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02 A Jurisdição
02.1 – Introdução
Noções gerais
Noções iniciais:
O termo “jurisdição” é proveniente do latim – juris dictio (dizer o direito) – e representa atualmente
uma das funções do Estado, através da qual busca-se uma solução imparcial e justa para os conflitos
que envolvem titulares de interesses distintos. A jurisdição é ao mesmo tempo:
poder: manifestação do poder estatal, conceituado como capacidade de decidir
imperativamente, impondo suas decisões;
função: expressa o encargo que têm os órgãos estatais de promover a pacificação de conflitos
interindividuais, mediante a realização do direito justo e através do processo;
atividade: complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que
a lei lhe compete.
Características da jurisdição:
A jurisdição tem como uma de suas características a substitutividade (ou função substitutiva), pois
substitui a auto-tutela, ou seja, o exercício do direito realizado pelo próprio particular e desta deflui
também sua característica de ser uma função exclusivamente estatal. Outra característica ainda da
jurisdição é a inércia, o que significa dizer que a aplicação do direito material pelo órgão
jurisdicional só irá ocorrer após uma provocação das partes.
Classificação da jurisdição:
A jurisdição na verdade é una e indivisível, pois ela é única em si e nos seus fins, tão quanto o
próprio poder soberano. A doutrina, porém, classifica a jurisdição em espécies somente para efeito de
facilitar o entendimento da matéria. Na tabela a seguir, poderemos observar esta classificação.
Quanto à matéria • com base na natureza da causa (penal, civil, eleitoral, militar e trabalhista)
• com base no organismo jurisdicional (estadual ou federal)
Princípios da jurisdição
01 Investidura:
Pelo princípio da investidura, o Estado deverá atuar somente através de seus órgãos, ou seja,
a jurisdição só pode ser exercida por quem estiver legalmente investido nas funções
jurisdicionais.
02 Indeclinibilidade:
Pelo princípio da indeclinibilidade da função jurisdicional, não pode o magistrado recusar-se
a julgar quando validamente invocada a tutela jurisdicional.
03 Indelegabilidade:
Pelo princípio da indelegabilidade da jurisdição o magistrado deve exercer regularmente suas
funções, não podendo delegar suas atribuições. O órgão jurisdicional não pode transferir um
poder que foi investido nos termos da Constituição Federal. Contudo, existem exceções na
hipótese de realização de determinados atos de instrução, como no caso de precatórios.
04 Improrrogabilidade:
Pelo princípio da improrrogabilidade, a função jurisdicional só pode ser exercida dentro dos
limites estabelecidos pela lei.
05 Juiz natural:
Conforme o princípio do juiz natural, é garantida a prestação da tutela jurisdicional por um
órgão investido da função, ou seja, aquele que exerce a função jurisdicional deve estar
investido no poder de julgar. É vedada assim a instituição de tribunais de exceção.
Como vimos, a inércia é uma das características da jurisdição, mas alguns autores classificam-
na também como um dos seus princípios. Pelo princípio da inércia, a jurisdição não poderia
ser exercida de ofício pelos agentes investidos, dependendo sempre da provocação das partes.
Quadro comparativo
O juiz
Noções iniciais:
Ao juiz cabe poderes administrativos e poderes jurisdicionais. Os primeiros referem-se aos trabalhos
processuais, garantindo o seu bom andamento. Os segundos refletem nos atos necessários para o
julgamento do processo. No exercício do poder jurisdicional, o juiz decidirá a lide nos limites em que
foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a
iniciativa da parte e o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
Equidade A equidade é uma forma de aplicar o direito, mas sendo o mais próximo possível
do justo, do razoável. O fim do direito é a justiça, além de valores suplentes como a
liberdade e igualdade. Mas é difícil definir o "justo", pois pode existir na concepção de
quem ganhou a causa e não existir na de quem perdeu. É necessário um ideal de justiça
universal. Para isso existe a equidade. Ela consiste no estudo do caso em suas
peculiaridades, suas características próprias, consequentemente originando uma
decisão para aquele caso especificamente, aproximando-se ao máximo possível do justo
para as duas partes.
Deveres:
O juiz deverá dirigir o processo conforme as disposições do Código de Processo Civil, competindo-
lhe:
assegurar às partes igualdade de tratamento;
velar pela rápida solução do litígio;
prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da Justiça;
tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes.
Colusão:
Conforme o art. 129 do Código de Processo Civil, caso o juiz se convença, pelas circunstâncias da
causa, de que autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim
proibido por lei, proferirá sentença que obste aos objetivos das partes. É a chamada colusão das
partes. Por se tratar de matéria de ordem pública, equiparada à carência de ação por falta de interesse
de agir, quer por desnecessário, quer por inútil o provimento jurisdicional, o reconhecimento da
colusão pode ocorrer a qualquer tempo e grau de jurisdição, ensejando, inclusive, rescisão da decisão
que lhe tenha apreciado o mérito (art. 485, III). E a colusão pode ser alegada tanto pelo terceiro
juridicamente interessado, como pelo Ministério Público (art. 487, II e III, b).
Responsabilidade do juiz:
Responderá por perdas e danos o juiz, quando:
no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;
recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a
requerimento da parte (esta hipótese somente será verificada depois que a parte, por intermédio
do escrivão, requerer ao juiz que determine a providência e este não lhe atender o pedido
dentro de 10 dias).
Os auxiliares da justiça
Noções iniciais:
São auxiliares da justiça, além de outros, cujas atribuições são determinadas pelas normas de
organização judiciária, o escrivão, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador e o
intérprete.
O escrivão:
O escrivão é o auxiliar de juízo cujas atribuições são determinadas pelas normas de organização
judiciária; ele dá andamento ao processo e é responsável pela documentação de todos os atos que
surgem no seu decurso. No impedimento do escrivão, o juiz convocará um substituto, e, não o
havendo, nomeará pessoa idônea para o ato. É função do escrivão:
redigir, em forma legal, os ofícios, mandados, cartas precatórias e mais atos que pertencem ao
seu ofício;
executar as ordens judiciais, promovendo citações e intimações, bem como praticando todos os
demais atos, que lhe forem atribuídos pelas normas de organização judiciária;
comparecer às audiências, ou, não podendo fazê-lo, designar para substituí-lo escrevente
juramentado, de preferência datilógrafo ou taquígrafo;
ter, sob sua guarda e responsabilidade, os autos, não permitindo que saiam de cartório, exceto:
a) quando tenham de subir à conclusão do juiz;
b) com vista aos procuradores, ao Ministério Público ou à Fazenda Pública;
c) quando devam ser remetidos ao contador ou ao partidor;
d) quando, modificando-se a competência, forem transferidos a outro juízo;
O oficial de justiça:
Em cada juízo haverá um ou mais oficiais de justiça, cujas atribuições são determinadas pelas normas
de organização judiciária. Incumbe ao oficial de justiça:
Fazer pessoalmente as citações, prisões, penhoras, arrestos e mais diligências próprias do seu
ofício, certificando no mandado o ocorrido, com menção de lugar, dia e hora. A diligência,
sempre que possível, realizar-se-á na presença de duas testemunhas.
Executar as ordens do juiz a que estiver subordinado.
Entregar, em cartório, o mandado, logo depois de cumprido.
Estar presente às audiências e coadjuvar o juiz na manutenção da ordem.
Efetuar avaliações.
O escrivão e o oficial de justiça são civilmente responsáveis quando, sem justo motivo, se
recusarem a cumprir, dentro do prazo, os atos que lhes impõe a lei, ou os que o juiz, a que
estão subordinados, lhes comete; ou quando praticarem ato nulo com dolo ou culpa.
O perito:
Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por um
perito escolhido entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe
competente, mas nas localidades onde não houver profissionais qualificados, a indicação dos peritos
será de livre escolha do juiz. O perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que lhe assina a lei,
empregando toda a sua diligência; pode, todavia, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. O
perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas, responderá pelos prejuízos que causar
à parte, ficará inabilitado, por dois anos, a funcionar em outras perícias e incorrerá na sanção que a
lei penal estabelecer.
O depositário e o administrador:
A guarda e conservação de bens penhorados, arrestados, sequestrados ou arrecadados serão confiadas
a depositário ou a administrador, não dispondo a lei de outro modo. O depositário ou administrador
receberá, por seu trabalho, remuneração que o juiz fixará, atendendo à situação dos bens, ao tempo
do serviço e às dificuldades de sua execução. O depositário ou o administrador responde pelos
prejuízos que, por dolo ou culpa, causar à parte, perdendo a remuneração que lhe foi arbitrada; mas
tem o direito a haver o que legitimamente despendeu no exercício do encargo.
O intérprete:
O juiz nomeará intérprete toda vez que o repute necessário para analisar documento de entendimento
duvidoso, redigido em língua estrangeira ou traduzir para o português as declarações das partes e das
testemunhas que não conhecerem o idioma nacional. Ou ainda, traduzir a linguagem mímica dos
surdos-mudos, que não puderem transmitir a sua vontade por escrito. Não pode ser intérprete quem
não tiver a livre administração dos seus bens, for arrolado como testemunha, servir como perito no
processo ou estiver inabilitado ao exercício da profissão por sentença penal condenatória, enquanto
durar o seu efeito. O intérprete, oficial ou não, é obrigado a prestar o seu ofício, mas assim como o
perito, é responsável pelas suas informações.
Impedimentos e suspeição
Noções:
Para resguardar a imparcialidade da prestação jurisdicional, existem certas circunstâncias que
impedem que o magistrado atue em determinado processo, como parentesco ou amizade com uma
das partes, possibilidade de proveito próprio além de outras. Na doutrina considera-se o impedimento
como mais grave do que a suspeição. O impedimento seria um vício insanável, de ordem objetiva e
pública, ao passo que a suspeição seria subjetiva e pessoal. Por exemplo, o parentesco com uma das
partes é impedimento e a amizade íntima, uma suspeição. O impedimento pode ser conhecido de
ofício pelo tribunal, o que não ocorre com a suspeição, que necessita da provocação da parte. Mas
talvez a principal diferença entre a suspeição e o impedimento está em que a sentença transitada em
julgado pode ser rescindida, se o juiz estava impedido (art. 485, II), o que não ocorre se ele era
apenas suspeito. No procedimento sumaríssimo, as exceções podem ser apresentadas na própria
audiência, ou em qualquer dia anterior.
Excipiente Aquele que opõe uma exceção (neste caso, impedimento ou suspeição).
Quando dois ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta e no
segundo grau na linha colateral, o primeiro, que conhecer da causa no tribunal, impede que o
outro participe do julgamento; caso em que o segundo se escusará, remetendo o processo ao
seu substituto legal.
Casos de suspeição:
Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando:
amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;
alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes, em
linha reta ou na colateral até o terceiro grau;
herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;
receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes acerca do
objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas do litígio;
interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.
Quando o órgão do Ministério Público estiver atuando como fiscal da lei aplicam-se todos os
motivos de impedimento e de suspeição, porém, quando o órgão do Ministério Público for
parte, aplicam-se apenas as primeiras quatro hipóteses de suspeição.
Além da hipóteses previstas, poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.
03 - A colusão:
( ) a) implica necessariamente na imposição pelo Juiz, ao sentenciar, da pena de litigante de
má-fé (artigos 16 a 19 do Código de Processo Civil);
( ) b) seu reconhecimento só pode ocorrer quando decidido o processo pelo mérito;
( ) c) pode ser suscitada por terceiro juridicamente interessado;
( ) d) não é temática pertinente ao Processo Civil, e sim ao Direito Civil e, de modo geral, a
normas de direito material.
10 - O juiz não está impedido para exercer suas funções no processo contencioso ou voluntário
( ) a) em que funcionou como órgão do Ministério Público;
( ) b) que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão;
( ) c) quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa;
( ) d) quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;
( ) e) quando for parente consanguíneo, de alguma das partes, em linha colateral até o
terceiro grau.
01.C 02.C 03.C 04.E 05.B 06.A 07.A 08.D 09.D 10.D
Bibliografia
Atualizada em 10.06.2012