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CDD720
Banca Examinadora:
À minha família, por sempre acreditar e apostar em Ao Movimento Empresa Júnior, Consultec Jr, FEJECE
mim e, em especial, aos meus pais, Cleide e Gildi- e Brasil Júnior pela experiência sem paralelo, que
van, exemplos máximos de humildade, generosida- me guiou à escolha desse tema e que me formou
de e perseverança sem os quais eu não seria nada. como líder e gestor através de valores tão importan-
Obrigado por todo o apoio, presença, carinho e tes, me tornando um empreendedor comprometido
amor que me foram dados por toda a minha vida. e capaz de transformar o Brasil.
À Alana, pela paciência, pela amizade, pelo afeto Aos meus professores e mestres da Universidade
e por me fazer um homem melhor. Obrigado por Federal do Ceará, que tanto contribuíram na minha
todo o seu amor. formação profissional, o meu mais profundo agra-
decimento pelo sacrifício diário e pelo aprendiza-
À Raíssa, irmã de coração, mentora, sócia, parceira do; ao Eng. Paulo Cunha do Nascimento, por todo
e, sobretudo, amiga. o auxílio no desenvolvimento deste projeto; à Profª.
Dra. Margarida Julia Farias de Salles Andrade, por
Ao meu primo-irmão, Pedro Lucca, que me inspirou
sua presença na minha educação histórica enquan-
a encarar essa jornada pela Arquitetura e Urbanis-
to arquiteto e pela sua participação na banca; à
mo.
arquiteta Dra. Neliza Maria e Silva Romcy pela so-
Ao GA: Alana, Isadora, Rafaella, Raquel, Renata e licitude em participar da banca de forma tão gentil.
Yuri. Obrigado pelo companheirismo, pela alegria
compartilhada e pelo convívio nesses 6 anos. Ao Prof. Dr. Romeu Duarte Junior, por aceitar par-
ticipar dessa empreitada, pela paciência e pela
À Allan, Ana Paula, Bárbara, Bianca, Catarina, orientação em todos esses meses de trabalho. Muito
Eduardo, Ianna, Igor, João Fernandes, Gabriel, Lu- obrigado!
cas e Raquel pela amizade, pelo apoio e por me
fazerem crescer tanto como líder, liderado, profis- A todos que de alguma forma contribuíram para a
sional e como ser humano. realização deste trabalho.
RESUMO
[ 2 ] O EMPREENDEDORISMO E A INOVAÇÃO
[ 3 ] A ÁREA ESCOLHIDA
[ 6 ] CONSIDERAÇÕES FINAIS
[p. 147]
[+]
JUSTIFICATIVA
A criação de um ambiente propício para o desenvol- - como o Núcleo de Gestão do Porto Digital no Reci-
vimento de atividades e iniciativas empreendedoras é fe, nacionais - como o Cubo Digital em São Paulo ou
um fator de relevância primordial para o estabeleci- internacionais - como o Campus da Google Inc., na
mento de uma cultura empreendedora em qualquer Califórnia.
local. No Estado do Ceará, diversos movimentos com
o intuito de usar o empreendedorismo como vetor de Atualmente, já despontam alguns escritórios de
potencialização das atividades produtivas, prosperi- coworking como alternativa para essa demanda. Po-
dade econômica e bem-estar social, têm surgido nos rém, esses equipamentos abarcam primordialmente a
últimos anos. Tanto iniciativas governamentais, quanto necessidade espacial dos negócios, carecendo ainda
iniciativas privadas e acadêmicas englobam diversas de completa integração e alinhamento de diversas
organizações voltadas para a inovação tecnológica e organizações voltadas à inovação, ao incentivo, à
para a canalização de oportunidades de geração de colaboração e ao investimento de recursos entre os di-
negócios e idéias. versos atores do ecossistema empreendedor cearense.
A população cearense tem uma capacidade empre- Importante salientar, também, a necessidade da incor-
endedora de grande destaque, com algumas das poração do espaço arquitetônico e urbano ao uso das
maiores indústrias e iniciativas empreendedoras do pessoas, compreendendo a escala humana da cidade
país residindo em nosso estado. Contudo, para muitos e o seu impacto no cotidiano dos usuários (GEHL, Jan).
empreendedores, ainda falta um ambiente fértil que Por fim, a implantação do equipamento no Centro de
catalise seus esforços e o conecte com pessoas e or- Fortaleza explicita a importância do restauro e da
ganizações que incentivem, invistam e colaborem com conservação do patrimônio físico e cultural da cidade
suas ideias e seus negócios, desperdiçando um poten- através da reconceituação dos objetos arquitetônicos
cial imenso de desenvolvimento de capital humano e e sua reincorporação à malha urbana contemporânea.
tecnológico local (LEYDESDORFF; ETZKOWITZ, 1996;
1998; ETZKOWITZ; LEYDESDORFF ,2000; THERG,
2013).
Como objetivo geral, pretende-se por meio deste [a] Criar um espaço de trabalho que incentive a inte-
trabalho pretende, utilizando todo o conhecimento e gração entre seus usuários.
experiência assimilados ao longo da graduação, ela-
borar uma proposta de equipamento que integre os [b] Elaborar uma proposta de Restauro que recupere
atores do cenário empreendedor no Estado do Ceará, o uso e a importância da Escola Jesus, Maria e José
potencializando a criação novos negócios, a inova- em Fortaleza.
ção tecnológica e o desenvolvimento de ideias que
impactem a sociedade cearense. Aliada a essa pro- [c] Potencializar o Ecossistema Empreendedor através
posta, propõe-se o restauro da Escola Jesus Maria e de um ambiente que materialize os seus princípios e
José, localizada no Centro de Fortaleza, reutilizando promova a prosperidade sócio-econômica da socie-
seu espaço em seu propósito inicial, como ambiente dade.
de aprendizagem e suporte àqueles que precisam.
[d] Desenvolver um projeto arquitetônico que atenda
aos requisitos de conforto ambiental, funcionalidade,
sustentabilidade e acessibilidade, que proporcionem
o bom desempenho do programa de atividades e ne-
cessidades.
[ 2 ]
o empreendedorismo e a inovação
23
Uma política de Estado eficaz, voltada ao incentivo Como exemplo, podemos citar Pernambuco, um esta-
[5] Rua José Avelino. 27
damental no desenvolvimento de uma economia mais 3. INTERVIR HOLISTICAMENTE COM UMA PERS-
dinâmica, forte e diversa. PECTIVA COMPREENSIVA DO ECOSSISTEMA
Há uma transcendência ao óbvio quando discutimos o Intervir holisticamente no ecossistema implica com-
impacto do movimento empreendedor na sociedade, preender os fatores (ou domínios) atuantes, que eles
posto que ele vai muito além de criar novos empregos se relacionam e que a maioria dessas relações não
e atinge vários pontos: é regulada. É importante perceber que não se pode
incentivar um desses fatores sem que os outros sejam
- Valorização e apoio a um mecanismo de supor- afetados, positiva ou negativamente. [7]
te à coleta razoável de taxas. O despontamento de
iniciativas irregulares, tais como feirantes da Rua José Atualmente, no Ceará, temos diversos exemplos de ini-
Avelino ou ambulantes nos entornos do Centro Cultural ciativas e políticas de incentivo à educação empreen-
Dragão do Mar são danosos à economia e à arreca- dedora, assim como testemunhamos o surgimento de
dação do município. Encerrar ou regularizar tais mo- novos Polos Tecnológicos no município de Fortaleza.
dalidades de comércio é uma forma de criar melhores Esses programas, quando planejados e executados
condições para o surgimento e manutenção de inicia- separadamente, podem trazer consequências per-
tivas empreendedoras que aumentem a arrecadação versas para o ecossistema local, tais como a evasão
estatal, gerem mais empregos e promovam maior di- dos estudantes que passaram por cursos ou atividades
namismo econômico na sociedade. [5] empreendedoras para ambientes mais propícios e que
melhor atendam suas ambições.
- Advento de lideranças públicas e cases de suces-
so. De iniciativas privadas podem surgir diversas lide- Como iniciativas incentivadoras no Ceará temos, so-
ranças públicas nos mais diversos setores do governo mente na Universidade Federal do Ceará, o Centro de
como participantes ativos do processo de mudança e Empreendedorismo (CEMP), o Parque de Desenvolvi-
crescimento da economia. mento Tecnológico, o Instituto de Pesquisa e Desenvol-
vimento Tecnológico e a Fundação Núcleo de Tecno-
Governos e prefeituras precisam alocar mais e melho- logia Industrial do Ceará (do Governo do Estado, mas
res recursos no que tange à políticas empreendedoras, instalado dentro da UFC, no Campus do Pici). Existem,
com valores relevantes de seus orçamentos dedicados ainda, outras entidades que atuam como incubadoras
ao suporte a negócios de grande potencial, como é ou educadoras.
realizado nos programas BarcelonaActiva e Buenos
Aires Empreende. Este último já capacitou mais de Providenciar suporte, no entanto, sem se preocupar
10.000 pessoas com educação empreendedora e téc- em como tornar o capital disponível pode acabar
nicas de modelo de negócio, organizou eventos para retirando recursos de onde eles realmente deveriam
mais de 20.000 pessoas e co-invest, junto a 4 acele- ser aplicados. É crucial que haja uma estratégia que
radoras em 7 empresas. [6] seja executada de maneira específica em cada uma
[6] Buenos Aires Empreende. 29
30 [7] Quadro Domains of the Entrepreneurship Ecosystem. Adaptado
pelo autor.
31
das áreas, mas que, com uma perspectiva holística do Quando um sistema com feedback positivo chega a
ecossistema, atinja todos os domínios indiretamente, um limiar de crescimento estimulado, ele se torna au-
ou seja, entendendo que estes domínios atuam em tossustentável e passa a gerar exemplos de sucesso
conjunto, num equilíbrio muito delicado, e relacionan- por si só, iniciando um círculo virtuoso de incentivo às
do-os de forma a criar um solo fértil para novas idéias novas gerações.
e tecnologias.
“As pessoas começam a falar sobre o assunto e ele se
4. ESTABELECER UM OBJETIVO DE UMA INICIATIVA torna socialmente aceitável, instituições começam a
DE GRANDE POTENCIAL ENTRANDO NO SISTEMA se forma, o governo o reconhece como algo positivo
PARA CADA PARCELA DA POPULAÇÃO que está acontecendo e pode passar a escutar novos
empreendedores de influência para iniciar reformas
A prática de definir objetivos específicos, mensuráveis, em suas estrutura e políticas. O Ecossistema se forta-
alcançáveis, realistas e temporais (do inglês, SMART lece, gerando mais empreendedores que fortalecem
Objectives) é comum no meio empresarial, onde o al- ainda mais o ecossistema. Sucesso gera sucesso.”
cance de metas e de resultados são a medida mais
fundamental de compreensão do crescimento e con- — ISENBERG, 2011, p. 9 (tradução livre).
solidação de qualquer negócio. No meio político e
nos governos, contudo, esse costume não é tão sólido Essa é uma situação que já ocorre no Ceará, onde o
quanto deveria. Isso é um grande obstáculo ao alcan- empreendedorismo passou a tomar conta dos diálo-
ce de objetivos de impacto relevante, principalmente gos nos mais diversos setores. As empresas passam a
quando se trata de visões tão complexas quanto o de- tratar inovação como assunto sério e requalificam suas
senvolvimento de um ecossistema empreendedor. estruturas para se tornar sempre mais inovadoras. Uni-
versidades acolhem o empreendedorismo como dire-
Portanto, estabelecer um objetivo de alcançar cases trizes estratégicas e programas públicos de incentivo
de sucesso é algo fundamentalmente importante para ao micro e pequeno empresário passam a ser forma-
consolidar a cultura empreendedora. Segundo Geert dos.
Hofstede (1997), a cultura organizacional de qual-
quer entidade se manifesta de diversas formas, uma Contudo, há pouco motivo para apostar que o gigan-
delas, é a dos heróis. Eles são pessoas reais ou ficcio- tesco incentivo que se dá aos pequenos negócios vá
nais que, valorizadas dentro de uma cultura, tornam- gerar empresas de grande sucesso. O que acontece
-se exemplos personificados dos valores e das práticas é a valorização do fator político, já que é mais sedu-
prezados pela organização. São paradigmas com- tor bradar que uma política de governo gerou 1000
portamentais que ajudam a estabelecer um padrão de MPEs que empregam 2 funcionários cada. Falta a
ação para os indivíduos e colaboram com a formação compreensão de que uma empresa de grande suces-
de uma mentalidade positivista. so não gera somente empregos diretos, mas atrai toda
uma demanda de suporte, com advogados, consulto-
32
res, investidores e gerentes. tratar grandes esferas geográficas como base para
análise e políticas de incentivo, que distribuem ainda
A constatação deste princípio é que a meta de incenti- os já parcos recursos atribuídos ao setor para abar-
vo deve ser focada em profundidade e não abrangên- car a maior demografia possível e promover uma ima-
cia, ou seja, nas poucas iniciativas com alto potencial gem mais “justa”. Exemplos de cidades internacionais,
de impacto, ao invés das diversas organizações com como Buenos Aires e Tel Aviv, mostram que o modo
grandes chances de fracasso. O objetivo estabelecido mais apropriado de desenvolver estratégias de in-
deve visar a prospecção e o suporte aos negócios com centivo baseadas em áreas espaciais é aglomerar o
mais capacidade de repercutir positivamente e não na máximo de recursos de forma constante e sustentável,
sobrevivência da maior quantidade possível de negó- numa associação entre o Estado, o setor privado e as
cios, estratégia que se mostra um colossal desperdício universidades (LEYDESDORFF; ETZKOWITZ, 1996).
de recursos.
Devido a essa mentalidade estatal, acontece com
Por fim, a valorização e a divulgação dos exemplos de grande frequência a criação de infraestrutura sem de-
sucesso mostram-se fatores de catalização do espírito manda direta, que pode se provar uma política extre-
empreendedor no ecossistema, condição que colabo- mamente dolorosa economicamente para uma cidade,
ra com a evolução do ambiente em direção à sua sus- como os eventos da Copa do Mundo de 2014 no Bra-
tentabilidade. sil e das Olimpíadas de Verão de 2016, na cidade do
Rio de Janeiro, nos mostraram. Sem uma rede de men-
5. FOCAR EM ÁREAS MUITO ESPECÍFICAS E CON- tores, investidores, educadores e serviços de suporte;
CENTRADAS em suma, sem um ecossistema adequado, os empreen-
dedores se verão num espaço para trabalhar, mas sem
Ao redor do planeta, o empreendedorismo, enquanto o devido apoio para alcançar um alto impacto.
movimento, tende a se organizar em áreas geográ-
ficas muito específicas. Isso se deve à facilidade de Essa estratégia entra em confronto direto com o pro-
concentração de recursos humanos, financeiros, in- grama da Prefeitura de Fortaleza, o Fortaleza 2040
formações e mercados que gravitam em torno desses - Economia Criativa (PMF, 2015), que incentiva a cria-
núcleos. Esse processo é muito semelhante à urbani- ção e distribuição de centros de incubação de empre-
zação das cidades brasileiras, em especial Fortaleza, sas através do Município em distritos pré-estabeleci-
que concentra 45% do PIB cearense (IPECE, 2014), fe- dos, o que só torna os resultados a serem alcançados
nômeno que fortalece a cultura empreendedora local, tão insípidos quanto sua concentração geográfica. Se
facilita a ação política do Estado, a atuação do setor as visões deste programa têm um prazo de cerca de
privado e o desenvolvimento individual dos próprios 30 anos, a melhor diretriz seria concentrar os recursos
empreendedores. [8] e desenvolver um núcleo de ecossistema empreende-
dor forte e autossustentável e, só então, expandir para
A linha de ação dos governos, contudo, continua a outras áreas da cidade. Hoje, vemos o surgimento de
[8] Mapa do Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará a preços de 33
mercado (2013). Adaptado pelo autor.
vários Pólos Tecnológicos em Fortaleza, cada um em Percebendo esse cenário, em abril de 2015, foi cria-
um espaço físico diferente, cada um com um cluster de da a Rede Empreender Ceará, uma organização, que
empresas diferentes, mas sem uma estratégia de atua- busca fortalecer o ecossistema com a união dos re-
ção conjunta de forma holística. presentantes dos diferentes setores das universidades,
do governo e organizações privadas. O que ocorre,
Entendendo essa necessidade de foco geográfico, o contudo, é que nenhum destes setores consegue atu-
Centro da capital cearense apresenta-se como uma ar individualmente e causar impacto considerável. O
opção adequada, com infraestrutura consolidada, lo- governo possui a incubência, porém lhe falta a exper-
calização central e um potencial de reaproveitamento tise. Organizações privadas, apesar de dominarem o
e recuperação imenso de edifícios históricos e áreas savoir-faire empreendedor, carecem da perspectiva,
desocupadas que poderiam vir a abrigar novos pré- dos recursos ou da motivação para tal, uma vez que
dios. É um bairro que manifesta muitos dos aspectos são, na maioria dos casos, orientadas somente para a
necessários para a implantação de um espaço con- obtenção de lucro próprio.
veniente para a alocação de empresas e negócios em
uma área altamente concentrada para gerar o máxi- Para alcançar o objetivo de tornar o ecossistema em-
mo de resultados possíveis no menor tempo possível. preendedor sustentável, é primordial que haja uma
organização norteada para o esforço de evolução
6. ESTABELECER UMA ORGANIZAÇÃO COM PRAZO do cenário empreendedor neste sentido e que, após a
DE ENCERRAMENTO PARA IMPACTAR O ECOSSIS- consecução desta meta, cesse sua existência, dando-
TEMA -lhe um senso de urgência fundamental para o alcance
da visão num curto prazo, o que raramente acontece,
Atualmente, no Ceará, contamos com várias institui- justamente por falta de disciplina e disposição.
ções, voltadas para o desenvolvimento do empreende-
dorismo. Seja por meio da educação, como o Centro Para liderar tal esforço, é preciso que uma equipe de
de Empreendedorismo da UFC (CEMP) e o FB Ideias, profissionais qualificados seja formada e que tenha o
ou pelo suporte ao desenvolvimento de atividades encargo, as competências e a motivação para desen-
empreendedoras, a exemplo do Serviço Brasileiro de volver suas atividades de forma plena. Esse time não
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e tam- deve ser possuído por universidades, estados ou qual-
bém pela promoção da colaboração entre organiza- quer incubadora ou iniciativa privada, mas sim por
ções com propósitos semelhantes, como a Federação todas elas, agindo como acionistas e providenciando
de Empresas Juniores do Estado do Ceará (FEJECE). não só todos os recursos necessários, mas também a
devida supervisão profissional (ISENBERG, 2011).
Cada uma dessas entidades segue diretrizes diferen-
tes, orienta-se por valores diferentes e possui visões de Cada uma das organizações que encontramos no
futuro diferentes, que afetam os domínios do ecossiste- ecossistema empreendedor hoje, ou pelo menos sua
ma empreendedor. maioria, compreende os aspectos de seu trabalho o
35
suficiente para causar efeito significativo em seus do- às iniciativas que atendam necessidades importantes
mínios de interesse, pouquíssimos, porém, se propõem da população. O investimento em uma estratégia bem
a agir de maneira holística para causar um desenvol- dirigida e de perspectiva holística, materializada num
vimento disruptivo que traga a sustentabilidade para o espaço concentrado, liderado por uma equipe qualifi-
ecossistema. cada e com os recursos necessários, é a maneira mais
adequada de seguir esse caminho.
Os princípios explorados acima formalizam o que Da-
niel Isenberg denomina Estratégia do Ecossistema Em- Tratamos da estratégia, eixo central do esforço para
preendedor, uma visão na qual o empreendedorismo a mudança do status quo. Agora, precisamos nos de-
deve ser tratado de forma sistemática para obter um bruçar sobre os atores participantes do ecossistema
ambiente fértil para iniciativas empreendedoras, crian- empreendedor.
do um círculo virtuoso no qual cada vez mais realiza-
ções surjam de um ecossistema autossustentável.
cal no dia seguinte. É impossível recriar ambientes em- ca. Devem investir na inserção da disciplina de Empre-
preendedores como Vale do Silício ou o ecossistema endedorismo nas grades curriculares básicas de todos
de startups de Tel Aviv. Os próprios não conseguiriam os seus cursos, incluindo aulas voltadas a compreen-
recriar o resultado nas condições atuais. são financeira, marketing e planejamento e criação de
modelos de negócios.
“Nós temos que admitir que resolver problemas so-
ciais complexos continua a ser mais arte que ciência. A academia é um ambiente voltado para o debate e
(...) É possível resolver um problema sem compreen- surgimento de novas ideias e tem o maior potencial
dê-lo completamente, em certos casos, minha habili- para ser o centro de geração de conhecimento, crian-
dade de causar mudança pode muito bem ultrapas- do a base para a novos empreendimentos. Se o básico
sar minha habilidade de explicar como eu consegui de compreensão sobre o tema não é apresentado a
fazê-lo.” todos os alunos, o custo das oportunidade desperdiça-
das se faz imenso. Além disso, professores com expe-
— ISENBERG, 2010, p. 3 (tradução livre). riência prática em empresas, escritórios e consultorias
se tornam mais completos e preparados para apoiar
Assim, é necessário que as universidades e organiza- e mentorar alunos a empreender e em muitos casos se
ções que trabalham com educação empreendedora tornarem sócios.
compreendam que a solução do problema passa só
em parte por esta mesma educação. Se ela for colo- As universidades também se voltam para a solução
cada de forma desarticulada, pode acabar aconte- dos problemas da sociedade através do eixo de ex-
cendo uma evasão dos empreendedores capacitados tensão.
para ambientes que melhor favoreçam suas iniciativas.
Portanto, é imprescindível que haja interação entre Através de programas e projetos de extensão, as uni-
o fornecedor de recursos humanos capacitados e os versidades revertem diretamente para a sociedade o
provedores de um ambiente fértil favorável à prosperi- conhecimento gerado dentro de seus espaços. A UFC
dade dos inovadores. possui vários programas neste sentido, tais como as
Empresas Juniores - associações estudantis mentora-
Temos diversas articulações individuais das universida- das por professores, que desenvolvem projetos para
des cearenses voltadas ao empreendedorismo e para pessoas físicas e empresas, afim de fornecer produtos
a educação empreendedora, criando estímulos e in- e serviços de excelência a preços acessíveis, qualifi-
centivos àqueles que almejam iniciar novos negócios cando os alunos e promovendo uma maior participa-
e desenvolver novas ideias. Há um grande interesse ção da Universidade na comunidade. [12]
em criar iniciativas mais vistosas e vendáveis - Grandes
Centros de Empreendedorismo, Polos de Tecnologia e A educação superior, no ambiente acadêmico, é um
Institutos de Inovação. As universidades, porém, ainda fator de extrema relevância no desenvolvimento do
precisam incentivar a educação empreendedora bási- ecossistema empreendedor, sendo difícil imaginar um
[12] Universidade Federal do Ceará, Brasil. 41
42 [13] Assinatura do termo de cooperação para combate ao Aedes
aegypti entre a UFC e o Governo do Estado do Ceará. »
[14] Conversações sobre como viabilizar um parque tecnológico
no estado entre a UFC e o Governo do Estado do Ceará. »
cenário onde haja crescimento sustentável de empre- das universidades, é fundamental que haja um maior
sas e do empreendedorismo como um todo sem fortes interesse e estudo dele nas principais estratégias de
instituições de educação que possuam em seus pro- fomento ao empreendedorismo. Hoje, através de cen-
gramas pedagógicos o ensino de disciplinas relacio- tros e institutos instalados nas principais instituições de
nadas ao empreendedorismo e programas que as im- ensino superior do Ceará, como o Instituto de Pesqui-
plementem na prática. sa, Desenvolvimento e Inovação (IPDI) no Campus do
Pici da Universidade Federal do Ceará, o Governo do
4. O ESTADO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS Estado participa em conjunto com o Governo Federal
no financiamento de um espaço para desenvolvimento
Uma questão pertinente que surge nos modelos da de tecnologias, produtos e processos, e realização e
Hélice Tríplice é: qual a função do Governo nas rela- apoio aos projetos de pesquisa, com a finalidade de
ções entre Universidade e Indústria? promover o desenvolvimento sócio-econômico do Ce-
ará. Essa missão do IPDI trás à tona outro importante
A pergunta divide a opinião entre os estudiosos do processo no papel do Governo na Hélice Tríplice: in-
tema. Enquanto uns (MOTA, 1999) defendem [a] co- tensificar e promover a interação entre cientistas aca-
operação do governo no fornecimento de incentivos dêmicos e industriais para a resolução de problemas
para pesquisa e inovação de uma forma geral, [b] cria- técnico-científicos importantes, captando recursos do
ção de diretrizes para problemas mais estratégicos da setor privado e incentivando a participação das uni-
sociedade e [c] fornecimento de fundos iniciais para o versidades e dos acadêmicos nesse modelo de convê-
desenvolvimento de projetos, outros (TECCHIO, 2010) nio empresa-universidade.
adotam uma postura mais alinhada com o mercado
livre, onde o Estado se envolve o mínimo possível nas Em nível federal, podemos levantar um grande exem-
relações, trabalhando somente com a manutenção da plo da relevância da atuação do governo no estímu-
infraestrutura. lo a um ambiente mais favorável ao desenvolvimento
das relações empresa-universidade. A Lei de Inovação
Segundo Gama Mota (1999), o governo atua no fo- (Lei nº 10.973, de 12 de dezembro de 2004), primei-
mento de políticas públicas voltadas para o incentivo ra peça de legislação desenvolvida sobre o tema das
ao processo de inovação, bem como no fornecimento relações entre organizações privadas e universidades
dos recursos necessários para a realização de pes- no Brasil, foi criada para:
quisas. É papel do Estado, como agente regulador no
ecossistema empreendedor, formular leis e criar polí- [a] Estimular a criação de ambientes especializados e
ticas que catalisem o processo de cooperação entre cooperativos de inovação;
Empresas e Universidades, assim como remover desin-
centivos para a pesquisa e inovação. [b] Estimular a participação de Instituições Científicas e
Tecnológicas (ICT) no processo de inovação;
Sendo o governo, no Brasil, o principal financiador
[15] Assinatura de um acordo de cooperação técnico-científica na 43
área da saúde entre a UFC e a Prefeitura de Fortaleza.
coletor e exportador” (SILVA, 1994. Apud PMF, 2015). a implementação de um sistema de iluminação a gás,
A cidade tornou-se aos poucos palco de um acelera- o alargamento de algumas avenidas, a criação de um
do crescimento demográfico e de intenções civiliza- teatro e um mercado de ferro. Destacaram-se ainda as
doras vigentes nos fins do século XIX. Novos discursos melhorias no porto e o estabelecimento de firmas es-
pretendiam alinhá-la rapidamente ao modelo europeu trangeiras na cidade que concretizaram os anseios de
de modernização urbana, sendo patrocinado pelas aumento de fluxo de pessoas e mercadorias. Por fim,
elites políticas, econômicas e intelectuais, formada tivemos a construção do novo cemitério, o São João
principalmente por profissionais liberais, como bacha- Batista, afastando para periferia os mortos e as doen-
réis, médicos e engenheiros (PONTE, 1993). O projeto ças da região mais valorizada da cidade. (PMF, 2015)
defendido era o de uma remodelação urbana da ci-
dade, através da reestruturação da arquitetura de seus No fim da década de 1880, cumpriram-se de manei-
prédios, da composição de seus jardins e logradouros ra mais objetiva as transformações que foram sendo
e de suas ruas (PONTE, 2007 In: SOUSA, 2007). construídas paulatinamente nos anos anteriores con-
vertendo-se em transformações não apenas na arqui-
Adolfo Herbster foi convidado, então, a elaborar o tetura da cidade, mas também no próprio cotidiano e
plano urbanístico de Fortaleza entre as décadas de na subjetividade das pessoas através da influência das
1870-1880, seguindo as diretrizes estabelecidas an- ideias positivistas, evolucionistas e liberais.
teriormente por Antônio José da Silva Paulet. Reafir-
mou-se, assim, a antiga imagem-matriz do xadrez nas A partir do século XX, iniciou-se um processo corres-
intenções de esquadrinhamento do espaço desejado pondente à grande especialização funcional e ao
para uma “nova” Fortaleza, atualizando-o ao esten- adensamento de edificações, motivados por um ace-
der cada vez mais as linhas para a periferia de então, lerado crescimento urbano marcado por intensa subur-
ainda no sentido mar-interior. Esse plano de ação limi- banização. Neste período o centro foi condicionado
tou-se a uma área vivenciada e praticada pelos mais a adaptar-se a uma crescente procura por comércio e
abastados, formando um “centro urbano, que compre- serviços. De forma geral, o ambiente construído sofreu
endia a cidade propriamente dita, situada entre o mar transformações significativas tanto no que se refere às
e as vizinhanças da atual avenida Duque de Caxias, edificações - através de um processo de substituição e
entre a depressão do Pajeú e as proximidades da atual descaracterização - como aos espaços públicos - por
praça José de Alencar” (CORDEIRO, 2007). Nota-se, uma adaptação às novas necessidades de circulação
portanto, a importância geográfica do Riacho Pajeú, (RUFINO, 2005). O final deste período correspondeu
que no primeiro momento, constituiu uma barreira à à máxima extensão da área central, a partir das ações
expansão da malha urbana em direção à zona leste. de adensamento e adequação das estruturas urbanas
(RUFINO, 2005).
Os símbolos de um possível desenvolvimento eram
outros. As novas mudanças foram representadas à Um século após sua expansão de modo mais progres-
época pela instalação da ferrovia de Baturité (1873), sivo, o Centro de Fortaleza passou por um processo de
51
DIAGNÓSTICO 1. LOCALIZAÇÃO
Limites do Bairro
Limites do Centro Histórico
Poligonal de Tombamento
[24] Zoneamento. Elaborado pelo autor.
ZEDUS I
ZEDUS II
ZEPH
ZO III
ZOP 1
ZOP 2
[25] Equipamentos relevantes. Elaborado pelo autor.
Cultural
Comercial
Verde / Livre
Religioso
Saúde
Institucional
Educacional
Tombamento Federal
01- passeio público
02- teatro josé de alencar
03- palacete carvalho mota
04- assembleia provincial (museu do ceará)
Tombamento Estadual
01- armazéns particulares
02- secretaria da fazenda
03- antiga cadeia pública (emcetur)
04- estação joão felipe
05- galpões da rffsa
06- sede do iphan
07- cineteatro são luiz
08- palacete ceará
09- praça dos leões - palácio da luz - igreja do
rosário
10- solar fernandes vieirea
11- sobrado josé lourenço
Tombamento Municipal
01- antiga alfândega (caixa cultural)
02- seminário igreja da prainha
03- teatro são josé
04- casarão dos fabricantes
05- fortaleza nossa sra da assunção
06- hotel do norte (museu da indústria)
07- santa casa de misericórdia
08- igreja do patrocínio
09- praça josé de alencar
10- lord hotel
11- farmácia oswaldo cruz
12- escola de música luiz assunção
13- parque da liberdade
14- bosque do pajeú
15- colégio justiniano de serpa
16- escola jesus, maria e josé
17- colégio imaculada conceição
18- antigo mercado central municipal
19- palácio joão brígido
20- mercado dos pinhões
21- palacete do barão de camocim
[27] Vazios urbanos. Elaborado pelo autor.
Estacionamento
Prédios subutilizados
Prédios vazios
Áreas verdes / praças
[28] Uso e ocupação. Elaborado pelo autor.
Uso comercial
Uso Residencial
61
62
2. LEGISLAÇÃO
Zona 1 - Diretrizes:
em 2000 como uma política pública para o setor de e materiais mais adequadas;
Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) que
interligasse atores, empresas e organizações que até [4] Prezar pelos princípios do Desenho Universal, tor-
então agiam de forma independente e isolada. nando todo o projeto acessível e convidativo para
toda a população;
“A ideia do grupo era aproveitar uma região atrativa
para a inovação e estimular mudanças econômicas e [5] Materializar espaços flexíveis e de fácil adaptação
sociais para gerar mais riqueza, emprego e renda no aos usuários e suas necessidades.
Estado de Pernambuco.”
2. DIRETRIZES PROJETUAIS
1. CO-WORKING
2. ORGANIZACIONAL
3. CAPACITAÇÃO
4. ESPAÇOS COMUNS
entradas servindo como estacionamentos irregulares, cavam abrigo e trabalho na capital, a iniciativa de
inclusive no recuo da EJMJ. Dom Joaquim José Vieira, segundo bispo do Ceará,
destinava-se a proporcionar aos meninos pobres uma
Próximo ao Bosque do Paço Municipal e ao lado da educação básica e voltada ao trabalho com artes e
Praça Filgueiras de Melo, o quarteirão possui arbori- ofícios, porém conciliada à educação cristã.
zação abundante, favorecendo a suavização do in-
tenso clima alencarino. Devido à recusa da Congregação dos Padres Sale-
sianos em administrar e dirigir a Escola, três Irmãs de
Uma condição de grande relevância patrimonial e le- Caridade da Congregação de São Vicente de Paulo
gal é a inserção do terreno na Poligonal de Preserva- assumiram essa responsabilidade, auxiliadas por qua-
ção Histórica e Patrimonial do Conjunto Colégio da tro órfãs do Colégio da Imaculada Conceição e pelo
Imaculada Conceição, Igreja do Pequeno Grande, Monsenhor Vicente Pinto Teixeira, como administrador.
Escola Jesus, Maria e José e Escola Estadual Justinia-
no de Serpa, resguardada pela Lei de Proteção do Situado ao lado do Colégio da Imaculada Conceição
Patrimônio Histórico-Cultural e Natural do Município e do Colégio Normalista, a EJMJ se estabelece em
de Fortaleza (Lei nº 9347, de 11 de março de 2008), uma região de instituições voltadas ao ensino e funcio-
que visa a proteção ao conjunto, preservando sua am- na, basicamente, através de caridade e doações, além
biência, valorização e requalificação da área e que da renda ofertada pela Igreja Católica.
estabelece algumas diretrizes e recomendações para
a preservação dos edifícios e do entorno destes (PMF, Com programa inicial projetado para atender cerca
2015). de 320 alunos matriculados, a Escola funciona até o
início da década de 1920 e durante esse período de
2. TEORIA E HIPÓTESES DE RESTAURO 15 anos, atendeu cerca de 3.850 crianças. A partir
de então, passa a abrigar a Casa Paroquial da Cate-
2.1. HISTÓRICO dral da Sé. Em setembro de 1930, foi inaugurado em
seu espaço o Cine Paroquial e em 1931, instalou-se lá
Construído em 1905, o edifício conhecido como Es- também a Associação O Berço do Pobre. No começo
cola Jesus, Maria e José foi idealizado, inicialmente, da década de 1960, a Rádio Assunção Cearense e o
como espaço para promover o ensino e a religião jornal O Nordeste passam a funcionar no local, aco-
católica. No entanto, ao longo dos anos, passou pe- modando-se na porção posterior do edifício e alteran-
los mais diversos usos e instituições, de uma loja de do consideravelmente sua estrutura física. Em 1979, o
máquinas agrícolas até parte do Fórum Autran Nunes prédio abrigou vários cursos e o secretariado da Ar-
(PMF, 2015). quidiocese de Fortaleza, assim como a nova Escola de
Nossa Senhora Aparecida.
Fundada em um contexto de extrema pobreza e seca
no Ceará, onde massas desvalidas de sertanejos bus- Somente no ano de 2006 que a edificação foi de-
[38] Escola Jesus, Maria e José (1905). 91
as salas com o espaço aberto, sendo sustentado por 2.3. ESTADO DE CONSERVAÇÃO
finos pilares de ferro fundido, em acabamento com-
posto por mísulas, que sustentam as linhas da coberta O prédio da Escola tem mais de 112 anos. Desde sua
de telha cerâmica, com estrutura de madeira assente construção passou por décadas de uso impróprio, al-
em meia-asna simples. teração de sua estrutura física e descaracterização de
sua composição original, com depredação, abando-
Na fachada principal, encontramos pilastras que mar- no e exposição às intempéries. Por conseguinte, atual-
cam a porta principal em arco pleno e que se elevam mente, seu estado é precário, com algumas patologias
até a platibanda - coroada com imagens de Jesus, consideradas mais severas:
Maria e José - que, sobre a cornija, possui elementos
decorativos vazados em toda a sua extensão ao redor [a] Descaracterização das fachadas e da planta ori-
do prédio. As fachadas laterais repetem os mesmos ginal pelas adaptações irregulares realizadas pelos
elementos da principal. ocupantes;
As vergas dos vãos são retas, com janelas em vidro e [b] Infiltração de umidade, provocando fungos e bolo-
madeira, encimadas por elementos decorativos elabo- res por todo o edifício;
rados em reboco.
[c] Fissuras e trincas na estrutura e no revestimento,
A estrutura do edifício consiste em alvenaria autopor- com seus elementos de suporte colapsando em alguns
tante, com coberta de telhas capa-canal sustentada pontos;
por estrutura de madeira com asna de paládio, ou sim-
ples. As salas tinham forro de placas de gesso. [d] Desprendimento do revestimento das paredes por
meio de causas diversas;
O hall de entrada, separado do auditório por um di-
visória de madeira, tem forro de gesso trabalhado e [e] Perda e extravio de diversos materiais, como gra-
metade de suas paredes revestidas por pastilhas de des, esquadrias e alvenaria pela ação humana dentro
cerâmica. A porta de acesso à varanda possui duas outros;
folhas retangulares, diferentemente da porta da entra-
da principal. As esquadrias originais foram todas im- [f] Anomalia em coberta, principalmente na ala sul do
plantadas em recuos moldurados. prédio, causadas pelos constantes ataques à estrutura
de madeira por fungos e térmitas e agravadas pela
As salas de aula e o auditório foram assentados com exposição a intempéries;
piso em tábua corrida. Já a varanda, o hall e algumas
partes da edificação utilizam ladrilho hidráulico poli- [g] Vegetação parasitária consequente da falta de
cromático (PMF, 2015). manutenção e abandono, caracteriza-se pela presen-
ça de trepadeiras, fungos, liquens ou pátina biológica.
95
Utilizando os documentos desenvolvidos pelas mais [c] A adaptação será o agenciamento de um bem a
diversas instituições voltadas ao restauro, preservação uma nova destinação sem a destruição de sua signifi-
e conservação do patrimônio histórico, artístico e cul- cação cultural.
tural, mais especificamente as Cartas Patrimoniais e al-
gumas obras paralelas, expõem-se aqui conceitos fun- Contudo, busca-se aqui não somente a restauração, a
damentais que servirão de alicerce para o restauro e a reconstrução e a adaptação do prédio, mas uma nova
reabilitação do edifício da Escola Jesus, Maria e José. abordagem - a reabilitação - que contrapõe os mode-
los tradicionais de preservação e conservação.
“Do jeito que vem sendo praticada, a preservação é
um estatuto que consegue desagradar a todos: o go- É a partir do Congresso de Amsterdã que se reconhece
verno fica responsável por bens que não pode ou não explicitamente a importância da manutenção e da re-
quer conservar; os proprietários se irritam contra as cuperação econômica das áreas protegidas:
proibições, nos seus termos injustos, de uso pleno de
um direito; o público porque, com enorme bom sen- “A reabilitação de bairros antigos deve ser concebida
so, não consegue entender a manutenção de alguns e realizada, tanto quanto possível, sem modificações
pardieiros, enquanto assiste à demolição inexorável importantes da composição social dos habitantes e
e pouco inteligente de ambientes significativos.” de uma maneira tal que todas as camadas da socie-
dade se beneficiem de uma operação financiada por
— SANTOS, 1986 apud CASTRIOTA, 2007. fundos públicos.”
Remoção e substituição das peças instaladas por Colocação de corrimãos nas escadas laterais da
novas, mantendo-se o desenho e o material utili- fachada;
Reconstrução da ala norte servindo à nova distri-
buição devido à adequação ao novo programa
de necessidades;
Demolição do anexo;
O Projeto Arquitetônico do Centro de Inovação e Cul- mesmo nos pavimentos do subsolo. Sua volumetria foi
tura Empreendedora, a partir de suas diretrizes e dos estabelecida pela escala da EJMJ e criada a partir do
estudos realizados, busca atender 3 principais deman- uso de 4 volumes, os dois blocos verticais de serviço
das: e circulação que interligam os dois blocos monolíticos
horizontal que abrigam o programa, um no subsolo e
1. Requalificação da Escola Jesus, Maria e José para o um erguido a partir de um vão central, elemento defi-
uso administrativo e dos ambientes que apresenta me- nido com o intuito de suavizar a tectônica do edifício.
nor flexibilidade espacial;
As dimensões traduzem o edifício antigo para uma
2. Melhor utilização e expansão do Terreno através nova linguagem, com suas fachadas e medidas hori-
da remoção dos anexos, dos prédios subutilizados na zontais refletidas nos blocos de serviço e no volume
porção posterior, utilizando pavimentos no subsolo; deitado do novo prédio.
3. Edificação de um prédio que atenda às exigências Os acessos de veículos e de serviços ocorrem pelas
do programa e mantenha a flexibilidade e acessibili- laterais do terreno e garante estacionamento para os
dade, com uma relação harmônica com a EJMJ; empreendedores e visitantes. Ainda que a legislação
vigente torne esse espaço facultativo, optou-se por
A locação do conjunto arquitetônico no terreno ba- colocá-lo, dado o público usuário, assim como as ati-
seia-se de acordo com o acesso a partir da Escola, vidades de apoio e manutenção do complexo, que
como gerador e controlador de fluxos, e do pátio, deem ocorrem sem comprometer o funcionamento das
como elemento central de posicionamento dos prédios empresas e instituições ali instaladas.
e da passagem dos transeuntes.
[50] Esquina R. Cel. Ferraz com Av. Santos Dumont. Elaborado pelo autor.
119
O condicionamento ambiental foi trabalhado através na parede que sobe até o vão do térreo também a
de sistemas redundantes de proteção direta contra a partir do solo.
forte insolação presente na cidade de Fortaleza e fa-
vorecimento da circulação dos ventos.
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159
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junto, CPHC - PMF, 2015; elaborado pelo autor. autor.
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<http://www.fortalezanobre.com.br/>. autor.
[39] Levantamento Fotográfico EJMJ (2015). Fonte: [53] Terraço-jardim. Fonte: elaborado pelo autor.
Instrução de Tombamento do Conjunto, CPHC - PMF,
2015. [54] Co-working. Fonte: elaborado pelo autor.
[40] Mapa de danos: térreo / subsolo. Fonte: FON- [55] Corredor das salas empresariais. Fonte: elabora-
TENELE, Bia Ko; adaptado pelo autor. do pelo autor.
[41] Mapa de danos: coberta. Fonte: FONTENELE, [56] Axonométrica de layout dos pavimentos. Fonte:
Bia Ko; adaptado pelo autor. elaborado pelo autor.
[42] Mapa de danos: cortes e fachadas. Fonte: FON- [57] Detalhamento da Ligação Vierendeel + Concre-
TENELE, Bia Ko. to. Fonte: elaborado pelo autor.
[43] Mapa de danos: elevações. Fonte: FONTENELE, [58] Estrutura explodida. Fonte: elaborado pelo autor.
Bia Ko.
[59] Esquema de ventilação da fachada. Fonte: ela-
[44] Construção / Demolição. Fonte: elaborado pelo borado pelo autor.
autor.
[60] Detalhamento da fachada. Fonte: elaborado
[45] Planta de Implantação. Fonte: elaborado pelo pelo autor.
autor.
EMILIA SOUSA
[ diagramação ]