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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-

COMPORTAMENTAL

MAGLIANI PATRÍCIA MIEZERSKI

TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA E A


TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – Revisão
bibliográfica

SÃO PAULO
2015
MAGLIANI PATRÍCIA MIEZERSKI

TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA E A


TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – Revisão
bibliográfica

Trabalho de conclusão de curso de especialização


Área de concentração: Terapia Cognitivo-Comportamental
Orientadora: Profª. Drª Renata Tringueirinho Alarcon
Coorientadora: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins

SÃO PAULO
2015
Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que
citada a fonte.

Miezerski, Magliani P.

Transtorno de Ansiedade Generalizada e a Terapia Cognitivo


Comportamental: revisão bibliográfica.
Magliani Patrícia Miezerski – São Paulo – 2015.

31f + CD-ROM

Trabalho de conclusão de curso (Especialização) – Centro de Estudos


em Terapia Cognitivo- Comportamental (CETCC)
Orientação: Profª. Drª Renata Tringueirinho Alarcon
Coorientação: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins

1. Transtorno de Ansiedade Generalizada, 2. Terapia Cognitiva


Comportamental. I Miezerski, Magliani Patrícia. II Alarcon, Renata
Tringueirinho. III Martins, Eliana Melcher.
Magliani Patrícia Miezerski
Transtorno de Ansiedade Generalizada e a Terapia Cognitivo
Comportamental – revisão bibliográfica

Monografia apresentada ao Centro de Estudos


em Terapia Cognitivo-Comportamental como
parte das exigências para obtenção do título de
Especialista em Terapia Cognitivo-
Comportamental

BANCA EXAMINADORA

Parecer:_________________________________________________________
Prof. Título ______________________________________________________

Parecer:_________________________________________________________
Prof. Título _______________________________________________________

São Paulo, ______, de __________________ de ________


DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha família por


todos os momentos de apoio e amor
incondicional, aos professores e
orientadores por compartilharem seus
conhecimentos e experiências.
AGRADECIMENTOS

Aos professores do Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental


por todos os ensinamentos fundamentais, exemplos de profissionalismo e
dedicação ao estudo.
A todos meus colegas de curso pelo companheirismo e trocas de experiências
que são, a meu ver, essenciais para o crescimento pessoal e profissional.
Aos professores da graduação em psicologia, responsáveis por despertar meu
interesse pela Terapia Cognitivo Comportamental.
A minha família por todo apoio e incentivo durante essa trajetória de estudos.
RESUMO

Este trabalho teve como objetivo explanar as técnicas utilizadas na Terapia


Cognitivo Comportamental (TCC) para o tratamento do Transtorno de Ansiedade
Generalizada (TAG), para isso foi desenvolvido um levantamento teórico a respeito
do TAG e da TCC, além de levantamento bibliográfico de estudos que ocorreram
nos anos de 2009 até 2013, foram selecionados os que priorizaram a aplicação da
TCC e suas técnicas para o tratamento do TAG. As pesquisas demonstraram haver
poucas publicações de estudos sobre esse tema, observou-se divergências nos
aspectos de metodologia, objetivos e técnicas utilizadas da TCC, o que dificulta
avaliações significativas sobre quais são as técnicas mais utilizadas e eficientes de
TCC para o TAG, apesar disso todos os estudos ressaltaram a TCC como
abordagem eficiente para auxiliar na diminuição dos sintomas relacionados ao TAG
e das preocupações excessivas.

Palavras-chave: Terapia Cognitivo Comportamental. Transtorno de Ansiedade


Generalizada. Técnicas. Revisão.
ABSTRACT

This work aims to explain the techniques used in Cognitive Behavioral Therapy
(CBT) for the treatment of Generalized Anxiety Disorder (GAD), for it was developed
a theoretical survey about the GAD and CBT, as well addition to literature review of
studies accurred in the years 2009 to 2013, were selected those that prioritized the
application of CBT and its techniques for the treatment of GAD. Research has show
there are few publications of studies on this topic, we found differences in the
aspects of methodology, objectives and techniques of CBT, which hinders
meaningful evaluations on what are most used and efficient techniques of CBT for
GAD, yet all studies highlighted the CBT as efficient approach to aid in the reduction
of symptoms related to GAD and excessive worries.

Key-words: Cognitive Behavioral Therapy. Generalized Anxiety Disorder.


Techniques. Review
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Técnicas de TCC utilizadas para o TAG nos estudos ...........................26


SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE TABELAS

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9

1.1 Apresentação ............................................................................................... 9

1.2 Justificativa .................................................................................................. 9

2. OBJETIVOS ................................................................................................ 11

2.1 Objetivo primário ........................................................................................ 11

2.2 Objetivos secundários ................................................................................ 11

3. METODOLOGIA .......................................................................................... 12

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 13

4.1 Conceituando o Transtorno de Ansiedade Generalizada .......................... 13

4.2 Biologia, Neurobiologia e Ansiedade ......................................................... 14

4.3 Tratamento Farmacológico ........................................................................ 18

4.4 Modelo Cognitivo Comportamental do Transtorno de Ansiedade


Generalizada .................................................................................................... 18

4.5 Terapia Cognitivo Comportamental para o Transtorno de Ansiedade


Generalizada .................................................................................................... 21

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 29

ANEXO ............................................................................................................ 31
9

1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO

Este trabalho pretende apresentar um apanhado teórico a respeito do


Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), de forma a conceitualizar o tema,
abrangendo o que é esse transtorno, quais são os seus sintomas, critérios de
diagnostico, de modo a facilitar e buscar promover diagnóstico precoce,
considerando que o TAG é um transtorno crônico, de frequência alta, busca tardia
por tratamento e caracterizado por dificuldade em controlar as preocupações
comumente relacionadas ao futuro (COUTINHO et al., 2011). Aborda definição e
explicações causais através da neurobiologia, engloba o modelo cognitivo
comportamental levantando métodos utilizados no tratamento proposto pela terapia
cognitiva comportamental, abordagem fundada por Aron Beck, aplicada desde final
da década de 1960, mostrando-se eficaz na redução de sintomas e taxa de
recorrência de diversos transtornos psiquiátricos incluindo a ansiedade (KNAPP;
BECK, 2008).

1.2 JUSTIFICATIVA

A ansiedade pode ser abordada por ângulos distintos, ansiedade com


preocupação que motiva e impulsiona, por exemplo, pensar em como organizar uma
tarefa, traçar um planejamento, ter cautela para escolher e preocupar-se em estudar
quando for necessário, ou seja, função de preparação, motivação e resolução de
algum problema, ou então, a ansiedade com preocupação que acontece de forma
improdutiva, não plausível com o contexto, com intuito de avaliações não habituais,
nem essenciais ao ser humano (LEAHY, 2006). Ocorre que, em determinadas
pessoas, a intensidade dos sintomas torna-se prejudicial à capacidade de
desenvolver tarefas de forma eficiente e/ou rápida, causando gasto de energia,
afetando sono, criando sofrimento e prejuízos funcionais significativos.
A psicologia vem ampliando suas áreas de conhecimento, sendo assim,
estudos no campo teórico e prático do Transtorno de Ansiedade Generalizada
podem auxiliar acadêmica e profissionalmente a compreender a relevância de um
diagnóstico preciso e um tratamento eficaz. A Terapia Cognitiva Comportamental
10

utiliza-se de suas técnicas para identificar pensamentos automáticos, distorções


cognitivas e crenças disfuncionais, trabalhando no intuito de flexibilização e
reestruturação cognitiva, visando melhora de qualidade de vida, dadas as
consequências disfuncionais relevantes que o TAG apresenta.
11

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO PRIMÁRIO


Esse trabalho tem como objetivo conceituar o Transtorno de Ansiedade
Generalizada e explanar métodos de tratamento através da Terapia Cognitiva
Comportamental.

2.2 OBJETIVOS SECUNDÁRIOS


 Definir o Transtorno de Ansiedade Generalizada;
 Explanar a neurobiologia dos transtornos de ansiedade;
 Definir modelo Cognitivo Comportamental do Transtorno de Ansiedade
Generalizada;
 Apontar métodos de tratamento do Transtorno de Ansiedade
Generalizada através da Terapia Cognitiva Comportamental.
12

3 METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica ocorreu com busca de dados em livros, e bases de


dados Scielo e Pubmed.
No Scielo a busca foi feita no dia 18/02/2015, utilizando as palavras chaves
“diferentes tipos de medo”. Seis artigos foram encontrados, dos quais 1 foi
selecionado. Quando utilizadas as palavras chaves “fundamentos da terapia
cognitiva”, os resultados foram de 4 artigos, sendo 1 selecionado. Ao serem
utilizadas as palavras chaves “relação estressores e ansiedade”, os resultados foram
de 7 artigos e 1 foi selecionado.
No Pubmed a busca aconteceu no dia 24/09/2015 com as palavras chaves
“cognitive behavioral therapy and generalized anxiety disorder” foram utilizados
filtros de 10 anos, 13 artigos obtidos nos resultados, dos quais 6 foram selecionados.
Critérios de inclusão: foco em tratamento em terapia cognitiva
comportamental para o transtorno de ansiedade generalizada, nos anos de 2003 a
2015, no que diz respeito a natureza do trabalho foram inclusos ensaios clínicos.
Critérios de exclusão: quando os estudos em que a TCC não era relevante ou
com prioridade secundaria e estar escrito em língua diferente do português ou
inglês.
13

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 CONCEITUANDO O TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA

O TAG aparece como entidade nosológica independente em 1980 com o


DSM- III, devido a estudos e pesquisas que identificaram os antidepressivos
tricíclicos como efetivos para tratamento dos ataques de pânico, mas não para
sintomas crônicos da ansiedade. Anteriormente os sintomas de transtorno do pânico
e o de ansiedade generalizada estavam classificados como o que se chamava de
neurose e angústia (COUTINHO et al, 2011).
Segundo a Associação Psiquiátrica Americana (APA, 2014) o TAG tem como
critérios e características diagnósticas a ansiedade e preocupação excessivas
(expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses,
acerca de diversos eventos ou atividades (ex: desempenho escolar ou profissional),
com intensidade, duração ou frequência da ansiedade e preocupação
desproporcional a realidade provável. O indivíduo considera difícil controlar a
preocupação e de evitar que pensamentos preocupantes interfiram na atenção para
tarefas relacionadas.
A ansiedade e a preocupação estão associadas a três ou mais dos seguintes
seis sintomas, com pelo menos um deles presente na maioria dos dias nos últimos
seis meses: inquietação ou sensação de estar com os nervos a flor a pele;
fatigabilidade; dificuldade em concentrar-se ou sensações de branco na mente;
irritabilidade; tensão muscular; perturbação do sono (APA, 2014).
As preocupações em caso de adultos comumente estão relacionadas
circunstancias diárias da rotina da vida como responsabilidade no trabalho, com a
saúde e financeiro, com a saúde dos membros da família, desgraças com seus filhos
ou questões pequenas como de realizar tarefas domésticas ou atrasar-se em um
compromisso (APA, 2014).
Indivíduos com TAG possuem orientação para o futuro com preocupações
relacionadas a finanças, trabalho, saúde, segurança e ainda com problemas
pequenos do cotidiano, preocupações que possuem baixíssima probabilidade de
acontecer. Os pacientes também podem ter como foco queixas físicas e quando
questionados tem facilidade de relatar suas apreensões (COUTINHO et al, 2011).
14

De acordo com a APA (2014) as características que diferenciam o TAG da


ansiedade não patológica estão no quão excessivas são as preocupações. No TAG
as preocupações interferem no funcionamento psicossocial, são disseminadas,
intensas e angustiantes, tem maior duração e ocorrem sem precipitantes, já as
preocupações diárias não são excessivas e são compreendidas de forma mais
flexível. Os pacientes com TAG possuem preocupações constantes que causam
comprometimento no funcionamento de áreas importantes da vida, ou seja, social,
profissional e outras, além de ocorrerem sintomas como tremores, dores
musculares, nervosismos ou irritabilidade associados a tensões musculares,
sintomas somáticos também podem acontecer como sudorese, diarréia e náuseas.
A prevalência de 12 meses do transtorno de ansiedade generalizada é de
2,9% entre adultos nos Estados Unidos, em outros países a prevalência de 12
meses varia de 0,4% a 3,6%. A prevalência do seu diagnóstico tem seu ápice na
meia idade e decai ao longo dos últimos anos, sendo que a probabilidade para o
sexo feminino é duas vezes maior do que para o sexo masculino, descendentes
europeus tendem a experienciar o TAG com mais frequência do que não
descendentes europeus, a população de países desenvolvidos possuem também
maior probabilidade de desenvolver o transtorno do que em países não
desenvolvidos (APA, 2014).
Para Coutinho et al (2011) a ansiedade em sua função adaptativa pode
auxiliar o individuo a enfrentar situações que o ameacem ou o desafiem, mas em
seu nível patológico causa sofrimento e comprometimento. O TAG pode ser
considerado difícil de uma pessoa identificar, embora essa identificação pudesse ser
facilitada ao serem observadas as características que são comuns a todos como
preocupação excessiva, ansiedade e dificuldade para enfrentar o desconhecido,
porém apresentadas com maior intensidade, maior duração e prejuízos
consideráveis. Os sintomas são de difícil observação sem uma avaliação profunda,
muitas vezes passando despercebidos mesmo por profissionais da saúde, agravam-
se com o passar dos anos e dificilmente atenuam espontaneamente.

4.2 BIOLOGIA, NEUROBIOLOGIA E ANSIEDADE

Para Clark e Beck (2010) apud Coutinho et al (2011) a resposta ansiosa está
relacionada a uma vulnerabilidade cognitiva que é aumentada ou diminuída
15

conforme predisposição quanto as diferenças individuais genéticas, neurofisiológicas


e o temperamento, anormalidades nos transmissores de serotonina, ácido gama –
aminobutírico (GABA), hormônio liberador de corticotrofina (CRH) e excitações
crônicas, estruturas neuroanatômicas associadas como cortéx pré-frontal direito,
lócus coeruleus e amígdala.
Landeira-Fernandez (2011) considera que para a perspectiva evolucionista os
transtornos de ansiedade representam falhas no funcionamento de circuitos neurais
que seriam responsáveis por detecção, organização e expressão de um conjunto de
reações de defesa. Embora haja aspectos diversos nos diferentes tipos de
transtornos de ansiedade, todos eles esboçam ao menos uma característica de
medo e ansiedade com reações: conscientes (agudas e crônicas); fisiológicas
(sistema nervoso autônomo e sistema nervoso neuro-hormonal); e comportamentais
(reações corporais e expressões faciais).
Há vários circuitos neurais responsáveis pela detecção de estímulos de
perigo, estruturas localizadas no tronco encefálico como a coluna dorsolateral da
matéria cinzenta periaquedutal (MCDP) o lócus coeruleus, principal produtor de
noradrenalina, e os núcleos da rafe, principais produtores de serotonina. Projeções
descendentes da MCPD atingem a medula espinhal ocasionando reações
comportamentais de correr, pular e resposta de congelamento, na estimulação
elétrica da MCPD os sintomas são semelhantes ao ataque de pânico, terror,
sentimento de morte, taquicardia, asfixia e hipertensão arterial. Embora da MCPD
também partam projeções ascendentes que atingem o complexo amigdaloide
epicentro da estrutura neural responsável pela modulação de reações apresentadas
no medo e ansiedade (LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011).
O complexo amigdaloide localizado no lobo temporal de ambos os
hemisférios centrais é subdividido em doze núcleos, cada um com função específica,
o núcleo lateral é a via de entrada, responsável pelo processamento de estímulos do
meio externo, o núcleo central é a saída, responsável pela ativação de reações
motoras e fisiológicas a situações de perigo. Uma maior sensibilidade do núcleo
lateral da amígdala pode tornar a pessoa mais reativa a estímulos ambientais, com
reação mais defensiva, enquanto que pessoas sem essa sensibilidade ignorariam,
nessa situação o núcleo central da amígdala pode estar com seu funcionamento
adequado, mas é acionado continuamente mesmo sem apresentação de qualquer
situação aversiva, no entanto pode ocorrer o inverso também, na qual o núcleo
16

lateral da amígdala funciona de forma adequada e o núcleo central da amígdala


mesmo não apresentando nenhuma situação de perigo, apresente atividade
excessivamente alta (LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011).
Dada as diferenças Landeira – Fernandez (2011) adverte para as formas de
tratamento psicoterapêutico serem distintas com foco nos dois casos citados acima,
pois, no primeiro a pessoa mostra-se extremamente sensível ao mundo externo,
enquanto que no segundo caso mostra-se altamente reativa.
Segundo Brandão et al (2003) o hipocampo possui conexões com o córtex
entorrinal e participa do circuito de Papez, dando a ele a posição de comparação de
informações sensoriais recebidas do córtex entorrinal com predições do circuito
Papez. Este circuito possui também informações do córtex pré-frontal, onde ocorre
os planejamentos e programas de ação, sendo assim, quando informações
recebidas estão em harmonia com as informações armazenadas, o comportamentos
seguem o curso normal. Quando ocorre divergência dos eventos ambientais e os
armazenados, o hipocampo age como controle, gerando inibição comportamental,
aumento de atenção e vigilância a possíveis eventos perigosos.
De acordo com Landeira-Fernandez (2011) além da regulação hormonal o
hipocampo está relacionado a sistemas neurais que estão associados na formação
de memória que chegam à consciência, a memória explícita. Nesse sentido, quando
o hipocampo processa reações hormonais, ativa sistemas de memória explicita em
situações de perigo, por meio do córtex pré-frontal, podendo produzir preocupação
crônica, como ocorre no transtorno de ansiedade generalizada.
Brandão et al (2003) apontam que o sistema septo-hipocampal é importante
ao detectar os estímulos que chegam, esse sistema estabelece o grau de conflito
diante a informações concorrentes e direciona os objetivos e planos de ação, no
intuito de reduzir efeitos da interferência produzida por estímulos novos no controle
da memória, apontando para as regiões executórias de respostas emocionais,
aquelas que são mais pertinentes para os diferentes estímulos aversivos. Quando
uma predição e situação real não estão coerentes, o sistema septo-hipocampal
resolve o conflito aumentando a negatividade do estímulo, que vai ser percebido
como mais ameaçador do que é, ao mesmo tempo em que armazena essa nova
associação nos bancos de memória nas áreas corticais.
Estimulações elétricas da substancia cinzenta periaquedutal dorsal (SCPD)
também produz comportamento de fuga e ou agressão defensiva, em determinadas
17

situações ambientais. Quando a fuga é possível, se sobressai sobre as outras


respostas, mas quando há condições para ataque, a resposta que predomina é a
reação defensiva (BRANDÃO et al, 2003).
Margis et al (2003) descreve neurotransmissores e substancias relacionados
ao estresse e ansiedade, que seriam a aminas biogênicas, como dopamina,
serotonina e noradrenalina, aminoácidos como a glicina, o glutamato e o acído
gama-aminobutírico (GABA), peptídeos como o de liberação de corticotropina (CRF)
a colecisticinina (CCK) e o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e esteróides como
corticosterona.
Nas regiões bulbar e pontina estão neurônios que sintetizam a noradrenalina.
O grupo mais importante está no lócus ceruleus, onde as células desse local,
quando ativadas por estímulos de estresse ou ameaça, produzem reações
cardiovasculares características do medo, tem função de monitoramento do
ambiente no intuito de preparar o organismo em caso de emergência. A
noradrenalina também se relaciona com hipocampo, amígdala e neocortex,
estruturas envolvidas no processo associativo (MARGIS et al, 2003).
O estresse aumenta a liberação de dopamina no córtex pré-frontal,
relacionado à hipervigilância. A função serotonérgica quando diminuída aumenta a
função dopaminérgica, aumentando a vigilância em situações de estresse. Sinais de
perigo estimulam a defesa através da amígdala e ativam os neurônios
serotonérgicos do núcleo dorsal da rafe que inervam na amígdala e na MCP, a
serotonina ativa a defesa na amígdala enquanto inibe na MCP, propiciando que
comportamentos de luta e fuga sejam inibidos, enquanto que adota estratégias de
exploração cautelosa e inibição comportamental (MARGIS et al, 2003).
Landeira – Fernandez (2011) apontam que o complexo amigdaloide dispara
reações físicas e comportamentais perante estímulos que não fundamentam essas
reações ou até mesmo na ausência do estímulo de perigo, ocorrem também falhas
no funcionamento de estruturas corticais que são responsáveis pelo circuito neural
do processamento consciente da real situação de perigo, bem como estruturas que
se relacionam com áreas subcorticais.
Estudos mostram que é possível no transtorno de ansiedade generalizada
uma hiperatividade no córtex pré-frontal, ocasionada pelo comprometimento em
regiões hipocampais ligadas a sistemas de retroalimentação negativas de reações
hormonais a estímulos de perigo, evocando memórias explícitas aversivas, que
18

estão relacionadas a capacidade de reflexão e antecipação de eventos futuros, logo


se a atividade está aumentada nessa área, ira produzir reações de ansiedade e
preocupações exageradas com situações eventuais futuras (LANDEIRA-
FERNANDEZ, 2011).

4.3 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO

Bernick et al (2012) retrata que por ser um transtorno crônico, no TAG


remissões acontecem em menos de um terço de pacientes, ressalta que o controle
de efeitos colaterais são essenciais para a adesão do tratamento, comorbidades são
frequentes e são importantes para decidir o tratamento, como por exemplo
depressão maior e abuso de substâncias, tanto os sintomas físicos quanto
cognitivos devem ser propósito do tratamento. Os antidepressivos, como os
Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS) e a venlafaxina são
apontados como primeira linha.
Os ISRS como escitalopram, paroxetina, sertralina e fluvoxamina são
considerados em pesquisas muito eficazes, os Inibidores Seletivos da Recaptação
da Serotonina e Norodrenalina (SNRIs) como venlafaxina e a duloxetina, e os
benzoadazepínicos também foram considerados eficazes (COUTINHO et al, 2011).

4.4 MODELO COGNITIVO COMPORTAMENTAL DO TRANSTORNO DE


ANSIEDADE GENERALIZADA

Knapp e Beck (2008) explicam que terapia cognitiva (TC) é um termo


genérico da terapia cognitivo-comportamental (TCC), utilizados para descrever o
método de psicoterapia baseada no modelo cognitivo, desenvolvida por estudos de
Aaron Beck, os estudos cognitivos iniciaram a emergir em 1960, mas os primeiros
textos foram lançados somente na década de 1970.
“O princípio fundamental da TC é que a maneira como os indivíduos
percebem e processam a realidade influenciará a maneira como eles se sentem e se
comportam” (KNAPP; BECK, p.57, 2008), sendo assim, a TCC é focada em
reestruturar e corrigir pensamentos distorcidos. Pensamentos espontâneos de
interpretação de uma situação são chamados de pensamentos automáticos,
distintos do fluxo normal de raciocínio reflexivo, identificá-los é difícil para quem não
19

é treinado a fazer. A fundo de uma interpretação automática distorcida estarão os


pensamentos disfuncionais mais profundos, chamados de esquemas ou crenças
nucleares (KNAPP; BECK, 2008).
Pereira e Rangé (2011) apontam que para a TCC o indivíduo interpreta uma
situação e se comporta devido à influência dessa interpretação, mas também deve
se considerar que, uma situação pode acarretar reações distintas em pessoas
diferentes, bem como, uma pessoa pode ter reações diferentes a uma mesma
situação em períodos variados de sua vida. Os pressupostos da Terapia Cognitiva –
Comportamental levam em conta que a atividade cognitiva influencia o
comportamento e que a atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada, assim
mudanças na cognição são determinantes para mudanças no comportamento.
A terapia Cognitiva de Beck expõe que nos transtornos mentais os
pensamentos disfuncionais são itens fundamentais. Ao modificar pensamentos
disfuncionais leva-se à melhora dos sintomas do transtorno, quando ocorre a
modificação de crenças disfuncionais subjacentes a melhora é mais ampla e
duradoura (PEREIRA; RANGÉ, 2011).
A TCC trabalha com a reestruturação de pensamentos automáticos, crenças
intermediárias ou subjacentes e crenças nucleares. Pensamentos Automáticos são
espontâneos e repentinos, são o nível mais superficial da cognição na TCC, não há
questionamento quanto a veracidade, pois são carregados de forte emoção negativa
perante várias situações do dia a dia, mas são elementos mais fáceis de
identificação pelos pacientes; Crenças Intermediárias ou Subjacentes são o segundo
nível da cognição, são regras e pressupostos desenvolvidos pelos indivíduos, idéias
plenas, negativas e desadaptativas, atuam como mecanismo de sobrevivência que
ajudam a lidar e proteger das ativações muito dolorosas de suas crenças nucleares;
Crenças Nucleares são o terceiro e mais profundo nível de cognição, originadas nas
experiências da infância de forma negativa, rígida, absoluta e inflexível, de mais
difícil acesso e modificações, desenvolvidas da hipersensibilidade frente a rejeição,
abandono e oposição, dificuldades intrínsecas de estar vivo (PEREIRA; RANGÉ,
2011).
Para Coutinho et al (2011) o modelo cognitivo comportamental do TAG está
relacionado com: intolerância a incerteza, preocupação, crença sobre a
preocupação, orientação disfuncional para o problema e evitação cogntiva, definidas
a seguir.
20

Intolerância à incerteza: definida como predisposição para o indivíduo


interpretar situações incertas ou indefinidas como estressoras, negativas e
perigosas. Pessoas com altos níveis de intolerância a incerteza, acham que isso as
impedem de viver confortavelmente, acreditam que é terrível não terem certeza
sobre o futuro, sendo assim, situações como essas devem então serem evitadas.
Nesse contexto, quando um indivíduo com TAG passa por situação semelhante,
sente-se pressionado a avaliar cada possibilidade de consequência, utilizando
pensamentos do tipo “ e se ...” (COUTINHO et al, 2011).
Preocupações: preocupação de tipo I refere-se a eventos externos, como
preocupação com algum familiar ou com o próprio trabalho, já a preocupação de tipo
II é referente a eventos internos não cognitivos, normalmente físicos, como acreditar
que se não parar de preocupar-se irá adquirir alguma doença (WELL, 2004 apud
COUTINHO et al, 2011).
Crenças sobre a preocupação:
Uma vez iniciado este processo, as crenças sobre a preocupação ajudam a
mantê-lo. Alguns exemplos de tais crenças são: “preocupando-me ajudo a
evitar surpresas desagradáveis”; “a preocupação ajuda a encontrar
soluções para os problemas”; “preocupando-me evito que coisas ruins
aconteçam”; “a preocupação é um sinal de que a pessoa é responsável e
cuidadosa” (COUTINHO et al, 2011, p. 316).

Essa condição transforma-se em ansiedade, relacionada à orientação


disfuncional para problemas e a evitação cognitiva (COUTINHO et al, 2011).
Orientação disfuncional para problemas: envolvem dois componentes, a
orientação para o problema, que seria um conjunto de crenças envolvidas na
solução do problema, percepção de si como um agente para solucionar o problema,
bem como a expectativa quando a solução, e as habilidades, que estão envolvidas
na solução de problema, como: definir o problema, gerar alternativas, escolher
solução e implementar (COUTINHO et al, 2011).
Evitação cognitiva: definida como estratégia utilizada para afastar o estímulo
aversivo, que pode ser implícita/estratégia automática, inibição emocional causada
por preocupação, ou seja, uma preocupação para diminuir a ativação emocional, ou
então, pode ser explícita/estratégia voluntária, são estratégias de supressão de
pensamentos, uso de distração com função de cessar a preocupação, evitação da
situação geradora da preocupação (COUTINHO et al, 2011).
21

Kapczinski e Margis (2004) ressaltam dois aspectos característicos do TAG,


que são a preocupação excessiva e incontrolável e a hiperexcitabilidade persistente,
ligadas às manifestações físicas relacionadas à tensão. Acontecem nos indivíduos
com TAG distorções cognitivas de superestimação de uma probabilidade e o
pensamento catastrófico. Superestimar significa valorizar a probabilidade da
ocorrência de um evento negativo, que é pouco provável de acontecer, ocorre
quando há associação devido a não ocorrência do evento negativo por casualidade,
ou a preocupação evitou a ocorrência do resultado negativo. Já na catastrofização o
individuo concede consequência catastrófica a uma situação que passa a ser vista
como intolerante. O pensamento de superestimar probabilidades e catastrofizar são
frequentemente relacionados, dizem respeito a interpretação que o indivíduo faz da
situação e não a situação propriamente dita, o que leva à manutenção da ansiedade.
A pessoa com TAG tem uma percepção de elevado perigo ou ameaça; a
superestimação da ocorrência do perigo está associada a uma percepção
de baixa capacidade de lidar com essa ameaça. Destaca-se aqui a
preocupação, a preensão constante em relação ao futuro, ao que ainda não
aconteceu (KAPCZINSKI; MARGIS, 2004, p. 210).

Pode ser notado que em dois indivíduos expostos a uma mesma situação que
favoreça a dúvidas e incertezas, em indivíduos intolerantes a incertezas poderá
ocorrer avaliação a situação como insuportável, ao mesmo tempo, indivíduos mais
tolerantes poderão avaliar como menos perturbadora (KAPCZINSKI; MARGIS,
2004).

4.5 TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL PARA O TRANSTORNO


DE ANSIEDADE GENERALIZADA

Coutinho et al (2011) ressalta que para o atendimento do TAG seguindo o


modelo mais tradicional em TCC as sessões começam com a psicoeducação, na
qual são explicados o modelo cognitivo e as características do transtorno, nesse
momento o cliente aprende que a TCC é focada no aqui e no agora, aprende sobre
a estruturação das sessões e sobre a importância o empirismo colaborativo durante
o processo terapêutico e também nas tarefas de casa. Logo nas primeiras sessões é
ensinado ao paciente as características do transtorno, como a preocupação
excessiva com os eventos cotidianos além dos sintomas somáticos, é ensinado a ele
22

também o registro de automonitoramento e classificação em preocupação: real com


solução, irreal sem solução e sobre situação hipotética.
Durante o tratamento é utilizada a técnica de resolução de problemas, para
problemas reais com solução, nesse procedimento é definido o problema, objetivos
da resolução do problema, são explanados soluções alternativas, cada uma é
avaliada através dos prós e contras, por fim é escolhida a solução e após a
execução é avaliada quanto a sua eficiência. A exposição imaginária é indicada para
as preocupações hipotéticas, pois assim através de imagens relacionadas com a
ansiedade o paciente confronta as situações e sentimentos evitativos. A análise de
custos e benefícios, tanto para comportamentos quanto para pensamentos, também
é utilizada na TCC para TAG, além das técnicas de relaxamento (COUTINHO et al,
2011).
A reestruturação cognitiva auxilia o paciente a reconhecer e modificar
pensamentos automáticos e esquemas disfuncionais/desadaptativos, essa técnica
envolve um apanhado de técnicas, como questionamento socrático, nesta são feitas
perguntas para o paciente que estimulam a avaliação através da descoberta guiada
para diferenciar e identificar padrões disfuncionais, o registro de pensamentos
automáticos é ensinado ao paciente como forma de identificar os pensamentos
automáticos e assim avaliar suas cognições. A identificação de erros cognitivos, na
qual é apresentada ao cliente a lista de distorções cognitivas em que ele pode
avaliar juntamente com terapeuta quais detêm, outra técnica contida na
reestruturação cognitiva é a de exame de evidências ou análise de prós e contras,
ao mesmo tempo é estimulado listagem de alternativas racionais. Todas as técnicas
descritas têm propósito de ensinar habilidades que mudem as cognições (WRIGHT;
BASCO; THASE, 2008).
Na técnica de exposição, ocorre a exposição aos estímulos desencadeadores
da ansiedade, nesse procedimento é comum utilizar o método de dessensibilização
sistemática, na qual é desenvolvido lista com hierarquia dos estímulos que causam
medo, ela é utilizada para estruturar como ocorrerá a exposição gradual a fim de
superar a ansiedade ( WRIGHT; BASCO; THASE, 2008).
A seguir são apresentados os estudos encontrados em Terapia Cognitivo
Comportamental para o Transtorno de Ansiedade Generalizada:
Estudos de Wetherell et al (2013), com 73 participantes de pelo menos 60
anos de idade com diagnóstico principal de transtorno de ansiedade generalizada,
23

para qual foram ministrados farmacoterapia e terapia cognitiva comportamental,


recrutados em ambulatórios e dispostos aleatoriamente a uma das quatro condições:
1) 16 semanas de escitalopram com 16 sessões de TCC (fase de aumento),
seguidos de 28 semanas com escitalopram continuo (fase manutenção); 2) 16
semanas de escitalopram sem TCC, seguido de 28 semanas de escitalopram
continuo; 3) 16 semanas de escitalopram mais TCC, seguido por 28 semanas de
pílula placebo e 4) 16 semanas de escitalopram sem TCC, seguido de 28 semanas
de pílula placebo. Esse estudo concluiu que a medicação associada à TCC reduz a
gravidade da preocupação em curto prazo, impede recaída e estabiliza o paciente,
sendo que três quartos dos participantes que receberam a TCC foram capazes de
interromper a medicação e manterem-se bem. Assim a medicação contínua evita
recaída, mas para alguns indivíduos a TCC permite a não utilização de
farmacoterapia a longo prazo.
Newman e Fisher (2013) examinaram 76 participantes, 69 completaram o
tratamento, com idade média de 36,62 anos, com diagnóstico de TAG, foram
aleatoriamente distribuídos em 3 grupos: 24 participantes para Terapia Cognitiva
Comportamental combinada (TCC), 25 participantes para terapia cognitiva (TC) e 27
participantes para auto-controle dessensibilização (SCD). Foram registrados pelos
participantes quatro vezes ao dia, o nível geral de ansiedade em escala de 0-100,
medidas preenchidas desde 2 semanas anteriores ao tratamento e durante o
tratamento que formam de 14 sessões e uma de encerramento. Com objetivo de
avaliar a duração do transtorno de ansiedade generalizada como moderador de TCC
versus terapia cognitiva e auto-controle de dessensibilização, e o aumento da
flexibilidade dos sintomas durante a psicoterapia.
Na TC foram feitas análise de lógica, análise de provas e probabilidades, de
erros cognitivos, descatastrofização, geração de pensamentos e crenças alternativas
mais escuta e suporte. Na SCD além da escuta e suporte foi desenvolvido
treinamento de relaxamento progressivo, formação diferencial de relaxamento
descrito por Bernstein e Borkovec (1973, apud NEWMAN; FISHER, 2013),
respiração diafragmática, relaxamento imaginário, relaxamento meditação, aplicando
relaxamento e auto-controle dessensibilização. No TCC todas as técnicas do TC e
SCD, sem conter audição de suporte. Esta pesquisa concluiu que indivíduos com
maior duração do TAG podem responder melhor a tratamentos mais direcionados, e
os de menor duração do TAG respondem melhor a tratamentos que oferecem mais
24

estratégias de enfrentamento, observou-se diminuição das oscilações de sintomas


de ansiedade durante o tratamento, por consequência ocorreram com mais
frequência respostas de flexibilidade e em menor frequência respostas de rigidez
(NEWMAN; FISHER, 2013).
Bush et al (2012) examinou os efeitos da TCC em idosos com TAG utilizando
o Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI). A amostra constituiu de 216
pacientes idosos com mais de 60 anos, 82 não possuíam TAG e 134 possuíam
diagnóstico principal ou co-principal de TAG. A amostra com diagnóstico principal ou
co-principal de TAG foram divididas aleatoriamente em: TCC com 70 participantes e
cuidados especiais (enhanced usual care) com 64 participantes. Na amostra de 82
participantes que não possui diagnóstico de TAG: 34 não possuem diagnóstico, 48
possuem outros diagnósticos que eram, 15 depressão, 13 outra ansiedade, 13
depressão e outras ansiedades e 7 com outros transtornos.
A TCC foi aplicada em 10 sessões nas quais foram ressaltados:
psicoeducação, entrevista motivacional, treinamento de relaxamento,
reenstruturação cognitiva, exposição, treinamento de habilidades de resolução de
problemas, gestão de comportamento do sono. Nos cuidados especiais, foram
efetuadas com os participantes conversas telefônicas de 15 minutos quinzenais com
terapeuta de estudo, com foco de prestação de apoio e de monitoramento de
segurança. Esse estudo concluiu que os pacientes que receberam TCC mostraram
melhora superior aos pacientes que receberam cuidados especiais, melhoria
mantida até um ano após o tratamento, não houve diferença significativa nas
pontuações de componentes PSQI entre pacientes que receberam TCC e os
cuidados especiais, mas pacientes que receberam TCC obtiveram maiores
melhorias em componentes como qualidade subjetiva do sono, latência do sono,
distúrbios do sono (BUSH et al, 2012).
Newman at al (2011) testou se a TCC poderia ser aumentada adicionando um
módulo de problemas interpessoais e processamento emocional. Participaram 83
sujeitos de idade média de 37 anos com diagnóstico principal de TAG, distribuídos
de forma aleatória em 40 para TCC mais escuta de apoio, ou TCC mais terapia
interpessoal e terapia do processamento emocional com 43. Os participantes
receberam 14 sessões de duas horas. Na TCC, foram seguidas as técnicas de
protocolo descrito em Newman & Borkovec (2002, apud Newman et al, 2011), elas
incluem: auto-monitoração dos sinais de ansiedade, técnicas de relaxamento,
25

dessensibilização auto-controlada e reestruturação cognitiva, terapeutas trabalharam


somente com a experiência interpessoal da ansiedade. Na terapia interpessoal e
processamento emocional, ocorreram as seguintes intervenções: ênfase na
experiência fenomenológica utilizou experiência emocional terapêutica para
identificar marcadores interpessoais, relação terapêutica utilizada para explorar
processos afetivos, padrões interpessoais, promoção de generalizações através de
tarefas de casa, processamento da experiência afetiva em relação ao passado,
treinamento de habilidades. Resultados e conclusões não demonstraram diferenças
significativas entre os grupos, mas ambos os tratamentos melhoraram
significativamente desde o pré ao pós-tratamento e também mantiveram os ganhos
terapêuticos após 2 anos.
Dugas at al (2010) comparou a TCC, relaxamento aplicado e lista de espera
controle, com 65 participantes adultos (43 mulheres e 22 homens), idade média de
38,5 anos, na área de Montreal, com diagnóstico primário de TAG, desenvolvido em
12 sessões de uma hora. Na TCC as fases de tratamento foram: psicoeducação e
treinamento de conscientização da preocupação; reconhecendo a incerteza e
exposição comportamental; reavaliação da utilidade da preocupação; treinamento de
resolução de problemas; exposição imaginária. No Relaxamento aplicado as fases
foram de: psicoeducação e treinamento de conscientização da tensão; treino de
tensão-liberação; relaxamento por recordação; relaxamento por contagem;
relaxamento condicionado. Na lista de espera, a cada três semanas os participantes
foram contatados por telefone e um psiquiatra monitorava seu estado através do
MINI (International Neuropsychiatric Interview).
A pesquisa a cima concluiu que a TCC no curto prazo foi superior que a lista
de espera, quanto a preocupação patológica, sintomas somáticos e melhora clínica
global, o relaxamento aplicado foi superior que a lista de espera somente em um
quesito a gravidade global do TAG, quando comparados a TCC e relaxamento
aplicado, a TCC foi mais relevante em termos de melhora clínica global, mas não
mostrou mudança significativa em relação a preocupação. Os resultados em longo
prazo não demonstraram diferenças significativas entre os grupos, mas quando
comparados a inclinação de 0, na TCC os participantes obtiveram progressos
durante fase de acompanhamento, com ganhos em preocupação patológica, traço
de ansiedade e melhora clínica global, enquanto que no relaxamento aplicado não
foram encontradas mudanças significativas. Os dois tratamentos mostraram-se
26

eficientes para o tratamento do TAG embora na TCC os pacientes tenham obtido


melhoria continuada após o termino do tratamento (DUGAS et al, 2010).
Westra; Arkowitz; Dozois (2009) avaliaram 76 indivíduos com no mínimo 16
anos, no Canadá, com diagnóstico principal de TAG. Os participantes foram
divididos aleatoriamente para receberem um pré-tratamento com Entrevista
Motivacional (EM) ou não receber nenhum pré-tratamento antes do tratamento com
Terapia Cognitiva Comportamental. Na EM pré-tratamento os participantes
receberam 4 sessões de 50 minutos semanais individuais, na TCC após pré-
tratamento, ou seja, após as 4 semanas esperando os indivíduos que receberam o
EM o tratamento foi de: treinamento em auto-monitoração, relaxamento aplicado,
terapia cognitiva, comportamental, tarefas de abordagem e exposição a
preocupação e pista da preocupação, foram 6 semanas com sessões de 2 horas
seguido por 2 sessões de 1 hora. Nos resultados os estudos mostraram que os dois
grupos melhoraram os sintomas de depressão, ansiedade e crenças sobre as
preocupações, mas a adição de EM seguido de TCC facilita a redução da
preocupação, principalmente nos participantes de alta gravidade.

Tabela 1 – Técnicas de TCC utilizados para TAG nos estudos


Estudo AL AP ER RC RX PS EM EX RP GS AM DS EI
Newman e Fisher, X X X X X
2013
Bush et al, 2012 X X X X X X X
Newman et al, 2011 X X X X
Dugas et al, 2010 X X X X X
Westra; Arkowitz; X X X X X
Dozois, 2009

AL- Análises Lógicas; AP- Análise provas/probabilidade; ER- Erros Cognitivos; RC- Reestruturação
Cognitiva; RX- Relaxamento; PS- Psicoeducação; EM- Entrevista Motivacional; EX- Exposição; RP-
Resolução de Problemas; GS- Gestão de Comportamento do Sono; AM- Auto-monitoração dos sinais
de ansiedade; DS- Dessensibilização; EI- Exposição Imaginária.

Dos seis estudos encontrados apenas cinco descreveram as técnicas


utilizadas em Terapia Cognitivo Comportamental para o TAG (tabela 1),
demonstrando quão pouco são os estudos desenvolvidos neste tema, o que
surpreende levando em consideração que o Transtorno de Ansiedade Generalizada
27

é um dos transtornos mais frequentes e que proporciona significativo


comprometimento funcional.
Dentre os estudos citados nota-se diferenças relevantes nos métodos e
objetivos das pesquisas, um dos estudos avaliou a TCC para o TAG em relação e
somada com a farmacoterapia, mas em sua maioria compararam a TCC em relação
a outras técnicas variadas de terapia, ou então, avaliaram a TCC com acréscimo de
outras técnicas terapêuticas. Os estudos também possuem diferenças consideráveis
em relação aos participantes apresentando variações de idade, sexo e quantidade,
quanto ao diagnóstico, alguns estudos incluíram sujeitos com comorbidades, outros
utilizaram com diagnóstico principal e/ou co-principal.
Houve também variações significativas no número e horas de sessões, bem
como nas técnicas utilizadas em TCC, o que torna os dados não fundamentais para
identificar e caracterizar quais técnicas são mais eficientes em TCC para o
tratamento do TAG. Embora seja essencial ressaltar que todos os estudos citados
avaliaram a TCC como um instrumento eficiente que contribui para a diminuição dos
sintomas relacionados a ansiedade e preocupações, notável durante o processo de
tratamento e a longo prazo.
28

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta revisão bibliográfica demonstrou que a Terapia Cognitivo


Comportamental para o tratamento do Transtorno de Ansiedade Generalizada
possui eficiência quanto a melhora das preocupações e sintomatologia relacionadas
à ansiedade, demonstrando ter efeitos benéficos para os pacientes. Não há um
consenso sobre quais técnicas são mais adequadas, embora as técnicas mais
utilizadas nos estudos citados foram a reestruturação cognitiva, exposição e técnicas
de relaxamento. No entanto observou-se que os estudos realizados nessa área são
escassos, além de explorarem diferentes objetivos e métodos, as técnicas de TCC
são diversificadas, muitos estudos não apresentaram diferenças significativas ao
relacionar as técnicas em TCC com outras técnicas terapêuticas, demonstrando a
necessidade de ampliar pesquisas a respeito de quais técnicas na TCC são eficazes
para o tratamento do TAG.
29

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WRIGHT, J. H.; BASCO, M. R.; THASE, M. E. Aprendendo a Terapia Cognitive-


Comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.
31

ANEXO

Termo de Responsabilidade Autoral

Eu Magliani Patrícia Miezerski, afirmo que o presente trabalho e suas

devidas partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da

responsabilidade autoral sobre seu conteúdo.

Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de

Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob

o título “Transtorno de Ansiedade Generalizada e a Terapia Cognitivo

Comportamental- revisão bibliográfica”, isentando, mediante o presente termo, o

Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu orientador

e coorientador de quaisquer ônus consequentes de ações atentatórias à

"Propriedade Intelectual", por mim praticadas, assumindo, assim, as

responsabilidades civis e criminais decorrentes das ações realizadas para a

confecção da monografia.

São Paulo, __________de ___________________de______.

_______________________

Assinatura do (a) Aluno (a)

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