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262-279, setembro/2015
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2015v27n45p262
RESUMO
A Educação Física brasileira é controversa quanto aos seus conteúdos: ao mesmo tempo
em que se declaram diversas possibilidades de tematização, nota-se que aquelas que se
apresentam no cotidiano das aulas são retratos da área em décadas passadas. O estudo
tem o objetivo de relatar possibilidades de inclusão das Lutas nas aulas de Educação
Física para alunos do sexto ano do ensino fundamental a partir de jogos. Foi proposto
um percurso com quatro situações de aprendizagem em que se buscou a compreensão
e a experimentação dos princípios condicionais das Lutas e suas classificações por tipo
de contato e distância. Destacam-se as aprendizagens que permitiram a interconexão
entre o saber fazer e as razões do fazer nas diferentes situações-problema. Além disso,
esta experiência rompe com alguns paradigmas recorrentes, como a questão da violência
ou a necessidade de ser especialista em Lutas para abordá-las.
1 Especialista em Ética, Valores e Cidadania na Escola. Professor de Educação Física da Rede Municipal do Ensino
de São Paulo e da Rede Estadual de São Paulo. São Paulo/SP, Brasil. E-mail: raphael.gregory@hotmail.com
2 Mestre em Pedagogia do Movimento. Professora de Educação Física da Rede Estadual de São Paulo. Professora
do Centro Universitário UNISANTAT’ANNA, São Paulo/SP, Brasil. E-mail: tiemiok@yahoo.com
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3 Esta possibilidade de inserção das Lutas foi pensada e aplicada em uma escola da rede estadual paulista, logo,
as experiências didáticas dialogaram com o currículo oficial adotado.
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4 Neste texto, a expressão “briga” é sinônimo de “agressão”, conforme adotado por Oliveira e Martins (2007): a
aplicação de força excessiva contra o outro, de maneira intencional, com o objetivo de causar dano.
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5 Para Elenor Kunz, a pessoa estabelece relações de sentido e significado com o movimento e consequentemente
com mundo, logo o “se-movimentar” representa uma experiência subjetiva, que vai além de um movimento
que considera apenas os aspectos de natureza física (compreendido apenas pelas leis da Física, por exemplo),
para considerá-lo como “[...] meio e precondição para as experiências humanas mais ricas e variadas” (KUNZ,
2006, p. 20).
6 “[...] o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de
tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim
em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente
da ‘vida quotidiana’” (HUIZINGA, 2008, p. 33).
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(tanto na vitória ou derrota), pois uma série 14 aulas para desenvolver o tema entre
de ações é executada para se chegar aos Agosto e Setembro de 2013.
objetivos almejados (DAOLIO, 2012). O Percurso de Aprendizagem foi
organizado em quatro Situações de Apren-
dizagem (Quadro 1): Mapeamento, Princí-
Percurso de aprendizagem pios Condicionais, Classificações da Luta
e Revisão. Nem todas as aulas aplicadas
O percurso apresentado faz parte serão analisadas neste texto de forma mi-
do trabalho desenvolvido pelo autor com nuciosa, no entanto, os fenômenos mais
alunos do sexto ano do ensino fundamental significativos serão apreciados com mais
de uma escola da rede estadual paulista, profundidade para situar o leitor sobre as
localizada na zona norte da cidade de São repercussões do seu desenvolvimento em
Paulo, cujo bairro possui característica resi- consonância com os objetivos almejados.
dencial e atende uma população com baixas Convém ressaltar que o presente
condições socioeconômicas. A maioria dos Percurso de Aprendizagem contempla os
alunos é residente no bairro e em outros conteúdos para as séries iniciais do ensino
vizinhos à escola. fundamental proposto por Gomes et al.
As aulas foram aplicadas para as (2013) em sua revisão de literatura, mesmo
dez turmas de sexto ano, contudo foi se- ano em que o Trabalho de Conclusão de
lecionada uma turma para a produção do Curso que motivou este estudo foi defen-
estudo com as seguintes características: dido (LOPES, 2013). Essa coincidência
assiduidade, número adequado de alunos demonstra a urgência em se incluir essa
(24 alunos frequentes) e com composição temática na Educação Física escolar, visto
equilibrada entre meninos e meninas, cujas a escassez de trabalhos relacionados às
idades variavam entre onze e doze anos. Lutas na escola e tendo poucos referenciais
Salienta-se ainda que essa turma teria mais teóricos sobre o tema que servem de base
aulas previstas no bimestre, visto poucos para as práticas pedagógicas.
feriados, reuniões escolares etc., totalizando
2. Princípios
1. Mapeamento 3. Classificações da Luta 4. Revisão
Condicionais
Jogos de luta: Princípios Classificações da Luta. O que é Luta
- Arranca Fita em condicionais. (definição)?
grupo/dupla; Jogos de luta:
- Rouba Bandeira; Jogos de luta: - Imóvel; Percurso
- Ameba. - Luta de Cobra; - Luta com Balões; histórico da Luta.
- Luta de Braço; - Esgrima.
Roda de conversa: - Luta com Bola; Princípios
- O que é Luta - Empurra-empurra; condicionais.
(definição)? - Arranca Fita em
- Percurso histórico duplas; Classificações
da Luta. - Cabo de Guerra. da Luta.
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7 Não serão descritos todos os jogos utilizados, haja vista que muitos deles estão presentes nos cotidianos
escolares, mas eles podem ser encontrados no projeto Mapa do Brincar do jornal Folha de S.Paulo, disponível
em: <http://mapadobrincar.folha.com.br>. Acesso em 18 abr. 2015.
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Mídia exerce influências significativas na Luta desde seus primórdios até a atualidade,
vida das pessoas, reiterando um discurso além do seu conceito adotado neste traba-
hegemônico e criando novos produtos para lho. A partir disso, a diferenciação entre
o consumo (AMARAL, 2012). Luta e briga foi ressaltada, haja vista que
Quando foram solicitados a olhar a manifestação corporal apresenta regras
para as práticas vivenciadas, os alunos nota- bem definidas e o respeito mútuo entre os
ram que o “Arranca Fita”, nas duas versões, adversários.
eram mais próximos ao conceito de Luta do Por fim, como forma de avaliação
que os demais jogos, ainda mais o realizado e registro das aprendizagens, foram apre-
em duplas. Quanto ao “Ameba” e ao “Rou- sentados vídeos (Quadro 2) com diferentes
ba Bandeira”, falaram que não eram Lutas, práticas corporais e os alunos tiveram que
pois não tinha contato físico ou era mínimo. elaborar um quadro síntese identificando as
Após a “Roda de conversa” foi apre- práticas que podem ser consideradas Lutas
sentado um percurso histórico situando a a partir do que foi visto nas aulas.
A análise dos vídeos diagnosticou e não situaram quando eles estavam presen-
articulou os saberes trabalhados até o mo- tes nos vídeos que apresentavam Lutas ou
mento. Os alunos deveriam se concentrar brigas. Dentre as habilidades e capacidades
em classificar aqueles que eram Lutas; quais apontaram: velocidade, força, agilidade,
comportamentos dos lutadores poderiam socos, chutes, rasteiras, derrubar, ginga,
ser observados; quais as principais habili- equilíbrio, correr e puxar; o que demonstra
dades empregadas; quais regras estavam o conhecimento das ações necessárias à prá-
presentes; enfim, deveriam refletir se “é tica. Sobre as regras, devido a diversidade
possível vivenciar as Lutas na escola?”.
de práticas apresentadas, não foi possível
A maioria dos alunos identificou as
estabelecer uma análise mais precisa, haja
práticas concernentes às Lutas. Quanto aos
vista que eles poderiam citar qualquer uma
comportamentos, eles citaram a agressivida-
e suas peculiaridades.
de, o respeito, a violência, a raiva etc., mas
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Por fim, sobre a possibilidade de encontrada. Vale destacar que eles não só
vivenciar as Lutas na escola, não foi encon- alteraram as duplas entre seus pares de mes-
trada nenhuma resposta negativa, principal- mo sexo, mas também para menino-menina,
mente ao observar os relatos das primeiras o que demonstra um avanço no aspecto de
aulas, que indicavam a preocupação em se aceitação e respeito visto que as diferenças
conhecer o conteúdo. Várias podem ser as costumam marcar as atividades em que
hipóteses, mas acreditamos que os jogos predomina a “força”, tida como masculina.
parecidos com as Lutas tenham levado a Já na “Luta com bolas”, cada dupla
compreensão que a mesma não precisa ser estava sentada, um de frente para o outro,
idêntica ao modelo oficial; que as Lutas de modo que as solas dos pés se encontrem
tem regras e as brigas não, caracterizan- e segurando uma bola ao mesmo tempo.
do esta última como um comportamento Vencia aquele que conseguia tomar a posse
inadequado ao ambiente escolar e social do material. Foi observado que eles gosta-
como um todo. ram da atividade, mas depois de duas/três
Já a situação de aprendizagem realizações, e mesmo trocando as duplas,
Princípios Condicionais procurava que eles perderam um pouco a motivação em
os alunos (1) vivenciassem elementos que realizá-la: alguns foram arremessar a bola à
compõem as Lutas, a partir de formas adap- cesta e outros propuseram uma nova forma
tadas; (2) compreendessem e articulassem de execução: em trios. Nesta, em vez de
as vivências aos princípios condicionais ter duas pessoas disputando a posse de
das Lutas. Foram desenvolvidos jogos que bola, haviam três, o que tornou o jogo mais
priorizavam ao menos um dos princípios divertido e emocionante, pois havia forças
condicionais: a “Luta de Cobra” prioriza atuantes em três direções contrárias; nesse
o princípio condicional alvo/oponente; o momento, até quem estava arremessando
“Braço de ferro” e o “Empurra-Empurra”8, retornou a tarefa.
o contato proposital; a “Luta com bolas”, A “Luta de Cobra” foi realizada em
a fusão ataque/defesa; o “Arranca Fita” e dupla, frente a frente, em posição do exer-
o “Cabo de Guerra”, a imprevisibilidade. cício de “flexão de braços” ou seis apoios
No “Braço de ferro”, eles voltaram (joelhos no chão), com o objetivo de tirar o
a vivenciar uma atividade que brincam equilíbrio do colega puxando o antebraço
costumeiramente na escola e que podem do colega e tomando cuidado para não cair;
demonstrar sua “força”, o que representa o aluno que tocava o abdômen no chão
a dimensão lúdica e competitiva do jogo. perdia. Com certeza foi a atividade que
Foi orientado que eles trocassem de duplas, eles mais gostaram, haja vista a expressão
para que verificassem os níveis de dificul- corporal deles e as falas, eles estavam se
dades com cada um dos adversários, o que divertindo nas situações que envolviam
gerou nova resposta a situação-problema possibilidade de derrubar e ser derrubado.
8 “Empurra-empurra”. Em duplas, com os alunos de frente um para o outro e com os braços estendidos e mãos
apoiadas nos ombros do colega, o objetivo é mover o oponente do lugar, isto é, fazer com que ele ultrapasse
uma marcação definida.
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Várias foram às técnicas corporais que eles razões do fazer (porque fazer assim e não
utilizaram para desenvolver a tarefa: pernas de outra maneira). Destarte, não se procu-
mais juntas, mais afastadas; com o corpo rou desempenhar o gesto técnico perfeito
mais próximo ou distante dos adversários; para as atividades em questão, mas sim o
corpo mais ou menos arqueado, etc. Ou processo de experimentação, pois várias
seja, a situação-problema suscitou inúmeras respostas foram adequadas para as situações
respostas que levaram a diversas experi- encontradas (MOREIRA; NISTA-PICCOLO,
mentações do se-movimentar (BETTI, 2011; 2009; FERREIRA et al., 2010).
KUNZ, 2006; TREBELS, 2006). Já as Classificações da Luta pro-
Ao término das vivências, abriu-se punham que os alunos: (1) vivenciassem
uma roda de conversa para socializar as elementos que compõem as Lutas, a partir
sensações experimentadas, as respostas de formas adaptadas; (2) compreendessem
encontradas para resolver corporalmente e associassem as vivências às classificações
os problemas, bem como se conseguiram das Lutas (distância e/ou contato). Assim,
detectar os princípios priorizados. Vale foram ensinadas as classificações das Lutas
(aula expositiva) atrelada à análise das
ressaltar que o princípio condicional regras
experiências e uma atividade de identifica-
foi enfatizado em todas as práticas, pois elas
ção dessas classificações em modalidades
regulam as ações que são executadas (o que
oficiais. No que tange as experiências do
é válido ou não), definem o vencedor, entre
se-movimentar, foram desenvolvidos os
outras coisas. Para solidificar a aprendiza-
seguintes jogos: “Luta com Balões”, classifi-
gem dos princípios condicionais foi propos-
cado como Luta de média distância ou Luta
ta uma síntese dos mesmos articulando-os
com golpe; “Imóvel”, classificado como
às práticas vivenciadas anteriormente. Para Luta de curta distância ou Luta com agarre,
finalizar, os alunos registraram em forma de e a Esgrima, Luta de longa distância ou Luta
desenho um dos princípios condicionais com implemento. Nessas atividades foram
aprendidos resgatando uma experiência proporcionadas oportunidades para que os
anterior, uma luta que tenham visto na TV, alunos percebessem porque certas ações de
uma criação pessoal, etc. movimento estão mais associadas a um tipo
Referente às aprendizagens, os de luta do que outro, logo, que consigam
alunos ampliaram o entendimento sobre lançar mão de suas experiências pessoais
as Lutas e foram capazes de diagnosticar e criativas para responder as situações-
alguns elementos que nela estão presentes, -problemas criadas de forma diferenciada.
que se assemelham aos princípios condi- A “Luta com Balões” consistia na
cionais estudados (GOMES, 2008; GOMES realização de golpes com o objetivo de
et al., 2008). acertar uma das bexigas presas ao corpo
Também foi muito interessante as do colega. Cada um da dupla tinha uma
respostas encontradas no plano motor para bexiga presa ao braço e outra a perna. Ficou
cada uma das situações em que eles experi- combinado que um golpe que entrasse em
mentaram diferentes formas de fazer e testar contato direto com o corpo do colega seria
aquilo que mais se adequava a cada uma punido com um ponto para o atingido – os
delas, o que revela entendimento do como alunos regularam as regras e as pontuações
fazer (movimento, propriamente dito) e das do combate.
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atividades; acreditamos que vai além disso, priorizado o aspecto criativo (DAOLIO,
pois estas atividades sugerem ações bem 2012) para resolver corporalmente os pro-
diferentes daquelas que costumam realizar blemas encontrados, tanto é que alguns
e talvez o aspecto da vergonha tenha gerado alunos chegavam à vitória sem infringir
isto, especialmente, com as meninas. nenhuma das regras ou executar os movi-
Quanto à “Esgrima”9, em uma aula mentos ensinados.
foi apresentada as regras e movimentos bá- Como síntese, os alunos relembra-
sicos da modalidade e em outra os alunos ram as experiências e aprendizagens ao
registrar num questionário, que continha
construíram a espada com jornal10. Com o
fotos com diferentes modalidades de luta,
material produzido, os alunos ficaram de
suas classificações por tipo de contato e/
frente um para o outro, mas sem nenhu-
ou distância.
ma demarcação que lembrasse a Esgrima Por fim, a Revisão buscou consoli-
oficial, e tentaram a execução dos golpes dar os objetivos almejados nas situações de
vistos nos vídeos anteriormente. Foi refor- aprendizagens anteriores. Esta etapa contou
çado que o objetivo era tocar a ponta da com uma “Avaliação Bimestral” que faz
espada no corpo do colega (região peitoral e parte do calendário escolar e reúne todos
abdômen), tomando cuidado com os olhos os componentes curriculares, cada qual
e região genital. contribuindo com três questões sobre os
Durante a prática, os alunos iam estudos realizados. Para finalizar, foi reali-
com vontade para o ataque e se descuida- zada uma breve incursão sobre os assuntos
vam do aspecto defensivo, assim, aqueles vistos durante o bimestre, relembrando as
que tinham um pouco mais de percepção experiências obtidas nas aulas e percepções
deste fator e conseguiam se livrar da in- obtidas na avaliação aplicada anteriormen-
vestida inicial, realizavam o contragolpe te, bem como esclarecer dúvidas ou equí-
vocos que os alunos apresentaram sobre
com eficiência. Em algumas execuções foi
a manifestação cultural Luta. Nessa aula
possível observar que eles tentavam seguir
também foi realizado um registro em que
a posição de guarda indicada e com isso
os alunos anotaram aquilo que aprenderam
levavam vantagem, pois a movimentação no bimestre; recurso interessante para que
permitia um recuo e um ataque mais equi- o professor conheça como os alunos se
librado. Tal fator foi potencializado quando veem em relação aos saberes construídos
eles executavam o afundo com a perna cor- e a efetividade do seu trabalho.
respondente ao lado do corpo que segurava
a espada, ampliando o alcance.
Mais uma vez não foi exigido que CONSIDERAÇÕES FINAIS
eles seguissem exatamente as técnicas,
mesmo sabendo que elas ajudariam em um Esta experiência apresentou ca-
melhor desenvolvimento do jogo. Tanto minhos para levar o conteúdo Lutas para
nesta quanto nas outras atividades foi dentro da escola, conteúdo clássico da
Cultura de Movimento que está ausente Tudo isso leva à reflexão que a in-
nesse contexto, mesmo sendo uma prática serção de um “conteúdo novo” na escola
que acompanha os seres humanos ao longo passa primeiro pela mudança de atitude do
dos tempos, ou seja, que diz respeito aos professor, que exige a aceitação dos desafios
modos de vida das pessoas e da socie- e novas formas de pensar e atuar na Edu-
dade em diferentes momentos históricos cação Física escolar, ao compreender que
(RUFINO; DARIDO, 2012). Assim, foram toda a manifestação corporal tem espaço na
considerados os estudos empreendidos por escola, inclusive as Lutas, cujo tratamento
Almeida (2012), Gomes (2008) e Gomes didático ainda é incipiente. Destarte, a
et al. (2008) ao conceituar a Luta enquanto forma como foi organizado o trabalho não
manifestação corporal, os princípios con- apontou para a necessidade de o professor
dicionais subjacentes, suas classificações ser especialista em alguma modalidade de
por tipo de contato e/ou distância e suas luta para poder ensiná-la, bem como foram
possibilidades de inserção na escola, além abertas possibilidades de diálogo com os
das ideias de Daolio (2012), ao lançar mão alunos para discutir sobre a questão da
do jogo como elemento para chegar às violência, que pode aparecer nas diferentes
práticas corporais, não só nas Lutas. Com
vivências planejadas.
isso, buscou-se evitar a manifestação de
Acentua-se que este trabalho tam-
comportamentos violentos durante as aulas.
bém obteve sustentação em Gomes et al.
Devem ser destacadas também
(2013), pois houve convergência com
as aprendizagens de gestos motores, que
a proposta de ensino das dimensões do
versavam sobre o saber fazer e as razões
conteúdo, ainda que no estudo de revisão
do fazer por meio de jogos de lutas, nas
de literatura proposto por Gomes et al.
quais em diferentes situações-problema
(2013) sejam enfatizadas as Lutas nas séries
encontradas os alunos utilizavam-se de di-
iniciais do ensino fundamental. Em ambas
ferentes saberes corporais para resolvê-las,
as propostas verificou-se as três dimensões associadas aos princípios condicionais da
do conteúdo frisadas por Rufino e Darido Luta ou suas classificações a partir do tipo
(2012) ao proporem uma pedagogia dos de contato ou distância empregados pelos
esportes às Lutas. São exemplos do concei- oponentes durante a prática.
tual: ao trabalhar com os aspectos históricos Estes resultados se tornam ainda
das Lutas; procedimental: a aprendizagem mais instigantes ao observamos a recepção
do saber fazer corporal preconizado nas do conteúdo por parte dos alunos, em
situações propostas nos diferentes jogos; que este não foi bem visto num primeiro
atitudinal: ao desmitificar os comporta- momento, mas com sua ressignificação ao
mentos violentos associados às Lutas. Vale longo das aulas foi possível verificar que
ressaltar ainda, que tais conteúdos devem eles gostaram: quantas vezes os alunos não
estar em consonância com os objetivos foram vistos brincando de “lutinha”, por
almejados, bem como com as estratégias exemplo, ao chegar instantes antes da aula.
e métodos de ensino e sua consequente Outras preocupações que não foram
avaliação (GOMES et al., 2013; RUFINO; discutidas com a profundidade merecida
DARIDO. 2012). neste texto, mas que podem ser campos
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importantes para estudos futuros apontam ALMEIDA, José J. G. Disciplina: luta. Curso
para a articulação das Lutas com os dife- de Pós-Graduação. SÃO PAULO (Estado):
rentes Eixos Temáticos preconizados no RedeFor; Campinas: Unicamp, 2012.
CEF-SP, como as Mídias, Lazer e Trabalho AMARAL, Sílvia. C. F. Disciplina: eixos
e/ou com Corpo, Saúde e Beleza; Contem- temáticos para o ensino médio:
poraneidade (questões relativas ao gênero, mídias; lazer e trabalho. Curso de
por exemplo), bem como temas referentes Pós-Graduação. SÃO PAULO (Estado):
ao paradigma da Inclusão que perpassam a RedeFor; Campinas: Unicamp, 2012.
escola contemporânea. BETTI, Mauro. Disciplina: concepção da
Enfim, as aulas de Educação Física disciplina educação física na proposta
são um tempo e espaço adequado para curricular. Curso de Pós-Graduação.
a construção de ideias que objetivam SÃO PAULO (Estado): Redefor;
o aprofundamento das experiências do Campinas: Unicamp, 2011.
se-movimentar, no caso, (res)significar as BRASIL. Secretaria de Educação
Lutas em toda a sua complexidade. Mas é Fundamental. Parâmetros curriculares
necessário que as visões sobre os objetivos, nacionais: educação física. Secretaria de
sobre os conteúdos e sobre os procedi- Educação Fundamental. Brasília: MEC /
mentos didáticos se modifiquem, a fim de SEF, 1998.
atender as atuais exigências, que não mais BREDA, Mauro et al. Pedagogia do esporte
se traduzem na repetição de movimentos. aplicada às lutas. São Paulo: Phorte, 2010.
Assim, apresentou-se uma proposta em DAOLIO, Jocimar. Educação física e o
que a experiência lúdica da Luta na escola conceito de cultura. 2. ed. Campinas:
é possível, bem como um tratamento mais Autores Associados, 2007.
aprofundado pode levar a compreensão que DAOLIO, Jocimar. Disciplina: do jogo
esta pode representar um povo, seus costu- ao esporte coletivo. Curso de Pós-
mes, etc., que pode ser contextualizada com Graduação. SÃO PAULO (Estado):
a realidade de cada um, promovendo uma RedeFor; Campinas: Unicamp, 2012.
apropriação crítica, autônoma e criativa, le- DEL VECCHIO, Fabrício. B.; FRANCHINI,
vando o aluno a utilizá-la nos mais diversos Emerson. Lutas, artes marciais e
espaços, além daqueles estabelecidos pelos esportes de combate: possibilidades,
muros da escola. experiências e abordagens no currículo
da Educação Física. In: SOUZA NETO,
Samuel; HUNGER, Dagmar. Formação
REFERÊNCIAS profissional em educação física: estudos
e pesquisas. Rio Claro: Biblioética, 2006.
AGUIAR, Cristiane. A legitimidade das ESPARTERO, Julián. Aproximación histórico-
lutas: conteúdo e conhecimento da conceptual a los deportes de lucha. In:
educação física escolar. 2008. 56 f. VILLAMÓN, Miguel (Org.). Introducción
Monografia (Graduação) – Licenciatura al judo. Barcelona: Editorial Hispano
em Educação Física, Faculdade de Europea, 1999. p. 23-54.
Educação Física, Universidade Estadual FERREIRA, Elizabete et al. Esportes alternativos
de Campinas, Campinas, 2008. na escola: intervenção baseada na
278
ABSTRACT
Brazilian Physical Education is controversial regarding to its contents: while claiming for
several possibilities of themes in one hand, we note that in another hand those which
are present in daily lessons are portraits of the area in past decades. The study aims to
report possibilities for inclusion of Martial Arts’ themes in Physical Education classes for
students from the sixth grade in elementary school using games. We proposed a path
with four learning situations in which we have sought to understand and experiment
the conditional principles of Martial Arts and their classifications by type of contact
and distance. It highlights the learning that allowed the interconnection between the
know-how and the reasons the making of different problem situations. Furthermore,
this essay breaks with some recurring paradigms, such as the issue of violence or the
need to be an expert in Martial Arts to address them.
RESUMEN