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26/01/2018 Leni Wissen - A matriz psicossocial do sujeito burguês na crise

Leni Wissen

A matriz psicossocial do sujeito burguês na


crise
Uma leitura da psicanálise de Freud do ponto de vista da crítica da
dissociação-valor

Introdução

Este artigo assenta em duas motivações. A primeira é determinar a matriz psicossocial do sujeito
burguês com base numa leitura da psicanálise de Freud do ponto de vista da crítica da dissociação-
valor. O pano de fundo desse arriscado empreendimento é a visão de que a sociedade capitalista é
realmente produzida pela dinâmica objectiva da forma da dissociação-valor, mas que daí não resulta
nenhum determinismo dos desenvolvimentos sociais, devido à relação dialéctica entre valor e
dissociação. Isto significa especialmente que o pensar, agir e sentir das pessoas não podem ser
derivados directamente da forma da dissociação-valor – e, ainda assim, a organização capitalista é
produzida por pessoas que reproduzem diariamente as categorias abstractas da dissociação-valor em
seu pensar, agir e sentir, sem que disso estejam conscientes. O que levanta a questão de como as
categorias abstractas são internalizadas no sentir, pensar e agir das pessoas, ou, por outras palavras,
como o sujeito em geral se torna sujeito.

Como a forma de socialização capitalista não aparece em abstracto, mas mediada com os seus
desenvolvimentos empíricos, também o sujeito e as suas mediações psicossociais estão submetidos à
processualidade da socialização capitalista. Daí a segunda motivação do texto. Pois, no decurso dos
processos de crise pós-modernos, desenvolveu-se amplamente uma nova formação psicossocial de
narcisismo. No jogo com as diferenças e na onda do desconstrucionismo, pôde desenvolver-se
magnificamente um tipo social narcisista. O trabalho constante com a sua própria identidade tornou-se
uma virtude – na verdade, quase uma prova da própria flexibilidade. O constante re-projectar a própria
vida foi aqui a expressão de um carácter social narcisista.É agora claro que a propagação do tipo
social narcisista não é tão inofensiva como talvez ainda pudesse parecer no colorido movimento (de
baile de máscaras) da pós-modernidade dos anos 1980/1990. A irrupção da crise desde o final da
década de 2000 destruiu a ilusão de uma festa que se pretendia interminável, e a realidade da crise
irrompe cada vez mais drasticamente. Esta situação choca com um carácter social narcisista muito
susceptível à ofensa e à ameaça, devido ao seu ego frágil. É inerente ao carácter social narcisista que
ele possa passar imediatamente de uma posição para outra – especialmente quando se vê ameaçado.
Mas este tipo social narcisista, para o qual cada vez mais caem a pique as possibilidades de manter
vivo o seu ego frágil, é muito propenso a exorcizar os seus impotentes medos narcisistas com 'novas'
clarezas. O que é justamente uma porta aberta às ideias de anti-semitismo, anticiganismo, racismo,
antifeminismo, neofascismo, etc. Também por esta razão se torna necessária uma crítica do carácter
social narcisista no contexto da crítica radical do sujeito.

A crise final e o seu recalcamento

Um olhar sobre a imposição e desenvolvimento da sociedade patriarcal capitalista deixa claro que a
história interna do capitalismo é perpassada por crises. Socialização capitalista e crises não podem
ser pensadas em separado. Mas desde a década de 1970 apresenta-se-nos um processo de crise que
aponta para a questão de um "limite interno absoluto do capital" (Kurz 2007, 1ª ed. 2006, 280). Já Karl
Marx tinha apontado a possibilidade de um limite interno do capital; a teoria da crise da crítica da
dissociação-valor vê esse 'limite interno absoluto da socialização do valor' tornar-se historicamente
actual com o aumento dos processos de crise no contexto da terceira revolução industrial: pois, por

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meio da revolução microeletrónica, é tornado supérfluo mais trabalho no conjunto da sociedade do que
pode ser compensado com a expansão dos mercados etc. Este contexto tem sido muitas vezes
apontado por parte da crítica da dissociação-valor.

Os efeitos da tendência de crise pós-moderna há muito que se podem observar, já não apenas na
chamada periferia, mas mostram-se muito claramente também nos centros. Sintomas do processo de
crise global neste país são o desemprego e a expansão do emprego precário, a erosão do Estado
social e o 'regresso da pobreza' associado a estes processos (pobreza que, em todo o caso, apenas
numa pequena parte da história capitalista – e apenas para uma pequena parte da população mundial
– pôde ser imaginada como ultrapassada) e agora também o confronto com os dramas dos refugiados
e os tiroteios ao pé da porta. Apesar dos fenómenos de crise que se manifestam muito claramente em
todo o mundo e nos mais diversos planos, a possibilidade de uma 'crise final' do capitalismo parece
ser categoricamente excluída – esta possibilidade é negada e recalcada. Assim surgiu a situação
absurda de que, apesar das catástrofes que se vêem por toda a parte e do estreitamento das margens
de manobra, a crítica radical da sociedade capitalista é mais do que marginal – e até mesmo exposta
às mais violentas hostilidades.

Em relação à percepção dos processos de crise e ao trato com eles encontram-se aqui semelhanças
assustadoras entre o espectro de esquerda – desde o partido 'da esquerda' até aos grupos e alianças
que a si mesmos se entendem como extremamente radicais – e a 'sociedade mainstream', ou mesmo
vozes de direita e neofascistas. Pode ver-se como a acção imediata recalca agressivamente a questão
de uma análise das condições da crise e de uma compreensão do que está acontecendo realmente, e
empurra para segundo plano todas as questões de conteúdo. Ou seja, não se pergunta o que está em
questão – para já não falar de uma análise da relação com a totalidade social. Trata-se aqui
justamente de uma expressão do recalcamento exercido no plano de toda a sociedade do facto de
tornar-se realidade o 'limite interno do capital', para que o agir imediato, em ligação com a eliminação
de todo o conteúdo, não só se limite em relação à percepção e ao trato com os mencionados
processos de crise, mas, além disso, se mostre em todos os poros da vida social. Parece quase não
importar do que se trata. Se ocorrer um problema, tem de se reagir a ele imediatamente, sem que um
momento de pausa e reflexão possa irritar a ação. Para situações problemáticas complexas têm de
ser imediatamente identificados culpados ou responsáveis. Assim se torna manejável um problema
complexo. Aparentemente ele pode ser removido do mundo pela acção imediata contra os culpados.
Em vez de compreender que não pode haver soluções para ele na forma da dissociação-valor, tenta-
se exorcizar a impotência daí resultante com o fetichismo da ação. Estas também são indicações da
razão por que puderam expandir-se rapidamente os PEGIDA, a AfD etc.: eles oferecem explicações e
soluções simples, que permitem até mesmo aliviar-se de sentimentos racistas, antimuçulmanos, anti-
semitas, etc. (sobre isso ver também o texto de Daniel Späth nesta edição da EXIT!).

Este recalcamento agressivo das questões de conteúdo ocorre sempre em ligação com um igualmente
agressivo 'terrorismo da simpatia' – um conceito de Daniel Späth. Parece haver decididamente uma
mania da harmonia, que ameaça aplanar todas as ambivalências e contradições. O culto generalizado
da preocupação parece continuar a animar esta tendência. Os conteúdos já só conseguem ser
percebidos e processados em referência directa ao próprio eu (self): se eles se encaixam com a
concepção do próprio self há identificações imediatas, se não se encaixam são aniquilados, e, se eles
não são compreendidos, isso ou tem de estar dependente do mediador, pois o gigantesco self afinal
entende tudo e imediatamente – ou então o conteúdo é visto como uma imposição, uma ofensa, ou
até mesmo como um insulto, o que por maioria de razão lança uma luz a condizer sobre o mediador. E
já que as pessoas são 'simpáticas' entre si, não seria nada 'simpático' expressar perante uma pessoa
ideias tão complexas em geral, e isso é eventualmente considerado um 'ataque' pessoal. Neste
processo, todas as questões de conteúdo são então transformadas em questões pessoais.

Agora é preciso explicar porque se impuseram tão generalizadamente a acção imediata, o culto da
preocupação, a mania da harmonia etc. como modos de reagir e de lidar com condições de vida que
se tornam realmente cada vez mais complexas e sem saída. Esta questão lança uma luz sobre a
questão de saber por que encontra tanta dificuldade a crítica social radical, que reflecte sobre o limite
interno da socialização da dissociação-valor; pois já nos fenómenos esboçados se dá a entender que
há um 'limite da mediação' que de certo modo reside nos próprios sujeitos.

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O sujeito pós-moderno é sobretudo sujeito de crise, que está submetido a um processo no qual os
fundamentos da subjectividade burguesa estão a ser incessantemente destruídos. Em termos simples:
trata-se do sujeito do trabalho que está a ficar sem trabalho. Isso tem de ser digerido. A natureza
deste processo, apesar de todas as diferenças individuais, não é simplesmente de livre escolha, sendo
este processo em grande parte estruturado pela matriz psicossocial do sujeito capitalista.

O processo de crise pós-moderno e a formação dum tipo social narcisista

Antes de submeter a matriz psicossocial do sujeito burguês a um olhar mais atento, gostaria de
esboçar primeiro, em forma de notas, os fenómenos que estão em conexão com a mudança para o
tipo narcisista no plano do carácter social, ou que foram impulsionados por esta mudança.

- Embora o termo pós-modernidade tenha surgido já no final do século XIX, refere-se com
este conceito o fim de uma época na história interna do capitalismo, que irrompeu socialmente
com as reformas neoliberais. Robert Kurz vê na pós-modernidade o "conjunto de um
capitalismo de crise que se entende equivocadamente como pós-industrial" (Kurz 1999, 7).

- Com a terceira revolução industrial desencadeou-se a maior crise mundial desde 1929: nos
países capitalistas centrais regressou o desemprego em massa e, na periferia, "juntamente
com o trabalho abstracto também a economia monetária em muitos países já colapsou" –
escreve Robert Kurz já em 1999 (Kurz 2005, 1ª ed. 1999, 739). Com isto, portanto, descreve-
se apenas o início do aparecimento dos desenvolvimentos de crise pós-modernos. Há muito
que o colapso da economia monetária, juntamente com o colapso da estatalidade, atingiu
também os Estados europeus. A multidão de crises em todo o mundo dificilmente pode ser
contada…

- A fuga do capital financeiro para o 'reino das especulações' – um desenvolvimento que já no


início do século XX era um claro sinal de crise – é uma indicação de como os investimentos
reais se tornaram não rentáveis. A acumulação de capital desloca-se das áreas reais para as
especulativas e assim se torna simulação. A fragilidade desta acumulação simulada de capital
torna-se repetidamente clara quando as bolhas começam a estourar e de repente caem do
céu financeiro catástrofes perfeitamente reais.

- Os processos de globalização também não puderam aqui compensar essa dinâmica em si


contraditória do modo de produção capitalista. No entanto, a globalização teve um impacto
sobre a vida social: com as novas tecnologias, sobretudo a Internet, surgiram novas
capacidades ligação em rede, que estão menos vinculadas a contextos regionais.

- Dado o enorme crescimento do desemprego na década de 1970, começou um processo de


cortes sociais que, designadamente, ajudou o desenvolvimento do trabalho precário e, neste
país, acabou por ter o seu ponto alto provisório nas chamadas 'reformas Hartz'.

- Paralelamente a estes desenvolvimentos, iniciou-se desde a década de 1980 um processo


social que foi recebido na literatura sociológica especializada com o conceito de
individualização. Este processo deve ser visto no contexto de mudanças nas condições e
exigências do trabalho. Com o desemprego e a expansão do emprego precário desfizeram-se
as bases da 'biografia normal' burguesa: a formação já há muito que não garante um emprego
permanente. As novas 'liberdades', repetidamente associadas com o conceito de
individualização, por exemplo, ser menos dependente da família de origem e de biografias
definidas, têm o preço de que também se desfazem as garantias e as orientações. É exigida
cada vez mais responsabilidade ao indivíduo pelo sucesso da sua biografia. Isso, por sua vez,
significa para os indivíduos que cabe a eles manterem-se prontos, aptos e saudáveis para o
mercado de trabalho. Não conseguir acompanhar é expressão de um mau equilíbrio trabalho-
vida e não um problema de dilemas objectivos. O deslocamento da responsabilidade para o
indivíduo força a um 'centramento no eu' – este é pois um pré-requisito para conseguir
acompanhar, em condições que se tornam em geral cada vez mais individualizadas e
flexibilizadas.
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- Também a família nuclear burguesa não podia deixar de ser afectada pelos processos
acabados de esboçar (trabalho inseguro e precário, individualização, flexibilização). Ela está
exposta a processos de dissolução enormes. As altas taxas de divórcio, o fenómeno
generalizado das 'mães solteiras' e as chamadas 'famílias patch-work' são uma expressão
desse processo. A família perdeu importância na socialização das crianças e adolescentes,
mas sem ter desaparecido como instância. O grupo de pares, a omnipresença dos média e de
equipamentos técnicos como o smartphone etc., que configuram a nova forma de relação com
o meio ambiente, fizeram recuar o papel da família nuclear.

- Além disso, as estruturas familiares dissolvem-se de dentro para fora: o assumir de relações
estáveis e das obrigações e responsabilidades conexas parece ser percebido em grande
escala como uma ameaça. Assim fala-se em “companheiros temporários' para já
antecipadamente esclarecer a ligação assumida apenas temporariamente. Ter filhos tornou-se
uma questão complementar da própria biografia: encaixa-se uma criança no conceito de vida,
ela é posta no mundo num momento precisamente programado. Se as crianças não
correspondem às próprias expectativas narcisistas, a gritaria é grande e a criança é arrastada
do médico ao terapeuta até à psiquiatria, para ser marcada com o diagnóstico de 'perturbação
de comportamento social' e/ou 'perturbação de déficit de atenção com hiperactividade' e ser
submetida a medicação com tranquilizantes.

- A incapacidade que pode ser assinalada quase universalmente de entrar em contacto com
outra pessoa com compromisso já indica estruturas de carácter narcisista. Pode observar-se,
a cada passo, como as pessoas apenas conseguem perceber e digerir o mundo com
referência ao seu próprio self. Isto sugere que não se consegue uma distinção clara entre o
interior e o exterior. Assim, qualquer objecto (uma pessoa ou conteúdo diferente, entre outros)
pode tornar-se uma ameaça imediata para o próprio 'self narcisista' susceptível.

-Não é por acaso que o conceito de 'self' é mencionado ainda mais frequentemente. Para este
termo existe uma história: Foram as psicologias do ego [Ich] e do self [Selbst], que fizeram um
self construído de modo idealista a partir do ego de Freud pensado em conflito, self que em
seguida é considerado de modo simplesmente positivista como dado. Na psicologia do ego e
do self não há nenhum ego que se desenvolva em conflito. Pelo contrário, o eu ou self já está
sempre lá, e o que importa é simplesmente apelar aos potenciais de desenvolvimento do self,
que são inerentes ao self caído do céu desde o seu nascimento. Portanto, quem não
consegue competir na sociedade do trabalho simplesmente ainda não encontrou nenhuma
possibilidade de activar as suas capacidades de autodesenvolvimento.

- As exigências pós-modernas de 'trabalhar-se a si mesmo' e de optimizar-se a 'si mesmo'


sem parar dificilmente deixam de fora uma área da vida: o sujeito pós-moderno deve ser
sempre flexível, disposto a trabalhar e apto – tanto no plano físico como no psicológico. Ulrich
Bröckling, no seu livro 'O self empresarial', fez notar que a optimização do self é um processo
infindável, que tem poucas chances de sucesso (ver Bröckling 2013 / 1ª ed.: 2007)

- Expressão disso é a 'carreira da depressão'. Alain Ehrenberg escreve: "A carreira da


depressão começa no momento em que o modelo disciplinar de controlo do comportamento,
que aponta às classes sociais e a ambos os sexos o seu papel de modo autoritário e
proibitivo, é abandonado a favor de uma norma que exige a cada um a iniciativa pessoal:
obriga-o a tornar-se ele mesmo” (Ehrenberg 2008, 14s.). A depressão é, portanto, uma
"doença da responsabilidade” em que prevalece um sentimento de inferioridade" (ibid., 15,
destaque no original).

- Com a ascensão da depressão já estão definidos marcadores indicando a direcção para uma
mudança no plano do carácter social face aos processos de crise pós-modernos. No plano
patológico, o deslocamento para o tipo social narcisista exprime-se num deslocamento, de
distúrbios neuróticos para distúrbios depressivos. Assim escreve Ehrenberg: "A depressão
mostra-nos a experiência real da pessoa, porque é a doença de uma sociedade cujas normas

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de comportamento já não se baseiam na culpa e na disciplina, mas na responsabilidade e na


iniciativa. [...] O depressivo é um ser humano com uma deficiência" (ibid., 20).

- As exigências excessivas que acompanhavam as normas de comportamento baseadas na


culpa e na disciplina reflectiam-se na neurose, como expressão de um conflito subjacente
entre o desejo e a repressão. A depressão, contudo, não é caracterizada por um conflito, mas
expressão da incapacidade narcisista de entrar em contacto com o mundo dos objectos –
psicanaliticamente falando, a depressão é expressão da incapacidade para carregar objectos
libidinalmente. Mas um objecto só pode ser carregado libidinalmente se puder ser percebido
como objecto fora do universo narcisista.

- Para Freud, a melancolia, que tem uma certa semelhança com a depressão nos seus
sintomas, era de certo modo uma forma clínica (ou seja, patológica) de luto. A distinção entre
luto e melancolia está clara na resposta de Freud à questão de saber em que consiste o
'trabalho de luto': "A verificação da realidade mostrou que o objecto amado já não existe, e
agora emite o convite para que toda a libido abandone as ligações com esse objecto "(Freud,
GW XIII, 430). Este processo decorre conscientemente. Mas na melancolia trata-se de uma
'perda desconhecida'. Freud escreve: "No luto o mundo torna-se pobre e vazio, na melancolia
é o próprio ego" (ibid, 431).

- O que Freud escreveu sobre a melancolia em 1917 é válido seguramente em relação à


depressão. A depressão é expressão de um vazio que é o reverso da prolongada exigência
excessiva de ter de trabalhar-se a si mesmo e optimizar-se.

- As constantes manifestações de preocupação são uma expressão da incapacidade de


nomear o que é 'objecto de preocupação' – poder fazê-lo seria pressupor perceber o mundo
não exclusivamente a partir do próprio universo narcisista e reconhecer o mundo dos objectos
como existente fora do próprio ego. Com a incapacidade de reconhecer o mundo dos objectos
como existente fora do próprio universo narcisista, desaparecem também as possibilidades de
reflexão: problemas, tensões, experiências confusas etc. já não pode ser nomeados, já não
podem ser trazidos à discussão. Tudo permanece difuso, de algum modo a coisa não está
bem, é tudo demais para uma pessoa, não há simplesmente vontade de fazer nada.

- Um outro tipo de processamento narcisista é na sua forma extrema o amoque. Aqui


expressa-se uma megalomania narcisista que consuma a autoposição na auto-aniquilação e
na aniquilação de outros.

De todos estes processos surgiu o carácter social narcisista, como filho da pós-modernidade. A
situação pós-moderna é, sobretudo, expressão da dinâmica de crise objectiva da socialização da
dissociação-valor. E também somente considerando esta dinâmica de crise será possível
compreender o triunfo do narcisismo. Pois a propagação do tipo social narcisista é a expressão do
sujeito capitalista burguês em decomposição, que persistentemente cava a sua própria sepultura. O
narcisismo tornou-se assim a última saída para o sujeito em decomposição da sociedade da
dissociação-valor.

Crítica da dissociação-valor e psicanálise

A crítica da dissociação-valor centra-se na análise e crítica da totalidade constituída capitalista. Aqui


não se opera com nenhum conceito universalista de totalidade. A crítica da dissociação-valor parte de
uma 'totalidade em si fragmentada' (ver Roswitha Scholz, 2009) e, portanto, tem em conta a dialética
impulsionadora de valor e dissociação. Por conseguinte, na crítica devem ser mantidos separados os
diversos planos da 'totalidade em si fragmentada', não devendo ser perdida a referência ao plano da
forma.

Este entendimento da totalidade resulta do conhecimento de que a organização patriarcal capitalista


actua em todas as esferas sociais – e portanto também na estrutura pulsional, que é promovida,
conduzida e reproduzida por um 'inconsciente social'. Para esclarecer porque reproduzem as pessoas
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os princípios da forma capitalista no seu agir, pensar e sentir quotidianos, é preciso, portanto, explicar
diversos planos: o plano da forma, o plano do sujeito como agente do patriarcado produtor de
mercadorias, os planos ideológico, cultural-simbólico e psicossocial. Aqui todos estes planos têm de
ser repetidamente postos em relação com os fenómenos e desenvolvimentos actuais – ou seja, com a
'totalidade concreta', que procura admitir o particular, sem perder ou questionar a referência à
totalidade.

A psicanálise é indispensável para esclarecer o plano psicossocial (e, com limitações, também o plano
cultural-simbólico). Porque incide sobre os processos de mediação entre a sociedade e o indivíduo, e
coloca a questão da génese do sujeito. No entanto, não é um tema isento de contradições – nem em
relação à própria psicanálise de Freud, nem em relação à história da sua recepção. Ponto digno de
nota é que no conjunto ocorreu uma domesticação do pensamento psicanalítico, patente no
recalcamento do conceito de pulsão no debate dentro da psicanálise: a partir do 'ego' em conflito de
Freud, ficou, no ambiente das correspondentes psicologias do eu e do self, um 'eu' sem contradições,
que já não conhece nenhum conflito. A 'deslibidinização' da psicanálise corresponde aos
desenvolvimentos sociais de uma psicologização e individualização gerais das relações sociais, e a
um centramento num 'self' ou 'eu'livre de conflitos.

Do ponto de vista da crítica da dissociação-valor, contudo, seria necessário agora tornar fértil
justamente a banida teoria da libido. Com a ajuda da metapsicologia de Freud, que ela própria não é
isenta de contradições e naturalmente também tem de ser submetida a um exame crítico, é possível
descrever a matriz psicossocial do sujeito. Ego, Id e Superego, de acordo com essa leitura, são as
instâncias centrais que moldam a forma psíquica do sujeito. Simultaneamente são expressão da
dinâmica e dos conflitos pulsionais subjacentes.

A teoria da libido de Freud do ponto de vista da crítica da dissociação-valor

Primeiro que tudo é preciso esclarecer em que situação histórica Freud desenvolveu a psicanálise.
Aqui rapidamente se torna claro que Freud se referia ao sujeito burguês que tinha acabado de se
impor e já se encontrava em crise depois de um breve auge (ver O mal-estar na cultura, Freud, GW
XIV, 419-513). Ora o sujeito burguês não caiu simplesmente do céu, mas foi o resultado da brutal
história da imposição da sociedade patriarcal capitalista, que foi levada por diante em diferentes
planos e, finalmente, esteve associada a uma reestruturação de todos os domínios da vida.
Enumeremos apenas alguns pontos-chave que poderão ter desempenhado um papel no quadro dessa
história de imposição:

- O surgimento do sistema da manufactura e da fábrica, como resultado da fome de dinheiro


absolutista derivada dos custos da guerra, tendo sido o desenvolvimento das armas de fogo
aqui responsável pelo rápido aumento nos custos.

- O inculcar do ethos do trabalho à força, em casas de trabalho, como condição para o


trabalho na fábrica.

- Com o modo de produção emergente esteve associada a separação de esferas entre


produção e reprodução, situação em que as mulheres foram designadas para a área da
reprodução. Esta atribuição constitui a base para o surgimento da família nuclear burguesa.

- Estes desenvolvimentos foram acompanhados pela 'domesticação da mulher como um ser


natural' (caça às bruxas), o que por sua vez aponta, não em último lugar, para o facto de ter
surgido uma relação completamente nova com a natureza (dominação androcêntrica da
natureza).

- A internalização do 'ethos do trabalho' e o advento dos correspondentes ideologemas,


culminando finalmente na filosofia iluminista.

No contexto deste processo de transformação, o sujeito burguês afirmou-se com uma matriz
psicossocial apropriada. O sujeito burguês e a sua matriz psicossocial baseiam-se aqui decisivamente
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na dissociação do feminino, na fantasia de dominação da natureza e na imaginação de autoposição.


Eles também estão significativamente associados com a internalização do ethos do trabalho. Ao que
corresponde uma dinâmica pulsional em que, perante o adiamento da pulsão, a libido sobe às alturas,
na alegre expectativa da 'recompensa pela recusa'. Este 'truque' da libido para lidar com a recusa da
pulsão também define simultaneamente a via para o processo de sublimação da pulsão. A
necessidade de adiamento da pulsão surge com a imposição do modo de produção capitalista e com o
dispêndio de trabalho abstracto com este exigido. É claro, portanto, que a formação da sociedade
capitalista também não poderia ficar de fora da estrutura da pulsão. Daqui se pode concluir: Somente
com o patriarcado capitalista surge uma estrutura de pulsão na qual Ego, Id e Superego interagem
como instâncias separadas, em conflito umas com as outras, e assim intermediando a dinâmica
psicológica. Esta forma de mediação psíquica, portanto, surgiu apenas na sequência da história de
imposição do capitalismo. Freud naturalmente não descreveu a coisa assim, isto é parte da
interpretação de Freud aqui efectuada, que assenta numa leitura de Freud no contexto da situação
histórica em que ele desenvolveu a sua teoria.

Esta leitura da psicanálise de Freud também só é possível no contexto de uma crítica radical do
iluminismo e do sujeito – o que também significa que o conceito de sujeito de Freud tem de ser
criticado na sua afirmação do iluminismo. Pois o iluminismo deve ser entendido como "'ideologia de
imposição' do sistema produtor de mercadorias" (Kurz 2004, 18). O iluminismo produziu o sujeito
moderno e, ao mesmo tempo, identificou todas as pessoas que vivem no capitalismo com este sujeito
(vd. ibid.). O sujeito como "moderno agente do trabalho abstracto e das suas funções derivadas" mais
não é do que a "forma social de acção nos próprios indivíduos: forma de percepção, forma de
pensamento, forma de relacionamento, forma de actividade" (Kurz 2004a, 210). Então, o sujeito não é
idêntico ao indivíduo sócio-sensível, mas sim "ao agente consciente (individual e institucional) do
movimento de valorização sem sujeito" (Kurz 2004, 57).

Para a crítica da forma psicossocial do sujeito, isto significa que é preciso fazer aqui uma distinção
entre sujeito e indivíduo. Pois o indivíduo sócio-sensível é realmente confrontado com a matriz
psicossocial do sujeito burguês, mas não se esgota neste. A matriz psicossocial define de certo modo
a forma psíquica em que ocorre a mediação psíquica.

No entanto, o plano psicossocial não pode aqui ser derivado do conceito de sujeito. Isso é proibido
desde logo no contexto da crítica do pensamento da lógica dedutiva. Por outro lado, no entanto, a
forma psíquica também é de certo modo anterior ao sujeito, na medida em que é o pressuposto para
ser sujeito. Vejam-se os processos de génese do sujeito, ou da reprodução do sujeito como 'agente da
acção' na organização patriarcal capitalista. E isso aplica-se tanto ao 'plano individual' (ou seja, em
relação à questão de saber porque desenvolvem as pessoas repetidamente a posição de sujeito e a
reproduzem no seu pensar, agir e sentir) como ao plano da formação da própria forma psíquica. Esta
última surgiu, como já foi referido, no contexto da imposição do patriarcado moderno. A matriz
psicossocial do sujeito é aqui realizada ou reproduzida não em último lugar por um 'inconsciente
social' que também é resultado da submissão à pulsão realmente exigida (ver acima) e se reproduz
em cada processo de 'subjectivação'.

Evolução sexualmente diferente do desenvolvimento psicossocial

A constituição do sujeito (masculino) vai de par com a dissociação do feminino. Por outras palavras: a
dissociação do feminino é a condição tácita do sujeito burguês masculino. Esta relação entre o sujeito
(masculino) e a dissociação estende-se até ao 'inconsciente androcêntrico', e reproduz-se na forma do
complexo de Édipo nas histórias de vida individuais. Esta interpretação baseia-se não em último lugar
no facto de o próprio Freud ter concebido o complexo de Édipo tanto no plano da filogénese (isto é, da
história da formação do sujeito) – em Totem e Tabu o patricídio é descrito como 'acto fundador' que é
transmitido de geração em geração como herança (inconsciente), ou seja, repetido no complexo de
Édipo (ver Freud 1966, 1ª ed. 1956) –, como no plano da ontogénese (do desenvolvimento do
indivíduo singular). No entanto, é justamente o conceito de filogénese de Freud que é preciso
examinar criticamente nos seus momentos ontológicos. A este respeito, também não se pode aqui
simplesmente retomar sem mais os conceitos de Freud.

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Freud, naturalmente, concebeu o seu complexo de Édipo sem ter em conta a estrutura da dissociação-
valor. No entanto, Freud não deixa de ter olho para o desenvolvimento psicossexual diferente em
termos de género. Assim, ele descreve destinos libidinais 'masculinos' e 'femininos' ao longo do
complexo Édipo.

Antes de falar sobre os padrões de desenvolvimento psíquico diferenciados por género, gostaria de
observar que quando falar a seguir de 'masculinidade' e 'feminilidade' não se trata de ontologizar estes
termos, mas de ter em vista a matriz psicossocial do sujeito, profundamente marcada pela
bissexualidade e assente na dissociação do feminino. Dentro da matriz psicossocial, masculinidade e
feminilidade são marcadores incontornáveis para o desenvolvimento psicossexual e, portanto, têm de
entrar também no seu conceito. Com o modelo moderno dos dois sexos, tanto mulheres como homens
foram/são forçados a formar à maneira 'masculina' ou 'feminina' identidades de género em formas
contínuas, sendo a feminilidade desvalorizada desde o início. Feminilidade é a falta do falo, a falta
absoluta. Este 'espaço vazio', que se mantém com a feminilidade, é bem apropriado para assumir
projecções masculinas. O facto de a 'feminilidade' ter de servir como superfície de projecção – nas
conhecidas orientações da projecção mãe/esposa e prostituta – é uma expressão da estrutura de
dissociação-valor. Estas projecções masculinas são desde logo expressão do facto de que a
dissociação do feminino precede a constituição do sujeito (masculino). Mas também mostram que a
dissociação do feminino não é um acto uma vez consumado, mas exige a repetição constante. Nessa
medida a feminilidade não por acaso é um 'continente negro', e também deve/tem de permanecer
assim.

Isto tem consequências para o desenvolvimento psicossexual feminino e a sua análise. Assim a
'feminilidade' tem de cumprir com as exigências do lado masculino e não deve ser 'ela própria', fora da
área de influência 'masculina'. Neste sentido, é quase absurdo falar de uma 'forma psíquica feminina'
em geral, uma vez que esta forma consiste sobretudo em ter de ser 'sem forma'. Isso também se
reflete no destino libidinal 'feminino', como Freud o descreveu: No desenvolvimento masculino, a
criança do sexo masculino, sob a ameaça de castração que parte do pai, desiste do desejo orientado
para a mãe, para se submeter à lei paterna através da identificação. No caso mais favorável, este
desenvolvimento leva à 'dissolução do complexo de Édipo' (ver Freud, GW XIII, 395-402). Pelo
contrário, a criança do sexo feminino, uma vez que não tem de temer a castração – porque já
consumada – entra no complexo de Édipo "como num porto" (Freud, GW XV, 138). O pano de fundo
desse movimento é a descoberta da diferença sexual. A decepção com a 'própria falta' é atribuída à
mãe e isso possibilita a viragem para o pai. A menina espera deste uma criança (masculina) para
compensar a inveja do pénis e se restituir narcisistamente. Assim, para o destino libidinal feminino, a
ausência do falo ou a descoberta dela é determinante. O pano de fundo deste desenvolvimento é um
'inconsciente falocentricamente androcêntrico', que se reproduz repetidamente nos desenvolvimentos
da diferença de género. Assim estrutura o falocentrismo a forma psíquica feminina 'sem forma'.

Christa Rhode Dachser critica com razão o 'fundamento patriarcal' da psicanálise. Aqui ela também se
refere à "teoria do desenvolvimento feminino de Freud" como "uma teoria da não-individuação [...] que
[...] servia para a adaptação da mulher ao papel sexual que lhe era destinado naquela época" (Rhode
Dachser 2,003 5. Destaque no orig.). Esta afirmação deve ser julgada procedente em parte; pois
naturalmente que o desenvolvimento psicossexual feminino está sintonizado com o papel destinado à
mulher. E também é verdade que Freud descreve o destino libidinal feminino de maneira afirmativa.
No entanto, a teoria freudiana não é responsável pelo destino libidinal feminino, responsáveis são as
relações sociais da forma da dissociação-valor. A este respeito, também seria errado jogar Freud
simplesmente no lixo porque a sua teoria está construída androcentricamente. É muito mais
importante submeter Freud a uma crítica feminista e neste contexto questionar por que descreveu
Freud o destino libidinal feminino como ele o descreveu.

Além disso, transparece em Rhode-Dachser um hipostasiação do feminino. Mas a questão não pode
ser procurar uma 'feminilidade' além do falocentrismo. É na 'feminilidade' e 'masculinidade' que se
mostra a própria estrutura da dissociação-valor Assim, seria completamente errado procurar na
'feminilidade' algo de algum modo 'melhor', porventura 'não-idêntico' – também Roswitha Scholz
chamou repetidamente a atenção para esse ponto. Para uma crítica da relação de género capitalista,
isto significa que 'masculinidade' e 'feminilidade' têm de ser vistas como dois pólos dentro da
socialização da dissociação-valor e como tal criticadas – não devendo aqui, naturalmente, ser
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escamoteado o estatuto hierárquico do 'masculino' nem a correlativa discriminação do 'feminino'. Em


vista da 'feminilidade' isso significa antes de mais que teria de ser desenvolvida uma ideia sobre o que
se esconde no 'continente negro' em geral. Seria preciso recolocar a questão de uma teoria
psicanalítica da feminilidade nesse sentido.

Christa Rhode-Dachser não está sozinha na tentativa de desenvolver uma leitura feminista da
psicanálise. Também outras autoras têm lidado com esta questão. No entanto, não é certamente por
acaso que também nessas autoras ocorre uma hipostasiação do 'feminino'. Aqui se paga pelo facto de
a teoria feminista de orientação psicanalítica se ter ocupado muito pouco com a crítica do sujeito. Em
vez do questionamento radical da própria forma de sujeito, tenta-se desenvolver uma teoria da
feminilidade para lá do falocentrismo, que permitisse às mulheres ser 'sujeito'.

Processos de crise e carácter social narcisista

Ora devia ser claro que a 'matriz psicossocial' do sujeito também não poderia resistir aos processos de
crise pós-modernos. Trabalho e família, como instâncias centrais de socialização, desfazem-se cada
vez mais no contexto de processos gerais de flexibilização e individualização, assim caindo pilares que
foram essenciais para o desenvolvimento psicossocial do sujeito burguês. Mas, também aqui: a forma
de processamento psíquico não se dissolve simplesmente, mas continua ainda a determinar as vias
do desenvolvimento psicossocial – sob o signo da pós-modernidade esta via só pode levar ao
narcisismo. Como vou mostrar, o narcisismo já está de facto criado na constituição do sujeito, mas
parece como que implodir sob as condições pós-modernas de crise. O carácter social pós-moderno é
profundamente narcisista – e isso valerá, se bem que com diferentes desenvolvimentos, tanto para o
carácter 'feminino' como para o 'masculino'. É-lhes próprio, em certa medida, o grau elevado de
'auto'referencialidade como expressão do narcisista.

O que poderia ter mudado face aos processos de crise pós-modernos em termos de forma
psicossocial do sujeito pode ficar claro com uma citação do livro O Mundo como Vontade e Design
(Robert Kurz).

Escreve Robert Kurz: "A falta de relacionamento social nada mais significa do que ser uma mercadoria
com duas pernas; o 'individualismo expressivo' tem de se transferir para o outfit porque debaixo dos
trapos já só existe o espectro de um indivíduo: nunca Adorno foi mais actual do que nos tempos pós-
modernos da love parade, cujos seguidores realmente cometem uma impertinência grosseira quando
dizem 'eu'" (Kurz 1999, 49).

Esta citação pode ser interpretada à luz do conceito de ego de Freud. Freud escreve no texto
Introdução ao Narcisismo (1914): "É uma suposição necessária que uma unidade comparável ao ego
não existe no indivíduo desde o início; o ego tem de ser desenvolvido" (Freud, GW X, 142). Freud
designa o 'narcisismo primário' como uma força motriz relevante na constituição do ego. Pois este –
assim escreve Lili Gast, como interpretação do pensamento de Freud –"inicia uma auto-referência
processual na auto-percepção objectal, que acaba por desembocar na constituição da subjectividade"
(Guest, 1992, 52). Logo que o ego consegue uma primeira constituição, é um ego narcisista. No
conceito de ego de Freud o narcisismo está inscrito firmemente como motor propulsor. No entanto
Freud viu a ultrapassagem do narcisismo primário como um passo crucial do desenvolvimento do ego.
Em relação à matriz psicossocial do sujeito pós-moderno, agora, tem de se partir da dominância do
'ego narcisista' como suporte da mediação psíquica – um 'ego', portanto, que não pode realmente ser
designado 'ego' no sentido descrito acima.

Perante o fundo do narcisismo, também se esclarece depois como é possível espalhar-se de tal
maneira tal ilusão de imediatidade, como eu descrevi acima. Pois esta vai de par com uma estrutura
psíquica que também empurra para a imediatidade. Freud descreve a 'unidade sujeito-objecto' do
narcisismo primário como 'menosprezo' ou 'reinterpretação da realidade' específicos do
desenvolvimento (ver ibid. 52s. ou Freud, GW X, 137s.). Isto significa para o mundo dos objectos que
este só pode ser imediatamente incorporado pela 'unidade sujeito-objecto' narcisista, ou tem de ser
repelido e aniquilado (psiquicamente), quando ameaça a integridade narcisista.

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Em relação ao pano de fundo da formação e às mudanças imanentes da matriz psicossocial do sujeito


é de presumir que as diferentes formações se sobrepõem e coexistem. Assim, não existiu o 'carácter
autoritário' em forma pura, e, portanto, também não existe hoje o 'carácter social narcisista pós-
moderno' em forma pura. Os desenvolvimentos psicossociais não devem ser pensados linearmente,
nem no plano da descrição de um carácter social, nem no plano individual. Neste ponto, mais uma vez
é crucial a consideração da dinâmica pulsional subjacente: pois esta está ligada a uma lógica de
tempo específica, em que o passado não é simplesmente passado e o 'inconsciente' não é
simplesmente 'inconsciente'. A dinâmica pulsional exige que passado e inconsciente sejam trazidos ao
de cima, quando o presente o exige ou permite. Isto significa, dito de modo banal, que conflitos
'antigos', na verdade 'resolvidos', podem tornar-se novamente virulentos sob o impacto de uma
realidade modificada e assumir agora novas vias de processamento ou recalque. Assim tem de se
partir do princípio de que o carácter social narcisista pode ser observado não só entre as gerações
mais jovens, mas também as gerações mais velhas não estão poupadas à sucção narcisista. O facto
de serem precisamente as 'vias narcisistas' que são assumidas tem a ver com uma realidade que insta
a posições narcisistas, também devido à sua complexidade e falta de perspectivas.

Justamente o tipo narcisista pós-moderno não pode ser pensado como uma figura rígida perante os
processos gerais de flexibilização e de individualização, na medida em que o sujeito pós-moderno é
flexível até ao auto-aniquilamento. Isto também significa que o tipo narcisista pode passar de um
extremo ao outro de repente. O 'eu narcisista' e a correspondente mediação de processos pulsionais
são extremamente 'flexíveis' e adaptáveis na sua imediatidade, o que não em último lugar será devido
à falta de formação da libido objectal. Esta por sua vez é a expressão de acesso (narcisista) imediato
ao 'mundo de objectos'.

Portanto, também não admira que as psicologias do ego, do self e das relações objectais
conseguissem impor-se contra a teoria da pulsão. A vasta limpeza da teoria psicanalítica do conceito
de pulsão corresponde aos desenvolvimentos reais de uma focalização no próprio self narcisista.
Estes desenvolvimentos foram incluídos – ou antecipados – afirmativamente nas teorias do ego, do
self e das relações objectais, e assim estas teorias puderam ser interpretadas como teorias de
adaptação às imposições pós-modernas. Isso vê-se também, por exemplo, no facto de essas teorias –
independentemente de o pretenderem ou não – terem sido acolhidas na 'literatura da nova gestão',
tornando-se assim também parte do pano de fundo da história das ideias do 'self empresarial'(ver
Bröckling 2008).

Mas a limpeza da teoria psicanalítica do conceito de libido, no contexto das psicologias do ego, do self
e das relações objectais, de modo nenhum significa que também a coisa em si tenha desaparecido
com a remoção do conceito. A 'pulsão' ou a dinâmica por ela posta em movimento não desaparece,
pelo contrário, o que desaparece são as condições para uma sublimação 'com sucesso' em sentido
burguês. Isto significa que a própria dinâmica da pulsão teve de modificar-se qualitativamente, e foram
bloqueados os processos de um desenvolvimento do 'ego' bem sucedido (em sentido burguês), em
que o ego constituía uma instância mediadora estável entre o Id (os momentos pulsionais) e o
Superego (a lei 'paterna' – patriarcal) (devendo aqui ficar claro que, dada a história de crise imanente,
nunca se pode realmente partir de um 'ego estável'). A retirada ou auto-referência narcisista é
expressão desta realidade.

Sexualidade de crise

Importa agora questionar a propagação de carácter social narcisista, também nas suas implicações
específicas de género, à luz da crítica da dissociação-valor. Aqui é preciso constatar em primeiro lugar
que na sequência dos desenvolvimentos pós-modernos descritos – também favorecidos pela teoria do
género e queer – se chegou de facto a uma aproximação dos códigos sexuais 'masculino' e 'feminino'.
Tanto as mulheres como os homens parecem estar menos comprometidos com os seus papéis sociais
tradicionais. Esta aproximação dos 'códigos' é também um reflexo de que, devido a processos de crise
reais, os papéis de género com a marca da bissexualidade cada vez mais perdem as suas
possibilidades de realização e entram claramente em conflito com o 'indivíduo forçosamente flexível'
(Roswitha Scholz) pós-moderno. A questão é como essa aproximação de códigos diferenciados por
sexo é mediada com o carácter social narcisista. Psicanaliticamente considerado, o estádio narcisista
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primário ainda não conhece nenhuma diferença de género. Assim também o carácter social narcisista
se desenvolve não simplesmente nas rígidas vias 'masculina' e 'feminina'.

Mas seria fatal agora pensar o carácter social narcisista como sexualmente neutro, ou independente
da matriz bissexual, por causa do afrouxamento descrito das fronteiras de género. Embora as
fronteiras entre os desenvolvimentos 'masculino' e 'feminino' estejam a desaparecer, isso não significa
que as formas diferentes de género e a sua hierarquia tivessem simplesmente desaparecido. O
carácter social narcisista caracteriza-se precisamente pelo facto de ele poder passar de um extremo
ao outro de repente, porque as suas ligações ao objecto – dito eufemisticamente – são muito frouxas.
Ainda que o estádio narcisista primário não conheça a diferença entre os sexos, está bem ciente do
'falo'. Na fase narcisista primária, meninas e meninos esperam ter um 'falo'. Isto significa que o
falocentrismo também não está ultrapassado por ter havido uma certa aproximação dos códigos
binários. E, sob a hegemonia do falo, os códigos binários também não podem simplesmente
desaparecer, no contexto da sociedade da dissociação-valor. Pelo contrário, também aqui se verifica
um 'asselvajamento do patriarcado' (Roswitha Scholz): Os códigos 'masculino'-'feminino' não
desaparecem, mas asselvajam-se – e isso acontece não em último lugar tendo por fundo o facto de os
códigos terem realmente perdido 'importância', por já não corresponderem à realidade. Assim também
não admira que o homem-bonzinho pós-moderno hoje festeje mesmo o jogo com os sexos numa 'festa
queer', e amanhã possa escrever um 'Manifesto a favor do homem', em que lamente a crise da
masculinidade e defenda um antifeminismo chato. A suposta aproximação de códigos de género
diferentes é feita através de formas diferentes de género, de modo que a aproximação aparente
também pode a qualquer momento voltar atrás, para uma sexualidade essencialista. Esta viragem
extremamente violenta, do colorido fintar o género para a sexualidade essencialista, é expressão da
sexualidade de crise de cunho narcisista. Com o sujeito, também a sua sexualidade chega ao fim.

A invasão de gender e queer não só promoveu a propagação do carácter social narcisista, mas
também colocou o feminismo – mesmo tendo ele de repente ficado em destaque – numa situação em
que tem de lutar pela sobrevivência, mais uma vez. Por meio da teoria do género, foi levado ao
feminismo o recalcamento pós-moderno de todos os conteúdos e da pretensão de verdade, nele
provocando estragos. Ora é justamente a teoria do género que não consegue explicar por que razão,
apesar da aproximação dos códigos binários de género, as relações hierárquicas de género não
desapareceram, ou parecem mesmo despertadas para uma nova vida. Em retrospectiva vê-se que
gender e queer foram veículo ou expressão de uma socialidade de crise em expansão sob signos
narcisistas, e agora não conseguem entender o resultado do seu movimento, uma vez que os seus
instrumentos conceptuais não vão além do plano cultural-simbólico. Assim, também tem de escapar às
teorias do género e queer o 'asselvajamento do patriarcado' (Roswitha Scholz), ou seja, elas não
conseguem explicar os diferentes fenómenos que tornam clara a relação hierárquica de género
existente antes e depois.

Nestas circunstâncias, perante o agravamento da relação de género, seria agora importante para o
pensamento feminista enfrentar o 'asselvajamento do patriarcado' e perceber como ele se expressa.
Um olhar ao desenrolar da crise a nível mundial mostra que, apesar do (ainda) colorido movimento de
género (neste país), há muito se expandiu uma masculinidade de crise, que se expressa
especialmente no embrutecimento das relações de género. Obsessão e violência são fenómenos
quotidianos da subjectividade de crise masculina – um conglomerado que é possível que tenha
desempenhado um papel na Alemanha, na passagem de ano 2015/16 em Colónia. Está à vista que
soçobram as 'possibilidades de sublimação' e, assim, as barreiras inibidoras da manifestação imediata
das emoções. Isto é expressão do narcisista, como tentei mostrar. A ligação entre masculinidade de
crise e narcisismo torna-se particularmente evidente no amoque: O último acto da autoposição
narcisista masculina é o suicídio alargado, em que afinal é imaginada a aniquilação do mundo.

No lado feminino, a socialização de crise apresenta-se sob a forma de 'dupla socialização', para a qual
Roswitha Scholz tem chamado a atenção repetidamente, na interpretação de Regina Becker-Schmidt
(cf. Scholz 2011, 67s.). As mulheres, na sequência de processos de crise pós-modernos, são
obrigadas mais uma vez ao papel de administradoras da crise, e feitas igualmente responsáveis pela
família e pelo salário, mas isso sob o signo de um capitalismo em colapso, onde se trata afinal da pura
sobrevivência. (As 'mulheres dos escombros' eram também administradoras da crise, mas ainda
podiam construir algo.) Além disso, as mulheres continuam a ser como antes expostas a projeções
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masculinas que, sob o signo do narcisismo, se tornam tão imediatas que se podem descarregar em
emoções (mesmo violentas) a qualquer momento. Assim, à responsabilidade das mulheres pela
família e pelo salário, acresce a ameaça de se tornarem vítimas da violência, da hostilidade etc.
masculinas. Esta prolongada exigência excessiva ao papel das mulheres, não pode / não deve, no
entanto, ser referida – não se encaixaria na imagem da mulher emancipada, que consegue a bem
dizer com toda a facilidade gerir o emprego e as crianças. Neste contexto também podem ser
explicados os resultados de estudos que indicam que as mulheres na Alemanha sofrem duas vezes
mais de depressão do que os homens. A depressão é expressão de relações narcisistas com as
referidas exigências excessivas prolongadas, que também são contraditórias. A depressão é uma
variante 'feminina' do narcisismo, embora os homens também sejam cada vez mais afectados por
depressões. Especificamente no que se refere um 'narcisismo feminino', algo tem de ser ainda
esclarecido. Seria preciso perguntar, por exemplo, sobre as vias femininas de reacção narcisista às
agressões. Parece haver uma certa tendência 'feminina' para se conseguir livrar bastante
imediatamente das agressões, mas de uma maneira em que as agressões não são expressas
abertamente. É, antes, algo como uma agressividade narcisistamente passiva que, porque não aberta,
desde o início afasta qualquer reacção e confronto e se mostra assim incompetente para o conflito.

Mesmo se continua muito por esclarecer a respeito das mais recentes perturbações da relação de
género no plano psicossocial, deveria ser mais do que claro que a propagação do carácter social
narcisista é expressão de uma sexualidade de crise que é visível tanto do lado feminino como também
do lado masculino, ainda que de maneiras diferentes. Tudo isso mostra que as pessoas não podem
facilmente sair da matriz psicossocial do sujeito, embora essa matriz se decomponha de dentro para
fora – também a ela está a ser retirada a substância. O resultado dessa contradição é o narcisismo,
como a última paragem do sujeito de crise: somente com base nele pode o sujeito em desintegração
comportar-se ainda como capaz de agir, de pensar e de sentir.

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Original Die sozialpsychische Matrix des bürgerlichen Subjekts in der Krise em www.exit-online.org.
Publicado na revista EXIT nº 14, 3/2017. Tradução de Boaventura Antunes

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