odo Maçom de cultura me-
TIradentes
diana vê com algum ceticismo,
a identidade Maçônica do al-
feres Joaquim José da Silva
Xavier,o Tiradentes.
Escritores Maçônicos cultos e respeita-
dos, escreveram verdadeiros tratados sobre a
natureza Maçônica da Inconfidência Mineira
e da Revolução Francesa. Entretanto, em-
bora existissem Maçons em ambos os movi-
mentos, ou que o alferes tenha sido Iniciado
em seus augustos mistérios.
Sobre a Conjuração Mineira, a literatura
Maçônica enfatiza que foram Iniciados na
europa apenas um grupo de estudantes bra-
sileiros que lá residiram e que aqui chega-
ram com ideais nacionalistas de libertação.
Dentre· eles, o mineiro J" Alvares Maciel,
Iniciado em Coimbra e os fluminenses D0-
mingos Vidal Barbosa, J" Mariano Leal e
Jmtqulm Josf da Mala, Iniciada! em Mont-
pellier na França.
Não consta que os demais tenham sido
Iniciados em alguma Loja regular, mesmo
porque, até o final do século XVIll, não
existia Loja Maçônica regular no Brasil. Res-
tava portanto, a hipótese de que o alferes fo-
ra Iniciado por comonlcaçAo, forma alterna-
tiva e emergencial de se ingressar nos misté-
rios da Ordem e que parece ter existido, se-
gundo alguns historiadores.
Todos nós sabemos que ao apagar das
luzes do século XVIII, mais precisamente
em 1796, o frade carmelita ArnIda Câmara
fundou em Pernambuco, na divisa com o Es-
tado da Paraíba, o famoso Areópago de
ltambé, cujas finalidades, até hoje um pouco
nebulosa, deu margem a muita especulação,
especialmente dentre os ufanistas escritores
Maçônicos brasileiros.
No ano seguinte, ainda no final daquele
século, consta que a 14 de julho de 1797,
aportou na praia da Barra em Salvador
(BA), uma fragata francesa de nome LA
PRENEUSE, cujo comandante (Mr. Lar-
cher), juntamente com um grupo de brasilei-
ros, fundaram a bordo a Loja Maçônica
CAVALEIROS DA LUZ. Portanto, tanto a
prisão (1789), como a execução de Tiraden-
tes (1792), são anteriores à fundação do
Areópago e da pretendida Loja da fragata
que consta da literatura Maçônica brasileira.
Os "Anais Maçônicos Fluminenses" re-
GEOGRAFIA DA MAÇONARIA, pro-
em Usboa
Irm .r Mário Name
•
loJ ••• " Pesquisa do G.O.B."
Or•.• Campinas - SP
gistram a primeira Loja Maçônica fundada
no Brasil na cidade do Rio de Janeiro no ano
de 1800, que recebeu o nome de LOJA
UNIÃO. Está Loja teve grande receptivida-
de, crescendo 1110 rapidamente que em pou-
co tempo passou a denominar-se LOJA
REUNIÃO, que trabalhava no Rito Adonhi-
ramita, tendo recebido Carta Constitutiva do
Círculo do Oriente da Ilha de França,
através de Mr. Laurent, também aportara
no Rio de Janeiro em 1808, com destino à
Ilha de Borbom.
Considerando a evolução histórica da
Maçonaria em nosso país, para aqueles que
defendem a "maçonidade" do Tiradentes,
restam apenas seu ingresso na Ordem por
Comunicação, processo que se pode consi-
derar irregular e pouco conhecido na litera-
tura brasileira e até mesmo de dicionaristas
nacionais e internacionais, cujo verbete sim-
plesmeente não existe, ou que o alferes ti-
vesse realmente viajado a Lisboa, tema que
pretendemos abordar ainda que sucintamen-
te.
Em 1990, no IV CONGRESSO IN-
TERNACIONAL DE HISTÓRIA E lano Mathias, confirmando petições do
movido pela Academia Brasileira Maçônica
de Letras, na cidade do Rio de Janeiro,
apresentamos uma tese calcada em pesqui-
sas realizadas pela professora, advogada e
historiadora de Campinas, lzolde Helena
Braox. Escritora e pesquisadora consagrada
nacionalmente, Izolde é formada em Artes
Plásticas pela Universidade do Rio Grande
do Sul; em Didática, pela Pontiffcia Univer-
sidade Católica de Porto Alegre; em Direito
pela Pontiffcia Universidade Católica de
Campinas; Bolsa de Estudos no Instituto
Státola D'Arte de Roma e I? lugar na
Amostra Internacional para Artistas Estran-
geiros Residentes na Itália, além de perten-
cer ao Instituto Histórico e Geográfico de
Minas Gerais.
Izolde escreveu seu primeiro livro numa
estafante pesquisa sobre o Aleijadinho, onde
se originou PROFETAS OU CONjURA- .
DOS?, obra conhecida nacionalmente com
edição completamente esgotada e que se re-
fere ao engajamento do Aleijadinho na In-
confidência Mineira. Atualmente Izolde vem
pesquisando a vida do alferes Joaquim José
da Silva Xavier e toda a evolução histórica
da Conjuração Mineira, recolhendo dados e
alfarrabios para documentar seu trabalho
que já dura mais de 20 anos ininterruptos.
Ainda recentemente esta pesquisadora foi
procurada para compor uma comissão pre-
sidida pelo Vice Presidente da república,
Itamar Franco, incumbida da programação
do Bicentenário da Execução de Tiradentes
a nível nacional.
Retornando ao escopo do nosso trabalho,
em matéria publicada no Instituto Histórico
e Geográfico do Rio de Janeiro, datada de
maio de 1968, o historiador brasileiro Her-
culano Gomes Mathias, em suas pesquisas
sobre a vida do alferes, teria descoberto dois
pedidos de licença formulados pelo Tiraden-
tes solicitando permissão para ir à corte a
fim de cuidar de seus problemas particula-
res.
Pouco tempo depois, mais precisamente
em 14-12-1968, Manoel Rodrigues Lapa,
grande historiador português radicado no
Brasil, publicava no Suplemente Literário
Histório de Minas Gerais, uma pesquisa rea-
lizada no Arquivo Histórico Ultramarino de
Portugal, conclusão semelhante á de Hercu-
então alferes Joaquim José da Silva Xavier
solicitando permissão para ir à corte resolver
problemas particulares.
De posse destes documentos e através
das análises de textos, Izolde relaciona vários
outros comprovantes obtidos no Arquivo
Ultramarino de Lisboa, outro publicado no
Arquivo Público de Minas Gerais, extrafdo
dos Arquivos do Distrito Federal, que se re-
ferem a um requerimento de Tiradentes
com despacho do Ouvidor Geral do Estado.
O 111 documento analisado, trata-se de
um requerimento onde Tiradentes se dirige
à D. Maria I, que comprova, simultanea-
mente, que a petição existiu; que Tiradentes
realmente era proprietário de um imóvel na
cidade de Lisboa (provavelmente herança
familiar) e que, segundo a analise do texto,
provavelmente Tiradentes já estava em Lis-
boa quando fez o requerimento, tratando
logo de justificar sua presença na corte.
Vejamos o texto do documento:
"Senhora:
Diz Joaquim José da Silva Xavier, Alferes
da Cava/mia de Minas Gerais, que, tendo al-
gumas dependências de sua casa nesta cidade
nas quais estão cada vez mais deteriorando-
se os seus bens por causa da falta de sua as-
sistência, precisa que V. Majestade conceda
licença por tempo de um ano para vir a esta
Corte, findo o qual se recolhe logo a conti-
nuar a exercer o real serviço; portanto; Pede a
V. Majestade seja servida facultar-lhe a licen-
ça por tempo de um ano, -graça esta que V.
Majestade tem concedido em iguais cir-
cunstãncias ".
(Publicado na 2! Edição dos Au-
tos(ADIM; Vol.8, fls.25 a 26) e em "Ti-
radentes através da Imagem", de Her-
culano Gomes Mathias).
A pesquisa realizada por Izolde, toda ela
pela chamada hipótese de trabalho, e calca-
da na análise de textos, são métodos cientffi-
cos reconhecidos e adotados internacional-
mente, dentre outras particularidades,
através das inferências idiomáticas e do pró-
prio conteúdo do texto.
O 211 documento, registrado no livro de
Provisões (ARU, fIs.14), trata-se do despa-
cho da rainha autorizaqdo a licença requeri-
da pelo alferes, onde Izolde, através da aná-
lise do texto tenta provar que, realmente, ao
requerer a referida licença, Tiradentes já se
encontrava em Lisboa:
Faço saber que aos que esta minha Pro-
visão vierem que por parte de Joaquim José
da Silva Xavier, Alferes da Cavalaria de Mi-
nas Gerais, se me apresentou que em razão de
ter algumas dependências de sua casa em esta
NO 66 - Abrll/92
cidade e se lhe estavam cada vez mais dete-
riorando os seus bens pela falta de assistência
não podendo dar o precioso remédio sem vir
a esta Corte, com licença minha me pediu
fosse servida. .. "
A redação deste texto, mostra uma carac-
terística nitidamente colonial. O primeiro
grifo, vertido para o português contemporã-
neo, pode ser lido como: ,u»RESENTOU-
SE-ME PORQUE, caracterizando que ele
(Tiradentes) se apresentou pessoalmente à
rainha para dar provimento a seu pedido.
O segundo grifo (estavam) com o verbo
no passado, significa (naturalmente) que não
estava mais, caso contrário seria ~ lhe
estão cada vez mais deteriorando". Final-
mente, o último trecho grifado: ••...com li-
cença minha me pediu •.." ratifica a interpre-
tação da presença física do alferes, pois ME
PEDIU só pode ser um pedido verbal, caso
contrário seria ME REQUISITOU.
Em seu trabalho de pesquisa, Izolde rela-
ciona vários outros documentos legítimos e
históricos registrados em Instituições idô-
neas do Brasil e de Portugal, o último deles
encontrado na Biblioteca Nacional do Rio
de Janeiro (Papéis Casa dos Contos-
11-31.31.8), que se refere a uma cópia da
sentença dos réus da Inconfidência, com o U-
lulo de Cópia do Tribunal, datada de 18 de
abril de 1792. Trata-se de um documento
com mais de 50 laudas (frente e verso), cos-
turada à maneira de um caderno (fIs.20), eu-
jas páginas finais estão escritas anotações
com várias caligrafias, identlficadas como
Rascunho da Defesa.
Deste documento existe uma anotação
feita pelo advogado de defesa dos réus (Dr.
José de Oliveira Fagundes), cujo texto pas-
samos a transcrever:
"Tiradentes, inimigo de Gonzaga; Auctor I
e cabeça, [allador e pobre, tudo confessou -
enthusiasta pela América Inglesa, chegara da I
Europa e ocupam-se de um trapiche em An- ,
daraiiy. " •
Este documento encontra-se à disposição
de qualquer pesquisador na Biblioteca Na-
cional do Rio de Janeiro.
Partindo-se, portanto, do pressuposto de
que Tiradentes realmente estivera na Euro-
pa dois anos antes de eclodir o movimento
revolucionário no Brasil, e, considerando
que desde 1785 já havia acontecido o Pacto
dos Doze, estudantes que, secretamente, ju-
raram, em Coimbra, obter a Independência
do Brasil Colônia, nada impediria que estes
estudantes providenciassem a Iniciação de
Tiradentes em Portugal.
É ponto pacífico dentre os intelectuais e
escritores Maçônicos brasileiros que José
Álvares Maciel, Joaquim José de Maia
e Domingos Vldal Barbosa, que eram consi-
derados intelectuais do movimento, eram
Maçons porque residiram em Portugal e na
França. Porque não aceitar a mesma hipóte-
se, já que Tiradentes estivera na Europa por
mais de um ano? Afinal, os historiadores
Maçônicos brasileiros sempre aceitaram e
defenderam como líquida e certa a identida-
de Maçônica destes três Inconfidentes; nun-
ca questionando onde, como ou por quem
foram Iniciados. Eram Maçons porque resi-
diram na Eutopa! Mutatis Mutandi, Tira-
dentes também esteve lá...,
Espera-se, naturalmente, que o Grande'
Oriente do Brasil e a Maçonaria brasileira, a
partir das pistas fornecidas por estes histo-
riadores profanos, continuem este trabalho,
pesquisando as Atas de Lojas que lá existiam
no perfodo pré-revolucionário brasileiro, es-
pecialmente nas cidades de Coimbra, Lisboa,
Nimes, Montpellier, Paris e Londres, por
onde transitaram os emissários da missão
VENDEK.