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& Construções

Ano XXXIV | Nº 47
Jul. • Ago. • Set. | 2007
ISSN 1809-7197 IBRACON
www.ibracon.org.br Instituto
Instituto Brasileiro
Brasileiro do
do Concreto
Concreto

ATIVIDADES
INTERNACIONAIS

IBRACON participa
th
da 4 ACI Spring
Convention
ARTIGO CIENTÍFICO

Obras de
concreto para OBRAS DE SANEAMENTO

Reologia de
o Saneamento
concretos: técnicas
de caracterização Ambiental:
PONTES DE CONCRETO
cuidando do
meio ambiente e
Ponte sobre o Canal
de Itajurú, Cabo Frio da saúde pública.
REVISTA CONCRETO 
Empresas e entidades líderes do setor da
construção civil associadas ao IBRACON

Aditivos

Equipamentos

ADIÇÕES

ensino, pesquisa
JUNTAS e extensão

PCC
Escola Politécnica - USP

Armadura

UNIP Escritórios
de projetos
JUNTE-SE A ELAS
Associe-se ao IBRACON em defesa e valorização
da Arquitetura e Engenharia do Brasil !

pré-FABRICADOS

Controle tecnológico

ISO 9001

construtoras

FÔrmas

Cimento
Agregados

Governo

FURNAS Concreto

POLIMIX
Instituto Brasileiro do Concreto
Fundado em 1972
Declarado de Utilidade Pública Estadual
Lei 2538 ce 11/11/1980
Declarado de Utilidade Pública Federal
Decreto 86871 de 25/01/1982

Sumário
Diretor Presidente
Paulo Helene

Diretor 1º Vice-Presidente
Cláudio Sbrighi Neto

Diretor 2º Vice-Presidente

Obras de saneamento
Eduardo Antonio Serrano

Diretor 3º Vice-Presidente
Mário William Esper

Diretor 1º Secretário Experiência nacional em


Antônio Domingues de Figueiredo

Diretor 2º Secretário
normalização, projeto,
execução, controle do concreto,
Sônia Regina Freitas

Diretor 1º Tesoureiro
Luiz Prado Veira Jr.

Diretor 2º Tesoureiro
manutenção e reparação
Flávio Teixeira de Azevedo Filho

Diretor Técnico
Rubens Machado Bittencourt 10
Diretor de Eventos
Luiz Rodolfo Moraes Rego

Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento


Túlio Nogueira Bittencourt Tecnologia
Diretor de Publicações
Ana E. P. G. A. Jacintho Sistemas de Proteção contra
Diretor de Marketing
Wagner Roberto Lopes Descargas Atmosféricas: as
Diretor de Relações Institucionais
Paulo Fernando Silva
duas opções contidas
Diretor de Cursos
Juan Fernando Matías Martín
na NBR 5419/93
Diretor de Certificação de Mão-de-obra
Julio Timerman

Assessores da Presidência
24
Alexandre Baumgart
Augusto Carlos de Vasconcelos
Jorge Bautlouni Neto
Martin Eugênio Sola
Ruy Ohtake

E Mais...
Revista CONCRETO & Construções
Revista Oficial do IBRACON
Revista de caráter científico, tecnológico
e informativo para o setor produtivo da
5 Editorial
construção civil, para o ensino e para a
pesquisa em concreto 6 Converse com IBRACON
ISSN 1809-7197
Tiragem desta edição 5.000 exemplares
10 Personalidade Entrevistada. Walton Pacelli
Publicação Trimestral
Distribuida gratuitamente aos associados 14 Acontece nas Regionais
Publicidade e Promoção
Arlene Regnier de Lima Ferreira 19 Fissuração em reservatórios
arlene@ibracon.org.br

Editor
32 Normalização para obras de saneamento
Fábio Luís Pedroso – MTB 41728
fabio@ibracon.org.br 39 ETE Ribeirão Arrudas
Diagramação
Gill Pereira (Ellementto-Arte)
46 Mercado Nacional
gill@ellementto-arte.com

Assinatura e Atendimento
48 Produção de concreto para obras de saneamento
Valesca Lopes
valesca@ibracon.org.br 52 Ensino de Engenharia
Gráfica: Ipsis Gráfica e Editora 57 Armadura de retração em reservatórios
As idéias emitidas pelos entrevistados ou em
artigos assinados são de responsabilidade 61 Concreto Fresco
de seus autores e não expressam,
necessariamente, a opinião do Instituto. 67 Deterioração e intervenção em obras de saneamento
Copyright 2007 IBRACON. Todos os direitos de reprodução
reservados. Esta revista e suas partes não podem ser
reproduzidas nem copiadas, em nenhuma forma de
71 Entidades Parceiras
impressão mecânica, eletrônica, ou qualquer outra, sem
o consentimento por escrito dos autores e editores. 73 Impermeabilização em obras de saneamento
Comitê Editorial
Ana E. P. G. A. Jacintho, UNICAMP, Brasil
Antonio Figueiredo, PCC-EPUSP, Brasil
80 Concreto em Obras Marítimas
Fernando Branco, IST, Portugal
Hugo Corres Peiretti, FHECOR, Espanha 91 Recuperação de estruturas de saneamento
Paulo Helene, IBRACON, Brasil
Paulo Monteiro, UC BERKELEY, USA
Pedro Castro, CINVESTAV, México
99 Pontes de concreto
Raul Husni, UBA, Argentina
Rubens Bittencourt, PEF-EPUSP, Brasil
Ruy Ohtake, ARQUITETURA, Brasil
102 Mantenedor
Tulio Bittencourt, PEF-EPUSP, Brasil
Vitervo O’Reilly, MICONS, Cuba 104 Atividades Internacionais
IBRACON
Rua Julieta Espírito Santo Pinheiro, 68
108 Artigo Científico Créditos Capa:
Sistema Rio das Velhas – vista
Jardim Olímpia
CEP 05542-120 125 Recordes de Engenharia aérea. Foto COPASA
São Paulo – SP

 REVISTA CONCRETo
Lições de quatro volumes e mais de
tres mil páginas do mais
atualizado conhecimento

4 anos de
sobre concreto de cimento
Portland e materiais de
construção civil, disciplinas
obrigatórias nos cursos de

IBRACON
engenharia civil e arquitetura de
qualquer país.
Aprendi a agradecer as
prontas, oportunas e generosas ajudas
científicas, administrativas, tecnológicas
Neste número a matéria de capa desta revista está e econômicas outorgadas pelo setor privado e público,
dedicada à valorização e reconhecimento do histórico, vitorioso assim como pelos Centros de Ensino e Pesquisa e agências de
e significativo papel do Saneamento Básico para a melhoria Fomento, para o engrandecimento da Engenharia de concreto
da saúde e da qualidade de vida de todos os povos. Registro no Brasil.
meus sinceros agradecimentos aos amigos, Carlos e Ana Aprendi a suportar as duras derrotas e a valorizar as
D’Ávila, da COPASA de MG, que entenderam a importância pequenas vitórias.
desta mensagem e mobilizaram o setor para contribuir com Deixar a sede no IPT e perder, na alfândega de
interessantes e valiosos artigos. Guarulhos, mais de mil livros doados ao Brasil pelos Profs. Mehta e
Durante a Assembléia Geral Ordinária do IBRACON, Malhotra constituiram-se em duras derrotas.
a realizar-se em Bento Gonçalves, dia 03/09/07, serão apurados Ver o crescimento significativo do número de sócios
os votos dos sócios que elegerão os vinte novos Conselheiros individuais, coletivos e mantenedores do Instituto; reconhecer
do Instituto. Esses Conselheiros mais os seis ex-presidentes o empenho, a seriedade e a vontade de acertar dos três únicos
deverão eleger um Conselheiro individual para desempenhar funcionários fixos do Instituto; sentir a satisfação dos sócios
voluntariamente o honroso papel de Presidente do Instituto para nos eventos; desfrutar de uma sede nova e independente;
a gestão 2007-9. compartilhar de uma sensação de elevada auto-estima e
Segundo o Estatuto, os candidatos à Presidência orgulho da nobre profissão de Engenheiro e Arquiteto;
devem ser sócios-diamante e o Presidente não pode ser re-eleito, encontrar o caixa da Instituição sempre com pequeno saldo
consecutivamente, mais de uma vez. positivo; ter recursos para mobiliar e equipar as novas
Nesses quatro últimos anos que tive a gratificante instalações com conforto e sobriedade; contar com doações
oportunidade de estar Presidente desta tradicional e valorosa intelectuais e profissionais de alto nível e que aprimoram o
Entidade, aprendi muita coisa interessante. conhecimento na área, são algumas das pequenas vitórias
Aprendi, por exemplo, que o Instituto é muito forte e comemoradas com sinceridade e gratidão.
que sua força vem da dedicação de seus associados que voluntária Saber que o sistema de Ciência e Tecnologia do país,
e generosamente insistem em colaborar e doar-se para o bem através do CNPq, CAPES, FINEP, FAPESP e tantas outras Agências
comum, para o desenvolvimento do setor. de Fomento à Pesquisa qualificam e classificam o CBC e as revistas
Descobri que o Instituto é reconhecido em todos os do IBRACON como de categoria A, fazem antever um futuro
rincões do país e também no exterior, como a Entidade brasileira profícuo do Instituto e remetem para o excepcional trabalho
que mais contribui para a geração, divulgação e transferência de voluntário dos Diretores, sempre dispostos a doar umas horinhas
tecnologia entre a academia e o setor produtivo. mais de seu valioso tempo, prestígio e competência para o
Aprendi que o Instituto tem muita credibilidade e engrandecimento da missão do Instituto.
desperta confiança quando se pronuncia técnica, científica e O IBRACON tem foco, sabe trabalhar em equipe,
politicamente sobre um tema. tem planejamento e metas em suas atividades, tem a fiel e
Aprendi que ainda tem muito por ser feito e que os desinteressada colaboração voluntária de muitos Diretores
profissionais do setor são sensíveis e ávidos por conhecimento

OBRAS DE SANEAMENTO
Regionais por todo o território nacional, tem a competência
produzido, divulgado ou transferido pelo IBRACON. voluntária dos Presidentes de Comitês Técnicos que empurram
Aprendi a exercitar a diplomacia e a tolerância no a fronteira do conhecimento consensuado, e tem a visão de
intercâmbio com as demais Entidades do setor que são, a igual estar investindo na promoção da pesquisa, da inovação e mais
que o IBRACON, geridas por profissionais voluntários, humanos, recentemente da Certificação de Pessoal.
capazes e sensíveis a uma palavra amiga, desinteressada e Aprendi que o IBRACON também e, principalmente,
construtiva. Sem dúvida, a palavra de ordem institucional nos dias tem a humildade de reconhecer que precisa de ajuda e de
de hoje é parceria. parcerias para efetivamente bem promover a divulgação profícua
Aprendi a conhecer os profissionais, as empresas e os do conhecimento atualizado, sustentado e ético sobre estruturas
empresários do setor. Aprendi a distinguir entre aqueles que têm de concreto.
uma visão empreendedora, institucional, comunitária e de longo Legada por seus visionários fundadores e dirigentes ao
prazo, sempre dispostos a investir num projeto de melhoria do longo dos últimos 35 anos, o Instituto continua e fortalece a sua
setor, daqueles que enxergam o relacionamento com o IBRACON ilustre missão de contribuir para o desenvolvimento do mercado
como mais um bom e lucrativo negócio da semana. de concreto e da construção civil no país.
Aprendi que o grande e nobre sentimento humano de Passaram-se quatro significativos anos onde pude
compartilhamento do saber pode ser despertado por umas poucas, renovar meu prazer pelo conhecimento e aprendizado.
profundas e sinceras palavras de incentivo e reconhecimento. A
EDITORIAL

grande maioria do nosso meio técnico é movida por dois íncríveis


combustíveis “sustentados”: o carinho (atenção) e o respeito.
Esses profissionais privilegiados no seu saber
especializado e, juntos no IBRACON sob a liderança perseverante
e diplomática do Prof. Isaia, são capazes de mover montanhas Paulo Helene
de atraso tecnológico no ensino superior do país. Conseguiram Diretor Presidente
a façanha de escrever e publicar em quatro anos, dois livros com paulo.helene@poli.usp.br

REVISTA CONCRETO 
Converse com o
IBRACON
Em defesa das atribuições da engenharia Prezado Prof. Sayão,
Caro Paulo Helene, O IBRACON vem endossando total e claramente a
Segue mensagens sobre assunto urgente e para sua correta posição de defesa das atribuições dos
o qual contamos com a análise de todas as as- engenheiros civis e de minas. Na íntegra, foi esta uma
sociações de engenharia. Imagino que você já das mensagens enviadas ao CONFEA/CREA:
tenha ouvido falar do assunto: Projeto de Lei Prezado Eng. José Tadeu da Silva, presidente do
4796, que objetiva regulamentar as atribuições Crea-SP,
do Geofísico, mas que acabou com um escopo O Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON, entidade
muito mais ambicioso e talvez inadequado. Se o de utilidade pública federal e estadual, cuja missão es-
projeto for aprovado, os geofísicos e os geólogos tatutária é a valorização da cadeia produtiva do concre-
poderão ter atribuições idênticas aos engenhei- to, vem a público, na figura do seu diretor-presidente,
ros e engenheiros-geólogos no que se refere a Prof. Paulo Helene, manifestar seu apoio ao projeto
obras geotécnicas! O apoio do IBRACON é muito substitutivo, elaborado pelo Confea, ao PLC 117.
importante. Amanhã irei a Brasília para uma tese Paulo Helene, Diretor Presidente
e para uma reunião na câmara de engenharia do
CONFEA. Pedi tambem uma audiência ao senador Auto-estima profissional e ensino de engenharia
Arns, que tem recebido uma chuva de emails e Ilustre Prof. Paulo Helene,
está sensível quanto a uma eventual reversão Sou professor de Direito, Ética e Sociedade na Faculda-
no assunto. de de Engenharia de Sorocaba - FACENS, onde procuro
Prof. Alberto Sayão. Presidente da ABMS. melhorar o entendimento da Ética e do Direito dentro
de um entendimento mais pragmático possível. Quero
Caros amigos engenheiros de S.Paulo dizer que os seus textos, que extrai através da inter-
Vejam só como o assunto relacionado aos geofísi- net, indicado pelo Prof. Paulo Cavalcanti (professor
cos, geólogos e engenheiros voltou a ficar confuso. de pontes), têm sido de grande e inestimável valia e
Creio até que o evento de amanhã em Brasília vai percebo que o prestígio que o senhor traz para a classe
entrar por este terreno difícil (“O Momento Atual dos engenheiros é admirável e, ao mesmo tempo, um
da Engenharia Brasileira”). Depois de todas as grande incentivo para meus alunos. A resposabilidade
nossas cartas e e-mails, o sistema CONFEA/CREA civil e ou criminal é conseqüência direta da imperícia
aprovou o projeto substitutivo que propusemos e ou negligência dos engenheiros, não somente os
e encaminhou ao senador Arns, que se mostrou projetistas, mas também os de execução que premidos
favorável. O assunto está voltando à baila e preci- pela necessidade de produtividade colocam suas vidas
samos agir, falando com o presidente do CREA-SP, profissionais à margem. Muito obrigado
que é engenheiro, para não ceder às pressões de Prof. Gilberto José de Camargo. Faculdade de Engenharia
liberar obras de engenharia (responsabilidade e de Sorocaba FACENS.
atribuição dos engenheiros civis), nem as lavras
de mineração (responsabilidade e atribuição dos I Seminário de Estruturas de Concreto/Rj
engenheiros de minas), para geofísicos. O ideal é Cara Prof. Andréia Sarmiento
se manifestar para o CREA-SP e para o CONFEA, Parabéns aos colegas da Diretoria Regional do IBRA-
por escrito e/ou por telefone, mostrando nossa CON-RJ pela iniciativa. Já está ficando difícil chamar
preocupação com o retrocesso do assunto. O Mar- de “novas” as nossas Normas Brasileiras de projeto
cos Tulio (Presidente do CONFEA) não pode voltar de estruturas de concreto, quanto mais falar de
atrás, pois irá prejudicar a habilitação profissional “impacto” de algo que já é obrigatório há mais de
da nossa área de civil. Enfim, vamos mostrar que 3 anos. Mas sempre é bom voltar ao assunto e quem
os engenheiros são também unidos. Mas é urgen- puder deve comparecer.Felicidades também ao gran-
te, pois a discussão está acontecendo agora. O de Professor e Amigo Wanderley Guimarães Corrêa.
senador está aguardando apenas a posição final Será certamente uma grande apresentação.
do CONFEA. Egydio Hervé Neto. Sócio Fundador. Ventuscore Soluções
Prof. Alberto Sayão. Presidente da ABMS. em Concreto.

 REVISTA CONCRETo
V Aci / Camet International Conference on produção intelectual e profissional equivalente e de
Hpc, Manaus 2008 alta relevância para o país. Se me permitir fazer uma
Relatório sobre os trabalhos de revisão de “papers” sugestão, proponho que a Diretoria e o Conselho do
em Varsóvia Ibracon indiquem para receber o primeiro prêmio o
Paulo, próprio Arq.Oscar Niemeyer, com todo louvor e justi-
Que magnífico artigo/news escreveu para nós! Ado- ça. Porém, como acho difícil que ele vá até o evento
rei! Iniciando com a descrição da Polônia de hoje, receber a Homenagem, sugiro que o Presidente, a Di-
com dados históricos e tudo o mais. E depois, uma retoria e o Conselho do IBRACON façam esta entrega
descrição da evolução das estruturas. Gostei muito. pessoalmente no Rio de Janeiro, sendo a solenidade
Eng. Sonia Regina Freitas. Sócio Ouro. Diretor Secretário do filmada e apresentada na abertura da entrega dos
IBRACON. prêmios durante o evento. Talvez o jornalismo da
TV Globo possa ser contatado e estar presente, para
4ª Grande Revolução na Arte de Projetar e registro em rede nacional e internacional.
Construir Estruturas Paulo Terzian. Sócio Diamante. Professor e consultor.
Estimado Paulo,
Agradezco especialmente a tí y al IBRACON por el Caro Paulo,
envío de este excelente artículo/news. Considero uma justa e necessária homenagem. Estou
Ing. Carlos Stapff. Sócio Ouro. Diretor da CONCREXUR, de acordo.
Uruguai. Prof. Geraldo Cechella Isaia. Sócio Fundador. Conselheiro e
Obs.: o IBRACON recebeu outras mensagens positivas similares a esta so- Editor de Livros do IBRACON.
bre este artigo “Arte de Projetar e Construir Estruturas”, visão histórica e
perspectivas futuras. Por razões de espaço e de evitar repetições, não estão
sendo publicadas. Agradecemos o estímulo e a concordância com a visão.
Prezado Paulo,
Artigo similar será publicado em revista. Seria ótimo se o Arq. Oscar Niemeyer entregasse o
primeiro prêmio. Seria certamente aplaudido de pé
Prêmio Oscar Niemeyer por um bom tempo pela platéia.
Caro amigo Paulo Helene, Newton Newton Goulart Graça. Sócio Mantenedor. Furnas
A proposta de criar no IBRACON o Prêmio Arq.Oscar Centrais Elétricas. Conselheiro IBRACON.
Niemeyer é sensacional e digna da grande gestão que
está realizando. A quebra do protocolo de homenage- Prezados amigos,
ar pessoas em vida, ao meu ver, foi muito adequada e Concordo com a idéia proposta pelo Paulo Helene.
correta. Este fato poderá servir de abertura para que, Devemos quebrar mais este paradigma de homena-
em um tempo próximo, possamos homenagear profis- gear somente profissionais que se foram!!
sionais como você, que, apesar de ser muito mais jo- Julio Timerman. Sócio Ouro. Diretor de Certificação de
vem que Niemeyer, teve em sua área de atuação uma Pessoal do IBRACON.

CONVERSE COM O IBRACON


Lançamento dia 02/09/07, domingo,
Bento Gonçalves, RS. Traje social.
Coquetel oferecido pela ArcelorMittal Brasil
(Belgo, sócio-mantenedor) que também patrocina
esta edição.

Ficha técnica
n 2 volumes
n 1.700 páginas
n 12 partes
n 52 capítulos
n 85 autores
n Capa dura, padrão IBRACON de qualidade

IBRACON
REVISTA CONCRETO 
Paulo, habitacionais considerando 3 grupos:
Já tínhamos conversado sobre o nome do Arq. Oscar – baixo até 5 pavimentos = 16 kg/m²
e eu entendo ser um nome e homenagem merecida. – médio de 6 a 15 pavimentos = 20 kg/m²
Concordo plenamente. – alto acima de 15 pavimentos = 24 kg/m²
Rubens Machado Bittencourt. Sócio Diamante. FURNAS 2. Qual o consumo médio usual de concreto em
Centrais Elétricas. Conselheiro e Diretor do IBRACON. m3/m2 em estruturas de edifícios habitacionais con-
Obs.: o IBRACON recebeu muitas outras mensagens positivas similares a esta siderando 3 grupos:
sobre este tema. Por razões de espaço e de evitar repetições, não estão sendo – baixo até 5 pavimentos = 0,17 m³/m²
publicadas. Agradecemos o apoio à instituição desse prêmio.
– médio de 6 a 15 pavimentos = 0,19 m³/m²
Estação Pinheiros do Metrô / SP – alto acima de 15 pavimentos = 0,21 m³/m²
Caro colega Paulo Helene, Esperamos que ainda haja tempo para que V.Sas.
Não sei se você lembra de mim. Sou Perito da Polí- possam considerar nossa contribuição. Essas caracte-
cia Científica em São José do Rio Preto. Há alguns rísticas das estruturas, bem como, as experiências em
anos, você esteve em meu escritório juntamente outros países são muito importantes para a ABECE
com outro engenheiro solicitando-me cópias das e seus associados.
fotografias que ilustrei meu Laudo Pericial de Marcos Monteiro – Vice-Presidente ABECE.
Desabamento de estrutura, referente a um aci-
dente ocorrido na quadra poliesportiva da escola Prezado Marcos,
de uma cidade aqui da região matando uma Agradecemos o empenho e resposta. Os dados
criança na hora do recreio.  Relembro este fato, foram enviados ao ACI e assim que se disponha de
apenas para me identificar um pouco mais, pois, alguma publicação ou relatório de processamen-
sou engenheiro civil e já estivemos juntos em ou- to dos mesmos junto com os dados americanos e
tros eventos aqui em S. J. Rio Preto. Na certeza e de outros países, o IBRACON fará chegar ao seu
convicção que você procurou se informar sobre o conhecimento.
acidente ocorrido na Estação Pinheiros de Metrô, Obrigado.
solicito alguma informação a respeito deste fato. Paulo Helene, Diretor Presidente
Se não for possível um diagnóstico, pelo menos
uma hipótese de trabalho sobre as possíveis Balanço da Gestão
falhas ocorridas.   O objetivo desta solicitação é Caro Paulo Helene,
de, apenas e exclusivamente, matar a minha curio- Gostaria de agradecê-lo pela Revolução que você
sidade a respeito. trouxe ao IBRACON e à Revista CONCRETO & Cons-
Jorge Abdanur. Perito da Polícia Científica. truções nestes últimos anos. Foi e tem sido um
grande prazer compartilhar estas conquistas com
Prezado Jorge, você e nossos demais colegas. O IBRACON deve
Devido à complexidade e implicações do caso, muito a você e sua contribuição futura também
manifestei-me publicamente por várias vezes e será essencial para consolidarmos todo o pro-
registrei meus depoimentos para consulta pú- gresso que fizemos sob sua liderança. Parabéns
blica na website do IBRACON. Por favor, acesse e muito obrigado pelas oportunidades e avan-
www.ibracon.org.br – Estação Pinheiros do Me- ços que fizemos. Conte conosco para tentarmos
trô / SP – Linha 4 manter as conquistas e melhorarmos ainda mais
Paulo Helene, Diretor Presidente o nosso IBRACON.
Túlio Bittencourt. Sócio Ouro.
Paulo, EPUSP-PEF. Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do
Congratulo-me com o prezado amigo por sua vitória IBRACON
junto à revista Época! Temi que não houvesse des-
taque da resposta, mas saiu a contento. Prezado amigo Prof. Túlio,
Eng.º Civil Marcos Carnaúba. Sócio azul. Consultor e Os avanços só são conseguidos com união e tra-
Projetista de Estruturas. balho de muitos. Nós todos do meio técnico, e eu
em especial, é que tenho a agradecer o grande
Prezado Paulo, destaque de sua dedicação incondicional à missão
Agradeço a atenção em enviar-me o esclarecimento do IBRACON, durante estas duas gestões onde
da revista Época, embora desnecessário para mim, tive a honrosa oportunidade de atuar como Pre-
pois jamais atribuiria a você declarações tão injurio- sidente. Muito obrigado.
sas e levianas. Paulo Helene, Diretor Presidente
Antonio Carlos Reis Laranjeiras. Sócio e Conselheiro do
IBRACON. Consultor e Projetista de Estruturas Prof. Paulo Helene,
Obs.: o IBRACON recebeu muitas outras mensagens positivas similares Aproveito para parabenizá-lo por tudo o que você
a esta sobre este tema. Por razões de espaço e de evitar repetições, não tem feito para (e por) todos nós. A Ciência e a En-
estão sendo publicadas. Agradecemos a solidariedade de tantos amigos
sinceros. genharia serão eternamente gratas.
Gladis Camarini. Sócio Ouro. Professora UNICAMP.
Consulta Aci sobre Estruturas
de Concreto Parcerias Institucionais
Prezado Paulo Helene, Estimado Paulo,
Segue resposta à consulta efetuada pelo ACI, refe- Cuenta con el IMCYC, anunciaremos el Congreso
rente a características das estruturas aqui no Brasil. 49CBC2007, en nuestra pagina web y ligaremos con
Vale salientar que esses índices variam muito em página web de IBRACON, y confirmamos nuestra
função da tipologia e uso da estrutura, características presencia en ese importante Congreso de Concreto.
de execução, etc. Un caluroso saludo.
1. Qual o valor médio usual de consumo de aço Daniel Dámazo. Presidente do Instituto Mexicano del
(armadura) em kg/m2 em estruturas de edifícios Cemento y el Concreto IMCYC.

 REVISTA CONCRETo
Concreto Ecológico Acidente aéreo
Prezado Prof. Salomon, Estimado Paulo,
Estou produzindo um trabalho para a Faculdade Quisiera expresarles a través de la presente nues-
sobre concreto ecológico e gostaria de saber se tro sentimiento de pesar por la grave tragedia
o Instituto Brasileiro de Concreto possui algum aérea ocurrida en el aeropuerto de Congonhas.
artigo sobre o tema. Acessei o site do Instituto e En particular a los afectados por las pérdidas de
da Revista CONCRETO & Construção e não obtive parientes y amigos, y en general a todos nuestros
informações referentes a este tema e nem infor- hermanos brasileños. Elevamos nuestra oración
mações de algum departamento técnico, por isso al altísimo por las almas de los fallecidos. Con
lhes encaminho este e-mail. Peço a gentileza de sentimiento,
encaminhar esta solicitação ao CT do Meio Am- Paulo Yugovich. Sócio ouro. Consultor y Professor. Paraguai
biente, alguém com conhecimento sobre o tema
que possa me ajudar ou link´s/sites referente ao Querido Profesor Paulo,
assunto. Antecipadamente muito obrigado pela Lamento tanto lo ocurrido en el aeropuerto!!!
atenção de todos. Siento una profunda tristeza y un dolor inmenso
Guilherme dos Santos. Sócio estudante. y espero que ustedes estén bien. Quiero hacerles
llegar mi cariño a usted y a todos mis amigos de
Caro Guilherme, San Pablo y Porto Alegre, un beso y un gran abrazo,
Existem vários concretos que podem ser conside- con mucho dolor,
rados ecológicos, por exemplo, os que utilizam em Dra. Ing. Civil María Josefina Positieri. Sócio ouro. Profesora
sua produção: agregados reciclados, garrafas Pets Titular. Investigadora GINTEMAC. Argentina
e, em geral, toda e qualquer espécie de resíduos. O
Seminário Desenvolvimento Sustentável e a Reci- Dear Paulo,
clagem na Construção Civil já publicou mais de 200 Kumar is away to Toronto and will be back next
artigos no decorrer de suas 7 versões. Creio que week. Kumar and I are very grieved to hear the
seria uma opção para você começar por consultar tragedy of the plane crash and our thoughts are
os diversos artigos que podem ser localizados nos with you. Hope you and your family are OK. With
Anais desses eventos. Se necessitar de informações very best wishes.
mais específicas, é só entrar em contato com o CT- Shanti / Mehta
MAB do IBRACON.
Prof. Salomon Levy, Presidente do CT-MAB Queridos amigos,
do IBRACON Realmente estamos consternados con el accidente
aéreo en San Pablo. Son realmente terribles las
Formulário determina tipo ideal imágenes que se reciben por TV. Un abrazo soli-
de concreto para cada obra dario y nuestros deseos de que estén Uds. todos
Prezado IBRACON, bien al igual que familiares y amigos. América
A Ficha de Concreto, metodologia criada em está de duelo.
Campinas para estimular a compra deste ma- Raúl Husni y Sol
terial de acordo com normas técnicas, é exem-
plo para empresas de todo país. Estimuladas Estimados amigos,
pelos engenheiros Carlos Massucato e Arnoldo Solidarizo-me com vocês pelo sentimento de
Wendler, as companhias atuantes na região de profunda tristeza e pesar por esse acidente trá-
Campinas foram as primeiras a acatar o padrão gico ocorrido em São Paulo com um vôo vindo
de compra previsto na ficha. Para Massucato, de Porto Alegre. Obrigado pelas lindas e como-
Diretor Regional do IBRACON em Campinas e ventes mensagens.

CONVERSE COM O IBRACON


gerente técnico da Cauê/Concrepav, o objetivo Paulo Helene, Diretor Presidente
do formulário é proporcionar o desenvolvimento Obs.: o IBRACON recebeu outras mensagens similares a esta sobre este tema.
Por razões de espaço e de evitar repetições, não estão sendo publicadas. A todos
do setor também em normatização, garantin- nosso muito obrigado por tantas manifestações de pesar pelos acidentados.
do que a especificação gerada pelo projetista
seja respeitada até a contratação dos serviços Sócio honorário
de concretagem. A Ficha de Concreto leva em Meu caro Presidente e amigo Paulo Helene,
consideração as especificações do material e o Acabo de receber e abrir um pacote do IBRACON
ambiente externo.“Com dados padronizados, e encontro um convite para a reunião em Bento
a comunicação entre projetista, construtora e Gonçalves nos dias 1 a 5 de setembro do corrente
concreteira fica mais clara. É possível respeitar e a notícia de que a Assembléia Geral, reunida em
as normas e reduzir custos calculando quanto setembro de 2006, o Conselho Diretor e a Diretoria
e que tipo de concreto está sendo comprado”, do IBRACON me concederam o título de “Sócio
explica Massucato. Outras empresas do Estado Honorário”. Fico muito honrado por esse título e
de São Paulo estão seguindo os passos da Dire- por ficar numa lista ao lado de engenheiros pelos
quais tenho o maior respeito. Acho que não mereço
toria Regional de Campinas e passaram a utilizar essa grande honra, que me foi concedida em gran-
a Ficha de Concreto. Massucato afirma que nas de parte pela generosidade dos meus colegas e do
regiões onde a ficha foi divulgada 60% do con- meu presidente. Conte comigo na reunião. Quando
creto orçado pela Cauê/Concrepav já se baseou estiver mais perto da data, reservarei hotel para
no padrão criado. A Ficha de Concreto é um dos 31 de agosto, com saída em 5 ou 6 de setembro,
projetos desenvolvidos no 1º ciclo do programa conforme o horário a ser publicado. Parabéns pelo
de melhorias, implementado na Comunidade seu trabalho como presidente. Nunca o IBRACON foi
da Construção, e participará da “2a Mostra de tão atuante como agora e admiro muito o volume
Resultados” e do “2º Prêmio Melhores Práticas”, de trabalhos que você criou, dirige e orienta.
promovido pelo programa em todo país. Lauro Modesto. Sócio Diamante. Professor da EPUSP,
Comunidade da Construção Consultor de Concreto

REVISTA CONCRETO 
Walton Pacelli de Andrade
Engenheiro Civil e Eletrotécnico – Consultor
Independente em Tecnologia de Concreto.

Graduado pela Escola de Engenharia da


Universidade Federal de Juiz de Fora em 1963.

Ex-engenheiro de Furnas Centrais Elétricas,


empresa em que trabalhou no período de 1964
a 2002. No período de 1991 a 2002, chefiou o
departamento de Apoio e Controle Técnico em
Goiânia, onde está localizado o Centro Tecnológico
de Engenharia Civil. Este departamento dá
suporte para a construção e recuperação de
obras para a empresa e presta serviços de
consultoria para terceiros.

Pacelli foi membro da junta de consultores para


os seguintes projetos:
UHE Tucuruí 2ª fase – 1999/2002
UHE Capanda (Angola) 1988/2002
UHE’s Salto Caxias e Derivação
do Rio Jordão – 2001
UHE Dona Francisca – 1997/2001
UHE Yaciretá (Argentina/Paraguai)
1987/1988
Barragem de Katse (Lesotho – África do Sul)
1993/1995
UHE’s Monte Claro, Castro Alves e 14 de
Julho – Projeto Ceran 2002/2007
Complexo Energético Fundão/Santa Clara – 2004/2007
Proyecto Hidroeléctrico Pinalito (República Dominicana) 2005/2007
UHE Foz do Chapecó 2007/2007

Prestou serviços de consultoria para Concreto em mais de 50 barragens no


Brasil e no exterior. Possui mais de 100 trabalhos publicados. É editor do livro
“Concretos: Massa, Estrutural, Projetado e Compactado com Rolo”.

IBRACON – O que é uma estação de tratamento sendo os primeiros com 45 m de diâmetro, que são
de esgoto? assentados em uma base de concreto armado.
De acordo com os especialistas da COPASA, uma
Walton Pacelli de Andrade – Desejo esclare- estação de tratamento de esgoto é composta de
cer que não sou um especialista em tratamento diversas estruturas de concreto que, como no
de esgoto, mas um engenheiro com experiência caso de ETE Arrudas, são: tratamento primário;
em controle tecnológico do concreto para obras decantador primário; tanque de aeração; e de-
de saneamento. cantador secundário.
Uma estação de tratamento de esgoto, de acordo Através de um emissário de concreto, o efluente é
com a Dra. Michele Batista, consta de tanques sem conduzido em condutos forçados aos decantadores
tampa, que podem ser circulares ou retangulares, principais, responsáveis pela remoção dos sólidos em

10 REVISTA CONCRETo
suspensão, tanto sedimentáveis como flutuantes. qualidade para garantir a sua durabilidade, por
Após a decantação, o líquido passa para os tanques causa da sua importância para a sociedade.
de aeração, onde é removida a matéria orgânica
pela ação de microorganismos aeróbios, formando IBRACON – Como foi o desenvolvimento da enge-
uma biomassa em suspensão, que será submetida nharia de obras de saneamento no país?
à aeração artificial, mediante fornecimento de oxi-
gênio. Então, o líquido passa para os decantadores Walton Pacelli de Andrade – O desenvolvimento
secundários, onde ocorre a separação sólido/líquido das obras de saneamento no Brasil, como em todas
do efluente, onde se processa a separação pela as obras de engenharia, acompanhou a evolução
remoção dos sólidos e o líquido é escoado para a do que ocorreu em outros países.
rede de água fluvial existente. O registro da aplicação do concreto em obras de
Na fase sólida, elevatórios enviam o excesso do lodo saneamento remonta à utilização de argamassa
para as adensadores, onde o lodo re-circula continu- fabricada com cimento natural na construção da
amente no fundo dos decantadores secundários, de Cloaca Máxima de Roma 800 a.C., parte da qual
onde passam para os tanques de aeração. Na parte ainda se encontra em serviço.
final, a fase sólida sai dos adensadores, sendo con- A aplicação de tubos de concreto para esgotos
duzida aos digestores anaeróbicos primários em obras de saneamento foi iniciada na
e secundários, onde ocorre a estabilização da América em 1840.
matéria orgânica e a desidratação do lodo por As grandes obras de saneamento, como as
processo mecânico. das estações de tratamento de água e de
esgoto, tiveram a mesma
IBRACON – Quais são as evolução das obras de enge-
obras em concreto no se- nharia hidroelétrica.
tor de saneamento? Quais A grande preocupação A Organização Mundial de
as principais dificuldades dos engenheiros Saúde estabeleceu como
técnicas no projeto, execu- que constroem as meta para o final de 2025
ção e controle tecnológico obras de concreto para que 2,9 bilhões de pessoas
destas obras? saneamento é a qualidade tenham acesso a água tra-
para garantir a sua durabilidade, tada e 4,2 bilhões tenham a
Walton Pacelli de An- por causa da sua garantia de saneamento.
drade – As barragens para importância para Por outro lado, com o trata-
armazenamento da água a sociedade. mento da água de esgotos,
e as obras auxiliares para o ela pode ser utilizada em
desvio do rio, tomada de projetos de irrigação redu-
água e vertedouro. As obras zindo a sua carência para

personalidade entrevistada
de adução para o transporte de água podem abastecimento residencial.
ser feitas em canais de cimento, tubulação
de concreto ou de aço, que alimentam as IBRACON – Pode-se afirmar que a engenha-
estações de tratamento de água. As redes de es- ria brasileira desenvolveu conhecimento próprio
goto, que, na maioria das vezes, são de tubos de para o projeto, execução e controle das obras de
concreto que conduzem as águas para as estações saneamento, ou o conhecimento formado vem
de tratamento de esgoto. basicamente de fora?
As dificuldades técnicas do projeto, execução e
controle tecnológico são as mesmas enfrentadas Walton Pacelli de Andrade – No mundo moder-
para as grandes obras de concreto, notadamente no, a velocidade da troca de informações, através
as construções de hidroelétricas. No que diz respeito de seminários e congressos, propicia o desenvolvi-
às estações de tratamento de água e de esgoto, mento dos conhecimentos de obras de engenharia,
há que se levar em consideração os agentes quí- dificultando a separação entre o que é característico
micos presentes na água (o mesmo se aplica para de um determinado país. Nas grandes obras de
as obras de transporte de água). Para se garantir a engenharia, os conhecimentos adquiridos são assi-
durabilidade do concreto, as normas estabelecem milados continuamente no meio técnico.
os requisitos necessários de acordo com a exposição Nos projetos, na execução ou no controle da
aos agentes agressivos. A NBR 6118:2003 prescreve qualidade, houve uma evolução significativa com
com clareza a qualidade do concreto em função da a adoção de técnicas de asseguramento da qua-
classe de agressividade. lidade, que teve como marco inicial a construção
A grande preocupação dos engenheiros que cons- da primeira Usina Nuclear de Angra dos Reis, na
troem as obras de concreto para saneamento é a década de 70.

REVISTA CONCRETO 11
Algumas obras nacionais no setor de saneamento garantir a sua durabilidade. As fissuras ocasionadas
merecem destaque, como a da estação de trata- por variações volumétricas, devido às variações de
mento de água de Guandu, da Cedae (Companhia temperatura do concreto, por causa das prescrições
Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro), no impostas nas especificações técnicas para a relação
Rio de Janeiro, e a estação de tratamentos de esgoto água/cimento (≤ 0,50) e para o teor de material
do Ribeirão Arrudas, da Copasa (Companhia de Sa- cimentício (≥ 350 kg/m³), faz com que peças estru-
neamento de Minas Gerais), em Belo Horizonte. turais com menor espessura (de 40 cm) tenham que
A Cedae recebeu a confirmação de que a Estação ser consideradas como concreto massa, exigindo,
de Tratamento de Água do Guandu será incluída no por isso, a análise de seu comportamento térmico.
“Guinness” como a maior do mundo. A certificação Concretos de paredes de tanques de estações de
foi confirmada esta semana pelo diretor Internacio- tratamento de água ou de esgoto podem necessitar
nal de Recordes do Guinness, Marco Frigatti, por de pré-refrigeração para se combaterem as fissuras
e-mail. O texto reconhece o título e descreve os de origem térmica.
processos utilizados para tratar a água que abastece As fissuras provocadas por recalques, deslocamento
9 milhões de pessoas em oito cidades, incluindo o de fôrma durante o lançamento do concreto, retra-
Rio de Janeiro. Apesar de ter sido inaugurada em ções plásticas e por secagem, também têm que ser
1955, o sistema só pôde ter a certificação este ano, levadas em consideração. Medidas preventi-
após a outorga de uso da água obtida pela vas para evitá-las têm que ser tomadas.
Cedae junto à Serla (Fundação Superinten- Devido à natureza de sua utilização, algu-
dência Estadual de Rios e Lagoas). mas estruturas de concreto para obras de
Segundo a Cedae, a esta- saneamento estão expostas
ção utiliza diariamente, uma a agentes químicos agressi-
média, de 100 toneladas de vos em caráter permanente,
sulfato de alumínio ou cloreto Para garantir notadamente as estações de
férrico, 20 toneladas de cal a sanidade de qualquer estrutura tratamento, bombeamento
virgem, 15 toneladas de cloro, de uma grande obra de engenharia, e transporte de esgotos, sen-
200 quilos de polieletrólito e há que se eliminarem os riscos do estas últimas, na maioria
sete toneladas de ácido flu- de ocorrência de patologia no das vezes, de tubos de con-
orsilícico. Wagner Victer, pre- concreto nas fases creto. O conhecimento da
sidente da empresa, diz que de projeto, construção e de vida composição química destes
a certificação eleva a Estação útil (operação) agentes agressivos permite
do Guandu à categoria de dessas estruturas. que se especifique a com-
principal obra de engenharia
posição do concreto ou as
do século 20 no Brasil.
medidas preventivas a serem
IBRACON – Quais são as adotadas para garantir sua
durabilidade durante sua vida útil.
principais patologias observadas em obras de
saneamento? Quais as medidas preventivas e
IBRACON – O ensino de engenharia no país
corretivas que podem ser adotadas?
tem atendido as demandas técnicas do setor de
saneamento básico?
Walton Pacelli de Andrade – Para garantir a
sanidade de qualquer estrutura de uma grande Walton Pacelli de Andrade – Basicamente, o en-
obra de engenharia, há que se eliminarem os riscos sino de engenharia ministra noções das normas téc-
de ocorrência de patologia no concreto nas fases nicas, entre elas a NBR 6118:2003, que estabelece as
de projeto, construção e de vida útil (operação) diretrizes básicas para o concreto sujeito a agentes
dessas estruturas. agressivos. Para situações mais específicas, os cursos
A ocorrência de reação álcali/agregado (RAA) em de pós-graduação podem suprir as informações
qualquer obra de engenharia é um fenômeno necessárias para uma qualificação adequada.
patológico indesejável e perfeitamente previsível
à luz dos conhecimentos técnicos e científicos dis- IBRACON – Como o IBRACON tem contribuído
poníveis na atualidade. para também atender estas demandas técnicas
A execução de ensaios com os agregados para do setor?
detectar a RAA visa eliminar esta patologia, prin-
cipalmente nas obras hidráulicas, notadamente as Walton Pacelli de Andrade – Penso que nos con-
ligadas às construções de obras de barragens, hidre- gressos promovidos pelo IBRACON o tema de dura-
létricas e às obras de concreto para saneamento. bilidade tem sido abordado com muita freqüência,
Evitar a fissuração de peças estruturais de concreto sendo importante iniciativa para conscientizar os
em obras de saneamento é imperativo técnico para engenheiros para fazerem obras mais duráveis.

12 REVISTA CONCRETo
A base de construções com qualidade começa por aqui

Os laboratórios da ABCP formam um grande centro de referência na prestação de serviços à cadeia produtiva personalidade entrevistada
da construção civil. Neles mais de 400 tipos de ensaios sobre propriedades mineralógicas, físicas, químicas
e mecânicas em insumos, produtos, projetos e sistemas à base de cimento são realizados por profissionais
qualificados em equipamentos de alta precisão e última geração.

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Laboratórios ABCP ao seu dispor


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Para mais informações, acesse:


www.abcp.org.br
13 e clique em Serviços técnicos.
REVISTA CONCRETo REVISTA CONCRETO 13
Curso Patologia nas Obras Civis

Presidente do Sinduscon-PR, Eng. Júlio César de Araújo Filho; presidente Instituto de Engenharia do Paraná – IEP,
Eng. Luiz Cláudio Mehl; coordenador da pós-graduação, Eng. Cesar Henrique S. Daher; diretor regional do IBRACON,
Eng. César Zanchi Daher; coordenador do curso de Engenharia Civil da UTP, Prof. Luiz Capraro; e Pró-reitora de
Pós-graduação desta mesma universidade, Prof. Elizabeth Sbardelini.

A Regional IBRACON Paraná, sob coorde-


nação dos engenheiros Luís César Luca e César
Henrique Daher, promove a 2ª turma do curso
de pós-graduação em Patologia nas Obras Civis,
ligado à Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). O
curso tem carga horária de 407 horas.
A palestra inaugural, ocorrida em 30
de março de 2007 no auditório do Instituto de
Engenharia do Paraná (IEP), foi proferida pelo
presidente do IBRACON, Prof. Paulo Helene, so-
bre o tema “Acidentes em obras de engenharia
civil – lições aprendidas”. Estiveram presentes
250 pessoas, entre estudantes, profissionais e
pesquisadores, parte no auditório do IEP e os
demais no salão magno, que assistiram a palestra
com transmissão simultânea.
Maiores informações no site Palestra inaugural do Prof. Paulo Helene
http://www.patologianasobrascivis.com.br

Café da manhã no Instituto de Engenharia


O IBRACON participou do evento Insti-
tuto de Engenharia e as Entidades, realizado
em 21 de junho de 2007, na sede do IE, em
São Paulo.
O objetivo do evento foi tratar de possí-
veis parcerias entre instituições congêneres.
O Prof. Cláudio Sbrighi, vice-presidente
do IBRACON, compareceu ao Café da Manhã
no IE, levando as propostas do Instituto para o
fortalecimento da engenharia nacional.

14 REVISTA CONCRETo REVISTA CONCRETO 14


Atividades realizadas
pela Regional IBRACON-RJ
Seminário na UFF

A Regional IBRACON no Rio de Janeiro


realizou, conjuntamente com a Universida-
de Federal Fluminense (UFF) e a Associação
Brasileira de Pontes e Estruturas (ABPE), no
dia 20 de junho de 2007, o Seminário Estru-
turas de Concreto, na Escola de Engenharia
da UFF. O seminário contou com a presença
de 84 profissionais.

Encontro técnico com engenheiros


da Eletronuclear

A diretora regional do IBRACON no Rio


de Janeiro, Andreia Sarmiento, participou de
reunião técnica com 15 engenheiros da Eletro-
nuclear, ligados aos projetos da Usina Nuclear
Angra III. A reunião abordou os avanços da
tecnologia do concreto em termos de durabi-
lidade das obras.

I Seminário de Estruturas de Concreto

Para discutir o impacto


das normas NBR 6118, NBR 12655

ACONTECE nas regionais


e NBR 14931 nas construções em
concreto, o IBRACON-RJ, a ABECE
e o Sinduscon-RJ realizaram o I
Seminário de Estruturas de Con-
creto. O evento foi realizado no
dia 05 de julho de 2007.
O público lotou o au-
ditório do Sinduscon-RJ para
aprender e debater com os
palestrantes convidados: eng.
Justino Vieira (ABECE); prof.
Geraldo Piccoli (UNISUAM); eng.
Antero Parahyba (consultor);
arq. Adriana Roxo (consultora);
eng. Robson Dutra da Veiga
(INSPEC); eng. César Pinto (CSP
Consultoria); e prof. Wanderley
Correa (WGS Consultoria).

REVISTA CONCRETO 15
Enio Pazini; Mauro Oliveira (sec. adjunto de Ciência e Tecnologia do Ceará), Antonio Colaço (reitor da UVA), Barros
Neto (diretor do Centro de Tecnologia da UFC) e Francisco Carvalho (coordenador do CINPAR)

CINPAR consolida-se entre os mais


importantes congressos na área
de patologia e recuperação de
estruturas da América do Sul
A Regional IBRACON no Ceará reali- diversas regiões do país, especialmente
zou, juntamente com a Universidade Estadu- do Sudeste, impressionou os palestrantes
al Vale do Acaraú (UVA) e o Instituto de Es- estrangeiros. O professor Petr Stepanek,
tudos dos Materiais de Construção (IEMAC), da Universidade Tecnológica de Brno, na
o 3º Congresso Internacional sobre Patolo- Republica Tcheca, afirmou: “I thank you very
gia e Recuperação de Estruturas – CINPAR much for the interesting congress. I think it
2007, de 7 a 9 de junho de 2007. O evento was an excellent event, not only from local
internacional contou com a participação de point of view, but from international point
palestrantes, professores e pesquisadores de of view too. I will prepare some suggestion
universidades nacionais e estrangeiras. for preparation an international congress
O Congresso Internacional sobre Pato- that could take a part not only in Brazil ,
logia e Recuperação de Estruturas – CINPAR but in Europe also”.
consolida-se, segundo o professor Enio Pazini O professor Francisco Carvalho, coor-
Figueiredo, conselheiro do Instituto Brasileiro denador do evento, considera que o CINPAR
do Concreto – IBRACON, como dos mais impor- 2007 foi um grande sucesso. “A presença de
tantes congressos sobre patologia e recupera- professores, alunos e pesquisadores oriundos
ção de estruturas da América do Sul. de estados do Nordeste, Norte e Sudeste é
O nível técnico das palestras e o uma demonstração inequívoca da importân-
elevado índice de participantes vindos de cia do evento”, disse.

16 REVISTA CONCRETo
Evento “O Momento Atual
da Engenharia Brasileira”:
quinto debate
O Diretor Regional do IBRACON no Rio te da Agência Nacional de Águas (ANA), Eng.
Grande do Sul, Prof. Luiz Carlos Pinto da Silva Rogério Menescal; o presidente da Associação
Filho, representou o Presidente do Instituto, Prof. Brasileira de Engenheiros Civis (ABENC-DF),
Paulo Helene, no quinto debate da série “O Mo- João Carlos Pimenta; o Diretor da ABECE-DF,
mento Atual da Engenharia Brasileira”, iniciada Eduardo Azambuja e o Diretor da Associação
em São Paulo, em 7 de março de 2007, após o aci- Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
dente na estação Pinheiros do Metrô, para discutir (ASBRACO), Eng. João Carlos Pimenta.
o contexto técnico, legal e econômico dentro do Durante o evento, foram discutidos
qual a engenharia nacional é exercida. alguns dos tópicos mais importantes que
Os eventos, promovidos pela Associa- emergiram nas discussões anteriores, tais
ção Brasileira de Mecânica dos Solos –ABMS, como a proposta para implantação de um
em parceria com o IBRACON, o Instituto de exame do conselho, nos moldes do exame da
Engenharia de São Paulo, a ABGE (Associação Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), para
Brasileira de Geologia de Engenharia) e a garantir a qualidade dos recém-formados; a
ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e necessidade de se estimular a educação conti-
Consultoria Estrutural), foram organizados em nuada, através da criação de mecanismos que
cinco estados – além de São Paulo, no Rio de valorizem as especializações, a experiência e

ACONTECE nas regionais


Janeiro, no Rio Grande do Sul, em Pernambuco os títulos acadêmicos; a rejeição do mecanis-
e em Brasília – fomentando a discussão e re- mo de pregão para serviços de engenharia;
gistrando as opiniões de diferentes setores ao a importância de preservar as atribuições dos
longo de todo o país. engenheiros; a importância de garantir pra-
O Prof. Alberto Sayão (PUC-RJ), presi- zos e recursos adequados para a investigação
dente da ABMS, acompanhou todos os debates, geológica e projeto de obras de grande por-
registrando as propostas dos representantes das te; a importância de se manter uma política
diferentes regiões para valorizar e qualificar a ativa de monitoramento e manutenção de
engenharia nacional, com vistas à elaboração estruturas civis.
de um documento que consolide as demandas Ao final das discussões, se consolidaram
do setor, que vai ser apresentado à sociedade mais algumas sugestões para o fortalecimento
e entregue às autoridades constituídas com o da engenharia, que serão incorporadas à carta
objetivo de estabelecer uma agenda positiva que está sendo redigida pelas entidades promo-
para a engenharia. toras da série de eventos e que será em breve
O quinto debate, apoiado e hospedado divulgada ao grande público.
pelo CREA-DF, contou com a presença de im- Um relato detalhado das discussões e
portantes representantes da região, tais como a propostas está sendo elaborado e será divulgado
presidente do CREA-DF, Eng. Lia Sá; o presiden- oportunamente aqui na revista CONCRETO.

REVISTA CONCRETO 17
IBRACON homenageia professor
Marcello Moraes
A Diretoria Regional do Distrito Federal
do IBRACON, o SINDUSCON-DF, a ABECE e a
ABMS-Núcleo Regional Centro-Oeste homena-
gearam os 50 anos de atuação profissional do
professor Marcello da Cunha Moraes, em evento
comemorativo realizado no dia 25 de junho de
2007, no auditório do Departamento de Enge-
nharia Civil da Universidade de Brasília (UnB).
Por ocasião da homenagem, o Prof. Paulo
Helene proferiu a palestra “As quatro revoluções
na arte de projetar e construir estruturas”.
O Prof. Marcello Moraes formou-se em
Engenharia Civil pela Escola Nacional de Enge- área de Tecnologia do Concreto. Foi conselheiro
nharia Civil da Universidade do Brasil, em 1956. e diretor regional do IBRACON.
Foi professor na Escola de Engenharia Civil da O engenheiro elaborou mais de 1200
Universidade Federal de Goiás e na Faculdade projetos na área de estruturas de concreto
de Tecnologia da Universidade de Brasília. armado, protendido, fundações. Continua tra-
Foi laureado com o Prêmio Ary Frederico balhando na elaboração de projetos estruturais,
Torres do IBRACON, destinado aos engenheiros projetos de fundações e projetos de reforço de
destaques do ano pela realização de estudos na estruturas e fundações.

Workshop Internacional sobre as melhores


práticas para Pavimentos de Concreto IBRACON

Recife, Brasil • 21 a 23 de outubro de 2007


OBJETIVOS
OBJETIVOS
Fórum Internacional para apresentação e discussão das melhores práticas para seleção e dosagem
de concreto, projeto de pavimentos, sua análise estrutural, sua construção e manutenção, para estradas,
vias urbanas, pisos industriais, portos e aeroportos.

PALESTRANTES
WS-I: Novas Tecnologias para Concreto de Pavimentação WS-IV: Avaliação e Análise Estrutural por Modelagem Numérica
Prof. Dr. Dan Zollinger, Texas AM University – Presidente da Prof. Dr. Lev Khazanovich, University of Minnesota – Autor
Sociedade Internacional para Pavimentos de Concreto (ISCP) Principal do Programa ISLAB de Elementos Finitos

WS-II: Modernas Técnicas para Projeto de Pavimentos de Concreto WS-V: Modelos de Desempenho e Gerência dos Pavimentos
Dra. Katheleen Teresa Hall – Vice-Presidente da ISCP Prof. (Emeritus) Dr. Michael Darter, University of Illinois –
Pesquisador e Consultor da ARA-ERES
WS-III: Evolução da Construção Mecanizada na Europa
Prof. Dr. Willy Wilk, Swiss Federal Institute of Technology WS-VI: Manutenção e Restauração dos Pavimentos após Longo Uso
Ex-Presidente da Associação Suíça de Cimento Portland Dr. Mark Snyder – Secretário Geral da ISCP

ORGANIZADORES
• INSTITUTO BRASILEIRO DO CONCRETO IBRACON • ESCOLA POLITÉCNICA DA USP
• ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PERNAMBUCO • INTERNATIONAL SOCIETY FOR CONCRETE PAVEMENTS

18 REVISTA CONCRETo
Estruturas de reservatórios:
conceitos de fissuração e
sugestões para execução
Eduardo Christo Silveira Thomaz
Luiz Antonio Vieira Carneiro
Instituto Militar de Engenharia

1. Introdução cidade de Belo Horizonte/MG em maio de 2006,


sob coordenação da Prof. Andréia Sarmento e do
Eng. Pietro Araugio, representantes da MC-Bau-
A fissuração do concreto é um dos prin- chemie Brasil.
cipais problemas patológicos de uma estrutura
de concreto, cujo surgimento pode ocorrer
logo após a concretagem e se deve, em geral, 2. Causas da fissuração do concreto
a diversos fatores.
Em estruturas de reservatórios, as fissuras
podem causar o comprometimento do desem- O concreto de algumas décadas atrás
penho destas, devido à falta de estanqueidade era formado basicamente por quatro compo-
do concreto, levando à diminuição da sua dura- nentes: cimento, areia, pedra e água. Hoje em
bilidade, e devem ser limitadas a uma abertura dia, podem ser colocados pelos menos vinte
máxima característica igual a 0,1 mm. componentes entre adições e aditivos, tais como
Neste trabalho, apresentam-se algumas material pozolânico, sílica ativa, fillers, pó mine-
considerações a respeito de causas de ocorrência ral plastificantes, metacaulim, modificadores de
de fissuras em reservatórios de concreto não pega (retardadores ou aceleradores), incorpora-
enterrados e teoria sobre o desenvolvimento de dores de ar, redutores de água (plastificantes ou
tensões ao longo das paredes de concreto e suge- superplastificantes), e outros. Apesar do avanço
rem-se procedi- tecnológico no
mentos quanto à que se refere à
dosagem do con- dosagem do con-

OBRAS DE SANEAMENTO
creto e à execu- creto, a fissura-
ção das paredes ção do concreto
de reservatórios. é inevitável.
Este tra- Além dis-
balho é um bre- so, o cimento de
ve resumo da pa- hoje é mais fino
lestra proferida do que o de an-
pelo Prof. Eduar- tigamente. Isto
do Thomaz junto conduz a uma hi-
a Companhia de dratação das par-
Saneamento de tículas de cimento
Minas Gerais – mais rápida, com
COPASA, em par- liberação de calor
ceria com a Asso- de hidratação em
ciação Brasileira menor intervalo
de Engenharia e de tempo e cho-
Consultoria Estru- que térmico do
tural – ABECE, na concreto após a

REVISTA CONCRETO 19
parte dos agregados graúdos o
impedimento da retração da argamassa de
cimento por perda de água para a atmosfera;
a coação interna entre a armadura interna
e a argamassa, havendo o impedimento da
argamassa de se retrair ao secar por parte
da armadura;
o fluxo de calor entre as camadas do
concreto e entre o interior e a superfície
externa da parede de concreto;
a retração plástica na fase fresca do
concreto nas primeiras horas;
a retração autógena que ocorre no
concreto vedado, sem haver troca de
umidade com a atmosfera;
a retração hidráulica por causa da perda
de água do concreto para o ar;
a retração térmica por resfriamento, ou
seja, há a perda de calor do concreto para
a atmosfera.

3. Tensões ao longo de
retirada das fôrmas mais elevado, o que favorece paredes de concreto
a fissuração do concreto.
Como pode ser visto na Figura 1, a hi-
dratação dos grãos de cimento se desenvolve A Figura 2 mostra, segundo algumas
em cinco fases distintas, expressa pela variação teorias, a distribuição de tensões ao longo da
da taxa de liberação de calor em função da altura de paredes de concreto para relação
variação do tempo. unitária entre altura e vão da parede.
Na fase inicial (1), ocorre a dissolução do No eixo das abscissas, tem-se o grau de
aluminato tricálcico (C3A) na água com elevada impedimento da parede em relação à fixação. O
liberação de calor em um curto intervalo de tem- valor unitário expressa o total impedimento de
po, após o que inicia-se o período de dormência deslocamento da parede do reservatório na base.
(fase 2), na qual a continuação da hidratação À medida que este valor diminui, o deslocamento
do cimento é prejudicada em conseqüência da da parede ocorre. No eixo das ordenadas, tem-se
formação de etringita na superfície dos grãos de a altura relativa da parede de concreto.
cimento. A partir da fase (3), há a retomada da Abaixo da meia altura da parede de
hidratação do cimento, havendo o aumento da concreto, podem surgir tensões de tração, que
taxa de liberação de calor. Na fase seguinte (4), a aumentam de acordo com a proximidade da
taxa de liberação de calor começa a decair, fruto base da parede. Caso estas tensões ultrapassem
da hidratação do silicato tricálcico (C3S) e do C3A, o valor da resistência do concreto à tração,
sendo formados os compostos silicatos de cálcio ocorre a fissuração do concreto e a parede pode
hidratado (C-S-H), hidróxido de cálcio (C-H) e romper por tração de concreto.
etringita (sulfoaluminato de cálcio). A seguir, Segundo o ACI 207 (1995), as tensões
na fase final (5), a hidratação passa a ser menor, tração que ocorrem ao longo da altura da
com diminuiçao da taxa de liberação de calor até parede dependem principalmente da relação
um nível constante, formando-se lentamente os entre o vão e a altura da parede e do grau de
produtos da hidratação C-S-H e C-H. impedimento de deslocamento da parede.
Várias são as causas da ocorrência de fis- A distribuição de tensões de tração ao
suras no concreto de paredes de reservatórios. longo da altura da parede de concreto, de
Dentre elas, podem ser citadas: acordo com o ACI 207 (1995), para relação
a coação externa que ocorre entre a laje entre vão e altura da parede unitária (L/H=1)
do fundo e as paredes do reservatório, pode ser vista na Figura 3a. Nela observa-se
que é o impedimento de deslocamento que os maiores valores de tensões de tração
que a laje de fundo provoca nas paredes ocorrem para distâncias relativas à base da
do reservatório; parede de até 0,5. No caso de L/H =4, estas
a coação interna entre os agregados tensões atingem valores ainda maiores, con-
graúdos e a argamassa, ocorrendo por forme mostra Figura 3b.

20 REVISTA CONCRETo
Essas tensões de tração podem ser calcu-
ladas utilizando a seguinte equação:

Onde:
– Ec é o módulo de elasticidade longitudinal
do concreto;
– εcs é a deformação de retração térmica do
concreto, dada por:

Sendo:
– a o coeficiente de dilatação térmica
do concreto;
– Dt a variação térmica;
– Kr é o coeficiente de impedimento
de deslocamento.

As Equações 3 e 4 apresentam a relação


entre o coeficiente de impedimento de deslo-
camento da parede de concreto e a distância
relativa à base da parede d/H.

4. Deformações de tração
em paredes de concreto

OBRAS DE SANEAMENTO
Na Figura 4 pode ser visto um exemplo
Onde: de ocorrência de fissuras em barreira rodoviá-
– L é o vão da parede; ria com base fixa, similar ao que acontece em
– H é a altura total da parede; paredes de um reservatório.
– d é a distância medida a partir da base A taxa de armadura interna da barreira
da parede. era igual a 0,40% e os valores medidos de aber-
tura média de fissura e de espaçamento entre
Para o caso de L/H = 4, fissuras eram de 0,20 mm e 800 mm.
Fazendo a relação entre a abertura
média de fissura e o espaçamento entre fissu-
ras, tem-se a deformação média do concreto
à tração igual a 0,25 ‰, cujo valor é similar ao
encontrado em obras de concreto com retração
térmica. Caso não houvesse travamento da base
da barreira rodoviária, não teria havido esta
deformação do concreto à tração. Com o uso da
Equação 2, considerando e iguais a 10-5 oC e 25
o
C, chega-se a mesmo valor para de 0,25 ‰.

REVISTA CONCRETO 21
Em vista disso, recomenda-se que a varia-
ção térmica entre o início e fim de concretagem
não ultrapasse 25 oC. Para isto, é consenso no meio
técnico que o concreto de paredes de reservatório
deva ser resfriado entre 10 oC e 15 oC antes do
seu lançamento.
Valores de deformação do concreto à
para se evitar ou reduzir a abertura de fissuras
tração em função da resistência do concreto
nas paredes de concreto de reservatórios não
à compressão, obtidos em ensaios de ruptura
enterrados são as seguintes:
por flexão feitos pelo Laboratório de Furnas,
podem ser visualizados na Figura 5.
Em relação ao cimento:
Verifica-se que, para faixa de valores
usar cimento com baixo calor de hidratação
de resistência do concreto à compressão de 20
e com baixo teor de C3A.
MPa a 30 MPa, os valores de deformação do
concreto à tração na ruptura situam-se entre
Em relação à temperatura:
0,20 ‰ e 0,25 ‰, cujos valores são os adotados
utilizar gelo na água de mistura de
para concreto de parede de reservatório na
concreto, tal que a temperatura de
idade de 28 dias.
lançamento do concreto seja cerca de 15 oC;
Resultados deformação do concreto à
resfriar o concreto lançado com água
tração em função da resistência do concreto à
gelada circulando em serpentinas;
tração na flexão, provenientes de ensaios de
ruptura por flexão de vigotas de concreto feitos
entre os anos de 1903 e 2002, estão reunidos
na Figura 6.
Observa-se que, para valores de resis-
tência do concreto à tração na flexão entre 2,5
MPa e 4,5 MPa, valores estes compatíveis para
concretos de resistência à compressão de cerca
de 20 MPa a 30 MPa, os valores de deformação
do concreto à tração variam de 0,15 ‰ a 0,25
‰. Apesar da evolução do tempo de cerca de
cem anos, o concreto continua apresentando
valor médio para sua deformação à tração em
torno de 0,20 ‰.

5. Sugestões para execução


de paredes de concreto

Com base na prática, teoria e verificações


de ensaios anteriormente citados, as sugestões

22 REVISTA CONCRETo
resfriar o concreto da parede, junto da não usar fôrmas de aço, pois resfriam
laje do fundo. Não é necessário resfriar o muito rapidamente o concreto.
concreto no topo da parede.
Em relação à armadura interna:
Em relação às fôrmas: distribuir a armadura em várias camadas e
empregar fôrmas de madeira com duas não apenas nas duas faces externas;
folhas, formando uma câmara interna de espaçar as barras da armadura em torno
ar confinado. Esse ar confinado serve como de 7 φ ;
isolamento térmico. O resfriamento é adotar taxa de armadura total de
muito mais lento e o concreto tem tempo ferro horizontal de costela igual a
para ganhar resistência à tração; 1,5 %, que é aproximadamente
retirar as fôrmas após uma redução lenta igual à taxa usada nas zonas tracionadas
da temperatura no concreto; de vigas de concreto.

Referências Bibliográficas

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE, 1995, Effect of Restraint, Volume Change, and Reinforcement on Cracking
of Mass Concrete, ACI Committee 207.2R.

CARLSON, R. W., READING, W. L., 1988, Model Study of Shrinkage Cracking in Concrete Building,
ACI Structural Journal, v. 85, issue 4, jul., pp. 395-404.

Cusson, D., Repette, W. L., 2000, Early Age Cracking in Reconstructed Concrete Bridge Barrier Walls,
ACI Materials Journal, July-August.

Pacelli, W. A., 1997, Concretos - Ensaios e Propriedades, Laboratório de Concreto, Furnas, Editora Pini.

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OBRAS DE SANEAMENTO
Sala 1 Sala 2
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O curso irá abordar temas como fluxo dos materiais (ensaios em uma central Apresenta o estado da arte em patologia e durabilidade do concreto. Expõe a
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Arcindo Vaquero y Mayor Paulo Barbosa


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REVISTA CONCRETO 23
Pára-raios estrutural
dentro do concreto armado
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Introdução

As normas que regulamentam a insta-


lação de SPDA-Sistemas de Proteção contra
Descargas Atmosféricas ficaram adormecidas
por aproximadamente 20 anos, quando, em
1993, a ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas) atualizou estas normas, as quais pas-
saram a se denominar NBR 5419/93 e tiveram
como referência as normas da IEC (International
Eletrical Comission).
Com a edição desta norma em 1993, e
atualizações em 2001 e 2005, muitos conceitos
foram atualizados e novas técnicas passaram a
compor os novos sistemas de proteção fazendo
que atingissem eficiências muito boas. Das novi-
dades posso destacar as principais:
Os condutores de descida não precisam
mais ficar afastados 20 cm da fachada;
Os condutores de descida têm que
obedecer a um distanciamento entre
condutores, o qual depende do nível
de proteção;
A instalação de anéis de cintamento a cada
20 metros de altura para prevenção contra
descargas laterais;
A equalização de potenciais entre todas
as malhas de aterramento e todas as
massas metálicas;
A possibilidade de usar a estrutura de A segunda opção existe porque não pode-
concreto armado das estruturas. mos garantir que as ferragens tenham uma conti-
É sobre este último item que pretende- nuidade elétrica garantida em todo seu trajeto, até
mos direcionar este trabalho. porque essas amarrações que poderiam garantir a
A norma dá duas opções para este sis- continuidade dos pilares não são estruturalmente
tema. O primeiro consiste em apenas usar as obrigatórias de serem realizadas, depende do
ferragens do concreto armado como descidas armador que está executando o serviço e sempre
naturais; e o segundo, seria o uso de uma que for feita a redução da seção de pilar essa
barra de aço galvanizada a fogo adicional às continuidade não poderá ser garantida. Numa
ferragens existentes, com a função específica obra civil existem tantos problemas executivos que
de garantir a continuidade, desde o solo até o podem interferir nessa continuidade que qualquer
topo do prédio. engenheiro civil poderia enunciar facilmente.

24 REVISTA CONCRETo
Instalação da barra de pára-raios (Re Bar TEL-760) em fundações profundas (h > 5m)

Este trabalho aborda a segunda opção Processo executivo


da norma, ou seja, o uso da barra adicional gal-
vanizada a fogo dentro do concreto armado.
Fundações

Sistema estrutural O primeiro ponto a ser observado é o tipo


de fundação e a profundidade média desta. Exis-
tem diversos tipo de fundação, entre elas as mais
Este Sistema foi “batizado” de ESTRU- usuais são : estaca Franki, estaca Strauss, estaca
TURAL pelo simples motivo de ser instalado Pré-moldada, estaca trilho, Tubulão mecanizado
juntamente com a estrutura de concreto arma- ou manual, fundação direta, radie, etc.
do do prédio, distinguindo-o assim dos demais Para as fundações verticais (estacas ou tubu-
sistemas externos. lões), o procedimento é o mesmo e consiste na co-
Para evitar os problemas de continui- locação da barra (denominada “Re Bar” (Reforcing
dade, o modo mais seguro consiste na coloca- Bar)) dentro das fundações, o mais profundo pos-
ção de uma barra de aço liso ∅ 10 mm (3/8” ) sível, sem no entanto atingir o solo (aprox. 10cm),
TECNOLOGIA

galvanizada a fogo (tab.4 da Norma), dentro pois a acidez deste poderá corroer a barra.
de todos os pilares da torre do prédio desde a A “Re Bar” tem 3,40m x ∅ 10mm (3/8”) lisa
fundação até o ponto mais alto. e sempre que seja necessário deverá ser emenda-
da com a próxima “Re Bar” . Esta emenda deverá
ser feita com um transpasse de 20 cm assegurada
por 3 clips 3/8” também galvanizados.

REVISTA CONCRETO 25
A “Re Bar” deverá ser instalada na hori- aterramento, principalmente porque estes são
zontal, dentro do cintamento (vigas baldrames), emendados com solda elétrica durante a sua
interligando todas as ReBar que passam pelas cravação. A barra deverá ser soldada no topo do
fundações, formando um anel externo e even- trilho, atravessar o bloco e entrar nos pilares.
tualmente também fechamentos internos, de No caso de fundação direta, deverá ser
modo a garantir que todos os pilares da torre adotado o mesmo critério que consiste no refor-
do prédio sejam interligados. ço horizontal através da colocação da re-bar no
Não é necessário colocar a barra em cintamento/ coroamento (viga baldrame).
todas as fundações, bastando apenas uma No caso da estaca pré-moldada de con-
fundação para cada pilar; assim, o número de creto (centrifugada), o procedimento será o
fundações aterradas coincide com o número de mesmo da estaca trilho.
pilares do pavimento tipo.
Sempre que exista cruzamento de ferra- Descidas
gens verticais dos pilares com ferragens horizon-
tais das vigas, lajes e blocos, a “Re Bar” deverá As descidas serão executadas através da
ser obrigatoriamente ligada, através de ferro colocação de uma RE-BAR em todos os pilares
comum em forma de “ L” com 20cm por 20cm, do corpo do prédio. Esta barra será fixada nos
amarrado com arame PG7 (arame recozido, co- estribos do pilar, correndo paralela às demais
mum), e as demais ferragens verticais deverão ferragens estruturais. Nos pilares externos (de
ser amarradas em posições alternadas (uma sim, fachada) deverá haver a preocupação de colo-
uma não), conforme figuras seguintes. car a RE-BAR na face mais externa do pilar, de
Estas amarrações deverão ser repetidas modo a receber as descargas laterais que só
em todas as lajes, com todos os pilares que per- atingem estes. Nos pilares internos, sua localiza-
tencem ao corpo do prédio. Salienta-se que a ção poderá ser em qualquer face, porém sempre
execução deste procedimento não gera custos dentro do estribo, sem invadir o cobrimento .
adicionais, pois os ferros em “L” são aproveita- No cruzamento das ferragens verticais
dos das sobras de outros ferros e a mão de obra (pilares) com as horizontais (Vigas e lajes), estes
é muito pouca. Nas grandes construtoras, este deverão ser amarrados com ferros da constru-
método já virou cultura e rotina de obra. ção com diâmetro de 8mm a 10mm , conforme
No caso de fundação com trilho metálico, fig. 19 e 20, obedecendo sempre que, em pri-
é dispensada o uso da barra adicional (re-bar) meiro lugar, deverá ser amarrada a RE-BAR e
na fundação, pois o próprio trilho já substitui o depois as demais barras verticais, uma sim, uma

Instalação da barra de pára-raios (Re Bar TEL-760) em fundações rasas

26 REVISTA CONCRETo
Perspectiva da instalação da barra do pára-raios nas vigas e tubulões de fundações rasas (h <= 5m)

não, alternadamente . Esta etapa, bem como a cobre nú #35mm2 ou Barra chata de
fundação, deve ser executada pela construtora Alumínio ref. TEL-770 (por questões
para minimizar os custos. estéticas).
Ao se chegar na última laje tipo, alguns Captação por cima – Nos locais onde
pilares irão morrer, outros irão continuar e ou- não existe fácil acesso ao público, as Barras
tros irão nascer . Os pilares que morrem deve- deverão sair por cima dos parapeitos
rão ser interligados com os que sobem para os (telhado de cobertura, casas de máquinas,
níveis superiores. Esta interligação é feita com tampa de caixa d’água , etc.) e ser
RE-BAR na horizontal, dentro da laje e vigas interligadas com cabo de cobre #35mm2
(ver exemplo abaixo) e todas as emendas da na horizontal (ver desenho). Neste caso
RE-BAR serão feitas com 3 clips. não é necessário o uso da barra chata de
alumínio, pois, como os cabos vão ficar
Captação por cima dos parapeitos, não tem
problema estético, uma vez que são áreas
A captação consiste basicamente na onde somente o pessoal de manutenção
interligação horizontal das RE-BARs que estive- tem acesso.
rem aflorando no topo do prédio. Esta captação
se divide em 2 tipos: Equalizações de potenciais
Captação por fora, ou seja, nos locais onde
existe acesso de público, a barra deverá ser A equalização de potenciais se divide
direcionada para o lado de fora do em dois itens:
TECNOLOGIA

parapeito, evitando assim acidentes a) Equalização de Potenciais no subsolo


pessoais pelo contato direto com o No nível mais baixo da edificação (nor-
SPDA, depredações no sistema e o medo malmente o subsolo), deverão ser tomadas as
que é provocado pela sua presença. Neste seguintes providências:
caso, as barras (RE-BAR) são interligadas Instalar a caixa de equalização (por
na horizontal, pelo lado de fora do exemplo, a TEL-901 – 20cm X 20cm) num pilar
parapeito (pingadeira/soleira) com cabo de o mais eqüidistante possível do DG (quadro

REVISTA CONCRETO 27
de fita perfurada estanhada
no piso do cubículo, de modo
a que os botijões de gás sem-
pre estejam em contato direto
com a fita. A tubulação metá-
lica que sai da central de gás
para distribuir para o prédio
também deverá ser aterrada
ainda dentro do cubículo com
a fita perfurada estanhada,
assim como o portão metálico
da central de gás. Após todas
estas estruturas aterradas, este
conjunto deverá ser interligado
com a ferragem da lage, no
ponto mais próximo da central
(ver desenho).
Esta medida tem como
objetivo equalizar os poten-
ciais das diferentes estruturas
metálicas (botijões, portões e
tubulações), evitando, assim, a
possibilidade de centelhamen-
to e possível explosão. A norma
não aborda este assunto espe-
cificamente, pois, em cidades
como São Paulo, a maioria do
gás é canalizado e nem sempre
Detalhes das amarrações entre “Re Bars” e ferragens verticais com ferragens horizontais existe a central de gás.
b) Equalização no nível dos
da concessionária telefônica) e do QDG (qua- anéis horizontais deverá ser
dro da concessionária de energia elétrica) e executada do seguinte modo:
interligar a caixa a qualquer ferragem do A cada 20 metros de altura a partir
pilar, quebrando cuidadosamente qualquer do solo (onde seriam os anéis de cintamento
quina do pilar até remover o cobrimento horizontal no SISTEMA EXTERNO/EMBU-
deste. TIDO), deverão ser feitas as equalizações
Conectar os aterramentos telefônico e de potenciais
elétrico na caixa de equalização de potenciais, A caixa de equalização TEL-901 deverá ser
através de cabo de cobre isolado (750V) #16mm2. locada de preferência no Hall do andar (embutida
Esta conexão deverá ser feita na haste mais pró- na parede a ± 20 cm do piso), interligada através
xima de cada um dos aterramentos, lembrando de fita perfurada estanhada na ferragem da lage
que, caso existam outros aterramentos (eleva- mais próxima e na carcaça metálica do QDC (qua-
dores, interfone, etc.), o procedimento será o dro de distribuição de circuitos ) do apartamento
mesmo. mais próximo. Se os circuitos elétricos possuem
Interligar todas as massa metálicas (Pru- fio “terra”, não é necessário interligar os outros
madas de incêndio, recalque, tubos de gás, água QDCs do andar, visto já estarem equalizados por
quente, guias do elevador e contrapeso, etc.) na
este, caso contrário, todos os QDCs deverão ser
caixa de equalização, através de cabo de cobre
levados à caixa de equalização, através de cabo de
nu #35mm2 (também poderá ser encapado) . A
cobre encapado #16mm2, passando por baixo do
conexão com as respectivas tubulações deverá ser
feita com a fita perfurada de latão estanhada ref. contrapiso (ou barroteamento) do andar.
TEL-750 para abraçar tubos com diferentes diâ- As demais massas (Prumadas de Incên-
metros. Para a tubulação de incêndio e recalque, dio, recalque, água quente, gás, guias dos ele-
é recomendável que estas sejam aterradas no vadores e contrapesos, etc) poderão ser ligadas
subsolo com uma haste e depois equalizada. diretamente nas ferragens das lajes, através de
A central de gás normalmente localizada fita perfurada estanhada ou na caixa de equa-
no pilotis deverá aterrada, através do lançamento lização, dependendo da distância.

28 REVISTA CONCRETo
Amarração do vergalhão do pára-raios com outras Amarração dos vergalhões estruturais dos pilares com
ferragens próximas outras ferragens próximas (lages ou vigas), 1 sim, 1
não, alternadamente

d) O custo deste sistema é de aproxima-


Observações técnicas damente 20% a 30% mais barato que o sistema
externo/embutido, pelos seguintes motivos:
1) Ao invés de cabos de cobre serão usadas
a) O SISTEMA ESTRUTURAL não ne- as barras de aço galvanizadas a fogo (mais
cessita de anéis de cintamento horizontal baratas que o cabo de cobre).
(Ítem 5.1.2.5,d), conforme norma técnica, 2) A mão de obra empregada não é
visto as ferragens de cada laje terem sido especializada (Aterramento e descidas).
equalizadas com as ferragens dos pilares, 3) Não acarreta em danos estéticos e
fazendo a função de um anel horizontal desgastes em reuniões com arquitetos e
em cada laje . proprietários.
b) Pelo mesmo motivo acima, ao li- 4) É dispensada a execução dos anéis de
garmos as massas metálicas às ferragens da cintamento horizontal a cada 20 m de altura.
laje, estamos garantindo a equalização com 5) É consagrado no meio científico
o SPDA. mundial há muitas décadas, como sendo
c) Recorda-se que este sistema seja indiscutivelmente mais eficiente.
executado desde o início das fundações pela 6) Equaliza os potenciais do prédio com
construtora, com orientação do projetista, o SPDA, diminuindo as probabilidades
até o final da estrutura. A captação e equa- de centelhamento.
lizações deverão ser executadas por empresa
especializada que emita uma ART junto ao
CREA dos serviços prestados

TECNOLOGIA

Localização das Re-Bars nos pilares internos e externos

REVISTA CONCRETO 29
Sugestão de ligações na caixa de equalização para embutir TEL-901

30 REVISTA CONCRETo
REVISTA CONCRETO
31
OBRAS DE SANEAMENTO
Estruturas de concreto para obras
de saneamento: a necessidade de
normalização específica
José Márcio Calixto e Ronaldo Chaves
UFMG

Fausto Ribeiro
ABECE/BH

Milva Galdina de Moraes e Silva


Cristiane Pinto Ferreira Costa
COPASA

O Brasil possui indicativos bastante estão diretamente relacionadas a essas péssimas


preocupantes no que diz respeito aos serviços condições de higiene.
de saneamento básico oferecidos à população. O crescimento desordenado dos centros
A oferta de água tratada, com qualidade, se urbanos contribui acentuadamente para o agra-
restringe aos centros mais desenvolvidos e é vamento deste quadro. Porém, pode-se afirmar
rara a localidade que trata o seu esgoto, antes que a sociedade, tanto através dos órgãos gover-
de lançá-lo nos córregos, rios e oceano. As namentais quanto das entidades civis, começa a se
conseqüências desta situação são altamente sensibilizar mais com o problema. Vários projetos
prejudiciais, tanto ao meio ambiente quanto à estão atualmente em andamento em todo o país,
própria população, que sofre com doenças que com o objetivo de reduzir a deficiência de oferta

32 REVISTA CONCRETo
de serviços de saneamento básico. Nunca se in- norma NBR 7187 - Projeto de pontes de concreto
vestiu tanto no setor como nos últimos anos. A armado e de concreto protendido – Procedimento,
sociedade espera que estes investimentos sejam fixa exigências específicas aos projetos estruturais
duradouros para que o problema seja, se não de pontes em concreto. Já uma edificação residen-
eliminado, pelo menos reduzido a um patamar cial, salvo situações excepcionais, pode dispensar
mínimo condizente com a dignidade humana. tal verificação.
Diante deste quadro de significativos Existe uma importante lacuna hoje, na
aportes financeiros destinados ao setor, o normalização brasileira, já que não temos ainda
profissional de engenharia possui um papel uma norma específica para os projetos de estru-
fundamental. Cabe a ele garantir o máximo de turas de concreto para obras ditas hidráulicas e
eficiência na aplicação destes recursos, que tan- de saneamento. Tal fato acaba por induzir alguns
to custam à nação. É preciso que a técnica seja projetistas a adotarem critérios não apropriados
utilizada com todo esmero para que evitemos a estes tipos de estruturas, tais como:
desperdícios decorrentes de projetos e obras mal Limite máximo de abertura de fissuras de flexão;
executados. Tão ruim quanto não fazer, é fazer Cobrimentos da armadura;
errado e precisar consertar em seguida, implican- Resistência mínima do concreto;
do em recursos gastos em duplicidade. Armadura de retração;
Grande parte das unidades de saneamen- Espessura mínima de paredes de reservatórios;
to destinadas ao tratamento de água e esgoto é Taxa mínima/máxima de armadura.
construída em concreto. Logo, é fácil entender a Seria importante também um estudo mais
importância do papel exercido por toda a cadeia aprofundado e recomendações bem específicas
produtiva do setor, que envolve cimenteiras, con- para a construção das estruturas hidráulicas a
creteiras, fornecedores de insumos, construtoras, fim de atender a durabilidade e estanqueidade,
projetistas, órgãos reguladores e fiscalizadores, desde a dosagem e classe do concreto, especi-
laboratórios de controle, etc. O resultado final só ficação de agregados e aditivos, relação água
será satisfatório se todos os elos desta corrente /cimento, transporte, lançamento, adensamento
funcionarem com eficiência. e cura. Sem esquecer também das soluções para
os escoramentos, fôrmas e juntas.
Uma preocupação constante também é a
Normalização das obras de saneamento necessidade de novas soluções hidráulicas a fim
de compatibilizar as exigências do projeto básico
às novas considerações de dimensionamento das
Um dos elos mais importantes trata-se, peças estruturais. Tais como nichos para apoio das
sem dúvida, do projeto estrutural. É possível comportas, calhas internas, vigas e pilares atenden-
consertar um erro cometido em obra quando do às dimensões mínimas.
se tem um bom projeto estrutural, porém se Estas preocupações são resultado de
o mesmo for mal executado, as conseqüências consenso entre pesquisadores, projetistas,
serão percebidas por toda a vida útil da unidade, construtores, fornecedores e equipes técnicas
por mais que se tente eliminá-las. de concessionárias de água e esgoto reunidos

OBRAS DE SANEAMENTO
O projeto estrutural de qualquer edificação no 1° Seminário Estruturas de Concreto para
em concreto no Brasil hoje, é regido pelas pres- Obras de Saneamento (SECOS), promovido pela
crições constantes da norma NBR 6118 – Projeto ABECE – Associação Brasileira de Engenharia e
de Estruturas de Concreto – Procedimento, cuja Consultoria Estrutural e COPASA – Companhia
versão em vigor é a de 2003, corrigida em 31 de de Saneamento de Minas Gerais, em Belo Ho-
março de 2004. Esta norma estabelece os requi- rizonte, em maio de 2006.
sitos básicos exigíveis para projeto de estruturas Como ponto de partida, vale lembrar que
de concreto simples, armado e protendido, de o American Concrete Institute (ACI) já possui uma
uma maneira genérica, não entrando no mérito especificação própria para execução das obras de
do tipo de utilização final da edificação. Ocorre saneamento denominada “ACI 350 – Code Requi-
que existem recomendações que são específicas a rements for Environmental Engineering Concrete
certos tipos de estruturas e têm menor importância Structures”. A justificativa para sua existência
para outras. No caso de uma ponte rodoviária, é está mencionada na própria introdução desta
fundamental que seja dimensionada para resistir especificação: em relação a edifícios usuais, as
às oscilações de esforços provenientes do trânsito estruturas de obras de saneamento estão sujeitas
de veículos, de maneira a evitar a ocorrência do aos carregamentos diferenciados, condições mais
fenômeno de ruptura por fadiga de materiais, e severas de exposição e critérios mais restritivos
complementando às prescrições da NBR 6118, a para a situação de serviço. Os carregamentos di-

REVISTA CONCRETO 33
ferenciados incluem, além de cargas permanentes Construtores;
e acidentais, cargas dinâmicas devido a equipa- Fornecedores de equipamentos;
mentos eletromecânicos (por exemplo, bombas, Fiscalização;
geradores, motores), bem como ao próprio fluxo Concessionárias e/ou proprietários
da água. A presença de agentes químicos agressi- dos empreendimentos;
vos em contato direto com o concreto e os ciclos de Operadores;
molhagem e secagem são exemplos das condições Manutenção;
mais severas de exposição. Como critério de serviço, Agências de fomentos de recursos.
a necessidade de estanqueidade é uma premissa Neste sentido, a COPASA – Companhia
básica destas construções. de Saneamento de Minas Gerais, visando ob-
É fundamental que as estruturas hidráu- ter estruturas estanques, duráveis, com alta
licas sejam projetadas e executadas visando qualidade construtiva e técnica elaborou uma
aliar a condição de máxima durabilidade, com norma interna que está em vigor desde 1994,
o mínimo de manutenção. Toda interrupção de cuja nomenclatura é T 175, fixando as condições
uma unidade em operação é acompanhada de exigíveis para projeto, execução, fiscalização,
custos elevados e transtornos para os clientes. controle e recebimento de materiais e manu-
Como tais estruturas estão expostas a condições tenção de estruturas de concreto em obras de
mais severas de agressividade do que as demais saneamento. Porém, é imprescindível a ela-
edificações, seus requisitos de desempenho boração de um documento com abrangência
devem ser igualmente mais rigorosos. nacional, que servirá para a unificação dos
Portanto, uma normalização específica critérios adotados, além de servir de excelen-
para estruturas de concreto para saneamento te oportunidade para compartilhamento de
não é só uma necessidade dos projetistas. Vários informações e experiências. Com certeza, os
outros segmentos fazem parte desta cadeia disputados recursos financeiros passarão a ser
produtiva, onde um procedimento específico aplicados com maior eficiência, o que tornará
resultaria em um produto final com mais du- viável a oferta dos serviços de saneamento bá-
rabilidade e segurança. Seriam eles: sico a uma maior parcela da população.

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Sala 1 Sala 2
Práticas de Projeto e Execução de Edifícios Protendidos Dimensionamento de elementos estruturais pela NBR 6118
O curso discorre sobre as vantagens para a arquitetura e para a engenharia da O curso apresenta uma visão geral das mudanças introduzidas pela NBR 6118 no
adoção das lajes protendidas. Apresenta as particularidades do projeto e execução dimensionamento de elementos estruturais como lajes, vigas e pilares. Avalia a
deste tipo de obra. Mostra os novos conceitos, materiais e equipamentos utilizados. importância da adoção de dimensões mínimas em elementos de concreto. Discute
Analisa o estado da arte no Brasil e as perspectivas de desenvolvimento. sobre o estado da arte e as perspectivas de desenvolvimento do cálculo estrutural.
Eugenio Luiz Cauduro Túlio Nogueira Bittencourt
Engenheiro Consultor, especialista em protensão, reconhecido pelo destaque na Professor Associado da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. PhD em
introdução e desenvolvimento desta técnica no Brasil Engenharia Estrutural pela Cornell Univeristy (EUA)
Marcelo Silveira
Engenheiro Projetista, especialista em estruturas protendidas com mais de 200
projetos realizados

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34 REVISTA CONCRETo
Pára-raios usando
armaduras de pilares
Marcos Carnaúba
Consultor

Dimas Pinto Medeiros


Consultor de Segurança

Introdução poderão ser utilizadas como descidas as arma-


duras do concreto. Neste último caso, devem ser
Comentários aos Tópicos realizados testes de continuidade e estes devem
da NBR 5419:2001 resultar em resistências medidas inferiores a 1.
As medições deverão ser realizadas entre o topo
5.1.2.5.4 – As armaduras de aço in- e a base de alguns pilares e também entre as ar-
terligadas das estruturas de concreto armado maduras de pilares diferentes, para averiguar a
podem ser consideradas condutores de descidas continuidade através de vigas e lajes. As medições
naturais, desde que: poderão ser realizadas conforme o anexo E.
a) cerca de 50% dos cruzamentos de 5.1.2.5.6 – Os anéis horizontais exter-
barras da armadura, incluindo os estribos, nos, prescritos em 5.1.2.3.2, não são necessários
estejam firmemente amarradas com arame de se forem utilizados como condutores de descida
aço torcido e as barras na região de trespasse os pilares metálicos da estrutura ou as armações
apresentem comprimento de sobreposição de de aço do concreto armado, desde que se ad-
no mínimo, 20 diâmetros, igualmente amarra- mitam danos no revestimento dos elementos
das com arame de aço torcido, ou soldadas, ou metálicos no ponto de impacto do raio.
interligadas por conexão mecânica adequada; 5.1.2.5.7 – As equalizações de poten-
b) em alternativa, sejam embutidos na ciais internos à estrutura seguem o mesmo
estrutura condutores de descida específicos com critério do sistema externo. Isto significa que,
continuidade elétrica assegurada por solda ou próximo ao solo e, no máximo, a cada 20m de
por conexão mecânica adequada, e interliga- altura, todas as massas metálicas (tubulações,
das às armaduras de aço para equalização de esquadrias metálicas, trilhos, etc.) deverão estar
potencial (ver anexo D); ligados diretamente a alguma armadura local
c) em construções de concreto pré-mol- (de pilar, viga ou laje). Os sistemas elétricos de
dado, seja assegurada a continuidade elétrica potência e de sinal deverão ser referenciados
da armadura de aço de cada elemento, bem a um barramento de equalização (TAP/LEP), o
como entre os elementos adjacentes de con- qual deverá ser ligado a uma armadura local
creto pré-moldado. e/ou ao eletrodo de aterramento.
Nota – Em construções com concreto
protendido, os cabos sujeitos a protensão, como ANEXO D (normativo)
nas telhas de concreto protendido, não podem Uso opcional de ferragem específica
fazer parte do sistema de escoamento de corrente em estruturas de concreto armado
de descarga atmosférica. Porém, as armaduras
dos pilares (que nunca são protendidas) e as ar- D.1 Como aterramento das fundações
TECNOLOGIA

maduras passivas (que sempre existem em lajes


com elementos protendidos) podem ser utilizadas D.1.1 – Para as edificações novas, em
sem restrição como parte do SPDA – Sistema de concreto armado, onde a estrutura ainda não foi
Proteção Contra Descargas Atmosféricas. iniciada, deve ser instalado um condutor adicio-
5.1.2.5.5 – Para as edificações de concreto nal de aço comum ou galvanizado a fogo, dentro
armado existentes, poderá ser implantado um da estrutura, de modo a garantir a continuidade
SPDA com descidas externas ou, opcionalmente, desde as fundações até o topo do prédio.

REVISTA CONCRETO 35
NOTA – este subsistema deverá ser inte-
grado ao subsistema captor.

ANEXO E (normativo)
Ensaio de continuidade de armaduras

Destaco, apenas, algumas exigências.


E.1 – O ensaio de verificação da conti-
nuidade das armaduras de um edifício deve ser
feito por injeção de corrente. Para...
E.2 – A impedância entre dois pontos...
E.3 – O afastamento dos pontos onde se
faz a injeção de corrente deve ser de dezenas
de metros, por exemplo, entre o piso do térreo
e a laje do último piso ou entre a fachada da
frente e a dos fundos, de preferência na dia-
gonal. Procedendo a diversas medições entre
pontos diferentes, se os valores medidos forem
da mesma ordem de grandeza e inferiores a
1 Ω, pode-se admitir que a continuidade das
armaduras é aceitável.
E.4 – A medição pode ser feita direta-
D1.2 – O condutor adicional deverá ser ins- mente com o uso de um mili ou microohmíme-
talado dentro das fundações, atravessar os blocos tro, capaz de fornecer corrente da ordem de
de fundação e entrar nos pilares de concreto. 10A, sendo admissível o valor mínimo de 1A.
D1.3 – Os condutores deverão ser emen- Não é admissível a utilização de multímetro
dados por conectores de aperto, solda elétrica
ou exotérmica, desde que executada de forma A primeira pergunta que me veio à ca-
duradoura, obedecendo (quando amarradas beça: quem fiscalizará o atendimento a essas
com arame de aço recozido ou conectores) a um exigências?
trespasse de 20 diâmetros da barra.
D1.4 – Em fundação direta (pouco Trechos coletados de
profunda), os condutores adicionais devem bibliografia especializada
ser instalados nas vigas baldrames de modo a
melhorar a condição de drenagem e o contato 1) A maioria das normas estrangeiras
com o solo. – e como já vimos, a brasileira também – aceita
D.2 – Como descidas a utilização das armaduras do concreto como
D2.1 – Em cada pilar estrutural deverá partes do SPDA sem definir o limite superior da
ser instalado um condutor adicional (cabo resistência elétrica, exceto a norma italiana que
de aço galvanizado, barra chata ou redonda define esse limite como inferior a 0,1 Ω entre
de aço) paralelamente às barras estruturais e dois pontos quaisquer da estrutura. A norma
amarrado com arame nos cruzamentos com os francesa não permite a utilização de barras da
estribos para assegurar a equipotencialização. armadura para conduzir a corrente de raios.
D2.2 – Nos locais onde haja deslocamento 2) Segundo a Física de Nuvens, durante
da posição dos pilares, ao mudar de laje, bem a descarga elétrica a resistência entre o solo e
como quando houver redução da seção dos pila- a nuvem pode atingir 1500 Ω. Tal magnitude
res, o condutor adicional deverá ser encaminhado impede qualquer sistema de aterramento de
de modo a garantir a continuidade elétrica. se opor a um raio, sendo fundamental para a
D2.3 – Armaduras de aço dos pilares, segurança da edificação e dos seus usuários o
lajes e vigas devem ter cerca de 50% de seus valor da resistência de aterramento.
cruzamentos firmemente amarrados com arame 3) É importante lembrar que quanto mais
recozido ou soldados. As barras horizontais das profundo o aterramento menores serão os riscos
vigas externas devem ser soldadas, ou sobre- de tensão nas áreas superficiais circundantes.
postas por no mínimo 20 vezes o seu diâmetro, 4) As fundações diretas, sapatas, podem
firmemente amarradas com arame recozido, de ser usadas como partes importantes do aterra-
forma a garantir a equalização de potenciais mento, exigindo-se o cálculo da sua resistência
da estrutura. de terra obtida considerando-se a umidade e o

36 REVISTA CONCRETo
volume de concreto. Sendo “ρ” a resistividade especiais também nas cintas, o que tornará o
elétrica, a resistência de terra de uma fundação conjunto no melhor sistema de aterramento
rasa, molhada, é obtida da expressão, onde “V” da atualidade.
é o volume de concreto: R= 2 ρ/π2 V1/3 10) Por exigência de normas específicas
5) Sendo de alta freqüência as correntes todo sistema de pára-raios deve estar devidamen-
dos raios o caminho percorrido ao longo de te aterrado e facilitar a medição de resistência
uma barra será a sua superfície externa, e não de terra, através de caixas de inspeção no solo
foram encontradas diferenças nas tensões de – no último subsolo para prédios – para acesso
aderência entre a barra – submetida a passa- às hastes de cobre cravadas na terra e que estão
gens de correntes de impulso- e o concreto em interligadas aos cabos do pára raios.
experiências realizadas na USP. Sublinhei para 11) Inspeções obrigatórias.
o que será dito mais adiante. a) Inspeção visual, anual, de todos os compo-
6) Nas obras de concreto armado não nentes do SPDA, para verificar se estão em
há necessidade de fixar, rigidamente, umas bom estado, as conexões firmes e livres de
nas outras, as barras a serem emendadas por corrosão.
traspasse. No caso de aproveitá-las como parte b) inspeções periódicas, completas, de acordo
do SPDA elas terão que se manter rigidamente com a Norma, em intervalos de:
fixadas porque, se não existir um perfeito con- b.1 – cinco anos para estruturas destinadas a
tato entre as barras emendadas, fatalmente fins residenciais, comerciais, administrativos,
surgirá um arco elétrico (de uma para a outra) agrícolas e industriais, excetuando-se as áreas
que, em questão de segundos, eliminará a classificadas como de risco de incêndio ou ex-
água do concreto com riscos de sérios danos plosão;
ao pilar. Ensaios de laboratório demonstraram b.2 – três anos para estruturas destinadas a
que junções de barras com resistências de con- grandes concentrações públicas, como hospitais,
tato acima de 5-10 Ω não resistem a correntes escolas, teatros, cinemas, estádios esportivos,
de impulso acima de 50kA. shoppings, pavilhões e outros; indústrias conten-
7) No caso de barras utilizadas para es- do áreas com risco de explosão, conforme a NBR
coar, também, correntes de curto circuito – 5kA 9518, e depósitos de materiais inflamáveis;
escoando em até 5 segundos – a barra do pilar b.3 – um ano para estruturas contendo muni-
poderá aquecer a 700o C comprometendo a sua ções ou explosivos.
aderência no concreto – citada no item 5. Nota: em locais expostos à corrosão
8) No caso de sapatas serem utilizadas severa o intervalo entre as inspeções deve ser
para o aterramento, têm que ser levados em adequadamente reduzido.
consideração os resultados de testes realizados Na fase de projeto do SPDA deverá ser
em laboratórios que concluíram o seguinte so- avaliada a resistividade do solo de uma de-
bre a possibilidade de danos ao concreto sob terminada área, e o procedimento padronizado
a ação de alguns valores da corrente elétrica pela ABNT é o método de Wenner. Baseado
gerada pelo raio: nesses resultados o projetista definirá o melhor
a) nenhum dano se < 5A/cm2; sistema de aterramento para o SPDA. O aterra-
b) alguns danos se > 10A/cm2 e < 15A/cm2 mento dos pára-raios deverá ser integrado ao
c) poderá comprometer o concreto se > 15A/cm2 aterramento das instalações elétricas – exceto
9) Existem recomendações de especialis- para computadores – para constituírem um
tas nessa área de SPDA para que se utilizem com sistema único de proteção equipotencial.
segurança as barras de pilares como proteção Influenciam na resistividade do solo
de raios, dentro da realidade brasileira. a sua composição química e a umidade. Se a
a)Todos os pilares terão uma barra especial – resistividade for alta o aterramento usando,
desconsiderada no dimensionamento – emenda- somente, as fundações, poderá ser insuficiente
da por soldagem ou conectores especiais; arma- e carecerá de estudos mais abrangentes que
duras específicas, contínuas, a serem conectadas envolvem a inserção de hastes complementares
nas barras dos pilares, serão inseridas, também, vinculadas a armaduras.
TECNOLOGIA

em vigas e lajes formando uma malha de terra


em cada pavimento. Tem que ser verificada a
utilização futura dos pavimentos, quais os equipa- Comentários
mentos que ali serão operados para dimensionar
o tamanho ideal dessas malhas.
b) Para utilizar as sapatas como parte do 1 – A fricção entre pequenas partículas
aterramento é recomendável inserir as barras de água contidas nas nuvens, impulsionadas

REVISTA CONCRETO 37
de baixo para cima por ventos fortes, dá ori- monumentos, não encontramos justificativas
gem a grandes quantidades de cargas elétri- – avaliando o parâmetro risco/benefício que
cas positivas que se posicionam no topo das imponham a sua embutidura, se considerarmos
nuvens, e negativas que se posicionam nas os itens seguintes.
suas bases. A migração de cargas positivas da 3 – A mão de obra brasileira não está
terra para a nuvem desencadeia o processo preparada, ainda, para atuar dentro da tecnolo-
elétrico do qual resulta uma faísca que se gia que o procedimento de usar barras comuns
chama raio. de pilares (lajes, vigas, etc.) requer.
2 – O conhecido “poder das pontas” 4 – Não há confiabilidade - no Brasil
tende a atrair os raios para os pontos mais al- como um todo – na sistemática de aferimento
tos dos edifícios onde se instalam os pára-raios do sistema projetado por profissionais espe-
– dispositivo criado por Benjamim Franklin cializados, mas executado em canteiros de
– composto de uma haste implantada no topo obras sem mão de obra qualificada, sem afe-
dos edifícios, um cabo de descida e um ater- rição coerente da resistividade e resistência
ramento profundo para evitar que a difusão do solo, e de peças estruturais.
superficial da descarga elétrica afete homens 5 – Há riscos de danos sérios – ao homem,
e animais nas suas cercanias. à edificação, e equipamentos – se o sistema não
3 – Durante a condução do raio ao longo for tecnicamente implantado, coerentemente
do cabo de descida forma-se, no entorno, um aferido e periodicamente inspecionado.
campo magnético que, se variável, induz tensão 6 – A eliminação do fio terra do projeto
em qualquer material condutor de eletricidade elétrico visa economizar no custo de eletrodutos
que esteja nas proximidades, podendo gerar – ao invés de três fios, conduzirão dois – que te-
o centelhamento pelo ar, ou pelo interior de rão menor diâmetro, e gera um risco potencial
paredes, com riscos de incêndio e ao próprio se barras da estrutura forem, também, usadas
homem. Daí a importância da equipotenciali- como hastes de pára-raios.
zação do conjunto. 7 – As estruturas de instituições de aná-
4 – Está se tornando usual a eliminação lise de projetos e fiscalização – no caso mais
do fio terra – da base ao topo do edifício – que comum, o Corpo de Bombeiros – não estão,
é substituído por um aterramento em barras ainda, preparadas para opinar sobre a coerência
dos pilares. Nesse caso, não só a corrente de desse sistema de SPDA.
impulso gerada pelo raio atuará no edifício, 8 – Há indicativos do mau funciona-
mas, também a de curto circuito, com riscos a mento de equipamentos eletrônicos de pre-
usuários, e de danos a equipamentos eletro- cisão – onde o sistema foi empregado sem
eletrônicos, e à própria estrutura. critérios precisos – e os campos magnéticos
5 – Ficou claro – dentro das exigências gerados podem afetar o uso de aparelhos
normativas – que o uso de barras dos pilares em celulares. Servirá como teste - para quem
substituição das hastes metálicas, externas, do mora em apartamentos e tem áreas onde
conhecido pára-raios de Franklin é uma opção os celulares não funcionam – verificar se o
factível obedecidos todos os condicionantes acima aterramento elétrico está usando barras de
relacionados que envolvem os pilares, vigas, lajes, armaduras.
vigas baldrames e sapatas. Se, no dimensionamento e na execução
de peças de concreto armado, as normas em
vigor nem sempre são obedecidas – ou integral-
Conclusões mente dominadas por engenheiros de obras
– poderá ser uma temeridade utilizar um Siste-
ma de Proteção Contra Descargas Atmosféricas
1 – A orientação das normas ficou clara – SPDA utilizando barras comuns das armaduras
para obras novas, recomendando a inserção dos pilares como parte do SPDA cuja eficiência
de uma barra especial, complementar, contí- só será testada durante tempestades elétricas
nua, desde o topo até a base da edificação; dá como a da foto.
como opção a utilização de barras comuns das Como o sistema proposto pela norma
armaduras de pilares sob os cuidados acima é polêmico, envolve, também, o Calculista
requeridos. de Estruturas, e está sendo utilizado em
2 – Grande parte dos pára-ráios existen- grande escala Brasil afora, entendemos
tes em edifícios é inócua porque eles não estão como pertinente sugerir a ampla discussão
associados a malhas que formam a gaiola de do assunto durante uma Jornada de Estru-
Faraday. Salvo exigências arquitetônicas em turas ou do IBRACON.

38 REVISTA CONCRETo
Estação de tratamento de esgoto
do Ribeirão Arrudas – aspectos de
projeto e construtivos
Ana Paula Reis
Milva Galdina
Carlos A. C. d’Ávila
Companhia de Saneamento de Minas Gerais

1. Introdução intuito de melhorar a qualidade deste ribeirão, a


COPASA investiu, em 1999/2001, cerca de R$100
milhões de reais na construção da Estação de
Há três décadas, o Estado de Minas Tratamento de Esgoto do Ribeirão Arrudas.
Gerais criou, na cidade de Belo Horizonte, a A obra da ETE Arrudas foi dividida em
COPASA – Companhia de Saneamento de Mi- três etapas de construção, sendo a primeira
nas Gerais, com vistas a enfrentar os problemas delas iniciada em julho de 1999 e concluída dois
de abastecimento de água e esgotamento anos e três meses depois. A segunda etapa foi
sanitário que afligiam um grande número de concluída em 2002 e, desde então, está sendo
Municípios. O avanço industrial e o acelerado operada com sucesso, passando a ser um marco
processo de urbanização da sociedade contribu- para a empresa, beneficiando grande parte da
íram com o aumento da necessidade de cuidar população e melhorando a qualidade do leito
dos nossos rios; paralelamente, a humanidade do rio. A terceira e última etapa, ainda não há
começa a perceber que a água, desvalorizada e previsão de execução; no entanto, o fato de não
desperdiçada há décadas – é o mais primordial estar finalizada, não afeta a operação e situa-
de todos os recursos naturais. ção atual, pois sua conclusão incidirá somente
Belo Horizonte abriga uma população no aumento da vazão de esgoto tratado.
estimada de 3.250.564 habitantes. Cerca de 40% A importância em divulgar este projeto e
de toda a carga orgânica da Região Metropolita- a obra propriamente dita está na oportunidade
na de Belo Horizonte tem por destino o Ribeirão de compartilhar a complexidade de parâmetros

OBRAS DE SANEAMENTO
Arrudas, que como agravante, recebe efluentes que foram detalhadamente estudados, tanto no
industriais em seu leito. Com base nos princípios que se refere ao projeto estrutural quanto às pe-
ambientais de esgotamento sanitário e com o culiaridades adotadas durante sua execução, com

REVISTA CONCRETO 39
por um tratamento preliminar que é o
responsável pela retenção de sólidos de
maiores dimensões, materiais flutuantes
e materiais inorgânicos arenosos que se
encontram contidos no esgoto. Através
de um emissário de concreto armado, o
efluente deste tratamento preliminar
é conduzido em conduto forçado aos
decantadores primários [1], responsáveis
pela remoção dos sólidos em suspensão
sedimentáveis e os sólidos em suspensão
flutuantes. O líquido decantado é então
encaminhado aos tanques de aeração
[2], de onde será removida a matéria
orgânica pela ação de microorganismos
aeróbios, formando uma biomassa em
suspensão que será submetida à aeração
artificial mediante fornecimento de oxi-
gênio. Dando seqüência ao tratamento,
o líquido é conduzido aos decantadores
secundários [3], onde ocorre a separação
sólido/líquido do efluente do tanque de
aeração com dupla finalidade: remover
sólidos em suspensão para clarificar
o esgoto tratado e encaminhá-lo ao
Arrudas; e concentrar o lodo no fundo
dos decantadores. Na fase sólida, duas
elevatórias enviam o excesso de lodo pro-
duzido no processo para os adensadores
[4], enquanto a terceira recircula conti-
nuamente o lodo do fundo dos decan-
tadores secundários para os tanques de
aeração. Finalizando a fase sólida, o lodo
o objetivo único de garantir o sucesso de sua ope- sai dos adensadores e são conduzidos aos
ração, através da estanqueidade das estruturas, do digestores anaeróbios primários e secundário[5],
aumento da vida útil e durabilidade das mesmas. onde ocorre a estabilização da matéria orgânica e
a redução dos sólidos voláteis, criando condições
favoráveis para a desidratação do lodo. A partir
2. Projeto e execução das daqui, o lodo é submetido à desidratação mecânica
estruturas de concreto armado [6]. Este processo pode ser ilustrado e observado no
organograma, esboço e figura 1.

2.1 Descrição das unidades


da ETE ARRUDAS

O detalhamento das unidades já construí-


das e demais pode ser visualizado no quadro 1.
Na conclusão da terceira etapa, a estação
de tratamento terá capacidade para tratar um
volume aproximado de 4500 (quatro mil e qui-
nhentos) litros por segundo, o que equivale ao
esgoto doméstico de uma população de 1.600.000
habitantes. Atualmente, com as unidades já
construídas e em operação, o esgoto tratado é de
aproximadamente 2,25 m3 por segundo.
O processo pode ser dividido em fase líqui-
da e fase sólida. Na fase líquida, o efluente passa

40 REVISTA CONCRETo

Figura 1 – Vista aérea da ETE Arrudas


2.2 Disposições especiais de projeto vo, sejam estações de tratamento de água ou
esgoto. Esta norma interna fixa condições exigí-
É importante ressaltar que as estruturas veis para projeto e execução das estruturas em
de concreto armado da ETE Arrudas são bastan- questão, onde a estanqueidade e a durabilidade
te singulares. Tanto o projeto estrutural como são primordiais.
os procedimentos de execução buscam alcançar Consideram-se como premissas que a
condições mínimas desejáveis de qualidade, estanqueidade das obras hidráulicas é assegura-
significando desta forma, obter uma estrutura da pelo atendimento simultâneo dos seguintes
estanque e durável. Cabe lembrar que, uma requisitos: compacidade do concreto e limitação
vez em carga, este tipo de estrutura é de difícil da abertura de fissuras.
paralisação e recuperação, pelo que se procura Objetivando alcançar a estanqueidade
esmerar no controle de qualidade, tanto no das estruturas da ETE Arrudas e baseando-se
que se refere ao projeto estrutural quanto à nos princípios da T175/1, adotou-se para efeito
execução da obra. Para se ter uma idéia do da verificação do estado de fissuração do con-
porte desta construção, o volume de concreto creto, um limite de abertura equivalente a 0,1
empregado foi equivalente a 39.401,63 m3, en- mm. Este valor foi utilizado na primeira etapa
quanto a quantidade do projeto/obra (tra-
de aço foi de aproxi- tamento preliminar,
madamente 3.232,69 decantadores primá-
toneladas. rios, adensadores e
As caracterís- digestores primários
ticas geométricas de e secundários); entre-
cada unidade estão tanto ficou constata-
dispostas no quadro 2. do que a elevada den-
No âmbito da sidade de armadura,
Empresa, para que seja conforme figuras 2 e 3,
possível alcançar os ocasionava problemas

OBRAS DE SANEAMENTO
padrões de segurança, na concretagem e,
estabilidade e quali- conseqüentemente,o
dade desejáveis, além surgimento de pe-
da Norma Brasileira quenas fissuras nas
6118 – Projeto de Es- Figura 2 – Densidade de armadura paredes, além de al-
trutura em Concreto, gumas segregações
é adotada uma norma localizadas, sobretudo
interna da COPASA, a em locais onde havia
T 175/1 – “Norma para junta de dilatação,
Projeto e Execução das conforme figura 4.
Estruturas de Concreto Essa elevada
para Obras de Sanea- densidade de arma-
mento”, que vem a ser dura foi ligeiramen-
um complemento da te alterada na etapa
NBR6118, priorizan- seguinte (tanques de
do especificidades das aeração, decantado-
estruturas em contato res secundários), onde
com um meio agressi- se optou por redimen-

REVISTA CONCRETO 41

Figura 3 – Densidade da armadura


slump-test, para definição do traço adequado,
conforme pode ser observado na figura 5. Este
aditivo fez com que o concreto, que antes
possuía uma baixa plasticidade, atingisse uma
plasticidade de aproximadamente 220 ± 20mm
no slump-test.
A norma T175/1 não prevê o uso de im-
permeabilizante nas estruturas que devam ser
estanques. Entretanto, com a preocupação no
que diz respeito à durabilidade e vida útil das
estruturas, a norma define outros parâmetros
que irão garantir a integridade e estanqueidade
de cada unidade. Dentre eles, a definição do tipo
de agregado graúdo a ser utilizado. Segundo
Sperling (1986), para estruturas em contato com
Figura 4 –Colocação da junta de dilatação esgoto, como é o caso, recomenda-se utilizar a
brita calcária, por possuir características que as
sionar a armadura adotando um limite de fis- fazem mais resistentes ao ataque dos sulfatos
suração equivalente a 0,2 mm, obtendo desta presentes neste tipo de estrutura. Ademais, são
forma consideráveis melhorias. exigidas mísulas, com 15 cm de lado, no encontro
O fck adotado foi de 30 MPa entre paredes e entre parede e laje de fundo. O
(NBR6118:1980). A T175/1 fixa valores como objetivo destas mísulas é reduzir as tensões nos
consumo mínimo de cimento e fator água/ cantos, além de evitar a deposição de materiais
cimento, equivalentes a 360 kg/m3 e 0,45 res- sólidos. Outra consideração importante é a exi-
pectivamente, para estruturas em contato com gência com o recobrimento da armadura. Em
esgoto. O cimento utilizado na primeira etapa todas as unidades onde a estanqueidade seja
de construção foi o CPIII RS (Cimento Portland primordial, foi exigido um recobrimento de 4,0
Resistente à Sulfatos); já, na segunda etapa, cm, objetivando proporcionar maior proteção às
optou-se por utilizar o ARI RS (alta resistência barras da armadura. A norma ainda define que
inicial resistente à sulfatos), buscando otimizar o menor diâmetro de armadura a ser utilizado
a utilização e reaproveitamento das fôrmas. nas obras de saneamento é de 5,0 mm. A arma-
Devido ao elevado consumo e modificação do dura de distribuição deve ter, no mínimo, 20%
cimento empregado, e o baixo fator água/ci- da seção da armadura principal e espaçamento
mento, passou-se a utilizar, na segunda etapa, máximo igual à dimensão mínima da peça, não
um aditivo superplastificante de 3ª geração, me- podendo, entretanto, ser maior do que 15cm. As
lhorando assim a trabalhabilidade do concreto. partes da estrutura que devam ser estanques, de-
O aditivo utilizado exigiu especial cuidado na vem ter, junto às faces interna e externa, malhas
dosagem, fato este que demandou diversos de armadura com espaçamento máximo de 15cm
ensaios de abatimento do tronco de cone ou em cada direção, observando-se os requisitos
mínimos especificados anteriormente. Também
as juntas de concretagem já devem estar previs-
tas no projeto estrutural, o que vem a auxiliar e
aprimorar a execução das unidades.
Com base nos estudos geotécnicos e as
sobrecargas especificadas em projeto, foram
adotadas fundações diretas para todas as uni-
dades à exceção dos tanques de aeração, onde
foram utilizadas estacas perfuradas, conforme
figura 6. Pode-se considerar que a movimenta-
ção de terra foi de grande porte, uma vez que
tanto os decantadores primários e secundários,
quanto os tanques de aeração foram executa-
dos como estruturas apoiadas e, após o teste
de estanqueidade, foram totalmente aterrados,
conforme demonstrado na figura 7.
Figura 5 – Estudos do traço de concreto com adição Todos os principais parâmetros de pro-
de superplastificante jeto (fck, a/c, consumo mínimo de cimento,

42 REVISTA CONCRETo
Foi exigido um plano de concretagem,
onde ficou definida a ordem de concretagem
das partes da estrutura; o volume a concretar
e a duração das concretagens; o equipamento
necessário para o lançamento, adensamento e
o pessoal necessário para cada tarefa; o traço
para cada peça e, finalmente, o plano de des-
forma e cura da estrutura.
Para a fixação das fôrmas paralelas, foi
utilizado um sistema de união de faces opostas
do tipo trespassante. O tirante fica envolto em
um tubo de PVC e, após a desforma, ambos
eram retirados simultaneamente. Em obras de
edificações ou onde a estanqueidade não seja
primordial, este é um procedimento comum e
Figura 6 – Execução das estacas – Tanques de Aeração sem grande importância. No entanto, em se
tratando deste tipo de estrutura, cada furo era
cnom, entre outros) estão explicitados nas no- tratado com especial cuidado. Após a retirada
tas de cada prancha (desenho), objetivando do tirante e do PVC, cada furo foi preenchido
oferecer o maior número de informações ao com “grout”, devidamente adensado, de ma-
executante. neira a garantir a estanqueidade da unidade
Numa obra de grande porte, faz parte em questão.
dos cuidados especiais e dos critérios específicos No caso dos digestores, optou-se por
de projeto, a apresentação do método execu- utilizar o sistema de protensão. Devido a este
tivo. Consideramos que um bom projeto está processo adotado, foi grande a dificuldade em
diretamente associado a um bom planejamen- se fazer a concretagem das paredes, uma vez
to, o que certamente incidirá em uma melhoria que a espessura das mesmas era de apenas 25
na qualidade da execução. cm e considerando a dimensão das cordoalhas,
sobrava-se pouco espaço para executar a vibra-
2.3 Disposições construtivas ção e adensamento do concreto. Outra parti-
cularidade adotada no caso dos digestores foi
No aspecto construtivo, são inúmeras o uso da tecnologia de fôrmas deslizantes, de
as peculiaridades de uma obra deste porte. A matriz francesa, que permitia erguer as paredes
norma T175/ define parâmetros relacionados dos tanques a um ritmo de 20 centímetros por
ao procedimento de recebimento em obra dos hora. Este fato permitiu executar cada um dos
diversos materiais e equipamentos, além de digestores de 18 metros de altura em apenas
um critério de armazenamento e controle de três dias. No preenchimento dos furos deixados
qualidade desses materiais. Estão especificados pelos barrões da fôrma deslizante, foi utilizada
todos os ensaios de caracterização que devem uma calda composta por cimento portland de

OBRAS DE SANEAMENTO
ser realizados. alta resistência inicial e um aditivo cristalizante,
de maneira a garantir a aderência e estanquei-
dade do local.
Tanto o lançamento quanto o adensa-
mento do concreto foram executados dentro
dos padrões e recomendações das normas
NBR6118 e T175/1. A altura de queda livre no
lançamento do concreto não podia ultrapassar
1,5m, sendo que, em algumas peças, o concreto
era lançado através de janelas executadas nas
fôrmas. Estas, por sua vez, eram devidamente
preparadas, limpas e saturadas para receber
o concreto. Especial cuidado foi considerado
ao se fazer o adensamento, uma vez que a
densidade da armadura é bastante elevada.
A máxima distância de introdução da agulha
do vibrador era da ordem de dez vezes o diâ-
Figura 7 – Movimentação de terra metro da mesma, não sendo permitido vibrar

REVISTA CONCRETO 43
2.4 Reparos no concreto

A norma interna da empresa, a T175/1,


proíbe a execução de qualquer reparo antes da
inspeção da Fiscalização. Todo reparo decor-
rente de falha construtiva deve ser executado
com metodologias e materiais determinados
pela Fiscalização.
No caso específico desta obra, foram
observadas algumas falhas construtivas como
segregação, sobretudo na região das mísulas e
juntas de dilatação, conforme figura 8, peque-
nos orifícios em locais de fixação dos andaimes
e dos tirantes das fôrmas, recobrimento insu-
ficiente, pequenas fissuras e vazamento de
Figura 8 – Segregação do concreto na região das juntas líquido e dos gases no caso dos digestores.
de dilatação
Os testes de estanqueidade, como de-
em regiões próximas à forma ou à armadura. monstrado na figura 9, foram efetuados em to-
O tempo máximo de vibração era de trinta das as unidades. Em alguns casos, somente após
segundos, recomendado para evitar uma se- a realização destes testes foi possível detectar
gregação do concreto. a presença de algumas fissuras e, conseqüente-
Para execução das juntas de concreta- mente, pontos de infiltração. Estes locais foram
gem, com ou sem a presença da junta de di- tratados interna e externamente com diferentes
latação, era exigido que a superfície estivesse sistemas, de acordo com cada situação.
preparada. Esta preparação incide em apicoar Foram realizados diferentes procedi-
a área delimitada até que o agregado graúdo mentos para o tratamento das fissuras, como
ficasse exposto. Em seguida, foi efetuado um pode ser visualizado na figura 10, definidos de
jateamento de água para retirar todas as partí- acordo com a abertura das mesmas. As fissu-
culas soltas que pudessem prejudicar a aderên- ras foram divididas em fissuras com abertura
cia. No processo de calafetação das juntas de inferior a 2 mm e superior a 2 mm. Utilizou-se
dilatação, foi utilizado um produto à base de resina epoxídica com viscosidades diferentes,
poliuretano com espessura máxima de 1 cm. sendo a de baixa viscosidade aplicada nas fis-
Nas paredes e laje de cobertura foi uti- suras com abertura inferior a 2mm. O processo
lizada cura química, enquanto que, na laje de de tratamento seguia o mesmo roteiro execu-
fundo, fez-se uso de lona umedecida ou lâmina tivo para ambos os casos: demarcação da área,
d’água, em alguns casos. considerando uma faixa de 5 cm para cada lado
Durante a execução da primeira etapa, da fissura e em toda sua extensão; utilização
observou-se o surgimento de microfissuras oca- de uma lixadeira elétrica, limpeza da superfície
sionadas pelo elevado consumo de cimento e, sem utilização de água (somente um pano ume-
conseqüentemente, elevada temperatura de re-
ação interna dos componentes do concreto. Op-
tou-se por contratar o especialista em tecnologia
de concreto, Eng. W. Pacelli, que sugeriu algumas
alternativas. Primeiramente houve a substituição
da água de amassamento do concreto por água
na fase sólida (gelo), na tentativa de reduzir a
temperatura e a evaporação da mesma. Não foi
possível observar uma melhoria considerável.
Logo, optou-se por introduzir uma mangueira
composta de pequenos orifícios por onde era
liberada água de amassamento do concreto.
Tampouco foi alcançado o resultado esperado ou
alterações significativas. Por estas razões, para
a segunda etapa de construção, foi necessária
a alteração do traço, modificação no índice de
fissuração, redução do consumo de cimento e Figura 9 – Teste de estanqueidade – decantador
adição de um aditivo superplastificante. secundário

44 REVISTA CONCRETo
3. Conclusões

A elaboração de um projeto de uma


grande estação de tratamento de esgoto
requer toda uma tecnologia não só no que
se refere ao processo de tratamento em si,
como à conciliação entre um tratamento efi-
ciente e um projeto estrutural que permita
e forneça possibilidades para tal. Paralela-
mente, um processo construtivo cuidadoso e
baseado nos princípios da responsabilidade,
em tecnologia atualizada e na aplicação da
ciência é fundamental para o êxito comple-
to. Certamente ocorrem e ocorrerão falhas,
Figura 10 – Recuperação da parede do decantador
secundário
mas o importante é fazer delas um apren-
dizado e estímulo para buscarmos sempre
decido), aplicação da resina. Em alguns casos, a perfeição.
foram utilizadas injeções de poliuretano com Quanto à norma interna da COPASA, a
excelentes resultados. T175/1 tantas vezes mencionada neste texto,
As peças que apresentaram algum tipo está atualmente em revisão em função da
de anomalia foram mapeadas e estudadas recente reformulação da norma da ABNT
caso a caso, buscando desta forma a melhor NBR6118:2003. Os projetos atuais já estão
solução e o procedimento mais adequado para mais rigorosos segundo alguns aspectos,
a reparação. como é o caso do fck e do recobrimento da
No local onde ocorreram segregação e armadura. Acreditamos, entretanto, que o
presença de pequenos orifícios, foi feito um api- sucesso de uma obra está no conjunto de
coamento numa área previamente delimitada fatores que somados garantem a qualidade
eliminando o concreto desagregado, seguido da estrutura e o bom funcionamento da
de uma jateamento de água para limpeza e mesma. Esta preocupação começa, portanto,
umidificação do substrato. Finalizando, foi feito no projeto preliminar, passando pelo projeto
um preenchimento com grout. básico, pelo estrutural e, finalmente, pelo
Na laje superior dos digestores, onde foi controle rigoroso da execução. Ademais, é
detectado vazamento de gás, optou-se por utilizar importante fornecer um manual de operação
um revestimento à base de poliuretano aromático e utilização das estruturas, além da progra-
elastomérico. Resultou ser de grande eficiência e mação de uma manutenção e inspeção de
o problema foi totalmente solucionado. cada unidade.

OBRAS DE SANEAMENTO

Figura 11 – Foto aérea


da ETE ARRUDAS

REVISTA CONCRETO 45
Construção e Saneamento
Samara Miyagi
Austin Asis

A precariedade das condições estruturais montante real investido –, conforme pode ser
do Brasil, como por exemplo nos setores de observado no histórico apresentado na tabela
transportes, habitação e saneamento básico, abaixo, que contém investimentos efetivamen-
inibem diretamente um desenvolvimento mais te realizados.
expressivo da economia. A expansão dos investimentos em infra-
O setor de saneamento, em particular, estrutura, inclusive na área de saneamento,
possui um preocupante déficit de atendimento, deverá refletir diretamente no setor de constru-
em especial nos serviços relacionados a esgoto. ção, com destaque para as grandes obras.
Os resultados insatisfatórios do setor devem-se Um dos segmentos que deverá sentir
principalmente aos reduzidos investimentos, os reflexos positivos é o de tubos de con-
visto que, além de serem insuficientes para cretos, tanto para escoamento sanitário
sanar os problemas existentes, os valores pre- – emissários e redes troncos de esgotamento
vistos nos orçamentos são bem diferentes dos sanitário – como em tubos utilizados na dre-
aplicados efetivamente. nagem fluvial, empregados principalmente
Tendo em vista esse cenário adverso na drenagem de aeroportos, rodovias, gale-
da infra-estrutura nacional, o Governo Fede- rias e bueiros.
ral lançou, no início de 2007, o Programa de Cabe ressaltar que o setor de sanea-
Aceleração de Crescimento (PAC). O principal mento básico poderá atrair a iniciativa privada,
objetivo do programa é aquecer áreas chaves através das Parcerias Público-Privadas (PPPs), já
para um melhor desenvolvimento da economia que nos municípios brasileiros essa é uma área
do País. bastante carente em investimentos.
De acordo com o planejamento original No entanto, como o mercado de sane-
do PAC, o investimento para 2007, somente amento não possui leis eficazes e específicas
nas áreas de habitação e saneamento será de regendo o setor – no que tange a entrada de
R$ 36,3 bilhões, sendo R$ 27,5 bilhões e R$ 8,8 capital privado – o que, conseqüentemente,
bilhões, respectivamente. No setor de sanea- gera muitas incertezas e riscos aos possíveis
mento básico, o projeto prevê um total de R$ investidores, estudos vêm sendo elaborados no
40 bilhões em investimentos, até 2010. intuito de se analisar a viabilidade de investir
Os investimentos anunciados para este em parcerias.
ano representam um considerável incremento  Podemos inferir que para que as PPPs
comparativamente aos anos anteriores – em passem a ser uma realidade no setor de sa-
relação ao valor previsto e, possivelmente, no neamento, de modo a incentivar ampliação

46 REVISTA CONCRETo
de obras e maior cobertura de serviços, se faz Em que pese os efeitos do PAC e a his-
necessária uma política de incentivos mais tórica problemática em relação aos atrasos na
eficiente e atrativa para a iniciativa privada implementação efetiva dos recursos disponibi-
– ponto este, pouco explorado na nova lei de lizados, estima-se que os primeiros resultados
saneamento, estabelecida no início de 2007. venham a ser sentidos a partir de 2008.
De uma maneira geral, caso os investi- A partir daí, muitas obras e empreendi-
mentos orçados para a área sejam realmente mentos já deverão ter sido iniciados e, seguindo
empregados, as perspectivas para o setor de essa tendência, novos negócios deverão aquecer o
saneamento serão bastante promissoras. desempenho do setor de construção no Brasil.

MERCADO NACIONAL

REVISTA CONCRETO 47
Tecnologia e produção
de concreto para obras
de saneamento
Oswaldo da Rocha Soares Filho
Retech Serviços Especiais de Engenharia Ltda.

Flávio Renato Pereira Capuruço


Holcim Brasil S.A.

Este artigo tem nas Gerais elaborou a


como objetivo prin- Norma Técnica T.175/1
cipal indicar alguns “Projeto e Execução
procedimentos básicos de Estruturas em Con-
para se produzir o con- creto para Obras de
creto, transportá-lo Saneamento” (1993),
e aplicá-lo, visando atualmente em fase
atender à qualidade de revisão.
desejável e garantir as Se o concreto
características espe- é fornecido por uma
cificadas nas normas concreteira ou é pro-
técnicas e nos proje- duzido na própria cen-
tos estruturais para as tral do construtor, as
obras de saneamento. condições para obter-
Atualmente, se um bom concreto
tem sido dada uma são mais favoráveis.
grande importância à Nestes casos, é possível
área de tecnologia do administrar as diversas
concreto, principal- variáveis envolvidas e
mente no que se refe- ajustá-las. Conforme o
re à durabilidade das porte e a localização
estruturas de concreto, do empreendimento,
assunto este que ga- existe ainda a possi-
nhou grande destaque bilidade da instalação
Foto 1 – medição de slump test antes da aplicação do
na última revisão das super plastificante de central móvel. Po-
normas técnicas “NBR rém, nestas condições,
6118/2004 – Projeto de Estruturas de Concreto deve-se levar em consideração o prazo de
– Procedimento” e “NBR 12655/2006 – Concre- execução da obra e o volume de concreto a ser
to de Cimento Portland – Preparo, Controle e produzido, pois em muitos casos estes itens não
Recebimento – Procedimento”. Em se tratando favorecem a logística, mobilização e montagem
de estruturas de concreto para saneamento, deste tipo de central.
este conceito de durabilidade é ainda mais Numa terceira e última hipótese, também
relevante, uma vez que o ambiente é bastante se levando em consideração o volume de concre-
agressivo e a paralisação dos sistemas, tanto de to a ser empregado na obra, a solução que resta
água quanto de esgoto, é sempre complexa. é a adoção da produção do concreto através de
Na falta de uma norma da ABNT, específica betoneiras ou misturadores estacionários. Tal
sobre concreto para obras de saneamento, a hipótese se constitui na de maior dificuldade
COPASA – Companhia de Saneamento de Mi- para a obtenção de concretos nas condições de

48 REVISTA CONCRETo
das estruturas de concreto”, pode-se enqua-
drar as obras de saneamento, em contato com
água tratada ou esgoto, nas classes III ou IV,
conforme a tabela 6.1 “Classes de agressivi-
dade ambiental”.
Com base nesta classificação, a NBR
12.655, em sua tabela 2 “Correspondência
entre classe de agressividade e qualidade
do concreto”, estabelece, para a Classe de
agressividade III, relação água/cimento ≤ 0,55
e para a classe IV, relação água/cimento ≤
0,45. Na Tabela 3, desta mesma norma, tem-se
a recomendação para “Condições em que é
necessário um concreto de baixa permeabili-
dade à água”, a relação água/cimento deverá
ser ≤ 0,50.
A Norma T.175 da COPASA, define em
sua Tabela 3 – “Parâmetros estabelecidos em
função das condições e local de exposição”:
“Estruturas para Tratamento de Água”:
relação A/C ≤ 0,50
“Estruturas em contato com Esgoto e seus
Gases”: A/C ≤ 0,45.
Estes têm sido os valores, por nós
Foto 2 – medição de slump test após aplicação
do super plastificante adotados, para elaboração das Dosagens
Racionais.
qualidade desejadas. Os volumes produzidos por
betonada são pequenos e o controle de umidade
é bastante difícil por tratar-se de produção de Agregados
concreto por sistema volumétrico. Para estes
casos, é fundamental ter na obra um laboratório
equipado, pelo menos, para execução de ensaios Necessário se faz, inicialmente, uma ava-
de caracterização dos agregados, controle da sua liação na região onde será executada a obra,
umidade, determinação da plasticidade e mol- para conhecimento dos agregados disponíveis,
dagem de corpos de prova. A operação deverá bem como a capacidade de fornecimento de
estar a cargo de um laboratorista experiente cada instalação.
com capacidade para produzir, quando necessá- Em todos os fornecedores que se encon-
rio, ajustes na dosagem. Nesta condição, o uso tram em condições de atender à obra, são cole-
de aditivo super-plastificante, no intuito de se tadas amostras para ensaios de caracterização,

OBRAS DE SANEAMENTO
reduzir as possibilidades de fissuração, material conforme a norma NBR 7211 da ABNT. A partir
importante quando se trabalha com baixos con- destes ensaios, serão definidos os agregados a
sumos de cimento e baixo fator água/cimento, serem utilizados.
seria praticamente impossível. Devido ao peque- Na Central de Concreto os agregados
no tempo “em aberto” que propicia ao concreto, deverão ser estocados em baias separadas, de
seu uso fica difícil em função da velocidade de forma a se impedir a contaminação entre eles.
produção nestas condições. Devem ser cobertos por lona nos períodos chu-
A seguir apresentamos alguns critérios, vosos e homogeneizados antes de se medir a
por nós usados, para o estudo de concretos em umidade. A determinação da umidade deverá
Reservatórios de Água e de Esgoto, em obras ser feita, pelo menos, três vezes ao dia, durante
de porte médio a grande. as concretagens.

Relação água/cimento Cimento

Conforme previsto na NBR 6118, em Tendo em vista as características das


seu item 6 – “Diretrizes para a durabilidade estruturas de concreto em obras de sanea-

REVISTA CONCRETO 49
mento, tem-se utilizado cimentos dos tipos que, normalmente se situa entre 50 e 70 minu-
CPIII, CPIV e CPV-RS ou cimentos especiais com tos, dependendo das condições atmosféricas,
propriedades específicas de baixo calor de das dosagens e dos materiais utilizados. Para
hidratação, resistência a sulfatos, inibidor da se conhecer este parâmetro, estuda-se a perda
reação álcali-agregado e resistências inicial e de abatimento do concreto, em intervalos de
final compatíveis com o prazo de execução ou 15 minutos.
cronograma da obra. Com relação aos agregados é necessá-
rio, para se conseguir um bom funcionamen-
to do policarboxilato, que o teor de finos
Aditivos passando na peneira 0,15 mm, existente no
traço, seja da ordem de 480 kg/m³ do con-
creto. O teor de argamassa usual é da ordem
Os aditivos usados normalmente para de 54%.
estes concretos são: plastificantes, plastificantes Com base nestes parâmetros é possível,
retardadores e super-plastificantes, estes últi- quando a relação A/C = 0,45, trabalhar-se com
mos em geral a base de policarbixilato. consumo de cimento da ordem de 370 kg/m³,
e para A/C = 0,50 com 330 kg/m3, dependendo
dos agregados e do cimento.
Dosagem racional

Central de concreto
Para que se possa atender aos requi-
sitos de durabilidade, estanqueidade e re-
sistência à compressão, a dosagem racional As instalações deverão ser compatíveis
do concreto, devido a sua complexidade, com as características e volumes dos concretos
deverá ser desenvolvida por Laboratório de a serem produzidos. Todos os equipamentos
Tecnologia do Concreto e Materiais, com deverão estar aferidos: as baias deverão ter
experiência comprovada. cobertura e as balanças deverão ter capaci-
Quando se adota uma dosagem de dade de pesar, de uma só vez, os materiais
concreto, previamente estudada em labo- necessários ao carregamento do volume do
ratório, busca-se, numa primeira etapa, a Caminhão-Betoneira.
reprodutibilidade e repetibilidade necessárias O fluxo de entrada e saída dos Ca-
à execução da obra. Desta forma, devem ser minhões Betoneira, na posição de carrega-
levadas em consideração: mento, deverá ser previamente estudado de
As exigências estabelecidas no projeto forma a reduzir ao máximo o tempo de cada
estrutural e nas Normas Técnicas; carregamento e assim melhorar a produtivi-
As características geométricas das peças; dade da Central.
Os materiais disponíveis na região;
O equipamento em que será produzido;
O meio de transporte e a distância entre
o ponto de produção e o de lançamento
do concreto;
As condições de lançamento, inclusive
com relação ao tempo necessário;
O sistema de adensamento a ser adotado,
entre outros.
Quanto à dosagem propriamente dita,
no que tange aos aditivos, normalmente se faz
uso combinado de polifuncional com super-
plastificante a base de policarboxilato. Nestas
condições, o concreto deverá ter inicialmente
uma plasticidade da ordem de 20 a 40 mm,
obtida com a ajuda do polifuncional, devendo
atingir uma plasticidade de 200 a 220 mm com
a adição do policarboxilato.
Uma característica muito importante é
o tempo em aberto (pot life) deste concreto, Foto 3 – medição de espalhamento do concreto – flow

50 REVISTA CONCRETo
Caminhões–betoneira to do concreto, o tempo de aplicação de cada
camada de forma a se evitar junta fria.

Deverão ser vistoriados periodicamente,


visando avaliar o número de rotações por minu- Adensamento
to da cuba em velocidade de mistura, a limpeza
das cubas e das palhetas, o nível de desgaste
das palhetas e a aferição do hidrômetro. Os concretos com plasticidade da ordem
de 200 mm são praticamente auto-adensáveis.
Assim sendo, a vibração tem a função de acomo-
Preparo da carga do caminhão-betoneira dar o concreto e deverá ser feita com cuidado
para se evitar a segregação.

Neste caso, deve-se considerar duas


hipóteses: Cura
Central de Concreto instalada na obra
ou próxima a mesma;
Central de Concreto externa. Nos concretos para obras hidráulicas a
Na primeira cura é fundamental
hipótese, pode-se para se evitar a fissura-
ajustar o concreto na ção por retração. Assim
própria Central e libe- sendo, deve-se adotar,
rar o Caminhão Beto- para lajes, cura com
neira para a frente de lâmina d´agua. Nes-
concretagem. te caso, em peças de
Na segunda hi- maior dimensão usa-se,
pótese, o concreto deve- durante a fase de con-
rá ser transportado até a cretagem e tão logo se
frente de concretagem, perceba a perda super-
sendo aí então adicio- ficial de água, manta
nado o aditivo super- de “bidin” saturada.
plastificante e liberado Para as paredes deve-
para lançamento. se usar a cura química
Em ambos os que deverá ser aplicada
casos, deverá ser me- simultaneamente com
dida a plasticidade a desforma.
do concreto e acom- Foto 4 – medição de ar incorporado no concreto
panhado o tempo de
descarga, em função do tempo estabelecido Fissuras

OBRAS DE SANEAMENTO
pelo Laboratório responsável pela dosagem.

Fechando este artigo é importante um


Lançamento pequeno comentário sobre as fissuras, anomalia
extremamente prejudicial em obras de reser-
vatórios. Nem sempre se consegue evitar o seu
De uma maneira geral, as obras de porte aparecimento, principalmente quando ocorrem
médio a grande fazem o lançamento do concre- nas paredes devido à coação exercida pela laje
to através de bombas. Neste caso é fundamen- concretada e já resistente, em relação às paredes
tal que se faça, com antecedência, o plano da recém concretadas. A tentativa para se impedir
concretagem de forma a se definir a capacidade o seu aparecimento passa por um acréscimo
de aplicação do concreto, o posicionamento das significativo na armadura, fazendo com que, o
bombas, o sentido da concretagem, bem como custo daí advindo torne, na maioria das vezes,
as alternativas existentes em caso de ocorrer inviável tal procedimento. Assim sendo, deve-
alguma falha nos equipamentos. se tomar o máximo cuidado em todas as fases
O lançamento deverá ser feito consi- do processo e se ainda assim vierem a ocorrer,
derando a capacidade de suporte das fôrmas, podem ser tratadas através de injeção de resina
quando se tratar de paredes, o tempo em aber- de poliuretano, microcimentos, etc.

REVISTA CONCRETO 51
A importância da boa
comunicação na prática
da engenharia
Maria Regina Leoni Schmid
Rudloff Sistema de Protensão Ltda.

Introdução logo técnico de produtos de engenharia, devido à


sua característica intrigante de ser um elemento
cuja existência transita entre uma manifestação
Após alguns anos de trabalho no desenvol- pura de comunicação técnica e uma ferramenta
vimento de comunicação voltada à engenharia, de marketing institucional. A realidade do ca-
constatamos a existência de um vazio entre a tálogo técnico encontra-se entre dois objetivos,
prática da comunicação visual e a realidade da um instrucional e técnico, o outro publicitário;
comunicação técnica no panorama nacional. De- um com a função de instruir e convencer ética e
vido a isso, desenvolvemos uma pesquisa inédita tecnicamente, o outro de persuadir e convencer
a respeito desta forma de comunicação, que foi a comercialmente; um responsável pela transmissão
base para dissertação de mestrado desenvolvido do conteúdo explícito e claramente exposto, o
na Universidade de São Paulo, finalizado em 2006. outro por transmitir idéias implícitas sutilmente
A pesquisa mostrou-se de grande utilidade para colocadas. Isso também acontece em outros tipos
faculdades de engenharia perceberem a importân- de comunicação de conteúdos técnicos.
cia da inserção de disciplinas de comunicação em A necessidade da atenção especial a este
seus currículos, assim como mostrou-se útil como tipo de comunicação pode ser justificada pelos
orientação à atuação dos profissionais envolvidos critérios expostos por Rosenfeld e Morville1,
com a criação da comunicação técnica em geral. entre os quais destacamos:
A escolha do tema desta pesquisa deu-se O custo para se encontrar informações em
após percebermos que a comunicação visual de ambientes mal organizados é caro. O
assuntos técnicos de engenharia nem sempre tempo no ambiente profissional é um
apresenta a informação de forma fiel ao seu bem precioso e a sucessão de pequenos
conteúdo original, ou nem sempre o faz com a períodos extras gastos diariamente em
preocupação de oferecer conforto ao usuário busca de informações que existem, mas não
da informação. Contudo, a engenharia depen- estão claras, pode prejudicar o desempenho
de da transmissão adequada de informações, dos funcionários e frustrar clientes.
principalmente técnicas, para o seu bom fun- O custo por não se encontrar informações
cionamento e crescimento. Assim, a comunica- relevantes no ambiente profissional é
ção é a sua principal ferramenta e o estímulo igualmente elevado e pode resultar em
fundamental para o seu desenvolvimento. É ela decisões inadequadas, duplicação de
que garante a disseminação dos conceitos e des- esforços para se realizar uma tarefa,
cobertas no campo da engenharia e possibilita perda de clientes que não encontram
que eles sejam usados e desenvolvidos. informações necessárias no material
da empresa, desperdício de tempo para
se providenciar o suporte à ausência das
O foco de estudo informações.
O valor da educação de clientes, ao
se apresentar de forma adequada novas
Para limitarmos o campo de estudos da informações relativas aos assuntos de seu
pesquisa, definimos como foco de estudo o catá- interesse, é inestimável.

1
ROSENFELD, Louis; MORVILLE, Peter. Information
REVISTA CONCRETo
52 Architecture for the World Wide Web. Sebastopol:
O’Reilly&Associates, 1998. p. 11.
O design da informação

O design da infor-
mação visa representar
a informação de forma
estruturada e fiel ao seu
conteúdo original, fa-
zendo uso de técnicas de
design para possibilitar
uma representação este-
ticamente agradável aos
leitores. A disciplina tem
como o seu centro e ponto
de partida o usuário da
informação e busca não
somente orientá-lo, mas
fazê-lo de forma confor-
tável, procurando possi-
bilitá-lo a encontrar as
informações que precisa,
compreendê-las e usá-las
adequadamente.
Sua aplicação nor-
malmente tem funções
tais como auxiliar indiví-
duos no desenvolvimen-
to de atividades especí-
ficas, orientar a solução
de problemas, apresen-
tar materiais informa-
tivos eficientes com um
mínimo de dados, unir
interesses comerciais a
comunicações técnicas.
Seus conceitos são apli-
cáveis na concepção e
produção de materiais
como mapas, manuais de
instrução, painéis de co-

ENSINO DE ENGENHARIA
O custo para se produzir um material de mando, guias, catálogos
comunicação é muito elevado para que técnicos, publicações científicas, materiais
ele necessite ser refeito por não ter sido educativos, sinalizações, softwares, websites
bem organizado. e vários outros.
O custo do treinamento para se usar Design da informação é uma junção de
um sistema é elevado e pode ser reduzido disciplinas, envolvendo pelo menos soluções
através da sua simplificação, com visuais, de escrita e de usabilidade. Assim,
informações apresentadas de forma coerente. disciplinas como o design gráfico, a lingüística
O valor de uma marca não está somente e a arquitetura da informação, entre outras,
associado à estética agradável apresentada estariam para o design da informação, assim
por seu material de comunicação, mas como geometria, cálculo e álgebra estão para a
também à sua eficiência em transmitir matemática, formando um conjunto complexo
informações úteis de forma prática. onde cada elemento é igualmente importante.
O catálogo técnico é uma das diversas Conseqüentemente, para atuar perante as
formas possíveis de manifestação do design da diversas áreas constituintes do design da in-
informação, disciplina que orientou o desenvol- formação, cabe ao profissional uma formação
vimento desta pesquisa. multidisciplinar, além do conhecimento das tec-

REVISTA CONCRETO 53
nologias tratadas em cada produto específico mente por um engenheiro ou por um comuni-
que ele desenvolve. cador. Porém, percebemos que na realidade da
prática da engenharia ocorre que em grande
parte dos casos, tanto comunicadores quanto
A comunicação técnica engenheiros não têm uma formação adequada
para unir comunicação com engenharia e che-
gar a um resultado eficaz.
A comunicação técnica é uma ferramen- Acreditamos que esta é a principal
ta essencial a ambientes técnicos e científicos justificativa para o fato de que em países eu-
para possibilitar a transformação de assuntos ropeus e norte-americanos, onde a prática da
técnicos em informações mais práticas e aces- disciplina comunicação técnica é mais intensa,
síveis, daqueles que as conhecem e dominam, é comum o seu ensino ser responsabilidade de
para aqueles que delas necessitam. Na prática faculdades de tecnologia, e não de comunica-
da engenharia, esta é a forma de comunicação ção. Existe, atualmente, um reconhecimento
que permite a transmissão de resultados de da comunidade científica internacional de
estudos técnicos de maneira clara e compreen- que engenheiros devem estar habilitados
sível, possibilitando o seu entendimento tanto para comunicar, além de atuar tecnicamente.
a profissionais da área, com os mais variados Em se tratando da realidade nacional, porém,
graus de instrução, quanto a leigos. esta mentalidade ainda não é senso comum.
Para ser bem sucedida, esta forma de Através de consulta a diversas faculdades na-
comunicação requer que se leve em conside- cionais de engenharia, constatamos que boa
ração os seus três principais constituintes, que parte delas não possui, em sua grade curricu-
são a mensagem, o emissor e o receptor, de lar, alguma disciplina diretamente voltada à
forma cuidadosa. prática da comunicação técnica ou ao estudo
Ao se tratar de uma comunicação técni- da informação.
ca, existe uma necessidade natural do material Contudo, a percepção de que a atuação
ter um conteúdo relevante, prioritária à ne- do engenheiro no local de trabalho envolve não
cessidade da sua satisfação do ponto de vista somente problemas técnicos parece estar, aos
estético. Enquanto outros tipos de comunicação poucos, mudando o ensino de engenharia. A
podem ser bem sucedidos somente por uma alteração do foco na formação de profissionais
apresentação estética adequada, a comuni- da engenharia, em busca de um profissional
cação técnica requer mais do que isso, ela ne- mais versátil e dinâmico, parece ser uma ten-
cessita gerar credibilidade pelo seu conteúdo. dência mundial.
Uma produção visual excepcional não substitui É importante esclarecermos, porém,
eventual falta de conteúdo técnico. que ao abordar a comunicação em seus cur-
Na transmissão da informação, o fato rículos, a engenharia não tem a pretensão de
de um material possuir deficiências em sua substituir profissionais da comunicação por
apresentação estética, sendo porém legível e engenheiros, uma vez que ambos possuem
confiável no que diz respeito ao seu conteúdo, seus campos de trabalho bem delimitados
não impede a sua utilidade, do ponto de vista e necessitam de anos de formação e prática
da transmissão de informações técnicas. Porém, para adquirir suas habilidades. Não estamos
a recíproca não é verdadeira e, se as deficiências defendendo que atividades profissionais de
estiverem relacionadas ao conteúdo técnico, comunicação sejam feitas por engenheiros,
não há recursos estéticos que possam esconder nem que engenharia seja feita por comuni-
essa realidade e criar a mesma confiabilidade cadores. Porém, o que tem se mostrado como
que informações técnicas proporcionariam. uma necessidade, é que os profissionais de
Mijksenaar2 explica o motivo disto, ao defender comunicação técnica sejam mais especializa-
que a beleza de um material é uma conseqüên- dos para a atividade de “comunicar tecnica-
cia de seus aspectos racionais, e não uma carac- mente”, com a habilidade de possibilitar uma
terística que ocorre de forma independente. transdisciplinaridade entre conhecimentos
de comunicação e conhecimentos do assunto
técnico a ser comunicado. Assim como a for-
O profissional da comunicação técnica mação de engenheiros está se abrindo mais
para o lado da comunicação, seria desejável
que a formação de comunicadores atuantes
No dia-a-dia da engenharia, a comunica- junto à comunicação técnica envolvesse igual-
ção técnica costuma ser desenvolvida principal- mente assuntos mais técnicos.
2
MIJKSENAAR, Paul. Visual function:
54 REVISTA CONCRETo
an introduction to information design. Nova Iorque:
Princeton Architectural Press, 1997. p. 18.
O que defendemos é a presença de de usabilidade e falta de transparência
um profissional mais completo para desen- ao usuário da informação. A análise de
volvimento da comunicação técnica, seja ele documentos existentes pode auxiliar na
engenheiro ou comunicador. Um profissional criação de documentos mais claros.
que tenha domínio do assunto que está sendo Verificar a possibilidade de reduzir a
tratado no material de comunicação e que, informação do material – nem sempre é
além de sua formação convencional, tenha necessário se mostrar tudo de uma só
capacidade de: vez, o que em muitos casos sobrecarrega
Oferecer um material confiável – isso pode
o receptor.
gerar a necessidade de mostrar ao receptor
Ter certeza que a informação promove
fontes oficiais e seguras que geraram as
informações. compreensão e é facilmente integrada,
Pesquisar e aprender através de fontes destacável de ruídos, memorável e
diversas sobre a informação que precisa suficientemente relevante, considerando
ser transmitida. Dificilmente, uma fonte tanto as necessidades do receptor, quanto
única será capaz de sintetizar todos os os objetivos do emissor.
dados que farão parte de uma informação Ter capacidade de dar formas variadas
bem projetada. a uma mesma informação, direcionando-
Entender como a informação que a apropriadamente a diferentes canais,
está sendo criada será experienciada e que podem envolver materiais publicados
comunicada aos receptores. A informação em mídias diversas, impressas ou eletrônicas.
somente tem valor quando comunicada Prever maneiras de medir o impacto
com sucesso. Se não pode ser acessada ou
causado pelas modificações conseqüentes
compreendida, não tem qualquer valor.
Manter-se fiel aos objetivos que a
de um desenvolvimento diferenciado do
informação está direcionada a atender material de comunicação.
durante todo o processo de Estar aberto a toda e qualquer disciplina
desenvolvimento do material. Alcançar do campo de conhecimento, encorajando
os objetivos corretos é a proposta de e participando da prática de pesquisas
informações e a razão pela qual elas sobre a informação, visando compreendê-la
precisam de um design específico. melhor e entender como as pessoas
Estar atento ao contexto e eventuais respondem a ela, como o cérebro humano
funções implícitas no material, a processa e constrói o conhecimento e
normalmente relacionados a organizações. como o homem organiza o conhecimento e
Transformá-los pode significar tanto a o converte em comportamento.
necessidade de alterações na sua aparência,
Percebemos que a atividade de comu-
quanto na forma de funcionamento das
organizações. Pode significar adição de nicar tecnicamente é bastante abrangente
algo novo ao que já existe ou extinção de para ser feita por um único profissional.
algo existente para resultar em uma nova Acreditamos, porém, que isso não pode ser

ENSINO DE ENGENHARIA
forma de circulação de informações. um fator de impedimento ao desenvolvimen-
Entender o contexto político, cultural, to de um bom material, pois na inexistência
social, mercadológico, etc., onde a deste profissional, o desenvolvimento da co-
informação será inserida. Receptores são municação técnica pode ser feito através de
influenciados por fatores externos. um conjunto de profissionais. Esse conjunto
Estar atento ao fato do design de uma boa seria constituído por especialistas em comu-
informação não estar limitado ao produto nicação e especialistas no assunto técnico
final – é necessária atenção para a criação tratado, trabalhando de forma integrada e
e disseminação de informações durante
procurando, através da parceria, superar as
todo o seu desenvolvimento. Se a
suas limitações. Uma exposição de Drucker
informação e a comunicação com o cliente
não forem bem projetadas, é provável que nos possibilita fechar este raciocínio:
a informação não seja transmitida A evolução do conhecimento demanda,
de forma adequada e não alcance a pela primeira vez na história, que pessoas com
compreensão desejada. conhecimentos assumam a responsabilidade
Buscar simplicidade e clareza: materiais de se fazerem compreendidas por pessoas que
muito complexos podem causar problemas não têm a mesma base de conhecimentos. Isso

3
DRUCKER, Peter. Managing in a time of great change. REVISTA CONCRETO 55
Oxford: Butterworth-Heinemann, 1995. p. 208.
requer que as pessoas aprendam, preferencial- requer interação contínua entre comunicador
mente cedo, como assimilar no seu trabalho e seu cliente, em busca do balanceamento
conhecimentos específicos de outras áreas e ideal entre a estética e o conteúdo, entre
outras disciplinas3. técnicas manipulativas e a transmissão de
conteúdos técnicos.
Procuramos, com esta pequisa, colaborar
Considerações finais com a prática da comunicação de engenharia e
de assuntos técnicos em geral. Pudemos consta-
tar que o design da informação, com seu caráter
A análise da comunicação técnica do pon- multidisciplinar, é capaz de possibilitar à comuni-
to de vista do design da informação nos permitiu cação técnica resultados surpreendentes. Ainda
avaliar que sua prática não é tarefa simples. há muito para ser estudado, pois as evidências
Porém, a interseção das duas disciplinas pode que encontramos se referem a uma pesquisa
resultar em uma integração positiva e equilibra- de campo bem restrita. Porém, são suficientes
da entre o conhecimento intelectual inerente a para concluirmos que é possível existir uma re-
uma informação técnica e a representação visual lação positiva entre conhecimento intelectual e
advinda de um produto de comunicação. representação visual, entre um conhecimento
O estudo nos mostrou que a aceitação abstrato e a comunicação visual, cuja relação é
da informação por parte do seu receptor está freqüentemente mal-entendida ao se tratar de
relacionada ao valor que ela lhe representa. comunicação técnica. No seu desenvolvimento, é
Já a aceitação da informação por parte do seu possível se estabelecer critérios para que a pola-
emissor está relacionada à ferramenta que ela ridade comunicação técnica x comunicação visual
lhe representa. Ao comunicador, cabe o desa- constitua um conjunto integrado e eficaz.
fio de conhecer o receptor da informação e A dissertação de mestrado citada
desenvolver um material cuja funcionalidade neste artigo foi desenvolvida na USP e en-
atinja o maior número de consumidores pos- contra-se disponível para download no site
sível. A comunicação técnica, acima de tudo, www.rudloff.com.br

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Raul Husni Claudio Sbrighi Neto
Engenheiro Consultor e Projetista. Professor Titular do Departamento de Doutor em Engenharia. Geólogo Consultor, especialista em patologia dos
Construções e Estruturas da Faculdade de Engenharia da Universidade de materiais. Professor Titular da Faculdade de Engenharia da FAAP e do Curso de
Buenos Aires. Autor de numerosas publicações desta especialidade. Co-diretor Pós-graduação do IPT. Coordenador do Comitê Técnico da ABNT sobre
da Revista Ingeniería Estructural da Asociación de Ingenieria Estructural, da qual agregados. Diretor- Primeiro-Vice-Presidente do Ibracon.
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56 REVISTA CONCRETo
Armadura de retração
em reservatórios
Antonio Carlos Reis Laranjeiras
Universidade Federal da Bahia

1. Introdução

A deficiência das armações para con-


trole da fissuração provocada pela retração do
concreto nas paredes e lajes de fundo dos re-
servatórios e piscinas é causa freqüente de seus
vazamentos. A prática de projeto privilegia,
geralmente, o dimensionamento das armações
para resistir aos empuxos, sem dispensar a de-
vida atenção ao controle da fissuração gerada
pelas deformações impostas como a retração.
O objetivo desse documento é o de res-
saltar a importância das armaduras de retração
na garantia da estanqueidade de reservatórios
e piscinas pelo relato de casos reais.

que o solo restringe o encurtamento da laje do


2. A origem da fissuração fundo, por atrito, e esta, por sua vez, impede o
livre encurtamento das paredes.
Essas restrições assumem caráter crítico
Se um elemento de concreto estiver in- quando geram forças de tração nas direções
teiramente isolado, as suas variações de volume, das peças em que os esforços provocados pelas
provocadas por retração, deformação lenta ou cargas inexistem ou são pequenos, incapazes
variação de temperatura, não induzirão quais- de se contrapor a essas forças. Exemplos de

OBRAS DE SANEAMENTO
quer forças no mesmo. Nas estruturas reais, no situações críticas como essas são as das lajes em
entanto, as interligações entre os diversos ele- balanço, na direção longitudinal, perpendicular
mentos e com seus apoios funcionam como res- ao balanço; as das lajes-corredor de grande
trições a essas variações de volume. A fissuração comprimento, na direção do lado maior; as das
ocorre quando as forças de tração geradas por paredes dos reservatórios, na direção horizon-
essas restrições são suficientemente grandes para tal e as das lajes de fundo, em ambas direções,
vencer sua resistência à tração. Nos reservatórios, quando apoiadas no solo.
esse é um problema crítico, pois essas fissuras
ameaçam sua necessária estanqueidade.
A figura 2.1 identifica casos simples de 3. Estudo de casos
interligação entre elementos que oferecem
restrições às alterações diferenciadas de volume
entre elementos mais robustos, que retraem 3.1. Caso 1
mais lentamente, associados aos elementos
esbeltos, que retraem mais rapidamente. Tanques de decantação da Estação de
A última figura abaixo, à direita, pode Tratamento de Água, na cidade de Juazeiro,
representar a seção transversal de um reservató- BA. A Figura 3.1 identifica a forma e dimensões
rio ou mesmo de um canal, pela qual se percebe desses reservatórios apoiados no solo.

REVISTA CONCRETO 57
Consta do Relatório de Vistoria: “O tanque A Figura 3.4 representa, esquematica-
de decantação da estação de tratamento de água mente, as fissuras localizadas nas paredes, nos
de Juazeiro, BA, de concreto armado, apresentou intervalos entre juntas verticais
vazamento de água, após ter sido colocado em
carga, o que prejudicou sua utilização.” 3.3. Caso 3
Pela configuração das fissuras (figura
3.2), supõe-se que deficientes armações, hori- Tanque de água bruta da Estação de
zontal das paredes e longitudinal da laje do fun- Tratamento de água do mar, campo D. João,
do, entraram em escoamento com a fissuração Petrobrás, BA, 1972.
e seus alongamentos permitiram as acentuadas O reservatório, cujas dimensões estão
trincas e vazamentos observados. indicadas na figura abaixo, tem paredes com es-
pessura variável, de 50cm na base e 20cm no topo,
3.2. Caso 2 divididas em painéis de 8m de comprimento,
interligados por perfilados do tipo Fugenband. A
Tanque de decantação de água do mar, laje do fundo com 15cm de espessura é, do mesmo
estação TS-2, campo de Taquipe, Petrobrás, modo, dividida em painéis. As linhas verticais da
BA.Esse reservatório, cujas dimensões são
Figura 3.5 representam as juntas.
apresentadas na figura abaixo, tem as paredes
Consta do Relatório da Vistoria: “Cons-
e laje do fundo divididas em painéis de 10 e
15m, interligados por perfilados SIKA, do tipo tata-se presença sistemática de fissuras na laje
Fugenband. As paredes têm espessura de 1m na do fundo e fissuras verticais nas paredes a meia
base e a laje do fundo entre as fundações das distância ou a 1/3 da distância entre juntas.”
paredes tem apenas 10cm de espessura. O quadro de fissuração observado é típico do
Do Relatório Técnico da vistoria consta: efeito das restrições à retração.
“Os decantadores de água do mar da estação
TS-2, apesar de concluídas suas obras há mais 3.4. CASO 4
de um ano, não foram ainda recebidos definiti-
vamente pelo seu proprietário - a Petrobrás. A Tanques de Detenção da Central de
razão desse fato é que, ainda em fase de experi- Incineração da CETREL (Central de Tratamento
mentação, apresentaram fissuras e vazamentos de Efluentes Líquidos), Polo Petroquímico, Ca-
que impedem sua utilização.” maçari, BA, 1991.

58 REVISTA CONCRETo
Trata-se de um reservatório semi-enter-
rado, com as paredes e laje do fundo com 20cm
de espessura, e demais dimensões conforme
indicadas na Figura 3.6. jeto nas paredes é de φ10 C/10, em cada face,
Consta do Relatório da vistoria: “Observam- que corresponde a uma taxa de 0,8%.
se trincas bem visíveis em todas as paredes...”“Estas
trincas estendem-se verticalmente por toda a 3.6. CASO 6
altura das paredes, seccionando-as de um lado a
outro, com aberturas medidas de 0,2 a 0,3 mm (ao Canal de Adução da Pequena Central Hi-
topo das mesmas).” “A armadura horizontal das drelétrica de Alto Fêmeas, BA, com mais de 1000
paredes é de apenas 0,4% de sua seção.” m de comprimento, vistoriado ainda na fase de
construção, em 1989, em virtude da acentuada
3.5. CASO 5 fissuração das paredes, no trecho já executado.
O canal, cujas dimensões estão indicadas
Tanques de decantação (separador de na figura abaixo, tinha juntas de movimento
água e óleo), Refinaria Landulfo Alves, Madre a cada 24 m e juntas de concretagem a cada 6
de Deus, BA. metros, todas vedadas com perfilados do tipo
Trata-se de um reservatório apoiado no Fugenband.
solo, com comprimento de 56m, paredes de Consta do Relatório de vistoria: “As
20cm de espessura, laje do fundo de 25cm e paredes do Canal apresentam trincas verticais,
demais dimensões na Figura 3.7. coincidentes com as juntas verticais de concre-
Os vazamentos devidos à fissuração das tagem, com aberturas máximas de 0,4 mm” “
paredes podem ser observados na foto que se Observam-se outras trincas intermediárias, en-
seguem, pelas manchas de óleo e eflorescências tre juntas de concretagem, com valor máximo
nas faces externas das mesmas. de 0,35 mm”
O que chama a atenção nesse caso é que A taxa de armadura horizontal nas pa-
a armadura de retração utilizada já é maior do redes, referida à espessura média das mesmas,
que o usual na prática corrente de projetos, é de apenas 0,22%, equivalente a uma simples

OBRAS DE SANEAMENTO
mas ainda assim insuficiente para garantia da armadura de pele.
estanqueidade. A armação horizontal de pro-

REVISTA CONCRETO 59
sobre a exigência do item sobre a armadura
de retração: Isso não é mais armadura de pele!
Parecem mais “costelas de dinossauros”! Como
aceitá-las tão desproporcionais?!!
 A terceira dificuldade é que os enge-
nheiros de estruturas, quando defrontados
com esses tipos de danos, costumam transferir
a causa de seus males para os vícios da prática
construtiva. Imaginam que o problema bem
que poderia ser resolvido na área da tecno-
logia, extraprojeto, através de dosagens e
curas adequadas. Na verdade, o fenômeno da
retração hidráulica começará sempre após a
4. Omissão dos projetos cura, não importa quão demorada e eficiente
ela seja.
 A quarta e última dificuldade aqui lista-
Algumas circunstâncias, relatadas a se- da é que a exigência da armadura de retração é
guir, dificultam a incorporação de adequadas uma exigência nova e inédita nos texto de nossa
armaduras de retração à prática de projeto de Norma (item 17.3.5.2.2). É natural que ocorram
reservatórios, canais e piscinas, apesar dos seve- questionamentos como, por exemplo: “Se é tão
ros danos que sua deficiência provoca – como já importante, por que só agora?””O que há de
salientavam, há mais de 30 anos, os Professores errado em manter a prática anterior?”
Fritz Leonhardt e Huber Rüsch.  A melhor ação para superar essas difi-
 A primeira dificuldade é o desconheci- culdades é a de conscientizar os engenheiros
mento por grande parte dos engenheiros da da ocorrência das fissuras danosas nos reserva-
existência desses severos danos de que fala a tórios e assemelhados, que comprometem sua
literatura técnica. Realmente, são danos que estanqueidade, em decorrência dos fenômenos
não ocorrem à época da construção ou ime- da retração e da eficácia de uma armação  ade-
diatamente após a obra ser entregue ao uso, quada no controle dessa fissuração. 
mas sim após decorridos, geralmente, alguns
meses, quando os engenheiros já se afastaram
e alimentam a falsa imagem de que tudo está 5. Conclusões
bem em suas construções, e não há defeitos
a registrar.
 A segunda dificuldade é que os enge- Os efeitos da retração são causa fre-
nheiros associam essa armação àquela outra qüente de fissuração em paredes e lajes de
que a Norma e a literatura costumam designar fundo de reservatórios, piscinas e canais, com
de “armadura de pele”. Essa armadura, utliza- prejuízo de sua condição de estanqueidade.
da nas faces das vigas altas, tem função bem As taxas de armação necessárias para
distinta da armadura de retração. De fato, a controle dessa fissuração em paredes até 30cm
armadura de pele pretende evitar a ocorrência de espessura é de pelo menos 1%. Esse valor re-
do fenômeno designado em Portugal por “ar- fere-se a uma abertura de fissura w90=0,15mm,
borização das trincas”, isto é, pretende evitar a qual se colmata pela carbonatação do cimen-
que as múltiplas fissuras existentes ao nível to, mantendo-se estanque.
das armações longitudinais, na face inferior
das vigas, se juntem mais acima para formar
fissuras em menor número e, desconfortavelm
ente, mais abertas.
 Essa armadura de pele, recomendada
em nossa Norma, é de apenas 0,10% da seção
da viga, em cada face (item 17.3.5.2.3). É natural
que cause assombro que essa pseudo “armadu-
ra de pele”, de repente, para controlar a fissu-
ração devido à retração, necessite ser 5 vezes
maior. Ocorre-me a respeito que um colega,
com justa razão, observou-me, em tom irônico,

60 REVISTA CONCRETo
Propriedades reológicas del
hormigon autocompactable
Raúl Zerbino
Conicet-Lemit/UNLP

Bryan Barragán
Universitat Politécnica de Catalunya

Resumen la tecnología del hormigón. El desarrollo de


los aditivos superfluidificantes ha dado lugar
a nuevos tipos de hormigones denominados
El diseño y aplicación del Hormigón Au- especiales. Entre los más recientes y que en la
tocompactable (HAC) constituye uno de los te- actualidad suscita gran interés por parte de la
mas de mayor interés en la actualidad dentro de industria de la construcción se destaca el Hormi-
la tecnología del hormigón. La caracterización gón Autocompactable (HAC). Este material fue
reológica en estado fresco brinda información desarrollado por iniciativa del profesor Okamu-
para diseñar diferentes clases de HAC y permite ra en Japón, quien lo definió como un hormigón
valorar la influencia de los materiales compo- capaz de fluir en el interior de los encofrados,
nentes así como el efecto de diversas variables pasar a través de las armaduras de refuerzo y
externas. En términos reológicos un HAC se llenar los elementos estructurales, compactán-
caracteriza por poseer una tensión umbral de dose solamente por la acción de su propio peso
cizallamiento muy baja y una viscosidad plás- (1). En pocos años el HAC se ha desarrollado y
tica capaz de garantizar el transporte, llenado aplicado en el resto del mundo (2-7).
y consolidación del hormigón sin segregación. Las propiedades en estado fresco cons-
Este trabajo analiza la reología del HAC, en pri- tituyen una de las características salientes del
mer lugar se presentan los conceptos reológicos HAC, ya que de ellas depende la calidad final
y las variables que modifican la respuesta del de los elementos estructurales. En distintos
hormigón fresco, destacando las características países ya se han redactado especificaciones de
particulares del HAC; en segundo término se uso y normas de ensayo. Como ocurre con otros
muestran resultados correspondientes a un hormigones para caracterizar al HAC en estado
programa de investigación en el que se empleó fresco se emplean ensayos de tipo ingenieril,
un BML Viscometer 3 (CONTEC) con el fin de sencillos, económicos y fáciles de realizar en
ponderar la influencia de factores que afectan obra. Sin embargo el uso de viscosímetros o
la producción del HAC como la temperatura del reómetros permite una más completa carac-
hormigón, el tiempo transcurrido luego de fina- terización del comportamiento y un mayor
lizar mezclado y las condiciones de exposición conocimiento del material y de los factores
CONCRETO FRESCO
luego de la elaboración; finalmente se analiza que lo modifican. Los estudios de reología
la vinculación entre los parámetros reológicos han permitido interpretar el comportamiento
y las medidas de los ensayos de tipo ingenieril del hormigón bombeado, el hormigón de alta
más frecuentemente utilizados (escurrimiento performance y, más recientemente, la caracte-
y embudo en V). rización y diseño del HAC.
En este trabajo describe y analiza el
comportamiento reológico del HAC. En primer
Introduccion lugar incluye una breve presentación de los con-
ceptos de reología aplicados al hormigón y de
las variables que modifican la respuesta de este
En las últimas décadas se han produci- material en estado fresco. Luego se muestran
do avances muy importantes en el campo de algunos resultados obtenidos en un extenso

REVISTA CONCRETO 61
programa experimen- Actualmente
tal realizado con el existen reómetros y
propósito de analizar viscosímetros espe-
variables que afectan cialmente desarrolla-
la producción del HAC, dos para determinar
como el mezclado, la los parámetros reoló-
temperatura y las con- gicos del hormigón,
diciones de exposi- entre los que mere-
ción (8). Finalmente se cen mencionarse el
muestran ejemplos de UBC rheometer, el BT
la vinculación entre las RHEOM y el viscosíme-
medidas de los ensayos tro BML de cilindros
ingenieriles y los pará- coaxiales. Se ha com-
metros reológicos. probado una buena
correlación entre las
medidas de diversos
Comportamiento aparatos (12). El com-
reologico del portamiento reológi-
hormigon fresco co típico responde a la
ecuación [3] donde (T)
es el esfuerzo torsor, g es la resistencia al flujo
La reología es la ciencia que estudia la (N.m) y h la viscosidad del torque (N.m.s).
deformación y flujo de la materia. Para definir el
comportamiento reológico de un fluido se recurre
a la denominada curva de flujo, que representa la
relación entre el esfuerzo aplicado (τ, tensión de
corte) y el gradiente de velocidades de deforma-
ción (γ).En la Fig. 1 se muestran curvas de flujo de Los estudios reológicos han contribui-
diferentes tipos de materiales (9). A los materiales do al mayor conocimiento de las propiedades
que poseen un valor umbral por debajo del cual en estado fresco de los materiales a base de
no se produce el movimiento se los conoce como cemento portland. Aunque la pasta es esen-
viscoplásticos. Algunos fluidos responden al mo- cialmente agua y partículas de cemento, su
delo de Bingham. Este modelo es uno de los que comportamiento es bastante diferente a una
mejor representa el comportamiento de la pasta suspensión de sólidos inertes; existen fuerzas de
de cemento, el mortero y el hormigón; emplea atracción entre las partículas que dan lugar a
dos parámetros para caracterizar el movimiento: la formación de flóculos, poco tiempo después
el umbral de cizallamiento (τ0) que representa del contacto con el agua se producen rápidas
la resistencia a la deformación en condiciones reacciones que dan lugar a la disolución de
estáticas y la viscosidad plástica (µ), que se puede iones y luego comienzan a formarse productos
asociar a una resistencia creciente al movimiento hidratados sobre las superficies de las partícu-
(ecuación 1). las. Estas membranas que se forman en torno
a los flóculos se rompen durante el mezclado
por lo que el esfuerzo necesario para mover el
sistema cambia en función de la velocidad de
deformación (9).
La mayoría de los cambios que se produ-
Los materiales que por encima de la cen en la composición del hormigón afectan su
tensión umbral se comportan como dilatantes respuesta reológica (9). El contenido de agua
o pseudoplásticos son mejor representados afecta en forma notoria la viscosidad plástica
por otros modelos como el de Herschel-Bulkley y la resistencia al flujo, a mayor contenido de
(ecuación 2) donde a y b son constantes (10). agua ambos parámetros se reducen en forma
Este modelo también ha sido utilizado para significativa. Los aditivos reductores de agua,
representar el comportamiento del HAC (11). en especial los superfluidificantes, reducen
ligeramente la viscosidad plástica pero dismi-
nuyen en gran medida la resistencia al flujo. El
aire incorporado reduce ambos parámetros, en
general a medida que aumenta el contenido de

62 REVISTA CONCRETo
aire los efectos sobre requiere una adecua-
la viscosidad son me- da combinación entre
nores. En la Fig. 2 se la tensión umbral y la
esquematiza el efec- viscosidad plástica para
to del cambio en los lograr movilidad sin
contenidos de agua, riesgos de segregación;
superfluidificante y en mezclas con alta
aire incorporado. viscosidad se requiere
El tipo de ce- que la tensión umbral
mento y las adiciones sea prácticamente nula,
minerales también mientras que en un
afectan la respuesta HAC menos viscoso es
reológica. No es sen- conveniente que au-
cillo acotar el efecto mente. Una combina-
del tipo de agregado, ción donde ambos pa-
ya que cuando éste se rámetros (τ 0 y µ) fueran
modifica también cam- extremadamente bajos
bian parámetros como podría implicar riesgos
el contenido de agua de segregación. Esto co-
o el volumen de pasta; incide con lo sugerido
se ha encontrado que por Nielsson and Wa-
agregados con formas llevik (13) que han pro-
redondeadas reducen significativamente la vis- puesto (Fig. 4) una zona de autocompactabilidad
cosidad plástica y, en parte, la tensión umbral. en base a los parámetros reológicos determinados
Además para el mismo conjunto de materiales con un aparato CONTEC Viscometer 3.
existen otros factores que modifican la respues-
ta reológica, entre ellos se destacan el paso del
tiempo y los cambios de temperatura. Experiencias
Los estudios reológicos han permitido
comprender el comportamiento del HAC y de ese
modo han contribuido a un diseño más racional La calidad final del HAC está directamen-
de este nuevo hormigón. En la Fig. 3 se comparan te relacionada con sus propiedades reológicas en
en forma esquemática curvas de flujo de un HAC, estado fresco; existen diversos factores que las
un hormigón convencional (HC) y un hormigón pueden modificar y en consecuencia inciden en
fluido de alta resistencia (HAR). Un HAR posee el control de producción del HAC. Entre ellos se
habitualmente mayor destacan la tempera-
viscosidad plástica que tura del hormigón y la
un HC, debido a su me- energía de mezclado.
nor relación agua/ligan- En la Fig. 5.a
te, y también presenta se muestran curvas
menor umbral de ci- momento torsor (N.m)
zallamiento. Un HAC vs. velocidad (revolu-
posee tensión umbral ciones por segundo)
casi nula y una viscosi- obtenidas con el visco-
dad suficiente para ga- símetro BML sobre tres
CONCRETO FRESCO
rantizar el transporte, HAC con agregados
llenado y consolidación de 12 mm de tamaño
del hormigón sin que máximo, elaborados
segregue. con idénticas propor-
En HAC la flui- ciones y tipo de mate-
dez, la capacidad de riales pero variando la
pasaje y la resistencia temperatura del agua,
a la segregación son que fue incorporada
fundamentales, pero en a 2, 22 y 37 ºC. Si bien
general las dos primeras los hormigones alcan-
se oponen a la última. zaron temperaturas
Para lograr un HAC se apenas diferentes (21,

REVISTA CONCRETO 63
24 y 27 ºC respectivamente) las curvas se modi- En la Fig. 6 se comparan las curvas mo-
ficaron y la mayor fluidez correspondió al HAC mento torsor vs. velocidad correspondientes a
con temperatura intermedia. hormigones con idénticas proporciones elabo-
En la Fig. 5.b se presentan las curvas de rados con diferentes mezcladoras y en distintos
otras mezclas con agregados de 20 mm de tamaño volúmenes; la experiencia se realizó en verano
máximo, también se elaboraron con las mismas (V) y luego se repitió meses más tarde a tempera-
proporciones de materiales y todos los compo- turas moderadas (M). El material de los pastones
nentes (a excepción del aditivo) se mantuvieron pequeños muestró mayor viscosidad plástica
herméticamente embolsados durante 24 horas a 5, que el HAC elaborado en mayor volumen. Esto
20 o 40 ºC. Los HAC alcanzaron temperaturas de 17, confirma el significativo efecto del tipo y energía
27 y 35 ºC respectivamente; nuevamente la mayor de mezclado sobre las propiedades del HAC. Las
fluidez se obtuvo con la temperatura intermedia y mediciones reológicas fueron consistentes con
la mayor viscosidad con los materiales más fríos. los resultados obtenidos en los ensayos inge-
nieriles de escurrimiento y embudo en V que se
realizaron al mismo tiempo (ver Tabla 1).

Parámetros reológicos
y ensayos ingenieriles

Cuando surge el HAC fue necesario de-


sarrollar nuevos métodos de ensayo para poder
caracterizarlo en estado fresco; atendiendo a sus
propiedades particulares como la capacidad de
pasaje, la capacidad de llenado y la resistencia a
la segregación. Para ello se plantearon ensayos de
tipo ingenieril entre los que se destacan el ensayo
de escurrimiento (slump flow) y el embudo en V
(V-funnel). El primero utiliza un Cono de Abrams
que se llena sin compactar, se obtienen como re-
sultados el diámetro final (Df) y el tiempo (T50) en
el cual el HAC alcanzó un diámetro de 500 mm.
El embudo en V mide el tiempo de pasaje (TV)
a través de un recipiente con forma de V y una

64 REVISTA CONCRETo
boquilla de salida de 65 x 75 mm de sección. Los dos de los ensayos ingenieriles. Se ha encontrado
detalles de los dispositivos y forma de realización que para un mismo conjunto de materiales algu-
de los ensayos han sido ampliamente descriptos nos ensayos se correlacionan con los parámetros
en la bibliografía (6, 7). reológicos, sin embargo las correlaciones pueden
Además recientemente en las European variar entre distintos tipos de HAC.
Guidelines for Self Compacting Concrete (7) se En las experiencias realizadas se reali-
han propuesto tres clases de HAC en base al zaron los ensayos de escurrimiento y embudo
ensayo de escurrimiento según el tipo de apli- en V en forma simultánea con las medidas del
cación para el que esté destinado el material. viscosímetro para dos tipos de HAC que difieren
En forma similar se han planteado dos tipos de en el tamaño máximo de agregado utilizado. Si
HAC según la viscosidad a partir de los valores bien los materiales componentes son similares
del T50 en el ensayo de escurrimiento o del tiem- se realizaron experiencias en diferentes épocas
po de vaciado del embudo en V (TV). y a distintas temperaturas. Además de las medi-
Los estudios reológicos han permitido una ciones realizadas inmediatamente al finalizar el
mayor comprensión del significado de los resulta- mezclado, en varios casos se tomaron medidas

CONCRETO FRESCO

REVISTA CONCRETO 65
del HAC en estado fresco durante las dos horas adecuada combinación de ambos parámetros
siguientes. Durante este lapso algunos hormi- permite lograr la movilidad deseada evitando
gones perdieron su condición de HAC. la segregación; en mezclas con alta viscosidad es
En la Fig. 7 se presenta la variación de los conveniente una tensión umbral extremadamente
resultados del ensayo de escurrimiento (Df, T50) baja, mientras que en HAC con menor viscosidad
y los tiempos del embudo en V en función de es deseable que aumente la tensión umbral. El es-
los parámetros reológicos. Los datos se diferen- tudio experimental comprobó que para un mismo
cian según el tamaño máximo del agregado de HAC los parámetros reológicos se modifican con
cada HAC (12 o 20 mm); y según las condiciones la temperatura o con la energía de mezclado, por
ambientales (M: a temperaturas moderadas, V: lo que estos factores pueden constituir una causa
en verano). Es posible observar que se encon- importante de variación en la producción. Final-
traron buenas correlaciones entre el diámetro mente se observó que para un mismo conjunto
de escurrimiento y la tensión umbral, y entre de materiales existen buenas correlaciones entre
la viscosidad plástica y los tiempos de flujo (T50 el diámetro de escurrimiento y la tensión umbral
o TV). Por el contrario al representar la tensión y entre la viscosidad plástica y los tiempos de flujo
umbral en función de los tiempos de flujo surge (T50 o TV). Desde este punto de vista las medidas
un panorama muy disperso, lo mismo que si se reológicas permiten una mayor comprensión del
considera la relación entre la viscosidad plástica significado de los ensayos ingenieriles.
y el diámetro de escurrimiento.

Agradecimientos
Consideraciones finales

Al personal del Departamento de Inge-


Los estudios reológicos del hormigón niería de la Construcción de la UPC por su ayuda
fresco han posibilitado una mayor compresión para la realización del programa experimental.
del comportamiento del hormigón autocompac- Los trabajos de investigación en UPC contaron
table (HAC), este hormigón representa uno de los con el apoyo del Programa Alβan, Programa
mayores avances en el campo de la tecnología de becas de alto nivel de la Unión Europea
del hormigón. El HAC posee una tensión umbral para América Latina, beca nº E04E047473AR, y
prácticamente nula si se la compara con la de un del proyecto PSS 11-2005, PSE-380000-2007-1:
hormigón convencional, mientras que la viscosi- HABITAT 2030, financiado por el Ministerio de
dad plástica puede ser de un orden similar. Una Educación y Ciencia de España.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(01) Okamura, H., Ozawa, K. and Ouchi, M., “Self-Compacting Concrete”. Structural Concrete, Journal of the FIB Vol. 1, N° 1,
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(03) RILEM Report rep023, State-of-the-Art report of RILEM Technical Committee 174-SCC. Self-Compacting Concrete. Edited
by Å. Skarendahl and Ö. Petersson, 2000. 168 p.
(04) RILEM Pub. PRO 33. 3rd Int. RILEM Symp. Reykjavik, Iceland, 2003, Ed. O. Wallevik and I. Nielsson, 1056 p.
(05) Sec. North Am. Conf. on the Design and Use of Self-Consolidating Concrete (SCC) and the Fourth Int. RILEM Symp.
on Self-Compancting Concrete, 2005, Ed. S. P. Shah, H. Wood Pub., Addison, IL, USA. Vol. 1 and 2, 1270 p.
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(07) EPG 2005, The European Guidelines for Self-Compacting Concrete Specification Production and Use.
http://www.efnarc.org/pdf/SCCGuidelinesMay2005.pdf
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de la Construcción Univ. Politécnica de Catalunya, Barcelona, ISBN: 84-87691-40-4-2, 2006, 83 p.
(09) Beaupré, D. and Mindess, S. “Rheology of Fresh Concrete: Principles, Measurement, and Applications”, in Materials
Science of Concrete V, Ed. J. Skalny and S. Mindess, American Ceramic Society, USA, 1998, pp 149-190.
(10) de Larrard, F., Ferraris, C. F., Sedran, T., “Fresh Concrete: A Herschel-Bukley Material” Materials and Structures, Vol. 31,
N° 211, 1998, pp. 494-498.
(11) Mouret, M. and Cyr, M. Discussion of ‘‘The effect of measuring procedure on the apparent rheological properties of self-
compacting concrete’’ by M. R. Geiker et al, Cement and Concrete Research Vol. 33, 2003, pp. 1901-1903.
(12) Brower L.E. and Ferraris C.F. “Comparison of concrete rheometers”. Concrete International, Aug. 2003, pp. 41-47.
(13) Nielsson, I. and Wallevik, O.H. “Rheologycal evaluation of some empirical test methods–Preliminary results”.
3rd Int. RILEM Symp. Reykjavik, Iceland, Ed. O. Wallevik and I. Nielsson, (RILEM Pub. PRO 33), 2003, pp. 59-68.

66 REVISTA CONCRETo
Deterioração, durabilidade e
intervenção em estruturas de
concreto de obras de saneamento
Simone Kochepki Campaner
Maria José Herkenhoff Carvalho
Adriana Verchai de Lima Lobo
SANEPAR – Companhia de Saneamento do Paraná

Introdução ram sendo abandona-


dos paulatinamente em
As companhias favor de outros tipos ou
de saneamento do outras modalidades de
Brasil têm um grande tratamento.
patrimônio em obras Essa grande
com estrutura de con- quantidade de estrutu-
creto, dentre as quais ras suscita a necessida-
edifícios, estações de de de programação de
tratamento de água, obras de manutenção,
estações de tratamento bem como reabilitação,
de esgoto, estações ele- modernização e eventu-
vatórias, reservatórios, al retrofit. Parte de tais
interceptores, emissá- obras tem um agravante
rios e canais diversos. de complexidade, pois
Somente a SA- Figura 1 – Corrosão de armaduras em laje de poço de
sucção de água potável
precisam ser executadas
NEPAR possui, em ope- em curto espaço de tem-
ração atualmente, 216 estações de tratamento po, muitas vezes limitado a poucas horas.
de esgoto e 179 estações de tratamento de água, Diante desse quadro, a área técnica tem
além de centenas de reservatórios. A estação de o desafio de selecionar tecnologias e materiais

OBRAS DE SANEAMENTO
tratamento de água mais antiga do Paraná en- compatíveis com a necessidade funcional e
trou em operação em com o tempo disponí-
1945 e permaneceu vel para a paralisação
em funcionamento operacional, de modo
durante 59 anos. a evitar, por exemplo,
Reservatórios o desabastecimento
de concreto armado das cidades, com pos-
estão em carga há mais sibilidade de graves
de 40 anos. Reatores riscos à saúde pública e
anaeróbios de manto à qualidade de vida.
de lodo operam no
sistema da SANEPAR
há 25 anos. Antes disso, Deterioração
há décadas, já existiam e durabilidade
outros tanques cons-
truídos e funcionando
em várias cidades pa- Figura 2 – Eflorescências e estalactites na parte inferior Frente às condi-
ranaenses, os quais fo- da laje de fundo de canal de água tratada ções fortemente agressi-

REVISTA CONCRETO 67
vas do meio e à ação me- cução de Estruturas de
cânica dos líquidos em Concreto”, é de se espe-
movimento, grande par- rar que as novas obras
te das obras hidráulicas tenham vida útil com-
apresenta, em determi- patível com o período
nada idade, manifesta- de alcance dos projetos
ções patológicas diversas de abastecimento de
que comprometem sua água e de esgotamen-
operação, funcionalida- to sanitário, conforme
de e durabilidade. é a necessidade das
Outros fatores companhias de sanea-
que contribuem para o mento e a expectativa
surgimento de proble- da sociedade.
mas patológicos estão Dever-se-ia con-
relacionados a falhas de siderar, pelo menos,
projeto, de planejamen- Figura 3 – Deterioração do concreto na parte interna de uma vida útil de projeto
tanque utilizado para tratamento de esgoto sanitário
to e à não observância de 50 a 60 anos. Infeliz-
dos critérios técnicos durante a execução das mente, o novo texto da NBR 6118:2003 ainda não
obras. Infelizmente, a engenharia não tem dado estipula o prazo de vida útil desejável. Observa-se
devida atenção ao treinamento da mão-de-obra também que a NBR 6118:2003 introduziu modifi-
da construção civil, a qual ainda é pouco qualifi- cações no que se refere aos limites para fissuração,
cada. Ademais, o Brasil ainda não dispõe de pro- apresentando valores menos conservadores para o
gramas nacionais de certificação de pessoal. Como concreto armado, em relação às aberturas máximas
conseqüência, tem-se a diminuição significativa e características (wk) previstas pela NBR 6118:1978,
precoce da vida útil das obras. apesar de o cálculo empregar expressões bastante
Dentre as inúmeras manifestações pato- semelhantes àquelas da norma antiga (1).
lógicas, podem-se citar fissuras, desplacamentos, A norma de 1978 prescrevia abertura
corrosão de armaduras, desintegração do con- máxima de fissura de 0,1mm para peças não
creto por ação de sulfatos, desgaste superficial, protegidas em meio agressivo; 0,2mm para
fadiga de juntas de dilatação, lixiviação, eflo- peças não protegidas em meio não agressivo e
rescências, expansão, entre outras. As Figs. 1 a 0,3mm para peças protegidas. A norma atual
4 exemplificam quatro dos tipos de anomalia admite aberturas de até 0,4mm para casos de
relacionados. Dependendo da natureza dos pro- agressividade ambiental fraca a até 0,2mm para
blemas, do componente estrutural lesionado e ambientes extremamente agressivos.
do grau de severidade do ambiente, podem até Uma característica das estruturas em con-
mesmo acarretar problemas de instabilidade. creto das obras de saneamento, principalmente
As obras executadas sob a luz da antiga reservatórios de água e estações de tratamento
NBR 6118:1978, ou ainda executadas em confor- de água e de esgoto sanitário, evidencia que,
midade com a NB 1:1960, ou até mesmo ante- mesmo com as evoluções importantes trazidas
riormente a esta norma pela NBR 6118:2003,
técnica, foram, na sua haverá prejuízos à es-
maioria, concebidas tanqueidade neces-
sem consideração de as- sária. Isto porque tais
pectos de deterioração estruturas estão sujei-
e critérios de durabili- tas ao carregamento
dade da estrutura. máximo durante todo
Com as altera- o período de sua vida
ções substanciais quan- útil, enquanto que as
to à durabilidade, ao edificações em geral,
dimensionamento e ve- via de regra, estão su-
rificação das estruturas jeitas ao carregamento
de concreto introduzi- máximo por pequenos
das pela NBR 6118:2003 períodos de tempo du-
“Projeto de Estruturas rante a sua vida útil.
de Concreto” e com a Por esta razão,
Figura 4 – Água percolando através de junta de
entrada em vigor da concretagem em colapso, em estação de tratamento as estruturas das obras
NBR 14931:2004 “Exe- de água. de saneamento ten-

68 REVISTA CONCRETo
dem a apresentar a fissuração máxima permitida,
ou seja, aberturas de até 0,2mm. Em termos prá-
ticos, considerando que o diâmetro de uma mo-
lécula de água é 10-10m, uma abertura de 0,2 mm
permite percolação de 2 milhões de moléculas de
água. Ou seja, para obras de saneamento, que
necessitam de estanqueidade, a nova ordem de
grandeza permitida para a abertura das fissuras
contribuirá para o estabelecimento precoce de
mecanismos de envelhecimento das estruturas.

Diagnóstico, projeto e
obras de reabilitação

Diante do exposto, não são raros os pro-


cessos de licitação, compras e contratação para
execução de serviços de reparo, recuperação
ou reforço estrutural nas obras de saneamento
Figura 6 – Recuperação estrutural da laje de tampa de
(vide Figs. 5 a 7), por vezes com poucos anos de reservatório enterrado de água potável
operação e mesmo para aquelas cujos projetos
atendem a NBR 6118:2003. a serem reabilitadas usualmente têm sua qua-
A especificação dos trabalhos de reabi- lidade prejudicada, por ser norteada por uma
litação deve ser precedida de uma inspeção e seleção entre muitas alternativas oferecidas
diagnóstico feitos por profissionais especiali- pelo mercado, porém sem suporte técnico atra-
zados, pois a qualidade dos serviços depende vés de documentação consensuada.
da análise precisa das causas que os tornaram O mercado de construção civil oferece
necessários e do estudo dos efeitos produzidos. uma diversidade de resinas, grautes, argamas-
A avaliação prévia do custo dos trabalhos não é sas cimentícias e poliméricas, aditivos, adesi-
tarefa fácil e, portanto, informações detalhadas vos, inibidores, tintas, revestimentos e outros
nesta etapa são de extrema necessidade. produtos, cada qual com suas vantagens e
Na seqüência, projeto executivo deta- desvantagens, porém sem respaldo de normas
lhado, especificação de materiais e serviços, técnicas. Sabe-se que todas as soluções têm suas
cronograma físico-financeiro compatível, plano limitações e elas devem ser levadas em conta
de trabalho, treinamento, controle tecnológico e durante sua especificação e aplicação, a fim de
fiscalização de qualidade são importantíssimos. que detalhes determinantes e específicos das
A especificação dos materiais, sistemas obras hidráulicas sejam devidamente atendidos,
e procedimentos a serem utilizados nas obras garantindo o sucesso do tratamento.
Os catálogos técnico-comerciais são defi-

OBRAS DE SANEAMENTO
cientes nesse aspecto. A normalização brasileira
a respeito de reabilitação das estruturas ainda
é incipiente. Aliado a isso, não há ensaios pres-
critivos ou de desempenho normalizados que
permitam prever os problemas e possibilitem
discernir, entre várias técnicas, materiais, pro-
dutos e sistemas, qual aquele mais adequado a
uma necessidade.

Necessidades dos procedimentos


de intervenção

Com a impossibilidade de desvio da água


ou esgoto, o tempo para intervenção nas es-
Figura 5 – Reforço de laje de sustentação de reservatório
elevado, através de sistema com uso de fibra-carbono truturas de concreto das obras de saneamento

REVISTA CONCRETO 69
pode ficar limitado a, tecnologias e materiais,
no máximo, 10 a 12 gera um panorama
horas, por exemplo. complexo, que muitas
Nesse período devem vezes resulta na escolha
ser cumpridas todas inadequada. Seleções
as etapas do trata- incorretas não podem
mento, além de que ser compensadas em
a recolocação da es- outras etapas, impli-
trutura em carga não cando em prejuízo à
pode comprometer o qualidade técnica e du-
desempenho dos pro- rabilidade do sistema
dutos e sistemas recém como um todo.
empregados.
Segundo Hele-
ne(2), o preparo do subs- Necessidades
trato pode ser considera- do setor de
do uma das partes mais saneamento
importantes do reparo
ou reforço, sendo res- Com a visão de
ponsável por 100% do Figura 7 – Recuperação estrutural de canal de água progresso tecnológico
filtrada em estação de tratamento de água – ambiente
sucesso destes trabalhos. pouco iluminado e com dimensões reduzidas constante, a indús-
A equipe de execução tria da construção civil
tem o desafio de preparar o substrato, preparar e deve aprimorar o desenvolvimento de tecnolo-
aplicar o material (cuja qualidade também é res- gias que convirjam para as necessidades das in-
ponsável por 100% do sucesso), dar acabamento e tervenções em estruturas de concreto das obras
curar no tempo disponível e diante das condições de saneamento. As necessidades são especiais e
de trabalho geralmente adversas: ambientes pouco devem ser cuidadosamente interpretadas.
iluminados, sem ventilação, de dimensões por vezes Considerando que uma recuperação ou
reduzidas e com várias interferências. reforço estrutural pode implicar em custos da
Além do atendimento adequado ao ordem de 50% a 150% do custo total da obra
prazo e condições de trabalho existentes, os nova, entende-se que é urgente e necessário
produtos e sistemas devem atender a: não avançar em estudos e discussões que visem
prejudicar a potabilidade da água e a eficiência maior durabilidade das estruturas de concreto
dos processos do tratamento da água ou do das obras hidráulicas.
esgoto; resistir aos agentes químicos e biológi- Mesmo com a grande atualidade da NBR
cos inerentes aos processos de tratamento; não 6118:2003, é importante ressaltar que as obras
serem tóxicos; apresentarem características e novas de saneamento requerem normas e pro-
propriedades adequadas de impermeabilidade, cedimentos de projeto, especificação, execução
aderência, flexibilidade, fluidez, resistência e controles específicos e mais cuidadosos que
mecânica, à abrasão, à difusão de vapor d´água a maioria das obras de concreto. Assim, devem
e a pressões negativas ou positivas adequadas, ser realizados esforços nacionais no intuito de
conforme cada caso; possuírem alta qualidade aumentar o número de documentos normativos
e grande durabilidade; não criarem impactos consensuados neste setor.
ambientais negativos. No campo dos materiais e sistemas de repa-
Em presença das necessidades elenca- ro, proteção e reforço de estruturas de concreto das
das, verifica-se que faltam produtos e sistemas obras de saneamento, a carência de normas ainda
“personalizados” para bem atender às obras é mais crítica e deve ser enfrentada urgentemente.
de saneamento. Tal fato, aliado à carência de Há um importante e valioso patrimônio histórico e
documentação técnica para balizar a seleção das tecnológico a zelar, e ele é de concreto!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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(2) HELENE, Paulo R. L. Manual de reparo, proteção e reforço de estruturas de concreto.


São Paulo, Rede Rehabilitar, 2005.

70 REVISTA CONCRETo
Alerta aos consumidores
de cimento
A ABCP, no intuito de proteger o inte- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
resse dos consumidores de cimento, estabele- NICAS (ABNT), conforme ilustra o gráfico. Os
ceu, por intermédio do Instituto de Pesquisas resultados do presente ciclo de coleta, con-
Tecnológicas – IPT, a partir de Junho de 2004, tudo, evidenciam que apenas duas amostras
um programa de ensaios coletando amostras não cumpriram as normas. Vale lembrar que
comercializadas em algumas cidades do Para- valores de resistência à compressão aos 28 dias
ná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Essas abaixo do limite mínimo estabelecido de 32
amostras – que também passaram a ser colhi- MPa indicam oscilações não compatíveis com
das, a partir de Novembro de 2004, pelo pró- processos industriais dotados de controles efi-
prio Instituto em pontos de vendas – sempre cazes de qualidade. Acrescentece-se ainda que
desses fabricantes e de novos que porventura as informações contidas nas embalagens devem
surjam, são encaminhadas, ainda nos sacos condizer com seu conteúdo.
lacrados originais, aos laboratórios do IPT, em Cimentos fora de norma colocam em
São Paulo, para as análises prescritas pelas risco a durabilidade e a segurança das obras,
normas técnicas. uma vez que está sendo comercializado um
Os resultados históricos indicam que produto com características distintas das dos
grande parte das amostras dessas empresas produtos normalizados, como aqueles deten-
não obedeciam aos requisitos de resistência tores de Selo de Qualidade outorgados pela
à compressão estabelecidos pelas normas da ABCP e outros organismos.

ENTIDADES PARCEIRAS

REVISTA CONCRETO 71
A responsabilidade
pelos danos causados pelo
cimento fornecido em de-
sacordo com as normas da
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS (ABNT)
envolve não só o fabricante
como o comerciante do pro-
duto e as penalidades civis e
criminais previstas pelo Códi-
go de Defesa do Consumidor
compreendem a aplicação
de multa, a apreensão do
produto e a interdição do
estabelecimento fornecedor
do cimento.
Fato agravante é o
desconhecimento dos con-
sumidores da existência des-
ses cimentos, que podem se
precaver exigindo dos seus
fornecedores a comprova- sacordo com as normas vigentes, que muitos
ção de que os cimentos atendem às normas prejuízos podem causar à construção civil e
da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS aos consumidores do produto.
TÉCNICAS (ABNT).
A sociedade e os comerciantes preci- SAC / DCC 0800-0555776 – dcc@abcp.org.br
sam ficar atentos à venda de cimento em de- www.abcp.org.br

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Sala 1 Sala 2
Terapia das estruturas de concreto Sustentabilidade na Construção Civil
O curso apresenta os conceitos gerais sobre tecnologia de recuperação, reforço e O curso propicia uma visão global das pesquisas e do conhecimento tecnológico
proteção de estruturas de concreto, mostrando aos participantes as técnicas mais da reciclagem, do reaproveitamento de resíduos de recursos minerais utilizáveis
usadas, os materiais e procedimentos. São apresentados e discutidos diversos na construção civil. Apresenta exemplos práticos de reciclagem adotados no Brasil
estudo de casos. e no exterior. Discorre sobre as contribuições já realizadas pelo Comitê Técnico
"Meio Ambiente" do IBRACON (CT – AM). Apresenta o atual estágio da
José Eduardo Granato normalização brasileira sobre o assunto.
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72 REVISTA CONCRETo
Sistemas de impermeabilização
e proteção para obras
de saneamento
Jaques Pinto
Emilio Minoru Takagi
MC-Bauchemie Brasil

1. Introdução grandes tubulações ou nos tetos das estruturas


pela formação do ácido sulfúrico biogênico.
No caso da água potável, aspectos de higiene
O concreto armado é atualmente o ma- são também fundamentais.
terial de construção mais utilizado em obras de Em outubro de 2003, a ABNT divulgou
saneamento. Porém, apesar da grande evolução a nova norma técnica NBR 9575 atualizando
de sua tecnologia, os sistemas de tratamento conceitos de projetos e a classificação das so-
de água e esgoto são cada vez mais agressivos luções de impermeabilização que atendessem
e podem colocar em risco a operação e durabi- às exigências de desempenho em relação à
lidade das estruturas de saneamento. Portanto, estanqueidade e à durabilidade. Esta norma
hoje em dia, a utilização de sistemas de imper- NBR 9575:2003 – “Seleção e Projeto” cancela
meabilização e proteção se faz necessária tanto e substitui a versão anterior de 1998, além das
em estruturas novas, para aumentar sua dura- normas NBR 8083, NBR 9689 e NBR 12190.
bilidade, como em estruturas existentes, pois a Na Europa a atual norma CEN EN 1504
tecnologia de concreto empregada no passado rege os requerimentos para o reparo e proteção
não mais atende aos atuais requerimentos. de estruturas.
Os níveis de ataque variam de acordo Um grande esforço conjunto das enti-
com cada ambiente das estações de trata- dades públicas e privadas está sendo realizado
mento de água e efluentes. Alguns produtos para que as estruturas de obras de saneamento
químicos usados rotineiramente no trata- alcancem um nível de desempenho de estan-
mento podem atacar o concreto. Também se queidade compatível com os aspectos técnicos

OBRAS DE SANEAMENTO
deve considerar o efeito erosivo da água com de durabilidade. Sendo assim, torna-se neces-
partículas sólidas e, principalmente, a ação de sária uma mudança substancial nos padrões
bactérias em sistemas de tratamento de esgo- de projeto, execução e manutenção das obras
to fechados, que costuma ocasionar grandes de saneamento. Portanto, é preciso tornar de
problemas de corrosão na parte superior de amplo conhecimento público os principais con-

REVISTA CONCRETO 73
dicionantes, benefícios e limitações das soluções DBO5 e COT são parâmetros de determi-
de impermeabilização e proteção. nação de quantidade de matéria orgânica no
Este artigo visa contribuir na divulgação esgoto. As ações de microorganismos sobre o
de importantes descobertas e as normas em vigor, material orgânico produzem o gás sulfídrico (H2S),
principalmente na Europa onde existem em maior que são inconvenientes por se oxidarem na forma
número e mais detalhadas. Mostraremos também de ácido sulfúrico (H2SO4), este ataca a superfície
brevemente os mecanismos de deterioração das do concreto e a armadura, podendo ocasionar a
estruturas de concreto para saneamento bem fragilização das barras de ferro pelo processo de
como uma comparação entre os principais siste- fragilização por hidrogênio molecular;
mas de proteção disponíveis no mercado. Nitrogênio total: o nitrogênio é um
elemento indispensável para o crescimento
dos microorganismos e algas; sais de amônio
2. Características físico-químicas (NH3) são inconvenientes porque reagem com
da água bruta e do esgoto a alcalinidade protetora do concreto;
Fósforo: é um nutriente essencial para o
crescimento de microorganismos e algas;
Para a avaliação da eficácia dos reves- pH: o valor é próximo ao neutro pH 7;
timentos para impermeabilização e proteção Cloretos: a presença de íons cloretos
química, é necessária a quantificação das cargas promove a corrosão eletroquímica pontual da
físico-químicas, sendo necessários levantamen- capa passivante da armadura do concreto;
tos de campo na área em estudo, incluindo Alcalinidade: pela própria natureza quí-
amostragem, análise de laboratório, medição mica da pasta de cimento, pode-se prever que o
de vazão e outros, podendo-se complementar concreto, devido à sua natureza alcalina, apre-
com dados de literatura. sente boa resistência à ação de bases. Entretanto,
A água bruta apresenta inúmeras em presença de soluções concentradas alcalinas,
impurezas, sendo várias delas inócuas e ou- pode se verificar a deterioração do concreto;
tras prejudiciais à saúde humana, tais como Óleos e graxas: a presença de solventes
substâncias tóxicas, bactérias e vírus. Assim, o orgânicos ou compostos com ligações covalen-
tratamento prévio da água é de fundamental tes e, portanto considerados não-eletrólitos,
importância para o consumo humano, pois dificilmente originam casos de corrosão, sendo
confere à água características de potabilida- que ficam mais relacionados com a presença
de e boa aparência ao eliminar as impurezas de impurezas que podem existir nos mesmos
presentes que devem ser removidas. Os prin- ou na solução;
cipais produtos utilizados no tratamento são Ácido sulfúrico biogênico: atenção
apresentados na tabela 1. especial deve-se tomar ao ataque por ácido
Na área dos efluentes, devido à ampla sulfúrico biogênico, pois se trata do maior po-
variabilidade das suas características qualitati- tencial de deterioração existente em estruturas
vas, torna-se difícil a generalização dos valores de esgoto.
mais comuns. Também se deve considerar que Os problemas de formação de gás sul-
a prática comum é a integração dos despejos fúrico biogênico são bastante conhecidos em
industriais com os esgotos domésticos na rede tubulações de grandes diâmetros nas estrutu-
pública de coleta. As características quantitati- ras das estações de tratamento de esgoto. O
vas químicas típicas de esgotos predominante- concreto de tubulações de esgoto está sujeito
mente domésticos encontram-se apresentados à ação de bactérias, como o Thiobacillus thioxi-
de forma sintetizada na tabela 2. dans e Thiobacillus concretivorus, que oxidam
Sólidos totais: deve se considerar o compostos de enxofre (H2S) presentes no esgoto
efeito erosivo do fluxo de água contendo estas e os transformam em ácido sulfúrico biogêni-
partículas principalmente em locais com veloci- co. Essas bactérias são aeróbicas e necessitam
dade de fluxos mais elevados; da presença de oxigênio e, portanto a ação

74 REVISTA CONCRETo
Figura 1 – Mecanismo de deterioração do concreto por ataque de ácido sulfúrico biogênico

oxidante dessas bactérias costuma ocasionar do gás sulfídrico como mostra a Figura 1. A
corrosão mais intensa na parte superior de formação de gás sulfídrico, H2S, é proveniente
grandes tubulações ou nos tetos das estruturas da ação redutora de bactérias anaeróbicas
de armazenamento de esgotos. Seus processos Desulfovíbrio desulfuricans, sobre compostos
metabólicos ocasionam valores de pH do ácido orgânicos ou inorgânicos de enxofre presentes
sulfúrico biogênico em torno de 2, podendo nos esgotos, e possuem o inconveniente do
alcançar valores ainda menores de 0,7. cheiro de “ovo podre”.
O ataque por ácido sulfúrico biogênico Grandes deteriorações podem ocorrer
ocorre em estruturas de esgotos que necessita- no concreto dos tetos destas estruturas com
ram de uma tampa para evitar a propagação perdas que podem chegar a 7 cm de cobrimen-
to do concreto em menos
de 5 anos, como mostra a

OBRAS DE SANEAMENTO
Figura 3.

3. Revestimentos
minerais x resinas
orgânicas

Durante as últimas
décadas diversos sistemas
de proteção foram desen-
volvidos e utilizados para
a proteção de estruturas
de água e esgoto. Basica-
mente, podemos distinguir
estes sistemas em dois, os
orgânicos e os inorgânicos.
Figura 2 – Instalação de tampas sobre aeradores de esgoto Os sistemas orgânicos são

REVISTA CONCRETO 75
constituídos principalmen-
te por resinas de epóxi,
poliuretano, furânicas,
fenólicas ou de poliéster.
Os inorgânicos são prin-
cipalmente à base de ci-
mento ou outros sistemas
minerais.
As principais carac-
terísticas típicas encontra-
das nos sistemas minerais
e orgânicos estão demons-
tradas na tabela 3.

4. Risco de osmose
em revestimentos
orgânicos
Figura 3 – Ataque de ácido sulfúrico biogênico

Um das principais Para um revestimento protetor ser


diferenças entre os sistemas orgânicos e inor- considerado permeável ao vapor, este deve
gânicos diz respeito a difusão de vapor de possuir um valor SD (steam diffusion) menor
água. Normalmente, os revestimentos inor- que 5,0 metros em camada de ar, conforme
gânicos são considerados abertos à difusão os critérios preconizados na norma para
de água enquanto os orgânicos fechados à revestimentos para proteção de superfícies
difusão de vapor de água. Por esta caracte- de concreto EN 1504-2:2004. Caso o revesti-
rística, devem-se tomar cuidados especiais mento apresente um valor S D maior que 50
na da utilização de revestimentos orgânicos metros de camada de ar, este é considerado
em estruturas de saneamento, devido ao impermeável à difusão de vapor e pode
grande risco da ocorrência do fenômeno de apresentar patologias de bolhas e despla-
osmose. Sabe-se que o movimento da água camentos, como mostrado na Figura 5. Para
através de uma parede de concreto ocorre um melhor entendimento, o valor S D (steam
pelo gradiente de umidade entre os dois la- diffusion) é definido como a espessura em
dos devido ao efeito osmótico, e não apenas metros de camada de ar equivalente a resis-
pela pressão hidrostática. Este gradiente de tência à difusão de vapor d´água do material
umidade pode exercer uma pressão de vapor de revestimento. A resistência à difusão do
significante, onde a umidade retida tende a material é função da espessura do revesti-
sair e empolar películas impermeáveis (vide mento e do fator de difusão de vapor d´água
Figura 4). no material (μH2O).

76 REVISTA CONCRETo
de sistemas que tornam
o concreto menos per-
meável devido a reações
de formações de cristais
nos poros e capilares do
concreto.
Diversos sistemas
estão disponíveis, sendo
os atuais manuseados da
forma monocomponente
e aplicados por pintura
sobre o concreto em não
mais do que duas cama-
das. Suas propriedades
permitem sua aplicação
em áreas de água potável
e também de efluentes,
pois sua resistência quí-
mica encontra-se numa
faixa de pH entre 3 e 11.
Porém, cuidados devem
ser tomados, pois estes
Figura 4 – Efeito de osmose sistemas não possuem
resistência à abrasão.
Deve-se considerar o efeito de pressão
de vapor sobre revestimentos impermeáveis, 5.2 Revestimentos a base de cimento
pois a umidade retida tende a sair e empolar polimérico – baixa espessura (< 3 mm)
películas impermeáveis. O gradiente de pres-
são de vapor dentro do concreto, causada Os revestimentos à base de cimento
pelo movimento de vapor d´água, a partir polimérico consistem normalmente em pro-
de áreas de grande umidade para de baixa dutos bicomponentes, sendo um pó a base
umidade, pode chegar a valores de 1,5 MPa de cimento e um líquido a base de polímeros.
de pressão de arranque. Portanto, encapsular Como nos sistemas cristalizantes, os produtos
o concreto com películas impermeáveis repre- mais atuais utilizam em sua formulação po-
senta um grande risco. límeros em pó e são manuseados da forma
monocomponente, o que diminui a possibili-
dade de erros na dosagem. Suas propriedades
5. Sistemas de
impermeabilização
e proteção minerais

Atualmente, os
principais sistemas de im-
OBRAS DE SANEAMENTO
permeabilização e prote-
ção de estruturas minerais
estão divididos em:

5.1 Sistemas de
cristalização

Os sistemas de
cristalização são conhe-
cidos e vêm sendo aplica-
dos mundialmente com
sucesso durante as úl-
timas décadas. Trata-se Figura 5 – Efeito de osmose em revestimento orgânico

REVISTA CONCRETO 77
permitem normalmente sua aplicação em 5.3 Revestimentos de alta resistência
estruturas de água, não sendo recomendados química à base de cimento – alta
para a aplicação em estruturas de efluentes espessura (> 5,0 mm)
devido à sua baixa resistência química e falta
de resistência à abrasão. Os revestimentos minerais de alta
Porém, este sistema tem sido contestado resistência à base de cimento atendem aos
na Alemanha onde recentemente foi publicado requerimentos da DVGW e, preferencial-
o resultado de um estudo da VDZ, associação mente, utilizam cimentos isentos de C 3A em
alemã dos fabricantes de cimento. O estudo função da necessária resistência aos sulfa-
foi feito com base em uma pesquisa em diver- tos. Podem ser aplicados manualmente ou
sos reservatórios e testes de laboratórios, que projetados e são recomendados para apli-
mostraram a formação de pontos de corrosão cação em estruturas que armazenam água
nos revestimentos. Esta corrosão deve-se prin- potável e em estruturas que contenham
cipalmente a presença de metil-celulose e um efluentes devido à sua grande resistência
alto fator água cimento nos produtos. Com base química (pH 3 a 14).
neste estudo a DVGW – “Associação Científica
e Técnica Alemã para Gás e Água – Comitê de 5.4 Revestimentos minerais de alta
Armazenamento de Água”, publicou um ma- resistência química isentos de cimento
nual de requerimentos básicos para o uso de
revestimentos cimentíceos em reservatórios de O sistema de revestimento de alta
água potável, sendo os principais requerimen- resistência química tem como base um sili-
tos os seguintes: cato polimérico. Consiste de gel de silicatos
amorfos (SiO 2 . nH 2 O) dentro da matriz
Fator água cimento equivalente < 0,5; endurecida desta substância mineral pura,
Ar incorporado na argamassa fresca < 5 %; cuja aderência, durabilidade e estabilidade
Volume total de poros 90 dias < 10 %; dimensional o tornam ideal para proteção de
Resistência a compressão > 45 MPa superfícies de concreto e aço em estações de
Aderência > 1,5 MPa; efluentes, indústrias químicas e instalações
Espessura mínima 5 mm. de energia elétrica.

Figura 6 – Teste de contato com ácido em pH menor que 1,0

78 REVISTA CONCRETo
Os revestimentos minerais à base de a operação e durabilidade das estruturas
silicatos poliméricos são abertos à difusão de saneamento. Portanto, hoje em dia, a
de vapores de água e é resistente a todos os utilização de sistemas de impermeabili-
ácidos orgânicos e inorgânicos com pH próxi- zação e proteção se faz necessária tanto
mos ao ZERO (exceto ao ácido hidrofluórico) em estruturas novas como em estruturas
e resistente a temperaturas de até 570°C. Este existentes, pois a tecnologia de concreto
tipo de revestimento pode ser usado para empregada no passado não mais atende
aplicações onde altos carregamentos mecâ- os requerimentos atuais.
nicos e agentes agressivos são encontrados Diversos sistemas de proteção estão
ao mesmo tempo. A Figura 5 mostra cubos disponíveis, principalmente orgânicos à base
de silicatos poliméricos e concreto com 35 de resinas e inorgânicos à base de cimento ou
MPa, após o contato com solução ácida com não. Características como a abertura a difusão
pH menor que 1,0. de vapor de água, possibilidade de aplicação
em substratos úmidos e a execução de reparos
pontuais diminuem os riscos da utilização de
6. Conclusões sistemas minerais tanto durante a aplicação
como na operação e manutenção. Portan-
to, por sua natureza, similar ao concreto, a
Apesar da grande evolução de tec- aplicação de revestimentos minerais para a
nologia do concreto, os sistemas de tra- impermeabilização e proteção de estruturas
tamento de água e esgoto são cada vez parece uma tendência e a mais apropriada
mais agressivos e podem colocar em risco para estruturas de saneamento.

OBRAS DE SANEAMENTO

REVISTA CONCRETO 79
Aplicação do concreto
em estruturas offshore
Juliana Ferreira Fernandes
Túlio Nogueira Bittencourt
Paulo Helene
Universidade de São Paulo

Resumo

Este artigo
apresenta uma re-
visão da aplicação
do concreto em es-
truturas offshore
nos últimos 35 anos.
Atualmente, há 350
plataformas de con-
creto de gravidade
e flutuante em ope-
ração e em projeto
no Mar do Norte,
norte do Canadá,
Austrália, Holanda,
Congo, Nigéria, In-
Figura 1 – Tanques de estocagem de petróleo de Ekofisk I e quebra-mar
donésia, Rússia, Fi-
lipinas, Brasil e no
Golfo do México. Mais recentemente, um
importante terminal de gás offshore LNG Introducão
(Liquefied Natural Gas) foi projetado e está
sendo construído em Algeciras, próximo ao
estreito de Gibraltar na Espanha. Nos últimos O aço e o Concreto competem como ma-
30 anos, houve uma considerável melhoria terial estrutural na exploração e na produção
nas dosagens e nos aspectos construtivos de óleo e gás offshore. Nenhuma dessas opções
na produção do concreto. Hoje, com o apri- de material estrutural deve ser excluída sem
moramento da tecnologia dos concretos e uma análise prévia e criteriosa das condições
com o desenvolvimento de novos materiais encontradas no campo petrolífero.
componentes, como os aditivos redutores Desde 1940, o aço foi preferido na
de água e as adições pozolânicas, como me- execução de plataformas offshore que ex-
tacaulim e sílica ativa, é possível obter com ploram e que produzem óleo, devido aos
facilidade alta resistência mecânica e elevada avanços tecnológicos desse material e aos
durabilidade. Também o uso de agregados equipamentos empregados na região do
leves, material importante para a redução do Golfo do México. Contudo, o aço apresenta
peso da estrutura, colabora para as questões algumas desvantagens, dentre elas, o custo
de maior flutuabilidade. A execução de uma e a disponibilidade do material na quanti-
estrutura offshore de concreto no contexto dade necessária, cuja oferta às vezes escas-
atual pode ser uma excelente opção para as seia. O fator econômico foi um dos motivos
empresas petrolíferas. para o incentivo de estudos de um material

80 REVISTA CONCRETo
te, a necessidade
de alcançar grandes
profundidades. Com
novas geometrias e
novas técnicas, fo-
ram desenvolvidos,
nos anos 70, proje-
tos de plataformas
de concreto, capazes
de suportar o agita-
do Mar do Norte, as
quais estão hoje em
excelente estado de
operação.
Em 1973, foi
Figura 2 – Plataformas offshore brasileiras: (a) PUB-2; (b) PUB-3
construída no mun-
do a primeira pla-
alternativo para a execução de estruturas taforma de concreto, denominada Ekofisk
offshore. (Fig.1). O principal objetivo desta unidade
O concreto emergiu como uma res- offshore é a armazenagem de 159.000m 3 de
posta a estas questões por ser um material óleo. Ela está localizada no meio do Mar do
abundante e barato. Além disso, são bastan- Norte a uma distância de 170km da costa
te conhecidas as técnicas para sua produção Norueguesa. Esta plataforma é uma estru-
contínua e lançamento adequado. Com o tura de concreto protendido, com 90m de
aprimoramento da tecnologia dos concretos altura que se sustenta por uma base apro-
e com o desenvolvimento de novos materiais ximadamente circular de 99m de diâmetro
componentes, como os aditivos redutores [1]. Essa unidade possui uma barreira de
de água e as adições pozolânicas, podem-se proteção projetada para reduzir a energia
obter com facilidade alta resistência mecâ- cinética das ondas. A barreira é feita de
nica e elevada durabilidade. Além dos con- concreto pré-fabricado com 8634 furos.
cretos de alta resistência, há a tecnologia A resistência à compressão do concreto
da protenção com cabos de aço de altíssima utilizado na estrutura de proteção foi em

CONCRETO EM OBRAS MARÍTIMAS


resistência, a tecnologia do pré-fabricado e torno de 62 a 68 MPa com alta resistência à
os conceitos mais perfeitos de projetos com erosão. O objetivo dessa barreira é proteger
uso de computadores. a estrutura principal das condições severas
Plataformas de concreto offshore dis- apresentadas na região. O resto da estrutura
pensam fixação com estacas. O peso próprio foi construída com concreto de resistência
e o peso da armazenagem de óleo ou de média de 43MPa, aos 28 dias. A estrutura foi
água, usada como lastro em compartimen- executada sobre a costa, montada em doca
tos especiais, são ao redor de centenas de seca a 480km do local de locação.
mil toneladas sendo capazes de permanecer Com o sucesso da Ekofisk I, 15 pla-
na sua posição sob carga de serviço. Devido taformas de concreto foram instaladas nos
a esses fatores, as plataformas de concreto anos seguintes em diferentes setores do
offshore podem ser até 50% mais baratas do Mar do Norte. Essas estruturas consumiram
que a de aço equivalente. A possibilidade do juntos mais do que um milhão de metros
uso de celulas cilíndricas ocas para armaze- cúbicos de concreto.
nagem de óleo pode eliminar a necessidade No Brasil, no mesmo período, 3 pla-
da construção de grandes dutos entre o taformas offshore de concreto de gravidade
local da exploração de óleo e a costa. Todos GBS (Gravity Base Structure) foram construí-
esses fatores permitem ao concreto, mais das. Essas plataformas foram executadas no
precisamente o armado e o protendido, ser campo de Urbanas. Elas foram denominadas
um material competitivo e atrativo para um de PUB-2, PUB-3 e PUB-4 e foram destinadas
projeto de estruturas offshore. a perfuração, a produção e ao armazena-
Na exploração e produção de óleo no mento de petróleo.
Mar do Norte, as condições ambientais são O consórcio Mendes Junior-Campe-
muito severas, ondas de 29 metros altura, non Bernard foi o contratado pela Petro-
ventos acima de 210km/h e, principalmen- brás para a construção dessas plataformas

REVISTA CONCRETO 81
no interior da costa da Bahia. O local do flutuantes Heidrun TLP (Tension Leg Plata-
canteiro de obras foi no interior da Baia de form), Fig. 3, e a semi-submersível Troll B,
Todos os Santos. Logo após a construção, as Fig. 7. Existem 12 plataformas de concreto
unidades foram rebocadas desde o canteiro instaladas no setor britânico. Além dessas
até a costa do Rio Grande do Norte, onde se unidades, existem plataformas de concreto
encontram instaladas atualmente, Fig.2. instaladas na Indonésia, Canadá, Alemanha,
As plataformas de gravidade brasi- Estados Unidos, Holanda, Congo, Nigéria
leiras são estruturas multi-celulares feitas e Austrália. As mais recentes plataformas
de concreto protendido. Cada unidade pos- têm sido instaladas na Rússia (Ilha Sacalina),
sui 53m de comprimento, 46m de largura. Dinamarca, Filipinas e Nigéria. A Tabela 1
Com 25,7m de altura e pesando cerca de ilustra uma lista mais detalhada sobre as
28.000t cada uma, necessitavam de uma estruturas offshore de concreto. Mais re-
profundidade de 15m para navegação. Cada centemente, um importante terminal LNG
unidade possui 22 células para material de offshore foi projetado e agora está sendo
lastro, e 20, para armazenamento de óleo, construído em Algeciras próximo ao Estreito
consumindo na sua construção cerca de de Gibraltar, Espanha. Essa estrutura será o
10.000m 3 de concreto, 1.200t de aço doce e primeiro terminal offshore do mundo. Ele
270t de cabo de protenção. A sua constru- será instalado offshore em Rovigno, Itália.
ção foi iniciada num dique seco e, após ter Essa obra é conhecida como projeto LNG
condições de flutuação com altura de 7,8m, Adriático. Similares terminais LNG estão em
foi rebocada para uma ponte, onde ali, era estágio de projeto.
finalizada sua execução. Uma das caracterís-
ticas do processo construtivo foi à utilização
de formas deslizantes para a concretagem Tipos de projetos
das paredes, que totalizava uma extensão
de 750m e era acionada por cerca de 400
macacos. Para utilização deste processo foi Tanques cilíndricos
necessário dotar o concreto das paredes
de características especiais, principalmente A plataforma Ekofisk foi construída
com relação à pega de cimento, cujo início de acordo com o conceito Francês-Canaden-
foi retardado em 16 horas. O concreto em- se. A decisão de construir essa plataforma
pregado possuía condições necessárias para permitiu o desenvolvimento, não somente
manipulação por bombeamento. Durante o da estrutura offshore, mas também do avan-
controle do concreto
das três estruturas,
os valores médios
da resistência à com-
pressão aos 28 dias
situaram-se sempre
acima de 50MPa,
sendo que no pro-
jeto estrutural foi
prevista uma resis-
tência característica
de 35MPa [2].
Desde então,
mais de 40 platafor-
mas offshore de con-
creto de gravidade
e flutuante foram
construídas e insta-
ladas ao redor do
mundo. No mar do
Norte, existem 15
plataformas instala-
das no setor norue- Figura 3 – Algumas plataformas de concreto instaladas na região norueguesa
guês, incluindo as (www.olavolsen.no)

82 REVISTA CONCRETo
ço da tecnologia do concreto, métodos de mesmo conceito de tanque de concreto. Essa
projeto, métodos construtivos, previsão de plataforma foi uma das edificações mais
carregamento, qualidade de gerenciamento desafiadoras do mundo, executada com pe-
e evolução na segurança [4]. Posteriormen- rícia e domínio tecnológico, com traços de
te no Mar do Norte, três projetos similares concreto dosados em diferentes densidades.
ao conceito Ekofisk foram realizados (Frigg Os concretos utilizados foram executados
CDP-1 1975, Frigg MP-2 1976 e Ninian Centre com mistura de 50% de agregados leves e
1978) [4]. 50% de agregados normais, atingindo resis-
Finalizada em 1997, instalada no tências à compressão média de 80MPa em
norte do Canadá nas águas geladas de corpos de prova cúbicos [5]. Essa estrutura
Newfoundland, a gigantesca plataforma resiste a impactos de icebergs pesando mi-
“Hibernia”, construída pela Mobil, possui o lhões de toneladas de gelo (Fig.4).

CONCRETO EM OBRAS MARÍTIMAS

REVISTA CONCRETO 83
dade. Todo o casco,
incluindo as vigas
mestras e pilares,
exceção o deck que
é de aço, foram uti-
lizados concreto de
ele vado de sempe -
nho com agregados
leves, a densidade
específica do con-
Figura 4 – Plataforma Hibernia offshore (a) ela sendo rebocada do dique seco para alto creto foi em torno
mar; (b) planta da vista superior da estrutura de concreto com diferentes densidades de 1950kg/m 3 . Essa
em seus componentes estruturais [5]
estrutura recebeu da
FIB um prêmio por
Condeeps e estruturas
estrutura destaque no ano de 1998, Fig. 6.
similares de gravidade
O volume de concreto utilizado nesta pla-
taforma foi em torno de 65.700m 3. O peso
O conceito de projeto Condeep é ba-
próprio do casco é 89.000t (além de 65.000t
seado sobre uma base celular formada por
do deck mais maquinário), o deslocamento
células circulares. Acima das células há pila-
res, que podem variar de um a quatro colu- da estrutura é 285.000t.
nas (shafts). A principal vantagem é a forma
delgada desses shafts que vão até o fim da Estrutura
zona de ondas. Essas plataformas apoiam no flutuante ancorada
fundo do mar por gravidade dispensando a por catenária
fixação por estacas. Em 1975, Beryl Alpha, a
A primeira plataforma de concreto
primeira plataforma Condeep, foi lançada
ancorada por catenária foi a Troll Ole ou
sobre a região do Reino Unido. Já em 1995,
Troll B, instalada no Mar do Norte em 1995
um total de aproximadamente 14 platafor-
a 340m de profundidade (Fig.7). Essa estru-
mas Condeeps tinham sido instaladas no
tura foi a primeira da geração designada
Mar do Norte (Figuras 3 e 5) [4].
semi-submersível (semi-sub). A escolha desse
projeto depende de vários fatores (profun-
didade, condições das ondas, etc.) e não
Plataformas flutuantes de concreto permite a aplicação de risers rígidos. A es-
tabilidade e a flutuabilidade são alcançadas
por quatro grandes pilares conectados por
TLP (Tension leg plataform) um anel (pontoon). O volume de concreto
utilizado nessa unidade foi 46.000m 3, possui
Como a exploração de hidrocarbone- peso-próprio de 32.500t. O deslocamento é
tos vem também sendo realizada em águas de 190.000t [4].
profundas, nesse
caso, estruturas flu-
tuantes são muito
mais competitivas do
que as estruturas de
gravidade.
A plataforma
Heidrun foi a primei-
ra TLP de concreto
construída no mun-
do. Essa unidade foi
instalada em 1995
em uma zona de
águas profundas no
Mar do Norte com
345m de profundi- Figura 5 – Plataformas de concreto do tipo Condeep: (a) Gulfack C em operação;
(b) Sleipner A em construção

84 REVISTA CONCRETo
sejam transportados
via mar.
Plataformas
offshore flutuantes
LNG/LPG de armaze-
nagem podem servir
para outros fins de
transporte, como li-
quefação ou como
regasificação. O casco
de concreto proten-
dido tem várias van-
tagens em relação a
outros materiais ao
armazenar produtos
Figura 6 – Plataforma Heidrun de concreto (tension leg platform) criogênicos, dentre
eles estão: excelen-
Heavy lift vessels tes resistências a temperaturas criogênicas,
shocks térmicos e desempenho marítimo. Um
A MPU Offshore Lift da Noruega com bom exemplo de estrutura de concreto flutu-
a Keppel Verolme dos Países Baixos lança- ante é o terminal LPG Ardjuna Sakti [8].
ram por 140 milhões de Euros uma nova A Ardjuna Sakti é uma unidade de
plataforma flutuante. Essa plataforma será armazenagem LPG de concreto protendido
similar a uma semi-submersível, a primeira com dimensões 140.5 x 41.5 x 17.2 m (com-
dessa linha, prevista para estar finalizada primento x largura x altura) e deslocamento
em 2009. de 66.000t. Essa barcaça foi construída e
A semi-sub de concreto, projetada completamente finalizada em Tacoma (Wa-
pela Grenland Group em Sanderfjord, será shington). Após sua execução, ela foi reboca-
em forma de U, Fig.8. A MPU – Multi Pur- da por 16.000km através do Oceano Pacífico
pose Unit – Heavy lifter é resultado de um com destino ao Mar Java, Indonésia, onde
programa de pesquisa de oito anos de du- permanece ancorada em um bom estado de
ração, que está incluso o projeto detalhado conservação até os dias de hoje.

CONCRETO EM OBRAS MARÍTIMAS


e o modelo reduzido
para teste em tanque
de prova [7].

Plataformas
Offshore
flutuantes de
concreto LNG/LPG

LNG, Lique-
fied Natural Gas,
com temperatura de
–160 oC, LPG, Lique-
fied Petroleum Gas,
com temperature de
-40oC, ocupam apro-
ximadamente 630 ve-
zes e 310 vezes, res-
pectivamente, menos
volume do que a for-
ma gasosa a tempera-
tura e a pressão cons-
tantes. A redução de
volume permite que Figura 7 – Troll B a primeira plataforma de concreto flutuante ancorada por catenária:
produtos criogênicos (a) projeto; (b) parte interna de uma das colunas

REVISTA CONCRETO 85
em uma doca seca em Campamento, Bacia de
Algeciras, próximo ao Estreito de Gibraltar
no Sul da Espanha (Fig.10). O terminal LNG
Adriático será instalado offshore em Rovigno,
Itália e está previsto entrar em operação em
Abril de 2008. O terminal receberá LNG de
Catar, onde o gás líquido será armazenado e
regaseificado. O gás será alimentado por um
oleoduto a 17km da costa, aproximadamente
a 30km da cidade de Rovigno pelo sistema
de distribuição de gás italiano e onde será
distribuído aos consumidores. A finalidade
desse terminal é receber gás natural em for-
ma líquida de navios petroleiros de Catar a
cada três dias. O terminal consiste em uma
Figura 8 – Heavy lift vessels estrutura de gravidade GBS instalado em local
de águas rasas, similar a uma ilha artificial.
Barcaças Devido ao seu tamanho 180 x 88 x 48 m (com-
primento x largura x altura), o GBS deve ser
Nkossa: Operadora pela Elf Congo, essa construído dentro de um dique seco. Após sua
barcaça é considerada a maior do mundo em finalização, a doca é inundada e a unidade é
concreto de alta resistência protendido. Essa rebocada até o seu destino final.
unidade, construída em Marseille, França, pos-
sui dimensões 220 x 46 x 16 m (comprimento x
largura x altura) com deslocamento de 107.000t. Aplicações de concreto
Sua função é de armazenar óleo e gás natural, para unidades offshore
além da exploração de óleo. Depois de finali-
zada em 1996, ela foi rebocada por 7200km até
chegar a Costa Oeste do Congo, África, onde A maioria das plataformas offshore
permanece ancorada a 170m de profundidade. tem empregado concreto de alta resistência
O volume de concreto consumido nessa emprei- altamente armado e protendido. As classes
tada foi de 27.000m3 com resistência média à dos concretos variam de C40 a C85 [11].
compressão variando de 70 a 78 MPa. O peso
Esse tipo de estrutura tem proporcionado o
total da estrutura é 33.000t [9].
avanço na tecnologia do concreto além das
C-Boat 500: Essa unidade é um protótipo
utilizadas na prática normal de projeto. A
de barcaça, construída no Japão em 1982, com
dimensões 37 x 9 x 3,1 m (comprimento x lar- bibliografia técnica sobre o concreto de alta
gura x altura) e com uma capacidade de carga resistência é vasta e com aspectos comuns.
de 490t. O concreto utilizado no casco foi o O primeiro é que há várias normas em todo
concreto leve pré-fabricado e protendido com o mundo, mas elas não satisfazem o uso do
densidade de 1800 kg/m3 e resistência média à concreto de alta resistência. Várias delas
compressão de 50 MPa [10].

Terminal

Terminal LNG Exportação/ImportaçÃO

Terminal LNG ilustrado na Figura 9 pode


ser colocado em águas rasas ou em terra, vai
depender dos requisitos funcionais. Esse projeto
ainda está em estudo.

Projeto LNG Adriático

Recentemente, um importante termi-


nal LNG foi projetado e está sendo construído Figura 9 – Terminal LNG (www.olavolsen.no)

86 REVISTA CONCRETo
Figura 10 – Terminal LNG Adriático em construção em doca seca

são muito conservadoras e outras, condu- sílica ativa, cinzas volantes, pozolanas natu-
zem a estimativas acima da capacidade dos rais e cinzas de casca de arroz.
elementos estruturais de concreto de alta
resistência. O segundo, é essencial e neces- Construção
sário ter um confinamento eficiente do aço
para prever uma ductilidade adequada ao A utilização do concreto de alta re-
membro estrutural. Inúmeros modelos vêm sistência cria vários problemas com respeito
sendo propostos. a construção em estruturas offshore. O pri-
meiro é a necessidade de alta porcentagem
Dosagem do concreto aplicado de armaduras com espaçamentos reduzidos
em estruturas offshore dos estribos e a alta quantidade de cabos
de protensão. Essas necessidades criam
Em estruturas offshore de concreto, a um congestionamento e dificuldades de
alta resistência do material depende de vá- alojamento das barras, as quais requerem
rios fatores, talvez o mais importante, o uso uma redução do diâmetro máximo nominal

CONCRETO EM OBRAS MARÍTIMAS


de agregados de alta resistência. O uso de do agregado graúdo utilizado no concreto
materiais cimentícios suplementares, como e um aumento substancial na trabalhabi-
a sílica ativa, a cinza volante e a escória de lidade do concreto. O diâmetro máximo
alto forno em conjunto com o cimento Por- nominal utilizado neste tipo de estrutura
tland são extremamente importantes para varia de 10mm à 14mm e o slump varia
melhorar a resistência e a durabilidade do de 180mm à 220mm para obtenção de um
concreto. Esses suplementos são finamente lançamento satisfatório.
divididos em materiais silícios, e quando usa- O grande acréscimo do material
dos em conjunto com a alta redução de água cimentício usado no concreto de alta resis-
atuam nos produtos hidratados do cimento tência cria problemas com o alto calor de
Portland refinando seus cristais e reduzindo hidratação. A menos que precauções sejam
os poros na matriz. Essa redução de porosida- tomadas, o grande acréscimo de calor inicial-
de na matriz de pasta de cimento hidratado mente liberado quando inicia a hidratação,
contribui na resistência do concreto endu- pode facilmente produzir temperaturas de
recido. Nas estruturas offshore de concreto, pico em excesso de 70oC. Esta alta tempera-
o conteúdo de material cimentício é muito tura pode vir a causar danos à estrutura e à
alto e tende a variar em uma faixa de 380 resistência do concreto. A solução para esse
kg/m3 a 500 kg/m3. A relação água/material problema é produzir o concreto na usina a
cimentício é tipicamente reduzida para níveis baixas temperaturas (5 – 8oC).
de 0,38 à 0,30 (em massa).
No Brasil, as adições ativas minerais Agregado leve
têm sido utilizadas com sucesso na produção
do concreto de alta resistência em dosagens Nos últimos 15 anos, várias pesquisas
que variam entre 5% e 15%, podendo-se foram realizadas sobre o concreto utilizan-
citar entre as mais utilizadas: metacaulim, do o agregado leve na aplicação de estru-

REVISTA CONCRETO 87
turas offshore. Uma das maiores pesquisas trabalhável em todos os estágios, desde
sobre o assinto foi o “LettKon” – Lightwei- a manufatura, transporte, lançamento e
ght Aggre­gate Concrete for Structural Ap- compactação. As propriedades do con-
plication, realizado entre 1996 à 1999. Foi creto fresco e endurecido devem estar
gasto nesse projeto por volta de 9 milhões especificadas através de normas nacionais
de NOK. A meta desse programa consistiu e internacionais, tais como a resistência à
em: posicionar o concreto leve no mercado compressão, resistência à tração, módulo de
competitivo; consolidar a tecnologia no- elasticidade e energia de fratura. Proprieda-
rueguesa do concreto de alta resistência des que podem causar fissuras no concreto
leve, com o intuito de proporcionar maior estrutural devem estar bem avaliadas, tais
qualidade ao material e menor densidade como fluência, retração, calor de hidrata-
para ser usado nas plataformas e nas pon- ção, expansão térmica e efeitos similares.
tes; economizar e aumentar a eficiência em A durabilidade do concreto estrutural está
todas as partes do processo de fabricação ligada a permeabilidade, a absorção, a
do material; produzir um guia técnico para difusão e a resistência aos ataques físicos
o uso do concreto leve e normalizá-lo. e químicos encontrados em ambientes ma-
LettKon foi desenvolvido em paralelo com rítimos. O concreto deverá ter uma relação
o programa da União Européia “EuroLi- água/cimento menor que 0,45 e na zona
ghtCon” – Brite EuRam III programme:
de respingo, esta relação deverá ser menor
Economic Design and Construction with
que 0,40.
Light Weight Aggregate Concrete.
As normas do Reino Unido, Austrália,
Normalmente, o concreto de alta
França, Alemanha, Canadá e Estados Unidos
resistência permite densidades variando de
também são utilizadas.
1900-2000 kg/m 3 e pode ser produzido em
grande escala no canteiro de obra (compa- A Norma mais consultada nas es-
rado aos concretos C75-C85 com densidades truturas offshore de concreto é o ACI-357
normais de 2450 kg/m 3). As matérias primas – Concrete Offshore Structures. As Normas
dos agregados leves, geralmente utilizadas alternativas são a canadense S-474 – Con-
em plataformas offshore, são: argila expan- crete Structures Offshore Structures e a
dida, cinza volante e folhelho. A Tabela 2 norueguesa NS-3473 – Guide for the Design
ilustra alguns agregados leves utilizados nas and Construction of Fixed Offshore Concrete
estruturas offshore. Structures.
Estas Normas abrangem as condições
Critérios de projeto do ambiente de carga no contexto offshore,
os requisitos de materiais empregados, as
Na Noruega, o conjunto de Normas condições estruturais de projeto, a insta-
utilizadas na industria offshore são deno- lação, a manutenção e o reparo. Além das
minadas NORSOK. A partir de 2007 esse condições citadas anteriormente, as conside-
conjunto foi substituído pela ISO/DIS 19903, rações das etapas de construção, a resposta
além da NS 3473 para projeto de estruturas dinâmica durante as ondas de tempestade,
de concreto utilizada no setor norueguês vento, cargas de corrente, impactos locais
desde a década de 70. de ondas e de barco, e as cargas dinâmicas
A norma ISO/DIS 19903 sobre estru- de terremoto também estão inclusos. As
tura de gravidade offshore estabelece que provisões para a inspeção e a segurança são
o concreto fresco deva ser inteiramente estabelecidas e ressaltadas.

88 REVISTA CONCRETo
Conclusões A quantidade de mão-de-obra local para
construção de plataformas de concreto
pode ser maximizada, sendo fator importante
Após anos de utilização de platafor- para desenvolvimento da economia do país
mas de concreto para exploração de pe- onde se pretende instalá-las.
tróleo e gás, algumas evidências sobre seu
comportamento podem ser apresentadas Para se obterem concretos de altas
conforme abaixo: resistências necessários para as aplicações
offshore, os agregados graúdos devem
As necessidades da indústria de construção ser devidamente selecionados. Geralmente,
de plataformas offshore têm sido essenciais agregados basálticos e graníticos são
para o incentivo ao desenvolvimento de recomendados. Certos tipos de gnaisses
novos concretos de alta performance e de são também possíveis de ser utilizados,
modernos métodos de construção. mas devem-se evitar agregados calcáreos
e dolomíticos. Agregados leves, como as
As estruturas offshore de concreto têm argilas expandidas, são frequentemente
apresentado um excelente desempenho em utilizados para garantir uma redução de
operação. Nenhum sinal de deficiência peso da estrutura. A qualidade do
ligado ao material tem sido observado. cimento é também crucial para que as
características de resistência e durabilidade
Os desenvolvimentos tecnológicos especificadas em projeto sejam
presentes nas atuais plataformas de adequadamente atingidas.
concreto serão cruciais em futuras
aplicações que possuam grandes demandas
de desempenho, economia e durabilidade. Agradecimentos

Estruturas offshore de concreto podem ser


erguidas em praticamente todos locais com Os autores gostariam de agradecer ao
acesso a navios petroleiros e rebocadores. Dr. George C. Hoff pela sua fundamental con-
Contudo, em muitos casos, o projeto será tribuição para o desenvolvimento do concreto
dependente das limitações de profundidade para aplicações offshore e pelas sugestões que
da área. levaram ao aperfeiçoamento deste artigo.

CONCRETO EM OBRAS MARÍTIMAS


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Proceedings of the Fip Symposium. Tbilisi, September, 1973. pp. 105-108.
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Engineering Structures, Vol. 18. N. 11, 1996. pp. 831-836.
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Switzerland. July. 24 p.
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Technology: Past, Present, and Future, Proceedings of V. Mohan Malhotra Symposium, Mar 21-23, 1994.
Ed. by P. Kumar Mehta; American Concrete Institute ACI, Detroit, MI, 1994, pp. 289 - 305. (ACI SP 144).

REVISTA CONCRETO 89
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90 REVISTA CONCRETo

Obra da Matec – na rua Hungria 08


Recuperação de estruturas
de concreto no saneamento
Gustavo Figueiredo Maia
Construtora G-Maia

Carlos Antônio Camargos d’Ávila


Copasa – Companhia de Saneamento de Minas Gerais

Introdução As patologias
mais freqüentes

Reservatórios,
Decantadores, Flo- Para se definir
culadores, Filtros, os sistemas de recupe-
Reatores, Canais, ração e proteção ade-
Galerias, Adutoras, quados, é preciso, pri-
Interceptores e Emis- meiramente, elaborar
sários são estruturas um diagnóstico que
que apresentam pa- determine as causas das
tologias específicas patologias, os condi-
e diferenciadas no cionantes físicos e quí-
decorrer de sua vida micos e os mecanismos
útil. Via de regra, de deterioração sob os
causadas pelo am- quais a estrutura está
biente agressivo e, submetida (quadro 1 e
mais precisamente, 2). As normas relaciona-
pelo contato com das a este tema, a NBR
águas puras ou com 6118 (ABNT, 2004) e
efluentes e gases; por CETESB L1.007 (Compa-
isso, devem receber nhia de Tecnologia de

OBRAS DE SANEAMENTO
tratamentos adequa- Saneamento Ambiental
dos a cada especificidade. do Estado de São Paulo, 1980), podem auxiliar
É importante analisar, antes de qual- neste processo para a classificação do meio e o
quer tipo de intervenção, as causas das grau de agressividade deste ao concreto, porém é
patologias, e as demandas de cada peça no importante ressaltar a lacuna existente nas normas
intuito de se eleger a melhor tecnologia ou quando se necessita de diretrizes específicas para
combinação entre tecnologias, que atendam as estruturas de concreto no saneamento.
as condicionantes físicas e químicas a que a O sistema escolhido para o reparo deve,
estrutura está submetida. primeiramente, garantir a estabilidade da estru-
Dentro deste raciocínio, podem ser tura durante a intervenção e uso. Posteriormente,
necessários vários tipos de sistemas, mes- deve assegurar a durabilidade da peça recupera-
mo para a intervenção nas estruturas de da considerando o meio ao qual a estrutura está
uma mesma ETA (Estação de Tratamento de exposta. O sistema de reparo e proteção deve
Água), pois, tomando-se como exemplo um ser capaz de estancar todos os mecanismos de
filtro de fluxo descendente com retro lava- agressão com durabilidade e suportar todos os
gem, o desgaste se dá, principalmente, por condicionantes sem perder sua função.
abrasão, o que não ocorre nas paredes e laje Para aumentar as chances de acerto na
dos decantadores. escolha dos sistemas de proteção e reparo é impor-

REVISTA CONCRETO 91
tante entender como funcionam os mecanismos
de degradação preponderantes ao concreto e ao
aço. Por isso, vamos fazer uma breve descrição dos
processos relacionados às patologias mais comuns
no meio do saneamento.

Preponderantes ao concreto

Lixiviação: Este mecanismo de degrada-


ção acontece principalmente em lajes de teto dos
reservatórios, em trincas e juntas de concretagem.
Ocorre, por ação das águas puras, carbônicas,
agressivas e ácidas que dissolvem e carreiam os
compostos hidratados da pasta de cimento. Acon-
tece, nas lajes, tanto pela falta de impermeabiliza-
ção da face superior, quanto pela condensação da
água do próprio reservatório na face inferior. Pode
provocar o desenvolvimento de fungos e bactérias.
Como conseqüência, nota-se a redução do pH do
extrato aquoso dos poros do concreto com risco
de despassivação da armadura.
Expansão por ataque de sulfetos: Este
processo de degradação é recorrente em ETE’s e
tubulações de esgoto feitas em concreto. A expan- torno da armadura não é mais eficiente. Então
são é a degradação provocada por compostos de a corrosão das armaduras se torna possível, se
enxofre presentes no esgoto residencial, que ata- existirem umidade e oxigênio suficientes. Não
cam tanto a matriz hidratada do cimento, em um existe carbonatação se o concreto estiver seco
primeiro momento, quanto às armaduras após a (sem umidade para possibilitar a reação quími-
perda do cobrimento protetor. A corrosão do con- ca) ou saturado de água (a água ocupa os poros
creto acontece, principalmente, pela formação de impedindo a difusão do dióxido de carbono). A
sulfato de cálcio, que provoca uma série de reações carbonatação do concreto acontece de forma
onde o produto final da reação tem volume de mais significativa em ambientes com umidade
até mil vezes o volume inicial, provocando assim relativa abaixo de 90% e acima de 60% ou em
a fissuração e a degradação do concreto de cobri- ambientes sujeitos aos ciclos de molhagem e
mento, em contato direto com o meio, expondo secagem. É importante lembrar que a carbona-
as armaduras aos agentes agressivos. tação é um processo de deterioração, que ataca
as armaduras, porém para o concreto, este é um
Preponderantes à armadura processo de aumento da densidade e resistência.
Quanto mais denso o concreto for, ou se tornar, e
Despassivação por carbonatação: mais profunda a frente de carbonatação estiver,
Ocorre em todo tipo de estrutura de concreto, mais lento será o progresso da carbonatação.
se agravando nas áreas industriais e grandes cen- Este é o motivo pelo qual se busca o aumento das
tros urbanos devido a geração de CO2. Durante coberturas de recobrimento das armaduras, pois
a hidratação do concreto, o hidróxido de cálcio com recobrimentos maiores, a frente de carbona-
CA(OH)2 é produzido. Este, juntamente com a tação se estabilizaria antes de atingir a camada
pasta de cimento, gera uma solução aquosa de de passivação das armaduras (gráfico 1).
pH aproximadamente 13. Esta solução extrema- Despassivação por elevado teor de Íon
mente alcalina cria uma camada passiva em torno Cloro (Cloreto): penetração do cloreto através
da armadura, que previne sua corrosão, mesmo dos poros do concreto ou trincas, por difusão,
que estes sejam expostos ao oxigênio e à umidade impregnação ou absorção capilar que, ao supera-
(no entanto, não previne se exposto a cloretos). rem um certo limite de concentração em relação
O dióxido de carbono CO2 do ar, juntamente com à concentração de hidroxilas nos poros do con-
a umidade, transforma o hidróxido de cálcio em creto, despassivam a superfície do aço, instalando
carbonato de cálcio CACO2. Este processo é cha- a corrosão. Eventualmente os cloretos podem ser
mado de carbonatação. Em uma solução aquosa, introduzidos no concreto em seu amassamento,
o carbonato de cálcio tem um pH abaixo de 10. através de excesso de aditivos endurecedores ou
Em tão baixa alcalinidade a camada passiva em juntamente com os agregados do concreto.

92 REVISTA CONCRETo
ou extremamente básicos. Estes casos devem ser
tratados pontualmente, com materiais indicados
para cada caso. Deve-se ainda alertar aos opera-
dores sobre a necessidade de proteção preventiva,
caso seja preciso a mudança do ponto de dosagem
de produtos químicos.
Preocupação constante nas estruturas em
contato com água, mas não menos recorrentes, são
os vazamentos que vem sendo combatidos com
todo o esforço, no intuito de reduzirem as perdas
de água tratada e os danos causados pelos mesmos
à estrutura, através do processo de degradação por
lixiviação. Os vazamentos nas estruturas ocorrem,
principalmente, através de juntas de dilatação,
trincas, juntas de concretagem e brocas.
Já nas estruturas das ETE’s (estação de tra-
tamento de esgoto) os problemas mais freqüen-
tes, apesar do pequeno tempo de uso deste tipo
de estrutura no Brasil, são decorrentes dos gases
formados pelo esgoto doméstico. Por possuírem
um pH muito baixo, é necessário pouco tempo
de utilização para que se inicie um processo de
Despassivação por ataque ácido: Em degradação da estrutura, sobretudo na região
ambientes com alto teor de sulfetos, após a expan- sujeita ao contato com os gases (Figura 1). Nos ca-
são do concreto e a perda do cobrimento protetor nais de chegada, emissários e interceptores nota-se
das armaduras, acontece a corrosão das mesmas também um grande desgaste devido ao fluxo de
pela ação das bactérias e do ácido sulfúrico. sólidos imersos no líquido do esgoto (abrasão). Este
Um dos problemas recorrentes em estru- tipo de degradação é extremamente preocupante,
turas de saneamento é o ataque químico causado uma vez que, nestas unidades, não se tem uma
pela dosagem de produtos extremamente ácidos sistemática de inspeção e manutenção. Devido

OBRAS DE SANEAMENTO

REVISTA CONCRETO 93
à dificuldade de paralisação destas unidades e o uma proteção geral à estrutura. É ainda impor-
tempo necessário para uma eficiente inspeção e tante colocar que fissuras por ação de cargas,
manutenção, quando a patologia é identificada independentemente dos cuidados de concretagem
o processo de degradação pode encontrar-se em e cura, vão ocorrer em concretos com altas resis-
um estágio avançado. tências, módulo de elasticidade e aços de elevada
Os vazamentos, assim como nas estruturas resistência como CA50 e CA60, como cita Helene
em contato com água, acontecem com grande em seu estudo A Nova NB1/2003 (NBR6118) e a
freqüência através de juntas de dilatação, trincas, Vida Útil das Estruturas de Concreto: “...O apa-
juntas de concretagem e brocas e atacam as arma- recimento de fissuras nas estruturas de concreto
duras e o próprio concreto através dos sistemas de armado é inerente aos materiais que as compõe.
agressão vistos anteriormente. A utilização de aços de elevada resistência (...)
As normas atuais para concreto armado implica em deformações à flexão e à tração impor-
têm recomendado, acertadamente, um maior tantes no concreto que envolve essas armaduras
recobrimento de proteção das armaduras (35 superando, na maioria das vezes, a deformação
a 45mm) e um aumento da resistência dos con- específica máxima à tração do concreto. Superada
cretos (35 a 40 MPA) nos meios de agressividade essa capacidade de absorção de deformações, o
forte ou muito forte, no intuito de se garantir concreto fissura.”
uma maior durabilidade das estruturas, pois um
concreto com maior resistência apresenta uma
maior compacidade e, por conseqüência, maior As tecnologias tradicionais
impermeabilidade, o que protege as armaduras de recuperação e proteção
do ataque de agentes agressivos. Apesar de
aumentarmos a proteção às armaduras através
do aumento de recobrimento, é importante Antes de qualquer apresentação das técni-
ressaltar que, em estruturas de concreto para cas de recuperação, é importante esclarecer que
saneamento, é possível encontrarmos pontos qualquer técnica depende diretamente da mão
delicados e propensos a algum tipo de compro- de obra de aplicação, equipamentos e materiais,
metimento, como é o caso das trincas e brocas, como um sistema integrado que não deve falhar
juntas de concretagem e de dilatação. Um maior em nenhum desses pontos.
recobrimento é indicado para garantir uma O conhecimento das técnicas e dos ma-
maior espessura de proteção para que, mesmo à teriais é de suma importância para o sucesso da
longo prazo, os mecanismos de agressividade se operação de reparo, assim como a expertise da
estabilizem, assim como vimos no gráfico acima equipe de aplicação. Os sistemas de recupera-
relativo à carbonatação. ção, proteção e reforço dependem de materiais
Portanto, é sempre necessário considerar sensíveis e detalhes simples de aplicação, porém
tratamentos específicos para trincas, brocas e determinantes para que o resultado desejado
juntas de concretagem, caso não seja especificada seja alcançado.

94 REVISTA CONCRETo
Uma preparação de superfície adequa- projeção. No segundo caso, o concreto já adicio-
da é um item crítico para qualquer sistema, seja nado com água é levado à câmara de projeção,
de recuperação, impermeabilização, proteção onde através do ar comprimido, é levado até o
ou reforço, e em muitas vezes, é desprezado bico de projeção. A partir daí, adiciona-se mais
em função dos custos. Entretanto, considera- ar para a projeção contra o substrato.
mos de extrema importância para o resultado Corretamente aplicado e com a superfície
do sistema. corretamente preparada, o material é estrutural-
Nas estruturas para reservação e pro- mente adequado e durável, capaz de excelente
dução de água potável, um cuidado adicional aderência a outro concreto.
deve ser tomado. Todos os produtos das etapas
de recuperação, proteção e impermeabilização
do concreto devem ser aprovados para este Argamassa polimérica
uso através de laboratórios independentes e
normas de potabilidade da água aplicável em
sistema de impermeabilização, como a norma No intuito de se recuperar o recobri-
NBR 12170/1992, para se garantir que não mento original do concreto e melhorar as ca-
haverá contaminação da água potável pelos racterísticas de proteção da armadura, tem-se
produtos aplicados. utilizado, com bastante freqüência, argamassas
Existem algumas tecnologias que são recor- poliméricas industrializadas. O material pode
rentes na recuperação de estruturas de concreto ser aplicado projetado ou manualmente. As
armado em peças de saneamento e que serão principais características deste sistema são: a
apresentadas a seguir: redução de água da mistura para se obter uma
boa trabalhabilidade; a baixa permeabilidade;
e a boa aderência a substratos devidamente
Concreto ou argamassa projetada preparados.
Este sistema é indicado para reparos su-
perficiais de até 50 mm de espessura. Cada tipo
A técnica de concreto projetado é bas- de argamassa polimérica deve seguir a espessura
tante utilizada nos processos de recuperação máxima de aplicação por camada. As argamassas
e reforço e consiste em se conduzir, através poliméricas industrializadas têm-se desenvolvido
de uma mangueira, concreto ou argamassa, no sentido de eliminar etapas de tratamento, evi-
projetando-o em alta velocidade (acima de 120 tando a necessidade de ponte de aderência e pin-
m/s). A força do jato de concreto, ao encontrar tura anti-corrosão das armaduras, já incorporando
a superfície de base, comprime o material man- essas etapas na própria composição da massa.
tendo-o auto-aderido.
A superfície que vai receber o concreto
pode estar na vertical, inclinada ou horizontal. Juntas de dilatação pré-formadas
Existem dois tipos de processos relacionados a esta de neoprene aderida com epóxi
técnica: via seca e via úmida.

OBRAS DE SANEAMENTO
No primeiro, o concreto é levado até
o bico de projeção sem a adição de água que Conforme dito anteriormente, as juntas
é adicionada no bico imediatamente antes da de dilatação em estruturas de concreto armado

REVISTA CONCRETO 95
no saneamento geram problemas críticos de va-
zamento e degradação. As juntas de dilatação Os sistemas atuais de
são normalmente tratadas preventivamente recuperação e proteção
pelo sistema de juntas fungenband (Figura 4),
que em algumas vezes não é efetivo para a ve-
dação dos líquidos presentes nas estruturas, seja Revestimento mineral de alta resistência
por motivo de má aplicação (falta de vibração química para impermeabilização e
em torno das abas ou mau posicionamento da proteção das estruturas
junta) ou por elevada movimentação da estru-
tura, rompendo assim o perfil e/ou o concreto O sistema acima descrito consiste na aplica-
em torno deste. Nestes casos, as recuperações ção de um revestimento mineral modificado sin-
têm sido executadas através do sistema de co- teticamente, aplicado manualmente (com ponte
lagem de perfil de neoprene extrudado com de aderência) ou projetado (diretamente sobre a
resina epoxídica*. Assim como os outros sis- estrutura preparada). Tem espessura de camada
temas apresentados anteriormente, o sistema final mínima de 5mm e máxima de 10mm. O sis-
de reparo funciona efetivamente, desde que tema tem grande versatilidade já que possui altas
sejam seguidos os detalhes de preparação de resistências às substâncias agressivas e à abrasão,
superfície, cuidados necessários na aplicação, boa impermeabilidade e permite a difusão de
assim como os cuidados de se garantir a imper- vapor d’água.
meabilidade do concreto na região de colagem Este processo tem sido bastante utili-
do perfil. zado tanto em estruturas de tratamento de
esgoto (áreas em contato com o efluente),
quanto em estruturas de reservação e produ-
Revestimento com cimento ção de água potável.
polimérico – (baixas espessuras)
Proteção superficial à base
de silicato polimérico
O sistema de impermeabilização com
Argamassa de silicatos alcalinos poliméricos
cimentos poliméricos industrializados tem
de alta aderência a substratos minerais pode ser
sido utilizados para a proteção e impermea-
aplicada manualmente ou projetada em uma es-
bilização de estruturas de reservatório e ETAs
pessura entre 8 e 12 mm. Apresenta gel de silicatos
(Estações de Tratamento de Água), porém
amorfos (SiO2 . nH2O) dentro da matriz endure-
este sistema tem sido contestado na Alema-
cida, de forma que sua aderência, durabilidade e
nha, onde a DVGW – “Associação Científica e
estabilidade dimensional faz torná-la apta para a
Técnica Alemã Para Gás e Água – Comitê de proteção contra os gases formados pelo esgoto
Reservação de Água”, publicou um manual de doméstico nas áreas em contato com gases das
requerimentos básicos para o uso de produtos estações de tratamento de efluentes. Este gel de
à base de cimento em reservatórios, onde silicatos é resistente a todos os ácidos orgânicos e
indica que a utilização deste tipo de revesti- inorgânicos com pH próximos ao ZERO (exceto ao
mento para impermeabilização ou proteção de ácido hidrofluórico).
estruturas de concreto deve seguir uma série
de requerimentos, entre os quais: Tratamento químico impermeabilizante
Espessura mínima de 5mm para arga- de alta penetração
massas com tamanho da partícula máxima de
1mm; e espessura entre 5-15mm para argamas- O tratamento químico cristalizante tem por
sa projetada com tamanho de partícula máxima objetivo impermeabilizar e proteger as estruturas
de 2-4mm. de concreto armado. Aplicado sobre o concreto, o
A recomendação publicada foi resul- tratamento é capaz de gerar formações cristalinas
tado de um estudo produzido com base em profundas, tornando-se parte integrante do mes-
diversos reservatórios pesquisados e testes mo e formando uma barreira definitiva que sela os
de laboratório que mostram a rápida perda poros e capilaridades, impedindo a penetração da
de resistência e adesão de argamassas po- água, mesmo sob altas pressões hidrostáticas.
liméricas de pequena espessura (aplicadas O sistema de tratamento químico crista-
como pintura ou projetadas), provocando a lizante é complementado com argamassas para
degradação do sistema de impermeabilização reparos e tamponamentos formulados para recu-
e proteção. perar concretos com defeitos ou danificados.

REVISTA CONCRETo
96 * Junta Tipo Jeene – Figura 5
O tratamento químico cristalizante define- componentes, bi-componentes e bombas de inje-
se como sendo um processo físico-químico que visa ção de microcimento. Os benefícios indispensáveis
preencher as porosidades e capilaridades caracterís- em um equipamento de injeção são:
ticas da microestrutura do concreto, desencadeando Ajuste ou limitação possível da pressão de
um processo catalítico de formação de cristais não injeção através dos controles de operação
solúveis e não tóxicos numa profundidade mínima do equipamento;
de 50 mm na estrutura do concreto, de modo a Facilidade para operar;
garantir que não haja a penetração de água por Objetividade para testar sua efetividade;
capilaridade, suportando pressões hidrostáticas Risco pequeno de paradas;
tanto positivas quanto negativas de até 0,7 MPa. O Facilidade de limpeza e movimentação
concreto tratado com o sistema é capaz de proteger O sistema de injeção pode ser utilizado
a estrutura de concreto além das armaduras, no que para atingir diversos objetivos, dentre os mais
diz respeito à oxidação a partir da carbonatação e comuns e mais utilizados nas estruturas de
ataque de cloretos. Os tratamentos químicos crista- concreto do saneamento estão:
lizantes cumprem as características de não toxidade,
não comprometimento da potabilidade da água e, Tratamento estrutural
principalmente, de não ataque aos componentes
do concreto existente. O tratamento estrutural visa recompor as
condições iniciais de suporte da estrutura e dos es-
Sistema de Injeção forços resistentes do concreto estrutural. Para que
a estrutura volte a ser monolítica, é necessária a
A tecnologia de injeção consiste no pre- injeção de materiais de altas resistências mecânicas
enchimento completo dos vazios (mínimo 80% nas fissuras das peças. Esses materiais são rígidos
da fissura) com um material adequado para cada ou dúcteis e, portanto, não podem ser aplicados
tipo de fissura ou vazio, utilizando equipamentos em fissuras ativas. Resinas à base de epóxi, poliu-
de pressão e bicos para possibilitar a introdução retano estrutural e microcimento são os materiais
dos materiais no interior da estrutura. disponíveis atualmente para essa finalidade.
O sucesso desta tecnologia depende dire-
tamente, além da correta escolha do material de Selamento de fissuras
injeção, da experiência do aplicador e da seleção
dos equipamentos. O selamento de fissuras visa impedir a
Esta técnica tem sido utilizada largamente entrada de agentes agressivos na estrutura como:
como complemento aos sistemas rígidos de im- água, cloreto, gás carbônico (CO2), sulfatos, etc.
permeabilização e proteção, para tratamento de Os materiais disponíveis para selamento são
trincas e para reparos localizados em estruturas resinas à base de poliuretano, os quais são en-
em operação, pois possibilita o tratamento mesmo contrados na versão hidroativada, para injeção
com a estrutura em carga. em fissuras com fluxo d’água, e resinas de po-
Os materiais necessários para realização liuretano flexível para promover um selamento
de injeção são: definitivo. Não é indicado para o selamento de-

OBRAS DE SANEAMENTO
Produtos de injeção finitivo a injeção, somente de poliuretano hidro-
Resina de poliuretano ativado (espuma), ou seja, quando necessária a
Resina de poliuretano estrutural aplicação de poliuretano hidroativado para selar
Resina epóxi provisoriamente o fluxo de água, o poliuretano
Microcimento flexível deve ser injetado, no mesmo local, como
Gel acrílico ou hidroestrutural um complemento do sistema. Essas resinas podem
Gel acrílico polimérico tanto ser injetadas em fissuras úmidas ou secas;
Bicos de injeção ativas ou passivas.
Bicos de Perfuração
Bicos de Adesão Selamento de juntas de dilatação
Bicos Plásticos
O selamento de juntas de dilatação visa o
preenchimento total do vazio entre as peças e em
Bomba de injeção torno da fungenband para propiciar a estanquei-
dade e proteção. O material mais indicado para
este tipo de tratamento é o Gel Acrílico Polimérico
Existem vários tipos de bombas de injeção. que alia uma ótima aderência ao concreto à gran-
Dentre as mais utilizadas estão as bombas mono- de flexibilidade.

REVISTA CONCRETO 97
Impermeabilização (áreas) estruturas com espessura máxima de 60 cm. Em
estruturas com espessuras maiores e situações es-
A impermeabilização ainda é um avanço peciais, o planejamento para instalação dos bicos
recente dos sistemas de injeção que vem sendo deve ser estudado antes do início dos serviços, e o
adotada, cada vez mais, nas obras subterrâneas. objetivo deverá sempre ser a garantia do preen-
Trata-se da injeção de uma resina à base de gel chimento total da fissura ou vazio.
acrílico, também conhecida como hidroestrutural, A injeção deve sempre iniciar pelo ponto
na parte posterior das estruturas de concreto, em mais baixo e seguir consecutivamente os bicos.
grandes áreas. O material injetado forma uma Usualmente deve ser iniciada a injeção de um bico
membrana flexível em pouco tempo, devido ao quando, o material de preenchimento injetado
curto tempo de reação, impermeabilizando estru- pelo anterior, verter por este.
turas abaixo do lençol freático.
Os bicos de injeção devem ser instalados,
de modo a permitir um completo preenchimento Conclusão
da trinca. Em bicos de perfuração, a regra geral é
executar furos de 14 mm perfurados em ângulos
de 45º em relação à superfície, com espaçamento É importante ressaltar que todo e qualquer
equivalente à metade da espessura da parede. Os sistema de recuperação deve vir acompanhado de
furos devem interceptar a trinca na metade de um projeto fundamentado em um diagnóstico
sua profundidade. Os bicos plásticos podem seguir consistente, visando garantir a qualidade da in-
a regra básica dos bicos de perfuração e podem tervenção. Para que o projeto se torne realidade,
também ser instalados em furos sobre as trincas, deve-se garantir que a execução dos serviços seja
dependendo da abertura da trinca, preservando conduzida através de uma empresa especializada e
o espaçamento entre os bicos. com experiência comprovada. Um item importan-
Já os bicos de adesão devem ser instalados te, no longo prazo, são as manutenções e inspeções
com espaçamento equivalente a espessura da pare- posteriores ao tratamento, de forma a garantir a
de. Com este sistema não é necessária a perfuração durabilidade dos reparos ou identificar alguma
da estrutura, porém só pode ser utilizado em subs- patologia ainda em uma fase insipiente.
tratos secos, devido a seu adesivo epoxídico. Os sistemas de impermeabilização prote-
O procedimento básico para instalação ção e recuperação, têm-se desenvolvido com uma
dos bicos deve ser seguido, quando possível, em velocidade muito grande, em decorrência do em-
penho de fabricantes deste tipo de material e de
pesquisas relacionadas a este tema. Os materiais
de injeção, por exemplo, têm se tornado cada vez
menos viscosos e mais eficientes para o preenchi-
mento de trincas e vazios. Novos produtos com
fins específicos têm sido lançados no mercado para
atender a cada tipo de situação. Este desenvolvi-
mento tem propiciado uma larga expansão do
campo de injeção, mostrando-se uma ferramenta
extremamente valiosa para a solução de diversos
tipos de patologia.
É interessante citar alguns dados próprios
para exemplificar o volume de uso de cada tipo de
material de injeção para uma análise do desenvol-
vimento do sistema.
Fica claro, através das informações apre-
sentadas, que os sistemas de proteção, recu-
peração e impermeabilização de estruturas de
concreto no saneamento estão exigindo, a cada
dia, mais especialização e um maior conhecimen-
to de todos os profissionais envolvidos. Serão
exigidos capacitação e conhecimento por parte
dos projetistas, empresas de aplicação, técnicos de
campo e mão-de-obra, de forma que todo este
conjunto possa lograr os resultados de eficiência
e durabilidade esperados.

98 REVISTA CONCRETo
Ponte sobre o canal
de Itajurú – Cabo Frio
Eng. José Luis Cardoso
JLC Engenharia e Projetos

Relevância do empreedimento Aspectos sobre a geometria da ponte

O projeto básico da Ponte de Cabo Frio O projeto geométrico da Ponte sobre o


teve como objetivo principal a definição de um Canal de Itajurú visou realizar a ligação entre
traçado geométrico adequado às novas necessi- a Cidade de Cabo Frio e o Morro do Telégrafo ,
dades viárias com total integração aos aspectos procurando passar o fluxo de tráfego para fora
arquitetônicos absolutamente relevantes ao da cidade , evitando-se desta forma , um con-
local da obra. gestionamento inevitável do tráfego atual.
Assim, conclui-se que a concepção do Assim, o traçado teve como determinan-
projeto com a técnica dos balanços sucessivos foi te, para a sua diretriz, duas retas, uma do lado
a alternativa mais adequada, sob o ponto de vista do Cemitério, ligando a Ponte à Rua Vereador
técnico-operacional, pela não obstrução do canal, Carriço, enquanto que a segunda visava estabe-
nem pela execução das fundações ou pilares ou lecer continuidade do tráfego paralelamente a
até mesmo pelos cimbramentos provisórios du- Avenida dos Pescadores. Essas retas formam um
rante o período da obra da nova ponte. ângulo de aproximadamente 98º, o que levou a
Dessa maneira aliado às dimensões um Raio de Curvatura de 111,866 m , para um
singelas das características das pontes em ba- Comprimento Total da Ponte de 172,0 m.
lanços sucessivos, foi vencido todo o vão do Logo, as características geométricas da
Canal Itajurú, sem nenhuma interferência com Ponte, em planta, determinaram dois balanços
PONTES

o canal, mantendo as suas seções originais, o extremos de 3,50 m e vãos de 40,0m – 85,0m
que para os amantes da natureza e da boa – 40,0 m, com um comprimento total de 172,0
técnica garantiu o perfil arquitetônico do local m e um raio de curvatura de 111,866 m. Os
e a sua estética. ângulos centrais correspondentes aos arcos de

REVISTA CONCRETO 99
40,0 e 85,0 m, são, respectivamente, 20,48729º Princípio construtivo
e 43,53550º.
Quanto ao greide, a fim de atender O processo consiste em construir uma base
ao gabarito mínimo de 4,20 m, na ligação de partida, para a partir daí, executar a obra (supe-
Cabo Frio – Portinho, à concordância com a restrutura) por avanços progressivos, isto é, fazer
Rua Vereador Carriço e à ligação com a Av suportar pela estrutura de apoio já construída as
dos Pescadores, foi necessário uma rampa de fôrmas e aparelhagens que permitam executar as
8%, do lado do Cemitério e 6 % ao lado da aduelas da superestrutura de forma sucessiva.
Av. dos Pescadores. Assim, a ponte em balanços sucessivos
Quanto ao sistema estrutural, previu-se, consiste em construir o tabuleiro de uma ponte
a fim de manter o vão central livre de pilares avançando por aduelas progressivas.
dentro do Canal, a execução do vão de 85,0 m A estabilidade de cada construção por
pelo processo de Balanço Sucessivos, com 10 cabos de protensão detalhados nas nervuras e
aduelas de 4,10m de cada lado da ponte, e o laje superior da estrutura da ponte.
fechamento central de 3,00 m, dando continui-
dade ao mesmo, visando assim uma estética Vantagens do processo
para a obra, condizente com a realidade da de construção
BELEZA de CABO FRIO. em balanços sucessivos
A necessidade de uma grande rigidez
torsional da seção transversal da ponte em A principal vantagem da construção dos
curva com raio de 111,866 m e, em função do balanços sucessivos, como já dito anteriormente,
processo construtivo, em balanços sucessivos, é a supressão dos cimbramentos, deixando total-
nos levou a utilização da seção transversal em mente livre a secção de navegação do canal.
caixão unicelular, configurando a estética exi-
gida para o empreendimento. Outras vantagens importantes

redução e melhor utilização das fôrmas,


Aspectos relevantes da obra limitadas aos comprimentos de uma aduela.
aumento do rendimento da mão de obra,
devido à mecanização das tarefas em ciclo
Vantagens da técnica repetitivo.
dos balanços sucessivos flexibilidade da execução ligada à
possibilidade de acelerar a construção
O aspecto fundamental das constru- multiplicando o número de bases (secções
ções em balanços sucessivos é o de suprimir de apoio) para a partida da obra.
os cimbramentos, seja, por necessidade de rapidez de construções com o emprego de
atender limites de gabaritos, ou por dificul- aduelas protendidas com extensão de
dades e custos abusivos em secções de canais, 4,10 m com ótima velocidade de avanço.
rios e lagos.

Características operacionais
das aduelas


As aduelas foram simé-
tricas em relação ao pilar com a
utilização de treliças móveis. O
comprimento das aduelas foi pro-
jetado para 4,10 m, a fim de que
os pesos fossem compatíveis com
a treliça econômica para a sua
sustentação na fase construtiva.
As aduelas foram con-
cretadas com dos equipamentos
móveis em estrutura metálica,
que tomaram apoio sobre a par-
te do tabuleiro já construído.

100 REVISTA CONCRETo


A estabilidade dos equipamentos foi con- diâmetro Φ 410 mm, para os pilares centrais ,
seguida por ancoragens executadas a partir da tendo em vista a necessidade de atravessar o
última aduela concretada. As fases da construção enrocamento existente , construído de pedras
de uma das aduelas foram as seguintes: colocadas aleatoriamente, e com grande índice
concretagem da laje inferior de vazios.
concretagem das almas No caso dos pilares externos foi previsto a
concretagem da laje superior utilização de tubulões de diâmetro de Φ 1,40 m.
As duas últimas fases podem ser fundir
em uma só fase. A cadência normal das constru-
ções permitiu a realização de um ciclo completo Característica da durabilidade
em uma semana, da seguinte forma: do concreto
1 dia para colocação da protensão da
aduela concretada, desforma e avanço

de equipamento.
A fim de garantir a melhor durabi-
2 dias para colocação no lugar das
armaduras e cabos de protensão lidade dessa estrutura ao meio ambiente
1 dia para a concretagem da aduela agressivo do local foi recomendado o uso do
3 dias para o endurecimento do concreto aditivo de Sílica Ativa ao concreto no teor de
Este ciclo corresponde no caso de aduela 10% em relação ao peso do cimento, como
de 4,10 m, a uma velocidade de avanço de 1,17 também o emprego do superplastificante
metros /dia e por par de equipamento móvel. conferindo perfeito acabamento e resistên-
cia às peças projetadas.

Características das fundações Autor do Projeto e Execução do


Empreendimento: Prof. José Luis Cardoso
Construção: Oriente Engenharia e Triângulo
Para a infra-estrutura foi previsto a Empreendimentos
execução de fundação por estaca raiz com Conclusão da Obra: 2005

PONTES

REVISTA CONCRETO 101


Aditivos: química a serviço
da construção sustentável

Em conferência realizada em 13 de constantemente novos produtos à base


junho de 2007, em Trostberg, na Alemanha, de cimento;
Bernhard Hofmann, responsável pela divi- Os clientes estão cada vez mais em busca
são de químicos para Construção da BASF, de menores custos de materiais, energia e
destacou quatro tendências importantes na capital, como também de meios para
indústria da construção: realizar seus projetos de construção com
Edificações e estruturas deverão ter um
maior rapidez;
tempo de vida consideravelmente maior,
o que não será possível sem a química Tem aumentado consideravelmente o
da construção; interesse por eficiência energética no uso
A classe de cimentos e aditivos está das edificações e a perspectiva é que
em constante expansão, demandando continue crescendo.

102 REVISTA CONCRETo


Para fazer frente a estes desafios, a naturais, porcelanas, dentre outros. Como
companhia vem desenvolvendo uma série de exemplo bem acabado do uso de químicos
produtos para construção. Buscando a eficiên- para construção neste quesito, citou-se o
cia, inovações têm sido implementadas nos quí- spa em Bad Blumau, na Áustria.
micos para construção no sentido de aumentar A segurança é outro aspecto da constru-
a velocidade de execução de obras, por meio da ção que foi melhorada com o uso de aditivos. A
aceleração da cura do concreto, assim como de BASF desenvolveu uma argamassa que garante
obter maior economia, com o uso do concreto a estabilidade do concreto por mais de quatro
de auto-adensável, que ao não necessitar ser horas, em caso de incêndio. Este material foi
vibrado, dispensa o uso de equipamentos, tor- usado no Engstlige túnel, na Suíça.
nando o processo construtivo mais econômico Para a manutenção de estruturas de
e com menos poluição sonora. concreto a companhia lançou uma nova
Falando da necessidade de concretos geração de argamassas baseada na nano-
mais resistentes e que exigem períodos de tecnologia, que tem mostrado eficiência
manutenção mais largos, Hofmann enfati- acima da média em termos de adesão e de
zou a necessidade irrecusável do uso dos resistência ao gelo.
aditivos para obter uma mistura facilmente A estratégia da BASF está concentra-
bombeável com adição de pouca água. E da em três objetivos: transferir tecnologias
citou a Great Belt Bridge, na Dinamarca, e eficazes em determinada região para outras;
a Tartara Bridge, no Japão, como exemplos pesquisa e desenvolvimento de melhores
no uso dessa tecnologia. produtos, para acelerar a penetração no
Foi abordada também a importância mercado; e geração de mais negócios em
da aparência no cobrimento de superfícies. mercados em crescimento, como Ásia e Leste
Este requisito somente pode ser alcançado Europeu. A companhia espera crescer de 7 a
com o desenvolvimento de uma vasta gama 8% ao ano, nos próximos anos, no mercado
de produtos aplicáveis em largo espectro de químicos para construção, que represen-
de materiais, tais como cerâmica, pedras ta de 10 a 15% de suas vendas.

Programa MasterPec
Master em Produção de Estruturas de Concreto
IBRACON
Cursos programados para o 49º Congresso Brasileiro do Concreto,
em Bento Gonçalves RS
Terça, 4 de Setembro de 2007 Manhã – 9h00 às 10h30
Coffee Break – 10h30 às 11h00
11h00 às 13h00

Sala 1 Sala 2
Temas em discussão sobre vida útil do concreto armado: Como conseguir estanqueidade nas estruturas de concreto
novas filosofias e modelos
O curso proporciona o necessário conhecimento das técnicas de
O curso discorre sobre as coincidências, diferenças, limitações e evolução das impermeabilização, com uso de recursos audiovisuais. Busca a aplicação correta,
definições sobre vida útil e durabilidade expressas na literatura internacional. a otimização do desempenho do produto e a valorização da técnica no resultado
Propõe versões holísticas desses conceitos em consonância com a realidade final da obra.
latino-americana. Apresenta a evolução dos modelos probabilísticos e
determinísticos de vida útil de estruturas de concreto armado em termos da Marcos Storte
durabilidade e a filosofia do novo modelo holístico de vida útil. Engenheiro Civil. Mestre em Engenharia. Professor de cursos de pós-graduação.
Experiência de 25 anos dedicados à tecnologia da impermeabilização
Pedro Castro-Borges
MANTENEDOR

Doutor em Engenharia com Pós-doutorado no Eduardo Torrojas de Espanha.


Pesquisador Titular do CINVESTAV – México. Membro da Academia Mexicana de
Ciências. Autor de numerosas publicações sobre o assunto

Patrocinador Patrocinador

Carga horária: 4 horas – Local: FUNDAPARQUE Informações: Marta


Inscrição: www.ibracon.org.br Tel.: 11 3735-0202 – marta@ibracon.org.br
REVISTA CONCRETO 103
Diretores do IBRACON participam
da 14ª Reunião Plenária do Comitê
ISO sobre Concreto Estrutural
A 14ª Reunião Plená-
ria do ISO/TC-71 – Comitê Salvador,
responsável por estabelecer Bahia
diretrizes e parâmetros para
as normas técnicas de con-
creto armado e protendido
– aconteceu entre os dias
29 de maio e 1º de junho
de 2007, no Fiesta Bahia
Hotel, em Salvador. Atual-
mente, o Comitê ISO-TC71
é presidido pelo Dr. W.G.
Corley e secretariado pelo
Dr. Shuaib Ahmad, ambos
representantes do ANSI dos
Estados Unidos.
O objetivo da reunião
anual é discutir os trabalhos
que vêm sendo desenvolvidos
pelos subcomitês do ISO/TC-
71, que se dedicam a temas
como: testes de métodos para
concreto (SC-1); produção e Prof. Antônio Carlos Laranjeiras (SC-4/SC-5)
execução de estruturas de concreto (SC-3); re- Prof. Luis Carlos Pinto (SC-6)
querimentos de desempenho para o concreto Prof. Enio Pazini (SC-7)
estrutural (SC-4); padronização de projetos sim- Na reunião plenária, a norma brasileira
ples de estruturas de concreto (SC-5); materiais NBR 6118:2003, após esclarecimentos prestados
não tradicionais usados no reforço de estruturas pelo representante da ABNT, passou à aprecia-
de concreto (SC-6); e manutenção e reparo de ção final de conformidade com a Norma ISO
estruturas de concreto (SC-7). 19338 pelos representantes dos quatro países
A finalidade da reunião é chegar a de- revisores indicados pelo SC-4 – Performance
finições e normas que possibilitem a difusão Requirements for Structural Concrete. A decisão
internacional de aplicações adequadas da tec- sai até o final de agosto de 2007.
nologia do concreto estrutural, ajudando no seu A reunião contou com a participação de
melhoramento, disseminação e padronização. aproximadamente 20 profissionais brasileiros,
A reunião foi organizada pela Associa- entre professores, projetistas e outros enge-
ção Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e con- nheiros. A organização do evento foi muito
tou com o apoio técnico do Instituto Brasileiro elogiada pelos delegados internacionais.
do Concreto (IBRACON), que indicou seis dele- A próxima reunião da ISO/TC-71 será
gados para participar dos subcomitês técnicos, realizada em uma das três seguintes cidades:
inclusive o delegado-geral, Prof. Túlio Nogueira São Petersburbo (Rússia); Los Angeles (Estados
Bittencourt, que representou o presidente do Unidos); ou Alexandria (Egito).
IBRACON e a ABNT na reunião plenária. O IBRACON está estimulando e defen-
Os delegados nos subcomitês foram os dendo a participação de especialistas brasileiros
seguintes membros do IBRACON: nos subcomitês do ISO-TC71 como forma de
Prof. Wellington Reppette (SC-1) contribuir com a ABNT no contínuo aprimora-
Eng. Rubens Bittencourt (SC-3) mento das Normas Brasileiras.

104 REVISTA CONCRETo


Delegação Brasileira
participa das atividades
técnicas do
ACI Spring Convention
Os brasileiros marcaram presença na ACI Frank Guimarães Vaz de Campos,
Spring Convention, que ocorreu em Atlanta, engenheiro da Fuad Rassi Engenharia;
nos Estados Unidos, de 20 a 26 de maio de 2007, Paulo Helene, presidente do IBRACON.
sob organização do American Concrete Institute Durante a Convenção, na cerimônia de
(ACI). O evento contou com a participação de assinaturas de renovação e ampliação do Inter-
1500 profissionais e estudantes de 42 países. national Partner Agreement for Technical, Scientific
Os sócios do Instituto Brasileiro do and Institucional Collaboration, na qual estiveram
Concreto (IBRACON) marcaram forte presença presentes os engenheiros Paulo Helene e Sel-
nas reuniões abertas e presenciais dos Comitês mo Kuperman, foi renovada a parceria entre o
Técnicos do ACI, especialmente as relacionadas IBRACON e o ACI.
à segurança estrutural (ACI 348), a projetos (ACI Um dos pontos altos da Convenção foi
318) e a reforços com fibras (ACI 440). Partici- a palestra do eng. Frank Guimarães no 4th In-
param da Convenção: ternational Workshop on Structural Concrete
Augusto Carlos Vasconcelos, conselheiro

ATIVIDADES INTERNACIONAIS
in the Americas, mais uma das atividades da
do IBRACON e membro honorário do ACI Convenção do ACI. “A palestra sobre ‘high
(recebeu a máxima distinção do ACI a um performance concrete – more than strengh’
profissional estrangeiro); passou uma mensagem atual, moderna, enga-
Júlio Timerman, diretor de Certificação do jada e consciente da engenharia de concreto
IBRACON e ex-presidente da ABECE; brasileira”, observou Helene.
Selmo Kuperman, ex-presidente, Outro momento forte do evento foi a
conselheiro e assessor de relações Conferência Internacional de Fouad Yazbe-
internacionais do IBRACON, além de ck e Rabith Fakih sobre o concreto de alta
professor da USP; durabilidade no Palm Jumeirah Project, em
Fernando Stucchi, presidente do Comitê Dubai, nos Emirados Árabes, que apresen-
Técnico de Estruturas do IBRACON, tou o retrospecto até a fase de construção
professor da USP e engenheiro da EGT; atual por que passa a construção civil na-
Jussara Tanesi, gerente de projetos da quela região.
FHWA em Washington; Aproveitando a presença de pesquisa-
Sofia M.C. Diniz, professora adjunta do dores e profissionais tão ilustres, o Prof. Paulo
Departamento de Engenharia de Estruturas Helene convidou o engenheiro Pepe Izquier-
da Universidade Federal de Minas Gerais do, ex-presidente do ACI, para participar do
e presidente do Comitê Técnico “ACI 348 49CBC2007, que vai acontecer em Bento Gon-
Structural Safety”; çalves, de 1 a 5 de setembro de 2007.

REVISTA CONCRETO 105


IBRACON participa da
Comissão de Revisão de artigos
para o HPC 2008
Varsóvia,
Polônia

A reunião do Scientific and Technical professor da Universidade de Sheffield (Reino


Review Panel, comissão de revisores dos arti- Unido); T. Holland, ex-presidente do ACI; e V.
gos científicos encaminhados para o HPC 2008, Mohan Malhotra, do Canadá Center for Mineral
ocorreu em Varsóvia, na Polônia, de 16 a 22 de and Energy Tech (CANMET).
maio de 2007. A comissão selecionou 25 artigos O High Performance Concrete Structures
para a Special Publication do ACI (Publicação and Materials HPC 2008 é a quinta edição de
Especial do American Concrete Institute), 21 um evento científico internacional sobre o con-
para o Supplementary Proceedings (Publicação creto sediado no Brasil. A primeira Conferência
Suplementar) e 10 para Sessão Pôsteres de um aconteceu em Florianópolis, em 1996; dois anos
total de 140 resumos recebidos. depois, Gramado sediou a segunda edição do
Dois representantes do IBRACON toma- evento, quando os Proceedings (Anais do even-
ram parte na comissão: o presidente do Insti- to) ganharam o caráter de Special Publication
tuto, Paulo Helene, professor da Universidade do ACI, permanecendo nesta condição até
de São Paulo, e o conselheiro, Ênio Pazini, hoje. Em 2008, a V International Conference
professor da Universidade de Góias. Os outros ACI/CANMET on High Performance Concreto
membros foram: George Hoff, ex-presidente do Structures and Materials vai ser em Manaus,
American Concrete Institute (ACI); M. Basheer, de 18 a 22 de julho. O ACI e a CANMET são as
professor da Universidade Queens, do Reino entidades internacionais promotoras do evento;
Unido; N. Carino, representante do National da parte brasileira, participam a Universidade
Institute of Standards and Technology, dos Es- Estadual do Amazonas (UEA), a Universidade
tados Unidos; P.K. Mehta, professor da Univer- Federal de Goiás (UFG), a Universidade de São
sidade da Califórnia em Berkeley; R.N. Swamy, Paulo (USP) e o IBRACON.

106 REVISTA CONCRETo


Um mercado exigente precisa
de solução inteligente
Seja na elaboração, proteção ou recuperação
a BASF está presente no concreto,
oferecendo tecnologia e atendimento técnico de confiança,
porque o sucesso do cliente é o nosso objetivo.

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REVISTA CONCRETO 107

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Técnicas de caracterização
reológica de concretos
Juarez Hoppe Filho
Maria Alba Cincotto
Rafael Giuliano Pileggi
Escola Politécnica da Usp

Resumo de manuseio. O ensaio de abatimento do tron-


co de cone, empregado para esta finalidade,
mostra-se deficiente quanto à caracterização
A reologia, ciência que estuda o compor- reológica, não fornecendo informações rela-
tamento dos fluidos, pode ser empregada como cionadas ao fluxo do material, por exemplo, a
ferramenta de investigação do comportamento sua bombeabilidade. Este trabalho tem como
do concreto no estado fresco e permite amplo objetivo comentar as características de alguns
conhecimento da alteração decorrente da hidra- ensaios reológicos disponíveis para concreto,
tação em evolução para o estado endurecido. O apresentando suas vantagens e limitações,
estado de aglomeração/dispersão dos materiais correlacionando-os com parâmetros reológicos
cimentícios, o qual pode ser avaliado através dos fundamentais, a fim de ressaltar a necessidade
parâmetros reológicos fundamentais, que são a do aprimoramento das técnicas de caracteriza-
tensão de escoamento e a viscosidade plástica, ção do concreto no estado fresco.
e das características de fluxo, repercute direta-
mente sobre a microestrutura da pasta no estado
endurecido, e conseqüentemente sobre a dura- Abstract
bilidade das estruturas de concreto. Portanto,
é fundamental uma caracterização reométrica
prévia do concreto para se ter conhecimento do The rheology, science that studies a
comportamento do sistema durante o período fluid behavior, can be employed as an in-

108 REVISTA CONCRETo


de partículas sólidas – agregados – imersos em
um fluido viscoso – pasta cimentícia (matriz).
A própria pasta é um fluido heterogêneo
composto de grãos dos materiais cimentícios
imersos em água.
Essas partículas interagem quando
em meio aquoso e essas interações exercem
influência nas propriedades da mistura, tanto
em repouso quanto sob fluxo, as quais po-
dem apresentar diferentes comportamentos
possíveis, conforme a Figura 1, na qual estão
relacionadas a tensão de escoamento e a vis-
cosidade com a taxa de cisalhamento.
Podem também ocorrer alterações dos
comportamentos com o tempo, como a tixotro-
pia – diminuição da viscosidade com o tempo
– e a reopexia – aumento da viscosidade com
o tempo (Figura 2).
Com a reologia, ciência que estuda
o fluxo e deformação dos materiais quando
vestigation tool on fresh concrete behavior submetidos a uma tensão ou deformação
and allows ample knowledge of hydration externa, pode-se caracterizar as variações de
alteration in the evolution from fresh to hard comportamento dos concretos com o tempo e
state. The agglomeration/dispersion state of com diferentes taxas de cisalhamento [1].
cementitious materials can be evaluated throu- Em sistemas cimentícios a complexidade
gh fundamental rheological parameters, that reológica é ainda maior, pois, além das forças
it is yield stress and plastic viscosity, and the de superfície que atuam sobre as partículas,
flow characteristic, directly influence the paste há que se considerar a evolução da hidratação
microstructure in hard state, and consequently com o tempo.
on the durability of concrete structures. There- Com a evolução do enrijecimento da
fore, it is fundamental a rheometric concrete pasta, a tensão de escoamento e a viscosidade
characterization in order to have knowledge vão aumentando gradativamente e toda essa
of the system behavior during workability alteração afeta a reologia dos concretos.
period. The slump test, employed for this O comportamento reológico dos con-
finality, shows to be deficient for rheological cretos deve, portanto, ser adequado às
characterization with no information supply diferentes técnicas de aplicação, como por
relative to the material flow, for example its exemplo: bombeamento, projeção, vertimen-
pumpability. This work is aiming at to com- to, compactação a rolo, etc, tendo em vista as
ment the characteristics of some rheological diferentes solicitações físicas requeridas entre
tests available to concrete, emphasizing its as mesmas.
advantages and limitations, correlating them Tradicionalmente, a trabalhabilidade
with fundamental rheological parameters, to do concreto, mensurada pelo ensaio de aba-
stand out the need of improvement characte- timento no tronco de cone (slump), tem sido
rization techniques of fresh concrete. empregada para caracterização reológica
dos concretos, sendo este o único parâmetro
ARTIGO CIENTÍFICO
Palavras-chave: concreto, reologia, ensaios re- reológico utilizado para caracterizar o esta-
ológicos, tensão de escoamento, viscosidade. do fresco [2]. De fato, este ensaio torna-se
pouco expressivo quando aplicações mais
Keywords: concrete, rheology, rheological complexas estão envolvidas, visto que a de-
tests, yield stress, viscosity. terminação de outras características pode
ser requerida diante da finalidade a que se
destina o material [3].
1. Introdução A importância da caracterização do
estado fresco do concreto é refletida pelas pes-
quisas do NIST – National Institute of Standards
O concreto fresco pode ser considerado and Technology [2] [4], que discutiu e analisou
uma suspensão aquosa concentrada composta amplamente a evolução das diferentes técni-

REVISTA CONCRETO 109


cas de caracterização concreto fresco ou a
reológica do concreto, ação de vibração [4].
além de propor novas Mesmo limita-
técnicas de mensura- do à determinação de
ção e integrar diversos um único parâmetro,
centros de pesquisa cada método de en-
voltados para esse saio destina-se a ava-
tema, concluindo ser liar o comportamento
a reometria a melhor dos diferentes tipos
ferramenta para ade- de concreto para as
quação do concreto às mais variadas finali-
diferentes aplicações. dades. Assim sendo,
Atualmente estes ensaios fazem
existem diferentes mo- inferências indiretas
delos de reômetros, de reologia, abran-
variando em forma, gendo o grau de com-
tamanho, geometria, pactação do concre-
etc, que foram, em um to, segregação em
estudo coordenado concretos auto-aden-
pelo NIST [5], testados sáveis, capacidade de
na caracterização reo- preencher as fôrmas
lógica de um mesmo concreto, a fim de per- sob a ação de vibração, facilidade de escoar e
mitir a comparação dos resultados obtidos nas preencher os moldes sem vibração, etc.
diferentes configurações dos equipamentos. Segundo a ampla caracterização reali-
De modo a ter-se um panorama dos zada pelo NIST – National Institute of Standar-
diferentes métodos disponíveis e identificar-se ds and Technology - USA [2] [6], os métodos
as condições ideais de utilização de cada um, reológicos para ensaio de concretos frescos
este trabalho apresenta uma análise crítica dos estão classificados, de acordo com o procedi-
métodos mais relevantes para a caracterização mento de medida de fluxo ou de cisalhamento,
reológica dos concretos. em quatro categorias:
Testes de fluxo confinado: o material
flui em decorrência do seu peso próprio
2. Técnicas de caracterização ou sob aplicação de pressão através de
uma abertura restritiva.
Testes de fluxo livre: o material flui
A obtenção dos parâmetros reológicos devido ao seu peso próprio sem nenhum
fundamentais (tensão de escoamento e vis- confinamento ou um objeto penetra
cosidade aparente) pode ser feita através de o material em decorrência da força
ensaios que determinam, direta ou indireta- gravitacional.
mente, um parâmetro ou através de ensaios Testes de vibração: o material flui sob a
que determinam esses dois parâmetros [4]. aplicação de vibração.
Obviamente, os ensaios que determi- Testes de cisalhamento sob fluxo
nam a tensão de escoamento e a viscosidade rotacional: o material é cisalhado entre
aparente em função de diferentes taxas de ci- um sistema placa-placa, por rotação.
salhamento – mapas reológicos – caracterizam Na Tabela 1 estão listados, dentre os
o comportamento do concreto fresco de forma mais relevantes, alguns ensaios de caracteriza-
ampla, permitindo adequar as características ção reológica, indicando-se o(s) parâmetro(s)
do mesmo à sua aplicabilidade. fundamental(is) com o qual o ensaio está rela-
Comumente, os ensaios utilizados em cionado e a classificação segundo o NIST.
obra determinam apenas um parâmetro, na
maioria das vezes, relacionado com a tensão 2.1 Abatimento no tronco de cone
de escoamento, embora a correlação do valor
obtido e o correspondente parâmetro reoló- 2.1.1 Descrição do método
gico fundamental não seja óbvio.
Já os ensaios relacionados com a visco- Consiste em preencher um molde tron-
sidade aparente têm como tensão de cisalha- co-cônico (Figura 3), de dimensões padroniza-
mento a gravidade/peso próprio da amostra de das, em três camadas, aplicando-se 25 golpes

110 REVISTA CONCRETo


for inferior a esta. Desta forma, o concreto com
maior viscosidade demandará maior tempo
para atingir a mesma tensão de escoamento.
com soquete padrão em cada uma delas, sem Essa análise simples já demonstra a deficiência
atingir a placa de fundo (na 1ª camada) e sem em caracterizar o comportamento reológico
inserir o soquete nas camadas subjacentes, nas do concreto fresco pelo ensaio de abatimento,
demais camadas. Retira-se o molde e mensu- o qual pode estar sendo mensurado enquanto
ra-se a diferença de altura entre o molde e a taxa de cisalhamento ainda não é nula [7].
o tronco-cone formado pelo concreto, atri- No estado estático, pode-se afirmar
buindo-se esse valor como abatimento, um qualitativamente, que ambos os concretos são
indicativo da trabalhabilidade e da qualidade idênticos, visto que possuem mesmo abatimen-
do concreto fresco. to, entretanto, sob fluxo, o comportamento de
ambos será distinto, o que conduz também a
2.1.2 Princípio físico da medida propriedades reológicas diferentes.
Por outro lado, concretos com abati-
Ao retirar-se o molde, o concreto irá mentos distintos podem resultar em compor-
fluir, em função da sua viscosidade aparente, se tamentos sob fluxo bastante diferentes, de
seu peso próprio superar a tensão de escoamen- forma que o concreto com maior consistência,
to e irá parar quando a tensão por unidade de
área se igualar à tensão de escoamento.

2.1.3 Análise crítica

Embora seja um ensaio relacionado à


ARTIGO CIENTÍFICO
tensão de escoamento, a viscosidade durante
o fluxo exerce influência no comportamento
ao longo do ensaio.
Na Figura 4, observam-se dois concretos
com a mesma tensão de escoamento, isto é,
mesmo abatimento, mas com comportamento
sob fluxo diferente. Neste ensaio, a restrição
ao escoamento está no aumento progressivo
da área de suporte do peso próprio do mate-
rial, ou seja, o concreto irá fluir enquanto o
peso próprio superar a tensão de escoamento e
irá parar quando a tensão por unidade de área

REVISTA CONCRETO 111


isto é, menor abatimento ou maior tensão de É adequado para avaliar a trabalhabili-
escoamento pode, em certos casos, fluir mais dade de concretos com consistência moderada
facilmente que o concreto que apresenta e que não requerem vibração/impacto para
maior abatimento. Isto pode ser observado apresentarem abatimento. Não é adequado
na Figura 5, onde o concreto com maior para concretos auto-adensáveis, e concretos
tensão de escoamento, quando submetido a de alta consistência, destinados a barragens e
taxas crescentes de cisalhamento tem a sua pavimentos compactados a rolo.
viscosidade diminuída em maior intensidade
quando comparado com o concreto com maior 2.2 Abatimento Modificado
abatimento.
Portanto, verifica-se que não se pode 2.2.1 Descrição do método
atribuir o comportamento sob fluxo de con-
cretos distintos apenas pela mensuração da sua Com modificações no equipamento
tensão de escoamento. Desta forma é interes- para o ensaio de abatimento, conforme a
sante quantificar o comportamento do concre- Figura 6, Ferraris & de Larrard [8] passaram a
to em simulação idêntica à sua aplicação. medir o tempo de escoamento do concreto no
Com esse objetivo, Ferraris & de Larrard estado inicial, no molde, até o abatimento de
[8] fizeram a combinação experimental dos 100 mm, quando o disco não mais acompanha
resultados do abatimento e os resultados da o escoamento do material, em virtude de uma
tensão de escoamento, obtida em reômetro
restrição no eixo de suporte, e o concreto se-
BTRHEOM, e desenvolveram o modelo que
gue escoando até atingir o abatimento final.
correlaciona estes parâmetros para concretos
A restrição deste método está no abatimento
com abatimento superior a 100 mm, ou seja:
mínimo de 120 mm para permitir a leitura cor-
respondente ao abatimento de 100 mm.
Com os resultados de abatimento, tem-
τo – tensão de escoamento (Pa) po para abatimento de 100 mm (T) e com ensaio
s – abatimento (mm) preliminar de densidade do concreto no estado
ρ – densidade do concreto fresco (kg/m3) fresco, pode-se estimar a viscosidade do concre-
to com o auxílio das equações seguintes [9]:
2.1.4 Finalidade
200 mm < s < 260 mm
Embora apresente essas deficiências,
o ensaio de abatimento pode ser utilizado
para controle tecnológico dos concretos
entregues nos canteiros de obra, de forma 120 mm ≤ s ≤ 200 mm
a avaliar se volumes distintos apresentam as
mesmas características, consistência adequa-
da para evitar a segregação dos agregados µ – viscosidade (Pa.s)
graúdos, com trabalhabilidade compatível s – abatimento (mm)
com a sua aplicação. ρ – densidade do concreto fresco (kg/m3)

112 REVISTA CONCRETo


fluidez e que apresentem abatimento superior
a 120 mm.

2.3 Ensaios de escoamento confinado

Relacionam-se à viscosidade do concre-


to que, em fluxo confinado, devem ter a tensão
de escoamento superada pelo peso próprio da
amostra para entrar em regime de fluxo. Nos
ensaios (V-Funnel Test e Orimet Test), mensu-
ram-se os tempos para que todo o concreto
escoe através dos equipamentos.

2.3.1 V-funnel test

2.3.1.1 Descrição do método

Após a mistura, aproximadamente 12


litros de concreto são lançados no V-funnel
test (Figura 7), sem tampá-lo ou vibrá-lo, libe-
rando-se o fluxo para mensuração do tempo
2.2.2 Princípio físico da medida de escoamento, determinando-se a habilidade
de escoamento da fôrma do concreto fresco.
O escoamento do concreto, tendo como Essa mesma amostra ensaiada, é relançada no
tensão de cisalhamento o seu peso próprio, equipamento, deixando-a em repouso por 5
permite determinar a restrição imposta pelo minutos, procedendo-se então a liberação do
material ao seu fluxo, ou seja, sua viscosidade fluxo para mensuração da susceptibilidade à
aparente, através da mensuração do tempo segregação [10] [11].
para o concreto escoar por uma distância pré-
estabelecida. 2.3.1.2 Princípio físico da medida

2.2.3 Análise crítica Com a tensão de escoamento superada


pelo peso próprio do concreto, mensura-se a
Embora seja possível determinar os capacidade de fluxo através da fôrma, sem que
parâmetros reológicos fundamentais com o haja segregação. O comportamento sob fluxo
ensaio de abatimento, há restrição quanto permite avaliar, indiretamente, a viscosidade
ao abatimento mínimo, abatimento máximo aparente do concreto, a qual deve ser capaz
e tensão de escoamento máxima. Com isso, de permitir o fluxo total do material pelo
restringe-se a gama de concretos que podem equipamento e ainda manter o concreto coeso
ser avaliados através desse método, além de se para evitar a segregação. Para concretos auto-
inserir fatores extrínsecos, como a habilidade adensáveis o tempo mensurado normalmente
do operador em cronometrar o tempo de es- é inferior a 10 segundos.
coamento, as possíveis interferências ao livre
fluxo do disco que acompanha o escoamento 2.3.1.3 Análise crítica
do concreto, etc.
ARTIGO CIENTÍFICO
Como a tensão de cisalhamento impos- Embora a literatura associe o incremen-
ta ao fluxo do concreto é bastante restrita e to no tempo de escoamento, entre as medidas,
de curto espaço de tempo, o levantamento do à segregação do material [6], haja vista que o
perfil reológico do concreto fresco é inviável, repouso permite a sedimentação do agrega-
e sem essa análise criteriosa, o concreto não do graúdo vinculado à viscosidade da pasta,
estará completamente caracterizado. outros fenômenos podem alterar o tempo de
escoamento do concreto.
2.2.4 Finalidade Se os constituintes da pasta do concreto
estão bem dispersos, quando realizada a pri-
Pode ser utilizado para avaliar, além da meira determinação do tempo de escoamento,
tensão de escoamento (abatimento), a visco- os grãos não estarão aglomerados e o sistema,
sidade aparente de concretos com moderada conseqüentemente, apresentará menor vis-

REVISTA CONCRETO 113


cosidade plástica. Já no segundo ensaio, após abatimento e não segregáveis, ou seja, concre-
o repouso, dependendo da carga superficial tos mais coesos não podem ser ensaiados neste
desenvolvida nas partículas que compõem o equipamento. Embora alguns pesquisadores
sistema cimentício, pode haver aglomeração, utilizem vibradores tipo agulha para proceder
com repercussão direta sobre a tensão de es- ao adensamento de concretos que não são
coamento e viscosidade plástica, aumentando capazes de preencher o molde do equipa-
o tempo de escoamento. mento, variabilidades podem ser inseridas no
Se há incremento dos parâmetros re- comportamento do concreto que inviabilizam
ológicos fundamentais, haverá também uma sua utilização na caracterização de concretos
diminuição na tendência à segregação e não que não sejam auto-adensáveis.
se pode mais relacionar a maior demanda
de tempo para o fluxo com a segregação do 2.3.2 Orimet test
concreto.
Com esse comportamento tipo reopé- 2.3.2.1 Descrição do método
xico, a densidade do concreto, que aliada à
coluna montante, é responsável pela tensão O método consiste em lançar o concre-
imposta ao sistema, pode não ser capaz de to, sem adensar, dentro de um tubo de 10 cm
vencer a tensão de escoamento, no início do de diâmetro e 60 cm de altura, quantifican-
ensaio ou no transcorrer dele, e com isso o ma- do-se o tempo de fluxo para que o concreto
terial pára de escoar ou o faz com perturbações esvazie o equipamento através de gabaritos
que desacreditam o resultado do ensaio. de dimensões padrão acoplados na sua base;
Portanto, a densidade do concreto demandando, normalmente, entre 1,5 e 6 se-
é importante principalmente em ensaios gundos para concretos com grande fluidez. O
onde há forte aglomeração das partículas gabarito normalmente empregado possui 8 cm
cimentícias, conduzindo a um aumento da de diâmetro e permite ensaiar concretos com
viscosidade. Na presença de agregados leves agregado de diâmetro máximo de 20 mm. No
ou com o aumento da relação água/materiais caso de concretos coesivos, o tempo de fluxo
cimentícios, a densidade do concreto diminui pode superar 60 segundos. A quantidade de
e com a interação das partículas, o concreto amostra é de 7,5 litros e essa quantidade deve
pode aglomerar-se rapidamente, não mais ser ensaiada de 2 a 3 vezes para a obtenção
apresentando peso próprio capaz de superar do resultado final [6].
a tensão de escoamento, impedindo o ensaio Junto com o ensaio Orimet, pode-se
através desta técnica. utilizar o acessório J-Ring, de diâmetro 30
cm e altura das barras de 10 cm, espaçadas
2.3.1.4 Finalidade de dimensão 3 vezes o diâmetro máximo do
agregado graúdo, para avaliar a capacidade
Por esta técnica quantificam-se diferen- do concreto em contornar as barras – simu-
tes condições de viscosidade, porém de forma lando a armadura – sem segregar, porém não
indireta e limitada a concretos com grande resulta em informações suficientes para sanar
comportamentos atípicos aos esperados.

2.3.2.2 Princípio físico da medida

A ação da gravidade sobre o concreto


deve ser suficiente para vencer a tensão de
escoamento do material, porém com o fluxo
a massa diminui gradativamente e a tensão
de cisalhamento aplicada também diminui.
Assim sendo, a tensão gerada pelo peso do
concreto deve ser sempre superior à tensão
de escoamento para permitir a mensuração
indireta da viscosidade do concreto.

2.3.2.3 Análise crítica

No caso de concretos propensos à se-


gregação, o agregado graúdo pode acumu-

114 REVISTA CONCRETo


2.4 Ensaios de habilidade
de enchimento

Avaliam a capacidade de enchimento


das fôrmas de concretos auto-adensáveis, sem
a utilização de adensamento, ou seja, pela
potencialidade do concreto escoar em função
do seu peso próprio, sem segregar, transpondo
obstáculos que simulam as armaduras, e pre-
encher adequadamente o molde.
Como não há aplicação de energia de
vibração, o escoamento depende exclusiva-
mente do peso próprio do concreto e, se a con-
sistência – tensão de escoamento – for superior
à tensão gerada pela coluna montante de
concreto, o fluxo não ocorrerá. Embora esses
ensaios estejam atrelados ao tempo necessário
para preencher as fôrmas e indiretamente à
viscosidade, a tensão de escoamento limita os
concretos que podem ser ensaiados, ou seja, a
tensão de escoamento apresenta valor máxi-
mo, a partir do qual não é mais viável ensaiar
os concretos por esta técnica.
lar-se entorno do gabarito de saída e assim,
diminuir ou até mesmo impedir o fluxo do 2.4.1 Habilidade de enchimento – Caixa L
material [12].
Portanto, esse ensaio é capaz de men- 2.4.1.1 Descrição do método
surar determinados tipos de concreto e, se os
mesmos não se enquadrarem nesta faixa de No ensaio francês do Laboratoire
mensuração, sua aplicação passa a não ser Central des Ponts et Chaussess (Figura 9), o
conveniente. Embora relacionado indireta- concreto é lançado através de um funil, com
mente à viscosidade, não fornece subsídios que altura de queda de 40 cm, enchendo-se o com-
permitam modificar a composição da mistura partimento principal. Em seguida libera-se o
se a mesma não apresentar resultados satis- fluxo e avalia-se o tempo para o enchimento
fatórios mediante este método. Isto porque do molde. Com o intuito de simular a armadu-
não há como se determinar o comportamento ra, existem perpendicularmente ao sentido de
reológico das partículas cimentícias que inter- fluxo do concreto, malhas de aço de diâmetro
ferem diretamente na viscosidade da pasta do de 5 mm com espaçamento de 5 cm.
concreto e, com isso, mantém-se o empirismo Já na caixa L, originalmente desenvol-
que conduz o ensaio a um simples teste de vida no Japão (Figura 10), após o enchimen-
passa/não passa às propriedades requeridas to da coluna montante, libera-se o fluxo e
para o concreto. mensura-se o tempo que o concreto leva para
escoar 20 e 40 cm, além da altura final no
2.3.2.4 Finalidade compartimento principal vertical e a altura
final na extremidade oposta, determinando-se
ARTIGO CIENTÍFICO
É destinado a caracterizar concretos a relação H2/H1, comumente entre 0,80 e 0,85.
auto-adensáveis ou concretos que serão lan- Há como simulação da armadura, 3 barras de
çados em fôrmas com elevada densidade de aço de 12 mm de diâmetro espaçadas entre si
armadura e que apresentem fluidez suficiente de 3,5 cm [6].
para escoarem através dos gabaritos padrão
acoplados ao equipamento e que contornem 2.4.1.2 Princípio físico da medida
adequadamente o equipamento J-Ring, uti-
lizado como acessório ao ensaio. Como há Pela ação da gravidade e do peso pró-
restrição quanto ao diâmetro máximo do prio do concreto, o fluxo ocorrerá se a tensão
agregado (< 20mm), concretos que utilizam de escoamento for superada e, dependerá
brita 2 (25 mm) não podem ser caracterizados da viscosidade plástica do sistema. Quando a
por esta técnica. tensão de cisalhamento igualar-se à tensão de

REVISTA CONCRETO 115


escoamento, o sistema entrará em repouso e agregado graúdo nas camadas inferiores, em
não mais escoará. função da viscosidade do material.
Ao escoar e contornar as diferentes si- Como o transcorrer do ensaio depende
mulações de armaduras avalia-se o enchimento da viscosidade plástica do concreto, o intervalo
das fôrmas, a segregação e a capacidade de de tempo necessário para sua avaliação induz
envolver as barras de aço do concreto, sem uma série de modificações no seu comporta-
comprometer, posteriormente, no estado en- mento reológico devido às interações entre
durecido, a aderência concreto/armadura. as partículas e a evolução da hidratação,
Desta forma, tem-se um cenário que conforme ilustrado nas Figuras 1 e 2. De fato,
envolve, além das características reológicas, pode-se executar concretos auto-nivelantes
a distribuição granulométrica dos consti- que apresentem variadas velocidades de esco-
tuintes do concreto, a fim de permitir que a amento e, durante o tempo de fluxo, a altera-
argamassa carreie os agregados graúdos por ção do estado de dispersão/aglomeração das
entre as barras de aço, resultando em um partículas modificará os parâmetros reológicos
material homogêneo por toda a extensão fundamentais e por conseqüência, o compor-
do equipamento. tamento reológico dos concretos.
Uma granulometria inadequada acar- Essas variáveis não são diretamente
retará uma viscosidade incompatível com o abrangidas por este ensaio e, com isso, há
propósito do concreto auto-adensável e, por carência de informações que caracterizem o
conseguinte, alterações reológicas que repercu- concreto no estado fresco.
tem no desempenho a logo prazo do material,
tais como efeito parede, heterogeneidades na 2.4.1.4 Finalidade
distribuição dos constituintes, preenchimento
inadequado das fôrmas, etc. Adequado para concretos auto-adensáveis
que serão lançados em locais de difícil acesso, sub-
2.4.1.3 Análise crítica mersos, por exemplo, com alta concentração de
armadura e que não demandam adensamento.
No enchimento do compartimento Permite caracterizar concretos bombe-
vertical do modelo francês, através do funil áveis auto-nivelantes lançados em vigas/lajes
(meramente esquemático/ilustrativo na Figura que sofrerão apenas acabamento superficial.
9), há a imposição de fluxo confinado que pode
influenciar o comportamento do concreto. 2.5 Tempo de remoldagem
A altura de queda imposta ao material,
em ambos os modelos, até o fundo do equi- Os ensaios de remoldagem envolvem a
pamento pode induzir maior concentração de capacidade do concreto fluir e assumir a forma

116 REVISTA CONCRETo


dos é superada e o sistema entra em regime
de fluxo. A passagem da forma tronco-cônica
para a cilíndrica demanda um intervalo de
tempo que depende da viscosidade aparente
apresentada pelo material quando submetido
a uma taxa de cisalhamento constante, por vi-
bração controlada, embora não se tenha uma
correlação direta entre essas variáveis, devido
aos diferentes comportamentos reológicos dos
concretos, função da distribuição granulomé-
trica dos seus constituintes e da interação entre
as partículas cimentícias.

2.5.1.3 Análise crítica

Com o lançamento e adensamento do


concreto no molde tronco-cônico, pode-se
facilmente determinar o abatimento, previa-
mente à remoldagem.
desejada sob impacto ou vibração. Portanto, a Embora este último seja corriqueiramen-
intensidade da vibração deve superar a tensão de te utilizado na caracterização tecnológica de
escoamento e aplicar uma taxa de cisalhamento concretos, o comportamento sob fluxo depende
responsável pelo escoamento do concreto. de uma série de fatores que não são esclarecidos
com a mensuração do abatimento. Indireta-
2.5.1 Remoldagem de Powers (1932) mente, observa-se na remoldagem (fluxo), que
o comportamento de concretos distintos com
2.5.1.1 Descrição do método mesmo abatimento, pode ser bastante diferen-
te, conforme ilustrado na Figura 4.
O tronco de cone, idêntico ao utilizado no Essas diferenças podem variar significa-
abatimento, é moldado dentro de um molde cilín- tivamente em função dos materiais cimentícios
drico (30 cm de diâmetro e 20 cm de altura), sobre utilizados (cimento + adições minerais), de suas
o qual insere-se outro cilindro de menor diâmetro interações em meio alcalino e do estado de
(20 cm) que irá restringir a movimentação horizon- aglomeração das partículas, para determinada
tal do concreto, induzindo linhas de fluxo para vibração imposta, que caracteriza uma taxa de
o material (Figura 12), que terá que contornar o cisalhamento.
obstáculo para preencher o molde. Sobre o tronco Com a ação da vibração, a estrutura
de cone de concreto coloca-se um disco metálico aglomerada pode apresentar maior ou menor
de 1,9 kg, que contém uma marcação na haste resistência ao seu fluxo, haja vista que pequena
metálica para acompanhamento do ensaio. quantidade de energia pode instabilizar uma
O disco, sob queda livre restringida estrutura aglomerada e ser insignificante pe-
pelo escoamento do concreto submetido a rante outra de mesma tensão de escoamento.
impactos na mesa de consistência (1 queda Através deste ensaio ou pelo VeBe
por segundo), servirá como parâmetro para (aperfeiçoamento do ensaio de Powers) pode-
a determinação do número de golpes para a se avaliar o comportamento sob fluxo de con-
remoldagem [13]. cretos que tenham diferentes abatimentos e
ARTIGO CIENTÍFICO
Posteriormente o ensaio de Powers que resultam em escoamentos idênticos ou
foi modificado por Wuerpel, que substituiu a bastante distintos quando submetidos a uma
mesa de consistência por uma mesa vibratória. determinada taxa de cisalhamento, confor-
Então, o tempo de remoldagem é atingido me a Figura 5. Contudo, cabe salientar que a
quando o concreto sob a placa, que está sendo viscosidade aparente obtida por estes ensaios
vibrado, atingir a forma cilíndrica, identificada está restrita a uma única taxa de cisalhamento
pela marcação na haste do disco. e com isso não se pode estimar o comporta-
mento reológico em taxas variáveis.
2.5.1.2 Princípio físico da medida Portanto, a técnica da remoldagem
evidencia os diferentes comportamentos sob
Com a aplicação de energia de vibração, fluxo, mas não esclarece as causas que condu-
a tensão de escoamento dos concretos ensaia- zem aos respectivos resultados.

REVISTA CONCRETO 117


2.5.1.4 Finalidade

Os ensaios de remoldagem são ade-


quados para concretos com baixo valor de
abatimento (menor que 5 cm) e que deman-
dam energia externa para proporcionar o
escoamento do material [6].

3. Reômetros

O primeiro registro histórico de reô-


metro coaxial foi o Plastômetro de Powers e
Wiler que, durante as décadas de 1930/1940,
utilizavam esse equipamento para mensurar
o torque aplicado pelo concreto no cilindro
interno do equipamento, conforme se pode
observar através da representação esquemáti-
ca da Figura 13. A cuba externa rotaciona sob
diferentes velocidades e também pode operar
com movimentos oscilatórios, o que induz o
concreto a gerar esforços no cilindro interno. axial ou movimento planetário) em função da
Com o início da 2ª Guerra Mundial, o consistência/abatimento do concreto [2] [6].
aprimoramento do equipamento foi suspenso, Com a evolução dos equipamentos,
entretanto, o seu princípio serviu para o de- diferentes reômetros foram desenvolvidos,
senvolvimento dos reômetros mais modernos cada um com suas particularidades, visando
utilizados atualmente na caracterização reo- englobar a maior quantidade de variáveis que
lógica dos concretos [6]. atuam no estado fresco do concreto.
Nos anos 70, Tattersall desenvolveu o A fim de agregar esforços para a ca-
teste de dois pontos baseado no modelo de racterização reológica dos concretos, o NIST
Bingham, substituindo ao longo dos anos o – National Institute of Standards and Techno-
modelo coaxial (cilindros concêntricos) por logy – USA – procurou avaliar a reologia de um
hastes com aletas inseridas no concreto. Estas concreto fresco padrão através das diferentes
hastes dependem do tipo de concreto, ou seja, configurações de reômetros desenvolvidas nos
apresentam formas e movimentos (rotação centros de pesquisas voltados ao tema.
A correlação entre eles demonstrou
que há uma tendência nos resultados, em-
bora os valores absolutos para tensão de
escoamento e viscosidade não sejam to-
talmente idênticos. Essas variações podem
ser decorrentes de inúmeros fatores que
incluem a geometria do equipamento (eixos
concêntricos, placas paralelas, tipos de ale-
tas, etc), quantidade de amostra, dimensões,
etc, o que demanda pesquisas e desenvol-
vimento das técnicas de mensuração para
sanar esses desvios.
Entretanto, a reometria é a tendência
atual para avaliação do comportamento no
estado fresco do concreto e sua utilização deve
ser aprimorada para dar suporte à dosagem de
concretos de moderna tecnologia.
Com a utilização dos reômetros, obtêm-
se os mapas reológicos que permitem avaliar
precisamente o comportamento a baixas taxas
de cisalhamento, conforme a Figura 14.

118 REVISTA CONCRETo


A cuba externa gira e o cilindro central
faz a medição do torque apenas na região
central para evitar as distorções oriundas das
camadas de fundo e de superfície. Demanda
uma amostra de aproximadamente 17 litros
[2] [6].

3.1.2 Princípio físico da medida

Ao se rotacionar a cuba induz-se um


torque no cilindro interno, obtendo-se com
a variação da velocidade angular os corres-
pondentes torques gerados pelo concreto nas
aletas do cilindro concêntrico.

3.1.3 Análise crítica

Em concretos com alta tensão de es-


coamento, pode haver o deslizamento entre
camadas do concreto, ou seja, pode-se ter um
cisalhamento total do material na interface
do cilindro interno com a camada de concreto
situada entre os cilindros concêntricos, o que
inviabiliza a realização de ensaio em concretos
com baixo abatimento, conforme pode ser
observado na Figura 16.

3.1.4 Finalidade

É bastante apropriado para concretos


Estes mapas reológicos permitem an- com abatimento superior a 12 cm, mas pode
tever o comportamento no estado fresco do ser utilizado para concretos com abatimento
concreto e, assim, atuar sobre a seleção dos a partir de 5 e 6 cm.
constituintes e na proporção de mistura para
adequar a aplicabilidade do mesmo às impo-
sições de projeto.
Convém salientar que a determinação
dos mapas reológicos das diferentes propor-
ções de mistura, com os mais variados tipos de
materiais, demanda pequena quantidade de
concreto, e permite ter-se uma base de dados
que serve como desenvolvimento de produto
ou conhecimento prévio de tal mistura execu-
tada, delimitando tal aplicabilidade.
Na seqüência estão demonstrados al-
ARTIGO CIENTÍFICO
guns reômetros desenvolvidos em pesquisas
internacionais utilizados no estudo interlabo-
ratorial coordenado pelo NIST.

3.1 Viscosímetro BML

3.1.1 Descrição do método

Desenvolvido na Noruega em 1987


(Figura 15), é um reômetro do tipo coaxial
que permite substituir as peças em função do
tamanho máximo do agregado.

REVISTA CONCRETO 119


3.2.4 Finalidade

Recomendado para concretos com


slump superior a 20 cm (auto-adensáveis).

3.3 Reômetro BTRHEOM

3.3.1 Descrição do método

Desenvolvido na França, o BTRHEOM


é um reômetro de placas paralelas com um
container de 24 cm de diâmetro e 10 cm de
altura, onde as lâminas da metade inferior são
fixas e as da parte superior giram, cisalhando
a amostra (Figura 18) [14].

3.3.2 Princípio físico da medida

É um equipamento do tipo placa-placa,


de rotação axial, que cisalha o material através
de velocidades angulares controladas com a
correspondente mensuração do torque gerado
pelo concreto em oposição ao seu escoamento.
3.2 Reômetro IBB (Canadá) Por gerar linhas de fluxo paralelas possibilita
a determinação da viscosidade e da tensão de
3.2.1 Descrição do método escoamento.

Neste equipamento o concreto é lan- 3.3.3 Análise crítica


çado em uma cuba fixa, onde se imerge uma
aleta em forma de “H”, que pode operar em Este equipamento dispõe de vibração
rotação axial ou movimento planetário, cisa- na sua base para consolidar o concreto e
lhando o material a taxas controladas (Figura avaliar o efeito da vibração sobre os pa-
17) [6]. râmetros reológicos. Com isso é possível

3.2.2 Princípio físico da medida

Ao se impor rotações controladas na


aleta central, determina-se o torque necessário
para manter a taxa de cisalhamento imposta,
obtendo-se assim a correlação velocidade an-
gular versus torque. Apresenta versão portátil
para ser utilizado nos canteiros de obra.

3.2.3 Análise crítica

Este equipamento permite ensaiar


concretos com agregados de diâmetro má-
ximo de 25 mm; apresenta rotação axial ou
movimento planetário, o que propicia maior
homogeneização da amostra durante o ensaio,
evitando inconvenientes como o cisalhamento
da porção central da amostra, em contato com
a aleta, em relação ao restante do concreto.
Contudo não permite modelar a visco-
sidade e a tensão de escoamento com precisão
porque não gera linhas de fluxo paralelas du-
rante o escoamento do concreto na cuba.

120 REVISTA CONCRETo


3.4.2 Caminhões betoneira
como reômetros

Outra tendência na caracterização


reológica de concretos está na utilização dos
caminhões betoneira como reômetros. Para
essa avaliação é necessário o conhecimento da
quantidade de energia consumida para gerar
o torque que cisalha a massa de concreto além
do número de revoluções em decorrência do
torque aplicado. O torque pode ser mensurado
através do acompanhamento da pressão do
óleo responsável pelo giro da betoneira.
Obviamente, há necessidade de que
o equipamento instalado possa operar em
diferentes velocidades de giro, a fim de apli-
ensaiar concretos que não sejam auto-aden- car diferentes taxas de cisalhamento à massa
sáveis, ou seja, que apresentam abatimento de concreto. Amziane et al. [16] ensaiaram
superior a 10 cm, padronizando-se as con- diferentes concretos através de um caminhão
dições de adensamento e vibração durante betoneira e ao mesmo tempo utilizaram um
o ensaio. Concretos muito secos (baixo
abatimento) não podem ser ensaiados neste
equipamento.

3.3.4 Finalidade

É recomendado para concretos com


slump mínimo de 10 cm [6].

3.4 Tendências atuais

3.4.1 Reômetros portáteis

Com o intuito de disponibilizar recursos


para a caracterização reológica dos concretos
nos locais de trabalho, instituições de pesquisa
vem desenvolvendo protótipos de reômetros
portáteis que dispensam grandes equipamen-
tos e que podem ser facilmente operados, alia-
dos a custos mais acessíveis para as empresas
de construção [3] [15].
Na Irlanda desenvolveu-se um protó-
tipo manual (Figura 19) que aplica 5 dife-
rentes taxas de cisalhamento ao concreto e
armazena os resultados em um aquisitor de
ARTIGO CIENTÍFICO
dados [3]. Embora prático, há distorções nos
resultados em decorrência da incapacidade
do operador em prover suficiente restrição
rotacional imposta pelo cisalhamento do
concreto.
Com o objetivo de sanar o inconve-
niente dos ruídos, aprimorou-se o protótipo e,
conforme a Figura 20, verifica-se que há maior
rigidez do equipamento quando esse passa a
operar com 4 pontos de apoios, lembrando
que há dispositivo que impede a operação do
equipamento sem uma das mãos.

REVISTA CONCRETO 121


contento suas obrigações na aplicação/execu-
ção da obra e ser durável a longo prazo.
Assim sendo, houve necessidade de
aprimoramento da mão-de-obra, de equipa-
mentos e de materiais de modo a permitir
a execução com viabilidade econômica e
técnica, entretanto, o objeto de interesse e
que deve atender às necessidades continua
tendo seu controle de qualidade baseado
em ensaios que não satisfazem às exigências
tecnológicas. Por isso, o ensaio de abatimento
deve ter sua finalidade contestada já que não
há como se ter subsídios suficientes, através
do seu resultado, que justifique e ampare
tecnicamente a caracterização do concreto
para as complexas práticas de engenharia
utilizadas nos dias atuais.
Para a viabilidade de um empreendi-
mento que demande um conhecimento técnico
aprimorado, não é possível que se trate o ma-
terial de forma empírica, com a realização de
testes de hipótese para adequar o concreto à
finalidade desejada.
Logo, com o intuito de se ter meca-
nismos consistentes para a dosagem de um
concreto adequado para essas demandas
complexas é que se faz uso da caracterização
reológica, através de reômetros que permitem
simular, adequar e fundamentar as decisões
tomadas para que o concreto consiga atender
à função requerida.
Portanto, a tendência é de que a
dosagem dos concretos, além da resistência
à compressão, tomada como primordial, e
reômetro portátil (ICAR rheometer – Figura 21) dos parâmetros de durabilidade, incorpore
para relacionar os resultados obtidos. a caracterização reológica como fator fun-
A correlação dos valores de tensão de damental para a garantia da qualidade e do
escoamento obtidos pelo reômetro ICAR e pelo desempenho com a maximização do potencial
caminhão betoneira pode ser considerada mui- dos materiais, haja vista que, uma adequada
to boa, entretanto, os valores de viscosidade dispersão dos aglomerados, máxima redução
não apresentaram boa correlação. da quantidade de água de amassamento e
Mediante os resultados obtidos com o trabalhabilidade adequada durante a exe-
caminhão betoneira concluiu-se que, embo- cução da estrutura garantem um elevado
ra as dimensões e a geometria da betoneira desempenho no estado endurecido.
possam ser aprimoradas, é possível quantificar Para a implementação deste avanço
as variações na tensão de escoamento para os tecnológico, será necessário ensaiar reologica-
diferentes tipos de concreto. Já a mensuração mente as proporções de mistura, o que poderá
da viscosidade requer alterações na betoneira e ser feito em centros de desenvolvimento ou
maior precisão na quantificação das variáveis. até mesmo em centrais de concreto, onde um
reômetro mais robusto e de precisão acurada
3.5 Perspectivas futuras servirá de ferramenta para adequar os parâ-
metros de projeto com a trabalhabilidade,
Com o avanço da tecnologia do con- destino e funcionalidade durante a execução.
creto e com imposições sociais cada vez mais Já para o controle tecnológico e comprovação
complexas, surgiu uma ampla demanda por dos requisitos reológicos, reômetros portáteis
concretos especiais que necessitam de carac- utilizados nos canteiros de obra servirão para
terísticas específicas a fim de desempenhar a intervir e sanar dispersões que podem ser

122 REVISTA CONCRETo


Mono-ponto: ensaio que está relacionado a uma única taxa de cisalhamento, permitindo a mensuração
indireta de um parâmetro reológico fundamental (tensão de escoamento ou viscosidade).

Multiponto: ensaio que permite a determinação da tensão de escoamento e das viscosidades plásticas para as
correspondentes taxas de cisalhamento.

indesejáveis durante o manuseio do concreto se avaliar as incompatibilidades reológicas


até o seu acabamento. que, muitas vezes, oneram o processo de exe-
Contudo, os reômetros citados neste cução de estruturas de concreto. Essa ampla
trabalho não permitem realizar a mistura do abrangência das características reológicas é
concreto e apenas ensaiá-lo, o que pode inserir obtida através de ensaios com reômetros, os
fatores extrínsecos que levam à disparidade quais permitem determinar a tensão de esco-
de resultados e prejudicam as comparações amento e a viscosidade plástica do material a
entre as diferentes configurações de equipa- diferentes taxas de cisalhamento, podendo-se
mentos. desvincular o comportamento do concreto do
Neste sentido, a Escola Politécnica/USP modelo de Bingham que, muitas vezes, não
está desenvolvendo um reômetro capaz de representa o real comportamento do material
propiciar a mistura e ensaiar o concreto, tra- quando o mesmo escoa.
zendo um avanço significativo para a caracte- Para finalizar, a Tabela 2 sintetiza
rização reológica dos concretos utilizados na as técnicas de caracterização reológica dos
construção civil. concretos, destacando-se que para concretos
compactados com rolo ainda não se tem uma
ferramenta adequada para caracterização no
4. Considerações finais estado fresco.
Obviamente, existem inúmeras outras
técnicas de caracterização que não foram co-
Existem inúmeros métodos para ava- mentadas neste trabalho, mas que podem ser
liação do comportamento reológico dos con- úteis se convenientemente empregadas.
ARTIGO CIENTÍFICO
cretos que apenas fazem inferências sobre os Convém salientar que embora o abati-
parâmetros fundamentais, mas que podem mento modificado seja um ensaio multiponto,
ser empregados para se ter conhecimento não é possível ensaiar o concreto a diferentes
adequado das composições sobre determina- taxas de cisalhamento (apenas 1 taxa de cisa-
das aplicações/finalidades. Estes métodos não lhamento), mas pode-se relacionar o ensaio
fornecem subsídios suficientes que permitam com a tensão de escoamento e com a viscosi-
atuar sobre as composições a fim de sanar de- dade aparente.
ficiências reológicas que dificultam a execução Já com os reômetros pode-se determi-
de determinadas tarefas. nar além da tensão de escoamento, a visco-
Portanto, o conhecimento do compor- sidade plástica em uma larga faixa de taxas
tamento do concreto sob fluxo, a diferentes de cisalhamento, obtendo-se assim os mapas
taxas de cisalhamento, é preponderante para reológicos que caracterizam o concreto.

REVISTA CONCRETO 123


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Standards and Technology – NISTIR 6094. 71 pág. February 1998.
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concrete incorporating new viscosity modifying admixtures. Cement and Concrete Research, Vol. 34,
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[12] SONEBI, M. Medium strength self-compacting concrete containing fly ash: modeling using factorial
experimental plans. Cement and Concrete Research, Vol. 34, p. 1199 – 1208, 2004.
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2000. 32 pág. (ET-15).
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Vol. 26, Nº 2, p. 283 – 294, 1996.
[15] KOELHER, E. P.; FOWLER, D. W. Development of a portable rheometer for fresh portland cement concrete.
International Center for Aggregates Research – ICAR. Report nº ICAR 105-3F, August 2004.
[16] AMZIANE, S.; FERRARIS, C. F.; KOEHLERE. P. Measurement of workability of fresh concrete using a mixing
truck. Journal of research of the National Institute of Standards and Technology. Volume 110, Number 1,
p. 55 – 66, January-February 2005.

3º Concurso Ousadia
Concurso IBRACON para estudantes de Arquitetura e Engenharia
Concurso IBRACON para estudantes de Arquitetura e Engenharia IBRACON

Desafio arquitetônico e estrutural: Projeto de torre e posto de controle


de acesso de veículos e pessoas em um parque em Bento Gonçalves (RS).

Área – Os projetos inscritos devem contemplar


uma área pertencente à FUNDAPARQUE, que
abriga o Centro de Eventos onde será realizado
o 49º CBC.

Objetivo – Incentivar o intercâmbio de idéias


entre estudantes de Arquitetura e Engenharia.

INSCRIÇÕES DOS PROJETOS


http://www.ibracon.org.br/eventos/concursos/
ousadia/ad_ousadia.asp

Leia o regulamento, na página do Concurso no


124 REVISTA CONCRETo
site www.ibracon.org.br
MWRDGC – O maior distrito
sanitário do mundo
O maior complexo de estações de tra-
tamento de água e esgoto do mundo, desde
1970, está localizado na região metropolitana
de Chicago, nos Estados Unidos. Sob responsa-
bilidade do Metropolitan Sanitary District of
Greater Chicago, o complexo atende, além de
Chicago, outras 114 cidades e vilarejos e está
ligado a outros 20 distritos sanitários locais,
abrangendo uma extensão de 2.222 km2.
O marco inaugural do complexo foi a
construção de canais para fazer o rio Chica-
go mudar o sentido de seu percurso. A obra
atendeu um clamor público para uma solução
permanente para o problema de suprimento
de água e de tratamento de esgoto da cida- para minimizar o problema. Isto fez o Metro-
de, em razão de seu crescimento industrial politan Sanitary District implementar um plano
e populacional ininterrupto. Em 1885, uma moderno e de grande escala para a cidade,

RECORDES DA ENGENHARIA DE CONCRETO


forte tempestade fez o esgoto refluir do Lago que começou com a Estação de Tratamento de
Michigan para encanamentos e suprimentos de Calumet, em 1922, e foi concluído com a cons-
água residenciais, o que resultou em epidemias trução da Estação de Tratamento de Esgoto de
de cólera e disenteria, levando à morte 9000 Stickney, a maior do mundo, com capacidade
pessoas (12% da população, na época). atual de tratamento médio de 3,6 bilhões de
Um sistema de três canais foi construído litros por dia.
de 1892 a 1922. O primeiro deles – Sanitary and A Estação de Tratamento de Esgoto
Ship Canal – com 8,5m de comprimento, 7,2m de Stickney usa o processo do lodo ativo,
de profundidade e 48,7m de largura, mudou o por meio de dois sistemas de tratamento: o
sentido do fluxo do rio, para o rio Mississipi e o sistema de tratamento de Imhoff e o sistema
Golfo do México. Em 1910, ficou pronto o Nor- anaeróbico de tratamento. O Distrito Me-
th Shore Channel e, em tropolitano Sanitário da
1922, foi a vez do Cal-Sag Grande Chicago ganhou,
Channel. O complexo de da Sociedade Civil Ame-
túneis possibilitou a disso- ricana de Engenheiros, o
lução e aeração do esgoto prêmio de uma das sete
doméstico e industrial da maravilhas da engenharia
cidade e representou o dos Estados Unidos.
que havia disponível para
a engenharia ambiental Dados técnicos
naqueles tempos. Capacidade de
Mas, o contínuo tratamento: 6,8 bilhões
crescimento da cidade de litros/dia
logo trouxe o problema Equipamentos: 7 Estações
do tratamento de água e de Tratamento de Água
esgoto à discussão pública e Esgoto; 23 Estações de
novamente. Em 1930, a Bombeamento, 164 km
justiça local ordenou que de Túneis e Interceptores;
as autoridades competen- 891 km
tes construíssem plantas Beneficiados: 10,35
de tratamento de esgoto milhões de pessoas

REVISTA CONCRETO 125


Projeto Tietê: obras de saneamento
para atender 18 milhões de pessoas
O Projeto Tietê às construções de tú-
é o maior programa neis viários de metrôs.
de saneamento am- Com elas será possível
biental do país. Con- interligar o sistema
siste num conjunto de coleta às estações
de obras, a cargo da de tratamento que
Companhia de Sane- foram construídas
amento do Estado de na primeira etapa.
São Paulo (SABESP), Serão mais 36km de
destinadas a ampliar a interceptores; 110km
capacidade de coleta, de coletores-tronco;
interceptação e trata- 1,2mil km de redes
mento de esgotos da coletoras; e 290 mil
Região Metropolitana ligações domiciliares
de São Paulo. Seu pro- de esgotos. O prazo
pósito é o de coletar para o término desta
e tratar os esgotos de cerca de 18 milhões de etapa é o primeiro semestre de 2008.
pessoas, melhorando as condições ambientais No final das obras, a capacidade das es-
e de saúde pública da região. tações de tratamento passará de 12,8 mil litros
A primeira etapa do projeto, executada de esgotos tratados por segundo para 15,4 mil
entre 1992 e 1998, demandou investimentos de litros, o que representa que 70% dos esgotos
US$ 1,1 bilhão, que resultou em três estações lançados serão tratados na RMSP.
de tratamento de esgoto em São Miguel, ABC São duas as tecnologias mais avançadas
e Parque Novo Mundo; na ampliação da capa- usadas neste tipo de obra. A tecnologia de tu-
cidade de tratamento da Estação de Barueri bos cravados (pipe jacking) consiste no uso de
de 7 para 9,5 mil litros de esgotos tratados tubos de concreto pré-fabricados com ponta
por segundo; e na construção de 1,5km de de concreto e bolsa de aço, que são cravados
redes coletoras, 315km de coletores-tronco, no subsolo. Estes tubos são fabricados com ci-
37km de interceptores e em mais de 250 mil mento resistente a sulfatos, com baixa absorção
ligações domiciliares. Sem falar do Emissário de água (abaixo de 4%), e concreto de alta
Pinheiros-Leopoldina, uma tubulação de 3m resistência (acima de 45 MPa), o que garante
de diâmetro e 7,5km de extensão, responsável uma longa vida útil ao produto. Em função do
por receber os esgotos de quase toda bacia do uso de junta elástica entre os tubos, obtém-se
Rio Pinheiros para serem tratados na Estação estanqueidade total, evitando-se infiltrações
de Barueri. ou vazamentos na rede.
O resultado mais visível pode ser visto Quando as condições geológicas do
nas cidades de Salto e Itu: seus moradores pas- terreno impossibilitam o uso do pipe jacking
saram a ver peixes no trecho do rio que corta ou o projeto demanda canais com diâmetros
as cidades. Outros benefícios: 250 mil famílias superiores a 1500mm, as empreiteiras fazem
passaram a contar com serviço de coleta de es- uso da tecnologia austríaca de túneis (NATM),
gotos; aumento do índice coletado de esgoto semelhante a utilizada nas obras do metrô com
na RMSP de 70 para 80%; e aumento do índice concreto projetado.
de esgoto tratado na RMSP de 24 para 62%.
Desde 2002, a SABESP executa a se- Dados técnicos
gunda etapa do projeto, que possibilitará Capacidade de coleta: 20,7 mil litros/segundo
que 350 milhões de litros de esgoto por dia Capacidade de tratamento: 15,4 mil litros/
deixem de ser lançados nos rios. Nesta etapa segundo
serão investidos US$ 400 milhões, metade dos Coletores-tronco: 425 km
quais são recursos do Banco Interamericano de Interceptores: 73 km
Desenvolvimento, para a construção de exten- Redes coletoras: 2,7 km
sas tubulações de esgotos, que se comparam Beneficiados: 18 milhões de pessoas

126 REVISTA CONCRETo


Beleza
Segurança
Durabilidade

Atestado por
90 milhões
de votos.

O Concreto tem respeito pelo


Meio Ambiente por sua capacidade de:
n Ser reciclável
n Incorporar os rejeitos industriais
n Confinar materiais perigosos

O Concreto é o material estrutural mais


adequado para uma construção sustentável.

CT-MAB
128 REVISTA CONCRETo

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