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V I C T O R C A N D I D O

Universidade Federal do Ceará


Curso de Arquitetura e Urbanismo
Trabalho Final de Graduação

Victor Arthur Cândido Oliveira Barreto


com orientação de Romeu Duarte
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

B264c Barreto, Victor Arthur Cândido Oliveira.


Centro de Inovação e Cultura Empreendedora / Victor Arthur Cândido Oliveira Barreto. - 2017.
162 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia,


Curso de Arquitetura e Urbanismo, Fortaleza, 2017.
Orientação: Prof. Dr. Romeu Duarte Junior.

1. Empreendedorismo. 2. Inovação. 3. Desenvolvimento Socioeconômico. 4. Patrimônio. 5. Arquitetura.


I. Título.

CDD720
Banca Examinadora:

Prof. Dr. Romeu Duarte Junior


Orientador

Profª. Drª. Margarida Julia Farias de Salles Andrade


Professora convidada

Arq. Drª. Neliza Maria e Silva Romcy


Arquiteta convidada

Victor Arthur Cândido Oliveira Barreto


Fortaleza, dezembro de 2017.
Para Nice.
AGRADECIMENTOS

À minha família, por sempre acreditar e apostar em Ao Movimento Empresa Júnior, Consultec Jr, FEJECE
mim e, em especial, aos meus pais, Cleide e Gildi- e Brasil Júnior pela experiência sem paralelo, que
van, exemplos máximos de humildade, generosida- me guiou à escolha desse tema e que me formou
de e perseverança sem os quais eu não seria nada. como líder e gestor através de valores tão importan-
Obrigado por todo o apoio, presença, carinho e tes, me tornando um empreendedor comprometido
amor que me foram dados por toda a minha vida. e capaz de transformar o Brasil.

À Alana, pela paciência, pela amizade, pelo afeto Aos meus professores e mestres da Universidade
e por me fazer um homem melhor. Obrigado por Federal do Ceará, que tanto contribuíram na minha
todo o seu amor. formação profissional, o meu mais profundo agra-
decimento pelo sacrifício diário e pelo aprendiza-
À Raíssa, irmã de coração, mentora, sócia, parceira do; ao Eng. Paulo Cunha do Nascimento, por todo
e, sobretudo, amiga. o auxílio no desenvolvimento deste projeto; à Profª.
Dra. Margarida Julia Farias de Salles Andrade, por
Ao meu primo-irmão, Pedro Lucca, que me inspirou
sua presença na minha educação histórica enquan-
a encarar essa jornada pela Arquitetura e Urbanis-
to arquiteto e pela sua participação na banca; à
mo.
arquiteta Dra. Neliza Maria e Silva Romcy pela so-
Ao GA: Alana, Isadora, Rafaella, Raquel, Renata e licitude em participar da banca de forma tão gentil.
Yuri. Obrigado pelo companheirismo, pela alegria
compartilhada e pelo convívio nesses 6 anos. Ao Prof. Dr. Romeu Duarte Junior, por aceitar par-
ticipar dessa empreitada, pela paciência e pela
À Allan, Ana Paula, Bárbara, Bianca, Catarina, orientação em todos esses meses de trabalho. Muito
Eduardo, Ianna, Igor, João Fernandes, Gabriel, Lu- obrigado!
cas e Raquel pela amizade, pelo apoio e por me
fazerem crescer tanto como líder, liderado, profis- A todos que de alguma forma contribuíram para a
sional e como ser humano. realização deste trabalho.
RESUMO

O desenvolvimento socioeconômico e a necessida- Assim, este trabalho é a convergência do interesse


de de recuperar um objeto arquitetônico de grande individual com a necessidade coletiva, erguendo-
valor para a história da capital cearense foram os -se com a finalidade de ser uma proposta para o
pontos de partida deste trabalho, que busca resol- primeiro passo rumo à edificação do ecossistema
ver estas questões através da materialização de um empreendedor no Ceará.
espaço que integre diferentes atores do cenário em-
preendedor local enquanto reabilita um edifício his- Palavras-chave: Empreendedorismo; Inovação; Pa-
tórico, resgatando seu uso original e incentivando trimônio; Reabilitação; Desenvolvimento Socioeco-
a ocupação do Centro Histórico de Fortaleza por nômico; Políticas Públicas; Estratégia; Co-Working;
novas empresas, negócios e empreendedores. Integração.
[ 1 ] APRESENTAÇÃO

Justificativa [p. 17]

Objetivo geral [p. 19]

Objestivos específicos [p. 19]

[ 2 ] O EMPREENDEDORISMO E A INOVAÇÃO

O desenvolvimento de um ecossistema empreendedor no Ceará [p. 23]

O conceito da Hélice Tríplice como alicerce do ecossistema empreendedor [p. 37]

[ 3 ] A ÁREA ESCOLHIDA

Histórico do Centro [p. 49]

Diagnóstico [p. 55]

[ 4 ] O CENTRO DE INOVAÇÃO E CULTURA EMPREENDEDORA

Memorial descritivo [p. 73]

Programa de atividades [p. 77]

Programa de necessidades [p. 79]

Referências [p. 81]

Escola Jesus, Maria e José [p. 89]


[ 5 ] O PROJETO

Partido e conceituação [p. 109]

Estudo ambiental [p. 115]

Projeto arquitetônico [p. 116]

Estudo estrutural e materialidade [p. 137]

Estudo condicionamento ambiental [p. 141]

[ 6 ] CONSIDERAÇÕES FINAIS

[p. 147]

[+]

Referências bibliográficas [p. 151]

Referências digitais [p. 155]

Lista de figuras [p. 157]


[ 1 ]
apresentação
17

JUSTIFICATIVA

A criação de um ambiente propício para o desenvol- - como o Núcleo de Gestão do Porto Digital no Reci-
vimento de atividades e iniciativas empreendedoras é fe, nacionais - como o Cubo Digital em São Paulo ou
um fator de relevância primordial para o estabeleci- internacionais - como o Campus da Google Inc., na
mento de uma cultura empreendedora em qualquer Califórnia.
local. No Estado do Ceará, diversos movimentos com
o intuito de usar o empreendedorismo como vetor de Atualmente, já despontam alguns escritórios de
potencialização das atividades produtivas, prosperi- coworking como alternativa para essa demanda. Po-
dade econômica e bem-estar social, têm surgido nos rém, esses equipamentos abarcam primordialmente a
últimos anos. Tanto iniciativas governamentais, quanto necessidade espacial dos negócios, carecendo ainda
iniciativas privadas e acadêmicas englobam diversas de completa integração e alinhamento de diversas
organizações voltadas para a inovação tecnológica e organizações voltadas à inovação, ao incentivo, à
para a canalização de oportunidades de geração de colaboração e ao investimento de recursos entre os di-
negócios e idéias. versos atores do ecossistema empreendedor cearense.

A população cearense tem uma capacidade empre- Importante salientar, também, a necessidade da incor-
endedora de grande destaque, com algumas das poração do espaço arquitetônico e urbano ao uso das
maiores indústrias e iniciativas empreendedoras do pessoas, compreendendo a escala humana da cidade
país residindo em nosso estado. Contudo, para muitos e o seu impacto no cotidiano dos usuários (GEHL, Jan).
empreendedores, ainda falta um ambiente fértil que Por fim, a implantação do equipamento no Centro de
catalise seus esforços e o conecte com pessoas e or- Fortaleza explicita a importância do restauro e da
ganizações que incentivem, invistam e colaborem com conservação do patrimônio físico e cultural da cidade
suas ideias e seus negócios, desperdiçando um poten- através da reconceituação dos objetos arquitetônicos
cial imenso de desenvolvimento de capital humano e e sua reincorporação à malha urbana contemporânea.
tecnológico local (LEYDESDORFF; ETZKOWITZ, 1996;
1998; ETZKOWITZ; LEYDESDORFF ,2000; THERG,
2013).

Assim, espaços que integrem as pessoas e suas ideias


despontam como os novos ambientes de trabalho no
século XXI; inseridos no contexto da inovação tec-
nológica e do empreendedorismo, existem diversas
referências de Hubs de Inovação, Centros de Empre-
endedorismo e Escritórios de Coworking. Eles se es-
tabeleceram em diversos níveis, sejam eles regionais
18 [1] Vale do Silício, Estados Unidos.
[2] Tel Aviv, Israel.
19

OBJETIVO GERAL OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Como objetivo geral, pretende-se por meio deste [a] Criar um espaço de trabalho que incentive a inte-
trabalho pretende, utilizando todo o conhecimento e gração entre seus usuários.
experiência assimilados ao longo da graduação, ela-
borar uma proposta de equipamento que integre os [b] Elaborar uma proposta de Restauro que recupere
atores do cenário empreendedor no Estado do Ceará, o uso e a importância da Escola Jesus, Maria e José
potencializando a criação novos negócios, a inova- em Fortaleza.
ção tecnológica e o desenvolvimento de ideias que
impactem a sociedade cearense. Aliada a essa pro- [c] Potencializar o Ecossistema Empreendedor através
posta, propõe-se o restauro da Escola Jesus Maria e de um ambiente que materialize os seus princípios e
José, localizada no Centro de Fortaleza, reutilizando promova a prosperidade sócio-econômica da socie-
seu espaço em seu propósito inicial, como ambiente dade.
de aprendizagem e suporte àqueles que precisam.
[d] Desenvolver um projeto arquitetônico que atenda
aos requisitos de conforto ambiental, funcionalidade,
sustentabilidade e acessibilidade, que proporcionem
o bom desempenho do programa de atividades e ne-
cessidades.
[ 2 ]
o empreendedorismo e a inovação
23

O DESENVOLVIMENTO DE UM A temática central deste trabalho é a formalização de


ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR NO um espaço voltado ao incentivo do Ecossistema Em-
CEARÁ preendedor cearense. Porém, antes de entrar neste
mérito, é necessária a compreensão de conceitos bá-
sicos que o envolvem.

Ainda que seja uma questão semântica, hoje, os ter-


mos empreendedorismo, empreendedor e inovação
sofreram uma dilatação nos seus sentidos originais e,
muitas vezes, são usados para se referirem a pesso-
as e situações que não representam seu real sentido.
Diversas vezes, o termo é usado incorretamente para
se referir a uma pessoa que inicia um negócio ou é
autônoma.

O empreendedor, todavia, é aquele ou aquela que


busca, continuamente, valor econômico através de
crescimento e, como consequência, está sempre in-
satisfeito com o status quo. A diferença fundamental
é estabelecida pela capacidade ou disposição de
encarar riscos, valor intrínseco ao empreendedor,
que constantemente procura gerar valor, ainda que a
longo prazo. Aqueles que buscam somente o sustento
próprio ou familiar, boa parte dos que, erroneamen-
te, denominam-se empreendedores, não se encaixam
nesta definição. Assim, podemos usar a conceituação
do Babson College, que define: “Empreendedorismo é
uma forma de pensar em agir, guiada por visão holísti-
ca e liderança, focada em agregar valor” (ISENBERG,
2011).

Inovação, por outro lado, pode ser entendida de


várias maneiras, mas é principalmente definida pelo
processo de explorar com sucesso novas ideias. Essas
ideias podem se aplicar a produtos, processos e mo-
delos de negócios, e são mensuradas através de dois
24 [3] Sheraa Entrepreneurship Centre, Emirados Árabes Unidos.

métodos (SIMANTOB, 2003, p.20): surem o desenvolvimento de um ecossistema de modo


a torná-lo um ambiente de perene produção intelec-
- Inovações incrementais, que refletem pequenas me- tual e economicamente auto-sustentável (ISENBERG,
lhorias contínuas em produtos, linhas de produtos, ser- 2011). Traduzir e aplicar efetivamente essas diretrizes
viços ou processos e representam pequenos avanços para a realidade cearense é um desafio que só pode
nos benefícios percebidos pelo consumidor e não mo- ser vencido com políticas públicas eficazes, investi-
dificam de forma expressiva o modo como o produto é mento e suporte do setor privado e produção de co-
consumido ou o modelo de negócio. Exemplo: aumen- nhecimento das universidades.
to das ferramentas inseridas dentro de um aparelho
celular. Os princípios de cultivo do empreendedorismo fazem
parte de uma estratégia maior, a de encarar o ecos-
- Inovações radicais, que representam mudanças drás- sistema empreendedor como novo paradigma para
ticas na maneira que o produto ou serviço é consumi- políticas econômicas públicas.
do. Geralmente, traz um novo paradigma ao segmen-
to de mercado, modificando o modelo de negócios Tal estratégia visa corrigir erros resultantes do modo
vigente. Exemplo: surgimento do smartphone. como os direcionamentos públicos foram concebidos
e executados, incluindo (ISENBERG, 2011):
A importância da inovação na sociedade aplica-se
tanto aos objetivos mercadológicos de uma empresa [a] Pouca prioridade pública voltada ao empreende-
- como ter acesso a novos mercados, expandir seu pú- dorismo;
blico consumidor ou aumentar seus lucros - quanto à
população em geral - quando inovações nos setores [b] Falta de clareza nos objetivos das políticas empre-
da agroindústria, da química e da biotecnologia pro- endedoras;
porcionaram a criação de novos métodos, produtos e
alimentos, como nos estudos de Norman Borlaug com [c] Inadvertido enfraquecimento de aspirações empre-
variedades de trigo-anão mais resistentes que pude- endedoras;
ram ser levadas ao México, Índia e Paquistão.
[d] Rejeição de investidores;
Ecossistemas empreendedores desenvolveram-se de
formas diversas em vários locais do planeta, seja no [e] Consequências de programas mal estruturados,
Vale do Silício e em Cambridge, nos Estados Unidos, como evasão de cérebros.
seja em Tel Aviv, Israel. Replicar os processos que cul-
minaram em espaços efervescentes de ideias, negó- “O caminho mais curto para a criação de um ciclo
cios e tecnologias é impossível, nem os próprios idea- virtuoso, que evite esses erros, é, diretamente, criar,
lizadores desses ambientes conseguiriam. Dito isso, o incentivar, cultivar e evoluir um ecossistema altamente
processo indicado é estabelecer parâmetros que men- concentrado que seja propício para o empreendedo-
25
26 [4] Quadro Quality Venture x Availability of Funding. Adaptado
pelo autor (tradução livre).

rismo e seu sucesso. Para tal, é necessário uma equi-


pe independente com o treinamento, poder, manda-
to, capacidade e recursos suficientes para impactar
holisticamente o ecossistema e, então, dissolver-se.”

— ISENBERG, 2011, p. 13 (tradução livre).

Veremos, nos seguintes tópicos, os princípios que de-


vem guiar essa estratégia, aplicados ao contexto ce-
arense e baseados nos estudos do Babson College,
dirigido por Daniel Isenberg.

1. DISTINGUIR AUTÔNOMOS, MPES E EMPREENDE-


DORES

A primeira implicação deste princípio é compreender


que cada um desses atores tem necessidades de polí- de atividades empreendedoras, também deve ter em
ticas e ambientes diferentes. Enquanto micro e peque- mente que, ainda que a entrada em programas rela-
nas empresas (MPEs) e profissionais autônomos atu- cionados a essas atividades seja democrática, a alo-
am muito mais gerando empregos para uma parcela cação de recursos deve tomar uma abordagem darwi-
maior da população (SEBRAE, 2014), empreendedo- niana. Não se deve investir em negócios fadados ao
res atuam diretamente no desenvolvimento econômico. fracasso, a falha deve ser encarada através de uma
Condensar essas categorias é um erro, ao supor que perspectiva social mais ampla, onde uma empresa
há uma evolução linear de autônomo para MPE e des- que não deu certo redistribui seus recursos humanos,
ta para empreendimentos de alto-crescimento. monetários e físicos para novas iniciativas. Temos o
péssimo histórico de subsidiar organizações falidas e
Assim, com os recursos governamentais limitados, o ultrapassada ao invés de abrir espaço e fundos para
Estado deveria investir diretamente no setor que tem a novas entidades capazes de manter o mercado ativo
maior probabilidade de gerar grandes resultados, os e gerar mais valor para a sociedade. São empreen-
empreendedores. Micro e pequenas empresas e pro- dimentos promissores que devem concentrar a maior
fissionais autônomos, consequentemente, brotarão ao parte dos recursos voltados à empresas (GOMES; PE-
longo do caminho, derivando desses incentivos. REIRA, 2015). [4]

Uma política de Estado eficaz, voltada ao incentivo Como exemplo, podemos citar Pernambuco, um esta-
[5] Rua José Avelino. 27

do brasileiro que tem a maior parte de sua economia


voltada principalmente para a extração de matéria-
-prima natural (SECEX, 2015). Contudo, um dos setor
que mais se desenvolve é o da tecnologia, com Re-
cife abrigando o maior Parque Tecnológico do Brasil
(IBGE, 2015).

Políticas estatais são fundamentalmente importantes


para a atender as necessidades dos diversos atores
do ecossistema, mas só serão realmente eficazes ao
trabalharem criando condições para o desenvolvimen-
to de uma estrutura adequada e de condições férteis.
Ao desenvolver diretrizes que tratam empreendedores,
microempresários e profissionais autônomos de forma
similar, o resultado acaba sendo um agravamento nos
obstáculos de crescimento dessas três categorias.

“Há uma grande diferença entre construir um sistema


de rodovias e dizer ao povo aonde devem dirigir.”

— ISENBERG, 2011, p. 4 (tradução livre).

2. ALOCAR PRIORIDADE PÚBLICA MÁXIMA AO


EMPREENDEDORISMO

É imperativo que os líderes públicos compreendam o


que é empreendedorismo e porque esse tema deve se
tornar central nas políticas econômicas do município,
do estado e do país. Hoje, vê-se essa temática como
diretriz em universidades, governo e organizações.
Inovação é uma das palavras-chave nos encontros
de líderes e em comícios eleitorais. Palavras usadas
para atrair capital financeiro e o apoio de líderes em-
presariais. Contudo, poucos governantes entendem a
extensão das repercussões de uma estratégia pública
que empregue o empreendedorismo como fator fun-
28

damental no desenvolvimento de uma economia mais 3. INTERVIR HOLISTICAMENTE COM UMA PERS-
dinâmica, forte e diversa. PECTIVA COMPREENSIVA DO ECOSSISTEMA

Há uma transcendência ao óbvio quando discutimos o Intervir holisticamente no ecossistema implica com-
impacto do movimento empreendedor na sociedade, preender os fatores (ou domínios) atuantes, que eles
posto que ele vai muito além de criar novos empregos se relacionam e que a maioria dessas relações não
e atinge vários pontos: é regulada. É importante perceber que não se pode
incentivar um desses fatores sem que os outros sejam
- Valorização e apoio a um mecanismo de supor- afetados, positiva ou negativamente. [7]
te à coleta razoável de taxas. O despontamento de
iniciativas irregulares, tais como feirantes da Rua José Atualmente, no Ceará, temos diversos exemplos de ini-
Avelino ou ambulantes nos entornos do Centro Cultural ciativas e políticas de incentivo à educação empreen-
Dragão do Mar são danosos à economia e à arreca- dedora, assim como testemunhamos o surgimento de
dação do município. Encerrar ou regularizar tais mo- novos Polos Tecnológicos no município de Fortaleza.
dalidades de comércio é uma forma de criar melhores Esses programas, quando planejados e executados
condições para o surgimento e manutenção de inicia- separadamente, podem trazer consequências per-
tivas empreendedoras que aumentem a arrecadação versas para o ecossistema local, tais como a evasão
estatal, gerem mais empregos e promovam maior di- dos estudantes que passaram por cursos ou atividades
namismo econômico na sociedade. [5] empreendedoras para ambientes mais propícios e que
melhor atendam suas ambições.
- Advento de lideranças públicas e cases de suces-
so. De iniciativas privadas podem surgir diversas lide- Como iniciativas incentivadoras no Ceará temos, so-
ranças públicas nos mais diversos setores do governo mente na Universidade Federal do Ceará, o Centro de
como participantes ativos do processo de mudança e Empreendedorismo (CEMP), o Parque de Desenvolvi-
crescimento da economia. mento Tecnológico, o Instituto de Pesquisa e Desenvol-
vimento Tecnológico e a Fundação Núcleo de Tecno-
Governos e prefeituras precisam alocar mais e melho- logia Industrial do Ceará (do Governo do Estado, mas
res recursos no que tange à políticas empreendedoras, instalado dentro da UFC, no Campus do Pici). Existem,
com valores relevantes de seus orçamentos dedicados ainda, outras entidades que atuam como incubadoras
ao suporte a negócios de grande potencial, como é ou educadoras.
realizado nos programas BarcelonaActiva e Buenos
Aires Empreende. Este último já capacitou mais de Providenciar suporte, no entanto, sem se preocupar
10.000 pessoas com educação empreendedora e téc- em como tornar o capital disponível pode acabar
nicas de modelo de negócio, organizou eventos para retirando recursos de onde eles realmente deveriam
mais de 20.000 pessoas e co-invest, junto a 4 acele- ser aplicados. É crucial que haja uma estratégia que
radoras em 7 empresas. [6] seja executada de maneira específica em cada uma
[6] Buenos Aires Empreende. 29
30 [7] Quadro Domains of the Entrepreneurship Ecosystem. Adaptado
pelo autor.
31

das áreas, mas que, com uma perspectiva holística do Quando um sistema com feedback positivo chega a
ecossistema, atinja todos os domínios indiretamente, um limiar de crescimento estimulado, ele se torna au-
ou seja, entendendo que estes domínios atuam em tossustentável e passa a gerar exemplos de sucesso
conjunto, num equilíbrio muito delicado, e relacionan- por si só, iniciando um círculo virtuoso de incentivo às
do-os de forma a criar um solo fértil para novas idéias novas gerações.
e tecnologias.
“As pessoas começam a falar sobre o assunto e ele se
4. ESTABELECER UM OBJETIVO DE UMA INICIATIVA torna socialmente aceitável, instituições começam a
DE GRANDE POTENCIAL ENTRANDO NO SISTEMA se forma, o governo o reconhece como algo positivo
PARA CADA PARCELA DA POPULAÇÃO que está acontecendo e pode passar a escutar novos
empreendedores de influência para iniciar reformas
A prática de definir objetivos específicos, mensuráveis, em suas estrutura e políticas. O Ecossistema se forta-
alcançáveis, realistas e temporais (do inglês, SMART lece, gerando mais empreendedores que fortalecem
Objectives) é comum no meio empresarial, onde o al- ainda mais o ecossistema. Sucesso gera sucesso.”
cance de metas e de resultados são a medida mais
fundamental de compreensão do crescimento e con- — ISENBERG, 2011, p. 9 (tradução livre).
solidação de qualquer negócio. No meio político e
nos governos, contudo, esse costume não é tão sólido Essa é uma situação que já ocorre no Ceará, onde o
quanto deveria. Isso é um grande obstáculo ao alcan- empreendedorismo passou a tomar conta dos diálo-
ce de objetivos de impacto relevante, principalmente gos nos mais diversos setores. As empresas passam a
quando se trata de visões tão complexas quanto o de- tratar inovação como assunto sério e requalificam suas
senvolvimento de um ecossistema empreendedor. estruturas para se tornar sempre mais inovadoras. Uni-
versidades acolhem o empreendedorismo como dire-
Portanto, estabelecer um objetivo de alcançar cases trizes estratégicas e programas públicos de incentivo
de sucesso é algo fundamentalmente importante para ao micro e pequeno empresário passam a ser forma-
consolidar a cultura empreendedora. Segundo Geert dos.
Hofstede (1997), a cultura organizacional de qual-
quer entidade se manifesta de diversas formas, uma Contudo, há pouco motivo para apostar que o gigan-
delas, é a dos heróis. Eles são pessoas reais ou ficcio- tesco incentivo que se dá aos pequenos negócios vá
nais que, valorizadas dentro de uma cultura, tornam- gerar empresas de grande sucesso. O que acontece
-se exemplos personificados dos valores e das práticas é a valorização do fator político, já que é mais sedu-
prezados pela organização. São paradigmas com- tor bradar que uma política de governo gerou 1000
portamentais que ajudam a estabelecer um padrão de MPEs que empregam 2 funcionários cada. Falta a
ação para os indivíduos e colaboram com a formação compreensão de que uma empresa de grande suces-
de uma mentalidade positivista. so não gera somente empregos diretos, mas atrai toda
uma demanda de suporte, com advogados, consulto-
32

res, investidores e gerentes. tratar grandes esferas geográficas como base para
análise e políticas de incentivo, que distribuem ainda
A constatação deste princípio é que a meta de incenti- os já parcos recursos atribuídos ao setor para abar-
vo deve ser focada em profundidade e não abrangên- car a maior demografia possível e promover uma ima-
cia, ou seja, nas poucas iniciativas com alto potencial gem mais “justa”. Exemplos de cidades internacionais,
de impacto, ao invés das diversas organizações com como Buenos Aires e Tel Aviv, mostram que o modo
grandes chances de fracasso. O objetivo estabelecido mais apropriado de desenvolver estratégias de in-
deve visar a prospecção e o suporte aos negócios com centivo baseadas em áreas espaciais é aglomerar o
mais capacidade de repercutir positivamente e não na máximo de recursos de forma constante e sustentável,
sobrevivência da maior quantidade possível de negó- numa associação entre o Estado, o setor privado e as
cios, estratégia que se mostra um colossal desperdício universidades (LEYDESDORFF; ETZKOWITZ, 1996).
de recursos.
Devido a essa mentalidade estatal, acontece com
Por fim, a valorização e a divulgação dos exemplos de grande frequência a criação de infraestrutura sem de-
sucesso mostram-se fatores de catalização do espírito manda direta, que pode se provar uma política extre-
empreendedor no ecossistema, condição que colabo- mamente dolorosa economicamente para uma cidade,
ra com a evolução do ambiente em direção à sua sus- como os eventos da Copa do Mundo de 2014 no Bra-
tentabilidade. sil e das Olimpíadas de Verão de 2016, na cidade do
Rio de Janeiro, nos mostraram. Sem uma rede de men-
5. FOCAR EM ÁREAS MUITO ESPECÍFICAS E CON- tores, investidores, educadores e serviços de suporte;
CENTRADAS em suma, sem um ecossistema adequado, os empreen-
dedores se verão num espaço para trabalhar, mas sem
Ao redor do planeta, o empreendedorismo, enquanto o devido apoio para alcançar um alto impacto.
movimento, tende a se organizar em áreas geográ-
ficas muito específicas. Isso se deve à facilidade de Essa estratégia entra em confronto direto com o pro-
concentração de recursos humanos, financeiros, in- grama da Prefeitura de Fortaleza, o Fortaleza 2040
formações e mercados que gravitam em torno desses - Economia Criativa (PMF, 2015), que incentiva a cria-
núcleos. Esse processo é muito semelhante à urbani- ção e distribuição de centros de incubação de empre-
zação das cidades brasileiras, em especial Fortaleza, sas através do Município em distritos pré-estabeleci-
que concentra 45% do PIB cearense (IPECE, 2014), fe- dos, o que só torna os resultados a serem alcançados
nômeno que fortalece a cultura empreendedora local, tão insípidos quanto sua concentração geográfica. Se
facilita a ação política do Estado, a atuação do setor as visões deste programa têm um prazo de cerca de
privado e o desenvolvimento individual dos próprios 30 anos, a melhor diretriz seria concentrar os recursos
empreendedores. [8] e desenvolver um núcleo de ecossistema empreende-
dor forte e autossustentável e, só então, expandir para
A linha de ação dos governos, contudo, continua a outras áreas da cidade. Hoje, vemos o surgimento de
[8] Mapa do Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará a preços de 33
mercado (2013). Adaptado pelo autor.

Classes R$ (Mil) / No Municípios


Até 100.000,00 / 74
De 100.000,01 a 500.000,00 / 85
De 500.000,01 a 1.000.000,00 / 13
De 1.000.000,01 a 3.000.000,00 / 07
Acima de 3.000.000,00 / 05
34

vários Pólos Tecnológicos em Fortaleza, cada um em Percebendo esse cenário, em abril de 2015, foi cria-
um espaço físico diferente, cada um com um cluster de da a Rede Empreender Ceará, uma organização, que
empresas diferentes, mas sem uma estratégia de atua- busca fortalecer o ecossistema com a união dos re-
ção conjunta de forma holística. presentantes dos diferentes setores das universidades,
do governo e organizações privadas. O que ocorre,
Entendendo essa necessidade de foco geográfico, o contudo, é que nenhum destes setores consegue atu-
Centro da capital cearense apresenta-se como uma ar individualmente e causar impacto considerável. O
opção adequada, com infraestrutura consolidada, lo- governo possui a incubência, porém lhe falta a exper-
calização central e um potencial de reaproveitamento tise. Organizações privadas, apesar de dominarem o
e recuperação imenso de edifícios históricos e áreas savoir-faire empreendedor, carecem da perspectiva,
desocupadas que poderiam vir a abrigar novos pré- dos recursos ou da motivação para tal, uma vez que
dios. É um bairro que manifesta muitos dos aspectos são, na maioria dos casos, orientadas somente para a
necessários para a implantação de um espaço con- obtenção de lucro próprio.
veniente para a alocação de empresas e negócios em
uma área altamente concentrada para gerar o máxi- Para alcançar o objetivo de tornar o ecossistema em-
mo de resultados possíveis no menor tempo possível. preendedor sustentável, é primordial que haja uma
organização norteada para o esforço de evolução
6. ESTABELECER UMA ORGANIZAÇÃO COM PRAZO do cenário empreendedor neste sentido e que, após a
DE ENCERRAMENTO PARA IMPACTAR O ECOSSIS- consecução desta meta, cesse sua existência, dando-
TEMA -lhe um senso de urgência fundamental para o alcance
da visão num curto prazo, o que raramente acontece,
Atualmente, no Ceará, contamos com várias institui- justamente por falta de disciplina e disposição.
ções, voltadas para o desenvolvimento do empreende-
dorismo. Seja por meio da educação, como o Centro Para liderar tal esforço, é preciso que uma equipe de
de Empreendedorismo da UFC (CEMP) e o FB Ideias, profissionais qualificados seja formada e que tenha o
ou pelo suporte ao desenvolvimento de atividades encargo, as competências e a motivação para desen-
empreendedoras, a exemplo do Serviço Brasileiro de volver suas atividades de forma plena. Esse time não
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e tam- deve ser possuído por universidades, estados ou qual-
bém pela promoção da colaboração entre organiza- quer incubadora ou iniciativa privada, mas sim por
ções com propósitos semelhantes, como a Federação todas elas, agindo como acionistas e providenciando
de Empresas Juniores do Estado do Ceará (FEJECE). não só todos os recursos necessários, mas também a
devida supervisão profissional (ISENBERG, 2011).
Cada uma dessas entidades segue diretrizes diferen-
tes, orienta-se por valores diferentes e possui visões de Cada uma das organizações que encontramos no
futuro diferentes, que afetam os domínios do ecossiste- ecossistema empreendedor hoje, ou pelo menos sua
ma empreendedor. maioria, compreende os aspectos de seu trabalho o
35

suficiente para causar efeito significativo em seus do- às iniciativas que atendam necessidades importantes
mínios de interesse, pouquíssimos, porém, se propõem da população. O investimento em uma estratégia bem
a agir de maneira holística para causar um desenvol- dirigida e de perspectiva holística, materializada num
vimento disruptivo que traga a sustentabilidade para o espaço concentrado, liderado por uma equipe qualifi-
ecossistema. cada e com os recursos necessários, é a maneira mais
adequada de seguir esse caminho.
Os princípios explorados acima formalizam o que Da-
niel Isenberg denomina Estratégia do Ecossistema Em- Tratamos da estratégia, eixo central do esforço para
preendedor, uma visão na qual o empreendedorismo a mudança do status quo. Agora, precisamos nos de-
deve ser tratado de forma sistemática para obter um bruçar sobre os atores participantes do ecossistema
ambiente fértil para iniciativas empreendedoras, crian- empreendedor.
do um círculo virtuoso no qual cada vez mais realiza-
ções surjam de um ecossistema autossustentável.

Ainda que o empreendedorismo, nos dias atuais, seja


encarado como uma atitude poderosa em relação à
economia, buscando, ambiciosamente, o sucesso atra-
vés da geração de valor para a sociedade, há de se
alertar para os riscos de um exagero nas capacidades
deste modelo de ação.

“O Empreendedorismo não é uma panaceia para os


males da sociedade, mas possui efeitos suficientes e
é causal o suficiente para ser uma prioridade pública
assim como educação, segurança, bem-estar, ener-
gia e saúde como um bem social básico”

— ISENBERG, 2011, p. 13 (tradução livre).

O Empreendedorismo, dessa forma, não deve ser en-


carado como a solução para todas as mazelas que
nos afligem. Contudo, a adoção de políticas públicas
aliadas ao suporte de iniciativas acadêmicas e priva-
das pode ser o caminho mais curto para um estado de
constante desenvolvimento econômico, em que se pro-
mova a redução da desigualdade e amplie o incentivo
37

O CONCEITO DA HÉLICE TRÍPLICE 1. INTRODUÇÃO


COMO ALICERCE DO ECOSSISTEMA
EMPREENDEDOR A tese da Hélice-Tríplice fora criada na década de
1990 nos Estados Unidos por Henry Etzkowitz e Loet
Leydesdorff, época em que os centros políticos pas-
saram a solicitar uma maior cooperação entre a aca-
demia e a indústria para poder comercializar o novo
conhecimento criado nas universidades americanas.
Essa tese trata das relações entre academia-indústria-
-governo e é apresentada como uma alternativa às
relações bilaterais que ocorrem entre essas esferas de
atividade, propondo novos e mais completos modos
de interação e produção de atividades científicas, tec-
nológicas e socioeconômicas, sem interferir nos víncu-
los já existentes entre elas. Cada Hélice é uma esfera
institucional independente, mas trabalha em coopera-
ção e interdependência com as demais esferas, atra-
vés de fluxos de conhecimento (STAL; FUJINO, 2005).

2. O MODELO E SUA EVOLUÇÃO

Essa abordagem é baseada na perspectiva da Universi-


dade como indutora das relações com as Empresas (setor
produtivo de bens e serviços) e o Governo (setor regulador
e fomentador da atividade econômica), visando à produ-
ção de novos conhecimentos, a inovação tecnológica e ao
desenvolvimento econômico. Ela explica não só as como
as forças econômicas atuam no ecossistema, mas também
como a legislação e regulamentação oferecida pelos go-
vernos operam para fomentar e facilitar o surgimento de
novas iniciativas, assim como as dinâmicas entre invenções
e inovações trazidas por essas novas entidades. [9]

“Portanto, um trade-off pode ser gerado entre inte-


gração e diferenciação como possíveis sinergias que
podem ser exploradas e moldadas. A forma que es-
38 [9] Hélice-Tríplice. Adaptado pelo autor.

Hélice-Tríplice é a partir de uma arquitetura em que


cada relação entre os três componentes ocupa um
posição no espaço, oferecendo uma perspectiva mais
visual entre as relações baseadas em conhecimento e
auxiliando uma análise de dados sistemática. Esse pa-
drão auxilia na compreensão e consequente dissemi-
nação da importância dessas interações, como cada
um dos três atores participa e qual deles tem papel
mais determinante no resultado final. [11]

Uma economia baseada em conhecimento, conforme


apresentada na figura acima, contribui para a criação
de políticas econômicas que assegurem organizações
sociais do conhecimento, tais como setores de Pesquisa
& Desenvolvimento, sejam engastadas nas dinâmicas
do sistema, tornando-as parte indispensável do fun-
cionamento das empresas, universidades e governos.
sas relações tomam, seus indutores e resultados são Esse modelo nos leva a um novo paradigma, no qual
um reflexo das forças, que dependem do contexto e os componentes do ecossistema empreendedor ativa-
dos interesses dos envolvidos.” mente alocam recursos e infraestrutura para a criação
de novas práticas e tecnologias, o que se torna benéfi-
— SMITH; LEYDESDORFF, 2013, p. 3 (tradução livre). co para todo o cenário a médio e longo prazo.

Os modelos de Hélice-Tríplice podem ser elaborados 3. A ACADEMIA NA HÉLICE-TRÍPLICE


com os mais diversos intuitos. Neles representadas, as
relações universidade-indústria-governo podem ser O desafio de incentivar e promover a educação em-
encaradas como vínculos interinstitucionais e estuda- preendedora é, atualmente, em grande parte asso-
das a partir de uma análise sobre as redes sociais cria- ciado com as universidades e com o ensino superior
das a partir daí, usando o conhecimento adquirido na em geral. Aumentar o nível e a quantidade de em-
formulação de práticas tais como aconselhamento de preendedorismo em uma sociedade é um problema
políticas voltadas ao incentivo de setores focados em demasiadamente complexo. Usualmente, investigam-
pesquisa e criação de novas tecnologias, atuação do -se exemplos anteriores em busca de algum norte. O
governo em ações sociais e estratégias de desenvolvi- que acontece, porém, é que não existem receitas ou
mento urbano. [10] respostas prontas para resolver esse problema. Os
mesmos ingredientes e receita podem funcionar em um
Uma outra forma de encarar a formulação de modelos determinado ecossistema um dia e falhar em outro lo-
[10] Modelos da Hélice-Tríplice. Adaptado pelo autor. 39
[11] Patentes no espaço tridimensional da Hélice-Tríplice. Adapta-
do pelo autor (tradução livre).
40

cal no dia seguinte. É impossível recriar ambientes em- ca. Devem investir na inserção da disciplina de Empre-
preendedores como Vale do Silício ou o ecossistema endedorismo nas grades curriculares básicas de todos
de startups de Tel Aviv. Os próprios não conseguiriam os seus cursos, incluindo aulas voltadas a compreen-
recriar o resultado nas condições atuais. são financeira, marketing e planejamento e criação de
modelos de negócios.
“Nós temos que admitir que resolver problemas so-
ciais complexos continua a ser mais arte que ciência. A academia é um ambiente voltado para o debate e
(...) É possível resolver um problema sem compreen- surgimento de novas ideias e tem o maior potencial
dê-lo completamente, em certos casos, minha habili- para ser o centro de geração de conhecimento, crian-
dade de causar mudança pode muito bem ultrapas- do a base para a novos empreendimentos. Se o básico
sar minha habilidade de explicar como eu consegui de compreensão sobre o tema não é apresentado a
fazê-lo.” todos os alunos, o custo das oportunidade desperdiça-
das se faz imenso. Além disso, professores com expe-
— ISENBERG, 2010, p. 3 (tradução livre). riência prática em empresas, escritórios e consultorias
se tornam mais completos e preparados para apoiar
Assim, é necessário que as universidades e organiza- e mentorar alunos a empreender e em muitos casos se
ções que trabalham com educação empreendedora tornarem sócios.
compreendam que a solução do problema passa só
em parte por esta mesma educação. Se ela for colo- As universidades também se voltam para a solução
cada de forma desarticulada, pode acabar aconte- dos problemas da sociedade através do eixo de ex-
cendo uma evasão dos empreendedores capacitados tensão.
para ambientes que melhor favoreçam suas iniciativas.
Portanto, é imprescindível que haja interação entre Através de programas e projetos de extensão, as uni-
o fornecedor de recursos humanos capacitados e os versidades revertem diretamente para a sociedade o
provedores de um ambiente fértil favorável à prosperi- conhecimento gerado dentro de seus espaços. A UFC
dade dos inovadores. possui vários programas neste sentido, tais como as
Empresas Juniores - associações estudantis mentora-
Temos diversas articulações individuais das universida- das por professores, que desenvolvem projetos para
des cearenses voltadas ao empreendedorismo e para pessoas físicas e empresas, afim de fornecer produtos
a educação empreendedora, criando estímulos e in- e serviços de excelência a preços acessíveis, qualifi-
centivos àqueles que almejam iniciar novos negócios cando os alunos e promovendo uma maior participa-
e desenvolver novas ideias. Há um grande interesse ção da Universidade na comunidade. [12]
em criar iniciativas mais vistosas e vendáveis - Grandes
Centros de Empreendedorismo, Polos de Tecnologia e A educação superior, no ambiente acadêmico, é um
Institutos de Inovação. As universidades, porém, ainda fator de extrema relevância no desenvolvimento do
precisam incentivar a educação empreendedora bási- ecossistema empreendedor, sendo difícil imaginar um
[12] Universidade Federal do Ceará, Brasil. 41
42 [13] Assinatura do termo de cooperação para combate ao Aedes
aegypti entre a UFC e o Governo do Estado do Ceará. »
[14] Conversações sobre como viabilizar um parque tecnológico
no estado entre a UFC e o Governo do Estado do Ceará. »

cenário onde haja crescimento sustentável de empre- das universidades, é fundamental que haja um maior
sas e do empreendedorismo como um todo sem fortes interesse e estudo dele nas principais estratégias de
instituições de educação que possuam em seus pro- fomento ao empreendedorismo. Hoje, através de cen-
gramas pedagógicos o ensino de disciplinas relacio- tros e institutos instalados nas principais instituições de
nadas ao empreendedorismo e programas que as im- ensino superior do Ceará, como o Instituto de Pesqui-
plementem na prática. sa, Desenvolvimento e Inovação (IPDI) no Campus do
Pici da Universidade Federal do Ceará, o Governo do
4. O ESTADO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS Estado participa em conjunto com o Governo Federal
no financiamento de um espaço para desenvolvimento
Uma questão pertinente que surge nos modelos da de tecnologias, produtos e processos, e realização e
Hélice Tríplice é: qual a função do Governo nas rela- apoio aos projetos de pesquisa, com a finalidade de
ções entre Universidade e Indústria? promover o desenvolvimento sócio-econômico do Ce-
ará. Essa missão do IPDI trás à tona outro importante
A pergunta divide a opinião entre os estudiosos do processo no papel do Governo na Hélice Tríplice: in-
tema. Enquanto uns (MOTA, 1999) defendem [a] co- tensificar e promover a interação entre cientistas aca-
operação do governo no fornecimento de incentivos dêmicos e industriais para a resolução de problemas
para pesquisa e inovação de uma forma geral, [b] cria- técnico-científicos importantes, captando recursos do
ção de diretrizes para problemas mais estratégicos da setor privado e incentivando a participação das uni-
sociedade e [c] fornecimento de fundos iniciais para o versidades e dos acadêmicos nesse modelo de convê-
desenvolvimento de projetos, outros (TECCHIO, 2010) nio empresa-universidade.
adotam uma postura mais alinhada com o mercado
livre, onde o Estado se envolve o mínimo possível nas Em nível federal, podemos levantar um grande exem-
relações, trabalhando somente com a manutenção da plo da relevância da atuação do governo no estímu-
infraestrutura. lo a um ambiente mais favorável ao desenvolvimento
das relações empresa-universidade. A Lei de Inovação
Segundo Gama Mota (1999), o governo atua no fo- (Lei nº 10.973, de 12 de dezembro de 2004), primei-
mento de políticas públicas voltadas para o incentivo ra peça de legislação desenvolvida sobre o tema das
ao processo de inovação, bem como no fornecimento relações entre organizações privadas e universidades
dos recursos necessários para a realização de pes- no Brasil, foi criada para:
quisas. É papel do Estado, como agente regulador no
ecossistema empreendedor, formular leis e criar polí- [a] Estimular a criação de ambientes especializados e
ticas que catalisem o processo de cooperação entre cooperativos de inovação;
Empresas e Universidades, assim como remover desin-
centivos para a pesquisa e inovação. [b] Estimular a participação de Instituições Científicas e
Tecnológicas (ICT) no processo de inovação;
Sendo o governo, no Brasil, o principal financiador
[15] Assinatura de um acordo de cooperação técnico-científica na 43
área da saúde entre a UFC e a Prefeitura de Fortaleza.

[c] Estimular a inovação nas empresas;

[d] Estimular o inventor independente;

[e] Estimular a criação de fundos de investimentos para


a inovação.

Em 11 de janeiro de 2016, a presidenta Dilma Rousseff


sancionou a Lei nº 13.243, que alterou profundamen-
te a Lei de Inovação Tecnológica, buscando corrigir
falhas detectadas no normativo anterior e reduzir os
obstáculos nos vínculos entre os atores do ecossistema
empreendedor. No Estado do Ceará, houve também
a participação do governo no incentivo e no financia-
mento do empreendedorismo e da inovação tecno-
lógica, a partir da instituição do Fundo de Inovação
Tecnológica do Estado do Ceará (FIT) em 2004 (Lei
Complementar nº 50), da Lei de Inovação do Estado
do Ceará em 2008 (Lei nº 14.220, de 16 de outubro
de 2008).

Na esfera municipal de Fortaleza, a Lei nº 10.409,


de 22 de outubro de 2015, dispõe sobre o fomento à
pesquisa, à extensão e à inovação, e dá outras provi-
dências. Porém, talvez, o mais abrangente programa
municipal na capital alencarina que trate do desenvol-
vimento socioeconômico seja o Plano Fortaleza2040
que “tem como principal objetivo a transformação de
Fortaleza em uma cidade mais acessível, justa e aco-
lhedora; o incremento da oferta de oportunidades
apoiadas pela boa ordenação da rede de conexões
de seus espaços públicos e privados; e a obtenção
de controle eficiente do seu crescimento econômico”
(PMF, 2015), mais especificamente, os Planos de Ciên-
cia, Tecnologia e Inovação; Economia Criativa e, por
fim, Novas Indústrias e Serviços Avançados.
44 [16] Fábrica da Vulcabrás.

Todos estes mecanismos são de importância visceral vo tecnologicamente aprimorado ou novo.”


para a promoção de um ambiente político, econômico
e institucional que estimule as empresas a investir em — MATTOS; GUIMARÃES, 2005.
ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, por
meio dos corretos incentivos à difusão de ideias por Portanto, nota-se o mérito da Indústria no ecossistema,
parte do setor privado. Para Fonseca (2001), este é o ao transfigurar o conhecimento adquirido através de
principal papel no que concerne à inovação tecnoló- seus setores de pesquisa ou pelo incentivo aos estu-
gica. dos acadêmicos, em commodities, tornando esse sa-
ber acessível ao público em geral - especialidade das
5. A INDÚSTRIA E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA empresas através do marketing. Essas organizações
existem para atender as necessidades humanas por
Inserido no Modelo da Hélice Tríplice, o setor priva- intermédio de seus produtos e serviços. A sua expecta-
do é o principal agente responsável pelo processo de tiva de sobrevivência em uma economia de mercado
gestão da inovação tecnológica que, para Mattos; livre é proporcional à sua capacidade de desenvolver
Guimarães (2005), desdobra-se em duas etapas dife- novos produtos (MATTOS; GUIMARÃES, 2005).
rentes: a geração de uma ideia ou invenção e a trans-
formação dessa ideia em um produto comerciável. Uma organização inovadora é aberta a novas ideias,
independentemente de onde surjam, e estimula os es-
“A inovação tecnológica é definida pela introdução forços internos para transformá-las em novos produtos,
no mercado e um produto (bem ou serviço) tecnolo- processos e serviços. Ela mede as inovações não por
gicamente novo ou substancialmente aprimorado ou sua importância científica, mas pela contribuição para
pela introdução na empresa de um processo produti- o mercado e para os clientes (DRUCKER, 1989). Ou
45

seja, onde a Academia provê a percepção científica LEYDESDORFF, 2013).


e teórica, a Indústria fornece a perspectiva necessária
para adaptar essas inovações às necessidades e an- Tais complexidades são sempre moldadas pela ge-
seios do público. ografia - lugar e espaço, assim como pela cultura e
contexto geral do local. Contudo, divergentemente
Assim, encerra-se o ciclo de geração de valor, onde dos sistemas regionais e nacionais de inovação e em-
as universidades se beneficiam recebendo recursos de preendedorismo, o Modelo possibilita ao analista, à
corporações e do Estado, gerando mais conhecimen- autoridade ou ao empreendedor a consideração so-
to e profissionais mais preparados e capacitados; as bre dinâmicas específicas, cooperando na montagem
empresas têm sua pesquisa e inovação impulsionadas de uma estratégia mais aplicável e que pode gerar re-
pelas universidades e recebem benefícios do Poder sultados mais consistentes.
Público; e o Governo consegue, assim, promover um
ambiente economicamente mais saudável, com maior No Estado do Ceará, mais especificamente em Forta-
diversidade de iniciativas, mais captação de tributos e leza, nota-se uma tendência cada vez maior ao incen-
uma sociedade menos desigual por meio de empresas tivo das atividades empreendedoras, com a criação
mais fortes, empregando mais pessoas e gerando mais do Polo Tecnológico de Fortaleza, a chegada de in-
renda. fraestrutura de comunicação pelos cabos internacio-
nais de fibra ótica, definição de condutas de apoio ao
6. A GEOGRAFIA E AS DINÂMICAS DO MODELO empreendedorismo por instituições de ensino superior,
legislações pelo governo e foco de iniciativas privadas
As novas tecnologias e relações criadas dentro do para o fortalecimento do ecossistema empreendedor.
espectro da Hélice Tríplice meneiam dentro das três Portanto, é possível contemplar um potencial imenso
direções universidade-indústria-governo com dinâmi- do ambiente cearense no desenvolvimento de novas
cas potencialmente diferentes, assumindo uma maior tecnologias e surgimento de novos negócios, no qual
prioridade para uma ou outra direção de acordo com diversas instituições do ecossistema trabalham para
as suas diretrizes na economia baseada no conheci- atingir os diversos domínios, promovendo uma econo-
mento. mia mais competitiva e uma sociedade mais próspera,
favorecendo o conjunto de forma holística (O ESTA-
Nesses modelos, três dimensões são importantes: a DO, 2015).
econômica, a política e a sócio-cognitiva - e todas
apresentam grande potencial para mudança. Falta, no entanto, um ambiente, um local que unifique
os esforços, os atores e os recursos em um mesmo espa-
Ambas as pressões das integrações locais e globais ço, potencializando as integrações entre eles, gerando
por diferenciações podem ser continuamente espe- mais inovação, ideias e capital humano diferenciado.
radas - com implicações no desenrolar parcial e na
reconstrução do modelo de Hélice Tríplice (SMITH;
[ 3 ]
a área escolhida
49

HISTÓRICO DO CENTRO A integração e colonização do Ceará, contrariamen-


te ao padrão colonial da zona da mata do nordeste
brasileiro, ocorreu do sertão em direção ao mar. Este
fato se deu pela tardia integração do nosso Estado ao
sistema econômico colonial no século XVIII, fruto da
expansão do gado vindo da costa de Pernambuco e
da Bahia para o sertão. Dessa forma, a economia ce-
arense esteve voltada para a pecuária até o início do
século XIX, gerando produtos secundários para a me-
trópole portuguesa, mais interessada nos lucros pro-
venientes das regiões açucareiras. Sujeita a Capitania
de Pernambuco, Fortaleza - capital administrativa do
Ceará - tinha o direito de comercializar diretamente
com Portugal cerceado, com isso, outras vilas (Araca-
ti, Aquiraz, Icó e Sobral) mais ligadas à produção de
produtos pecuários apareciam com mais destaque na
economia da Capitania cearense. (PMF, 2015).

A urbanização em Fortaleza passou a ser estudada no


começo do século XVIII, com o plano urbanístico do
Tenente Coronel português Silva Paulet em 1812 que,
com seu formato xadrez, tornou esse padrão o modelo
a ser seguido pelos planos subsequentes (LINHARES,
1992).

Apesar de sua confirmação como capital da capita-


nia, a vila de Fortaleza só vingou as expectativas de
desenvolvimento em meados do século XIX, com a
construção do farol de luz fixa da ponta do Mucuripe,
em 1860. A cultura do algodão juntou-se, então à pe-
cuária - formando o binômio gado-algodão quando
começaram as primeiras vendas dos produtos para o
exterior - mas foi apenas no decorrer do século XIX que
o cultivo do algodão se espalhou pelo interior e pro-
moveu uma modificação relevante no cenário urbano
de Fortaleza devido à sua transformação em “centro
50

coletor e exportador” (SILVA, 1994. Apud PMF, 2015). a implementação de um sistema de iluminação a gás,
A cidade tornou-se aos poucos palco de um acelera- o alargamento de algumas avenidas, a criação de um
do crescimento demográfico e de intenções civiliza- teatro e um mercado de ferro. Destacaram-se ainda as
doras vigentes nos fins do século XIX. Novos discursos melhorias no porto e o estabelecimento de firmas es-
pretendiam alinhá-la rapidamente ao modelo europeu trangeiras na cidade que concretizaram os anseios de
de modernização urbana, sendo patrocinado pelas aumento de fluxo de pessoas e mercadorias. Por fim,
elites políticas, econômicas e intelectuais, formada tivemos a construção do novo cemitério, o São João
principalmente por profissionais liberais, como bacha- Batista, afastando para periferia os mortos e as doen-
réis, médicos e engenheiros (PONTE, 1993). O projeto ças da região mais valorizada da cidade. (PMF, 2015)
defendido era o de uma remodelação urbana da ci-
dade, através da reestruturação da arquitetura de seus No fim da década de 1880, cumpriram-se de manei-
prédios, da composição de seus jardins e logradouros ra mais objetiva as transformações que foram sendo
e de suas ruas (PONTE, 2007 In: SOUSA, 2007). construídas paulatinamente nos anos anteriores con-
vertendo-se em transformações não apenas na arqui-
Adolfo Herbster foi convidado, então, a elaborar o tetura da cidade, mas também no próprio cotidiano e
plano urbanístico de Fortaleza entre as décadas de na subjetividade das pessoas através da influência das
1870-1880, seguindo as diretrizes estabelecidas an- ideias positivistas, evolucionistas e liberais.
teriormente por Antônio José da Silva Paulet. Reafir-
mou-se, assim, a antiga imagem-matriz do xadrez nas A partir do século XX, iniciou-se um processo corres-
intenções de esquadrinhamento do espaço desejado pondente à grande especialização funcional e ao
para uma “nova” Fortaleza, atualizando-o ao esten- adensamento de edificações, motivados por um ace-
der cada vez mais as linhas para a periferia de então, lerado crescimento urbano marcado por intensa subur-
ainda no sentido mar-interior. Esse plano de ação limi- banização. Neste período o centro foi condicionado
tou-se a uma área vivenciada e praticada pelos mais a adaptar-se a uma crescente procura por comércio e
abastados, formando um “centro urbano, que compre- serviços. De forma geral, o ambiente construído sofreu
endia a cidade propriamente dita, situada entre o mar transformações significativas tanto no que se refere às
e as vizinhanças da atual avenida Duque de Caxias, edificações - através de um processo de substituição e
entre a depressão do Pajeú e as proximidades da atual descaracterização - como aos espaços públicos - por
praça José de Alencar” (CORDEIRO, 2007). Nota-se, uma adaptação às novas necessidades de circulação
portanto, a importância geográfica do Riacho Pajeú, (RUFINO, 2005). O final deste período correspondeu
que no primeiro momento, constituiu uma barreira à à máxima extensão da área central, a partir das ações
expansão da malha urbana em direção à zona leste. de adensamento e adequação das estruturas urbanas
(RUFINO, 2005).
Os símbolos de um possível desenvolvimento eram
outros. As novas mudanças foram representadas à Um século após sua expansão de modo mais progres-
época pela instalação da ferrovia de Baturité (1873), sivo, o Centro de Fortaleza passou por um processo de
51

declínio profundo marcado pela redução da diversi-


dade de atividades, aumento do comércio informal e
acentuada perda populacional. Estas transformações
favoreceram a consolidação de um contexto de des-
conforto urbano e ocupação desequilibrada. As ca-
racterísticas do declínio urbano são principalmente
identificadas no núcleo central, área que tradicional-
mente concentrou maior movimentação econômica e
que atualmente concentra as principais características
da decadência desta região (RUFINO, 2005). Assim,
hoje há uma baixíssima ocupação residencial de boa
parte do Centro, sintomatizada também pelo êxodo
diário da população que trabalha no bairro e dirige-
-se aos bairros periféricos onde residem.
52 [17] Rua Guilherme Rocha (1932).
[18] Rua Conde d'Eu.
[19] Relógio da Praça do Ferreira.
[20] Planta da cidade de Fortaleza e subúrbios (1875). 53
[21] Planta exata da capital do Ceará (1859).
[22] Pormenor da Vila de Nossa Senhora da Assunção (1730).
55

DIAGNÓSTICO 1. LOCALIZAÇÃO

O local selecionado para a implantação do Centro


de Inovação e Cultura Empreendedora fica no espaço
que apresenta a maior potencialidade para atender
às necessidades urbanísticas do programa e que tam-
bém solicita maior demanda de recuperação da sua
espacialidade construída, na quadra definida pelas
vias: Rua do Pocinho e Av. Santos Dumont ao Sul, Rua
Coronel Ferraz à Leste, Rua Visconde Sabóia ao Norte
e Rua Governador Sampaio à Oeste.

Situa-se no Bairro do Centro, na cidade de Fortaleza


localizado na porção norte do município de Fortaleza.
Totalizando 486 hectares, seu perímetro é delimitado
pelos bairros Joaquim Távora, Aldeota, Praia de Ira-
cema, Meireles, Benfica, José Bonifácio, Farias Brito,
Jacarecanga e Moura Brasil. Ele integra, por si só, a
SERCEFOR (Secretaria Executiva Regional do Centro
de Fortaleza). Seus limites administrativos são: ao Nor-
te, o Oceano Atlântico, a Linha Férrea e a Av. Presiden-
te Castelo Branco; a Oeste, a Rua Padre Ibiapina; a
Leste, a Rua João Cordeiro e ao Sul pela Rua Antônio
Pompeu (HABITAFOR, 2009).
[23] Limites do bairro. Elaborado pelo autor.

Limites do Bairro
Limites do Centro Histórico
Poligonal de Tombamento
[24] Zoneamento. Elaborado pelo autor.

Limites do Centro Histórico


Poligonal de Tombamento

ZEDUS I
ZEDUS II
ZEPH

ZO III
ZOP 1
ZOP 2
[25] Equipamentos relevantes. Elaborado pelo autor.

Limites do Centro Histórico


Poligonal de Tombamento

Cultural
Comercial
Verde / Livre
Religioso
Saúde
Institucional
Educacional

01- antiga alfândega (caixa 19- cineteatro são luiz


cultural) 20- praça josé de alencar
02- centro cultural dragão 21- teatro josé de alencar
do mar 22- iphan
03- sefaz 23- lord hotel
04- mercado central 24- colégio liceu do ceará
05- fortaleza nossa senhora da 25- dnocs
assunção 26- mercado são sebastião
06- museu da indústria 27- faculdade de direito ufc
07- passeio público 28- instituto dr josé frota
08- santa casa de misericórdia 29- igreja do carmo
09- antiga cadeia pública 30- justiça federal
(emcetur) 31- parque da liberdade
10- estação joão felipe 32- igreja do sagrado coração
11- sobrado dr josé lourenço de jesus
12- catedral de fortaleza 33 - parque do pajeú
13- paço municipal 34- escola justiniano de serpa
14- centro cultural banco do 35- igreja do pequeno grande
nordeste 36- colégio da imaculada
15- praça dos leões conceição
16- igreja nossa senhora do 37- igreja do cristo rei
rosário 38- colégio militar de fortaleza
17- palácio da luz 39- casa do estudante
18- praça do ferreira 40- mercado dos pinhões
[26] Bens tombados. Elaborado pelo autor.

Limites do Centro Histórico


Poligonal de Tombamento

Tombamento Federal
01- passeio público
02- teatro josé de alencar
03- palacete carvalho mota
04- assembleia provincial (museu do ceará)
Tombamento Estadual
01- armazéns particulares
02- secretaria da fazenda
03- antiga cadeia pública (emcetur)
04- estação joão felipe
05- galpões da rffsa
06- sede do iphan
07- cineteatro são luiz
08- palacete ceará
09- praça dos leões - palácio da luz - igreja do
rosário
10- solar fernandes vieirea
11- sobrado josé lourenço
Tombamento Municipal
01- antiga alfândega (caixa cultural)
02- seminário igreja da prainha
03- teatro são josé
04- casarão dos fabricantes
05- fortaleza nossa sra da assunção
06- hotel do norte (museu da indústria)
07- santa casa de misericórdia
08- igreja do patrocínio
09- praça josé de alencar
10- lord hotel
11- farmácia oswaldo cruz
12- escola de música luiz assunção
13- parque da liberdade
14- bosque do pajeú
15- colégio justiniano de serpa
16- escola jesus, maria e josé
17- colégio imaculada conceição
18- antigo mercado central municipal
19- palácio joão brígido
20- mercado dos pinhões
21- palacete do barão de camocim
[27] Vazios urbanos. Elaborado pelo autor.

Limites do Centro Histórico


Poligonal de Tombamento

Estacionamento
Prédios subutilizados
Prédios vazios
Áreas verdes / praças
[28] Uso e ocupação. Elaborado pelo autor.

Limites do Centro Histórico


Poligonal de Tombamento

Uso comercial
Uso Residencial
61
62

2. LEGISLAÇÃO

Segundo o zoneamento estabelecido pelo Plano Dire-


tor Participativo de Fortaleza de 2009 (PDPFOR2009),
o terreno está inserido na Macrozona Ocupada, na
Zona de Ocupação Prioritária 1, a Zona Especial de
Dinamização Urbanística e Socioeconômica do Cen-
tro e Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio
Paisagístico, Histórico, Cultural e Arqueológico. Estas
zonas são regulamentadas pela Lei Complementar nº
236, de 11 de agosto de 2017, que trata de parcela-
mento, uso e ocupação do solo.

Foi utilizado, ainda, como instrumento de direciona-


mento dos parâmetros legais, a Instrução de Tomba-
mento do Conjunto Colégio da Imaculada Conceição,
Igreja do Pequeno Grande, Escola Jesus, Maria e José
e Escola Estadual Justiniano de Serpa. Documento
desenvolvido pela Coordenadoria de Patrimônio His-
tórico da Prefeitura Municipal de Fortaleza que serve
como base para o estabelecimento da Poligonal de
preservação destes objetos arquitetônicos.

A legislação referente e normativa cabível segue nos


quadros ao lado. »
ZONA DE OCUPAÇÃO PRIORITÁRIA 1 — ZOP 1

[PDPFOR2009, Capítulo III, Seção II]

Art. 79 - A Zona de Ocupação Preferencial Art. 81 - São parâmetros da ZOP 1:


1(ZOP1) caracteriza-se pela disponibilidade de
infraestrutura e serviços urbanos e pela presença I - índice de aproveitamento básico: 3,0;
de imóveis não utilizados e subutilizados; desti-
nando-se à intensificação e dinamização do uso II -índice de aproveitamento máximo: 3,0;
e ocupação do solo.
III - índice de aproveitamento mínimo: 0,25;
Art. 80 - São objetivos da Zona de Ocupação
Preferencial 1 (ZOP1): IV - taxa de permeabilidade: 30%;

I - possibilitar a intensificação do uso e ocupação V - taxa de ocupação: 60%;


do solo e a ampliação dos níveis de adensamen-
to construtivo, condicionadas à disponibilidade VI - taxa de ocupação de subsolo: 60%;
de infraestrutura e serviços e à sustentabilidade
urbanística e ambiental; VII - altura máxima da edificação: 72m;

II - implementar instrumentos de indução do uso VIII- área mínima de lote: 125m2;


e ocupação do solo, para o cumprimento da fun-
ção social da propriedade; IX - testada mínima de lote: 5m;

III - incentivar a valorização, a preservação,a re- X - profundidade mínima do lote: 25m.


cuperação e a conservação dos imóveis e dos
elementos característicos da paisagem e do pa-
trimônio histórico, cultural, artístico ou arqueoló-
gico,turístico e paisagístico;

IV - prever a ampliação da disponibilidade e re-


cuperação de equipamentos e espaços públicos;

V - prever a elaboração e a implementação de


planos específicos, visando à dinamização so-
cioeconômica de áreas históricas e áreas que
concentram atividades de comércio e serviços;

VI - promover a integração e a regularização


urbanística e fundiária dos núcleos habitacionais
de interesse social existentes;

VII - promover programas e projetos de habita-


ção de interesse social e mercado popular.
ZONAS ESPECIAS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO PAISAGÍSTICO, HISTÓRICO, CULTURAL E
ARQUEOLÓGICO — ZEPH

[PDPFOR2009, Capítulo IV, Seção VI]

Art. 153 - As Zonas Especiais de Preservação do I - direito de preempção;


Patrimônio Paisagístico, Histórico, Cultural e Ar-
queológico (ZEPH) são áreas formadas por sítios, II - direito de superfície;
ruínas, conjuntos ou edifícios isolados de relevan-
te expressão arquitetônica, artística,histórica, cul- III - tombamento;
tural,arqueológica ou paisagística,considerados
representativos e significativos da memória arqui- IV - transferência do direito de construir;
tetônica, paisagística e urbanística do Município.
V - estudo de impacto de vizinhança (EIV);
Art. 154 - São objetivos das Zonas Especiais de
Preservação do Patrimônio Paisagístico, Históri- VI - estudo ambiental (EA).
co, Cultural e Arqueológico (ZEPH):

I - preservar, valorizar, monitorar e proteger o


patrimônio histórico, cultural, arquitetônico, artís-
tico, arqueológico ou paisagístico;

II - incentivar o uso dessas áreas com atividades


de turismo, lazer, cultura, educação, comércio e
serviços;

III -estimular o reconhecimento do valor cultural


do patrimônio pelos cidadãos;

IV- garantir que o patrimônio arquitetônico tenha


usos compatíveis com as edificações e paisagis-
mo do entorno;

V - estimular o uso público da edificação e seu


entorno;

VI - estabelecer a gestão participativa do patri-


mônio.

Art. 160 - Serão aplicados nas Zonas Especiais


de Preservação do Patrimônio Paisagístico, His-
tórico, Cultural e Arqueológico (ZEPH),especial-
mente,os seguintes instrumentos:
ZONAS ESPECIAS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO PAISAGÍSTICO, HISTÓRICO, CULTURAL E
ARQUEOLÓGICO — ZEPH

[Lei Complementar nº236, Capítulo V, Seção V]

Art. 166. As normas de parcelamento, uso e ocu-


pação do solo das Zonas Especiais de Preserva-
ção do Patrimônio Paisagístico, Histórico, Cultu-
ral e Arqueológico (ZEPH) prevalecem sobre as
Zonas Especiais de Dinamização Urbanística e
Socioeconômica (ZEDUS)

ANEXO 4 - PARÂMETROS URBANOS DA OCU-


PAÇÃO

Anexo 4.2 - Macrozona de Ocupação Urbana -


Subzona 2 - ZEPH - Setor 1:

I - índice de aproveitamento básico:1,0;

II -índice de aproveitamento máximo: 2,0;

III - índice de aproveitamento mínimo: 0,25;

IV - taxa de permeabilidade: 20%;

V - taxa de ocupação: 60%;

VI - taxa de ocupação de subsolo: 60%;

VII - altura máxima da edificação: 48m;

VIII- área mínima de lote: 125m²;

IX - testada mínima de lote: 5m;

X - profundidade mínima do lote: 25m.


ZONAS ESPECIAS DE DINAMIZAÇÃO URBANÍSTICA E SOCIOECONÔMICA — ZEDUS

[PDPFOR2009, Capítulo IV, Seção V]

Art. 149 - As Zonas Especiais de Dinamização ca;


Urbanística e Socioeconômica (ZEDUS) são por-
ções do território destinadas à implantação e/ou IV - estudo de impacto de vizinhança (EIV);
intensificação de atividades sociais e econômi-
cas, com respeito à diversidade local, e visando V - estudo ambiental (EA);
ao atendimento do princípio da sustentabilidade.
VI - instrumentos de regularização fundiária;
Art. 150 - São objetivos das Zonas Especiais de
Dinamização Urbanística e Socioeconômica (ZE- VII - direito de preempção;
DUS):
VIII - direito de superfície;
I - promover a requalificação urbanística e a di-
namização socioeconômica; IX - operação urbana consorciada;

II - promover a utilização de terrenos ou glebas X - consórcio imobiliário;


considerados não utilizados ou subutilizados
para a instalação de atividades econômicas em XI - outorga onerosa do direito de construir.
áreas com condições adequadas de infraestrutu-
ra urbana e de mobilidade;

III - evitar os conflitos de usos e incômodos de


vizinhança;

IV - elaborar planos e projetos urbanísticos de


desenvolvimento socioeconômico, propondo
usos e ocupações do solo e intervenções urba-
nísticas com o objetivo de melhorar as condições
de mobilidade e acessibilidade da zona.

Art. 152 - Serão aplicados nas Zonas Especiais


de Dinamização Urbanística e Socioeconômica
(ZEDUS), especialmente, os seguintes instrumen-
tos:

I - parcelamento, edificação e utilização compul-


sórios;

II - IPTU progressivo no tempo;

III - desapropriação com títulos da dívida públi-


ZONAS ESPECIAS DE DINAMIZAÇÃO URBANÍSTICA E SOCIOECONÔMICA — ZEDUS CENTRO

[Lei Complementar nº236, Seção III, Subseção I]

Art. 155. As edificações situadas na Zona Espe- existe acesso.


cial de Dinamização Urbanística e
Art. 158. É opcional a reserva de espaços desti-
Socioeconômica (ZEDUS) Centro - Trecho 1 - es- nados ao estacionamento de veículos vinculada
tão sujeitas às seguintes restrições: às atividades nas edificações situadas dentro do
perímetro definido pela Av. Presidente Castelo
I - para os lotes lindeiros às ruas e avenidas de Branco, Av. Alberto Nepomuceno, Rua Conde
sentido norte-sul, o pavimento térreo deverá ser D’Eu, Rua Sena Madureira, Av. Visconde do Rio
recuado até liberar um passeio mínimo de 4,00m Branco, Av. Duque de Caxias e Av. Tristão Gon-
(quatro metros) e sem qualquer fechamento, in- çalves.
clusive na lateral;

II - para os lotes lindeiros às ruas de sentido les-


te-oeste, o pavimento térreo deverá ser recuado
até liberar um passeio mínimo de 3,00m (três
metros) e sem qualquer fechamento, inclusive na
lateral;

III - para os lotes lindeiros às avenidas de sentido


leste-oeste, o pavimento térreo

deverá ser recuado até liberar um passeio mí-


nimo de 4,00m (quatro metros) e sem qualquer
fechamento, inclusive na lateral.

Art. 156. A ocupação do Trecho 1 especificado


no artigo anterior poderá utilizar-se dos seguintes
incentivos:

I - em terreno de esquina, a dispensa dos recuos


de fundo, até o quarto pavimento;

II - a dispensa dos recuos laterais até o quarto


pavimento;

III - o avanço em balanço, até o alinhamento, dos


três primeiros pavimentos acima do térreo, desde
que o nível do piso pronto do quarto pavimento
não ultrapasse a cota dos 12,00m (doze metros)
contados do nível médio do passeio por onde
INSTRUÇÃO DE TOMBAMENTO DO CONJUNTO

[Prefeitura de Fortaleza, 2015, p. 198]

Zona 1 - Diretrizes:

- Manter a vegetação existente, realizando re-


gularmente verificações quanto ao seu estado
de conservação. Caso haja a necessidade de
supressão vegetal, introduzir no local, no míni-
mo a mesma quantidade de espécies suprimidos
atentando para a boa relação entre as novas es-
pécies e as existentes;

- Recuperar e padronizar as calçadas e cantei-


ros do entorno, atentando para a acessibilidade
universal.

- Impossibilitar a unificação e o re-parcelamento


dos lotes atuais para resguardar a ambiência;

- As novas edificações deverão ter altura máxima


de 12m ou 4 pavimentos de forma a não bloque-
arem visualmente os imóveis em estudo e mante-
rem a ambiência do entorno;

- As reformas nos edifícios existentes, que inte-


grem novos pavimentos, não devem ultrapassar
o gabarito de 12m ou 4 pavimentos.
69

3. PROGNÓSTICO ecossistema empreendedor fértil de forma a amplificar


substancialmente as chances de sucesso das iniciati-
Posteriormente à avaliação do diagnóstico da área, é vas de todos os envolvidos, beneficiando a sociedade
possível destacar algumas potencialidades, levando como um todo.
em consideração fatores urbanos, socioeconômicos,
ambientais e legais:

- Alta densidade de infraestrutura urbana já consoli-


dada;

- Legislação e programas públicos favoráveis à insta-


lação de espaços físicos para novos negócios;

- Centralidade do bairro favorece acesso a partir de


diversas regiões da cidade, facilitando a convergência
de recursos humanos;

- Fácil acesso a serviços de apoio às empresas mitiga


custos operacionais dos usuários do CICE;

- Proximidade à áreas verdes, espaços culturais e de


lazer;

- Presença de equipamentos públicos e instituições go-


vernamentais no entorno, favorecem as relações em-
presa-governo;

- Grande oferta de imóveis desocupados, disponíveis


para recuperação e uso de empresas em expansão.

Assim, nota-se no terreno escolhido uma capacidade


de desenvolvimento e recuperação do entorno muito
grande - favorecendo a recuperação do Bairro do
Centro como um todo - atraindo recursos, aumentan-
do a demanda por habitação e novos serviços e con-
centrando os esforços já existentes de criação de um
[ 4 ]
o centro de inovação e cultura
empreendedora
73

MEMORIAL DESCRITIVO 1. INTRODUÇÃO AO PROJETO

O Centro de Inovação e Cultura Empreendedora foi


elaborado a partir da proposta de materialização de
um espaço voltado para o incentivo e fomento de um
ecossistema empreendedor favorável ao surgimento
de novas iniciativas, negócios, práticas e ideias que
repercurtam na sociedade política, social e economi-
camente.

Essa missão será posta em prática pela instalação de


organizações privadas, organismos públicos e insti-
tuições de ensino superior em um espaço comum, de
modo a explorar as potencialidades individuais de
cada um dos atores da Hélice Tríplice e, principalmen-
te, extraindo soluções únicas que só seriam possíveis
através da integração entre esses três setores.

Diversas iniciativas já vêm sendo tomadas nesse sen-


tido, como o Programa do Polo Tecnológico de Forta-
leza (PTFor) e do Polo Criativo de Fortaleza (PCFor),
criados através da Lei 9.585 de 30 de Dezembro de
2009 que incentivou a criação do Polo de Tecnologia
da Universidade de Fortaleza, por exemplo. [29] [30] [31]

Esses polos surgem aliados à legislação de parcela-


mento, uso e ocupação do solo, posto que devem se
instalar nas Zonas Especiais de Dinamização Urbanís-
tica e Socioeconômica (ZEDUS). Por meio de políticas
como essa, o Estado atrai o investimento e a instala-
ção de sedes de grandes empresas e o surgimento de
novas, incentivando também a recuperação de áreas
degradadas, como o Centro de Fortaleza.

A principal referência conceitual do projeto foi o Porto


Digital, iniciativa pública-privada-acadêmica criada
74

em 2000 como uma política pública para o setor de e materiais mais adequadas;
Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) que
interligasse atores, empresas e organizações que até [4] Prezar pelos princípios do Desenho Universal, tor-
então agiam de forma independente e isolada. nando todo o projeto acessível e convidativo para
toda a população;
“A ideia do grupo era aproveitar uma região atrativa
para a inovação e estimular mudanças econômicas e [5] Materializar espaços flexíveis e de fácil adaptação
sociais para gerar mais riqueza, emprego e renda no aos usuários e suas necessidades.
Estado de Pernambuco.”

— SITE PORTO DIGITAL.

Instalado numa área de 149 hectares no Bairro do Re-


cife e no Bairro do Santo Amaro, o projeto recuperou
50 mil metros quadrados de imóveis históricos ao lon-
go do parque tecnológico e requalificou uma região
antes degradada e de parca participação econômica
na economia local. [32]

Hoje, com 267 empresas instaladas em seu espaço e


8.500 empregados diretamente pelas organizações,
o Porto Digital é considerado como o maior e um dos
melhores Parques Tecnológicos do país.

2. DIRETRIZES PROJETUAIS

[1] Reabilitar o edifício da Escola Jesus, Maria e José


segundo os princípios de restauro patrimonial de for-
ma a recuperar sua exuberância;

[2] Conceber um programa claro e funcional, respei-


tando a relação entre as escalas e proporções dos
dois edifícios entre si e com o entorno;

[3] Desenvolver as melhores soluções para reduzir o


desconforto térmico dos usuário, utilizando as técnicas
[29] Poligonal do Parque Tecnológico e Criativo de Fortaleza, na 75
Praia do Futuro.
[30] [31] Parque Tecnológico da Universidade de Fortaleza (TEC
UNIFOR): reunião de adesão ao PTFor e inauguração.
76
[32] Porto Digital, Recife. 77

PROGRAMA DE ATIVIDADES O programa de Atividades do CICE foi definido atra-


vés dos estudos das referências conceituais sobre o
funcionamento de um Centro de Empreendedorismo
e Polos Tecnológicos, de consultas com profissionais
dedicados à temática do empreendedorismo e pelas
diretrizes projetuais que guiaram o projeto:

1. CO-WORKING

Espaços pensados para o trabalho de diversos indiví-


duos relacionados ou não, realizando as mais diversas
atividade e de maneira a possibilitar a interação entre
seus usuários sempre que necessário, mas com áreas
específicas para a realização de atividades mais re-
servadas, individuais ou em grupo.

2. ORGANIZACIONAL

Programa desenvolvido para a instalação de empre-


sas e representantes do governo e das universidades
com o propósito de tornar a integração entre suas ati-
vidades o mais fluída possível.

3. CAPACITAÇÃO

Atividades voltadas para a disseminação de conhe-


cimento, realização de workshops, palestras e cursos
para preparo e qualificação de empreendedores e
eventos em geral, possibilitando renda extra ao CICE.

4. ESPAÇOS COMUNS

Permite a utilização pelo público em geral e também a


convivência e relaxamento, bem como atende a pro-
gramas diversos relacionados às atividades desenvol-
vidas no complexo.
[33] Fluxograma. Elaborado pelo autor. 79

PROGRAMA DE NECESSIDADES A partir da compreensão do Programa de Atividades,


foi possível definir as necessidades relacionadas a es-
tas e, assim, listar os setores que seriam exigidos. Além
disso, foram consultados o Centro de Empreendedoris-
mo da UFC e profissionais relacionados ao empreen-
dedorismo. A estimativa das áreas foram definidas a
partir desses estudos.

O Fluxograma abaixo demonstra a relação entre os


ambientes e seus usos, bem como a disposição de áre-
as de apoio e serviço. Revela-se também como ocorre
a circulação entre os diferentes espaços.
81

REFERÊNCIAS 1. SEDE DA FUNDAÇÃO PATHÉ — RENZO PIANO

Inserido em meio a uma quadra histórica, o projeto


apresentou um desafio singular, no qual o arquiteto
teve que trabalhar com a recuperação dos edifícios
já construídos no local. A fachada, que serve como
portal e principal acesso à fundação, foi restaurada e
recuperada devido seu valor histórico e artístico para
o entorno - na região de Gobelins - já que abriga es-
culturas de Auguste Rodin em seu frontispício.

Inaugurado em 2014, o prédio abrigará a nova sede


da Fundação Jérôme Seydoux-Pathé, organização
dedicada à preservação do patrimônio de Pathé e à
divulgação da arte cinematográfica. Para a execu-
ção do projeto, houve a necessidade de demolir dois
edifícios existentes no centro da quadra para atender
às demandas urbanísticas locais. Com 2.200 metros
quadrados de área interior, o edifício será ocupado
por escritórios, sala de arquivo, centro de pesquisa e
documentação, biblioteca e um espaço dedicado a
exposições e projeção de filmes.

As características deste projeto que serviram de inspi-


ração ao projeto do CICE são:

[a] Respeito às proporções do entorno em sua implan-


tação;

[b] Uso de novos materiais para evidenciar a relação


entre o velho e o novo na volumetria, sem ofuscar as
edificações históricas na qual o prédio moderno se in-
sere;

[c] Uso de fachada dupla de vidro e material metálico


semi-transparente para aproveitar o máximo da ilumi-
nação natural e da ventilação no local, reduzindo o
uso de energia pelo edifício.
[34] Sede da Fundação Pathé.
84

2. SEDE NACIONAL DO SEBRAE — GRUPO SP

Objeto de concurso público promovido pelo Instituto de


Arquitetos do Brasil (IAB), o conjunto arquitetônico que
abriga a Sede do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (SEBRAE) foi estabelecido sobre
um partido que visa atender os condicionantes do local
em que se insere e as diretrizes definidas pela equipe
de trabalho: 1) ênfase na espacialidade interna, objeti-
vando a integração dos usuários assim como da paisa-
gem construída e natural; 2) máxima flexibilidade para
a organização dos escritórios; 3) preocupação em se
obter ótimo desempenho ambiental e econômico.

São dois pavilhões, paralelos à via principal no qual o


prédio orienta-se, unificados nas laterais pelos elemen-
tos de circulação, infraestrutura e apoio. Seu programa
visa atender principalmente espaços de escritórios, sa-
las de formação e treinamento e auditório.

As características deste projeto que serviram de inspi-


ração ao projeto do CICE são:

[a] Uso de elementos de proteção na coberta e nas


fachadas, colaborando com a captação de ventilação
e iluminação natural;

[b] Programa claro e funcional, materializado pela


estrutura sóbria e modular que possibilita planta livre
para melhor uso pelos clientes;

[c] Espaços distribuídos de forma a favorecer as rela-


ções entre os espaços e o fluxo dos usuários;

[d] Pátio criado como elemento centralizador do con-


junto, tornando todas as atividades do complexo peri-
féricas e interligadas.
[35] Sede Nacional do SEBRAE.
86

3. CUBO DIGITAL — GENSLER

O Cubo foi concebido como um espaço de co-working


voltado ao incentivo a startups e empresas, um hub
de empreendedorismo. Construído em 2015, materia-
lizando uma iniciativa do Banco Itaú e da Redpoint e.
ventures, o prédio tem uma área de 5.000m² voltada
ao encontro de startups, mentores e investidores.

Localizada na Vila Olímpia, em São Paulo, o proje-


to conta com 3 andares de co-working, 1 andar para
workshops e treinamentos, anfiteatro para 130 pesso-
as, espaço para café e terraço com lounge para inte-
ração e eventos.

As características deste projeto que serviram de inspi-


ração ao projeto do CICE são:

[a] Ambientes pensados com o intuito de favorecer a


integração entre os usuários;

[b] Separação bem definida entre ambientes servidos


e servidores, facilitando a distribuição do programa
num edifício com forte verticalização;

[c] Modernização do espaço corporativo contempo-


râneo, contribuindo para a máxima transparência e
para tornar os ambientes acolhedores e confortáveis.
[36] Cubo Digital.
[37] Recorte da Poligonal de Tombamento, com a Escola Jesus, 89
Maria e José em destaque. Elaborado pelo autor.

ESCOLA JESUS, MARIA E JOSÉ 1. IMPLANTAÇÃO

A escolha do terreno deu-se a partir do levantamento


de possíveis locais de intervenção, seguindo algumas
diretivas:

[a] Terrenos vazios ou com edificações passíveis de


recuperação;

[b] Implantação em área central e de fácil acesso;

[c] Proximidade a sedes de instituições privadas e or-


ganizações governamentais.

Outro fator que pesou na escolha desse local foi seu


relevante valor histórico e arquitetônico, como patri-
mônio edificado importante para a conservação da
história de Fortaleza e do Centro Histórico, inserido no
Bairro do Centro. Seu estado atual é de deterioração
avançada, com partes do prédio em ruínas e outras
ameaçando desabar.

Com a quadra em que repousa contando com várias


edificações e terrenos subutilizados, também foram en-
contradas possibilidades de utilizar essas áreas, bem
como a possibilidade de expansão do complexo no
futuro, que é próxima, ainda, a acessos de transporte
público e com vias que facilitam o acesso de veículos
e pedestres ao conjunto.

Limitada pelas ruas: Rua do Pocinho, Rua Coronel


Ferraz, Rua Visconde Sabóia e Rua Governador Sam-
paio, a quadra é um retrato da ocupação do Centro
de Fortaleza, com boa parte de sua área preenchida
por prédios voltados ao comércio varejista e a ser-
viços, bem como edifícios abandonados tendo suas
90

entradas servindo como estacionamentos irregulares, cavam abrigo e trabalho na capital, a iniciativa de
inclusive no recuo da EJMJ. Dom Joaquim José Vieira, segundo bispo do Ceará,
destinava-se a proporcionar aos meninos pobres uma
Próximo ao Bosque do Paço Municipal e ao lado da educação básica e voltada ao trabalho com artes e
Praça Filgueiras de Melo, o quarteirão possui arbori- ofícios, porém conciliada à educação cristã.
zação abundante, favorecendo a suavização do in-
tenso clima alencarino. Devido à recusa da Congregação dos Padres Sale-
sianos em administrar e dirigir a Escola, três Irmãs de
Uma condição de grande relevância patrimonial e le- Caridade da Congregação de São Vicente de Paulo
gal é a inserção do terreno na Poligonal de Preserva- assumiram essa responsabilidade, auxiliadas por qua-
ção Histórica e Patrimonial do Conjunto Colégio da tro órfãs do Colégio da Imaculada Conceição e pelo
Imaculada Conceição, Igreja do Pequeno Grande, Monsenhor Vicente Pinto Teixeira, como administrador.
Escola Jesus, Maria e José e Escola Estadual Justinia-
no de Serpa, resguardada pela Lei de Proteção do Situado ao lado do Colégio da Imaculada Conceição
Patrimônio Histórico-Cultural e Natural do Município e do Colégio Normalista, a EJMJ se estabelece em
de Fortaleza (Lei nº 9347, de 11 de março de 2008), uma região de instituições voltadas ao ensino e funcio-
que visa a proteção ao conjunto, preservando sua am- na, basicamente, através de caridade e doações, além
biência, valorização e requalificação da área e que da renda ofertada pela Igreja Católica.
estabelece algumas diretrizes e recomendações para
a preservação dos edifícios e do entorno destes (PMF, Com programa inicial projetado para atender cerca
2015). de 320 alunos matriculados, a Escola funciona até o
início da década de 1920 e durante esse período de
2. TEORIA E HIPÓTESES DE RESTAURO 15 anos, atendeu cerca de 3.850 crianças. A partir
de então, passa a abrigar a Casa Paroquial da Cate-
2.1. HISTÓRICO dral da Sé. Em setembro de 1930, foi inaugurado em
seu espaço o Cine Paroquial e em 1931, instalou-se lá
Construído em 1905, o edifício conhecido como Es- também a Associação O Berço do Pobre. No começo
cola Jesus, Maria e José foi idealizado, inicialmente, da década de 1960, a Rádio Assunção Cearense e o
como espaço para promover o ensino e a religião jornal O Nordeste passam a funcionar no local, aco-
católica. No entanto, ao longo dos anos, passou pe- modando-se na porção posterior do edifício e alteran-
los mais diversos usos e instituições, de uma loja de do consideravelmente sua estrutura física. Em 1979, o
máquinas agrícolas até parte do Fórum Autran Nunes prédio abrigou vários cursos e o secretariado da Ar-
(PMF, 2015). quidiocese de Fortaleza, assim como a nova Escola de
Nossa Senhora Aparecida.
Fundada em um contexto de extrema pobreza e seca
no Ceará, onde massas desvalidas de sertanejos bus- Somente no ano de 2006 que a edificação foi de-
[38] Escola Jesus, Maria e José (1905). 91

pavimento, que se eleva 1.15m do nível da rua e que


encapsula um pátio interno que permite maior ventila-
ção das salas de aula e um ponto de encontro e recre-
ação dos alunos da escola.

Edificada segundo o estilo Eclético, tendência constru-


tiva comum no início do século XX e que materializa a
vontade de modernizar a recém-formada República,-
contexto histórico do período. Dada a situação da ca-
pital cearense, de poucos recursos e acesso restrito ao
conhecimento e a técnicas internacionais, o Ecletismo
foi adotado como metodologia estética em contradi-
ção às práticas mais estabelecidas nas principais cida-
des brasileiras, como Rio de Janeiro, que abraçaram o
neoclassicismo como modo de modernizar as caracte-
sapropriada e tombada pelo município por meio do rísticas arquitetônicas tupiniquins, até então coloniais.
Decreto nº 11.956, em 11 de janeiro, e posteriormente
cedido à Prefeitura Municipal de Fortaleza em regime Portanto, a Escola Jesus, Maria e José caracteriza-se
de comodato através do Contrato de Comodato nº como manifestação eclética típica da primeira fase,
168 de 2007 por 20 anos como parte das ações de coincidente com o período de domínio da oligarquia
incentivo à cultura que pretendiam instalar no local a aciolina e que segue até a Revolução de 1930. Este
Casa da Fotografia. período apresenta um reduzido número de obras de
arquitetura eclética, porém com alto valor simbólico
Recentemente, depredada, abandonada e em pro- para a sociedade da cidade, envolvendo pessoas e
cesso de arruinamento, a Escola Jesus, Maria e José entidades de notoriedade (CASTRO, 1987).
foi ocupada por mais de 500 pessoas, constituindo
150 famílias de sem-teto lideradas pelo Movimento de Sua planta original dispõe-se simetricamente em for-
Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que reclama o edifício ma de H, com volumes chanfrados destacados da
sob a justificativa do abandono de suas instalações e fachada em direção à porção anterior do edifício. O
da demanda por moradia das famílias. programa da escola se distribuía por setores, seguindo
premissas higienistas de hierarquia e ordenamento do
2.2. ASPECTOS CONSTRUTIVOS espaço. Na área centra, se estabeleciam os ambientes
administrativos e o auditório e, nas laterais, as diver-
Alinhado às ruas laterais e com abundante recuo fron- sas salas de aula. Como modo de transição entre os
tal em relação à Rua Cel. Ferraz, a implantação da ambientes internos e o pátio, um corredor avarandado
Escola Jesus, Maria e José é trabalhada em apenas um circunda toda a parte interna do prédio, comunicando
92 [39] Levantamento Fotográfico EJMJ (2015).

as salas com o espaço aberto, sendo sustentado por 2.3. ESTADO DE CONSERVAÇÃO
finos pilares de ferro fundido, em acabamento com-
posto por mísulas, que sustentam as linhas da coberta O prédio da Escola tem mais de 112 anos. Desde sua
de telha cerâmica, com estrutura de madeira assente construção passou por décadas de uso impróprio, al-
em meia-asna simples. teração de sua estrutura física e descaracterização de
sua composição original, com depredação, abando-
Na fachada principal, encontramos pilastras que mar- no e exposição às intempéries. Por conseguinte, atual-
cam a porta principal em arco pleno e que se elevam mente, seu estado é precário, com algumas patologias
até a platibanda - coroada com imagens de Jesus, consideradas mais severas:
Maria e José - que, sobre a cornija, possui elementos
decorativos vazados em toda a sua extensão ao redor [a] Descaracterização das fachadas e da planta ori-
do prédio. As fachadas laterais repetem os mesmos ginal pelas adaptações irregulares realizadas pelos
elementos da principal. ocupantes;

As vergas dos vãos são retas, com janelas em vidro e [b] Infiltração de umidade, provocando fungos e bolo-
madeira, encimadas por elementos decorativos elabo- res por todo o edifício;
rados em reboco.
[c] Fissuras e trincas na estrutura e no revestimento,
A estrutura do edifício consiste em alvenaria autopor- com seus elementos de suporte colapsando em alguns
tante, com coberta de telhas capa-canal sustentada pontos;
por estrutura de madeira com asna de paládio, ou sim-
ples. As salas tinham forro de placas de gesso. [d] Desprendimento do revestimento das paredes por
meio de causas diversas;
O hall de entrada, separado do auditório por um di-
visória de madeira, tem forro de gesso trabalhado e [e] Perda e extravio de diversos materiais, como gra-
metade de suas paredes revestidas por pastilhas de des, esquadrias e alvenaria pela ação humana dentro
cerâmica. A porta de acesso à varanda possui duas outros;
folhas retangulares, diferentemente da porta da entra-
da principal. As esquadrias originais foram todas im- [f] Anomalia em coberta, principalmente na ala sul do
plantadas em recuos moldurados. prédio, causadas pelos constantes ataques à estrutura
de madeira por fungos e térmitas e agravadas pela
As salas de aula e o auditório foram assentados com exposição a intempéries;
piso em tábua corrida. Já a varanda, o hall e algumas
partes da edificação utilizam ladrilho hidráulico poli- [g] Vegetação parasitária consequente da falta de
cromático (PMF, 2015). manutenção e abandono, caracteriza-se pela presen-
ça de trepadeiras, fungos, liquens ou pátina biológica.
95

2.4. O RESTAURO E A REABILITAÇÃO te de materiais diferentes, sejam novos ou antigos;

Utilizando os documentos desenvolvidos pelas mais [c] A adaptação será o agenciamento de um bem a
diversas instituições voltadas ao restauro, preservação uma nova destinação sem a destruição de sua signifi-
e conservação do patrimônio histórico, artístico e cul- cação cultural.
tural, mais especificamente as Cartas Patrimoniais e al-
gumas obras paralelas, expõem-se aqui conceitos fun- Contudo, busca-se aqui não somente a restauração, a
damentais que servirão de alicerce para o restauro e a reconstrução e a adaptação do prédio, mas uma nova
reabilitação do edifício da Escola Jesus, Maria e José. abordagem - a reabilitação - que contrapõe os mode-
los tradicionais de preservação e conservação.
“Do jeito que vem sendo praticada, a preservação é
um estatuto que consegue desagradar a todos: o go- É a partir do Congresso de Amsterdã que se reconhece
verno fica responsável por bens que não pode ou não explicitamente a importância da manutenção e da re-
quer conservar; os proprietários se irritam contra as cuperação econômica das áreas protegidas:
proibições, nos seus termos injustos, de uso pleno de
um direito; o público porque, com enorme bom sen- “A reabilitação de bairros antigos deve ser concebida
so, não consegue entender a manutenção de alguns e realizada, tanto quanto possível, sem modificações
pardieiros, enquanto assiste à demolição inexorável importantes da composição social dos habitantes e
e pouco inteligente de ambientes significativos.” de uma maneira tal que todas as camadas da socie-
dade se beneficiem de uma operação financiada por
— SANTOS, 1986 apud CASTRIOTA, 2007. fundos públicos.”

O que se nota é a situação atual da Escola: edifício — IPHAN, 1995.


tombado, Estado com pouco interesse em investir re-
cursos dirigidos à recuperação dela e um processo de O que se percebe, porém, é que o financiamento pú-
deterioração implacável. blico não pode ser a única fonte de recursos voltados
à reabilitação patrimonial. Também, as Normas de
Alguns conceitos importantes definidos pelo Art. 1º da Quito (1967) constatam que “a eficácia prática de me-
Carta de Burra (1980) são: didas de emergência para a proteção do patrimônio
cultural dependerá, em último caso, de sua adequada
[a] A restauração será o restabelecimento da substân- formulação dentro de um plano sistemático de revalo-
cia de um bem em um estado anterior conhecido; rização dos bens patrimoniais em função do desenvol-
vimento econômico-social”.
[b] A reconstrução será o restabelecimento, com o má-
ximo de exatidão, de um estado anterior conhecido; Uma advertência de Burtenshaw afirma que o fracasso
ela distingue-se pela introdução na substância existen- em encontrar novos usos para edificações preservadas
96

“condena a cidade a uma existência de museu a céu 2.5. HIPÓTESES DE RESTAURO


aberto”. As políticas de patrimônio, portanto, “não se
limitam mais a apenas formular estratégias de contro- Definidas a partir dos levantamentos com a intenção
le para as áreas a serem conservadas, mas passam a de apontar as intervenções propostas para atender os
traçar estratégias amplas para o seu desenvolvimento, princípios levantados para a recuperação e adapta-
que partem exatamente de seu caráter de áreas con- ção. »
servadas” (CASTRIOTA, 2007).

Assim, unindo o conceito e as estratégias de reabilita-


ção urbana, bem como atendendo às recomendações
da Carta de Burra (1980) nos artigos 17, 18, 19 e 20,
que tratam de limitar a intervenção à estrutura física
do bem de forma a não descaracterizá-lo, e da Carta
de Veneza (1964), que objetiva conservar e revelar os
valores históricos do monumento fundamentando-se
no respeito às temporalidades, o restauro da Escola
Jesus, Maria e José busca recuperar suas fachadas,
seus ambientes internos e cobertas e a demolição das
intervenções e recuperação da distribuição original na
ala norte. Por fim, almeja-se adaptar o edifício como
um todo para os novos usos.
ALVENARIA zado nas originais.

Refazimento do reboco das alvenarias internas FRONTISPÍCIO


segundo o traço original;
Remoção e substituição da pintura;
Impermeabilização das paredes com o intuito de
protegê-las da umidade; Preenchimento de anomalias encontradas ao lon-
go da alvenaria exposta;
Abertura dos vãos de esquadrias fechados nas
intervenções; Reconstrução de ornamentos quebrados e remo-
ção de elementos não-originais;
Pintura das paredes com pigmentação suave de
modo a não descaracterizar sua relação com o Restauração dos gradis metálicos nos volumes
entorno. saltados das fachadas e do corrimão da escada
do acesso principal;
FORRO
OUTROS
Reconstrução dos forros de acordo com a mate-
rialidade original de gesso no restaurante e no Recuperação das pedras usadas nos degraus
hall. das escadas de acesso e internas;

COBERTA Restauração das colunas e gradis metálicos nos


corredores avarandados do pátio;
Devido à impossibilidade de recuperar as tesou-
ras originais de madeira, opta-se pelo uso de Substituição das instalações elétricas e hidráuli-
tesouras metálicas de aço, distinguindo-as das cas, incluindo louças e peças sanitárias em geral;
originais;
ADAPTAÇÕES
Substituição de toda a cobertura de cerâmica por
novas telhas coloniais tipo capa-canal. Implantação de rampa metálica na fachada para
adequar o edifício ao acesso de cadeirantes e
PISO pessoas com mobilidade reduzida, distinguindo-
-a através da materialidade;
Substituição dos ladrilhos hidráulicos originais
que estejam irrecuperáveis por novos, porém Readequação da escada principal da fachada
mantendo a distinguibilidade; para sua adequação à nova rampa, mantendo
sua composição original;
Reconstrução do piso de tábua corrida no restau-
rante. Rampa de acesso do hall ao pátio criada para o
acesso de cadeirantes e pessoas com mobilidade
ESQUADRIAS reduzida;

Remoção e substituição das peças instaladas por Colocação de corrimãos nas escadas laterais da
novas, mantendo-se o desenho e o material utili- fachada;
Reconstrução da ala norte servindo à nova distri-
buição devido à adequação ao novo programa
de necessidades;

Demolição do anexo;

Construção de novas paredes na ala sul, respei-


tando e mantendo a estrutura original;

Abertura de novas esquadrias na alvenaria da


ala sul para adequação ao novo programa;

Adaptação do banheiro da ala sul para renová-


-lo e torná-lo acessível.
99

3. MAPA DE DANOS E INTERVENÇÕES »


[40] Mapa de danos: térreo / subsolo.
[41] Mapa de danos: coberta. 101
[42] Mapa de danos: cortes e fachadas.
[43] Mapa de danos: elevações. 103
[44] Construção / Demolição.
105
[ 5 ]
o projeto
PARTIDO E CONCEITUAÇÃO 109

O Projeto Arquitetônico do Centro de Inovação e Cul- mesmo nos pavimentos do subsolo. Sua volumetria foi
tura Empreendedora, a partir de suas diretrizes e dos estabelecida pela escala da EJMJ e criada a partir do
estudos realizados, busca atender 3 principais deman- uso de 4 volumes, os dois blocos verticais de serviço
das: e circulação que interligam os dois blocos monolíticos
horizontal que abrigam o programa, um no subsolo e
1. Requalificação da Escola Jesus, Maria e José para o um erguido a partir de um vão central, elemento defi-
uso administrativo e dos ambientes que apresenta me- nido com o intuito de suavizar a tectônica do edifício.
nor flexibilidade espacial;
As dimensões traduzem o edifício antigo para uma
2. Melhor utilização e expansão do Terreno através nova linguagem, com suas fachadas e medidas hori-
da remoção dos anexos, dos prédios subutilizados na zontais refletidas nos blocos de serviço e no volume
porção posterior, utilizando pavimentos no subsolo; deitado do novo prédio.

3. Edificação de um prédio que atenda às exigências Os acessos de veículos e de serviços ocorrem pelas
do programa e mantenha a flexibilidade e acessibili- laterais do terreno e garante estacionamento para os
dade, com uma relação harmônica com a EJMJ; empreendedores e visitantes. Ainda que a legislação
vigente torne esse espaço facultativo, optou-se por
A locação do conjunto arquitetônico no terreno ba- colocá-lo, dado o público usuário, assim como as ati-
seia-se de acordo com o acesso a partir da Escola, vidades de apoio e manutenção do complexo, que
como gerador e controlador de fluxos, e do pátio, deem ocorrem sem comprometer o funcionamento das
como elemento central de posicionamento dos prédios empresas e instituições ali instaladas.
e da passagem dos transeuntes.

O edifício antigo serve como base para definição das


proporções do novo prédio, estabelecendo uma rela-
ção adequada entre o velho e o novo, respeitando as
dimensões padrões do entorno e criando um espaço
compatível com a escala humana.

O prédio de escritórios - que abriga os espaços de


trabalho, o auditório e o terraço - foi implantado a
partir do nível do pátio, colaborando para uma movi-
mentação mais fluida dos usuários. Erguido num fosso,
na retaguarda do complexo, de forma a aproveitar
ao máximo o terreno, apresenta espaços ao seu redor
para promover a iluminação natural e a ventilação,
[45] Planta de Implantação. Elaborado pelo autor.
111

[46] Axonométrica de volumetria. Elaborado pelo autor.


[47] Quadro de áreas. Elaborado pelo autor.
113
ESTUDO AMBIENTAL 115

[48] Axonométrica de implantação e carta solar. Elaborado pelo autor.


PROJETO ARQUITETÔNICO
[49] Implantação. ELaborado pelo autor.
118

[50] Esquina R. Cel. Ferraz com Av. Santos Dumont. Elaborado pelo autor.
119

[51] Visão interna do pátio. Elaborado pelo autor.


120

[52] Visão interna do pátio. Elaborado pelo autor.


121

[53] Terraço-jardim. Elaborado pelo autor.


122

[54] Co-working. Elaborado pelo autor.


123

[55] Corredor das salas empresariais. Elaborado pelo autor.


124

[56] Axonométrica de layout dos pavimentos. Elaborado pelo autor.


PLANTA BAIXA SUBSOLO 2 125
PLANTA BAIXA SUBSOLO 1
126
PLANTA BAIXA TÉRREO 127
PLANTA BAIXA SUPERIOR 1
128
PLANTA BAIXA SUPERIOR 2 129
PLANTA BAIXA terraço
130
PLANTA BAIXA coberta 131
CORTES AA BB CC
132
CORTES DD EE 133
ELEVAÇÕES
134
135
ESTUDO ESTRUTURAL E MATERIALIDADE 137

A estrutura do CICE se desenvolveu a partir de seu


partido: a adoção de espaços livres e flexíveis, de
fácil adequação às necessidades dos usuários e que
possam ser redistribuídos rapidamente. Na busca da
relação com o edifício da Escola Jesus, Maria e José,
o pátio central foi utilizado como elemento conector e
através dele surge o vão livre no térreo.

O aço galvanizado foi a opção escolhida por oferecer


leveza estética, agilidade na execução e facilidade
de manutenção e expansão posterior sem prejudicar
a tectônica do conjunto. Assim, para vencer o gran-
de vão de 44m, foi concebida uma estrutura basea-
da numa viga vierendeel de 6.5m de altura, mesmo
método utilizado em pontes, que utiliza 2 elementos:
membruras horizontais (espaçamento de 3m entre
si) e montantes verticais (espaçamento de 3m entre
si). Estes elementos, caracterizados por vigas de aço
de seção I que, associados à vigas transversais para
sustentação das lajes de concreto maciço de 15cm,
promovem uma estrutura rígida e firme que se conecta
com os dois grandes blocos de serviço postos nas la-
terais do edifício através dos montantes verticais e das
vigas transversais, chumbadas nestes blocos através
de conectores de 30cm.

Construídos para servir também como grandes pilares


de concreto, esses blocos surgem a partir das dimen-
sões da arquitetura antiga, mantendo uma proporcio-
nalidade que se comunica com a Escola. Com paredes
de 40cm maciços de concreto estrutural, essas gran-
des massas suportam e distribuem os esforços da es-
trutura para o solo.
[57] Detalhamento da Ligação Vierendeel + Concreto. Elaborado pelo autor.
[58] Estrutura explodida. Elaborado pelo autor. 139
ESTUDO CONDICIONAMENTO 141
AMBIENTAL

O condicionamento ambiental foi trabalhado através na parede que sobe até o vão do térreo também a
de sistemas redundantes de proteção direta contra a partir do solo.
forte insolação presente na cidade de Fortaleza e fa-
vorecimento da circulação dos ventos.

Dado o posicionamento do terreno e à escolha do par-


tido, as principais fachadas do edifício seriam orienta-
das para as direções Sudeste e Noroeste, expondo-se
assim à exposição solar constante. Dessa forma, essas
faces foram protegidas através da técnica de fachada
dupla, composta de 3 elementos.

Brises verticais móveis em alumínio tipo asa de avião,


esse modelo permite a adaptação à trajetória solar ao
longo do ano e que liberam a passagem de vento;

Colchão de ar intermediário, constantemente ventila-


do e que colabora com o resfriamento dos painéis de
vidro;

Painéis de vidro laminado temperado triplo, modelo


que também possui 2 camadas de vidro protegido
contra radiação ultravioleta e uma camada central de
ar desidratado que retém boa parte do calor externo.

Ainda que, devido ao seus usos, os ambientes prote-


gidos requeiram condicionamento artificial do ar, as
fachadas mais expostas foram protegidas da radiação
solar, evitando aquecimento excedente dos ambientes
internos e possibilitando captação de ventilação e ilu-
minação naturais.

Como fatores adicionais foram utilizados ainda jardins


no terreno exposto no subsolo (nível -5.40m) e jardins
verticais na parede de cobogós que separa a gara-
gem do fosso e dos espaços subterrâneos e também
[59] Esquema de ventilação da fachada. Elaborado pelo autor.
[60] Detalhamento da fachada. Elaborado pelo autor. 143
[ 6 ]
considerações finais
147

O Centro de Fortaleza padece das mesmas disfunções


presentes em outras grandes cidades brasileiras: falta
de segurança, ocupações irregulares, mal uso do solo,
abandono de terrenos e imóveis e poluição. Outra
questão que vêm despontando recentemente em nos-
sa sociedade é a temática do empreendedorismo e o
que esse movimento pode promover de positivo para
nossa realidade.

A proposta aqui exposta - recuperar um patrimônio


arquitetônico de grande importância histórica e cultu-
ral para a cidade e criar um novo edifício que acolhe
novos usos e funções relacionando-se com a estrutura
pré-existente e com o entorno em que se inclui - foi
concebida com o intuito de catalisar as relações entre
os diversos setores da sociedade, universidade, gover-
no e iniciativa privada, num esforço conjunto para a
criação e melhoria de idéias, serviços e produtos que
abordem problemas reais e de grande impacto para a
coletividade.

Dentro dessa proposição arquitetônica, buscou-se


atender da melhor forma possível as necessidades dos
usos e atividades dos ocupantes do espaço - tornan-
do-o o mais flexível possível - , reduzir o desconforto
térmico e respeitar a relação com o entorno, sempre
com o intuito de gerar o maior valor social, econômico
e urbanístico na malha urbana do Centro de Fortaleza
e de servir como inspiração para atividades e iniciati-
vas que tenham o mesmo objetivo.
[ + ]
151

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que promete transformar o ecossistema de Startups.
Disponível em: <https://startupi.com.br/2015/05/
conheca-o-cubo-iniciativa-que-ira-transformar-o-e-
cossistema-de-startups-brasileiro/>. Acesso em: nov
2017.

SITE IBGE. Cadastro Central de Empresas. Disponível


em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ce/fortale-
za/pesquisa/19/29761>. Acesso em: nov 2017.

SITE SEBRAE. Disponível em: <http://www.sebrae.


com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ce?codUf=6>. Aces-
so em: nov 2017.
157

LISTA DE FIGURAS [1] Vale do Silício, Estados Unidos. Fonte: <https://


www.reddit.com>.

[2] Tel Aviv, Israel. Fonte: <https://www.thepinnacle-


list.com>.

[3] Sheraa Entrepreneurship Centre, Emirados Árabes


Unidos. Fonte: <http://www.designmena.com/>.

[4] Quadro Quality Venture x Availability of Funding.


Fonte: ISENBERG, Daniel; adaptado pelo autor (tra-
dução livre).

[5] Rua José Avelino. Fonte: <http://www.oestadoce.


com.br/>; <http://www.verdinha.com.br/>; <http://
diariodonordeste.verdesmares.com.br/>.

[6] Buenos Aires Empreende. Fonte: <http://www.


buenosaires.gob.ar/>; <http://ciudademprende.
com.ar>.

[7] Quadro Domains of the Entrepreneurship Ecosys-


tem. Fonte: ISENBERG, Daniel; adaptado pelo autor.

[8] Mapa do Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará


a preços de mercado (2013). Fonte: <http://www.
ipece.ce.gov.br/>; adaptado pelo autor.

[9] Hélice-Tríplice. Fonte: GOMES, M; PEREIRA, F;


adaptado pelo autor.

[10] Modelos da Hélice-Tríplice. Fonte: GOMES, M;


PEREIRA, F; adaptado pelo autor.

[11] Patentes no espaço tridimensional da Hélice-Trí-


plice. Fonte: ISENBERG, Daniel; adaptado pelo autor
(tradução livre).

[12] Universidade Federal do Ceará, Brasil. Fonte:


<http://fabricioassumpcao.com/>.
158

[13] Assinatura do termo de cooperação para com- [24] Zoneamento. Fonte: PMF; elaborado pelo autor.
bate ao Aedes aegypti entre a UFC e o Governo do
Estado do Ceará. Fonte: <http://www.prex.ufc.br/>. [25] Equipamentos relevantes. Fonte: PMF; elaborado
pelo autor.
[14] Conversações sobre como viabilizar um parque
tecnológico no estado entre a UFC e o Governo do [26] Bens tombados. Fonte: PMF; elaborado pelo
Estado do Ceará. Fonte: <http://vermelho.org.br/>. autor.

[15] Assinatura de um acordo de cooperação [27] Vazios urbanos. Fonte: PMF; elaborado pelo
técnico-científica na área da saúde entre a UFC e a autor.
Prefeitura de Fortaleza. Fonte: <http://blogs.diario-
donordeste.com.br/>. [28] Uso e ocupação. Fonte: PMF; elaborado pelo
autor.
[16] Fábrica da Vulcabrás. Fonte: <http://2.bp.blo-
gspot.com/>. [29] Poligonal do Parque Tecnológico e Criativo de
Fortaleza, na Praia do Futuro. Fonte: <http://diario-
[17] Rua Guilherme Rocha (1932). Fonte: <http:// donordeste.verdesmares.com.br/>.
www.fortalezaemfotos.com.br/>.
[30] [31] Parque Tecnológico da Universidade de
[18] Rua Conde d'Eu. Fonte: <http://www.fortaleza- Fortaleza (TEC UNIFOR): reunião de adesão ao
emfotos.com.br/>. PTFor e inauguração. Fontes: <https://www.fortaleza.
ce.gov.br>; <http://g1.globo.com/>.
[19] Relógio da Praça do Ferreira. Fonte: <http://
www.fortalezaemfotos.com.br/>. [32] Porto Digital, Recife. Fonte: <http://www.diario-
depernambuco.com.br/>; <http://www.portodigital.
[20] Planta da cidade de Fortaleza e subúrbios org/>.
(1875). HERBSTER, Adolfo. Fonte: <http://www.
fortalezaemfotos.com.br/>. [33] Fluxograma. Fonte: elaborado pelo autor.

[21] Planta exata da capital do Ceará (1859). HER- [34] Sede da Fundação Pathé. Fonte: <https://www.
BSTER, Adolfo. Fonte: <https://commons.wikimedia. archdaily.com.br>.
org>.
[35] Sede Nacional do SEBRAE. Fonte: <http://
[22] Pormenor da Vila de Nossa Senhora da Assun- www.gruposp.arq.br/?p=33>.
ção (1730). Fonte: <http://www.fortalezanobre.com.
br/>. [36] Cubo Digital. Fonte: <https://startupi.com.br>;
<http://conteudopublicacoes.com.br/cubo/>.
[23] Limites do bairro. Fonte: PDPFOR, 2009; elabo-
rado pelo autor. [37] Recorte da Poligonal de Tombamento, com a
Escola Jesus, Maria e José em destaque. Elaborado
159

pelo autor. Fonte: Instrução de Tombamento do Con- [51] Visão interna do pátio. Fonte: elaborado pelo
junto, CPHC - PMF, 2015; elaborado pelo autor. autor.

[38] Escola Jesus, Maria e José (1905). Fonte: [52] Visão interna do pátio. Fonte: elaborado pelo
<http://www.fortalezanobre.com.br/>. autor.

[39] Levantamento Fotográfico EJMJ (2015). Fonte: [53] Terraço-jardim. Fonte: elaborado pelo autor.
Instrução de Tombamento do Conjunto, CPHC - PMF,
2015. [54] Co-working. Fonte: elaborado pelo autor.

[40] Mapa de danos: térreo / subsolo. Fonte: FON- [55] Corredor das salas empresariais. Fonte: elabora-
TENELE, Bia Ko; adaptado pelo autor. do pelo autor.

[41] Mapa de danos: coberta. Fonte: FONTENELE, [56] Axonométrica de layout dos pavimentos. Fonte:
Bia Ko; adaptado pelo autor. elaborado pelo autor.

[42] Mapa de danos: cortes e fachadas. Fonte: FON- [57] Detalhamento da Ligação Vierendeel + Concre-
TENELE, Bia Ko. to. Fonte: elaborado pelo autor.

[43] Mapa de danos: elevações. Fonte: FONTENELE, [58] Estrutura explodida. Fonte: elaborado pelo autor.
Bia Ko.
[59] Esquema de ventilação da fachada. Fonte: ela-
[44] Construção / Demolição. Fonte: elaborado pelo borado pelo autor.
autor.
[60] Detalhamento da fachada. Fonte: elaborado
[45] Planta de Implantação. Fonte: elaborado pelo pelo autor.
autor.

[46] Axonométrica de volumetria. Fonte: elaborado


pelo autor.

[47] Quadro de áreas. Fonte: elaborado pelo autor.

[48] Axonométrica de implantação e carta solar.


Fonte: elaborado pelo autor.

[49] Implantação. Fonte: elaborado pelo autor.

[50] Esquina R. Cel. Ferraz com Av. Santos Dumont.


Fonte: elaborado pelo autor.
[ rendering ]

EMILIA SOUSA

[ diagramação ]

RAÍSSA ALENCAR e VICTOR CANDIDO

[ este livro foi impresso utilizando as seguintes fontes ]


Futura / Montsserrat / Code Pro

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