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TÍTULO X
DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

1 BEM JURÍDICO PROTEGIDO NOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

O Título X da Parte Especial do Código Penal traz os crimes contra


a fé pública (arts. 289 a 311-A). No passado a definição e a aceitação da fé
pública como bem jurídico não era pacífica, em virtude de sua abstração e
amplitude. Aos poucos sua ideia foi se dissociando principalmente do bem
jurídico patrimônio, que muitos afirmavam compor. Exemplo clássico desta
ideia ocorria com o delito de moeda falsa que inicialmente era definido como
um crime patrimonial.
Mas afinal o que é fé pública? As relações sociais e econômicas
estão em constante movimento. Diante disso, a coletividade presume que o
dinheiro e os documentos públicos ou particulares que circulam são
verdadeiros. Basta imaginar a confusão que seria se toda vez que uma
pessoa recebesse um documento tivesse que certificar sua veracidade em
órgãos oficiais ou perante o particular emitente do mesmo. Esta
confiabilidade que a sociedade tem de que os documentos, dinheiro e
sinais públicos que se encontram em circulação nas relações humanas
são todos verdadeiros, é definida como fé pública.
Os crimes contra a fé pública são justamente aqueles que rompem
com essa relação de confiança existente em relação aos objetos materiais
supracitados, nos quais o Estado deve intervir para manter sua ordem. Luiz
Regis Prado (2001, p. 43) assim aborda a apresentação dos crimes contra a
fé pública: (...): falar em crime contra a fé pública é falar em crime de falso. A
falsidade, seja monetária, documental ou pessoal, material ou ideológica, será
sempre a forma constitutiva da ofensa contra a fé pública, malgrado possa,
também, servir à lesão de outros bens jurídicos, como o patrimônio, no
estelionato, a Administração da Justiça, no falso testemunho, ou a ordem
tributária, em alguns delitos de sonegação.
Os crimes contra a fé pública são aqueles que versam
fundamentalmente sobre a questão da falsificação.
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Podemos analisar a fé pública sob um duplo aspecto. Existe a fé


pública objetiva que indica a autenticidade que todos os documentos
(público ou privado), dinheiro e papéis públicos devem ter. Por outro lado,
encontramos também a fé pública subjetiva que é compreendida como o
sentimento de confiança que as pessoas possuem nos documentos, dinheiro
e sinais que o Estado e os particulares conferem valor probatório ou de
autenticidade.
Também é necessário ainda lembrar, que os crimes contra a fé
pública também geram danos, de forma secundária, a outros bens jurídicos,
como, por exemplo, a ordem tributária, o patrimônio e etc.
Por fim, cumpre dizer que como o Estado tem interesse especial em
preservar o bem jurídico, todos os delitos desse título são de ação penal
pública incondicionada.

2 SUJEITOS ATIVO E PASSIVO NOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

Os delitos contra a fé pública em regra podem ser praticados por


qualquer pessoa, isto é, são classificados como crimes comuns. Entretanto,
ao longo deste Título, verificamos a existência de outras infrações que lesam
a fé pública, cujo tipo penal exige uma característica ou condição especial do
sujeito ativo. São exemplos de crimes próprios contra a fé pública: o art. 300
(falso reconhecimento de firma ou letra) que tem como agente o funcionário
público que o realiza no exercício de sua função; o art. 301, caput (certidão
ou atestado ideologicamente falso) também praticado pelo funcionário
público no exercício de suas funções; o art. 302 (falsidade de atestado
médico) realizado pelo médico no exercício das suas atividades profissionais;
e o art. 309, caput (fraude de lei sobre estrangeiro) que é praticado pelo
estrangeiro que ingressa ou permanece no país.
O Estado é o sujeito passivo constante ou direto, pois se entende
que ele tem a competência para valorar juridicamente os documentos, sinais
e dinheiro que circulam na sociedade. De forma eventual e indireta, também
será sujeito passivo a pessoa física ou jurídica que for lesada pela conduta
do agente. Por exemplo, no delito de moeda falsa (art. 289) o sujeito passivo
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primário ou constante é o Estado, que tem o interesse na autenticidade do


papel-moeda ou moeda metálica que circulam entre as pessoas. Ocorre que
além do Estado, também pode ser sujeito passivo do delito a pessoa
prejudicada, ou seja, aquela que de boa-fé recebeu o dinheiro falso e que
sofrerá o prejuízo patrimonial.

3 ESPÉCIES DE FALSIDADE: MATERIAL E IDEOLÓGICA

Este com certeza é o aspecto mais relevante e dificultoso dos


crimes contra a fé pública, pois a diferenciação entre os crimes de falsidade
material e de falsidade ideológica nem sempre é simples. Os delitos contra
a fé pública, portanto, se dividem em duas espécies: a) crimes de
falsidade material ou extrínseca e b) crimes de falsidade ideológica,
formal ou pessoal.

3.1 FALSIDADE MATERIAL OU EXTERNA OU EXTRÍNSECA

Nessa modalidade de falsificação, o agente contrafaz o objeto


material (dinheiro, documento ou sinais) de forma total ou parcial. Isto
significa que o objeto é copiado, criado ou modificado externamente. Nos
dizeres de Damásio de Jesus (2013, p. 38): “o vício incide sobre a parte
exterior do documento, recaindo sobre o elemento físico do papel escrito e
verdadeiro. O sujeito modifica as características originais do objeto material
por meio de rasuras, borrões, emendas, substituição de palavras ou letras,
números etc. Pode acontecer também que o agente, sem tocar no documento
original, crie um outro falso”.
A falsidade material pode ser feita através da falsificação (total ou
parcial) e da alteração de documento, dinheiro ou sinal que possua
relevância jurídica, ou seja, aquele que cria, modifica ou extingue direitos.
A falsificação total é aquela em que o agente contrafaz o documento
verdadeiro, isto é, ele cria um novo documento. Ex.: o sujeito em seu
computador elabora um certificado de conclusão do ensino médio com o
sinal ou logomarca de uma escola particular.
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A falsificação também pode ocorrer de forma parcial. Esta


modalidade pode ocorrer apenas com os documentos divisíveis ou que
podem ser fracionados. Exs.: o acórdão judicial ou o conhecimento de
depósito emitido conjuntamente com o warrant.
A falsidade material também pode ser realizada mediante
alteração. Alterar é modificar parte do conteúdo de um documento indivisível
verdadeiro (suprimindo, acrescentando ou modificando elementos).
É mister diferenciar falsificação parcial e alteração. A primeira
conforme vimos, ocorre com documento divisível no qual um deles é
modificado ou criado; já a alteração, é praticada com um documento
indivisível, isto é, altera-se apenas parte dele. Ex.: falsificação da data de
nascimento em uma certidão de nascimento. A certidão é um documento
indivisível, e quando o autor modifica algum de seus dados realizará uma
alteração. Apenas a título de esclarecimento, este posicionamento é
majoritário na doutrina, mas há entendimento diverso (ver em Regis Prado,
2001, p. 182, que entende que falsificação parcial e alteração é a mesma
coisa).
Outra característica da falsidade material é a de que esta deve ter o
condão de enganar, ou melhor, dizendo, de iludir o sujeito passivo fazendo
este crer que o objeto material realmente é verdadeiro ou autêntico.
O elemento subjetivo nos crimes de contrafação material é o dolo
genérico de dano, ou seja, a vontade do agente é dirigida apenas à prática da
falsificação ou da alteração do objeto material. Não se exige qualquer outra
intenção por parte do sujeito ativo.
A falsidade material sempre deixa vestígios sendo passível de
exame de corpo de delito (art. 158 do Código de Processo Penal).
Na relação dos crimes contra a fé pública podemos citar os
seguintes tipos penais como exemplos de falsidade material: art. 289 (em
todas suas formas); art. 290; art. 291; art. 292; art. 293 (em todas as suas
formas); art. 294; art. 296; art. 297 (e suas modalidades); art. 298; art. 303;
art. 306; art. 308; e, art. 311.
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3.2 FALSIDADE IDEOLÓGICA, FORMAL OU PESSOAL

A falsidade ideológica, como seu próprio nome expressa, é aquela


que ocorre no conteúdo ou ideia que o documento demonstra. O documento
é extrinsecamente verdadeiro (papel autêntico), foi emitido pela autoridade
ou pessoa competente para fazê-lo, porém, o seu conteúdo (informações) é
falso.
A situação clássica de falsidade ideológica é aquela em que o
agente competente para emitir um documento, o faz apresentando
informações que não condizem com a verdade. Ex.: autoridade policial
competente para emissão de carteira nacional de habilitação produz o
documento para pessoa, que não se submeteu às exigências legais para sua
obtenção. Outro exemplo de falsidade ideológica, é aquele em que a pessoa
no momento da realização da inscrição da compra de um imóvel no cartório
de registro, informa que seu estado civil é de solteiro mentindo sobre o fato
de ser casado.
É admissível a contrafação ideológica no todo ou em parte do
conteúdo do documento. Nesta modalidade de falsidade não existe diferença
entre falsificação parcial ou alteração.
A falsidade ideológica também deve ter a capacidade de enganar o
sujeito passivo, fazendo este crer que o conteúdo realmente é verdadeiro ou
autêntico.
Os crimes de falsidade formal exigem um duplo elemento subjetivo.
Além da intenção da inserção das informações falsas no documento, que é o
dolo genérico de dano, o tipo penal também exige uma finalidade ou um
especial fim de agir que de regra será o de prejudicar direito, criar obrigação
ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Em resumo, o agente
visará lesionar a fé pública, mas também prejudicar direitos de terceiros
(p.ex.: direitos patrimoniais)1.

1 Damásio E. de Jesus (2013, p. 40): “Para a existência da falsidade formal é preciso que o
sujeito queira cometer o ato de falsidade. Esse dolo, entretanto, não satisfaz a exigência
legal. É necessário que a conduta seja realizada com o fim de causar dano a terceiro por
intermédio da alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante. Diante disso, a
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Por não deixar vestígios em face de o documento ser


extrinsecamente verdadeiro, a contrafação ideológica deverá ser
demonstrada por outros meios de prova que não o pericial (crime
transeunte). Por exemplo: a conferência em arquivos de bancos de dados,
testemunhas e outros.
São exemplos de delitos de falsidade ideológica: art. 297, §§ 3º e 4º;
art. 299; art. 300; art. 301; art. 302; art. 305; art. 307; art. 309; e, art. 310.

4 A ASSINATURA EM DOCUMENTO OU PAPEL EM BRANCO

Tradicionalmente a doutrina brasileira possuía o entendimento de


que todo papel em branco assinado, e que posteriormente fosse preenchido
por terceiro com ou sem ciência do sujeito passivo era crime de falsidade
ideológica. Porém, existem correntes doutrinárias mais recentes, que
modificaram tal posicionamento, e que entendem ser possível a incidência de
ambas as modalidades de falsidade (material ou ideológica).
A justificativa “chave” para fazer esta diferenciação encontra-se na
forma em que o papel em branco assinado chegou até a posse do sujeito
ativo. Por exemplo, se a vítima de boa-fé entrega um papel em branco
assinado, para que o agente no momento necessário o preencha segundo as
suas instruções, mas ele insere informações não permitidas, estaremos
diante de uma falsidade ideológica. Entretanto, se o agente obteve de forma
ilícita o papel em branco assinado através de uma subtração ou mediante
engano da vítima, e posteriormente, o preenche sem consentimento do
emitente, praticará o crime de falsidade material.

vontade de alterar a verdade despida da finalidade de prejudicar terceiro não é suficiente


para integrar o crime. A simples falsidade, dizia Magalhães Noronha, ‘não constitui o delito,
se desacompanhada da intenção contida na figura típica’”.
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Moeda falsa
Art. 289. Falsificar, fabricando-a ou alterando-a,
moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no
estrangeiro:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º. Nas mesmas penas incorre quem, por conta
própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende,
troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação
moeda falsa.
§ 2º. Quem, tendo recebido de boa-fé, como
verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à
circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com
detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
§ 3º. É punido com reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze)
anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente ou
fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a
fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao
determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à
autorizada.
§ 4º. Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz
circular moeda, cuja circulação não estava ainda
autorizada.

1 BEM JURÍDICO PROTEGIDO. RESULTADO NORMATIVO

O bem jurídico protegido é a fé pública, que consiste no


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sentimento e na ideia de confiabilidade que as pessoas têm de que o dinheiro


(papel-moeda e moeda metálica) em circulação no país é verdadeiro2.
BEM JURÍDICO  FÉ PÚBLICA NO DINHEIRO EM CIRCULAÇÃO
NO PAÍS
Damásio de Jesus (2013, p. 45-46) destaca a importância que o
dinheiro tem em nossa sociedade: “Constituindo medida e reserva de valor,
além de ser meio de troca, têm relevante função na vida social e econômica,
merecendo, por parte do Estado, a proteção à confiança que as pessoas nelas
depositam”.
O resultado normativo é reflexo da afetação ao bem jurídico
protegido, no caso a fé pública, consistindo numa conduta dolosa oriunda de
um incremento de risco. É irrelevante para a ocorrência desse resultado
jurídico qualquer resultado naturalístico.

2 MODALIDADES TÍPICAS

O delito de moeda falsa é composto pelo caput e mais quatro


parágrafos. Na cabeça do artigo encontramos a forma básica dolosa,
realizada por meio de falsificação (fabricar ou alterar) do papel-moeda e da
moeda metálica de curso no país ou no exterior.
No parágrafo primeiro há a previsão de modalidade dolosa
equiparada ao caput (penas iguais), contendo novos verbos (importar,
exportar e etc.).
No parágrafo segundo, o legislador trouxe a forma privilegiada
dolosa do delito, na qual o agente recebe o dinheiro falso de boa-fé e depois o
restitui à circulação sabendo da falsidade.
Nos parágrafos terceiro e quarto existem duas qualificadoras
dolosas de natureza objetiva (fabricação, emissão e autorização de emissão
irregular de moeda e papel - § 3°; e, desvio e circulação não autorizado - § 4°).

2 Bitencourt (2013, p. 474), citando Muñoz Conde, afirma que após o Convênio de Genebra
de 1929, o crime de falsificação de moeda passou a ter como bem jurídico tutelado a fé
pública internacional.
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3 SUJEITOS DO DELITO

O tipo penal de moeda falsa é em regra crime comum, que pode


ser cometido por qualquer pessoa. A exceção está no parágrafo terceiro, no
qual o dispositivo exige que o sujeito ativo seja o funcionário público,
diretor, gerente ou fiscal do banco de emissão do dinheiro.
O sujeito passivo imediato é o Estado. Secundariamente pode
surgir outro sujeito passivo que é a pessoa física ou jurídica prejudicada pela
conduta.
SA  QUALQUER PESSOA / SALVO - § 3°
SP  1º - ESTADO / 2º - QUEM EVENTUALMENTE FOR
PREJUDICADO PELO DELITO

4 ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO

O delito do art. 289 caput traz o verbo núcleo falsificar, que


consiste em imitar, adulterar ou contrafazer. Esse comportamento pode ser
realizado, segundo descreve o tipo, através de fabricar (falsificação total,
inventar, construir, criar) ou alterar (modificar, mudar) moeda (papel-moeda
e/ou moeda metálica) em curso no país ou no estrangeiro. Na fabricação o
agente cria/produz o dinheiro (inteiramente falso), enquanto que na
alteração, ele muda a moeda verdadeira (modificação parcial). Ressaltamos
que no delito de moeda falsa ocorre alteração e não falsificação parcial, vez o
dinheiro é indivisível. Além disso, cumpre esclarecer que o delito de moeda
falsa é de falsificação material em todas as suas modalidades.
FALSIFICAR  IMITAR, FAZER A COISA PASSAR POR
VERDADEIRA / FALSIFICAÇÃO  FABRICAÇÃO OU ALTERAÇÃO
Rogério Greco (2014, p. 930) diz que o verbo “falsificar” indica um
comportamento comissivo, que, no entanto, pode ser realizado de forma
omissiva imprópria. Discordamos do referido autor, por compreendermos
que o delito é formal, não ocorrendo a exigência de resultado naturalístico,
requisito imprescindível para a configuração da omissão imprópria.
O objeto material do crime é a moda falsa, que consiste no papel-
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moeda (cédula) ou moeda metálica em curso (circulando atualmente e de


recebimento obrigatório) no país (dinheiro pátrio) ou no estrangeiro
(dinheiro de outro país). É importante ressaltar que a interpretação do objeto
material deverá ser restritiva, isto é, a ideia de moeda não abrange cartões
de crédito ou de débito e cheques (incluindo os de viagem). A respeito destes
objetos materiais, Bitencourt (2013, p. 477) alerta sobre a dificuldade do
enquadramento típico de falsificação deles: “Acreditamos, no entanto, que, em
se tratando de algumas condutas, v. g., fabricar ou alterar documentos de
crédito, como os cartões, ou mesmo os cheques de viagens, poderão enfrentar
dificuldade de adequação típica em outros dispositivos legais, além não
poderem ser alcançados também pela previsão do art. 292 (emissão de título
ao portador sem permissão legal)”.
Também não se incluem no objeto material descrito no caput, as
chamadas “moedas de curso convencional” que são aquelas com validade em
um determinado local e espaço de tempo.
OBJ. MAT.  MOEDA METÁLICA OU PAPEL MOEDA EM CURSO
LEGAL NO PAÍS OU NO ESTRANGEIRO
MOEDA DE CURSO LEGAL  DEVE SER RECEBIDA POR
DISPOSIÇÃO LEGAL EM TODO O PAÍS
DEVE CONSTITUIR MEIO DE PAGAMENTO, AINDA ESTANDO EM
CIRCULAÇÃO – CASO CONTRÁRIO, NÃO (EX.: MOEDAS FALSAS FORA DE
CIRCULAÇÃO)  ART. 289
É mister dizer que a falsificação (fabricar ou alterar) da moeda deve
ser capaz de enganar a vítima, isto é, o objeto material precisa induzir o
sujeito passivo em erro. Caso o agente consiga enganar a vítima com uma
falsificação grosseira (ex.: usar uma cédula de três reais), ele responderá
pelo crime de estelionato (art. 171 do Código Penal). Assim expõe a Súmula
n.° 73 do Superior Tribunal de Justiça: “A utilização de papel-moeda
grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, de
competência da Justiça Estadual”3.

3 Em nosso entendimento Cezar R. Bitencourt (2013, p. 475) faz uma interpretação


equivocada da Súmula n. 73 do STJ, por estender o seu sentido para a falsificação “bem
feita” quando for impossível ao leigo perceber a fraude: “Por outro lado, deve-se evitar o
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Damásio de Jesus (2013, p. 46) acompanhando o entendimento de


Nelson Hungria (1959, p. 208), entende que a modificação de símbolos,
imagens ou números de série das moedas, não alterando o seu valor
nominal, não configura o delito. Para ele também não ocorre o crime se o
agente diminui seu valor nominal4. Em que pese o posicionamento dos
autores supracitados, discordamos deles, por compreendermos que a
questão principal não é a mudança do valor, mas sim da moeda, pois a ação
coloca em risco a fé pública.
FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA  EXCLUI O DELITO DE MOEDA
FALSA
Damásio também (2013, p. 46) explica as formas de fabricação ou
alteração do papel-moeda e da moeda metálica: “A fabricação pode dar-se
mediante cunhagem, galvanoplastia ou fusão (moeda metálica) e fotografia,
litografia ou tipografia (papel-moeda). A alteração pode ocorrer por meio de
tosquia, serradura, raspagem, coloração, substituição de números, letras etc.”.
FABRICAÇÃO  CUNHAGEM, GALVANOPLASTIA (COLAR UMA
PARTE DE METAL SOBRE OUTRA) OU FUSÃO – MOEDA METÁLICA /
FOTOGRAFIA, LITOGRAFIA (QUE SE USA MATRIZES) E TIPOGRAFIA –
PAPEL MOEDA
ALTERAÇÃO  TOSQUIA, SERRADURA, RASPAGEM,
COLOCAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO DE NÚMEROS E LETRAS
A regulamentação das diretrizes gerais de emissão de moeda está
prevista no art. 48, inciso XIV, da Constituição da República Federativa
do Brasil:
“Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República,
não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de
competência da União, especialmente sobre: (...) XIV- moeda, seus limites de emissão, e
montante da dívida mobiliária federal; (...)”.

outro extremo, pois a perfeição da falsificação impede que o receptor ou destinatário tenha
como perceber que não se trata de moeda autêntica, como, inclusive, acertadamente, foi
sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça, reconhecendo que a falsificação devidamente
elaborada, de difícil percepção, não caracteriza o crime de moeda falsa, em sua modalidade
usar (Súmula 73 do STJ)”.
4 No mesmo sentido Bitencourt (2013, p. 476).
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Complementando sobre as diretrizes da emissão de dinheiro em


nosso país, assim expõe Rogério Greco (2013, p. 880): “Compete ao Conselho
Monetário Nacional, nos termos do art. 3º, II, da Lei n.º 4.595/64, regular o
valor interno da moeda, bem como autorizar, nos termos do art. 4º, I, do
mesmo diploma legal, as emissões de papel-moeda, segundo as diretrizes
estabelecidas pelo presidente da República. Competirá, ainda, privativamente
ao Banco Central da República do Brasil, conforme determina o art. 10, I, da
Lei n.º 4.595/64, emitir moeda-papel e moeda metálica, nas condições e
limites autorizados pelo Conselho Monetário Nacional”.
Esclarecemos que a formação de cédula com partes de outras
moedas que já saíram de circulação configura o delito de “crimes assimilados
ao de moeda falsa” (art. 290 do CP).
PARTES VERDADEIRAS  ART. 290 CP
PARTE FALSA + PARTE VERDADEIRA  ART. 289 CP
DIFERENÇA ENTRE O CRIME DO ART. 289 E 290  NO 1º HÁ
ALTERAÇÃO DE UMA MOEDA VERDADEIRA OU FABRICAÇÃO DE UMA
MOEDA ILEGÍTIMA / NO 2º AGENTE CONSTRUI A MOEDA UNINDO
PARTES DE OUTRAS VERDEIRAS, MAS SEM VALOR

5 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO

Entendemos que a elementar “moeda falsa” exerce um duplo


papel no tipo penal, pois, além de objeto material, ela também funciona
como um elemento normativo, visto que depende de valoração legal
(Constituição e legislação infraconstitucional).

6 ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO

O crime de moeda falsa no seu caput é praticado com dolo


genérico e direto. Não há previsão de dolo eventual e dolo específico (no
último caso, por ser crime de falsidade material). Inexiste a modalidade
culposa.
Acrescentamos ainda a observação feita por Cezar Roberto
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Bitencourt (2013, p. 479), que diz que se o agente atua com a finalidade
exclusiva de demonstrar sua habilidade técnica ou artista, sem o dolo de
colocar em circulação o dinheiro produzido, a conduta será considerada
como atípica. Aquele que age com o animus jocandi também não pratica o
crime.
Por sua vez, este mesmo autor critica o entendimento de que o tipo
não possui um elemento subjetivo específico, pois defende que há um dolo
especial implícito, cujo fim é o de obter vantagem econômica com a
falsificação (Bitencourt, 2013, p. 479)

7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime de moeda falsa (caput) consuma com a fabricação ou


alteração da moeda. Trata-se de um delito formal, pois não exige que o
dinheiro seja colocado em circulação ou que cause prejuízo a alguém.
Contrariamente a esse entendimento, encontramos a opinião de Bitencourt,
que o classifica como delito material (2004, p. 291).
CONS.  FABRICAÇÃO OU ALTERAÇÃO DA MOEDA,
INDEPENDENTEMENTE DESTA ENTRAR EM CIRCULAÇÃO
A quantidade de moeda falsificada independe para a consumação
do delito.
DELITO  FALSIFICAÇÃO DE APENAS UMA MOEDA
A tentativa é admissível nas duas formas previstas (fabricar ou
alterar). Nucci (2009, p. 944) diz que ela é possível apenas na forma
plurissubsistente, mas, entretanto, não conseguimos vislumbrar a sua
pratica de maneira unissubsistente.
Os atos preparatórios do delito de moeda falsa configuram o tipo
autônomo previsto no art. 291 do Código Penal (petrechos para
falsificação de moeda).
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8 CLASSIFICAÇÃO

O art. 289 é classificado como: comum (qualquer pessoa pode ser


sujeito ativo, salvo na forma do § 3° em que o delito é próprio); doloso
(realizado de forma intencional e direta); comissivo (crime de ação), mas
pode ser omissivo impróprio, no entendimento de Rogério Greco (2014, p.
930), desde que o agente se enquadre na forma do § 2° do art. 13 do Código
Penal; formal (a consumação ocorre com a prática da conduta,
independentemente de qualquer resultado naturalístico mesmo que previsto
(Obs.: no verbo “vender” previsto no § 1°, o delito é material, pois exige o
recebimento do preço). Também é crime de forma livre (admite qualquer
meio de execução)5; instantâneo (a consumação é imediata, salvo no verbo
“guardar” (§ 1°) em que o delito é permanente); unissubjetivo (exige apenas
um único sujeito ativo para sua prática); plurissubsistente (a conduta
realizada em vários atos). Obs.: Nucci (2009, p. 944) também diz ser possível
ocorrer de forma unissubsistente. O delito também é de dano (exige prejuízo
à fé-pública); crime de ação múltipla ou de conteúdo variado alternativo
(o sujeito responde por uma só infração quando realiza as diversas condutas
descritas no caput e parágrafos); e, não-transeunte (exige a comprovação da
materialidade para sua configuração).

9 MODALIDADES DERIVADAS

9.1 CIRCULAÇÃO DE MOEDA FALSA (§ 1º)

Diz o § 1º: “nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou
alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou
introduz na circulação moeda falsa”. Essa é uma modalidade equiparada a
do caput do artigo, por prever as mesmas penas fixadas e estabelecer
condutas dolosas.

5 Bitencourt (2013, p. 479) classifica o delito como de forma vinculada na hipótese do § 3°,
pois o agente para praticar o delito tem que seguir a forma pré-determinada nele definida.
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O tipo traz os seguintes verbos núcleos e se consuma com a sua


prática: importar (fazer entrar o objeto material no país, qualquer que seja o
meio: via aérea, marítima ou terrestre), exportar (fazer sair do país),
adquirir (obter), vender (dispor), trocar (permutar), ceder (transferir a
terceiro), emprestar (entregar provisoriamente a terceiro, com a promessa de
devolução), guardar (ter em depósito) e introduzir na circulação (passar a
moeda falsa a terceiro como se fosse legítima)6.
Admite tentativa em todas as formas.
É crime de conteúdo variado alternativo, isto é, independe se o
agente pratica uma ou mais condutas descritas.
CIRCULAÇÃO DE MOEDA FALSA – MESMA PENA  IMPORTA,
EXPORTA, ADQUIRE, TROCA, CEDE, EMPRESTA, GUARDA OU INTRODUZ
EM CIRCULAÇÃO MOEDA FALSA
CRIME DE AÇÃO MÚLTIPLA  SE O AGENTE PRATICA VÁRIAS
CONDUTAS – RESPONDE POR UM SÓ CRIME
O delito no § 1º admite a sua prática por qualquer pessoa, salvo
por aquele que realizou a conduta descrita no caput. Quem realiza ambas as
ações, responde apenas pelo caput, em decorrência da aplicação do princípio
da consunção, vez que a conduta relativa ao § 1º seria postfactum impunível,
devendo ser levado em consideração na fixação da pena-base pelo juiz.
O objeto material é o oriundo do caput do artigo, ou seja, o
papel-moeda e a moeda metálica fabricado ou alterado.

9.2 FIGURA TÍPICA PRIVILEGIADA (§ 2º)

O § 2º do art. 289 prevê uma forma privilegiada dolosa, pois traz


as penas abstratas (mínima e máxima) menores do que as estabelecidas no
caput.
Qualquer pessoa pode praticá-la, desde que tenha recebido a

6 Obs.: o sujeito que recebeu a moeda falsa de boa-fé e depois percebendo a falsidade
simplesmente a guarda sem a intenção de colocá-la em circulação não prática a conduta do
§ 1°.
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moeda falsa com boa-fé.


O objeto material é o mesmo trazido pelo caput do artigo, ou seja,
o papel-moeda e a moeda metálica fabricado ou alterado.
A conduta típica descrita é a de que o sujeito ativo, após ter
recebido como verdadeira moeda falsa e descobrindo a falsidade, a
coloca novamente em circulação. É fundamental que o agente tenha
recebido o objeto material de boa-fé, desconhecendo a falsidade. O delito
admite tentativa.
CONDUTA  AGENTE RECEBE DE BOA-FÉ PENSANDO SER
VERDADEIRA, PERCEBE POSTERIORMENTE A FALSIDADE E A COLOCA
EM CIRCULAÇÃO
Damásio (2013, p. 49) afirma que é atípica a conduta do indivíduo
que restitui a moeda falsa recebida para quem lhe entregou. Discordamos
desse entendimento, tendo em vista que quando o agente realiza essa ação,
ele está recolocando o dinheiro em circulação.
O elemento subjetivo possui três momentos distintos: 1) receber
o dinheiro falso de boa-fé; 2) perceber a falsificação; e, 3) restituir o dinheiro
em circulação conhecendo a falsidade.

9.3 FABRICAÇÃO OU EMISSÃO IRREGULAR DE MOEDA (§ 3º)

O parágrafo terceiro do artigo estudado traz uma qualificadora de


natureza objetiva que exige uma qualidade especial do sujeito ativo do
delito, tratando-se de crime próprio (funcionário público – definição no art.
327 do Código Penal). Nele consta que o funcionário público ou diretor,
gerente ou fiscal de banco de emissão realiza as condutas típicas fabricar
(inventar, construir, criar), emitir (expedir, pôr em circulação) ou autorizar
(aprovar, permitir, deixar) fabricar ou emitir os objetos materiais
descritos nos incisos I e II. É possível perceber pela redação do tipo penal,
que não é qualquer funcionário público que pode realizar as condutas, vez
que somente aqueles que têm tais atribuições podem se enquadrar na
descrição típica.
Em relação aos objetos materiais é importante ressaltar que
17

diferentemente das condutas anteriores, eles não são falsos, o problema é a


inobservância intencional do sujeito ativo que realiza os verbos
contrariamente ao que estabelece o texto legal relativo à matéria (norma
penal em branco).
No inciso I, o legislador diz que a moeda metálica é produzida com
título ou peso inferior ao determinado em lei. Damásio de Jesus (2013, p.
50) define título como: “(...) a proporção que deve existir entre o metal fino e a
liga metálica empregados na confecção da moeda. Para que haja delito é
necessário que se produza moeda metálica com título ou peso inferior ao
padrão legal”. Nucci (2009, p. 945) o define como “o texto contido na liga
metálica”. Esclarecemos, ainda, que o título e o peso são elementos
normativos do tipo, além de tornarem a figura uma norma penal em
branco (o Código Penal não traz os parâmetros legais para as suas definições
dependendo de complementação de outras normas).
TÍTULO  PROPORÇÃO ENTRE O METAL FINO E A LIGA
METALICA USADOS NA CONFECÇÃO DA MOEDA
Por sua vez, o inciso II trata tão-somente do papel-moeda que é
produzido em quantidade acima da permitida. A conduta nesse caso é,
por exemplo, o agente autorizar a emissão de um milhão de reais em cédulas
de dez reais, quando a lei permitia apenas a emissão de oitocentos mil reais
dessas notas. O mais “interessante” nessa figura, é que a conduta será
atípica se o mesmo fato ocorrer com moedas metálicas ao invés de cédulas.
Isso ocorre, porque a aplicação da previsão típica para moeda metálica seria
uma situação de analogia in malam partem, inadmissível no Direito Penal
brasileiro7.
LACUNA INJUSTIFICÁVEL PARA NÃO PUNIR A FABRICAÇÃO DE
MOEDA METÁLICA EM QUANTIDADE SUPERIOR A AUTORIZADA
A produção de papel-moeda em quantidade inferior também é
atípica, pois o inciso é claro ao dizer que a emissão tem que ser em
quantidade superior.

7 “Com efeito, eventual emissão de moeda metálica em quantidade superior à autorizada


constitui apenas infração administrativa, sendo impossível estender-lhe o alcance do
dispositivo, sob pena de violar o princípio da tipicidade” (Bitencourt, 2013, p. 486).
18

A consumação do delito nesse parágrafo ocorre quando o agente


pratica os verbos núcleos do tipo, independentemente da ocorrência de
qualquer resultado naturalístico (crime formal). Na conduta autorizar a
emissão, é suficiente a autorização para a consumação, independentemente
se o objeto material foi ou não produzido. Admite tentativa, desde que a
ação seja praticada de forma escrita.

9.4 DESVIO E CIRCULAÇÃO ANTECIPADA (§ 4º)

O parágrafo quarto pune a conduta do agente que desvia (mudar a


direção, tirar do caminho) e faz circular (introduzir no mercado) moeda
(papel-moeda e moeda metálica) que não estava autorizada. Apesar de
transmitir a ideia de que somente uma pessoa que tem o acesso direto ao
objeto material pode realizar, o tipo é classificado como comum, em face do
sujeito ativo. Em sentido contrário, ver em Bitencourt (2013, p. 487)
Observa-se que o agente tem que praticar as duas condutas, isto
é, desviar e fazer circular, não bastando apenas o desvio ou a colocação em
circulação para que o delito esteja configurado.
O objeto material nesse tipo penal, assim como no anterior, é
verdadeiro, o foco principal do ilícito está na antecipação da entrada em
circulação do dinheiro.
Pouco importa para a consumação do crime se o agente obtém
qualquer vantagem (crime formal), exigindo-se apenas que ele realize os
verbos núcleos e tenha o conhecimento da não-permissão da entrada em
circulação. O fato admite a tentativa sem qualquer restrição.

10 PENA E AÇÃO PENAL

No caput e no § 1° as penas cominadas cumulativamente são de


reclusão, de três a doze anos, e multa.
CUMULATIVA  RECL. 03A A 12A + MULTA
A forma privilegiada do § 2° prevê as seguintes penas cominadas
cumulativamente: detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
19

§ 2º  DET. 06M A 02A + MULTA


Os parágrafos terceiro e quarto trazem as modalidades
qualificadas com penas cumulativas de reclusão, de três a quinze anos, e
multa (§ 3º). § 3º E § 4º  CUMULATIVA – RECL. 03A A 15A + MULTA
A ação penal é pública incondicionada.
O parágrafo segundo admite a aplicação de transação penal e
suspensão condicional do processo (art. 76 e art. 89 da Lei n.° 9.099/1995).

11 QUESTÕES RELEVANTES

11.1 O CONFLITO APARENTE DE NORMAS E O CONCURSO DE


CRIMES

O agente que em relação ao mesmo objeto material, fabrica e


coloca em circulação o papel-moeda falso, responde apenas pelo caput do
art. 289, afastando-se a incidência do concurso de crimes, em virtude da
aplicação do princípio da consunção (situação típica de progressão
criminosa) estudado no conflito aparente de normas. Isso ocorre, porque com
a primeira conduta “fabricar”, o bem jurídico já foi lesionado pela atividade
do agente, tornando a segunda ação postfactum impunível. Deve-se
compreender que no momento da fixação da pena-base pelo juiz, ele
considerará a colocação em circulação praticada pelo agente (ver art. 59 do
Código Penal).
ÚNICA SITUAÇÃO – FABRICA E ALTERA  DELITO ÚNICO
SITUAÇÕES DIFERENTES COM OBJETOS MATERIAIS
DIFERENTES  CRIME CONTINUADO
AGENTE FALSIFICA E INTRODUZ NO MERCADO  RESPONDE
POR 01 DELITO DE MOEDA FALSA
20

11.2 FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA. COMPETÊNCIA PARA


JULGAMENTO

Compete à Justiça Federal o julgamento do delito de moeda


falsa, visto que é atribuição da União a emissão de dinheiro no Brasil. A
exceção dessa competência ocorre nas situações em que a falsificação é
grosseira e o agente obtém vantagem na sua conduta, pois o crime passa a
ser de estelionato, cuja competência para julgamento é da Justiça
Estadual (Súmula n.º 73 do STJ).

11.3 APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO


DELITO DE MOEDA FALSA

Predomina na doutrina penal e em nossa jurisprudência, o


entendimento de que o princípio da insignificância é inaplicável no delito
de moeda falsa, pois é irrelevante o valor nominal da cédula ou moeda
falsificada. O mais importante é o dano à fé pública ocasionado pelo falso,
vez que a inserção de uma única nota em circulação, torna-se suficiente
para abalar a confiabilidade de todo o dinheiro que se encontra no
mercado. Isso se torna claro, em qualquer situação concreta em que uma
pessoa utiliza, por exemplo, uma cédula de cinquenta reais para fazer um
pagamento. É fato comum hoje, que o indivíduo que a recebe, realize alguns
procedimentos para atestar a sua autenticidade.

12 JURISPRUDÊNCIA E NOTÍCIAS JURÍDICAS

Súmula n.º 73 do Superior Tribunal de Justiça: A utilização de papel-moeda


grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, de competência da
Justiça Estadual.

STJ - Bagatela só é aplicada em falsificação de moeda quando a cópia é


grosseira – Publicado em 13 de Dezembro de 2010 às 10h35 – O princípio da insignificância
ou bagatela só deve ser aplicado, em casos de falsificação de moeda, quando a reprodução
da cédula for tão grosseira que possa ser percebida a olho nu, de forma que seja incapaz de
21

iludir o homem médio. Essa é a interpretação dos ministros da Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ). A tese foi discutida no julgamento de dois habeas corpus em que
os autores falsificaram cédulas de R$ 50. Um falsificou quatro notas e o outro, apenas uma.
Nos dois casos, os réus foram condenados a três anos de reclusão, sendo que a pena foi
substituída por duas restritivas de direito mais multa pelo crime de moeda falsa (artigo 289,
parágrafo 1º, do Código Penal). A Defensoria Pública pediu a absolvição dos réus com base
no princípio da insignificância. O Ministério Público Federal emitiu parecer para que os
pedidos fossem negados. O relator, ministro Napoleão Maia Filho, destacou que cabe ao
intérprete da lei penal a delimitação da abrangência dos tipos penais para excluir os fatos
causadores de ínfima lesão, o que ocorre com a aplicação do princípio da insignificância.
Para isso, é necessária a presença de certos elementos, como mínima ofensividade da
conduta do agente, total ausência de periculosidade social da ação, ínfimo grau de
reprovabilidade do comportamento e inexpressiva lesão jurídica ocasionada. O ministro
considerou que a falsificação de quatro cédulas de R$ 50 representa valor que não pode ser
classificado como de “pequena monta”. Além disso, nos crimes de falsificação de moeda, o
fato determinante para a aplicação da bagatela não é o valor irrisório. “A norma não busca
resguardar apenas o aspecto patrimonial, mas também, e principalmente, a moral
administrativa, que se vê bastante abalada com a circulação de moeda falsa”, afirmou no
voto. Segundo o ministro Napoleão Maia Filho, a insignificância só estará configurada
quando a falsificação se der de forma tão grosseira que seja perceptível a olho nu. A
tipificação do delito de falsificação de moeda exige reprodução bem elaborada, capaz de
ludibriar pessoa de conhecimento comum. O ministro ressaltou que, para caracterizar
crime, a falsificação não precisa ser perfeita; basta apresentar a possibilidade de ser aceita
como verdadeira. Os dois habeas corpus foram negados. Seguindo o voto do relator, os
ministros da Quinta Turma não aplicaram o princípio da insignificância porque as
instâncias ordinárias entenderam que as falsificações eram aptas a enganar terceiros. HC
173317 e HC 177686 – Fonte: Superior Tribunal de Justiça

Inaplicabilidade do princípio da insignificância, porquanto, o bem jurídico


tutelado é a fé pública, não podendo ter como parâmetro para sua aplicação a quantidade
de cédulas apreendidas (TRF, 1ª Reg. ACR 2007.38.00.021397-0, Rel. Hilton Queiroz, pub.
17/07/2009).

O princípio da insignificância não tem aplicação no crime de moeda falsa, pois o


objeto jurídico (interesse jurídico protegido) tutelado é constituído pela fé pública na moeda
como unidade de valor do meio circulante, que não deixa de ser ofendido em razão do
pequeno valor da cédula posta em circulação, ou mantida em poder do réu. Não há falar-se,
na hipótese, em ‘inexpressividade da lesão jurídica’ ou em ‘mínima ofensividade, da conduta
22

do agente’ (TRF 1ª Região, Processo 199935000040546, Rel. Des. Fed. Olindo Menezes, pub.
31/3/2008).

STJ - Bagatela só é aplicada em falsificação de moeda quando a cópia é grosseira

Publicado em 13 de Dezembro de 2010 às 10h35

O princípio da insignificância ou bagatela só deve ser aplicado, em casos de falsificação de


moeda, quando a reprodução da cédula for tão grosseira que possa ser percebida a olho nu,
de forma que seja incapaz de iludir o homem médio. Essa é a interpretação dos ministros
da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A tese foi discutida no julgamento
de dois habeas corpus em que os autores falsificaram cédulas de R$ 50. Um falsificou
quatro notas e o outro, apenas uma. Nos dois casos, os réus foram condenados a três anos
de reclusão, sendo que a pena foi substituída por duas restritivas de direito mais multa
pelo crime de moeda falsa (artigo 289, parágrafo 1º, do Código Penal). A Defensoria Pública
pediu a absolvição dos réus com base no princípio da insignificância. O Ministério Público
Federal emitiu parecer para que os pedidos fossem negados. O relator, ministro Napoleão
Maia Filho, destacou que cabe ao intérprete da lei penal a delimitação da abrangência dos
tipos penais para excluir os fatos causadores de ínfima lesão, o que ocorre com a aplicação
do princípio da insignificância. Para isso, é necessária a presença de certos elementos,
como mínima ofensividade da conduta do agente, total ausência de periculosidade social da
ação, ínfimo grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressiva lesão jurídica
ocasionada. O ministro considerou que a falsificação de quatro cédulas de R$ 50 representa
valor que não pode ser classificado como de “pequena monta”. Além disso, nos crimes de
falsificação de moeda, o fato determinante para a aplicação da bagatela não é o valor
irrisório. “A norma não busca resguardar apenas o aspecto patrimonial, mas também, e
principalmente, a moral administrativa, que se vê bastante abalada com a circulação de
moeda falsa”, afirmou no voto. Segundo o ministro Napoleão Maia Filho, a insignificância só
estará configurada quando a falsificação se der de forma tão grosseira que seja perceptível a
olho nu. A tipificação do delito de falsificação de moeda exige reprodução bem elaborada,
capaz de ludibriar pessoa de conhecimento comum. O ministro ressaltou que, para
caracterizar crime, a falsificação não precisa ser perfeita; basta apresentar a possibilidade
de ser aceita como verdadeira. Os dois habeas corpus foram negados. Seguindo o voto do
relator, os ministros da Quinta Turma não aplicaram o princípio da insignificância porque
as instâncias ordinárias entenderam que as falsificações eram aptas a enganar terceiros.
HC 173317 e HC 177686 - Fonte: Superior Tribunal de Justiça
23

TJPB - Câmara Criminal mantém decisão e crime de falsificação de moeda deverá ser
julgado pela Justiça Federal
A Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba, na última sessão ordinária, negou
provimento a um recurso e manteve a decisão do Juiz de Direito da 1ª Vara da comarca de
Catolé do Rocha, que declinou da competência para julgar crimes de falsificação de moedas,
em favor da Vara Federal de Sousa. A decisão unânime acompanhou o parecer do Ministério
Público. “O crime de que trata os autos é o de moeda falsa e, nos termos do art. 109, inciso
IV, da Constituição Federal de 1988, é de competência da Justiça Federal”, justificou o
relator do processo, desembargador Arnóbio Alves Teodósio. Consta nos autos que o exame
pericial detectou falsificação de cédulas que foram apreendidas em poder dos recorrentes
P.C.S. N. e A.O.C.C. Para o relator, o exame destas, não restou evidenciado se tratar de
falsificação grosseira. “Observa-se que as cédulas apreendidas possuem efetivo potencial
para enganar terceiros de boa-fé. Nas razões do recurso, os recorrentes pleiteavam a
manutenção da competência da Justiça Estadual especializada da comarca de Catolé do
Rocha para reformar a decisão de declínio da competência em favor da Justiça Federal,
alegando cerceamento de defesa e, ainda, a tipificação do delito como estelionato em face da
não comprovação da eficiência da falsificação. Flagrante - Os acusados foram presos em
flagrante no dia 05 de dezembro de 2010, no município de Catolé do Rocha, ao tentar pagar
entrada em uma festa dançante no BNB Clube. Na ocasião, A., em companhia de P.C.
comprava senha na bilheteria com cédulas de moeda de papel com características de falsa
autenticidade. Publicado em 16 de Abril de 2012 às 14h22 / Fonte: Tribunal de Justiça do
Estado da Paraíba

Uso de moeda falsa não comporta aplicação do princípio da insignificância


A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) negou, por unanimidade de votos, o
Habeas Corpus (HC 112708) impetrado pela Defensoria Pública da União em favor de
irmãos condenados, no Maranhão, por colocar em circulação duas notas falsas de R$ 50
(delito previsto no artigo 289, parágrafo 1º, do Código Penal). A Defensoria pedia a aplicação
ao caso do princípio da insignificância (ou bagatela), mas, de acordo com o relator do HC,
ministro Ricardo Lewandowski, quando se trata de crime contra a fé pública – bem cujo
valor é indeterminável na medida em que envolve proteção à credibilidade da moeda e ao
sistema financeiro –, não se pode falar em aplicação do princípio, ainda que se tratem de
duas notas falsas de R$ 50. Em primeiro grau, o juiz aplicou ao caso o princípio da
insignificância e proferiu sentença absolvendo os irmãos. Em seguida, o Ministério Público
Federal (MPF) apelou da sentença, que foi reformada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª
Região (TRF-1) para condená-los à pena de três anos de reclusão, em regime inicial aberto, e
ao pagamento de 10 dias-multa (à razão de 1/30 do maior salário-mínimo vigente na data
dos fatos). Em seguida, os condenados apresentaram agravo de instrumento para o Superior
Tribunal de Justiça (STJ), que negou seguimento (inadmitiu) ao recurso. No HC apresentado
24

ao Supremo, a Defensoria Pública da União alegou que a conduta dos irmãos não
apresentou lesividade suficiente para justificar a tipicidade penal do fato. Além disso, o
laudo pericial teria apontado a “péssima qualidade das notas quando comparadas às
cédulas autênticas”, por isso a conduta não teria atingido o bem jurídico de maneira
ofensiva ou concretamente perigosa para que se justifique a aplicação da pena. Terça-feira,
26 de junho de 2012.

TRF1 - Crime de moeda falsa não é caracterizado apenas pela quantidade de notas
distribuídas
A 3.ª Turma do TRF 1.ª Região decidiu aceitar denúncia oferecida pelo Ministério Público
Federal do Estado de Minas Gerais contra um homem que colocou em circulação uma nota
falsa de R$50 (art. 289, § 1º, do Código Penal). A juíza de primeira instância rejeitou a
denúncia por entender que se aplica ao fato o princípio da insignificância. A magistrada
ressaltou que o comportamento do denunciado, apesar de se enquadrar ao tipo descrito no
art. 289, § 1º, do Código Penal, carece de relevância no âmbito da repressão penal, pois não
ofendeu, em dimensão significativa, a ordem jurídica e social. O Ministério Público apelou a
este tribunal, alegando que, no caso, a capacidade de enganar ao homem médio, de boa-fé,
é que caracteriza o crime de moeda falsa, e não a quantidade de notas postas em circulação.
O relator do processo, desembargador federal Cândido Ribeiro lembrou que “A
jurisprudência desta Corte, ressalvado o ponto de vista do juiz Tourinho Neto, tem decidido
reiteradamente pela inaplicabilidade do princípio da insignificância no crime em tela, tendo
em vista que seu objeto jurídico é a fé pública, e, portanto, não se leva em conta, a
quantidade ou o valor das cédulas falsas guardadas, adquiridas ou introduzidas em
circulação.” A Turma, por unanimidade, recebeu a denúncia. Nº do Processo: 0005052-
81.2007.4.01.3810 / Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região / Publicado em 17 de
Julho de 2012 às 11h08

TRF1 - Turma mantém pena imposta a guardião de notas falsas


A 4.ª Turma do TRF/ 1.ª Região julgou improcedente o pedido de redução da pena de três
anos e nove meses de reclusão e 30 dias-multa pleiteada por um lavador de carros que foi
pego em flagrante com notas falsas. O apelante alegou que a falsificação é grosseira e não
tem o condão de enganar a fé pública. Além disso, que as provas contra ele foram obtidas de
forma ilícita, uma vez que os policiais o forçaram a confessar seu endereço, onde estavam
guardadas as demais notas. A defesa, então, solicitou o abrandamento da pena-base, visto
que as circunstâncias judiciais são, em sua maioria, favoráveis ao apelante. O relator,
desembargador federal Hilton Queiroz, ao analisar os autos, concluiu que não houve
ilicitude na produção de provas durante o inquérito policial, pois o ingresso dos agentes na
residência do investigado, com a consequente busca e apreensão das cédulas falsas, é
legítimo, à medida que, mantendo em casa as notas, encontrava-se ele em situação de
25

flagrante delito. Também, segundo o laudo pericial existente nos autos, as cédulas não são
grosseiras, pois reproduzem com bastante nitidez “os dizeres e as impressões macroscópicas
do papel-moeda autêntico (...) e podem, perfeitamente, passar por autênticas no meio
circulante, enganando terceiros de boa-fé”. Assim, sendo incontestável a autoria do crime e
considerando que foram encontradas mais de mil cédulas falsificadas na residência do
apelante - o que configura crime permanente - a 4.ª Turma decidiu, por unanimidade, negar
provimento à apelação e manter a sentença inicial. Nº do Processo: 0002355-
42.2010.4.01.3500 / Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região / Publicado em 23 de
Julho de 2012 às 11h44

TRF5 - Mantida condenação de porteiro por crime de “introdução em circulação de


moeda falsa”
O Tribunal Regional Federal da 5ª Região - TRF5 negou provimento, ontem (29/01), à
apelação do porteiro G.P.S., 31, condenado a três anos de reclusão pela prática do crime de
introdução em circulação de moeda falsa. O crime foi praticado no dia 28/01/2007, na feira
livre da cidade de Santa Cruz (RN), em parceria com M.V.T., 28, mediante utilização de
cédulas falsas de R$ 50,00. O relator, desembargador federal convocado Bruno Leonardo
Câmara Carrá, rejeitou a preliminar de incompetência da Justiça Federal para o processo,
em razão da falsificação não ser grosseira, o que caracterizaria o crime de moeda falsa e,
não, de estelionato.
DINHEIRO FALSO – G.P.S. foi preso na companhia de M.V.T. por tentarem “passar” na feira
livre de Santa Cruz notas falsas de R$ 50,00. Segundo o depoimento das testemunhas, o
casal pagou a um moto-taxista com nota falsificada, compraram produtos alimentícios e
adquiriram a uma feirante roupas para criança, com direito a devolução de troco no valor de
R$ 26,00. Após a busca realizada pelos policiais, foram encontradas mais três cédulas
inautênticas do mesmo valor. G.P.S. confessou ter adquirido dez notas falsas de R$ 50,00
em uma festa realizada no município de Japi (RN). O Laudo de Exame em Moeda concluiu
que as cédulas periciadas poderiam ser confundidas como verdadeiras no meio circulante
comum, por apresentarem aspectos visuais básicos similares aos das cédulas autênticas de
valor correspondente. O Ministério Público Federal (MPF) denunciou os acusados. A
sentença do Juízo da 2ª Vara Federal do Rio Grande do Norte condenou M.V.T. à pena de
três anos de reclusão, mas substituiu por duas penas restritivas de direito, que seriam duas
prestações de serviços à comunidade, por uma hora diária, pela duração de três anos e
multa de dez dias-multa, fixando o dia-multa à razão de 1/30 do salário mínimo vigente na
data do crime. A sentença condenou G.P.S. à pena de três anos de reclusão, em regime
inicial semi-aberto, e ao pagamento de multa de 29 dias-multa, fixando, também, o dia-
26

multa à razão de 1/30 do salário mínimo. Nº do Processo: ACR 9558 / Fonte: Tribunal
Regional Federal da 5ª Região / Publicado em 30 de Janeiro de 2014 às 09h59

TRF1 - 4.ª Turma absolve acusado de falsificação de moeda


O TRF da 1.ª Região absolveu denunciado de crime de moeda falsa por falta de provas. Em
decisão unânime, a 4.ª Turma do Tribunal negou provimento à apelação interposta pelo
Ministério Público Federal (MPF) contra sentença que absolveu o réu em primeiro grau. A
denúncia aponta que o acusado apresentou uma cédula falsa de R$ 50,00 na compra de
uma bermuda, na loja Teka Modas, em Macapá/AP. A gerente da loja desconfiou da
autenticidade da nota e procurou o Centro Integrado de Operações em Segurança Pública
(Ciosp) na busca de resolver o problema. O juízo de primeiro grau, no entanto, absolveu o
réu por considerar que não se pode afirmar com certeza que o denunciado tenha agido com
vontade livre e consciente de guardar ou colocar em circulação a nota falsa. Como base para
sua decisão, o juiz utilizou o laudo pericial em que ficou constatado que não se trata de uma
falsificação grosseira, e que a cédula tem qualidade suficiente para ser confundida com uma
cédula verdadeira. O MPF, no entanto, discorda da sentença e afirma que o conjunto de
provas possui elementos mais do que suficientes para provar que o acusado tinha
conhecimento da falsidade da moeda. Como prova do dolo, o apelante destaca o fato de o
denunciado tentar encobrir o crime, alegando que recebeu a cédula de um senhor em
pagamento de um roçado que teria feito no interior do estado, mas a identidade da pessoa
não pôde ser verificada, pois o acusado não soube dizer onde residia o tal senhor, e sequer o
arrolou como sua testemunha de defesa. Entretanto, o relator do processo, desembargador
federal I’talo Fioravanti Sabo Mendes, confirmou a sentença recorrida, ressaltando que o
conjunto probatório não oferece elementos hábeis a demonstrar, com a segurança
necessária à edição de uma decreto condenatório, que o denunciado teria praticado ou
concorrido, consciente e voluntariamente, para a prática do delito. “Acrescente-se, ainda,
que, para se verificar a autoria na hipótese descrita no § 1.º do art. 289, do Código Penal,
apresenta-se como imprescindível a identificação do elemento subjetivo do tipo, com o
necessário conhecimento da falsidade da moeda, mormente quando se verifica que, havendo
dúvida acerca da ciência da falsidade da cédula, deve ocorrer a absolvição do acusado, em
observância ao princípio in dubio pro reo (na dúvida, a favor do réu)”, concluiu o magistrado.
Nº do Processo: 2005.31.00.001113-6 / Fonte: Tribunal Regional Federal da 1ª Região /
Publicado em 12 de Fevereiro de 2014 às 11h26

TRF5 - Negada apelação criminal pela prática do delito de moeda falsa


O Tribunal Regional Federal da 5ª Região - TRF5 negou provimento, ontem (28/05), à
apelação criminal de A.E.B., 35, condenado à prestação de serviços comunitários e ao
pagamento de um salário mínimo a uma entidade social ou assistencial pela prática do
27

delito de moeda falsa, ocorrido em 2003, na cidade de Pentecostes (CE). A pena aplicada,
inicialmente, foi de três anos de reclusão e pagamento de um salário mínimo.
A Terceira Turma do TRF5 não acolheu as razões da defesa que alegou serem grosseiras as
falsificações. “Ressalte-se que, na hipótese vertente, nenhum dos comerciantes lesados
reconheceu a falsidade das notas, apesar da grande circulação, em suas mãos, de cédulas
autênticas”. E os próprios peritos lançaram mão de instrumentos ópticos para certificarem-
se da falsidade”, afirmou o relator desembargador federal Geraldo Apoliano.
O CRIME – A.E.B. foi preso em flagrante, no dia 02.06.2003, no Município de Pentecoste
(CE), após repassar no comércio local nove cédulas falsas no valor de R$ 50 e uma cédula
no valor de R$ 10, comprando pequenas mercadorias com as notas falsificadas para receber
o troco em moeda verdadeira. As cédulas foram apreendidas em poder dos comerciantes
J.J.A. e J.M.T.. A falsificação só foi percebida por ocasião do fechamento de caixa dos
comerciantes. A.E.B foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF). A sentença
condenou, inicialmente, o réu à pena de três anos de reclusão, e 10 dias-multa, no valor de
um trigésimo do salário mínimo vigente à época dos fatos. As penas foram substituídas por
duas penas alternativas, que são a prestação de serviços comunitários e o pagamento de um
salário mínimo a uma entidade social ou assistencial, a ser indicada pelo Juízo das
Execuções Penais. A defesa alegou incidência da Súmula nº 73, do Superior Tribunal de
Justiça, em virtude da falsificação grosseira da moeda, pedindo a desclassificação do delito
de moeda falsa (artigo 289, parágrafo primeiro do Código Penal) para estelionato (artigo 171,
do CP), requerendo a declaração de nulidade da sentença e a remessa dos autos à Justiça
Estadual. ACR 8237 (CE) / Fonte: Tribunal Regional Federal 5ª Região / Publicado em 31
de Maio de 2013 às 11h17

STF - Princípio da insignificância é inaplicável a crime de moeda falsa


O ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso negou provimento ao
Recurso Ordinário em Habeas Corpus (RHC) 107959, no qual a Defensoria Pública da União
(DPU) pedia a aplicação do princípio da insignificância ao caso de um condenado pelo crime
de moeda falsa. De acordo com os autos, M.G.J. foi surpreendido por policiais com quatro
cédulas falsas de cinquenta reais, as quais tentava colocar em circulação em Franco da
Rocha (SP). Ele foi condenado pelo delito previsto no artigo 389, parágrafo 1º, do Código
Penal à pena de três anos de prisão, em regime aberto, substituída por duas penas
restritivas de direito. A Defensoria interpôs apelação ao Tribunal Regional Federal da 3ª
Região requerendo a aplicação do princípio da insignificância, mas o recurso foi desprovido.
Em seguida, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) também rejeitou a tese de aplicabilidade
do princípio ao negar habeas corpus lá impetrado. No recurso ao Supremo, a DPU reiterou o
argumento de que a conduta do recorrente não pode ser considerada como um ataque
intolerável ao bem jurídico tutelado, não configurando ofensa à fé pública, por não ter
efetivamente perturbado o convívio social. Pediu, assim, o trancamento da ação penal.
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Jurisprudência: Ao analisar o caso, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que o acórdão
do STJ “está alinhado com a orientação do Supremo Tribunal Federal no sentido de que não
se aplica o princípio da insignificância a fatos caracterizadores do crime de moeda falsa” e
citou vários precedentes nesse sentido. / Processos relacionados: RHC 107959 / Fonte:
Supremo Tribunal Federal / Publicado em 15 de Outubro de 2014 às 10h00

TRF5 - Tribunal mantém condenação por circulação de dinheiro falso


A Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região – TRF5 negou, ontem (29/10),
por unanimidade, provimento às apelações de F. J. da S. S. e J. R. A., condenados por
circulação de moeda falsa. Os réus recorreram da sentença que os condenou às penas de
três anos de reclusão e ao pagamento de 30 dias-multa, no valor de 1/30 do salário mínimo,
por circular dinheiro falso no município de Aurora (CE). Ora, se a falsificação fosse, de fato,
grosseira, como alegaram os réus preliminarmente, não haveria como terem recebido e
repassado as cédulas falsificadas de boa-fé, como aduzem no mérito. Assim, resta
comprovada a materialidade do crime previsto no art. 289, § 1º, do Código Penal, sendo
competente para julgar o feito a Justiça Federal, afirmou o relator, desembargador federal
Lázaro Guimarães.
CIRCULAÇÃO DE DINHEIRO FALSO - Em uma festa realizada no município de Aurora/CE,
os réus, F. J. da S. S e J. R. A, utilizaram-se de cédulas falsas para a compra de cervejas e
refrigerantes, tendo feito circular 12 notas falsas com valor de R$ 50, cada, causando
prejuízos aos comerciantes locais. Com efeito, o organizador da referida festa apresentou os
acusados como repassadores de notas falsas, visto que, por determinadas vezes durante a
festividade, cada um deles comprava as bebidas com cédula de R$ 50, recebia o troco e se
retirava. O Juízo da 16ª Vara do Ceará condenou os apelantes pela prática do crime,
previsto no art. 289, parágrafo 1º, do Código Penal. A falsidade das cédulas apreendidas foi
comprovada pelo Laudo de Exame em Moeda n.° 0580/05-SR/CE, do Inquérito Policial. / Nº
do Processo: 10568 / Fonte: Tribunal Regional Federal da 5ª Região / Publicado em 31 de
Outubro de 2014 às 12h31

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