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31/03/2018 Filosofia: criação de conceitos e planos de imanência – Pensamento Extemporâneo

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Filoso a: criação de
conceitos e planos de
imanência

 admin  4 de agosto de 2011 | 0

Ildeu da Cruz Sílvio

No presente artigo, partiu-se de uma hipótese:


a de que se faz necessário um novo losofar.
Como losofar na contemporaneidade? É
possível tal loso a? Se é possível, como esta
deve se constituir? Para tanto, tem-se como
objetivo neste artigo a compreensão de
conceito e de plano de imanência na obra O que
é loso a? de Deleuze e Guattari. Eles propõem
entender o que seria fazer loso a a partir de
alguns conceitos como: conceito, plano de
imanência, personagem conceitual e problema.
Mas serão destacados neste artigo apenas os
dois primeiros, uma vez que estes são centrais
para o fazer losó co deleuzoguattariana.

Deleuze e Guattari iniciam a sua obra O que é


loso a? a rmando que “não há conceitos
simples. Todo conceito tem componentes e se
de ne por eles. Tem, portanto uma cifra. É
uma multiplicidade, embora nem toda
multiplicidade seja conceitual.” (DELEUZE;

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GUATTARI, 1992, p.23) Tudo isso para a rmar


que não existem conceitos sozinhos, pois todo
conceito tem sempre um componente e este
sempre nos remete a outro conceito. Daí já se
pode concluir que, para eles, fazer loso a é
criação de conceitos. Isso não é algo particular
de sua loso a, mas que está presente em toda
a história da loso a.

Segundo Schopke (2004, p.131) eles “(…) não


deixam margem para dúvida: a loso a não é
uma simples arte de inventar, de produzir os
conceitos, ela é uma disciplina rigorosa, que
tem como função primordial a criação de
novos conceitos.” (SCHOPKE, 2004, p. 131)
Com relação ao plano de imanência, pode-se
dizer que este é o lugar em que os conceitos se
distribuem sem romper-lhe a integridade, a
sua continuidade. Com o se fosse um deserto
em que os conceitos povoam e é ele que dá o
suporte para os conceitos. Cabe agora se
perguntar o que exatamente é um conceito? O
que signi ca criar conceitos? Qual a função do
conceito? Qual o lugar do conceito no plano de
imanência? Qual a relação entre conceito e
plano de imanência?

Agora o que cabe é tentar responder a esses


questionamentos. Com relação à primeira
questão: Este

(…) é, portanto, ao mesmo


tempo absoluto e relativo:
relativo aos seus próprios
componentes, aos outros
conceitos, ao plano a partir do
qual se delimita, aos problemas
que se supõe deva resolver, mas
absoluto pela condensação que
opera, pelo lugar que ocupa
sobre o plano, pelas condições
que impõe ao problema.
(DELEUZE; GUATTARI, 1992,
p.29).

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Além do mais, os lósofos franceses irão dizer


que o conceito é também “um incorporal,
embora se encarne e se efetue nos corpos.”
(DELEUZE; GUATTARI, 1992, p.29) que o
conceito sempre diz o acontecimento. Segundo
Schopke o conceito “como incorporal, o
conceito tem uma espécie de “subsistência” ou
“insistência” no tempo (…) e como todo
acontecimento, ele tem uma dualidade: ele
aponta, ao mesmo tempo para as proposições
(sem as quais ele não seria possível de
expressão) e para os corpos (nas suas
efetuações espaço-temporais).” (SCHOPKE,
2004, p.140) Tudo isso para dizer que sempre o
conceito vai dizer o acontecimento, é um
acontecimento, sendo assim, se não diz a
essência ou a coisa, mas diz o evento, o
conceito é sempre devir.

Outra característica do conceito é o fato dele


possuir uma história, apesar de ser sempre
singular, ele nunca será um conceito sozinho,
pois sempre guardará em si componentes
advindos de outros conceitos. O que ocorre é
justamente recortar, demarcar e delimitar um
novo problema, de tal jeito que o conceito
assuma novas formas, ou seja, possui agora
uma nova ambiência.

Diante do dito, ca perceptível que um


conceito nunca será sozinho devido ao fato de
que um sempre remete a outro e assim até o
in nito, pois, como já a rmado acima, o
conceito tem um devir, além de ter vindo de
outro conceito e este veio de outro e assim
continua, ou seja, ele é uma multiplicidade.
Assim a rmam Deleuze e Guattari: “Num
conceito, há, no mais das vezes, pedaços ou
componentes vindos de outros conceitos, que
respondiam a outros problemas e supunham
outros planos.” (DELEUZE; GUATTARI, 1992,
p.26) Não se pode esquecer ainda de que entre
os conceitos há uma ligação apesar de
permanecerem distintos, algo de indiscernível
existe entre os dois. Um domínio A e B se

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tornam indiscerníveis, são estas zonas ou


inseparabilidade que dá consistência interna
ao conceito. Portanto, um domínio AB pertence
tanto a A quanto a B, desse modo A e B se
tornam indiscerníveis. No entanto, eles têm
um exoconsistência com outros conceitos. (
DELEUZE; GUATTARI, 1992)

Com relação ao segundo questionamento, pode


se a rmar que criação de conceitos é feita
justamente a partir do levantamento de
questionamentos, problemas, idéias que um
lósofo vai colocando. Desse modo, um
lósofo cria um conceito para responder, e
remeter a um problema e assim tentar
responder a eles, como a rma Schopke (2004,
p.133): “os conceitos apontam sempre para
outros conceitos.”

Segundo Leite,

Sem dúvida, formular conceitos


sem problemas a serem
resolvidos é uma tarefa inútil,
desagradável, visto que se
ganha em trivialidade ao criar
pelo simples fato de criar sem
nada a resolver. Os conceitos
devem ser colocados de modo
coerente, ou seja, remetendo-
se a problemas, pois estes são o
sentido da invenção conceitual;
assim, deve-se criar conceitos
para solucionar problemas que
se considera mal vistos ou mal
colocados pela loso a.

Além do mais, criar conceitos é justamente


colocar um pensamento, uma problemática
dentro de um plano de imanência sem buscar
uma referência fora deste, apesar de terem
ligação com outro conceito. Como já se sabe,
dentro da loso a de Deleuze e Guattari um
plano sempre responde a um conceito e vice e
versa.

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Sendo assim, a criação de conceitos é um ato


da loso a segundo Deleuze e Guattari, mas
para tanto é necessário que se instaurem
planos de imanência para que os conceitos
sejam criados. Porém, um não deve ser
confundido com o outro, pois “os conceitos e o
plano são estritamente correlativos, mas nem
por isso devem ser confundidos. Por
conseguinte, o plano de imanência não é um
conceito, nem o conceito de todos os
conceitos.” (DELEUZE; GUATTARI, 1992, p.45)

Esta é uma das características do fazer


losó co de Deleuze e Guattari que
necessariamente precisa ser destacado, a
saber: o construtivismo e este segundo os
autores em questão a rmam que ele “(…) tem
dois aspectos complementares, que diferem
em natureza: criar conceitos e traçar plano. Os
conceitos são como as vagas múltiplas que se
erguem e que se abaixam, mas o plano de
imanência é a vaga única que os enrola e
desenrola.” (DELEUZE; GUATTARI, 1992,
p.45). Diante disso, Pelloso diz: “(…) o lósofo
precisa se tornar um construtor-criador.” (A
imanência como lugar de ensino da loso a).
Este lósofo pode ou não criar um pensamento
que subverta toda uma antiga ordem,
entretanto cria conceitos e em seu plano de
imanência este conceito criado existe
independentemente do mundo fora dele. (C.f
SCHOPKE, 2004, p.137

Assim pode-se passar para a outra questão que


é a função do conceito. Pode-se dizer que este
tem como pretensão permear o plano de
imanência. Com relação ao último
questionamento o que se pode a rmar é que o
conceito tem por nalidade preencher todo o
plano, uma vez que para cada plano de
imanência existe um conceito. Por
conseguinte, ele tem por função responder ao
problema ali colocado.

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Poderia se perguntar, Para que assim se


entenda melhor a relação intensa que existe
entre o plano de imanência e o seu conceito. O
que signi ca um “plano de imanência” na
loso a deleuzoguattariana? O plano de
imanência é fundamental para a criação
losó ca, portanto ele é o solo e ao mesmo
tempo horizonte da produção de conceitos.
Segundo Regina “(…) um conceito não pode ser
completamente entendido fora do plano que
lhe dá consistência e vida própria, apesar de
que se deve ter cuidado para não confundi-lo
com o próprio plano. O conceito não existe fora
dele, embora não possa ser distinto dele. O
conceito é como um raio que corta o céu
cinzento; o raio não é o céu, mas também não
existe fora desse mesmo céu. Na verdade um
não pode ser visto sem o outro, ainda que
sejam distintos um do outro.” (SCHOPKE,
2004, p.139). Portanto, não se pode confundir
os dois, pois só há conceito no plano e só há
plano povoado por conceito. “Os conceitos são
acontecimentos, mas o plano é o horizonte dos
acontecimentos, o reservatório ou a reserva de
acontecimentos puramente conceituais.” 
(DELEUZE; GUATTARI, 1992,p.46)

Ainda a respeito do plano de imanência pode-


se dizer que ele é também um “Uno-Todo”, ou
seja, é ele que compreende todos os conceitos,
por isso, se pode dizer que se a loso a tem
seu início com a criação de conceitos, o plano
de imanência deve consequentemente ser
considerado como pré- losó co pelo fato de
que para existir um conceito ele tem que ter
como pressuposto um plano de imanência,
nenhum conceito pode ser criado ao léu. Como
a rma Deleuze: planômeno é como se fosse
uma mesa, “(…) não é um conceito, nem o
conceito de todos os conceitos (…)” (DELEUZE;
GUATTARI, 1992, p.45), é o lugar onde os
conceitos são constituídos. Além do mais, esse
pré- losó co pode ser entendido como
anterior a loso a, no entanto, ele é uma
condição necessária para que a loso a exista.

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Por conseguinte, pode se a rmar que conceito


e plano nascem juntos. Assim, loso a é
criação de conceitos e instauração de planos.
Diziam Deleuze e Guattari: “O conceito é o
começo da loso a, mas o plano é a sua
instauração. (…) é o plano de imanência que
constitui o solo absoluto da loso a (…) sobre
os quais ela cria seus conceitos. Ambos são
necessários, criar conceito e instaurar o plano,
como duas asas ou duas nadadeiras.”
(DELEUZE; GUATTARI, 1992, p.52)

Diante do dito acima, ca mais fácil perceber a


grande proposta dos lósofos franceses. Um
lósofo sempre irá criar conceito ou conceitos,
mas para tanto é necessário o plano de
imanência. Este é o fazer losó co
deleuzoguattariano, a proposta de uma nova
loso a, para ser mais preciso uma geo-
loso a que seja localizada, que irá responder
a um problema de um determinado lugar, ou
até mesmo problemas que outros lósofos
colocaram. Não há como usar conceitos
diferentes em lugares diferentes. Eis a
originalidade da atividade losó ca de Deleuze
e Guattari, a criação conceitual.  Portanto,
quem se proponha a fazer loso a deve ter
como pressuposto criar conceitos e traçar
planos de imanência.

Mas mesmo diante desta conclusão, como


cará a loso a a partir de agora se cada
lósofo cria o seu conceito dentro de seu
próprio plano de imanência? A loso a se
tornará relativista? Se com a loso a de
Deleuze não se pode falar de uma “verdade”
que seja universal, como cará tal conceito?
Como os lósofos farão para discutir se cada
um está em um plano de imanência diferente?
Haverá uma sustentabilidade para a loso a
doravante?

Referências

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a


loso a?. Tradução Bento Prado Jr. e Alberto
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Alonso Muñoz. São Paulo: Editora 34, 1992.

GELAMO, Pelloso Rodrigo. A imanência como


“lugar” de ensino da loso a. Educação e
pesquisa, São Paulo, v. 34, n. 1, p.127-137.
Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext>. Acesso em: 27 maio 2011.

LEITE, Fernandes B. Costa Alexandre. Auto-


referência do conceito e solilóquio da loso a.
Consciência. Disponível em:
<www.consciencia.org/deleuzeowl.shtml >.
Acesso em: 27 maio 2011.

SCHOPKE, Regina. Por uma loso a da


diferença: Gilles Deleuze, o pensamento
nômade. São Paulo: Edusp, 2004.

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Tags conceito, loso a, plano de imanência

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