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UM MUNDO POLICÊNTRICO - A Afirmação do

Japão como Potência Económica após a 2ª


Guerra Mundial

Caracterização geográfica

O Japão é um arquipélago, localizado no continente asiático, constituído por


cerca de 4000 ilhas, alinhadas no sentido Norte-Sul, ao longo de cerca de 2000
km. As quatro maiores (Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku) representam
quase a totalidade dos 378 mil km2 de terras emersas deste país insular.

Situa-se numa zona vulcânica e sísmica activa e é um país montanhoso, pois


cerca de 85% da superfície do território apresenta fortes declives e altitudes
elevadas.

Possui um terreno bastante arborizado, com o predomínio de florestas.

É um território pouco cobiçado, uma vez que é isolado e pobre em recursos. Esta
pobreza em recursos obriga a que se proceda à importação de produtos
alimentares para garantir o abastecimento do mercado interno, além de que se
procede também à importação de matérias-primas e recursos energéticos, o que
o torna quase dependente do exterior. No entanto, o Japão conseguiu manter
uma forte unidade cultural. A coesão social e as características sociais da
sociedade japonesa são consideradas as responsáveis pela prosperidade
económica do país na segunda metade do século XX.

A base da alimentação japonesa é constituída por peixe, uma vez que este é
abundante nos mares do Japão.

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Figura 1 – Localização geográfica do arquipélago do Japão

Principais aglomerações populacionais

Ocupa o 10º lugar da lista das nações com mais população, uma vez que vivem
cerca de 128 milhões de japoneses no território.

Existe também uma grande densidade populacional nas três maiores


aglomerações japonesas, Tókio, Osaka-Kobe e Nagóia. É nestas três cidades que
se concentra cerca de 50% da população total.

A elevada densidade populacional pode ser explicada pela herança de um


sistema de produção agrícola baseado na rizicultura e pelo recente crescimento
demográfico.

As cinco cidades mais populosas do Japão são, segundo o censo de 2005 e por
ordem decrescente de população:

1. Tóquio, com 8 483 050 habitantes;

2. Yokohama, com 3 579 133 habitantes;

3. Osaka, com 2 628 776 habitantes;

4. Nagoya, com 2 215 031 habitantes;

5. Sapporo, com 1 880 875 habitantes.

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Figura 2 - Fotografias da cidade de Tóquio Figura 3 - Cidade de Yokohama

Figura 4 - Castelo da cidade de Osaka Figura 5 - Cidade de Nagoya Figura 6 - Cidade de

Sapporo

Nível sociocultural da população japonesa

Apoiando-se num forte sentimento nacionalista, a identidade japonesa tem a


história sempre presente. A sociedade é organizada, entre outros princípios, em
torno de uma ideologia comum, que hierarquiza fortemente a sociedade e que
resulta da fusão de várias doutrinas filosóficas e religiosas, disciplinadoras e
contrárias ao espírito de revolta, associadas ao aparecimento da casta guerreira
dos samurais.

É também regida pela continuidade da única dinastia reinante e por um modelo


civilizacional baseado na rizicultura.

A população japonesa é, geralmente, bem instruída, tal que, em 1997, o seu


índice de alfabetismo era de 1% e a taxa de ensino superior, no mesmo ano, era
de 42,7%.

O nível de educação no Japão é muito alto e competitivo. 95% dos alunos


inscrevem-se na Universidade e praticamente 50% terminam os estudos
universitários.

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No entanto, o Japão é dos países com a taxa de suicídio mais alta. Em média,
por dia, ocorrem 80 suicídios. Devido ao elevado número de casos, o suicídio é a
sexta maior causa de morte no Japão e a primeira entre indivíduos com idade
inferior a 30 anos. A taxa de suicídio foi, no ano de 2008, de 25,3% (em 100 mil
habitantes).

O Japão é um país com uma elevada esperança média de vida (81 anos) e com
um nível de vida bastante elevado. Contudo, esta elevada esperança média de
vida, com o decorrer dos anos, irá se revelar um problema porque, a par da
decrescente taxa de natalidade, a população torna-se cada vez mais envelhecida
e aumentam os custos relacionados com a segurança social.

Os recursos humanos japoneses

Devido ao facto de ser uma população numerosa, a população japonesa constitui


um vasto mercado interno, com cerca de 128 milhões de consumidores, e possui
uma mão-de-obra abundante. A par disto, a população nipónica acatou os
sacrifícios que o Estado e as empresas exigiram, tais como, a limitação das
férias, a devoção ao trabalho, a rígida competição escolar, entre outras, para
além de ter demonstrado um grande espírito empreendedor. Foram, então,
capazes de harmonizar a vida pessoal com a laboral, encontrando o equilíbrio
entre a tradição a modernidade.

O comportamento do povo é explicado por factores como a homogeneidade


linguística e étnica e a complexidade da herança cultural, que é composta por
valores como a lealdade, a honra, o respeito pela hierarquia, a deferência, a
disciplina e capacidade de organização. Estes valores são os factores base para a
ausência de conflitos ou tensões sociais.

É um povo com capacidade para suportar a austeridade, que valoriza as


questões colectivas e que coloca os interesses da família, das empresas e do
Estado acima das suas próprias necessidades.

Como sabemos, o Japão é um país com recursos humanos de alta qualidade,


devido principalmente ao sistema escolar, que é extremamente competitivo,
desde o nível mais elementar. Esta competição desde o inicio do percurso
escolar exige que os estudantes se esforcem muito, mas garante um elevado
grau de qualificação e o acesso a empregos nas grandes empresas. Contudo, a
taxa de desemprego no Japão é de 4,7%.

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São também um povo com um nível de formação elevado, o que leva a que os
trabalhadores estejam sempre aptos a exercer as suas funções da forma mais
qualificada possível.

É extremamente importante que a mão-de-obra seja flexível, porque isso


permite às empresas implementar processos de produção flexíveis, com níveis
de exigência muito elevados e generalizar a produção “sem defeitos”.

O período após a segunda Guerra Mundial no Japão

Em Agosto de 1945, o imperador japonês anunciou a capitulação* e um quarto


das cidades japonesas encontravam-se destruídas pelos bombardeamentos,
além de que a frota mercantil, que era a terceira no mundo, tinha sido
afundada.

No seguimento desta situação, em 1948, a produção agrícola diminuiu 60%, o


consumo 55% e a produção industrial 65%, em relação aos anos antecedentes à
Segunda Guerra Mundial.

Tornou-se impossível controlar a inflação e verificou-se a expansão dos


mercados negros.

Apesar de ter perdido 700 mil civis e cerca de 2 milhões de soldados durante a
guerra, o Japão teve de suportar a pressão demográfica resultante do
acolhimento de 6,2 milhões de japoneses repatriados da Manchúria, da Coreia e
da Formosa (Taiwan) e pelo “baby-boom” provocado pelo regresso dos soldados
a casa.

Como resultado dos factos referidos anteriormente, a penúria e o desemprego


aumentaram e o iene, a moeda nacional, deixou de ser cotado no mercado
internacional, acrescido ainda o facto de que o Japão teve de pagar
indemnizações de guerra, ficando, então, à mercê dos vencedores.

Após ter sido ocupado pelos Estados Unidos da América, foi-lhe imposta a
Constituição dos ocupantes, forçando o Japão a esquecer o seu passado
militarista. Encontrada a ajuda económica, concentrou-se exclusivamente no
esforço de reconstrução.

*Capitulação – Convenção entre beligerantes pela qual as forças armadas de uma das partes, ou

uma parcela delas, estando situadas numa praça forte ou cercadas pelo inimigo no teatro das

operações, põem termo à acção militar e se colocam à disposição do inimigo.

Contudo, é uma definição distinta da de rendição, pois pode ser condicional ou incondicional.

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A ajuda norte-americana ao Japão e reformas
impostas

A ajuda norte-americana ao Japão foi concretizada através do plano Dodge, que


teve como objectivos promover a recuperação económica do Japão e garantir
um aliado na região, uma vez que se verificava a expansão da influência
soviética ao Sudeste Asiático e ao Extremo Oriente.

Com este plano, foram impostas uma série de reformas ao nível político, militar
e económico, tais como:

a) O desarmamento, tendo o Japão que renunciar a usar a guerra como meio


regular de conflitos e procedendo à criação de uma polícia nacional de reserva
apenas para autodefesa;

b) A democratização da sociedade japonesa, através da atribuição de uma


certa autonomia ao poder local, da aplicação de uma lei sindical menos rígida,
da garantia das liberdades individuais, da igualdade entre os sexos e de um
ensino mais democrático;

c) A reforma agrária, redistribuindo aos trabalhadores do campo os terrenos


anteriormente confiscados aos proprietários pouco produtivos. A alteração da
estrutura fundiária conduziu à modernização da prática agrícola no
arquipélago japonês.

d) O poder de alguns Zaibatsu* foi eliminado, em nome da “livre


concorrência”. Os eliminados foram aqueles que tiveram um papel importante
durante o conflito mundial, uma vez que haviam contribuído para alimentar a
máquina de guerra japonesa.

*Zaibatsu – grupos económico-financeiros, pertencentes a famílias e regidos pela tradição.

Inicialmente, apoiaram-se na existência de uma mão-de-obra barata e abundante, passando

depois a dominar a indústria pesada, a navegação comercial e o comércio externo.

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Figura 8 - Evolução da estrutura da população activa e do PIB, em %

A necessidade de controlar a natalidade no período


de recuperação económica

A política antinatalista imposta no Japão foi inspirada pelo fim da guerra, pela
escassez de recursos e pelo cenário de um Japão superpovoado.

Com o intuito de proceder ao controlo da natalidade, foi legalizada a interrupção


voluntária da gravidez, em 1948; foi autorizada a venda de contraceptivos, em
1949; regulamentou-se a distribuição gratuita de anticoncepcionais, em 1954,
além de existir uma intensa propaganda a favor do planeamento familiar.

Através da implementação destas medidas, o “baby-boom” foi controlado e


ocorreu a desaceleração do crescimento demográfico.

No entanto, a diminuição da natalidade e o aumento da esperança média de vida


explicam o rápido envelhecimento da população, o que poderá causar problemas
ao desenvolvimento do país no futuro. Como podemos verificar na figura 2, no
ano de 2004, a pirâmide etária regista uma maior percentagem de população
idosa que população jovem, ou seja, a população japonesa está envelhecida. O
mesmo acontece com a previsão para 2050, mas ainda com maior discrepância
entre os valores.

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Figura 9 - Evolução da pirâmide etária japonesa

A recuperação económica do Japão

Através de um processo de desenvolvimento económico e social consistente, o


Japão conseguiu tornar-se a segunda maior potência económica do mundo,
apenas em 40 anos.

Durante a década de 50, assistiu-se a um aumento extraordinário do PNB, que


aumentou 150% em termos constantes. Este valor ficou a dever-se às
alterações estruturais verificadas na economia, que passou a ser dominada por
empresas inovadoras e fortemente competitivas, que se impuseram no mercado
interno e no mercado mundial; à ajuda económica dos EUA, através do plano
Dodge*; e à capacidade demonstrada pelo povo japonês para superar as
advertências da guerra.

Foram criados cerca de três milhões de novos empregos, entre 1958 e 1961.
Verificaram-se alterações em várias áreas, como na estrutura da população
activa, no peso das actividades associadas nos sectores secundário e terciário,
relativamente ao PIB e, as maiores alterações verificaram-se nos mercados,
onde os EUA passaram a ser o principal cliente e fornecedor, embora o comércio
externo japonês se concentre na região da Ásia.

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Figura 10 - Evolução da estrutura da população activa e do PIB, em %

A recuperação económica do Japão, após a Segunda Guerra Mundial, parecia


impossível, dado um conjunto de condições altamente desfavoráveis, como, os
elevados custos humanos e materiais que a derrota implicou, a perda das
colónias, e as populações das cidades de Hiroshima e Nagasaki foram arrasadas
pela bomba atómica, entre outros.

Figura 11 - Nuvem de fumo resultante da explosão da bomba em Nagasaki, 9 de Agosto de

1945.

Figura 12 – Maqueta da cidade de Hiroshima antes e depois do bombardeamento

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*Plano Dodge – Nome do plano que os EUA meteram em prática no sentido de prestar auxílio ao

Japão. Joseph Dodge foi presidente do banco de Detroit e conselheiro económico no período pós

II Guerra Mundial, numa tentativa de tentar estabilizar a economia mundial.

“O milagre económico japonês”

Deu-se a designação de “milagre económico japonês” à recuperação económica


porque, como já referi anteriormente, esta recuperação parecia impossível
devido a um conjunto de condições altamente desfavoráveis. No entanto, o
Japão foi capaz de recuperar a sua economia e tornar-se uma das maiores
potências económicas. Tal recuperação só foi possível devido à actuação
simultânea de factores externos e internos.

Dos factores externos é importante realçar:

. A ajuda americana;

. A participação do Japão na guerra da Coreia, como grande fornecedor de


bens essenciais ao esforço de guerra dos Aliados, o que estimulou a actividade
industrial;

. As limitações orçamentais para a defesa, impostas pelos norte-americanos,


que ajudaram a canalizar os fundos existentes para as áreas que contribuíram
para a prosperidade económica e social;

. O ciclo duradouro de expansão da economia mundial.

Já dos factores internos, destaca-se:

. O papel do Estado;

. Uma base industrial sólida e variada, orientada para os sectores de ponta;

. A qualidade dos recursos humanos, referidos anteriormente.

Visando a recuperação económica, o Estado japonês canalizou os recursos


financeiros para as empresas e realizou grandes investimentos nas
telecomunicações, nos caminhos-de-ferro e na engenharia naval, além de o
Governo ter estimulado uma política de obras públicas que criou emprego e
estimulou a procura interna.

A par destas medidas, o Estado desenvolveu também o incentivo à inovação e


controlou o volume das importações, protegendo, desta forma, as empresas
nacionais da concorrência e aplicando taxas alfandegárias aos produtos
estrangeiros.

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Figura 13 - Iene, notas e moedas utilizadas no Japão

O processo de industrialização japonês

O Japão que conhecemos hoje, associado às indústrias de alta tecnologia, é


resultado de um processo de industrialização, que foi despoletado em 1950 e
continua até aos dias de hoje. Este processo de industrialização foi faseado em 4
fases:

1. A primeira fase consistiu numa política mais dirigida à importação, devido


à actividade industrial estar concentrada na indústria do algodão;

2. Nesta segunda fase, a indústria do algodão foi ultrapassada pelas


indústrias pesadas, orientadas para a utilização pacífica do aço. É também
caracterizada pelas medidas de protecção à produção e ao mercado interno.
Apostou-se, então, na exportação de aço, navios e máquinas, em vez dos
tecidos de algodão e outros bens de qualidade inferior. O objectivo era
aumentar as exportações para pagar as crescentes importações de bens
energéticos, de produtos alimentares e matérias-primas;

3. Na terceira fase, o processo de industrialização foi diversificado,


apostando-se na indústria mecânica e electrónica. Foi uma fase dominada
pelas políticas económicas orientadas para a exportação.

4. Na 4ª e última fase, que está presente nos dias que correm, caracteriza-
se pelas indústrias de alta tecnologia e pela estratégia de deslocalização
industrial para os países vizinhos.

Tendo conhecimento das suas limitações geográficas e económicas, os japoneses


sentiram a necessidade de criar um modelo de produção adequado às suas
características e necessidades – o toyotismo.

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O Japão como a segunda potência económica

Nos dias de hoje, o PNB (Produto Nacional Bruto) do Japão corresponde a 8% do


PNB mundial, sendo aproximadamente equivalente à soma do PNB da Alemanha
e do Reino Unido, as duas primeiras potências europeias. É, então, depois dos
EUA, a maior potência económica do mundo. É curioso o facto de os EUA terem
concedido auxílio económico ao Japão após a II Guerra Mundial e, no presente, o
Japão ser um dos maiores concorrentes dos EUA.

O período de maior crescimento do Japão ocorreu entre 1950 e 1970, e foi


possível através da exportação massiva dos produtos nacionais. O Japão chegou
a ter uma balança comercial excedentária, a partir de 1985 e o comércio externo
passou a ser um importante impulsionador do crescimento económico.

A par de se tornar uma potência económica, o Japão tornou-se também numa


potência financeira, através da acumulação de excedentes comerciais associada
às elevadas taxas de poupança interna e à valorização do Iene, a moeda
nacional.

O enorme crescimento económico por parte do Japão levou a que, nos dias que
correm, este país seja o primeiro no que toca à indústria automóvel, à
construção naval, aos aparelhos fotográficos, aos televisores e aos robots
industriais e o segundo em áreas como a produção de aço e de têxteis
sintéticos.

É importante referir que entre as 10 maiores empresas mundiais nos sectores da


electrónica e dos equipamentos de telecomunicações, 4 delas são japonesas e
ocupam o 4º, 5º, 8º e 9º lugares. Já no ramo automóvel existem 3 empresas
japonesas entre as 10 maiores e ocupam o 1º, 6º e 7º lugares, sendo a Toyota a
maior empresa no ramo automóvel.

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A influência dos choques petrolíferos na estrutura
económica do Japão

Dado que o Japão, devido ao predomínio das indústrias pesadas, é um país


fortemente dependente de recursos energéticos e matérias-primas (de que não
dispõe), torna-se inevitável que seja fortemente influenciado pelos choques
petrolíferos, de tal forma que os choques petrolíferos verificados na década de
70, provocaram o aceleramento da alteração da estrutura económica japonesa.

Foram desenvolvidas indústrias mais lucrativas e de maior valor acrescentado,


em detrimento dos sectores onde a procura mundial era reduzida e o consumo
de energia era elevado. Houve também a necessidade de diversificar as fontes
de energia, de modo a combater a elevada dependência externa em termos de
energia. Investiu-se, então, na energia nuclear que, no início dos anos 90, já
contribuía com 29% da produção de electricidade.

Procedeu-se à deslocalização dos sectores com maior utilização de mão-de-obra


para os NPI asiáticos, onde a mão-de-obra é mais barata e as indústrias de
inteligência (semicondutores, robótica e biotecnologia) foram desenvolvidas,
trazendo consequências positivas para a produtividade agrícola.

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