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No Capítulo 1: Filosoa e vida cotidiana: uma relação antiga Aiub busca situar
a Filosoa Clínica dentro da mesma motivação originária da própria Filosoa, que se
constituía em uma forma de elucidar problemas cotidianos de maneira radical e rigorosoa,
a m de solucioná-los ou compreender fenômenos correlacionados, de modo que defende
que a losoa nunca foi de fato afastada das questões da vida. Em especíco, a autora cita
o lósofo Heidegger ao mencionar sua ideia de que a losoa implica em uma disposição
em pensar junto com um outro, e prossegue mencionando Karls Jaspers ao ilustrar que
outra das características da losoa é induzir à saída da zona de conforto, desestabilizar de
algum modo. Engendrando uma discussão sobre como a losoa é usualmente pensada
do ponto de vista do senso comum, e desfazendo alguns pré-juízos relacionados, Aiub
naliza o capítulo com as noções que serão ponte para os capítulos subsequentes, a saber,
a losoa como possibilidade de estudarmos a nós mesmos e construírmos novas formas
de existir, o que é uma tarefa que a Filosoa Clínica se propõe a resgatar.
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aos conceitos que tem à sua disposição, estando estes atualizados em seu cotidiano ou não.
É então da competência ou responsabilidade do indivíduo escolher, de maneira ao mesmo
tempo ética, pois a realidade escolhida para si vai ecoar na coletividade e construção
do mundo para as gerações futuras, e simultaneamente funcional, pois o mundo possível
a ser escolhido e vivenciado deve ser o que mais contribui para a realização existencial
da pessoa, do ser o que se é. Neste processo há muitos movimentos possíveis, e como
exemplo temos a opção por realidades insucientes para suprir as demandas existenciais
da pessoa, causando desconforto ou sofrimento, e também ocasiões em que pode ser útil
recuperar modos de vida que existiram do passado e que e tornam oportunos no momento
presente, assim como pesquisar elementos conceituais que são de culturas distantes ou
distintas das nossas, por propiciarem composições de realidades que satisfazem certas
questões urgentes. A importância do estudo dos conceitos também está presente nos
primeiros passos da clínica losóca, ao tentar recuperar na historicidade do partilhante a
gênese dos elementos que originaram seus modos de existir, elementos estes estruturados
em conceitos atualizados e exercitados pela pessoa que traz suas questões ao consultório.
Compreender quando e como estes foram estruturados e/ou adotados permite um leque
maior de opções em favor da clínica como a possibilidade de adaptar conceitos, expandí-los
em sua aplicação aos objetos, redeni-los ou mesmo subistituí-los por outros mais viáveis,
auxiliando assim o partilhante a mudar pontos chaves de sua vida.
No Capítulo 5: Filosoa Clínica: de onde vem a ideia, Aiub esclarece alguns pontos
sobre a construção histórica da própria Filosoa Clínica, conforme idealizada pelo seu
fundador Lúcio Packter, a qual foi inspirada em algum grau pelo movimento da Filosoa
Prática na década de 1980. Ainda trazendo elementos deste movimento e de outras ver-
tentes das Ciências Psi, Packter tentou empregar um processo de anamnese tradicional,
propondo aos indivíduos que vinham procurar a clínica perguntas relativamente fechadas
com ns de averiguar e caracterizar os problemas trazidos. Estas questões acabavam se
revelando correspondentes às perguntas do lósofo que tratavam de um conjunto bem de-
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limitado de questões típicas, indagando acerca de pntos como família, trabalho, relações
com os pais, e outros eixos temáticos xos e usuais. Uma vez caracterizada a questão
do indivíduo de acordo com estes temas fechados, uma teoria losóca seria escolhida de
maneira que melhor respondesse ao conteúdo do problema, em um processo de fazer cor-
responder um conjunto xo de soluções a determinados problemas padrão. Não tardaria
para Packter perceber que este modo de conduzir a clínica poderia induzir ao erro, pois
tornou-se fácil vericar que nesta metodologia toda a humanidade seria facilmente carac-
terizável sob um conjunto de questões fundamentais bem delimitado. Foi ao se deparar
com autores como Gadamer, Dilthey e Hegel que Packter teria se dado conta de que
era necessário revisar seu método de anamnese, o inspirando a solicitar a historicidade da
pessoa, denida como a sua história de vida contada por ela mesma. Este novo método
permitiu que a pessoa e toda sua singularidade fosse preservada, e a coleta de dados assim
se tornasse mais rica, possibilitando inclusive que o próprio partilhante pudesse ter uma
visão em perspectiva de sua situação existencial. Esta coleta de dados da historicidade, a
qual não trata exatamente dos fatos mas sim de como a pessoa em questão representa os
fatos para si, é a base dos três eixos básicos e norteadores da clínica losóca: os Exames
Categoriais (o modo de situar a pessoa no tempo e no espaço), a Estrutura de Pensa-
mento (os modos de ser que a pessoa constituiu para si) e os Submodos (as formas usuais
que a pessoa utiliza para solucionar seus problemas e que podem ser usadas também pelo
lósofo clínico).
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demonstrar que a partir do conhecimento da malha conceitual pertinente ao partilhante,
assim como dos padrões revelados na historicidade e processos divisórios, é possivel, com
algum grau de aproximação, prever o resultado de cada movimentação na estrutura de
pensamento do mesmo.
O Capítulo 7: Eu sou normal? Por que parece que todo mundo pensa diferente de
mim? inicia com um questionamento por parte da autora sobre a noção de normalidade,
a qual é retratada apenas como compreendendo aquilo que está em conformidade com uma
norma vigente e que esta norma é um padrão que pode ser estabelcido para ns escusos,
perdendo assim sua legitimidade e podendo ser questionada a qualquer momento Esta
situação é ilustrada com o exemplo da personagem Dr. Bacamarte, da obra O Alienista
de Machado de Assis. A descrição de um processo de exclusão da norma é enfatizada,
como sendo aquilo que subjetivamente ou objetivamente leva muitos indivíduos à clínica,
ou seja, sentir-se não adequado ou deslocado diante de determinada norma aceita cole-
tivamente. Disto seguem variações, como o sofrimento antecipado pela possibilidade de
ser excluído, ou já na zona de exlcusão, o sofrimento por ter que se adequar à norma. É
esclarecido neste capítulo que a Filosoa Clínica enquanto terapia não toma partido sobre
a qualidade ou pertinência do padrão em questão, mas juntamente com o partilhante esta-
belece cenários possíveis para que o mesmo decida pelo melhor endereço existencial para
si, dada a situação de conito, e mais, calcula quais são as consequências de cada movi-
mento existencial pretendido, para o partilhante e seu entorno, o que traz mais elementos
para o exercício de autonomia existencial daquele que procura a clínica. Ao nal do capí-
tulo é ressaltado que o Filósofo Clínico, por não estar habilitado a diagnosticar os casos
em que o partilhante se encontra afastado da norma social em função de um desequilíbrio
químico ou orgânico, deve nestas situações desenvolver um trabalho interdisciplinar com
um prossional de medicina.
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onde cada um de seus tópicos ou elementos se afetam e implicam modicações entre si
mutuamente a exemplo de uma teia, a Estrutura de Pensamento é exível, uida e está
sempre em constante mutação, acompanhando as mudanças nos contextos de vida dos
partilhantes. A interdependência entre os tópicos permite, a exemplo do que pensa o
autor Lévi-Strauss, que se preveja com aproximação de que modo reagirá também todo
o conjunto no caso de modicação de um de seus elementos, sendo que há tópicos que
podem apresentar mais peso ou inuência para o conjunto do que outros.
O Capítulo 10: Submodos: como você age? trata da maneira utilizada por um in-
divíduo para lidar ou resolver suas questões, maneira esta que pode ser producente ou
não, pode estar atualizada com referência ao contexto ou não, pode ser resolutiva mas
trazer consequências desastrosas, dentre outras variações. O lósofo clínico primeira-
mente observa a aplicação informal destes Submodos, da maneira como o partilhante já
os utiliza naturalmente, mas, a partir da investigação da historicidade, exames categoriais
e estrutura de pensamento, pode, juntamente com o partilhante, criar novos submodos
adequados para as demandas existenciais, as quais podem ser atualizadas a cada consulta.
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de suas interações e por m faz um convite para que, nos colocando na posição de amigos
do saber e amigos do outro, possamos aplicar esta metodologia para sanar nossas próprias
questões.