ARTIGO - O Conservadorismo Difícil - Bernardo Ricupero PDF

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O CONSERVADORISMO DIFÍCIL

Bernardo Ricupero

O problema

Ao contrário do que comumente se afirma o pensamento conservador enfrenta grandes

dificuldades no Brasil. Na verdade, o problema não é apenas brasileiro, mas latino-americano e está

relacionado com a percepção disseminada pela região de que o passado é um obstáculo (Zea, 1976).

Não é mero acaso que essa sensação tenha se espalhado pela América Latina, já que nosso passado

é o passado colonial. Mais precisamente, as novas nações que começam a surgir, com as

independências do início do século XIX, procuraram se constituir negando a obra anterior das

metrópoles espanhola e portuguesa.

Tal propósito cria um problema para o conservadorismo, em razão de proclamar tal doutrina,

pelo menos desde Edmund Burke, que o contrato que deve existir não é “entre os vivos, mas

também entre os que estão mortos e os que irão nascer” (Burke, 1999, p. 96). Isto é, defende, em

sentido contrário ao da Revolução Francesa, que não se deve ignorar a herança legada pelas

gerações passadas, não se podendo como que (re)inaugurar a história do zero.

No que se refere à Revolução Industrial, a crítica de muitos conservadores chega a ser mais

forte do que a de socialistas. Até porque o socialismo é produto do processo de industrialização.

Marx e Engels, por exemplo, encaram positivamente o industrialismo, ao mesmo tempo que são

críticos em relação a certos aspectos dele, como a divisão entre capitalistas e proletários. Os

conservadores, por sua vez, ressaltam apenas a violenta dissolução que traz a nova sociedade .

Numa referência mais ampla, contra a perda dos antigos vínculos entre os homens, o

conservadorismo se volta para o passado, especialmente para o passado feudal. Por conta disso, os

conservadores costumam ser caracterizados como “profetas do passado”. Numa certa idealização do

período feudal, destacam como corpos constituídos, as corporações, a Igreja, a família, seriam

1
capazes de garantir um lugar para o homem na sociedade, o que contrasta com a posterior

atomização social.

Não por acaso, conservadores também dão grande importância à história. De certa maneira,

se os progressistas enxergam o presente como o início do futuro, os conservadores preferem encará-

lo como o estágio mais avançado alcançado pelo passado. Consequentemente, consideram que o

passado coexiste com o presente, o que faz que tenham, como destaca Karl Mannheim (1986), uma

noção da história mais espacial do que temporal. Nesse sentido, diferente de progressistas, a ideia

central para conservadores não é a de sucessão, mas a de coexistência.

Numa referência mais específica, não é difícil perceber que muitas das principais

características do conservadorismo surgem da reação à dupla revolução do século XVIII.1 Antes,

questionadores do status quo, como os homens que protagonizaram as Guerras Camponesas na

Alemanha e a Revolução Gloriosa na Inglaterra, apresentavam suas aspirações como de restauração

de uma ordem perdida. É só quando “revolução” passa a ser entendida como uma ruptura

deliberada, associada idealmente a princípios universais e racionais, que surge uma doutrina

conservadora (Arendt 1979; Kosseleck, 1997; Vierhaus, 1973).2

A posição que conservadores assumem, diante das grandes transformações do século XVIII,

é, portanto, defensiva, o que estimula uma postura de pessimismo cultural. Também em razão disso,

o pensamento conservador é relativamente inarticulado, definindo-se antes pelo que rejeita do que

pelo defende (Huntington, 1957; Muller, 1997; Vierhaus, 1973).

É, assim, difícil generalizar quais seriam posições conservadoras, que não correspondem

propriamente a um ideal substantivo. O conservadorismo não é, além do mais, universalista como o

liberalismo e o socialismo.3 As características que o(s) conservadorismo(s) assume(m) relacionam-

1
A expressão “dupla revolução do século XVIII” é de Hobsbawm (1989).
2
Samuel Huntington (1957), por seu turno, prefere uma definição situacional de conservadorismo. Não
acredita, consequentemente, que a Revolução Francesa seja tão importante no surgimento do conservadorismo. Em
diferentes situações históricas, conservadores defenderiam as instituições existentes. Assim, já Cícero seria um
conservador.
3
Exemplo da má vontade conservadora com o universalismo é o comentário de Joseph de Maistre: “Vi, na
minha vida, franceses, italianos, russos, etc.; graças a Montesquieu sei até que se pode ser persa. Mas o homem, declaro
que nunca encontrei; se ele existe, não o conheço” ( Maistre, 2006, p. 53).

2
se, na verdade, primordialmente com as instituições que defende(m), principalmente quando são

vítimas de ataques. Por outro lado, o conservadorismo não deixa de estar relacionado com uma

conjuntura histórica específica, a que corresponde à dissolução do Antigo Regime. É por isso que o

conservadorismo não é simplesmente uma atitude psicológica, tradicionalista, mas uma postura

política consciente (Mannheim, 1986).

Também as revoluções de independência da América não deixam de ser produto do fim do

Antigo Regime, mais diretamente da invasão da Península Ibérica pelas tropas de Napoleão.

Melhor, é possível entender as independências americanas, a começar pela dos EUA, como parte de

um processo que põe fim ao Antigo Regime não só na Europa (Guerra, 1993; Novais, 1995). Nesse

sentido, o mais adequado é se falar não em Revolução Americana ou Revolução Francesa, mas em

Revolução Atlântica (Godechot, 1986).

No entanto, partindo dessa referência, nosso problema se complica. Ou seja, se o

conservadorismo, assim como as demais doutrinas políticas contemporâneas, o liberalismo e o

socialismo, surge como reação à Revolução Atlântica, não é fácil encontrar espaço para ele numa

ordem política, como a americana, que busca apagar os traços do passado de uma maneira que não

se pode fazer na Europa. Em poucas palavras, é muito difícil, como já foi dito, para conservadores

na América valorizar o passado porque esse passado é o passado colonial.4 Aceitá-lo seria, no

limite, valorizar a dominação das antigas metrópoles e pôr em questão a própria independência. Tal

situação é diferente da Europa, onde frente às turbulentas transformações do final do século XVIII,

se podia olhar com nostalgia para uma certa ordem que se acreditava reinar durante o feudalismo.

Conservadores provenientes das ex-colônias da Espanha e de Portugal são, assim, obrigados

a realizar um verdadeiro malabarismo intelectual ao tratar da emancipação política. Nessa

orientação, tanto o historiador brasileiro Francisco Adolfo Varnhagen como o humanista

4
Também Robert Nisbet nota a dificuldade do conservadorismo nos EUA, já que o país “não possui instituições
herdadas do passado medieval”, o que faria com que as ideias de tal doutrina política não tivessem com o “que ser
alimentadas” para “avançarem e serem aplicadas à realidade nacional”, (Nisbet, 1993, p. 28). Já Louis Hartz, que foi,
durante algum tempo, muito influente, identificou a tradição nacional dos EUA com a tradição liberal, que não deixaria
praticamente espaço para o conservadorismo e o socialismo. Ver: Hartz (1955; 1964).

3
venezuelano Andrés Bello, caracterizam a independência não tanto como uma ruptura com o

passado, mas como um desenvolvimento natural e quase inevitável da história anterior.

Varnhagen chega a considerar que “segundo a ordem natural dos acontecimentos, ao Brasil

devia, como quase todas as colônias, chegar o dia da sua emancipação da metrópole” (Varnhagen,

1957, p. 144). Em outras palavras, caracteriza a independência como momento necessário na

evolução dos povos, que seguiriam um caminho sem fissuras em direção à civilização. Avaliação

que é mais fácil de se fazer quanto ao Brasil, até em razão do seu processo de emancipação, no qual

o herdeiro do trono português foi coroado imperador, mas que Bello consegue generalizar até para

as antigas colônias da Espanha: “ os capitães e as legiões veteranas da Ibéria transatlântica foram

vencidos e humilhados pelos caudilhos e exércitos improvisados de outra jovem Ibéria, que

negando o nome, conservavam o ímpeto indomável da antiga na defesa de seus lares” (Bello, 1981,

p.169). 5

Mesmo quando, diante da caótica situação do imediato pós-independência, se passa a

encarar mais positivamente a estabilidade que teria existido durante o domínio espanhol e

português, não se chega a defender abertamente a ordem colonial. Mas ironicamente, a nova

organização política coexiste, mais do que na Europa, com a estrutura econômica e social anterior,

baseada na produção em grandes propriedades rurais, onde se utilizam formas de trabalho extra-

econômicas, como a escravidão e a encomienda. Mesmo assim, reticências que normalmente

aparecem quando se lida com o passado colonial e a independência estão na raiz de muitas das

dificuldades de se caracterizar o conservadorismo latino-americano.

Um exemplo notável dessas dificuldades se encontra na obra de Francisco José de Oliveira

Vianna. Ao mesmo tempo em que considera que o latifúndio teria sido, durante a colônia, o

principal instrumento de adaptação do colono europeu ao ambiente americano o vê, depois da

independência, como principal impedimento à obra de unificação nacional, que então se imporia.

5
Em outras palavras, o curioso argumento de Bello sugere que as lutas de independência, apesar dos
protagonistas não estarem conscientes disso, teriam ocorrido sem produzir verdadeira ruptura com a metrópole, já que
oporiam dos dois lados homens caudatários da mesma cultura. Prova irrefutável disso seria que os americanos teriam se
lançado à batalha com ímpeto similar ao dos espanhóis.

4
Em poucas palavras, o jurista fluminense considera que são dois objetivos diferentes presentes em

momentos variados da história brasileira: na colônia, se trataria de se adaptar ao meio, no pós-

independência, seria preciso estabelecer uma nacionalidade.

Na verdade, autores que, diante de um mundo em profunda transformação, se voltam com

nostalgia para o passado, como os conservadores clássicos, são muito raros no Brasil e na América

Latina. Um deles é Gilberto Freyre. Tal postura se percebe no próprio tom dos seus trabalhos sobre

o patriarcalismo; o pessimismo cresce quando passa da análise da formação da família patriarcal,

em Casa Grande & Senzala, para sua decadência, em Sobrados e Mucambos e Ordem e Progresso.

Pretende-se, portanto, partindo da análise das obras de Oliveira Vianna e Gilberto Freyre,

indicar certos dilemas presentes no pensamento conservador brasileiro. Mais especificamente,

interessa-me verificar se o conservadorismo no Brasil, ao adotar uma postura ambígua diante da

colônia e da independência, se afasta da atitude dominante no conservadorismo clássico, de

valorizar o passado.

Nessa orientação, as obras de Oliveira Vianna e Gilberto Freyre podem nos ser úteis em

razão de serem ilustrativas de visões diferentes sobre o passado colonial e o pós-independência

brasileiro. Acredito, porém, que a ambiguidade do jurista fluminense diante dos dois momentos é

mais representativa do conservadorismo brasileiro do que a valorização da colônia por parte do

sociólogo pernambucano.

Portanto, quero, de certa maneira, avaliar se o conservadorismo no Brasil, assim como o

liberalismo, pode ser considerado uma “ideia fora do lugar”.6 Se isso for o caso, talvez se possa

perceber novas possibilidades para a tese das “ideias fora do lugar”. Isto é, não só o liberalismo mas

outras ideias produzidas na Europa estariam “fora do lugar” no Brasil. Nessa perspectiva mais

ampla, o mais interessante não são tanto as coincidências entre, por exemplo, o conservadorismo

6
Na verdade, autores conservadores foram, durante o Império, os primeiros a argumentar que haveria uma
inadequação entre as ideias liberais e a realidade brasileira. Roberto Schwarz admite inclusive que sua interpretação
parte de um “sentimento de despropósito” mais generalizado quanto à relação entre referências intelectuais estrangeiras
e o ambiente social brasileiro. Mas enquanto os conservadores e autores posteriores, como Oliveira Vianna e Wanderley
Guilherme dos Santos, veem o problema no liberalismo – pretensamente utópico ou até sofrendo de fetichismo
institucional – o crítico literário identifica o nó da questão na sociedade escravista brasileira do século XIX.

5
europeu e o conservadorismo brasileiro, mas suas divergências. Até porque elas indicariam para as

mudanças que referências intelectuais sofrem em diferentes ambientes sociais.7

A ambiguidade diante do passado de Oliveira Vianna

Oliveira Vianna é um autor que, de maneira geral, valoriza o passado. Na verdade, até o

idealiza, sugerindo, por exemplo, que a colonização do Brasil teria sido inicialmente realizada por

fidalgos proveniente dos ramos mais ilustres da nobreza portuguesa. Mas ainda mais importante,

colonos de origem plebeia teriam posteriormente realizado a obra que então se impunha, de

adaptação ao ambiente, traduzida na “ruralização da população colonial” (Vianna, 1987, p. 31). Ou

seja, contra a orientação centrípeta dos primeiros colonos se chocaria a tendência centrífuga do

meio americano, à qual colonos vindos posteriormente teriam sabido se adaptar.

O principal instrumento de “conformismo rural” seria o latifúndio, espécie de pequeno

mundo em miniatura. Neles prevaleceria a vida doméstica. Organizado à maneira romana, o grande

domínio rural teria o pater familias como seu chefe supremo. Não haveria no seu interior grande

espaço para a solidariedade social, restringindo-se toda atividade colonial ao círculo familiar.

Os latifúndios corresponderiam, além do mais, a um espaço quase inteiramente auto-

suficiente, sendo comum afirmar-se que precisavam comprar apenas ferro, sal, pólvora e chumbo.

Atrairiam praticamente tudo que existia na vida colonial, como que reunindo vilas, indústria,

comércio, etc. Os grandes domínios exerceriam, portanto, uma verdadeira função simplificadora

sobre o restante da sociedade.

Quando se abre, o que Oliveira Vianna chama de IV século da história brasileira, os grandes

senhores rurais se encontrariam, não por acaso, quase ausentes da administração da colônia, que

seria reservada quase exclusivamente a metropolitanos. Seria apenas a transmigração da família real

portuguesa que teria posto fim a esse isolamento. A nobreza nativa se confrontaria, então, com

7
Numa inspiração não muito diferente, Franco Moretti (2009) partindo, em grande parte, de Schwarz, procura
entender como, de início, é bastante comum, em literaturas em situação similar à brasileira, traduzir obras européias, ou
então, decalcar, sem maiores cuidados, seus enredos num novo cenário, feito, por exemplo, de palmeiras e papagaios.

6
outros dois grupos: os mercadores portugueses, enriquecidos pela abertura dos portos, e fidalgos,

também lusitanos, vindos com a família real.

Entre 1808 e 1822, se disputará a primazia política. Os proprietários rurais brasileiros se

comportariam como uma aristocracia fundiária plenamente adaptada ao meio, os mercadores

portugueses como uma burguesia que, apesar da origem reinol, já se encontrava no Brasil há algum

tempo, e os nobres lusitanos como uma burocracia estranha ao ambiente. A Independência

representaria a vitória da aristocracia da terra, desenvolvimento inteiramente lógico, na perspectiva

de Oliveira Vianna, já que ela seria a única classe com verdadeira base na sociedade brasileira.

No entanto, deixada a si mesmo, a aristocracia da terra, seria incapaz de dar início à obra de

unificação nacional. Dela não poderia provir solidariedade social, os caudilhos que a comporiam

formando clãs, que lutavam entre si. Como resolver o problema? Se a aristocracia é incapaz, por

conta própria, de estabelecer a unidade nacional, ela teria que vir de fora, da Coroa. Isto é, para criar

a nação, a Coroa, como que filtraria os elementos provenientes da nobreza da terra mais capazes de

contribuir para a tarefa.

Consequentemente, a avaliação de Oliveira Vianna sobre o latifúndio se modifica de acordo

com o momento histórico que analisa. Se antes, na colônia, o identifica como principal instrumento

para a adaptação do colono português ao ambiente americano; depois da Independência, devido à

sua maior característica, a autossuficiência, passa a vê-lo como impedimento mais sério para a

tarefa de unificação nacional que então se imporia.

Antes da Independência, praticamente não existiria sentimento nacional. Apenas a fidelidade

ao imperador teria evitado a secessão do Brasil. Por exemplo, nas Cortes portuguesas, convocadas

depois da revolução liberal de 1820, os deputados brasileiros, como admitiu o futuro regente Diogo

Feijó, comportavam-se mais como representantes de suas províncias do que do país. A própria

Independência só encontrou apoio mais decidido no centro-sul, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Ou seja, num sentido mais amplo, na luta “entre o localismo e o centro, os caudilhos e a

nação” (Vianna, 1987, p. 254), o rei apareceria como elemento regulador de conflitos. Isto é, no

7
Brasil, o poder central, ao invés de ser o grande inimigo das liberdades locais, como o é na Europa,

seria o defensor dessas liberdades contra os caudilhos. Nessa perspectiva, a defesa da

descentralização, à maneira dos anglo-saxões, como faziam os liberais, seria injustificável, já que

favoreceria apenas ao caudilhismo.

Em torno da caracterização do latifúndio gira boa parte da controvérsia sobre a obra de

Oliveira Vianna. O argumento de que seria necessário para a Coroa controlar o patriarcado rural

parece corresponder à tese de Wanderley Guilherme dos Santos sobre o “autoritarismo

instrumental”. Segundo ela, a eficácia das instituições seria “função da ordem social e política

envolvente”. Portanto, incumbiria “ao poder político existente manter, eventualmente criar

revolucionariamente, a ordem que corresponde às preferências dominantes” (Santos, 1987, p. 50).

Em outras palavras, autores como Oliveira Vianna e antes dele, o visconde do Uruguai, perceberiam

que seria necessário adaptar as instituições à realidade social, com o intuito de conservar ou

transformar essa última.

Segundo Santos, o realismo dos conservadores contrasta com o verdadeiro “fetichismo

institucional” dos liberais. Estes acreditariam que bastaria adotar as instituições existentes na

Europa e nos EUA para que o Brasil se transformasse, quase automaticamente, numa sociedade

similar à europeia ou à norte-americana.

De acordo com o autor de Ordem burguesa e liberalismo político, conservadores e liberais

concordariam, entretanto, quanto ao objetivo a perseguir: a instauração, no Brasil, de uma ordem

burguesa análoga à europeia e à norte-americana. Para impô-la, seria necessário vencer o poder dos

senhores locais, necessidade da qual, acredita o autor, os conservadores teriam consciência, mas não

os liberais.

Numa orientação diferente, José Murilo de Carvalho (1993) e Luiz Werneck Vianna (1993)

argumentam que a postura de Oliveira Vianna seria iberista. Inspirados principalmente por Richard

Morse (1988), entendem o iberismo como uma das possíveis respostas à modernidade. Enquanto a

8
Anglo-América teria como que sido fundada pelas revoluções religiosa e científica do século XVI,

o mundo ibérico teria praticamente ignorado essa dupla revolução.8

Na parte norte do continente, a sociedade seria baseada na ideia de contrato, livre associação

dos indivíduos que a compõem, o que contrastaria com a postura organicista dominante na parte sul,

de acordo com a qual, cada grupo social desempenharia uma função. John Locke seria um autor

paradigmático para a Anglo-América, São Tomás de Aquino para a Ibero-América. Portanto, mais

do que incompatibilidade entre as duas partes do continente americano – protestante e católica –

existiria uma incompreensão mútua entre elas.

Carvalho (1993) e Werneck Vianna (1993) argumentam, assim, que a própria ação do

Estado no pós-independência procuraria manter antigos valores ibéricos, o Estado continuando a

comportar-se de maneira paternalista. Mas também surgem diferenças entre os autores que

identificam uma postura iberista em Oliveira Vianna. Werneck Vianna (1993) fala num “iberismo

instrumental”, que procuraria fazer com que o Brasil acabasse por encontrar a “cultura política

anglo-saxônica”, enquanto Carvalho (1993) insiste em que o modelo de sociedade do autor de

Populações meridionais do Brasil “não era o do capitalismo industrial”. Isto é, os valores desse

católico, filho e neto de fazendeiros, seriam pré-capitalistas.

De qualquer maneira, o mais importante nessa controvérsia a respeito de Oliveira Vianna e,

na verdade, a respeito do pensamento conservador no Brasil, é simplesmente deixar claro que se é

relativamente fácil pôr-se de acordo em relação aos instrumentos de ação política preconizados por

essa tradição política o mesmo não ocorre com os valores que a orientam.

Gilberto Freyre e o presente como decadência

Como Oliveira Vianna, Gilberto Freyre destaca o peso do latifúndio autossuficiente e, a

partir dele, a importância do patriarcalismo na experiência brasileira. A Casa Grande seria, ao

mesmo tempo, “fortaleza, capela, escola, oficina, santa casa, harém, convento de moça, hospedaria,
8
O argumento de Morse (1988) deve muito a Hartz (1964), com o qual colaborou na pesquisa sobre as
“sociedades fragmento” da Europa.

9
(...) banco” (Freyre, 1963, p. 15). Seu predomínio permitiria até vincular a colônia brasileira ao

feudalismo. Ou melhor, o sistema de grande plantação seria misto, convivendo nele elementos

capitalistas, relacionados com sua orientação comercial, e formas sociais assimiláveis ao

feudalismo, ligadas à sua autossuficiência.

Mas, junto com a Casa Grande apareceria a Senzala, caracterizando o que Freyre chama de

equilíbrio de antagonismos. Isto é, este par antagônico, como tantos outros – a cultura europeia e a

africana, o jesuíta e o fazendeiro, o senhor e o escravo, etc. – não chegaria a se chocar. Tal

característica já estaria presente entre os portugueses, povo indeciso entre a Europa e a África. O

equilíbrio de antagonismos estaria na raiz da plasticidade lusitana, capacidade de se adaptar aos

mais diferentes ambientes, o que equiparia o português, melhor que qualquer outro povo, à obra de

colonização. Mais especificamente, no equilíbrio de antagonismos encontrar-se-ia “a força, ou

antes, a potencialidade da cultura brasileira”(Freyre, 1963, p. 378), que não descartaria as mais

diferentes possibilidades.

O polo dominante no Brasil, do pater familias, como seu similar da Antiguidade Clássica,

seria todo poderoso; mas não buscaria a vida ativa, procurando, do mesmo modo que o indivíduo do

capitalismo moderno, a proteção de sua propriedade. Ou seja, a posição de nosso senhor diante da

propriedade e da política seria, de certa forma, híbrida em relação a Aristóteles e a John Locke.

Como o grego, teria poder absoluto sobre sua propriedade, inclusive escravos, mas não a entenderia

como condição para a participação na política, ao libertá-lo de suas necessidades imediatas e dar-lhe

condições para tratar dos negócios comuns da cidade. Na verdade, mais como o inglês, veria a

política como subordinada à propriedade, a sociedade civil existindo para garantir a conservação da

vida, liberdade e bens.

Ninguém poderia opor resistência à família patriarcal a não ser os padres da Companhia de

Jesus. Eles desejariam impor, como no Paraguai, o poder temporal da Igreja Católica. Essa não

seria, porém, a religião predominante na colônia, uma vez que, nos engenhos, os capelães se

deixariam submeter aos mandos e desmandos dos senhores. Desenvolver-se-ia, dessa maneira, uma

1
forma de cristianismo doméstico, onde seria notável a intimidade com santos, a Virgem e o próprio

menino Jesus. Esse tipo de religião chegaria a lembrar o culto da família dos antigos gregos e

romanos.

De maneira complementar, a unidade de colonização do Brasil teria sido “a família, não o

indivíduo, nem tampouco o Estado nem nenhuma Companhia de Comércio” (Freyre, 1963, p. 83).

Ou seja, a colonização da América pelo português seria fundamentalmente diferente da realizada

pelo inglês na parte norte do continente, onde o indivíduo teve papel preponderante; diversa

também da colonização feita pelo espanhol, na qual o Estado foi fundamental; e da holandesa, cujo

móvel principal foram as companhias de comércio.

Pode-se, entretanto, objetar que a caracterização da família patriarcal realizada por Freyre

restringe-se à sua região de origem, o Nordeste açucareiro, no qual se concentram os exemplos de

Casa Grande & Senzala. O autor não aceita, todavia, o argumento, lembrando que esse tipo de

família reapareceu em outras situações, inclusive na São Paulo do café.

O patriarcalismo não seria, portanto, fenômeno geográfico, mas social, criado pelo latifúndio

monocultor e a escravidão. A força desse sistema seria tal que, para além do Brasil, ele surgiria em

outros ambientes, como as Antilhas e o sul dos EUA, em que prevaleceu a monocultura

latifundiária trabalhada pelo braço escravo.

No nosso caso específico, Freyre sugere que o patriarcalismo, existindo de norte a sul, é o

que daria unidade ao país. Essa não deixa de ser, porém, uma unidade frágil, já que, como indicara

Oliveira Vianna, a solidariedade dos latifúndios volta-se para dentro de cada um deles, que como

que se bastam. No entanto, chocar-se-ia com a orientação predominante no latifúndio a tendência de

grande mobilidade, presente entre paulistas e jesuítas. Apesar dessa tendência trazer um perigo de

dispersão, Freyre julga que seu efeito foi positivo e, de certa forma, complementar ao latifúndio,

contribuindo para a difícil unificação brasileira.

O patriarcalismo tornaria possível falar na existência de uma cultura brasileira, não simples

prolongamento da europeia, mas algo próprio e distinto, relacionado com o tipo de ambiente que o

1
colonizador encontrou na América. A própria Casa Grande seria expressão da adaptação ao

ambiente americano. Por intermédio dela e de outras iniciativas similares o português se tornaria até

alguém diferente, um luso-brasileiro.

O patriarcalismo teria, entretanto, entrado em decadência a partir do fim do século XVIII. O

descobrimento de metais no sul da colônia teria aumentado a centralização, tendo-se intensificado o

processo com a vinda da família real portuguesa e, principalmente, a urbanização. Nesse contexto, o

par antagônico Casa Grande e Senzala teria sido substituído por outro: os Sobrados e os

Mucambos.

O equilíbrio de antagonismos, que marcaria a cultura brasileira, e, antes dela, a cultura

portuguesa, ganharia uma nova feição: “os extremos – senhor e escravos – que formavam uma só

estrutura econômica ou social, completando-se em algumas de suas necessidades e em vários dos

seus interesses tornavam-se metades antagônicas ou, pelo menos, indiferentes uma ao destino da

outra” (Freyre, 1951, p. 698). Em outras palavras, o antagonismo ganharia força diante do

equilíbrio. Dessa maneira, a cidade ganharia importância em relação ao campo, a rua diante da casa,

o Estado em relação ao ambiente doméstico, a máquina diante do homem.

Mesmo que o patriarcalismo fosse um fenômeno nacional, seu declínio não deixaria de

assumir diferentes feições regionais. A região onde a família patriarcal teria se formado, o Norte

açucareiro, perderia espaço para o mais burguês Sul cafeicultor. Nele, o trabalho de escravos

africanos seria mais facilmente substituído pelo trabalho livre de colonos europeus.

O individualismo, que golpearia o patriarcalsimo, teria como veículo principal “duas forças

novas e triunfantes, às vezes reunidas numa só: o bacharel e o mulato” (Freyre, 1951, p. 951). O

primeiro voltaria de estudos superiores na Europa ou no próprio Brasil com novas ideias que usaria

contra o patriarcado rural. Sua ação equivaleria a uma revolta de filhos contra pais, um verdadeiro

parricídio.

Gilberto Freyre não deixa de chamar a atenção para os aspectos positivos da decadência da

família patriarcal. Numa estrutura social mais aberta, as oportunidades aumentariam. Dessa

1
maneira, mulheres, filhos e escravos poderiam, finalmente, se tornar mais independentes, deixando

a sombra do pater familias.

No entanto, é negativa a avaliação mais geral do sociólogo pernambucano sobre o

fenômeno. O fim do patriarcalismo acabaria com o amparo que a Casa Grande supostamente

forneceria a velhos, doentes e a todos os incapazes. Em poucas palavras, o indivíduo ficaria

entregue à própria sorte. Mais importante, os próprios traços distintivos da cultura brasileira,

marcada pelo patriarcalismo e o equilíbrio de antagonismos, se diluiriam. Consequentemente, o

Brasil não mais teria uma contribuição original a fornecer ao mundo. Viveríamos um processo de

(re)europeização, onde os próprios tons do ambiente social se modificariam; o cinza e o negro

passando a predominar.

Possibilidades e limites do conservadorismo no Brasil

Oliveira Vianna e Gilberto Freyre expressam posições representativas do conservadorismo

e seus limites no Brasil. Assim, ao tratar dos dois autores, é interessante perceber certos traços

convergentes e divergentes presentes nas suas obras.

São inúmeros os pontos de contato entre Vianna e Freyre. Ambos são autores que destacam

o peso do latifúndio autossuficiente e, a partir dele, do patriarcalismo na formação da sociedade

brasileira. Em boa medida, identificam o grande domínio rural como o principal instrumento de

adaptação do colono europeu ao ambiente americano. Ou seja, por vias diferentes, a influência de

Pierre Guillaume-Fréderic Le Play e sua escola sobre o jurista fluminense, e a influência do neo-

lamarkismo sobre o sociólogo pernambucano, dão grande importância à adaptação do homem ao

seu meio (Carvalho, 2002; Lima, 1989). Os dois autores também enfatizam que o século XIX foi

um período de profundas transformações no Brasil, destacando especialmente o peso da vinda da

família real portuguesa.

Para além das suas obras, Oliveira Vianna e Gilberto Freyre não deixaram de servir, de

diferentes formas, à modernização conservadora brasileira. O jurista fluminense fez parte do

1
governo num dos momentos fundamentais desse processo, o pós-1930. Como consultor jurídico do

recém criado Ministério do Trabalho, foi importante na elaboração da legislação sindical e

trabalhista. Já o sociólogo pernambucano, apesar da oposição a Getúlio Vargas, teve boa parte de

suas formulações incorporadas à imagem do Brasil que o novo governo promoveu (Bastos, 2006).

No entanto, aparecem divergências significativas entre Oliveira Vianna e Gilberto Freyre.

Na verdade, ainda mais importantes do que as convergências entre os dois autores são as

divergências entre eles.

Como vimos, Oliveira Vianna considera que a transmigração da família real portuguesa

retira de seu isolamento a aristocracia da terra. A independência corresponderia à vitória dos

senhores brasileiros na disputa pela supremacia com comerciantes e fidalgos lusitanos. No entanto,

a principal característica dos latifúndios, sua autossuficiência, tornaria esse grupo incapaz de

realizar a obra de unificação nacional que então se impunha. Precisar-se-ia, portanto, recorrer a um

elemento de fora, a Coroa, para realizar essa unificação.

A perspectiva de Gilberto Freyre é bastante diferente. Não vê a independência como

impondo uma nova tarefa de unificação nacional. Mais importante, o novo Estado, que surge com

ela, se chocaria com o domínio doméstico, a partir do qual se formaria o patriarcalismo. Em outras

palavras, diferente de Oliveira Vianna, não enxerga dois objetivos distintos na colônia e no pós-

independência – a adaptação ao ambiente e a unificação nacional. Para o sociólogo pernambucano,

o que realmente conta já foi realizado antes de 1822: o Brasil passou a ter uma identidade própria

(Nunes Ferreira, 1996).

Devido a essa posição, o autor de Casa Grande & Senzala pode, como o conservadorismo

clássico, ter uma avaliação inequivocamente positiva do passado. Também boa parte das estruturas

históricas com as quais mais se identifica – como a família patriarcal, a comunidade local, a região

– são as mesmas valorizadas por outros conservadores (Nisbet, 1987). Elas são, por sua vez,

combatidas pelo Estado centralizado, que Oliveira Vianna defende.

1
Na verdade, essa não é a posição apenas do jurista fluminense, mas de toda uma linhagem

do pensamento político brasileiro, que Gildo Marçal Brandão, seguindo o autor de O idealismo da

Constituição, chama de idealismo orgânico. Esses autores defendem, pelo menos desde o visconde

do Uruguai, que “aqui o Estado não deveria ser tomado como a principal ameaça à liberdade civil,

mas como sua única garantia” (Brandão, 2005, p. 246). Ou seja, consideram que a força do domínio

privado seria tamanha no Brasil que tornaria necessária a ação do Estado para bloquear tendências

desagregadoras.

A ação estatal deveria, em outras palavras, direcionar o desenvolvimento social.9 Tal

orientação se explicitaria particularmente em certos momentos da história brasileira, como o

Segundo Reinado e o pós-1930. Assim como as instituições que o Império criou favoreceriam a

tarefa de unificação nacional, os novos mecanismos, estabelecidos depois da Revolução de 1930,

permitiriam dar uma certa orientação para as transformações, como a industrialização, que o Brasil

vivia então. Se o Poder Moderador tinha sido particularmente importante no Segundo Reinado, no

governo Getúlio Vargas teria papel fundamental, segundo Oliveira Vianna, o Conselho de

Economia Nacional, já que nele “se faz ouvir a voz das classes e profissões organizadas” (Vianna,

1939, p. 168).

Mesmo assim, se pode argumentar que a motivação por trás da argumentação do visconde

do Uruguai e de Oliveira Vianna seja, em meio a transformações que consideram irreversíveis,

conservar aspectos da antiga ordem, pré-capitalista. Procurariam, dessa maneira, evitar uma

desagregação traumática, o Estado podendo, por exemplo, até assumir características paternalistas.

No entanto, para além dos valores com os quais o idealismo orgânico constitucional se

identificaria não é difícil perceber que os instrumentos que preconizam entram em conflito com o

conservadorismo. Em especial, a defesa da centralização e a hostilidade ao poder dos senhores

9
Bolívar Lamounier (1990) chega a argumentar que tal posição se identificaria com uma verdadeira ideologia
de Estado. Em contraste com o liberalismo, essa ideologia defenderia o predomínio do Estado sobre o mercado como
princípio organizador da sociedade. Ou melhor, a sociedade, inicialmente amorfa, deveria ser transformada pelo Estado,
passando então a ter forma.

1
rurais pouco têm em comum com posições normalmente associadas a autores conservadores, que

costumam se voltar nostalgicamente para um passado feudal onde o poder se encontrava disperso.

O mesmo não ocorre com Gilberto Freyre. Não é mero acaso que não haja polêmica

significativa a respeito da forma como lida com o grande domínio rural.10 A própria imagem anti-

política do sociólogo pernambucano se deve à sua hostilidade ao Estado centralizador e a defesa

que realiza da família patriarcal. No entanto, tal postura não deixa de defender uma certa política,

que valoriza o passado colonial e o domínio do grupo senhorial. Tal perspectiva também contrasta

positivamente a proximidade das relações sociais presentes no Brasil com a impessoalidade que

caracterizaria os países capitalistas desenvolvidos.

Mas talvez seja possível aproximar Freyre de outros autores, como o bispo Azeredo

Coutinho e José de Alencar que, no Império, foram bastante longe na defesa dos senhores rurais. No

que concerne especificamente à escravidão, como alguns escravocratas do sul dos EUA, chegaram a

sugerir que ela poderia criar uma sociedade alternativa e superior à burguesa (Genovese, 1988). Da

mesma maneira que Freyre, argumentam que, numa ordem patriarcal, a condição do escravo seria

melhor do que a do operário europeu, nominalmente livre, em razão dele e os membros da sua

família contarem com o amparo do senhor, enquanto que os trabalhadores das fábricas teriam que

enfrentar a impessoalidade do mercado.11

Por outro lado, é possível que na obra desses autores se encontrem os próprios limites do

pensamento conservador no Brasil. Em particular, não vão até às últimas consequências na defesa

da escravidão. Caracterizam o trabalho servil como uma instituição transitória; possivelmente

benéfica ao desenvolvimento social, mas fadada a desaparecer. Sugerem, portanto, que a escravidão

não é um fim em si mesmo, possivelmente a base de uma civilização nova, mas algo superável. Tal
10
A controvérsia sobre Freyre versa sobre outros temas como, por exemplo, o significado de “equilíbrio de
antagonismos”. Categoria que, por exemplo, Carlos Guilherme Mota (1977) considera que esvazia a contradição,
encobrindo os conflitos. Por outro lado, Ricardo Benzaquen de Araújo (1994) vê aí boa parte da riqueza e da abertura
do sociólogo pernambucano, que apontaria para uma totalidade sem síntese, a existência de contradições sem mediação.
11
Alencar, de forma semelhante a Freyre, sugere que no Brasil haveria um abrandamento do trabalho servil,
relacionado com o patriarcalismo: “quem de nós, senhores, não teve ocasião de ver, uma e muitas vezes, no seio da
família, a mãe querida e respeitada, reclinando-se sobre o leito de dor onde jazia o escravo, não levada por interesse
mesquinho e sórdido, mas pelo impulso desse sentimento da caridade que é o resplendor da senhora brasileira?”,
(Alencar, 1977. p. 240).

1
posição possivelmente esteja relacionada com o próprio lugar subordinado da economia escravista

brasileira na economia mundial (Ricupero, 2004).

Nesse sentido, é possível considerar que o conservadorismo de José de Alencar e de Gilberto

Freyre foi, de certa maneira, manifestação isolada. Apesar de mais próximo ao conservadorismo

clássico, ele não se revelou capaz de estabelecer continuidade no pensamento político brasileiro,

aparecendo e submergindo em diferentes momentos de nossa história.

Em contraste, o “idealismo orgânico constitucional”, do visconde do Uruguai e de Oliveira

Vianna, teve sucesso em criar um certo sistema, composto por escritores, público e uma

linguagem.12 Paradoxalmente, essa linhagem política se afasta em muitas das suas características do

conservadorismo clássico, mas, talvez até por isso, foi capaz de fincar raízes no Brasil.

12
Aqui me inspiro em Candido, 1993.

1
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