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MÓDULO 3
faculdade
teológica
betesda
Moldando vocacionados
Diretor-presidente
Lucian Benigno
Diretor-executivo
Sezar C avalcante
Diretor-teológico
Elias Soares de Moraes
Diretor-pedagógico
M árcio Falcão
Secretário-executivo
Jam ierson O liveira
Tesoureira
Elisete C aldeira
Corpo docente
Prof. César Ferreira, Bacharel em Teologia
Prof. José N ílto n, M estre em Teologia
Prof. M árcio Falcão, Bacharel em D ireito
Prof. M auro P elieg rin i, Bacharel em Teologia
Prof. M arcelo Ferreira, Bacharelando em Teologia
Professores convidados
LU IZ WESLEY, Ph.D em Estudos In te rc u Itu ra is e
P ós-doutor em Teologia P rática e Práxis R eligiosa
G ABR IELE GREGGERSEN, Ph.D em Filosofia e
Pós-doutora em H istória das M entalidades
M AR IA LEONARDO, Ph.D em Teologia e A ntropologia C ultural
LU C IAN BENIG NO, B acharel em Grego e M estrando em H ebraico
BÁRBARA BU R NS, Doutora em M issiologia
CÉSAR MARQUES, M estre em Teologia Prática e Ph.D em E clesiologia
MÁRCIO REDONDO, Ph.D em H istória e Doutor em Teologia
ARIOVALDO RAMOS, Th.B . em Teologia e Filosofia
Todas as referências bíblica s foram extraídas da Versão A lm eida Revista e A tu aliza da, Edição de 1 9 9 5 da Sociedade B íb lica do Brasil.
P roibida a reprodução por qu aisqu er m eios, salvo em breves citações, com in dicação da fonte.
Coordenação editorial
Jam ierson O liveira
Revisão
Paulo César
Todos os d ire ito s desta obra em língu a portu guesa reservados por:
editora
betesda
Rua Dr. Zuquim, 72 - Santana - São Paulo/SP - CEP
0 2 0 3 5 -0 2 0 Fone: 3 7 9 8 -1 2 5 2
• www.faculdadebetesda.com.br / atendimento@ faculdadebetesda.com.br
APRESENTACAO כ
O conhecimento sobre Deus não é apenas uma possibilidade, mas também um direito de todos os homens. A
Bíblia Sagrada nos ensina que Deus, graciosamente, revela-se ao homem, convidando a todos a experimentarem
sua bendita graça.
Com essa visão, e sob o lema “Moldando vocacionados”, a FTB ־FACULDADE TEOLÓGICA BETESDA,
uma instituição interdenominacional filiada às principais entidades da classe, oferece os seguintes cursos:
Afim de ajudar no aperfeiçoamento de todos os envolvidos e na expansão do reino de Deus, conforme Efésios
4.12, o objetivo da FTB é a formação integral do aluno, lapidando seus talentos e capacitando-o ao exercício
pleno das funções ministeriais.
PROPOSTA
Para a FTB, o conceito de formação teológica é mais amplo. Entendemos que não é possível obter uma boa
formação teológica sem antes passar pela formação do caráter e pelo desenvolvimento de um relacionamento
pessoal com Deus.
Dessa forma, estamos preocupados não apenas com os aspectos acadêmicos, mas antes trabalhamos
profundamente a reflexão e aplicação prática de todo 0 aprendizado teórico/doutrinário.
Foi com esse pensamento que preparamos a nossa Grade Geral de Disciplinas dos níveis FUNDAMENTAL,
INTERMEDIÁRIO e BACHAREL (ver p. 6 e 7), com matérias teológicas teóricas e práticas, vivência
cotidiana como cristão e o dia-a-dia do ministério e da igreja. Para isso contamos com professores preparados,
na sua maioria pastores de igrejas, estágios supervisionados integrando plenamente 0 aluno com as igrejas e
a comunidade, plantão de assistência ao aluno, aulas presenciais com professores convidados, ampliando em
muito o rendimento do aluno, entre outros recursos.
MÉTODO ADOTADO
O ensino à distância. Em meio ao corre-corre da vida moderna, a modalidade do estudo à distância é um
recurso que vem sendo utilizado com grande sucesso em todo o mundo pelas melhores universidades. E foi para
atender à realidade de milhares de cristãos no Brasil, que gostariam de ter formação teológica com a comodidade
de estudar em casa, que a FTB adotou esse modelo prático e eficiente de ensino.
Aulas presenciais. Com o objetivo de criar uma interação entre alunos e professores, a FTB promove uma aula
especial (INTENSIVÃO) por mês, com renomados teólogos brasileiros e internacionais. Cada aluno será informado com
antecedência sobre a agenda e o local dessas aulas. Através do nosso site: www.faculdadeteologicabetesda.com.br e do
nosso Programa “Crescendo na Fé” (Rádio Musical FM 105,7).
Os módulos. O Plano de Educação à Distância da FTB é contemplado em 13 MÓDULOS bimestrais,
e cada modulo corresponde a um livro de alta qualidade gráfica e de conteúdo, com cinco disciplinas,
sendo quatro tradicionais e uma especial, voltada à prática da teologia e da vi da cristã, totalizando 65
DISCIPLINAS, algo inovador e que revela a seriedade com que a FTB trata a formação dos seus alunos
(ver infográfico na p 6 e 7 ), OBS: Caro aluno, você deve permanecer obrigatoriamente 2 meses (no
mínimo) em cada módulo. Terminando antes desse prazo, mínimo programado pela nossa diretoria
pedagógica, busque leituras adicionais para o seu enriquecimento. Xo final de cada matéria há uma
lista de obras interessantes como sugestão de leitura!
A avaliação. Ao final de cada módulo, o aluno deverá ser aprovado pelo Corpo Docente da FTB. quanto
ao seu aproveitamento das respectivas matérias, por meio de AVALIAÇÕES TEÓRICAS (Prova Dissertativa
Individual), que deverão ser respondidas e enviadas para a secretaria da escola ou entregues à coordenação em
alguma aula presencial (ver final de cada matéria). A NOTA MÍNIMA PARA SER APROVADO É 7.0.
Ao final de cada capítulo há algumas perguntas de recapitulação. Não há necessidade de nos enviar.
O estágio. Preocupada com a prática e a fixação do conhecimento do aluno, a FTB exige um ESTAGIO
PRÁTICO SUPERVISIONADO. Nesse estágio, cabe ao aluno, em parceria com a sua igreja, ministrar uma
aula, estudo ou pregação a um grupo de irmãos, com a presença de um dos líderes locais, que assinará a Carta de
Estágio (ver modelo na p. 171 e 172).
O suporte. Buscando atender aos seus alunos da melhor forma possível, a FTB disponibiliza uma central
telefônica, a sala on-line do site da faculdade na Internet, além de 0 aluno também poder agendar uma consulta
teológica pessoal com um dos nossos docentes. Para isso basta o aluno ligar para a secretaria da FTB.
A formação. Para qualquer curso concluído, a FTB fornece CERTIFICADO e/ou DIPLOMA, sem nenhum
ônus para o aluno, além de um HISTÓRICO ESCOLAR, devidamente preenchido com as notas obtidas.
Dicas. Ao final de cada matéria há uma lista das obras consultadas. Vale a pena você adquirir essas e outras
obras de referência, ampliando assim 0 seu conhecimento.
Além disso, visite 0 site da FTB. Nele você encontrará um ambiente totalmente voltado ao suporte do aluno
e muitos artigos e informações complementares para sua formação.
• Visite 0 site: www.facuIdadebetesda.com.br
A Editora Betesda, mantenedora da FTB, possui muitos livros e materiais. Na condição de aluno
matriculado, você pode desfrutar de vantagens exclusivas. Consulte nosso atendimento.
• Visite 0 site: www.editorabetesda.com.br
Outra dica valiosa que deixamos para você é a revista POVOS, a melhor revista evangélica do Brasil, e
uma das melhores do mundo na proposta editorial que apresenta. A revista POVOS cobre temas ligados
à atualidade, passando pela teologia, missões, apologética e curiosidades. Faça sua assinatura!
• Visite 0 site: www.revistapovos.com.br
NÚCLEOS PRESENCIAIS
Além do modelo à distância, no qual já contamos com mais de 5 mil alunos, incluindo os cursos teológicos
e de línguas bíblicas, a FTB oferece cursos presenciais, tanto em sua sede. na capital paulista, bem como em
outros núcleos regionais. Se você preferir, estude conosco em sala de aula nos seguintes cursos: Curso de
Teologia (Fundamental, Intermediário e Bacharel) - Curso de Línguas Bíblicas (Grego e Hebraico) - Curso de
Arqueologia Bíblica - Curso de Apologética Cristã - Curso de Missões Transculturais.
PARCERIAS FIRMADAS
Visando a troca de informações e experiências, a FTB tem firmadas algumas parcerias estratégicas
que proporcionam ao aluno e docentes grandes vantagens de acesso ao conhecimento. Algumas delas são:
AGIR (Agência de Informações Religiosas); CFT (Conselho Federal de Teólogos); AMTB (Associação de
Missões Transculturais Brasileiras); APMB (Associação de Professores de Missões do Brasil); CACP (Centro
Apologético Cristão de Pesquisas); JETRO (Instituto Jetro de Liderança); entre outros, tais como Conselhos
de Pastores e Convenções Denominacionais.
CONFISSÃO DOUTRINÁRIA
A FTB professa a fé cristã alicerçada fundamentalmente nas Escrituras Sagradas (Bíblia), como se segue:
• Cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus, divinamente inspirada e sem erro quando escrita em sua
forma original, sendo a única regra de fé e de prática do cristão (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21).
• Cremos em um só Deus Eterno que subsiste em uma Trindade de Pessoas: Pai. Filho e Espírito Santo
(Jo 15. 26), as quais são co-eternas e de igual dignidade e poder (Mt 3.16, 17).
• Cremos na divindade do Filho de Deus, na sua encarnação, no seu nascimento virginal (Lc 1.35), na
sua morte expiatória (Ef 1.7), na sua ressurreição, bem como em sua ascensão e intercessào como nosso
único mediador (Hb 7.25).
• Cremos na justificação somente pela fé (At 10.43; Rm3.24. 10.13).
• Cremos na obra do Espírito Santo para a regeneração e para a santificação (Hb 9.14 ).
• Cremos que a verdadeira Igreja - 0 corpo de Cristo (Ef 1.23) - é formada por todos aqueles que confiam
em Cristo como seu Salvador, somente pela fé (Ef 2.8, 9; 1Co 12.13). cuja responsabilidade e privilégio
é proclamar o Evangelho até os confins da Terra (Mt 28.19. 20).
• Cremos na imortalidade da alma, na segunda vinda do Senhor (Tt 2.13), na ressurreição do corpo,
no julgamento do mundo por Jesus Cristo, na bem-aventurança dos justos e na punição dos ímpios
(1 Co 15.25-27).
CONHEÇA A GRADE
MÓDULO I
NÍVEL FUNDAMENTAL
1. Doutrina de Deus - Teologia
2. Doutrina da Bíblia
- Bibliologia
5 LIVROS DIDÁTICOS 3. Geografia Bíblica
4. Panorama do Antigo
• TAMANHO 21 CM X 27,5 CM Testamento
5. Metodologia Científica
Obs.: Contendo Infográficos e (Matéria suplementar)
ilustrações
MODULO VI
NIVEL in t e r m e d iá r io
1. Língua Portuguesa
2. Gestão Ministerial
3. Cosmovisão Cristã
4 LIVROS DIDÁTICOS
4. Arqueologia Bíblica I
+ 5 MÓDULOS DO FUNDAMENTAL
5. Práticas Devocionais
(Matéria suplementar)
• TAMANHO 21 CM X 27,5 CM
NIVEL BACHAREL
MODULO X
1. Filosofia geral
4 LIVROS DIDÁTICOS 2. Sociologia
+ 9 MÓDULOS DO FUNDAMENTAL 3. Didática
E INTERMEDIÁRIO 4. Exegese Bíblica I
5. Cidadania
• TAMANHO 21 CM X 27,5 CM (Matéria suplementar)
• Carteirinha Funcional de Estudante, por meio da • A grade de matérias mais completa do Brasil,
qual terá desconto de até 50% em entradas de ampliando assim os seus conhecimentos;
programas culturais e livrarias;
• Diploma de conclusão de caráter
• Aulas de reforço em nossos programas de rádio e interdenominacional e com 0 respaldo das
TV e em nosso site na internet; principais igrejas evangélicas brasileiras.
PNEUMATOLOGIA
Doutrina do Espirito Santo
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SUMARIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 13
1. DEFINIÇÃO DA DOUTRINA............................................................................................................. 14
2. O ESPÍRITO SANTO...................................................................................................................................... 16
2.1 SUA NATUREZA....................................................................................................................................... 16
2.2 ATRIBUTOS DO ESPÍRITO SANTO .................................................................................................... 16
7. DONS ESPIRITUAIS.......................................................................................................................... 32
7.1 PALAVRAS REVELADORAS .............................................................................................................. 32
7.2 CLASSIFICAÇÃO DOS DONS ESPIRITUAIS ................................................................................... 32
7.2.1 DONS DE ENSINO E PREGAÇÃO.............................................................................................. 33
7.2.2 DONS DE PO D ER.......................................................................................................................... 33
7.2.3 DONS DE ADORAÇÃO................................................................................................................. 35
REFERÊNCIAS 40
MÓDULO J I PNEUMATOLOGIA
INTRODUÇÃO
Muito erro e confusão existem em nossos dias no tocante à personalidade, às operações e às manifestações do
Espírito Santo. Eruditos conscientes, mas equivocados, têm sustentado pontos de vista errôneos a respeito dessa
doutrina. É vital para a fé de todo cristão que o ensino bíblico sobre 0 Espírito Santo seja visto em sua verdadeira
luz e mantido em suas corretas proporções.
O estudo da pessoa do Espírito Santo se reveste de importância devido a quem Ele é e o que Ele fez e continua
fazendo em prol dos fiéis. Por meio de sua obra, o Espírito Santo se mantém ativo em todas as áreas da vida.
Ele é 0 Criador, juntamente com o Pai e o Filho, e também trabalha na providência, na natureza, na política, nos
talentos humanos, na salvação e no crescimento espiritual.
O Espírito Santo inspirou a Bíblia e, agora, ilumina a nossa mente, para que possamos entendê-la. Sua vinda
ao mundo foi tão necessária para a nossa salvação quanto foi a vinda de Cristo. Sem o Espírito, a nossa religião
é vazia e não temos prova da nossa salvação (Rm 8.9).
Os nomes e os títulos do Espírito Santo nos revelam muita coisa a respeito de quem é o Deus Espírito Santo.
Embora 0 nome Espírito Santo não ocorra no Antigo Testamento, vários títulos equivalentes são usados. O
problema teológico da personalidade do Espírito Santo gira em tomo da revelação e compreensão progressivas
e da maneira como 0 leitor abordar a natureza da Bíblia. O Espírito Santo, como membro da Trindade, conforme
revela 0 Novo Testamento, não aparece na Bíblia hebraica. Mesmo assim, 0 fato de a doutrina do Espírito Santo não
estar plenamente revelada na Bíblia hebraica, isso não altera a realidade da existência e da obra do Espírito Santo
nos tempos do Antigo Testamento. Suas atividades e manifestações eram esporádicas, específicas e em tempos
distintos, com um fim especial: a libertação do povo de Deus em tempos de crise (Jz 7.12; 11.29; 14.19; 15.14).
Na dispensação da graça, no Novo Testamento, suas atividades se concretizam de maneira direta e contínua
por meio da Igreja. No Antigo Testamento, 0 Espírito Santo se manifestava por circunstâncias especiais. No Novo
Testamento, Ele veio para fazer morada no coração dos crentes e enchê-los do seu poder. Sobre isso escreveu o
apóstolo Paulo: “Não sabeis que 0 nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de
Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1C0 6.19).
Desta forma, toma-se essencial à fé de todo cristão estudar 0 que ensina a Bíblia sobre o Espírito Santo e a
sua obra, conforme revelados nas Escrituras e experimentados na vida da Igreja hoje.
CURSO DE TEOLOGIA 13
MÓDULO 3 I PNEUMATOLOGIA
DEFINIÇÃO DA
DOUTRINA
*A.palavra pneumatologia é formada por dois vocábulos gregos: πνεύμα { p n e u m a ) e λ ό γ ο ς ( l o g o s ).
A primeira, em seu sentido primário, denota 44vento” (cognato de p n e o , 44respirar, soprar”) e, neste caso
em especial, 44espírito”, que, assim como o vento, é invisível, imaterial e poderoso. O significado da
segunda é: 44estudo, doutrina”.
A pneumatologia estuda, de forma sistemática, tudo o que se refere à pessoa do Espírito Santo, que
foi chamado por Jesus de Consolador.
Ao se referirem ao Espírito Santo, os escritores inspirados se valeram de dois termos no idioma
origina;: ( ר י חr u a c h ), no hebraico, e πνεύμα ( p n e u m a ), no grego. Entretanto, essas palavras são
usadas nas Escrituras tanto no sentido literal quanto figurado. A primeira, r u a c h , ocorre 378 vezes,
e 0 contexto em que se encontra é que dará sentido aos seus diversos significados. Dependendo do
contexto, pode denotar 44respiração”, 44o ar para respirar”, conforme aparece no seguinte texto: t4E os
jumentos monteses se põem nos lugares altos, sorvem o vento como os dragões; desfalecem os seus
olhos, porquanto não há erva” (Jr 14.6). Quando a pessoa volta a respirar, é reavivada: 44Então, o
Senhor fendeu a caverna que estava em Lei; e saiu dela água, e bebeu; e 0 seu espírito [respiração]
tornou, e reviveu...” (Jz 15.19). Pode, também, representar 44fala” ou 44respiração da boca” : 44Os céus
por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles” (SI 33.6).
Além disso, a palavra é usada para dar ênfase na qualidade invisível, intangível e passageira do
44ar”, como está escrito: 44Lembra-te de que a minha vida é um sopro; os meus olhos não tornarão a ver
o bem” (Jó 7.7).
Vento. Esse é 0 seu outro sentido. E podemos ver isso nas palavras de Jó, quando disse: 44Até quando
falarás tais coisas? E até quando as palavras da tua boca serão qual vento impetuoso?” (Jó 8.2).
Pode descrever 0 elemento de vida no homem, o seu espírito: 44Tudo o que tiriha fôlego de espínto
de vida em seus narizes, tudo o que havia no seco, morreu” (Gn 7.22).
A palavra r u a c h foi usada pela primeira vez nas Escrituras para se referir ao Espírito de Deus, a
terceira pessoa da Trindade: 44A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do
abismo, e 0 Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gn 1.2). E é justamente nesse sentido que
iremos usá-la neste estudo.
A Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento hebraico) transliterou o vocábulo r u a c h
em seu correspondente grego, p n e u m a , cujos significados são os mesmos. Entretanto, é importante
ao estudante saber que a manifestação do Espírito Santo no Antigo Testamento é diferente de sua
manifestação no Novo Testamento, por isso os doutrinadores dessa disciplina tiveram de dividi-la em
dois períodos distintos: a doutrina do Espírito Santo no Antigo Testamento e a doutrina do Lspirito
Santo no Novo Testamento.
No Antigo Testamento, as atividades e as manifestações do Espírito Santo eram esporádicas,
específicas e em ocasiões distintas, com um objetivo especial: a libertação do povo de Deus em tempos
de crise (Jz 7.12; 11.29; 14.19; 15.14). Na época de Jesus, conhecida como dispensação da graça,
quando o Novo Testamento foi escrito, as atividades do Espírito Santo se concretizam de maneira
direta e contínua por meio da Igreja.
CURSO DE TEOLOGIA
ík
MÓDULO 3 IPNEUMATOLOGIA
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 1
1. Quais são os sentidos da palavra hebraica r u a c h l
2. Qual o termo grego correspondente a ru a ch usado pela Septuaginta?
3. Como era a manifestação do Espírito Santo no Antigo Testamento?
4. Como é a manifestação do Espírito Santo no Novo Testamento?
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO J IPNEUMATOLOGIA
0 ESPIRITO SANTO
Embora o estudo da doutrina do Espírito Santo seja um dos mais empolgantes, é, ao mesmo tempo, um dos
mais divergentes no cenário cristão. O Espírito Santo é o supremo edificador, age na perspectiva de promover a
unidade desde a dimensão da matéria física (da qual é o sustentador) até a vida espiritual da Igreja (da qual é o
unificador), mas sua doutrina tem sido, como já falamos, ponto de discórdias.
Desde longas datas até os dias atuais, existem muitos erros e confusão em relação à personalidade, operações
e manifestações do Espírito Santo. Eruditos conscientes, mas equivocados, têm sustentado pontos de vistas
errôneos a respeito dessa doutrina. No entanto, mesmo essa história - tão dividida em nome daquele que veio
para unir - não nos permite negar a realidade de que o Espírito Santo tem agido em toda a história da Igreja. Por
isso, é vital, para a fé de todo crente, estudar o que a Bíblia ensina sobre o Espírito Santo e a sua obra, conforme
revelados nas Escrituras.
Vivemos no período em que a obra do Espírito Santo é mais proeminente que a dos outros membros da
Trindade. A obra do Pai foi mais evidente no período do Antigo Testamento. A do Filho foi evidente desde o
começo do seu ministério até sua ascensão. Agora, vivemos na 4‘era do Espírito”, mas isso não quer dizer que
nenhum dos outros membros da Trindade não possa atuar.
A questão, portanto, não é saber como podemos possuir mais do Espírito Santo para que possamos realizar o
nosso trabalho. Pelo contrário, devemos saber como é que o Espírito Santo pode possuir mais de nós para realizar
a sua obra de transformação do mundo.
1FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. São Paulo: Positivo, 2004.
2STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. São Paulo: Hagnos, Vol. 1, 2003, p. 364.
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 i PN EU M A T O LO G IA
Os atributos do Espírito Santo são suas perfeições. inseparáveis de sua natureza, que condicionam seu caráter.
Há certos atributos que pertencem somente a Deus.3 Mas esses atributos divinos são conferidos também ao
Espírito Santo. Vejamos os atributos da divindade no Espírito Santo, conforme revelados nas Escrituras:
a) É onipotente (Zc 4.6; Rm 15.19)
b) É onipresente (SI 139.7,8)
c) É onisciente (1C0 2.10,11)
d) É eterno (Hb 9.14)
e) É criador (Jó 26.13; 33.4; SI 104.30)
f) É a verdade (1 Jo 5.6)
g) É 0 Senhor da Igreja (At 20.28)
h) É chamado de Yahweh (Jz 15.14 com 16.20; Êx 17.7 com Hb 3.7-9)
i) Dá vida eterna (G1 6.8)
j) É o santificador dos fiéis (Rm 15.16; lPe 1.2)
k) Habita nos fiéis (Jo 14.17; Rm 8.11; 1Co 3.16; 6.19; 2Tm 1.14)
Como o Espírito Santo não é Deus se é eterno, onisciente, onipotente e onipresente? E, também, sublime,
santo e glorioso como o Pai e o Filho. Por esses atributos, fica evidente que o Espírito Santo de fato é Deus e,
também, uma pessoa.
Historicamente, os arianos, os sabelianos e os socinianos consideravam 0 Espírito Santo uma força que vem
de Deus. Mas esses grupos sempre foram considerados heréticos pela Igreja. Quando atribuímos personalidade
ao Espírito Santo, verificamos que Ele não é uma força ou influência exercida por Deus, mas um ser pessoal e
inteligente, com vontade e determinação própria.
A grande confusão reside no fato de a maioria das pessoas não saber distinguir o que é ser uma pessoa e
possuir um corpo. Quando falamos que o Espírito é uma pessoa, alguns, de forma errada, interpretam que Ele,
por ser uma pessoa, deveria, necessariamente, possuir uma forma corpórea. E consenso entre os cristãos que
Deus Pai seja uma pessoa, embora as Escrituras afirmem que ninguém jamais 0 viu (Jo 1.18; 1T 6.16). Se Deus é
uma pessoa, mesmo que não tenha sido visto, logo, uma pessoa não precisa, necessariamente, possuir um corpo,
desde que possua atributos de uma pessoa. Como o Espírito Santo possui todos os atributos de uma pessoa,
apesar de não ser visível, logo, Ele é uma pessoa.
Fica evidente que o Espírito Santo é uma pessoa pelas atribuições que a Palavra de Deus lhe confere e que só
podem ser praticadas por pessoas. Vejamos:
O Espírito santo fala: “Pois não serão vocês que estarão falando, mas 0 Espírito do Pai de vocês falará por
intermédio de vocês( ״Mt 10.20; At 8.39; 10.19,20; 13.2; Ap 2.7).
O Espírito Santo sonda as coisas profundas de Deus Pai: "O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as
coisas mais profundas de D e u s 1 ) ״C0 2.10).
O Espírito Santo ensina: '4Quando vocês forem levados às sinagogas e diante dos governantes e das
autoridades, não se preocupem com a forma pela qual se defenderão, ou com o que dirão, pois naquela hora o
Espírito Santo lhes ensinará 0 que deverão dizer( ״Lc 12.12; Jo 14.26: 1C0 2.13).
O Espírito Santo conduz e guia: 44Mas quando o Espírito da verdade vier. ele os guiará a toda a verdade. Não
falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir" (Jo 16.13; Rm 8.14).
O Espírito Santo intercede: 44Da mesma forma, o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como
orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a
intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus’' (Rm 8.26,27).
O Espírito Santo dispensa dons: 44A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao
bem comum. Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra de
CURSO DE TEOLOGIA 17
MÓDULO 3 IPN EU M A T O LO G IA
conhecimento; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de curar, pelo único Espírito; a outro, poder para
operar milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a
outro, interpretação de línguas. Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as
distribui individualmente, a cada um, como quer’' (1C0 12.7-11).
O Espírito Santo chama homens para 0 seu serviço: “Enquanto adoravam 0 Senhor e jejuavam, disse o
Espírito Santo: Separem-me Bamabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado( ״At 13.2; 20.28).
O Espírito Santo se entristece: “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com 0 qual vocês foram selados
para 0 dia da redenção( ״Ef 4.30).
O Espírito Santo dá ordens: “Paulo e seus companheiros viajaram pela região da Frigia e da Galácia, tendo
sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na província da Ásia. Quando chegaram à fronteira da
Mísia, tentaram entrar na Bitínia, mas 0 Espírito de Jesus os impediu( ״At 16.6,7).
O Espírito Santo ama: “Recomendo-lhes, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito,
que se unam a mim em minha luta, orando a Deus em meu favor( ״Rm 15.30).
O Espírito Santo pode ser resistido: “Povo rebelde, obstinado! De coração e de ouvidos! Vocês são iguais
aos seus antepassados: sempre resistem ao Espírito Santo!( ״At 7.51).
O Espírito Santo fortalece as igrejas; “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria,
edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número( ״At 9.31).
Como pessoa, um ser deve ter certos atributos. Por exemplo: conhecimento de coisas e fatos; sentimentos,
como alegria, ira, prazer e tristeza; e vontade para determinar quais serão suas atitudes em relação a esses
sentimentos.
Assim, não restam dúvidas de que o Espírito Santo não é uma entidade sem personalidade, e muito menos um
objeto inanimado ou um poder desconhecido que possa ser usado. Ele é, de fato, uma pessoa!
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 2
1. Explique a natureza do Espírito Santo?
2. Cite cinco atributos de Deus que também são conferidos ao Espírito Santo?
3. Qual é a diferença entre ser uma pessoa e possuir um corpo?
4. Quais são as atribuições que a Palavra de Deus faz ao Espírito Santo que só podem ser praticadas por pessoas?
CURSO DE TEOLOGIA
18
MÓDULO 3 I PN EU M A T O LO G IA
OS NOMES DO
ESPÍRITO DE DEUS
O nome atribuído à pessoa é um dos principais direitos incluídos na categoria de direitos personalíssimos
ou da personalidade em nosso Código Civil. Todos, quando nascem, recebem um nome que não tiveram a
oportunidade de escolher. Em geral, conservaremos esse nome como marca distintiva dentro da sociedade, como
algo que nos rotula no meio em que vivemos, até a morte. Todavia, após a morte, 0 nome da pessoa continua
sendo lembrado e tendo influência.
O nome é uma forma de individualizaçào do homem na sociedade. A utilidade do nome é tão notória que ele
não é empregado apenas para denominar pessoas, mas, também, firmas, navios, aeronaves, ruas, praças, cidades,
etc. Afinal, o nome, é 0 substantivo que distingue as coisas que nos cercam. O nome de uma pessoa a distingue
das demais. E pelo nome que a pessoa se torna conhecida no seio da família e na sociedade em que vive. Trata-se
da manifestação mais expressiva da personalidade.
Entre os hebreus, a princípio, usava-se um único nome, como. por exemplo, Moisés, Jacó, Ester, entre outros.
Mas era costume entre eles acrescentar outra designação (um sobrenome) ao nome primitivo. Devemos nos
lembrar que 0 próprio Jesus era conhecido como “Jesus de Nazaré ״. O segundo nome, de acordo com o costume
daquela época, era uma referência à profissão ou ao local de nascimento da pessoa. Mas isso quando não estava
ligado ao nome do pai. Portanto, para os judeus, os nomes de Deus traziam em si uma revelação de seu caráter,
de seus atributos. Não eram simples designações ou identificações, antes, revelam algo da natureza, dos atributos
ou das obras de Deus.
O mesmo raciocínio se aplica também nomes conferidos ao Espírito Santo. Ou seja, os nomes do Espírito
Santo nos revelam muita coisa a respeito de quem Ele é. Algumas vezes, um de seus nomes é mencionado para
enfatizar sua personalidade e caráter (o Santo Espírito); outras vezes, para enfatizar seu trabalho e poder (o
Espírito da Verdade). Todavia, nunca são mencionados como uma força despersonalizada.
Existem muitas passagens nas Santas Escrituras que apresentam 0 Espírito Santo nos mostrando os diversos
aspectos divinos de sua pessoa e obra. Assim, precisamos atentar, com mais diligência, para cada revelação que
o Espírito Santo dá de si mesmo.
1BANCROFT, E.H. Teologia elementar. São Paulo: Batista Regular, 1995, p. 187.
CURSO DE TEOLOGIA 19
MÓDULO 3 IPN EU M A T O LO G IA
manifesta-se contra tudo 0 que é abominável aos olhos de Deus. por isso é chamado também de “Espírito
de santificação( ״Rm 1.4).
Espírito eterno. “Muito mais 0 sangue de Cristo, que. pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem
mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!( ״Hb 9.14).
A eternidade é um atributo incomunicável de Deus, portanto, uma característica peculiar da divindade."
Espírito do Senhor Deus. “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim. porque o Senhor me ungiu para pregar
boas-novas aos quebrantados. enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a
pôr em liberdade os algemados" (Is 61.1). Por meio desse nome. 0 Espírito Santo exerce a soberania de Deus.
Espírito de seu Filho. “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração 0 Espírito de seu Filho, que
clama: Aba, Pai!( ״G1 4.6). O Espírito de seu Filho testifica a nossa filiação com Deus.5
CURSO DE TEOLOGIA
20
MÓDULO 3 I PN EU M A T O LO G IA
Espírito de Jesus. ‘Έ, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar
a palavra na Ásia. defrontando Mísia. tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o perm itiu”
(At 16.6,7). Por meio desse nome, percebemos a afinidade do Espírito Santo com Jesus.
Espírito de Jesus Cristo. '*Porque estou certo de que isto mesmo, pela vossa súplica e pela provisão do
Espírito de Jesus Cristo, me redundará em libertação” (Fp 1.19). Além de revelar Jesus como o Messias, esse
nome demonstra seu relacionamento com o Espírito Santo.
Espírito Santo da promessa. *'Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho
da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com 0 Santo Espírito da promessa” (Ef 1.13). O
Espírito Santo é o cumprimento da promessa do "outro Consolador” (uma referência ao próprio Espírito Santo
que seria derramado) que Jesus havia falado.
Espírito de vida. No grego: πνεύματος ־τής ־ζω ή$, “Portanto, agora já não há
'(p n e u m a to s tês z o ê s j
condenação para os que estão em Cristo Jesus [..], porque, por meio de Cristo Jesus, a lei do espírito de vida me
libertou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8.1-2, grifo nosso). O Espírito de vida dá a cada crente, ao nascer
de novo, uma vida nova e eterna. Pois 0 Espírito de vida substitui a lei reinante do pecado e da morte pela lei da
vida. O que estava morto em ofensas e pecados (Ef 2.1; 2Co 5.17), Ele vivifica por meio do novo nascimento.
Espírito da glória. No grego: δόξης ־του θεού πνεύμα, ( d o k s ê s tu T h e u ) “Se, pelo nome de Cristo, sois
vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa 0 Espírito da glória de Deus” (lPe 4.14). Glória,
neste caso, tem a ver com caráter. Não é um simples resplendor, brilho, fama, celebridade, renome, reputação,
coisas típicas da raça humana. Jesus considerou seu sofrimento na crucificação como um momento da sua glória
(Jo 12.23-33).
Poderiamos, ainda, falar do Espírito (Mt 22.43); do Espírito da verdade (Jo 14.17; 15.26; 16.13); do Espírito
de Deus, o santo (Ef 4.30); do Espírito de glória e de Deus (lPe 4.14); do Espírito de santidade (Rm 4.1); do
‘ FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. São Paulo: Positivo, 2004.
CURSO DE TEOLOGIA 21
MÓDULO 3 IPN EU M A T O LO G IA
Espírito do Senhor (At 8.39); do Espírito da promessa, 0 santo (Ef E l 3); do Espírito daquele que dos mortos
ressuscitou a Jesus (Rm 8.11); do Espírito de Jesus Cristo (Fp 1.19); do Espírito de nosso Deus (1C0 6.11); do
Espírito de seu Pai (Gl 4.6); do Espírito Santo (Mt 12.32); e do Espírito (2C0 3.8), entre outros títulos mais
relacionados ao Espírito Santo. Todavia, os nomes do Espírito Santo citados acima nos bastam.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 3
1. Qual é a importância do nome?
2. Qual é a importância do nome para os judeus?
3. Cite os nomes do Espírito Santo com relação ao Filho de Deus.
4. O que significa o termo “Espírito da graça”?
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 IPN EU M A T O LO G IA
OS SÍMBOLOS DO
ESPÍRITO SANTO
A Bíblia é um livro de figuras, símbolos e palavras. Além dos nomes e títulos atribuídos ao Espírito Santo, Ele
é mostrado nas Escrituras, de forma específica, por meio de símbolos, para revelar suas características peculiares.
Devido à nossa pobreza de linguagem, aprouve a Deus revelar, por meio de símbolos, 0 que de outra maneira
jamais saberiamos.
Os símbolos do Espírito Santo refletem suas múltiplas operações e, de maneira alguma, comprometem sua
personalidade e sua divindade. As Escrituras utilizam os seguintes símbolos para descrever as diversas operações
do Espírito Santo:
Fogo. “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais
poderoso do que eu; nào sou digno de levar as suas sandálias [ou calçado]; ele vos batizará com o Espírito Santo
e com fogo” (Mt 3.11).
Vento. “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim
é todo aquele que é nascido do Espírito” (Jo 3.8). Jesus usou o vento como símbolo do Espírito Santo. O vento
simboliza a obra regeneradora do Espírito Santo. O vento é invisível, porém, é real, penetrando em todo lugar
da terra e, da mesma forma, o Espírito de Deus penetra no mais profundo do nosso ser, a fim de nos vivificar e
purificar.
Água. “Jesus respondeu e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tomará a ter sede, mas aquele que beber
da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para
a vida eterna” (Jo 4.13,14). Esse é um dos mais belos símbolos do Espírito Santo. Da mesma forma que a água é
indispensável à vida física, o Espírito também se toma indispensável à vida espiritual. Ele nos refrigera (SI 23.2),
nos limpa (Tt 3.5), nos renova e produz frutos em nossa vida (G1 5.22; SI 104.30).
Óleo. “E tomou o anjo que falava comigo, e me despertou, como a um homem que é despertado do seu sono,
e me disse: Que vês? E eu disse: Olho, e eis um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no cimo, com as suas
sete lâmpadas; e cada lâmpada posta no cimo tinha sete canudos. E, por cima dele, duas oliveiras, uma à direita
do vaso de azeite, e outra à sua esquerda. E falei e disse ao anjo que falava comigo, dizendo: Senhor meu, que é
isto? Então, respondeu o anjo que falava comigo e me disse: Não sabes tu o que isto é? E eu disse: Não, Senhor
meu. E respondeu e me falou, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel. dizendo: Não por força, nem
por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.1-6). Outro símbolo do Espírito Santo
que aparece nas Escrituras é 0 óleo (azeite). O óleo tanto era utilizado nas solenidades de unção e consagração
de sacerdotes, profetas e reis (Êx 30.30; Lv 8.12; ISml 10.1; 16.13; lRs 13.16) quanto na cura e alívio da pele,
alimento e combustível para a iluminação.
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 I PN EU M A TO LO G IA
Pomba. “E aconteceu que. como todo 0 povo se batizava, sendo batizado também Jesus, orando ele, 0 céu
se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea. como uma pomba; e ouviu-se uma voz do
céu, que dizia: Tu és meu Filho amado; em ti me tenho comprazido" (Lc 3.22). A pomba transmite as seguintes
qualidades: mansidão, pureza, amor. inocência e beleza. Essas características não são diferentes daquelas que 0
Espírito Santo transmite aos fiéis.
Selo. “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, 0 evangelho da vossa salvação;
e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa" (Ef 1.13). Usava-se o selo como
sinal de garantia de propriedade, legitimidade, autoridade, segurança ou preservação. Essas características
expressam a posição daqueles que foram selados pelo Espírito Santo, ou seja, evidenciam a propriedade divina.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 4
1. O que os símbolos revelam do Espírito Santo?
2. O que significa o “vento", como um dos símbolos do Espírito Santo?
3. Cite três símbolos do Espírito Santo estudados neste capítulo?
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 I PN EU M A TO LO G IA
A OBRA DO
ESPÍRITO SANTO
A obra do Espírito Santo são as obras de Deus. Desde a criação até a consumação dos séculos, a Bíblia mostra
a presença do Espírito Santo atuando. O Antigo Testamento enfatiza principalmente a atuação do Deus Pai,
os evangelhos enfatizam a obra do Deus Filho e, do dia de Pentecoste até os dias atuais, a ênfase é na atuação
do Deus Espírito Santo. Entretanto, sabemos que 0 Espírito Santo também exerceu suas atividades em tempos
mais remotos, desde o princípio, e por meio de toda a história. Vamos estudar as obras do Espírito Santo em sua
relação com a Palavra, com o mundo, com Jesus, com 0 crente e com a Igreja.
CURSO DE TEOLOGIA 25
MÓDULO 3 I PNEUMATOLOGIA
26 CURSO DE TEOLOGIA
MÓDULO 3 I PN EU M A T O LO G IA
não pode receber, porque não o vê. nem 0 conhece: vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará
em vós. Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros" (Jo 1 4 .1 6 1 8 ) ־. Aqui se encontra a figura do
penhor “voltarei para vós". O Espírito Santo é a garantia absoluta de nossa salvação, bem como de que
Jesus voltará um dia, ressuscitará os corpos dos que já morreram e glorificará os corpos dos que ainda
estiverem vivos. '‘Nisto conhecemos que permanecemos nele. e ele, em nós: em que nos deu do seu
Espírito" (1 Jo 4.13).
Além do que já falamos até aqui, o Espírito Santo é a nossa garantia de comunhão com Deus: “E
aquele que guarda os seus mandamentos permanece em Deus. e Deus nele. E nisto conhecemos que ele
permanece em nós, pelo Espírito que nos deu" (1J0 3.24).
E a nossa consolação: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para
sempre convosco" (Jo 14.16).
É o nosso intercessor espiritual: “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza;
porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com
gemidos inexprimíveis" (Rm 8.26).
E o nosso vínculo vital com Jesus: “E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele"
(Rm 8.9ò).
Ele nos santifica: '‘Porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do
Espírito e fé na verdade" (2Ts 2.13).
Ele nos dá alegria: "Porque 0 reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no
Espírito Santo" (Rm 14.17).
Ele dá testemunho de nossa filiação a Deus: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que
somos filhos de Deus" (Rm 8.16).
Ele nos conduz à imagem de Cristo: “Todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por
espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo
Senhor. 0 Espírito" (2C0 3.18).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 5
1. Como foi a obra do Espírito Santo em relação ao mundo?
2. Como foi a obra do Espírito Santo em relação a Jesus?
3. Descreva, com suas próprias palavras, a obra do Espírito Santo em relação aos crentes.
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 1PN EU M A TO LO G IA
BATISMO COM O
ESPÍRITO SANTO
De acordo com o livro de Atos dos apóstolos, no dia da festa de Pentecoste os discípulos estavam reunidos quando
“de repente veio do céu um som. como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E
apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo. e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios
do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo 0 Espírito lhes concedia que falassem" (At 2.2-4).
Quanto a este evento, não há duvidas de que foi real. Como resultado dessa experiência do Pentecoste,
Pedro pregou com tamanha ousadia que cerca de três mil almas se renderam aos pés de Jesus (At 2.41). Em
seu discurso, Pedro disse: “E cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos
pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos
os que ainda estão longe, isto é, para quantos 0 Senhor, nosso Deus chamar” (At 2.38,39).
O apóstolo Pedro identificou a experiência do Pentecoste com o derramamento do Espírito de que fala 0
profeta Joel: ‘Έ acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas
filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas
derramarei o meu Espírito naqueles dias. Mostrarei prodígios no céu e na terra: sangue, fogo e colunas de
fumaça” (J1 2.28-30).
Joel, porta-voz de Deus, afirmou: “Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne”. Sobre todos os cristãos
verdadeiros, indistintamente de serem judeus ou gentios. No Antigo Testamento, 0 Espírito vinha sobre algumas
pessoas distintas, e seus carismas (no grego: χαρίσμα - c h a r is m a - dom) eram dados a algumas pessoas com
missão específica e em caráter provisório.
Já no Novo Testamento, 0 Espírito Santo, juntamente com seus dons. é dado a todos os que creem. A promessa de
Jesus foi: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre" (Jo 14.16).
Agora, o Espírito é dado a todos os que crêem e para sempre.
Interpretando essas palavras de Pedro, Raimundo de Oliveira concluiu que:
Até aqui, tudo tranqüilo, porém, daqui para frente, entraremos em um dos assuntos que têm suscitado inúmeras
interpretações e polêmicas. Existe, atualmente, um número enorme de grupos e perspectivas teológicas sobre
o batismo com, em ou no Espírito Santo. Entre as muitas perspectivas sobre esse tema, encontram-se a dos
reformados conservadores, a dos reformados abertos, a dos reformados carismáticos, a dos carismáticos de linha
não reformada, a dos católicos carismáticos e a dos protestantes.
Portanto, há de se confessar que não é fácil se pronunciar sobre o tema. Escrever sobre 0 batismo com
0 Espírito Santo é, deveras, um empreendimento ousado, impõe um certo risco, uma vez que a própria
8 OLIVEIRA, Raimundo de. As grandes doutrinas da Bíblia. 9a ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 129.
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 I PNEUMATOLOGIA
noção de batismo é imprecisa e a abordagem desse tema requer 0 estabelecimento de premissas que, em
si mesmas, são bastante discutíveis. Por isso. não se espante 0 leitor em não encontrar, nestas páginas,
respostas definitivas para 0 problema.
6.1 TERMINOLOGIA
A primeira vez que aparece a expressão "batismo no Espírito Santo“ foi usada por João Batista ao se referir
a Jesus: "E, estando 0 povo em expectação e pensando todos de João, em seu coração, se, porventura, seria o
Cristo, respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais
poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias; este vos batizará com 0 Espírito
Santo e com fogo" (Lc 3.15.16).
Lucas retoma a terminologia em Atos 1.5, ao descrever as palavras de Jesus aos seus seguidores: “Porque, na
verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias ״.
Posteriormente, pela terceira vez, registra as palavras do mestre da Galiléia. ao relatar a experiência de Pedro na
casa de Comélio: “João certamente batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo( ״At 11.16).
O primeiro ponto de vista afirma que as novas línguas não são uma evidência do batismo com 0 Espírito
Santo. Essa posição é adotada por algumas igrejas evangélicas tradicionais. Nesse segmento, 0 cristão pode
receber o batismo com 0 Espírito Santo sem haver a manifestação de falar em outras línguas.
A segunda posição é adotada pelos representantes do movimento carismático, que reconhece a g lo s s o la lia (o
falar em outras línguas) como uma das evidências do batismo com o Espírito Santo. Chamamos de carismáticos
quaisquer grupos (ou pessoas) que remontam sua origem histórica ao movimento da renovação carismática
das décadas de 1960 e 1970 e procuram praticar todos os dons espirituais mencionados no Novo Testamento:
profecia, cura, milagres, línguas, interpretação e discernimento de espíritos.
CURSO DE TEOLOGIA 29
MÓDULO 3 IPN EU M A T O LO G IA
A terceira posição é adotada pelos pentecostais tradicionais e pelos neopentecostais. Sustentam que somente
são batizados com 0 Espírito Santo se houver a manifestação visível do falar em novas línguas. Essa posição é
adotada pela igreja Assembléia de Deus em suas mais variadas ramificações.
Entendemos por pentecostais quaisquer denominações ou grupos que remontam sua origem ao reavivamento
pentecostal iniciado nos Estados Unidos em 1901 e sustentam as seguintes doutrinas: a) Todos os dons do
Espírito Santo mencionados no Novo Testamento continuam operantes hoje; b) O batismo com o Espírito Santo
é uma experiência de revestimento de poder subseqüente à conversão e deve ser buscado pelos crentes hoje; c)
Quando ocorre o batismo no Espírito Santo, as pessoas falam em línguas como "sinal” de que receberam essa
experiência.
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 I PN EU M A TO LO G IA
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 6
1. Qual é a diferença da vinda do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamentos?
2. O que significa ser batizado com o Espírito Santo?
3. O que significa ser batizado c o m e n o Espírito Santo? Há diferença?
4. Como podemos dividir a evidência do batismo com 0 Espírito Santo?
5. Explique, com suas próprias palavras, o que não é ser batizado com o Espírito Santo.
6. Para quem é o batismo com o Espírito Santo?
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 1PN EU M A TO LO G IA
DONS ESPIRITUAIS
O leitor do Novo Testamento é imediatamente confrontado com o batismo com 0 Espírito Santo e,
consequentemente, com os dons espirituais. Para ignorá-los. seria preciso evitar os acontecimentos que cercam
o início do ministério de Jesus e 0 começo da vida da Igreja.
Além da falta de concordância em relação ao batismo com o Espírito Santo, existem muitas diferenças
no tocante aos dons espirituais. Dúvidas inundam a mente e 0 coração de muitos fiéis. Alguns perguntam se
realmente 0 Espírito Santo está operando curas miraculosas e profecias, tal como na época dos apóstolos. Outros
questionam se as pessoas poderíam receber o dom de profecia ainda hoje, de modo que Deus realmente lhes
revele algo para transmitir aos outros, ou se esse dom foi confinado aos tempos quando o Novo Testamento ainda
estava sendo formado, no século 1° d.C.
Menos consenso ainda existe a respeito da variedade de línguas. Alguns cristãos dizem que é uma ajuda
valiosa em sua vida de oração. Outros dizem que é sinal de ter sido batizado com o Espírito. E ainda outros dizem
que esse dom não existe atualmente, pois se trata de uma forma de revelação verbal da parte de Deus, que findou
quando o Novo Testamento acabou de ser escrito.
• ou “dom da graça'’ (1C0 12.4). Refere-se ao favor que alguém recebe sem qualquer mérito
c h a r is m a
próprio. Está relacionado à graça de Deus.
• p h a n e r o sis ou "manifestação" (TCo 12.7). Refere-se aos dons que operam na esfera natural, visível.
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 IPN EU M A T O LO G IA
pregação", "dons de curar" e "dons de adoração".101David Paul Yonggi Cho classifica-os em "dons de revelação,״
״dons de poder" e "dons vocais".11 Gordon Chown. divide os dons em "dons de revelação", "dons de poder" e
״dons de inspiração".1213Claudionor C. de Andrade os classifica em "dons verbais", "dons de inspiração" e "dons
de poder".12
Para este estudo, classificaremos os dons em:
a) D o n s d e e n s in o e p r e g a ç ã o : palavra de sabedoria e palavra de conhecimento.
b) D o n s d e p o d e r , cura, operação de milagres, fé, profecia e discernimento de espíritos.
c) D o n s d e a d o r a ç ã o : glossolalia ou variedades de línguas e interpretação de línguas.
Este dom é concedido a qualquer cristão para a restauração da saúde do corpo, da alma e do espírito, tanto do
crente quanto do descrente. “No grego, o dom (curar), como seu efeito, está no plural, o que dá a entender que
existe uma variedade de modos de operação deste dom’’.16 A cura faz parte do evangelho da graça, consumado
por Jesus Cristo na cruz do calvário.
CURSO DE TEOLOGIA 33
MÓDULO 3 IPN EU M A T O LO G IA
Há curas que se realizam imediatamente, como no caso do cego de Jerico, e há curas que se realizam
gradualmente, como no caso do cego de Betsaida fMc 8,22) e no caso dos leprosos (Lc 17,14). A ordem do
mestre da Galiiéia foi: '*Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de
graça recebestes, cie graça daí" (Mt 10.8).
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 IPN EU M A T O LO G IA
Portanto, a Igreja não deve ter como infalível toda profecia, porque muitos falsos profetas aparecerão no seio
da igreja (U o 4.1). Daí, a necessidade de que toda profecia seja julgada quanto a sua autenticidade e conteúdo,
conforme recomendação do apóstolo Paulo: “Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros
julguem” (1C0 14.29).
17 CHOWN, Gordon. Os dons do Espírito Santo. São Paulo: Vida, 2002, p. 46.
CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 I PN EU M ATO LO G W
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 7
1) O que é dom?
2) Qual é o ciclo que percebemos entre graça e dom?
3) Quais são os textos das Escrituras que tratam dos dons espirituais?
4) O que significa 0 termo grego p m u m a t i k o s l
5) Cite as diferentes nomenclaturas de pelo menos dois autores com relação à classificação dos dons.
6) Em quantas classes se dividem os dons do Espírito Santo, de acordo com o capítulo estudado?
7) Cite os dons de ensino e pregação.
8) Cite os dons de poder.
9) Cite os dons de adoração.
10) Defina 0 dom da "palavra de conhecimento”.
11) No grego, como pode ser traduzido 0 “dom de operação de milagres”?
12) Defina 0 dom de profecia.
CURSO DE TEOLOGI
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MÓDULO 3 i PN EU M A TO LO G IA
FRUTO DO
ESPÍRITO SANTO
De acordo com Gálatas 5.22, 0 fruto do Espírito Santo é: amor. alegria, paz. longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio proprio. Pode até parecer coincidência, nove dons
e nove frutos do Espírito, porém, não é assim. Não obstante os dons e o fruto terem origem no mesmo
Espírito, são diferentes entre si.
Os dons são dados, recebidos. O fruto é gerado.
Os frutos precedem ao batismo com 0 Espírito Santo, vêm com a conversão.
Os dons vêm pelo desejo de ser revestido.
Os dons vêm em estado pleno. Os frutos são desenvolvidos com a caminhada cristãs, de passo em
passo, de glória em glória (2C0 3.18).
Outro diferencial é que os dons são distintos, podendo o crente receber um ou mais. O fruto, sendo
nônuplo, é indivisível, ou seja, é dado ao crente todos de uma só vez.
O fruto do Espírito Santo é um só. mas se m anifesta em cada vida, de nove formas diferentes
e com pletas. Mas só pode produzir 0 fruto do Espírito aquele que já o recebeu em seu coração. O
princípio da frutificação estabelecido por Deus determ ina que cada planta e árvore produza fruto
segundo sua espécie. A frutificação espiritual segue 0 mesmo princípio. Para uma boa colheita,
vários fatores influenciam 0 resultado. A escolha de boas sem entes, as condições de crescim ento e
desenvolvim ento da planta no reino vegetal dependem da terra em que se plantará. O meio ambiente
ideal e a lim peza são essenciais para uma farta frutificação. Ocorre 0 mesmo no reino espiritual, na
vida do crente, na igreja.
Portanto, analisaremos 0 fruto descrito em Gálatas 5.22:
a) Amor. Ao se referir ao amor, o grego utiliza quatro palavras distintas: (amor sexual), e s to r g u e
eros
(afeto familiar), f i l e o (amor entre amigos): á g c ip e (amor puro e duradouro). O amor é manifestado por
Deus e originado nele, conforme lemos em João 3.16: *‘Porque Deus amou [α γ α π ο ίω - a g a p c io ] o
mundo de tal maneira, que deu 0 seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna ״.
O amor ágape surge no crente a partir da Palavra de Deus, depositada em seu coração, levando-o a
um novo nascimento (Jo 15.12,13).
O amor em seu conceito mais sublime é a personificação de Deus, porque Deus é amor (1J0 4.8).
“A vida entregue a Cristo expressa às pessoas o tipo de amor que Ele tem por elas. Quando sou uma
expressão de Cristo, meus ouvidos ouvem seus clamores, meus olhos vêem suas necessidades, meus pés
me levam a ajudá-las e minhas mãos se estendem para cuidar delas. Deste modo, torno-me canal da vida
de Cristo18.״
18GILBERTO, Antonio. 0 fruto do Espírito: A plenitude de cristo na vida do crente. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 27.
CURSO DE TEOLOGIA 37
MÓDULO 3 ÍP N EU M A T O LO G IA
c) Paz. De modo geral, a paz pode ser definida como ausência de conflito; entretanto, a verdadeira
paz é aquela que se obtém a partir da reconciliação com Deus, por intermédio de seu Filho, Jesus
Cristo: “Agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos
perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis” (Cl 1.22).
d) Paciência. A paciência é considerada uma virtude do ser humano, que consiste em suportar as
dores, os incômodos, os infortúnios, entre outras coisas, sem queixas e com resignação. Isto implica
em que o crente suporta as provas sabendo em quem tem confiado e que é poderoso para lhe fazer
infinitamente mais do que pensa ou imagina (E f 3.20).
f) Bondade. Embora exista relação entre a bondade e a benignidade, a primeira faz referência à
maneira como devemos viver, dando testemunho da existência de Deus. O conceito bíblico de bondade
encerra a idéia de excelência, especialmente no campo moral, e se aplica, principalmente, a Deus, pois,
de acordo com as palavras pronunciadas por Jesus, Ele é o único bom: “Por que me chamas bom?
Ninguém é bom, senão um que é Deus” (Mc 10.18).
g) Fé. Quempossui o dom da fé, move-se facilmente nadimensãodo sobrenatural, pode chamar ascoisas que
não são como se fossem, pode liberar vida onde há morte, pode liberar cura onde há enfermidade, pode trazer
a prosperidade onde há escassez. E 0 meio que Deus usa para trazer avivamento à igreja, cidades ou nações.
i) Domínio próprio. É uma manifestação do Espírito Santo definida como capacidade de controlar o
ânimo superando qualquer fraqueza. O domínio próprio está relacionado à prudência, como característica
do crente guiado pelo Espírito Santo, e é demonstrado por um comportamento sábio.
O fruto do Espírito é no crente a existência de um caráter semelhante ao de Cristo: um caráter que
testemunha de Jesus e que revela Jesus em seu viver diário. E a expressão externa da natureza de
Deus no cristão. É o desdobramento da vida de Cristo manifesta no cristão. Quando o crente não se
19DOUGLAS, J. D. 0 novo dicionário bíblico ilustrado. São Paulo: Vida Nova, 2006, p. 435.
CURSO DE T E O L O G IA
38
MÓDULO 3 I PN EU M A TO LO G IA
submete, em tudo, ao controle do Espírito, não consegue resistir e neutralizar os desejos de sua natureza
pecaminosa. Mas quando 0 Espírito tem esse controle, o cristãos se torna qual solo fértil para o Espírito
produzir o seu bendito fruto.
Estar em Cristo não é somente freqüentar uma igreja, ou cumprir cerimônias religiosas, ou apreender
credos religiosos. Antes, é um compromisso de sua vida com Cristo e um desejo de ser transformado
conforme a sua imagem, pelo poder do Espírito Santo. Logo, andar como Jesus andou só é possível peio
poder do Espírito Santo. r
Não devemos permitir que os hábitos e atitudes nào-cristàs permaneçam ou sejam formados em nossa vida.
Os hábitos e atitudes ruins podem impedir que nos tomemos o tipo de pessoa que Deus quer que sejamos.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 8
E Cite os nove aspectos do fruto do Espírito Santo, de acordo com Gálatas 5.22.
2. Defina 0 fruto do amor.
3. Quando 0 crente não se submete, em tudo, ao controle do Espírito Santo, o que acontece?
CURSO DE TEOLOGIA
39
MÓDULO 3 IPN EU M A T O LO G IA
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CURSO DE TEOLOGIA
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MÓDULO 3 ! PN EU M A TO LO G IA
CURSO DE TEOLOGIA
41
faculdade teológica betesda
Moldando vocacionados
5. Cite três nomes do Espírito Santo que descrevem sua própria pessoa com relação ״Deus, a Jesus e aos
homens. Não deixe de citar as referências bíblicas.
CARO(a) ALUNO(a):
* Envie-nos as suas respostas referentes a cada QUESTÃO acima. Dê preferência por digitá-las em
folha de papel sulfite, sendo objetivo(a) e daro(a).
CAIXA POSTAL 12025 · CEP 02013-970 · SÃO PAULO/SP
* Dê preferência, envie-nos as 5 avaliações juntas.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................. 49
1. SURGIMENTO DO PECADO.................................................................................................................... 50
1.1 ORIGEM DO PECADO NO UNIVERSO................................................................................................50
4. EVANGELHOS .................................................................................................................................57
8. A UNIVERSALIDADE DO PECADO............................................................................................... 65
REFERÊNCIAS 71
MÓDULO 3 I DOUTRINA DO PECADO
INTRODUÇÃO כ
Toda a Bíblia está centrada no tema da salvação. E um pressuposto básico e irrenunciável presente em
todas as suas páginas. Desde o livro de Gênesis, Deus anunciou o Messias que redimiría o pecado de todos
òs seres humanos. A história de Israel se converte dessa maneira no grande gesto salvador. Todos os seus
acontecimentos e vicissitudes estão misteriosa e desconcertantemente ordenados para a vinda do Messias.
A condição pecadora da humanidade a incapacita para um encontro com Deus, que só é possível pela
gratuidade de seu amor e predileção, até a chegada definitiva do Salvador. Uma espera longa e confiante
que manteve de pé o povo escolhido, apesar de não cumprirem com o seu dever de permanecerem fiéis à
aliança com o seu Deus. De maneira extraordinária, os fatos vão mostrando a fidelidade inabalável de Deus,
que nunca volta atrás em suas promessas.
A vida, a paixão e a morte de Jesus aparecem de forma explícita com este caráter de libertação. E o
cumprimento de todos os anúncios feitos anteriormente. Jesus veio nos resgatar da morte, da lei e do
pecado. Entregou sua vida para a remissão do pecado do mundo e para tomar possível a nova e definitiva
aliança. Sua vida e ensinos são a manifestação deste esplêndido acontecimento. Ele nos revelou o rosto de
um Deus misericordioso e disposto a perdoar todas as vezes que for necessário.
A salvação em Jesus é o único meio de realizar o bem conforme 0 padrão divino, entretanto, não exclui
a liberdade frágil e pouco vigorosa do ser humano. Todos os seres humanos, enquanto peregrinarem por
este mundo, são capazes de optar por Jesus ou de rejeitar sua mensagem e pessoa. E qualquer uma dessas
decisões afeta 0 destino, a vida e 0 futuro do ser humano. Portanto, se o pecado não existisse (como apregoam
alguns) ficaria destituído todo o anúncio da revelação. Assim, negar a condição pecadora da humanidade e
de todos os membros que a compõem é se rebelar inteiramente contra a boa notícia dos evangelhos.
O único meio de conhecer um pouco mais sobre a natureza do pecado é por meio da revelação que as
Escrituras trazem sobre o pecado. A Palavra de Deus, a que nada é comparável, deu a conhecer a índole
deste ato. Conseqüentemente, iremos confrontar os termos bíblicos utilizados com as expressões usadas
pela tradição cristã.
49
MÓDULO 3 I DOUTRINA DO RECADO
1 SURGIMENTO DO PECADO
Os seres humanos não estão acostumados a lidar com assuntos que lhe fogem da razão. E um desses
assuntos está relacionado com a presença e a origem do pecado. A Bíblia, que é a palavra final em questão
doutrinária e espiritual, nos informa que o pecado não ocorreu na terra e sim no céu. O céu foi manchado
antes de a terra ter sido maculada pela sua odiosa presença. Portanto, para que possamos compreender
melhor a realidade e a natureza do pecado, iniciaremos nossa pesquisa trazendo seu começo no Universo
e depois seu começo na terra.
CURSO DE TEOLOGIA
50
MÓDULO 3 I DOUTRINA DO PECADO
Antes de falarmos a respeito de um anjo que desejou ser igual a Deus, precisamos considerar a lei de Deus,
para que possamos compreender a transgressão (o pecado) cometida contra ela. Também precisamos saber a
respeito da natureza do pecado, porque, somente assim, compreenderemos sua origem no Universo. Charles
Hodge, ao analisar o pecado com a lei, chegou à conclusão que o termo lei “significa aquilo que nos obriga, um
mandamento de alguém com base na autoridade. Como regra, prescreve a consciência dos homens, e também
prescreve o que se deve e o que não se deve fazer [...]. A lei é aquilo que obriga a consciência”.1
Como afirmamos, baseado nas Escrituras, 0 pecado teve início no céu. Deus criou suas criaturas com a
liberdade de escolha, tanto as que estão nos céus quanto as que estão na terra. A grande pergunta é: “Qual é a lei
espiritual que abrange todas as criaturas facultando a liberdade de escolha?”. Várias são as linhas de pensamento
com relação a esta pergunta. Alguns dizem ser a razão. Para outros, a lei deve ser encontrada na ordem moral do
Universo. Outros, ainda, dizem que a única lei à qual as criaturas racionais se acham sujeitas é uma consideração
ilustrada pela felicidade do Universo. O que essas teorias deixam evidente é que todas negam o caráter específico
da obrigação moral. A mais convincente resposta está fundamentada na constituição da natureza do homem, ou
seja, a lei natural, inerente ao homem, que reconhece e aceita a suprema Autoridade, um ser racional e moral,
úm Espírito infinito, eterno e imutável em seu caráter e perfeições. Todos os homens, em todas as eras e partes
do mundo, sob todas as formas de religião e de todos os graus de cultura, têm sentido e reconhecido que estão
sujeitos a um ser pessoal superior a eles próprios. Nenhuma forma de filosofia especulativa, por mais plausível ou
difundida que fosse, ou defendida confiadamente nas escolas, ou tomada privativamente, jamais pôde invalidar
este juízo instintivo e intuitivo da mente.
Por meio da lei natural, todas as criaturas racionais de Deus são livres para escolherem o que querem, tanto
as que estão nos céus quanto as que se encontram na terra. Foi por meio desta liberdade de escolha que o pecado
surgiu. Deus criou primeiramente as hostes celestiais. As Escrituras nos informam que quando Deus colocou os
fundamentos da terra, fundou suas bases e lhe assentou a pedra angular: “As estrelas da alva, juntas, alegremente
cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus” (Jó 37.7). A conclusão a que chegamos é que eles existiam
antes da terra ser formada, ou mais especificamente, ser habitada pelo homem.
Para que 0 pecado seja pecado, é necessário haver uma culpa ligada a ele. E mais: que seja um ato voluntário,
criador de um risco juridicamente proibido, ou seja, algo em que se possa optar por certo e errado, fazer ou não
fazer. Foi num ambiente perfeito, santo, lugar da morada do Altíssimo, que o pecado surgiu. Um de seus querubins
ungidos, “o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as
pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a
esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados.
Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabelecí; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras
andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. Na
multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado,
fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. Elevou-se o teu
coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra,
diante dos reis te pus, para que te contemplem” (Ez 28.12-17).
Outro profeta complementa a revelação de Deus, expondo os motivos que levaram esse ser exaltado a cometer
tal aspiração:
“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas
as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no
monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei
semelhante ao Altíssimo” (Is 14.12-14).
A causa da queda desse ser é um dos profundos mistérios da teologia. Tudo indica que ele tinha originalmente
o que os latinos chamam de p o s s e p e c a r e e t p o s s e n o n p e c a r e , o que significa: “a capacidade de pecar e a
CURSO DE TEOLOGIA
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
capacidade de não pecar”. Ou seja, sua vontade era autônoma. Por cinco vezes, Lúcifer manifesta sua vontade,
como está registrada nas palavras acima. O primeiro pecado foi de rebelião contra Deus e total independência
dele. Vejamos:
“Eu subirei ao céu”. É uma referência ao lugar de habitação de Deus.
“Acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono”. Uma referência aos exércitos de anjos.
“No monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte”. A Bíblia usa a simbologia em algumas
de suas expressões. No simbolismo bíblico, uma montanha significa um reino, portanto, com essas palavras é
manifesto 0 desejo dessa criatura de possuir um reino terreno.
“Subirei acima das mais altas nuvens”. Muitas vezes, Deus manifestou sua glória em meio às nuvens:
“Quando Arào falava a toda a congregação dos filhos de Israel, olharam para 0 deserto, e eis que a glória do
Senhor apareceu na nuvem” (Êx 16.10). A glória nas Escrituras é, muitas vezes, simbolizada por nuvens. E
Lúcifer desejou possuir essa glória.
“Semelhante ao Altíssimo”. Esse foi o ponto culminante dos quatros desejo de Lúcifer. Todas essas declarações
expressam independência e oposição a Deus, uma ambição deliberada contra o Senhor.
A conclusão a que chegamos é que a queda desse ser se deu devido à sua revolta deliberada e autodeterminada
contra Deus. Foi sua escolha livre e seus interesses que o levaram a sair da posição para a qual fora criado.
Segundo as Escrituras, os resultados dessa queda foram diversos. Vejamos:
1. Satanás e mais um terço dos anjos perderam sua posição de destaque nos céus (Ap 12.9).
2. Todos eles perderam sua santidade original e se tornaram corruptos em natureza (Mt 10.2; Ef 6.11,12;
Ap 12.9).
3. Alguns foram lançados no Tártaro e estão acorrentados até o dia de hoje, sendo reservados para o dia
do juízo (Ap 9.11).
4. Alguns permanecem em liberdade e fazem verdadeira oposição à obra dos anjos bons (Ap 12.7-9; Dn
10.12,13,20,21; Jd 9).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 1
1. Segundo a Bíblia, em que lugar teve início o pecado?
2. Como os cientistas cristãos definem o pecado?
3. Qual é o significado que Charles Hodge dá ao termo lei?
4. Quais são os resultados da queda registrados nas Escrituras?
CURSO DE TEOLOGM!
52
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
ORIGEM DO PECADO
NA RACA HUMANA כ
Os primeiros capítulos de Gênesis sào os mais ricos em informação sobre a origem do pecado na terra e,
conseqüentemente, da raça humana. Há séculos, Gênesis sempre provocou acalorados debates.
Os seres humanos ocupam um lugar singular entre as criaturas. Só eles são feitos à “imagem e semelhança”
de Deus. “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele
domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre
todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou” (Gn 1.26,27).
Ao homem foi ordenado “dominar e subjugar” a terra.
Depois de criar os céus, a terra e a raça humana. Deus descansou (Gn 2.1).
“O Criador terminou sua tarefa: terra, seres humanos e vida vegetal e animal são todos bons, apropriados
para suas funções. Os seres humanos expressam a imagem de Deus ao se relacionar com 0 Criador e dominar os
animais e a terra de acordo com 0 mandamento do Senhor. Impecável no projeto, perfeita no propósito, a criação
reflete a genialidade e a unidade do Criador”. 2
De forma especial, havia um relacionamento entre Deus e a raça humana recém-criada. O Criador auto-existente,
auto-suficiente, transcendente e, ao mesmo tempo, presente e envolvido, pessoalmente cria 0 primeiro homem (Gn
2.4-7). A vida do homem procede de Deus e não de um ajuntamento aleatório de células e tecidos. Quando Adão
recebeu o fôlego da vida, tudo já estava preparado para sustentá-lo, em conformidade com Gênesis 1.326־.
Havia, nesta terra, um jardim no qual o homem fora colocado para cultivar e guardar (Gn 2.15,19,20). Em
sua ocupação, 0 homem recebe de Deus liberdade total, apenas com uma restrição: não comer “da árvore do
conhecimento do bem e do mal; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). Fica
claro, então, que o favor divino não é incondicional, no sentido de que Adão podería fazer o que bem entendesse
e continuasse desfrutando das bênçãos divinas. Pelo contrário, ele deveria observar a ordem divina para que
continuasse da maneira como fora criado. Para cumprir a ordem divina, ele deveria confiar na palavra de Deus e
acreditar em sua advertência.
Adão estava só. E viu Deus que isso não era bom. Então, 0 Senhor fez cair um pesado sono sobre o homem,
de modo que ele adormeceu e, de uma de suas costelas, fez o Senhor Deus a mulher (Gn 2.18,21,22). Com este
ato, Deus completa a raça humana. Ou seja, ao formar a mulher a partir do corpo do homem.
Tudo vai muito bem até o final do capitulo 2 de Gênesis. Deus havia criado um mundo ideal para a raça
humana, com um único mandamento proibitivo de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Os acontecimentos seguintes acabam com esta tranqüilidade. E-nos dito que “a serpente, mais sagaz que
todos os animais selváticos que 0 Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: E assim que Deus disse: Não comereis
de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto
da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.
Então, a serpente disse à mulher: E certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes
se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.1-5).
A serpente, astuta, maliciosa, inicia sua conversa com a mulher, por meio de um questionamento bem
dissimulado acerca do único e simples mandamento dado por Deus. Em seguida, ela passa a negar as consequências
da ordem divina, fundamentando seu ataque ao caráter de Deus.
2 HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vidar 2005, p.79.
CURSO DE TEOLOGIA 53
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
Depois de apreciar os argumentos da serpente, a mulher come do fruto que não podería comer e aí faz que 0
marido coma também (Gn 3.6). Essa quebra do mandamento dá início à mais drástica conseqüência para todos que
pertencem à raça humana: surge 0 pecado. Tudo começou com a falta de confiança em Deus. Adão e Eva ignoraram
a revelação da verdade e, por conta disso, todos os envolvidos recebem, como conseqüência, o juízo de Deus.
A serpente foi condenada a comer do pó da terra até que seja esmagada (Gn 3.14,15). Alguns têm dito, com
assertiva consideração, que aqui foi estabelecido um proto-evangelho. Ou seja, a primeira declaração das boas-
novas, pois Deus garante que 0 mal não dominará para sempre.
A mulher recebe dois castigos por suas ações: um físico e outro relacionai. Dores acompanharão 0 parto (Gn
3.16) e “teu desejo será para o teu marido, e ele te governará” (Gn 3.16).
Para Adão foi-lhe dito que em fadiga obteria seu sustento enquanto vivesse.
Mesmo em face da desobediência, Deus age com misericórdia, aparando o casal caído (Gn 3.21), porém,
retira o casal do jardim, a fim de que não comam da árvore da vida (Gn 3.22-24). Daqui para frente, o pecado se
espalha rapidamente entre os filhos do primeiro casal.
Deus fizera o homem perfeito, à sua imagem e semelhança, e o colocara num ambiente perfeito, suprindo
cada uma de suas necessidades. Também lhe proporcionou uma companheira. Ambos possuíam livre-arbítrio,
porém, era necessário que sua liberdade de escolha fosse testada, a fim de que ficasse demonstrado que os dois
não serviam a Deus por interesse e, dessa forma, fosse evidenciada sua retidão de caráter. Diante de um único
mandamento, o homem poderia ter resistido à tentação, mas, infelizmente, preferiu o contrário.
O prejuízo que Adão e Eva tiveram em sua rebelião contra Deus foi a perda da im a g o D e i que desfrutavam.
Essa imagem se constituía de três aspectos: 1) a imagem natural, que lhes conferia a imortalidade, o livre-
arbítrio e os sentimentos; 2) a imagem política, que lhes atribuía autoridade para governar 0 reino natural;
e, o mais importante: 3) a imagem moral, que lhes impregnava de justiça e santidade verdadeira, que os
faziam semelhantes ao Criador em amor, pureza e integridade. Esse terceiro aspecto também lhes transmitiu
a capacidade intelectual.
A queda, porém, afetou os três aspectos e a conseqüência disso foi que os dois perderam a im a g o D e i . Todos
os aspectos da natureza humana foram contaminados pelo pecado. O amor e o conhecimento de Deus foram
substituídos pela a alienação e pela falta de desejo de conhecê-lo. A liberdade de escolha se rebelou contra a
vontade divina em desobediência deliberada. O intelecto se tomou obscuro e insensível.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 2
1. Porque os seres humanos tem lugar singular entre as criaturas de Deus?
2. Qual foi o único mandamento de Deus ao primeiro casal?
3. Qual foi 0 prejuízo que Adão e Eva tiveram devido à sua rebelião contra Deus?
54 CURSO DE TEOLOGIA
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
EVOLUÇÃO DO CONCEITO
DE PECADO
O pecado sempre esteve presente na história da humanidade. Devido ao caráter salvífico de todas as religiões,
ignorar o pecado seria esvaziá-las do cerne de sua mensagem. Isso, no entanto, não significa que o pecado seja
a essência do cristianismo (que não é) ou de qualquer outra religião. Na verdade, o pecado não passa de uma
sombra. Mas sem o ressalto dessa sombra não seria possível perceber onde se encontra a verdadeira luz, como
anunciou o apóstolo: “A mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e
não há nele treva nenhuma” (1J0 1.5).
Tal como aconteceu com outros fenômenos, 0 pecado também dominou as sociedades e as teologias no
passado. Hoje, o que se percebe é que sua imagem sofreu uma mudança profunda em nossa sociedade. A palavra
“pecado” está desaparecendo do vocabulário da maioria das pessoas. Atualmente, fala-se em tabu, mancha,
desordem, transgressão.
Nas sociedades primitivas, o pecado aparece como transgressão às regras da comunidade. Nas sociedades
politeístas, aparece como infração à ordem do mundo estabelecida pelos deuses, podendo provocar a ira de
tais divindades. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, encontramos ricos subsídios para percebermos o
mistério do pecado em toda a sua profundidade e amplitude. É assim que surgem nas Escrituras as concepções
de pecado como ruptura da aliança, como falta de vigilância e de oposição ao reino, como um mal que se vai
apoderando de todo o ser e de todos os seres.
CURSO DE TEOLOGIA
55
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
descreve o pecado como um ato de não atingir 0 alvo. ou fracasso em alcançar um objetivo. A outra é άδικιο (gr.
adikia), que significa "injustiça", ou seja. uma profunda violação da lei e da justiça. Poneria, por sua vez, é o mal
de um tipo vicioso ou degenerado.
Os dois termos, amartia e adikia, parecem falar de uma corrupção ou perversão de caráter. As palavras mais
freqüentes são παραβασις (gr. parabasis), com a qual podemos associar παράπτω μα (gr. paraptoma), uma
significando “transgressão", ou seja, ir além do limite estabelecido, e ανομία (gr. anomia), falta de lei , desprezo
e violação da lei, iniqüidade, maldade.
Como se pode averiguar, trata-se de um conceito que, por causa de sua riqueza, não pode ser expresso com um
único termo. As diferentes denominações que aparecem na Palavra de Deus são um claro indício dos múltiplos
aspectos que o pecado encerra em seu interior
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 3
1. Quais são as palavras que vêm tomando o lugar do termo pecado?
2. Quais são as palavras que 0 Antigo Testamento usa para pecado?
3. Quais são as palavras que 0 Novo Testamento usa para pecado?
4. Qual é o significado, no grego, do termo anomia?
CURSO D ET E O LO (M
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M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
EVANGELHOS
Cada evangelho tem características peculiares ao relatar a vida e ministério de Jesus. O propósito de Mateus
é demonstrar, sem deixar dúvida, que Jesus é o grande Messias, o Filho de Deus, o verdadeiro Rei prometido por
Deus e esperado, por muitos anos, pela naçào judaica.
O evangelho de Mateus é marcado pelo anúncio da boa notícia de que "o reino de Deus está próximo” (4.17
e paralelos). Por conta disso, nào é outra a tônica (ou ênfase) das bem-aventuranças (Mt 5; Lc 4.17) e, também,
dos discursos sobre missão (Mt 10), dos fins dos tempos (Mt 24), dos milagres (Mt 4.23; Mc 1.21; Lc 4.15).
Tudo isso despertava, entre o povos, os arquétipos do Messias esperado, com sua retumbante vitória definitiva
sobre as potências do mal.
Mateus conclui que “o povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte
resplandeceu-lhes a luz” (4.16).
Mateus interpretou esses acontecimentos históricos a fim de proclamar o que Deus fizera, por intermédio de
seu Filho Jesus, para redimir o homem de sua condição desamparada como pecador. O evangelista mostra que
Jesus é 0 Messias, o Cristo, que a nação aguardava com ansiedade. Aquilo que o homem não pode fazer por si,
Deus fez pelo homem, por meio de seu Filho, Jesus Cristo.
Assim como Mateus, Marcos também é explícito a respeito do bjetivo que apresenta: 4‘Princípio do
evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1.1). O termo evangelho (ευαγγελίου - euaggelion) significava
“recompensa pela transmissão da boa-nova”.3 É a boa-nova do que Deus fez em Jesus Cristo (vida, morte,
ressurreição e exaltação de Jesus vistas como um ato poderoso de Deus), de acordo com a promessa do Antigo
Testamento, para vencer as forças do mal e salvar o homem de seu pecado, inaugurando, dessa forma, o seu reino
e oferecendo salvação com a chamada ao arrependimento e à fé.
Lucas, por sua vez, é conhecido como o evangelista que mais ressalta a misericórdia para com os pecadores,
ressaltando, desse modo, a salvação. É ele quem mais insiste na boa-nova “para os pecadores”. Sim, no plural,
porque, nesse contexto de Lucas, pecadores são vistos como aqueles que são excluídos pelos doutores da lei.
Jesus se senta à mesa com os publicanos e pecadores (Lc 5.27; 19.1-9; Mc 2.14). Age dessa forma porque
ressalta nos pecadores uma virtude fundante para a colhida da salvação, ou seja, a humildade (Lc 15.7; 18.13).
E, com isso, tansforma-os em verdadeiros destinatários do reino.
Na parábola do publicano, Jesus declara os pecadores justificados (Lc 18.9-14). Nas parábolas da misercicórdia,
chega a compará-los com uma “preciosa moeda”, dignos de serem recebidos com festa, mesmo no céu (Lc 15.1).
Jesus acolhe as prostitutas, permitindo que o toquem e o beijem (Lc 7.36-38; Mcs 2.16). Toma a defesa daquelas
mulheres (Jo 8). Por meio das prostitutas, estabelece um novo critério de perdão ilimitado, “porque muito amou”
(Lc 7.47). Proclama, em alta voz, que “elas precederão a todos no reino" (Mt 21.31).
Num primeiro plano, como representantes dos inimigos do reino e da pessoa de Jesus, não vão figurar os
pagãos, nem os pecadores públicos, mas justamente os grupos religiosos que dizem acreditar em Deus e o
invocam, mas servem de Deus e da religião para negar o Cristo. Tudo porque esses religiossos não viam o
comportamento de Jesus com bons olhos e, por isso, foram por Ele duramente criticados (Mt 11.19; Lc 7.34;
15.1,2; 19.7). Por outro lado, os desprezados, rejeitados e excluídos foram encontrados, porque Jesus “não veio
para os justos, mas para os pecadores (Lc 5.32; Mt 9.13). O próprio Jesus declarou sua missão ao afirmar que
veio “procurar e salvar 0 que estava perdido” (Lc 15.4). Os benefícios são inúmeros: é como o Pai que acolhe o
filho ingrato (Lc 15.20-24); é o credor que veio perdoar a dívida impagável (Lc 8.41-42); perdoa absolutamente
3HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2002, p.77.
CURSO DE TEOLOGIA 57
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
todos os pecados, até mesmo as blasfêmias, exceto o pecado contra 0 Espírito Santo (Mc 3.28).
Portanto, para Jesus, com 0 advento do reino, inicia-se uma era radicalmente nova. Todos têm que se redimir diante
dele e da sua proposta. Ninguém é justificado, mas todos podem encontrar a salvação, na medida em que se reconhecerem
pecadores e aderirem à sua proposta. Com tudo isso, fica claro que já não é um código religiosos ou moral que define a
identidade do pecador, mas seu relacionamento com o Deus salvador, em Jesus Cristo. Assim, ninguém é justo, todos são
pecadores e só podem ser justificados pela gratuidade divina, mas mediante a condição de se reconhecerem pecadores.
David Hale diz que “é interressante observar que a palavra 'salvador’ não aparece em nenhum dos sinópticos,
exceto em Lucas (1.47; 2.11). Da mesma maneira, o substantivo 'salvação’ e o adjetivo 'salvo’ são encontrados
somente em Lucas, dos sinópticos”.45
Essa salvação, contudo, é para todas as pessoas.
O autor do quarto evangelho incluiu uma declaração a repeito do motivo que o levou a escrever o seu texto.
Podemos ver isso na seguinte referência: João 20.31, que diz: "Estes, porém, foram registrados para que creiais que
Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”. João francamente declara que ele
escreveu para mostrar que Jesus é o Cristo (palavra grega para "Messias”), o Filho de Deus. Esse conhecimento produz
a salvação e assegura a pessoa quanto à vida eterna. "É interessante observar que, dos escritores do Novo Testamento,
só João prescreve o termo hebraico ou aramaico Messias (1.41; 4.25), e indica que Cristo traduz esta palavra”?
Dos quatro evenglhos, o de João é o mais profundo e o mais complexo em sua abordagem sobre o pecado. O
autor usa um jogo de contrastes luz-trevas, verdade-mentira, amor-ódio, vida-morte, liberdade-escravidão. Muito
mais do que um eventual dualismo, ele evidencia o poder das trevas que se manifesta no pecado. Sua maneira
de abordar a questão do pecado é peculiar. Verifica-se uma nítida tendência de falar de pecado (hamartia), no
singular, isso pode ser um indicador de que ele não se procupava tanto com os pecados, no plural. Como o
apóstolo Paulo, ele focaliza sua atenção na raiz comum a todos eles.
Portanto, nos evangelhos, a vida, a paixão e a morte de Jesus aparecem de forma explícita e repetida com esse
caráter de librrtação. É o cumprimento de todos os anúncios feitos anteriormente. Jesus veio nos resgartar da
morte, da lei e do pecado. Entregou sua existência para a remissão dos pecados do mundo e para tomar possível
a nova e definitiva aliança, conforme havia predito o profeta:
"Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não
conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto
eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que firmarei
com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração
lhas escreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada
um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior deles, diz o
Senhor. Pois perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei (Jr 31.3134)־.
A salvação de Jesus, que possibilita a realização do bem, não exclui a liberdade do ser humano de praticar o mal.
Assim, cabe aos seres humanos optarem por Jesus ou rejeitarem sua mensagem e sua pessoa. Uma decisão séria que
afeta, principalmente, 0 nosso relacionamento com Deus e coloca em jogo o nossso destino eterno. Sendo assim, se o
pecado não existisse, ficaria destruído todo o anúncio da revelação de Deus. Negar, portanto, a condição pecadora da
humanidade e de cada um dos membros que a compõe é uma grande rebeldia contra a boa-nova dos evangelhos.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 4
1. Qual é o propósito de Mateus ao escrever seu evangelho?
2. O que significa o termo evangelho?
3. Qual é 0 único evangelho em que aparece a palavra “salvador”?
4. Qual é 0 jogo de contrastes que João usa em seu evangelho para evidenciar 0 poder das trevas?
4 Ibid., p. 125.
5 Ibid., p. 162.
58
CURSO DE TEOLOGIA
MÔDIILO 3 I DOUTRINA DO PECADO
TEOLOGIA PAULI NA
CONCERNENTE AO PECADO
O apóstolo Paulo, valendo-se de um vocabulário amplo, introduz uma variedade de termos que denotam o pecado
ou os pecados. E faz isso para denotar e descrever vários pecados pessoais, sensuais, sociais, éticos e religiosos.
Em sua eístola aos rmanos, a qual Lutero,ao comentá-la, no prefácio diz: “Esta epístola é o livro principal do Nvo
Tstamento, 0 eangelho em sua forma mais pura. Merece não somente ser conhecida pelos cristãos, individualmente,
palavra por palavra, mas ser objeto de sua meditação dia-a-dia, como o pão cotidiano da alma”.
Paulo usa dez termos gerais para pecado. Vejamos:
1. Hamartia. Aparece, ao todo, 58 vezes, 43 em Romanos, como o seguinte significado: “errar o alvo”.
2. Hamarteema. Duas vezes, demonstrando 0 pecado como uma ação.
3. Parabasis. Cinco vezes, significando “transgressão”, ou seja, andar literalmente ao longo de uma linha,
mas não exatamente seguindo essa linha.
4. Parapíoma. Quinze vezes, significando “fracasso”, “falha”, “desvio da verdade e da retidão”.
5. Adikia. Doze vezes, significando “injustiça”.
6. Asebeia. Quatro vezes,significando: “impiedade”, “falta de reverência”.
7. Anomia. Seis vezes, com 0 significado de “ilegalidade”.
8. Akatharsia. Nove vezes, com o significado de “impureza”, “falta de pureza”.
9. Parokoee. Quatro vezes, significando “desobediência”.
10. Planee. Qatro vezes, como significado de “errar”, “vagar”.6
Paulo fala das “transgressões” (παραβασις - p a r a b a s is ) cometidas por uma fraqueza (para as quais Deus se
melina com misericórdia) ou por atos que podem ser um forte sinal de um endurecimento que se constitui num
obstáculo radical à graça (G1 3.19; Rin 2.23; 4.15; 5.14).
Fala, ainda, do pecado como desobediência (Rm 5.19; 2C0 10.6), como erro voluntário (lTm 6.10; 2Tm 3.13).
A preocupação do apóstolo Paulo com as obras da carne que excluem do reino é tão grande que ele faz uma
lista: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões,
facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já,
outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (G1 5.19-21).
Por várias vezes, ele retoma, especificando-as. Assim, na primeira carta aos coríntios, ele diz que “os injustos
não herdarão o reino de Deus. Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados,
nem sodoimtas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes. nem roubadores herdarão o reino
de D e u s 1 ) ״C0 6.9,10). Alguns cometiam pecados que os tomavam piores do que os pagãos. “Se alguém não tem
cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e e pior do que 0 descrente” (lTm 5.8).
Faia sobre incesto: “Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo entre
os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu proprio pai“ (1C0 5.1 j. Sobre heresias: “E até
importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós” (1C0 11.19).
Em suas cartas, Paulo busca as raízes mais profundas dos pecados. Para tanto, ele privilegia os termos iniqüidade
(gr. αμαρτία - hamartia) e impiedade (gr. ασέβεια - a se b e ia ). Embora genéricos, esses termos indicam falta
reconhecimento de Deus (falta de reverência a Deus) e recusa de glorificar 0 Senhor. O apóstolo aponta, também,
6 TORREY, R. A. et al. Os fundamentos: a famosa Coletânea de textos das verdades bíblicas Fundamentais. São Paulo: Hagnos, 2005, p.350.
CURSO DE TEOLOGIA 59
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
para outra atitude geradora de pecado, como. por exemplo, a ganância (αισχροκερδή - a isc h ro k e rd ê ): “raiz de
todos os males” (lTm 6.10).
Paulo testemunha que o pecado entrou em nossa raça por intermédio da desobediência de Adão: "Portanto,
assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou
a todos os homens, porque todos pecaram [...] Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos
os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para
a justificação que dá vida. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos se tomaram pecadores,
assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tomarão justos" (Rm 5.12,1819)־.
Ao contrário dos escritos rabínicos, Paulo afirma que o pecado entrou na raça humana por intermédio de Adão
e não de Eva. E mais: coloca o pecado em nível universal ao dizer que quando Adão pecou, “todos pecaram”
(Rm 5.12).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 5
1. Quais são os pecados listados pelo apóstolo Paulo que impedem as pessoas de participarem do reino?
2. Segundo Paulo, quais são os pecados que tomam os crentes piores do que os pagãos?
3. Paulo busca as raízes mais profundas dos pecados. Para isso, quais os termos que ele privilegia?
4. Cite cinco termos gregos usados pelo apóstolo Paulo em seus escritos.
CURSO DE TEOLOGl/i
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M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
OS PRIMEIROS ESCRITOS
SOBRE O PECADO
As primeiras gerações de cristãos, por causa da riqueza bíblica e do testemunho escrito de vários apóstolos,
não desenvolveram uma teologia do pecado. Por esse motivo, os primeiros escritos patrísticos apresentam apenas
esboços do pecado.
Clemente de Roma (i102 )״, que “viu os apóstolos e com eles conversou, tendo ouvido diretamente a sua
pregação e ensinamento”, no final do século Io teve de conter uma rebelião na igreja de Corinto. Ao escrever
para essa igreja, depois de elogiá-la, foi obrigado a denunciar uma atitude pecaminosa, que causaria péssimas
conseqüências. Os crentes da igreja de Corinto estavam se deixando levar pelo ciúme, pela inveja, pela discórdia.
Para Clemente, aqueles irmãos haviam-se afastado do temor de Deus e se tomaram cegos, comportando-se de
uma maneira indigna aos seguidores de Cristo.
Contemporâneo de Clemente de Roma, a Didaquê, uma espécie de catecismo dos primeiros cristãos, adverte
que “há dois caminhos: um da vida e outro da morte. A diferença entre ambos é grande. O caminho da morte é
cheio de 4maldições’. Entre os muitos exemplos de novas fisionomias de pecadores vão figurar os estranhos à
doçura, os perseguidores dos bons, os assassinos de crianças, os sem compaixão com os pobres, os defensores
dos ricos, os juizes iníquos dos pobres...”. 7
Um fato marcante começou a surgir no meio patrístico: os pecados começaram a ganhar valoração de acordo
com sua gravidade. Vão surgindo acentos diferentes de acordo com o problema enfrentado. A Didaquê julga que
44tentar um profeta que fala pelo espírito” se constitui num pecado imperdoável. Clemente de Roma vai assinalar,
como grande pecado, a desobediência à hierarquia da igreja. Cipriano vai caracterizar, como um dos maiores
pecados, o rompimento da unidade da Igreja. Hipólito de Roma, na sua Tradição Apostólica, além de indicar
os pecados que o apóstolo Paulo havia catalogado como excludente do reino, destaca a idolatria e o exercício
de certas profissões. Tertuliano, por sua vez, depois de apontar sete pecados como sendo os mais graves, entre
os quais constava a apostasia, estabelece uma lista de pecados que, constantemente, é retomada nos primeiros
séculos: idolatria, homicídio e adultério.
Afirma-se que Agostinho de Hipona é o autor da expressão 44pecado original”. Segundo alguns estudiosos, ele é o primeiro
e um dos mais importantes teólogos da história a elaborar, de modo sistemático, uma doutrina do pecado original.
O final do século 4o e, sobretudo o século 5o, foi uma época marcada pela apostasia e por muitas heresias,
quando Agostinho se confronta com os donatistas e os pelagianos.
Pelágio foi um moralista exigente que acreditava que, embora a maioria dos homens fosse má, eles eram
capazes de se redimirem, caso se esforçassem nesse sentido. Negou totalmente o pecado original. Para ele, o
pecado consiste não em herdar a natureza de Adão, mas em seguir seu exemplo, ou seja, que o pecado não reside
na natureza, mas, sim, na vontade. Segundo acreditava, o que é transmitido é apenas o mau exemplo que todos
os homens, desgraçadamente, imitam. Portanto, o homem não necessitava de um dom extraordinário da graça
para obter sua salvação. Com isso, Pelágio se coloca frontalmente contra o cerne da doutrina do pecado original
e provoca uma reação contundente da igreja, sobretudo por intermédio de Agostinho.
Pelágio encontrou em Agostinho seu maior opositor. Agostinho escreveu vários tratados contra essa doutrina,
sendo que o mais famosos deles foi De Spiritu et Lietra. O Concilio de Cartago, em 418 d.C., e o de Orange, em
429, além de condenarem as teses de Pelágio, vão, ao mesmo tempo, fixar e dar uma formulação mais precisa à
tradição apostólica referente ao pecado original.
Foi em meio a esses grandes debates teológicos que surgiu a concepção de pecados mais graves, período em que a
7DIDAQUÊ. Catecismo dos primeiros cristãos. 5a ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1986, 1 e 5.
CURSO DE TEOLOGIA 61
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
Igreja Católica irá desenvolver uma lista dos pecados *'capitais", por entender que todos os demais pecados surgem da
gula, da fomicação, da avareza, da tristeza, da ira, da preguiça, da vangloria e do orgulho.
A doutrina dos vícios capitais foi fruto do empenho de organizar a experiência antropológica, cujas origens remontam
a João Cassiano e Gregório Magno, que têm em comum precisamente esse ato de se voltar para a realidade concreta.
Ambos tratam de fazer uma tomografia da alma humana e, no que diz respeito aos vícios, surge a doutrina dos pecados
capitais, que encontra sua máxima profundidade e sua forma acabada no tratamento que confere Tomás.
Os pecados capitais, na enumeração de Tomás, são: vaidade, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e acídia. Hoje, em
lugar da vaidade, a Igreja coloca a soberba e, em lugar da acídia, é mais freqüente encontrarmos a preguiça na lista dos
vícios capitais. Isto porque a soberba é considerada, por Tomás, como um pecado, por assim dizer, "megacapital”, fora da
série e, portanto, ele prefere falar em vaidade (inanis gloria, **vangloria”). Já a substituição da acídia pela preguiça parece
realmente um empobrecimento, uma vez que, como veremos, a acídia medieval e os pecados dela derivados propiciam
uma clave extraordinária, precisamente para a compreensão do desespero do homem contemporâneo.
Segundo Tomás de Aquino, este nome, vício capital, provém do termo caput: "cabeça”, "líder”, "chefe” (em italiano,
ainda hoje, há a derivação: capo, capo-máfia). Nesse sentido, os vícios capitais são sete vícios especiais, que gozam de
uma especial "liderança”. O vício é uma restrição à autêntica liberdade, é um condicionamento para agir mal.8
Entre Agostinho e a Reforma Protestante, passou-se um milênio. A escolástica, no que se refere ao pecado original,
dividia-se basicamente em duas escolas: a dos seguidores de Anselmo de Cantuária (1033-1109 d.C.) e a dos que
continuavam a tradição agostiniana, encabeçada por Pedro Lombardo (1095 -1160). A primeira corrente define o pecado
original como “privação da justiça original”; a segunda, coloca o acento sobre a concupiscência. Combinando as duas
tendências, Tomás de Aquino vai dizer que, materialmente, o pecado original é concupiscência. Formalmente, esse pecado
é privado da justiça original.
A escolástica parecia abordar o pecado original de forma muito superficial para afetar decisivamente a natureza humana.
Suas teses eram que, após o pecado de Adão, as faculdades naturais do ser humano e a sua vontade permaneceram íntegras;
que o ser humano goza de livre-arbítrio; que 0 ser humano, por forças naturais, pode amar a Deus de todo coração e ao
próximo como a si mesmo; que o ser humano, enquanto depende dele, pode estar seguro de que Deus lhe dará a graça;
que basta a boa intenção para se achegar aos sacramentos.9
Para Lutero, o pecado original é a irresistível tendência para o mal, que todos experimentam, mesmo após o batismo.
Não é a mera transgressão de uma lei, mas uma radical disposição interna para fazer o mal. A condição indispensável para
a justificação é a consciência do pecado. Lutero escreveu um livro, intitulado A escravidão da vontade, em resposta a um
discurso violento de Erasmo, no qual defendia conceitos pelagianos. Lutero acreditava que Erasmo era "um inimigo de
Deus e da religião Cristã”, por causa do ensino que ministrava sobre o pecado original. É bom notar que o Catolicismo
medieval, sob a influência de Aquino, adotara um semipelagianismo, mesmo que na antiguidade houvesse rejeitado 0
pelagianismo puro. Neste sistema, acreditava-se que o homem cooperava com a graça de Deus para a salvação.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 6
1. Ao escrever para a igreja em Corinto, quais foram os pecados denunciados por Clemente de Roma?
2. Qual é a advertência do Didaquê aos cristãos?
3. Qual foi o fato marcante que começou a surgir no meio patrístico?
4. Quem usou primeiro o termo pecado original?
5. Qual é a concepção de Pelágio com relação ao pecado?
6. Quais são os sete pecados capitais?
7. Quais são os pecados capitais na concepção de Tomás de Aquino?
8. Qual é o entendimento de Lutero com relação ao pecado original?
8AQUINO, Tomás de. Sobre 0 ensino (De Magistro) e os sete pecados capitais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
9MOSER, Antônio. 0 pecado: do descrédito ao aprofundamento. Rio de Janeiro: Vozes, 1996, p 61.
62 CURSO DETEOLOGM
M Ó D U LO נ I DOUTRINA DO PECADO
CONSEQUÊNCIAS
IMEDIATAS DO PECADO
Quem não gostaria de saber o que teria acontecido se os nossos primeiros pais não tivessem desobedecido a
Deus. Entretanto, as Escrituras nada dizem a esse respeito. Sendo assim, faremos bem em evitar investigações
teóricas sobre aquilo que Deus não desejou revelar. Podemos imaginar que as conseqüências da obediência
seriam grandiosas, na direção certa, do mesmo que as conseqüências da desobediência foram negativas, na
direção errada. Partindo da revelação de Deus encontrada nas Escrituras, iremos nos certificar das conseqüências
do pecado sobre a vida de Adão e Eva, sua natureza, seus corpos, seu ambiente e sua posteridade.
O livro de Gênesis é a nossa fonte exclusiva de informação acerca desses acontecimentos, portanto, é lá que
encontraremos os elementos necessários para a nossa investigação.
CURSO DE TEOLOGIA 63
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
refere apenas à morte física, que todos os seres humanos estão sujeito. Neste caso, 0 sentido de morte é mais
amplo, referindo-se à morte espiritual, física e eterna. Em Adão. todos passaram a experimentar a morte física,
tal como disse o apóstolo Paulo: “E Adão, todos morrem“ ( 1C0 15.22). *O homem foi criado mortal, mas tinha 0
privilégio de conseguir a imortalidade por meio da árvore da vida. Mas. or ter comido da árvore do conhecimento
do bem e do mal, perdeu sua liberdade de comer da árvore da vida“.10 Outra conseqüência do pecado foi que 0
homem passou a sofrer com as doenças físicas.11
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 7
1. Quais foram as quatro conseqüências imediatas do pecado?
2. Como o pecado afetou o relacionamento com Deus?
3. Como o pecado afetou a natureza do homem?
4. Como o pecado afetou seus corpos?
5. Como o pecado afetou 0 meio ambiente?
64
CURSO DETEOLOaj
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
A UNIVERSALIDADE
DO PECADO
A natureza e extensão do mal transmitido à raça humana, bem como a base ou a razão pelas quais os
descendentes de Adão foram envolvidos nas conseqüências negativas de sua transgressão, sempre formam
matéria de divergência e discussão. Entretanto, é fato que o pecado de Adão afetou não somente a ele, mas
também a todos os seus descendentes. Logo, todos os seres humanos são pecadores; todos são depravados,
culpados e condenáveis.
De acordo com a Bíblia, o pecado não é uma qualidade ou condição da alma que se revelou apenas em
indivíduos excepcionais, como, por exemplo, os ofensores notórios, ou em circunstâncias excepcionais, como,
por exemplo, nas primeiras eras da existência humana na terra, entre as raças semidesenvolvidas, ou em terras
onde as artes e as ciências são desconhecidas, ou em comunidades civilizadas, onde o ambiente local é prejudicial
à moralidade.
O pecado é uma característica peculiar da raça humana, é algo que se nasce com ele, existe em cada criança
nascida de mulher, e não meramente em tempos isolados, mas em todos os tempos, em cada estágio da vida,
embora nem sempre se manifestando na mesma forma.
As Escrituras dão testemunho dapecaminosidade de toda a humanidade. O Antigo Testamento afirma; “Porque
à tua vista não há justo nenhum vivente” (SI 143.2). “Quem pode dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou
do meu pecado?( ״Pv 20.9). Já no Novo Testamento, Paulo é enfático ao declarar que todo homem é pecador e
culpado e que a transgressão dos nossos primeiros pais constituiu pecadora a sua posteridade. Segundo Paulo,
“pela desobediência de um só homem, muitos se tomaram pecadores ״í Rm 5.19). de modo que o pecado de Adão
é imputado à toda raça humana, logo “todos morrem em A d ã o 1 ) ״C0 15.22).
Na epístola aos romanos, o apóstolo argúi que tanto os gentios quanto os judeus se encontram “destituídos
da glória de Deus״, por haverem, todos, se rebelado contra o Senhor, tomando-se igualmente culpáveis diante
de Deus (Rm 3.23). Os primeiros, por se entregarem às mais vis abominações: os segundos, por imitarem os
primeiros.
A conclusão a que chegamos é que “o homem é primária e essencialmente um pecador, não devido ao que
faz, mas em razão do que é12. ״No catecismo maior de Westminster, lemos: “Caiu todo o gênero humano na
primeira transgressão? O pacto, sendo feito em Adão, como representante, não para si somente, mas para toda a
sua posteridade, todo o gênero humano, descendendo dele por geração ordinária, pecou nele e caiu com ele na
primeira transgressão”.
Como Deus pode considerar cada homem responsável por uma natureza depravada, por causa de um pecado
que o próprio homem cometeu, será discutido ao tratarmos da imputação do pecado.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 7
1. De que maneira o Antigo Testamento testemunha sobre a pecaminosidade da raça humana?
2. Qual é a conseqüência do pecado imputado a Adão que reflete nos seres humanos?
3. O que 0 Catecismo Maior de Westminster declara sobre a pecaminosidade do homem?
12TORREY, R. A. et al. Os fundamentos: a famosa coletânea de textos das verdades bíblicas fundamentais. São Paulo: Hagnos, 2005, p. 363.
CURSO DE TEOLOGIA 65
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
TEORIA DA
IMPUTACÃO כ
A Sagrada Escritura, em nenhum momento, busca legitimar a realidade do pecado. É pressuposto fundamental
que o pecado é um fato que não pode ser contrariado, nem negado. Entretanto, alguns, por intermédio da falsa
filosofia e da ciência materialista, recusam admitir sua existência. Como conseqüência direta dessa negação,
muitas teorias têm surgido, parte das quais deve ser considerada como apenas tentativas de se esquivar do
problema negando os fatos que as Escrituras põem diante de nós. Entre as tentativas de explicar as afirmações
das Escrituras, passamos a analisar algumas teorias que mais parecem merecer atenção.
Antes de mais nada, definiremos o que significa imputação: 64atribuir ou computar alguma coisa a alguém ״. No
sentido teológico e jurídico do termo, imputar 66quer significar o ato pelo qual se declara que alguém, como autor ou
causador de uma ação, como efeito, de que é causa, deve responder pelas conseqüências da mesma ação13.״
Imputar pecado, no sentido bíblico e teológico, é imputar a culpa do pecado como obrigação judicial de
satisfazer a justiça.
13SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24a ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
66 CURSO DE TEOLOGIA
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
Jakobus Arminius (1560 - 1609), catedrático da Universidade de Leyden, Sul da Holanda, embora aceitasse
a doutrina da unidade adâmica da raça, apresentada tanto por Lutero como por Calvino, interpretava-a de
forma diferente, que veio a ser conhecida como semipelagianismo. Segundo Armínio, como conseqüência da
transgressão de Adão, todos os homens se acham naturalmente destituídos da retidão original. Assim, toda a
humanidade é incapaz, sem a ajuda divina, de obedecer perfeitamente a Deus ou de alcançar a vida eterna.
Strong nos diz que “esta incapacidade é física e intelectual, mas não voluntária. Por isso, em se tratando de
justiça, Deus confere a cada indivíduo, desde o raiar da sua consciência, uma influência especial do Espírito
Santo, suficiente para neutralizar o efeito da depravação herdada e tomar possível a obediência, provendo a
vontade humana de cooperação, que ainda pode praticá-la’’.14
Para Armínio, a tendência do homem para 0 mal pode ser chamada de pecado, mas não envolve culpa ou
castigo. Logo, a humanidade não é culpada pelo pecado de Adão. Somente quando o homem consciente e
voluntariamente faz uso dessas tendências más é que Deus lhe imputa como pecador.
Interpretando o texto de Romanos 5.12, que diz: “A morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”,
esta teoria defende que a morte física e espiritual incidiu sobre todos os homens não como castigo do pecado de
Adão, mas porque todos pessoalmente consentem em sua pecaminosidade por meio dos atos de transgressão.
,4STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. São Paulo: Hagnos, Vol. 2, 2003, p. 215.
15 Ibid., p. 231.
CURSO DE TEOLOGIA
67
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 9
1. Por que a Sagrada Escritura, em nenhum momento, busca legitimar a realidade do pecado?
2. No sentido teológico e jurídico, o que significa 0 termo imputar?
3. O que diz a teoria de Pelágio com relação à imputaçào?
4. E a teoria de Armínio, 0 que diz sobre a imputação?
5. O que diz a teoria federal a respeito do mesmo assunto?
6. E a teoria agostiniana, 0 que tem a dizer?
CURSO DE TEOLOGIA(
68
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
REMOÇÃO DO PECADOג
O perdão do pecado é o cerne das boas-novas. Desde o Gênesis até o Apocalipse, o Deus dos céus anuncia seu
plano redentor. Deus é santo e justo, misericordioso e gracioso (Êx 34.6), e a Bíblia anuncia que Ele fez plena
provisão para harmonizar as reivindicações de clemência e justiça em seu próprio caráter ao enviar ao mundo seu
único Filho gerado, sobre quem lançou a iniqüidade de todos nós, conforme predissera o profeta: “O Senhor fez
cair sobre ele a iniqüidade de nós todos” (Is 53.6). E, como Cordeiro de Deus, Jesus, uma vez por todas, veio tirar
0 pecado do mundo (Jo 1.29). Assim, toda a obra necessária para reconciliar os homens pecadores foi realizada
pela morte e ressurreição de Cristo e, desse modo, 0 mundo foi reconciliado com Deus (2C0 5.19). Por meio de
Jesus Cristo, podemos subjugar não apenas o pecado, mas, também, os efeitos causados pelo pecado.
Os homens, em toda parte, são convidados a se arrepender e a se converter, para que seus pecados possam ser
apagados (At 3.19). Nada mais é requerido dos homens, para que se tomem livres e completamente justificados
de todas as suas transgressões, do que a fé na propiciação da cruz (Rm 3.25).
As evidências do Novo Testamento sobre o que acabamos de dizer são claras. Ao examiná-las, parece lógico
iniciar com o anúncio do nascimento do Messias. Os nomes que Ele recebeu foram: Jesus (Yahweh, salvação)
e Emanuel (Deus conosco). Pois, no seu nascimento e por meio dele, o próprio Deus tinha vindo resgatar o seu
povo, ou seja, veio salvar o seu povo dos seus pecados (Mt 1.21-23). O apóstolo Paulo foi categórico ao afirmar
que Deus “nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo” e “estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo” (2C0 5.18,19). Foi Cristo e por intermédio dele que Deus estava efetuando a reconciliação, trazendo
a paz pelo sangue da cruz, perdoando todos os nossos pecados, cancelando a dívida que existia contra nós,
levando-a, pregando-a na cruz (Cl 2.14,15). Como escreveu John Stott: *O amor divino triunfou sobre a ira
divina mediante 0 divino auto-sacrifício. A cruz foi um ato simultâneo de castigo e anistia, severidade e graça,
justiça e misericórdia”.16
Por intermédio de Cristo, tomamo-nos agradáveis a Deus que, mediante a adoção, concedeu-nos todos os
benefícios de filhos. Antes criaturas, agora somos filhos muito amados e com franco acesso ao trono da graça.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 10
16STOTT, John. A cruz de Cristo. 11a imp. São Paulo: Vida, 2006, p. 145.
CURSO DE TEOLOGIA 69
M Ó D U LO נ I DOUTRINA DO PECADO
PECADO IMPERDOÁVEL
A solene advertência de Jesus a respeito de um pecado que nào será perdoado, nem neste mundo nem no vindouro, é
registrada pelos três evangelhos sinópticos (Mt 12.31,32; Mc 3.28-30; Lc 12.10).
Jesus diz:
“Por isso, vos declaro; todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra 0 Espirito não
será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra 0 Filho do Homem, ser-lhe־á isso perdoado; mas, se alguém
falar contra o Espirito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir (Mt 12.31,32).
O apóstolo João fala de um pecado que não se deve orar por ele (1J0 5.16).
Essas passagens, talvez, estejam falando de um mesmo pecado, ou, talvez, de pecados diferentes. Tal pecado,
geralmente, é conhecido como blasfêmia contra o Espirito Santo. Durante séculos, tem havido várias opiniões diferentes
a respeito da natureza desse pecado para o qual não há perdão.
Para alguns, esse tipo de pecado podería somente ser cometido pelos contemporâneos de Jesus, durante seu ministério
terreno, Berkhof, Jerônimo e Crisóstomo eram simpatizantes dessa opinião.17
Para outros, esse pecado é a incredulidade que persiste até a hora da morte. Ou seja, aqueles que ouvem falar de Cristo
e não se decidem a seu favor e morrem na incredulidade. Agostinho seria o principal expoente dessa teoria.
No entanto, uma corrente mais moderna defende que esse pecado podería ser cometido somente por uma pessoa
regenerada. E o texto bíblico que lança mão para fundamentar seu pensamento é Hebreus 6.4-6; Com isso, está querendo
afirmar que a rejeição de Cristo e a perda da salvação ocorrem por parte de um cristão verdadeiro.
A explicação majoritária que melhor se adapta ao texto bíblico defende que esse pecado consistia em rejeição e calúnia
(especialmente maliciosa) deliberadas à obra do Espírito Santo e, também, na atribuição dessa obra ao príncipe das
trevas, “isso pressupõe, objetivamente., uma revelação da graça de Deus em Cristo, numa poderosa operação do Espírito
Santo; e, subjetivamente, uma iluminação e convicção intelectual tão fortes e poderosas que impossibilitam uma franca
negação da verdade”.18 E íbi o que estava acontecendo com os fariseus que, além de verem com seus próprios olhos os
milagres que Jesus operava por intermédio do Espírito Santo, deliberadamente rejeitavam a autoridade e o ensino de
Jesus, atribuindo-os ao maioral dos demônios (Mt 12.24).
Jesus foi ao âmago da questão ao dizer que “todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade ou casa
dividida contra si mesma não subsistirá. Se Satanás expele a Satanás, dividido está contra si mesmo; como, pois, subsistirá
o seu reino?” (Mt 12.25-26).
Ou era Ele da parte de Deus (como diz ser) ou 0 reino das trevas estava dividido. Diante dos fatos, Jesus profere 0
seguinte alerta: “Quem nào é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” (Mt 12.30). Dessa forma, Jesus
avisa que não existe neutralidade e, certamente, aqueles que. como os fariseus, opõem-se à sua mensagem são contra Ele.
Em seguida, acrescenta: “Por isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia
contra o Espírito nào será perdoada" (Mt 12.31).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 11
1. Como Jerônimo e Crisóstomo entendiam o pecado imperdoável?
2. De acordo com a corrente majoritária, o que seria o pecado imperdoável?
17BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. São Paulo: Luz Para 0 Caminho Publicações, 1996, p.254.
18Idem, 1996, p.255
70 CURSO DETEOLOC
M Ó D U LO 3 I DOUTRINA DO PECADO
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CURSO DE TEOLOGIA 71
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72
CURSO DE TEOLOGIA
faculdade teológica betesda
Moldando vocacionados
2) Quais são as cinco manifestações de vontade de Lúcifer, registradas nas Escrituras, que causaram sua queda?
3) Qual foi 0 prejuízo que Adão e Eva tiveram devido a sua rebelião contra Deus?
10) Faça um breve comentário sobre a teoria pelagiana do pecado, refutando-a segundo as Escrituras.
ANTROPOLOGIA
Doutrina do homem
SUMARIO
I N T R O D U Ç Ã O ...........................................................................................................................79
1. D E L I M I T A Ç Ã O D O T E M A ..................................................................................................... 80
2. C R I A Ç Ã O D O H O M E M ........................................................................................................... 81
3. T E O R I A E V O L U C I O N I S T A .................................................................................................... 83
4. H O M E M , C R I A D O À I M A G E M E S E M E L H A N Ç A D E D E U S ................................................84
4.1 A S P E C T O S · E S P E C ÍF IC O S D A N O S S A S E M E L H A N Ç A C O M D E U S .................................... 84
4.1.1 A S P E C T O S F Í S I C O S ................................................................................................... 84
4.1.2 A S P E C T O S M O R A I S .................................................................................................. 85
4.1.3 A S P E C T O S M E N T A I S .................................................................................................86
4.1.4 A S P E C T O S E S P I R I T U A I S ...........................................................................................86
5. A U N I D A D E D A R A Ç A H U M A N A ...........................................................................................87
6. E L E M E N T O S E S S E N C I A I S D A N A T U R E Z A H U M A N A ........................................ 89
6.1 T R I C O T O M I A ....................................................................................................................90
6.2 D I C O T O M I A ............................................................................................................ 90
6.3 C O R P O ...............................................................................................................................91
6.4 A L M A ................................................................................................................................91
6.4.1 A L M A C O M O P E S S O A E M S I M E S M A ........................................................................92
6.4.2 A L M A C O M O S A N G U E ...........................................................................................92
6.4.3 A L M A C O M O V I D A .................................................................................................92
6.4.4 A L M A C O M O S E N D O I M O R T A L ...............................................................................92
7. O R I G E M D A A L M A ..............................................................................................................94
7.1 T E O R IA D A P R E E X I S T Ê N C I A ............................................................................................ 94
7.2 T E O R IA D O C R I A C I O N I S M O ............................................................................................. 94
7.3 T E O R IA T R A D U C I A N I S T A .................................................................................................94
REFERÊNCIAS 96
M Ó D U LO 3 !ANTROPOLOGIA
INTRODUÇÃO
“Que é 0 hom em ?’’, perguntou Jó (Jó 7.17).
“Que é 0 hom em ?”, perguntou o salmista (S I 8.4).
N ão é fácil responder a esta pergunta. Isso porque estamos lidando com a principal criatura da natureza. O
homem é um ser completamente diferente dos demais. Ele é sem igual no mundo habitado. E o único que reflete,
que questiona, que tem consciência de si mesmo, que busca uma razão além de si mesmo. D e toda a criação de
Deus, ele é o único que traz em si a imagem e a semelhança de seu Criador, conforme declaram as Escrituras
(G n 1.26).
Se a resposta fosse simples e óbvia, não teríamos tanta divergência em relação a esta pergunta. A s alternativas
propostas têm sido desde o ser mais evoluído e primitivo até os seres resultantes do cruzamento entre extraterrestres
e animais terráqueos.. U m ser totalmente igual a qualquer animal ou um ser exatamente igual a Deus tem sido
algumas das respostas. Filósofos, teólogos, esotéricos, cientistas de todas as disciplinas, têm-se aplicado a
fornecer uma solução satisfatória, porém, todas não passam de teorias.
Por meio do estudo da antropologia bíblica, abordaremos os assuntos concernentes ao homem de acordo com
a revelação de Deus encontrada nas Sagradas Escrituras, refutando as contradições que se opõem à Palavra de
Deus, regra de fé e de prática para todos os cristãos.
Conhecer um pouco da doutrina bíblica e também das doutrinas não-bíblicas a respeito do homem é essencial
para que possamos compreender o plano de Deus para a salvação do ser humano. M uitas teorias e concepções
erradas sobre o homem têm sido apresentadas (conforme demonstraremos), porém, todas sem fundamento na
Palavra de Deus. Sendo assim, o nosso alvo é demonstrar, por meio das Escrituras, o que Deus pensa do homem
e quais são os planos divinos para o ser que, após ter sido criado, Deus disse que era “muito bom ” (G n 1.31).
CURSO DE TEOLOGIA 79
M Ó D U LO 3 I ANTROPOLOGIA
A definição mais curta de antropologia pode ser tirada do próprio sentido etimológico do termo: a n th ro p o s ,
palavra grega que significa “homem״, e logia. outro vocábulo helênico, que significa “estudo” ou "ciência”.
Logo, a antropologia é a doutrina do homem. Mas, hoje. o homem não é estudado somente pela antropologia.
Muitas são realmente as disciplinas que se ocupam no estudo do homem, por exemplo, a genética, a sociologia,
a psicologia, a teologia, entre outras
A teologia antropológica, objeto do nosso estudo, examina o homem em relação a Deus.
Neste ramo da antropologia, o homem é analisado como criação de Deus, como um pecador afastado de
Deus pela desobediência voluntária e como objeto da graça redentora de Deus. Vale ressaltar que o homem foi
estudado pela filosofia grega, pela filosofia cristã, pela filosofia moderna e pela filosofia contemporânea. Cada
uma dessas escolas apresentou e defendeu pontos de vista diferentes. Mas o cristianismo sempre permaneceu
arraigado na revelação das Escrituras quanto à criação do homem. Ou seja, que Deus criou o homem e continua
c u id a n d o dele, seja qual for a sua circunstância.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 1
1. O que significa o termo antropologia?
2. Qual é o objeto da teologia antropológica0
CURSO DE TEOLOGIA
80
MÓDULO3 !ANTROPOLOGIA
CRIACÃO DO HOMEM
כ
Enquanto os estudiosos não chegam a um consenso sobre a criação do homem, a Bíblia atribui a origem
do homem a um ato da criação direta de Deus: 4‘Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou( ״Gn 1.27). “Então, formou o Senhor Deus o homem do pó da
terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7). Deus fez o
homem do pó da terra, usando o poder da palavra: “façamos!” (Gn 1.26). Duas coisas estão evidentes neste
relato: primeira, o corpo do homem foi formado pela imediata intervenção de Deus. O homem não cresceu;
tampouco foi produzido mediante algum processo de desenvolvimento. Segunda, a alma do homem se
derivou do próprio Deus, que soprou no homem “o fôlego da vida”, ou seja, aquela vida que tornou o
homem em um ser vivente, portador da imagem de Deus.
No original, os termos utilizados, além de revelarem a vontade do Criador, ajudam-nos a caminhar sobre bases
comuns do entendimento. O escritor do livro de Gênesis, inspirado pelo Espírito de Deus, usou três palavras
hebraicas diferentes nos capítulos 1 e 2 para descrever a criação do homem: bara, definida como “a produção ou
execução de algo novo, raro e maravilhoso”: as a h significando “formar, construir, preparar, edificar”; q y a tz a r ,
que quer dizer: “formar ou moldar”, como um oleiro, que molda os vasos.
Em Gênesis 1.26, Deus disse: “Façamos (a s a h ) o homem...”; em Gênesis 1.27, lemos: “Criou {bara) Deus,
pois, o homem...”; em Gênesis 2.7, temos a declaração: “Então formou (y a tz a r ) o Senhor Deus ao homem...”.
Essas palavras descrevem cada significado do pensamento de Deus. Na referência 1.26, o Senhor Deus fez o
homem existir numa forma determinada, isto é, conforme sua própria imagem e semelhança. Na referência 1.27,
Deus construiu o homem como algo novo e maravilhoso em seu propósito. E na referência 2.7, Deus formou e
moldou o homem da terra como um oleiro forma um vaso de argila. O profeta Isaías lançou mão dos mesmos
termos ao dizer: “... e os que criei {b a ra ) para minha glória, e que formei {asah), e fiz (y a tz a r )” (Is 43.7).
A declaração da criação do homem por Deus não fica limitada a dois ou três versículos. Pelo contrário, é
afirmada através de toda a Bíblia. O primeiro livro bíblico continua afirmando que “no dia em que Deus criou
o homem (b a ra ), à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo
nome de Adão, no dia em que foram criados” (Gn 5.1,2). Em Gênesis 6.7, temos: “Farei desaparecer da face da
terra 0 homem que criei...”. Moisés, relembrando a libertação milagrosa do Egito, disse: “Agora, pois, pergunta
aos tempos passados, que te precederam, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra, desde uma
extremidade do céu até a outra, se sucedeu jamais coisa tamanha como esta ou se se ouviu coisa como esta” (Dt
4.32). Ao profeta messiânico foi revelado o propósito da criação do homem: “... e os que criei {bara) para minha
glória, e que formei {a sa h ), e fiz (y a tz a r )” (Is 43.7).
Os escritores do Novo Testamento são categóricos em dizer que foi Deus quem criou o homem. Aos fiéis de
Colossos, o apóstolo Paulo disse: “E vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento,
segundo a imagem daquele que o criou...” (Cl 3.10).
Deus não precisava criar o homem, mas o criou para sua própria glória. Esse fato, por si só, garante a relevância
da existência do homem, que surge como um ser que recebeu de Deus cuidados especiais. O fato de Deus ter
criado o homem para a sua própria glória indica, com precisão, qual é o propósito do homem enquanto viver:
glorificar a Deus! E o homem age dessa forma quando descobre que o seu prazer e a sua alegria dependem de um
relacionamento sincero com Deus. Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo
10.10). Davi descobriu essa grande verdade e declarou: “Na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra,
delícias perpetuamente” (SI 16.11). Asafe, levita e músico, compreendeu esse propósito e declarou: “Quem mais
CURSO DE TEOLOGIA 81
M Ó D U LO 3 I ANTROPOLOGIA
tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração
desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre. Os que se afastam de ti, eis que
perecem; tu destróis todos os que são infiéis para contigo” (SI 73.2527)־.
A conclusão a que chegamos é que a plenitude da alegria é encontrada no conhecimento de Deus e no deleitar־
se com a excelência do seu caráter.
A compreensão da doutrina da criação do homem traz resultados bastante práticos. Quando o homem
reconhece que Deus 0 criou para glorificá-lo, e passa a cumprir esse propósito, então começa a experimentar
uma intensidade de alegria no Senhor que antes não conhecia. “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas
as coisas. A ele, pois, a glória etemamente. Amém!” (Rm 11.36).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 2
1. Quais são os dois fatos evidentes na criação do homem?
2. Quais são as três palavras hebraicas que o escritor inspirado do livro de Gênesis usou para descrever a
criação do homem?
3. Por que Deus criou o homem?
4. Quais são os resultados da compreensão da doutrina da criação do homem?
CURSO DE TEOLOGIA
82
M Ó D U LO J !ANTROPOLOGIA
TEORIA EVOLUCIONISTA
Com o acabamos de verificar, a Bíblia ensina claramente que o homem foi uma criação especial de Deus, ou
seja, que Deus criou cada criatura “conforme a sua espécie” por meio da ordem falada, porém, somente no homem
Ele soprou seu alento divino. A lg o do próprio Deus foi compartilhado com 0 homem, demonstrando que o homem
estava destinado a ser especial para o Criador, acima de todas as outras criaturas terrenas.
Embora a Bíblia declare explicitamente que Deus criou o homem (criacionista), no decorrer dos séculos, mais
precisamente no século passado, vãs filosofias, teorias humanas e falsos ensinos têm procurado mudar o sentido do
relato bíblico. Com o exemplo, destaca-se a teoria evolucionista, concebida e largamente difundida pelo naturalista
inglês Charles Darwin.
E m 1859, Darw in escreveu e publicou0 livro A o r ig e m d a s e s p é c ie s p o r m e io d a s e le ç ã o n a tu ra l, onde afirma
0 seguinte: “Creio que os animais se derivaram, quando muito, de quatro ou cinco progenitores; e as plantas do
mesmo ou menor número”. N a mesma página, contudo, ele avança mais e diz: “A analogia me leva a dar um passo
adiante, ou seja, a crer que todos os animais e plantas se derivam de um único protótipo”. E acrescenta que “todos
os seres orgânicos, que sempre existiram sobre a terra, podem ter-se originado de uma única forma primordial”.
Segundo Darwin, o meio ambiente seleciona os seres mais aptos e elimina os menos dotados. E a evolução por
meio da seleção natural. O u seja, organismos com melhor adaptação ao ambiente tendem a sobreviver e podem
transmitir suas características genéticas. O s menos adaptados acabam sendo eliminados. Assim , só as características
que facilitam a sobrevivência são transmitidas aos descendentes. A o longo das gerações, elas se firmam e identificam
uma nova espécie. Em todas as espécies, os indivíduos nunca são iguais, exibindo variação que podem ser herdadas.
Em determinado ambiente, os indivíduos dotados de variação favoráveis estarão mais capacitados a sobreviver do
que os que possuem variações desfavoráveis. Assim , as variações favoráveis são transmitidas para os descendentes
e, acumulando-se com o tempo, dão origem a grandes diferenças. O processo de seleção natural, imposto pelo meio
ambiente, e prolongado por várias gerações, produz adaptações cada vez mais perfeitas e complexas, determinando,
dessa forma, um processo de evolução progressiva.
O auge dessa teoria é a afirmação de que o homem e os animais em geral possuem um princípio comum, isto é,
tanto o homem quanto os animais procedem de um mesmo tronco, e que hoje, homem e animais, são um somatório
de mutações sofridas no decorrer dos milênios. Portanto, o homem de hoje não era 0 homem do princípio. Com essa
afirmativa, a teoria evolucionista deu de frente com a Palavra de Deus, que afirma: “Então, formou 0 Senhor Deus o
homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente” (G n 2.7).
M esm o com tamanha oposição às Escrituras, com esse pensamento, Darwin transformou não apenas o aspecto
científico, mas também 0 aspecto filosófico e religioso derivado de sua própria conjectura. Assim, 0 mundo passou a
conviver com duas afirmações conflitantes: a afirmação da Palavra de Deus, que ensina que o homem foi criado por
Deus à sua imagem e semelhança, e a afirmação de Charles Darwin, que diz que 0 homem se originou por meio de um
lento processo de evolução, indo das formas mais simples até as formas mais complexas, tomando-se o que é hoje.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 3
1. O que Charles Darw in declarou sobre a origem das espécies?
2. Qual foi o auge da teoria de D arw in?
3. Qual foi o resultado da teoria de D arw in para o m undo?
CURSO DE TEOLOGIA 83
M Ó D U LO 3 !ANTROPOLOGIA
84 CURSO DE TEOLOGIA
M Ó D U LO 3 I ANTROPOLOGIA
A título de refutação, é bom destacar que a imagem e a semelhança de Deus, em nenhum momento, implicam
que Deus tenha um corpo físico igual ao homem. Atualmente, alguns grupos religiosos, como, por exemplo, os
mórmons, afirmam que Deus “Pai nos céus passou um dia pela vida e morte”,1 que progrediu até se tomar uma
divindade e, nessa condição, continua possuindo um corpo de carne e osso. Em uma de suas literaturas, está
escrito que “o próprio Deus já foi como nós somos agora — ele é um homem exaltado, entronizado em céus
distantes! [...] vou contar-vos como Deus veio a ser Deus. Temos imaginado e suposto que Deus é Deus desde
todo o sempre. Eu refutarei esta idéia e retirarei o véu, para que possais enxergar”.2 Em outra literatura nos é dito
que “o Pai tem um corpo de came e ossos, tangível, como 0 do homem”. 3Para completar, o mormonismo ensina,
de forma desarrazoada, que Deus tem um pai, um avô, e assim sucessivamente.4
Outro fato importante que os estudantes das Escrituras precisam ficar atentos é que quando a B íb lia menciona
a mão, os pés, a boca ou os olhos de Deus (como, por exemplo, em Is 59.1), está usando apenas uma linguagem
antropomórfica, isto é, atribui forma do homem a Deus, de maneira simbólica e não literal, que busca possibilitar
um entendimento das ações de Deus. Por exemplo, é incorreto dizer, baseado no Salm o 91.4, que Deus tem penas
e asas. D o contrário, cairemos no erro de comparar 0 Senhor com uma ave.
Por diversas vezes, as Escrituras Sagradas fazem questão de mostrar as diferenças consistentes que existem entre Deus
e 0 homem, afirmando, categoricamente, que Deus não é como o homem (Nm 23.19; IS m 15.29; SI 50.21; O s 11.9).
CURSO DE TEOLOGIA 85
M Ó D U LO 3 I ANTROPOLOGIA
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 4
1. O que distingue o homem das demais criaturas de Deus?
2. Quais foram as explicações sobre as palavras “imagem e semelhança”?
3. O homem perdeu a imagem de Deus com o pecado?
4. Quais são as conseqüências da entrada do pecado na vida do homem?
5. Como Irineu e Tertuliano contemplavam a “imagem e semelhança” no homem?
6. O que significa a linguagem antropomórfica usada nas Escrituras?
7. Segundo Agostinho, o que aconteceu com o homem depois de pecar?
7FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. São Paulo: Positivo, 2004. CD-ROM.
8AQUINO, Tomás de. Suma teológica: suma contra os Gentios 1 .3 .2 3 ־. São Paulo: Loyola, 2006.
9Op. cit., 1.93.4-8; 1.95.1.
86 CURSO DE TEOLOGIA
M Ó D U LO 3 I A N T R O P O L O G IA
A UNIDADE DA
RAÇA HUMANA
A Bíblia ensina claramente que toda a raça humana descende de um único casal (Gn 1.27,28; 2.7,22;
3.20; 9.19; At 17.26). Logo, todos são filhos do mesmo pai e têm a mesma natureza. O apóstolo Paulo
fundamentou sua doutrina com base na unidade orgânica da humanidade e da provisão da salvação para
aqueles que estão em Cristo (Rm 5.12,19; 1C0 15.21,22; Hb 2.16). Esta verdade também constitui a razão
para a responsabilidade do homem para com seu semelhante (Gn 4.9).
Strong cita quatro argumentos, apresentados aqui, que confirmam as declarações das Escrituras com
relação à unidade da raça:
1) A partir da história. Até onde se pode delinear a história das nações e tribos nos dois hemisférios,
a evidência aponta para uma única origem e um só ancestral na Ásia Central. Reconhece-se que
as nações européias vieram da Ásia em sucessivas ondas migratórias. Os etnólogos modernos
geralmente concordam que as raças de índios da América derivam de fontes mongólicas da Ásia
Oriental, ou da Polinésia ou das ilhas Aleutes.
2) A partir da língua. A filologia comparativa aponta para uma origem comum de todas as mais
importantes línguas e não fornece nenhuma evidência de que as menos importantes também não
sejam derivadas.
4) A partir da fisiologia. E juízo comum entre os fisiólogos que o homem é uma só espécie. As
diferenças que existem entre as variadas famílias da humanidade devem ser consideradas como
variedades desta espécie. Como prova desta afirmação, argumentamos: a) As inúmeras gradações
intermediárias que estabelecem conexão entre as assim chamadas raças umas com as outras, b)
A identidade essencial de todas as raças nas características cranianas, osteológicas e dentais, c)
A fertilidade de uniões entre indivíduos dos mais diversos tipos e a continuada fertilidade do
produto destas uniões.10
O apóstolo Paulo diz com razão que Adão é “0 primeiro homem” (1C0 15.45). Tanto esse texto quanto
outros das Escrituras desfazem totalmente as teorias de que, no princípio, tenha havido homens de outras
raças ou de outra procedência, os quais se espalharam pelo mundo. As diferenças que existem entre as
raças e os povos: cor, forma do rosto e cabelos, não evidenciam outras origens, pois as mesmas foram
produzidas por fatores climáticos e ambientais.
10STRONG, Augustus Hopkíns. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, Vol. 2, 2003, p .3 7 4 2 ־.
CURSO DE TEOLOGIA
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VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 5
1. O que a Bíblia diz sobre a unidade da raça?
2. Quais são os quatro argumentos apresentados por Strong que demonstram a unidade da raça?
3. Quais foram os motivos que provocaram as diferenças que existem entre as raças e os povos, como, po
exemplo, cor, forma do rosto e cabelos?
88 CURSO DE TEOLOGI
M Ó D U L O 3 ! A N T R O P O L O G IA
ELEMENTOS ESSENCIAS
DA NATUREZA HUMANA
Segundo as Escrituras, na criação “formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o
fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7). Pelo relato bíblico, o homem recebeu um corpo
formado do pó da terra e o sopro divino. Como resultado da combinação criativa desses dois elementos, um terreno
e outro celestial, o homem se tomou um ser vivo à imagem de Deus. Portanto, é fato pacífico que temos um corpo
físico. A maioria das pessoas (tanto cristãos quanto não-cristãos) sente que também possui uma parte imaterial
- uma “alma” que sobreviverá após a morte do corpo. Assim, diferente dos anjos, criaturas apenas espirituais
(Hb 1.14), o homem é composto de uma parte material (0 corpo) mais a parte imaterial (alma e espírito). Pode se
relacionar tanto com a criação material, porque traz elementos do mundo material em si, como também pode se
relacionar com Deus e com as demais realidades espirituais, porque traz elementos espirituais em si mesmo.
O apóstolo Paulo denomina a parte espiritual do ser humano como “homem interior”, que engloba a alma
e 0 espírito (Rm 7.22; 2C0 4.16), em oposição ao homem exterior, que está relacionado aos sentidos. Assim,
sem negar corpo físico do homem, que levou a humanidade ao ascetismo e às crenças estranhas no decorrer da
história, e sem negar o lado espiritual do ser humano, que leva o homem ao materialismo, ao cepticismo e ao
hedonismo, as Escrituras Sagradas assumem a vida do homem sobre a terra como um plano de Deus, ao mesmo
tempo em que o insta a buscá-lo.
Uma questão tem dividido os estudiosos há longas datas: o homem é um ser duplo ou tríplice? O espírito e a
alma são uma coisa só ou devemos diferenciá-los um do outro? Aqueles que acreditam que a alma e o espírito
são uma só e mesma coisa são chamados de dicotomistas; os que defendem a separação da alma do espírito são
chamados de tricotomistas.
No meio filosófico, encontramos uma outra visão diferente dessas que citamos. Segundo a teoria citada, o
homem não pode existir, de modo nenhum, separado de um corpo físico, portanto, não pode haver a existência
isolada de nenhuma “alma” depois da morte do corpo. Essa concepção, de que 0 homem é composto de um único
elemento, e de que seu corpo é a própria pessoa, chama-se monismo.11 No pensamento monístico, a Bíblia não vê
o ser humano como corpo, alma e espírito, mas simplesmente como pessoa. Essa doutrina entende que os termos
usados para distinguir as partes da natureza humana devem, na realidade, ser compreendidos basicamente como
sinônimos, conseqüentemente, ser homem é ser ou possuir um corpo. A idéia de que, de alguma forma, o homem
pode existir à parte do corpo é impensável. Por conseguinte, não há a menor possibilidade devida pós-morte. A
imortalidade da alma é completamente inaceitável. Diante dessas crenças, não nos interessa, nesse momento,
estudar o monismo, principalmente porque muitos e muitos textos bíblicos afirmam claramente que a alma e o
espírito sobrevivem à morte do corpo (Gn 35.18; SI 3E5; Lc 23.43, 46; At 7.59; Fp 1.23,24; 2C0 5.8; Hb 12.23;
Ap 6.9; 20.4).
Devido aos pontos comuns entre a concepção tricotomista e a dicotomista que excedem suas diferenças, nos
deteremos nessas duas concepções.
11 Chama-se “m onism o” (do grego monos, “um ”) as teorias filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo (em metafísica)
ou a identidade entre mente e corpo (em filosofia da mente). Opõe-se ao dualism o ou ao pluralism o em geral. As raízes do monismo na
filosofia ocidental estão em Parmênides, Platão e Plotino. Spinoza é 0 filósofo monista por excelência, pois defende que existe uma única
coisa, a substância, da qual tudo 0 m ais são modos. Hegel defende um monismo semelhante.
CURSO DE TEO LO G IA 89
M Ó D U L O 3 ! A N T R O P O L O G IA
6.1 TRICOTOMIA
Os escritores bíblicos, especialmente os do Antigo Testamento, não se preocupavam em distinguir o espírito
da alma, ou vice-versa. A distinção entre esses dois elementos, hoje amplamente divulgada, é decorrente da
revelação progressiva de Deus no Novo Testamento. Essa corrente de pensamento, fundamentada nas Escrituras,
afirma que o homem consiste de três elementos distintos: corpo, alma e espírito. Daí a denominação tricótomo.
Para os tricotomistas, a alma é uma substância incorpórea e invisível do homem, inseparável do espírito,
embora distinta dele, formada por Deus dentro do homem, consciente, mesmo fora do corpo. A alma é a sede
das emoções, dos desejos e das paixões, cuja comunicação com o mundo exterior é manifesta pelo corpo. É a
partir da alma que o homem sente, experimenta e sofre tudo, por meio dos órgãos sensoriais. É algo inerente
aos seres humanos, e é o centro de sua vida afetiva, volitiva e moral. É a alma que presta contas a Deus dos
atos humanos. Já o espírito, também invisível, juntamente com a alma, é chamado de “homem interior”. Eurico
Bergstén entende que o espírito é “aquela parte do homem que, como uma janela aberta para 0 céu, dá-lhe
condições de sentir a realidade de Deus e da sua Palavra”.12
O fundamento bíblico que apóia tal interpretação pode ser visto em Hebreus 4.12: “Porque a palavra de
Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir
alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”. Nesse texto,
encontram-se os três elementos: alma, espírito e as juntas e medulas, que representam o corpo. Outro texto básico
é ITessalonicenses 5.23, que diz: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo
sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”.
A concepção tricotômica do homem se tomou particularmente difundida entre os pais alexandrinos dos
primeiros séculos da Igreja. Embora as formas variem um pouco, 0 tricotomismo é encontrado em Clemente de
Alexandria, Orígenes e Gregório de Nissa. Mas foi por intermédio de Agostinho que se deu proeminência a este
modo de ver. Na Idade Média, era objeto de crença comum, e também no período da Reforma.
6.2 DICOTOMIA
Segundo os advogados dessa concepção, o homem possui uma dupla natureza: um elemento material, o
corpo, e um elemento imaterial, o espírito ou alma. Não há distinção entre espírito e alma, sendo ambos um só
elemento. O corpo é a parte que morre; a alma, por outro lado, é a parte imaterial, a parte que sobrevive à morte.
E essa natureza imortal que separa a humanidade de todas as outras criaturas. A definição de Strong, adepto dessa
doutrina, define, com precisão, 0 pensamento dicotomista nos seguintes termos:
“Concluímos que a parte imaterial do homem, vista como uma vida individual e consciente, capaz de produzir
e animar um organismo físico, chama-se quch; vista como um agente racional e moral suscetível de influências
e habitação divina, chama-se pneuma.
“Pneuma é, então, a natureza do homem com os olhos voltados para Deus e capaz de receber e manifestar
o pneuma. Quch é a natureza do homem com os olhos voltados para a terra e tocando o mundo dos sentidos.
Pneuma é a parte mais elevada do homem, relacionada com as realidades espirituais ou capaz de tais revelações.
Quch é a parte mais elevada do homem, relacionada com o corpo ou capaz de tal relação. Portanto, o homem
não é tricotômico, mas dicotômico, e sua parte imaterial, embora possua dualidade de poderes, tem unidade de
substância”.13
Nos livros de teologia sistemática, em sua maioria, os argumentos a favor do dicotomismo são, em essência,
argumentos contra a concepção tricotomista. Como dizia os filósofos, “no meio está o equilíbrio”, sugerimos
os comentários de Meyer Pearlman: “Ambas as opiniões são corretas quando bem compreendidas. O espírito
e a alma representam os dois lados da substância nào-física do homem; ou, em outras palavras, o espírito e a
alma representam os dois lados da natureza espiritual. Embora distintos, o espírito e a alma são inseparáveis,
12BERGSTÉN, Eurico. Introdução à Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p.157.
13 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, Vol. 2, 2003, p. 48
90 CURSO DE TEOLOGIA
M Ó D U L O 3 ! A N T R O P O L O G IA
são entrosados um no outro”.1415Seria bom reconhecer que, quando necessário, a Bíblia dá aos dois termos um
significado distinto e, quando nenhuma diferença específica está sendo considerada, a Bíblia dá a entender tanto
a dicotomia (duas partes) como a tricotomia (três partes)”.
6.3 CORPO
Do lado de fora, somos bastante diferentes no que se refere à cor da pele e dos cabelos, à estrutura física e à
altura. Intemamente, porém, parecemos verdadeiros gêmeos. Se você pudesse embarcar numa micronave e entrar
no corpo humano, como no filme “Viagem insólita”, o que você veria? Centenas de ossos, quilômetros de veias e
trilhões de células trabalhando em conjunto para pôr em funcionamento esse ser criado à imagem de Deus.
É por meio do corpo que os sentidos se manifestam e tomam ciência da realidade circundante. E pelo corpo que
o homem se move em todos os sentidos. O corpo executa as funções comuns da vida, como, por exemplo, comer,
dormir, locomover, reproduzir, etc. Esses são os fatores que identificam a vida, isto é, por meio das funções do corpo.
A questão do corpo humano afetou até mesmo o campo da filosofia. Platão, considerado um dos maiores
filósofos, em seu livro chamado F é d o n , toma como partida a idéia de que o ser humano é uma alma aprisionada
no corpo. Para ele, os verdadeiros filósofos davam pouca atenção aos prazeres do corpo, como os da comida,
da bebida e do sexo, e vêem no corpo não um auxiliar, mas um obstáculo à demanda do saber. Assim, na visão
platônica, o desprezo pelo corpo físico em si é muito grande. Na verdade, dentro de sua cosmovisão, o corpo
humano é um estorvo para o homem, um impedimento para o seu progresso. Avançar em direção a Deus significa
se livrar do corpo, que nada mais é do que uma grande maldição.
A Idade Média foi profundamente influenciada pelo platonismo. O movimento monástico, na verdade, iniciou-
se com homens que abandonavam tudo e iam viver no deserto, castigando seu corpo com privações extremas.
Abstinham-se completamente de sexo e consumiam o mínimo de alimento necessário. Além disso, algumas
vezes, infligiam dores propositais, somente para castigarem o corpo, por causa de sua malignidade inerente.
Para o cristianismo, o corpo humano se reveste de fundamental importância, visto os detalhes que as Escrituras
trazem ao relatar a criação do primeiro homem: “Então, formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e lhe
soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7). Este simples ato da criação
especial, Deus soprando no homem “o sopro da vida”, distinguiu a humanidade de todas as outras criaturas. O
homem foi feito à imagem de Deus. Portanto, o revestimento de pele, músculos e ossos serve de recipiente, um
local de armazenamento para sua imagem. Podemos compreender e até carregar algo do Criador. Não somos
meros mortais, fomos criados imortais.
A Bíblia atribui alguns nomes para designar o corpo humano, quanto à transitoriedade de sua existência e
posição que ocupa no plano eterno de Deus, denominando-o de “casa” (2C0 5.1), “tabemáculo” (2Pe 1.13) e
templo” (Jo 2.21).
6.4 ALMA
Tanto no hebraico quanto no grego, a palavra “alma” (respectivamente, n e p h e s h e ψυχή - p s v c h e ) possui
significado vasto e abrangente. Ao buscar o sentido de “alma” na Bíblia, é de extrema importância aplicar regras
d e hermenêutica.12
O significado de um termo está estreitamente ligado ao seu contexto. Em lugares diferentes, a mesma palavra
tem sentido diferente. Por isso, não se deve tomar um único texto para se estabelecer um sentido único para
determinado termo. Deve-se tomar sempre as Escrituras como um todo. No Antigo Testamento, a palavra “alma”
aparece 754 vezes e, no Novo Testamento, 100.16 E diz respeito ao princípio da vida, dos animais e dos aspectos
espirituais e psíquicos, de modo que o texto e o contexto darão o sentido exato da palavra.
14MYER, Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 1999, p. 72.
15 BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica fácil e descomplicada: como interpretar a Bíblia de maneira prática e eficaz. 3a ed. Rio de Janeiro:
CPAD, 2005.
16SILVA, Esequias Soares da. Como responder às Testemunhas de Jeová. São Paulo: Candeia, Vol. 1, 1995, p. 262.
CURSO DE TEO LO G IA fl
M Ó D U L O 3 !A N T R O P O L O G IA
Segundo a definição de Myer Pearlman, a alma fc‘é aquele princípio inteligente e vivificante que anima o corpo
humano, usando os sentidos físicos como seus agentes na exploração das coisas materiais e os órgãos para se
expressar e se comunicar com o mundo exterior*‘.1 Os judeus denominavam esta substância (a alma) de “a sede
da percepção, do desejo e do prazer, do desfrutamento”. entre outras coisas.
Vejamos os vários aspectos desse vocábulo na Bíblia. Podemos distinguir pelo menos quatro significados
diferentes que as Escrituras atribuem ao termo "alma“. Não é honesto estabelecer uma definição rígida e
dogmática do significado, como acontece em um dicionário, por exemplo.
17MYER, Pearlman. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 1999, p. 73.
18 KENNY, Anthony. História concisa da filosofia ocidental. Lisboa: Temas e Debates, 1999, p. 110.
CURSO DE TEOLOGIA
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M Ó D U LO 3 I ANTROPOLOGIA
Os judeus não acreditav am apenas que o homem fora criado do “pó da terra” (Gn 2.7), e que voltaria ao pó (Ec
12.7), mas também que. na ressurreição dos mortos, o homem seria reconstituído do pó. Esse poder de trazer os
mortos de volta à vida é expresso em várias passagens da Bíblia (Dt 32.39; ISm 2.6; Jó 19.2527 ;־SI 49.14,15).
O profeta Isaías falou sobre a ressurreição quando escreveu: “Os vossos mortos e também o meu cadáver
viverão e ressuscitarão” (Is 26.19). Daniel previu que “muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns
para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno” (Dn 12.2). A referência “pó da terra” apóia a idéia de
uma ressurreição física. Jesus, em um de seus discursos, disse: “Não temais os que matam o corpo e não podem
matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28).
Jesus mostrou, aqui, que Deus pode não só matar o corpo, mas também pode fazer perecer no inferno tanto o
corpo quanto a alma, o que deixa transparecer a sobrevivência da alma.
O apóstolo João, ao escrever o Apocalipse, viu “debaixo do altar as almas daqueles que tinham sido mortos
por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo:
Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam
sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por
pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos, que iam ser mortos,
como igualmente eles foram” (Ap 6 .9 1 1 ) ־.
No texto em referência, podemos extrair dois ensinamentos: que a alma sobrevive depois da morte e que ainda
permanece consciente, ao contrário do que dizem as Testemunhas de Jeová e os adventistas do sétimo dia.
Algumas vezes, a Bíblia atribui à alma as mesmas sensações do corpo. Mais do que metáforas, essas sensações
demonstram certas facetas da alma humana sujeitas às impressões externas. Vejamos:
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 6
1. Quais são os dois elementos que compõem todo o ser humano?
2. O que ensina 0 monismo?
3. Qual é o entendimento dos tricótomos sobre a alma e o espírito?
4. Em que pai da Igreja primitiva é encontrada a teoria tricotomista?
5. Qual é o entendimento dos dicotomistas sobre a alma e o espírito?
6. Qual é a sugestão de Myer Pearlman?
7. Qual é a concepção de Platão em relação ao corpo humano?
8. Por que, para 0 cristianismo, o corpo se reveste de fundamental importância?
9. Quais são os nomes que a Bíblia usa para designar a transitoriedade do corpo humano?
10. Qual é a definição de alma?
11. Quais são os quatro significados que as Escrituras dão ao termo alma?
CURSO DE TEO LO G IA 93
M Ó D U L O J I A N T R O P O L O G IA
ORIGEM DA ALMA
Outras questões que têm dividido os pesquisadores estão relacionadas à seguinte pergunta: Quando surge
a alma no homem? As almas foram criadas todas de uma única vez ou cada ser que nasce recebe uma? A
alma é transmitida de ser humano para ser humano ou Deus cria cada uma individualmente por ocasião de seu
nascimento?
Em relação a esse assunto, três teorias têm dividido as opiniões.
94 CURSO DE TEO LO G IA
M Ó D U L O 3 (A N T R O P O L O G IA
Vários argumentos são aduzidos em favor dessa teoria. Segundo alguns, ela favorecida pela descrição bíblica,
segundo a qual:
a) Deus soprou uma única vez nas narinas do homem o fôlego da vida e, depois, deixou que o homem
reproduzisse a espécie (Gn 1.28; 2.7); a criação da alma de Eva estava incluída na de Adão, pois as
Escrituras dizem que a mulher foi feita do “homem” (1C0 11.8) e nada se diz acerca da criação da sua
alma (Gn 2.23); Deus cessou sua obra de criação depois de haver feito 0 homem (Gn 2.2).
b) Recebe apoio da analogia vegetal e animal, em que o aumento numérico é assegurado, não por
multiplicidade de criação imediata, mas pela derivação natural de novos indivíduos a partir de um tronco
paterno.
c) As características físicas, mentais e espirituais são derivadas de um ancestral humano, transmitidas de pai
para filhos.
d) Oferece o melhor fundamento para a explicação da depravação moral e espiritual, que é assunto da alma
e não do corpo.
Todas esses ensinos foram objetos de controvérsias, por se tratar de uma área do conhecimento desconhecida
do homem e, por isso, vistos como teorias, ou seja, meras suposições. Cabe ao estudante buscar bases sólidas nas
Escrituras para defender sua posição sobre a origem da alma.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 7
1. O que declara a teoria da preexistência?
2. O que declara a teoria do criacionismo?
3. O que declara a teoria traducianista?
CURSO DE TEOLOGIA 95
M Ó D U LO 3 !ANTROPOLOGIA
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CURSO DE TEOLOGIA
96
M Ó D U LO 3 I ANTROPOLOGIA
CURSO DE TEO LO G IA
97
faculdade teológica betesda
I Moldando vocacionados
7) Quais são os argumentos apresentados por Strong para confirmar a unidade da raça?
10) De todas as teorias sobre a criação da alma, qual a que melhor se relaciona com a Criação? Por quê
SOTERIOLOGIA
Doutrina da salvação
SUMARIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 105
9. FÉ .............................................................................................................................................................121
9.1 A F É D E V E A U M E N T A R À M E D I D A Q U E O N O S S O C O N H E C I M E N T O A U M E N T A ......... 122
10. GRAÇA....................................................................................................................................................123
10.1 A G R A Ç A C O M O P O N T O O P E R A N T E N A S A L V A Ç Ã O ...................................................... 123
INTRODUÇÃO
É extremamente importante entender corretamente a salvação. A Bíblia coloca um anátema (maldição) sobre
qualquer pessoa (incluindo anjos e pregadores) que pregar um evangelho de salvação diferente daquele ensinado
nas Escrituras, como disse o apóstolo: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho
que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (G1 1.8).
O que, então, é a verdadeira salvação? Como é oferecida? Como se pode obtê-la? Quais são seus benefícios
e bênçãos?
A necessidade da humanidade de salvação, e sua provisão por Deus, são as razões mais fundamentais para a
doutrina cristã. O aspecto mais importante da doutrina é proteger a integridade e a fidelidade à verdade da obra
de redenção que Deus opera por meio de Cristo. A doutrina da salvação incorpora aspectos de todas as outras
doutrinas cristãs. Não podemos pregar fielmente o evangelho da salvação se não formos, ao mesmo tempo, fiéis
à totalidade das doutrinas cristãs encontradas na Bíblia sobre Deus, Cristo, a Igreja e o futuro, etc.
Pelo estudo da doutrina da salvação, conhecemos as provisões feitas por Deus para “buscar e salvar o que se
havia perdido”. No Antigo Testamento, aparecem “tipos” acerca do Messias e da obra que Ele viria realizar que
encontram, no Novo Testamento, seus correspondentes, conferindo coesão e solidez ao relato bíblico.
A morte, o sepultamento, a ressurreição, a ascensão e a exaltação de Cristo, bem como a aplicação dessas
provisões, incluindo o arrependimento, a fé, a justificação, a regeneração, a adoção e a santificação, serão os
assuntos tratados neste volume do curso.
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M Ó D U LO 3 IS O T E R IO L O G IA
DEFINIÇÃO DE TERMO
Soteriologia é um vocábulo formado por duas palavras gregas: σ ω τη ρία (s o te r ia ) e λ ό γ ο ς (lo g o s). A primeira
significa “salvação”. A segunda, “palavra, discurso ou doutrina”. Até o momento, vimos uma seqüência lógica
dos fatos. Primeiramente, tratamos da doutrina de Deus, por meio da qual ficou bem visível a santidade de Deus.
Depois, estudamos a doutrina de Cristo, em que se destacou 0 propósito de sua missão, ou seja, “buscar e salvar
o que se havia perdido” (Lc 19.10). Estudamos, também, a doutrina do homem (antropologia) e a doutrina do
pecado (hamartiologia). Agora, veremos 0 plano de salvação elaborado nos céus, para encurtar dois imensos
abismos: a pecaminosidade do homem e a santidade de Deus.
Deus, pela sua infinita misericórdia, previu tudo 0 que ocorrería com a queda do homem e planejou, com os
mínimos detalhes, a salvação necessária. Este plano era “conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo,
porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” (IPe 1.20). Assim, ficamos sabendo, pelas Escrituras,
que, antes mesmo do primeiro pecado ter sido cometido no Universo, antes da terrível conseqüência gerada
pelo homem rebelde, que fora feito à imagem e semelhança de Deus, o Senhor proveu um meio de escape das
armadilhas e condenação do pecado,
Torna-se patente que Deus, desde a eternidade, determinara a redenção da humanidade, portanto, a história
da raça humana, desde 0 tempo da queda até a vinda de Cristo, foi providencialmente arranjada no sentido de
preparar o caminho da referida salvação.
O plano de salvação por intermédio de Jesus é a boa-nova para todo pecador e todo cristão. São boas-novas
para toda a vida e eternidade. Todos precisam dessas boas-novas. E o melhor, qualquer um pode ser transformado
e abençoado por elas. O plano da salvação de Deus é tão simples que o menor entre os filhos dos homens
pode entendê-lo o bastante para experimentar seu poder transformador. Esse plano redentor alcança a todos, de
modo que “ninguém e tão pecador, tão analfabeto, tão velho, tão cercado de hábitos pecaminosos ou poderes
demoníacos que não possa ter essa salvação. Nada na vida de uma pessoa pode ser tão terrível e ninguém foi tã o
longe no pecado que não possa voltar a Deus e ser perdoado por Jesus".1
Jesus não trouxe ao mundo uma nova doutrina filosófica, nem um projeto de reformas sociais, tampouco a
consciência dos mistérios do além. Jesus transformou pela raiz a própria relação do homem com Deus, mostrando
abertamente a todos a face de Deus. que antes mal podia vislumbrar. A boa notícia de Jesus fala precisamente
desta vocação sublime do homem e da alegria oriunda da união com o Criador.
O ponto central do plano da salvação se encontra na figura de um mediador, alguém que pudesse se colocar
entre um Deus ofendido e uma criatura pecadora e sem esperança, o homem. Jó entendeu muito bem a distância
que existe entre um Deus santo e um pecador miserável e concluiu: “Porque ele não é homem, como eu. a quem
eu responda, vindo juntamente ajuizo. Não há entre nos árbitro que ponha a mão sobre nós ambos” (Jó 9.32,33).
O que Jó não pôde saber nos podemos! Jesus é esse mediador como está escrito: “Porquanto há um só Deus e um
só Mediador entre Deus e os homens. Cristo Jesus, homem" (lTm 2.5).
Somente alguém que fosse participante da divindade poderia se aproximar de Deus e, ao mesmo tempo, ser
homem para poder se aproximar dos pecadores. Jesus tinha essas duas características. Ou seja, Ele possuía uma
natureza divina e uma natureza humana. As passagens a seguir deixam claro esta assertiva: “No princípio, era
o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (Jo 1.1); “Visto, pois, que os filhos têm participação
1 DUEWEL, Wesley L. A grande salvação de Deus. São Paulo: Candeia, 1999, p. 12.
comum de came e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele
que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à
escravidão por toda a vida. Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão.
Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tomasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e
fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.14-17).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 1
1. Qual é o significado da palavra soteriologia?
2. Qual é o ponto central da salvação? Por quê?
3. Qual é a importância das duas naturezas de Jesus?
CURSO DE TEO LO G IA
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M Ó D U LO 3 I S O T E R IO L O G I/
A IMPORTÂNCIA DA
DOUTRINA DA SALVAÇÃO
A doutrina da salvação somente será bem compreendida se tivermos uma clara compreensão da doutrina
do pecado. Jesus disse que -‘o Filho do H om em veio buscar e salvar o perdido” (L c 19.10). Esse é 0 grande
diferencial do cristianismo: é uma religião de salvação do pecado. Somente pode ser salvo aquele que reconhece
que é pecador.
N a tentação de Cristo, Satanás procurou roubar a glória do Filho de D eu s ao dizer: “Dar-te-ei toda esta
autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado
me adorares, tudo será teu” (L c 4.6,7). Ele não conseguiu ludibriar Jesus, entretanto, tem roubado do pecador sua
salvação, dando-lhe um a visão errônea do pecado.
O pecado é o que D eu s afirma que é e não aquilo que achamos ser. O pecado fez que a morte de Jesus fosse
necessária. N ã o podem os nos deixar enganar. A s Escrituras afirm am que “o ladrão vem somente para roubar,
matar e destruir” (Jo 10.10).
Conform e já demonstramos no estudo sobre hamartiologia, 0 pecado começou no céu, com a queda de Satanás
(E z 28; Is 14). E, na terra, a partir da desobediência do homem (R m 5.12). O pecado possui um alto poder de
destruição, tom a impotente o pecador, cega seu entendimento e escraviza todo 0 seu ser.
Para isso, o Filh o de D eu s se manifestou, para desfazer as obras do diabo (1J0 3.8). Jesus Cristo desceu do
céu e se tom ou homem, com o descrevera o apóstolo João: “O Verbo se fez cam e e habitou entre nós, cheio de
graça e de verdade, e vim os a sua glória, glória com o do unigênito do Pai” (Jo 1.14).
Portanto, no estudo da doutrina da salvação analisaremos as provisões feitas por Deus, incluindo a morte,
o sepultamento, a ressurreição, a ascensão e a exaltação de Cristo, bem com o a aplicação dessas provisões,
incluindo 0 arrependimento, a fé, a justificação, a regeneração, a adoção e a santificação.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 2
1. Q ual é o grande diferencial do cristianism o?
2. Q uais são os assuntos estudados na doutrina da salvação?
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M Ó D U L O 3 IS O T E R IO L O G IA
VARIEDADE DE TERMOS
NO ANTIGO TESTAMENTO
Para alguns, o Antigo Testamento é freqüentemente tratado como se nào passasse de uma coletânea de contos
históricos que apresenta a história do povo judeu e ilustra os modos e costumes orientais. E útil como fonte
de história, mas de pouca importância prática quanto ao ensino espiritual.2 Entretanto, o Novo Testamento faz
referências ao Antigo Testamento e nos explica a seu respeito. Assim, podemos dizer que o Novo está contido no
Antigo e o Antigo é explicado pelo Novo.
Por conta da inter-relação que existe entre o Novo e o Antigo Testamentos, o estudo do plano de salvação de
Deus será analisado a partir das primeiras promessas divinas concernente a um redentor. Descobrimos, por meio
das palavras e ações de Deus, a natureza redentora, e, também, os tipos e as predições específicas daquele que
estava por vir. A terminologia empregada no Antigo Testamento hebraico é rica em seu vocabulário para designar
a salvação. Os escritores inspirados fizeram uso de várias palavras que fazem referência ao conceito geral de
salvação em suas diversas aplicações. Os seguintes verbos em sua raiz transmitem a idéia de salvação;
(g a ’al) - remir, libertar, vingar, agir como parente. “Se o levita nào resgatar [ga d l] a casa que vendeu, então,
a casa comprada na cidade da sua possessão sairá do poder do comprador, no Jubileu; porque as casas das cidades
dos levitas são a sua possessão no meio dos filhos de Israel” (Lv 25.33).
{chayah) - vivificar, reavivar. “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem
0 nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para
vivificar [hyx - c h a y a h ] o espírito dos abatidos e vivificar [hyx - c h a y a h ] o coração dos contritos” (is 57.15).
(padah) - resgatar, redimir, livrar. “Quem há como o teu povo, como Israel, gente única na terra, a quem tu, ó
Deus, foste resgatar [hdp - p a d a h ] para ser teu povo? E para fazer a ti mesmo um nome e fazer a teu povo estas
grandes e tremendas coisas, para a tua terra, diante do teu povo, que tu resgataste do Egito, desterrando as nações
e seus deuses?” (2Sm 7.23).
(kaphar) - resgatar, reconciliar, expiar, propiciar. “Perguntou Davi aos gibeonitas: Que quereis que eu vos
faça? E que resgate [rpk - k a p h a r] vos darei, para que abençoeis a herança do Senhor?” (2Sm 21.3).
(teshu‘ah) - salvação (em sentido espiritual), livramento (geralmente por Deus pela agência humana).
“Folguem e em ti se rejubilem todos os que te buscam; os que amam a tua salvação [ηεςτ - t e s h u d h ] digam
sempre: O Senhor seja magnificado!” (SI 40.16)
(natsal) - tirar à força, salvar, resgatar, libertar, livrar, saquear. “Porquanto o Senhor, teu Deus, anda no meio
do teu acampamento para te livrar [natsal] e para entregar-te os teus inimigos; portanto, o teu acampamento será
santo, para que ele não veja em ti coisa indecente e se aparte de ti” (Dt 23.14).
2Temos em mão um livro que só pelo título já dá para saber 0 que ele dirá: “A Bíblia não tinha razão”. Contrariando alguns fatos históricos
relatados nas Escrituras, esse livro, como outros que existiram em toda a história, procura desacreditar alguns fatos e eventos registrados
nas Santas Escrituras.
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10t
M Ó D U LO 3 I S O T E R IO L O G IA
salvar, ser salvo, ser libertado, libertar, conceder vitória. “Porque eis que tu conceberás e darás à
iy a s h a ) -
luz um filho sobre cuia cabeça não passará navalha; porquanto 0 menino será nazireu consagrado a Deus desde
o ventre de sua mãe; e ele começará a livrar [rash a ] a Israel do poder dos filisteus” (Jz 13.5).
Várias outras palavras são usadas para descrever a salvação, o que faz o termo ser bem conhecido entre os
hebreus. O destaque maior vai para essas duas últimas palavras; n a ts a l e y a s h a . A primeira com o sentido de
“salvação física, pessoal ou nacional”,3 ocorrendo 212 vezes, mais freqüentemente significando “livrar”. O outro
termo aparecer 354 vezes, sendo a maior concentração nos Salmos (136 vezes) e nos livros proféticos (100
vezes). “Mais freqüentemente, porém, tem Deus como sujeito e o povo de Deus como objeto. Ele livrou os seus
de todos os tipos de aflição, inclusive de inimigos nacionais e pessoais [...] Por isso, Yahweh é 4Salvador’ (Is
43.11,12), 4meu Salvador’ (SI 18.14) e 4minha salvação’ (2Sm 22.3; SI 27.1)”.4
O número de verbos que transmitem a idéia de “salvamento” ou 44salvação”, bem como a freqüência com
que ocorrem, indica como a questão permeia o pensamento e a cultura judaica. Segundo Stanley Horton, esses
44verbos, incluindo seus muitos significados possíveis, ocorrem mais de 1750 vezes”.5
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 3
1. Os escritores inspirados fizeram uso de várias palavras que fazem referência ao conceito geral de
salvação. Cite cinco delas.
2. Quais são as duas palavras no hebraico que recebem destaque especial quanto à salvação e por quê?
VARIEDADE DE TERMOS
NO NOVO TESTAMENTO
Em relação ao vocábulo 44salvar”, a evidente riqueza lexical do Antigo Testamento não ocorre no Novo, que
emprega, primariamente, a palavra σ ω ζώ , s o z ô , cujo significado é 44salvar”, 44preservar” ou 44tirar do perigo”. Na
Septuaginta, (y a s h a ) é traduzida por σ ω ζω (s o z o ) em 60% das ocorrências, e σ ω τη ρία (s o te r ia ) é empregada,
principalmente, nos derivados de y a s h a .
S o z o pode se referir à salvar a pessoa da morte: 44Mas os discípulos vieram acordá-lo, clamando: Senhor,
salva-nos! Perecemos!” (Mt 8.25; At 27.20,31); da enfermidade física: “E Jesus, voltando-se e vendo-a, disse:
Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou. E, desde aquele instante, a mulher ficou sã” (Mt 9.22; Mc 10.52; Lc
17.19; Tg 5.15); da possessão demoníaca: 4Έ algumas pessoas que tinham presenciado os fatos contaram-lhes
também como fora salvo o endemoninhado” (Lc 8.36); ou da morte que já sobreveio: 44Mas Jesus, ouvindo isto,
lhe disse: Não temas* crê somente, e ela será salva” (Lc 8.50).
Mas, na grande maioria das ocorrências, refere-se à salvação espiritual que Deus providenciou por intermédio
de Jesus Cristo: 44Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve
a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação” (1 Co 1.21; 1Tm 1.15). Refere-se à salvação mediante a fé:
44Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8).
Entre os gregos, o termo 44salvador” (gr. oco τη p - s o te r ) era atribuído aos deuses, aos líderes políticos e
àqueles que trouxessem honra e benefícios ao povo. Mas na literatura cristã era aplicado somente a Deus:
44Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança”
(lTm 1.1). E também a Jesus Cristo: 44Da descendência deste, conforme a promessa, trouxe Deus a Israel o
Salvador, que é Jesus” (At 13.23; Fp 3.20).
O substantivo 44salvação” (gr. σ ω τηρία - s o te r ia ) se refere, quase que exclusivamente, à salvação
espiritual, que é a possessão presente e futura de todos os cristãos: 4Έ digo isto a vós outros que conheceis o
tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no
princípio cremos” (Rm 13.11).
Segundo A. W. Pink, a salvação é quádrupla: 44salvo da penalidade, do poder, da presença e, mais importante,
do prazer de pecar”.6
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 4
1. Quais são as palavras gregas usadas para salvação?
2. Quais são os significados que podem ser utilizados para a palavra grega s o z o ?
3. A quem era atribuído o termo salvador entre os gregos?
4. Segundo A. W. Pink, quais as conseqüências da salvação?
6Vocábulo “salvação” in Bíblia On-line: Módulo Avançado 3.0. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002. CD-ROM.
CURSO DE TEO LO G IA
11!
M Ó D U LO 3 I S O T E R IO L O G IA
OS SENTIDOS DA
PALAVRA SALVAÇÃO
No Antigo Testamento, a concepção de um salvador é muito nítida. Aquele que trazia um livramento era
conhecido como ‘,salvador’'. A paiavra "salvação” podia ser usada no dia-a-dia sem ênfase teológica, no sentido
de livramento: "O sacerdote de Midià tmha sete filhas, as quais vieram a tirar água e encheram os bebedouros
para dar de beber ao rebanho de seu pai. Então, vieram os pastores e as enxotaram dali; Moisés, porém, se
levantou, e as defendeu, e deu de beber ao rebanho" (Ex 2.16,17).
Todavia, 0 vocábulo “salvação” possui forte significado religioso: “Do Senhor é a salvação, e sobre o teu
povo, a tua bênção” (Si 3.8).
Quando pesquisamos as Escrituras para definir o significado do termo “salvação”, o primeiro tato que
percebemos é que o vocábulo é usado em diversos sentidos. Há muitos assuntos que se relacionam com o
substantivo "salvação” ou com o ,verbo salvar”. Nem sempre a palavra é usada para tratar da reconciliação com
Deus. A interligação com os deferentes sentidos de “salvação” é porque, na raiz, o significado desta palavra é
"resgatado” ou “libertado”.
À medida que a nação crescia, tomava-se imperativo que o rei e o povo percebessem que a salvação não vem
por intermédio de um exército poderoso, mas por Deus, porque “para 0 Senhor nenhum impedimento há de livrar
com muitos ou com poucos’' (ISm 14.6).
Em sua maioria, a salvação alcançada era por meio de agentes humanos. Entretanto, os beneficiados que
recebiam tamanha ajuda entendiam que “a vitória vem do Senhor” (Pv 20.31). Algumas vezes, porém, Deus
realizou seu propósito sem a intervenção humana: “Neste encontro, não tereis de pelejar; tomai posição, ficai
parados e vede o salvamento que o Senhor vos dará, ó Judá e Jerusalém. Não temais, nem vos assusteis; amanhã,
saí-lhes ao encontro, porque o Senhor é convosco” (2Cr 20.17).
Tendo por base que Deus operava salvação por meio de um líder carismático, surgiu o conceito de um futuro salvador
que desempenharia o papel de um rei ungido com o Espírito de Deus: “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a
Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, Judá
será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: Senhor, Justiça Nossa” (Jr 23.5,6).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 5
1. Qual é a relação da salvação física com o Salvador futuro?
2. O que você entende por salvação espiritual?
3. Quais são as conseqüências da salvação futura?
SALVAÇÃO NO
NOVO TESTAMENTO
Nos evangelhos, a salvação vem por meio de Jesus: “Então, Jesus lhe disse: Hoje, houve salvação nesta casa,
pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lc 19.910) ־.
Jesus sabia o motivo de sua encarnação, conhecia a necessidade do homem, por isso pôde afirmar: “O Espírito
do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação
aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do
Senhor” (Lc 4.18,19).
A salvação proposta por Jesus requer uma mudança de pensamento (arrependimento), com pesar pelos
pecados passados: “Passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”
(Mt 4.17). Requer que a receptividade seja como a de uma criança: “Em verdade vos digo: Quem não receber o
reino de Deus como uma criança de maneira alguma entrará nele” (Lc 18.17; Mc 10.15). E requer a renúncia de
tudo por causa dele: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu
discípulo” (Lc 14.33).
Uma vez arrependido, o homem passa a fazer parte da família de Deus, recebendo a filiação divina: “Mas, a todos
quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome” (Jo 1.12).
Em Atos, com a expansão da Igreja, os discípulos de Jesus seguem a mesma diretriz dos evangelhos. O
perdão dos pecados, o arrependimento, a conversão e a entrada no reino celestial são elementos da salvação:
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do
Senhor, venham tempos de refrigério, e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus” (At 3.19,20).
O livro de Atos é essencialmente uma narrativa sobre como o evangelho de arrependimento se propagou entre
todas as nações: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro
nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (4.12).
Em suas epístolas, Paulo apresenta o cristianismo como sendo a realização de uma vasta economia
de salvação, mistério da sabedoria divina, tendo por objeto a obra de Cristo e o próprio Cristo. Paulo
entra efetivam ente no cristianism o com a percepção nítida da união intima e pessoal de Cristo com
Deus. Esta percepção lhe foi revelada por ocasião de seu chamado. Ele viu Jesus em sua glória, portanto,
ressuscitado: “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos, descendente de Davi, segundo
o meu evangelho” (2Tm 2.8).
A idéia de salvação está bem difundida nas epístolas paulinas, onde o vocábulo salvação é usado de
forma geral, abrangendo, ao mesmo tempo, o passado (a cruz e a ressurreição), o presente, quando nos
une à obra de Cristo, e o futuro escatológico.
Para Paulo, a salvação envolve a nossa transform ação segundo a imagem de Cristo: “Porquanto aos
que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de
que ele seja o prim ogênito entre muitos irm ãos” (Rm 8.29). Ainda para esse apóstolo, a salvação possui
a plenitude de Cristo: “Para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos
com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé,
estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual
é a largura, e 0 comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo
entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus” (E f 3.16-19; Cl 2.9,10).
Tudo isso é produzido pela obra do Espírito Santo, que nos modela para sermos “semelhantes a ele, porque
haveremos de vê-lo como ele é” (1J0 3.2).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 6
1. Quais são os requisitos para receber a salvação oferecida por Deus?
2. Como os discípulos de Jesus anunciavam a salvação no livro de Atos?
3. De que maneira a idéia de salvação está bem difundida nas epístolas paulinas?
CURSO DE TEO LO G IA
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M Ó D U L O 3 IS O T E R IO L O G IA
Na matéria sobre hamartiologia, vimos que o homem pecou, portanto, a salvação de Deus é baseada no fato
de o homem ter pecado. Se o homem não tivesse pecado, não havería necessidade de salvação. Uma vez que 0
homem pecou, Deus deu primeiramente a lei para mostrar ao próprio homem que ele (0 homem) pecou: “Que
diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido 0 pecado, senão por intermédio
da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião
pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado” (Rm
7.7). A lei de Deus veio ao mundo para que as transgressões humanas abundassem (Rm 5.20).
Desde que o homem pecou, Deus se dispôs a salvá-lo. E, para poder salvar o homem, Deus deveria agir de uma
maneira que combinasse e se ajustasse com a sua própria divindade e justiça. Ou seja, o Senhor não podería fazer algo que
contrariasse sua natureza, seu método e sua maneira. Por isso, a salvação é algo que está além da nossa imaginação.
Jesus disse o seguinte: “E esta é a vontade daquele que me enviou, que eu não perca nenhum de todos os que
ele me deu, mas o ressuscite no último dia. Pois a vontade do meu Pai é que todo aquele que vê o Filho e nele crê
tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.39,40).
Para salvar o homem, Deus agiu modo excelente. Qual é o método, então, usado por Deus para que o homem
seja salvo de maneira justa? Que método há que se compare com a dignidade de Deus? E fácil ser salvo, mas é
difícil ser salvo justamente. É por isso que a Bíblia fala muito sobre a justiça de Deus.
Muito se tem falado sobre 0 que é a justiça de Deus. A justiça de Deus é o modo de Deus agir. O amor é a
natureza de Deus. A santidade é a disposição de Deus. E glória é o próprio ser de Deus. A justiça, no entanto,
é o proceder de Deus. É pela justiça que Deus age. ou seja, os seus métodos são baseados na sua justiça. Uma
vez que Deus é justo (SI 7.11), Ele não pode salvar o homem meramente conforme o desejo do seu coração. É
verdade que Deus salva o homem porque o ama. Mas tudo o que Deus faz, até mesmo a salvação do homem, é
realizado de acordo com a sua justiça, de acordo com o seu próprio proceder, o seu próprio padrão moral.
Sem dúvida nenhuma, Deus é cheio de amor para conosco, e deseja nos salvar, mas Ele também deseja fazer isso
legalmente. Veja que coisa: o amor de Deus é limitado por sua justiça. Deus não pode agir contrariamente a si próprio e
declarar, irresponsavelmente, que os nossos pecados estão apagados, que tudo está bem e que podemos nos considerar
livres. Se Deus nos perdoasse de maneira irresponsável, que lei, que justiça e que verdade seria deixada no Universo?
Para Deus, não foi uma questão fácil nos salvar sem violar a sua justiça. O apóstolo Paulo recebeu a revelação
de Deus para nos dizer como foi que Deus tratou especificamente deste problema: “A quem Deus propôs, no seu
sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado
impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente,
para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.25,26).
Deus enviou Jesus para nos redimir de nossos pecados, sendo Cristo feito a nossa propiciação. Assim, Jesus
resolveu, de uma vez por todas, o problema do pecado. A obra redentora na cruz foi cumprida e a ressurreição
confirmou que a solução é, de fato, verdadeira.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 7
1. Em que fato se baseou a salvação de Deus?
2. O que se entende por justiça de Deus?
3. Explique, com suas próprias palavras, porque o amor de Deus é limitado por sua justiça.
CURSO DE TEOLOGIA
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M Ó D U LO 3 I S O T E R IO L O G IA
VIDA E MORTE DE
JESUS CRISTO
Os escritores bíblicos registraram, com precisão, desde 0 nascimento de Cristo até sua ressurreição. As
Escrituras ensinam que o Filho preexistente de Deus se tomou homem: “E o Verbo se fez came e habitou entre
nós” (Jo 1.14). Jesus participou da came e do sangue a fim de poder morrer: “Visto, pois, que os filhos têm
participação comum de came e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte,
destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo” (Hb 2.14). Cristo veio a este mundo com o
propósito preestabelecido de retirar os nossos pecados: “O Filho do homem, que não veio para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.28).7
Por meio da encarnação, Jesus cumpriu as profecias a seu respeito: “Porque um menino nos nasceu, um filho
se nos deu; 0 governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai
da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6). “O Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará
à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Is 7.14). O profeta Miquéias foi preciso ao dizer: “E tu, Belém Efrata,
pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá 0 que há de reinar em Israel, e cujas
origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2). Um exame cuidadoso do Antigo
Testamento revela que o Messias seria um Salvador, e também um rei.
O propósito de todos os propósitos da encarnação de Cristo pode ser visto na seguinte declaração do apóstolo
Paulo: “Antes de tudo, vos entreguei o que também recebí: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as
Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1C0 15.3). Jesus morreu em
lugar de todos nós, como está escrito: “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si
mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2C0 5.15).
Várias são as conseqüências da morte de Cristo, vejamos.
Expiação. O sumo sacerdote devia ‘4tomar dois bodes para oferta”, a fim de expiar os pecados da comunidade
israelita como um todo (Lv 16.5). Um bode devia ser sacrificado e o seu sangue aspergido, como de costume,
ao passo que, sobre a cabeça do bode vivo, o sumo sacerdote devia pôr ambas as mãos e confessar 44todas as
iniqüidades dos filhos de Israel, todas as suas transgressões e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do
bode e enviá-lo-á ao deserto” (Lv 16.21).
Esse sacrifício deixava claro que a reconciliação era possível somente por meio de um substituto. Tal
concepção (a substituição) foi ficando cada vez mais clara à medida que Deus concedia mais revelações sobre
esse sacrifício. O profeta Isaías foi quem começou a delinear alguém cuja missão abarcaria as nações. E essa
pessoa, a fim de cumprir tamanha missão, precisaria sofrer, levar o pecado de todos e morrer (Is 53).
Não há dúvidas de que o capítulo 53 de Isaías, que descreve, em particular, o sofrimento e a morte do servo,
é aplicado a Jesus. Os escritores do Novo Testamento citam oito versículos específicos cujo cumprimento se dá
em Jesus. O versículo 1, que diz: 44Quem creu em nossa pregação?”, é aplicado a Jesus no Novo Testamento,
mas precisamente em João 12.38. O texto de Isaías 53.4, que diz: 44Ele tomou sobre si as nossas enfermidades
e as nossas dores levou sobre si” se cumpre no ministério de cura de Jesus, conforme registrado em Mateus
8.17. Os textos do versículo 5, onde lemos: 44Pelas suas pisaduras fomos sarados”, e do 6, que diz: 44Andávamos
desgarrados como ovelhas”, têm eco em lPedro 2.22-25), tal como os versículos 9 e 11.
Os versículos 7 e 8 de Isaías 53 falam que ele (Jesus) 44foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como
cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Por
juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes;
por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido”, eram os textos que o eunuco etíope lia em sua carruagem
e levaram Filipe a lhe contar as boas-novas sobre Jesus (At 8.30-35).
À luz da evidência a respeito da natureza expiatória da morte de Cristo, contamos, ainda, com algumas
palavras no original grego, usadas pelos escritores sacros, que muito irão nos ajudar a compreender esse assunto.
A preposição 44por” é a tradução de υπέρ (,h u p e r ), que significa 44em favor de” ou 44em benefício de”. Quando a
sua tradução é anti (a n ti ), significa 44em lugar de”. A maioria das referências, no entanto, aparece com h u p e r . Por
exemplo: 44Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós
ainda pecadores” (Rm 5.8). E também em 44um morreu por todos; logo, todos morreram” (2C0 5.14).
A preposição a n ti aparece somente nos versículos de resgate, como, por exemplo, em Marcos 10.45:44Pois 0
próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por [anti - a n ti]
muitos”. E em 1Timóteo 2.6, que diz: 44O qual a si mesmo se deu em resgate por todos”, onde 44por” é, novamente,
h u p e r , mas a preposição a n ti se encontra substantivo a n tily tro n .
É claro que a morte de Cristo foi, ao mesmo tempo, em nosso lugar e em nosso benefício, e não há razão pela
qual h u p e r não possa incluir ambas as idéias ao ser usada em relação à morte de Cristo.
9Vocábulo Resgate in Bíblia On-line: Módulo Avançado 3.0. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002. CD-ROM.
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M Ó D U LO 3 IS O T E R IO L O G IA
escondido: “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado,
escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra [ou seja, redimi] aquele campo” (Mt
13.44). Em relação à nossa salvação, a palavra significa “pagar o preço que o nosso pecado exigiu para que
pudéssemos ser redimidos”.
A segunda, apolutrwsiv (a p o lu tr o s is ), é da mesma raiz da primeira. Em português, a p o lu tr o s is ganharia o
seguinte sentido: “pagar o preço para tirar do mercado”. Assim, a idéia dessa segunda palavra é que a morte
de Cristo, além de pagar o preço do pecado, retirou-nos do mercado de escravos do pecado para nos dar plena
certeza que jamais seremos novamente submetidos à escravidão e às penas do pecado.
A terceira, antilutron (a n tilu tr o n ), usada para redenção, é totalmente diferente. Sua tradução é: “o que é
dado em troca por alguma coisa como preço de sua redenção, resgate”, o que significa que a pessoa resgatada é
libertada, e isso no sentido mais completo da palavra. O meio pelo qual esta libertação é obtida é a substituição
realizada por Cristo, conforme está escrito em Hebreus 9.12. Em ITimóteo 2.6, lemos: “O qual a si mesmo se
deu em resgate por todos”.
A base da redenção base é o sangue de Cristo (Hb 9.12), e o seu resultado é a purificação de um povo zeloso
de boas obras (Tt 2.14). Assim, a doutrina da redenção significa que, devido ao derramamento do sangue de
Cristo, os crentes foram comprados, libertos da escravidão e postos em plena liberdade.
Quão alto preço Deus pagou para nos libertar!
CURSO DE TEO LO G IA
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MÓDULO 3 ! SOTERIOLOGIA
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 8
1. Qual foi o propósito de Jesus ter vindo à terra? Cite 0 versículo bíblico que trata desse tema.
2. Cite as conseqüências da morte de Jesus Cristo.
3. Explique a idéia de substituição entre os hebreus.
4. Quais são as palavras no original grego usadas pelos escritores sacros que nos ajudam a entender a
substituição?
5. A doutrina da redenção é edificada sobre três palavras do Novo Testamento. Quais são elas? Explique-as
6. Qual é 0 sentido da reconciliação efetuada pela morte de Cristo?
7. Faça um breve relato da propiaçào.
8. O que significa a palavra "destruir” no grego?
CURSO DE TEOLOGIA
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M Ó D U LO 3 I S O T E R IO L O G IA
A palavra “fé” aparece raramente no A n tig o Testamento, apenas em duas únicas ocorrências, sendo que a
primeira é um adjetivo ( I S m 21.5) e a segunda, um substantivo (H c 2.4).9
O termo hebraico ( ‘e m u n a h ) transmite a idéia de “firmeza, fidelidade, estabilidade”.10 Ter fé é estar certo
sobre algo, é ter certeza. Fé, no grego, é τ π σ τ ίς ( p i s t i s ), que transmite 0 sentido de “convicção da verdade de
algo, confiança”. Thiessen faz um a observação essencial concernente à fé ao dizer que "a ssim com o acontece
com o arrependimento, a fé também não recebe a atenção que merece. Grande importância é dada à conduta; o
credo da pessoa é considerada com o questão indiferente. N o entanto, a vida da pessoa é governada por aquilo em
que crê e, na religião, pela pessoa em quem ela crê”.11
A fé ocupa um lugar de destaque na experiência cristã. A s Escrituras dizem que:
a) Somos alvos pela fé: “Senhores, que devo fazer para que seja salvo ? Responderam-lhe: Crê no Senhor
Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (A t 16.30,31). “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com D eus
por meio de nosso Senhor Jesus C risto” (R m 5.1).
b) Somos enriquecidos com 0 Espírito pela fé: “Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera
m ilagres entre vós, porventura, 0 faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé? [...] Para que a bênção de
Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebéssemos, pela fé, o Espírito prometido”
(G1 3.5,14).
c) Somos santificados pela fé: “Para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da
potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles rem issão de pecados e herança entre os que
são santificados pela fé em m im ” (A t 26.18).
d) Somos guardados pela fé: “Que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação
preparada para revelar-se no últim o tem po” (lP e 1.5; R m 11.20; 2 C 0 1.24; 1J0 5.4).
e) Somos estabelecidos pela fé: ”... Se o não crerdes, certamente, não permanecereis” (Is 7.9).
f) Somos curados pela fé: “Esse homem ouvia falar Paulo, que, fixando nele os olhos, e vendo que possuía
fé para ser curado, disse-lhe em alta voz: Aprum a-te direito sobre os pés! Ele saltou e andava” (A t
14.9,10; T g 5.15).
g) Andamos pela fé: “Visto que andamos por fé e não pelo que vem os” (2 C 0 5.7).
h) Superamos as dificuldades pela fé: “Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de
muitas nações, segundo lhe fora dito: A s s im será a tua descendência. E, sem enfraquecer na fé, embora
levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara,
não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus,
estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir 0 que prometera” (R m 4.18-21).
, No Bíblia Almeida Revista e Corrigida aparecem duas veies (IS a 21.5 e Hc 2.4), enquanto que, na Bíblia Almeida Revista e Atualizada,
apenas uma (Hc 2.4)
10 Vocábulo Fé in Bíblia On-line: Módulo Avançado 3.0. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002. CD-ROM.
11 THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em teologia sistemática. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 2006, p.254.
c) Como uma restrição à manifestação de seu poder: “N ã o pôde fazer ali nenhum milagre, senão curar
uns poucos enfermos, im pondo-lhes as mãos. Adm irou-se da incredulidade deles” ( M c 6.5,6).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 9
1. Q ual é a idéia de fé no A n tig o Testamento?
2. Cite alguns aspectos que a fé ocupa na experiência cristã.
3. Cite alguns aspectos que a fé ocupa no pensamento de Deus.
4. C o m o a fé é aumentada?
CURSO DE TEO LO G IA
122
M Ó D U LO 3 ISOTERIOLOGIA
GRAÇA
A graça é um a palavra usada no N o v o Testamento para traduzir o vocábulo grego χαρΤς ( C h a r is ), que
significa “favor sem recompensa”. O dicionário Webster am plia este conceito e diz que graça é: “Favor, boa
vontade, misericórdia, tolerância quanto ao pagam ento de um débito; amor e favor de D eu s para com o hom em ”.
O m esm o dicionário dá, também, o significado do termo misericórdia: “D eixar de fazer m al a um ofensor, a um
inim igo [...] disposição de perdoar um a ofensa, ser gentil, o poder de perdoar”.
Assim , a graça é 0 favor divino manifestado àquele que não merece. C o m esta palavra, os escritores inspirados
demonstram que ninguém é merecedor do favor divino. Pelo pecado herdado de Adão, todos, sem exceção, são
merecedores da condenação. M a s Deus não nos paga conforme os nossos merecimentos, pelo contrário, age exatamente
diferente, conforme podemos ver no texto de Colossenses 2.14, que diz: Havendo riscado o escrito de dívida que havia
contra nós nas suas ordenanças, o que nos era contrário, tirou-os do meio de nós, cravando-o na cruz”.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 10
1. O que significa o termo graça?
2. Por meio da graça, com o D eu s retribui ao pecador suas ofensas?
3. Q uais são as conseqüências da graça de D e u s?
4. Q ual é a advertência com relação à graça que encontramos nas Escrituras?
12ANDRADE, Claudionor de. As verdades centrais da fé cristã. Rio de janeiro: CPAD, 2006, p. 215.
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M Ó D U LO 3 I S O T E R IO L O G IA
REGENERAÇÃO
A regeneração (0 novo nascimento) é a obra sobrenatural e instantânea do Espírito Santo no coração do
pecador à medida que ele se arrepende e aceita a Cristo com o seu Salvador pessoal. Por esse milagre, o espírito
do pecador, que estava morto nas transgressões e pecados, é vivificado pelo Espírito Santo, conforme está escrito:
“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vo sso s delitos e pecados” ( E f 2.1). E ssa nova vida é a natureza divina
que passa a habitar no crente, mediante 0 poder do Espírito Santo.
A regeneração significa “nascer de novo em D e u s” (Jo 1.13), “nascer do Espírito” (Jo 3.8), “nascer de novo”
(Jo 3.7). A pessoa se tom a um a nova criatura e todas as coisas se tom am novas, com o está escrito: “Se alguém
está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 C 0 5.17).
CURSO DE TEOLOGIA!
124
M Ó D U LO 3 ISOTERIOLOGIA
Ele nos regenera, e respondemos com fé e arrependimento a esse chamado. M a s da nossa perspectiva é difícil
perceber qualquer diferença no tempo em que ocorrem esses dois aspectos, especialmente porque a regeneração
é um a obra espiritual que não podem os perceber com os olhos nem m esm o entender com a mente.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 11
1. O que é a regeneração?
2. A regeneração possui outros nomes. Q uais são?
3. Cite exem plos do que não é regeneração.
4. C o m o as Escrituras definem o novo nascim ento?
13SILVA, Severino Pedro da. A doutrina da predestinação. 6a ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 117.
CURSO DE TEO LO G IA
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MÓDULO 3 ISOTERIOLOGLA
JUSTIFICAÇÃO
A justificação se refere à posição do crente diante de Deus. Por sua natureza, o hom em é um transgressor da
lei de Deus: “C o m o está escrito: N ã o há justo, nem um sequer” (R m 3.10). N a regeneração, o hom em recebe um a
nova vida e um a nova natureza. N a justificação, um a nova posição.
Justificação é um termo forense que descreve o pecador diante de um tribunal de D eu s para receber a sentença
de condenação devido aos seus delitos. M a s ao ser pronunciada a sentença, o hom em é judicialm ente absolvido
das acusações que lhe pesava, sendo declarado justo por Deus.
Portanto, por justificação, entende-se 0 ato pelo qual D eu s declara justa a pessoa que a Ele se chega por meio
da pessoa de Jesus Cristo, com o declarou o apóstolo Paulo: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e
aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (R m 8.30).
14 SILVA, Severino Pedro da. A doutrina da predestinação. 6a ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 124.
a) O cumprimento da lei
Por meio da justificação, o homem, que jam ais conseguiu cumprir a lei de D eu s para obter a vida eterna,
é justificado perante Deus, que enviou Jesus Cristo para cumprir a sua lei por nós (M t 5.17). D esse modo,
por intermédio de Jesus Cristo, “todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser
justificados pela lei de M o is é s ” (A t 13.39).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 12
1. Q ual é o significado do termo justificação?
2. O que ocorre com a declaração legal de justificação da parte de D e u s?
3. Q uais são os benefícios da justificação?
15OLIVEIRA, Raimundo de. As grandes doutrinas da Bíblia. 9a ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 228.
CURSO DE TEO LO G IA
!2 7
M Ó D U LO 3 ISOTERIOLOGIA
EXPIACÃO כ
1‘ HARRIS, R. La ir d; ARCHER JR, Gleason l; WALTKE, Bruce K. Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida
Nova. 1998, p.743.
' 7GRUNDEM , Wayne. Teologia sistemática: atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 2006, p. 471.
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M Ó D U LO 3 ISOTERIOLOGIA
A palavra “feitura”, no grego, é π ο ίη μ α ( p o i e m a ), que significa obra-prima, ou um poema, ou uma obra que
demonstre as características do seu criador. A salvação que D eus preparou por m eio de seu Filho Jesus é essa
obra-prima. Jesus é capaz de nos salvar de nossos pecados e demonstrar seu amor sem comprometer sua justiça.
N a cruz, Jesus satisfez sua justiça e, também, demonstrou seu amor.
O s sofrimentos de Jesus se intensificaram à m edida que Ele se aproxim ava da cruz. Ele compartilhou com
os discípulos algo da agonia que estava vivendo quando disse: “A m inha alma está profundamente triste até a
morte” (M t 26.38). Foi especialmente sobre a cruz que os sofrimentos de Jesus por nós atingiram seu clímax,
pois foi ali que Ele suportou o castigo pelo nosso pecado e morreu em nosso lugar. Por meio das Escrituras,
podem os perceber que Jesus experimentou quatro diferentes aspectos da dor:
3) Abandono
N o Getsêmani, quando Jesus levou consigo Pedro, T iago e João, confidenciou-lhes um pouco de sua agonia,
dizendo: “A m inha alm a está profundamente triste até a morte; ficai aqui e v ig ia i” (M c 14.34). Esse é o tipo de
confidência que somente se faz a um am igo muito íntimo e im plica em um pedido de apoio na hora de m aior
provação. Entretanto, quando Jesus foi preso, “os discípulos todos, deixando-o, fugiram ” (M t 26.56).
Pendurado na cruz, a dor física da crucificação, juntamente com o peso de nossos pecados, foi agravada, pelo
fato de Jesus ter enfrentado essa dor longe da presença do Pai, a ponto de Ele clamar em alta voz: “Eli, Eli, lamá
sabactâni? O que quer dizer: D eu s meu, D eus meu, por que me desamparaste?” (M t 27.46).
CURSO DE TEO LO G IA
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M Ó D U LO 3 IS O T E R IO L O G IA
d) A teoria governamental
E ssa teoria sustenta que, em sua morte, Cristo proveu um sofrimento vicário, mas que de form a algum a Ele
o fez a fim de levar sobre si m esm o o nosso castigo. A firm a que Deus, para manter o respeito por sua lei, deu
um exemplo de seu ódio ao pecado na morte de Cristo. D e ssa forma, Cristo não paga a pena exatamente pelos
pecados concretos de alguém, m as apenas sofreu para mostrar que quando as leis de D eus são quebradas algum a
espécie de pena deve ser paga.
O problem a com essa visão é que ela falha em explicar, de m odo adequado, todas as passagens bíblicas que
falam a respeito de Cristo carregando os nossos pecados sobre a cruz, em D eus lançando sobre Cristo a iniqüidade
de nós todos, em Cristo morrendo especificamente pelos nossos pecados e em Cristo sendo a propiciação pelos
nossos pecados.
A lé m disso, ela retira o caráter objetivo da expiação por tom ar o seu propósito não a satisfação da justiça
de Deus, m as apenas a influência sobre nós, a fim de nos fazer perceber que Deus tem leis que devem ser
guardadas. E ssa concepção diz, ainda, que não podem os confiar, de m odo correto, na obra completa de Cristo
18CHAM PLIN, R. N; BENTES, J.M. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Candeia, Vol. 2, 1995, p. 651.
19THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em teologia sistemática. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 2006, p. 226.
20STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. São Paulo: Hagnos, Vol. 2, 2003, p. 398.
quanto ao perdão dos pecados, pois, de fato, não foram pagos por Ele. Além do mais, ela faz que a conquista
efetiva do perdão por nós seja algo que aconteceu na mente do próprio Deus, à parte da morte de Cristo sobre a
cruz — Deus já havia decidido nos perdoar sem exigir de nós nenhum castigo, então puniu a Cristo apenas para
demonstrar que ainda era o governador moral do U niverso.21
Por fim, essa teoria não explica, de maneira adequada, a imutabilidade de Deus e a infinita pureza de sua
justiça. Dizer que Deus pode perdoar pecados sem exigir nenhum castigo (a despeito do fato de que, pelas
Escrituras, 0 pecado sempre requer 0 cumprimento de uma pena) é subestimar seriamente 0 caráter absoluto da
justiça de Deus.
A teoria governamental da expiação foi ensinada pela primeira vez por um teólogo e jurista holandês, Hugo
Grotius (15831645)־.
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 13
1) Como 0 Antigo Testamento demonstrava a idéia de expiação?
2) Quais são os quatro diferentes aspectos de dor que Jesus experimentou?
3) O que ensina a teoria do resgate por Satanás? Quem defendia tal idéia?
4) O que ensina a teoria do mártir? Quem defendia tal idéia?
5) O que ensina a teoria governamental? Quem defendia tal idéia?
21GRUNDEM, Wayne. Teologia sistemática: atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 2006, p.485.
CURSO DE TEO LO G IA
131
M Ó D U LO 3 ISOTERIOLOG 1A
ARREPENDIMENTO
“Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4.17). Esta foi a primeira mensagem de Jesus.
A expressão “arrependei-vos”, no grego μετανοεω (m e ta n o e o ), significa: “mudar a mente para melhor, emendar
de coração e com pesar os pecados passados”.22 É uma mudança sincera e completa de opinião e disposição com
respeito ao pecado. O arrependimento era um dos temas centrais nas pregações de Jesus e, também, dos próprios
discípulos de Jesus. Foi justamente essa a mensagem de João Batista: “Naqueles dias, apareceu João Batista
pregando no deserto da Judéia, e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3,1,2 ).
Em Marcos 1.14,15, está escrito o seguinte: Depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Gaíiléia,
pregando o evangelho do reino de Deus, e dizendo: “O tempo está cumprido, e 0 reino de Deus está próximo.
Arrependei-vos e crede no evangelho” (1.1415 )־.
A mensagem de Pedro foi: “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome
de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38).
Paulo disse: “Jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo־la ensinar publicamente e
também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em
nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.20,21).
O arrependimento, uma mudança de mente, conforme se conclui de seu sentido mais inteligível, contém três
elementos distintos: o intelectual, o emocional e o volitivo.
a) Elemento intelectual. Envolve uma mudança de pensamento em relação ao pecado, a Deus e a sí proprio.
O pecado passa a ser reconhecido não apenas como uma fraqueza, um acontecimento ou um erro, mas,
sim, como culpa pessoal. Deus, então, passa a ser concebido como aquele que exige a retidão e o “eu”,
culpado diante de Deus.
b) Elemento emocional. E uma mudança de sentimento. O apóstolo Paulo, escrevendo aos coríntios pela
segunda vez, disse: “Agora folgo, não porque fostes entristecidos, mas porque fostes entristecidos
para arrependimento. Pois fostes entristecidos segundo Deus, de maneira que por nós não padecestes
dano em coisa alguma. A tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, o qual não traz
pesar, mas a tristeza do mundo opera a morte” (2C0 7.9,10).
Existe uma grande diferença entre a tristeza pelo pecar e 0 sentimento de vergonha. “A pessoa
pode ficar simplesmente triste por ter sido apanhada no ato de pecar, não estando verdadeiramente
arrependida por causa de seu pecado. Isto seria simples remorso. A tristeza pelo pecado deve ser
seguida pelo elemento voluntário’*. 23
c) Elemento volitivo. Como o próprio nome diz, está relacionado com a vontade. Significa uma mudança
de vontade e da posição em que se encontra. O arrependimento genuíno está umbilicalmente !!gado
com a vontade: não existe arrependimento sem desejo de se arrepender. Essa idéia é caracterizada pela
palavra grega μετοίνοια (m e ta n o ia ), que significa: “mudança de mente (de um propósito que se tinha
ou de algo que se fez) ״.
22 Vocábulo Arrependimento in Bíblia On-line: Módulo Avançado 3.0. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002. CD-ROM.
23 DUFFIELD, Guy P; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da teologia pentecostal. São Paulo: Publicadora Quadrangular, Vol. 1,1991, p. 286.
CURSO DE TEOLOG IA
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M Ó D U LO 3 I SOTERIOLOGIA
Um exemplo característico desse sentimento se encontra na história do filho pródigo, que disse: "Levantar-
me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado
teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai” (Lc 15.18-20).
Quando o arrependimento se encontra entrelaçado pelos elementos intelectual, emocional e volitivo, resulta em:
a) Confissão do pecado: “Então, disse Davi a Deus: Muito pequei em fazer tal coisa; porém, agora, peço-te
que perdoes a iniqüidade de teu servo, porque procedí mui loucamente” (lC r 21.8). “Confesso a minha
iniqüidade; suporto tristeza por causa do meu pecado” (SI 38.18).
b) Abandono do pecado: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas 0 que as confessa e
deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13).
c) Retorna para Deus: “Deixe o perverso 0 seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao
Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” (Is 55.7).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 14
1. O que significa “arrepender-se”?
2. Quais são os três elementos do arrependimento?
3. Quando o arrependimento se encontra entrelaçado com os elementos intelectual, emocional e volitivo,
resulta em quê?
SANTIFICAÇÃO כ
24Vocábulo Santificação in Bíblia On-line: Módulo Avançado 3.0. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002. CD-ROM.
Uma leitura da primeira epístola de Paulo aos coríntios evidenciará que aquela igreja estava longe de ser
perfeita. Seus membros foram chamados de carnais (1C0 3.1,2), além de cometerem inúmeros pecados graves;
fomicação, litígios, etc.25
Em meio a tudo isso, a santidade de Cristo lhes fora imputada, porém, não manifestavam a santidade em
suas vidas. Paulo é claro neste ponto ao dizer: 44Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não
vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem
avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós;
mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no
Espírito do nosso Deus” (1C0 6.911) ־.
A santificação inicial nos purifica da depravação dos pecados perdoados, mas não nos purifica da depravação
herdada, adquirida por meio de nossos antepassados: Adão e Eva.
b) O processo de santificação
Ainda que o Novo Testamento fale sobre um começo definido da santificação, também a vê como um processo
que continua por toda a nossa vida cristã. João escreveu: 44O justo continue na prática da justiça, e o santo
continue a santificar-se” (Ap 22.11).
Segundo escreveu Paulo, os romanos tinham sido libertos do pecado (Rm 6.18) e estavam 44mortos para o
pecado, mas vivos para Deus” (Rm 6.11). Todavia, por outro lado, o apóstolo reconheceu que o pecado permanecia
ainda na vida dos romanos e, por essa razão, escreveu: 44Não reine, portanto, 0 pecado em vosso corpo mortal,
para lhe obedecerdes em suas concupiscências. Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por
instrumentos de iniqüidade, mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre os mortos, e o s vossos m e m b r o s a
Deus, como instrumentos de justiça” (Rm 6.12,13).
Aos tessalonicenses, Paulo escreveu: '4Devemos sempre dar graças a Deus por vós, ir m ã o s amados pelo
Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do E s p ír ito e fé na verdade”
(2Ts 2.13). Entretanto, o apóstolo não deixa de orar pela santificação desses crentes: 44O m e s m o Deus da paz vos
santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e i r r e p r e e n s í v e i s n a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo” (lTs 5.23). Não há contradição nesses dois textos. De modo a lg u m . P a u lo r e c o n h e c e
que os cristãos foram santificados, no sentido de que a santidade de Cristo lhes fora imputada, p o r é m , d e v e m
desenvolver a santidade até alcançarem a estatura de varão perfeito, porque 4'aquele que c o m e ç o u a b o a obra e m
vós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).
CURSO DE TEO LO G IA
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M Ó D U LO 3 I S O T E R IO L O G IA
b) Pela fé: “P ara lhes abrires os olhos e os c o n v erteres das trev as p ara a luz e da p o te sta d e de S atan ás p ara D eus,
a fim de que re c e b a m eles rem issão de p ecad o s e h e ra n ç a en tre os q ue são san tificad o s p ela fé em m im ” (A t
26.18). “ E não esta b e le c eu d istin ção alg u m a en tre nós e eles, p u rifican d o -lh es p e la fé o c o ra ç ã o " (A t 15.9).
c) Pelo sangue de Jesus: “ P o r isso. foi que ta m b é m Je su s, p a ra sa n tific a r o p o v o , p e lo seu p ró p rio san g u e,
so fre u fo ra da p o rta ” (H b 13.12).
d) Pela Trindade:
• Pai. “ O m e sm o D eu s da p a z vos sa n tifiq u e em tu d o ; e o v o sso e sp írito , a lm a e c o rp o sejam c o n se rv a d o s
ín te g ro s e irre p re e n sív e is n a v in d a de n o sso S e n h o r Je su s C risto ” ( lT s 5.2 3 ).
• Filho: “ P o is, ta n to o que sa n tifica [0 c o n te x to se re fe re a Jesu s] c o m o os q u e são sa n tific a d o s, to d o s
v ê m de um só. P o r isso. é que ele n ão se e n v e rg o n h a de lh es c h a m a r irm ã o s ” (H b 2.11).
• Espírito Santo: “D eus vos escolheu desde o prin cíp io p ara a salvação, p ela santificação do E spírito e fé na
v erd ad e” (2Ts 2.13). "E leitos, segundo a p resciên cia de D eus Pai, em santificação do E sp írito " (1 Pe 1.2).
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VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 15
1. Que sentidos que o Antigo Testamento dava à palavra santificação?
2. O que se entende por santificação instantânea e gradual?
3. Quais são os três estágios da santificação? Explique, em poucas palavras, cada um deles.
4. Como a Trindade opera a santificação?
5. Quais são os meios que 0 crente possui para se santificar?
ADOCAO ג
Pela regeneração. Deus nos dá uma nova vida espiritual interior. Pela justificação, o direito legal de estar
diante dele. Mas, pela adoção, faz-nos membros de sua família.
No direito pátrio, a adoção é urna modalidade artificial de filiação que busca imitar a natural. Daí ser conhecida
também como filiação civil, pois não resulta de uma relação biológica, mas da manifestação da vontade, conforme
o sistema do Código Civil de 1916, ou de sentença judicial, no atual sistema do Estatuto da Criança e Adolescente,
bem como no novo Código Civil. O ato da adoção faz que uma pessoa passe a gozar do estado de filho de outra
pessoa, independentemente do vínculo biológico.
A adoção espiritual (divina) é baseada nesse mesmo princípio, embora seja infinitamente mais abrangente
no seu alcance e finalidade. A palavra adoção é usada exclusivamente pelo apóstolo Paulo em suas epístolas. O
termo grego υιοθεσία (h u io th e s ia ) traduzido para “adoção" ocorre somente cinco vezes nas Escrituras.
Uma vez, o termo é aplicado a Israel como nação: “São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória,
as alianças, a legislação, o culto e as promessas” (Rm 9.4).
Em outra passagem, Paulo a utiliza para se referir à segunda vinda de Cristo: “E não somente ela, mas
também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de
filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23).
As outras três citações expressam a posição presente na vida do cristão:
“Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para
resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebéssemos a adoção de filhos” (Gl 4.4,5).
“Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua
vontade” (Ef 4.5).
“Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes 0
espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15).
27DUEWEL, Wesley L. A grande salvação de Deus. São Paulo: Candeia, 1999, p. 179.
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M Ó D U LO 3 ISOTERIOLOGIA
b) Libertação do medo. “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez,
atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15).
c) Libertação da escravidão da lei. “De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a
fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao
aio” (G1 3.24,25).
d) Herdeiros e co־herdeiros com Cristo. “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus
e co־herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17).
VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM
CAPÍTULO 16
1. Como o sistema legal pátrio gera o ato da adoção?
2. Como o apóstolo Paulo usa a palavra adoção em seus escritos?
3. Como podemos definir a adoção bíblica?
4. Quais são os privilégios que o adotado por Deus recebe?
CURSO DE TEO LO G IA m
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M Ó D U L O 3 IS O T E R IO L O G IA
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M Ó D U LO 3 ISOTERIOLOGIA
CURSO DE TEO LO G IA
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faculdade teológica betesda
Moldando vocacionados
10) Quais os meios que o crente pode usar para aumentar ainda mais sua santificação?
Exemplifique com textos da Bíblia.
ESPIRITUALIDADE
SUAAÁRIO
IN TR O D U ÇÃ O
Em nossos dias, temos vivenciado uma falsa espiritualidade fundamentada em paradigmas criados pela mente
humana. Não somos e x p e r ts no assunto, entretanto, não precisamos ser um perito para observar que há abuso dos
termos “espiritual” e “espiritualidade”.
Existe uma sólida base bíblico-teológica em favor da autoridade suprema das Escrituras, mas hoje, tal como
acontecia no passado, deparamo־nos com a mesma tendência de diminuir a autoridade da Palavra. E isso ocorre
de duas maneiras: por um lado, há a propensão para admitir fontes adicionais ou suplementares de autoridade,
que tendem a usurpar a autoridade da Palavra de Deus. Por outro, há a tendência de limitar a autoridade da
Escritura Sagrada, negando-a, subjetivando-a ou reduzindo o seu escopo.
Como o nosso assunto é sobre a espiritualidade, percebemos três fontes suplementares usurpadoras ou
suplementares da verdadeira espiritualidade, sendo elas: a tradição (degenerada em tradicionalismo), a emoção
(degenerada em emocionalismo) e a razão (degenerada em racionalismo). Sempre que um desses elementos é
indevidamente enfatizado a vida espiritual é sacrificada.
Jesus se deparou com a religião judaica, que havia se tomado em tradicionalismo. Havendo cessado a revelação
de Deus, os judeus, desde a lei escrita, dada a Moisés, produziram uma infinidade de tradições ou interpretações
da lei, conhecidas como M is h n á . Essas tradições foram cuidadosamente preservadas até serem registradas, entre
os séculos 2o e 4o d.C., passando a ser conhecidas como Talmud, e, também, Torá Schebealpe.
O Talmud é considerado o livro mais importante da cultura judaica, por interpretar o conteúdo da lei escrita e,
também, por suprir suas lacunas. Esse compêndio se tomou tão autoritativo, que os judeus suplantaram a autoridade
da lei escrita. Jesus acusou os escribas e os fariseus de sua época dizendo: “Em vão, porém, me honram, ensinando
doutrinas que são mandamentos de homens. Porque, deixando 0 mandamento de Deus, retendes a tradição dos
homens, como o lavar dos jarros e dos copos, e fazeis muitas outras coisas semelhantes a estas. E dizia-lhes: Bem
invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição, invalidando, assim, a palavra de Deus pela
vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas” (Mc 7.7-9,13).
Na história sempre se repetiram os mesmo problemas: as tradições nos escritos dos pais da Igreja, nas bulas
papais, que degeneraram em tradicionalismo. As tradições eclesiásticas adquiriram autoridade que não possuíam,
usurpando a autoridade bíblica. Isso não significa, entretanto, que a tradição eclesiástica seja necessariamente
ruim. Se a tradição reflete, de fato, o ensino bíblico, ou está de acordo com ele, não sendo considerada normativa
(autoritativa), não é má. O problema não está na tradição, mas na sua degeneraçâo, no tradicionalismo, que
espiritualiza a tradição, esquecendo-se que os costumes mudam.
Outro elemento incompatível com a espiritualidade é a emoção, quando degenerada em emocionalismo. E isso,
quase inevitavelmente, conduz ao misticismo. Na esfera religiosa, freqüentemente é dado um valor exagerado à
intuição, ao sentimento, ao convencimento. Quando tal ênfase ocorre, facilmente esse sentimento de convicção,
pessoal e interno, é explicado misticamente, como sendo uma iluminação espiritual e revelação divina direta,
seja por meio do Espírito Santo ou pela instrumentalidade de anjos, sonhos, visões, arrebatamento, etc.
Não é que Deus não tenha se revelado por esses meios. Ele de fato o fez. O que se está afirmando é que o
misticismo copia, forja essas formas reais de revelação, para reivindicar autoridade espiritual que, na verdade,
não é divina, mas humana (quando não, diabólica). Essa tendência não é, de modo algum, nova. Eis as palavras
do Senhor ao profeta Jeremias: “Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam; ensinam-
vos vaidades e falam da visão do seu coração, não da boca do Senhor [...] Até quando sucederá isso no coração
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M Ó D U L O 3 (ESPIRITU ALIDADE
dos profetas que profetizam mentiras e que são só profetas do engano do seu coração? [...]O profeta que teve um
sonho, que conte 0 sonho; e aquele em quem está a minha palavra, que fale a minha palavra, com verdade. Que
tem a palha com o trigo? — diz o Senhor’ (Jr 23.16,26,28).
Sempre que tal coisa ocorre, a espiritualidade é ameaçada. O misticismo, como degeneração das emoções
(não se pode esquecer que as emoções também foram corrompidas pelo pecado), tende sempre a usurpar a
verdadeira espiritualidade. Sempre existiram entusiastas que reivindicam autoridade espiritual interior, luz
interior, revelações espirituais adicionais... E essas coisas são uma característica comum nas seitas modernas,
como, por exemplo: mormonismo, testemunhas de Jeová, adventismo do sétimo dia, entre outras.
Por fim, a ênfase exagerada na razão tende a usurpar a vida espiritual. O homem, devido à sua natureza
pecaminosa, sempre tem resistido a submeter sua razão à autoridade da Palavra de Deus. A tendência é sempre
ter a razão como fonte suprema da espiritualidade. Essa soberba mental, essa altivez intelectual, tem minado a
espiritualidade. O desenvolvimento científico e tecnológico instigou a soberba intelectual do homem. Assim,
passou-se a acreditar apenas no que se possa ser constatado, comprovado, pela razão e pela lógica. A ciência
se tomou a autoridade suprema, a única regra de fé e prática. O relato bíblico da criação foi desacreditado pela
teoria da evolução; os milagres relatados nas Escrituras foram rejeitados como mitos.
Diante de tantos dilemas, somente a atuação do Espírito Santo na alma de uma pessoa, iluminando seu
coração e sua mente em trevas, regenerando-a, fazendo-a nova criatura, dissipando as trevas espirituais da sua
mente, removendo a obscuridade do seu coração, faz que, verdadeiramente, a alma humana desfrute da legítima
espiritualidade ofertada na cmz do Calvário.
O homem natural, em estado de pecado, perdeu a sua capacidade original de compreender as coisas espirituais.
Portanto, não pode desfrutar da verdadeira vida que lhe é concedida pelo sacrifício de Cristo, como escreveu 0
apóstolo Paulo: “Se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais 0
deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da
glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem
resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo”
(2C0 4.3,4,6).
Nesse estado, o homem está como um deficiente visual, que não consegue perceber nem mesmo a luz do sol.
O testemunho do Espírito não é uma nova luz no coração, mas sua ação. E é justamente por meio dessa ação que
o Espírito Santo abre os olhos do pecador, permitindo-lhe reconhecer a verdade que lá estava, mas não podia ser
vista por causa de sua cegueira espiritual.
Que Deus nos ajude em nossa caminhada espiritual.
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M Ó D U LO 3 I ESPIRITUALIDADE
O Q U E E ES P IR IT U A LID A D E
Definir ou conceituar espiritualidade nos dias atuais não é nada fácil. Embora seja uma expressão religiosa que,
a princípio, denote o relacionamento de Deus com o ser humano, ela adquiriu, na cultura moderna, um sentido
abstrato, vago e presente em quase todos os segmentos da vida, devido à sua contaminação. A espiritualidade se
tomou um tema extremamente importante não apenas no “mundo evangélico”, mas, também, entre os empresários,
políticos, etc. Todos conversam sobre o assunto, falam de suas experiências, descrevem seu momento espiritual.
O mundo dos negócios já se preocupa com o estado espiritual de seus executivos, oferecendo cursos e palestras
para elevar seu espírito e melhorar seu rendimento profissional. Livros e revistas “especializadas” no assunto
surgem a todo momento. Nota-se que a espiritualidade foi descoberta pelo mundo materialista.
Em cada lugar, em cada cultura, encontramos vestígios de espiritualidade. Apropria palavra “espiritualidade”
tem diversos conceitos na história, na religião, na filosofia, na teologia, no judaísmo, no esoterismo, na auto-
ajuda. Deixando de lado as complicações filosóficas, teológicas e científicas, podemos dizer que espiritualidade
significa a busca e a própria experiência de comunhão com Deus. À medida que alguém se aproxima de Cristo, a
espiritualidade se toma mais intensa e real. Não se trata de ajustamento sociológico ou psicológico, de se sentir
bem emocionalmente ou socialmente, mas de um processo de crescimento e transformação. A espiritualidade
da cultura moderna, por ser mais individualista, mudou 0 foco da espiritualidade cristã; ao invés de sermos
convertidos a Cristo, é Cristo que se tem convertido a nós. Perdemos 0 significado da doutrina da im a g o D e i ,
a consciência de que fomos criados por Deus e para Deus, e que somente nele encontramos significado para a
nossa humanidade corrompida.
Diante desse fato, a espiritualidade não tem absolutamente nada a ver com o que se tem ouvido e visto nos
dias atuais. Dizem que uma pessoa é espiritual ou não pelas demonstrações externas. Se alguém em um culto
falar em novas línguas ou diz “glória a Deus”, esta pessoa tem mais chance de ser chamada de espiritual do
que qualquer outra que fique calada. Essa espiritualidade superficial dos nossos dias tem suas raízes na falta de
convicção de que o nosso pecado é a mais hedionda rebeldia e traição ao Senhor. O afastamento da culpa pelo
precioso sangue de Jesus intensifica o amor. O perdão do pecado que pouco fere a consciência desvaloriza o amor
de Deus derramado no coração. Por conta disso, esse pecado, que pouco fere a consciência, não constrange o
pecador e a espiritualidade, por sua vez, transforma-se em liturgia e rituais vazios.
CURSO DE T E O L O G IA
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M Ó D U LO 3 I ESPIRITUALIDADE
No início, quando Deus criou o homem, Ele o formou do pó da terra e, depois, soprou “ 0 fôlego da
vida” em suas narinas, como está escrito: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou
em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2.7).
A Bíblia mostra que Deus criou o homem reto, bom e espiritual, mas o homem não era Deus. O
homem era perfeito como homem, contudo, não era para viver independente de Deus. C riando־o como
um ser totalm ente dependente e com vontade, abriria uma porta para o desejo de independência. Foi
aqui, neste terreno, que o pecado tomou forma. A serpente penetrou na área da livre decisão do homem
e salientou o seu desejo de ser como Deus. As Escrituras dizem: "Ninguém, sendo tentado, diga: De
Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Mas cada um é
tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência
concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a m orte” (Tg 1 .1 3 1 5 ) ־.
A cobiça é um desejo intenso. E, nesse desejo, está a matriz do pecado. O pecado é fruto de uma decisão
fom entada pela cobiça de ser como Deus. Culpar Deus pelo pecado seria blasfem ar contra o caráter de
Deus. O pecado é conseqüência de uma decisão intencional e voluntária de um ser moralmente livre e
responsável. Deus fez o homem com a capacidade de deliberação. O pecado é a rejeição deliberada da
vontade humana à vontade de Deus. Em essência, o pecado é o homem se separando de Deus, em razão
de sua desobediência voluntária.
Deus criou o homem e o colocou em um ambiente em que todas as condições lhe eram favoráveis,
livre de qualquer imposição. Somente um ser livre poderia obedecer livremente a qualquer ordenança
de Deus, como também desobedecer, com responsabilidade. Deus não precisava criar o homem, porque
Deus não tem necessidade de nada. Somente Deus tem asseidade,1 isto é, Ele se satisfaz a si mesmo.
Assim, o homem foi criado livre para depender voluntariam ente da suficiência de Deus.
Mas o pecado vem exatamente nesta área: causar uma brecha no relacionam ento do homem com
Deus. O pecado rompeu o relacionam ento que havia entre Deus e o homem e, desse modo, deixou de
ser espiritual, andando segundo os desejos de seu coração, destituído da glória de Deus (Rm 3.23).
Quando Adão, como cabeça da raça humana, pecou, a glória de Deus se separou dele e de toda a sua
descendência. Logo após o pecado. Deus proclam ou o evangelho, em sua fala com a serpente. Mostrou
que uma inimizade perpétua fora estabelecida entre a serpente e a mulher, que entre o descendente da
serpente e 0 descendente da mulher haveria um sentimento extremam ente hostil. E esse sentimento
acabaria somente com o esmagamento da cabeça da serpente depois dos ferimentos do calcanhar: “E
porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente: esta te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar” (Gn 3.15).
O texto bíblico acima fala do conflito entre Satanás e a raça humana contam inada pelo pecado, e de
Jesus Cristo, a semente da mulher, que veio para a história concretizar a obra salvadora projetada antes
da fundação do mundo.
1A sse id a d e é 0 atrib u to e sse n c ia l de Deus que rev e la sua au to -su ficiên cia. Deus é 0 único que su ste n ta su a e x istê n c ia p ró p ria e que se b asta
a si m esm o.
CURSO DE TEO LO G IA
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M Ó D U LO 3 I ESPIRITU ALIDADE
O prim eiro sacrifício no Éden aponta para a morte que o cordeiro de Deus sofreria em sua encarnação,
a fim de tratar da separação causada pelo pecado e da transferência da glória de Deus, que nos fora
imputada pela suficiência de Cristo.
Jesus se encarnou neste mundo como representante da hum anidade, para reconciliar com Deus 0
ser humano, por meio da sua morte na cruz. A cruz é lugar de juízo, onde Deus trata com a natureza
pecam inosa e com 0 pecador ao mesmo tempo. Assim, a sua morte tem dois aspectos marcantes. Jesus
morreu em nosso benefício, para nos fazer morrer com Ele em sua morte. A morte de Jesus é, ao mesmo
tempo, a sua morte por mim é a minha morte juntam ente com Ele.
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M Ó D U LO 3 !ESPIRITUALIDADE
DUAS C LA S S ES
DE PESSO A S
Depois que 0 homem deliberadamente pecou contra Deus, as Escrituras dividem os seres humanos, em geral,
em duas classes: natural ou carnal e espiritual. Paulo, ao escrever aos coríntios, disse que “o homem natural não
compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente” (1C0 2.14).
O texto em referência fala de pessoas que não foram regeneradas. O homem natural, no grego ψυχικός
(p s u c h ik o s ), denota a pessoa governada pelo seu próprio “eu”, ou seja, sua alma está no controle do seu espírito.
Rendendo-se às exigências de suas paixões e cobiças, a alma se tomou escrava do corpo de tal forma que
o Espírito Santo considera inútil contender pelo lugar de Deus na vida dessa pessoa. Daí, a declaração das
Escrituras: “Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem, porque ele também é carne” (Gn 6.3).
Uma vez que o homem esteja totalmente sob o domínio da came, ele não tem a possibilidade de se liberar,
tomou-se escravo da came com suas paixões (Ef 2.3).
Sem impedimento, a came domina totalmente o homem. A pessoa natural não consegue compreender Deus,
nem os seus caminhos; pelo contrário, depende do raciocínio ou das emoções humanas, como escreveu Judas:
“Nos últimos tempos haverá zombadores que seguirão os seus próprios desejos ímpios. Estes são os que causam
divisões entre vocês, os quais seguem as tendências da sua própria alma e não tem o Espírito” (Vs.18,19). O
homem natural é antagônico ao homem espiritual. O espírito, a parte mais nobre do homem, que pode se unir
a Deus e que deve regular a alma e o corpo, estando sob o domínio da alma, buscará satisfazer seus desejos. A
condição atual do homem é anormal, como escreveu Judas, ou seja, como não tendo a presença do Espírito.
Em 1Coríntios 3.1, o apóstolo Paulo divide todos os cristãos em duas classificações: os espirituais e os
carnais. O homem espiritual, no grego πνευματικός (p n e u m a tik o s ), denota a pessoa regenerada, ou seja, que
tem o Espírito Santo. A partir do momento em que se aceita pela fé a salvação em Cristo, a pessoa é regenerada.
Nasce de novo (Jo 3.3,5,7), é renovada (Rm 12.2), toma-se nova criatura (2C0 5.17) e obtém a justiça de Deus
mediante a fé em Cristo (Fp 3.9).
A fé em Cristo faz que o crente seja regenerado, porém, a obediência ao Espírito Santo faz que o crente seja
espiritual. Assim como o relacionamento correto com Cristo gera um cristão, o relacionamento adequado com o
Espírito Santo também produz um homem espiritual.
Para que uma pessoa possa ter vida espiritual, precisa, primeiramente, reconhecer quem é Jesus e aceitar,
conscientemente, o fato de que Jesus é o salvador da nossa vida perdida. Esse evento é conhecido como “novo
nascimento”, como Jesus disse a Nicodemos: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo
não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3).
Por meio do novo nascimento, o homem recebe a própria vida de Deus, entretanto, essa vida precisa ser
desenvolvida, amadurecida e ampliada. O importante, depois de ter nascido espiritualmente, é viver. Há o novo
nascimento, portanto, há uma vida cristã para ser vivida. A partir desse momento, somente o Espírito Santo pode
fazer crentes espirituais. É seu trabalho levar os homens à espiritualidade. Nos preparativos do projeto redentor
de Deus, a cruz realiza a obra negativa de destruir tudo aquilo que vem de Adão, enquanto que o Espírito Santo
realiza a obra positiva de edificar tudo aquilo que vem de Cristo. A cruz toma a espiritualidade possível aos
crentes, mas é o Espírito Santo quem os toma espirituais. O significado de ser espiritual é pertencer ao Espírito
Santo, que fortalece, com poder, 0 espírito humano, a fim de governar 0 homem inteiro.
Comumente, depois que uma pessoa nasce de novo, ela pergunta: “O que farei?”. Então, o que acontece? Ela
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recebe uma lista de coisas, geralmente de natureza limitada, que tende sempre para o negativo. Muitas vezes, recebe
a idéia de que, se se abstiver dessas coisas negativas (qualquer que seja a lista no país, localidade e época em que por
acaso viver), ela será uma pessoa espiritual. Não é verdade. A verdadeira vida cristã, a verdadeira espiritualidade,
não é mera questão de evitar os comportamentos negativos. A verdadeira espiritualidade é mais do que se abster
mecanicamente de certa lista exterior de regras, antes, significa viver a vida de Deus que nos foi concedida.
A Bíblia diz que, a partir do novo nascimento, passamos da morte para a vida, do reino das trevas para o reino
do Filho amado de Deus. Tomamo־nos, individualmente, filhos de Deus. Mas perceba uma coisa: não há como
começar a vida espiritual, a não ser pela porta do novo nascimento espiritual, assim como não há outra maneira
de começar a vida física, a não ser pela porta do nascimento físico. Um homem espiritual é aquele que nasceu
da água e do Espírito, conseqüentemente, tem todo o seu ser governado pelo homem interior, que sente prazer
na lei de Deus (Rm 7.22).
Mas, depois de dizer tudo isso sobre o início da vida cristã, precisamos, também, reconhecer que, embora, de
início, o novo nascimento seja necessário, ele é apenas o começo. Não devemos pensar que, por termos aceitado
a Cristo como Salvador e sermos cristãos, só exista isso na vida cristã. De certo modo, 0 nascimento físico é a
parte mais importante de nossa vida física, porque não estamos vivos no mundo exterior enquanto não nascemos.
Por outro lado, esse é o menos importante de todos os aspectos da vida, porque é somente o começo. Depois do
nascimento, o importante é viver a vida em toda a sua plenitude. Acontece o mesmo com o novo nascimento. Há
um aspecto pelo qual o novo nascimento é a coisa mais importante de nossa vida espiritual, porque somente somos
cristãos depois que passamos por isso. Logo depois deste ato, o fundamental é que se viva essa nova vida.
O crente carnal é aquele que nasceu de novo e tem a vida de Deus, porém, ao invés de vencer sua carne, ele
é vencido por ela. Ele não se esforça como devia para vencer plenamente sua natureza pecaminosa, ao invés de
resisti-la com firmeza entrega-se a algumas delas.
Embora o crente nascido de novo receba a nova vida do Espírito, ele tem residente em si a natureza pecaminosa,
com suas perversas inclinações (Gálatas 5.16-21). Como já dissemos, o espírito de um homem natural está morto,
sendo ele dominado por sua alma e corpo. O crente carnal é, portanto, alguém cujo espírito foi vivificado, mas ainda
segue sua alma e corpo para pecar. Para se tomar espiritual, o crente precisa, necessariamente, negar a si mesmo
diariamente (Mt 16.24; Rm 8.13; Tt 2.11,12), deixar todo impedimento ou pecado (Hb 12.1) e resistir a todas as
inclinações pecaminosas (Rm 13.14; G1 5.16; lPe 2.11). Pelo poder do Espírito Santo, o próprio crente guerreia
contra a natureza pecaminosa e a crucifica, diariamente (G1 5.16-18,24; Rm 8.13,14), além de mortificá-la (Cl 3.5).
Pela abnegação e submissão à obra santificadora do Espírito Santo em sua vida, 0 crente em Cristo experimenta a
libertação do poder da sua natureza pecaminosa e vive como um crente espiritual (Rm 6.13; G1 5.16).
Paulo apresenta a came como uma esfera ou sistema que governa a raça que se originou com Adão. E caracterizada
pela ambição, desejos e concupiscência (1 Jo 2.16), chegando 0 ponto de impedir o indivíduo de fazer 0 que ele quer.
Paulo disse: UA came cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a came; e estes opõem-se um ao outro” (G1 5.17).
Os desejos da came são contra os desejos do Espírito, não porque a came seja material, mas porque ela determina seus
próprios padrões. Não existe uma mínima chance de uma coexistência pacífica entre ambos. ”Os que estão na came
não podem agradar a Deus” (Rm 8.8). É o veredicto final. Deus só tem satisfação em seu Filho. Fora de Cristo e da sua
obra, nenhum homem ou obra pode satisfazer a Deus. Ainda que as coisas realizadas pela came possam parecer muito
boas, todavia, porque procedem do ego e são feitas por meio da força natural, não podem satisfazer a Deus. O prazer
ou o desprazer de Deus não está baseado no princípio do bem ou mal. Pelo contrário, Deus remonta à fonte de todas as
coisas. Uma ação pode ser bastante correta, mas, apesar disso, Deus pergunta: ktQual é a sua origem?”.
Os bons atos, feitos naturalmente, sem a necessidade de regeneração, união com Cristo ou dependência do
Espírito Santo, não são menos carnais diante de Deus do que a imoralidade, a impureza, a licenciosidade, etc.
Portanto, da mesma forma que o crente precisa ser livre do pecado da came, por meio da cmz, também precisa
ser livre da justiça da came, pela mesma cmz, como escreveu Paulo: “E os que são de Cristo crucificaram a came
com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (G1 5.24).
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M Ó D U LO 3 I ESPIRITUALIDADE
ES P IR IT U A LID A D E
NA H ISTÓ R IA A N T IG A
A questão sobre a forma ideal e completa de espiritualidade pode ser justificada pela história, pois diversas e
variadas formas de espiritualidade se manifestaram em diferentes povos como conseqüência da busca do homem
pelo sagrado. Assim sendo, analisaremos algumas dessas formas manifestadas na Antiguidade:
4.1 ORIENTAL
Poderiamos dizer que a mais antiga forma de espiritualidade foi registrada no Oriente. Trata-se de uma
espiritualidade de meditações e arrebatamentos. Ou seja, uma espiritualidade contemplativa, de incursões
psicanalíticas e desejo imenso de fazer a vida ascender aos níveis e aos nirvanas da percepção absoluta da
totalidade do cosmo. O ponto fraco dessa espiritualidade é que ela é intimista, desconectada da realidade,
subjetiva, abstrata e com forte reação negativa ao cotidiano e ao ordinário.
A espiritualidade cristã está relacionada com a missão de Deus no mundo em sua obra redentora. Precisa se
ocupar em dar pão ao faminto, acolher o abandonado, vestir o nu, dar esperança ao enfermo, visitar os que estão
presos e promover a justiça e a paz. A afirmação cristã da exclusividade de Cristo como único Salvador e Senhor
(o que implica em rejeição de todas as outras formas de salvação e reconciliação com Deus) soará, no mínimo,
estranha e agressiva à consciência oriental.
4.2 JUDAICA
A espiritualidade judaica era legalista, severa e comportamentalista. O judaísmo desenvolveu uma forma
sua, uma espécie de subcultura da espiritualidade, que não nascia, não brotava da revelação da Escritura, mas
produzida por uma mentalidade pragmática comportamentalista.
Jesus demonstrou que há uma distância enorme entre a teoria e a prática, pois muitos religiosos (que teriam
de demonstrar a vontade de Deus em suas vidas) não exercitavam a lei de Deus. Citando Deuteronômio 6.5 nos
três evangelhos, Jesus confirmou a centralidade do primeiro mandamento. O amor pelo Senhor foi elevado à
mais alta posição entre os deveres espirituais impostos pelo próprio Deus. Envolve todo coração, toda alma, todo
entendimento e toda força. Distinto de muitos outros deveres bíblicos, o amor a Deus (que vai além de atos e
práticas externas) deve ser o componente principal da espiritualidade.
4.3 GREGA
O grande legado da espiritualidade grega vem dos filósofos. Por meio deles, a sensibilidade humana aflora.
Familiarizados com os poemas de Homero e Hesíodo, os filósofos gregos foram ensinados a prestar culto aos
deuses gregos como Zeus, Apoio e Afrodite. Os primeiros filósofos foram os primeiros cientistas. Muitos deles
foram, também, líderes religiosos.
A princípio, a distinção entre ciência, religião e filosofia não era tão clara como viria a se tomar nos séculos
posteriores. Pitágoras, tão conhecido da matemática, devido à sua demonstração de que o quadrado da hipotenusa
de um triângulo é igual em área à soma dos quadrados dos outros dois lados, fundou uma escola religiosa com
um conjunto de regras ascéticas e cerimoniais, onde proibia a ingestão de feijões. Pitágoras ensinou a doutrina
da transmigração das almas, por meio da qual, depois da morte, a alma de uma pessoa poderia migrar para um
corpo animal. Por essa razão, ensinava a seus discípulos a se absterem de came.
156
CURSO DE TEOLOGIA
M Ó D U LO 3 I ESPIRITU ALIDADE
Outro filósofo, que misturava a geometria com a religião, foi Tales. Ele se interessava por astronomia, tendo
identificado a constelação da Ursa Menor, sublinhando sua utilização para a navegação. Depois de descobrir
como escrever um triângulo retângulo num círculo, sacrificou um boi aos deuses.
Xenófanes, natural de Cólofon (que fica perto da atual Esmima), foi o primeiro filósofo da religião. Diferente
de seus antecessores, ele detestava a religião presente nos poemas de Elomero e Hesíodo, cujas histórias
blasfemavam, atribuindo aos deuses o roubo, o adultério e todo tipo de comportamento que, entre os seres
humanos, seria vergonhoso e condenável. Sendo ele próprio um poeta, atacou ferozmente a teologia homérica em
versos satíricos hoje perdidos. Ele mesmo dizia não possuir uma compreensão clara sobre a natureza do divino
ao afirmar que “a verdade clara sobre os deuses nenhum homem jamais viu nem nenhum homem irá alguma vez
conhecer". Seus pensamentos eram inovadores para uma cultura que estava cercada de muitos deuses.
Afirmava, ainda, que os mitos, as lendas e as fábulas da religião grega eram provenientes da imaginação dos
homens. Dizia que os seres humanos têm tendência para representar toda gente e tudo 0 que há em sua imagem.
“Os etíopes, afirmou Xenófanes, “fazem os seus deuses escuros e de nariz achatado, ao passo que os trácios os
fazem de cabelo ruivo e olhos azuis. A crença de que os deuses têm um tipo qualquer de forma humana é um
antropomorfismo infantil. Se as vacas, os cavalos ou os leões tivessem mãos e pudessem desenhar, os cavalos
desenhariam as formas dos deuses semelhantes aos cavalos, e as vacas fariam deuses semelhantes às vacas. Ou
seja, os corpos dos deuses seriam semelhantes aos seus próprios corpos”.2
Numa sociedade que adorava muitos deuses, Xenófanes era um firme monoteísta. Só havia um Deus,
defendia, porque Deus é a mais poderosa de todas as coisas e, se houvesse mais de um. todos teriam de partilhar
o mesmo poder. O monoteísmo de Xenófanes é digno de nota não tanto por causa de sua originalidade, mas
por causa da sua natureza filosófica. Ele ofereceu uma demonstração do seu ponto de vista por meio da
argumentação racional.
: KEN N Y, Anthony. H istó ria co ncisa da filo so fia o cid e n ta l. Lisb o a : Tem as e D eb ates, 1 9 9 9 , p. 2 4 .
CURSO DE T E O LO G IA 157
M Ó D U LO 3 I ESPIRITUALIDADE
C A R A C T E R ÍS T IC A S DE UMA
ES P IR IT U A LID A D E SADIA
A palavra espiritualidade sofreu, hoje, uma contaminação e adquiriu um sentido oposto do original. Dessa
forma, falar de espiritualidade num contexto contaminado é difícil, pois temos de iniciar a partir da contaminação,
o que não faremos. Começaremos do ponto zero, para tratar do assunto espiritualidade.
Este termo, assim como outros, já foi deturpado pelo “evangelicalismo” brasileiro. A palavra espiritualidade,
no termo sagrado, não é a espiritualidade que falamos hoje. Por exemplo, para muitos, quando uma pessoa não
fala em línguas e não profetiza, essa pessoa não é espiritual. Na verdade, essas manifestações não têm nada a ver
com espiritualidade, o que evidencia que o termo está contaminado, deturpado, adulterado.
Para falar de espiritualidade, é preciso resgatar 0 sentido básico do termo. E, para isso, é necessário meter a
mão nesse “mercado espiritual” criado pela modernidade e retirar o termo de lá e restaurá-lo ao seu sentido usual,
bíblico e original, uma vez que perdeu sua originalidade, tal como a palavra “evangélico” está perdendo.
Encontramos, em nossos dias, dois extremos radicais quanto ao tema espiritualidade: o primeiro cai no ridículo
do evangelicalismo brasileiro e deturpa tal conceito; 0 segundo espiritualiza demais. Portanto, precisamos resgatar
o sentido da palavra espiritualidade. Focalizaremos a espiritualidade pessoal porque é dela que descendem as
demais espiritualidades, ou seja, tudo começa na vida pessoal.
psicoterapêutico da cura começa com a fala. Se não temos com quem falar, a crise cresce, avoluma. Paulo disse:
“Eu fiquei só”. Jesus, no Getsêmani, disse: “Minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai”
(Mc 14.34).
A amizade é instrumento de cura. O ser humano precisa de amigos.
Na vida moderna, ser espiritual está relacionado com duas coisas: sensibilidade e disponibilidade. Quando
entendermos esses dois termos, ficará mais fácil ser uma pessoa espiritual. Moisés é um exemplo de espiritualidade.
Em Êxodo 3.2-6, lemos: “Apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo, no meio de uma sarça; e olhou,
e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá e verei esta
grande visão, porque a sarça se não queima. E, vendo o Senhor que se virava para lá a ver, bradou Deus a ele
do meio da sarça e disse: Moisés! Moisés! E ele disse: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os teus
sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de
Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus”.
Deus conversa com Moisés. Ser sensível é estar pronto para identificar a voz de Deus no seu dia-a-dia. Deus
fala com pessoas comuns, e quem é espiritual ouve a voz de Deus. A sensibilidade deve fazer parte da vida de
um homem espiritual. Deus não espera que sejamos e x p e r ts em Bíblia, exímios conhecedores, doutores, mas
sensíveis. Portanto, ser espiritual é ser sensível à presença de Deus.
O segundo requisito, ser disponível, é estar pronto para obedecer à voz de Deus. Deus mandou Moisés
ir. Moisés recusou por algumas vezes, mas foi. Agora, Moisés estava pronto para desempenhar o chamado
de Deus.
Estar disponível significa deixar tudo para cumprir a vontade de Deus. O apóstolo Paulo entendeu o que
significa ser disponível, a ponto de deixar tudo para conhecer a excelência do poder de Deus. Se for para o
evangelho ser enaltecido e o nome de Jesus engrandecido, precisamos estar disponíveis para Deus. Ser espiritual,
no mundo moderno, envolve, essencialmente, esses dois elementos: ser sensível e estar disponível. Não é só ser
sensível, ser tocado, o cristão precisa, também, aceitar a vontade de Deus. Estar disponível é ser sensível para
ouvir a voz e, depois, estar pronto para atender ao chamado de Deus. Somente com sensibilidade e disponibilidade
poderemos sentir, entender e obedecer à voz de Deus.
C R IT É R IO S PARA SE AVALIAR
UMA ESP IR IT U A LID A D E
O parâmetro para se avaliar a verdadeira espiritualidade é a própria pessoa de Jesus. Partindo desta ótica, o que nos
espanta é que Jesus nunca pronunciou, uma única vez, nos quatro evangelhos, a palavra “espiritual”. Esse chavão não
passou por sua boca, por uma razão muito simples: para Jesus, não havia espiritualidade, mas, sim, vida.
Sobre a vida, Jesus falou muito, e o tempo todo, mas sobre espiritualidade, não. Não era em vão que Jesus
falava sobre a vida, afinal, todos estavam mortos em seus pecados e delitos. Portanto, era necessário que Jesus
resolvesse primeiro o âmago da questão ao invés de seus acessórios. Foi 0 que Ele fez. O Senhor Jesus veio e
tomou a natureza humana sobre Ele para que pudesse ser julgado no lugar da humanidade.
Isenta de pecado, sua santa natureza humana podería, portanto, fazer expiação, por meio da morte, pela
humanidade pecaminosa. Jesus morreu como substituto, sofreu toda a penalidade do pecado e ofereceu sua
própria vida para resgatar o homem. Conseqüentemente, quem quer que creia em Jesus não será mais julgado,
como está escrito: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me
enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (J05.24).
A diferença é que, enquanto os seres humanos buscam ter uma vida espiritual, para Jesus, a espiritualidade
era vida. Por isso, quando Jesus se refere à vida está, em verdade, falando de espiritualidade. Porque não é
possível existir qualquer espiritualidade sem que haja primeiramente a vida. Assim, a espiritualidade verdadeira
só é possível em Cristo. Só se começa a vivenciar a genuína espiritualidade quando se aceita, conscientemente,
que Jesus é 0 Salvador do mundo. Quando isso acontece, ou seja, uma aceitação consciente, começa, então, 0
discipulado centrado na cruz.
Em Lucas 9.31, relato sobre a transfiguração, vemos Moisés e Elias, “os quais apareceram com glória e
falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém”. A cruz é o tema e o centro da espiritualidade.
Isso porque somente por meio da cruz o propósito eterno de Deus, referente a seu Filho e à Igreja, pode ser
realizado. O Senhor Jesus foi levantado na cruz para dar vida espiritual aos homens. O apóstolo Paulo entendeu
o propósito da cruz e disse aos coríntios: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este
crucificado” (ICos 2.2). A vida desse apóstolo é uma manifestação clara da vida que provém cruz. O apóstolo
Paulo não somente prega a cruz, mas também a vive. A cruz que ele proclama é a que ele vive diariamente, a
ponto de declarar: “Estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que
agora vivo na carne vivo־a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20).
Em outro texto, pôde dizer: “Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo,
pela qual 0 mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6.14).
A cruz deve fazer sua obra mais profunda em nossa vida diária, para que possamos ter experiências reais de
vitória, e também de sofrimentos. A obra da cruz tem como finalidade nos desobstruir de tudo o que pertence a
Adão. É a ordem natural para que possamos receber e desenvolver a vida espiritual. Isso fica evidente quando 0
mestre da Galiléia disse: “Na verdade, na verdade vos digo que, se 0 grão de trigo, caindo na terra, não morrer,
fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem, neste mundo, aborrece a sua
vida, guardá-la-á para a vida eterna” (Jo 12.24,25).
O original grego usa duas palavras diferentes para o termo “vida” aqui mencionado. A saber: a palavra ψυχή
{ p s y c h e ), referindo-se à vida da alma ou à vida natural; e ζωή (zo e ), que significa “a vida do espírito” ou “a vida
sobrenatural”. Portanto, 0 que o Senhor está realmente dizendo aqui é: “Quem ama a sua própria vida da alma,
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M Ó D U LO 3 I SOTERIOLOGIA
perde a vida do espírito; mas aquele que odeia a sua vida da alma neste mundo, preservará a vida do espírito para
a vida eterna”.
A vida da alma é a vida natural. É ela quem conserva a vida da carne, faz parte da vida do homem natural.
Os talentos naturais pertencem à vida da alma: vontade, emoções, pensamento, entre outros. Essas coisas, que
todas as pessoas naturais possuem em comum, são acessórias da vida da alma. A inteligência, o raciocínio, a
eloqüência, a afeição e a capacidade pertencem à vida da alma. A vida do espírito é a vida de Deus, é uma vida
especialmente dada àqueles que creram na obra consumada na cruz de Jesus Cristo.
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Nascemos neste mundo com uma vida condenada à morte. Não nascemos para viver. Nascemos, sim, para
morrer. O pecado transtornou a história do homem e impôs o governo da morte. Somos uma raça sentenciada. A
morte é o fantasma da existência. O pecado e a morte andam de mãos dadas causando infelicidade em todas as
pessoas. Ninguém está isento dessa tirania, como escreveu o apóstolo Paulo: “Assim como por um só homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram” (Rm 5.12).
Mas Deus, em sua infinita misericórdia, providenciou em Cristo um escape para todos os que nele crêem, como
está escrito: “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim
também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida” (Rm 5.18).
A ofensa de Adão recaiu na condenação de todos, e esse único ato de justiça, conforme apontado no texto
acima, refere-se ao ato da crucificação de Cristo que, pela graça, foi executado em favor de todos, para que todo
aquele que crê receba, também pela graça, a plena justificação que produz vida.
O pecado não foi um acontecimento imprevisto nem a cruz um fato improvisado. Deus não ficou perplexo
com o surgimento do pecado nem inventou a cruz como uma alternativa de percurso. Sabemos, pelas Escrituras,
que tudo está plenamente sob o controle do Deus Altíssimo, e que não há causalidade nos seus planos.
A cruz não foi um acidente na vida de Jesus e não é um simples incidente teórico na experiência dos cristãos.
Na mesma cruz em que o Filho de Deus foi imolado, foram sacrificados todos os que nele foram incluídos.
Quando o Senhor Jesus foi crucificado, Ele não apenas morreu pelos pecadores, abrindo um vivo caminho para
que o homem obtivesse a vida eterna e se achegasse a Deus, mas também morreu com os pecadores sobre a cruz.
Se a eficácia da cruz fosse meramente no aspecto da substituição, de modo que os pecadores tivessem a vida
eterna e fossem salvos da perdição, a maneira da salvação de Deus não seria completa.
Por exemplo, uma pessoa que é salva por crer em Jesus Cristo ainda vive neste mundo e sofre muitas tentações.
Apesar de haver recebido a salvação, ela ainda não está livre do pecado nesta vida. Não tem o poder de vencer
o pecado. Portanto, em sua salvação o Senhor Jesus teve de realizar esses dois aspectos: salvar o homem da
punição do pecado e salvar o homem do poder do pecado. Foi isso que aconteceu quando o Senhor Jesus morreu
pelos pecadores na cruz. Ele libertou o homem da punição do pecado (do eterno fogo do inferno) e, também, do
poder do pecado (o velho homem está morto; já não é um escravo do pecado).
A cruz de Cristo tem conseqüências mais abrangentes e envolve outros aspectos além dos históricos. Não foi
somente Jesus quem morreu naquela cruz. Ela não é a cruz tão-somente de um homem da história, já que Jesus
era 0 representante universal da humanidade. Assim, como todos pecaram em Adão, assim também em Cristo
todos podem receber os efeitos desta morte compartilhada.
Algumas pessoas entendem apenas um lado da mensagem da cruz, apenas o lado substitutivo, a crucificação
do Senhor Jesus, sem dar a menor importância à crucificação do pecador. Mas a mesma Escritura que destaca
a morte de Cristo pelos pecadores ressalta a morte dos pecadores juntamente com Cristo, como está escrito:
“Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?” (Rm 6.3).
“Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança
da sua ressurreição” (Rm 6.5). “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos” (Rm
6.8). “Foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos
o pecado como escravos” (Rm 6.6).
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M Ó DULO3 !ESPIRITUALIDADE
Essa “co-crucificação” é um fato consumado. O crente deve se considerar morto — não morrendo — para o
pecado, dependendo do Espírito de Deus para que esse fato tenha efeito em seu viver. Permanecendo na posição
“morto para o pecado”, o crente vê o domínio do pecado quebrado. E na posição “viver para Deus” em Cristo
Jesus, o crente entende que é uma nova criatura (2C0 5.17), por meio da qual desabrocha a vida espiritual.
A obra da cruz toca no âmago do problema humano: o pecado. Por meio da crucificação de Cristo, Deus
perdoa perfeitamente os nossos pecados, e faz isso de tal forma como se eles jamais tivessem sido cometidos.
Pelo sangue da sua cruz, Deus apaga as transgressões e cancela a culpa. Retira a condenação e transfere a
santidade.
E muito importante que os filhos de Deus entendam claramente esses dois aspectos da cruz em sua ordem
correta. Pois, se o crente imagina estar no caminho da conformidade na morte sem haver entendido primeiramente
o que é a morte para o pecado, ele nunca obterá vitória sobre o pecado, nem qualquer sinal de vitória em sua vida,
portanto, continuará morto, sem vida espiritual.
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M Ó D U L O 3 !E S P IR IT U A LID A D E
R E F E R Ê N C IA S
HUGHES, R. Kent. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
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LEWIS, Jessie Penn. A c r u z : o caminho para o reino. Minas Gerais: CCC, 2000.
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faculdade teológica betesda
Moldando vocacionados
AVALIAÇÃO - M Ó D U LO III
ES P IR IT U A LID A D E
1. Como as Escrituras dividem as pessoas depois do pecado?
3. Na vida moderna, ser espiritual tem a ver com duas coisas. Quais são elas?
5. O pecado não foi um acontecimento imprevisto. A cruz não foi improvisada. Por quê?
“ Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os 6.3)
0 conhecimento sobre Deus não é apenas uma possibilidade, mas também um direito de todos os homens.
A Bíblia Sagrada nos ensina que Deus, graciosamente, revela-se ao homem, convidando
a todos a experimentarem sua bendita graça.
Com essa visão, e sob 0 lema “Moldando vocacionados”, a FTB (Faculdade Teológica Betesda), uma instituição
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