Você está na página 1de 2

Durand (2010) inicia sua obra contando-nos um pouco sobre a história do imaginário, inclusive sua

relação com a religião. Afirma ainda que "a partir do século 17, o imaginário passa a ser excluído dos
processos intelectuais" (p. 12), pois este era entendido pelos intelectuais da época como sinônimo de
delírio, sonho, irrealidade.

Mas essa concepção, aos poucos, começou a modificar-se. O autor afirma que "ao contrário de Kant, e
graças à linguagem imaginária do mito, Platão admite uma via de acesso para as verdades
indemonstráveis: a existência da alma, o além, a morte, os mistérios do amor..." p. 16-17. E é aí, onde a
razão não pode penetrar, é que a "imagem mítica fala diretamente à alma" p. 17.

A imagem foi tema de debates e discordância na Reforma e Contra-reforma, e após a "guerra das
religiões", os valores visionários do imaginário, viu-se obrigado a procurar "refúgio longe dos combates
fratricidas das Igrejas" p. 26

Gilbert Durand (2010) explana sobre a "revolução do vídeo", afirmando que as imagens mediáticas
acompanham o ser humano "desde o berço até o túmulo". Nesta revolução, a "afirmação do papel
'cognitivo' (que produz consciência) da imagem, explodirá" p. 31-33. Esta imagem está eternamente
presente em nossa vida, "ditando as intensões de produtores anônimos ou ocultos" p. 33.

De acordo com Durand (2010), é Jung (1932) quem "'normalizou' o papel da imagem e foi o primeiro a
pluralizar a libido com clareza. Para Jung, a imagem, por sua própria construção, é um modelo de
autoconstrução (ou "individualização") da psique" p. 37

Durand (2010) afirma que "todo o imaginário humano articula-se por meio de estruturas plurais e
irredutíveis, limitadas a três classes que gravitam ao redor dos processos matriciais do 'separar' (heróico),
'incluir' (místico) e 'dramatizar' (disseminador), ou pela distribuição das imagens de uma narrativa ao
longo do tempo" p. 40. O autor afirma ainda que "o imaginário constitui o conector obrigatório pelo qual
forma-se qualquer representação humana", sendo que "todo pensamento humano é uma representação" p.
41. Logo, todo o pensamento humano forma-se pelo imaginário.

Esta afirmação faz-nos lembrar das palavras de Silva (2006), onde este afirma que "todo imaginário é
real, todo o real é imaginário", pois nossos pensamentos são verdades, são realidades. O que desconstrói a
concepção de que imaginário é apenas sonho, ficção ou fantasia. Assim como Maffesoli (2001) afirma
que "o imaginário é uma realidade", em entrevista à Silva, para a Revista Famecos (2001, nº 15).

Durand (2010, p. 46-47) afirma que, "para Comte e Marx, o imaginário e seus trabalhos situam-se 'à
margem' da civilização, tanto na idade 'teológica' do primitivo humano quanto na superfície da
insignificância superestrutural". Porém, Durand (2010, p. 47) afirma que situar o poder do imaginário às
margens do "pensamento do sapiens", é recusar de uma só vez, "em um único movimento, os 'progressos
de uma consciência'". Para não realizar este recuo, percebeu-se o valor do imaginário e "a ciência do
homem social passou a abordar todas as declinações do pensamento imaginário" p. 49.

O autor sita, o já referenciado, Michel Maffesoli (1985), afirmando que este é o "fundador simultâneo de
uma estética sociológica atenta às menores imagens do cotidiano, ao frívolo, efêmero, conquistadora do
presente e do atual" p. 55-56. Durand (2010, p. 57) argumenta que a "sociologia passará a ser a 'figurativa'
(Tacussel), fundamentando-se num 'conhecimento comum' (Maffesoli) onde sujeito e objeto formam um
só no ato de conhecer e no qual o estatuto simbólico da imagem constituiu paradigma".

Durand (2010, p. 60) apresenta-nos então as "novas críticas", que são a "mitocrítica" e a "mitoanálise". O
autor afirma que o mito "deve servir-se das instâncias de persuasão indicadas pelas variações simbólicas
sobre o tema". Esses "exames" de imagens podem ser reagrupados em "séries coerentes ou 'sincrônica'
(que podem ser consideradas como mitemas, que são a menor unidade semântica num discurso e que se
distingue pela redundância)".

Já as mudanças do imaginário "são regidas por um 'princípio de limite' duplo: um 'limita' no tempo a
gestação de uma viga mítica e o outro, as escolhas das mudanças míticas" (DURAND, 2010, p. 66). Há
também diferença entre imaginários "dionisíacos" e "apolíneos".

Durand (2010, p. 73) apresenta-nos mais dois autores relacionados a imaginários: Mircea Eliade e Henry
Corbin. Durand (2010, p. 74) afirma que Eliade "mostra em todas as religiões, mesmo nas mais arcaicas,
há uma organização de uma rede de imagens simbólicas por detrás de todas as manifestações da
religiosidade da história. Um processo mítico que se manifesta pela substituição do tempo profano por um
tempo sagrado".

No capítulo III, Durand (2010, p. 79) expõe conceitos acerca do mito. Para ele, o mito, assim como o
imaginário, é alógico. De acordo com Durand (2010, p. 86), o "mito não raciocina nem descreve: ele tenta
convencer pela repetição de uma relação ao longo de todas as nuances possíveis". O autor afirma ainda
que "os processos do mito, onírico ou do sonho, consistem em repetição (a sincronicidade) das ligações
simbólicas que os compõem. Por conseguinte, a redundância aponta sempre para uma 'mítica'".

Para Durand (2010, p. 87), "o imaginário, nas suas manifestações mais típicas (o sonho, o onírico, o rito,
o mito, a narrativa da imaginação, etc.) [...] é alógico". Afirma também que "os conteúdos imaginários
(sonhos, desejos, mitos) de uma sociedade nascem durante um percurso temporal e um fluxo confuso,
porém importante, para finalmente se relacionarem numa 'teatralização', [...] os quais recebem suas
estruturas e seus valores das várias 'confluências' sociais, perdendo assim sua espontaneidade mitogênica
em construções filosóficas, ideológicas e codificações" (DURAND, 2010, p. 96).

Durand (2010, p. 103) apresenta-nos então as concepções acerca da "bacia semântica", que para ele, seu
conceito "permite a integração das evoluções científicas supracitadas e em seguida, uma análise mais
detalhada dos subconjuntos de uma era e área do imaginário: seu estilo, mitos condutores, motivos
pictóricos [...], isto é, propondo uma 'medida' para justificar a mudança de modo mais pertinente do que o
menos explícito 'princípios do limite'".

O autor afirma que as profundas mudanças de uma época eram atribuídas as mudanças de gerações, como
se esses imaginários se modificassem de pai para filho, mas, segundo o autor, "essa revolta periódica [...]
é curta demais para cobrir a amplitude de uma bacia semântica" (DURAND, 2010, p. 115). O autor
constatou que a mudança do imaginário ocorre entre 150 a 180 anos, justificada pela duração de três ou
quatro gerações. Ou seja, um mesmo imaginário é compartilhado pelo avô, pelo filho e pelo neto, o que
daria uma continuidade de cerca de 120 anos. Acrescenta-se então, "o tempo da institucionalização
pedagógica de 50 a 60 anos, que permite ao imaginário familiar, sob pressão de eventos extrínsecos, se
transformar num imaginário mais coletivo e invadir a sociedade ambiental global" (DURAND, 2010, p.
115-116).

O autor conclui afirmando que vivemos em uma "civilização da imagem", o que nos permitiu perceber o
poder desta frente às nossas concepções. Somos bombadeardos por imagens "enlatadas" diariamente, e
sofremos pelo excesso de informação, buscando cada vez mais, filtros para estas. Mas, felizmente "se
formou um 'magistério' discreto de sábios competentes, [...] aos quais aqueles que pretendem governar,
deverão prestar atenção" (DURAND, 2010, p. 120).

Você também pode gostar