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Prova emprestada no processo civil e

penal

EDUARDO TALAMINI

SUMÁRIO

1. Introdução. 2. Conceito, forma e valor. 3.


Admissibilidade da prova emprestada – perspectiva
constitucional. 3.1. Prova emprestada e contraditório.
3.2. Prova emprestada e oralidade. 3.3. Prova
emprestada, juiz natural e inafastabilidade da juris-
dição. 4. Outros requisitos de admissão e produção
legítimas. 5. Prova emprestada no quadro da vali-
dade das provas. 6. A natureza do vício. 6.1. Conse-
qüências da inobservância dos requisitos constitucio-
nais. 6.2. Inobservância dos requisitos “legais” de
produção e admissão – decorrências. 7. Irrelevância
dos possíveis destinos do processo anterior. 8. Em-
préstimo ex officio de prova. 9. Prova produzida sob
segredo da Justiça e prova obtida mediante intercep-
tação autorizada. 10. Empréstimo de depoimento
pessoal. 11. A recente disciplina da juntada de verbali
no processo penal italiano. 12. Conclusão: funções e
fundamentos da prova emprestada – notas finais
sobre sua admissibilidade e valor – a proporcio-
nalidade.

1. Introdução
É indiscutível a existência de uma série de
fatores que autorizam falar em “teoria geral do
processo jurisdicional”. Processo civil e penal
instrumentalizam a atuação da mesma função
estatal. Ambos têm, na sua essência, um sistema
de garantias constitucionais em prol do jurisdi-
cionado. Identificam-se, igualmente, na plurali-
dade de escopos: atuação imparcial da ordem
jurídica; pacificação social; garantia da liber-
dade – e assim por diante.
Até tendências aparentemente antagônicas
de um e outro têm na sua base, no mais das
Eduardo Talamini é Advogado em Curitiba, Pro- vezes, o mesmo elemento unificador. Significa-
fessor na Faculdade de Direito da UFPr e Mestrando tivo, nesse sentido, é o destaque que se dá à
em Direito Processual na Faculdade de Direito da “ampla defesa” no processo penal e ao “acesso
USP. à justiça” no processo civil: ambos têm por
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móvel a preocupação com as garantias do juris- que se perca de vista o complexo de igualdades
dicionado em face do Estado. É explicável do e variações que caracteriza o confronto entre os
mesmo modo o realce à liberdade das provas e dois ramos – sob a perspectiva do direito proces-
aos poderes probatórios do juiz, no processo sual constitucional. Vai-se tentar verificar em que
civil, em confronto com a maior regulamentação medida o “traslado de prova” é constitucional-
dos meios probatórios e a intensificação do mente legítimo e quais valores constitucionais
sistema acusatório, no processo penal: as duas podem, por meio dele, vir a ser concretizados.
orientações têm em vista a efetivação de maior
equilíbrio entre as partes1.
De outro lado, é também inegável a existên- 2. Conceito, forma e valor4
cia de regimes diferenciados em determinados A prova emprestada consiste no transporte
pontos dos processos civil e penal. A relação de produção probatória de um processo para
processual civil, por exemplo, normalmente se outro. É o aproveitamento de atividade proba-
satisfaz com a possibilidade do contraditório; a tória anteriormente desenvolvida, mediante
penal, exige-o efetivo. No processo civil, o “prin- traslado dos elementos que a documentaram.
cípio da verossimilhança” ganha, a cada dia, mais A prova emprestada ingressa no segundo
espaço, fazendo com que, antes de o juiz lançar processo sob a forma de documento.
mão das regras de distribuição dos ônus proba-
tórios para decidir, valha-se intensamente das São trazidos do primeiro processo todos os
máximas da experiência, das deduções lógicas, elementos documentais em que se consignou a
ampliando as hipóteses de tutela de urgência atividade probatória a ser reaproveitada. “Toma-
etc. Já no processo penal, a garantia da presun- se emprestada” perícia elaborada em outro pro-
ção de inocência impõe que, na situação de cesso, por meio da juntada de cópias autentica-
dúvida, o juiz decida contra a acusação, que das das folhas de que constaram: a decisão
titulariza a substancialidade dos ônus probató- definidora do objeto da perícia; os quesitos
rios. E não deixa de ser interessante que mesmo formulados pelas partes e (ou) pelo juiz; o laudo
essa diversidade de regimes decorra de aspecto pericial; os possíveis quesitos de esclarecimento
comum: a permeabilidade do processo – civil ou do laudo e sua resposta; as manifestações dos
penal – ao direito material. É precisamente em assistentes técnicos; o eventual termo de ouvi-
face da essencialidade dos bens sempre envol- da do perito e dos assistentes em audiência – e
vidos na causa penal – a liberdade ou, quando assim por diante. Igualmente, caso se empreste
menos, a honra do que se vê acusado – que se prova testemunhal, trasladam-se reproduções
estabelece regime de garantias mais rígido na de todas as folhas dos autos do primeiro pro-
esfera penal. Tanto é assim que, toda vez que a cesso que documentaram a produção dessa pro-
causa civil tem por conteúdo matéria de indis- va. É indispensável o transporte de todas as
ponibilidade mais intensa, o processo civil “apro- peças atinentes à atividade probatória objeto
xima-se” do penal. do empréstimo ou de certidão com esse teor.
No campo probatório, dá-se o mesmo. “Es- Apenas assim o juiz do segundo processo po-
trutural” e “funcionalmente”, a prova civil e a derá verificar a presença dos requisitos de legiti-
penal não se distinguem2 (razão pela qual – midade da prova emprestada (itens 3 e 4, adiante).
antecipe-se – não há nenhum óbice ao traslado Mais do que isso, só dessa forma ele poderá
de prova de um para o outro3, desde que cum- valorá-la adequadamente.
pridos os requisitos adiante expostos). Toda- Em sentido parcialmente diverso, Devis
via, a diferença de intensidade do sistema de Echandía afirma que seria “conveniente”, “mas
garantias de um e outro processo espelha varie- não necessário”, juntarem-se todas essas peças.
dades nas respectivas disciplinas probatórias. Segundo ele, seria “presumível” a validade da
prova que se emprestou. A parte contrária à que
Pretende-se examinar o empréstimo de prova
tanto no processo civil quanto no penal sem 4
Sobre conceito, forma e valor da prova empres-
1
Sobre o tema, v. DINAMARCO. Instrumenta- tada, confiram-se, entre outros: ECHANDÍA. Devis.
lidade... cap. 2; CINTRA, DINAMARCO, GRINO- Teoría general... v.1, esp. p. 367; ARAGÃO. Moniz
VER. Teoria geral... passim e em esp. p. 65-66; GRI- de. Exegese... v. 4, t. 1 p. 62; ARANHA. Camargo.
NOVER. Liberdades públicas... p. 102-103, nota 117. Da prova... p. 196-197; DA SILVA, Ovídio B.
2
Curso... v. 1, p. 295; GRINOVER, Prova empresta-
CARNELUTTI, Prove civili... p. 3. da, p. 66; SANTOS. Amaral. Prova judiciária... v. 1,
3
3ª Turma. V.u. Resp. 135.777-GO. Relator : esp. p. 307 e 326; LESSONA. Trattato dele prove...
Ministro Eduardo Ribeiro. DJU, p. 89, 16 fev. 1998. v. 1, esp. p. 14-15.
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está pleiteando o empréstimo é que teria o ônus cesso. Escopo do processo é a atuação do
de provar, por meio de cópias, o vício no pro- ordenamento jurídico, com a conseqüente paci-
cesso anterior5. Ora, a “presunção” de validade ficação social que tal atuação trará. E a verifica-
somente se estabelecerá quando apresentada ção dos fatos ocorridos é apenas uma etapa para
toda a documentação do iter probatório. Daí a consecução desse objetivo. É óbvio que, para
que incumbe à parte que requer o empréstimo realizar tal fim, o juiz deverá fazer o possível para
trazer aos autos a integralidade dessas peças. apurar a verdade dos fatos. Mas a “verdade” –
Isso feito, se a produção original da prova for conceito absoluto – é inatingível. A falibilidade
inválida em face de algum aspecto externo ao do ser humano não lhe permite alcançá-la;
procedimento probatório (por exemplo, a nuli- melhor dizendo: não lhe permite sequer saber se
dade da citação), então sim, será ônus da parte e quando a está de fato alcançando. Um evento
contrária comprovar a existência do defeito. que ocorreu no passado talvez jamais possa ser
Mesmo sendo apresentada no segundo pro- reconstituído exatamente como foi8.
cesso pela forma documental, a prova empres- Isso não quer dizer que o juiz deva renunciar
tada não valerá como mero documento. Terá a ao ideal de atingir a verdade. Daí ser inadequado
potencialidade de assumir exatamente a eficá- distingui-la em três graus: a) a “verdade absolu-
cia probatória que obteria no processo em que ta”; b) a “verdade material” (que seria a atingida
foi originariamente produzida. Ficou superada a no processo penal); c) e a “verdade formal” (da
concepção de que a prova emprestada recebe- qual se ocuparia o processo civil). Todo pro-
ria, quando muito, valor de documento, “prova cesso jurisdicional, como uma das etapas para a
inferior” ou “ato extrajudicial”6. O juiz, ao apre- consecução de seus objetivos, visa, da mesma
ciar as provas, poderá conferir à emprestada forma, à reconstituição dos fatos envolvidos na
precisamente o mesmo peso que esta teria se causa9. Mas existem outros valores a considerar.
houvesse sido originariamente produzida no
segundo processo. Eis o aspecto essencial da De um lado, é impossível que a controvérsia
prova trasladada: apresentar-se sob a forma permaneça indefinidamente irresolvida, em uma
documental, mas poder manter seu valor origi- busca eterna da verdade – sob pena de denega-
nário. É tal diversidade que confere à prova ção de tutela jurisdicional. Ainda que não con-
emprestada regime jurídico específico – o qual vencido sobre “a verdade dos fatos”, em um
não se identifica com o da prova documental dado momento o juiz haverá de decidir – na últi-
nem com o da prova que se emprestou, em sua ma das hipóteses, contra quem não se desin-
essência de origem. cumbiu de seus ônus probatórios (no processo
Bem por isso, o traslado de prova documen- penal, contra a acusação – em face da garantia
tal já apresentada em outro processo não cons- da presunção de inocência do acusado –, CF,
titui “prova emprestada”7. Não há, nesse caso, art. 5º, LVII).
o contraste entre forma e valor potencial.
De outro lado, a investigação probatória tem
de ser compatibilizada com a série de princípios
3. Admissibilidade da prova emprestada – condensados na fórmula do devido processo
perspectiva constitucional legal. A atuação do ordenamento por meio do
processo não se dá só com a prestação da tutela
Só se poderá conferir à prova emprestada o
valor acima mencionado quando ela for reputada 8
V., por todos, CALAMANDREI. Verità... p.
legítima. Como se dá em relação a todos os meios 165-166, e CARNELUTTI. Diritto e processo,
probatórios, existem requisitos para sua admis- p. 254.
sibilidade. De muito se destaca a falácia que 9
“A contraposição ‘verdade material’ - ‘verdade
reside na busca incondicionada da suposta “ver- formal’, diz Castro Mendes, ‘foi, em nossa opinião,
dade real”. das invenções mais perniciosas para a clareza das
idéias neste campo” (ARAGÃO, op. cit., p. 83).
A reconstrução histórica dos fatos da causa Como observam Grinover, S. Fernandes e M. Gomes
não é valor absoluto; não é a meta final do pro- Fº, se algum sentido tem a qualificação da “verdade”
5
como “material”, esse há de ser o de que o juiz não
Op. cit., p. 377-378. fica adstrito, no campo das provas, à mera atividade
6
Era o que afirmavam, por exemplo, Bentham das partes (As nulidades... p. 111). E isso já não é
(Tratado... v. 2, p. 5-6), Sabatini (Teoria delle prove... peculiaridade do processo penal em contraposição
p. 426) e Florian (Delle prove penale, p. 128-130). ao civil (sobre os poderes probatórios do juiz no
7
LESSONA, op. cit., p. 14; SILVA, O. B. da. op. processo civil, cf. por todos Bedaque, Poderes pro-
cit., p. 296; SANTOS, A. op. cit., p. 309. batórios... esp. p. 57).
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final. Também a incidência das garantias funda- terceiros teria de ser acolhida “com certa reser-
mentais no curso do processo é forma de atua- va”, vez que “a prova é do juízo”. Para ele, o
ção da ordem jurídica. Portanto, seria contra- requisito do contraditório no processo anterior
senso que a atividade de reconstrução dos só teria sentido no processo “dispositivo”
fatos – que só se explica como instrumento para (sic)12. Não há como concordar com a afirma-
a atuação do ordenamento – se desenvolvesse ção. Em qualquer caso, o contraditório terá de
ao arrepio dos valores consagrados nesse ser respeitado. Em primeiro lugar, porque sem-
mesmo ordenamento. E isso vale igualmente para pre – mesmo em um hipotético sistema de mo-
o processo penal e o civil. nopólio da iniciativa probatória pelas partes –
Nesse passo, a “presença das partes” e a as provas são “do juízo”, enquanto a ele se des-
“presença do juiz” são reconhecidas como tinam. Depois, a concessão de maiores poderes
aspectos essenciais para a validade e eficácia ao juiz não autoriza a restrição dos poderes das
das provas10. Em face desse binômio, que tem partes – que permanecerão sujeitos no processo,
status constitucional (art. 5º, XXXV, XXXVII, jamais se tornando seu objeto. Aliás, é precisa-
LIII e LV), é que se há de examinar a admissibili- mente no sistema de amplos poderes judiciais
dade da prova emprestada. que maior relevância assume a garantia do con-
3.1. Prova emprestada traditório como forma de controle do correto
e contraditório desempenho da função jurisdicional.
Na esfera civil, é mais freqüente a hipótese
As partes do segundo processo têm de ha- de não coincidirem integralmente as partes do
ver participado em contraditório do processo
em que se produziu a prova que se visa a apro- processo em que se produziu a prova e as do
veitar. Mais precisamente, é imprescindível que processo para o qual se pretende emprestá-la.
a parte contra a qual vai ser usada essa prova Haverá de se verificar se aquele a quem desfa-
tenha sido parte no primeiro processo11. vorece a prova emprestada participou de ambos.
Já no processo penal, em regra, um dos pólos
Amaral Santos sustenta que, no “sistema da relação processual será ocupado pelo
do juiz ativo”, em que o julgador tem “predomi- Ministério Público. Daí que o traslado de prova
nante função” na formação da prova, a negativa em favor da defesa de um processo penal para
de valor à prova emprestada de processo entre outro, normalmente, não esbarrará no requisito
10
Vede, entre outros: COUTURE. Fundamen-
ora examinado: sendo uno e indivisível o Minis-
tos... p. 253; GRINOVER. O conteúdo... p. 21-24; tério Público, no mais das vezes ele terá partici-
GRINOVER, FERNANDES, GOMES Fº, op. cit., pado de ambos. Mas não é correto afirmar que,
p. 106-107. por isso, a necessidade de verificação da pre-
11 sença do requisito só geraria dificuldades, no
Afirmando a necessidade da presença de ambas
as partes, entre outros: LESSONA, op. cit.; ARA- âmbito penal, quando a prova emprestada fosse
GÃO, op. cit., p. 62; ALVIM, Arruda, ALVIM, usada contra o acusado13. Ainda que excepcio-
Teresa A. Manual... v. 2, p. 233. Afirmando apenas a nalmente, pode-se estar diante de ação penal
necessidade da presença do desfavorecido pela prova, “privada”. Nessa hipótese, a prova emprestada
entre outros: ECHANDÍA, op. cit., p. 367-368; contrária à acusação submeter-se-á, do mesmo
COUTURE, op. cit., p. 255-256; MARQUES, F. modo, ao requisito do contraditório. Se o quere-
Instituições... v. 3, p. 305, e Elementos..., v. 2, p. 307- lante não houver sido parte no processo origi-
308; DA SILVA, O. B. op. cit., p. 295; ARANHA, nário, não se admitirá, em princípio, o emprésti-
Camargo. Da prova... p. 197; GRINOVER, Prova mo. Além disso, ainda quando se tratar de ação
emprestada, p. 66. O STF, em processo civil, já deu penal pública, a prova emprestada em prol da
provimento a recurso extraordinário para reconhecer
ofensa ao contraditório no empréstimo de prova
colhida sem a participação da parte contra a qual Ap.Cív. 0103499-MG. DJU, p. 17737, 5 ago 1991;
deveria operar (RTJ n. 56 p. 283). Em outra ocasião, Idem. Ap.Cív. 0112779-MG. DJU, p. 01881, 10 fev.
em causa penal, o STF reiterou esse entendimento, 1992; Idem. Ap. Cív.0116986-MA. DJU, 5 mar. 1990;
mas denegou habeas corpus por considerar que a Idem Ap. Cív. 0108237-MG. DJU, p. 21397, 9 maio
sentença de pronúncia não se fundou na prova 1994; Idem. Ap. Cív. 0126637-MG. DJU, p. 32265,
emprestada (RT n. 690 p. 380). Vede ainda: RePro, 20 jun. 1994; Idem. R. Ord. Trab. 0105655-DF. DJU,
n.11/12 p. 347, em. 165; RT n. 300 p. 229; RT n. 615 p. 48389, 5 set. 1994; TRF - 4ª Região. Ap. Cív.
p. 69; RT n. 667 p. 267; RT n. 673 p. 146; RT n.719 0408315- RS. DJU, p. 08834, 22 fev. 1995.
12
p. 166; JTA n. 106 p. 207; JTA n. 111 p. 360; RJTJESP Op. cit., p.312.
13
n. 105 p.217; RJTAMG n. 29 p. 224; TRF-1ª Região, Como faz ARANHA, op. cit., p. 197.
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defesa pode vir a ser inadmissível. Basta imagi- sual penal exige o contraditório efetivo. A defesa
nar a hipótese de ela haver sido originariamente técnica é indisponível. Assim, não pode ser
colhida em processo civil de que não participou emprestada para processo penal (ou para pro-
o Ministério Público. (Porém, em tais casos, res- cesso “civil” em que prevaleça a indisponibili-
salve-se a eventual aplicação do princípio da dade da defesa) prova para ser usada contra
proporcionalidade – v. item 12). alguém que, conquanto tenha formalmente
Não procede a assertiva de que seria desne- figurado como parte no primeiro processo, dele
cessária a participação do prejudicado no pro- não tenha participado em efetivo contraditório.
A prova produzida contra revel em processo
cesso anterior, bastando que se lhe desse opor-
civil, v.g., não pode ser utilizada por empréstimo
tunidade de manifestação sobre a prova depois contra esta mesma pessoa em processo penal.
de seu traslado14. É que o contraditório não con- Não fosse assim, por meio de caminho tortuoso,
siste na simples garantia de defesa em face da seria inobservada a regra da indisponibilidade
prova já produzida. Mais do que isso, por meio da defesa técnica.
dele assegura-se a possibilidade de participa- Mas as partes não têm só o direito ao contra-
ção efetiva em toda atividade judicial destinada ditório. Possuem o direito de exercê-lo perante
à formação do convencimento do magistrado. o órgão jurisdicional17. Por isso, a legitimidade
Há o direito de “fiscalizar” e “influenciar” o constitucional do empréstimo de prova tem de
desenvolvimento da instrução, inclusive a pro- ser examinada também diante de outros valores
batória15. processuais constitucionalmente consagrados.
Sob o prisma do contraditório, comumente
se aponta apenas a necessidade de que a parte 3.2. Prova emprestada
contra a qual a prova emprestada operará tenha e oralidade
participado do processo anterior. Mas, para que A oralidade, enquanto complexo de subprin-
o traslado da prova não seja incompatível com cípios (imediação, identidade física, concentra-
essa garantia, ainda outros dois aspectos devem ção, irrecorribilidade das interlocutórias, poderes
ser observados. probatórios do juiz...), estabelece como diretriz
Não basta a mera participação no processo a necessidade de o julgador ter contato pessoal,
anterior daquele a quem a prova transportada direto e recente com os elementos formadores
desfavorecerá. É preciso que o grau de contra- de sua convicção para a decisão da causa18.
ditório e de cognição do processo anterior te- Na medida em que serve para garantir proce-
nha sido, no mínimo, tão intenso quanto o que dimento rápido (e, portanto, uma resposta célere)
haveria no segundo processo. Por exemplo, pode e a melhor formação do convencimento do juiz
ser inadmissível o empréstimo de elementos (e, portanto, uma resposta mais justa), a orali-
probatórios produzidos em procedimento de dade tem direto suporte constitucional nas
jurisdição voluntária que dispense o exame mais garantias da adequada tutela jurisdicional (art.
profundo das questões fáticas (v.g., inventário) 5º, XXXV) e do devido processo legal (art. 5º,
para outro de jurisdição contenciosa16. LIV). Ainda, um processo mais rápido e com juiz
atuante e em contato direto com as provas e as
Há ainda outro tópico, com acentuada rele- partes amplia o acesso à Justiça (também contido
vância para o processo penal. O direito proces- na fórmula do inc. XXXV do art. 5º), aproximan-
sual civil geralmente se satisfaz com a potencia- do-a dos menos favorecidos (eis porque a orali-
lidade de contraditório: basta que se dê às partes dade é adotada pelos juizados especiais)19.
a oportunidade de participar. O direito proces- 17
Cf. por todos COMOGLIO. La garanzia... p.
14
Com esse argumento, o STF admitiu prova 217, e TROCKER, Processo civile... p. 514-515.
trazida de processo do qual a parte por ela desfavore- 18
Chiovenda, Saggi... v. 1: Lo stato attuale del
cida não havia participado (RTJ, n. 129 p. 727). No processo civile in Italia... Relazione sul progeto di
mesmo sentido: TRF-1ªR. Ap.Cív. 0110064-MG. riforma... Saggi... v. 2 : Lo stato attuale del processo
DJU, p. 17444, 15 jun. 1992. civile in Italia... Saggi... v. 2 : L’oralità e la prova e
15 Instituições... v. 3, p. 45-65. Outras referências biblio-
Cf. entre outros: COUTURE. op. cit., p. 253-
254; DINAMARCO. Execução civil, p. 168-169; gráficas e mais amplas considerações sobre a natureza
GRINOVER, O conteúdo... p. 19-21; GRINOVER, e a extensão da oralidade constam de A nova disciplina
FERNANDES, GOMES Fº. op. cit., p. 107; GOMES do agravo... p. 126-132, de minha autoria.
F.º. Sobre o direito à prova... p. 141. 19
TALAMINI, A nova disciplina... p. 127. Por
16
Exemplo semelhante é dado por O. B. da Silva, isso, não parece correto pura e simplesmente afirmar
p. 296. que a identidade física e a imediação “não vigoram no
Brasília a. 35 n. 140 out./dez. 1998 149
Mas, em si mesma, a oralidade não constitui se dê a imediação do juiz com as provas (colhei-
garantia direta e absoluta, que valha em si e por ta por carta; substituição de juiz no curso do
si. É sempre desdobramento e meio de conse- processo...).
cução de outros valores – esses, sim, constitu- É levando em conta tal aspecto que se há de
cionais. Daí que ela jamais pode ser imposta em definir a possibilidade de empréstimo da inspe-
termos absolutos. Cede espaço toda vez que ção judicial. Trata-se da verificação direta de
existam outros mecanismos mais adequados ao pessoas ou coisas pelo juiz, para se esclarecer
conseguimento dos mesmos fins por ela visa- sobre fato que interesse à decisão da causa (CPC,
dos – o que, aliás, é inerente ao Direito. art. 440 e segs.; cabível também no processo
A recorribilidade de interlocutórias, por exem- penal, vez que moralmente legítima e não veda-
plo, prevista tanto no processo civil como no da expressamente). A imediação é inerente à ins-
processo penal brasileiro, mitiga a oralidade. A peção judicial. Esta só terá valor específico e
própria possibilidade de revisão da decisão final diferenciado do de outros meios probatórios
pelo órgão de grau superior também lhe traz quando realizada precisamente por aquele que
limitação, na medida em que se permite nova julgará o feito. Isso, contudo, não obsta seu
decisão por magistrados que não tiveram neces- “empréstimo”. Mas é a única prova que, se em-
sariamente contato direto com a produção das prestada, não tem absolutamente como manter
provas. Ainda, a utilização das cartas rogató- o valor originário (o que a afasta do aspecto
rias, precatórias e de ordem igualmente diminuem comum aos demais empréstimos de prova, con-
a incidência da imediação. Enfim, há diversas sistente na potencialidade de ser mantida a
hipóteses em que a oralidade não prevalece – força probante original – v. 2, acima). De qual-
sem que, por isso, verifique-se afronta ao siste- quer modo, a restrição ao valor da inspeção não
ma de garantias constitucionais do processo. ocorrerá só nos casos de traslado, mas toda vez
Pelo contrário, a supressão desses mecanismos que o juiz que inspecionar não vier a ser o mesmo
mitigadores da oralidade é que acabaria por gerar que julgará: para o segundo magistrado, sua
inconstitucionalidades: não se conceberia sis- documentação terá valor apenas enquanto
tema constitucionalmente legítimo sem nenhum veiculadora do depoimento do primeiro.
duplo grau; em que as interlocutórias fossem
sempre irrecorríveis por via autônoma; em que 3.3. Prova emprestada, juiz natural e
se vedassem as provas que tivessem de ser pro- inafastabilidade da jurisdição
duzidas em outra localidade... – e assim por
diante. O princípio constitucional do juiz natural
desdobra-se em dois âmbitos: vedação a tribu-
A prova emprestada insere-se perfeitamente nais de exceção (art. 5º, XXXVII, da CF) e
nesse quadro. Outros valores a autorizam (v. garantia do juiz competente (art. 5º, LIII, da CF).
item 12), ainda que ela represente diminuição de O princípio do juiz competente assegura às
incidência da diretriz da oralidade. partes não só o direito de serem sentenciadas
Isso não significa que, de algum modo, a por autoridade jurisdicional cuja competência
para tanto tenha sido previamente estabelecida,
oralidade não possa influir na avaliação da prova mas também a garantia de que a instrução
emprestada: precisamente porque não teve processual ocorra perante essa mesma autori-
participação direta e imediata na atividade de dade (“ninguém será processado nem sentenci-
produção originária da prova, o juiz, em face de ado senão pela autoridade competente”).
outros elementos probatórios com ela incompa-
tíveis, pode conferir-lhe fundamentadamente Tal exigência estabelece limitação ao emprés-
valor menor do que aquele que receberia se timo da prova? A prova, para que possa ser
tivesse sido produzida diretamente no segundo emprestada, tem de haver sido produzida pe-
processo (sobre o tema, v. item 12). Isso, entre- rante juiz que também seria competente para o
tanto, não é peculiaridade da prova emprestada. julgamento do segundo processo20?
Pode acontecer em qualquer caso em que não Um primeiro passo para a resposta à indaga-
ção pode ser dado mediante o exame da (exten-
processo penal” (como fazem, p. ex., MORAIS, P. são da) constitucionalidade da regra segundo a
H. de. LOPES. J. B. Da prova penal... p. 45). Mais
20
acertada é a observação de Greco Fº, de que a identi- A admissibilidade da prova emprestada não tem
dade física não é “regra cogente” no processo penal, sido examinada à luz dessa garantia. Como exceção,
mas elemento “importante para a descoberta da ver- confira-se Grinover (Prova emprestada, p. 63-66) –
dade” (Manual... p. 201). que chega a solução diversa da aqui preconizada.
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qual são nulos apenas os atos decisórios prati- Este vigora também na esfera civil: a incompe-
cados pelo juiz incompetente (CPC, art. 113, § tência acarreta a invalidade dos atos decisórios
2º; CPP, art. 567). Caso se considere constitucio- instrumentais e finais; o desrespeito à compe-
nalmente possível que provas colhidas perante tência absoluta enseja a rescisão da sentença
o juiz incompetente sejam aproveitadas no de mérito transitada em julgado (CPC, art. 485,
prosseguimento do mesmo processo junto ao II). Todavia, reputa-se que a economia proces-
órgão competente, não haverá o que justifique sual possui relevância axiológica suficiente para
a rejeição do empréstimo da prova tão-só pelo mitigar o rigor da exigência de integral proces-
fato de o juiz do primeiro processo não deter samento da causa perante juiz competente.
competência para a causa objeto do segundo. Isso é o que basta para reconhecer, no âmbito
Podem ser resumidas em quatro as correntes civil, que a incompetência do juiz do primeiro
de entendimento acerca do destino dos atos não- processo, relativamente à causa objeto do
decisórios praticados pelo juiz incompetente: (a) segundo, não é obstáculo ao empréstimo da
seriam nulos (ou inexistentes) em qualquer caso, prova.
por ofensa à garantia do juiz competente: a lei No direito processual penal, entretanto, é
infraconstitucional não poderia abrir exceção mais freqüente a afirmação de que não seria apro-
não-prevista pela Constituição; (b) seriam nulos veitável nenhum ato do processo desenvolvi-
(ou inexistentes) apenas nos casos de violação do perante juiz constitucionalmente incompe-
às normas constitucionais de repartição de com- tente. A norma do art. 567 do CPP só se aplicaria
petência; quando a incompetência decorresse aos casos em que a incompetência decorresse
de ofensa a norma infraconstitucional, seria apli- de violação a preceitos infraconstitucionais23.
cável a regra de aproveitamento dos atos não- É dispensável, aqui, a verificação do acerto
decisórios igualmente estabelecida em âmbito da tese. Para os fins do texto, é suficiente consi-
infraconstitucional; (c) seriam nulos (ou inexis- derar os três aspectos que poderiam fazer justi-
tentes) somente nos casos em que os processos ficável solução diferente daquela a que se chega
fossem instaurados perante a “Justiça Especial” no processo civil: (a) a exigência de integral pro-
quando competente a “Justiça Comum”, vez que cessamento perante o órgão competente asse-
só os órgãos desta estariam idealmente inves- gura, no caso da ação penal pública, que a
tidos de toda a jurisdição; (d) seriam sempre própria denúncia seja proposta pelo órgão
válidos, vez que a Constituição limita-se a acusatório competente; (b) garante, além disso,
repartir competências: a economia processual que o juiz constitucionalmente competente – e
justificaria o estabelecimento de regras infra- apenas ele – decida acerca do recebimento da
constitucionais de aproveitamento dos atos não- denúncia ou queixa (a pendência da demanda
decisórios21. penal é muito mais gravosa para o réu do que a
Tem-se entendido que, no processo civil, é litispendência civil); (c) no mais das vezes, veri-
ficada a incompetência por ofensa a normas
integralmente aplicável, sem violação à Consti-
tuição, a regra do aproveitamento dos atos não- constitucionais, o aproveitamento de atos não-
decisórios (CPC, art. 113, § 2º)22 – com a ressal- decisórios é impraticável em virtude da radical
va de que, remetidos os autos para o órgão com- diversidade entre o procedimento penal já
desenvolvido perante o órgão incompetente e
petente, esse tem poderes para reexaminar todos
esses atos já praticados. Não que o processo aquele que se deverá efetivar frente ao órgão
civil seja infenso ao princípio do juiz competente. competente24.
Ainda que razoáveis tais argumentos, para
21
Sobre as várias correntes, vede: CINTRA, explicar a nulidade ab initio do processo penal
DINAMARCO, GRINOVER, op. cit., p. 238; Ap.
34.847, do 2ª TACivSP, colhida por Arruda Alvim e lia, Romboli – examinando o princípio do juiz natural
outros em Competência... p. 338-339; voto do Min. inclusive sob o prisma do juiz competente – aponta a
Moreira Alves no RExt. 80.226-BA (RTJ n. 89 p. necessidade de, como se dá com todo princípio, “co-
478-479). ordená-lo”, “balanceá-lo” e “temperá-lo” com os
22
Tal entendimento tem prevalecido perante os demais valores constitucionais (Il giudice... p. 237-
Tribunais: v., p. ex., os acórdãos do STF e do 2º 238).
23
TACivSP, indicados na nota anterior; ainda: STF. Nesse sentido: BREDA, Efeitos da declara-
RExt 88131-1. DJU p. 5.846, 10 ago. 1979. TRF- ção... p. 186-189; GRINOVER, FERNANDES, E
1ªR. Ap.Cív 0121993-DF. DJU p. 48251, 3 ago. GOMES Fº, op. cit., p. 45-46.
24
1995. Em doutrina, A. Alvim indica expressamente o Quanto a esse último aspecto, vede BREDA.
aproveitamento de atos instrutórios (p. 175). Na Itá- op. cit., p. 188.
Brasília a. 35 n. 140 out./dez. 1998 151
praticado frente ao juízo incompetente, nenhum certos limites, a arbitragem não ofende o princí-
deles interfere na legitimidade constitucional do pio constitucional da inafastabilidade da juris-
empréstimo da prova produzida perante juízo dição, representando importante meio alterna-
que não deteria competência para processar e tivo de solução de conflitos. Todavia, não pos-
julgar o feito para o qual se fará o traslado. Por- sui caráter jurisdicional27. O compromisso arbi-
tanto, mesmo no processo penal, é dispensável tral constitui ato de autonomia privada, no
que o juiz que presidiu a colheita da prova a se âmbito do direito material, pelo qual as partes
emprestar detenha competência para conhecer submetem ao julgamento de terceiro controvér-
a causa do segundo processo. sia que envolva direito disponível. Além disso,
Um último requisito constitucional impõe-se a matéria subtraída à apreciação do juiz limita-se
indistintamente para o empréstimo de prova precisamente à solução do tema objeto do com-
tanto no processo civil quanto penal. A prova promisso. Para a resolução de outros conflitos,
tem de haver sido originariamente colhida em alheios ao que foi objeto da arbitragem, os atos
processo frente a órgão jurisdicional. Trata-se instrutórios desenvolvidos perante o árbitro não
de decorrência direta da inafastabilidade da se revestem de valor especial28.
jurisdição e do devido processo legal (CF, art. É igualmente inviável o empréstimo de prova
5º, XXXV e LIV). Não há apenas o direito de ser produzida no exterior29. Órgãos, ainda que juris-
ouvido e receber uma resposta do órgão jurisdi- dicionais, de outros Estados não exercem juris-
cional. Mais ainda, existe o direito de, perante dição brasileira (por isso a sentença estrangeira
esse – e com o completo sistema de garantias só adquire eficácia no Brasil se homologada pelo
que peculiariza o processo jurisdicional –, STF). Todavia, em todos aqueles casos em que
desenvolverem-se as atividades destinadas a a prova não tenha como ser realizada no Brasil,
“far valere sul piano probatorio le proprie torna-se admissível seu traslado de processo já
ragione e di influire sullo svolgimento della desenvolvido em outro Estado (por exemplo: a
controversia” 25. Nesse ponto, “presença das ouvida de testemunhas no exterior; exame peri-
partes” e “presença do juiz” interagem. cial sobre bem situado fora do território nacio-
Não se tratando de prova inerentemente pre- nal etc.). Afinal, a exigência de que as provas se
constituída, sempre que possível (v. 12, adiante), produzam frente à jurisdição brasileira tem seu
deve ser produzida no processo jurisdicional, limite na própria possibilidade de tal produção –
sob o pálio de suas garantias. Nesses casos, sob pena de haver desarrazoada restrição ao
não é cabível o mero empréstimo de “prova” direito de provar (v. 12, adiante). Daí por que,
produzida em processo ou procedimento admi- nesses casos, não se põe em dúvida a legitimi-
nistrativo, inclusive inquérito policial26. dade constitucional da carta rogatória. Conse-
qüentemente, a economia processual autoriza
Tampouco se admite o empréstimo de prova que, presentes os demais requisitos, empreste-se
colhida em procedimento arbitral. Dentro de a prova já produzida no exterior, em vez de se
25
TROCKER, op. cit., p.. 514-515, comentando
expedir carta rogatória para a repetição do ato.
o reconhecimento da inconstitucionalidade de lei que
na Itália entregava a órgão administrativo, com exclu- 4. Outros requisitos de admissão e
sividade, a comprovação de determinados fatos. Tra-
tando do mesmo caso, Comoglio destaca que haveria
produção legítimas
inconstitucionalidade ainda que existisse a possibili- Há ainda requisitos que poderiam ser cha-
dade de contraditório frente à administração (op. cit., mados de “legais” – embora indiretamente tam-
p. 218-219). bém atendam a valores constitucionais. Terão
26
Nesse sentido: LESSONA, op. cit., p. 31-32
(note-se que, quando o autor admite o empréstimo de 27
Vede, entre outros, CHIOVENDA. Institui-
prova de giudizio amministrativo, está a referir-se ao ções... p. 78; FAZZALARI, Istituzioni... p. 505.
processo jurisdicional desenvolvido perante a Gius- 28
tizia amministrativa; a seguir, não aceita o traslado de Em sentido contrário: ECHANDÍA. op. cit.,
prova colhida na pratica od inchiesta amministrati- p. 376.
va). Na jurisprudência, afastando o empréstimo de 29
Nesse sentido: LESSONA. op. cit., p. 31-32.
prova colhida em inquérito, vejam-se: RJTJESP n. 99 Em sentido contrário, Echandía (op. cit., p. 376-377),
p. 201; RePro n. 43 p. 289; RTJ n. 56 p. 283 (nos três afirmando incorretamente que essa também seria a
casos, porém, embora se fizesse menção à inadmissi- posição de Lessona. Lessona admitia, isso sim, apro-
bilidade também por ser proveniente de inquérito, veitamento de provas produzidas frente à “jurisdição
não se preenchia igualmente o requisito do contradi- consular” e aos “tribunais coloniais”, que na época
tório). integravam a jurisdição italiana.
152 Revista de Informação Legislativa
de ser observadas as prescrições atinentes à Embora o CPP não possua regra genérica
natureza originária da prova, tanto no primeiro determinando a observância do contraditório
processo quanto no segundo. Além disso, no por ocasião da juntada aos autos da prova
processo para o qual a prova está sendo empres- documental, também no processo penal o juiz
tada, terão de ser observadas as normas atinen- deverá dar ciência do traslado às partes. A essa
tes à prova documental, já que é sob esta forma conclusão se chega quer pela aplicação exten-
que se dá o traslado30. siva (CPP, art. 3º) do art. 475 do CPP (que proíbe
Cabe aqui uma diferenciação. “a produção ou leitura de documento que não
tiver sido comunicado à parte contrária, com
A exigência de que a prova, no primeiro pro- antecedência, pelo menos, de três dias”), quer
cesso, tenha sido regularmente colhida é requi- pela aplicação subsidiária do art. 398 do CPC –
sito de admissibilidade para seu empréstimo. senão pela incidência direta da garantia consti-
Do mesmo modo, a observância, no segun- tucional do contraditório (art. 5º, LV)32.
do processo, das normas que disciplinam a Por isso, não parecem acertadas as decisões
admissibilidade da prova em sua essência origi- que consideram desnecessária a abertura de
nária também é pressuposto de admissibilidade vista à parte depois do empréstimo, sob o argu-
do empréstimo. Exemplificando: em tese, não mento de que ela já exercera o contraditório por
seria possível o empréstimo de prova testemu- ocasião da produção originária da prova33. A
nhal para a comprovação de fatos que não parte tem o direito de se manifestar sobre a
admitem prova mediante testemunha (v.g., CPC, admissibilidade do empréstimo, sobre o valor
art. 401). Esse requisito tende a ser mitigado, na que, concretamente, no segundo processo, a
medida em que as tarifações legais de prova vão prova trasladada deve merecer – e assim por
recebendo interpretação cada vez mais restriti- diante. Para tanto, tem de lhe ser dado conheci-
va (por exemplo, confira-se a tendência juris- mento da juntada.
prudencial limitadora do alcance e da extensão
do art. 401 do CPC, nas notas ao preceito apos- Há quem ainda estabeleça outro pressuposto
tas por T. Negrão, CPC..., p. 307). da prova emprestada: a identidade ou semelhança
do fato probando nos dois processos34. Não é,
Ainda, inclui-se entre os pressupostos de porém, requisito específico da prova empresta-
admissibilidade da prova emprestada o respei- da, senão o pressuposto genérico de pertinên-
to, no segundo processo, às normas que traçam cia e relevância a ser considerado para a admis-
os limites e condições para a juntada de docu- são de qualquer meio probatório35.
mento.
É no âmbito da relevância e pertinência que
Já a observância do procedimento da ativi- se insere a questão da possibilidade de emprés-
dade probatória documental por ocasião do timo de prova sobre a saúde mental do acusado.
empréstimo não constitui um pressuposto para Como observa Vicente Greco Filho:
sua admissão – e sim parâmetro de regularidade “O exame será sempre específico para
do traslado. Não é um requisito da sua aceita- os fatos relatados no inquérito ou no pro-
ção, mas da sua produção válida, depois de cesso, e não pode ser substituído por
aceita, no segundo processo (a distinção tem interdição civil ou exame de insanidade
relevância porque podem ser diferentes as con- realizado em razão de outro fato. Isto
seqüências da admissão indevida e da produ- porque, em virtude do sistema biopsico-
ção indevida do empréstimo). lógico sobre a inimputabilidade acolhido
A mais significativa das normas relativas à pelo Código Penal, os peritos devem res-
produção da prova documental é a que assegura ponder se à época do fato o acusado era,
o contraditório. Nos termos do art. 398 do CPC, 32
será ouvida a parte contrária à que requereu o Nesse sentido, entre outros: GRINOVER, O
conteúdo... p. 26; Gomes Fº. op. cit., p. 163; Greco
empréstimo. Tendo sido o traslado determinado Fº. op. cit., p. 210.
ex officio, ouvem-se ambas31. 33
TRF-3ªR. Ap.Cív. 03007150-SP. DOE, p. 80,
2 abr. 1990. TRF-3ªR. Ap.Cív. 03024861-SP. DOE,
30
ARANHA, Da prova... p. 197; GRINOVER, p. 173. 3 ago. 1992.
Prova emprestada, p. 66. 34
SANTOS. op. cit., p. 314; ARANHA. Da
31
Sobre o contraditório em relação às provas prova... p. 197.
colhidas de ofício, v., por todos, GRINOVER. O 35
Nesse sentido, GRINOVER. Prova empres-
conteúdo... p. 24-27. tada, p. 67.
Brasília a. 35 n. 140 out./dez. 1998 153
ou não, capaz de entender o caráter crimi- processo”. No item 9, examinam-se especiais
noso do fato e de determinar-se segundo hipóteses em que o empréstimo da prova pode-se
esse entendimento. Logo, não pode haver dar com a ofensa a normas de direito material,
aproveitamento de outro exame referente tornando-a “ilícita”.
a outro fato”36.
Essa constatação limita bastante, mas não
exclui por completo o empréstimo de prova 6. A natureza do vício
acerca da sanidade. Pode ter havido, em outro A natureza do vício e as conseqüências do
processo, perícia relativa ao estado mental do empréstimo ilegítimo variam, contudo, confor-
acusado precisamente à época do fato. Além me os requisitos que tenham sido desatendidos.
disso, o empréstimo pode destinar-se a com-
provar insanidade superveniente – a qual tam-
bém tem repercussão jurídica (CPP, art. 152). Fora 6.1. Conseqüências da inobservância dos
dessas hipóteses, o traslado de exame será requisitos constitucionais
inadmissível, posto que tem por objeto fato Inobservados os requisitos constitucionais
irrelevante. (item 3), a prova trasladada é juridicamente ine-
xistente; é uma “não-prova”, arremedo de pro-
5. Prova emprestada no quadro va38. Outra não pode ser a conseqüência da
da validade das provas frontal violação às normas constitucionais.
Enquanto prova constitucionalmente ilegítima:
Tem prevalecido, na doutrina brasileira, clas-
sificação que distingue as provas “ilegais” em (a) Não poderá ser nem anexada ao pro-
“ilícitas” e “ilegítimas”. Nas palavras de Ada cesso, por expressa cominação constitucional
Grinover, reportando-se a terminologia de (art. 5º, LVI). Embora a fórmula empregada no
Nuvolone, inc. LVI do art. 5º da CF tenha aludido a provas
“ilícitas”, a sanção ali estabelecida aplica-se a
“a prova pode ser ilegal, por infringir à toda prova ofensiva a valores constitucionais
norma, quer de caráter material, quer de fundamentais, inclusive os processuais.
caráter processual. (...) Vê-se daí que a
distinção entre prova ilícita e prova ilegí- De mais a mais, e diferentemente de outras
tima se faz em dois planos. No primeiro espécies de provas produzidas em desrespeito
enfoque, a distinção diz com a natureza a regras processuais, não há como se sanar o
da norma infringida ou violada: sendo esta vício nesse caso: não há o que se fazer se a
de caráter material, a prova será ilícita; parte contra a qual se pretendia usar a prova
sendo de caráter processual, a prova está emprestada não participou do processo anterior;
ilegítima. No segundo plano, a distinção igualmente nada há que supra a circunstância
é estabelecida quanto ao momento em que de o órgão perante o qual se produziu origina-
se dá a violação, isso porque a prova será riamente a prova não ter caráter jurisdicional.
ilícita infringindo, portanto, norma mate- Logicamente, a repetição, no segundo processo,
rial, quando for ‘colhida’ de forma que da prova que se pretendia emprestar não é “sa-
transgrida regra posta pelo direito mate- neamento” do empréstimo ilegítimo. Nesse caso,
rial; será, ao contrário, ilegítima, infringin- não se estará suprindo defeito na prova trasla-
do norma de caráter processual, quando dada, mas se desenvolvendo exatamente a ati-
for ‘produzida’ no processo, em violação vidade probatória que em princípio seria dis-
à regra processual”37. pensável se a prova emprestada fosse válida39.
(b) Se indevidamente juntada, terá de ser
A prova emprestada que não atenda aos desentranhada. Esse é o sentido do vocábulo
pressupostos apresentados nos dois itens
anteriores se insere na categoria das provas “ile- 38
Ibidem, p. 20-21 e 121.
gítimas”, vez que violadora de normas que tute- 39
Nesse ponto, não há como não se mencionar a
lam valores atinentes “à lógica e à finalidade do peculiar disciplina da prova emprestada no direito
36 processual civil colombiano. Se aquele contra quem
Op. cit., p. 170 – com destaque no original. vai ser empregada não participou do processo ante-
37
Provas ilícitas, p. 170-171. Vede ainda de rior, a prova testemunhal emprestada é admissível
Grinover: Interceptações... p. 61, e Liberdades... p. desde que se proceda à sua “ratificação”: a testemu-
96-99; e, em conjunto com FERNANDES, GOMES nha é chamada ao segundo processo para confirmar o
Fº op. cit., p. 113. que disse no primeiro (ECHANDÍA. op. cit., p. 367-
154 Revista de Informação Legislativa
“inadmissibilidade”. No processo penal italiano, técnica, as partes não podem dispor do contra-
a “inutilizzabilità” da prova proibida chegou a ditório perante o juiz constitucionalmente com-
ser interpretada por alguns como sua tão-só petente.
impossibilidade de utilização no momento da Já no processo civil, em que a regra geral é a
valoração. O CPP de 1988 (art. 191) e os debates da disponibilidade das posições processuais,
que o precederam deixaram claro que a “inutilizza- tem de ser outra a solução. Se a própria parte a
bilità” consiste na inviabilidade de aproveita- quem a prova desfavorece requereu seu emprés-
mento da prova desde o início do procedimento timo (ou não o impugnou), fica afastado o óbice
probatório: mais do que ser desconsiderada de ela não haver participado em contraditório
quando da decisão, a prova vedada não pode no processo anterior. A situação não será em
nem ser admitida40. A Constituição brasileira foi nada diversa daquela que haveria se, no pró-
precisa. O termo empregado evidencia que o prio processo em que a prova foi produzida,
procedimento probatório não poderá nem mes- houvesse sido dada a oportunidade de contra-
mo passar da etapa de admissão. Desrespeitada ditório a essa parte e ela tivesse aberto mão de
a regra e admitido o que não poderia sê-lo, san- seu exercício. Ainda, quando, no processo civil
ciona-se com o desfazimento da admissão ofen- (em que prevaleça a disponibilidade da ação e
siva à norma constitucional. da defesa), a própria parte desfavorecida por
(c) De qualquer modo, caso permaneça nos prova não-produzida perante a Jurisdição é
autos, não poderá ser considerada no julga- quem pleiteia seu empréstimo, ou com ele con-
mento. O poder de livre valoração de que é corda, também então este não será inadmitido.
investido o julgador pressupõe provas legais. De todo modo, ficará sempre ressalvada a hipó-
Antes, delimitam-se as provas constitucional- tese de o juiz, com base nos seus poderes pro-
mente admissíveis: dentro desse universo é que batórios, fundamentadamente determinar nova
se desenvolve a liberdade para a formação de produção da prova – a despeito da concordân-
um convencimento motivado. cia das partes quanto ao empréstimo (aliás, em
(d) Se utilizada pelo juiz, acarretará a nuli- qualquer caso, o juiz sempre terá essa possibili-
dade absoluta da decisão. dade – v. item 12).
As decorrências apontadas até aqui são
basicamente as que afirma Ada Grinover, em 6.2. Inobservância dos requisitos “legais” de
parecer que envolvia caso penal41. Aplicam-se produção e admissão – decorrências
igualmente ao processo civil. Ressalve-se, ape-
nas, que a incidência do princípio da proporcio- Quando não se tiverem observado, no pro-
nalidade pode vir a afastar tais conseqüências, cesso de origem, os pressupostos de produção
tanto no processo civil, quanto no penal (v. válida da prova (v. item 4), será também inad-
item 12). missível seu empréstimo – aplicando-se o regime
A ilustre processualista destaca ainda outro discriminado no tópico anterior. Como já se
aspecto. A nulidade absoluta de que será eivada expôs, não há como corrigir, no segundo pro-
a decisão fundada na prova emprestada ilegítima cesso, os vícios ocorridos no primeiro. Eventu-
ocorrerá independentemente de se considerar a almente, o processo de origem ainda não se
parte que requereu o empréstimo. Isso porque, encerrou e o vício de que padece a prova é
sanável. Nessa hipótese, suprido o defeito no
em primeiro lugar, à nulidade absoluta não se primeiro processo, poderá ser admitido seu
aplica o “princípio do interesse”. Depois, em empréstimo para o segundo.
face do “princípio da comunhão”, a prova é do
juiz e não das partes – sendo irrelevante quem a Já se o defeito disser respeito exclusivamente
requer42. ao segundo processo (v. item 4: inobservância
A constatação é válida, como regra, para o das normas atinentes à prova em sua essência
original ou das normas atinentes à prova docu-
processo penal. Especialmente em virtude da mental), terão de ser diferenciadas duas hipóte-
indisponibilidade da ação pública e da defesa ses: (a) inobservância das regras de admissibi-
lidade da prova documental ou da prova em
368). Ora, aí não há empréstimo nenhum, mas nova sua essência de origem; (b) inobservância das
produção da prova. regras sobre a produção da prova documental.
40
GALANTINI. L’inutizzabilità... p. 85. Relativamente ao primeiro caso (desrespeito
41
Prova emprestada, p. 65, 67-68. às regras de admissibilidade), as conseqüências
42
Ibidem. serão semelhantes às do item anterior. Então,
Brasília a. 35 n. 140 out./dez. 1998 155
caso se junte prova emprestada no procedimento quando os atos de produção da prova tiverem
do júri sem o respeito à limitação de juntada ou sido atingidos pelo vício que acarretou o fim
leitura de prova documental constante do art. anormal do feito. Mas tal não significa um
475 do CPP, terá de ser desentranhada dos requisito para o empréstimo diferente dos já
autos. Decisão a que se chegue depois de sua indicados acima. Apenas se estará levando em
juntada ou leitura será nula. Caso o júri dela conta a exigência de que a prova tenha sido
tenha tomado conhecimento, impor-se-á sua regularmente produzida no processo anterior
dissolução. Afinal, como o júri é dispensado de (item 4, acima). O mesmo vale para o processo
apresentar a motivação do seu convencimento, anulado. Apenas não se admitirá o empréstimo
não haveria como se verificar se ele valeu-se de se a anulação decorrer de vício em ato anterior e
tal prova inadmissível. que constitua antecedente lógico à produção
Diante da segunda hipótese (ofensa às da prova44.
normas de produção da prova documental), a
resposta variará conforme a natureza do vício –
submetendo-se à disciplina geral das nulidades 8. Empréstimo
no campo probatório e havendo a repetição de ex officio de prova45
atos, quando necessário. Assim, por exemplo,
se, por ocasião da juntada aos autos das peças O juiz poderá determinar de ofício o emprés-
que documentam a prova emprestada, não se timo de prova – observados os requisitos acima
der vista às partes (ou à parte adversária da que expostos. Aplica-se a regra do art. 130 do CPC.
requereu o traslado), a decisão que nela se Nem se diga que, por conhecer de antemão o
fundar será nula, por ofensa ao contraditório. resultado probatório, sabendo a qual parte o
Todavia e por óbvio, a conseqüência não será a empréstimo favorecerá, o juiz estaria violando
inadmissibilidade do empréstimo, mas a cassa- seu dever de imparcialidade. Basta inverter a
ção do ato decisório e a concessão da oportuni- questão para demonstrar o erro desse argumen-
dade do contraditório que antes faltou. to: deixando de determinar o empréstimo, o juiz
estará sendo parcial em favor daquele que seria
7. Irrelevância dos possíveis prejudicado pela prova.
destinos do processo anterior Se a reconstituição dos fatos determinada
de ofício vem a beneficiar quem tem razão, não
O resultado do processo anterior, em si há nisso infração ao dever de imparcialidade,
mesmo, não repercute sobre a definição da mas o adequado cumprimento da função juris-
admissibilidade e eficácia da prova emprestada. dicional. A imparcialidade se concretiza pela
Assim, não importa qual foi a influência da concessão de iguais oportunidades aos litigan-
prova no convencimento do juiz do primeiro pro- tes e a consideração mais isenta possível de
cesso. O que se transporta de um processo para seus argumentos – e cessa aí. As vantagens
o outro não é a convicção a que chegou o julga- que advêm no processo a alguma das partes,
dor e sim as peças que documentaram a produ- precisamente porque e na medida em que esta
ção probatória43. Feito o traslado, o juiz do tem razão, não são mais do que conseqüências
segundo processo poderá chegar a conclusão da correta atuação imparcial.
diversa da adotada pelo primeiro juiz relativa- Não fosse assim, toda vez que se emitisse
mente à mesma prova. Por isso, é irrelevante se provimento jurisdicional ou se efetivasse medida
o processo anterior recebeu ou não julgamento executiva em favor de um dos litigantes, faltaria
de mérito e, em caso positivo, qual a valoração imparcialidade. Na feliz expressão de Fazzalari,
que nele mereceu a prova objeto do empréstimo – 44
até porque a regra geral é a de que não se reves- Ibidem, p. 371-372, 375-376; LESSONA. op.
cit., p. 21. A. Santos afirma possível o empréstimo
tem da autoridade da coisa julgada as conclu- apenas quando a anulação decorre de defeito em
sões acerca da existência ou inexistência de fatos momento subseqüente à atividade probatória (op. cit.,
contidas na motivação da sentença (CPC, art. p. 318), não se apercebendo de que o vício pode estar
469, II). Pode-se até emprestar prova de processo em ato anterior à produção da prova sem que afete a
que ainda nem se encerrou. validade dessa, por não lhe ser um antecedente lógico.
Havendo a extinção do processo sem julga- 45
O tema é examinado, à luz do dever de impar-
mento de mérito, só será vedado o empréstimo cialidade, por Ivan Righi em Os poderes do juiz, que,
inclusive, relata interessante caso com que se defron-
43
ECHANDÍA. op. cit., p. 369. tou, na condição de magistrado.
156 Revista de Informação Legislativa
o provimento jurisdicional é, nesse sentido, primeiro processo – a não ser que o segredo da
“squisitamente parziale, é tutto a favore di chi Justiça esteja tutelando exclusivamente interesse
ha ragione”46. da própria parte que pleiteia o empréstimo, a
qual, assim, concorda em estender o conheci-
mento da matéria sigilosa aos participantes do
9. Prova produzida sob segredo segundo feito.
da Justiça e prova obtida mediante A Constituição autoriza excepcionalmente a
interceptação autorizada colheita de provas mediante interceptação de
Cabe o exame de duas hipóteses particula- comunicações previamente autorizada por ordem
res de empréstimo de prova, em que sua realiza- judicial, para fins de investigação criminal ou
ção poderá importar violação de normas de instrução processual penal (art. 5º, XII, parte
direito material. final). A Lei 9.296/96 disciplinou o tema, fixando
Há processos que, em atenção ao direito à os pressupostos da interceptação e restringin-
intimidade ou ao interesse público, têm sua do-a à investigação ou comprovação de fatos
publicidade restrita às partes e seus procurado- que constituam crimes puníveis com reclusão
res (CF, art. 5º, LX; CPC, art. 155; CPP, art. 792). (art. 2º).
Alguém que seja terceiro em relação a tal Indaga-se da possibilidade de, autorizada a
processo não poderá pleitear o empréstimo de interceptação em determinado processo penal,
prova nele produzida, por não ter conhecimento emprestar-se para outro processo a prova obtida
do que nele ocorre. Se o tiver, poderá inclusive por meio dela.
estar caracterizado crime de quebra de segredo Na doutrina, há quem já tenha admitido tal
da Justiça (Lei 9.296/96, art. 10). No mesmo tipo empréstimo – inclusive para processo civil, no
penal, este terceiro incidirá quando, por conta qual o juiz jamais poderia diretamente autorizar
própria e independentemente de autorização a interceptação telefônica47. Barbosa Moreira
judicial, trouxer para os autos do feito em que é resume os argumentos essenciais contra e a
parte cópia de termos que documentaram a pro- favor do empréstimo, nos seguintes termos:
dução de prova em processo de publicidade “(...) pode argumentar-se que, uma vez
restrita. O empréstimo, nessa hipótese, caracte- rompido o sigilo, e por conseguinte sa-
rizará prova “ilícita” (v. item 5), vez que produzi- crificado o direito da parte à preservação
do em violação a direito de intimidade ou ao da intimidade, não faria sentido que con-
interesse público. Os documentos juntados pela tinuássemos a preocupar-nos com o risco
parte terão de ser desentranhados, sendo inuti- de arrombar-se um cofre já aberto. Mas,
lizáveis no processo (v. item 6.1). por outro lado, talvez se objete que assim
As partes do processo que tramita sob segre- se acaba por condescender com autênti-
do da Justiça não poderão pretender o emprés- ca fraude à Constituição. A prova ilícita,
timo de prova nele produzida para outro em que expulsa pela porta, voltaria a entrar pela
qualquer delas litigue contra terceiro – quando janela...”48.
menos, porque isso afrontaria a garantia do con-
traditório (item 3.1). Não cabe, aqui, examinar o acerto da opção
política do Constituinte ao restringir drastica-
Resta a hipótese do empréstimo de prova do mente o emprego das provas ilícitas e das hipó-
processo de publicidade restrita para outro envol- teses de autorização de interceptações – mas,
vendo exatamente as mesmas partes. Põem-se apenas, precisar o conteúdo da disciplina esta-
duas alternativas: (a) constata-se que, embora belecida no ordenamento.
integrante de processo que tramita sob segredo
da Justiça, a prova não implica a necessidade A definição da questão exige que se consi-
de sigilo – trasladando-se-a, simplesmente; (b) dere o regime que a Lei 9.296/96 conferiu às
ou, não sendo assim, passa a vigorar a publici- interceptações autorizadas. É nos estritos limi-
dade restrita às partes e seus procuradores tam- tes desse diploma que opera a exceção à garan-
bém no processo para o qual a prova é empres- tia da inviolabilidade das comunicações. Tanto
tada. Nesse último caso, o empréstimo não será é assim que, antes, o STF havia negado validade
possível se o segundo processo envolver, como a interceptações telefônicas, mesmo quando
litisconsorte ou assistente de qualquer das autorizadas pelo juiz em processo penal, por
partes, alguém que seja terceiro em relação ao 47
NERY JR. Princípios... p. 145-146.
46 48
op. cit., p. 470. A Constituição e as provas... p. 153.
Brasília a. 35 n. 140 out./dez. 1998 157
reputar que a parte final do inc. XII do art. 5º da propôs nova ação, alegando falsa data do tes-
CF dependia de regulamentação legislativa49. O tamento e invocando a anterior “confissão”.
parágrafo único do art. 2º da Lei 9.296/96 impõe Para Lessona, a anterior admissão de que a data
que, “em qualquer hipótese”, seja “descrita com do testamento era falsa não poderia ser apro-
clareza a situação objeto da investigação”. E, veitada como confissão no segundo processo,
nos termos do art. 9º, toda a gravação que não porque faltaria o animus confitendi (a intenção
interessar à prova de tal situação de o depoente fornecer, por meio de sua decla-
“será inutilizada por decisão judicial, ração, uma prova para o adversário)50.
durante o inquérito, a instrução proces- Não é de se concordar com tal assertiva. A
sual, ou após esta, em virtude de requeri- confissão tem, em nosso sistema, natureza de
mento do Ministério Público ou da parte ato probatório. Não constitui ato de disposi-
interessada”. ção, de submissão à pretensão do adversário. É
precisamente por isso que não se identifica com
É, portanto, absolutamente inaproveitável para o reconhecimento do pedido e a renúncia ao
qualquer outro fim a gravação que não diga res- direito em que se funda a ação. No âmbito sub-
peito à comprovação da situação apresentada jetivo do confitente, a única exigência que se
ao juiz quando se requer a interceptação – ainda põe é a da voluntariedade da confissão – no
que se preste à comprovação de outros fatos. sentido de ser livremente apresentada, sem que
Essa mesma diretriz há de vigorar para as grava- haja coação. É irrelevante que o confitente tenha
ções que interessem à situação investigada e a intenção de, ao admitir fatos como verdadei-
sejam levadas ao processo penal: apenas neste ros, favorecer seu adversário. Daí que, presentes
serão utilizáveis – não se permitindo seu empre- os demais requisitos (v. itens 3 e 4), pode ser
go para outras finalidades, mediante empréstimo trasladado para um segundo processo, servindo
de prova. como confissão, o termo de depoimento pessoal
Nos casos ora examinados, em que se con- em que a parte admitiu como verdadeiros fatos
cluiu pela negativa de empréstimo, fica também que, para o primeiro processo, eram irrelevantes.
ressalvada a possível aplicação do princípio da Pondere-se, entretanto, que, como as demais
proporcionalidade (v. item 12). fontes probatórias, a confissão tem valor relati-
vo, submetendo-se à avaliação livre e motivada
que o juiz desenvolve (CPC, art. 131; CPP, arts.
10. Empréstimo 197 e 200).
de depoimento pessoal A esse aspecto somam-se outros, no pro-
Enquanto espécie probatória, também o cesso penal, que mitigam a importância da con-
depoimento pessoal é passível de empréstimo fissão emprestada. O acusado tem o direito ao
para outro processo – desde que presentes os interrogatório. Este, mais do que ato de instru-
requisitos antes examinados. Exclui-se dessa afir- ção, é ato de defesa: é a oportunidade que se dá
mação a confissão ficta ou presumida, que, quan- ao réu do processo penal de apresentar direta e
do cabível, não é mais do que conseqüência da pessoalmente ao juiz sua versão dos fatos. A
preclusão da possibilidade de cumprimento de falta desse ato acarreta a nulidade do processo
um ônus – sendo, por isso, necessariamente (CPP, art. 564, III, e)51. Assim, e mesmo quando
limitada ao processo em que ocorre. trazido de empréstimo o depoimento do acusa-
Carlo Lessona, depois de admitir o emprés- do prestado em outro processo, é indispensá-
timo de confissão, apresenta grave ressalva a vel a realização do interrogatório – ocasião em
esse entendimento, mediante um exemplo: em que inclusive o réu será inicialmente informado
processo em que se buscava provar ser nulo o de seu direito de permanecer em silêncio (CF,
testamento por demência do testador, “confes- art. 5º, LXIII). Além disso, a confissão é retratá-
sa-se” que o testamento foi feito em 17 de abril – vel: o acusado pode negar fatos que antes ad-
e não 16, conforme constara do respectivo ins- mitira – cabendo ao juiz, livre e motivadamente,
trumento – com a certeza de que isso não teria ponderar qual versão deve prevalecer (CPP, art.
relevância para o feito; extinguindo-se o pro- 200).
cesso sem julgamento de mérito, o sucumbente 50
LESSONA, op. cit., p. 628.
49
HC 69.912-RS. DJU 26 nov. 1993 (v. Infor- 51
Vede, por todos: GRECO Fº, op. cit., p. 200;
mativo STF, n. 36, 29 jun. 1996); Ação Penal 307 MARQUES. Elementos... v. 2, p. 321; GRINOVER,
(RTJ, n. 162 p. 3). FERNANDES, GOMES Fº, op. cit., p. 71.
158 Revista de Informação Legislativa
11. A recente disciplina da juntada de com menor dispêndio de tempo e recursos ma-
verbali no processo penal italiano teriais, o processo seja mais acessível a todos
(é aplicação do célebre “princípio econômico”,
O CPP italiano de 1988, na parte destinada à formativo do processo). Sendo essa a função
prova documental, disciplinou a admissibilida- normal da prova emprestada, impõem-se, com
de da juntada de verbali (termos a que se redu- rigor, a observância dos requisitos antes mencio-
zem determinados atos processuais, inclusive a nados e a sanção por seu descumprimento. Afi-
colheita de certas provas) de outros processos nal, a pura e simples economia processual não
(art. 238, comma 1º a 3º). O dispositivo não sig- justificaria o olvido dos valores constitucionais
nifica a regulamentação integral da prova em- indicados acima. Também por ser essa a função
prestada, pois nem toda prova se documenta primária da prova emprestada, justifica-se a
em verbali. diferença de seu regime – em determinados
Se os verbali foram produzidos em outro pontos – no processo penal e civil, precisamente
processo penal, a admissibilidade de sua junta- em virtude da diversidade de valores envolvidos
da submete-se aos seguintes requisitos: (a) de- em um e outro.
vem retratar atos desenvolvidos com as garan- Dentro dos parâmetros antes delineados, é
tias devidas para valer como prova. Como ob- a economia processual, somada à circunstância
serva Grevi, já esse requisito exclui as provas de que nenhuma garantia constitucional está
produzidas em audiências ou inquéritos preli- sendo violada, que autoriza o empréstimo da
minares52; (b) o traslado tem de ser consentido prova a despeito de inexistir sua previsão
por ambas as partes, que renunciam ao direito genérica no ordenamento. Como observava
de elaborar tal prova no processo em curso. Couture – exatamente ao analisar a prova
Caso os verbali tenham sido produzidos em emprestada –, a admissão de um meio de prova
processo civil, sua juntada aos autos do pro- não depende tanto de sua expressa previsão
cesso penal só é possível se o processo de ori- legal, quanto de sua consonância com os valo-
gem já tiver sido definido com sentença transi- res constitucionais55.
tada em julgado. Siracusano destaca que a con-
vicção acerca das provas formada no primeiro Assim, preenchidos os pressupostos es-
processo não vincula o julgador do segundo53. pecíficos e genéricos, a parte tem direito a que
Por fim, os verbali que documentam atos se proceda ao empréstimo. Nessa hipótese, a
que “não são repetíveis” têm seu traslado per- simples possibilidade de sua reprodução não é
mitido independentemente desses requisitos. motivo para a inadmissão.
Isso não significa, contudo, que a prova em-
Embora as normas ora noticiadas estejam prestada receberá sempre, absoluta e neces-
previstas apenas para o processo penal, é ine-
gável sua repercussão (por analogia ou aplica- sariamente, o valor que talvez possuísse em sua
ção subsidiária) sobre o processo civil italiano. essência originária. Também não é correto dizer
Assim, Proto Pisani, depois de, em princípio, que, mesmo sendo admissível, ela não poderá
negar o cabimento do empréstimo de prova no jamais assumir tal valor. O juiz, no caso concreto
processo civil, admite que a nova disciplina es- e motivadamente, conferir-lhe-á o valor que ela
tabelecida para o processo penal “è destinata a mereça. Poderá até determinar que se repita a
riaprire e a porre su nuove basi di diritto posi- prova. Mas nisso, aliás, a prova trasladada não
tivo il problema”54. se diferencia dos outros meios probatórios: em
qualquer caso, o juiz, concreta e fundamentada-
12. Conclusão: funções e fundamentos mente, avaliará a prova conforme sua convic-
ção, podendo mandar repeti-la.
da prova emprestada – notas finais Por outro lado, ausentes os requisitos cons-
sobre sua admissibilidade e valor – titucionais para sua admissão, não é concebível
a proporcionalidade nem mesmo sua permanência nos autos do
segundo processo. Não parece acertada a afir-
A função primeira e imediata do empréstimo mativa de que, em tais situações, poderia ser
da prova é a economia processual. Busca evitar aproveitada como “simples indício” ou “argu-
a repetição desnecessária de atos a fim de que, mento de prova”56.
52
Prove, p. 200. 55
Op. cit., p. 255.
53
Le prove, p. 439. 56
Admitem, nesses termos, o empréstimo de
54
Lezioni... p. 481. prova ofensivo a garantias processuais, entre outros:
Brasília a. 35 n. 140 out./dez. 1998 159
Basta que se considere o significado de “in- servindo de expediente para burlar a vedação
dício”: é o fato (“secundário”) já conhecido que ao seu emprego57.
possibilita, mediante procedimento lógico (“pre- Ocorre que, eventualmente, o empréstimo de
sunção”), a conclusão quanto à existência ou prova não se destina apenas à economia pro-
inexistência de outro fato (“primário”). Quando cessual. Há casos em que a prova é irrepetível
se fala em “prova indiciária”, está a referir-se ao ou, quando menos, sua repetição só se faria a
meio probatório que demonstra a existência do um custo bastante alto e despropositado. A
indício (a “prova do fato secundário”) ou à pró- prova emprestada, então, assume função diversa
pria presunção. Então, a diferença entre “prova e especial: evitar a perda da prova irrepetível ou
direta” e “prova indiciária” (ou indireta) não se de difícil repetição. Seu fundamento passa a ser
encontra primordialmente na maior ou menor o próprio direito à prova – radicalmente ligado à
idoneidade de uma ou outra. Reside no objeto ampla defesa e ao acesso à jurisdição: ou permi-
sobre o qual recaem: a primeira, diretamente te-se o traslado ou priva-se a parte de provar
sobre a afirmação atinente ao fato principal, sua razão.
“constitutivo, impeditivo ou extintivo” do direi- Em tais situações, não estando presentes
to em discussão (“A causou lesões corporais os requisitos constitucionais da prova empres-
em B”; “X é pai de Y”); a segunda, sobre a afir- tada, surgirá conflito de valores igualmente fun-
mação de um fato que permite conclusão lógica, damentais. Caso admitido o empréstimo, sairão
mais ou menos segura, sobre a existência, ou sacrificadas as garantias que estão à base da-
não, do fato principal (“A estava em outro país queles requisitos. Na hipótese contrária, o direito
no momento em que B foi agredido”; “X é abso- à prova e os que lhe servem de supedâneo é
lutamente impotente”). Ora, a prova que se pre- que sofrerão o prejuízo.
tende emprestar pode ter por objeto tanto a afir- A única solução concebível será a aplica-
mação de fato principal quanto de fato secun- ção do princípio da proporcionalidade. Tais
dário. Nesse sentido, sempre poderá ser prova valores (e também os que estão em jogo nos
“direta” ou “indireta” (“indiciária”). Não é a cir- próprios pólos da situação controvertida, obje-
cunstância de não se preencherem os requisitos to do processo) terão de ser ponderados de
para seu empréstimo que transmudará seu modo a se verificar quais entre eles são os mais
objeto. “urgentes e fundamentais” no caso concreto58.
A tese ora criticada pura e simplesmente Por isso, não se descarta, em termos absolu-
torna utilizável prova inconstitucional: a afirma- tos, a admissão da prova emprestada que não
ção de que ela pode ser utilizada como indício é preencha os requisitos antes mencionados.
apenas um primeiro passo; passo seguinte e ine- Outras situações-limite semelhantes à ora
vitável é o reconhecimento de que, em face do exposta poderão surgir e a admissão do traslado
livre convencimento, também tal “indício” pode destinar-se-á a evitar resultados desarrazoados
embasar a decisão do juiz. Daí que o resultado e desproporcionais. É sob essa ótica que, em
final será o aproveitamento dessa prova, como 57
outra qualquer. Nem se diga que, em tais casos, Confira-se panorama jurisprudencial acerca das
a prova inconstitucional serviria apenas para provas ilegalmente obtidas em processo penal apre-
sentado por Scarance Fernandes e Magalhães Gomes
“corroborar” outros elementos probatórios, pois Fº (Os resultados... esp. p. 94): em vários casos, a
de duas uma: ou bem esses elementos probató- despeito de se reconhecer a invalidade da confissão
rios por si só já bastariam (e então a prova incons- exclusivamente perante a polícia, admitiu-se-a sob o
titucional seria até dispensável, não havendo argumento de que foi corroborada por outros ele-
razão para permanecer nos autos); ou tais ele- mentos.
58
mentos seriam insuficientes e precisamente a Sobre o princípio da proporcionalidade (Verhäl-
prova inconstitucional é que faria a diferença tnismässigkeitprinzip), vede por todos Larenz,
(ou seja, estaria sendo aproveitada como ele- Metodologia... p. 490. Quanto à sua aplicação em
mento decisivo – em frontal colisão com a tema de provas, confiram-se, entre outros: ARAGÃO,
op. cit., p. 80; GRINOVER, FERNANDES GOMES
determinação constitucional de inaproveitabili- F.º, op. cit., p. 115-116, 119-120; MOREIRA,
dade). Enfim, a manutenção da prova inconsti- Barbosa. A Constituição e as provas... passim. Nestas
tucional nos autos como “simples indício” acaba duas últimas obras, há referências jurisprudenciais,
inclusive do STF. Ainda que sem referir-se expressa-
LESSONA, op. cit., p. 15, 31, 32-33; ECHANDÍA, mente ao princípio, Barbosa Moreira dele faz aplica-
op. cit., p. 374; SANTOS, A. op. cit., p. 307, 312- ção precisamente no tema da prova emprestada, na
313; ARAGÃO, op. cit., p. 62. conferência “Provas atípicas” (p. 125).
160 Revista de Informação Legislativa
muitos casos, justificar-se-á o transporte de riforma del procedimento elaborato dalla Comis-
prova favorável ao acusado, mas que não pre- sione per il dopo guerra.
enche as condições iniciais de admissão. Tam- __________
. Saggi de Diritto Processuale Civile. Milão
bém assim, a prova produzida em processo ou : A. Giuffré, 1993. v. 1 : Lo stato attuale del
procedimento administrativo desfavorável à processo civile in Italia e il projeto Orlando di
própria administração poderá ser aproveitada. riforme processual.
E, em todas essas hipóteses, admitido o em- CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER,
préstimo, caberá ao juiz, motivadamente, dar à Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido R. Te-
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