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Brasília, 12 a 16 de agosto de 1996 - Nº

40
Data (páginas internas): 21 de agosto de
1996

Este Informativo, elaborado pela


Assessoria da Presidência do STF a partir de
notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não
oficiais de decisões proferidas na semana pelo
Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao
conteúdo efetivo das decisões, embora seja
uma das metas perseguidas neste trabalho,
somente poderá ser aferida após a sua
publicação no Diário da Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
Ampla Defesa
Apelação e Júri
Competência para Julgar Habeas Corpus
Controle Abstrato e Litisconsórcio
Crime Continuado e Prescrição
Crimes contra os Costumes: Representação
Efeito Suspensivo e Competência
Equiparação Inconstitucional
Fundamentação e Nulidade
Instrumento de Mandato na Queixa-Crime
Juiz Convocado
Legitimidade Ativa de Promotor
Lex Mitior: Retroatividade Benéfica
Ne Bis in Idem - I e II
Norma de Vigência Temporária e ADIn
Pertinência Temática
Presunção de Miserabilidade
Prevenção e Nulidade
Progressão de Regime
Traslado de Agravo
Vinculação ao Salário Mínimo

PLENÁRIO

Equiparação Inconstitucional
Declarada a inconstitucionalidade de norma da
Constituição do Estado de Rondônia que assegurava
aos delegados de polícia do Estado as mesmas
garantias, vedações, vencimentos e reajustes
concedidos aos membros do Ministério Público (art.
147, § 3º). Precedente citado: ADIn 171-MG (RTJ
153/361). ADIn 791-RO, rel. Min. Ilmar Galvão,
14.08.96.

Controle Abstrato e Litisconsórcio


Tendo em vista a natureza objetiva do processo
de controle abstrato de constitucionalidade, o Tribunal
negou provimento a agravo regimental interposto
contra decisão do relator de ação direta que indeferira
o ingresso no feito, como litisconsorte passivo, de
entidade representativa da categoria interessada em
defender a validade da norma impugnada (Círculo
Policial Brasileiro). Precedentes citados: Rp 1161-GO
(RTJ 113/22); ADIn 575-PI (AgRg) (DJ 01.07.94).
ADIn 1.254-RJ (AgRg), rel. Min. Celso de Mello,
14.08.96.

Pertinência Temática
Por falta de pertinência temática, o Tribunal não
conheceu de ação direta ajuizada pela Associação dos
Delegados de Polícia do Brasil - ADEPOL contra leis
do Estado de Santa Catarina, na parte em que
impugnava a vinculação da remuneração paga a
policiais militares com a percebida pelos membros do
Ministério Público. Considerou-se que a referida
entidade de classe só estaria legitimada a pleitear a
declaração de inconstitucionalidade se a vinculação
houvesse fixado como paradigma a remuneração da
categoria de servidores por ela representada. ADIn
1.337-SC, rel. Min. Maurício Corrêa, 15.08.96.

Norma de Vigência Temporária e ADIn


Extinta por falta de objeto ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada pelo Procurador-Geral
da República contra dispositivo de vigência temporária
da Lei 8214/91, que proibia a realização de concurso
público entre o primeiro dia do quarto mês anterior às
eleições de 1992 e o término do mandato do prefeito.
O Tribunal entendeu que os efeitos eventualmente
produzidos pela norma impugnada - cuja eficácia fora
suspensa em 30.09.92 pelo deferimento da cautelar
requerida na ADIn (DJ de 19.02.93) - devem ser
questionados na via do controle difuso. ADIn 786-DF,
rel. Min. Néri da Silveira, 15.08.96.

PRIMEIRA TURMA
Ne Bis in Idem - I
Ao fundamento de que ninguém pode ser
processado mais de uma vez pelo mesmo fato, a Turma
deferiu habeas corpus impetrado contra decisão do
Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul que
condenara o paciente pelo crime de furto, a despeito de
haver sido reconhecida, em habeas corpus impetrado
anteriormente, a falta de justa causa para a persecução
penal. Em conseqüência, anulou-se a condenação e
determinou-se o trancamento da segunda ação penal.
HC 73.409-RS, rel. Min. Octavio Gallotti, 13.08.96.

Ne Bis in Idem - II
Se o seqüestro, além de haver sido cometido
por quadrilha ou bando, demorou mais de vinte e
quatro horas - verificando-se, portanto, duas das três
circunstâncias qualificadoras descritas no § 1º do art.
159 do CP -, a condenação de um dos agentes pela
prática desse delito em sua forma qualificada e pelo
crime de quadrilha ou bando (CP, art. 288) não
contraria o princípio ne bis in idem. Ou seja: o fato de
o crime de quadrilha ou bando constituir circunstância
qualificadora da extorsão mediante sequestro (CP, art.
159, § 1º) não impede a condenação do agente pelos
dois delitos, se subsiste, ao lado daquela, outra
qualificadora. HC 73.789-RJ, rel. Min. Octavio
Gallotti, 13.08.96.

Crimes contra os Costumes: Representação


A irmã da ofendida, sendo por ela responsável,
tem legitimidade para oferecer a representação que
condiciona a ação do Ministério Público nos crimes
contra os costumes (CP, art. 225, § 1º, I, e § 2º). HC
73.487-MG, rel. Min. Octavio Gallotti, 13.08.96.

Fundamentação e Nulidade
Se a falha da sentença relativamente à fixação
da pena foi corrigida pelo Tribunal no julgamento de
recursos de que afinal resultou, por diversa
fundamentação, idêntica quantidade de pena, não cabe
falar em nulidade da condenação. HC 74.020-RN, rel.
Min. Sydney Sanches, 13.08.96.

Apelação e Júri
Entendendo que a apelação contra decisão
proferida pelo Tribunal do Júri não devolve ao tribunal
ad quem senão a matéria nela veiculada, a Turma não
conheceu de habeas corpus que suscitava tema
estranho ao recurso julgado pelo órgão apontado como
coator, determinando sua remessa ao Tribunal de
Justiça do Estado. HC 74.067-RS, rel. Min. Octavio
Gallotti, 13.08.96.

Juiz Convocado
Não ofende o princípio do juiz natural (CF, art.
5º, LIII) a participação de juiz convocado no
julgamento de recurso por tribunal de segunda
instância, ainda que na qualidade de relator. Validade,
em conseqüência, da Lei Complementar 646/90 do
Estado de São Paulo, que criou o quadro de juízes
substitutos em segundo grau. Precedentes citados: HC
68905-SP (DJ de 15.05.92); HC 69601-SP (RTJ
143/962); HC 70103-SP (RTJ 148/773). HC 74.109-
SP, rel. Min. Celso de Mello, 13.08.96.

Lex Mitior: Retroatividade Benéfica


Com fundamento no art. 5º, XL, da CF (“a lei
penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;”), a
Turma deferiu habeas corpus impetrado em favor de
réu condenado por desobediência (penas cominadas:
detenção, de quinze dias a seis meses, e multa), para,
anulados o acórdão e a sentença, assegurar ao paciente
a eficácia dos preceitos da Lei 9099/95 que prevêem a
formulação pelo Ministério Público de proposta de
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multas (art. 76) e, nos crimes cuja pena mínima seja
igual ou inferior a um ano, da suspensão do processo
por dois a quatro anos, desde que preenchidos
determinados requisitos (art. 89). Afastada a incidência
do art. 90 da Lei 9099/95 (“As disposições desta Lei
não se aplicam aos processos penais cuja instrução já
estiver iniciada.”). Precedente citado: Inq 1055-AM
(DJ de 24.05.96). HC 74.017-CE, rel. Min. Octavio
Gallotti, 13.08.96.

Ampla Defesa
Indeferido habeas corpus impetrado sob o
fundamento de encontrar-se o paciente sem advogado
ou defensor quando do julgamento da apelação. A
Turma entendeu que, não sendo obrigatório o
comparecimento do defensor àquele ato e não tendo
havido da parte do impetrante sequer a alegação de que
o tribunal tivesse conhecimento de que o advogado do
réu abandonara o patrocínio da causa, não seria de
declarar-se a nulidade da decisão impugnada, por
violação ao princípio da ampla defesa. HC 74.055-SP.
rel. Min. Octavio Gallotti, 13.08.96.

Efeito Suspensivo e Competência


Não se conheceu de habeas corpus impetrado
contra decisão proferida por Tribunal Regional
Federal, na parte em que postulava a concessão de
efeito suspensivo a recurso especial. A Turma entendeu
que, embora fosse competente para o julgamento
desse HC - impetrado, como visto, contra decisão
colegiada de Tribunal (CF, art. 102, I, i) -, não poderia
proceder ao exame da pretensão nele deduzida, por
inscrever-se tal exame na competência exclusiva do
STJ. Precedentes citados (Segunda Turma): HC
70728-RS (RTJ 154/132); HC 68547-RJ (DJ de
11.10.91). Ao contrário, no entanto, da solução
adotada nesses precedentes, a Turma decidiu não
remeter os autos do habeas corpus ao STJ, sob o
argumento de que a este não compete julgá-lo. HC
74.095-RS, rel. Min. Celso de Mello, 13.08.96.

Traslado de Agravo
Rejeitados embargos declaratórios opostos pela
União a acórdão proferido no julgamento de recurso
extraordinário, ao fundamento de que a objeção neles
suscitada - falta da cópia da certidão de publicação da
decisão recorrida nos autos do agravo cujo provimento
ensejara a subida do recurso -, não poderia ser
examinada em sede de RE, especialmente quando a
tempestividade deste se acha devidamente
comprovada. Precedente citado: RE 183223-RS (EDcl)
(DJ de 17.11.95). RE 190.287-RS, rel. Min. Ilmar
Galvão, 13.08.96.

SEGUNDA TURMA
Prevenção e Nulidade
Se antes do julgamento das diversas apelações
interpostas pelos réus o órgão colegiado do tribunal a
que foram elas distribuídas conheceu e julgou, sob a
relatoria de mais de um dos seus juízes, pedidos de
habeas corpus formulados por vários desses réus, a
prevenção para a relatoria das apelações será de
qualquer daqueles juízes. Com base nesse
entendimento, e considerando ainda o fato de que a
nulidade, se estivesse configurada, seria relativa -
exigindo dos réus que a tivessem argüido logo após a
sua ocorrência (CPP, art. 571, VII e VIII) -, a Turma
indeferiu habeas corpus impetrado em favor de um
dos acusados. HC 73.556-SP, rel. Min. Maurício
Corrêa, 13.08.96.

Progressão de Regime
A inexistência de casa de albergado não
autoriza o deferimento da prisão domiciliar a
sentenciado cuja pena deva ser cumprida em regime
aberto. Caráter taxativo das hipóteses de cabimento da
prisão domiciliar enumeradas no art. 117 da Lei de
Execução Penal. HC 73.045-RS, rel. Min. Maurício
Corrêa, 13.08.96.

Legitimidade Ativa de Promotor


Julgando habeas corpus impetrado contra
acórdão do STJ que não conhecera de recurso
ordinário de habeas corpus interposto por promotor de
justiça ao fundamento de que este não teria atribuição
legal para atuar perante tribunais superiores (Lei
8625/93, arts. 31 e 32), a Turma conheceu do writ -
assinado pelo mesmo promotor, mas agora na
condição de pessoa natural -, mas o indeferiu,
confirmando, de um lado, o acerto da decisão
impugnada, e afirmando, de outro, a competência do
juízo da execução (LEP, art. 66, VII e VIII) e do
Conselho da Comunidade (LEP, art. 81, IV) para o
exame e solução dos graves problemas suscitados pelo
impetrante (precariedade e inadequação dos
estabelecimentos penais). HC 73.913-GO, rel. Min.
Maurício Corrêa, 13.08.96.

Crime Continuado e Prescrição


O aumento da pena decorrente da continuidade
delitiva (CP, art. 71 e par. único) deve ser
desconsiderado para efeito de prescrição. Aplicação da
Súmula 497 do STF. Com base nesse entendimento, a
Turma deferiu habeas corpus impetrado contra
acórdão do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo
para declarar em favor do paciente a prescrição da
pretensão punitiva. HC 73.863-SP, rel. Min. Francisco
Rezek, 13.08.96.

Presunção de Miserabilidade
Para os fins previstos no inciso I do § 1º do
art. 225 do CP (ação penal pública condicionada nos
crimes contra os costumes), presume-se verdadeira a
declaração de pobreza feita nos termos do art. 4º da
Lei 1.060/50 (“A parte gozará dos benefícios da
assistência judiciária, mediante simples afirmação na
própria petição inicial”), cabendo à defesa o ônus de
provar que a situação econômico-financeira da vítima
e de seus pais não corresponde à declarada. HC
74.041-MA, rel. Min. Marco Aurélio, 13.08.96.

Competência para Julgar Habeas Corpus


Compete ao Superior Tribunal de Justiça o
julgamento de habeas corpus impetrado contra ato de
presidente de Tribunal que indefere a reabertura de
prazo para a interposição de recurso especial ou
extraordinário (art. 105, I, c, da CF). Habeas corpus
não conhecido, contra o voto do Min. Maurício
Corrêa, para quem a coação, na hipótese, seria
imputável ao próprio Tribunal e não a seu presidente.
HC 73.362-SP, rel. orig. Min. Maurício Corrêa; rel. p/
ac. Min. Francisco Rezek, 13.08.96.

Instrumento de Mandato na Queixa-Crime


Tratando-se de ação penal privada, a menção ao
fato criminoso no instrumento de mandato é
desnecessária se a queixa for assinada também pelo
querelante. Solução que atende ao fim visado pelo art.
44 do CPP (“A queixa poderá ser dada por
procurador com poderes especiais, devendo constar
do instrumento do mandato o nome do querelante e a
menção ao fato criminoso, salvo quando tais
esclarecimentos dependerem de diligências que devem
ser previamente requeridas no juízo criminal.”), que
foi o de tornar possível a identificação do responsável
pela prática eventual do crime de denunciação
caluniosa. HC 73.888-SC, rel. Min. Marco Aurélio,
13.08.96.

Vinculação ao Salário Mínimo


Ofende o art. 7º, IV, da CF - que veda a
vinculação do salário mínimo para qualquer fim -
acórdão que reconhece a pensionista do Estado o
direito de que sua pensão continue a ser calculada em
número de salários-mínimos. Afirmando a inexistência
de direito adquirido contra a Constituição, a Turma
conheceu e deu provimento a recurso extraordinário
interposto pelo Estado de Goiás. RE 141.385-GO, rel.
Min. Francisco Rezek, 13.08.96.

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 14.08.96 15.08.96 14


1ª Turma 13.08.96 ------- 162
2ª Turma 13.08.96 ------- 28

C L I P P I N G DO D J
16 de agosto de 1996

HC N. 71382-3
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Habeas Corpus.
- Esta Corte já firmou o
entendimento de que a apelação contra decisão do Júri
tem natureza restritiva, não devolvendo ao Tribunal
todo o conhecimento da causa (assim, dentre outros,
nos HC 71.872, 70.381, 68.878 e 68.109). (...)

HC N. 71697-1
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
E M E N T A: HABEAS
CORPUS - RÉU PRIMÁRIO - PENA-BASE
ESTIPULADA EM LIMITE SUPERIOR AO
MÍNIMO LEGAL - NECESSIDADE DE
FUNDAMENTAÇÃO - CONCESSÃO DO SURSIS -
PERÍODO DE PROVA FIXADO ACIMA DO
MÍNIMO PREVISTO EM LEI -
IMPRESCINDIBILIDADE DE MOTIVAÇÃO DO
ATO DECISÓRIO - PEDIDO DEFERIDO.
- Nenhum condenado tem direito
público subjetivo à estipulação da pena-base em seu
grau mínimo. É lícito ao magistrado sentenciante,
desde que o faça em ato decisório adequadamente
motivado, proceder a uma especial exacerbação da
pena-base. Impõe-se, para esse efeito, que a decisão
judicial encontre suporte em elementos fáticos
concretizadores das circunstâncias judiciais
abstratamente referidas pelo art. 59 do C.P., sob pena
de o ato de condenação transformar-se numa
inaceitável e arbitrária manifestação de vontade do
magistrado aplicador da lei. Precedentes.
- Cumpre ao órgão judiciário
sentenciante, sempre que fixar o período de prova do
sursis acima do mínimo legal, proceder a uma
necessária e adequada fundamentação desse ato
decisório, sob pena de injusta coação ao status
libertatis do condenado (RTJ 135/686).
Jurisprudência e doutrina.

HC N. 72726-3
RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: HABEAS CORPUS. EXPULSÃO
FUNDADA NA NOCIVIDADE DA PERMANÊNCIA
DO ESTRANGEIRO NO PAÍS. PEDIDO DE
REVOGAÇÃO. FILHO BRASILEIRO. LEI Nº
6.815/80, ART. 75, § 1º.
O fundamento ensejador do decreto de expulsão
do paciente foi a nocividade de sua permanência no
território nacional. A revogação desse ato
circunscreve-se ao juízo de conveniência do Presidente
da República.
Havendo o paciente demonstrado que tem filho
brasileiro, cujo reconhecimento da paternidade,
todavia, foi superveniente ao fato que motivou a
expulsão, não há impedimento legal à efetivação desta.
Precedentes da Corte.
Habeas corpus indeferido.

HC N. 73297-6
RELATOR: MIN. MAURICIO CORREA
EMENTA: "HABEAS CORPUS".
ESTELIONATO. ENTIDADE DE DIREITO
PÚBLICO. PENA: FIXAÇÃO ACIMA DO MÍNIMO
LEGAL: FUNDAMENTAÇÃO SATISFATÓRIA: RÉ
TECNICAMENTE PRIMÁRIA MAS COM MAUS
ANTECEDENTES. CRIME CONTINUADO:
AUSÊNCIA DE CONFIGURAÇÃO: INVOCAÇÃO
PREMATURA.
1. Embora tecnicamente primária, não podem
ser considerados bons os antecedentes registrados na
vida pregressa da paciente que responde a mais de
sessenta inquéritos policiais já instaurados e a mais de
vinte ações penais, oito das quais em grau de recurso
interposto pela defesa no próprio tribunal apontado
como coator.
2. A prática reiterada de delitos contra entidade
estatal, cometidos por servidora no exercício das
funções de chefia, com indicações de graves prejuízos
à previdência social, justifica a aplicação da pena
acima do mínimo legal, compatível com o preconizado
no art. 59 do Código Penal.
(...)
4. Pendentes de conclusão alguns inquéritos
policiais instaurados contra a ré e ainda não julgados
alguns recursos por ela interpostos das decisões
monocráticas, faz-se prematuro invocar-se a
configuração do crime continuado.

HC N. 73898-2
RELATOR: MIN. MAURICIO CORREA
EMENTA: "HABEAS-CORPUS. CRIME DE
TRÁFICO DE ENTORPECENTES. CONDENAÇÃO
EM SEGUNDA INSTÂNCIA: ALEGAÇÃO DE
FALTA DE JUSTA CAUSA; NULIDADES.
1. Justa causa: a condenação tem outros
fundamentos suficientes, além da confissão perante a
autoridade policial e depois retratada em juízo, com
alegação de que houve coação.
2. O Estado não tem o dever de manter
advogados nas repartições policiais para assistir
interrogatórios de presos; a Constituição assegura,
apenas, o direito de o preso ser assistido por advogado
na fase policial.
3. Não ocorre, no caso, a hipótese de flagrante
preparado, mas a de esperado; não tem aplicação a
Súmula 145 porque o art. 12 da Lei de Tóxicos prevê
diversos tipos penais, entre eles a posse da substância
entorpecente, suficiente para consumar o crime de
tráfico, sendo irrelevante que a sua venda tenha se
consumado ou não.
4. Nulidades ocorridas durante o inquérito
policial não contaminam o processo penal, eis que
após a prolação da sentença condenatória, esta é que
deve ser atacada por eventuais nulidades.
5. "Habeas-corpus" conhecido, mas indeferido.

Acórdãos publicados: 47

T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.

Mandado de Segurança Coletivo


RE 181.438-SP *

Ministro Carlos Velloso (relator)

Relatório: O despacho de fls. 113/114, do ilustre Juiz


Oliveira Lima, então Vice-Presidente do TRF/3ª Região, dá
exata notícia da matéria em discussão:

“O Sindicato da Indústria de Artigos e


Equipamentos Odontológicos, Médicos e
Hospitalares do Estado de São Paulo interpõe
Recurso Extraordinário, com fundamento no artigo
102, inciso III, letra “a”, da Constituição Federal,
contra acórdão unânime desta Corte, do seguinte
teor:
‘CONSTITUCIONAL - PROCESSUAL
CIVIL - MANDADO DE SEGURANÇA
COLETIVO - INTERESSE PECULIAR - PIS.
I - A legitimação para impetração de
Mandado de Segurança Coletivo prevista no
art. 5º, LXX da Carta Magna está ligada
diretamente ao interesse peculiar do
Impetrante.
II - A matéria discutida neste “writ” versa a
contribuição do PIS, que não é peculiar à
categoria.
III - Apelação improvida.’

Alega ter a decisão contrariado os artigos


5º, LXX e 8º, III, da Lei Maior, sustentando a
legitimidade da entidade para impetrar mandado de
segurança coletivo, eis que cabe ao sindicato a
defesa de todos e quaisquer interesses coletivos, e
individuais da categoria, o que confere ao instituto
caráter amplo, como o são suas finalidades.
A questão que se coloca diz respeito à
impetração de mandado de segurança coletivo por
entidade sindical, ao amparo dos artigos 5º, inciso
LXX e 8º, inciso III, da Constituição Federal. Trata-
se de tema complexo e controvertido, que vem sendo
objeto de ampla discussão doutrinária e
jurisprudencial, sem, contudo, merecer, até o
presente, tratamento pacificador, o que torna
plausível seja examinado pela via extraordinária. A
matéria foi prequestionada e as partes estão bem
representadas e o recurso é tempestivo, o que enseja
sua admissibilidade.
Isto posto, admito o recurso interposto,
subindo os autos ao E. Supremo Tribunal Federal,
com as cautelas legais.” (fls. 113/114)

É o relatório.

Voto: O acórdão recorrido entendeu que “a legitimação para


impetração de mandado de segurança coletivo, prevista no
art. 5º, LXX, da Carta Magna, está ligada diretamente ao
interesse peculiar do Impetrante”. Como, no caso, a matéria
discutida é sobre a contribuição do PIS, que o acórdão
entendeu que não é peculiar à categoria, o acórdão deu pela
ilegitimidade ativa do impetrante, o Sindicato da Indústria de
Artigos e Equipamentos Odontológicos do Estado de São
Paulo.
O acórdão baseou-se em entendimento do Tribunal a
quo, que porta a seguinte ementa:

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO.


IMPETRAÇÃO POR SINDICATO.
CARACTERIZAÇÃO DO INTERESSE A SER
DEFENDIDO.
1. Têm entendido a doutrina e a jurisprudência que a
impetração por sindicato de Mandado de Segurança
Coletivo em favor de seus membros, como substituto
processual e independentemente da autorização,
exige que os interesses dos associados guardem certo
vínculo com os fins próprios da entidade. Não é todo
e qualquer interesse que pode ser defendido pela via
do “writ” coletivo, mas sim, os destinados à tutela de
suas finalidades institucionais, ou seja, os interesses
próprios e peculiares da atividade de seus associados.
2. No caso, o direito lesado ou ameaçado é o das
empresas que recolhem a contribuição para o PIS na
forma da Lei Complementar nº 07/70, passarem a
fazê-lo na sistemática adotada pelos Decretos-lei nº
2445/88 e 2449/88, o que não guarda nexo com o
interesse núcleo da categoria econômica representada
pelo Sindicato impetrante, conforme disciplina o
Estatuto.
3. Apelação improvida.” (fl. 92)

Examinemos o recurso.

II

Esclareça-se, abrindo o debate, que a legitimação das


organizações sindicais, entidades de classe ou associações,
para a segurança coletiva, é extraordinária, ocorrendo, em tal
caso, substituição processual, não se exigindo, tratando-se de
segurança coletiva, a autorização expressa aludida no inciso
XXI do art. 5º da Constituição, que contempla hipótese de
representação.
Assim decidiu a 2ª Turma, no RE 182.543-SP, por
mim relatado (“DJ” de 07.04.95) e no RMS 21.514-DF,
Relator o Sr. Ministro Marco Aurélio (RTJ 150/104).
No voto que proferi por ocasião do julgamento do
citado RE 182.543-SP, invoquei o decidido no MS 21.514-
DF.
Destaco do voto que proferi no mencionado MS
21.514-DF:
“No que toca ao primeiro fundamento do
acórdão recorrido – a exigência de autorização dos
filiados, membros ou associados para a impetração
coletiva concordo com o eminente Relator, que
dispensa tal autorização. Já sustentei, com base no
art. 5º, XXI, da Constituição, que as organizações
sindicais, as entidades de classe ou associações
deveriam estar previamente autorizadas a representar
os seus membros ou associados para o aforamento
da segurança coletiva. Assim procedi logo que veio a
lume a Constituição de 1988. Continuei, entretanto, a
meditar sobre a legitimação coletiva, ordinária e
extraordinária, que a Constituição de 1988 confere,
amplamente, a entidades sindicais, entidades de
classe e associações (C.F., art. 5º, XXI; art. 5º, LXX;
art. 8º, III; art. 114. § 2º; art. 129, III, a recepcionar a
Lei 7347/85 (ação civil pública); art. 103, IX).
Na verdade, cumpre distinguir a hipótese do
art. 5º, XXI caso de representação, em que se exige
a autorização expressa dos filiados, certo que
“entidades associativas” não compreendem
organizações sindicais, mas associações do mandado
de segurança coletivo do inciso LXX do art. 5º da
Constituição. Neste, tem-se substituição processual,
o que parece ocorrer, também, na hipótese do artigo
8º, III, da Lei Maior. Ada Pellegrini Grinover, forte
em “moderna tendência doutrinária que vê, na
legitimação de entidades que ajam na defesa de
interesses institucionais, uma verdadeira legitimação
ordinária”, consoante se pode ver de estudos e
trabalhos de Vincenzo Vigoriti, José Carlos Barbosa
Moreira, Kazuo Watanabe e da própria Ada
Pellegrini Grinover, leciona: “De modo que, caso a
caso, dever-se-á verificar se a entidade age na defesa
de seus interesses institucionais proteção ao
ambiente, aos consumidores, aos contribuintes, por
exemplo e neste caso a legitimação seria ordinária;
ou se atua no interesse de alguns de seus filiados,
membros ou associados, que não seja comum a
todos, nem esteja compreendido em seus objetivos
institucionais: neste caso, sim, haveria uma
verdadeira substituição processual”. (“Mandado de
segurança coletivo: legitimação, objeto e coisa
julgada”, em “Recursos no Superior Tribunal de
Justiça”, Coordenação do Ministro Sálvio de
Figueiredo Teixeira, Saraiva, 1991, pág. 286). Ada
Grinover, todavia, não obstante distinguir casos de
substituição ordinária e substituição extraordinária
no mandado de segurança coletivo, é peremptória no
afirmar que não tem cabimento, tratando-se de
mandado de segurança coletivo, exigir a autorização
expressa a que alude o inciso XXI do art. 5º da
Constituição (Ob. e loc. cits).”

III

No que concerne ao objeto protegido pelo mandado


de segurança coletivo, o Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do MS 21.291 (AgRg)-DF, Relator o Sr. Ministro
Celso de Mello, decidiu que a segurança coletiva visa a
proteger, apenas, interesses que configurem direitos subjetivos.
O meu entendimento pessoal a respeito do tema é diverso. No
voto que proferi quando do julgamento do citado MS 21.291
(AgRg), relatado pelo eminente Ministro Celso de Mello,
deixei expresso o meu entendimento no sentido de que o
mandado de segurança coletivo protege tanto os interesses
coletivos e difusos, quanto os direitos subjetivos. Fiquei
vencido, entretanto. O Plenário, na linha do voto do eminente
Ministro Celso de Mello, decidiu que “o mandado de
segurança coletivo que constitui, ao lado do writ individual,
mera espécie da ação mandamental instituída pela Constituição
de 1934 destina-se, em sua precípua função jurídico-
processual, a viabilizar a tutela jurisdicional de direito líquido
e certo não amparável pelos remédios constitucionais do
“habeas corpus” e do “habeas data”. Simples interesses, que
não configurem direitos, não legitimam a válida utilização do
mandado de segurança coletivo”.

IV

Enfrentemos, agora, a questão central do recurso: o


objeto do mandado de segurança coletivo há de ser um direito
dos associados que guarde certo vínculo com os fins próprios
da entidade, ou poderá ser um direito dos associados,
independentemente de guardar vínculo com os fins próprios da
entidade?
No caso, o objeto da segurança é a contribuição do
PIS. A pretensão de não pagar o PIS, tal como é cobrado, é de
todos os associados do impetrante. Mas essa pretensão, ou o
PIS, não guarda vínculo com os fins próprios da entidade. E foi
por isso que o acórdão recorrido deu pela ilegitimidade do
sindicato-impetrante.
O que sustentamos é que o objeto a ser protegido
pelo mandado de segurança coletivo será um interesse ou um
direito subjetivo dos associados, independentemente de
guardar esse interesse ou direito um certo vínculo com os fins
próprios da entidade. Esse entendimento eu o sustentei em
trabalho que escrevi a respeito do tema, logo que foi
promulgada a Constituição de 1988 “Mandado de Segurança,
Mandado de Injunção e Institutos Afins na Constituição”, em
“Temas de Direito Público”, Del Rey Ed., 1994, págs. 165-
166.
Escrevi:

“O que pensamos é que o constituinte quis,


como registrou José Carlos Barbosa Moreira, que se
julgasse “num único processo o conjunto de todos os
litígios entre os integrantes de determinado grupo ou
categoria e o Poder Público”, evitando-se a
pluralidade de processos que têm por objeto a mesma
pretensão e ajuizados por iniciativa de diversos
indivíduos, pleitos que, tramitando separadamente,
correm o risco de serem decididos de modo
conflitante. Com o mandado de segurança coletivo,
“tudo ficará simplificado”, pois, “em vez de dezenas
ou centenas de processos”, apenas um se realizará,
“movido pela entidade coletiva, com resultados
extensivos a toda categoria interessada.”

Acrescentei que a interpretação restritiva, de outro


lado, não presta obséquio à garantia constitucional, cujo raio
de ação deve ser alargado na defesa de direitos e interesses. A
interpretação restritiva, ademais, contraria a disposição inscrita
no art. 8º, III, da Constituição.
J.J. Calmon de Passos, registrei no trabalho indicado,
opina no sentido de que “os direitos que podem ser objeto do
mandado de segurança coletivo são os mesmos direitos que
comportam defesa pelo mandado de segurança individual.
Aqui, ao invés de se exigir que cada sujeito, sozinho ou
litisconsorciado, atue em Juízo na defesa de seu direito
(individual), a Carta Magna proporcionou a solução inteligente
e prática de permitir que a entidade que os aglutina, mediante
um só writ, obtenha a tutela do direito de todos.” (J.J. Calmon
de Passos, “Mandado de seg. coletivo, mandado de injunção,
habeas data - Constituição e processo”, Forense, Rio, 1989,
pág. 22).
O que deve ser salientado é que o objeto do mandado
de segurança coletivo poderá ser um direito dos associados,
independentemente de guardar vínculo com os fins próprios da
entidade. O que se exige é que esse direito esteja
compreendido na titularidade dos associados e que exista ele
em razão das atividades exercidas pelos associados, não se
exigindo, todavia, que esse direito ou interesse seja peculiar,
próprio, da classe, ou exclusivo da classe ou categoria
representada pela entidade sindical ou de classe.
Nessa linha o voto do eminente Ministro Ilmar
Galvão, no RE 175.401-SP, acolhido pela 1ª Turma, em
10.05.96:
“(...)
Assim, trazendo exemplos enumerados por
Ernane Fidélis dos Santos (“Mandado de Segurança
Individual e Coletivo”, op. Coletiva cit., pág. 131), é
de ter-se o Sindicato de Motoristas como “parte
legítima para pleitear a declaração de ilegalidade da
cobrança de pedágio em estradas públicas, instituído
por lei inconstitucional”, embora a exação fiscal não
seja restrita aos motoristas profissionais; sendo,
entretanto, de recusar-lhe legitimidade para o
cancelamento de tributos exigidos dos advogados,
cujos interesses lhe são alheios.
De outra parte, “faltaria legitimação à OAB
para impetrar segurança coletiva em favor de seus
inscritos, a fim de eximi-los do imposto predial
incidente sobre os seus imóveis residenciais, ainda
que a postulação eventualmente interessasse a todos
e a cada um dos advogados da cidade” (cf.
Sepúlveda Pertence, MS 20.936, RTJ 142/456).
Irrelevante, por isso, que, no momento da
impetração, nem todos os integrantes do grupo
associado sejam titulares do direito (cf. STF, MS
20.936 - Ministro Sepúlveda Pertence, RTJ,
142/446), ou que, de outra parte, não se trate de
direito com referibilidade exclusiva à categoria.
Aliás, justamente por esse último motivo, a
legitimidade de uma organização não exclui a que,
eventualmente, também caiba a outra, como na
hipótese de exigência de um tributo inconstitucional
de caráter geral, o qual, desenganadamente, pode ser
impugnado, ao mesmo tempo, por mais de um
sindicato ou entidade de classe, em substituição às
categorias por ele afetadas.
É de exigir-se, portanto, para o exercício do
mandado de segurança coletivo, tão-somente, que a
entidade autora reúna, em seu quadro social, em
função de uma relação social que os aproxime, os
titulares do direito subjetivo individual cuja violação
represente um dano que pode ser dimencionado
coletivamente, não importando que seja ele também
apto a prejudicar o direito dos integrantes de outras
coletividades.
(...)”

A 2ª Turma, no julgamento do citado MS 21.514-DF,


Relator o Sr. Ministro Marco Aurélio, não fez a distinção
preconizada no acórdão recorrido, ora sob exame.

Concluo, então, o meu voto, afirmando que a


restrição posta no acórdão recorrido é ofensiva ao preceito
constitucional instituidor do mandado de segurança coletivo
C.F., art. 5º, LXX, “b”. É dizer, o objeto do mandado de
segurança coletivo poderá ser um direito dos associados,
independentemente de guardar vínculo com os fins próprios
da entidade, exigindo-se, entretanto, que esse direito ou
interesse esteja compreendido na titularidade dos associados
e que exista ele em razão das atividades exercidas pelos
associados, não se exigindo, todavia, que esse direito ou
interesse seja peculiar, próprio, da classe.
Conheço do recurso e dou-lhe provimento.

DECISÃO: Por votação unânime o Tribunal conheceu do


recurso extraordinário e lhe deu provimento. Votou o
Presidente. Plenário, 28.06.96.

* acórdão ainda não publicado.

Assessor responsável pelo Informativo


Miguel Francisco Urbano Nagib

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