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Resumo Frei Luís de Sousa
Resumo Frei Luís de Sousa
Romantismo
Características do Romantismo
1. Na tragédia antiga, o Homem é um mero joguete do Destino. Este é uma força superior
que age de forma inexorável sobre o protagonista, sem que ele tenha qualquer culpa.
2. Dividia-se em prólogo, três atos e epílogo.
3. Tem poucas personagens (três). Estas são nobres de sentimentos ou de condição
social.
4. A ação dispõe-se sempre em gradação crescente, terminando num clímax.
5. Contém sempre vários elementos essenciais – o desafio, o sofrimento, o combate, o
Destino, a peripécia, o reconhecimento, a catástrofe e a catarse.
6. Existia um coro que tinha como função comentar e anunciar o desenrolar dos
acontecimentos.
7. A tragédia clássica obedece à lei das três unidades – unidade de espaço (não há em
geral mudança de cenário e os acontecimentos passam-se todos no mesmo lugar),
unidade de tempo (todos os acontecimentos têm de se desenrolar nos espaço de 24
horas, mostrando que a ação do Destino é imperativa e fulminante) e unidade de ação
(a tragédia antiga exige que o espectador se centre apenas no problema central, sem
desvio para ações secundárias).
8. A linguagem da tragédia é em verso
1. Manuel de Sousa Coutinho, nascido em 1556, era fidalgo de linhagem e levou uma vida
acidentada por terras de África e de Ásia. Consta que lançara fogo ao seu palácio de
Almada, em 1599, por divergências políticas ou pessoais com os governadores do
Reino em nome dos Filipes. Casara com D. Madalena de Vilhena, anteriormente
mulher de D. João de Portugal, que morreu em Alcácer Quibir, em 4 de agosto de 1578.
O seu biógrafo Frei António da Encarnação regista a tradição segundo a qual a entrada
de ambos os cônjuges na ordem dominicana, em 1612, se deveria ao regresso
inesperado de D. João dePortugal.
2. Na Memória do Conservatório Real, Garrett afirma conhecer bem a tradição literária
sobre Frei Luís de Sousa. Ora as principais fontes que tinha lido eram a “Memória do Sr.
Bispo de Viseu, D. Francisco Alexandre Lobo”, e a “romanesca mas sincera narrativa do
padre Frei António da Encarnação”. Afirma Garrett na referida Memória que
“discorrendo um verão pela deliciosa beira-mar da província do Minho, fui dar com um
teatro ambulante de atores castelhanos fazendo suas récitas numa tenda de lona no
areal da Póvoa do Varzim. (…) Fomos à noite ao teatro: davam a comédia famosa não
sei de quem, mas o assunto era este mesmo de Frei Luís de Sousa.” Esta representação
teve lugar na Póvoa em 1818.
3. Garrett consultou ainda muitas coleções de “comédias famosas” mas não encontrou
mais nada a respeito de Frei Luís de Sousa. Ouviu na sala do Conservatório, a leitura do
relatório sobre o drama O Cativo de Fez. Nessa altura, Garrett sentiu a diferença entre
a fábula engenhosa e complicada desse drama e a história tão simples de Frei Luís de
Sousa. Tal facto inspirou-lhe a vontade de fazer o seu drama.
4. Tem-se escrito que este drama é a projeção poética da sua própria vida. Não se
devendo confundir a obra e autor, não deixa de ser curioso mostrar as coincidências
entre ambos.
A representação da peça foi precedida da sua leitura feita pelo próprio autor em 6 de
maio de 1843 no Conservatório Real de Lisboa perante um auditório muito exigente.
A 1ª representação foi feita num teatro particular na Quinta do Pinheiro em 4 de julho
de 1843, por oito atores. Por impossibilidade de um ator, o próprio Garrett fez o papel de
Telmo. A censura terá cortado certas partes, sendo o texto integral representado apenas em
1850 no Teatro Nacional D. Maria II, num momento em que já não havia censura.
A memória ao Conservatório é um texto teorizador que acompanhará para sempre a
própria peça, da qual é anúncio, justificação e interpretação. Dado o seu grande valor,
apresentamos aqui as grandes linhas do seu conteúdo.
Conclusão: Garrett construiu o seu drama, realizando o que tinha anunciado na Memória ao
Conservatório Real. São notáveis a simplicidade de construção e a harmonia dos três atos.
Ação
Toda a ação se passa nos finais do séc. XVI, após o desaparecimento de D. Sebastião na
Batalha de Alcácer-Quibir. Com ele parte D. João de Portugal, personagem vital que desaparece
também desencadeando toda a ação dramática em Frei Luís de Sousa. Todos estes
acontecimentos decorrem sob domínio Filipino.
Após o desaparecimento de D. João de Portugal, D. Madalena manda-o procurar
durante sete anos mas em vão. Casa então com D. Manuel de Sousa, nobre cavaleiro, de quem
tem uma filha de 14 anos. D. Madalena vive uma vida infeliz, cheia de angústia e de
tranquilidade, no receio de que o seu primeiro marido esteja vivo e acabe por voltar. Tal facto
acarretaria para Madalena uma situação de bigamia e a ilegitimidade de Maria, sua filha. Esta é
tuberculosa e vive, em silêncio, o drama da sua mãe que será o seu. Efetivamente D. João de
Portugal acaba por regressar, acarretando o desenlace trágico de toda a ação.
A natureza trágica da ação
Personagens
D. Madalena de Contra as leis e os Interior, de Sofrimento por Causada pelo
Vilhena direitos da família: consciência causa do regresso de D.
-adultério no Contínuo adultério João: morte
coração Crescente Sofrimento pela psicológica
-consumação pelo Gerador de incerteza da (separação do
casamento com D. conflitos: sorte do 1º marido e
Manuel -com D. Manuel marido profissão
-profanação de um (I,7 e 8) Sofrimento religiosa)
sacramento -com D. João violento pela Salvação pela
-bigamia (I,1, 2, 3, 7 e 8) volta ao palácio purificação
-com Maria (I,3) do 1º marido
-com Telmo (I,2) Sofrimento cruel
após
conhecimento da
existência do 1º
marido:
-pela perda do
marido
-pela perda de
Maria
Manuel de Revolta contra as Não tem Sofre a angústia Morte
Sousa Coutinho autoridades de conflito de pela situação da psicológica:
Lisboa (I,8,11 e 12; consciência sua mulher (III,8) -separação da
II,1) Não entra em Sofre a angústia esposa
Desafia o destino conflito com as pela situação -separação do
ao incendiar o outras presente e futura mundo
palácio (I,11 e 12) personagens da filha (III,1) -profissão
Recusa o perdão A sua hybris religiosa
(II,1) desencadeia e Glória futura de
Inconscientemente agudiza os escritor:
participante da conflitos das -Frei Luís de
hybris de sua outras Sousa: glória de
esposa personagens santo
D. João de Abandona a Não tem Sofre o Morte
Portugal família conflito esquecimento a psicológica:
Não pode dar Alimenta os que foi votado -separação da
notícias da sua conflitos dos Sofre pelo mulher
existência outros casamento da -a situação
Aparece quando Agudiza todos sua mulher irremediável do
todos os julgavam os conflitos com Sofre por não anonimato
morto o seu regresso poder travar a
marcha do
Destino (III,2)
D. Maria de Revolta contra a Não tem Sofre fisicamente Morre
Noronha profissão religiosa conflito (tuberculose) fisicamente
dos pais Entra em Sofre Vai para o céu
Revolta contra D. conflito: psicologicamente
João de Portugal -com sua mãe (não obtém
Revolta contra (I, 3 e 4) resposta a
Deus -com seu pai (I, muitos agoiros e
Convida os pais a 3 e 5) tem vergonha da
mentir -com Telmo ilegitimidade)
(II,1)
-com D. João de
Portugal (I,4; II,
1 e 2; III, 11 e
12)
Telmo Pais Afeiçoa-se a Maria Conflito de Sofre pela dúvida Não poderá
Deseja que D. João consciência constante que o resistir a tantos
de Portugal tivesse (III,4) assalta acerca da desgostos
morrido (II, 4 e 5) Conflito com morte de D. João
outras de Portugal
personagens: Sofre hesitando
-com D. entre a
Madalena (I,2) fidelidade a D.
-com D. Manuel João e a D.
(I, 2) Manuel
-com Maria (I,2) Sofre a situação
-com D. João de de Maria
Portugal (III, 4 e
5)
Personagens
D. Madalena de Vilhena
Nobre: cavaleiro de Malta (só os nobres é que ingressavam nessa ordem religiosa) (I,2
e 4)
Racional: deixa-se conduzir pela razão no que contrasta com a sua mulher
Bom marido e pai terno (I,4; II,7)
Corajoso, audaz e decidido (I,7, 8, 9, 10, 11, 12; III, 8)
Marcado pelo destino (I, 11; II, 3 e 8)
Encarna o mito romântico do escritor: refúgio no convento, que lhe proporciona o
isolamento necessário à escrita
Até à vinda do romeiro, representa o herói clássico racional, equilibrado e sereno. A
razão domina os sentimentos pela ação da vontade
Tem como ideal de vida o culto pela honra, pelo dever, pela nobreza de ações (daí o
seu nacionalismo e o incêndio do palácio)
Porém, no início do ato III, após o aparecimento do romeiro, Manuel de Sousa perde a
serenidade e o equilíbrio clássico que sempre teve e adquire características
românticas. A razão deixa de lhe disciplinar os seus sentimentos, e estes manifestam-se
com descontrolada violência. Exemplos:
o Revela sentimentos contraditórios (deseja simultaneamente a morte e a vida
da filha)
o Utiliza um vocabulário trágico e repetitivo, próprio do código romântico
(“desgraça”, “vergonha”, “escárnio”, “desonra”, “sepultura”, “infâmia”, etc.)
o Opta por atitudes extremas (a ida para o convento) como solução para uma
situação socialmente condenável
o Ao optar por esta atitude, encarna o mito do escritor romântico, como um ser
de exceção, que se refugia na solidão para se dedicar à escrita
Embora esteja ausente, de uma forma expressa, de todo o mito sebastianista que
atravessa o drama, Manuel de Sousa insere-se nele pela defesa dos valores
nacionalistas
D. João de Portugal:
D. Maria de Noronha
Frei Jorge
Tempo
04/08/1599
Sexta-feira
Alta noite
Ato I Ato II
Noite Ato
III
Alta
noite
uma semana
Ato I: Palácio de Manuel de Sousa Coutinho: luxo, grandes janelas sobre o Tejo –
felicidade aparente
Ato II: Palácio de D. João de Portugal: melancólico, pesado, escuro – peso da
fatalidade, a desgraça
Ato III: Parte baixa do palácio de D. João: casarão sem ornato algum – abandono dos
bens deste mundo. A cruz: elemento conotador de morte e de esperança.