Escolas | João de Araújo Correia

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Desanda, cacheira1!

Era uma vez um homem que tinha três filhos e todos eles resolveram ir correr
mundo à procura de aventuras e riquezas. Cada um seguiu seu rumo.
O primeiro encontrou um velho caminhante e foram conversando. A certa
altura, disse o velho:
- Paremos aqui para comer.
Ali mesmo desenrolou uma toalha que levava atada à cintura e disse:
- Põe-te, mesa!
Para grande pasmo do rapaz apareceram muitos manjares e coisas boas que
ambos comeram. Depois seguiu cada um o seu caminho. Mas no dia seguinte, o rapaz
foi encontrar o velho cercado por lobos. Como era valente conseguiu afugentar os
lobos e recebeu, como agradecimento do velho, a toalha mágica.
- Já não preciso de trabalhar para comer-pensou o rapaz e regressou a casa.
O filho segundo também encontrou um velhinho que levava uma burra pela
arreata; seguiram de conversa enquanto caminhavam até que se separaram; pouco
depois, o rapaz ouviu gritos de aflição e foi encontrar o velhinho a ser atacado por um
bando de ladrões em fuga. Como agradecimento, o velhinho ofereceu-lhe a burra e
explicou-lhe:
- Quando tu lhe disseres “Deita dinheiro”, essa burra dá-te todo o dinheiro que
quiseres.
Achando-se rico, o rapaz regressou a casa.
O filho mais novo encontrou um homem que levava um cajado às costas e
seguiram os dois de conversa. A certa altura, apareceram uns ladrões que os
atacaram e o homem do cajado gritou:
-Desanda, cacheira!
O cajado começou logo a dar pauladas nos ladrões até os deixar estendidos no
chão.
O rapaz entusiasmou-se e deu todo o dinheiro que tinha para comprar o
cajado.
Quando chegou a casa, os irmãos troçaram dele por se ter deixado enganar
pois o cajado não servia para nada.
Havia uma grande festa na terra e todos queriam ir. O rapaz mais velho, que
trazia sempre a toalha atada à cintura, resolveu pedir a uma velha que a guardasse
enquanto ele ia para o baile e recomendou-lhe que nunca dissesse “Põe-te, mesa!”.
Logo que o rapaz se afastou, a velha disse as palavras mágicas e viu uma mesa posta
com tudo o que há de bom. Correu a esconder a toalha.
O rapaz do meio fez o mesmo e recomendou à velha que não dissesse “Deita
dinheiro”. Logo que ele se afastou, a velha disse as palavras mágicas e , ao ver o
resultado, fugiu com a burra.
Quando os rapazes voltaram da festa, não encontraram nem velha, nem
toalha, nem burra. Muito tristes, contaram tudo ao irmão mais novo; este achou que

1
Cacheira: cacete;moca;pau;cajado
era a altura de saber para que servia o cajado. Foi procurar a velha e fingiu que queria
confiar o cajado, recomendando que nunca dissesse “Desanda, cacheira”.
O rapaz afastou-se um pouco e a mulher disse logo as palavras mágicas.
Como a velha estava sozinha, a cacheira não tinha mais em quem bater e desatou a
dar pancada na mulher. O rapaz voltou e deixou que o cajado batesse na mulher até
esta confessar onde estavam a toalha e a burra. Depois de tudo ser devolvido, o rapaz
fez parar a cacheira.
- Estou satisfeito – disse o rapaz mais novo. – agora já seu para que serve esta
cacheira e com ela salvei as vossas riquezas.

Natércia Rocha, Contos e Lendas de Portugal 1, 2ª ed., Plátano Ed., 2011

1. Observa o esquema deste conto. Interpreta oralmente e de seguida reconta a

história.

Três irmãos foram correr mundo…

O do meio
O mais velho encontrou… O mais novo encontrou…
encontrou…

No dia seguinte… Pouco depois… A certa altura…

Como recompensa Como recompensa O rapaz comprou…, mas

recebeu… recebeu… os irmãos…

Os três irmãos foram a uma

festa.

O que aconteceu ao mais velho? O que aconteceu ao do meio?

Contaram ao mais novo.

O que fez o rapaz?

 2. Agora, a partir do esquema escreve o resumo da história.

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