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GUIMARÃES, Manoel Salgado.

Entre amadorismo e o profissionalismo: as tensões da


prática histórica no século XIX. Topoi, Rio de Janeiro, dezembro 2002, pp. 184-200.

184 Nas primeiras décadas do século XIX o conhecimento do passado se torna uma
disciplina com um método, um aprendizado e uma carreira. Entretanto, esse
procedimento disciplinar com relação à História resulta de uma intensa disputa do
monopólio de fala em relação ao passado. O passado se constitui como objeto de
disputa, mobilizando interesses políticos. “Entronizada em um panteon, a História
disciplinar refaz sua trajetória apresentando esse percurso como um
desenvolvimento natural do conhecimento em busca de cientificização, apagando
os traços que inscrevem este procedimento no mundo histórico, tornando-se a
própria memória da disciplina”.
185 O debate envolvendo saberes considerados indispensáveis à prática do ofício do
historiador, como a diplomática, dão a medida de como antigas competências são
ressignificadas a partir das novas exigências da escrita de uma história nacional.
187 Em 1833, mesmo ano em que é criado o Instituto Histórico de Paris, é fundada a
Societé de l’ Histoire de France, que tinha por finalidade a publicação dos
“Documentos Originais da História da França”. A sociedade buscava destacar a
importância da coleta, organização e publicização das fontes documentais. As
antigas coleções, objeto das práticas do antiquarianismo, organizadas segundo
critérios próprios deveriam ser reorganizadas segundo critérios definidos a partir
dos princípios formulados por uma geração voltada para a construção política e
simbólica da nação francesa.
190 O sentido político conferido à História por essa geração de historiadores é
evidente. Para além do passado, o que estava em jogo era a produção de um
sentido para o futuro da comunidade nacional. Tentava-se ler no passado um certo
destino possível e garantia-se a coesão no presente.
193 O procedimento de combinar, no interior de uma mesma instituição, no caso o
Instituto Histórico de Paris, interesses diversificados, parecia apontar para a
permanência de uma tradição antiquária, quando ainda não se operara uma nítida
separação entre os campos de conhecimento.
195 As polêmicas internas ao IHP indicam que haviam disputas e por concepções e
projetos de escrita da História. Tais tensões mostram que mesmo no interior da
instituição não se consolidada um cânone em relação a certos procedimentos.

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