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Os últimos versos deste poema fazem eco dos versos "Cumpriu-se o Mar,
e o Império se desfez. / Senhor, falta cumprir-se Portugal!" do poema
"Infante".
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podem ainda ganhar força, tal como o fogo quase extinto pode ser
reavivado por um sopro, a Alma portuguesa pode ainda levantar-se. A
repetição do ainda reforça a ideia de que nada está perdido e de que com
uma atitude diferente (a acção do vento) tudo se pode alterar. Note-se a
expressão “o frio morto”, em que o adjectivo morto poderá ter um sentido
conotativo de ocultar vida renovada, como a Fénix que surge das cinzas.
Na terceira estrofe, em consonância com o título, o sujeito poético, em
tom de súplica, pede que um “sopro” divino ajude a atear a “chama do
esforço”, ainda que se tenha de pagar com “desgraça” ou suportar o peso
da “ânsia”.
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Ø As marcas da presença do receptor:
Ø A formulação do pedido:
Fernando Pessoa apresenta este pedido como uma súplica, sob a forma de
vento, como é notado nas expressões “Dá sopro” e “a aragem”, como
forma de reavivar uma chama aparentemente apagada. Esta súplica é
feita no intuito que uma mão divina ajude a erguer novamente um clarão
remanescente ao olhar humano. E será esta pequena aragem, este
inabalável sopro que fará toda a diferença. Irá consistir assim num
reaprender de ideias, de conquistas.
Ø A simbologia da “noite”:
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A noite percorre o céu, envolta num véu sombrio, num carro atrelado com
quatro cavalos negros, com o cortejo das suas filhas, as Fúrias, as Parcas.
Imola-se a esta divindade ctoniana uma velhinha negra.
Entre os Maias o mesmo glifo servia para designar a noite, o interior da
Terra e a morte (THOH).
A noite é, na concepção celta do tempo, o começo da jornada, assim como
o Inverno é o princípio do ano. A duração legal da noite e do dia
corresponde, na Irlanda, a 24 horas e, simbolicamente, à eternidade.
O nome galês da semana é, etimologicamente, oito noites.
A noite simboliza o tempo das gestações das germinações, das
conspirações que desabrocharão em pleno dia como manifestação de vida.
É rica em todas as virtualidades de existência. Porém, entrar na noite é
regressar ao indeterminado, onde se misturam pesadelos e monstros, as
ideias negras. A noite é a imagem do inconsciente e, no sono da noite, o
inconsciente liberta-se.
Como qualquer símbolo, a noite apresenta um duplo aspecto: o das trevas
onde fermenta o futuro, e o da preparação do dia, donde brotará a luz da
vida.
Na teologia mística, a noite simboliza o desaparecimento de todo o
conhecimento distinto, analítico, exprimível; mais ainda, a privação de
toda a evidência e de todo o apoio psicológico. Por outras palavras, como
obscuridade, a noite é própria para a purificação do intelecto, enquanto
que vazio e despojamento dizem respeito à purificação da memória,
aridez e secura, à purificação dos desejos e afectos sensíveis, e até das
aspirações mais elevadas.
Neste poema, a “noite” pode ser vista sobre dois distintos pontos de vista.
De um primeiro ponto pode ser vista como as trevas, devido à situação em
que a nação se encontra, porque mesmo com o seu futuro “fermentando”
esta continua na sombra, na obscuridade.
Por outro lado pode ser vista como a preparação do dia donde brotará a
luz da vida, ou seja, a preparação daquilo que será o glorioso futuro de
Portugal, o seu domínio cultural, a reconstrução da sua essência do seu
império.
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O termo “ainda” que aparece repetido ao longo da segunda estrofe
remete-nos para uma sensação de esperança, de glória vindoura. Com
este termo temos a possibilidade de ter uma réstia de esperança para
erguer o quinto império, nem tudo está perdido e com empenho e
dedicação tudo se conseguirá.
Apenas falta uma pessoa para iniciar o império, ser o impulsionador.
Ø A isotopia da esperança:
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Ø A expressividade dos recursos estilísticos utilizados:
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“Mar Português” a visão mística da história, Pessoa quer mostrar que “o
mar é nosso”, que os Portugueses foram os primeiros a conquista-lo, que
ele é o caminho para a perfeição.
Ø Fénix
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mitos gregos, desperta consonâncias no mais íntimo do homem. Na arte
cristã, a Fénix renascida tornou-se um símbolo popular
da ressurreição de Cristo.
Curiosamente, o seu nome pode dever-se a um equívoco de Heródoto,
historiador grego do século V a.C.. Na sua descrição da ave, ele pode tê-la
erroneamente designado por Fénix (phoenix), a palmeira (phoinix em
grego) sobre a qual a ave era nessa época representada.
Simbologia e história
A crença na ave lendária que renasce das próprias cinzas existiu em vários
povos da antiguidade como gregos, egípcios e chineses. Em todas as
mitologias o significado é preservado: a perpetuação, a ressurreição, a
esperança que nunca têm fim.
Para os gregos, a fénix por vezes estava ligada ao deus Hermes e é
representada em muitos templos antigos. Há um paralelo da fénix com o
Sol, que morre todos os dias no horizonte para renascer no dia seguinte,
tornando-se o eterno símbolo da morte e do renascimento da natureza.
Os egípcios a tinham por "Benu" e estava sempre relacionada
a estrela"Sótis", ou estrela de cinco pontas, estrela flamejante, que é
pintada ao seu lado.
Na China antiga a fénix foi representada como uma ave maravilhosa e
transformada em símbolo da felicidade, da virtude, da força, da liberdade,
e da inteligência. Na sua plumagem, brilham as cinco cores sagradas.
No ínicio da era Cristã esta ave fabulosa foi símbolo do renascimento e da
ressurreição. Neste sentido, ela simboliza o Cristo ou o Iniciado,
recebendo uma segunda vida, em troca daquela que sacrificou pela
humanidade.
Ø Objecto: Cinzas
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da nação em ruínas; vestígio do que em tempos foi, mas no entanto a sua
essência permanece a mesma, só que adormecida, esquecida. Olhamos
para as cinzas e são o que sobrou do corpo (da nação) e não o vemos, mas
não deixou de o ser, permanece. Até que ganhe nova alma e das cinzas
renasça o ser que existia com todo o seu esplendor, glória e essência.
Neste caso podemos dizer que mesmo estando Portugal adormecido, “em
cinzas” basta estas voarem, ou seja os portugueses sonharem e
acreditarem no sonho para que delas nasça um Portugal ainda maior do
que o deu origem às cinzas. Um Portugal onde impere a cultura, a
sabedoria, os valores/os ideais justos, a perfeição e a humanidade.
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