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Joalheria no Brasil
história, mercado e oficio
SENAC
LIV
01112273
PUtoRA
ADOS
HISTORIAI SÉCULOXIX E SÉCULO XX
história
OalheUOs, mArcas e mercados
Clandia Dayé
Foi nesse contexto que, em Diamantina, cresceu a chamada escola portuguesa de joalheiros,
devido à concentração de artilicies imigrantes de Portugal que passavam a confeccionar joias como
as usadas em sua terra natal. Por essa infiuência, Antonio de Pádua Oliveira fundou, em 1888,
uma das primeiras casas oficialmente registrada como joalheria no Brasil: a Joalheria Pádua. que
permanece ate hoje no mesno enderego, sob o comando do neto Antônio de Pádua Oliveira Neto.
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JOALHERIA NO BRASIL
Para vender ouro, Olegário Lima Vianna, o filho, transitava entre as fazendas por estreitos
caminhos de terra, aonde não chegavam veiculos, montado num burro. Viajava trajando chapéu,
gravata-borboleta e botas. Com parte do ouro de que dispunha, Olegario começou a montar joias
Passou a adquirir gemas, terceirizar o trabalho e vender as joias em Belo Horizonte e em cidades
balneárias como Caxambu. São Lourenço e Cambuquira, usando o lonbo do burro como vitrine
de seus produtos: un mostruário suspenso exibia caixinhas com joias. Enquanto isso, seu filho.
Raymundo Nonato dos Santos Vianna, então com 12 anos. começava a aprender a artesania joa-
Iheira com um ourives italiano.
Raymundo. que ficou conhecido como Mundinho, tornou-se um artifice que atendia encomen-
das principal1mente de igrejas. Aos 20 anos. já tinha sua oficina em Belo Horizonte. num velho
pre
dio da rua Carijós. Assim. quando a imagem da padroeira de Fatima peregrinava pelo mundo e
passou por Minas Gerais, em 1952, a ele foi encomendada uma rosa de ouro em tamanho natural
para homenageá-la.
Na época inexistiam recursos hoje comuns na joallheria. porem, mesmo sem oportunidade de
estudar, Raymundo pesquisou muito para fazer a joia. Adquiriu um livro de química, e com ele rea
lizou diversas experièncias até desenwolver a técnica do banho que conferia às lâminas de ouro
as tonalidades desejadas: as folhas emn verde e o centro da rosa em amarelo gema de ovo. A rosa
ficou impecável: tinha 40 pólen formado
cn e por treze brilhantes.
Raymundo teve sete filhos, e todos seguiram a atividade joalheira. Um deles. Raymundo, assim
COmo o pai, hoje próximo de seus 80 anos, conta um pouco dessa história:
Meu poi foi um artesão cuja escola era o
italiona. Um artisto, assim como o
leijadinho. Destacado no livro Ouro de Minas como un
grande ortifice. inttuen
ciado pelo Mestre Atoide, que era um notdvel
pintor e escultor. Ho peças produ-
zIdos pelo meu poi que sko extraordindrias,
algumas dos quois estõo exibidos no
fuseu do l'oticano.
01 Rosa em ouro e beilthantes.
CLg do de Ray inundo \ianna iAlundinhoi Era com pericio
e minucia
que ele trabalhova cada detalhe de suas peças.
1952 Aervo lamili. \anna.
Cortovo com um buril que mportoro do Alemonha e nos colocava
paro ajudur o
oior Ficava horus otiendo,
depois tozio um corte 'pUxado", um corte forte e fundo,
que trozia o brilho no netol. Ele mesmo fobricova os lerramentos necessórIos
puraproduzir determinados peças. O jateudo e o preporaçko do areio erom
cOm precisdo absoluto e a fetosS
finolizuçõo do peço, ele dizio. era o que dova vida 0 joja.
HISTORIAI SECULO XIXE SÉCUIO Xx
Em 1885, São Paulo era uma cidade pacata, o que hoje é difíicil de irnaginar. A Casa Hanau, um dos
nove estabelecimentos de joalheria e ourivesaria da cidade, estava sediada no "triängulo", area assim
chamada porque compreendia o triàngulo tormado pela interseção das ruas Quinze de Novembro,
Direita e São Bento. Era lá que se concentrava tudo o que havia de mais fino: as melhores lojas, os
escritórios de prestigio, as sedes dos partidos politicos, os bancos e os grandes jornais.
oalheria Parisiense José Levy tinha um tio em São Carlos do Pinhal, no estado de São Paulo. que era proprietario
da Joalheria Parisiense. Comerciante experiente numa região que prosperava com a produção
Jesé Lery cafeeira, ele introduziu os rapazes no comércio e forneceu mulas e mercadorias para que percor-
ressem fazendas e vilas da região. Tempos depois. os amigos se separaram. José Levy permane
Rua 13 de Mato M. 36 ceu na cidade, trabalhando na Joalheria Parisiense. e Rodhollo seguiu para São Paulo para auxiliar
(Largo do Jardim)
Sdo Carloa do Pinhal seu tio Edmond. Passados dez anos, em 1901. os amigos se reencontraram Já maduros e experien
tes no ramo, lormaram a grande dupla que passou a dirigir a Casa Hanau até 1954. ano em que.
pelos acasos do destino, ambos vieram a lalecer no mesmo dia, aos 80 anos. Edmond, o lundador
desligou-se da empresa em 1925 e partiu para a Alemanha, onde permaneceu o resto de suA VIda.
JOALHERIA NO BRASIL
de exposicdo e venda
HANAU
da Casa Hanau,
na fud Ouinze de
Novembro Fonte:(os
Honay - femórnas,
de Atilio Luchin
03 da (asa tanau, (am
lustragao modelo
dos anos de 1920, Usada na capa do livro
COso tanou Afemórios, de Atilio Luchi A Casa Hanau destacou-se em São Paulo pelo luxo que sustentava. Alem das joias e obras de
arte
comercializava os relogios de bolso suiços da Patek Philippe, em ouro 18 quilates (k), usados
pela
maior parte dos homens de elevada posição social. Posteriormente, a loja mudou para um espaço
mais luxuoso e moderno, com entrada exclusiva por elevador e escadaria, da galeria California,
na rua Dom José de Barros. Todo o seu requinte se manteve até 1966, quandoo sucessor da farni-
lia decidiu não prosseguir com a loja e montou um escritório de compra e venda de pedras pre
ciosas, mantendo-o até 1980.2
Outra importante casa joalheira situada na rua Quinze de Novembro foi a Casa Michel, fundada em
1904 por J. Michel e Armand Worms, no mesmo estilo da Casa
Hanau. Foi lá que garoto António
o
Teixeira de Castro, português que veio o Brasil para com a familia, se ajudante.
empregou como
O menino, então com 14 anos, fazia
pacotes na loja, entregava correspondência, ia à oficina, relacio
nava-se
com as pessoas que prestavan serviços para o sr. Michele assim acabou se tornando ven
dedor. A clientela gostava dele e.
por isso, de repente, foi promovido a gerente de vendas da Casa
Michel. Mais tarde, quando decidiu casar-se, reuniu suas
economias e partiu em viagem de lua de mel
para o Rio de Janeiro, onde aproveitou para
comprar mercadorias, jà que os principais lornecedo-
res do ramo estavam na
capital carioca. Ao retornar. juntou-se a um sócio e abriu seu proprio nego
cio, estabelecendo-se na mesma rua Quinze
de Novembro, um pouco mais adiante da Casa Michel
A Casa Castro (Castro e
Puig como era sua razo social) começou em 1922 con uma "portinna
onde o ja "sr." Antônio Teixeira de Castro
vendia joias e presentes em seu proprio estabelecimento
A CasaCastro prosperou e ganhou
prestigio em razão da seriedade do trabalho realizadoe das
boasrelações que Antônio desenvolveu. Em 1930, mudou-se para o outro lado da rua.
ja njo fmals
numa portinha, mas num edificio. Com a
grande demanda de produtos industrializados gerada peu
Segunda Guerra Mundial, quando a importação da Europa se tornou inviavel. a industria ndclondi
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HISTORIAI SECULO XIX E SECULO X
CASA CASTRO
RASOLUTA SERIEDADE ROS PREE
i
G a a CaSTRO
0S Pimella loja da Casa Castro na lu
Quinze de Novermbio. Acervo Casa Castio U
23
jOALILRIANOBRA
lurr le AbP malth.da
(Jsd Itin
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na
07
uiite
111
n0DIAMANIES
região conformava tambem um Iriangul0, com as ruas 25 d
Je
Março. Cantareira e a avenida do E'stado. Como já traballhava rom
liamantes, ele abriu uma lapidação na rua Florêncio de Abreue
logo passou a montar as pedras ern jo1as, fundando a Casa Leðo
no mesmo ano de sua chegada
ton Tedo Syrq, Gnny
Em 1924, Leão Sayeg conheceu a jOven siria Genny, coma
,
qe i.inhu d mitl.
qual se casou, presenteando-a com un vestido de noiva coberto
Nele, botdrdos Tor.
Teitos co fiy tle tut, de pérolas e brilhantes, alén de un colar e um broche de dha
mantes. Porém, naquele ano, nas pritneiras horas de 5 de junho.
nO vestido (omn LaIiiem
São Paulo acordou entre trocas de tiroseo retumbar dos bon
ArervoIyli. I edo Slyej
bardeios, quando oficiais do exèrcito, antagonizando as trad
cionais oligarquias politicas, detonaram a segunda revolta do
Movimento Tenentista, a qual passou a história como Revolução
Paulista de 1924. Um terço da população paulistana viu-sefor-
çado a abandonar a cidade em busca de segurança. Ate o presi
dente do estado, Carlos de Campos, prOCurou retugio no interior
Trincheiras foram abertas na avenida Paulista e nos bairros do
Brás, Belenzinho. Vila Mariana, Perdizes e lpiranga Os comba
tes deixaram um rastro de desiruição: cerca de quinhentos mnor-
tos, cinco mil feridos, casas e prédios bombardeados, saqueados
e metralhados, entre eles a Casa Leão. A reconstrução da joalheria
só foi possivel graças à atitude de Genny. que devolveu ao marido
o vestido de noiva, para que cada peça tosse retirada e usada na
produção de solitarios de pérolas e diamantes.
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09 Morila Ataru, navio que entre 1925
e 1935 troune linigtantes japoneses do
Com um dicionário em uma mão e os produtos na outra, Rosa recebeu por quatro dias cente
nas de negativas, até que, numa casa da rua Treze de Maio. obteve permissão para entrar, conse
guindo vender dois quimonos. Por conta das dificuldades financeiras, ela decidiu vender uma das
joias que trouxe do Japão, um anel com pérolas e um brilhante. Foi quando percebeu que as pérolas
ainda eram novidade no Brasil, e teve a ideia de trazê-las por intermédio de um contato que tinha
com Kokichi Mikimoto. precursor do cultivo de pérolas no Japão e oriundo de Mie-ken, a mesma
provincia de Rosa. Stella Okubo, nora de Rosa. conta sobre esse periodo:
11 Rosa Okubo.
um fator altanente positivo na integração de tantas correntes
Acervo lamilia Okubo. migratórias e imigratórias
6
HISTÓRIA I SEcULO XIX E SÉCcULO XX
de edilicios com salas para consultórios e escritórios. A vida noturna passou a se concentrar em
bares cono o Hungaria, na rua Xavier de Toledo, ou em restaurantes cono o Palhaço, na avenida
São João, região que se tornou conhecida como "centro nOvo", alavancando o comércio da cidade
grande ascensão do comércio. Profissionais liberais instalaram-se nos novos edificios elite inte-
e a
lectual tambem optou por trabalhar e morar neles. Esses grupos. junto com proprietórios de terras,
politicos, industriais e comerciantes, formaram a dinánica elite paulistana, num cenário que se per-
petuou nas duas décadas seguintes, quando muitas joalherias e oficinas cormeçaram a despontar.
São Paulo e Rio de Janeiro -. como também a região de produção seringueira: Amazonas, Rondônia
e Pará, que passou à história devido ao ciclo da borracha, cujas extração e exportaç o geraram
muita riqueza. Manaus e Belém usufruiam de novidades tecnológicas, como a iluminação elétrica e o
bonde elerico, que transitava por avenidas construidas sobre os påntanos aterrados. Lá inaugura-
ram importantes edificios, como o luxuoso Theatro da Paz, de Belém, en 1878, o Palácio Municipal
(atual Palácio Antônio Lemos), em 1883, e o Mercado de Ferro, en 1899. Em Manaus, foram cons
truidos o Mercado Público Adolpho Lisboa, inaugurado em 1883, o imponente Teatro Amazonas
em 1896, eo Palácio Rio Negro, sede do governo, em 1903.
Assim como no Rio de Janeiro e em São Paulo, a elite do Norte do pais circulava nos espaços
culturais e comerciais sob a infAuència da moda parisiense. A Belle Epoque marcou um periodo de
eclosão da vida social em várias cidades brasileiras. gerando o desejo do uso da joia, diferente-
mente do que ocorria no passado, quando a ourivesaria colonial servia mais a aparatos de igrejas
e imagens religiosas do que ao adorno eà ostentação das fanilias ricas.
1
Na Belle Epoque brasileira, eram Irequentes os bailes e banqueles, e coino
lembranca holo
olerta de joias aos convidados. Ana Maria Daou, em seu livro A bele bpoqur omozónico, conta ou
a esposa do militar coronel Benevenuto de Souza Nlagalnaes Vajou rom a lamilla ao Amazonas,
emre suas rerord.açdes de vingem. levava fotogralias do banquete do qual inha participado e dois
Reynaldo ainda jovem veio a trabalhar com Leopoldo Masson como auxiliar e, posteriormente,
consertando e vendendo jolas. Tornou-se amigo e söcio de Leopoldo Masson, e durante nuitos anos
15 RiVjn r 1et2isnn
trabalharam juntos. Em 1905, a sociedade entre os dois incorporou mais um membro à Pêndula.
Aos 14 anos, Leopoldo Geyer. filho de Reynaldo, inconlormado com uma nota baixa recebida
injustanente na escola, abandonou os estudos e se apresentou ao pai para trabalhar na Pêndula
MIsteriosa. tornando-se aprendiz de relojoeiro. Os garotos no início do século XX começovam a tra
balhar cedo, ajudando em tarelas simples, como oficina
são
varrera e entregar mercadorias. A
expres
varrer a oficina"é usada ate hoje para aqueles que começam a trabalhar numa olicina de joias.
Como aprEndiz, o jovem cresceu e, em 1916. tornou-se sócio do lundador
Leopoldo Masson no
pequeno negocio. A Iaz3o social passou a ser
Leopoldo Geyer e Cia, e, para homenagear o amigo
que retornava ao Rio de Janeiro. Imudou o nome da Péndula Misteriosa para Casa Masson. O neto
de Valenun lormou a
companhia. que substituiu a Pèndula Misteriosa, com uma cota de 10% nUm
capital total fixado enm 100 contos. Entre 1922 1923,
Leopoldo Geyer enfrentou uma séria crise cam
e
Dlalque aletou a importaç ão de joias
relógios, superada. porém, por meio do crediário ou sislema
e
de vendas a credito. com
pagamento a prestações. Anos mais tarde, mediante a
obtenção de diver
sas 3cilidades dos labrirantes europeus, impulsionouo volumme de negócios e abriu Uma loja nO
de Janeiro. Seguida de novas hiliais e
postos de vendas, auxílio de
com o seu filho Jorge Leopoldo.
? > i CU' : yXSE
SF
Geyer em uma rntrevista para arevistu
A história do crediirio loi
cortada pelo prop1 io L.eopoldo
1O A 30 MEZLS uma crise ameaçadora para aqureles que con
A alta do câmbio em 1920 gerou
Relógios & Joios' crédito so o c o r r i a no lrasil por reio
A vendd a
ivam com estoques de mercadorlas importadas. valor que ele ita
mais conliando no "fio do bigode", ou seja, apenas na palavraempenhada. 0 desatio era abrir
14 n i o jutilirdo no jornal Conrio ho
P'ov) de P o t n A i r j , noy di.Is 20 e 25 tde
UIma linha de cadastro sem constranger o cliente, que Jamais iria querer responder a perguntas
de/mbro d 1931 Repiodu0 e malPtn
bancaria, na época considerado um proc edimento
como local de trabalho, valor do salário e conta
a isso e n prol de satisfazer um
muito inquisidor. poucos as pessoas se acostumaram
Porém, aos
Em u n ano, a Casa Masson jáá
desejo e adquirir algo que de outra forma não poderiam comprar.
contava com 250 clientes cadastrados em seu departanento
Os negócios se multiplicaram, uns
1 Atigo pivdlo d (Jsl Mass
lilial loi aberta e em poucos anos a clientela cadastracda era de nilhares. A "compra a presiaçao
se popularizou. Quem não pagava suas parcelas ficava conhecido como caloteiro ou "rei do calote
f d irchallori.ano, em Poito
Aleg evislt R) A ervo IBG1 na praçae no comércio. Bem mais tarde, na década de 1950, foi criado o Serviço de Proteção an
o cliente ten ficha limpa, ou seja, se não deve em nenhum outro comércio, o que ers teito no pra
Além de Porto Alegre. reduto da Casa Masson, a comercio joalheira tamben estava presente em
ouras cidades gauchas. Na pequena Guapore, a 200 km de Porto Alegre, a historia nos leva a João
Pasquali. que lá se instalou em 1907. Sua familia havia imigrado do Tirol. na Itália, em 1878, quando
ele tinha 6 anos de idade. e se instalou em Bento Gonçalves, depois de uma breve permanencia na capi
lal. Com 2 1 anos. João retornou à Itölia, onde aprendeu o olicio de ourives e especialmente a técnir a
de produção de chapeado. Na sua volta ao Brasil, escolheu ixar residência em Guaporé. tornando-se
o prineiro ourives radicado na região, onde passou a produzir artesanalmente allanças de noivado
e de casamento em ouro. A0 ensinar o oficio aos seus ajudantes, Começoua lormar mão de obra
especializada em joias e, em 1909, instalou a sua joalheria e uma pequena industria de [olheados, a
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jOALHERIA NO BRASIL
C
O41IERIA NO BRASIL
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HISTORIA | DiCADAS DL I940 195o NOVOS cOMEÇOS
Outros permaneceram na Europa e lutaram durante toda a guerra, mas, ao fim dela,
precisa-
ram migrar para recomeçar. E o caso de Natan Kimelblat, que tinha 16 anos
quando a aldeia de
Legist. na Ucrânía, foi invadida, em julho de 1942. por tropas da SS. Por instinto, correu para uma
fHoresta onde havia outros fugitivos e se escondeu. Sua aldeia foi
devastada. Seus pais e irmos
mais novos foran1 luzilados. Na floresta, encontrou outros
judeus se juntou aos guerrilheiros da
e
divisão Kovpak. que reunia mais de dois mil resistentes
ligados
ao exército soviético. Lá, Natan
encontrou seu irmão mais velho, Izac Kimelblat, e ambos lutaram juntos no decorrer da guerra.
Quando o conflito acabou, os irm os seguiram para a Itália. inicialmente como
desejo de migrar
para a Palestina. Porém, como tinham dois tios no Brasil, dirigiram-se à embaixada brasileira, onde
Ihes forneceram uma lista telefonica para que os localizassem. Foi nela que encontraram o cami-
nho para o resto de suas vidas: o nome de um dos tios.
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JOALHERIA NO BRASIL
fugindo da guerra. Eles fundaram, respecivamente, as joalherias Natan Joias, H.Stern. R.Simon
Joalheiros, Amsterdam Sauer. Vivara e a fornitura Cronómetro Federal.
Os judeus possuem uma longa tradição na joalheria. Na Europa, durante a ldade Mèdia, já tinham
uma posição de destaque na manulatura e no comércio de joias: o principal centro diamantário
de Ansterd, no século XVI. ja lormado
era maioria por
judeus. Por outro lado, as perse-
na sua
guições que sofreram ao longo da História os lizeram aprender que joias e pedras preciosas eram
bens que podiam ser lacilmente carregados de um lugar a outro, e talvez isso tenha contribuído
para a
formação de um grande número de joalheiros.0
Por isso, Alberto Dayé dizia: "Se você tem uma pedra, vocë pode se virar em qualquer lugar
do mundo!".
vendé-las relazendo o
percurso das bolsas.
Conseguiu repetiro
sUcesso das vendas. contudo,produto desenhado por ele
com um
mesmo. Nove anos depois, ja casado com
Anny Klang, abriu seu
primeiro escritório na avenida Copacabana, em agosto de 1956.
O rapaz que vivera numa
pequena aldeia entre cavalos e vacas
dava inicio a uma trajetória de sucesso em
joias e luxo no fres-
cor da aumosfera de Copacabana.
m São Paulo, chegava ao Brasil o italiano
Luciano Tadini,
também apos um intenso periodo de
guerra. Ein 1943. com 17
anos, teve de fugir de Milão e
juntar-se a Resisténcia italiana, os
portigioni. porque ele e seu pai eram membros do parido esquer
dista e estavam sendo procurados pelos órgãos de inteligéncia
fascista. Quando a guerra acabou no final de 1945, voltou a Roma
para trabalhar para a Bulgari. Sua história na joalheria começou
na intancia: o tio tinha uma oficina de joias e o levava para ver
Os ourives trabalharem. Ele conta: 19| Deseaha de jola
de Luclino Tacdini
Acervo lali.s Lacdinni
Foi ossum que comecei. me dovom um
pedacinho de prata poro brincor e eu
pegUel o gosto, desenhondo a propria peço no banca. Eu tinha 8 anos, estudova
de monhð e à tarde me divertto trabalhando no ohcno do meu tio. a Depois vei0
yurrro Mais torde, em 1945, me mude poro Milõo porque hovia perdido minho
mãe, lui lozer Belos Artes ó noite e de dio trabalhava numa gronde oficino
joa-
lheuo chomada Cuzzi, que lornecia joias poru a Casa Real italiona.
No
pos-guerra, Luciano Tadini quis emigrar para os Estados Unidos. por influéncia de uma tia
que morava na Califórnia, porém a cota de vistos para aquele país era muito pequena. Seu pai era
amigo do cônsul brasileiro em Milão e por intermedio dele soube que estavan à procura de um
designer e cravador de pedras em São Paulo.
Mas uma vez. para sair da Europa. o destino mais oportuno foi o Brasil. Tadini embarcou num
av0 da rerém-fundada Alitalia para uma
viagem de 36 horas, cujo percurso, a
partir de Milão,
Icluia escalas em Roma. Madri, Lisboa, Ilha do Sal (en Cabo Verde) e Natal, base aérea estaduni-
derse durantr lá,
a guerra: o
apareiha teve um pneu furado e precisou ser reparado antes de con- 201 Cla rlucdano 1.idint
unar o tajeto para o kio de Janciro, de onde seguiu linalmeate para São Paulo, em 1 de janeiro
de 1951 Tinha 24 anos e estava rerem-casado. Carla, sua
esposa, chegarla p0Ucas senanas depois.
d n der epcionoU-se com seu emprego, qve consisia apenas de cravar rubis sintelUcos no pro-
Cso de montagem de relogios. Nesse interim. porém, um companhelro de viagem 0
apresentou ao
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OALHERIA NO BRASIL
principe Giovanni Alliata di Montereale, cuja esposa era Olga Matarazzo, filha do magnata indus-
trial Francisco Matarazzo. Assinm, entre jantares e lestas, Tadini foi introduzido à colônia italiana.
Passados três neses, saiu de seu emprego, alugou um apartamento e lá mesmo montou uma
oli-
cina. As pessoas da comunidade começaram a Ihe encomendar traballhos, sobretudo senhoras
que queriam reformar seus colares e
pulseiras. Desenhando na Irente de suas prineiras clientes,
Luciano licou logo conhecido: "Clhegou umn italianinho, um artista, ele lazo que vocè quiser, como
vOcé quiser: ele desenha um. dois
esquetes que são uma beleza: um artista!". Uma cliente indi-
cava assim não Ihe Ilaltou trabalho. Teve de contratar
outra e
um
primeiro ourives e outros em
21| Bolsa de ouro com lecho de
seguida. ja que eram muitas as encomendas.
esmeraldus. CtiagJo da Casa1elo,
Na mesma
nos
1950, Ateivo CJsa led0 JoJllieii
época, o filho de Leão Sayeg. Ivan Sayeg. ingressou na Casa Leão em 1947, aos 18
anos, e passou a ajudar na
criação de solitários de diamantes e pérolas. Póde acompanhar de
perto
as
inspirações criativas do pai, que era lascinado por Coco Chanel desde 1932.
com seu estilo, acompanhando
quando ela despontou
evolução do comportamento da mulher noderna e sua entrada no
a
inercado de trabalho. Com uma
percepção certeira e ågil. Leão Sayeg acompanhava as mudanças de
habitos e costumes, identilicava e seguia tendências.
adaptava seu estilo e mirava a modernidade.
moda de Coco Chanel não
A
apenas influenciava Leão como também
perolas, que já eram o principal produto na joalheria de Rosa Okubo. impulsionava o uso das
Rosa começava a ser
cida comoa rainha das
perolas. Seu lilho Julio a conhe
nas dos renomados
no ajudava urabalho: ele foi aprendiz nas ofici-
joalheiros Helbo Lucchesi, Alberto Oxman e Oscar Rizzi e
trabalhou em diver
sas
empresas joalheiras que lorneciam para grandes lojas, como a Casa
Castro e a Bento Loeb.
Os Okubo
adquiriram um imóvel numa ravessa da avenida
Brigadeiro Luis Antònio; instalaram na Irente o escritório de
das e, nos lundos, a oficina e a ven
residéncia da familia. Lá, Julio
Okubo desenvolveu estilo, criando fechos para os lios de
seu
perolas que dona Rosa montava para as clientes. Foi o
homem a lurar
primeiro
uma pérola no Brasil
e
ser furadus dieila, On demai
Uno ICPira
que escondessem os detestos Areno lainilia Okubn.
HISTORIA | DEcADAS DE I940 L 1950: NOVOS COMEÇOS
Não só na capital o panorama da joalheria se ampliava nas mãos dos imigrantes. Foi no inte-
rior de São Paulo, na pequena mas pujante cidade de São José do Rio Preto. que o italiano Pascoal
Carrazzone, vendedor de joias na Itália e na Espanha, se instalou quando chegou ao Brasil no final
do século XIX, com una parte de sua familia. Com seu primogênito Orestes. Pascoal montou uma
pequena joallheria e posteriormente seus oUtros filhos, que tinham licado na Italia, vieram tam
bem para São José do Rio Preto e abriram. cada um deles, as próprias joalherias ao todo, são
quatro lojas da lamilia Carrazzone. A única lilha de Pascoal, Tereza, casou-se em 1939 com Marco
Costantini, também italiano, que era necánico de prolissão, mas que, depois de alguns anos de 23| Man0el Beinardes examinando
casado, vendeu sua oficina mnecânica para tornar-se sócio do sogro e do cunhado. Os negócios meradoras na Allanodega
ACCINO NManoel Bernardes
prosperaram, Marco Costantini saiu da sociedade e, no ano 1946, abriu uma loja própria de joias e
artigos de cristal, a Casa Costantini. O casamento de Marco e Tereza marcou a união das lamilias
Carrazone e Costantini, assim como o inicio do nome Costantini na história joalheira. José Pascoal
Costantini. Ilho do casal. nascido em 1945, vivenciou então desde muito cedo o mundo das joias
e, anda menino, atrás dos balcões, ajudava no atendimento aos clientes que entravam na loja de
seu pai. Sobre essa época, Jose Pascoal Costantini conta:
São Jose do Rio Preto era umn centro regional. ossim como Cotonduvoe Aroçotubo.
Una cidade de interior pequeno, mos onde o setor de joios ero dinónico. Nessa
vinhom o São José do Rio Preto pora lozer suos Compros regulores.
Ja no centro de Belo llorizonte, no inicio dos anos 1940, havia uin bar na avenida Alonso Pena
chamado Polo Norte, onde um grupo de pedristas., os vendedores de pedras, se reunia para "jogar
Là estava Manoel
ronversa lora" e trocar informações sobre o mercado das pedras preciosas.
Bernardes. Manoel montou m modelo de comércio semelhante a Uma bolsa de pedras: a
comuni
d.do lapidár ia Ihe olerecia sua produção semanal, e ele canalizava boa parte da produção de Belo
de diversas procedèncias e tor-
Hori/oito Aos poucos, Manoel formou lotes comgrandes pedr as
ou-se ui grande atacadista. já que manejava uma parcela considerável do estoque de um dos
37
JOALHER'ANO BRASIL
day miterdam na
mstedam She
AMSTERDAM TD
principais centros de produção do Brasil e atraia jovens empreen
dedores como Hans Stern. que ia a Belo Horizonte para comprar
pedras brutas e lapidadas. e Jules Sauer. que ja estava na cidade.
acesso aos
estrangeiros que visitavam o Brasil. A evolução do
ransporte aereo propiciou essa lase de seu negocio. Os
denses eram grandes
estaduni
compradores. pois ja tinham uma tradição
de consumo de
produtos contemporáneos e gostavam de cores.
O Brasil tinha se tornado
desüno para eles e as gemas eram
um
o
comprar.
que queriam Na
Méxiro. lembra Daniel Sauer,
rua
"a
pessoas laziam fila para serem atendidas por ele:
não vé mais hla em nenhum
hoje em dia vocé
de ipo joalheria".
Sauer
25 Jules Sauer
Jules Sauer
trabalhou durante uma decada sobretudo no validido und gema
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que apreciavani na natureza, nasrequintadds ofquiea>, nas nulicoloridas borboletas e irisados
anunais.
insetos, assim como nos padroes, com extr aordinarias combinações de cor, da pele dos
Modernamente, entende-se por joia um artelato de matéria preciosa que se Usa cOIno adorno
na nossa cultura envolve, sobretudo, metais nobres e pedrarias. Assim, passare-
corporal, o que
mos a nos centrar nesse aspecto da ancestral arte de ornamentar o corpo.
1OSo, ornamentos masculinos consistentes num cilindro perfeitamente polido, de atê quinze cen
tirnetros de comprinento por uns três de largura, com um orilicio transversal na parte superior.
por onde eram suspensos ao pescoço, destinados a denotar a nobreza do portador e que os che-
es Usavam em ocasiðes solenes.
01embetá loi oulro dos extraordinários objetos da ornamentação indigena, utilizado pordiver-
ss etnas da reyião Nordeste e Amazônica. Consistia num enfeite de formato cilindrico, achatado
0U rompr ido, tendo num dos extremos um alargamento, o que era introduzido em incisões sob o
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labio inferior e tambem nas bochechas. Para sua conlerção, utilizavam-se pedras como o quartzo
hialino, quartzo aventurino, berilo, amazonita e nefrila, além de uma resina assenelhada ao ámbar
Os mais apreciados eram da cor verde e foi seu Uso por parte dos nativos que despertoU nos por-
O sertanista Gabriel Soares de Sousa (1540-1591) testemunhou o uso dos tembetás: "Para 0s
Tupinambas lazerem-se bizarros usam de muitas bestialidades estranhas, como é fazerem. depois
de homens, Irès ou quatro buracos nos beiços de baixo, onde metem pedras redondas. verdes e
pardas, que ficam inseridas nas laces, semelhando demónios, e sofrem estas dores para infundir
terror aos seus contrários"
ao descer o rio pela primeira vez, em 1542. Os relatos afirmam que as amazonas
Orellana
ds peças de uin lago no seu territórioe as trocavam com os homens que as visitavam anualiie
ext
tambem a denoinind-
AS expressoes pedra-verde e
pedra das amazonas lhe são sinónimas, e
aO anva ito-tuxouo ou "pedra do chele", já que eram distintivas dos caciques e lideres yueti
Os lapajJOs, constituindo moeda de troca em neqociações de paz e alianças, dssm cond itd ran
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