Você está na página 1de 18

Motrivivência v. 27, n. 45, p.

262-279, setembro/2015

http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2015v27n45p262

O ENSINO DAS LUTAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA


ESCOLAR: uma experiência no ensino fundamental

Raphael Gregory Bazílio Lopes1


Tiemi Okimura Kerr2

RESUMO

A Educação Física brasileira é controversa quanto aos seus conteúdos: ao mesmo tempo
em que se declaram diversas possibilidades de tematização, nota-se que aquelas que se
apresentam no cotidiano das aulas são retratos da área em décadas passadas. O estudo
tem o objetivo de relatar possibilidades de inclusão das Lutas nas aulas de Educação
Física para alunos do sexto ano do ensino fundamental a partir de jogos. Foi proposto
um percurso com quatro situações de aprendizagem em que se buscou a compreensão
e a experimentação dos princípios condicionais das Lutas e suas classificações por tipo
de contato e distância. Destacam-se as aprendizagens que permitiram a interconexão
entre o saber fazer e as razões do fazer nas diferentes situações-problema. Além disso,
esta experiência rompe com alguns paradigmas recorrentes, como a questão da violência
ou a necessidade de ser especialista em Lutas para abordá-las.

Palavras-chave: Cultura de Movimento; Educação Física Escolar; Lutas

1 Especialista em Ética, Valores e Cidadania na Escola. Professor de Educação Física da Rede Municipal do Ensino
de São Paulo e da Rede Estadual de São Paulo. São Paulo/SP, Brasil. E-mail: raphael.gregory@hotmail.com
2 Mestre em Pedagogia do Movimento. Professora de Educação Física da Rede Estadual de São Paulo. Professora
do Centro Universitário UNISANTAT’ANNA, São Paulo/SP, Brasil. E-mail: tiemiok@yahoo.com
V. 27, n° 45, setembro/2015 263

INTRODUÇÃO Compreende-se que todas as mani-


festações corporais humanas são gestadas
É imenso o universo de manifesta- na dinâmica cultural, cada qual com seus
ções corporais em que as pessoas podem se significados próprios, de acordo com o
engajar, todavia, ao analisarmos o tempo e contexto dos grupos em que estão inseridas.
o espaço da escola e das aulas de Educação Portanto, cabe a Educação Física escolar tra-
Física, constata-se que as possibilidades tar da transposição didática dos conteúdos
de movimento existentes permanecem inerentes ao movimento humano, produto
quase as mesmas de períodos distantes, e processo dinâmico característico de uma
apesar do movimento iniciado na década sociedade que a ele atribui valor.
de 1980, que aponta para temáticas que Lembrando que, na direção indicada
inter-relacionam educação, cultura, corpo por Betti (2011) e Daolio (2007) caminha o
e movimento humano (KUNZ, 2006). Currículo de Educação Física do Estado de
Nessa época, várias inquietações São Paulo3 (SÃO PAULO, 2010), ao com-
impulsionaram o aumento do debate aca- preender que o enfoque cultural leva em
dêmico na Educação Física, em que passou conta a pluralidade de manifestações corpo-
a ser questionado o seu ensino tradicional, rais em que os alunos podem se relacionar.
tecnicista e esportivista, a partir de diversas Para tanto, o professor deve selecionar
conteúdos que desvelem os diferentes signi-
proposições teórico-metodológicas (BETTI,
ficados e sentidos que podem ser expressos
2011). Daolio (2007) argumenta que o pre-
pelos alunos em diversas manifestações
domínio biológico passou a ser questionado
corporais, ampliando as possibilidades de
e que a questão sociocultural começou a
tematização presentes no universo da Cultu-
ganhar força, dada a infusão de outras áreas
ra de Movimento. Também deve considerar
do conhecimento oriundas das Ciências Hu-
objetos de aprendizagens que se coadunam
manas (Antropologia, Sociologia, História,
com a experiência real do aluno, levando-os
etc.) na discussão cultural da área.
a pensar como a realização do movimento
Surgem então novas maneiras de
se modifica em diferentes contextos.
se pensar e fazer Educação Física, que Nesse sentido, compreende-se que
reconhecem a pessoa como autora de seus todas as possibilidades da Cultura de Mo-
movimentos, nos quais múltiplos fatores vimento têm espaço na escola, inclusive
– emoções, desejos, possibilidades, etc. – as Lutas, cujo tratamento didático ainda
podem interferir em sua prática corporal. parece incipiente, haja vista a precarieda-
Práticas reconhecidas como formas de de de estudos relacionados ao conteúdo
linguagem que, sinteticamente, se expres- (AGUIAR, 2008; ALMEIDA, 2012; BREDA
sam em Jogo, Esporte, Ginástica, Atividade et al. 2010; GOMES, 2008; NASCIMENTO,
Rítmica e Danças e Lutas, elementos da 2008; NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007;
Cultura de Movimento (BETTI, 2011). RUFINO, DARIDO, 2012).

3 Esta possibilidade de inserção das Lutas foi pensada e aplicada em uma escola da rede estadual paulista, logo,
as experiências didáticas dialogaram com o currículo oficial adotado.
264

Matos et al. (2013) analisaram as formas de desenvolver as Lutas podem


produções acadêmicas que tratam sobre influenciar os alunos a adotarem compor-
os conteúdos de ensino da Educação Física tamentos agressivos ou não. Isto posto,
escolar entre os anos de 1981 a 2010, em Olivier (2000) coloca que as atividades
146 artigos distribuídos em 14 periódicos, bem sistematizadas e conduzidas ajudam
e constataram que os Esportes ocupam 29% as crianças a controlar as relações violentas
dos trabalhos analisados, enquanto as Lutas que podem acontecer no interior da escola.
ocupam apenas 2% (desconsiderando a Ca- Outro posicionamento bem comum
poeira que foi categorizada separadamente de recusa sobrevém da ideia – princi-
com 3%). Os autores apontam que, enquan- palmente por parte dos professores – da
to a publicação sobre outros conteúdos se necessidade de ser especialista em alguma
propagava a partir de 2001, os estudos sobre modalidade de luta para poder ensiná-la
as Lutas só iniciaram em 2007. Fica eviden- (ALMEIDA, 2012; GOMES et al., 2013).
te a necessidade de aumentar a produção Isso foi observado por Nascimento (2008)
acadêmica sobre o conteúdo, incidindo nas e Nascimento e Almeida (2007) ao verifi-
compreensões conceituais, procedimentais carem que a falta de vivência pessoal dos
e atitudinais acerca dessas práticas corporais professores entrevistados os fez afastar a
(RUFINO; DARIDO, 2012). proposição da prática. Tal fator pode ter sido
Corroborando tais indicadores, agravado pela recente inserção de discipli-
várias são as predisposições, por que não nas que contemplam as Lutas nos currículos
dizer mitos, que vão defender ou recusar a de Licenciatura e Bacharelado em Educação
inserção das Lutas na escola. Entre as que Física ou sua restrição as peculiaridades de
recusam, é comum escutar que a prática uma modalidade, por exemplo, o Judô (DEL
deste componente pode levar a adoção de VECCHIO; FRANCHINI, 2006). Assim,
comportamentos violentos (AGUIAR, 2008; ambos os fatores podem resultar na inse-
ALMEIDA, 2012; NASCIMENTO, 2008; gurança dos professores em abordar esse
NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007), mas a conteúdo nas aulas (BREDA et al., 2010).
questão da violência atinge uma comple- Por outro lado, quem a defende,
xidade muito maior, indo além da prática supervaloriza sua importância para a for-
da Luta, uma vez que ela está presente na mação moral, dada a ideia de disciplina
sociedade: intrínseco às relações sociais, oriunda da tradição militar, apoiada pelo
emanadas pelos modos de se expressar e método de ensino tecnicista, que prioriza a
comunicar em situações de conflito, de repetição de movimentos a exaustão, agre-
ameaça e de incerteza (OLIVIER, 2000). gada a valores como dedicação e esforço
Logo, os comportamentos agressivos re- (ALMEIDA, 2012; BREDA et al., 2010).
produzidos na escola podem ser reflexos Fica ainda, subjacente a estas ideias, uma
das ações que ocorrem nos cotidianos concepção ingênua e simplista que a prática
das pessoas, por exemplo, no trânsito, nas da Luta afasta seus praticantes da violência,
relações familiares, nas práticas esportivas, desconsiderando que as formas de tratar
etc. (AGUIAR, 2008). o conteúdo podem repercutir de diversas
Almeida (2012) alerta que o profes- formas no comportamento dos alunos (AL-
sor deve tomar consciência que as diferentes MEIDA, 2012).
V. 27, n° 45, setembro/2015 265

Ambas as ideias demonstram as em questão reconheceu a escola como um


diferentes compreensões que os profes- espaço que produz uma cultura escolar
sores têm sobre o tema e que ressoam na do esporte, no caso, ao buscar estabelecer
inserção de um “conteúdo desconhecido” um diálogo entre os alunos e as Lutas para
nas aulas. Nas palavras de Almeida (2012), recriar a experiência pessoal e situada, que
a vivência dos elementos que compõem as ultrapassa a ideia de reprodução da cultura
Lutas pode até ser considerada inovadora, hegemônica do esporte (VAGO, 1996).
mas não necessariamente complexa, pois Vale ressaltar que este texto é parte
há subsídios suficientes para que a prática da monografia (LOPES, 2013) desenvolvida
possa ser abordada com qualidade em seus no curso de pós-graduação lato sensu em
componentes básicos; contudo, é necessária Educação Física escolar, pela Faculdade de
a disposição do professor em estudar esta Educação Física da Universidade Estadual
manifestação da Cultura de Movimento. de Campinas em parceria com a Secretaria
Dessa forma, este estudo tem o da Educação do Estado de São Paulo. Logo,
objetivo de relatar a tematização das Lutas as reflexões e propostas indicadas são pauta-
em uma turma do sexto ano do ensino das na prática profissional do autor.
fundamental. Portanto, serão apresentadas
algumas possibilidades de levar as Lutas
para dentro da escola, pensando sua práti- Lutas na escola: aproximações necessárias
ca de uma forma mais global, enfatizando
seus princípios condicionais a partir de Segundo as palavras de Piernavieja
jogos organizados pelo tipo de contato (1973, p. 15) citado por Aguiar (2008,
e/ou distância estabelecida entre os oponen- p. 19), o surgimento das Lutas “[...] [coinci-
tes (GOMES, 2008; GOMES et al. 2008), de] com a própria aparição do homem sobre
assim como as relações históricas, sociais a terra”, o que torna muito difícil precisar
e culturais que a permeiam e sua relação seu aparecimento, pois não se trata de uma
com a violência, principalmente pela dife- construção isolada em dado momento histó-
renciação entre Luta e briga4. rico, mas sim de construções socioculturais
Acentua-se que a tematização do modificadas ao longo dos tempos (BREDA
conteúdo também foi pensada a partir das et al., 2010).
práticas apresentadas pelos alunos nos dife- As primeiras formas de lutar eram
rentes momentos escolares: as brincadeiras importantes para a preservação da vida e
de “lutinha”, os discursos referentes ao UFC de territórios (BREDA et al., 2010), basta
(Ultimate Fighting Championship), as brigas ver a necessidade de conseguir alimentos,
referenciadas como Lutas, etc. – conheci- proteger o grupo ao qual fazia parte e partir
mentos cotidianos que precisavam ser colo- em busca de novas terras (AGUIAR, 2008).
cados em evidência, discutidos, reconstruí- Com o tempo as Lutas foram adquirindo
dos e sistematizados. Assim, a experiência outros significados e sentidos, como a sua

4 Neste texto, a expressão “briga” é sinônimo de “agressão”, conforme adotado por Oliveira e Martins (2007): a
aplicação de força excessiva contra o outro, de maneira intencional, com o objetivo de causar dano.
266

utilização em rituais (indígenas, por exem- especialista em alguma modalidade de luta


plo); na preparação para a guerra; nas artes para abordá-la na escola (ALMEIDA, 2012;
marciais (Oriente), bem como sua intrínseca GOMES et al., 2013). Tampouco que deve
relação com a escrita, culinária, jardinagem ser supervalorizada sua importância para a
e tradições guerreiras, compondo um deter- formação moral que visa disciplinar o indi-
minado estilo de vida; e, atualmente, um víduo, bem como aderir a uma concepção
caráter esportivo (AGUIAR, 2008; BREDA ingênua que acredita que sua prática afasta
et al., 2010). seus praticantes da violência (ALMEIDA,
Como alerta Almeida (2012, p. 1), 2012; BREDA et al., 2010).
verificam-se diferentes representações na/ Deve-se ainda tomar cuidado com
da temática, como “[...] a defesa pessoal, a os procedimentos didáticos adotados que
formação moral do praticante, a preservação devem estar alinhados com aquilo que se
cultural e, sobretudo, a esportivização, são almeja para sua inserção na escola, haja
aspectos que se fazem presentes no universo vista que tradicionalmente os métodos que
das Lutas, e que dialogam com diferentes orientam o ensino das Lutas revelam-se pelo
valores que transitam em nossa sociedade.” seu alto teor militarista e disciplinador, a fim
de manter o respeito às tradições e por um
Ou seja, há uma gama de ideias associadas
modelo de ensino tecnicista e excludente,
às Lutas, o que requer uma análise crítica
limitando-se à repetição e reprodução do
dos objetivos que vão permear a inserção
gesto conforme um padrão (BREDA et al.,
do conteúdo nas aulas, como o reconhe-
2010). Todavia, eles podem oferecer ele-
cimento do espectro de relações que a
mentos úteis para o seu ensino na escola,
sociedade em geral e a comunidade escolar
desde que sejam problematizados e dialo-
estabelecem com o mesmo em conjunto
guem com interesses e possibilidades dos
com as diretrizes educacionais preconiza-
educandos (ALMEIDA, 2012).
das pela escola.
Para tanto, é necessária a vontade e
Dessa forma, uma das formas de o esforço do professor em estudar as Lutas
tomar contato e (res)significá-la na escola que serão trabalhadas na escola, bem como
pode partir da análise dos aspectos histó- reconhecer que o método a ser empregado
ricos, culturais, sociais, etc. que moldaram não pode ser igual àquele que prioriza a
sua criação e, posteriormente, compreender repetição de movimento, mas sim aquele
os diferentes significados e sentidos para que dá oportunidades para que todos parti-
seus praticantes, as principais habilidades cipem e desenvolvam suas potencialidades
envolvidas, etc. consolidando assim a “[...] (BRASIL, 1998), cujo aprendizado é signi-
apropriação crítica e criativa deste conteúdo ficativo (ALMEIDA, 2012). Neste sentido,
da cultura de movimento pelos alunos [...]” o professor pode fazer diversos arranjos
(ALMEIDA, 2012, p. 2). materiais para que os alunos obtenham êxito
Inserir este conteúdo nas aulas nas tarefas (BETTI, 2011).
não significa endossar a prática de com- Até o momento apontou-se perspec-
portamentos violentos (AGUIAR, 2008; tivas de como as Lutas podem ser tratadas
ALMEIDA, 2012; NASCIMENTO, 2008; na escola. Agora, convém perguntar: o que
NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007), nem é Luta? De acordo com a definição adotada
mesmo afirmar que o professor precisa ser para o estudo é uma
V. 27, n° 45, setembro/2015 267

Prática corporal imprevisível, caracteri- difícil distinguir cada uma dessas


zada por determinado estado de conta- ações.
to, que possibilita a duas ou mais pesso-
as se enfrentarem numa constante troca
• Imprevisibilidade – devido à rela-
de ações ofensivas e/ou defensivas, re- ção de interdependência entre os
gida por regras, com o objetivo mútuo lutadores e as possibilidades de
sobre um alvo móvel personificado no ação que se colocam no combate,
oponente (GOMES, 2008, p. 49, grifos
do autor).
não é possível definir modelos se-
quenciais previsíveis, ou seja, ha-
verá diversas situações diferencia-
O conceito é claro e define o que é
das às quais os lutadores devem se
e o que não é Luta, entretanto, o tratamento
adaptar para resolver os problemas
didático não precisa se fundamentar numa
encontrados.
modalidade que compreenda todas as ca-
• Regras – regulam as condutas ne-
racterísticas elencadas. Pode-se abordar, por
cessárias à realização do jogo, ou
exemplo, um ou mais dos princípios condi-
seja, definem o que é permitido ou
cionais elencados, pode apoiar-se ao tipo
não, quais técnicas e táticas podem
de contato ou distância utilizado entre os
ser usadas pelos oponentes.
oponentes, tratar sobre as formas ou ainda
em modelos pedagógicos comuns à Educa-
Gomes (2008) aponta que, mesmo
ção Física, pautados na parcialização dos
com os princípios condicionais, existem
movimentos ou na interação entre pessoas,
elementos que distinguem cada modalidade
materiais e ambientes (ALMEIDA, 2012).
de luta das demais, contudo, algumas dinâ-
Os princípios condicionais são as
micas de funcionamento da modalidade,
características comuns presentes nas Lutas
bem como algumas de suas técnicas são
capazes de defini-las como tal. Gomes
semelhantes a outras modalidades. Pensan-
(2008) e Gomes et al. (2008) apresentam:
do nisso, as Lutas podem ser classificadas
em grupos, sejam por tipo de contato ou
• Oponente/alvo – personificado no distância empregada pelos oponentes. Em
adversário, que implica reconhecer relação ao tipo de contato, utilizando a
o mesmo como alvo móvel e que categorização de Espartero (1999), Gomes
pode executar ações ofensivas. (2008) apresenta:
• Contato proposital – as pessoas se
“tocam” podendo para isso utilizar • Luta com agarre – envolve ações
diferentes formas (socos, chutes, to- de derrubar, desequilibrar, proje-
ques com implementos, etc.) a fim tar, etc.;
de chegar aos objetivos predefini- • Luta com golpe – envolve golpes
dos no embate. impactantes com diferentes partes
• Fusão ataque/defesa – assim como do corpo de forma isolada ou com-
em outros jogos, existem nos com- binada, por exemplo, socar, coto-
bates momentos de ataque e de- velar, chutar, etc.;
fesa, com a possibilidade dessas • Luta com implemento – envolve o
ações serem simultâneas, sendo até toque no corpo do adversário por
268

meio de implemento, por exemplo, As experiências didáticas propostas


a esgrima. neste trabalho procuraram aprofundar as
experiências do se-movimentar5 nas Lu-
Com relação à distância entre os tas a partir dos princípios condicionais e
adversários, Gomes (2008, p. 47) classifica: das classificações por tipo e/ou distância,
priorizando o trabalho com os jogos de
• Curta – “[...] possui um espaço pra- luta, pois, provavelmente, são os primeiros
ticamente nulo entre os oponentes contatos de muitos alunos com o conteúdo.
[...] para a realização das técnicas Estes modelos adaptados – arranjos ma-
[...]”; teriais – apresentados por meio de jogos
• Média – “[...] seria um espaço mo- parecem relevantes para a vivência de uma
derado que permite a aproximação prática da Luta no contexto escolar, pois são
em situações de ataque entre os formas não esportivizadas que levam em
oponentes [...]”; consideração as lógicas internas da moda-
• Longa distância – “[...] definida lidade sem descartar o seu aspecto lúdico
pela presença de um implemento, e a preocupação com a aprendizagem dos
deve haver uma distância maior en- alunos (GOMES, 2008; GOMES et al., 2013;
tre os oponentes para que os mes- RUFINO; DARIDO, 2012).
mos possam manipular de forma Convém ressaltar ainda que na
adequada esse implemento [...]”. prática do jogo estão inseridos momentos
de tensão e alegria, sensações permitidas
Gomes (2008) e Gomes et al. (2008) às pessoas que se entregam à atividade to-
ainda apontam um ramo denominado For- talmente, como estabelece Huizinga6. Sem
mas (Katas) que não se enquadra nessas contar outras características que podem ser
classificações e definições, pois “[...] não inseridas no jogo como a cooperação – na
possuem os mesmos objetivos e lógica tomada de decisões coletivas; inclusão e
interna inerentes às Lutas, já que podem respeito às diferenças – há a necessidade
ser ensaiados como uma coreografia” do outro para jogar contra, é necessário
(GOMES, 2008, p. 49). Apesar disso, não aceitá-lo a partir de suas potencialidades
podem ser descartadas, pois podem ser um para desenvolver a tarefa; o exercício da
elemento para apropriação de habilidades criatividade – podem ser ressaltadas as
fundamentais de uma luta, desde que seja soluções encontradas para resolver o pro-
respeitado o se-movimentar, ou seja, não blema de alguma maneira, e a valorização
seja um modelo repetitivo e burocrático do processo – pelo entendimento que todos
(ALMEIDA, 2012; KUNZ, 2006). possuem papel importante na atividade

5 Para Elenor Kunz, a pessoa estabelece relações de sentido e significado com o movimento e consequentemente
com mundo, logo o “se-movimentar” representa uma experiência subjetiva, que vai além de um movimento
que considera apenas os aspectos de natureza física (compreendido apenas pelas leis da Física, por exemplo),
para considerá-lo como “[...] meio e precondição para as experiências humanas mais ricas e variadas” (KUNZ,
2006, p. 20).
6 “[...] o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de
tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim
em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente
da ‘vida quotidiana’” (HUIZINGA, 2008, p. 33).
V. 27, n° 45, setembro/2015 269

(tanto na vitória ou derrota), pois uma série 14 aulas para desenvolver o tema entre
de ações é executada para se chegar aos Agosto e Setembro de 2013.
objetivos almejados (DAOLIO, 2012). O Percurso de Aprendizagem foi
organizado em quatro Situações de Apren-
dizagem (Quadro 1): Mapeamento, Princí-
Percurso de aprendizagem pios Condicionais, Classificações da Luta
e Revisão. Nem todas as aulas aplicadas
O percurso apresentado faz parte serão analisadas neste texto de forma mi-
do trabalho desenvolvido pelo autor com nuciosa, no entanto, os fenômenos mais
alunos do sexto ano do ensino fundamental significativos serão apreciados com mais
de uma escola da rede estadual paulista, profundidade para situar o leitor sobre as
localizada na zona norte da cidade de São repercussões do seu desenvolvimento em
Paulo, cujo bairro possui característica resi- consonância com os objetivos almejados.
dencial e atende uma população com baixas Convém ressaltar que o presente
condições socioeconômicas. A maioria dos Percurso de Aprendizagem contempla os
alunos é residente no bairro e em outros conteúdos para as séries iniciais do ensino
vizinhos à escola. fundamental proposto por Gomes et al.
As aulas foram aplicadas para as (2013) em sua revisão de literatura, mesmo
dez turmas de sexto ano, contudo foi se- ano em que o Trabalho de Conclusão de
lecionada uma turma para a produção do Curso que motivou este estudo foi defen-
estudo com as seguintes características: dido (LOPES, 2013). Essa coincidência
assiduidade, número adequado de alunos demonstra a urgência em se incluir essa
(24 alunos frequentes) e com composição temática na Educação Física escolar, visto
equilibrada entre meninos e meninas, cujas a escassez de trabalhos relacionados às
idades variavam entre onze e doze anos. Lutas na escola e tendo poucos referenciais
Salienta-se ainda que essa turma teria mais teóricos sobre o tema que servem de base
aulas previstas no bimestre, visto poucos para as práticas pedagógicas.
feriados, reuniões escolares etc., totalizando

Quadro 1 – Situações de Aprendizagem e seus Conteúdos

2. Princípios
1. Mapeamento 3. Classificações da Luta 4. Revisão
Condicionais
Jogos de luta: Princípios Classificações da Luta. O que é Luta
- Arranca Fita em condicionais. (definição)?
grupo/dupla; Jogos de luta:
- Rouba Bandeira; Jogos de luta: - Imóvel; Percurso
- Ameba. - Luta de Cobra; - Luta com Balões; histórico da Luta.
- Luta de Braço; - Esgrima.
Roda de conversa: - Luta com Bola; Princípios
- O que é Luta - Empurra-empurra; condicionais.
(definição)? - Arranca Fita em
- Percurso histórico duplas; Classificações
da Luta. - Cabo de Guerra. da Luta.
270

Relato da experiência bem como os ataques realizados chegavam


a tocar o adversário. Ao que tange ao gesto
No Mapeamento, buscava-se que motor, ao final da aula, os alunos deixavam
os alunos: (1) reconhecessem as Lutas nas as costas menos expostas para as investidas
práticas abordadas; (2) vivenciassem e dos adversários; tentavam ludibriar, por
classificassem as atividades propostas; (3) meio de fintas, as investidas nos coletes dos
compreendessem o processo histórico das colegas; mantinham a perna oposta a do
Lutas; (4) elaborassem opiniões frente aos colete à frente, resguardando o material; se
diferentes conhecimentos socializados. deslocavam em passos alternados, manten-
Nas primeiras aulas desta etapa, do a base equilibrada, tanto para a investida
quando foi apresentado o cronograma de quanto para a defesa, etc. Cabe lembrar que
atividades e o conteúdo, vários discursos estas ações motoras muito se relacionam as
contrários ao tema ecoaram, mas um em razões do fazer, como defende Garganta
especial se destacou: “Professor, nós vamos (1995) citado por Daolio (2012), para o
brigar nas aulas?”. Ou seja, evidenciou-se a ensino do jogo, haja vista que compõem
necessidade de desconstruir os significados a estratégia para resolver corporalmente as
negativos atribuídos à prática e construir situações-problemas encontradas.
outros mais positivos. Já com a “Roda de Conversa”,
O tema iniciou com a vivencia de atrelada ao percurso histórico das Lutas,
jogos7 como o “Arranca Fita” em grupo e em algumas de suas representações na Contem-
duplas, o “Rouba Bandeira” e o “Ameba” poraneidade e as práticas vivenciadas até o
– mesmo que tais práticas não possam ser momento, ensaiou-se um estudo mais apro-
definidas como Lutas –, pois auxiliam na fundado da prática, a desvelar, por exemplo,
compreensão das ações que caracterizam as características que permitem distinguir a
a manifestação corporal, como as situações Luta da briga (GOMES et al., 2013).
de ataque e defesa simultâneas. Durante a A partir das seguintes perguntas:
realização dos jogos percebia-se, nas ex- “O que é Luta para você?”, “Quais Lutas
pressões corporais manifestadas, momentos você conhece?”, “Das atividades realiza-
de tensão e alegria (HUIZINGA, 2008), com das anteriormente, quais eram Lutas? Por
a maioria da turma participando ativamente. quê?”, verificou-se que os alunos conheciam
Cabe destacar o “Arranca Fita” em diversas modalidades de luta, no entanto,
duplas, pois os alunos perceberam sua não sabiam defini-la. Merece destaque os
aproximação ao conceito de Luta quando inúmeros relatos referentes ao UFC, como
disputavam entre si, em um espaço deli- os lutadores mais conhecidos, as roupas
mitado em comum acordo e cujo o correr utilizadas, as modalidades que compõem
era impedido para fugir das investidas. o evento e até mesmo a prática delas em
Entre os relatos dos participantes, ouvia-se academias da região. Tais indicadores
a necessidade de se esquivar dos ataques, levam a crer que a presença massiva da

7 Não serão descritos todos os jogos utilizados, haja vista que muitos deles estão presentes nos cotidianos
escolares, mas eles podem ser encontrados no projeto Mapa do Brincar do jornal Folha de S.Paulo, disponível
em: <http://mapadobrincar.folha.com.br>. Acesso em 18 abr. 2015.
V. 27, n° 45, setembro/2015 271

Mídia exerce influências significativas na Luta desde seus primórdios até a atualidade,
vida das pessoas, reiterando um discurso além do seu conceito adotado neste traba-
hegemônico e criando novos produtos para lho. A partir disso, a diferenciação entre
o consumo (AMARAL, 2012). Luta e briga foi ressaltada, haja vista que
Quando foram solicitados a olhar a manifestação corporal apresenta regras
para as práticas vivenciadas, os alunos nota- bem definidas e o respeito mútuo entre os
ram que o “Arranca Fita”, nas duas versões, adversários.
eram mais próximos ao conceito de Luta do Por fim, como forma de avaliação
que os demais jogos, ainda mais o realizado e registro das aprendizagens, foram apre-
em duplas. Quanto ao “Ameba” e ao “Rou- sentados vídeos (Quadro 2) com diferentes
ba Bandeira”, falaram que não eram Lutas, práticas corporais e os alunos tiveram que
pois não tinha contato físico ou era mínimo. elaborar um quadro síntese identificando as
Após a “Roda de conversa” foi apre- práticas que podem ser consideradas Lutas
sentado um percurso histórico situando a a partir do que foi visto nas aulas.

Quadro 2 – Vídeos apresentados aos alunos para classificação

“Jogo de puxar o bastão”. Disponível em:


<http://www.youtube.com/watch?v=s-KvqDfZxgg&feature=related>. Acesso em: 12 abr. 2015;
“Cabo de guerra”. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=NgcxK4g7uSM>. Acesso em: 12 abr. 2015;
“Capoeira Angola”. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=DgwJ9fdueuU>. Acesso em: 12 abr. 2015;
“Judô”. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=mzUjkMBCDO0>. Acesso em: 12 abr. 2015;
“Queimada”. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=Bf5VySfY3pQ&feature=related>. Acesso em: 12 abr. 2015;
“Futebol”. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=dkUbAsSgsPk>. Acesso em: 12 abr. 2015.

A análise dos vídeos diagnosticou e não situaram quando eles estavam presen-
articulou os saberes trabalhados até o mo- tes nos vídeos que apresentavam Lutas ou
mento. Os alunos deveriam se concentrar brigas. Dentre as habilidades e capacidades
em classificar aqueles que eram Lutas; quais apontaram: velocidade, força, agilidade,
comportamentos dos lutadores poderiam socos, chutes, rasteiras, derrubar, ginga,
ser observados; quais as principais habili- equilíbrio, correr e puxar; o que demonstra
dades empregadas; quais regras estavam o conhecimento das ações necessárias à prá-
presentes; enfim, deveriam refletir se “é tica. Sobre as regras, devido a diversidade
possível vivenciar as Lutas na escola?”.
de práticas apresentadas, não foi possível
A maioria dos alunos identificou as
estabelecer uma análise mais precisa, haja
práticas concernentes às Lutas. Quanto aos
vista que eles poderiam citar qualquer uma
comportamentos, eles citaram a agressivida-
e suas peculiaridades.
de, o respeito, a violência, a raiva etc., mas
272

Por fim, sobre a possibilidade de encontrada. Vale destacar que eles não só
vivenciar as Lutas na escola, não foi encon- alteraram as duplas entre seus pares de mes-
trada nenhuma resposta negativa, principal- mo sexo, mas também para menino-menina,
mente ao observar os relatos das primeiras o que demonstra um avanço no aspecto de
aulas, que indicavam a preocupação em se aceitação e respeito visto que as diferenças
conhecer o conteúdo. Várias podem ser as costumam marcar as atividades em que
hipóteses, mas acreditamos que os jogos predomina a “força”, tida como masculina.
parecidos com as Lutas tenham levado a Já na “Luta com bolas”, cada dupla
compreensão que a mesma não precisa ser estava sentada, um de frente para o outro,
idêntica ao modelo oficial; que as Lutas de modo que as solas dos pés se encontrem
tem regras e as brigas não, caracterizan- e segurando uma bola ao mesmo tempo.
do esta última como um comportamento Vencia aquele que conseguia tomar a posse
inadequado ao ambiente escolar e social do material. Foi observado que eles gosta-
como um todo. ram da atividade, mas depois de duas/três
Já a situação de aprendizagem realizações, e mesmo trocando as duplas,
Princípios Condicionais procurava que eles perderam um pouco a motivação em
os alunos (1) vivenciassem elementos que realizá-la: alguns foram arremessar a bola à
compõem as Lutas, a partir de formas adap- cesta e outros propuseram uma nova forma
tadas; (2) compreendessem e articulassem de execução: em trios. Nesta, em vez de
as vivências aos princípios condicionais ter duas pessoas disputando a posse de
das Lutas. Foram desenvolvidos jogos que bola, haviam três, o que tornou o jogo mais
priorizavam ao menos um dos princípios divertido e emocionante, pois havia forças
condicionais: a “Luta de Cobra” prioriza atuantes em três direções contrárias; nesse
o princípio condicional alvo/oponente; o momento, até quem estava arremessando
“Braço de ferro” e o “Empurra-Empurra”8, retornou a tarefa.
o contato proposital; a “Luta com bolas”, A “Luta de Cobra” foi realizada em
a fusão ataque/defesa; o “Arranca Fita” e dupla, frente a frente, em posição do exer-
o “Cabo de Guerra”, a imprevisibilidade. cício de “flexão de braços” ou seis apoios
No “Braço de ferro”, eles voltaram (joelhos no chão), com o objetivo de tirar o
a vivenciar uma atividade que brincam equilíbrio do colega puxando o antebraço
costumeiramente na escola e que podem do colega e tomando cuidado para não cair;
demonstrar sua “força”, o que representa o aluno que tocava o abdômen no chão
a dimensão lúdica e competitiva do jogo. perdia. Com certeza foi a atividade que
Foi orientado que eles trocassem de duplas, eles mais gostaram, haja vista a expressão
para que verificassem os níveis de dificul- corporal deles e as falas, eles estavam se
dades com cada um dos adversários, o que divertindo nas situações que envolviam
gerou nova resposta a situação-problema possibilidade de derrubar e ser derrubado.

8 “Empurra-empurra”. Em duplas, com os alunos de frente um para o outro e com os braços estendidos e mãos
apoiadas nos ombros do colega, o objetivo é mover o oponente do lugar, isto é, fazer com que ele ultrapasse
uma marcação definida.
V. 27, n° 45, setembro/2015 273

Várias foram às técnicas corporais que eles razões do fazer (porque fazer assim e não
utilizaram para desenvolver a tarefa: pernas de outra maneira). Destarte, não se procu-
mais juntas, mais afastadas; com o corpo rou desempenhar o gesto técnico perfeito
mais próximo ou distante dos adversários; para as atividades em questão, mas sim o
corpo mais ou menos arqueado, etc. Ou processo de experimentação, pois várias
seja, a situação-problema suscitou inúmeras respostas foram adequadas para as situações
respostas que levaram a diversas experi- encontradas (MOREIRA; NISTA-PICCOLO,
mentações do se-movimentar (BETTI, 2011; 2009; FERREIRA et al., 2010).
KUNZ, 2006; TREBELS, 2006). Já as Classificações da Luta pro-
Ao término das vivências, abriu-se punham que os alunos: (1) vivenciassem
uma roda de conversa para socializar as elementos que compõem as Lutas, a partir
sensações experimentadas, as respostas de formas adaptadas; (2) compreendessem
encontradas para resolver corporalmente e associassem as vivências às classificações
os problemas, bem como se conseguiram das Lutas (distância e/ou contato). Assim,
detectar os princípios priorizados. Vale foram ensinadas as classificações das Lutas
(aula expositiva) atrelada à análise das
ressaltar que o princípio condicional regras
experiências e uma atividade de identifica-
foi enfatizado em todas as práticas, pois elas
ção dessas classificações em modalidades
regulam as ações que são executadas (o que
oficiais. No que tange as experiências do
é válido ou não), definem o vencedor, entre
se-movimentar, foram desenvolvidos os
outras coisas. Para solidificar a aprendiza-
seguintes jogos: “Luta com Balões”, classifi-
gem dos princípios condicionais foi propos-
cado como Luta de média distância ou Luta
ta uma síntese dos mesmos articulando-os
com golpe; “Imóvel”, classificado como
às práticas vivenciadas anteriormente. Para Luta de curta distância ou Luta com agarre,
finalizar, os alunos registraram em forma de e a Esgrima, Luta de longa distância ou Luta
desenho um dos princípios condicionais com implemento. Nessas atividades foram
aprendidos resgatando uma experiência proporcionadas oportunidades para que os
anterior, uma luta que tenham visto na TV, alunos percebessem porque certas ações de
uma criação pessoal, etc. movimento estão mais associadas a um tipo
Referente às aprendizagens, os de luta do que outro, logo, que consigam
alunos ampliaram o entendimento sobre lançar mão de suas experiências pessoais
as Lutas e foram capazes de diagnosticar e criativas para responder as situações-
alguns elementos que nela estão presentes, -problemas criadas de forma diferenciada.
que se assemelham aos princípios condi- A “Luta com Balões” consistia na
cionais estudados (GOMES, 2008; GOMES realização de golpes com o objetivo de
et al., 2008). acertar uma das bexigas presas ao corpo
Também foi muito interessante as do colega. Cada um da dupla tinha uma
respostas encontradas no plano motor para bexiga presa ao braço e outra a perna. Ficou
cada uma das situações em que eles experi- combinado que um golpe que entrasse em
mentaram diferentes formas de fazer e testar contato direto com o corpo do colega seria
aquilo que mais se adequava a cada uma punido com um ponto para o atingido – os
delas, o que revela entendimento do como alunos regularam as regras e as pontuações
fazer (movimento, propriamente dito) e das do combate.
274

A maioria se divertiu bastante com a mesclavam tensão, alegria, espanto, força,


proposta de atingir a bexiga do colega. Nos concentração etc.
combates, os defensores tentavam manter o No jogo os atacantes começavam
máximo possível de distância do adversário; com uma boa vantagem, haja vista que o
também mantinham a perna oposta a da peso do seu corpo sobre o do outro difi-
bexiga à frente, ou seja, deixava o corpo cultava o deslocamento do colega. Além
entre a bexiga e o adversário, resguardando disso, depois de algumas execuções, os
com mais eficiência o implemento. Os de- atacantes não mais deixavam as mãos e os
fensores se utilizavam de giros para escapar braços apenas apoiados no chão, eles a uti-
de golpes que vinham da lateral, geralmente lizavam trançando a cintura dos colegas ou
socos. Já os atacantes, para romper com esta segurando as pernas e/ou braços evitando
estrutura defensiva, realizavam pequenas ao máximo que eles conseguissem escapar
corridas de aproximação para encurtar da imobilização.
a distância e para deslocar um pouco a Os defensores conseguiam êxito
proteção (fazer o colega se movimentar), num momento de falha do atacante, que
nesses momentos investiam ações que deixava um vão entre o seu corpo e do
mesclavam socos e chutes e, geralmente, defensor, por onde este conseguia escapar
saíam exitosos. com muita facilidade. Outra forma utilizada
Já no “Imóvel”, o defensor começou para fugir era quando conseguiam realizar
deitado, em decúbito dorsal no tapete de a inversão do decúbito, passando do dorsal
EVA, enquanto o atacante ficou em seis para o ventral; ao chegar nesta posição
apoios, com o tronco passando por cima o defensor fazia força com os braços e
da barriga do colega e as mãos apoiadas pernas, suspendendo o atacante e fugindo
no chão e, somente após o sinal, o atacante dele. Outra forma menos frequente foi
poderia se aproximar (abaixar o tronco e quando conseguia empurrar o colega na
braços) do defensor efetuando a imobili- região peitoral, se afastando o suficiente
zação por cinco segundos para ganhar ao para fugir dele.
combate. Em ambas as atividades, tanto por
As duplas foram formadas de acor- parte dos defensores como dos atacantes,
do com os interesses dos alunos, sem se verificou-se diferentes respostas para a
preocupar com o equilíbrio de força, peso, resolução dos problemas encontrados e,
altura etc. que poderiam interferir na rea- em muitos casos, as “técnicas” de ataque e
lização do jogo; acreditamos que foi uma defesa utilizadas se aproximavam àquelas
decisão acertada, pois eles puderam testar preconizadas nas Lutas (ALMEIDA, 2012),
a atividade com diferentes colegas e notar sejam elas de curta ou média distância (GO-
as diferentes solicitações exigidas por cada MES, 2008; GOMES et al., 2008).
uma das situações-problemas. Apesar da maioria dos alunos ter
Igualmente a outra, a maioria estava participado, em alguns momentos notou-se
alegre na realização desta atividade, tanto alunos sem o envolvimento desejado,
no momento em que a realizava, quanto na pareciam que não estavam à vontade em
visualização da luta exercida pelos colegas. executá-las, mas quando questionados, eles
Percebia-se diferentes expressões faciais que respondiam que não estavam gostando das
V. 27, n° 45, setembro/2015 275

atividades; acreditamos que vai além disso, priorizado o aspecto criativo (DAOLIO,
pois estas atividades sugerem ações bem 2012) para resolver corporalmente os pro-
diferentes daquelas que costumam realizar blemas encontrados, tanto é que alguns
e talvez o aspecto da vergonha tenha gerado alunos chegavam à vitória sem infringir
isto, especialmente, com as meninas. nenhuma das regras ou executar os movi-
Quanto à “Esgrima”9, em uma aula mentos ensinados.
foi apresentada as regras e movimentos bá- Como síntese, os alunos relembra-
sicos da modalidade e em outra os alunos ram as experiências e aprendizagens ao
registrar num questionário, que continha
construíram a espada com jornal10. Com o
fotos com diferentes modalidades de luta,
material produzido, os alunos ficaram de
suas classificações por tipo de contato e/
frente um para o outro, mas sem nenhu-
ou distância.
ma demarcação que lembrasse a Esgrima Por fim, a Revisão buscou consoli-
oficial, e tentaram a execução dos golpes dar os objetivos almejados nas situações de
vistos nos vídeos anteriormente. Foi refor- aprendizagens anteriores. Esta etapa contou
çado que o objetivo era tocar a ponta da com uma “Avaliação Bimestral” que faz
espada no corpo do colega (região peitoral e parte do calendário escolar e reúne todos
abdômen), tomando cuidado com os olhos os componentes curriculares, cada qual
e região genital. contribuindo com três questões sobre os
Durante a prática, os alunos iam estudos realizados. Para finalizar, foi reali-
com vontade para o ataque e se descuida- zada uma breve incursão sobre os assuntos
vam do aspecto defensivo, assim, aqueles vistos durante o bimestre, relembrando as
que tinham um pouco mais de percepção experiências obtidas nas aulas e percepções
deste fator e conseguiam se livrar da in- obtidas na avaliação aplicada anteriormen-
vestida inicial, realizavam o contragolpe te, bem como esclarecer dúvidas ou equí-
vocos que os alunos apresentaram sobre
com eficiência. Em algumas execuções foi
a manifestação cultural Luta. Nessa aula
possível observar que eles tentavam seguir
também foi realizado um registro em que
a posição de guarda indicada e com isso
os alunos anotaram aquilo que aprenderam
levavam vantagem, pois a movimentação no bimestre; recurso interessante para que
permitia um recuo e um ataque mais equi- o professor conheça como os alunos se
librado. Tal fator foi potencializado quando veem em relação aos saberes construídos
eles executavam o afundo com a perna cor- e a efetividade do seu trabalho.
respondente ao lado do corpo que segurava
a espada, ampliando o alcance.
Mais uma vez não foi exigido que CONSIDERAÇÕES FINAIS
eles seguissem exatamente as técnicas,
mesmo sabendo que elas ajudariam em um Esta experiência apresentou ca-
melhor desenvolvimento do jogo. Tanto minhos para levar o conteúdo Lutas para
nesta quanto nas outras atividades foi dentro da escola, conteúdo clássico da

9 “Esgrima”, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mQXt2klTtqc>. Acesso em: 12 abr. 2015.


10 “Espada de jornal”, disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/estadinho/2012/10/06/espada-de-jornal/>.
Acesso em: 12 abr. 2015.
276

Cultura de Movimento que está ausente Tudo isso leva à reflexão que a in-
nesse contexto, mesmo sendo uma prática serção de um “conteúdo novo” na escola
que acompanha os seres humanos ao longo passa primeiro pela mudança de atitude do
dos tempos, ou seja, que diz respeito aos professor, que exige a aceitação dos desafios
modos de vida das pessoas e da socie- e novas formas de pensar e atuar na Edu-
dade em diferentes momentos históricos cação Física escolar, ao compreender que
(RUFINO; DARIDO, 2012). Assim, foram toda a manifestação corporal tem espaço na
considerados os estudos empreendidos por escola, inclusive as Lutas, cujo tratamento
Almeida (2012), Gomes (2008) e Gomes didático ainda é incipiente. Destarte, a
et al. (2008) ao conceituar a Luta enquanto forma como foi organizado o trabalho não
manifestação corporal, os princípios con- apontou para a necessidade de o professor
dicionais subjacentes, suas classificações ser especialista em alguma modalidade de
por tipo de contato e/ou distância e suas luta para poder ensiná-la, bem como foram
possibilidades de inserção na escola, além abertas possibilidades de diálogo com os
das ideias de Daolio (2012), ao lançar mão alunos para discutir sobre a questão da
do jogo como elemento para chegar às violência, que pode aparecer nas diferentes
práticas corporais, não só nas Lutas. Com
vivências planejadas.
isso, buscou-se evitar a manifestação de
Acentua-se que este trabalho tam-
comportamentos violentos durante as aulas.
bém obteve sustentação em Gomes et al.
Devem ser destacadas também
(2013), pois houve convergência com
as aprendizagens de gestos motores, que
a proposta de ensino das dimensões do
versavam sobre o saber fazer e as razões
conteúdo, ainda que no estudo de revisão
do fazer por meio de jogos de lutas, nas
de literatura proposto por Gomes et al.
quais em diferentes situações-problema
(2013) sejam enfatizadas as Lutas nas séries
encontradas os alunos utilizavam-se de di-
iniciais do ensino fundamental. Em ambas
ferentes saberes corporais para resolvê-las,
as propostas verificou-se as três dimensões associadas aos princípios condicionais da
do conteúdo frisadas por Rufino e Darido Luta ou suas classificações a partir do tipo
(2012) ao proporem uma pedagogia dos de contato ou distância empregados pelos
esportes às Lutas. São exemplos do concei- oponentes durante a prática.
tual: ao trabalhar com os aspectos históricos Estes resultados se tornam ainda
das Lutas; procedimental: a aprendizagem mais instigantes ao observamos a recepção
do saber fazer corporal preconizado nas do conteúdo por parte dos alunos, em
situações propostas nos diferentes jogos; que este não foi bem visto num primeiro
atitudinal: ao desmitificar os comporta- momento, mas com sua ressignificação ao
mentos violentos associados às Lutas. Vale longo das aulas foi possível verificar que
ressaltar ainda, que tais conteúdos devem eles gostaram: quantas vezes os alunos não
estar em consonância com os objetivos foram vistos brincando de “lutinha”, por
almejados, bem como com as estratégias exemplo, ao chegar instantes antes da aula.
e métodos de ensino e sua consequente Outras preocupações que não foram
avaliação (GOMES et al., 2013; RUFINO; discutidas com a profundidade merecida
DARIDO. 2012). neste texto, mas que podem ser campos
V. 27, n° 45, setembro/2015 277

importantes para estudos futuros apontam ALMEIDA, José J. G. Disciplina: luta. Curso
para a articulação das Lutas com os dife- de Pós-Graduação. SÃO PAULO (Estado):
rentes Eixos Temáticos preconizados no RedeFor; Campinas: Unicamp, 2012.
CEF-SP, como as Mídias, Lazer e Trabalho AMARAL, Sílvia. C. F. Disciplina: eixos
e/ou com Corpo, Saúde e Beleza; Contem- temáticos para o ensino médio:
poraneidade (questões relativas ao gênero, mídias; lazer e trabalho. Curso de
por exemplo), bem como temas referentes Pós-Graduação. SÃO PAULO (Estado):
ao paradigma da Inclusão que perpassam a RedeFor; Campinas: Unicamp, 2012.
escola contemporânea. BETTI, Mauro. Disciplina: concepção da
Enfim, as aulas de Educação Física disciplina educação física na proposta
são um tempo e espaço adequado para curricular. Curso de Pós-Graduação.
a construção de ideias que objetivam SÃO PAULO (Estado): Redefor;
o aprofundamento das experiências do Campinas: Unicamp, 2011.
se-movimentar, no caso, (res)significar as BRASIL. Secretaria de Educação
Lutas em toda a sua complexidade. Mas é Fundamental. Parâmetros curriculares
necessário que as visões sobre os objetivos, nacionais: educação física. Secretaria de
sobre os conteúdos e sobre os procedi- Educação Fundamental. Brasília: MEC /
mentos didáticos se modifiquem, a fim de SEF, 1998.
atender as atuais exigências, que não mais BREDA, Mauro et al. Pedagogia do esporte
se traduzem na repetição de movimentos. aplicada às lutas. São Paulo: Phorte, 2010.
Assim, apresentou-se uma proposta em DAOLIO, Jocimar. Educação física e o
que a experiência lúdica da Luta na escola conceito de cultura. 2. ed. Campinas:
é possível, bem como um tratamento mais Autores Associados, 2007.
aprofundado pode levar a compreensão que DAOLIO, Jocimar. Disciplina: do jogo
esta pode representar um povo, seus costu- ao esporte coletivo. Curso de Pós-
mes, etc., que pode ser contextualizada com Graduação. SÃO PAULO (Estado):
a realidade de cada um, promovendo uma RedeFor; Campinas: Unicamp, 2012.
apropriação crítica, autônoma e criativa, le- DEL VECCHIO, Fabrício. B.; FRANCHINI,
vando o aluno a utilizá-la nos mais diversos Emerson. Lutas, artes marciais e
espaços, além daqueles estabelecidos pelos esportes de combate: possibilidades,
muros da escola. experiências e abordagens no currículo
da Educação Física. In: SOUZA NETO,
Samuel; HUNGER, Dagmar. Formação
REFERÊNCIAS profissional em educação física: estudos
e pesquisas. Rio Claro: Biblioética, 2006.
AGUIAR, Cristiane. A legitimidade das ESPARTERO, Julián. Aproximación histórico-
lutas: conteúdo e conhecimento da conceptual a los deportes de lucha. In:
educação física escolar. 2008. 56 f. VILLAMÓN, Miguel (Org.). Introducción
Monografia (Graduação) – Licenciatura al judo. Barcelona: Editorial Hispano
em Educação Física, Faculdade de Europea, 1999. p. 23-54.
Educação Física, Universidade Estadual FERREIRA, Elizabete et al. Esportes alternativos
de Campinas, Campinas, 2008. na escola: intervenção baseada na
278

proposta de situações-problema. In: MATOS, Juliana M. C. et al. A produção


XVI SIMPÓSIO MULTIDISCIPLINAR acadêmica sobre conteúdos de ensino
DA USJT: UNIVERSIDADE E na educação física escolar. Movimento,
RESPONSABILIDADE SOCIAL, 2010, Porto Alegre, v. 19, n. 2, p.123-148,
São Paulo. Anais... São Paulo: Centro de abr./jun. 2013.
Pesquisa Usjt, 2010. p. 63-64. MOREIRA, Evando C.; NISTA-PICCOLO,
GOMES, Mariana S. P. Procedimentos Vilma L. (Org.). O quê e como ensinar
pedagógicos para o ensino das lutas: educação física na escola. Jundiaí:
contextos e possibilidades. 2008. Fontoura, 2009.
119 f. Dissertação (Mestrado) – Curso NASCIMENTO, Paulo R. B. Organização
de Mestrado, Departamento de Pós- e trato pedagógico do conteúdo de
graduação da Faculdade de Educação lutas na educação física escolar.
Física, Universidade Estadual de Motrivivência, Florianópolis, ano XX,
Campinas, Campinas, 2008. n. 31, p. 36-49, dez. 2008.
GOMES, Mariana S. P. et al. Ensino das lutas: NASCIMENTO, Paulo R. B.; ALMEIDA,
dos princípios condicionais aos grupos Luciano. A tematização das lutas na
situacionais. Movimento, Porto Alegre, educação física escolar: restrições e
v. 16, n. 2, p. 207-227, abr./jun. 2008. possibilidades. Movimento, Porto Alegre,
GOMES, Nathalia C. et al. O conteúdo v. 17, n. 3, p. 91-110, set./dez. 2007.
das lutas nas séries iniciais do ensino OLIVEIRA, Érika C. S.; MARTINS, Sueli T.
fundamental: possibilidades para a F. Violência, sociedade e escola: da
prática pedagógica da Educação Física recusa do diálogo à falência da palavra.
escolar. Motrivivência, Florianópolis, Psicologia & Sociedade, Porto Alegre, v.
19, n. 1, p. 90-98, abr. 2007.
n. 41, p. 305-320, nov. 2013.
OLIVIER, Jean-Claude. Das brigas aos jogos
HUIZINGA, Johan. O jogo como elemento
com regras: enfrentando a indisciplina
da cultura. 5. ed. São Paulo: Perspectiva,
na escola. Porto Alegre: Artmed, 2000.
2008.
RUFINO, Luiz G. B.; DARIDO, Suraya
KUNZ, Elenor. Apresentação: pedagogia
C. Pedagogia do esporte e das lutas:
do esporte, do movimento humano ou
em busca de aproximações. Revista
da educação física?. In: KUNZ, Elenor;
Brasileira de Educação Física e Esporte,
TREBELS, Andreas H. (Org.). Educação
São Paulo, v. 26, n. 2, p. 283-300, abr./
física crítico-emancipatória: com uma
jun. 2012.
perspectiva da pedagogia alemã do
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da
esporte. Ijuí: Unijuí, 2006. p. 11-22.
Educação. Currículo do Estado de
LOPES, Raphael G. B. — Professor, nós
São Paulo: linguagens, códigos e suas
vamos brigar na escola? — Não, tecnologias. São Paulo: SEE, 2010.
vamos lutar!. 2013. 83 f. Monografia TREBELS, Andreas H. A concepção dialógica
(Especialização) - Curso de Pós- do movimento humano - uma teoria do
graduação Lato Sensu em Educação “se-movimentar”. In: KUNZ, Elenor;
Física Escolar, Departamento de Pós- TREBELS, Andreas H. (Org.). Educação
graduação da Faculdade de Educação física crítico-emancipatória: com uma
Física, Universidade Estadual de perspectiva da pedagogia alemã do
Campinas, Campinas, 2013. esporte. Ijuí: Unijuí, 2006. p. 23-48.
V. 27, n° 45, setembro/2015 279

VAGO, T. M. Esporte da escola, esporte Bracht. Movimento, Porto Alegre, ano


na escola: da negação radical à tensão 3, n. 5, p. 4-17, ago./dez. 1996.
permanente - um diálogo com Valter

TEACHING OF MARTIAL ARTS IN SCHOOL PHYSICAL EDUCATION: an experience


in basic education

ABSTRACT

Brazilian Physical Education is controversial regarding to its contents: while claiming for
several possibilities of themes in one hand, we note that in another hand those which
are present in daily lessons are portraits of the area in past decades. The study aims to
report possibilities for inclusion of Martial Arts’ themes in Physical Education classes for
students from the sixth grade in elementary school using games. We proposed a path
with four learning situations in which we have sought to understand and experiment
the conditional principles of Martial Arts and their classifications by type of contact
and distance. It highlights the learning that allowed the interconnection between the
know-how and the reasons the making of different problem situations. Furthermore,
this essay breaks with some recurring paradigms, such as the issue of violence or the
need to be an expert in Martial Arts to address them.

Keywords: Movement Culture; School Physical Education; Martial Arts

ENSEÑANZA DE LAS LUCHAS EN EDUCACIÓN FÍSICA EN LA ESCUELA: UNA EXPE-


RIENCIA EN LA EDUCACIÓN BÁSICA

RESUMEN

La Educación Física brasileña presenta controversia en cuanto a su contenido: mientras


afirma haber varias posibilidades para la tematización, observamos que las que se
presentan en las clases diarias son fotografías de la área en las últimas décadas. El
estudio tiene como objetivo describir las posibilidades de inclusión de las Luchas en
clases de Educación Física para los estudiantes del sexto grado de la escuela primaria a
partir de los juegos. Proponemos una ruta con cuatro situaciones de aprendizaje en que
tratamos de comprender y experimentar los principios condicionales de las Luchas y sus
clasificaciones por tipo de contacto y distancia. Destacamos el aprendizaje que permite
la interconexión entre el conocimiento y las razones para hacer diferentes situaciones-
problema. Por otra parte, este ensayo rompe con algunos paradigmas recurrentes, como
la cuestión de la violencia y la necesidad de ser un experto en Luchas para enseñar.

Palabras clave: Cultura del Movimiento; Educación Física en la Escuela; Lucha

Aprovado em: março/2015


Recebido em: julho/2015

Você também pode gostar