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Fracasso Escolar e Dificuldades de Aprendizagem PDF
Fracasso Escolar e Dificuldades de Aprendizagem PDF
Resumo ................................................................................................................................. 1
Introdução.............................................................................................................................. 2
1. Fracasso Escolar e Dificuldades de Aprendizagem ........................................................... 3
1.1 A Dificuldade de aprendizagem e possíveis causas ..................................................... 4
1.2 Dificuldades de aprendizagem e seu diagnóstico ......................................................... 7
1.3 Análise das razões do fracasso escolar no ensino fundamental ................................. 10
1.4 Analisando o fracasso escolar.................................................................................... 11
2. O Fracasso Escolar a Partir da Relação Professor-Aluno ................................................ 13
2.1. Refletindo a prática ................................................................................................... 19
2.2. Visão da prática docente ........................................................................................... 20
2.3 A construção interdisciplinar a partir da relação professor/aluno ................................ 21
2.4 Relação escola e família ............................................................................................ 22
3. Contribuições da Psicopedagogia no contexto do fracasso escolar ................................. 32
3.1 Dificuldades para a psicopedagogia ........................................................................... 35
3.2 A influência da prática pedagógica na produção do sucesso / fracasso escolar ......... 35
3.3. Conhecer para interagir............................................................................................. 37
Considerações Finais .......................................................................................................... 40
Referencias Bibliográficas.................................................................................................... 42
1
RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar os fatores que proporcionam o suces-
so/fracasso escolar dos alunos, bem como conceituar dificuldade de aprendizagem
na abordagem psicopedagógica. Simultaneamente bordar os fatores relevantes para
explicar as possíveis causas dessas deficiências dando um diagnostico, principal-
mente no ensino fundamental onde podem ser por diversas causas, começando pe-
las próprias condições físicas e psicológicas da criança, passando pelas condições
da escola e dos profissionais que nela atuam e culminando com a que é, talvez, a
mais fundamental de todas; as precárias condições em que vive a maioria das pes-
soas no país. Sabemos que a escola desempenha funções, não se limita apenas em
ser transmissora do conhecimento, isto porque a sociedade exige cada vez mais que
os indivíduos aprendam os conhecimentos necessários para transformar sua vida e
da sociedade.
INTRODUÇÃO
Uma das saídas para tentar amenizar esta dificuldade pode ser encontrada
através do relacionamento afetivo entre educadores e alunos, porém, a escola mui-
tas vezes ignora esta questão, preocupando-se apenas com os conteúdos e técni-
cas.
Dessa forma essa pesquisa tem como um dos objetivos apresentar como o
educador, seja ele professor ou orientador educacional, pode influenciar para resol-
ver os problemas da dificuldade de aprendizagem que levam ao fracasso escolar.
Caso a dificuldade fosse apenas originada pelo aluno, por danos orgânicos ou
somente da sua inteligência, para solucioná-lo não teríamos a necessidade de acio-
narmos a família, e se o problema estivesse apenas relacionado ao ambiente famili-
ar, não haveria necessidade de recorremos ao aluno isoladamente.
No entanto o que se observa, é que pouco tem sido feito na tentativa de ame-
nizar este grave problema. E muitas vezes, para se livrar da responsabilidade deste
fracasso, busca-se culpado. Alguém que possa assumir sozinho esta situação. O
que ocorre muitas vezes é a busca pelos culpados de tal fracasso e, a partir daí per-
cebe-se um jogo onde ora se culpa a criança, ora a família, ora uma determinada
classe social, ora todo um sistema econômico, educacional, político e social. Mas
será que existe mesmo um culpado pela não aprendizagem? Se a aprendizagem
acontece em um vínculo, se ela é um processo que ocorre entre subjetividade, nun-
ca uma única pessoa poderá ser culpada.
Bem, os seres humanos, nascem com uma tendência hábil para a aprendiza-
gem. A criança está pronta para aprender quando ela apresenta um conjunto de
condições, capacidades, habilidades, e aptidões consideradas como pré-requisito
para o início de qualquer aprendizagem. De acordo com (OLIVEIRA, 1999) Pronti-
dão para aprender significa o conjunto de habilidades que a criança deverá desen-
volver de modo a tornar-se capaz de executar determinadas atividades.
Visto que atualmente vive-se em uma sociedade que busca cada vez mais o
êxito profissional, a competência a qualquer custo e a escola também segue esta
concepção. Pois a escola nada mais é que um reflexo da sociedade. E aqueles que
não conseguem responder ás exigências da instituição podem sofrer com um pro-
blema de aprendizagem. E essa busca incansável e imediata pela perfeição leva à
rotulação daqueles que não se encaixam nos parâmetros impostos.
É fácil para nós educador observar que este caráter informativo da educação
se manifesta até mesmo nos livros didáticos, nos quais o aluno é levado a memori-
zar conteúdos e não pensá-los; não ocorrendo de fato uma aprendizagem.
De acordo com a autora, esse termo é definido de várias maneiras, por dife-
rentes autores, diferindo-se quanto à origem: orgânica, intelectual/cognitiva e emoci-
onal (incluindo-se aí a familiar). O que se observa na maioria dos casos é um entre-
laçamento desses aspectos.
Alguns pais confiam seus filhos com dificuldade de aprendizagem aos profes-
sores acreditando que o mau desempenho da criança seja proveniente apenas de si
mesma, sem questionar sua possível participação nessas alterações.
Conforme Martins (2001, p.28), "essa problemática gera nos pais sentimentos
de angústia e ansiedade por se sentirem impossibilitados de lidar de maneira acer-
tada com a situação".
Criar filhos não significa torná-los perfeitos, pois os pais têm muitas dúvidas e
estão sujeitos a muitas falhas; mas o que é necessário é tentar identificar os conflitos
e desfazê-los, aprendendo a conviver com essas situações. Através dos conflitos os
pais desenvolvem a percepção de si mesmos e de seus filhos.
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Todos esses aspectos citados e muitos outros, são fundamentais para que o
desenvolvimento da criança se efetive. Portanto, a família necessita da ajuda dos
profissionais na aquisição desses conhecimentos básicos e essenciais para que
possa cumprir seu papel de facilitadora do processo de aprendizagem de seus filhos,
através de comportamentos mais adaptativos.
Pode ser pelo aspecto pedagógico, apropriado ou não à criança, pelas políti-
cas educacionais que nem sempre tem a educação como meta principal, ou ainda
pela situação geral pela qual passa a economia do país, e como resultado, o ambi-
ente onde vivem milhares de crianças, inadequados para o seu desenvolvimento e
crescimento.
A escola conta com uma equipe que poderá estar atenta a problemas sociais
dos alunos. O supervisor pedagógico tem a função de auxiliar o professor orientan-
do-o em práticas pedagógicas que poderão superar o problema do fracasso escolar,
e uma ação que pode ser significativa é manter contato com a família do ‘aluno-
problema’ na busca de entender o porquê do ‘não aprender’. É fundamental no pro-
cesso aprendizagem conhecer o aluno e sua origem para escolher a melhor forma
de trabalhar com ele, neste sentido, o educador propiciará excelentes oportunidades
para elevar o rendimento escolar dos educando, elevando também o auto-conceito
deste, tornando a aprendizagem mais agradável.
De acordo com PATTO (2000), existem várias razões para o fracasso escolar,
assim como existem várias razões para se desenvolver um trabalho neste sentido. E
um dos motivos, é a preocupação dos educadores em geral em achar uma solução
cabível para amenizar o problema do fracasso escolar. Problemas este que se justi-
ficam pelas dificuldades encontradas pelos educadores em geral, em buscar a ino-
vação para auxiliá-los nas práticas pedagógicas, bem como pelo fato de ser um te-
ma muito polemico.
Este trecho demonstra que o fracasso escolar não diz respeito somente à
questão da evasão escolar ou seletividade, mas também a não possibilidade de se
estudar, a dificuldade de se conseguir educação.
Hoje, muitos alunos são colocados fora da escola por não conseguirem estu-
dar porque precisam trabalhar... "... os alunos que não permanecem na escola são
aqueles que precisam trabalhar para ajudar no sustento da família..." (PIMENTA,
1995:120).
Diante desta realidade, na visão de Pimenta (1995), é certo que cabe ao pro-
fessor rever posicionamentos endurecidos, questionar crenças arraigadas, confron-
tar posicionamentos imutáveis e isso implica na compreensão do "aluno-problema"
como um porta voz das relações estabelecidas em sala de aula. Pudemos perceber
claramente que muitas vezes, não é o aluno que não se encaixa no que nós profes-
sores oferecemos, somos nós que de certa forma não adequamos a suas possibili-
dades.
Partindo da idéia de que uma escola não existe sem os alunos, os professo-
res, o corpo regente e o pessoal de apoio que a transformam em um organismo vivo,
e que são muito mais importantes que toda a infra-estrutura material de que ela pre-
cisa dispor para cumprir sua função. Tal função não deve ficar restrita ao mero ato
de ensinar os conteúdos necessários para que as pessoas se tornem profissional e
socialmente competentes, mas deve também abrir uma perspectiva de inclusão da-
queles seres em desenvolvimento, de tal forma que possam passar a usufruir dos
conhecimentos que se tornaram patrimônio da humanidade, ter acesso aos bens
culturais e se tornem cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. Então nesse
ponto de vista é no capital humano que se deve efetivamente investir prioritariamen-
te, embora a necessidade de condições materiais facilitadoras do trabalho educativo
seja muito importante para um bom resultado.
Deve-se procurar entender as causas de tal processo. E para tal, toma-se por
base os estudos de Henri Paul Hyacinthe Wallon(1992), que na busca de compre-
ender o psiquismo humano volta sua atenção para a criança, já que somente através
desta que é possível ter acesso à gênese dos processos psíquicos.
Segundo o autor, o sujeito constrói-se nas suas interações com o meio. Desta
forma, propõe um estudo contextualizado, buscando compreender em cada fase do
desenvolvimento da criança, o sistema de relações estabelecidas entre esta e seu
ambiente. Para o estudioso, o estudo da criança tem dupla função, ou seja, é ins-
trumento de compreensão do psiquismo humano, como também serve de contribui-
ção à educação. Pois, a preocupação pedagógica está sempre presente em sua psi-
cologia.
Para Wallon, deveria haver uma relação de contribuição recíproca entre a psi-
cologia e a pedagogia. O autor via a escola, meio peculiar à infância e "obra funda-
mental da sociedade contemporânea", como um contexto privilegiado para o estudo
da criança (Galvão, 1999, p. 45). Sendo assim, a pedagogia oferecia campo de ob-
servação à psicologia e também questões para investigação. Da mesma forma, a
psicologia, ao construir conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil, servia de
instrumento para a prática pedagógica.
Wallon buscava enfocar o ser humano por uma perspectiva global. Segundo a
psicogenética walloniana existem alguns campos que agrupam a diversidade das
funções psíquicas. A afetividade, a inteligência e o ato motor são "campos funcio-
nais" entre os quais se distribui a atividade infantil. Aparecem pouco diferenciadas
no início do desenvolvimento, mas aos poucos vão adquirindo independência um do
outro.
Wallon revela que é na ação sobre o meio humano, e não sobre o meio físico
que deve ser buscado o significado das emoções. Já as funções intelectuais, na psi-
cogênese, vão adquirindo importância progressiva como forma de interação com o
meio. A atividade intelectual, que tem a linguagem como instrumento fundamental,
depende do coletivo.
O "não-aprender" nos moldes impostos pelo social vem sendo tratado como
distúrbios, fracassos e patologias em geral. O motivo pode ser a concentração do
processo pedagógico na "falta de talento" do sujeito, ou seja, o processo de aprendi-
zagem não estimula talentos distintos, centrando-se no esperado e moldado com
regras e valores. O diferente, nesse contexto, passa a ser em primeiro lugar negado,
e em seguida estigmatizado.
Então, de acordo com Galvão, transpondo esta reflexão para escola, perce-
bemos a necessidade de se planejar a estruturação do ambiente escolar, uma vez
que este desempenha papel fundamental na promoção do desenvolvimento infantil.
Em termos práticos, isto significa que o planejamento das atividades escolares vai
além do conteúdo de ensino e deve também atingir as várias dimensões que com-
põem o meio: o espaço em que será realizada a atividade, os matérias utilizados, o
objeto colocado ao alcance das crianças, a disposição do mobiliário, entre outros.
Deve também levar em consideração a organização do tempo, definindo a duração e
o movimento mais adequado para a realização da atividade. Por fim, deve conter
uma reflexão sobre as oportunidades de interações sociais oferecidas.
Segundo Wallon, cada uma dessas situações só pode ser compreendida den-
tro de seu contexto. No entanto, é possível perceber alguns traços comuns dessas
interações conflituosas, como a elevação da temperatura emocional e a perda de
controle do professor sobre a situação. A análise da Wallon sobre as emoções facili-
ta a compreensão dessas dinâmicas. Para ele, quanto maior clareza o professor ti-
ver dos fatores que provocam os conflitos, maior possibilidade terá de controlar a
manifestação de suas reações emocionais e encontrar caminhos mais saudáveis
para solucioná-los.
Inspira um professor que, diante dos conflitos, não se contenta com respos-
tas-padrão ou fórmulas estereotipadas e mecânicas, mas busca compreender-lhes o
significado desvelando a complexa trama dos fatores que os condicionam. (GAL-
VÃO, 2001, p. 114)
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De acordo com ele, o professor deve ser capaz de usar sua capacidade in-
ventiva. Para Wallon conflitos escolares sempre vão existir, no entanto, é importante
superar aqueles que indicam inadequação e equívocos da escola em atender as ne-
cessidades e possibilidades da criança.
Quando o professor dispõe-se a refletir sua prática, ele se abre para compre-
ender o aluno e seu mundo. Confronta o que descobre sobre seu aluno concreto e o
que aprendeu sobre aquele genérico em seu curso de formação, tornando-se mais
competente para ensinar.
Nesta linha de pensamento, o ato de educar é sem dúvida uma ação preocu-
pante, pois refletir sobre a finalidade do ensino é pensar sobre o destino do homem,
nosso lugar na natureza e a relação com os nossos semelhantes. A complexidade
do ato de educar está na sua essência. Não é fácil ajudar os alunos a organizar in-
formações e as visões multiformes, a lutar contra algumas delas e tornar outras pro-
veitosas, e tudo isso tomando o cuidado de não impor o próprio ponto de vista. Pois,
isto poderia desencadear num processo onde o fracasso escolar tomaria proporções
a partir da relação professor-aluno envolvendo ainda diversos segmentos da escola.
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Por ser a escola uma instituição muito complexa, a sociedade exige cada vez
mais que os indivíduos freqüentem-na durante alguns anos e ali aprendam os co-
nhecimentos necessários para a vida posterior.
Mas o que levaria o aluno a se interessar pela escola? Uma razão bem sim-
ples para no interessarmos por algo seria estarmos motivados para tal, mas infeliz-
mente a escola, de modo geral, não está estruturada para despertar no aluno o inte-
resse em estar nela.
No ponto de vista do autor a prática docente deve estar sempre atrelada com
o mundo real do aluno. Ao ingressar na escola o aluno tem os seus conhecimentos
prévios que servirão de suporte para maiores conhecimentos.
Portanto é o professor que vai dentro da realidade local poder evitar o trans-
torno do fracasso escolar, e para tal ele conta com a participação de todo os segui-
mentos da escola.
Nesta visão LIBÂNEO (1993) revela que a idéia de ensino foi alterada, con-
trapondo-se ao imobilismo e decretando a autonomia, pois é o aluno quem deve
conduzir seu próprio processo de conhecimento. O professor deve ter uma atitude
de espera, de orientação. Assim, ensinar é aprender, pesquisar, construir. Aprender
é, primeiramente, aprender em relação à própria vida.
A instituição escolar somente surgiu como prática por causa das exigências
crescentes de um mundo mais industrializado. A produtividade demandava trabalha-
dores mais bem preparados para operar máquinas, consertar engrenagens e enten-
der de processos produtivos. Com isso, precisava-se de pessoas que dominassem
minimamente os conhecimentos necessários nas fábricas. A popularização dos co-
nhecimentos escolares, porém, não tirou da família sua função intransferível: a
transmissão de valores morais e éticos.
KALOUSTIAN (1988) diz que no século XX, a dedicação cada vez maior de
homens e mulheres ao trabalho fez com que as crianças passassem muito mais
tempo fora de casa, e o papel da escola na formação dos indivíduos passou a ser
maior.
E depois de um século de escola para todos, mesmo nos países ricos, o su-
cesso escolar não acontece para todos e a escolarização bem-sucedida não elimi-
nou a desigualdade social. Há duas histórias da educação relacionada à classe so-
cial e à interação família-escola (Carvalho, 2000).
Uma história é aquela de uma classe que criou o valor da escola de acordo
com uma concepção particular (utilitária) de educação: a escola como extensão da
família da classe média. Outra história é aquela em que a escola, um modo de edu-
cação não familiar, foi imposta a uma classe como meio de salvação via aculturação.
A primeira é a história do sistema escolar credencialista e dos investimentos familia-
res na competição dos jovens de classe média por diplomas, enquanto a última é a
história do fracasso escolar que legitima a exclusão socioeconômica e que continua
a alimentar as políticas compensatórias destinadas aos estudantes em situação de
risco (CRAVENS, 1993, p.18).
CRAVENS, (1993) diz que atualmente, porém, a política educacional está ex-
pandindo seu raio de ação para além da escola, formalizando as interações família e
escola de acordo com um modelo particular de participação dos pais/mães na esco-
la: o de classe média, baseado na divisão de gênero tradicional.
Devemos respeitar isto. A criança não querer comentar sobre a escola, não
significa que não goste da escola. Na escola, a criança compreenderá que os deve-
res de casa, os trabalhos escolares e as notas são questões entre ele e seus profes-
sores. Hoje existem inúmeras propostas e metodologias, cabe a cada família buscar
aquela que melhor irá complementar a formação que deseja para seus filhos, pois
seus comentários e principalmente suas ações influenciam diretamente na vida es-
colar de seus filhos.
Pensar neste tipo de parceria requer então aos professores inicialmente uma
tomada de consciência de que, as reuniões baseadas em temas teóricos e abstra-
tos, reuniões para chamar a atenção dos pais sobre a lista de problemas dos filhos,
sobre suas péssimas notas, reuniões muito extensas, sem planejamento adequado,
onde só o professor pode falar, não têm proporcionado sequer a abertura para o ini-
ciar de uma proposta de parceria, pois os pais faltam às reuniões, conversam parale-
lamente, parecem de fato não se interessarem pela vida escolar das crianças. No
entanto não basta legitimar a situação com queixas e lamentações. Verdadeiramen-
te, as famílias não se encontram preparadas sequer para enfrentar, quanto mais pa-
ra solucionar os problemas que os educadores de seus filhos lhes entregam e trans-
ferem nas reuniões de pais, e outros poucos momentos em que se encontram os
protagonistas desta relação.
De acordo com Winnicott (1982) numa visão construtivista, o aluno tem a sua
relação com o objeto mediada pelo professor e com ele mantém vínculos positivos,
que impulsionam a aprendizagem, ou negativos, que proporcionam um afastamento
da situação de aprendizagem. Envolver a família na educação escolar dos filhos po-
de significar, para os educadores, que eles tenham que conhecer melhor os pais dos
alunos e realizar um trabalho conjunto com eles para criar, entre outras fatores, uma
atmosfera que fortaleça o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças.
E, por parte dos pais, relações mais estreitas com a escola sempre poderá
ajudá-los a compreender melhor o trabalho por ela realizado e a se envolverem, na
medida de suas possibilidades, no processo educacional dos filhos, trabalhando de
forma consoante com as necessidades educativas da vida e da participação no
mundo atual.
Mas as relações entre seres humanos nem sempre são fáceis. E, para inibir
casos em que situações desgastantes ocorram, devemos nos acercar de duas pode-
rosas armas: o diálogo e o respeito. Tanto alunos, os pais destes, professores e ou-
tros seguimentos como os funcionários que trabalham diariamente conosco são se-
res humanos, e sabemos perfeitamente que os dias para as pessoas não são todos
iguais: existem aqueles em que parece que nada do que fazemos dá certo, que nin-
guém nos entende, que ninguém nos ama, e que o mundo todo conspira contra nós
a fim de nos derrubar. Assim, é normal que homens, mulheres e crianças tenham
dias considerados ruins, onde a irritabilidade impera, sendo que esses momentos
precisam ser respeitados, como sublinha Winnicott (1982).
Desta forma, para que a escola não se torne um campo de batalha, o profes-
sor deve se conscientizar da importância de duas atitudes: conhecer a fundo as
emoções, controlando as sempre que for necessário, e entender os momentos de
fragilidade de quem com quem convive, procurando, desta maneira, evitar todo e
qualquer momento negativo.
Nessa mesma direção Cury (2003) alerta que além de tudo isso, os educado-
res precisam parar momentaneamente suas atividades e refletir sobre as práticas
que mantêm, pois a construção do conhecimento se dá pela reflexão. A escola não
pode ser um lugar onde o erro não seja permitido e onde só é valorizado o aluno que
consegue tirar boas notas. Sabemos que se trata de um processo delicado e que
exige muitos cuidados, mas precisamos rever o que aprendemos em nossa forma-
ção, pois o mundo mudou e ainda vai continuar mudando.
Além disso, de acordo com a autora, para que se instaure um clima de diálo-
go na escola e para bem realizar o seu trabalho ao longo do ano, é válido que o pro-
fessor sugira leituras específicas e adequadas, promova reuniões de estudo, organi-
ze momentos em que haja efetiva troca de idéias e experiências com colegas e com
o grupo em geral, estimulando e oportunizando o crescimento de todos, visando
manter a hegemonia de pensamentos e ações da comunidade escolar.
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Infelizmente, o que se percebe é que ainda falta uma proximidade real entre
família e escola. Uma aproximação que vá além do ato de deixar a criança ficar na
porta do estabelecimento ou este encontrar os familiares do aluno somente em dias
de festividade ou entrega de resultados. Urge instaurar uma relação que garanta
verdadeiramente a criança e ao jovem estudante a certeza de que sua família e a
escola em que estudam comungam dos mesmos valores, apesar de, em certos mo-
mentos, usarem meios diferentes para atingir a mesma finalidade: a construção do
conhecimento por parte do educando.
De acordo com Freire (1997) ninguém educa ninguém, assim como ninguém
educa sozinho: alguém só aprende se existir uma pessoa que lhe deseje ensinar. Da
mesma forma, alguém só ensinará se houver um indivíduo predisposto a aprender, e
o aprender se tornará prazeroso na medida em que for significativo. Assim, no mun-
do complexo em que vivemos, a nossa missão é realmente desafiadora, pois temos
o compromisso de introduzir, de lançar nosso educando em um espaço público, em
um universo de muitas incertezas, onde, muitas vezes, nem sabemos o que está
certo ou o que está errado. Pensando desta forma, vemos que o conhecimento se
amplia e que cada aula dada por nós é uma grande oportunidade de crescimento,
tanto nosso como o de nossos alunos.
Mas, para que isso ocorra a contento, é necessário diálogo: o professor cons-
trói a sua história se comunicando, e é imprescindível que tenhamos essa capacida-
de de representar o mundo através de várias linguagens de expressão. Trata se de
uma caminhada árdua e cheia de obstáculos, mas ser educador é isso mesmo:
aquele que assume a força de suas idéias e não se abate diante das barreiras surgi-
das, aprimorando, constantemente, métodos para vencer estes desafios, dialogando
com seus alunos e com a família destes.
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Assim, a vida social, modifica-se rapidamente, sem que a educação seja ca-
paz de adaptar-se a essas mudanças. Consequentemente, toda esta falta de adap-
tação do processo de educação ao tipo de sociedade vigente, reflete na falta de inte-
resse do aluno ao ambiente escolar. Ao observarmos a história da educação brasilei-
ra, percebemos que sempre estiveram presentes problemas relacionados ao fracas-
so escolar.
Isto nos reflete aos estudos de Vygotsky (1984), ao enfatizar a natureza social
do conhecimento já apontava para a importância do ensino bem organizado no pro-
cesso de aprendizagem e conseqüente desenvolvimento do indivíduo.
Às vezes a escola opera com princípio de que o problema está nos alunos e
que somente eles próprios poderão resolvê-los, levando-os a assumir sozinho a cul-
pa pelo seu fracasso, esquecendo que não existe um só culpado quando o aluno
fracassa, pode haver vários fatores que o levem a isto como por exemplo: a escola,
a metodologia utilizada e até mesmo o próprio sistema vigente, pois Vygotsky (1984)
já afirmava que todas as funções no desenvolvimento do indivíduo originam-se das
relações sociais reais entre indivíduos humanos, na mesma linha de pensamento,
Mortimer (1994) completa que: a diferentes realidades, pertencentes a contextos
sociais específicos, correspondem diferentes formas de conhecimento.
Ao longo de vidas, o ser humano se depara com situações que lhes permitem
conhecer-se um pouco mais, pois isto faz parte do processo-vida. Um processo ina-
cabado, que nos auxilia a "crescer" como pessoa, além da possibilidade da auto-
aceitação.
A gente olha, mas não vê, a gente vê, mas não percebe, a gente percebe,
mas não sente, a gente sente, mas não ama e, se a gente não ama a criança, a vida
que ela representa, as grandes possibilidades de manifestação dessa vida que ela
traz, a gente não investe nessa vida, e se a gente não investe nessa vida, a gente
não educa e se a gente educa no espaço/tempo de educar, a gente mata, ou me-
lhor, não educa para a vida, a gente educa para as mortes das infinitas possibilida-
des (p.09).
Investe-se numa gestão participativa, onde todos trabalham juntos com o ob-
jetivo de melhorar a qualidade do ambiente, criando condições necessárias para o
ensino e a aprendizagem mais eficaz, e identificando os pontos positivos e negativos
e sempre buscando a melhoria.
A reflexos dos padrões exigidos pela escola, alguns alunos aprendem a confi-
ar em si, aprendem que são capazes, enquanto outros aprendem que são incapa-
zes, sendo que muitos não aceitam o que a escola lhes faz crer e se tornam rebel-
des para não serem fracassados, acredito que isso ocorra de forma inconsciente.
FALCÃO (1985) afirma que alunos que se acreditam incapazes, ou pouco ca-
pazes, desenvolvem mais facilmente postura de submissão, restringem seu olhar ao
horizonte já conhecido e não encontram possibilidades de desenvolvimento de suas
capacidades, e futuramente vê suas possibilidades de participação social restringi-
das. Essa é talvez, uma das maiores violências cometidas pela escola.
Enfim, cada escola tem de ter claro quem são seus alunos para, a partir daí,
desenvolver um projeto educativo que tenha clareza sobre as questões mais impor-
tantes a serem trabalhadas. Diferenças de idade (comum em escola pública), carac-
terísticas sócio culturais, de características de local de moradia, entre outras, fazem
com que as questões enfrentadas pelos alunos variem significativamente, exigindo,
portanto, atenção diferenciada e projetos educativos também diferenciados. Com-
preender as diferenças no âmbito escolar também é estar atento às experiências
escolares dos alunos, para que as propostas de trabalho apresentadas sejam enri-
quecedoras e viáveis de serem executadas.
A escola precisa ter uma postura de acolhimento: pode até questionar, mas
respeitar as diferenças culturais e sociais de cada aluno, compreendendo sua impor-
tância para o processo de construção identidária dos alunos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que no leva a crer que a sala de aula é contexto privilegiado para o trabalho
com as diferenças, o microcosmo concreto onde a educação escolar acontece de
fato. É na sala de aula também que as dificuldades de aprendizagem têm de ser
administradas. É lá, e apenas lá, que se deve vencer os obstáculos escolares.
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Em síntese, uma escola é funcional quando conta com forte aliança entre a
comunidade, com a família, o corpo docente e o administrativo, os quais trabalham
os seus conflitos através da colaboração e diálogo. Esses elementos são flexíveis
em sua maneira de lidar com os conflitos, utilizando-se do conhecimento de várias
técnicas e métodos adequados. As decisões são tomadas em conjunto e a participa-
ção dos alunos é solicitada, mas sem ser igualitária. Cada membro do sistema esco-
lar tem seu papel determinado, por isto é importante a presença do psicopedagogo,
para observar e diagnosticar o sistema escolar e, então, cria condições favoráveis
para a resolução dos problemas que surgem, fazendo com que o ensinar e o apren-
der se torne comprometidos.
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