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PESQUISA EM
SEGURANÇA
PÚBLICA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e luciana varga
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
ISBN 978-85-5548-430-8
Prefácio 5
2. O problema científico 31
Conceituando 32
A introdução 43
Justificativa do estudo 44
Cronograma 50
Prezados(as) alunos(as),
5
Construir um “interesse de pesquisa” é um processo laborioso e metódico.
Em primeiro lugar, ele implica a dedicação do(a) “candidato(a) a cientista” ao
aprendizado da teoria e do método científico. Anos e anos de dedicação a esse
“ofício intelectual” consolidaram alguns procedimentos rotineiros, reunidos
em publicações técnicas da área como manuais e guias de pesquisa. Um dos
principais objetivos de nossa aula – como você mesmo(a) poderá constatar – é
justamente compartilhar algumas dessas “dicas” de modo a guia-los(as) pelos ca-
minhos que nos levam do “espanto” aristotélico à conformação de um genuíno
“interesse de pesquisa”.
Em nossa disciplina, entretanto, não nos restringiremos a buscar esse “resul-
tado” de modo instrumental, transmitindo ao(a) aluno(a) uma espécie de “passo
a passo para o trabalho de conclusão de curso”. Buscaremos, ao contrário, fami-
liarizar os(as) alunos(as) com a forma de organização e funcionamento do pen-
samento científico. Para isso, apresentaremos a “ciência”, ela mesma, como um
fenômeno histórico e sociologicamente datado, sua origem e desenvolvimento.
Dessa forma, esperamos mais do que simplesmente habilitá-los(as) a produzir
um trabalho cientificamente validável, mas a desenvolver uma sólida atitude
científica em relação à vida.
Bons estudos!
6
1
A pesquisa e o
conhecimento
científico
A pesquisa e o conhecimento científico
OBJETIVOS
• Apresentar a ciência e seus princípios operativos como um modo diferenciado de pensa-
mento e de produção de conhecimento;
• Desconstruir algumas ideias preconcebidas sobre o funcionamento das ciências;
• Apresentar a ciência como um fenômeno histórica e socialmente datado;
• Apresentar a ciência e suas “grandes divisões” baseadas em objetivos e procedimentos
de pesquisa;
• Apresentar aos(às) alunos(as) a ideia de que a metodologia científica deve estar a serviço
da construção de abordagens de pesquisa concretas.
capítulo 1 •8
Entre as “ciências naturais” e as chamadas “ciências humanas” ou “ciências
sociais”, como a Sociologia, a História etc., existem diferenças não só de objeto –
no caso das primeiras, a interação entre elementos químicos e fenômenos físicos
com o ambiente e os sistemas orgânicos, seu funcionamento e morfologia; no
caso das segundas, o comportamento humano em sociedade e seus sistemas de
valores –, mas também de método.
Mesmo para cada uma dessas disciplinas, dentro da grande divisão entre
“humanas” e “naturais”, existem ainda diferenças marcantes em termos de
preocupações, ferramentas, práticas de trabalho etc. O “método histórico”, por
exemplo, é totalmente diferente do “método sociológico” – muito embora a
Sociologia sirva-se, muitas vezes, do recurso à História para formular as suas
questões, produzir conhecimento e vice-versa –, assim como o “método físico” e
o “químico”, no campo das “ciências da natureza”, também guardam distinções
muito significativas.
Bom, seguindo a proposta de pensar sobre a nossa “ideia de ciência”, não
seria inesperado também que lhe viesse ao pensamento, mesmo que remotamen-
te, a associação entre ciência e alguma concepção de “evolução” ou “progresso”.
Para a percepção da “pessoa comum”, digamos assim, a cada nova descoberta
capítulo 1 •9
científica os seres humanos dariam mais um passo em direção a formas de pen-
samento ditas mais “racionais” e “objetivas”, deixando para trás um rastro de
“mistérios” e “crendices” sobre a natureza e o funcionamento das coisas.
Esse imaginário não nos vem ao acaso. Ele é datado, possui uma história,
como mostraremos na próxima sessão de nosso capítulo. Faz parte de uma
concepção de ciência que ganhou força na Europa nos séculos XVII e XVIII, e
que buscava, à época, se diferenciar dos modelos explicativos “religiosos” e de
“senso comum” vigentes até então.
“O Abismo”
Na Idade Média, por exemplo, antes das grandes navegações dos séculos XV–
XVI, os europeus fitavam o horizonte e, limitados por aquilo que seu olhar podia
alcançar, achavam que a terra era plana e que, além da linha do crepúsculo, que di-
vidia o céu e o mar, havia um abismo habitado por toda sorte de monstruosidades.
Muito embora cientistas como Ptolomeu já acusassem a falácia dessa con-
cepção, foi apenas com a empresa colonial europeia que essa ideia foi modifi-
cada. Muito embora não fossem cientistas stricto sensu, mas homens movidos
por ambições comerciais e espírito aventureiro, os primeiros navegadores, como
Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral, acabaram por contribuir para a
superação dessa percepção.
capítulo 1 • 10
No caso da “teoria da terra plana” – bem como da “teoria geocêntrica”, de
autoria do próprio Ptolomeu, que colocava a Terra no centro do universo –, essa
percepção de que o incansável e irrequieto pensamento científico estaria conduzin-
do a humanidade em uma espécie de “marcha evolutiva” em direção ao “esclareci-
mento” nos parece, em princípio, bastante evidente.
Possivelmente você, que está tomando contato com essa discussão agora, tam-
bém tenha essa percepção. Isso é bastante comum e não está de todo equivocada.
Na verdade, precisa ser complexificada para que possamos construir uma atitude
genuinamente científica em relação ao mundo e a gama diversa de fenômenos
(biológicos, psicológicos, sociológicos etc.) que nele tomam lugar.
Outra forma comum de pensar a “ciência” é a ideia de “descoberta científica”
como a obra de um gênio individual que, beneficiado por certa dose de sorte,
descobre algum novo elemento químico, uma força misteriosa da natureza ou a
tumba perdida de um faraó em meio às areias escaldantes de uma paisagem desér-
tica inóspita.
Pensemos em Isaac Newton, por exemplo, sentado sob a sombra de uma ár-
vore quando subitamente uma maçã cai sobre sua cabeça e EUREKA!, a huma-
nidade pôde finalmente conhecer a “gravidade” e tantas outras leis físicas sobre o
movimento dos corpos sob seus efeitos.
capítulo 1 • 11
ATENÇÃO
Na verdade, toda “descoberta científica” é fruto de um trabalho de observação detida e
dedicada, bem como de um acúmulo de reflexões teóricas, inovações metodológicas, técni-
cas e de instrumentos que encontram-se disponíveis para os cientistas num dado momento
de seu processo de pesquisa.
capítulo 1 • 12
“iluminista” que lhe é peculiar, ambos inspirados pela crença na capacidade refor-
madora – não só do pensamento, mas da própria sociedade – da razão.
Com o passar dos anos, essas concepções de ciência expandiram-se a partir da
Europa para uma boa parcela do mundo ocidental conhecido, bem como para
os países do “novo mundo”, anexados com a expansão colonial (séc. XV–XVI) e
neocolonial (XVII–XVIII).
Inicialmente restrito ao universo acadêmico de sua época, esse ideário foi
progressivamente absorvido pela sociedade mais ampla de diversas maneiras: por
meio de sua aplicação ao processo de formulação e implantação de políticas pú-
blicas (por exemplo, as “reformas urbanas” e a doutrina “higienista” no Brasil do
início do século XX, com Pereira Passos e Oswaldo Cruz), pela difusão de obras
científicas impressas, pela veiculação nos meios de comunicação de massas etc.
Enfim, comecemos nossa jornada em busca das “origens” de nossa “ideia de
ciência” pela Grécia de Sócrates, Platão e Aristóteles, os mais famosos dentre os
chamados “filósofos clássicos”.
Na Grécia de seu tempo, havia um forte debate sobre os melhores princípios
de governo e de sociedade para a vida das cidades. Em uma de suas mais famosas
obras, A república, Platão, por exemplo, reputava ao “governo dos filósofos” a me-
lhor e mais elevada forma de governo dentre as existentes. Segundo ele, a “razão”
e a “sabedoria” deveriam ser os atributos do governante e, por conta disso, os filó-
sofos deveriam governar como reis. Segundo a concepção platônica de sociedade,
hierárquica e estamental, apenas os homens nobres, dedicados a ofícios elevados
e treinados em Filosofia (a “mãe” de todas as ciências), eram capazes de atingir o
“nível de racionalidade” necessário ao exercício do governo.
“Alegoria da caverna”
capítulo 1 • 13
relato, o autor nos fala do trajeto de homens que, feitos prisioneiros no interior
de uma caverna, um dia são levados a confrontar a luz do sol e são ofuscados por
seu brilho exuberante.
Na caverna viviam iludidos, dada a sua condição de prisioneiros, contemplan-
do apenas “sombras”. Uma vez libertos, percebem que, na verdade, o que viam
eram apenas projeções de objetos contra a luz de uma fogueira, os quais tomavam,
equivocadamente, como objetos verdadeiros.
Na última etapa de sua jornada, ao deixar seu cativeiro, os homens, des-
preparados para lidar com as “verdades filosóficas eternas”, são ofuscados por sua
luz e nada podem ver com seus olhos mundanos, ainda acostumados às trevas.
Para Platão, apenas o treinamento em Filosofia poderia habilitá-los a contemplar
o que o autor chama de “ideias perfeitas”, os únicos objetos dignos de uma ciência
verdadeiramente racional.
A “alegoria da caverna” platônica dramatiza algumas ideias importantes para
a conformação de nossa visão contemporânea, ocidental, de “ciência”. A pri-
meira e mais marcante de todas é a percepção de que o saber científico implica
em um movimento ascendente da “razão”, de conhecimento de uma espécie de
“verdade superior” sobre o mundo, superando a ignorância (de uma “vida nas
sombras”) de formas de pensamento classificadas como “mágicas”, “religiosas”
ou de “senso comum”.
O caminho que nos leva para fora da “caverna” é um caminho sem volta.
Uma vez conhecida a “verdade”, não haveria como se contentar novamente com
um mundo de “sombras”. A “marcha da razão” (e a “marcha da ciência”, conse-
quentemente) é, para Platão e os filósofos gregos de um modo geral, um processo
irreversível e, de certa forma, evolucionário, cujo motor é o pensamento racional!
Já aqui podemos perceber alguma vinculação com a forma de pensar a ciência
apresentada anteriormente.
A segunda ideia marcante do pensamento platônico é essa divisão entre
“mundo sensível” e “mundo inteligível” e sua patente desvalorização do conhe-
cimento produzido pelos sentidos, da apreensão empírica da realidade. O “mun-
do inteligível”, morada das “ideias perfeitas”, apreendido apenas como obra da
“razão” e do intelecto humano, segundo Platão, era o único e verdadeiro objeto
de ciência, como vimos.
capítulo 1 • 14
O exemplo platônico mais famoso, utilizado largamente para falar da divisão entre
o "mundo sensível" e o " mundo inteligível", nos apresenta a ideia de cadeira. No
"mundo inteligível", apreendido apenas pela razão, moram as "ideias", modelos
perfeitos a partir dos quais podemos reconhecer, no "mundo sensível", apreendido
pelos sentidos, os objetos que, a despeito de seu estado ou formato, podem ser
identificados como cadeiras por remissão a essa "ideia perfeita" original e imutável.
Para Aristóteles, por sua vez, o enfoque da Filosofia deveria ser diametralmen-
te oposto ao enfoque platônico no “mundo das ideias”. Para ele, a construção do
conhecimento se dava justamente a partir da observação sistemática do “mundo
sensível”, de onde o filósofo, o portador por excelência do pensamento científico,
deve extrair as leis e tipologias que classificam e organizam o universo de fenôme-
nos que nos cercam.
As bases principiológicas desse debate original serão retomadas, muito tem-
po depois, a partir dos séculos XVII-XVIII, durante o Renascimento, no embate
entre "empiristas" e "racionalistas". Os primeiros, de origem majoritariamente
anglo-saxã, defendiam o conhecimento produzido a partir da experiência empírica
do mundo, ou seja, o caminho para o conhecimento segue do "sensível" ao "inte-
ligível", do "particular" para a formulação de "leis gerais". Para os segundos, fran-
ceses em sua maioria, o caminho era diametralmente inverso. Todo conhecimento
deveria advir unicamente da razão, do intelecto, e ser aplicado, sob a forma de
conceitos, ao mundo a nossa volta. A ciência moderna do "nosso tempo", pode-se
dizer, adota uma via de "mão dupla": as bases conceitual e empírica de qualquer
pesquisa devem dialogar e fortalecer-se mutuamente.
Agora daremos um “salto no tempo”, de cerca de 2 mil anos, e vamos parar
na Europa dos séculos XIV–XVII, durante o chamado “Renascimento”. O que
é interessante de se pensar é que esse “salto”, muito embora pareça um tanto
abrupto e arbitrário, faz sentido para a própria caracterização do período vivido
no continente europeu.
CONCEITO
O termo "Renascimento" é utilizado para caracterizar um movimento, típico do período
na Europa, de revalorização da chamada "antiguidade clássica", inspirada pela releitura dos
grandes filósofos gregos (como Platão e Aristóteles), pelas artes e padrões estéticos "clás-
capítulo 1 • 15
sicos", bem como pelos princípios de vida em sociedade e de governo. Sociológica e histo-
ricamente, o período também é marcado pela transição entre o sistema feudal e o sistema
capitalista de produção, pela organização dos "Estados Nacionais", a partir do esvaziamento
do poder local dos 'príncipes feudais', e pelo surgimento do "Regime Absolutista", de concen-
tração de poder sob a figura do Rei/Imperador.
capítulo 1 • 16
transmitida (muito embora ele ainda não tivesse clareza de como isso acontecia
exatamente, o que só veio a ser esclarecido pela descoberta dos genes e o surgi-
mento da genética de Georg Mendel, no final do século XVIII) entre as gerações
sucessivas em uma temporalidade de longo termo.
O surgimento da ideia de “evolução” revolucionou a forma de pensar as ciên-
cias no mundo ocidental. Não só as ciências. Até o discurso religioso se associou
ao paradigma evolucionário enquanto ideário marcante da Europa de meados do
século XIX. O melhor exemplo disso foi o surgimento da chamada “religião dos
espíritos”, a doutrina espírita de Allan Kardec, contemporânea da publicação de
A origem das espécies, com a sua teoria da evolução da alma e da reencarnação.
A formulação da “doutrina kardecista” fornece outro bom exemplo dos modos
pelos quais o conhecimento científico pode se popularizar, contribuindo para a
constituição de nossa “ideia de ciência”, como aqui chamamos.
No mesmo período efervescente da história europeia, na primeira metade do
século XIX, Augusto Comte propunha o “positivismo científico”, em que con-
cebia uma linha evolutiva para o conhecimento humano que tinha a sua origem
nas formas de pensamento “teológico”, seguindo, a partir da evolução do processo
cognitivo humano, ao estado “metafísico” para finalmente atingir o modo de pen-
samento propriamente “científico”, de uma “ciência positiva”.
capítulo 1 • 17
ideia de “evolução” é muito marcante no imaginário científico europeu dos sécu-
los XVIII e XIX, imaginário este que progressivamente colonizou todo o mundo
ocidental de sua época.
No caso específico do positivismo comtiano, três outras características ainda
se destacam. A primeira delas é a ideia de que o objetivo das ciências é a “desco-
berta de leis gerais” para o funcionamento das dimensões biológicas, psicológicas,
sociológicas e naturalísticas da existência material humana. De um modo geral, a
ciência atual abandonou essa pretensão de conectar todas as dimensões do huma-
no por meio da descoberta de uma lei ou de explicar todos os fenômenos naturais
a partir de um princípio geral.
A segunda imagem que faz parte do nosso “ideário científico comum” seria a
defesa de um princípio de hierarquização entre os saberes, em que os conhecimen-
tos ditos “teológicos” (ou “religiosos”) e “metafísicos” estariam subordinados ao
modo “científico” (no caso, “positivo”) de explicação do mundo.
Como vimos, a ciência não deve ter a pretensão de suplantar outras formas
de conhecimento e pensamento ditas “arcaicas”, “crendices religiosas”, “supers-
tições” etc., mas deve ter por missão – principalmente no caso das “ciências hu-
manas” ou “sociais”, como veremos – estudá-las, compreendê-las e respeitá-las
como formas de vida.
Por fim, está contida também no pensamento comtiano a ideia de que essas
leis, uma vez descobertas, seriam invariáveis, ou seja, não seriam passíveis de ques-
tionamento e revisão. Se ainda é possível questioná-las em seu mérito, segundo
Comte, é porque ainda não seriam leis descobertas sob o paradigma científico po-
sitivo. Trocando em miúdos, pensar a ciência dessa forma significa dizer que se as
propriedades de algo já foram objeto do pensamento científico, nada mais há que
se dizer sobre ele. Esse objeto, uma vez abordado, deve ser deixado para trás e não
mais estudado.
Mais uma vez, nada mais inadequado para a perspectiva contemporânea de
ciência do que essa afirmação. Além das variações de método e técnica que podem
afetar os resultados das pesquisas, para o caso específico das “ciências humanas”,
como a Sociologia e a Antropologia, isso significaria que, uma vez estudada uma
determinada sociedade ou grupo social, por exemplo, nada mais poderia ser dito
a esse respeito.
Essa postura ignora, por exemplo, os processos de mudança social pelos
quais passam esses agrupamentos, tornando-os objetos extremamente dinâmicos,
capítulo 1 • 18
supondo ainda que uma pesquisa poderia dar conta de toda a complexidade de sua
existência social, da totalidade de sua sociedade, seus processos e valores.
capítulo 1 • 19
O conhecimento produzido por meio da pesquisa científica é produto de um investimento
detido e laborioso na construção de uma abordagem teórico-metodológica, no sentido
de que envolve a pesquisa prévia de autores e procedimentos metodológicos mais
adequados para aplicação a um determinado objeto de pesquisa; a construção de um
ferramental de pesquisa, seja ele composto de ferramentas materiais (equipamentos
etc) ou conceituais, no sentido de que os próprios conceitos são também instrumentos
utilizados pelo pesquisador para abordar e trabalhar a realidade a ser estudada.
capítulo 1 • 20
O campo científico é, no geral, muito mais dinâmico. O que há, pode-se
dizer, na conformação empiricamente observável desse campo, são diversas li-
nhagens teórico-metodológicas vinculadas a centros de produção acadêmica e de
pesquisa, programas de pós-graduação etc. que disputam recursos humanos,
materiais e financeiros, no sentido de fortalecer suas perspectivas e abordagens
científicas dos fenômenos.
Essas disputas podem ganhar dimensões de grande embate teórico, entrando
para a “História das Ciências” como uma “disputa de paradigmas”, em que uma
perspectiva – a “vitoriosa”, claro – parece suplantar a outra. Na prática, não fun-
ciona bem assim. Como vimos, existem vários centros acadêmicos e de pesquisa
produzindo ao mesmo tempo, com perspectivas diferentes, em uma espécie de
ambiente de “pluralismo teórico”, de coexistência daquilo que Lakatos (1979)
chama de “programas de pesquisa”.
Para efeitos de conclusão, vimos que o motor do conhecimento científico, por-
tanto, não é, para a ciência contemporânea, a marcha inexorável da razão em busca
de leis imutáveis e princípios gerais, mas um dinamismo produzido pelas disputas
entre diversos “programas de pesquisa” (LAKATOS, 1979), tanto em termos de
orientações teóricas e prático-metodológicas como em termos de recursos materiais
e humanos. Vimos também que a ciência não opera em termos de “descobertas”,
mas de um trabalho de “construção” que envolve desde a escolha do ferramental
teórico (autores, publicações, conceitos etc.), passando por decisões de cunho me-
ramente logístico (onde e quando realizar um trabalho de campo ou um experimen-
to etc.), até o próprio processo de análise dos resultados empíricos à luz das teorias
e pesquisas existentes em um campo disciplinar determinado. Por fim, enquanto
questão ética e princípio metodológico, vimos também que uma postura genuina-
mente científica não deve implicar qualquer juízo de superioridade em relação a
outras formas de conhecer o mundo. Principalmente no caso das “ciências humanas”
ou “sociais”, como vimos – principal referência para a metodologia de pesquisas
que se debruça sobre temas ligados à segurança pública –, essa é uma regra de con-
duta científica ainda mais relevante.
Já vimos, lá no começo de nossa aula, que uma das “grandes divisões”, pode-se
dizer assim, das ciências em termos de objetivos e procedimentos é a separação entre
“ciências humanas” e as “ciências naturais”. Entendida também sob a terminologia
capítulo 1 • 21
de “soft science” e “hard science”, respectivamente, em inglês, essa separação parte
do pressuposto de que os fenômenos ditos “naturais” e “sociais” funcionam como
esferas de vida apartadas uma da outra. Entretanto, quando pensamos em fe-
nômenos contemporâneos como o “aquecimento global”, essa divisão original é
colocada em xeque.
Pense em que “caixinha” dessas, “natural” e “social”, você encaixaria o fenôme-
no do “aquecimento global”. Se pensarmos nas reações químicas que ocorrem na
atmosfera, ele talvez pudesse ser dito um “fenômeno químico”. Se pensarmos no
seu impacto sobre as condições de vida dos organismos no planeta Terra, pode-se
dizer que ele é um “fenômeno biológico”. Se pensarmos, por sua vez, no impacto
do degelo das calotas polares sobre o “estilo de vida” das cidades litorâneas, ele é
também um “fenômeno sociológico”.
O aquecimento global
capítulo 1 • 22
princípio de que as ideias ditas científicas têm vida social e de que essa vida é pas-
sível de ser contada (PEIRANO, 2006, p. 103), falamos sobre a “origem” de nossa
concepção comum de ciência na ideia (“renascentista”/”iluminista”) de que o saber
científico representava um marco de separação em relação às formas de explicação
baseadas no “senso comum”, principalmente naquele “saber popular” inspirado
por valores “religiosos”. No fazer científico contemporâneo, essa separação não é
uma “separação de natureza”, de conteúdo, mas de forma.
capítulo 1 • 24
(daí a analogia com a “máquina”), afastados da influência “nefasta” da subjetivida-
de do pesquisador, seus valores e preferências pessoais.
Não é preciso dizer que, para Becker, a alternativa da “ciência como máquina”,
da perseguição da absoluta “objetividade científica”, é uma quimera. Mais do que
isso, implica em uma perda inestimável para a Sociologia, tanto em termos da
restrição de seu universo de objetos possíveis como em termos da construção de
métodos e inovações fundamentais ao desenvolvimento do campo científico.
A Sociologia é uma das principais fontes de objetos e procedimentos metodo-
lógicos para as pesquisas em segurança pública – ela e suas disciplinas coirmãs
“humanas”, pode-se dizer, como a Antropologia, a Ciência Política, a História,
a Estatística etc. Nesse sentido, as problematizações de Becker sobre o método
sociológico tornam-se ainda mais pertinentes para nós.
Agora, retomando a pergunta que fizemos anteriormente, sobre o que define
um conhecimento como científico, cremos que agora podemos respondê-la.
capítulo 1 • 25
ATENÇÃO
Seguindo a análise de Becker, o que define um conhecimento como “científico” é a verifica-
bilidade do método. O que isso quer dizer, concretamente? Significa que, em sua pesquisa, para
que ela seja “científica”, você precisa explicitar todas as condições e condicionalidades sobre as
quais foram produzidas as escolhas metodológicas que levaram aos resultados obtidos por sua
investigação. Isso permitirá, como nos fala Howard Becker, o chamado “controle de pares”, prin-
cipal mecanismo de controle do campo científico, ou seja, permitirá que outros pesquisadores
possam percorrer as suas escolhas metodológicas e chegar as suas próprias conclusões sobre
a pertinência e a propriedade do que foi dito em sua pesquisa. Isso é “ser científico”.
Dito isso, podemos seguir nosso caminho pelas “grandes divisões” do pensa-
mento científico, retomando o debate entre as ciências “empíricas” ou “factuais”
e as ciências “formais”, cujas origens retomam, como vimos na primeira parte de
nossa aula, os debates científicos dos séculos XVIII–XIX. Estas últimas, de caráter
“formal”, trabalhariam com modelos abstratos, os quais lançam mão da empiria,
quando muito, apenas para ilustrar seus postulados, formulados racionalmente,
por obra do intelecto. As primeiras, ditas “factuais”, também têm por objetivo a
formulação de “modelos explicativos”. Entretanto, esses modelos são construídos ‘a
partir de’ e ‘em diálogo’ com a empiria, ou seja, com base na observação.
Segundo Bunge (1985, p. 14), há uma distinção de terminologia, entre os
procedimentos de “demonstração” e “verificação”, que ilustra essa diferença.
"As ciências formais demonstram ou provam: as ciências factuais verificam (confir-
mar ou desconfirmam) hipóteses que em sua maioria são provisórias. A demonstração
é completa e final; a verificação é incompleta e por isso temporária. A própria natureza
do método científico impede a confirmação final das hipóteses factuais" (1985:14).
Essa outra “grande divisão”, entretanto, também caiu em desuso. Muito
embora existam disciplinas majoritariamente “formais”, como a Matemática e a
Lógica, esse não é o caso para a maioria dos campos científicos. Intelecto e observa-
ção, no geral, convergem no processo de construção do conhecimento.
O que isso quer dizer em termos concretos? Bom, isso quer dizer que, em toda
pesquisa, os investigadores partem sempre dos modelos explicativos existentes (as teo-
rias) para formular seus temas, problemas e objetivos de pesquisa, mas que, ao serem
aplicados às observações empíricas, tendem a demonstrar uma série de inadequações.
capítulo 1 • 26
Isso se deve ao fato de uma vez tendo sido elaborados com base em observa-
ções de outros contextos empíricos, quando aplicados em nossos próprios campos
de pesquisa, é previsível que haja desajustes, digamos assim. Mas isso não quer
dizer que, para a dinâmica de funcionamento das ciências, esses “desajustes” sejam
negativos. Pelo contrário!
Foi possível para você visualizar como essas duas dimensões, “factual” e “formal”,
podem interagir em uma pesquisa? Primeiro é preciso formular o seu “problema de
pesquisa”. Em seguida, com o auxílio de autores e estudos acadêmicos, você formula
um conjunto de “hipóteses”, bem como suas “consequências lógicas”, que é a forma
capítulo 1 • 27
como o problema, em sua formulação lógica, afetaria uma determinada realidade.
Até aqui, todas as operações feitas no processo de pesquisa são modelares e teóricas.
Realizadas essas operações lógicas, o pesquisador vai à empiria a fim de verificar
suas hipóteses. É nesse encontro que começamos a produzir nossas pesquisas. Para Karl
Popper, quando, nesse encontro, essa “teoria” é “falseada”, ou seja, é majoritariamente
refutada pela experimentação empírica, ela deve ser reformulada. Se o “teste empí-
rico”, entretanto, é corroborativo, no todo ou em parte, a “teoria” que fundamentou
cientificamente aquela formulação de hipóteses sobre o problema sai fortalecida. Para o
“princípio da falseabilidade” de Popper (2004), a força de sua cientificidade, entretan-
to, reside no fato de ela ser submetida a repetidos “testes empíricos”.
Falemos agora de outra “grande divisão” entre as ciências “indutivas” e “dedu-
tivas”, ou seja, aquelas que aplicam métodos de generalização de resultados a partir
de uma amostra empírica observada (“método indutivo”) ou de uma cadeia lógica
de pensamento (“método dedutivo”).
Para que essa divisão não fique muito etérea para você, vejamos o exemplo de
Marconi e Lakatos (2003, p. 91) sobre essa diferenciação em termos de sentenças ilus-
trativas das lógicas que inspiram os dois métodos científicos, “indutivo” e “dedutivo”:
Dedutivo
Todo mamífero tem um coração.
Ora, todos os cães são mamíferos.
Logo, todos os cães têm um coração.
Indutivo
Todos os cães que foram observados tinham
um coração.
Logo, todos os cães têm um coração.
Como você pode perceber, essa “divisão” remonta bastante à anterior, entre
“ciências empíricas” e “formais”. Nesse caso, entretanto, pode se dizer que ela
capítulo 1 • 28
encontra-se mais centrada na forma pela qual a ciência produzem generalizações,
no primeiro caso, a partir da lógica, no segundo, do caso concreto.
Por fim, para fecharmos nosso primeiro capítulo sobre a ciência e o método científi-
co, falemos da diferenciação entre os “quantitativos” e métodos “qualitativos”, também
conhecida pela distinção entre abordagens “macro” e “micro”. Vejamos por quê.
Tratando essa separação de modo bastante genérico e superficial, ela postula a
distinção entre, por um lado, métodos de pesquisa que se servem de dados quantifi-
cados ou quantificáveis e, por outro, métodos que tomam por base empírica o com-
portamento de objetos em situações concretas, por meio da observação direta (“da-
dos primários”) ou de relatos, entrevistas etc. (“dados secundários”). No primeiro
caso, os dados utilizados produzem generalizações indutivas mais abrangentes.
Essa maior capacidade de generalização se dá em razão do tamanho da “popula-
ção” e do volume de casos contemplados na construção de uma “amostra de pesquisa”.
Abrimos um breve parêntese para falar da distinção entre "pesquisa por
população' e "pesquisa por amostragem". Essa distinção será aprofundada nas
próximas aulas, mas, já que mencionamos, cabe uma breve explanação.
A "pesquisa por população" implica que um levantamento, seja de tipo qualita-
tivo (entrevistas, estudos de caso etc.) ou quantitativo (aplicação de questionários
etc.), obtenha dados de todos os indivíduos ou casos de um grupo.
A "pesquisa por amostragem", por sua vez, se debruça sobre uma parcela aleató-
ria (o pesquisador não interfere na seleção dos casos) ou representativa (o pesqui-
sador interfere de modo a fazer com que a amostra represente os vários segmentos
etários, sexuais, de renda etc.) de uma população.
EXEMPLO
Se o seu universo empírico de pesquisa é um grupo de alunos em sala de aula, obter dados
de toda a população de indivíduos é uma tarefa bem mais fácil e desejável, inclusive. Se es-
tamos falando de toda a população da Universidade, a coisa já fica um pouco mais difícil e
pode-se recorrer a construção de uma "amostra", aleatória ou representativa.
capítulo 1 • 29
Você já deve ter percebido que, apresentada dessa maneira, a opção entre a aplica-
ção de métodos quantitativos ou qualitativos equivaleria a uma escolha entre “abrangên-
cia” e “profundidade”, “generalidade” e “especificidade”. Um debate entre a alternativa
de produzir um conhecimento genérico sobre um grande número de casos ou, ao contrário,
produzir um conhecimento profundo sobre um universo de casos muito menor.
Atualmente, entretanto, a boa técnica de pesquisa recomenda que se aplique o
que chamamos “triangulação de métodos” ou “pesquisa com métodos mistos”.
Esse tipo de abordagem não só apregoa a utilização simultânea, em uma mesma
pesquisa, de métodos ditos “qualitativos” e “quantitativos”, como contempla também
a aplicação de metodologias e técnicas de pesquisa de várias áreas do conhecimento.
EXEMPLO
Pense numa pesquisa sobre o tema "vitimização policial". Ela pode lançar mão, em princípio,
de uma série de dados produzidos pelas próprias organizações policiais, reunidos em bases e,
portanto, altamente passíveis de quantificação. Numa primeira etapa da pesquisa teríamos então
um panorama abrangente de estatísticas, taxas e índices relacionados ao fenômeno da "vitimiza-
ção policial" (um panorama quantitativo). Esse levantamento pode ser exaustivo, dando conta de
toda a população de casos para um período de 5 (cinco) anos, por exemplo, mas ele ainda sim
é genérico. Numa segunda etapa deste nosso investimento de pesquisa hipotético, a equipe de
pesquisas poderia se dedicar a realizar entrevistas com policiais vitimados e visitar suas unidades
para a realização de observações in loco. Esse tipo de abordagem qualitativa da realidade permite
uma maior profundidade acerca das dinâmicas cotidianas do funcionamento de suas unidades
e das características do local em que se situa, por exemplo, bem como das vivências individuais
dos sujeitos vitimados. Poderemos, com isso, agregar um detalhamento mais vívido ao panorama
estatístico inicial e corrigir eventuais distorções causadas pelo registro e tratamento dos dados
quantitativos. Por sua vez, a pesquisa pode agregar também dados da área de Psicologia das cor-
porações, de modo a enriquecer suas análises sobre o impacto da violência sobre os sujeitos, ou
mesmo dados históricos para pensar sobre a forma como a missão e o mandato das instituições
de segurança se modificou com o tempo e o seu papel na sociedade atual.
Bom, é isso. Esperamos que você tenha tido uma boa compreensão do
conteúdo desse nosso primeiro encontro. Até a próxima aula!
capítulo 1 • 30
2
O problema
científico
O problema científico
OBJETIVOS
• Conceituar a ideia do problema científico e reforçar o entendimento de metodologia científica.
• Entender a importância da escolha e da delimitação do tema da pesquisa científica como
fator primordial para sua realização.
• Entender o que são as fontes de pesquisa primárias e secundárias, bem como facilitar
sua busca.
• Apresentar os pontos essenciais de um projeto de pesquisa, entendendo seus elemen-
tos estruturais.
Conceituando
capítulo 2 • 32
Já o método dialético é proveniente dos antigos gregos. Ele consiste numa
troca de argumentações racionais, permanentes e contraditórias, através de
perguntas, respostas e conclusões.
Não existe uma conclusão definitiva no método dialético, pois como a realida-
de está em constante transformação as respostas são transitórias.
Ou seja, a cada nova descoberta ou inovação, ocorre uma síntese entre a tese
antiga e a nova, gerando uma nova conclusão. Isso ocasiona o enriquecimento do
conhecimento e o avanço científico permanente.
EXEMPLO
Método dedutivo:
Todo réptil tem sangue frio.
O lagarto é um réptil.
Então o lagarto tem sangue frio.
Método indutivo:
A cobra coloca ovo. A cobra é um réptil.
O lagarto coloca ovo. O lagarto é um réptil.
O jacaré coloca ovo. O jacaré é um réptil
Logo, todos os répteis colocam ovos.
capítulo 2 • 33
O planeta Terra
Ampulheta
capítulo 2 • 34
O tempo disponível para pesquisar sobre o tema delimitado é um desses fa-
tores. Digamos que você tenha escolhido um assunto que envolva uma longa pes-
quisa de campo em unidades policiais ou fóruns, somado a centenas de entrevistas
estruturadas, feitas através de questionários. Você terá tempo para efetivamente
exercitar toda essa dinâmica e, ainda, computar corretamente os dados obtidos?
Outro fator é a relevância do tema, bem como a sua atualidade. O tema deve
ser relevante para o seu curso e de alguma forma atual, caso contrário seu trabalho
não será interessante. Uma pesquisa sobre o uso correto de uma insígnia na farda
de um policial militar, apesar de até poder ser relevante para o pesquisador e mais
meia dúzia de pessoas, não terá uma efetividade em conquistar o fascínio da maio-
ria, provavelmente nem dos membros de sua banca examinadora.
É importante saber se existe material bibliográfico sobre seu tema, ou se, mes-
mo se esse material existir, você conseguirá ter acesso a ele. É possível que haja
interesse em escrever sobre determinado tema cuja bibliografia existente – dada a
extrema novidade do assunto – esteja em uma língua estrangeira. Nesse caso, além
da dificuldade de obter o material para a pesquisa, há a barreira da língua, que
deverá ser previamente pensada.
Biblioteca
capítulo 2 • 35
orientador interessado em orientar aquele tema, por achar que está ultrapassa-
do ou que não há relevância.
Uma dica importante é que não existe excesso para se delimitar um tema. Quanto
mais você conseguir delimitar o seu tema, mais facilidade terá para realizar a
pesquisa de forma satisfatória e maiores serão as chances de que seu trabalho
seja bem-sucedido. Portanto, não fique chateado se o seu orientador transformar
o seu trabalho final em apenas um dos capítulos do que você pretendia pesquisar.
capítulo 2 • 36
Não se preocupe que a delimitação excessiva do tema possa deixar seu trabalho
superficial. Muito pelo contrário! Quanto mais localizado e pontuado seu trabalho
estiver, mais profundo ele terá a chance de ser.
Ao pesquisar um ambiente complexo, onde diversos fatores atuam entre si, as
suas definições tenderão a ser mais superficiais, tendo em vista a quantidade enor-
me de elementos existentes e a dificuldade em se esmiuçar cada um deles.
Quando o pesquisador se debruça apenas sobre um dos fatores, seus elemen-
tos são restritos tão somente aos elementos existentes nele, não ao conjunto, pro-
piciando uma análise muito mais detalhada.
Tomemos como exemplo um carro. Se um pesquisador se dedicar a descrever
tudo sobre um carro, certamente detalhará suas rodas. Provavelmente, esse pesqui-
sador dirá que as rodas de um carro são feitas de metal, encobertas por uma cama-
da de borracha destacável, chamada pneu, que entra em contato com o solo. Daí
partirá logo para outras características em tese mais importantes daquele veículo.
Quando analisamos sistemas complexos, a tendência a relevar suas minúcias
se torna uma necessidade, tendo em vista a quantidade de dados que poderão ser
considerados mais relevantes.
Agora, imaginemos um pesquisador que se proponha a pesquisar não o carro,
mas tão somente as rodas do veículo. Certamente ele iria descrevê-las de forma
muito diferente. Falaria sobre a relação entre os diâmetros das rodas e a dirigibi-
lidade, faria uma longa exposição sobre os diversos tipos de metais que podem
ser usados na sua fabricação, os quais influenciam tanto na durabilidade como na
segurança, descreveria os pneus e seus diversos modelos, passando pelo material de
que são feitos, o processo de fabricação etc.
Ou seja, não se preocupe: quanto maior a delimitação do tema, mais profunda
se torna a pesquisa sobre o objeto escolhido.
capítulo 2 • 37
folga. Ou que o envolvimento de policiais com o crime perfaz um caminho que
culmina com a morte acentuada desses agentes públicos.
Somente nessas três possibilidades descritas é possível delimitar três objetos
de pesquisa diferentes, com todos versando sobre o tema da morte de policiais,
no entanto.
É claro que não se pode deixar de observar a existência de bibliografias que
possam lhe dar subsídios para que seu trabalho tenha continuidade. As bibliogra-
fias são fontes secundárias de pesquisa que versam sobre as fontes primárias, quais
sejam, a análise de dados previamente apurados e computados.
Caso não exista bibliografia secundária para seu objeto de pesquisa – ou até
exista, mas se for escassa ou não versar diretamente sobre o seu tema –, será neces-
sário empreender uma busca de fontes primárias. Ou seja, o pesquisador deverá ir
a campo a fim de angariar e computar os dados de que precisa.
Não que isso seja um impedimento para o desenvolvimento da pesquisa, po-
rém será necessário avaliar, nesse caso, se o pesquisador terá tempo suficiente para
recolher os dados necessários. Além disso, é importante observar o fator tempo,
bem como a dimensão dos dados levantados.
Uma pesquisa que buscasse identificar a quantidade de mortes ocorridas por
meio de linchamentos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro estaria seriamente
comprometida se esses dados se restringirem ao período de um ou dois meses em
apenas três ou quatro bairros, por exemplo, pois não teria a dimensão temporal ou
espacial de retratar a realidade existente.
capítulo 2 • 38
disso, temos, em alguns casos, a posição privilegiada de observação, que poderá
proporcionar, tomados os devidos cuidados metodológicos, a inserção de dados
a que outras pesquisas anteriores não conseguiram chegar devido a um possível
maior distanciamento do pesquisador com o objeto.
Nesse caso, aproveite a oportunidade e faça com que seu trabalho se destaque
no aspecto de inovação e relevância acadêmica.
EXEMPLO
Diversos alunos que iniciam suas pesquisas sobre segurança pública pensam em pes-
quisar dentro de comunidades dominadas por traficantes de drogas. Ou seja, tal pesquisa,
apesar de interessante, acabaria por comprometer a segurança do pesquisador, tornando-se,
muitas vezes, inviável.
Cabe, em casos assim, avaliar os riscos a que o pesquisador estaria se submetendo.
TIPOS DE PESQUISA
Ocorre quando o pesquisador não conse-
gue identificar elementos ou dados exis-
tentes suficientes. Portanto, ele deverá
EXPLORATÓRIA explorar o tema e o objeto a fim de le-
vantar seus próprios dados e, até mesmo,
formular sua hipótese no decorrer desse
processo.
capítulo 2 • 39
Também conhecida como etnográfica,
objetivando a descrição, através da ob-
DESCRITIVA servação, das características da popula-
ção ou do fenômeno pesquisado.
capítulo 2 • 40
A pesquisa bibliográfica será a base de sustentação para seu trabalho científico
e deverá responder a três questionamentos: quem já escreveu sobre o tema;
o que já foi escrito sobre o assunto; e quais foram as lacunas deixadas pelos
pesquisadores anteriores.
capítulo 2 • 41
ATENÇÃO
É necessário, porém, o devido cuidado com as pesquisas na internet. É preciso checar a
confiabilidade do site que se está pesquisando, a fim de que você não insira informações não
verídicas acreditando que são reais.
CURIOSIDADE
A indexação refere-se a um “selo de qualidade” dado por determinados órgãos volta-
dos à pesquisa científica, como Lilacs, SciELO, ISI e Qualis. As publicações científicas são
agrupadas em um sistema de acordo com seu grau de relevância, servindo para avaliar a
produção científica dos programas de pós-graduação.
A classificação é: A1 (mais elevado); A2; B1; B2; B3; B4; B5; C (peso zero).
Fonte: http://www.capes.gov.br/avaliacao/instrumentos-de-apoio/classificacao-da-pro-
ducao-intelectual.
Acesso em: 10 jun. 2016.
capítulo 2 • 42
cliques você terá em suas mãos a possibilidade de adquirir diversos livros, nacio-
nais e internacionais, sobre o tema de seu interesse.
O aprofundamento do pesquisador na bibliografia fará com que consiga o
necessário conhecimento para que possa, com segurança, entender e escrever so-
bre o seu tema. Além disso, a conclusão dos autores consultados não será, neces-
sariamente, a mesma. Assim, o pesquisador pode, a partir da divergência ou do
consenso entre esses trabalhos já realizados, se posicionar sobre seu tema. E, como
exemplo dessa divergência, podemos citar os pesquisadores da área de economia,
que se aprofundam, por exemplo, na questão dos modos de produção. Muitos, a
propósito, se dividem no abismo entre a teoria marxista e a teoria capitalista. Cabe
ao pesquisador iniciante, que queira debater a respeito, entender as duas teorias a
fim de poder, a partir desse debate entre os autores, chegar a sua própria conclusão.
Lembre-se que a bibliografia utilizada na sua pesquisa nunca será demais, pois
ela robustecerá o seu conhecimento e, em consequência, o seu trabalho.
O seu orientador será de grande ajuda para lhe indicar muitas das bibliografias
que você poderá consultar, facilitando ainda mais a sua busca pelo conhecimento.
Resumindo, um levantamento bibliográfico poderá ser avaliado como bem
feito quanto maior for a extensão da localização de tudo o que já foi feito na área
e o correto entendimento de suas respectivas conclusões.
A introdução
capítulo 2 • 43
introdução procura firmar o entendimento no leitor/avaliador de que aquele pro-
jeto pode, efetivamente, vir a se tornar uma pesquisa científica, apresentando os
resultados propostos em vez de “morrer na praia”.
Justificativa do estudo
capítulo 2 • 44
ele vai interessar; e quais as bases de sustentação para aquela pesquisa (campo,
bibliográfica, empírica etc.).
Digamos que você queira pesquisar sobre a prática do trote nas faculdades
públicas no Rio de Janeiro. A primeira pergunta que você deve responder para
si mesmo é por que deseja fazer tal pesquisa. Digamos que seja porque os trotes
nas faculdades, nos últimos anos, vêm culminando com mortos e feridos.
A segunda pergunta é a base da pesquisa. (Serão utilizados como base
para essa pesquisa os registros de ocorrência existentes nas delegacias das áreas
das universidades públicas estudadas, bem como os boletins de atendimento
médico de seus alunos.)
A próxima pergunta é o que ela procura apresentar. (A pesquisa procura
apresentar dados que demonstram que o número de alunos das universidades
públicas mortos e feridos com os trotes vem tendo um aumento significativo
nos últimos anos.)
O seguinte questionamento é a quem é destinada a pesquisa. (Essa pesquisa
vem levantar dados para que professores, diretores e reitores possam ter subsídios
a fim de substituir os atuais trotes violentos nas universidades públicas no Rio de
Janeiro por trotes sustentáveis, através da conscientização dos perigos que tanto
alunos novos como os antigos podem correr.)
Após se justificar, mesmo que ache a explanação perfeita, teste-a perguntando
a outras pessoas e, principalmente, ao seu orientador o que têm a criticar ou acres-
centar. Lembre-se de que algo que pode ser muito atrativo para você pode não ser
para os outros.
EXEMPLO
Nossa justificativa para a pesquisa poderia ficar mais ou menos assim:
Nos últimos anos, relatos cada vez mais frequentes de alunos mortos ou feridos por ou-
tros alunos, em trotes nas universidades públicas, vêm chegando ao conhecimento público
através da grande mídia. Esse é um fenômeno corriqueiro no Brasil, porém parece ter se
agravado. Além da perda de vidas ou de lesões sérias às vítimas, os trotes têm consequên-
cias penais nefastas para seus praticantes, gerando um consequente temor e descrédito nas
instituições de ensino público superior.
Assim, esta pesquisa pretende, utilizando a base de dados de registros criminais das
delegacias distritais, bem como dos boletins de atendimento médico dos hospitais nas áreas
capítulo 2 • 45
das universidades públicas do estado do Rio de Janeiro, investigar se esse fenômeno vem
realmente aumentando nos últimos vinte anos.
A partir desses dados, o presente trabalho científico irá propor políticas públicas a serem
empregadas por reitores, diretores de departamento e professores das referidas instituições
de ensino, a fim de minimizar ou pôr termo nos trotes violentos ou humilhantes e substituí-los,
através da conscientização dos alunos, por trotes sustentáveis.
Delimitar o tema é a chave para que o pesquisador não se perca num universo
de possibilidades que poderão findar com seu afastamento do que deveria ser
pesquisado, gerando, em consequência, um trabalho malfeito.
capítulo 2 • 46
EXEMPLO
Digamos que a escolha do seu tema seja referente ao ensino policial. Esse tema é infinitamente
abrangente, pois não foi, ainda, delimitado o grupo que se quer pesquisar (policiais civis, militares, fe-
derais, nacionais, estrangeiros), o tipo de formação (inicial, continuada, para progressão de carreira),
o local de formação (em algum estado do Brasil ou em todo o país, continente, mundo) etc.
Podemos delimitar esse tema (ensino policial) através do problema apresentado, tornan-
do restrito o universo a ser pesquisado.
Vejamos o seguinte problema proposto com o tema acima:
A formação em direitos humanos dos policiais militares que atuam nas
Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro é condizente com
as habilidades necessárias para sua atuação?
capítulo 2 • 47
EXEMPLO
Voltando ao tema sobre a formação em direitos humanos dos policiais que trabalharão
nas UPPs, podemos problematizar:
- Em quais circunstâncias o curso de formação de policiais militares é desenvol-
vido para uma introjecção de direitos humanos nesses futuros profissionais?
- Até que ponto o ethos guerreiro passado nos cursos de formação de policiais
militares pode desfavorecer o aprendizado de direitos humanos?
- Em que medida a percepção dos policiais militares sobre as disciplinas de di-
reitos humanos, aprendidas durante a sua formação, poderá se tornar um facilitador
de seu trabalho nas UPPs?
Hipótese é uma coisa que não é, mas a gente faz de conta que é só
para ver como seria caso ela fosse.
capítulo 2 • 48
As hipóteses servem para orientá-lo, através da pesquisa, em direção a uma res-
posta definitiva. Elas podem se revelar falsas no final, porém sua não constatação
não representa qualquer óbice.
A sua pesquisa servirá, justamente, para que se tenha um maior conhecimento
e entendimento sobre o tema proposto e, a partir da utilização do método cientí-
fico, a resposta do problema formulado anteriormente.
Após o término da pesquisa, não ocorrendo a confirmação da hipótese pro-
posta no projeto, o pesquisador poderá propor soluções ou respostas diferentes
daquelas inicialmente formuladas, abrindo inclusive novos horizontes a serem pes-
quisados por outros.
Caso, no final, sua pesquisa aponte para as hipóteses previamente formu-
ladas, elas agora estarão convalidadas e consubstanciadas pela devida metodo-
logia científica.
capítulo 2 • 49
Porém, apesar de interessantes conclusões, tal pesquisa não se voltou especifi-
camente para o curso de Direito. Com esse último elemento, você terá parâmetros
para pesquisar de forma específica se o curso de Direito corresponde, ou não, ao
resultado encontrado, ou se há um fenômeno específico em detrimento dos de-
mais cursos das outras áreas de Ciências Humanas.
As suposições apresentadas na sua hipótese servirão para que você tenha um
elemento norteador na sua pesquisa. Entretanto, as suas hipóteses não podem se
tornar dogmas. Ou seja, o pesquisador não pode ficar tão preso a essas conjecturas
iniciais a ponto de sua pesquisa se tornar enviesada, pois isso resultaria numa óbvia
falta de credibilidade no meio acadêmico.
As características apontadas acima têm como fundamento precípuo a aplica-
ção de uma metodologia científica para a elaboração das hipóteses e da pesquisa
em si, trazendo, com isso, o consequente amparo científico das respostas e solu-
ções apontadas.
As hipóteses para Cervo e Bervian (2004) devem ter algumas características
fundamentais, que são:
Cronograma
capítulo 2 • 50
O cronograma poderá ser feito por semestres, bimestres ou mesmo meses,
dependendo do tempo que você terá para realizar o seu estudo.
Por exemplo, em programas de pós-graduação stricto sensu, o prazo costuma
ser de alguns anos para a entrega dos trabalhos finais. Portanto, o cronograma deve
ser realizado em semestres.
Já em programas de pós-graduação lato sensu, esse cronograma poderá ser rea-
lizado por bimestres ou meses.
Normalmente, em graduações ou cursos de formação técnica, as disciplinas re-
ferentes ao TCC costumam ocorrer nos últimos três ou quatro semestres. Porém, so-
mente no penúltimo semestre costuma haver a entrega do Projeto Final de pesquisa.
Nesse caso, você poderá realizar o seu cronograma em dois semestres, dividi-
dos pelo tempo que falta para a conclusão de sua graduação.
Você deverá descrever o seu cronograma através de uma tabela, que grafica-
mente simplificará a sua exposição.
EXEMPLO
Meta e Atividade
JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ JAN. FEV.
2016-2017
Encontro de X X X X X X X
orientação
Levantamento e X X X
revisão bibliográfica
Coleta de dados X X X
Análise e discussão X
dos dados
Elaboração do
primeiro capítulo X
(entrega)
capítulo 2 • 51
Elaboração do
segundo capítulo X
(entrega)
Elaboração do
terceiro capítulo X
(entrega)
Defesa da X
dissertação
CURIOSIDADE
Existem dois tipos de pós-graduações no Brasil: lato sensu e stricto sensu.
As pós-graduações lato sensu são referentes aos programas dos cursos de especiali-
zação acadêmica, incluindo os chamados MBA (Master Business Administration), com carga
horária mínima de 360 horas. Depois de concluídos, esses cursos possibilitam o recebimento
de um documento denominado certificado – e não de um diploma –, ostentando os conclu-
dentes o título de especialista.
As pós-graduações stricto sensu se referem aos programas de mestrado e doutorado,
que de acordo com as instituições de ensino autorizadas podem durar entre dois (mestrado)
a quatro anos (doutorado). Ao final desses cursos, o concludente receberá um diploma, po-
dendo ostentar o título de mestre ou doutor.
Ambos os tipos de pós-graduação citados têm previsão na Lei 9.394/96, que versa
sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sendo previstos em seu art. 44, inciso III.
Para a realização de qualquer um dos dois tipos de pós-graduação é necessária a con-
clusão prévia de um curso de graduação.
Fonte: Portal do Ministério da Educação.
Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=13072:qual-a-diferenca-entre-
-pos-graduacao-lato-sensu-e-stricto-sensu.
Acesso em: 2 maio 2016.
capítulo 2 • 52
3
A construção do
projeto de pesquisa
A construção do projeto de pesquisa
OBJETIVOS
• Apresentar a distinção entre “tema”, “objetivo geral” e “objetivos específicos”, reafirmando a
importância dessas definições para a construção de um trabalho científico.
• Definir o que chamamos de “embasamento teórico”, bem como as etapas e estratégias
aplicadas para a sua construção.
• Apresentar ao aluno a ideia de que o conhecimento científico possui seus próprios critérios
e regras de validação técnica e ética.
capítulo 3 • 54
EXEMPLO
Então vamos a uma formulação de um recorte temático possível sobre o fenômeno:
Delimitação do TEMA
Realizar o mapeamento das ocorrências em que houve morte ou lesão de policiais mili-
tares, em folga e em serviço, entre os anos de 2007 e 2014, registrados pela Polícia Militar,
na Capital e Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
capítulo 3 • 55
Os objetivos da pesquisa são a manifestação de
suas intenções ao realizar uma pesquisa.
EXEMPLO
Vejamos, seguindo o recorte temático de nossa hipotética pesquisa de vitimização:
Objetivo Geral
Identificar a influência de fatores individuais (adesão dos próprios policiais a condutas
consideradas de risco), contextuais (características da área operacional em que atuam) e
institucionais (equipamentos, modalidades de policiamento, escalas de serviço etc.) sobre a
maior ou menor exposição dos agentes à vitimização.
Objetivos Específicos
• Identificar os possíveis efeitos da adoção do Regime Adicional de Serviço (RAS), o
Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis), bem como os efeitos da ado-
ção das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) na dinâmica de vitimização policial.
• Identificar o perfil do policial vitimado.
• Identificar as circunstâncias de vitimização.
• Contribuir com sugestões para o aprimoramento dos processos de coleta e sistematização
de dados sobre vitimização de policiais.
Deu para perceber a diferença entre tema e objetivo geral? O tema delimita
o seu universo pesquisado. Você não vai estudar toda e qualquer “vitimização”,
em qualquer tempo e em qualquer lugar. Você delimita seu universo de interesses.
O objetivo geral, por sua vez, é aquilo que, dentro de certo recorte, se pretende
levantar sobre o fenômeno. Trata-se do que se quer saber a partir da realização de
uma pesquisa científica sobre o tema escolhido.
capítulo 3 • 56
Os objetivos específicos da pesquisa são desdobramentos do objetivo
geral. Escritos também de forma direta e com verbos no infinitivo, os objetivos
específicos são a expressão de metas subsidiárias, que ou complementam, ou
ajudam a aferir o que se busca aferir a partir da formulação do objetivo geral.
Tipos de bibliografia
capítulo 3 • 57
EXEMPLO
Bibliografia Específica
• DE SOUZA MINAYO, Maria Cecília; DE SOUZA, Edinilsa Ramos. Missão investigar: entre
o ideal e a realidade de ser policial. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2003.
• DE SOUZA MINAYO, Maria Cecília; DE SOUZA, Edinilsa Ramos; CONSTANTINO, Patrícia.
Missão prevenir e proteger: condições de vida, trabalho e saúde dos policiais militares do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: SciELO; Editora FIOCRUZ, 2008.
CONEXÃO
Retomando o nosso exemplo anterior, uma bibliografia específica sobre o
tema da “vitimização policial” pode ser encontrada nos trabalhos das professoras
Cecília Minayo e Edinilsa Ramos, do Centro Latino-Americano de Estudos de
Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVES), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
disponível em: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/departamento/claves.
EXEMPLO
Bibliografia Complementar:
• DESLANDES, Suely Ferreira. Violência no cotidiano dos serviços de emergência:
representações, práticas, interações e desafios. 2000. Tese (Doutorado em Saúde Públi-
ca)--Instituto Fernandes Figueiras, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000.
• SOUZA, Aparecida Neri de; LEITE, Marcia de Paula. Condições de trabalho e suas reper-
cussões na saúde dos professores da educação básica no Brasil. Educação & Sociedade,
Campinas, v. 32, n. 117, p. 1105-1121, dez. 2011.
capítulo 3 • 58
Por exemplo, é conhecido que um dos efeitos da exposição de algumas cate-
gorias profissionais a elevados riscos laborais e situações-limite em seu dia a dia
produz um tipo de reação em resposta à extenuação diária de sua vida emocional.
Para evitar um colapso nervoso, talvez inconscientemente, esses profissionais de-
senvolvem uma série de barreiras psicológicas, o que pode se desdobrar em uma
perigosa falta de empatia e de identificação com os dramas alheios.
Esse seria o caso, por exemplo, de professores e de profissionais de saúde que
fazem atendimentos de emergência, o que torna a leitura desses trabalhos um
recurso interessante para refletir sobre aspectos de seu próprio objeto de pesquisa
– no caso do nosso exemplo, a “vitimização policial”.
Por fim, mas não menos importante, há também aquilo que podemos
chamar de bibliografias genéricas ou teóricas. Elas não tratam, necessaria-
mente, do seu objeto de pesquisa. Isso não é um problema. Você pode en-
contrar, entretanto, trabalhos teóricos que têm como base empírica ou como
preocupação principal o seu tema de pesquisa. Melhor! Mas isso não é um
pré-requisito imprescindível.
capítulo 3 • 59
A atitude blasé resulta em primeiro lugar dos estímulos contrastantes que,
em rápidas mudanças e compressão concentrada, são impostos aos nervos.
Disso também parece originalmente jorrar a intensificação da intelectualidade
metropolitana. Portanto, as pessoas estúpidas, que não têm existência intelectual,
não são exatamente blasé. Uma vida em perseguição desregrada ao prazer torna
uma pessoa blasé porque agita os nervos até seu ponto de mais forte reatividade
por um tempo tão longo que eles finalmente cessam completamente de reagir.
Da mesma forma, através da rapidez e contraditoriedade de suas mudanças,
impressões menos ofensivas forçam reações tão violentas, estirando os nervos
tão brutalmente em uma e outra direção, que suas últimas reservas são gastas;
e, se a pessoa permanece no mesmo meio, eles não dispõem de tempo para
recuperar a força. Surge assim a incapacidade de reagir a novas sensações
com a energia apropriada. Isso constitui aquela atitude blasé que, na verdade,
toda criança metropolitana demonstra quando comparada com crianças de
meios mais tranquilos e menos sujeitos a mudanças.
capítulo 3 • 60
– pelo menos é o que imaginamos – pode auxiliar o(a) aluno(a) na organização do
seu levantamento bibliográfico, dando pistas também de como utilizá-lo.
Vejamos agora outra parte muito importante da construção de sua discussão
ou embasamento teórico: a leitura da bibliografia.
capítulo 3 • 61
Aqui vão algumas dicas para uma leitura compreensiva:
1. Leia o texto mais de uma vez! Na primeira leitura, procure não sublinhar nada
ainda. Apenas tente atingir uma apropriação geral da discussão do autor.
2. Sempre que necessário, recorra ao dicionário! Não deixe passar sentidos
de palavras incompreendidos. Use um dicionário comum, mas recorra também a
dicionários especializados, que trazem a definição de conceitos e categorias de um
determinado campo científico (Dicionário de Sociologia).
3. Interaja com o texto! Numa segunda leitura, sublinhe os conceitos e argumentos
mais importantes do autor; escreva nas laterais do texto, colocando questões e
lembretes relacionados ao seu interesse de pesquisa, comentários etc.
4. Construa um sistema de marcações! Se você sublinhar todo o texto, depois
fica difícil perceber os argumentos e conceitos mais importantes. Você pode
trabalhar com um sistema de cores, com sublinhado simples e sublinhado duplo,
utilizar um iluminador para destacar os conceitos. O importante é que, por meio
dessas marcações, você consiga navegar pelo texto e encontrar nele o que é
importante para a sua compreensão profunda.
5. Faça um estudo dirigido de cada texto! Não é exatamente um fichamento. Está
mais para uma ficha catalográfica, uma forma resumida de se apropriar das ideias
de um autor e armazená-las de forma organizada para uma utilização posterior. É
importante que esse estudo contenha (dentre outras dimensões que você entenda
interessantes): a definição dos principais conceitos contidos no texto; uma itemização
do desenvolvimento do argumento; os referenciais teóricos utilizados pelo autor;
seus “espantalhos teóricos”, ou seja, as linhas de pensamento e autores dos quais se
afasta ou crítica; uma espécie de fichamento ou resumo estendido do texto. Nesse
estudo dirigido, procure indicar as páginas de onde você extraiu trechos de texto e
conceitos. Isso facilita, posteriormente, quando você tiver um maior volume de leituras
acumuladas, na utilização do estudo dirigido para construir a sua discussão teórica
sem que seja preciso reler toda a bibliografia selecionada para a sua monografia.
6. Faça uma pesquisa sobre o autor! Geralmente, a biografia dos autores se
relaciona fortemente com seus interesses de pesquisa. Descubra a que escolas e
centros acadêmicos o autor se filia ou se filiou, quais outras discussões e conceitos
são importantes para compreendê-lo. Você vai perceber o quanto essa pesquisa
pode te ajudar a compreender e aplicar o texto às suas análises com mais facilidade.
capítulo 3 • 62
Vamos agora falar da etapa seguinte desse processo, a “análise”, ou seja, a cons-
trução da discussão ou do embasamento teórico propriamente dito.
Boa pergunta.
O campo acadêmico tem uma série de regras e etiquetas que servem à vali-
dação do conhecimento produzido como um conhecimento de cunho (ou que
mereça a alcunha de) “científico”. Michel Foucault chama isso de “campos discur-
sivos”. Cada campo discursivo tem suas regras de produção de discursos válidos
ou validáveis (verdadeiros, em última instância). O discurso religioso, o estético, o
científico – todos têm suas regras de produção.
capítulo 3 • 63
Sabe-se que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em
qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa. [...]
Em tese, você poderia falar tudo sobre seu próprio trabalho de pesquisa. Quem
melhor para saber de suas minúcias e especificidades? Entretanto, as coisas não são
bem assim. A escrita de uma monografia é apenas uma “iniciação”, digamos assim,
à prática científica. Somos “neófitos” da produção de conhecimento. Mesmo no
mestrado e no doutorado precisamos buscar o auxílio de autores e de teorias mais
consolidadas em nosso campo disciplinar ou temático para “ler” (analisar) os nos-
sos dados e agregar respeitabilidade aos nossos resultados.
Nossa habilidade em utilizar esses autores e teorias também conta muito para
a respeitabilidade de nossos trabalhos! Para isso, já vimos que é fundamental que
desenvolvamos – e esperamos ter ajudado nesse sentido – nossas próprias estraté-
gias de leitura compreensiva.
Tomemos, como exemplo, a construção do embasamento teórico para os nos-
sos próprios argumentos. Percebeu a maneira como o filósofo Michel Foucault e
sua obra A ordem do discurso foram acionados para nossa discussão sobre a necessi-
dade de se construir um “embasamento teórico” para o conhecimento?
O que queremos dizer é que você precisa lançar mão desse recurso – de um
“embasamento teórico” – em sua monografia. Ao utilizarmos Foucault, nossa re-
comendação ganha respeitabilidade e validação científica conforme lançamos mão
de um autor reputado que corrobora nosso ponto de vista como um “ponto de
vista válido”, “verdadeiro”. Compreendeu um pouco melhor como funciona essa
espécie de “regra” de organização do campo científico?
Você pode encontrar um ou vários autores para estruturar a sua discussão
principal e outros tantos para citar de forma secundária ou periférica. Essa distin-
ção também é bem importante. Para encontrar o ponto de distinção entre esses
capítulo 3 • 64
dois tipos de referência teórica, você precisa, em primeiro lugar, definir qual o fio
condutor da sua análise. Em outras palavras. Você precisa olhar para o seu material
empírico e identificar o que ele “diz” de mais importante. Qual a sua principal
contribuição para o campo científico.
ATENÇÃO
Um conselho importante. Na verdade, dois. Primeiro, se você fez alguma pesquisa em-
pírica, parta do que você viu, ouviu e/ou levantou para então buscar um ou mais autores
para construir sua linha de argumento principal. Não “encaixote” a sua empiria a serviço de
nenhuma conveniência teórica. Busque o melhor encontro entre “teoria” e “prática”, sempre.
Segundo conselho: construa uma interlocução sólida e constante com seu orientador
ou com a pessoa responsável pelo alinhamento metodológico do seu trabalho. Contar com
profissionais mais experientes ajuda bastante nessa hora crucial da produção do conheci-
mento científico. Afinal, como em todo e qualquer ofício, “produzir ciência” se aprende com
a prática reiterada e a vivência cotidiana das regras e técnicas do campo científico.
Caracterização do problema
capítulo 3 • 65
Josef Mengele, “O Anjo da Morte
capítulo 3 • 66
Sim, é verdade! O fato de que na Alemanha, à época, havia um regime autoritário
vigente faz toda a diferença para entendermos o que está em jogo na constru-
ção dos limites éticos do conhecimento científico. A eclosão da Segunda Guerra
apenas agravou esse quadro, produzindo um tipo de legitimação da conduta dos
“cientistas” alemães frente aos propósitos ideológicos do regime nazista.
Outro caso bastante famoso desse período foi o debate suscitado pela produ-
ção da chamada bomba atômica depois do bombardeio, pelos Estados Unidos, das
cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Cogumelo atômico
capítulo 3 • 67
Depois dos bombardeiros no Japão – ocorridos em agosto de 1945, já quase
no final da Segunda Guerra –, Sakharov tornou-se um ferrenho defensor do fim
dos testes nucleares e militou contra a instauração de regimes ditatoriais que uti-
lizavam a tecnologia atômica como instrumento de poder para sua inserção na
geopolítica mundial. Teller, por sua vez, defendeu até a sua morte, em 2003, a
importância de sua descoberta.
Em entrevista à revista Pesquisa FAPESP (2002), sobre a ética na pesquisa
científica, Teller afirmou:
Claro que Teller sempre foi bastante criticado por esse ponto de vista sobre os
reflexos éticos de suas pesquisas científicas, em especial no que se refere à tecnolo-
gia utilizada na construção da “bomba atômica”.
É conhecido também o drama ético de Albert Einstein, cuja famosa fórmula
para o cálculo da massa relativa, E = mc2, foi crucial para os trabalhos do Projeto
Manhattan. Mesmo não envolvido diretamente no projeto da bomba – uma vez
que Einstein era um conhecido pacifista –, ele, entretanto, sentiu-se eticamente
envolvido em suas consequências nefastas para a geopolítica mundial. Postura dia-
metralmente oposta a de Edward Teller.
O que você pensa sobre o posicionamento de Teller, Sakharov e Einstein? Você
acha que o cientista não tem obrigação alguma de refletir a respeito dos impactos
de seus estudos sobre a sociedade? Ao fim e ao cabo, parece que a explicação para
os posicionamentos diversos entre os autores caberia, unicamente, a valores e es-
colhas de cunho pessoal...
Bom, em última instância, sim, a “consciência moral” do próprio pesquisador
é o reduto final da ética em suas pesquisas. Suas crenças pessoais e sua adesão
voluntária a princípios compartilhados de conduta profissional são a mais eficaz
medida de controle sobre os métodos que o pesquisador escolhe aplicar em suas
investigações e sobre suas consequências para a sociedade e para os próprios su-
jeitos envolvidos. Entretanto, isso não dispensa a necessidade de mecanismos e
órgãos que concentrem essa função.
capítulo 3 • 68
Tomaremos contato com as instituições e institutos de controle das pesquisas
científicas e com o debate em torno da adequação dos parâmetros éticos das “pes-
quisas envolvendo seres humanos” no Brasil um pouco mais adiante.
LEITURA
SAKHAROV, Andrei. Memórias. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Saraiva, 1992.
TELLER, Edward. Memoirs: A Twentieth-Century Journey in Science and Politics. New
York: Basic Books, 2002.
VIEIRA, Cássio Leite. Einstein, o reformulador do universo. São Paulo: Odysseus
Editora, 2003.
Enfim, em todo caso, é claro que se pode afirmar que, nos exemplos citados,
os países envolvidos estavam sob a égide de um “regime totalitário” (inicialmente
eleito, mas de contornos autoritários, como no caso da chamada “Alemanha na-
zista”) ou em guerra – ou as duas coisas ainda. Essa situação deve ser considerada,
uma vez que ela dá o pano de fundo para uma série de debates de natureza ética,
incluindo aí a ética na pesquisa científica.
Os exemplos dramáticos da “Alemanha nazista” ou do “esforço de guerra
norte-americano”, entretanto, nos ajudam a refletir sobre uma primeira cons-
tatação acerca da discussão dos limites éticos da ciência: a delimitação das
fronteiras éticas do conhecimento tem uma relação muito forte com o
modelo político e a organização da sociedade em que essa atribuição de li-
mites acontece. Veremos por que mais adiante, quando discutirmos a relação
filosófica entre a moral e a ética.
Mas o que dizer de países que não estão em guerra ou sob a influência de qual-
quer regime totalitário? Que dizer de experimentos controversos adotados única e
simplesmente em nome do “progresso das ciências”?
Na década de 1960, também nos Estados Unidos, o médico Eugene Saenger,
um dos pais fundadores da chamada Medicina Nuclear, expôs noventa pacientes
portadores de câncer à radiação com a expectativa de curá-los.
O que agregava um elemento a mais no já controverso método de Saenger é
que o Pentágono financiava suas pesquisas com o intuito de compreender melhor
a resistência humana aos efeitos da radiação. Além disso, a grande maioria de suas
“cobaias” vinha de camadas pobres e guetos negros norte-americanos – pessoas
capítulo 3 • 69
que, pela falta de condições financeiras, não tinham acesso facilitado a tratamen-
tos talvez mais adequados.
CURIOSIDADE
O casal Pierre e Marie Curie foi responsável pela descoberta do rádio e do po-
lônio. Marie, ganhadora de um Nobel de Física e um de Química, morreu devido
à grande exposição a elementos radioativos. Os cadernos que utilizava em seus
experimentos são, até hoje, considerados material radioativo.
Em sua defesa, Eugene Saenger alegou que todos os pacientes tinham consentido
a aplicação de radiação durante as sessões de “tratamento” de câncer.
Sim, a questão do consentimento é crucial para a realização de qualquer pes-
quisa envolvendo seres humanos. Mas será que essas pessoas tinham plena cons-
ciência dos possíveis efeitos da radioatividade em seus organismos? Você não acha
que o fato de essas pessoas serem “vulneráveis” financeiramente não poderia preju-
dicar as condições de “autonomia” de sua vontade, uma vez que não tinham acesso
a tratamento apropriado?
E o financiamento do Pentágono? Não colocaria em xeque a afirmação de
“objetivos científicos” para o experimento de Saenger? A afirmação de propósitos
capítulo 3 • 70
nobres, como a “cura do câncer”, é suficiente para justificar a aplicação desse
tipo de metodologia?
Esta última pergunta é filosófica e existencialmente importante:
Aderir a esse tipo de visão de mundo utilitarista é decretar a morte dos princípios,
é afirmar a impossibilidade da virtude, seja na vida, seja na produção do conhecimento
científico. São os “meios” que nos definem, dizendo algo sobre quem somos, como pes-
soas e como organização social. Os “meios” são a encarnação dos limites do que é moral-
mente aceitável e inaceitável e nos fazem refletir, inclusive, sobre as relações de poder em
nossa sociedade e as formas como influenciam e são influenciadas por nossas pesquisas.
capítulo 3 • 71
guerra nazistas provocada, em especial, pelos bizarros relatos de pesquisas desenvol-
vidas pelo III Reich, como as de Josef Mengele, mencionadas no tópico anterior.
Ela encena, mesmo que brevemente, questões centrais para o debate sobre a
ética nas pesquisas científicas.
capítulo 3 • 72
8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente
qualificadas. Deve ser exigido o maior grau possível de cuidado e habilidade, em
todos os estágios, daqueles que conduzem e gerenciam o experimento.
9. Durante o curso do experimento, o participante deve ter plena liberdade de se
retirar, caso sinta que há possibilidade de algum dano com a sua continuidade.
10. Durante o curso do experimento, o pesquisador deve estar preparado para
suspender os procedimentos em qualquer estágio, se ele tiver razoáveis motivos
para acreditar que a continuação do experimento causará provável dano, invalidez
ou morte para o participante.
EXEMPLO
Vejamos um exemplo:
Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a), do estudo/pesquisa intitu-
lado(a) ______________, conduzido(a) por [nome do pesquisador responsável].
Este estudo tem por objetivo [descreva aqui, com clareza, os objetivos da pesquisa].
Você foi selecionado(a) por [critério de seleção dos sujeitos do estudo, esclarecido de
forma acessível]. Sua participação não é obrigatória. A qualquer momento, você poderá desistir
capítulo 3 • 73
de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa, desistência ou retirada de consentimento
não acarretará prejuízo.
[Explique e descreva, neste parágrafo, os possíveis riscos da participação no estudo,
mesmo mínimos. Informe também que a participação não é remunerada nem implicará
em gastos para os participantes. Se pertinente, acrescente que eventuais despesas
de participação, como passagem, podem ser custeadas ou ressarcidas pela pesquisa]
Sua participação nesta pesquisa consistirá em [detalhe aqui a metodologia da pes-
quisa de forma adequada e compreensível ao público-alvo, incluindo local de reali-
zação das entrevistas, sua duração, quem as fará, quem estará presente, conteúdo
das entrevistas, entre outras informações relevantes, como se haverá registro de
áudio, de vídeo ou imagem].
Os dados obtidos por meio desta pesquisa serão confidenciais e não serão divulgados
em nível individual, visando a assegurar o sigilo de sua participação. [Caso haja necessida-
de, reforce as medidas de segurança para a manutenção do sigilo de participação.]
O pesquisador responsável se comprometeu a tornar públicos nos meios acadêmicos e
científicos os resultados obtidos de forma consolidada sem qualquer identificação de indiví-
duos [ou instituições] participantes.
Caso você concorde em participar desta pesquisa, assine ao final deste documento,
que possui duas vias, sendo uma delas sua, e a outra, do pesquisador responsável/coor-
denador da pesquisa.
Seguem os telefones e o endereço institucional do pesquisador responsável e do Comitê
de Ética em Pesquisa – CEP, onde você poderá tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua par-
ticipação nele, agora ou a qualquer momento.
Contatos do pesquisador responsável: [insira aqui nome, cargo, endereço postal,
eletrônico e telefones pessoal e institucional do pesquisador responsável, de modo
a facilitar a comunicação].
Caso você tenha dificuldade em entrar em contato com o pesquisador responsável, comuni-
que o fato à Comissão de Ética em Pesquisa da [nome da universidade]: [endereço e contato].
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa,
e que concordo em participar.
[Data]
[Assinaturas do pesquisador, do pesquisado, do coordenador ou orientador
da pesquisa.]
Fonte: http://www.sr2.uerj.br/sr2/coep/downloads/Modelo_TCLE.pdf
capítulo 3 • 74
Uma terceira, mas não menos importante consideração sobre os princípios
do “Código de Nuremberg” – e que nos remetem também ao conteúdo de nossa
anedota histórica do início desta seção – é a relação entre os benefícios sociais e
humanitários dos experimentos e os limites impostos aos métodos adotados e os
riscos assumidos pelos participantes.
CURIOSIDADE
Nise da Silveira
A psiquiatra brasileira Nise da Silveira, nas décadas de 1970 e 80, se notabilizou pela luta
contra a aplicação de “tratamentos” como eletrochoques, o choque insulínico e a amarração de
capítulo 3 • 75
pacientes internados em instituições manicomiais. Nise considerava essas técnicas cruéis e de-
sumanas, perspectiva que muitos de seus colegas cientistas à época não compartilhavam.
Os posicionamentos de Nise da Silveira foram retratados, por ela mesma, no belíssimo
livro Imagens do inconsciente, obra que também foi objeto de um documentário homônimo.
O livro Nise da Silveira, caminhos de uma psiquiatria rebelde, de Luís Carlos Mello, também é
uma boa referência. Sua luta foi objeto também da produção cinematográfica Nise, o coração
da loucura, com Glória Pires (2015).
Enfim, para situarmos essa discussão teoricamente, cabe uma passagem bem
rápida pela discussão filosófica da relação entre “ética” e “moral”.
Muito embora sejam conceitos bastante distintos, “ética” e “moral” são como
interfaces de uma mesma moeda. Afirma-se, desde a Antiguidade, que a “ética” é
uma espécie de reflexão sobre a “moral”. Mas o que é a “moral”, então?
CONCEITO
Bem, pode-se dizer que “moral” são valores, costumes e tradições que orientam os juízos
e a ação em sociedade de um determinado agrupamento humano, em um tempo histórico
igualmente determinado (NOSELLA, 2008).
Bom, e o que isso tem a ver com a história que abre a discussão desta nossa
seção, bem como em todas as demais?
“Elementar!”, diria o famoso personagem de Arthur Conan Doyle, o detetive
Sherlock Holmes. Vamos lá! Se os princípios éticos são subprodutos de um pro-
cesso crítico de reflexão sobre os valores da sociedade, nada mais esperado que essa
“ética” reflita, de diversas maneiras, o momento histórico e as configurações do
contexto social em que ela é formulada.
Ou seja, as ideias sobre o que é aceitável ou não – os limites éticos da sociedade
e da prática científica, consequentemente – mudam histórica e sociologicamente.
O que significava ser “humanitário” na proposta de Pasteur era dar dignidade aos
últimos dias de homens condenados a morrer. Sua morte – que, podia-se dizer, era
quase um destino inevitável – não ocorreria em vão, mas em nome do “progresso
científico” e do “bem-estar da sociedade”, do “interesse público” etc. Só não sabe-
mos se os presos concordariam muito com essa premissa...
capítulo 3 • 76
Além disso, esses “limites” estão muito ligados, como já mencionamos, à for-
ma como a sociedade se organiza para administrar os seus conflitos e debater
questões de interesse público.
Em regimes ditatoriais/autoritários, a afirmação de um ponto de vista ético,
seja para a organização de um campo profissional, seja para o campo científico,
tem mais relação com a proximidade de pessoas e grupos dos centros de poder da
sociedade do que com qualquer debate sobre valores e sua expressão ética.
Registros históricos mostram que, quando foram revelados os horrores de Auschwitz
e dos experimentos conduzidos pelo famigerado “Anjo da Morte”, o povo alemão –
grande parte alijada da real dimensão dos investimentos do III Reich na “solução final”
para o extermínio judeu – ficou tão estarrecido quanto o restante do mundo com as atro-
cidades reveladas nos julgamentos de Nuremberg. Nesse caso, o que era ético ou não nos
“propósitos científicos” de Josef Mengele não estava sob o escrutínio da sociedade e não
era, portanto, objeto de disputas e debates, mas das deliberações soberanas do Führer e
de seu staff de comandantes. As pessoas nem ao menos sabiam o que acontecia realmente
nos campos de concentração além do que era divulgado pelo regime nazista.
capítulo 3 • 77
Outra característica importante e que também se destaca em grande parte dos
episódios que relatamos é a questão da vulnerabilidade dos sujeitos envolvidos na
pesquisa. Muitas vezes, essa vulnerabilidade, como vimos, se estende a segmentos
sociais inteiros, como no caso dos presos comuns, prisioneiros de guerra, mora-
dores de guetos etc.
Essa definição, claro, sobre os limites da pesquisa científica e sobre a preser-
vação da integridade dos sujeitos, é política e, portanto, sujeita aos efeitos das
desigualdades e assimetrias de poder da sociedade.
O Código de Nuremberg foi pensado justamente no sentido de estabelecer
princípios básicos para os padrões de conduta ética na pesquisa científica envol-
vendo seres humanos. Sua edição, motivada pela revelação dos horrores dos cam-
pos nazistas, constitui um marco para a discussão da ética científica.
Mais ligada à área biomédica – até mesmo em razão do próprio histórico de
suas origens –, o código busca proteger os sujeitos submetidos a procedimentos e
experimentos científicos, corrigindo eventuais extrapolações éticas decorrentes da
condição de vulnerabilidade social a que estejam porventura submetidos.
Outros documentos internacionais também podem servir de referenciais éti-
cos para nossas pesquisas:
capítulo 3 • 78
Esses códigos e acordos são instrumentos a partir dos quais se desdobrou uma
série de organismos e instrumentos de controle da atividade científica e de ob-
servância de princípios éticos aplicados à pesquisa. Os conselhos profissionais e
comitês de ética em pesquisa são um bom exemplo desses desdobramentos.
CONEXÃO
Para mais informações sobre Comitês de Ética em Pesquisa acesse o link:
http://www.rio.rj.gov.br/web/sms/comite-de-etica-em-pesquisa
Para cadastrar os projetos e acompanhar sua submissão, acesse a Plataforma Brasil,
disponível aqui: http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil/login.jsf
capítulo 3 • 79
Apresentação para Apreciação Ética (CAAE), que será o identificador do projeto
em todos os níveis de funcionamento do sistema CEP/CONEP.
É sempre bom informar-se na sua universidade sobre outras instâncias ou ins-
trumentos – para além, eventualmente, do CEP – de aplicação de critérios éticos
a condução de suas pesquisas.
Isso porque, como vimos, o sistema CEP/CONEP é vinculado à área da saúde
e é bastante comum que seus critérios de validação ética do conhecimento não
sejam totalmente adequados às pesquisas nas áreas de Ciências Humanas e Sociais.
Por conta disso, muitas universidades e centros de produção, no que se refere a
essas pesquisas e seus métodos, adotam critérios e instrumentos próprios para a
validação ética do conhecimento produzido por seu corpo discente e docente.
EXEMPLO
Como exemplos, podemos citar a criação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de
Filosofia e Ciências Humanas (CEP/CFCH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em
2012; e do Comitê de Ética em Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais (CEP/CHS) da
Universidade de Brasília. Disponível em: http://www.cepih.org.br/.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A CRÍTICA da razão pura. Pesquisa FAPESP, São Paulo, n. 79, p. 81-83, set. 2002.
FOUCAULT, Michel. Ordem do discurso (A). São Paulo: Edições Loyola, 1996.
NOSELLA, Paolo. Ética e pesquisa. Educação e Sociedade, Campinas, v. 29, n. 102, p. 255-273, 2008.
SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental: In: VELHO, Otávio (Org.). O fenômeno urbano. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1979.
capítulo 3 • 80
4
O trabalho de
conclusão de curso
O trabalho de conclusão de curso
OBJETIVOS
• Enfatizar a importância do trabalho de conclusão de curso como um elemento de inserção
do graduado na área da pesquisa científica.
• Explicar a Matriz Nacional Curricular de Segurança Pública brasileira.
• Descrever os eixos articuladores e as áreas temáticas presentes nos currículos das insti-
tuições de ensino de segurança pública.
• Compreender a estruturação formal do Projeto Final e do Artigo Científico.
Dúvidas
Fonte: www.praticadapesquisa.com.br
capítulo 4 • 82
O ensino superior se diferencia dos ensinos Fundamental e Médio principal-
mente por ter como objetivo, estipulado pela própria lei que regula a educação
nacional, entre outros:
Se você hoje está realizando um curso superior, está inserido no contexto aca-
dêmico, portanto científico, voltado para a ciência e a pesquisa. E, com isso, os
questionamentos e os conhecimentos adquiridos devem necessariamente passar
pelo crivo do rigor científico e sua apresentação deve ser realizada de acordo com
as normas pré-estipuladas por um órgão que regule tal procedimento no país.
Caso contrário, imaginemos um problema real, como uma análise de índi-
ces criminais. Se a pesquisa para essa análise não for realizada através dos rigores
da metodologia científica, com teste e avaliações rigorosos, dentro de parâmetros
idênticos, os dados se apresentarão errôneos ou enviesados. Por exemplo, compa-
rar índices criminais sem especificar os critérios das bases de dados provavelmente
irá gerar resultados muitos diferentes.
Assim, os problemas que surgem na sociedade devem ser investigados com ri-
gor técnico, através de estudos de caso, análises exploratórias, pesquisas de campo,
análises comparativas, qualitativas, quantitativas, documentais e, principalmen-
te, bibliográficas. Do contrário, estaremos trabalhando puramente no empirismo
pessoal, que pode estar contaminado por nossa visão restrita de mundo, que aca-
bará por nos dar resultados que não condizem com a realidade existente.
Porém, para que o trabalho de pesquisa científica aconteça, seja qual área de
conhecimento for, antes de mais nada é necessário ter indivíduos com pensamento
crítico e com grau de sensibilidade suficiente para que possam problematizar os fe-
nômenos com que se deparam no seu dia a dia profissional ou até mesmo pessoal.
capítulo 4 • 83
Para isso, devem as instituições educacionais de ensino superior fomentar
o pensamento crítico, criando nos futuros graduados a centelha da curiosidade
científica, pois são elas o local da busca incessante do saber e da sua transmissão.
Até porque, lembremos, tudo o que se aprendeu nas instituições educacionais
de ensino teve como origem as pesquisas científicas dos diversos cientistas na
história humana.
Da mesma forma que para confeccionar o seu TCC você utilizará pesquisas
científicas de outras pessoas – seja em formato de livro, de artigos científicos,
monografias, artigos de revistas, jornais etc. – a sua pesquisa, formatada de acor-
do com os padrões técnicos exigidos, será o seu instrumento divulgador do seu
discurso crítico. Com ela você poderá apresentar suas opiniões, comprovadas
tecnicamente, à comunidade de professores e demais cientistas da área.
Assim como você utilizará o conhecimento intelectual de outras pessoas,
futuramente o seu também poderá ser utilizado por pesquisadores, facilitando o
aprofundamento sobre o tema que ambos tenham em comum.
Você verá que seu trabalho de conclusão de curso servirá para se aprofundar
em um tema da sua área de formação, adquirindo saberes e entendimentos di-
versos, os quais em aulas de graduação não se costuma ter acesso.
capítulo 4 • 84
Além disso, você terá domínio das normas técnicas para a escrita de docu-
mentos formais, bem como ampliará o seu poder de compreensão, sintetização e
organização de projetos.
Finalmente, lembre-se de escolher um tema com o qual você tenha afi-
nidade e goste, e que, principalmente, tenha relação com a sua vivência pro-
fissional ou pessoal. Isso será uma característica primordial para que você se
empolgue tanto com a pesquisa como com o pensamento crítico e a própria
escrita do trabalho.
Agora que você já sabe a importância do seu Trabalho de Conclusão de
Curso, tanto para você como para o próprio ambiente científico da sua área de
conhecimento, vamos ver quais são os principais eixos temáticos sobre seguran-
ça pública no Brasil, o que lhe facilitará a definir melhor seu tema de pesquisa.
Conceituando
Segurança pública é um assunto vasto e que merece delicada atenção dos pro-
fissionais que atuam na área.
Muitos ainda pensam que trabalhar com a segurança pública é um la-
boratório de tentativas e erros, com alguns acertos pelo caminho. Que essa
área de atuação profissional é basicamente empírica, não sendo necessá-
rios estudos científicos que amparem a atuação do policial, bem como as
ações governamentais.
Através da simbiose do conhecimento empírico profissional, proveniente dos
agentes atuantes, e do conhecimento acadêmico, oriundo dos pesquisadores do
tema, o governo federal buscou elaborar de forma metodológica, a fim de sanar
esse erro histórico, um direcionamento estratégico educacional sobre os saberes
necessários à atuação na segurança pública brasileira.
Esses saberes, condensados com a melhor técnica pedagógica, buscaram orien-
tar as instituições policiais na formação de seus profissionais, criando uma doutri-
na, até então inexistente, sobre o ensino policial no Brasil.
capítulo 4 • 85
Daí surgiu a Matriz Curricular da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP),
órgão ligado ao Ministério da Justiça e responsável por políticas nacionais sobre o tema.
A Matriz Curricular da SENASP é hoje o principal elemento norteador da formação
técnico-profissional dos agentes públicos da segurança pública nacional. Atua como
instrumento de padronização às atividades de ensino policial, tanto na formação inicial
como na formação continuada dos policias militares, civis e bombeiros militares.
História
SENASP
capítulo 4 • 86
Desde então, com o auxílio de diversos atores, entre eles o Comitê Internacional
da Cruz Vermelha, profissionais da área acadêmica e policial, gestores, técnicos e
professores das instituições de ensino de segurança pública de todo o país, a Matriz
Curricular foi se amoldando às diversas diferenças e necessidades nacionais.
Com isso, foi possível realizar inúmeras alterações que proporcionaram uma
maior relação entre as regiões brasileiras e as necessidades específicas de cada uma,
de forma conjunta para todo o país.
A atual Matriz Curricular da SENASP foi finalizada em 2014, tendo como obje-
tivo ser um referencial teórico-metodológico nas ações de formação de policiais mili-
tares, policiais civis e bombeiros militares, buscando uma padronização no ensino da
segurança pública nacional, independentemente do nível ou modalidade de ensino:
Foram criados na Matriz Curricular seis eixos articuladores e oito áreas temá-
ticas das áreas do saber policial, bem como suas devidas orientações pedagógicas
e as necessidades intrínsecas inerentes à atuação dos profissionais das polícias e do
corpo militar de bombeiros. Finalmente, foi idealizada uma proposta detalhada de
currículo com as devidas cargas horárias das disciplinas.
O currículo proposto pela Secretaria Nacional em sua matriz visa a conduzir
as instituições de ensino de segurança pública em direção aos princípios e metas
do projeto educativo confeccionado por todos os profissionais já citados, através
de uma visão crítica, não engessada, que dê valor ao debate e que tenha sua própria
reelaboração em sala de aula.
Portanto, tendo em vista a importância de tal Matriz Curricular nas instituições
de segurança pública nacional, torna-se primordial que o aluno dessa área se apro-
funde nas pesquisas referentes aos seus eixos norteadores e nas respectivas áreas temá-
ticas, pois estão sendo formados os profissionais que atuam nas instituições policiais.
capítulo 4 • 87
O currículo
ATENÇÃO
Para se desenvolver um currículo, deve-se pensar, antes de mais nada, o que se quer que
o indivíduo aprenda e, consequentemente, se torne; quais conhecimentos ele deve ter; e qual
ideologia e cultura deve tomar como valores.
Para isso, existe um instrumento denominado perfil profissiográfico, o qual será o res-
ponsável por apontar quais as áreas de conhecimento e expertise cada profissional necessi-
ta, a fim de que possa exercer de forma correta e qualificada sua função.
Dessa forma, foi confeccionada a malha curricular da SENASP, que se utilizou de um perfil
profissiográfico genérico das profissões de policial militar, policial civil e de bombeiro militar.
capítulo 4 • 88
De acordo com cada unidade federativa e instituição de segurança pú-
blica, disciplinas que envolvam características regionais e institucionais de-
verão ser inseridas em seus currículos como uma parte específica, porém
estando relacionadas dentro da estrutura dos eixos articuladores e das áreas
temáticas preexistentes.
Portanto, apesar de haver a exigência de um “núcleo duro” para a criação de
seus currículos, as instituições de segurança pública têm a liberdade de adaptá-los
de acordo com suas necessidades.
Abaixo, podemos visualizar a proposta de Matriz Curricular da SENASP para as
polícias militares e civis no que tange aos eixos articuladores e às áreas temáticas:
capítulo 4 • 89
Eixos articuladores
Os eixos articuladores
capítulo 4 • 90
Esses eixos articuladores foram selecionados para dar amplitude às possibili-
dades de criação dos currículos, versando sobre diversas áreas do conhecimento.
Eles se dividem em:
Busca considerar que o profissional de segurança pública está inserido como um su-
jeito em interação constante com outros sujeitos. Assim, esse eixo procura discutir
os valores referentes à profissão do agente de segurança pública e as suas relações
profissionais sociais;
capítulo 4 • 91
As áreas temáticas
Esta área faz uma contextualização das instituições de segurança pública e de defesa
civil. Busca conhecer desde a história das instituições, perpassando pelas suas estruturas
organizacionais, as respectivas atividades, processos e métodos adotados e os fatores
sociais atuantes;
CONHECIMENTOS JURÍDICOS
capítulo 4 • 92
MODALIDADES DE GESTÃO DE CONFLITOS E EVENTOS CRÍTICOS
Busca formas alternativas de gestão dos conflitos com base em técnicas de mediação,
negociação e o uso gradiente da força. Essa área temática também tem seu foco na aná-
lise de riscos relativos a catástrofes ambientais e desastres naturais, bem como técnicas
específicas de atuação nesses casos;
Atua nos saberes relativos aos aspectos técnicos e de procedimentos no exercício das
funções profissionais.
capítulo 4 • 93
CONEXÃO
A Matriz Curricular Nacional da SENASP, versão 2014, pode ser baixada integralmente
no site do Ministério da Justiça neste link:
http://www.justica.gov.br/central-de-conteudo/seguranca-publica/livros/matriz-curricu-
lar-nacional_versao-final_2014.pdf/view. Acesso em: 20 jun. 2016.
Além dela, diversos outros materiais relativos ao tema, bem como outras matrizes curri-
culares (como a das guardas municipais e serviços penitenciários), também estão disponíveis
para download.
Conceituando
Antes de mais nada, é importante deixar claro que o Projeto de Pesquisa não é
a pesquisa propriamente dita. Ele é tão somente uma demonstração prévia, meto-
dologicamente estruturada, sobre o que, por que, como e quando você irá realizar
determinado trabalho científico.
O projeto de pesquisa normalmente é requisitado nos últimos períodos
da graduação pelos professores de metodologia ou pelo seu orientador. É en-
tregue previamente ao início da confecção dos trabalhos de conclusão, pois
procura apresentar a quem o avalia a viabilidade técnica e até temporal de sua
efetiva realização.
Não basta ao seu projeto, portanto, apresentar apenas os requisitos bibliográ-
ficos necessários, ser extremamente original ou metodologicamente correto. Ele
precisa se demonstrar exequível, através de argumentos que fundamentem que
você conseguirá realizar a parte teórica, a metodológica, chegar aos objetivos, a
uma conclusão e, finalmente, ao seu depósito na instituição de ensino.
Você deve ter em mente que no seu projeto de pesquisa deverão ser demons-
trados os caminhos que pretende seguir de acordo com o tema, o objeto e a sua
problematização, as hipóteses, objetivos e sua contextualização com base nas pes-
quisas bibliográficas já realizadas.
capítulo 4 • 94
Portanto, o objetivo de um projeto de pesquisa
não é apresentar respostas a qualquer questão,
mas tão somente indicar os fatores que o levaram
a buscar essas respostas.
Assim sendo, seu trabalho servirá justamente para que responda às inda-
gações levantadas, pois se você já apresentasse precocemente as respostas no
projeto não seria então necessário o gasto intelectual e de tempo na realização
de uma pesquisa científica.
Lembre-se que seu projeto deve ser objetivo e bem construído, pois mesmo
sendo dividido em tópicos diferentes, os quais analisaremos a seguir, todos eles
devem ter um liame em comum. O projeto não pode ser uma mera junção de
peças descontextualizadas, mas sim um trabalho amalgamado que se apresenta de
forma estruturada e lógica.
Formatação
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Formatação da margem.
O trabalho deverá ser digitado com espaço entre linhas de 1,5 cm e fonte de
tamanho 12 (normalmente Arial ou Times News Roman). Em caso de citações
com mais de três linhas, utiliza-se espaço simples e fonte tamanho 11. Para notas
de rodapé, legendas de figuras (ou gráficos/tabelas) e paginação, a fonte será de
tamanho 10, também com espaço simples entre linhas.
A distância entre o início do parágrafo e a margem da folha pode ser de 1,25
cm, com exceção das citações diretas com mais de três linhas, as quais deverão ter
o parágrafo todo com recuo de 4 cm da margem esquerda.
Os títulos das seções primárias também terão fonte de tamanho 12, alinha-
dos à esquerda (sem parágrafo), em letras maiúsculas e em negrito. Podem come-
çar em uma nova folha e deverão conter o número em algarismo arábico (1, 2,
3...), precedido de um espaço e então o título, sem traços ou pontos.
Os títulos das seções secundárias deverão estar em negrito, somente inicia-
dos por letra maiúscula, com as mesmas regras antes citadas para as seções pri-
márias. As seções terciárias e as seguintes não estarão em negrito, sendo somente
iniciadas por letras maiúsculas.
capítulo 4 • 96
A paginação (número das páginas) do seu trabalho não será iniciada na
capa, mas somente será contada a partir da folha de rosto. Porém, só será
numerada a primeira folha da parte textual, com a paginação sendo contada
desde a folha de rosto.
O projeto se divide em elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais.
ELEMENTOS DO PROJETO
ATENÇÃO
As normas brasileiras (NBR), aprovadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), que você deverá utilizar em seus trabalhos acadêmicos, são:
capítulo 4 • 97
• NBR6032 – fixa as condições exigíveis para uniformizar as abreviaturas de títulos de pe-
riódicos e publicações seriadas;
• NBR6034 – fixa as condições exigíveis de apresentação e os critérios básicos para a
compilação de índice de publicações;
• NBR10520 – especifica as características exigíveis para apresentação de citações
em documentos.
• NBR14724 – especifica os princípios gerais para a elaboração de trabalhos acadêmicos
(teses, dissertações e outros).
Elementos pré-textuais
Capa
Seu projeto obrigatoriamente precisará de uma capa, pois servirá para indicar
o nome da instituição de ensino a que o trabalho se destina (é opcional depen-
dendo da regra imposta), o nome do(s) autor(es), o título do trabalho, o subtítulo
(opcional), o local (cidade) e o ano em que o trabalho foi entregue.
Além de ser um elemento de referência autoral e remissivo, a capa também
servirá para proteger externamente seu trabalho.
EXEMPLO
NOME DA INSTITUIÇÃO
(distância de 8 toques “enter”)
TÍTULO DO TRABALHO:
(obrigatório)
SUBTÍTULO
(opcional e imediato ao título, sem espaços, devendo ser precedido por dois pontos)
capítulo 4 • 98
(distância de 22 toques “enter”)
LOCAL
ANO
A folha de rosto
EXEMPLO
NOME DA INSTITUIÇÃO
(distância de oito toques “enter”)
TÍTULO DO TRABALHO:
(obrigatório)
capítulo 4 • 99
SUBTÍTULO
(opcional e imediato ao título, sem espaços, devendo ser precedido por dois pontos)
(distância de 4 toques “enter”)
EXEMPLO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
(distância de um toque “enter”)
capítulo 4 • 100
O sumário
EXEMPLO
SUMÁRIO
(distância de um toque “enter”)
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................................8
2 ARQUIVOS DE SISTEMA ..........................................................................................................................................8
3 TESTES DO DISCO ........................................................................................................................................................8
3.1 Primeiro teste: escrita .............................................................................................................................................8
3.2 Segundo teste: leitura ............................................................................................................................................8
3.3 Terceiro teste: tempo total geral .................................................................................................................8
3.3.1 Tempo dos arquivos em pdf.................................................................................................................................8
3.3.2 Tempo dos arquivos em jpg................................................................................................................................ 8
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................................................................................8
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................................8
capítulo 4 • 101
APÊNDICE A ...............................................................................................................................................................................8
ANEXO A ........................................................................................................................................................................................8
Além disso, o alinhamento dos títulos das seções e subseções deverá ser feito
pela margem do título mais extenso.
CONEXÃO
A ABNT é o Foro Nacional de Normalização por reconhecimento da sociedade brasileira
desde a sua fundação, em 28 de setembro de 1940, confirmado pelo governo federal por
meio de diversos instrumentos legais.
Entidade privada e sem fins lucrativos, a ABNT é membro fundador da International Or-
ganization for Standardization (Organização Internacional de Normalização – ISO), da Co-
misión Panamericana de Normas Técnicas (Comissão Pan-Americana de Normas Técnicas
– Copant) e da Asociación Mercosur de Normalización (Associação Mercosul de Normali-
zação – AMN). Desde a sua fundação, é também membro da International Electrotechnical
Commission (Comissão Eletrotécnica Internacional – IEC).
A ABNT é responsável pela publicação das Normas Brasileiras (ABNT NBR), elaboradas
por seus Comitês Brasileiros (ABNT/CB), Organismos de Normalização Setorial (ABNT/
ONS) e Comissões de Estudo Especiais (ABNT/CEE).
FONTE: http://www.abnt.org.br/abnt/conheca-a-abnt.
Acesso em: 5 fev. 2016.
Elementos textuais
capítulo 4 • 102
Usualmente, a apresentação (ou introdução) será o primeiro elemento textual
e os últimos serão, respectivamente, a metodologia e o cronograma. A partir daí
terão início os elementos pós-textuais, os quais veremos a seguir.
Elementos pós-textuais
Referências
Nas referências devem ser descritos todos os livros, artigos e quaisquer outros ma-
teriais bibliográficos que você tenha acessado e/ou referenciado ao longo do seu artigo.
As referências serão inseridas em sequência, através da ordem alfabética da sua
primeira palavra, alinhadas na margem esquerda (sem espaço de parágrafo), com
espaçamento simples (e, entre uma e outra referência, espaço duplo).
O título (referências, referências bibliográficas ou bibliografia) deverá ser nume-
rado, seguindo a ordem dos capítulos do seu trabalho, alinhado à margem esquerda.
Os destaques tipográficos, como negrito, sublinhado ou itálico, inseridos para
destacar os títulos do material consultado, deverão ser utilizados da mesma forma
em cada referência. Ou seja, se você decidir utilizar o negrito para destacar o título
da obra a que está fazendo referência, deverá utilizá-lo da mesma forma em todas
as outras referências.
Os elementos essências que devem constar em cada referência vão depender
do material que estiver sendo utilizado, como livros, periódicos, revistas, jornais,
monografias, jurisprudências, leis etc.
capítulo 4 • 103
EXEMPLO
5 – Bibliografia
capítulo 4 • 104
inseridas nas referências, bem como, tendo em vista a possibilidade de os sites
serem retirados da rede ou mudados de lugar, se possa identificar a data em que
aqueles dados foram vistos.
Tendo em vista o enorme número de possibilidades de referências, dependen-
do da fonte citada, você deverá consultar a NBR 6023. Lá você encontrará espe-
cificado, minuciosamente, as diversas fontes e suas respectivas formas de serem
inseridas em seu trabalho.
CURIOSIDADE
Uma dúvida comum que vem surgindo em relação à confecção das referências bi-
bliográficas é como citar os livros digitais e indicar as respectivas páginas utilizadas nos
trabalhos científicos.
Diferentemente dos livros impressos, os livros digitais, em formato que não seja o PDF, não
costumam apresentar numeração de páginas.
Isso ocorre tendo em vista as diversas possibilidades de letras e os diferentes tamanhos nos
quais podem ser visualizadas, o que impediria a existência de uma referência fixa de paginação.
Portanto, surge a dúvida: como referenciar as páginas que você utilizou na citação?
A resposta é simples. Assim como os livros impressos utilizam o número de páginas
como referencial espacial, os livros digitais utilizam a chamada “posição”. Essa posição será
o referencial espacial para o livro que estiver sendo citado.
Ela independe do tamanho da letra, do tamanho da tela ou do sistema operacional uti-
lizado. Sua única variação será o aplicativo usado. Ou seja, a posição de determinado livro
no aplicativo Kindle, em um dispositivo Android, com tela de 8 polegadas, será exatamente
igual, nesse mesmo livro, em um dispositivo com iOS, com tela de 4 polegadas, utilizando o
aplicativo Kindle, ou mesmo num e-reader Kindle.
Da mesma forma, isso ocorrerá com outros aplicativos de e-reader, como o iBooks
(Apple®), Kobo (Livraria Cultura), Lev (Saraiva) etc.
Assim, em vez de se referenciar a(s) página(s), você deverá referenciar a posição
mostrada e indicar, no final da sentença, qual o e-reader utilizado.
capítulo 4 • 105
ELEMENTOS NÃO OBRIGATÓRIOS
Texto ou documento não elaborado pelo
ANEXOS autor, que serve de fundamentação, com-
provação e ilustração;
EXEMPLO
APÊNDICE A – Avaliação numérica de células inflamatórias.
GLOSSÁRIO
Deslocamento: Peso da água deslocada por um navio flutuando em águas tranquilas.
Duplo Fundo: Robusto fundo interior no fundo da carena.
capítulo 4 • 106
Relevância prática das pesquisas científicas na área de segurança pública
Como foi passado durante todo este livro, as pesquisas deveriam ser ele-
mentos fundamentais a fim de subsidiar, de forma científica, as ações idealizadas
nos setores de planejamento dos órgãos (públicos ou privados), a fim de serem
postas em prática pelos executores.
Entretanto, de maneira lamentável, no Brasil, principalmente na área de
segurança pública, não éramos afeitos à realização de pesquisas científicas, tan-
to no meio acadêmico como nos próprios ambientes de estudo policial. Apesar
disso, as ações empíricas, perpetradas sem qualquer embasamento teórico ou
estatístico, às quais foram uma máxima até meados dos anos 2000, se tornam
cada vez mais escassas.
Um povo cada vez mais exigente, que cobra de seus governantes que as ações
de seus agentes públicos sejam passíveis de accountability, tem provocado as
mudanças de rumo em diversas ações do Estado e, sem sombra de dúvida, na
segurança pública. Até porque a segurança pública é um dos poucos setores de
prestação de serviço público governamental a ter o condão de afetar diretamente
as pessoas de qualquer classe social, já que a criminalidade e seus efeitos afetam a
todos (em maior ou menor grau), inclusive a economia de um local, indistintamente.
Assim sendo, as ações das autoridades das secretarias de segurança vêm se tor-
nando permeadas por dados levantados nas pesquisas qualitativas e quantitativas
realizadas pelos próprios órgãos governamentais ou pelas universidades.
No Rio de Janeiro temos um exemplo disso. O Instituto de Segurança
Pública (ISP) é uma autarquia vinculada à Secretaria de Segurança Pública
do Estado, criado em 1999 a fim de “produzir informações e disseminar pes-
quisas e análises com vistas a influenciar e subsidiar a implementação de po-
líticas públicas de segurança e assegurar a participação social na construção
dessas políticas”.
O ISP realiza a condensação de dados estatísticos, bem como produz pes-
quisas científicas próprias, através das informações coletadas das instituições
policiais do estado.
capítulo 4 • 107
Tais pesquisas são disponibilizadas para consulta pública, objetivando a
transparência dos dados à população e facilitando o trabalho de outros pesqui-
sadores, para que novas pesquisas sejam realizadas.
Diversos trabalhos estão disponíveis atualmente pelo instituto em seu site,
como: crimes contra a vida, vitimização policial, dossiê trânsito (sobre acidentes),
dossiê mulher (violência contra as mulheres), relatório de roubo de carga etc.
Todos esses trabalhos científicos realizados com informações oriundas das
instituições policiais têm como principal cliente essas mesmas instituições, às
quais, através de uma análise sistemática, podem atuar no planejamento e nas
ações preventivas e/ou repressivas pela Polícia Militar ou Civil.
Como exemplo, vejamos os dados referentes à pesquisa do ISP realizada no
ano de 2015, no tocante ao roubo de cargas no estado do Rio de Janeiro, e o que
podemos concluir para seu uso prático:
capítulo 4 • 108
Como exemplo de outra pesquisa de relevância no tema da segurança públi-
ca, podemos citar a Blogosfera policial no Brasil: do tiro ao Twitter, realizada pela
Unesco em parceria com o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC-
UCAM), coordenada pelas pesquisadoras Ramos e Paiva (2009).
Tal pesquisa problematizou as relações existentes entre as novas mídias sociais,
disponibilizadas pela internet, e os profissionais de segurança pública do Brasil.
Identificou também que tais profissionais encontraram na grande rede uma forma
de democratizar suas opiniões, que estariam restritas e distantes do debate público.
Destarte, com seu uso, perceberam uma possibilidade de mudanças de tradições e
paradigmas nas instituições a que pertenciam.
Essa pesquisa ressaltou, ainda, que vários dos profissionais de segurança entrevista-
dos e pesquisados foram punidos por suas respectivas instituições policiais por expres-
sarem de forma pública, através de blogs ou contas em redes sociais, opiniões referentes
à atuação das políticas de segurança pública que encontravam em seus estados.
Assim, decorrente dessas questões levantadas na pesquisa de 2009, no
ano seguinte o Ministério da Justiça e a Secretaria dos Direitos Humanos da
Presidência da República criaram a Portaria Interministerial SEDH/MJ nº
2 (2010), que “Estabelece as Diretrizes de Promoção e Defesa dos Direitos
Humanos dos Profissionais de Segurança Pública”. Destarte, no item 3 do
Anexo dessa portaria, é expresso que uma de suas diretrizes é:
capítulo 4 • 109
***
Bem, chegamos ao final do nosso material. Esperamos que tenha gostado e
que tire o máximo proveito das informações e das dicas que foram apresentadas
aqui. Nosso objetivo foi tornar o seu trabalho de conclusão de curso mais simples
e agradável de ser elaborado.
Desejamos que você realize uma ótima pesquisa!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECKER, HOWARD S. Métodos de pesquisa em ciências sociais. Trad. Marco Estevão, Renato
Aguiar. São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Justiça. Matriz curricular nacional para a formação em segurança pública.
Brasília: Secretaria Nacional de Segurança Pública, 2014.
______. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Portaria Interministerial SEDH/
MJ nº 2, 2014. Disponível em: http://download.rj.gov.br/documentos/10112/1188889/DLFE-54511.
pdf/portariainterministerial.pdf. Acesso em: 1 ago. de 2016.
BUNGE, Mario. Causality and modern science. New York: Dover, 1979.
______. Epistemologia: curso de especialização. São Paulo: Universidade de São Paulo: 1980a.
______. Ciência e desenvolvimento. Belo Horizonte; Itatiaia; São Paulo: Ed. Universidade de São
Paulo, 1980b.
______. La ciencia: su método y su filosofía. Buenos Aires: Ediciones Siglo Veinte, 1985.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004.
CRUZ, Carla; HOFFMANN, Caroline; RIBEIRO, Uirá. Trabalho de conclusão de curso: a excelência
como diferencial. Belo Horizonte: Editora New Hampton Press Ltda., 2006.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo:
Edições Loyola, 2009.
KAHLMEYER-MERTENS, Roberto Saraiva et al. Como elaborar projetos de pesquisa: linguagem e
método. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2007.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de A. Fundamentos de metodologia científica 1. 5. ed.
São Paulo: Atlas, 2003.
LAKATOS, I. O falseamento e a metodologia dos programas de pesquisa científica. In: LAKATOS, I.;
MUSGRAVE, A. (Org.). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix, 1979.
PEIRANO, Mariza G. S. A teoria vivida: e outros ensaios. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
POPPER, Karl R. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Editora Cultrix, 2004.
RAMOS, Silvia; PAIVA, Anabela. A blogosfera policial no Brasil: do tiro ao Twitter. Série Debates
Unesco, Brasília, n. 1, 2009.
capítulo 4 • 110
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2000.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
BOURDIEU, P. Para uma sociologia da ciência. Coimbra: Edições 70, 2001.
BOAVENTURA, Edivaldo M. Como ordenar as ideias. 5. ed. São Paulo: Ática, 1997.
CHASSOT, Áttico. A ciência através dos tempos. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.
FOUCAULT, Michel; MOTTA, Manoel Barros da. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de
pensamento. In: ______. Ditos e escritos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à
pesquisa. 26. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia. São Paulo: Edições Loyola, 2001. v. 4.
OUTRAS REFERÊNCIAS:
• A Teoria de Tudo (Filme)
Fala sobre o relacionamento do famoso físico Stephen Hawking (interpretado por Eddie Redmayne),
portador de esclerose lateral amiotrófica, com sua esposa Jane (vivida por Felicity Jones), por meio do
qual nos fala também sobre a sua produção e suas preocupações científicas (ano de produção: 2015).
Dirigido por: James Marsh
Gênero: Drama biográfico
Nacionalidade: UK
Título original: The Theory of Everything
Distribuidor: Universal Pictures
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=OgVdYzUW0yk
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Título original: A Beautiful Mind
Distribuidor: Universal Pictures
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=eP_W32MSUVE
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