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CURSO DE TEOLOGIA

DOUTRINA DE CRISTO ‫ ־‬CRISTOLOGIA


HISTÓRIA DE ISRAEL ^ 7 ‫ ־‬y
DOUTRINA DOS ANJOS ‫ ־‬ANGELOLOGIA
PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO "O AT ^
PRÁTICAS LITÚRGICAS (matériasuplementar)

ΡΠΓ faculdade teológica betesda


I WÊi Moldando vocacionados
.*
D IG IT A L IZ A D O POR:
PRESBÍTERO
(TEÓ LO G O APO LO G ISTA)
PROJETO SEMEADORES DA PALAVRA
V IS IT E O FÓ R U M
h ttp ://s e m e a d o re s d a p a la v ra .fo ru m e iro s .c o m /fo ru m
CURSO DE TEOLOGIA
MODULO 2

DOUTRINA DE CRISTO ■ CRISTOLOGIA


HISTÓRIA DE ISRAEL
DOUTRINA DOS ANJOS ■ ANGELOLOGIA
PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
PRÁTICAS LITÚRGICAS (m atéria s u p le m e n ta r !

faculdade teológica betesda


Moldando vocacionados
CRISTOLOGIA
Doutrina de Cristo
1
SUMARIO
IN T R O D U Ç Ã O ................................................................................................................................................................13

1. D E F IN IÇ Ã O D E T E R M O .................................................................................................................................14

2. A H U M A N ID A D E D E C R IS T O .................................................................................................................... 15

3. A D IV IN D A D E DE C R IS T O .......................................................................................................................... 17

4. N O M E S E N A T U R E Z A DE C R I S T O ............................................................................................................. 19
4.1 O N OM E J E S U S ............................................................................................................................................. 19
4.2 O NOM E C R IS T O ............................................................................................................................................. 19
4.3 FILHO DO HOM EM .....................................................................................................................................20
4.4 FILHO DE DEUS .............................................................................................................................................20
4.5 SEN H O R .............................................................................................................................................................. 21

5. A VID A, EN SIN O S E O B R A S D E J E S U S ....................................................................................................22

6. A D IV IN D A D E DE C R IS T O NOS E V A N G E L H O S ............................................................................... 23

7. JE S U S E M ATOS D O S A P Ó S T O L O S ....................................................................................................24

8. A D O U T R IN A DE JE S U S C R IS T O NAS E P ÍS T O L A S .....................................................................27

9. A D O U T R IN A D E JE S U S C R IS T O N O A P O C A L IP S E ......................................................................30

10. A LG U N S EN SIN O S DA PA RTE DE JE S U S C R I S T O .............................................................................. 32

11. F O N T E S N Ã O -C R IST Ã S Q U E E S C R E V E R A M S O B R E JE S U S ...................................................35


11.1 FORA DAS ESCRITURAS ........................................................................................................................ 35
11.2 FLÁVIO JOSEFO (37/38 - 100 d.C.) ...............................................................................................35
11.3 TÁCITO (55/56 - 120 d.C)...................................................................................................................... 36
11.4 PLÍNIO, O JOVEM (61 - 120 d.C) ................................................................................................. 37
11.5 SUETÔNIO .....................................................................................................................................................37
11.6 M ARA BAR SERAPION ........................................................................................................................ 38
11.7 TALMUDE ......................................................................................................................................................38
11.8 AVALIAÇÃO HISTÓRICA ....................................................................................................................... 38
12. HERESIAS SOBRE APESSOADE JESUS CRISTO............................................................ 39
12.1 ATÉ O CONCILIO DE NICÉIA (100-325 d.C.).....................................................39
a) GNOSTICISMO.................................................................................................................. 39
b) EBIONISMO...................................................................................................................... 40
c) DOCETISMO...................................................................................................................... 40
d) MONARQUIANISMO.......................................................................................................41
1) Monarquianismo dinâm ico........................................................................................... 41
2) Monarquianismo modalista............................................................................................ 41
e) ARIANISMO ..................................................................................................................... 42

12.2 O PERÍODO PÓS-NICENO (325-600 d.C.)................................................................. 42


a) APOLINARIANISMO....................................................................................................... 42
b) NESTORIANISMO.............................................................................................................43
c) EUTIQUIANISMO..............................................................................................................43
d) OS ELQUESAÍTAS.............................................................................................................43
e) MONOFISISMO..................................................................................................................44
f) MONOTELISMO................................................................................................................44

BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................................45
MÓDULO 1 1DOUTRINA DE CRISTO

INTRODUÇÃO
i

Desde seus primeiros passos na Terra, o homem reflete sobre Deus. Reflexão que aflige os céticos e os crentes,
os indiferentes e os místicos. Destino e origem de todos os homens, afirmam uns, válvula de escape dos fracos
e incultos, dizem alguns, instrumento de dominação, alegam outros. Invenção humana, ousam os ateus. Como
vemos, mesmo para aqueles que não lhe atribuem nem mesmo existência, Deus é um grande incômodo.
O incômodo aumenta à medida que se tem conhecimento da Bíblia, a Palavra de Deus, o livro mais amado e
0 mais odiado da história da humanidade. Por meio do registro de fatos históricos, de salmos, de parábolas, de
orações, de queixas, de suas páginas emana algo transcendente, inexplicável, mas muito real, palpável e prático.
A Bíblia não é um livro antiquado, relicário de histórias morais e de narrativas de milagres, mas é um livro
especial, pois revela Deus e seu interesse especial pelo homem.
É exclusivamente nesse livro que encontramos um a pessoa ímpar: Jesus Cristo. Há os que não crêem nEle,
há os que o consideram apenas um bom homem, um exemplo a ser seguido ou um Mestre. Existem muitos que
o excluíram de suas vidas, chegando ao ponto de afirmarem que Ele jam ais existiu (Salmos 14.1). Outros têm
passado a vida inteira tentando anular e desacreditar a influência bem como diminuir a importância de Jesus. Em
tempos recentes os intelectuais da modernidade profetizaram: aposentaremos Deus num canto desnecessário do
universo, condenaremos a divindade ao ostracismo. Sartre falava do silêncio de D eus.1 Jaspers falava da ausência
divina. Buber gostava de mencionar 0 eclipse de Deus.2 Hamilton propôs a teologia da morte de Deus. No
ensaio “Por que não sou cristão”, Bertrand Russel escreveu: “Historicamente é muito duvidoso que Cristo tenha
sequer existido, e se existiu não sabemos nada a seu respeito” . Jamais houve um tempo em que ataques mais
blasfemos tivessem sido feitos contra Jesus Cristo, o Messias. Cada fase de seu messiado está sendo desafiada:
seu nascimento, sua vida, seus milagres, sua morte, sua ressurreição... tudo questionado.
Entretanto, a Bíblia revela que Ele é muito mais do que isso: é um dom, um presente de Deus para o homem.
N a verdade, tudo 0 que Deus sempre desejou foi dar Cristo para o hom em que criou. Quando o hom em assim
corresponde a esse anelo divino, vidas são transformadas, passam a desfrutar da vida em seu sentido mais pleno,
amplo, celestial e prático.
Nosso objetivo neste módulo é apresentar as características inerentes a Cristo que as Escrituras atribuem a
Ele tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, não apenas para termos mais conhecimento, mas para sermos
despertados a conhecer o Senhor Jesus Cristo de maneira viva, real e sempre nova.

1Famoso ateu francSs do século XX (1 905-198 0), filho de cristãos nominais (mistura de católicos e protestantes). Estudou na Alemanha
e ensinou filosofia na França. Aprendeu 0 ateísmo com Friedrich Nietzsche (1 844-190 0). Como outros ateístas, Sartre acreditava que a
existência de Deus era impossível porque, pela própria natureza. Deus é um ser autocausado. Antes de morrer voltou-se ao Deus que 0 criou
afirmando: ”Não acredito que sou resultado do acaso, um grão de areia no universo, mas alguém que foi esperado, preparado, antecipado.
Em resumo, um ser que apenas um Criador poderia colocar aqui; e essa idéia da mão criadora refere-se a Deus” (SARTRE apud GEISLER,
20 0 2 , p. 799).
1 Existencialista judeu (1 878-196 5), nasceu em Viena, Áustria, e estudou filosofia e arte nas universidades de Viena e Berlim.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 11 DOUTRINA DE CRISTO

DEFINIÇÃO DE TERMO ‫נ‬

Cristologia é a doutrina que estuda de modo racional e sistemático a pessoa de Jesus Cristo. E derivada do
termo grego “Ξριστός - Christos ”, ungido, e “logia”, estudo, portanto estudo sobre Cristo. E nas Escrituras, fonte
primária de todo conhecimento sobre Deus, que encontramos as informações sobre suas palavras e obras. Partindo
dessa premissa, Deus Filho se revelou, portanto podemos conhecê-lo. Entretanto, nosso conhecimento de Jesus
Cristo não é intuitivo, nem natural, mas comunicado por Ele mesmo através dos meios que soberanamente
escolheu. Estudar “Cristologia”, portanto, não é inventar teorias a respeito de Cristo e de suas obras, nem mesmo
“descobrir” a Cristo, mas conhecer e compreender a revelação que Ele próprio deu de si. Por isso, qualquer
estudo de Cristo que não tiver a sua revelação como base, meio e princípio regulador não é “Cristologia”,
devidamente entendida.
A história dos seres humanos, desde sua concepção, tem sido a história da preparação para a vinda de Jesus
Cristo. O Antigo Testamento prediz essa vinda através de tipos, símbolos e profecias diretas. A preservação de
seu povo, Israel, é uma história de expectativa, de anseio e de preparação.
Com brilho, E. H. Bancroft concluiu que “a pessoa de Jesus Cristo não somente está firmemente engastada
na história hum ana e gravada nas páginas abertas das Escrituras Sagradas, mas tam bém é experimentalmente
m aterializada nas vidas de milhões de crentes e entrelaçada no tecido de toda a civilização digna desse
nom e” .3 O ensino de Jesus é comumente chamado de Boa N ova ou feliz anúncio. Ele mesmo o considerava
assim: Besorah, em aramaico, que em grego foi traduzido por “ευαγγελίου —euaggelion”, isto é, boa notícia,
informação alvissareira.
Jesus não trouxe ao mundo uma nova doutrina filosófica, nem um projeto de reformas sociais, tampouco a
consciência dos mistérios do além. Jesus transformou pela raiz a própria relação do homem com Deus, mostrando
abertamente a todos a face de Deus, que antes mal podiam vislumbrar. A boa notícia de Jesus fala precisamente
desta vocação sublime do hom em e da alegria oriunda da união com o Criador. Como disse certo escritor: “É uma
bela tarefa estudar a respeito de Deus. A mente humana jam ais pode ser empregada para qualquer assunto tão
rico em recompensas quanto na tentativa de descobrir 0 conhecimento de Deus. Sondar o caráter e a perfeição de
Deus é a ciência mais elevada, a filosofia mais profunda, a poesia mais altiva, a história mais sublime, a teologia
mais verdadeira e a mais dramática biografia”.4
Extrair em poucas páginas a riqueza inexaurível de Cristo é impossível. Limitar-nos-emos, portanto, a expor
aqui apenas o essencial.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 1
1 ) 0 que significa o termo Cristologia?
2) Como o Antigo Testamento prediz a vinda de Cristo?
3) O que significa a palavra evangelho?

3 BANCROFT, E.H. Teologia elementar. São Paulo: Batista Regular, 1995. p. 97.
4 WATSON apud PRATNEY, 2 0 0 4 , p. 11.

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MÓDULO ! I DOUTRINA DE CRISTO

A HUMANIDADE DE CRISTO
A humanidade de Jesus passou pelos diversos estágios de desenvolvimento, como qualquer outro membro da
raça humana. Da infância à idade adulta houve crescimento constante, tanto em seu vigor físico como em suas
faculdades mentais. Não temos parâmetros para aferir até que ponto sua natureza impecável exerceu influência em
seu crescimento. É claro, entretanto, pelas Escrituras, que seu crescimento e suas limitações estiveram sujeitos às
leis ordinárias do desenvolvimento humano (Lucas 22.40; 24.39; João 11.33; Hebreus 2.14).
Nos evangelhos temos o relato do seu nascimento, sua vida, seus milagres, sua morte, sua ressurreição, tudo
registrado por seus discípulos, principalmente no evangelho de Lucas, cujo propósito é apresentar a humanidade
do Salvador, mostrando-o como um homem genuíno, normal e perfeito, que revelava Deus aos homens, com
sua graça salvadora para a humanidade caída. “Em sua reverência pelo Cristo divino, às vezes os homens se
esquecem do Cristo humano. Não se deve salientar o esplendor da Sua divindade a ponto de obscurecer a Sua
verdadeira humanidade.”5 Foi o que fizeram os gnósticos e os docetas, de quem falaremos em outro capítulo.
A Bíblia declara que o Senhor Jesus veio ou foi manifestado na carne: “E 0 Verbo se fez carne e habitou
entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (João 1.14). Aqui
precisamos ser muito cuidadosos. A Bíblia nos diz que Cristo se fez carne, mas apenas na semelhança da carne do
pecado. Romanos 8.3 diz: “Porquanto 0 que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus
enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou
Deus, na carne, 0 pecado, a fim de que 0 preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas
segundo 0 Espírito” (grifo nosso). Quando Cristo se fez carne, Ele não tomou sobre si a corrupção da carne, mas
apenas sua semelhança. O termo “carne” denota a natureza humana de Jesus. As Escrituras revelam claramente que
Jesus possuía as características essenciais da natureza humana, isto é, um corpo material e uma alma racional.
Sua humanidade, conforme registrada nas Escrituras, é algo de que não se pode ter dúvidas. Ao nascer, Jesus
Cristo sujeitou-se às condições da vida humana, bem como do corpo humano. Sua humanidade é demonstrada:

Nasceu de uma mulher: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada
com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mateus 1.18). “Vindo,
porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que
estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4.4-5, grifo nosso).

Cresceu como uma pessoa normal: “E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos
homens” (Lucas 2.52).

Sentiu sofrimento e dor: “E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se
tom ou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lucas 22.44).

Sentiu cansaço: “Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta
da hora sexta” (João 4.6).
Teve fome: “E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome” (Mateus 4.2).

Teve sede: “Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho
sede!” (João 19.28).

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

Tinha emoções: “Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor
do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai,
porque assim foi do teu agrado” (Lucas 10.21). N a morte de Lázaro “Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os
judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se” (João 11.33).

Possuía um corpo físico: “Porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes;
pois, derramando este perfume sobre o meu corpo, ela 0 fez para o meu sepultamento” (Mateus 26.11-12).
“Caindo a tarde, veio um homem rico de Arimatéia, chamado José, que era também discípulo de Jesus. Este foi
ter com Pilatos e lhe pediu o corpo de Jesus. Então, Pilatos mandou que lho fosse entregue. E José, tomando
o corpo, envolveu-o num pano limpo de linho e o depositou no seu túmulo novo, que fizera abrir na rocha; e,
rolando um a grande pedra para a entrada do sepulcro, se retirou” (Mateus 27.57-60).

Possuía alma racional: “Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e
vigiai com igo” (Mateus 26.38).

Possuía espírito humano: “Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E,
dito isto, expirou” (Lucas 23.46).

Jesus se fez came e foi sujeito ao pecado, embora nunca houvesse pecado. Ele foi revestido do corpo humano porque
o pecado entrou por um homem e pela justiça de Deus tinha de ser vencido por um homem. A Bíblia diz que 0 pecado
entrou no mundo por meio de Adão: “Portanto, assim como por um só homem entrou 0 pecado no mundo, e pelo pecado,
a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram... Pois assim como, por uma só ofensa,
veio 0 juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos
os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tomaram
pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tomarão justos” (Romanos 5.12, 18-19).
Desde que o homem pecou era necessário que ele sofresse a punibilidade. A Bíblia mostra que todo gênero
humano está condenado; que o homem está perdido debaixo da maldição do pecado (Salmos 14.2-3; Romanos
3.23). Era necessário que Cristo assumisse a natureza humana, não somente com todas as suas particularidades
indispensáveis, mas também com todas as fragilidades a que está sujeita, depois da Queda, e, assim, devia descer
às profundezas da degradação em que o homem tinha caído. As Escrituras são categóricas em afirmar que somente
Deus pode salvar: “Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há salvador” (Isaías 43.11). Portanto, somente “um
Mediador verdadeiramente humano, assim, que tivesse conhecimento experimental das misérias da humanidade
e se mantivesse acima de todas as tentações, poderia entrar empaticamente em todas as experiências, provações
e tentações do homem, Hebreus 2.17, 18; 4.15-5.2 e ser um perfeito exemplo humano para os Seus seguidores,
Mateus 11.29; Marcos 10.39; João 13.13-15; Filipenses 2.5-8; Hebreus 12.2-4; 1 Pedro 2.21”.6 Jesus, 0 verdadeiro
Deus e o homem perfeito, tomou-se “carne” para suprir a necessidade da humanidade. Quando assumiu a forma
humana na Terra, Jesus não se apegou às prerrogativas da divindade para vencer o diabo, mas aniquilou-se a si
mesmo, “assumindo a forma de servo, tomando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a
si mesmo se humilhou, tomando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2.7-8).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 2
1) Qual é o propósito do evangelho de Lucas?
2) O que denota 0 termo “cam e” em Jesus?
3) Como é demonstrada a natureza humana de Jesus?

5 BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. Campinas: Luz Para 0 Caminho, 1996. p. 318.
‘ Idem, ibidem, p. 3 1 8-31 9.

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

A DIVINDADE DE CRISTO
A maioria das pessoas afirma respeitar os ensinamentos da Bíblia. Muitas delas chegam a afirmar a inspiração
divina das Sagradas Escrituras, entretanto alegam que os ensinos da Bíblia contêm apenas uma parcela da revelação
de Deus, e que Ele tem falado, ou continua falando, de uma forma extrabíblica, à parte das Escrituras, não levando
em consideração a admoestação do apóstolo João em Apocalipse, que diz: “Porque eu testifico a todo aquele que
ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as
pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua
parte da árvore da vida e da Cidade Santa, que estão escritas neste livro” (Apocalipse 22.18-19).
A Bíblia é a autoridade final na determinação de questões doutrinárias (2 Timóteo 3.16-17). A Palavra de
Deus não permite novos ensinamentos que possam alterar seu conteúdo ou fazer-lhe acréscimos. O apóstolo
Paulo disse: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos
anunciamos, seja anátema” (Gálatas 1.8). Ao considerar a divindade de Cristo, a questão não reside em “se é
fácil crer nessa divindade, ou mesmo compreendê-la”, mas se ela é ensinada na Palavra de Deus. Saber quem é
Jesus Cristo é algo tão importante quanto o que Ele fez. Muitos acreditam que Ele esteve na Terra, fez muitos
milagres e muitas outras coisas. A dificuldade para alguns é: quem é Cristo? Que tipo de pessoa Ele é?
Sendo assim, devemos permitir que Deus dê a última palavra a respeito de si mesmo, quer possamos ou não
compreendê-la inteiramente. A Bíblia ensina que Jesus é Deus: “No princípio era o Verbo, e 0 Verbo estava com Deus,
e 0 Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada do
que foi feito se fez” (João 1.1-3; 20.28; Tito 2.13; 1 João 5.20). Jesus Cristo conferiu para si os nomes e títulos dados a
Deus no Antigo Testamento e também permitiu que outros assim 0 chamassem. Quando Ele reivindicou esses títulos
divinos, os principais dos judeus ficaram tão irados que tentaram matá-lo por blasfêmia. Ele reivindicou para si o nome
mais respeitado pelos judeus, tido como tão sagrado que eles nem mesmo o pronunciavam: YHWH.
Deus revelou pela primeira vez o significado desse nome ao seu servo, depois de haver lhe perguntado por
qual nome deveria chamá-lo: “Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: assim dirás aos filhos de
Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êxodo 3.14). “EU SOU” não é a tradução de YHWH. Todavia, trata-se de um
derivado do verbo “ser”, do qual também deriva 0 nome divino Yahweh (YHWH) em Êxodo 3.14. Portanto, 0
título “EU SOU O QUE SOU” indicado por Deus a Moisés é a expressão mais plena de seu ser eterno, abreviado
no versículo 15 para 0 nome divino YHWH.
A Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento hebraico, traduziu o primeiro uso da expressão “EU
SOU” em Êxodo 3.14 por ‘ego eimi ’ no grego. Em várias ocasiões Jesus empregou o termo ‘ego eimi ’referindo-
se a si mesmo, na forma unicamente usada para Deus. Um exemplo claro é este: “Disseram-lhe, pois, os judeus:
Ainda não tens cinqüenta anos e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que
Abraão existisse, eu sou! (no grego: ‘ego eimi ’). Então, pegaram em pedras para atirar nele, mas Jesus se ocultou,
e saiu do templo” (João 8.57-59). Jesus atribuiu esse título a si mesmo também em outras ocasiões. Neste mesmo
capítulo Ele declarou: . .eu vos disse que morreríeis nos vossos pecados... se não crerdes que eu sou (no grego:
‘ego eim i’), morrereis nos vossos pecados” (João 8.24). Disse ainda: “Quando levantardes o Filho do Homem,
então, sabereis que eu sou (no grego: ‘ego eim i’) e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me
ensinou” (João 8.28). Quando os guardas do templo, juntamente com os soldados romanos, foram prendê-lo na
noite anterior à crucificação, Jesus perguntou-lhes: “A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno.
Então Jesus lhes disse: Sou eu (no grego: ‘ego eimi ’)... Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu (no grego: ‘ego eim i '),
recuaram e caíram por terra” (João 18.4-6). Não resta dúvida quanto a quem os líderes judaicos pensavam que

CURSO DE TEOLOGIA 17
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

Jesus estava proclamando ser. Fica, portanto, bem claro que, na mente daqueles que ouviram essa afirmação,
não havia qualquer incerteza de que Jesus tivesse dito perante eles que Ele era Deus. Essas afirmações foram
consideradas blasfêmias pelos líderes religiosos e resultaram em sua crucificação “porque a si mesmo se fez
Filho de Deus” (João 19.7). Os atributos divinos que são dados a Deus Pai também são encontrados em Jesus, o
que evidencia sua divindade, portanto o Filho é Deus como o Pai e o Espírito Santo (Mateus 28.19; 2 Coríntios
13.13; Efésios 4:4-6, 1 João 5.7). Vejamos na tabela:

• Atributos • Pai • Filho • Espírito Santo

• Onipresença • Jeremias 23.24 • Efésios 1.20-23 • Salmos 139.7

• Onipotência • Gênesis 17.1 • Apocalipse 1.8 • Romanos 15.19

• Onisciência • Atos 15.18 ·João 21.17 • 1 Coríntios 2.10

• Capacidade de criar • Gênesis 1.1 • João 1.3 ·J ó 33.4

• Eternidade • Romanos 16.26 ·Apocalipse 22.13 • Hebreus 9.14

• Santidade • Apocalipse 4.8 ·Atos 3,14 • 1 João 2.20

‫י‬ Santificador • João 10.36 • Hebreus 2.11 • 1 Pedro 1.2

• Fonte de vida eterna • Romanos 6.23 • João 10.28 • Gálatas 6.8

• Inspirador dos profetas • Hebreus 1.1 • 2 Coríntios 13.3 • Marcos 13.11

• Deus • Êxodo 20.2 • João 20.28 • Atos 5.3-4

Diante do exposto, o estudo da Pessoa de Cristo se reveste de congruência por causa da relação vital que Ele
sustém com o cristianismo. Concluímos que durante esta vida podemos e devemos conhecer Deus até o ponto
necessário para a salvação, confraternização, serviço e maturidade, mas na glória do céu passaremos a conhecê-
lo mais plenamente.7 Assim, pois, de forma bem real, o estudo da vida de Jesus Cristo e sua importância é, ao
mesmo tempo, uma sondagem na significação da nossa existência e um a previsão de nosso destino. Por certo
todos nós deveríamos nos interessar nessa inquirição.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 3
1) Ao considerar a divindade de Cristo, a questão não reside em quê?
2) Qual é o nome mais respeitado pelos judeus, tido como tão sagrado que eles nem mesmo o
pronunciavam?
3) A Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento hebraico, traduziu o primeiro uso da expressão “EU
SOU” em Êxodo 3.14 por qual termo correspondente?
4) Os atributos divinos que são dados a Deus Pai também 0 são encontrados em Jesus. Cite quatro deles.

7FALCÃO, Márcio. M a n u a l de teologia sistemática. São Paulo: 0 Arado, s.d.

18 CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 2 ! DOUTRINA DE CRISTO

NOMES E NATUREZA DE CRISTO


Estudos lexicais da Bíblia (ou estudo das palavras) têm um grande valor; eles nos ajudam a ver como o
Espírito Santo usou palavras gregas e hebraicas para expressar seus pensamentos para nós. Os nom es para os
judeus não são apenas um designativo de pessoa ou coisa, mas trazem consigo algum a característica inerente
ao seu possuidor. Portanto, os nomes atribuídos a Cristo retratam suas naturezas, em parte sua posição oficial
e em parte a obra para a qual Ele veio ao mundo. Assim, a m elhor forma de com eçar é olhando para o modo
como os escritores sagrados usaram as palavras hebraicas e gregas para se referirem ao M essias que Deus
havia prom etido para a redenção da humanidade, o Cristo anunciado pelos profetas e esperado pelo povo de
Israel para sua redenção: o centro das Escrituras (Lucas 24.44-47), a alegria dos homens, o Desejado de todas
as nações (Ageu 2.7), a nossa glória e esperança.

4.1 O NOM E JESUS


O nome Jesus (Ihsou/j Iesous) é a forma grega do nome hebraico “Jehoshua” (‫ י ה ו ש ו ע‬- Yehoshu‘a), ou
ainda de “Jeshua” (171 ‫ י ש‬- Yeshu ‘a), nome usado nos livros históricos pós-exílicos (Esdras 2.2).8 A Septuaginta
traduziu ambas as formas, de modo uniforme, como Iesous. Segundo o Dicionário Internacional de Teologia do
Novo Testamento, “é 0 nome mais antigo que se forma com o nome divino Javé, e significa ‘Javé é socorro’ ou
‘Javé é salvação’”.9 Esse nome foi dado a dois conhecidos personagens do Antigo Testamento (tipos de Jesus).
Um deles foi Josué, filho de Num, prefigurando Cristo como o grande General que conduz seu povo em triunfo,
e a Josué, filho de Jozadaque, tipificando Jesus como o sumo sacerdote carregando os pecados de seu povo.

4.2 O NOM E CRISTO


O título “Cristo” (gr. Ξριστός - Christos) que aparece junto com o nome Jesus é 0 equivalente de “M essias”
(hb. ‫ מ ש י ה‬- Mashiyach) do Antigo Testamento. Simboliza uma pessoa que foi cerimonialmente ungida para
um cargo. Durante a Antiga Aliança, os reis e os sacerdotes eram ungidos (Êxodo 29.7; Levitico 4.3; Juizes 9.8;
I Samuel 9.16; 10.1; 2 Samuel 19.10). No período da realeza, os monarcas eram conhecidos como “ungido de
Yahweh” - alusão ao rito da unção real (1 Samuel 24.10). Entretanto, este título não se reserva exclusivamente ao
rei: todo hom em de Deus encarregado de uma missão específica pode tê-lo. É assim que em Isaías 45.1 0 próprio
Ciro é chamado de “Messias”, ungido.
O óleo utilizado para a unção desses oficiais simbolizava 0 Espírito Santo (Isaías 61.1; Zacarias 4.1-6), e a
unção representava a transferência do Espírito para a pessoa consagrada. “O conceito de ‘M essias’ ou ‘ungido’
inclui três importantes elementos: 1) a designação para um ofício específico; 2) 0 estabelecimento de um a relação
sagrada entre 0 ungido e Deus; e 3) a comunicação do Espírito de Deus ao que tomou posse do ofício.” 10
A concepção judaica da vinda (acham que ele ainda não veio) do Maschíach e da redenção Messiânica é um dos
princípios fundamentais da fé j udaica.11 Os judeus acreditam que 0 Maschíach será um ser humano, descendente da
família do rei Davi, dotado de qualidades únicas de liderança, erudição e piedade, e trará a redenção total e final para
os judeus e para toda a humanidade. Segundo consta em suas literaturas, “todo judeu deve acreditar que Maschíach
surgirá e restaurará o reino de David em seu estado e soberania originais, reconstruirá o Bet Hamicdash (Templo

’ COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 20 00. p. 1075.
, Idem, p. 1075.
10OLIVEIRA, Raimundo de. As grandes doutrinas da B íblia. 9. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 20 06. p. 88.
II MAIMÔNIDES, Moshe. Princípios da fé, Artigo 12.

CURSO DE TEOLOGIA 19
MÓDULO 2 1DOUTRINA DE CRISTO

Sagrado de Jerusalém), reunirá os dispersos de Israel, e em seus dias, todas as leis da Tora serão reinstituídas, como
o tinham sido nos tempos antigos”.12 Quão triste é saber que não reconheceram o seu Messias! O próprio Cristo
disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu
reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não 0 quisestes!”.
Os autores do Novo Testamento sabiam da importância desse título, por isso desde cedo adquiriram o hábito
de associar 0 título “Cristo” ao nome de Jesus. Jesus Cristo significa Jesus - Messias.

4.3 FILHO DO HOM EM


A expressão “Filho do H om em ” aparece m ais freqüentem ente nos três prim eiros E vangelhos que em
qualquer outro escrito cristão prim itivo (aparece 69 vezes). Este título aparece nos sinópticos unicam ente
quando é Jesus quem fala. Assim , “a cristologia do Filho do H om em não é dos Sinópticos, ainda que esta
expressão apareça m ais freqüentem ente que em qualquer outro escrito do Novo Testamento, já que ela
ocorre não m enos que 69 v ezes” .13
De acordo com os evangelhos sinópticos, este título messiânico é o único que Jesus aplicou a si mesmo, pois
jamais designou a si próprio como Messias. O nome é por certo expressivo à sua missão escatológica a ser realizada
no futuro, como também relacionado à sua missão terrestre. Ao mesmo tempo em que Ele falava de seus sofrimentos
e de sua morte, também deixava evidente sua vinda futura entre as nuvens do céu em glória celeste. O título Filho
do Homem, quando Jesus o aplica à sua missão terrena, expressa também sua humilhação. Ele disse que o “Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10.45) e
“que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais
sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias, ressuscitasse” (Marcos 8.31).
Enquanto os sinópticos expuseram a natureza humana do Filho do Homem, 0 evangelho de João, ao empregar
a expressão “Filho do H om em ”, como em 3.13: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a
saber, 0 Filho do Hom em que está no céu”, deixa transparecer 0 hom em celestial preexistente e divino que desce
do céu, aparece sobre a Terra, incorpora-se à humanidade caída e volta ao céu em glória. João, ao utilizar esse
título, quase sempre 0 faz para acentuar a majestade do Filho do Homem e não para expor a debilidade inerente à
sua humanidade. Em sua glorificação Jesus avoca para si esse título: “E chegada a hora de ser glorificado 0 Filho
do Hom em ” (João 12.23 c.c. 13.31, grifo nosso). Em outro texto Jesus atribui a si a função jurídica do Filho do
Homem: “Porque assim como 0 Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E
lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Hom em ” (João 5.26-27, grifo nosso).

4.4 FILHO DE DEUS


O nome “Filhos de Deus” era usado em Israel para os seres espirituais, como os anjos (Jó 1.6; 2.1; 38.7;
Salmos 29.1; 89.6), mas às vezes também se referiam aos justos do povo de Deus (Gênesis 6.2; Salmos 73.15;
Provérbios 14.26), ou aos monarcas ungidos no momento de subir ao trono, especialmente ao rei prometido da
casa de Davi (2 Samuel 7.14; Salmos 89.27). Por isso, era habitual atribuir tal apelativo inclusive ao Messias.
Ser Filho de Deus significa em Cristo ser homem-Deus. Indiscutivelmente, este título caracteriza de maneira
particular e totalmente ímpar a relação entre o Pai e o Filho. Pelas suas palavras fica evidente que o seu
relacionamento com 0 Pai era substancialmente diferente de qualquer outro. Com efeito, ele dizia: “Ninguém
conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece ao Pai senão 0 filho”. Através do Messias, o mundo veio
descobrir que o ser supremo é “amor”, que ele é um pai para cada homem.

11 SCHOCHET, Jacob Immanuel. Maschíach: 0 princípio de Maschíach e da era messiânica segundo a le i Judaica e sua
tradifão. São Paulo: Maayanot, 1992. p. 17.
19 CULLMAN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento. São Paulo: Líber, 20 0 1 . p. 23 8 -2 3 9 .

CURSO DE TEOLOGIA
20
MÓDULO 2 ' DOUTRINA DE CRISTO

4.5 SENHOR
A Septuaginta traduziu o tetragrama hebraico Π1ΓΠ - YHW H e seu correspondente “‫ אדני‬- Adonay ” pela
palavra grega Kuriov (kyrios ), que quer dizer “Senhor”, nome divino. O tetragrama era e continua sendo o nome
impronunciável de Deus entre os judeus. Não temos como precisar exatamente quando os judeus deixaram de
pronunciar o tetragrama, porém “a partir de certa época - certamente no século I a.C. e no século I d.C. - o
substituíram na leitura litúrgicapor^úfcwa/” .14 Moisés, o legislador de Israel, havia advertido os israelitas quanto
ao nome sagrado de Deus, dizendo: “Não tomarás o nome do SENHOR (YHWH), teu Deus, em vão, porque 0
SENHOR (YHWH) não terá por inocente 0 que tomar o seu nome em vão” . O fato é que os judeus conheciam
bem a substituição do tetragrama em seus ofícios religiosos pelo correspondente em hebraico “‫ אדני‬- Adonay ” .
O nome Adonay e 0 tetragrama YHW H são tão sagrados para os judeus que eles evitam pronunciá-los na rua, no
seu cotidiano. O segundo nem mesmo nas sinagogas é pronunciado. Para o dia-a-dia eles usam “□ ‫ ה ש‬- h a :'shem”
(que significa “O N om e”) para designar a Deus. “A idéia básica do nome Adhonay é a da soberania de Deus, da
suprema posição do Criador, em todo o Universo que criou.” 15
As Sagradas Escrituras não deixam nenhum a dúvida de que Cristo é o Senhor. No Novo Testamento,
Zacarias, o pai de João Batista, profetizou dizendo que seu filho seria “chamado profeta do Altíssimo, porque
precederás o Senhor (Κ ύ ρ ιο ς ), preparando-lhe os ca m in h o s...” (Lucas 1.76), uma clara referência a Jesus.
Os anjos anunciaram o nascim ento de Jesus aos pastores em Belém dizendo: “ ...hoje vos nasceu, na cidade
de Davi, 0 Salvador, que é Cristo, 0 Senhor (Κ ύ ρ ιο ς )” (Lucas 2.11). Houve muitos que chamaram Jesus de
Senhor (Κ ύ ρ ιο ς ):
a) Seus discípulos: “E eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de sorte que 0 barco era varrido
pelas ondas. Entretanto, Jesus dormia. Mas os discípulos vieram acordá-lo, clamando: Senhor, salva-nos!
Perecemos!” (Mateus 8.24-25).
b) Os apóstolos: “Então, disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé” (Lucas 17.5).
c) Paulo: “Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas
levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer” (Atos 9.5-6).
d) Os que foram tocados por Jesus: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 7.21).
e) Será chamado Senhor pelos não-crentes juntam ente com os crentes no último dia: “Pelo que também Deus
o exaltou sobremaneira e lhe deu 0 nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre
todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para
glória de Deus Pai” (Filipenses 2.10-11).
Cristo é verdadeiramente 0 Senhor dos senhores (1 Timóteo 6.15; Apocalipse 17.14; 19.16). O próprio Deus
o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todos os nomes (Filipenses 2.9), pois Cristo foi feito
mais excelente do que os anjos (Hebreus 1.4), coroado de glória e de honra (Hebreus 2.9) e assentado à destra da
majestade nas alturas (Hebreus 1.3).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 4
1) O que retratam os nomes atribuídos a Cristo?
2) O que significa o nome Jesus?
3) O que simboliza 0 título “Cristo”?
4) De acordo com os evangelhos sinópticos, qual é 0 título messiânico que Jesus aplicou a si mesmo?
5) Para quem o termo “Filhos de Deus” era usado em Israel?
6) A Septuaginta traduziu o tetragrama hebraico por qual correspondente grego?

14 CUUMAN, Oscar. Op.cit., p. 263.


15 SILVA, Esequias Soares da. Como responder às Testemunhas de Jeová. São Paulo: Candeia, 1995. v. 1, p. 135.

CURSO DE TEOLOGIA «. :-‫ ־‬. ■


MÓDULO 2 [ DOUTRINA DE CRISTO

A VIDA, ENSINOS E OBRAS DE JESUS


Notícias a respeito de Jesus e da sua mensagem começaram a se espalhar porque 0 que Ele dizia e fazia
deixava as pessoas perplexas. Elas simplesmente não conseguiam parar de falar sobre Ele. Depois que Jesus
deixou este mundo, seus seguidores saíram proclamando seus feitos nas ruas, cidades e em qualquer lugar onde
as pessoas se reunissem. Com o passar do tempo, os primeiros seguidores do mestre da Galiléia começaram a
escrever às comunidades o que eles haviam visto e ouvido.
Dos quatro Evangelhos, Mateus, Marcos e Lucas são chamados “sinópticos” (i.é, adotam a mesma vista
histórica).16 Os três oferecem uma vista “tridimensional” de Jesus Cristo, das suas ações e doutrinas. Marcos
é o mais breve e direto, e tanto Mateus quanto Lucas contêm (nunca em linguagem exatamente idêntica, nem
na mesma ordem) a maior parte dessa história, mas cada um deles contribui com muitos relatos e ensinos para
completar o quadro.
A. Huck produziu um a Sinopse dos três primeiros Evangelhos com 0 texto grego e as anotações em alemão
(Tübingen, Mohr, 1906), que segue a ordem histórica, onde passagens semelhantes entre os três são colocadas em
colunas paralelas, e as demais entre elas na sua devida ordem. Tischendorf fez a Sinopsis Evangélica incluindo
João, também no texto grego - com explicações em latim. Quatro colunas em paralelo aparecem, por exemplo,
na Entrada Triunfal em Jerusalém, mas João usualmente tem blocos inteiros encaixados sozinhos, na ordem dos
eventos.
O interesse do texto grego se vê nisto: os sinópticos usam linguagem e vocabulário diferentes em textos
paralelos, mas as línguas modernas não refletem essas diferenças. De qualquer forma, João se diferencia por
conter muitos discursos de Jesus que revelam a sua pessoa, especialmente em particular com seus discípulos e,
mais adiante, receberá tratamento separado, inclusive no item “Jesus era o Filho de Deus?” .
Em português possuímos a tabela de referências que nos indica como fazer um a “Harmonia dos Quatro
Evangelhos” no Manual bíblico de Halley, e o livro Harmonia dos Evangelhos, de Robert Thomas e Stanley
Gundry. No entanto, na maioria das nossas Bíblias, todo e qualquer texto de um Evangelho Sinóptico é
acompanhado por uma referência a outro (ou dois) que contém um item semelhante. N a apostila “Síntese do
Novo Testamento”, neste Módulo 2, temos breves análises dos Evangelhos, suficientes para orientar o leitor
numa base histórica dos atos e palavras de Jesus.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 5
1) Quais foram os primeiros livros a tratar da vida, ensinos e obras de Jesus entre os fiéis?
2) Por que os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são chamados de sinópticos?

16 Veja Panorama do Novo Testamento: Evangelhos Sinópticos.

22 CURSO DE TEOLOGIA
M Ó D U 10 ϊ JOUTR1NA DE CRISTO

A DIVINDADE DE CRISTO NOS EVANGELHOS


Jesus, com o título “Filho de Deus” e “Filho do H om em ”, estava afirmando a sua divindade, e muitos dos seus
atributos são exclusivamente privativos do próprio Deus. Os próprios judeus que o ouviam entendiam isso muito
bem: “Por isso, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também
dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (João 5.18).
Quando Jesus disse: “Eu e o Pai somos um ”, a reação dos judeus foi: “Não é por boa obra que te apedrejamos,
e, sim, por causa da blasfêmia, pois sendo tu homem, te fazes Deus a si mesmo” (João 10.30-33). Quando Jesus
curou um paralítico, dizendo: “Filho, os teus pecados estão perdoados”, os escribas judeus disseram: “Está
blasfemando! Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?” . Jesus confirmou ter autoridade para
perdoar pecados (Marcos 2.7-11). Quando foi interrogado diante do Sinédrio (Suprema Corte Judaica), o sumo
sacerdote lhe perguntou: “Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?” . Jesus respondeu: “ Sou, e vereis o Filho do
homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu” (Marcos 14.61-64 - NVI).
Tão íntima era sua relação com Deus que Jesus declarou que conhecê-lo era conhecer o Pai (João 8.19;
14.17); vê-lo era ver o Pai (João 12.45; 14.9); crer nele era crer no Pai (João 12.44; 14.1); recebê-lo era receber
o Pai (Marcos 9.37); odiá-lo era odiar 0 Pai (João 15.23); honrá-lo era honrar 0 Pai (João 5.23).
Cristo revelou um poder sobre as forças da natureza que só Deus, autor dessas forças, poderia possuir.
Acalmou um a furiosa tempestade de vento e vagalhões no m ar da Galiléia. E ao fazê-lo, arrancou dos que
estavam no barco a pergunta cheia de reverência: “Quem é este que até 0 vento e 0 m ar lhe obedecem?” (Marcos
4.41). Transformou a água em vinho (João 2.1-11), alimentou cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes
(Mateus 14.21), devolveu a uma viúva aflita seu único filho levantando-o dentre os mortos (Lucas 7.12) e trouxe
à vida a filha morta de um pai esmagado pela dor (Marcos 5.35). A um antigo amigo morto e sepultado, Jesus
disse: “Lázaro, vem para fora!” e de forma dramática o levantou dentre os mortos. Seus inimigos não podiam
negar esse milagre e procuravam matá-lo para evitar que todos cressem nEle (João 11.48).
Jesus demonstrou possuir 0 poder do Criador sobre as enfermidades e a doença. Ele fez os coxos andarem,
os mudos falarem e os cegos verem - inclusive um caso de cegueira congênita em João 9. O homem curado,
submetido a interrogatório sobre a cura que recebera de Jesus, reafirmava: “Eu era cego, e agora vejo,” e
confirmou: “Desde que há mundo, jam ais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se
este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito” (João 9. 32-33).
A suprema credencial de Jesus para autenticar a sua divindade foi a sua ressurreição dentre os mortos. Conforme
profetizara aos seus discípulos, foi morto, e em três dias ressuscitou e apareceu de novo diante deles. Os quatro
Evangelhos narram com pormenores a história (Mateus 26.47; Marcos 14.43; Lucas 22.47-53; João 18.2).
O Novo Testamento e a fé cristã só fazem sentido se reconhecermos a divindade de Cristo. Todos os grupos
e seitas que alegam ser cristãos, mas negam a divindade de Cristo, são classificados como hereges. Um Jesus
Cristo que não fosse totalmente divino, totalmente Deus, não seria suficiente para outorgar a vida eterna, não
seria o Messias prometido por Deus desde os primeiros capítulos do Gênesis.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 6
1) Quando Jesus disse: “Eu e o Pai somos um”, qual foi a reação dos judeus?
2) Tão íntima era a relação de Jesus com Deus que ele declarou o quê?
3) Qual foi a suprema credencial de Jesus para autenticar a sua divindade?

CURSO DE TEOLOGIA
23
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

JESUS EM ATOS DOS APOSTOLOS


Agora garimparemos 0 livro de Atos em busca de pepitas espirituais preciosas. A importância especial de Atos
na Cristologia é que o mesmo Lucas que escreveu seu Evangelho também escreveu Atos como a sua continuação;
seria como um Quinto Evangelho, ou 0 Evangelho de Jesus, demonstrado e pregado pelos seus seguidores (Atos
1.1-11 - texto este que reafirma a vida, morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo). Aqui, também, Jesus Cristo
reafirma a promessa da vinda do Espírito Santo sobre seus seguidores (cf. João 14.15-27; 16.5-16).
O cumprimento dessa promessa (Atos 2.1-13) revestiu de poder os apóstolos, e Pedro pregou, com poder,
um resumo do Evangelho, enxergado à luz da Ascensão e da vinda do Espírito Santo: “Jesus, o Nazareno, varão
aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio
dele entre vós, como vós mesmos sabeis; sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus,
vós 0 matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da
morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela” (Atos 2.22-24).
Trata-se de um resumo do conteúdo dos Evangelhos, com a conclusão pós-pentecostal: “Portanto, que todo 0
Israel fique certo disto: Este Jesus, a quem vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo” (v. 36), e a aplicação:
“Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados, e
receberão 0 dom do Espírito Santo” (v. 38). Esses versículos denotam a pregação do Evangelho - as boas novas
da salvação mediante a obra completa de Jesus Cristo.
No capítulo 3, após uma cura em público em nome de Jesus Cristo, Pedro disse diante do povo: “Vós, porém,
negastes o Santo e o Justo e pedistes que vos concedessem um homicida. Dessarte, matastes o Autor da vida,
a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas” (v. 14-16). E depois, o convite:
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do
Senhor, venham tempos de refrigério, e que envie ele 0 Cristo, que já vos foi designado, Jesu s...” (v. 19-20).
Em Atos capítulo 4, interrogados diante do Sinédrio, os apóstolos explicaram: “ ...tom ai conhecimento, vós
todos e todo 0 povo de Israel, de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem
Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós” (v. 10). A conclusão: “E
não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens,
pelo qual importa que sejamos salvos” (v. 12). Já temos aqui a “Pregação Apostólica da Cruz”, a “Crucialidade
da Cruz” (títulos de livros existentes em inglês). E um grande tema adotado pelo apóstolo Paulo: “Porque decidi
nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1 Coríntios 2.2).
No capítulo 7, Estevão fez sua defesa, ou apologia de Jesus Cristo, diante do Sinédrio, demonstrando que a
totalidade da história de Israel e das Escrituras do Antigo Testamento tinha o Salvador como seu alvo, propósito
e cumprimento. Foi apedrejado até a morte por isso, estando presente Saulo, que posteriormente passou a ser o
apóstolo Paulo. O ponto de partida de Paulo, nas suas viagens missionárias, era pregar dessa m esm a maneira nas
sinagogas judaicas, em Chipre (13.5), em Antioquia da Psídia (13.13-51), em Icônio (14.1-7), em Tessalônica
(17.1-5), em Beréia (17.10-15), em Atenas (17.17), em Corinto (18.1-8), em Éfeso (19.8-9).
No capítulo 8, 0 evangelista Filipe explica para o tesoureiro da rainha da Etiópia 0 significado de Isaías 53.7-8
e 0 leva a Cristo. Quando o eunuco (usado como título de oficial com livre acesso aos aposentos reais) perguntou:
“Eis aqui água; que impede que seja eu batizado?”, Filipe respondeu: “É lícito, se crês de todo o coração” . E o
eunuco disse: “Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus” (8.26-40). Esta pode ser considerada a primeira (e mais
breve!) Confissão de Fé que as igrejas exigem para alguém ser recebido como cristão.
Em Atos 9.1-19 Paulo recebeu uma visão de Jesus Cristo, que o encaminhou a quem 0 instruísse na fé,

m CURSO DE TEOLOGIA
M Ó Du í )UTRINA DE CRISTO

impusesse-lhe as mãos para curar a cegueira provocada pela forte visão e lhe transmitisse a plenitude do Espírito
Santo - e assim Paulo foi batizado (v. 18). Em seguida, Paulo passou a ser evangelista e apologista de Jesus entre
os judeus (v. 20-22).
N o capítulo 10, como resultado de visões recebidas pelo centurião rom ano, e tam bém ao apóstolo Pedro,
houve em território ju d eu um encontro entre um ju d eu cristão e uma autoridade rom ana (gentia). Q uando os
gentios que aceitaram a pregação de Pedro receberam 0 Espírito Santo como no dia de Pentecostes (10.44-
46), foi-lhes concedido o batism o como m em bros plenários da Igreja - e a conclusão, num concilio em
Jerusalém , foi: “Então, Deus concedeu arrependim ento para a vida até m esm o aos gentios!” (Atos 11.18)
- com confirm ação no concilio do capítulo 15. E isto deu ím peto para a evangelização dos gentios (13.1-3
é o ponto de partida).
Nas viagens m issionárias, Paulo deu aos judeus, nas sinagogas, a prim eira oportunidade de aceitarem a
Cristo. Com o os judeus repudiaram a pregação bíblica a respeito do M essias de Israel, Paulo passou a oferta
aos gentios. Assim foi em A ntioquia da Psídia, onde Paulo teve de concluir: “C um pria que a vós outros,
em prim eiro lugar, fosse pregada a Palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós m esm os vos julgais
indignos da vida eterna, eis aí que nos volvem os para os gentios” (13.46). E o resultado foi imediato: “Os
gentios, ouvindo isto, regozijavam -se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam
sido destinados para a vida eterna” (v. 48).
Em Atos capítulo 16 Paulo e Silas pregaram na colônia rom ana de Filipos, foram encarcerados por isso,
e 0 bom testem unho deles em meio às torturas e um terrem oto levaram à conversão do carcereiro, que
perguntou: “ Senhores, que devo fazer para que seja salvo? Responderam -lhe: Crê no Senhor Jesus e serás
salvo, tu e tua casa” (16.30-31). Após a pregação da Palavra de Deus, houve batism o daqueles que creram
em Deus (16.32-34).
Em Beréia, os m em bros da sinagoga foram elogiados porque “exam inaram todos os dias as Escrituras,
para ver se tudo era assim m esm o” (Atos 17.11). O padrão é crer no Senhor Jesus da m esm a form a que
se crê em Deus, e isso em total consonância com as Escrituras, a Palavra de Deus. Em Atenas, Paulo
anunciou Jesus na praça de um a grande cidade intelectual, tendo como ponto de partida um altar “ao Deus
D esconhecido” e alusões aos pensadores gregos. O Deus que fez o m undo, disse, agora (i.é, com a vinda de
Cristo) ordena que todos, em todo lugar, se arrependam (17.24-31).
Em Atos capítulo 20 Paulo, encerrando sua terceira viagem m issionária, ao despedir-se dos presbíteros
em Éfeso, fez este resum o da sua obra em Cristo (passado e futuro): “ ...servindo ao Senhor com toda a
hum ildade, lágrim as e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram , jam ais deixando de vos
anunciar coisa algum a proveitosa e de vo-la ensinar publicam ente e tam bém de casa em casa, testificando
tanto a judeus como a gregos o arrependim ento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. E,
agora, constrangido em m eu espírito, vou para Jerusalém , não sabendo o que ali me acontecerá, senão que
o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações. Porém em nada
considero a vida preciosa para m im m esm o, contanto que com plete a m inha carreira e o m inistério que
recebi do Senhor Jesus para testem unhar o evangelho da graça de D eus” (v. 19-24).
Jesus Cristo recebe total dedicação dos seus convertidos, e estes recebem a ajuda do Espírito Santo
para testem unhar do evangelho da graça de Deus. Este trecho prenuncia a obra m issionária de Paulo como
encarcerado por causa da sua fé em Cristo, tanto nas suas apologias de Cristo diante de várias autoridades
quanto nas Epístolas que continuava escrevendo na cadeia (Filipenses, Efésios, C olossenses, Filem om , 1 e
2 Tim óteo, Tito). i
No capítulo 22, Paulo, preso por causa de um tum ulto provocado pelos ju d eu s contra ele no templo,
recebeu do oficial rom ano licença para fazer sua defesa. R essaltou seus sólidos fundam entos judaicos,
deu testem unho da sua conversão a Jesus, mas não queriam escutar m ais nada depois de ele declarar que
Jesus o m andou evangelizar os gentios. Diante do governador Félix e do rei Agripa, Paulo confirm ou que
toda a sua pregação de Cristo estava dentro daquilo que as Escrituras do Antigo Testamento profetizavam ,

CURSO DE TEOLOGIA
25
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

prenunciavam e ensinavam : “ ...acreditando em todas as coisas que estejam de acordo com a lei e nos
escritos dos p ro fe ta s ...” (24.14), e “ ...n ad a dizendo, senão o que os profetas e M oisés disseram haver de
acontecer, isto é, que o Cristo devia padecer e, sendo 0 prim eiro da ressurreição dos m ortos, anunciaria a
luz ao povo e aos gentios” (26.22-23).
Depois da pregação histórica da doutrina de Jesus Cristo em Atos dos Apóstolos, fundamentada nos
Evangelhos, e em plena consonância com 0 conteúdo das Escrituras do Antigo Testamento, passamos para a
continuação e aplicação dessa mesma doutrina nas Epístolas.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 7
1) Qual a importância especial de Atos na Cristologia?
2) Em Beréia, por que os membros da sinagoga foram elogiados?

CURSO DE TEOLOGIA
26
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

A DOUTRINA DE JESUS
CRISTO NAS EPÍSTOLAS
As Epístolas têm como tema central a pessoa e a obra de Jesus Cristo, conforme são reveladas nos Evangelhos,
confirmadas para os fiéis pelo Espírito Santo e pregadas por eles, historicamente, em Atos dos Apóstolos. Tudo
isso é tomado por certo, como fundamento, pelos autores das Epístolas, sendo que estas foram escritas às pessoas
e às igrejas - as comunidades daqueles que já de antemão tinham crido em Cristo como Salvador e sido batizados,
conforme vimos no capítulo sobre Atos dos Apóstolos.
Repassando a narrativa cronológica da vida de Jesus Cristo nos Evangelhos, podemos ver repetidas alusões
a ela nas Epístolas:

Jesus nasceu como judeu: “ ...v ind o , porém , a plenitude do tem po, Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssem os a adoção de
filhos” (Gálatas 4.4-5).

Jesus é descendente de Davi: “ ...com respeito a seu Filho, 0 qual, segundo a carne, veio da descendência de
Davi e foi designado Filho de Deus com poder, segundo 0 espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a
saber, Jesus Cristo, nosso Senhor” (Romanos 1.3-4).

As qualidades de Jesus: manso - “ ...pela mansidão e beniginidade de Cristo” (2 Coríntios 10.1); sem
pecado - “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de
Deus” (2 Coríntios 5.21); humilde - “Tende em vós 0 mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se
esvaziou, assumindo a forma de servo, tomando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,
a si mesmo se humilhou, tomando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2.5-8).

Nestas primeiras citações já vemos que os fatos históricos singelos passam a ser, depois da Ressurreição,
da Ascensão e do derramamento do Espírito Santo, esclarecidos como Cristologia, Soteriologia (a Doutrina da
Salvação), Eclesiologia (a Doutrina da Igreja), além de ser aplicados à vida devocional e ao andar na fé. E assim
que as Epístolas fazem a cada passo. Continuemos a nossa lista:

Jesus foi tentado: “Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os
que são tentados” (Hebreus 2.18). “ Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Fíebreus 4.15).

Jesus foi transfigurado: “ ...pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa
lhe foi enviada a seguinte voz: Este é 0 meu Filho amado, em quem me comprazo. Ora, esta voz, vinda do céu,
nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo” (2 Pedro 1.17-18).

Jesus foi traído: “Porque eu recebi do Senhor 0 que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em
que foi traído, tomou o pão” (1 Coríntios 11.23-24).

Jesus foi crucificado: “ ...m as nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, loucura
para os gentios...” (! Coríntios 1.23).

CURSO DE TEOLOGIA
27
MÓDULO 2 1DOUTRINA DE CRISTO

Jesus ressuscitou: “Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primicias; depois, os que são de
Cristo, na sua vinda. E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído
todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os
inimigos debaixo dos pés” (1 Coríntios 15.23-25).

Jesus subiu aos céus: “Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos
homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido às regiões inferiores da terra? Aquele que
desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas” (Efésios 4.8-10).

Jesus instituiu a Ceia do Senhor: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor
Jesus, na noite em que foi traído, tomou 0 pão; e, tendo dado graças, 0 partiu e disse: Isto é o meu corpo, que
é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também
0 cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em
memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor,
até que ele venha” (1 Coríntios 11.23-26).

Podemos continuar percebendo, nesses textos (e em muitíssimos outros), que os fatos históricos de Jesus
Cristo passam a ser Doutrina, Cristologia, o conteúdo da fé cristã.

MAIS DO UTRINAS DE CRISTO NAS EPÍSTOLAS


O que também fica claro nas Epístolas (em acréscimo ao título “Filho de Deus” nos Evangelhos) é a divindade
de Jesus Cristo, nos seus vários aspectos:

A Jesus são dirigidas orações como a Deus: “...à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em
Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus
Cristo, Senhor deles e n o sso ...” (1 Coríntios 1.2).

Jesus é colocado em igualdade com Deus Pai nas saudações de algumas Epístolas: “ .. .graça a vós outros
e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 1.3).

Jesus é Deus revelado a nós: “...nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que
lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus... Porque Deus, que disse:
Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da
glória de Deus, na face de Cristo” (2 Coríntios 4.4,6). “Este [Jesus] é a imagem do Deus invisível, o primogênito de
toda a criação” (Colossenses 1.15). Devemos entender a palavra ‘im agem’ como ‘expressão exata’, ‘manifestação
perfeita’, e subentender ‘primogênito do Pai, de quem surgiu toda a criação’. “Ele, que é o resplendor da glória e a
expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder...” (Hebreus 1.3).

Jesus Cristo é referido muitas vezes como ‘Senhor’ nas Epístolas: No Antigo Testamento, SENHOR
é tradução do tetragrama YHW H (erroneamente transcrito como “Jeová”), que é Deus Pai Onipotente. As
Testemunhas de Jeová, que negam a divindade de Cristo, querem que “Senhor” no Novo Testamento seja Deus
Pai, mas os crentes entendem que é título de Cristo, com sua plena divindade, dentro da doutrina da Trindade. Em
1 Coríntios 7.10, 12, 25, “ Senhor” é alusão histórica a Jesus Cristo e seus ensinos (no contexto do casamento); no
v. 1 7,0 Senhor (Jesus Cristo) é equiparado a Deus Pai, e no v. 20 a palavra “Senhor” é claramente o próprio Jesus
Cristo. Temos a mesma definição em Efésios 6.5-7. “O Senhor Jesus” (2 Tessalonicenses 1.7) é um conceito
ensinado pelo Espírito Santo àqueles que se convertem, conforme temos em 1 Coríntios 12.3: “ ...ninguém pode

18 CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo” . Como cristãos, entendemos a palavra “ Senhor,” dirigida tão
freqüentemente a Jesus Cristo, no seu pleno significado divino.

Jesus Cristo confessado como Deus: “ ...não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo
de que ele é poderoso para guardar 0 meu depósito até aquele Dia” (2 Timóteo 1.12). “Grande é 0 mistério
da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado
entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória” (1 Timóteo 3.16). “...aguardando a bendita esperança e a
manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2.13). Pedro escreveu: “...aos que
conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, graça e paz vos
sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor” (2 Pedro 1.1-2).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 8
1) Qual é 0 tema central das Epístolas?
2) Repassando a narrativa cronológica da vida de Jesus Cristo nos Evangelhos, podemos ver repetidas alusões
a ela nas Epístolas. Cite três exemplos.
3) O que também fica claro nas Epístolas em acréscimo ao título “Filho de Deus” nos Evangelhos?

CURSO DE TEOLOGIA 29
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

A DOUTRINA DE JESUS CRISTO


NO APOCALIPSE
O livro inicia dizendo que é uma “revelação de Jesus Cristo” (Apocalipse 1.1). Jesus Cristo é a pessoa e 0 tema
central do livro. Ele é apresentado como 0 Cordeiro de Deus que cumpriu as profecias do Antigo Testamento. Ele
notificou ao seu servo João as coisas que em breve devem acontecer e disse a ele: “Escreve, pois, as coisas que
viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas” (1.19).
O senhorio ou soberania de Jesus Cristo se ressalta do começo ao fim do livro. Quando Jesus se manifesta,
andando entre sete candelabros de ouro e segurando sete estrelas na mão direita, passa a explicar que os
candelabros são as sete grandes igrejas da Ásia M enor (onde João estava) e as estrelas eram os anjos dessas
igrejas. Jesus está pessoalmente vigiando as igrejas, presente entre elas, naqueles tempos e até hoje.
As cartas que Jesus mandou escrever àquelas igrejas têm aplicação imediata a cada uma delas, naquele
momento histórico, mas também são consideradas admoestações a vários tipos de igreja durante toda a História
da Igreja, e é muito comum identificar cada uma delas, na ordem em que aparecem, como profecia do que se
sucederia à cristandade no decurso dos séculos.
Neste contexto, temos duas declarações paralelas, que, juntas, nos revelam a plena divindade de Cristo: “Eu
sou 0 Alfa e Omega, diz 0 Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso” (1.8); e ainda:
“Não temas; eu sou o primeiro e 0 último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos
dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (1.17-18).
Nas cartas às sete igrejas, Jesus Cristo está ditando, mas cada uma delas termina com a exortação: “Quem
tem ouvidos, ouça 0 que o Espírito diz às igrejas” (2.7, etc.). Aquilo que Cristo diz fica em pé de igualdade com
aquilo que 0 Espírito Santo diz. Já nos Evangelhos estamos acostumados com essa exortação de Jesus: “Quem
tem ouvidos, ouça!” (Mateus 11.15), com referência aos seus ensinos - e há muitas expressões paralelas.
A soberania divina de Jesus Cristo, tema que percorre o Apocalipse, já é anunciada em 1.5: “ .. .Jesus Cristo, a Fiel
Testemunha, 0 Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Aquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos
libertou dos nossos pecados”, em plena harmonia com a declaração de Jesus nos Evangelhos: “Toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra” (Mateus 28.18). Temos ainda 0 cântico de milhões de milhões de anjos proclamando: “Vi
e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de
milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder,
e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra,
debaixo da terra e sobre o mar, e tudo 0 que neles há, estava dizendo: Aquele que está sentado no trono e ao Cordeiro,
seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 5.11-13).
Títulos messiânicos do Antigo Testamento, retomados por Jesus nos Evangelhos, reaparecem no Apocalipse,
como: “ .. . 0 Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos” (Apocalipse 5.5);
e Jesus disse, no último capítulo: “Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da m anhã” (22.16).
A Segunda Vinda de Cristo, referida nos Evangelhos e declarada mais pormenorizadamente na primeira e
na segunda Epístola aos Tessalonicenses, é declarada já no início do Apocalipse: “Eis que vem com as nuvens,
e todo olho o verá, até quantos 0 traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente.
A m ém !” (Apocalipse 1.7).
Na mesma linguagem da parábola do servo vigilante (Lucas 12.35-48) temos: “Eis que venho como vem
0 ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua
vergonha” (Apocalipse 16.15).
No decurso dos eventos narrados no Apocalipse, Jesus Cristo é sempre enaltecido como o Senhor ressurreto

30 CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 2 ! DOUTRINA DE CRISTO

e glorificado, Soberano, operante em favor do seu povo: “O reino do mundo se tom ou de nosso Senhor e do seu
Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 11.15); “Então, ouvi grande voz do céu, proclamando:
Agora, veio a salvação, 0 poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso 0 acusador
de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus. Eles, pois, o venceram por causa
do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram
a própria vida” (Apocalipse 12.10-11).
No capítulo 19 de Apocalipse Jesus Cristo é ó vencedor: “Vi 0 céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu
cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça,
há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto
tinto de sangue, e 0 seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando
cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com
ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira
do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS
SENHORES” (Apocalipse 19.11-16). Aqui temos alusão a várias expressões proféticas messiânicas do Antigo
Testamento, e voltamos ao “Princípio” com João, onde Cristo já era a “Palavra” (ou “Verbo”, em João 1.1).
No último capítulo do Apocalipse, após revelar os eventos tumultuosos, Jesus volta a prometer a sua Segunda
Vinda, mais em linguagem de consolo e encorajamento, para os seus fiéis: “Eis que venho sem demora. Bem-
aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro” (Apocalipse 22.7); “E eis que venho sem
demora, e comigo está 0 galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras” (22.12); “Aquele
que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (22.20).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 9
1) Quais são as declarações paralelas, que, juntas, nos revelam a plena divindade de Cristo?
2) Quais são os títulos messiânicos do Antigo Testamento, retomados por Jesus nos Evangelhos, que
reaparecem no Apocalipse?
3) Em Apocalipse capítulo 19 temos Jesus Cristo como Vencedor. Como Ele é chamado?

CURSO DE TEOLOGIA
21
MÓDULO 2 i DOUTRINA DE CRISTO

ALGUNS ENSINOS DA PARTE


DE JESUS CRISTO
Jesus discursava em público após formar seu grupo de doze discípulos (cf. Lucas 6.12-16), e um a multidão
se aglomerava ao derredor, “que vieram para o ouvirem e serem curados de suas enfermidades; também os
atormentados por espíritos imundos eram curados” (Lucas 6.18). Fica evidente que os milagres de Jesus eram
“sinais” que apontavam para a autoridade sobrenatural da sua Pessoa. Seu discurso era: “Bem-aventurados vós,
os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos.
Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sois quando os homens vos
odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno,
por causa do Filho do H om em ” (Lucas 6.20-22).
Aqui começa a “plataform a” religiosa de Jesus Cristo, que se contrapõe aos valores mais estimados pelo
mundanismo. Os valores divinos são eternos, e a recompensa pela prática deles se achará no céu (v. 23) - mas
é aqui na Terra que são a norma ética para os fiéis, que pertencem ao Reino de Deus no sentido de serem leais à
Soberania do Rei Jesus, num mundo de trevas e de rebelião contra Deus.
Sua mensagem era direta. Dizia ele: “Amai, porém, os vossos inimigos, fazei 0 bem e emprestai, sem esperar
nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo” (Lucas 6.35). É contundentemente
clara, porém há uma enorme luta espiritual para po-la em prática. Continua Ele: “Não julgueis e não sereis
julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; dai, e dar-se-vos-á; boa medida,
recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido
vos medirão tam bém ” (Lucas 6.37-38). Críticas, condenações, perdão e generosidade voltarão a nós na mesma
medida em que os distribuímos.
A solidez da nossa vida religiosa é analisada em Lucas 6.43-45, resumida nas palavras “cada árvore é conhecida
pelo seu próprio fruto”, e em Lucas 6.46-49: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?
Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É
semelhante a um hom em que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha;
e, vindo a enchente, arrojou-se 0 rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída. Mas 0
que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-
se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa” . Essa ilustração mostra que
nossa comunhão com Cristo deve servir de alicerce profundo da construção que é a nossa vida.
Sobre a oração, Lucas 11.1-13 registra mais outros ensinos públicos de Jesus. N a narrativa, Jesus estava
orando e, depois de terminar, um discípulo pediu: “Senhor, ensina-nos a orar” (v. 1), e Jesus ofereceu o modelo
a ser seguido, o “Pai-Nosso” (v. 2-4), e exemplificou como um amigo terrestre atende à petição urgente de outro
amigo (v. 5-8), e um pai terrestre atende aos pedidos dos filhos (v. 11-12), de modo que, muito mais, nosso Pai
celeste nos atende às orações, mormente as com intenção espiritual (v. 13).
Sobre a firme confiança em Deus, Jesus ensina (Lucas 12.22-34): “ ...não andeis ansiosos pela vossa vida,
quanto ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Porque a vida é mais do que
o alimento, e o corpo, mais do que as vestes” (v. 22-23). “Preocupar” tem muitos sentidos comuns em português, e a
palavra em grego é semelhante a “tarraxa” (instrumento para fazer rosca em parafusos) - ficar mesmo “contorcido”
ou “em parafuso”. Numa civilização oriental na qual a tamareira é cuidadosamente plantada e cuidada, para dar
frutos quarenta anos mais tarde, não se pode entender que ficar “despreocupado” é deixar de trabalhar, estudar,
preparar-se e precaver-se. Tudo é uma questão de prioridades: investir tempo e dinheiro nas coisas que agradam a

32 CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 1 1DOUTRINA DE CRISTO

Deus, de valor etemo, ou seja: “Onde estiver o seu tesouro, ali também estará 0 seu coração” (v. 34).
Em Mateus Jesus disse: “Vós sois 0 sal da terra; ora, se 0 sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor?
Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode
esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas
no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5.13-16). Em Mateus
5.17-20 Jesus deixa claro que “não desaparecerá da Lei [aqui se refere à totalidade do Antigo Testamento] a
m enor letra ou o m enor traço, até que tudo se cumpra”. Mas o cumprimento não será segundo uma interpretação
meramente superficial, farisaica: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas
e fariseus, jam ais entrareis no reino dos céus” (v. 20). Nesse contraste entre as injunções literais do Antigo
Testamento e as intenções do coração do crente em Cristo, Jesus passa a considerar os assuntos do homicídio, do
adultério, do divórcio, dos juramentos, da vingança e do amor aos inimigos, conforme segue.
O homicídio já está no coração de quem odeia o seu próximo (v. 21-26). O adultério já está no coração de
quem cobiça um a m ulher (v. 27-30). Quem se divorcia da sua esposa já a expõe ao adultério, e quem se casar com
a m ulher divorciada está adulterando (v. 31-32). Os juram entos não podem ser prestados em nome de nenhum
objeto no universo; basta um simples “sim” ou “não” diante do próprio Criador do universo (v. 33-37).
H avendo cada vez m ais oposição por parte dos líderes religiosos ju d aico s contra Jesus, por rejeitarem
sua autoridade divina e os indícios de ser ele o M essias, Jesus passou a usar m uitas parábolas, histórias
baseadas na vida diária bem conhecida, que apontavam para as verdades divinas. Q uando Jesus dizia: “O
R eino de Deus é sem elhante a...” fazia “sem elhanças” , com parações, e a B íblia de Lutero cham a “p aráb o la”
de Gleichnis = sem elhança.
Antes de passarmos a algumas parábolas, podemos ressaltar que grande volume do que Jesus falava às
multidões era em resposta aos ataques verbais dos escribas e fariseus, que sempre queriam desmoralizá-lo em
público. Quanto aos líderes religiosos que “fingiam” viver um a vida religiosa enquanto viviam de modo contrário,
e que eram os inimigos mais virulentos do crente em Cristo, a palavra “hipócrita” (gr. Υ π ο κ ρ ιτ ή ς - hupokrites),
que em grego significava “ator mascarado” no palco, foi-lhes aplicada por Jesus (“fingidos” é a tradução na
paráfrase “Bíblia Viva’’ - Mundo Cristão), e o fato é que a hipocrisia (no sentido que temos em português, fiel
ao uso por Jesus Cristo) é o pecado mais fortemente condenado por nosso Senhor nos Evangelhos - quanto à
freqüência do uso e à linguagem contundente usada. No fim do seu ministério público, imediatamente antes da
crucificação, Jesus proferiu um discurso que catalogou todo esse comportamento hipócrita (Mateus 23).
Jesus ensinava as multidões por meio de parábolas. Exemplificaremos algumas aqui, citando-lhes apenas os
nomes, cada um a com sua referência bíblica, e a respectiva lição ensinada, preferivelmente quando 0 próprio Jesus
tira a conclusão com as suas próprias palavras. Em cada referência bíblica aqui escolhida 0 leitor poderá achar
na sua Bíblia se há similar em outro Evangelho (pois as parábolas de Jesus são assunto dos quatro Evangelhos).
A primeira, pela ordem, é a parábola do semeador, que mostra como cada ouvinte recebe a Palavra de Deus e
frutifica conforme sua receptividade a ela (Marcos 4.1-20). A parábola do joio (Mateus 13.24-30) ensina que só
Deus (não nós), no fim, pode definir a condição de quem é supostamente crente. A parábola do grão de mostarda
(Marcos 4.30-32) mostra 0 crescimento da doutrina de Jesus Cristo, a partir de uma semente mínima até uma
hortaliça grandíssima. Os superlativos aqui representam os superlativos em grego. Não “a m enor” semente, nem
“a maior” hortaliça. A parábola do fermento (Marcos 4.33) mostra como a fé em Cristo cresce invisivelmente até
afetar profundamente a humanidade.
As parábolas do tesouro escondido e da pérola de grande valor (Mateus 13.44; 13.45-46) mostram que, na
conversão, a pessoa considera lixo todos os valores mundanos em troca de ficar com 0 Salvador (cf. Filipenses
3.8-9). A parábola da rede fala de um a pesca cristã que alcança muitas pessoas, mas nem todas se convertem
em seguidores genuínos (Mateus 13.47-50). Nos ensinos de Jesus existem muitas expressões figuradas, lições
morais ou exortações em linguagem de exemplificação, que são parabólicas (Lucas 14.7-11), mas nem sempre
são tradicionalmente classificadas como “A parábola de...”.

CURSO DE TEOLOGIA
33
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

N a parábola do grande banquete (Lucas 14.15-23) Jesus mostra que muitos convidados para a ceia com ele no
céu inventarão desculpas para repudiá-lo, mas muitas pessoas na pior situação poderão ser procuradas nos becos
e campos para preencherem as vagas.
Lucas 15 mostra Jesus dedicando tudo à recuperação e salvação dos perdidos. A ovelha perdida (15.1-7) tinha
se desviado pelos seus próprios apetites, sempre em busca de coisa melhor, lá longe. A dracma perdida (v. 8-10),
caída pela força da gravidade, não tinha a mínima condição de se movimentar, nem gritar por socorro. O filho
pródigo queria total independência e liberdade, sem medir as conseqüências (v. 11-31). As definições são nossas,
mas a lição de Jesus, para os três casos, é: “Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que
se arrepende do que por noventa e nove justos que não [alegadamente] necessitam de arrependimento” (v. 7).
A parábola da viúva persistente (Lucas 18.1-8) ensina a persistência na oração (ver também Lucas 11.5-13).
Essa viúva conseguiu enfrentar um juiz injusto, e a lição apontada por Jesus foi: “Não fará Deus justiça aos seus
escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes
fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18.7-8).
Na ordem da narrativa histórica em Lucas, com os líderes religiosos (fariseus, escribas, mestres da Lei,
saduceus, sacerdotes) já tramando contra ele, Jesus contou a parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18-9-14),
na qual o fariseu se jactava (numa suposta oração) em voz alta de todos seus (supostos) merecimentos diante de
Deus, ao passo que o publicano orava à distância: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador” (v. 13) - a
atitude que leva à justificação diante de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo.
Contra esses mesmos líderes religiosos Jesus dirigiu a parábola dos lavradores (Lucas 20.9-19). Esses
lavradores recusavam render os frutos devidos ao dono, que mandou seus servos e, finalmente, o próprio filho
para pedir prestação de contas. Os lavradores acabaram matando 0 filho do dono, assim como os líderes judeus
planejavam fazer com Jesus. Mas perderiam tudo e seriam reduzidos a pó (v. 16-18).
Jesus se referiu a “um homem de nobre nascimento que foi para uma terra distante para ser coroado rei, e
depois voltar” (Lucas 19.12), mas cujos súditos 0 repudiavam (v. 13), mas, no fim de tudo, m andou executar
esses inimigos (v. 27). Há alguma alusão histórica a Herodes Magno, que assim foi para Roma para ser nomeado
rei dos judeus; e também ao próprio Jesus, que estava para se ausentar da Terra mediante a Crucificação, a
Ressurreição e a Ascensão. No ínterim, aplica-se a lição da parábola das dez minas (Lucas 19.11-26), de cada
um ser fiel às coisas de Cristo, como leal servo súdito cujo legítimo rei não está visivelmente presente. As minas
eram moedas gregas (valendo uns três salários mínimos cada), assim como os talentos são pesos de ouro ou prata
na parábola dos talentos (Mateus 25.14-28).
Enquanto aguardamos a volta de Jesus, devemos ser fiéis ao lidarmos com as responsabilidades que ele
nos delegou (nossos talentos) e, como na parábola das dez virgens (Mateus 25.1-14), mantermo-nos vigilantes,
preparados e equipados para quando Jesus precisar de nós, e mormente para a sua Segunda Vinda.
O Evangelho segundo João não registra parábolas no sentido de histórias ilustrativas, mas linguagem
semelhante é usada nas declarações “Eu sou...”. Examinando uma delas, “Eu sou a videira verdadeira” (João
15.1-17), vemos que os crentes são os ramos, e o Pai, o agricultor. E Deus quem faz a poda (com corte, limpeza),
visando nossa frutificação. O segredo do ramo, para frutificar, é ficar bem firme, agarrado, na videira que é
Jesus. E isso inclui ficar sempre no amor de Jesus, confirmado pela obediência aos seus preceitos, e pelo amor ao
próximo do mesmo tipo que Jesus sempre nos dedicou.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 10
1) A solidez da nossa vida religiosa é analisada em Lucas 6.43-45. Ela é resumida em que palavras?
2) O que significa a palavra hipócrita no grego?

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 1DOUTRINA DE CRISTO

FONTES NÃO-CRISTÃS QUE


ESCREVERAM SOBRE JESUS

Jesus Cristo nada escreveu, apesar de haver milhares de livros escritos a seu respeito. Viveu na Terra há cerca
de dois mil anos. Ele pertenceu a um povo que, segundo as Escrituras, era 0 povo escolhido de Deus. N o passado,
eles eram conhecidos como povo de Israel, entretanto, na época de Jesus, eram tam bém chamados de judeus.
Jesus viveu na terra que havia sido lar de seu povo por centenas de anos, uma faixa de Terra situada no litoral
oriental do m ar Mediterrâneo.
Seus ensinos atraíam as classes menos favorecidas, especialmente os pobres e desprezados, o que fazia com
que os líderes religiosos ficassem intrigados com o que Ele dizia a ponto de planejarem sua morte. Depois de
“calarem” o rei dos judeus, seus seguidores continuaram a espalhar a sua mensagem. O que eles diziam sobre Ele
deu início a um novo movimento, primeiro entre os judeus, depois entre os gentios, chamado de cristianismo.
Impérios surgiram e se foram, civilizações inteiras desapareceram; revoluções militares, convulsões sociais e
políticas mudaram a ordem do nosso mundo. Mas aquela pequena comunidade de pescadores fundada pelo judeu
Jesus, da aldeia de Nazaré, a sua Igreja, permanece em pé até hoje, como um rochedo firme no meio de um m ar
em contínuo movimento.
Os críticos da Bíblia alegam ou sugerem que os documentos do Novo Testamento não são confiáveis,
pois foram escritos pelos discípulos de Jesus ou por cristãos posteriores. M encionam como prova que não há
confirmação da existência de Jesus em nenhuma fonte não-cristã. Vejamos.

11.1 FORA DAS ESCRITURAS


Algumas informações sobre Jesus podem ser extraídas dos historiadores que foram contemporâneos dele
ou viveram logo depois. Ele é mencionado pelos historiadores romanos Tácito (Anais XV. 44), Plínio, 0 jovem
(.Epístolas X.96), Suetônio (Cláudio, 25; Nero 16) e pelo famoso historiador judeu Flávio Josefo, em uma
passagem suspeita de conter interpolação (Ant. XVIII. 3.3).

11.2 FLÁVIO JOSEFO (37/38 - 100 d.C.)


Historiador judeu, filho de sacerdote, fariseu de família abastada. No ano 66 estava comandando a guerra
judaica contra Roma na Galiléia, onde foi preso. Tendo profetizado a ascensão de Vespasiano ao poder, quando
isso realmente se concretizou Vespasiano o libertou das cadeias. Desde então viveu sob a proteção dos flavianos
em Roma, onde compôs seus escritos históricos e apologéticos. Ele não menciona Jesus em sua Guerra judaica,
mas o menciona por duas vezes nas Antiguidades judaicas (Ant. 18.63s; 20.200), sua história do povo judeu.
Em Ant. 20.200 Josefo descreve 0 julgam ento e apedrejamento de Tiago e de outros por transgredirem a
Lei, de acordo com 0 Sinédrio dirigido pelo sumo sacerdote Ananos no ano de 62. Josefo apresenta Tiago como
“irmão de Jesus, que é chamado Cristo” (Tou adekvou Igsour kecolemor Wqistor), identificando-o assim por
meio de seu irmão mais conhecido.

O Testimonium Flavianum (Ant. 18.63s.)


O chamado Testimonium Flavianum {Ant. 18.63s.), que é dado por todos os manuscritos de Josefo sem
variação digna de menção, onde ele relata sobre Jesus Cristo, é o seguinte:

CURSO DE TEOLOGIA
35
MÓDULO f |DOUTRINA DE CRISTO

Neste tempo vivia Jesus, um homem sábio, se é que se pode chamá-lo um homem. Ele realizava feitos
incríveis e era 0 mestre de todos os que aceitavam com alegria a verdade. Desta forma ele atraiu judeus e
também gentios. Ele era 0 Cristo. E apesar de Pilatos. movido pelas pessoas mais eminentes de nosso povo,
tê-lo condenado à morte, seus discípulos não lhe foram infiéis. Apareceu-lhes pois em vida no terceiro
dia; os profetas enviados por Deus haviam anunciado antecipadamente isso e outras coisas maravilhosas
sobre ele. Até o dia de hoje subsiste o povo dos cristãos, chamados assim segundo seu nome.

Desde 0 século XVI esse texto tem sido objeto de fortes controvérsias por especialistas de todas as crenças.
Alegam ser duvidoso que um judeu que viveu e trabalhou fora do contexto cristão tenha dito tais coisas sobre
Jesus. Discutiu-se em primeiro lugar se 0 parágrafo precisa ser interpretado como testemunho autêntico de
Josefo ou se é uma interpolação cristã. No século XX o debate deslocou-se cada vez mais para a pergunta se o
Testimonium Flavianum tem por base um relato mais antigo de Josefo, que teria sido reelaborado por cristãos,
e se é possível reconstruir 0 fraseado ou a tendência desse relato original de Josefo. Assim, três hipóteses são
apresentadas: a autenticidade, a interpolação e a reelaboração.17
Este mesmo escritor faz alusão a Tiago, irmão de Jesus:

Anano, o mais jovem , cuja nomeação para sumo sacerdote acabei de citar... pertence à seita dos saduceus,
que, como já se observou antes, é mais inflexível e impiedosa no tribunal do que todos os outros judeus.
Ananos acreditou que tinha uma oportunidade favorável para a satisfação dessa sua dureza de coração,
porque Festo estava morto e Albino ainda estava a cam inho.18 Por isso, ele reuniu os juizes do Sinédrio
e pôs diante dele um homem de nome Tiago, irmão de Jesus, que é chamado Cristo, e alguns outros.
Ele os acusou de transgressão da lei e os mandou para 0 apedrejamento. Mas isso exasperou até os mais
zelosos observadores da lei, que mandaram um encarregado ao rei 19 com 0 pedido de exigir por escrito
de Ananos que desistisse de quaisquer outras ações, pois não havia sido correto em seu primeiro passo.
Alguns deles foram ter com Albino... e o informaram de que Ananos não tinha nenhuma autoridade para
convocar 0 Sinédrio sem seu consentimento. Em virtude desse incidente, Agripa o destituiu de seu cargo
de sumo sacerdote que ele ocupara por três meses...

11.3 TÁCITO (55/56 - 120 d.C)


P. Cornelius Tacitus, membro da aristocracia senatorial, ocupou cargos habituais (foi procônsul da Ásia em
112/113), entretanto ficou conhecido como historiador por suas duas grandes obras históricas: as Histórias (c.
105 - 110) e os Anais (c. 1 1 6 -1 1 7 ).
Tácito, em sua biografia, relata os cinco primeiros anos de governo do imperador Nero, chamado quinquennium
54-58 d.C. {Ann 13) e 0 reino de horror que se seguiu a este (Ann 14-16); entre os exemplos desse período está a
execução cruel de cristãos “afflicti suppliciis Christiani, genus hominum superstitionis novae ac maleficae —foi
aplicada pena de morte contra os cristãos, um grupo de pessoas de uma superstição nova e maléfica” (Nero 16.2).
O motivo pelo qual ele se refere aos cristãos é o incêndio de Roma no ano de 64 d.C. {Ann 15.38-44), que Nero
atribuiu aos cristãos para desviar a suspeita de si próprio.
Ele descreve de forma breve e precisa 0 que sabe sobre o autor {auctor) da superstição, a fim de esclarecer a
origem dos Christiani,20 que são odiados no meio do povo por causa de seus vícios {Ann 15.44,3):

17Para uma melhor compreensão sobre as hipóteses possíveis, ver THEISSEN, Gerd. 0 Jesus histórico. São Paulo: Loyola, 2 0 04. p. 86.
" Pórcio Festo (60-62) e Luceio Albino (62-64) eram procuradores romanos na Palestina. Como Festo morreu inesperadam ente, houve um
vácuo de poder após sua m orte até a chegada de seu sucessor.
‫ ״‬A referência é ao rei judeu Agripa II, que governava na Transjordânia por ordem romana e supervisionou 0 Templo até 66 .
,0A leitura christianosnão é certa, pois nos manuscritos mais antigos e confiáveis foi corrigida a p a rtir de chrestianos. C hrestianosi
provavelmente uma form a vulgar do nome para cristãos, derivado do nome grego de escravo Chrestos.

CURSO DE TEOLOGIA
36
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

Mas nem todo o socorro que um a pessoa poderia ter prestado, nem todas as recompensas que um príncipe
poderia ter dado, nem todos os sacrifícios que puderam ser feitos aos deuses, permitiriam que Nero se
visse livre da infâmia da suspeita de ter ordenado 0 grande incêndio, 0 incêndio de Roma. De modo que,
para acabar com os rumores, acusou falsamente as pessoas comumente chamadas de cristãs, que eram
odiadas por suas atrocidades, e as puniu com as mais terríveis torturas. Christus, 0 que deu origem ao
nome cristão, foi condenado à morte por Pôncio Pilatos, durante 0 reinado de Tibério; mas reprimida
por algum tempo, a superstição perniciosa irrompeu novamente, não apenas em toda Judéia, onde o
problem a teve início, mas também em toda cidade de Roma (Anais XV.44).

Tácito descreveu preconceitos difundidos sobre os cristãos junto com poucas, no entanto bastante precisas,
informações sobre Cristo e o movimento cristão.

11.4 PLÍNIO, O JOVEM (61 - 120 d.C)


Plinius Caecilius Secundus era membro da aristocracia romana, advogado e funcionário público. Por volta de
111 d.C., Plínio foi enviado pelo imperador Trajano (98-117) à província da Bitínia e Ponto para averiguar acusações
contra os cristãos. Nesse período ele manteve ampla correspondência com Trajano, do que nos restou uma coleção
de dez volumes. Numa dessas cartas, Plínio descreve as práticas de adoração dos primeiros cristãos:

...quod essent soliti stato die ante lucem convenire carmenque Christo quase deo dicere secum invicem
seque sacramento non in scelus aliquod stringere, sed ne furta, ne latrocina, ne adulteria committerent, ne fidem
fallerent, ne depositum adpellati abnegarent.

[Eles tinham] o costume de se reunir antes do amanhecer num certo dia, quando então cantavam responsivamente
os versos de um hino a Cristo, tratando-o como Deus, e prometiam solenemente uns aos outros a não cometer
maldade alguma, não defraudar, não roubar, não adulterar, nunca mentir, e a não negar a fé quando fossem
instados a fazê-lo (Epístola X, 96).

Nesse relato, Plínio confirma várias referências do Novo Testamento, entre elas, e principal, que os cristãos
adoravam Jesus como seu Deus.

11.5 SUETÔNIO
Caius Suetonius Tranquillus era membro da ordem dos cavaleiros, advogado, amigo particular de Plinius
Caecilius, que lhe abriu os caminhos para os mais altos cargos públicos sob o governo dos imperadores Trajano
e Adriano. Desse modo, Suetônio obteve acesso a todos os arquivos reais para redigir sua obra mais importante,
a biografia dos imperadores {De vita Caesarum - Vida dos Césares). Essas Vitae, quase que integralmente
conservadas, descrevem em oito volumes a vida de todos os doze césares, de Júlio César a Domiciano.
O motivo da menção a Cristo foi uma expulsão de judeus de Roma sob 0 governo do imperador Cláudio (41-
54), que também é citada em Atos 18.2: “Cláudio havia decretado que todos os judeus se retirassem de Roma
(dioti o Jkaudior eiwe diatanei m a amawyqgsysi pam ter oi Ioudaioi ej tgr Qylgr)” . Sobre Cristo, que é referido
como Chrestus, ele diz o seguinte:

“Judaeos impulsore Chresto assidue tumultuantes Roma expulit (Ele expulsou de Roma os judeus que,
incitados por Chrestus, não paravam de provocar tumultos” - Vida de Cláudio, 25.4).

Escreveu ainda: “Nero infligiu castigo aos cristãos, um grupo de pessoas dadas a uma superstição nova e
maléfica” (Vidâ dos Césares, 26.2).

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

11.6 M ARA BAR SERAPION


Estóico sírio, originário de Samosata, Mara bar Serapion escreveu uma carta, quando de sua prisão (em lugar
desconhecido), ao filho Serapion. A carta contém inúmeros conselhos e advertências que Mara faz ao filho em
face de sua possível condenação. Assim como Salomão, ele recomenda a sabedoria como único bem e conteúdo
de vida pelo qual se deve lutar. A carta contém uma aparente referência a Jesus:

Que vantagem os atenienses obtiveram em condenar Sócrates à morte? Fome e peste lhes sobrevieram como
castigo pelo crime que cometeram. Que vantagem os habitantes de Samos obtiveram ao pôr fogo em Pitágoras?
Logo depois sua terra ficou coberta de areia. Que vantagem os judeus obtiveram com a execução de seu sábio
rei? Foi logo após esses acontecimentos que o reino dos judeus foi aniquilado. Com justiça Deus vingou a morte
desses três sábios: os atenienses morreram de fome, os habitantes de Samos foram surpreendidos pelo mar, os
judeus arruinados e expulsos de sua terra, vivem completamente dispersos. Mas Sócrates não está morto; ele
sobrevive aos ensinos de Platão. Pitágoras não está morto; ele sobrevive na estátua de Hera. Nem 0 sábio rei está
morto; ele sobrevive nos ensinos que deixou (Manuscrito siríaco, add 14, 658; citado em Geisler, p. 451).

Esse texto corrobora com os evangelhos sinópticos em suas afirmações: os judeus foram responsabilizados
pela morte de Jesus, conforme afirmação do Novo Testamento (1 Tessalonicenses 2.15; Atos 4.10); de modo
semelhante, alguns interpretam que a derrota judaica perante os romanos era um castigo pela crucificação de
Jesus (cf. Mateus 22.7; 27.25); Jesus “rei sábio” dos judeus remonta da mesma forma a fontes cristãs (Mateus
2.1 ss., os sábios buscam o recém-nascido rei dos judeus) e à tradição da paixão (especialmente na entrada
triunfal, no escamecimento, no interrogatório de Pilatos e no titulus na cruz). Assim, não encontramos na carta
de Serapion nenhuma imagem de Jesus diversa do que o cristianismo afirma.

11.7 TALMUDE
As obras talmúdicas mais valiosas com relação ao Jesus histórico são aquelas compiladas entre 70 e 200 d.C.
durante 0 denominado Período Tanaíta. O texto mais significativo é 0 tratado da Mishnah:

N a véspera da Páscoa eles penduraram Yeshu e antes disso, durante dias 0 arauto proclamou que [ele] seria
apedrejado “por prática de magia e por enganar Israel e fazê-lo desviar-se. Quem quer que saiba algo em sua
defesa venha e interceda por ele”. Mas ninguém veio em sua defesa e eles o penduraram na véspera da Páscoa
(Talmude Babilônico, Sanhedrin 43a).

Essa passagem confirma a crucificação, a época do evento na véspera da Páscoa e a acusação de feitiçaria e
apostasia.

11.8 AVALIAÇÃO HISTÓRICA


As notícias sobre Jesus em autores judeus (Josefo) e pagãos (Tácito e Mara bar Serapion) mostram que na
antiguidade a historicidade de Jesus era pressuposta. Os três autores, um aristocrata e historiador judeu, um
filósofo sírio e um romano e historiador, de contextos distintos, utilizam informações sobre Jesus de maneira
autônoma. Todos sabem da execução de Jesus, ainda que de forma diferente: Tácito responsabiliza Pôncio Pilatos,
Mara bar Serapion 0 povo judeu e Josefo a aristocracia judaica e 0 governo romano.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 11
1) Quem os ensinos de Cristo atraíam?
2) Algumas informações sobre Jesus podem ser extraídas dos historiadores que foram contemporâneos dele
ou viveram logo depois. Cite três deles.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

HERESIAS SOBRE A PESSOA


DE JESUS CRISTO
E nquanto Jesus viveu, alguns de seus seguidores mais próxim os esperava que ele tentasse tom ar 0
poder daqueles que governavam a terra, mas Jesus dem onstrou que seu reino não era deste mundo. Ele era
fam oso na sua época porque ensinava sobre Deus e falava de si m esm o de um a form a diferente de seus
contem porâneos religiosos.
Depois de sua partida, já nos primeiros séculos do cristianismo, começaram a surgir muitas dúvidas e heresias
a seu respeito. Os primeiros Pais da Igreja tiveram de se posicionar diante de muitas discussões e controvérsias
que giravam em tom o da natureza de Jesus Cristo. Perguntas como: “Quem é Cristo?”, “Poderia Deus tomar-
se hum ano?”, “Alguém pode crer que Jesus Cristo é uma mistura de humanidade e deidade?” fizeram com
que a Igreja tivesse de solidificar sua doutrina. Essas controvérsias discutiam e pensavam sobre a essência de
Jesus. Durante os três primeiros séculos, os cristãos tiveram de lutar não só contra as perseguições do mundo
pagão, mas também contra as heresias e doutrinas corrompidas, dentro do próprio rebanho. Durantes os séculos
subseqüentes, várias dessas perguntas surgiram com nova roupagem, fazendo com que a Igreja se posicionasse
diante desses novos confrontos.
Os pensadores e líderes cristãos sempre reconheceram e tentaram identificar um conjunto de convicções
essenciais que todo cristão maduro e capaz deve afirmar para ser considerado verdadeiramente cristão.
Constatamos isso no próprio Novo Testamento: a primeira epístola de João preceitua que qualquer pessoa que
afirma que 0 Cristo não veio em carne (i.é., que Jesus Cristo não foi verdadeiramente humano) seja considerado
anátema (excluído). A Igreja dos dois primeiros séculos era atribulada por pessoas que alegavam ser cristãs,
mas ensinavam “outro evangelho” . A doutrina de Cristo foi a que mais sofreu ataques em toda história do
cristianismo. Cada fase do seu messiado continuamente foi sendo desafiada: seu nascimento, sua vida, seus
milagres, sua morte, sua ressurreição... tudo foi questionado. Desde o movimento Nova Era até o infame filme
“A Última Tentação de Cristo” surge esta pergunta: Jesus existiu?

12.1 ATÉ O CONCILIO DE NICÉIA (100-325 d.C.)


Os Pais da Igreja dos séculos II, III e IV (alguns dos quais foram bispos - supervisores de grupos de igrejas) -
Irineu, Tertuliano, Orígenes, Cipriano, Atanásio, Basílio de Cesaréia, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa
- foram os grandes defensores da fé cristã nesse período marcado pela controvérsia sobre a divindade de Jesus.
Algumas respostas apresentadas neste período a perguntas como: “Se Ele é Deus, como isto se relaciona com o
monoteísmo do Antigo Testamento?” e “Em que sentido Jesus é igual ao Pai, e em que sentido Ele é diferente?”
constituíram-se heresias que chegaram aos nossos dias, como 0 gnosticismo, o ebionismo, 0 docetismo, o
monarquianismo, o arianismo etc.

a) GNOSTICISMO
Os gnósticos consideravam a matéria maligna e negavam a encarnação real e a ressurreição corporal do Filho
de Deus. Seus ensinamentos sobre a criação, 0 Cristo e a salvação eram tão radicalmente contrários à pregação
apostólica e ao ensino dos Pais da Igreja, que as igrejas do Império Romano desenvolveram confissões da fé
correta a serem professadas por todos os convertidos chamadas de Credos. Atualmente o gnosticismo ressurge
sob o disfarce de “cristianismo esotérico”, como, por exemplo, a Ciência Cristã, que estabelece forte distinção
entre “Jesus” e 0 “Cristo”, negando qualquer encarnação real, ímpar e ontológica de Deus no homem Jesus.
O termo gnosticismo vem da opinião comum dos gnósticos acerca da fonte e norma máxima para a fé cristã: a gnose,

CURSO DE TEOLOGIA
39
MÓDULO 11 DOUTRINA DE CRISTO

traduzida do grego por ”sabedoria” ou “conhecimento superior”. Os gnósticos diziam possuir capacidades e conhecimentos
espirituais superiores que os cristãos não possuíam. Os gnósticos seguem líderes, divulgadores de conhecimento espiritual
que transcendem 0 entendimento normal, geralmente considerado secreto. Nos primeiros séculos do cristianismo esse
conhecimento espiritual secreto estava relacionado com as idéias de que o “Cristo” é alguém diferente do homem “Jesus”,
que o “Cristo” somente teria habitado em “Jesus”, mas nunca se identificou completamente com ele, e alma ou espírito
humano é uma centelha da plenitude divina (como dizem hoje os adeptos da Nova Era).

b) EBIONISMO
Os ebionitas surgiram no começo do segundo século. Seu nome, derivado do termo grego “ ebionaioi”, tem
seu correspondente no idioma hebraico, “ebionim ”, que significa “os pobres”. Os ebionitas eram judeus crentes
que não deixavam os preceitos judaicos e também aceitavam Jesus apenas como homem. Essa seita tinha um
ensino exagerado sobre pobreza; rejeitava os escritos do apóstolo Paulo porque nas suas epístolas ele reconhecia
os gentios convertidos como cristãos. O maior ataque ao cristianismo primitivo estava relacionado à interpretação
que tinham à respeito da divindade de Jesus e de seu nascimento virginal. Para eles, Jesus foi um simples homem,
filho de José e Maria, que observou a lei de forma especial, sendo assim escolhido por Deus para ser 0 Messias.
Em seu batismo, com a descida do Espírito Santo, Jesus teria sido capacitado por este para ser o Messias; assim,
logicamente Jesus não era eterno, logo não era Deus.
Essencialmente esta era também a posição dos monarquianistas dinâmicos, sendo Paulo de Samosata seu
principal representante, que faziam distinção entre Jesus e o Logos (veja sobre monarquianistas dinâmico neste
mesmo estudo). Sacrificavam a divindade pela defesa da humanidade de Cristo.
Nenhum concilio condenou oficialmente o ebionismo, mas Tertuliano, Irineu, Eusébio e Orígenes foram
opositores de grande peso.

c) DOCETISMO
O docetismo tem uma grande ligação com o gnosticismo, para quem o mundo material era mau e corrompido.
O termo deriva de uma palavra grega (δοχεω ) que significa “parecer”. Os docetas defendiam que o corpo de Jesus
Cristo era uma ilusão e sua crucificação teria sido apenas aparente.
Para os adeptos dessa heresia, a matéria é ruim, e ο λογος, que é o aeon (espírito), não se envolveria com
a matéria, que é o princípio do pecado, por isso Cristo parecia estar num a matéria carnal, mas na verdade não
estava, era ilusório.
N a concepção desse movimento herético, sendo Cristo bom e a matéria essencialmente má, não haveria
possibilidade de união entre ο λογος e um corpo terreno.21 Portanto, os docetas negavam a humanidade de
Jesus, dizendo que ele parecia ser humano, mas era divino. “Afirmava que o corpo de Jesus não passava de
fantasma; que sofrimentos e morte eram apenas meras aparências: O u sofria e então não podia ser Deus; ou era
verdadeiramente Deus e então não podia sofrer.”"
Não houve uma condenação oficial a esse pensamento, mas Irineu e Hipólito foram os opositores dessa idéia filosófica
grega e pagã da época, mas que foi introduzida na Igreja daqueles tempos. Irineu, discípulo de Policarpo, bispo de
Esmima, discípulo do apóstolo João, discípulo de Jesus, escreveu acerca da fé cristã comum por volta do ano 177 d.C.:

Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus
discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez os céus e a terra, 0 m ar e tudo que nele existe;
em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para a nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos
profetas, anunciou a economia de Deus; e a vinda, o nascimento pela virgem, a paixão, a ressurreição

‫ ״‬A concepção filosófica do Logos ( λ ο γ ο ς ) ocupa um lugar essencial na história longa e complicada deste term o, pois influenciou, ao menos
na fo rm a, as idéias judaicas e pagãs tardias de um Logos mais ou menos personificado. Dada a alta freqüência de utilização da idéia de
logos antes do cristianismo e simultaneam ente a ele, é necessário que 0 leitor 0 estude ta l qual aparece no helenismo e no judaísmo, λ ο γ ο ς
(logos) é traduzido por Verbo em João 1.1: “No Princípio era 0 Verbo”.
” BETTENSON. H. Documentos da Ig reja cristã. 3. ed. São Paulo: ASTE, 19 98. p. 77.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

dos mortos, a ascensão ao céu, em seu corpo de Jesus Cristo, dileto Senhor nosso; e a sua vinda dos
céus na glória do Pai, para recapitular todas as coisas e ressuscitar toda a carne do gênero humano; a fim
de que, segundo o beneplácito do Pai invisível, diante do Cristo Jesus, nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei
todo joelho se dobre nos céus e nos infernos, e toda língua 0 confesse; e execute o juízo de todos”.23

d) MONARQUIANISMO
Essa designação foi dada pela primeira vez por Tertuliano. Como a defesa doutrinária dos apologetas, dos
pais antignósticos e dos pais alexandrinos sobre ο λ ο γο ς não satisfez as dúvidas teológicas de todos na época e
a teologia cristológica ainda era nova e sem consistência, surgiam assim novos pensamentos.
O monarquianismo surgiu no século III, e a grande dificuldade era combinar a fé no Deus único (monoteísta)
com a nova fé cristã, no qual Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Essa dificuldade era complicada de resolver, pois
de um lado havia aqueles que criam que ο λ ο γο ς era uma pessoa divina, parecendo ferir a idéia monoteísta, e de
outro lado havia os que defendiam a idéia de que ο λογος era subordinado ao Pai, e isso feria a deidade de Cristo.
Esse conflito teológico originou dois tipos de pensamento: o monarquianismo dinâmico, conhecido também
como adocionismo, e 0 monarquianismo modalista.

1) M onarquianismo dinâmico
Foi um a tentativa de resguardar a unicidade de Deus. Essa idéia tinha traços do ebionismo, que pregava ser
Jesus apenas homem. Diz-se que Teodoto de Bizâncio, homem culto que comerciava couro, foi quem teria dado
origem ao monarquianismo dinâmico. Ele era contra a cristologia do λογος, negava a afirmação de que Jesus
Cristo é Deus, achava mais seguro afirmar que Jesus era um mero homem. Não negava 0 nascimento virginal,
mas esse nascimento não divinizava Jesus; Ele continuava sendo um simples homem, apesar de ser justo.
Teodoto separou a vida de Jesus em tempos, ou seja, até seu batismo Jesus viveu como todo hom em vive seu
cotidiano, com a diferença de ter sido extremamente virtuoso. Em seu batismo, 0 Espírito ou Cristo desceu sobre
Ele, e a partir daquele momento Ele passou a operar milagres, sem, contudo, tomar-se divino. Essa idéia recebeu
0 nome de dinamismo. Jesus, então, era um profeta e não Deus, e um profeta com unção divina (assim como
Elias, Eliseu e outros). Somente após a ressurreição Jesus Cristo uniu-se a Deus.
Teodoto, para fazer apologia à unicidade do Pai, precisou de um bom argumento, e para isso teve de pelo
menos negar a deidade de Jesus, igualando-se aos ebionitas.
O papa Vítor excomungou Teodoto, mas a sua idéia não teve como ser banida, tanto que Paulo de Samosata,
que foi bispo de Antioquia por volta de 260 d.C., defendeu essa forma dinâmica do monarquianismo. Paulo de
Samosata foi um pouco mais longe que Teodoto e afirmou que ο λογος é identificado com razão ou sabedoria e
que essas igualdades não são peculiares ao Cristo encarnado, mas sim um adjetivo que qualquer hom em pode
ter, ou seja, diminuiu ainda mais a deidade de Jesus Cristo. O que aconteceu então foi que a sabedoria divina
habitou no homem Jesus, e isso não significa que ele seja uma pessoa divina. As doutrinas de Tertuliano sobre o
λογος como uma pessoa e a de Orígenes sobre ο λογος como hipóstase independente foram rejeitadas por Paulo
de Samosata.
Paulo de Samosata, no sínodo de Antioquia em 268 d.C., foi declarado herege, mas de alguma forma suas
idéias apareceram mais tarde em alguns ramos da teologia liberal.

2) Monarquianismo modalista
Os monarquianistas modalistas negavam a humanidade de Cristo, como fizeram os gnósticos. Viam nEle
apenas um modo ou manifestação do Deus único, em que não reconheciam nenhuma distinção de pessoas.
Qualquer sugestão de que a Palavra ou Filho era outro que não 0 Pai, ou então um a Pessoa distinta dEle, parecia
levar inexoravelmente à blasfêmia de dois Deuses.

23 Contra as heresias. Livro 1. 2. ed. São Paulo: Paulus, 19 95. p. 6 1 -6 2 .

CURSO DE TEOLOGIA
41
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

Essa é a outra forma de monarquianismo, ou seja, é 0 outro modo de apologizar o unitarismo divino. O
modalismo (como também era conhecido) era diferente do adocionismo, que dizia que Jesus era adotado por
Deus, pregava que Jesus era Deus, mas se manifestara como criador do mundo (Pai), depois viera à Terra se
encarnando em Jesus para salvar o homem (Filho) e hoje Ele se manifesta na pessoa do Espírito Santo. Para o
modalismo há um a só pessoa, que se manifestou de forma diferente e com nomes diferentes, o Pai. A idéia do
monoteísmo judaico não fora ferida.
O primeiro teólogo a declarar formalmente a posição monárquica foi Noeto de Esmima, que, nos últimos anos
do segundo século, foi duas vezes convocado pelos presbíteros daquela cidade a fim de prestar esclarecimentos.
O cerne da pregação de Noeto era a enérgica afirmação de que havia apenas um Deus, 0 Pai.
No Ocidente seus discípulos ficaram conhecidos como patripassionistas, isto é, a idéia de que foi 0 Pai quem
sofreu e vivenciou as outras experiências humanas de Cristo.24 Portanto, teria sido o próprio Pai quem entrou
no ventre da virgem, tomando-se, por assim dizer, seu próprio Filho, o qual sofreu, morreu e ressuscitou. Desse
modo, essa pessoa singular unia em si mesma atributos mutuamente incompatíveis, sendo invisível e também
visível, impassível e também passível. Já no Oriente, este modalismo mais refinado tomou-se conhecido como
sabelianismo, em função do nome de seu autor, Sabélio. Recebendo uma estrutura mais sistemática e filosófica
por parte de Sabélio, foi levada para Roma perto do final do pontificado de Zeferino, sendo veementemente atacada
por Hipólito. Sabélio negou a trindade ao afirmar que não há três pessoas e sim uma só pessoa que se manifesta de
maneiras diferentes. Ele empregou a analogia do sol, um objeto único que irradia tanto calor quanto luz; 0 Pai era,
por assim dizer, a forma ou essência, sendo o Filho e 0 Espírito Santo os modos de auto-expressão do Pai.
Em 261 d.C. as doutrinas de Sabélio foram rejeitadas e condenadas por negar a distinção das pessoas divinas
na tentativa de resgatar uma teologia unicista para 0 cristianismo.

e) ARIANISMO
Os arianos foram seguidores de um presbítero de nome Ario. Ele afirmava que o Verbo (Jesus Cristo) não
era igual ao Pai, mas um a grande criatura. Segundo Ario, Cristo é o primeiro dos seres criados através de quem
todas as outras coisas são feitas. Em antecipação à glória que haveria de ter no final, Ele é chamado de Logos, 0
Filho, o unigênito. Dizia Ario que Jesus podia ser chamado de Deus, apesar de não ser Deus na realidade plena
subentendida pelo termo.
Diante desse fato, Alexandre, bispo de Alexandria, convocou um sínodo, que o depôs do presbiterato e o
excluiu da comunhão da Igreja. Logo depois, 0 imperador ordenou que todos os bispos cristãos comparecessem
para deliberar a respeito da pessoa de Cristo e da Trindade em uma reunião que ele presidiria em Nicéia, em 325
d.C. A grande assembléia realizou-se com a presença de 318 bispos católicos, e somente 22 eram declaradamente
arianos desde o início.25 O próprio Ario não obteve licença para participar do concilio por não ser bispo. Foi
representado por Eusébio de Nicomédia e Teogno de Nicéia. Alexandre dirigiu o processo jurídico contra Ario
e 0 arianismo, sendo auxiliado por seu jovem assistente chamado Atanásio, que viria a sucedê-lo no bispado de
Alexandria poucos anos depois. Neste concilio foi formulado um documento chamado de Credo de Nicéia, onde
os ensinos de Ario foram condenados.

12.2 O PERÍODO PÓS-NICENO (325-600 d.C.)


Depois de chegar à profissão de fé padrão, a Igreja, agora convicta de que Jesus Cristo é 0 verdadeiro Deus,
teria de resolver como a divindade e a humanidade de Jesus se relacionavam, visto haver muitas heresias no seio
da cristandade. Nesse período surgiram, entre outros, 0 apolinarianismo, 0 nestorianismo e 0 eutiquianismo.

a) APOLINARIANISMO
Esse nome se deriva de Apolinário, que era bispo de Laodicéia da Síria no final do quarto século. Ele se opôs

,4 Tertuliano “cunhou 0 rótulo de patripa$5iani$m o para essa heresia, que significa 0 sofrimento (e a m orte) do P ai” .
15 AGOSTINHO, Santo. A Trindade. São Paulo: Paulus. 2. ed. 1994. p. 11.

42 CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 2 1DOUTRINA DE CRISTO

fortemente ao arianismo. Apolinário dizia que a natureza divina tomou lugar da natureza hum ana de Cristo ao
assumir o corpo físico pela encarnação. A questão da mutabilidade do λογος pregada pelos arianos era condenada
por Apolinário, pois para ele 0 divino, ao se encarnar, não deixou de ser divino nem compartilhou divindade ou
energia com a humanidade de Cristo, mas continuou com a característica sacro-divina, pois algo espiritual não
pode se misturar com a carne, visto ser ο λογος perfeito e a carne pecaminosa.
Para Apolinário a natureza hum ana de Jesus tinha qualidades divinas, pois ο λογος é da m esm a substância
do Pai e não tem como haver um a espécie de simbiose entre duas naturezas totalmente opostas. Jesus Cristo não
teria então herança genética de Maria, pois se assim fosse sua carne seria com o a dos hom ens comuns, mas ele
trouxe do céu uma, digamos, “carne celestial 0 ;‫ ״‬ventre de M aria seria apenas um lugar para 0 desenvolvim ento
do feto. O apolinarianism o foi condenado pelo Concilio de Constantinopla em 381 d.C.

b) NESTORIANISMO
Os nestorianos eram seguidores de Nestor, bispo de Constantinopla. Nestor via o divino e 0 humano como
antítese e foi defensor da teologia de Antioquia, que ensinava que a natureza divina e a humana presentes na
pessoa de Cristo não podem ser confundidas, pois elas não se fundem, acontecendo na realidade ter Cristo duas
partes ou divisões, uma humana e outra divina. Essa teoria explica que quando Cristo tinha fome, era a parte
humana que estava em ação, mas quando andou por sobre as águas ou fez milagres, o que estava em ação era a
parte divina. Jesus então era uma pessoa dividida em duas partes com operações parceladas. A idéia de que Cristo
agia com toda sua personalidade era inaceitável para Nestor.
N estor fazia objeção à expressão Theotokos (M ãe de Deus), usada pelos monges. Para ele M aria deu à luz
ao descendente de Davi, no qual ο λογος residiu, por isso seria errado dizer que M aria é m ãe de Deus, ou seja,
M aria fora mãe da parte hum ana de Jesus, sendo assim im possível ela ser mãe da parte divina, em que está a
divindade de Jesus. N estor preferia a expressão Xristótokos.
O sínodo de Efeso, realizado no ano 431 d.C, apoiou a teologia alexandrina, declarando Nestor herege e
condenando-o ao exílio, mas mesmo assim os nestorianos organizaram uma igreja independente na Pérsia. Apesar
de não terem crescido tanto, há igrejas nestorianas até hoje, como, por exemplo, a Igreja de São Tomé, na índia.

c) EUTIQUIANISMO
Os eutiquianos eram os seguidores de Êutieo, abade ou arquimandrita26 de um mosteiro fora de Constantinopla,
no quinto século. Êutieo era discípulo de Cirilo de Alexandria, opositor de Nestor.
Essa teoria ensinava que não havia duas naturezas, mas apenas um a natureza em Cristo. Tudo em Cristo
era divino, até mesmo seu corpo. O divino e humano eram uma só coisa. Por ensinar essa teoria, Êutieo fora
excomungado de Constantinopla. O papa Leão I convocou então um sínodo em Éfeso no ano 449 d.C., mas 0
partido alexandrino defendeu Êutieo (eram amigos), e este voltou ao seu ministério. O papa Leão I expôs sua
idéia num a carta ao bispo Flaviano de Constantinopla, mas a idéia não foi discutida. Marcado pelo tumulto, esse
sínodo recebeu o nome de “sínodo dos ladrões” e não é reconhecido como concilio ecumênico.
Leão I não ficou satisfeito com tais resultados, e em 451 d.C. convocou outro concilio, agora em Calcedônia,
quando a idéia de Êutieo, que era alexandrina, foi rejeitada, e a posição do papa Leão I, aceita.

d) OS ELQUESAÍTAS
Eram os seguidores de Elquesai, que dizia ter tido uma visão de um anjo que lhe trouxera revelações. Quem
aceitasse os ensinamentos de Elquesai alcançaria perdão dos pecados. Os e lq u e sa íta s rejeitavam o nascimento
virginal de Cristo e criam que Jesus teria nascido como outro qualquer; entretanto, Jesus era considerado um anjo
superior, 0 mais elevado arcanjo. Essa seita era de natureza judaica, porém sincretista, pois além de observarem
a lei praticavam a arte mágica e a astrologia.

26 Superior de mosteiro na Igreja Grega.

CURSO DE TEOLOGIA
43
MÓDULO 2 1DOUTRINA DE CRISTO

e) MONOFISISMO
Essa palavra é derivada de outras duas palavras gregas: μονος = único e φ υ σ ις = natureza. A formação da
palavra já explica o que essa teoria ensina, ou seja, Cristo tem uma só natureza, que é composta.
Um a das formulações dessa idéia diz que uma energia única uniu as duas naturezas tão perfeitamente que
não restou distinção entre elas. Outra formulação explica que a humanidade de Cristo foi transformada pela
divina, havendo uma espécie de simbiose, fazendo de Jesus um homem impecável e divino, ou seja, a parte
física/humana de Jesus foi transformada num a natureza divina.
N a realidade, o que houve foi que grupos não aceitaram a posição do concilio de Calcedônia, alegando que
tal concilio negou a unidade de Cristo. Severo de Antioquia, que era defensor da teoria, dizia que ο λ ο γο ς só
tem um a natureza, a saber, a que se fez carne. Ele defendia que “um a natureza” é equivalente à “hipóstase ou
um a pessoa” .
Os monofisistas achavam impossível dizer que Cristo tem duas naturezas e ao mesmo tempo tem um corpo ou
é uma pessoa apenas. Em 451 d.C. o monofisismo foi condenado, e o concilio de Constantinopla, em 680 d.C.,
também 0 rejeitou, mas os jacobitas sírios, as igrejas cópticas, abissínia e armênia adotaram a idéia monofisista.

f) MONOTELISMO
Tal palavra também advém do grego: μονος = único e θελησις = vontade. Assim, essa seita, que surgiu
dentro do monofisismo, indagava o seguinte: a vontade pertence à pessoa ou à natureza? Isso em Cristo é claro!
A resposta dada por eles era que Cristo tinha apenas um a vontade, negando outras vontades. Em oposição aos
monotelistas surgiram os duotelistas, que pregavam ter Cristo duas vontades como também duas naturezas.
O sexto concilio ecumênico, em Constantinopla, realizado no ano 680 d.C., adotou a doutrina das duas
vontades como doutrina ortodoxa, porém a vontade humana é subordinada à divina, não havendo diminuição da
humana nem absorção de uma natureza na outra, e ainda as duas se unem e agem em perfeita harmonia.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 12
1) Depois da partida de Jesus, já nos primeiros séculos do cristianismo, 0 que começaram a surgir?
2) Quem foram os Pais da Igreja dos séculos II, III e IV?
3) O que ensinava o gnosticismo?
4) Qual a concepção de Jesus para os ebionitas?
5) De onde deriva 0 termo docetismo?
6) Quando surgiu 0 monarquianismo?
7) Os monarquianistas modalistas negavam o quê?
8) 0 que A rio defendia?
9) O que en sin ava N estório?
10) oque en sin a 0 m on ofisism o?

CURSO DE TEOLOGIA
kh
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

BIBLIOGRAFIA
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THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em teologia sistemática. São Paulo: Batista Regular, 2006.
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STEIN, Robert. A pessoa de Cristo: Um panorama da vida e dos ensinos de Jesus. São Paulo: Vida, 2006.

CURSO DE TEOLOGIA
faculdade teológica betesda
Moldando vocacionados

AVALIAÇÃO - MÓDULO II
c r is t o L o g ia
1) O que significa o nome Cristo? Existe diferença entre Cristo e Messias?

2) Qual foi o propósito de Lucas ao escrever seu evangelho?

3) Por que é importante saber sobre a divindade de Cristo?

4) Cite três textos bilicos em que Jesus é chamado de Senhor (Kyrios).

5) Cite três nomes pelos quais Jesus era conhecido e explique-os colocando as referências bíblicas.

6) O que significa “evangelhos sinópticos”?

7) Qual foi a suprema credencial de Jesus para autenticar a sua divindade?

8) Faça um breve relato de Jesus nas epístolas.

9) Faça um comentário sobre a doutrina do gnosticismo

10) O que Ária ensinava sobre a pessoa de Jesus Cristo?

CARO(a) ALUNO(a):
• Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-las
folha de papel sulfite, sendo objetivo(a) e claro(a).
CAIXA POSTAL 12025 · CEP 02013-970 · SÃO PAULO/SP
• De preferência, envie-nos as 5 avaliações juntas.
HISTÓRIA DE ISRAEL
SUMARIO

INTRO DUÇÃO .............................................................................................................................................................53

1. ORIG EM DOS POVOS .......................................................................................................................................... 54


1.1 M ESOPOTAM IA................................................................................................................................................. 54
1.2 CANAÃ ..............................................................................................................................................................55
1.3 DE ADÃO A N O É ..............................................................................................................................................55
1.4 O DILÚVIO .......................................................................................................................................................56
1.5 DESCENDENTES DE N O É .........................................................................................................................56
1.6 A TORRE DE BABEL ...................................................................................................................................57

2. OS PATRIARCAS .................................................................................................................................................. 58

3. M O ISÉS........................................................................................................................................................................ 61
3.1 O ÊX O D O ..............................................................................................................................................................61
3.2 JO SU É.................................................................................................................................................................... 63

4. JU ÍZ E S......................... ...............................................................................................................................................64

5. DIVISÃO DO R E IN O ............................................................................................................................................. 66

6. O SURGIM ENTO DA A SSÍR IA .........................................................................................................................68


6.1 QUEDA DO REINO DO N O RTE................................................................................................................ 69
6.2 CRONOLOGIA DOS REIS DO REINO DO NORTE.......................................................................... 70

7. O REINO DO SUL ...............................................................................................................................................71


7.1 CRONOLOGIA DOS REIS DO REINO DO SU L................................................................................. 72

8. IM PÉRIO M EDO -PERSA ................................................................................................................................ 73

9. O RETORNO DO CATIVEIRO ................................................................ ................................................. 76

10. A RELIGIÃO ....................................................................................................................................................... 77

11. OS PROFETAS .............................................................................................................. ............................. ....... 80

BIBL IO G R A FIA ........................................................................................................................................................... .83


MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

INTRODUÇÃO ‫נ‬

Descrever a história de Israel é falar de um povo sofredor, mas ao mesmo tempo vencedor. A história de Israel
está assentada em quatro importantes pilares: povo, terra, lei e templo. Deus escolhe um povo e lhe promete um a
terra, com ele faz um a aliança, e esse povo lhe constrói um templo. Toda e qualquer tentativa de expor de modo
sistemático a história de Israel não pode prescindir desses elementos, pois no princípio era a terra sem povo.
Ao povo de Israel foi prometida uma terra que manava leite e mel, e Deus deu as regras (Lei) para garantir a
promessa. E na terra da promessa foi construído um templo para garantir a presença de Deus.
A origem do povo judeu não é atribuída a uma família de nobres ou a um rei mitológico. A história de Israel
tem sua origem na Bíblia e encontrou sua expressão mais contundente na idéia de um a Aliança (brit) pactuada
entre o Deus bíblico e 0 povo israelita. O conteúdo teológico dessa Aliança - suas estipulações, condições,
promessas - está nas Escrituras e foi desenvolvido ao longo de mil anos de história da Bíblia.
Tudo começou com um pastor seminômade que decidiu peregrinar da M esopotâm ia a Canaã sob um chamado
divino. Teve dois filhos, Ismael e Isaque, sendo este o filho da prom essa de Deus (Gênesis 21.1-8), que deu
continuidade ao plano de Deus gerando,-com Rebeca, os filhos Esaú e Jacó.
Jacó troca com seu irmão a bênção da primogenitura por um prato de lentilhas. Mais tarde tram a com sua
mãe um plano para se beneficiar da bênção de seu pai, que, sendo de idade avançada, não percebe a trapaça e 0
abençoa. Por este motivo foi obrigado a sair da terra de seu pai, indo para as terras de seu tio Labão. N essa terra
Jacó teve doze filhos, os quais deram origem às doze tribos de Israel. Este relacionamento de Deus com seu povo
foi reafirmado em toda a Escritura, passando por Moisés, pelos reis da dinastia de Davi, pelos profetas e pelos
últimos livros das Escrituras.
N ossa intenção é mostrar um panoram a da história de Israel desde a sua formação até o retom o do cativeiro
com Esdras e Neemias reconstruindo o templo do Senhor, lugar de adoração do Deus vivo.

CURSO DE TEOLOGIA 53
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

ORIGEM DOS POVOS


Grande parte da historiografia relata que as primeiras civilizações do mundo surgiram em um a região que
fica entre 0 Ocidente e o Oriente, mais precisamente conhecida como Crescente Fértil. É um a região que, desde
a Idade da Pedra, constituiu 0 berço de inúmeras civilizações altamente desenvolvidas, tais como a Suméria, a
Acádia e a Aramita, onde se desenvolveram e dali se espalharam sobre a face da terra habitável naquela época.
Traçando um arco a partir do que é hoje o Egito, passando pelo norte de Israel e do Líbano, adentrando a
Síria e atravessando 0 Iraque, desembocando finalmente, via Kuwait, no Golfo Pérsico, tem-se 0 desenho de uma
meia-lua geográfica. Por isso a região ficou conhecida como Crescente Fértil, devido ao seu traçado que lembra
a lua no quarto crescente e às terras férteis banhadas pelos diferentes rios que ali se encontram. Atualmente,
corresponde ao continente Europeu, Oriente Médio e parte da África.
Entre o rio Nilo e 0 Eufrates - dois berços de civilizações - há um a pequena faixa de terras férteis, a diminuta
faixa entre o m ar M editerrâneo e 0 pequenino rio Jordão, conhecida na Antigüidade pelo nom e de Canaã, onde
se desenvolverá a parte inicial da história de Israel.

Crescente Fértil
1.1 M ESOPOTAM IA
No idioma grego antigo, meso quer dizer “no m eio”, e potamós quer dizer “rio” . Daí surgiu a palavra
M esopotâmia, que significa “entre rios” . Com esse nome se descreve a mais antiga região da Terra, onde, em
nosso entender, se iniciou 0 berço da civilização. A pesquisa arqueológica avançou muitíssimo em nossos
dias, e inúmeros detalhes da M esopotâmia são agora aceitos. Há fortes indícios, tanto arqueológicos quanto
antropológicos, de que o Jardim do Éden estava localizado ali.
A M esopotâmia foi habitada desde tempos pré-históricos, sendo berço de civilizações antiqüíssimas e
importantes, como os sumérios, os acádios, os assírios e os babilônios. Os mais antigos foram os sumérios, que
construíram sua civilização na Baixa M esopotâmia por volta de 2800 e 2370 a.C. Eles foram os inventores da
escrita - escavações feitas em Uruk revelaram o uso da escrita cuneiforme (sinais em forma de cunha) desde

CURSO DE TEOLOGIA
54
MÓDULO 2 I DOUTRINA DE CRISTO

o início do terceiro milênio - e construíram as primeiras cidades da região. As cidades não eram unidas, cada
qual tinha seu próprio governo e eram denominadas cidades-estados. Havia várias cidades-estados poderosas
e independentes que se concentravam em Eridu, e dentre elas, com a ajuda da arqueologia, podemos destacar:
Quis; Laraque; Acade, cidade do Grande Sargão I (Gênesis 10.10); Lagas; Ereque (Gênesis 10.10) e Ur dos
caldeus, cidade natal do patriarca Abraão, ao sul da Mesopotâmia. Essas cidades-estados eram habitadas por uma
população idiomaticamente afim, miscigenada e de múltiplas origens, que durante algum tempo foi de grande
importância cultural dentro do ambiente semita do Crescente Fértil.
Espalhada por toda a Mesopotâmia, essas “metrópoles” eram rivais e freqüentemente se confrontavam. A
vencedora tom ava a riqueza e as terras dos vencidos, e os derrotados sobreviventes eram transformados em
escravos. Mas a cortina da História só se abre por volta do terceiro milênio. A partir daí, as superpotências da
época brigam pelo domínio dessa faixa de terra. Incessantemente, confrontaram-se pelo domínio dessa região 0
império egípcio, de um lado, e os de Sumer, Acade, Assíria e Babilônia, de outro.

1.2 CANAÃ
A nação de Israel surgiu num determinado espaço geográfico: 0 cobiçado corredor de passagem entre duas
grandes potências da época. Do lado ocidental se encontrava a civilização egípcia no vale do Nilo. No lado oriental,
a civilização mesopotâmica, regada pelos rios Tigre e Eufrates. A ligação entre essas duas potências eram as rotas
comerciais que atravessavam uma pequena faixa de terra entre o m ar Grande e o deserto, conhecida como Canaã.
Canaã é 0 cenário da parte inicial da história de Israel. Ao norte, o país
apresenta montanhas cobertas por neve no inverno; ao sul, um deserto
causticante, que se estende sob um sol implacável até 0 m ar Vermelho; a
oeste, as ondas e a brisa do Mediterrâneo; a leste, 0 rio Jordão, muito mais
um a minúscula barreira defronte a outro deserto do que um potente meio de
comunicação, como são os rios navegáveis. Ele nasce no lago de Tiberíades,
antigamente chamado de m ar da Galiléia, e desemboca no m ar Morto,
400 metros abaixo do nível do mar, ponto mais baixo do planeta Terra. Do
M editerrâneo ao Jordão são aproximadamente 80 quilômetros, e uns 450
quilômetros vão do sul ao norte.
A partir do terceiro milênio, Canaã passa a ser objeto de disputas entre as
superpotências da época. Devido à ligação com os continentes, passam por
ela tanto mercadores quanto exércitos.
Continuamente, confrontam-se pelo domínio dessa região o império egípcio,
de um lado, e os de Sumer, Acade, Assíria e Babilônia, de outro, sem contar as
ondas de invasores que periodicamente surgem através dos desertos e do mar.
Perto do fim do segundo milênio, chegam a Canaã os povos marítimos,
vindos das ilhas gregas ou da Ásia Menor, superiormente armados, entre eles
os filisteus.

1.3 DE A D Ã O A N O É
Adão m orreu com 930 anos. Segundo as Escrituras, N oé foi a décim a geração, “filho de Lam eque;
Lam eque, filho de M etusalém , M etusalém , filho de Enoque, Enoque, filho de Jarede, este, filho de M aalalel,
filho de Cainã; Cainã, filho de Enos, Enos, filho de Sete, e este, filho de Adão, filho de D eus” (Lucas 3.36-
38). D eus agradou-se de Noé, que, dentre os hom ens que viviam na M esopotâm ia, era o único que m antinha
sua fidelidade com Ele. N oé dem onstrou possuir forças m orais suficientes para conservar sua integridade
ética em todas as circunstâncias da vida.

CURSO DE TEOLOGIA
55
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

1.4 O DILÚVIO
A Terra entrou em estado de deterioração após os primeiros pais terem pecado. “Viu Deus a terra, e eis
que estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido 0 seu caminho na terra” (Gênesis 6.11-12).
Entristecido pelo mal que o homem fazia, Deus resolveu acabar com 0 mundo, poupando apenas Noé e sua
família. Antes de consumar seu intento, Deus ordenou a Noé que construísse uma grande arca calafetada de
betume por dentro e por fora, com trezentos côvados de comprimento, por cinqüenta de largura e trinta de
altura (Gênesis 6.14-15). Noé estava com seiscentos anos de idade quando veio 0 dilúvio sobre a Terra. “No ano
seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande
abismo, e as comportas dos céus se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta
noites” (Gênesis 7.11-12).1
Depois que as águas eliminaram toda a vida sobre a Terra, Deus fez sua primeira aliança com 0 homem
nos seguintes termos: “Estabeleço a minha aliança convosco: não será mais destruída toda carne por águas de
dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a terra. Disse Deus: Este é 0 sinal da minha aliança que faço entre
mim e vós e entre todos os seres viventes que estão convosco, para perpétuas gerações: porei nas nuvens 0 meu
arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra” (Gênesis 9.11-13).

1.5 DESCENDENTES DE NOÉ


Depois do dilúvio as terras do mundo então habitado e os povos a despontar serão divididos em três linhagens
principais: aos descendentes de Cam coube a tarefa de povoar a África, a Ásia distante, a Oceania e certas regiões
do Oriente Médio, Babilônia e imediações do mar Vermelho. Por algum tempo essa raça promoveu e desenvolveu
uma admirável civilização, representada pelos babilônios, egípcios, fenícios e outros. A Sem coube a tarefa de
habitar diversas regiões da Ásia, não chegando a produzir grandes povos nem grandes civilizações, destacando
dentre todos os hebreus, que se notabilizaram pelos pendores religiosos. A Jafé coube as ilhas do mar e as distantes
terras ao norte e oeste. Assim, os jafetitas povoaram todas as ilhas do Mediterrâneo, toda a Europa e parte da Ásia,
aparecendo nos antigos e modernos persas e medos. Assim cumpriu-se a profecia encontrada em Gênesis 9.25-27:
“E disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos. E disse: Bendito seja o SENHOR, Deus de
Sem; e seja-lhe Canaã por servo. Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo”.

1Quanto à grande polêmica se 0 dilúvio foi universal ou parcial, deixamos a referida questão para investigação do nobre leitor, para que
possa tira r as devidas conclusões pertinentes a este im portante assunto.

CURSO DE TEOLOGIA
56
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

1.6 A TORRE DE BABEL


Os filhos de N oé se espalharam sobre a face da Terra, e um de seus netos, cham ado N inrode, construiu
um grande im pério na terra de Sinar (Gênesis 10.10). N essa região, os hom ens intentaram construir um a
torre que tocasse nos céus. Deus desagradou-se desse projeto e confundiu suas línguas, fazendo com que
não se entendessem mais. O povo que vivia nessa região se espalhou form ando pequenas cidades-estados.
As cidades m ais im portantes eram: Adab, Zabalam , U m m a, Bad-Tibira, Lagash, A kshak, Kish, Nippur,
Shurupak, U ruk e Ur. C ada um a p ossuía ao seu redor um cinturão de aldeias e eram separadas por pântanos
e desertos, característicos da região.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 1
1) Onde se desenvolveu 0 berço de inúmeras civilizações altamente desenvolvidas da Antigüidade?
2) O que significa a palavra “mesopotâmia”?
3) Cite o nome de três cidades-estados.
4) Adão morreu com quantos anos?
5) Qual foi a aliança que Deus fez com os homens após o dilúvio?
6) Quem foram os descendentes de Noé?
7) A Mesopotâmia foi berço de civilizações antiqüíssimas e importantes. Quais foram elas?

CURSO DE TEOLOGIA 57
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

OS PATRIARCAS
Chamam-se patriarcas os três primeiros chefes do povo israelita: Abraão, Isaque e Jacó. A história de Israel
tem início com a chamada de Abraão para ser o pai da nação escolhida. Abrão vivia em Ur dos caldeus, famosa
cidade sumeriana localizada às margens do rio Eufrates, na M esopotâmia. A principal divindade adorada em
U r era o deus lua sumeriano Nannar, conhecido em acadiano como Sin. Provavelmente sua família era devota
dessa divindade, visto que no livro de Josué encontramos o registro de que “Terá, pai de Abraão e de Naor,
habitaram dalém do Eufrates e serviram a outros deuses” (Josué 24.2). Quando Terá e sua família saíram de Ur,
estabeleceram-se em Harã, outro importante centro de adoração ao deus Sin.
Nessa cidade Deus lhe faz promessas: “Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e
da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei
o teu nome, e tu serás um a bênção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e
em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12.1-3). Abraão não vai a Canaã como um chefe beduíno
à procura de espólios, nem como um nômade. Ele tem um propósito, um alvo, vai realizar um ideal. Quatrocentos
anos depois do dilúvio, Deus dá início à restauração e à redenção da raça humana por meio desse patriarca.
As viagens de Abraão tiveram início quando seu pai Terá saiu de Ur dos caldeus, no sul do Iraque, importante
centro comercial, e levou a família rumo a Canaã. Subindo o Eufrates, seguindo pela estrada principal, chegaram
a Harã, tam bém designada por Padã-Arã, onde Terá veio a falecer. Situada cerca de 960 quilômetros a noroeste
de Ur e 643 quilômetros a nordeste de Canaã, foi 0 local da primeira parada. Em seguida, atendendo ao chamado
de Deus, Abraão partiu de Harã rumo a Canaã. Parece que Abraão entrou nessa terra pela Transjordânia, pelo
ocidente do Jordão, o que o teria levado a atravessar todo o sul de Damasco, passando pelos contrafortes do
Líbano, talvez pela entrada de Hamate.
N a terra de Canaã, os encontros entre o patriarca e seu Deus se tom aram constantes. O primeiro local onde 0
patriarca levantou suas tendas foi Siquém. Nessa cidade “apareceu o SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua
descendência esta terra. Ali edificou Abrão um altar ao SENHOR, que lhe aparecera” (Gênesis 12.7). O Deus
de Abraão pouca semelhança tem com os modelos politeístas contemporâneos. Não foi criado, não nasceu, não
possui colegas nem rivais, ascendência ou descendência, não tem corpo, sexo ou origem.
Pouco tempo depois de sua chegada, logo se m udou para um a montanha a oriente de Betei, onde edificou um
altar ao Senhor e invocou 0 nome do seu Deus. Nesse tempo a terra foi afligida por uma grande seca, o que forçou
Abraão a partir com sua família para o Egito à procura de refrigério.
O Egito sobreviveu em meio ao deserto graças ao Nilo e às suas enchentes, que depositavam 0 limo, espécie
de fertilizante natural, nas margens do rio, onde os egípcios plantavam legumes, trigo, linho e cevada. Nas suas
margens crescia também o papiro. Essa planta aquática servia para fazer uma espécie de papel para escrever,
além de cordas, pequenos barcos e redes. Foi nesse país que Abraão e sua família foram peregrinar.
Depois de algumas provações, Abraão foi abençoado por faraó. Por fim, 0 patriarca retom ou para o Negueve
e de lá seguiu para 0 lugar onde ao princípio estivera sua tenda, entre Betei e Ai, levando consigo grandes
riquezas (Gênesis 13.3). N essa região ele se separa de seu sobrinho Ló, que escolhe as bandas do oriente, os
pastos verdejantes da planície do Jordão, a leste de Betel. A Abraão coube as partes altas de Betei, porém a ordem
divina foi: “Percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei” (Gênesis 13.17). Depois
disso, Abraão seguiu em direção a Hebrom.
Abraão não possuía filhos, pois sua esposa, Sara, era estéril (Gênesis 16). Ela, que possuía uma escrava
egípcia de nome Hagar, disse a Abraão: “Eis que 0 SENHOR me tem impedido de dar à luz filhos; toma, pois, a

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO f |HISTÓRIA DE ISRAEL

minha serva, e assim me edificarei com filhos por meio dela” (Gênesis 16.2). Abraão concordou com o pedido
de Sara. Hagar concebe e dá à luz um filho, a quem dão o nome de Ismael (Gênesis 16.15). Algum tempo depois
Sara recebe a promessa diretamente de Deus de que ela mesma teria um filho. Nessa época ela tinha a idade
de noventa anos e Abraão aproximadamente cem, mas a promessa se concretizou com o nascimento de Isaque
(Gênesis 21.1-7), com quem o plano de Deus teria continuidade.
Em seguida Abraão se estabelece em Hebrom, a m eia distância entre 0 Mediterrâneo e o m ar Morto. Nessa
região ele adquire “o campo de Efrom, que estava em Macpela, fronteiro a Manre, o campo, a caverna e todo
o arvoredo que nele havia, e todo 0 limite ao redor” (Gênesis 23.17). Sara é a primeira a ser sepultada nessa
propriedade, e logo Abraão lhe faria companhia (Gênesis 23.29; 25.9).
Depois de três anos após o sepultamento de sua esposa, preocupado com 0 destino de seu filho e com as
promessas de Deus, Abraão incumbe seu servo de buscar uma esposa para seu filho Isaque, que já estava beirando
os quarenta anos, na sua terra, em meio à sua parentela, de onde o próprio Abraão teria vindo (Gênesis 24.4).
Seu servo foi até a Mesopotâmia, para a cidade onde morava Naor, irmão de Abraão. Lá chegando encontrou a
pessoa a qual havia pedido a Deus em oração, que logo aceitou sua proposta. A jovem se chamava Rebeca, “filha
de Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão” (Gênesis 24.15).
Abraão casa-se novamente e, através de sua esposa Quetura, toma-se o ancestral dos clãs de Zinrã, Jocsã,
Medã, Midiã, Isbaque e Suá (Gênesis 25.1-2). Algum tempo depois do casamento de Isaque, Abraão morre, com
a idade de 175 anos.

Peregrinação de Abraão

Isaque era o filho da promessa, porém não foi uma figura de destaque na história de Israel. Entretanto, era
por meio dele que estavam sendo concretizados os desígnios divinos. Ele deu continuidade ao projeto de Deus,
gerando, com Rebeca, os filhos gêmeos Esaú e Jacó. Depois de algum tempo, devido a dificuldades sociais,
econômicas e políticas que a região apresentava, a família mudou-se para Gerar (Gênesis 26).
Esaú, 0 herdeiro aguardado da aliança, perde seu direito de primogenitura e os demais privilégios da aliança
em troca de um guisado de lentilhas (Gênesis 25.34). Mais tarde, por motivação pessoal e ajudado por sua mãe,
Jacó engana Isaque, que, não percebendo que estava sendo ludibriado, abençoa Jacó dizendo: “Deus te dê do
orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de trigo e de mosto. Sirvam-te povos, e nações te reverenciem;

CURSO DE TEOLOGIA 59
MÓDULO 2 1HISTÓRIA DE ISRAEL

sê senhor de teus irmãos, e os filhos de tua mãe se encurvem a ti; maldito seja 0 que te amaldiçoar, e abençoado
o que te abençoar” (Gênesis 27.28-29).
Jacó, que desejava a unção que por direito pertencia a seu irmão Esaú, recebeu a bênção de seu pai e tomou-se
o terceiro patriarca da nação israelita, conquistando também a amargura de seu irmão. Iniciou assim sua jornada
fugindo da ira de seu irmão. Sob a orientação de seu pai, foi para a Mesopotâmia (Gênesis 28).
N essa jornada, Deus renova com Jacó a aliança que havia firmado com seus pais dizendo: “Eu sou o SENHOR,
Deus de Abraão, teu pai, e Deus de Isaque. A terra em que agora estás deitado, eu ta darei, a ti e à tua descendência.
A tua descendência será como 0 pó da terra; estender-te-ás para 0 Ocidente e para o Oriente, para 0 Norte e para
o Sul. Em ti e na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra. Eis que eu estou contigo, e te
guardarei por onde quer que fores, e te farei voltar a esta terra, porque te não desampararei, até cumprir eu aquilo
que te hei referido” (Gênesis 28.13-15).
Em Harã, Jacó encontrou-se com Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, que correu para anunciar a seus
parentes sua presença ali. Jacó pede a Labão sua filha mais nova em casamento, seguindo os rituais previstos e
prometendo trabalhar durante sete anos para Labão, mas é enganado pelo sogro, o qual lhe dá a filha mais velha,
Lia. Para ficar com a mais nova teve que trabalhar por mais sete anos.
Jacó, com essas duas mulheres e também com suas servas, teve doze filhos, que vão dar origem às doze tribos
de Israel. José, o mais novo deles, é 0 protegido dos pais. Os irmãos 0 invejam a tal ponto que o vendem como
escravo para mercadores do Egito, com apenas 17 anos (Gênesis 37.2). No Egito, José vai trabalhar na corte de
faraó. Depois de muitas aventuras ele se tom a 0 primeiro-ministro. Nesse tempo sobrevêm um a grande fome em
Israel, e José consegue fazer que sua fam ília se estabeleça no Egito. O livro de Êxodo relata a façanha do povo de
Israel, que sob a mais dura servidão constrói para faraó as cidades-celeiros de Pitom e Ramessés (Êxodo 1.11).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 2
1) Quem são os patriarcas da nação israelita?
2) O que fez 0 Egito sobreviver em meio ao deserto?
3) Onde o servo de Abraão foi buscar esposa para Isaque?

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

MOISES

Moisés nasceu no período da escravidão israelita no Egito. As Escrituras registram que os hebreus construíram
duas novas cidades, Pitom e Ramessés, para os egípcios debaixo de chicotadas (Êxodo 1.11). “Mas, quanto mais
os afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais cresciam; de maneira que se enfadavam por causa dos
filhos de Israel. E os egípcios faziam servir os filhos de Israel com dureza” (Êxodo 1.12-13).
Os egípcios começaram a temer o número cada vez maior de israelitas (“um povo mais forte”, segundo
faraó).2 O termo hebraico usado no versículo 12, traduzido como “inquietavam”, é kootz, que significa “detestar
e ter horror a, um sentimento doentio” . Por essa razão, faraó ordenou que todos os meninos que nascessem entre
os israelitas fossem lançados no rio (Êxodo 1:22).
Quando Moisés nasceu, sua mãe 0 escondeu por três meses e depois o colocou em um cesto junto aos juncos
à margem do rio. A filha de faraó, enquanto se banhava no rio, viu a criança e, tomando-a, entregou-a, sem saber,
aos cuidados de sua própria mãe, que o criou até ser grande, quando então o devolveu à filha de faraó, que “o
adotou; e chamou o seu nome Moisés e disse: Porque das águas 0 tenho tirado” (Êxodo 2.10). Moisés entrou num
mundo de crueldade, sofrimento e desespero, entretanto protegido pela fé de seus pais (cf. Hebreus 11.23).
A vida de Moisés, segundo o livro de Atos, capítulo 7, pode ser dividida em três segmentos de quarenta anos
cada. Ele passou seus primeiros quarenta anos no Egito, aprendendo nas escolas egípcias; passou seu segundo
ciclo de quarenta anos na terra de Midiã; e passou seus últimos quarenta anos no deserto com 0 povo hebreu,
alimentado por provações, desânimo e testes, ensinado pela lei que recebeu das mãos de Deus.

3.1 O ÊXODO
Moisés havia crescido na corte do faraó, alheio ao seu povo. Entretanto, sua mãe deve ter inculcado em seu
coração, desde tenra idade, que ele não pertencia ao Egito, que mesmo tendo seu nome egípcio ele era hebreu de
nascimento. Fora dos limites palacianos, percebe que os filhos de Israel viviam como escravos nos campos de
trabalho forçado.
Sendo Moisés já grande, saiu a seus irmãos e viu sua aflição. Revoltado com uma cena que presenciou, ele
mata um egípcio que feria um hebreu. Temendo por sua segurança, foge para Midiã, região desértica entre o
Egito e Canaã, onde é acolhido por Jetro, que lhe dá sua filha Zípora como esposa, com quem tem dois filhos,
Gerson e Eliezer (Êxodo 18.3-4). Durante quarenta anos, Moisés permaneceu fugitivo do Egito, abrigando-se
entre os midianitas do Sinai e da Arábia.
Um dia, apascentando o rebanho de seu sogro, nas montanhas do monte Sinai, Moisés tem sua atenção atraída
pelo sobrenatural: um arbusto ressequido em chamas que não se consumia (Êxodo 3.2). Deus aparece a Moisés e
se identifica como 0 Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Ele diz a Moisés que era chegado o tempo em que o povo de
Israel partiria da terra da escravidão e possuiria Canaã, a terra prometida. Este fato marca o encontro entre Deus
e Moisés. Por quatro vezes ele tenta esquivar-se; ele se sente incapacitado para a missão (Êxodo 3.11), inquire
sobre em nome de quem falará (Êxodo 3.13), tem dúvidas sobre se vão escutá-lo (Êxodo 4.1) e, finalmente,
argumenta que não é orador (Êxodo 4.10).
Moisés, o fúgitivo, o pastor, transforma-se a partir dessa experiência em Moisés, o líder, o profeta e o libertador.
De volta ao Egito, agora com oitenta anos de idade, acompanhado de Arão, que servirá de porta-voz, Moisés

2“Entrementes, se levantou novo rei sobre 0 Egito, que não conhecera a José. Ele disse ao seu povo: Eis que 0 povo dos filhos de Israel é mais
numeroso e mais forte do que nós” (Êxodo 1.8 -9).

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

tenta negociar um a retirada pacífica, com o propósito de adorar a Yahweh, mas os egípcios recusam a forma
amigável proposta pelo enviado de Deus. Deus intervém na história operando sinais, prodígios e maravilhas em
favor de seus escolhidos, de modo que tanto faraó quanto 0 povo egípcio não vêem outra solução senão a soltura
dos israelitas. As dez pragas que se seguiram foram todas de caráter judicial - abatiam-se sobre o Egito após cada
recusa de faraó em permitir a saída de Israel. A última das pragas foi a morte dos primogênitos, que atingiu até
mesmo a família do próprio faraó. O Deus dos hebreus passa a ser conhecido como o Deus libertador, pois Ele é
quem venceu todos os deuses egípcios protetores de faraó.
A saída desse grupo de escravos em direção à terra prometida não foi nada fácil. Eles marcharam em direção a
Canaã, família por família, clã por clã, com seus rebanhos e suas posses. Depois de alguns dias chegam defronte ao
mar Vermelho. Cercado pelo deserto de um lado, pelas montanhas de outro, pela frente o mar e por trás os egípcios
que o perseguiam, o povo começa a murmurar: “Não é esta a palavra que te temos falado no Egito, dizendo: Deixa-
nos, que sirvamos aos egípcios? Pois que melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto” (Êxodo
14.12). E uma provação dolorosa para Moisés, todavia sua confiança em seu Deus 0 faz avançar água adentro (Êxodo
14.15). Enquanto os israelitas atravessam o mar, “ 0 Anjo de Deus, que ia adiante do exército de Israel, se retirou e ia
atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles e se pôs atrás deles. E ia entre o campo dos egípcios
e o campo de Israel; e a nuvem era escuridade para aqueles e para estes esclarecia a noite; de maneira que em toda a
noite não chegou um ao outro” (Êxodo 14.19-20). Quando chegaram do outro lado do mar, estendeu Moisés suas mãos
sobre as águas do mar, que se fecharam sobre os egípcios, exterminando-os com seus carros e cavaleiros.
Depois dessa gloriosa experiência, Israel começa a vagar pelo deserto. Inicia-se o penoso processo de
transformar refugiados em homens livres. Nas primeiras provações, desnuda-se o coração dos libertos, e eles
confessam sua saudade das “panelas do Egito”. Em todo momento reclamam e murmuram. Os longos anos nas
terras áridas do deserto serviram para purificar a fé do povo. Deus faz uma aliança com seu povo e a sela em Dez
Mandamentos a serem seguidos. No caminho rumo à terra prometida, esses foram ampliados totalizando 613
mandamentos, 365 positivos e 248 negativos.3
Seguindo em direção a Canaã, depois de terem recebido a Lei, Moisés seleciona doze espias, um de cada tribo,

3MAIMÔNIDES. Os 6 1 3 Mandamentos. 3. ed. São Paulo: Nova Arcádia, 1991.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

que deverão fazer um reconhecimento da terra. O relatório dos enviados não é uniforme; alguns viram um a terra
que “mana leite e mel”, outros relatam que viram “gigantes perante os quais nós parecemos gafanhotos” (Números
13.33). Josué e Calebe são de opinião diferente, neles “houve outro espírito” (Números 14.24). Disseram: “ Se
o SENHOR se agradar de nós, então, nos fará entrar nessa terra e no‫־‬la dará, terra que m ana leite e mel. Tão-
somente não sejais rebeldes contra o SENHOR e não temais o
povo dessa terra, porquanto, como pão, os podemos devorar;
retirou-se deles 0 seu amparo; o SENHOR é conosco; não os
tem ais” (Números 14.8-9). A sentença divina foi proferida:
nenhum de vinte anos para cima entraria na terra prometida,
salvo Josué e Calebe (Números 14.29). Passaram quarenta
anos no deserto devido à desobediência a Deus. Todavia, em
sua infinita benignidade, Deus supriu suas necessidades e nada
faltou ao povo.
Perto de onde o rio Jordão desemboca no mar Morto, Moisés
reúne toda a congregação e fala-lhes longamente. Ascendendo
ao monte Nebo contempla com seus olhos a promessa de Deus,
terra que pode ver, mas não pisar. É 0 fim da penosa, mas
gloriosa, caminhada do maior legislador que Israel já viu. Seu
sucessor está prenunciado, por mérito: Josué.

3.2 JOSUÉ
Filho de Num, da tribo de Efraim, nascido no Egito, foi 0 homem escolhido por Deus para prosseguir a obra
que Ele havia iniciado por meio de Moisés (Números 13.8-16; 27.18). Sua fé no Deus que os libertou do Egito
motiva o povo a possuir a terra prometida, tendo à frente a liderança de um brilhante estrategista como Josué.
Guiado por Josué, 0 povo atravessou o Jordão em época de enchente em pés secos e se deparou com as
muralhas de Jericó (Josué 3.15), cidade fortemente armada e preparada para defender-se e impedir a penetração
inimiga no interior de Canaã. Apenas pela obediência, as grandes muralhas caíram por meio do som das buzinas
que os sacerdotes tocaram (Josué 6.16). A conquista da terra exigia do povo um compromisso de solidariedade.
A medida que a terra ia sendo conquistada, também ia sendo repartida entre os filhos de Jacó.
Depois de conquistar Jericó, Josué enviou espias para averiguar a cidade de Ai. No primeiro confronto os
israelitas são derrotados, devido à desobediência de Acã (Josué 7.4-5). Ele, juntam ente com sua família, foi
exterminado do meio do povo (Josué 7.22-26). Com um exército de trinta mil homens Josué deu cabo dos
habitantes de Betei e Ai.
Após conquistar essa região, Josué voltou-se para o norte, sem qualquer oposição, até a cidade de Siquém, cerca
de 40 quilômetros ao norte de Betei. Nesse lugar Josué conduziu 0 povo numa reafirmação da aliança, conforme
Moisés lhe ordenara (Josué 8.30-35; Deuteronômio 27.2-8). Anos mais tarde, bem próximo de sua morte, Josué
reuniu novamente o povo de Israel nessa cidade com o intuito de exortá-lo a guardar os mandamentos de Deus e
lembrá-lo de tudo que Deus tinha feito por ele (Josué 23-24). Após este evento Josué morreu e foi sepultado em
sua cidade, Timnate-Sera.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 3
1) Como a vida de Moisés, segundo o livro de Atos, capítulo 7, pode ser dividida?
2) Quantos são os mandamentos da lei e como estão divididos?

CURSO DE TEOLOGIA
63
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

JUIZES
3) A qual tribo pertence Josué?

Enquanto Josué esteve vivo o povo se esforçou em manter-se unido, obedecendo às cláusulas da aliança,
razão central de seu triunfo. Porém, quando faleceu Josué, com a idade de 110 anos, levantou-se um a geração
que não conheceu ao seu Deus e fez o que era mal e se inclinou e serviu aos baalins (Juizes 2.11). Isso provocou a
ira de Yahweh, de forma que Ele enviou inimigos a Israel a fim de puni-lo e despertar-lhe 0 interesse em retom ar
para os caminhos de Deus. Quando Israel se arrependia, Yahweh levantava juizes que lideravam a nação, e assim
experimentavam um período de paz e justo governo.
N um a época m arcada por crises internas e externas, em momentos de perigo surgiram líderes que dirigiam
um a ou mais tribos, salvando 0 povo das mãos dos seus inimigos (cananeus, midianitas, moabitas, amonitas,
filisteus). Personagens de origem nem sempre muito relevante, mas sobre os quais descia o Espírito do Senhor,
convertendo-se em guias ou chefes que salvavam e libertavam 0 povo em momento de emergência.
O livro de Juizes compreende um período que vai do estabelecimento das tribos até a fundação da monarquia.
As histórias dos juizes são diferentes umas das outras, em extensão, conteúdo e forma literária. Entre os doze
juizes retratados, alguns se destacam especialmente, e em meio a esse rol de honra há a figura de um a juíza:
Débora. Ela foi um a mulher corajosa que, por causa de sua sabedoria em julgar e organizar o povo para defender
suas terras, recebeu destaque na literatura hebraica.
Sempre que a situação exige, surge um novo líder: Gideão, Abimeleque, Jair, Jefté, Sansão, Samuel, apontados
por Deus para salvar a nação. Samuel é o último dos juizes e também profeta, é 0 primeiro juiz não-guerreiro. Em
sua época, a nação quer ser dirigida por um rei, assim como ocorria com as outras nações. Ele adverte o povo:

Este será o direito do rei que houver de reinar sobre vós: ele tomará os vossos filhos e os empregará no serviço dos
seus carros e como seus cavaleiros, para que corram adiante deles; e os porá uns por capitães de mil e capitães de
cinqüenta; outros para lavrarem os seus campos e ceifarem as suas messes; e outros para fabricarem suas armas de
guerra e o aparelhamento de seus carros. Tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. Tomará
o melhor das vossas lavouras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais e o dará aos seus servidores. As vossas
sementeiras e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais e aos seus servidores. Também tomará os vossos
servos, e as vossas servas, e os vossos melhores jovens, e os vossos jumentos e os empregará no seu trabalho.
Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe sereis por servos. Então, naquele dia, clamareis por causa do vosso rei que
houverdes escolhido; mas o SENHORnão vos ouvirá naquele dia (1 Samuel 8.10-18).

Não obtendo consenso, Samuel, desgostoso, rende-se à vontade popular e vê ser coroado 0 primeiro rei em
Israel: Saul, um benjamita que inicia sua carreira como juiz libertador. O refrão do livro dos Juizes: “Naqueles dias,
não havia rei em Israel” (Juizes 17.6; 18.1; 19.1; 21.25) foi finalmente trocado pelo clamor público: “Constitui-
nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações” (1 Samuel 8.5).
Saul comandou 0 exército popular de Israel contra os amonitas que ameaçavam Jabes-Gileade (1 Samuel
11.1). Ele esquartejou um a junta de bois e m andou os pedaços para as doze tribos de Israel com o seguinte recado:
“Qualquer que não seguir a Saul e a Samuel, assim se fará aos seus bois. Então, caiu 0 temor do SENHOR sobre
o povo, e saíram como um só hom em ” (1 Samuel 11.7). Todos atendem, Jabes Gileade é libertada e os opressores
são derrotados.

64 CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

Esse evento gera repercursão nacional. Pela primeira vez em vários decênios os israelitas unidos venceram
um cruel adversário, e pela primeira vez desde Josué Israel tem um líder de respaldo nacional. Em sua monarquia
ele vence os filisteus, bem como M oabe e Amon. Saul dá os primeiros passos para criar um a burocracia,
escolhendo a pequena cidade de Gilboa de Benjamim como capital. Também começa a delegar poderes auxiliares
diretos, colocando seu primo Abner como comandante do exército, bem como a aumentar o pessoal de serviços
diretamente ligados ao rei (1 Samuel 14.52).
Por duas vezes Saul desobedece à voz do homem de Deus. N a primeira vez, Samuel ordena que Saul vá a
Gilgal e espere por ele sete dias para ali oferecerem holocaustos ao Senhor. Como Samuel demorou a chegar,
Saul ofereceu holocaustos, num a clara desobediência à ordem de Samuel. N a segunda vez, Samuel ordena que
Saul extermine os amalequitas, exigindo guerra total, sem saques, sem prisioneiros. Saul não obedece, poupando
o rei e separando o m elhor das ovelhas, das vacas e o m elhor que havia. As conseqüências são desastrosas, pois
produz um rompimento entre 0 profeta e o rei. Quando Saul morre na batalha no monte Gilboa (1 Samuel 31),
um de seus filhos, Isbosete, reina ainda por mais dois anos sobre as tribos de Israel (2 Samuel 2.8).
O declínio de Saul coincide com o aparecimento e a ascensão de Davi. Samuel, sob orientação divina, vai até
Belém, onde encontrou entre os filhos de Jessé o rei que Deus tinha provido (1 Samuel 16.1). O próprio Yahweh
indicou claramente a sua escolha (1 Samuel 16.3). Após ser escolhido, veio sobre Davi o Espírito de Deus, enquanto
na vida de Saul foi permitido que um espírito maligno o atormentasse até o dia de sua morte (1 Samuel 16.14).
Davi e Salomão foram os reis mais gloriosos da história de Israel. O período de oitenta anos dos reinados
de ambos é em muitos aspectos a era de ouro da longa história de Israel. Davi concluiu a conquista da terra de
Canaã e fundou o reino de Israel. Expulsou do país os temíveis filisteus, uniu as tribos e conquistou Jerusalém
para fazer dela a sede do governo. Foi um rei poeta e escreveu muitos salmos (hinos religiosos) que se encontram
na Bíblia Sagrada.
Durante o reinado de Salomão (filho de Davi), Israel progrediu muito. Salomão m andou construir palácios,
fortificações e 0 templo de Jerusalém. Dentro do templo ficava a Arca da Aliança, que continha as tábuas da
Lei, onde estavam gravados os Dez M andamentos que Deus tinha ditado para M oisés no monte Sinai, quando
os hebreus iam do Egito para Canaã. A maioria do material usado nas construções foi importado de Tiro, na
Fenícia. O dinheiro arrecadado com os impostos não era suficiente para pagar as dívidas. Para sustentar os gastos
e os luxos da corte, Salomão aumentou os impostos e obrigou a população pobre a trabalhar em obras públicas.
Além do mais, a cada três meses 30.000 hebreus se revezavam no trabalho das minas e das florestas da Fenícia
na extração de madeira, como forma de pagamento da dívida externa de Israel com a Fenícia. M uita gente deixou
suas terras para trabalhar em suas construções.
Em seu reinado, algo terrível passou a acontecer: 0 templo, que era um lugar sagrado, onde Deus m anifestava
sua glória, tom ou-se lugar de opressão, centro do poder econômico, político e privilégios. Sua maneira de
administrar deu início à divisão do reino, que será consumada no reinado de seu filho Roboão, tudo porque “ 0
SENHOR se indignou contra Salomão, pois desviara o seu coração do SENHOR, Deus de Israel, que duas vezes
lhe aparecera” (1 Reis 11.9).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 4
1) Qual 0 período compreendido pelo livro de Juizes?
2) Cite o nome de três juizes.
3) Por quantas vezes Saul desobedece à voz do homem de Deus?
4) O declínio de Saul coincide com 0 aparecimento de quem?
5) O que começou a acontecer no reinado de Salomão?

CURSO DE TEOLOGIA
65
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

DIVISÃO DO REINO

Norm almente há divergência entre os estudiosos sobre as datas históricas ocorridas no período da Antigüidade,
uma vez que as informações não são precisas, pois a data de um determinado evento era fornecida a partir do
reinado em vigor no momento em que ocorreu, ou de algum fenômeno natural ou fato histórico marcante.
Sendo assim, as informações chegaram até os dias de hoje através de dados como: “No vigésimo sétimo ano de
Jeroboão, rei de Israel, começou a reinar Azarias, filho de Amazias, rei de Judá” (2 Reis 15.1).
Assim, historiadores e arqueólogos construíram um a linha de tempo, datando os eventos históricos. Porém,
muitos deles, ainda hoje, estão sujeitos a revisões, através de novas descobertas históricas e arqueológicas. De
qualquer modo, as datas utilizadas neste trabalho foram comparadas com várias obras distintas, na tentativa de
se obter a m elhor informação. Em alguns casos, as obras não possuíam todas as referências utilizadas, 0 que
possibilitou o mínimo de duas informações para se comparar dados.
A morte de Salomão, no ano 931 a.C., abriu caminho para um dos períodos mais traumáticos e decisivos da
longa história de Israel - a divisão dos territórios conquistados em dois reinos: o Reino de Israel, estabelecido ao
norte do território, constituído por dez das doze tribos israelitas sob a regência inicial de Jeroboão I; e ao sul, o
Reino de Judá, formado pelas duas tribos israelitas restantes e herdeiro da dinastia davídica, sob 0 comando de
Roboão, filho de Salomão, mantendo a linhagem real.
Com a divisão, a geografia cooperou para o desenvolvimento independente de cada tribo. A tribo de Judá não
se comunicava com as tribos do Norte em razão da largura e profundidade do vale de Soreque, na região central
de Israel. A oeste estavam os filisteus; ao sul, o perigoso deserto do Neguebe e também as populações nômades
da região, sempre hostis aos estrangeiros; a leste, havia o m ar Morto. Assim, Judá era a tribo mais isolada de
Israel, portanto a mais sujeita ao sentimento de não-pertinência.
Salomão foi sucedido por seu filho Roboão, que reinou por dezessete anos, de 931 a 913 a.C. O perfil geral de
Roboão é descrito da seguinte maneira: “Fez ele 0 que era mal, porquanto não dispôs 0 coração para buscar ao
SENHOR” (2 Crônicas 12.14). O escritor sagrado indica que Roboão e seus compatriotas atingiram o mais baixo
grau de comportamento idólatra. Estabeleceram lugares altos e postes-ídolos de Aserá, além de se envolverem
em rituais de prostituição sodomita.
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

O povo das dez tribos aclamou Jeroboão como monarca do recém-formado reino. O rei imediatamente
estabeleceu sua capital em Siquém, um a localidade considerada santa por todos os habitantes de Israel. O novo
rei estabelecido havia recebido a prom essa de um a dinastia eterna caso permanecesse fiel ao Senhor (1 Reis
11.38). Entretanto, se a situação religiosa de Judá era má, em Israel tom ou-se pior. Jeroboão m andou estabelecer
santuários em Betei e Dã, tom ando essas cidades centros de adoração pagã. Assim, seu reino se tom ou o modelo
de iniqüidade para sempre, com 0 qual os futuros reis malignos de Israel seriam comparados (1 Reis 16.2, 3, 19).
Jeroboão violou os mandamentos de Deus e a aliança com Yahweh, seguindo outros deuses e rejeitando 0 Deus
de Israel. Portanto, Yahweh findaria a dinastia de Jeroboão rapidamente etransportaria Israel para além do rio
Eufrates, em conseqüência de seus pecados.
Em várias ocasiões os dois reinos lutaram entre si competindo pelo controle da região. Porém, os laços da
tradição antepassada eram mais fortes, fato que os manteve unidos, muitas vezes em ocasiões de perigo (1 Reis
14.30). U m a diferença marcante entre ambos os reinos foi a perpetuação no sul de um a única dinastia, a davídica,
enquanto no norte se levantaram cinco diferentes dinastias no curto período de 210 anos.
Esse fenômeno se deu por causa do papel religioso desempenhado pelos reis da dinastia davídica, 0 que levou
a um a associação entre 0 javism o, religião dos israelitas antes do exílio na Babilônia, cuja conseqüência posterior
foi a esperança m essiânica do período pós-exílico.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 5
1) O que aconteceu após a morte de Salomão?
2) Como é descrito 0 perfil geral de Roboão?
3) Quem foi aclamado rei da tribo do Norte?

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O SURGIMENTO DA ASSÍRIA

Famosos desde os tempos antigos pela crueldade e pelo talento guerreiro, os assírios também se destacaram
pela habilidade na construção de grandes cidades e edifícios monumentais, como atestam as ruínas encontradas
em Nínive, Assur e Nimrud. Estabelecido no norte da Mesopotâmia, 0 império assírio foi uma das civilizações
mais importantes do Oriente Médio. Os primeiros povoadores conhecidos da região eram nômades semitas
que começaram a levar vida sedentária ao longo do IV milênio a.C. Alguns dados atestam a formação, a partir
do século XIX a.C., de um pequeno estado assírio, que m antinha relações comerciais com o império hitita. No
século XV a.C., depois de longo período de submissão ao império da Suméria, o estado assírio, com capital em
Assur, começou a tomar-se independente e a se estender. Puzur-Assur III foi o primeiro monarca que, livre da
opressão suméria, empreendeu a expansão do reino. Graças ao apogeu comercial, os assírios puderam lançar-
se, sob 0 reinado de Shamshi-Adad I (1813-1781 a.C., aproximadamente), às conquistas que tanta glória lhes
trouxeram. O soberano concentrou esforços na construção de um estado centralizado, segundo 0 modelo da
poderosa Babilônia. Suas conquistas se estenderam aos vales médios do Tigre e do Eufrates e ao norte da
M esopotâmia, mas foram barradas em Alepo, na Síria. Morto 0 rei, seus filhos não puderam manter 0 império
em virtude dos constantes ataques de outros povos e dos desejos de independência dos súditos. A Assíria caiu
sob o domínio do reino de Mitani, do qual se libertou em meados do século X IV a.C. O rei Assur-Ubalit I (1365-
1330) foi considerado pelos sucessores 0 fundador do império assírio, também conhecido como império médio.
Para consolidar seu poder, estabeleceu relações com o Egito e interveio nos assuntos internos da Babilônia,
casando sua filha com o rei desse estado. Depois de seu reinado, a Assíria atravessou um a fase de conflitos
bélicos com hititas e babilônios, que se prolongou até 0 fim do século XIII a.C. Quem afinal conseguiu impor-
se foi Salmanasar I (1274-1245), que devolveu ao estado assírio 0 poder perdido. Esse monarca estendeu sua
influência até Urartu (Armênia), apoiado num exército eficaz que conseguiu arrebatar da Babilônia suas rotas
e pontos comerciais. Sob o reinado de Tukulti-Ninurta I (1245-1208) 0 império médio alcançou seu máximo
poderio. A mais importante façanha do período foi a incorporação da Babilônia, que ficou sob a administração
de governadores dependentes do rei assírio. Com as conquistas, 0 império se estendeu da Síria ao Golfo Pérsico.
Depois da morte desse rei, 0 poder assírio decaiu em benefício da Babilônia. Passado um período de lutas contra
os invasores hurritas e mitânios, a Assíria ressurgiu, no fim do século XII a.C., com Tiglate-Pileser I (1115-1077),
que venceu a Babilônia num a campanha terrivelmente dura. Após sua morte, a Assíria sofreu o domínio dos
arameus, do qual não conseguiu libertar-se até que Adade-Ninari II (911-891) fez sua primeira campanha militar
para o oeste, na direção do Eufrates superior, pondo fim às tribos dos arameus e outras pequenas tribos.
O sucessor de Adade-Nirari, Tukulti-Ninurta II (890-884), continuou a política de seu antecessor, de criar
um império assírio. Ele devolveu à Assíria a antiga grandeza e submeteu a zona de influência dos arameus, no
Eufrates médio, porém sua carreira foi bruscamente interrompida. Sucedeu-lhe Assur-Nasirpal II (883-859), o
mais desumano dos reis assírios, que pretendeu reconstruir o império de Tiglate-Pileser I e impôs sua autoridade
com inusitada violência. Foi 0 primeiro rei assírio a utilizar carros de guerra e unidades de cavalaria combinadas
com a infantaria. Seu filho Salmanasar III (858-824), conquistador da Síria e região, foi igualmente cruel. O
último grande império assírio iniciou-se com Tiglate-Pileser III (746-727), que dominou definitivamente a
Mesopotâmia. Sua ambição sem limites o levou a estender 0 império até 0 reino da Judéia, a Síria e 0 Urartu.
Salmanasar IV e Salmanasar V mantiveram 0 poderio da Assíria, que anexou a região da Palestina durante
o reinado de Sargão II (721-705). O filho deste, Senaqueribe (704-681), teve que enfrentar revoltas internas,
principalmente na Babilônia, centro religioso do império que foi arrasado por suas tropas.

CURSO DE TEOLOGIA
68
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

Im pério A ssírio 4

Com Assurbanipal, a Assíria tomou-se o centro militar e cultural do mundo. Depois de sua morte, 0 império
decaiu e nunca mais recuperou o esplendor. Fruto das múltiplas relações com outros povos, a civilização assíria
alcançou elevado grau de desenvolvimento. Entre as preocupações científicas dos assírios destacou-se a astronomia:
estabeleceram a posição dos planetas e das estrelas e estudaram a Lua e seus movimentos. N a matemática alcançaram
alto nível de conhecimentos, comparável ao que posteriormente se verificaria na Grécia clássica. O espírito militar
e guerreiro dos assírios se reflete em suas manifestações artísticas, principalmente nos relevos que decoram as
monumentais construções arquitetônicas. Representam sobretudo cenas bélicas e de caça, em que as figuras de
animais ocupam lugar de destaque, como no relevo “A leoa ferida” . Também cultivaram a escultura em marfim, na
qual foram grandes mestres, como se constata nos painéis de Nimrud, que sobreviveram à madeira dos móveis em
que eram originariamente incrustados. A religião assíria manteve as ancestrais tradições mesopotâmicas, embora
tenha sofrido a introdução de novos deuses e mitos. A eterna rivalidade entre assírios e babilônios chegou à religião
com a disputa pela preponderância de seus grandes deuses, 0 assírio Assur e o babilônio Marduk. O império assírio
sucumbiu ao ataque combinado de medos e babilônios. Sob as ruínas de um a esplêndida civilização, ficou a trágica
lembrança de suas impiedosas conquistas e da ilimitada ambição de seus reis.

6.1 Q U E D A D O REINO DO NORTE


O Reino do Norte lutou em várias ocasiões contra 0 domínio assírio travando alianças com outros reinos,
como, por exemplo, com o Egito, e formando um a liga de cidades que enfrentava essa potência. Em 723 a.C.,
os líderes do norte tentaram de algum modo forçar o Reino de Judá a firmar acordos de aliança contra a Assíria,
ameaçando inclusive efetuarem um a troca dinástica. Desesperado, Acaz (732-716 a.C.), governante de Judá
naquela ocasião, pediu auxílio à Assíria contra essa intervenção vinda do Reino do Norte, o que desencadeou a
tom ada da região pelo exército assírio. Em 732 a.C. a cidade de Damasco e a Galiléia foram sitiadas, restando ao
Reino de Israel submeter-se ao controle estrangeiro.
N essa região a migração forçada de colonos estrangeiros não foi comprovada, porém é certa a formação de
um a nova identidade étnica através da m istura dos assírios com a população local. A perda, nessa ocasião, de

4 Imagem obtida em http://www.internext.com.br/valois/pena/1274ac.htm .

CURSO DE TEOLOGIA 69
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

cerca de dois terços de seu território fez com que restasse ao povo do Reino do Norte aproximadamente apenas
as montanhas de Efraim, com a capital em Samaria. O rei Oséias (731-723 a.C.), de Israel, entronado sob a
concordância de Tiglate-Pileser III, não se conformando com a perda territorial e de independência, pediu auxílio
ao Egito, que lhe prometera enviar reforços militares, que nunca chegaram. De qualquer modo, os anos que se
seguiram foram marcados pela esperança de libertação. Porém, em 722 a.C., o Reino do Norte foi definitivamente
conquistado por Salmanasar V (726-722 a.C.), ocorrendo a consolidação assíria com Sargão II (722/1-705 a.C.).
Samaria foi repovoada por colonos estrangeiros e a população deportada por todo o império.

6.2 CRONOLOGIA DOS REIS DO REINO DO NORTE 5

Nome Data Duração


Jeroboão 1 931-909 22 anos
Nadabe 910-908 2 anos
Baasa 909-886 24 anos
Elá 886-885 2 anos
Zinri 885-- 7 dias
Onri 885/4-874 12 anos
Acabe 874-853 22 anos
Acazias 853-852 2 anos
Jorão 852-841 12 anos
Jeú 841-814 28 anos
Jeoacaz 814-798 17 anos
Jeoás 798-782 16 anos
Jeroboão II 782-753 29 anos
Zacarias 753-752 6 meses
Salum 7 52-- 1 mês
Menaém 752-742 10 anos
Peca 742/1-740 2 anos
Peca 740-732 8 anos
Oséias 731-723 9 anos

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 6
1) Por que a Assíria ficou famosa?
2) Quem foi o primeiro rei assírio a utilizar carros de guerra e unidades de cavalaria combinadas com a
infantaria?
3) O que ocorreu em 722 a.C.?

5 Todas as datas foram tiradas do: M a n u a l bíblico Halley. São Paulo: Vida Nova, 1994. p. 180-181.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

0 REINO DO SUL

Nesse período o Reino de Judá era governado por Ezequias (716-697 a.C.), cujo reinado foi marcado pela paz
e prosperidade, uma vez que não se envolveu com as questões assírias. Seu sucessor, Manassés (686-642 a.C.),
sentiu mais fortemente 0 jugo assírio, uma vez que auxiliou essa nação na luta contra 0 Egito, sendo fiel vassalo
de Assurbanipal (669-630? a.C.).
D urante 0 final do reinado de A ssurbanipal, 0 controle sobre as províncias m ais distantes j á havia
dim inuído, fato que perm itiu a independência da província da B abilônia e conseqüentem ente a fundação
do im pério neobabilônico por N abopolassar (626-605 a.C.), além de um a política m ais independente sob
Josias (640-609 a.C.) em Judá. Esse rei prom oveu um crescim ento econôm ico e um a expansão territorial que
som ente foi possível devido ao contexto assírio. Sua morte causou abalos na sucessão real, desencadeando
um a instabilidade política.
Nos dias de Josias (640-609), subiu Faraó-Neco, rei do Egito, contra 0 rei da Assíria, ao rio Eufrates; e
tendo saído contra ele o rei Josias, Neco 0 matou, em M egido, no prim eiro encontro. De M egido, os seus
servos 0 levaram morto e, num carro, 0 transportaram para Jerusalém, onde o sepultaram no seu jazigo. O
povo da terra tom ou a Jeoacaz (609-?), filho de Josias, e o ungiu e o fez rei em lugar de seu pai. Entretanto,
Faraó-Neco 0 m andou prender em Ribla, na terra de Hamate, para que não reinasse em Jerusalém; e impôs
à terra a pena de cem talentos de prata e um de ouro. Também constituiu rei a Eliaquim, filho de Josias, em
lugar de seu pai, e lhe m udou o nome para Jeoaquim (609-597); porém levou consigo para o Egito a Jeoacaz,
que ali m orreu (2 Reis 23.29-33).
Nos dias de Jeoaquim, em 605 a.C., subiu Nabucodonosor, rei da Babilônia, contra ele, que por três anos
ficou seu servo, porém desse confronto ele levou alguns judeus para a Babilônia como cativos, entre os quais 0
profeta Daniel. Algum tempo depois se rebelou contra Nabucodonosor, mas quem irá sofrer com esta atitude é
seu filho. Morreu Jeoaquim, e Joaquim (597 -?), seu filho, reinou em seu lugar. Mal terminaram os festejos de
sua coroação, chega a Jerusalém a notícia da aproximação de Nabucodonosor à frente de um poderoso exército.
Joaquim, com apenas dezoito anos, rei somente por alguns meses, ordena a abertura dos portões da cidade e
coloca-se à mercê do rei da Babilônia, juntam ente com a família real.
M esmo com tamanha atitude, Nabucodonosor é extremamente severo: o templo é despojado de todos os seus
valores, Joaquim é levado acorrentado para a Babilônia, juntam ente com seus ministros, sacerdotes e os mais
graduados funcionários civis e militares, bem como milhares de artesãos e artífices, entre os quais se encontrava
0 profeta Ezequiel. Era 0 ano de 597, o primeiro exílio.
Nabucodonosor concorda com a preservação da dinastia davídica e indica para ocupar o trono o “tio paterno
deste, Matanias, de quem mudou 0 nome para Zedequias” (2 Reis 24.17).
Zedequias (597-587 a.C.) foi entronado por Nabucodonosor, tomando-se 0 regente de Judá, sendo o seu
governo bastante complicado, uma vez que a população respeitava a autoridade do rei no exílio, não se submetendo
à sua autoridade, que se encontrava sob pressão externa.
Em 595 a.C. uma rebelião na Babilônia despertou as esperanças de libertação dos cativos, porém esta não ocorreu.
No ano seguinte, a presença babilônica na região foi reforçada. O rei Zedequias encontrava-se em uma situação
delicada, realizando um jogo duplo ao manter a sua vassalagem com a Babilônia e, ao mesmo tempo, auxiliando 0
Egito em sua luta contra o domínio etíope, através do envio de seus homens para lutar na guerra. Esse fato culminou
na invasão de Jerusalém pela Babilônia em 587 a.C., tendo a cidade resistido até o verão de 586 a.C.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

A cidade santa fica abarrotada de refugiados. Sede, fome. doenças e desordem reinam na cidade. O profeta
Jeremias traz o veredicto divino: “Portanto assim diz o Senhor: Eis que eu entrego esta cidade nas mãos de
Nabucodonosor, rei da Babilônia; e ele tom á-la-á” (Jeremias 32.28). Acusado de traição, ele é encarcerado, mas
Zedequias m anda pô-lo em liberdade. Prende - 0 novamente, pois não cessa de pregar a submissão aos caldeus.
Após meses de tenaz resistência, debilitada, Jerusalém não resiste à pressão. Zedequias, acompanhado de
uma forte escolta, tenta escapar, mas nas proximidades de Jericó toda a comitiva é capturada e levada ao rei
da Babilônia. Sua sentença é severa. Seus filhos são decapitados ante suas vistas, e em seguida tem seus olhos
vazados. Cego e acorrentado, é conduzido para a Babilônia, onde fica encarcerado até sua morte. No dia 9 d e ^ v
(586) cai Jerusalém. As muralhas da cidade são niveladas, 0 palácio real é incendiado, os objetos de culto de ouro
e de bronze do Templo são desmantelados e levados para a Babilônia.
O controle babilônico na região durou cerca de cinqüenta anos, tempo que possibilitou o surgimento, do outro
lado do território, no planalto iraniano, de um novo reino sob a liderança de Ciro.

7.1 CRONOLOGIA DOS REIS DO REINO DO SUL6


Nome Data Duração

Roboão 931-913 17 anos

Abias 913-911 3 anos

Asa 911-870 41 anos

Josafá 870-848 23 anos

Jorão 848-841 8 anos

Acazias 841-- 1 ano

Atalia 841-835 6 anos

Joás 835-796 40 anos

Amazias 796-767 29 anos

Uzias 767-740 52 anos

Jotão 740-732 16 anos

Acaz 732-716 16 anos

Ezequias 716-687 29 anos

Manassés 686-642 55 anos

Amom 642-640 2 anos

Josias 640-609 31 anos

Jeoacaz 609-- 3 meses

Jeoaquim 609-597 11 anos

Joaquim 597-- 3 meses


Zedequias 597-587 11 anos

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 7
1) Quem matou o rei Josias e onde?
2) Quando o profeta Daniel foi levado para a Babilônia?

‘ Todas as datas foram tiradas do M a n u a l bíblico Halley. São Paulo: Vida Nova, 1994. p. 180-181.

CURSO DE TEOLOGIA
72
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

IMPÉRIO MEDO-PERSA
3) Em que ano ocorreu o primeiro exílio?
A civilização persa conheceu grande esplendor com a dinastia aquemênida, que manteve longa disputa com
as cidades gregas pela hegemonia na Anatólia e no Mediterrâneo oriental. O território central da civilização persa
foi 0 planalto do Irã, entre 0 m ar Cáspio e 0 Golfo Pérsico, um dos grandes focos de civilização do rio Indo e da
Mesopotâmia. Segundo Heródoto e outros historiadores gregos da antiguidade, o nome Pérsia deriva de Perseu,
antepassado mitológico dos soberanos daquela região. Desde tempos ancestrais, sucessivos grupos étnicos
estabeleceram-se na região. Ao longo do terceiro e do segundo milênio anteriores à era cristã foram formados
os reinos dos guti, dos cassitas e dos elamitas, entre outros. No segundo milênio surgiram também as primeiras
tribos indo-européias, provavelmente originárias das planícies do sul da Rússia, e no início do primeiro milênio
ocorreu a segunda chegada de povos indo-europeus procedentes da Transoxiana e do Cáucaso, entre os quais
estavam os medos e os persas. Os dois grupos são mencionados pela primeira vez em inscrições da época do rei
assírio Salmanasar III, por volta do ano 835 a.C. Entre os séculos IX e VII a.C. ocorreu 0 estabelecimento, em
solo iraniano, de povos citas chegados através do Cáucaso. Acredita-se que os citas já tivessem se diluído entre os
povos árias quando surgiu a figura de Ciaxares, que levou os medos ao auge de seu poderio. Rei dos medos entre
625 e 585 a.C., Ciaxares reorganizou o exército - com a adoção de unidades de arqueiros montados - e, depois
de unir suas forças às da Babilônia, enfrentou o poder hegemônico da região, o da Assíria, cuja capital, Nínive, foi
destruída em 612. Medos e babilônios dividiram entre si 0 império assírio. Astíages, que reinou de 585 a 550 a.C.
herdou do pai um extenso domínio, que compreendia a planície do Irã e grande parte da Anatólia.
O rei persa Ciro, o Grande, da dinastia aquemênida, rebelou-se contra a hegemonia do império medo e em
550 a.C., derrotou Astíages, apoderou-se de todo o país e em seguida empreendeu a expansão de seus domínios.
A parte ocidental da Anatólia era ocupada pelo reino da Lídia, ao qual estavam submetidas as colônias gregas
da costa da Anatólia. Uma hábil campanha do soberano persa, que enganou o rei lídio Croesus com um a falsa
operação de retirada, teve como resultado sua captura, em 546 a.C. A ocupação da Lídia se completou mais tarde
com a tomada das cidades gregas, as quais, à exceção de Mileto, resistiram durante vários anos. A ambição de
Ciro voltou-se então para a conquista da Babilônia, a poderosa cidade que dominava a M esopotâmia. Ciro tirou
proveito da impopularidade do rei babilônio Nabonido, apresentou-se como eleito pelos deuses da cidade para
reger seu destino e, apoiado pela casta sacerdotal, dominou-a facilmente em 539 a.C. Sucedeu a Ciro, o Grande,
seu filho Cambises II, que em seu reinado, de 529 a 522 a.C., empreendeu a conquista do Egito, então governado
pelo faraó Ahmés II, da XXVI dinastia. Ahmés tentou defender suas fronteiras com a ajuda de mercenários
gregos, mas, traído por estes, abriu as portas do Egito a Cambises, que cruzou o Sinai e destroçou o exército de
Psamético III, sucessor de Ahmés, na batalha de Pelusa. A capital egípcia, Mênfis, caiu em poder dos persas, e
o faraó foi aprisionado e deportado. Do Egito, Cambises tentou levar a cabo a conquista de Cartago, o poderoso
império comercial do Mediterrâneo ocidental, mas a frota fenícia negou-se a colaborar com a campanha, 0 que a
inviabilizou. Ao retom ar de uma vitoriosa expedição à Núbia, o exército persa foi dizimado pela fome. Enquanto
isso, um impostor, fazendo-se passar por irmão de Cambises, apoderou-se da parte oriental do império. Cambises
morreu quando descia o Nilo com 0 restante de suas tropas. Um conselho de nobres persas decidiu reconhecer
como herdeiro de Cambises um príncipe da casa real, Dario, que se distinguira como general dos exércitos
imperiais por mais de um ano. Dario I reinou entre 522 e 486 a.C. Os esforços para consolidar-se no trono
ocuparam o novo “rei dos reis”, que soube manejar habilmente 0 castigo e 0 perdão, até que as forças inimigas
foram dizimadas em todo o império. Tão logo se livrou de seus adversários, Dario prosseguiu com a política de

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

expansão e incorporou a seus domínios grandes territórios do noroeste do subcontinente indiano (mais tarde o
Paquistão). Depois, as tropas persas tentaram, com pouco êxito, estabelecer 0 controle das terras litorâneas do
m ar Negro, para opor obstáculo ao comércio grego. Em 500 a.C. as colônias helênicas da Anatólia se rebelaram
contra a autoridade imperial, apoiadas por Atenas. A reação tardou vários anos, mas depois da derrota da frota
grega em Mileto o exército persa recuperou todas as cidades rebeldes. Quando, no entanto, o imperador persa
tentou tomar as cidades da Grécia européia, sofreu a derrota de Maratona, em setembro de 490 a.C. Dario
começou a recrutar um enorme exército para dominar a Grécia, mas morreu em 486, ao tempo em que a rebelião
do Egito proporcionava i im re n nn.sn ans helênicos
E U · O P A

Im pério Persa 7
As principais atividades de Dario I à frente do império persa foram as de organização e legislação. Dividiu
0 império em satrapias (províncias), a cada uma das quais fixou um tributo anual. Para desenvolver 0 comércio,
unificou a moeda e os sistemas de medidas, construiu estradas e explorou novas rotas marítimas. Respeitou as
religiões locais e parece ter, ele mesmo, introduzido o zoroastrismo como religião estatal. Deslocou a capital para
Susã e construiu um palácio em Persépolis.
O exército persa, antes formado mediante recrutamento em tempo de guerra, foi reorganizado por Ciro e
depois por Dario, que criaram um exército profissional e permanente, só reforçado por recrutamento geral em
caso de guerra. A elite do exército profissional era constituída pelos “dez mil imortais”, guerreiros persas ou
medos, dos quais mil integravam a guarda pessoal do imperador.
Entre 485 e 465 a.C., foi imperador Xerxes, filho de Dario I, que reprimiu duramente a revolta que abalou o
Egito no momento em que subiu ao trono e abandonou a atitude respeitosa de seu pai diante dos costumes das
províncias. N ova revolta, na Babilônia, foi dominada em 482 a.C. Conseguida a pacificação do império, o exército
de Xerxes invadiu a Grécia dois anos mais tarde. Depois de vencerem a resistência grega nas Termópilas, os
persas tomaram e incendiaram Atenas, mas foram derrotados na batalha naval de Salamina. A derrota de Platéias,
em 479 a.C., conduziu ao abandono da Grécia pelas tropas persas. O próprio imperador perdeu 0 interesse por
novas conquistas e dedicou-se à vida palaciana nas capitais do império até 465 a.C., quando foi assassinado.
Artaxerxes I, imperador de 465 a 425 a.C., teve que enfrentar uma nova rebelião no Egito, que levou cinco anos
para ser dominada. Depois do breve reinado de Xerxes II, que governou de 425 a 424 a.C., subiu ao poder Dario

7 Imagem obtida em http://www.internext.com.br/valois/pena/1274ac.htm.

CURSO DE TEOLOGIA
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MODULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

II, ocasião em que os governadores da Anatólia souberam aproveitar habilmente a rivalidade entre Esparta e
Atenas. Nas guerras do Peloponeso, inicialmente a Pérsia ajudou Atenas, mas depois da desastrosa campanha
ateniense contra a Sicilia, o império aquemênida contribuiu para 0 triunfo final de Esparta. Artaxerxes II reinou
de 404 a 359 a.C. e manteve a política de dividir as cidades gregas. Uma revolta levou à independência do Egito,
e o império começou a se debilitar.
No ano 401 a.C., pela primeira vez um a força militar grega intemou-se no centro do império persa. Dez mil
mercenários, sob o comando de Xenofonte, deram apoio a Ciro, o Jovem, que se rebelara contra Artaxerxes II.
Depois da derrota de Cunaxa, tiveram de empreender uma longa retirada, narrada por Xenofonte em Anabasis,
até voltarem a sua pátria. Durante seu reinado, de 359 a 338 a.C., Artaxerxes III conseguiu reconquistar o Egito,
o que levou 0 faraó a fugir para a Núbia. Enquanto isso, um a nova potência, a Macedonia, surgia nas fronteiras
ocidentais do império. Seu rei, Filipe II, depois de derrotar os gregos em Queronéia, em 339 a.C., conseguiu
manter toda a Grécia sob sua hegemonia. Concluído 0 curto reinado de Arses (de 338 a 336 a.C.), subiu ao poder
o último rei aquemênida, Dario III (336 a 330 a.C.). A batalha de Granico, em maio de 334, pôs o império persa
em mãos do filho de Filipe, Alexandre, o Grande. Dario III foi assassinado pouco depois de fugir de Persépolis.
A formação e o desenvolvimento do império aquemênida significaram a criação de um vasto espaço político no
mundo, no qual reinou um a tolerância até então desconhecida. Os impérios anteriores - 0 egípcio, 0 babilônio, o
assírio - tinham um a visão política muito mais localista. O império aquemênida foi precursor, em certa medida,
dos sonhos universalistas de Alexandre e de Roma. Graças a sua tolerância, teve lugar nele, e a partir dele, uma
fermentação filosófica, científica, econômica e religiosa de vastas conseqüências no mundo antigo.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 8
1) De onde deriva o nome Pérsia?
2) Quem dividiu o grande império persa em satrapias?

CURSO DE TEOLOGIA
75
0 RETORNO DO CATIVEIRO
O exército de Ciro entrou vitorioso pelo portão da capital babilônica, a cidade de Babel, sendo Ciro coroado rei
pela população. A política desse novo governo foi de diplomacia com a população conquistada, o que levou a uma
fácil aceitação de sua presença no reino como soberano. Ele inverte a política de deportação adotada tanto pelo império
assírio como pelo babilônico, permitindo que os judeus retomassem à Palestina para reconstruir a Casa de Deus.
O Templo fora destruído 470 anos, seis meses e dez dias desde a sua construção; 1.602 anos, seis meses e dez
dias desde a saída do Egito; 1.950 anos, seis meses e dez dias desde o Dilüvio.‫’׳‬
Esse soberano, ao ler nas profecias de Isaías (Isaías 44.28), escrita 210 anos antes que ele tivesse nascido e
140 antes da destruição do Templo, que Deus 0 constituiria rei sobre várias nações e inspirar-lhe-ia a resolução de
fazer o povo voltar a Jerusalém para reconstruir 0 Templo, ficou tão admirado que, desejando realizá-la, mandou
reunir na Babilônia os principais dos judeus e disse-lhes que lhes permitia voltar ao seu país e reconstruir a Casa
do SENHOR, Deus de Israel (Esdras 1.1-5).
Assim, cumprida a profecia de Jeremias do tempo do exílio (Jeremias 25.11), e no primeiro ano do reinado, Ciro,
rei dos persas, passa pregão em todo seu reino permitindo aos judeus que retomem a sua pátria. Os chefes das tribos
de Judá e Benjamim, juntamente com sacerdotes e levitas, e muitos outros se dirigiram imediatamente a Jerusalém
para esta grandiosa tarefa (Esdras 2.1-70), contando com profecias dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias.
Após a chegada a Jerusalém, todos os esforços se concentraram na construção do santuário. Cerca de dois
anos depois, o povo conseguiu lançar os fundamentos do Templo (Esdras 3.8). A emoção foi tamanha que os
mais velhos e mais antigos do povo, que tinham visto a magnificência e a riqueza do primeiro Templo, ficaram
tão sentidos e aflitos de profunda dor, que não puderam reter as lágrirhas e os soluços. O povo, em geral, porém,
ao qual somente o presente pode impressionar, estava tão contente, que as queixas de uns e os gritos de júbilos
de outros impediam que se ouvisse o som das trombetas (Esdras 3.12).
Segundo Flávio Josefo, “essa notícia chegou até Samaria e os habitantes dessa cidade vieram indagar o que
se passava; tendo sabido que os judeus, voltando do cativeiro de Babilônia haviam reconstruído seu Templo”.9
Depois de malograda tentativa de se reunirem com os judeus na restauração do santuário, os samaritanos se
opuseram tenazmente a obra tão auspiciosamente iniciada. A oposição deles chegou a ponto de denunciarem
a Ciro, e posteriormente a Cambises,10 as disposições dos judeus, recebendo deste último a autorização de
proibirem a reconstrução da Casa do SENHOR. Assim o trabalho ficou interrompido durante nove anos, e até o
segundo reinado de Dario, rei da Pérsia. Cambises reinou só seis anos e morreu em Damasco. Os magos, depois
de sua morte, governaram o reino durante um ano, com poder absoluto, mas os chefes das principais famílias da
Pérsia os depuseram e elegeram rei Dario, filho de Histaspe, cognominado “o Grande” (521-486 a.C.).
Conta-nos este mesmo historiador que Zorobabel, príncipe dos judeus, era estreitamente ligado por afeição
e confiança a Dario, confiando a este e a dois outros dos principais a direção de sua casa e tudo o que mais de
perto se referia à sua pessoa.
Zorobabel obteve deste soberano a autorização para dar continuidade às obras que jaziam inertes. O Templo foi
terminado no fim de sete anos, no sexto ano do reinado de Dario e no dia terceiro do mês de Adar (Esdras 6.15).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 9
1) Quem permitiu que os judeus retomassem à Palestina para reconstruir a Casa de Deus?
8 JOSEFO, Flávio. H istória dos hebreus. Rio de Janeiro: CPAD. p. 250.
‫ י‬Idem, p. 261.
,0O nome de Cambises ocorre nas Escrituras como Artaxerxes. Era filho de Ciro e reinou entre 530 e 522 a.C.

CURSO DE TEOLOGIA
76
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

A RELIGIÃO
Durante o período da monarquia unida, a religião oficial de Israel, 0 Javismo, estava centralizada no Templo
de Jerusalém, símbolo do Estado e da religião nacional. O culto era celebrado nesse local, tendo os sacerdotes
um papel primordial nesse momento. O Javismo era uma religião de Templo, sendo 0 mais importante deles 0
Templo de Jerusalém, na capital do Reino de Judá, um a vez que este era a habitação de Deus.
Com a divisão do reino, o Reino do Norte teve de estabelecer outros locais de culto, uma vez que a cidade de
Jerusalém e o Templo se encontravam na parte sul do território. Também por isso, a interferência dos cultos às
outras divindades passou a ser mais constante, possibilitando algum sincretismo. Esse sincretismo teve sua origem
oficial com a monarquia, pois tanto os israelitas quanto os cidadãos foram colocados sob uma mesma obrigação,
através da cobrança de impostos, por exemplo. Assim, a religião teve de conciliar as diferenças entre os dois
grupos, permitindo algum sincretismo, mesmo havendo representantes do Javismo puro que se colocavam contra
esse processo, através de um nacionalismo religioso. Um conceito que alimentava 0 pensamento da época era a
Aliança, estabelecida entre Deus e 0 povo, através da figura de Moisés, simbolizando e reafirmando a noção de
povo escolhido.
A partir disso, um grupo de personagens passou a ter grande interferência nesse quadro: os profetas. Uma vez que não
tinham suas palavras aceitas pelos seus contemporâneos, ocorreu a necessidade de registrá-las, tomando-se as testemunhas
de suas épocas, posteriormente organizadas por seus discípulos e retocadas no decorrer do tempo. Acreditava-se que a
palavra escrita era mais eficaz, seja por sua perpetuação ou simplesmente por algum efeito moral.
O sincretismo religioso foi uma das marcas desse período histórico. A presença de grupos politeístas ao redor
sempre foi motivo de preocupação das autoridades religiosas javistas nacionalistas, uma vez que poderiam influenciar
no modo de pensar do povo, levando-o a uma mistura e à adaptação das diversas tradições existentes na região.
Em alguns momentos, os próprios monarcas, devido a uma questão de políticas de dependência, passaram
a cultuar ou ao menos permitir a elevação de altares de culto a divindades estrangeiras, causando, por parte
dos líderes religiosos, principalmente de alguns profetas, manifestações contrárias a tais decisões. Os profetas
viam nessas atitudes motivos para a ira divina. Assim, anunciavam a desgraça sobre o reino, levando alguns
governantes a tentarem m udar tal processo.
Em muitas situações do passado 0 grupo já havia sentido o peso do castigo divino devido à desobediência
à Lei divina. A religião, de caráter nacional, previa que todo o grupo pagasse pelos pecados cometidos em seu
meio; assim, era compreensível que todo um reino fosse devastado, tal qual ocorrera com Israel, uma vez que
seus reis e o povo eram idólatras e não cumpriram as regras estabelecidas por seu Deus. Coube aos profetas,
detentores da palavra eficaz e enviados de Deus, 0 anúncio dos castigos futuros. Eles também foram responsáveis
por um aviso sobre a restauração, 0 que forneceu esperanças à população da época, mediante a realização de uma
nova aliança entre Deus e seu povo.
As críticas feitas pelos profetas iam diretamente contra 0 modo como 0 povo se comportava com relação a Deus,
pois do mesmo modo como eram efetuadas as oferendas votivas aos outros deuses, também eram feitas ao Deus de
Israel. O principal era a observância dos mandamentos javistas, que haviam sido deixados de lado pelo povo e por
seus representantes. A Aliança deveria ser refeita, uma vez que o povo não soube compreendê-la.
D urante o reinado de Josias, restando apenas o R eino de Judá, ele pro m o v eu um a refo rm a religiosa.
É possív el que, observando os acontecim entos que sobrevieram ao R eino do N orte, essa refo rm a fosse
m ais do que necessária na opinião desse m onarca. A ssim , a d estruição dos lugares altos e das im agens de

CURSO DE TEOLOGIA 77
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

culto estrangeiras em seus territó rio s foi um a das p rim eiras ações realizadas. O Tem plo foi reform ado e o
livro da Lei - pro v av elm en te grande parte do Livro de D euteronôm io - foi encontrado nesse local e lido
para o povo, sendo celebrada um a grande festa (2 R eis 22-23.1-23).
Todos os valores do Javism o derivado da reform a estavam com pletam ente centrados no Templo de
Jerusalém e às tradições desse local. O rigor dessa reform a se deu em função da idéia de que a A liança
deveria ser um a ligação profunda do povo com seu Deus, m arcada pela subm issão: as leis ganharam um
novo peso nesse processo, m arcadas pela sua codificação e pelo ensino dos deveres nelas contidos.
Essa reform a fez com que o livro da Lei fosse utilizado com o m eio de legislar todo o povo, um a vez
que seu texto abrangia aspectos sociais e éticos de toda a com unidade. Assim , toda a região de Jerusalém ,
arredores e posteriorm ente as áreas conquistadas por Josias tiveram de adotar tal legislação, que durou até
a sua morte. Porém , a lei utilizada não teve continuidade com os sucessores de Josias.
O utro dado é que essa reform a prom oveu a idéia de troca entre o povo e seu Deus. Assim , Yahweh
deveria retribuir ao povo sem pre com bens m ateriais quando cum prissem os seus m andam entos; caso
contrário, os bens m ateriais do m undo lhes faltariam . Com essa nova Aliança, um excesso de confiança
pairou sobre a população, de tal m odo que passaram a se considerar invioláveis. M as as palavras dos
profetas continuavam a anunciar 0 castigo, pois nem m esm o essa nova A liança seria capaz de apaziguar a
ira divina, e a população continuava, de algum m odo, com suas práticas idólatras. A crença da população na
A liança levou-a a com eter atitudes das quais os profetas discordavam . C onstantem ente o poder da B abilônia
foi desafiado através de rebeliões, pois a população acreditava que Deus não iria perder um a batalha para
outras nações, suas inimigas.
A população não estava pronta para ouvir as palavras de Jerem ias (627-587 a.C.), um dos profetas
do período, e o criticou e se opôs à sua m ensagem , deixando-o isolado. Jerem ias fez de Deus o seu
com panheiro, aproxim ando a figura dEle do caráter de soberano, fornecendo-lhe um caráter de Deus, num
sentido “m etafísico” para o term o. Deus passou assim a ser considerado com o pessoa e, portanto, a relação
com esse Deus ganhava um novo caráter: Ele tinha o controle sobre a história do m undo, m as tam bém sobre
cada hom em individualm ente. A nova A liança deveria ser firm ada no coração de cada indivíduo, no plano
espiritual, sendo a única capaz de salvar o ser hum ano.
Quando da conquista da Babilônia, a população que era fiel a Deus e seguia todos os seus mandamentos
questionava a justiça divina, que apregoava a idéia de pagamento pelos erros dos antepassados a toda a nação. O
profeta Jeremias respondeu a essa questão afirmando que tal postulado valia apenas para a antiga Aliança e que
a nova não seria mais desse modo, pois Deus iria retribuir a cada um individualmente.
Porém, como a vida era curta demais e a promessa de retribuição ou castigo deveria ser cumprida, a população
chegou a um novo questionamento sobre a justiça de Deus. Como esta não poderia ser questionada, duas soluções
ocorreram, sendo as últimas grandes conquistas do pensamento pré-cristão. A primeira delas foi a vida depois da
morte, ao menos aos fiéis a Deus, que poderiam quitar suas dívidas ou receber mais recompensas posteriormente,
resolvendo desse modo o problema da justiça terrena para com aqueles que não vêem sua retribuição em vida.
A segunda foi a existência do Mal. Porém, esse fato trouxe outros questionamentos, por exemplo, como
entender que um justo passa por todo mal se seu Deus é o Todo-Poderoso? O autor do livro de Jó, em meados
do século V a.C., enxergou esse problema claramente, retratando um homem justo, fato reconhecido até mesmo
por Deus, sobre 0 qual recaem todos os males. A resposta que Deus forneceu para tal acontecimento foi que as
decisões divinas eram transcendentes ao homem e não cabia compreendê-las.
Assim, a religião que se formou no exílio e que adquiriu um caráter individual conservou certas observâncias
de épocas anteriores, como as regras alimentares, a circuncisão, as prescrições litúrgicas e morais, além da idéia
da Aliança com Deus. O mais importante deixou de ser Deus propriamente dito e passou a ser a compreensão da
vontade divina, levando à codificação da Lei e reduzindo 0 dever do povo à sua obediência.
Outros tipos de adaptação também foram necessários, uma vez que a Lei deveria ser cumprida. Com a ausência
do Templo, as regras de sacrifício sofreram alterações. E muito provável que seja dentro desse contexto que se

CURSO DE TEOLOGIA
78
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

encontra a origem das três orações diárias, como forma de substituição dos três sacrifícios que anteriormente
eram realizados nesse local. Os líderes religiosos deixaram de ser os profetas, passando a ser o sacerdote, agora
um hom em da escrita, um doutor da lei, cuja autoridade e hierarquia dava-se no plano eclesiástico e não mais
no plano político. Com a valorização do individualismo, o aspecto coletivo da Aliança havia esmorecido. O
sentimento xenofóbico foi aumentando e misturado à nostalgia do período davídico. Assim foi elaborada a
doutrina messiânica, sobre o envio de um novo rei, nascido de seu povo, sucessor e descendente de Davi que
traria a paz universal.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 10
1) Durante 0 período da monarquia unida, onde estava centralizado o Javismo, a religião oficial de Israel?
2) Qual foi um a das marcas desse período histórico?

CURSO DE TEOLOGIA 79
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

OS PROFETAS

Os profetas do século VIII a.C. acompanharam os acontecimentos do Reino do Norte e os primeiros sinais de
crise do Reino do Sul. Para eles era notório que tais fatos pudessem ser explicados devido ao ressentimento de
Deus com relação ao seu povo, que realizava práticas idólatras. A idéia de que Ele controlava a História colocava
não só Israel, mas todo o Universo, submetido à sua vontade e autoridade. Esses profetas foram os primeiros a
conceber tal conceito, que se tom ou a base de sua religião.
N esse período foram quatro os representantes proféticos, tendo dois atuado no Reino do Norte e dois no
Reino do Sul. O primeiro deles foi Am ós (760-750 a.C.), cuja ação se deu durante 0 reinado de Jeroboão II (783-
743 a.C.). Suas palavras foram anunciadas contra 0 Reino de Israel devido ao desprezo pelo direito e pela justiça,
ignorados pelos líderes, cujas atitudes atingiram diretamente a população mais fraca e mais frágil da sociedade.
Além disso, o profeta denunciava as atitudes hipócritas de culto a Deus, não havendo mais tempo para uma
remissão do povo, uma vez que a paciência de Deus se esgotara e o castigo breve viria.
O segundo profeta desse período foi Oséias (750 a.C.), cujo trabalho profético tam bém se deu durante 0
reinado de Jeroboão II, pouco depois de Amós e seus sucessores no Reino do Norte. Sua missão desenvolveu-
se a partir de ameaças e julgam entos seguidos de promessas. Criticou as influências dos cultos cananeus que
interferiam no culto a Deus, levando 0 povo a um sincretismo religioso.
O profeta Isaías (740-701 a.C.) atuou no Reino do Sul e foi 0 terceiro a falar nesse século. Ele pregou
o julgam ento de Jerusalém, criticando a hipocrisia ao culto, assim como Amós. Sob o reinado de Acaz, rei
de Judá, 0 profeta se colocou contra a aliança feita por esse monarca com o rei da Assíria, Tiglate-Pileser,
defendendo a crença incondicional em Deus. Por não ter sido ouvido, ele se afastou da vida pública, tendo seu
retiro terminado quando foi realizada, durante 0 governo de Ezequias, uma coalizão patrocinada por Azoto,
cidade filistéia, inspirada pelo Egito, cujo resultado foi a tom ada da cidade e a deportação de sua população.
Sua oposição à política nacionalista ezequiana colocou-o em conflito com o governo. As críticas à política
nacionalista continuaram, lembrando ao rei que Senaqueribe (704-681 a.C.), rei da Assíria, era um instrumento
nas mãos de Deus para o exercício da vontade divina.
Outro profeta que atuou no Reino do Sul foi Miquéias (740 a.C.), conterrçporâneo do profeta Isaías. Sua
profecia condenava as atitudes sociais dos governantes contra 0 povo e anunciava 0 julgam ento sobre Samaria
e Jerusalém. Semelhantemente a Amós, ele criticou a iniqüidade que estava instaurada no meio do povo e 0 fato
de os governantes desprezarem a justiça, levando o país ao caos. Foram anunciadas medidas a serem tomadas
por Yahweh contra 0 seu povo. Sua conclusão foi que as únicas coisas que Deus esperava deles era o respeito ao
direito, o am or e a fidelidade, a vigilância ao caminhar com Ele, e não as imolações que lhe eram oferecidas.
Sobre os profetas do século VII a.C., eles presenciaram a crise pela qual passava 0 Reino do Sul, herdeiro
legítimo do Reino do Norte, uma vez que este desaparecera. Dentre eles, a figura mais importante foi a do profeta
Jeremias. Além dele, outros três profetas se destacaram: Naum, Sofonias e Habacuque.
A atuação de Naum (612 a.C.) ocorreu durante o reinado de Manassés, rei de Judá. Seu texto se diferenciou
dos outros profetas à medida que anunciava a felicidade de Judá. Segundo ele, um a vez que o reino pagava altos
tributos à Assíria, seus pecados já estavam “pagos”, de tal modo que Deus não permitiria que seu povo passasse
por mais humilhações. A Assíria era vista como instrumento de Deus, porém como teria passado dos limites
quando de sua atuação com o Reino do Norte, essa nação deveria então ser castigada.

CURSO DE TEOLOGIA
80
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

Sua missão foi marcada pela pouca fé do povo, uma vez que este estava sob jugo assírio e assim não confiava
em seu Deus, entregando-se à idolatria.
Outro profeta foi Sofonias (630 a.C.), que deve ter atuado durante o reinado de Josias. Suas palavras eram
contra todas as práticas sincréticas, fornecendo provavelmente as bases para a reforma religiosa que viria a
ocorrer. Essa reforma promovida por esse monarca não conseguiu extirpar a idolatria instaurada durante o reinado
de Manassés, motivo pelo qual os profetas continuaram a anunciar o castigo divino. O profeta tam bém atacou 0
domínio assírio, porém de modo mais tênue que Naum. Uma de suas mensagens defendia a idéia de que como
Deus m orava em Jerusalém, apesar de todas as iniqüidades lá vigentes, estaria libertada do pecado. U m a parte da
população de Judá sobreviveria e seria purificada. Sofonias também abriu a possibilidade para que outros povos
do mundo tivessem um a felicidade futura, anunciando a vinda desse grupo a Sião.
Habacuque (605-602/1 a.C.) foi o terceiro profeta desse período. Sua obra pode ser colocada no período do
domínio babilônico em Judá. Foi composta por um conjunto de queixas do profeta para com seu Deus sobre as
atitudes de seu povo, seguida de respostas divinas. Em sua principal lamentação ele afirmou que Deus era puro
demais e por essa razão não poderia ver 0 mal que havia em Judá. A resposta de Deus foi que Ele se utilizaria
de um a nação para a realização de seus desígnios, fato já mencionado anteriormente pelo profeta Isaías. Outro
oráculo anunciava um princípio onde 0 justo viveria por sua fidelidade a Deus. Assim, a visão do profeta mudou,
o que refletiu em seu cântico final, afirmando a fidelidade a Deus, mesmo sem compreendê-la.
Sobre o profeta Jeremias, principal expoente da profecia desse século, suas primeiras pregações foram apelos
para 0 retom o do povo do Reino do Norte para Jerusalém, a Casa de Davi, além de denunciar o pecado local
e anunciar as condições necessárias para o estabelecimento de uma nova Aliança com Deus. Ocorreu então a
reforma promovida por Josias.
O rei Jeoaquim teve o profeta Jeremias como opositor, devido à sua política pró-Egito. Suas profecias passaram
a ser ditadas a seu amanuense Baruque, que foi incumbido de lê-las no templo, uma vez que sua entrada havia
sido proibida. O rei, num a dessas leituras, tentou anular a palavra de Deus, provocando a fuga de Jeremias e de
Baruque, que tiveram de se esconder.
A atuação de Jeremias ficou mais fácil quando subiu ao trono Zedequias, que confiava plenamente no profeta.
Por volta de 594 a.C., revoltas da Babilônia eclodiram, além de um novo faraó no Egito, despertando a esperança
de uma solução breve para o problema dos exilados de 597 a.C. O pseudoprofeta Hananias, de Gibeão, previu
o retom o da população deportada dentro de dois anos (Jeremias 28.1-10), porém o profeta Jeremias se colocou
contra tal discurso, afirmando que o retomo, apesar de ser uma vontade divina, não era para tão cedo e ordenou,
através de um a carta aos exilados, que se instalassem no país para onde foram enviados. Jeremias aconselhou
Zedequias a ser submisso à Babilônia.
Porém, em 588 a.C. Nabucodonosor sitiou Jerusalém, que resistiu por um ano e meio. A cidade não suportou
tal pressão e caiu em 586 a.C., e o profeta foi protegido pelas autoridades babilônicas. A destruição foi anunciada
por Jeremias, justificada pelas atitudes iníquas do povo, que não soube manter a Aliança com o seu Deus. Nesse
caso, o profeta incluiu os homens que ocupavam desde os mais altos postos no Reino até 0 povo mais simples.
Ninguém escapou. As maiores críticas foram aos que mais conhecimento possuíam, pois deveriam guiar 0 povo
e não o fizeram. O exemplo retirado da destruição do Reino de Israel simbolizava um retom o ao caos, devido ao
pecado cultivado no meio de toda a população.
Na seqüência desses acontecimentos o profeta anunciou a restauração da Aliança de Deus com seu povo, que
foi interpretada quando do término da catástrofe por seus discípulos, auxiliando desse modo a sobrevivência do
grupo exilado. Assim, o retomo dos que foram para a Babilônia foi um a das imagens dessa época, na qual Deus
reunia novamente o seu povo, sendo estabelecida uma nova Aliança.
As características desse novo acordo começaram com a lei escrita no coração das pessoas: “Eis aí vêm dias,
diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança
que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam
a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR. Porque esta é a aliança que firmarei

CURSO DE TEOLOGIA 81
com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: N a mente, lhes imprimirei as minhas leis, também
no coração lhas inscreverei; eu serei 0 seu Deus, e eles serão o meu povo” (Jeremias 33.31-33). Assim seria
restabelecida a ligação entre Deus e o povo escolhido, o povo de Israel, idéia essa amplamente difundida a partir
do século VII a.C. Nascia nesse momento a noção de que era necessário o conhecimento de Deus, o que colocou
essa atividade como base para a vida do grupo. Deus, acima de tudo, perdoava os pecados, possibilitando assim
uma retratação por parte do homem, lembrando-lhe da existência de pecados erradicáveis ao ser humano. A
fidelidade futura foi outra prom essa que acompanhou essas transformações.
No século VI a.C. Daniel e Ezequiel foram os profetas da esperança. Daniel foi deportado muito jovem para
a Babilônia, exatamente no ano de 605 a.C., onde viveu mais de sessenta anos, servindo a seis governadores
babilônicos e dois persas. Ele e seus companheiros eram de linhagem real e pertenciam á nobreza de Judá. Já
Ezequiel (593-571 a.C.) foi um mestre espiritual no exílio, e a partir dele um a nova concepção sobre as relações
entre Israel e Deus se impuseram. Não sabemos exatamente quando se iniciou seu chamado profético, entretanto
sua voz se fez ouvir desde a Babilônia. O profeta anunciou 0 término do tempo da responsabilidade coletiva e de
que cada um deveria responder por si a Deus.
A partir de todos esses acontecimentos, 0 profeta Ezequiel os viu como provas de que 0 povo de Deus
deveria viver em isolamento e marginalizado, pois como Ele é real e santo, deveria permanecer afastado de tudo,
comunicando-se apenas com algo que Ele tivesse santificado: 0 templo, Jerusalém, o território e o povo, sendo
todo o restante considerado profano.
O privilégio do povo de Israel deveria ser manifestado através da obediência, um a vez que foi na ausência dela
que o povo pecou e por isso foi castigado. Assim como muitos profetas anteriores, Ezequiel sempre relembrou os
momentos de desobediência e as suas conseqüências.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 11
1) Quem foram os profetas do século VIII?
2) Quem foram os profetas do século VII?
3) Quem foram os profetas do século VI?

CURSO DE TEOLOGIA
82
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: N a mente, lhes imprimirei as minhas leis, também
no coração lhas inscreverei; eu serei 0 seu Deus, e eles serão o meu povo” (Jeremias 33.31-33). Assim seria
restabelecida a ligação entre Deus e o povo escolhido, 0 povo de Israel, idéia essa amplamente difundida a partir
do século VII a.C. Nascia nesse momento a noção de que era necessário o conhecimento de Deus, o que colocou
essa atividade como base para a vida do grupo. Deus, acima de tudo, perdoava os pecados, possibilitando assim
um a retratação por parte do homem, lembrando-lhe da existência de pecados erradicáveis ao ser humano. A
fidelidade futura foi outra prom essa que acompanhou essas transformações.
No século VI a.C. Daniel e Ezequiel foram os profetas da esperança. Daniel foi deportado muito jovem para
a Babilônia, exatamente no ano de 605 a.C., onde viveu mais de sessenta anos, servindo a seis governadores
babilônicos e dois persas. Ele e seus companheiros eram de linhagem real e pertenciam à nobreza de Judá. Já
Ezequiel (593-571 a.C.) foi um mestre espiritual no exílio, e a partir dele um a nova concepção sobre as relações
entre Israel e Deus se impuseram. Não sabemos exatamente quando se iniciou seu chamado profético, entretanto
sua voz se fez ouvir desde a Babilônia. O profeta anunciou o término do tempo da responsabilidade coletiva e de
que cada um deveria responder por si a Deus.
A partir de todos esses acontecimentos, 0 profeta Ezequiel os viu como provas de que 0 povo de Deus
deveria viver em isolamento e marginalizado, pois como Ele é real e santo, deveria permanecer afastado de tudo,
comunicando-se apenas com algo que Ele tivesse santificado: 0 templo, Jerusalém, o território e 0 povo, sendo
todo o restante considerado profano.
O privilégio do povo de Israel deveria ser manifestado através da obediência, um a vez que foi na ausência dela
que o povo pecou e por isso foi castigado. Assim como muitos profetas anteriores, Ezequiel sempre relembrou os
momentos de desobediência e as suas conseqüências.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 11
1) Quem foram os profetas do século VIII?
2) Quem foram os profetas do século VII?
3) Quem foram os profetas do século VI?

CURSO DE TEOLOGIA
82
MÓDULO 2 I HISTÓRIA DE ISRAEL

BIBLIOGRAFIA

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AUTH, Romi; SILVA, Airton José da; KONINGS, Johan; VITÓRIO, Jaldemir. História de Israel e as pesquisas
recentes. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.
BALL, Charles Ferguson. A vida e os tempos do apóstolo Paulo. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.
BELL JR., Albert. Explorando o mundo do Novo Testamento. Minas Gerais: Atos, 2001.
BORGER, Hans. Uma história do povo judeu. São Paulo: Sefer, 1999. v. 1.
C A ZELLES, Henry. História política de Israel: desde as origens até A lexandre M agno. 2. ed. São Paulo:
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nações. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.
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QUEIROZ, Eliseu. Israel por dentro. Rio de Janeiro: CPAD, 1987.
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introdução historiográfica e literária. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.
TOGNINI, Enéas. Geografia da Terra Santa. São Paulo: Louvores do Coração, 1987. v. 1.
_________. Geografia das terras bíblicas. São Paulo: Louvores do Coração, 1987. v. 2.
VELTMAN, Henrique. A história dos judeus no Rio de Janeiro. São Paulo: Expressão e Cultura, 1998.

CURSO DE TEOLOGIA 83
faculdade teológica betesda
Moldando vocacionados

AVALIAÇÃO ‫ ־‬MÓDULO II
HISTÓRIA DE ISRAEL
1) Desenhe o mapa do Crescente Fértil.

2) Quem eram os antigos habitantes da Mesopotâmia?

3) Quem eram os habitantes de Canaã? Exemplifique com versículos bíblicos.

4) Faça um breve relato do Êxodo.

5) Alguns entendem que a Lei contém apenas 10 mandamentos, entretanto o povo judeu diz que não. Quantos
são e como estão divididos?

6) Cite o nome de três juizes, com referências bíblicas.

7) Como ficou dividido o reino? Quais foram as datas e quem foi o primeiro rei em cada reino?

8) Quem foi o rei medo-persa que autorizou a volta dos hebreus?

9) Descreva quantos reis governaram o Reino do Norte e em que data.

10) Cite cinco profetas das Escrituras informando em qual reino eles profetizaram.

CARO(a) ALUNO(a):
• Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-las em
folha de papel sulfite, sendo objefivo(a) e daro(a).
CAIXA POSTAL 12025 · CEP 02013-970 · SÃO PAULO/SP
* De preferência, envie-nos as 5 avaliações juntas.
DOUTRINA DOS ANJOS
ÁNGELOLOGIÁ
* Jp :j-m t
SUMARIO
IN T R O D U Ç Ã O .........................................................................................................................................................91

1.D E F IN IÇ Ã O D O T E R M O .................................................................................................................................92

2.A O R IG E M D O S A N JO S ............................................................................................................... 93
2.1 A NATUREZA DOS A N J O S ...........................................................................................................................94

3. C L A S S IF IC A Ç Ã O D O S A N J O S ..................................................................................................................... 97
3.1 G A B R IE L .............................................................................................................................................................. 97
3.2 ARCANJO M IG U E L ..........................................................................................................................................97
3.3 Q U E R U B IN S ....................................................................................................................................................... 98
3.4 S E R A F IN S ............................................................................................................................................................ 98
3.5 O ANJO DO S E N H O R ...................................................................................................................................... 98

4. M IN IS T É R IO D O S A N JO S ...............................................................................................................................101
a) Adorar a D e u s ........................................................................................................................................................ 101
b) Mediadores da L e i ............................................................................................................................................... 101
c) Executam os juízos de D e u s ...............................................................................................................................101
d) Reúnem os e le ito s ................................................................................................................................................102
e) No Juízo F in a l.......................................................................................................................................................102

5. A N JO S N O A N T IG O E N O N O V O T E S T A M E N T O ................................................................................103
5.1 NO ANTIGO T E S T A M E N T O .......................................................................................................................103
5.2 NO NOVO TESTAMENTO ..........................................................................................................................104

6. A N JO S D E S O B E D IE N T E S ................................................................................................................................111
6.1 UM SER R E A L .................................................................................................................................................. 111
6.2 SUA EXISTÊNCIA R E G IS T R A D A ............................................................................................................. 111
6.3 SUA P E R S O N A L ID A D E ................................................................................................................................ 111
6.4 SUA O R IG E M ................................................................................................................................................... 112
6.5 SEU C A R Á T E R .................................................................................................................................................113

7. SEUS N O M E S E T Í T U L O S .............................................................................................................................. 114


a) Satanás ................................................................................................................................................................... 114
b) D ia b o ...................................................................................................................................................................... 114
c) S e rp e n te..................................................................................................................................................................114
d) D ra g ã o .................................................................................................................................................................... 115
e) B elzeb u ................................................................................................................................................................... 115
f) B elial........................................................................................................................................................................115
g) T en tador.................................................................................................................................................................. 115
h) Príncipe deste m u n d o ....................................................................................................................................... 115
i) Príncipe da potestade do a r ..............................................................................................................................116
j) E n g a n a d o r............................................................................................................................................................116

8. D E M Ô N IO S ............................................................................................................................................................117
8.1 A REALIDADE DOS DEM ÔNIOS .................................................................................................117

9. NATUREZA DOS D E M Ô N IO S ......................................................................................................................119


a) Sua f o r ç a .............................................................................................................................................................. 119
b) Sua sab e d o ria...................................................................................................................................................... 119
c) Im o ra is ................................................................................................................................................................. 119

10. PROPÓSITO DOS D E M Ô N IO S .................................................................................................................121


a) Oposição aos s a n to s ..........................................................................................................................................121
b) Afastar da f é ....................................................................................................................................................... 121
c) Propagam a id o la tria ..........................................................................................................................................121

B IB L IO G R A F IA 123
MÓDULO 2 I DOUTRINA DO S ANJOS

INTRODUÇÃO 3

Estudar angelologia é envolver-se em um dos temas mais empolgantes das Escrituras Sagradas. A presença dos
anjos pode ser notada em toda a Bíblia. De Gênesis a Apocalipse podemos ver o desenvolvimento do ministério
desses seres celestiais no Éden, na história do povo de Israel e na história da Igreja do primeiro século. Por serem
criaturas especiais, dotadas de um poder sobrenatural, conferido pelo próprio Deus, quando os criou, muito
antes dos seres humanos, foram constituídos como “ministros de Deus em favor daqueles que hão de herdar a
salvação” (Hebreus 1:14). Não obstante, apesar de todas as prerrogativas a eles conferidas pela Palavra de Deus,
ao contrário do que muitos pensam, os anjos são apenas seres criados e, portanto, não possuem os atributos da
divindade. Eles estão sujeitos ao governo divino, e o importante papel que eles têm desempenhado na história
da humanidade tom a-os merecedores de referência especial e de um estudo específico, pois, nas Escrituras, sua
existência é sempre considerada matéria pacífica.

CURSO DE TEOLOGIA
91
MÓDULO i I DOUTRINA DOS ANJOS

DEFINIÇÃO DO TERMO ‫ג‬

Initium doctrinae sit consideratio nominis. Para o estudo de determinado tema, deve-se iniciar pela análise
de sua denominação, que poderá ajudar a compreender aquilo que se pretende estudar. Seguiremos a orientação
do m aior orador romano, Marco Túlio Cícero, que disse: “Quando se quer pôr ordem e método num a discussão
é preciso dar início definido à coisa de que se debate para se ter dela uma idéia clara e precisa” .1 Portanto, assim
principiaremos nosso estudo.
De início, pedimos licença para adverti-lo de que no transcurso de nosso estudo molestaremos freqüentemente
os seus ouvidos com graecu largos, como diriam os filósofos.
O vocábulo “anjo”, tal qual aparece nas versões correntes, vem de um a raiz hebraica, ‫ מלאך‬m a l’ak. No
grego da Versão dos Setenta (Septuaginta), os eruditos traduziram “m al’ak‫ ״‬por CXγ γ 6 λ 0 ζ - angelos? Ambos
os termos significam “um mensageiro, embaixador, alguém que é enviado, um anjo, um mensageiro de Deus”.
Em Marcos 1.2 , por exemplo, 0 termo aggelos é atribuído a João Batista: “...eis que eu envio o meu anjo
{aggelos) ante a tua face, 0 qual preparará 0 teu caminho diante de ti”, enquanto mal ’ak é usado na profecia
correspondente em Malaquias 3 . 1.
Assim, pelo contexto é que será possível determinar se o mensageiro (anjo) em questão é humano ou angelical.
Como seres espirituais estão divididos em duas classes: anjos santos (bons) e anjos caídos (maus).
Os anjos santos são mensageiros de Deus, que por opção própria permaneceram em seu estado original, submissos
à vontade de Deus, enquanto os anjos decaídos, ao contrário, são os que se rebelaram (Judas 6; Apocalipse 12.3-4),
tomando-se servos de Satanás, “ 0 deus deste século” (2 Coríntios 4.4).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 1
1 ) 0 vocábulo anjo vem de quais raízes?
2) O que significa o termo anjo?
3) Quais são as duas classes de anjos?

'CÍCERO, Marco Túlio. Dosdeveres. São Paulo: M artin Claret, 2002. p. 33.
1 Ver volume 1, A Septuaginta, p. 37.

92 CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 1 1DOUTRINA DOS ANJOS

A ORIGEM DOS ANJOS


Diferentemente de Deus, os anjos são seres criados por Ele antes da criação do universo (Jó 38.7) e, portanto,
foram testemunhas da criação do mundo. São chamados de ‫ בני ה אלה י ם‬Beney H a ’Elohiym, “filhos de
Deus”, mas nem por isso estão sem faltas (Jó 4.18; 15.15).
Não existem desde a eternidade, como explicitamente declaram as Escrituras: “Tu só és SENHOR, tu fizeste o
céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há; e tu os guardas
em vida a todos, e 0 exército dos céus te adora” (Neemias 9.6). “Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todas as suas
legiões celestes... Louvem o nome do SENHOR, pois mandou ele, e foram criados” (Salmos 148.2, 5). “Porque nele
foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações,
sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas
as coisas subsistem por ele” (Colossenses 1.16-17). Os anjos estão de fato entre as coisas “invisíveis” que Deus
criou para servi-lo.
A Bíblia não nos informa 0 momento exato em que os anjos foram criados. No entanto, de acordo com Jó
38.4-7, podemos depreender que isso se deu antes da criação do universo.
Essas criaturas angelicais são mencionadas tanto no Antigo quanto no N ovo Testamento. Vejamos:

a) Conforme a Concordância Bíblica Exaustiva, no Antigo Testamento eles são mencionados textualmente
por 109 vezes e sempre em missões específicas.3 Leia: Gênesis 16.7, 9-11; 19.1, 15; 24.7,40; 28.12; 31.10-
11; 32.1; 48; Êxodo 3.2; 14.9; 23.20, 23; 32.34; 33.2; Números 20.16; 22.22-27, 31-32, 34-35; Juizes 2.1,
4; 5.23; 6.11-12, 20-22; 13.3, 6, 13, 15-17, 19-20; 1 Samuel 29.9; 2 Samuel 14.17; 19.27; 1 Reis 13.18;
19.5, 7; 2 Reis 1.1, 15; 19.35; 1 Crônicas 21.12, 15-16, 18, 20, 27, 30; 2 Crônicas 32.21; Jó 4.18; Salmos
8.5; 34.7; 35.5-6; 91.11; 103.20; 148.2; Eclesiastes 5.6; Isaías 37.36; 63.9; Daniel 3.28; 6.22; Oséias 12.4;
Zacarias 1.9, 11-14, 19; 2.3; 3.3, 5-6; 4.1, 4-5; 5.10; 6.4-5; 12.8; Malaquias 2.7; 3.1.

b )N 0 Novo Testamento essas criaturas são mencionadas servindo aos santos por 175 vezes (51 vezes nos
Sinópticos, 21 em Atos, 67 em Apocalipse).4 Emprega-se com respeito a homens apenas 6 vezes (Lucas
7.24; 9.52; Tiago 2.25; Mateus 11.10; Marcos 1.2; Lucas 7.27 ao citarem Malaquias 3.1). Convém que 0
aluno examine minuciosamente cada texto e contexto onde a palavra está presente: Mateus 1.20, 24; 2.13,
19; 4.6, 11; 11.10; 1 3.39,41,49; 16.27; 18.10; 22.30; 24.31,36; 25.31, 41; 26.53; 28.2, 5; M arcos 1.2, 13;
8.38; 12.25; 13.27, 32; Lucas 1.11, 13, 18-19, 26, 28, 30, 34-35, 38; 2.9-10, 13, 15; 4.10; 7.27; 9.26; 15.10;
16.22; 20.36; 22.43; 24.23; João 1.51; 5.4; 12.29; 20.12; Atos 5.19; 6.15; 7.35, 53; 8.26; 10.3, 7, 22; 12.7,
11, 15, 23; 23.8-9; 27.23; Romanos 8.38; 1 Coríntios 4.9; 6.3; 11.14; Gálatas 1.8; 3.19; 4.14; Colossenses
2.18; 2 Tessalonicenses 1.7; 1 Timóteo 3.16; 5.21; Hebreus 1.4-7, 13; 2.2, 7, 9, 16; 12.22; 13.2; 1 Pedro
1.12; 3.22; 2 Pedro 2.4, 11; Judas v. 6; Apocalipse 1.1, 20; 2.1, 8, 12, 18; 3.1,7, 14; 5.1, 11; 7.1-2, ll;8 .2 -8 ,
10, 12, 13; 9.1, 11, 13-15; 10.1, 5, 7-10; 11.1, 15; 12.7; 14.6, 8-10, 15, 17-19; 15.1, 6, 8; 16.1, 3-5, 8, 10,
12, 17; 17.17; 18.1, 21; 19.17; 20.1; 21.9, 12, 17; 22.6, 8, 16.

3 GILMER, Thomas L.; JACOBS, Jon; VILELA, Milton. Concordância bíblica exaustiva. São Paulo: Vida, 1999, p. 65.
4COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000. vol. 1, p. 147.

CURSO DE TEOLOGIA
93
MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

SÃO NUMEROS OS
No último livro das Escrituras Sagradas, 0 Apocalipse de João, existem apenas três capítulos (4, 6, 13)
onde 0 vocábulo está ausente, mas nos demais ele ocorre 67 vezes. N a região celestial, 0 número angelical é
elevado a um grau supremo. A Bíblia é categórica ao afirmar que existem “ ... milhões de milhões e milhares de
m ilhares” (Apocalipse 5.11). Eles foram descritos em multidões que ultrapassam nossa imaginação. Confira:
“Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos ”
(Hebreus 12.22). “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze
legiões de anjos?” (Mateus 26.53). “Vi e ouvi um a voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes
e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz:
Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor”
(Apocalipse 5.11-12).
Existem ainda outras citações semelhantes com outros apelativos que exprimem o mesmo sentido, a saber:
“anjos destruidores” (Salmos 78.49), “ 0 destruidor” (Êxodo 12.23), “portadores da m orte” (Jó 33.22), “arcanjo”
(Judas 9), “varões” (Gênesis 18.2), “hom ens” (Josué 5.13), “intérpretes” (Jó 33.23), “m inistros” (Salmos 104.4),
“espíritos” (Hebreus 1.14), “ventos” (Salmos 104.4), “mancebos” (Marcos 16.5), “estrelas” (Apocalipse 1.20;
12.4), “filhos de Deus” (Jó 1.6;2.1) etc.

2.1 A NATUREZA DOS ANJOS


Para saber sobre a natureza dos anjos, só podemos recorrer às Escrituras Sagradas, pois são elas que nos
trazem a verdade sobre Deus e suas criaturas.

a) Eles são incorpóreos


Em várias passagens das Escrituras os anjos são descritos como espíritos: “Fazes a teus anjos ventos e a teus
ministros, labaredas de fogo” (Salmos 104.4). “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço
a favor dos que hão de herdar a salvação?” (Hebreus 1.14). Em Lucas 24.37-39, Jesus disse: “ ...um espírito não
tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” . Diante dessa declaração do mestre da Galiléia, percebe-se que
os anjos são destituídos de corpos físicos. Apesar de serem espíritos, ou seja, não possuírem um corpo físico, são
capazes de assumir uma aparência humana (Gênesis 19.1-3; M arcos 16.5):

“Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma, a cuja entrada estava Ló assentado; este, quando os viu,
levantou-se e, indo ao seu encontro, prostrou-se, rosto em terra” (Gênesis 19.1).

“Enviou Deus um anjo a Jerusalém, para a destruir; ao destruí-la, olhou o SENHOR, e se arrependeu do mal, e
disse ao anjo destruidor: Basta, retira, agora, a mão. O Anjo do SENHOR estava junto à eira de Omã, o jebuseu”
(1 Crônicas 21.15).

“N o sexto mês, foi 0 anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para um a cidade da Galiléia, chamada Nazaré,
a um a virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se M aria”
(Lucas 1.26-27).

“Um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Dispõe-te e vai para 0 lado do Sul, no caminho que desce de
Jerusalém a Gaza...” (Atos 8.26).

94 CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

“Eis, porém, que sobreveio um anjo do Senhor, e uma luz iluminou a prisão; e, tocando ele o lado de Pedro, 0
despertou, dizendo: Levanta-te depressa! Então, as cadeias caíram-lhe das mãos. Disse-lhe 0 anjo: Cinge-te e calça as
sandálias. E ele assim 0 fez. Disse-lhe mais: Põe a capa e segue-me. Então, saindo, o seguia, não sabendo que era real 0
que se fazia por meio do anjo; parecia-lhe, antes, uma visão. Depois de terem passado a primeira e a segunda sentinela,
chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade, 0 qual se lhes abriu automaticamente; e, saindo, enveredaram por
uma rua, e logo adiante 0 anjo se apartou dele. Então, Pedro, caindo em si, disse: Agora, sei, verdadeiramente, que o
Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de toda a expectativa do povo judaico” (Atos 12.7-11).

Outra característica dos anjos é que aparecem e desaparecem à vontade e movimentam-se com um a rapidez
inconcebível. São imortais, poderosos, possuidores de grande inteligência e sabedoria. Apesar de os anjos serem
descritos na Bíblia pelo sexo masculino, a passagem de Mateus 22:30 deixa claro que eles são assexuados, isto
é, não possuem sexo. Não são de modo algum onipresentes, atributo este pertencente somente à divindade.5
Todavia, podem estar presentes no tempo e num espaço bem confinado, como revela 0 texto: “Perguntou-lhe
Jesus: Qual é 0 teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios” (Lucas 8.30).6
Sete demônios habitavam no corpo de Maria M adalena (Marcos 16.9).

b) Não devem ser adorados


Os anjos são seres criados e, como tais, não devem ser adorados, pois a adoração é um a prerrogativa exclusiva
do Deus Trino, das três pessoas da Trindade, a saber, do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Isaías 6.3; Romanos
11.33-36; Apocalipse 4). Não encontramos na Bíblia nenhum a passagem que abone a idéia de adoração ou culto
aos anjos. Jesus, quando da tentação no deserto, deixou bem claro a quem devemos adorar e prestar culto, quando
disse a Satanás: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto” . Visto como um anjo não é Deus, mas
apenas uma criatura de Deus, não pode nem deve ser adorado ou cultuado. O apóstolo João, quando estava na
ilha de Patmos recebendo revelação das coisas futuras por intermédio de um anjo, “prostrou-se ante os pés do
anjo que lhe m ostrou essas coisas, para adorá-lo. Então, o anjo disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo teu,
dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus ” (Apocalipse 22.8-9, grifo
nosso). Portanto, reiteramos que somente 0 Deus revelado nas Escrituras deve ser adorado, porque disse Ele:
“ .. .a m inha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura” (Isaías 42.8).

c) Sua criação
Em conformidade com alguns textos bíblicos, deduzimos que todos os anjos foram criados de uma só vez e que
nenhum outro anjo foi acrescentado depois ao seu número, pois, como já vimos, eles são assexuados (Mateus 22:30),
não se reproduzem. Os anjos não são eternos; fazem parte do universo que Deus criou. Numa passagem que se refere aos
anjos como as “hostes” dos céus (ou o “exército dos céus”), diz Esdras: “Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, 0 céu dos céus
e todo o seu exército (...) e todo 0 exército do céu te adora” (Neemias 9.6; veja Salmos 148.2, 5). Paulo nos diz que Deus
criou todas as coisas, “as visíveis e as invisíveis”, por meio de Cristo e para Ele, e depois inclui especificamente o mundo
dos anjos com a expressão “sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades” (Colossenses 1:16). Por
causa da rebelião foram divididos em duas classes: anjos obedientes e anjos desobedientes, ou anjos bons e anjos maus.

d) Sua personalidade
Os anjos possuem qualidades que caracterizam uma pessoa. Por exemplo, são seres racionais: “... sábio é meu
senhor, segundo a sabedoria de um anjo de Deus, para entender tudo 0 que se passa na terra” (2 Samuel 14.20); são

s Ver no volume 1, Atributos incomunicáveis, p. ? ? ??


‘ No grego: legiw n (legeon). Segundo 0 dicionário Strong, legião significa: “corpo de soldados cujo número diferia de tempos em tempos. Na
época de Augusto, parece ter consistido de 6826 homens (i.e., 6100 soldados a pé e 726 cavaleiros)” . In: B íblia On-line: Módulo Avançado
3.0. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002. CD-ROM.

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

seres morais, criados com capacidade de discernir e fazer 0 que é certo ou errado: “ ...como um anjo de Deus, assim
é 0 rei, meu senhor, para discernir entre 0 bem e o mal” (2 Samuel 14.17); devotam adoração inteligente: “Louvai-
o, todos os seus anjos; louvai-o, todas as suas legiões celestes” (Salmos 148.2); possuem emoções: “Eu vos afirmo
que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15.10).
Foram compensados pela obediência e castigados pela desobediência: “Ora, se Deus não poupou anjos quando
pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo” (2 Pedro
2.4); “ ...e a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele
tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia” (Judas 6).

e) Sábios e poderosos
Por meio das Escrituras, tomou-se manifesto o mundo espiritual, revelando que os anjos são possuidores
de sabedoria e inteligência sobre-humana. M yer Pearlman afirmou que “a inteligência dos anjos excede a dos
homens nesta vida, porém é necessariamente finita”.7
Para os estudantes da Bíblia, a sabedoria dos anjos é evidente, pois nos é informado que eles foram criados
muito tempo antes que os homens. Jesus forneceu testemunho do conhecimento limitado dos anjos quando falou
da sua segunda vinda, dizendo: “M as a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem
o Filho, senão o Pai” (Marcos 13.32).
Com relação ao seu poder, em bora seja grande, é limitado (Salmos 103.20).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍ TULO 2
1) Por que os anjos são chamados de filhos de Deus?
2) Quando foram criados os anjos?
3) Cite três passagens dos anjos no Antigo Testamento e três no Novo Testamento.
4) Cite os três capítulos do livro do Apocalipse em que não aparece o termo anjos.
5) No mundo espiritual, os anjos possuem características inerentes ao homem. Quais são elas?

7PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas d a B íblia. São Paulo: V ida, 1999. p. 60.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

CLASSIFICAÇÃO DOS ANJOS


Os anjos são classificados em duas categorias: anjos obedientes (bons) e anjos desobedientes (maus). Algumas
passagens da Bíblia Sagrada deixam entender que há um a hierarquia angelical, “ ...acima de todo principado, e
potestade, e poder, e domínio...” (Efésios 1.21); “ ...pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a
terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades” (Colossenses
1.16); “ ...ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes” (1 Pedro 3.22).
N a Carta aos Colossenses a posição hierárquica está em ordem decrescente: tronos, soberanias, principados e
potestades, enquanto em Efésios a mesm a graduação é mencionada em ordem crescente: principados, potestades,
poder e domínio. Conclui-se que essas posições hierárquicas de autoridade entre os anjos ocorrem devido às suas
diferentes funções exercidas no céu.

3.1 GABRI EL (‫) ג ב ר י א ל‬


O nome Gabriel é oriundo do hebraico ‫ — ג ב ר י א ל‬Gabriy’el, de “13.il geber, “homem (jovem e forte),
varão ”, e significa literalmente “homem de Deus, varão de D eus”.
Ele aparece quatro vezes nas Escrituras, e sempre em missões específicas (Daniel 8.16; 9.21; Lucas 1.19;
1.26). No Antigo Testamento Gabriel aparece apenas no livro do profeta Daniel, e ali como mensageiro celestial
para revelar eventos futuros ou escatológicos (Daniel 8.19; 9.24-27).
No Novo Testamento Gabriel ressurge somente na narrativa de Lucas que descreve o nascimento de Cristo.
Ali, ele é o mensageiro angelical que anuncia grandes eventos: 0 nascimento de João (Lucas 1.11-20) e de
Jesus (Lucas 1.26-38). Também é apresentado como aquele que “assiste diante de Deus” (Lucas 1.19), o que
evidencia sua relação pessoal com seu criador. Destes casos, conclui-se que Gabriel é o portador das grandes
mensagens divinas aos homens. Pode-se concluir dizendo que na Bíblia Gabriel é 0 “anjo m ensageiro” e Miguel
0 “anjo guerreiro” (Daniel 10.13; Apocalipse 12.7).
Não é somente nas Escrituras Sagradas que podemos encontrar referências a este ser celestial. Os manuscritos
descobertos nas grutas de Qumrã comprovam o interesse dos essênios por anjos. Gabriel é um dos quatro nomes
angelicais escritos nos escudos dos Filhos da Luz enquanto saem para a batalha (1 QM 9.14-16). Os Targuns
introduzem Gabriel nas narrativas bíblicas como aquele que guia José para encontrar-se com seus irmãos (Gênesis
37.15), que enterra Moisés (Deuteronômio 34.6) e destrói 0 exército de Senaqueribe (2 Crônicas 32.21).8

3.2 MI GUEL (‫) מ י כ א ל‬


O nome Miguel é de origem hebraica ‫ מ י כ א ל‬M iyka’el, de ‫ מ י‬miy, “quem ?”, + 1‫ כ י‬kiy, “com o?” e Έ1,
“Deus”, e significa literalmente “quem é como Deus, quem é semelhante a D eus”.
Ele é m encionado como aquele que se levanta, provavelm ente, em defesa do povo de Israel. “M as 0
príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém M iguel, um dos prim eiros príncipes, veio
para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia” (Daniel 10.13). Neste m esm o sentido, o versículo
21 fala de “ ... M iguel, vosso príncipe” .
Miguel, diferentemente dos demais anjos, é descrito no Novo Testamento como um arcanjo (Μιχαήλ
ό αρχάγγελος M ikhael hó arkhangelos, “Miguel 0 arcanjo” (Jd 9), vocábulo oriundo do grego, αρχάγγελος
* Durante a época persa os judeus adotaram como língua corrente 0 aramaico. Isto criou a necessidade de dispor de traduções da B íblia
nesta língua (targumim). No princípio tratava-se de versões orais, de caráter parafrásico, da leitura sinagogal (Neemias 8.8). Ao ser posta,
mais tarde, por escrito, e ao tornar-se mais complexa a paráfrase, passaram a ter uso extra-sinagogal e a adquirir caráter literário mais
acentuado.

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

Arkhangelos, de αρχω arkhoo, “governo, chefe, líder”, e αγγβλος angelos, “anjo, mensageiro”, e significa “líder
ou chefe dos anjos” .

3.3 q u e r u b i n s (‫) כ ר ב י ם‬
O vocábulo □ ‫ כ ר ב י‬Kerubiym é a forma plural do hebraico ‫ בר!" ב‬Kerub. Seu correspondente grego é
Χ φ ουβ ιν Kheroubín. Não se sabe ao certo se este termo significa uma posição especial ou um serviço exaltado
rendido por aqueles que levam este nome.
Aparecem pela primeira vez na entrada do jardim do Éden, incumbidos de guardar 0 caminho para a árvore
da vida depois que 0 hom em foi expulso (Gênesis 3.24). Uma função semelhante foi creditada aos dois querubins
dourados. Sobre a arca da aliança, no Santo dos Santos do tabemáculo no deserto, em bora em figuras de ouro,
foram postos em cada extremidade do propiciatório (a tampa que cobria a arca no santíssimo lugar - Êxodo
25.17-22; Hebreus 9.5), onde simbolicamente protegiam os objetos guardados na arca e proviam, com suas
asas estendidas, um pedestal visível para o trono invisível de Yahweh (Salmos 80.1; 99.1).
Também foram bordados querubins nas cortinas e véus do tabemáculo, bem como estampados nas paredes do
Templo (Êxodo 26.31; 2 Crônicas 3.7).
Profeta do cativeiro babilônico, Ezequiel se refere a estes seres chamando-os pelo seu título dezenove vezes.
Os quatro seres viventes mencionados pelo profeta são querubins (Ezequiel 1.5, 13-15; 3.13; 10.14-15).
O principal propósito deles é proclamar e proteger a glória, a soberania e a santidade de Deus. Severino Pedro
nos informa que existe uma característica dupla nesses seres viventes denominados querubins: “Eles são chamados
de querubins e como tais desempenham dupla função, isto é, são guardas celestiais (Gênesis 3.24), e ao mesmo
tempo eles desempenham a função de serafins (os componentes do coro angelical) que clama dia e noite: ‘Santo,
Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos: toda a Terra está cheia da sua Glória’ (cf. Is 6.1-6; Ap 4.8 e ss.)”. 9
Segundo Louis Berkhof, “mais que outras criaturas, eles foram destinados a revelar o poder, a majestade e a
glória de Deus, e a defender a santidade de Deus no jardim do Éden, no tabem áculo, no templo e na descida de
Deus a terra” ( Teologia sistemática, p. 146).
Satanás também pertencia a essa classe de seres espirituais conforme implícito no texto: “Tu eras querubim
da guarda ungido, e te estabeleci...” (Ezequiel 28.14, 16).

3. 4s e r a f i n s (‫) ט ר פ י ם‬
O termo hebraico □ ‫ ש ר פ י‬Serafiym é a forma plural de ‫ ש ר ף‬Saraf, oriundo de ‫ ש ל ף‬saraf, “queimar,
cauterizar, ser queim ado”.
A única menção a esses seres celestiais nas Escrituras Sagradas localiza-se no livro do profeta Isaías (Isaías
6.3). Presume-se que se ocupam da adoração a Deus, clamando “uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo
é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6.3).

3. 5 O ANJO DO SENHOR
Outro ensino veterotestamentário de grande importância, que por sua vez causa muita confusão entre os
cristãos, está estritamente relacionado com as aparições de um anjo denominado “Anjo do Senhor” (ΓΗΓΠ
‫ מ ל א ך‬- M al’ak Yehowah ou M a l’ak Yahweh). A maneira pela qual este anjo é descrito distingue - 0 de qualquer
outro ser criado. Este anjo (mensageiro) aparece inúmeras vezes no Antigo Testamento. Vale lembrar que a
palavra hebraica m al’ak, traduzida por anjo, significa simplesmente “mensageiro” . Porém, encontramos várias
passagens nas Escrituras onde o Anjo do SENHOR é chamado de “Deus” ou “SENHOR” . Vejamos.
Abraão recebe ordens de Deus para sacrificar seu filho, Isaque, no lugar em que Ele mostraria. Em obediência,
Abraão fora “ao lugar que Deus lhe dissera, e edificou ali um altar, e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isaque,
seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha. E estendeu Abraão a sua mão e tomou o cutelo para imolar
0 seu filho. Mas 0 Anjo do SENHOR lhe bradou desde os céus e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.

9SILVA, Severino Pedro da. Os a n jo s - s u a natureza e ofício. Rio de Janeiro: CPAD, 1987. p. 64.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 1DOUTRINA DOS ANJOS

Então, disse: Não estendas a tua mão sobre 0 moço e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus
e não me negaste o teu filho, 0 teu único” (Gênesis 22.9-12, grifo nosso).
Jacó lutou com um anjo e prevaleceu. Ao final “Jacó lhe perguntou e disse: Dá-me, peço-te, a saber, o teu
nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó 0 nome daquele lugar
Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva” (Gênesis 32.30, grifo nosso).
Moisés, ao se encontrar inesperadamente com este mensageiro de Deus no monte Sinai, descobre: “E apareceu-
lhe o Anjo do SENHOR em uma chama de fogo, no meio de um a sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo,
e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá e verei esta grande visão, porque a sarça se
não queima. E, vendo o SENHOR que se virava para lá a ver, bradou Deus a ele do meio da sarça e disse: Moisés!
Moisés! E ele disse: Eis-me aqui” (Êxodo 3.2-4, grifo nosso).
E chamado de Senhor Jeová: “E 0 Anjo do SENHOR estendeu a ponta do cajado que estava na sua mão e
tocou a carne e os bolos asmos; então, subiu fogo da penha e consumiu a carne e os bolos asmos; e o Anjo do
SENHOR desapareceu de seus olhos. Então, viu Gideão que era 0 Anjo do SENHOR‫־‬, e disse Gideão: Ah! Senhor
JEOVÁ, que eu vi 0 Anjo do SENHOR face a face. Porém o SENHOR lhe disse: Paz seja contigo; não temas,
não morrerás. Então, Gideão edificou ali um altar ao SENHOR e lhe chamou SENHOR é Paz; e ainda até ao dia
de hoje está em Ofra dos abiezritas” (Juizes 6.21-24, grifo nosso).
É chamado de maravilhoso: “Porém 0 Anjo do SENHOR disse a Manoá: Ainda que me detenhas, não comerei de
teu pão; e, se fizeres holocausto, o oferecerás ao SENHOR. Porque não sabia Manoá que fosse o Anjo do SENHOR. E
disse Manoá ao Anjo do SENHOR : Qual é o teu nome? Para que, quando se cumprir a tua palavra, te honremos. E o
Anjo do SENHOR lhe disse: Por que perguntas assim pelo meu nome, visto que é maravilhoso? Então, Manoá tomou
um cabrito e uma oferta de manjares e os ofereceu sobre uma penha ao SENHOR; e agiu 0 Anjo maravilhosamente,
vendo-o Manoá e sua mulher. E sucedeu que, subindo a chama do altar para o céu, o Anjo do SENHOR subiu na
chama do altar; o que vendo Manoá e sua mulher, caíram em terra sobre seu rosto. E nunca mais apareceu o Anjo do
SENHOR a Manoá, nem à sua mulher; então, conheceu Manoá que era 0 Anjo do SENHOR. E disse Manoá à sua
mulher: Certamente morreremos, porquanto temos visto Deus” (Juizes 13.16-22, grifo nosso).
Nesse texto, Ele declara ser seu nome secreto, pois a palavra “maravilhoso” no hebraico “ ‫ פ ל א י‬- piliy ou
‫ פ ל י א‬- p a liy ” significa “incompreensível, extraordinário, ser difícil de compreender” . Todavia, Deus se revela
ao profeta Isaías como o Filho de Deus: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está
sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da
Paz” (Isaías 9.6, grifo nosso).
A revelação progressiva de Deus vai se tom ando inteligível na m edida de sua vinda à Terra. Através do
profeta Malaquias, Deus anuncia: “Eis que eu envio 0 meu mensageiro (João Batista), que preparará o caminho
diante de mim; de repente, virá ao seu templo o Senhor (Jesus Cristo), a quem vós buscais, o Anjo da Aliança, a
quem vós desejais; eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos (Deus Pai)” (Malaquias 3.1).
Analisando essa passagem das Escrituras, um a das principais autoridades nos Estados Unidos sobre história
dos judeus, línguas e costumes do Antigo Testamento, Charles L. Feinberg, afirma que “o mensageiro é, sem
sombra de dúvida, João Batista” (Mateus 3.3; 11.10; Marcos 1.2-3; Lucas 1.76; 3.4; 7.26-27; João 1.23).10
Este mesmo autor, que cresceu em um lar judeu ortodoxo e estudou hebraico e assuntos afins durante quatorze
anos como matérias preparatórias para o rabinato, admitiu que 0 Anjo da Aliança é “a auto-revelação de Deus.
Ele é 0 Senhor em Pessoa, 0 Anjo do Senhor da história do Antigo Testamento, o Cristo pré-encam ado das muitas
teofanias (manifestação de Deus) nos livros do Antigo Testamento” .11
Por fim, outro judeu de não pequena envergadura conclui: “Não se pode evitar a conclusão de que este Anjo misterioso
não é outro senão 0 Filho de Deus, 0 Messias, 0 Libertador de Israel, e o que seria o Salvador do mundo”.12

‫ ״‬FEINBERG, Charles L. Os profetas menores. São Paulo: V ida, 1996. p. 340.


11 Idem, p. 341.
" PEARLMAN, Myer. Op. cit., p. 59.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 3
1) De modo geral como podem ser classificados os anjos?
2) Como é colocada a ordem hierárquica em Colossenses e em Efésios?
3) O que significa o nome Gabriel?
4) Qual é o único livro do Antigo Testamento em que aparece 0 nome do arcanjo Miguel?
5) O que significa o termo querubim?
6) Qual livro faz menção dos serafins?
7) O que o Dr. Charles L. Feinberg afirma sobre 0 Anjo do Senhor?

100 CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DO S ANJOS

MINISTÉRIO DOS ANJOS


Os anjos foram criados com propósitos definidos por Deus. Nas Escrituras encontramos a razão de sua
existência. Foram criados como servos de Deus, de Cristo e da Igreja para executarem a vontade de Deus na Terra
(Hebreus 1.6, 14). Além disso, conversam entre si (Apocalipse 14.18). Antes de se rebelarem contra o Criador,
todos os anjos foram criados primordialmente para adorar a Deus e a Cristo, tendo, portanto, sua existência
centrada nEles. Passemos a analisar o que a Bíblia diz sobre o ministério dos anjos.

A) ADO RA R A DEUS
O principal e talvez 0 mais importante ministério dos anjos é 0 de adorar e oferecer louvor incessante a Deus.
Várias passagens das Escrituras confirmam esse asserto:

“Vi e ouvi um a voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de
milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é 0 Cordeiro que foi morto de
receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Apocalipse 5.11-12).

“E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem” (Hebreus 1.6).

“Bendizei ao SENHOR, todos os seus anjos, valorosos em poder, que executais as suas ordens e lhe
obedeceis à palavra. Bendizei ao SENHOR, todos os seus exércitos, vós, m inistros seus, que fazeis a sua
vontade” (Salm os 103.20-21).

B) M EDIADORES DA LEI
Foi por intermédio dos anjos que a Lei m osaica foi transmitida ao povo israelita: “ . ..vós que recebestes a lei
por ministério de anjos e não a guardastes” (Atos 7.53). “Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por
causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa, e foi prom ulgada por meio de
anjos, pela mão de um m ediador” (Gálatas 3.19). “Se, pois, se tom ou firme a palavra falada por meio de anjos, e
toda transgressão e desobediência recebeu justo castigo...” (Hebreus 2.2).

C) EXECUTAM OS JUÍZOS DE DEUS


Por várias vezes os anjos são apresentados nas Escrituras com missões específicas: executar os juízos de Deus.

“Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma, a cuja entrada estava Ló assentado; este, quando os viu,
levantou-se e, indo ao seu encontro, prostrou-se, rosto em terra. Então, disseram os homens a Ló: Tens aqui
alguém mais dos teus? Genro, e teus filhos, e tuas filhas, todos quantos tens na cidade, faze-os sair deste lugar;
pois vamos destruir este lugar, porque o seu clamor se tem aumentado, chegando até à presença do SENHOR; e
o SENHOR nos enviou a destruí-lo” (Gênesis 19.1, 12-13).

“Estendendo, pois, 0 Anjo do SENHOR a mão sobre Jerusalém, para a destruir, arrependeu-se o SENHOR
do mal e disse ao Anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta, retira a mão. O Anjo estava junto à eira de
Araúna, 0 jebuseu. Vendo Davi ao Anjo que feria o povo, falou ao SENHOR e disse: Eu é que pequei, eu é que
procedi perversamente; porém estas ovelhas que fizeram? Seja, pois, a tua mão contra mim e contra a casa de
meu pai” (2 Samuel 24.16-17).

CURSO DE TEOLOGIA
lOt
MÓDULO 2 I DOUTRINA DO S ANJOS

“Então, naquela mesm a noite, saiu o Anjo do SENHOR e feriu, no arraial dos assírios, cento e oitenta e cinco
mil; e, quando se levantaram os restantes pela manhã, eis que todos estes eram cadáveres” (2 Reis 19.35).

“No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes,
expirou” (Atos 12.23).

“Ouvi, vinda do santuário, uma grande voz, dizendo aos sete anjos: Ide e derramai pela terra as sete taças da
cólera de Deus. Saiu, pois, o primeiro anjo e derramou a sua taça pela terra, e, aos homens portadores da marca
da besta e adoradores da sua imagem, sobrevieram úlceras malignas e perniciosas” (Apocalipse 16.1-2).

D) REÚNEM OS ELEITOS
No retom o de Cristo à Terra para buscar seus fiéis, os anjos exercerão grande influência. “Então, aparecerá no
céu 0 sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as
nuvens do céu, com poder e m uita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais
reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mateus 24.30-31).

E) NO JUÍZO FINAL
Os anjos de Deus serão os ceifeiros que separarão os cristãos dos incrédulos no dia do juízo final. Eles
conhecem a diferença entre o joio e 0 trigo.

“Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio,
atai - 0 em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro... o inimigo que o semeou é o diabo;
a ceifa é a consumação do século, e os ceifeiros são os anjos” (Mateus 13.30, 39).

“Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na
fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 13.49-50).

“ ...e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntam ente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor
Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e
contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus” (1 Tessalonicenses 1.7-8).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 4
1) Os anjos foram criados com propósitos definidos por Deus. Quais são?
2) Cite três ministérios dos anjos.

CURSO DE TEOLOGIA
102
MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

ANJOS NO ANTIGO E NO
NOVO TESTAMENTO
O ministério dos anjos é proeminentemente desenvolvido. Eles estão presentes em quase todos os
acontecimentos tanto do Antigo como do Novo Testamento. Eles afloram em toda a Bíblia!

5.1 NO ANTIGO TESTAMENTO


O comentador Severino Pedro da Silva observa que “em bora os anjos estivessem presentes na criação,
nenhum a referência foi feita ao ministério deles até os dias de Abraão. Só depois eles aparecem (Gn 16.7 e ss.) e
a partir daí, estão presentes até o último capítulo da Bíblia (Ap 2 2 .16)”.13
Não obstante, no jardim do Éden, quando Deus expulsou Adão e Eva, foram colocados querubins para
“guardar o caminho da árvore da vida” (Gênesis 3.24)

• Apareceu no deserto de Sur à escrava egípcia Agar a fim de lhe socorrer e foi identificado como “Anjo
do Senhor” : “Tendo-a achado o Anjo do SENHOR junto a um a fonte de água no deserto, junto à fonte
no caminho de Sur, disse-lhe: Agar, serva de Sarai, donde vens e para onde vais? Ela respondeu: Fujo da
presença de Sarai, minha senhora. Então, lhe disse 0 Anjo do SENHOR: Volta para a tua senhora e humilha-
te sob suas mãos. Disse-lhe mais o Anjo do SENHOR: Multiplicarei sobremodo a tua descendência, de
maneira que, por numerosa, não será contada. Disse-lhe ainda 0 Anjo do SENHOR: Concebeste e darás à
luz um filho, a quem chamarás Ismael, porque 0 SENHOR te acudiu na tua aflição” (Gênesis 16.7-11).

• Anunciaram o nascimento de Isaque ao patriarca Abraão: “Apareceu 0 SENHOR a Abraão nos carvalhais
de Manre, quando ele estava assentado à entrada da tenda, no maior calor do dia. Levantou ele os olhos,
olhou, e eis três homens de pé em frente dele. Vendo-os, correu da porta da tenda ao seu encontro, prostrou-
se em te rra ...” (Gênesis 18.1 e ss).

• Predisseram a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra: “Disse mais 0 SENHOR: Com efeito, 0
clamor de Sodoma e Gomorra tem-se multiplicado, e o seu pecado se tem agravado muito. Descerei e
verei se, de fato, 0 que têm praticado corresponde a esse clamor que é vindo até mim; e, se assim não é,
sabê-lo-ei. Então, partiram dali aqueles homens e foram para Sodoma; porém Abraão permaneceu ainda
na presença do SENHOR” (Gênesis 18.20-22).

• Os anjos salvaram Ló do meio da destruição: “Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma, a cuja entrada
estava Ló assentado; este, quando os viu, levantou-se e, indo ao seu encontro, prostrou-se, rosto em terra... Então,
disseram os homens a Ló: Tens aqui alguém mais dos teus? Genro, e teus filhos, e tuas filhas, todos quantos
tens na cidade, faze-os sair deste lugar; pois vamos destruir este lugar, porque o seu clamor se tem aumentado,
chegando até à presença do SENHOR; e 0 SENHOR nos enviou a destruí-lo” (Gênesis 19.1,12-13).

• Impediram o sacrifício de Isaque: “Mas do céu lhe bradou o Anjo do SENHOR: Abraão! Abraão! Ele
respondeu: Eis-me aqui! Então, lhe disse: Não estendas a mão sobre 0 rapaz e nada lhe faças; pois agora
sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho” (Gênesis 22.11-12).

13 SILVA, Severino Pedro da. Op. cit., 85.

CURSO DE TEOLOGIA
103
MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

• G uardaram Jacó: “Tam bém Jacó seguiu 0 seu cam inho, e anjos de Deus lhe saíram a encontrá-lo”
(G ênesis 32.1).

• Foi adiante de Moisés: “Enviarei o Anjo adiante de ti; lançarei fora os cananeus, os amorreus, os heteus,
os ferezeus, os heveus e os jebuseus” (Êxodo 33.2).

• Guiou Israel no deserto: “Então, o Anjo de Deus, que ia adiante do exército de Israel, se retirou e passou para
trás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles” (Êxodo 14.19).

• Dirigiu o damasceno Eliezer para Arã: “O SENHOR, Deus do céu, que me tirou da casa de meu pai e de
minha terra natal, e que me falou, e jurou, dizendo: A tua descendência darei esta terra, ele enviará o seu
anjo, que te há de preceder, e tomarás de lá esposa para meu filho” (Gênesis 24.7).

• Repreendeu Balaão: “Então, o SENHOR abriu os olhos a Balaão, ele viu o Anjo do SENHOR, que estava
no caminho, com a sua espada desembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça e prostrou-se com o
rosto em terra” (Números 22.31).

• Repreendeu os israelitas: “ Subiu o Anjo do SENHOR de Gilgal a Boquim e disse: Do Egito vos fiz subir e
vos trouxe à terra que, sob juram ento, havia prometido a vossos pais. Eu disse: nunca invalidarei a minha
aliança convosco. Vós, porém, não fareis aliança com os moradores desta terra; antes, derribareis os seus
altares; contudo, não obedecestes à minha voz. Que é isso que fizestes?” (Juizes 2.12).

• Comissionou Gideão: “Apareceu o Anjo do SENHOR a esta m ulher e lhe disse: Eis que és estéril e nunca
tiveste filho; porém conceberás e darás à luz um filho” (Juizes 13.1 e ss.).

• Feriu 70 mil: “Vendo Davi ao Anjo que feria o povo, falou ao SENHOR e disse: Eu é que pequei, eu é que
procedi perversamente; porém estas ovelhas que fizeram? Seja, pois, a tua mão contra m im e contra a casa
de meu pai... desde a manhã até ao tempo que determinou; e, de Dã até Berseba, morreram setenta mil
homens do povo” (2 Samuel 24.15-16).

• Socorreu Elias: “Voltou segunda vez o anjo do SENHOR, tocou-o e lhe disse: Levanta-te e come, porque
0 caminho te será sobremodo longo” (1 Reis 19.7).

• Apareceram a Geazi: “Orou Eliseu e disse: SENHOR, peço-te que lhe abras os olhos para que veja. O
SENHOR abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor
de Eliseu” (2 Reis 6.17).

• Livrou Daniel da cova dos leões: “O meu Deus enviou 0 seu anjo e fechou a boca aos leões, para que não
me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dele; tam bém contra ti, ó rei, não cometi
delito algum” (Daniel 6.22).

• Ajudou Zacarias: “Então, perguntei: meu senhor, quem são estes? Respondeu-me o anjo que falava comigo:
Eu te mostrarei quem são eles” (Zacarias 1.9).

5.2 NO NOVO TESTAMENTO


No N ovo Testamento o m inistério dos anjos se tom a mais ativo, mais movimentado e mais esclarecido: “Não
são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?” (Hebreus

104 CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

1.14). Desde o nascimento, a vida, a morte, a ressurreição e a ascensão de Jesus, os anjos estavam presentes,
0 que faz jus à afirmação do apóstolo Paulo: “ ...contemplado pelos anj os1) ‫ ״‬Tim óteo 3.16). Jesus foi enfático
sobre o ministério dos anjos, de igual modo os apóstolos nos Atos, nas epístolas e no Apocalipse. Vejamos:

• Um anjo anunciou 0 nascim ento de João Batista: “Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas,
porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nom e de
João” (Lucas 1.13).

• Um anjo anunciou a Maria o nascimento de Jesus: “No sexto mês, foi 0 anjo Gabriel enviado, da parte
de Deus, para um a cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com certo hom em da
casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se M aria” (Lucas 1.26-27).

• Um anjo anunciou a José o mesmo acontecimento: “Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe
apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua
mulher, porque 0 que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mateus 1.20).

• Anunciaram aos pastores belemitas 0 nascimento de Jesus: “Havia, naquela m esm a região, pastores que
viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu
aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O
anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo
o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2.8-11).

• Foi vista um a grande multidão: “ ...apareceu com o anjo um a multidão da milícia celestial, louvando a
Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem ”
(Lucas 2.13-14).

• José foi advertido por um anjo para fugir: “ ...eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e
disse: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que eu te avise; porque
Herodes há de procurar o menino para o m atar” (Mateus 2.13).

• Novamente José foi orientado por um anjo para retomar: “Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do
Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para
a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino” (Mateus 2.19-20).

• Anjos ministraram a Jesus depois de sua tentação: “...e eis que vieram anjos e 0 serviram” (Mateus 4.11).

• Jesus disse a Natanael que ele veria anjos: “Em verdade, em verdade vos digo que vereis 0 céu aberto e
os anjos de Deus subindo e descendo sobre 0 Filho do Hom em ” (João 1.51).

• Jesus tinha, caso fosse necessário, legiões de anjos para protegê-lo: “Acaso, pensas que não posso rogar
a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?” (Mateus 26.53).

• Jesus foi fortalecido por um anjo no Getsêmani: “Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava”
(Lucas 22.43).

• Um anjo removeu a pedra do sepulcro: “E eis que houve um grande terremoto; porque um anjo do
Senhor desceu do céu, chegou-se, removeu a pedra e assentou-se sobre ela” (Mateus 28.2).

CURSO DE TEOLOGIA
105
MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

Anjos estavam presentes na hora da ascensão: “E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus
subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus,
por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como
o vistes subir” (Atos 1.10-11).

N a posição glorificada os anjos rendem-lhe submissão: “ .. . 0 qual, depois de ir para o céu, está à destra
de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes” (1 Pedro 3.22).

Anjos acompanharão a volta de Jesus: “Porque 0 Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com
os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mateus 16.27). “Quando vier 0
Filho do Hom em na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória”
(Mateus 25.31).

Nos evangelhos
Jesus disse que os anjos subiam e desciam sobre ele: “Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu
aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre 0 Filho do H om em ” (João 1.51).

Tinha milhares de anjos à sua disposição: “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me
mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?” (Mateus 26.53).

Voltarão com Jesus no dia do juízo: “Porque 0 Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com
os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mateus 16.27). “Quando vier o
Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória”
(Mateus 25.31).

Jesus disse que eles reuniriam seus escolhidos: “E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de
trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus”
(Mateus 24.31).

Jesus disse que eles separarão os ímpios dos justos: “Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que
ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade e os lançarão na fornalha
acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos resplandecerão como 0 sol, no reino de seu
Pai” (Mateus 13.41-43).

Jesus disse que os anjos se alegram quando um pecador se arrepende: “Eu vos afirmo que, de igual
modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15.10).

Jesus disse confessar nosso nome perante os anjos: “Digo-vos ainda: todo aquele que me confessar
diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos de Deus” (Lucas 12.8).

Jesus falou sobre a imortalidade dos anjos: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em
casamento; são, porém, como os anjos no céu” (Mateus 22.30).

Jesus falou sobre 0 diabo e seus serviçais: “Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41).

CURSO DE TEOLOGIA
106
MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

b) Nos Atos dos Apóstolos


No princípio da sua formação a Igreja Primitiva foi auxiliada e protegida por estes seres celestiais. O que
Jesus havia dito nos evangelhos, nos Atos dos Apóstolos tom a-se visível aos olhos dos fiéis.

Os anjos testemunharam a ascensão de Jesus: “E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus
subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus,
por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o
vistes subir” (Atos 1.10-11).

• Um anjo soltou Pedro e João da prisão: “ ...de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e,
conduzindo-os para fora...” (Atos 5.19).

U m anjo disse para Filipe ir para o deserto ao encontro do eunuco: “Um anjo do Senhor falou a Filipe,
dizendo: Dispõe-te e vai para o lado do Sul, no caminho que desce de Jem salém a Gaza; este se acha
deserto” (Atos 8.26).

Um anjo soltou Pedro da prisão: “Eis, porém, que sobreveio um anjo do Senhor, e um a luz iluminou
a prisão; e, tocando ele o lado de Pedro, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa! Então, as cadeias
caíram-lhe das m ãos” (Atos 12.7).

• U m anjo falou com o centurião Comélio: “M orava em Cesaréia um hom em de nome Comélio, centurião
da coorte chamada Italiana, piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao
povo e, de contínuo, orava a Deus. Esse hom em observou claramente durante um a visão, cerca da hora
nona do dia, um anjo de Deus que se aproximou dele e lhe disse...” (Atos 10.1-3).

• Um anjo feriu a Herodes: “...um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido
de vermes, expirou” (Atos 12.23).

• Um anjo falou com o apóstolo Paulo durante a tempestade: “ .. .um anjo de Deus, de quem eu sou e a quem
sirvo, esteve comigo” (Atos 27.23).

c) Nas epístolas
Os anjos não perderam seu foco nas epístolas; continuaram a exercer suas funções de servos.

• Paulo falou do julgamento dos anjos: “Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos?” (1 Coríntios 6.3).

• O apóstolo disse que era observado a ponto de se “tom ar espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a
hom ens” (1 Coríntios 4.9).

• Paulo confirmou 0 ensino de Jesus referente à sua vinda acompanhado de anjos: “ . . . e a vós outros, que sois
atribulados, alívio juntam ente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu
poder” (2 Tessalonicenses 1.7).

Paulo advertiu quanto a novos ensinos, diferentes daquele por ele ministrado: “Mas, ainda que nós ou mesmo um
anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gálatas 1.8).

• O autor aos hebreus fez grande menção dos anjos (Hebreus 1.4-7, 13; 2.2, 5, 7, 9, 16; 12.22; 13.2).

CURSO DE TEOLOGIA
107
MÓDULO f 1DOUTRINA DOS ANJOS

d) No Apocalipse
Nesse livro os anjos desempenham um papel de destaque tanto na escrita do livro quanto nas revelações ali
descritas.

• Um anjo ditou o livro a João: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos
as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu
servo João” (Apocalipse 1.1; 22.16).

• Cada um a das sete igrejas tinha um anjo: “Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na m inha mão
direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são
as sete igrejas” (Apocalipse 1.20; 2.1 etc).

• Um anjo exclamou a respeito do livro selado: “Vi, também, um anjo forte, que proclamava em grande voz:
Quem é digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos?” (Apocalipse 5.2).

• Milhares de anjos cantavam louvores ao cordeiro: “Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos
seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e m ilhares de milhares, proclamando
em grande voz: Digno é 0 Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e
honra, e glória, e louvor” (Apocalipse 5.11-12).

• Quatro anjos receberam poder para danificar a Terra: “Depois disto, vi quatro anjos em pé nos quatro
cantos da terra, conservando seguros os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a
terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore algum a” (Apocalipse 7.1).

• Um anjo selou os eleitos: “Vi outro anjo que subia do nascente do sol, tendo 0 selo do Deus vivo, e clamou
em grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e ao mar, dizendo: Não
danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na fronte os servos do nosso Deus. Então,
ouvi o número dos que foram selados, que era cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de
Israel” (Apocalipse 7.2-4).

• Os anjos se prostraram sobre o rosto diante de Deus: “Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciãos
e os quatro seres viventes, e ante 0 trono se prostraram sobre 0 seu rosto, e adoraram a Deus” (Apocalipse 7.11).

• Um anjo foi usado para acolher as orações dos santos: “Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com
um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos
sobre o altar de ouro que se acha diante do trono; e da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do
incenso, com as orações dos santos. E 0 anjo tomou 0 incensário, encheu - 0 do fogo do altar e o atirou à
terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto” (Apocalipse 8.3-5).

• Sete anjos tocavam as sete trombetas: “Então, os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se
para tocar” (Apocalipse 8.6).

U m anjo do abismo: “ ...e tinham sobre eles, como seu rei, o anjo do abismo, cujo nome em hebraico é
Abadom, e em grego, Apoliom ” (Apocalipse 9.11).

• Quatro anjos soltaram milhões de exércitos: “Foram, então, soltos os quatro anjos que se achavam

CURSO DE TEOLOGIA
108
MÓDULO 2 i DOUTRINA DO S ANJOS

preparados para a hora, o dia, 0 mês e 0 ano, para que matassem a terça parte dos homens. O número dos
exércitos da cavalaria era de vinte mil vezes dez milhares; eu ouvi o seu núm ero” (Apocalipse 9.15-16).

• Um anjo estava com 0 livro aberto, anunciando o fim: “Vi outro anjo forte descendo do céu, envolto em
nuvem, com 0 arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo; e
tinha na mão um livrinho aberto. Pôs o pé direito sobre 0 m ar e 0 esquerdo, sobre a terra... e jurou por aquele
que vive pelos séculos dos séculos, o mesmo que criou o céu, a terra, o m ar e tudo quanto neles existe: Já
não haverá demora...” (Apocalipse 10.1-2, 6).

• Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão e seus anjos: “Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos
pelejaram contra 0 dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos” (Apocalipse 12.7).

• U m anjo, voando, proclamou o evangelho às nações: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um
evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo”
(Apocalipse 14.6).

• Outro anjo voando proclamou a queda da Babilônia: “Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande
Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição” (Apocalipse 14.8).

• Um anjo proclamou a perdição dos seguidores da besta: “Seguiu-se a estes outro anjo, 0 terceiro, dizendo, em
grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também
esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com
fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro” (Apocalipse 14.9-10).

• Um anjo anunciou a colheita da Terra: “Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para aquele
que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a
seara da terra já amadureceu!” (Apocalipse 14.15).

• Um anjo anunciou a vindima da Terra: “Saiu ainda do altar outro anjo, aquele que tem autoridade sobre o
fogo, e falou em grande voz ao que tinha a foice afiada, dizendo: Toma a tua foice afiada e ajunta os cachos
da videira da terra, porquanto as suas uvas estão amadurecidas! Então, o anjo passou a sua foice na terra, e
vindimou a videira da terra, e lançou-a no grande lagar da cólera de Deus” (Apocalipse 14.18-19).

• Sete anjos derramaram as sete pragas finais: “Vi no céu outro sinal grande e admirável: sete anjos tendo os
sete últimos fiagelos, pois com estes se consumou a cólera de Deus” (Apocalipse 15.1).

• Um anjo anunciou o juízo contra a Babilônia: “Depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha
grande autoridade, e a terra se iluminou com a sua glória. Então, exclamou com potente voz, dizendo:
Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tom ou m orada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e
esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável” (Apocalipse 18.1-2).

• U m anjo ajudou a dar a Babilônia o golpe mortal: “Então, um anjo forte levantou uma pedra como grande
pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a
grande cidade, e nunca jam ais será achada” (Apocalipse 18.21).

• Um anjo presidiu sobre a destruição da besta: “Então, vi um anjo posto em pé no sol, e clamou com grande

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

voz, falando a todas as aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos para a grande ceia de Deus”
(Apocalipse 19.17).

• Um anjo amarrou a Satanás: “Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma
grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é 0 diabo, Satanás, e 0 prendeu por mil anos”
(Apocalipse 20.2).

• Um anjo mostrou a João a Nova Jerusalém: “Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos
sete fiagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro” (Apocalipse 21.9).

• Um anjo proibiu João de adorá-lo: “Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi,
prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo. Então, ele me disse: Vê, não
faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro.
Adora a Deus” (Apocalipse 22.8-9).

Apesar de vivermos em um mundo repleto de fantasias criadas pela brilhante mente de homens que não crêem
nas Escrituras, os anjos são reais, e mais, é explícita a afirmativa de que eles são enviados a favor daqueles que
hão de herdar a salvação (Hebreus 1.14).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 5
1) Cite duas aparições dos anjos no Antigo Testamento.
2) Cite duas aparições dos anjos no N ovo Testamento.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

ANJOS DESOBEDIENTES
Embora Satanás e seus subordinados jam ais devessem receber qualquer proeminência, é salutar compreender
0 lugar dado a eles nas Escrituras. Nenhum outro indivíduo, exceto a Trindade, recebeu tamanho enfoque na
Bíblia, desde seu início até 0 fim, como o personagem que conhecemos como Satanás, o diabo. Ainda que
algumas pessoas falem de “diabos”, como se houvesse muitos de sua espécie, tal expressão é incorreta. H á um
número grande de “demônios”, mas existe apenas um “diabo” . “Diabo” é a transliteração do vocábulo grego
“δ ιά β ο λ ο ς - diabolos", nome sempre usado no singular, que significa “acusador” e é aplicado exclusivamente
nas Escrituras a Satanás. “Demônio” é a transliteração de “δ α ιμ ο ν ιο ν - daimomon”.
Todos os anjos foram criados perfeitos por Deus, 0 criador de todas as coisas visíveis e invisíveis (Ezequiel
28.15). A maior parte deles manteve-se obediente, enquanto muitos outros acompanharam Satanás na sua
rebeldia. Esses “anjos, os que não guardaram 0 seu estado original, mas abandonaram 0 seu próprio domicílio,
ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para 0 juízo do grande Dia” (Judas v. 6).
Não temos informações tão minuciosas concernentes a sua origem, queda, caráter, obra e influência, mas 0
que possuímos é suficiente para se compreender a respeito dele e de seu exército de demônios. Não podemos
permanecer ignorantes em relação aos seus ardis.

6.1 UM SER REAL


Quem é Satanás? Quem é este inimigo das nossas almas? Será uma criatura vestida de vermelho, com um
garfo gigante na mão, cauda longa e dois chifres?
Talvez não saibamos de onde surgiu esta caricatura. A origem desta representação deturpada remonta à Idade
Média. N a época medieval, o povo ridicularizava a Satanás e descrevia - 0 nos termos mais desprezíveis e odiosos
que se podia imaginar.

6.2 SUA EXISTÊNCIA REGISTRADA


Satan (Njs), seu nome hebraico, só é mencionado diretamente em três livros no Antigo Testamento. Na
primeira vez, em 1 Crônicas 21.1, lemos: “Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar 0
censo de Israel” . Ele aparece a seguir no livro de Jó por várias vezes (1.6-9, 12; 2.1-4, 6-7). A últim a vez encontra-
se em Zacarias 3.1-2: “Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do SENHOR, e
Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor. Mas o SENHOR disse a Satanás: O SENHOR te repreende, ó
Satanás; sim, 0 SENHOR, que escolheu a Jerusalém, te repreende; não é este um tição tirado do fogo?” .
Já no N ovo Testamento ele é mencionado como Satanás ou diabo, cerca de setenta e duas vezes. Sua atuação
se tom a mais evidente no Novo Testamento provavelmente devido à encarnação do Filho de Deus para destruir
as suas obras, efetuando a redenção na cruz do calvário.

6.3 SUA PERSONALIDADE


Ao atribuir-lhe personalidade, queremos dizer de sua maneira habitual de ser, aquilo que o distingue de outro
ser, “forma de vida caracterizada por um a existência autoconsciente que possui 0 intelecto, emoções e vontade”.14
Ele não é uma “figura de linguagem” ou uma “personificação do mal”, é sim um ser pessoal, inteligente, com
vontade e determinação próprias. As Escrituras descrevem Satanás como um ser real com todas as marcas de

14 FRANCISCO, Waldomira. A doutrina dos anjos e d e m ô n io s - Estudo exegético acerca dos anjos e demônios à luz das Escrituras. 3. ed. Rio
de Janeiro: CPAD, 2005. p. 86.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

sua personalidade. Portanto, ele possui todas as características pessoais - ele é capaz de pensar, falar e elaborar
estratégias. Ele tem mente, emoções e vontade própria. A Bíblia registra vários pronomes pessoais relacionados
a ele. É, portanto, uma pessoa - um anjo decaído, para ser mais específico. Vejamos algumas atribuições que a
Palavra de Deus confere a ele:

a) Vontade: “Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e
no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens
e serei semelhante ao Altíssimo. Contudo, serás precipitado para 0 reino dos mortos, no mais profundo do
abismo” (Isaías 14.13-15).
b) Conhecimento: “Então, respondeu Satanás ao SENHOR: Porventura, Jó debalde teme a Deus? Acaso, não
0 cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens
se multiplicaram na terra” (Jó 1.9-10).

Ele é constantemente referido como um ser pessoal. Pronomes pessoais são aplicados a ele nas Escrituras: Jó
1.12; 2.2-3, 6; Zacarias 3.2; Mateus 4.10; João 8.44, como também atos pessoais são realizados por ele: Jó 1.9-
11; Mateus 4.1-11; João 8.44; 1 João 3.8; Judas 9; Apocalipse 12.7-10.

6.4 SUA ORIGEM


Deus é o criador de “ ...todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam
soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Colossenses 1.16). O
próprio Deus declarou que tudo quanto havia feito era muito bom (Gênesis 1.31). As Escrituras indicam que a
criatura conhecida como Satanás nem sempre teve este nome, o qual lhe foi dado por ele ter adotado um proceder
de oposição e resistência a Deus.
No livro do profeta Ezequiel encontramos uma descrição pormenorizada da beleza e sabedoria com que
Satanás foi criado. Assim descrevem as Escrituras a seu respeito: “Tu és 0 sinete da perfeição, cheio de sabedoria
e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: 0 sárdio, 0 topázio, 0
diamante, o berilo, o ônix, 0 jaspe, a safira, 0 carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e
os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te
estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos,
desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu
o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer,
ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. Elevou-se 0 teu coração por causa da tua formosura,
corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te
contemplem. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários;
eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu, e te reduzi a cinzas sobre a terra, aos olhos de todos os
que te contemplam” (Ezequiel 28.12-18).
Por meio desse texto fica manifesto que Lúcifer pertencia a um alto escalão angelical. Nesse mesmo livro
encontramos indícios de como um ser que atingiu um grau muito elevado na escala dos valores morais, intelectuais
e estéticos caiu tanto, a ponto de ser agora o mais vil do universo.
O capítulo 14 de Isaías conta-nos que a causa principal da queda desse terrível ser foi 0 “orgulho”, atingindo
seu clímax, seu momento fatal, com a “violência” (v. 16). O orgulho corroeu a pessoa de Lúcifer, que premeditou
um plano para usurpar 0 trono do Deus Altíssimo: “Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu
trono... subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (vv. 13-14).
Por cinco vezes esse formoso querubim ungido quis fazer prevalecer sua vontade em oposição à de Deus
afirmando: “Eu subirei ao céu” (v. 14); “exaltarei 0 meu trono” (v. 13); “no monte da congregação me assentarei”
(v. 13); “subirei acima das mais altas nuvens” (v. 14) e “serei semelhante ao Altíssimo” (v. 14).
Diante de Deus, tudo isso era ilusório, pois para o Criador tudo era passado: Lúcifer “fazia”, “punha”, “assolava”,

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

“deixava”, “destruíste”, “mataste”, “era”, “foste”, “estavas” (cf. Isaías 14.16-17; Ezequiel 28.13-15).
Um a das “estrelas” mais brilhantes do céu rebelou-se contra seu Criador e, ao fazer isso, atraiu um terço dos
anjos para juntar-se a ele (Apocalipse 12:3-4). Assim, de um começo justo e perfeito, essa pessoa espiritual desviou-
se para 0 pecado e a degradação. Como conseqüência dessa rebelião, Lúcifer foi expulso do reino celestial e do
cargo que mantinha, nunca mais ocupando a posição de honra e influência que recebera. A sentença do supremo
tribunal celestial foi: “ ...serás precipitado para 0 reino dos mortos, no mais profundo do abismo” (Isaías 14.15).

6.5 SEU CARÁTER


Nas Escrituras as qualidades e ações que lhe são atribuídas podiam ser referidas apenas a um a pessoa, não
a um princípio abstrato do mal. Devido à ignorância, por vários séculos, ele representou papéis que levaram os
seres humanos a pensar a seu respeito de muitas formas enganosas e não no seu verdadeiro caráter, tom ando
assim mais fácil desviá-los de Deus.
Lúcifer era um ser celestial perfeito, cheio de sabedoria e formosura. Agora é um enganador, um mestre em
enfeitar o pecado para que este pareça atraente. Ele 0 vende com a mais bela embalagem para nos convencer
a comprá-lo! Era isso que 0 diabo fazia no deserto. Tentava Cristo mediante ofertas atraentes que 0 levariam à
morte (Mateus 4:1-11).
Em sua Carta aos Efésios, 0 apóstolo Paulo refere-se às “ ...ciladas do diabo” (6.11), um term o grego que
significa astúcia, engenho e engano. A palavra μ ε θ ο δ εια — methodeia (ciladas) era usada em relação a um
animal selvagem que perseguia astuciosam ente a sua presa e pulava inesperadam ente sobre ela.
N a primeira aparição do diabo registrada nas Escrituras ele tentou e enganou Adão e Eva no jardim do Éden (Gênesis
3.1). Este sempre foi seu principal método de operação: tentar, enganar, ocultar, seduzir, camuflar e deturpar.
Segundo Steven J. Lawson, “nos dias atuais, Satanás engana o mundo, para que este aceite suas mentiras,
através das seguintes entidades e propósitos” :

• Movimento da libertação feminina, com seu desígnio unissexual, que nega a ordem de Deus para a família.

• Movimento gay, exaltando a homossexualidade, que é uma completa perversão da criação da sexualidade
feita por Deus.

• Proliferação das seitas que negam os claros ensinos da Bíblia Sagrada sobre Jesus Cristo e a salvação.

• Difusão do humanismo secular: teologia liberal, psicologia popular, misticismo, filosofia da N ova Era, os
quais negam a existência de Deus e a autoridade da B íblia.'5

Lúcifer, “o filho da alva”, foi criado para glória e honra de Deus, contudo, devido a sua infidelidade e soberba
em querer ser igual a Deus, perdeu 0 seu estado de pureza e perfeição original transformando-se assim em
Satanás, 0 diabo.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 6
1) Onde surgiu a caricatura de Satanás?
2) Quais são os três livros do Antigo Testamento em que Satã é mencionado diretamente?
3) O que queremos dizer ao atribuir personalidade a Satanás?
4) O que Lúcifer recebeu como conseqüência de sua rebelião?

15 LAWSON, Steven J. Fé sob fogo. Rio de Janeiro: CPAD, 1997. p. 34.

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DO S ANJOS

SEUS NOMES E TÍTULOS


Os hebreus consideravam os nomes como uma revelação, encerrando algum atributo ou característica da
pessoa nomeada. Por exemplo, 0 nome Adão significa “da terra”, ou “tirado da terra vermelha”; assim, o seu
nome revela sua origem. Seguindo essa m esm a linha de raciocínio, investigaremos os vários nomes e títulos de
Satanás encontrados nas Escrituras.
A seguir, são listados alguns nomes por meio dos quais podemos descobrir suas características e atributos
pessoais.

a) Satanás
No hebraico “]‫ ש ט‬- satan ” significa “adversário, alguém que se opõe” . Esse nome tom a bem visível seu
desígnio como adversário. O nome “Satanás” é usado cinqüenta e seis vezes no Antigo e no Novo Testamento.
Ele descreve suas tentativas maliciosas e persistentes de prejudicar 0 plano de Deus.
Sob a condenação divina, Satanás e seus anjos “não prevaleceram; nem mais seu lugar se achou nos céus”
(Apocalipse 12.8). Agora e até 0 final dos tempos, Satanás é o inimigo declarado de Deus, de Cristo, dos anjos
obedientes e do povo eleito.

b) Diabo
O nome diabo significa especificamente “dado à calúnia, difamador, que acusa com falsidade” .16 No livro do
Apocalipse o apóstolo João usa quatro nomes para Satanás: “Ele segurou 0 dragão, a antiga serpente, que é o
diabo, Satanás...” (Apocalipse 20.2).
A palavra “diabo”, referindo-se ao próprio Satanás, aparece trinta e cinco vezes no Novo Testamento.

c) Serpente
Entre os antigos a serpente era um emblema de astúcia e sabedoria. A primeira m anifestação do diabo na
Terra foi registrada no livro de Gênesis na tentação do primeiro casal, quando Satanás tomou posse da serpente,
falando, argumentando e raciocinando (3.1-15). Apocalipse 12.9 e 20.2 menciona “a antiga serpente, que se
chama diabo”.

d) Dragão
Houve no registro bíblico duas grandes guerras envolvendo Satanás. A primeira está registrada no livro de
Apocalipse, entre M iguel e seus anjos contra 0 dragão. A outra aconteceu no deserto da Judéia entre Jesus e o
mesmo inimigo (Lucas 4.1-13).
A primeira foi um combate de dimensões fora do comum, um a batalha sem derramamento de sangue, uma
guerra espiritual nos campos de batalha imperceptíveis ao homem. “Houve peleja no céu. M iguel e os seus anjos
pelejaram contra 0 dragão. Também pelejaram 0 dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se
achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o
sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos” (Apocalipse 12.7-9).
E a segunda ocorreu no deserto, quando da tentação de Jesus (Mt 4.1-11).

‫ ‘י‬B íblia On-line..., clt.

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e) Belzebu
Este nome, de origem aramaica, procede do hebraico ‫ ב ע ל ז ב ו ב ״‬- Baal-Zebube ” (senhor do inseto ou
senhor das moscas). Posteriormente foi designado pelos judeus para “senhor do m onturo” referindo-se a Satanás,
príncipe dos espíritos malignos. Certa feita, após Jesus libertar um cego e mudo os fariseus acusaram-no de
expelir “demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios” (Mateus 12.24). A palavra maioral no
grego é “ α ρ χ ώ ν - archon ”, que significa “governador, comandante, chefe, líder” . Assim, por meio deste texto
sabemos que Satanás governa os espíritos malignos na qualidade de príncipe.

f) Belial
Este nome, “‫ ב ל י ע ל‬- baliya ‘al” em hebraico, foi usado no Antigo Testamento para designar homens ímpios,
perversos, companheiro vil (Deuteronômio 13.13; Juizes 19.22; 20.13; 1 Samuel 2.12; 10.27; Provérbios 6.12;
19.28). No grego “ β ε λ κ χ λ - Belial ou β ε λ ί Ο φ - Beliar ” significa alguém “inútil ou malvado” . É também
um dos nomes do diabo (2 Coríntios 6.15).

g) Tentador
N a primeira aparição do diabo registrada nas Escrituras ele tentou e enganou Adão e Eva no jardim do Éden
(Gênesis 3.1). Este sempre foi o seu principal método de operação: tentar, enganar, ocultar, seduzir, camuflar e
deturpar. Satanás tenta os servos de Deus com o propósito de destruí-los, como bem disse Steven Lawson: “Ο
diabo brinca com nossa mente e luta para que pensemos erradamente sobre as decisões que tomamos. Por meio
de suas mentiras camufladas de verdade, ele nos tenta, a fim de que admitamos que preto seja branco e vice-
versa. Apresenta 0 bem como mal e mal como bem ”.17
A tentação é uma das maiores armas do arsenal de Satanás; por isso ele é chamado de Tentador. No grego
a palavra tentação é “πειρασμόν - peirasmos”, que pode significar “testar ou provar algo” . O termo significa
“um a prova de retidão” ou “um a indução para 0 mal”, dependendo do contexto. Quando procedente do Diabo, é
sempre para a prática do mal. 1

h) Príncipe deste mundo


Esse título atribuído a Satanás demonstra sua influência sobre as autoridades deste mundo (gr. κ ο σ μ ο ς
- kosmos). Esta palavra “m undo” possui algumas idéias em sua forma verbal, por exemplo: colocar as coisas em
ordem, sistematizar e adornar ou decorar. A partir dessa última forma originou-se o vocábulo “cosmético”, que é
o conceito de adornar a aparência exterior.
Assim, no Novo Testamento, 0 termo “m undo” é empregado no sentido de planeta Terra (cf. João 1.10; Atos
17.24). Também é utilizado para significar os habitantes da Terra, referindo-se ora às pessoas em geral, como em
João 3.16, ora a todos os incrédulos, alheios para com Deus, como em João 14.17 e 15.18. Mas é a concepção
de sistema mundial, belamente organizado e disposto a funcionar sem a direção de Deus, que vem ao encontro
do que pretendemos demonstrar. O sistema mundial está adornado com belos conceitos de cultura, música, arte,
filosofia, religião etc. Não são más em si mesmas, entretanto Satanás distorce seus sentidos, afastando o homem
de um verdadeiro relacionamento com Deus, sendo digno do título a ele atribuído: príncipe deste mundo.
No grego a palavra usada para príncipe é “α ρ χ ώ ν - archon ”, que pode ser traduzida por “governador,
comandante, chefe, líder”, de onde podemos concluir que ele exerce grande poder (concedido por Deus) e
influência sobre esse sistema. Ele mesmo disse que recebeu este direito de se fazer obedecer: “Disse-lhe 0 diabo:
Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser”
(Lucas 4.6).
Por três vezes Jesus atribuiu esse nome a ele: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu
príncipe será expulso” (João 12.31); “Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele

17 LAWSON, Steven. Op. cit., p. 24.

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nada tem em m im ” (João 14.30) e “ ...do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado” (João 16.11).
Ele recebeu o título de príncipe, entretanto sobre ele está a autoridade e 0 domínio do Rei dos reis e Senhor dos
senhores (Apocalipse 19.16).

i) Príncipe da potestade do ar
Como foi dito, ele exerce influência e autoridade não só na Terra, mas também no mundo espiritual. Ele é
perito na astúcia, e com sua eloqüência trouxe após si um terço dos anjos dos céus (Apocalipse 12.4), que lhe
obedecem e se sujeitam às suas ordens e forma de governo.

j) Enganador
Satanás é um perito no plantio de dúvidas; é sua técnica especial. N a sua primeira aparição registrada na
Bíblia, ele enganou Eva no jardim do Éden (Gênesis 3.1; 1 Timóteo 2:14). Suas táticas não m udaram com o
passar do tempo. O diabo promete 0 Céu, mas entrega 0 inferno; oferece a vida, mas envia a morte; fala de
salvação, mas introduz a destruição. O mais mortal de todos os inimigos vem camuflado de arauto de paz,
provedor de prosperidade e restaurador de esperança.

A lém de todos esses nom es, ainda encontram os os seguintes: acusador (A pocalipse 12.10), anjo de
luz (2 Coríntios 11.13-15), hom icida (João 8.44), pai da m entira (João 8.44), leão que ruge (1 Pedro 5.8),
destruidor (A pocalipse 9.11), entretanto os que até o m om ento foram apresentados j á bastam para dem onstrar
com quem estam os lidando.

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 7
1) Qual era o nome de Satanás antes da queda?
2) O que significa o nome diabo?
3) No N ovo Testamento 0 termo “m undo” é empregado em vários sentidos. Quais são eles?

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MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

DEMONIOS
No Novo Testamento o vocábulo grego δ α ιμ ο ν ιο ν - daimonion é limitado e específico em comparação com
as noções que os antigos filósofos tinham dela, bem como a utilização desta palavra no grego clássico. Ao ser
traduzida para 0 latim, daimon se tomou daemon, que deu origem ao português demônio. Para a cultura grega,
o mundo estava cheio de demônios (daimonion - espírito dos mortos), seres intermediários entre os deuses e os
homens que poderiam ser aplacados ou controlados por magia, feitiços e encantamentos. Eles viviam no ar (gr. αηρ
- aer), parte mais baixa e impura entre a Terra e a Lua.18 A obra dos demônios poderia ser vista nas calamidades e
desgraças que sobrevêm à vida do homem, por meio do qual levavam os homens à doença e à loucura.
Na Bíblia daimon é empregado somente para poderes malignos. Não há crença nos espíritos dos mortos, ou
nos fantasmas, muito menos de sacrifícios a estes, visto que as Escrituras são categóricas em afirmar: “Sacrifícios
ofereceram aos demônios, não a Deus; a deuses que não conheceram, novos deuses que vieram há pouco, dos
quais não se estremeceram seus pais” (Deuteronômio 32.17). Paulo adverte aos cristãos para que não tenham as
m esmas atitudes dos pagãos, pois “as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e
eu não quero que vos tomeis associados aos dem ônios” (1 Coríntios 10.20, grifo nosso), sendo que o paganismo
em geral tem o demônio por detrás dele (Apocalipse 9.20).
Os demônios estão subordinados a Satanás e estão sujeitos a ele. Eles possuem poder tanto para realizar o mal
como para causar doenças. A Bíblia relata 0 caso de “uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia
já dezoito anos, andava ela encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se”. Jesus, ao vê-la assim, a libertou
dessa possessão demoníaca. Os evangelhos são ricos em exemplos de pessoas endemoninhadas, cuja personalidade
foi inteiramente dominada por espíritos malignos que delas tomaram posse e que falavam através de suas vítimas
(Marcos 5.5). Os textos bíblicos deixam explícito 0 conhecimento sobrenatural que os demônios tinham. Sabiam
quem era Jesus (Marcos 5.7), como também o destino que lhes estava preparado (Mateus 8.29; Tiago 2.19).

8.1 A REALIDADE DOS DEM ÔNIOS


Tanto o Antigo quanto 0 Novo Testamento advertem acerca da existência dos demônios. No Antigo Testamento
há referência aos demônios sob 0 nome “‫ ש ע י ר‬- sa‘iyr” ou “‫ ש ע ר‬- sa'ir” (Levítico 17.7; 2 Crônicas 11.15) ou
‫ ש ד ״‬- shed ou (plural) □ ‫( ” ש ד י‬Deuteronômio 32.17; Salmos 106.37). Estes termos hebraicos aparecem ligados
à idolatria e a sacrifícios humanos, sempre condenados por Deus.
Estamos vivendo num a época marcada pelo reavivamento mundial do ocultismo, em que as pessoas prezam
mais a experiência do que a verdade. Muitas pessoas dizem crer em Jesus, entretanto não sabem 0 que Ele disse
sobre 0 mundo espiritual.
Jesus reconheceu a existência dos demônios assim como eles também sabiam com quem estavam lidando. Ele
foi acusado pelos fariseus de expulsar os demônios pelo poder de Belzebu, aos quais contra-atacou dizendo: “ Se
eu expulso demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos
juizes. Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós”
(Mateus 12.27-28). “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em m eu nome, expelirão demônios;
falarão novas línguas...” (Marcos 16.17).
O apóstolo Paulo recebeu por revelação de Deus 0 discernimento quanto às oferendas aos ídolos e escreveu
“que as coisas que eles sacrificam, é aos demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos

‫ ״‬COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Op. (it., p. 513.

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tom eis associados aos demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e 0 cálice dos demônios; não podeis s
participantes da m esa do Senhor e da m esa dos demônios” (1 Coríntios 10.20-21).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 8
1) N a Bíblia, daimon é empregado somente para quê?
2) O termo shed no Antigo Testamento está ligado a quê?
3) O que Paulo escreveu sobre as coisas sacrificadas?

im 118 CURSO DE TEOLOGI


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

NATUREZA DOS DEMONIOS


As Escrituras deixam evidente que os demônios possuem características e ações pessoais próprias, o que
demonstra que possuem personalidade e também inteligência. A Bíblia é taxativa ao expor a realidade do mundo
espiritual e de seus habitantes, bem como em fazer conhecer as características inerentes dessas criaturas.
No que diz respeito a sua natureza são perversos, imundos e desmoralizados. São exemplos dessas características:
“Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados, saindo
dentre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que gritaram:
Que temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do tem po?” (Mateus 8.28-29). “Tendo
chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e para curar
toda sorte de doenças e enfermidades” (Mateus 10.1).
Os espíritos malignos têm influência sobre os homens e procuram ocupar seus corpos, sujeitando-os a seus
desígnios perversos (cf. Mateus 12.43-44; Marcos 5.8).

a) Sua força
São muito mais fortes do que o homem, violentos, porém de pouco vigor em face de Jesus. “Ao desembarcar,
logo veio dos sepulcros, ao seu encontro, um homem possesso de espírito imundo, o qual vivia nos sepulcros, e
nem mesmo com cadeias alguém podia prendê-lo; porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias,
as cadeias foram quebradas por ele, e os grilhões, despedaçados. E ninguém podia subjugá-lo” (Marcos 5.2-4).

b) Sua sabedoria
São possuidores de um a sabedoria sobrenatural, porém não são oniscientes. Os textos bíblicos comprovam
seu conhecimento sobre Cristo bem como sua condenação eterna:

“Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados,
saindo dentre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que gritaram:
Que temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mateus 8.28-29).

“Depois, entraram em Cafamaum, e, logo no sábado, foi ele ensinar na sinagoga. M aravilhavam-se da sua
doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. Não tardou que aparecesse na
sinagoga um homem possesso de espírito imundo, o qual bradou: Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste
para perder-nos? Bem sei quem és: 0 Santo de Deus!” (Marcos 1.21-24).

“Mas 0 espírito maligno lhes respondeu: Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?” (Atos 19.15).

“Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e trem em ” (Tiago 2.19).

c) Imorais
Devido a sua desobediência, os demônios são seres de baixa ordem moral, degenerados em sua condição e vil
em suas ações, obedientes a Satanás.

“E eis que, dentre a multidão, surgiu um homem, dizendo em alta voz: Mestre, suplico-te que vejas meu

CURSO DE TEOLOGIA 119


MÓDULO 2 IDOUTRINA DO S ANJOS

filho, porque é o único; um espírito se apodera dele, e, de repente, 0 menino grita, e o espírito 0 atira por terra,
convulsiona-o até espumar; e dificilmente o deixa, depois de o ter quebrantado” (Lucas 9.39-40).

“Tendo ele chegado à outra m argem , à terra dos gadarenos, vieram -lhe ao encontro dois endem oninhados,
saindo dentre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém p o dia passar p o r aquele cam inho. E eis
que gritaram : Q ue tem os nós contigo, ó Filho de Deus! V ieste aqui atorm entar-nos antes do tem p o ?”
(M ateus 8.28-29).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 9
1) N o que diz respeito à natureza dos demônios, 0 que podemos afirmar?
2) O que se pode dizer sobre a sabedoria dos demônios?

Eü 120 CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

PROPÓSITO DOS DEMÔNIOS


Desde sua condenação, 0 diabo e os seus súditos buscam impedir os propósitos de Deus bem como ampliar 0
seu domínio. A intensidade do seu desejo de reinar não diminui, nem sua busca para alcançar esse fim. A tentação
de Jesus no deserto evidencia seu comportamento arrogante, já que nem mesmo Cristo foi poupado de seus ataques
e desígnios. Sob seu controle, miríades de demônios estão interessadas em promover este plano. Várias são as
artimanhas usadas por este exército maligno para obstruir os planos de Deus. Dentre elas podemos destacar:

a) Oposição aos santos


Eles constantemente se opõem aos santos em seus esforços para viver piedosamente em conformidade com 0
padrão estabelecido nas Escrituras. É por essa razão que o apóstolo Paulo disse: “Revesti-vos de toda a armadura
de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a
carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6.11-12).
Em uma de suas viagens missionárias 0 apóstolo diz que “quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não
somente um a vez, mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho” (1 Tessalonicenses 2.18).

b) Afastar da fé
Por meio de suas astúcias, investem na imitação (são peritos nesta área), fazendo com que muitas pessoas
entendam o certo como errado e 0 errado como certo. Seu alvo principal é induzir os homens ao pecado. Quanto
aos fiéis, “o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a
espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a
própria consciência” (1 Timóteo 4.1-2).

c) Propagam a idolatria
As Escrituras são claras com relação a esta prática:

“Nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos demônios, com os quais eles se prostituem; isso lhes será por
estatuto perpétuo nas suas gerações” (Levítico 17.7).

“Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus; a deuses que não conheceram, novos deuses que vieram
há pouco, dos quais não se estremeceram seus pais” (Deuteronômio 32.7).

“ ...pois imolaram seus filhos e suas filhas aos demônios” (Salmos 106.37).

“Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero
que vos tom eis associados aos demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não
podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios” (1 Coríntios 10.20-21).

“Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses flagelos, não se arrependeram das obras das suas
mãos, deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de pau, que nem podem
ver, nem ouvir, nem andar” (Apocalipse 9.20).

CURSO DE TEOLOGIA
121
MÓDULO 2 I DOUTRINA DOS ANJOS

CAUSAM VÁRIOS M ALES FÍSICOS


N em todas as enfermidades são causadas diretamente por demônios, entretanto podem causar algumas
enfermidades, podendo levar até a morte. A Bíblia fala de:
Cegueira: “Então, lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou, passando o mudo a falar
e a ver” (Mateus 12.22).
Mudez: “Ao retirarem-se eles, foi-lhe trazido um mudo endemoninhado. E, expelido o demônio, falou 0
mudo; e as multidões se admiravam, dizendo: Jamais se viu tal coisa em Israel!” (Mateus 9.32-33).
Loucura: “Então, rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galiléia. Logo ao desembarcar, veio da
cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa
alguma, porém vivia nos sepulcros. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo em alta
voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes. Porque Jesus ordenara
ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas vezes se apoderara dele. E, embora procurassem conservá-lo
preso com cadeias e grilhões, tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto. Perguntou-lhe Jesus:
Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios. Rogavam-lhe que não
os mandasse sair para 0 abismo. Ora, andava ali, pastando no monte, uma grande manada de porcos; rogaram-lhe
que lhes permitisse entrar naqueles porcos. E Jesus 0 permitiu. Tendo os demônios saído do homem, entraram nos
porcos, e a manada precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do lago, e se afogou. Os porqueiros, vendo
o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e pelos campos. Então, saiu 0 povo para ver o que se
passara, e foram ter com Jesus. De fato, acharam 0 homem de quem saíram os demônios, vestido, em perfeito juízo,
assentado aos pés de Jesus; e ficaram dominados de terror” (Lucas 8.26-35).
Suicídio: “E trouxeram-lho; quando ele viu a Jesus, 0 espírito imediatamente 0 agitou com violência, e, caindo
ele por terra, revolvia-se espumando. Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde
a infância, respondeu; e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se tu podes alguma
coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos” (Marcos 9.20-22).
Ferimentos: “ ...um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de um espírito mudo;
e este, onde quer que o apanha, lança - 0 por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando” (Marcos 9.1-18).
Deformidades: “E veio ali uma m ulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos;
andava ela encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se” (Lucas 13.11).

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 10
1) Várias são as artimanhas usadas pelo exército maligno para obstruir os planos de Deus. Cite três delas.

CURSO DE TEOLOGIA
!22
MÓDULO 1 1DOUTRINA DOS ANJOS

BIBLIOGRAFIA
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BERGSTEN, Eurico. Introdução à teologia sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
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CÍCERO, Marco Túlio. Dos deveres. São Paulo: M artin Claret, 2002.
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SILVA, Severino Pedro da. Os anjos: sua natureza e ofício. Rio de Janeiro: CPAD, 1987.

CURSO DE TEOLOGIA
123
faculdade teológica betesda
Moldando vocacionados

AVALIAÇÃO ‫ ־‬MODULO II
ANGELOLOGIA
1) Existe diferença entre os termos aggelos (grego) e malak (hebraico)? o que ambos significam?

2) O termo anjo pode ser usado para uma pessoa? Explique.

3) O que se pode dizer sobre hierarquia angelical?

4) Quem é o Anjo do Senhor?

5) Faça um breve comentário sobre o ministério dos anjos.

6) Cite pelo menos três exemplos da manifestação dos anjos no Antigo Testamento, nos evangelhos, nos Atos
dos Apóstolos, nas epístolas e no Apocalipse.

7) Quanto à origem de Satanás, 0 que as Escrituras dizem?

8) Cite cinco nomes pelos quais as Escrituras se referem ao diabo.

9) Como os gregos concebiam os demônios?

10) Quais os propósitos do diabo e seus demônios?

CARO(a) ALUNO(a):
• Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-las em
folha de papel sulfite, sendo objetivo(a) e daro(a).
CAIXA POSTAL 12025 · CEP 02013-970 · SÃO PAULO/SP
• De preferência, envie-nos as 5 avaliações juntas.
PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
SUMARIO
IN T R O D U Ç Ã O ................................................................................................................................................................. 131

EVANGELHO SEGUNDO M A T E U S ...................................................................................................................132


EVANGELHO SEGUNDO MARCOS ...................................................................................................................133
EVANGELHO SEGUNDO L U C A S ......................................................................................................................134
EVANGELHO SEGUNDO J O Ã O ......................................................................................................................... 136
ATOS DOS A P Ó S T O L O S ........................................................................................................................................ 138
EPÍSTOLA AOS R O M A N O S ..................................................................................................................................139
PRIM EIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS C O R ÍN T IO S .................................................... 140
SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS C O R ÍN T IO S .................................................... 142
EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS GÁLATAS ............................................................................143
EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS EFÉSIOS ..............................................................................144
EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS F IL IP E N S E S ......................................................................... 146
EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS COLOSSENSES ................................................................ 148
PRIM EIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS TESSALONICENSES ................................149
SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO AOS T E S S A L O N IC E N S E S ................................ 151
PRIM EIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A T IM Ó T E O ........................................................... 152
SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A T IM Ó T E O ........................................................... 153
EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A TITO ............................................................................................ 154
EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A F IL E M O M .................................................................................. 155
EPÍSTOLA AOS HEBREUS ................................................................................................................................. 156
EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. TIAGO ................................................................................157
PRIM EIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. P E D R O .......................................................... 159
SEGUNDA EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. P E D R O ..........................................................160
PRIM EIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. JOÃO ..............................................................161
SEGUNDA EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. J O Ã O ..............................................................162
TERCEIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. J O Ã O ..............................................................163
EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. JUDAS ...............................................................................164
APOCALIPSE DO APÓSTOLO S. JOÃO ........................................................................................................ 165

B IB L IO G R A F IA .............................................................................................................................................................167
MÓDULO ! I PAN O RAM A D O NOVO TESTAMENTO

INTRODUÇÃO ‫נ‬

O Evangelho, em seu sentido original, não foi uma produção literária. Era um relato oral da mensagem de
salvação trazida por Jesus Cristo, 0 portador escatológico de Deus. Sua mensagem continha as boas novas que
a Igreja Primitiva compreendeu como a palavra de salvação prometida pelos profetas. A proclamação dessa
salvação foi escrita posteriormente em livros, que ficaram conhecidos por evangelhos.
Os escritores dos evangelhos tiveram liberdade de expressão ao usarem estilo próprio em suas narrativas.
Assim , o evangelho de M arcos inicia-se com as seguintes palavras: “Princípio do evangelho de Jesus
Cristo, Filho de D eus” (M arcos 1.1, grifo nosso), que significa boas novas que Deus fez em Jesus e por
m eio dEle seriam agora proclam adas a todas as nações (cf. M arcos 13.10). M ateus escreveu que “percorria
Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as
enferm idades e m oléstias entre 0 povo” (M ateus 4.23; 9.35; 24.14, grifo nosso). Lucas dizia que “desde
esse tem po, vem sendo anunciado 0 evangelho do reino de Deus, e todo hom em se esforça por entrar nele”
(Lucas 16.16, grifo nosso). Por fim, 0 apóstolo João pregou “a m ensagem que, da parte dele, tem os ouvido
e vos anunciam os” (1 João 1.5). A conclusão a que se chega é que a m ensagem básica de todos eles foi a
m esma: as boas novas da salvação através de Cristo.
Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas ainda têm em comum um grande número de relatos, a tal ponto
que se pode colocar o conjunto de seu conteúdo em três colunas paralelas e lê-los conjuntamente. O número de
versículos que eles partilham é surpreendente. Uma grande quantidade de passagens idênticas se encontra nesses
três evangelhos; essas passagens são chamadas pelos estudiosos de tripla tradição. Existem ainda outras passagens
que somente são partilhadas por Marcos e Mateus, enquanto outras só por Marcos e Lucas. Aliás, numerosos
textos, ausentes em Marcos, só se encontram em Mateus e Lucas; estes são chamados pelos pesquisadores de
dupla tradição. Por fim, cada evangelho contém textos que lhe pertencem como próprios. Um fato notável a ser
observado é que somente 53 versículos em Marcos não foram utilizados nem por Mateus nem por Lucas. Marcos
está quase inteiramente contido nos dois outros. Sendo assim, existe um parentesco muito grande entre Mateus,
Marcos e Lucas, por isso receberam a denominação de Evangelhos Sinópticos.

CURSO DE TEOLOGIA
131
MÓDULO 2 ! PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

EVANGELHO SEGUNDO MATEUS


Mateus pode ser considerado o evangelho da transição, ou seja. é uma ponte que liga 0 Antigo ao Novo
Testamento. Há mais de cem citações diretas do Antigo Testamento. Seu propósito é demonstrar que Jesus é o
M essias prometido, o verdadeiro Rei de Israel, e que 0 cristianismo é 0 fiel cumprimento da Antiga Aliança.
Tema: O tema central desse evangelho é o Reino dos céus. Mateus descreve de forma minuciosa a
descendência humana do Rei (1.1-17) como também a descendência divina (1.18-25). Ele apresenta Jesus como
verdadeiramente 0 Rei real, que governa em retidão, justiça e, ao mesmo tempo, é Servo Sofredor ou Varão de
Dores, conforme predito pelo profeta Isaías. Contudo, tragicamente não 0 reconheceram quando veio, porque
seu Reino não era exatamente como imaginavam. Assim, Mateus demonstra por meio das profecias messiânicas
que Jesus era aquele de quem Moisés e os profetas haviam profetizado. Mateus é o elo que liga o Antigo ao Novo
Testamento: “Este livro parece efetuar uma transição, da expectação judaica de um messias político, para um
cumprimento de todas as profecias messiânicas em Jesus de Nazaré1.‫״‬
Seu destinatário estava familiarizado com as Escrituras, pois nesse evangelho as palavras e obras de Jesus são
geralmente acompanhadas com 0 chavão “para que se cumprisse 0 que foi dito da parte do Senhor pelo profeta” .
O termo “R eino” ou “Reino dos céus” ocorre com freqüência (43 vezes), revelando outro tema importante
desse evangelho. Expõe o Reino dos céus prometido no Antigo Testamento (11.13), proclamado por João Batista
e Jesus (3.2; 4.17), representado atualmente pela Igreja (16.18-19) e triunfante na segunda vinda de Jesus (25.31,
34). Dos quatro evangelhos, é 0 único a falar sobre a “Igreja” (16.18 e 18.17).
Autor: Um a vez que não há nenhuma referência direta de sua autoria, recorreremos à tradição para identificar
o autor. Os primeiros pais da Igreja Primitiva, desde o século segundo, atribuíram de forma unânime a Mateus
a autoria desse livro. Tanto Papias como Irineu, no segundo século, Orígenes, no terceiro, e Eusébio, no quarto,
foram concordes em atribuir a autoria desse livro a Mateus. São poucas as informações acerca dele no Novo
Testamento. Sabe-se que também era conhecido como Levi, um dos doze apóstolos de Jesus, coletor de impostos
do governo romano, que foi chamado pelo Senhor para ser seu discípulo e apóstolo (9.9-13; 10.3).
Para quem foi escrito: O evangelho de Mateus é claramente 0 mais judaico dos quatro, entretanto foi escrito
para toda a humanidade, mas em especial para os judeus. A intenção de dirigir-se primeiramente ao judeu se faz
notória na forma como foi desenvolvida sua redação. Segundo Pearlman, “a ausência geral de explicação dos
costumes judaicos, demonstra que o evangelista escreveu a um povo familiarizado com esses costumes” .2
Estrutura: Desde longa data tem-se reconhecido que o evangelho de Mateus estava dividido em cinco
seções.3 Por meio do uso de um chavão (chamado colofao), 0 autor apresentava seu material numa disposição
lógica e sistemática. Esses colofões são encontrados em cinco partes distintas de sua obra, a saber: 7.28; 11.1;
13.53; 19.1; 26.1: “E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso...”. Examine minuciosamente que 0 material
que antecede estas palavras é compreendido de narrativa seguida de discurso. Portanto, essa disposição ordenada
revela alguma estrutura proposital à sua obra.
Devido às discordâncias quanto à estrutura, não se nutre aqui 0 desejo de originalidade, mas apenas um
esboço didático para aqueles que, em poucas palavras, querem respostas rápidas, mas pesquisadas em fontes
seguras. Os cinco blocos estariam na seguinte disposição:

' HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2002. p. 85.
2PEARLMAN, Myer. Através da B íblia livro p o r livro. 18. ed. São Paulo: Vida, 1996. p. 194.
3Cf. HALE, Broadus David. Op. cit., p. 92.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I PAN O RAM A D O NOVO TESTAMENTO

Esboço de Mateus
I. O início do Evangelho (1.1 - 4.11)
a) Os antepassados de Jesus (1.1-17)
b) O nascimento e a infância de Jesus (1.18 - 2.23)
c) O trabalho de João Batista (3.1-12)
d) O batismo e a tentação de Jesus (3 .1 3 -4 .1 1 )

II. Jesus na Galiléia (4.12-18.35)


a) O início do trabalho (4.12 - 25)
b) O Sermão do Monte (5.1 - 7.29)
c) Curas e ensinamentos (8.1 - 9.38)
d) Instruções para os doze apóstolos (10.1-42)
e) Amigos e inimigos de Jesus (11.1 - 12.50)
f) Parábolas do Reino dos céus (13.1-52)
g) O fim do trabalho na Galiléia (13.53 - 17.27)
h) Instruções para o povo da N ova Aliança (18.1-35)

III. Da Galiléia até Jerusalém (19.1 - 20.34)

IV. O Messias em Jerusalém (21.1 - 27.66)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Por que 0 evangelho de Mateus pode ser considerado o evangelho da transição?
2) Qual o chavão que é usado nesse evangelho?
3) O que Pearlman declarou desse evangelho?

EVANGELHO SEGUNDO MARCOS


O evangelho de Marcos enfoca 0 ministério de Jesus sob a ótica da ação, daí Pearlman concluir que “Marcos é
0 ‘Evangelho da A ção’, mostrando Jesus como Servo do Senhor, labutando incansavelmente na esfera da redenção
do homem”.4 Jesus está constantemente em movimento: curando, expulsando demônios, confrontando adversários
e instruindo os discípulos, com a finalidade de demonstrar sua divindade. Nele cumpriram-se as profecias do Antigo
Testamento ao vir à Terra como Messias. Entretanto, Ele não veio como um rei conquistador, mas como um servo.
Tema: O Servo Sofredor. Marcos focalizou mais os atos do que os sermões de Jesus, com a finalidade de
comprovar que, mesmo sendo Deus Todo-Poderoso, Jesus preferiu ser obediente até a morte e morte de cruz
(Filipenses 2.8). Assim, a mensagem ou tema do livro é: “Pois 0 próprio Filho do Hom em não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por m uitos‫( ״‬Marcos 10.45). O uso do título “Filho do
H om em ” ocorre quatorze vezes nesse evangelho, e se interpreta na maioria dos casos de acordo com este conceito
(8.31; 9.9; 12.31; 10.33, 45; 14.21, 41). Entretanto, desde o início de seu evangelho, Marcos identifica o humilde
Servo como o próprio Filho de Deus, cujo ministério é autenticado por suas obras poderosas. Segundo M yer
Pearlman, “escrito para um povo militar (os romanos), 0 Evangelho de Marcos fornece uma breve narrativa de
três anos do Capitão da nossa salvação, dirigida e terminada em prol da libertação de nossas almas e a derrota de
Satanás, pelas obras de Cristo e seus sofrimentos, morte, ressurreição e triunfo final” .5

4 PEARLMAN, Myer. Marcos: 0 evangelho do servo de Jeová. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1995. p. 7.
5Idem, p. 201.

CURSO DE TEOLOGIA
133
MÓDULO 2 I PAN O RAM A DO NOVO TESTAMENTO

Autor: Assim como os outros três evangelhos, Marcos é anônimo. Em sua narrativa não há nenhuma declaração
de quem tenha sido 0 autor. Entretanto, a mais antiga tradição, atestada por Papias, bispo de Hierápolis, na
região da Frigia, na Ásia Menor, menciona Marcos como autor do evangelho, 0 qual teria copiado tudo aquilo
que teria ouvido de Pedro. Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria e outros escritores cristãos posteriores
confirmaram que Marcos foi quem escreveu 0 segundo evangelho dos ditos de Pedro. Alguns estudiosos rejeitam
esses testemunhos alegando que foi invenção de Papias para defender interesse próprio.
Onde foi escrito: Não há consenso entre a tradição quanto ao lugar onde teria sido escrito esse evangelho.
Devido ao grande número de latinismos, tanto Papias como Clemente de Alexandria dão testemunho da
composição desse evangelho em Roma, por volta dos anos 60 e 70 d.C. Ao produzir seu evangelho, M arcos
visava apresentar a pessoa, a obra e os ensinamentos de Jesus aos cristãos em Roma.

Esboço de Marcos
Introdução (1.1-13)

I. Declaração sumária (1.1)


a) Cumprimento da profecia do Antigo Testamento (1.2-3)
b) O ministério de João Batista (1.4-8)
c) O batismo de Jesus (1.9-11)
d) A tentação de Jesus (1.12-13)

II. O ministério de Jesus na Galiléia (1.14 - 9.50)


a) Princípio: Sucesso e conflitos iniciais (1.14-3.6)
b) Etapas posteriores: Aumento de popularidade e oposição (3.7 - 6.13)
c) Ministério fora da Galiléia (6.14 - 8.26)
d) Ministério no caminho para a Judéia (8.26 - 9.50)

III. O ministério de Jesus na Judéia (10.1 - 16.20)


a) Ministério na Transjordânia (10.1-52)
b) Ministério em Jerusalém (11.1 - 13.37)
c) A paixão (14.1 - 15.47)
d) A ressurreição (16.1 -20)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Marcos enfoca 0 que em seu evangelho?
2) Qual é a mensagem do livro?
3) Onde teria sido escrito esse evangelho?

EVANGELHO SEGUNDO LUCAS


Diferentemente de seus pares, Lucas é 0 único dos evangelistas que inicia seu texto com um prólogo, ou
seja, fornece os dados prévios que nortearam a elaboração de seu trabalho. É o evangelho mais longo do Novo
Testamento e inclui boa quantidade de informações não encontradas em outros textos. “A extensão incomumente
ampla de vocabulário, a excelência da gramática e a alta qualidade do estilo mostram que a obra de Lucas é digna
de ocupar um lugar respeitável entre os gigantes literários de todos os tempos.”6 Sua intenção foi transmitir a
Teófilo a plena verdade sobre o que já tinham sido oralmente inteirados (1.3-4).

4 HALE, Broadus David. Op. cit., p. 103.

CURSO DE TEOLOGIA
m
MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

Tema: 0 Homem perfeito. O que os gregos realizaram na arte e na literatura é conhecido de toda a gente,
mas o que realizaram no campo puramente intelectual é ainda mais excepcional. Inventaram as matemáticas, a
ciência e a filosofia; foram os primeiros a escrever histórias, em lugar de meros anais; especularam livremente
sobre a natureza do mundo e as finalidades da vida, sem que se achassem acorrentados a qualquer ortodoxia
herdada. Foi para esses intelectuais que Lucas descreveu a vida e a obra de Cristo, 0 H om em e Salvador Perfeito.
Assim como Mateus apresentou Jesus como rei messiânico e Marcos como Servo Sofredor, Lucas 0 descreveu
como o Homem perfeito, cheio de simpatia para com toda a humanidade, Salvador de todos os homens, sem
distinção de qualquer espécie. Embora os evangelhos fossem destinados, em última análise, à totalidade da raça
humana, parece que Mateus tinha em vista os judeus, Marcos os romanos e Lucas os gregos. Lucas escreveu
especialmente para o povo grego, símbolo da cultura, da filosofia, da sabedoria, da educação, a fim de apresentar
a gloriosa beleza e perfeição de Jesus, 0 hom em perfeito.
Autor: O vocabulário e o estilo demonstram que 0 autor era letrado. Ele fez muitas referências a enfermidades
e diagnósticos. Tanto Lucas como os Atos revelam através da dedicatória (ao mesmo Teófilo) e da referência de
Atos 1.1., ao “primeiro tratado”, que ambos procedem do mesmo autor. O Cânon M uratoriano (cerca de 170-180
d.C.) fornece a seguinte informação acerca de Lucas - Atos: “O terceiro livro dos evangelhos é o segundo Lucas,
aquele médico que, após a ascensão de Cristo, quando Paulo o havia levado como companheiro em sua viagem,
o compôs em seu próprio nome, com base em relatos. Ele não viu o Senhor na carne, mas, conforme pode
traçar 0 curso dos acontecimentos, ele os escreveu. Assim também ele iniciou sua história com o nascimento de
João” .7 A autoria do terceiro evangelho, diante desta e de outras evidências, tem sido atribuída a Lucas por toda
a Igreja cristã. Lucas foi 0 único autor sagrado do Novo Testamento que não era judeu. De acordo com 0 livro
aos Colossenses, ele era médico (4.14). “Esta observação levou a um estudo detalhado do vocabulário e estilo do
terceiro Evangelho e de Atos, para se determ inar se está evidente ali a m ão de um m édico. N o final do últim o
século, apareceu um a obra que pareceu colocar um fim a todos os argum entos. W illiam K. H obart, em The
M edical Language o f St. Luke (a Linguagem M édica de São Lucas), concluiu, a partir de suas investigações,
ao comparar 0 vocabulário de Lucas - Atos com Hipocrates, Galênio, Discórides e Areteu (médicos no mundo
antigo) que o material escrito por Lucas só poderia ser proveniente da mão de um m édico.” 8
Para quem foi escrito: O livro é endereçado a um cristão chamado Teófilo (1.1 -4). Entretanto, não resta dúvida
de que o relato era dirigido a um vasto círculo de leitores, incluindo os gentios e as pessoas em todas as partes.

Esboço de Lucas
I. Prólogo (1.1-4)

II. A narrativa da infância (1.5 - 2.52)


a) Anúncio do nascimento de João Batista (1.5-25)
b) Anúncio do nascimento de Jesus (1.26-38)
c) O encontro de Maria e Isabel (1.39-56)
d) O nascimento de João Batista (1.57-80)
e) O nascimento de Jesus (2.1-40)
f) O menino Jesus no templo (2.41-52)

III. Preparação para 0 ministério público (3.1 - 4.13)


a) O ministério de João Batista (3.1-20)
b) O batismo de Jesus (3.21-22)
c) A genealogia de Jesus (3.23-38)
d) A tentação (4.1-13)

7HALE, Broadus David. Op. (it., p. 104.


' Idem, p. 106.

CURSO DE TEOLOGIA
135
MÓDULO 2 : PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

IV. O ministério galileu (4.14 - 9.50)


a) Em Nazaré e Carfanaum (4.14-44)
b) Do chamamento de Pedro ao chamamento dos doze (5.1 - 6.16)
c) O Sermão da M ontanha (6.17-49)
d) Narrativa e diálogo (7.1 - 9.50)

V. A narrativa de viagem no caminho para Jerusalém (9.51 - 19.28)

VI. O ministério em Jerusalém (19.29 - 21.38)


a) Acontecimentos na entrada de Jesus em Jerusalém (19.29-48)
b) História de controvérsias (20.1 - 21.4)
c) Discurso escatológico (21.5-38)

VII. A paixão e a glorificação de Jesus (22.1 - 24.53)


a) A refeição da Páscoa (22.1-38)
b) A paixão, morte e sepultamento de Jesus (22.39 - 23.56)
c) A ressurreição e a ascensão (24.1-53)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Como Lucas inicia seu texto?
2) Lucas escreveu para 0 povo grego com que finalidade?
3) Por que meios conclui-se que o autor desse evangelho era letrado?

EVANGELHO SEGUNDO JOÃO


Quão diferente é este evangelho dos demais! Suas diferenças se manifestam em todos os planos: um quadro
literário diferente, episódios inéditos, longos discursos de revelação, um Cristo mais celeste do que terrestre, a
utilização abundante de simbolismo, para mencionar apenas alguns pontos. A diferença mais evidente é sem dúvida
aquela que se refere ao quadro geral do ministério de Jesus. Os sinópticos apresentam um ministério público de
mais ou menos um ano, que se desenrola principalmente em tom o do lago de Genesaré e termina tragicamente
por ocasião da subida de Jesus a Jerusalém para celebrar a Páscoa. Em João, 0 itinerário é completamente
diferente: Jesus faz constantemente o vaivém entre a Galiléia e a Judéia, subindo a Jerusalém quatro ou cinco
vezes por ocasião das festas judaicas (ver João 2.13; 5.1; 7.10; 10.22; 12.12).
Tema: O evangelho do Filho de Deus. João expõe em termos explícitos qual é o propósito de seu livro:
oferecer uma série de evidências que comprovem a natureza e a missão divina de Jesus. O Jesus de João é
completamente diferente. Antes de tudo. Ele não proclama 0 Reino de Deus, não fala em parábolas, não dá
ensinamentos éticos, não faz nenhum exorcismo. Ele revela as coisas celestes, a saber, sua própria identidade e
seu papel de salvador, bem como a pessoa do Pai. Para João, Jesus é mais do que 0 Messias esperado ou 0 profeta
do Reino. Ele é o filho do homem vindo do céu para revelar as coisas celestes, conforme está declarado em 20.31:
“Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é 0 Cristo, 0 Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais
vida em seu nom e” .
Autor: À semelhança dos sinópticos. esse evangelho também é anônimo; em nenhum lugar o autor se
identifica pelo nome. A Igreja Primitiva atribuiu ao apóstolo João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago, a autoria
desse evangelho.
Para quem foi escrito: Não encontramos em seus escritos qualquer menção a seus prováveis destinatários.
Entretanto, podemos afirmar que foi escrito para novos cristãos e não-cristãos. Seu propósito era evangelizar
tanto judeus como helenistas, bem como fortalecer a igreja e catequizar os novos convertidos.

CURSO DE TEOLOGIA
136
MÓDULO 2 I PANO RAM A D O NOVO TESTAMENTO

Esboço de João
Prólogo (1.1-8)

I. O ministério público de Jesus (1.19 - 12.50)


a) Preparação (1.19-51)
b) As bodas em Caná (2.1-12)
c) Ministério em Jerusalém (2.13 - 3.36)
d) Jesus e a m ulher de Samaria (4.1-42)
e) A cura do filho de um oficial do rei (4.43-54)
f) A cura de um paralítico em Betesda (5.1-15)
g) Honrando 0 Pai e 0 Filho (5.16-29)
h) Testemunhas do Filho (5.30-47)
i) Ministério na Galiléia (6.1-71)
j) Conflito em Jerusalém (7.1 - 9.41)
k) Jesus, 0 bom Pastor (10.1-42)
1) Ministério em Betânia (11.1 - 12.11)
m) Entrada triunfal em Jerusalém (12.12-19)
n) Rejeição final: descrença (12.20-50)

II. O ministério de Jesus aos discípulos (13.1 - 17.26)


a) Servir — um modelo (13.1-20)
b) Pronunciamento de traição e negação (13.21-38)
c) Preparação para a partida de Jesus (14.1-31)
d) Produtividade por submissão (15.1-17)
e) Lidando com rejeição (15.18 - 16.4)
f) Compreendendo a partida de Jesus (16.5-33)
g) A oração de Jesus por seus discípulos (17.1-26)

III. Paixão e ressurreição de Jesus (18.1 - 21.23)


a) A prisão de Jesus (18.1-14)
b) Julgamento perante 0 sumo sacerdote (18.15-27)
c) Julgamento perante Pilatos (18.28 - 19.16)
d) Crucificação e sepultamento (19.17-42)
e) Ressurreição e aparições (20.1 -2 1 .2 3 )

Epílogo (21.24-25)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Como se manifesta as diferenças desse evangelho para com os outros?
2) Qual é o tema do evangelho de João?
3) Qual foi 0 propósito de João ter escrito seu evangelho?

CURSO DE TEOLOGIA
137
MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

ATOS DOS APOSTOLOS


Atos é o único registro autêntico que relata a história e 0 desenvolvimento da Igreja Primitiva desde a
ascensão de Cristo até o encarceramento de Paulo em Roma. Há alguns poucos indícios nas cartas paulinas
sobre acontecimentos que ocorreram nesses primeiros anos. Em Atos, o leitor é convidado a fazer um a viagem
ao longo de três decênios, visitando Jerusalém, Judéia, Samaria, Síria, Chipre, muitas cidades da Ásia Menor,
M acedonia, Grécia e finalmente Roma.
Tema: O nascimento e a expansão da Igreja. O livro de Atos fornece um relato preciso de como 0 cristianismo
foi fundado, organizado e como os problemas foram resolvidos. Pode-se afirmar que esse livro é 0 relato do
ministério de Cristo continuado por seus servos. Atos é o elo que liga os ensinos de Cristo com a prática cristã,
o que o tom a 0 livro central do Novo Testamento. Até a posição em que foi canonizado é significativa, colocado
entre os evangelhos e as epístolas: “Atos forma uma ponte entre os Evangelhos e as Epístolas; 0 Evangelho prevê
a igreja, e as Epístolas pressupõem a igreja”.9
Autor: O autor de Atos dos Apóstolos não se identifica pelo nome. O livro de Atos e 0 terceiro evangelho
certamente nasceram da mesma mão. Alguns estudiosos entendem que este é uma continuação do evangelho de Lucas.
Tradicionalmente esse autor tem sido identificado como Lucas, 0 médico e companheiro de Paulo, desde os primórdios
da Igreja. Assim como no evangelho de Lucas, o vocabulário e o estilo demonstram que o autor era letrado. O grego
koiné utilizado em Lucas - Atos, quase clássico, evidencia que ambos os livros foram escritos por um único autor.
Para quem foi escrito: À semelhança do evangelho de Lucas, é dedicado a Teófilo (Lucas 1.3 com Atos 1.1).
Teófilo parece ter sido uma pessoa de certa distinção, à vista do tratamento que Lucas lhe dá - excelentíssimo
atribuído alhures aos governadores romanos da Judéia (Atos 23.26; 24.3; 26.25).

Esboço de Atos
I. Prólogo (1.1-14)
a) A promessa do Espírito Santo (1.4-8)
b) A ascensão de Cristo (1.9-11)
c) O encontro para a oração no cenáculo (1.12-14)

II. Pedro e 0 ministério da Igreja judaica em Jerusalém (1.15 - 12.24)


a) A seleção de Matias como o décimo segundo apóstolo (1.15-26)
b) A descida do Espírito Santo no Pentecostes (2.1 -47)
c) A cura de um coxo (3.1 - 4.31)
d) Autoridade apostólica na Igreja antiga (4.32 - 5.42)
e) O ministério de Estêvão (6.1 - 7.60)
f) O primeiro ministério a não-judeus (8.1-40)
g) A conversão de Saulo (9.1-31)
h) Enéias e Dorcas curados através do ministério de Pedro (9.32-43)
i) A história de Com élio (1 0 .1 -1 1 .1 8 )
j) O testemunho da Igreja antiga (11.19 - 12.24)

III. Paulo e a extensão internacional da igreja em Antioquia (12.25 - 28.31)


a) A primeira viagem missionária de Paulo (12.25 - 14.28)
b) O concerto em Jerusalém para discutir lei e graça (15.1-35)
c) A segunda viagem missionária de Paulo (15.36 - 18.22)
d) A terceira viagem missionária de Paulo (18.23 - 21.14)
e) A viagem de Paulo a Roma através de Jerusalém (21.15 - 28.31)

, HALE, Broadus David. Op. cit., p. 169.

CURSO DE TEOLOGIA
138
MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Atos é 0 único registro autêntico que relata o quê?
2) Por que a posição em que Atos foi canonizado é significativa?

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO
S. PAULO AOS ROMANOS
A Epístola aos Romanos, segundo Martinho Lutero, é a principal composição literária do Novo Testamento e
a mais pura descrição dos ensinos dos evangelhos. O impacto que as magistrais palavras dessa epístola causaram
no “Cisne de Eisleben” fê-lo afixar, na capela de Wittemberg, as “noventa e cinco teses”. Romanos é a maior, mais
rica e mais abrangente declaração da parte do apóstolo Paulo sobre 0 evangelho. Calvino escreveu “que entre as
muitas e notáveis virtudes, a Epístola possui uma, em particular, a qual nunca é suficientemente apreciada, a saber:
se porventura conseguimos atingir uma genuína compreensão desta Epístola, teremos aberto um a amplíssima
porta de acesso aos mais profundos tesouros da Escritura”.10 Vários são os assuntos doutrinários encontrados na
Epístola aos Romanos: a justiça divina; a universalidade do pecado; a fé; a salvação; a justificação; a santificação;
Adão e Cristo; a salvação de Israel; e o ministério cristão.
Tema: Justificação pela fé. A Epístola aos Romanos é um a resposta completa, lógica e reveladora à grande
pergunta dos séculos: “como pode o homem ser justo para com Deus?” (Jó 9.2). A discussão sobre esse tem a
envolve os capítulos um ao cinco, concluindo que o hom em encontra sua justificação única e exclusivamente
na misericórdia de Deus, em Cristo, que é oferecida no evangelho e recebida pela fé. Portanto, ninguém pode
entrar em contato com Deus senão depois de estabelecida um a via de acesso adequada. Essa justiça se encontra
em Cristo, “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem
Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua
tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos” (Romanos 3.24-25). M yer Pearlman resumiu
0 tema de Romanos da seguinte maneira: “A justificação dos pecadores, a santificação dos justificados, pela fé e
pelo poder de Deus”.11
Por quem foi escrita: Tércio (cf. Romanos 16.22). O apóstolo Paulo estava na cidade de Corinto, no fim de
sua terceira viagem missionária. Ali encontrou um a irmã cristã, chamada Febe, de Cencréia, subúrbio de Corinto,
que estava de viagem marcada para Roma (16.1-2). Paulo aproveitou a oportunidade para enviar, por meio dela,
uma carta à igreja naquele lugar, falando de sua futura visita e dando aos romanos um a declaração das verdades
que lhe tinham sido reveladas.
Quando foi escrita: E muito mais simples estabelecer 0 lugar de onde essa carta foi escrita do que especificar
a data em que foi escrita. Há um consenso geral de que ela foi escrita de meados a fins dos anos cinqüenta,
provavelmente na primavera de 57 d.C., ou talvez no inverno de 57-58 d.C. (2 Coríntios 13.1; Atos 20.1-2).
Fundação da igreja de Roma: A origem da igreja de Roma é desconhecida. Alguns pesquisadores atribuem sua
fundação logo após 0 dia do Pentecostes (Atos 2), em virtude de naquele dia se encontrar presentes em Jerusalém
“forasteiros romanos” (Atos 2.10) que possivelmente retomaram com a mensagem de salvação para sua pátria.

Esboço de Romanos
I. Introdução (1.1-17)
a) Identificação de Paulo (1.1-7)
b) Desejo de Paulo de visitar Roma (1.8-15)
c) Resumo do evangelho (1.18 - 3.20)

10CALVINO, João. Romanos. 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001. p. 23.


" PEARLMAN, Myer. Através da B íb lia ..., cit., p. 253.

CURSO DE TEOLOGIA
139
MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

II. Todos pecaram (1.18 - 3.20)

III. Justificação apenas pela fé (3.21 - 5.21)

IV. Praticando justiça na vida cristã (6.1 - 8.39)

V. Deus e Israel (9.1 - 11.36)

VI. Aplicações práticas (12.1 - 15.13)

VII. A p rop ria situação de Paulo (15.14-33)

VIII. Recomendações pessoais (16.1-24)

IX. Bênção (16.25-27)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Quais são os assuntos doutrinários encontrados nessa epístola?
2) Qual é o tema dessa epístola?
3) Quando foi escrita essa epístola?

PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO


S. PAULO AOS CORÍNTIOS
Corinto era uma das cidades cosmopolitas mais importantes da época. Possuía um grande porto e com isso
controlava grande parte das navegações entre 0 Oriente e o Ocidente. Situava-se ao sul do istmo de dezesseis
quilômetros de largura que liga a Grécia central à península do Peloponeso. A cidade de Corinto era conhecida
pela sua idolatria e imoralidade. A principal divindade da cidade era Afrodite (Vênus), deusa do amor licencioso,
e milhares de prostitutas profissionais serviam no templo dedicado à sua adoração. “A m oral de sua sociedade era
tão corrupta que ‘corintianizar’ significava viver uma vida muito dissoluta.” 12 Foi nesse ambiente que o apóstolo
Paulo, em sua segunda viagem missionária, estabeleceu a igreja.
Tema: Ordem e decência. Sem a presença do apóstolo Paulo a igreja de Corinto caiu em divisões e desordens.
Os coríntios se agruparam em tom o de vários mestres e líderes da igreja - Pedro, Paulo e Apoio, o que gerou
facções dentro da igreja. A jovem igreja apelou a Paulo, enviando-lhe cartas por meio de alguns membros da
congregação. Essa epístola foi escrita com o propósito de corrigir os muitos problemas que haviam surgido no
seio da igreja e também para oferecer soluções e estabelecer os padrões de conduta cristã. Paulo responde às
várias questões levantadas pela delegação, sobre os mais diversos assuntos, entre os quais se encontravam os
relacionados com a ressurreição, a imoralidade, as ações judiciais entre irmãos e a falta de entendimento quanto
a certas questões práticas como o casamento, a adoração pública, a celebração da Ceia do Senhor e o uso dos
dons espirituais.
Por que foi escrita: Durante os dezoito meses que passou em Corinto Paulo ensinou a Palavra de Deus entre
os coríntios. Logo após esse período, 0 apóstolo se despediu dos seus filhos na fé e foi para Efeso, depois para
Cesaréia e por fim a Jerusalém (Atos 18.22). Não muito tempo depois de sua partida chegou ao seu conhecimento

1: HORTON, Stanley. I e I I Coríntios: os problemas da igreja e suas soluções. 3. ed. Rio de Janeiro: CPAD. p. 11.

CURSO DE TEOLOGIA
m
MÓDULO 2 I PANO RAM A D O NOVO TESTAMENTO

que a igreja não estava vivendo uma vida cristã genuína. Paulo prontamente lhes escreve aconselhando que os
irmãos evitassem a companhia de pessoas imorais, mas tudo indica que essa carta não chegou ao seu destinatário
(1 Coríntios 5.9). Posteriormente, iniciou sua terceira viagem missionária, passando pelas regiões superiores, e
chegou pela terceira vez a Éfeso. Enquanto estava em Éfeso, cerca de 440 km a leste, do outro lado do m ar Egeu,
chegou ao seu conhecimento, por meio de uma delegação vinda de Corinto (provavelmente levada por Estéfanes,
Fortunato e Acaico), que as desordens ainda permaneciam no seio da igreja. Portanto, ao escrever essa carta,
Paulo tratou dos sérios problemas da igreja de Corinto, além de aconselhar e doutrinar sobre variados assuntos
que os coríntios lhe encaminharam por escrito.
Quando foi escrita: Paulo demorou dezoito meses em Corinto na sua primeira visita, viajando depois, por
mar, até Éfeso; visitou Jerusalém e Antioquia. percorreu os lugares da Ásia M enor onde, anteriormente, fizera
trabalho missionário, voltando então a Éfeso, onde permaneceu por dois anos (Atos 18.11, 23; 19.1). Escreveu
de Éfeso a primeira Epístola aos Coríntios, talvez um ano após sua chegada ali, no ano 55 d.C.

Esboço de I a Coríntios

I. Introdução com saudação e ação de graças (1.1-9)


a) O problema de um espírito sectário que surgiu de um a preferência por líderes religiosos
devido à sua suposta sabedoria superior (1 .1 0 -4 .2 1 )
b) O contraste entre a sabedoria divina e a humana sobre a cruz mostra o erro de um espírito
sectário que se origina da sabedoria humana (1.10-3.4)
c) O papel dos líderes religiosos m ostra que eles são im portantes, m as nunca m otivo para
jactân cia (3.5 - 4.5)
d) Um a repreensão aberta comparando ironicamente o orgulho coríntio com a loucura de Paulo
(4.6-21)

II. O problema da disciplina da igreja interna ocorrida devido a um caso de incesto (5.1-13)

III. O problema de processos entre os cristãos perante cortes públicas (6.1-11)

IV. O problema de abuso sexual do corpo oriundo de uma aplicação errônea do ensinamento
ético de Paulo (6.12-20)

V. O problema do relacionamento entre a esfera secular e a vida espiritual do crente,


especialmente nas áreas de sexo, casamento e escravidão (7.1-40)

VI. Os alimentos consagrados aos ídolos (8.1 - 11.1)


a) O princípio básico do amor (8.1-13)
b) O exemplo da pessoa de Paulo antecede seus direitos (9.1-27)
c) A aplicação do princípio em comportamento e ação (10.1 - 11.1)

VII. A questão do uso do véu (11.2-16)

VIII. O problema de profanar a Ceia do Senhor (11.17-34)

IX. O uso dos dons espirituais (12.1 - 14.40)


a) A necessidade de diversidade (12.1-31)
b) A necessidade de amor (13.1-13)
c) A necessidade de controle (14.1-40)

CURSO DE TEOLOGIA
141
MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

X. A questão da ressurreição dos mortos (15.1-58)

XI. Concluindo observações pessoais (16.1-24)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Como era conhecida a igreja de Corinto?
2) Qual é 0 propósito apresentado nessa epístola?

SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO


S. PAULO AOS CORÍNTIOS
A primeira carta foi bem recebida e gerou frutos, entretanto a igreja sofria os ataques externos dos falsos mestres,
que negavam a autoridade do apóstolo Paulo. É uma carta cheia de emoção, mistura de alegria, sofrimento e indignação.
Revela o coração e os sentimentos mais íntimos do apóstolo e também seus motivos mais profundos.
Tema: A defesa de seu ministério contra os falsos mestres. A presença de mestres falsos em Corinto colocava
em dúvida a condição de Paulo como apóstolo e sua autoridade como líder. Ele, então, escreveu a segunda
Epístola aos Coríntios para defender sua posição e denunciar aqueles que estavam distorcendo a verdade. De
todas as epístolas de Paulo, esta é a mais autobiográfica, contendo inúmeras referências às dificuldades que ele
enfrentou no curso do seu ministério. Ao defender seu chamado e ministério, ele abre seu coração e expõe seus
sentimentos mais íntimos e seus motivos mais profundos.
Para quem foi escrita: De Efeso, Paulo escreveu uma epístola severa aos coríntios, “em muita tribulação e angústia
de coração... com muitas lágrimas” (2.4), registrando todo o peso de sua autoridade apostólica, que fora questionada e
rejeitada (12.12; 13.3). Ele a enviou por intermédio de Tito e seguiu em direção à Macedonia, onde Tito o encontrou
posteriormente com um relatório estimulante, dando-lhe novas de que aquela carta obtivera efeito benéfico e que os
coríntios haviam reconhecido plenamente o seu ministério apostólico. Entretanto, havia uma pequena minoria que recusara
a sua autoridade. Para consolar e animar os primeiros, e admoestar os últimos, Paulo escreveu a sua segunda carta.
Onde foi escrita: Provavelmente foi escrita da Macedonia, durante a sua terceira viagem missionária.

Esboço de 2a Coríntios
I. Saudação (1.1-2)

II. Explicação do ministério de Paulo (1.3 - 7.16)


a) Consolação e sofrimento (1.3-11)
b) Mudanças de planos (1.12 - 2 . 4 )
c) Perdoando 0 ofensor (2.5-11)
d) Perturbação em Trôade (2.12-13)
e) Natureza do ministério cristão (2.14-7.4)
f) Deleitando-se com 0 relatório de Corinto (7.5-16)

III. Generosidade ao dar (8.1 - 9.15)


a) Macedônios e Jesus como exemplos (8.1-9)
b) Cumprindo as boas intenções (8.10-12)
c) Compartilhando recursos (8.13-15)
d) Uma delegação honrada (8.16-24)
e) Preparação conveniente do dom (9.1-5)
f) Bênção de dar (9.6-16)

CURSO DE TEOLOGIA
1*2
MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

IV. Defesa e uso da autoridade apostólica (10.1 - 13.10)


a) Repreensão por avaliação superficial (10.1-11)
b) Repreensão por comparações tolas (10.12-18)
c) Zelo de Deus pela Igreja (11.1-4)
d) Comparação com falsos apóstolos (11.5-15)
e) Tolerância mal orientada dos coríntios (11.16-21)
f) Jactância relutante de Paulo (11.22 - 12.13)
g) Anúncio da terceira visita (12.14 - 13.10)

V. Saudações finais (13.11-14)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Por que o apóstolo Paulo escreveu essa segunda epístola?
2) Quando foi escrita essa epístola?

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO
S. PAULO AOS GÁLATAS
Essa epístola é 0 manifesto de Paulo contra a perversão da graça de Deus. Para Lutero, “a epístola de Gálatas é a
minha epístola. Diante dela sou como que preso por laços matrimoniais. Ela é minha Katherine”, pois considerava a
Epístola aos Gálatas como a expressão máxima da liberdade cristã. Nessa epístola se toma manifesta a batalha entre o
legalismo e a graça de Deus. O legalismo que aprisiona 0 homem em sua tentativa de alcançar a justiça através do mérito
é confrontado com a graça de Deus, que opera para libertar o homem dessa escravidão.
Tema: A lei e a graça. Pouco tempo depois de Paulo ter partido da Galácia, apareceram alguns mestres judaicos
insistindo para que os gentios se submetessem à guarda da Lei de Moisés. Esta questão tomou tamanha relevância
que foi até Jerusalém para ser decidida. Reunidos os apóstolos, no Concilio de Jerusalém (Atos 15), chegaram à
conclusão de que os gentios eram justificados pela fé sem as obras da Lei. “Insurgiram-se, entretanto, alguns da
seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: E necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei
de Moisés” (Atos 15.5). Estes continuavam a insistir que, apesar de os gentios serem salvos pela fé, esta seria
aperfeiçoada pela obediência à Lei de Moisés. Tem-se tomado evidente que a principal preocupação do apóstolo
era que os gálatas não perdessem sua confiança no único e verdadeiro evangelho. E significativo observar quantas
vezes a palavra evangelho aparece nesta pequena epístola, ora como substantivo, ora como elemento componente
de um verbo (1.6-9, 11, 16, 23; 2.2, 5, 7, 14; 3.8; 4.13). A essência ou conteúdo deste evangelho é também afirmado
e reafirmado: “Que o homem não é justificado por obras da lei e sim mediante a fé em Cristo Jesus” (2.16; cf. 2.21;
3.9, 11; 4.2-6; 5.2-6; 6.14-16). Essa epístola tem sido chamada de “ 0 grito de guerra da Reforma”, “a grande autora
da liberdade religiosa”, “a declaração da independência do cristão” etc.
Por que foi escrita: Foi escrita para alertar os gálatas sobre os ensinos espúrios dos falsos mestres judaizantes, que
ensinavam que os crentes gentios deveriam obedecer à Lei de Moisés a fim de se salvarem. Paulo lembra aos gálatas que
0 Espírito lhes foi dado não por observarem a Lei, mas com base na fé que tinham em Cristo (3.1-5).
Quando foi escrita: Não há concordância entre os estudiosos quanto à data para a escrita de Gálatas. Alguns aceitam
como data 0 encerramento da primeira viagem missionária (cerca de 50 d.C.), e Antioquia como lugar de composição.
Há também aqueles, no outro extremo, que dizem que foi durante a prisão romana do apóstolo (60 d.C. e depois).
Advogados da teoria da Galácia do Norte aceitam uma data mais remota, justificando que a visita do apóstolo Paulo
àquela área ocorreu na terceira viagem missionária, conforme mencionado em Atos 18.23. Já a teoria da Galácia do
Sul adota uma data mais recuada alegando que Paulo havia trabalhado na Galácia do Sul antes de qualquer outro grupo
de igrejas. Portanto, 0 livro teria sido escrito na segunda viagem, em Corinto, antes da chegada de Timóteo e Silas, por
volta do ano 48 d.C.13
' 3HENDRIKSEN, W illiam . Gálatas. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. p. 26-27.

CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

Esboço de Gálatas
I. Introdução (1.1-10)
a) Deserção dos gálatas (1.6-7)
b) Denúncia contras os judaizantes (1.8-9)
c) Declaração da integridade de Paulo (1.10)

II. Paulo defende sua autoridade (1.11 - 2.21)


a) A fonte de sua autoridade (1.11 -24)
b) O reconhecimento de sua autoridade (2.1-10)
c) A manifestação de sua autoridade (2.11-21)

III. Paulo defende seu evangelho (3.1 - 4.31)


a) Com discussão (3 .1 -4 .1 1 )
b) Por apelo (4.12-20)
c) Por alegoria (4.21-31)

IV. Paulo exorta os gálatas (5.1 - 6.10)


a) Para usar adequadamente sua liberdade cristã (5.1-15)
b) Para caminhar através do Espírito (5.16-26)
c) Para carregar os fardos dos outros (6.1-10)

V. Conclusão (6.11-18)
a) Advertência contra os legalistas (6.11-13)
b) Centralidade da cruz (6.14-16)
c) Marcas de um apóstolo (6.17)
d) Bênção (6.18)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) O que se tom a manifesto nessa epístola?
2) Qual é a essência ou conteúdo dessa epístola?
3) Por que foi escrita?
4) Segundo a teoria da Galácia do Sul, quando Paulo teria escrito essa epístola?

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO
S. PAULO AOS EFÉSIOS
Éfeso era uma cidade portuária estratégica, tão importante quanto as cidades de Alexandria, no Egito,
e Antioquia, na Síria. Situava-se no extremo ocidente da Ásia M enor (na atual Turquia) e era o porto mais
importante no m ar Egeu, na principal rota entre Roma e 0 Oriente. É nesse ambiente que o apóstolo Paulo vai
estabelecer uma igreja. Foi fundada no ano de 53 d.C., na viagem de retom o para Jerusalém. Em sua terceira
viagem missionária, um ano mais tarde, Paulo lá permaneceu por três anos pregando e ensinando com eficiência
(Atos 19.1-20). Pouco tempo depois, Paulo foi enviado como prisioneiro a Roma, onde recebeu a visita de vários
irmãos, entre eles Tíquico, que será 0 responsável por levar essa carta às igrejas daquela região.
Tema: O Evangelho das Regiões Celestiais. Devido à sua profundidade e sublimidade da doutrina, “ao
entrarmos nos portais da Carta aos Efésios, estaremos penetrando nas ‘regiões celestiais’, onde teremos uma visão

CURSO DETEOLOGIA
144
MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

dos propósitos divinos para a Igreja na face da terra de uma maneira deslumbrante” .14 Não havia uma situação
específica nem qualquer controvérsia que provocasse a necessidade dessa carta. Ao contrário, trata-se de uma carta
de encorajamento na qual Paulo descreve a natureza e a estrutura da Igreja e desafia os crentes a agirem como
representantes do corpo de Cristo na Terra.
Efésios é um dos documentos religiosos que transcendem o normal, atingindo um grau muito elevado na escala
dos valores morais, intelectuais e estéticos. Não é sem merecer que tem sido apresentada por teólogos e estudiosos
do Novo Testamento como a “epístola do terceiro céu”, por conter as mais significantes e profundas declarações
sobre os eternos propósitos de Deus concernentes aos homens.15
Por que foi escrita: Com a intenção de manifestar, de modo abrangente, o significado de Cristo, a epístola
descreve a ação e a obra de Deus em Cristo, a qual tudo penetra (1.10; 3.10, 18; 4.10), e, com isto, ele acentua a
relação eterna que existe entre Cristo, 0 Cabeça, e seu corpo, a Igreja (1.4; 2.15; 4.13; 5.23).
Quando foi escrita: Essa é um a das quatro cartas que o apóstolo Paulo escreveu durante sua prisão em Roma
(59-61/62 d.C.). Com exceção de Filipenses, as demais foram escritas na m esm a ocasião e enviadas pelo mesmo
mensageiro, Tíquico (6.21; Colossenses 4.7-9; Filemom 10-12).

Esboço de Efésios
I. Saudação de abertura (1.1-2)

II. A posição do crente em Cristo (1.3-14)


a) Bênçãos de total redenção (1.3-8)
b) Parceria no propósito de Deus (1.9-14)

III. A oração do apóstolo por discernimento (1.15-23)


a) Para corações que vêem com esperança (1.15-23)
b) Para a experiência que compartilha da vitória de Cristo (1.19-21)
c) A igreja: o corpo de Cristo (1.22-23)

IV. O passado, presente e futuro do crente (2.1-22)


a) A ordem passada dos mortos que vivem (2.1-3)
b) A nova ordem da vida amorosa de Deus (2.4-10)
c) A antiga separação e falta de esperança (2.11-12)
d) A nova união e paz atual (2.13-18)
e) A Igreja: edifício de Cristo (2.19-22)

V. O ministério e mensagem do apóstolo (3.1-13)


a) O ministério concedido a Paulo (3.1-7)
b) O ministério que é dado a cada crente (3.8-13)

VI. A oração de poder do apóstolo (3.14-21)


a) Por força através do Espírito Santo (3.14-16)
b) Por fé e amor através da habitação de Cristo (3.17-19)
c) A Igreja e a glória de Deus (3.20-21)

"CAB R A L, Elienai. Comentário bíblico: Efésios. 3. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999. p. 11.
ls idem, p. 7.

CURSO DE TEOLOGIA 145


M ÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

VII. A responsabilidade do crente (4.1 - 16)


a) Para alcançar a unidade com diligência (4.1 - 6)
b) Para aceitar a graça e dons com humildade (4.7 - 11)
c) Para crescer no ministério como parte do corpo (4.12 - 16)

VIII. O chamado do crente para a pureza (4.17 - 5.14)


a) Ao recusar a falta de inclinação m undana (4.17-19)
b) Ao tirar 0 velho e colocar 0 novo (4.20 - 32)
c) Ao brilhar como filho da luz (5 .8 -1 4 )

IX. A vocação do crente para a vida cheia do Espírito (5.15 - 6.9)


a) Buscar a vontade e sabedoria de Deus (5.15 - 17)
b) M anter a plenitude do Espírito através de louvor e humildade ( 5 .1 8 - 2 1 )
c) Conduzir todos os relacionamentos de acordo com a ordem de Deus (5.22 - 6.9)

X. A vocação do crente para a batalha espiritual (6.10 - 20)


a) A realidade da batalha invisível ( 6 .1 0 - 12)
b) Armadura para 0 guerreiro ( 6 .1 3 - 1 7 )
c) A ação envolvida na batalha ( 6 .1 8 - 20)
d) Observações finais (6.21 - 24)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Como essa epístola tem sido apresentada por teólogos e estudiosos do Novo Testamento?
2) Onde foi escrita essa epístola?

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO
S. PAULO AOS FILIPENSES
Por volta do ano 350 a.C., a cidade de Crenides, que tinha esse nome devido a uma série de fontes encontradas em suas
proximidades, passou a ser denominada de Filípos, em homenagem a Filipe da Macedonia, pai de Alexandre, o Grande.
Sua localização era estratégica, pois se encontrava numa cordilheira de montanhas que dividia a Trácia da Macedonia
e a Ásia da Europa. Por volta do ano 168 a.C., a cidade caiu nas mãos dos romanos, quando a província da Macedonia
foi subjugada. Em 42 a.C., Marco Antônio e Otávio derrotaram Bruto e Cássio nessa região. Por ter enviado socorro
a Antônio, a cidade tomou-se colônia romana (Atos 16.12). A história da fundação dessa igreja é relatada em Atos 16.
Trata-se da primeira igreja que Paulo fundou na Europa, na segunda viagem missionária, por volta do ano 51 d.C.
Tema: Alegria no sofrimento. Embora Paulo estivesse escrevendo da prisão, a alegria é a nota dominante nesta
carta. A fim de encorajá-los na fé, Paulo expõe como viver uma vida cristã feliz, mostrando que a verdadeira alegria
só pode vir do conhecimento pessoal de Cristo e da dependência de sua força. Segundo Pearlman, “a epístola aos
Filipenses foi chamada ‘ 0 mais doce dos escritos de Paulo’ e a ‘mais formosa de todas as cartas de Paulo em que
expõe o seu próprio coração e onde em cada sentença brilha um amor mais temo do que o de uma mulher” .16
Por que foi escrita: Paulo queria demonstrar sua gratidão aos filipenses por ter recebido uma doação em
dinheiro trazida por Epafrodito (2.25; 4.14, 18). Epafrodito quase perdera a vida na viagem. Quando recuperou
sua saúde (2.25-30; 4.18), Paulo 0 enviou a Filipos com essa epístola de agradecimento e exortação acerca de sua
preocupação com possíveis problemas na igreja (3.2-4.9).

16 PEARLMAN, Myer. Através da B íb lia ..., cit., p. 277.

CURSO DE TEOLOGIA
146
MÓDULO 2 1PANORAMADO NOVO TESTAMENTO

Quando foi escrita: Paulo escreveu essa carta quando se encontrava preso (1.7, 13, 17), mas ele não diz a
localização da sua prisão. Sabe-se que Paulo esteve aprisionado em Cesaréia durante dois anos (Atos 23.33;
24.27) e também em Roma (Atos 28.16). Entretanto, não foram somente essas cadeias que detiveram 0 apóstolo;
ele mesmo afirma que havia estado ”muito mais vezes” preso do que outras pessoas (2 Coríntios 11.23), 0 que
evidencia que ele havia sofrido mais prisões do que aquelas mencionadas em A tos.17 Se porventura a Epístola
aos Filipenses foi escrita em Cesaréia, então sua data teria sido entre 56 e 58 d.C. E se porventura ele a escreveu
em Roma, então deve ser datada depois de 59 d.C., que foi quando Paulo chegou pela primeira vez a Roma.
Tradicionalmente tem-se atribuído que essa epístola, bem como todas as outras “epístolas da prisão”, foi escrita
em Roma, lugar onde Paulo passou seu mais prolongado e famoso período de encarceramento.

Esboço de Filipenses
I. Introdução (1.1-11)

II. Circunstância da prisão de Paulo (1.12-26)


a) Pregaram 0 evangelho (1.12-18)
b) Garantiram as bênçãos (1.19-21)
c) Criaram um dilema para Paulo (1.22-26)

III. Exortações (1.27 - 2.18)


a) Vida digna do evangelho (1.27-2.4)
b) Reproduzir a mente de Cristo (2.5-11)
c) Cultivar a vida espiritual (2.12-13)
d) Cessar com murmúrios e questionamentos (2.14-18)

IV. Recomendações e planos para os companheiros de Paulo (2.19-30)


a) Timóteo (2.19-24)
b) Epafrodito (2.25-30)

V. Advertências contra 0 erro (3.1-21)


a) Contra os judaizantes (3.1-6)
b) Contra o sensualismo (3.17-21)
c) Conclusão (4.1-23)
d) Apelos finais (4.1-9)
e) Reconhecimento das dádivas dos filipenses (4.10-20)
í) Saudações (4.21-22)
g) Bênção (4.23)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Além de encorajá-los na fé, 0 que essa epístola mostra?
2) Onde foi escrita essa epístola?

1'Clemente diz que Paulo esteve preso sete vezes (1 Ciem 5.6).

CURSO DE TEOLOGIA ‫״‬


MÓDULO 2 I PANO RAM A DO NOVO TESTAMENTO

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO
S. PAULO AOS COLOSSENSES
Colossos era uma pequena cidade da província da Frigia, na Ásia Menor, situada na margem sul do rio Licos,
cerca de 160 km a leste de Éfeso, e avizinhava-se com Laodicéia e Hierápolis. Por aí passava a principal rota
comercial, 0 que fez a região do vale do Licos se tom ar muito próspera e rica. Colossos não era a cidade principal
- honra que pertencia a Laodicéia - e havia conhecido a prosperidade, porém pela época da dominação romana
começou a declinar a ponto de vir a ser a m enor e a menos importante das três cidades. A igreja de Colossos foi
estabelecida enquanto Paulo esteve em Éfeso (Atos 19.10).
Tema: Os falsos mestres. N a prisão 0 apóstolo tomou conhecimento, provavelmente por meio de Epafras,
de que um a heresia perniciosa, conhecida mais tarde pelo nome de gnosticismo, ameaçava a igreja de Colossos.
Enfatizando um conhecimento especial (gnosis , em grego) e negando a Cristo a condição de Deus e Salvador,
“o gnosticismo brotou do dualismo neoplatônico que associava aquilo que é bom ao ideal, ao espiritual, e o que
é mau ao material. Na plena expressão do gnosticismo, 0 redentor gnóstico vem à terra para dar àqueles que tem
ouvidos para ouvir informações sobre as verdadeiras origens deles. Esse conhecimento (gnosis) traz libertação
e salvação àqueles que o aceitam” .18 Sendo assim, os gnósticos vangloriavam-se de possuir uma sabedoria
muito mais profunda do que a dos apóstolos e aquela revelada nas Escrituras Sagradas, e ninguém poderia ser
feliz se não tivesse sido iniciado no mais profundo mistério de seu culto. A persuasão dos falsos ensinos era tal
que precisavam ser tomadas medidas rigorosas para evitar a proliferação deles no seio da igreja. Escrevendo da
prisão, o apóstolo Paulo combateu esses falsos ensinos que haviam se infiltrado na igreja de Colossos.
Por que foi escrita: Os gnósticos consideravam-se cristãos dotados de conhecimento superior ao dos demais
convertidos. Os colossenses, tendo ouvido falar da prisão de Paulo, enviaram Epafras, 0 seu ministro, para
informar ao apóstolo sobre a situação em que se encontravam (1.7-8). Por meio de Epafras Paulo ficou sabendo
que falsos mestres procuravam acrescentar à fé cristã um a doutrina cuja força provinha das mitologias da Grécia,
do Egito, da Pérsia e da índia. “Ao combinar elementos da filosofia pagã, alguns elementos da astrologia e
mistério das religiões gregas com as doutrinas apostólicas do cristianismo, 0 gnosticismo tornou-se uma forte
influência na igreja.” 19 Certos gnósticos negavam a verdadeira humanidade de Cristo e ensinavam que Cristo era
um a divina influência que emanava de Deus e havia descido sobre o homem Jesus no seu batismo, retirando-se
no Jardim do Getsêmani antes de sua crucificação. De acordo com esse ensino, foi Jesus quem morreu e não 0
Cristo. Ainda ensinavam que a matéria era m á e que o Deus dos judeus não era 0 Ser Supremo, mas um ser bem
inferior a quem denominavam de Demiurgo. Este era incomunicável e habitava na luz inacessível; sendo perfeito
e a matéria má, não poderia haver contato entre ambos. Entretanto, havia uma série de seres intermediários entre
a divindade e os homens, denominados de éons, os quais seriam emanações de Deus, dentre os quais Cristo
fazia parte, assim como os anjos, que “eram considerados mediadores e salvadores” .20 O apóstolo combateu tais
ensinos em sua carta como se verifica em tais passagens: 1.13,15; 2.9-10, 15, 18-19.
Quando foi escrita: O portador da mensagem foi Epafras, mas a Epístola aos Colossenses foi enviada por
intermédio do mesmo mensageiro que levou as epístolas aos efésios e a Filemom, ou seja, Tíquico, companheiro
de ministério do apóstolo (4.7-8), sendo escrita mais ou menos no mesmo tempo da Epístola aos Efésios.

’ 8CARSON, D. A.; M 0 0 , Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2006. p. 180.
‫ ״‬MATHER, George A.; NICHOLS, Larry A. Dicionário de religiões, crenças e ocultismo. São Paulo: V ida, p .l 75.
” RENOVATO, Elinaldo. Colossenses: a perseverança da igreja na palavra nestes dias difíceis e trabalhosos. Rio de Janeiro: CPAD, 2004. p. 19.

CURSO DE TEOLOGIA
148
MÓDULO 2 I PAN O RAM A D O NOVO TESTAMENTO

Esboço de Colossenses
I. Introdução (1.1-14)

II. Oração de louvor pela fé dos colossenses (1.3-8)


a) Oração de petição pelo crescimento deles em Cristo (1.9-14)

III. Apresentação da supremacia de Cristo (1.15 - 2.7)


a) N a criação (1.15-17)
b) Na Igreja (1.18)
c) Na reconciliação (1.19-23)
d) No ministério de Paulo (1.24 - 2.7)

IV. Defesa da supremacia e suficiência de Cristo (2.8-23)


a) Contra a falsa filosofia (2.8-15)
b) Contra 0 legalismo (2.16-17)
c) Contra o louvor aos anjos (2.18-19)
d) Contra o ascetismo (2.20-23)

V. A vocação exaltada (3.1 - 4.6)

VI. Conclusão (4.7-18)


a) Companheiros de Paulo (4.7-9)
b) Saudações finais (4.10-15)
c) Exortações e bênçãos finais (4.16-18)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Qual era a heresia que ameaçava essa igreja?
2) De que se vangloriavam os gnósticos?
3) O que ensinavam os gnósticos?

PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO


S. PAULO AOS TESSALONICENSES
Em sua segunda viagem missionária, Paulo foi de Filipos para Tessalônica e aí fundou a comunidade cristã,
apoiado por Silvano e Timóteo (1 Tessalonicenses 1.1, 5-8; 2.1-14; 3.1-6). Esta é uma das cartas mais pessoais
de Paulo. Não é tão doutrinária ou polêmica como algumas outras. O corpo da carta consiste principalmente de
recomendações, reminiscências pessoais, conselhos e exortações. A verdade central ressaltada amplamente é a
esperança futura da vinda de Cristo.
Tema: A vida santa até a volta de Cristo. Com a finalidade de tomar conhecimento do estado da igreja, Paulo
enviou Timóteo de Atenas para Tessalônica (3.1). Depois de receber 0 relatório de Timóteo sobre a novel igreja que
os missionários haviam deixado em Tessalônica após a perseguição que sofreram, Paulo escreveu aos tessalonicenses
para regozijar-se com a fé deles e também para sanar as dúvidas sobre os diversos assuntos para os quais eles
desejavam esclarecimentos suplementares, especialmente em relação ao ensino da volta de Cristo, pois alguns,
aplicando erroneamente o sentido das palavras de Paulo, haviam desistido de trabalhar e estavam ociosos, vivendo

CURSO DE TEOLOGIA
149
MÓDULO 2 I PAN O RAM A DO NOVO TESTAMENTO

do trabalho dos outros. Pelo fato de alguns membros da congregação terem falecido desde que Paulo deixara a
cidade, os fiéis estavam ansiosos para saber se estes, em conseqüência, sofreriam alguma desvantagem no regresso
de Jesus, em comparação àqueles que ainda estivessem vivos. Ao retratar 0 assunto nessa carta, o apóstolo concluiu,
em todos os cinco capítulos, com uma referência à vinda do Senhor (1.10; 2.19; 3.13; 4.17; 5.23).
Por que foi escrita: A igreja de Tessalônica era muito jovem, tendo sido estabelecida apenas dois ou três anos antes
de essa carta ser escrita. Paulo havia recebido um relatório favorável sobre os tessalonicenses, entretanto escreveu a
carta com o propósito de salientar a importância da fé como também encorajar os crentes em face das perseguições
(3.1-5), além de dirimir as dúvidas levantadas, principalmente a respeito da segunda vinda do Senhor.
Quando foi escrita: Escrita em Corinto, logo após a chegada de Timóteo e Silas (Atos 18.5; 1 Tessalonicenses
1.1; 3.6), na segunda viagem missionária de Paulo, por volta de 50 d.C.

Esboço de I a Tessalonicenses
I. Dados pessoais e históricos (1.1 - 3.13)
a) Saudação de Paulo (1.1)
b) O elogio de Paulo aos tessalonicenses (1.2-10)

II. A conduta de Paulo entre os tessalonicenses (2.1-12)

a) Sua retidão (2.1-4)


b) Sua diligência (2.5-9)
c) Seu comportamento irrepreensível (2.10-12)
d) O interesse de Paulo pelos tessalonicenses (2.13 - 3.13)
e) Pelos sofrimentos (2.13-20)
f) Pelas suas provações (3.1-8)
g) Pelo seu crescimento constante (3.9-13)

III. Ensino prático e exortativo (4.1 - 5.28)

a) Ensino sobre crescimento cristão (4.1-12)


b) N a vida sexual (4.1-8)
c) No amor fraternal (4.9-10)
d) Num a vida ordeira (4.11-12)
e) Ensino sobre os mortos em Cristo (4.13-18)
f) Ensino sobre o Dia do Senhor (5.1-11)
g) Ensino sobre os deveres variados (5.12-28)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Qual é o tema dessa epístola?
2) Qual foi o propósito de Paulo ao escrever essa epístola?
3) Quando foi escrita essa epístola?

CURSO DE TEOLOGIA
150
MÓDULO 2 I PAN O RAM A DO NOVO TESTAMENTO

SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO


S. PAULO AOS TESSALONICENSES
Com o aumento da perseguição, muitos na igreja continuavam confusos sobre quando ocorreria a volta de
Cristo. Os cristãos pensavam que o Dia do Senhor estava iminente, podendo acontecer a qualquer momento.
Com isso, muitos deixaram seus afazeres com o pretexto de estarem à espera da volta de Cristo. Nesse contexto
Paulo indica os vários acontecimentos que devem preceder a segunda vinda de Cristo.
Tema: A segunda vinda de Cristo. Chegou ao conhecimento do apóstolo Paulo, de fontes não identificadas,
que alguns cristãos em Tessalônica, embora experimentassem certo crescimento espiritual, haviam interpretado
mal seu ensino a respeito da segunda vinda de Cristo. Assim, ele escreveu uma segunda carta para tratar desses
problemas que haviam se intensificado (2 Tessalonicenses 3.11), bem como para encorajar os fiéis e repreender
os ociosos.
Por que foi escrita: O propósito principal de Paulo nessa epístola é semelhante ao da anterior, ou seja,
fortalecer a fé dos cristãos e transmitir-lhes a certeza da volta de Cristo.
Quando foi escrita: Essa segunda carta foi escrita pouco tempo depois da primeira. O lugar provável da
escrita foi Corinto, por volta de 50 d.C. ou início de 51 d.C.21

Esboço de 2a Tessalonicenses
I. Saudações (1.1-2)

II. Ações de graça e estímulo na perseguição (1.3-12)


a) Correção sobre o Dia do Senhor (2.1-17)
b) Sua relação com 0 presente (2.1-2)
c) Sua relação com a apostasia (2.3)
d) Sua relação com o homem da iniqüidade (2.3-5)
e) Sua relação com o detentor (2.6-9)
f) Sua relação com os descrentes (2.10-12)
g) Sua relação com os crentes (2.13-17)

III. Exortações à oração e à disciplina (3.1-15)


a) A confiança de Paulo (3.1-5)
b) Os mandamentos de Paulo (3.6-15)
c)B ên ção e saudação (3.16-18)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Qual é o propósito principal dessa epístola?
2) De onde foi escrita essa epístola?

21 HENDRIKSEN, W illiam . 7 e 2 Tessalonicenses. São Paulo: Cultura Cristã, 1998. p. 25.

CURSO DE TEOLOGIA .«
MÓDULO 2 I PANO RAM A DO NOVO TESTAMENTO

EPÍSTOLAS PASTORAIS
1 E 2 TIMÓTEO E TITO
As duas epístolas a Timóteo e a epístola a Tito são conhecidas como epístolas pastorais, por serem escritas
a dois pastores. Paulo, quando as escreveu, estava bem maduro na fé, e conseqüentem ente encontram os nelas
as palavras de despedida do grande apóstolo aos m inistros e obreiros cristãos. Temos, ainda, nessas cartas, a
sabedoria am adurecida pela velhice. E, após tantos séculos, ainda hoje os obreiros cristãos encontram nessas
páginas a fonte inesgotável de ânimo e auxílio.

PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO


S. PAULO A TIMÓTEO
Paulo havia partido para a Macedonia (1 Timóteo 1.3), mas esperava voltar logo. Timóteo, assíduo companheiro
de viagens e amigo íntimo de Paulo, foi enviado a Éfeso para cuidar da igreja e refutar os falsos mestres que ali
haviam surgido (1.3-4). Cauteloso com a vida de seu filho na fé, Paulo escreveu essa carta para ajudar Timóteo
em seu ministério.
Tema: O cuidado pastoral das igrejas. Timóteo era jovem e ainda não possuía suficiente autoridade para refrear
os homens arrogantes que se levantassem contra ele. Havia muitas coisas em Éfeso que requeriam organização e
demandavam a sanção de Paulo, bem como a autoridade de seu nome. Timóteo provavelmente serviu por algum
tempo como líder na igreja de Éfeso. Paulo desejava visitá-lo (3.14-15; 4.13), mas como não podia naquele
momento resolveu escrever um a carta para dar-lhe instruções práticas sobre o ministério.
Por que foi escrita: Da Macedonia ele escreveu a Éfeso para estimular o próprio Timóteo a levar a cabo a
dificílima tarefa de deter os falsos mestres que laboravam no erro bem como dar-lhe autoridade perante a igreja.
Sendo assim, “Timóteo estava ali para trazer à lembrança da igreja os caminhos de Paulo. A carta que 0 autoriza
a tanto não necessitaria ao mesmo tempo de um detalhamento desses ‘cam inhos’”, 22 pois já era conhecida de
seus destinatários.
Quando foi escrita: Por volta de 64 d.C., sendo enviada possivelmente da Macedonia (talvez Filipos).

Esboço de I a Timóteo
I. Introdução ( 1. 1-20 )

II. Instruções relacionadas à igreja (2.1 - 3.16)


a) Seu culto (2.1-15)
b) Seus líderes (3.1-13)
c) Sua função em relação à verdade (3.14-16)

III. Instrução relacionada aos deveres pastorais (4.1 - 6.10)


a) Em relação à igreja como um todo (4.1-16)
b) Em relação às várias classes na igreja (5.1 - 6.10)

IV. Exortações finais (6.11-21)

” FEE, Gordon D. Novo comentário bíblico contemporâneo. São Paulo: V ida, 1994. p. 22.

152 CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 1PAN O RAM A DO NOVO TESTAMENTO

a) Para manter a fé e militar na fé (6.11-21)


b) Para apresentar as reivindicações de Cristo aos ricos (6.17-19)
c) Para guardar a verdade (6.20-21)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Qual é o tema dessa epístola?
2) Por que foi escrita essa epístola?

SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO


S. PAULO A TIMÓTEO
Essa carta foi escrita quando a vida de Paulo estava quase no fim. Ele apresenta um breve sumário de seu
evangelho e pede a Timóteo para que fique ao seu lado. Paulo já havia passado por um a audiência prelim inar
(4.16-18), e a maioria de seus companheiros 0 havia deixado (1.15-17; 4.10-11, 16). Paulo aguardava seu
julgam ento final, do qual pouco esperava senão a morte (4.6-8). Em meio a tais circunstâncias Paulo dá
conselhos úteis a Timóteo, escrevendo seus pensamentos finais, passando a este “um a espécie de testam ento e
m anifestação últim a de vontade, um a ‘transferência de responsabilidade” ’.23
Tema: O sofrer pela fé. Paulo admoesta Timóteo a aceitar sua parte dos sofrimentos, comprometendo-se a
testemunhar a favor de Cristo e do evangelho como também a favor da integridade e da veracidade do evangelho
pregado pelo próprio Paulo. Timóteo deveria fazer isso seguindo para Roma a fim de ficar ao lado de Paulo até a sua
morte. Para Timóteo era a hora da verdade: não atender ao chamado de Paulo, envergonhando-se de se identificar com
ele em sua prisão, seria o mesmo que se envergonhar de proclamar Jesus Cristo como seu Senhor (cf. 2.1, 3, 8-9).
Por que foi escrita: O apóstolo Paulo, já com idade avançada, estava próximo do final de sua vida, mas seu
desejo ardente de continuar sua missão não se apagara. Ele estava escrevendo para um de seus amigos mais
íntimos - eles viajaram juntos, sofreram, choraram e riram juntos. Timóteo é retratado como um jovem muito
novo, enfermiço, tímido, carente de espírito enérgico, e assim o apóstolo o exorta incisivamente a defender o
evangelho, a pregar a Palavra de Deus, a perseverar na tribulação e a cumprir sua missão. Em face da oposição
e da perseguição Timóteo deveria desempenhar seu ministério sem medo ou vergonha.
Quando foi escrita: De acordo com Eusébio de Cesaréia, essa carta teria sido escrita durante sua prisão em
Roma, antes de sua iminente execução por ordem do imperador Nero, por volta dos anos 66 ou 67 d.C.24

Esboço de 2a Timóteo
I. Introdução (1.1-5)

II. Ação de graças (1.3-5)

III. Fidelidade diante das dificuldades (1.6-14)


a) Devido à natureza da experiência cristã (1.6-8)
b) Devido à grandeza do evangelho (1.9-11)
c) Devido ao exemplo de Paulo (1.12-14)

” FEE, Gordon D. Op. cit., p. 24.


24 CESARÉIA, Eusébio de. H istória eclesiástica. Rio de Janeiro: CPAD, 1999. p. 70-71.

CURSO DE TEOLOGIA
1S3
MÓDULO 2 I PAN O RAM A D O NOVO TESTAMENTO

IV. Fidelidade diante das deserções (1.15 - 2.13)


a) O exemplo de Onesíforo (1.15-18)
b) O caráter da obra de Timóteo (2.1-7)
c) A obra redentora de Cristo (2.8-13)

V. Fidelidade diante do erro (2.14 - 4.8)


a) Erro doutrinário (2.14-26)
b) Erro prático (3.1 - 4.8)

VI. Conclusão (4.9-22)


a) Instrução (4.9-13)
b) Advertência (4.14-15)
c) Explicação (4.16-18)
d) Saudações (4.19-21)
e) Bênção (4.22)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Quando foi escrita essa carta?
2) O apóstolo exorta incisivamente Timóteo a quê?

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A T IT O


Paulo e Tito trabalharam juntos por um breve período na ilha de Creta (a sudoeste da Ásia Menor, no m ar
Mediterrâneo), no período entre a primeira e a segunda prisão de Paulo em Roma. Paulo deixou Tito em Creta
para nomear presbíteros nas várias igrejas da ilha (1.5) enquanto ele e Timóteo foram para Efeso e encontraram
ali a igreja em tão grande confusão, que Paulo deixou Timóteo ali para restaurar a ordem. D a M acedonia ele
escreveu a Efeso a fim de dar autoridade a Timóteo e também escreveu para Tito a fim de delegar-lhe autoridade
contra os falsos mestres.
Tema: Instruções aos líderes da igreja. Paulo aconselha 0 jovem pastor a como proceder na escolha dos
presbíteros, dando orientações sobre o tipo de pessoa exigida para essa função. A conduta de cada um deles em
seus lares revelava sua idoneidade para 0 serviço na igreja. Em seguida Paulo enfatiza a importância de como se
relacionar com pessoas de variadas faixas etárias na igreja (2.2-6). Exorta a Tito para que ele próprio se tom asse
o “padrão dos fiéis”, a ensinar com intrepidez e convicção (2.9-15). Por fim, Paulo incentiva Tito a ajudar as
pessoas no sentido do comportamento cristão exemplar.
Por que foi escrita: Essa carta, como também as de Timóteo, não foi endereçada a comunidades, mas aos seus
“pastores”, a homens, portanto, que exercem o ministério na igreja. Sendo assim, “temos aqui os primeiríssimos
testemunhos das assim chamadas ordenações eclesiásticas, isto é, da codificação das normas e regulamentações
do comportamento eclesiástico” .25
Quando foi escrita: Aproximadamente por volta de 64 d.C., sendo enviada provavelmente da M acedonia
(talvez Filipos), na m esma época em que a primeira carta a Timóteo foi escrita.

‫ ״‬SHREINER, J.; DAUTZENBERG, G. Forma e exigências do Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Teológica, 2004. p. 156.

m CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 2 I PAN O RAM A DO NOVO TESTAMENTO

Esboço de Tito
I. Saudações iniciais (1.1-4)

II. Os presbíteros na igreja (1.5-9)


a) Sua necessidade (1.5)
b) Suas qualificações (1.6-9)

III. Os falsos mestres (1.10-16)

IV. Instruções a vários grupos no seio da igreja (2.1-10)

V. O dever cristão de praticar boas obras (2.11 - 3.11)

VI. Mensagens e saudações finais (3.12-15)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Como Paulo aconselha 0 jovem pastor Tito?
2) Quando foi escrita essa epístola?

EPÍSTOLA DO APÓSTOLO S. PAULO A FILEMOM


Filemon é um cristão rico de Colossos, convertido por Paulo (Filemom 19), que se tom ou um colaborador
amigo (Filemom 1.17, 20, 22). Circunstâncias que ignoramos aproximaram Onésimo, escravo da casa de
Filemom, do prisioneiro Paulo, que o converteu ao evangelho.
Tema: Reconciliação. Paulo escreveu essa carta provavelmente durante sua primeira prisão em Roma (Atos
28.16-31). Ele intercede junto a Filemom em favor de Onésimo, um escravo fugitivo que Paulo havia conhecido
em Roma, que respondeu às boas novas convertendo-se à fé em Cristo (1.10). Agora Onésimo tom ara-se melhor
que um escravo: é um “irmão caríssimo” (12-16), pelo qual Paulo pediu para que Filemom não o castigasse,
mas 0 perdoasse. “Assim como Paulo intercedeu por um escravo, Cristo intercede por nós, que fomos escravos
do pecado. Da m esma forma que Onésimo foi reconciliado com Filemom, nós somos reconciliados com Deus
através de Cristo.” 26
Por que foi escrita: Paulo escreveu essa carta a fim de convencer Filemom a perdoar Onésimo, seu escravo
fugitivo, e aceitá-lo como irmão na fé.
Quando foi escrita: Essa é um a das quatro cartas que 0 apóstolo Paulo escreveu durante seu encarceramento
em Roma. Essa epístola direcionada a Filemom foi enviada pelo mesmo mensageiro que levou as epístolas aos
Colossenses e aos Efésios - Tíquico - , sendo escrita mais ou menos no mesmo tempo da epístola aos Efésios
(59-61/62 d.C.).27

Esboço de Filemom
I. Saudação (1-3)

II. Ação de graças em relação a Filemom (4-7)


a) Louvor pessoal (4)
b) Características dignas de louvor (5-7)

“ B íblia de Estudo Aplicação Pessoal.


” HALLEY, Η. H. M a n u a l bíblico de Halley. São Paulo: V ida, 2001. p. 677.

CURSO DE TEOLOGIA
155
MÓDULO 2 I PANO RAM A DO NOVO TESTAMENTO

III. Petição de Paulo por Onésimo (8-21)


a) Um pedido de aceitação (8-16)
b) U m a garantia de reembolso (17-19)
c) Uma confiança na obediência (20-21)

IV. Preocupações pessoais (22-25)


a) Esperança de libertação (22)
b) S audações(23-24)
c) Bênção (25)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Paulo intercede junto a Filemom em favor de quem?
2) Qual é o propósito de Paulo ao escrever essa epístola?

EPÍSTOLA AOS HEBREUS


A epístola destinada aos hebreus contém um a discussão completa da eterna Deidade de Cristo, seu supremo
governo e sacerdócio exclusivo, e como essas coisas são sobejamente explicadas nela, de sorte que todo 0 poder
e obra de Cristo se manifestam ali. Hebreus revela a verdadeira identidade de Jesus Cristo como Deus. Ele é a
autoridade máxima, portanto é maior do que qualquer religião ou qualquer anjo. Ele é superior a qualquer líder
judeu (como Abraão, Moisés ou Josué) e superior a qualquer sacerdote. Jesus é a revelação completa de Deus.
Tema: A superioridade de Cristo. O verdadeiro propósito dessa epístola é demonstrar por meio de raciocínio
concludente que Jesus é o melhor, supremo e suficiente Salvador. O autor procura demonstrar cuidadosamente
a verdadeira identidade de Jesus Cristo, sendo superior aos anjos (1.4 - 2.18), aos líderes religiosos (3.1 - 4.13)
e a qualquer sacerdote (4.14 - 7.28). O cristianismo ultrapassa o judaísmo por ter uma aliança melhor (8.1-13),
um santuário melhor (9.1-10) e um sacrifício suficiente pelos pecados (9.11 - 10.18). Depois de estabelecida a
superioridade do cristianismo, 0 escritor parte para as implicações práticas de seguir a Cristo. Os leitores são
exortados a apegarem-se à sua nova fé, a encorajarem-se uns aos outros e a aguardarem ansiosamente a volta de
Cristo (10.19-25). São advertidos das conseqüências de rejeitar 0 sacrifício de Cristo (10.26-31) e lembrados das
recompensas da fidelidade (10.32-39). Então, 0 autor explica como viver pela fé, citando exemplos de homens e
mulheres fiéis na história de Israel (11.1 -40), encorajando-os e exortando-os quanto ao cotidiano cristão (12.1-17).
Por que foi escrita: O objetivo inicial é demonstrar aos judeus que Jesus, o Filho de Maria, era 0 Cristo, 0
Redentor que lhes fora prometido nas Escrituras, e sua superioridade sobre 0 antigo concerto. A conclusão a que
se chega é que Jesus é superior aos profetas, aos anjos, a Moisés, a Josué, ao sábado, aos sacerdotes. Ele é nosso
bem maior.
Quando foi escrita: Tudo indica que essa carta foi escrita antes da destruição do Templo em Jerusalém, no ano
70 d.C. O autor faz uso do tempo presente ao descrever 0 trabalho do sacerdócio levítico (7.8; 9.6-10,13; 10.2; 13.10),
e isso nos leva a entender que 0 santuário ainda estava ativo, 0 que justificaria sua datação conforme calculado.
Autor: No tocante à autoria, há quem pense que seu autor foi Paulo; outros, Lucas; outros, Bamabé; outros,
Apoio; e ainda outros, Clemente - no dizer de Jerônimo. Eusébio, todavia, no sexto livro de sua História
Eclesiástica, faz menção somente a Lucas e Clemente.

CURSO DE TEOLOGIA
156
MÓDULO 2 I PAN O RAM A D O NOVO TESTAMENTO

Esboço de Hebreus
I. A superioridade da pessoa de Jesus (1.1 - 4.13)
a) Superior aos profetas (1.1-3)
b) Superior aos anjos (1.4 - 2.18)
c) Superior a Moisés ( 3 .1 - 1 9 )
d) Superior a Josué (4.1-13)

II. A superioridade do ministério de Jesus (4.4 - 10.8)


a) Superior ao de Arão (4 .1 4 -5 .1 0 )
b) O sacerdócio de Melquisedeque, figura de Jesus, é melhor do que o de Arão (7.1 - 8.5)
c) Jesus é mediador de uma m elhor aliança (8.6 - 10.18)

III. A superioridade da caminhada da fé (10.19 - 13.35)


a) Um chamado à segurança total da fé (10.19 - 11.40)
b) A persistência da fé (12.1 -29)
c) Admoestações sobre o amor (13.1-17)
d) Conclusão (13.18-25)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) O que a carta aos Hebreus revela?
2) Qual é o verdadeiro propósito dessa carta?
3) A qual conclusão se chega nessa carta?

EPÍSTOLAS GERAIS OU CATÓLICAS


Aqui se inicia um a série de epístolas denominadas “universais” , porque, diferentemente das de Paulo, não
são endereçadas a nenhuma igreja em particular, mas aos crentes em geral, exceto a segunda e a terceira epístola
de João. O termo católicas foi aplicado pela primeira vez às sete cartas como um grupo por Eusébio (265-340),
embora escritores mais antigos tenham chamado as cartas deste grupo de “gerais”.

EPÍSTOLA UNIVERSAL DO APÓSTOLO S. TIAGO


A epístola de Tiago é muito especial. Ela difere de todas as outras epístolas do Novo Testamento por não tratar
de assuntos como: salvação, Igreja, Espírito Santo, vida no além etc. O próprio Jesus é mencionado apenas por
duas vezes (1.1 e 2.1). Talvez por isso Martinho Lutero a chamasse de “epístola de palha, porquanto não exibe o
caráter do evangelho”.28 Entretanto, ela aborda um importantíssimo problema - a relação entre as obras e a fé.
Tema: A fé genuína. Tiago é enfático ao afirmar que a fé verdadeira sempre se caracteriza pela obediência
e que somente esse tipo de fé demonstrada em obras trará salvação. Em toda essa epístola destaca-se a relação
entre a fé genuína e a vida piedosa. A fé verdadeira é provada (1.2-16), ativa (1.19-27), ama o próximo (2.1-13),
manifesta-se pelas boas obras (2.14-26), domina a língua (3.1-12), deseja a sabedoria de Deus (3.13-18), confia
em Deus (4.13-17), é paciente (5.7-12) e diligente em oração (5.13-20). A conclusão é que Tiago quer que os
crentes não apenas ouçam a verdade, mas também a coloquem em prática.
Por que foi escrita: O autor escreveu para dar conselhos práticos bem como encorajar aqueles que estavam
sendo oprimidos mediante as várias provações e perseguições. “Esta carta é um quadro da vida cristã primitiva em

28 LUTERO apud CHAMPLIN, 199S, p. 1.

CURSO DE TEOLOGIA
157
MÓDULO 2 I PAN O RAM A DO NOVO TESTAMENTO

meio às mais difíceis condições sociais e num ambiente que não era simpático, se não completamente hostil.” 29
Autor: A carta declara ter sido escrita por “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (1.1). N o Novo
Testamento encontramos algumas pessoas com esse nome:

1) Tiago, filho de Zebedeu, irmâo de João. Foi decapitado a mando de Herodes Agripa I, em 44 d.C., ou em
data anterior (Marcos 1.19; 3.17; Atos 12.2);
2) Tiago, filho de Alfeu, um dos doze apóstolos (Marcos 3.18; Mateus 10.3; Lucas 6.15; Atos 1.13);
3) Tiago, irmão de Jesus, filho de José e Maria (Marcos 6.3; Gálatas 1.19);
4) Tiago, pai do apóstolo Judas (Lucas 6.16; Atos 1.13).

“Destes quatro homens, Tiago, pai de Judas (Marcos 3.17) não pode ser e não é seriamente considerado
como autor, porque ele em nenhuma outra parte é conhecido. Tiago, filho de Alfeu (Marcos 3.18; 15.40) foi
um dos doze apóstolos e possivelmente poderia ter escrito a carta. Todavia, não há absolutamente nenhuma
evidência na história da igreja para ligar seu nome com a carta. Tiago, filho de Zebedeu, era um dos doze e um
dos três discípulos íntimos do Senhor. Ele aparentemente era tido em alta consideração pela igreja primitiva
em Jerusalém. Contudo, esta carta teve problemas em ser aceita no cânon, talvez porque as igrejas apostólicas
e subapostólicas reconhecessem que ela não fora escrita por um dos doze. Depois que Jerônimo e Agostinho
praticamente forçaram a igreja ocidental a aceitá-la no cânon, a igreja da Espanha afirmou (do século sete em
diante) que ela era da mão de seu santo patrono, Tiago, filho de Zebedeu. O Concilio de Trento (1546), de
um a deferência à forte Igreja Católica na Espanha, decidiu somente que esta carta era de autoria do ‘apóstolo
Tiago’. Contudo, Tiago, filho de Zebedeu, foi martirizado por Herodes Agripa I em 44 d.C. É de m aneira geral
considerado pelos estudiosos que esta data prematura obstaria uma autoria pelo filho de Zebedeu. A absoluta
falta de apoio patrístico e de manuscrito antes do quinto século confirmaria esta conclusão. Deve ser de alguma
significação o fato de que o autor não se identifica como um apóstolo, como fazem Paulo e Pedro, em suas cartas.
A ausência deste termo em 1.1 apóia a conclusão de que nenhum dos dois apóstolos chamado Tiago escreveu esta
carta. Diante disto, resta apenas Tiago, irmão de nosso Senhor como possível autor.” 30
Quando foi escrita: O lugar é impreciso. Várias são as sugestões de onde teria sido escrita essa epístola.
Alguns defendem Roma, outros Jerusalém, outros Alexandria, não havendo um consenso entre os estudiosos. O
mesmo ocorre com relação à data. Acredita-se que essa epístola é o mais antigo de todos os documentos do Novo
Testamento. Alguns lhe dão a data de 48 d.C. (Bíblia de Estudo Pentecostal), ao passo que outros ainda são mais
radicais, datando em 40 d.C. Para outros (Manual bíblico Halley, M yer Pearlman) essa epístola foi escrita perto
do fim da vida de Tiago, provavelmente em 62 d.C.

Esboço de Tiago
I. Saudação (1.1)

II. Provações (1.2-18)


a) O propósito das provações (1.2-12)
b) A procedência das provações (1.13-16)
c) O propósito de Deus

III. A Palavra de Deus (1.19-27)


a) Escutar a Palavra (1.19-20)
b) Receber a Palavra (1.21)
c) Obedecer à Palavra (1.22-27)

30 HALE, Broadus David. Op. cit., p. 362.


” Idem, p. 369.

CURSO DE TEOLOGIA
158
MÓDULO 2 I PAN O RAM A D O NOVO TESTAMENTO

IV. Parcialidade (2.1-26)


a) A ordem (2.1)
b) A conduta (2.2-3)
c) As conseqüências (2.4-13)

V. Fé e obras (2.14-26)
a) A questão (2.14)
b) A ilustração (2.15-17)
c) O doutrinamento (2.18-26)

VI. Os pecados da língua (3.1-12)


a) Freio da língua (3.1-4)
b) A vangloria da língua (3.5-12)

VII. A verdadeira sabedoria (3.13-18)

VIII. Mundanismo (4.1-17)


a) Sua causa (4.1-2)
b) Suas conseqüências (4.3-6)
c) Sua cura (4.7-10)
d) Suas características (4.11-17)

IX. Riquezas, paciência e juramentos (5.1-12)


a) Oração (5.12-18)
b) A conversão de um desviado (5.19-20)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Por que essa epístola difere das demais do Novo Testamento?
2) Tiago é enfático ao afirmar 0 quê?
3) Por que foi escrita essa epístola?

PRIMEIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL


DO APÓSTOLO S. PEDRO
Simão era filho de Jonas (João 1.42) e nasceu em Betsaida, assim como o seu irmão André. Possuía um gênio forte
e temperamento impulsivo, “sendo totalmente extrovertido, seus defeitos são visíveis a todos”,31 porém possuía um
coração generoso e repleto de bondade. Não se deixava vencer pela adversidade, revelava uma fibra invejável, embora
a sua coragem e iniciativa pessoal estivessem fundamentadas na própria força humana. Homem simples, rude, de pouca
instrução, dedicava-se à pesca.
Tema: Sofrimento como cristão. Sob 0 domínio do Império Romano os cristãos estavam sendo torturados e mortos
por causa de sua fé e a igreja de Jerusalém estava sendo dispersa. Pedro sabia o que era sofrer pelo seu Senhor, pois já
havia sido colocado em cadeias por causa da sua fé. Então ele escreve à Igreja dispersa, que sofria pela fé (como ele),
oferecendo-lhe conforto e esperança, exortando-a à lealdade contínua a Cristo.
Por que foi escrita: Para proporcionar encorajamento à Igreja dispersa, que sofria pela fé, oferecendo-lhe
conforto e esperança, exortando-a à lealdade contínua a Cristo, tal como fazem todos os demais documentos do
Novo Testamento.
‫ ״‬LAHAYE, Tim. Temperamentos transformados. São Paulo: Mundo Cristão, s.d. p. 25.

CURSO DE TEOLOGIA
159
MÓDULO 2 I PAN O RAM A D O NOVO TESTAMENTO

Autor: A autoria da primeira epístola de Pedro não está envolta em dúvidas e questionamentos, como acontece
com outros escritos bíblicos. O autor começa 0 texto se apresentando: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo” (1.1). A
seu respeito, o Novo Testamento nos fornece muitas informações. Seu nome original era Simão ( σ ι μ ώ ν - Simon),
abreviatura de Simeão, nome hebraico que significa “famoso” . Simão era pescador (Mateus 4.18), até o dia em
que, conduzido por seu irmão André, conheceu o Senhor Jesus, o qual lhe disse: “Tu és Simão, filho de Jonas;
tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro” (João 1.42). Era chamado também de “Simão Barjonas”, ou seja,
Simão, filho de Jonas (Mateus 16.17), ou filho de João (João 21.15).
Quando foi escrita: As tradições dizem que Pedro sofreu martírio no reinado do imperador Nero (54 - 68 d.C.),
em Roma. Papias, bispo de Hierápolis, na Frigia, localizada a poucos quilômetros ao norte de Laodicéia, se
utilizou dessa epístola de Pedro, conforme declara Eusébio de Cesaréia: “O mesmo escritor utiliza testemunhos
tomados da primeira carta de João, e igualmente da de Pedro...” (HE, III, 39.17).32 Se aceitarmos o apóstolo
Pedro como autor, essa epístola não poderá ter sido escrita depois de 68 d.C.

Esboço de I a Pedro
I. Introdução (1.1-2)

II. A fé e esperança dos crentes no mundo (1.3 - 2.10)


a) Regozijando na esperança da volta de Cristo (1.3-12)
b) Vida justa devido à esperança (1.13-2.3)
c) Renovação para o povo de Deus (2.4-10)

III. A conduta do crente nas circunstâncias diárias (2.11 - 5.11)


a) Submissão e respeito pelos outros (2.11 - 3.12)
b) Sofrimento em nome de Cristo (3 .1 3 -4 .1 9 )
c) Servindo humildemente enquanto sofre (5.1-11)
d) Conclusão (5.12-14)
e) Silvano, co-autor desta carta (5.12)
f) Saudações (5.13)
g) Exortações finais com bênção (5.1)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Por que foi escrita essa epístola?
2) Quando foi escrita essa epístola?

SEGUNDA EPÍSTOLA UNIVERSAL


DO APÓSTOLO S. PEDRO
A maneira em que foi escrita essa epístola não se assemelha à primeira, pois sua linguagem é diferente. Pedro,
ardoroso defensor da fé cristã, se posiciona contra os falsos mestres diante das doutrinas e práticas não-cristãs.
Tema: Os falsos m estres. Enquanto a p rim eira epístola de Pedro trata do p erig o externo - as
perseg u içõ es - , a segunda adverte do perigo interno: a falsa doutrina. A nteriorm ente Pedro h av ia escrito
com a finalidade de co n fo rtar e en co rajar os crentes em m eio ao sofrim ento e à perseguição. A gora, três
anos m ais tarde, n essa carta, que co n tin h a suas ú ltim as palavras, o apóstolo escreveu com a fin alid ad e de
a d v ertir os cristãos co n tra um ataque de dentro - as heresias.

92CESARÉIA, Eusébio de. H istória eclesiástica. São Paulo: Fonte Editorial, 2005. p. 113.

CURSO DE TEOLOGIA
160
MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

Por que foi escrita: É uma carta de despedida. Pedro sabia que seu tempo estava próximo (1.13-14). Por
este motivo, ele foi explícito em seu propósito, advertindo seus leitores contra as heresias ocasionadas pelos
falsos mestres. Pedro os exorta a permanecerem nas palavras dos profetas e apóstolos, que predisseram a vinda
de falsos mestres, expondo a razão da demora da volta de Cristo (3.1-13), e encorajando-os a crescerem na fé
genuína (3.14-18).
Quando foi escrita: Como na primeira epístola, se aceitarmos 0 apóstolo Pedro como autor, essa também não
poderá ter sido escrita depois de 68 d.C.

Esboço de 2a Pedro
I. Saudação (1.1-2)

II. A verdadeira doutrina (1.3 - 2.3)


a) As virtudes morais (1.3-11)
b) Testamento de Pedro (1.12-15)
c) Os falsos mestres ( 1 .1 6 - 2 .3 )

III. Exposição e julgamento dos falsos mestres (2.4-22)


a) Destruição dos falsos mestres (2.4-10)
b) Descrição dos falsos mestres (2.10-22)

IV. Advertências contra os traidores do final dos tempos (3.1-18)


a) Escamecedores nos últimos dias (3.1-7)
b) Crentes e o Dia do Senhor (3.8-18)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Qual é 0 tema dessa epístola?
2) O apóstolo Pedro escreveu essa epístola com qual finalidade?

PRIMEIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL


DO APÓSTOLO S. JOÃO
Declarações breves, palavras simples e contrastes acentuados - luz e trevas, verdade e mentira, justiça e
pecado, vida e morte, amor e ódio, amar a Deus e amar ao mundo, filhos de Deus e filhos do diabo - são
usados para definir a vida cristã. Diante desse dualismo, João escreve para dissipar as dúvidas e dar segurança,
apresentando um retrato claro de Cristo.
Tema: Jesus é o Filho de Deus. Falsos mestres haviam se infiltrado no meio da Igreja, negando as verdades
do cristianismo, principalmente a encarnação de Cristo. João refuta tais ensinos considerados enganosos (2.26;
3.7), qualificando seus mestres como “falsos profetas” (4.1), mentirosos (2.22) e anticristos (2.18, 22; 4.3). Ao
contrário desses ensinos espúrios, o apóstolo apresenta Deus como “luz”, símbolo da pureza e santidade absoluta
(1.5-7), e explica como os cristãos podem e devem andar na luz para ter comunhão com Deus (1.8-10) através de
seu Filho Jesus, que é o verdadeiro Deus e a vida eterna (5.20).
Por que foi escrita: João, que viu Jesus curar, ensinar, assistiu à sua morte, encontrou-o ressuscitado e viu
sua ascensão, portanto uma testemunha ocular, escreveu com o propósito de reafirmar a confiança dos cristãos
em Deus e na sua fé bem como refutar as heresias dos falsos mestres.
Quando foi escrita: Provavelmente entre os anos 85 e 90 d.C., em Éfeso.

CURSO DE TEOLOGIA
161
MÓDULO 2 I PANO RAM A DO NOVO TESTAMENTO

Esboço de I a João
I. A encarnação (1.1-10)
a) Deus tomou-se came na forma humana (1.1-4)
b) Deus é luz (1.5-10)

II. A vida de justiça (2.1-29)


a) Caminhada na luz (2.1-7)
b) Advertindo contra o espírito do anticristo (2.18-29)

III. A vida dos filhos de Deus (3.1 - 4.6)


a) Justiça (3.1-12)
b) Am or (3.13-24)
c) Crença (4.1-6)

IV. A fonte do amor (4.7-21)

V. O triunfo da justiça (5.1-5)

VI. A garantia da vida eterna (5.6-12)

VII. Certezas cristãs (5.13-21)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Quais são os contrastes acentuados que aparecem nessa epístola?
2) Qual era a doutrina principal negada pelos falsos mestres?

SEGUNDA EPÍSTOLA UNIVERSAL


DO APÓSTOLO S. JOÃO
Assim como a primeira epístola, essa também foi escrita para fazer oposição aos falsos mestres gnósticos,
como também aos docetas, que estavam cirandando algumas igrejas.
Tema: A prática da verdade. Os falsos mestres eram um problema perigoso para a Igreja, pois atacavam as
bases do cristianismo. A palavra verdade é empregada cinco vezes nos quatro primeiros versículos: “amo na
verdade” (v. 1); “conhecem a verdade” (v. 1); “da verdade que permanece em nós” (v. 2); “a graça, a misericórdia
e a paz... estarão conosco em verdade e em amor” (v. 3); e “andando na verdade” (v. 4). Portanto, a verdade deve
estar presente e ativa na vida de todos os cristãos.
Por que foi escrita: O autor endereça sua carta à “senhora eleita e seus filhos”. Sendo assim, alguns entendem
que João escreveu para uma senhora cristã e a seus filhos, enquanto outros sugerem que a carta era destinada a
uma igreja. Independentemente do destinatário, 0 fato é que ele advertiu contra os falsos mestres itinerantes.
Quando foi escrita: Provavelmente entre os anos 85 e 90 d.C., em Éfeso.

Esboço de 2a João
I. Introdução (1-3)

II. Elogio pela lealdade passada (4)

CURSO DE TEOLOGIA
162
MÓDULO 2 I PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

TXT. Exortações (5-11)


a) Para amar 0 próximo (5-6)
b) Para rejeitar 0 erro (7-11)

IV. Conclusão (12-13)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Qual é 0 motivo que levou 0 autor a escrever essa carta?
2) O que se entende por “senhora eleita e seus filhos”?

TERCEIRA EPÍSTOLA UNIVERSAL


DO APÓSTOLO S. JOÃO
Enquanto na segunda epístola João exorta quanto aos falsos mestres viajantes que se infiltravam no seio da
Igreja, nessa 0 autor elogia Gaio quanto aos cuidados para com os servos de Deus que viajavam de cidade em
cidade fortificando e ajudando a estabelecer novas congregações.
Tema: A importância da hospitalidade. Se por um lado os heréticos itinerantes estavam perturbando a fé dos
cristãos, por outro os genuínos mestres da verdade estavam fazendo visitas às igrejas para fortalecer a fé dos
cristãos. N a carta anterior João proibiu a hospitalidade para os falsos mestres; aqui ele estimula a hospitalidade.
Entretanto, Diótrefes, uma pessoa dominante em um a das igrejas, se opôs à autoridade de João. Além disso, ele
recusou hospitalidade aos missionários viajantes e proibiu os outros de recebê-los, excomungando-os quando
eles 0 faziam. João escreveu para estimular Gaio em sua generosidade bem como para repreender Diótrefes por
sua conduta nada caridosa.
Por que foi escrita: João escreveu para estimular Gaio em sua generosidade e para repreender Diótrefes por
sua arrogância e também para anunciar sua intenção de breve visitá-lo (v. 14).
Quando foi escrita: Como as outras duas cartas, provavelmente foi escrita entre os anos 85 e 90 d.C., em Éfeso.

Esboço de 3a João
I. Saudação (1)

II. M ensagem a Gaio (2-8)


a) Oração por sua saúde (2)
b) Recomendação para a adesão à verdade (3-4)
c) Recomendação para sua hospitalidade (5-8)

III. Condenação à arrogância de Diótrefes (9-11)

IV. Elogio a Demétrio (12)

V. Conclusão (13-14)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) Por que foi escrita essa epístola?

CURSO DE TEOLOGIA
163
MÓDULO 2 1PANO RAM A DO NOVO TESTAMENTO

EPÍSTOLA u n iv e r s a l
DO a p ó s t o l o s . j u d a s
Os falsos mestres gnósticos haviam se infiltrado na Igreja, transformando a graça de Deus em licenciosidade
ilimitada para fazerem tudo o que desejavam sem temer 0 castigo de Deus. Em nada diferiam de Balaão, que,
movido pelo lucro fácil, levou os israelitas à desenfreada orgia.Foi para combater tais heresias que Judas escreveu:
“ .. .exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (v. 3).
Tema: Perseverança na fé. Judas mostra logo de início seu propósito de escrever sua epístola ao advertir os
cristãos contra os falsos mestres e conclamando-os a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos (v. 3). Os
epítetos utilizados para esses falsos mestres demonstram a mais dura investida contra os hereges do Novo Testamento:

a) Homens ímpios (v. 4)


b) Transformam a graça de nosso Deus em libertinagem (v. 4)
c) Negam a Jesus Cristo (v. 4)
d) Entregam-se à imoralidade sexual (v. 7)
e) Como animais irracionais se corrompem (v. 10)
f) Pastores que só cuidam de si mesmos (v. 12)
g) Nuvens sem água (v. 12)
h) Ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades (v. 13)
i) Estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre (v. 13)
j) M urmuradores, descontentes, andando segundo as suas paixões (v. 16)
k) Prom ovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito (v. 19)

Com essas sentenças, 0 autor deixa bem transparente que no Dia do Senhor os ímpios serão destruídos por Jesus.
Autor: O autor dessa epístola tem sido identificado com o “Judas, servo de Jesus Cristo e irm ão de
Tiago” (v. 1). Seis homens aparecem nas Escrituras com este nome: Judas Iscariotes, escolhido por Jesus para
ser apóstolo (Mateus 10.4); o irmão de Jesus (Mateus 13.55); o apóstolo, filho de Tiago, também chamado de
Tadeu (Mateus 10.3; Lucas 6.16); um cristão de Damasco, em cuja casa Paulo se hospedou, após sua conversão
(Atos 9.11); um cristão que se destacou na igreja de Jerusalém, também chamado de Barsabás (Atos 15.22-32);
e por fim Judas, o Galileu, um revolucionário (Atos 5.37). A Igreja Prim itiva tem identificado Judas como o
m eio-irm âo de Jesus (M ateus 13.55; M arcos 6.3).
Por que foi escrita: A grande maioria dos estudiosos concorda que a epístola de Judas foi escrita para
combater a heresia gnóstica. O gnosticismo tinha se alastrado pela Seara do Senhor e já contaminava muito de
seus fiéis. “Congregações eram subvertidas, obreiros, enganados. Até os mesmos responsáveis pelo redil viam-se
ludibriados pelos sofismas e casuísmos dos falsos mestres.” 33 Sendo assim, a intenção de Judas era, por um lado,
fazer com que aqueles que permaneciam íntegros reconhecessem 0 perigo dos falsos ensinos e protegessem a si
próprios e aos outros crentes e, por outro lado, advertir os apóstatas dentro da igreja quanto ao juízo final.
Quando foi escrita: Determinar datas sempre foi um problema para os estudiosos, visto que existem muitas
fontes de informações, e em alguns casos não coincidem. Para alguns essa epístola foi escrita antes de 2 Pedro,
portanto antes do ano de 65 d.C.; para outros foi escrita depois de 2 Pedro, como muitos estudiosos acreditam,
por volta dos anos 70 e 80 d.C.

33 ANDRADE, Claudionor de. Judas: batalhando pela genuína fé cristã. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2002. p. 3.

CURSO DE TEOLOGIA
164
MÓDULO 2 1PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

Esboço de Judas
I. Saudação (1-2)

II. Advertência contra os falsos mestres (3-19)


a) Motivo para a advertência (3-41
b) Lembrete do antigo povo ímpio (5-7)
c) Caráter do julgam ento dos falsos mestres (8-19)

III. Exortações por perseverança (20-23)

IV. Bênção (24-25)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1) O autor adverte seus leitores sobre 0 quê?
2) Cite três epítetos utilizados para os falsos mestres.

APOCALIPSE DO APÓSTOLO S. JOÃO


Apokalupsis (α π ο κ α λ υ ψ ις ), no grego, tem 0 sentido de “desvendar, manifestar, aparecer” . Esse livro revela
a completa identidade de Jesus Cristo e o plano de Deus para o fim do mundo, além de enfocar Jesus em sua
segunda vinda, sua vitória sobre 0 mal e o estabelecimento de seu reino. Portanto, Apocalipse é o livro da
consumação final, onde todos os caminhos convergem para a pessoa de Jesus Cristo - tem a central do livro. Ele
é apresentado como o Cordeiro de Deus que cumpriu as profecias do Antigo Testamento e garante o triunfo final
do grande plano de Deus para a salvação da humanidade. Somente Ele é digno de desatar os selos do livro da
ira de Deus. Portanto, Apocalipse é o cumprimento das profecias concernentes ao D ia do Senhor, trazendo tanto
juízo quanto redenção.
Tema: A soberania de Deus. A soberania consiste em um poder supremo e independente, entendendo-se por
poder supremo aquele que não está limitado por nenhum outro, e por independente aquele que não tem que acatar
regras que não sejam aquelas que emanam de si mesmo. Portanto, dizer que Deus é soberano é dizer que Ele
é maior do que qualquer poder do universo, sendo incomparável. De maneira muito transparente e minuciosa,
encontramos nesse livro o relato final da história da humanidade bem como 0 destino dos seres viventes. De
antemão, sabemos do fim do sistema mundial de Babilônia, o fim do Anticristo e seu reinado e 0 fim de Satanás
e seu domínio. O livro é marcado pelo número sete: sete cartas, sete bênçãos (1.3; 14.13; 16.15; 19.9; 20.6;
22.7,14), sete selos, sete trombetas, sete trovões, sete taças. “As sete cartas apontam para os eventos do final dos
tempos. Os sete selos antecipam tais eventos. As sete trombetas trazem julgam ento de Deus. As sete bênçãos e
os sete trovões reforçam as promessas e os julgam entos divinos.” 34
João inicia esse livro explicando como recebeu a revelação da parte de Deus (1.1-20). Em seguida, registra
mensagens específicas de Jesus às sete igrejas que estavam na Ásia (2.1 - 3.22). De repente, o cenário se
transforma, e imagens dramáticas e majestosas irrompem perante os olhos de João. Essa série de visões retrata o
futuro ressurgimento do mal culminando com a manifestação do Anticristo (4.1 - 18.24). Em seguida, João faz a
narração detalhada do triunfo do Rei dos reis (19.16), das bodas do Cordeiro (19.7), do Juízo Final e da chegada
da N ova Jerusalém vinda do céu (21.2), findando com a promessa da volta de Cristo (22.6-21).
Por que foi escrito: Foi escrito a fim de mostrar que o Senhor não permitirá que o mal prevaleça, mas que 0 reino
de Deus será instituído na Terra. Um dia, a ira de Deus pelos pecados será plena e completamente liberada sobre a face
da Terra, porém aqueles que não rejeitaram a Cristo escaparão do castigo de Deus sobre os ingratos e desobedientes.

94 H0RT0N, Stanley Nl. Apocalipse : as coisas que em breve devem acontecer. 3. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. p. 3.

CURSO DE TEOLOGIA
165
MÓDULO 2 I PAN O RAM A DO NOVO TESTAMENTO

Quando foi escrito: Como a epístola de Judas, não há consenso em relação à data em que esse livro foi escrito,
variando desde os dias do imperador Cláudio (41-54 d.C.) até os dias de Trajano (98-112 d.C.). Entretanto, a
corrente predominante é a que prefere pensar em 95 d.C., já em fins do governo de Domiciano (81-96 d.C.).

Esboço de Apocalipse
I. Prólogo (1.1)

II. As cartas às sete igrejas (1.9 - 3.22)


a) Um semelhante ao Filho do Homem (1.9-20)
b) As cartas (2.1 - 3.22)

III. Os sete selos (4.1 - 5.14)


a) O cenário (4.1 - 5.14)
b) Os selos (6.1 - 8.1)

IV. As sete trombetas (8.2 - 11.18)


a) O cenário: o altar dourado (8.2-6)
b) As trombetas (8.7 - 11.18)

V. Os sete sinais (11.19 - 1 5 .4 )


a) O cenário: a arca do concerto (11.19)
b) Os sinais (12.1 - 15.4)

VI. As sete taças (15.5 - 16.21)


a) O cenário: o templo do testemunho (15.5 - 16.1)
b) As sete taças (16.2-21)

VII. Os sete espetáculos (17.1 - 20.3)


a) O cenário: um deserto (17.1-3)
b) Os espetáculos (17.3 - 2 0 .3 )

VIII. As sete visões da consumação (20.4 - 22.5)


a) O cenário: (20.4-10)
b) As cenas (20.11 - 22.5)

IX. Epílogo (22.6-21)


a) As palavras de conforto (22.6-17)
b) Palavras de advertência (22.18-19)
c) Bênção final (22.20-21)

VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
1 O que revela o livro do Apocalipse?
2) O que se entende por soberania?
3) Quais fatos relacionados com 0 número sete marcam 0 livro do Apocalipse?
4) Por que foi escrito o Apocalipse?
5) Qual é a data predominante para a elaboração do livro do Apocalipse?

166 CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO 2 1PAN O RAM A D O NOVO TESTAMENTO

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FRAVE, Philippe. Epístola aos Colossenses. São Paulo: Casa da Bíblia, 1996.
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GABEL, John B.; WHEELER, Charles B. A Bíblia como literatura. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2003.
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GEISLER, Norman. A inerrância da Bíblia. São Paulo: Vida, 2003.
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M AINVILLE, Odete. Escritos e ambiente do Novo Testamento. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.

CURSO DE TEOLOGIA
167
MÓDULO 2 I PANO RAM A DO NOVO TESTAMENTO

MARTINEZ, Florentino García. Textos de Qumran. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.


MARTÍNEZ, Florentino García; BARRERA, Julio Trebolle. Os homens de Qumran. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
MATHER, George A.; NICHOLS, Larry A. Dicionário de religiões, crenças e ocultismo. São Paulo: Vida.
M ICHAELS, J. Ramsey. Novo comentário bíblico contemporâneo: João. São Paulo: Vida, 1994.
OLIVEIRA, Raimundo de. As grandes doutrinas da Bíblia. 9. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
OVERM AN, J. Andrew. O evangelho de Mateus e o judaísmo formativo. São Paulo: Loyola, 1997.
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PEARLM AN, Myer. Através da Bíblia livro por livro. São Paulo: Vida, 1996.
_________. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 1996.
_________. Atos. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
_________. Epístolas paulinas: semeando as doutrinas cristãs. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.
_________. João: o evangelho do filho de Deus. São Paulo: Vida, 1995.
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SH R EIN E R , J.; D A U T Z E N B E R G , G. Form a e exigências do Novo Testamento. 2. ed. São Paulo:
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WILLIANS, David J. Novo comentário bíblico contemporâneo: Atos. São Paulo: Vida, 1996.

CURSO DE TEOLOGIA
168
faculdade teológica betesda
Moldando vocacionados

AVALIAÇÃO - MÓDULO II
PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
1) Os evangelhos sinópticos retrataram a vida e a obra de Jesus, porém registraram um a mensagem que foi
básica em todos eles. Qual foi esta mensagem?

2) Explique a expressão “Reino dos céus” amplamente usada no evangelho de Mateus.

3) O que significa 0 termo “homem perfeito” no evangelho de Lucas?

4) Por que a posição em que foi canonizado o livro de Atos é significativa?

5) Comente com suas palavras o propósito de o apóstolo Paulo ter escrito a prim eira Carta aos Coríntios.

6) Qual nome era dado à Epístola de Gálatas na Reforma?

7) Por que a Epístola aos Efésios tem sido chamada de “epístola do terceiro céu”?

8) Qual é a mensagem que 0 gnosticismo pregava na igreja de Colossos? Quais passagens das Escrituras
combatem tal ensino?

9) Quais são as epístolas pastorais? Por que são chamadas assim?

10) Faça um breve comentário sobre o livro de Apocalipse.

CARO(a) ALUNO(a):
• Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-tes em
folha de papel sulfite, sendo objetivo(a) e daro(a).
CAIXA POSTAL 12025 · CEP 02013-970 · SÃO PAULO/SP
• De preferência, envie-nos as 5 avaliações juntas.
PRATICAS LITURGICAS
SUMÁRIO
INTRO DUÇÃO ..............................................................................................................................................................175

1. LITURG IA NO C U L T O .......................................................................................................................................... 176


1.1 A A C O L H ID A ........................................................................................................................................................176
1.2 S A U D A Ç Ã O .......................................................................................................................................................... 176
1.3 A B E R T U R A ........................................................................................................................................................... 176
1.4 C Â N T IC O S ............................................................................................................................................................ 176
1.5 LEITURA IN T R O D U T Ó R IA ............................................................................................................................ 177
1.6 O R A Ç Ã O ................................................................................................................................................................ 177
1.7 CÂNTICOS E L O U V O R E S ...............................................................................................................................177
1.8 M INISTRAÇÃO DA PA LA V R A .......................................................................................................................177
1.9 APELOS E C O N V IT E S .......................................................................................................................................177
1.10 ORAÇÃO DE IN T E R C E S S Ã O .......................................................................................................................178
1.11 BÊNÇÃOS A P O S T Ó L IC A S ............................................................................................................................ 178

2. C A S A M E N T O .............................................................................................................................................................179
2.1 CERIM ÔNIA RELIGIOSA COM EFEITO C IV IL .......................................................................................179
2.2 EXIGÊNCIA L E G A L .......................................................................................................................................... 179
2.3 REGIM E DE B E N S ..............................................................................................................................................180

3. CERIM Ô NIA DE C A S A M E N T O ........................................................................................................................ 181


3.1 M INISTRAÇÃO DA PALAVRA DE D E U S .................................................................................................. 181
3.2 ENTRADA DAS A L IA N Ç A S ............................................................................................................................181
3.3 V O T O S ..................................................................................................................................................................... 181
3.4 ENTREGA DAS A L IA N Ç A S ........................................................................................................................... 182
3.5 O R A Ç Ã O ................................................................................................................................................................ 182
3.6 PR O N U N C IA M E N T O ......................................................................................................................................... 182

4. BATISM O NAS Á G U A S .......................................................................................................................................... 183


4.1 M OM ENTOS PREPARATÓRIOS ................................................................................................................... 183
4.2 O B A T IS M O .......................................................................................................................................................... 184
4.3 C O M PO R T A M EN TO .......................................................................................................................................... 184

5. CEIA D O S E N H O R .................................................................................................................................................. 185


5.1 O R A Ç Ã O ................................................................................................................................................................ 185
5.2 S A U D A Ç Ã O ...........................................................................................................................................................185
5.3 C Â N T IC O S .............................................................................................................................................................185
5.4 M INISTRAÇÃO DA PA LA V R A .......................................................................................................................185
5.5 A CELEBRAÇÃO DA CEIA DO S E N H O R .................................................................................................. 185
5.6 DISTRIBUIÇÃO DOS E L E M E N T O S .............................................................................................................186
5.7 O R A Ç Ã O ................................................................................................................................................................ 186
5.8 L O U V O R ................................................................................................................................................................. 186
5.9 BÊNÇÃOS APOSTÓLICAS .............................................................................................................................. 186

6. APRESENTAÇÃO DE C R IA N Ç A S .....................................................................................................................187
6.1 C E R IM Ô N IA ...........................................................................................................................................................187

7. CULTO F Ú N E B R E ....................................................................................................................................................188
7.1 C E R IM Ô N IA ...........................................................................................................................................................188

B IB L IO G R A F IA .............................................................................................................................................................189
MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS

INTRODUÇÃO
Por meio desta matéria suplementar desejamos apenas informar, sem jam ais impor a maneira de realizar
algumas cerimônias que ocorrem na vida da igreja, como o casamento, 0 batismo, a Santa Ceia, o culto
fúnebre etc. Não foi escrito com a finalidade de criar padrões éticos ou estatuir normas a serem observadas
dogmaticamente; antes, visa tão-somente a oferecer algumas opções sobre celebrações comuns no dia-a-dia do
obreiro evangélico.
Iniciamos sugerindo uma forma de culto, sabendo que não existe um padrão, pois é o Espírito Santo quem
dirige a liturgia, porém apenas transcrevemos algumas etapas que consideramos saudáveis para um a boa
administração do tempo.
Discorremos sobre as normas legais para concretização de um casamento segundo o Código Civil de 2002,
atual lei vigente em nosso país. Entendemos por bem que os ministros do evangelho esclareçam aos nubentes
a forma pela qual seus bens serão administrados, e assim falamos sobre as formas de regime de bens. Também
esclarecemos a respeito do efeito civil sobre o casamento religioso.
Um assunto polêmico que apresentamos neste volume é a questão do batismo. Não trataremos aqui dos tipos
de batismo, que serão objeto de estudo no m ódulo 4 do curso, apenas exemplificaremos um modo pelo qual o
batismo pode ser realizado.
Em seguida, trazemos a liturgia da celebração da Ceia do Senhor, buscando, de uma forma bíblica, explicar
sua importância bem como sua celebração. Depois da Ceia do Senhor, apresentamos a m aneira pela qual uma
criança é apresentada na igreja.
Por fim, trazemos ao conhecimento de nossos leitores a liturgia de um culto fúnebre, situação com a qual o
ministro se depara em sua vocação cristã.
Nosso desejo é que você, estudante da Palavra de Deus, esteja sempre preparado para toda boa obra.

CURSO DE TEOLOGIA
175
MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS

LITURGIA NO CULTO
Culto é um a forma de adoração à divindade em qualquer de suas formas. No caso dos cristãos, o culto é
o meio pelo qual o devoto entra em contato com a Trindade santa, isto é, com Deus Pai, com o Filho e com o
Espírito Santo. Ao mesmo tempo, o culto também desenvolve uma comunhão de pessoas, que se reúnem em um
determinado lugar com fins comuns de:

a) Louvar, adorar e glorificar ao Senhor;


b) Falar com 0 Senhor por meio da oração;
c) Ouvir a Palavra de Deus ministrada por um pregador.

O culto é público, ou seja, aberto para qualquer pessoa participar. A direção do culto cabe prioritariamente
ao Espírito Santo, entretanto não resta dúvida de que Ele 0 fará por meio de um agente humano. O ministro que
estiver à frente de um culto a Deus deve estar primeiramente em sintonia com o Espírito Santo.
A liturgia do culto, em regra geral, obedece à seguinte ordem, diferenciando-se em alguns aspectos em
algumas denominações.

1.1 A ACOLHIDA
Antes de iniciar 0 culto, os cooperadores, diáconos e diaconisas devem estar atentos para que os visitantes
sejam bem recebidos, de modo que facilitem a sua permanência no local de culto. Um fator que faz a diferença
no culto é o calor humano, o clima acolhedor, aquele sentimento de estar acolhido em um ambiente fraterno com
as demais pessoas.

1.2 SAUDAÇÃO
A saudação é imprescindível. O ministro jam ais deve fazer distinção entre os irmãos e os visitantes. As
saudações são das mais variadas entre os cristãos. Alguns iniciam os cultos dizendo: “Paz” ; outros: “A paz
do Senhor”; e outros: “Boa noite”. Em algumas igrejas evangélicas os fiéis, ao chegarem, põem-se de joelhos
e começam a orar por alguns instantes até que se inicie 0 culto. Em outras igrejas os participantes aguardam
sentados o início da liturgia.

1.3 ABERTURA
Após a saudação, 0 celebrante, ou quem for indicado pela direção da igreja, poderá iniciar com um a oração
com todos os participantes. Não se fazem orações decoradas ou rezas, mas são feitas principalmente com o
intuito de agradecer a Deus e pedir perdão das faltas para que a adoração seja recebida como aroma agradável
perante Deus.

1.4 CÂNTICOS
Após a oração inicial, entoam-se alguns hinos juntam ente com a congregação (dois ou três hinos são essenciais).
Esse momento inicial de adoração pode ser acompanhado de instrumentos musicais com equilíbrio. Os sons

CURSO DE TEOLOGIA
176
MÓDULO 1 1PRÁTICASLITLJRGiCAS

dos instrumentos jam ais devem ultrapassar as vozes dos adoradores; ambos possibilitam uma harmonia tal que
prepara 0 espírito para receber a Palavra de Deus. M uita atenção tem que ser dada à afinação dos instrumentos,
porque do contrário são capazes de irritar a audição e tom ar o ambiente da reunião desagradável.

1.5 LEITURA INTRODUTÓRIA


Depois de louvar com os hinos, far-se-á a leitura bíblica, de modo responsivo, para que todos possam deixar
a Palavra penetrar em sua alma. A leitura é feita comumente pelo dirigente do culto, mas nada obsta que seja
feita por alguém indicado pelo ministro, e deve ser feita em alto e bom som, observando as regras da língua
portuguesa (acentuação, vírgula etc.).

1.6 ORAÇÃO
Feita a leitura, far-se-á outra oração agradecendo a Deus pela liberdade religiosa bem como pelos seus favores
para conosco. Essa oração deve ser breve, mas fervorosa.

1.7 CÂNTICOS E LOUVORES


É normal que nas igrejas existam conjuntos, corais, portanto, depois da oração, os conjuntos podem apresentar
sua adoração. O dirigente do culto tem que estar atento para que os cânticos não ocupem o tempo necessário à
ministração da Palavra de Deus. Não devemos subestimar os cânticos, pois são parte inseparável do culto, mas
também não devemos sublimá-los a ponto de prejudicar o horário destinado à mensagem de Deus.
Algumas igrejas aproveitam esse momento de adoração para recolher as ofertas e os dízimos que os fiéis
levam à Casa de Deus, que são recolhidos pelo corpo diaconal. Outras igrejas não recolhem as ofertas por meio
de recolhedores, mas colocam uma caixinha ou gazofilácio à saída do templo. Ao passarem por esta um a, os
participantes que sentirem 0 desejo de colaborar depositam suas ofertas. Outras preferem que seus ofertantes
levem suas ofertas até a frente do púlpito, onde colocam dentro de uma salva.

1.8 M INISTRAÇÃO DA PALAVRA


Este é o momento em que 0 pregador irá discorrer uma prédica, quando Deus falará com seu povo por meio
de sua Palavra. É um momento solene, portanto merece toda a atenção. É o momento propício para que o Espírito
de Deus ilumine a mente dos fiéis para a compreensão da vontade de Deus para suas vidas.
O tempo de ministração varia de igreja para igreja, mas 0 importante é que se dê tempo suficiente para que 0
pregador desenvolva seu tema de modo completo: introdução, dissertação e conclusão.

1.9 APELOS E CONVITES


Após a ministração da Palavra, salvo direção contrária do Espírito Santo, deve-se fazer 0 apelo aos participantes,
a fim de que reconheçam sua natureza pecam inosa e se convertam ao evangelho de Jesus Cristo para remissão
dos pecados. O apelo não deve ser excessivamente exaustivo, pois é obra do Espírito Santo.
Um a maneira de demonstrar afeto pelos visitantes é convidá-los a ir à frente para receber um a oração.
Comumente a pessoa que é forçada a ir à frente para receber a oração sente-se incomodada e nunca mais volta ao
culto. Existem também aquelas pessoas indecisas que precisam de alguém que lhes ajude a atender ao convite.
Depois do apelo, é bom lembrar aos visitantes os dias de cultos bem como convidá-los para estar juntos nas
próximas reuniões.

CURSO DE TEOLOGIA 177


MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS

1.10 ORAÇÃO DE INTERCESSÃO


A oração de intercessão deve ser direcionada a algum pedido específico que a irmandade trouxe para que toda
a congregação ore. Nessa oportunidade deve-se interceder por todos os presentes, por aqueles que por motivos
diversos não puderam estar presentes, pelos enfermos e necessitados em geral.

1.11 BÊNÇÃOS APOSTÓLICAS


Para concluir o culto, é edificante impetrar as bênçãos apostólicas: “A graça de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo, o amor de Deus e as consolações do Espírito Santo sejam com toda esta igreja, e todos respondam:
A m ém ” .

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 1 í PRÁTICAS UTÚRGICAS

CASAMENTO
Em nenhum outro ato da vida são necessários tantos formalismos e solenidades como no casamento. O
casamento é um a instituição civil e religiosa, estando, portanto, sujeito a regulamentos jurídicos.
As solenidades do casamento, juntam ente com 0 procedimento formal de habilitação que o antecede,
encontram sua razão de ser em mais um aspecto: impedem que decisões apressadas levem os nubentes a um ato
superficial do qual possam arrepender-se; obrigam os interessados a meditar sobre o novo estado familiar no qual
pretendem ingressar, realçando as responsabilidades e contribuem para a vitalidade da instituição e da família
perante a sociedade que dele toma público conhecimento.
O pastor deve familiarizar-se com as leis do local onde for celebrada a cerimônia, pois assim manterá a
consciência tranqüila, sabendo que está cumprindo os requisitos da lei. Além disso, deve m anter um registro
no qual fará constar os casamentos realizados em sua igreja, com todos os dados necessários e a assinatura dos
Cônjuges, das testemunhas e do ministro oficiante.
A cerimônia pode ser celebrada no templo ou em local apropriado para tal ato, mas sempre na presença de
testemunhas (Código Civil, art. 1.534).
E bom que os participantes ensaiem antes a ordem do programa da cerimônia para evitar dissabores. O pastor
deve orientar e se possível até participar de um ensaio com as pessoas envolvidas, conscientizando-as da maneira
correta de se portar em um casamento.

2.1 CERIM ÔNIA RELIGIOSA COM EFEITO CIVIL


N a época do Império o direito apenas reconhecia o casamento católico, por ser essa a religião oficial do Brasil,
expresso na Constituição da República. Com a chegada de imigrantes e de pessoas que professavam religiões
diversas, instituiu-se, ao lado do casamento eclesiástico, o de natureza civil, por determinação legal, em 1861. A
partir de 24 de janeiro de 1891, por meio do Decreto n° 181, foi introduzido o casamento civil obrigatório, como
conseqüência da separação entre Igreja e Estado. Com essa alteração, o legislador buscou atribuir efeitos civis ao
casamento religioso, conforme a Constituição de 1934, mantido na Constituição atual de 1988 (art. 226, § 2o).
A Lei n° 1.110/50 disciplina que 0 casamento religioso eqüivale ao civil quando os consortes prom overem o
devido processo de habilitação perante o oficial de registro na forma da lei civil.
Somente tem validade 0 “matrimônio oficiado por ministro de confissão religiosa reconhecida (católico,
protestante, muçulmano, israelita). Não se admite, todavia, o que se realiza em terreiro de macumba, centros de
baixo espiritismo, seitas umbandistas, ou outras formas de crendices populares, que não tragam a configuração
de seita religiosa reconhecida como tal” .1 O Código Civil de 2002 estabelece, no art. 1.515, a validade do
casamento religioso que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equiparando-se a este,
desde que registrado, produzindo os efeitos a partir da data de sua celebração.

2.2 EXIGÊNCIA LEGAL


De posse da certidão de habilitação (autorização para casar-se), expedida pelo oficial de registro civil, os
interessados requererão a cerimônia ao juiz de paz (no nosso caso, um pastor credenciado), que é a autoridade
competente para celebrar o casamento. De acordo com a lei, a celebração do casamento é gratuita (art. 1.512

1 PEREIRA, Caio M ário da Silva. Instituições de direito civil. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996. p. 42.

CURSO DE TEOLOGIA
179
MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS

do Código Civil). Para quem não deseja fazer na igreja, no próprio cartório existe a “casa das audiências”, onde
poderá ser realizada a cerimônia, com toda a publicidade, com portas abertas, na presença de pelo menos duas
testemunhas, parentes ou não dos contraentes (art. 1.534 do Código Civil). Se algum dos noivos não souber
escrever, a lei exige que sejam quatro testemunhas (art. 1.534, § 2o). Os nubentes são obrigados a demonstrar
livre e espontânea vontade em se casarem, respondendo “sim” de forma inequívoca, sem qualquer termo ou
condição. Em seguida o juiz de paz proferirá as seguintes palavras estatuídas pelo art. 1.535 do Código Civil:
“De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher,
eu, em nome da lei, vos declaro casados” .
A seguir, será lavrado o assento no livro de registro (art. 1.536 do Código Civil). N a prática, o registro já
está lavrado no livro, aguardando-se apenas 0 consentimento e a formalização do ato pelo juiz, para que seja
assinado por ambos os noivos e pelas testemunhas. Também já estarão prontas as respectivas certidões, que serão
entregues aos nubentes após sua assinatura.
De acordo com 0 novo Código Civil, art. 1.565, § I o, qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu
o sobrenome do outro. Não é de nossa cultura que o marido venha a acrescentar o nome da esposa. O assento de
casamento fornecerá a prova hábil para alterar os documentos pessoais respectivos.

2.3 REGIM E DE BENS


A união pelo casamento almeja mútua cooperação, assim como assistência moral, material e espiritual. O
casamento não deve possuir conteúdo econômico direto. U m a vez realizado 0 matrimônio, surgem direitos e
obrigações em relação à pessoa e aos bens patrimoniais dos cônjuges. O fato é que a união entre o hom em e a
m ulher traz reflexos patrimoniais para ambos, principalmente após o desfazimento do vínculo conjugal. Desse
modo o regime de bens entre os cônjuges compreende uma das conseqüências jurídicas do casamento.
Sendo assim, por regime de bens subentende-se a m odalidade do sistema jurídico que rege as relações
patrimoniais decorrentes do casamento. Esse sistema regula essencialmente a propriedade e a administração dos
bens trazidos antes do casamento e os adquiridos posteriormente pelos cônjuges.
O direito brasileiro regula quatro espécies de regime: 1) comunhão parcial; 2) separação total; 3) comunhão
universal e 4) participação final de aquestos.
O regime da comunhão parcial de bens é aquele que é imposto pela lei quando os nubentes não fazem opção
pelo regime de comunhão, da separação ou da participação final nos aquestos. Nesse regime, os bens que cada
um trouxe antes do pacto nupcial não se comunicam e constituem o patrimônio pessoal da m ulher ou do marido,
bem como os que receber na constância do casamento em razão de doação ou sucessão.
O regime de separação de bens caracteriza-se pela incomunicabilidade dos bens presentes e futuros dos
cônjuges. Cada cônjuge conserva, em separado, a propriedade e a posse de seus bens, administrando-os a sua
vontade. Igualmente as dívidas permanecem sob total responsabilidade daquele que as contraiu.
A comunhão universal é o regime mediante 0 qual os cônjuges convencionam que todos os seus bens
presentes e futuros, móveis e imóveis, adquiridos antes ou durante a constância do casamento tom am -se comuns,
constituindo-se um só patrimônio comum, ainda que os bens que o componham tenham sido trazidos apenas por
um dos cônjuges.
Quanto ao regime da participação final nos aquestos, cada cônjuge, durante o casamento, m antém patrimônio
próprio, mas à época da dissolução da sociedade conjugal passa a ter direito à metade de todos os bens adquiridos
pelo casal.
Desse modo, se os nubentes desejarem assumir 0 regime de comunhão parcial, não necessitará de pacto.
Se outra modalidade de regime for sua escolha, precisarão estipulá-la por meio de escritura pública. Desse
modo, embora seja facultativa a escolha do regime, os cônjuges necessariamente devem recorrer ao pacto se não
desejarem a comunhão parcial.
O Código Civil de 2002 disciplina a comunhão parcial (arts. 1.658 a 1.666); a comunhão universal (arts. 1.667
a 1.671); a participação final nos aquestos (arts. 1.672 a 1.686) e a separação de bens (arts. 1.687 e 1.688).

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS

CERIMONIA DE CASAMENTO
Após os padrinhos entrarem no recinto, os nubentes ficarão juntos, de pé, diante do ministro, o noivo à direita
da noiva. O oficiante e todos os presentes orarão em agradecimento por mais um enlace matrimonial. Depois,
dirigindo-se à igreja dirá: “Comparecem a este santuário (se for igreja), irmão (diga o nome dele) e irmã (o nome
dela), para solenemente unir-se em matrimônio a fim de que sejam cumpridas as formalidades legais conforme
consta no documento expedido pelo Cartório deste distrito” .
O oficiante deve perguntar se há entre os presentes alguém que se oponha àquele ato. Não havendo, dá
prosseguimento à cerimônia.
Pergunta ao noivo se ele persiste no firme propósito, por livre e espontânea vontade, de casar-se c o m ____
____ (nome dela). Pergunta para a noiva se ela persiste no firme propósito, por livre e espontânea vontade, de
casar-se c o m _________(nome do noivo).
O oficiante em seguida dirá: “Diante de vossa manifestação de vontade de vos receberdes em matrimônio, eu,
representando o magistrado civil, vos declaro casados”.
Depois faz a leitura do termo de casamento (religioso com efeito civil). Assinam o termo o oficiante, o noivo,
a noiva e as testemunhas.

3.1 M INISTRAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS


O oficiante trará aos participantes da cerimônia a explanação da Palavra de Deus (em média de 15 a 30
minutos no máximo). Neste momento cumprimenta os familiares dos nubentes, as autoridades presentes e os
convidados. Ressalta a responsabilidade da união conjugal e a responsabilidade assumida diante de Deus.

3.2 ENTRADA DAS ALIANÇAS


N essa oportunidade o ministro pode ressaltar a importância da aliança, pois fala de compromisso, de
responsabilidade.

3.3 VOTOS
Dirigindo-se ao noivo, 0 ministro dirá:

“_________________(nome do noivo) você promete, diante de Deus e destas testemunhas, re c e b e r________


___ (nome da noiva) como sua legítima esposa para viver com ela, conforme o que foi ordenado por Deus, na
santa instituição do casamento? Promete amá-la, honrá-la, respeitá-la, protegê-la na enfermidade ou na saúde, na
prosperidade ou na adversidade e manter-se fiel a ela enquanto os dois viverem ?”

O noivo responderá: “Sim, prometo”.

Dirigindo-se à noiva, o ministro dirá:

“_________________(nome da noiva) você promete, diante de Deus e destas testemunhas, re c e b e r________


___ (nome do noivo) como seu legítimo esposo para viver com ele, conforme 0 que foi ordenado por Deus, na

CURSO DE TEOLOGIA
181
MÓDULO 2 I PRÁTICAS UTÚRGICAS

santa instituição do casamento? Promete amá-lo, honrá-lo, respeitá-lo, protegê-lo na enfermidade ou na saúde,
na prosperidade ou na adversidade e manter-se fiel a ele enquanto os dois viverem ?”

A noiva responderá: “Sim, prometo”.

3.4 ENTREGA DAS ALIANÇAS


O ministro pedirá ao noivo que repita as seguintes palavras: “Usando esta aliança, como símbolo de nossa
união, eu me caso contigo, unindo a ti 0 meu coração e a minha vida e tom ando-te participante de todos os meus
bens” . Em seguida pedirá à noiva que repita as mesmas palavras.

3.5 ORAÇÃO
O ministro concluirá pedindo que os nubentes se ajoelhem, e juntam ente com os presentes invocará as bênçãos
de Deus sobre a vida do casal.

3.6 PRONUNCIAM ENTO


O celebrante dirá para 0 casal: “Diante de Deus e destas testemunhas, por meio de suas manifestações de
vontade, eu os declaro marido e mulher, casados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A m ém ”. Neste
momento pode citar um versículo das Escrituras que achar conveniente.

lüü 182 CURSO DE TEOLOGIA


MÓDULO f | PRÁTICAS LITÚRGICAS

BATISMO NAS AGUAS


Aqui não é 0 lugar apropriado para falar sobre as modalidades de batismo (aspersão, afüsão e imersão);
faremos isso na disciplina “Doutrinas da igreja” . Neste momento desejamos apenas sugerir alguns procedimentos
para receber uma pessoa que se dispôs a cumprir o m andamento bíblico do batismo nas águas lembrando que não
desejamos polem izar o assunto.
O Senhor Jesus instituiu duas ordenanças para seus seguidores: o batismo (“E disse-lhes: Ide por todo
0 mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será
condenado” - Marcos 16.15-16) e a Ceia ( “ . . . 0 Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo
dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o m eu corpo que é partido por vós; fazei isto em m em ória de
mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no
meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em mem ória de m im ” - 1 Coríntios 11.23-25). Essas duas
cerimônias são denominadas de ordenanças, visto que foram outorgadas pelo Senhor Jesus (Mateus 28.19).

4.1 M OM ENTOS PREPARATÓRIOS


Somente devem ser batizadas as pessoas que tiverem reconhecido sua natureza pecam inosa (que são
pecadoras), tiverem se arrependido e aceitado Jesus Cristo como seu único e suficiente Salvador. Por ser um
momento solene, antes da realização de tão importante ato, o ministro ensinará aos interessados as doutrinas
centrais do cristianismo bíblico e histórico, bem como os costumes de sua denominação. Quando se verificar
a conversão genuína do candidato, 0 passo seguinte é mostrar-lhe a necessidade do batismo em água. Aos que
manifestarem o desejo de se batizar, é salutar certificar-se quanto às suas convicções cristãs, para evitar batizar
os que não demonstrem autêntica conversão.
É indispensável que 0 ministro demonstre que 0 batismo gera compromissos com a:

a) Igreja - como parte do corpo de Cristo, terá que trabalhar para o progresso da igreja; prom over sua
espiritualidade; manter-se firme nos cultos e contribuir com alegria (1 Coríntios 12.27-28; 15.58);

b) No lar - viver uma vida de oração (1 Tessalonicenses 5.17); criar os filhos no temor do Senhor (Provérbios
22.6); buscar a salvação dos familiares e de todos os pecadores (Mateus 28.19);

c) No mundo - andar com prudência evitando a pecaminosidade e o que é reprovável (1 Tessalonicenses 5.22);
ser justo em suas relações com as pessoas (Salmos 15.2-5); fiel nos compromissos (Romanos 13.8); evitar
murmurações, fofocas e a ira (Filipenses 2.14).

O ministro perguntará aos candidatos: “Concordam em assumir este com prom isso?” . Havendo concordância,
os candidatos são apresentados ao plenário da igreja para, após uma oração, serem submetidos às águas batismais.
Nesse momento é dada a oportunidade aos candidatos para que possam testificar de sua fé no Senhor Jesus Cristo
e ainda de manifestarem sua perseverança.

CURSO DE TEOLOGIA
183
MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS

4.2 O BATISMO
No dia determinado é celebrado um culto devocional antes da cerimônia do batismo. Se 0 batismo for efetuado
em águas correntes, é prudente que o oficiante conheça 0 local e tenha auxiliares à sua retaguarda para evitar
perturbações à solenidade; se for efetuado no batistério (o que é muito comum), primeiramente desce o oficiante,
e se possível alguns auxiliares, para poder ajudar os batizandos a entrarem no recinto, como tam bém a saírem.
O ministro dirá ao batizando, estando ambos nas águas: “Irmão (â)___________ (nome da pessoa), devido a sua
confissão pública, ao seu testemunho e à ordem de nosso Senhor Jesus Cristo, eu o batizo em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo”. Nesse momento o batizando é inclinado para trás até ser submerso totalmente, com
muita rapidez, levantando-o logo para a posição em que se encontrava.

4.3 COMPORTAMENTO
Durante a realização do batismo, 0 ministério da igreja, juntam ente com 0 oficiante, deve acautelar-se quanto
ao comportamento de alguns. Esta recomendação é feita para que um ato tão solene não se tom e um a ocasião
de escândalos ou gracejos. Para que todos os presentes saibam quem será batizado, é bom que todos estejam
trajando vestes apropriadas para a ocasião. Recomendamos que sejam confeccionadas capas brancas para se
sobreporem às vestimentas dos candidatos. A atenção maior deve ser dada às irmãs, para que suas vestes sejam
cobertas totalmente com a capa. Tudo para glória e honra do nome do Senhor.
Se algum enfermo ou alguém com dificuldades de se locomover desejarem se batizar, é aconselhável que
fiquem por último, por ser mais prudente e oportuno.

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO ‫ ג‬IPRÁTICAS LITÚRGICAS

CEIA DO SENHOR
A Ceia do Senhor é um momento de recordação, de reflexão do que o Senhor Jesus fez por nós ao morrer
na cruz. Representa a mais sublime celebração da igreja, pois anuncia a restauração do relacionamento do ser
humano com seu Criador por intermédio de Jesus Cristo. Foi instituída por Jesus para que seus discípulos em
todas as partes, sempre que celebrarem, lembrem-se de seu sacrifício na cruz do Calvário: “ . . . 0 Senhor Jesus,
na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo
que é partido por vós; fazei isto em mem ória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é 0 Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em mem ória
de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até
que venha” (1 Coríntios 11.23-26).
Em geral, nas igrejas evangélicas a Ceia do Senhor é servida mensalmente; em alguns lugares é celebrada
semanalmente, e há os que a celebram somente um a vez por ano. E importante que os membros entendam que só
deve participar da m esa do Senhor aquele que estiver em comunhão com o corpo de Cristo, que é a Igreja.

PASSOS PARA O OFÍCIO

5.1 ORAÇÃO
O culto da Ceia do Senhor é impar, e toda reverência é indispensável. Assim que os membros forem chegando
ao recinto onde será celebrada, necessariamente por-se-ão de joelhos e orarão a Deus; se porventura houverem
cometido alguma falta, é 0 momento oportuno para reconciliação.

5.2 SAUDAÇÃO
Cumprimentam-se os irmãos com a saudação de costume da igreja: “A paz do Senhor”, “graça e paz” etc., e
em seguida faz-se uma oração com toda congregação para dar início ao culto da Ceia do Senhor.

5.3 CÂNTICOS
O ministro entoará alguns cânticos espirituais acompanhado de instrumentos musicais juntam ente com os
presentes. Depois de alguns cânticos é feita a leitura introdutória, de forma responsiva, concluindo com uma
oração coletiva. Depois da leitura pode-se dar oportunidade a um ou outro conjunto da igreja para louvar a
Deus com um hino. Lembre-se de que não se pode perder de vista que a ênfase maior nesse dia deve estar na
ministração da Palavra e na celebração da Ceia.

5.4 M INISTRAÇÃO DA PALAVRA


Tanto 0 ministro como alguém escolhido por ele pode m inistrar a Palavra de Deus aos fiéis num período
razoável entre 20 e 30 minutos. Depois da exposição da Palavra, em algumas igrejas têm-se o hábito de lavar as
mãos para partir 0 pão; em outras com um pano envolto no pão servem os membros.

5.5 A CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR


Antes de servir os elementos da Ceia, é feita a leitura bíblica de um dos textos das Escrituras que fale do
ato: Mateus 26.26, Marcos 14.22-26, Lc 22:14-20; 1 Coríntios 11.23-32 etc. Após a leitura é conveniente uma

CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS

breve explanação sobre o ato, conscientizando sobre a importância de participar da Ceia. O pão e 0 vinho são
consagrados por meio de um a oração e passam a ser símbolos do corpo e do sangue do Senhor. Depois da oração
o pão é partido.

5.6 DISTRIBUIÇÃO DOS ELEM ENTOS


Depois da consagração, os diáconos servem aos participantes primeiramente o pão. Em algumas igrejas o
pão é imediatamente ingerido, enquanto em outras todos aguardam para que possam fazê-lo juntos. Durante a
distribuição do pão podem-se ouvir louvores. E de fundamental importância que 0 diácono ou a diaconisa diga
na hora da entrega: “Este é o corpo de Cristo que foi partido por vós, tomai dele e comei”. Depois de distribuído
0 primeiro elemento, o oficiante perguntará se alguém ficou sem participar. Logo que todo o corpo da igreja for
servido, os diáconos serão servidos pelos presbíteros e estes pelo pastor ou oficiante da igreja.
Depois deste ato, será feita a consagração do cálice, que representa 0 sangue de Cristo, por meio de um a
oração. Depois desta, o oficiante entregará as bandejas ao corpo diaconal, que distribuirá a toda a igreja. Depois
que todos forem servidos, far-se-á a pergunta: “Alguém ficou sem participar?”. Então, o corpo diaconal será
servido pelas mãos dos presbíteros e estes pelo pastor ou oficiante.

5.7 ORAÇÃO
Concluída a distribuição dos elementos, toda a congregação elevará sua voz em oração para agradecer a Deus
por ter concedido participar de momento tão significante. Essa oração deve ser breve e objetiva.

5.8 LOUVOR
Algumas igrejas encerram a celebração da Ceia do Senhor logo após a oração, outras ainda cantam um louvor,
e nesta oportunidade recolhem os dízimos e as ofertas. Em ambos os casos, é bom que não se faça qualquer outra
coisa no culto, a fim de manter os bons momentos vividos durante a celebração.

5.9 BÊNÇÃOS APOSTÓLICAS


Para concluir o culto da Ceia do Senhor, é edificante impetrar as bênçãos apostólicas: “A graça de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo, 0 amor de Deus e as consolações do Espírito Santo sejam com toda esta igreja,
e todos respondam: A m ém ” .

CURSO DE TEOLOGIA
186
MÓDULO 2 1PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO

APRESENTAÇÃO
DE CRIANCAS
‫כ‬

O ato de apresentar as crianças tem amparo bíblico, entretanto não é m andamento neotestamentário. Os
judeus tinham o hábito de apresentar as crianças ao Senhor no oitavo dia após o nascimento: “E, quando os oito
dias foram cumpridos para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes
de ser concebido. E, cumprindo-se os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o
apresentarem ao Senhor (segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo macho primogênito será consagrado
ao Senhor) e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: um par de rolas ou dois pom binhos”
(Lucas 2.21-24).
Não se trata de batismo em água, e sim um a apresentação da criança a Deus, um a maneira de agradecimento
e ao mesmo tempo de fé, onde se suplica a bênção divina. O oficiante do ato deve ser o pastor da igreja; no seu
impedimento, o obreiro que imediatamente responde em seu lugar.
Por se tratar de uma cerimônia simples, comumente é celebrada no final do culto, com um a oração específica,
estando presentes os pais ou outros parentes próximos.

6.1 CERIM ÔNIA


Os pais levarão a criança à frente da congregação enquanto se entoa um hino de louvor a Deus ou corinho
apropriado. E feita um a leitura bíblica de algum texto das Escrituras Sagradas que esteja relacionado com o ato,
explicando em breves palavras o sentido da apresentação (1 Samuel 1.20; Lucas 2.21; Marcos 10.13-16; Mateus
19.13-15). O oficiante segurará a criança de m aneira tem a e segura. Com a igreja de pé, todos orarão suplicando
as bênçãos de Deus para a criança bem como sobre seus familiares.
Após a oração, o ministro entregará a criança à mãe, ou ao responsável, cumprimentando-a pela atitude de
apresentá-la ao Senhor.
A cerimônia é bem simples, não havendo necessidade de tom á-la mais simples nem mais complexa.

CURSO DE TEOLOGIA
187
MÓDULO 2 I PRÁTICAS LITÚRGICAS

CULTO FÚNEBRE
É a cerimônia que menos agrada ao oficiante, porém faz parte do ofício sacerdotal. Assim que o ministro
receber a notícia do falecimento de um membro de sua igreja, deverá, na m edida do possível, ir ao lar do falecido
para prestar seus pêsames bem como manifestar auxílio espiritual aos parentes.
Por se tratar de um momento de grande emoção, deve-se conhecer a vida pregressa do falecido para evitar
pronunciamentos constrangedores. O culto fúnebre é um momento digno de consideração, ideal para levar a um
público heterogêneo a mensagem de esperança e salvação no Senhor Jesus Cristo. A mensagem deve ser breve,
simples, de fácil assimilação, sem perder seu objetivo, que é consolar a família enlutada.

7.1 CERIMÔNIA
No local do sepultamento, inicia-se com uma oração, ressaltando a soberania de Deus e pedindo 0 consolo
aos familiares nesse momento de separação. Em seguida, o ministro fará a leitura de um texto das Sagradas
Escrituras ideal para o momento, usando, entre outros, alguns dos seguintes: Salmos 116.15; 1 Coríntios 15.39-
55; 2 Coríntios 1.5-7; 5.1-10; 1 Tessalonicenses 4.13-18; Apocalipse 14.13. Se houver mais pessoas para falar,
deve-se levar em conta o fator tempo, portanto 0 oficiante deve estabelecer um limite de tempo para cada um
que se pronunciará.
E salutar enfatizar o significado do ato, que, mesmo sendo de dor e tristeza pela separação do ente querido
que partiu, é para recordar as promessas de Deus para os seus seguidores. Se 0 testemunho deixado pela pessoa
objeto do ato fúnebre foi um exemplo de fé e obediência à Palavra de Deus, 0 momento se tom a propício para o
ministro ressaltar as virtudes de ser cristão.
Os cânticos somente serão entoados com autorização dos familiares, jam ais por iniciativa do oficiante ou de
pessoas alheias à família, para evitar qualquer constrangimento. Quando autorizado, deve servir de consolo e
conforto espiritual aos familiares. As vezes a família pede que se cante algum hino favorito da pessoa falecida.
Após 0 ato, o ministro fará mais uma oração, suplicando a Deus consolação para todos os familiares e
agradecendo o tempo em que o fiel servo de Deus cumpriu seu tempo na vida cristã. Ao findar a oração, o
ministro dará por encerrado o culto fúnebre com os seguintes dizeres: “Está concluída a cerimônia e a condução
do sepultamento fica a critério da família” .
Algumas vezes o ministro é convidado para dar auxílio espiritual a uma família cujo falecido não é crente. Em
tal situação, como não há 0 que se mencionar da vida do falecido, o momento se tom a apropriado para ressaltar a
importância de se viver preparado para o instante do chamamento à eternidade. Aqui sim a ocasião é evangelística
no sentido exato do termo. Deve-se ter 0 cuidado de não fazer alusões à vida do falecido concernentes à salvação
(se foi ou não salvo); Deus é quem julgará a todos.

CURSO DE TEOLOGIA
188
MÓDULO 2 I PRÁTICAS UTÚRGICAS

BIBLIOGRAFIA
Bíblia do ministro com concordância. São Paulo: Vida, 2002.
OLIVEIRA, Temóteo Ramos de. Manual do ministro. 4. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1990.
SILVA, Osm ar José da. Liturgia: rituais, símbolos, cerimônias, doutrinas, costumes e histórias. São Paulo,
2000.

CURSO DE TEOLOGIA 189


E3
faculdade teológica betesda
Moldando vocacionados

AVALIAÇÃO - MODULO II
PRÁTICAS LITÚRGICAS
1) O culto desenvolve a com unhão de pessoas, que se reúnem em um determ inado lugar,
com quais fins com uns?

2) Quais são os regimes de bens adotados do direito brasileiro?

3) Quais são as duas ordenanças instituídas pelo Senhor Jesus aos seus seguidores?

4) Porque a ceia do Senhor representa a mais sublime celebração da igreja cristã?

5) Faça um breve comentário sobre a liturgia do culto da sua igreja.

CARO(a) ALUNO(a):
Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-las
folha de papel sulfite, sendo objetívo(a) e daro(a).
CAIXA POSTAL 12025 · CEP 02013-970 · SÃO PAULO/SP

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