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CORONEL FABRICIANO – MG
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CORONEL FABRICIANO – MG
2017
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RESUMO
O emprego da língua latina em textos contemporâneos exige a criação de neologismos a fim de expressar
conceitos e nomear objetos inexistentes no latim antigo. A encíclica do papa Francisco “Laudato Sí” sobre
questões ambientes exigiu do tradutor o recursos dos neologismos para a terminologia ecológica. Os
neologismos podem ser formais ou conceituais. O presente artigo analisa o léxico da encíclica apontando os
neologismos utilizados para expressar ideias novas através de uma língua clássica. Textos como este da encíclica
apontado a eficiência da língua latina em traduções sobre temas contemporâneos.
Introdução
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Bacharel em Filosofia (pela Faculdade João Calvino - FAJOCA) e Licenciado em Filosofia (Faculdade de
Ciências da Bahia - FACIBA), especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior (Faculdade de
Tecnologia Equipe Darwin - FTED) e mestrando em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória,
ES. Professor de Teoria do Conhecimento no Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário, Caratinga (MG).
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TABELA 1
Nesta relação de neologismos, que não tem a pretensão de elencar todos, há o uso de
neologismos formais e semânticos. Recorrem-se a termos gregos e também readaptam
palavras que são latinas para um novo significado. A palavra oecologicus justapõe os termos
gregos oikos “casa” e logikós “do estudo”. É um neologismo formal e que de certa forma é
um empréstimo das línguas modernas por se tratar de um termo de uso internacional. O
neologismo ferrivia se serve do recurso da composição com termos da própria língua latina:
Ferri “de ferro” mais via “caminho”. Enquadra-se neste exemplo também caeliscalpiorum,
uma composição com as palavras caeli “céu” e scalpo “raspar” Um terceiro tipo de
composição é notada no neologismo autoraeda. É um hibridismo com uma palavra grega e
outra latina: o grego auto “próprio, por si” mais o latim raeda “carro de viagem”. Para
expressar “estacionamento de carro” o tradutor utilizou autoraedarum satio. Sendo statio
“estação, porto” (TORRINHA,1945, p. 817).
Os neologismos cunhados a partir de lexemas próprio do latim foram criados por
derivação, por composição ou por readaptação de sentido. É notável o processo que envolve a
expressão Digitalis rerum commutatio (revolução digital). Literalmente, seria “mudanças das
coisas do dedo”. Torrinha (1945, p. 255) indica como significado de digitalis, e “da grossa
dum dedo”. Mesmo com a mudança semântica, o neologismo é compreensivo ao leitor
contemporâneo.
Outro recuso utilizado pelo tradutor é descrever o instrumento quando lhe falta uma
palavra específica: Machinamentum motorium vapore actum. Literalmente, “máquina que
movimenta impulsionada por vapor”. Nesta frase, o tradutor descrever o navio a vapor em vez
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de cunha um substantivo para designá-lo. O tradutor de uma notícia em latim do site Yle
resolve esta dificuldade com os termos navis vaporaria. Esta é uma consequência dos
neologismos planejados, o surgimento de mais de uma palavra ou expressão para um mesmo
significado. Dentro de um mesmo texto, o da encíclica em análise, foram utilizados os termos
autocinetum e autoraeda para designar “carro”
Assim como a língua materna do tradutor pode induzi-lo a escolher empréstimos mais
próximos da sua zona linguística. No latim antigo já existia a palavra praefectus com o
sentido de administrador (TORRINHA, 1945, p.672). O tradutor de Yle preferiu num texto
utilizar burgimagister, tri em vez de praefectus para designar a acepção contemporânea de
“prefeito”. Uma provável influência do alemão burgermeister (KELLER, 1996, p. 90).
Conclusão
A versão latina da encíclica Laudato Si’ demonstra que é inapropriado atribuir o status
de língua morta ao latim. É importante salientar que não se trata da língua Cícero tal qual, mas
trata-se de um texto compreensível. Os recursos da língua grega e as composições na própria
língua latina tornam-se possível expressar qualquer conceito ou objeto contemporâneo. A
terminologia de uso internacional possibilita ao leitor acessar o sentido por causa da
intimidade que se tem com o termo já na sua língua materna.
Os problemas com os neologismos já apontamos. Se não houver uma unificação
através de dicionários, tradutores diferentes cunharão diferentes termos para um mesmo
significado. Em parte, isso dependerá a que fonte o tradutor vai recorrer. Mesmo não sendo
uma língua materna de uso oral e cotidiano, o fenômeno dos neologismos não diferem muito
das línguas vivas e modernas.
O léxico das línguas modernas está sempre em constante evolução. Nessas línguas
ocorrem processos autóctones que geram neologismos (ASSIRATI, 1998, p. 112). No caso do
latim, é necessária uma intervenção e uma planificação linguística. O uso predominantemente
escrito desta língua possibilita maior planejamento. Neste sentido, a planificação linguística
torna-se necessária para a padronização léxica. A possibilidade de uso contemporânea de uma
língua que não é mais falada exige necessariamente uma intervenção linguística.
REFERÊNCIAS
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ARABA G., Antonio. Hoven, René. Lexique Latine de la Prose Latine de la Renaissance.
Onomázein, v. 1, 1996, pp. 220-224.
ASSIRATI, Elaine Therezinha. Neologismos por empréstimo na Informática. Alfa, São Paulo,
n. 42, 1998, pp. 121-145.
BBC. Italy: Diary of a Wimpy Kid translated into Latin. Disponível em:
http://www.bbc.com/news/blogs-news-from-elsewhere-32144886. Acesso em 19 set. 2017.
DESESSARD, Clément. Il Latino Senza Sforzo. Chivasso: Grafica Ferriere S. a. S., 2011.
LEONHARDT, Jurgen. Story of Wolrd Language Latin. London: Belknap Press, 2013.