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SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS

Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

SISTEMAS ADESIVOS - ATUALIDADES E PERSPECTIVAS

André Figueiredo Reis

⇒ Professor Adjunto, Área de Dentística, Centro de Pós-Graduação Pesquisa e


Extensão, Universidade Guarulhos

Patrícia Nóbrega Rodrigues Pereira

⇒ Professora Assistente, Universidade Católica de Brasília e University of North


Carolina at Chapel Hill

Marcelo Giannini

⇒ Professor Associado, Departmento de Odontologia Restauradora, Faculdade de


Odontologia de Piracicaba, UNICAMP

Este capítulo é parte integrante do eBook lançado durante o 25º Congresso Internacional
de Odontologia de São Paulo – 25º CIOSP (janeiro de 2007) e distribuído gratuitamente
pelo site www.ciosp.com.br, pertencente
à Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas – APCD.

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1. INTRODUÇÃO

A adesão de materiais resinosos aos Por definição, a função primordial dos


tecidos dentais está presente em grande sistemas adesivos é manter unidos dois
parte dos procedimentos restauradores materiais de natureza igual ou distinta,
realizados na prática clínica odontológica. aderindo à superfície de contato de cada
As observações de diversos pesquisadores um. Como citado anteriormente, os
associadas ao conhecimento acumulado agentes de união estão indicados em
nos últimos 50 anos proporcionaram o diferentes aplicações. Desta forma, em
desenvolvimento da Odontologia Adesiva todo procedimento restaurador adesivo
(Buonocore, 1955). A evolução das existem sempre no mínimo dois materiais
técnicas e materiais poliméricos aderentes (biológicos ou sintéticos) a ser
permitem o restabelecimento da estética unidos por intermédio de um adesivo (Fig.
e função aos tecidos dentais debilitados 1). As características estruturais e
por cárie, fratura, alterações de cor, mal- ultramorfológicas de cada parte envolvida
formações ou mal-posicionamento. Os na adesão têm um papel importante no
procedimentos adesivos são utilizados em desempenho das interfaces. Portanto, é
diversas áreas da Odontologia, podendo de fundamental importância que o
ser usados em restaurações diretas e cirurgião-dentista tenha conhecimento
indiretas, na aplicação de selantes, na não apenas dos sistemas de união
fixação de braquetes ortodônticos, na disponíveis no mercado e do seu
cimentação de pinos intra-radiculares, na mecanismo de ação, mas também dos
esplintagem de dentes periodontalmente substratos e materiais envolvidos na
comprometidos, e têm sido recentemente adesão e o mecanismo de união a cada
indicados para a obturação de canais um destes, para que se consiga o máximo
radiculares. desempenho do procedimento
restaurador adesivo realizado.

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Cerâmica, Metal, Resina Indireta,


Pinos Pré-fabricados

Resina Composta ou Cimento


Resinoso

Sistema adesivo

Esmalte ou
Dentina

Figura 1 - Esquema representativo das diferentes interfaces que podem ser formadas pelos diferentes
substratos e materiais envolvidos nos procedimentos restauradores adesivos.

O esmalte e a dentina são os substratos biológicos são mais complexos e


biológicos envolvidos nos procedimentos certamente a dentina apresenta-se como
adesivos, e dentre os materiais sintéticos o maior desafio para os procedimentos
envolvidos nos procedimentos adesivos, devido ao seu alto conteúdo
restauradores encontram-se a resina orgânico e umidade em relação ao
composta, os cimentos resinosos, os esmalte. Existem no mercado diferentes
materiais ionoméricos, as porcelanas e os estratégias de união aos tecidos dentais
metais. Cada um destes substratos duros. Neste capítulo serão abordados os
apresentam características peculiares e aspectos relacionados aos tecidos dentais
diferentes modos de interação com os e aos materiais restauradores, e as
sistemas adesivos. Os substratos estratégias de união a estes substratos.

2. COMPOSIÇÃO DOS SUBSTRATOS DENTAIS


ASPECTOS RELACIONADOS À UNIÃO

Para uma melhor compreensão dos adesivos no esmalte são considerados


procedimentos de união aos substratos mais previsíveis. O esmalte é composto
dentais é de fundamental importância por aproximadamente 88% de mineral,
que o cirurgião-dentista tenha 2% de matriz orgânica e 10% de água
conhecimento das características dos (em volume).
tecidos dentais envolvidos nos Por outro lado, a adesão à dentina é
procedimentos adesivos. Devido ao seu considerada um procedimento mais
alto conteúdo mineral, os procedimentos complexo. A maior parte do dente é

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composta pela dentina, um substrato Por ser um complexo biológico hidratado,


formado por aproximadamente 50% de a dentina sofre mudanças fisiológicas,
material inorgânico e 30% de matéria pelo envelhecimento e devido à doença
orgânica, que apresenta túbulos cárie, produzindo diferentes formas de
preenchidos por prolongamentos dentina devido a alterações nos
odontoblásticos e fluido dentinário, que componentes fundamentais da estrutura,
respondem por 20% do volume total, determinadas por mudanças no seu
proporcionando-lhe uma característica arranjo, inter-relações ou química
úmida (Marshall et al., 1997). A parte (Marshall et al., 1997). Estas formas de
orgânica é composta por colágeno, que dentina são, de certa forma, as mais
responde por 95% do total, e os outros 5% importantes com relação aos
são as proteínas não-colagenosas, que procedimentos restauradores adesivos.
apesar de estarem presente em pequena Os túbulos dentinários representam o
quantidade, são de fundamental caminho percorrido pelos odontoblastos
importância na manutenção da estrutura da câmara pulpar até a junção amelo-
e reexpansão da rede de fibrilas de dentinária ou cemento. Os túbulos
colágeno expostas pelo condicionamento apresentam formato cônico e convergem
ácido (Pereira et al., 2006). A parte para a polpa, desta forma sua distribuição
inorgânica consiste de cristais de e densidade variam dependendo da
hidroxiapatita (Gage et al., 1989). localização e de alterações no tecido
Os túbulos são uma das características dentinário (Giannini et al., 2001). A
mais marcantes da dentina, e a densidade tubular na dentina profunda é
permeabilidade deste tecido é uma de aproximadamente 45.000
conseqüência direta de sua presença túbulos/mm2 enquanto na dentina
(Gage et al., 1989). A luz dos túbulos é superficial esta densidade diminui para
circundada por uma dentina altamente aproximadamente 20.000 túbulos/mm2;
mineralizada, denominada dentina o diâmetro dos túbulos varia de 2,5 µm
peritubular contendo uma grande em dentina profunda a 0,9 µm próximo à
quantidade de cristais de hidroxiapatita e junção amelo-dentinária (Garberoglio &
pouca matriz orgânica (Marshall et al., Brännström, 1976). Estes valores são
1997). Os túbulos são separados pela inversamente proporcionais à resistência
dentina intertubular composta por uma de união, já que o mecanismo de adesão
matriz de colágeno reforçada por cristais depende, em sua maior parte, da
de hidroxiapatita. retenção micromecânica produzida pela
A microestrutura da dentina e suas infiltração e polimerização dos
propriedades são os principais monômeros resinosos na região de
determinantes de boa parte das dentina desmineralizada (Giannini et al.,
operações em Odontologia Restauradora. 2001).

3. MECANISMOS DE UNIÃO AOS SUBSTRATOS DENTAIS

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A união aos substratos dentais ocorre al., 1982). A qualidade da adesão está
principalmente através da interação diretamente relacionada à eficiência da
micromecânica do agente de união com o penetração dos monômeros nos espaços
esmalte condicionado e com as fibrilas interfibrilares, ao completo envolvimento
colágenas expostas na dentina. Para que pela solução adesiva das fibrilas
se consiga uma união ao substrato colágenas expostas pelo condicionamento
dentinário com resinas adesivas, é preciso ácido (Figs. 3 e 4), e ao grau de conversão
aplicar um ácido para que a camada do adesivo. Para a obtenção da união ao
superficial da dentina tenha a fase esmalte aplica-se um ácido para se
mineral totalmente ou parcialmente promover um aumento na área e na
removida. Em seguida, esta região que energia livre de superfície através da
era antes ocupada por mineral é desmineralização (Fig. 5). A união
substituída pela solução do adesivo. O depende também da retenção
agente de união precisa infiltrar nesta micromecânica entre a resina adesiva e
rede de fibrilas colágenas e polimerizar in as porosidades promovidas pelo
situ, formando o que se denomina condicionamento ácido ao redor e no
camada híbrida (Fig. 2) (Nakabayashi et centro dos prismas de esmalte (Fig. 6).

RC
AD

CH

D
Figura 2 - Fotomicrografia eletrônica de transmissão ilustrando a formação
da camada híbrida (CH). (RC) resina composta, (AD) adesivo, (D) dentina.

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TD
D
Figura 3 - Fotomicrografia eletrônica de transmissão de uma secção transversal da dentina após a aplicação
do ácido fosfórico a 37% por 15 segundos. A região entre as setas representa uma zona desmineneralizada
de aproximadamente 4 µm. Após a aplicação do ácido fosfórico, esta zona precisa ser infiltrada pelo sistema
adesivo para que seja forma a camada híbrida. (D) dentina, (TD) túbulo dentinário.

TD

Figura 4 - Fotomicrografia eletrônica de varredura ilustrando a superfície dentinária


após a aplicação do ácido fosfórico a 37% por 15 segundos. Note a rede de fibrilas
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colágenas disponíveis para promover a formação da camada híbrida. (TD) túbulo dentinário.

Figura 5 - Fotomicrografia eletrônica de varredura ilustrativa da superfície do esmalte após o


condicionamento com ácido fosfórico 37%. A aplicação do ácido promove
um aumento na área e na energia livre de superfície.

RC
A
D

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Figura 6 - Fotomicrografia eletrônica de varredura demonstrativa da interface de união resina-esmalte. Note


a formação dos tags de resina ao redor dos prismas de esmalte. (RC) resina composta, (AD) adesivo, (E)
esmalte.

3.1. Técnicas para união aos substratos dentais

Existem atualmente em uso três este princípio, os adesivos que utilizam


diferentes maneiras para se promover a monômeros auto-condicionantes também
união aos substratos dentais. A primeira realizam o condicionamento total.
delas necessita de um condicionamento Ao se aplicar o ácido fosfórico na técnica
ácido prévio. Normalmente utiliza-se o do condicionamento ácido prévio, a
ácido fosfórico, de 30 a 40%, para se dentina e o esmalte são desmineralizados
condicionar o esmalte e a dentina a uma profundidade de 3 a 6 µm. A união
previamente à aplicação do adesivo. A ao esmalte é um procedimento mais
segunda técnica baseia-se na aplicação previsível, no entanto a união à dentina é
de monômeros ácidos, sem a uma tarefa mais complexa, sendo ainda
necessidade de utilização de um agente bastante questionada quanto à
condicionante, lavagem e controle da durabilidade (Reis et al., 2004; Giannini et
umidade na superfície do dente al., 2003). Após a desmineralização da
previamente a aplicação da resina dentina, recomenda-se a utilização da
adesiva. Desta forma, espera-se que a técnica úmida de união para se evitar o
desmineralização e a infiltração dos colabamento da rede de fibrilas
monômeros ocorram simultaneamente. colágenas, o que poderia dificultar a
Existe ainda uma terceira forma de se infiltração dos monômeros resinosos
obter união aos tecidos dentais, que é (Kanca et al., 1992). No entanto, a técnica
através da utilização de ionômeros de úmida tem sido considerada uma técnica
vidro modificados por resina. Além de crítica, pois uma infiltração deficiente
formarem uma união micromecânica com pode ocorrer se a dentina estiver
o substrato, também unem-se demasiadamente seca, ou o “overwet
quimicamente à hidroxiapatita presente phenomenon” pode ocorrer na presença
no substrato (De Munck et al., 2005). de umidade excessiva. A Figura 7 ilustra o
A técnica que utiliza o condicionamento aspecto da dentina após a
ácido prévio foi por algum tempo desmineralização com o ácido fosfórico
chamada de técnica do condicionamento por 15 segundos, sendo que a Figura 7A
total. No entanto, a aplicação deste ilustra o aspecto da dentina úmida, onde
conceito não é adequada, pois a técnica pode-se observar os espaços
do condicionamento total foi inicialmente interfibrilares para a infiltração dos
descrita por Fusayama et al. (1979) como monômeros resinosos, e na Figura 7B
sendo a técnica para condicionamento observa-se a dentina desidratada, onde
simultâmeo do esmalte e da dentina, houve o colapso das fibrilas colágenas, o
quando o condicionamento da dentina que dificulta a infiltração dos monômeros
ainda não era recomendado. Seguindo e formação da camada híbrida.

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Figura 7 - Fotomicrografias eletrônicas de varredura da superfície dentinária após a desmineralização com o


ácido fosfórico por 15 segundos. A Figura 7A ilustra o aspecto da dentina úmida, onde pode-se observar os
espaços interfibrilares para a infiltração dos monômeros resinosos. Na Figura 7B observa-se a dentina
desidratada, onde houve o colapso das fibrilas colágenas, o que dificulta
a infiltração dos monômeros e formação da camada híbrida.

O desenvolvimento dos sistemas auto- secagem com ar e também, a ocorrência


condicionantes surgiu com o intuito de de fibrilas desprotegidas pela resina
reduzir as dificuldades da técnica úmida aplicada (Tay & Pashley, 2001; Carvalho
de adesão e simplificar os procedimentos et al., 2005). Recentemente, uma técnica
clínicos de aplicação dos adesivos. Nesta auto-condicionante de adesão que
técnica, primers auto-condicionantes consiste em um passo único de aplicação
compostos de monômeros ácidos são foi introduzida. Os adesivos de passo
aplicados sobre a dentina coberta pela único reúnem as etapas de
smear layer sem a necessidade de condicionamento, infiltração e adesão em
remoção do material com água um único procedimento. Apesar destes
subsequentemente. Após este passo sistemas de união serem comercializados
simultâneo de condicionamento e como simplificados, devido ao menor
infiltração, uma camada de resina número de passos de aplicação, eles são
adesiva hidrófoba é então aplicada sobre na realidade misturas complexas de
a dentina tratada. Acredita-se que os monômeros resinosos hidrófilos e
sistemas adesivos auto-condicionantes hidrófobos, solventes, água e outros
desmineralizam a dentina e infiltram seus aditivos (Tay & Pashley, 2001; Reis et al.,
monômeros simultaneamente, evitando o 2006).
colapso das fibrilas de colágeno pela

3.2. Classificação dos sistemas adesivos

Existem na literatura diversas acetona); presença ou ausência de


classificações para os sistemas adesivos. partículas de carga inorgânica; tipo de
Eles podem ser classificados por gerações ativação (física, química ou dual); modo
(1ª, 2ª, 3ª etc); de acordo com o tipo de de ação (condicionameto ácido prévio ou
solvente (a base de água, álcool ou auto-condicionamento); número de

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passos de aplicação (um, dois ou três No momento existe uma classificação


passos); ou número de frascos (frasco preferencial, que se baseia na estratégia
único, dois frascos). Os adesivos auto- de ação (condicionamento ácido prévio –
condicionantes podem ainda ser etch and rinse; ou auto-condicionamento
classificados de acordo com o pH dos – self-etching) e no número de passos
monômeros ácidos e agressividade das utilizados durante o procedimento adesivo
soluções em fracos (pH ~ 2) ou fortes (pH (Fig. 8). Dependendo de como os três
< 1). passos fundamentais de
A classificação dos adesivos por gerações condicionamento, aplicação do primer e
foi utilizada por muitos anos, e aplicação da resina adesiva são
acompanha a evolução dos sistemas realizados ou combinados, os adesivos
adesivos. No entanto, ela não descreve o estão disponíveis em sistemas de três
que os adesivos realmente representam e passos, dois passos, ou de passo único. O
já está em desuso (Bayne et al., 2005). substrato pode ser tratado através da
Devido a rápida evolução dos materiais e utilização do ácido fosfórico ou de
técnicas, fica difícil atualizar este sistema monômeros ácidos, que condicionam e se
de classificação. De acordo com a infiltram simultaneamente.
classificação por gerações já temos Como pode ser observado na Figura 8, a
disponíveis no mercado a 7ª geração de combinação das etapas de aplicação dos
adesivos, que é representada pelos adesivos resultou na diminuição do
adesivos auto-condicionantes de passo número de passos, e consequentemente
único que são condicionados em um na simplificação dos procedimentos
único frasco. Como exemplo de marcas adesivos. Esta simplificação dos
comerciais deste grupo de adesivos procedimentos ganhou rapidamente a
temos o i-Bond (Heraeus-Kulzer), o aceitação dos clínicos. No entanto, é
OptiBond All-In-One (Kerr Denatl) e o importante ressaltar que esta
Clearfil S3 Bond (Kuraray Medical). simplificação não resulta
Atualmente em uso no mercado necessariamente em uma melhor união
encontramos adesivos de 4ª, 5ª, 6ª e 7ª aos tecidos dentais.
gerações.

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Figura 8 - Representação esquemática da classificação dos sistemas adesivos baseada na estratégia de


ação (condicionamento ácido prévio – etch and rinse; ou auto-condicionamento – self-etching) e no número
de passos utilizados durante o procedimento adesivo. Dependendo de como os três passos fundamentais de
condicionamento, aplicação do primer e aplicação da resina adesiva são realizados ou combinados, os
adesivos estão disponíveis em sistemas de três passos, dois passos, ou de passo único.

4. COMPOSIÇÃO DOS SISTEMAS ADESIVOS

Cada sistema adesivo apresenta uma conhecer quais componentes básicos de


composição própria, com características um sistema adesivo e suas características
peculiares que influenciam diretamente para saber selecionar e indicá-los nas
na efetividade da união. É importante diferentes situações clínicas.

4.1. Monômeros

A composição monomérica dos adesivos composição dos primers de adesivos de


é um dos fatores determinantes no três passos e dois passos que utilizam o
desempenho da união. Para que se condicionamento ácido prévio, sendo
obtenha união a um substrato úmido também encontrado em sistemas auto-
como a dentina, a utilização de condicionantes. Este monômero
monômeros hidrófilos é indispensável. apresenta um radical hidrófilo, que tem
Um dos monômeros hidrófilos mais afinidade pelo substrato úmido, e um
utilizados é o HEMA (2-hidroxietil radical hidrófobo que irá promover a
metacrilato). Este monômero hidrófilo polimerização com outros monômeros.
está presente principalmente na Este monômero monofuncional de baixo

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peso molecular é de fundamental condicionamento ácido prévio e nos


importância para permitir a infiltração do sistemas auto-condicionantes de passo
adesivo no substrato dentinário. No único estão misturados com os outros
entanto, este monômero, por si só não é componentes na mesma solução.
capaz de promover a formação de uma Nos sistemas auto-condicionantes
rede polimérica com propriedades encontramos os monômeros ácidos. A
mecânicas adequadas para a união aos capacidade “auto-condicionante” destes
tecidos dentais. sistemas decorre da incorporação de
Assim, monômeros hidrófobos monômeros que contêm radicais
bifuncionais são necessários para derivados do ácido carboxílico, fosfórico
promover a união dos materiais resinosos. ou seus ésters, ou da incorporação de
Os monômeros hidrófobos mais ácidos orgânicos ou minerais como
comumente utilizados são o Bis-GMA aditivos. (Tay & Pashley, 2001). Estes
(bisfenol-A diglicidil eter dimetacrilato) e o monômeros desmineralizam a dentina e o
UDMA (uretano dimetacrilato). Estes esmalte e infiltram no tecido
monômeros hidrófobos estão presentes simultaneamente. Dentre os monômeros
em maior concentração na composição auto-condicionantes disponíveis nos
do adesivo ou bond (terceiro passo dos produtos comerciais podemos citar como
sistemas que utilzam o condicionamento exemplo o MDP (10-ácido fosfórico
ácido prévio e segundo passo dos metacriloiloxidecametileno), MAC10 (10-
sistemas auto-condicionantes). Mas ácido metacriloiloxidecametileno
também são encontrados em menores malônico) e o 4-MET (4-ácido trimelítico
proporções nos outros frascos. Nos metacriloiloxietil).
sistemas de dois passos que empregam o

4.2. Solventes

Todos os sistemas adesivos apresentam polimerizados para formar a camada


algum tipo de solvente em sua híbrida (Reis et al., 2003).
composição. Os solventes mais O passo de aplicação de um leve jato de
comumente utilizados são a água, o ar após a aplicação do adesivo não pode
etanol e a acetona. Sua principal função é ser negligenciado, pois a não evaporação
facilitar o molhamento da superfície do solvente e da água do substrato pode
dental pelos monômeros resinosos. prejudicar a polimerização,
Nos sistemas que empregam o comprometendo a performance do
condicionamento ácido prévio, após o adesivo. Outro fato importante, e que
condicionamento com ácido fosfórico os deve ser levado em consideração pelos
solventes, por serem hidrófilos, penetram clínicos é a importância dos solventes
na dentina úmida, agindo como para a promoção da adesão, como
carreadores de monômeros. Em seguida, descrito no parágrafo acima. Os solventes,
se unem com as partículas de água, especialmente a acetona, são altamente
elevando sua pressão de vapor. Ao aplicar voláteis em temperatura ambiente. Desta
um leve jato de ar (recomendado por forma, é importante que o adesivo seja
todos os fabricantes), os solventes dispensado apenas no momento de sua
evaporam, removendo a água que estava utilização, pois a sua volatilização
presente no substrato e deixando no previamente a aplicação pode
substrato os monômeros que serão comprometer a infiltração dos
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monômeros na zona desmineralizada Nos sistemas auto-condicionantes, o


(Reis et al., 2003). É importante ressaltar, solvente utilizado normalmente é a água
que os adesivos à base de acetona e alguns sistemas apresentam também o
normalmente apresentam uma alta etanol em pequena quantidade. A
concentração de solvente e baixa presença de água é essencial para
concentração monomérica em sua permitir a ionização dos monômeros
composição. Assim é importante aplicar ácidos e a desmineralização do esmalte e
várias camadas de adesivo até que se dentina subjacente (Tay & Pashley 2001).
perceba que toda a superfície dental está Uma maior concentração de água no
brilhante após a aplicação do jato de ar. primer ou no adesivo auto-condicionante
A grande vantagem de se utilizar primers resulta em uma maior agressividade
misturados em água (disponível nos (capacidade de desmineralização)
sistemas de 3 passos), é a possibilidade (Hiraishi et al., 2005). Mais uma vez é
de se reexpandir a rede de firbrilas importante ressaltar a importância da
colágenas, caso ela tenha sido colapsada aplicação de um jato de ar para a
pela secagem com ar após a lavagem do evaporação desta água, que apesar de
ácido fosfórico (Fig.7). Este é um dos importante durante a aplicação do
fatores que contribui para os bons adesivo, pode ser prejudicial à união e
resultados observados para os sistemas reduzir a vida clínica da restauração.
de 3 passos (De Munck et al., 2005).

4.3. Modo de ativação

Os sistemas adesivos são em sua maioria cavitário minimizando os problemas de


fotoativados. Os sistemas ativados por luz adaptação nas margens e na região
apresentam nas suas composições o interna do preparo. Os adesivos duais são
sistema de aminas aromáticas e aplicados nas estruturas dentais, não
fotoiniciadores, como a canforoquinona, fotoativados e interagem com o cimento
para que a reação de polimerização resinoso aplicado. Todo o conjunto é
ocorra através da ativação por luz. No fotopolimerizado de uma só vez e a luz
entanto, existem situações clínicas nas idealmente deveria ter a capacidade de
quais é impossível utilizar a luz com atravessar a peça protética e atingir o
intensidade suficiente para se iniciar a cimento resinoso e o adesivo com
polimerização do adesivo, como na intensidade suficiente para promover alto
cimentação de pinos pré-fabricados e de grau de conversão dos materiais. Nos
algumas restaurações indiretas. Nestes casos onde a luz não consegue ser
casos, optamos por sistemas adesivos aplicada em intensidades adequadas, o
que apresentam ativação química ou mecanismo químico de polimerização
dual. deve assegurar a conversão monomérica
Os sistemas adesivos “duais” ou de dupla (Menezes et al., 2006). Outra indicação
presa foram desenvolvidos para os clínica desses adesivos é na cimentação
procedimentos de cimentação de de núcleos ou pinos pré-fabricados nos
restaurações indiretas e pinos pré- canais radiculares, cuja fonte luminosa do
fabricados. A principal vantagem desta aparelho fotopolimerizador não consegue
classe de adesivos é permitir melhor atingir as regiões mais profunda do canal
união da peça protética ao preparo (Foxton et al., 2003).
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A maioria dos sistemas de cura dual Prime&Bond NT Dual Cure


apresenta além do sistema de aminas (Dentsply/Caulk) e Optibond Solo Plus
aromáticas e fotoiniciadores encontrados Dual Cure (Kerr Dental). O sistema
nos adesivos fotoativados, o peróxido de peróxido-amina tem sido utilizado nos
benzoíla e aminas terciárias, que geram adesivos convencionais, os quais
radicais livres para que a reação de apresentam o primer e o adesivo em
polimerização ocorra mesmo na ausência frascos separados. São exemplos os
da fonte de luz. Outros sistemas adesivos sistemas Scotchbond Multipurpose Plus
de dupla ativação contêm sulfinatos (3M Espe), All Bond 2 (Bisco) e Optibond
aromáticos de sódio, componentes FL Dual Cure (Kerr Dental). O sistema
diferentes da reação peróxido-amina Scotchbond Multipurpose Plus apresenta
(Arrais et al., 2006). As soluções do sal de também um frasco Ativador para o primer
sulfinato de sódio são utilizadas em que contem o sal sulfinato.
adesivos de frasco único como o

4.4. Partículas de carga

Além dos componentes orgânicos nos a utilização de partículas nanométricas de


sistemas adesivos, componentes sílica (entre 5 a 20 nm para alguns
inorgânicos também podem ser adesivos) na tentativa de se infiltrar as
adicionados com a intenção de se partículas na camada híbrida.
melhorar as propriedades mecânicas das As partículas de carga podem estar no
interfaces. Alguns fabricantes especulam resina hidrófoba “bond”, como nos
que as partículas podem infiltrar na adesivos auto-condicionantes de dois
camada híbrida, o que poderia melhorar passos Clearfil SE Bond (Kuraray Medical),
as propriedades mecânicas desta. Porém Clearfil Protect Bond (Kuraray Medical) e
análises em Microscopia Eletrônica de Unifil Bond (GC Inc.) ou pode ser
Transmissão demonstram que esta encontrada também nos adesivos de dois
infiltração é muito difícil de ocorrer (Fig. passos que utilizam o condicionamento
9). As partículas normalmente ácido prévio Adper Single Bond Plus (3M
aglomeram-se no topo da camada híbrida Espe), Prime&Bond NT (Dentsply/Caulk) e
e na embocadura dos túbulos dentinários. Optibond SOLO Plus (Kerr Dental).
A adição de partículas de carga contribui Adesivos auto-condicionantes de passo
principalmente na diminuição da hidrofilia único como o Clearfil S3 Bond (Kuraray
das interfaces. O tamanho, distribuição e Medical) também apresentam partículas
tratamento das partículas varia entre os de carga em sua composição.
sistemas, mas existe uma tendência para

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AD

CH

Figura 9 - Fotomicrografia eletrônica de transmissão ilustrando a interface de união resina-dentina produzida


por um sistema adesivo de dois passos que utiliza o condicionamento ácido prévio e apresenta
nanopartículas de carga em sua composição (Prime&Bond NT). Note o acúmulo das partículas de carga no
topo da camada híbrida e na embocadura do túbulo dentinário (círculo pontilhado). (AD) adesivo, (CH)
camada híbrida, (D) dentina.

4.5. Liberação de Flúor

A propriedade de liberação de fluoretos (Shofu Inc.) e Clearfil Protect Bond


por materiais ionoméricos e seus (Kuraray Medical).
benefícios no aumento da resistência à Diferentes formas de incorporação de
desmineralização e inibição de cáries Flúor são utilizadas por cada fabricante, o
recorrentes são bem conhecidos. que pode influenciar no modo e
Propriedade esta que é desejável a todos quantidade de Flúor liberado. O Flúor
os materiais restauradores. Baseado pode ser incorporado em partículas de
neste princípio, diversos fabricantes vidro de Fluoraluminiosilicato (One-up
buscaram desenvolver tecnologias para Bond F, Reactmer Bond), cristais de
que seus materiais também possam Fluoreto de Sódio (Clearfil Protect Bond),
apresentar liberação de Flúor. Dentre os hidrofluoreto de cetilamina (Prime&Bond
sistemas adesivos disponíveis no NT), entre outros. Em um estudo recente,
mercado que apresentam incorporação Hara et al. (2005) detectaram a liberação
de algum composto de Flúor podemos de Fluor em diferentes sistemas adesivos.
citar o OptiBond SOLO FL (Kerr Dental), No entanto, foi demonstrado que mesmo
One-up Bond F (Tokuyama), Prime&Bond liberando Flúor, alguns adesivos não
NT (Dentsply/Caulk), Reactmer Bond foram capazes de impedir a formação de
cáries recorrentes.
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O sistema adesivo Clearfil Protect Bond união ao longo do tempo tanto in vitro
que apresenta incorporação de um quanto in vivo (Donmez et al., 2005).
monômero antibacteriano no primer e de Especula-se que a liberação de Flúor
partículas de Fluoreto de Sódio na solução também pode ser importante para inibir a
do adesivo mostrou resultados ação de enzimas (MMPs) nas interfaces
promissores em relação à estabildade da (Donmez et al., 2005).

5. CARACTERÍSTICAS ULTRAMORFOLÓGICAS DAS INTERFACES

Como citado anteriormente, existem ácidos mais “moderados” formam uma


diferentes modos de se promover a união camada híbrida de aproximadamente 0,5
aos tecidos dentais. É importante que o µm (Fig. 10), o que não resulta
clínico tenha em mente como cada necessariamente em uma resistência de
sistema de união interage com o esmalte união inferior. No entanto, alguns estudos
ou a dentina, para saber qual a melhor têm demonstrado que este
estratégia de união em cada situação. condicionamento mais brando poderia
Por utilizarem um ácido mais agressivo comprometer a união ao esmalte quando
(pH~0.2) os sitemas que empregam o ele não foi desgastado durante o preparo
ácido fosfórico 37% formam uma camada cavitário, pois a superfície exposta ao
híbrida de aproximadamente 5 µm (Fig. meio oral apresenta-se mais resistente à
2), cerca de dez vezes mais espessa que a desmineralização, e consequentemente
camada híbrida formada por sistemas mais resistente à ação dos monômeros
auto-condicionantes que apresentam um auto-condicionantes mais brandos.
pH em torno de 2. Estes monômeros

AD

CH

SP

D
2 µm

Figura 10 - Fotomicrografia eletrônica de transmissão ilustrando a interface de união resina-dentina


101
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

produzida por um sistema adesivo auto-condicionante de passo único (Clearfil S3 Bond). A camada híbrida
(CH) formada é de aproximadamente 0,5 µm de espessura. Note a presença do smear plug (SP). (AD)
adesivo, (D) dentina.

Por outro lado, esta menor dissolução do sal de cálcio formado


desmineralização por parte dos sistemas influenciam a eficiência e a estabilidade
auto-condicionantes mais brandos da união. O potencial de interagir
apresenta algumas vantagens quanto à quimicamente com a hidroxiapatita
união à dentina. Por apresentar uma presente na interface pode ser um auxílio
menor desmineralização do substrato, a importante na obtenção de uma união
dentina é apenas parcialmente duradoura. Esta interação ocorre somente
desmineralizada. Assim, é comum com adesivos auto-condicionantes mais
observar a presença de “smear plugs” brandos, que desmineralizam a superfície
(parte da smear layer que permanece na dentinária parcialmente. Foi relatado que
embocadura dos túbulos dentinários), o o 10-MDP, monômero funcional dos
que contribui na redução da sensibilidade adesivos auto-condicionantes de dois
pós-operatória e também diminui a passos Clearfil SE Bond, Clearfil Protect
permeabilidade dentinária (Fig. 10). Bond e do adesivo auto-condicionante de
Cada adesivo auto-condicionante (tanto passo único Clearfil Tri-S Bond (Kuraray),
os de dois passos quanto os de passo pode interagir quimicamente com a
único) apresenta em sua composição um hidroxiapatita formando um sal bastante
monômero funcional específico, que estável. Por outro lado, o potencial de
exerce um papel fundamental na sua união química do 4-MET, foi descrito como
performance (Yoshida et al., 2004). A substancialmente menor (Yoshida et al.,
fórmula molecular específica do 2004).
monômero funcional e a taxa de

6. MECANISMOS DE UNIÃO AOS MATERIAIS RESTAURADORES

Os sistemas adesivos foram inicialmente aderida previamente à aplicação do


desenvolvidos para promover a união das compósito.
resinas compostas ao esmalte e à Um mecanismo similar ao descrito para a
dentina. Após a adequada aplicação e resina composta acontece para os
polimerização do sistema de união, existe cimentos resinosos (que também são
ainda uma camada fina (entre 10 e 20 resinas compostas, porém com menor
µm) na superfície, de monômeros não- quantidade de carga e maior quantidade
polimerizados devido à inibição da de monômeros diluentes pra se obter
polimerização pelo oxigênio. Esta camada uma menor viscosidade). Porém,
apresenta grupos vinílicos reativos que recentemente foi descoberta a ocorrência
vão reagir com a resina composta de incompatibilidade entre cimentos
permitindo a copolimerização, e resinos e resinas compostas para núcleo
consequentemente a união a este de preenchimento com sistemas adesivos
material (Nakabayashi & Pashley, 2000). auto-condicionantes de passo único e
Deve-se tomar cuidado para não haver adesivos de frasco único que apresentam
nenhuma contaminaçao da superfície baixo pH (Tay et al., 2003a).

102
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

O mecanismo de união às cerâmicas reforçadas por disilicato de Lítio (20


odontológicas pode variar dependendo da segundos) (IPS Empress II). Por outro lado,
composição do material (Soares et al., as cerâmicas reforçadas por alumina ou
2005). O tratamento mais comum para o zircônia (In Ceram Alumina, In Ceram
condicionamento das porcelanas é a Zirconium, Procera AllCeram) não são
utilização do ácido hidrofluorídrico a 9,5%. condicionadas pelo ácido hidrofluorídrico,
A aplicação do ácido hidrofluorídrico devido ao seu baixo conteúdo de sílica.
promove microretenções na superfície da Para o preparo da superfície interna
porcelana (Fig. 11 A-B); em seguida, destas cerâmicas tem sido recomendado
aplica-se um agente silano que irá o jateamento com partículas de Al2O3 de
promover uma união química da 50 µm ou cobertura com sílica (Rocatec,
porcelana ao material resinoso de 3M Espe). Além disso, recomenda-se a
cimentação. Este tratamento é indicado utilização de cimentos resinosos que
para cerâmicas feldspáricas apresentam em sua composição o
convencionais (2 minutos) (Noritake, monômero 10-MDP (ex.: Panavia F,
Duceram), reforçadas por leucita (60 Kuraray Medical) ou o monômero 4-META
segundos) (IPS Empress, Cergogold), ou (SuperBond C&B, Sun Medical).

103
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

Figura 11 - As fotomicrografias eletrônicas de varredura demonstram o aspecto da superfícia de uma


cerâmica reforçada por disilicato de Lítio (IPS Empress II) antes (A) e após (B) o condicionamento com ácido
hidrofluorídrico a 9,5% por 20 segundos.

7. APLICAÇÃO CLÍNICA

Os casos apresentados ilustram a aplicação dos procedimentos adesivos em duas


situações distintas.

7.1. Restauração direta em resina composta

No primeiro caso (Figs 12-27), foi consideração que a aplicação de uma


realizada uma restauração direta em uma proteção pulpar indireta com um cimento
cavidade profunda de um dente vital. a base de Hidróxido de Cálcio na região
Neste caso, é importante levar em mais profunda da cavidade pode reduzir a
104
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

permeabilidade dentinária nesta região, lavagem do ácido deve ser realizada pelo
evitando o contato de monômeros mesmo tempo de aplicação, 15
sintéticos com a polpa, o que poderia segundos. A manutenção da umidade
acontecer após a aplicação do ácido após a remoção do excesso de água é,
fosfórico. Este procedimento ajuda a sem dúvida, um dos passos mais críticos
reduzir a possibilidade de sensibilidade da técnica. O excesso de umidade deve
pós-operatória. É importante ressaltar que ser removido por capilaridade com papel
a proteção pulpar deve ser realizada antes absorvente ou com uma bolinha de
da aplicação do ácido fosfórico. No caso algodão. A desidratação da dentina bem
de uma cavidade extensa, recomenda-se como o excesso de água podem
iniciar a plicação do ácido fosfórico pela prejudicar a união. A aplicação do
margem de esmalte, e em seguida, adesivo deve ser seguida de um leve jato
extender para a superfície dentinária, de ar para evaporação dos solventes,
desta forma evita-se o juntamente com a umidade
sobrecondicionamento da dentina. A remanescente.

Figura 12 - Aspecto inicial de uma restauração


de amálgama que apresentava-se Figura 13 - Isolamento absoluto
com lesão de cárie recorrente.

Figura 14 - Início da remoção da restauração com Figura 15 - Remoção do tecido cariado com uma
uma ponta diamantada. broca carbide.

105
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
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Figura 16 - Aspecto da cavidade após a remoção da Figura 17 - Aplicação de um cimento de Hidróxido de


dentina infectada por cárie. Cálcio como protetor pulpar indireto.

Figura 18 - Aspecto da superfície dentinária após a Figura 19 - Início da aplicação do ácido fosfórico pela
aplicação do cimento de Hidróxido de Cálcio. margem de esmalte.

Figura 21 - Após a lavagem do ácido o excesso de


água foi removido com uma cânula de sucção. Deve-
Figura 20 - Extensão da aplicação do ácido fosfórico se tomar cuidado para não desidratar a dentina. O
para a superfície dentinária por 15 segundos. excesso de umidade deve ser removido por
capilaridade com uma bolinha de algodão ao um
pedaço de papel absorvente.

106
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
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Figura 23 - Após a aplicação de um leve jato de ar


Figura 22 - Aplicação do adesivo. para evaporação dos solventes, a superfície da
cavidade deve estar brilhante.

Figura 24 - A inserção da resina composta


deve ser realizada em incrementos Figura 25 - Realização da escultura.
de no máximo 2 mm de altura.

Figura 26 - Aspecto inicial da restauração de


Figura 27 - Aspecto final da restauração concluída.
amálgama deficiente.

A aplicação da resina composta contração de polimerização da resina


incrementalmente também é importante composta, o que contribui para preservar
para diminuir as tensões geradas pela a união promovida pelo sistema adesivo.
107
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

A técnica incremental também garante maiores que 2 mm não são


melhores propriedades mecânicas à adequadamente ativados pela fonte de
resina composta, pois incrementos luz.

7.2. Restauração indireta

As Figuras 28 a 39 ilustram os passos de abundatementes e o excesso da umidade


cimentação de um pino pré-fabricado de foi removido com pontas de papel
fibra de vidro, construção de um núcleo absorvente. Devido à dificuldade de
de preenchimento com resina composta e fotoativação nesta região, foi utilizado um
cimentação de duas coroas de cerâmica sistema adesivo com ativação dual. Após
(IPS Empress 2). Previamente à a cimentação dos pinos, os dentes foram
cimentação dos pinos pré-fabricados, os reconstruídos com resina composta, para
condutos radiculares foram condicionados que fossem realizados os preparos,
com ácido fosfórico a 37% durante 15 provisórios e os procedimentos de
segundos. Em seguida, foram lavados moldagem.

Figura 29 - Os condutos foram preparados para a


Figura 28 - Aspecto pré-operatório dos
cimentação resinosa de dois pinos pré-fabricados de
dentes 11 e 21.
fibra de vidro.

Figura 30 - Aspecto imediatamente após a


Figura 31 - Aspecto dos preparos realizados.
cimentação dos pinos.

108
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
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Figura 32 - Condicionamento ácido por 15 segundos. Figura 33 - Aplicação do sistema adesivo.

Figura 34 - Condicionamento das peças de porcelana


Figura 35 - Aspecto interno das peças após o
(IPS Empress II) com ácido hidrofluorídrico por 20
condicionamento.
segundos.

Figura 36 - Aplicação do agente de silanização. Figura 37 - Aspecto após a cimentação.

109
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

Figura 38 - Aspecto do sorriso da paciente


Figura 39 - Aspecto pós-operatório.
previamente ao tramento.

As Figuras 32 e 33 ilustram os hidrofluorídrico durante 20 segundos, e


procedimentos de condicionamento e aplicação do agente de silanização. A
aplicação do adesivo. Nas Figuras 34 a 36 Figura 37 ilustra o aspecto logo após a
pode-se observar o preparo das peças cimentação das peças. O aspecto antes e
previamente à cimentação: após o tratamento pode ser observado
condicionamento da porcelana com ácido nas Figuras 38 e 39.

8. DURABILIDADE DOS PROCEDIMENTOS ADESIVOS

Apesar dos avanços alcançados pelos único são os mais susceptíveis à


adesivos, trabalhos apontam para uma degradação hidrolítica ao longo do tempo
possível degradação da união da resina (Reis et al., 2004). Observando os
composta aos tecidos dentais ao longo do resultados obtidos com os adesivos auto-
tempo na presença de água (Giannini et condicionantes de passo único, pode-se
al., 2003). A redução da resistência de notar que ao se aumentar a acidez da
união de sistemas adesivos à dentina é solução do adesivo, o conteúdo dos
atribuída à degradação das fibrilas monômeros ácidos e de água são
colágenas e/ou da resina adesiva. aumentados, o que resulta em maior
As taxas de sorção de água e solubilidade hidrofilia, conduzindo à maior taxa de
apresentadas pelos sistemas adesivos sorção de água, e consequentemente,
após a sua polimerização são importantes menor estabilidade hidrolítica (Tay et al.,
na determinação da longevidade e 2003b). Uma característica importante
qualidade marginal da restauração. Sabe- dos adesivos auto-condicionantes de dois
se que a umidade presente no meio oral passos que pode contribuir para a melhor
ou de armazenagem tem um papel performance destes sistemas quando
importante no processo de degradação comparados aos sistemas de passo único,
química dos polímeros, apresentando um é a camada de resina hidrófoba que é
efeito deletério para a interface resina- aplicada sobre o primer, e pode reduzir a
dentina (Göpferich, 1996). Trabalhos sorção de água (Reis et al., 2004).
recentes demonstram que os sistemas Foi demonstrado que os adesivos de dois
adesivos auto-condicionantes de passo passos que utilizam o condicionamento

110
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

ácido prévio estão mais susceptíveis à Assim, qualquer simplificação nos


degradação que os sistemas de três procedimentos adesivos resultaria em
passos (De Munck et al., 2003). A uma redução na eficiência da união.
aplicação do adesivo em três passos Segundo os autores, a única técnica que
(ácido, primer e adesivo) favorece a se aproxima deste padrão é a técnica
copolimerização do primer, e a menor auto-condicionante de dois passos.
hidrofilia da resina polimerizada pode As interfaces de união resina-dentina se
resultar em uma melhor hibridização e degradam em três estágios. Primeiro, a
menor susceptibilidade à degradação água é absorvida pelo polímero,
hidrolítica. De Munck et al. (2005), após desencadeando a degradação química
realizarem uma extensa revisão da (Göfperich, 1996). Segundo, produtos de
literatura a respeito da durabilidade da degradação, monômeros não reagidos e
união produzida por diferentes técnicas oligômeros são removidos da camada
de desmineralização e infiltração no híbrida e da camada de adesivo. Terceiro,
substrato dental, concluíram que a as fibrilas de colágeno expostas podem
técnica mais eficiente para se produzir ser degradadas por metaloproteinases
uma união duradoura aos tecido dentais (MMPs) presentes na dentina ou saliva
ainda é a técnica de três passos que (Pashley et al., 2004).
utiliza o condicionamento ácido prévio.

8.1. Nanoinfiltração

O termo “nanoinfiltração” foi introduzido fluidos nestas porosidades.


para se descrever a ocorrência de espaços Recentemente, uma nova forma de
nanométricos dentro da camada híbrida, manifestação da nanoinfiltração nas
mesmo na ausência de uma fenda na interfaces foi relatada (Tay et al., 2002). A
interface de união (Sano et al., 1995). deposição de grãos de prata foi observada
Esta técnica utiliza um traçador de baixo não só na camada híbrida, mas também
peso molecular como o nitrato de prata na camada de adesivo (Fig. 41). Devido ao
(AgNO3) para evidenciar tais porosidades aspecto de manifestação da
na interface. Posteriormente, esta área de nanoinfiltração nestes adesivos se
união é observada em microscocopia assemelharem ao aspecto observado na
eletrônica. A deposição de grãos de prata degradação da resina epóxica utilizada
na camada híbrida dos sistemas que para o isolamento de cabos de
utilizam o condicionamento ácido prévio é transmissão de energia elétrica, o termo
atribuída à existência de regiões onde as water-trees (ou árvores de água) foi
fibrilas colágenas não foram totalmente atribuído. As diferenças na hidrofilia e no
envolvidas pela resina adesiva, ou onde a conteúdo de água dos adesivos podem
resina não foi adequadamente influenciar diretamente os padrões de
polimerizada (Fig. 40). A degradação da nanoinfiltração observados.
união tem sido atribuída à penetração de

111
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

Figura 40 - Fotomicrografia eletrônica de transmissão ilustrativa da manifestação da nanoinfiltração em uma


interface resina-dentina produzida por um sistema adesivo de 2 passos que uliza o condicionamento ácido
prévio. (CH) camada híbrida, (RC) resina composta, (AD) adesivo, (D) dentina.

5 µm
AD

RC
D
CH

Figura 41 - Fotomicrografia eletrônica de transmissão ilustrativa da manifestação da nanoinfiltração em uma


interface resina-dentina produzida por um sistema adesivo auto-condicionante de passo único. As pontas de
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SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

setas apontam a formação das “water-trees”. (CH) camada híbrida, (RC) resina composta, (AD) adesivo, (D)
dentina.

9. FALHAS COMUNS QUE PODEM PREJUDICAR A UNIÃO

Existem algumas falhas que ocorrem com “overwet phenomenon” ou excesso de


certa freqüência durante as atividades umidade também pode ser prejudicial à
clínicas que se evitadas ou contornadas, interface (Hashimoto et al., 2006). O
podem certamente contribuir para uma excesso de umidade pode promover a
maior longevidade dos procedimentos diluição da solução de adesivo,
restauradores. A Tabela 1 ilustra estas prejudicando a polimerização e
falhas. diminuindo a qualidade da interface.
Uma falha bastante comum é sem Deve-se tomar cuidado especialmente nos
dúvida, a contaminação do campo ângulos da cavidade pois a àgua tende a
operatório por saliva ou sangue durante o acumular-se nestas regiões.
procedimento restaurador. O ideal é que o O controle da contração de polimerização
isolamento absoluto seja utilizado sempre das resinas compostas é um fator
que possível, mas em alguns casos o importante na manutenção da adesão. Se
isolamento relativo pode também ser a tensão de contração de polimerização
indicado. No entanto, a manutenção de exceder a resistência de união do adesivo
um campo seco e livre de contaminantes a união pode se romper. Um importante
é de fundamental importância. Outro conceito introduzido por Feilzer et al.
problema que pode acontecer durante a (1987) diz respeito à configuração
aplicação dos sistemas que utilizam o cavitária. Os autores estudaram as
condicionamento prévio com ácido tensões de contração geradas durante a
fosfórico é a desidratação da dentina. polimerização da resina composta em
Nestes casos, a técnica úmida de união função da formato da cavidade. Foi
estaria comprometida, pois o descrito o fator de configuração cavitária
colabamento das fibrilas colágenas pode ou Fator-C, que é a razão entre as
comprometer a infiltração dos superfícies aderidas e não-aderidas de
monômeros resinosos e formação da uma restauração de resina composta. Em
camada híbrida. Este problema pode ser outras palavras, quanto maior o Fator-C,
contornado pela aplicação dos primers maiores as tensões transmitidas à
hidrófilos nos sistemas de 3 passos. Por interface. Desta forma, recomenda-se o
serem compostos principalmente de água uso de técnicas incrementais para
e HEMA, eles possuem a capacidade de inserção da resina composta na cavidade
reexpandir a rede de fibrilas colágenas, (Reis et al., 2003).
facilitando a infiltração dos monômeros e Em cavidades profundas, devido à alta
formação da camada híbrida. Para os permeabilidade pulpar, recomenda-se a
sistemas de dois passos, pode-se utilizar aplicação de um forramento cavitário
alguns produtos disponíveis no mercado para proteção pulpar indireta, como o
como o Gluma (Heraeus Kulzer), no Hidróxido de Cálcio ou ionômero de vidro
entanto, a reumidificação com água é (Costa et al., 2003). A falta desta proteção
suficiente para promover a reexpansão pode promover reações inflamatórias na
das fibrilas colágenas. Assim como a falta polpa o que pode causar sensibilidade
de umidade pode prejudicar a união, o pós-operatória. A aplicação do forramento
113
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
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deve ser restrita à região de dentina mais sistemas adesivos ser indicado por alguns
profunda, pois a aplicação nas demais autores, até a presente data evidências
regiões do preparo é desnecessária e o científicas nos levam a contra-indicar este
excesso de aplicação pode prejudicar a tipo de procedimento (Teixeira et al.,
união da resina composta à cavidade. 2006).
Apesar do capeamento pulpar direto com

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SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

10. PERSPECTIVAS PARA O FUTURO

Com o avanço das pesquisas no campo obturação radicular nos tratamentos


dos materiais restauradores adesivos, as endodônticos (Teixeira et al., 2004).
limitações destes procedimentos têm sido O grande desafio da Odontologia Adesiva
conhecidas ao mesmo tempo que novas é promover uma união estável ao longo
tecnologias vêm sendo desenvolvidas do tempo. No entanto, a degradação dos
para tornar os procedimentos mais materiais resinosos é um evento
simples, mais previsíveis e previsível. Para reduzir a velocidade de
principalmente, mais duradouros. degradação, os fabricantes tentam
A aplicação dos sistemas adesivos vem produzir materiais menos hidrófilos e com
sendo simplificada de uma forma melhores propriedades mecânicas após a
acelerada nos últimos anos. Há poucos sua polimerização. Ao mesmo tempo,
anos atrás os sistemas mais utilizados tenta-se reduzir a contração volumétrica
estavam disponíveis em 3 passos de das resinas compostas durante a sua
aplicação, posteriormente surgiram os de polimerização, para que menos tensões
dois passos, os de passo único, e mais sejam transmitidas às interfaces resina-
recentemente, surgiram no mercado os dentina/resina-esmalte.
materiais auto-adeivos que não Muito tem se falado a respeito da
necessitam da aplicação de nenhum degradação dos materiais resinosos
sistema adesivo para se aderirem à adesivos, e da possivel degradação das
estrutura dental. Estes materiais são fibrilas colágenas expostas na interface
utilizados na cimentação de restaurações por MMPs. Hebling et al. (2006)
indiretas e pinos pré-fabricados. Como demonstraram recentemente, que a
exemplo encontramos o RelyX Unicem utilização de clorexidina como inibidor de
(3M ESPE). Novos materiais deste tipo MMPs, aplicada após o condicionamento
provavelmente estarão no mercado em com ácido fosfórico, resultou na
breve. paralização da degradação das camadas
A adesão às estruturas dentais se deu híbridas em dentes decíduos. Carrilho et
início com a união ao esmalte. Em al. (2006) demonstraram um efeito
seguida, com a evolução dos positivo na preservação da camada
procedimentos adesivos, a união à híbrida in vivo em dentes permanentes.
dentina tornou-se um procedimento Recentemente, Bedran-Russo et al.
bastante utilizado. Hoje, o novo desafio é (2006) sugeriram um tratamento capaz
a adesão à dentina intra-radicular. Os de reforçar a estrutura orgânica da
núcleos metálicos fundidos estão dentina, aumentando o número de
gradativamente sendo substituídos por ligações cruzadas entre as fibrilas de
pinos pré-fabricados de fibra de vidro, que colágeno, o que poderia deixá-las mais
podem ser unidos à estrutura dental por resistentes contra a degradação, além de
intermédio dos cimentos resinosos. melhorar as suas propriedades
Recentemente, os materiais resinos mecânicas.
passaram a ser indicados inclusive para a Com o intuito de se obter uma união mais
resistente, alguns cientistas buscaram

115
SISTEMAS ADESIVOS – ATUALIDADES E PERSPECTIVAS
Reis, AF; Pereira, PNR; Giannini, M

inspiração na nautereza, para tentar que sejam aplicados também na


desvendar e mimetizar o mecanismo pelo Odontologia (Tay et al., 2002).
qual alguns crustáceos conseguem se Um entendimento físico-químico dos
aderir a outros materiais na condição processos de degradação e erosão dos
mais adversa possível: de baixo d’água. polímeros, assim como da degradação do
Análogos sintéticos contendo o colágeno do tipo I é a chave para a
polipeptídeo DOPA=L-3,4- melhor compreensão dos problemas
dihidroxifenilalanina, que mimetizam as relacionados à longevidade das
proteínas adesivas naturais destes restaurações adesivas, e provavelmente,
animais marinhos foram formulados para a sua solução. O esforço combinado
recentemente. Adesivos baseados nesta da biologia molecular e química de
idéia já estão em aplicação em algumas polímeros certamente contribuirá
áreas da medicina, e no futuro espera-se bastante na promoção de um selamento
resistente e durável dos tecidos dentais.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem: ao Prof. Dr. Gilberto Borges Soares e à Prof. Dr. Ana Maria Spohr por
terem gentilmente cedido as imagens apresentadas na Figura 7; ao Prof. Adriano Sapata e
ao CD aluno do curso de mestrado em Dentística da Universidade Guarulhos Marcos
Kirihata pela realização do caso apresentado nas Figuras 12 a 27; à CD Aline Ramett Pucini
e ao CD Paulo Moreira Vermelho participantes do curso de atualização em Dentística da
ACDC pela realização do caso apresentado nas Figuras 28 a 39; e ao Prof. Dr. Elliot W.
Kitajima (NAP/MEPA, ESALQ/USP) pelo suporte técnico para realização das
fotomicrografias eletrônicas de varredura.

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