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A Natureza Missionária Da Igreja PDF
A Natureza Missionária Da Igreja PDF
23/10/2013
INTRODUÇÃO
substanciosa oferta que pulveriza pelos campos afora, e já é reconhecida como uma
igreja missionária.
Missões discutem o crescimento ideal da igreja em suas esferas mais amplas.
E quando falamos de crescimento o que não se pode perder de vista é que o
crescimento da igreja não é uma tarefa de merchandising. Não fazemos uma igreja
crescer ou ampliamos suas fronteiras como quem faz uma empresa de refrigerante
ser conhecida mundialmente. O crescimento da igreja também não pode ser
identificado na sua expectativa numérica tão somente. Os escritos paulinos deixam
muito claro o conteúdo do crescimento que devemos projetar. A busca é pelo
“aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de
Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho
de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef
4.12-13). Desta forma, Paulo entendia que o crescimento era obra exclusiva de Deus:
“eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus” (I Co 3.6). O crescimento
numérico é também para a Bíblia uma responsabilidade do próprio Deus: “louvando a
Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os
que iam sendo salvos” (At 2.47).
Ao pensar assim, alguns podem ser tentados a imaginar que não resta nada
que nós possamos fazer. No entanto, é puro engano. Está reservada à igreja uma
tarefa de suma importância. O crescimento proporcionado por Deus deve ser
entendido como graça concedida para que nossas ações sejam levadas a bom termo.
É bíblico o pensamento que “se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os
que a edificam” (Sl 127.1). Nesta porção visualizamos o perfeito ajuste entre a ação
humana e a divina. Quando observamos a atitude de Neemias frente aos seus
opositores mais uma vez observamos este ajuste: “Então lhes respondi: o Deus do
céu é que nos fará prosperar; e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos:
mas vós não tendes parte, nem direito, nem memorial em Jerusalém” (Ne 2.20).
A igreja precisa entender que ela se expande pela ação soberana de Deus,
apesar de ser sua a responsabilidade de empregar esforços para que isto aconteça.
Este trabalho buscará definir qual é a postura ideal para que a igreja responda à sua
responsabilidade com coerência bíblica.
1. DEFININDO A MISSÃO
3
1
STOTT, J. R. W. A base bíblica da evangelização. In: STEUERNAGEL, V. (org.) A serviço do reino. Belo Horizonte:
Missão Editora, 1992, p. 57.
2
Ibid, p. 58.
4
direção ao coração do homem. Mover este que foi comunicado à igreja por meio da
vida de nosso Senhor Jesus Cristo que retrata toda a natureza da missão em sua
oração sacerdotal e intercessora: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu
os enviei ao mundo” (João 17.18). E mais tarde, após sua morte e ressurreição, ele
mesmo transforma a oração em mandamento missionário: “Assim como o Pai me
enviou, eu também vos envio” (João 20.21). Expressando seu amor na forma de
serviço, Jesus nos oferece o modelo perfeito e envia sua igreja ao mundo para que
seja uma igreja serva.
2.1. A CRIAÇÃO
3
VAN GRONINGEN, Gerard. Criação e Consumação – vol. 1. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p.28.
5
deveria ser exercida no andar com Deus diariamente, conversar intimamente com Ele
e expressar amor, honra, devoção e louvor enquanto se fosse enfrentando os desafios
e privilégios de cada dia”4. Este mandato foi simbolizado pelo sábado. O que era o
sábado? Simplesmente o tempo, na história do homem, em que Deus e a humanidade
“não iriam dirigir a atenção para os desafios do cosmos, e sim, cada um para o
outro”5.
2.2. A QUEDA
4
Ibid., p.92.
5
Ibid., p.91.
6
2.2.1. O DILÚVIO
2.2.2. BABEL
Gerações posteriores mais uma vez demonstram o que significa estar distante
de Deus. O homem continua sua jornada de trevas e desejos carnais. Numa tentativa
desenfreada de atingir os céus, edificam uma torre que simboliza toda a sua
corrupção, arrogância e alienação. Queriam chegar à morada celestial e serem
célebres na criação. Outra vez, o julgamento de Deus entra em ação e Deus se move
em direção ao coração do homem. A humanidade é espalhada sobre a face da terra
em alienação mútua.
2.3. A REDENÇÃO
nações. Johannes Blauw observa: “(...) a história de Israel nada mais é do que a
continuação do trato de Deus com as nações (...), portanto, a história de Israel só
pode ser entendida na perspectiva do problema não resolvido da relação de Deus
com as nações”6. Aqui se dá o início da história da redenção.
Quem era a nação de Israel no contexto das nações que acabavam de ser
criadas? Israel foi um dos primeiros povos a reconhecerem que era apenas uma
nação na história. Enquanto impérios como Egito, Babilônia, Pérsia e outros,
pensavam sobre si como o universo, Israel se encontrou como apenas mais uma
nação. Deus se move em direção ao coração do homem do ponto de vista do
oprimido. Deus não faz aliança com o opressor. Deus socorre ao que clama. Aquele
que faz parte do todo sofredor.
O desenvolvimento do relacionamento de Deus com seu povo se deu na
caminhada e todos os picos da revelação divina foram adendos na jornada. Ninguém
foi chamado para fundar uma religião. Criar um compêndio teológico ou coisa
parecida. Deus desafiou seu povo a caminhar. E enquanto caminhava, Deus se
revelou a ele. Deus deu terra para o povo trabalhar, e enquanto trabalhava, Deus se
relacionou com ele e continuou a se revelar. Deus deu guerra para o seu povo
guerrear, e enquanto lutava, Deus o livrou e se revelou a ele. Deus se revelou no
caminho.
6
BLAUW, Johannes. A natureza missionária da igreja. São Paulo: ASTE, 1966, p. 19.
8
7
ARANA, Pedro. Bases bíblicas da missão integral da igreja. In: STEUERNAGEL, V. (org.) A serviço do reino. Belo
Horizonte: Missão Editora, 1992, p. 84.
8
BOSCH, David J. Missão Transformadora – mudanças de paradigma na teologia da missão. São Leopoldo/RS:
Sinodal, 2002, p. 48.
9
casamento. O mundo dos homens, mas também mundo de Deus, das Escrituras
Sagradas. O mundo do pecado e mundo da salvação.
A igreja não pode ser orientada a se envolver com este mundo. Ela já faz parte
dele. É o seu mundo. É a sua casa. É a sua vida. A igreja tão somente precisa optar
como quer se mover neste mundo que é seu. Ela pode estar sendo conduzida por ele.
Ou ser agente condutor dele. Ela pode se deixar moldar pelo mundo. Ou pode optar
por moldar o mundo.
Movendo-se no mundo a igreja é chamada para uma vocação sobremaneira
excelente “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis como é digno da
vocação com que fostes chamados” (Ef 4.1). Seu chamado é primariamente para
apresentar-se diante de Deus na comunhão dos santos. Desta forma, “as missões não
representam o alvo fundamental da igreja, a adoração sim. As missões existem
porque não há adoração, ela sim é fundamental”9.
A igreja não poderá optar por moldar o mundo se não compreende como Deus
se relaciona com este mundo que é d’Ele, mas que distante d’Ele está.
9
PIPER, John. Alegrem-se os povos: a supremacia de Deus em missões. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001,
p.13.
10
STOTT, op. cit., p. 57.
10
Uma ação missionária que não tenha como ponto de partida o próprio Deus
não é bíblica em sua motivação e carece de autenticidade. O problema da motivação
da ação missionária desencadeia outra questão tão importante quanto. Mesmo
partindo da motivação errada, Hesselgrave aponta, com muita propriedade, uma
questão que atinge a própria natureza da missão. Ele estava preocupado em pontuar
as lacunas observadas no movimento missionário do século XIX que evidenciava o
fato de que os missionários nem sempre tinham muita clareza em seus objetivos. Eles
se ocupavam de tarefas variadas como abrir escolas, fundar hospitais ou desencadear
movimentos de defesa da vida, combatendo práticas estranhas à Palavra de Deus.
Não restam dúvidas de que estas tarefas são louváveis e, até certo ponto,
necessárias. No entanto, sua intensificação tende a levar o missionário a perder de
vista o objetivo básico de uma ação missionária motivada pela supremacia do Deus
Todo-Poderoso: a evangelização dos perdidos com consequente plantação de igrejas
11
HESSELGRAVE, D. J. Plantar igrejas – um guia para missões nacionais e transculturais. São Paulo: Edições Vida
Nova, 2ª Edição, 1995, p. 13-14.
12
PIPER, op. cit., p. 14.
11
adoradoras.
13
HESSELGRAVE, op. cit., p.21.
14
PIPER, op. cit., p. 13.
12
Mas isto só acontecerá quando a igreja estiver vivendo com um coração inteiro na
presença do Senhor, buscando a sua glória somente.
O zelo da igreja pela glória do seu Rei não vai aumentar até que os pastores,
líderes de missões e professores de seminário façam muito mais pelo Rei.
Quando a glória do próprio Deus satura nossas pregações, ensinamentos,
palestras e literatura e quando ele predomina sobre nossa discussão de
métodos e estratégias, palavras psicológicas furtivas e tendências culturais,
então o povo pode começar a sentir que ele é a realidade central de suas
vidas e que a expansão da sua glória é mais importante do que suas posses
15
materiais e todos os seus planos.
15
Ibid., p. 41.
16
STOTT, op. cit., p. 62.
17
PACTO DE LAUSANNE, tópico 04, A natureza da evangelização, 1974.
13
Não evangeliza apenas quem conduz muitas pessoas aos pés de Jesus
através do batismo e arrolamento no rol de membros de alguma igreja. Evangelizar é
anunciar as boas novas de Jesus de tal forma que o interesse não esteja centralizado
em apresentar os ensinamentos ou exemplos de Jesus em sua caminhada, mas,
sobretudo, “apresentar a Jesus Cristo em pessoa, o Salvador que vive e o Senhor que
reina”18. Ainda que o evangelista esteja esperando uma resposta daquele a quem ele
anunciou a pessoa de Cristo, a resposta não tem o fim de caracterizar o seu ato. Uma
resposta negativa do ouvinte, ou mesmo o silêncio deste, não implica em negação da
evangelização. “A evangelização é obra humana, mas a fé é dom de Deus. É verdade
que, de fato, o alvo de cada evangelista é converter”19, no entanto, “a questão se
alguém está evangelizando ou não, não pode ser resolvida apenas perguntando se a
pessoa obteve conversões ou não”20. Não se pode perder de vistas o ensino bíblico
de que os frutos do trabalho da igreja em pregar não dependem dos desejos e
intenções do homem que abre o coração, mas da vontade soberana de Deus.
18
PACKER, J.I. A evangelização e a soberania de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 34.
19
Ibid., p. 36.
20
Idem.
14
Seguindo o modelo de Jesus, a igreja precisa ser uma igreja serva que leva o
mover de Deus ao coração do homem como seu próprio mover. Entendendo que sua
tarefa primordial é a evangelização dos povos e a consequente plantação de novas
igrejas, o povo de Deus precisa se envolver nesta ação com a postura de quem busca
restaurar os mandatos pactuais perdidos na queda. Não se pode fazer isto apenas
com o discurso. Neste ponto é que a igreja precisa estar preparada para colocar a
“mão no arado” propondo uma transformação social a partir de uma militância
concreta. Pedro Arana expressa isto da seguinte forma:
A igreja, assim como o Senhor Jesus, deve ser uma igreja do caminho e não
do balcão. Ela não pode permanecer como espectadora da história: tem de
descer para onde se travam as lutas reais dos homens. Ali se encontram as
necessidades, que são o chamado premente da Igreja para que possa
22
cumprir sua missão.
Neste aspecto a missão pode ser chamada de integral. A igreja tem a tarefa de
dar continuidade ao vínculo de amor e vida entre Deus e o homem, se movendo no
seu mundo e vivendo o mundo de Deus, levando o próprio Deus consigo na
caminhada.
Ao exercer sua missão a igreja também precisa ter uma postura kerigmática.
Qual a diferença entre postura “evangelizadora” e postura “kerigmática”? Neste ponto
voltamos à discussão anterior, no entanto, colocando cada assunto em seu devido
lugar. Quando uma igreja está evangelizando ela tem o objetivo específico de
anunciar as boas novas ao pecador que não consegue visualizar a solução que Deus
proveu na cruz. No entanto, esta não é uma postura única para a igreja. Os pecadores
são “sofredores” que carecem da graça de Deus, mas também são ímpios que estão
debaixo do juízo de Deus. Uma igreja é “kerigmática” quando ela se torna um arauto
21
Ibid., p. 37.
22
ARANA, op. cit., p. 86.
15
da justiça e da integridade. Esta postura conduz a igreja a ser luzeiro e sal do mundo.
Levando-a além de suas próprias fronteiras para atingir ao mundo com seu amor e
abnegação. E como fará isto? Propondo-se a estender a mão como serva. Quando se
fala de kerigmático espera-se uma igreja agressiva, de discurso duro e implacável.
Mas quando isto é somado à militância do caminho, esta igreja se apresentará como
serva.
Cristo nos envia ao mundo para sermos servos. Antes de cumprir qualquer
tarefa, Jesus viveu entre os homens por quem ele deveria morrer. Antes de Cristo
chegar à cruz ele já tinha chegado na vida do homem. Sua tarefa não estava centrada
nas coisas. Ele tinha bem definido o que queria: simplesmente servir. Fundindo a ideia
do “Filho do Homem” de Daniel com o “servo sofredor” de Isaías, Jesus abre os
horizontes para um conceito até então impensado: “pois o Filho do Homem não veio
para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc.10:45).
Assim, nossa missão passa pelo mesmo crivo. Ele mesmo afirmou: “assim como o Pai
me enviou, eu também vos envio” (Jo.20:21). Nossa missão, como a d’Ele, deve ser
uma missão apontada para o serviço. Somos chamados e enviados para servir
aqueles que perecem sem a salvação.
Mas a igreja não foi chamada para as suas fronteiras. Ela também é guardiã da
moral e da justiça. Se a igreja se calar, o mundo não verá a luz. As instituições
humanas continuarão caminhando contaminadas com o pecado. A igreja precisa alçar
sua voz e condenar, como profeta que é, as ações de exploração e degradação da
sociedade em que está inserida. Isto também faz parte da missão da igreja.
Por fim, não pode haver missões sem que a igreja experimente o puro amor do
Senhor em seu coração. Um amor que ultrapassa a barreira da individualidade e
atinge o interesse do outro. Mas a verdadeira comunhão espiritual que a igreja precisa
experimentar vem do amor da igreja ao Senhor acima de todas as coisas. Só se
aprende a amar o reino de Deus e aos que militam conosco na caminhada se
amamos ao Senhor de fato. Sem amar a Jesus, uma igreja não pode demonstrar
amor internamente, nem mesmo pelos perdidos que vagam pelo mundo.
Toda postura de comunhão na igreja, só é comunhão espiritual se brotar da
comunhão que a igreja tem com Cristo. Ou seja, se somos irmãos o somos por
estarmos ligados por laços eternos de amor divino. Sem o amor de Deus não há
comunhão.
Uma igreja que não tem comunhão não pode realizar sua tarefa missionária.
Uma igreja não se constitui de um grupo reunido com propósitos bem definidos. Tão
pouco a tarefa missionária fará um grupo se tornar igreja. É o Espírito Santo quem liga
cada crente a Cristo por meio da Palavra da Cruz e faz, assim, a igreja ser igreja.
Somente nesta condição a tarefa missionária não será vazia e desprovida de
significado.
A igreja antecede à própria tarefa missionária. Toda ação evangelizadora é em
torno da igreja e em função desta. O objetivo trazer mais pessoas para o grupo de
adoradores. Como uma igreja poderá fazer isto dividida entre si? Não haverá exercício
da missão sem comunhão.
CONCLUSÃO
A igreja tem uma missão que recebera do próprio Deus que envia o seu povo
com base em sua própria missão. Deus se move em direção ao coração homem e
convoca a igreja para conduzir este mover. Isto só acontecerá de forma consistente e
bíblica quando a igreja estiver prostrada diante de Deus em adoração. A paixão por
Jesus deve motivar toda e qualquer ação em direção ao pecador. Sem considerar a
supremacia de Deus nas ações da igreja não se pode agir em nome de Deus. A
adoração a Deus é a motivação e o alvo da missão da igreja. Ela existe porque não há
adoradores.
17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS