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UNOCHAPECÓ
tMMJHlNK O M I V U I T A I U M Rtfili» Dl U U P K T
Reitor
Odilon Luiz Poli Prefácio 13
Vice-Reitora de E n s i n o , Pesquisa e E x t e n s ã o
Maurício Roberto da Silva
Maria Aparecida Lucca Caovilla
Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento
Cláudio Alcides Jacoski
Vice-Reitor de A d m i n i s t r a ç ã o Introdução 29
Antônio Zanin
Diretora de Pesquisa e P ó s - G r a d u a ç ã o Stricto Sensu
Valéria Marcondes
Capítulo 1. A necessidade histórica do w-^Ari
Este livro ou parte dele n ã o podem ser reproduzidos por qualquer conhecimento científico: a importância da v-' v
meio sem autorização escrita do Editor.
lógica e do método geométrico ,
001.42 Sanchez Gamboa, Silvio
S211p Projetos de pesquisa, fundamentos lógicos: a dialética
entre perguntas e respostas / Silvio Sánchez Gamboa Capítulo 2. A construção das perguntas 87
- Chapecó : Argos, 2013.
159 p.; 23 cm - (Didáticos ; 6)
Inclui bibliografia
Capítulo 3. A elaboração das respostas 113
ISBN 978-85-7897-116-8
Referências ^.^^ ?
Editora do unootiopocd
Coordenador
Dirceu Luiz Hermes
Conselho Editorial
Rosana Maria Badalotti (presidente), Carla Rosana Paz Arruda Teo (vice-presidente),
André Onghero, Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues, Dirceu Luiz Hermes,
Maria Aparecida Lucca Caovilla, Murilo Cesar Costelli,
Tânia Mara Zancanaro Pieczkowski, Valéria Marcondes
Capítulo 2
A construção das perguntas
O quadro a seguir explicita essa relação entre essência O pseudoproblema identifica-se com o "não saber" ou
e aparência, problema e pseudoproblema. com o desconhecimento da resposta j á elaborada.
102 Projetos de pesquisa, fundamentos lógicos Capítulo 2. A construção das perguntas 103
Por exemplo, perguntar u m endereço, uma localização, O p r ó x i m o esquema explicita a importância dos "sa-
uma definição, a origem de u m termo, o sentido de uma beres" no papel de falsear os problemas e na elaboração
expressãoL das perguntas e das respostas simples.
N a forma mais complexa, as informações, os dados,
as descobertas cientificas e os saberes elaborados também OS SABERES C O M O RESPOSTAS SIMPLES
podem ser tomados como respostas já existentes que fal-
Os saberes apresentam respostas " j á dadas",
seiam os problemas de pesquisa. Esse é o sentido que tem
" p r o n t a s " , elaboradas em outros contextos
a revisão bibliográfica, a busca de antecedentes de pes-
(geográficos e históricos, em espaços e tempos
quisa, os estados da arte, os balanços dos conhecimentos
diferentes), fixadas e/ou sistematizadas em sistemas
já produzidos sobre os problemas abordados pelas pes-
de i n f o r m a ç ã o (bibliotecas, redes, c a t á l o g o s ,
quisas. Essas revisões s ã o fundamentais para conferir se o
protocolos, manuais).
corpo de questões e as perguntas que orientam a investi-
gação já foram respondidos. N o caso das descobertas des- Os saberes míticos (mitus), comuns [doxa], científicos
sas respostas, o projeto perde relevância cientifica, já que (episteme) e filosóficos (sofia) oferecem respostas
falseiam os problemas abordados e o pesquisador terá o prontas, dadas e sistematizadas, embora "duvidosas"
risco de repetir pesquisas já concluídas. Entretanto, essas para os problemas concretos.
descobertas p o d e r ã o ser problematizadas quando se inda-
Os saberes acumulados poderão falsear os
gam especificidades, tais como contextos, lugares, tempos,
problemas de pesquisa, mas também p o d e r ã o ser
conjunturas diferentes em que os problemas se originam.
problematizados para gerar a partir deles novas
Neste caso, trata-se de problemas semelhantes, mas loca-
perguntas e novas pesquisas.
lizados em épocas, situações e sociedades diferentes. E as
descobertas, além de falsearem os problemas, servirão de
c o m p a r a ç ã o e possibilitarão uma discussão de resultados Fonte: elaboração do autor.
mais completa, além de produzir a inferência desses re-
sultados para a reafirmação de teorias e consolidação de Finalmente, a passagem da necessidade para o pro-
determinadas interpretações. Os saberes também p o d e r ã o blema de pesquisa supõe retomar sua essencialidade (con-
ser problematizados, e a partir das respostas já conhecidas cretividade) e suas diferenças com relação às aparências
gerarem novas perguntas e novas pesquisas. (psudoconcreticidade). O quadro a seguir destaca essa sín-
tese.
O p r ó x i m o movimento consiste na transformação da
3 E m alguns projetos de pesquisa, os problemas expostos na forma de perguntas problematização em questões e perguntas complexas. A ex-
chegam a ser tão simples que a solução está na consulta de um dicionário téc-
nico, um verbete em uma enciclopédia, uma obra especializada ou uma página plicitação dessas perguntas é a função mais importante de
na internet. Trata-se de falsos problemas, aliás, porque as repostas j á existem, um projeto de pesquisa. Vejamos a seguir essas sequências:
já foram elaboradas. O acesso a elas dirime o problema.
Isso supõe uma relação imediata ou próxima entre o su- Enunciado de:
jeito conhecedor e o objeto a ser conhecido. O conheci- a) marcos da localização do processo da pesquisa
mento exige a relação imediata do objeto e o sujeito na em uma área de conhecimento ou campo científico;
mesma dimensão espaço-temporal, para permitir a ve- b) critérios e categorias de análise;
rificação; já os saberes comunicam através de frases de- c) referências para discutir resultados;
notativas informações sobre o objeto sem precisar dessa d) horizonte da interpretação da resposta.
presença verificadora.
Fonte: elaboração do autor.
Fonte: elaboração do autor.
Outras fontes que anunciamos, embora não desen- Dependendo das fontes, algumas técnicas e instru-
volvamos nesta publicação já que seu objetivo é abor- mentos s ã o mais apropriados, tais como fichamentos,
dar apenas os fundamentos lógicos, s ã o : bibliográficas, questionários, entrevistas, diários de campo, gravador,
documentares, vivas ou testemunhais, observação direta, vídeo, tabelas de registro, materiais e instrumentos equi-
pamentos, protocolos, quadro de medidas e parâmetros,
sistemas de informação (insuficiência dos resultados encontrados nas buscas modelos informatizados. N a sequência lógica, serão pre-
informatizadas ou bibliográficas). Aliás, se as respostas que o pesquisador pos- vistas as técnicas de tratamentos de dados e informações:
sui e que a literatura oferece s ã o satisfatórias, n ã o tem sentido procurar novas
fontes. Quando isso n ã o acontece, deve-se perguntar: "quais as formas como o quantitativas (estatísticas, computacionais), qualitativas
objeto revela seus segredos.'" " C o m o obter informações e dados confiáveis so-
(análise de conteúdo, interpretação e análise do discurso),
bre esse objeto para elaborar as respostas às questões que orientam as buscas?"
"Que fontes oferecem dados e informações sobre os objetos a serem privilegia- assim como as técnicas de organização e sistematização de
das na pesquisa?"
Projetos de pesquisa, fundamentos lógicos Capítulo 4. A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição 141
Capítulo 4
A apresentação dos projetos
de pesquisa: a forma
da exposição
Projetos de pesquisa, fundamentos lógicos Capítulo 4. A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição
prioridade, dando ênfase à lógica que fundamenta o mé- te agora a vida da matéria, talvez possa aparecer que
todo de pesquisa, sem deixar de anunciar alguns detalhes se esteja tratando de uma construção, a priori. (Marx,
1968, p. 20).
sobre o m é t o d o de e x p o s i ç ã o , considerando as exigências
das agências de fomento (CNPq, Fapesp etc).
Frigotto (2002) comenta essa compreensão de M a r x ,
Justifica-se a articulação desses dois momentos e, por afirmando que não é fortuita a distinção, ainda que formal,
consequência, deste último capítulo, na compreensão so- que M a r x faz entre método de investigação e de exposi-
bre o método científico, elaborada pelo materialismo dialé- ção. É na pesquisa que o pesquisador tem de recuperar a
tico*. Segundo a dialética materialista, o método científico " m a t é r i a " em suas múltiplas inter-relações; apreender o es-
é integrado por dois processos: o investigativo e o exposi- pecífico, o singular, a parte e seus tecidos com a totalidade
tivo. São duas faces que estão relacionadas dialeticamente. mais ampla; as contradições e os elementos estruturantes
Toda investigação implica uma exposição e, inversamente, do fenómeno pesquisado. A exposição busca ordenar de
todo discurso científico é de uma pesquisa. Toda descober- forma lógica e coerente a apreensão que se fez dessa reali-
ta precisa ser exposta, racionalizada, comunicada. E uma dade estudada. É, sem dúvida, necessário distinguir o mé-
exposição supostamente científica que não se fundamenta todo de exposição, formalmente, do método de pesquisa. A
em uma pesquisa t a m b é m n ã o tem valor. Assim, pesquisa tem de captar detalhadamente a matéria, analisar
as suas várias formas de evolução e rastrear sua conexão
[...] o método científico como a prática da pesquisa cien-
íntima. Sõ depois de concluído esse trabalbo é que se pode
tífica, ou a prática do cientista no processo de produção
de novos conhecimentos, inclui dois monientos comple- expor adequadamente o movimento do real.
mentários: um investigativo e outro expositivo. (Nunez
Na fase da pesquisa, o fundamental é produzir o novo
Tenório, 1989, p. 43, tradução nossa).
conhecimento e gerar conteúdos que são textualizados no
discurso. Dessa maneira, a descoberta e a pesquisa funcio-
Esses dois momentos precisam ser diferenciados e se-
nam como conteúdo, enquanto a forma aparece no discurso
guem uma sequência, segundo anuncia M a r x .
e na exposição. Entre uma e outra se articula uma relação
É sem dúvida necessário distinguir o método de expo- dialética. São duas fases ou duas etapas inseparáveis de u m
sição, formalmente, do método de pesquisa. A pesqui- mesmo processo: o da prática científica como método.
sa tem de captar detalhadamente a matéria, analisar
as suas várias formas de evolução e rastrear sua co- Nos capítulos anteriores, anunciamos o processo de
nexão íntima. Só depois de concluído esse trabalho pensar a pesquisa de prever a constituição dos conteúdos
é que se pode expor adequadamente o movimento quando tomamos como base a relação entre a pergunta e a
do real. Caso se consiga isso, e espelhada idealmen-
resposta e dedicamos u m capítulo às sequências das ações
para a elaboração das perguntas e a previsão da constru-
2 Essa separação entre ontologia e lógica é unificada por Hegel para quem a lógica ção das respostas. Assim, este capítulo que complementa
integra a ontologia e a gnosiologia, e para Marx essa unidade está na dialética
materialista que integra lógica, gnosiologia e metodologia (Cf. Kopnin: A dialé- os anteriores será dedicado à fase da exposição, já que,
tica como lógica e teoria do conhecimento; Kosik: A dialética do Concreto).
uma vez pensados, os elementos constitutivos do projeto
Projetos de pesquisa, fundamentos lógicos Capítulo 4. A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição
fundamenta a p r o d u ç ã o do conhecimento, esta também
precisam ser comunicados ou textualizados utilizando a
deverá pautar a exposição, espelhando os conteúdos re-
forma da exposição.
lativos aos dois momentos da construção dos projetos: a
Para tanto, tomaremos como referências tanto a expe- problematização da necessidade, expressa em questões e
riência acumulada pela prática científica quanto as orienta- perguntas; e a previsão das respostas.
ções de algumas das mais importantes agências de fomento
Com base nesse pressuposto, a apresentação dos proje-
à pesquisa, que solicitam o preenchimento de formalidades
tos de pesquisa deve conter as seguintes partes básicas:
na hora de submeter os projetos para a sua avaliação.
Em primeiro lugar, na hora de organizar a exposição, a) a exposição da necessidade, do problema, das ques-
tida como a fase final do projeto, é importante ter em m ã o s tões e das perguntas;
os materiais conseguidos na fase de pensar o projeto. O
b) a metodologia a ser utilizadas para a elaboração das
que expor depende desse acúmulo de materiais relaciona-
respostas.
dos com a construção da pergunta e a previsão da resposta.
Nesse sentido, sõ é possível expor o que antes foi pensado*.
Além dessas partes básicas, outros elementos relativos à
D a í a importância de recuperar, em primeiro lugar, os ele-
formalidade e aos protocolos de comunicação poderão ser
mentos necessários para a elaboração do projeto e, uma vez
considerados. Tais elementos adicionais são: justificativa do
"postos sobre a mesa", organizar a sua apresentação.
projeto; relevância social, científica ou académica da pes-
N a fase da e x p o s i ç ã o , é fundamental atender às for- quisa; objetivos gerais e específicos; quadro de referências
malidades, às exigências técnicas, aos critérios de rigor teóricas que fornecem as categorias para analisar as respos-
do trabalbo científico (normas técnicas, A B N T ) e às re- tas e interpretar os resultados (indicando em anexo as re-
comendações das agências de fomento, dos editais ou dos ferências e bibliografias a serem consultadas). Esse quadro
programas e/ou orientadores que aceitam ou financiam o ajudará a localizar o projeto no contexto de uma área do
projeto. Neste caso, o m é t o d o de exposição deve consi- conhecimento e no lastro da formação de um campo cien-
derar as condições dos interlocutores, os níveis académi- tífico. Além desses elementos, podem complementar a ex-
cos exigidos e as formas de linguagem recomendadas. De posição indicadores da viabilidade técnica do projeto. Esse
acordo com essas situações, u m mesmo conteúdo pode último item deve ser atendido quando as agências financia-
adquirir diversas formas de exposição. Em razão disso, doras exigem a correspondência com um projeto financeiro
não se tem critério ou modelo de exposição dos projetos. (orçamento) que seja justificado na descrição das condições
N o entanto, se considerarmos a importância da lõgica que institucionais da pesquisa e a viabilidade técnica do desen-
volvimento da pesquisa de acordo com o cronograma e os
3 Pretender cuidar das formalidades ou dos esquemas de apresentação, sem antes recursos solicitados''.
conferir o que será exposto, é um erro muito comum apresentado nos manuais
de trabalho científico, que indicam as maneiras de elaboração de sumários, es-
quemas, quadros, referências, citações, notas e, no entanto, não indicam como 4 Algumas agências de fomento discriminam dois tipos de projetos articulados
se constrói uma problemática da pesquisa, nem discutem as características do entre si: projeto técnico, relativo à organização da pesquisa; e projeto financei-
conhecimento científico e a lógica que o sustenta. ro, relativo aos recursos e cronogramas necessários para seu desenvolvimento.
Projetos de pesquisa, fundamentos lógicos Capítulo 4, A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição 135
o projeto poderá considerar, também, além da viabi- 4) Desafios científicos e tecnológicos e os meios e mé-
lidade técnica, os impactos e resultados esperados ou as todos para superá-los: explicite os desafios científi-
bipóteses de trabalbo que orientam a busca de informações cos e tecnológicos que o projeto se propõe a superar
para elaborar as respostas. As bipõteses são consideradas para atingir os objetivos. Descreva com que meios e
como respostas parciais ou provisórias que orientam a pes- métodos estes desafios p o d e r ã o ser vencidos. Cite re-
quisa e que, uma vez confirmadas, se transformam nas res- ferências que ajudem os assessores que analisarão a
postas buscadas ou nas teses a serem confirmadas. proposta a entenderem que os desafios mencionados
Além dos conteúdos acima indicados, a exposição do não foram ainda vencidos (ou ainda não foram ven-
projeto poderá conter alguns anexos, tais como crono- cidos de forma adequada) e que poderão ser vencidos
grama de realização, que define quando desenvolver cada com os m é t o d o s e meios da proposta em análise.
etapa da pesquisa, orçamentos e listado de recursos ne- 5) Cronograma: quando o projeto será completado?
cessários ao desenvolvimento do projeto, os modelos de Quais os eventos marcantes que poderão ser usados
instrumentos e os levantamentos prévios, que mostram os para medir o progresso do projeto e quando estará
graus de aproximação que o pesquisador tem com o pro- completo? Caso o projeto proposto seja parte de ou-
blema que está sendo pesquisado. tro projeto maior já em andamento, estime os prazos
Na tentativa de articulação desses elementos sugeri- somente para o projeto proposto.
dos, podemos indicar alguns exemplos de apresentação de 6) Disseminação e avaliação: como os resultados do pro-
projetos. jeto deverão ser avaliados e como serão disseminados?
Em primeiro lugar, referimo-nos às orientações da Fun- 7) Outros apoios: demonstre outros apoios ao projeto, se
dação de Amparo à pesquisa do Estado de São Paulo (Fa- houver, em forma de fundos, bens ou serviços, mas sem
pesp), no caso do Programa Auxílio à Pesquisa - Regular. incluir itens como uso de instalações da instituição que
já estão disponíveis. Note que os autores das propostas
1) Folbas de rosto (duas, sendo uma em português e outra selecionadas deverão apresentar carta oficial assinada
em inglês) contendo título do projeto de pesquisa pro- pelo dirigente da instituição, comprometendo os recur-
posto, nome do Pesquisador Responsável, Instituição sos e bens adicionais descritos na proposta.
Sede e resumo de 20 linbas.
8) Bibliografia: liste as referências bibliográficas citadas
2) Enunciado do problema: qual será o problema tratado nas seções anteriores.
pelo projeto e qual sua importância? Qual será a con-
9) Plano de Trabalho para as Bolsas de Treinamento Téc-
tribuição para a área se bem sucedido? Cite trabalhos
nico solicitadas (este item e os seguintes não devem ser
relevantes na área, conforme necessário.
incluídos na contagem de 20 páginas mencionada aci-
3) Resultados esperados: o que será criado ou produzido ma): para cada bolsa solicitada deverá ser apresentado,
como resultado do projeto proposto? com a proposta inicial, um Plano de Trabalho com até
36 projetos de pesquisa, fundamentos lógicos Capítulo 4. A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição 137
duas páginas, incluindo Título do Projeto de Bolsa, Re- ção das respostas; e a explicitação e fundamentação da me-
sumo e Descrição do Plano. N ã o é necessário indicar o diação teórico-metodológica (revelar o caminho).
nome do bolsista na proposta. Caso o projeto seja apro- Entendemos que, dessa forma, é possível atender as
vado, o Pesquisador Principal deverá providenciar pro- exigências lógicas de acordo com os critérios da episteme
cesso seletivo anunciado publicamente para selecionar e do método geométrico: as de revelar os caminhos (impe-
os bolsistas por mérito académico. rativo do m é t o d o ) , e explicitar os nexos entre o ponto de
10) Planilhas de orçamento e cronogramas físico-finan- partida (as maneiras e condições da pergunta) e o ponto
ceiros.* de chegada (as formas e limites da resposta).
Projetos de pesquisa, fundamentos lógicos Capítulo 4. A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição 139
Considerando esses exemplos e algumas sugestões
OBJETIVOS
contidas nos manuais de pesquisa, oferecemos, a maneira
Geral (relativos ao diagnóstico de um problema, fenómeno,
de síntese, o seguinte esquema.
ou objeto, aos resultados da pesquisa) e específicos (rela-
tivos aos procedimentos, às metas e às fases da pesquisa).
CAPA Utilizar verbos ativos: caracterizar, descrever, analisar, com-
preender, diagnosticar, medir, dimensionar, tipificar, classi-
(autor, titulo, local e data). ficar, comparar, explicitar, revelar, sistematizar, interpretar,
relacionar. Evitar objetivos de intervenção pedagógica, ad-
FOLHA DE ROSTO ministrativa, extensiva (contribuir, propiciar, facilitar, pos-
sibilitar, favorecer etc).
(autor, título, instituição, área, orientação, local e data).
SUMÁRIO E ÍNDICES
METODOLOGIA
(siglas, tabelas, figuras, quadros, anexos).
Fontes, instrumentos, materiais, técnicas de sistematização
e organização de dados, informações e resultados, estraté-
RESUMOS (vinte linhas)
gias, procedimentos e hipóteses de trabalho.
Apresentando a problematização (situação-problema), as
questões principais, a previsão da metodologia (fontes, ins-
REFERENCIAL T E Ó R I C O
trumentos e técnicas de coleta e tratamento de informa- Recorte disciplinar, termos, conceitos e categorias, teorias,
ções), resultados esperados. , perspectiva epistemológica.
Projetos de pesquisa, fundamentos iógicos 'ítulo 4. A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição
Esse esquema considera elementos formais e destaca indicações do percurso metodológico e das decisões técni-
os conteúdos mais importantes, considerando a relação cas e estratégias a serem utilizadas no processo da pesqui-
essencial entre as fases da produção do conhecimento, a sa. Tanto os objetivos gerais quanto os específicos devem
origem e construção das perguntas e a sinalização ou pre- estar relacionados com a questão principal, ou pergunta-
visão das respostas. -sintese, e definir os aspectos operacionais da elaboração
Como não é objeto desta publicação nos deter no das respostas a essa questão ou pergunta central.
método de exposição, remetemos ao leitor as numerosas Recomenda-se que para redigir um objetivo deve-se
publicações sobre trabalbo científico que oferecem abun- começar por u m verbo no infinitivo, tais como, definir,
dantes informações sobre os elementos formais. descrever, selecionar, diferenciar, registrar, documentar,
N o entanto, é importante destacar u m dos tõpicos classificar etc. Os objetivos sinalizam uma meta ou um
mais problemáticos da apresentação dos projetos: a for- ponto de chegada ou de abrangência pretendida com es-
mulação dos objetivos. Larroca, Rosso e Souza (2005), sa pesquisa. Nesse sentido, mais que um elemento essen-
apontando uma das dificuldades que comprometem a qua- cial da pesquisa, situam-se no campo das estratégias e
lidade da pesquisa, atribuem à formulação dos objetivos devem expressar as condições técnicas da pesquisa. Por
os indicadores mais significativos. Os autores examina- exemplo, dependendo do tempo, dos recursos humanos,
ram 28 obras de metodologia da pesquisa. E constataram dos apoios financeiros, u m projeto poderá ter como meta
que apenas 15 delas abordam a temática dos objetivos, e final elaborar u m levantamento de necessidades, mape-
a maioria de forma vaga e rápida. Os indicadores sina- ar ou localizar elementos em uma determinada área ou
lizam que os objetivos de pesquisa s ã o confundidos ou campo, ou realizar descrições densas e análises e ainda
associados com a formulação do problema. O fato dos realizar estudos comparativos com outros estudos. Cer-
objetivos substituírem a formulação do problema ou se tamente, u m projeto de iniciação cientifica com tempo de
confundirem com ela s ã o indicadores negativos que com- dedicação à pesquisa de um semestre académico e ape-
prometem a qualidade e a clareza da pesquisa. nas com a participação de u m pesquisador de iniciação
cientifica, com objetivo de elaborar u m levantamento, u m
Embora os objetivos não façam parte da lõgica básica
mapeamento ou uma caracterização simples é suficiente.
da produção do conhecimento, eles delimitam o alcance da
J á em u m projeto temático que envolve equipe de pes-
investigação, ou definem uma meta, u m nível do conheci-
quisadores de diversas instituições, com tempo médio de
mento sobre os fenómenos que se pretendem estudar, ou a
três anos e apoio institucional de várias entidades, além
abrangência das análises. Nesse sentido, os objetivos po-
da experiência dos pesquisadores principais e associados,
dem servir de complemento para a delimitação do proble-
os objetivos devem ser mais pretenciosos, tais como siste-
ma, mas não o substituem. Ao estabelecer objetivos gerais,
matizar banco de dados, analisar, compreender, discutir,
o pesquisador estará evidenciando o problema de pesqui-
comparar resultados etc.
sa, e ao definir os objetivos específicos ele poderá oferecer
Projetos de pesquisa, fundamentos lógicos Capítulo 4. A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição
Diversos livros oferecem classificações sobre os objeti- mentos, caracteristicas ou fatores com uma intencionali-
vos. O mais conbecido no campo da educação é Taxonomy dade descritiva.
of educational objectives (A Taxonomia dos objetivos edu-
Os objetivos analíticos denotam a pretensão de subdi-
cacionais), de Bloom (1956). Dentre o amplo leque de ob-
vidir o conteúdo em partes menores com a finalidade de
jetivos listados por Bloom e por outros especialistas, nem
entender a estrutura final. Essa pretensão pode incluir a
todos se relacionam com a investigação*. Objetivos de i n -
identificação das partes, análise de relacionamento entre
tervenção, aplicação, avaliação e propositivos n ã o s ã o
as partes e reconbecimento dos princípios organizacionais
apropriados para definir processos de pesquisa, já obje-
envolvidos. Significa identificar partes e suas inter-rela-
tivos descritivos, de análise, de sintese e compreensivos
ções. Nesse nível de pretensão, é necessário não apenas ter
s ã o pertinentes às caracteristicas e aos procedimentos da
delimitado e caracterizado o objeto em estudo, mas com-
ciência. Nesse sentido, vale lembrar que, segundo Granger
preendido o conteúdo e sua estrutura. São objetivos mais
(1994), citado no capitulo 1, um dos traços da ciência que
complexos e abstratos que os objetivos descritivos.
a diferencia da técnica é que a ciência " [ . . . ] visa conbecer
(descrever, explicar, compreender) os objetos como são ou Os objetivos sintéticos sinalizam a pretensão de agregar
existem (gnosiologia) e não visa agir diretamente sobre e juntar partes com a finalidade de criar um novo todo. Es-
eles (intervenção técnica)." (Granger, 1994, p. 45)*. sa capacidade cognitiva envolve a produção de uma articu-
lação entre as partes, um plano de operações direcionadas
Os objetivos de dominio cognitivo, em geral, são os para a unidade de partes ou elementos, ou um conjunto de
mais apropriados para serem utilizados nos projetos de relações abstratas, que exigem processos de descrição, clas-
pesquisa. A p r ó x i m a tabela apresenta alguns deles. Os sificação e esquematização. Os objetivos de sintese exigem
objetivos descritivos s ã o aqueles que sinalizam o encerra- combinar partes não organizadas para formar um " t o d o " .
mento da exposição de registros, relatos de experiência,
Os objetivos compreensivos destacam ações destina-
de observações, de levantamentos e inventários. A descri-
das a interpretar uma dada realidade ou problema mais
ção caracteriza-se pela exposição minuciosa de elementos,
amplo. A c o m p r e e n s ã o exige a capacidade de perceber
de traços, de acbados, de passos e de tópicos de destaques
totalidades. Pela compreensão, o pesquisador tem a pos-
que compõem uma primeira visão ou percepção de u m
sibilidade de perceber a totalidade de elementos nela en-
objeto ou experiência, acontecimento ou fato. Expressões
volvidos ou nela contidos. Compreender é dar significado
como traçar, identificar, delimitar ou elaborar u m perfil ou
a u m determinado conteúdo; significa t a m b é m recuperar
um listado de elementos auxiliaram na captação de ele-
o sentido desse conteúdo em contextos ou situações es-
pecificas. Por exemplo, os sentidos das palavras ou tex-
6 A atualização dos objetivos arrolados por Bloom em 1956 pode ser encontrada tos em u m determinado lugar ou contexto. Compreender
em: Bloom (1986) e em Ferraz e Belbor (2010).
t a m b é m se refere à capacidade de entender a informação
7 Larroca, Rosso e Souza (2005) constataram que, nos 111 objetivos identifica-
dos em 45 dissertações, prevaleciam os objetivos compreensivos, avaliativos e o u ao fato de captar seu significado e de utilizá-la em con-
propositivos, e que mais de 30% dos objetivos analisados não se constituem no
estrito senso em objetivos de pesquisa.
textos diferentes. O uso de verbos como desvelar, revelar.
Projetos de pesquisa, fundamentos lógicos Capítulo 4. A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição 145
recuperar sentidos e explicitar sinaliza u m propósito com- objetivos com finalidade valorativas, avaliativas e propo-
preensivo nos projetos de pesquisa. sitivas que sugerem intervenção técnicas, também o uso
A tabela, a seguir, p o d e r á ajudar a identificar esses ob- de objetivos gerais, tais como conbecer, estudar, pesqui-
sar, investigar e refletir n ã o s ã o apropriados pelo seu ca-
jetivos de dominio cognitivo.
ráter tautológico de pretender expressar uma finalidade
OBJETIVOS D E DOMÍNIO COGNITIVO
já contida no mesmo termo. Exemplo: " o objetivo des-
ta pesquisa é pesquisar, ou investigar". De igual forma, a
Descritivos Analíticos Sintéticos Compreensivos utilização de termos que n ã o expressam uma finalidade a
ser alcançada no tempo e nas condições do projeto, como
enumerar. caracterizar, categorizar. decodificar,
combinar. revelar,
contribuir, ajudar, propiciar, facilitar, possibilitar, favore-
definir, classificar.
descrever. comparar. compilar. desvendar, cer e t c , em r a z ã o de terminar a pesquisa e n ã o conseguir
identificar, contrastar, compor. distinguir, constatar se ações se concretizam, devem ser evitados, ou
denominar. determinar, conceber, discriminar. devem transformar a pesquisa em prestação de serviços ou
listar, deduzir. construir. estimar, atividade de extensão.
nomear, diagramar. desenhar, explicitar,
distinguir. elaborar, exemplificar, Recomenda-se que a apresentação dos objetivos siga
combinar,
realçar, diferenciar, estabelecer. ilustrar, uma sequência lógica orientada pelo principio da pro-
apontar, identificar, explicar, inferir, gressão e da complexidade: do mais simples para o mais
relembrar, ilustrar, formular. reformular, complexo; do mais concreto para o abstrato. Delimitar,
recordar, apontar, generalizar, , prever. descrever e caracterizar devem estar antes do objetivo
relacionar, inferir, organizar, reescrever,
analisar. E, antes de compreender, estão os objetivos de
reproduzir. relacionar. reorganizar. resolver,
localizar, situar, mapear. Assim como caracterizar, situar
distinguir, selecionar, relacionar. discutir.
e contextualizar devem ser anunciados antes do objetivo
rotular, separar. revisar. interpretar,
ordenar e subdividir. reescrever, reconhecer, comparar.
reconhecer. • calcular, resumir. redefinir,
Finalmente, vale a pena visualizar nesta publicação
discriminar, sistematizar. selecionar,
sobre os fundamentos lógicos dos projetos a relação que
examinar, reconstituir, situar e
eles têm com as demais fases da investigação. Visualizar o
experimentar. estruturar. traduzir.
testar, montar e
projeto no contexto amplo da pesquisa talvez ilustre me-
esquematizar e projetar. Ibor sua lógica constitutiva quando integrado na visão ge-
analisar. ral da investigação. O esquema a seguir pretende mostrar
essas articulações.
Fonte: elaboração do autor.
Projetos de pesquisa, fundamentos iógicos Capítulo 4. A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição
FASES E M O M E N T O S D A I N V E S T I G A Ç Ã O Nesse esquema s ã o considerados os dois momentos-
-chave da p r o d u ç ã o do conhecimento: na linha vertical
Momentos/fases 1. Pergunta 2. Resposta o momento da construção do projeto e o momento da
elaboração do relatório de pesquisa (texto final da mo-
I . Projeto de pesquisa Problema: Metodologia: nografia, dissertação ou tese); já na linha horizontal, a fa-
(ênfase na pergunta) a) situação-problema previsão de
se da pergunta e posteriormente a fase da resposta. N o
(espaço, tempo e a) fontes;
movimento); b) instrumentos; momento do projeto, a fase da construção da pergunta é
b) indicadores; c) técnicas; enfatizada, já a elaboração da resposta é apenas anuncia-
c) antecedentes, d) organização e da ou prevista. N o momento subsequente da realização
estudos preliminares; sistematização de
da pesquisa e da apresentação dos resultados na forma
d) questões resultados;
norteadoras; e) hipóteses;
de relatório, dissertação ou tese, a ênfase é dada às res-
e) pergunta-síntese. f) resultados esperados. postas. Nesse caso, o processo de elaboração da pergunta
fica reduzido a uma introdução ou a um capitulo inicial.
Objetivo geral: Referencial teórico: A organização dos capítulos será feita em torno da cole-
resultados, diagnóstico, definição de termos-
ta, tratamento e organização de dados e informações, da
sobre o problema. -chave, categorias de
análise, referências apresentação de revisões de literatura, explicitação de ca-
Específicos: para discussão e tegorias e a p r o p r i a ç ã o de referências, assim como da dis-
procedimentos, metas, interpretação de cussão e interpretação de resultados. As conclusões, além
fases. resultados.
de destacarem e cotejarem os principais resultados com as
Justificativa: relevância
questões e perguntas formuladas na introdução ou capítu-
social, científica e/ou los iniciais, deverão expor as respostas obtidas (definitivas
académica. ou parciais) e, caso seja necessário, apresentar as bipõte-
ses levantadas (questões parcialmente ou provisoriamente
2. Relatório, Introdução (atualização Capítulos (elaboração respondidas) que p o d e r ã o justificar novas pesquisas.
dissertação ou tese do projeto) da resposta)
(ênfase na resposta) justificativa, problema, apresentação e Finalmente, destacamos nesse esquema como as fases
pergunta, objetivo e organização das da pergunta e da resposta estão presentes nos dois mo-
metodologia (relatando respostas;
mentos do projeto e do relatório, mesmo que de forma
a forma como foi discussão de resultados;
realizada a pesquisa).
diferenciada. Em resumo, o essencial do projeto é estar
interpretação das focado nas indagações, as questões e as perguntas. E o
respostas;
fundamental do relatório é a explicitação da construção
conclusões e
das respostas. Considerando as diferentes centralidades,
recomendações.
não é pertinente apresentar nos projetos nenhum tipo de
Fonte: elaboração do autor.
Projetos de pesquisa, fundamentos lógicos Capitulo 4. A apresentação dos projetos de pesquisa: a forma da exposição 149
respostas ou afirmações categóricas. Caso isso aconteça,
deverão ser atribuídas a u m determinado autor ou fonte,
e a seguir estarem acompanhados de suspeitas, dúvidas
e indagações. T a m b é m essas afirmações poderão ser di-
mensionadas como hipóteses a serem interrogadas, confir-
madas ou negadas. De igual maneira, os relatórios devem
centralizar-se nos processos de produção dos resultados
e da consolidação das respostas. É possível concluir com
aberturas para novas indagações, mas, antes disso, de-
vem-se confirmar as respostas, se possível afirmar as teses,
discuti-las, compará-las, projetá-las, e apontar desdobra-
mentos e aplicações.
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