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“Porque as armas da nossa batalha não são

carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para


destruição das fortalezas” (2 Coríntios 10:4)
Sumário

Dedicatória 4
Prefácio 5
Introdução Seja um Guerreiro! 6

Parte I – As Estratégias

I. A Realidade da Batalha Espiritual 10


II. Não é Contra Carne e Sangue 17
III. Conhecendo o Inimigo 21
IV. Fortalecei-vos no Senhor 25
V. A Estratégia da Vitória 31
VI. Na Linha de Combate 35

Parte II – A Armadura

VII. O Cinturão da Verdade 41


VIII. A Couraça da Justiça 45
IX. Não Ande Descalço! 50
X. O Escudo da Fé 56
XI. O Capacete da Salvação 63
XII. A Espada do Espírito 71

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Parte III – A Capacitação

XIII. A Oração Eficaz 83


XIV. Jejum: Apurando a Sensibilidade 88
Espiritual
XV. O Batismo no Espírito Santo 93
XVI. O Perdão que Liberta 100
XVII. Mudando o Rumo da Batalha 110

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Dedicatória

Ao Deus da minha vida, que mudou minha história e é a


minha inspiração, meu maior incentivador e que, com
seus laços de amor, amarrou definitivamente a minha vida
à Sua graça.

À minha família, campo fértil de alegrias e experiências.


Canal de Deus para me ensinar o amor incondicional e
me aperfeiçoar a cada dia. Amo vocês!

Aos leitores do Fruto do Espírito, que me acompanham


desde 2004 quando começamos nosso ministério na
internet. Anônimos e conhecidos que caminharam junto
comigo em um ambiente virtual que tem sido
extremamente real e habita meus pensamentos e
motivações todos os dias.

Às ovelhas da nossa igreja, que são presentes de Deus


em minha vida e que me fortalecem e me suportam em
amor. Povo alegre e que não desanima em meio às
batalhas e que me sustentam com suas orações e
cuidado.

A todos que, direta e indiretamente, contribuíram com


orações, conselhos e ideias, e me incentivaram para que
fosse possível a realização deste sonho.

A todos vocês, meu mais sincero e profundo


agradecimento.

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Prefácio

Você está passando por batalha espiritual? Gostaria que


você soubesse que esta é a realidade de todos nós que
buscamos o Senhor. O apóstolo Paulo nos adverte que
todo aquele que buscar viver a sua vida de maneira que
glorifique ao Senhor, sofrerá perseguição (2 Timóteo
3:12).

Este livro é fruto de batalha espiritual. Levou cerca de um


ano para escrevê-lo. Neste tempo passei por batalhas no
meu casamento, batalhas na igreja que pastoreio,
batalhas em minha família, nas finanças, no meu trabalho
secular, na minha saúde e dos meus familiares próximos.
Não houve área na minha vida em que eu não tenha
travado batalhas. Algumas delas foram tão grandes que
cheguei a pensar que seria derrotado. Não foram poucas
as vezes em que parei de escrever esta obra por me
sentir absolutamente sem forças ou me achar indigno. O
lançamento deste livro foi adiado diversas vezes, tantos
quantos foram os momentos em que eu também tive de
ser admoestado a colocar em prática aquilo que eu
mesmo estava escrevendo.

Foi um ano muito, muito, difícil e este livro é fruto de todas


estas batalhas. Ele mostra que, apesar de todos os
levantes do inimigo, eu sobrevivi e venci. É a prova de
que Deus estará sempre à frente de todas as nossas
batalhas, pois confesso que se dependesse de minha
capacidade e força, há muito eu teria desistido, e isto não
é nenhum jogo de palavras, eu cheguei mesmo a desistir.

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Não fosse o braço forte do Senhor a me sustentar, eu
teria tombado neste campo de batalha.

Escrever sobre batalha espiritual não foi uma escolha


minha, o tema se impôs embora eu pensasse em
escrever sobre outras coisas. Creio que o Espírito queria
me levar a aprender algumas novas lições neste
processo. Neste ano, como nunca antes, eu tive que me
revestir e ser um Guerreiro de Deus para poder
perseverar no Senhor e obter a vitória.

Passei por tudo isto porque as aulas do Senhor são


práticas e Deus desejava que eu escrevesse sabendo
que aquilo que eu estava experimentando seria
instrumento para abençoar outros e poder dizer assim
como o apóstolo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus
de toda a consolação; que nos consola em toda a
nossa tribulação, para que também possamos
consolar os que estiverem em alguma tribulação, com
a consolação com que nós mesmos somos
consolados por Deus.” (2 Coríntios 1:3-4).

Conheço minhas limitações, mas sei que, apesar delas,


pude captar algo muito bom da parte de Deus durante
este processo e sinto, no Senhor, que o propósito Dele ao
me inspirar a escrever este livro, foi alcançado.

É isto que desejo ardentemente: Que você também sinta


esta bem-aventurança que experimentei e que a leitura
deste livro seja bênção em sua vida assim como foi uma
grande bênção poder escrevê-lo.

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Introdução
Seja um
Guerreiro
Batalha Espiritual. Esta é uma das expressões mais
usadas no meio evangélico hoje. Mas, por paradoxal que
seja, é também uma das expressões mais mal
compreendidas também.

Quando se fala em batalha espiritual normalmente se


associa a participação em campanhas, cultos de
libertação, oração “forte” de líderes carismáticos, “tomar
posse” das bênçãos ou, pior ainda, fazer uso de
amuletos, tais quais rosas, sal, medalhas, meias...

A dura realidade é que para a maioria das pessoas a ideia


de Batalha Espiritual está ligada a soluções rápidas,
mágicas e, não raro, supersticiosas, feitas, no máximo, no
período de algumas semanas onde a única arma usada é
a fé individual.

Não é de estranhar que muitos são os que ficam pulando


de culto em culto, de ministério em ministério, de líder em
líder, buscando alcançar a vitória desejada que nunca
chega, gerando muitas vezes desânimo, dúvidas e
decepção. Muitos têm enriquecido à custa da fé de
pessoas que, em sua luta e angústia, fazem o “sacrifício”
ou dão “o seu tudo” para obter a bênção.

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Batalha espiritual também está associada ao medo. Muito
medo. É o lugar das possessões, visões, arrebatamentos
para céu e inferno. Os livros escritos sobre o assunto
tratam muito mais de disseminar o poder do diabo para
aprisionar do que o poder libertador do evangelho da
Graça. Livros onde o diabo é o senhor e os filhos de Deus
vivem o tempo todo à sombra do medo para não serem
afligidos pelo inimigo.

Há ainda a teologia rasa, o estudo bíblico superficial feito


com o único intuito de justificar a “revelação”, muitas
vezes extrabíblicas ou frontalmente antibíblicas, que o
autor alega ter.

Batalha espiritual também é espaço para angustia e


confusão; para “pirar” cabeças de pessoas mais
sensíveis; para desequilibrar mentes. Já vi pessoas
afirmarem que, para se ler determinado livro sobre
batalha espiritual, era necessário que antes o candidato a
leitor iniciasse um período de jejum para que pudesse
estar revestido espiritualmente, pois seria gigantesco o
ataque maligno para impedir que as pessoas o lessem.
Ora, eu leio a Bíblia que é o maior livro sobre batalha
espiritual em qualquer lugar e nunca necessitei de
campanha de jejum para poder ler a Palavra de Deus.
Será que algum best seller gospel é mais poderoso e
causa mais oposição de satanás do que a Bíblia? Ou será
que na verdade o que há é muito medo e superstição
daqueles que não discernem as coisas espirituais e se
deixam levar por um simples livro de terror fantasiado de
revelação de Deus?

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Outras igrejas, por não desejarem estar incluídas neste
caldeirão de manipulações e superstições, passam ao
largo da questão da Batalha Espiritual. Agem como se
não houvesse uma realidade espiritual ao redor, como se
estivéssemos em campo neutro, ou como se a batalha só
fosse acontecer no advento da segunda vinda de Cristo,
terminando por deixar simplesmente que cada um se vire
sozinho em suas lutas espirituais. Por isso muitos cristãos
ficam sem saber como agir, enquanto seus líderes
parecem não perceber as terríveis lutas pelas quais seus
membros estão passando. Esta postura da igreja
chamada “séria” faz com que muitos venham a buscar em
outros apriscos as bênçãos.

Deste modo, entre aproveitadores, supersticiosos e


indiferentes, a maioria do povo de Deus vai de um lado
para o outro correndo atrás da vitória, anulando a verdade
bíblica que diz que os sinais seguirão os que creem
(Marcos 16:17-18). Ao invés de terem atrás de si um
rastro de milagres e testemunhos, muitos vivem correndo
atrás dos milagres e testemunhos de outros.

Batalha espiritual não tem nada a ver com superstições


nem com soluções mágicas. Não é espaço para medo,
nem transes, nem alterações de estado de consciência.
Não é lugar para este circo de horrores que infelizmente
tem tomado conta do evangelho atual.

A batalha espiritual é uma verdade e você a está vivendo


agora. A Bíblia nos revela a existência desta batalha que
se trava nas regiões celestiais e que envolve diretamente
a sua vida, e não só ela, mas a vida e o relacionamento

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das pessoas que lhe cercam. O seu conhecimento sobre
o que a Palavra verdadeiramente diz e como deve agir
serão fundamentais para obter a verdadeira vitória.

Neste livro, falaremos sobre o que é a Batalha Espiritual,


como o crente deve encará-la, quais os recursos que
temos à mão e como usá-los. Juntos, veremos que a
batalha espiritual entre o crente e as forças espirituais da
maldade é uma realidade palpável. Não desejo tecer uma
teologia de “causa e efeito”, mas expor os padrões e
princípios bíblicos que dão base ao crente para saber
como agir nas cotidianas lutas espirituais. A guerra já foi
vencida em Cristo Jesus. Ele já nos deu a vitória definitiva
na cruz do Calvário. No entanto, ainda haverá batalhas
que travaremos neste mundo caído antes que a Glória
bendita de nosso Deus se manifeste plenamente.

O inimigo da sua alma mobiliza suas forças para impedir


o progresso do Reino, primeiramente em sua vida, depois
na de todos aqueles que poderiam ser abençoados a
partir de você.

Este livro é, também, um manual de treinamento e, como


tal, requer total dedicação, firmeza, coragem,
perseverança, compromisso, tenacidade e acima de tudo
disciplina para que os objetivos sejam alcançados e a
vitória seja o resultado final. A partir da leitura deste livro,
você terá uma nova e profunda perspectiva bíblica,
espiritual e verdadeiramente transformadora. O meu
desejo não é que você apenas acumule conhecimento
teórico, pois “o Reino dos Céus não consiste em
palavras, mas em poder” (1 Coríntios 4:20). Meu desejo

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é que você conheça o poder que vem de Deus e que este
poder mude sua vida, mude sua história.

Paulo nos alerta que nenhum soldado em serviço se


embaraça com negócios desta vida. O objetivo de um
soldado em serviço é esforçar-se com toda a sua força
para agradar e satisfazer àquele que é o seu comandante
(2 Timóteo 2:4). Você é um soldado a serviço de um
comandante. Seu campo de batalha é espiritual e o seu
comandante é Jesus. Você é soldado de Cristo! Um tipo
especial de guerreiro que não fica em serviço apenas por
um período, como os soldados do mundo físico, o inimigo
de sua alma peleja contra você, sua família e contra a
igreja do Senhor em todo o tempo. O seu serviço como
soldado dura vinte quatro horas por dia nos sete dias da
semana, durante toda sua vida terrena. Para que você
possa vencer é preciso que tenha plena consciência
disso.

Não há como ficar neutro. Ou você é um guerreiro do


Senhor ou, fatalmente, será vitima de satanás. A vitória
espiritual é, antes de tudo, a vitória de Deus na vida do
crente. Este é o primeiro, maior e mais importante
território a ser conquistado nesta guerra.

Uma recomendação fundamental: seja como os


bereanos! Leia este livro com a Bíblia a seu lado, receba
a Palavra com avidez, examine-a todos os dias e veja por
você mesmo, através do Espírito de Deus se as coisas
são de fato assim (Atos 17:10-12).

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Parte I
As Estratégias

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Capítulo I
A Realidade da
Batalha Espiritual
Algo importante que deve ser levado em conta quando
estudamos a Palavra de Deus é discernir espiritualmente
o Antigo Testamento aplicando os seus ensinos para a
realidade espiritual revelada no Novo Testamento. No
Antigo Testamento, os acontecimentos no mundo físico
eram sombras das coisas vindouras e vislumbres da
realidade espiritual que nos cerca. Deste modo podemos,
especialmente nos livros históricos, constatar que as
batalhas que foram travadas entre Israel e as demais
nações inimigas revelam as batalhas que o Israel de Deus
tem de travar contra seus inimigos espirituais.

Davi foi considerado um homem segundo o coração de


Deus, ou seja, um homem cujo coração agradava ao
Altíssimo, pois Deus via nele o homem que Lhe faria toda
a vontade (Atos 13:22).

Ainda garoto, Davi foi capaz de, na força do Senhor,


derrubar o gigante Golias que possuía quase três metros
de altura! (1 Samuel 17). Segundo a tradição bíblica, este
mesmo Davi é também o autor de boa parte dos Salmos,
inclusive alguns dos mais lidos, como os belíssimos
Salmos 91 e 23. Foi Davi quem teve a inspiração de
construir um templo para Deus na cidade de Jerusalém e,
por amor a ele, o Senhor prometeu que da sua

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descendência viria o Messias prometido, o nosso Senhor
e Salvador Jesus Cristo, e que o trono de Davi
permaneceria para sempre.

É inquestionável o grau de intimidade que Davi tinha com


o Senhor e o profundo amor que Deus tinha por ele. Com
Deus lutando a seu lado, Davi tornou-se rei sobre Israel e
venceu inúmeras batalhas.

1 - Um dia Davi Resolveu não ir à Guerra

A Bíblia nos diz que certo ano, nos idos da primavera,


quando os reis iam à guerra contra os inimigos que se
levantavam contra o seu povo, Davi enviou as tropas,
mas resolveu ficar em Jerusalém. Pouco antes deste
momento Davi conquistara grandes vitórias. De uma só
vez havia vencido o exército siro e amonita. Talvez
sentisse que a sua missão já havia sido cumprida ou que
era momento de relaxar um pouco; talvez desejasse tirar
férias da batalha ou estivesse animado por algum outro
desejo; fato é que Davi resolveu ficar em Jerusalém,
ocioso. A história e as consequências deste ato estão
descritos no segundo livro de Samuel a partir do capítulo
11.

No meio da tarde, após um período deitado em seu leito


enquanto a guerra transcorria, Davi resolveu levantar e
dar uma volta no terraço da casa real. Apreciando a
paisagem ele se deparou com algo que lhe chamou a
atenção: uma bela mulher se banhava. A cobiça tomou
conta do coração ocioso do rei. Mulheres sempre foi o
ponto fraco de Davi. Ali, à distância, vendo-a, desejou-a e,

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sendo o rei, considerou que nada poderia ser-lhe vetado.
Procurou saber quem era aquela mulher e apurou que se
tratava de Bate-Seba, filha de Eliã e esposa de Urias.

Aqui é importante destacar um detalhe fundamental que


muitas vezes escapa: a mulher que Davi vira a se banhar
no terraço não era uma estranha. Davi já conhecia Bate-
Seba. Tanto Eliã, o pai da moça, quanto Urias, o esposo,
faziam parte do seleto grupo chamado de “os valentes de
Davi”; guerreiros que compunham aquilo que poderíamos
chamar hoje de “tropa de Elite” do rei. Como se isto não
bastasse, o avô de Bate-Seba, um homem chamado
Aitofel, era o conselheiro político mais influente do reino e
será figura importante no sofrimento futuro do rei por
causa do seu pecado.

Nas inúmeras ocasiões sociais, festas, cultos, cerimônias,


onde estes quatro homens estiveram juntos, Bate-Seba
também estivera, na qualidade de esposa, filha e neta de
homens próximos do rei. É provável que naquelas
ocasiões sociais nada despertasse o desejo de Davi por
ela. Talvez a seus olhos ela não passasse de mais uma
das esposas de seus comandados além de ser filha e
neta de amigos diletos. Mas naquela tarde, ali, longe da
guerra, ocioso ou talvez entediado, Davi a viu com outros
olhos.

A princípio, devido à distância, ele não percebeu de quem


se tratava, por isso pediu mais informações sobre a
formosa mulher banhando-se. Seu servo diligentemente
tentou avisá-lo que se tratava da “filha de Eliã, esposa de
Urias”, mas esta informação que deveria arrefecer seus

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ímpetos, ao contrário, funcionou como uma bomba no seu
coração vulnerável e aberto para as astutas ciladas do
seu mais terrível inimigo.

Bate-Seba não resistiu ao convite real e deitou-se com o


rei. Depois disso ambos tentaram manter a aparência,
tentaram manter o pecado em secreto. O esposo, o pai e
o avô, provavelmente envolvidos na guerra que o rei
também deveria estar participando, não tinham como
desconfiar da traição tripla que se urdia pelas suas
costas. Traição praticada pelo “homem segundo o
coração de Deus”.

O diabo estava executando o seu plano de destruição. A


primeira etapa foi vencida com facilidade: convencer Davi
a não ir à guerra. Uma vez tendo conseguido tirar Davi do
seu foco nas batalhas de Deus, começou então a
segunda etapa deste projeto que também alcançou êxito:
sincronizar com precisão os eventos para que o rei
acordasse e fosse levado ao terraço no momento exato
do banho e da nudez de Bate-Seba. A estratégia satânica
da astúcia e da cilada (Efésios 6:11) foi executada à
perfeição. Davi caiu na cilada como um passarinho em
uma arapuca. Mas o plano ainda não havia alcançado
plenamente os seus objetivos. O pecado de Davi apenas
abriu a brecha para o ataque maciço que viria através das
hostes espirituais da maldade.

2 – O Laço se Aperta

Note que, no texto bíblico, o autor sagrado faz questão de


destacar que o dia em que Davi viu Bate-Seba nua foi

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justamente aquele em que ela estava banhando-se para
sua purificação após o período menstrual. Ou seja, ela
não estava grávida e, melhor ainda para os planos de
satanás: ela estava em seu período fértil! Conforme o
plano de satanás, Bate-Seba engravidou. Não demorou e
a bomba explodiu aos ouvidos do rei.

E foi aí, exatamente aí, que começou uma das mais


tristes sagas de um homem de Deus que se deixou
enredar pelo pecado. Ao invés de buscar reparação
diante de Deus Davi tentou de todas as maneiras
esconder seu erro. Não importa qual o grau de santidade
e intimidade com Deus que uma pessoa possa ter.
Homens e mulheres de Deus quando perdem o foco, e
caem nas ciladas de satanás, podem fazer coisas
abomináveis, e foi isto que aconteceu com Davi.

Ao saber da gravidez de Bate-Seba seu primeiro


pensamento não foi o arrependimento nem a reparação,
mas em como acobertar o erro. Afinal, eram três amigos
próximos que estavam sendo traídos. Homens que
lutavam por Davi, que confiavam cegamente nele. Para
Davi, sua reputação, seu orgulho e o medo das
consequências falaram mais alto.

3 – Um Abismo Chamando Outro

Veio do coração de Davi, a esta altura prisioneiro de


satanás, a primeira e mais simples tentativa de golpe para
se livrar da vergonha de ter o seu pecado descoberto:

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Ele mandou chamar Urias, que estava no meio da guerra,
alegando querer saber sobre como as coisas iam. Ao
chegar, o soldado passou o relatório ao rei e Davi
ordenou que Urias dormisse em casa com sua mulher.
Pensando em proporcionar uma noite agradável ao pobre
soldado, Davi chegou ao requinte de mandar-lhe iguarias
de presente para serem desfrutadas por Urias e sua
esposa adúltera. Assim, pensava, quando a criança
nascesse Urias acharia que o filho havia sido gerado
nesta noite e assumiria como seu o filho fruto do adultério.

Só que Davi não contava com um detalhe: Urias era um


homem leal. Ao invés de passar a noite em casa, ele
preferiu dormir à porta do palácio, junto com os serviçais.
Ao ser interrogado pelo rei Urias respondeu-lhe: “Não
posso ficar em casa com minha esposa sabendo que o
povo de Deus está agora em luta habitando em tendas e
a Arca da Aliança está no campo de batalha”. (2 Samuel
11:11)

Cumpriu-se na vida de Davi aquilo que está escrito no


Salmo 42:7, um abismo foi chamando outro abismo.
Perdido em sua primeira tentativa Davi não desistiu, o
objetivo continuava o mesmo: fazer Urias dormir com a
esposa para que ele assumisse o filho ilegítimo como se
fosse seu. Era necessário, no entanto, dobrar o coração
forte e dedicado daquele homem. E, quando se fala em
dobrar corações para o pecado, poucas coisas são tão
sedutoras quanto o álcool.

Davi convidou Urias a passar outra noite com o rei, só


que desta vez não mais para relatórios e sim para uma

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comemoração. Sem ter como recusar o gentil convite do
seu senhor, Urias bebeu junto com o rei até que Davi
julgou que o valente já estava suficientemente
desnorteado e, sem saber direito o que estava fazendo,
terminaria caindo no leito da esposa. Só que desnorteado
nesta história estava o crente que não foi à guerra.
Mesmo “trocando as pernas” Urias não trocou as
convicções. Continuou dormindo junto com os demais
conservos. Longe de sua cama, de sua esposa e,
principalmente, longe de abrir mão de seus princípios.

4 – Quando se Perde o Temor de Deus

Àquela altura dos acontecimentos, o temor de Deus era


menos que uma sombra no coração de Davi. O seu medo
era pelo reino que poderia perder, pela aparência de
homem digno que iria para o lixo. O seu medo era perder
a sua reputação, sua liderança e o respeito do povo. E
Deus? Ora, com Deus depois se consertam as coisas.
Afinal, Ele é cheio de misericórdia! O importante é
resolver primeiro este problema, depois se restaura o
altar...

Provavelmente era assim que Davi pensava e este tem


sido um dos maiores equívocos no meio do povo de
Deus: Achar que há saída das arapucas do diabo sem
que estas saídas sejam conforme a Palavra, conforme a
verdade e a reta justiça. Achar que dá para esconder,
camuflar, contornar, enganar, omitir. Mas, pelo contrário,
este é o caminho mais curto para a derrota espiritual.

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5 – O Plano de Morte

O tempo urgia. Urias se mostrava incorruptível, breve já


não se poderia mais esconder a gravidez. Eram
necessárias medidas drásticas para ocultar a vergonha
real pelo seu pecado. E estas medidas extremas foram
tomadas de forma ainda mais desleal, fria, egoísta e
maldosa. Ele escreveu uma carta e lacrou-a com o selo
real. O selo real era colocado nos documentos do mais
alto valor e significava que aquele documento específico
só poderia ser aberto pelo destinatário nominado. Neste
caso, o selo real tinha um propósito maligno. Esta carta
era para ser entregue ao principal comandante do
exército do rei, um homem sanguinário, mas leal,
chamado Joabe. Nesta carta a ordem era simples: ir ao
campo de batalha atacar o inimigo onde este estivesse
mais forte e no meio da luta abandonar o bravo Urias
sozinho para ser trucidado.

Para levar esta carta até Joabe, Davi escolheu um


homem de sua total confiança, um homem leal,
incorruptível e que ele tinha certeza que jamais abriria a
correspondência antes de entregá-la ao seu destino. E
que homem unia estas qualidades de maneira tão
extremada senão o Urias? Ele foi escolhido pelo rei para
levar a própria sentença de morte.

Eu imagino o cuidado com que Urias guardou esta carta,


deve tê-la colocada no local mais seguro que possuía em
sua bagagem. Talvez a tenha escondido junto ao próprio
corpo para que pudesse protegê-la com a vida se
necessário fosse. Imagino-o indo com a máxima urgência

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para o destino tendo o mesmo espírito leal e cheio de
princípios que nortearam sua conduta no palácio real,
sem imaginar que estava carregando o plano que o
levaria à morte, escrito pelo homem a quem ele dedicou
sua honra e sua lealdade.

Conforme o rei ordenou, assim aconteceu. Urias foi morto


no campo de batalha, deixando a esposa viúva que logo
foi consolada pelo rei que a tomou como sua mulher. Já
não havia mais o risco da vergonha. A gravidez poderia
parecer estranha para alguns, mas o tempo, sempre ele,
iria varrer tudo ao esquecimento.

6 – “Mas o que Davi fez não agradou ao Senhor”

Apesar de Davi ter conseguido esconder o seu pecado


dos homens, no mundo espiritual estas coisas não
passaram despercebidas. E é lá, na dimensão espiritual,
que aquilo que fazemos ecoa na eternidade.

A situação parecia sob controle quando Deus enviou o


profeta Natã para falar ao rei. Davi estava com a
consciência tão cauterizada que nada mais parecia o
incomodar. Provavelmente sua preocupação estava mais
voltada para cuidar da nova esposa grávida. Apesar do
abismo fundo e negro que ele cavou, talvez ele até
achasse que já havia restaurado seu relacionamento com
Deus. Infelizmente há muito de autoengano nos cultos
que supostamente prestamos a Deus quando estamos
escravizados pelo pecado.

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Natã usou a hipocrisia de Davi como arma para tirar-lhe a
máscara. Contou a história de certo homem que possuía
uma única ovelha a quem dedicava tal cuidado que ela
até mesmo comia junto com a família e dormia no colo do
seu dono. Do outro lado da história contada pelo profeta
estava um fazendeiro milionário que tendo inúmeras
ovelhas preferiu roubar e matar a ovelha do outro para
servi-la como refeição a um hóspede convidado. O
profeta Natã pediu ao rei um veredicto sobre esta
situação e Davi não titubeou. Indignado e movido por um
senso de justiça totalmente cego, pois só via o mal nos
outros e não enxergava o mal em si mesmo, Davi se
propôs a fazer justiça: aquele malvado fazendeiro merecia
a morte! Iria restituir em quádruplo o mal que fizera. Ao
ouvir a sentença do rei, o profeta revelou a verdadeira
identidade do perverso homem e que a história que
estava sendo julgada não tratava de ovelhas e
fazendeiros, mas de um homem poderoso tomado por
desejos insanos que se apropriara de uma mulher casada
para seu deleite. Este homem maligno era o próprio Davi.

O rei viu que o mal que causara não passara


despercebido ao Senhor. Uma sentença foi realmente
proferida, desta vez pelo Justo Juiz, não havia como
impedir que Davi colhesse em sua pele as consequências
do seu pecado: a espada não se afastaria mais de sua
casa. Começa a derrocada. A porta da legalidade para a
destruição de sua família foi aberta, a vergonha veio a
público, o fluxo das bênçãos de Deus foi interrompido.
Natã enumerou o Senhor já havia dado a Davi e revelou
que o projeto de Deus era dar-lhe no mínimo o dobro de
tudo que já tinha conquistado. O seu pecado interrompeu

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os projetos ainda mais grandiosos que Deus lhe tinha
reservado (2 Samuel 12:7-12).

A vida de Davi entrou em queda livre. O filho, fruto do


adultério, morreu logo ao nascer, mas este foi apenas o
princípio das dores, o pior ainda estava por vir.

7 – A Família Destruída

Amnom, filho do rei, estuprou a própria irmã, Tamar, e a


expulsou de sua casa deixando-a vagando pela rua como
louca. Revoltado com a omissão do pai, que já não tinha
autoridade espiritual sobre sua família, Absalão, outro
irmão de Tamar, arquitetou a morte de Amnom, usando
um ardil que lembra muito a mesma malícia usada pelo
pai para matar o inocente Urias. A ira de Absalão não se
aplacou com o assassinato do irmão. Se algum dia
houvera respeito a seu pai, este dia já não existia mais.
Ele queria derrubar o rei omisso e para isto organizou
uma rebelião. Perseguido pelo próprio filho Davi fugiu
deixando as suas concubinas no palácio.

Ao entrar no palácio real, Absalão recebeu um conselho


de Aitofel. Lembra-se dele? O avô de Bate-Seba!

Provavelmente revoltado pela traição e vergonha a que foi


exposto pelo rei, Aitofel se aliou a Absalão em sua revolta
e aconselhou-o a estuprar as concubinas do pai, uma por
uma, a luz do dia, à frente de todos. O revoltoso filho
seguiu o conselho, cumprindo o que havia sido dito pela
boca do profeta: “Assim diz o SENHOR: Eis que da tua
própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas

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mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo,
o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol.
Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto
perante todo o Israel e perante o sol” (2 Samuel 12:11-
12).

A destruição e a maldição trazida por Davi continuou a


fazer vítimas: pouco depois de induzir o filho do rei à
perversão, Aitofel suicidou-se amargurado. Absalão foi
morto covardemente pelo mesmo Joabe que participou do
plano real para a morte de Urias. Davi experimentou do
próprio veneno: o mesmo homem que ele usou para
ocultar o seu pecado também foi instrumento maligno
para lhe tirar o filho amado. Ele pranteou a morte de
Absalão, sentindo em si a angustia de todo pai que
enterra um filho: “... Quem me dera que eu morrera por
ti, meu filho...” (2 Samuel 18:33).

Dois filhos mortos, sendo um assassinado pelo próprio


irmão, uma filha estuprada de forma incestuosa, uma
tentativa de derrubá-lo planejada dentro de sua própria
casa, pelo seu próprio filho. Mas apesar de tantas
tragédias, o fluxo de maldições ainda não havia acabado.

A família estava irremediavelmente perdida e dividida e


assim se manteve. Para estabelecer o seu reino Salomão
mandou matar Adonias, mais um assassinato entre
irmãos. Joabe, o homem escolhido por Davi para executar
o plano que resultou na morte de Urias e que matou
também a Absalão, foi morto a mando de Salomão
quando estava no templo em busca de refúgio. Uma
geração depois, o reino foi dividido e nunca mais Israel

- 25 -
voltou a se reunir por completo em torno da casa de Davi.
Das doze tribos que Davi recebeu do Senhor restaram
apenas duas.

8 – Não dê Trégua ao diabo

Esta triste história começou quando Davi não foi à guerra.


Desatento das batalhas, especialmente das batalhas
espirituais, o rei foi presa fácil. Na nossa luta contra as
forças do mal, que tentam de todas as formas fazer
perecer aqueles a quem Deus ama, não há tréguas
possíveis. No dicionário do diabo não existe a palavra
“misericórdia”. Em todo tempo ele estará lançando suas
ciladas para lhe enlaçar.

De nada adianta se omitir, de nada adianta tentar levar as


coisas no “banho Maria”, tentar ser um crente que não
incomoda o diabo ou fazer de sua igreja um clube social
ao qual se visita de vez em quando. De nada vale
qualquer tentativa de se fazer despercebido pelo diabo.
Onde você estiver sempre estará brilhando a luz do
Evangelho e esta luz, por mais que você tente escondê-
la, sempre dissipará as trevas e incomodará o reino do
mal que habita nestas trevas. Por isso satanás sempre vai
odiar você e sempre estará buscando formas de lhe
destruir. Omitir-se, tentar esconder-se, só irá servir para
lhe tornar vulnerável.

Não fique fora da batalha. O seu Deus é o Senhor dos


Exércitos.

- 26 -
Capítulo II
Não é Contra
Carne e Sangue
Durante a invasão americana ao Iraque as televisões do
mundo inteiro mostraram uma cena incomum. Tratava-se
das imagens de um avião de combate que abriu fogo
contra um comboio que seguia ao norte do país invadido.
O inusitado veio depois, imaginando que havia
bombardeado um grupo iraquiano o piloto americano
havia, na verdade, atacado um comboio aliado, matando
pelo menos dez pessoas.

Embora pouco comuns episódios semelhantes não são


tão raros. Em uma batalha sempre há o risco de soldados
atacarem seus próprios aliados, seja por precipitação ou
por não discernir qual é o inimigo. Este tipo de
acontecimento é chamado “Fogo amigo”. Conta-se que
durante a segunda guerra mundial, muitos pracinhas
brasileiros foram abatidos pelo fogo amigo por possuírem
uniformes semelhantes aos usados pelos alemães.

Na Bíblia também há episódios de fogo amigo. Um deles


aconteceu com Gideão que acompanhado de apenas
trezentos valentes seguiu a estratégia dada por Deus e o
Senhor tornou as espadas dos seus inimigos uma contra
a outra, dando-lhe a vitória (Juízes 7). Jônatas também foi
usado por Deus para fazer com que os filisteus se
levantassem um contra o outro (1 Samuel 14:1-20). Outra

- 27 -
passagem onde os inimigos de Deus se levantaram um
contra o outro está descrito no capítulo vinte do segundo
livro de Crônicas quando o rei Jeosafá recebeu do Senhor
a vitória contra os moabitas e amonitas (2 Crônicas 20:1-
24).

1 – O “Fogo Amigo” nas Batalhas Espirituais

Embora relativamente incomum entre os militares deste


mundo, o fogo amigo é rotineiro em nossas batalhas
espirituais. Gostaríamos que acontecesse no nosso meio
o que aconteceu com Gideão, Jônatas ou Jeosafá, onde
os inimigos do povo de Deus se levantaram um contra o
outro, mas, infelizmente, este episódio acontece com
triste freqüência entre os guerreiros do Senhor.
Normalmente o que vemos é marido se levantando contra
esposa, filhos contra seus pais, irmãos uns contra os
outros, pastores se digladiando, igrejas se trucidando. O
fogo amigo é uma das principais causas de derrota na
nossa batalha espiritual. O aumento exponencial dos
divórcios, divisões, mágoas e ressentimentos entre nós é
a evidência mais clara do quanto temos nos confundido
ao tentar identificar quem é o nosso verdadeiro inimigo.

O apóstolo Paulo sabia claramente quem são os inimigos


contra os quais devemos lutar. Em sua epístola aos
efésios, ele nos alerta que “nossa luta não é contra
sangue e carne” (Efésios 6:12). A realidade espiritual da
batalha em que estamos envolvidos é subjacente à
realidade física, mas é tão concreta quanto. Para Paulo a
vida do crente está sempre envolvida em batalhas nas
esferas celestiais e por isso em boa parte de suas

- 28 -
epístolas ele evocava analogias e simbologias retiradas
das batalhas entre as nações do seu tempo. Referências
a armamentos e a rotinas militares são numerosas em
suas cartas.

O apóstolo Pedro diz que “o diabo, vosso adversário,


anda em derredor, bramando como leão, buscando a
quem possa tragar” (1 Pedro 5:8). No Salmo 34:7, temos
a outra face da moeda, pois esta passagem afirma que:
“o anjo do Senhor acampa-se ao redor daquele que o
teme e o livra”. Assim, podemos dizer que neste
momento há uma batalha sendo travada entre o diabo ao
derredor e o anjo do Senhor acampado ao nosso redor.
Esta luta é pela sua vida. Neste momento em que você
está me lendo há seres espirituais a postos para a peleja
e até mesmo esta leitura pode estar sendo alvo desta
batalha.

A sua batalha não é contra a sua esposa, nem contra seu


filho, ou seu patrão, seu pastor, sua família, nem contra
seus irmãos em Cristo. Saber contra quem devemos lutar
é lição básica para a vitória. Quando não tomamos
conhecimento desta verdade passamos a agir como o
soldado americano do início deste capítulo.

Em meu trabalho como conselheiro de casais fico


extremamente triste ao ver o quanto que o fogo amigo
tem destruído lares. Quantas famílias desfeitas, quantos
filhos sofrendo com a separação dos pais, quantas
pessoas esfriando em sua fé, quantas igrejas
enfraquecidas, quantos meninos e meninas que poderiam
abençoar a Igreja do Senhor se afastando

- 29 -
decepcionados, magoados e feridos. No casamento o
“fogo amigo” se torna ainda mais mortal.

Creio que se fosse dado a satanás escolher somente uma


área para atacar, ele não teria dúvidas em atacar e
destruir os casamentos. Um casamento desfeito abala a
fé e o testemunho dos cônjuges, além de quebrar a
confiança dos filhos em seus pais e, por consequência,
abalar também a sua confiança em Deus. Crianças
vítimas de casamentos desfeitos têm mais possibilidade
de se envolverem com drogas, alcoolismo, violência e
criminalidade; apresentam maior tendência a
desenvolverem problemas emocionais e se tornarem mais
egoístas afetando também os seus futuros
relacionamentos que tendem a repetir os erros de seus
pais. Atacando e destruindo um casamento,
especialmente um casamento entre cristãos, o diabo
consegue destruir muito mais do que um relacionamento.

2 – O que acontece quando eu luto contra carne e


sangue?

Quando não agimos conforme as Escrituras e passamos


a lutar contra carne e sangue, nos tornamos vulneráveis.
Sem discernir quem é o inimigo, as armas espirituais
passam a não atingir seu propósito e somos levados cada
vez mais a abrir mão do arsenal de Deus e a lutar usando
as armas carnais. Este é um equívoco gravíssimo!

Quando o crente perde de vista o seu verdadeiro inimigo


ele começa a agir conforme a carne e a fazer uso de

- 30 -
estratégias e obras da carne: inimizades, brigas,
ciumeiras, acessos de raiva, ambição egoísta, desunião,
divisões e invejas (Gálatas 5:19-21) e “o que semeia na
sua carne, da carne ceifará a corrupção” (Gálatas 6:8).

Usar as armas do inimigo é pedir para ser derrotado!

3 – Há possibilidade de vitória usando armas carnais?

Por mais que você imagine saber usar as armas carnais,


a verdade é que sempre estará em desvantagem, pois o
seu inimigo já usava estas mesmas armas antes mesmo
de o homem sequer imaginar comer do fruto proibido. Ele
milita com estas armas há muito mais tempo que você e
conhece cada detalhe e todos os segredos deste tipo de
duelo. É como um pugilista amador subir ao ringue para
enfrentar um campeão dos pesos pesados ou um
enxadrista de fim de semana se arvorar a derrotar um
mestre mundial.

Como o diabo sabe que é ele quem domina estas armas,


ele age como um pugilista ou enxadrista quando nota que
tem à sua frente um despreparado: ele dá campo, deixa o
amador se empolgar achando que tem chance e depois
dá o golpe fatal, o xeque-mate espiritual. Talvez você
tenha usado as armas carnais e tenha tido a ilusão de ter
obtido vitória. Talvez você tenha se deixado levar pela ira,
brigas, inimizades, rebeldia e sentimentos egoístas e teve
a ilusão que as coisas ficaram melhores, mas sinto lhe
dizer: é apenas ilusão mesmo, o terreno para a sua
derrota está apenas sendo preparado.

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Não há como usar armas carnais nas batalhas espirituais
e sair vencedor!

Quando usamos as armas carnais não estamos


combatendo quem deveríamos. Perdemos a consciência
de quem é o nosso inimigo e não é raro atingirmos
nossos aliados e machucarmos pessoas queridas. É por
isso que Paulo alerta os gálatas para terem o cuidado de
não militarem segundo a carne que fatalmente os levaria
a morder e devorar uns aos outros, destruindo-se
mutuamente (Gálatas 5:15).

As armas carnais atacam seres humanos, nunca seres


espirituais. Quando nos levantamos para militar segundo
a carne estamos apenas destruindo pessoas e
relacionamentos, enquanto satanás e seus demônios
assistem a tudo alegremente.

4 – Como devo agir então?

Para vencermos nossas batalhas espirituais precisamos


assimilar que a nossa luta jamais será contra sangue e
carne, será sempre “contra principados e potestades,
contra os dominadores deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais do mal, nas regiões
celestiais” (Efésios 6:12).

Se a nossa batalha é espiritual devemos usar armas


espirituais, pois o diabo não tem poder contra as armas
de Deus. Usando as armas espirituais estaremos nos
filiando ao lado vencedor, estaremos juntando forças com
o exército de Deus “porque, andando na carne, não

- 32 -
militamos segundo a carne. Pois as armas da nossa
milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus
para destruição das fortalezas” (2 Coríntios 10:3-4).

O diabo tentará sempre lhe convencer de que seus


inimigos, aqueles que lhe atrapalham a felicidade e lhe
tiram a vitória, são pessoas de sangue e carne. Enquanto
você luta com a força do seu braço contra o inimigo
imaginário que seus olhos naturais veem, o seu
verdadeiro inimigo terá campo livre para matar, roubar e
destruir. Se você deseja vitória na sua batalha espiritual,
está na hora de depor suas armas carnais.

Talvez até hoje você tenha militado usando seu


entendimento, sua sagacidade, força, intelecto ou
argumentos, mas por mais que você se esforce jamais
poderá vencer o inimigo se não depositar sua confiança
totalmente no Senhor, mortificando a carne e entendendo
quem é o seu grande e verdadeiro inimigo. Agora é hora
de abrir mão das armas carnais e começar um novo
caminho.

- 33 -
Capítulo III
Conhecendo
O Inimigo
Conhecer o inimigo é fator primordial para obtermos a
vitória em nossa peleja. Todo exército antes de entrar em
uma batalha busca informações sobre seu inimigo para
que tenha a dimensão exata da luta que travará e não
incorra no erro de supervalorizar ou de desprezar o
inimigo.

Quando o povo de Israel saiu do Egito e se aproximou da


terra prometida Moisés separou doze homens, um de
cada tribo, para que fossem à terra que o Senhor
prometera, observassem e conhecessem quem eram os
inimigos e qual o poder que tinham (Números 13:1-19).
Infelizmente estes espiões, à exceção de Josué e Calebe,
não confiaram em seu Deus e se deixaram dominar pelo
medo. Cerca de quarenta anos depois, Josué enviou
outros dois espiões (Josué 2:1) que, além de obterem
informações sobre o inimigo, livraram da morte a
prostituta Raabe, da qual o Senhor de nossas vidas
descendeu, segundo a carne.

Não é diferente no reino espiritual, Paulo nos dá o


exemplo de que não devemos ignorar as maquinações de
satanás (2 Coríntios 2:10-11). Portanto, vamos conhecer
um pouco mais quem é o nosso inimigo.

- 34 -
1 – Conhecendo a História

No livro do profeta Ezequiel no capítulo vinte e oito,


versos doze a dezenove, vemos uma passagem
extremamente curiosa. Neste trecho do livro, o profeta
Ezequiel é chamado por Deus para profetizar contra um
ser denominado “rei de Tiro”. No entanto, ao descrever o
personagem, vemos que as características dele não
coincidem com as de um ser humano. Ali é dito que o “rei
de Tiro” era um ser cheio de formosura que estava no
Jardim do Éden coberto de pedras preciosas. A profecia o
identificava como um ser que pertencia à classe angelical
dos querubins, que exercia a missão específica de
guardar e proteger e vivia no monte santo do Senhor.

Este ser era perfeito em seu caminho, até que um dia, por
conta de seu poder e formosura, seu coração se
corrompeu. O texto não dá explicações mais detalhadas
sobre este processo de corrupção, mas nos dá muitas
pistas sobre quem é este ser.

Segundo boa parte dos teólogos, este texto do profeta


Ezequiel é uma profecia de dupla aplicação que fala não
só do homem identificado como “rei de Tiro”, mas,
também, do ser espiritual que agia através deste homem.
Este querubim da guarda que estava no jardim do Éden e
se corrompeu é, na verdade, a serpente original que
andava no jardim e induziu o homem à rebelião contra
Deus, o ser a quem chamamos satanás e, em sua
profecia, Ezequiel revela alguns dados importantes sobre
o nosso adversário.

- 35 -
Aprendemos que ele era um ser de enorme poder, posto
que os querubins sejam considerados componentes da
mais alta classe angelical. Para se ter uma ideia da
importância desses seres, a Bíblia nos revela que a
Shekinah, a Glória de Deus, se manifestava entre as
esculturas de dois querubins que estavam colocados
como sobre a Arca da Aliança. E entre os querubins Deus
falava diretamente com Moisés (Números 7:89).

A profecia de Ezequiel nos diz que o “rei de Tiro”,


satanás, era o sinete da perfeição (Ezequiel 28:12), ou
seja, ele era o mais perfeito exemplo da perfeição na
criação de Deus. A Bíblia nos ensina que: “os dons e
vocações de Deus são irrevogáveis” (Romanos 11:29),
ou seja, aquilo que Deus dá Ele não toma. Deste modo,
apesar de sua rebeldia, satanás ainda preserva seu
poder. Prova disso é que no livro de Apocalipse, um
dragão, identificado como sendo satanás, levou consigo
um terço das estrelas dos céus (Apocalipse 12:4). Na
simbologia adotada pelo apóstolo João as estrelas
representam os anjos. Portanto, o dragão-satanás
seduziu e levou consigo um de cada três anjos para sua
rebelião. Em uma das tentações lançadas contra Jesus,
satanás mostra os reinos da terra e sua glória e apresenta
todas estas coisas como estando debaixo de sua
autoridade (Mateus 4:8-9). João nos revela que o mundo
jaz, está debaixo do poder, do maligno (1 João 5:19) e ele
é apresentado como o deus deste século, conforme 2
Coríntios 4:4. Estas passagens nos dão, com bastante
clareza, a ideia do poder que este ser agrega.

- 36 -
Com os anjos caídos que o seguiram, satanás organizou
um reino espiritual. No capítulo seis de sua carta aos
efésios, Paulo nos fala que o reino das trevas está
organizado e é composto por governos, autoridades,
poderes e hostes espirituais que dominam o lado
tenebroso deste mundo nas regiões celestiais. Fazendo
uma analogia com o mundo físico, poderíamos dizer que
os governos seriam equivalentes aos presidentes; as
autoridades equivaleriam aos governadores; os poderes
estariam no patamar dos prefeitos e as hostes espirituais,
seriam as forças armadas do mal. Com esta organização
e com este enorme número de seguidores, satanás luta
para matar, roubar e destruir cada ser humano nesta
terra.

2 – A Estratégia do Reino das Trevas

A estratégia de satanás se finca em dois pilares: a astúcia


e a cilada (Efésios 6:11).

O diabo age com esperteza. Ele não tem pressa, espera o


melhor momento, sonda os pontos fracos, estuda as
vulnerabilidades. Como um caçador de pássaros, ele
arma a sua arapuca, colocando dentro dela aquilo que
apetece o paladar da vítima. Se a pessoa a ser fisgada é
vulnerável na área sexual, ali estará um homem ou uma
mulher lhe assediando; se for o temperamento, pode ter
certeza que oportunidades não faltarão para explodir; se é
o orgulho, mesmo espiritual, ele estará lá para encher o
ego. Pode ser dinheiro, poder ou o que for, até mesmo a
Bíblia, tudo pode ser usado por ele para lhe derrubar. Ele

- 37 -
conhece o seu ponto fraco e armará a armadilha
aguardando pacientemente.

Satanás prepara o plano, arma a cilada, mas ele não


força você a pecar. Esta é uma lição que todos nós temos
que ter clara em nossa mente: “cada um é tentado,
quando atraído e enganado pelos seus próprios
desejos. Depois, havendo o desejo concebido, dá à
luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a
morte.” (Tiago 1:14-15).

Na história de Davi, por exemplo, todo o mal plantado só


alcançou sucesso porque o próprio Davi absteve-se de
buscar em Deus a cura. Foi Davi e não o diabo quem
mandou chamar uma mulher casada e adulterou com ela;
foi Davi e não o diabo quem tentou encobrir sua malícia e
seu pecado; foi Davi e não o diabo quem arquitetou o
plano de morte. Há um ditado que diz que não podemos
evitar que as aves voem sobre nossos ombros, mas
podemos evitar que elas façam ninho em nossa cabeça.
A mesma coisa vale para a nossa relação com a tentação
e o pecado. Não há como evitar sermos tentados, mas o
pecado só fará ninho em nosso coração se nós
permitirmos.

O diabo está em todo tempo estudando. Como leão


rugindo em derredor, ele busca informações, percebe
fraquezas: um olhar, um gesto, um comportamento, uma
palavra que denuncie o ponto fraco de cada pessoa. Era
claro que os demônios conheciam a falta de limites que
Davi tinha em relação às mulheres e estavam apenas
esperando o momento certo para que esta fraqueza

- 38 -
pudesse ser usada em seu favor. O diabo também está
vigiando você. Qual tem sido o ponto fraco de sua vida
espiritual que você está negligenciando? Pode ser na
área sexual como Davi, ou no temperamento, na ira, na
indolência, na autoindulgência, na ambição, na vaidade,
na autopiedade... Seja qual for este ponto fraco, se você
negligenciar e não buscar na cruz a cura, ele poderá ser
usado contra você.

O diabo nunca vai lhe oferecer aquilo que não for


desejado por você e é assim, sendo atraído e enganado
pelos seus próprios desejos, como passarinhos que não
veem o laço armado a seu redor, as vítimas do mal são
tragadas.

3 – Os Campos de Batalha

Na batalha espiritual não há campo neutro, não há a


mesma divisão que há no mundo físico onde temos os
civis que não participam da guerra e os militares, que se
envolvem ativamente. Davi não foi à guerra, mas a guerra
se levantou contra ele. No mundo espiritual todos estão
no campo de batalha mesmo quando imaginam não estar.
No entanto, existem campos de batalha nos quais o
inimigo age de maneira mais ativa e determinada.
Biblicamente podemos afirmar que as forças espirituais
da maldade atuam em três dimensões:

A primeira é a dimensão individual: ele ataca cada


pessoa, especialmente os cristãos (1 Pedro 5:8). Cada
mente é um campo de batalha. Cada cristão é assediado
pelo mal, para induzi-lo ao pecado e à perda de

- 39 -
comunhão com Deus. Sua mente é bombardeada pelas
hostes do inimigo com pensamentos, insinuações e
sugestões com o objetivo de lhe paralisar na obra de
Deus e fazer com que você seja um soldado fora da
batalha, vencido e dominado pelo mal.

A segunda dimensão de ataque é a familia. O propósito


de satanás é destruir sua família, levar seu casamento ao
fim, levar seus filhos à rebelião, gerar relacionamentos
adoecidos, fomentar dissensão, descaso, desamor. À
medida que ele vai vigiando sua casa, ele aprende os
pontos fracos onde pode atacar. Para se ter uma ideia de
como este é um dos campos de batalha mais duros, basta
lembrar que homens de Deus e heróis da fé como
Abraão, Isaque, Jacó, José, Samuel e Davi, só para citar
os principais, tiveram sérios problemas familiares.

A terceira dimensão de ataque é geográfica. Como vimos


na profecia revelada no livro de Ezequiel, havia um ser
espiritual chamado de “o rei de Tiro”. No livro do profeta
Daniel há a passagem de uma luta que acontece entre o
anjo que lhe trazia a resposta de Deus e um ser espiritual
chamado de “príncipe do reino da Pérsia”. Os títulos de
“rei” e “príncipe” certamente não foram dados por acaso a
esses seres espirituais. Estas entidades malignas
controlavam o lado tenebroso das regiões citadas. Se
prestarmos atenção à realidade, veremos que existem
territórios geográficos onde o evangelho tem dificuldades
para ser pregado ou onde determinado tipo de pecado é
quase endêmico. São áreas onde potestades se
organizam e aprisionam a população local mantendo
certos comportamentos, que muitas vezes se travestem

- 40 -
como tradição cultural, mas que são instrumentos para
paralisar o evangelho e seduzir-nos às práticas que
desagradam a Deus.

Embora existam áreas geográficas onde seu domínio seja


mais intenso e visível, a verdade é que satanás controla
muito mais que isto. Os meios de comunicação, o jogo de
poder e toda a parafernália que define a cultura e valores
humanos estão debaixo de sua influência direta. Não é
por acaso que jornais, revistas, TVs, cinema e a imensa
maioria das manifestações culturais, propagam cada vez
mais intensamente os valores de uma sociedade cada
vez mais distante de Deus.

4 – Não Tenha Medo

Escrevo estas coisas não para que você tenha medo,


mas para que tenha consciência sobre contra quem você
está lutando. Muitos são os que subestimam o diabo e, se
há uma coisa que satanás busca, é não ser percebido.
Ele é mestre na arte da camuflagem, pois quanto menos
nos apercebermos dele mais facilmente ele poderá nos
atacar.

Muitos estão cativos pelo inimigo e não percebem.


Pensam que estão livres da batalha quando na verdade
estão em prisões espirituais. Estando debaixo da
opressão do inimigo, passam a receber do capeta a
porção diária de ração. O pior é que muitos prisioneiros
nas grades do engano recebem as bolotas fornecidas
pelo diabo e ainda se iludem achando que estão
recebendo o melhor de Deus em sua vida. Estas pessoas

- 41 -
são como sementes semeadas em meio aos espinhos
que, tomadas pelos cuidados desta vida e a fascinação
das riquezas se tornam infrutíferas para o reino (Mateus
13:22). Esta é uma das astutas ciladas do inimigo:
escravizar, paralisar e fazer você achar que está tudo
bem. Isto é obra do engano. Não há como agradar a
Deus mantendo uma vida acomodada e infrutífera. Quem
pensa que Deus se agrada do ócio, só está enganando a
si mesmo. Saia desta prisão espiritual e venha para a
vitória!

Em suas batalhas espirituais a vitória sempre estará em


suas mãos. Sua posição em Cristo é que lhe dá a
garantia vitória. Para o inimigo restará sempre e tão
somente armar as ciladas, preparar as arapucas e
esperar pacientemente. Se você permanecer atento,
mantendo comunhão com Deus, buscando uma vida de
intimidade com Ele, a vitória já é sua.

- 42 -
Capítulo IV
Fortalecei-vos
No Senhor
“No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e
na força do seu poder.” (Efésios 6:10).

O capítulo seis da carta aos efésios, especialmente no


trecho que vai do versículo dez ao dezoito, é a passagem
bíblica que aborda de maneira mais explícita a Batalha
Espiritual. Paulo expõe de maneira didática quem é o
nosso inimigo, quais as suas estratégias e quais as armas
e estratégias que Deus coloca a serviço do crente para
obter a vitória. Nele aprendemos as lições fundamentais
para a vitória em nossas lutas. É sem dúvida um manual
de guerra que todo crente deveria estudar e conhecer
profundamente.

Ao iniciar sua exposição sobre batalha espiritual, a


primeira recomendação de Paulo em suas instruções
acerca da batalha espiritual, expressa no versículo
transcrito acima, é que nós tenhamos consciência de que
a força que dispomos não vem de nós mesmos. Vem
diretamente do Senhor. Ele nos convoca a depender
totalmente de Deus para obtermos força e capacitação do
alto.

O poder de Deus só se manifesta plenamente quando nos


entregamos a Ele. De nada adianta todo o esforço

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despendido se não houver total entrega e dependência a
Ele. A sua chance de vitória está diretamente ligada à sua
capacidade de entrega ao Senhor. Foi entregando-se ao
Senhor que Davi venceu o gigante; foi na entrega
obediente ao Senhor que as muralhas de Jericó
desmoronaram e que o fogo desceu do céu pela oração
do profeta; foi por sua entrega ao Senhor que seus servos
sequer foram chamuscados pela fornalha ardente e que
cegos, surdos, mudos e paralíticos foram curados. A vida
plena só é possível quando a entrega é plena. Muitas
pessoas não entendem esta verdade e é exatamente por
isso que não têm uma vida vitoriosa.

1 – O Novo Nascimento

A entrega começa pelo novo nascimento. Inicia-se no


encontro com Cristo que nos torna novas criaturas e faz
novas todas as coisas (2 Coríntios 5:17); que nos tira das
trevas e nos traz para a luz (1 Pedro 2:9) e nos tira da
escravidão do pecado (Romanos 6:22) para sermos filhos
de Deus (João 1:12).

O novo nascimento não é assumir compromissos com


uma instituição religiosa; nem é a adesão a um corpo de
doutrinas de uma suposta verdade espiritual ou adoção
de uma filosofia de vida. Não é ajustar-se a um conjunto
de regras e mandamentos que determinem seu
comportamento moral, nem é associar-se a um
movimento conduzido pelo medo ou pelo desejo de troca,
de barganha, com Deus. O encontro com Jesus é muito
mais que isto.

- 44 -
Existe uma multidão de pessoas que em sua
peregrinação nunca teve um encontro com Cristo, porque
muitas vezes, também, nunca foi apresentada de maneira
honesta a Ele. Esta triste verdade acontece mesmo em
igrejas que supostamente pregam Jesus. Muitos são os
“crentes” que precisam encontrar a salvação. Pessoas
que frequentam os cultos, trabalham em ministérios,
pregam e até são pastores e líderes de ministérios, sem
jamais terem tido um verdadeiro encontro. São religiosos
que nada possuem de diferente em relação aos demais
seguidores de outras religiões a não ser o nome da
divindade a quem afirmam seguir. Estão tão distantes da
Luz quanto qualquer outra pessoa que nunca conheceu
Jesus. Apenas aderiram a uma ideologia religiosa, seja
por tradição familiar, por medo, por ambição pessoal ou
por simpatia por uma filosofia de vida que lhe parece
atraente.

O encontro verdadeiro com Jesus é inexplicável. É uma


mudança que se impõe de dentro para fora, que muda
visceralmente o nosso pensamento e com ele muda
também nossas atitudes e sentimentos. Aquele que tem
um encontro com Jesus e se entrega a Ele passa a andar
em profundo entendimento de sua indignidade e passa a
depender totalmente da Graça. Quem tem um encontro
com Jesus passa a caminhar em arrependimento. Ele
sabe que a sua salvação não depende de seus atos de
justiça nem de boas obras, mas mesmo assim não se
conforma com suas limitações nem com os seus pecados.
Ele é possuído por um ardente desejo de transformação
que o leva a lutar o máximo que puder para agradar ao
seu Senhor. Aquele que tem um encontro com Jesus é

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um inconformado por natureza, ele não se conforma com
este mundo, mas se transforma a cada dia pela
renovação de sua mente (Romanos 12:2). E nada disto é
imposto de fora, mas é gerado dentro de si, como um
fruto: O fruto do Espírito.

2 – Arrependimento: A Palavra Chave

A palavra grega que traduzimos como “arrependimento”,


no português, vem do grego metanoia que é a junção do
sufixo meta, que significa mudança, transformação, e a
palavra noia, que significa mente. Portanto, em sua
tradução mais literal arrependimento significa “mudança
de mente”. A palavra metanoia nada tem a ver com o
significado que normalmente damos à palavra portuguesa
“arrependimento” que nos remete apenas à tristeza por
algo errado que fizemos. A “mudança de mente” é um
processo que nos leva a reavaliar o nosso passado e
muitas vezes isto pode ser doloroso e provocar tristeza.
Esta tristeza causada pelas consequências dos nossos
atos pode ser usada por Deus para nos levar à mudança
de mente, ao arrependimento (2 Coríntios 7:9-10). Mas
independente de como aconteça, com ou sem tristeza, a
verdade é que se esta reavaliação do nosso passado não
produzir mudança de atitude isto não é arrependimento. A
tristeza que não produz mudança não é arrependimento,
é remorso. Não confunda uma coisa com a outra.

O arrependimento não é apenas um evento circunscrito


ao momento de uma decisão em um culto. O
arrependimento é um processo contínuo que nos
acompanha por toda a vida. Quem diz que teve um

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encontro com Cristo e não se sente desafiado a mudar e
a ser transformado a cada dia, tem de parar para refletir
até que ponto este encontro foi real e até que ponto está
enganando e sendo enganada. Pois a inconformidade e a
busca constante de aperfeiçoamento é marca
fundamental do coração que caminha em
arrependimento.

O encontro com Jesus que nos faz caminhar em


arrependimento é o primeiro e maior passo. Se você
ainda não experimentou este encontro transformador,
convido-o a ter esta experiência.

3 - Como faço para me entregar a Deus?

Se você ainda não se entregou a Cristo, este é o


momento propício. Escolha um lugar a sós, não precisa
de igreja, nem de pastor, aí onde você está agora pode
ser este lugar de entrega. Estando a sós, dobre seus
joelhos se desejar, mas principalmente rasgue seu
coração (Joel 2:13). Faça uma reflexão sobre seus
caminhos e escolhas; sobre sua vida e suas atitudes.

A verdade é que eu e você não sabemos nem podemos


prever absolutamente nada sobre nossas vidas e, perante
o Senhor, a minha e a sua justiça não passam de trapos
(Isaías 64:6). A única bondade que verdadeiramente
agrada a Deus é sermos iguais a Cristo. O que Deus
deseja é que sejamos como Jesus em sua entrega total,
em seu extremo amor e perdão incondicional. Isto é
impossível para mim e você em nossas vidas tão
centradas em nós mesmos.

- 47 -
Todos nós pecamos e juntamente nos desviamos do
Caminho. A Palavra do Senhor nos diz que: “As vossas
iniquidades fazem separação entre vós e o vosso
Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de
vós, para que não vos ouça.” (Isaías 59:2). Não apenas
os pecados que consideramos graves, mas todo pecado
nos separa de Deus que é Santo e Nele não habita
trevas. Nós pecamos em todo tempo, seja por palavras,
por pensamentos, atos ou omissões. Só quando temos
plena consciência de quanto somos maus ante os olhos
de Deus, é que poderemos nos entregar a Ele. Não há
como criaturas imperfeitas como nós, se achegar ao Pai
se não for através de alguém que seja Justo e que, por
sua justiça, interceda por nós. Este alguém é Jesus. Só
Ele cumpriu toda a vontade de Deus e é Ele o único ser
humano que pode se achegar ao Pai por seus próprios
méritos. O seu sacrifício na cruz permitiu que a justiça de
Jesus fosse imputada a você unicamente por sua fé Nele.
Pela Graça, a justiça de Cristo é enxertada em nós
quando estabelecemos com Ele uma aliança que nos faz
nascer de novo, não mais na carne, mas no Espírito.

Neste momento convido você a se render a Jesus, como


uma criança que se entrega ao pai. Coloco abaixo um
modelo de oração de entrega. É apenas um modelo. Se
você sentir o desejo de fazer esta oração, deixe-se
inundar por este desejo, e faça a oração de entrega com
fé:

- 48 -
“Senhor Deus,

Quero agradecer-te pelo Teu amor e por teres cuidado de


mim. Agradeço-te por Tua presença que sempre me
acompanhou. Nos momentos mais difíceis, mesmo
quando eu me sentia desamparado o Senhor era quem
me sustentava. Estou profundamente arrependido dos
meus pecados e por todas as vezes que preferi fazer a
minha vontade e não a Tua. Necessito de Tua presença
em minha vida e, por isso, neste momento entrego
totalmente minha vida a Ti. Perdoa meus pecados e que o
Espírito Santo faça em mim morada, que Jesus seja, a
partir de agora e para sempre, meu único Senhor. Recebe
a minha vida hoje.

Em nome de Jesus.

Amém”

Ao fazer esta oração com fé e sinceridade, você estará


plantando uma semente, pode ser que não sinta nada na
hora, mas à medida que mantiver firme a sua entrega,
você sentirá paz e convicção cada vez maiores. No início,
como toda semente ela estará frágil e você deverá cultivá-
la e cuidar dela. À medida que você for caminhando com
o Senhor, esta semente ficará cada vez mais forte e
crescerá e dará frutos e lhe conduzirá aos caminhos de
vitória que Deus reservou para você.

Dê um tempo. Pare a leitura e faça sua entrega pessoal.


Se você já teve este encontro com Jesus, aproveite este
momento e renove sua entrega, retome o seu caminho de

- 49 -
dependência e confiança Nele. Se renda a Ele e abra
mão de toda a justiça própria, de todos os méritos que
você julga ter.

Não há outro caminho. Agora é seu momento a sós com


Deus. Só retome a leitura depois deste momento de
entrega!

4 - Eu fiz a minha entrega, e agora?

Quando nos entregamos totalmente a Jesus devemos


aprender a depender Dele em todas as coisas e é aí que
nossa fé é verdadeiramente provada. A queda aconteceu
exatamente quando o homem resolveu levar sua vida
independente de Deus e agir conforme seu próprio
entendimento. Assim, todos nós sempre seremos
tentados a andar em rebelião à vontade de Deus, a tomar
as decisões conforme a nossa vontade e não conforme a
vontade Dele. Por isso a nossa entrega sempre será um
ponto de partida ao qual devemos voltar ao longo de
nossa caminhada, a vitória ocorre à medida que nos
alinhamos à vontade de Deus e este realinhamento só
acontece quando tomamos consciência de nossa
impotência e permitimos que Ele assuma o controle.

A caminhada em Cristo nos conduz a esta entrega em


todas as áreas. Seja familiar, profissional ou emocional.
Quando entregamos todas as nossas necessidades ao
Senhor, o nosso coração caminha em descanso: “Não
estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas
petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus
pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de

- 50 -
Deus, que excede todo o entendimento, guardará os
vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo
Jesus” (Filipenses 4:6-7). Mas, normalmente, nós não
entregamos nossas lutas a Jesus, nós “emprestamos”.
Falamos com os lábios, mas nosso coração ainda
permanece ansioso e angustiado. O que fazemos na
verdade é “dar um tempo” para que Deus resolva o
problema. À medida que este tempo se prolonga,
tomamos o problema de volta e começamos a agir
conforme nossa carne. E, mesmo durante o tempo do
“empréstimo”, mantemos o nosso coração aflito e
ansioso.

5 - A minha ansiedade realmente atrapalha?

A nossa ansiedade bloqueia a nossa percepção da


presença de Deus e do Seu agir em nossas vidas. A
ansiedade é a maior evidência de falta de fé.

Imagine um ônibus em que um passageiro ficasse o


tempo todo ao lado do motorista controlando a
velocidade, definindo o itinerário, determinando os
momentos de troca de marchas... Certamente você
pensaria que há algo muito errado com este passageiro e
que seria impossível o motorista exercer a sua função
sendo importunado desta forma. Mas é assim que
fazemos com Deus. Às vezes fazemos ainda pior,
tomamos o volante das mãos Dele e passamos a guiar o
ônibus da nossa vida, sem saber qual caminho seguir e
como dirigi-lo. Não é de admirar que muitos acabem
acidentados e feridos; machucados e machucando outros.

- 51 -
Mesmo conhecendo todos os riscos de confiar em
homens, ainda há os que entram num ônibus e tiram uma
gostosa soneca enquanto esperam o fim da viagem.
Confiamos muito mais no motorista do ônibus que
diariamente pegamos, do qual não sabemos se está
habilitado, se está sóbrio ou se está bem
emocionalmente, do que no Deus que não falha.
Depositamos muito mais confiança em homens do que no
Senhor!

Na carta aos Filipenses 4:6, Paulo recomenda que não


andemos ansiosos. O modo verbal usado nesta
expressão está no imperativo e a voz é ativa. Ou seja, as
escrituras ordenam que você tome a decisão de não
andar ansioso. Não é apenas orar para que Deus tire a
ansiedade do seu coração, mas ativamente você tem que
tomar a decisão de não permitir que ela domine sua vida.

O convite do Evangelho é que lancemos sobre Jesus


todas as nossas ansiedades, repousando na certeza de
que Ele cuida de nós (1 Pedro 5:7). Jesus nos chama
para que sejamos aliviados do cansaço e da opressão da
vida neste mundo caído (Mateus 11:28-30). Não empreste
seus problemas a Deus. Entregue a Ele e quem entrega e
confia, descansa!

“Entrega o teu caminho ao SENHOR; confia nele, e ele


o fará.” (Salmos 37:5).

- 52 -
6 - O que significa estar fortalecido no Senhor?

Ser fortalecido no Senhor é esta entrega absoluta. A


armadura espiritual é chamada de armadura de Deus,
mas a busca é nossa. Ser fortalecido é uma atitude ativa
de quem busca esta força que não há em si mesmo. O
encontro com Jesus nos conduz a manter comunhão com
Ele. Esta comunhão é que Paulo chama de estar “em
Cristo” e esta expressão é usada mais de cento e
sessenta vezes em suas treze epístolas. O cristianismo
não é um conjunto de ritos, preceitos ou cerimônias, é
comunhão com a pessoa divina de Cristo Jesus que vai
nos transformando à sua imagem à medida que
desenvolvemos esta comunhão e intimidade. Portanto,
quando falo em fortalecer-se no poder de Deus, me refiro
ao poder sobrenatural, não humano, que virá através
desta transformação em nossa caminhada Nele. Todos os
preceitos, ordenanças e mandamentos são bons, mas é a
comunhão com Cristo e em Cristo por intermédio do
Espírito Santo que fará com que eu deixe de ser apenas
mais um membro de uma religião e me torne uma nova
criatura, revestido do poder de Deus.

No sexto capítulo da carta de Paulo aos efésios, a palavra


grega traduzida como “ser fortalecido” é dunamis e está
associada à ideia de uma força, um poder, usado para
atingir um fim específico. Vem da mesma raiz da palavra
“dinamite” em português. Esta mesma palavra está
associada aos milagres, maravilhas e proezas
extraordinárias, feitos por Jesus em seu ministério na
terra. A mesma palavra é usada para se referir ao poder
que Pedro usou para curar o homem coxo de nascença

- 53 -
(Atos 3:1-11) e é usada por Jesus ao se referir ao poder
que revestiria seus discípulos quando recebessem o
Espírito Santo no dia de pentecostes (Atos 1:8). Isto
significa que quando um crente se fortalece no poder de
Deus, ele se torna uma “dinamite” espiritual capaz de
alcançar coisas impossíveis aos homens comuns. Você
revestido do poder de Deus pode alcançar proezas e
fazer o inimaginável.

Se você deseja vencer a batalha espiritual a primeira e


mais importante coisa a fazer é reencontrar-se com Cristo
e receber Dele este poder que irá lhe revestir e fará com
que as trevas se dissipem e a vitória venha plena assim
como a luz do sol dissipa a noite.A convocação do Senhor
é para que você ativamente, conscientemente se revista
deste poder. Este poder está à sua disposição hoje,
agora!

- 54 -
Capítulo V
A Estratégia
Da Vitória
Em uma batalha é preciso que tenhamos em mente como
devemos nos portar para obter a vitória. Se não
seguirmos a estratégia correta estaremos sempre
oscilando, dando golpes a esmo, atacando o inimigo em
seu ponto forte, dissipando energia e dando chances ao
adversário.

A sua estratégia é ditada pelo Senhor. “Bendito seja o


SENHOR, minha rocha, que ensina as minhas mãos
para a peleja e os meus dedos para a guerra” (Salmos
144:1). O bom soldado de Deus não é aquele que segue
seus próprios instintos, antes, é aquele que sabendo
como deve se portar mantém-se firme naquilo que foi
traçado pelo Senhor, mesmo que os resultados
inicialmente pareçam não acontecer.

1 – Manter-se Firme

Firmeza é a palavra mais importante na estratégia de


Deus para a vitória dos seus filhos. Uma pessoa firme é
constante, determinada, decidida, forte, resistente e
inabalável. Não temos capacidade em nós mesmos de
atingir esta firmeza, ela vem de Deus através da
armadura espiritual descrita na carta aos efésios que nos
mantêm firmes contra as astutas ciladas do diabo (Efésios

- 55 -
6:11). Somente revestido com a armadura de Deus
estaremos firmados para não cair em seus estratagemas.

A firmeza é tão fundamental para a vitória do crente que,


nos cinco versículos introdutórios ao texto que descreve a
armadura espiritual, a palavra grega histemi, que significa
“estar firme”, é citada três vezes no espaço de apenas
cinco versículos (Efésios 6:10-14). No versículo 11 o
apóstolo exorta para nos revestirmos de toda a armadura
de Deus para ficarmos firmes contra as armadilhas do
diabo. No versículo 13, ele nos anima para que lutemos
até a vitória final, permanecendo firmes. No versículo
seguinte ele novamente recomenda que estejamos
firmes ao vestir a armadura.

Uma coisa que muito me entristece é a falta de firmeza


espiritual. No nosso ministério de aconselhamento a
oscilação na fé é um dos piores aspectos com os quais
tenho de lidar. São crentes que em um dia estão cheios
de convicção e no outro estão buscando soluções
conforme sua carne. Em um dia estão decididos a
participarem dos cultos, se envolverem no serviço, mudar
seu comportamento, confiar no Senhor, mas, no momento
seguinte, qualquer contratempo serve como pretexto para
paralisá-lo ou até mesmo fazê-lo andar para trás. “O que
duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo
vento, e lançada de uma para outra parte. Não pense
tal homem que receberá alguma coisa do Senhor”
(Tiago 1:6-7). Não existe vitória na vida espiritual sem
firmeza.

- 56 -
Firmeza não é apenas a certeza de certas verdades. O
crente vitorioso tem que ser firme em suas atitudes. Nos
dias atuais o evangelho tem sido cada vez mais
semelhante a uma receita de autoajuda e do poder do
pensamento positivo. Isto é um grave equívoco. O
verdadeiro Evangelho consiste em viver plenamente a
Palavra e praticar aquilo que Deus deseja.

2 – Um Exemplo de Firmeza

Um exemplo da firmeza necessária que um crente deve


ter para não mais tropeçar encontrei em um filme
evangélico chamado “A Prova de Fogo”, que recomendo
que todo casal cristão assista. Neste filme o casal
protagonista enfrenta graves problemas de
relacionamento, a tal ponto que a separação parece
irreversível. Uma das causas dos conflitos era que o
esposo tinha problemas com pornografia na internet. Ele
acessava sites eróticos com frequência e, embora o
fizesse às escondidas, sua esposa descobrira e sentia-se
ultrajada.

Quando vê seu relacionamento se arruinando, o esposo


decide lutar para salvar seu casamento e, ao analisar sua
fraqueza em relação à pornografia, ele tomou a decisão
que só um soldado verdadeiramente disposto a obter a
vitória pode ter: ele levou o computador ao quintal e
quebrou-o em pedacinhos, para surpresa do seu vizinho
que observava tudo atônito. Ele estava disposto a
“arrancar um olho”, se preciso fosse, mas não desejava
mais andar tropeçando.

- 57 -
O mal não estava no computador nem na internet, mas
estes eram instrumentos usados por satanás para fazê-lo
cair. Hoje, não importa em que site você esteja, estará
sempre a, no máximo, duas páginas para acessar algum
conteúdo erótico. O personagem viu que enquanto
estivesse acessando a internet sempre estaria vulnerável.
Entre ter em sua casa uma facilidade e um lazer que o
conduzia à tentação ou manter-se livre do pecado, ele
tomou a decisão de não mais se embaraçar com as
coisas deste mundo. Esta é a firmeza que Deus deseja de
você!

Se você anseia pela vitória tem que estar disposto a


arrancar de sua vida aquilo que lhe faz tropeçar. Seja
uma amizade que está se tornando intima demais, um
lugar que você frequenta e que lhe induza a maus
pensamentos, um programa de TV, ou qualquer outra
coisa. Se o problema em sua vida é manter uma rotina de
oração, você tem que ser firme ao entrar nesta batalha.
Deve ser determinado e não ficar adiando. Se a sua luta
for pedir perdão a alguém que você magoou, não fique
coxeando, vá e faça! Se, ao contrário, sua dificuldade for
perdoar, não aceite ficar no cativeiro, professe este
perdão. Se existe algum pecado que você não consegue
abandonar, arranque o “olho” ou a “mão” se necessário
for, pois lhe é melhor entrar no reino dos céus sem um
olho ou uma mão do que com os dois olhos e com as
duas mãos, ser lançado no inferno (Mateus 5:29-30). Não
pense que satanás não usará sua fraqueza. Não troque
as bênçãos de Deus pelos prazeres momentâneos deste
mundo caído.

- 58 -
3 – Ser Firme é Também Ser Constante

Firmeza também é sinônimo de constância. O primeiro


passo é tomar a decisão de acordo com a vontade de
Deus. O segundo passo é agir conforme esta decisão.
Mas de nada adianta os dois primeiros passos se você
não sustentar esta decisão ao longo do tempo.
Exatamente por isso a decisão tomada tem que ser no
Senhor e não no ímpeto do momento. Decisões tomadas
por ímpeto são sempre questionáveis e terminam por
confundir e muitas vezes por forçar um recuo à situação
anterior o que causa mais desânimo e confusão.

Quando a decisão é tomada no Senhor, por mais radical


que possa parecer, o próprio Deus confirma em seu
coração e lhe capacita a mantê-la. Esta é a verdadeira
firmeza. Para alcançar esta firmeza e esta constância é
fundamental termos a certeza de comunhão com Deus e
priorizar o relacionamento com Ele. A confiança de estar
sendo guiado por Deus, trará renovo nos momentos de
dúvida e o manterá inabalável mesmo nos momentos em
que o inimigo usar pessoas e circunstâncias para lhe
convencer a sair da posição que Deus quer que você
permaneça.

4 – Seja Submisso a Deus e Resista ao diabo e não o


Contrário!

Tiago em sua carta nos recomenda a estratégia do crente


para obter vitória: “Submetei-vos, pois, a Deus, resisti
ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4:7).

- 59 -
Nos dias atuais a submissão é vista como sinônimo de
fraqueza, mas os valores do Reino são outros, as armas
de Deus são outras. O agir de Deus nada tem a ver com o
agir conforme as coisas deste mundo. Muitas vezes o
caminho da vitória passa pela humilhação, pela renúncia,
por abrir mão de defender-se a si mesmo. Tais coisas são
reprováveis segundo os valores que permeia do mundo,
mas, segundo a Palavra de Deus, são caminho de poder
e vitória nas batalhas espirituais. “Humilhai-vos, pois,
debaixo da potente mão de Deus, e a seu tempo ele
vos exaltará” (1 Pedro 5:6). Quando o crente entra em
uma batalha com o firme propósito de vencer tem que
tomar a decisão de abrir mão das convicções e valores do
mundo para se submeter aos caminhos de Deus. Este é
um ponto inegociável: você está alistado para pelejar
contra realidades espirituais, não ande embaraçado com
as coisas deste mundo.

A estratégia não poderia ser mais simples: O crente para


obter a vitória em suas batalhas espirituais precisa
apenas ficar firme, submisso a Deus, e resistindo às
ciladas do diabo. Quando você age deste jeito, o Senhor
entra nesta luta e você olhará e verá a recompensa do
ímpio quando Deus se levantar a seu favor (Salmo 91:8).
O problema é que boa parte dos filhos de Deus quando
se veem no aperto fazem justamente o contrário: eles se
submetem a diabo e resistem a Deus.

Quando você entra em discussões ou se deixa levar pela


ira ou pela ambição; quando você causa divisão, cai em
prostituições, inimizades, ciúmes, vícios; promove

- 60 -
discórdias, dissensões e ressentimentos você está se
submetendo ao diabo. Da mesma forma, quando você
não perdoa ou não pede perdão; quando age de acordo
com o seu entendimento e não conforme a Palavra; não
busca Deus em oração; e permite que o amor esfrie você
está resistindo a Deus. A triste verdade é que boa parte
de nós inverte a estratégia de Deus e ao invés de vermos
o diabo fugir de nós, somos nós que terminamos nos
afastando de Deus.

Na história da queda de Davi, vimos que em todo tempo


ele se recusou a submeter-se a Deus e resistir ao diabo,
pelo contrário, a cada momento mais e mais o rei Davi ia
se submetendo a satanás e resistindo à vontade de Deus
e, quanto mais se submetia ao inimigo, mais cego ficava e
mais malicioso e cruel se tornava. Assim também é com a
sua vida. O caminho da submissão ao diabo nunca vai
nos levar à vitória que almejamos e à medida que você se
deixa seduzir pelas estratégias e valores do mal, ele vai
lhe convencendo que o objetivo ainda não foi alcançado
porque você ainda não foi suficientemente maldoso,
arrogante, perverso, frio, calculista, iracundo ou infiel.
Muitos se enredam neste sofisma e perdem-se no
caminho, tornando-se pessoas totalmente desconhecidas
de si mesmas e de Deus.

O caminho para a vitória sempre será o caminho da


submissão a Deus e de manter-se firme nesta submissão.
Toda a vitória vinda da parte de Deus passará pelo teste
do tempo, onde a sua fidelidade e fé serão provadas e
produzirão vitórias.

- 61 -
“Bem-aventurado o homem que suporta a provação;
porque, depois de aprovado, receberá a coroa da
vida, que o Senhor prometeu aos que o amam.” (Tiago
1:12)

- 62 -
Capítulo VI
Na linha
De Combate
Quando Paulo escreveu aos efésios falando sobre a
armadura de Deus ele tinha uma analogia bem clara em
mente. O apóstolo viveu cerca de três anos na cidade de
Éfeso pregando o Evangelho e conhecia bem os seus
costumes. Éfeso era a capital da província romana da
Ásia, era uma cidade portuária e o seu porto era o mais
importante no mar Egeu, principal rota de Roma para o
oriente. Durante muito tempo Éfeso foi a segunda cidade
mais importante do império romano, ficando apenas atrás
da capital, Roma. Era também a segunda mais populosa
do império, com cerca de duzentos e cinquenta mil
habitantes, uma megalópole para aquela época.

Claro que uma cidade desta importância e tamanho tinha


de ser muito bem guardada. A presença romana era
ostensiva, com suas legiões, centuriões e soldados. Nas
províncias havia quartéis onde os soldados mantinham-se
prontos para a batalha. Nestes locais a rotina dos
soldados era absolutamente rígida e o treinamento era
extremamente rigoroso. As maiores características deste
exército eram a rígida disciplina e uma estratégia de
combate muito bem elaborada e executada à perfeição.

Um soldado romano era submetido a marchas forçadas


carregando todo o peso que pudesse carregar, treinava

- 63 -
intensamente formações de batalha e manejo das armas.
A hierarquia era preservada de maneira obsessiva e
qualquer desvio de conduta era punido de maneira
exemplar. Isto fazia diferença no campo de batalha. O
soldado romano é considerado até hoje um dos guerreiros
mais mortais da história da humanidade e é citado como
exemplo de disciplina e habilidade. Graças à sua
estrutura militar, Roma foi capaz de conquistar grande
parte do mundo ocidental daquela época que incluía
colônias na Europa, Ásia e África. Era praticamente
imbatível e tornou-se o império mais influente da história
do ocidente.

Paulo usava a imagem do soldado romano como analogia


à vida do crente. Assim como um legionário romano, o
cristão também tem que estar preparado em todo tempo
para a batalha, tem de ser igualmente disciplinado e
obediente ao seu Senhor além de manejar bem as armas
espirituais que tem à sua disposição. Assim como o
exército romano era a mais poderosa máquina de guerra
da antiguidade, composto por soldados temidos e
respeitados pela sua capacidade bélica. Assim também
tem que ser a sua vida perante o inimigo de sua alma.
Você deve ser alguém de quem até o diabo saiba que
maneja bem a Palavra da verdade (2 Timóteo 2:15).

A Palavra de Deus nos diz que: “se você se mostrar


frouxo no dias da angústia sua força será pequena”
(Provérbios 24:10), ou seja, na batalha espiritual que você
está travando neste momento, não há espaço para andar
coxeando entre dois senhores, não há espaço para
perder a fé, nem para murmuração e sentimentos de

- 64 -
autopiedade. É momento de se levantar como guerreiro
espiritual tomar sua armadura e mostrar-se valente contra
o inimigo como eram os guerreiros romanos em suas
milícias carnais.

1 – Leve a Sério o Seu Preparo Espiritual

No grego, a expressão que Paulo usa ao se referir à


armadura de Deus, nos remete ao soldado romano
pesadamente armado. Era a armadura usada para as
batalhas mais renhidas, mais duras, contra os adversários
mais poderosos. Você também tem de ser assim. A
recomendação da Palavra de Deus é que você mantenha
um profundo condicionamento espiritual, sendo
absolutamente eficiente e disciplinado em seu preparo.
Se você deseja a vitória em sua vida espiritual, se você
deseja colher o melhor de Deus em sua vida não pode se
contentar com nada menos que isto. O fato de termos
tantos crentes malsucedidos nos mostra o quanto o
preparo espiritual tem sido negligenciado por causa da
preguiça, indiferença ou por não levarem a sério a batalha
que está sendo travada contra sua própria vida, dos seus
amados, e contra a Igreja do Senhor.

Os romanos não toleravam quaisquer focos de levante do


inimigo, um motim, por menor que fosse, era
imediatamente esmagado, pois sabiam que era muito
mais simples destruir um pequeno grupo iniciante do que
ter que arcar com batalhas muito mais duras contra
inimigos que tiveram tempo suficiente para arregimentar e
organizar suas forças. Muitos crentes não levam isto em
conta. Veem o inimigo se levantando, mas como o

- 65 -
prejuízo é aparentemente pequeno, vão adiando o
momento de começar a lutar.

Nos casamentos e nos relacionamentos em geral, este


erro é absolutamente comum. Aquela pequena rusga que
não foi bem resolvida, aquele projeto pessoal feito à
revelia do outro, o afastamento por conta dos afazeres
diários, o esfriamento que não é combatido de pronto, são
levantes pequenos em que o inimigo vai arregimentando
forças e conhecendo as fraquezas do casal para, no
momento certo, atacar. E, quando ele ataca, bons
relacionamentos podem se encontrar diante de
obstáculos aparentemente intransponíveis tais como: falta
de sonhos em comum, adultérios, mesmo os virtuais,
paixões platônicas, pornografia, incompatibilidade de
temperamentos, discussões, brigas e ressentimento,
causando separação e dor para o casal e, de uma
maneira ainda mais profunda, para os filhos. É hora de
despertar. Se você, homem de Deus, mulher de Deus,
está pressentindo estas raposinhas (Cantares 2:15) se
embrenhando em meio aos vinhedos que o Senhor
preparou para o seu relacionamento, não perca tempo.
Aconselho que todo o casal leia este livro juntos, será
espaço de comunhão e despertamento para as verdades
bíblicas.

2 – Não Esqueça o Suprimento!

Na estratégia militar há a necessidade de que se tenha


suprimento para manter-se forte durante uma batalha.
Quando se inicia uma campanha militar, os combatentes
têm que estar munidos não só de armas, mas de alimento

- 66 -
e água. Sem isso, o soldado por mais bem treinado e por
melhor equipado que esteja, irá perecer.

No século XIX, a França entrou em guerra contra a


Inglaterra e proibiu que os demais países europeus
mantivessem relações comerciais com os ingleses. Quem
vendesse ou comprasse qualquer coisa da Inglaterra
passava a ser considerado inimigo da mais temível
máquina militar da Europa naquela época. A Rússia
desobedeceu a determinação de Napoleão Bonaparte e
por isso a França lhe declarou guerra.

Em 1812, Napoleão Bonaparte começou a campanha


para invadir a Rússia. Eram cerca de seiscentos e
cinquenta mil soldados, treinados e fortemente armados,
carregando mais de mil e quatrocentos canhões, uma
inequívoca demonstração de poder bélico para a época.
Napoleão planejava infligir uma derrota tão humilhante ao
exército russo que serviria de exemplo a todos os demais
países. Ao se verem sem chances ante o poderoso
exército francês, os russos tomaram a decisão de fugir se
embrenhando no interior do país, forçando o exército da
França a seguir em seu encalço. Só que, à medida que a
perseguição se prolongava, mais longe as tropas
francesas ficavam das fontes de suprimento e o exército
russo enquanto fugia para o interior evacuava e tocava
fogo nos povoados impedindo que os inimigos pudessem
se alimentar do que fossem saqueando no caminho.

O exército de Napoleão foi ficando cada vez mais fraco e


indisciplinado à medida que o suprimento se exauria e,
para piorar a situação, o rigoroso inverno russo o pegou

- 67 -
desprevenido causando enormes perdas pelo frio, pela
fome e pelas tocaias armadas pelos russos. Apenas dois
por cento do contingente que atravessou a fronteira
conseguiu voltar vivo, ou seja, dos mais de seiscentos mil
soldados que foram para a batalha, pouco mais de treze
mil conseguiram retornar à França. Esta frustrada
campanha marcou o início do declínio do império de
Napoleão. Soldados armados, bem treinados e
disciplinados, se tornaram um bando desarticulado e
derrotado pela falta de suprimento.

A falta de suprimento tem sido uma das grandes falhas


nas batalhas espirituais. Muitas vezes homens e mulheres
de Deus não cuidam deste aspecto tão crucial.
Embrenham-se nas batalhas, mas não se alimentam da
Palavra viva. Não comem da carne, que é verdadeira
comida, nem bebem do sangue, que é verdadeira bebida
(João 6:54-56); não têm comunhão com Jesus, não
andam com Ele, não estão fortalecidos na fé e nem se
aperfeiçoam na entrega diária a Jesus. É óbvio que
pessoas assim não conseguem se manter firmes quando
a luta se torna prolongada. Assim como as tropas
francesas, estes guerreiros espirituais logo caem na
indisciplina, na murmuração, na desmobilização e na
derrota.

O exército romano tinha uma estratégia para sempre se


manter suprido nas longas campanhas de guerra. Eles
construíam estradas à medida que se embrenhavam em
terreno inimigo. Estas estradas facilitavam o
deslocamento rápido das tropas de reforço se fossem
necessárias e também facilitavam a chegada constante

- 68 -
de suprimento. Algumas destas estradas foram tão bem
construídas que perduram até hoje!

Ao longo dos séculos as estradas construídas se


tornaram uma grande rede que permitia a circulação de
pessoas, produtos e mercadorias integrando o império.
Como todas estas estradas de uma forma ou de outra
estavam ligadas à capital do império, surgiu então o
ditado popular usado ainda hoje: “todos os caminhos
levam a Roma”. Certamente, o apóstolo Paulo circulou
em muitas destas estradas para pregar o Evangelho, era
a globalização que já ecoava pelo mundo ocidental no
que viria a ser chamado de “a plenitude dos tempos”
(Gálatas 4:4).

Assim também deve ser na sua vida, você tem que ter
seu caminho preparado onde quer que venha a estar e,
assim como todos os caminhos físicos daquela época
levavam a Roma, todos os seus caminhos espirituais
devem lhe levar ao Caminho, que é Cristo. É nesta via
constante de ligação com Jesus que reside a provisão.
Mantenha o seu foco: nunca perca Jesus de vista. A sua
felicidade não está em seu casamento, filhos, família,
saúde, emprego ou carreira. A sua felicidade está
unicamente em manter intimidade com Jesus. “Olhando
firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa
fé” (Hebreus 12:2). À medida que você for avançando em
sua vida espiritual e em suas batalhas, mantenha sempre
seus caminhos com o Senhor desobstruídos e
pavimentados.

- 69 -
Se não mantiver esta visão permanentemente em seu
coração você irá perder conexão com Deus, o diabo irá
confundir sua mente e você não encontrará alegria nem
prazer em ler a Palavra, orar, louvar ou participar de um
culto. Seu suprimento espiritual vai começar a faltar e,
assim como aconteceu ao exército napoleônico, você
ficará cada vez mais confuso. Poderá até mesmo colocar
em seu coração que Deus não se lembra de você. Daí
virá o convite diabólico para que você deponha as armas
espirituais, que deixe de buscar em Deus e que haja com
a força do seu braço. Sem suprimento você não resistirá e
perderá de vista o verdadeiro inimigo, lutará contra carne
e sangue, subirá ao campo de batalha usando as armas
do inimigo e disparará “fogo amigo” contra as pessoas
que deveriam estar ao seu lado, causando ainda mais
divisão e contenda. Logo você estará cansado,
desanimado e decepcionado até mesmo com Deus. A
derrota em sua vida será apenas consequência.

3 – Não Te Faças Negligente

Na armadura espiritual descrita por Paulo não há ordem


de importância entre as armas. Todas são igualmente
essenciais para a vitória e negligenciar qualquer uma
delas torna o crente vulnerável às investidas do inimigo. A
Bíblia nos ensina, conforme 2 Coríntios 6:7, que o
armamento espiritual pode ser usado tanto ofensiva
quanto defensivamente e a sua armadura espiritual está
equipada com recursos tanto para atacar o inimigo,
quanto para lhe defender. Existem armas, como a Espada
do Espírito, por exemplo, que são usadas tanto para o
ataque quanto para a defesa. Existem outras que são

- 70 -
unicamente para a defesa do crente, a Couraça da
Justiça é um exemplo. E há armas que servem de suporte
para que as outras armas sejam usadas, o Cinturão da
Verdade é o exemplo mais claro disso.

É importante você conhecer e manusear bem todas as


armas que Deus coloca à seu dispor. Um soldado que vai
desarmado para uma batalha, ou que não sabe usar bem
as armas que tem à sua disposição só pode ter três
destinos: ser capturado, ferido, ou morto. Portanto,
prepare-se! De nada adianta ir ao ataque
destrambelhadamente sem estar guardado pelo capacete
da salvação, ou pelo escudo da fé e pela couraça da
justiça, também de nada adianta ficar apenas na
defensiva, cedendo território ao inimigo.

É fundamental estar atento às batalhas espirituais em um


campo de batalha sem esquecer nem negligenciar as
batalhas em outros campos. Muitos crentes estão
bastante atentos às batalhas espirituais em seu ministério
na igreja, mas negligenciam a invasão sutil do inimigo em
sua própria casa. Outros se resguardam em seus lares,
mas estão totalmente dispersos ao que acontece em sua
igreja, sem discernir a dimensão do corpo de Cristo em
que ele está envolvido, pois se um membro do corpo
sofre, todo o restante do corpo sofre com ele quer tenha
consciência disso quer não (1 Coríntios 12:26).

Imagine que você está tendo um dia ótimo, tranquilo e


sem sobressaltos, depois de uma bela semana de
trabalho, você está em casa descansando. O telefone
toca e você se levanta rapidamente para atender, só que

- 71 -
inadvertidamente o dedo mindinho de seu pé esquerdo se
choca contra a quina de um móvel que estava no
caminho. Se você já teve esta experiência sabe do que
estou falando, se não passou, saiba que você não vai
conseguir prestar atenção em mais nada! Todo o seu
corpo irá padecer e você vai voltar toda sua atenção para
o simples dedo mindinho do pé esquerdo.

Não foi à toa que Paulo comparou a igreja ao Corpo de


Cristo. Assim como é com o seu corpo, também é na
igreja, os problemas dos seus irmãos não são alheios a
você por mais que você pense o contrário. Uma batalha
espiritual que os irmãos de sua igreja estão travando irá
afetar mais cedo ou mais tarde a sua vida também. Não
somos seres isolados, não somos ilhas, somos parte uns
dos outros.

Em suas batalhas, entender a dimensão de corpo de


Cristo é importantíssimo para sua vida. Por mais que você
deseje ser “ilha isolada” e ir à igreja apenas para “assistir”
a um culto agradável sem se preocupar muito com as
coisas que acontecem com os demais irmãos ou com a
igreja onde congrega, a verdade é que nós, igreja do
Senhor, Corpo de Cristo, estamos irremediavelmente
ligados uns aos outros assim como os membros do nosso
corpo físico estão. No corpo físico quando um membro
sofre, por mais irrelevante que pareça, todo o corpo sofre
com ele. Tenho percebido que muitas igrejas sofrem
ataques em áreas específicas, há igrejas com uma
enormidade de enfermos, outras com uma série de
casamentos em crise, outras com problemas sérios com a
juventude. Muitas vezes são batalhas que começaram

- 72 -
contra um membro apenas, mas que foi se alastrando à
medida que os homens dormiam. Outro erro comum é
considerar que a batalha espiritual é um ministério
específico de determinadas pessoas na igreja. Batalha
espiritual é coisa do irmãozinho da oração forte, ou
daquele com o dom de expulsar demônios. Outros acham
que batalha espiritual é responsabilidade da liderança,
dos obreiros ou do pastor. Mas não é assim, você deve
estar ativo espiritualmente e deve estar ombro a ombro
com todo o Corpo de Cristo!

Somos mais poderosos que o nosso inimigo, mas só


podemos vencer se estivermos preparados, não
ignorando seus ardis, nem andando desatentos, mas
prontos para combater o bom combate!

- 73 -
Parte II
A Armadura

- 74 -
Capítulo VII
O Cinturão
Da Verdade
O cinturão era um elemento fundamental na indumentária
de um soldado romano. Sua principal função era manter
firme a couraça, que era a parte da armadura que
protegia as partes vitais do legionário. Sem o cinturão a
couraça não se firmava. Além disso, o cinturão também
era importante para servir de suporte para a espada. Um
cinturão frouxo significava uma couraça frouxa e uma
espada que poderia não estar à mão quando se
precisasse.

Exatamente por esta dupla função de suporte é que


Paulo, ao recomendar que nos revestíssemos com a
armadura de Deus, colocou a verdade como um cinturão
que cinge, prende as vestes, ao cristão que se prepara
para a batalha. O verbo cingir dá a ideia de cercar,
rodear, com firmeza e segurança. Assim também deve
ser o cinturão da verdade para você guerreiro espiritual. A
verdade deve ser firmemente presa ao seu redor. O seu
compromisso com a verdade deve ser irrestrito, sempre.

Um crente que é frouxo com a verdade será frouxo no uso


da couraça da justiça e será frouxo no uso da espada do
Espírito.

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1 – Tenha Compromisso com a Verdade

Nos dias atuais, a ideia de que não existe uma verdade


absoluta é quase um mantra. Mas a expressão “não
existe verdade absoluta” é uma contradição em si mesma.
Embora vivamos em um mundo em que as “verdades”
são relativas e mudem ao sabor das conveniências e
novas descobertas, a Bíblia nos ensina que há uma
Verdade que está acima de tudo e de todos. Uma
verdade que é absoluta. Não se trata de um escopo de
doutrinas, ou ensinos, nem está presa aos ditames das
ciências dos homens. Para Deus a Verdade não é uma
ideia ou opinião, a Verdade é uma pessoa.

O compromisso profundo com a verdade só é possível


quando estabelecemos um pacto com a Verdade que é
também o Caminho e a Vida (João 14:6). É necessário
profundo compromisso com Cristo para que a verdade
seja uma arma eficiente e eficaz. Só o comprometimento
total com Jesus pode fazer com que a verdade seja um
cinturão na vida do crente a firmá-lo na justiça e na
Palavra de Deus. O guerreiro cingido com a verdade é
autêntico em sua fé e transparente em seus
relacionamentos. Não anda coxeando entre dois
pensamentos.

Um dos pontos mais visados pelo diabo é o cinturão da


verdade. Ele tenta de todas as maneiras frouxar o seu
cinturão. Por isso, volta e meia, ele nos coloca em
situações onde esconder a verdade pode parecer mais
vantajoso do que revelar, onde a sombra parece mais
confortável que a luz, onde parece ser mais seguro mentir

- 76 -
do que dizer a verdade. Nos capítulos doze, vinte e vinte
e seis, do livro do Gênesis, vemos que mesmo homens
de Deus, como Abraão e Isaque caíram nesta cilada e
fizeram uso da mentira em circunstâncias difíceis.

Ao chegar ao Egito, Abraão solicitou a Sara, sua esposa,


que dissesse a todos que eles eram apenas irmãos, pois
temia que o matassem por conta da beleza de sua
mulher. Sem saber da verdade o faraó se encantou com
Sara e a tomou para si. Alertado por causa da punição de
Deus que caiu sobre sua casa, faraó indignou-se contra
Abraão e o expulsou de suas terras. Apesar deste
episódio Abraão manteve esta estratégia. A vítima
seguinte foi o rei de Gerar que também chegou a levar
Sara consigo para ser sua esposa diante de um Abraão
absolutamente passivo. Novamente foi o Senhor que se
levantou para evitar que o erro de Abraão se tornasse
irremediável e com isto mais uma vez a expulsão da terra
foi a consequência colhida.

Isaque, filho de Abraão, também usou o estratagema do


pai. O rei da terra onde vivia não chegou a se encantar
por sua esposa Rebeca, mas ao vê-los juntos percebeu
que não eram irmãos e o repreendeu duramente por sua
mentira.

Repare como a mesma atitude mentirosa se alastrou


entre as gerações. Abraão mentiu, Isaque mentiu e Jacó,
filho de Isaque e neto de Abraão, também teve problemas
com a mentira. Não à toa o nome Jacó também pode
significar “enganador”.

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Repare também como há um aprofundamento do
envolvimento com a mentira entre as gerações. No caso
de Abraão tratava-se de uma meia-verdade, ele era meio-
irmão de Sara. Já com Isaque a meia-verdade se tornou
mentira completa. E, finalmente, em Jacó a mentira
incorporou-se a seu próprio nome. No caminho da mentira
todos os três tiveram a humilhação como pano de fundo.
Esta estrada pavimentada por humilhações, vergonha e
medo não é caminho que um guerreiro deva trilhar. O
crente mentiroso está entrando na mesma senda de erros
dos patriarcas bíblicos. Está dando espaço para
influências espirituais que podem atravessar gerações. A
cada geração maior era a influência da mentira na família
de Abraão. Isto vale para quaisquer outros
comportamentos, nada do que fazemos fica sem
repercussão no plano espiritual.

Sendo homem de língua dobre o guerreiro espiritual vai


deixando de ser confiável naquilo que diz e vai perdendo
o poder do seu testemunho. Seu ânimo incerto, vacilante,
gera dúvida sobre ele e com isto o inimigo vai lhe
minando as forças. Sem estar firmado na Verdade ele
começa a considerar outras possibilidades fora da
vontade de Deus e as coisas passam a ser relativas. Os
seus atos passam a depender das circunstâncias. Ele age
de acordo com o ambiente e ao sabor dos
acontecimentos.

A mentira sempre traz em si a consequência de tirar


nossa mente da luz que há em Cristo e nos levar para as
sombras.

- 78 -
2 – A Espiral da Mentira

Quando usamos a mentira como arma, ficamos


aprisionados por ela. A mentira raramente se satisfaz
sozinha, ela precisa de companhia e à medida que cresce
se torna cada vez mais difícil se libertar.

Recentemente um conhecido compositor de músicas


gospel divulgou um vídeo contendo uma retratação
pública. Neste vídeo ele relata que, por conta da história
de um suposto milagre de cura, ele ganhou espaço no
meio evangélico compondo, cantando e contando este e
outros testemunhos de visões, arrebatamentos, curas e
livramentos sobrenaturais. Durante dez anos, suas
músicas, livros, ministrações, vídeos, CD´s ganharam o
mundo e conquistaram uma legião de admiradores. Mas
tudo isto estava irremediavelmente envolvido nas
penumbras do engano. Em determinado momento, já não
havia mais como sustentar a teia de mentiras e ele
resolveu confessar o seu problema e a sua doença. A
verdade é que, segundo ele, os seus testemunhos
estavam envoltos em meias-verdades, em mentiras totais
e até mesmo na apropriação de experiências e
testemunhos de outros que ele contava com se tivessem
sido seus.

Não sei o que motivou este homem a se expor a público e


abrir suas vísceras desta forma. Espero que tenha sido o
arrependimento sincero. Não escrevo para condená-lo,
mas para mostrar a você, guerreiro espiritual, que não há
como se ter qualquer tipo de transigência com a mentira.
Ela sempre será arma usada por satanás, será sempre

- 79 -
um trunfo que ele terá na manga para destruir sua vida e
chantagear sua fé.

O diabo é o pai da mentira (João 8:44), aliás, esta é a


única coisa da qual ele é pai. Como podemos achar que
manter um pacto com aquilo do qual o diabo é o pai vai
nos trazer vitória em nossas batalhas espirituais? Quando
você se deixa levar pela mentira, quando perde a firmeza
do seu cinturão da verdade, penetra no mundo de
sombras e trevas, pois “mentira alguma procede da
verdade” (1 João 2:21).

4 – A Mentira Gera Hipocrisia, a Verdade Liberta!

A hipocrisia foi o pecado que Jesus mais condenou em


seu tempo. A palavra “hipócrita” vem do teatro grego e
referia-se aos atores que desempenhavam papéis diante
do público. Assim também é a vida do hipócrita nos dias
atuais, ele está sempre representando. Representa
papéis na igreja, em casa, no trabalho, na escola, na
vizinhança, nas reuniões sociais. O seu palco é a própria
vida, um mundo de mentiras onde nem mesmo ele sabe
quem verdadeiramente é. Para cada local, para cada
plateia, haverá sempre um personagem a ser
interpretado.

Usar o cinturão da verdade significa também assumir a


sua verdadeira essência. Significa ser você mesmo em
Cristo com a coragem de assumir sua fé e seu amor por
Deus. Romper todo relacionamento sustentado na
mentira e começar novos, talvez até mesmo com as
mesmas pessoas, firmados na verdade. Significa abrir

- 80 -
seu coração confessar os seus pecados e quebrar todo
pacto feito às escuras, todos os vínculos adoecidos e
todos os grilhões que aprisionam a sua alma. “O segredo
do Senhor é com os sinceros” (Provérbio 3:32).

Talvez até aqui sua vida tenha sido uma farsa. Talvez
você tenha inutilmente andado em um caminho do meio
termo. Dizendo que crê, mas não tendo compromisso
com coisa alguma. Talvez você vista personagens
diferentes em cada ambiente que frequenta. Mas andar
na sombra jamais lhe fará feliz, andar coxeando nunca
será caminho de pacificação do seu ser. Você está em
uma batalha espiritual e se você realmente quer vitória
não há como manter-se nesta batalha sem estar cercado
pela verdade. Assuma a partir de hoje um pacto e uma
aliança com a Verdade. Muitas vezes o pacto com a
verdade pode ser doloroso e outras tantas ser incômodo,
mas aquele que firma-se na verdade deixa de ser escravo
da mentira, da qual satanás é o pai, encontra o Caminho
de paz e torna-se livre para toda a eternidade.

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”


(João 8:32).

- 81 -
Capítulo VIII
A Couraça
Da Justiça
A couraça, também chamada de peitoral, era essencial
para a proteção do soldado. Normalmente fabricada em
couro e recoberta de metal, ela tinha a função de proteger
abdômen, costas, tórax e ombros. As duas partes que
compunham a couraça eram fixadas através de tiras de
couro que circundavam o corpo do soldado. Estas tiras de
couro são as mesmas que nós estudamos no capítulo
anterior, quando Paulo nos admoesta a cingir, ou
circundar, os nossos lombos com a verdade. O cinturão
composto por estas tiras que sustentavam a couraça
mostra como deve ser a vida do crente, onde a justiça
deve ser sustentada pela verdade.

Armado com a couraça o soldado poderia sobreviver aos


golpes do adversário. Seria semelhante ao colete à prova
de balas que equipam soldados e policiais nos dias de
hoje. E é exatamente por sua função vital que Paulo usou
a couraça para representar a justiça do crente em sua
batalha espiritual. Assim como a couraça protege os
órgãos vitais do centurião romano, a couraça da justiça
protege as áreas vitais do guerreiro espiritual. Quando o
diabo se apresenta diante de Deus para lhe acusar e
conseguir o direito de atacar, é a couraça da justiça que
lhe protege.

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1 – Os Limites da Operação do Mal

Na batalha espiritual há limites para o ataque do inimigo


contra o crente. Um desses limites nos garante que o
maligno não pode tocar aquele que é nascido de Deus e
não vive em pecado (1 João 5:18). Outro limite estabelece
que nunca seremos tentados além de nossas forças e
que sempre teremos como escapar das tentações (1
Coríntios 10:13).

A Bíblia nos fala que o diabo veio para matar, roubar e


destruir. Se não houvesse limites impostos por Deus o
inimigo já teria dizimado a sua vida, pois ele não conhece
o que é misericórdia. Os limites são essenciais, pois
impedem que o mal tenha liberdade para agir. Você pode
andar confiadamente. Os limites nos dão segurança e nos
mostram que Deus é o absoluto soberano a quem até
mesmo satanás deve se sujeitar. Eles nos dão a certeza
de que o Senhor está no controle de todas as coisas.
Sabendo que há restrição à operação do mal podemos
lançar toda nossa ansiedade sobre Deus, tendo a
convicção de que Ele zela pelo Seu povo. Satanás não
está livre para fazer o que bem entender.

Muitos têm uma visão equivocada de Deus. Pensam que


Ele é um tirano pronto a punir todo e qualquer deslize. Por
isso vivem aterrorizados com o castigo de Deus e com as
bordoadas do diabo, e sentem-se obrigados a buscar, em
meio a muita dor e angústia, agradar a Deus para ver se
conseguem conquistar alguma migalha de bênção ou
escalar as pirâmides da prosperidade do engano onde se
compra a vitória. Não se deixe enganar: Medo e barganha

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devem ser duas palavras riscadas de seu relacionamento
com Deus. Nada que você fizer em sua batalha espiritual
poderá lograr êxito se seu coração estiver permeado com
qualquer sentimento de barganha ou medo.

O Deus que a Bíblia revela em Cristo Jesus é cheio de


graça e misericórdia, rico em perdão e em bondade. Ele
não lhe deixa só em suas lutas.

2 – Não Há Justo, nem Um Sequer!

Por mais que você vigie e ore, o pecado sempre será uma
possibilidade real em seu caminho. O pecado estará
sempre a lhe assediar (Hebreus 12:1). Não há crente a
quem o diabo não lance suas astutas ciladas. Todos nós,
desde o primeiro homem gerado após o Éden até os dias
atuais, somos tendenciosos à queda. Por maior que seja
a sua dedicação e desejo de ser santo, você sempre
poderá vacilar no caminho. E o que fazer quando isto
acontece? Você está condenado ao mesmo destino de
punição como aconteceu com Davi? Será que estamos
presos em uma teologia moral de causa e efeito onde a
cada passo malogrado que você der haverá um castigo
lhe esperando?

Será que devemos viver debaixo do medo da condenação


e da acusação do mal?

De forma alguma! Você não pode nem deve viver debaixo


do medo. O apóstolo João nos ensina que aquele que
vive debaixo do medo não está aperfeiçoado no amor (I
João 4:18). A caminhada cristã é caminhada de

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intimidade com Deus. Este é o convite: caminhar junto
com Deus pelo que Ele é e por quem você é Nele. É esta
intimidade que nos faz livres de qualquer medo.

O mundo jaz no maligno, mas Deus está no controle.


Você pode descansar nesta confiança e não ande
atemorizado, porque todas as coisas que lhe acontecem
sempre serão conduzidas por Deus para cooperarem
para o seu bem (Romanos 8:28). Satanás não pode lhe
atacar como quiser, não somos joguetes em suas mãos.
Para que possa agir, o diabo necessita da autorização de
Deus e só você pode dar legalidade para o inimigo.

3 – O Que é Legalidade?

Legalidade é um termo jurídico que expressa se algo está


em conformidade com as regras, se expressa justiça, se
há legitimidade.

O nome satanás deriva do hebraico satan que significa


acusador. Ele recebeu este nome porque para poder
atacar um filho de Deus ele necessita encontrar base
legal que o autorize a este ataque. Esta legalidade ele
conquista agindo como um advogado de acusação. No
capítulo doze do livro de Apocalipse, o grande dragão, a
antiga serpente, que se chama diabo, é expulso do céu.
Nesta passagem, a Bíblia revela que se ouviu grande voz
do céu anunciando a queda do diabo e nos mostrando
que ele é aquele que acusa os crentes de dia e de noite.
Diz o texto: "Agora veio a salvação, o poder e o Reino do
nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi
lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os

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acusa diante do nosso Deus, dia e noite.” (Apocalipse
12:10).

Vemos esta característica de acusador na prática em


duas passagens bíblicas. A primeira é a conhecida
passagem da vida de Jó, quando o diabo se apresentou
diante de Deus e acusou Jó de ser fiel apenas por
interesse nas bênçãos. Depois de acusar Jó, o diabo
solicitou ao Senhor que lhe permitisse provar a fidelidade
daquele homem justo, reto, temente a Deus e que se
apartava do mal (Jó 1). Outra passagem explícita na
Bíblia em que satanás age como acusador em busca de
legalidade para atacar a vida de um crente está no
evangelho de Lucas quando satanás reclamou perante
Deus o direito de cirandara vida de Simão Pedro. Em
outras palavras, o diabo solicitou o direito de fazer Pedro
passar pela peneira, assim como se faz com o trigo
(Lucas 22:31).

Da mesma forma que foi com Jó e Pedro, também é na


sua vida. O diabo sempre estará buscando a brecha legal
para atacar. Esta brecha pode ser um pecado recorrente,
um comportamento, um sentimento. Quando ele recebe o
direito legal de colocar alguém à prova, as aflições serão
usadas por ele para cumprir seu propósito de matar
roubar e destruir, mas também serão usadas por Deus
para aperfeiçoar os santos depurando e corrigindo assim
como o fogo refina o ouro (1 Pedro 1:6-7).

O diabo está continuamente lhe acusando perante Deus e


tentando usar os seus pecados como peça de acusação
para poder lhe atacar no tribunal celestial, apresentar

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seus argumentos perante Deus e obter legalidade. Esta
busca de autorização para poder lhe atacar faz parte da
batalha espiritual que ele move contra a sua vida e você
não pode nem deve ficar passivamente sendo acusado
pelo diabo. Neste momento, a Couraça da Justiça se
torna uma arma de defesa fundamental.

4 – Como Funciona a Couraça da Justiça?

A palavra justiça no grego tinha a conotação de


integridade, virtude e pureza de vida. O homem justo
seria aquele que é movido por pensamentos, sentimentos
e ações corretos. A couraça da justiça é, portanto, o
revestimento de integridade, virtude e santidade que o
protegerá contra a acusação do inimigo. A questão é que
nenhum de nós tem esta justiça. A Palavra diz que: “não
há justo, nem sequer um” (Romanos 3:10). Assim, se
você depender da sua própria justiça para se defender,
estará irremediavelmente perdido. Na verdade todos nós
pecamos o tempo todo, seja por pensamento, palavra,
ato, omissão e mesmo comissão. O que não falta ao
diabo é argumento para nos acusar. Se a couraça da sua
armadura espiritual se firmasse na sua justiça, ela seria
absolutamente inútil!

No versículo onze do sexto capítulo da carta aos efésios,


Paulo ensina que devemos nos revestir de toda a
armadura de Deus. A armadura é de Deus, isto significa
que a armadura espiritual do crente não vem dele mesmo.
Ela é provida por Deus, forjada por Deus, construída por
Deus, fornecida por Deus. Tudo o que há na armadura
não provém de você, não é produzido por você, mas pelo

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próprio Deus. Portanto, a justiça que dá poder à couraça
da sua armadura espiritual também não vem de você.
Quando Paulo fala da couraça da justiça, ele não fala da
nossa justiça cheia de contradições e pontos vulneráveis.
Ele fala da justiça que vem de Deus, a saber, a justiça de
Cristo Jesus conquistada na cruz.

Jesus Cristo é a nossa justiça: “Àquele que não


conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para
que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios
5:21). É esta justiça que nos sustenta: a justiça Dele.
Somos feitos justos, fomos justificados unicamente pela fé
Nele. Quem recebeu a justificação e tem consciência
dessa verdade, passa a andar em humildade e
reconhecer suas próprias vilanias e contradições. Quem
tem consciência de sua justificação, não anda colocando
pecados em balanças para comparar qual é o mais
pesado, qual o mais grave, qual o mais indigno.

“Todos pecaram e destituídos estão da glória de


Deus” (Romanos 3:23), portanto, seja a simples
mentirinha ou o mais brutal crime, todos os nossos
pecados fazem separação entre nós e Deus (Isaías 59:2).
Quem tem consciência da justificação que não é por
obras de justiça, mas é a justiça imputada por Cristo, não
fica olhando para argueiros nos olhos dos outros para
criticar e condenar, pois sabe da trave que há em seus
olhos.

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5 – Como me Apropriar da Justiça de Deus?

Revestido da justiça de Cristo. O guerreiro espiritual está


protegido. Quando o inimigo o vem acusar você poderá
descansar na garantia de que: “nenhuma condenação
há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1).
Mas, para que a justiça de Cristo lhe seja imputada e a
Couraça da Justiça seja efetiva para lhe proteger, é
necessário que você confesse seus pecados. Você só
pode se apropriar da justiça que há em Cristo quando
você confessa a sua injustiça.

O apóstolo João nos ensina em sua primeira epístola que


quando pecamos “temos um advogado junto ao Pai,
Jesus Cristo, o justo” (1 João 2:1). Felizmente temos
Jesus como nosso advogado diante do Pai para nos
defender das acusações de satanás. Quando o diabo me
acusa, o Senhor Jesus toma sobre si a acusação e
substitui a minha injustiça pela Sua justiça operada na
cruz e me mantém a salvo, revestido pela Sua Couraça
da Justiça. Entretanto, para que isto aconteça, é preciso
primeiro que você abra mão da sua justiça própria. Aquele
que a si mesmo se defende não precisa de advogado.
Quando eu confesso o meu pecado ele é fiel e justo para
perdoar todos os meus pecados e me purificar de toda
iniquidade, mas, se ao contrário, eu tentar encobrir os
meus pecados eu faço Deus mentiroso (1 João 1:9-10).

No grego, confessar significa literalmente “admitir a


veracidade de uma acusação”. A confissão é, portanto,
reconhecer que somos culpados daquilo que o diabo nos
acusa. A confissão e o arrependimento são as duas faces

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da mesma moeda que lhe põe apto para usar a couraça
da Justiça. Quando você não confessa os seus pecados
ou deles não se arrepende, você está deixando de se
apropriar do poder da justiça de Cristo e passa a
depender da sua justiça. Em outras palavras, você está
se despindo da couraça da justiça e se colocando
vulnerável. metanoia

5 – Confissão e Arrependimento: Duas Faces da


Mesma Moeda

A confissão por si só nada pode se não vier


acompanhada de arrependimento. A confissão sem
arrependimento é apenas arrogância de quem se julga
acima do bem e do mal. Não há pecado que não possa
ser perdoado pelo Senhor. Mas para que isto aconteça é
necessário que o arrependimento seja real. O
arrependimento é o desejo ardente de alinhar a minha
vontade com a vontade de Deus, meus pensamentos com
os pensamentos de Deus e a minha vida com os
mandamentos de Deus. Quando verdadeiramente me
arrependo eu paro de buscar justificativas para o meu
pecado, deixo de tentar lançar sobre as circunstâncias, as
pessoas, ou o diabo a culpa pelo meu comportamento.

Quando não há total arrependimento se vive um


cristianismo incompleto, que enquadra Cristo à própria
vontade pessoal ou ao desejo de grupos religiosos. E
quando se tenta enquadrar Cristo aos interesses de
grupos, até o amor incondicional de Deus pode ser
relativizado em prol dos próprios preconceitos, neuroses e

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rejeições gerando um cristianismo, falsificado,
contaminado, mentiroso. A gênese deste problema reside
em não termos a coragem de nos encarar. Não
permitimos que o Espírito Santo traga à tona todas as
nossas contradições e ambiguidades e, exatamente por
não querermos assumir isto, lançamos o fardo da nossa
culpa sobre o outro. Deste modo, nossos erros são
sempre justificados ou atenuados pelo comportamento do
outro, pelas decepções que vivemos, pela maldade do
mundo...

Mas a verdade é que seus pecados são seus e só seus.


Não há nada que os justifique ou os torne palatáveis,
sempre serão ofensas ao próprio Deus. Davi tinha
consciência disso, pois mesmo após ter machucado e
matado pessoas com o seu erro, ele confessou que o seu
pecado não foi contra qualquer outro homem, o seu
pecado foi unicamente contra Deus: “Contra ti, contra ti
somente pequei, e fiz o que a teus olhos é mal” (Salmo
51:4).

A verdadeira mudança de mente só é possível a partir do


confronto comigo mesmo, quando enxergo meus erros e
passo a ser conduzido por uma nova inclinação. Tal
mudança ocorre na esfera espiritual, em primeiro lugar, e
ecoa na alma e no corpo, fazendo-nos seres humanos
menos hipócritas e tomados por um sentimento de
empatia e misericórdia em relação aos erros e
sofrimentos do próximo. Infelizmente, na maioria das
vezes o arrependimento que experimentamos não é
profundo, mas eivado de racionalizações, justificativas e
atenuantes que fazem com que não possamos

- 91 -
experimentar a cura em sua plenitude. Infelizmente a
maioria caminha coxeando entre dois pensamentos, entre
duas mentes, uma renovada e desejosa de novos
horizontes e outra que mantém os velhos padrões de
valores e comportamento.

Para que você se aproprie do poder concedido por Deus


para vencer a sua batalha espiritual é necessário este
mergulho profundo de confissão e de arrependimento.
Permita-se ser sondado pelo Espírito Santo e confessar
os seus pecados um por um. Diga o nome do pecado,
confesse onde você tem falhado, assuma os seus erros e
permita que o Senhor limpe seu coração. Este é mais um
momento a sós com Deus. Volte a ler depois deste
momento de confissão.

Uma vez confessado os seus pecados, experimentado o


arrependimento e derramado as lágrimas que tiverem que
ser derramadas, você irá experimentar alívio e paz. Toda
a acusação de satanás cairá por terra e será declarada
nula. Você está justificado pelo sangue de Jesus.

Você acabou de vestir a couraça da justiça.

- 92 -
Capítulo IX
Não Ande
Descalço!
“Não ande descalço!”; “Vá calçar os pés menino!”.
Quantos de nós já ouvimos estas broncas de nossos pais
na infância? São aquelas coisas que, quando crianças,
reputávamos como chatice, mas que hoje aplicamos do
mesmo modo aos nossos filhos. O que anteriormente nos
parecia implicância era, na verdade, zelo. Os pés
calçados protegem de acidentes e ajudam a prevenir
doenças e este zelo de nossos pais nos mínimos detalhes
é demonstração do amor incondicional deles por nossas
vidas.

Espiritualmente há uma realidade semelhante. Quando a


Bíblia nos convida a usarmos à armadura espiritual ela
nos chama a atenção para andarmos com os pés
calçados. Voltando à analogia que Paulo faz entre o
centurião romano e o guerreiro espiritual, entendemos
qual o propósito de estarmos calçados para a batalha.

O calçado usado pelo soldado romano consistia em uma


sandália de couro muito grosso, podendo ser recoberta de
couro mais macio para aquecer os pés nos dias frios. O
uso das sandálias tinha um objetivo óbvio e não muito
diferente do propósito que os nossos pais tinham em
mente: proteger os pés para que não sofressem dano ao
pisar em pedras, espinhos e outros objetos

- 93 -
potencialmente perigosos. No entanto, havia outra
funcionalidade que fazia com que as sandálias se
tornassem equipamento obrigatório e fundamental para
quem estava em batalha. Esta função era tão importante
que o apóstolo Paulo o relaciona as sandálias como parte
integrante da armadura espiritual que o crente deve vestir.

1 – A Importância das Sandálias Nas Batalhas

A sandália do centurião
romano possuía um
mecanismo simples, mas
eficiente. Tratava-se de um
sistema de cravos, ou pregos,
que eram colocados na sola
do calçado, mais ou menos
como os birros nas chuteiras
de futebol ou calçados para
alpinistas. Estes cravos evitavam que o soldado
escorregasse ao longo de sua caminhada, especialmente
em terrenos íngremes ou escorregadios. Esta sandália
equipada para batalha era chamada “caligae” e sua
aparência aproximada é como demonstrado na imagem
ao lado.

Além de ajudar nas marchas, a caligae era


importantíssima no campo de batalha. Muitas vezes a luta
se travava escudo contra escudo com os soldados
lutando corpo a corpo. Neste tipo de batalha cada
centímetro conquistado era fundamental para a vitória e
uma sandália comum, sem os cravos no solado, deslizaria
na terra cedendo terreno ao inimigo, pois em terreno

- 94 -
aberto a força física de um adversário poderia ser
suficiente para empurrar o outro para trás. Usando
caligae, o soldado fincava os pés no terreno a ser
conquistado e ficava firmemente fixado no local. O
adversário não conseguia tirá-lo da posição usando a
força bruta. Á medida que o seu adversário ia recuando,
seja pela força do legionário, seja pelo cansaço da luta, o
guerreiro romano ia fincando suas sandálias adiante,
ganhando cada palmo do terreno disputado.

2 – A Caligae nas Batalhas Espirituais

Paulo tinha isto em mente quando estabeleceu a analogia


entre a caligae e a preparação do Evangelho da Paz. A
palavra traduzida por preparação também significa
prontidão, capacitação. Também significa
estabelecimento de um alicerce firme ou uma base firme
de apoio. Para obter a vitória na batalha espiritual cada
crente necessita estar calçado com a sua caligae,
preparado para não recuar ante o inimigo e fincado com
todas as forças no terreno que Deus o deu para
conquistar.

A pregação do Evangelho é a caligae do guerreiro


espiritual. É parte integrante da armadura do crente. Não
há como estarmos preparados para uma batalha espiritual
se não estivermos calçados com a caligae, firmemente
apoiados no serviço da pregação do Evangelho da Graça
do nosso Senhor Jesus.

A caligae espiritual assume muitas facetas a depender


das características pessoais de cada guerreiro. Para uns

- 95 -
poderá ser tirar um tempo para evangelismo pessoal
através de folhetos; outros se sentirão melhor
estabelecendo conversas informais com amigos, vizinhos
e conhecidos onde pode testemunhar do amor de Deus;
para outros poderá ser apoiar missionários através de
ofertas e orações; outros ainda serão os que se
envolverão diretamente em missões ou no trabalho em
juntas missionárias; haverá os que se sentirão melhor em
trabalhos de ação social com os desassistidos e outros
ainda se sentirão mais úteis se envolvendo no louvor da
sua igreja local, no ensino, ou nos demais ministérios da
comunidade onde congrega. Há ainda o gigantesco
espaço missionário na internet, onde servos de Deus
podem propagar o evangelho para multidões. O meu
ministério na internet alcança muito mais pessoas do o
ministério na igreja local que pastoreio. A internet para
mim tem sido o meu maior campo missionário.

As possibilidades são tantas quanto os crentes


alcançados pelo Senhor. Mas, independente de sua
característica pessoal e do dom e talento que Deus
derramou em sua vida, em sua batalha espiritual uma
coisa é fato: Você não pode abster-se de calçar sua
caligae! O chamado de Deus é para que você frutifique,
que a sua vida alcance outras vidas. Calçar as sandálias
da preparação ou da firmeza na pregação do Evangelho
não é apenas algo desejável, é uma necessidade de todo
momento. Paulo, escrevendo a Timóteo, admoesta-o para
que: “pregue a Palavra, a tempo e fora do tempo” (2
Timóteo 4:2). Ou seja, a Palavra de Deus nos conclama a
pregar o evangelho em todo o momento!

- 96 -
Pregar a palavra, falar do amor de Deus, lutar para
libertar os cativos tem de ser uma preocupação cotidiana
e constante de todo aquele alcançado por Jesus. Neste
momento em que você está me lendo, multidões estão
sem esperança. Pessoas afundadas nas drogas, no vício
da promiscuidade, na violência, nas enfermidades da
alma. Gente que anda sem rumo, sem perspectivas.
Neste momento, um parente, um amigo, um colega de
trabalho, um vizinho, pode estar necessitando que tão
somente um profeta de Deus se levante para lhe dar
esperança e lhe conduzir ao Encontro que vale mais que
a vida. Só depende de você se colocar à disposição de
Deus.

3 – Muitos Estão Esperando por Você!

No livro do profeta Isaías, o autor sagrado declara o


quanto o Senhor considera formosos os pés que
anunciam as Boas Novas (Isaías 52:7). Estes pés
formosos que tocam o coração de Deus são os seus!

Paulo, usando esta mesma passagem do profeta Isaías


chega a ser mais direto: “Todo aquele que invocar o
nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão
aquele em quem não creram? E como crerão naquele
de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há
quem pregue? E como pregarão, se não forem
enviados? Como está escrito: Quão formosos são os
pés dos que anunciam o Evangelho!” (Romanos 10:13-
15).

- 97 -
Já ouvi testemunhos de pessoas que se converteram em
sonhos. Recentemente na revista do site da Missão
Portas Abertas (www.protasabertas.org.br) li uma matéria
sobre muçulmanos que se converteram ao Caminho após
terem tido sonhos com Jesus, mesmo sem O
conhecerem. No entanto, após os sonhos estas pessoas
eram levadas até outros cristãos que eram usadas para
que aquele que teve o sonho pudesse finalmente
conhecer a Cristo e o Evangelho do Reino.

Não há como haver evangelho sem haver quem fale do


amor de Deus em Cristo. Se você foi alcançado é porque
alguém falou de Jesus a você. Agora Deus escolheu você
para ser instrumento Dele para anunciar aquilo que você
recebeu a outros, continuando a linha da salvação que
vem atravessando gerações.

4 – Não Tire Suas Sandálias

Muitas vezes pessoas que se sentem atacadas


espiritualmente deixam de se envolver no serviço ao
Senhor e se abstém de pregar a Palavra. Muitos deixam
de ministrar o louvor em sua igreja; param de ministrar
nas escolas bíblicas, ou não vão mais ao evangelismo;
não se envolvem no trabalho para igreja e também não se
envolvem em pregar o evangelho para os de fora.
Quando uma pessoa se abstém de trabalhar para Deus
porque se sente fraca espiritualmente, na realidade está
dando a vitória a satanás e acabou de descalçar a sua
caligae. Não preciso nem dizer como o diabo se sente
feliz em ver um crente parando de fazer a obra de Deus!
Sem a caligae em seus pés o crente começa pouco a

- 98 -
pouco a ceder terreno ao diabo. Se você ainda está
apenas no banco de sua igreja achando que assim não
sofrerá levantes do inimigo, sinto lhe dizer que este é um
terrível engano!

No nosso ministério na igreja local o nosso grupo de


louvor é composto basicamente de jovens adolescentes.
A adolescência é uma fase difícil e o adolescente cristão
trava muitas batalhas espirituais, especialmente as
bandejas dadas por satanás para que ele se afaste do
Caminho. Por isso, volta e meia, um deles se sente fraco
diante dos desafios, responsabilidades e tentações.
Quando isto acontece, nós os aconselhamos,
confortamos e os mantemos no ministério e no trabalho
para o Senhor. Manter estes jovens que passam por
lutas, envolvidos no ministério é fundamental para,
calçados com a caligae espiritual, eles poderem resistir e
vencer o mal.

Assim deve ser com você também. Nunca desista de


servir ao Senhor. Nunca descalce sua caligae. Lembre
que a utilidade da sandália do soldado romano era maior
quando a luta era mais difícil, quando o inimigo estava
mais próximo. A caligae espiritual também se torna mais
importante quando a luta se torna mais árdua. Já perdi as
contas de como o fato de servir ao Senhor me deu forças
para perseverar em meio às angústias. Saber que havia
pessoas que encontravam em mim suporte e orientação,
me animava a permanecer firme por amor a elas. Assim
será com você também, não ande descalço!

- 99 -
5 – Uma Palavra sobre a Igreja

Outro aspecto fundamental em relação ao uso da caligae


é o papel especial que a igreja exerce. Hoje tem muitos
crentes fora da igreja. Pessoas decepcionadas com a
liderança, com a comunhão fingida, com os estelionatos
espirituais, com a ganância, a manipulação e a luta pelo
poder dentro da igreja, e que tomaram a decisão de se
afastar da comunhão com os irmãos. Durante muito
tempo eu também tive esta dúvida. Pra que ir à igreja e
ver tanta hipocrisia, falsidade, traição, mentira? Por que ir
a um lugar onde se diz servir a Deus e, no entanto, se faz
tanta acepção de pessoas, culto à vaidade e
manipulações? Eu pensei durante muito tempo que a
igreja era um fardo para a vida cristã e, nos dias de hoje,
muitos pregadores professam coisas assim.

Mas, na minha caminhada, eu aprendi algumas coisas no


Senhor sobre a igreja.

A primeira e principal delas é que a igreja, por mais


contaminada que seja, é a noiva que para o Senhor é
pura e imaculada. A igreja não é o templo, nem a
instituição, mas a comunidade que se reúne para adorar
ao Senhor, apesar de suas limitações. Eu aprendi que a
igreja não é perfeita e que é cheia de problemas porque é
formada por pessoas como eu, imperfeitas e cheias de
problemas. Talvez eu não cometa os mesmos pecados de
alguns, mas certamente carrego pecados e limitações que
para outros podem parecer terríveis.

- 100 -
É na igreja que pratico o viver cristão em plenitude e o
viver cristão não é estar de mãos dadas com outros e
todo mundo fingir ser uma família. O viver cristão é dar a
outra face, é andar a segunda milha é perdoar setenta
vezes sete, é amar até aqueles que nos aborrecem. São
desafios ao viver cristão e estes desafios encontro na
igreja.

Ali aprendo a ser humilde, pois entendo que se o pecado


do irmão ainda me incomoda é porque eu ainda não me
enxergo como sou e ainda há em mim a vaidade dos
fariseus e a arrogância da igreja de Laodicéia que se via
rica e abastada, mas que era infeliz, pobre, cega e nua.
Todas as vezes que o pecado do outro me incomoda a
ponto de julgar que tenho o direito rejeitá-lo e me afastar,
me mostra o quanto eu próprio estou necessitando de
voltar ao caminho do arrependimento.

Se em algum lugar existir uma igreja perfeita, eu sei que


no dia em que eu adentrar suas portas ela imediatamente
deixará de ser. Quando me comparo ao outro e sinto que
"afinal posso não ser perfeito, mas estou melhor do que
muita gente" entro no pecado do fariseu de Lucas 18:10-
14 que orava bendizendo a si mesmo, quando se
comparava ao publicano. Quanto mais tenho problemas
em olhar com misericórdia os pecados da igreja, mais
mostro o quanto de farisaísmo e orgulho espiritual há em
mim, a ponto de considerar meu direito negar a ter
comunhão com um povo que eu julgo indigno. Isto está
longe, muito longe, do que Cristo pregou.

- 101 -
A igreja é, portanto, espelho para me enxergar,
instrumento para me aperfeiçoar em amor e cajado para
me corrigir. É o local onde a cada dia aprendo a andar em
arrependimento, a exercer a humildade e aprendo a
praticar o perdão cotidianamente. É também o local de
comunhão com irmãos, tão diferentes e às vezes tão vis,
mas que mesmo assim são amados pelo Senhor em sua
infinita misericórdia que é tão grande que alcançou a mim
também. A salvação não está na igreja, está em Cristo.
Mas a igreja ainda é a principal ferramenta usada por
Deus para aperfeiçoamento dos santos, mesmo santos
ainda tão longe de aprender a amar incondicionalmente.
Quanto mais aprendemos a amar a igreja com todos os
seus problemas, estamos um pouco mais perto de
aprendermos a sermos seguidores de Cristo. Só quando
eu me vejo como sou: absolutamente injusto e carente da
misericórdia de Deus, é que o meu irmão em seus erros
me incomodará cada vez menos. Pois saberei que nós
somos semelhantes: ambos dependentes da misericórdia
e da graça derramada na cruz por aquele que não veio
salvar justos, mas pecadores (1 Timóteo 1:15).

É por tudo isso que o Senhor determinou que é na igreja


que você exercita plenamente o ministério que Ele lhe
confiou. Ali você assume compromissos e é exercitado
em disciplina. A igreja é e sempre será o espaço para o
meu preparo espiritual, especialmente no uso das
sandálias da preparação do Evangelho da Paz.

A Igreja ainda é o Corpo de Cristo na terra. Não há como


dizer amar a Ele, sem amar também a seu Corpo. Como

- 102 -
nos ensina a epístola aos Hebreus, “não devemos deixar
de congregar” (Hebreus 10:25).

6 – “Ai de mim se Não Pregar o Evangelho”

A caligae é a arma que a maioria de nós tem menos


consciência. Normalmente pensamos que o serviço que
prestamos a Deus em nossa igreja ou no ministério
pessoal que desenvolvemos é apenas um ato de
misericórdia, de responsabilidade ou de compromisso. Tal
coisa não deixa de ser verdade, mas o ministério que
você exerce é mais do que isto. Ele é uma poderosa arma
espiritual que lhe mantém firme, sem ceder terreno ao
inimigo. É também um apoio a partir do qual você pode
conquistar novos territórios.

A figura ao lado é a marca deixada pela


caligae de um soldado romano na cidade
de Barcelona, na Espanha. Acredita-se que
esta pegada foi deixada por volta do
segundo século depois de Cristo. Ou seja, a
marca deixada pela sandália deste soldado
foi tão profunda que durou mais de 1.800
anos!

Assim deve ser a marca deixada por um


guerreiro cristão em sua luta para conquistar vidas para o
Senhor. Assim como a marca das sandálias deste
soldado venceu o tempo e mostrou a eficiência deste
equipamento, assim também a caligae espiritual que você
veste neste momento, irá deixar marcas até a eternidade.
Marcas de salvação, restauração, misericórdia, amor e

- 103 -
edificação de muitas vidas através de você. Este é o
plano e o chamado de Deus para sua vida.

Não negligencie o ministério que Deus lhe confiou, nem


enterre o talento e dons que Ele lhe outorgou, quando faz
isso você está abrindo mão de uma arma fundamental de
sua armadura espiritual e o grande prejudicado é você.
Por isso Paulo declarou: “ai de mim se não pregar o
Evangelho!” (1 Coríntios 9:16). Que esta mesma
disposição inunde seu coração.

A armadura espiritual deve ser vestida por completo.


Portanto, calce as sandálias para anunciar o evangelho,
continue firme na obra que o Senhor lhe confiou. Seja fiel
a Deus, não tema o homem, deposite o seu temor
somente Nele. Os Filhos de Deus não podem estar
apenas nos bancos da igreja. Devem também servir ao
Senhor: evangelizando, trabalhando, abençoando, sendo
aperfeiçoado e buscando ser alguém melhor a cada dia.
Isto lhe dará vitória.

As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja,


nem contra aquele que calça as sandálias da pregação do
Evangelho e anuncia as boas novas de Salvação.

- 104 -
Capítulo X
O Escudo
Da Fé
Existiam vários tipos de escudo usados pelos romanos,
desde os broquéis, pequenos escudos que eram mais
usados como armas de ataque, até escudos que cobriam
praticamente todo o corpo do legionário. A escolha entre
um escudo ou outro dependia do tamanho do confronto
que se esperava.

Quando um centurião romano ia para uma grande batalha


ele usava o armamento pesado e um escudo especial: o
thureo. A palavra thureo deriva da palavra grega thura,
que significa “porta” porque ele era grande e retangular,
semelhante a uma porta. Este escudo protegia todo o
corpo do centurião. Conta a tradição, que as mães dos
soldados que iam à guerra apontavam para o thureo e
diziam: “volta para casa e traz este escudo contigo, ou
volta nele”, isto porque o escudo era tão grande que
também podia servir de maca para os soldados feridos ou
mortos.

É deste escudo que Paulo nos fala quando se refere ao


escudo da fé.

- 105 -
1 – Os Dardos Inflamados do Maligno

Nas batalhas espirituais, o escudo da fé tem a função


primordial de proteger o guerreiro cristão contra os dardos
inflamados do maligno (Efésios 6:16).

Na antiguidade, os dardos inflamados eram flechas ou


lanças cujas pontas possuíam uma mecha embebida em
material combustível que eram acesas antes de serem
arremessadas. Ao chegar ao seu destino esses dardos
inflamáveis podiam tanto perfurar o inimigo quanto
provocar incêndios.

A Palavra nos diz que o maligno não pode nos tocar (1


João 5:18) e que o anjo do Senhor acampa ao redor dos
escolhidos de Deus para livrá-los (Salmo 34:7). Sendo
protegido pelo Senhor você está seguro e o maligno não
entra em contato direto com você. Não resta alternativa
ao adversário a não ser ficar ao derredor procurando a
quem devorar (1 Pedro 5:8). Exatamente por não poder
entrar em contato direto com você, satanás necessita de
uma arma de longo alcance: os dardos inflamados. Assim
como os dardos inflamados das guerras humanas, os
dardos inflamados do maligno são armas de ataque à
distância que têm a dupla função de ferir e incendiar. Os
dardos inflamados simbolizam as tentações e sugestões
que o inimigo lança sobre a sua vida e que podem
incendiar sua alma com o desejo pelo pecado.

Para cada situação que potencialmente pode levá-lo ao


pecado ele estará ao derredor lançando pensamentos e
ideias, sugerindo que você haja fora da vontade de Deus.

- 106 -
Por exemplo, para um homem casado ele pode lançar um
dardo: “olha só, sua amiga parece interessada em você”;
para a mulher casada ele pode lançar outro dardo:
“reparou como seu colega é mais atencioso que seu
marido?”; para alguém com problema de autoestima ele
pode arremessar: “ninguém gosta de você mesmo”, ou
“nada pra você dá certo”. Estes dardos podem vir em
forma de pensamentos aparentemente espontâneos,
através de sonhos, pela conversa com uma alguém... Os
instrumentos usados por satanás são tão variados quanto
são as possibilidades de induzir alguém ao erro.

Através de seus dardos inflamados satanás vai urdindo a


teia de sedução. Vai gerando conflitos, alimentando
desejos, criando situações, afastando-o paulatinamente
da comunhão com Deus. No entanto, é importante estar
atento para o fato de que os dardos inflamados não irão
obrigar ninguém a fazer o que é sugerido. O que acontece
é que uma sugestão lançada pode encontrar terreno no
coração e inflamar a alma. Aquela pequena sugestão
começa a ser acalentada, gerando o desejo que se não
for combatido irá crescer até incendiar o coração. O
desejo concebe o pecado e este, uma vez consumado,
gera a morte (Tiago 1:14-15).

2 – O Visível e o Invisível

“A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam


e a prova das coisas que não se veem” (Hebreus 11:1).
A fé é a certeza de coisas que ainda não aconteceram e
que muitas vezes sequer dão sinal de que vão acontecer.
Também é a prova de coisas que já aconteceram no

- 107 -
plano espiritual, mas que eu ainda não vejo com meus
olhos no plano físico. Pela fé eu sei que já estou
assentado nos lugares celestiais (Efésios 2:6); pela fé eu
tenho a certeza que todas as coisas contribuem para o
meu bem (Romanos 8:28); pela fé eu não tenho dúvidas
de que aquele, que nem mesmo a seu Filho negou,
certamente me dará juntamente com ele todas as demais
coisas que eu necessito (Romanos 8:32). Fé é ter a
convicção absoluta de que Deus cumpre aquilo que Ele
diz. “Disse o Senhor: Eu velo por minha Palavra para
cumpri-la” (Jeremias 1:12).

Foi feito um estudo científico em que pessoas eram


convidadas a optar entre receber determinada quantia em
dinheiro na hora ou receber muito mais após algum
tempo. A maioria dos participantes preferiu a recompensa
imediata. Esta característica é fartamente estudada pela
ciência e é chamada pelos psicólogos sociais de
“desconto do futuro”. Entre um pequeno benefício
imediato ou aguardar por algo muito melhor no futuro, a
inclinação humana é não esperar, mesmo que isto
signifique abrir mão da bênção muito maior.

Vemos isto claramente na história de Jacó e Esaú. Entre


o bem maior da primogenitura e a saciedade imediata que
lhe traria um mero prato de lentilhas, Esaú preferiu
desprezar a promessa (Gênesis 25:29-34).

O diabo conhece a psicologia humana muito antes de o


primeiro psicólogo social surgir. Conhece a nossa
tendência ao imediatismo, de nos guiar pelo que vemos e
buscar a satisfação momentânea, e é usando esta nossa

- 108 -
tendência que ele nos leva para longe da vontade de
Deus. A proposta de satanás é sempre para o imediato, o
visível, para o prazer inconsequente. Ele sempre lançará
dardos que apontam para o caminho fácil do pecado.

O diabo sempre lhe levará a andar pela vista e sempre


tentará colocar na sua mente que a promessa tarda a se
cumprir. Fará com você como fez com Sara que preferiu
dar sua serva Agar a Abraão na esperança de receber
logo o filho prometido; ou como fez com Ló que preferiu a
campina fértil do Jordão onde ficavam as cidades de
Sodoma e Gomorra; ou ainda como o caso de Israel que
preferiu o bezerro de ouro a esperar pelo Moisés perdido
nas brumas dos trovões, raios e nuvens que caíam sobre
o monte Sinai. Esta também será a estratégia dele contra
a sua vida.

Não se deixe guiar pela vista. Não se deixe seduzir pelas


coisas que se veem, mas se inspire nas coisas que não
se veem, “porque as coisas que veem são temporais,
mas as que não se veem são eternas” (2 Coríntios
4:18). “Se esperamos o que não vemos, com
perseverança esperamos” (Romanos 8:25). Não ande
pela vista, onde tudo o que é aparentemente sólido um
dia se desfará no ar, antes, espere com paciência no
Senhor e certamente Ele ouvirá o seu clamor e se
inclinará para lhe abençoar e dar a vitória (Salmos 40:1).

3 – A Fé e as Emoções

O grande trunfo dos dardos inflamados do maligno é


mexer com suas emoções. Se você é dominado por suas

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emoções estará sempre vulnerável às investidas do
diabo. Quando você empunha o escudo da fé começa a
se libertar do domínio das emoções, deixa de ser guiado
pelos sentimentos e passa a ser direcionado por Deus.

As emoções vão e vêm. Dependem de inúmeros fatores,


inclusive hormonais. Algumas mulheres, por exemplo,
passam por grandes transformações em seus
sentimentos durante a TPM; há homens que
experimentam verdadeiras quedas de ânimo à medida
que se aproximam da andropausa. Uma noite mal
dormida, uma enfermidade, uma música, a perda de
alguém, inúmeros fatores podem influenciar nossas
emoções e sentimentos, mas a verdadeira fé só é
influenciada pelo que Deus diz em sua Palavra.

Não permita que as emoções guiem sua vida, elas são


péssimas conselheiras. A pessoa escravizada pelas
emoções oscila em suas convicções. Em um momento é
um crente consagrado, em outro se torna um crente
carnal; em uma hora sente uma fé inabalável, na outra
está repleto de dúvidas; em um instante deposita sua
confiança em Deus, no outro enche seu coração com
murmuração. Um crente que vive à base das emoções e
sentimentos não se firma na fé e seu coração vive
oscilando entre momentos de dúvidas e aparente
momentos de fé. É como a onda do mar, sendo levado de
um lado para o outro pelo vento (Tiago 1:6).

Sendo guiado pela fé e não pelos sentimentos o guerreiro


espiritual torna-se estável em sua vida e guarda
firmemente a sua confissão da esperança, sem vacilar,

- 110 -
pois sabe que aquele que prometeu é fiel (Hebreu 10:23)
e sabe que para Deus só há uma coisa impossível: “é
impossível que Deus minta” (Hebreus 6:18). Ele tem
certeza que: “Deus não é homem para que minta, nem
filho de homem para que se arrependa” (Números
23:19) e quando a dúvida se insinua em seu coração ele
ousadamente declara: “Seja todo homem mentiroso e
Deus verdadeiro” (Romanos 3:4). Ele tem as promessas
do Senhor como âncora firme que lhe sustenta em meio
às tempestades.

O crente guiado pela fé não se deixa levar pelos


sentimentos, mas anda com o olhar fixo nas promessas
de Deus e em Jesus, autor e consumador de nossa fé
(Hebreus 12:2). “Os que confiam no Senhor são como
o monte de Sião que não se abala, mas permanece
para sempre” (Salmo 125:1).

4 – A Fé Autentica

Nos dias de hoje, a visão que a maioria das pessoas tem


sobre a fé é completamente equivocada. Baseia-se em
algo parecido com o poder do pensamento positivo
propagado nos livros de autoajuda. Mas a fé que move o
coração de Deus não é uma fé teórica, nem ritualística. A
fé que agrada a Deus não tem nada a ver com estes
conceitos do mundo. A fé que a Palavra propaga é antes
de tudo prática, “a fé sem obras é morta em si mesma”
(Tiago 2:26).

Quando a mulher siro-fenícia se aproximou de Jesus para


buscar a cura de sua filha ela não desistiu. Embora

- 111 -
aparentemente o próprio Senhor tenha colocado
dificuldades para que o milagre acontecesse, a fé daquela
mulher permaneceu firme: “até os cachorrinhos se
alimentam das migalhas que caem da mesa de seus
donos”. Estas palavras que expressavam a confiança
daquela mulher no Deus que não nega o seu amor,
moveu o coração de Jesus e, por causa desta declaração
ousada, Ele declarou: “Grande é a sua fé” e o milagre
aconteceu (Marcos 7:24-29). Da mesma forma um
centurião romano se achegou a Cristo pedindo por seu
servo, mas perante o Senhor declarou: “Basta uma só
palavra tua” (Mateus 8:5-13). Para aquele homem não era
necessário sequer a presença física do Senhor, ele tinha
a certeza que a bênção viria. Esta confiança deixou Jesus
maravilhado. Isto é fé.

A Bíblia relata no evangelho de Marcos 2:1-5, a história


de um homem paralítico que foi conduzido por quatro
amigos para a presença de Jesus. Ao chegar à casa onde
Jesus estava eles viram que a aglomeração era tão
grande que nem mesmo à porta podia-se ficar. Eles não
se detiveram. Já que não podiam entrar pela porta, um
deles teve a ideia de levar o amigo até Jesus através do
lugar mais improvável: o teto!

Eu fico a imaginar aqueles homens no meio da multidão


se acotovelando, subindo ao telhado; fico imaginando
como conseguiram subir a maca e o amigo paralítico e
depois destelhando a casa. Creio que o dono da casa não
deve ter ficado muito feliz com isto, mas para eles havia
um alvo claro e nada podia impedi-los. A Bíblia relata que
o Senhor ao ver a fé deles curou o enfermo. Preste bem

- 112 -
atenção, não foi a fé do paralítico apenas, mas a fé
desses quatro amigos foi o que moveu o coração de
Jesus. Esta é a fé que agrada a Deus.

No início deste capítulo vimos que, devido ao seu


tamanho, o escudo romano, o thureo, era usado também
como maca para transportar mortos e feridos, pessoas
que não podiam se locomover. Aqueles quatro amigos
estavam carregando o paralítico na maca, mas
espiritualmente também o estavam carregando com o
escudo da fé. A fé autêntica nos carrega nos momentos
de fraquezas e quando não conseguimos mais caminhar.
Quando nos sentimos nossos sonhos mortos, ou
pensamos que não há mais esperança, a fé nos encoraja
a não desistir. Ela nos sustenta em nossas dúvidas e
quando o desânimo se insinua em nosso coração é ela
que nos faz persevera. Talvez neste momento você esteja
como estes quatro amigos, ou como o centurião romano,
ou ainda como a mulher siro-fenícia. Esteja buscando o
agir de Deus em sua vida ou na vida de alguém que você
ama. Deixe a fé lhe sustentar e persevere nela. Não
vacile mais, nem fique coxeando entre dois pensamentos.
Caminhe pela fé, possua a terra que lhe foi prometida e
ande conforme a vontade de Deus em todas as coisas.

A fé autêntica não é ansiosa, ela descansa Naquele que


prometeu. Ela é um ato definitivo de entrega e confiança.
A fé que move o coração de Deus é ousada em sua
expressão, pois sabe que está diante Daquele que “é
capaz de fazer infinitamente mais do que aquilo que
pedimos ou pensamos” (Efésios 3:20) e, portanto, deve
ser repleta de ousadia e confiança neste Pai amoroso que

- 113 -
é galardoador, abençoador, de todo aquele que O busca.
É esta fé que fará diferença em sua vida e sem ela é
impossível agradar a Deus (Hebreus 11:6).

5 – Alinhando os Escudos

Quando enfrentavam um
combate muito intenso, os
soldados romanos se
organizavam em uma estratégia
chamada de “formação
tartaruga”. Eles se reuniam em
uma formação quadrangular e
colocavam seus escudos bem
juntos uns dos outros formando
uma parede externa, enquanto
os que ficavam do lado de
dentro da formação levantavam
seus escudos formando um
teto. Este alinhamento dos escudos protegia todo o grupo
como a carapaça de uma tartaruga protege seu corpo.
Esta estratégia mantinha os legionários seguros contra os
ataques e era importante para abrir caminho em meio a
uma multidão de inimigos. O escudo de cada legionário
não só o protegia individualmente como também protegia
o companheiro que estava do seu lado.

No caso dos quatro homens que conduziram o paralítico


até Jesus, vemos esta “formação tartaruga” em prática no
reino espiritual. A fé de cada um desses homens era
como um escudo que não protegia só a si mesmo, mas
que dava cobertura também àquele homem que jazia no

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leito. Assim também deve ser na Igreja do Senhor, cada
um de nós tem de colocar a sua fé não apenas a serviço
de si, mas também para auxiliar outros. A sua fé e
intercessão pode livrar um irmão dos dardos inflamados
do maligno. A sua fé pode fortificar o outro que está
enfraquecido. A sua fé pode ser usada por Deus para
proteger outro irmão que está debaixo do ataque do mal.
Que bom seria se nossas igrejas tivessem clara a
dimensão de Corpo, sabendo que se um membro padece
todos os outros padecem juntos e alinhando seus
escudos para a proteção mútua. Muitos dos que caíram
na caminhada poderiam estar firmes até hoje se tão
somente a igreja se prontificasse a alinhar seus escudos
e se proteger mutuamente.

Alinhar o nosso escudo para nos proteger mutuamente é


também uma estratégia fundamental na proteção
espiritual de sua família. Quando cada membro embraça
seu escudo e com a sua fé alimenta e protege os demais
membros, o inimigo passa a não achar brecha por onde
atuar. Quando um filho intercede por seus pais e os pais
clamam pelos seus filhos; quando um esposo ora junto
com sua esposa; quando a família se reúne para um culto
doméstico; quando um relacionamento se alimenta da fé
mútua, edificando, abençoando, admoestando e
ministrando uns aos outros, a fé de todos é fortalecida e o
resultado é muito mais poderoso do que se cada um
lutasse com o seu escudo sozinho. É por isso que a
Palavra nos admoesta a nos edificarmos, servindo um ao
outro e suportando-nos em amor, esse é o caminho do
verdadeiro exército de Deus que jamais será
envergonhado.

- 115 -
6 – O Ensino de Jesus Para Aumentar a Fé

É preciso ter bem claro em sua mente qual a verdadeira


natureza da fé conforme expomos até aqui. Esta fé é
sobrenatural e não vem de você mesmo, ela é dom de
Deus (Efésios 2:8). Esta fé nos “vem pelo ouvir e o ouvir
pela Palavra de Cristo” (Romanos 10:17). Quando
anunciamos Jesus esta fé penetra o coração dos homens
e transforma vidas, pois quando pregamos Jesus, o
Espírito Santo ativamente se manifesta convencendo o
homem do pecado da justiça e do juízo. Se você recebeu
a fé sobrenatural que lhe resgatou das trevas e lhe
transportou para a luz. Você já tem dentro de si o poder
de Deus. No entanto, uma vez inundados por esta fé
sobrenatural que é dom de Deus, a Bíblia nos ensina que
devemos desenvolvê-la, assim como os demais dons
recebidos do Senhor, para que sejam abundantes e
sirvam de edificação para a igreja de Cristo (1 Coríntios
14:12). E para aprendermos como desenvolver, como
aumentar, a nossa fé vamos aprender com quem é o
Autor e Consumador desta fé: O Senhor Jesus.

Jesus insistentemente ensinava seus discípulos sobre o


poder da fé. Ele ensinou que a fé era capaz de transportar
montes (Mateus 17:20); disse também que tudo o que
pedirmos crendo, receberemos (Marcos 11:24); falou que
“tudo é possível ao que crê” (Marcos 9:23). Um dia seus
discípulos, desejosos em possuir esta fé capaz de atingir
o impossível, foram até Cristo e pediram que o Senhor
lhes aumentasse a fé (Lucas 17:5). Leia o que Jesus
respondeu:

- 116 -
“Respondeu-lhes o Senhor: Se tiverdes fé como um grão
de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e
transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá. Qual de vós,
tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o
gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem já e põe-
te à mesa? E que, antes, não lhe diga: Prepara-me a ceia,
cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois,
comerás tu e beberás? Porventura, terá de agradecer ao
servo porque este fez o que lhe havia ordenado? Assim
também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi
ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque
fizemos apenas o que devíamos fazer.” (Lucas 17:6-
10).

Aparentemente, a resposta de Jesus parece não ter nada


a ver com a pergunta que lhe foi feita: Seus discípulos
pediram que lhes aumentasse a fé e a resposta do
Senhor foi uma parábola sobre um servo inútil que só faz
aquilo que lhe ordenam. No entanto, se analisarmos com
cuidado, veremos que estas palavras aparentemente
enigmáticas contém a resposta de Deus para todo aquele
que deseja aumentar a sua fé.

O que Jesus ensinou com esta parábola é que assim


como um servo não tem nada para se gabar perante seu
senhor, mas deve obedecê-lo incansavelmente, assim
também somos nós em relação ao nosso Senhor. É esta
obediência sem jactância, sem barganha, sem desejo de
recompensa; obediência de servo inútil que por mais que
faça ainda assim só faz o que lhe foi ordenado; é esta
obediência aumenta a nossa fé. Em resumo: Você deseja
aumentar sua fé? Comece a obedecer!

- 117 -
A fé aumenta à medida que começamos a obedecer
aquilo que o Senhor nos orienta, mantendo o coração de
servo inútil. Quando passamos a perdoar, a amar, a
servir, simplesmente porque é isto que Deus deseja de
nós; quando andamos em arrependimento de obras
mortas; quando abandonamos os nossos pecados,
movidos pelo desejo de agradar ao nosso Senhor pelo
que Ele é e abrimos mão do nosso orgulho, da nossa
arrogância e de nos julgarmos justos aos nossos próprios
olhos. Quando agimos assim, a nossa fé vai aumentando
dia a dia. Esta obediência de servo inútil não impõe
limites, não contra-argumenta, não tenta reservar
prerrogativas para si mesmo. Simplesmente busca
obedecer a Palavra e andar pela Palavra.

Normalmente buscamos que Deus aumente a nossa fé


para que possamos obedecê-lo. Mas a lógica de Jesus é
inversa: É a nossa obediência que aumenta a nossa fé. É
a decisão de obedecê-lo que nos fortalece na fé, e a fé,
uma vez fortalecida, nos capacita a obedecê-lo mais e
mais em um circulo virtuoso que nos conduz a
experimentar intimidade com Deus e o sobrenatural se
torna real em nossa vida. Eu posso afirmar que
verdadeiramente assim acontece. Ao tomar conhecimento
desta verdade, comecei a buscar obedecer a Palavra,
sem questioná-la com o meu racionalismo; busquei andar
conforme a Palavra e todas as vezes que não o
conseguia, confessava o meu pecado, sem tentar
justificá-lo, recebia o perdão e recomeçava. À medida que
eu agia assim, o Espírito Santo foi tomando minha vida e
foi ficando cada vez mais fácil obedecer e, o mais

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interessante, a minha fé foi aumentando. Ainda sou obra
inacabada e sei que aquele que começou em mim a boa
obra vai completá-la (Filipenses 1:6). Mas aquilo que
tenho alcançado compartilho com você, pois sei que
verdadeira e fiel é a Palavra do Senhor. Obedeça a Deus!
Este é o segredo para aumentar a sua fé.

Munido do escudo da fé você não mais andará coxeando,


não mais titubeará, não mais será levado ao sabor das
emoções, nem oscilará de acordo com as circunstâncias.
Claro que isto será um processo e como todo processo
haverá momentos de aparente estagnação e até mesmo
de retrocessos, mas saiba que tudo faz parte do projeto
de Deus para lhe capacitar para as coisas grandes e
firmes que Ele tem preparado para sua vida.

“Porque todo o que é nascido de Deus vence o


mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa
fé” (1 João 5:4).

- 119 -
Capítulo XI
O Capacete
Da Salvação
No princípio criou Deus os céus e a terra, ora a terra era
sem forma e vazia; havia trevas na face do abismo e o
Espírito de Deus se movia sobre as águas. E disse Deus,
“haja luz” e luz se fez; era o primeiro dia da criação. Em
seguida Deus separou as águas que estavam abaixo do
firmamento e as que estavam acima do firmamento, e
chamou o firmamento de céu; este foi o segundo dia. No
terceiro dia Ele fez surgir a terra seca e fez com que
brotassem da terra a relva, ervas e árvores frutíferas. No
quarto dia, o Senhor determinou que o sol, a lua e as
estrelas brilhassem no céu e no quinto dia, ordenou que
as águas e a terra produzissem seres viventes, animais
para habitarem a terra. No sexto dia, criou o homem e a
mulher e, ao contemplar tudo o que fizera, Ele viu que era
tudo muito bom e descansou.

O que você acabou de ler é um resumo do relato da


criação conforme o primeiro capítulo de Gênesis. Ali
vemos um mundo em que nada existia, nem a luz, nem o
tempo, nem o espaço, nem a vida. O Senhor trouxe à
existência aquilo que não existia, como se já existissem
(Romanos 4:17) e o visível foi feito a partir daquilo que é
invisível (Hebreus 11:3).

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Mas antes de criar todas estas coisas, Deus fez algo que
não consta no livro do Gênesis.

1 – Antes da Fundação do Mundo

Antes que houvesse luz e de fazer surgir o céu e a terra;


antes de fazer brilhar a primeira estrela ou que os raios do
sol aquecessem a terra primitiva; antes que a primeira
planta brotasse do solo ou que o primeiro peixe nadasse
nos oceanos; antes que o primeiro réptil rastejasse sobre
o chão e antes que o primeiro homem e a primeira mulher
se tornassem alma vivente. Antes de tudo isto Deus fez
uma coisa, uma vez para sempre, que ecoa para a
eternidade:

Antes de criar todas as coisas, Deus amou você!

Ele lhe amou quando você só existia nos sonhos Dele;


um amor incomensurável, inescrutável e irresistível, tão
intenso que, por este amor, Ele foi capaz de entregar-se a
si mesmo por você e morrer em seu lugar. O amor de
Deus o levou à cruz. Foi com amor eterno, antes da
fundação do mundo, que o Deus de amor nos elegeu e
predestinou para sermos Seus filhos (Efésios 1:3-5) e
comprou com seu próprio sangue o direito de escrever o
nosso nome no Livro da Vida (Atos 20:28) para que
pudéssemos estar com Ele por toda a eternidade.

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2 – Cristo Não é Religião

Todas as religiões têm obrigações que devem ser


cumpridas para alcançar o favor da divindade ou para o
aperfeiçoamento pessoal. A fé cristã não é uma religião, é
um encontro na graça através de Cristo. Por isso, não há
obrigações: Há o encontro que transforma. O cristianismo
não repousa sobre um novo código legal. Antes, baseia-
se no relacionamento pessoal de cada homem com Deus
a partir de Jesus. Este relacionamento firma-se
unicamente na fé e na caminhada em amor que
transforma mentes e corações. Nós somos salvos porque
Deus se fez carne e em um ato radical de amor se
entregou por nós. Isto nada tem a ver com leis ou
ordenanças a serem cumpridas. A loucura da cruz não se
encerra em um argumento legal. É loucura exatamente
por não ter argumentos racionais para explicá-la. É a
entrega de Deus para reconciliar com Ele todas as coisas
(2 Coríntios 5:19) e atrair todos a Ele (João 12:32). É o
Criador de todas as coisas abandonando seu direito
divino de ser temido e adorado, e assumindo sua vocação
de Pai que deseja apenas ser amado.

O desejo de transformar a graça em um novo código de


leis que deve ser obedecido é o nosso grande equívoco.
Quando fazemos isso, transformamos Cristo em uma
religião e tecemos uma camisa de força que gera
neuroses e traumas, incentiva a hipocrisia e nega a
liberdade para qual Cristo nos libertou (Gálatas 5:1). Isto
acontece porque a nossa mente está seduzida pelo
desejo de autojustificação. Não conseguimos aceitar que
o favor é gratuito, que o preço já foi pago. Desejamos, de

- 122 -
algum modo, sermos merecedores, nem que seja dentro
de uma perspectiva reduzida em que “escolhemos” certos
mandamentos para fazer deles o parâmetro pelo qual
julgamos quem é salvo ou não.

No entanto, a despeito de nossa vontade de impor e


controlar o outro, a salvação sempre será através do
encontro com Deus, nunca por méritos próprios de
alguém que seguiu um receituário religioso. Quando
temos este encontro libertador, visceral, transformador e
indescritível, nos tornamos seres humanos melhores.
Esta é a mensagem da cruz. Esta é a graça de Deus que
se revelou em Cristo. Esta é a essência da Salvação.

3 – O Capacete da Salvação

O capacete da salvação é a garantia que temos de que


nada poderá nos tirar do Senhor. É a segurança de que
nada nos separará do amor de Cristo:

“Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os


principados, nem as potestades, nem o presente, nem
o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem
alguma outra criatura nos poderá separar do amor de
Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!”
(Romanos 8:38-39). Em nossa batalha espiritual esta
certeza será crucial!

Quando Paulo representou a salvação como sendo um


capacete, ele buscava destacar a função vital que ela
desempenha em nossa caminhada e em nossas lutas. A
cabeça é a sede dos pensamentos e é onde residem

- 123 -
quatro dos cinco sentidos que nos fazem perceber o
mundo: visão, audição, olfato e paladar. Assim como o
capacete protegia esta região vital do legionário, assim
também o capacete da salvação protege os pensamentos
e a percepção espiritual do soldado do Senhor. Do
mesmo modo que o capacete dava segurança à
capacidade de raciocínio e percepção do legionário em
suas batalhas no mundo físico, o capacete da armadura
de Deus dá ao crente a segurança da salvação. Esta
segurança dá ao guerreiro espiritual a convicção da vitória
em suas batalhas, sabendo que em todas as lutas que
travar a sua salvação nunca estará em jogo, pois está
protegida e garantida pelo Senhor (2 Timóteo 1:12).

4 – A Salvação e a Ansiedade

O diabo vai tentar tirar de você esta certeza e fazer com


que você creia que a sua salvação é conquistada com a
força do seu braço ou que é mantida pelo seu próprio
empenho. Tal disposição mental tira o seu foco de Deus e
da garantia que há Nele e faz com que seus olhos se
voltem para você mesmo e para o seu esforço de
alcançar e manter a salvação. Quando você tira os olhos
da Graça, da cruz, da misericórdia e da centralidade e
total dependência de Deus, passa a andar ansioso e
dominado pelo medo de falhar, de errar, pecar e cair.
Como vimos, a ansiedade bloqueia o agir de Deus em
nossa vida e é este o objetivo do diabo.

Quem garante a sua salvação não é você, é o próprio


Deus. Quando você se apossa das garantias que Ele lhe
dá e, pela fé, se apropria da certeza de que a sua

- 124 -
salvação está segura, você descansa da ansiedade e
entra na batalha com confiança.

A doutrina de que a salvação pode ser perdida nos leva


fatalmente à ansiedade e ao medo e estes sentimentos
são poderosas armas nas mãos do inimigo. Muitos vivem
debaixo de angústia por julgarem que a sua salvação
depende de si mesmos.

Veja um exemplo de como seria a vida de uma pessoa se


a salvação dependesse do esforço humano:

Imagine uma pessoa que teve um encontro com Jesus,


mas, assim como você e eu, ainda é obra em construção.
Imagine que este crente seja casado e peca ao olhar com
desejo para alguém. Jesus nos diz que o olhar cobiçoso
sobre alguém já significa adultério (Mateus 5:28) e a
Bíblia nos ensina que os adúlteros não herdam o reino
dos céus (1 Coríntios 6:9), portanto o nome deste crente
seria riscado do livro da vida. Suponha agora que ele se
arrependesse do seu pecado. Pela doutrina de que a
salvação fica oscilando de acordo com o nosso
comportamento, o nome seria novamente escrito.
Continuando a acompanhar o dia desta pessoa, vamos
supor que em uma discussão ele se deixou levar por um
acesso de ira que lhe tomou o pensamento. Cristo
ensinou que o ódio equivale ao homicídio (Mateus 5:21-
22) e, mais uma vez, a Bíblia nos avisa que os homicidas
ficarão de fora (Apocalipse 22:15).

Sem ainda praticar absolutamente nada de concreto,


apenas em seu pensamento, este homem já teve o seu

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nome riscado do Livro duas vezes em apenas um dia! E
tantos quanto sejam seus pecados, tantas serão as vezes
que terá seu nome riscado. É como se houvesse um anjo
“riscador” e um anjo “escrevedor”. Um que escreve seu
nome quando você se comporta bem e outro que risca
seu nome quando seu comportamento é mal. Muitos
consideram que a salvação é realmente um ciclo de
escritas e rasuras, até o último suspito de vida. A
salvação segundo esta doutrina seria um constante riscar
e reescrever seu nome. É claro que este tipo de visão só
pode gerar uma igreja legalista, ansiosa e que vive
debaixo do medo, indo contra a Palavra que diz que não
devemos andar ansiosos por coisa alguma (Filipenses
4:6) e que o perfeito amor lança fora todo o medo (1 João
4:18).

6 – A Salvação é e Sempre Será Pela Graça

Alguns ainda insistem que a salvação deve ser


conquistada ou mantida através do esforço pessoal. Mas,
e se o pecado for socialmente aceito e o arrependimento
não acontecer, por simplesmente ninguém se importar
com isto? Você sabia que existem pecados que quase
todos nós cometemos e que a imensa maioria nunca se
arrepende? Quer um exemplo?

Em Mateus 25:40-53 Jesus faz uma separação clara


entre os bodes e as ovelhas. Os primeiros serão
destinados ao inferno, mas o segundo grupo irá para o
Reino dos Céus. Você sabe qual a diferença entre estes
dois grupos? Conforme as palavras de Jesus, o primeiro
grupo não alimentou o faminto, nem deu água ao

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sedento; não visitou o encarcerado e o enfermo, não
vestiu o nu, nem hospedou o forasteiro. Por outro lado, o
segundo grupo praticou todas estas boas obras. Na
parábola de Jesus, enquanto os que alimentaram, deram
água, vestiram e visitaram os necessitados, receberam a
vida eterna, aqueles que foram omissos foram
condenados ao inferno. Um aspecto importante é que na
passagem em que condena os bodes Jesus afirma que
“todas as vezes” em que estes deixaram de praticar a
justiça social eles pecaram contra o próprio Jesus. A
expressão grega hosos, que traduzimos como “todas as
vezes”, neste contexto, deixa claro que estas coisas não
devem ser praticadas apenas como uma eventualidade
em nossas vidas, mas deve ser preocupação constante
na vida daqueles que se dizem ovelhas.

Agora eu lhe peço que seja absolutamente franco e


responda: A preocupação com os despossuídos é uma
prioridade em sua vida? É uma prioridade na vida da
maioria dos crentes “fiéis” que você conhece?

A verdade é que poucos de nós se sentem realmente


incomodados a agir e vejo pouquíssimas pessoas se
arrependendo deste pecado. Como fica então? Risca-se o
nome e não se escreve mais até que o cuidado com os
desamparados torne-se prioridade nas nossas vidas?
Este é apenas um exemplo. Se formos considerar apenas
a força dos mandamentos e da lei, ninguém seria salvo. A
verdade é que se alcançar ou manter a salvação
depender de mim ou de você e de nossas obras, todos
nós estamos irremediavelmente condenados!

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A Bíblia nos ensina que somos salvos pela graça,
mediante a fé; e que não vem de nós, mas é dom de
Deus, não vem do nosso esforço para que diante de Deus
ninguém tenha motivos para jactar-se (Efésio 2:8-9). Ora,
se a salvação dependesse do meu esforço, não seria pela
graça, mas por obras e Deus passaria a ser meu devedor,
pois cumpri o que de mim foi exigido. O apóstolo Paulo,
falando da salvação que vem da fé, nos alerta que para
aquele que trabalha o salário não é graça, mas dívida,
mas ao que não trabalha, mas crê, a recompensa é
exclusivamente pela graça (Romanos 4:4-5).

Suponha que alguém anunciasse num jornal uma Ferrari


último tipo, nova, e estabelecesse pelo automóvel o valor
de dez reais para quem desejasse comprá-lo. Este valor é
infinitamente inferior ao preço do carro e seria um ato de
desprendimento ou até de loucura do seu proprietário
vende-lo por um valor tão baixo. No entanto, apesar do
valor irrisório, a verdade é que ainda haveria um preço a
ser pago. Se alguém pagasse os dez reais teria o direito
legal de receber o automóvel. Entregar o carro não seria
um favor, seria uma obrigação, pois foi pago o preço
estipulado. No momento em que alguém pagar os dez
reais, mesmo por uma Ferrari que custasse algumas
centenas de milhares de reais, o proprietário
automaticamente passaria a ser devedor desta pessoa
até que desse posse do bem adquirido. Assim também é
com a salvação. Se depender de meu esforço, por
mínimo que seja; se houver preço a ser pago, por menor
que pareça; Deus será meu devedor se eu cumprir o que
me foi cobrado. Por isso a salvação é pela Graça e
unicamente pela graça. Jesus pagou o preço por mim.

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Alguns pensam que a salvação é pela graça, mas a
manutenção da salvação é pelo esforço individual.
Voltando à analogia do dono da Ferrari, seria como se o
carro lhe fosse dado, mas você ainda tivesse que arcar
com os custos de combustível, seguro, impostos e
manutenção do veículo. O problema é que perante o
Senhor nossa justiça é trapo de imundícia, fazer com que
a manutenção da salvação dependesse de nós seria
como dar a Ferrari para um desempregado. O carro só
ficaria parado, pois não haveria dinheiro para o
combustível, teria todos os impostos e seguro atrasados e
logo iria se deteriorar por falta de manutenção. Não é
assim que Deus faz conosco. Juntamente com a salvação
o Senhor me deu do seu Espírito, que habita em mim, que
me leva a andar em santidade e derrama o desejo e a
capacitação para caminhar conforme a Sua vontade. Se
Deus fosse o proprietário da Ferrari da nossa parábola,
Ele além de dar o carro de graça, ainda cuidaria de pagar
os impostos, manter o seguro, dar combustível e fazer a
manutenção! Esta é a salvação que provém de Deus, não
há como me gloriar ou me orgulhar de coisa alguma,
“porque Dele, por meio Dele e para Ele são todas as
coisas” (Romanos 11:36). Não é por esforço humano,
mas unicamente pela misericórdia de Deus (Romanos
9:16).

A salvação é de graça! “Ah! Todos vós, os que tendes


sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes
dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e
comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.”
(Isaías 55:1).

- 129 -
7 – Você tem o Poder de Filho

Outro aspecto importante referente à salvação e que


muitas vezes é negligenciado é a filiação de Deus que
recebemos através do sangue de Jesus. O que a Bíblia
nos ensina é que quando aceitamos a Jesus recebemos o
poder de sermos feitos filhos de Deus (João 1:12). Você
parou para refletir sobre o que isto significa? A filiação
que vem com a salvação significa que você é herdeiro
juntamente com Cristo (Romanos 8:17). É exatamente
isto: A herança que Jesus recebeu do Pai, também
pertence a você. Você será rei juntamente com Jesus! (2
Timóteo 2:12).

Se a salvação consistisse somente em receber a vida


eterna já seria algo maravilhoso, mas Deus fez muito
mais que isto! Ele lhe elegeu, predestinou e tomou como
filho. Fez de você herdeiro do Seu trono, juntamente com
Jesus, para toda eternidade. Quem é filho jamais deixará
de sê-lo porque Deus não é homem para que minta nem
filho de homem para que se arrependa (Números 23:19) e
a Sua Palavra nos garante que os dons e vocação do
Senhor são irrevogáveis! (Romanos 11:29). Ao contrário
dos homens, Deus não muda suas promessas, e, se nós,
mesmo sendo maus, jamais rejeitaríamos um filho por
pior que fosse seu comportamento, imagine o Deus que
ama incondicionalmente e que lhe escolheu, antes
mesmo de você praticar o bem ou o mal (Romanos 9:11).
Você é coerdeiro com Jesus e será exatamente como Ele
é, transformado e revestido da mesma glória que há em
Cristo Jesus e tal coisa jamais será revogada.

- 130 -
Muitos crentes limitam a salvação como se ela se
resumisse apenas à vida eterna, é como a pessoa que
está feliz por ter recebido um prêmio, sem se dar conta
que a sua herança é milhões de vezes maior. O salvo tem
muito mais do que a vida eterna, ele é herdeiro de toda a
majestade de Deus, quando ele assumiu você como filho
ele lhe deu, juntamente com esta filiação, todos os
direitos do Filho, pois Ele não faz acepção de pessoas. E
para garantir esta nova natureza de filho de Deus, o
Senhor nos deu o Espírito de adoção (Romano 8:15): o
Espírito Santo que é Deus, habita em você e é o penhor,
a garantia dada por Ele, de que você é filho e herdeiro
(Romano 8:16).

O Espírito que habita em você é o mesmo Espírito que


ressuscitou Jesus de entre os mortos (Romanos 8:11).
Este Espírito é o selo e a garantia de sua salvação; este
Espírito é o que opera em você tanto o querer quanto o
realizar (Filipenses 2:13) e é este Espírito que lhe outorga
o capacete da salvação. Tome posse deste poder de filho
de Deus e saiba que revestido deste poder você pode,
através do Espírito Santo, fazer obras ainda maiores do
que as feitas por Jesus (João 14:12).

8 – Você é Filho, não Bastardo!

Alguns julgam erroneamente que a segurança da


salvação é uma espécie de salvo conduto para todo tipo
de pecado. Consideram que se a salvação está segura e
não devemos temer perdê-la então qualquer pessoa que
se julga salva pode andar em descaminhos, abandonar a
fé, viver praticando iniquidades, este tem sido um

- 131 -
argumento usado há milênios para os que defendem que
a salvação é conquistada ou conservada através do
esforço pessoal, obras de justiça e penitências.

O apóstolo Paulo viveu estes mesmos questionamentos


em seu tempo. Em sua carta aos Romanos, onde a
doutrina da graça é exposta de maneira mais profunda,
ele se defende das acusações daqueles que não
entendem a dimensão do que Deus fez por nós. As
acusações que fizeram contra Paulo são usadas nos dias
atuais. Veja o que o apóstolo escreveu:

Em Romanos 6:1 os críticos de Paulo questionavam:


“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado,
para que a graça aumente?”. Já no capítulo 3 verso 8 o
ataque é ainda mais agressivo: “Então por que não
dizer: 'Façamos o mal para que desse mal venha o
bem'? Na verdade alguns têm me caluniado, dizendo
que eu afirmo isso...”.

Estas eram acusações que faziam contra a graça pregada


por Paulo e são as mesmas acusações que são feitas
ainda hoje e, provavelmente, você conheça alguém que
pense assim ou até mesmo você que está me lendo,
tenha pensado ou pense desta forma. Mas este
pensamento só invade o coração de quem não conhece a
natureza da salvação que recebemos. Quando você foi
salvo, você passou a ser filho de Deus e todo filho tem o
DNA do seu Pai. Quando o Senhor lhe adotou, Ele lhe
gerou através do Seu Espírito. É o que Jesus nos ensina
no capítulo três do Evangelho de João: “Não te admires
de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.” (João

- 132 -
3:7). O novo nascimento implica em uma nova natureza e
novas inclinações, “Assim que, se alguém está em
Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram;
eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5:17). No original
grego, ser nova criatura significa ser uma criação
totalmente original, ou melhor, significa que eu e você
passamos a fazer parte de uma nova raça: A raça dos
Filhos de Deus.

Sendo nova criação, a sua natureza agora é outra. O


“DNA espiritual” que nos foi imputado nos conduz à
natureza do nosso Pai, amando a justiça, a verdade e a
virtude. Isto é a salvação. Você não busca caminhar e
praticar a justiça por medo ou para conquistar qualquer
coisa, você busca fazer a vontade do seu Pai porque esta
é a sua natureza. Assim como é da natureza de uma
árvore dar frutos, segundo sua espécie, assim também é
a sua natureza produzir frutos de justiça: o Fruto do
Espírito.

Outro aspecto importante da filiação que lhe faz nova


criatura é saber que você tem um Pai zeloso: “qual o
filho a quem o pai não corrija?” (Hebreus 12:7). Deste
modo, aquele que é verdadeiramente filho de Deus será
conduzido e corrigido pelo seu Pai (Hebreus 12:6). Aquele
que é do Senhor pode até pecar e cair, como aconteceu
com Davi, mas sempre será restaurado e corrigido pelo
Senhor. Sua salvação nunca correrá risco. O crente que
erra, sempre será corrigido por Deus a tempo de
encontrar arrependimento e restauração: “Todo aquele
que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar”
(Salmos 32:6). É este relacionamento de amor entre o Pai

- 133 -
que deseja o melhor para o seu filho e o filho que deseja
ardentemente alegrar o coração do seu Pai, que
chamamos de santificação. Deus corrige a todo aquele
que toma como filho. Ele jamais permitirá que um filho
seu ande na injustiça e na maldade.

Eu me preocupo sempre que vejo um crente andando em


erro e não sendo corrigido. A Palavra de Deus nos ensina
que aquele que não é corrigido não é filho, é bastardo
(Hebreus 12:8). Ou seja, pensa que é filho, mas na
verdade nunca o foi. Pode frequentar os cultos, participar
das atividades da igreja, ministrar e até mesmo pregar,
mas se anda em caminhos tortuosos, se compraz com a
iniquidade e não é corrigido, é porque jamais foi filho e,
embora aos olhos externos possa até iludir alguns e
apresentar obras, a verdade é que jamais foi conhecido
do Senhor, como Jesus nos ensina em Mateus 7:22-23.

Portanto, a salvação que Cristo nos dá é repleta de


liberdade, mas assim como na minha antiga natureza eu
me sentia atraído e escravizado pelo pecado, agora a
minha nova natureza me leva a prosseguir para
conquistar aquilo para o que também fui conquistado por
Cristo Jesus (Filipenses 3:12) e a andar nas boas obras,
as quais Deus de antemão preparou para que eu andasse
(Efésios 2:10). Eu não pratico o bem para ser salvo,
pratico o bem porque já sou salvo e esta é a minha
natureza. Você é filho, você pertence a uma nova raça,
não é apenas mais um na multidão. Você tem um Pai que
lhe ama e que jamais se esquece de você. Portanto,
caminhe conforme a sua nova natureza, ande conforme a
sua verdadeira vocação, este é o seu Caminho.

- 134 -
9 – A Salvação É o Seu Capacete

Sua salvação eterna não está em jogo nesta batalha. Isto


o Senhor já lhe garantiu antes da fundação do mundo.
Você é filho de Deus e se para nós, pais humanos, um
filho jamais poderá deixar de sê-lo, imagine para o Deus
que afirma em Sua Palavra que seus dons e vocações
são irrevogáveis (Romanos 11:29) e que nos diz que
mesmo que sejamos infiéis Ele permanece fiel, pois não
pode negar a si mesmo (2 Timóteo 2:13). Aquele que
perde a salvação, na verdade nunca a teve.

A Bíblia nos diz que somos selados pelo Espírito do


próprio Deus (Efésios 1:13). Esta figura usada por Paulo
representa o selo real que garante a inviolabilidade da
correspondência até que chegue a seu destino e seja
entregue em mãos àquela pessoa a quem se destina. Isto
quer dizer que quando cremos em Cristo e o aceitamos
como Senhor e Salvador, é como se Jesus tivesse escrito
uma carta para o Pai e selado com o Espírito Santo para
que ela seja aberta tão somente por Ele. Nós somos esta
carta de mais alto valor e ninguém pode ter acesso à
nossa vida a não ser o Pai. Assim é a sua salvação:
selada pelo Espírito de Deus e protegida em todo
Caminho até chegar ao destino eterno na presença do
Senhor.

O mérito é todo Dele. O mesmo Deus que morreu na cruz


para lhe salvar é também aquele que lhe predestinou,
chamou, justificou e glorificou (Romanos 8:29-30). Por
isso é que vem Dele tanto o querer quanto o realizar
(Filipenses 2:13). Assim, o seu desejo de se santificar

- 135 -
provém Dele e também vem Dele a capacitação
sobrenatural para vencer o mal. Quanto mais você
depender de Deus e conscientemente buscar Nele esta
capacitação, mais vitória terá em sua batalha. A salvação
provém de Deus é efetuada por Deus e garantida por
Deus. Esta certeza é o capacete da salvação que lhe
permite descansar Nele e se apropriar do poder que há
quando deposita sua confiança em Deus, sabendo que
aquele que começou a boa obra é fiel para completá-la
(Filipenses 1: 6).

O capacete da salvação é a consciência do guerreiro


espiritual de quem ele é em Cristo e do poder, autoridade
e segurança que lhe foi concedida por Deus em Cristo
Jesus. Tome posse das promessas e garantias de Deus
em sua vida e descanse Nelas.

- 136 -
Capítulo XII
A Espada
Do Espírito
No mundo antigo a espada ocupava posição central como
símbolo de poder e força. A espada do centurião romano,
o gládio, é considerada uma das mais poderosas já
construídas. Ela media cerca de sessenta centímetros, e
possuía dois gumes. A espada era uma arma tanto de
defesa quanto de ataque. Ela não só protegia o soldado
como também agredia seu adversário. Por esta dupla
função, pelo imenso poder que agregava e pelo grande
apreço que os soldados tinham por ela nas batalhas,
Paulo fez da espada o símbolo da Palavra de Deus.

Assim como a espada, a Palavra é uma poderosa arma


tanto de defesa quanto de ataque e saber manuseá-la é
uma necessidade imperiosa na vida do cristão. O cristão
vitorioso deve manejar bem a Palavra da Verdade (2
Timóteo 2:15), pois a “Palavra de Deus é viva e eficaz, e
mais cortante do que qualquer espada de dois gumes,
e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito,
juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e propósitos do coração” (Hebreus 4:12).
Conhecer bem espada do Espírito é uma meta que todo
cristão deve ter. O conhecimento superficial poderá e será
usado contra você em sua batalha espiritual. O pouco
conhecimento que o povo de Deus tem da Sua Palavra é
o que tem causado tantas derrotas no nosso meio e feito

- 137 -
os aproveitadores se multiplicarem. “O meu povo perece
por falta de conhecimento” (Oséias 4:6).

Conheço casos de pessoas que mantém sua Bíblia aberta


no salmo 91, por exemplo, crendo que o simples ato de
ter sua Bíblia aberta em um salmo poderoso é suficiente
para espantar o mal. Se você é parte deste grupo de
pessoas, sinto dizer-lhe que você está usando muito mal
a espada que Deus lhe deu.

1 – Duelo de Espada

Cuidado! O diabo conhece a Palavra, estuda a Palavra e


sabe usá-la para enganar. Em um duelo usando a espada
do Espírito, satanás poderá facilmente derrotar o crente
que não tem intimidade com ela e que não sabe manejá-
la. Talvez você pense que a espada do Espírito seja uma
arma de uso exclusivo do exército de Deus e esteja
estranhando eu falar sobre duelo entre o bem e o mal
com ambos usando a espada do Espírito, mas o diabo
conhece a Bíblia muito mais do que qualquer teólogo,
afinal ele vivenciou boa parte do que está ali escrito. E
não só a conhece como sabe usá-la.

A Bíblia nos relata um duelo histórico em que uma das


armas usadas pelos combatentes foi a Espada do
Espírito. Este duelo foi registrado nos evangelhos de
Lucas e de Mateus. Nesta passagem o Senhor Jesus,
após quarenta dias de jejum, sem comer nem beber coisa
alguma, foi tentado pelo diabo. Neste duelo contra o diabo
Jesus usou a Espada tanto como arma de defesa quanto
de ataque. Na primeira tentação o diabo o desafiou a

- 138 -
transformar pedras em pão. Jesus defendeu-se usando
Deuteronômio 8:3 e quando o diabo o atacou pela terceira
vez o Senhor usou Êxodo 34:14 para dar o último golpe e
forçar o recuo do inimigo.

Mas neste episódio não é só Jesus que usa a espada do


Espírito. Em determinado momento o diabo leva Jesus ao
pináculo do templo em Jerusalém, saca da espada e
desfere um ataque usando a Palavra como arma de
ataque contra o próprio Senhor da Palavra. “Se és Filho
de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus
anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te
susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma
pedra.” (Mateus 4:6). O diabo usa o Salmo 91, versos 11
e 12, para tentar induzir Jesus a usar o seu poder fora da
submissão à vontade do Pai. O Senhor defende-se
usando também a Palavra. Para combater o engano que
satanás tenta lançar em seu coração, Jesus cita
Deuteronômio 6:16: “Também está escrito: Não
tentarás o Senhor, teu Deus” (Mateus 4:7).

Agora reflita comigo. Se satanás foi ousado o suficiente


para usar a espada do Espírito para atacar ao próprio
Autor da Palavra, o que lhe faz pensar que não a usará
contra você?

Jesus venceu porque conhecia a Palavra. Não só a letra,


mas o Espírito da Palavra. Assim também você tem que
ser se deseja usar esta poderosa arma a seu favor. O uso
da Palavra com sabedoria e discernimento é, sem dúvida,
o seu maior desafio como guerreiro espiritual. O diabo
tentará de todas as formas deturpar o seu entendimento

- 139 -
induzindo-o a usar a Palavra de Deus fora da vontade do
Senhor.

2 – Por que o Povo de Deus é Derrotado?

Na virada do milênio, quando estávamos próximo ao ano


2000, tive problemas com um irmão que afirmava
peremptoriamente que tinha lido na Bíblia um versículo
que dizia “A mil chegarás, mas de dois mil não passarás”
e garantia que ele próprio havia lido o tal texto, só não
sabia qual livro, capítulo, nem versículo...

Infelizmente muitos crentes no Senhor não leram sequer


um dos evangelhos, mal conhecem um ou dois
versículos, muitas vezes fora do contexto, e, por isso, são
enganados por qualquer vento de doutrina. Com um
conhecimento tão raso das escrituras, terminam dando
ouvidos às sugestões do diabo sem discernir o que é
vontade de Deus e o que é manipulação. O diabo é
ardiloso. Assim como tentou fazer com Jesus, ele sempre
cita uma passagem bíblica para dar a aparência de
vontade de Deus ao engano e quando não se tem
conhecimento da Palavra fica fácil ser levado.

Nos dias atuais, esta estratégia de camuflar a mentira


com uma aparente capa de verdade é a uma das
principais armas do diabo para paralisar os servos do
Senhor. Pedro já nos alertava em sua segunda carta que
surgiriam falsos profetas, homens e mulheres que
sutilmente introduziriam heresias e que, movidos pela
ganância, fariam negócio, ou seja, enriqueceriam às
custas do povo do Senhor e, por conta de seus atos,

- 140 -
muitas pessoas passariam a falar mal do evangelho (2
Pedro 2:1-3). Veja se este não é exatamente o quadro
que estamos vivendo na atualidade.

Este triste cenário se torna realidade porque o povo de


Deus se apega muito mais aos sinais de cura, milagres e
maravilhas do que se o que está sendo pregado após os
sinais é o verdadeiro evangelho da graça. Os sinais do
“apóstolo” fulano, do “bispo” beltrano ou do “missionário”
cicrano fazem com que muitos acreditarem que se tais
sinais acontecem é porque Deus está com eles. Mas o
que a Palavra nos diz é que mesmo que um anjo dos
céus venha à terra e pregue outro evangelho deve ser
considerado maldito (Gálatas 1:8) e que nos últimos dias
muitos falsos profetas operariam sinais e prodígios para
enganar (Mateus 24:24). No livro de Deuteronômio, o
Senhor alertava que se a profecia ou sinal pronunciado
por alguém se cumprisse e este profeta conduzisse o
povo para fora da Palavra de Deus, os servos do Senhor
não deveriam dar ouvidos a este profeta, pois Deus os
estava provando para saber de sua fidelidade à sua
Palavra (Deuteronômio 13:1-3). Para Deus, a sua Palavra
é mais importante que sinais, maravilhas e milagres. Não
se deixe iludir pelos sinais ou pelo que seus olhos veem,
busque a Palavra e maneje bem a Espada do Espírito. É
isto que lhe fará aprovado ao Senhor (2 Timóteo 2:15).

3 – Medite na Palavra

Lembro ainda hoje do dia em que terminei pela primeira


vez a leitura de toda a Bíblia. Senti a bem-aventurança
do Senhor naquele dia. Pouco depois ouvi o Senhor

- 141 -
falando em meu coração e ordenando que eu estendesse
a mão, ali ele me entregou algo que não entendi na hora,
mas que hoje, vendo as coisas retrospectivamente, sei
que era o chamado para ministrar a mesma Palavra que
eu acabara de ler em sua totalidade.

E você? Qual tem sido a sua experiência em relação à


leitura da Palavra de Deus? Sei que hoje o corre-corre da
vida, as mil e uma atividades e responsabilidades têm
tirado de nós o tempo valioso para dedicar à leitura e
meditação na Bíblia. Mas gostaria de lhe dizer que não
podemos continuar caindo no engodo do diabo,
priorizando mais as coisas terrenas que as espirituais. O
Senhor nos ensinou que devemos buscar em primeiro
lugar o Reino de Deus e as demais coisas nos seriam
acrescentadas à medida que O buscamos em primeiro
lugar (Mateus 6:33). O problema é que estamos buscando
em primeiro lugar nossa satisfação pessoal, carreira,
dinheiro, poder... Estamos vivendo e desejando as
mesmas coisas que o mundo deseja e vive. Muitas vezes
buscamos cultos que nos façam “sentir bem” e pouco
estamos preocupados em cultuar a Deus. Nosso
compromisso com a meditação na Palavra segue o
mesmo padrão de descompromisso que permeia a nossa
vida espiritual. Não é à toa que andamos desmotivados e
desanimados em nossa experiência de fé e que em muito
pouco nos diferençamos do mundo.

O primeiro Salmo nos ensina que bem-aventurado é


aquele que não anda conforme as coisas deste mundo,
mas que medita, rumina, estuda a Palavra de Deus. O
Salmo nos diz que esta pessoa é como árvore plantada

- 142 -
junto a ribeiros, o que significa que está sempre
abastecido da presença de Deus através do Seu Espírito.
Diz também que dá frutos na estação certa, que
apresenta mudança de caráter e tem testemunho para
atrair outros. Diz, ainda, que as folhas não caem, pois terá
sempre vida de vitória e abundância, e tudo o que fizer
prosperará. É esta vida que você deseja? Então comece
a mudar seu caminho, deixe o mundo e seus valores e
desejos para trás, e passe a meditar na Palavra de Deus.
Se você deseja vitória em suas batalhas e em sua
caminhada cristã não pode se deixar seduzir por estas
coisas que não alimentam a alma. Assuma o
compromisso com o Senhor de buscar a Sua face e
adorá-lo. Com esta visão não haverá como não ter uma
vida repleta de vida.

4 – Um Plano de Leitura

Tenho recebido muitos e-mails de pessoas desejosas de


manter uma rotina diária de leitura da Palavra, mas que
não sabem bem por onde começar. Muitas pessoas têm
dificuldades com as versões tradicionais repletas de
palavras e expressões que pouco conhecem. Outros,
ainda, gostariam de entender melhor o fundo histórico e
implicações teológicas do que estão lendo. Há ainda os
que têm dificuldade de tempo ou problemas em manter
uma disciplina. Talvez você esteja enquadrado em um ou
em todos estes casos. Se você deseja realmente assumir
o compromisso de ler a Palavra, este plano de leitura é
para você!

- 143 -
Para começar um plano de leitura é necessário primeiro
estabelecer este compromisso firmemente em seu
coração e começar imediatamente. Quanto mais tempo
você demorar em iniciar esta caminhada, mais o inimigo
colocará obstáculos para lhe impedir. Tomada a decisão,
vamos à prática.

Este plano de leitura busca atender a três desafios: O


primeiro desafio é dar às pessoas uma visão básica da fé;
o segundo é permitir a memorização de versículos chave
e o terceiro desafio é estabelecer uma rotina de leitura
bíblica devocional para toda a vida.

Os profissionais em educação física afirmam que o corpo


humano necessita de no mínimo quinze minutos de
atividade física diária para manter-se saudável. Penso
que para termos uma vida espiritual minimamente
saudável precisamos desta mesma disciplina de dedicar
no mínimo quinze minutos para a leitura da Bíblia. Se
você mantiver esta rotina conseguirá ler dois a três
capítulos por dia e lerá todo o Novo Testamento em três
meses, ou menos! Apenas quinze minutinhos de seu dia
já podem lhe dar um ganho extremo em crescimento na
Palavra!

5 – Quais Materiais são Necessários?

Isto depende muito de suas possibilidades financeiras.


Para mim o ideal é ter uma boa bíblia de estudos e uma
Bíblia Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) para
melhor entendimento nas passagens mais difíceis.

- 144 -
Munido destas duas ferramentas você já está apto a
adquirir sozinho boa parte do conhecimento que almeja.

Adquirir a Bíblia NTLH é relativamente barato, mas obter


uma boa Bíblia de estudo representa custo maior e
também necessita de mais cuidado para escolher, pois
existem inúmeras opções no mercado. Eu tenho em
minha biblioteca particular mais de cinco Bíblias de
estudo, mas posso afirmar que a que mais me ajudou em
meus primeiros passos foi a Bíblia de Estudo Vida. Por
sua simplicidade, por não estar tão amarrada a visões
teológicas denominacionais e por sua clareza.
Recomendo fortemente que, se você deseja adquirir uma
Bíblia de estudos para começar a aprender sobre a
Palavra de Deus, adquira esta Bíblia. Ela foi bênção na
minha vida e creio que certamente será na sua vida
também.

Munido de uma boa Bíblia de Estudo e de uma Bíblia


NTLH você estará suficientemente equipado para o
desafio, mas se você não puder adquirir este material não
desanime, são apenas ferramentas de ajuda, de forma
alguma são essenciais para a aprendizagem da Palavra.
Inúmeros cristãos aprenderam e conheceram a Palavra
sem ter nenhum desses recursos. É o Espírito de Deus e
não apenas o seu intelecto que lhe conduzirá e ensinará.

6 – Começando Pelo Novo Testamento

Para começar a leitura da Bíblia recomendo que comece


pelo centro da Palavra: Jesus. É fundamental entender
que Jesus é o centro da revelação, portanto toda a leitura

- 145 -
deve começar com o conhecimento de Cristo. No plano
de leitura que proponho, comece lendo o evangelho de
João, pois é o evangelho que melhor apresenta Cristo em
sua divindade e poder. Leia pelo menos dois capítulos por
dia, em dez dias você terá concluído este desafio e terá
um excelente conhecimento do caráter e da obra
redentora de Cristo.

Concluído o evangelho, pule para o final da Bíblia e leia


as três cartas de João. É importante esta sequência para
você ficar bem familiarizado com o autor e conhecer bem
a doutrina e a revelação que Deus deu a ele. Leia as
cartas de João (primeira, segunda e terceira epístola) na
sequência. Nelas o apóstolo trata de alguns
desdobramentos práticos do evangelho que escreveu. Em
três dias você terá lido as três epístolas. Em apenas treze
dias você já terá uma visão panorâmica do Evangelho
segundo o mais longevo dos apóstolos.

É importante que após cada dia de leitura você tenha pelo


menos um versículo para memorização. Por exemplo, ao
ler o capítulo três do evangelho de João você pode
escolher o versículo dezesseis para memorizar. Tome
papel e caneta e escreva o versículo escolhido:

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira


que deu o seu Filho unigênito, para que todo o
que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna. (João 3:16)”.

- 146 -
Uma vez escolhido o(s) versículo(s) para memorização,
comece a exercitar esta memorização recitando durante
todo o dia. No dia seguinte, escolha mais versículos e
continue recitando os que você já havia escolhido e mais
os novos que foram acrescentados. Ao final dos treze
dias você não só terá uma visão muito clara do
evangelho, como também já terá memorizado no mínimo
treze versículos!

Com esta base bem firmada você retorna aos


evangelhos. Desta vez lerá o evangelho segundo Lucas,
ele é importante porque trata a vida de Jesus com uma
visão mais histórica e detalhista. É no evangelho segundo
Lucas que há o relato da visita do anjo Gabriel a Maria e é
este o único evangelho que revela que Jesus era primo
de João Batista, segundo a carne.

Mantendo o ritmo que propusemos de, no mínimo, dois


capítulos por dia você alcançará esta vitória em doze
dias. Serão mais doze versículos também sendo
memorizados. Em menos de um mês você já terá uma
visão bem clara, tanto teológica quanto histórica, da vida
de Jesus. Após ler o evangelho de Lucas chegou a hora
de conhecer o que aconteceu com os primeiros discípulos
de Cristo após a sua ressurreição. É hora de ler o livro de
Atos dos apóstolos. Serão mais catorze dias de prazerosa
leitura. Ali você será apresentado ao apóstolo Paulo,
autor de pelo menos treze livros da Bíblia.

Tendo sido apresentado ao apóstolo Paulo, é o momento


de conhecermos seus escritos. Leia a sequência que vai
da carta aos Romanos até a epístola a Filemon, ali você

- 147 -
terá contato com a principal base da teologia da igreja e
terá um aprofundamento da doutrina da graça, conforme
expostos por Paulo. Leitura prazerosa e que tem um
molho especial por conta do caráter pessoal que Paulo
imprime a seus escritos. Será uma aventura de um mês e
meio de muito crescimento espiritual e abundante
conhecimento bíblico.

Você está quase no final!

Leia o evangelho segundo Mateus. Dos quatro


evangelhos este é o mais fortemente fincado no Antigo
Testamento. Nele você terá conhecimento do magnífico
Sermão da Montanha com as bem-aventuranças e o Pai
nosso, além de uma descrição impactante da
crucificação. Há neste evangelho um clima de crescente
expectativa à medida que Jesus se aproxima de
Jerusalém para cumprir seu propósito. São mais catorze
dias de leitura e descobertas.

Depois leia a epístola de Tiago, as duas epístolas de


Pedro e a carta universal de Judas que são bem próximas
em sua abordagem, repleta de alertas e convocação à
santidade, ao espírito dos profetas do Antigo Testamento.
Sete dias para obter esta vitória.

Agora leia o evangelho de Marcos e complete com a


leitura da epístola aos Hebreus. Pronto! Você está apto a
ler o livro de Apocalipse.

Agora com o conhecimento de Deus e de sua


maravilhosa bondade, a leitura do último livro da Bíblia

- 148 -
não lhe trará mais medo nem terror, mas será alento
descobrindo que toda a maldade que campeia o mundo
terá fim e estaremos junto do Senhor para sempre no
lugar onde “Deus enxugará de seus olhos toda
lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem
clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são
passadas” (Apocalipse 21:4).

6 – Agora o Antigo Testamento

Se você venceu a prova de ler o Novo Testamento e


deseja agora conhecer mais profundamente a história,
agora é hora do Antigo Testamento. Devido à
complexidade do desafio eu tenho duas sugestões de
planos de leitura que se adequará ao seu perfil e lhe dará
condições de adquirir um conhecimento sólido da Palavra
de Deus. O primeiro plano de leitura é para quem não tem
como ampliar o tempo diário dedicado à leitura bíblica,
mas mesmo assim deseja uma boa visão do Antigo
Testamento. O segundo plano de leitura é para aqueles
que desejam se aprofundar de maneira mais plena e
vencer o grande desafio de ter lido toda a Bíblia, de
Gênesis ao Apocalipse. Escolha o plano de leitura que
melhor se adéqüe a você neste momento e boa viagem!

7 – Uma Visão Panorâmica do Antigo Testamento

Este plano de leitura é para pessoas que não têm como


atingir um nível maior de dedicação ao estudo da Bíblia.
O seu objetivo é ter uma visão de todo o Antigo
Testamento, obtendo bom conhecimento Bíblico. Para

- 149 -
alcançar este desafio você pode continuar mantendo o
mesmo ritmo de leitura de dois a três capítulos por dia
que devem levar cerca de quinze minutos.

Leia os livros do Pentateuco na seguinte sequência:

Livro Capítulos

Gênesis 1-4 / 7-8 / 11-50


Êxodo 1-20 / 24 / 32-34;
Levíticos 10 / 26
Números 6 / 9 / 12-14 / 16-17 / 20-25
Deuteronômio 1 / 4-6 / 11 / 18 / 28 / 30 /
34

Em cerca de um mês e meio você terá uma excelente


visão do Pentateuco, ou Torah, os cinco primeiros livros
da Bíblia que foram escritos por Moisés e contém a base
de todo o Antigo Testamento e da história da redenção
que se completou em Cristo.

Leia os livros históricos:

Livro Capítulos

Josué 1-4 / 6-7 / 9-10 / 14 / 24


Juízes 1-4 / 6-7 / 11 / 13-16
Rute 1-4
1 Samuel 1 / 3-10 / 13 / 15-31
2 Samuel 1-2 / 6-7 / 11-18 / 23-24
1 Reis 2-3 / 6 / 8-12 / 17-19

- 150 -
Livro Capítulos

2 Reis 2 / 4-6 / 17-20


1 Crônicas 29
2 Crônicas 6-7 / 20 / 36
Esdras 1/3
Neemias 1-2 / 4 / 6 / 8-9
Ester 1-10

Esta leitura deverá levar mais um mês e meio. Em três


meses você terá a visão de toda a história da redenção e
do povo de Israel no Antigo Testamento. Esta é a base
histórica que nos leva até Jesus!

Agora é a vez dos livros poéticos:

Livro Capítulos

Jó 1-3 / 9 / 14 / 19 / 38-42
Salmos 1 / 3-6 / 8 / 13 / 15 / 19 / 22-
25 / 27 / 31-34 / 38 / 42 / 46
/ 49 / 51 / 67 / 81-82 / 84-86
/ 90-92 / 96 / 100-103 / 111-
118 / 121-123 / 127-128 /
130-131 / 133 / 136 / 139 /
142-143 / 148 / 150
Provérbios 1 / 3-6 / 10-28
Eclesiastes 3-5 / 9-12
Cantares 1-2 / 8

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Um mês e meio para ler alguns dos melhores textos
poéticos da Bíblia.

Finalmente os livros proféticos:

Livro Capítulos

Isaías 1-2 / 6 / 9 / 11-12 / 14 / 26 /


35 / 40-43 / 49 / 53-55 / 58
/ 61 / 64
Jeremias 1-2 / 7-8 / 17-18 / 29 / 33
Lamentações 3
Ezequiel 2-3 / 11 / 18 / 28 / 33-34
Daniel 1-7 / 9-10 / 12
Oséias 1-2 / 6 / 14
Joel 2
Amós 3/5
Obadias 1
Jonas 1-4
Miquéias 3-4
Naum 1
Habacuque 3
Sofonias 3
Ageu 2
Zacarias 7
Malaquias 1-4

Um mês será suficiente para a leitura de todos estes


capítulos. Com um pouco de disciplina, em cerca de cinco
meses, você tem condições de adquirir uma base sólida
de conhecimento de todo o Antigo Testamento!

- 152 -
8 – Ler Todo o Antigo Testamento: Você Consegue!

Este desafio é mais complexo, pois a leitura de todo o


Antigo Testamento muitas vezes é árida e
desestimulante, com listas de nomes, genealogias e leis
que parecem intermináveis, além de passagens
aparentemente desimportantes. Mas se você se
determinar a superar estes obstáculos será premiado com
maravilhosas histórias do agir de Deus, dos Seus
milagres, provisões e livramentos, e do Seu
relacionamento com o Seu povo e com aqueles que O
buscam. O desafio é grande, mas são os grandes
desafios que nos trazem as grandes vitórias. Além disso,
espiritualmente você adquirirá mais disciplina e isto será
importante em suas batalhas.

Gostaria que você encarasse este desafio como um


músico que deseja aprender um instrumento ou como o
atleta que se prepara para uma olimpíada. Muitas vezes o
treinamento é exaustivo e árduo, outras tantas, sentimos
que a nossa evolução não tem acompanhado a
velocidade que desejamos, mas se perseverarmos e
mantivermos a disciplina certamente colheremos os frutos
que almejamos. No processo de aprendizagem de um
instrumento musical, como o violão, por exemplo, há
períodos de desânimo, calos que machucam; notas
difíceis que parecem impossíveis; momentos de aparente
retrocesso... Mas estas dificuldades nos faz ter mais amor
ao instrumento e a cada vitória nos sentimos ainda mais
motivados. Esta também deve ser a sua disposição
mental para ler o Antigo Testamento, sabendo que esta
disciplina e determinação serão fundamentais para a sua

- 153 -
caminhada no Senhor e para lhe fazer um guerreiro
espiritual muito mais capacitado.

A leitura panorâmica que sugerimos lhe trará um


conhecimento sólido da Bíblia e lhe trará enormes ganhos
espirituais, mas ler todo o Antigo Testamento vai lhe
acrescentar muito mais capacitação e poder. Trazendo
para a nossa analogia comparando a leitura do Antigo
Testamento com o preparo de um atleta ou de um
músico, eu diria que a leitura panorâmica seria como o
preparo para lhe transformar em um bom atleta olímpico
ou um bom músico, mas a leitura de todo o Antigo
Testamento é semelhante à entrega pessoal e disciplina
necessárias para fazer de você um medalhista de ouro ou
um virtuose em um instrumento. Claro que ser um bom
atleta ou um bom músico lhe trará inúmeros ganhos e
será suficiente para a maioria das pessoas, mas ser um
medalhista de ouro ou um virtuose em um instrumento, o
torna especial. É a sua personalidade, tenacidade e
desejo de alcançar níveis mais altos de poder espiritual
que lhe motivarão a dar o salto do “muito bom” para o
“excelente”. “Quanto melhor é adquirir a sabedoria do
que o ouro! E mais excelente, adquirir o
conhecimento do que a prata!” (Provérbios 16:16).

Se você deseja vencer este desafio será importante


aumentar o tempo diário dedicado à leitura da Bíblia, sua
média de leitura diária deve passar de dois ou três
capítulos para quatro ou cinco, exceção feita, claro, ao
Salmo 119 que deve ser lido isoladamente. Deste modo
você poderá obter êxito nesta empreitada em cerca de
seis a sete meses.

- 154 -
É importante que ao ler o Antigo Testamento,
especialmente nos capítulos mais áridos, você sempre
que puder retome à leitura das cartas de Paulo,
especialmente Gálatas, Efésios, Filipenses e
Colossenses. Leia também o evangelho de João e o de
Marcos e a lista de Salmos que coloquei no item anterior
deste capítulo. Eles lhes serão remédio para dar ânimo e
continuar a caminhada. É bom que você tenha neste
momento uma boa Bíblia de estudo ou um livro que conte
a história do povo de Israel.

Comece pelo começo mesmo, leia o livro de Gênesis. Ali


estará o relato da criação, da queda, do dilúvio e dos
patriarcas do povo de Israel. Não perca de vista, nem por
um segundo, que o centro deste livro é Jesus, que ainda
não havia nascido, segundo a carne, mas que está no
centro do propósito de Deus em todos estes episódios. A
criação nos lembra que Jesus estava no princípio com
Deus e por meio dele foram feitas todas as coisas e sem
ele nada do que foi feito se fez (João 1:1-3); a queda nos
alerta para a necessidade que todos temos do Salvador; o
dilúvio fala do amor de Deus que se estabelecerá também
no Apocalipse; a vida dos patriarcas aponta para a
promessa de que em Cristo serão abençoadas todas as
nações da terra. Este mesmo olhar você deve ter em
todos os livros do Antigo Testamento. Jesus é o centro.

Depois de ler o livro de Gênesis, leia o restante do


Pentateuco, leia Êxodo, Levíticos, Números e
Deuteronômio.

- 155 -
Depois desta leitura dos cinco primeiros livros, o
Pentateuco ou Torah, comece a ler os livros históricos.
Leia a sequência que vai de Josué até Ester. Ali temos a
história do povo de Israel, conheceremos Davi, Salomão,
Elias, Sansão...

Após esta leitura você entra no território dos livros


poéticos que vão de Jó até Cantares, passando pelos
Salmos, Provérbios e Eclesiastes, profunda sabedoria de
Deus para sua vida.

Por último chegará a hora dos livros proféticos,


começando com Isaías e terminando com Malaquias.
Neste momento é bom ler especialmente o livro do
profeta Isaías, notadamente os capítulos sugeridos na
leitura panorâmica, que contém as profecias mais claras a
respeito de Jesus.

Ao terminar de ler o livro do profeta Malaquias você


alcançará um feito de poucos: terá lido toda a Bíblia!
Posso lhe garantir que sua vida espiritual nunca mais será
a mesma a partir deste dia!

Para lhe incentivar estou me colocando à disposição para


lhe ajudar. Se encontrar algum texto difícil ou tiver alguma
dúvida escreva para mim através do site do Fruto do
Espírito (www.frutodoespirito.com.br). Quando terminar a
leitura conforme de cada etapa do plano de leitura
sugerido ou de toda a Bíblia, escreva para mim também.
Será valioso saber que pude ser instrumento de Deus
para lhe abençoar e terei imenso prazer em lhe enviar por
e-mail um diploma certificando que você cumpriu cada

- 156 -
uma das etapas e, ao final, lhe presentear com o
certificado atestando que você leu toda a Bíblia de
Gênesis a Apocalipse. Este diploma você poderá
emoldurar e colocar em lugar de destaque, pois você terá
concluído um curso que poucos conseguiram na história
da humanidade, e terá como professor o melhor de todos
os mestres: O Espírito de Deus!

9 – Algumas Dicas Finais

Assim como um atleta ou um músico, o guerreiro


espiritual deve estar permanentemente em treinamento.
Por isso a sua leitura bíblica deve ser o hábito de todo
dia. Sempre mantenha acesa a chama, faça da Palavra
do Senhor lâmpada para os seus pés e luz para o seu
caminho (Salmo 119:105).

É importante que diariamente, você tenha contato com a


Bíblia, faça leituras devocionais, existem bons livros,
como o “Pão Diário” ou o “Manancial” que possuem uma
leitura devocional para cada dia do ano e têm preço
extremamente accessível. Durante o período que
propomos marque com uma caneta as passagens que
mais lhe impactaram e volte a elas regularmente. Há
pessoas que não gostam muito de riscar a Bíblia, mas a
minha experiência pessoal me mostra que das dezenas
de Bíblias que tenho em casa a que eu tenho mais
carinho é justamente a que está toda riscada com os
textos marcados durante o período de cerca de um ano
que me dediquei pela primeira vez a lê-la por inteiro.

- 157 -
Ore sempre buscando que o Espírito Santo lhe dê
entendimento e ensine sobre aquilo que você ler e jamais
perca de foco que o centro da Bíblia é a Palavra Viva:
Jesus. Tudo o que você ler que lhe trouxer alguma duvida
compare com a vida e os ensinos de Jesus. É com este
foco que você poderá passar pelos textos mais difíceis.
Aquilo que não se enquadra no caráter de Cristo como
revelado nos Evangelhos deve ser sempre relativizado.
Há um texto no site do Fruto do Espírito chamado
“Contradições Bíblicas?” que podem lhe ser de bastante
valia.

Por último, não se contente com pouco. Para que a Bíblia


chegasse até suas mãos muito sangue de nossos irmãos
foi derramado. Muitos foram queimados vivos
simplesmente por terem uma Bíblia em casa. Ainda hoje
muitos cristãos não têm a liberdade de ler a Bíblia e há
igrejas onde há apenas uma Bíblia que fica escondida a
maior parte do tempo para que os nossos irmãos e irmãs
não sejam perseguidos, presos, torturados ou mortos.
Satanás tenta, de todas as formas, impedir a leitura da
Palavra porque sabe que este livro é poderoso e que o
guerreiro espiritual adestrado pelo Senhor no uso da
Espada do Espírito é um adversário invencível.

Portanto, não se deixe levar pela preguiça, pela falta de


tempo, dificuldade de leitura ou qualquer outro argumento
que satanás lançar no seu coração para lhe paralisar.
Tome a decisão de manejar bem a Espada do Espírito e
ser um guerreiro apto para toda a boa obra e para vencer
todos os desafios em o nome santo do Senhor.

- 158 -
Parte III
A Capacitação

- 159 -
Capítulo XIII
A Oração
Eficaz
A oração é uma das grandes armas que o guerreiro
espiritual tem à sua disposição. Na oração não há
intermediários, nós nos comunicamos diretamente com
Deus e podemos diante Dele abrir nosso coração,
confessar nossos pecados, receber o perdão, capacitação
e renovação para continuar na batalha.

A oração é a linha direta que nos liga ao nosso General. É


a principal estrada que nos traz suprimento espiritual e
sustenta firme a nossa esperança.

A oração não é um ritual ou uma obrigação. Não é


repetição de palavras ou fórmulas. Não é recitação de
credos. Não é liturgia. Não é penitência. Oração é
comunhão com Deus, é buscar a face Deles e comunhão
com Ele. Oração é um estado permanente de busca de
intimidade com o Senhor. Por isso Paulo nos admoesta:
“orai sem cessar” (1 Tessalonicenses 5:17). Claro que
devemos ter momento para estarmos a sós com Deus e
termos um momento de nos colocar de joelhos em Sua
presença. Mas estes momentos são a ponta do iceberg
no que se refere à verdadeira profundidade do que Paulo
nos recomenda. Quando ele lhe ordena a orar sem
cessar, ele está convidando a desenvolver intimidade com
Deus em um relacionamento extremamente pessoal,

- 160 -
como um amigo sempre ao seu lado, mas, mais que isto,
um amigo que habita em você. A oração é este canal que
permite este relacionamento pessoal e lhe faz mais
próximos de Deus em todo tempo, o tempo todo.

Na batalha espiritual a oração é o instrumento que cura


os enfermos (Tiago 5:15); que alivia o sofrimento (Tiago
5:12); que santifica (1 Timóteo 4:5); que enche com o
Espírito Santo (Atos 4:31); que capacita (Atos 8:15).
Todas as armas da armadura espiritual só estão
disponíveis através da oração. Por isso Paulo encerra a
sua descrição da armadura de Deus dizendo: “com toda
oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito...”
(Efésios 6:18).

“Orando em todo tempo”. O tempo verbal está no


gerúndio, indicando um ato contínuo, uma atividade que
nunca cessa. Oração é intimidade com Deus, é conversar
com Ele em casa, na escola, no trabalho, na rua, lavando
os pratos, fazendo faxina, escrevendo, lendo, no
computador, à frente da TV, deitado, em pé, no carro, no
ônibus, andando, no café da manhã, no almoço, no jantar,
em todo momento! É ter Deus em seu pensamento e em
sua mente durante todas as suas atividades diárias e
dialogar com Ele em espírito. Esta intimidade de amigo,
de Pai e filho, faz com que você cresça espiritualmente e
sua armadura se revista de poder e autoridade.

O segredo da oração eficaz está nesta intensidade de


relacionamento que não tem hora marcada, porque se
estabelece em todo momento, esta proximidade com
Deus que faz com que você tenha convicção da presença

- 161 -
Dele e possa conversar com Ele como conversa com um
grande amigo é o que nos dará forças para perseverar em
oração.

Paulo nos admoesta a sermos perseverantes na oração


(Romanos 12:12; Colossenses 4:2). Jesus nos ensina a
não desfalecer e permanecer firmes como uma viúva que
insistentemente clamava por justiça (Lucas 18:1-8). Mas
porque devemos perseverar em oração?

No capítulo dez do livro do profeta Daniel, encontramos


um dos motivos pelos quais devemos perseverar na
oração. Neste capítulo o profeta relata que durante três
semanas ele se manteve em Jejum e humilhação
esperando uma resposta do Senhor. Após este período
um anjo veio lhe trazendo a mensagem da parte de Deus
e revelando que desde o primeiro dia de oração suas
palavras foram ouvidas, mas um ser espiritual se opôs ao
anjo durante os vinte e um dias para impedir que aquilo
que Daniel havia pedido lhe viesse ao encontro.

Lembre-se que o reino espiritual repousa sobre a


legalidade. Se Daniel desistisse de continuar clamando
seria como se desse ao inimigo o argumento para que a
bênção não chegasse. O diabo iria arguir: “para que tanta
luta para levar uma mensagem de Deus a um homem que
não está disposto a lutar em oração por ela?”. A
perseverança de Daniel não só sustentou a luta como
trouxe o arcanjo Miguel para a batalha e finalmente o anjo
pôde cumprir o seu propósito de abençoá-lo. A
perseverança de Daniel foi o pavimento que manteve a
estrada que ligava o anjo ao seu destino.

- 162 -
Assim como foi com o profeta é também conosco. A
perseverança dos santos em oração é o incenso que
mantém aceso o caminho em meio às trevas espirituais
para que na dimensão espiritual os anjos do Senhor
perseverem em batalhar a seu favor.

1 – O Poder da Oração

Para se revestir de toda armadura de Deus você depende


da oração e o poder espiritual associada a ela também
dependerá do tempo e intensidade de sua oração.
Ninguém na história da humanidade teve tanta intimidade
com Deus quanto Jesus e pouquíssimas pessoas tiveram
uma “agenda” tão cheia quanto a Dele. Desde muito cedo
pela manhã uma multidão se acotovelava para estar
próximo de Cristo. No capítulo primeiro do evangelho de
Marcos há o relato de um dia típico na vida de Jesus,
quando até mesmo após o pôr-do-sol Ele ainda era
requisitado, pois toda a cidade estava reunida à sua porta
e traziam-lhe todos os enfermos e endemoninhados e
Jesus curou e libertou a muitos (Marcos 1:32-34). Claro
que com uma rotina dessas, era impossível achar tempo
para oração, certo? Errado! No versículo trinta e cinco
deste mesmo capítulo vemos que Jesus levantava-se de
madrugada, antes de o sol nascer e ia a um lugar deserto
para orar. Se o próprio Filho de Deus, quando estava
habitando na carne, separava tempo para oração, como
nós podemos prescindir desta disciplina espiritual?

Jesus nos ensina que: “tudo que pedirdes na oração,


crendo, recebereis” (Mateus 21:22) e que: “se pedirdes

- 163 -
alguma coisa em meu nome, eu o farei.” (João 14:14).
É através da oração que você tem acesso ao Pai, e é na
oração que Ele lhe ouve como um filho amado. “Qual pai
será capaz de dar uma pedra ao seu filho, quando ele
pede pão? Ou lhe dará uma cobra, quando ele pede
um peixe? Se vós, mesmo sendo maus, sabeis dar
coisas boas aos vossos filhos. Quanto mais o Pai,
que está no céu, dará coisas boas aos que lhe
pedirem” (Mateus 7:9-11). “Aquele que não poupou o
seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou,
porventura, não nos dará com ele todas as coisas?”
(Romanos 8:32). “A oração feita por um justo pode
muito em seus efeitos.” (Tiago 5:16).

No livro dos Atos dos Apóstolos, há o registro de uma


ração tão poderosa que fez com que as paredes do local
tremessem (Atos 4:31); a oração também abriu portas de
prisões (16:25); a oração deu vida ao que estava
desenganado e fez o sol andar para trás (2 Reis 20:1-11).
Percebeu o poder que lhe foi outorgado quando você
dobra os joelhos e rasga seu coração na presença do
Pai? Não à toa o diabo busca impedir que você
desenvolva o hábito de se dedicar à oração, pois sabe
que um guerreiro que tem uma vida de oração tem
intimidade de filho e na presença do Pai ele encontra
poder para vencer o mal.

2 – Como Devemos Orar

É preciso deixar claro que nenhum de nós sabe orar


como convém. Exatamente por isso o Espírito Santo
intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Romanos

- 164 -
8:26). Portanto, qualquer tentativa de manter uma rotina
de oração que não esteja submissa ao Espírito Santo está
fadada ao fracasso. Por ser uma atividade que deve ser
guiada e conduzida pelo Espírito Santo, consideramos
que a melhor orientação é buscar na Bíblia o modelo de
oração que devemos seguir. Lembre-se que o que
expomos abaixo é a análise de um modelo, não é uma
fórmula, aliás, nada na Palavra de Deus segue fórmulas,
onde há o Espírito, ali sempre haverá liberdade (2
Coríntios 3:17) e esta liberdade jamais estará presa às
fôrmas e fórmulas dos homens. Em relação à oração, não
há modelo melhor que o Pai Nosso. Nele vemos alguns
elementos fundamentais:

Santificado seja o Teu nome: Na oração exaltamos ao


Senhor. Esta exaltação nada tem a ver com puxa-
saquismo ou tentativa de “fazer uma média” ou barganhar
com Deus, mas deve partir de um coração cheio do
desejo de adoração.

Venha o Teu reino, seja feita a Tua vontade: Na oração


eu coloco a minha vontade submissa à vontade de Deus.
Na oração eu peço coisas que desejo ou julgo que
necessito, mas os meus desejos e necessidades, por
mais santos que me pareçam, não devem ser o centro de
minha oração e sim a vontade de Deus que é boa,
perfeita e agradável (Romanos 12:2). Por isso que o
Senhor Jesus nos ensina que é necessário que nós
estejamos Nele e que a Palavra Dele esteja em nós para
que nossas orações sejam atendidas (João 15:7)

- 165 -
O pão nosso de cada dia: A oração deve ser cotidiana.
A cada dia as nossas necessidades devem ser levadas
ao Senhor. A oração não deve ser feita só nos momentos
de angústia e luta, mas deve ser uma relação diária de
entregar a Deus a nossa vida e todas as nossas
necessidades.

Não nos deixe cair em tentação: No modelo que Jesus


nos ensinou, a oração também é clamor por revestimento
e total dependência de Deus. Por nós mesmos, não
somos capazes de resistir ao mal, nem somos capazes
de resistir à tentação. Somente quando nos colocamos
em Suas mãos e dependemos totalmente Dele, somos
revestidos do Seu poder e Ele nos capacita e nos livra.

Oração é, portanto, espaço para adoração, submissão,


entrega diária e dependência de Deus. Há orações que
são verdadeiras cartas de lamúrias, pessoas que fazem
da oração um rosário de queixumes; gente que com os
lábios fala palavras de louvor e adoração, mas o coração
está muito longe de ter esta experiência. Pessoas que
estão presas a fórmulas e palavras repetidas que são
apenas rituais. E quanto a você? Como tem sido os seus
momentos de oração? Um ritual vazio, uma lista de
pedidos, ou uma conversa íntima com o seu Pai?

Uma das definições de oração é “conversar com Deus”.


Conversar com o seu Pai é momento de intimidade, é
abrir o coração e confessar suas dificuldades e lutas, é
falar daquilo que lhe aflige. Na sua oração não se deixe
levar pelo rebuscamento, nem pelas aparências, seja
absolutamente sincero com Deus. O salmista orava

- 166 -
dizendo: “Até quando, SENHOR? Acaso te esconderás
para sempre? Arderá a tua ira como fogo?” (Salmo
89:46); “Senhor, até quando verás isto?” (Salmo 35:17);
“Até quando, ó Deus, nos afrontará o adversário?” (Salmo
74:10). Estes salmos são exemplo de que Deus não se
ofende com a nossa sinceridade, muito pelo contrário,
Deus tem intimidade com os sinceros (Provérbios 3:32).

Oração é conversar com Deus, mas muitos fazem da


oração um monólogo onde só ele fala. Oração também
tem de ser espaço para ouvir Deus falando ao nosso
coração. Sempre que estiver orando, guarde um tempo
em silêncio e escute Deus falar. Quando Ele fala seu
coração encontra paz e respostas para a aflição. Deste
modo o guerreiro espiritual estará apto a manter-se firme
nas batalhas e manter sempre viva a sua força em Deus,
pois Ele é quem vai sustentá-lo a cada dia. A oração é a
estrada que nos mantém supridos, deixe-a sempre
pavimentada.

3 – Orar Declarando a Palavra

Fé é crer que Deus fará aquilo que Ele disse que faria.
Por isso a oração também é espaço para você trazer à
memória as promessas de Deus para sua vida. Estas
promessas trazem alento e aumentam a sua fé. Crer nas
promessas do Senhor e crer que Ele sempre cumpre o
que promete é fogo que alimenta a nossa perseverança e
fortalece a nossa esperança. Pois diante das
circunstâncias onde parece que as promessas de Deus
não vão se cumprir, ousadamente podemos dizer: “Seja

- 167 -
todo homem mentiroso, mas Deus verdadeiro”
(Romanos 3:4).

Tem pessoas que pensam que orar declarando ao Senhor


as promessas que Ele nos fez seria como colocar Deus
contra a parede, mas não é nada disso. Orar declarando
ao Senhor as promessas e garantias que Ele mesmo nos
deu é instrumento para que a nossa convicção nestas
certezas seja veículos para fortalecimento de nossa fé e
vitória em nossas batalhas.

Neemias declarou em sua oração: “Lembra-te da palavra


que ordenaste a Moisés, teu servo, dizendo: Se
transgredirdes, eu vos espalharei por entre os povos;
mas, se vos converterdes a mim, e guardardes os meus
mandamentos, e os cumprirdes, então, ainda que os
vossos rejeitados estejam pelas extremidades do céu, de
lá os ajuntarei e os trarei para o lugar que tenho escolhido
para ali fazer habitar o meu nome. Estes ainda são teus
servos e o teu povo que resgataste com teu grande poder
e com tua mão poderosa.” (Neemias 1:8-10). Veja que
Neemias “lembra” o Senhor de Suas promessas e
garantias. Moisés também não fez diferente. Quando
Deus lhe disse que destruiria o povo rebelde e
murmurador, ele intercedeu dizendo: “Lembra-te dos teus
servos Abraão, Isaque e Jacó; não atentes para a dureza
deste povo, nem para a sua impiedade, nem para o seu
pecado” (Deuteronômio 9:27). Moisés também “lembrou”
o Senhor da sua aliança. O mesmo padrão encontramos
na oração de Salomão (2 Crônicas 6:42), de Davi (Salmos
25:6) e de Habacuque (Habacuque 3:2), entre outros.

- 168 -
Portanto, orar recitando as promessas de Deus é antes
de tudo uma prática bíblica de muitos heróis da fé e que
deve ser usada por nós hoje. Quando oramos e dizemos
que o Senhor nos prometeu vida e vida em abundância
(João 10:10) ou que Deus é fiel, mesmo que sejamos
infiéis (2 Timóteo 2:13) e que Ele é abençoador de todo
aquele que o busca (Hebreus 11:6); quando dizemos que
mil cairão a nosso lado e dez mil a nossa direita, mas nós
não seremos atingidos (Salmo 91:7), ou que nenhum mal
nos sucederá nem praga alguma chegará à nossa casa
(Salmo 91:10), estamos apenas seguindo o mesmo
padrão que outros irmãos antes de nós usaram.

Minha esposa desenvolveu um hábito interessante


quando orava. Ao orar declarando a Palavra ela mudava
o texto de tal maneira que o recitava sempre em primeira
pessoa. Por exemplo, se ela era levada a recitar o Salmo
46:1 que diz: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro
bem presente na angústia.” Ela orava dizendo: “Tu és o
meu refúgio e fortaleza, é o meu socorro bem presente na
minha angústia.”. Ela testemunhou que nos momentos
que passamos por lutas gigantescas, orar deste modo:
tomando cada passagem como se tivesse sido escrita
exclusivamente para ela, fez-lhe aumentar a fé, lhe deu
forças para passar pela tribulação e ao final Deus lhe deu
vitória.

Orar recitando a Palavra e “lembrando” Deus de suas


alianças e promessas é ferramenta que nos faz aumentar
a fé, pois sabemos e cremos no Deus que vela por sua
Palavra para cumpri-la (Jeremias 1:12). Não defendo aqui
oração em altos brados, mas digo que proclamar a

- 169 -
Palavra com sua própria boca vai fazer com que seu
coração se encha de fé e esta fé que repousa nas
promessas de Deus é agradável ao Senhor. Mas para
orar declarando a Palavra é essencial conhecê-la. Por
isso é fundamental que tenhamos intimidade com a
espada do Espírito. Não te faças negligente, aprenda a
manusear bem a Palavra da Verdade para poder
desembainha-la quando estiver lutando em oração.

Declare a Palavra, ore segundo a Palavra, aproprie-se


das promessas de Deus em sua vida. Quando você faz
assim a sua oração se torna muito mais poderosa, pois ao
proclamar a Palavra a sua fé aumenta, pois “a fé vem
pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Romanos
10:17) e sustenta os anjos que estão agora batalhando
para que as promessas de Deus se cumpram em sua
vida.

- 170 -
Capítulo XIV
Jejum: Apurando
A Sensibilidade Espiritual
No nono capítulo do evangelho segundo Marcos, conta-se
a história de um pai desesperado que assistia impotente
seu filho ser torturado por um espírito imundo. Este
espírito fazia a criança convulsionar-se e lançava-o
muitas vezes no fogo e na água tentando matá-lo.
Desesperado o pai foi até Jesus, mas Ele não estava.
Seus discípulos tentaram expulsar o espírito maligno e
aliviar o sofrimento de pai e filho, mas não obtiveram
sucesso. Quando Jesus chegou o alvoroço já estava
formado, na confusão a voz do pai se levantou e ele
relatou a Cristo a sua triste história. Tomado de
compaixão, Jesus repreendeu o espírito e libertou a
criança. Quando estavam a sós, os discípulos
perguntaram por que não conseguiram expulsar o
demônio. Jesus respondeu que aquela casta específica
de demônios que havia se apossado da criança só podia
ser expulsa com a força de duas armas combinadas: A
oração e o Jejum. (Marcos 9:14-29).

O jejum é um poderoso aliado para o guerreiro espiritual.


No entanto, infelizmente, é uma arma muito mal usada.
Normalmente ficamos divididos entre duas vertentes: há
um grupo de pessoas que não quer nem saber sobre
jejum e perde a oportunidade de ser tratado por Deus de
uma maneira mais profunda e experimentar unção e

- 171 -
percepção da presença Dele de forma especial; mas
existe o grupo dos que fazem jejum de maneira quase
fanática e sem sabedoria, tornando o jejum um fim em si
mesmo e prejudicando tanto seu corpo quanto sua alma.
É como você ter uma escopeta espiritual à mão e não
saber usá-la e, como toda arma, se mal usada pode fazer
um tremendo estrago.

O jejum é extremamente útil quando feito debaixo da


orientação do Espírito Santo, mas terrivelmente prejudicial
quando feito sob a influência da carne. Eu costumo dizer
que é melhor não fazer o jejum do que fazê-lo mal feito,
sem a orientação do Espírito Santo e sem sabedoria,
motivado pelo sentimento de orgulho espiritual ou pelo
desejo de barganha. O jejum só surtirá efeito se for feito
com motivações certas e de forma bíblica. Se não for
assim será apenas aflição de alma, tentativa de barganha,
e masoquismo, nada disso agrada a Deus.

Eu já fiz jejum de três dias seguidos sem comer


absolutamente nada e durante este período não senti
cansaço nem fraqueza física, estive mais atento à voz de
Deus e às coisas do Espírito; fiquei mais alerta e não
senti os terrores da fome, nem dores de cabeça. Este
jejum me capacitou a receber resposta de Deus sobre
temas que me preocupavam e abriu caminho para
batalhas que eu ainda iria travar. Portanto, posso dizer
por experiência própria que o jejum feito orientado pelo
Espírito e com sabedoria e moderação nos ajuda a
superar o desejo físico e nos torna cada vez mais
conscientes espiritualmente.

- 172 -
1 – O Que é Jejum?

Praticamente todos os grupos religiosos praticam o jejum.


Budistas, muçulmanos, judeus, animistas, sem falar nos
cristãos, as principais religiões tem o jejum entre suas
práticas espirituais. A palavra jejum tanto no grego quanto
no hebraico, línguas em que a Bíblia foi escrita, significa
abstinência de alimentos. Ou seja, biblicamente, toda vez
que se abstém de algo que alimenta a sua carne com o
propósito de buscar as coisas espirituais você está
jejuando.

O jejum é uma ferramenta tão poderosa que acompanhou


os maiores personagens da Bíblia. Moisés, o maior
personagem do Antigo Testamento, ao receber as tábuas
da lei ficou em jejum durante quarenta dias e quarenta
noites, nos quais sequer bebeu água (Êxodo 34:28).
Jesus, maior personagem da Bíblia, jejuou por quarenta
dias e quarenta noites antes de começar seu ministério,
também sem beber água, (Mateus 4:1-2). O apóstolo
Paulo, autor da maioria dos livros do Novo Testamento
era habituado aos jejuns (2 Coríntios 6:4-5). E o rei Davi,
autor de boa parte dos salmos, também jejuou (2 Samuel
12:16). Tais fatos por si só demonstram o poder e a
importância do jejum.

O homem não é um ser unicamente físico, mas também


há nele um espírito. Nós transitamos tanto na esfera física
quanto na esfera espiritual e estas duas dimensões
permeiam a nossa vida e se equilibram em nós de acordo
com as nossas inclinações. Trocando em miúdos, se você
se dedica a satisfazer seus desejos físicos em detrimento

- 173 -
das coisas espirituais estará muito mais propenso e ligado
às coisas deste mundo do que às coisas do alto. Do
mesmo modo, se você se dedicar a satisfazer suas
necessidades espirituais e abrir mão de seus desejos no
mundo físico, estará identicamente propenso às coisas
espirituais.

O jejum aguça a percepção espiritual, mas esta


percepção está ligada diretamente à fé daquele que jejua.
Um muçulmano quando jejua estará mais apercebido das
coisas de sua religião, assim como um budista ou um
hindu estarão mais antenados com as coisas de sua
crença. Assim, se você fizer o jejum sem estar atento a
Jesus, estará apenas recorrendo a uma prática religiosa
que em nada será diferente das outras religiões. Por isso
o jejum deve ser acompanhado de oração exatamente
como Cristo nos ensinou (Marcos 9:29).

O jejum é um instrumento para ligar com mais intensidade


às coisas espirituais, pois você mortifica e mantém sob
domínio um dos seus maiores desejos físicos: saciar a
fome. Quando você faz um jejum e se abstém de
alimento, o corpo passa a exigir a satisfação desta
necessidade. O cansaço, dores de cabeça, sonolência é a
forma que o organismo encontra para lhe “chantagear” e
colocar foco nas coisas do mundo físico.

O principal motivo para o jejum é a busca de poder


espiritual. Não que o jejum em si possa lhe dar este
poder, mas o esvaziamento e o domínio dos desejos da
carne lhe coloca espiritualmente mais sensível. Sua
ligação com as coisas espirituais são mais profundas e

- 174 -
você se torna um canal mais livre para fluir o poder de
Deus. É exatamente por isso que no nono capítulo de
Marcos, Jesus nos fala da casta de demônios que só é
expulsa com jejum e oração, ou seja, é uma casta tão
poderosa que necessita que o guerreiro espiritual seja um
canal mais livre para que o poder de Deus flua através
dele.

2 – Jejum: Barganha ou Sacrifício?

No capítulo 58 do livro do profeta Isaías, temos o quadro


claro de como o jejum pode ser desagradável a Deus. O
profeta mostra qual era a visão enganosa do homem.
Para o povo de Israel, nada havia de errado em seu
relacionamento com o Senhor. Eles consideravam que
tinham prazer em se achegar a Deus e seguir os Seus
caminhos, em seus clamores agiam como se fossem um
povo que praticava a justiça. No entanto, tal ato de
piedade era meramente teórico. O suposto desejo de
estar na presença de Deus não significa mudança de
vida. É o mesmo que ocorre com muitos cristãos nos dias
atuais: Se derramam nos louvores, choram nas
pregações, clamam em altas vozes, mas suas vidas e
seus valores não mudam.

Crendo que estavam fazendo as coisas certas, o povo de


Israel queixava-se de que jejuavam constantemente e não
recebiam resposta de Deus. A ênfase de suas queixas
era que eles “afligiam a alma” sem obter resposta. Para
eles, a resposta de Deus não vinha por conta de sua
misericórdia e amor, mas pelo castigo autoinfligido que
despertaria no Senhor um sentimento de pena e, por

- 175 -
pena do martírio autoimposto, Deus atenderia suas
petições. Para eles havia uma barganha a ser feita em
que o homem fazia sua parte: afligir sua alma; e Deus
tinha a responsabilidade de fazer a outra parte: atender
seus pedidos.

Através do profeta o Senhor declarou que aquele jejum se


baseava em objetivos egoístas: contendas, rixas,
iniquidades. Este jejum não era agradável a Deus,
primeiro por que era alicerçado no desejo de barganha
através de aflição e autoflagelo, e segundo porque seus
objetivos eram egoístas. Agradar a Deus não significa
passar fome, nem se expor ao tormento como barganha,
mas, antes, praticar a justiça. Aquele povo nem sequer
sabia entender que o objetivo do jejum não é comprar os
favores de Deus, mas sim capacitar o homem para dizer
não à carne e apurar seus sentidos para as coisas
espirituais. O jejum então não é presente do homem para
Deus, nem forma de conquistar bênçãos, ou tocar o
coração do altíssimo com nosso sofrimento.

Jejum também não é sacrifício. Este é um equívoco


comum. Vejo muitas pessoas que pensam que se
afligirem seu corpo Deus há de ficar com pena ou
sensibilizado e irá atender aos nossos pedidos. Muitos
fazem jejum apenas com intuito sacrificial e isto não é
agradável a Deus. Sacrifício agradável, segundo o
profeta, é soltar as ligaduras da impiedade, repartir o pão
com o faminto, cobrir o nu, e acolher o desabrigado
(Isaías 58:6). Assim, o Senhor nos chama para entender
as coisas espirituais não apenas como uma postura
religiosa inócua, mas como algo dinâmico que

- 176 -
necessariamente atinge o nosso próximo. Fazer o jejum
apenas como instrumento de autopunição ou para
maltratar seu corpo de maneira masoquista é a pior forma
de praticá-lo. Deus jamais se alegraria com isso. O jejum
não é sacrifício, é a decisão voluntária que tomamos
guiados pelo Espírito, para nos abstermos de
determinadas coisas, negar os desejos e necessidades
materiais que nublam a nossa percepção espiritual a fim
de desobstruirmos os canais de comunicação, ouvirmos
melhor a voz de Deus e ouvir as coisas do alto. É um
exercício espiritual para que você esteja mais preparado
para os desafios e ouça melhor a voz do seu Senhor. Não
é Deus que passa a falar contigo porque você maltratou o
seu corpo, é você que desobstrui os canais que faziam
com que não escutasse a voz do Senhor. Não é Deus que
atende aos seus pedidos por que você afligiu a sua alma,
é você que, jejuando, passa a ouvir o doce sussurro do
Espírito e sintoniza a sua vontade com a vontade do Pai e
apura os dons que Deus derramou sobre a sua vida.

4 – Dicas para Fazer um Jejum Eficaz

A Bíblia relata jejuns em que não se bebeu nem água,


mas estes foram jejuns especialíssimos. O jejum pode e
deve ser acompanhado de água, ela irá prevenir a
desidratação e permitirá que o estômago não fique
totalmente paralisado o que será bastante útil quando
você sair do período de jejum. Jejum sem água é um
exagero desnecessário e perigoso. Pelo contrário,
durante o período de jejum você deve se hidratar
bastante. Uma boa dica que eu sigo é beber sempre um
copo de água todas as vezes que sentir o estômago

- 177 -
vazio, este hábito ajuda a eliminar as toxinas do corpo
melhorando sua saúde e evitando a dor de cabeça. Muito
do cansaço e dores que alguns sentem é proveniente das
toxinas acumuladas e com a falta de água elas se
concentram no corpo sem serem eliminadas. Outra dica é
beber água na temperatura ambiente, a água gelada pode
causar incômodo no estômago vazio.

Outra coisa importante é o cuidado especial com a saída


do período de jejum. Nada de alimentos muito calóricos,
deve ser algo bem leve e de fácil digestão, lembre-se que
seu estômago ficou sem trabalhar e não pode ser
sobrecarregado, dê preferência a frutas não ácidas e
verduras e vá deixando seu organismo se readaptar. Um
erro muito comum é de pessoas que saem do jejum e
caem no pecado da gula, ou seja, todo o esforço para
dominar sua carne se esvai, pois mostra que o jejum não
foi instrumento para o verdadeiro domínio, que é feito com
serenidade, mas uma represa que encheu até explodir em
uma onda de descontrole. Ao sair do jejum coma sempre
menos do que você come regularmente, isto mostra que
você está dominando sua carne e também ajuda seu
aparelho digestivo a recomeçar seu trabalho sem
sobrecarga.

O Jejum deve começar e terminar no horário que você


propôs em seu coração. O que é válido aos olhos do
Senhor é a fidelidade e o coração de quem oferta. Estas
coisas de horários mais sagrados, ou dias mais
poderosos só tinham valor no período em que vivíamos
debaixo da lei e representavam a separação do povo
judaico em relação aos gentios. Agora já não há

- 178 -
separação, todos aqueles que recebem Jesus são Israel
de Deus, portanto todos os dias e todas as horas
pertencem e devem ser usadas para a Glória do Senhor.
Não existe jejum com mais ou menos importância para
Deus, veja a oferta da viúva, não era a maior, mas era a
que foi feita de todo coração. O que Deus quer é o nosso
melhor. Se o seu melhor é jejuar até as 18:00, seja fiel a
isto e não faça até as 13:00 só para poder se poupar.
Deus não se deixa escarnecer. Como disse antes, já fiz
jejum total, bebendo só água, por três dias seguidos e
nada senti, mas também já fiz jejum de apenas doze
horas durante as quais ansiava o tempo todo pela hora de
acabar. Qual a diferença? A diferença estava em meu
coração.

Preferencialmente comece seus jejuns de forma parcial,


abra mão apenas de uma refeição e veja como seu corpo
reage. E principalmente lembre-se que jejum é exercício
espiritual, então abra espaço durante o seu período de
jejum para leitura da Palavra e oração, você verá como
haverá mais riqueza nestas atividades.

O jejum não se limita apenas à abstinência de comida,


existem várias modalidades de jejum. Quando abro mão
de quaisquer coisas que dê prazer à minha carne, eu
estou capacitando-me espiritualmente. Deste modo foi
que Daniel fez um jejum em que abriu mão de todos os
alimentos de que gostava (Daniel 10:3). Há jejuns que
são de tempo parcial, outros são de períodos inteiros.
Cada pessoa deve fazer o seu jejum de acordo com os
limites do seu corpo. Para quem sofre de gastrite ou
algum outro problema estomacal que impeça o jejum de

- 179 -
alimentos, eu sugiro abster-se de outras coisas que
alimentam sua carne. Pode ser uma novela, ou o
computador, videogame, hobby, comportamento... Abster-
se de qualquer coisa que alimenta a sua carne e lhe
afasta das coisas espirituais será também um jejum
agradável a Deus.

Agindo com sabedoria e permitindo que o Espírito Santo


lhe guie você será abençoado e abençoará outros através
do seu jejum.

- 180 -
Capítulo XV
O Batismo no
Espírito Santo
“Batismo no Espírito”, “batismo com o Espírito Santo”,
“enchimento”, ou “plenitude no Espírito”, são nomes
comumente dados à experiência do crente que recebe a
dádiva do derramar especial de Deus em sua vida que se
evidencia pelo falar em línguas estranhas. Talvez seja a
doutrina mais erradamente entendida tanto por cristãos
pentecostais, quanto tradicionais. Boa parte dos
tradicionais erra ao negar a realidade da experiência, por
outro lado, muitos pentecostais erram ao exagerar na
ênfase.

1 – Existe Um Só Batismo

O batismo é um dos fundamentos da nossa fé. Jesus nos


ordenou: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a
toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo;
quem, porém, não crer será condenado.” (Marcos
16:15-16). Para Jesus o batismo seria uma marca
identificadora daqueles que são salvos. Paulo ao escrever
aos Efésios afirma que há “um só Senhor, uma só fé e
um só batismo” (Efésios 4:5). Ou seja, Deus se
manifesta de muitas formas, mas é um só Senhor, a
saber: Jesus o nosso Salvador. Identicamente, a fé se
expressa de muitas maneiras, mas a sua base é uma só,
o Cristo morto e ressurreto pelos nossos pecados.

- 181 -
Analogamente o batismo assume muitas faces, pode ser
por mergulho, derramamento, aspersão, pode ser na
fórmula trinitariana ou apenas em o nome de Jesus, mas
independente da forma, fôrma ou fórmula o batismo é um
só. A questão é saber qual seria este único batismo?

Paulo ensina que: “todos nós fomos batizados em um


Espírito” (1 Coríntios 12:13). Esta passagem da carta aos
Coríntios confirma o que foi predito por João Batista que
dizia que ele, João, batizava em água, mas aquele que
viria após ele batizaria com o Espírito Santo e com fogo
(Lucas 3:16). Portanto, o batismo de Jesus não é o
batismo nas águas é o batismo espiritual feito com o
Espírito Santo e fogo. Ora, se fomos todos batizados no
mesmo Espírito, então, todos nós já recebemos o batismo
no Espírito Santo! Há um só batismo e este batismo é
para todo crente que mergulha no Espírito Santo como
selo e penhor da salvação. Todos nós que aceitamos
Jesus como Senhor e Salvador de nossas vidas, fomos
batizados no Espírito Santo. O batismo na água é a
expressão visível de um acontecimento invisível. É a
representação simbólica no mundo físico da realidade
espiritual do mergulho no Espírito Santo que todo crente
experimenta.

Hoje muitas vertentes cristãs, chamam de “batismo no


Espírito Santo” à experiência posterior de manifestação
de dons evidenciada pelo falar em línguas estranhas. Mas
isto é um equívoco. Durante os primeiros anos da história
da igreja, esta experiência posterior de manifestação de
dons foi relativamente comum, tanto que Paulo tenta
disciplinar seu uso no capítulo quatorze de sua primeira

- 182 -
carta aos Coríntios, mas depois deste momento inicial, à
medida que o cristianismo se institucionalizava, o
enchimento no Espírito e o falar em línguas estranhas
passaram a ser ignorados. As manifestações daquilo que
se convencionou chamar de “batismo no Espírito”, como o
conhecemos hoje, só foram redescobertas de forma mais
ampla por volta do ano de 1906 no reavivamento da Rua
Azuza. Ou seja, durante mais de mil anos pouquíssimos
foram os relatos daquilo que boa parte dos crentes
chamam de “batismo no Espírito”.

Quando Paulo nos ensina que há um só batismo e


quando João revela que Jesus batizaria com o Espírito
Santo e com fogo, eles não estão se referindo à
experiência das igrejas pentecostais dos dias atuais,
porque, se assim o fosse, significaria que praticamente
toda a igreja tradicional e todos os irmãos na fé no
período de 400 d.C. até 1.900 d.C. simplesmente só
receberam o batismo de João e não receberam o batismo
no Espírito Santo que é o batismo de Jesus e é a marca
dos salvos. Se afirmarmos que o batismo no Espírito
Santo só se revela através do falar em línguas,
colocamos em dúvida a salvação de inúmeros homens e
mulheres que entregaram suas vidas a Jesus e morreram
por sua fé, mas não tiveram manifestações de dons
extáticos, nem falaram em línguas. Simplesmente
estaremos colocando em dúvida a salvação da maioria
dos mártires que morreram por amor a Cristo.

Portanto, a primeira coisa a entender sobre o batismo no


Espírito Santo é que todos os que creem já o receberam.
Não há outro batismo a ser buscado. Sabendo que o

- 183 -
batismo já lhe foi ministrado pelo próprio Senhor desde o
momento em que você creu e entregou sua vida a Ele,
torna-se muito mais fácil e simples buscar a experiência
posterior que é o enchimento neste mesmo Espírito em
que você foi batizado. É na experiência posterior de
enchimento no Espírito que se manifestam os dons,
normalmente evidenciados pelo falar em línguas
estranhas.

2 – Esclarecendo Os Equívocos

O que chamamos de “batismo no Espírito Santo” é na


verdade o enchimento do Espírito que pode acontecer no
mesmo momento da conversão ou posteriormente. Este
enchimento se manifesta em dons que podem ser visíveis
como o dom de línguas, por exemplo, ou não visível,
quando somos tomados por bem-aventurança, alegria,
certeza e coragem. Este enchimento do Espírito é algo
que devemos buscar em todo tempo, por isso Paulo
recomenda em Efésios 5:18 que “... não vos embriagueis
com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do
Espírito”. A comparação do enchimento do Espírito com a
embriaguez do vinho não é casual, pois quem
experimenta deste enchimento muitas vezes se expressa
de uma maneira que, em certos aspectos, se assemelha
à embriaguez. Não foi à toa que no capítulo dois do livro
de Atos, os discípulos de Jesus que estavam cheios do
Espírito foram acusados de estarem bêbados apesar de
ser ainda nove horas da manhã!

No livro de Atos dos Apóstolos algumas conversões


chaves foram acompanhadas com a unção visível do falar

- 184 -
em línguas estranhas. Foi assim no dia de pentecostes
(Atos 2), na conversão de Cornélio (Atos 10:44-46) e em
Éfeso (Atos 19:3-7). No entanto, em outras conversões
não há o registro de que se tenha falado línguas
estranhas. Não há registro de que Paulo tenha falado
línguas estranhas ao se converter (Atos 9:17-18), nem o
eunuco (Atos 8:36-38), nem o carcereiro e sua família
(Atos 16:30-33). Por conta apenas dos episódios em que
as conversões foram acompanhadas pelo dom de
línguas, convencionou-se, equivocadamente, que quando
experimentamos pela primeira vez o enchimento no
Espírito falando línguas estranhas o chamamos de
“batismo no Espírito Santo”.

Muita gente acredita que todo aquele que recebe o


“batismo no Espírito” tem obrigatoriamente de falar em
línguas estranhas. Isto não é verdade. O falar em línguas
é apenas um dom que pode acompanhar ou não o
enchimento. Há muitos que receberam o enchimento do
Espírito e que não tiveram a experiência de falar em
línguas. Para cada um Deus age de maneira distinta.
Nada no Senhor segue “receitas de bolo”. Deus não
trabalha com linha de produção, quem faz isto são as
montadoras de automóveis. Para cada ser humano na
face da terra Deus tem uma forma especial de
relacionamento e se manifestará de maneira distinta.
Deus não foca as multidões, ele busca e se relaciona com
indivíduos.

Muitas vezes as pessoas pensam que estão buscando o


enchimento no Espírito Santo quando na verdade o que
estão buscando é o dom de línguas. A motivação para

- 185 -
buscarmos os dons deve ser para edificação da igreja (1
Coríntios 14:12) e não para atender vaidades e equívocos
humanos. Por causa disso muita gente não recebe o dom
e fica frustrada. E muitos outros se deixam levar por
fenômenos psicológicos, por espírito de engano, ou
imitam outros na ânsia de serem aceitos ou valorizados
na comunidade, ou por desejar sentir que receberam algo
novo da parte de Deus, imitando a experiência. Mas a
verdade é que o dom de línguas é listado por Paulo como
um dom menor. Portanto, não se deixe seduzir pelo
discurso, o enchimento no Espírito nem sempre será
manifesto pelo dom de línguas, mas quando você o
receber não terá dúvidas, pois seu coração se encherá da
presença maravilhosa de Jesus, não permita que a
ansiedade bloqueie o agir de Deus em sua vida.

3 – Cuidado com a Vaidade

Muitos usam a experiência do “batismo no Espírito” para


aflorar suas vaidades. Para mostrarem ser mais
espirituais e poderem galgar postos de honra na
congregação. Assim, a experiência de plenitude no
Espírito torna-se motivo de exaltação e não de humildade.
Passa a ser motivo de orgulho espiritual e não de serviço.
Passa a alimentar a sede de poder e não de
arrependimento. Isto é um desvio grave da doutrina. O
enchimento do Espírito deveria nos conduzir para a
humildade ante Deus e os homens, nos levar à convicção
de nossos pecados e arrependimento de obras mortas,
nunca ser motivo de orgulho.

- 186 -
Há igrejas que até vêem os crentes que não tiveram esta
experiência como sendo crentes de segunda classe,
menos dotados e mais carnais que os demais. Gerando
uma pirâmide social onde no topo estariam os líderes, no
meio ficariam os “batizados no Espírito Santo” e na base
da pirâmide estariam os crentes que “não são batizados”.
Claro que num ambiente desse, onde se reduz a
experiência com Deus ao exercício do dom de línguas, o
preconceito é grande. Em tais lugares o parecer se torna
mais importante do que o ser; a manifestação externa é
mais valorizada que a experiência interna; a aparência se
torna mais marcante que a essência. Não é de admirar
que muitas destas comunidades estejam adoecidas,
cheias de pessoas ansiosas para ascenderem nesta
pirâmide social e que sofrem e muitas vezes são
excluídas por não terem sido “batizadas”.

Uma das evidências mais claras do quanto de vaidade


está associada aos dons de línguas como sinal de
orgulho espiritual, está na frontal desobediência à
orientação bíblica dada por Paulo. Na sua primeira carta
aos Coríntios o apóstolo é extremamente claro e enfático
ao falar do uso do dom de línguas na igreja: “E, se
alguém falar em língua estranha, faça-se isso por
dois, ou no máximo três, um de cada vez, e haja
intérprete” (1 Coríntios 14:27). Paulo ainda nos
admoesta: “Se, pois, toda a igreja se congregar num
lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem um
descrente ou não instruído, não dirão porventura que
estais loucos?” (1 Coríntios 14:23). Mas o que vemos
em boa parte das igrejas onde o dom de línguas é um fim
em si mesmo é uma verdadeira babel em que todos falam

- 187 -
ao mesmo tempo em clara desobediência ao princípio
bíblico. Em nome das vaidades pessoais se negam a se
submeterem à disciplina e orientação bíblicas. Muitos
irmãos não são orientados sobre como deve ser o uso do
seu dom, conforme as escrituras, e terminam sendo
levados pelo equívoco da congregação ou do líder.

Um dia, por sua infinita misericórdia, o Senhor derramou o


enchimento do Espírito com a evidência do dom de
línguas sobre mim. Mas junto com o dom veio em mim
certeza de que eu deveria seguir o que Deus me orientou
segundo a recomendação de Paulo na epístola aos
Coríntios. Procuro não fazer propaganda desta
experiência e todas as vezes que o Espírito me incomoda
a falar em línguas procuro fazê-lo em lugar em que
estejamos só eu e Deus e ali, só eu e Ele, eu o adoro com
as palavras que a linguagem humana não consegue
expressar. No capítulo 14 da primeira carta aos Coríntios,
Paulo relata o hábito de orar em Espírito, ou orar em
línguas estranhas (1 Coríntios 14:14-15), esta é uma
prática que sigo no silêncio do meu quarto seguindo o que
o Senhor me ensinou: “Mas tu, quando orares, entra no
teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai
que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará publicamente” (Mateus 6:6). Posso
assegurar que orar em línguas estranhas, no Espírito, fala
muito mais claramente do que as palavras que meu
entendimento profere.

Já participei de igreja onde o falar em línguas era o sinal


indicativo de quem era crente espiritual e os que não
tinham esta evidência eram criticados. Se este tem sido o

- 188 -
seu caso, eu recomendo que você não se deixe levar
pelos equívocos de outros. Você já é batizado no Espírito
Santo desde o momento em que o mesmo Espírito fez
morada em sua vida. Não faça da busca pela plenitude do
Espírito e dos dons espirituais um fim em si mesmo e não
use este dom para exibição pessoal de poder espiritual.
Tais coisas são abomináveis ao Senhor.

A Bíblia nos fala de um homem chamado Simão que


exercia artes mágicas e enganava o povo de Samaria. No
entanto, ao conhecer o Evangelho, este homem se
converteu a Cristo e passou a acompanhar os discípulos.
Ora, com a chegada dos apóstolos os dons espirituais
foram derramados pela imposição de mãos e Simão
cobiçou este dom para si e tentou comprá-lo, ao que
Pedro lhe disse: “Tu não tens parte nem sorte nesta
palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus.
Arrepende-te, pois, dessa tua iniqüidade, e ora a Deus,
para que porventura te seja perdoado o pensamento do
teu coração; Pois vejo que estás em fel de amargura, e
em laço de iniqüidade.” (Atos 8:5-24). O problema de
Simão não foi o desejo pelo dom, a própria Bíblia nos
admoesta a buscarmos com zelo, a questão é que Simão
desejava o dom como sinal de status e exibição pessoal.
Quando agimos assim, fazendo do dom um fim em si
mesmo e não um meio de sermos aperfeiçoados no
Senhor para a edificação de outros, o nosso coração
deixa de ser reto perante o Senhor e mergulhamos em fel
de amargura e em laço de iniquidade. Não se deixe levar
pelo engano do diabo.

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4 – Outros Equívocos Comuns.

Há quem acredite que quem experimenta o enchimento


no Espírito fica “possuído” pelo Espírito Santo, no sentido
de que tal pessoa passa a não ter controle dos seus atos.
Este é um argumento muito usado para explicar porque
não se aplica em sua igreja a recomendação de Paulo.
Para esses, quando estão cheios do Espírito eles
simplesmente perdem o controle. Ora, quem “possui” uma
pessoa e a faz perder o controle, é satanás. Possessão
não é coisa do Espírito Santo. Jamais a Palavra nos daria
uma orientação que seja impossível de ser seguida. O
que acontece é que o enchimento do Espírito Santo
causa euforia e esta euforia, usada por pessoas imaturas,
mal orientadas ou mal intencionadas, pode fazer surgir
expressões que nada têm a ver com a moderação da qual
nos fala a Palavra (1 Coríntios 14:40).

Outro equívoco é achar que o “batismo no Espírito” é a


solução para todos os problemas da vida cristã. Alguns
propagam que a partir da experiência da plenitude do
Espírito os pecados serão eliminados em nossa vida. Ora,
o que temos visto é que muitas vezes o “batismo no
Espírito” tem feito aflorar ainda mais pecados na forma de
orgulho espiritual, vaidade e exibicionismo. A plenitude no
Espírito tem como objetivo capacitar o crente para a obra,
você não será menos tentado por sua carne nem suas
lutas cessarão. O objetivo é a edificação da igreja é dar
mais intrepidez no testemunho, maior eloqüência na
pregação, mais autoridade nas batalhas espirituais. Claro
que quando experimentamos verdadeiramente do
enchimento de Deus em nossas vidas nos tornamos mais

- 190 -
ligados às coisas espirituais e esta pode ser uma arma
valiosa para nos capacitar a vencer a carne e derrotar o
inimigo em nossas lutas. Mas santificação continua sendo
uma busca diária de intimidade com Deus. O “batismo
com o Espírito” pode ser uma ferramenta valiosa na
nossa luta contra o mal, mas não é a principal. Nada
substitui a leitura da Palavra, a busca de sabedoria, a
humildade, o arrependimento e quebrantamento no
coração como veículos para a vitória.

5 – Como receber o Enchimento no Espírito ou


“Batismo no Espírito Santo”

É fundamental conhecer bem a vontade de Deus para


que não sejamos vitimas do engano. O que escrevi até
aqui em relação ao enchimento do Espírito Santo é para
que você, guerreiro espiritual, conheça bem aquilo que o
nosso general colocou à sua disposição e não caia nas
armadilhas mais comuns que o inimigo tem armado para
desvirtuar este valioso recurso que temos. A busca do
enchimento do Espírito é necessidade de todo crente.
Não estou preocupado com o nome que possam dar,
podem chamar de “enchimento”, “plenitude” ou “batismo”,
o essencial é saber o que realmente significa receber esta
bênção e estar consciente de que há uma segunda
experiência pós-conversão na qual podemos
experimentar a plenitude do Espírito em nossas vidas que
nos traz autoridade espiritual, alegria, paz, revestimento e
capacitação. Como este enchimento vai se manifestar é
Deus quem o sabe. Em alguns aflorará o falar em línguas,
em outros em ações de graça, em obras, em desejo de

- 191 -
santificação, em sede de conhecimento de Deus, em
intrepidez, em profecias... A cada um Deus dará conforme
a Sua vontade, mas você não pode deixar de buscar com
zelo este enchimento que nos embriaga, esta graça que
nos completa e o dom inefável de experimentar mais e
mais deste Deus que é melhor do que qualquer outra
bênção.

A minha experiência me ensinou que o dom de línguas é


a maneira mais simples e rápida de obter esta plenitude
no Espírito, ou “batismo no Espírito Santo”, se você
preferir. Especialmente na primeira vez em que este
enchimento acontece. Se você deseja receber a plenitude
do Espírito Santo evidenciada pelo dom de falar em
línguas estranhas, posso lhe assegurar que é bastante
fácil de alcançar, pois é uma promessa de Deus para
todos. Na Bíblia, uma das formas de receber o
enchimento do Espírito era mediante a imposição de
mãos (Atos 8:18; Atos 19:6; Atos 9:17). Deste modo,
receber o dom através da imposição de mãos de alguém
comissionado por Deus é a forma mais bíblica.
Infelizmente, talvez eu não tenha acesso a você para
impor-lhe a mão pessoalmente, mas através dos meus
escritos você pode, pela fé, receber o dom ao seguir o
que vou lhe recomendar a seguir:

O mais importante é saber que você já é batizado no


Espírito Santo. Ele já habita em você (1 Coríntios 3:16).
Portanto, o recebimento da plenitude é simplesmente se
entregar ao Deus que está em você. Saiba que Deus
deseja que você esteja sempre cheio do Espírito (Efésios
5:18) e que Ele também deseja que você busque com

- 192 -
zelo todos os dons (1 Coríntios 14:1). Tome posse da
Palavra de Deus e das garantias que Jesus nos dá
conforme Lucas 11:9-13 que diz: “E eu vos digo a vós:
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-
se-vos-á; Porque qualquer que pede recebe; e quem
busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á. E qual o pai
de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará
uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará
por peixe uma serpente? Ou, também, se lhe pedir um
ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, sendo
maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos,
quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo
àqueles que lho pedirem?”.

Eu recebi a plenitude do Espírito depois de ler um texto


falando de como alcançar esta plenitude. Pela fé coloquei
em prática aquilo em que havia sido ministrado e,
andando no caminho do trabalho para minha casa, recebi
a plenitude de Deus com o falar em línguas estranhas.
Desde então o caminho do enchimento do Espírito de
Deus em minha vida se tornou mais simples para mim.
Você não é obrigado a seguir os passos a seguir, o que
descrevo é tendo como base a minha experiência pessoal
e posso assegurar que fui abençoado a partir dela.
Compartilho porque creio firmemente que o mesmo pode
acontecer com você. Você já é batizado no Espírito e Ele
habita em você. Munido desta certeza torna-se muito
mais fácil deixar fluir o Espírito de Deus. Saiba que em
nenhum momento você deixará de ter consciência, nem
perderá o controle. O Espírito de Deus é suave. Se você
deseja experimentar o enchimento no Espírito, como

- 193 -
aconteceu comigo, o dom de línguas é a melhor
ferramenta para isto. Primeiro ore ao Senhor:

“Senhor meu Deus,

Sei que habitas em mim através do Teu Santo Espírito e


que desejas que eu experimente da Tua plenitude. A Tua
Palavra diz que qual é o pai que o filho pedindo pão lhe
dará pedra ou qual o pai que o filho lhe pedindo peixe lhe
dará uma serpente? O Senhor é melhor que qualquer pai
terreno e é crendo no Senhor e na Tua bondade que peço
que este enchimento no Espírito tome conta de meu ser.
Senhor, não permita que nenhum espírito de engano
venha a falsificar aquilo que o Senhor deseja me dar.
Confio em Ti e em Tua provisão e, pela fé, tomo posse de
Tua promessa e dos Teus dons em o nome de Jesus,

Amém”.

Depois de orar com fé, agora é hora de agir neta mesma


fé e confiança que Deus jamais permitirá que você seja
enganado quando o seu coração é sincero no Senhor.
Comece a bendizer e glorificar a Ele. Abra a sua boca e
com os seus lábios glorifique a Deus e permita que o seu
coração se encha de louvor. Continue falando, não pare,
chegará o momento em que as palavras vão lhe faltar e é
neste momento que você deve, pela fé, falar aquilo que
estiver em seu coração sem o filtro do seu entendimento
humano, ali já não será você, mas o Espírito falando
através de você com gemidos inexprimíveis. Inicialmente
a sua carne se levantará, ela quer ter o controle e
questionará, isto é normal, não ceda. Continue falando

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com palavras ininteligíveis conforme estiver em seu
coração, aos poucos a sua carne será vencida e a sua
mente, seu coração e todo o seu ser estarão orando no
Espírito em línguas estranhas. Você experimentará um
sentimento de plenitude e bem-aventurança, sentirá em
seu corpo o revestimento de Deus e a alegria do Senhor.
Quando isto acontecer você recebeu a “plenitude”, o
“enchimento” e o “batismo” no Espírito Santo.

O caminho é simples e é exercício de fé e confiança em


Deus. Confiança de que Ele habita em você, de que Ele
deseja lhe dar da plenitude Dele e de que Ele não
permitirá que um filho que se humilhou em Sua presença
seja enganado. Depois deste momento, experimentar a
plenitude de Deus será caminho muito mais fácil para
você e, o guerreiro espiritual, capacitado pelo enchimento
de Deus terá muito mais ousadia e firmeza para se opor
ao mal e obter vitória.

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Capítulo XVI
O Perdão
Que Liberta
Talvez você ache estranho um capítulo sobre perdão em
um livro que fala de batalha espiritual, mas eu considero
este um dos nossos mais importantes capítulos. Se você
não pratica o perdão está fatalmente condenado à derrota
em suas batalhas e o meu interesse é exatamente evitar
que isto aconteça. De nada adianta você conhecer as
estratégias do inimigo, a estratégia da vitória, se revestir
de toda a armadura de Deus, orar, jejuar e se revestir
com a plenitude do Espírito se não tiver o perdão como
prática diária.

1 – O que é Perdão?

A palavra “perdão” no português deriva do vocábulo


latino “perdonare” que é composto pelo sufixo “per” que
transmite a ideia de plenitude, de algo que não necessita
de retoques. Por exemplo, a palavra “perfeito”, ou “per-
fectum” no latim, contém este mesmo prefixo, significando
que perfeito é algo que é feito em sua plenitude, que não
necessita de retoques. Voltando ao vocábulo “perdão”, ele
é formado no latim pelo prefixo “per”, que já vimos, e da
palavra “donare” que significa doar, entregar. Portanto
“perdoar” significa entregar-se sem retoques, doar-se em
plenitude.

- 196 -
Existe uma tribo na África, no noroeste de Gana,
chamada Chakalis onde missionários tentavam fazer um
trabalho de evangelização. Um dos maiores desafio
daqueles missionários foi tentar aprender a língua falada
por aquele povo para poder falar do perdão de Deus. Só
que havia um grande problema: na língua falada pelos
Chakalis não existia a palavra “perdão”. Como falar de
algo para um povo que não possuía nenhuma palavra
com este significado? Convivendo com a tribo,
conhecendo seus hábitos e costumes finalmente
perceberam que o perdão naquela cultura não era uma
palavra e sim um ato simbólico:

Quando alguém cometia um ato reprovado pela


sociedade Chakalis era punido e afastado pela
comunidade. Após o tempo de punição, comprovado o
arrependimento do infrator, o ancião da tribo enchia uma
jarra com água, levava-a para fora da aldeia e a quebrava
sobre uma pedra simbolizando que assim como a água
naquela jarra, o pecado havia sido tratado, quebrado e ido
embora. Deste momento em diante a ninguém seria
permitido novamente tocar naquele assunto, mas se isto
acontecesse, o ancião prontamente afirmaria: "Tiwii akan"
– que significa “a jarra foi quebrada”.

Esta descoberta permitiu que finalmente os Chakalis


pudessem conhecer o perdão de Deus e muitos se
converteram. Esta tribo, no coração da África, aprendeu
que a “jarra” com todos os seus pecados foi quebrada na
cruz do Calvário por Jesus Cristo, nosso Senhor. Que
bela imagem para o perdão! Quebrar a jarra com todas as
ofensas, deixar que a água, dentro da jarra se vá e junto

- 197 -
com ela todas as mágoas. Poder dizer para todos os que
nos ofenderam: “Tiwii akan”, não lembro mais, você está
perdoado!

No antigo testamento perdoar significa “levar embora”.


Quando eu perdôo alguém tomo dele a carga da culpa e a
levo embora. Assim como o ancião da tribo Chakalis
levava a jarra para fora da aldeia, assim também nós
levamos embora para fora do nosso convívio a culpa que
recaía sobre o agressor. No novo testamento a palavra
grega “perdoar” significa “deixar ir”. Quando eu perdôo,
retiro o peso da culpa daquele que me ofendeu, e mais do
que isto eu o deixo ir, liberto-o de qualquer débito.

Perdão é doar-se em plenitude, é dar sem esperar nada


em troca. Perdoar é liberar totalmente a dívida que
alguém tem conosco de tal maneira que nada mais há a
ser cobrado. Perdoar é entregar a si mesmo. Esta doação
perfeita nós recebemos na cruz, quando Jesus entregou-
se a si mesmo por mim e por você permitindo que nós
encontrássemos o perdão de Deus. Perdão não é
simplesmente riscar a pessoa de sua vida, ou passar a
ser indiferente a ela, isto não é perdão é apenas
homicídio emocional. Quando Deus nos perdoa ele apaga
as nossas transgressões e delas não lembra (Isaías
43:25). Ele esquece o pecado, mas não se esquece de
nós e continua a se relacionar conosco. Assim deve ser o
perdão que praticamos.

Só que nem sempre é tão fácil “quebrar a jarra”. Nem


sempre é possível nos entregar de novo a quem nos
levou tudo. Muitas vezes o fardo é grande demais, não

- 198 -
conseguimos carregá-lo e levar para longe, não
conseguimos deixar ir aquela pessoa que tanto nos fez
mal, que nos feriu, nos agrediu, nos humilhou, nos deixou
em pedaços, destruiu nossos sonhos, destruiu nossa
inocência.

3 – Uma História de Dor

Talvez você esteja neste momento carregando uma


profunda ferida, uma grande dor, uma decepção com
alguém que você muito amou e lhe traiu de tal maneira
que você acha impossível perdoar. Muitas vezes não
conseguimos entender como alguém que nos foi tão
próximo e tão querido foi capaz de um ato tão covarde,
tão desprovido de compaixão. Este sentimento é comum.
A imensa maioria dos grandes traumas e feridas de alma
é causada pelas pessoas mais próximas. As pessoas a
quem mais amamos e mais nos dedicamos são as que
têm maior potencial de nos ferir. O que pode ser
comparado à dor da menina molestada pelo próprio pai?
Como esquecer aquele amigo a quem confiávamos
nossos segredos e que nos traiu? O que pode compensar
a dor da esposa que recebe como pagamento o adultério
ou é sumariamente trocada por outra quando já perdeu
sua juventude? E o que falar das palavras? Pessoas
queridas que disseram que não somos nada, que somos
fracassados, pais que amaldiçoaram seus filhos, esposas
que depreciam seus esposos, maridos que humilham
suas esposas... Como esquecer milhares e milhares de
palavras que ofenderam e que vêem se acumulando
durante anos?

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Perdoar é libertar. Quando perdoamos alguém, nós
levamos embora a culpa que recai sobre ela e a deixamos
ir, a deixamos livre. Mas esta perspectiva de deixar livre
aquele que nos magoou e traiu, muitas vezes torna difícil
o perdão. Como posso deixar livre de culpa, alguém que
me feriu tão profundamente? As feridas de minha alma
estão abertas, meu coração está sangrando, e eu ainda
vou liberar perdão para esta pessoa? Muitas vezes
alimentar a mágoa e o ressentimento é o alimento diário
que resta após a dor da traição. Muitas vezes sentimos
que só a vingança, quando aquela pessoa experimentar
na carne a mesma dose de dor que experimentamos é
que poderá ser possível algum tipo de perdão ou de
reconciliação. Mas será que este é o melhor caminho
para sua alma?

No Capítulo I deste livro eu contei a história da queda de


Davi e das consequências da legalidade que ele abriu no
plano espiritual. Mas, quando lhe contei esta história,
coloquei propositadamente os holofotes sobre Davi. Ele
era o principal personagem humano. Agora eu quero lhe
convidar a apontar os holofotes para outro personagem:

A Bíblia nos conta o caso de um jovem muito rico e belo.


Tinha as melhores roupas, a melhor comida, muito
conforto, inúmeros servos e era de uma beleza sem igual,
não havia em todo o Israel homem tão admirável pela sua
beleza. Desde a planta do pé até o alto da cabeça não
havia nele defeito algum. Seu nome era Absalão, filho de
Davi. Sua triste história está registrada em I Samuel dos
capítulos treze a dezoito.

- 200 -
A Bíblia registra que um dia Absalão encontrou sua irmã
vagando como louca pelas ruas da cidade com as vestes
rasgadas e as mãos escondendo o rosto. Tamar, a
querida irmã de Absalão, havia sido estuprada e, o pior,
pelo próprio irmão, um homem chamado Amnom. Absalão
sentiu o chão abrir, seus sentidos se obscureceram, seu
mundo desmoronou. Ele a acolheu em seus braços. Sua
dor devia ser quase tão grande quanto a dor da irmã.
Como pôde seu próprio irmão praticar um ato tão
diabólico? Poderia haver perdão para alguém capaz de
algo tão monstruoso? Não havia lugar no coração de
Absalão para perdoar.

Absalão não falou nada ao seu irmão. Nada do que


viesse a dizer poderia mudar a dor que sentia. Sua única
saída era esperar. E durante dois longos anos ele
esperou. Sua outrora bela irmã foi morar com ele e todo
dia quando olhava para ela desolada, aumentava em seu
coração a sede de vingança. Um dia, quando todos já
haviam esquecido o episódio, inclusive o criminoso
Amnom, Absalão convidou todos seus irmãos para uma
grande festa. Lá, na frente de todos, ele mandou matar
Amnom e fugiu para uma terra distante, para outro país.

Finalmente parecia que a vingança havia sido


concretizada, agora, quem sabe, Absalão poderia
reencontrar a paz que tinha e que lhe havia sido
brutalmente arrancada. Só que a ferida era profunda
demais. Absalão continuava atormentado por aquela dor.
Matar Amnom não tinha sido suficiente, ele acreditara que
quando finalmente tirasse a vida daquele que tinha
causado tanta dor e humilhação para ele e sua irmã,

- 201 -
finalmente poderia descansar, poderia se sentir livre
daquela dor. Mas, quando nosso coração não encontra o
perdão, a dor alimentada a cada dia, vai se tornando tão
grande que não pode mais ser apagada. Só o perdão
poderia estancar a dor que Absalão sentia, mas perdoar
para ele era impossível. Tomado pelo ódio o jovem
Absalão procurou outro alvo para destilar sua ira. Ele se
voltou contra o próprio pai: Davi.

O rei, pai de Amnom, de Absalão e de Tamar, não havia


tomado nenhuma atitude contra o filho violentador.
Passou a mão pela cabeça daquele que cometera o crime
hediondo, mas isolara Absalão por cinco anos, sem nem
sequer dirigir-lhe uma palavra por ele ter tomado a atitude
de matar o malfeitor. Na visão conturbada pela falta de
perdão e ressentimento, Davi era tão culpado quanto o
próprio criminoso e tinha que receber também a punição.
Absalão arquitetou, então, um plano que tinha um
propósito bem definido: derrubar o rei.
A dor e o ódio de Absalão se uniram à dor e o ódio de
Aitofel. Aitofel era respeitado por todos. O rei não tomava
decisões sem antes o consultar, seus conselhos eram
comparados aos conselhos do próprio Deus. Como
Absalão, Aitofel também tinha uma profunda ferida na
alma pela falta de perdão. Ele presenciou a humilhação
pública de sua família. Sua neta havia se transformado
em motivo de vergonha. Ela foi seduzida pelo rei que não
considerou o fato de ela já ser casada e de ser neta de
um amigo e seu principal conselheiro. Como Absalão,
Aitofel passou longos anos remoendo suas mágoas, suas
feridas, sua decepção. Os destinos desses dois homens
se cruzaram. Aitofel vê na vingança de Absalão a

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possibilidade de também exercer a sua vingança e aliviar
a dor que crescia dia após dia em seu peito. Ele se aliou a
Absalão e dedicou toda a sua capacidade para
aconselhá-lo e conseguir, finalmente, aplacar a amargura
do seu coração.

Cego pelo ódio, Absalão, aconselhado por Aitofel, invadiu


o palácio e estuprou as concubinas do rei à frente de
todos. Absalão pagara na mesma moeda: estupro por
estupro, mas ainda não era suficiente, nada era
suficiente, nada nunca é suficiente para a alma
atormentada pela falta de perdão. Insaciável, ele partiu
para perseguir e matar o pai pensando que assim
assumiria o trono e coroava de êxito seu plano de
vingança. Foi em uma batalha, quando perseguia o
próprio pai, que Absalão ficou preso no galho de uma
árvore e foi friamente assassinado por Joabe. Aitofel
também encontrou o fim de sua dor na morte, o suicídio
foi a saída encontrada por ele.

Dois homens valorosos, duas almas atormentadas,


escravos de um mesmo sentimento: A falta de perdão.

4 – Vingança: Uma Fera Insaciável

Sem dúvida a vingança é um sentimento natural a todos


nós. Quem nunca desejou retribuir o sofrimento que
outros nos causaram? Talvez haja aqueles que digam
que nunca desejaram se vingar de ninguém, mas pessoas
assim normalmente se tornam homicidas emocionais que,
em seu mundo interior, matam seus opositores de tal
maneira que é como se eles sequer tivessem existido um

- 203 -
dia. É apenas uma forma “light” de executar a vingança. A
verdade é que todos nós, em determinada medida, somos
tomados, aqui e ali, pelo desejo de retribuir o mal com o
mal. Normalmente não queremos justiça, desejamos
vingança.

O problema da vingança é que ela não basta a si mesma.


Na imensa maioria dos casos, a vingança é o oposto do
perdão. Sempre será praticamente impossível
perdoarmos aqueles de quem desejamos nos vingar, a
não ser que a vingança que impomos seja mais forte que
a agressão que sofremos. Quando o saldo nos parece
positivo neste jogo de troca de agressões, e somente aí,
há a possibilidade de reconciliação. Só que, neste caso, é
a outra parte que passa a desejar a retaliação criando,
então, o círculo vicioso de vinganças em uma cadeia
infinita. A vingança nos cega; nos domina; nos vicia. É
uma fera que, uma vez solta, não há como controlar. É a
chave que libera o mal que se esconde nos porões mais
escuros do nosso ser e faz aflorar em nós o que há de
pior. A vingança é a chave que abre os abismos da alma.

Absalão é o caso típico do homem dominado pelo desejo


vingança. Não podemos condenar a justeza de sua dor.
Ele amava tanto a sua irmã Tamar que a homenageou
dando o nome dela para a sua própria filha. Ter uma
pessoa amada machucada do jeito que foi, por alguém
que deveria protegê-la, sem dúvida é um golpe forte
demais. Entre o perdão e a vingança, Absalão preferiu o
pior caminho. Por conta do estupro incestuoso de sua
irmã, ele tramou a morte do criminoso. Mas a vingança
não se satisfez com o assassinato: dominou-o de tal

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forma que o fez comandar uma rebelião, violentar as
concubinas e tentar assassinar seu pai omisso. Dizem
que a vingança é um prato que se come frio. Eu diria que
ela é um prato indigesto, que não deve ser comido jamais,
pois costuma envenenar aquele que o saboreia.

A vingança é um sentimento natural, mas Deus conhece o


mal que ela pode desencadear em nossa alma. Tanto é
assim que a Palavra de Deus nos alerta: “Não vingueis a
vós mesmos. Minha é a vingança, diz o Senhor, eu
retribuirei” (Romanos 12:19). Só Ele pode determinar
este limite que a alma humana desconhece. Só Aquele
que ama igualmente e na mesma intensidade tanto o
agressor, quanto o agredido, sabe transformar vingança
em justiça. Só Aquele que é amor não se contaminará
com o mal. Abra mão da vingança, ela pertence ao
Senhor.

5 – A Prisão Espiritual

Jesus nos conta uma parábola sobre o perdão. Nela, um


homem é cobrado por uma dívida de dez mil talentos, um
valor inimaginável à época, maior do que aquilo que era
pago de impostos ao império romano. Claro que o homem
não tinha como pagar uma dívida tão grande e o senhor
daquele servo, tomado de misericórdia, lhe perdoou toda
a dívida. Este servo que encontrou o perdão de sua dívida
tinha alguém que lhe devia cem denários, equivalente a
cem dias de salário de um trabalhador braçal naquela
época e infinitamente inferior aos dez mil talentos que lhe
foram perdoados, mas ao encontrar-se com aquele que
lhe devia os cem talentos, ele não lhe perdoou a dívida.

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Indignados com a sua falta de misericórdia, outros
comunicaram ao senhor o episódio que revelava o caráter
daquele homem. Indignado, o senhor daquele servo
incompassivo colocou-o na prisão entregue aos verdugos
até que lhe pagasse cada centavo daquela dívida
impagável que tinha. Jesus termina a parábola dizendo:
“Assim também meu Pai celestial vos fará, se cada um
de vós do íntimo do coração não perdoar a seu irmão”
(Mateus 18:23-35).

Cada um de nós recebeu do Senhor o perdão de uma


dívida que não havia como pagarmos. Ao longo de
nossas vidas, fomos acumulando ofensas contra Deus,
com nossos atos, pensamentos, omissões... É uma dívida
impagável, que o Senhor perdoou na cruz. Por maior que
seja a mágoa que tenham nos causado, nenhuma chega
perto ao que nós mesmos causamos a Deus. Quando não
perdoamos agimos como aquele servo que não teve
misericórdia de alguém que lhe devia muito menos. A
parábola não deixa dúvidas. Se você não consegue
perdoar alguém, você está preso, está no cativeiro
entregue aos verdugos. Mas o que significa ser entregue
aos verdugos?

Na antiguidade, os verdugos ou atormentadores, eram


homens que tinham o objetivo de causar o máximo de dor
aos que caíam em suas mãos. Eram os torturadores que
tinham sua competência julgada a partir da sua habilidade
em infligir sofrimento. Na dimensão espiritual esses
verdugos são seres que recebem o direito legal de
atormentar aqueles que se fazem prisioneiros pela falta
de perdão. Quando não perdoamos aquele que nos feriu,

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estamos dando autoridade legal a esses seres
demoníacos para atormentarem nossa vida, assim como
fizeram com Absalão. De todas as prisões espirituais que
alguém pode estar, sem dúvida, a falta de perdão é a pior
delas.

6 – As Principais Armas dos Atormentadores

Os atormentadores têm agido intensamente no mundo. A


falta de perdão tem contribuído para a hipertensão,
depressão, diabetes, problemas coronários e, até mesmo
o câncer. A dor causada pela falta de perdão aprisiona a
alma e invade o corpo físico, tornando ainda mais
dolorosa a vida. A alma aprisionada e atormentada,
muitas vezes não consegue alcançar novos ideais, vive
infelicitada e tem o poder de contaminar outros com sua
raiz de amargura (Hebreus 12:15) em uma espiral que
pode abranger a vida de pessoas amadas: São filhos
magoados que não conseguem ser pais abençoadores;
esposas traídas que não conseguem reconstruir sua vida
emocional; crentes feridos que não sentem mais
comunhão com Deus. Todos vítimas dos atormentadores
espirituais que sempre agem com sutileza para que
aquele que está sob seu domínio nunca tenha plena
consciência de que a falta de perdão é a causa de sua
infelicidade. Para cumprir sua função os torturadores
espirituais usam algumas armas básicas, vou citar adiante
algumas das mais comuns:

A primeira e, talvez, a principal arma que os


atormentadores usam para torturar aquele que não
perdoa é o ressentimento. Ressentimento é “re-sentir”. É

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sentir de novo, e de novo, e de novo, num ciclo
interminável de perpétua dor. A pessoa escrava do
ressentimento vive vez após vez as mesmas emoções. É
como se o tapa sofrido na infância ainda estalasse no
rosto; a palavra de maldição ainda ecoasse nos ouvidos;
aquela traição de dez anos atrás tivesse acontecido hoje.
Cada novo episódio vai se somando aos que
aconteceram antes. Junto com a nova ferida vem a dor
somada de todas as feridas anteriores. O ressentido pode
até voltar a conviver, mas jamais experimenta o perdão
de todo coração que é o único que traz verdadeira
libertação (Mateus 18:34-35). Os atormentadores não
brincam em serviço: um acontecimento, uma falha, uma
nova mágoa, podem ser suficientes para que toda a carga
de todos os acontecimentos, falhas e mágoas voltem à
tona em seu coração. O ressentimento faz com que o
sofrimento esteja sempre sendo renovado e não acabe
nunca.

Como em todas as estratégias e armas de satanás, o


ressentimento é sutil. É uma armadilha que todos nós
estamos susceptíveis a cair e temos que ter muito
cuidado para que ela não domine o coração. Se
frequentemente as dores atuais lhe remetem e relembram
as dores passadas, este é um sinal ao qual você deve
estar atento.

Outra poderosa arma dos atormentadores é a depressão.


A depressão é uma enfermidade que afeta o corpo físico,
mas seus gatilhos normalmente residem na alma.
Normalmente, para vencer a depressão é necessário o
acompanhamento médico, mas também é fundamental

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identificar os gatilhos emocionais que disparam o estado
depressivo. Um desses gatilhos é a falta de perdão.
Normalmente a depressão se inicia na batalha espiritual
do perdão que não foi vencida. A depressão acompanha
muitos corações já atormentados pelo ressentimento. O
ressentimento mergulha a alma na depressão que
alimenta os “re-sentimentos” e faz a alma mergulhar ainda
mais fundo na depressão. Este é o círculo vicioso que os
atormentadores espirituais usam para aprisionar e causar
dor. Só quando nos negamos ao “re-sentimento” e
liberamos o perdão de todo o coração é que este ciclo é
quebrado. Muitos depressivos encontram-se neste quadro
por não conseguirem perdoar pessoas que lhe
magoaram, mas há aqueles que são atormentados pela
depressão por não conseguirem perdoar a vida e este é
um aspecto difícil de lidar, pois ao contrário dos que
sofreram agressão de uma pessoa de carne e osso,
aqueles que se julgam vítimas da vida não tem ninguém
específico que seja alvo de sua dor. É um sentimento
difuso, pois o que realmente os atormentam é julgar que
receberam menos do que investiram emocionalmente ou
que mereciam mais da vida. Perdoar a vida é um desafio
gigantesco, mas que vale à pena vencer.

Outro desafio muito comum é liberar o perdão para si


mesmo. Muitas vezes os verdugos usam os nossos
próprios erros para nos atormentar. Esta é uma prisão
poderosa. Quando não conseguimos nos perdoar
acumulamos os papéis de ofendido e ofensor ao mesmo
tempo e carregamos sobre nós as duas cargas. Pessoas
que não conseguem perdoar a si mesmas se colocam no
patamar de juízes, se colocam acima do próprio Deus.

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Esta postura que aparentemente pode ser confundida
com humildade, na verdade denúncia muito de arrogância
espiritual, o que também é outra porta de legalidade ao
inimigo, pois quem age assim não tem como se revestir
da couraça da justiça que se apossa não da justiça
própria, mas da justiça de Cristo que nos foi imputada na
cruz. Se este é o seu caso está na hora de liberar o
perdão sobre sua vida também.

7 – O Que o Perdão Não É

Há muita confusão em relação ao ato de perdoar. Muitos


confundem perdão com uma violência a seu próprio eu e
é claro que isto jamais poderá trazer saúde para a alma.
Perdoar jamais poderá significar anulação, humilhação,
medo, vergonha ou servilismo. Muito pelo contrário, o
verdadeiro perdão, o perdão que trás cura, é de outra
natureza. Perdoar não é exercício de servilismo, perdoar
é exercício de poder, e é sobre isto que estou falando. É
exercer poder para receber a curar, para devolver sua
vida ao seu Senhor, trilhar o caminho de vitória e
liberdade que Ele estabeleceu para você e não permitir
que ninguém mais tenha poder de lhe aprisionar. Perdoar
é caminhar com determinação para o alvo que está
reservado para todo aquele que tem a coragem de
assumir seus sentimentos, mas não ser dominado por
eles. Perdoar é, enfim, saber-se livre e, sendo livre, poder
viver em paz.

Perdoar também não significa que você deve cometer os


mesmos erros de avaliação que permitiram que você
fosse magoado. Os relacionamentos evoluem e a

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convivência nos faz conhecer melhor as pessoas. O
relacionamento que tenho com meus filhos ou com minha
esposa vai evoluindo ao longo do tempo em um processo
que me permite conhece-los melhor e saber seus pontos
fortes e fracos. Assim também deve ser o relacionamento
com a pessoa que lhe magoou, se houve em seu
comportamento algo que permitiu que esta pessoa lhe
magoasse, você deve corrigir este comportamento e ser
mais cauteloso em relação à fraqueza daquela pessoa.
Por outro lado, se a pessoa que lhe machucou reconhece
que errou, o seu acolhimento e sinceridade serão armas
poderosas para a cura. Não abra mão da possibilidade de
ser usado por Deus para a libertação de outro.

Perdão nunca irá fazer de você uma pessoa fraca. Pelo


contrário, aquele que perdoa recebe a liberdade, sai do
tormento dos torturadores espirituais e recebe a unção
para voltar ao campo de batalha ainda mais forte.

8 – Saindo da Prisão

Como vimos, apesar de ser uma lógica difícil, a verdade é


que aquele que é magoado, ferido, humilhado, excluído, é
o que sofre as maiores sequelas. Por paradoxal que
possa parecer, o grande beneficiado pelo perdão é
justamente aquele que foi agredido. Quem recebe o
perdão, é claro que é beneficiado, pois não haverá mais a
possibilidade da vingança, nem terá que lidar com o ódio
e a rejeição do outro. Mas para quem perdoa há a maior
de todas as recompensas: A liberdade.

- 211 -
Este capítulo sobre perdão é essencial para o guerreiro
espiritual, porque se você não libera o perdão você nem
sequer está no campo de batalha. Na realidade você está
prisioneiro e entregue aos espíritos atormentadores.
Liberar o perdão é dar uma nova chance a você mesmo.
É se libertar para viver uma nova vida e tomar posse de
tudo aquilo que Jesus conquistou na cruz. Quando
perdoamos, somos automaticamente libertos das prisões
espirituais que nos travam, vemos os grilhões que nos
escravizam romperem e podemos voltar a erguer nossas
cabeças.

O desafio do perdão é uma batalha interior, talvez a maior


batalha a ser travada. Ter um coração perdoador é ter
liberdade; é ser senhor e não escravo; é ganhar
autoestima; é poder se olhar no espelho e ver alguém
melhor. Por mais que alguém lhe tenha magoado, a falta
de perdão só lhe traz ainda mais infelicidade e dá ainda
mais poder para a pessoa que lhe magoou e dá mais
legalidade aos espíritos atormentadores. É esta vida que
você deseja para si? O passado não volta e a vingança
não sacia a alma. Vale à pena dar ao diabo tanto poder
sobre a sua vida? Permitir que os atormentadores
espirituais tragam ainda mais sofrimento sobre sua vida?
Quem é que está sendo escravo? Quem é que precisa
ser liberto?

Assim como todos os demais mandamentos de Deus, o


perdão não é um sentimento, é uma atitude. E toda
mudança de atitude começa com uma decisão. É esta
decisão que lhe convido a tomar agora. Se desejar, use
este modelo de oração:

- 212 -
“Senhor,

Sei que o Teu desejo é que eu perdoe a todos os que me


fizeram mal, sei que Tu queres que eu libere o perdão
para ______________, assim como o Senhor perdoou
meus pecados na cruz. Tu sabes, ó Pai, que este perdão
está acima de minhas forças. Mas pela fé, eu neste
momento tomo a decisão de perdoar ______________.
Neste momento tomo posse da Tua promessa, me
desligo de toda a prisão espiritual que tenta me deter e
não aceitarei mais nenhuma acusação do mal. Peço que
o Senhor abençoe ______________ e que a cada dia
ele(a) seja guiado(a) em Teus caminhos. Senhor dá-me a
cada dia um coração perdoador e que eu possa perdoar
com o teu perdão em nome de Jesus.

Amém”.

Nos espaços em branco você colocará o nome da pessoa


que deseja perdoar e irá repetir este modelo de oração
todas as vezes que a dor e o ressentimento brotarem em
seu coração. Se você tem algo que precisa perdoar, não
permita mais que os atormentadores tenham poder sobre
sua vida. Tome a decisão de perdoar. Perdão não é
sentimento é escolha. Então, escolha a vida, escolha a
liberdade, escolha o Senhor, escolha o amor, escolha
perdoar. Se mantiver firme a sua decisão, os sentimentos
irão seguir e a plenitude de Deus tomará sua vida.

- 213 -
9 – E Quando O Ofensor Sou Eu?

Na vida muitas vezes nós somos feridos, mas, também,


muitas vezes ferimos outros. Às vezes tratamos pessoas
de maneira errônea. Machucamos com palavras, somos
injustos com os outros, traímos confianças... Quando
ferimos alguém e machucamos uma pessoa temos
igualmente um sério problema espiritual que necessita ser
tratado. Primeiro, porque quando machucamos alguém
nós estamos na realidade machucando o próprio Deus.
Davi adulterou, assassinou e enganou pessoas próximas
e queridas, mas quando escreveu o salmo cinqüenta e
um em que relata seu arrependimento ele disse: “Contra
ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal aos teu
olhos...” (Salmos 51:4). O salmista entendeu que quando
machucamos alguém estamos, na verdade, ferindo o
próprio Deus. Quando você agride uma pessoa julgando
que ela merece ser tratada desta forma, você está dando
lugar ao diabo, pois está agredindo a Deus e tomando em
suas mãos a vingança que é prerrogativa do Senhor:
“Minha é a vingança, diz o Senhor” (Romanos 12:19).
Portanto, nada justifica que um cristão em sã consciência
possa ofender, machucar ou agredir alguém.

Jesus conta outra parábola sobre o perdão. Desta vez ele


conta a história de um homem que tinha machucado
alguém e não havia pedido perdão, veja o que o Senhor
diz a respeito deste homem: “Portanto, se trouxeres a
tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão
tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a
tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão
e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te

- 214 -
depressa com o teu adversário, enquanto estás no
caminho com ele, para que não aconteça que o
adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao
guarda, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo
que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não
pagares o último ceitil” (Mateus 5:23-26).

No texto referido o “irmão” é aquele que foi ferido e o


“adversário” é parte da linguagem forense que se refere a
alguém que vai diante de um juiz pleitear uma causa.
Quando machucamos alguém e não pedimos perdão,
nem buscamos reconciliação com esta pessoa, também
estamos abrindo base legal para ficarmos espiritualmente
encarcerados. Para Jesus tanto o ofendido quanto o
ofensor estão em prisões espirituais. Estão dando
legalidade ao diabo para mantê-las espiritualmente
aprisionadas. Quando machucamos alguém devemos nos
arrepender e nos desculpar com esta pessoa. Esta é a
nossa parte, quando fazemos isto toda a acusação cai por
terra. O perdão do outro deixa de ser questão conosco e
passa a ser uma questão entre ele e Deus.

10 – Perdoando e Sendo Perdoado

O diabo tem colocado em muitos corações que não


perdoar e se vingar são as atitudes certas a serem
tomadas ante uma ofensa. Ao longo da história da
humanidade através da cultura e da tradição ele tem feito
com que a vingança seja um ideal a ser perseguido.
Muitos consideram o perdão como um ato de fraqueza e
pedir perdão como sinal de falta de amor próprio ou até
falta de caráter. Infelizmente isto tem sido tristemente

- 215 -
assimilado como valores a serem vividos até mesmo em
nosso meio. Há um grupo extremamente grande de
cristãos que têm dificuldade tanto para perdoar, quanto
para pedir perdão. Não à toa, existe um número tão
grande quanto de cristãos que estão em prisões
espirituais e entregues aos atormentadores da alma.

Mas veja o exemplo de Cristo. Ele perdoou até mesmo os


que o crucificaram, nem por isso alguém tem uma visão
de Jesus como um homem fraco. É isto que deve estar
em sua mente: toda vez que você submete a sua vontade
a Deus, você está ficando mais forte espiritualmente, não
mais fraco. Você está dominando sua carne, não sendo
dominada por ela. Você está se submetendo a Deus e
resistindo o diabo e, por conta disso, ele fugirá de você.

O problema é que nesta sociedade que jaz no maligno os


valores do reino são desprezados e, não raro,
ridicularizados para que você continue agindo fora da
vontade de Deus. O pior é que muito crente tem
acreditado no engano do diabo e andando nos
descaminhos de satanás. Os valores do Reino são outros.
Pedir perdão, perdoar, humilhar-se perante o Senhor,
suportar a afronta por amor a Cristo, vai lhe fazer
espiritualmente cada vez mais livre e cada vez mais
poderoso em suas batalhas espirituais. É com este poder
que Deus quer revestir sua vida.

Perdoar e pedir perdão são as duas vias que compõem a


estrada que nos leva à liberdade e é esta estrada que o
diabo não quer que você trilhe, pois ele deseja que você
continue prisioneiro dele, atormentado por ele e levando

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uma vida espiritual fracassada e improdutiva. Não dê
lugar ao diabo (Efésios 4:27). A sua vitória virá à medida
que você se libertar dos padrões destrutivos e
aprisionadores que o diabo ensina. Deixe o mundo e os
seus valores para trás e assuma a sua vocação e
chamado em Cristo. Quando você tomar esta decisão de
maneira definitiva, verá que será cada vez mais fácil
obedecer ao Senhor e que sua vida será coroada com
testemunhos e cânticos de vitória.

- 217 -
Capítulo XVII
Mudando o
Rumo da Batalha

Muitas pessoas escrevem para mim passando por


profundas batalhas. Pessoas que se sentem oprimidas,
amaldiçoadas, destituídas, esquecidas por Deus. Gente
que não consegue vitória em sua vida espiritual. Muitas
vezes estas coisas ocorrem por não nos apercebermos
do mundo em que estamos. Conscientes ou não, a
realidade é que estamos em meio a uma guerra espiritual.
Quando você teve seu encontro com Cristo, seu nome foi
escrito no Livro da Vida e você o Senhor lhe “alistou” no
exército de Deus. Automaticamente você passou a ser um
Guerreiro do Senhor. Como em qualquer outra guerra o
inimigo está disposto a exterminar todo soldado que lhe
faça oposição e é por isso que ele se esforça e mobiliza
todos os recursos malignos para lhe paralisar.

Mas o Senhor não nos deixou desamparados.

No sexto capítulo do segundo livro dos Reis, versos oito a


dezessete, conta-se que o profeta Eliseu estava em uma
situação difícil. O rei da Síria estava em guerra contra
Israel e o Senhor revelava ao profeta onde, quando e
como aconteceriam os ataques. Alertados por Eliseu, o
povo do Senhor não caía nas ciladas armadas pelo
inimigo. Isto causava grade indignação ao rei da Síria que

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chegou a imaginar que havia um traidor no meio do seu
povo.

Quando soube que Deus tinha um profeta a quem avisava


com antecedência os planos do inimigo, o rei da Síria
resolveu matar Eliseu e para isto mandou uma grande
exército com soldados equipados, cavalos e carros de
guerra, e uma única missão: calar a voz de Deus no meio
do seu povo.

As tropas sírias chegaram à noite e cercaram a cidade


onde Eliseu estava. O medo tomou conta de todos. O
servo do profeta entrou em desespero, e angustiado
perguntou ao profeta sobre o que fariam diante de uma
situação tão ameaçadora. Apesar de estar sendo
perseguido por um batalhão que tinha sido enviada com o
único propósito de tirar-lhe vida, Eliseu permaneceu
tranquilo. Diante do desespero de seu servo, o profeta
orou para que Deus abrisse seus olhos para a realidade
espiritual em que estavam envolvidos e o servo de Eliseu
pôde contemplar que o profeta não estava enganado! A
Bíblia nos diz que muitos eram os soldados, os cavalos e
os carros do inimigo que estavam cercando a cidade, mas
Deus tinha colocado um exército muito mais poderoso
montado em cavalos e carros de fogo para proteger
aquele a quem Ele amava.

O servo de Eliseu não tinha consciência da verdadeira


natureza da batalha em que estava envolvido. Sua visão
estava limitada à percepção dos seus olhos naturais. Por
isso, ele se desesperou, pois lhe era claro que não havia
nenhuma possibilidade de um homem vencer sozinho um

- 219 -
exército poderoso que nem toda a nação conseguiu
subjugar. Assim é também com sua vida. Para mudar o
rumo da batalha você precisa abrir seus olhos espirituais.
É preciso reconhecer a verdadeira natureza da sua
batalha e confiar no seu Deus. Olhe firmemente para
Jesus (Hebreus 12:2). Se você mantiver seus olhos firmes
no Senhor não há muralhas, mares, tempestades nem
gigantes que você não possa vencer. O inimigo pode vir
com toda sua força para lhe atacar e tentar de todas as
maneiras lhe destruírem, mas Deus sempre estará com
um batalhão de anjos montados em carros e cavalos de
fogo para batalhar a seu favor. Por maiores que sejam as
lutas e por mais poderoso que pareça o inimigo, você
nunca está só.

“Não tenha medo, pois aqueles que estão conosco


são mais numerosos do que os que estão com eles”
(2 Reis 6:16).

1 – Alguns Recados Finais

Talvez você tenha lutado de maneira errada e agora


tenha tomado consciência disso. Gostaria de lhe dizer
que, se este é o seu caso, saiba que nunca é tarde para
recomeçar e retomar o caminho. A fé em Cristo é
ressurreição, recomeço e renascimento. Por maior que
pareçam os estragos causados pelos anos anteriores, o
seu Deus sempre será maior que tudo o que o diabo
tentar contra a sua vida. Não perca mais tempo,
arrependa-se, peça perdão ao Senhor e às pessoas a
quem deve e perdoe de todo o coração aqueles que lhe
feriram. Tome a firme decisão de batalhar com as armas

- 220 -
do Senhor e não mais as armas carnais e persevere.
Você não pode mudar o passado, mas pode construir um
novo futuro em um caminho de milagres e vitórias a partir
desta decisão. Esta é a garantia da Palavra do Senhor.

Aos que já estão na batalha usando as armas espirituais


e até aqui não obtiveram vitória, digo em nome do
Senhor: persevere! O inimigo sempre tentará interromper
o caminho que lhe traz a vitória do Senhor, assim como
tentou fazer com o profeta Daniel e conseguiu interromper
o caminho da bênção por vinte e um dias. Saiba que,
assim como foi com Daniel, a vitória do inimigo sempre
será temporária. A sua perseverança sempre fará toda a
diferença. Não se desvie, nem ceda à tentação de usar as
armas carnais. Renove suas forças no Senhor, se deixe
levar pela adoração e ação de graças ao seu Deus,
mantenha sempre seu coração agradecido a Ele pelo que
Ele é e confie. “Deleita-te no Senhor e Ele satisfará os
desejos do teu coração” (Salmos 37:4).

A perseverança é fundamental. A palavra perseverança


aparece mais de quarenta vezes nos vinte e sete livros
que compõem o Novo Testamento. O perseverante não é
aquele que é perfeito, mas aquele que não desiste.
Perseverar é manter-se firme apesar das circunstâncias;
é continuar mesmo que o caminho seja árduo; é não
desistir da luta mesmo que tudo indique que chegou o
momento de depor as armas; é prosseguir ainda que
sofra os percalços; é levantar tantas vezes quanto forem
as quedas. Um dia vi uma reportagem que ilustra bem a
perseverança:

- 221 -
Certo homem, deficiente físico, insistentemente
participava das corridas de rua e sempre era o último a
chegar, geralmente muito tempo depois do primeiro
colocado. O repórter lhe perguntou se ele não se sentia
desanimado em sempre ser o último a cruzar a linha de
chegada e aquele homem repleto de limitações físicas,
mas cheio de sabedoria, respondeu: “Eu nunca sou o
último. O último colocado foi o primeiro que desistiu e eu
não desisto!”. Este é o segredo da perseverança: Todo
aquele que não desiste do Senhor é vencedor. Se você
falhar, persevere. Vista a Couraça da Justiça peça perdão
ao Senhor e recomece!

Outra coisa importante para mim é lhe alertar para o


cuidado sempre necessário para repreender todo espírito
de barganha, de troca ou de negociação com Deus.
Como falei antes, este livro não prega nenhuma teologia
moral de causa e efeito, não se deixe enganar pelo diabo.
O espírito de barganha faz como se houvesse um
contrato em que você cumpre sua parte e o Senhor é
obrigado a cumprir a Dele. Este espírito interrompe e
perverte a Graça, na caia nesta armadilha satânica. Os
princípios propostos neste livro são bíblicos e nos indicam
o caminho que o Senhor deseja que sigamos. Sabemos
que Deus é bom e se Ele deseja que trilhemos este
caminho é porque será bom, perfeito e agradável como é
toda a vontade Dele para sua vida (Romanos 12:2). A
vitória final nunca dependerá de nós nem dos nossos
esforços, por maiores que sejam. Sempre será o mover
da graça de Deus (Romanos 9:16) que abençoa a todo
aquele que o busca com fé (Hebreus 11:6).

- 222 -
Gostaria, ainda, de reafirmar que “digno é o trabalhador
pelo seu salário” (1 Timóteo 5:17-18). Se você conseguiu
este livro por empréstimo de alguém ou o conseguiu de
alguma outra forma e não dispões de recursos para
adquiri-lo, saiba que este é um presente que lhe dou no
Senhor. Pode ficar com ele gratuitamente. Mas se este
livro chegou às suas mãos de graça e você foi abençoado
e tem condições de cumprir a ordenança bíblica, gostaria
de lhe pedir que abençoasse este ministério assim como
foi abençoado, entrando em nosso site,
www.frutodoespirito.com.br, e regularizando a aquisição
desta obra.

Por último, quero de lhe dizer que o meu maior desejo é


ver vidas transformadas. Este é o objetivo desta obra e
este é o meu maior salário no Senhor. Se você foi
abençoado ou está sendo abençoado, se tem um
testemunho a contar, por favor, não retenha a bênção!
Escreva para mim e conte. Saber o que Deus tem feito na
sua vida através do ministério que Ele me confiou é o
maior incentivo que tenho, é minha maior alegria e me
mostra que estou no caminho certo que Deus apontou
para mim. Nas minhas batalhas espirituais aqui no
ministério as suas palavras de incentivo, apoio e
testemunho são como se você estivesse alinhando seu
Escudo com o meu naquela “formação tartaruga” que
vimos no capítulo dez deste livro, quando falamos sobre o
Escudo da Fé. Saiba que seu escudo alinhado com o meu
é fundamental para que eu possa continuar no campo de
batalha apagando todos os dardos inflamados do maligno
que tentam me abater e desanimar. Ajude-me nisso
também e ore por minha vida e por este ministério.

- 223 -
Na nossa igreja local, após a bênção apostólica eu
encerro nossos cultos com a seguinte frase: “Que em
todas as suas batalhas Deus lhe dê a vitória”. Gostaria de
também encerrar este livro da mesma forma:

“Que o amor de Deus nosso Pai, a graça de Jesus


Cristo nosso Senhor e a comunhão do Espírito Santo
estejam com você e que em todas as suas batalhas
Deus lhe dê a vitória. Amém!”.

- 224 -

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