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Instituto de Química
Engenharia Química
Os acidentes ambientais podem ser definidos como sendo eventos inesperados que
afetam, direta ou indiretamente, a segurança e a saúde da comunidade envolvida, causando
impactos ao meio ambiente como um todo.
i. Desastres Naturais:
Ocorrências causadas por fenômenos da natureza, cuja maioria dos casos independe das
intervenções do homem. Incluem-se nesta categoria os terremotos, os maremotos, os
furacões, etc.
Ocorrências geradas pelas atividades desenvolvidas pelo homem, tais como os acidentes
nucleares, vazamentos durante a manipulação de substâncias químicas, etc.
Embora estes dois tipos de ocorrências sejam independentes quanto às suas origens
(causas), em determinadas situações pode haver uma certa relação entre as mesmas, como
por exemplo uma forte tormenta que acarrete danos numa instalação industrial. Neste caso,
além dos danos diretos causados pelo fenômeno natural, pode-se ter outras implicações
decorrentes dos impactos causados nas instalações da empresa atingida. Um exemplo desse
tipo de desastre é a explosão da usina nuclear de Fukushima após o tsunami e o terremoto no
Japão.
Os acidentes naturais, em sua grande maioria são de difícil prevenção, razão pela qual
diversos países do mundo, principalmente aqueles onde tais fenômenos são mais constantes,
têm investido em sistemas para o atendimento a estas situações.
Já, no caso dos acidentes de origem tecnológica, pode-se dizer que a grande maioria dos
casos é previsível, razão pela qual há que se trabalhar principalmente na prevenção destes
episódios, sem esquecer obviamente da preparação e intervenção quando da ocorrência dos
mesmos.
Entre os diversos tipos de acidentes, pode ser destacado como de especial interesse o
acidente químico, que pode ser definido como um acontecimento ou situação que resulta da
liberação de uma ou várias substâncias perigosas para a saúde humana e/ou o meio ambiente,
a curto ou longo prazo.
• Impactos ambientais;
• Danos econômicos;
2. Metil-isocianato
A tragédia de Bhopal
Na noite do dia dois para o dia três de dezembro de 1984, na fábrica de agrotóxicos
Union Carbide Corporation localizada em Bhopal (Índia), cerca de quarenta mil toneladas de
metil-isocianato e outros gases letais vazaram causando um desastre químico histórico que
matou entre 3,5 e 7,5 mil de pessoas em decorrência de exposição direta, além de animais e
vegetais. A Figura 2 mostra uma imagem da cidade antes de o gás se dissipar.
Figura 2 – Visão da cidade de Bophal na manhã do desastre.
Os primeiros efeitos agudos dos gases tóxicos no organismo foram vômitos e sensações
de queimadura nos olhos, nariz e garganta. Muitas pessoas morreram dormindo, outras saíram
cegamente de suas casas para a rua, onde morreram, e outras morreram em hospitais e
pronto-socorros (a Figura 3 mostra a situação dos mortos na cidade). A maior parte das mortes
foi atribuída à falência respiratória – para alguns, o gás causou secreções internas tão severas
que seus pulmões ficaram obstruídos, em outros os tubos bronquiais se fecharam, levando ao
sufocamento. Muitos que sobreviveram ao primeiro dia foram diagnosticados como tendo
falhas no pulmões. Estudos mais aprofundados com os sobreviventes também apontam
sintomas neurológicos, que incluem dores de cabeça, distúrbios de equilíbrio, depressão,
fatiga e irritabilidade, além de anormalidade e efeitos negativos sobre os sistemas
gastrointestinal, muscular, reprodutivo e imunológico.
De forma irresponsável e absurda, a Union Carbide abandonou o local deixando ali uma
quantidade imensa de produtos químicos que contaminaram as águas e até hoje causam
transtornos, acidentes e mortes aos moradores da região. Estima-se que, até os dias atuais,
cerca de 16 mil pessoas morreram e mais de meio milhão ficaram feridas devido ao contato
com os venenos.
Figura 3 – Mortos na tragédia de Bhopal.
A revista VEJA, por sua vez, descreveu a noite do desastre da seguinte forma em sua
reportagem:
Nesse instante um alarme soou, dando sinal de que a válvula de segurança de um dos
tanques rompera-se. A pressão estava aumentando no tanque - e o isocianato de metila, ali
mantido em forma líquida, ameaçava escapar se o tanque explodisse. Imediatamente um
dispositivo automático disparou o antídoto previsto para tais casos: um sistema de aspiração
que deveria transferir a substância letal para um depósito de 15 metros de altura onde uma
solução neutralizaria seus efeitos danosos para a saúde, antes de liberá-la na forma de gás
para a atmosfera. Mas algo de errado se passou. Os funcionários logo perceberam que a
substância estava saindo depressa demais e que, apesar da transferência para o depósito
neutralizador, a pressão no tanque continuava a aumentar vertiginosamente. A operação
transferência falhara.
Além disso, a reportagem da revista confirma que "Há suspeitas de que os funcionários
que limpavam o tanque misturaram alguma substância ao isocianato, ocasionando uma reação
química em cadeia" que pode ter sido a verdadeira raiz da tragédia.
Conclusão
Apesar dos diferentes relatos dos acontecimentos em Bhopal, dois fatos são certos: a
junção de falhas técnicas e falhas humanas foi o grande responsável pelo desastre.
Acontecimentos como esses são absurdos e impensáveis na atualidade, pois gastos com
segurança jamais devem ser cortados independentemente do caixa da empresa. À época tais
leis não existiam, mas um programa de gerenciamento ambiental, bem como de higiene e
segurança no trabalho que visasse, acima de tudo, a prevenção de acidentes, poderia ter
evitado que a tragédia ocorresse. De forma semelhante, um programa de ações em caso de
acidentes, começando pela sirene de segurança (a qual, não se sabe ao certo se funcionava),
poderia, em último caso, evitar que o acidente tomasse proporções tão grandes. O mais
indicado seria contratação de pessoal especializado para executar treinamentos, manutenção
dos equipamentos e medidas de segurança em caso de falha.
Fica, por fim, a afirmação de Hans Michael Van Bellen em seu livro Indicadores de
Sustentabilidade: “A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD)
estimou os danos ambientais acumulados na Europa em 4% do PIB de cada país do continente.
Pois, apesar dos estragos impressionantes, em termos proporcionais os grandes acidentes
ambientais não se comparam ao efeito cumulativo de práticas ambientalmente agressivas tais
como despejo indevido de efluentes, não reciclagem de lixo e não redução de gases poluentes
emitidos”, que permite refletir o quanto, apesar de trágicos, desastres como os ocorridos em
Bhopal e Chernobyl são pequenos perto do efeito cumulativo do desenvolvimento e
funcionamento industrial sem preocupação ambiental e, assim, o quanto é importante que o
cuidado com o meio ambiente seja constante e rígido.
Referências Bibliográficas
1. http://www.bvsde.paho.org/tutorial1/p/acciambi/index.html
2. http://www1.american.edu/ted/bhopal.htm
3. http://www.greenpeace.org.br/toxicos/pdf/bhopal_desastrecont.pdf
4. http://www.bhopal.com/chronology
5. http://en.wikipedia.org/wiki/Bhopal_disaster
6. http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_12121984.shtml