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Administrando a Vida

(CRA nº Registro: 261.600 Livro: 468 Folha: 260)

FERNANDO SALAZAR BAÑOL

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Qualquer semelhança com os personagens da vida real...pode ser ou


não mera coincidência!

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ÍNDICE

1. Prefácio
2. Prólogo
3. Elixir de Longa Vida
4. Cronos, Senhor do Tempo
5. A Eternidade da Vida
6. A Máquina do Tempo
7. O Paradoxo do Tempo
8. Cronobiologia
9. A Enfermidade do Amanhã

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10. A Dança das Horas
10 Tempo Pessoal
11 Tempo para Amar
13. Tempo Light
14. Paradigmas do Tempo
15. Renunciando ao Passado
16. Tempo e Heurística
17. Tempo para a Solidariedade
18. Tempo Espiritual
19. Relatório Final
20. Manual Cronos

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O tempo não existe; só existe um instante eterno. O sol sai e se


oculta; e entre o sair e o ocultar-se, colocamos nossas horas que são
uma fantasia e nada mais. Porque entre o amanhecer e o entardecer
não há horas. Todos esse processos se realizam de instante em
instante, de momento em momento.
Samel Aun Weor

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Prefácio

Iniciei a redação deste livro no século XX e a finalizei no século XXI... Parece


um jogo de palavras ou um exagero, mas é uma realidade surgida dentre os
enigmas que dá origem ao Tempo.

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Desde o século passado ― agora estou ironizando ― , sempre me chamou a
atenção o fenômeno chamado tempo (porque para alguns é mágico); as
circunstâncias da vida me permitiram ter o espaço e o tempo para investigá-lo
e experimentá-lo.
Quando subi às maiores alturas, como as do Vulcão Tunupa (5.048m), tive
uma sensação atemporal, como se o tempo não existisse ou permanecesse
parado; quando desci às entranhas da Terra, nas Cavernas do Rio Camuy, a
percepção foi de morosidade.
Por outro lado, em minhas pesquisas antropológicas aprendi que um grande
desafio que se apresenta aos seres humanos é o saber esperar, mas sem cair
na enfermidade do amanhã ou procrastinação. Temos um bom
exemplo histórico através da estratégia militar aplicada pelo general russo
Kurtusov para derrotar Napoleão: a ordem dada ao alto comando foi ter
“paciência e tempo”.
E em meio dessa luta entre paciência e tempo se debatem as pessoas de todos
níveis: o enfermo que luta pela vida na UTI; o atleta que corre para superar a
marca; o homem de negócios que se preocupa com os vertiginosos câmbios na
Bolsa de Valores; a mulher grávida que espera nove meses para o nascimento
de seu filho muito amado; o ancião que observa o passar dos anos em sua
cadeira de rodas; e o condenado que espera o cumprimento de sua pena de
morte.
Não quero nada mais escrever nesse prefácio, porque todos os conhecimentos
e reflexões a ser transmitidos estão nos próximos capítulos. Somente quero
estimular a leitura desta obra com três reflexões:
1. Após trinta anos de pesquisas, cheguei à conclusão que, além do
paradigma que dita que o tempo é dinheiro, está, acima de todos, outro
paradigma: o tempo é vida. Sinto que meu caminho estava errado quando
quis administrar o tempo. Descobri que o rumo verdadeiro está em
aprender a administrar a vida.
2. Todo conceito de tempo é relativo. Corresponde a cada pessoa descobrir
sua própria verdade. Lembro-me nesse momento de Immanuel Kant, o
autor de Crítica da Razão Pura, obra onde encontrei estas palavras: “O
tempo é a grande mentira dos homens”.
3. Nesse exato momento (ano 2002), no escritório da revista Bulletin of the
Atomic Scientists, na Universidade de Chicago, um relógio marca sete
minutos para o fim do mundo. Desde 1947, o Doomsday Clock ― Relógio
do Fim do Mundo ― representa simbolicamente o consenso dos
especialistas sobre o risco de explosão de uma guerra nuclear.

Com a esperança de um futuro melhor,

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Fernando Salazar Bañol

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Cronos, Senhor do Tempo___
Cronos era filho de Urano e Gaia e pai de Zeus. Personificação do tempo entre
os gregos, foi identificado com Saturno nas tradições romanas.
Num dia qualquer, Zeus ― rei de todos os deuses ― chamou Cronos com a
finalidade de estabelecer uma conversa sobre um tema misterioso: o tempo.
Reunidos no Monte Olimpo, Zeus expressa:
― Cronos, muitas eram se passaram, através das quais, tenho observado que
os humanos não estão administrando esse tesouro tão maravilhoso que
chamamos tempo. Pergunto-lhe: Para você, o que significa o tempo?
― Essa é a eterna pergunta ― diz Cronos . Responderei à sua inquietude.
― O tempo é a vida em si mesma. Como resultado, o homem deveria
administrar o tempo eficientemente, não para produzir mais riquezas, mas com
o objetivo de concretizar suas aspirações mais sublimes. Espero que não tenha
perdido o rumo!
― Justamente, esse é o problema que me preocupa ―, comenta Zeus. O
homem está se perdendo no oceano de sua existência, porque não sabe
navegar neste recurso que nós lhe demos com grande amor.
― E o que quereis que faça com os homens, se nós lhe demos o livre arbítrio?
―, comentou Cronos.
Então Zeus replicou:
― Que você faça uma pesquisa!
Cronos, com total assombro, expressou:
― Por todos os raios e trovões, Zeus. Parece-me que estivestes tomando uns
tragos a mais na mansão de Baco!
Zeus, todo relampejante, diz:
― Cronos, mais respeito! Não estou embriagado nem com o “licor de
mandrágoras”. Minha vontade divina determina que desças imediatamente à
Terra para pesquisar os hábitos dos homens em relação ao tempo, e me traga
um relatório.
― Se esta é a vossa vontade, que assim seja ― disse Cronos. Mas, em que
época e lugar, devo realizar esta pesquisa?
Num tom imponete, Zeus ordenou:
― Nos finais do século XX e no amanhecer do Terceiro Milênio. Para
escolher pessoas e lugares, você tem plena liberdade.
Com a enigmática expressão que o caracterizava, Cronos despediu-se,
dizendo:

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― Regressarei ao Olimpo na metade da metade do tempo.
E desceu à Terra....
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Elixir de Longa Vida

O aspecto de Cronos era belíssimo, como a de uma milenar e bem conservada


escultura grega gravada em puro mármore. Tinha estatura alta como se seu
corpo tentasse alcançar o próprio Olimpo. A testa era tão larga como os
portais do templo de Delfos, o nariz tipicamente grego, a boca e lábios de
dimensões harmoniosas, e tinha uma voz tão profunda quanto a gruta sagrada
de Camares. O mento era coberto com uma abundante barba prateada, que
brilhava tanto quanto seus cabelos acariciados pelos raios de Selene. Tinha
uma fisionomia atemporal, como se se tratasse de algum misterioso
alquimista que tivesse descoberto e bebido o Elixir de Longa Vida, e seus
olhos eram azuis como o Mar Mediterrâneo. A vestimenta estava de acordo
com o nosso tempo: moderna, elegante e impecável.

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A Eternidade da Vida

Desta vez a cidade escolhida por Cronos foi Beirute, no Líbano, cujo cenário
era a guerra civil, no ano de 1972.
Em meio à bombas, rajadas de metralhadoras, incêndio e gritos de dor, Cronos
caminhava em atitude observadora. De repente, no interior de um edifício em
ruínas, ele escuta os gemidos de uma pessoa. Serenamente, foi acelerando o
passo e superando obstáculos até chegar ao lado de um oficial do exército do
Líbano, que estava gravemente ferido. Depois de acalmá-lo um pouco, e
consciente de que em qualquer momento este homem morreria, Cronos tomou
a cabeça do militar em seus braços e perguntou-lhe:
― Qual é o seu nome?
― Ali ― respondeu o ferido.
― Há quantos dias está a espera de ajuda?
― Não sei, porque perdi a noção do tempo.
― Para você, o que é o tempo?
― Quando estudava na Academia Militar sobre estratégia de guerra,
impressionou-me uma frase de Napoleão, que tomei como guia de minha

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carreira de oficial: “Não importa quantas vidas foram perdidas pelo Exército e
a quantidade de recursos perdidos pelo Tesouro, o que importa é quanto tempo
perdemos”.
Cronos respirou profundamente, fez uma breve pausa e continuou:
― Ali, você tem consciência de seu estado físico?
― Sim, sei que morrerei.
― Então, continua admirando essa frase?
― Não. Durante os anos que sobrevivi à esta guerra absurda, meus
sentimentos foram mudando.
Nesse momento, Ali guarda silêncio. Com muito esforço e dor, introduz sua
mão esquerda no bolso direito, toma um papel ensangüentado e amassado e o
entrega a Cronos, dizendo:
― Este escrito foi minha luz nos momentos de medo e terror. Suplico-lhe que
o leia em voz alta, para que estas sábias palavras acalmem minha dor.
Cronos tomou o escrito em suas mãos e fez a leitura:
Medirás a infinitude do tempo.
Ajustarás tua conduta e até dirigirás o caminho de teu espírito em
concordância com as horas e as estações.
Farias do tempo uma corrente em cuja onda te sentarias para vê-la passar.
Contudo, o eterno em ti, sabe da eternidade da vida.
E o tempo não é por acaso, como o amor, indivisível e contínuo?
Mas, se em teu pensamento deves medir o tempo em etapas, que cada etapa
abranja todas as restantes.
E que o hoje acolha o passado sem nostalgia e o futuro com anseios.

Kalil Gibrán

Os olhos de Ali se fechavam pouco a pouco. E, aproveitando-se do pouco


vigor físico que lhe restava, indagou:
― Cavalheiro, posso conhecer seu nome e sua origem?
― Meu nome é Cronos e minha origem... a Eternidade!
― Ali deu um grito que saiu fundo de sua alma. Cronos compadecido,
perguntou:
― Está sentindo muita dor?
― Oh, Cronos, ― respondeu Ali―, neste momento não sofro em razão de
minhas feridas, mas pela existência perdida nesse confronto fratricida. Agora,
percebo que nesses anos violentos, não soube administrar minha vida; e o pior
de tudo é que me transformei em um instrumento exterminador de vidas, e
agora pago pelas conseqüências.
Com voz pausada, Cronos expressou:

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― Essa é a lei de ação e reação. Violência gera violência. Amor gera amor.
Ali, então, passou a sofrer as contorções da morte. À medida que sua dor e seu
tempo de vida acabavam, ao longe, escutou o ressonar da voz de Cronos,
dizendo:
― A morte é a volta ao ponto original da partida. Um homem é o que é sua
vida; se o homem não trabalha sua própria vida, se não busca modificá-la,
com certeza, está perdendo o tempo. O homem deve trabalhar sua vida para
fazer dela uma Obra Mestra!

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A Máquina do Tempo

Cronos tinha conhecimento de que muitos físicos e matemáticos são grandes


pesquisadores do Tempo. Desta vez, então, para realizar sua pesquisa,
escolheu a Universidade de Cambridge, onde a pessoa entrevistada foi o
doutor Gunther Forger.
No início da manhã, Cronos se apresentou na sala de reuniões da reitoria do
campus universitário.
― Bom dia, Dr. Forger. Meu nome é Cronos. Estou fazendo uma pesquisa
sobre o Tempo.
Num tom sarcástico, o Dr. Forger diz:
― Dá-me a impressão de que seu sobrenome faz honra à sua pesquisa.
― Não é coincidência. ―, respondeu Cronos ironicamente.
― Bem, vamos diretamente ao assunto ― expressou o doutor Forger.
Cronos cravou seu penetrante olhar e, em tom de desafio, disse:
― Tenho várias perguntas difíceis para o senhor.
O doutor Forger acomodou-se em sua típica poltrona inglesa e. com um
timbre de voz controlada, falou:
― Gosto de desafios!
Cronos reagiu imediatamente, dizendo: Ah, então vamos nos entender. Aí vai
a primeira pergunta:
― Existe o tempo?
― É difícil imaginar que possa existir qualquer coisa, que nós chamamos de
o mundo real, se não existisse o tempo. Eu diria que, se não existisse o
tempo, a palavra existir perderia seu sentido.
― Qual é a definição de tempo?
― Essa definição ninguém tem. Ou, melhor dizendo, ninguém tem a resposta
definitiva. Na verdade, definição é uma noção lógica e até matemática, pois

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definir algum conceito significa explicá-lo em termos de outros e reduzi-los a
outros, que são mais elementares, mais fundamentais, ― porém, não
necessariamente simples. O tempo é um conceito tão fundamental, que não há
como reduzi-lo a qualquer outro.
― Qual é a origem de Tempo e Espaço?
― De acordo com o modelo cosmológico do Big Bang em vigor e
universalmente aceito pela Ciência, o espaço e o tempo se originaram
juntamente com toda a matéria do universo no Big Bang, a grande explosão,
há mais ou menos quinze trilhões de anos atrás. Este momento inicial, em que
o próprio espaço estava reduzido a um único ponto, no qual se concentrava
toda a matéria do universo em estado singular de densidade e de temperatura
infinita; também marca o início do tempo. Não há sentido nem em perguntar o
que aconteceu antes, já que sem tempo, não é possível falar do antes.
― Há um lugar no mundo, onde se constrói a máquina do tempo?
― Somente em novelas de ficção científica, em que este tema é muito
evocado.
Cronos, buscando levar novamente o doutor Folger à pergunta anterior,
expressa:
― Se esta máquina existisse em segredo, sua manipulação poderia provocar
uma tragédia universal?
Com um pouco de impaciência, o doutor Forger responde:
― É justamente essa linha de perguntas que vem quebrando a cabeça de
alguns cientistas. Esta é um pergunta polêmica que produz fascinação.
Suponho que em ficção científica, todos os tipos possíveis ― e impossíveis ―
de cenários já foram imaginados. Um dos mais interessantes é a famosa
hipótese dos muitos mundos ou universos paralelos. Podemos conversar sobre
isso, porém é um assunto muito complexo para ser tratado em um só encontro
como o que tenho com o senhor, senhor Cronos.
― O domínio do tempo poderia transformá-lo em uma arma mortal?
― Claro que sim. É positivo o fato de que nenhuma potência tenha este
domínio. Parece que as próprias leis da Física não permitem isso, justamente
para colocar alguns limites.
― Está de acordo com a idéia de que o tempo é vida?
― Sim, no sentido de que devemos aproveitar bem o tempo limitado que nos
foi concedido para viver nossa vida.
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O Paradoxo do Tempo

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Os habitantes dessa cidade de Nova Iorque parecem viver em meio ao caos;
dão a impressão de que nunca têm tempo, paradoxalmente tendo tantas horas
disponíveis. Aparentemente vivem mais, mas perdendo tempo para fazer
tantas coisas, que resulta na necessidade de mais tempo ainda para desfrutá-
las. Fizeram desse extravagante bem uma arma competitiva. Trocaram esse
extravagante bem pela escravidão à velocidade. Será que se fossem sábios
desistiriam da pressa e se dariam mais tempo para olhar para o interior de si
mesmos?
Essas eram as reflexões de Cronos quando caminhava pelas ruas de Manhatan,
no coração financeiro do Planeta.
Cronos decidiu que desta vez se dedicaria a realizar suas pesquisas com
algumas das pessoas que fosse encontrando em seu caminho.
Então, aos que escolhesse, se propôs a fazer sua típica pergunta: para o senhor,
o que significa o tempo?
E as respostas que obteve no caminho foram estas:
Uma senhora de idade madura respondeu:
― Houve uma época em que sabíamos o que era o tempo. O tempo que os
homens gastavam no emprego remunerado determinava quanto tempo iriam
dispor para o convívio com suas famílias; e o tempo que as mulheres
gastavam cuidando de seus filhos determinava quanto tempo iriam dispor para
trabalhar.
Um taxista, um pouco ressentido, expressou:
― Algumas pessoas têm mais tempo do que precisam para fazer suas coisas, e
outras têm pouco tempo para fazer tudo o que querem.
Um empresários disse:
Temos de redifinir o tempo e as palavras a ele vinculadas. Vislumbro um
momento em que não mais será possível estabelecer uma distinção exata entre
trabalho de tempo integral e de meio período, assim, a aposentadoria se
tornará uma expressão puramente técnica, indicando um direito à benefícios
financeiros em que hora-extra parecerá um conceito fora de moda tal qual o
de empregada doméstica hoje em dia.
Um executivo, muito animadamente, exclamou:
― As empresas estão agora repensando o tempo para benefício próprio. É
como se tivessem finalmente se dando conta de que uma semana perfaz um
total de cento e sessenta e oito horas, e não de quarenta. Os ativos
imobilizados não produzem dinheiro. Então, por que mantê-los fechados por
cento e vinte e oito horas por semana, quando a metade do mundo ainda está
desperta do sono, quando é nesse período, em especial nos finais de semana,
que os clientes gostam de fazer suas compras, ou quando muitas pessoas

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gostam de trabalhar enquanto outras dormem? Nenhuma barreira do tempo é
agora intocável!
Um financista enfatizou:
― O tempo mostrou ser ele mesmo um valor caótico. Alguns gastam dinheiro
para economizar tempo, outros gastam o tempo para economizar dinheiro.
Um psiquiatra esclareceu:
― As empresas querem menos gente trabalhando mais tempo, porque isso as
faz economizar muitas despesas, e, paradoxalmente, os indivíduos querem
dinheiro. Essa troca de tempo por dinheiro criou um ciclo insidioso de
trabalho e gastos, pois as pessoas buscam cada vez mais o consumo para trazer
satisfação e, ao mesmo tempo, significado para suas vidas. Atualmente, o
tempo para muitos resulta em mais desiquilíbrio do que equilíbrio. Isso
significa que suas vidas também estão desiquilibradas.
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Cronobiologia

A capital do México é uma cidade moderna e cosmopolita, onde o passado e


presente se unem em um eterno agora. Nesta metrópole, Cronos marcou sua
presença.
Desta vez, Cronos, por meio de seu engenho e artimanhas, conseguiu visitar o
luxuoso escritório do dono de um dos shoppings mais importantes da capital
mexicana.
Dentro das instalações decoradas com bom gosto, encontrou duas pessoas: um
empresário elegantemente vestido e uma jovem muito atraente.
― Permita-me apresentar-me: meu nome é Cronos ― foram suas primeiras
palavras.
A expressão do empresário e da jovem foi de assombro. Percebiam algo
estranho nesse homem que chamava a atenção, mas não podiam compreender
seu ar de mistério. Logo após ter recuperado seu estado emocional, o dono do
shopping apertou a mão de Cronos, dizendo:
― Sou Jorge Polanco, e estou a seu dispor. Esta é minha filha, doutora
Guadalupe.
Depois de acomodar-se em uma das confortáveis poltronas do local, o senhor
Polanco diz:
― Diga-me, qual é o motivo de sua visita?
― Fazer algumas perguntas sobre o tempo.

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― Inicialmente, o que posso responder-lhe é que estou necessitando de que o
dia tenha mais de vinte e quatro horas. Vivo estressado e estou sempre numa
contínua corrida contra o tempo.
Justamente nesse momento, o senhor Polanco passa a ter um terrível ataque
de tosse.
― Posso ajudá-lo em algo? ― pergunta Cronos.
― Não se preocupe, senhor. Acontece que meu pai já sofreu quatro ataques
cardíacos, ― comenta, um pouco nervosa, a doutora Guadalupe. Há vários
anos, venho aconselhando meu pai para que mude seus hábitos de trabalho e
busque qualidade de vida, mas ele é rebelde e não dá atenção aos meus
conselhos. Meu pai se esquece que sou uma profissional da medicina e só me
vê como sua filha.
Por suas palavras, ― diz Cronos ― percebe-se que a senhora valoriza a
qualidade de vida no trabalho.
― Desde o primeiro ataque cardíaco que meu pai sofreu, passei a inteirar-me
mais profundamente sobre as alternativas existentes para o bom desempenho
no trabalho, sem prejuízo à saúde.
― E qual o conceito que a senhora tem sobre o tempo?
― O conceito que uma pessoa tenha sobre o tempo pode matá-la, opina o
doutor Larry Dossey, cientista e pioneiro da nova ciência chamada
Cronobiologia, estudo que investiga a forma como o tempo se inter-relaciona
com a vida.
― Com a vida? ― exclamou Cronos.
― Sim! Um dos males mais comuns da nossa sociedade é a “enfermidade do
tempo”, no que diz respeito à pressão do tempo e à pressa, que causam
angústia e tensão. Esses sintomas predispõem suas vítimas ― como no caso
de meu pai ― à arteriosclerose coronária e apoplexia cerebral, duas
freqüentes causas de morte.
― Quais outras descobertas fez a medicina moderna com relação à
“enfermidade do tempo”?
Dossey descobriu que estes e outros males induzidos pelo estresse, tais como
úlceras pépticas e as enxaquecas freqüentes, podem ser tratadas com sucesso
através de técnicas simples, o que leva as pessoas a mudarem sua maneira de
pensar sobre o tempo.
― Então, há uma íntima relação entre tempo e saúde?
― O doutor Dossey se interessou pela relação tempo-saúde, quando passou a
observar o grande número de pacientes que insistiam em permanecer com seus
relógios de pulso nos quartos de hospital, embora não tivessem de respeitar
horários. Todos eles eram cronomaníacos, pessoas que desde a infância
haviam sido condicionadas a programar suas vidas conforme o relógio

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imposto pela sociedade, e sentiam-se inseguras sem a muleta mental
representada por um medidor de tempo.
― Posso deduzir que existe um “tempo biológico”?
― O tempo da Natureza difere muito, quase sempre, das divisões de nossos
relógios. A “hora biológica” natural para a maioria dos adultos, conforme
descobriram os cientistas, é de uns sessenta e três minutos. Isso significa que,
se a maioria das pessoas se colocasse em uma caverna, onde não houvesse
noção do tempo exterior, funcionariam em ciclos de vinte e quatro horas e
meia à vinte e cinco horas e meia, e assim perderia um dia de cada mês.
Quase todos os seres vivos de nosso mundo possuem seus próprios relógios
biológicos, sincronizados com o ritmo da Natureza.
― Doutora Guadalupe, pode dar-me um exemplo desses relógios biológicos?
― Estes relógios biológicos não são exatos no que respeita ao sentido
mecânico, automático. Ajustam-se às mudanças do meio. Os mais conhecidos
destes relógios são os ritmos circadianos (do latim circa, ao redor de, e dies,
dia), que foram detectados nos mutantes fluxos de reações químicas,
oscilações térmicas e outras mudanças do organismo, que ocorrem
aproximadamente a cada vinte e quatro horas.
― Para vocês, os médicos, quem determina a hora e corrige estes relógios
viventes?
― Nossos corpos, como os de quase todos os seres orgânicos, podem
reconhecer as mudanças da luz. Na base de nosso cérebro, um diminuto
conglomerado de células nervosas ― os núcleos supraquiásmicos (NSG) ―
selecionam a luz que chega a nossos olhos, e não só distingue o dia da noite,
mas também responde a diminutas mudanças na duração do dia, na
luminosidade e som. Os NSQ, funcionando como uma espécie de marcapasso
biológico, enviam mensagens que marcam o tempo nos centros que, entre
outros processos, controlam o sonho e a vigília, o crescimento e a sexualidade.
― A mente pode alterar de outras formas os ritmos biológicos?
― As pessoas que já estiveram a ponto de morrer freqüentemente descrevem
a lembrança de toda sua existência, que passou por elas como um relâmpago.
Quem sofreu acidentes graves informam que, no momento do acidente, tudo
pareceu ocorrer em câmara lenta. Ao que parece, isto é um mecanismo de
sobrevivência que trazemos no cérebro, a capacidade de incrementar várias
vezes a velocidade normal de percepção, que torna mais lento o mundo,
dando à vítima tempo para pensar em algum recurso para evitar o desastre.
― Então, a tirania do tempo na sociedade moderna dessincronizou os relógios
corporais?
― Os cientistas descobriram que quando os relógios corporais se
dessincronizam entre si, há diminuição do rendimento físico e mental.

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Quando o tempo do relógio está dessincronizado com nossos ritmos naturais
internos, o resultado é o estresse.
Cronos, então, depois de ter escutado todas as observações da doutora
Guadalupe, dirige-se ao senhor Polanco, que já respirava com normalidade,
mas que continuava um pouco pálido:
― Senhor Polanco, como é possível que o senhor, tendo uma filha com tantos
conhecimentos como estes, não se decidiu em mudar seus maus hábitos, que
estão fazendo diminuir seu tempo de vida?
― Vou responder-lhe com sinceridade. Sofro de outro mal... chamado de “a
enfermidade do amanhã”. Amanhã vou ao médico, amanhã vou organizar meu
tempo.
― Se o senhor me permite, vou fazer-lhe duas perguntas antes de retirar-me.
― Faça-me a primeira.
― Em que valor está estimada sua fortuna?
― Aproximadamente em US$ 200.000.000. E a última pergunta?
― Se o senhor tivesse conhecimento de que somente lhe resta um ano de
vida, estaria disposto a trocar toda sua fortuna por mais tempo biológico?
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A Enfermidade do amanhã

Durante sua permanência no México, Cronos escutou reiteradamente


comentários no sentido de que os latino-americanos são conhecidos por
deixar tudo para amanhã. Intrigado e muito curioso por este fato, decidiu
que seu novo destino seria a Venezuela.
Desta vez, o foco de seu trabalho seria conseguir uma entrevista com o senhor
Anzoátegui, um dos principais executivos da maior refinaria do país. O
diálogo assim desenvolveu-se:
― No passado, ― disse Cronos ― Francois Rabelais escreveu o seguinte:
Como poderei governar os demais, se não tenho domínio e controle sobre mim
próprio?.
Considero que esta observação é o fundamento da tese que defende que o
homem deve controlar-se ativamente, e na medida do possível, na maior parte
de todo o seu tempo.
― Não conhecia essa afirmação, mas estou de acordo com ela. Porém,
considero, baseado em minha experiência profissional, que é necessário que se
faça uma distinção entre dois tipos de tempo: há um tempo que não está
submetido a controle. Este tempo tem recebido várias denominações: tempo
requerido, tempo sem controle, tempo imposto pelo cargo, tempo fixo e tempo
de resposta. A última definição ― tempo resposta ―, considero como a mais

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apropriada, pois faz referência ao tempo que se consome, dando resposta às
circunstâncias e às pessoas que se apresentam com suas exigências e
problemas.
― E qual é a outra forma de tempo?
― Há um tempo que pode ser controlado pelo indivíduo, chamado também
tempo controlável, tempo auto-imposto, tempo disponível e tempo
discricionário. Também esta última denominação é a mais apropriada.
― O senhor, como utiliza seu tempo discricionário?
― Para aproveitar o tempo discricionário e para avançar na realização de um
projeto discricionário é necessário ter tempo para poder concentrar-se. A
maioria das pessoas requer um tempo mínimo de uma e meia a duas horas
para concentrar-se em um assunto complexo.
― O senhor possui algumas ferramentas para a otimização deste tempo?
― Sim. A primeira delas é o isolamento. Consiste em criar uma barreira para
proteger-me das exigências empresariais durante períodos ilimitados de
tempo. O método mais comum baseia-se em supervisionar e classificar toda
comunicação recebida com a ajuda de minha secretária.
― Diante da tirania do tempo, considero que o isolamento não é suficiente;
― interrompeu Cronos.
― Acontece que eu desenvolvi outra ferramenta que chamo de retiro. A
forma mais radical de isolar-se é separar-se do local de trabalho. O que busco
é conseguir períodos de tempo sem interrupções, que utilizo para meditar
mais profundamente sobre os milhares de problemas que se apresentam na em
presa.
― Meditar...? Isso é para os yoguis!
― Sim, meditar.! O que ocorre é que algumas pessoas sentem medo dos
períodos de meditação, porque não têm nem idéia sobre o que devem meditar
e porque não querem escutar a voz da consciência.
― Diga-me, exercita alguma outra pauta de atividade?
― A proteção de meu tempo ótimo. O tempo ótimo é essa hora do dia, quando
a pessoa está mais viva e com os seus cinco sentidos afinados. É nesse período
do dia ou da semana quando a pessoa pode desenvolver sua máxima
concentração e sua maior criatividade. Esse tempo é precioso.
― Por que diz que o tempo é precioso?
― Porque o tempo vale ouro!
O senhor Anzoátegui estava compenetrado em suas palavras e, sem prestar
atenção à intencional interrupção de Cronos, continuou:
― Os projetos e o tempo discricionários devem ser programados, serem
possibilitados, durante o tempo ótimo pessoal. Se o tempo ótimo do indivíduo

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é às primeiras horas da manhã ou no início da noite, este goza de uma
vantagem, porque as exigências dos demais são mínimas nessas horas.
― E o que me pode dizer sobre a “enfermidade do amanhã”; nesta refinaria,
existe este mal?
― Para a maioria de nossos funcionários, a procrastinação como é conhecida
a “enfermidade do amanhã” provém de causas complexas, que provavelmente
podem somente revelar-se num consultório de psicologia.
― O medo de fracassar seria uma dessas causas?
― Os perfeccionistas freqüentemente são procrastinadores. Tais pessoas
desejam apaixonadamente fazer tudo às mil maravilhas, e quando enfrentam
um desafio caem submetidos por grandes pressões. Os Seabees, esquadrão de
renome durante a segunda guerra mundial, tinham o seguinte lema: “O que é
difícil fazemos agora mesmo; o impossível demora-se um pouco mais”. Os
Seabees não se ufanavam de fazer tudo à perfeição, mas de conseguir fazer as
coisas.
― E qual sua opinião a respeito dos funcionários que vivem do medo em
relação ao que devem dizer.
― Algumas pessoas jovens sofrem desse tipo de auto-engano. Formam o
grupo de procrastinadores que estão sempre preparando de antemão uma
desculpa. Nunca fracassam porque nunca se comprometem. Nunca se duvida
de sua “excelência” porque nunca fracassam. Podem continuar enganando-se a
si mesmos, argumentando que teriam podido realizar maravilhas se tivessem
“desejado”. Infelizmente, a reputação de tais procrastinadores sofrem as
conseqëncias da pobreza, pois rapidamente perdem credibilidade ante os
demais. Seu comportamento é visto como particularmente imaturo.
― Nesta refinaria, há pessoas que dizem que este não é o momento adequado?
― Sem exagero, eu diria que noventa por cento do nosso pessoal pensa e age
desta maneira. Esse é o tipo de pessoa que realmente não crê que pode
controlar sua vida e busca fatos externos para motivar-se. Tais funcionários
podem atrasar o início de um trabalho até a chegada de uma data propícia,
como uma segunda-feira ou o primeiro do mês. Abdicam do controle de suas
vidas em favor do azar.
― Neste país com tradições de uso da magia, o senhor encontrou alguma
poção milagrosa que possa curar a “enfermidade do amanhã”?
― Nenhuma poção mágica pode curar a procrastinação nem tampouco há
vacina moderna alguma para preveni-la. A enfermidade é universal, mas não é
necessariamente mortal.
Cronos, então, agradeceu a entrevista e despediu-se gentilmente do senhor
Anzoátegui com as seguintes palavras.

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― O homem moderno luta com todas as suas forças para projetar-se no tempo
e para colocar-se à frente das mudanças. Mas, esse objetivo é viável? Sim e
não... tudo depende das concepções e interpretações que se tenha em relação
ao tempo.
___________________________________________.

A Dança da Horas

Na dança das horas que acompanhava Cronos, seu dançar interminável o


levou a obter uma entrevista com a doutora Patricia Martinez, chefe de
gabinete de psicologia da prefeitura de Buenos Aires, Argentina.
A doutora Patricia chegou um pouco tarde ao compromisso marcado com
Cronos. Sorrindo com pouca naturalidade e com a voz um pouco tensa, disse:
— Desculpe-me, mas acabo de sair de uma reunião nada produtiva, em razão
do desperdício de tempo entre conversas superficiais e pouco objetivas.
Reunião é somente para os profissionais do primeiro mundo que valorizam
o tempo de uma forma mais dirigida.
— Pode-me dar um exemplo sobre este caso específico? — perguntou
Cronos.
— O tempo é dinheiro, dizia Benjamin Franklin para dramatizar a
importância do tempo, ao relacioná-lo com a medida mais comum de
valor. A maioria das pessoas permuta seu tempo por um salário que lhe é
necessário para sobreviver. A importância que o mundo ocidental dá ao
progresso e ao crescimento é simbolizado pela imagem do tempo,
representada por uma flecha que é atirada em linha reta, vinda do passado
em direção a um futuro desconhecido. Para as pessoas de ação, que devem
fazer uma escolha entre uma gama de possibilidades antes do vencimento
de um prazo, o referido simbolismo é particularmente apropriado. A
decisão é tomada, o passo se cumpre e passa.
— Quais são as conseqüências deste paradigma do tempo?
— Logicamente, nada positivas. O pior de tudo isso é que as pessoas
aturdidas pelo tempo padecem de uma insuficiência do mesmo para
realizar uma pesquisa interna. Dominados durante longos períodos pelo
“comportamento-resposta”, podem perder a noção de quais são suas
crenças. Aos perder contato com seus valores e aspirações, estão
impossibilitadas de iniciar mudanças fundamentais. Nunca enfrentam o
futuro!

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— Quer dizer que lhes falta fé no futuro?
— O gasto do tempo agora é um investimento no futuro — e às vezes é um
investimento arriscado, pois se supõe que amanhã chegará e que a ação de
hoje terá sua influência. É possível que as pessoas não façam planos
porque fracassam quando pensam no futuro ou porque não concebem que
este pode trazer algo de bom. Nas últimas décadas se escutava muita
discussão entre políticos e empresários acerca do futuro, mas até há pouco
tempo, a discussão era precedida de pouca meditação séria. Tenha-se
presente a relutância em meditar sobre as implicações da poluição da
atmosfera, rios, lagos e os oceanos.
— Essa atitude pode ser considerada como um medo da incerteza?
— Muitas pessoas dirigem seu olhar ao presente porque o futuro é
demasiado incerto e, além disso, ameaçador. Toda pessoa tolera a incerteza
até um certo limite. Em geral, preferimos o conhecido — em especial, se é
de nossa aceitação — ao desconhecido. Preferimos a ação, pela qual se
obtenha resultados mensuráveis, ao intangível ou imensurável.
— E qual é o posicionamento das novas gerações que “têm tantas coisa a
fazer... e o tempo voa”?
— A síndrome da falta de tempo contagia as gerações mais jovens de maneira
sinistra. São crianças e jovens estressados, preocupados com o que vai
acontecer depois, deixando passar por entre os dedos as delícias do agora.
Tendo uma vida inteira pela frente, a juventude prefere “estancar-se”,
optando pela lei da mínima resistência. Vivem em estado de urgência,
como quem tem a certeza de que seu tempo de vida tenha expirado. O
alienamento em relação aos próprios sentimentos é resultado da
necessidade criada pela sociedade globalizada de ocupar a maior parte do
nosso tempo produtivamente.
— Como psicóloga, qual é a percepção que a senhora tem do tempo?
— Como a grande mancha de tinta tão famosa no mundo da Psicologia, as
pessoas se projetam a si mesmas sobre suas concepções do tempo. Por
exemplo, para investigar um pouco sua personalidade, gostaria de propor
dois exercícios sobre perspectivas do tempo. Qual das seguintes imagens
se aproxima mais de sua concepção de tempo?: um cavaleiro a galope ou
um oceano silencioso e calmo?
— Eu associo o tempo à imagem de um oceano silencioso e calmo.
— Com que palavras o senhor melhor descreveria o tempo?
— Profundo, claro, ativo e eterno!

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Tempo Pessoal

Cronos viajou à Suiça, especificamente ao cantão de Appenzell, para dialogar


com engenheiro Urs Hämmerle, uma das principais autoridades de controle de
qualidade
Enquanto observava a beleza do Lago dos Quatro Cantões, através da janela
do chalé de Hämmerle, Cronos, sem perder tempo, iniciou a conversação com
estas palavras:
— A sobrecarga de informação foi a epidemia que assolou os anos 1990;
portanto, quase tudo o que foi dito até agora sobre o manejo do tempo é
insuficiente para controlar o “dilúvio informativo” que está inundando
também este novo milênio.
O senhor, como especialista em controle de qualidade, pode responder-me se
dedicar mais tempo ao cuidado do corpo é uma comodidade rara neste
momento histórico da humanidade?
O engenheiro Urs Hämmerle assim respondeu:
— Nosso tempo moderno está infestado de rotinas e obrigações a eliminar,
como por exemplo, nossa maior dedicação ao automóvel que a nós
próprios. Deixamos exames e operações médicas sempre para depois, o
que evidencia que não damos importância maior ao nosso cuidado pessoal
e, em conseqüência, nossa própria saúde. Para conquistar qualidade de
vida, teríamos que priorizar a dedicação de tempo ao nosso corpo:
prepará-lo, treiná-lo, cuidá-lo; compreendendo as satisfações que nos daria
se nos ocupássemos mais dele.
— Damos à nossa vida o lugar e o tempo que ela merece?
— No que diz respeito ao sensual, atualmente, não temos tempo nem para o
prazer, porque os cálculos errôneos de lapsos e prazos, que temos feito em
nossa vida, converteram-nos em vítimas de nossas próprias tensões e
desilusões.
— E o que me pode dizer sobre o tempo para descansar?
— Em razão do ritmo frenético de nossas vidas, chegamos a um nível tão
agitado que já não respeitamos as horas de sono, as pausas para o
revigoramento nem os finais de semana livres. Tristemente, estamos
passando cheques contra nossa saúde.
— Penso que depois de muito trabalhar, as pessoas são merecedoras de um
bom para o descobrimento, a aventura, ou simplesmente viajar em férias.
— Estar em outros lugares nos transforma, nos renova, mas requer muito
tempo; a maioria das pessoas algumas vezes têm tempo, mas, para viajar
pela Internet...

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— Bem, se ao menos não se tem tempo de viajar, pode-se tê-lo para a família,
não é?
— Tantos nossos filhos como nossos pais querem ocupar uma parte de nosso
tempo. Exigem-no com reprovação ou com vergonha. Afinal de contas,
nós o necessitamos tanto quanto eles?
— Imagino que nesta era chamada da informação, a sociedade tem muito
tempo para ler e estar mais informada.
— A realidade é outra. Chegamos a um estado paradoxal; sentimos vergonha
e desejo ao ver esses jornais apenas lidos de relance; esses livros sem abrir,
esses cds sem ter sido ouvidos e esses dvds sem ter sido assistidos. Quando
passamos por uma livraria, um vídeo-clube ou uma casa de música,
distanciamos nosso olhar para acalmar nossa inquietação de consciência.
Temos nos resignado a viver em um grau de ignorância não assumida.
— E o que pensar sobre o direito de aprender?
— Teoricamente todo cidadão tem direito ao aprendizado. Mas as
circunstâncias são outras, e não exploramos nossas potencialidades a
fundo, pois isso leva muito tempo.
— Gostaria de saber sua opinião sobre o tempo de criar.
— O atual paradigma do trabalho o faz demasiado previsível e mecânico.
Temos poucas oportunidades para expressar nossa criatividade. Todos
gostaríamos de saber se trazemos um músico, um escritor, um pintor ou um
inventor sob a pele, que à medida que passa o tempo, vai ficando mais
velha.
— Ultimamente, venho participando de muitas pesquisas que enfatizam a
necessidade da espiritualidade no trabalho. Pode-se prever um tempo para
meditar?
— A beleza, a vida em si mesma, o cosmos, a natureza ou o zen, “vistas das
janela do tempo”, chamam-nos e nos convidam a esta experiência. O
tempo passa... e a “vida se afasta” de nós como um cometa sem que
saibamos o que fazer. O inquisidor espiritual se estabelece com força.
Gostaríamos de penetrar nos mistérios da Natureza e do Cosmos, se nos
atrevêssemos e tivéssemos tempo para isso.
— Em uma sociedade massificante como esta, seria possível ter tempo para a
solidão?
— Independentemente de alguma viagem de negócios, no ambiente protetor
de um asséptico quarto de um luxuoso hotel, na maioria das vezes não
sabemos aproveitar a solidão. Nas minhas viagens internacionais eu
mesmo me faço estas perguntas: Como dizer-nos o que temos que
expressar, se jamais nos encontramos a sós conosco mesmos? Na

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realidade, poucos desfrutam da vida solitária — mas, quem não gostaria de
um pouco de solidão de vez em quando?
— O senhor está de acordo com a afirmativa de que o maior desafio para o
homem moderno está sendo o de viver em meio a um mundo de alto
desenvolvimento tecnológico e baixo desenvolvimento humano, que
resulta continuamente na dificuldade de conciliar trabalho e vida pessoal?
— Por esse motivo, cada vez mais, as empresas necessitarão reservar tempo e
dinheiro para ajudar o trabalhador a viver melhor em família e na
comunidade. Neste choque contemporâneo, a tecnologia avançou e nos
esquecemos da fonte geradora dessa mesma tecnologia, que é o próprio
homem. O tempo demonstrou que a felicidade promove produtividade e
resultados excelentes, em qualquer nível hierárquico.
— O enigma que acompanha quase toda a vida do trabalhador é: o que fazer
com meu tempo quando estiver aposentado? Alguns dizem: “Agora que
estou aposentado, tenho tempo para fazer todas as coisas com as quais
sonhei, mas me esqueci quais são!
— Senhor Cronos, com base nestas últimas observações, o senhor me faz
recordar algumas sábias palavras do Dalai Lama: Ser feliz não é um estado
grandioso e eterno. Ao contrário, é uma soma de pequenos momentos
luminosos, que a pessoa vai colecionando ao longo de sua vida.
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Tempo para amar

Cronos, em São Paulo, transmite a Sophia Carvalho, uma importante


sexóloga, as seguintes reflexões: Atualmente, a maioria das pessoas estão tão
exaustas com os “ciclos” e becos sem saída da sexualidade, que começam a
perguntar-se se realmente existe esse fenômeno chamado Amor.
Cronos, admirando a beleza de Sophia, pergunta:
— De acordo com seu ponto de vista, quanto tempo é necessário para uma
relação sexual?
— Com os avanços da Ciência, pode-se obter uma ereção instantânea, através
da simples ingestão de um comprimido azul..., portanto, pode durar alguns
tantos minutos.
— Pergunto-me: isto dá prazer?
— Atualmente o tempo está se tornando quase virtual. Nesta rapidez
impressionante, valoriza-se o paradigma do instantâneo. Tudo está se
tornando prático e impessoal. Afinal, todo mundo quer fazer muito sexo,
mas, o que fazer?, porque, afinal, o tempo corre!
— E os tempos sexuais da juventude?

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— A síndrome da falta de tempo contagia as gerações mais jovens de
maneira aterrorizante. Jovens estressados, preocupados com o que vai
acontecer depois, deixando escapar por entre os dedos as delícias do
agora. Tendo uma vida inteira pela frente, a juventude prefere “fazer o
amor”, optando pela lei do mínimo esforço, no que se refere ao
relacionamento sexual e afetivo. Vivem em estado de “urgência”, como
quem tem a certeza de que o fim do mundo está próximo.
— Quanto tempo é necessário para amar?
— Uma investigação da Universidade de Maryland (EUA) demonstrou como
os americanos gostariam de gastar seu tempo diariamente: prefeririam
dormir quatrocentos e oitenta e seis minutos, gastar vinte e seis minutos
visitando alguém e outros vinte comendo fora. Esportes, leitura,
relaxamento e igreja aparecem praticamente empatados com sete minutos e
vinte segundos em média. Classificam-se em último lugar: o sexo,
conversar com as crianças — um minuto — e beijos e abraços, —
pasmem! — menos do que isso.
— Males como a ansiedade, relacionada ao medo do futuro, ou culpa e
apego — características de quem vive no passado — fazem parte de males
como falta de amor, impotência e esterilidade. Estresse e alienação em
relação aos próprios sentimentos são resultantes da necessidade criada pela
sociedade ocidental de ocupar a maior parte do tempo de forma mais
rentável.
— Para os senhores, os sexólogos, é possível que exista um tempo para amar
absolutamente livre de preocupações?
— Não! Porque ócio e vazio são as novas enfermidades modernas geradas
pela falta de tempo para amar.
— Pode-se amar a muitos ao mesmo tempo?
— O homem pode amar a muitos sem desejá-los, e desejar a muitos sem
amá-los. Portanto, estou certa de que não se pode amar e desejar ao mesmo
tempo, senão a um único ser, ainda que isso seja muito raro e uma exceção
à regra.
— Tenho observado que no atrativo jogo do amor e suas vicissitudes, o par
tem escrito sua história no transcurso do tempo. Não é o mesmo o que
ocorreu nos anos 1970, 1980 ou 1990. Claro é, que nesta década há
singularidades próprias de um tempo de desencanto, mas também muito
interesse no crescimento e na realização pessoal, vincular e social. Como
se vê, tudo é um desafio, além do mais, diário. A senhora está de acordo
com essa observação?
— A autêntica felicidade é outorgada àquele casal que não se deixa dominar
pela inércia e o tédio, mas que constrói com corpo e alma um áureo arco

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tenso de si mesmo. O homem e a mulher se encontram na síntese do
Universo. A essência da sabedoria é o Amor.
— Doutora Sophia, creio que o prazer é momentâneo e o êxtase infinito. E a
senhora, o que acha?
— Sob meu ponto de vista, o paradigma do prazer corresponde ao século
passado, e paradigma do êxtase corresponde às novas gerações do Terceiro
Milênio. Além disso, o homem sexualmente incompleto não pode ser
sacerdote nem mago, porque é pelo Fogo Divino que dever converter-se
em Luz que o leva ao Ser, que vive em seu próprio corpo.
— Sob outro ponto de vista, o grande arcano dos arcanos é expresso por
Sócrates, ao repetir as mais profundas palavras do conhecimento, que lhe
dissera sua sábia mestra Dótima: “Até aí, pudestes acaso obter a iniciação
dos Mistérios de Eros; não sei, porém, se conseguirás segui-los, se alguém
te expusera com clareza para onde irás conduzir esta iniciação, ou seja, o
ensinamento da contemplação, da consumação e da transmutação”.
— Cronos emocionado, agradecendo as respostas da doutora Sophia,
despediu-se, expressando estas palavras:
— O homem e a mulher isolados são impotentes e estéreis, mas, juntos, têm o
poder de salvação e de imortalização. O tempo é a matéria-prima para o
Amor.

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Tempo Ligth

Desta vez, Cronos optou por fazer uma vista à Universidade of Nothern,
Colorado, EUA, onde manteve um interessante diálogo com a professora e
doutora em Filosofia, Laila Hudson. Cronos iniciou o diálogo com este
argumento: Venho observando que nesta época não há tempo nem para
degustar os alimentos como bons gourmets. O nível de qualidade de vida se
transformou em algo superficial como as águas estancadas depois da chuva.
Está faltando a profundidade característica dos oceanos insondáveis, onde há
vida em abundância. Qual é o seu sentir sobre esta reflexão?
A professora-doutora Laila Huston respondeu:
— A história temporal da civilização mostra uma infinita inquietude de
perfeições, que grandes homens pressentiram, anunciaram ou
simbolizaram. À frente desses visionários, em cada momento da
peregrinação humana nota-se uma força que obstrui todos os caminhos: a
superficialidade, que é uma incapacidade de ideais. No início desse novo
milênio, há uma marcante falta de ideais pelos quais se poderia lutar.

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— Como pode o homem gerar uma energia pró-ativa, com a qual possa lutar
contra os efeitos do “verdugo do tempo” que destrói toda ilusão, obtendo
uma liberdade temporal para não deixar-se apanhar nas redes da
mediocridade e superficialidade que podem transformá-lo em um homem
ligth?
— Antes de tudo, dedicando mais tempo para pensar para que possa
compreender que a excessiva prudência dos superficiais ou ligth paralisa
para sempre as iniciativas mais fecundas dos homens profundos que
chamaríamos de livres pensadores.
— A senhora acredita que uma pessoa ligth possa perceber o valor que o
tempo possui?
— Não, porque seu tempo está dedicado às banalidades. Essse tipo de pessoa
tem uma conduta gregária; enquanto que para um livre pensador da
realidade — o presente — não mata seu idealismo de um futuro melhor,
mas, sim, o fortalece.
— Será que esse outro grupo de pessoas que não entram na classificação de
ligth, estão realmente preocupadas em valorizar o tempo?
— Todo individualismo no bom sentido, assim como a busca de qualidade de
vida como atitude, é uma rebelião contra os dogmas e os falsos valores
respeitados nas sociedades de valores vãos — que cada época histórica da
humanidade apresenta —, revela energias estancadas por obstáculos que
dão origem a esse outro grupo que se caracteriza por seu espírito gregário.
— É possível conquistar um tempo afetivo para que se possa compartilhar
com as pessoas, para que os relacionamentos emocionais não sejam
superficiais?
— Há homens ligth no limite médio de sua raça, de seu tempo e de sua
classe social, também os há de nível superior. Entre uns e outros, oscila
uma grande massa impossível de caracterizar por inferioridades e
excelências.
— É possível que o homem ligth valorize o tempo e a vida, não somente
pelos lucros econômicos, mas também pela saúde e o amor que
representam em suas vidas?
— A vida vale pelo uso que fazemos dela e pelas obras que realizamos.
— A rotina e o imediatismo podem ser agentes causadores de tanta
superficialidade?
— A rotina é um inimigo escondido que acompanha os tempos de ócio,
síntese de todas as renúncias, que dá origem ao mau hábito da renúnciar ao
ato de pensar.
— E o paradigma da conquista do êxito em tempo relâmpago?

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— Olhar de frente o êxito equivale a jogar-se num precipício: retrocede-se
à tempo ou se cai nele para sempre. Considero que a atitude mais
equilibrada é a de não correr freneticamente atrás do êxito, triunfar à
tempo e merecidamente é a mais favorável chuva para qualquer germe de
excelência de vida.
— O homem ligth, hipnotizado pelo ilusório, poderia dar um novo sentido ao
tempo, que é viver cada segundo como se fosse o último de sua existência?
— A medida social do homem está na duração de suas obras. Atrás do
homem superficial aparece o antepassado selvagem, que conspira em
seu interior acossado pelo apetite de atávicos instintos e sem outra
inspiração que a da depressão e do vazio existencial.
— As pessoas que integram a sociedade moderna, submersas em tantas
superficialidades, poderiam entender que a cada minuto de um dia, soma-
se um minuto a mais em suas vidas?
— A professora-doutora Hudson tomou em suas mãos um relógio de areia e
colocando-o diante dos olhos de Cronos disse:
— Tenha as mãos abertas e toda a energia do tempo passará por elas. Fecha
as mãos e somente vai obter alguns segundos de vida. Muitos nascem...
poucos vivem!

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Paradigmas do Tempo

Agora, Cronos escolheu para dialogar o diretor-presidente de uma empresas


aéreas mais importantes do Brasil. Pela vontade deste homem ilustre, Cronos
não mencionou seu nome.
Da cabine de um jet executivo, Cronos expressa:
— De forma tão rápida como voam seus aviões, diga o que o senhor considera
como os três paradigmas mais importantes que há sobre o tempo?
— O primeiro seria o do idiota que perde seu tempo.
— O segundo?
— O do inteligente que aproveita seu tempo.
— E o terceiro?
— O do sábio que captura o tempo.
— Cite dois paradigmas chaves em sua gestão empresarial.
— Meu paradigma é o importante acima do urgente. O de administrar minha
vida e não o tempo.
— Tenho conhecimento de suas contínuas viagens aos Estados Unidos, díga-
me: como vê os norte-americanos no que respeita ao tempo?

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— Saturados de bens de consumo, os norte-americanos cada vez mais
desejam “bens de sansações”: carros, reformas, aulas de golf — e o mega
luxo: tempo livre!
— Qual é a frase que mais o aborrece?
— Não tenho tempo!
— Qual é sua principal fonte de inspiração quando elabora seus planos
estratégicos?
— Ouvir a canção Um tempo que passou, composta por Sérgio Godinho e
Chico Buarque, em 1983. A parte que mais gosto diz assim: Vou correr
uma vez mais/Correr atrás/ De todo o meu tempo perdido/ Quem sabe, está
guardado/ Num relógio escondido por quem/Nem avalia o tempo que tem.
— Qual é seu maior tesouro?
— Meus funcionário, com seus oitenta e seis mil e quatrocentos segundos
que cada dia recebem como crédito em sua conta bancária temporal, mas
não têm consciência disso.
— Qual é maior desafio que enfrentam os brasileiros com relação ao tempo?
— É triste dizer que, em alguns anos, o Brasil chegou a ficar parado durante
cento e vinte e quatro dias — número total de feriados, sábados e
domingos —, quando as empresas tiveram de suspender suas atividades.
Isso equivale a um pouco mais de um terço de um ano. Em relação a esse
fato, pergunto-me: Que produtividade poderemos atingir na economia,
trabalhando tão pouco?
— Qual seria a solução para este problema?
— Seria útil que, em vez de esses estéreis vinte e três feriados oficiais, que
voltássemos a ter aqueles onze dias de feriados da época do governo
Castelo Branco, pois as pessoas ocupadas são mais felizes porque não
sofrem as turbulências da ociosidade.
— Posso concluir que o senhor é um homem de visão. Diga-me:, quais são os
futuros paradigmas que o senhor pode ver “das alturas”?
— Que as organizações viverão uma era de fragilidade temporal. E, que com
a Internet, tudo será mais rápido, mais produtivo e, ao mesmo tempo, mais
descartável. Portanto, devemos administrar melhor nossa vida para ajustar
o cinto de segurança e preparar-nos para a decolagem.
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Renunciando à Vida

Arthur Gold possuía o título de doutor e havia se dedicado principalmente à


filosofia científica e a tudo relacionado à “consciência-corpo”. A sede de suas
pesquisas estava em um dos laboratórios da Universidade de Princenten, em

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Nova Jersey, EUA. Este é o cenário de onde Cronos continuou sua
investigação.
Cronos iniciou o diálogo com o doutor Good, fazendo a seguinte pergunta:
— Por que será que os integrantes da sociedade moderna não sabem viver o
presente, e somente sobrevivem das cinzas do passado?
— O domínio do tempo não é uma atitude intermitente. Se não é aplicada nas
vinte e quatro horas do dia, é um engano. É como se fazer regime no
almoço e não no jantar.
— Será que, pelo fato de não poder viver este convulso presente,
pretendemos, como o avestruz, fugir de nossos problemas, escondendo
nossa cabeça na estéril terra do passado?
— O bom uso do tempo, como as demais coisas essenciais da vida, não se
ensina nas universidades. Nisso somos autodidatas.
— Pode ser que, ao nos refugiarmos em nossos dias passados, pretendemos
fugir de nosso efêmero futuro?
— É um resultado lógico o fato de que não se pode dominar o tempo se não
se sabe o que é que se quer da vida.
— Penso que o homem de tanto desejar viver no passado, pode terminar seus
dias como relata a lenda de Orfeu, que por causa de suas dúvidas e
impaciência olha para trás, fato que dá origem à perda definita de sua
amada Eurídice.
— Eu diria que dedicamos migalhas de nosso tempo a uma enormidade de
prazeres, em lugar de aproveitar realmente o que nos convém.
— O senhor acredita que vale à pena refletir e meditar sobre nosso passado,
para compreender melhor o tempo e a nós mesmos?
— A maioria das pessoas possui uma experiência submissa em seu passado:
rotinas, preconceitos, domesticidades. Poucos escolhidos variam,
avançando sobre o futuro. Ao contrário de Anteo, que tocando o solo,
cobrava novos alentos. É tomado cravando suas pupilas nas constelações
longínquas e aparentemente inacessíveis.
— Através de minhas investigações, observei que o ser humano é capaz de
renunciar a tudo, menos ao seu passado e à dor!
— Precisamos lembrar que a maioria de nossas crenças são generalizações
sobre nosso passado, baseadas nas “interpretações’ de experiências
prazerosas. Por isso, o desafio é triplo:
No primeiro desafio, pode-se observar que a maioria de nós não decide
conscientemente em que vamos crer.
No segundo, nossas crenças freqüentemente se baseiam na má
interpretação das experiências passadas.

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No terceiro, uma vez que adotamos uma crença, esquecemo-nos que se
trata somente de uma interpretação pretérita.
— Sempre digo que, para o otimista, o passado nunca equivale ao futuro. O
que o senhor pensa sobre isso?
— Eu diria que sua reflexão constitui um novo paradigma a ser pesquisado.
Além disso, de acordo com certas tradições milenares, a partir de
determinado ponto do caminho espiritual, a prática da eliminação
psicológica do passado pessoal é inevitável.
— Como podemos libertar-nos do paradigma de “viver no passado’?
— Observando, imitando e obedecendo à natureza. Temos, por exemplo, o
rio, que nunca corre para trás.
— Por que as pessoas podem experimentar tanto sofrimento e, contudo,
negar-se à mudar?
— Porque ainda não experimentou dor suficiente, e porque não chegou ainda
ao umbral emocional.
— Toda mudança exige uma nova e profunda educação?
— As velhas idéias devem ser descartadas para abrir espaço suficiente às
idéias inovadoras. Se alguma pessoa deseja criar mudanças consistentes e
perduráveis em seu comportamento, deve renunciar às crenças do passado,
que o mantém falsamente neste presente, e fazer estas perguntas: Estou
aberto para o novo? É flexível meu modo de pensar? Quais são os
paradigmas de meu passado com os quais está condicionada minha mente?
— Diga-me quais são os benefícios das chamadas “regressões”?
— Voltar ao passado para conhecer nossos erros, e para não cair mais neles.
Retornar ao passado para tomar consciência de nossas virtudes, e para
fortalecê-las neste presente, para projetar um futuro melhor. Viajar no
passado para compreender nossos traumas que condicionam nosso
presente, e libertar-nos deles. Mas, também, devemos cuidar dos perigosos
extremos: o do ancião que com sua mente vive petrificado no passado e do
o jovem que somente sonha com o futuro.
— Em cada regressão abre-se uma janela para o tempo, libera-se uma válvula
de escape, lava-se a alma e volta-se ao passado mais fortalecido.

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Tempo e Heurística

Neste momento, o lugar escolhido por Cronos é Moscou, onde reuniu-se com
psicólogo soviético, V. N. Puchikin, do Departamento de Materialismo
Dialético, da Academia de Ciências da URSS.

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Para “quebrar o gelo”, característico dessa região, Cronos comenta que
quando visitou o México, foi o trecho de uma canção interpretada por alguns
mariachis na Praça Garibaldi, na capital mexicana. Essa parte da letra da
canção dizia assim: Sábia virtude de conhecer o tempo. À tempo amar e
desatar-se à tempo. Como diz o refrão, dar tempo ao tempo, que de amor e dor
alivia o tempo.
Enquanto Cronos fazia esse comentários, Puchkin dividia seu olhar entre
Cronos e um tabuleiro de xadrez que estava sobre a mesa de seu escritório.
Cronos, captando a admiração que Puchkin nutria pelo xadrez, perguntou:
— O senhor tem alguma razão especial que o motive a admirar o xadrez?
— O xadrez alegoriza o jogo da vida. Nós somos simples fichas movidas por
forças ocultas desconhecidas do homem. Atualmente, quase não temos
tempo para pensar, razão pela qual cada jogada da vida é marcada pelo
erro.
— Os diferentes graus de percepção interna do tempo podem gerar situações
dolorosas?
— Soluções simples para necessidades complexas. O círculo vicioso de
tensão-dor-tensão traz como conseqüência o esgotamento nervoso. Por
influência deste esgotamento, muita gente não vai além do dia de hoje...
Por outro lado, há o fato de que o domínio do tempo permite passar de um
estado de tensão penosa a uma de serenidade e, por sua vez, de maior
eficiência.
— Resulta em algum benefício o deixar as coisas para amanhã, confiando no
êxito alcançado no passado?
— O fato de que as coisas tenham caminhado bem no passado pode ser uma
atração fatal. Repete-se o comportamento do passado porque se sente
satisfação com o que se está fazendo, e não se percebe ameaça alguma até
que possivelmente seja muito tarde. Por isso, uma causa profunda da
resistência à mudança é que o ser humano pode não sentir a necessidade do
mesmo. Em outras palavras, não percebe ameaça alguma em relação ao
futuro, que o obrigue a mudar o que aparentemente tem funcionado bem no
passado.
— O que gera um problema não solucionado?
— Dor, tormento e aniquilamento. O estado emocional que gera um
problema tão grave quanto o de ter sido despedido, está caracterizado por
uma terrível sensação de apreensão em relação ao futuro. Este momento é
uma dos mais delicados da vida de uma pessoa, porque terá que controlar-
se para não entrar em pânico.
— Mas, no caso de se ter uma boa atitude diante da crise, este período dará
origem a uma descoberta interior, que redundará num crescimento que

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permitirá descobrir forças ocultas que estão à espera de entrar em ação,
graças aos estímulos que dá o exercício psicológico da vida.
— É possível ser feliz sem solucionar os problemas?
— Todos têm problemas. Não há ninguém que não tenha problemas. Todos
temos problemas pessoais e profissionais, práticos e teóricos. Da solução
deles depende nossa sobrevivência e felicidade. Por isso é tão importante
solucioná-los à medida que vão aparecendo.
— Qual é o método que o senhor recomenda?
— Eu recomendo a programação da mente, com a finalidade de utilizar
conscientemente as riquíssimas informações contidas no subconsciente,
através do que chamo de intuição heurística. Esse método parte do
pressuposto de que em nosso subconsciente uma capacidade maravilhosa
que tem o poder de fazer verdadeiros milagres. Daí nasce a premissa de
que o ser humano vive distante de seus limites. A intuição heurísitica é a
musa da criatividade, do conhecimento e a da solução de problemas.
— Em poucas palavras, poderia definir-me o que é intuição heurísitica?
— É uma forma de conhecimento direto, no qual a solução de um problema
prático ou imaginário é encontrada de um modo imediato, repentino, não
consciente e sem dados suficientes. A intuição heurística é a capacidade de
penetrar no núcleo das coisas, para captar a quintesseência e descobrir as
leis e os princípios pelos quais eles reagem. A intuição somente entra em
ação quando há um problema que não encontra solução satisfatória pelos
conhecimentos empíricos e lógicos.
— Quais seriam as regras fundamentais para se fazer uma auto-sugestão
necessária para a manifestação da intuição heurísitica?
— Primeiro, ter um problema não solucionado pelos meios comuns.
Segundo, estar com um desejo ardente e imperioso de solucionar o
problema, de descobrir a verdade, de conhecer a causa e o motivo dos
momentos críticos. Terceiro, colocar correta e concretamente o problema a
ser resolvido.
— Todos os problemas têm solução?
— Na maioria dos casos a solução é positiva. Mas, temos que dar muita
importância à dedicação de um tempo adequado para encontrar um método
eficiente para solucionar esses problemas que, no fundo, são meros
desafios à nossas capacidades intelectuais e emocionais.
— Por outro lado, há o fato de que o acúmulo de erros gera mais problemas.
O excesso de problemas resulta numa crise. E a aglomeração de crises tem
como conseqüência um estado de caos não desejado. Portanto, ou
solucionamos nossos problemas sem deixá-los para amanhã, ou
sucumbimos nesse caos.

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Depois de escutar essas palavras, Cronos dirige-se ao tabuleiro de xadrez que
está sobre a mesa de Puchkin, move um peça e exclama:
— Xeque...!
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Tempo para a Solidariedade

O cenário escolhido por Cronos para continuar sua pesquisa foi o Fórum
Mundial, na cidade de Porto Alegre, Brasil. A pessoa escolhida foi o
sociólogo francês, Gerarde de Lamartine.
Cronos iniciou o diálogo da seguinte maneira:
— Longe de doar seu tempo para o bem-estar comum, o que considero ser o
princípio da felicidade, tanto neste mundo como no outro, os homens não
buscam mais que prejudicar-se mutuamente e expiam esse desregramento
através de terríveis padecimentos.
Agora, pense na seguinte questão: O que há na cabeça de um grupo de
pessoas que decide dedicar seu tempo — vida — para abrir e fortalecer
uma entidade beneficente? Entidade que não visa lucro, mas sim o
progresso e felicidade do próximo e de sua comunidade. Será loucura? O
amor elevado ao extremo?
Diante desta difícil pergunta, o sociólogo respondeu:
— A sociedade humana é a extensão do indivíduo. Se queremos realmente
uma mudança radical, um mundo melhor e sem fome, precisamos mudar
individualmente. Recordemos que a massa é uma soma de indivíduos. Se
cada indivíduo muda, a massa inevitavelmente mudará.
— Há dor, fome e confusão em todo o orbe terrestre, mas nada disto pode-se
eliminar mediante os procedimentos absurdos da violência. Aqueles que
querem dedicar seu tempo transformando o mundo com revoluções de
sangue, com golpes de estado e fuzilamentos, estão totalmente enganados,
porque a violência somente engendrará novos tempos de ódio, e o que a
sociedade precisa é de tempos de paz.
— Sinto que o primeiro passo a ser dado seria a dedicação maior de nosso
tempo na compreensão do egoísmo. Somente assim podemos construir um
futuro diferente. É necessário também investir parte de nossa vida na busca
da compreensão da cobiça e da crueldade, que cada um de nós carrega
dentro de si.
— Em tom sereno, Cronos interpelou:
— Mas, parece-me que os “círculos do poder” da sociedade têm manipulado o
homem, em meio a todas suas armadilhas mortais.

30
— Diante da dialética de Cronos, Lamartine conceituou:
— Se a sociedade facilitasse mais o tempo para o homem, então esta
trabalharia pela liberdade e felicidade de cada indivíduo. Onde há tempo
para a cooperação há progresso; onde se exclui, surge o fracasso.
— Toda organização humana deve administrar seus períodos de tempo para
cooperar de uma e outra forma pelo bem comum. Nós somos uma só
família e não devemos atormentar a vida miseravelmente, porque isso é um
absurdo.
— Sinto que servir é um compromisso interno que surge do grau de
iluminação que cada pessoa possui. O ciclo natural na senda social é uma
alternância entre o alimento interior dado pelo tempo para a meditação, o
estudo e a ação dirigida para fora, através dos préstimos.
Sai Baba, um grande místico indiano hindu dizia: “As mãos que ajudam
fazem mais que as mãos que oram”.
— Shantideva, outro livre pensador hindu disse: ‘O que quer salvar
rapidamente o outro e a si mesmo, deve praticar o grande segredo: a
inversão do eu do outros...! Se dou, o que terei para comer? — Esse
egoísmo fará de ti um ogro. — De que maneira poderei dar? — Essa
generosidade fará de ti o rei dos deuses.
Com uma atitude meditativa, Cronos assim externou seus pensamentos:
— Tenho observado que há uma comum insatisfação com o modelo
econômico que se tem hoje. E já que sua nomenclatura seria inspiração
para debates intermináveis — neoliberalismo, globalização, economia de
mercado —, pergunto-me: Será que vale à pena investir tempo em ações e
fóruns sociais para tornar real um mundo melhor?
— Por um momento, os olhos de Lamartine se abriram como as nuvens
diante da presença do sol..., respirou fundo e expressou:
— Freqüentemente, agimos como se fosse ilícito dispor de tempo para servir
ao próximo antes de satisfazer nossas próprias necessidades, o que
significa nunca. Estamos tão condicionados à essa idéia, que todos os
momentos que são de ação desinteressada, classificamos
instintivamente como desocupação... Assim, a desconfiança manifestada
para a ação humanitária, o tempo para amar aos outros, a meditação
coletiva e nossos conhecimentos são considerados inúteis.
Abraham Maslow, em seu célebre estudo sobre as pessoas auto-realizadas,
verificou que todas aquelas pesicologicamente saudáveis e sem bloqueios para
a criatividade, dedicavam parte de seu tempo a causas que beneficiavam
outras pessoas. Comprometer-se e preocupar-se com causas nobres parece ser
uma característica natural das pessoas completamente maduras.

31
Depois de ouvir essas palavras, Cronos questionou novamente a Lamartine,
dizendo:
— Fazer nossa parte custa pouco e é mais fácil se o senhor ajuda a outros na
medida de suas possibilidades. Mas, isto pode trazer benefícios para a vida
profissional?
Após alguns segundos de reflexão, Gerarde de Lamartine respondeu:
— Atualmente, há um grupo de pessoas que está confiante no fato de que
chegou a hora de retribuir um pouco de tudo o que receberam e
conquistaram até agora em suas vidas profissionais e pessoais.
Por outro lado, um dos principais paradigmas do mundo empresarial está
mudando: o mercado começa a valorizar também a capacidade do
profissional para integrar-se ao coletivo, de compartilhar tempo, dinheiro
e conhecimento com que está ao seu redor. Está se gestando um novo
paradigma mundial: o do equilíbrio entre conceder e conquistar.
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Tempo para o Espírito

Cronos decidiu assistir a uma reunião de monges representantes de diferentes


filosofias e regiões do mundo que participavam de um encontro ecumênico,
que tinha como cenário as harmônicas instalações de um monastério zen,
localizado em meio a uma maravilhosa paisagem nos arredores do Monte Fuji,
no Japão.
Num momento estratégico, Cronos aproveitou para expressar:
— Tenho observado que o homem moderno é obrigado a gastar tempo para
comer e dormir, já que estas são necessidades físicas. Mas, o que dizer das
necessidades espirituais? Sabemos que elas requerem ser satisfeitas.
Gostaria de conhecer vossas observações e de perguntar-vos: por que o
homem se transformou em um escravo do tempo?
Um monge taoísta, respeitosamente solicitou permissão para falar,
expressando:
— A sabedoria da Segunda Jóia do Dragão Amarelo nos diz que somos
escravos do tempo pela própria mente, que é, em si mesma, um cárcere
muito doloroso; ningúem tem sido feliz em razão dela. A mente faz
desditosa toda criatura. Os momentos mais felizes que temos tido na vida
tem sido sempre na ausência da mente... Tem sido um instante, sim, mas
que não poderemos nos esquecer nunca. Em tal segundo temos experimen
tado o que é a felicidade infinita. É necessário aprender a dominar a
mente, não a alheia, mas a própria. Há que dominá-la se queremos

32
independência dela.
Temos que nos tornar independentes da mente porque ela é um cárcere
“temporal”, onde todos estamos prisioneiros. A sabedoria do Dragão
Amarelo enfatiza que é o passado condiciona nossa vida presente. Temos
que viver de instante em instante.... A vida é um eterno agora e um eterno
presente.
Depois de um profundo e místico silêncio, um monge franciscano pediu a
palavra dizendo:
— Em nossa Bíblia Sagrada, Efésios, 5:16, o Senhor nos diz: “Comprai para
vós o tempo oportuno, porque os dias são inócuos”.
Também escreveu o Sábio Rei Salomão: Todos têm seu tempo
determinado, e há tempo para todo o propósito abaixo do céu”.
Há muita gente preocupada em adicionar mais anos em sua vida, mas o
essencial seria preocupar-se em adicionar mais vida em seus anos, através
da prática diária dos exercícios espirituais.
O homem pode libertar-se das preocupações se pratica cada ação ao longo
da vida como se fosse a última, evitando perda de tempo e o
inconformismo diante do que lhe foi destinado, porque o potencial de
cada momento é infinito.
Estas palavras serviram de inspiração para que os monges presentes se
pusessem cada vez mais em atitude meditativa.
Diante desse silêncio meditativo, Cronos perguntou:
— E o que me podem dizer à respeito das aspirações humanas de conquistar a
‘imortalidade”?
— E, em meio à egrégora do ambiente do monastério em que se irradiava
muita paz, um monge budista, pronunciou estas palavras:
— O segredo da vida espiritual está na forma como se administra a vida,
através de uma reta conduta, porque o melhor critério da verdade é a
prática. É de vital importância para nosso crescimento espiritual destinar
uma grande parte do nosso tempo para a meditação, estudo dos livros
sagrados e auto-observação; fazendo o melhor que podemos de nossa
existência.
À respeito, Krishna amplia: Que o motivo de tuas ações e de teus
pensamentos seja sempre o cumprimento do dever. Faça tua tarefa sem
buscar recompensa, sem preocupações com teu êxito ou fracasso, com tua
ganância ou prejuízo pessoal. Mas não caias na ociosidade ou na inércia
— perda de tempo —, como muitos que se perdem na ilusão de obter
recompensa por suas ações.
Somente conseguiremos ser realmente espirituais diante dos problemas
que se nos apresentem no curso da vida, quando esquecermos os

33
paradigmas e os condicionamentos materialistas, e passarmos a viver o
aqui e o agora.
Em relação à conquista da imortalidade direi que os sentidos nos dão as
sensações de calor e frio, de prazer e de dor. Essas mudanças vão e vêm
porque pertencem ao que é temporário, impermanente e inconstante. O
Bhagavad-Gita ensina: “O homem que não se deixa mais atormentar por
estas coisas, mas se conserva firme e inalterável em meio ao prazer e à
dor, esse possui a verdadeira estabilidade interna e entrou no caminho que
leva à imortalidade!.
O ambiente meditativo, que havia se transformado em paz, recebeu um toque
de harmonia dado pelas enigmáticas palavras de um monge zen.
No budismo zen, hishiryo é o pensamento que passa pelo ponto zero do
tempo, o pensamento que as razões e as considerações pessoais não alcançam.
É a consciência universal que segue a ordem do universo e o movimento da
natureza.
Conforme nosso ponto de vista individual, distingue-se o tempo, a vida e a
morte. Mas, do ponto de vista da vida cósmica, tempo, espaço, vida e morte
não estão separados. O zen existe à margem do dualismo criado pela nossa
mente fechada no espaço-tempo. Temos que voltar à unidade de todas as
coisas.
Neste mal, chamado mundo moderno, a sociedade e a educação têm
programado nossos comportamentos, nossa visão do tempo e nosso modo de
vida. A compreensão da ilusão do tempo e sua relatividade apaga a
dualidade e reequilibra nosso corpo e nosso cérebro, faz-nos voltar às
condições normais. O corpo se torna naturalmente forte (porque não depende
do tempo), a respiração profunda (porque não há ansiedades) e o espírito
amplo e aberto ( porque alcançou um estado atemporal).
A última viagem de Cronos foi à Grécia. E caminhando por entre as ruínas do
que foi a antiga Atenas, foi desaparecendo, poenetrando no túnel do tempo,
para retornar ao Olimpo e reencontrar-se com Zeus.
Depois de apresentar e comentar seu relatório final, Cronos entrega bas mãos
de Zeus uma folha amarelada, extraída do Almanaque Anual Poor Richard´s
Almanac, editado nos EUA entre 1732 e 1757.
O conteúdo da velha folha era este:
The Way to the Wealth (O Caminho da Fortuna)
Gastamos em dormir mais do que o necessário, esquecendo que raposa que
dorme não caça galinhas. Além do mais, já dormiremos bastante na
tumba, como também diz o pobre Ricardo, que também nos ensina que se o
tempo é a coisa mais preciosa, desperdiçá-lo é o maior prejuízo, pois,
conforme nos diz em outra parte, de quantas coisas são perdidas, a única

34
que jamais se torna a encontrar é o tempo. E quando falamos de tempo
suficiente nos esquecemos que sempre é escasso, dada a pouca extensão da
vida.
Por isso, devemos levantar a cada dia usando da maior diligência para que
nossos trabalhos seja mais frutífero e mais fácil, tendo em vista que a
preguiça torna todas as coisas mais difíceis e o labor mais fáceis como
diz o pobre Ricardo quem tarde se levanta trota todo o dia, e nem assim
consegue acabar suas tarefas até à noite, porque a preguiça caminha tão
devagar que a pobreza rapidamente a alcança.

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MANUAL CRONOS
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Este manual contém um conjunto de exercícios, que em sí mesmos são
reflexões sobre a forma que estamos empregando para administrar a vida.
Há muitos anos atrás, quando realizava alguns seminários na área da docência,
encontrei uma magnífica definição para o termo educação: educar significa
extrair o conhecimento que está dentro das pessoas.
Portanto, inspirados nessa definição, este Manual Cronos tem como objetivo
principal extrair todo o tesouro de conhecimentos que possuem nossos
distintos leitores.
Vamos, pois, à ação imediata!
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Para você, o que significa tempo?

Faça um desenho que defina sua concepção de tempo.

_________________________

Você se considera um bom administrador do tempo?

Das 168 horas da semana (7 dias de 24 horas), quanto tempo você dedica a
cada uma das seguintes atividades?

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 Sono ( 7 x .......................h)
 Alimentação .......................
 Trabalho..............................
 Estudo.................................
 Lazer pessoal......................
 Lazer coletivo (amigos/família)....................

Outros (mencionar).......................................
________________________

TEMPO E LUCRO

As metáforas do tempo

Qual das seguintes imagens se aproxima mais de sua concepção de tempo?

 Um oceano silencioso e calmo;


 Um cavaleiro a galope;
 Outras.
______________________________

A descrição do tempo

Qual das seguintes palavras melhor descreve sua idéia de tempo?

 Afilado;
 Ativo;
 Vazio;
 Consolador;
 Tenso;
 Triste;
 Claro;
 Jovem;
 Frio;
 Profundo;
 Rápido;

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 Alegre;
 Outras.
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AGONIA EM RELAÇÃO AO RITMO DIGITAL

Escreva suas interpretações sobre o relógio de corda e o digital.

Quanto vale seu tempo?

Em quanto avalia sua hora de trabalho?

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Os esbanjadores do tempo

Tente reconhecer e identificar com um “x” seus inimigos pessoais na lista


abaixo. Mas, lembre-se que todos esses fatores são superficiais, pois
representam os sintomas e não as causas.

Baixo Moderado Alto


 Material extraviado
 Visitantes inesperados
 Interrupções inesperadas

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 Deslocamentos
 Cartas extensas
 Aguardo de pessoas
 Fracasso no delegar
 Pessoal medíocre
 Assuntos sem importância
 Reuniões de alto nível sobre
problemas menores
 Falta de preparo para as reuniões
 Atraso de correspondências
 Metas contraditórias
 Políticas de procedimentos obsoletos
 Correspondência proeminente desnecessária
 Falta de controle com as chamadas telefônicas
 Estrutura organizacional pobre
 Excessos de intervalos para tomar café
 Morosidade
 Elaboração de informes que não são lidos
 Falta de planejamento para reuniões com os subalternos
 Continuidade do cargo exercido anteriormente
 Desorganização
 Descrição pouco clara do cargo
 Falta de informação antecedente sobre rendimento
 Falta de disciplina ao falar por telefone
 Fatores ambientais (trânsito e outros)

A Pobreza de Horas

A vida breve, com tempos pouco numerosos, foi substituída pela vida longa
com tempos múltiplos e variegados.
Responda às seguintes perguntas:

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 Quem sou eu?

 Quais são minhas principais crenças?

 Quais são meus principais valores?

 Quais são minhas principais aspirações?

 Quais são meus horários mais improdutivos?

 Quais são meus horários mais produtivos?

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PERSPECTIVAS DO TEMPO À CURTO PRAZO

O enfoque neurótico do tempo moderno leva à tomada de medidas


rápidas à custa de medidas de fundo.
Anote seu problema, o tipo de medida tomada e o tempo empregado.

Problema Medida Rápida Tempo Medida de Fundo Tempo

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TEMPO E QUALIDADE DE VIDA

Como anda sua qualidade de vida? O gasto de tempo agora é uma inversão
no futuro ― e às vezes é um investimento arriscado, pois se supõe qu o
amanhã chegará e que a ação de hoje terá sua influência.

 Como está atualmente seu nível de satisfação com sua qualidade de vida?

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 O que você tem feito para melhorar sua qualidade de vida?

 Sua empresa demonstra preocupação com a qualidade de vida de seus


funcionários?

 Quais as medidas que você pensa em adotar para melhorar sua


qualidade de vida?

COMO ESTÁ SUA COMUNICAÇÃO? POR TELEFONE..... É LÓGICO!

Nos escritórios, uma média de trinta por cento do tempo de uma pessoa é
gasto em comunicações telefônicas; isto é, mais de duas horas por dia.
Uma eficiente utilização da comunicação telefônica equivale à economia em
tarifas, possibilidades de atender mais pessoas e clientes e a utilização do
tempo em outras tarefas não menos importantes (reuniões, visitas externas,
etc.).
A seguir, vamos refletir se estamos aplicando bem algumas das
recomendações abaixo relacionadas, que possibilitam o aumento em até
cinqüenta por cento da eficiência das comunicações telefônicas.

 Fala somente o necessário? Lembre-se que uma chamada está tomando


tempo do emissor e receptor de uma comunicação telefônica.

 É objetivo e direto, focando sempre com clareza os objetivos do diálogo e


evitando ser repetitivo? Tenha presente a importância de ser cordial e de
saber ouvir.

 Sempre tem à mão os dados necessários (números e nomes) para os


telefonemas? Se não os têm no momento da chamada, repita a comunicação
depois de consegui-los.

 Programa um o mais período do dia para efetuar as chamadas telefônicas,


evitando, assim, fazê-las de maneira aleatória?

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UM CONSELHO QUE VALE US$ 100.000

Se você tomou a decisão de integrar-se a algum tipo de ação comunitária,


recomendamos que faça um inventário de suas atividades e das possíveis
formas de serviço.

 Lembre-se de um determinado dia em que foi convidado a fazer algo por


outra pessoa. Qual foi sua atitude em resposta?

 Anote alguns atos altruístas praticados por você no mês passado para ajudar
outras pessoas.

 Pergunte-se que tipo de trabalho social gostaria de realizar agora, deixando


de lado o aspecto financeiro.

 Pense e anote as habilidades necessárias que você deverá ter para que possa
desenvolvê-lo a contento.

 Anote o nome das instituições, organismos e outros grupos aos quais você
estaria interessado em servir.

 Faça uma previsão do tempo que você gostaria de disponibilizar para ser o
instrumento que levará felicidade à pessoas mais necessitadas.

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MIGALHAS DE ETERNIDADE

A duração subjetiva do tempo não é a mesma em todas as etapas da vida.


Seguimos o ritmo de três tempos. Vamos analisá-los;

 O tempo natural ou cósmico. Meus relógios biológicos estão andando


em harmonia com a Natureza e Cosmos?

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 O tempo social. Como está o andamento de meus relacionamentos
pessoas?

 Tempo vivido...Qual foi o momento mais longo e o mais curto de minha


vida? Por quê?

 Depois de haver respondido às perguntas anteriores, recomendamos lançar


um olhar retrospectivo para tentar recordar como atuavam nossos pais em
relação aos encontros marcados, prazos e projetos. Essa retrospectiva nos
permitirá compreender o que conservamos de toda essa herança, e contra o
que reagimos tendo modificado nossos comportamentos em relação a eles.

 Finalizada a retrospectiva, a seguir, vamos escolher uma das seguintes


opções que representam as bases para administrar o tempo, e por conseguinte
nossa própria vida.

Reutilizar.................(Como?)
TEMPO Reduzir................... (Como?)
Reciclar....................(Como?)

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O SEGREDO DO IMPERADOR MARCO AURÉLIO

O imperador Marco Aurélio escreveu em suas Meditações: “Muitas vezes


perdemos grandes oportunidades na vida por falta de atenção e maturidade
interior. Pensa firmemente a cada instante ― ressaltou Marco Aurélio
― em fazer o que estiver em suas mãos com uma seriedade total,
com sentimento, independência e justiça; e procura libertar-se de
todas as outras preocupações.
Poderá libertar-se delas se praticar cada ação ao longo da vida como se fosse a
última, evitando:
― A negligência;
― A irracionalidade;
― A hipocrisia;
― O egoísmo;
― O inconformismo em relação ao que lhe foi destinado.
Se contrariar sua própria natureza, não terá mais oportunidade de honrar a
si mesmo, conclui o imperador.

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Você está disposto a praticar cada ação como se fosse a última de sua
vida?
___________________

JANELA AO TEMPO

A falta de tempo tem sua origem na forma de como usamos o


próprio tempo. Como usa seu tempo?

 Primeiramente faço o agradável antes do desagradável? Por quê?

 Faço o que se faz rapidamente antes do que se faz lentamente? Por quê?

 Realizo o que é fácil antes do que é difícil? Por quê?

 Efetuo o que já é conhecido antes do que é inédito? Por quê?

 Realizo o que é urgente antes do que é importante ? Por quê?

 Concretizo o que me impõem antes do que escolhe? Por quê?


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TEMPO DE MUDANÇAS

Uma importante causa da resistência à mudança é de que o ser humano pode


não sentir necessidade dela. Mas os fatos demonstram que para mudar há
necessidade do tempo. Observemos:

 Você está disposto a investir algum tempo para poder planificar e controlar
seu tempo?

 Quanto tempo está disposto a investir em si mesmo?

 Estou aberto ao novo?

 É flexível o meu modo de pensar?

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 Quais são os paradigmas do meu passado que condicionam negativamente
meu presente?

____________________

A ENFERMIDADE DO AMANHÃ

Para a maioria das pessoas, com muita freqüência, o sobrepor-se à


enfermidade do amanhã, conhecida como procrastinação, constitui
o mais árduo trabalho, quando se trata de administrar o tempo.
A seguir, vê-se suas causas e possíveis tratamentos.
 As causas de minha procrastinação:

 Poderia fracassar;

 Minha própria imagem poderia ser denegrida;

 Não é o momento adequado;

 Primeiro meu prêmio, a seguir...

 Qual destas causas está adoecendo seu presente?

 Qual destas causas poderia adoecer seu futuro?

_______________________

A ENFERMIDADE DO AMANHÃ
(tratamentos)

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Desafortunadamente, nenhuma poção mágica pode curar a enfermidade do
amanhã nem tampouco há vacina moderna que possa preveni-la. A
enfermidade é universal, mas não é necessariamente mortal.

Tratamentos para minha procrastinação

 Fixação de prazos para iniciar. Escreva-os.

 A criação do impulso. Qual?

 Recompensas de meu progresso. Quais?

 A inclusão de outros na recompensa. Quem?

 Antecipação dos fatos. Quais?

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JOGO DE CINTURA

Todo problema tem seu tempo de duração. No final, tudo passa. Até a própria
vida passa. Como não podemos destruir esse mal chamado “verdugo do
tempo”, passamos a recomendar algumas chaves heurísitcas para realizar
nosso “jogo de cintura” na resolução de nossos problemas que se apresentam
a nós de tempo em tempo.

 Pergunte ao subconsciente como pode alcançar seu objetivo ou o que deve


fazer para resolver o problema.

 Faça uma auto-sugestão, colocando o problema em um estado de


relaxamento (em silêncio, à noite e de manhã, ao levantar-se), quando a
consciência está em transição.

 Ao efetuar a auto-sugestão, empregue de preferência a fórmula positiva


ou contraponha um substituto positivo para o problema negativo, do qual
quer livrar-se. Evite a palavra não.

 Imagine o objetivo desejado como uma realidade viva, concreta, ou


imagine várias soluções para os problemas que o preocupam.

45
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Velho, meu querido velho....

Ao final das contas, a eficaz administração do tempo requer que se


faça um trato muito íntimo consigo mesmo. Como Pogo, o
personagem imortal de Walt Kelly disse: Temos encontrado o
inimigo, e esse é nós!
O tempo jamais deve perder seu significado. À medida que nos
tornamos velhos, nosso último desafio é revestir o tempo de
importância, mediante um ato de fé repetido e continuado, em
direção ao futuro; concebendo possibilidades e destinando nosso
recurso mais precioso para sua atualização. Assim, ao final, mais do
que dinheiro, é a substância da vida...

Hoje...de...de...2..., comprometo-me a administrar minha Vida!

Assinatura e nome

É melhor começar já!

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Mahakala. Ou o “Grande Destruidor”, que é o Tempo, tal como o Cronos (o


Tempo, na mitologia grega), que devora seus filhos: o Tempo tanto gera como
destrói todas as suas criações. Representação em terracota, so séc. XVIII. Em
sua cabeça, vê-se uma faca: na mão, a taça de crânio, cheia de sangue, uma
das muitas características comuns às divindades ditas “terríveis” (ou
“irritadas”).
HEMUS
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Obras escritas por Fernando Salazar Bañol

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 A fulgurante luz do Super-homem (espanhol)
 A Ciência Prodigiosa dos Faraós (espanhol)
 Musicoterapia da Nova Era (português)
 Biomúsica: Os sons da saúde (espanhol)
 O Rosto Oculto do Rock (espanhol e alemão)
 Além da Mente (espanhol e português)
 Metamúsica (espanhol)
 No Coração do Mestre (espanhol e português)
 Nahualismo Empresarial: O Caminho dos Vencedores (português)
 Administrando a Vida (espanhol)

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