A atual crise detonada pela greve de abastecimento tem várias causas,
estruturais e conjunturais como todas as outras. Destaco uma aqui que é a elevada carga tributária sobre os combustíveis. Quando observamos os rankings internacionais de preço vemos que o Brasil está na posição 77º entre os países, com o preço de US$ 1,18 contra US$ 1,15 na média global. Mesmo aqui na região estamos acima de Bolívia e Paraguai e próximos da Argentina. Isto quer dizer que a mercadoria em si não é tão cara, já que o Brasil também é um país de renda média. Mas quando olhamos a tributação é possível ver a distorção. Em média 45% do preço dos combustíveis é composto por tributos, com 29% do total representado pelo ICMS e 16% pelos tributos federais. No caso de Mato Grosso os dados do Balanço Geral do Estado 2017 indicam que este segmento arrecadou 23,46% de todo o ICMS. Só o setor de combustíveis respondeu por mais que todo o comércio somado, uma vez que atacado + varejo arrecadou 21,7% do ICMS. Há uma sobrecarga muito nítida. É óbvio que existem razões práticas para isto, já que é um setor altamente centralizado em poucas refinarias e distribuidores. Portanto é mais fácil de cobrar e fiscalizar o imposto. Além disto, o consumo cai pouco quando a renda cai e sobe muito na alta. Quer dizer, a princípio é um produto bom de se tributar, com consumo elevado, irredutível e fácil para o aparelho fazendário. Foi uma política adotada na década de 1990 e que permaneceu até agora. Foi de muita valia na crise de 2015 quando houve redução no ritmo de crescimento mas aumento de preço, que acabou compensando. Mas há efeitos colaterais. Combustível é um insumo dos mais importantes na economia, já que é um dos principais formadores do frete para transporte de passageiros e cargas. Sua alta alíquota acaba contaminando o restante da cadeia produtiva. Outro aspecto é sua regressividade, uma vez que ele pesa mais no bolso dos pobres. Quem abastece seu carro com R$ 100,00 e tem uma renda de R$ 30.000 paga a mesma carga tributária do trabalhador que recebe salário mínimo ao encher o tanque de sua moto ou mesmo ao andar de ônibus. Enquanto isto, o IPVA arrecadou R$ 610 milhões ano passado, numa frota de cerca de 2 milhões de veículos. Isto gerou uma arrecadação média de R$ 305 por veículo, o que pode ser considerada baixa. A alíquota média é de 2%, então o valor médio do veículo é R$ 15.250. Sabemos que boa parte da frota tem um valor superior a este. No médio prazo precisamos recompor receita e despesa, já que há muitas necessidades de investimento na área social e infraestrutura. Um dos pontos a ser observado é a desoneração dos tributos sobre os combustíveis. Este é um debate que está posto, mas não deve ser imposto, quer por aqueles que pretendem mudar ou também pelos que defendem a manutenção.