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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

O Geo-Radar e a Refracção Tomográfica na Investigação das


Causas de um Acidente Ferroviário – Um Caso de Estudo
Carvalho, Jorge M. C. M., DSc
FEUP- DEM/CIGAR, Porto, Portugal, jorcarv@fe.up.pt

Cavalheiro, Abílio A. T., DSc


FEUP-DEM/CIGAR, Porto, Portugal, acav@fe.up.pt

RESUMO: Na sequência de um descarrilamento de comboio ocorrido na linha do Tua, na região


nordeste de Portugal, foi desenvolvido pelo Centro de Saber da Ferrovia, da Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto, CSF-FEUP, para o Ministério das Obras Públicas,
Transportes e Comunicações, um extenso conjunto de trabalhos com o objectivo de serem
determinadas as causas do acidente. Neste artigo são descritos os ensaios e as interpretações obtidas
com base na investigação geofísica realizada na zona envolvente do referido acidente,
nomeadamente recorrendo ao método electromagnético do geo-radar, GPR, e ao método sísmico de
refracção tomográfica por ondas de compressão, P, e de corte, S. Os perfis de radar e sísmicos,
realizados longitudinalmente sobre o maciço e aterro que suportam a linha férrea, teve como
objectivo prioritário a identificação e caracterização das condições do maciço, eventualmente
relacionadas com a mencionada ocorrência. Com base nos resultados obtidos através dos dois
reconhecimentos geofísicos efectuados, pode concluir-se que no terreno de suporte da via férrea, na
zona do acidente, a variabilidade espacial das grandezas geofísicas envolvidas, assim como a dos
correspondentes parâmetros geo-mecânicos delas derivados, são compatíveis e muito
provavelmente estão relacionadas com o empeno da ferrovia, observado na zona do acidente.

PALAVRAS-CHAVE: Geo-radar, Refracção Sísmica Tomográfica, Balastro.

1 INTRODUÇÃO No referido contexto, foi utilizado


equipamento da FEUP-DEM e do Centro de
No âmbito das acções de averiguação sobre as Investigação em Geo-Ambiente e Recursos,
causas do descarrilamento de um comboio, CIGAR, na realização dos seguintes
ocorrido em Agosto de 2008, na linha do Tua, o reconhecimentos: 19 perfis GPR com diferentes
Departamento de Engenharia de Minas da comprimentos, realizados longitudinalmente
FEUP, DEM-FEUP, desenvolveu um trabalho sobre o maciço e aterro que suportam a via-
de reconhecimento geofísico na zona férrea, lateralmente e no interior dos carris e 2
envolvente do referido descarrilamento. Optou- perfis de refracção sísmica, por ondas P e S,
se inicialmente pelo método electromagnético ambos com 36m de comprimento, na zona onde
do geo-radar, GPR, complementado se localizava um empeno da via, considerado
posteriormente pelo método sísmico da como uma das prováveis causas do
refracção tomográfica. O reconhecimento descarrilamento.
geofísico teve como objectivo prioritário a
detecção de condições do maciço, ao longo da
linha férrea, eventualmente relacionadas com a 2 ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO
mencionada ocorrência, nomeadamente as
decorrentes da abertura recente de uma vala, ao A geologia do local em estudo está marcada
longo da linha férrea, para instalação de cabos pela proximidade de um contacto geológico
de fibra óptica. entre litologias metassedimentares de baixo
grau metamórfico, Formação da Desejosa,

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composta por alternâncias finas de filitos e 3 LOCALIZAÇÃO DOS TRABALHOS


metagrauvaques, e um corpo granítico intrusivo
nesses metassedimentos, composto por um Na zona do acidente, a linha férrea está assente
granito de duas micas, grão grosseiro. sobre um aterro, de forma a ser ultrapassado um
Estrutura regional – Os metassedimentos do pequeno vale de uma linha de água que aflui ao
Grupo do Douro e a sequência do Paleozóico rio Tua. Nesse local, para a passagem da água
Inferior que lhe é sobrejacente, estão afectados sob o aterro, há uma conduta em alvenaria de
pela deformação polifásica varisca. Há geração granito, com cerca de 2m de largura e 3m de
de estruturação penetrativa acompanhada de altura máxima.
recristalização metamórfica que, regra geral, Na figura 1, as fotos I e II mostram,
origina o aparecimento de uma clivagem respectivamente, a curva onde se verificou o
xistenta nos metassedimentos de baixo grau e descarrilamento e a automotora descarrilada.
de uma xistosidade, em graus metamórficos
mais elevados. Há também a registar a
fracturação e falhamentos tardi-variscos que, na
região podem assumir, localmente, grande
intensidade. No que respeita à estrutura varisca,
o local em estudo situa-se no flanco normal de
uma macrodobra regional de 1ª fase, à qual se
sobrepõem os efeitos homoaxiais da I II
deformação de 3ª fase que, dada a proximidade
dos corpos graníticos pode ser bastante intensa. Figura 1. Foto I: curva do descarrilamento; foto II:
automotora acidentada.
Em termos de estruturas aflorantes, esta
situação macro-estrutural, está representada por
No canto superior direito da imagem do
uma clivagem de 1ª fase, muito inclinada a sub-
Google Earth, figura 2, vê-se o apeadeiro de
vertical e direcção WNW-ESE. A estratificação,
Brunheda e, no local assinalado, a zona do
sempre que visível, tem menor inclinação que a
descarrilamento.
referida clivagem xistenta e inclina para NE. A
estruturação penetrativa sub-vertical pode estar
acentuada por uma clivagem de 3ª fase, também
ela sub-vertical e de orientação WNW-ESE.
No que respeita à deformação frágil tardi-
varisca, ela está representada por diaclasamento
e falhamentos. O primeiro é, em geral, mais
intenso na proximidade das principais falhas
regionais. A direcção dominante das estruturas
frágeis é NE-SW (abundam as falhas sub-
verticais com direcção próxima de N30ºE).
Com menor frequência surgem também
falhas NW-SE e N-S. O diaclasamento tem o
mesmo padrão de orientações e intensidade
espacial muito heterogénea. Estas orientações
de fracturação podem ser observadas
localmente e, deve ser salientado, que o troço
do rio Tua no local em estudo parece estar
Figura 2. Imagem do Google Earth: apeadeiro de
condicionado por um extensa estrutura falhada Brunheda e local do descarrilamento assinalado.
de direcção NE-SW que, mais a Norte, está
marcada por preenchimentos filoneanos.

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4 O MÉTODO ELECTROMAGNÉTICO 4.2 Perfis e Respectivos Radargramas


GEO-RADAR, GPR
Ao longo da linha férrea, nas imediações do
Basicamente, o geo-radar, GPR, é um método acidente, pelo exterior e interior dos carris,
electromagnético, EM, de registo e aquisição de foram realizados 19 perfis GPR, 001 a 019, aos
informação do subsolo, próximo da superfície. quais correspondem os respectivos radargramas.
É um método activo, de emissão e recepção Seguidamente são apresentados e
de impulsos EM, a partir de antenas de comentados alguns dos radargramas obtidos,
superfície ou em furos de sondagem, com com e sem processamento.
aplicação em diversos domínios,
nomeadamente, da engenharia geotécnica, do 4.3 Sector do Descarrilamento
geo-ambiente, forense e arqueológico. No
domínio da engenharia, entre outras aplicações Perfis realizados no sector do descarrilamento,
específicas, é especialmente adequado para a no sentido N-S:
detecção de vazios, mapeamento da - 003 e 012 (sobre tábuas): pelo lado esquerdo
estratificação do subsolo e duma forma geral de da linha. Figura 3, foto I, local do início.
interfaces entre materiais com propriedades EM - 005 e 006: pelo lado direito da linha. Figura 3,
suficientemente contrastantes. Estas foto II, local do início.
propriedades condicionam, em larga medida, a - 010: pelo interior dos carris, sobre tábuas.
atenuação e a velocidade de propagação dos Perfis realizados no sector do
impulsos EM. descarrilamento, no sentido S-N:
A frequência central da antena emissora e o - 007 e 013: pelo interior dos carris.
teor em água dos solos são factores
determinantes na resolução conseguida e na
profundidade atingida.
A medição do tempo total de percurso dos
impulsos EM, transmissões e reflexões, e a
estimativa das respectivas velocidades de
propagação, permite estimar a profundidade das
estruturas/interfaces detectadas. I II
Os trens de ondas EM reflectidas e recebidas
na antena receptora ao longo dos perfis/linhas Figura 3. Início dos perfis 003 e 012 (I) e 005 e 006 (II).
de aquisição de dados, são digitalizados e
registados sob a forma de sequências 2D de Na figura 4, mostra-se a parte mais
traços individuais, designados radargramas. A superficial das secções centrais, entre os 12 m e
subsequente interpretação poderá ser realizada a os 40 m, dos radargramas 003 e 010.
partir dos radargramas tal e qual, ou após
aplicação de diversas técnicas de visualização e
processamento, nomeadamente recorrendo à
criação de blocos 3D e respectivas secções.

4.1 Equipamento e Software GPR

O trabalho de aquisição, visualização e


tratamento de dados foi realizado utilizando o
seguinte equipamento e software: sistema SIR-
3000, da GSSI; antena blindada com frequência Figura 4. Secções centrais, parte mais superficial, dos
radargramas 003 e 010.
central de 270 MHz; carrinho de transporte do
equipamento com leitura automática de
Nos radargramas da figura 4, as reflexões
distâncias; software Radan da GSSI e Reflexw
localizadas às profundidades aparentes,
de K. J. Sandmeier.
respectivamente, de cerca de 1,25m e 1,5m,

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interpretam-se como correspondendo à base do


leito de assentamento do balastro. Explica-se
esta diferença pelo facto do perfil 010 ter sido
realizado pelo eixo da via, a uma cota um pouco
superior à do perfil 003, realizado pelo exterior
dos carris.
Tanto segundo a direcção horizontal como
vertical, notam-se alterações do sinal,
provavelmente relacionadas com o estado de Figura 6. Parte mais superficial das secções, inicial e
conservação do balastro e leito subjacente. final, do radargrama 010.
Observa-se, nomeadamente na secção do
radargrama 010, sinais de um provável
afundamento do balastro, à profundidade 5 O MÉTODO SÍSMICO DA REFRACÇÃO
aparente de cerca de 0,85m, no início da secção TOMOGRÁFICA
central.
Na figura 5, apresenta-se a totalidade do O método da refracção sísmica baseia-se na
radargrama 010, sendo interpretadas, de cima geração de ondas sísmicas à superfície do
para baixo, as seguintes interfaces: terreno e no seu registo em diferentes locais
balastro/leito (linha verde), e leito/terreno alinhados, também à superfície, após se terem
subjacente (linha azul). propagado no interior do maciço e se terem
Na zona central do perfil é bem visível o refractado em interfaces de meios com
referido suposto afundamento, interpretado velocidades de propagação diferentes e
como correspondendo à interface base do suficientemente contrastantes.
balastro/leito (linha verde). Este efeito estará, A geração e registo das ondas sísmicas
muito provavelmente, relacionado com um realiza-se ao longo de perfis lineares,
abatimento/assentamento da superfície do materializados por uma fonte sísmica e por um
terreno, nessa zona. conjunto de transdutores de velocidade,
designados geofones, colocados no solo a
intervalos regulares. A geração das ondas
sísmicas, de compressão, P, ou de corte, S,
verifica-se em diferentes pontos ao longo do
referido alinhamento.
Com base nos tempos de propagação das
ondas sísmicas, entre os pontos de geração e de
recepção, obtém-se, após interpretação, um
modelo da distribuição espacial de velocidades
no subsolo.
No caso da refracção convencional, o
Figura 5. Radargrama 003 e secção interpretativa.
modelo sísmico consiste na identificação e
mapeamento de um conjunto de
Na figura 6, mostra-se a parte mais
refractores/interfaces separando estratos com
superficial das secções, inicial 0-28m (em cima)
velocidades crescentes de propagação das ondas
e final 28-52m (em baixo), do radargrama 010.
sísmicas. No caso da refracção tomográfica, o
A linha a castanho, assinala a suposta
modelo consiste numa distribuição espacial,
interface balastro/leito. É visível, na zona
bidimensional, de velocidades de propagação,
central do perfil, último terço da secção inicial e
obtida por técnicas de inversão tomográfica.
primeiro terço da final, entre 24m e 28m, um
O método sísmico da refracção tem
maior afundamento da interface, que aí atinge
aplicação em diversos domínios,
uma profundidade aparente cerca de 0,25m,
nomeadamente, engenharia de minas e civil,
superior ao início e fim.
geo-ambiente, etc.

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No domínio da engenharia, entre outras 5.1 Perfis e Respectivas Secções Sísmicas


aplicações específicas, é especialmente
adequado para a detecção de interfaces entre Na figura 8: dromocrónicas relativas às ondas
materiais com velocidades de propagação S, representadas na tradicional forma de
suficientemente contrastantes. diagrama T-X, abcissa - espaço (m), ordenada -
Na sua variante tomográfica e com tempo (ms), interpretadas a partir dos sete
informação relativa às ondas P e S, é possível sismogramas correspondentes.
converter o mapeamento das respectivas
velocidades de propagação em cartas das
distribuições dos módulos dinâmicos delas
derivados, nomeadamente do módulo de
rigidez, G0, do coeficiente de Poisson, ν, e do
módulo de elasticidade, E. Figura 8. Dromocrónicas - ondas S.

5.1 Equipamento e Software Figura 9: resultado baseado na interpretação


dos dados da figura 8 e de um modelo
O trabalho de aquisição, visualização e discretizado em células quadradas de 0,5 m de
tratamento de dados foi realizado utilizando o lado, após se ter procedido à inversão
seguinte equipamento/software: sismógrafo tomográfica pelo algoritmo SIRT do programa
Smartseis de 12 canais da Geometrics; Reflexw.
conjuntos de geofones verticais e horizontais de
14 Hz; marreta com disparador; software
Reflexw de K. J. Sandmeier, para visualização e
processamento de sinais.
Na foto da figura 7 mostra-se o alinhamento
de um conjunto de geofones horizontais e a Figura 9. Secção tomográfica - velocidade das ondas S.
marreta/fonte sísmica.
A secção tomográfica da figura 9 evidencia
um crescimento médio em profundidade da
velocidade de propagação das ondas S, variando
entre 180 m/s e 490 m/s.
No início, lado esquerdo da secção, há uma
zona de velocidades mais altas, interpretadas
como correspondendo ao contacto do aterro
com o maciço de suporte, compatível com o
observado nos radargramas do mesmo local.
Identicamente, no final da secção, há também
uma aproximação da superfície da zona de
Figura 7. Geofones horizontais e marreta sísmica. maiores velocidades, embora de forma menos
contrastante.
Usou-se no presente trabalho uma geometria Figura 10: mapeamento das zonas de maior e
de aquisição com base em perfis de 36m, com menor confiança da secção tomográfica, com
sete pontos de geração de sinal, SP, colocados base na densidade de raios sísmicos nas
ao longo do perfil nas seguintes abcissas, em diferentes células de discretização do modelo.
metros: [7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29].
A geometria, para a aquisição das ondas P e
S, foi idêntica. Os perfis sísmicos foram
realizados na parte exterior da ferrovia, lado do
rio, e no patamar entre o balastro e o talude do Figura 10. Densidade de raios sísmicos - ondas S.
aterro, figura 7, no mesmo segmento do perfil
005 do GPR.

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Note-se que os cantos inferiores, direito e


esquerdo, da secção da figura 10, são de
densidade nula, pelo que as correspondentes
zonas da respectiva secção tomográfica não
devem ser consideradas representativas da Figura 13. Densidade de raios sísmicos - ondas P.
distribuição de velocidades no solo, assim como
dos respectivos módulos elásticos, adiante A comparação das secções tomográficas das
apresentados. ondas P e S, evidencia que na zona do acidente
Figura 11: dromocrónicas relativas às há um afundamento médio das interfaces entre
primeiras chegadas das ondas P, interpretadas a zonas de velocidade média crescente,
partir dos sete sismogramas correspondentes. compatível com uma hipótese de
heterogeneidade longitudinal no nível de
compactação do aterro ao longo da via, na zona
do acidente.

Figura 11. Dromocrónicas - ondas P. 6 MÓDULOS DINÂMICOS


Figura 12: resultado da inversão
tomográfica, baseada na interpretação dos Com base nos resultados obtidos anteriormente
resultados apresentados na figura 11 e de um para as ondas P e S, foi possível obter o
modelo discretizado em células quadradas de mapeamento dos módulos de rigidez, G0, e do
0,5 m de lado, após se ter procedido à inversão coeficiente de Poisson, ν, com base nas
tomográfica pelo algoritmo SIRT do programa seguintes relações :
Reflexw.
G 0 = ρVs
2
(1)

2
 VP  − 2
 Vs 
ν=   (2)
Figura 12. Secção tomográfica - velocidade das ondas P.  2

2VP  − 1
Vs 
Na secção tomográfica da figura 12,  
analogamente ao que se passava com as ondas
S, verifica-se haver um crescimento médio em VP - velocidade propagação ondas P (m/s);
profundidade da velocidade de propagação das VS - velocidade propagação ondas S (m/s);
ondas P, variando entre 200 m/s e 900 m/s. Nota: adoptou-se o peso volúmico determinado
Observa-se uma zona de velocidades mais através dos ensaios com gamadensímetro
altas, na zona de maior confiança do início da realizados no local, constante dos estudos
secção, lado esquerdo, interpretada igualmente descritos no relatório geotécnico, integrante do
como correspondendo ao contacto relatório final da CSF-FEUP.
aterro/maciço de suporte. No fim da secção, e Figura 14: com a expressão (1) obteve-se
também analogamente ao que se passava com uma matriz de valores do módulo de rigidez G0
as ondas S, há uma aproximação da superfície correspondente às células de discretização
da zona de velocidades mais elevadas. usadas no modelo de tomografia sísmica.
Figura 13: mapa da densidade de raios
sísmicos nas diferentes células de discretização
do modelo das ondas P, análoga à apresentada
anteriormente para o modelo das ondas S.

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a fim de investigar o local sob o ponto de vista


das suas características geo-mecânicas.
Os referidos reconhecimentos tiveram como
objectivos prioritários a identificação de
possíveis anomalias, no balastro (via geo-radar)
e/ou terreno de fundação (via tomografia
sísmica), que a existirem poderiam contribuir
para o esclarecimento das causas do acidente
Figura 14. Distribuição do módulo de rigidez, G0. ferroviário. Conforme foi referido, a linha
férrea nessa zona assenta na transição entre o
A distribuição do módulo de rigidez, figura patamar criado no maciço e um aterro sobre o
14, segue de perto a estrutura de variabilidade vale de uma linha de água afluente do rio Tua.
espacial da velocidade das ondas S, decorrente A análise comparativa dos radargramas
da expressão (1) utilizada para o seu cálculo. nessa zona, dos dois lados e pelo eixo da via,
Figura 15: distribuição do coeficiente de permitiu identificar heterogeneidades, tanto ao
Poisson, ν, obtido a partir da expressão (2) nível mais superficial do balastro, como aos
usando a mesma grelha de discretização. níveis correspondentes ao leito de suporte e
terreno subjacente.
Diferenças observadas na parte menos
superficial dos radargramas realizados pelo
exterior dos carris, nos patamares direito e
esquerdo, poderão estar relacionadas com
diferentes graus de compactação do maciço,
parecendo verificar-se uma melhor
estratificação/compactação no lado oposto ao
Figura 15. Distribuição do coeficiente de Poisson, ν. do descarrilamento.
Nos níveis mais superficiais dos mesmos
Na figura anterior observa-se que na zona do radargramas, observa-se uma maior
acidente, correspondente à metade esquerda da continuidade espacial no lado do
secção, o valor médio do coeficiente de Poisson descarrilamento, eventualmente relacionável
é menor que na outra metade. Na metade direita com a recente abertura de uma vala para
da mesma secção observa-se, da esquerda para colocação de fibra óptica. Também é visível,
a direita, uma tendência para um aumento dos nos radargramas correspondendo a perfis
valores dos coeficientes de Poisson em direcção realizados pelo eixo da via, na zona do
à superfície do terreno. descarrilamento, nomeadamente no radargrama
010, um aparente afundamento da base do
balastro provavelmente relacionado com um
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS assentamento da superfície do terreno nessa
zona. Por sua vez, o levantamento sísmico na
Para o reconhecimento geofísico da zona do zona do acidente, evidencia um afundamento
acidente foram usados dois métodos: dos estratos de menor velocidade.
electromagnético por geo-radar e sísmica de Na zona do terreno de suporte da ferrovia,
refracção, na sua variante tomográfica, quer antecedente ao local do descarrilamento, não
para ondas de compressão, P, como de corte, S. foram detectadas anomalias significativas por
Numa primeira fase fez-se um levantamento análise dos radargramas.
mais extenso por geo-radar, quer na zona do Também, através da análise das secções
acidente quer nas zonas limítrofes. Em face dos tomográficas das ondas S e P e das derivadas
resultados do geo-radar, entendeu-se secções do módulo de rigidez, G0, e do
conveniente realizar um reconhecimento coeficiente de Poisson, ν, se verifica a
complementar pelo método da refracção sísmica existência de heterogeneidades compatíveis
tomográfica, mais centrado na zona do acidente, com correspondentes heterogeneidades nas

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propriedades geo-mecânicas do terreno de


suporte da ferrovia na zona do acidente.
Em conclusão, com base nos resultados dos
dois reconhecimentos geofísicos efectuados,
quer pelo geo-radar quer pela tomografia
sísmica de superfície, pode-se afirmar que no
terreno de suporte da via férrea, na zona do
acidente, as estruturas de variabilidade espacial
das grandezas geofísicas envolvidas, assim
como a dos correspondentes parâmetros
geotécnicos delas derivados, são compatíveis e
estão muito provavelmente relacionadas com o
empeno da ferrovia, observado na zona do
acidente.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Prof. José Feliciano


Rodrigues a sua contribuição na caracterização
geológica, local e regional, da zona envolvida
neste estudo.

REFERÊNCIAS

CSF – FEUP (2009). Descarrilamento no Tua em 22 de


Agosto de 2008, Relatório Final, CSF – FEUP.

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