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Jean Baptiste Debret nasceu em Paris, capital da

França, em 18 de abril de 1768.


Gostava de pintar cenas históricas e seu talento
era elogiado pelos críticos.
Em 1814, um triste fato abalou profundamente a
vida de Debret: a morte de seu único filho, um
rapaz de 19 anos.
Para aliviar um pouco sua dor; resolveu sair da
França por algum tempo e pensou em aceitar um
convite do imperador Alexandre I, da Rússia, para
trabalhar em seu país . Mas, de repente, recebeu
um outro convite, em nome do governo
português: vir ao Brasil com a Missão Artística
Francesa, um grupo de artista franceses que
deveriam fundar uma academia de belas artes e
trabalhar como professores.
No dia 22 de janeiro de 1816, Debret embarcou
num navio rumo ao Rio de Janeiro, onde chegou
dia 26 de março, maravilhado com a vista da Baía
de Guanabara.
Como pintor histórico, Debret registrou os mais
importantes fatos que ocorreram durante sua
permanência no Brasil, tais como a aclamação de
D. João VI, a chegada da princesa Leopoldina
(esposa de D. Pedro I), a coroação de D.Pedro I como
imperador, além de retratos de pessoas da família
real.
Retrato de Carlota Joaquina

Detalhes de retratos do rei D. JoãoVI e do Imperador D. Pedro

Coroação de Pedro I, imperador do Brasil.


Desembarque da princesa real Leolpoldina

Foi Debret também que criou a bandeira brasileira da época


do Império.
Observe no meio do losango amarelo o escudo verde com a
coroa imperial em cima. No meio de escudo, há uma esfera
celeste dourada com a cruz da Ordem de Cristo, cercada por
um círculo com dezenove estrelas, correspondentes às
províncias que havia no Brasil. Um ramo de café com flores
e frutos, à esquerda, e outro de tabaco, também em flor, à
direita, unem-se embaixo.

Bandeira do Império
Além de trabalhar para a família real e para os nobres.
Debret interessou-se em representar a vida das pessoas
comuns que moravam no Rio de Janeiro.

Ele saía às ruas e observava tudo atentamente . Fazia


desenhos, anotações, rascunhos.Procurava conversar
com todo mundo e fazia muitas perguntas. Muita
gente, com certeza, devia achar Debret um sujeito
xereta!
Graças aos seus trabalhos: desenhos, pinturas em
tela e aquarelas, podemos ter hoje uma idéia de Vestimentas das damas de honra da Corte.

como era a vida brasileira naquela época, não só dos


nobres e ricos mas também das pessoas simples e
dos escravos.

Uniformes militares

Detalhes de Industría do Trançado


Frutas do Brasil
Negra tatuada vendendo caju

Debret representou as escravas fazendo os


mais variados trabalhos. Na pintura abaixo,
por exemplo, vemos lavadeiras. Elas
lavavam as roupas de seus patrões nas
águas límpidas de um riacho. Enquanto
trabalhavam conversavam animadamente.

Detalhe de Vendedor de arruda

Lavadeiras à beira do rio


Café Torrado

Naquela época, o café já era uma bebida muito apreciada. A procura por pó de
café era tão grande que costumavam vendê-lo diariamente na porta das casas.
Observe, nesta cena, a dona da casa estendendo um prato no qual a vendedora
põe uma canequinha de pó de café. Ele também era vendido em latinhas
fechadas, como as que vemos na bandeja que a outra vendedora equilibra na
cabeça.
Os refrescos do Largo do palácio

Se você conhece o Rio de Janeiro, sabe que é uma cidade onde faz muito calor.
À tarde, muita gente gostava de sentar nas muretas do cais para aproveitar a brisa
fresca do mar. Nessa hora, passavam as vendedoras de doces. Cada doce
comprado dava direito a um gole de água da moringa.
Ah, que delícia.
Cena de Carnaval

Quando chegava o carnaval, a cidade ficava uma bagunça! Os cariocas faziam guerra
de limão- de- cheiro, que eram bolas de cera cheias de água perfumada. Muitas
vezes, ficavam guerreando com os vizinhos durante horas, numa farra incrível.
Homens, mulheres e crianças participavam da brincadeira e terminavam o dia
ensopados. Ainda bem que a água era perfumada!
Os escravos brincavam jogando água e polvilho uns nos outros. Nesta cena, uma
jovem tenta escapar sem derrubar o cesto que leva na cabeça. Mas coitada! O
homem lambuza seu rosto com polvilho e o moleque os deixa ensopado com um jato
de água.
Era a guerra do carnaval!
Marimba, O desfile do Domingo após meio dia.

Enquanto algumas pessoas brincavam com limões-de-cheiro, grupos de negros


desfilavam pelas ruas tocando diversos instrumentos, cantando e dançando. Alguns
se fantasiavam de nobres europeus e faziam saudações às pessoas que ficavam nas
sacadas das casas para vê-los passar.
Foi assim que nasceram, mais tarde, as “escola de samba”.
O Judas do Sábado de Aleluia

Uma das brincadeiras mais populares dessa época era a malhação do Judas, no
sábado de Aleluia.
Fazia-se um boneco de palha, recheado de morteiros segurando uma bolsa de
dinheiro. Ele ficava pendurado num galho de árvore. Quando chegava a hora,
alguém punha fogo no boneco. Os morteiros explodiam e o corpo do Judas se
desfazia em pedaços, que a criançada pegava e arrastava pelas ruas, numa
grande algazarra.
Calceteiros

Infelizmente, nem tudo era festa. Os escravos trabalhavam muito, na cidade e no


campo. Eram pedreiros, carpinteiros, marceneiros, ferreiros, pintores de casas,
vendedores, carregadores. Durante o trabalho, quase sempre eram vigiados por
feitores, homens de chicote na mão que fiscalizavam o serviço.
Nesta cena um grupo de escravos faz o calçamento da rua.
Uns quebram e colocam as pedras e outros usam um peso para nivelar o chão.
Negros carregadores de cangalhas.

Negros de carro

Nesta cenas, vemos escravos fazendo força para transportar cargas


pesadas pelas ruas do Rio de Janeiro.
Quando Debret desenhou estes
escravos serradores de madeira
trabalhando, comentou que naquela
epóca, na Europa, já havia serras
mecânicas, mas, no Brasil, os donos
Negros serradores de tábuas.
das serrarias preferiam usar a força
dos escravos.
No regime da escravidão, era mais
barato explorar a força física dos
escravos do que montar uma serraria
mecânica!
Alguns escravos faziam trabalhos mais
leves. Os escravos vendedores saíam de
casa bem cedo e passavam o dia todo na Negros vendedores de carvão
rua. No fim da tarde, voltavam à casa do
patrão para entregar o dinheiro das
vendas.
Observe a riqueza de detalhes que debret
gravou nesta imagens, todas
apresentando o trabalho escravo na rua.

Vendedor de cestas

Detalhe de família pobre em sua casa


Vendedor de palmito.

Vendedor de flores à porta de uma igreja no domingo.

Vendedores de capim e de leite.


Negros vendedores de aves.
Barbeiros ambulantes.

Estes escravos eram barbeiro ambulantes. Atendiam as pessoas na rua,


principalmente gente pobre ou outros escravos.
Aqui vemos dois deles trabalhando. Seus fregueses também são escravos.
Um corta o cabelo e o outro faz a barba.
Sapataria

A palmatória era terrível, mas havia castigos muito piores. Às vezes, os


escravos eram condenados a ser chicoteados em praça pública.
Aplicação do castigo do açoite.

Nesta cena, alguns escravos que já foram castigados estão deitados no chão.
Em pé, à esquerda, vigiados por dois guardas, estão aqueles que ainda vão
ser chicoteados.
O sangue escorre pelo corpo do escravo que está no tronco. O castigo é
cruel.
Com medo de tantos castigos, muitos escravos
fugiam para longe e se escondiam no mato,
formando comunidades nas quais podiam trabalhar e
viver em liberdade. Essas comunidades eram
chamadas quilombos.
Se fossem capturados, os escravos teriam de usar
correntes presas ao pescoço pelo resto de suas
vidas.
Detalhe de sapataria

O colar de ferro, castigo dos negros fugitivos


Alguns escravos ficavam o tempo todo junto dos patrões. Quando saíam a
passeio, lá iam também os escravos, para carregar as coisas e cuidar das
crianças.
Alguns homens passeavam de braços dados com a mulher; outros iam à
frente, como se estivessem numa fila. Nesta cena, o pai seguido pelas filhas.
A seguir, vem a mãe, que está grávida; atrás dela, sua criada de quarto.
Depois, uma ama negra, a escrava da ama, o criado do homem com um
guarda-sol e dois jovens escravos.
Esse passeio até parecia um desfile!

Um funcionário a passeio com sua família.


Quando a caminhada era um pouco mais longa,
os escravos carregavam o patrão numa rede.
Na cena abaixo, o dono de uma chácara está
voltando para a cidade . Um garoto escravo
carrega o guarda sol. Mais atrás uma escrava
equilibra na cabeça um balaio com flores e frutas
trazidas da chácara.
Detalhe de Vendedores de flores à porta de
uma Igreja, no domingo.

O regresso de um proprietário
Mesmo dentro da cidade, para ir de um lugar a outro, muita
gente usava uma cadeirinha, que era enfeitada para exibir a
riqueza do proprietário.
Aqui, a mulher na cadeirinha vai observando o movimento das
ruas. Sua bolsa e o livro da missa são carregados pela criada,
que vai a pé.
Às vezes, duas pessoas se encontravam e paravam para
conversar, ficando cada uma em sua cadeirinha.

Outras pessoas porém, para não serem reconhecidas,


fechavam as cortinas.

Senhora na sua cadeirinha a


caminho da missa
Na maior parte do tempo, as
mulheres e meninas ficavam
dentro de casa. Nas poucas
vezes em que saíam à rua,
para ir à igreja ou a alguma
festa, deviam estar
acompanhadas.
Nesta cena, a senhora está
fazendo um trabalho de
costura, enquanto a filha
estuda. Os meninos pequenos
devem ser filhos de escrava.
Um rapaz entra com um
grande copo de água fresca
para a senhora. Além do forte
calor do Rio de Janeiro, as
Uma senhora brasileira em seu lar pessoas abusavam de
comidas apimentadas e de
doces, o que dava muita sede.
Agora que você já conhece o trabalho de
Debret, deve ter percebido que ele era
muito observador e detalhista. Olhar suas Detalhe de Negra tatuada vendendo caju.
pinturas é como voltar no tempo e andar
pelas ruas do Brasil de antigamente.
Nessa época, a máquina fotográfica ainda
não tinha sido inventada. Por isso, se não
houvesse pintores como Debret, nunca
saberíamos como era a vida naquele
tempo.

Detalhe de cena de carnaval


Debret ficou quinze anos no Brasil,
trabalhando como pintor e professor
de arte. Além de andar pelo Rio de
Janeiro, viajou por outras regiões,
sempre interessado em registrar os
usos e costumes dos habitantes, os
lugares, as casas, as frutas...
Detalhes de vendedores de
capim e de leite.
Quando voltou para a França em 1831, levou com
ele, seu aluno Manuel Araújo, de Porto Alegre,
para que este se aperfeiçoasse na arte da pintura.
Na França, Debret escreveu e publicou um livro
sobre o Brasil, ilustrando-o com desenhos e
aquarelas. A esse livro deu o título de Viagem
pitoresca e histórica ao Brasil.

Frontíspicio da Iª edição do livro


Viagem pitoresca e histórica ao
Brasil, Paris, 1835.
Detalhes de lavadeiras à beira do rio.
Debret morreu em 1848, em Paris, com oitenta
anos de idade. Mas sua obra não foi esquecida e é
hoje uma valiosa fonte de informações para o
estudo da História do Brasil.
Debret provavelmente nunca pensou que se
tornaria famoso no Brasil. Tão famoso a ponto de
virar enredo de escola de samba no seu querido
Rio de Janeiro!

Detalhe de marimba
“ Que felicidade!
Eu vim da França convidado pelo rei
Eu trouxe a arte e me espantei maravilhado
Quando aqui um paraíso encantado
encontrei.
(...)
Todo o encanto em poesia
Traduzi nos meus painéis,
Pintei, bordei, aquarelei,
Coloquei amor nos meus pincéis.”

(José Antonio, Gonzaga e outros, G.R.E.S. Unidos Detalhe de Primeira manifestação da virtude guerreira.
do Viradouro. O rei e os três espantos de Debret.
1995.)

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