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da língua de sinais
Resumo
Abstract
The present paper develops two aspects: literacy and sign language teaching in Deaf
:' ildren educational processo Literacy in signs and sign writing are forms to guarantee writing
znd reading acquisition by Deaf children and sign language ieaching in a conscious form is a
ay to provide the refinement of such acquisition processes. Moreover to preseni an analysis
.' each topic, this paper lists some linguistic aspects and activities that should be considered in
:his educational coniexi.
Key words: Literacy in signs; Sign writing; Sign language teaching
Ronice Müller de Quadros é Intérprete da lingua de sinais brasileira, pedagoga, mestre e doutora em letras (concentração em lingüística aplicada).
Professora no Departamento de Letras da Universidade Luterana do Brasil. Pesquisadora da lingua de sinais brasileira na Universihj of Conneaicut-
Huskies Laboralories - e Universidade Federal do Rio Grande do Sul- Núcleo de Pesquisas em Políticas Educacionais para Surdos. Endereço eletrônico:
roruce@cpovo.net
J 54 Textura
de sinais expressando fato relacionados com o como o uso do espaço para expressar relações
interesse imediato, com o aqui" e o" agora". As
11 entre os argumentos, ou seja, as crianças ex-
crianças nesta fase começam a marcar enten- ploram os movimentos incorporados aos sinais
ças interrogativas com expressões faciais con- de forma estruturada. A partir desse período,
comitantes com o uso de ite exicais para elas começam a combinar unidades de signifi-
expressar sentenças interrogati 'as QCE\.1, O cado menores para formar novas palavras de
QUE e ONDE). Nesse período, tarnbé é veri- forma consistente. Nesse período, começam a
ficado o início do uso da negação ão manual ser observadas a produção de sentenças mais
através do movimento da cabeça ara negar, complexas incluindo topicalizações. As ex-
bem como o uso de marcação nã manual para pressões faciais são usadas de acordo com a
confirmar expressões comuns a pr ção do estrutura produzida, isto é, as produções não
adulto. Também observa- e q e as - ças co- manuais das interrogativas, das topicalizações
meçam a introduzir classifica oresr 0_ eus e negações são produzidas corretamente. As
vocabulários." crianças ainda não conseguem conservar os
Por volta dos 3 anos de i pontos estabelecidos no espaço quando con-
ças tentam usar configuraçõe tam suas estórias, apesar de já serem observa-
xas para a produção de sinais, a i: das algumas tentativas com sucesso. Aos pou-
mente tais tentativas acabam e cos, torna-se mais claro o uso da direção dos
através de configurações de âos olhos para concordância com os argumentos,
ples (processos de substituição). O en- bem como o jogo de papéis desempenhado
tos característicos dos sinais co en- através da posição do corpo explorados para o
do simplificados, embora já e o __erve o 50 relato de estórias.
da direção dos movimentos co ê - e a verdade, em análises da produção das
guns contextos. Classificadore sã - crianças adquirindo ASL e LSB observei que a
para expressar formas de objetos, - direção dos olhos é usada consistentemente por
movimento e trajetórias percorri volta dos 2 anos de idade. O uso da concordân-
objetos. Aspecto começa a er ,rr,,...,...n lT· cia verbal através do olhar é uma das informa-
aos sinais para expressar difere ça: e •.... e ções que garante a compreensão do discurso da
ações (por exemplo, CORRER de -a a: CO - criança durante este período tão precoce".
RER rápido). A criança começa a es e
marcas de negação sobre senten as assí
como os adultos fazem, inclusive o oo
item lexical de negação. As criança , também
Instrumentos do processo
já utilizam estruturas interroga ti -a- e razão
de alfabetização
(POR QUE). Nesse período, as c - ç co-
meçam a contar estórias que não nece aria- Considerando essa evolução, o processo
mente estejam relacionadas ao fatos ío con- de alfabetização se inicia naturalmente. Duas
texto imediato. Elas falam de algum 'ato or- chaves preciosas desse processo são o relato de
rido em casa, sobre o bichinho de e . ação, estórias e a produção de literatura infantil em
sobre o brinquedo que ganhou, ete. . .o en- sinais". O relato de estórias inclui a produção
tanto, as vezes não fica claro o estabelecimen- espontânea das crianças e do professor, bem
to dos referentes no espaço, o que dificulta o como a produção de estórias existentes; por-
entendimento das estórias. tanto, de literatura infantil.
Por volta dos 4 anos de idade, as crian- A comunidade surda tem como caracte-
ças já apresentam condições de produzir con-
figurações de mãos bem mais complexas, bem
6 Lillo-Martin, Mathur e Quadros (em elaboração) verificaram que crian-
ças surdas adquirindo língua de sinais marúfestam o uso de concordância
verbal muito mais cedo do que havia sido reportado até o presente.
Y' Classificadores" são sinais que u Iilizam um conjunto espeóIico de con- 'Parto do pressuposto que as crianças estejam tendo acesso a língua de
figurações de mãos para representar objetos inrorporando ações. 1àis das- sinais brasileira e, em hipótese nenhuma a qualquer coisa que "tente"
sificadores são gerais e independem dos sinais que identificam tais obje- substituir a relação de comunicação sem estrutura lingüística (neste sen-
tos. É um recurso bastante produtivo que faz parte das línguas de sinais Para tido me refiro a sistemas de comunicação artificiais, português sinaliza-
a descrição de alguns classificadores na LSB ver Ferreira-Brito (1995). do, ou qualquer outra coisa que não seja a LSB).
Textura 55 J
rística a produção de estórias espontâneas, de • estabelecimento do olhar;
contos e de piadas que passam de geração em • exploração das configurações de mãos;
geração relatadas por contadores de estórias • exploração dos movimentos dos sinais
em encontros informais, normalmente em as- (movimentos internos e externos, ou seja, mo-
sociações de surdos. Infelizmente, nunca hou- vimentos do próprio sinal e movimentos de re-
ve preocupação de registrar tais produções. lações gramaticais no espaço);
Pensando na alfabetização, tal material é fun- • utilização de sinais com uma mão, duas
damental para esse processo se estabelecer. A mãos com movimentos simétricos, duas mãos
produção de contadores de estórias, de estóri- com movimentos não simétricos, duas mãos
as espontâneas e de contos que passam de ge- com diferentes configurações de mãos;
ração em geração são exemplos de literatura • uso de expressões não manuais grama-
em sinais que precisam fazer parte do proces- ticalizadas (interrogativas, topicalização, foco
so de alfabetização de crianças surdas. A pro- e negação);
dução em sinais artística não obteve a atenção • exploração das diferentes funções do
merecida nas escolas de surdos, uma vez que a apontar;
própria língua de sinais não é a língua usada • utilização de classificadores com con-
nas salas de aulas pelos professores. Desta for- figurações de mãos apropriadas (incluem to-
ma, estamos reproduzindo iletrados em sinais. das as relações descritivas e preposicionais es-
A LSB é "a" língua e merece receber o trata- tabelecidas através de classificadores, bem
mento de ser" a" língua. Sendo assim, recupe- como, as formas de objetos, pessoas e ações e
rar a produção literária da comunidade surda relações entre eles, tais como, ao lado de, em
é urgente para tornar eficaz o processo de alfa- cima de, contra, em baixo de, em, dentro de,
betização. Literatura em sinais é essencial para fora de, atras de, em frente de, etc.);
tal processo. Os bancos escolares devem se • exploração das mudanças de perspec-
preocupar com tal produção, bem como in- tivas na produção de sinais;
°
centivar seu desenvolvimento e registro. que • exploração do alfabeto manual;
os alunos produzem hoje espontaneamente, • estabelecimento de relações temporais
pode se transformar em fonte de inspiração através de marcação de tempo e de advérbios
literária dos alunos de amanhã. temporais (futuro, passado, presente, ontem,
A LSBé uma língua espacial-visual e exis- semana passada, mês passado, ano passado,
tem muitas formas criativas de explorá-Ia. Con- antes, hoje, agora, depois, amanhã, na semana
figurações de mão, movimentos, expressões que vem, no próximo mês, etc.);
faciais gramaticais, localizações, movimentos do • exploração da orientação da mão;
corpo, espaço de sinalização, classificadores são • especificação do tipo de ação, duração,
alguns dos recursos discursivos que tal língua intensidade e repetição (adjetivação, aspecto e
oferece para serem explorados durante o de- marcação de plural);
senvolvimento da criança surda e que devem ser • jogos de perguntas e respostas obser-
explorados para um processo de alfabetização vando o uso dos itens lexicais e expressões não
com êxito. manuais correspondentes;
Algumas investigações realizadas em es- • utilização de "feedback" (sinais manu-
colas bilíngües americanas têm evidenciado a ais e não-manuais específicos de confirmação
importância de explorar tais aspectos observan- e negação, tais como, o sinal CERTO-CERTO,
do o nível de desenvolvimento da criança. Os o sinal NÃO, os movimentos de cabeça afir-
relatos de estórias e a produção literária, bem mando ou negando);
como a interação espontânea da criança com • exploração de relações gramaticais mais
outras crianças e adultos através da LSB de- complexas (relações de comparação, tais como,
vem incluir os aspectos que fazem parte desse isto e aquilo, isto ou aquilo, este melhor do
sistema lingüístico. A seguir eu listo alguns que aquele, aquele melhor do que este, este
dos aspectos que precisam ser explorados no igual àquele, este com aquele; relações de con-
processo educacional: dição, tais como, se isto então aquilo; relações
, 56 Textura
de simultaneidade, por exemplo, enquanto isto na língua; as configurações de mãos do alfabe-
acontece, aquilo está acontecendo; relações de to; as configurações de mãos dos números;
subordinação, como por exemp o, aquele que • produção de estórias na primeira pessoa;
tem isso, está fazendo aquilo; • produção de estórias sobre pessoas
• estabelecimento de refere e presen- surdas;
tes e não presentes no discurso, em como, o • produção de estórias sobre pessoas
uso de pronominais para retomada e tais refe- ouvintes.
rentes de forma consistente; O processo de alfabetização continua
• exploração da prod ção ar ' tica em através do registro das produções das crian-
sinais usando todos os rec r-os . táticos, ças. Surge, então, outra questão: quais são as
morfológicos, fonológicos e e co pró- formas de registro? As formas de registros ini-
prios da LSB. ciais são essencialmente visuais e precisam re-
A proposta é de tornar- fletir a complexidade da LSB. Explorar a pro-
exploração de tais aspecto aL B dução de vídeos de produções literárias de
bilitam tal língua ser um . adultos, bem como das próprias produções das
complexo. As crianças pre . am do . ar-tais crianças, é uma das formas mais eficientes de
aspectos para explorar toda a ca aci a e cri- garantir um registro da produção em sinais
ativa que pode ser expres a a a é e uma com qualidade. A filmagem de adultos produ-
língua possibilitando o amadurecim zindo estórias, bem como dos próprios alunos,
suas capacidades lógica e cOo são instrumentos valiosos no processo de re-
da língua, as crianças discute e _0- flexão sobre a língua, além, é claro, de serem
bre o mundo. Elas estabelecem e a - - e 0-- instrumentos que as crianças curtem com pra-
ganizam o pensamento. As estó . - e a" era- zer. o entanto, uma forma escrita da língua
tura são meios de explorar tais as se o - de sinais torna-se emergente para a continui-
nar acessível à criança todo o dade do processo de alfabetização. O sistema
síveis de serem explorados. de escrita de sinais expressa as configurações
As relações cognitivas ue o de mãos, os movimentos, as direções, a orien-
mentais para o desenvolvimen o es o - es o tação das mãos, as expressões faciais associa-
diretamente relacionadas à capa . a e das aos sinais, e as relações gramaticais que
ança em organizar suas idéia e pen ão impossíveis de serem captadas através de
através de urna língua na interação co 0- istemas de escrita alfabéticos. Aquele sistema
mais colegas e adultos. O processo e a.Jab tende a sistematizar a língua de sinais, assim
zação vai sendo delineado com base - o- como qualquer outro sistema de escrita, o que
erta da própria língua e nas relações es e- faz parte do processo.
cidas através da língua. O sistema de escrita de sinais é uma porta
A riqueza de informação e to a- que se abre no processo de alfabetização de cri-
mental. A interação comunicativa passa a a e- anças surdas que dominam a língua de sinais
sentar qualidade e quantidade viabilizan o um utilizada no país. Esse sistema envolve a com-
processo educacional rico e comp exo. A alfa- posição das unidades mínimas de significado
- etização passa, então, a ter valor real para a da língua compondo estruturas em forma de
criança. texto. A seguir apresento um exemplo em que
Algumas formas de produção artis .cas em está registrado uma relação de significação es-
.•.
5B que podem ser incentivada para a utiliza- tabelecida utilizando vários recursos da língua
ão de todos os recursos lingüístico ão: de sinais brasileira" :
• produção de estórias utilizando confi-
gurações de mãos específicas, por exemplo, as
onfigurações de mãos mais comuns utilizadas 'Essa sentença faz parte dos dados analisados por Quadros (1999).
Textura 57 J
_____ eg eg hn
IX<o> JOHNa IX<a> MARYb aAUXb GOSTAR
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I
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o John gosta da Mary.
Nesta sentença, têm-se a marcação não o processo se constitua. Obviamente que esse
manual, o estabelecimento do referente JOHN processo de leitura deve fazer parte de objeti-
à esquerda do sinalizador, o estabelecimento do vos pedagógicos claros no desenvolvimento das
referente MARY à direita do sinalizador, o uso atividades. Eu menciono alguns dos objetivos
de um auxiliar que estabelece a relação grama- a serem trabalhados pelo professor (em sinais):
tical entre JOHN, o sujeito dessa frase, com • desenvolver o uso de estratégias especí-
MARY,o objeto, enfatizado através da direção ficas para resolução de problemas;
do olhar e o verbo GOSTAR. Obviamente que • exercitar o uso de jogos de inferência;
este exemplo não é simples, minha intenção foi • trabalhar com associações;
apresentar um exemplo complexo para demons- • desenvolver as habilidades de discri-
trar a possibilidade de registrar aspectos espe- minação visual;
cíficos da língua através do sistema de escrita • explorar a comunicação espontânea;
de sinais". • ampliar constantemente o vocabulário;
A criança surda que está passando por um • oferecer constantemente literatura im-
processo de alfabetização imersa nas relações pressa na escrita em sinais;
cognitivas estabelecidas através da língua de • proporcionar atividades para envolver
sinais para organização do pensamento, natu- a criança no processo de alfabetização como
ralmente passa a registrar as relações de signifi- autora do próprio processo.
cação que estabelece com O mundo. Diante da Particularmente, considero que a litera-
experiência com O sistema de escrita que se re- tura impressa em sinais seja um dos pontos
laciona com a língua em uso, a criança passa a críticos do processo de alfabetização, uma vez
criar hipóteses e a se alfabetizar. "Experiência" que a literatura está impressa em português e
com o sistema de escrita significa ler essa escri- não dispomos de literatura escrita em sinais.
ta. Leitura é uma das chaves do processo de Mesmo as crianças que têm acesso à LSB pre-
alfabetização. Ler sinais é fundamental para que cocemente apresentam alguns problemas no
processo de alfabetização com as letras e pala-
vras do português. A escrita alfabética não cap-
"Maisinformações sobre tal sistema de escrita podem ser obtidas através
ta as relações de significação da língua de si-
do site do Sign Writingwww.signwriting.com ,bem como em Quadros
(1997b). nais, tornando bastante complicado o registro
, 58 Textura
dos pensamentos e significados da criança de sociocultural das relações que as crianças esta-
forma completa. A criança estabelece relações belecem.
om as letras e palavras do português e, a par- Manter uma videoteca é essencial, pois é
tir daí, há uma interrupção do processo, pois um recurso de reflexão sobre a língua viva que
al sistema escrito não consegue expressar a pode ser usado constantemente no processo
língua que a criança organiza o pensamento, a de alfabetização como instrumento lúdico e
língua de sinais" . didático.
Gostaria de explorar um pouco mais a
questão da interação comunicativa antes de
entrar mais precisamente na relação que a cri-
ança estabelece entre o mundo que ela signi-
ca e as formas de registro. As oportunidades o ENSINO DA LíNGUA
ue as crianças têm de expressar suas idéias, DE SINAIS
ensamentos e hipóteses sobre suas experi-
ências com o mundo são fundamentais para o
rocesso de aquisição da leitura e escrita. Pen- Eu gostaria de explorar mais, a partir des-
sando no contexto das crianças surdas, os pro- te ponto, o processo mais consciente da aqui-
íessores deveriam ser excelentes na língua de sição da leitura e escrita, isto é, a etapa mais
sinais, além, é claro, de terem habilidade de "metalinguística" desse processo. Falar sobre
explorar a capacidade das crianças em relatar a língua através da própria língua passa a ter
suas experiências. Esse é um dos métodos mais uma representação social e cultural para a cri-
efetivos para o desenvolvimento da con ci- ança fundamental no processo educacional'! .
ência sobre a língua. Por exemplo, as crianças Portanto, vamos conversar sobre "aprender
ão precisam dizer que uma sentença com sobre a LSB" usando e registrando as desco-
uma oração subordinada é uma entença com- bertas através desta língua.
lexa de tal ou tal tipo, mas elas precisam ter Aprender sobre a língua é uma conse-
milhares de oportunidades de u ar tais sen- qüência natural do processo de alfabetização.Os
tenças, pois esse uso servirá de base para o alunos passam a refletir sobre a língua, uma vez
reconhecimento da sua leitura e produção que textos podem expressar melhor ou pior a
escrita com significado. São a oportunida- mesma informação. Ler e escrever são processos
des intensas de expressão que sustentam o complexos que envolvem uma série de tipos de
conhecimento gramatical da língua que dará competências e experiências de vida que as cri-
suporte para o processo da escrita, em e ped- anças trazem. As competências gramatical e co-
al, da alfabetização na segunda língua, o por- municativa das crianças são elementos funda-
tuguês, considerando o contexto e colar da mentais para o desenvolvimento de tais proces-
criança surda. sos. Ler e escrever são atividades que decorrem
Quando a criança já registra suas idéias, de experiências interativas reais que as crianças
estórias e reflexões através de textos e critos, experienciarn. Proporcionar diferentes e criati-
suas produções servem de base para reflexão vas formas de interações sustentarão o processo
sobre as descobertas do mundo e da própria de aquisição do código escrito em forma de tex-
língua. O professor precisa explorar ao máxi- to. Quando o leitor é capaz de "reconhecer" os
mo tais descobertas como instrumento de inte- níveis de interações comunicativas reais, ele pas-
rações sociais e culturais entre colegas, turmas sa a ter habilidades de transpor este conheci-
e outras pessoas envolvidas com a criança. Tais mento para a escrita. O objetivo é falar sobre tais
produções precisam apresentar significado interações de forma consciente e esse exercício
precisa acontecer em sinais. As crianças preci-
sam internalizar os processos de interação entre
"'Eu não estou advogando que a criança não deva ser exposta à escrita
alfabética. Na verdade, considero importantíssimoaaiança surda interagir
com a escrita alfabética para o seu processo de alfabetização em português 11 Eu não vou abordar no presente artigo a aquisição do português, mas
acontecer de forma efidente. No entanto, para que Ia! processo ocorra, será gostaria de registrar que o desenvolvimento mais metalingüistico do
fundamenla! que a criança seja alfabetizada na sua própria língua, ponto processo de alfabetização em sinais servirá de base sólida para o processo
que estou enfatizando no presente artigo. de alfabetização na segunda língua, neste caso, o português.
Textura 59 ,
quem escreve e lê para atribuir o verdadeiro sig- alfabetização de forma espontânea e voltam a
nificado à escrita. ser exploradas de forma mais reflexiva. O ensi-
Falar sobre os processos de interações no da língua de sinais é um processo de refle-
comunicativas e sobre a língua de sinais são xão sobre a própria a língua que sustenta a pas-
formas de desenvolver a conscientização do sagem do processo de leitura e escrita elemen-
valor da língua e sua complexidade. Esse exer- tar para um processo mais consciente. Quando
cício apresenta valor inquestionável para a a criança lida de forma mais consciente com a
sustentação do processo de aquisição da escri- escrita, ela passa a ter poder sobre ela desenvol-
ta em sinais, bem como para o desenvolvimen- vendo; portanto, competência crítica sobre o
to da leitura e escrita do português como se- processo. A criança passa a construir e reconhe-
gunda língua. cer o seu próprio processo, bem como, refletir
Os textos produzidos pelos alunos em sobre o processo do outro.
sinais e literatura geral em sinais são fontes
essenciais para o desenvolvimento desse pro-
cesso. Essas produções podem ser arquivadas
através de uma videoteca, pois tal recurso é
fundamental para avaliação das produções de REFLEXÃO FINAL
outras pessoas, bem como das próprias produ-
ções. Esse processo de avaliação deve ser inte-
racional, constante e criativo. Gostaria de listar alguns problemas emer-
Como os alunos expressam o reconheci- gentes na educação de surdos que contribuem
mento do valor da própria língua no processo para um processo de des-educação/des-alfabe-
de aprendizagem? A base da expressão dos alu- iização dos alunos surdos:
nos se constitue na medida em que eles pas- • inexistência de profissionais surdos
sam a ser autores do processo. Algumas suges- atuando nas escolas;
tões são apresentadas a seguir: • professores que desconhecem a LSB
• apreciar a LSB enquanto língua espa- ou usam sistemas distorcidos de comunicação
cial-visual através de produções artísticas; atuando no processo educacional;
• explorar o reconhecimento das funções • desconhecimento da escrita da língua
da LSB; de sinais;
• ampliar o vocabulário; • inexistência de literatura em sinais re-
• participar da comunidade surda en- gistrada em vídeo e escrita em sinais;
quanto membro crítico e criativo; • falta de planejamento, avaliação e re-
• ajustar a produção de acordo com a au- flexão constante do processo educacional com
diência com o fim de comunicar efetivamente a participação efetiva de profissionais surdos;
através da língua; • necessidade de elaboração de um currí-
• desenvolver a habilidade de reconhe- culo educacional com base na LSB e em con-
cer as variações e dialetos da própria língua, cepções sociais e culturais da comunidade sur-
bem como a habilidade de reconhecer padrões da brasileira;
sociais e culturais associados a tais variações; • necessidade de elaboração de um cur-
• utilizar os estudos sobre a estrutura da rículo para o ensino de LSB.
língua, convenções socio-lingüísticas, lingua- É tempo de reconhecer a língua de sinais,
gem figurativa e técnicas de produção para cri- a escrita da língua de sinais, a riqueza cultural
ar, discutir e criticar nas formas escrita e oral que a comunidade surda traz com suas experi-
(em sinais); ências sociais, culturais e científicas. Se não
• reconhecer as relações gramaticais com- somos competentes na língua usada pela comu-
plexas no texto escrito e falar sobre elas. nidade surda e desconhecemos a riqueza cultu-
Quero salientar que todas as atividades ral que pode ser produzida de forma Surda,
propostas passam por um processo mais cons- precisamos buscar esse conhecimento ou optar
., ciente. Na verdade, tais atividades já foram ex- por outra carreira profissional. A educação de
ploradas anteriormente no processo inicial de surdos não pode mais continuar refém da falta
Textura
" 60
de conhecimento dos profissionais que estão __ Educação de surdos: a aquisição da lin-
envolvidos na educação de surdos. Temos mui- guagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997a.
o a fazer no processo de alfabetização e no ensi- __ Aquisição de L1 e L2: o contexto da pes-
no da língua de sinais para garantir a aquisição soa surda. In Anais do Seminário: Desafios
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Textura 61 ,