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Menos de 12 horas depois, a plataforma foi tomada por chamas tão fortes que
derretiam aço. Onze funcionários morreram. Começava o pior vazamento de petróleo
da história dos Estados Unidos.
Mas ainda há uma dúvida crucial: por que a tripulação não reconheceu os sinais de
alerta nas horas finais e controlou o poço enquanto ainda havia tempo?
O Wall Street Journal teve acesso a documentos internos da BP, e também a horas
de depoimentos para uma comissão da Guarda Costeira e do Departamento do
Interior. Também entrevistou dezenas de testemunhas do desastre. O que surgiu
dessa apuração é um relato chocante do último dia da Deepwater Horizon.
Mas a verdade sobre a moderna indústria petrolífera é que muitas vezes ela
depende do julgamento e do instinto do homem.
Mas o sol se levantou sobre um mar calmo, e o dia prometia para logo o fim do
pesadelo.
Antes que a tripulação da Deepwater Horizon pudesse partir para outro projeto, havia
uma atividade final: o poço precisava ser testado para garantir que o cimento e o aço
estavam unidos hermeticamente, impedindo vazamentos de gás que pudessem
causar incêndio ou explosão.
A decisão de retirar tanta lama chocou Robert Kaluza, gerente da BP para o turno
diurno em 20 de abril. "Ninguém sabia por que - talvez estivessem tentando poupar
tempo", disse ele depois aos investigadores da BP, segundo notas a que o WSJ teve
acesso. "Às vezes quando o poço está no fim eles resolvem apressar as coisas."
"Os planos ficavam mudando o tempo todo", disse Harrell depois num depoimento.
Harrell e Kaluza brigaram por causa do teste, segundo uma testemunha.
"É assim que vai ser", disse Kaluza, segundo um depoimento juramentado de uma
testemunha, que acrescentou que Harrell "concordou a contragosto".
Num depoimento juramentado, Harrell negou a discussão com Kaluza. Ele disse que
só queria ter certeza de que o teste negativo seria realizado, e Kaluza concordou.
Mas seu advogado, Pat Fanning, disse que Harrell também disse a Kaluza que não
queria retirar tanta lama antes de realizar o teste negativo, mas foi ignorado. Não foi
possível localizar Kaluza para comentar.
"O poço era da BP, ela é que estava pagando por ele. A BP é que mandava", disse
Fanning.
Harrell ficou por lá enquanto a visita continuava, mas não achou que o problema
fosse sério. Ele mandou outro petroleiro apertar uma peça no topo da válvula de
prevenção - o aparelho que fecha e separa o poço em caso de desastre - para
impedir que mais lama vazasse para baixo.
Foi a última vez que alguém se lembra de ter visto Harrell, o líder mais experiente na
plataforma, no convés de perfuração. Seu advogado diz que ele não foi distraído
pelos executivos e a tripulação poderia ter solicitado sua ajuda a qualquer momento,
mas nunca pediu.
O braço direito de Harrell, Randy Ezell, ficou na cabana alguns minutos a mais, mas
logo a deixou para acompanhar os visitantes. Ele disse depois num depoimento à
Guarda Costeira e ao Departamento do Interior que, não fosse a visita, teria ficado
mais tempo cuidando da situação.
"Wyman estava convencido de que algo estava errado", disse depois Christopher
Pleasant, outro petroleiro da Transocean. Não foi possível localizar Wheeler para
comentar.
Finalmente, às 19h50, Vidrine tomou uma decisão, segundo Pleasant. Ele disse a
Kaluza para chamar os engenheiros da BP em Houston e avisar que estava satisfeito
com o teste, disse Pleasant.
Nas duas horas seguintes, surgiram outros sinais de que o poço saía de controle.
Primeiramente, ele vazava mais fluido do que o bombeado, segundo registros
eletrônicos estudados pelos investigadores após a explosão. Mas nenhum dos
trabalhadores da Transocean que monitoravam o poço percebeu os sinais.
Investigadores federais disseram que os operários da Transocean podem não ter
conseguido monitorar o poço porque estavam realizando outras tarefas ao mesmo
tempo.
Por volta das 21h terminou a reunião com os executivos. Alguns deles foram até a
ponte, inclusive Pat O'Bryan, indicado recentemente para ser vice-presidente de
exploração da BP no Golfo do México. O capitão da plataforma mostrou-lhes um
simulador, que permite à tripulação praticar a manutenção da estabilidade da
Deepwater Horizon durante um temporal.