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Silva, C.A Ribeiro, A.C.T Campos, A. Cartografia Da Acao e Movimentos Da Sociedade PDF
Silva, C.A Ribeiro, A.C.T Campos, A. Cartografia Da Acao e Movimentos Da Sociedade PDF
e movimentos da sociedade
C316
Cartografia da ação e movimentos da sociedade: desafios das experiências
urbanas / Catia Antonia da Silva (org.), Ana Clara Torres Ribeiro (org.), Andrelino
Campos (org.); Alberto Toledo Resende… [et al.]. – Rio de Janeiro: Lamparina:
Faperj: Capes, 2011. 2.000 exemplares.
200 p.; il.; 12,6 × 20,7cm
Trabalhos apresentados no III Seminário Nacional Metrópole: Governo, So-
ciedade e Território, e, no II Colóquio Internacional Metrópoles em Perspectivas.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-98271-89-7
1, Sociologia urbana. 2, Regiões metropolitanas – aspectos sociais. 3, Regiões
metropolitanas – aspectos econômicos. 4, Renovação urbana. 5, Planejamento
urbano. I; Silva, Catia Antonia da. II; Ribeiro, Ana Clara Torrres. III; Campos,
Adrelino, 1949–.
11-4442. CDD: 307.76
CDU: 316.334.56
Lamparina editora
Rua Joaquim Silva 98 2º andar sala 201 Lapa
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Tel./fax: (21) 2252 0247 (21) 2232 1768
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Fábio Tozi é doutorando do Programa de Pós-Graduação em geo- Maria Tereza Goudard Tavares possui graduação em pedagogia,
grafia da USP, é doutorando em geografia humana (FFLCH/USP) pós-graduação lato sensu em Metodologia do Ensino Superior,
com estágio (PDEE/CAPES) na École des Hautes Études en Scien- mestrado em educação pela UFF e doutorado em Educação
ces Sociales (EHESS) de Paris. Possui graduação e mestrado em pela UFRJ. É professora e diretora (2008–2011) do Programa
geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). de Pós-Graduação em educação da FFP/Uerj. Pesquisadora do
prociencia/UERJ nos períodos 1999–2002, 2005–2008 e 2008–
Felippe Andrade Rainha é graduado em geografia (FFP/Uerj) 2010, e líder do Grupo de Pesquisa Vozes da Educação. E-mail:
e pesquisador Técnico da Fundação de Amparo à Pesquisa do <mtgtavares@yahoo.com.br>.
Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
Renato Emerson dos Santos é graduado em geografia, com mes-
Ivy Schipper possui licenciatura em geografia e mestrado em Pla- trado em Planejamento Urbano e Regional, ambos pela UFRJ, e
nejamento Urbano e Regional, ambos pela UFRJ. Atualmente é da doutorado em geografia pela UFF. Atualmente é professor adjunto
UFRJ e participa do Laboratório da Conjuntura Social (LASTRO). da Uerj, e ocupa a posição de chefe do DGEO/FFP, no campus de
São Gonçalo (RJ).
Joana Bahia é graduada em ciências sociais com mestrado em
sociologia e antropologia social, ambos pela UFRJ. É também pro-
fessora adjunta da FFP/Uerj e pesquisadora associada ao Núcleo
Interdisciplinar de Estudos Migratórios Niem/Ippur/UFRJ, dou-
tora em antropologia social PPGAS / Museu Nacional e investiga-
dora visitante da Universidade de Lisboa.
Os pequenos e a cidade:
o município de São Gonçalo como um livro de espaços 81
Maria Tereza Goundard Tavares
11
16 Apresentação
Uma introdução:
a cidade, a metrópole e as disciplinas científicas
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Tal esperança, no entanto, não se realizou, o que traz um desa- A riqueza na diversidade: um sobrevoo por 2 dias de reflexão
fio evidente às ciências como um todo e às ciências humanas em
especial. Não obstante viver um período científico, tecnológico e Em 2 dias de apresentações e debates, o grupo de trabalho “Car-
informacional, a humanidade sofre com desigualdades extremas, tografias rebeldes e a (re)invenção do território” revelou, com
pobreza crescente e uma desvalorização da comunicação em base em diversas leituras, os caminhos entrecruzados da geo-
benefício da repetição. grafia e da sociologia, sem, no entanto, resumir-se a elas. Distin-
É no diálogo entre as diversas pesquisas e áreas, filiadas tos recortes temáticos e posicionamentos teórico-metodológicos
a diferentes leituras da cidade, da metrópole e do urbano, que possibilitaram um debate científico de alta qualidade, do qual as
reside um dos caminhos possíveis que nos ajudam a compreender ideias e os relatos aqui contidos são uma amostra.
a complexidade do presente, combatendo as leituras simplistas O trabalho apresentado por Anita Rink analisa o grafite na
acerca do território e da sociedade. Lefebvre (1969), numa aula de cidade do Rio de Janeiro, buscando entendê-lo para além do
método, ensina que a cidade filosoficamente pensada é uma totali- seu possível enquadramento ou não como arte, para examinar a
dade não apenas abstrata, mas também concreta, cuja compreen- cidade como uso e como meio de expressão cultural. Assim, arte
são exige que todos os instrumentos metodológicos devam ser uti- e uso tornam-se, nesse caso, sinônimos, pois o ato de criar é indis-
lizados conjuntamente; discernidos, mas não dissociados: forma, sociável a ambos: criar é dar forma a algo novo, respondendo,
função, estrutura, instituições, linguagens, significados. Esse espí- subjetivamente, por instituir novas conexões que se estabelecem
rito esteve presente durante todo o seminário, e, particularmente, para a mente humana, novas relações e nova compreensão, como
no Grupo de Trabalho (GT) “Cartografias rebeldes e a (re)inven- sugere Ostrower (1987, p. 9), bem como, objetivamente, ofere-
ção do território”. A cidade, a metrópole e o urbano, mais do que cendo novas coerências aos objetos e às normas.
temas ou objetos de estudo de tal ou qual ciência, são condições da Essa compreensão promovida pelo “ato criador”, que rela-
vida social, sendo, por isso, um objeto interdisciplinar de estudo. ciona, ordena, configura e significa (ib.), é uma dimensão não
As situações abordadas no grupo de trabalho trataram de apenas individual, mas geográfica, posto que se dá com o indi-
cidades e municípios em áreas metropolitanas, ou seja, em gran- víduo em sua condição espacial da existência: o lugar. Demais,
des aglomerações populacionais, informacionais, materiais. San- as consequências do ato criativo não se resumem ao indivíduo
tos já alertava que como agente social isolado, influenciando o sistema de relações
60 O retorno ao território como condição de democratização… O retorno ao território como condição de democratização… 61
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Entendo que, na multiplicidade de usos que as camadas popu- A cidade é um sistema aberto e complexo, cheio de instabilidade
lares materializam nos territórios da cidade, vai sendo gestada e contingência. Cenário dos fixos e dos fluxos (Santos, 1979) no
certa “gramática da viração”, isto é, determinadas operações qual as camadas populares urbanas, de modo geral, com poucos
materiais e simbólicas, determinadas táticas e astúcias que, no anos de escolarização, são desafiadas constantemente por uma
sentido dado por Certeau (1994, p. 175), poderiam ser traduzidas texturologia que, somente pelos modos de uso cotidianos, se torna
à luz de uma teoria das práticas cotidianas, no espaço vivido e de legível, compreensível, decifrável, familiar.
uma inquietante familiaridade da cidade. Para as camadas populares especialmente (embora essa con-
cepção de leitura seja aplicável a qualquer sujeito / grupo social),
1 Carmen Miranda, ao cantar South American Way, trocava propositada- 2 De acordo com o Registro Central de Estrangeiros (Ausländerzentralregis-
mente à letra para “salsa”, essa troca sutil é pensada aqui como marcação iden- ter), vivem 31.461 brasileiros na Alemanha. Segundo os dados da Subsecre-
titária, como sinal diacrítico nos termos descritos por Barth (2000). Pensamos taria Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior (sgeb), 89 mil vivem
o que os brasileiros trazem consigo quando migram e de que modo reelab- atualmente no referido país. Entre as duas fontes há uma defasagem de
oram suas identidades em novos contextos. Como vemos nos versos: “E o que quase 60 mil indivíduos, o que demonstra a complexidade do fenômeno ao
traz no seu tabuleiro. Vende pra ioiô. Vende pra iaiá. In South American Way”. tentarmos precisar o número de migrantes.
96 Brasileiros no mundo 97
Retirada dos resíduos sólidos depositados no litoral (praias, man- Resultados da pesquisa
guezais, etc.) e de fundo e mensuração das etapas com a utilização
de embarcações pequenas, que retiraram os resíduos sólidos do O período de atividade compreendeu de janeiro de 2009 a feve-
litoral, das ilhas e em alguns casos resíduos flutuantes. Foram pre- reiro de 2010, com três encontros semanais e, ao final deste perí-
vistos 1.152 pescadores, mas por motivo de problemas organizacio- odo, foram contabilizados 734.208kg de material sólido, distribu-
nais da colônia Z12, seus pescadores não participaram do projeto, ídos em 90.540 sacos de 200 litros. Os pescadores da colônia Z8
com isso, de fato foram cerca de 1.080 de pescadores, divididos em retiraram 343.376kg com 50.106 sacos de 200 litros. Nas colônias
quatro grupos trabalhando uma média 3 meses cada. Os pescado- Z10, praia de Tubiacanga (Ilha do Governador, Rio de Janeiro),
res iam a campo três vezes por semana, coletando resíduos sólidos foram coletados 88.834kg em 7.435 sacos de 200 litros. Nas colô-
e trazendo aos pontos de coleta, onde o material depois de pesado, nias Z10/Z11, Ilha do Fundão (Ramos, Rio de Janeiro), foram
catalogado, fotografado (por amostragem) foram encaminhados coletados 127.043kg em 15.704 sacos de 200 litros. Na colônia Z9,
às secretarias municipais de limpeza pública e as cooperativas de Magé, foram coletados 174.955kg em 17.295 sacos de 200 litros.
reciclagem patrocinadas pela Petrobrás.
Os pontos de amostragem e embarque das atividades de Características do material recolhido e áreas de atuação
campo foram:
1 Praia de Ipiranga (Mauá, colônia Z9); Observando pelo aspecto do barco, a maioria deles recebeu em
2 Praia de Gradim (São Gonçalo, colônia Z8); média 12 sacos por dia de atividade, devido à limitação, tanto do
3 Área da colônia Z11; transporte quanto da capacidade de queima da parceira “Usina
4 Praia da Bica (Ilha do Governador, colônia Z10). Verde”, uma usina termoelétrica (protótipo) que funciona a par-
O mapa a seguir mostra as dezenas de pontos de coleta de tir da queima de resíduos sólidos cuja reutilização ou reciclagem
resíduos sólidos em praias, mangues continentais e ilhas e as não é possível.
áreas em que houve arrasto de fundo. As áreas que tinham maiores quantidades de resíduos sóli-
Foi realizado também, de forma inicial, o programa de edu- dos coletados no período de agosto de 2009 até fevereiro de 2010
cação ambiental, a partir dos dados do projeto no colégio Carlos foram: Coroa Grande, Carrefour, Ilha do Pontal, Manchete, praia
Maia, situado no município de São Gonçalo, bairro Porto Velho, da Beira, praia da Luz, praia das Pedrinhas, rio Imbuassú e rio
área tradicional de comunidades de pescadores. Trabalhamos Marimbondo (áreas de abrangência da colônia Z8); praia de Tubia-
com quatro turmas do primeiro ciclo fundamental (em 2010) e canga, praia do Galeão, Ramos, Catalão, Ilha do Fundão – cidade
o trabalho foi muito produtivo, pois identificamos a importân- universitária, próximo do prédio da educação física da UFRJ (área
cia de, por meio da educação, de mudar olhares sobre o mundo de abrangência da Z11 e Z10)– morro Grande, praia de São Fran-
e possibilitar outra postura frente a sociedade, o Estado e o meio cisco, praia do Anil, rio Suruí e praia do Ipiranga, praia de Olaria,
ambiente, buscando compreender e buscar mecanismo de prote- foz do rio Suruí e canal de Magé (área de abrangência da Z9).
ção ambiental, tal como a coleta seletiva, não jogar lixo nos rios, De acordo com cada área e respectivos períodos selecionamos
nas encostas e na baía. Foi realizada também uma agenda propo- as três principais áreas de concentração em cada ponto de coleta.
Os dados quantitativos foram tratados por meio do GPS e de pro- A maioria dos resíduos coletados é de origem industrial – mer-
grama de geoprocessamento, para serem georeferenciados. Foram cadorias de bens de consumo durável e não durável. São em sua
construídos dois mapas. A seguir será visto o mapa que trata da maioria formados por garrafas pet, pneus, plásticos em geral
localização dos pontes de coletas de resíduos sólidos apontados (copo, boneca, cadeira, bacia, balde, vasilha de manteiga, entre
pelos pescadores e mensurados pelo grupo de pesquisadores. outros), tecido (roupas, lençóis), latas (óleo, sardinha em lada,
cerveja, refrigerante), garrafas de vidro (cerveja, aguardente) e
sacos plásticos (supermercados, lojas). Encontra-se em menor
escala resíduos perigosos – hospitalares: bolsas de sangue, agu-
lhas e seringas.
Figura 2 Projeto Baía Limpa. Pontos de coleta de resíduos sólidos na baía de Figura 3 Atividade do projeto no campo, 2010.
Guanabara.
Referências
Introdução
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3 Conjunto de regras e métodos que conduzem à descoberta, à invenção e à 4 Adiante, a corporeidade será tratada como uma dimensão importante para
resolução de problemas. constituir o lugar.
da universalidade transitam na
sujeito nesta escala. Os valores
permite afirmar que, estes, em sua ação coletiva, ao longo da histó-
para-o-outro”, na condição de
se a dimensão do geral.
nica e produzir conhecimento sobre si mesmo e sobre os outros. O
ativismo negro, desde o Brasil colonial, passando pelo império, até
Particularidade
A Frente Negra Brasileira foi fundada nesta cidade de São O centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito
Paulo em reunião efetuada no salão das classes laborio- da Universidade de São Paulo (USP), convidou Abdias do
sas, à rua do Carmo nº 25, perante regular assistência no dia Nascimento em 1968 para falar sobre negritude, uma noção
16/09/1931. No dia 12 de outubro, no mesmo local, perante que começou a fazer a cabeça dos que militavam no movi-
mil e tantos negros, foi lido e aprovado por unanimidade o mento negro naquele momento em função da repercussão
presente estatuto. Publicados no Diário Oficial e registrado da atitude dos que confrontavam a política norte-americana
em 4 de novembro de 1931 (ib. p. 57–58 apud A Voz da Raça, de discriminação racial por meio dos punhos cerrados brada-
n. 5, 1933). ram, por ocasião da festas das medalhas Black power. O Dire-
tor da faculdade proibiu o uso do auditório, e a palestra foi
Na verdade, a luta da Frente Negra Brasileira não era exclusi- realizada no pátio interno da escola, sob constante ameaça
vamente contra o preconceito racial. O seu interesse maior era de repressão (ib. p. 216–7).
a união dos negros com o objetivo de superar as dificuldades
decorrentes do passado escravista. A sua orientação e atuação O fim do TEN não significou o fim da atuação do professor Abdias.
não estava centrada no passado, nas injustiças e desumanidades Em julho de 1978, voltou ao Brasil para a fundação do Movimento
cometidas pelos “brancos”. Sua preocupação era com o presente e Negro Unificado. Em 1980, o professor Abdias colocava para
o futuro, apagando definitivamente as “marcas da escravidão”. debate, no Movimento Negro, uma proposta que denominou de
Em agosto de 1936, a Frente Negra transforma-se oficial- quilombismo – um conceito científico emergente do processo his-
mente em partido político e, por ter delegações em vários esta- tórico-cultural do estado brasileiro, colônia, império e república
dos, torna-se um partido de proporções nacionais, o que não – que significava terror organizado contra a população negra, o
era comum na época. A vida do partido, contudo, é efêmera, proponente buscava um conceito que sistematizasse a experiên-
pois todos os órgãos políticos são dissolvidos em 1937 pela lei do
Estado Novo (ib. p. 81). 10 Ainda sobre a Frente Negra Brasileira, ver Velasco (2009).
Primeiras aproximações
160 Leituras sobre movimentos sociais e ações organizadas… Leituras sobre movimentos sociais e ações organizadas… 161
162 Leituras sobre movimentos sociais e ações organizadas… Leituras sobre movimentos sociais e ações organizadas… 163
164 Leituras sobre movimentos sociais e ações organizadas… Leituras sobre movimentos sociais e ações organizadas… 165
166 Leituras sobre movimentos sociais e ações organizadas… Leituras sobre movimentos sociais e ações organizadas… 167
Os músicos da rua
Todos tocam e perda de silêncio
Sob o céu negro nós vemos claro
A capital do sol
É a imagem de nós mesmos
E no asilo de nossos muros
Nossa porta é a dos homens