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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

02 A Jurisdição

02.1 – Introdução

Noções gerais
Noções iniciais:
O termo “jurisdição” é proveniente do latim – juris dictio (dizer o direito) – e representa atualmente
uma das funções do Estado, através da qual busca-se uma solução imparcial e justa para os conflitos
que envolvem titulares de interesses distintos. A jurisdição é ao mesmo tempo:
ƒ poder: manifestação do poder estatal, conceituado como capacidade de decidir
imperativamente, impondo suas decisões;
ƒ função: expressa o encargo que têm os órgãos estatais de promover a pacificação de conflitos
interindividuais, mediante a realização do direito justo e através do processo;
ƒ atividade: complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que
a lei lhe compete.

Características da jurisdição:
A jurisdição tem como uma de suas características a substitutividade (ou função substitutiva), pois
substitui a auto-tutela, ou seja, o exercício do direito realizado pelo próprio particular e desta deflui
também sua característica de ser uma função exclusivamente estatal. Outra característica ainda da
jurisdição é a inércia, o que significa dizer que a aplicação do direito material pelo órgão
jurisdicional só irá ocorrer após uma provocação das partes.

Classificação da jurisdição:
A jurisdição na verdade é una e indivisível, pois ela é única em si e nos seus fins, tão quanto o
próprio poder soberano. A doutrina, porém, classifica a jurisdição em espécies somente para efeito de
facilitar o entendimento da matéria. Na tabela a seguir, poderemos observar esta classificação.

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Jurisdição
Quanto à • plena
competência • exclusiva
• cumulativa
• limitada

Quanto à função • ordinária ou comum


• extraordinária ou especial

Quanto ao objeto • contenciosa


• voluntária

Quanto à matéria • com base na natureza da causa (penal, civil, eleitoral, militar e trabalhista)
• com base no organismo jurisdicional (estadual ou federal)

Princípios da jurisdição

01 Investidura:
Pelo princípio da investidura, o Estado deverá atuar somente através de seus órgãos, ou seja,
a jurisdição só pode ser exercida por quem estiver legalmente investido nas funções
jurisdicionais.

02 Indeclinibilidade:
Pelo princípio da indeclinibilidade da função jurisdicional, não pode o magistrado recusar-se
a julgar quando validamente invocada a tutela jurisdicional.

03 Indelegabilidade:
Pelo princípio da indelegabilidade da jurisdição o magistrado deve exercer regularmente suas
funções, não podendo delegar suas atribuições. O órgão jurisdicional não pode transferir um
poder que foi investido nos termos da Constituição Federal. Contudo, existem exceções na
hipótese de realização de determinados atos de instrução, como no caso de precatórios.

04 Improrrogabilidade:
Pelo princípio da improrrogabilidade, a função jurisdicional só pode ser exercida dentro dos
limites estabelecidos pela lei.

05 Juiz natural:
Conforme o princípio do juiz natural, é garantida a prestação da tutela jurisdicional por um
órgão investido da função, ou seja, aquele que exerce a função jurisdicional deve estar
investido no poder de julgar. É vedada assim a instituição de tribunais de exceção.

Como vimos, a inércia é uma das características da jurisdição, mas alguns autores classificam-
na também como um dos seus princípios. Pelo princípio da inércia, a jurisdição não poderia
ser exercida de ofício pelos agentes investidos, dependendo sempre da provocação das partes.

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Jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária
Vimos que em relação ao objeto, a jurisdição pode ser contenciosa ou voluntária. A ideia de
jurisdição contenciosa pressupõe um litígio e é chamada de verdadeira e legítima jurisdição, pois tem
por objeto a composição de conflitos de interesses, ou seja, sempre sobre uma lide (conflitos de
interesses qualificado por uma pretensão) existente entre um sujeito ativo e outro passivo. A
jurisdição voluntária (também chamada de graciosa), por outro lado, existe de forma a atender a
administração de certos interesses privados onde é necessária a participação do Estado para a
constituição de novas situações jurídicas. Ao contrário da contenciosa, não existe um conflito de
interesses, ou seja, não há litígio. Desta forma, não há processo, no sentido técnico do termo, mas
apenas uma medida administrativa. Também não há partes, mas apenas interessados e não produz
coisa julgada.

Quadro comparativo

Jurisdição contenciosa Jurisdição voluntária

Atividade jurisdicional Atividade administrativa

Composição de litígios Administração pública do direito privado

Bilateralidade da causa Unilateralidade da causa

Questionam-se direitos ou obrigações Não se questionam direitos ou


de outrem obrigações de outrem

Envolve partes Envolve apenas interessados

Obrigatoriedade de legalidade estrita Não há obrigatoriedade de legalidade


estrita

Há contraditório ou possibilidade de Não há contraditório


contraditório

Há ação Não há ação

Em regra, não há provas determinadas Qualquer prova pode ser determinada


de ofício de ofício

Há revelia Não há revelia

Há processo Não há processo, mas apenas uma


medida administrativa

Há uma sentença de mérito Há uma homologação

Há coisa julgada Não há coisa julgada

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02.2 – Órgãos da Jurisdição

O juiz
Noções iniciais:
Ao juiz cabe poderes administrativos e poderes jurisdicionais. Os primeiros referem-se aos trabalhos
processuais, garantindo o seu bom andamento. Os segundos refletem nos atos necessários para o
julgamento do processo. No exercício do poder jurisdicional, o juiz decidirá a lide nos limites em que
foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a
iniciativa da parte e o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

Equidade Œ A equidade é uma forma de aplicar o direito, mas sendo o mais próximo possível
do justo, do razoável. O fim do direito é a justiça, além de valores suplentes como a
liberdade e igualdade. Mas é difícil definir o "justo", pois pode existir na concepção de
quem ganhou a causa e não existir na de quem perdeu. É necessário um ideal de justiça
universal. Para isso existe a equidade. Ela consiste no estudo do caso em suas
peculiaridades, suas características próprias, consequentemente originando uma
decisão para aquele caso especificamente, aproximando-se ao máximo possível do justo
para as duas partes.

O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No


julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia,
aos costumes e aos princípios gerais de direito.

Deveres:
O juiz deverá dirigir o processo conforme as disposições do Código de Processo Civil, competindo-
lhe:
ƒ assegurar às partes igualdade de tratamento;
ƒ velar pela rápida solução do litígio;
ƒ prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da Justiça;
ƒ tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.

Colusão:
Conforme o art. 129 do Código de Processo Civil, caso o juiz se convença, pelas circunstâncias da
causa, de que autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim
proibido por lei, proferirá sentença que obste aos objetivos das partes. É a chamada colusão das
partes. Por se tratar de matéria de ordem pública, equiparada à carência de ação por falta de interesse
de agir, quer por desnecessário, quer por inútil o provimento jurisdicional, o reconhecimento da
colusão pode ocorrer a qualquer tempo e grau de jurisdição, ensejando, inclusive, rescisão da decisão
que lhe tenha apreciado o mérito (art. 485, III). E a colusão pode ser alegada tanto pelo terceiro
juridicamente interessado, como pelo Ministério Público (art. 487, II e III, b).

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Apreciação das provas:
Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do
processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias (art. 130). O juiz apreciará
livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados
pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento (art.
131).

Princípio da identidade física do juiz:


Segundo este princípio, estabelecido no art. 132 do Código de Processo Civil, o juiz que colheu a
prova oral em audiência deverá julgar a lide, mas existem certas exceções nos casos que estiver
convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, sendo que nestas
hipóteses, os autos serão passados ao seu sucessor. Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a
sentença, se entender necessário, poderá mandar repetir as provas já produzidas.

Responsabilidade do juiz:
Responderá por perdas e danos o juiz, quando:
ƒ no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;
ƒ recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a
requerimento da parte (esta hipótese somente será verificada depois que a parte, por intermédio
do escrivão, requerer ao juiz que determine a providência e este não lhe atender o pedido
dentro de 10 dias).

Os auxiliares da justiça
Noções iniciais:
São auxiliares da justiça, além de outros, cujas atribuições são determinadas pelas normas de
organização judiciária, o escrivão, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador e o
intérprete.

O escrivão:
O escrivão é o auxiliar de juízo cujas atribuições são determinadas pelas normas de organização
judiciária; ele dá andamento ao processo e é responsável pela documentação de todos os atos que
surgem no seu decurso. No impedimento do escrivão, o juiz convocará um substituto, e, não o
havendo, nomeará pessoa idônea para o ato. É função do escrivão:
ƒ redigir, em forma legal, os ofícios, mandados, cartas precatórias e mais atos que pertencem ao
seu ofício;
ƒ executar as ordens judiciais, promovendo citações e intimações, bem como praticando todos os
demais atos, que lhe forem atribuídos pelas normas de organização judiciária;
ƒ comparecer às audiências, ou, não podendo fazê-lo, designar para substituí-lo escrevente
juramentado, de preferência datilógrafo ou taquígrafo;
ƒ ter, sob sua guarda e responsabilidade, os autos, não permitindo que saiam de cartório, exceto:
a) quando tenham de subir à conclusão do juiz;
b) com vista aos procuradores, ao Ministério Público ou à Fazenda Pública;
c) quando devam ser remetidos ao contador ou ao partidor;
d) quando, modificando-se a competência, forem transferidos a outro juízo;

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ƒ dar, independentemente de despacho, certidão de qualquer ato ou termo do processo,
observando os casos dos processos que correm em segredo de justiça.

O oficial de justiça:
Em cada juízo haverá um ou mais oficiais de justiça, cujas atribuições são determinadas pelas normas
de organização judiciária. Incumbe ao oficial de justiça:
ƒ Fazer pessoalmente as citações, prisões, penhoras, arrestos e mais diligências próprias do seu
ofício, certificando no mandado o ocorrido, com menção de lugar, dia e hora. A diligência,
sempre que possível, realizar-se-á na presença de duas testemunhas.
ƒ Executar as ordens do juiz a que estiver subordinado.
ƒ Entregar, em cartório, o mandado, logo depois de cumprido.
ƒ Estar presente às audiências e coadjuvar o juiz na manutenção da ordem.
ƒ Efetuar avaliações.

O escrivão e o oficial de justiça são civilmente responsáveis quando, sem justo motivo, se
recusarem a cumprir, dentro do prazo, os atos que lhes impõe a lei, ou os que o juiz, a que
estão subordinados, lhes comete; ou quando praticarem ato nulo com dolo ou culpa.

O perito:
Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por um
perito escolhido entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe
competente, mas nas localidades onde não houver profissionais qualificados, a indicação dos peritos
será de livre escolha do juiz. O perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que lhe assina a lei,
empregando toda a sua diligência; pode, todavia, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. O
perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas, responderá pelos prejuízos que causar
à parte, ficará inabilitado, por dois anos, a funcionar em outras perícias e incorrerá na sanção que a
lei penal estabelecer.

O depositário e o administrador:
A guarda e conservação de bens penhorados, arrestados, sequestrados ou arrecadados serão confiadas
a depositário ou a administrador, não dispondo a lei de outro modo. O depositário ou administrador
receberá, por seu trabalho, remuneração que o juiz fixará, atendendo à situação dos bens, ao tempo
do serviço e às dificuldades de sua execução. O depositário ou o administrador responde pelos
prejuízos que, por dolo ou culpa, causar à parte, perdendo a remuneração que lhe foi arbitrada; mas
tem o direito a haver o que legitimamente despendeu no exercício do encargo.

O intérprete:
O juiz nomeará intérprete toda vez que o repute necessário para analisar documento de entendimento
duvidoso, redigido em língua estrangeira ou traduzir para o português as declarações das partes e das
testemunhas que não conhecerem o idioma nacional. Ou ainda, traduzir a linguagem mímica dos
surdos-mudos, que não puderem transmitir a sua vontade por escrito. Não pode ser intérprete quem
não tiver a livre administração dos seus bens, for arrolado como testemunha, servir como perito no
processo ou estiver inabilitado ao exercício da profissão por sentença penal condenatória, enquanto
durar o seu efeito. O intérprete, oficial ou não, é obrigado a prestar o seu ofício, mas assim como o
perito, é responsável pelas suas informações.

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O Ministério Público
Noções iniciais:
O Ministério Público é um órgão que atua junto ao Poder Judiciário, para velar pela observância da
lei e promover a defesa dos interesses públicos. Atuação do Ministério Público no processo civil
pode ser como parte ou fiscal da lei.

O órgão do Ministério Público será civilmente responsável quando, no exercício de suas


funções, proceder com dolo ou fraude.

01 Ministério Público como órgão agente (parte):


O Ministério Público atua como parte nos casos expressos em lei. O Ministério Público é por
exemplo, titular na ação civil pública, na ação de nulidade de casamento em virtude de
bigamia ou na ação de extinção de fundação. Como agente, pode também o Ministério
Público funcionar na qualidade de substituto processual, pleiteando, em nome próprio, direito
alheio, como na ação civil para reparação de dano decorrente de ato criminoso (CPP, art. 68).
Na essência, o Ministério Público agente é sempre substituto processual, pois, mesmo quando
titular da ação, defende interesse coletivo e não próprio.

02 Ministério Público como órgão interveniente (fiscal da lei):


A forma mais característica de atuação do Ministério Público é como órgão interneviente, na
qualidade de fiscal da lei (custos legis). Nessa qualidade compete ao Ministério Público
intervir nas causas em que há interesses de incapazes, nas causas concernentes ao estado da
pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e
disposições de última vontade, bem como nas ações que envolvam litígios coletivos pela
posse da terra rural e nas demais causas em que há interesse público evidenciado pela
natureza da lide ou qualidade da parte (CPC, art. 82). O interesse público defendido pelo
Ministério Público refere-se ao bem comum, sem vinculação necessária a quaisquer entidades
ou pessoas de direito público. É nulo o processo, quando o Ministério Público não for
intimado a acompanhar o feito em que deva intervir (art. 246). Basta, porém, a intimação
formal, não sendo causa de nulidade a ausência de manifestação efetiva. Intervindo como
fiscal da lei, o Ministério Público terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado de
todos os atos do processo e poderá juntar documentos e certidões, produzir prova em
audiência e requerer medidas ou diligências necessárias ao descobrimento da verdade.

O Ministério Público e a Jurisdição Voluntária:


O art. 1.105 do CPC diz que nos pedidos de jurisdição voluntária serão citados todos os
interessados, bem como o Ministério Público, sob pena de nulidade.

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O advogado
Noções:
O advogado é o jurista que servindo à justiça, aconselha, auxilia e representa as partes em juízo. O
advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações
no exercício da profissão e nos limites da lei (art. 133 da CF). Via de regra, a parte só pode ingressar
em juízo através de um advogado habilitado. Ser-lhe-á lícito, no entanto, postular em causa própria,
quando tiver habilitação legal ou, não a tendo, no caso de falta de advogado no lugar ou recusa ou
impedimento dos que houver. Ao advogado é atribuído uma série de direitos e deveres constantes no
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.

Impedimentos e suspeição
Noções:
Para resguardar a imparcialidade da prestação jurisdicional, existem certas circunstâncias que
impedem que o magistrado atue em determinado processo, como parentesco ou amizade com uma
das partes, possibilidade de proveito próprio além de outras. Na doutrina considera-se o impedimento
como mais grave do que a suspeição. O impedimento seria um vício insanável, de ordem objetiva e
pública, ao passo que a suspeição seria subjetiva e pessoal. Por exemplo, o parentesco com uma das
partes é impedimento e a amizade íntima, uma suspeição. O impedimento pode ser conhecido de
ofício pelo tribunal, o que não ocorre com a suspeição, que necessita da provocação da parte. Mas
talvez a principal diferença entre a suspeição e o impedimento está em que a sentença transitada em
julgado pode ser rescindida, se o juiz estava impedido (art. 485, II), o que não ocorre se ele era
apenas suspeito. No procedimento sumaríssimo, as exceções podem ser apresentadas na própria
audiência, ou em qualquer dia anterior.

Aplicam-se os motivos de impedimento e suspeição aos juízes de todos os tribunais. O juiz


que violar o dever de abstenção, ou não se declarar suspeito, poderá ser recusado por qualquer
das partes (art. 304). Aplicam-se também os motivos de impedimento e de suspeição ao órgão
do Ministério Público, ao serventuário de justiça, ao perito e ao intérprete.

Momento da arguição de impedimento ou suspeição:


A suspeição fica superada se não for alegada em tempo, enquanto que o impedimento não sofre
preclusão, podendo ser levantado a qualquer tempo. O excipiente deverá arguir o impedimento ou a
suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que lhe
couber falar nos autos. O juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão da causa,
ouvindo o arguido no prazo de cinco dias, facultando a prova quando necessária e julgando o pedido.
Nos tribunais caberá ao relator processar e julgar o incidente.

Excipiente Œ Aquele que opõe uma exceção (neste caso, impedimento ou suspeição).

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Casos de impedimento:
É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário:
ƒ de que for parte;
ƒ em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do
Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha;
ƒ que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão;
ƒ quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente
seu, consanguíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau (o
impedimento só se verifica quando o advogado já estava exercendo o patrocínio da causa; é, porém,
vedado ao advogado pleitear no processo, a fim de criar o impedimento do juiz);
ƒ quando cônjuge, parente, consanguíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na
colateral, até o terceiro grau;
ƒ quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.

Quando dois ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta e no
segundo grau na linha colateral, o primeiro, que conhecer da causa no tribunal, impede que o
outro participe do julgamento; caso em que o segundo se escusará, remetendo o processo ao
seu substituto legal.

Casos de suspeição:
Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando:
ƒ amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;
ƒ alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes, em
linha reta ou na colateral até o terceiro grau;
ƒ herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;
ƒ receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes acerca do
objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas do litígio;
ƒ interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.

Quando o órgão do Ministério Público estiver atuando como fiscal da lei aplicam-se todos os
motivos de impedimento e de suspeição, porém, quando o órgão do Ministério Público for
parte, aplicam-se apenas as primeiras quatro hipóteses de suspeição.

Além da hipóteses previstas, poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.

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Questões de Concursos

Nas questões a seguir, assinale a alternativa que julgue correta.

01 - (Procurador/GO ‐ 2006) São princípios da jurisdição:


( ) a) juiz natural, ampla defesa, investidura;
( ) b) investidura, juiz natural, contraditório;
( ) c) juiz natural, improrrogabilidade, indeclinabilidade;
( ) d) juiz natural, investidura, fundamentação das decisões.

02 - (Procurador/S. Paulo ‐ 2002) No que tange à jurisdição contenciosa e voluntária,


( ) a) o objeto da jurisdição voluntária é um conflito de interesses entre as partes, assumindo
um caráter repressivo.
( ) b) a jurisdição contenciosa presta-se à formação de atos e negócios jurídicos, tendo
função constitutiva.
( ) c) na jurisdição voluntária, o juiz intervém necessariamente para a consecução dos
objetivos dos titulares dos interesses, sem caráter substitutivo.
( ) d) enquanto a jurisdição voluntária se traduz em uma maneira de atuação do direito
objetivo, a contenciosa tem o fim de realização de determinados interesses públicos.
( ) e) tanto a jurisdição contenciosa como a voluntária produzem coisa julgada material.

03 - A colusão:
( ) a) implica necessariamente na imposição pelo Juiz, ao sentenciar, da pena de litigante de
má-fé (artigos 16 a 19 do Código de Processo Civil);
( ) b) seu reconhecimento só pode ocorrer quando decidido o processo pelo mérito;
( ) c) pode ser suscitada por terceiro juridicamente interessado;
( ) d) não é temática pertinente ao Processo Civil, e sim ao Direito Civil e, de modo geral, a
normas de direito material.

04 - Sobre jurisdição, analise os itens a seguir:


I – A jurisdição civil contenciosa é exercida pelos juízes. A jurisdição civil voluntária
também pode ser exercida pelos promotores e tabeliães.
II – A tutela jurisdicional civil será prestada pelo juiz, de ofício, independentemente de
requerimento da parte ou interessado, quando envolver interesse público relevante.
III – O Poder Judiciário exerce a jurisdição quando organiza os seus próprios serviços.
IV – Quando a administração pública anula ou revoga ato administrativo, por ilegalidade
ou interesse público, também está exercendo a jurisdição sobre seus atos.
V – A jurisdição, como as demais funções do Estado, é delegável.
( ) a) Todos os itens estão corretos.
( ) b) Somente os itens I, II e III estão corretos.
( ) c) Somente os itens IV e V estão corretos.
( ) d) Somente os itens I, III e V estão corretos.
( ) e) Nenhum dos itens está correto.

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05 - É defeso (hipótese de impedimento) ao promotor de justiça, oficiando como custos legis,
exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário:
( ) a) em que for amigo íntimo de qualquer das partes;
( ) b) em que for parente, ainda que afim, de alguma das partes;
( ) c) em que alguma das partes for credora de seu cônjuge;
( ) d) quando tiver aconselhado alguma das partes acerca do objeto da causa;
( ) e) quando empregador de alguma das partes.

06 - A expressão justiça comum ou ordinária:


( ) a) abrange a justiça comum dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, incluída a
justiça federal;
( ) b) refere-se apenas à justiça estadual;
( ) c) refere-se apenas à justiça federal;
( ) d) é aquela que só julga os processos comuns de rito ordinário.

07 - Os procedimentos de interdição e de separação consensual são exemplos de


( ) a) jurisdição voluntária.
( ) b) jurisdição contenciosa.
( ) c) ação ordinária.
( ) d) ação sumária.

08 - Assinale a alternativa correta quanto à jurisdição voluntária e contenciosa.


( ) a) Na jurisdição voluntária não existem partes litigantes, mas interessados em um
conflito de interesses.
( ) b) Na jurisdição contenciosa ocorre a homologação da vontade dos interessados através
de uma sentença de mérito.
( ) c) Na jurisdição voluntária há uma função jurisdicional atribuída ao juiz para a solução
da lide.
( ) d) Na jurisdição voluntária não existe uma sentença de mérito, mas uma simples
homologação de um acordo de vontades.

09 - Incumbe ao oficial de justiça:


( ) a) fazer pessoalmente, ou por intermédio de outrem, as citações, prisões, penhoras,
arrestos;
( ) b) certificar o ocorrido por ocasião do cumprimento das diligências próprias do seu
ofício, com menção de hora e lugar, com a assinatura de duas testemunhas;
( ) c) executar as ordens dos juízes da primeira instância;
( ) d) entregar, em cartório, o mandado, logo depois de cumprido;
( ) e) manter, privativamente, a ordem durante as audiências, às quais deve estar presente.

10 - O juiz não está impedido para exercer suas funções no processo contencioso ou voluntário
( ) a) em que funcionou como órgão do Ministério Público;
( ) b) que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão;
( ) c) quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa;
( ) d) quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;
( ) e) quando for parente consanguíneo, de alguma das partes, em linha colateral até o
terceiro grau.

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Gabarito

01.C 02.C 03.C 04.E 05.B 06.A 07.A 08.D 09.D 10.D

Bibliografia

„ DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO „ PRIMEIRAS LINHAS DE DIR. PROCESSUAL


Greco, Vicente CIVIL
Saraiva Santos, Moacyr Amaral
Saraiva

„ TEORIA GERAL DO PROCESSO


Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini
Grinover e Cândido R. Dinamarco
Revista dos Tribunais

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02 – A Jurisdição

Atualizada em 10.06.2012

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