não
modalizado, descreve o que não foi representado imageticamente) ou
inferências descritivas assertivas (quando o audiodescritor, de modo não
modalizado, tira conclusões não licenciadas pelo que foi representado
imageticamente).
• ‘heteroglossia’ – relacionada com o reconhecimento, por
parte do falante-escritor, de que existem outras vozes ou pontos de vista
acerca do assunto que está tratando, como em: “Em minha opinião, os
bancos têm sido gananciosos”10 (p. 100) (ênfase dos autores).
TIPOS DE GRADAÇÃO
• ‘força’ – remete a categorias que indicam intensidade
ou quantidade e realizam-se através de itens lexicais que denotam
intensificação – ‘muito’, ‘mais’, ‘menos’, ‘bastante’, ‘pouco’ etc. – ou que
denotam quantificação – ‘poucos’, ‘vários’, ‘uma grande quantidade
de’ etc. Um exemplo é: “muito triste” / “problema pequeno” – “muitos
problemas” (p. 141)11 (ênfases dos autores).
• ‘foco’ – remete a categorias não passíveis de graduação e
se referem à classificação prototípica dos seres, coisas, fenômenos ou
comportamentos, em termos de precisão, em que a participação em
uma categoria é reforçada (‘real’, ‘típico’), e em termos de mitigação (‘um
tipo de’, ‘uma espécie de’), em que a participação em uma categoria é
abrandada, como em: “Eles não tocam o verdadeiro jazz”12 (p. 137)
(ênfase dos autores).
Passamos, a seguir, à descrição do percurso metodológico adotado
na condução da pesquisa em relato.
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3. Metodologia
3.1 Corpus
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4. Resultados e discussão
TIPOS DE AVALIATIVIDADE
‘atitude’ ‘engajamento’ ‘gradação’
IFS % IFS % IFS %
R1 115,3 73,5 20,8 13,2 20,8 13,2
R2 108,4 73,8 17,5 11,9 21,0 14,3
TIPOS DE TIPOS DE
TIPOS DE ATITUDE
ENGAJAMENTO GRADAÇÃO
‘mono ‘hetero
‘afeto’ ‘julgamento’ ‘apreciação’ ‘força’ ‘foco’
glossia’ glossia’
IFS % IFS % IFS % IFS % IFS % IFS % IFS %
R1 60,5 38,5 39,7 25,3 15,1 9,6 20,8 13,2 0,0 0,0 17,0 10,8 3,8 2,4
R2 50,7 34,5 31,5 21,4 26,2 17,8 17,5 11,9 0,0 0,0 21,0 14,2 0,0 0,0
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‘engajamento’
R2 Marcos está ao seu lado.
–‘monoglossia’
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5. Considerações finais
16 Fonte: “[...] categorical … assertions … are just as intersubjectively loaded and hence
‘stanced’ as utterances including more overt markers of point of view or attitude”.
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Referências bibliográficas
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Impactos da
audiodescrição de
charges políticas para
o leitor com
deficiência visual
1 Jornalista, formada pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), em 2007.
Especializada em Audiodescrição pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em 2015, es-
pecializada em Jornalismo Político, Econômico e Cultural pela FIAM (Faculdades Integradas
Alcântara Machado), em 2009. Responsável pela implantação da acessibilidade na TV Folha
(departamento de vídeos do jornal Folha de S.Paulo). O jornal foi o primeiro veículo de co-
municação de grande circulação a disponibilizar vídeos com reportagens acessíveis na web.
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2. Acessibilidade
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3. Audiodescrição
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4. A missão do jornalismo
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NÃO 6
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Data: 01/05/2015
Data: 02/05/2015
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Data: 04/05/2015
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“as pessoas com deficiência não têm de pedir licença ou permissão para
ser incluídas. Têm apenas de ocupar seu lugar no universo humano de
que fazem parte”.
Oferecer a audiodescrição não só das charges, mas de todo
conteúdo imagético nos jornais online, além de ampliar considera-
velmente o número de leitores, fará com que as demais empresas
concorrentes se espelhem e também promovam a acessibilidade. As-
sim, permitirá que o leitor vivencie seu amplo papel, de não só ser
aquele que lê livros, e sim o que também lê imagens. Ao aprender a
ler as imagens, as pessoas com deficiência visual terão um impacto
na leitura do próprio texto, na compreensão de mundo e das coisas
do mundo (Motta, 2015).
4. Considerações finais
Esse artigo mostrou como a falta de acessibilidade, em especial
a audiodescrição das imagens estáticas, pode afastar o púbico cego dos
portais noticiosos. Perdem as empresas de comunicação, que deixam
de atender pelo menos 35 milhões de brasileiros e perdem as pessoas
com deficiência, que não têm acesso a um conteúdo que, por direito,
deveriam receber.
Foi possível refletir sobre: o quanto as pessoas com deficiên-
cia visual ainda têm dificuldades para ter acesso a todo o conteúdo
de um veículo de informação, que a audiodescrição é essencial para
o público com deficiência visual poder ter completo acesso às char-
ges, que a oferta do recurso de acessibilidade faz com que o públi-
co cego se sinta respeitado e capaz de debater de igual para igual
qualquer assunto, que seguir a sistematização na audiodescrição
colabora para a fruição do texto. Também é possível concluir que a
audiodescrição por si só não é capaz de ampliar a formação crítica
de uma pessoa com deficiência visual, pois para compreendê-las,
é preciso estar bem informado sobre os acontecimentos recentes
publicados nos jornais (e isso independe se a pessoa tem ou não
deficiência). Por fim, nota-se que os veículos de comunicação são
deficientes quando não oferecem a audiodescrição para o público
cego, uma vez que a deficiência é sanada quando há a oferta do re-
curso de acessibilidade.
A audiodescrição oferecida nas charges políticas da Folha não
serviu somente para as pessoas com deficiência ouvidas aqui. Ela tam-
bém tornou os meus olhos mais atentos. “Quantas vezes nós nos da-
mos conta que ‘olhamos’, mas não vimos?”, questiona Marta Gil em
Motta (2010).
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Referências bibliográficas
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NÓBREGA, A.; RIBEIRO, E.N.; TAVARES, F.; CARVALHO, G.; TAVARES, L.B.;
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Letícia Schwartz1
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2 Narrar es, por lo tanto, una actividad comunicativa que reconstruye en presente
hechos que ocurrieron en el pasado. La AD se puede adaptar a esta definición y, por lo
tanto, es susceptible de ser analizada como una narración que reconstruye lo que está
ocurriendo en la pantalla y responde a las posibles preguntas del espectador ciego. La
respuesta a esas preguntas gira en torno a los tres ejes fundamentales de la narración:
los personajes, las acciones y la ambientación.
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A tradução do humor
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Lá onde uma falante sem cor diria: “Ele não é par para você”, a
velhinha de Ostróvski diz: “Ele não serve para dançar a quadrilha
com você”. Quando o marido quer afastar a mulher do quarto, ele
não diz “saia da porta”, mas “pra fora da porteira!”. Examinando
estes dois canais é fácil perceber que a expressão incolor opera
por conceitos, enquanto a colorida procede por imagens visuais.
(PROPP, p. 133)
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4 [Audio Description] provides a verbal version of the visual. Using words that are
succinct, vivid, and imaginative, audio describers insert phrases between pieces of
dialogue or critical sound elements during performing arts events and on video or film;
in other contexts, timing is less critical but the fundamental goal is the same: to convey
the visual image that is not fully accessible to a segment of the population and not fully
realized by the rest of us, sighted folks who see but who may not observe.
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Considerações finais
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Referências bibliográficas
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Videoinstalação com
Audiodescrição:
incluindo pessoas com
deficiência visual na
apreciação da marca
Desnudez Declamada
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2 Disponível em <https://www.facebook.com/pages/Desnudez-Declamada/14626
53730673944>. Acesso: 06 de setembro de 2015
3 O curso foi promovido pela Secretaria Nacional da Pessoa com Deficiência em parceria
com a Universidade Federal de Juiz de Fora através da NGime (Núcleo de Pesquisa em
Inclusão, Movimento e Ensino à Distância) da Faculdade de Educação Física e Desporto.
4 COSTA, Lara Valentina Pozzobon da. Audiodescrição como Tradução – A Aventura da
Primeira Experiência. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência –
SEDPcD/Diversitas/USP Legal. São Paulo, junho/2013.
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9 ALMEIDA JR, T. Curta-metragem / Sonoro / Ficção Material original 16mm, p/b, 7min.
Juiz de Fora: 2002.
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Retalhos
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Meu encanto não era apenas com as diversas texturas e cores, mas
também com as várias formas que sobravam dos trabalhos. Não eram
apenas pedaços retangulares e padronizados, mas sim, repito, como pe-
quenos tesouros, uma vez que cada um tinha sua diferença, seu recorte
e essência. Comecei a compor imagens originais colocando os tecidos
sobre a tela do scanner, o qual faz a conversão de fotografias e impressos
em sinais elétricos, ou seja, registra imagens transformando elas em um
arquivo eletrônico (BECHARA, 2009). De forma não figurativa e quase que
aleatoriamente, as imagens começaram a ser compostas digitalmente:
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cores sobre tecido azul. Na base, tecido preto com flores douradas dis-
posto na quina do quadro, chegando até o tecido superior. Na ponta des-
te, um círculo de tecido liso verde. Parte de um círculo com estampa tribal
aparece na base esquerda do quadro.
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3 Beijos
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12 Casanova, Antonio. 1757- 1822. Psiquê revivida pelo beijo de Eros: escultura em gesso.
13 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=9YRY_HqobfQ. Acesso: 10 de se-
tembro de 2015.
14 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=mnAwz4LnHZg. Acesso: 10 de
setembro de 2015.
15 Disponível em https://www.facebook.com/DIGAindependente/. Acesso: 10 de se-
tembro de 2015.
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17 Vermelho como o céu é um filme sobre um menino que perde a visão aos 10 anos e
vai morar em um colégio interno. Direção: Cristiano Bortone. Duração: 96 min. Itália:
2006. Disponível em < https://cinemahistoriaeducacao.wordpress.com/cinema-e-peda-
gogia/vermelho-como-o-ceu/>. Acesso: 10 de setembro de 2015.
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18 Edson Leão Ferenzini é mestre em Teoria Literária pela Faculdade de Letras da UFJF,
cantor e compositor. Também ministra palestras sobre música popular e participa de
projetos didático/musicais sobre história do rock e Música Popular Brasileira em insti-
tuições educacionais e centros culturais.
19 Grifo original do autor. De acordo com as propostas atuais de inclusão, não podemos
nos referenciar às pessoas sem deficiência como normais, pois desta forma já estamos
excluindo socialmente aquelas que possuem algum tipo de deficiência. Certamente, o
contexto no qual esta teoria foi inicialmente desenvolvida ainda não se discutia a fundo
como nos referenciar à diversidade de maneira geral e muito menos específica. Consi-
derei o grifo por considerar o pensamento de Vygotsky como revolucionário, no sentido
de abrir novas perspectivas de diálogo dentro do tema ainda em tempos tão remotos
(início do século XIX).
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Referencias bibliográficas
ALMEIDA, Candido José Mendes de. O que é Vídeo. São Paulo: Editora Bra-
siliense, 1986.
BARTHES, Roland. Sistema da Moda. São Paulo: Ed. Nacional: Ed. da Uni-
versidade de São Paulo, 1979.
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VALLI, Virginia. Eu, Zuzu Angel, procuro meu filho. Rio de Janeiro: Philobi-
blion, 1986.
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Roteirizar, gravar,
editar:
Os efeitos da edição
sobre os filmes audio-
descritos exibidos na
TV brasileira1
Mônica Magnani Monte2
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1. Introdução
3 http://www.ancine.gov.br/legislacao/instrucoes-normativas-consolidadas/instru-o-no
rmativa-n-116-de-18-de-dezembro-de-2014
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• revisar a gravação.
6 Ver documento do Media and Culture Department, do Royal National Institute of Blind
People, que compila várias diretrizes estrangeiras. Disponível em: http://audiodescrip-
tion.co.uk/uploads/general/RNIB._AD_standards.pdf
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Audiodescrição: práticas e reflexões
3. A audiodescrição na TV
7 http://www.mc.gov.br/images/2011/6_Junho/portaria_188.pdf.
8 Para mais detalhes, ver http://www.blogdaaudiodescricao.com.br/a-saga-da-audio-
descricao-no-brasil.
9 https://www.youtube.com/watch?v=vAwugcNo_rM.
10 http://www1.folha.uol.com.br/colunas/zapping/937425-sbt-adapta-chaves-para-tel
espectadores-cegos-por-meio-da-audiodescricao.shtml (é necessário ser assinante da
Folha para ter acesso à matéria).
11 https://www.youtube.com/watch?v=sZGzJDksicc.
12 ABNT NBR 15290:2005, disponível em: http://www.mprj.mp.br/documents/112957
/6985444/NBR_15290_2005_Comunicacao_TV.pdf.
13 ITC Guidance on Standards for Audio Description (Inglaterra, 2000), disponível em
http://www.ofcom.org.uk/static/archive/itc/itc_publications/codes_guidance/audio_
description/index.asp.html.
96
Audiodescrição: práticas e reflexões
14 AENOR UNE 153020 (Espanha, 2005), disponível para compra em: https://www.
aenor.es/aenor/normas/normas/fichanorma.asp?codigo=N0032787%20&tipo=N&PDF=-
Si#.VcFcPPlVikp
15 Audio description coalition – Standards for Audio Description and Code of Profes-
sional conduct for describers (EUA, 2008), disponível em: http://www.nps.gov/hfc/ac-
quisition/pdf/audio-description/shared/attach-a.pdf
16 http://audiodescription.co.uk/uploads/general/RNIB._AD_standards.pdf
17 Remael, Vercauteren e Reviers (eds.). 2014. Pictures painted in words. The ADLAB au-
dio description guidelines. Disponível em: http://www.adlabproject.eu/Docs/adlab%20
book/index.html
18 Maszerowska, Matamala & Orero, Pilar (ed.), 2014. Audio Description. New Perspec-
tives Illustrated. Benjamin Translation Library, v. 112. Disponível para compra em: ht-
tps://play.google.com/books
19Aqui refiro-me a pesquisadores das universidades da Bahia, Ceará, Minas e Brasília,
responsáveis pelas principais contribuições acadêmicas brasileiras (artigos e/ou disser-
tações) para o entendimento da AD.
20 Disponível em http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal/
article/view/54
97
Audiodescrição: práticas e reflexões
21 https://dl.dropboxusercontent.com/u/10004244/Blog/Normas%20T%C3%A9cnicas/
guia_audiovisuais.pdf.
98
Audiodescrição: práticas e reflexões
99
Audiodescrição: práticas e reflexões
4. Metodologia
4.1 Corpus
100
Audiodescrição: práticas e reflexões
AD Original AD Editada
TCR
(filme baixado do youtube) (filme gravado da TV)
101
Audiodescrição: práticas e reflexões
102
Audiodescrição: práticas e reflexões
AD Original AD Editada
TCR
(filme baixado do youtube) (filme gravado da TV)
103
Audiodescrição: práticas e reflexões
a explosão do carro vermelho, a cena passa para o furgão em fuga pelas ruas
da cidade, com Dubois e sua equipe no seu encalço. Na sequência da perse-
guição, há um momento em que um dos pinguins levanta a ficha de Dubois
no computador e ficamos então sabendo que é a capitã Chantel Dubois, do
departamento de controle de animais, e que tem uma ficha impecável.
Aqui, novamente observamos a prática de usar as brechas sem fala
do filme para “enxugá-lo” na edição. No entanto, nas brechas, aqui anali-
sadas, temos dois closes (do rosto da capitã e da moto) e a AD fornece ao
seu público alvo informações significativas para a construção do perfil da
vilã da trama – uma mulher astuciosa, quase cruel, que consegue farejar os
animais. Além disso, a personagem é nomeada neste trecho, em 10:36, e
só volta a ser nomeada em 12:39. Com a edição, parece erro do roteirista a
nomeação feita bem antes do que seria devido, uma vez que as diretrizes
existentes recomendam nomear o personagem só depois que ele é efeti-
vamente nomeado na cena. Quanto à descrição de Dubois, observamos
que, se o roteirista acompanhasse a edição feita na emissora, a descrição
de suas feições poderia ter sido deslocada para outro trecho, quando, por
exemplo, ela salta de moto entre dois telhados, ou um pouco mais adiante,
quando ela desvia de um ataque dos macacos no velho avião. Em qualquer
um desses momentos, entre as minutagens de 14:34 a 14:50, ou entre
14:57 e 15:08 haveria brecha hábil para tal, já que são trechos em que há
closes de Dubois e nos quais foram feitas a AD de seu biotipo.
Observamos outra edição em uma mudança de cena, que passa
da reunião de Alex com a trupe do circo, para uma enfermaria de hospi-
tal, como vemos no quadro a seguir, que coteja a AD da versão completa
(versão baixada do youtube) com a editada, exibida na TV:
AD Original AD Editada
TCR
(filme baixado do youtube) (filme gravado da TV)
Dubois sorri, fica séria e encara os aju- Dubois sorri, fica séria e enca-
43:51
dantes adormecidos. ra os ajudantes adormecidos.
104
Audiodescrição: práticas e reflexões
105
Audiodescrição: práticas e reflexões
AD Original AD Editada
TCR
(filme baixado do youtube) (filme gravado da TV)
106
Audiodescrição: práticas e reflexões
de forma que o espectador com deficiência visual possa construir seu en-
tendimento da cena e da narrativa fílmica como um todo.
Em outro momento, a edição mostra como um único corte pode
gerar perda de sincronia entre a imagem e a AD, resultando em informa-
ção incorreta. No quadro a seguir, cotejamos a AD da versão completa
(versão baixada do youtube) com a editada, exibida na TV:
AD Original AD Editada
TCR
(filme baixado do youtube) (filme gravado da TV)
107
Audiodescrição: práticas e reflexões
AD Original AD Editada
TCR
(filme baixado do youtube) (filme gravado da TV)
Ele compra drogas. A cena é vista Ele compra drogas. A cena é vista
34:18 pelo vidro fumê de um carro esta- pelo vidro fumê de um carro estacio-
cionado em uma ponte logo acima. nado em uma ponte logo acima.
De novo, a cena é vista pelo vidro De novo, a cena é vista pelo vidro
35:09
fumê de um carro estacionado. fumê de um carro estacionado.
36:07 Mike vira-se e sorri para Vicky. Mike vira-se e sorri para Vicky.
108
Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
5. Considerações Finais
110
Audiodescrição: práticas e reflexões
111
Audiodescrição: práticas e reflexões
112
Audiodescrição: práticas e reflexões
Referências bibliográficas
113
Audiodescrição: práticas e reflexões
SACKS, Oliver. O olhar da mente. São Paulo: Editora Companhia das Le-
tras, 2010.
114
Audiodescrição: práticas e reflexões
Referências Videográficas
115
Audiodescrição: práticas e reflexões
A audiodescrição
na escola
116
Audiodescrição: práticas e reflexões
Introdução
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Audiodescrição: práticas e reflexões
118
Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
Considerações Finais
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Audiodescrição: práticas e reflexões
Referências bibliográficas
122
Audiodescrição: práticas e reflexões
SILVA, Mara Cristina Fortuna da. MICHELS, Lísia Regina Ferreira. A impor-
tância de cursos de formação continuada em audiodescrição para profes-
sores do Atendimento Educacional Especializado. Revista Brasileira de
Tradução Visual – RBTV. v.18, nº18, 2015.
123
Audiodescrição: práticas e reflexões
Audiodescrição
no jornalismo
laboratorial
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Audiodescrição: práticas e reflexões
1 Práticas acessíveis
3 http://www.brasil.gov.br
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Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
128
Audiodescrição: práticas e reflexões
Silva et al (2010, p. 12), lembra que nem sempre quem faz o ro-
teiro realizará a locução, portanto, “é essencial que o texto seja claro e
fiel ao objeto da audiodescrição para que qualquer pessoa possa fazer a
elocução dele”.
Lima e Silva (2010, p. 10) defendem o direito à acessibilidade à in-
129
Audiodescrição: práticas e reflexões
130
Audiodescrição: práticas e reflexões
131
Audiodescrição: práticas e reflexões
2.4 Jornal-laboratório
A legislação que rege os cursos de Jornalismo no Brasil exige
que toda instituição que ofereça tal habilitação deve dispor de um
jornal-laboratório, em que os futuros profissionais possam, na práti-
ca, aplicar os conhecimentos adquiridos e experimentar novas propos-
tas. Assim, a disciplina que integra um jornal-laboratório é oferecida
aos alunos como uma oportunidade de por em prática o que foi visto
nas disciplinas teóricas, além de possibilitar a execução da técnica
em situações que simulam o ambiente profissional das redações. Este
exercício é importante para o acadêmico conhecer o jornal em vários
sentidos, desde a pauta, checagem das fontes envolvidas no assunto,
entrevistas, pesquisa no banco de dados, leitura complementar e a
produção do texto.
Um dos primeiros pesquisadores que trouxeram a temática do jor-
nalismo de laboratório para a discussão foi o jornalista Dirceu Fernandes
Lopes. Em seu livro, resultado de sua tese de doutorado em Comunicação
Social, pela USP, Jornal Laboratório: do exercício escolar ao compromis-
so com o público leitor, lançado em 1989, pela editora Summus, Lopes
procurou retratar a prática laboratorial, avaliando as questões teóricas
fundamentais relacionadas com o ensino do jornalismo.
Em 1982, durante o VII Encontro de Jornalismo sobre órgãos labo-
ratoriais impressos, na Faculdade de Comunicação de Santos, chegou-se
ao seguinte conceito:
132
Audiodescrição: práticas e reflexões
133
Audiodescrição: práticas e reflexões
Estrutura curricular
A estrutura curricular contempla, em uma análise sistêmica e glo-
bal, os aspectos: flexibilidade, interdisciplinaridade, acessibilidade peda-
gógica6 e atitudinal7, articulação da teoria com a prática.
Conteúdos curriculares
Possibilitar o desenvolvimento do perfil profissional do egresso,
considerando, em uma análise sistêmica e global, os aspectos: atualiza-
ção, adequação das cargas horárias (em horas), adequação da bibliogra-
fia, abordagem de conteúdos referentes às relações étnico-raciais, direi-
tos humanos, políticas ambientais, bem como acessibilidade.
Metodologia
Quando as atividades pedagógicas apresentam excelente coerên-
cia com a metodologia prevista/implantada, inclusive em relação aos as-
pectos referentes à acessibilidade pedagógica e atitudinal.
134
Audiodescrição: práticas e reflexões
3 A experiência do Unicom
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Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
4 Implantação da audiodescrição
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Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
5 Considerações Finais
Referências bibliográficas
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Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
SILVA, Fabiana Tavares dos Santos. et al. Reflexões sobre o pilar da áudio-des-
crição: “descreva o que você vê”. Revista Brasileira de Tradução Visual, vol.
4, n. 4, 2010. Disponível em: <http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.
br/index.php/principal/article/view/58>. Acesso em: 20 de fev. de 2015.
143
Audiodescrição: práticas e reflexões
Audiodescrição
Jornalística:
Uma experiência
no Museu do Jango/RS
144
Audiodescrição: práticas e reflexões
Introdução
145
Audiodescrição: práticas e reflexões
146
Audiodescrição: práticas e reflexões
Artigo XXVII
1.Todo ser humano tem o direito de participar livremente da
vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar
do progresso científico e de seus benefícios. 2. Todo ser huma-
no tem direito à proteção dos interesses morais e materiais de-
correntes de qualquer produção científica literária ou artística
da qual seja autor.
Apesar da Declaração não citar explicitamente o Museu, enten-
de-se que “vida cultural da comunidade” esteja inserida, também, os
espaços museológicos. Essa inclusão é fundamental para a vida em
sociedade, respeitando as diferenças presentes. Para Berquó (2011) “a
inclusão social das pessoas com deficiência significa torná-las parti-
cipantes da vida cultural, social, econômica e política, assegurando o
respeito aos seus direitos de cidadão no âmbito da Sociedade, do Es-
tado e do Poder Público.” (BERQUÓ, 2011, p. 24). Ou seja, as pessoas
de qualquer lugar do mundo tem o direito a ter acesso aos eventos
da sociedade mesmo que essas pessoas tenham algum tipo de defi-
ciência, a mostra/museu/município, etc, precisa estar preparado para
essas pessoas.
São Borja
6 www.saoborja.rs.gov.br
7 Conjunto de 7 povos indígenas fundados pelos Jesuítas. Além de São Borja, as redu-
ções de São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz
Gonzaga e Santo Ângelo fazem parte dos 7 povos das missões.
8 Segundo último censo do IBGE/2010.
147
Audiodescrição: práticas e reflexões
Museu do Jango
Referenciais Teóricos
Jornalismo
O papel do jornalismo com a sociedade é muito mais de apresen-
tar o fato, os autores Bill Kovach e Tom Rosenstiel, no livro Elementos do
jornalismo (2003), elaboraram uma lista com os itens fundamentais para
a profissão, uma questão de missão:
148
Audiodescrição: práticas e reflexões
Radiojornalismo
O jornalismo no rádio está presente desde as suas primeiras ex-
periências de transmissão. Segundo, ORTRIWANO (2003), “As emissoras,
de maneira geral, são inauguradas transmitindo algum evento ou, ao me-
nos, informando sobre sua própria existência”. (ORTRIWANO, 2003, p.
2). No livro, Rádio – O veículo, a história e a Técnica do autor Luís Artur
Ferraretto, aborda a primeira exposição pública do rádio no Brasil que foi
em 7 de setembro de 1922, na Exposição Internacional do Rio de Janeiro,
que comemorava o centenário da Independência. O público que estava
na inauguração do evento escutou as transmissões por alto falantes. A
demonstração atingiu seu objetivo, e surgiram no Brasil os pioneiros do
rádio ao redor de Edgard Roquette-Pinto. Começa no ano seguinte, a traje-
tória desta mídia no país (FERRARETTO, 2001, p.94). A primeira emissora
regular do país foi a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, criada por um gru-
po, em 20 de abril de 1923, na sede da Academia Brasileira de Ciências.
O grupo era liderado por Roquette-Pinto e Morize, que conseguiu junto
ao Estado um empréstimo para transmissores da Praia Vermelha durante
149
Audiodescrição: práticas e reflexões
150
Audiodescrição: práticas e reflexões
151
Audiodescrição: práticas e reflexões
muito mais impacto” (MCLEISH, 2001, p. 62). Além disso, o autor destaca
12 itens que seria o modelo ideal de “texto para os ouvidos”:
Decida o que você quer dizer; Faça uma lista das suas ideias
numa ordem lógica; torne a abertura interessante e informativa;
Escreva para o ouvinte individualmente – visualize-o enquanto
escreve; Fale em voz alta o que você quer dizer, depois tome
nota; use “sinalizadores” para explorar a estrutura da sua fala;
Crie imagens, conte histórias e apele para todos os sentidos;
Use a linguagem coloquial comum; escreva sentenças ou frases
curtas; Utilize a pontuação de modo a tornar a locução clara
para o ouvinte; Digite o roteiro em espaço duplo e com margens
amplas e parágrafos nítidos; Quando estiver com dúvida, mante-
nha a simplicidade – lembre-se de que a ideia é expressar e não
impressionar. (MCLEISH, 2001, p. 65)
152
Audiodescrição: práticas e reflexões
153
Audiodescrição: práticas e reflexões
Braille
O braille é um sistema de leitura do público cego. Segundo Belar-
mino (2010). Quem iniciou esse processo de investigar os processos da
leitura foi Diderot. A autora ainda salienta que o autor desenvolveu esse
documento 40 anos antes que a primeira escola destinada para cegos,
em 1887, em Paris. O Braille é a combinação de “códigos” como explica
a autora: Ver-se-á como a célula Braille, associação e combinação de seis
pontos justapostos, criando símbolos que em nada se assemelhavam às
letras manuscritas convencionais (BELARMINO, 2004, p. 33).
O sistema Braille é um sistema de leitura que utiliza o tato. Para
isso, é utilizada a combinação de seis pontos que formam algarismos, si-
10 Tecnologia assistiva é uma ferramenta que oferece uma autonomia para as pessoas
com deficiência em seu cotidiano.
154
Audiodescrição: práticas e reflexões
Audiodescrição
A história da audiodescrição teve início na década de 70 nos Es-
tados Unidos, com as ideias desenvolvidas por Gregory Frazier em sua
dissertação de mestrado. Porém, começou a ser trabalhado mesmo na
década de 80 pelo casal Margaret e Cody Pfanstiehl. Segundo as autoras
Eliana Paes Cardoso Franco e Manoela Cristina Correia Carvalho da Silva,
a técnica consiste na:
155
Audiodescrição: práticas e reflexões
que indica a ação deste. ...É importante reforçar que esses jargões
só fazem sentido porque tanto o 30 receptor quanto o emissor
conhecem perfeitamente o código. Aí está, certamente, o maior
desafio da audiodescrição. (SANTANA, 2010, p.156)
Audiodescrição Jornalística
A escolha do nome surgiu por não utilizarmos apenas da técni-
ca de descrever, mas de inserir informações jornalísticas para o contex-
to da pessoa que irá ouvir o áudio. Além disso, acreditamos, em nossa
pesquisa, que a audiodescrição não é uma técnica destinada apenas a
pessoas que têm deficiência visual. A técnica se aproxima muito do ra-
diojornalismo. Podemos refletir sobre a presença de um idoso ou uma
criança em um museu, na qual só ouviram falar sobre as peças expostas
dentro desse ambiente, mas nunca tiveram acesso as informações de
forma precisas. A audiodescrição pode nesse caso apresentar o que não
é entendido de uma maneira clara e objetiva. Nesse sentido, a audiodes-
crição jornalística teve como objetivo ir além, e propor mais informações
que a audiodescrição, sendo possível uma compreensão mais detalhada.
Diante disso, as inserções de entrevistas, jingles neste trabalho contribui
também para o acesso de qualquer pessoa que queira saber aspectos
acerca da vida de João Goulart, um mergulho na história do nosso país e
da vida do ex-presidente.
Como este trabalho se trata de uma experiência, a proposta foi
desenvolver os conteúdos com acessibilidade, associando as técnicas
de radiojornalismo com as de audiodescrição. No desenvolvimento da
audiodescrição jornalística, nos preocupamos em informar de maneira
adequada sobre o local e sobre a mídia na qual estamos explorando – o
rádio. Nos próximos tópicos detalharemos todo o processo de constru-
ção das 24 audiodescrições jornalísticas, da presença do Braille e das
imagens em alto-relevo.
Visita guiada
156
Audiodescrição: práticas e reflexões
Essa visita guiada pelas pessoas com deficiência visual foi im-
prescindível para perceber o que era necessário destacar no roteiro,
além da escolha das três salas para a realização do trabalho. Como
destacado no início, a Casa contém 13 cômodos, os escolhidos foram
a Sala da Cronologia (a primeira sala do museu e que contém três qua-
dros grandes contando a vida do ex-presidente), a Sala da Lareira (Sala
no meio da casa que era um cômodo onde a família se encontrava) e a
Sala da Morte (Nome dado pelo museu por conter informações referen-
te à morte do Jango).
Entrevistas
157
Audiodescrição: práticas e reflexões
Construção do roteiro
Figura 1
158
Audiodescrição: práticas e reflexões
Figura 2
Gravação e Divulgação
159
Audiodescrição: práticas e reflexões
Braille
160
Audiodescrição: práticas e reflexões
roteiros em áudio foi uma opção a mais dada aos cegos, dentro do museu,
pois a pessoa pode escolher se quer ouvir os áudios ou apenas ler.
Considerações finais
Referências
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Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
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Audiodescrição: práticas e reflexões
Sobre a organizadora
Daiana Stockey Carpes é jornalista, formada pela Universidade de
Santa Cruz do Sul (UNISC) e aluna do Programa de Pós-Graduação Mestrado
em Letras/UNISC.
O interesse pela área da acessibilidade na comunicação surgiu em
2011. Naquele ano, era de sua responsabilidade a edição do jornal do curso
de Ciências Contábeis da Unisc. Porém, havia um aluno cego, que não teria
acesso as informações visuais daquele impresso. Então, foi o elaborado e
criado um jornal em áudio, que continha as narrações das matérias e as des-
crições de todas as imagens do impresso.
A partir desse movimento, Daiana começou a pesquisar a acessi-
bilidade no jornalismo, pelo viés da audiodescrição. Em 2013, apresentou
o Projeto Experimental em Jornalismo e em 2014 defendeu a Monografia,
ambos trabalhos discutiram a temática do jornalismo e da audiodescrição.
A experiência adquirida nestas disciplinas, sob a mesma orientação do pro-
fessor Demétrio de Azeredo Soster, foi determinante para implantar o re-
curso laboratorialmente no curso de Jornalismo, com as disciplinas Jornalis-
mo de Revista e Produção em Mídia Impressa. Os acadêmicos matriculados
nestas disciplinas tiveram que repensar na maneira de fazer jornalismo
impresso para um público cego.
Também no ano de 2014, criou o site acessível Jornalismo em Au-
diodescrição (www.jornalismoemaudiodescricao), com conteúdos que pro-
movam a inclusão dos cegos. Neste mesmo ano, o portal ficou em segundo
lugar no Prêmio Nacional de Acessibilidade Todos@Web, na categoria ins-
titucionais / entretenimento / cultura / educação / blogs. O concurso foi
promovido pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias Web (Ceweb.br) e o
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), em parceria com o W3C Brasil.
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