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ERIVAL DA SILVA OLIVEIRA

DIREITO
CONSTITUCIONAL
ll.a edição
revista e atualizada

1X1 ELEMENTOS 1
[ 1 Vil DO DIREITO 1
Coordenação
Marco Antonio Araujo Jr. EDITORA Ri?
Darlan Barroso REVISTA DOS TRIBUNAIS
ERIVAL DA SILVA OLIVEIRA

Mestre em Direito pela Universidade


Presbiteriana Mackenzie.
Especialista em Direito Processual pela
Universidade Paulista - UNIP.
Professor Universitário (graduação e
pós-graduação). Professor e Coordenador
da cadeira de Direito Constitucional do
Complexo Educacional Damásio de Jesus
no Curso Preparatório para o Exame da
OAB (l.a e 2.® fases). Professor de Direitos
Humanos. Professor do Programa Prova
Final veiculado pela TV Justiça/STF.
Assessor jurídico do Ministério Público
Federal em São Paulo. Autor de diversas
obras pela Editora Revista dos Tribunais.
Conferencista e Advogado.

EDITORAI \ir e?
r

REVISTA DOS TRIBUNAIS


ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR
Tel.: 0800-702-2433
www.rt.com.br
ERIVAL DA SILVA OLIVEIRA

DIREITO
CONSTITUCIONAL
1 l.a edição
revista e atualizada

ITU ELEMENTOS 1
I MT DO DIREITO 1
-

Coordenação
Marco Antonio Araujo Jr.
Darlan Barroso

editora l \l r
REVISTA DOS TRIBUNAIS
m ELEMENTOS 1
I vlrDO DIREITO 1

2643

11 .a edição revista e atualizada


edição, 1. tiragem: julho de 2009; 2.3 tiragem: janeiro de 2010; 3.J tiragem: março de 2010;
"
9i
.

4 i
. tiragem: agosto de 2010; 10.i edição: 2010.

© desta edição
[2011]

Editora Revista dos Tribunais Ltda.


Antonio Belinelo
Diretor responsável
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a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas
proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação
dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena
de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a
110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

Impresso no Brasil
[09.20111
Universitário (texto)
Fechamento da edição em [18.08.2011 ]

ISBN 978-85-203-4017-2
Agradecimentos

os professores Marco Antonio Araujo Júnior e Darlan Barroso pelo,

respeito apoio e reconhecimento do trabalho realizado por nós


,

docentes.

Aos amigos e colegas professores que enfrentam diariamente a difícil


,

arte de ensinar.

Aos meus alunos , pelo carinho e respeito; e a minha amada esposa,


Rosa, que me incentiva e auxilia .

"

Exerce o Senhor a Justiça ,

e a todos os oprimidos restitui o Direito


"
.

Salmo 102:6
Nota da Editora

isando ampliar nosso horizonte editorial para oferecer livros jurídicos


específicos para a área de Concursos e Exame de Ordem com a mes-
,

ma excelência das obras publicadas em outras áreas a Editora Revista dos


,

Tribunais apresenta a nova edição da coleção Elementos do Direito.


Os livros foram reformulados tanto do ponto de vista de seu conteúdo
como na escolha e no desenvolvimento de projeto gráfico mais moderno
que garantisse ao leitor boa visualização do texto, dos resumos e esquemas.
Além do tradicional e criterioso preparo editorial oferecido pela RT ,

para a coleção foram escolhidos coordenadores e autores com alto cabedal


de experiência docente voltados para a preparação de candidatos a cargos
públicos e bacharéis que estejam buscando bons resultados em qualquer
certame jurídico de que participem.
Apresentação da Coleção

Com orgulho e honra apresentamos a coleção Elementos do Di-


reito, fruto de cuidadoso trabalho aplicação do conhecimento e
,

didática de professores experientes e especializados na preparação de


candidatos para concursos públicos e Exame de Ordem Por essa razão
.
,

os textos refletem uma abordagem objetiva e atualizada importante


,

para auxiliar o candidato no estudo dos principais temas da ciência


jurídica que sejam objeto de arguição nesses certames.
Os livros apresentam projeto gráfico moderno o que torna a leitura
,

visualmente muito agradável e, mais importante, incluem quadros,


,

resumos e destaques especialmente preparados para facilitar a fixação


e o aprendizado dos temas recorrentes em concursos e exames .

Com a coleção o candidato estará respaldado para o aprendizado


,

e para uma revisão completa pois terá a sua disposição material atu-
,

alizado de acordo com as diretrizes da jurisprudência e da doutrina


dominantes sobre cada tema.

Esperamos que a coleção Elementos do Direito continue cada vez


mais a fazer parte do sucesso profissional de seus leitores .

Marco Antonio Araujo Júnior


Darlan Barroso
Coordenadores
Sumário

NOTA DA EDITORA. 7

APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO. 9

1
. DIREITO CONSTITUCIONAL: CONCEITO E OBJETO. 21

2
. CONSTITUIÇÃO: CONCEITO E OBJETO. 23

3
. O VÍNCULO DA CONSTITUIÇÃO E DO DIREITO CONSTITUCIONAL
COM O ORDENAMENTO JURÍDICO. 25

4 . CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES. 27


1. Quanto à forma. 27
11 .
Escrita. 27

12 .
Não escrita. 27

2 . Quanto à elaboração. 27
2 .
1 Dogmática. 27
22 .
Histórica. 27
3 .
Quanto à origem. 28
3 1 .
Popular. 28
32 .
Outorgada. 28
33 .
Pactuada. 28
4 . Quanto à estabilidade, mutabilidade, consistência ou alterabilidade 28
4 .
1 Rígida. 28
42 .
Flexível. 29
4 3
.
Semirrígida ou semiflexível. 29
44 .
Imutável. 29
5. Quanto à extensão. 29
5 1 .
Sintética ou concisa. 29

5 2
.
Analítica ou prolixa. 30
12 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

6. Quanto à função ou objeto. 30


6 .
1 Dirigente. 30
62 .
Garantia. 30
6 . 3 Balanço. 30
5 . FENÓMENOS QUE SURGEM COM UMA NOVA CONSTITUIÇÃO E A
ORDEM JURÍDICA ANTERIOR. 33
1 . Revogação da legislação infraconstitucional incompatível. 33
2 . Recepção. 33
3 .
Repristinação. 34
4 . Desconstitucionalização. 34
6 .
APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. 37

1 . Normas constitucionais de eficácia plena. 37


2 .
Normas constitucionais de eficácia contida. 37
3 .
Normas constitucionais de eficácia limitada. 38
3 . 1 Normas de princípio institutivo. 38
3 .
2 Normas de princípio programático. 38
7 .
CONTEÚDO DAS NORMAS CONTITUCIONAIS. 41
1 .
Normas materialmente constitucionais. 41
2 .
Normas formalmente constitucionais. 41

8 .
O PODER CONSTITUINTE. 43

1 . Poder constituinte originário, genuíno, primário ou de primeiro grau ... 43


2 .
Poder constituinte derivado de reforma ou de emendabilidade. 44
2 1 .
Revisão constitucional. 44
2 .
2 Emenda constitucional. 45
22
. .
1 Limitações ao poder derivado de emenda. 45
2 .
3 Controle de constitucionalidade da reforma constitucional... 46
3 .
Poder constituinte derivado decorrente. 47

9 .
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. 49

1 . Supremacia da Constituição. 49
2 .
Conceito do controle de constitucionalidade. 49
3 . Inconstitucionalidade por ação. 50
4 . Inconstitucionalidade por omissão. 52
5 . Classificação do controle de constitucionalidade. 53
5 1 . Quanto ao momento em que é exercido. 53
5 1 1.
Preventivo, priorístico ou a priori.
.
53
SUMÁRIO 13

5 12
. .
Repressivo, posterior, sucessivo ou a posteriori. 54
5.
2 Quanto ao número de órgãos encarregados do controle. 54
52
. . 1 Concentrado, reservado ou austríaco. 54
52
. . 2 Difuso, aberto ou norte-americano. 55
5.
3 Quanto à natureza do órgão controlador. 55
53 1
. .
Político. 55
532
. . Judiciário. 55
6 .
Classificação do controle judiciário. 55
6 1
.
Quanto à posição do controle em relação ao objeto da causa .. 55
6 1 1
.
Principal.
.
55
6 12
. .
Incidental. 56
6. 2 Quanto aos efeitos da decisão. 56
62
. .
1 Inter partes. 56
62
. .
2 Erga omnes. 56
623
. .
Decisões no controle concentrado de constitucionali-
dade. 57
7 .
O controle de constitucionalidade no Brasil. 58
7 1
.
Preventivo. 58

7 1
. . 1 Comissões de Constituição e Justiça. 58
7 1
. .
2 Veto presidencial por inconstitucionalidade. 58
7.
2 Repressivo. 58
72 1
. .
Recurso extraordinário. 59
72
.
2 Mandado de injunção.
.
60
72
.
3 Ação direta de inconstitucionalidade genérica (ADIn/
.

ADI Genérica). 60
72
. . 4 Ação direta de inconstitucionalidade interventiva
(ADIn/ADI Interventiva). 62
72
. .
5 Ação direta de inconstitucionalidade supridora da
omissão ou por omissão (ADIn/ADI-SO/PO). 64
72
. . 6 Ação declaratória de constitucionalidade (ADECON/
ADECO/ADC). 67
72
. .
7 Arguição de descumprimento de preceito fundamental
(ADPF). 68

7.3 Atribuição do Advogado-Geral da União, do Procurador-Ge-


ral da República e do amicus curiae no controle concentrado
de constitucionalidade. 74
74
.
Bloco de constitucionalidade. 76
14 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

10. FEDERALISMO. 79

1
.
Forma do Estado. 79
1 1 .
Estado unitário. 79

12 .
Estado federal. 79
2 .
Federalismo no Brasil. 79
2 .
1 Componentes do Estado federal brasileiro. 80
2 1 1
. .
União. 80

2 12
. .
Estados federados. 80
2 1
. .
3 Municípios. 81
2 14
. .
Distrito Federal. 82
2 15
. .
Territórios federais. 84
2 . 2 Vedações constitucionais existentes no federalismo do Brasil 84
3 .
Princípios constitucionais vinculados ao federalismo. 85
3 1 .
Princípios estabelecidos. 85
32 .
Princípios sensíveis . 85
33 .
Princípios extensíveis. 85

11. REPARTIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS. 87


1 . Classificação referente às competências. 87
1 . 1 Quanto à finalidade. 87
1 .
2 Quanto à origem. 88
1 . 3 Quanto ao conteúdo. 88
1 . 4 Quanto à forma. 88
1 . 5 Quanto à extensão: a quem cabe. 89

12. INTERVENÇÃO FEDERAL. 93


1 .
Procedimento. 93
1 1 .
Iniciativa. 93

1 .
2 Fase judicial. 94
13 .
Decreto interventivo. 94
1 .
4 Controle político. 95
1 . 5 Controle jurisdicional. 95
13. ESTADO DE DEFESA. 99
1 .
Controle do Estado de defesa. 99
11 .
Controle político. 99
12 . Controle jurisdicional. 100
SUMÁRIO 15

14. ESTADO DE SÍTIO. 101


1
.
Controle do Estado de sítio. 101
1 .
1 Controle político. 101
1 .
2 Controle jurisdicional. 102

15. A SEPARAÇÃO DOS PODERES. 105


1 .
O Poder Legislativo. 105
1 1 .
Esfera federal. 105

11
. .
1 Câmara dos Deputados. 106
1 12
. .
Senado Federal. 106
12 .
Esfera estadual. 106
1 3 .
Esfera municipal. 107
2
.
Peculiaridades do Congresso Nacional. 107
2 1 .
Mesas da Câmara dos Deputados, do Senado e do Congresso
Nacional. 107
2 .
2 Comissões parlamentares. 108
2 . 3 Polícia e serviços administrativos. 112
2 .
4 Comissão representativa. 112
2 .
5 Funcionamento do Congresso Nacional. 112
2 .
6 Quorum para deliberação. 113
26 1
.
Maioria simples.
.
113
262
. .
Maioria absoluta. 113
26
.
3 Maioria qualificada.
.
114
2 .
7 Prerrogativas dos congressistas. 114
27 1
. .
Inviolabilidade. 114
2 7
. .
2 Imunidade propriamente dita ou "imunidade formal ou
relativa"
.
114

27
. .
3 Privilégio de foro. 115
2 7
. 4
. Limitação ao dever de testemunhar. 115
2 7
. . 5 Isenção do serviço militar. 116
2 .
8 Incompatibilidades dos congressistas. 116
28
. .
1 Negociais. 116
282
. .
Funcionais. 116

28
. .
3 Profissionais. 116
29 .
Perda do mandato. 116
2 10.
Tribunal de Contas da União. 117
16 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

3 .
Espécies normativas. 119
3 1
.
Emenda constitucional. 119
3.
2 Lei complementar. 119
33
.
Lei ordinária. 119
33 1
. .
Iniciativa. 119

332
. . Deliberação. 120
333
. .
Fase complementar: promulgação e publicação. 121
33
.
4 Regime de urgência.
.
122
34
.
Medida provisória (art. 62 da CF/88). 122
35
.
Lei delegada. 124
36
.
Decreto legislativo. 125
37
. Resolução. 125
4 .
Poder Executivo. 127

4 1
.
Esfera federal. 127
42
.
Esfera estadual. 127
4.3 Esfera municipal. 127
4.
4 Participação no processo legislativo. 128
45
.
Regulamentação das normas. 129
46
.
Atuação no plano internacional. 129
4 7
.
Atuação quanto ao funcionalismo público federal. 129
48
. Atuação em relação às Forças Armadas. 129
4. 9 Nomeação de autoridades. 129
4.
10 Conselho da República e Conselho de Defesa Nacional. 130
4. 11 O impeachment. 130
4 .
12 Processo e julgamento do Presidente da República nos crimes
comuns. 132

5 . Poder Judiciário. 133


5 . 1 Garantias do Poder Judiciário. 135
5 . 2 Principais características. 135
53 .
Supremo Tribunal Federal. 136
54 .
Superior Tribunal de Justiça. 141
55 .
Principais pontos da EC 45/2004: reforma do Poder Judiciário 144
5 . 6 Reclamação. 158

16. DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. 161

1 . Diferença entre direitos e garantias. 162


SUMÁRIO 17

2 .
Destinatários da proteção (amplitude da proteção). 162
3 .
Dos direitos e deveres individuais e coletivos: art. 5.° da CF/88. 163
31
.
Direito ávida. 163
3.
2 Direito à igualdade. 163
33
.
Direito à liberdade. 164
3.
4 Direito à propriedade. 164
3.5 Direito à segurança. 165
4 .
Princípios constitucionais. 166
5 .
Remédios constitucionais. 167
51
.
O direito de petição. 167
52
.
Habeas corpus. 168
53
.
Habeas data. 172
54
.
Mandado de injunção. 174
55
.
Mandado de segurança. 175
56
.
Mandado de segurança coletivo. 180
57
.
Ação popular. 182
58
.
Ação civil pública. 183
17. NACIONALIDADE. 187

1 .
Natureza jurídica do direito da nacionalidade. 188
2 .
Espécies de nacionalidade e peculiaridades. 188
21
.
Primária, de origem ou originária. 188
22
.
Secundária ou adquirida. 188
23
.
Modos de aquisição da nacionalidade. 188
23 1
.
Critério da origem sanguínea (ius sanguinis).
.
189
2 3 2 Critério da origem territorial (ius solis).
. .
189
24
.
Reflexos da nacionalidade. 189
2.
5 A nacionalidade no direito constitucional brasileiro. 189
26
.
Os brasileiros natos. 190
26
. . 1 Critério do ius solis (territorialidade). 190
262
. .
Critério do ius sanguinis aliado ao serviço do Brasil.... 190
26
. .
3 Critério do ius sanguinis mais a opção. 190
2 7
.
Os brasileiros naturalizados. 191
27
. . 1 Naturalização ordinária. 191
27
. . 2 Naturalização extraordinária. 191
2.
8 Aspectos jurídicos do brasileiro nato e do naturalizado. 192
18 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

29 .
Perda da nacionalidade. 193
2 .
10 Reaquisição da nacionalidade brasileira. 193
2 .
11 Institutos ligados à nacionalidade. 194
2 .11.1 Extradição. 194
2 .
11.2 Expulsão. 194
2 .
11.3 Deportação. 195
2 .
12 A língua e os símbolos nacionais. 196
3 .
ASSUNTOS PERTINENTES AOS ESTRANGEIROS. 196

18. DIREITOS POLÍTICOS. 199


1 .
Cidadania. 199
1 1 .
Aquisição da cidadania. 200
2 . Alistabilidade e elegibilidade. 200
3 .
Sistemas eleitorais. 201
3 1 .
Sistema majoritário. 201
3 2 .
Sistema proporcional. 202
4 .
Restrições aos direitos políticos. 203
5 . Reaquisição dos direitos políticos. 203
6 . Inelegibilidades. 204
6 1 .
Absolutas. 204
62 .
Relativas. 204
62
. .
1 Restrição por motivos funcionais. 205
62
. . 2 Restrição por motivo de casamento, parentesco ou afi-
nidade. 205
62
. 3 Restrição dos militares. 206
.

62
.
4 Restrição por previsão de ordem legal. 206
.

62 5
.
Restrição por motivo de domicílio eleitoral na circuns-
.

crição. 206
7 .
Desincompatibilização. 206
8 . Processo Judicial Eleitoral. 208

19. LEITURA COMPLEMENTAR. 209

1 . Direito e sua classificação doutrinária. 209


2 . Breve evolução das Constituições dos Estados. 210
3 . Elementos das Constituições. 211
3 .
1 Elementos orgânicos. 211
32 .
Elementos limitativos. 211
3 3
.
Elementos socioideológicos. 211
SUMÁRIO 19

34 . Elementos de estabilização constitucional. 212


3 5 . Elementos formais de aplicabilidade. 212
4. História das Constituições brasileiras. 212
4 1 .
Constituição de 1824. 212
42 .
Constituição de 1891. 213
43 . Constituição de 1934. 213
4 . 4 Constituição de 1937. 214
4.5 Constituição de 1946. 214
46 . Constituição de 1967. 214
47 . Constituição de 1969. 215
48 . Constituição de 1988. 215
5.
Princípios constitucionais da Administração Pública. 216
6.
Origem do Tribunal de Contas. 216
7.
Das funções essenciais à justiça. 217
7 1 .
O Ministério Público. 217
72 .
A Advocacia Pública. 219
73 .
Da Advocacia e da Defensoria Pública. 220
8 .
Direitos sociais. 220

9 .
Sufrágio. 221
9 1 Formas de sufrágio.
.
221
10. Sistemas políticos. 222
10.1 Forma de Estado. 222

10.2 Forma de governo. 223


10.3 Regime político. 223
10.3.1 Espécies de democracia. 223
10.3.2 Institutos de participação direta do povo. 224
10.4 Regime ou sistema de governo. 225
10.4.1 O presidencialismo. 225
10.4.2 O parlamentarismo. 227
10.4.3 Convencional ou diretorial. 229

BIBLIOGRAFIA E SITES. 231

ANEXO 1 SÚMULAS VINCULANTES. 235

ANEXO 2 - ARTIGOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 DE MAIOR


INCIDÊNCIA EM CONCURSOS E DE LEITURA RECOMENDADA. 239
Direito Constitucional:
Conceito e Objeto

O Direito Constitucional, segundo a doutrina, pode ser definido como o


conhecimento sistematizado da organização jurídica fundamental do Estado.
Tem-se que o Direito Constitucional é uma disciplina jurídica que perten-
ce ao ramo do Direito Público, pois tutela os interesses gerais da coletividade.
O Direito Constitucional tem por objeto de estudo as Constituições dos
Estados, bem como todos os demais fatores que atuam ao redor delas, tais como
fatores históricos, sociais e económicos, refletindo os aspectos de cada época.
Constituição: conceito
e objeto

Constituição, genericamente, é o ato de constituir, de estabelecer algo,


ou ainda significa o modo pelo qual se constitui uma coisa.
No mundo jurídico, a Constituição é a Lei Fundamental de um Estado
e, desse modo, determinaria a organização dos seus elementos essenciais:
um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula as
formas do Estado e de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do
poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos
fundamentais do homem e as respectivas garantias. Em síntese, a Constituição
é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado.
O objeto maior da Constituição é limitar o poder do Estado sobre as
pessoas e as instituições que o compõem.
N a atualidade ,
fortalece-se na doutrina a corrente do neoconstitucionalismo,
que procura dar eficácia concreta à Constituição, em especial, com relação
aos direitos fundamentais.

Desse modo, torna-se imperativo no mundo concreto realizar a previsão


abstrata da Constituição. O Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais
(arts. 5.° a 17, CF/88) e o Título VIII (Da Ordem Social - arts. 193 a 232,
CF/88) devem ser implementados para os sujeitos dos direitos e garantias
fundamentais que se encontrem no território nacional, desde que preencham
os requisitos estabelecidos. Tal ação deveria ser realizada voluntariamente
pelo Estado, porém, diante da inércia, é necessário acionar o Poder Judiciário
para efetivá-los.
Em grande parte dos casos é possível a utilização dos remédios
constitucionais. Pode-se citar como exemplo, a utilização de uma ação civil
pública para a proteção ambiental, o fornecimento de medicamentos ou,
ainda, para a obtenção de assistência médica.
DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Infere-se que a Constituição para os neoconstitucionalistas, é uma norma


,

jurídica superior e imperativa, que garante as condições dignas mínimas. Sua


efetividade se propaga em relação aos particulares e ao Estado. Há imposição
dos valores referentes à dignidade da pessoa humana (aspecto axiológico
concreto).

Cumpre lembrar ainda que para a doutrina a Constituição pode ser


considerada uma decisão política fundamental (Carl Schmitt), a soma
dosfatores reais do poder (Ferdinand Lassale), entre outros conceitos.

A atual Constituição Brasileira é composta de um preâmbulo nove ,

títulos, um ato das disposições constitucionais transitórias, emendas cons-


titucionais e emendas constitucionais de revisão.

As normas contidas no Ato das Disposições Constitucionais


Transitórias servem de parâmetro para o controle de constitu- ilHflOfUI"*®
cionalidade. O preâmbulo não tem caráter coercitivo e não é V ,-à
parâmetro para o controle de constitucionalidade. Além disso,
a palavra Deus" contida em seu texto não indica a adoção de
"

uma religião oficial.

Conceito Objeto
A Constituição é o conjunto de Limitar o poder do Estado sobre
normas que organiza os elementos as pessoas e as instituições que o
constitutivos do Estado. compõem.
O vínculo da Constituição
e do Direito Constitucional
com o Ordenamento
Jurídico

A Constituição e o Direito Constitucional estão ligados ao ordenamento


jurídico de um país, que é formado pela união da Constituição e das normas
infraconstitucionais. No Brasil, o ordenamento jurídico é formado pela Cons-
tituição Federal de 1988 e, no plano infraconstitucional, pelas Constituições
Estaduais dos 26 Estados-membros, pelas Leis Orgânicas dos Municípios e
do Distrito Federal, bem como por todas as demais leis e normas vigentes.
Na atualidade, a maioria dos países é definida como Estado Democrático
de Direito. O Estado (país) em questão pode ser definido como uma organiza-
ção jurídica, administrativa e política formada por uma população, assentada
em um território, dirigida por um governo soberano e tendo como finalidade
o Bem Comum. É jurídica por ter por base uma Constituição e as normas
infraconstitucionais (ordenamento jurídico); é administrativa por envolver
o gerenciamento e a organização; por fim, é política por tratar do poder.
Tem-se que democrático diz respeito à participação do povo (cidadãos =
eleitores) na formação jurídica do Estado pois os eleitores elegem os repre-
,

sentantes (Poder Legislativo) que irão fazer a Constituição (Assembleia Na-


cional Constituinte) e as demais leis (Legislador Ordinário). Por fim, refere-se
também ao Direito, pois todos nesse Estado devem respeitar a Constituição
e as normas infraconstitucionais.

O Direito Constitucional, como visto, engloba a interpretação e a deli-


mitação dos institutos constitucionais.
O vínculo é externado pela relação de dependência que deve existir
entre as normas infraconstitucionais e a Constituição de determinado país.
Não pode existir dentro de um Estado nenhuma norma ou lei contrária à
sua Constituição. No Brasil, por exemplo, não pode existir nenhuma norma
federal, estadual, distrital ou municipal contrária à Constituição Federal de
1988, pois ela é a Lei Fundamental do Estado brasileiro. Se existir uma norma
26 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

contrária à Constituição, poderá ser suscitada sua inconstitucionalidade,


como mais adiante será estudado.

note
Ordenamento jurídico: é a somatória da Constituição e das BEM
demais normas infraconstitucionais de um Estado.

c
Constituição do Estado

, Normas infraconstitucionais
OJ < +

Constituição Federal de 1988 + Dec. 6.429/2009

26 Constituições Estaduais
+ Leis Orgânicas municipais
Lei Orgânica do Distrito Federal
CP, CPP etc.
Classificação das
Constituições

Dentre as classificações existentes as mais recorrentes nos exames de


,

Ordem dos Advogados do Brasil e em concursos públicos são:

1. QUANTO À FORMA

7 1 Escrita
.

É a Constituição codificada e sistematizada num texto único elaborado


,

por um órgão constituinte. Também conhecida por instrumental. Por exem-


plo, a atual Constituição do Brasil.

7 2 Não escrita
.

É também chamada costumeira. É a Constituição cujas normas não


constam de um documento único e solene, mas que se baseia principalmente
nos costumes, na jurisprudência e em convocações e textos constitucionais
esparsos. O exemplo clássico da doutrina é a Constituição inglesa.

2. QUANTO À ELABORAÇÃO
2 .
/ Dogmática
Será sempre escrita e elaborada por um órgão constituinte, sistema-
tizando os dogmas (pontos fundamentais de uma doutrina) ou as ideias
fundamentais da teoria política e do Direito dominante naquele momento.
Pode-se citar a atual Constituição do Brasil.

2 2 Histórica
.

Será sempre costumeira, não escrita e resultante de morosa formação


histórica ,do lento evoluir das tradições, dos fatos sociopolíticos que se cris-
28 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

talizam como normas fundamentais da organização de determinado Estado.


Cite-se a Constituição inglesa.
3. QUANTO À ORIGEM

3.
1 Popular
É a Constituição originária de um órgão constituinte composto por
representantes do povo, eleitos para o fim de a elaborar e estabelecer, como
são exemplos as Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988. De
regra, essas Constituições são promulgadas. É, também, conhecida por de-
mocrática ou promulgada.
3 .
2 Outorgada
É a Constituição elaborada e estabelecida sem a participação do povo;
aquela imposta outorgada pelo governante (rei, imperador, presidente de
junta governista, ditador), por si ou por interposta pessoa ou instituições, ao
povo, como o foram as Constituições brasileiras de 1824,1937,1967 e 1969.
Pode-se acrescentar aqui outro tipo de Constituição não propriamente
outorgada ou democrática, ainda que criada com a participação popular - é a
chamada Constituição cesarista, porque é formalizada por plebiscito popu-
" "

lar sobre um projeto elaborado por um imperador (plebiscito napoleónico) ou


um ditador (plebiscito de Pinochet no Chile). A participação popular, nesses
casos, não é democrática, pois visa apenas ratificar a vontade do detentor do
poder. Tecnicamente seria um referendo.
Alguns doutrinadores afirmam que o processo de positivação ou efe-
tivação de uma Constituição pode se dar através da promulgação, outorga,
referendo ou plebiscito.
3 3 Pactuada
.

É a constituição que tem origem no pacto de duas forças políticas instá-


veis. Tem por exemplo a Constituição da Grécia de 1844.
4. QUANTO À ESTABILIDADE, MUTABILIDADE, CONSISTÊNCIA
OU ALTERABILIDADE

4 .
7 Rígida
Constituição somente alterável mediante processos, solenidades e
exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os de formação
Cap. 4 . CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 29

das leis ordinárias e complementares. A Constituição Federal vigente é um


exemplo (3/5 em dois turnos, nas duas Casas do Congresso Nacional - art.
60, §2.°, CF/88).

4 2 Flexível
.

Constituição que pode ser livremente modificada pelo legislador, se-


gundo o mesmo processo de elaboração das leis ordinárias, sendo aprovada
por maioria simples.

4 .
3 Semirrígida ou semiflexível
Constituição que contém uma parte rígida e outra flexível, como a Consti-
tuição do Império, art. 178, que diz: "É só constitucional o que diz respeito aos
limites e atribuições respectivas dos poderes políticos e aos direitos políticos
e individuais dos cidadãos. Tudo o que não é constitucional pode ser alterado
"

sem as formalidades referidas, pelas legislaturas ordinárias .

4 4 Imutável
.

As Constituições que não podem ser alteradas são denominadas de


"

imutáveis". São também conhecidas por permanentes ou intocáveis.


Por fim, há quem classifique uma Constituição como super-rígida, que é
aquela que, além de exigir um procedimento mais complexo para sua alteração,
possui partes imutáveis pelo legislador ordinário. Trata-se de uma Constituição
rígida com previsão de cláusulas pétreas, como é o caso da nossa Constituição
Federal vigente para alguns doutrinadores. No entanto, a nossa Constituição
°
apenas impede alterações que reduzam direitos (art. 60, § 4. CF/88): "Não ,

será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 1 - a forma


federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a
"

separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais .

5. QUANTO À EXTENSÃO

5 / .
Sintética ou concisa

Constituição que contém reduzido número de artigos, ou seja, contém


apenas os princípios e normas referentes à estrutura do Estado (normas
constitucionais materiais: nacionalidade, direitos políticos, separação dos
poderes, entre outros.). É também conhecida por breve, sucinta, sumária ou
básica. Por exemplo, a Constituição dos Estados Unidos.
30 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

5 .
2 Analítica ou prolixa
Constituição que contém um número elevado de artigos. Possui normas
constitucionais materiais e formais (do meio ambiente dos índios, da família,
,

entre outros). É também conhecida por extensa, volumosa ou ampla. Por


exemplo, a Constituição do Brasil.

6. QUANTO À FUNÇÃO OU OBJETO


6 .
/ Dirigente
Constituição que contém um projeto político de Estado a ser desenvolvido,
com o cumprimento de metas estabelecidas.

6 2 Garantia
.

Constituição que visa garantir a proteção dos componentes do Estado,


assegurando liberdades e limitando o poder existente.
6 .
3 Balanço
Constituição que descreve e registra o poder estabelecido. Estaria vin-
culada com a evolução socialista procurando registrar as conquistas sociais
,

obtidas em cada etapa vencida.


Pode-se inferir que a Constituição Federal vigente é escrita dogmática, ,

popular, rígida e analítica, com normas constitucionais materiais e formais.


Além disso seria dirigente, pois possui normas prevendo programas a serem
,

desenvolvidos como a saúde, a previdência social, a educação, a assistência


,

social etc.; bem como garantia, pois estabelece direitos e garantias, tais como
os previstos no Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais.
Para questões diferenciadas da OAB e de concursos públicos do Minis-
tério Público ou da Magistratura é bom destacar as seguintes classificações
,

doutrinárias:
a) quanto à sistematização ou estrutura:
. orgânica ou reduzida: contida em um documento único (unitária);
. inorgânica ou variada: é a somatória de vários instrumentos
normativos.

b) quanto à religião:
. teocrática ou confessional: é aquela Constituição que adota uma
religião oficial (primeira Constituição brasileira-1824; religião:
católica apostólica romana);
Cap. 4 . CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 31

. laica (leiga ou não confessional): é aquela Constituição que não


adota uma religião oficial (art. 19,1, CF/88).
c) constituição plástica: é aquela que se modifica facilmente (constitui-
ção flexível), ou, para outros doutrinadores, é uma constituição com
vários conceitos indeterminados.
d) constituição eclética: é aquela que concilia ideologias opostas, prote-
gendo o capital privado e estimulando a assistência social.
e) constituição ortodoxa: é aquela que adota apenas uma ideologia.

Para muitos doutrinadores a CF/88 era unitária até a entrada em


vigor do Decreto 6.949/2009 (Convenção para a proteção das
pessoas portadoras de deficiência e o seu protocolo facultativo) V .
que foi aprovado nos termos do § 3. do art. 5.° da CF/88, sendo
°

equivalente a uma emenda constitucional.

resumindo

Quanto à forma a) Escrita


b) Não escrita
Quanto à elaboração a) Dogmática
b) Histórica

Quanto à origem a) Popular


b) Outorgada
Quanto à estabilidade a) Rígida
b) Flexível
c) Semirrigída
d) Imutável
Quanto à extensão a) Sintética ou concisa
b) Analítica ou prolixa
Quanto à função ou objeto a) Dirigente
b) Garantia
c) Balanço
Quanto à sistematização ou a) Orgânica ou reduzida
estrutura b) Inorgânica ou variada
Quanto à religião a) Teocrática ou confessional
b) Laica, leiga ou não confessional
Fenómenos que
surgem com uma nova
Constituição e a ordem
jurídica anterior

Como o ordenamento jurídico de um país envolve o comportamento


político e socioideológico de um povo, por vezes são necessários ajustes,
inclusive com a elaboração de uma nova Constituição que revoga a anterior.
,

1 . REVOGAÇÃO DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL


INCOMPATÍVEL

Normas infraconstitucionais materialmente incompatíveis com a nova


Constituição são tidas por revogadas segundo a regra de interpretação que
,

diz que normas posteriores e hierarquicamente superiores revogam as normas


anteriores e hierarquicamente inferiores.

2. RECEPÇÃO
Fenómeno que diz que toda legislação infraconstitucional anterior
compatível materialmente com a nova Constituição continua em pleno vigor .

São exemplos: o Código de Processo Civil (Lei 5.869/1973) o Código Penal


,

(Decreto-lei 2.848/1940), entre outros.


Destaque-se que as normas infraconstitucionais anteriores à Constituição
Federal vigente que a contrariarem formalmente podem continuar a viger ,

mas devem ser alteradas seguindo a nova determinação constitucional .

Pode-se citar como exemplo, o Código Penal, que, na origem, é um decreto-


,

lei , mas foi recepcionado como lei ordinária. Desse modo, para a criação
de um novo Código Penal basta a utilização de uma lei ordinária federal .

Percebe-se a recepção do Código Penal como lei ordinária com a leitura dos
incisos XXXIX (não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem ,

prévia cominação legal) e XL (a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar
o réu) do art. 5. da CF/88. O mesmo ocorreu com o Código de Processo
°
34 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Penal (Decreto-lei 3.689/1941), recepcionado como lei ordinária (art. 5.°,


XXXVIII eLX, da CF/88).

O Código Tributário Nacional (Lei 5.172/1966 - Lei Ordinária) foi


recepcionado como Lei Complementar (art. 146,1 a III, da CF/88).
Por fim, é importante destacar que o Supremo Tribunal Federal não
admite a chamada inconstitucionalidade superveniente de ato normativo
produzido antes da nova Constituição perante o novo modelo. Neste caso,
há compatibilidade e recepção ou revogação por incompatibilidade material.
Tem-se o princípio da contemporaneidade (uma lei é constitucional perante
o paradigma de confronto em relação ao qual ela foi produzida).

3 . REPRISTINAÇÃO
Em tal fenómeno, a nova Constituição revalida a legislação
infraconstitucional revogada pela Constituição que a antecedeu. Essa
restauração de eficácia, conhecida por repristinação, não deve ser admitida
em nosso ordenamento jurídico em virtude dos princípios da segurança e da
estabilidade das relações sociais. Não obstante, no plano infraconstitucional,
destaque-se o § 30 do art. 2.° do Decreto-lei 4.657/1942 (Lei de Introdução às
Normas de Direito Brasileiro - conforme redação dada pela Lei 12.376/2010) e
o efeito repristinatório de decisões do Supremo Tribunal Federal em controle
concentrado de constitucionalidade (ADIn Genérica).

4 . DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO
Nesse fenómeno, a nova Constituição recebe a anterior como legislação
infraconstitucional (lei ordinária). Essa tese não vigora entre nós, pois não
há justificativa e lógica para que as leis constitucionais sejam rebaixadas
para legislação ordinária. Além disso, como já visto, a Constituição é a Lei
Fundamental de um Estado e, como tal, reflete juridicamente o que há de
mais importante nele.
Destaque-se que, para alguns autores, haveria o instituto da prorrogação,
que seria a continuação de atos anteriores até a efetiva regulamentação de
°
acordo com a Constituição Federal de 1988. Por exemplo, art. 27, § 1. , art.
29, § 3.°, arts. 34 e 70, todos do ADCT da CF/88.
Cap. 5 . FENÓMENOS DA NOVA CONSTITUIÇÃO 35

Decisões sobre os temas:

"Repristinação. Limitaçãodosjuros (CF art. 192, §3.°). Lei 4.595/1964.


,

DL 167/1967. Recepção. A recepção de lei ordinária como lei complementar


pela Constituição posterior a ela só ocorre com relação aos seus dispositivos
em vigor quando da promu Igação desta não havendo que pretender-se a
,

ocorrência de efeito repristinatório porque o nosso sistema jurídico, salvo


,

disposição em contrário, não admite a repristinação (LICC art. 2.°, §3.°)" ,

(STF, AgAgRg235800/RS, 1 .fT, rei. Min. Moreira Alves). Obs.: A CF/88 foi
alterada pela EC 40/2003 que revogou o § 3.° do art. 192).
,

"Recurso extraordinário. Lei 9.430/1996. COFINS. Isenção .

Revogação. Sociedades de prestação de serviços de profissão legalmente


regulamentada. Ressalva de óptica pessoal O Plenário, apreciando
.

os Recursos Extraordinários 377.457-3/PR e 381 964-0/MG, concluiu .

mostrar-se legítima a revogação mediante o art. 56 da Lei 9.430/1996,


,

da isenção da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social


-

COFINS relativa às sociedades de prestação de serviços de profissão


legalmente regulamentada estabelecida noart. 6.°, II, da Lei Complementar
,

70/1991"(STF, RE-AgR477099/RS j. 16.12.2008, rei. Min. MarcoAurélio).


,

"

Agravo regimental no recurso extraordinário IPTU. Alíquota .

progressiva. Declaração incidental de inconstitucionalidade.


Legislação anterior. Repristinação Município de Porto Alegre. IPTU
.
.

Alíquota progressiva. LC 7/1973 na redação dada pela LC 212/1989.


,

Inconstitucionalidade da norma superveniente Hipótese anterior à .

promulgação da EC 29/2000. Agravo provido, para determinar a subida


dos autos principais, para melhor exame" (STF AI-AgR 465922/RS, j.
,

23.11.2004, rei. Min. Eros Grau).

Toda legislação infraconstitucional


anterior compatível materialmente
RECEPÇÃO
com a nova Constituição continua em
pleno vigor.
A nova Constituição revalida a
REPRISTINAÇÃO legislação infraconstitucional revogada
pela Constituição que a antecedeu.
A nova Constituição recebe a anterior
DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO como legislação infraconstitucional (lei
ordinária).
Aplicabilidade das normas
constitucionais

Todas as normas constitucionais são dotadas de eficácia jurídica ,

porém nem todas possuem efetividade (aplicabilidade). Segundo a doutrina


majoritária podem ser classificadas em:
,

1 .
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA PLENA

São aquelas normas de aplicabilidade imediata direta, integral, ,

independentemente de legislação infraconstitucional para sua inteira


operatividade (autoaplicáveis ou autoexecutáveis). Por exemplo arts. 1. ; ,
°

°
2 ; 13; 14, § 2.°; 17, § 4 0; 37, III; 44, parágrafo único; 69,76,145 § 2.°; entre
.

outros, da CF/88.

2 .
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA CONTIDA

São aquelas normas que têm aplicabilidade imediata integral, plena, ,

direta (autoaplicáveis ou autoexecutáveis) mas podem ter reduzido o seu


,

alcance pela atividade do legislador ordinário em virtude de autorização


,

constitucional. São também chamadas de normas de eficácia redutível ou


restringível.
Por exemplo inciso XIII do art. 5.° da CF/88: "É livre o exercício de
,

qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais


"

que a lei estabelecer ; inciso LVIII do art. 5.° da CF/88: "O civilmente
identificado não será submetido a identificação criminal salvo nas hipóteses
,

"

previstas em lei .

Bem como os incisos VIII , XV, XXVII, XXXIII, LX, LXI do art. 5.°, o art.
° °
9 .
, caput c/c § 1. o art. 170, parágrafo único, o art. 184, entre outros.
,

Destaque-se que a limitação das normas constitucionais pode ser


realizada não apenas por normas infraconstitucionais mas também por ,
38 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

normas constitucionais. É o caso, por exemplo, da decretação de estado de


defesa e do estado de sítio, onde há a possibilidade de restrição de direitos
°
constitucionais. São exemplos os arts. 136, § 1. e 139 da CF/88.
,

3 .
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA

São aquelas normas que dependem da emissão de uma normatividade


futura em que o legislador ordinário, integrando-lhes a eficácia mediante lei,
,

lhes dê capacidade de execução em termos de regulamentação dos interesses


visados (aplicabilidade diferida). São também chamadas de eficácia relativa ou
°
complementável - por exemplo, inciso XXVII do art. 7. da CF/88: "proteção
"

em face de automação, na forma da lei .

São outros exemplos: arts. 5.°, XXVIII, XXIX e XXXII; 7.°, IV e XXIII;
37,1 e VII; 153, VII, CF/88.
Neste tópico pode ainda existir uma subdivisão classificatória:

3 . 7 Normas de princípio institutivo

São aquelas que dependem da lei para dar corpo às instituições, pessoas e
órgãos previstos na Constituição (organizativo). São exemplos da Constituição
Federal vigente: § 3.° do art. 18, § 3.° do art. 25, art. 224, entre outros.

3 .
2 Normas de princípio programático

São aquelas que estabelecem programas a serem desenvolvidos mediante


legislação integrativa da vontade constituinte. São exemplos da Constituição
Federal vigente: arts. 196, 205, 214, 215, entre outros.
As normas constitucionais de eficácia limitada contêm eficácia jurídica
indireta, independentemente de regulamentação, pois revogam a legislação
anterior contrária aos ditames da nova Constituição, bem como impossibilitam
a elaboração de leis e atos normativos contrários à Lei Fundamental. Além
disso, autorizam a busca da regulamentação através do Poder Judiciário
(mandado de injunção ou ação direta de inconstitucionalidade supridora da
omissão), como adiante será visto.
Cap. 6 . APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Atentar para a seguinte decisão:


cuidado "
Habeas corpus. Orientação plenária do Supremo Tribunal

Sá Federal. Ordem concedida de ofício. 1. O Plenário do


Supremo Tribunal Federal firmou a orientação de que só é
'

possível a prisão civil do responsável pelo inadimplemento


'
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia (inciso
LXVII do art. 5.° da CF/88). Precedentes: HCs 87.585 e
92.566, da relatoria do ministro Marco Aurélio. 2. A norma
que se extrai do inciso LXVII do artigo 5.° da Constituição
Federal é de eficácia restringível. Pelo que as duas exceções
nela contidas podem ser aportadas por lei, quebrantando,
assim, a força protetora da proibição, como regra geral, da
prisão civil por dívida. 3. O Pacto de San José da Costa Rica
(ratificado pelo Brasil - Decreto 678, de 6 de novembro de
1992), para valer como norma jurídica interna do Brasil,
há de ter como fundamento de validade o § 2.° do art. 5.°
da Magna Carta. A se contrapor, então, a qualquer norma
ordinária originariamente brasileira que preveja a prisão civil
por dívida. Noutros termos: o Pacto de San José da Costa Rica,
passando a ter como fundamento de validade o § 2. do art. °

5 da CF/88, prevalece como norma supralegal em nossa


.
°

ordem jurídica interna e, assim, proíbe a prisão civil por


dívida. Não é norma constitucional - à falta do rito exigido
pelo § 3.° do art. 5.°-, mas a sua hierarquia intermediária de
norma supralegal autoriza afastar regra ordinária brasileira
que possibilite a prisão civil por dívida. 4. Na concreta
situação dos autos, a prisão civil do paciente foi decretada
com base na não localização dos bens penhorados e a ele
confiados em depósito. A autorizar, portanto, a mitigação
da Súmula 691. 5. Habeas corpus não conhecido. Ordem
"
concedida de ofício (STF, HC 94935/SP, j. 10.02.2009, São
Paulo. rei. Min. Carlos Britto) - grifo nosso.

Posteriormente, foi editada a Súmula Vinculante 25, que determina ser


ilícita qualquer modalidade de prisão de depositário infiel.
DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

note
PLENA

- Não dependem de regulamentação.


- Normas de aplicabilidade direta, imediata, integral.
-

Independentes, absolutas, livres.


-> Dica: via de regra, o verbo da norma é o verbo
" "
no presente do indicativo.
ser

Não aparecem expressões como: "nos termos da


lei", "de acordo com a lei" etc. Ex.: art. 13 CF
,

CONTIDA (eficácia redutível, restringível)


-

Não dependem de regulamentação mas a CF/88 au-


,

toriza o legislador ordinário a reduzir direito previsto


na CF/88.

-> Dica: via de regra, o verbo da norma é o verbo


Normas "
ser
"
no presente do indicativo.
Constitucionais -

> Vão aparecer expressões que envolvem ressalvas


de Eficácia: vinculadas à "lei":
"
salvo hipóteses que a lei estabelecer" "salvo pre-
"
visão legal etc. Ex.: Art. 5.°, XIII, CF / art. 5.°, LXVII,
,

CF.

LIMITADA

- Dependem de regulamentação (norma infraconstitu -

cional).
. Limitada programática: estabelece programas a se-
rem desenvolvidos.

. Limitada institutiva: estabelece criação de órgãos ou


de entes.
-

> Dica: o verbo da norma é voltado para o futuro.


-

> Vão aparecer expressões como: "de acordo com a


lei", "definidos em lei" etc. Ex.: Art. 37 VII, CF.
,
Conteúdo das normas
constitucionais

1 . NORMAS MATERIALMENTE CONSTITUCIONAIS

São as normas que tratam de assuntos tipicamente constitucionais como


,

a forma do Estado a forma de governo, o modo de aquisição e exercício do


,

poder, a definição dos principais órgãos estatais, a limitação do poder, entre


outros assuntos.

Algumas normas tratam de matéria constitucional mas não estão inse-


,

ridas na Constituição. Por exemplo o Código Eleitoral trata de regras sobre


,

aquisição do poder tema tipicamente constitucional, mas de maneira formal


,

não passa de uma lei ordinária podendo ser revogado por outra lei de mesmo
,

nível hierárquico.

2. NORMAS FORMALMENTE CONSTITUCIONAIS

São constitucionais por estarem previstas na Constituição. Trata-se de


uma questão de localização ou topografia. Ressalte-se que tais normas podem
ser retiradas da Constituição sem alterar a estrutura do Estado São exemplos
.

da Constituição Federal vigente: Do desporto (art 217), Da ciência e tecno-


.

logia (art. 218) Da família, da criança, do adolescente e do idoso (art. 226),


,

o Colégio Pedro II localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na


,

órbita federal (art. 242 § 2.°), entre outros.


,

No Brasi I, se uma norma formalmente constitucional estabele-


cer um direito será considerada limitação material às mudanças
constitucionais (cláusula pétrea) não podendo ser retirada da
Constituição Federal (art. 60, § 4.°, IV CF/88).
,
O poder constituinte

O poder constituinte pode ser classificado em originário derivado de


,

reforma e derivado decorrente.

É a expressão da vontade suprema do povo social e juridicamente or-


,

ganizado.

1. PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO, GENUÍNO, PRIMÁRIO


OU DE PRIMEIRO GRAU

É um poder de fato que institui a Constituição de um Estado , com as


seguintes características: inicial absoluto, soberano, ilimitado, independente
,

e incondicionado. Esse Estado pode ter sido criado naquele instante e por isso
necessita de uma Constituição para estruturá-lo ou ele já existia anterior-
,

mente, e em razão disso, já possuía uma Constituição, porém esta se tornou


,

ultrapassada em relação à evolução sociopolíticocultural entre outros fatores.


,

O limite possível é a vedação do retrocesso em relação direitos humanos


previstos em tratados internacionais. Desse modo, ao elaborar uma nova
constituição o país deve respeitar os direitos humanos previstos em tratados
internacionais que ele seja parte. Também conhecido como efeito "cliquet"
(ampliação de direitos).

Inicial: Começa um novo país juridicamente;


Absoluto: É soberano;
Características do Soberano: É absoluto;
Poder Constituinte Ilimitado: Não tem limites;

Originário Independente: Não depende de outro país;


Incondicionado: Não depende de preencher condições .

Obs. Atentar para vedação do retrocesso.


44 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

2 .
PODER CONSTITUINTE DERIVADO DE REFORMA OU DE
EMENDABILIDADE

Este poder pressupõe a existência de uma Constituição, e nesta há a


expressa previsão de como poderá ser alterado o texto constitucional, tare-
fa que cabe ao legislador ordinário. Este tipo de poder possui as seguintes
características: secundário, relativo, condicionado e limitado. É um poder
de direito resultante do texto constitucional, também chamado de poder de
revisão de reforma, secundário reformador, de segundo grau ou poder de
,

emendabilidade, que edita emendas constitucionais. Podem-se citar como


exemplos: o art. 60 da Constituição Federal de 1988 e o art. 3. do ADCT.
°

Na atualidade, somente será possível alterar a Constituição Federal


mediante o procedimento previsto no art. 60. Destaque-se que o sistema de
aprovação das emendas constitucionais é o mesmo para a constitucionali-
zação de tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos (art.
5° .
, §3.°, CF/88).
Por fim, é possível, no plano informal, que a doutrina e a jurisprudência
realizem a mutação constitucional sem mudar o texto literal da Constituição.
Por exemplo, o conceito de casa, do art. 5.°, XI, da CF/88, pode ser domicílio,
residência, local de trabalho, entre outros.

2 1 .
Revisão constitucional

Prevê a Constituição Federal, no Ato das Disposições Constitucionais


Transitórias (ADCT), mais precisamente em seu art. 3.°: "A revisão constitu-
cional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Consti-
tuição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional,
em sessão unicameral
"

Dessa forma, a revisão constitucional só poderia iniciar-se após


05.10.1993, fato que realmente ocorreu com a edição das seis emendas cons-
titucionais de revisão, sendo a primeira promulgada em 01.03.1994 e a última
em 07.06.1994 (ADIn 815/96 e ADIn 981/93 - emendas constitucionais de
e não podem mais ser utilizadas).
" "
revisão uma só vez

Havia, portanto, uma limitação temporal ao tempo da reforma. A revi-


são da Constituição Federal de 1988 só seria possível após cinco anos de sua
promulgação e somente uma vez (devendo respeitar as cláusulas pétreas).
No que tange às emendas constitucionais comuns, não existe esse tipo de
limitação, deduzindo-se que atualmente só pode ser alterada a Constituição
por meio de emendas constitucionais (art. 60, CF/88).
Cap. 8 . O PODER CONSTITUINTE 45

2 2 Emenda constitucional
.

Art. 59,1, e art. 60 da Constituição Federal de 1988.

22
.
1 Limitações ao poder derivado de emenda
.

Existem limitações ao poder de emenda de três índoles diversas:


Limitações procedimentais ou formais - Relaciona-se ao procedimento ou
ao mecanismo a ser adotado para modificar a Constituição. O art. 60,1, II e
III, trata da iniciativa, ou seja, de quem pode propor um projeto de emenda
constitucional; nos seus §§ 2. 3.° e 5.°, e como deve ser o procedimento para
°
,

emendar a Constituição.
Iniciativa: de no mínimo um terço dos Deputados ou Senadores Federais,
do Presidente da República ou de um projeto com a anuência de mais da me-
tade das Assembleias Legislativas da Federação brasileira, manifestando-se
a maioria relativa de seus membros em cada uma delas.

Trâmite: a proposta será discutida e votada na Câmara dos Deputados


e no Senado Federal, em dois turnos, com a obtenção em cada um deles de
três quintos dos votos dos respectivos membros de cada Casa. Se aprovada,
a emenda constitucional será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Depu-
tados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem (presidente,
°
1 vice-presidente, 2.° vice-presidente, 1.°, 2.°, 3.° e 4.° secretários). Cumpre
.

destacar que a matéria constante de emenda constitucional rejeitada ou pre-


judicada não poderá ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
Limitações circunstanciais - O art. 60, em seu § 1.°, estabelece que, haven-
do determinadas circunstâncias, a Constituição não poderá ser emendada. São
os casos de vigência de intervenção federal (arts. 34 a 36, CF/88), de estado
de defesa (art. 136, CF/88) ou de estado de sítio (arts. 137 a 139, CF/88).
Limitações materiais - São as chamadas limitações materiais explícitas,
cláusulas pétreas, cerne fixo, cláusulas de inamovibilidade, cláusulas ina-
bolíveis, cláusulas inamovíveis ou núcleos constitucionais intangíveis, ou
seja partes da Constituição que não podem ser modificadas por emendas
,

constitucionais para abolir direitos.


As cláusulas pétreas só poderão ser retiradas da Constituição se houver
nova Assembleia Nacional Constituinte, que, como se sabe, não encontra
limites. As cláusulas pétreas explícitas estão previstas no § 4 0 do art. 60 e
são os seguintes casos: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto,
universal e periódico; a separação dos Poderes; e os direitos e garantias indi-
46 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

viduais. Cabe observar que o próprio dispositivo que contém tais vedações
é também intangível.
Cumpre lembrar que existem as cláusulas pétreas implícitas que são ,

°
mandamentos constitucionais que, apesar de não estarem previstos no § 4.
do art. 60 não podem ser retirados da Constituição, pois o espírito do órgão
,

constituinte assim o desejou. São exemplos o próprio procedimento das


"
emendas constitucionais e os arts. 127 e 142: Art. 127.0 Ministério Público
é instituição permanente "Art. 142. As Forças Armadas, constituídas
pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
"

permanentes e regulares (...) (grifos nossos).

note
-Ver também art 144, §§ 1.°, 2.°e3.°, da CF/88.
.
BEM
-

Lembrar do adjetivo "permanente(s)" constante do texto


constitucional, queé um indicativo de cláusula pétrea implícita.

2 3 Controle de constitucionalidade da reforma constitucional


.

Toda modificação constitucional feita com desrespeito do procedimento


especial estabelecido ou de preceito que não possa ser objeto de emenda pa-
decerá de vício de inconstitucionalidade formal (limitações procedimentais e
circunstanciais) ou material (limitações materiais), conforme o caso, e assim
ficará sujeita ao controle de constitucionalidade pelo Judiciário, tal como se
dá com as leis ordinárias.

Decisões sobre o tema:

"
É juridicamente possível o controleabstratodeconstitucionalidadeque
tenha por objeto emenda à Constituição Federal quando se alega violação
das cláusulas pétreas inscritas no art. 60, § 4.°, da CF. Precedente citado:
ADIn 939/DF (RTJ 151/755)" (STF, ADIn 1,946/DF, Pleno, j. 07.04.1999,
rei. Min. Sydney Sanches, DJ, Seção I, 16.04.1999, p. 2).
OSupremoTribunal Federal admitea legitimidade do parlamentar-e
"

somente do parlamentar - para impetrar mandado de segurança com a


finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou
emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais
"
que disciplinam o processo legislativo. Precedentes do STF (...) (STF,
MS 24.667-AgR, j. 04.12.2003, rei. Min. CarlosVelloso, DJ23.04.2004).
Cap. 8 . O PODER CONSTITUINTE 47

3 .
PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE

É o poder dos Estados-membros da Federação de se constituírem, ou


seja, de elaborarem suas próprias Constituições, respeitando os princípios
constitucionais da Lei Fundamental da União (Constituição Federal vigen-
te). Também chamado de poder secundário federativo. Fundamento legal:
art. 25 (Estados). Note-se que é possível ampliar esse poder para englobar
os Municípios (art. 29) e o Distrito Federal (art. 32), destacando que estes se
regem por Lei Orgânica. Para alguns doutrinadores a Lei Orgânica Municipal
,

"
não seria uma Constituição", tendo caráter de lei ordinária, e, portanto, não

caberia controle de constitucionalidade, mas de legalidade. Nesse caso, não


haveria poder constituinte decorrente.
Cumpre destacar o art. 11 do ADCT, que assim estabelece: "Art. 11.
Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a
Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da
Constituição Federal, obedecidos os princípios desta. Parágrafo único.
Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no
prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de
discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na
Constituição Estadual".

note
Por fim, a titularidade do poder constituinte pertence ao povo. BEM
As assembleias constituintes não titularizam o poder consti-
tuinte, sendo apenas órgãos aos quais se atribui, por delegação
popular, o exercício de tal prerrogativa. Da mesma forma, o
Congresso Nacional não é o titular do poder de revisão cons-
titucional, mas apenas o instrumento para tal fim.
48 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Originário (1.° grau, genuíno, primário)


- Poder para fazer a 1 a ou nova constituição para um Estado.
.

O povo elege a Assembleia Nacional Constituinte para fazer


"

"
uma Constituição (Povo: titular do poder constituinte/ ANC:
quem exercera o poder constituinte / Objeto: Constituição).
-

Características: inicial, soberano, absoluto, ilimitado, indepen-


dente e incondicionado. Salvo em relação aos direitos humanos
(vedação do retrocesso).
Derivado Reformador (2° grau, de revisão, de emendabilidade,
secundário de mudança ou derivado de reforma)
- Depende do Poder Originário Se a Constituição for imutável,
.

não haverá esse poder.


-

Características: secundário, relativo, condicionado e limitado.


Poder - Art. 3.° do ADCT - Emendas Constitucionais de Revisão. São
Constituinte apenas seis - não podem mais ser usadas por decisão do STF
(ADIN 815 e 981).
-
Art. 60 da CF/88 - Emendas Constitucionais (único meio de
modificar a CF/88).

Derivado Decorrente (decorrente, secundário federativo)


-

Depende do Poder Originário.


-

É o poder que autoriza os entes federativos a elaborarem suas


normas fundamentais.
- Art 25, caput, da CF/88: Cada Estado-membro pode elaborar
.

sua Constituição Estadual, respeitando a CF.


-

Art. 32, caput, da CF/88: O DF pode elaborar Lei Orgânica,


respeitando a CF.
-

Art. 29, caput, da CF/88: Os Municípios podem fazer suas Leis


Orgânicas, respeitando a CE e a CF/88.
Controle de
constitucionalidade

1 . SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
O Estado juridicamente organizado tem sustentação em uma Constituição.
Todos os atos realizados dentro desse Estado que impliquem em uma relação
jurídica devem estar de acordo com a Constituição.

2 .
CONCEITO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

O controle de constitucionalidade é a verificação da compatibilidade


vertical que necessariamente deve haver entre a Constituição e as normas
infraconstitucionais a ela subordinadas.

A doutrina destaca que o controle de constitucionalidade surgiu nos


Estados Unidos, em uma Constituição que não o previa expressamente.
Porém, o juiz John Marshall, presidente da Suprema Corte norte-americana ,

ao decidir o caso Marbury x Madison de 1803, deduziu de seu sistema esse


,

controle e reconheceu pertencer ele ao Judiciário.


No caso, William Marbury fora nomeado para o cargo dejuiz de Paz no ,

condado de Washington, no distrito de Colúmbia de acordo com os trâmites


,

constitucionais; porém, o Secretário de Estado James Madison não queria


entregar o título de comissão a Marbury, que por sua vez recorreu ao Judiciário ,

momento em que o juiz Marshall demonstrou que se a Constituição americana


,

era a base do direito e imutável por meios ordinários as leis comuns que a
,

contradissessem não eram verdadeiramente leis não eram direito. Assim, essas
,

leis seriam nulas, não obrigando os particulares. Além disso demonstrou que,
,

cabendo ao Judiciário dizer o que é o direito é a ele que compete indagar da


,

constitucionalidade de uma lei.

Sobre o tema controle de constitucionalidade concentrado é necessário


,

destacar: "Há países que, ao invés de adotarem o sistema da jurisdição difusa ,


50 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

adotam de modo explícito os procedimentos particulares para o controle de


constitucionalidade. Na Europa inteira, há somente um país (Irlanda) que
confere, expressamente, o controle de constitucionalidade à magistratura
e mesmo assim com temperamentos, pois atribui o controle apenas a duas
Cortes superiores. A partir da primeira guerra mundial, uma série crescente de
constituições tem adotado um terceiro caminho, ou seja, não é atribuído nem ao
próprio Legislativo, nem aojudiciário, o poder de decidir a constitucionalidade
das leis. Tal poder eles conferem a um órgão especial, de caráter constitucional
e de natureza jurídico-política. São as Cortes Constitucionais (Áustria, 1920,
sob influência de Kelsen; Tchecoslováquia, 1920; Espanha Republicana, 1931;
Turquia, 1961). Foram, também, adotadas na América Latina (Guatemala,
1965; Chile, 1925). A Constituição austríaca de 1920, ao dispor sobre a
jurisdição do Estado, estabelece que os tribunais não têm o direito de apreciar
a validade das leis regularmente publicadas. Se um tribunal tiver contra a
aplicação de um regulamento objeções deduzidas de sua ilegalidade, deverá
interromper o processo e requerer à Alta Corte Constitucional a cassação do
regulamento em tela (art. 89). Essa disposição, porém, não se aplica à Corte
Constitucional (art. 140, 5), que tem importantes competências (arts. 137 e
ss.), entre elas a de julgar sobre a inconstitucionalidade das leis, ou de ofício,
nos processos que lhe forem submetidos, ou a pedido do Governo Federal, em
relação às leis provinciais, ou a pedido dos Governos provinciais em relação
às Leis Federais (art. 140,1)" (Ronaldo Rebello de Britto Poletti, Controle de
constitucionalidade das leis, 2. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1997, p. 62-63).

3 . INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO


Esse fenómeno surge com a produção de atos legislativos ou administrativos
que não estejam de acordo com as normas ou princípios da Constituição:
a) são atos legislativos: as emendas à Constituição, as leis complementares,
as leis ordinárias, as leis delegadas, as medidas provisórias, os decretos
legislativos e as resoluções;
b) são atos normativos (administrativos): resoluções, decretos, portarias,
entre outros editados pelo Poder Executivo, além das normas
regimentais dos tribunais federais e estaduais.
O fundamento dessa inconstitucionalidade está ligado ao princípio da
supremacia da Constituição, ou seja, só devem existir no mundo jurídico as
normas que estejam de acordo com a Constituição.
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 51

Saliente-se que existe inconstitucionalidade formal ou orgânica se há o


desrespeito ao procedimento previsto na Constituição para a realização de
um ato jurídico. Por exemplo: se é exigida a assinatura de 1/3 dos membros
da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal para a propositura de um
projeto de emenda constitucional (art. 60, I, CF/88), qualquer número
inferior ao estabelecido caracteriza uma inconstitucionalidade formal. De
regra, acarreta uma nulidade total. São outros exemplos: violar o sistema de
aprovação de uma norma (art. 69 CF/88) ou a espécie normativa específica
,

(art. 161, CF/88).


Decisão sobre o tema:

Por ofensa ao art. 61, § 1.°, II, a e c, da CF/88 - que atribuem ao chefe
"

do Poder Executivo a iniciativa de leis que disponham sobre a remunera-


ção e o regime jurídico de servidores públicos -, oTribunal, por maioria,
julgou procedente o pedido formulado em ação direta ajuizada pelo
Governador do Estado da Paraíba, para declarar a inconstitucionalidade
formal do art. 39 da Constituição, do mesmo Estado, que assegurava a
servidores públicos, em cada nível de vencimento, como garantia do
princípio da hierarquia salarial, 'um acréscimo nunca inferior a cinco por
cento do nível imediatamente antecedente, e a fixação, entre cada classe,
referência ou padrão, dediferença não inferioracincopor cento Vencidos
'
.

os Ministros Carlos Britto e Marco Aurélio, que julgavam improcedente


a ação relativamente ao alegado vício formal. Precedente citado: ADIn
1 977/PB {DJV 02.05.2003)" (STF, ADIn 2.863/PB, j. 11.09.2003, rei. Min.
.

Nelson Jobim, (ADIn 2.863).

A chamada inconstitucionalidade material é a adoção de atos jurídicos


que violem as cláusulas pétreas (art. 60, § 4.°, CF/88) ou direitos materiais
constitucionais. Por exemplo: uma emenda constitucional que estabeleça a
°
pena de prisão perpétua estaria violando o inciso IV do § 4. do art. 60, ou
seja, estaria violando uma garantia fundamental prevista no art. 5. XLVII, b. °
,

Dependendo do caso concreto pode haver nulidade total (uma lei que possui
,

só um artigo que é inconstitucional) ou parcial (apenas um artigo de uma lei


que possui vários artigos).
Decisão sobre o tema:

O Supremo Tribunal Federal já assentou o entendimento de que é


"

admissível a ação direta de inconstitucional idade de emenda constitucional


quando se alega, na inicial, que esta contraria princípios imutáveis ou as
chamadas cláusulas pétreas da Constituição originária (art. 60, § 4.°, CF).
Precedente: ADIn 939 (RTJ151 /755)" (STF ADIn 1.946-MC, j. 29.04.1999,
,

rei. Min. Sydney Sanches, DJ 14.09.2001).


52 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Para fins de concurso, lembre-se que o art. 5.° da CF/88 é cláusula pétrea.
Além disso, normas infraconstitucionais anteriores à CF/88 podem ser
recepcionadas mesmo que haja incompatibilidade formal - como exemplos
clássicos temos o Código Penal e o Código de Processo Penal, que foram
criados através de Decreto-lei mas foram recepcionados como lei ordinária
federal.

Cumpre destacar a inconstitucionalidade progressiva, que é aquela


que acontece quando há uma norma constitucional de eficácia limitada não
regulamentada e as leis anteriores atuariam sobre o tema até a edição da
norma infraconstitucional (lei em trânsito para a inconstitucionalidade). Por
exemplo, art. 68 do CPP (enquanto não implementada a Defensoria Pública,
o Ministério Público promoverá a ação civil ex delicto).

note
Inconstitucionalidade por arrastamento: uma parte da norma BEM
é inconstitucional e atrai o resto da norma ou os atos de
regulamentação; inconstitucionalidade direta: há uma norma
contrária à Constituição; inconstitucionalidade reflexa ou
oblíqua: atoregulamentarcontrariaa lei; inconstitucionalidade
derivada ou consequente: a norma e seus atos regulamentares
contrariam a Constituição.

4 .
INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO

Há uma norma constitucional de eficácia limitada que não foi


regulamentada, ou seja, existe um direito assegurado na Constituição, porém
não é possível exercê-lo em virtude da ausência de regulamentação.
Pode-se citar como exemplo o art. 7.°, XXVII, da CF/88, que prevê a
proteção dos trabalhadores em face da automação, na forma da lei, mas, se
essa proteção não se formalizar por omissão do legislador em produzir a lei
aí referida e necessária à plena aplicação da norma, estar-se-á diante de uma
omissão passível de interposição de uma ação direta de inconstitucionalidade
por omissão ou de um mandado de injunção, visando obter do legislador a
elaboração da lei em referência. Outros exemplos da Constituição Federal
°
vigente: arts. 7. IV e XXIII; 37,1 e VII; 153, VII; 207, § 1.°, entre outros.
,
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 53

Decisão sobre o tema:


"O Tribunal julgou três mandados de injunção impetrados,
respectivamente, pelo Sindicato dos Servidores da Polícia Civil no
Estado do Espírito Santo- SINDIPOL, pelo Sindicato dosTrabalhadores
em Educação do Município de João Pessoa - SINTEM e pelo Sindicato
dosTrabalhadores do Poder Judiciário do Estado do Pará-SINJEP, em que
se pretendia fosse garantido aos seus associados o exercício do direito de
greve previsto no art. 37, VII, da CF ( art. 37. (...): VII - o direito de greve
i

'
será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica; ) O -

Tribunal, por maioria, conheceu dos mandados de injunção e propôs


a solução para a omissão legislativa com a aplicação, no que couber,
da Lei 7.783/1989, que dispõe sobre o exercício do direito de greve
na iniciativa privada (STF, Ml 670/ES, j. 25.10.2007, rei. orig. Min.
"

Maurício Corrêa, rei. p/o acórdão Min. GilmarMendes;STF, Ml 708/DF,


j 25.10.2007, rei. Min. Gilmar Mendes, STF, Ml 712/PA, j. 25.10.2007,
.

rei. Min. Eros Grau).

5 . CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

5 . / Quanto ao momento em que é exercido

5 1
. .
1 Preventivo, priorístico ou a priori
Opera antes que o ato (particularmente a lei) se aperfeiçoe, ou seja, o
controle é feito sobre o projeto de lei. No Brasil, o controle preventivo é exercido
pelo Poder Legislativo (Comissões de Constituição e Justiça) e pelo Poder
Executivo por meio do veto presidencial por inconstitucionalidade (art. 66, §
1 CF/88). Nada impede que o Poder Judiciário o exerça excepcionalmente,
.
°
,

por exemplo, por mandado de segurança proposto por parlamentar federal no


STF referente a processo legislativo em andamento (Informativo do STF 320).
Decisões sobre o tema:

OSupremoTribunal Federal admitea legitimidade do parlamentar-


"

e somente do parlamentar- para impetrar mandado de segurança com a


finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou
emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais
"

que disciplinam o processo legislativo. Precedentes do STF (...) (STF,


MS24.667-AgR,j.04.12.2003, rei. Min. CarlosVelloso, D/23.04.2004).
A sanção do projeto de lei nãoconvalidaovíciode inconstitucionalidade
"

resultante da usurpação do poder de iniciativa. A ulterior aquiescência


do Chefe do Poder Executivo, mediante sanção do projeto de lei, ainda
quando dele seja a prerrogativa usurpada, não tem o condão de sanar o
54 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

vício radical da inconstitucionalidade. Insubsistência da Súmula 5/STF .

Doutrina. Precedentes" (ADIn 2.867, j. 03.12.2003 rei. Min. Celso de


,

Mello, D/09.02.2007). No mesmo sentido: ADIn 1.963-MCe 1 070-MC. .

5 1
. .
2 Repressivo, posterior sucessivo ou a posteriori
É o controle exercido sobre a lei ou ato normativo de regra, já existente
,

no ordenamento jurídico. A exceção ocorre com as normas constitucionais de


eficácia limitada ainda não regulamentadas (casos de mandado de injunção
ou de ADIn/ADI supridora da omissão). No Brasil o controle repressivo é ,

confiado ao Poder Judiciário. Excepcionalmente a Constituição Federal


,

vigente admite que o Poder Legislativo retire a efetividade de certas normas


infraconstitucionais. São os seguintes casos: a) medidas provisórias rejeitadas
pelo Congresso Nacional por não atenderem aos requisitos de relevância e
urgência ou outra inconstitucionalidade (art. 62 § 5.°); b) decreto legislativo
,

do Congresso Nacional visando sustar atos normativos do Poder Executivo que


exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa (art.
49, V, c/c art. 84 IV, e 68); c) resolução do Senado que suspende a execução,
,

no todo ou em parte de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva


,

do Supremo Tribunal Federal em controle difuso de constitucionalidade


(art. 52, X).
Decisão sobre o tema:
"Conforme entendimento consolidado da Corte, os requisitos
constitucionais legitimadores da edição de medidas provisórias vertidos ,

nos conceitos jurídicos indeterminados de 'relevância' e 'urgência' (art .

62 da CF), apenas em caráter excepcional se submetem ao crivo do Poder


Judiciário, por força da regra da separação de poderes (art. 2.° da CF)
(ADIn 2.213, rei. Min. Celso de Mello, Dl 23.04.2004; ADIn 1.647, rei.
Min. CarlosVelloso, D/26.03.1999; ADIn 1.753-MC, rei. Min. Sepúlveda
Pertence, Dl 12.06.1998; ADIn 162-MC, rei. Min. Moreira Alves Dl ,

19.09.1997)" (ADC 11 -MC, voto do Min. Cezar Peluso j. 28.03.2007, ,

D) 29.06.2007).

5.
2 Quanto ao número de órgãos encarregados do controle
5 2
. . 1 Concentrado>, reservado ou austríaco

Um único órgão desempenha esta função. Exemplo: Supremo Tribunal


Federal para julgar as ADIn ADECON e ADPE Também chamado de controle
,

fechado abstrato ou objetivo. Foi idealizado por Hans Kelsen.


,
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 55

5 2
. . 2 Difuso, aberto ou norte-americano

Todos os magistrados, ao julgarem seus processos, podem exercer o


controle de constitucionalidade dentro da sua competência jurisdicional.
Por exemplo, RE, MS, MI e HC. Também chamado de indireto, concreto,
incidental e subjetivo.

note
O STF também realiza o controle difuso (art. 102,1, d, /*, /, q, r, BEM
II, III, da CF/88).
v
O Brasil adota os dois sistemas.

5 .
3 Quanto à natureza do órgão controlador

53 1
. .
Político

Quando o controle é exercido por órgão não pertencente ao Poder


Judiciário, como as Comissões de Constituição e Justiça e a Presidência da
República no Brasil, no controle preventivo. Destaque-se a existência de
,

tribunais constitucionais em alguns países (Alemanha, França, Itália etc.).

53. . 2 Judiciário

Sempre que a averiguação de concordância entre um ato e as regras


constitucionais é conferida a um órgão do Poder Judiciário.

6 . CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE JUDICIÁRIO


6 .
7 Quanto à posição do controle em relação ao objeto da causa
6 1
. .
1 Principal
Quando o objeto da causa é única e exclusivamente a análise da questão
constitucional. A decisão limita-se a declarar a constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade do ato impugnado. O ato (geralmente a lei) é examinado
em tese e desvinculado de qualquer caso concreto. Se for ato normativo, este
deve ser genérico, impessoal e abstrato.
É o controle por via de ação direta e em controle abstrato da constitu-
cionalidade.
56 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

6 12
. .
Incidental

A constitucionalidade é mera questão preliminar que precisa ser resolvida


para que possa ser solucionada a questão principal.
Por exemplo um contribuinte quer deixar de recolher um imposto
,

por considerar inconstitucional a norma que o criou. A questão da


constitucionalidade da norma deve ser resolvida em primeiro para que então ,

possa ser decidido se o recolhimento do imposto é ou não devido.


É o chamado controle concreto (porque está vinculado a um caso
concreto), por via de exceção ou defesa. De regra tem efeito ex tunc (retroativo),
,

mas pode ter efeito ex nunc (em diante) (modulação de efeitos semelhante ,

à Adin/ADI Genérica - RE 353657/PR e RE 370682/SC Informativo do STF ,

473).

6 2 Quanto aos efeitos da decisão


.

62
. .
1 Inter partes
Os efeitos da declaração de inconstitucionalidade atingem apenas as
partes litigantes. Pessoas na mesma situação devem propor suas próprias
ações, para nelas receberem idêntica decisão. É o efeito existente de regra, ,

no caso concreto (arts. 480 a 482 CPC). Podendo ser ampliado por resolução
,

do Senado Federal nos termos do art. 52, X da CF/88 (suspensão da norma,


,

qualquer que seja a espécie - erga omnes).

62
.
2 Erga omnes
.

As decisões definitivas de mérito , proferidas pelo STF, nas ações diretas


de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade
de lei ou ato normativo federal ou estadual produzirão eficácia contra
,

todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder


Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal (art. 102 § 2.°, CF/88). É o efeito existente no controle
,

concentrado.

Cumpre observar que, em se tratando de decisão de tribunal esta deve ,

ser tomada necessariamente pela maioria absoluta do Plenário ou do órgão


especial (art. 97 c/c art. 93 IX, CF/88).
,
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Atentar para o art. 97 da CF/88 e Súmula Vinculante 10.


"
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus importante
membros ou dos membros do respectivo órgão especial
poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei
ou ato normativo do Poder Público."

Súmula Vinculante 10: "Viola a cláusula de reserva de plenário


(CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de Tribunal que,
embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de
lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência,
no todo ou em parte
"
.

623
. .
Decisões no controle concentrado de constitucionalidade

Se o STF declarar uma lei inconstitucional, ela é nula, não produzindo


nenhum efeito jurídico válido. Segundo a doutrina as declarações de nulidade
,

de lei podem ser:


a) nulidade total: a lei inteira é declarada inconstitucional normalmente,
,

por vício formal (iniciativa, quorum, procedimento legislativo, entre


outros);
b) nulidade parcial: apenas parte da lei é declarada inconstitucional;
c) nulidade parcial sem redução de texto: declara-se a inconstitucionalidade
apenas de determinada hipótese de aplicação da lei reconhecendo
,

a possibilidade de aplicação da lei a outras hipóteses (não cobrança


de tributo no mesmo exercício financeiro porém nos próximos
,

exercícios financeiros será possível exigi-lo);


d) interpretação conforme a Constituição: havendo duas ou mais
interpretações possíveis de uma lei declara-se aquela que deve ser
,

°
adotada (constitucional). Por exemplo, o § 3 0 do art. 7. do EOAB
(o advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo de
exercício da profissão, em caso de crime inafiançável...) não abrange
a hipótese de desacato à autoridade judiciária (ADIn 1.127-8). Outro
exemplo sem redução de texto, é o caso da Adin 2.924/SP: pagamentos
,

complementares são somente aqueles decorrentes de erro material


e inexatidão aritmética contidos no precatório original bem assim ,

da substituição por força da lei, do índice aplicado (art. 336, V,


,

Regimento Interno do TJSP, e art. 100 CF/88 -Informativo do STF 478).


,
58 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

7.
O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL

7 / .
Preventivo

7 1
. . 1 Comissões de Constituição e Justiça
Na esfera federal, previstas nos regimentos internos da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, examinam a constitucionalidade dos projetos
de lei, dando parecer sujeito à apreciação do Plenário. Somente na esfera
federal o mesmo projeto de lei passa por duas Comissões de Constituição e
Justiça (Câmara dos Deputados e Senado Federal).

7 1
. .
2 Veto presidencial por inconstitucionalidade
A Constituição Federal vigente, no art. 66, § 1.°, prevê o veto por dois
motivos: contrariedade ao interesse público e inconstitucionalidade do projeto
de lei. No primeiro caso, o veto não significa controle de constitucionalidade,
pois seu motivo é a simples discordância do Presidente em relação à
vontade do Congresso (veto político). No segundo caso, sim, é controle de
constitucionalidade, porque o Presidente veta o projeto por considerá-lo
contrário à Constituição (veto jurídico).

note
É possível que o Poder Judiciário, excepcionalmente, realize
o controle preventivo. Cite-se, como exemplo, a propositura
de mandado de segurança para realizar o controle de
constitucional idade difuso no STF por parlamentares (Deputados
ou Senadores Federais) no processo legislativo em andamento
-
Informativo do STF 320).

7 2 Repressivo
.

Como já visto, o Poder Judiciário é que realiza esse controle, porém a


Constituição Federal vigente admite que o Poder Legislativo (Congresso
Nacional) retire a efetividade de certas normas infraconstitucionais através da
rejeição de medidas provisórias inconstitucionais (art. 62, § 5. ) e da adoção
°

de decreto legislativo visando sustar atos normativos do Poder Executivo que


exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa (art.
49, V, c/c arts. 84, IV, e 68).
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 59

Cumpre observar que o Senado Federal realiza o controle repressivo de


constitucionalidade ao suspender a execução, no todo ou em parte, de lei
declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal
em controle difuso de constitucionalidade (art. 52, X, CF/88).
No mais das vezes, os casos a seguir descritos são os mais comuns em
concurso.

Regra
a) Poder Legislativo: Comissão de
Preventivo: Projeto de Lei Constituição e Justiça
b) Poder Executivo: Veto por
Inconstitucionalidade (Veto Jurídico)

Regra
Repressivo: Lei ou ato normativo em Poder Judiciário - Controle difuso e
vigor concentrado

72 /
. .
Recurso extraordinário

O recurso extraordinário é a última etapa do controle difuso realizado


pelos juízes e tribunais do País e é o mecanismo por meio do qual o Supremo
Tribunal Federal dá a palavra final sobre uma questão constitucional. Pode ser
interposto contra decisão de Tribunal proferida em única ou última instância.
É controle incidental (por via de exceção) e repressivo.
As hipóteses de cabimento do recurso extraordinário são apenas aquelas
previstas no art. 102, III, da Constituição Federal vigente.
Os efeitos da decisão proferida no recurso extraordinário atingem, em
princípio, apenas as partes litigantes. Porém, quando o Supremo Tribunal
Federal declarar uma lei inconstitucional, por decisão definitiva, o Senado
Federal poderá, mediante resolução, suspender a execução da lei em todo
o território nacional (art. 52, X, CF/88), dando assim eficácia erga omnes à
decisão do Supremo.
No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão
geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a
fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo
recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros (art. 102, §
3.
°
,
CF/88).
60 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

note

A Lei 11.418/2006 regulamentou a repercussão geral.

72
. .
2 Mandado de injunção
LXXI, da CF/88: "Conceder-se-á mandado de injunção sempre
Art. 5.° ,

que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos


e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade à ,

"
soberania e à cidadania .

Qualquer direito ou liberdade constitucional não regulamentada pode


ser objeto de um mandado de injunção. Esse remédio constitucional será
apreciado, detidamente, mais adiante.

72
.
3 Ação direta de inconstitucionalidade genérica (ADIn/ADI
.

Genérica)

Objetivo: banir do ordenamento jurídico a lei ou o ato normativo estadual


ou federal em tese atingidos pelo vício da inconstitucionalidade (art. 102 1, a, ,

CF/88). Admite-se, também, a ADln Genérica contra emenda constitucional.


Por ausência de previsão constitucional o STF não admite ações diretas de
,

inconstitucionalidade de leis ou atos normativos municipais em face da


Constituição Federal (impossibilidade jurídica do pedido). É possível o
controle difuso, podendo chegar pela via recursal ao STF (RE) produzindo ,

efeitos entre as partes. Se uma lei municipal contrariar a Constituição Estadual


é possível uma ADln Genérica estadual proposta no Tribunal de Justiça (art.
125 ,
§2.°, CF/88).
O STF tem admitido o controle concentrado sobre o decreto autónomo
(art. 84, VI e XII, CF/88) ou sobre os decretos que tenham extravasado o
poder regulamentar do Poder Executivo, invadindo matéria reservada à lei.
Legitimidade ativa: as pessoas elencadas no art. 103 1 a IX, da CF/88
,

e no art. 2.°da Lei 9.868/1999. Saliente-se que as Mesas das Assembleias


Legislativas e da Câmara Legislativa, os Governadores dos Estados e do
Distrito Federal e as confederações sindicais (organizadas com no mínimo
três federações, estabelecidas em pelo menos três Estados, nos termos do
art. 535 da CLT - ADln 939-7/DF) e entidades de classe de âmbito nacional
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 61

devem demonstrar a pertinência temática (interesse) para propor a ação direta


de inconstitucionalidade, e por isso são também denominados de autores
especiais ou interessados. Por outro lado, o Presidente da República, as
Mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, o Procurador-Geral da
República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e partido
político com representação no Congresso Nacional não necessitam demonstrar
interesse especial para a propositura da ação de inconstitucionalidade, sendo
por isso denominados de autores universais ou neutros.
Competência parajulgar: Supremo Tribunal Federal (art. 102,1, a, CF/88).
Quórum de instalação: oito Ministros (2/3 de seus membros - art. 22 da
Lei 9.868/1999).
Quórum de aprovação: maioria absoluta, ou seja, pelo menos seis dos
onze Ministros do STF devem manifestar-se pela inconstitucionalidade (art.
97, CF/88).
Admite-se medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade (arts.
10 a 12 da Lei 9.868/1999).
Efeitos: declarada inconstitucional, a lei torna-se inaplicável, fazendo
a decisão coisa julgada, com efeitos erga omnes e vinculante, de acordo
com o art. 102, § 2. da CF/88 (relativamente aos demais órgãos do Poder
°
,

Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,


estadual e municipal) e a Lei 9.868/1999 (parágrafo único do art. 28). Além
disso, de regra, tem efeito ex tunc, podendo ser dado efeito ex nunc se houver
manifestação de 2/3 dos Ministros (art. 27, Lei 9.868/1999 - modulação dos
efeitos ou mutação temporal). A cautelar tem efeito ex nunc, podendo ser
concedido o efeito ex tunc (art. 11, § 1. °
,
Lei 9.868/1999). De acordo com o
STF, o Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não está vinculado
às decisões de ADIn.

Cumpre observar que a petição inicial deverá ser apresentada em duas


viasdevendo conter cópias da lei ou do ato normativo impugnado e dos
,

documentos necessários para comprovar a impugnação, nos termos do art.


°
3 parágrafo único, da Lei 9.868/1999.
.
,

Decisões sobre o tema:


"
Ação direta de inconstitucionalidade. ADIn. Inadmissibilidade. Art.
14, § 4.°, da CF. Norma constitucional originária. Objeto nomológico
insuscetível de controle de constitucionalidade. Princípio da unidade
hierárquico-normativaecaráter rígido da Constituição brasileira. Doutrina.
Precedentes. Carência da ação. Inépcia reconhecida. Indeferimento da
62 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

petição inicial. Agravo improvido. Não se admite controle concentrado


ou difuso de constitucionalidade de normas produzidas pelo poder
"

constituinte originário (ADIn 4.097-AgR, j. 08.10.2008, rei. Min. Cezar


Peluso, D/f 07.11.2008).
"

Ação direta de inconstitucional idade. Condição. Objeto. Decreto que


cria cargos públicos remuneradoseestabeleceasrespectivasdenominações ,

competências e remunerações. Execução de lei inconstitucional.


Caráter residual de decreto autónomo. Possibilidade jurídica do pedido.
Precedentes. É admissível controle concentrado deconstitucionalidade de
decreto que, dando execução a lei inconstitucional crie cargos públicos
,

remunerados e estabeleça as respectivas denominações competências, ,

atribuições e remunerações. Inconstitucionalidade. Ação direta. Art. 5.° da


Lei 1.124/2000, do Estado doTocantins. Administração pública. Criação
de cargos efunções. Fixação de atribuições e remuneração dos servidores.
Efeitos jurídicos delegados a decretos do Chefe do Executivo. Aumento
de despesas. Inadmissibilidade. Necessidade de lei em sentido formal ,

de iniciativa privativa daquele. Ofensa aos arts. 61 § 1.°, II, a, e 84, VI, a,
,

da CF. Precedentes. Ações julgadas procedentes. São inconstitucionais a


lei que autorize o Chefe do Poder Executivo a dispor mediante decreto,
,

sobre criação de cargos públicos remunerados, bem como os decretos


"

que lhe deem execução (ADIn 3.232, j. 14.08.2008, rei. Min. Cezar
Peluso, D)E 03.10.2008). No mesmo sentido: ADIn 3.983 e ADIn 3.990 ,

j 14.08.2008, rei. Min. Cezar Peluso, Informativo 515.


.

Súmula 642 do STF: "Não cabe ação direta de incons- *


titucionalidade de lei do Distrito Federal derivada da sua fflHIOrt®®
competência legislativa municipal".

7 2
. .
4 Ação direta de inconstitucionalidade interventiva (ADIn/
ADI Interventiva)

Objetivo: restabelecer o respeito dos princípios constitucionais previstos


no inciso VII do art. 34 da CF/88 (princípios constitucionais sensíveis).
Legitimidade ativa: Procurador-Geral da República - PGR - Chefe do
Ministério Público da União (arts. 129 IV, e 36, III, CF/88).
,

Competência parajulgar: Supremo Tribunal Federal (art. 102 ,


1, a ,
CF/88).
Quórum de instalação: oito Ministros (2/3 de seus membros - art. 22,
Lei 9.868/1999).
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 63

Quórum de aprovação: maioria absoluta, ou seja, pelo menos seis dos


onze Ministros do STF devem manifestar-se pela inconstitucionalidade (art.
97 da CF/88).
Efeitos: restaurar a supremacia constitucional, com efeitos erga omnes e
vinculante. Além disso, tem efeito ex nunc.
Cumpre destacar que é possível a ADIn Interventiva Estadual com as
devidas adaptações (art. 35, IV, da CF/88). Assim vejamos:
Objetivo: restabelecer o respeito dos princípios constitucionais estaduais
desrespeitados por lei municipal (art. 35, IV, CF/88).
Legitimidade ativa: Procurador-Geral de Justiça do Estado - Chefe do
Ministério Público Estadual PGJ/MPE (art. 129, IV, CF/88).
Competência para julgar: Tribunal de Justiça (art. 35, IV, CF/88).
Quórum de instalação: 2/3 dos membros do Tribunal ou do órgão especial.
Quórum de aprovação: maioria absoluta (art. 97, CF/88).
Efeitos: restaurar a supremacia constitucional, com efeitos erga omnes e
vinculante. Além disso, tem efeito ex nunc.
Em ambos os casos, federal ou estadual, a decisão do Poder Judiciário
será comunicada ao chefe do Poder Executivo respectivo, que, por meio
de decreto, suspenderá a execução do ato impugnado; caso tal ato não seja
suficiente para restabelecer a constitucionalidade, poderá o chefe do Poder
Executivo decretar a intervenção, nomeando interventor e usando dos demais
atos constritivos necessários.

Sobre o tema é importante a competência do Presidente da República


para expedir decretos (art. 84, IV e X, CF/88).
Cumpre observar que a petição inicial deverá ser apresentada em duas
vias, devendo conter cópias da lei ou do ato normativo impugnado e dos
documentos necessários para comprovar a impugnação, nos termos do art.
°
3 parágrafo único, da Lei 9.868/1999.
.
,

Decisões sobre o tema:

O descumprimento voluntário e intencional de decisão transitada


"

em julgado configura pressuposto indispensável ao acolhimento do


pedido de intervenção federal. A ausência de voluntariedade em não
pagar precatórios, consubstanciada na insuficiência de recursos para
satisfazer os créditos contra a Fazenda Estadual no prazo previsto no §
1 do art. 100 da Constituição da República, não legitima a subtração
.
°

temporária da autonomia estadual, mormente quando o ente público,


apesar da exaustão do erário, vem sendo zeloso, na medida do possível,
64 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

com suas obrigações derivadas de provimentos judiciais" (IF 1 91 7-AgR, .

j 17.03.2004, rei. Min. Maurício Corrêa, Dl 03.08.2007)


.
.

"
Precatórios judiciais. Não configuração de atuação dolosa e deliberada
do Estado de São Paulo com final idade de não pagamento Estado sujeito
.

a quadro de múltiplas obrigações de idêntica hierarquia Necessidade .

de garantir eficácia a outras normas constitucionais como, por exemplo,


,

a continuidade de prestação de serviços públicos. A intervenção como ,

medida extrema, deve atender à máxima da proporcionalidade Adoção .

da chamada relação de precedência condicionada entre princípios


constitucionais concorrentes" (IF 298 , j. 03.02.2003, rei. p/o ac. Min.
Gilmar Mendes, DJ 27.02.2004).

72
.
5 Ação direta de inconstitucionalidade supridora da omissão
.

ou por omissão (ADIn/ADI-SO/PO)


Objetivo: pleitear a regulamentação de uma norma constitucional Há .

a omissão do legislador que deixa de criar a lei necessária à aplicabilidade e


,

eficácia de normas constitucionais ou a do administrador, que não adota as


,

providências necessárias para tornar efetiva a medida constitucional. Existe


uma norma constitucional de eficácia limitada ainda não regulamentada
(inconstitucionalidade por omissão).
Legitimidade ativa: as pessoas indicadas no art. 103 1 a IX, da CF/88 e ,

no art. 12-A da Lei 9.868/1999. Saliente-se que as Mesas das Assembleias


Legislativas e da Câmara Legislativa os Governadores dos Estados e do
,

Distrito Federal e as confederações sindicais (organizadas com no mínimo


três federações, estabelecidas em pelo menos três Estados nos termos do ,

art. 535 da CLT - ADIn 939-7/DF) e entidades de classe de âmbito nacional


devem demonstrar a pertinência temática (interesse) para propor a ação direta
de inconstitucionalidade e por isso são também denominados de autores
,

especiais ou interessados. Por outro lado o Presidente da República, as


,

Mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados o Procurador-Geral da ,

República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e partido


político com representação no Congresso Nacional não necessitam demonstrar
interesse especial para a propositura da ação de inconstitucionalidade , e por
isso são denominados de autores universais ou neutros.

Competência para julgar: STF (art. 102,1, a, CF/88).


Quórum de instalação: oito Ministros (2/3 de seus membros - art. 22,
Lei 9.868/1999).
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 65

Quórum de aprovação: maioria absoluta, ou seja, pelo menos seis dos


onze Ministros do STF devem manifestar-se pela inconstitucionalidade (art.
97 da CF/88).
A Lei 12.063/2009 alterou a Lei 9.868/1999 e inovou ao incluir e
estabelecer no art. 12-F a possibilidade de medida cautelar na ADI PO.
Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, oTribunal,
"

por decisão da maioria absoluta de seus membros, observado o disposto


no art. 22, poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos
órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que
deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias. § 10 A medida cautelar
poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo
questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de
processos judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em
outra providência a ser fixada pelo Tribunal. § 2 O relator, julgando
"

indispensável, ouvirá o Procurador-Geral da República, no prazo de


3 (três) dias. § 3° No julgamento do pedido de medida cautelar, será
facultada sustentação oral aos representantes judiciais do requerente e
das autoridades ou órgãos responsáveis pela omissão inconstitucional,
"

na forma estabelecida no Regimento do Tribunal.


Efeitos: declarando-se a inconstitucionalidade por omissão o Supremo ,

Tribunal Federal deverá dar ciência ao poder competente para que sejam
tomadas as medidas necessárias e, em se tratando de órgão administrativo,
°
para fazê-lo em 30 dias (art. 103, § 2. da CF/88). Destaque-se que o § 1.°
,

do art. 12-H da Lei 9.868/1999 estabelece que em caso de omissão de órgão


administrativo as providências deverão ser adotadas no prazo de trinta dias,
ou em prazo razoável a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo
em vista as circunstâncias específicas do caso e o interesse público envolvido.
Cumpre observar que a petição inicial deverá ser apresentada em duas
vias devendo conter cópias da lei ou do ato normativo impugnado e dos
,

documentos necessários para comprovar a impugnação, nos termos do art.


12-B, parágrafo único, da Lei 9.868/1999.
Decisões sobre o tema:

Não é necessária a manifestação do Advogado-Geral da União, art.


"

103, § 3.°, da Constituição, em ação direta de inconstitucionalidade


"

por omissão (ADIn 480, j. 13.10.1994, rei. Min. Paulo Brossard, DJ


25.11.1994).
Sobre a criação de municípios: "OTribunal, por unanimidade, julgou
procedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade
por omissão ajuizada pela Assembleia Legislativa do Estado de Mato
DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Grosso, para reconhecer a mora do Congresso Nacional em elaborar a lei


complementarfederalaqueserefereo§4. doart. 18daCF, naredaçãodada
°

pela EC15/1996, e, por maioria, estabeleceu o prazo de 18 meses para que


este adote todas as providências legislativas ao cumprimento da referida
norma constitucional. (...) Em seguida, quanto ao mérito, salientou-se
que, considerado o lapso temporal de mais de 10 anos, desde a data da
publicação da EC 15/96, à primeira vista, seria evidente a inatividade
do legislador em relação ao cumprimento do dever constitucional de
legislar (CF, art. 18, § 4.°- norma de eficácia limitada). Asseverou-se,
entretanto, que não se poderia afirmar uma total inércia legislativa, haja
vista os vários projetos de lei complementar apresentados e discutidos no
âmbito das Casas Legislativas. Não obstante, entendeu-se que a inertia
deliberandi (discussão e votação) também poderia configurar omissão
passível de vir a ser reputada morosa, no caso de os órgãos legislativos
não deliberarem dentro de um prazo razoável sobre o projeto de lei em
tramitação. Aduziu-se que, na espécie, apesar dos diversos projetos de
lei apresentados, restaria configurada a omissão inconstitucional quanto
à efetiva deliberação da lei complementar em questão, sobretudo tendo
em conta a pletora de Municípios criados mesmo depois do advento da
EC 15/1996, com base em requisitos definidos em antigas legislações
estaduais, alguns declarados inconstitucionais pelo Supremo, ou seja,
uma realidade quase que imposta por um modelo que, adotado pela
aludida emenda constitucional, ainda não teria sido implementado, em
toda a sua plenitude, em razão da falta da lei complementar a que alude
o mencionado dispositivo constitucional. Afirmou-se, ademais, que a
decisão que constata a existência de omissão constitucional e determi na ao
legislador que empreenda as medidas necessárias à colmatação da lacuna
inconstitucional constitui sentença de caráter nitidamente mandamental,
que impõe, ao legislador em mora, o dever, dentro de um prazo razoável,
de proceder à eliminação do estado de inconstitucionalidade, e que, em
razão de esse estado decorrente da omissão poder ter produzido efeitos
no passado, faz-se mister, muitas vezes, que o ato destinado a corrigir a
omissão inconstitucional tenha caráter retroativo. Considerou-se que, no
caso, a omissão legislativa inconstitucional produzira evidentes efeitos
durante o longo tempo transcorrido desde o advento da EC 15/1996,
no qual vários Estados-membros legislaram sobre o tema e diversos
Municípios foram efetivãmente criados, com eleições realizadas, poderes
municipais estruturados, tributos recolhidos, ou seja, toda uma realidade
fática e jurídica gerada sem fundamento legal ou constitucional, mas
que não poderia ser ignorada pelo legislador na elaboração da lei
complementar federal. Em razão disso, concluiu-se pela fixação de um
parâmetro temporal razoável -18 meses- para que o Congresso Nacional
edite a lei complementar federal reclamada, a qual deverá conter normas
"

específicas destinadas a solver o problema dos Municípios já criados. (...)


(ADIn3.682/MT,j. 09.05.2007, rei. Min. Gilmar Mendes, j. 09.05.2007).
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 67

72
. . 6 Ação declaratória de constitucionalidade (ADECON/
ADECO/ADC)

Objetivo: definir a constitucionalidade de lei ou de ato normativo federal


(art. 102,1, a, da CF/88), impugnada em processos concretos, tendo recebido,
nas instâncias inferiores maioria de decisões desfavoráveis. A prova da
,

controvérsia deve acompanhar a petição inicial (art. 14 da Lei 9.868/99).


Legitimidade ativa: as pessoas elencadas no art. 103 da CF/88 (Presidente
da República, Mesa do Senado Federal, Mesa da Câmara dos Deputados,
Mesa da Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal Governador de Estado ou do Distrito Federal, Procurador-Geral da
,

República Conselho Federal da OAB, partido político com representação no


,

Congresso Nacional, confederação sindical - organizadas com no mínimo


três federações, estabelecidas em pelo menos três Estados, nos termos do art.
535 da CLT - ADln 939-7/DF - ou entidade de classe de âmbito nacional).
Competência parajulgar: Supremo Tribunal Federal (art. 102,1, a, CF/88).
Quórum de instalação: oito Ministros (2/3 de seus membros - art. 22,
Lei 9.868/1999).
Quórum de aprovação: maioria absoluta, ou seja, pelo menos seis dos
onze Ministros do STF devem manifestar-se pela constitucionalidade (art.
97, CF/88).
Admite-se medida cautelar em ação declaratória de constitucionalidade
(art. 21 da Lei 9.868/1999).
Efeitos: erga omnes, vinculante, de acordo com o art. 102 § 2.°, da CF/88
,

e parágrafo único do art. 28 da Lei 9.868/1999 (relativamente aos demais


órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta nas,

esferas federal estadual e municipal), e ex tunc.


,

Cumpre destacar que a decisão que declara a constitucionalidade ou


a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em
ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos
declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória (art. 26,
Lei 9.868/1999). De regra, o Advogado-Geral da União não participa da ADC.
Observe-se que a petição inicial deverá ser apresentada em duas vias ,

devendo conter cópias do ato normativo questionado e dos documentos


necessários para comprovar a procedência do pedido de declaração de
constitucionalidade, nos termos do art. 14, parágrafo único, da Lei 9.868/1999.
Decisão sobre o tema:
68 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

"As decisões plenárias do Supremo Tribunal Federal - que deferem


medida cautelar em sede de ação declaratória de constitucionalidade
-

revestem-se de eficácia vinculante. Os provimentos de natureza


cautelar acham-se instrumentalmente destinados a conferir efetividade
ao julgamento final resultante do processo principal, assegurando, desse
modo, exante, plena eficácia à tutela jurisdicional do Estado, inclusive no
que concerne às decisões que, fundadas no poder cautelar geral - inerente
a qualquer órgão do Poder Judiciário -, emergem do processo de controle
normativo abstrato, instaurado mediante ajuizamento da pertinente ação
declaratória de constitucionalidade" (Rcl 1.770, j. 29.05.2002, rei. Min.
Celso de Mello, D) 07.02.2003).

Ações dúplices ou ambivalentes: o nome da ação não vincula


a decisão. No julgamento de uma ADIn o STF pode declarar _
nrtílIllG
a norma constitucional e no julgamento de uma ADC o STF IImP®"
pode declarar a norma inconstitucional.

72
.
7 Arguição de descumprimento de preceito fundamental
.

(ADPF)

Regulamentação: a Lei 9.882/1999 regulamentou a Arguição de


Descumprimento de Preceito Fundamental prevista no art. 102, § 1,°, da CF/88.
Objetivo: evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de
ato do Poder Público (art. 1. caput, da Lei 9.882/1999). Caberá também
°
,

quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei


ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição (art. 1.°, parágrafo único, da Lei 9.882/1999). A ADIn 2231-8/
DF, em medida liminar, suspendeu em parte a aplicação desse parágrafo único
(ampliação da competência do STF por lei ordinária - lei ou ato normativo
municipal, e incluídos os anteriores à Constituição).
Princípio da subsidiariedade (art. 4.°, § 1.°, da Lei 9.882/1999): não
se admite a ADPF quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a
lesividade.

Legitimidade ativa: as mesmas pessoas legitimadas para propor a


ADIn (art. 2.°, Lei 9.882/1999): art. 103,1 a IX, da CF/88 e art. 2.° da Lei
9.
868/1999. Saliente-se que as Mesas das Assembleias Legislativas e da
Câmara Legislativa, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal e
as confederações sindicais (organizadas com no mínimo três federações,
estabelecidas em pelo menos três Estados, nos termos do art. 535 da CLT -
ADIn 939-7/DF) e entidades de classe de âmbito nacional devem demonstrar
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 69

a pertinência temática (interesse) para propor a arguição de descumprimento


de preceito fundamental, e por isso são também denominados de autores
especiais ou interessados. Por outro lado, o Presidente da República, as
Mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, o Procurador-Geral
da República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e
partido político com representação no Congresso Nacional não necessitam
demonstrar interesse especial para a propositura da referida ação, e por isso
são denominados de autores universais ou neutros. Há quem entenda não ser
necessária a pertinência temática, pois um preceito fundamental foi violado.
Competência para julgar: STF (art. 102, § 1.°, CF/88).
Quórum de instalação: oito Ministros (2/3 de seus membros - art. 8.°,
Lei 9.882/1999).
Quórum de aprovação: maioria absoluta, ou seja, pelo menos seis dos onze
Ministros do STF devem manifestar-se pela violação de preceito fundamental
(art. 97, CF/88).
Admite-se medida liminar em arguição de descumprimento de preceito
fundamental (art. 5.° da Lei 9.882/1999).
Efeitos: fixa as condições e o modo de interpretação e aplicação do preceito
fundamental (art. 10, caput, Lei 9.882/1999), "com eficácia contra todos e
efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Público (art. 10,
"

§ 3.°, Lei 9.882/1999). Além disso, de regra, tem efeito ex tunc, podendo ser
dado efeito ex nunc se houver manifestação de 2/3 dos Ministros (modulação
temporal ou mutação de efeitos - art. 11, Lei 9.882/1999). A liminar poderá
determinar a suspensão de processos e decisões judiciais, respeitada a coisa
julgada (art. 5.°, § 3.°, Lei 9.882/1999).
Por fim, a decisão que julgar procedente ou improcedente o pedido em
arguição de descumprimento de preceito fundamental é irrecorrível, não
podendo ser objeto de ação rescisória (art. 12, Lei 9.882/1999).
Decisões sobre o tema:
"
Prevista no§ 1.° do art. 102 da Constituição da República, a arguição
de descumprimento de preceito fundamental foi regulamentada pela Lei
9 882/1999, que dispõe no art. 1.°: 'Art. 1,° A arguição prevista no § 1.° do
.

art. 102 da Constituição Federal será proposta peranteo SupremoTribunal


Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental,
resultante de ato do Poder Público E, no art. 3.°: 'Art. 3.° A petição inicial
'
.

deverá conter: I - a indicação do preceito fundamental que se considera


violado; II - a indicação do ato questionado; III - a prova da violação do
preceito fundamental; IV - o pedido, com suas especificações; V - se for o
caso, a comprovação da existência de controvérsia judicial relevante sobre
DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

a apl icação do preceito fundamental que se considera violado'. A arguente


funda o pedido em exemplos de atuação do Ministério Público Federal
(fls. 23/25), mas desprovidos todos de qualquer conteúdo concreto e
específico que implique descumprimentodealgum preceito fundamental .

Não há, pois, a rigor, objeto determinado na demanda que apenas revela
,

discordância com formas de atuação do Ministério Público doTrabalho ,

ao qual a arguente nega competência constitucional para propor ações


civis públicas e sugerir assinatura de ajuste de conduta. Ainda que assim
não fosse, o conhecimento da ação encontraria óbice no princípio da
subsidiariedade. É que a Lei 9.882/1999 prescreve no art. 4.°, § 1.°, que
,

se não admitirá arguição de descumprimento de preceito fundamental


quando houver outro meio eficaz de sanar a lesividade. Ora, no caso,
é fora de dúvida que o ordenamento jurídico prevê outros remédios
processuais ordinários que, postos à disposição da arguente, são aptos e
eficazes para lhe satisfazer de todo a pretensão substantiva que transparece
a esta demanda. É o que, aliás, já reconheceu esta Corte
em decisão do ,

Min. Gilmar Mendes, na ADPF 96 (DJ 19.10.2006) onde, em termos ,

idênticos, se questionava atuação do Ministério Público doTrabalho"


(ADPF 94, j. 18.05.2007, rei. Min. Cezar Peluso, decisão monocrática,
Dl 25.05.2007)".
A possibilidade de instauração, no âmbito do Estado-membro de
"

processo objetivo de fiscalização normativa abstrata de leis municipais


contestadas em face da Constituição Estadual (CF, art. 125, § 2.°) torna
inadmissível, por efeito da incidência do princípio da subsidiariedade (Lei
9.
882/1999, art. 4.°, § 1.°), o acesso imediato à arguição de descumprimento
de preceito fundamental. É que, nesse processo de controle abstrato de
normas locais, permite-se, ao Tribunal de Justiça estadual , a concessão,
até mesmo in limine, de provimento cautelar neutralizador da suposta
lesividade do diploma legislativo impugnado a evidenciar a existência,
,

no plano local, de instrumento processual de caráter objetivo apto a sanar ,

de modo pronto e eficaz, a situação de lesividade, atual ou potencial ,

alegadamente provocada por leis ou atos normativos editados pelo


Município. Doutrina. Precedentes. (...). A mera possibilidade de utilização
de outros meios processuais, contudo, não basta, só por si para justificar a
,

invocação do princípio da subsidiariedade, pois, para que esse postulado


possa legitimamente incidir- impedindo, desse modo, o acesso imediato à
argu ição de descumprimento de preceito fundamental - revela-se essencial
que os instrumentos disponíveis mostrem-se capazes de neutralizar, de
maneira eficaz a situação de lesividade que se busca obstar com o
,

ajuizamento desse writ constitucional. (...). Incide na espécie, por isso


,

mesmo, o pressuposto negativo de admissibilidade a que se refere o art .

§ 1.°, da Lei 9.882/1999, circunstância esta que torna plenamente


°
4.
,

invocável, no caso, a cláusula da subsidiariedade, que atua - ante as


razões já expostas - como causa obstativa do ajuizamento, perante esta
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 71

Suprema Corte, da arguição de descumprimento de preceito fundamental.


Sendo assim, tendo em consideração as razões invocadas, não conheço da
presente ação constitucional, restando prejudicado, em consequência, o
exame do pedido de medida liminar (ADPF 100-MC, j. 15.12.2008, rei.
"

Min. Celso de Melo, decisão monocrática, DJE 18.12.2008).


ADPF 130/ DF- Ementa: Lei de Imprensa. Adequação da ação. Regime
constitucional da "liberdade de informação jornalística expressão
"

sinónima de liberdade de imprensa. A plena liberdade de imprensa


" "

como categoria jurídica proibitiva de qualquer tipo de censura prévia.


A plenitude da liberdade de imprensa como reforço ou sobretutela das
I iberdades de manifestação do pensamento, de informação e de expressão
artística, científica, intelectual e comunicacional. Liberdades que dão
conteúdo às relações de imprensa e que se põem como superiores bens
de personalidade e mais direta emanação do princípio da dignidade da
pessoa humana. O capítulo constitucional da comunicação social como
segmento prolongador das liberdades de manifestação do pensamento, de
i nformação e de expressão artística, científica, intelectual ecomunicacional.
Transpasse da fundamentalidade dos direitos prolongados ao capítulo
prolongador. Ponderação diretamente constitucional entre blocos de
bens de personalidade: o bloco dos direitos que dão conteúdo à liberdade
de imprensa e o bloco dos direitos à imagem, honra, intimidade e vida
privada. Precedência do primeiro bloco. Incidência a posteriori do segundo
bloco de direitos, para o efeito de assegurar o direito de resposta e assentar
responsabilidades penal, civil eadministrativa, entre outras consequências
doplenogozoda liberdade de imprensa. Peculiarfórmula constitucional
de proteção a interesses privados que, mesmo incidindo a posteriori, atua
sobre as causas para inibirabusosporparte da imprensa. Proporcionalidade
entre liberdade de imprensa e responsabilidade civil por danos morais e
materiais a terceiros. Relação de mútua causalidade entre liberdade de
imprensa e democracia. Relação de inerência entre pensamento crítico
e imprensa livre. A imprensa como instância natural de formação da
opinião públ ica e como alternativa à versão oficial dos fatos. Proibição de
monopol izar ou oligopolizar órgãos de imprensa como novo e autónomo
fator de inibição de abusos. Núcleo da liberdade de imprensa e matérias
apenas perifericamente de imprensa. Autorregulação e regulação social
da atividade de imprensa. Não recepção em bloco da Lei 5.250/1967 pela
nova ordem constitucional. Efeitos jurídicos da decisão, procedência da
ação. (...) 12. Procedência da ação. Total procedência da ADPF, para o
efeito de declarar como não recepcionado pela Constituição de 88 todo
o conjunto de dispositivos da Lei federal 5.250, de 9 de fevereiro de 1967.
(STF, ADPF 130/DF - Distrito Federal, Tribunal Pleno, j. 30.04.2009, rei.
Min. Carlos Britto, DJ 06-11-2009).
ADPF 187 - Liberdades fundamentais e "Marcha da Maconha"- Por
entender que o exercício dos direitos fundamentais de reunião e de livre
DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

manifestação do pensamento devem ser garantidos a todas as pessoas ,

o Plenário julgou procedente pedido formulado em ação de descumpri-


mento de preceito fundamental para dar ao art 287 do CP, com efeito
.

vinculante , interpretação conforme a Constituição, de forma a excluir


qualquer exegese que possa ensejar a criminalização da defesa da lega-
lização das drogas, ou de qualquer substância entorpecente específica ,

inclusive através de manifestações e eventos públicos Preliminarmente,


.

rejeitou-se pleito suscitado pela Presidência da República e pela Advoca-


cia-Geral da União no sentido do não-conhecimento da ação visto que, ,

conforme sustentado, a via eleita não seria adequada para se deliberar


sobre a interpretação conforme. Alegava-se no ponto, que a linha ténue
,

entre o tipo penal e a liberdade de expressão só seria verificável no caso


concreto. Aduziu-se que se trataria de arguição autónoma cujos pressu-
,

postos de admissibilidade estariam presentes. Sal ientou-se a observância,


na espécie, do princípio da subsidiariedade. Ocorre que a regra penal
em comento teria caráter pré-constitucional e, portanto não poderia,

constituir objeto de controle abstrato mediante ações diretas de acordo ,

com a jurisprudência da Corte. Assim, não haveria outro modo eficaz


de se sanar a lesividade arguida senão pelo meio adotado. Enfatizou-se
,

a multiplicidade de interpretações às quais a norma penal em questão


estaria submetida, consubstanciadas em decisões a permitir e a não per-
mitir a denominada "Marcha da Maconha" por todo o país Ressaltou-se .

existirem graves consequências resultantes da censura à liberdade de


expressão e de reunião, realizada por agentes estatais em cumprimento
de ordens emanadas do Judiciário. Frisou-se que, diante do quadro de
incertezas hermenêuticas em torno da aludida norma a revelar efetiva e
,

relevante controvérsia constitucional, os cidadãos estariam preocupados


em externar, de modo livre e responsável as convicções que desejariam
,

transmitir à coletividade por meio da pacífica utilização dos espaços


públicos (ADPF 187/DF, rei. Min. Celso de Mello, 15.06.2011).
ADPF 4.277 - Relação homoafetiva e entidade familiar - A norma
constante do art. 1.723 do Código Civil - CC ("É reconhecida como enti-
dade familiar a união estável entre o homem e a mulher configurada na
,

convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo


de constituição de família") não obsta que a união de pessoas do mes-
mo sexo possa ser reconhecida como entidade familiar apta a merecer
proteção estatal (ADIn 4277/DF, rei. Min. Ayres Britto, 04 e 05.05.2011).
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 73

AÇÕES DE CONTROLE CONCENTRADO


LEG.
AÇÃO ESPÉCIE OBJETO FORO EFEITOS
ATIVA

STF
Erga omnes e
Lei ou ato vinculante
normativo Quórum de
federal ou Instalação:
estadual art. 2/3 (8 minis-
GENÉRICA 103 tros)
CF
Ex tunc (em
Quórum de regra)
Inconstitu-
-
cional Aprovação:
maioria
(Art. 102, 1,
" "
absoluta (6
a , CF) ministros)
Norma Cons-
titucional Ciência (notifi-
STF
de eficácia cação)
limitada
Quórum de Poder Omisso
Instalação:
2/3 (8 minis-
(Legislativo):
mera ciência
tros)
SUPRIDORA
art. Órgão Adm
DA OMISSÃO (Executivo):
não regu- 103
/ POR OMIS- prazo de 30
ADIN/ lamentada CF
SÃO dias ou em
ADI (inconstitu- Quórum de
cionalidade prazo razoável
Aprovação:
a ser estipulado
por omissão) maioria
absoluta (6
excepcional-
ministros)
-

mente pelo
Tribunal - cir-
cunstâncias do
caso e interesse
público
Decreto do
Presidente
União irá STF
Intervenção no
intervir
ente federado
nos Estados
/ Distrito Quórum de
Federal Instalação:
INTERVENTI- 2/3 (8 minis-
PGR
VA FEDERAL tros)
Por violação Quórum de
aos princí- Em regra ex
Aprovação:
pios cons- maioria nunc
titucio-nais
absoluta (6
sensíveis (art.
ministros)
34, VII)
74 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

AÇÕES DE CONTROLE CONCENTRADO


LEC.
AÇÃO ESPÉCIE OBJETO FORO EFEITOS
ATIVA

Lei ou ato
normativo
STF - Quó-
rum de Ins- Erga omnes,
federal que
está sendo talação: 2/3 vinculante, ex
Art. (8 ministros) tunc
ADECON julgado
inconstitucio-
103 e Quórum
-
nal em
CF de Aprova-
ção: maioria
processos
absoluta (6
judiciais ministros)

Lesão de
preceito STF- Quórum
fundamental de Instala-
Erga omnes,
por órgão pú- ção: 2/3 (8
vinculante, ex
blico (lei ou Art. ministros) e
tunc
ADPF ato norma- 103 Quórum de
tivo federal, CF Aprovação:
estadual ou maioria
municipal, absoluta (6
inclusive an- ministros)
terior a CF)

7 .
3 Atribuição do Advogado-Geral da União, do Procurador-Geral
da República e do amicus curiae no controle concentrado de
constitucionalidade

O Advogado-Geral da União tem por atribuição defender a lei ou ato


normativo federal ou estadual impugnado na ação direta de inconstitucio-
nalidade sustentando a presunção de constitucionalidade das normas infra-
,

constitucionais elaboradas pelo poder público (art. 103, § 3. CF/88 e art. °


,

°
8 .
, Lei 9.868/1999). Poderá o AGU ser ouvido em caso de ADPF (art. 5.°, §
°
2.
, Lei 9.882/1999) e no caso de ADI PO (art. 12-E, § 20, Lei 9.868/1999).
Segundo decisões do Supremo Tribunal Federal é desnecessária a oitiva
do AGU no processo da ação declaratória constitucionalidade em ação direta ,

de inconstitucionalidade por omissão (ADIn 480-8) bem como não está ,

obrigado a defender tese jurídica se sobre ela o Supremo Tribunal Federal


já fixou entendimento pela sua inconstitucionalidade (ADIn 1.616-4/PE).
O PGR é ouvido previamente nas ações de inconstitucionalidade e em
todos os processos de competência do STF (art. 103 § 1.°, CF/88). ,
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 75

O amicus curiae corresponde à possibilidade da participação de órgãos e


entidades estranhos à causa, por despacho do Ministro relator, considerando
°
a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes (art. 7. § 2.°, ,

da Lei 9.868/1999), em que pese a não admissão da intervenção de terceiros


°
no processo de ação direta de inconstitucionalidade (art. 7. caput, da Lei ,

9 868/1999). Há quem entenda que o amicus curiae estaria fundamentado nos


.

arts. 9.° , § 1 °, e 20, § 1.°, da Lei 9.868/1999 e no art. 6°, § 1.°, da Lei 9.882/1999.
Nada impede que no controle concreto (difuso) de constitucionalidade
também exista a figura do amicus curiae.
Importante destacar a lição do Min. Gilmar Mendes sobre o tema:
Constitui, todavia, inovação significativa no âmbito da ação direta de
"

inconstitucionalidade a autorização para o relator, considerando a relevância da


matéria e a representatividade dos postulantes, admita a manifestação de outros
órgãos ou entidades (art. 7.°, § 2.°). Positiva-se, assim, a figura do amicus curiae
no processo de controle de constitucionalidade, ensejando a possibilidade
de o Tribunal decidir as causas com pleno conhecimento de todas as suas
implicações ou repercussões. Trata-se de providência que confere caráter
pluralista ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade. No
°
que concerne ao prazo para o exercício do direito de manifestação (art. 7. ) ,

parece que tal postulação há de se fazer dentro do lapso temporal fixado para
a apresentação das informações por parte das autoridades responsáveis pela
edição do ato. É possível, porém, cogitar de hipóteses de admissão de
"
amicus
"
curiae fora do prazo das informações na ADIn (art. 9.°, § 1.°), especialmente
diante da relevância do caso ou, ainda, em face da notória contribuição que a
manifestação possa trazer para o julgamento da causa. Quanto à atuação do
amicus curiae, após ter entendido que ela haveria se limitar à manifestação
escrita, houve por bem o Tribunal admitir a sustentação oral por parte desses
peculiares partícipes do processo constitucional (Gilmar Ferreira Mendes,
"

Inocêncio Mártires Coelho, Paulo Gustavo Gonet Branco, Curso de direito


constitucional, São Paulo, Saraiva, 2007, p. 1.070).

Decisões sobre o tema:

Em face do art. 6.°, § 1.°, da Lei 9.882/1999, admito a manifestação


"

de Conectas Direitos Humanos, Centro de Defesa da Criança e do


Adolescente do Ceará-CEDECA/CE, Centro de Direitos Humanos-CDH,
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNCME, União
Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME, Centro de
Cultura Professor Luiz Freire e Sociedade de Apoio aos Direitos Humanos/
Movimento Nacional de Direitos Humanos, que intervirão no feito na
76 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

condição de amicus curiae (ADPF 71, j. 27.05.2005, rei. Min. Gilmar


"

Mendes, decisão monocrática, DJ03.06.2005) (grifos nossos).


"Admissão de amicus curiae mesmo após terem sido prestadas as
informações. Em face da relevância da questão e com o objetivo de
,

pluralizarodebateconstitucional, aplico analogicamente a norma inscrita


no§2.°doart. 7.°da Lei 9.868/1999, admitindoo ingresso da peticionária,
na qual idade de amicus curiae, observando-se, quanto à sustentação oral ,

o disposto no art. 131, § 3.°, do RISTF, na redação dada pela Emenda


Regimental 15/2004" (ADPF 73, j. 01.08.2005, rei. Min. Eros Grau decisão
,

monocrática, Dl 08.08.2005) (grifos nossos).

"

Ação direta de inconstitucionalidade. Embargos de declaração opostos


por amicus curiae. Ausência de legitimidade. Interpretação do § 2.° do art.
°
7 da Lei 9.868/1999. A jurisprudência deste Supremo Tribunal é assente
.

quanto ao não cabimento de recursos interpostos por terceiros estranhos à


relação processual nos processos objetivos de controle de constitucionalidade.
Exceção apenas para impugnar decisão de não admissibilidade de sua
intervenção nos autos. Precedentes" (ADln 3.615-ED j. 17.03.2008, rei.
,

Min. Carmen Lúcia DJE 25.04.2008). No mesmo sentido: ADln 2.591-ED,


,

j 14.12.2006, rei. Min. Eros Grau, DJ 13.04.2007).


.

7 4 Bloco de constitucionalidade
.

Segundo a doutrina e a jurisprudência, o bloco de constitucionalidade


é a reunião de vários diplomas legais considerados como constitucionais,
não obstante terem sido elaborados em momentos diferentes. A França é um
exemplo recorrente de país que adota o bloco de constitucionalidade pois ,

convivem com status constitucional a Declaração de Direitos do Homem e


do Cidadão (1789), a Constituição de 1946 (parte económica e social) e a
Constituição de 1958.
No Brasil, a Emenda Constitucional 45/2004 inseriu o § 3.° ao art. 5.°
da CF/88 possibilitando que tratados e convenções internacionais sobre
,

direitos humanos que forem aprovados, em cada casa do Congresso Nacional,


em dois turnos, por três quintos dos seus membros, sejam equivalentes às
emendas constitucionais. Nota-se que tratados e convenções internacionais
sobre direitos humanos, que segundo o STF tinham natureza jurídica de
normas infraconstitucionais, poderão ser elevados para a condição de normas
constitucionais.

Há apenas um tratado internacional com status de emenda constitucional.


É o Decreto 6.949/2009 que promulga a Convenção Internacional sobre os
Cap. 9 . CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 77

Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados


em Nova York, em 30 de março de 2007.
Saliente-se que os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos, que, segundo o Supremo Tribunal Federal, tinham natureza jurídica
de normas infraconstitucionais, poderão ser elevados à condição de normas
constitucionais.

Há quem sustente que o bloco de constitucionalidade já seria possível


em relação aos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
desde a vigência da Constituição Federal de 1988, em virtude do conteúdo
dos §§ 1.° e 2.° do art. 5.°. Nesse sentido ensina Flávia Piovesan, em sua obra
Direitos humanos e o direito constitucional internacional (7. ed., São Paulo,
Saraiva, p. 55).
Decisão sobre o tema:
"
Em conclusão de julgamento, o Tribunal concedeu habeas corpus
em que se questionava a legitimidade da ordem de prisão, por 60 dias,
decretada em desfavor do paciente que, intimado a entregar o bem do qual
depositário, não adimplira a obrigação contratual - v. Informativos 471,
477 e 498. Entendeu-se que a circunstância de o Brasil haver subscrito o
Pacto de São José da Costa Rica, que restringe a prisão civil por dívida ao
descumprimento inescusável deprestaçãoalimentícia (art. 7.°, 7), conduz
à inexistência de balizas visando à eficácia do que previsto no art. 5.°,
LXVII, da CF ('não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia
e a do depositário infiel ) Concluiu-se, assim, que, com a introdução do
'
.

aludido Pacto no ordenamento jurídico nacional, restaram derrogadas as


normas estritamente legais definidoras da custódia do depositário infiel.
Prevaleceu, no julgamento, por fim, a tese do status de supralegalidade
da referida Convenção, inicialmente defendida pelo Min. Gilmar Mendes
no julgamento do RE 466.343/SP, abaixo relatado. Vencidos, no ponto,
os Ministros Celso de Mello, Cezar Peluso, Eilen Graciee Eros Grau, que
a ela davam a qualificação constitucional, perfilhando o entendimento
expendido pelo primeiro no voto que proferira nesse recurso. O Min. Marco
Aurélio, relativamente a essa questão, se absteve de pronunciamento" (HC
87.585/TO, j. 03.12.2008, rei. Min. Marco Aurélio).
Federalismo

O federalismo, como expressão do direito constitucional, nasceu com


a Constituição norte-americana de 1787. Baseia-se na união de coletivi-
dades políticas autónomas. Refere-se a uma forma de Estado denominada
Federação ou Estado Federal, caracterizada pela união de coletividades
públicas dotadas de autonomia político-constitucional, ou seja, de auto-
nomia federativa.

Como já visto, o Estado pode ser definido como uma organização ju-
rídica , administrativa e política formada por uma população, assentada em
um território, dirigida por um governo soberano e tendo como finalidade o
bem comum.

1 .
FORMA DO ESTADO

/ / .
Estado unitário

Quando existe um único centro dotado de capacidade legislativa, admi-


nistrativa e política, do qual emanam todos os comandos normativos. Também
chamado de Estado simples. Exemplo: Cuba.

1 2 Estado federal
.

Quando existe uma repartição constitucional de competências e mais


de um centro dotado de capacidade política. É a própria Constituição que
estabelece a estrutura federativa, proibindo sua abolição. Também chamado
de Estado composto. Exemplo: Brasil, EUA, Alemanha, entre outros.

2 .
FEDERALISMO NO BRASIL

No Brasil os entes que compõem a federação são: a União, os Estados-


,

membros, o Distrito Federal e os Municípios (art. 18, caput, CF/88). A


80 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Constituição fala ainda em territórios, divisões político-administrativas que,


atualmente, não existem mais.
O Brasil assumiu a forma de Estado federal em 1889, com a Proclamação
da República, o que foi confirmado pela Constituição de 1891 e mantido nas
Constituições posteriores. O Brasil evoluiu de um Estado unitário para um
Estado federal (federalismo por segregação).

2 .
1 Componentes do Estado federal brasileiro
2 1 1
. .
União

Pessoa jurídica de Direito Público com capacidade política exercendo ,

uma parcela da soberania brasileira. Internamente, atua como uma das pessoas
jurídicas de Direito Público que compõem a Federação. Externamente, dian-
te de Estados estrangeiros, a União exerce a soberania do Estado brasileiro ,

fazendo valer seus direitos e assumindo suas obrigações.


Poder Legislativo: arts. 44 a 75 da CF/88 (Congresso Nacional integra- ,

do pela Câmara dos Deputados - composta por Deputados Federais - e pelo


Senado Federal - composto por Senadores Federais. Atualmente, são 513
Deputados Federais e 81 Senadores Federais).
Poder Executivo: arts. 76 a 91 da CF/88 (Presidente e Vice-Presidente
da República).
Poder Judiciário: arts. 101 a 124 da CF/88.
Bens da União: art. 20 da CF/88.

Impostos da União: art. 153 da CF/88.

2 1 2
. .
Estados federados

São entes detentores de autonomia política e administrativa. Têm ca-


pacidade de elaborar suas próprias Constituições estaduais, observadas as
diretrizes da Constituição Federal.
Poder Legislativo: art. 27 da CF/88 (Assembleia Legislativa composta ,

por Deputados Estaduais em número calculado com base no art. 27, caput,
da CF/88) (são 94 Deputados Estaduais no Estado de São Paulo).
Poder Executivo: art. 28 da CF/88 (Governador e Vice-Governador).
Poder Judiciário: arts. 125 e 126 da CF/88.
Bens dos Estados: art. 26 da CF/88.
Cap. 10 . FEDERALISMO 81

Impostos dos Estados: art. 155 da CF/88.


Criação e extinção: os Estados podem incorporar-se entre si subdividir-se
,

ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados.


Para isso precisam da aprovação da população diretamente interessada, por
,

meio de plebiscito, e do Congresso Nacional por lei complementar (art. 18,


,

§3.°, da CF/88).

2 1
.
3 Municípios
.

São entes detentores de autonomia política e administrativa. Têm capa-


cidade de elaborar sua Lei Orgânica Municipal.
Poder Legislativo: arts. 29 e 31 da CF/88 (exercido pela Câmara Munici-
pal, composta por Vereadores, de 9 a 55, dependendo da população municipal,
conforme art. 29, IV, da CF/88).
Poder Executivo: arts. 29 e 31 da CF/88 (Prefeito e Vice-Prefeito).
Poder Judiciário: não há Justiça Municipal.
Impostos dos Municípios: art. 156 da CF/88.
Criação e extinção - art. 18, § 4.°, da CF/88: "A criação, a incorporação,
a fusão e o desmembramento de Municípios far-se-ão por lei estadual den- ,

tro do período determinado por lei complementar federal, e dependerão de


consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envol-
vidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal apresentados
,

e publicados na forma da lei


"
.

note
Sobre o tema competência municipal o STF se manifestou no BEM
seguinte sentido:
OTribunal, por maioria, declarou incidentalmentea inconsti-
"

tucionalidade do art. 1 .°da Lei 10.991/1991, do Município de


São Paulo, o qual estabelecia que a licença de localização de
novas farmácias e drogarias seria concedida somente quando
o estabelecimento ficasse situado a uma distância mínima de
duzentos metros da farmácia ou drogaria mais próxima, já
existente. Entendeu-se violado o disposto no art. 170, IV eV da
CF ("A ordem económica, fundada na valorização do
82 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar note


a todos existência digna ... observados os seguintes princí-
pios: ... IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor. )
"
.
BEM
Vencido o Min. Carlos Velloso, relator, que entendia que a
lei municipal - inserida na competência do Município para
legislar sobre assuntos de interesse local e para suplementar
a legislação federal e estadual no que couber (CF, art. 30, I e
II) -, ao disciplinar o uso do solo distribuindo as farmácias de
modo a evitar a concentração delas em determinado local, não
estabeleceu uma "
reserva de mercado" Precedente citado:
.

RE 203.909-SC (DJU de 06.02.1998). STF, RE 193.749-SP, j.


04.06.1998, rei. originário Min. Carlos Velloso, rei. p/ acórdão
Min. Maurício Corrêa."

Com base nos mesmos fundamentos do julgamento acima


"

referido, o Tribunal, por maioria, declarou incidentalmente a


inconstitucionalidade do art. 1.° da Lei 6.545/1991, do Mu-
nicípio de Campinas, que restringia a instalação de farmácias
e drogarias a um raio de distância de quinhentos metros uma
da outra. Vencido o Min. Carlos Velloso. STF, RE 199.517-SP,
j 4.6.98, rei. originário Min. Carlos Velloso, rei. p/acórdão
.

Min. Maurício Corrêa".

2 74
. .
Distrito Federal

Ente detentor de autonomia política e administrativa. Tem capacidade


de elaborar sua Lei Orgânica e possui capacidade legislativa, administra-
tiva e judiciária, com as mesmas competências legislativas atribuídas aos
Estados e aos Municípios (art. 32, § 1.°, CF/88). O Distrito Federal não
pode ser dividido em Municípios (não tem eleições municipais). Assim
como os Estados, o Distrito Federal elege três Senadores e Deputados
Federais em número definido por lei complementar; além disso, elege
também Deputados Distritais. Lembre-se que Brasília é a capital do Brasil
(art. 18, § 1.°, CF/88).
Poder Legislativo: art. 32, §§ 2.° e 3.°, da CF/88 (Câmara Legislativa
composta por Deputados Distritais).
Poder Executivo: art. 32, § 2.°, da CF/88 (Governador e Vice-Governa-
dor).
Poder Judiciário: organizado por lei federal (art. 48, IX, CF/88).
Cap. 10 . FEDERALISMO 83

Bens do Distrito Federal: definidos por lei federal (art. 16 § 3.°, ADCT
,

da CF/88).
Impostos do Distrito Federal: arts. 147 e 155 da CF/88. Pode arrecadar
impostos estaduais e municipais.

note
Sobre o tema o STF tem o seguinte posicionamento: BEM
O Distrito Federal é uma unidade federativa de compostura sin-
"

gular, dado que: a) desfruta de competências que são próprias


dos Estados e dos Municípios, cumulativamente (art. 32, § 1.°,
CF); b) algumas de suas instituições elementares são organiza-
das e mantidas pela União (art. 21, XIII e XIV, CF); c) os serviços
públicos a cuja prestação está jungido são financiados, em
parte, pela mesma pessoa federada central, que é a União
(art. 21, XIV, parte final, CF). 3. Conquanto submetido a regi-
me constitucional diferenciado, o Distrito Federal está bem
mais próximo da estruturação dos Estados-membros do que
da arquitetura constitucional dos Municípios. Isto porque: a)
ao tratar da competência concorrente, a Lei Maior colocou
o Distrito Federal em pé de igualdade com os Estados e a
União (art. 24); b) ao versar o tema da intervenção, a Cons-
tituição dispôs que a 'União não intervirá nos Estados nem
'
no Distrito Federal (art. 34), reservando para os Municípios
um artigo em apartado (art. 35); c) o Distrito Federal tem, em
plenitude, os três orgânicos Poderes estatais, ao passo que
os Municípios somente dois (inc. I do art. 29); d) a Consti-
tuição tratou de maneira uniforme os Estados-membros e o
Distrito Federal quanto ao número de deputados distritais à ,

duração dos respectivos mandatos, aos subsídios dos parla-


mentares, etc. (§ 3.° do art. 32); e) no tocante à legitimação
para propositura de ação direta de inconstitucionalidade
perante o STF, a Magna Carta dispensou à Mesa da Câmara
Legislativa do Distrito Federal o mesmo tratamento dado às
Assembleias Legislativas estaduais (inc. IV do art. 103); f) no
modelo constitucional brasileiro, o Distrito Federal se coloca
ao lado dos Estados-membros para compor a pessoa jurídi-
ca da União; g) tanto os Estados-membros como o Distrito
Federal participam da formação da vontade legislativa da
União (arts. 45 e 46)" (STF, ADIn 3.756. j. 21.06.2007, rei.
Min. Carlos Britto, DJ 19.10.2007).
84 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

2.1.5 Territórios federais

São meras divisões administrativas da União, podendo ser divididos


ou reunidos (art. 33, CF/88). Neles existe autonomia administrativa, mas
não política. Os Territórios Federais elegem quatro Deputados Federais
(art. 45, § 2.°, CF/88), mas não elegem Senadores. Atualmente é apenas
uma possibilidade jurídica, já que o art. 15 do ADCT da CF/88 extinguiu
os últimos existentes, podendo, no entanto, ser criados outros Territórios
Federais.

Os Territórios Federais do Amapá e Roraima foram transformados em


Estados (art. 14 do ADCT, CF/88). O Território Federal de Fernando de No-
ronha foi reincorporado ao Estado de Pernambuco (art. 15 do ADCT, CF/88).
A CF/88 estabelece: "Art. 33. A lei disporá sobre a organização adminis-
trativa e judiciária dos Territórios. § 1.° Os Territórios poderão ser divididos
em Municípios, aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo
IV deste Título. § 2.° As contas do Governo do Território serão submetidas
ao Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da União.
§ 3.° Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, além do Go-
vernador nomeado na forma desta Constituição, haverá órgãos judiciários de
primeira e segunda instância, membros do Ministério Público e defensores
públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial e
"

sua competência deliberativa .

Sobre a competência tributária dos Territórios, o art. 147 da CF/88 afir-


Competem à União, em Território Federal, os impostos estaduais e, se
"
ma:
o Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os impostos
"

municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos municipais .

2 .
2 Vedações constitucionais existentes no federalismo do Brasil
A Constituição Federal vigente estabelece: "Art. 19. É vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos
religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento
ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II -
recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções entre brasileiros
"

ou preferências entre si .

O Estado brasileiro é laico, bem como é livre o exercício dos cultos


religiosos e é garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a
Cap. 10 . FEDERALISMO 85

°
suas liturgias (art. 5. VI, CF/88). Nada impede, como estabelece o texto
,

constitucional, a colaboração de interesse público (manutenção de asilos ,

creches entre outros).


,

Os documentos públicos gozam de presunção de veracidade, não po-


dendo ser recusados em razão da origem (escrituras certidões, entre outros).
,

Os entes federativos não podem estabelecer distinções ou preferências


entre brasileiros em razão de sua origem (Estado Distrito Federal ou Mu-
,

nicípio).

3.
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VINCULADOS AO
FEDERALISMO

3 .
1 Princípios estabelecidos
São limitações diretas e indiretas aos entes federativos. Por exemplo , art.
19 (explícitas) e art. 149 (implícitas).

3 .
2 Princípios sensíveis
Geram intervenção federal no Estado-membro ou no Distrito Federal -
ADIn Interventiva Federal (art. 34 VII, CF/88). São também conhecidos por
,

princípios constitucionais expressos. Estão previstos no inciso VII do art. 34.

3.
3 Princípios extensíveis
A organização da União é extensível aos demais entes federativos na ,

medida de suas peculiaridades. São exemplos o processo legislativo a eleição


,

do Poder Executivo, matéria orçamentária, organização e funcionamento do


Tribunal de Contas , entre outros. É a simetria federativa ou o paralelismo
constitucional.

impo**®!i*®
Bicameralismo só na esfera federal.
86 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

note
BEM

Fundamentos da Re- Objetivos fundamentais República Federativa do


pública Federativa do da República Federativa Brasil rege-se nas suas
Brasil: do Brasil: relações internacionais
(Art. 1° da CF/88) (Art. 30 da CF/88) pelos seguintes princí-
pios: (Art. 4 da CF/88)
°

I - a soberania; I - construir uma socie- I - independência na-


II - a cidadania; dade livre, justa e soli- cional;
III - a dignidade da pes- dária; II - prevalência dos di-
soa humana; II - garantir o desenvol- reitos humanos;
IV - os valores sociais vimento nacional; III - autodeterminação
do trabalho e da livre III - erradicar a pobreza dos povos;
iniciativa; e a marginalização e IV - não intervenção;
V - o pluralismo polí- reduzir as desigualdades V - igualdade entre os
tico. sociais e regionais; Estados;

IV - promover o bem de VI - defesa da paz;


todos, sem preconceitos VII - solução pacífica
de origem, raça, sexo, dos conflitos;
cor, idade e quaisquer VIII - repúdio ao terro-
outras formas de discri- rismo e ao racismo;
minação. IX - cooperação entre os
povos para o progresso
da humanidade;
X - concessão de asilo
político.
Repartição das competências
constitucionais

Competência, em sentido estrito, é a faculdade juridicamente atribuída a


uma entidade ou a um órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões.
Pode ainda ser considerada como a capacidade de distribuir poder.
Na Constituição Federal vigente, em relação ã repartição de competências
entre as entidades federativas, há o princípio da predominância do interesse,
segundo o qual à União caberão as matérias e questões de predominante
interesse geral, aos Estados ficarão as matérias e assuntos de interesse regional
e aos Municípios as questões de predominante interesse local.
Os poderes da União são enumerados nos arts. 21 e 22; os Estados ficam
°
com os poderes remanescentes (art. 25, § 1. ); e os Municípios ficam com
os poderes indicados genericamente no art. 30 da CF/88. Alguns poderes
podem ser delegados, como o poder da União para legislar a respeito de
certas matérias. Nesse caso, o art. 22, parágrafo único, da CF/88 autoriza a
delegação da atribuição legislativa aos Estados, mediante lei complementar.
Em determinadas áreas, permite-se a atuação concorrente entre União,
Estado, Distrito Federal e Municípios (arts. 24 e 30, II, CF/88). Por fim, há a
competência comum entre os entes federativos (art. 23, CF/88).

1 . CLASSIFICAÇÃO REFERENTE ÀS COMPETÊNCIAS


A seguir, temos a classificação das competências constitucionais adotada
pela posição majoritária da doutrina:

7 . / Quanto à finalidade

Refere-se a qual objetivo está vinculada a competência.


a) Material: refere-se à prática de atos políticos e administrativos. Pode
ser:
88 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

. Exclusiva: cabe apenas e exclusivamente a uma única entidade ,

sem possibilidade de delegação (art. 21, CF/88);


. Cumulativa ou paralela: é a que afeta concomitantemente mais
de uma entidade (art. 23, CF/88).
b) Legislativa: refere-se aos atos legislativos. Pode ser:
. Exclusiva: cabe apenas a uma entidade o poder de legislar sendo,

inadmissível qualquer delegação (art. 21 CF/88); ,

. Privativa: cabe apenas a uma entidade o poder de legislar mas é ,

possível a delegação de competência a outras entidades (art. 22


e parágrafo único CF/88);
,

. Concorrente: pode legislar a respeito de certa matéria


concomitantemente mais de uma entidade (art. 24, CF/88);
. Suplementar: cabe a uma das entidades estabelecer regras gerais
e ã outra a complementação dos comandos normativos (arts. 24 ,

§ 2.°, e 30, II, CF/88).

7 . 2 Quarito à origem
Diz respeito à fonte da competência (ao início) , e será:

a) Originária: quando desde o início é estabelecida em favor de uma


entidade. Por exemplo, Constituição Federal de 1988.
b) Delegada: quando a entidade recebe sua competência por delegação
daquela que a tem originariamente. Por exemplo parágrafo único do
,

art. 22 da CF/88.

1 .
3 Quanto ao conteúdo
Pode ser política social, financeira, económica, administrativa e
,

tributária.

1 . 4 Quanto à forma

De que modo a competência é externada:


a) enumerada ou expressa: quando estabelecida de modo expresso .
Por

exemplo, arts. 21 e 22 da CF/88;


b) reservada ou remanescente: quando compreende toda a matéria não
expressamente incluída na enumeração. É a competência que sobra
para uma entidade após a competência de outra (art. 25, § 1,°, CF/88);
Cap. 11 . REPARTIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS 89

c) residual: é a competência que sobra após enumeração exaustiva


das competências de todas as entidades. Assim é possível que uma,

entidade tenha competência enumerada e residual pois pode ainda ,

sobrar competência após a enumeração de todas. É a competência


que a União tem em matéria tributária (art. 154,1, CF/88);
d) implícita ou resultante: quando decorrente da natureza dos poderes
expressos sendo estes absolutamente necessários para que possam
,

ser exercidos. Nem precisam ser mencionados pois sua existência é


,

mera decorrência natural dos expressos.

7 5 Quanto à extensão: a quem cabe


.

a) Exclusiva: cabe apenas a uma entidade com exclusão das demais,


,

sem possibilidade de delegação (art. 21 CF/88). ,

b) Privativa: é passível de delegação embora seja própria de uma entidade


,

(art. 22, parágrafo único, CF/88).


c) Comum, paralela ou cumulativa: quando existir um campo de atuação
comum às várias entidades, sem que o exercício de uma venha excluir
a competência da outra, atuando todas juntas e em pé de igualdade
(art. 23, CF/88).
d) Concorrente: quando houver possibilidade de disposição sobre o
mesmo assunto ou matéria por mais de uma entidade federativa, com
,

primazia da União no que tange às regras gerais (art. 24, CF/88).


e) Suplementar: é o poder de formular normas que desdobrem o conteúdo
de princípios ou de normas gerais ou que supram a ausência ou a
,

omissão destas (art. 24 §§ 1.° a 4.°, CF/88).


,

Em síntese , para o Exame de Ordem dos Advogados do Brasil, devemos


lembrar o seguinte:
a) Competência não legislativa (administrativa):
. Exclusiva da União (art 21, CF/88);
.

. Comum da União dos Estados, do Distrito Federal e dos


,

Municípios: todos os entes da Federação podem agir de forma


independente (art. 23 CF/88).
,

b) Competência legislativa:
. Exclusiva: cabe apenas a uma entidade o poder de legislar, sendo
inadmissível qualquer delegação (art 21, CF/88); .
90 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

. Privativa: da União delegável aos Estados por lei complementar


,

(art. 22, parágrafo único, CF/88);


. Concorrente: da União , dos Estados e do Distrito Federal, que
devem agir de forma coordenada, segundo estabelecido nos
"

parágrafos do art. 24 da CF/88: § 1.° No âmbito da legislação


concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer
normas gerais. § 2. A competência da União para legislar sobre
°

normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.


§ 3.° Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
peculiaridades. § 4. A superveniência de lei federal sobre normas
°

"

gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário ;

. Residual dos Estados: art . 25, § 1.°, da CF/88: "São reservadas


aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição" - isto é, aquelas não entregues expressamente à
União ou aos Municípios;
. Local: privativa dos Municípios para legislar sobre assuntos de
interesse local: art. 30,1, da CF/88;
Obs. Suplementar dos Municípios em relação à legislação federal e
estadual: art. 30, II, da CF/88.

4 cuidado , , , ,. ,
à O Município pode legislar em matéria de competencia legislativa
concorrente desde que suplemente a legislação federal e estadual
e que a matéria seja de interesse local: art. 30, I e II, c/c § 2. do
°

art. 24, CF/88).

. Cumulativa do Distrito Federal: art 32, § 1.°, CF/88: "Ao Distrito


.

Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos


Estados e Municípios".
Destaque-se a previsão constitucional dos arts. 147 e 155 da CF/88:
"

Art. 147. Competem à União, em Território Federal, os impostos estaduais


e, se o Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os
impostos municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos municipais";
"

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos


Cap. 11 . REPARTIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS 91

sobre: I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;


II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação ainda ,

que as operações e as prestações se iniciem no exterior; III - propriedade de


veículos automotores "

note
Competências Constitucionais Privativas. BEM
"Competência privativa da União para legislar sobre serviço
postal. É pacífico o entendimento deste Supremo Tribunal
quanto à inconstitucionalidade de normas estaduais que te-
nham como objeto matérias de competência legislativa priva-
tiva da União. Precedentes: Adins 2.815, Sepúlveda Pertence
(propaganda comercial), 2.796-MC, Gilmar Mendes (trânsito),
1 918, Maurício Corrêa (propriedade e intervenção no domínio
.

económico), 1.704, CarlosVelloso(trânsito), 953, Eilen Gracie


(relações de trabalho), 2.336, Nelson Jobim (direito processual),
2 064, Maurício Corrêa (trânsito) e 329, Eilen Gracie (atividades
.

nucleares). O serviço postal está no rol das matérias cuja nor-


matizaçãoé de competência privativa da União (CF, art.22,V).
É a União, ainda, por força do art. 21, X da Constituição, o ente
da Federação responsável pela manutenção desta modal idade
de serviço público" (STF, ADI 3.080, j. 02.08.2004, rei. Min.
Eilen Gracie, DJde 27-08-2004).

Invadea competência da União, norma estadual quedisciplina


"

matéria referente ao valor que deva ser dado a uma causa, tema
"
especificamente inserido no campo do direito processual
(STF, ADIn 2.655, j. 09.03.2004, rei. Min. Eilen Gracie, DJ
26.03.2004). "OTribunal concedeu medida liminar em ação
direta de inconstitucional idade ajuizada pelo Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB para suspender a
eficácia, ex nunc, do art. 7.° da Lei 6.816/2007, do Estado de
Alagoas, que condiciona a interposição de recurso inominado
cível nos Juizados Especiais do referido Estado-membro ao
recolhimento das custas judiciais e do depósito recursal.
Entendeu-se que a norma impugnada, em princípio, usurpa
a competência privativa da União para legislar sobre direito
processual (...), bem como ofende as garantias do amplo acesso
à jurisdição, do devido processo legal, da ampla defesa e do
"
contraditório (...) (STF, ADIn 4.161-MC, j. 29.10.2008, rei.
Min. Menezes Direito, Informativo 526).
92 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

"OTribunal por maioria, concedeu habeas corpus impetrado


,

em favor de condenado pela prática do delito previsto no


art. 157, § 2. °
, I e II, do CP, e declarou, incidenter tantum, a
inconstitucionalidade formal da Lei paulista 11.819/2005,
que previu a utilização de aparelho de videoconferência
nos procedimentos judiciais destinados ao interrogatório e
à audiência de presos - v. Informativo 518. Na espécie, o
interrogatório do paciente, a despeito da discordância de sua
defesa, realizara-se sem a presença do paciente na sala da
audiência, por meio da videoconferência. Entendeu-se que a
norma em questão teria invadido a competência privativa da
União para legislar sobre direito processual" (STF, HC 90.900,
rei. p/oac. Min. Menezes Direito, j. 30.10.2008, Informativo
526). No mesmo sentido: HC 91.859, j. 04.11.2008, rei. Min.
Carlos Britto, 1 ,aT., DJe 13.03.2009.
Intervenção federal

No Estado Federal , a autonomia dos entes federativos (Estados, Distrito


Federal e Municípios) tem como característica a capacidade de autoconstitui-
ção e normatização, autogoverno e autoadministração. No entanto, admite-se
o afastamento dessa autonomia política com o objetivo de preservar a exis-
tência e a unidade da própria Federação por meio da intervenção.
A intervenção é medida excepcional e só deve ocorrer nos casos previstos
expressamente na Constituição (arts. 34 e 35 CF/88). ,

Na atualidade
a União poderá intervir nos Estados-membros e no Dis-
,

trito Federalenquanto os Estados-membros somente poderão intervir nos


,

Municípios localizados em seus respectivos territórios .

Infere-se que a União não pode intervir diretamente nos Municípios


brasileiros
salvo se localizados em Território Federal (art. 35, caput, CF/88).
,

Cumpre lembrar que atualmente não existem Territórios Federais .

1 .
PROCEDIMENTO

1 1
.
Iniciativa

A Constituição Federal vigente dependendo da hipótese prevista para


,

a intervenção federal indica quem poderá deflagrar o procedimento inter-


,

ventivo. Estão previstos:


a) o Presidente da República nas hipóteses dos incisos I, II, III e V do
,

art. 34, pode, de ofício, decretar a intervenção federal (intervenção


espontânea);
b) solicitação dos Poderes locais (art. 34 IV): os Poderes Legislativo
,

(Assembleia ou Câmara Legislativa) e Executivo (Governador do


Estado ou do Distrito Federal) locais solicitarão ao Presidente da
94 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

República a decretação de intervenção no caso de estarem sofrendo


coação no exercício de suas funções.
O Poder Judiciário local, por sua vez, solicitará a intervenção ao Supre-
mo Tribunal Federal (STF), que, se for o caso, a requisitará ao Presidente da
República;
c) requisição do STF (Supremo Tribunal Federal), do STJ (Superior
Tribunal de Justiça) ou do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na
hipótese de desobediência a ordem ou decisão judiciária (art. 34, VI,
segunda parte). Desse modo, o STJ e o TSE requisitam ao Presidente
da República a decretação da intervenção se descumpridas suas ordens
judiciárias. Ao STF, além do descumprimento de suas ordens ou
decisões judiciais, cabe exclusivamente a requisição de intervenção
para assegurar a execução de decisões dasjustiças Federal, Estadual,
do Trabalho ou Militar. Cumpre destacar que somente o Tribunal de
Justiça local tem legitimidade para encaminhar ao STF o pedido de
intervenção baseado em descumprimento de suas próprias decisões;
d)ações propostas pelo Procurador-Geral da República (PGR)
nas hipóteses do art. 34, VI e VII, endereçadas ao STF (Ação de
Executoriedade de Lei Federal e ADIn Interventiva - art. 36, III).

7 . 2 Fase judicial
Somente nos casos previstos no item IV supracitado o Procurador-
-

Geral da República tem legitimidade para propor as ações, e o STF, para


prosseguimento da intervenção, deve julgar procedentes as ações propostas,
encaminhando a decisão ao Presidente da República para fins do decreto
interventivo. Nesses casos, a decretação da intervenção é ato vinculado, e o
Presidente apenas formaliza a decisão tomada pelo órgão do Poderjudiciário.

1 3 Decreto interventivo
.

O decreto presidencial formaliza a intervenção (art. 84, X, CF/88), e, ao


ser publicado, tornar-se-á imediatamente eficaz, legitimando os demais atos
atinentes à intervenção.
O decreto de intervenção deve especificar a amplitude, o prazo e as con-
dições de execução e, se necessário, afastar as autoridades locais e nomear um
interventor, submetendo essa decisão à apreciação do Congresso Nacional no
prazo de 24 horas (art. 36, § 1. da CF/88; obs.: a autorização é por decreto
°
,

legislativo - art. 49, IV, da CF/88). É medida temporária e excepcional.


Cap. 12 . INTERVENÇÃO FEDERAL 95

Nos casos de intervenções de ofício previstos no art. 34,1, II, III e V, o


,

Presidente ouvirá os Conselhos da República (art 90,1, CF/88) e de Defesa


.

Nacional (art. 91 § 1.°, II, CF/88), que opinarão a respeito. Após,


, poderá
discricionariamente decretar a intervenção no Estado-membro .

O interventor é considerado
para todos os efeitos legais, como servidor
,

público federal, e sua competência e funções dependerão dos limites previstos


no decreto intervçntivo.

1 .
4 Controle político
Realizado pelo Congresso Nacional no prazo de 24 horas de sua decreta-
,

ção, que poderá rejeitar ou, mediante decreto legislativo, aprovar a intervenção
federal (art. 49 IV, da CF/88).
,

Se o Congresso Nacional não aprovar a intervenção o Presidente deverá


,

cassá-la imediatamente , sob pena de crime de responsabilidade (art. 85, II,


CF/88).

Nas hipóteses do art. 34 VI e VII, o controle político será dispensado


,

(art. 36, § 3.°, CF/88); bem como no caso do art. 34, IV, por requisição do
STF acionado pelo Poder Judiciário Estadual (TJ) coagido (art. 36 1 CF/88). , ,

7.
5 Controle jurisdicional
Destaque-se que o Poder Judiciário deverá corrigir os abusos e as ilega-
lidades cometidos durante a intervenção federal .

Quadro comparativo da Intervenção Federal:


Intervenção federal comum Intervenção federal anómala
ou recorrente ou incomum

Art. 34 da CF/88 - Da União nos Esta- Art. 35 da CF/88 - 2.a parte - Da União
dos-membros e no Distrito Federal nos municípios localizados em territó-
rio federal

Intervenção federal comum ou recorrente


A) De ofício: art. 34, incisos I, II, III e V

B) Por solicitação dos poderes: art. 34, inciso IV


C) Por requisição judicial: art. 34, incisos VI eVIl
96 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Sobre o tema intervenção o STF já se manifestou no seguinte note


sentido:

"
Em conclusão, o Tribunal, por maioria, julgou improcedente
pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade pro-
posta pelo Procurador-Geral da República contra o art. 5. da Lei
°

11.105/2005 (Lei da Biossegurança), que permite, para fins de


pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias
obtidas de embriões humanos produzidos porfertilização/V? vitro
e não usados no respectivo procedimento, e estabelece condições
para essa utilização - v. Informativo 497. Prevaleceu o voto do
Min. Carlos Britto, relator. Nos termos do seu voto, salientou,
inicialmente, que o artigo impugnado seria um bem concatenado
bloco normativo que, sob condições de incidência explícitas,
cumulativas e razoáveis, contribuiria para o desenvolvimento de li-
nhas de pesquisa científica das supostas propriedades terapêuticas
de células extraídas de embrião humano in vitro. Esclareceu que
ascélulas-troncoembrionárias,pluripotentes,ouseja, capazes de
originar todos os tecidos de um indivíduo adulto, constituiriam,
por isso, tipologia celular que ofereceria melhores possibilidades
de recuperação da saúde de pessoas físicas ou naturais em situ-
ações de anomalias ou graves incómodos genéticos. Asseverou
que as pessoas físicas ou naturais seriam apenas as que sobrevi-
vem ao parto, dotadas do atributo a que o art. 2. do Código Civi I
°

denomina personalidade civil, assentando que a Constituição


Federal, quando se refere à "dignidade da pessoa humana" (art.
1 III), aos "direitos da pessoa humana" (art. 34, VII, b), ao "livre
.
°
,

exercício dos direitos... individuais (art. 85, III) e aos "direitos e


"

garantias individuais (art. 60, §4.°, IV), estaria falando de direitos


"

e garantias do indivíduo-pessoa. Assim, numa primeira síntese, a


Carta Magna não faria de todo e qualquer estádio da vida humana
um autonomizado bem jurídico, mas da vida que já é própria de
uma concreta pessoa, porque nativiva, e que a inviolabi I idade de
que trata seu art. 5. diria respeito exclusivamente a um indivíduo
°

já personalizado" (STF, ADI 351 O/DF, j. 28 e29.05.2008, rei. Min.


Carlos Britto).
Veja-se também a recente decisão do STF:
"
Intervenção Federal no Distrito Federal e Crise Institucional. O
Tribunal, por maioria, julgou improcedente pedido de interven-
ção federal no Distrito Federal, formulado pelo Procurador-Geral
da República, por alegada violação aos princípios republicano
Cap. 12 . INTERVENÇÃO FEDERAL 97

e democrático, bem como ao sistema representativo (CF , art. note


34, II. Na espécie, o pedido de intervenção federal teria como
causa petendi, em suma, a alegação da existência de esquema
BEM
de corrupção que envolveria o ex-Covernador do DF alguns ,

Deputados Distritais e suplentes, investigados pelo STJ e cujo


,

concerto estaria promovendo a desmoralização das instituições


públicas e comprometendo a higidez do Estado Federal.Tais fatos
revelariam conspícua crise institucional hábil a colocarem risco as
atribuições político-constitucionais dos Poderes Executivoe Legis-
lativo e provocar instabilidade da ordem constitucional brasileira .

Preliminarmente, a Corte por maioria, rejeitou requerimento do


,

Procurador-Geral da República no sentido de adiarojulgamento


da causa para a primeira data do mês de agosto em que a Corte
estivesse com sua composição plena. Ao sal ientar a ansiedade da
população por uma resposta pronta da Corte quanto ao pedido de
intervençãoe a proximidade do inícioformal do período eleitoral ,

reputou-seestar-se diante de questão importante que demandaria


decisão o mais célere possível. Vencidos no ponto, os Ministros
,

Marco Aurélio e Celso de Mello que deferiam o adiamento por ,

considerarem que a análise da matéria recomendaria a presença


do quórum completo dos integrantes do Tribunal. No mérito ,

entendeu-se que o perfil do momento político-administrativo do


Distrito Federal já não autorizaria a decretação de intervenção
federal, a qual se revelaria agora, inadmissível perante a disso-
,

lução do quadro que se preordenaria a remediar Asseverou-se


.

que, desde a revelação dos fatos, os diversos Poderes e instituições


públicas competentes teriam desencadeado, no desempenho de
suas atribuições constitucionais ações adequadas para pôr fim
,

à crise decorrente de um esquema sorrateiro de corrupção no


Distrito Federal. Observou-se, assim que os fatos recentes não
,

deixariam dúvida de que a metástase da corrupção anunciada na


representação interventiva teria sido controlada por outros me-
canismos institucionais menos agressivos ao organismo distrital,
,

revelando a desnecessidade de se recorrer neste momento, ao


,

antídoto extremo da intervenção debaixo do pretexto de salvar


,

o ente público. Vencido o Min. Ayres Britto que julgava o pedido


procedente. IF 5179/DF, rei. Min. Cezar Peluso, 30.06.2010" -
Informativo 593 do STF.
Estado de defesa

É uma situação em que se organizam medidas destinadas a debelar amea-


ças à ordem pública e à paz social. Consiste na instauração de uma legalidade
extraordinária por certo tempo, em locais restritos e determinados mediante
,

decreto do Presidente da República, ouvidos o Conselho de República e o


Conselho de Defesa Nacional, para preservar a ordem pública ou a paz social
ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por
calamidades de grandes proporções na natureza (art. 136, CF/88).
O Conselho da República e o de Defesa Nacional são órgãos consultivos,
cuja opinião ou manifestação não vinculam o Presidente da República.
Constarão do decreto o tempo de duração, que não poderá ser superior a
30 dias, podendo ser prorrogado apenas uma vez, por igual período ou menor ,

se persistirem as razões, a especificação das áreas abrangidas, a indicação de


medidas coercitivas tais como restrições aos direitos de reunião, sigilo de
,

correspondência e de comunicação telegráfica e telefónica e também a ocu-


pação e o uso temporário de bens e serviços públicos (se a hipótese for de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes).

1. CONTROLE DO ESTADO DE DEFESA

/ .
/ Controle político
Depois de baixar o decreto o Presidente da República, no prazo de 24
,

horas, o enviará com a justificativa ao Congresso Nacional que decidirá por


,

maioria absoluta (a autorização é dada por decreto legislativo - art 49, IV,
.

CF/88). Se estiver em recesso haverá convocação extraordinária em 5 dias.


,

O Congresso deve apreciar o decreto no prazo de 10 dias, a contar do seu re-


cebimento. Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa sem ,

prejuízo da responsabilidade dos executores (art. 136, §§ 4.° a 7.°, CF/88).


100 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Concomitantemente, nos termos do art. 140 da CF/88, a Mesa do Con-


gresso Nacional designará comissão composta por cinco de seus membros
(das Mesas do Senado e da Câmara) para acompanhar e fiscalizar a execução
das medidas.

Sucessivamente (parágrafo único do art. 141 da CF/88), logo que cessar


o estado de defesa as medidas aplicadas na sua vigência serão relatadas pelo
Presidente da República em mensagem ao Congresso Nacional, com relação
nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas. Se o Congresso não
aceitar a justificativa, poderá ser tipificado algum crime de responsabilidade
(art. 85 da CF/88 e Lei 1.079/1950).

1 2 Controle jurisdicional
.

É previsto no § 3.° do art. 136 da CF/88. Quando da prisão por crime


contra o Estado, determinada pelo executor da medida, este a comunicará
imediatamente ao juiz, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso
requerer o exame de corpo de delito à autoridade policial (inciso I).
O estado físico e mental do detido no momento da autuação será decla-
rado pela autoridade (inciso II).
A prisão ou a detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez
dias, salvo se autorizada pelo Poder Judiciário (inciso III).
Durante e ao término do estado de defesa, poderá ocorrer o controle
jurisdicional dos atos dos executores da medida que incorreram em abusos
ou ilícitos.

Estado de Defesa

Fundamento Constitucional: arts. 136 e 140/141 da CF/88

Motivo: Preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determi-


nados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente insta-
bilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na
natureza.

Prazo: Não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por
igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.
Direitos que podem ser limitados: a) reunião, ainda que exercida no seio das
associações; b) sigilo de correspondência; c) sigilo de comunicação telegráfica e
telefónica.
cl
Estado de sítio KJ

É a instauração de uma legalidade extraordinária por determinado tempo


,

e em certa área, com o fim de preservar ou restaurar a normalidade constitu-


cional perturbada por motivo de comoção grave de repercussão nacional ou
por declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira
-

situação de beligerância com Estado estrangeiro (arts 137 a 139 CF/88).


.
,

Além disso pode ocorrer em virtude da ineficácia de medida tomada


,

durante o estado de defesa.


Comoção grave de repercussão nacional ocorre nos casos de rebelião
ou revolução interna.
No procedimento devem ser ouvidos os Conselhos de República e o de
Defesa Nacional e há necessidade de autorização pelo voto da maioria absoluta
do Congresso Nacional para sua decretação (a autorização é dada por decreto
legislativo - art. 49 IV, CF/88), em atendimento à solicitação fundamentada
,

do Presidente da República (art. 137 CF/88).


,

Se o Congresso Nacional estiver em recesso será convocado extraordi-


,

nariamente pelo Presidente do Senado para se reunir no prazo de 5 dias, a fim


,

de apreciar a solicitação. Caso conceda o estado de sítio deverá o Congresso


,

Nacional permanecer em funcionamento (art 138, CF/88)..

O decreto de estado de sítio indicará sua duração (exceto em caso de


guerra), as normas necessárias à sua execução e as garantias constitucionais
que ficarão suspensas (somente as do art. 139 no caso do art. 137,1, da CF/88).
Em caso de guerra a Constituição não estabelece limites.
,

1 .
CONTROLE DO ESTADO DE SÍTIO

/.
/ Controle político
a) Prévio: depende de autorização do Congresso Nacional pelo voto da
maioria absoluta (art. 137 parágrafo único, CF/88); a autorização é
,

dada por decreto legislativo - art 49, IV, CF/88).


.
102 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

b) Concomitante: cinco membros da Mesa do Congresso Nacional (art.


140, CF/88).
c) Sucessivo: relatório do Presidente da República em mensagem ao
Congresso Nacional (art. 141, parágrafo único, CF/88).
1 2 Controle jurisdicional
.

Durante o período de exceção, deverá o Poder Judiciário corrigir os


abusos e as ilegalidades, podendo ser usado o habeas corpus ou o mandado
de segurança. Da mesma forma, haverá a atuação desse órgão após o estado
de sítio.

Estado de sítio (artigos 137/141 da CF/88)

Motivo Motivo

Comoção grave de repercussão nacio- Declaração de estado de guerra ou res-


nal ou ocorrência de fatos que com- posta a agressão armada estrangeira.
provem a ineficácia de medida toma-
da durante o estado de defesa;

Prazo: não poderá ser decretado por Prazo: poderá ser decretado por todo o
mais de trinta dias, nem prorrogado, tempo que perdurar a guerra ou a agres-
de cada vez, por prazo superior; são armada estrangeira.

Limites: art. 139 da CF/88 (I - obriga- Limites: não há limites em artigo espe-
ção de permanência em localidade cífico da Constituição, sendo possível a
determinada; II - detenção em edifício pena de morte.
não destinado a acusados ou conde-
nados por crimes comuns; III - restri-
ções relativas à inviolabilidade da cor-
respondência, ao sigilo das comunica-
ções, à prestação de informações e à
liberdade de imprensa, radiodifusão e
televisão, na forma da lei; IV - suspen-
são da liberdade de reunião; V - busca
e apreensão em domicílio; VI - inter-
venção nas empresas de serviços pú-
blicos; VII - requisição de bens.)
Cap. 14 . ESTADO DE SÍTIO 103

Coincidências entre Intervenção Federal, Estado de Defesa e Estado


de Sítio:

- Os três são criados por decreto do Presidente da República;


- Os três são limitações circunstanciais às emendas constitucionais
(art. 60, §1.°, CF);
- Os três são legalidades extraordinárias temporárias;
-

Normalmente, devem ser ouvidos os Conselhos da República e


de Defesa Nacional, sem prejuízo do controle político, feito pelo
Congresso Nacional, salvo nos casos de intervenção federal por
requisição judicial.
iTlTl

A separação dos Poderes foi necessária em virtude dos abusos cometidos


pelos detentores do poder político. Foi estudada por diversos autores, tais
como Aristóteles, na obra Política; John Locke, em seu Tratado sobre o governo;
Jean-Jacques Rousseau, no Contrato social; e Montesquieu, em sua célebre
obra O espírito das leis.
A divisão tenta impedir o arbítrio, estabelecendo um sistema de freios
e contrapesos em que os três Poderes são independentes, mas subordinados
ao princípio da harmonia. Este não significa nem domínio de um pelo outro
nem usurpação de atribuições, mas a consciente colaboração e o controle
recíproco.

1.
O PODER LEGISLATIVO

O Poder Legislativo tem como conceito clássico o poder de fazer, emendar,


alterar e revogar as leis (arts. 44-75, CF/88). Entre nós, ele se divide em três
esferas.

7 / .
Esfera federal

O Congresso Nacional se compõe da Câmara dos Deputados e do


Senado Federal, integrados respectivamente por Deputados e Senadores
Federais. A organização do Poder Legislativo federal em dois ramos - sistema
denominado bicameralismo (com restrições de 1934a 1937)-éuma tradição
constitucional brasileira.

No bicameralismo federativo brasileiro não há predominância substancial


de uma Casa sobre a outra. Formalmente (procedimentalmente), contudo,
a Câmara dos Deputados tem o privilégio referente ao início do processo
legislativo federal, pois é perante ela que o Presidente da República, o Supremo
106 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Tribunal Federal , o Superior Tribunal de Justiça e os cidadãos promovem a


iniciativa do processo de elaboração das leis Por conta disso a Câmara dos
.
,

Deputados é chamada de Casa iniciadora (arts 61, § 2.°, 64 e 62 § 8.°, CF/88).


.
,

Deve-se esclarecer que as leis nacionais ou federais devem ser aprovadas


pelas duas Casas do Congresso Nacional; desse modo, depois de ser aprovado
pela Câmara dos Deputados, o projeto de lei deve ser encaminhado ao Senado
Federal , que neste caso recebe o nome de Casa revisora (art. 65, CF/88).
Além disso , é possível que o Senado Federal seja a Casa iniciadora e a
Câmara dos Deputados seja a revisora se a iniciativa legislativa partir dos
Senadores.

1 1
. .
1 Câmara dos Deputados
A Câmara dos Deputados é composta por representantes do povo eleitos ,

atualmente pelos Estados e pelo Distrito Federal de acordo com o sistema


proporcional.
O art. 45 da Constituição Federal estabelece que a Câmara dos Deputados
terá representação proporcional ao número de cadeiras do partido político de
cada unidade federativa e à população de cada Estado e do Distrito Federal .

Cumpre observar que nenhuma das unidades federativas terá menos de oito
ou mais de setenta Deputados Federais com exceção dos Territórios Federais
,

(se voltarem a existir), que elegerão quatro Deputados Federais.

7 72
. .
Senado Federal

No sistema federalista adotou-se a tese da necessidade do Senado como


,

câmara representativa dos Estados federados. Como versa o art .


46 da CF/88,
o Senado Federal será composto por representantes dos Estados e do Distrito
Federal eleitos segundo o princípio majoritário.
,

O número de Senadores é fixo por unidade federativa e cada Estado e o ,

Distrito Federal elegerão três Senadores com mandato de 8 anos. Destaque-


,

se que cada Senador será eleito com dois suplentes.


A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de
quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços.

7 2 Esfera estadual
.

O Poder Legislativo é composto por Deputados Estaduais eleitos pelo ,

sistema proporcional para um mandato de quatro anos Sua Casa legislativa .


Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 107

é conhecida como Assembleia Legislativa. O Distrito Federal possui Câmara


Legislativa, onde se reúnem os Deputados Distritais, também eleitos
pelo sistema proporcional para um mandato de quatro anos. As regras
da Constituição Federal de 1988 referentes aos membros do Congresso
Nacional aplicam-se aos Deputados Estaduais e Distritais (sistema eleitoral,
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda do mandato, licença,
impedimentos e incorporação às Forças Armadas - art. 27, § 1.°, e art. 32, §
3 .
°
, da CF/88).

1 .
3 Esfera municipal
Temos os Vereadores Municipais compondo o Poder Legislativo. São
eleitos pelo sistema proporcional para um mandato de quatro anos, e sua
Casa legislativa é conhecida como Câmara Municipal. Os Vereadores gozam
apenas das imunidades materiais (art. 29, VIII, CF/88). São em número de
9 a 55 (art. 29, IV, CF/88). Vereador também pode ser chamado de "edil".

2 .
PECULIARIDADES DO CONGRESSO NACIONAL

Funções atípicas: controle das contas públicas federais, autorização


para instauração de processo contra certas autoridades, julgamento de
crimes de responsabilidade, além de funções meramente deliberativas, como
autorizações para viagens do Presidente, plebiscitos e referendos.
A atividade de fiscalização contábil, inanceira, orçamentária, operacional
f

e patrimonial da União e de entidades da administração direta e indireta é


feita por cada Poder, internamente, e pelo Congresso Nacional, com o auxílio
do Tribunal de Contas da União (arts. 70-74, CF/88), abordado no final do
presente tópico. Existem também Tribunais de Contas nos Estados, no Distrito
Federal e em alguns Municípios (art. 75, CF/88).
A Câmara dos Deputados e o Senado Federal possuem seus respectivos
regimentos internos e órgãos próprios destinados a ordenar seus trabalhos.
Abaixo constam seus principais órgãos.

2 . 1 Mesas da Câmara dos Deputados, do Senado e do Congresso


Nacional

As Mesas são órgãos diretivos da Câmara dos Deputados, do Senado


e do Congresso Nacional. Normalmente, são compostas pelo Presidente,
dois Vice-Presidentes, quatro secretários e quatro suplentes, podendo sua
composição ser alterada pelos regimentos.
108 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Para assegurar a autonomia das Casas legislativas , as Mesas serão


compostas por membros pertencentes a seus quadros e eleitos por seus pares .

O mandato para ocupar cargo na Mesa da respectiva Casa será de dois


anos, elegendo-se os ocupantes no primeiro ano da legislatura e sendo vedada
a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente
(art. 57, § 4.°, CF/88). Porém, pode haver a reeleição se a Mesa for eleita nos
dois últimos anos da legislatura.
A Mesa do Congresso Nacional é constituída por membros das Mesas do
Senado e da Câmara. A presidência é exercida pelo Presidente do Senado e ,

os demais cargos serão ocupados alternadamente pelos ocupantes de cargos


equivalentes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (art 57, § 5.° .
,

CF/88).

A Constituição Federal estabelece certas atribuições para as Mesas ,

tais como convocar Ministros para comparecimento (art 50 § 1.°, CF/88); .


,

solicitar por escrito informações aos Ministros de Estado (art 50, § 2.°, CF/88);
.

provocar a perda de mandato (art. 55, § 2.°, da CF/88); declarar a perda do


mandato (art. 55 § 3.°, CF/88); propor ação de inconstitucionalidade (art.
,

103 II e III, CF/88).


,

2 .
2 Comissões parlamentares
As comissões parlamentares são comissões formadas por membros
do Poder Legislativo encarregadas de estudar e examinar as proposições
legislativas e apresentar pareceres .

As comissões parlamentares podem ser temporárias ou especiais ,

permanentes, mistas e de inquérito.


As comissões parlamentares temporárias ou especiais são constituídas
para opinar sobre determinadas matérias e se extinguem com o preenchimento
do fim a que se destinam.
As comissões parlamentares permanentes são as que subsistem através das
legislaturas, organizando-se em razão da matéria Normalmente coincidem
.
,

com o campo funcional dos Ministérios (art. 58 § 2.°, CF/88). São também
,

chamadas de comissões temáticas.

As comissões parlamentares mistas são as compostas por Deputados e


Senadores federais com o objetivo de apreciar assuntos expressamente fixados ,

em especial aqueles que devam ser decididos pelo Congresso Nacional (arts .

62, §9.°, 72,166, § 1.°, CF/88).


Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 109

A comissão parlamentar de inquérito é uma comissão nomeada por


uma Câmara, composta por membros desta e que agem em seu nome para
realizar uma investigação sobre determinado objeto. Esse objeto pode ser um
fato ou um conjunto de fatos alusivos a acontecimentos políticos, abusos ou
ilegalidades da Administração, questões financeiras, agrícolas, industriais,
entre outros, desde que atinentes à boa atividade do Estado.
No direito brasileiro, a comissão parlamentar de inquérito pode ser
constituída no âmbito federal, bem como na esfera estadual, municipal e
distrital. Na esfera federal e distrital é também chamada de CPI, enquanto
nas esferas estadual e municipal, além dessa denominação, é conhecida por
Comissão Especial de Inquérito (CEI). Observe-se que uma CPI no Distrito
Federal (distrital), ou seja promovida pela Câmara Legislativa, pode investigar
,

matérias de competência estadual e municipal, em virtude da competência


legislativa cumulativa do Distrito Federal (art. 32, § 1.°, CF/88).
Genericamente, uma comissão parlamentar de inquérito costuma ser
designada por comissão especial de investigação ou comissão de investigação
parlamentar.
São requisitos constitucionais de uma CPI na esfera federal: requerimento
de 1/3 dos membros da respectiva casa, para investigar fato determinado e por
prazo certo, com poderes próprios de autoridadesjudiciais. Suas conclusões,
se for o caso, serão encaminhadas ao Ministério Público, que promoverá a
°
responsabilidade civil e criminal dos infratores (art. 58, § 3. CF/88).
,

Na atualidade, a Lei 1.579, de 18.03.1952, a Lei 4.595, de 31.12.1964, a


Lei 10.001 de 04.09.2000, e a Lei 10.679, de 23.05.2003, são as leis ordinárias
,

federais a tratar das comissões parlamentares de inquérito. A primeira


regulamenta a investigação parlamentar prevista no art. 53 da Constituição de
1946; a segunda amplia o poder das comissões parlamentares de inquérito, ao
" "

autorizar a quebra do sigilo bancário; e a terceira estabelece uma prioridade


de providências que devem ser adotadas nos procedimentos encaminhados
pelas CPIs. Destaque-se que a Lei 10.679/2003, alterando o art. 3. da Lei
°

1 579/1952 estabeleceu: "§ 2.° O depoente poderá fazer-se acompanhar de


.

"

advogado, ainda que em reunião secreta Por fim, a Lei Complementar 105,
.

de 10.01.2001, em seu art. 4.°, possibilita expressamente a quebra do sigilo


bancário pelas CPIs federais.
As comissões parlamentares de inquérito não podem ter mais poderes
que o Congresso ou Casa legislativa respectiva, ou reservados aos Poderes
Executivo e Judiciário, ou que se contraponham aos direitos individuais.
110 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Negam-se certos poderes compulsórios às comissões parlamentares de


inquérito para o fim de investigação. Elas não têm a faculdade de proceder ,

por si próprias, a sequestros, buscas e apreensões, de determinar prisões


provisórias, indisponibilidade de bens, interceptações telefónicas e dos demais
meios de comunicação; não têm acesso aos livros mercantis e à escrituração das
sociedades mercantispois estas são atividades da órbita do Poder Judiciário
,

(reserva de jurisdição). Nada impede que, se houver necessidade de tais


medidas, as CPIs recorram a este Poder para viabilizá-las.
Os parlamentares que compõem as comissões parlamentares de inquérito
não devem antecipar opiniões e fazer acusações, bem como desconhecer o papel
do advogado. Além disso não devem transformá-las em palanques eleitorais
,

ou em instrumento de ofensa à dignidade dos cidadãos convocados a depor.


Exigem-se dos parlamentares imparcialidade discrição, respeito aos
,

direitos constitucionais e ao formalismo processual atinente a qualquer


investigação, sob pena de invalidação dos trabalhos de investigação pelo Poder
Judiciário, que tem o importantíssimo papel de assegurar que as comissões
parlamentares de inquérito, bem como todos os demais entes da sociedade,
atuem no estreito caminho da legalidade.
O início dos trabalhos de uma comissão parlamentar de inquérito não
impede que se proceda a uma investigação pelos órgãos do Poder Executivo
ou do Poder Judiciário, e vice-versa.
Não cabe a uma comissão parlamentar de inquérito questionar a
discricionariedade de atos administrativos ou a fundamentação jurídica de
uma decisão judicial, uma vez que existem mecanismos legais para tanto.
Os trabalhos da comissão parlamentar de inquérito devem no máximo,
,

findar com a legislatura que a instituiu ou antes, pelo decurso do prazo


,

estabelecido no Regimento Interno ou pela realização dos fins a que se destinou.


Os mecanismos de instrução das comissões parlamentares de inquérito
podem ser os mesmos utilizados nos juízos civil, administrativo e penal.
No Brasil de regra, são usadas as disposições do Código de Processo Penal,
,

havendo liberdade para que os parlamentares conduzam as investigações


da maneira que melhor lhes aprouver, desde que não cometam abusos ou
ilegalidades. Dessa forma podem fazer visitas em determinados locais, pedir
,

perícias ou exames laboratoriais, notificar pessoas, realizar oitivas, pedir a


°
quebra do sigilo telefónico, bancário, (art. 4. § 1.°, LC105/2001), telemático
,

e fiscal (nesses casos de quebra de sigilo, podem realizá-la as CPIs federais - da


Câmara dos Deputados, do Senado Federal e mista), entre outros. Destaque-
se que, no segundo semestre de 2004, o STF autorizou que as CPIs estaduais
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 111

quebrassem diretamente o sigilo bancário (mandado de segurança movido


pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro contra ato do Banco Central -
CPI da Loterj-, Informativo do STF 408, de 16.11.2005, ACO 730/RJ).
Ao findarem seus trabalhos, devem as comissões parlamentares de
inquérito apresentar um relatório, que pode conter a decisão de arquivamento
ou de remessa do procedimento às autoridades competentes para que procedam
na forma da lei (ver art. 58, § 3. da CF/88).
°
,

Quanto à limitação de poderes das CPIs, é recomendada a leitura do


Informativo do 5TF416: "CPI - Poderes- Presença de advogado". Normalmente,
cabe mandado de segurança ou habeas corpus contra os abusos cometidos
por parlamentares na condução dos trabalhos investigatórios: se for contra
representantes do Congresso Nacional ou de suas Casas, o foro é o Supremo
Tribunal Federal; se for contra representantes das Assembleias Legislativas
ou da Câmara Legislativa, o foro é o Tribunal de Justiça local; e se for contra
representantes da Câmara Municipal, o foro é o juiz de direito da comarca.

note
Conforme decidiu o STF, nenhuma CPI pode determinar a
interceptação telefónica (grampo), expedir mandado de prisão
(só quem pode expedir o mandado de prisão é a autoridade
judicial. Não confundir com prisão em flagrante, pois esta pode
ser feita por qualquer do povo) e expedir mandado de busca
e apreensão - (STF, MS 27.483, j. 14.08.2008, rei. Min. Cezar
Peluso, DJ de 10.10.2008 e, STF, MS 23.652, j. 22.11.2000,
rei. Min. Celso de Mello, DJ de 16.02.2001.)
AsCPIsfederais,estaduaisedistritaispodemrequererdiretamente
aos órgãos, desde que o façam fundamentadamente, as quebras
de sigilo: bancário (extratos), telefónico (extratos)e fiscal (cópia
da declaração de imposto de renda) - (STF, MS 23.466, j.
04.05.2000, rei. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 06.04.2001.
As CPIs Municipais, se quiserem, devem requerer ao juiz
criminal da Comarca.

Cada CPI investiga aquilo que o respectivo legislativo pode


legislar ou fiscalizar.
As Comissões Parlamentares de Inquérito não podem decretar
"

a condução coercitiva de testemunha, busca e apreensões,


indisponibilidade de bens e prisão temporária" (STF, HC
88.015/DF e MS 25.832/DF - Informativo 416).
112 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

2 .
3 Polícia e serviços administrativos
As Casas do Congresso Nacional possuem um corpo de segurança próprio ,

destinado ao policiamento interno bem como há serviços administrativos,


,

que são as secretarias, incluindo serviços gráficos, bibliotecas e assessorias,


regulados nos respectivos regimentos internos .

2 .
4 Comissão representativa
A Comissão representativa tem por função representar o Congresso
Nacional durante o recesso parlamentar (art 58, § 4.°). O recesso parlamentar
.

ocorre normalmente nos períodos de 18 a 31 de julho e de 23 de dezembro


a 1.° de fevereiro.

2 .
5 Funcionamento do Congresso Nacional
O Congresso Nacional realiza suas atividades por legislaturas , sessões
legislativas ordinárias ou extraordinárias sessões ordinárias ou extraordinárias.
,

A legislatura tem duração de quatro anos (parágrafo único do art .


44,
CF/88) e corresponde ao período que vai do início do mandato dos membros
da Câmara dos Deputados até seu término pois o Senado é contínuo, sendo
,

renovado apenas parcialmente (por um terço e dois terços) em cada período


de quatro anos (§ 2.° do art. 46 CF/88). ,

Sessão Legislativa Ordinária: é o período anual em que deve estar reunido


o Congresso para os trabalhos legislativos Divide-se em dois períodos: de
.

02.02 a 17.07 e de 01.08 a 22.12. Cumpre observar que não há interrupção


da sessão legislativa se o projeto de lei de diretrizes orçamentárias não for
aprovado (art. 57 caput e § 2. CF/88). No primeiro ano da legislatura a sessão
,
°
,

legislativa ordinária começa em 01.02 (art 57, § 4.° CF/88).


.
,

Recesso Parlamentar: é o intervalo entre os períodos legislativos e serve


para o descanso dos parlamentares. Durante o recesso, o Congresso Nacional
só funciona se for convocado extraordinariamente Nesse período como visto,
.
,

funcionará a Comissão representativa do Congresso (art 58, § 4.°, CF/88). .

A convocação extraordinária está regulada no art 57, §§ 6.° e 7.°, CF/88. Se .

esta ocorrer teremos a sessão legislativa extraordinária.


,

Sessões Ordinárias: são as reuniões diárias dos congressistas que se ,

processam nos dias úteis (de segunda a sexta-feira). São reguladas pelos
regimentos internos.
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 113

Nesse horário ou em outro realizam-se também sessões solenes de


comemoração de datas ou feitos históricos de reverência à memória de
,

pessoas ilustres ou de recepção de personalidades estrangeiras em visita


ao País. E no início de cada legislatura ocorrem a partir de 1. de fevereiro,
°
,

as sessões preparatórias e as sessões de organização do Congresso e de


suas Casas.

Sessões Extraordinárias: são aquelas realizadas fora do horário prees-


tabelecido para apreciar matéria determinada ou concluir a apreciação do
que já tenha tido a discussão iniciada.
Reuniões Conjuntas: a Constituição prevê hipóteses em que as Casas do
Congresso Nacional se reunirão em sessão conjunta (art. 57, § 3.°, da CF/88) ,

por exemplo, para inaugurar a sessão legislativa, conhecer do veto e sobre ele
deliberar, entre outras finalidades.

2.
6 Quorum para deliberação
2 6 . .
1 Maioria simples
"

Salvo disposição constitucional em contrário as deliberações de cada


,

Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos presente ,

a maioria absoluta de seus membros (art. 47 da CF/88). Levam-se em


"

consideração os presentes. Só haverá necessidade de maioria absoluta ou de


maioria qualificada quando a Constituição o exigir expressamente.

262 . .
Maioria absoluta

Corresponde ao primeiro número inteiro superior à metade dos membros


do Congresso, de suas Casas ou de suas Comissões. É necessária por exemplo,
,

para alguns casos de perda do mandato parlamentar (art. 55, § 2.°, CF/88),
a rejeição do veto presidencial (art. 66, § 4.°, CF/88), a aprovação de leis
complementares (art. 69 da CF/88), a aprovação, pelo Senado Federal de ,

indicação do Presidente da República para o cargo de Ministro do STF (art.


101 parágrafo único, CF/88), bem como a aprovação dos Ministros do STJ
,

(art. 104, parágrafo único, CF/88), entre outros.


Na atualidade, tais números na esfera federal são: Câmara dos Deputados:
513 Deputados Federais; maioria absoluta: 257 Deputados Federais; Senado
Federal: 81 Senadores Federais; maioria absoluta: 41 Senadores Federais;
Congresso Nacional: 594 membros; maioria absoluta: 298 membros.
114 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

26
. .
3 Maioria qualificada
Corresponde a um número superior à maioria absoluta. Esses casos são
apenas os determinados expressamente pela Constituição. Exemplos: 2/3
dos Deputados Federais para autorizar a instauração de processo contra o
Presidente da República (art. 51,1, CF/88); 3/5 dos membros de cada Casa
°
para aprovação de projeto de emenda constitucional (art. 60, § 2. CF/88); ,

2/3 do Senado Federal no julgamento do Presidente da República e outros


por crime de responsabilidade (art. 52,1 e II, c/c parágrafo único).

2.
7 Prerrogativas dos congressistas
As prerrogativas dos congressistas são benefícios ligados ao cargo:
2 7 1
. .
In viola bilida de

Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por


quaisquer opiniões, palavras e votos. Isso significa que não cometem crime,
pois não há ilicitude (ato contrário à lei), nem respondem na ordem civil por
tais atos. A doutrina denomina essa inviolabilidade de "imunidade material
"
ou absoluta (art. 53, caput, CF/88). A doutrina e a jurisprudência destacam
que os referidos atos devem estar vinculados ao exercício da atividade
"

"

parlamentar Desse modo, um parlamentar embriagado, em uma boate, na


.

madrugada, ofendendo as pessoas, não estará protegido pela inviolabilidade.


Destaque-se sobre o tema a seguinte decisão do STF: "A imunidade
material prevista no art. 53, caput, da Constituição não é absoluta, pois
somente se verifica nos casos em que a conduta possa ter alguma relação
com o exercício do mandato parlamentar. Embora a atividade jornalística
exercida pelo querelado não seja incompatível com atividade política, há
indícios suficientemente robustos de que as declarações do querelado, além
de exorbitarem o limite da simples opinião, foram por ele proferidas na
"

condição exclusiva de jornalista (STF, Inq. 2,134, j. 23.03.2006, rei. Min.


Joaquim Barbosa, DJ de 02.02.2007).

2 7
. .
2 Imunidade propriamente dita ou "imunidade formal ou
relativa "

Neste casoo crime existe, porém podem ocorrer restrições quanto ao


,

processo ou à prisão do parlamentar.


Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não
poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 115

autos serão remetidos dentro de 24 horas à Casa respectiva para que, pelo ,

voto da maioria de seus membros resolva sobre a prisão (art. 53, § 2.°, CF/88).
,

Recebida a denúncia contra Senador ou Deputado por crime ocorrido ,

após a diplomação o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva,


,

que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria
de seus membros, poderá até a decisão final, sustar o andamento da ação
,

(art. 53, §3.°, CF/88).


O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo
improrrogável de 45 dias do seu recebimento pela Mesa Diretora (art 53, § .

°
4 .
, CF/88).
A sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o mandato
(art. 53, §5.°, CF/88).
As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado
de sítiosó podendo ser suspensas mediante o voto de 2/3 dos membros da
,

Casa respectiva nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso


,

Nacional incompatíveis com a execução da medida (art 53, § 8.°, CF/88). .

Ressalte-se que ambas as prerrogativas citadas aplicam-se aos Deputados


Estaduais e Distritais com as devidas adaptações.
,

note
"
BEM
A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa
"

prerrogativa (Súmula 245 do STF).

2 7 . .
3 Privilégio de foro
Os Deputados e Senadores Federais desde a expedição do diploma, são
,

julgados perante o Supremo Tribunal Federal (art. 53, § 1.°, CF/88).

2 7 . .
4 Limitação ao dever de testemunhar
O Código de Processo Penal estabelece em seu art. 221, que, dentre
,

outras autoridades os Deputados e Senadores Federais serão inquiridos em


,

local , dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz. Os congressistas,


contudo , não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou
prestadas em razão do exercício do mandato nem sobre as pessoas que lhes
confiaram ou deles receberam informações (art 53, § 6.°, CF/88). .
116 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

27
. . 5 Isenção do serviço militar
A incorporação dos congressistas (mesmo se militares e em caso de
guerra) às Forças Armadas depende da prévia licença da respectiva Casa
legislativa, salvo se renunciar ao mandato (art. 53, § 7.°, CF/88).

2 8 Incompatibilidades dos congressistas


.

As incompatibilidades dizem respeito a vedações impostas aos


congressistas e podem ser classificadas da seguinte forma:

2 8
. .
7 Negociais
Vinculam-se a atos comerciais (desde a diplomação). É o caso do art.
54,1, a, da CF/88.

282
. .
Funcionais

Dizem respeito basicamente a aceitar cargo ou função. São os casos do art.


54,1, b (desde a diplomação), e II, b e d (desde a posse), da CF/88. Exceção:
art. 56,1, da CF/88.

283
. .
Profissionais

Relacionam-se ao exercício de uma atividade laborativa. São os casos do


art. 54, II, a e c, da CF/88 (desde a posse).

2 9 Perda do mandato
.

Os casos de perda de mandato dos congressistas estão previstos no art.


55 da CF/88.

A doutrina, dentro dos casos de perda, costuma diferençar a cassação da


extinção do mandato. A primeira refere-se à perda do mandato em virtude
de o parlamentar ter cometido falta funcional; já a segunda está relacionada
com a ocorrência de ato ou fato que torna automaticamente inexistente o
mandato (morte, renúncia, ausência injustificada, entre outros).
Os casos de cassação (incs. I, II e VI do art. 55 da CF/88) são decididos pela
maioria absoluta da respectiva Casa, por voto secreto, mediante provocação da
respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional
(§ 2.° do art. 55 da CF/88).
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 117

Nos casos de extinção (incs III a V do art. 55 da CF/88) a perda será


.
,

apenas declarada pela Mesa da respectiva Casa legislativa de ofício ou ,

mediante provocação de qualquer de seus membros ou de partido político


representado no Congresso Nacional (§ 3 do art. 55 CF/88). .
°

Destaque-se que em ambos os casos é assegurada constitucionalmente


a ampla defesa.

2 10 Tribunal de Contas da União


.

O Tribunal de Contas da União é composto por nove Ministros e tem sede


no Distrito Federal. Tem quadro próprio de pessoal e jurisdição (competência)
em todo o território nacional. Exerce no que couber, as atividades previstas
,

no art. 96 (art. 73 CF/88). ,

Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre os


brasileiros possuidores dos seguintes requisitos (§ 1 do art. 73 da CF/88): °
.

mais de 35 e menos de 65 anos de idade (inc I); idoneidade moral e reputação


.

ilibada (inc. II); notórios conhecimentos jurídicos contábeis, económicos e


,

financeiros ou de administração pública (inc III); mais de dez anos de exercício


.

de função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos


mencionados anteriormente (inc. IV) .

Deverão ser escolhidos da seguinte forma (§ 2 do art. 73 da CF/88): 1/3


.
°

pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, sendo dois


alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ,

ao Tribunal indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo critérios de


,

antiguidade e merecimento; 2/3 pelo Congresso Nacional .

Cumpre lembrar que embora os Membros do Tribunal de Contas da União


,

sejam designados Ministros não são eles magistrados. Todavia, por força do
,

°
art. 73, § 3. , da Constituição Federal de 1988, gozam das mesmas garantias,
prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do
Superior Tribunal de Justiça. No que diz respeito à aposentadoria e pensão ,

deverão respeitar as regras contidas no art 40 da Constituição.


.

Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte


legítima para na forma da lei, denunciar irregularidade ou ilegalidade perante
,

o Tribunal de Contas da União. Trata-se da participação popular na fiscalização


dos atos do Estado exercida por meio do direito de petição (art. 5.°, XXXIV,
,

°
a, c/c art. 74, §2. da CF/88).
118 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

As Constituições Estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas


respectivos, que serão integrados por sete conselheiros (art. 75, parágrafo
único, CF/88).
De acordo com o texto constitucional, poderão existir também os
Tribunais de Contas no Distrito Federal e nos Municípios, como, por exemplo,
em São Paulo e no Rio de Janeiro (arts. 75 e 31, CF/88).
Ressalte-se que o § 4.° do art. 31 da Constituição vigente veda a criação
de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.
Desse modo, os Tribunais de Contas Municipais que existem, são aqueles
criados até a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988.
A doutrina afirma que o Tribunal de Contas é um órgão técnico e não
jurisdicional; além disso, julgar contas ou a legalidade de atos para registro
é manifestamente atribuição de caráter técnico.
Na atual Constituição Federal, o Tribunal de Contas da União (TCU)
está previsto no art. 71 como auxiliar do Congresso Nacional, embora a ele
não vinculado, cujas incumbências incluem: apreciar as contas prestadas
anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio que deverá
ser elaborado no prazo de 60 dias a contar de seu recebimento; realizar inspeções
e auditorias de natureza contábil, financeira e orçamentária, além de outras
tarefas.

note
Súmula Vinculante 3: "Nos processos perante o Tribunal de BEM
Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla de-
fesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação
de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada
a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de
"
aposentadoria, reforma e pensão.
"
OTribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode
apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder
público. (Súmula 347 do STF).
"

Além disso, o plenário do STF, no julgamento do MS 25.092,


firmou o entendimento de que as sociedades de economia
mista e as empresas públicas estão sujeitas à fiscalização do
Tribunal de Contas da União.
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 119

3 .
ESPÉCIES NORMATIVAS

3 / Emenda constitucional
.

É um mecanismo jurídico utilizado para alterar a Constituição (art. 60


da CF/88). Matéria já abordada anteriormente no tópico "Poder constituinte
derivado de reforma ou de emendabilidade".

3 .
2 Lei complementar
Tem o mesmo processo legislativo das leis ordinárias com exceção,

do quorum, pois o art. 69 da CF/88 exige maioria absoluta. Desse modo as ,

matérias reservadas à lei complementar não podem ser tratadas por medida
provisória ou lei delegada.
Destaque-se que a lei complementar só existe quando expressamente
requisitada sua edição na própria Constituição (especificidade de matéria).
Exemplos: imposto sobre grandes fortunas (art. 153 VII, da CF/88), Estatuto
,

da Magistratura (art. 93 caput, da CF/88), finanças públicas (art. 163,1 a VII,


,

da CF/88), entre outros.


O quorum para aprovação é o de maioria absoluta; no mais, segue o
processo legislativo para elaboração das leis ordinárias. Destaque-se que
todas as deliberações nas Comissões e no Plenário serão tomadas por maioria
absoluta, sob pena de inconstitucionalidade.
Não há proibição para a existência de Lei Complementar Estadual ,

Distrital ou Municipal basta a previsão na respectiva norma fundamental


,

(Constituição Estadual, Lei Orgânica Distrital ou Lei Orgânica Municipal).

3 3 Lei ordinária
.

É a chamada lei comum ou seja, tem incidência quando não há previsão


,

específica.
A elaboração das leis ordinárias abrange três fases: a iniciativa , a

deliberação propriamente dita e a fase complementar.

33 1
. .
Iniciativa

Designa a fase de apresentação do projeto de lei. O projeto de lei deve


ser articulado e devidamente fundamentado e justificado. São espécies de
iniciativa:
120 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Iniciativa geral - Projetos relativos a matérias não reservadas a órgãos


ou autoridades específicas. Cabe ao eleitorado (iniciativa popular - art. 61,
§ 2.°, da CF/88: "A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à
Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por
cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com
não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles ), ao
"

Presidente da República, a qualquer membro ou comissão do Congresso ou


de suas Casas. Tal iniciativa também é chamada de concorrente.

Iniciativa reservada - Apresentada por certas autoridades em matérias


específicas, como o Presidente da República (arts. 61, § 1. e 165 CF/88), o
°
,

Supremo Tribunal Federal (arts. 93 e 96, II, CF/88), os Tribunais Superiores


(art. 96, II, da CF/88) e os Procuradores-Gerais (art. 128, § 5.°, da CF/88).

3 3
. . 2 Deliberação

Abrange os debates nas Comissões e no Plenário, podendo haver


apresentação de emendas em cada uma das Casas do Congresso e a manifestação
do Presidente da República.
A deliberação é feita em cada uma das Casas do Congresso separadamente,
devendo o projeto ser aprovado por maioria simples (art. 47 da CF/88).
Trâmite: de regra, o projeto passa pela Comissão de Constituição e justiça,
que examina sua constitucionalidade nos aspectos material e formal, e por
comissões relacionadas à matéria debatida (educação, transportes, defesa
etc.). Em seguida, normalmente, o projeto é remetido ao Plenário para
votação. Destaque-se que tanto nas Comissões quanto no Plenário podem ser
apresentadas emendas ao projeto, isto é, proposições acessórias que modificam
o texto original. Dependendo da matéria, pode ser dispensada a apreciação
do Plenário (art. 58, § 2.°, I, CF/88).
Aprovado o projeto na Casa iniciadora, ele é remetido à Casa revisora.
Lá passa também pelas Comissões e pelo Plenário, podendo ser rejeitado,
emendado ou aprovado (art. 65 da CF/88). Se for rejeitado, é arquivado,
só podendo ser novamente apresentado na mesma sessão legislativa por
manifestação da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do
Congresso Nacional (art. 67 da CF/88). Se for aprovado por ambas as Casas,
o projeto é encaminhado para a elaboração do autógrafo, que é o instrumento
formal de aprovação do Congresso Nacional. Depois, o projeto é remetido ao
Presidente da República para sanção ou veto.
Se o projeto for emendado, voltará à Casa iniciadora (art. 65 e parágrafo
único da CF/88), que apreciará apenas as emendas da Casa revisora
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 121

(princípio da primazia da apresentação do projeto), e será remetido em


seguida para o autógrafo e depois para o Presidente da República para
sanção ou veto.
A sanção é a concordância do Presidente da República ao projeto de lei
aprovado pelo Poder Legislativo. A concordância pode ser expressa ou tácita
(no prazo de 15 dias, o silêncio importará sanção: art. 66, § 3.°, da CF/88). Pela
lógica, são 15 dias úteis, pois, como adiante se verá, o veto pode ser apresentado
nesse período, que é maior que 15 dias corridos. Não dependem de sanção
do Presidente da República a emenda constitucional, o decreto legislativo,
resoluções das Casas legislativas, a convocação de plebiscito ou referendo,
entre outros.

O veto é a discordância do Presidente da República em relação ao


projeto de lei aprovado, por entendê-lo inconstitucional ou contrário ao
interesse público. O veto deve ser apresentado em 15 dias úteis, e seus motivos
comunicados ao Presidente do Senado em 48 horas (art. 66, § 1. °
, CF/88).
O veto pode abranger todo o projeto ou apenas parte dele, visto que "o veto
parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou
de alínea" (art. 66, § 2.°, CF/88).
No prazo de 30 dias a partir do recebimento pelo Presidente do Senado, o
Congresso Nacional, em sessão conjunta, pode rejeitar em escrutínio secreto
o veto pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores (art. 66, §
°
4.
CF/88). Se não houver deliberação em 30 dias, o projeto entra na ordem
,

do dia, impedindo deliberação sobre outras matérias (art. 66, § 6.°, CF/88).
Encerrada a apreciação do veto, o projeto é enviado ao Presidente da
República para promulgação. Se este não o fizer, o Presidente do Senado o
fará. Se houver a negativa deste, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo
(art. 66, §7.°, CF/88).
33
. .
3 Fase complementar: promulgação e publicação
A promulgação é a comunicação da criação da lei aos seus destinatários. É
ato meramente formal e obrigatório, no qual a autoridade competente afirma
que a norma foi criada segundo as regras pertinentes, passando a integrar
o ordenamento jurídico. Cabe ao Presidente da República promulgar a lei
no prazo de 48 horas após a sanção ou derrubada do veto. Se não o fizer,
como visto anteriormente, devem fazê-lo em igual prazo, sucessivamente, o
Presidente ou o Vice-Presidente do Senado.

A publicação é o ato pelo qual se leva ao conhecimento público a


existência da lei. A partir da publicação ou após o período de vacância, a lei
122 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

se torna exigível, obrigatória, e ninguém pode deixar de cumpri-la alegando


seu desconhecimento.

33 . .
4 Regime de urgência
O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação
de projetos de sua iniciativa (art. 64, § 1.°, CF/88). Nesse caso, a Câmara
dos Deputados e o Senado Federal devem se manifestar sobre a proposição,
cada qual sucessivamente, em até 45 dias, sobrestando-se todas as demais
deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham
prazo constitucional determinado, até que se ultime a votação (art. 64, §
°
2 CF/88). Os prazos em questão não correm nos períodos de recesso do
.
,

Congresso Nacional, nem se aplicam aos projetos de código (art. 64, § 4.°,
CF/88). A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos
Deputados será feita no prazo de 10 dias (art. 64, § 3.°, CF/88).
3 .
4 Medida provisória (art. 62 da CF/88)
Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar
medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao
Congresso Nacional.
No § 1.° há o rol de matérias que não podem ser objeto de edição de
medidas provisórias:
"
I - relativa a:

a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito


eleitoral;

b) direito penal, processual penal e processual civil;


c) organização do Poderjudiciário e do Ministério Público, a carreira e
a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos
°
adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3. ;
II - que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou
qualquer outro ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar;
IV-já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional
"

e pendente de sanção ou veto do presidente da República .

No § 2.° há a previsão de que, através de medida provisória, é possível a


instituição ou a majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153,1,
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 123

II IV, V, e 154, II, mas só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se


,

a medida provisória houver sido convertida em lei até o último dia daquele
em que foi editada.

note
Atentar para a novidade introduzida pela EC 42/2003, ou seja, BEM
para a noventena, ou princípio da anterioridade qual ificada ou
nonagesimal prevista noart. 150, III, c, da CF/88, queestabelece
o prazo de 90 dias da publicação da lei para a cobrança de
tributos.

No § 3.° há prazo para a eficácia da medida provisória: ressalvado o


disposto nos §§ 11 e 12, perderão a eficácia, desde a edição, se não forem
°
convertidas em lei no prazo de 60 dias, prorrogável, nos termos do § 7. uma ,

vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto
legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.
O § 4.° estabelece: "O prazo a que se refere o § 3.° contar-se-á da publicação
da medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do
Congresso Nacional".
O § 5.° prevê que a deliberação em cada uma das Casas do Congresso
Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio
sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais.
O § 6.° estabelece o regime de urgência: "Se a medida provisória não for
apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em
regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das casas do Congresso
Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais
deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando".
O § 7.° prevê que será prorrogada uma única vez, por igual período,
a vigência da medida provisória que, no prazo de 60 dias, contado da sua
publicação, não tiver sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso
Nacional.

O § 8.° determina que a Câmara dos Deputados é a Casa iniciadora: "As


"

medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados .

O § 9.° estabelece a criação de uma comissão mista de Deputados e


Senadores para examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer,
antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo Plenário de cada uma
das Casas do Congresso Nacional.
124 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

O § 10 prevê a vedação para reedição na mesma sessão legislativa


,

(ordinária anual), de medida provisória que tenha sido rejeitada ou perdido


sua eficácia por decurso de prazo.
O § 11 estabelece a possibilidade de perpetuação de relações jurídicas em
virtude da inércia do Congresso Nacional: Não editado o decreto legislativo
"

°
a que se refere o § 3. até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de
medida provisória as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos
,

praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas".


O § 12 determina que, aprovado projeto de lei de conversão alterando
o texto original da medida provisória esta será mantida integralmente em
,

vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.


Destaque-se que existe a possibilidade de regulamentação de artigos da
Constituição Federal vigente por medida provisória após a promulgação da EC
32, de 11.09.2001, conforme se infere da alteração feita no art. 246: "É vedada
a adoção de medida provisória na regulamentação de artigo da Constituição
cuja redação tenha sido alterada por meio de emenda promulgada entre 1.°
de janeiro de 1995 até a promulgação desta emenda inclusive". ,

O art. 2.° da EC 32/2001 estabelece que as medidas provisórias editadas


em data anterior à da publicação desta emenda (11.09.2001 pois tal emenda ,

foi publicada em 12.09.2001) continuam em vigor até que medida provisória


ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso
Nacional.

Por fim
deve-se esclarecer que, se a medida provisória (projeto de
,

conversão) for aprovada sem alteração em seu texto original haverá ,

a promulgação pelo Presidente da Mesa do Congresso Nacional para a


publicação no Diário Oficial da União. Se houver alteração no projeto de
conversão da medida provisória, deverá ser seguido o processo legislativo
comum, ou seja, será encaminhado para o Presidente da República para sanção
ou veto. Posteriormente, havendo a sanção ou derrubada do veto segue-se ,

a promulgação e publicação do texto da lei pelo Presidente da República


(previsão na Resolução 1/02-CN, arts. 12 e 13).

3 5 Lei delegada
.

Trata-se da possibilidade de o Presidente da República pedir ao


Congresso Nacional, através de mensagem, delegação para legislar sobre
certos assuntos. A delegação se efetiva por resolução que fixará os limites
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 125

(art. 68 da CF/88) e, eventualmente, a necessidade de aprovação do projeto


do Presidente pelo Congresso, em votação única, vedada qualquer emenda
(art. 68, §3.°, CF/88).
Não podem ser objeto de lei delegada matérias de competência exclusiva
do Congresso Nacional e de suas Casas, matérias reservadas à lei complementar
e relativas ao orçamento, à organização do Ministério Público e do Poder
Judiciário e a questões referentes à cidadania, aos direitos individuais, políticos
e eleitorais (art. 68, § 1. °
,
CF/88).
As leis delegadas são pouco utilizadas, pois é mais fácil o Presidente da
República editar medida provisória.

3.
6 Decreto legisla tivo
É uma espécie normativa de competência exclusiva do Congresso
Nacional, sendo promulgado pelo Presidente do Senado, não sujeito a sanção
ou veto (art. 59, VI, CF/88). Pode tratar de matéria concreta (art. 49, II a VI,
IX XII, XVII, CF/88), de atos normativos e de matéria abstrata (art. 49, VII
,

e VIII, CF/88).

3.7 Resolução
Vincula-se às competências privativas de cada uma das Casas do
Congresso Nacional (arts. 59, VII, 51 e 52 CF/88). Não está sujeita a sanção
ou veto, sendo promulgada pela Mesa da Casa que a editou. Se for ato do
Congresso Nacional, será promulgada pela Mesa do Senado (art. 68, § 2.°,
da CF/88).

São também previstas algumas resoluções com efeitos externos, como as


que visam concretizar a delegação de competências, em caráter temporário, do
Legislativo para o Executivo (art. 68 § 2.°, CF/88), a suspensão da eficácia de lei
,

declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em controle difuso


de constitucionalidade (recurso extraordinário) (art. 52, X, CF/88) ou ainda
°
a fixação de alíquotas aplicáveis a certas operações (art. 155, § 2. IV, CF/88).
,
126 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

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Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 127

4 .
PODER EXECUTIVO

O Poder Executivo é aquele que tem a finalidade (função típica) de


administrar e gerenciar o Estado. Realiza atos de chefia de Estado, de governo e
de administração. Além disso, também exerce a função legislativa por meio de
medidas provisórias e leis delegadas. Participa, ainda, do processo legislativo
pela iniciativa, sanção ou veto e promulgação das leis. O Poder Executivo está
previsto na Constituição Federal vigente no Capítulo 11 do Título IV (arts.
76-91). No Brasil, ele existe nas três esferas político-administrativas.

4 / .
Esfera federal

É chefiado pelo Presidente da República (cidadão brasileiro nato, idade


mínima de 35 anos - art. 14, § 3 VI, a, CF/88), tendo como auxiliares diretos
°
,

o Vice-Presidente e os Ministros de Estado.

4 2 Esfera estadual
.

É chefiado pelo Governador do Estado (cidadão brasileiro, idade mínima


de 30 anos - art. 14, § 3.°, VI, b, CF/88), tendo como auxiliares diretos o
Vice-Governador e os Secretários Estaduais. No Distrito Federal há também
Governador e Vice-Governador, porém existem Secretários Distritais.

4 . 3 Esfera municipal
É chefiado pelo Prefeito do Município (cidadão brasileiro, idade mínima
de 21 anos - art. 14, § 3.°, VI, c, CF/88), tendo como auxiliares diretos o
Vice-Prefeito e os Secretários Municipais. Destaque-se que em Municípios
com 200.000 eleitores ou menos a eleição é feita em um só turno (art. 29, II,
da CF/88).
O mandato dos chefes do Poder Executivo é de quatro anos sendo ,

possível a reeleição por apenas um período subsequente (§ 5.


°
do art. 14 da
CF/88). A eleição do Presidente da República e do Vice-Presidente com ele
registrado será realizada no primeiro domingo de outubro (primeiro turno)
e, se necessário, também no último domingo de outubro (segundo turno)
do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente (art. 77 da
CF/88). Os vencedores devem alcançar a maioria absoluta de votos válidos
(sistema majoritário absoluto), não computados os brancos e os nulos (art. 77,
§ 2.°, CF/88). Aposse será no dia 1.° de janeiro do ano seguinte à sua eleição,
perante o Congresso Nacional (art. 82 da CF/88). Se a posse de qualquer
128 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

deles não ocorrer em até 10 dias depois desse prazo salvo motivo de força ,

maior o cargo será considerado vago (parágrafo único do art. 78 da CF/88).


,

Sobre a sucessão e a substituição do Presidente da República pode-se


afirmar o que segue (arts. 79-81 CF/88). ,

Em caso de sucessão
o Presidente da República não retornará mais
,

ao cargo que ocupava. São exemplos a morte a invalidez permanente, o ,

impeachment entre outros. ,

Havendo substituição o Presidente se afasta para retornar posteriormente


,

ao cargo. Por exemplo: a suspensão de suas funções em processo comum ou


de responsabilidade movido contra ele (art. 86 § 1.°, CF/88), a licença para
,

tratamento de saúde etc.

O Presidente será substituído e sucedido pelo Vice-Presidente (art 79 .

da CF/88) e na falta deste, sucessivamente, pelo Presidente da Câmara dos


,

Deputados pelo Presidente do Senado Federal e pelo Presidente do Supremo


,

Tribunal Federal (art. 80 da CF/88).


A sucessão pelos três últimos é sempre provisória pois, se vagarem os ,

cargos tanto de Presidente quanto de Vice-Presidente da República deverão ,

ser realizadas novas eleições para o preenchimento de ambos os cargos e os ,

eleitos apenas completarão o período remanescente do mandato presidencial


(art. 81, § 2.°, CF/88). No momento em que ocorrer a vacância de ambos os
cargos, se faltarem mais de dois anos para o término do mandato as eleições ,

serão diretas e realizadas em 90 dias (art. 81 caput, CF/88). Se faltar período


,

inferior a dois anos , a eleição será indireta, pelo Congresso Nacional, em 30


dias (art. 81, § 1.°, CF/88).
O Presidente e o Vice-Presidente não poderão sem licença do Congresso ,

Nacional, ausentar-se do País por período superior a 15 dias sob pena de ,

perda do cargo (art. 83 da CF/88).


O Presidente exerce o Poder Executivo auxiliado pelos Ministros de
Estado , nomeando-os e demitindo-os livremente. Os Ministros de Estado
serão escolhidos dentre brasileiros maiores de 21 anos e no exercício dos
direitos políticos. Destaque-se que o Ministro de Estado da Defesa deve ser
brasileiro nato. Suas funções estão descritas no art. 87 da CF/88 .

Compete ao Presidente da República (art. 84 da CF/88) em especial: ,

4 .
4 Participação no processo legislativo
Nas leis ordinárias e complementares o Presidente participa da fase de
,

iniciativa (apresentando projetos) da fase deliberativa (por meio da sanção ou


,
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 129

do veto) e da fase complementar (por meio da promulgação e determinação de


publicação) - art. 84, III a V, da CF/88. Além disso, pode apresentar projetos
de emenda constitucional, editar medidas provisórias com força de lei (art.
84, XXVI, CF/88) e elaborar leis delegadas (art. 68 da CF/88).

4 .
5 Regulamentação das normas
Elaboração de decretos e regulamentos para assegurar a fiel execução
das leis - o decreto é o veículo de manifestação do Presidente da República. O
presidente expede decretos de nomeação, de remoção ou de demissão. Além
disso, ao Executivo cabe regulamentar a lei para lhe dar aplicação .

4 .
6 Atuação no plano internacional
Cabe ao Presidente manter relações com Estados estrangeiros e acreditar
seus representantes diplomáticos (art. 84 VII, CF/88), celebrar tratados,
,

convenções e atos internacionais sujeitos ao referendo do Congresso Nacional


,

(art. 84, VIII, CF/88), declarar a guerra (art. 84, XIX, CF/88), celebrar a paz
(art. 84, XX, CF/88) e, ainda, autorizar, nos termos de lei complementar, que
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente (art. 84 XXII, CF/88).
,

4 .
7 Atuação quanto ao funcionalismo público federal
Ao Presidente da República compete nomear e exonerar os Ministros
de Estado livremente (art. 84 I, CF/88), exercer a direção superior da
,

administração federal (art. 84 II, CF/88), dispor, mediante decreto, sobre


,

sua organização e funcionamento (art. 84 VI, CF/88) e prover e extinguir os


,

cargos públicos federais (art. 84 XXV, CF/88). ,

4 . 8 Atuação em relação às Forças Armadas


Ao Presidente compete exercer o comando supremo das Forças Armadas
(art. 84, XIII, da CF/88).

4 .
9 Nomeação de autoridades
Compete ao Presidente nomear com a aprovação do Senado Federal,
,

os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores os ,

Governadores de Territórios o Procurador-Geral da República, o Presidente


,

e os Diretores do Banco Central os Ministros do Tribunal de Contas da


,

União (art. 84, XIV e XV CF/88), e nomear livremente os magistrados, o


,
130 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Advogado-Geral da União, nos casos previstos na Constituição (art. 84,


XVI CF/88), os membros do Conselho de República, nos termos do art. 89,
,

VII, da CF/88 (art. 84, XVII, CF/88), os membros do Conselho Nacional


do Ministério Público e do Conselho Nacional de Justiça (arts. 130-A e
103-B da CF/88).

4 10
. Conselho da República e Conselho de Defesa Nacional
Ambos são órgãos de consulta do Presidente da República e emitem
pareceres não vinculativos, podendo ser acolhidos ou não.
Conselho da República: órgão superior de consulta do Presidente da
República composto por autoridades públicas, membros do Congresso e seis
cidadãos brasileiros natos (art. 89, VII, da CF/88), dois eleitos pela Câmara
dos Deputados e dois pelo Senado Federal (arts. 51, V, e 52, XIV, da CF/88) e
dois nomeados pelo Presidente da República.
O Conselho da República pronuncia-se sobre intervenção federal,
decretação de estado de defesa e estado de sítio e outras questões relevantes
para a estabilidade das instituições democráticas (art. 90 da CF/88).
Conselho de Defesa Nacional: composto pelo Vice-Presidente da
República, pelos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
pelos Ministros dajustiça, de Estado da Defesa, das Relações Exteriores e do
Planejamento e pelos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica
(art. 91 da CF/88).
Compete a tal Conselho opinar em matérias relativas à defesa do território
nacional, especialmente nas áreas de fronteiras, em decretação de estado de
defesa ou de sítio e intervenção federal.

4 . 11 Oimpeachment
O impeachment (impedimento) deve ser entendido como o processo pelo
qual o Poder Legislativo pune a conduta da autoridade pública que cometeu
crime de responsabilidade, destituindo-a do cargo e impondo-lhe uma pena
de caráter político.
No Brasil, o impeachment está previsto desde a Constituição de 1824 e
esteve presente em todas as Constituições republicanas.
O art. 86 da Constituição Federal vigente divide o processo de impeachment
em duas fases:

a) A Câmara dos Deputados, após admitida a acusação feita por qualquer


cidadão, limita-se pela maioria de 2/3 de seus membros a receber
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 131

ou não a denúncia. Esse ato de recebimento ou não da denúncia ,

decisão que não julga o mérito do processo é chamado pela doutrina ,

de juízo de admissibilidade (tribunal de pronúncia - art. 80 da Lei


1. 079/1950).
Tal pronúncia realizada pela Câmara dos Deputados, implica tão somente
,

na processabilidade do Presidente da República ou de seus Ministros se ,

realizarem crimes conexos com aquele ou seja, a Câmara considerou haver


,

indícios e razoáveis provas do ato imputado ao acusado Se não constatasse .

tal situação, poderia opinar pelo arquivamento.


b) A acusação é encaminhada ao Senado Federal (crimes de respon-
sabilidade), que, se instaurar o processo suspenderá o Presidente de
,

suas funções (art. 86, § 1.° II, da CF/88). Se, decorrido o prazo de
,

180 dias ,o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento


do Presidente sem prejuízo do regular prosseguimento do processo
,

(art. 86, §2.°, da CF/88).

O papel do Senado, ao apreciar a imputação ao acusado de atos atentatórios


à Constituição e à lei previstos de forma genérica no art. 85 da CF/88 e
,

especificados em lei ordinária especial (Lei 1 079/1950) deverá limitar-


.
,

se à verificação da adequação deles às hipóteses legais É uma atividade .

jurisdicional.
O julgamento, presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal ,

poderá resultar em absolvição, com o arquivamento do processo, ou em


condenação por 2/3 dos votos do Senado Federal limitando-se a decisão à ,

perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função
pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis (art. 52, parágrafo
único, da CF/88).
Além do Presidente da República e do Vice-Presidente de acordo com ,

a Constituição Federal podem ser passíveis de punição pelo cometimento


,

de crimes de responsabilidade os Ministros de Estado e os Comandantes da


Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes conexos com aqueles
,

praticados pelo Presidente; os Ministros do Supremo Tribunal Federal,


os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do
Ministério Público , o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral
da União (art. 52 1 e II da CF/88).
, ,

As condutas definidas como crimes de responsabilidade do Presidente


da República estão elencadas no art. 85 da CF/88 e na Lei 1 079/1950. .
132 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Inote
BEM
Governadores (Lei 1.079/1950) e Prefeitos (Decreto lei
201/1967).

4. 12 Processo e julgamento do Presidente da República nos crimes


comuns

Autorizado o processo pela Câmara dos Deputados, este será instaurado


pelo Supremo Tribunal Federal, com o recebimento da denúncia (oferecida
pelo Procurador-Geral da República), tendo como consequência imediata
°
a suspensão do Presidente da República de suas funções (art. 86, § 1. ,

da CF/88), prosseguindo o processo nos termos do regimento interno do


Supremo Tribunal e da legislação pertinente (Lei 8.038/1990).
Nesse caso, a condenação do Presidente importa em consequências de
natureza penal e, somente por efeitos reflexos e indiretos, na perda do cargo
(art. 15, III, da CF/88). Destaque-se que o Presidente da República só pode ser
julgado por crime comum em razão da função (irresponsabilidade relativa -
imunidade temporária - prescrição suspensa).

note
Art. 86, §§ 3.° e 4.°, da CF/88: "§ 3.° Enquanto não sobrevier IBEM
sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente
da República não estará sujeito a prisão. § 4.° O Presidente
da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas
funções".
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 133

Federal:
-

Presidente da República + vice-presidente


(brasileiros natos)
-

Mandato: 4 anos (possível reeleição)


- Sistema majoritário absoluto
Estadual:
- Governador do Estado + vice-governador
-

Mandato: 4 anos (possível reeleição)


-

Sistema majoritário absoluto


Poder Executivo no Distrital
Brasil -

Governador Distrital + vice-governador


(Art. 76/91, CF) -

Mandato: 4 anos (possível reeleição)


- Sistema majoritário absoluto
Municipal
-

Prefeito Municipal + vice-prefeito


-

Mandato: 4 anos (possível reeleição)


Obs.:
-

> Sistema majoritário absoluto = município com +


de 200.000 eleitores
Sistema majoritário simples = município com até
200.000 eleitores

5 . PODER JUDICIÁRIO

O Poder Judiciário tem a função de exercer a jurisdição, ou seja, compete


a ele resolver as lides (arts. 92-126 da CF/88). Desse modo, com o objetivo
de resolver o litígio, deve aplicar o direito ao caso concreto.
O Judiciário, além de sua função típica, que é a jurisdicional , exerce

funções atípicas quando administra ou legisla: administra quando concede


licença e férias aos seus membros e serventuários (art. 96,1,/, CF/88); e legisla
quando edita normas regimentais (art. 96,1, a, CF/88).
No Brasil
o Poderjudiciário pode ser dividido em uma justiça de âmbito
,

federal (comum ou especializada) e em uma justiça estadual (residual - o


que não for competência federal comum ou especializada). AJustiça Federal
comum de primeira instância tem a competência estabelecida no art. 109
da CF/88. Consideram-se como Justiça especializada federal as Justiças
Trabalhista, Eleitoral e Militar (arts. 111-124 da CF/88). Destaque-se que há
134 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

autorização constitucional para a criação dejuizados Especiais e dajustiça de


Paz (art. 98,1 e II, CF/88) e dajustiça Militar estadual (art. 125, § 3.°, CF/88).
A Constituição Federal de 1988 estabelece os órgãos do Poder Judiciário
no art. 92, onde temos: o Supremo Tribunal Federal (tutela constitucional),
o Conselho Nacional de Justiça, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais
Regionais Federais e Juízes Federais, os Tribunais e Juízes do Trabalho, os
Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e Juízes Militares, os Tribunais e
Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
O ingresso na carreira é feito por meio de concurso público de provas
e títulos, cujo cargo será o de juiz substituto, com a participação da Ordem
dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exigindo-se do bacharel em
direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se à ordem
de classificação nas nomeações (art. 93,1, CF/88).
Destaque-se que 1/5 dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e Territórios será composto por
membros do Ministério Público e por advogados com mais de 10 anos de
carreira ou de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos
órgãos de representação das respectivas classes. Recebidas as indicações, o
Tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que nos 20
dias subsequentes escolherá um de seus integrantes para nomeação (art. 94
e parágrafo único da CF/88). A EC 45/2004 inseriu o quinto constitucional
na Justiça do Trabalho: nos Tribunais Regionais do Trabalho - art. 115,1, da
CF/88 e no Tribunal Superior do Trabalho - art. 111-A, I, da CF/88.
Com o objetivo de assegurar a imparcialidade e a tranquilidade dos
magistrados no exercício de suas funções, foram estabelecidas as seguintes
garantias (art. 95 da CF/88):
a) vitaliciedade: assegura ao magistrado a prerrogativa de só ser demitido
após o trânsito em julgado da decisão judicial. A vitaliciedade, no primeiro
grau de jurisdição, é adquirida após dois anos de estágio probatório, que
se inicia com o efetivo exercício depois da posse. Já no segundo grau de
jurisdição, a vitaliciedade se dá com o efetivo exercício, que ocorre depois da
posse (quinto constitucional). Também é necessária a participação em curso
oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento
de magistrados: art. 93, IV, da CF/88.
b) inamovibilidade: é a vedação de remoção do magistrado de um cargo
para outro, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão por
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES

voto da maioria absoluta do respectivo Tribunal ou do Conselho Nacional


dejustiça, assegurada ampla defesa (art. 93, VIII, da CF/88).
c) irredutibilidade de subsídio: assegura que o magistrado não tenha
diminuído o valor de seus subsídios, salvo imposição legal (ressalvado o
disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4.°, 150, II, 153, III, e 153, § 2.°, I, CF/88).

5 . / Garantias do Poder Judiciário


Estão definidas nos arts. 99 e 96 da CF/88: autonomia administrativa e
financeira, elaboração de regimentos internos, organização das secretarias
e serviços auxiliares, iniciativa reservada de projetos de lei de interesse do
Judiciário, entre outras.
Proibições: objetivando assegurar a imparcialidade dos magistrados,
a Constituição Federal vigente proíbe determinadas atividades no art. 95,
parágrafo único, como, por exemplo, a dedicação a atividade político-
partidária e o recebimento de custas ou participação nos processos que devem
julgar. Destaquem-se as proibições recentes, acrescentadas pela EC 45/2004:
"
IV - receber a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de
,

pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções


previstas em lei; V-exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou,
antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
"

exoneração (quarentena).

5 .
2 Principais características
A definitividade é um traço marcante da jurisdição. As soluções de
litígios pela Administração não são definitivas. Poderão sempre, ser levadas
,

ao Judiciário, para que ali, escoados os recursos, se opere a definitividade da


decisão.

Os crimes de responsabi I idade (art. 52,1 e 11, CF/88), cujas decisões


definitivas são proferidas pelo Senado Federal.

É também característica da função jurisdicional a necessidade de litígio ,

a existência de um conflito qualificado por uma pretensão resistida. Trata-


136 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

se, portanto, de função provocada, pois a aplicação da lei não se dá de forma


espontânea e automática. O lesado tem de comparecer diante do Poder
Judiciário.
Ressalte-se a importância da Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996) como
mecanismo para a solução das lides que envolvem direitos patrimoniais
disponíveis.
5 3 Supremo Tribunal Federal
.

O Supremo Tribunal Federal (STF) é o órgão máximo do Poderjudiciário.


Acha-se instalado na Capital Federal (art. 92, § 1,°, CF/88) e tem como função
fundamental a guarda da Constituição Federal (art. 102 da CF/88).
Composição: 11 membros denominados Ministros, escolhidos dentre
cidadãos brasileiros natos, com mais de 35 e menos de 65 anos de idade, com
notável saber jurídico e reputação ilibada.
Forma de nomeação: nomeados pelo Presidente da República com
aprovação prévia do Senado por maioria absoluta de votos (art. 101, parágrafo
único, CF/88).
Competência do STF:
a) originária (art. 102, I, CF/88): ADln, ADECON e ADPF; julgar
as infrações penais comuns do Presidente da República, do Vice-
Presidente, dos membros do Congresso Nacional, de seus próprios
Ministros e do Procurador-Geral da República; as infrações penais
comuns e os crimes de responsabilidade dos Ministros de Estado e
dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, exceto
os crimes de responsabilidade conexos com o Presidente da República
(art. 52, I, CF/88), dos Membros dos Tribunais Superiores, dos
Membros do Tribunal de Contas da União e dos chefes de missão
diplomática de caráter permanente, entre outros casos;
b) recursal ordinária (art. 102, II, CF/88): julgar, em recurso ordinário,
o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado
de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores,
se denegatória a decisão, e o crime político;
c) recursal extraordinária (art. 102, III, CF/88): julgar, em recurso
extraordinário, as causas decididas em única ou última instância,
quando a decisão recorrida contrariar dispositivo da Constituição,
declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, julgar válida
lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição ou
julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 137

Observe-se que, na propositura do recurso extraordinário, o recorrente


deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas
no caso nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do
,

recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de


seus membros (art. 102, § 3 °
, CF/88). A Lei 11.418/2006 regulamentou a
repercussão geral das questões constitucionais para admissão do recurso
extraordinário (a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de
vista económico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses
subjetivos da causa - art. 543-A, § 1, CPC; haverá repercussão geral sempre
°
,

que o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência


dominante do Tribunal - art. 543-A, § 3.°, CPC).
Súmulas do Supremo Tribunal Federal sobre recurso extraordinário:
Súmula 279: "Para simples reexame de prova não cabe recurso
"
extraordinário .

Súmula 281: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber


"

na Justiça de origem recurso ordinário da decisão impugnada .

Súmula 282: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando não


"

ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada .

Súmula 283: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão


recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não
"

abrange todos eles .

Súmula 284: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a


deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da
"
controvérsia .

Súmula 285: "Não sendo razoável a arguição de inconstitucionalidade,


não se conhece do recurso extraordinário fundado na letra c do art. 101,111,
da Constituição Federal" (refere-se à CF/1946-vide art. 102, III, c, da CF/88).
Súmula 286: "Não se conhece do recurso extraordinário fundado em
divergência jurisprudencial, quando a orientação do plenário do Supremo
Tribunal Federal já se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida".
Súmula 287: "Nega-se provimento ao agravo, quando a deficiência na
sua fundamentação, ou na do recurso extraordinário, não permitir a exata
"

compreensão da controvérsia .

Súmula 288: "Nega-se provimento a agravo para subida de recurso


extraordinário, quando faltar no traslado o despacho agravado, a decisão
138 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

recorrida
a petição de recurso extraordinário ou qualquer peça essencial à
,

"

compreensão da controvérsia .

Súmula 289: "O provimento do agravo por uma das Turmas do Supremo
Tribunal Federal, ainda que sem ressalva não prejudica a questão do cabimento
,

do recurso extraordinário".

Súmula 299: "O recurso ordinário e o extraordinário interpostos no


mesmo processo de mandado de segurança ou de habeas corpus, serão
,

"

julgados conjuntamente pelo Tribunal Pleno .

Súmula 369: "Julgados do mesmo tribunal não servem para fundamentar


o recurso extraordinário por divergência jurisprudencial
"

Súmula 454: "Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá


lugar a recurso extraordinário".
Súmula 456: "O Supremo Tribunal Federal conhecendo do recurso
,

extraordinário, julgará a causa, aplicando o direito à espécie


"

Súmula 634: "Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder


medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda
não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem
"

Súmula 635: "Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido


de medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo
de admissibilidade".

Súmula 636: "Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao


princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha
rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão
"
recorrida .

Súmula 637: "Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal


de Justiça que defere pedido de intervenção estadual em Município".
Súmula 638: "A controvérsia sobre a incidência ou não, de correção,

monetária em operações de crédito rural é de natureza infraconstitucional ,

não viabilizando recurso extraordinário "


.

Súmula 639: "Aplica-se a Súmula 288 quando não constarem do traslado


do agravo de instrumento as cópias das peças necessárias à verificação
da tempestividade do recurso extraordinário não admitido pela decisão
"

agravada .

Súmula 640: "É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida


por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de
juizado especial cível e criminal".
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 139

Súmula 727: "Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Supremo


Tribunal Federal o agravo de instrumento interposto da decisão que não
admite recurso extraordinário, ainda que referente a causa instaurada no
âmbito dos juizados especiais".
Súmula 728: "É de três dias o prazo para a interposição de recurso
extraordinário contra decisão do Tribunal Superior Eleitoral, contado,
quando for o caso, a partir da publicação do acórdão, na própria sessão de
julgamento, nos termos do art. 12 da Lei 6.055/1974, que não foi revogado
"

pela Lei 8.950/1994 .

Súmula 733: "Não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida


"

no processamento de precatórios .

Súmula 735: "Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere
"
medida liminar .

note
O Supremo Tribunal Federal, desde de 1.° de agosto de 2010, BEM
exige que sejam protocoladas na Corte exclusivamente por
meio eletrônico as seguintes peças: Ação Cautelar; Ação
Rescisória; Habeas Corpus; Mandado de Segurança; Mandado
de Injunção; Suspensão de Liminar; Suspensão de Segurança
e Suspensão de Tutela Antecipada. As três últimas classes são
processos de competência da Presidência da Corte.
Em fevereiro de 2010, passaram a tramitar de forma
exclusivamente eletrônica seis tipos de ações originárias,
ou seja, que têm início no STF: Reclamações, Ações
Diretas de Inconstitucionalidade, Ações Declaratórias de
Constitucionalidade, Ações Diretas de Inconstitucionalidade
por Omissão, Arguições de Descumprimento de Preceito
Fundamental e Propostas de Súmula Vinculante.
O Recurso Extraordináriofoi o precursor do processo eletrônico
na Corte, com início em junho de 2007.

Súmula vinculante: art. 103-A (acrescentado pela EC 45/2004):


"

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por


provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após
reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a
partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
140 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública


direta e indiretanas esferas federal, estadual e municipal, bem como
,

proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.


§ 1.° A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia
de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre
órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete
grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre
questão idêntica.
§ 2.° Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação,
revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles
que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
§3 Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula
.
°

aplicável ou que indevidamentea aplicar, caberá reclamação ao Supremo


Tribunal Federal que, julgando-a procedente anulará o ato administrativo
,

ou cassará a decisão judicial reclamada e determinará que outra seja


,

proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso."

A Lei 11.417/2006 regulamentou a súmula vinculante e dentre as ,

novidades houve a ampliação da legitimidade ativa para propor a criação revisão ,

ou cancelamento da súmula vinculante (Defensor Público-Geral da União ,

Tribunais Superiores Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito Federal


,

e Territórios
Tribunais Regionais Federais, Tribunais Regionais do Trabalho,
,

Tribunais Regionais Eleitorais e Tribunais Militares. Além disso admite-se ,

incidentalmente a propositura pelos Municípios - art 3.°, VI, XI e § 1.°).


.

note
O Supremo Tribunal Federal, desde de 1.° de agosto de 2010, BEM
exige que sejam protocoladas na Corte excl usivamente por meio
eletrônico as seguintes peças: Ação Cautelar; Ação Rescisória; W
Habeas Corpus; Mandado de Segurança; Mandado de Injunção;
Suspensão de Liminar; Suspensão de Segurança e Suspensão
de Tutela Antecipada. As três últimas classes são processos de
competência da Presidência da Corte.
Em fevereiro de 2010 passaram a tramitar unicamente na forma
eletrônica, seis tipos de ações originárias, ou seja, que têm início
no STF: Reclamações, Ações Diretas de Inconstitucionalidade,
Ações Declaratórias de Constitucionalidade, Ações Diretas
de Inconstitucionalidade por Omissão, Arguições de
Descumprimento de Preceito Fundamental e Propostas de
Súmula Vinculante. O Recurso Extraordinário foi o precursor
do processo eletrônico na Corte, com início em junho de 2007.
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 141

5.
4 Superior Tribunal de Justiça

O Superior Tribunal dejustiça (STJ) foi criado pela Constituição Federal


de 1988 e acha-se instalado na Capital Federal (art. 92, § 1.°, CF/88), tendo
como função principal assegurar a supremacia da legislação federal em todo
o País (art. 105 da CF/88).

Composição: no mínimo 33 Ministros (art. 104, caput, CF/88).


Forma de nomeação: nomeados pelo Presidente da República dentre ,

brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos de idade, de notável saber


jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria
absoluta do Senado Federal, sendo: 1/3 dentre desembargadores federais dos
Tribunais Regionais Federais e 1/3 dentre desembargadores dos Tribunais de
Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal; e 1/3, em
partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal,
Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na
forma do art. 94 da CF/88 (art. 104, parágrafo único, I e II, CF/88).

Competência do STJ:

a) originária (art. 105,1, CF/88): processar e julgar, nos crimes comuns,


os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e nestes e nos de
responsabilidade os desembargadores dos Tribunais dejustiça dos
Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas
dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais,
dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os dos Conselhos
ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da
União que oficiem perante Tribunais; a homologação de sentenças
estrangeiras e a concessão de exequaturàs cartas rogatórias (art. 105,
I , i, CF/88, acrescentado pela EC 45/2004), entre outros casos;
b) recursal ordinária (art. 105, II, CF/88): julgar, em recurso ordinário, os
habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal
e Territórios, os mandados de segurança decididos em única instância
pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados,
do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão, e
as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo
internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente
ou domiciliada no País;
142 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

c) recursal especial (art. 105 III, CF/88): julgar, em recurso especial,


,

as causas decididas em única ou última instância pelos Tribunais


Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados do Distrito Federal ,

e Territórios quando a decisão recorrida: contrariar tratado ou lei


federal ou negar-lhes vigência; julgar válido ato de governo local
contestado em face de lei federal; e der a lei federal interpretação
divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal .

Súmulas do Superior Tribunal de Justiça sobre recurso especial:


Súmula 5: "A simples interpretação de cláusula contratual não enseja
"

recurso especial .

Súmula 7: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso


"

especial .

Súmula 13: "A divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja
"

recurso especial .

Súmula 83: "Não se conhece do recurso especial pela divergência quando ,

a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida" .

Súmula 86: "Cabe recurso especial contra acórdão proferido no julga-


"

mento de agravo de instrumento .

Súmula 98: "Embargos de declaração manifestados com notório propó-


sito de prequestionamento não têm caráter protelatório
"

Súmula 115: "Na instância especial é inexistente recurso interposto por


advogado sem procuração nos autos
"

Súmula 116: "A Fazenda Publica e o Ministério Público têm prazo em


dobro para interpor agravo regimental no Superior Tribunal de Justiça" .

Súmula 123: "A decisão que admite ou não, o recurso especial deve ser
,

fundamentada com o exame dos seus pressupostos gerais e constitucionais".


,

Súmula 126: "É inadmissível recurso especial quando o acórdão recor-


,

rido assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional qualquer ,

deles suficiente, por si só para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta


,

recurso extraordinário "


.

Súmula 187: "É deserto o recurso interposto para o Superior Tribunal


de Justiça quando o recorrente não recolhe, na origem, a importância das
,

despesas de remessa e retorno dos autos".


Súmula 203: "Não cabe recurso especial contra decisão proferida por
órgão de segundo grau dos Juizados Especiais".
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 143

Súmula 211: "Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a


despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tri-
bunal a quo".
Súmula 216: "A tempestividade de recurso interposto no Superior Tri-
bunal de Justiça é aferida pelo registro no protocolo da Secretaria e não pela
data da entrega na agência do correio".
Súmula 315: "Não cabem embargos de divergência no âmbito do agravo
de instrumento que não admite recurso especial".
Súmula 316: "Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em
"

agravo regimental, decide recurso especial .

Súmula 320: "A questão federal somente ventilada no voto vencido não
"

atende ao requisito do prequestionamento .

Destaque-se que funcionará junto ao Superior Tribunal de Justiça o


Conselho dajustiça Federal, cabendo-lhe, na forma da lei, exercer a supervisão
administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus,
como órgão central do sistema e com poderes correcionais, cujas decisões
terão cará ter vinculante (art. 105, parágrafo único, II, da CF/88). Além disso,
funcionará a escola nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados,
cabendo-lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais para o
ingresso e promoção na carreira (art. 105, parágrafo único, I, CF/88).

Art. 102 da CF/1988 Art. 105 da CF/1988

Inciso I - competência originária - STF: Inciso I - competência originária - STJ:


ADI, ADC, ADPF, Extradição, entre Governador de Estado que comete
outros. crime comum, homologação de
Atentar para as hipóteses de HC, MS e sentença estrangeira, entre outros.
Ml Atentar para as hipóteses de HC, MS e
Ml

Inciso II - competência ordinária - Inciso II - competência ordinária -


ROC ROC
Indeferimento HC em única instância Indeferimento HC em única ou última
por Tribunal Superior, entre outros instância porTJ/TRF, entre outros.

Inciso III - RE (observar o § 3.° do art. Inciso III - REsp.


102 que prevê repercussão geral para
admissão do RE, disciplinada por Lei
11.418/2006 - arts. 543-A e 543-B, CPC)
144 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

5 .
5 Principais pontos da EC 45/2004: reforma do Poder Judiciário

a) instituição do princípio da celeridade: art. 5.° LXXVIII, da CF/88 (art.


,

°
7 .
, §§ 4", 50 e 60, art. 80, § I0 e 25 § I0 da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos promulgada pelo Decreto 678/1992: celeridade na
instrução);

Também conhecido por princípio da brevidade ou razoável duração


do processo, determina que todos os processos sejam administrativos ou ,

judiciais, devem ser decididos o mais breve possível, respeitando todas as


garantias constitucionais.
Cumpre lembrar que já havia tal previsão na Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) promulgada pelo ,

Decreto 678, de 06.11.1992): "Art. 7.° Direito à liberdade pessoal: ( ) 6. ...

Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal


competente, a fim de que este decida sem demora, sobre a legalidade de sua
,

prisão ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais.


( ); Art. 8.° Garantias judiciais: 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com
...

as devidas garantias e dentro de um prazo razoável por um juiz ou tribunal ,

competente independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei,


,

na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela ou para que se ,

determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil trabalhista, fiscal ,

"

ou de qualquer outra natureza. (...)


Decisão judicial sobre o tema:
"

Habeas corpus. Writ impetrado no Superior Tribunal de Justiça Demora .

no julgamento. Direito à razoável duração do processo Natureza mesma .

do habeas corpus. Primazia sobre qualquer outra ação. Ordem concedida.


O habeas corpus é a via processual que tutela especificamente a liberdade
de locomoção, bem jurídico mais fortemente protegido por uma dada ação
constitucional. O direito à razoável duração do processo do ângulo do ,

indivíduo transmuta-se em tradicional garantia de acesso eficaz ao Poder


,

Judiciário. Direito esse a que corresponde o dever estatal de julgar. No


habeas corpus, o dever de decidir se marca por um tônus de presteza máxima.
Assiste ao Supremo Tribunal Federal determinar aos Tribunais Superiores
o julgamento de mérito de habeas corpus, se entender irrazoável a demora
no julgamento. Isso, é claro sempre que o impetrante se desincumbir do
,

seu dever processual de pré-constituir a prova de que se encontra padecente


de 'violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 145

abuso de poder (inc. LXVIII do art. 5.° da CF). Ordem concedida para que
,

a autoridade impetrada apresente em mesa, na primeira sessão da Turma em


"

que oficia, o writ ali ajuizado (HC 91.041, j. 05.06.2007, rei. p/o ac. Min.
Carlos Britto, DJ 17.08.2007);
b) "constitucionalização dos tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos", com aprovação do Congresso Nacional, em dois
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros - serão
°
equivalentes às emendas constitucionais: art. 5. § 3.°, da CF/88
,

(possibilidade do bloco de constitucionalidade);


Trata-se de uma faculdade atribuída ao Congresso Nacional de elevar um
tratado internacional sobre direitos humanos da condição de norma supralegal
para a condição de emenda constitucional. Cite-se, como exemplo, o Decreto
Legislativo 186, de 09 de julho de 2008, que aprova o texto da Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo,
assinados em Nova York em 30 de março de 2007, que foi promulgado pelo
Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009.
Sobre o tema "status normativo do direito internacional dos direitos
humanos no direito interno brasileiro" são importantes as observações de
Luiz Flávio Gomes, que sintetiza da seguinte forma: uma primeira corrente
sustentava a supraconstitucionalidade dos tratados e convenções em matéria
de direitos humanos (Celso Duvivier de Albuquerque Mello, apud Gilmar
Ferreira Mendes et al, Curso de direito constitucional, São Paulo, Saraiva,
2007, p. 654); parte da doutrina sustenta a tese de que os tratados de direitos
humanos contariam com status constitucional, por força do art. 5.°, § 2.°, da
Constituição Federal (Flávia Piovesan e Antonio Augusto Cançado Trindade
-

tese sustentada pelo Min. Celso de Mello no HC 87.585/TO); o Supremo


Tribunal Federal tradicionalmente entendia, desde a década de 70 do século
passado, que qualquer tratado internacional, inclusive os de direitos humanos,
tinham o mesmo valor de uma lei ordinária, mesmo após a Constituição
Federal de 1988 (HC 72.131/RJ, ADln 1.480-3/DF, entre outros); de acordo
com o voto proferido pelo Min. Gilmar Mendes no RE 466.343/SP, rei. Min.
Cezar Peluso, j. 22.11.2006, tais tratados contariam com status de direito
supralegal (estão acima das leis ordinárias, mas abaixo da Constituição).
Nesse sentido, Constituição Federal da Alemanha (art. 25), Constituição
francesa (art. 55) e Constituição da Grécia (art. 28).
No histórico julgamento de 03.12.2008, preponderou no Pleno do
Supremo Tribunal Federal o voto do Min. Gilmar Mendes. Venceu a tese da
146 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

supralegalidade dos tratados, ou seja, os tratados já vigentes no Brasil possuem


valor supralegal (HC 90.172/SP).
Anteriormente à Emenda Constitucional 45/2004 os tratados interna- ,

cionais segundo o Supremo Tribunal Federal, se incorporavam ao ordena-


,

mento jurídico brasileiro como normas infraconstitucionais, com status de


lei ordinária. Nesse sentido por maioria de votos, manifestou-se o Pretório
,

Excelso (ADIn 1480-3/ML, rei. Min. Celso de Mello RTJ 83:809; RO em HC,

79.785-3/RJ, rei. Min. Moreira Alves, DJ 22.11.2002; HC 72.131-1/RJ, rei.


Min. Marco Aurélio DJ 01.08.2003).
,

Após a EC 45/2004 houve a possibilidade de "constitucionalização


de tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos", ou seja,
utilizando o mesmo sistema de aprovação de uma emenda constitucional ,

pode-se elevar um tratado internacional sobre direitos humanos em que o


Brasil faça parte ao status de norma constitucional.
Tal situação caracteriza o chamado "bloco de constitucionalidade" ,

que é a somatória de vários diplomas legais considerados como normas


constitucionais, não obstante terem sido elaborados em momentos diferentes.
Destaque-se que ilustres doutrinadores entendem que o "bloco de
constitucionalidade "

já era admitido no direito brasileiro com fundamento


°
no art. 5. § 2.°, da CF/88, onde se lê: "Os direitos e garantias expressos nesta
,

Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por


ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa
do Brasil seja parte";
c) submissão do Brasil à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a
cuja criação tenha manifestado adesão: art. 5. § 4.°, da CF/88; °
,

O Estatuto de Roma, que cria o Tribunal Penal Internacional, foi aprovado


em 17.07.1998, na Conferência de Roma. O Brasil o assinou em 07.02.2000
e o Congresso Nacional o aprovou através do Decreto Legislativo 112, de
06.06.2002, sendo promulgado pelo Decreto 4.388, em 25.09.2002.
A EC 45 de 08.12.2004, acrescentou o § 4.° ao art. 5.° da CF/88, que
,

"

possui a seguinte redação: O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal


Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão".
Desse modo, pode-se afirmar que o Brasil também admitiu expressamente
em sua Constituição a adesão ao Tribunal Penal Internacional.
São precedentes históricos da criação do Tribunal Penal Internacional os
Tribunais de Nuremberg, de Tóquio, da Bósnia (ex-Iugoslávia) e de Ruanda.
O Tribunal Penal Internacional, nos termos do art. 1.° do Estatuto de
Roma , surge como aparato complementar às cortes nacionais, com o objetivo
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 147

de assegurar o fim da impunidade para os crimes mais graves em casos de


°
omissão ou incapacidade dos Estados. De acordo com o art. 3. o Tribunal ,

Penal Internacional tem sede em Haia, na Holanda.


O Tribunal Penal Internacional é competente para o julgamento dos
seguintes crimes (art. 5. ): a) crime de genocídio, tal como definido no Art.
°

II da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio de


1948 e no art. 6" do Estatuto: homicídio de membros do grupo; ofensas graves
à integridade física ou mental de membros do grupo; sujeição intencional do
grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física total ou
parcial; imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do
grupo; e transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo; b) crimes
contra a humanidade, definidos no art. 7. incluindo ataques generalizados e
°
,

sistemáticos contra a população civil, sob a forma de homicídio, extermínio,


escravidão, deportação, encarceramento, tortura, violência sexual, estupro,
prostituição, gravidez e esterilização forçadas, desaparecimento forçado de
pessoas, o crime de apartheid, entre outros que atentem gravemente contra a
integridade física ou mental; c) crimes de guerra, definidos, no art. 8.°, como
violações ao direito internacional humanitário, especialmente às Convenções
de Genebra de 1949; d) crimes de agressão.
Os crimes de competência do Tribunal Penal Internacional não prescrevem
(art. 29).

note
O Estatuto de Roma, em seu art. 120, não admite reservas, e o art. BEM

.
§4.°, da CF/88 estabelece que o Brasil se submete à jurisdição
,

deTribunal Penal Internacional cuja criação tenha manifestado


adesão. O próprio Estatuto, no art. 102, estabelece a diferença
entre os institutos da entrega e da extradição:
a) por entrega entende-se a entrega de uma pessoa por um
" "

Estado ao Tribunal nos termos do presente Estatuto;


b) por "extradição" entende-se a entrega de uma pessoa por um
Estado a outro Estado conforme previsto em um tratado, em uma
"
convenção ou no direito interno .

A CF/88, no art. 5.°, LI, determina: "Nenhum brasileiro será


extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da natu ra I ização, ou de comprovado envolvi mento
"

em tráfico i I ícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei .


148 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Da comparação das citadas normas percebe-se o afastamento do aparente


conflito, sendo possível a entrega de brasileiros natos ou naturalizados para
o Tribunal Penal Internacional, pois a Constituição veda a extradição não a ,

entrega. Além disso, o Brasil aderiu constitucionalmente ao Estatuto de Roma;


d) exigência do bacharel em direito de três anos de atividade jurídica
para ingresso na magistratura e no Ministério Público: arts. 93,1, e
129, § 3.°, respectivamente da CF/88.
De acordo com o art. 59 da Resolução 75/2009 do CNJ considera-se ,

atividade jurídica: - aquela exercida com exclusividade por bacharel em


Direito; - o efetivo exercício de advocacia inclusive voluntária, mediante
,

a participação anual mínima em cinco atos privativos de advogado (art.


°
1 da Lei 8.906/1994) em causas ou questões distintas; - o exercício de
.

cargos, empregos ou funções, inclusive de magistério superior, que exija a


utilização preponderante de conhecimento jurídico; - o exercício da função
de conciliador junto à Tribunais judiciais, Juizados especiais, Varas especiais,
anexos de Juizados especiais ou de Varas judiciais no mínimo de 16 horas
,

mensais e durante um ano; - o exercício da atividade de mediação ou de


arbitragem na composição de litígios.
É vedada contagem do estágio académico ou qualquer outra atividade
anterior à obtenção do grau de bacharel em Direito.
Nos termos do § 2.° do art. 59 da referida Resolução, a comprovação
do tempo de atividade jurídica relativa a cargos empregos ou funções
,

não privativos de bacharel em Direito será realizada mediante certidão


circunstanciada, expedida pelo órgão competente, indicando as respectivas
atribuições e a prática reiterada de atos que exijam a utilização preponderante
de conhecimento jurídico, cabendo à Comissão de Concurso, em decisão
fundamentada, analisar a validade do documento.
Sobre o tema recomenda-se a leitura das decisões judiciais do STF
referentes aos seguintes processos: MS 27.608/2009, MS 26.682/2008 MS ,

26.690/2008 e Recl. 4.939/2007;

e) fim das férias coletivas: a atividade jurisdicional será ininterrupta,


sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau,
funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal,
juízes em plantão permanente: art. 93, XII, da CF/88. "A EC 45/04
ao vedar as férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau ,

revogou os atos normativos inferiores que a ela se referiam sendo ,

pacífico o entendimento, desta Corte, no sentido de não ser cabível


Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 149

"

a ADI contra ato revogado (STF, ADI 3.085, j. 17.02.2005, rei. Min.
Eros Grau, DJ 28.4.2006);
0 para o vitaliciamento passa a ser etapa obrigatória a participação
em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e
aperfeiçoamento de magistrados: art. 93, IV, da CF/88;
g) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em
seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório
sem o devido despacho ou decisão: art. 93, II, e, da CF/88;
h) controle externo da magistratura e do Ministério Público: art. 103-B
e 130-A, respectivamente, da CF/88.
A criação do CNJ e do CNMP tem a função de implementar o chamado
controle externo da magistratura e do Ministério Público. Na atualidade,
constata-se a importância de tais Conselhos que realizam fiscalizações e
corrigem desvios de conduta de membros das respectivas carreiras jurídicas.
"

Art. 103-B. (...) § 1.° O Conselho será presidido pelo Presidente do


Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedimentos, pelo
Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal. § 2.° Os demais membros do
Conselho serão nomeados pelo Presidente da República depois de aprovada
,

a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. § 3. Não efetuadas, no


°

prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a escolha ao Supremo


Tribunal Federal. § 4.° Compete ao Conselho [Nacional dejustiça] o controle
da atuação administrativa e financeira do Poderjudiciário e do cumprimento
dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que
lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: I - zelar pela autonomia
do Poderjudiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura podendo
,

expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar


providências; II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou
mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por
membros ou órgãos do Poderjudiciário, podendo desconstituí-los revê- ,

los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato


cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da
União; III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos
do Poderjudiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e
órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação
do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e
correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso
e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios
150 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções


administrativas, assegurada ampla defesa; IV - representar ao Ministério
Público , no caso de crime contra a administração pública ou de abuso
de autoridade; V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos
disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um
ano; VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e
sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do
Poder Judiciário; VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que
julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades
do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo
Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da
°
abertura da sessão legislativa. § 5. O Ministro do Superior Tribunal de Justiça
exercerá a função de Ministro-Corregedor e ficará excluído da distribuição
de processos no Tribunal, competindo-lhe, além das atribuições que lhe
forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes: I - receber as
reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos magistrados
e aos serviços judiciários; II - exercer funções executivas do Conselho,
de inspeção e de correição geral; III - requisitar e designar magistrados,
delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de juízos ou tribunais,
inclusive nos Estados , Distrito Federal e Territórios. § 6.°Junto ao Conselho
oficiarão o Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil. § 7.° A União, inclusive no Distrito
Federal e nos Territórios, criará ouvidorias de justiça, competentes para
receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou
órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares, representando
diretamente ao Conselho Nacional de Justiça".
"Art. 130-A. (...) § 1. Os membros do Conselho oriundos do Ministério
°

Público serão indicados pelos respectivos Ministérios Públicos, na forma da lei


(Lei 11.372/2006). § 20 Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público
o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do
cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe: I -zelar
pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo
expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar
providências; II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou
mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por
membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados, podendo
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências
necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 151

dos Tribunais de Contas; III - receber e conhecer das reclamações contra


membros ou órgãos do Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive
contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e
correicional da instituição, podendo avocar processos disciplinares em curso,
determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios
ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções
administrativas, assegurada ampla defesa; IV - rever, de ofício ou mediante
provocação, os processos disciplinares de membros do Ministério Público da
União ou dos Estados julgados há menos de 1 (um) ano; V- elaborar relatório
anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação do
Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar
a mensagem prevista no art. 84, XI. § 3. O Conselho escolherá, em votação
°

secreta, um Corregedor nacional, dentre os membros do Ministério Público


que o integram, vedada a recondução, competindo-lhe, além das atribuições
que lhe forem conferidas pela lei, as seguintes: I - receber reclamações e
denúncias, de qualquer interessado, relativas aos membros do Ministério
Público e dos seus serviços auxiliares; II - exercer funções executivas do
Conselho, de inspeção e correição geral; III - requisitar e designar membros
do Ministério Público, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores
de órgãos do Ministério Público. § 4.° O Presidente do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil oficiará junto ao Conselho. § 5.° Leis da União
e dos Estados criarão ouvidorias do Ministério Público, competentes para
receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros
ou órgãos do Ministério Público, inclusive contra seus serviços auxiliares,
"

representando diretamente ao Conselho Nacional do Ministério Público .

Compete ao Presidente da República nomear, com a aprovação do


Senado Federal por maioria absoluta, os membros do Conselho Nacional do
Ministério Público (art. 130-A, caput, da CF/88) e do Conselho Nacional de
Justiça, salvo o Presidente do CNJ que é o Presidente do STF (art. 103-B, §§

. e 2.°, da CF/88).
A Constituição Federal de 1988 estabelece os órgãos do Poderjudiciário
no art. 92onde temos: o Supremo Tribunal Federal (tutela constitucional),
,

o Conselho Nacional de Justiça, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais


Regionais Federais e Juízes Federais, os Tribunais e Juízes do Trabalho, os
Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e Juízes Militares, os Tribunais e
Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
A competência originária do Supremo Tribunal Federal para julgar as
ações contra os Conselhos é prevista no art. 102,1, r, da CF/88, que assim
152 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

estabelece: "

Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda


da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar originariamente: (...) r)
,

as ações contra o Conselho Nacional dejustiça e contra o Conselho Nacional


do Ministério Público; (...)";
i) justiça itinerante e descentralizada: arts. 107 §§ 2.° e 3.° (JF)> 115,
,

§§ 1.° e 2.° (JT), e 125, §§ 6.° e 7.° (TJ), todos da CF/88;


j) extinção dos Tribunais de Alçada: art. 4.° da EC 45/2004;
k) instituição da "quarentena" dos membros da magistratura e do
Ministério Público (três anos) para o exercício da advocacia nos juízos
ou tribunais de que se afastaram: arts. 95, parágrafo único V, e 128,,

§ 6.°, respectivamente, da CF/88;


1) ampliação da legitimidade ativa (todos os entes previstos no art. 103
da CF/88) da ação declaratória de constitucionalidade (ADECON);
m) o STF julgará a causa cuja decisão julgou válida lei local contestada
em face de lei federal: art. 102, III, d, da CF/88 (verifica-se tal hipótese
no desrespeito às regras de competência legislativa concorrente
"

previstas no art. 24 da CF/88): Art. 102. Compete ao Supremo


Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição cabendo-,

lhe: (...) III - julgar mediante recurso extraordinário, as causas


,

decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:


( ) d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal".
...

O recurso extraordinário é a última etapa do controle difuso de


constitucionalidade e é o mecanismo por meio do qual o Supremo Tribunal
Federal dá a palavra inal sobre uma questão constitucional. Pode ser interposto
f

contra decisão de Tribunal proferida em única ou última instância. É controle


incidental (por via de exceção) e repressivo.
As hipóteses de cabimento do recurso extraordinário são apenas aquelas
previstas no art. 102, III, da Constituição Federal vigente.
Os efeitos da decisão proferida no recurso extraordinário atingem em ,

princípio, apenas as partes litigantes. Porém, quando o Supremo Tribunal


Federal declarar uma lei inconstitucional
por decisão definitiva, o Senado
,

Federal poderá mediante resolução, suspender a execução da lei em todo o


,

território nacional (art. 52, X, da CF/88), dando assim eficácia erga omnes à
decisão do Supremo;
n) repercussão geral das questões constitucionais nos termos da lei, a
,

fim de que o STF examine a admissão do recurso extraordinário: art .


Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 153

102, § 3.°, da CF/88; (Lei 11.418/2006 e Emenda Regimental do STF


21, de 30.04.2007, publicada em 03.05.2007)
Para efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou
"

não, de questões relevantes do ponto de vista económico, político, social


"

ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa (art. 543-A,


§ 1.°, do CPC). "Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar
decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal" (art.
543-A, §3.°, do CPC).
O recorrente deverá demonstrar, em preliminar do recurso, para
"

apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a existência da repercussão


"

geral (art. 543-A, § 2.°, do CPC).


O Supremo Tribunal Federal já decidiu sobre matérias que têm e que
não têm repercussão geral - ver no site <www.stf.jus.br>;
o) o STJ julgará a causa cuja decisão julgou válido ato de governo
local contestado em face de lei federal (art. 105, III, b, da CF/88), a
homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às
cartas rogatórias (art. 105,1, i, da CF/88). Nesses casos, houve uma
troca de competências, pois a homologação de sentenças estrangeiras
e a concessão de exequatur às cartas rogatórias pertenciam ao Supremo
Tribunal Federal (art. 102,1, h, da CF/88, alínea hoje revogada).
Da alínea b do inc. III do art. 105 da CF/88 (recurso especial) foi excluída
a decisão que julgou válida lei local contestada em face de lei federal, deslocada
para a competência do STF (art. 102, III, d, da CF/88);
p) a federalização dos crimes contra os direitos humanos, mediante
incidente suscitado pelo Procurador-Geral da República no STJ,
deslocando a competência para a Justiça Federal: art. 109, V-A e §
5°.
,
da CF/88;
A primeira vez que se pediu a federalização (incidente de deslocamento
de competência) envolveu a apuração da morte da Irmã Dorothy Stang, que
foi assassinada ,
com seis tiros, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro
de 2005, em uma estrada de terra de difícil acesso a 53 quilómetros da sede
do município de Anapu, no Estado do Pará, por ordem de um fazendeiro em
virtude de sua atividade em prol da reforma agrária e de melhores condições
de vida para o povo paraense.
No citado caso, o Superior Tribunal de Justiça indeferiu o pedido de
deslocamento de competência por entender que foi correta a atuação da Justiça
154 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

local ,
conforme se verifica: Constitucional - Penal e processual penal -
"

Homicídio doloso qualificado (vítima Irmã Dorothy Stang) - Crime praticado


com grave violação aos direitos humanos - Incidente de deslocamento de
competência - IDC - Inépcia da peça inaugural - Norma constitucional de
eficácia contida - Preliminares rejeitadas - Violação ao princípio do juiz
natural e ã autonomia da unidade da Federação - Aplicação do princípio
da proporcionalidade - Risco de descumprimento de tratado internacional
firmado pelo Brasil sobre a matéria não configurado na hipótese- Indeferimento
do pedido. 1. Todo homicídio doloso independentemente da condição pessoal
,

da vítima e/ou da repercussão do fato no cenário nacional ou internacional ,

representa grave violação ao maior e mais importante de todos os direitos


do ser humano, que é o direito à vida previsto no art. 4. 1, da Convenção
,
°
,

Americana sobre Direitos Humanos da qual o Brasil é signatário por força do


,

Decreto 678 de 06.11.1992, razão por que não há falar em inépcia da peça
,

inaugural. 2. Dada a amplitude e a magnitude da expressão 'direitos humanos, ,

é verossímil que o constituinte derivado tenha optado por não definir o rol
dos crimes que passariam para a competência da Justiça Federal sob pena de ,

restringir os casos de incidência do dispositivo (CF art. 109, § 5. ), afastando-o


,
°

de sua finalidade precípua que é assegurar o cumprimento de obrigações


,

decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil sobre a matéria ,

examinando-se cada situação de fato suas circunstâncias e peculiaridades


,

detidamente, motivo pelo qual não há falar em norma de eficácia limitada .

Ademais, não é próprio de texto constitucional tais definições 3. Aparente .

incompatibilidade do IDC criado pela Emenda Constitucional 45/2004, com


,

qualquer outro princípio constitucional ou com a sistemática processual em


vigor deve ser resolvida aplicando-se os princípios da proporcionalidade
e da razoabilidade. 4. Na espécie as autoridades estaduais encontram-se
,

empenhadas na apuração dos fatos que resultaram na morte da missionária


norte-americana Dorothy Stang com o objetivo de punir os responsáveis,
,

refletindo a intenção de o Estado do Pará dar resposta eficiente à violação do


maior e mais importante dos direitos humanos o que afasta a necessidade
,

de deslocamento da competência originária para a Justiça Federal de forma ,

subsidiária, sob pena inclusive, de dificultar o andamento do processo


,

criminal e atrasar o seu desfecho utilizando-se o instrumento criado pela


,

aludida norma em desfavor de seu fim que é combater a impunidade dos


,

crimes praticados com grave violação de direitos humanos 5.0 deslocamento .

de competência - em que a existência de crime praticado com grave violação


aos direitos humanos é pressuposto de admissibilidade do pedido - deve
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 155

entrosMuicípdePrasFogeItambé.
atender ao princípio da proporcionalidade (adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito), compreendido na demonstração
concreta de risco de descumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta
de vontade política ou de condições reais do Estado-membro, por suas
instituições, em proceder à devida persecução penal. No caso, não há a
cumulatividade de tais requisitos, a justificar que se acolha o incidente. 6.
Pedido indeferido sem prejuízo do disposto no art. 1, III, da Lei 10.446, de
,
°
,

08.05.2002" (STJ, IDC l/PA 2005/0029378-4, 3.a Seção, j. 07.06.2005, rei.


Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ 10.10.2005, p. 217, RSTJ 198/435);
Em 27 de outubro de 2010, houve a primeira decisão favorável à federa-
lização. Trata-se do caso Manoel Mattos (IDC 2 DF 2009/0121262-6).
Por maioria de votos, a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) acolheu o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para que
o crime contra o ex-vereador Manoel Mattos fosse processado pela Justiça
Federal. O caso é de responsabilidade da Justiça Federal da Paraíba.
O advogado pernambucano Manoel Bezerra de Mattos Neto foi assassi-
nado em 24.01.2009, no Município de Pitimbu/PB, depois de sofrer diversas
ameaças e vários atentados, em decorrência, ao que tudo leva a crer, de sua
persistente e conhecida atuação contra grupos de extermínio que agem impu-
nes há mais de uma década na divisa dos Estados da Paraíba e de Pernambuco,

Ficou consignado na decisão que o risco de responsabilização internacio-


nal pelo descumprimento de obrigações derivadas de tratados internacionais
aos quais o Brasil anuiu (dentre eles, vale destacar, a Convenção Americana
de Direitos Humanos) é bastante considerável, mormente pelo fato de já ter
havido pronunciamentos da Comissão Interamericana de Direitos Flumanos,
com expressa recomendação ao Brasil para adoção de medidas cautelares de
proteção a pessoas ameaçadas pelo tão propalado grupo de extermínio atu-
ante na divisa dos Estados da Paraíba e Pernambuco, as quais, no entanto,
ou deixaram de ser cumpridas ou não foram efetivas. Além do homicídio
de Manoel Mattos, outras três testemunhas da CPI da Câmara dos Deputa-
dos foram mortos, dentre eles Luiz Tomé da Silva Filho, ex-pistoleiro, que
decidiu denunciar e testemunhar contra os outros delinquentes. Também
Flávio Manoel da Silva, testemunha da CPI da Pistolagem e do Narcotráfico
da Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba, foi assassinado a tiros em
Pedra de Fogo Paraíba, quatro dias após ter prestado depoimento à Relatora
,
156 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Especial da ONU sobre Execuções Sumárias Arbitrárias ou Extrajudiciais.


,

E, mais recentemente , uma das testemunhas do caso Manoel Mattos, Maxi-


miano Rodrigues Alves sofreu um atentado à bala no município de Itambé,
,

Pernambuco, e escapou por pouco.


Há conhecidas ameaças de morte contra Promotores e Juízes do Estado
da Paraíba, que exercem suas funções no local do crime, bem assim contra a
família da vítima Manoel Mattos e contra dois Deputados Federais.
As circunstâncias apontaram para a necessidade de ações estatais firmes e
eficientes, as quais, por muito tempo, as autoridades locais não foram capazes
de adotar, até porque a zona limítrofe potencializa as dificuldades de coor-
denação entre os órgãos dos dois Estados. Mostrou-se portanto, oportuno
,

e conveniente a imediata entrega das investigações e do processamento da


ação penal em tela aos órgãos federais.
A ministra Laurita Vazrelatora, acolheu algumas propostas de alteração
,

do voto para melhor definição do alcance do deslocamento. Entre as principais


propostas, está a alteração da Seção Judiciária a que seria atribuída a compe-
tência. Inicialmente, a relatora propôs que a competência se deslocasse para
a Justiça Federal de Pernambuco, mas prevaleceu o entendimento de que o
caso deveria ser processado pela Justiça Federal competente para o local do
fato principal, isto é, o homicídio de Manoel Mattos.
Outros casos conexos também ficarão a cargo dajustiça Federal, mas a
Seção não acolheu o pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) de que
outras investigações, abstratamente vinculadas, também fossem deslocadas
para as instituições federais.
A relatora também acolheu proposta de modificação para que informa-
ções sobre condutas irregulares de autoridades locais sejam comunicadas às
corregedorias de cada órgão, em vez de serem repassadas para os conselhos
nacionais do Ministério Público (CNMP) e de Justiça (CNJ).
Com os ajustes, acompanharam a relatora os ministros Napoleão Maia
Filho, Jorge Mussi e Og Fernandes e o desembargador convocado Haroldo
Rodrigues. Votaram contra o deslocamento os desembargadores convocados
Celso Limongi e Honildo de Mello Castro. A ministra Maria Thereza de Assis
Moura presidiu o julgamento, e só votaria em caso de empate. O ministro
Gilson Dipp ocupava o cargo de corregedor Nacional de Justiça à época e não
participou do início do julgamento.
Desse modo, o pedido ministerial foi parcialmente acolhido para deferir
o deslocamento de competência para a Justiça Federal no Estado da Paraíba
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 157

da ação penal 022.2009.000.127-8, a ser distribuída para o Juízo Federal


Criminal com jurisdição no local do fato principal, bem como da investigação
de fatos diretamente relacionados ao crime em tela.
q) ampliação da competência dajustiça do Trabalho (art. 114 da CF/88)
e do número de Ministros do TST (de 17 para 27): art. 111-A e 115
da CF/88 (quinto constitucional);
É afastada a competência dajustiça do Trabalho para a apreciação de
causas que sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele
vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-
administrativo, regidos pela Lei 8.112/90 que continuam sob competência
dajustiça Federal - ADI 3.395/2005
Outro tema interessante decidido pelo Supremo Tribunal Federal diz
respeito ao interdito proibitório. No julgamento do RE 579.648/MG ficou
consignado que é da competência dajustiça do Trabalho o julgamento de
interdito proibitório em que se busca garantir o livre acesso de funcionários
e de clientes a agências bancárias sob o risco de serem interditadas em
decorrência de movimento grevista. Considerou-se que se está diante de ação
que envolve o exercício do direito de greve, matéria afeta à competência da
Justiça Trabalhista, conforme disposto no art. 114, II, da CF/88.
Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e
"

sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e


menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da República após
aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: I - um quinto
dentre advogados com mais de 10 (dez) anos de efetiva atividade profissional
e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de 10 (dez) anos de
efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; II - os demais dentre juízes
dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da carreira,
indicados pelo próprio Tribunal Superior".
"

Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no


mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e
nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta
e menos de sessenta e cinco anos, sendo: I - um quinto dentre advogados
com mais de 10 (dez) anos de efetiva atividade profissional e membros do
Ministério Público do Trabalho com mais de 10 (dez) anos de efetivo exercício ,

observado o disposto no art. 94; II - os demais, mediante promoção de juízes


do trabalho por antiguidade e merecimento, alternadamente".
O quinto constitucional foi criação de Getúlio Vargas, sendo mantido
pela reforma do Poder Judiciário e, inclusive, ampliado. Nos citados casos, a
158 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

nomeação será feita pelo Presidente da República. Destaque-se que no caso ,

do quinto constitucional no Tribunal Superior do Trabalho há necessidade ,

de prévia aprovação do indicado pelo Senado Federal por maioria absoluta;


r) súmula vinculante: art. 103-A da CF/88;

O tema súmula vinculante foi regulamentado por meio da Lei 11.417/2006.


É importante ler todas as súmulas vinculantes especialmente a 10, 11, 13,
,

14 e 25;

s) possibilidade de o Tribunal de Justiça propor a criação de varas


especializadas, para dirimir conflitos fundiários com competência
,

exclusiva para questões agrárias: art. 126 da CF/88;


t) estabelecimento da maioria absoluta (somado ao interesse público)
para violação da inamovibilidade dos magistrados e membros do
Ministério Público: arts. 93, VIII, e 128, § 5.°, I b, da CF/88. Nos dois
,

casos foi reduzido o quorum de dois terços (maioria qualificada) para


a maioria absoluta;

u) autonomia funcional e administrativa das Defensorias Públicas


Estaduais: art. 134, § 2.°, da CF/88;
v) as atuais súmulas do STF somente produzirão efeito vinculante após
sua confirmação por dois terços de seus integrantes e publicação na
imprensa oficial: art. 8.° da EC 45/2004.

5 . 6 Reclamação
A reclamação tem por objetivo preservar a competência e garantir
a autoridade das decisões do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça (art. 13 da Lei 8.038/1990). Admite-se também, em face ,

da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de


súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente (art. 7.
°
,

caput, da Lei 11.417/2006 e art. 103-A, § 3.°, da CF/88).


Legitimidade ativa: a parte interessada (reclamante) ou o Ministério
Público (art. 13 da Lei 8.038/1990).

Legitimidade passiva: autoridade reclamada a quem for imputada a prática


do ato (art. 14,1, da Lei 8.038/1990). Será pessoa ou ente de qualquer órgão
que descumpra a decisão judicial. Se for por usurpação de competência, o
sujeito passivo será órgão jurisdicional.
Foro: Supremo Tribunal Federal (art. 102,1, /, da CF/88) ou Superior
Tribunal de Justiça (art. 105 1,/, da CF/88).
,
Cap. 15 . A SEPARAÇÃO DOS PODERES 159

A petição inicial será endereçada ao Presidente do Tribunal e deverá


estar instruída com prova documental pré-constituída, nos termos do art.
13, parágrafo único, da Lei 8.038/1990. Ao despachar a inicial da reclamação
(art. 14 da Lei 8.038/1990), o relator requisitará informações da autoridade a
quem for imputada a prática do ato impugnado, que terá 10 dias para fazê-lo;
ordenará, se necessário, para evitar dano irreparável, a suspensão do processo
ou do ato impugnado.
Interessante observar que qualquer interessado poderá impugnar o
pedido do reclamante, nos termos do art. 15 da Lei 8.038/1990.
O Ministério Público, nas reclamações que não houver formulado,
terá vista do processo, por cinco dias, após as informações (art. 16 da Lei
8 .
038/1990).

Efeitos: julgado procedente o pedido feito na reclamação, o Tribunal


cassará a decisão exorbitante do seu julgado ou determinará medida adequada
à preservação de sua competência (arts. 17 e 18 da Lei 8.038/1990). Se a
reclamação for por desrespeito a enunciado de súmula vinculante, julgado
procedente o pedido, o Supremo Tribunal Federal anulará o ato administrativo
°
ou cassará a decisão judicial impugnada nos termos do art. 7. § 2.°, da Lei
, ,

11.417/2006.

Decisões sobre o tema:


"
Reclamação. Natureza jurídica. Alegado desrespeito a autoridade de
decisão emanada do STF. Inocorrência. Improcedência. A reclamação,
qualquer que seja a qualificação que se lhe dê-ação (Pontes de Miranda,
Comentários ao Código de Processo Civil, t. V/384, Forense), recurso ou
sucedâneo recursal (Moacyr Amaral Santos, RTJ 56/546-548; Alcides de
Mendonça Lima, O Poder Judiciário e a nova Constituição, p. 80, 1989,
Aide), remédio incomum (Orozimbo Nonato, apud Cordeiro de Mello,
O processo no Supremo Tribunal Federal, v. 1/280), incidente processual
(Moniz de Aragão, A correição parcial, p. 110, 1969), medida de direito
processual constitucional (José Frederico Marques, Manual de direito
processual civil, v. 3, 2. parte, p. 199, item 653, 9. ed., 1987, Saraiva)
"

ou medida processual de caráter excepcional (Min. Djaci Falcão, RTJ


1 12/518-522) configura, modernamente, instrumento de extração
constitucional, inobstante a origem pretoriana de sua criação (RTI
112/504), destinado a viabilizar, na concretização de sua dupla função
de ordem político-jurídica, a preservação da competência e a garantia
da autoridade das decisões do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102,1,
/) e do Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, /). Não constitui ato
ofensivo à autoridade de decisão emanada do SupremoTribunal Federal
o procedimento de magistrado inferior que, motivado pela existência de
160 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

várias execuções penais ainda em curso referentes a outras condenações


,

não desconstituídas pelo writ, deixa de ordenar a soltura imediata de


paciente beneficiado por habeas corpus concedido, em caso diverso e
"
específico, por esta Corte (Rcl 336/DF, rei. Min. Celso de Mello).
Reclamação. Constituição estadual. Admissibilidade. É admissível ao
Estado-membro criar, em sua Constituição, o instrumento processual da
reclamação para a preservação da competência dos tribunais estaduais e
garantia do respeito às suas decisões" (STF, ADIn 2.212-1/CE, Pleno, rei
Min. Eilen Gracie).
d
Dos direitos e garantias
fundamentais

Como já abordado, um Estado Democrático de Direito caracteriza-se


pela participação do povo na formação jurídica e estrutural do Estado, bem
como pelo respeito de todos às leis.
As Constituições escritas, em sua maioria, surgiram após a Revolução
Francesa com o intuito de estabelecer limite\s ao poder dos governantes,
,

prevendo, inclusive, os direitos mínimos subjetivos (vida, liberdade e pro-


priedade) considerados direitos fundamentais.
Os direitos e garantias fundamentais correspondem às normas que pos-
sibilitam as condições mínimas para a convivência em sociedade, estabele-
cendo direitos e limitações aos particulares e ao Estado, e normalmente estão
expressamente previstos nas Constituições dos Estados contemporâneos.
A Constituição Federal de 1988 estabelece os direitos e garantias funda-
"
mentais do cidadão em seu Título II - Dos direitos e garantias fundamentais"
-

, subdividindo-os em cinco capítulos: direitos individuais e coletivos (art.


°
5 . ) direitos sociais (arts. 6.° a 11), nacionalidade (arts. 12 e 13), direitos
,

políticos e partidos políticos (arts. 14 a 17).


Na atualidade, os doutrinadores mais requeridos em concurso público
classificam os direitos fundamentais em de primeira até terceira geração. Há,
porém, quem entenda existir uma quarta geração de direitos.
Os direitos fundamentais de l.a geração são os direitos e garantias indi-
viduais e políticos clássicos (liberdades públicas: direito à vida, à liberdade,
à expressão e à locomoção).
Os direitos fundamentais de 2.f geração são os direitos sociais, económi-
cos e culturais surgidos no início do século XX (direito ao trabalho, ao seguro
social, à subsistência, amparo à doença, à velhice, entre outros).
Os direitos fundamentais de 3.a geração, também chamados de soli-
dariedade ou fraternidade englobam um meio ambiente ecologicamente
,
162 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

equilibrado, a paz, uma qualidade de vida saudável, a autodeterminação dos


povos, além de outros direitos difusos.
Os direitos fundamentais de 4.a geração, também chamados de direito
dos povos, são provenientes da última fase da estruturação do "Estado Social"
(globalização do Estado Neoliberal), e englobam o direito à democracia, à
informação, ao pluralismo, do patrimônio genético, entre outros. Há quem
entenda ser o direito vinculado à evolução da ciência (genética, DNA, clo-
nagem, biodireito, biotecnologia, entre outros).
No ordenamento jurídico brasileiro, os direitos e garantias fundamentais
têm a natureza jurídica de direitos constitucionais, pois estão expressamente
elencados no Título II da Constituição Federal vigente. Tais direitos e garantias
fundamentais, de regra, têm aplicação imediata (§ 1.°, art. 5.°). Porém, para
seu efetivo exercício, por vezes, é necessária regulamentação infraconstitu-
cional (são exemplos os incisos XXXII, XLI, LXXVI do art. 5. entre outros).°
,

1. DIFERENÇA ENTRE DIREITOS E GARANTIAS


Direitos são disposições declaratórias de poder sobre determinados
bens e pessoas. Representam por si sós certos bens. São principais e visam a
realização das pessoas. Direito é o poder para realizar algo, pois o ordenamento
jurídico possibilita.
Garantias, em sentido estrito, são os mecanismos de proteção e de defesa
dos direitos. Traduzem-se na garantia de os cidadãos exigirem dos Poderes
Públicos a proteção dos seus direitos, bem como o reconhecimento de meios
processuais adequados a essa finalidade. Por exemplo: habeas corpus, mandado
de segurança, entre outros. São acessórios, estando vinculados aos direitos.

2 . DESTINATÁRIOS DA PROTEÇÃO (AMPLITUDE DA PROTEÇÃO)


A CF/88, em seu art. 5.°, estabelece: "Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estran-
geiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes".
Abrangência: assegurar a validade e gozo dos direitos fundamentais
dentro do território brasileiro, não se excluindo o estrangeiro em trânsito.
São protegidas também as pessoas jurídicas. Dessa forma, são titulares dos
direitos e garantias fundamentais: os brasileiros, os estrangeiros, as pessoas
físicas e jurídicas.
Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 163

3 .
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS: ART. 5.°
DA CF/88

O rol de direitos elencados no art. 5.° e seus 78 incisos é exemplificativo,


°
e não exaustivo, o que se deduz do § 2. do art. 5.°, que dispõe: "Os direitos e
garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados ou dos tratados internacionais em
,

"

que a República Federativa do Brasil seja parte .

Direitos protegidos no art. 5.° caput, da CF/88:


,

3 1 .
Direito à vida

É o primeiro e mais importante dos direitos fundamentais.


O Estado deve proteger a vida de maneira global, inclusive a vida uterina ,

além de viabilizar a subsistência dos necessitados.

O direito ã vida engloba a não interrupção do processo vital senão pela


morte espontânea e inevitável. Exceção: pena de morte em caso de guerra
declarada (art. 5.°, XLVII, a, da CF/88).

3 .
2 Direito à igualdade
As Constituições reconhecem a igualdade no sentido jurídico-formal ,

ou seja, a igualdade perante a lei. Neste sentido encontra-se o caput do art.


,

°
5 onde se lê que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
.
,

natureza.

Também se pode notar no mesmo art. 5.° I, que declara: "Homens e,

"

mulheres são iguais em direitos e obrigações Depois, no art. 7.°, XXX e


.

XXXI, há regras de igualdade material que proíbem distinções fundadas em


certos fatores, ao vedarem diferença de salários de exercício de funções
"

e de critério de admissão por motivo de sexo idade, cor ou estado civil" e


,

"

qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do tra-


balhador portador de deficiência". Ver também, arts. 3.°, 111 e IV, 7 0, XXXIV,
,

170 193 196 e 205.


, ,

O legislador, ao criar as normas, não poderá se afastar do princípio da


igualdade sob pena de incorrer em inconstitucionalidade, sujeitando-se ao
,

controle de constitucionalidade.

O intérprete ou a autoridade pública não poderá aplicar as leis e os atos


normativos aos casos concretos de forma a criar ou aumentar desigualdades
arbitrárias.
164 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Por im, o particular não poderá pautar-se por condutas discriminatórias,


f

preconceituosas ou racistas, sob pena de responsabilidade civil e penal nos


termos da legislação em vigor.

3 3 Direito à liberdade
.

A liberdade, em sentido genérico, tem vinculação estreita com


o conhecimento. O conteúdo da liberdade se amplia com a evolução da
humanidade; portanto, a liberdade é uma conquista constante.
De acordo com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de
"
1789 a liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo:
,

assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites
senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos
"

mesmos direitos. Esses limites apenas podem ser determinados pela lei .

Genericamente, podem ser elencados, na CF/88, os seguintes direitos,


°
cujo objeto é a liberdade: de locomoção (art. 5. LXV1II); de pensamento ,

(art. 5.°, IV, VI, VII, VIII e IX); de reunião (art. 5.°, XVI); de associação (art.
5° .
, XVII a XXI); de profissão (art. 5.°, XIII); de ação (art. 5.°, II); de liberdade
°
sindical (art. 8. ); e de greve (art. 9.°).

3 .
4 Direito à propriedade
O art. 1.228 do Código Civil (Lei 10.406/2002) assegura ao proprietário
o direito de usar, gozar e dispor de seus bens e o direito de reavê-los do poder
de quem quer que injustamente os possua ou detenha.
A propriedade, bem como os demais direitos fundamentais, deve sujeitar-
-

se às limitações exigidas pelo bem comum, podendo ser perdida em favor


do Estado quando o interesse público o reclamar.
Na CF/88, sobre a propriedade podem-se citar as seguintes normas
constitucionais: art. 5.° XXII (em geral), XXIII (função social), XXIV (desa-
,

propriação); artística, literária e científica: art. 5. XXVII a XXIX; hereditária:


°
,

°
art. 5. , XXX e XXXI.

A CF/88, no art. 5.°, XXII, XXIII e XXIV, reconhece o direito de proprie-


dade, cujo uso deverá ser condicionado ao bem-estar social. Esse direito é
garantido pela exigência de que toda expropriação se faça mediante prévia e
justa indenização, que em princípio deve ser paga em dinheiro.
A desapropriação é uma evolução jurídica, pois no início o monarca
apropriava-se das terras que desejasse sem qualquer espécie de indenização.
Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 165

Não existia proteção jurídica sobre o direito de propriedade contra o confisco


do Estado. Com a evolução histórica, o liberalismo fez nascer o Estado de
Direito limitando o poder do monarca às leis.
,

Ao confisco (não indenizável, imotivado, fruto do capricho e da volunta-


riedade) sucede a desapropriação (indenizável, de acordo com a lei, mediante
prévia e justa indenização).

note
Função social - Art. 182, § 2.° (propriedade urbana), art. 186 BEM
(propriedade rural), usucapião constitucional urbano (art. 183)
e rural (art. 191), desapropriação rural para reforma agrária
(art. 184). Destaque-se que há o confisco previsto no art. 243
da CF/88.

3 .
5 Direito à segurança
É considerado um conjunto de garantias e direitos composto por si-
tuações, proibições, limitações e procedimentos destinados a assegurar o
exercício e o gozo de algum direito individual fundamental. Por exemplo:
a) a segurança do domicílio (art. 5. XI): "A casa é asilo inviolável do
°
,

indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do


morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
"

socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial .

Para a aplicação do citado dispositivo, deve ser observado o que dispõe o


Código Penal (Dec.-lei 2.848/1940), no art. 150, § 4.°, onde se lê: "A expres-
' ,
são casa compreende: I - qualquer compartimento habitado; II - aposento
ocupado de habitação coletiva; III - compartimento não aberto ao público,
"

onde alguém exerce profissão ou atividade .

O § 5.° do artigo em referência destaca: "Não se compreendem


' '
na expressão casa : I - hospedaria, estalagem ou qualquer
outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição
do n. II do parágrafo anterior II - taverna, casa de jogo e outras
do mesmo género".
166 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

b) a segurança de comunicações pessoais (art. 5.° XII); ,

c) a segurança em matéria penal (art. 5.° XXXVII a XLVII); ,

d) a segurança em matéria tributária (art. 150).


Destaque-se que a leitura do art. 5.° da CF/88 (caput 78 incisos e quatro ,

parágrafos) é imprescindível para entender a amplitude e a complexidade do


tema "direitos e garantias fundamentais". Além disso este é tema recorrente ,

nos concursos públicos brasileiros.


Após a EC 45/2004 houve: (a) a "constitucionalização" dos tratados
e convenções internacionais sobre direitos humanos aprovados em cada ,

Casa do Congresso Nacional, em dois turnos por três quintos dos votos ,

dos respectivos membros (art. 5.° § 3.°, da CF/88); (b) o Brasil se submete à
,

jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado


adesão (art. 5. °
, § 4.°, da CF/88).

4.
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

No art. 5.° da CF/88 podemos encontrar alguns dos grandes princípios


do direito, tais como:
"

a) Princípio da isonomia: homens e mulheres são iguais em direitos e


"

obrigações, nos termos desta Constituição (art. 5.°, I).


Doutrina e jurisprudência assentam que o princípio da igualdade jurí-
dica consiste em assegurar às pessoas de situações iguais os mesmos direitos ,

prerrogativas e vantagens, com as obrigações correspondentes, ou, segundo


a forma clássica tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais
,
"

"

na proporção em que se desigualam Por isso, a isonomia tanto admite por


.
,

exemplo, que a licença-maternidade seja maior que a licença-paternidade


(em razão da diferença entre homens e mulheres quanto à gravidez), quanto
assegura que a licença-maternidade de todas as mulheres seja definida pela
lei com igual alcance.
b) Princípio da legalidade: "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei" (art. 5.° II). ,

c) Princípio da irretroatividade da lei: a lei não prejudicará o direito


"

"

adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5.°, XXXVI).


d) Princípio do acesso aojudiciário: "a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito" (art. 5.° XXXV). ,

"

e) Princípio do juiz natural: não haverá juízo ou tribunal de exceção


"

"
e ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade

competente (art. 5.°, XXXVII e LIII).


"
Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

f) Princípio do devido processo legal: "ninguém será privado da liberdade


ou de seus bens sem o devido processo legal (art. 5.°, LIV).
"

g) Princípio do contraditório e da ampla defesa: aos litigantes, em


"

processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são as-


segurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
"
ela inerentes (art. 5.°, LV).
h) Princípio da celeridade: "a todos, no âmbito judicial e administrati-
vo são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
,

"

garantam a celeridade de sua tramitação (art. 5 0, LXXVIII).


5.
REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS

Os remédios constitucionais são meios postos à disposição dos indiví-


duos e dos cidadãos para provocar a intervenção das autoridades competen-
tes, visando corrigir ilegalidade ou abuso de poder em prejuízo de direitos
e interesses individuais. São também chamados de garantias individuais ou
ações constitucionais.
Consideram-se remédios constitucionais o direito de petição, o habeas
corpus, o mandado de segurança, o mandado de injunção, o habeas data e a
ação popular.

cuidado

Alguns doutrinadores consideram a ação civil pública remédio


constitucional.

5 .
/ O direito de petição
Historicamente, o direito de petição nasceu na Inglaterra, durante a
Idade Média, permitindo aos súditos que dirigissem petições ao rei (Bill of
Rights- 1689).
O direito de petição é aquele que pertence a uma pessoa ou grupo de
pessoas de invocar a atenção dos Poderes Públicos (nas três esferas) sobre
uma questão ou situação.
O art. 5.°, XXXIV, a, da CF/88 estabelece o direito de petição aos Poderes
Públicos, assegurando-o a todos, independentemente do pagamento de taxas,
em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.
168 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

A doutrina entende que o direito de petição é um instrumento de partici-


pação político-fiscalizatório dos negócios do Estado, que tem por finalidade a
defesa da legalidade constitucional e do interesse público geral. Seu exercício
não está vinculado ã comprovação de existência de qualquer lesão a interesses
próprios do peticionário.
A titularidade desse direito pode ser exercida por pessoas físicas jurídi-
,

cas, nacionais ou estrangeiras.


Por fim, a finalidade do direito de petição é dar notícia de fato ilegal ou
abusivo ao Poder Público, para que este providencie as medidas adequadas.
A materialização do direito de petição pode ser por documento escrito de- ,

núncia oral que será reduzida a termo, entre outros.


,

5 2 Habeas corpus
.

O art. 5.°, LXVIII, estabelece: "Conceder-se-á habeas corpus sempre que


alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder".
Origem: segundo a maioria dos autores, o habeas corpus surgiu na Magna
Carta deJoão Sem-Terra, em 1215, quando o instituto foi incluído por pressão
do clero e da nobreza.

Porém, de modo efetivo, em 1679, no reinado de Carlos II, surge o Habeas


Corpus Act, consagrando o Writ of Habeas Corpus como remédio eficaz para
a soltura de pessoa ilegalmente presa ou detida.
No Brasil , o habeas corpus foi previsto pela primeira vez, de modo
expresso, no Código de Processo Criminal de 1832, no art. 340. Constitu-
cionalmente foi previsto pela primeira vez na Constituição Republicana de
1891 (art. 72, §22).
Natureza jurídica: é uma ação penal de natureza constitucional.
Finalidade: prevenir ou sanar a ocorrência de violência ou coação na
liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder.
Sujeito ativo (impetrante): qualquer pessoa, maior ou menor de idade,
brasileiro ou estrangeiro, inclusive pessoa jurídica.
Paciente (vítima): qualquer pessoa física, maior ou menor de idade,
brasileiro ou estrangeiro.
Sobre o tema, em virtude de sua grande incidência em concursos públicos,
é importante a leitura da alínea d do inciso I do art. 102 e da alínea c do inciso
Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 169

I do art. 105 da CF/88. O primeiro dispositivo dispõe que compete ao STF


processar e julgar, originariamente, o habeas corpus, se o paciente for o Presi-
dente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, o
Procurador-Geral da República, os Ministros de Estado, os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os membros dos Tribunais Superio-
res os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de
,

caráter permanente). O outro dispositivo dispõe que caberá, originariamente,


ao Superior Tribunal de Justiça julgar o habeas corpus, se o coator ou paciente
for Governador dos Estados e do Distrito Federal, desembargador dos Tribu-
nais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, membro dos Tribunais de
Contas dos Estados e do Distrito Federal, dos Tribunais Regionais Federais,
dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, membro dos Conselhos
ou Tribunais de Contas dos Municípios e do Ministério Público da União
que oficie perante tribunais, ou quando o coator for tribunal sujeito ã sua
jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou
da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

note
A pessoa jurídica, para uma menor parte da doutrina, pode BEM
uti 1 izar o habeas corpus para trancar o i nquérito ou o processo
criminal ilegal ou abusivo. r

Sujeito passivo: autoridade ou agente público.


Espécies:
a) preventivo: para evitar a ocorrência de uma violação à liberdade.
Expede-se "salvo conduto" pelo juiz, para impedir a prisão ou a de-
tenção pelo motivo alegado;
b) liberatório ou repressivo: objetiva a cessação da efetiva coação ao
direito de ir e vir. O juiz expede o alvará de soltura.
Pede-se um contramandado se houver mandado de prisão não cumprido.
Regulamentação: arts. 647 a 667 do CPP (Dec.-lei 3.689/1941).

Decisões sobre o tema:

O Supremo Tribunal Federal tem admitido a utilização do habeas corpus


para desentranhamento de prova ilícita em procedimento penal, bem como
170 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

para o trancamento de inquérito policial ou ação penal onde se constata ilega-


lidade ou abuso de poder. Nesse sentido HC 80.949, HC 80.420, entre outros.
,

As Comissões Parlamentares de Inquérito não podem decretar a condução


coercitiva de testemunha, buscas e apreensões, indisponibilidade de bens e pri-
são temporária (Informativo do STF 416 do STf; HC 88.015/DF e MS 25.832/DF).
As auditorias militares estaduais somente podem julgar policiais militares
e bombeiros militares, mas não civis. (STF, HC 70.604/SP, HC 72.022-PR, entre
outros).

De acordo com o Supremo Tribunal Federal, os tratados e convenções


internacionais são incorporados como normas infraconstitucionais (STF ,

RFIC 80.035/SC entre outros). Não se trata de uma obrigação, mas sim de
,

uma faculdade atribuída ao Congresso Nacional de equipará-los a emendas


constitucionais.

O talonário de cheques e os cartões de crédito não podem ser objeto


de receptação (STJ, RO/HC 17.596/DF, STJ, RO/HC 2113/SP, entre outros).
É inconstitucional o art. 2.°, § 1.°, da Lei 8.072/1990 - Lei dos Crimes
Hediondos, que dispunha que as penas ali previstas seriam cumpridas inte-
gralmente no regime fechado, por afrontar o princípio da individualização
da pena, previsto no art. 5.°, XLVI, da CF/88 (HC 82.959/SP, rei. Min. Marco
Aurélio, j. 23.02.2006).

note
Súmula471 do STJ: "Os condenados por crimes hediondos ou BEM
assemelhados cometidos antes da vigência da Lei 11.464/2007
sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei 7.210/1984 (Lei de
Execução Penal) para a progressão de regime prisional."

A gravação de conversa entre duas pessoas, feita por uma delas sem
o consentimento da outra, registrando o fato para prevenir uma negação
futura, é considerada lícita, sendo possível a utilização do registro como
meio de defesa. Esse tipo de gravação clandestina é considerado lícito
somente para utilização como meio de defesa. Nesse sentido, podem ser
citadas, como exemplo, as seguintes decisões: STF, HC 74678/SP, 1 .a T ; STF, .

AgRgAg 503617/PR 2.a T. ,


Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 171

Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por


desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal. Nesse
sentido há decisão do STF (HC 80.867-l/PIJ. 12.04.2002).
O Supremo Tribunal Federal, mudando seu antigo posicionamento,
decidiu que o habeas corpus impetrado contra ato de Turma Recursal é de
competência do Tribunal de Justiça. A competência do STF está prevista de
forma exaustiva no art. 102,1, da CF/88. Deixa de se aplicar a Súmula 690.
Competência. Habeas corpus. Definição. A competência para o julgamento
"

do habeas corpus é definida pelos envolvidos - paciente e impetrante. Com-


petência. Habeas corpus. Ato de Turma Recursal. Estando os integrantes das
turmas recursais dos juizados especiais submetidos, nos crimes comuns e nos
de responsabilidade, à jurisdição do Tribunal de Justiça ou do Tribunal Re-
gional Federal, incumbe a cada qual, conforme o caso, julgar os habeas corpus
impetrados contra ato que tenham praticado. Competência. Habeas corpus.
Liminar. Uma vez ocorrida a declinação da competência, cumpre preservar o
quadro decisório decorrente do deferimento de medida acauteladora, ficando
a manutenção, ou não, a critério do órgão competente (STF, HC 86.834/SP,
"

Tribunal Pleno, j. 23.08.2006, rei. Min. Marco Aurélio, DJ 09.03.2007).


O Supremo Tribunal Federal concedeu habeas corpus em que se questio-
nava a legitimidade da ordem de prisão, por 60 dias, decretada em desfavor do
paciente que, intimado a entregar o bem do qual era depositário, não adimplira
a obrigação contratual (Informativo do STF 531, Plenário, HC 87.585/TO).
O Supremo Tribunal Federal por maioria, concedeu habeas corpus impe-
,

trado em favor de depositário judicial, e averbou expressamente a revogação


da Súmula 619 ("a prisão do depositário judicial pode ser decretada no próprio
processo em que se constituiu o encargo, independentemente da propositura
da ação de depósito") (Informativo do STF 531, Plenário, HC 92.566/SP).

Súmulas do STF sobre o tema:

395: "Não se conhece do recurso de habeas corpus cujo objeto seja


resolver sobre o ónus das custas, por não estar mais em causa a liberdade
de locomoção".

431: "É nulo o julgamento de recurso criminal na segunda instância


"

sem prévia intimação ou publicação da pauta, salvo em habeas corpus .

692: "Não se conhece de habeas corpus contra omissão de relator de


extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não
"

constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito .


172 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

693: "Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de


multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena
pecuniária seja a única cominada".

694: "Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão


de militar ou de perda de patente ou de função pública".
695: "Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de
liberdade".

Súmulas do STJ sobre o tema:

21: "Pronunciado o réu, fica superada a alegação do constrangimento


ilegal da prisão por excesso de prazo na instrução".
52: "Encerrada a instrução criminal fica superada a alegação de cons-
,

trangimento por excesso de prazo".

64: "Não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na ins-


trução, provocado pela defesa".

5.3 Habeas data

O art. 5.°, LXXII, enuncia: "Conceder-se-á habeas data: a) para assegurar


o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante constantes ,

de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter


público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
processo sigiloso, judicial ou administrativo
"

Conceito: é um remédio constitucional que tem por finalidade proteger


a esfera íntima dos indivíduos (pessoas físicas ou jurídicas) possibilitando,

a obtenção e a retificação de dados e informações constantes de entidades


governamentais ou de caráter público. Por exemplo: dados sobre a origem
racial, ideológica religiosa, política, filiação partidária ou sindical, orientação
,

sexual, regularidade fiscal, entre outros.


Natureza jurídica: é uma ação constitucional; portanto é um pedido ,

de tutela jurisdicional, devendo preencher as condições e os pressupostos


processuais.
Finalidade: assegurar o direito de acesso e o conhecimento de informa-
ções relativas à pessoa do impetrante e o direito de retificação desses dados.
Característica: de regra, é ação personalíssima não se admitindo pedi-
,

do de terceiros nem sucessão no direito de pedir; porém, existem decisões


Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 173

judiciais admitindo que os herdeiros legítimos do falecido ou seu cônjuge


supérstite possam impetrá-lo.
É necessário esgotar a via administrativa, sob pena de carência de ação
por falta de interesse de agir (art. 8 parágrafo único, I, Lei 9.507/1997).
0
,

Polo passivo: devem figurar sempre as entidades governamentais ou de


caráter público. Portanto, podem figurar como sujeitos passivos os órgãos da
administração direta e indireta, bem como das entidades de caráter público,
ou seja, entidades privadas que prestam serviço público por meio de conces-
são, permissão, licença ou autorização. O § 4.
°
do art. 43 da Lei 8.078/1990
estabelece: Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os
"

serviços de proteção ao crédito e congéneres são considerados entidades de


"

caráter público .

note
Ver também art. 1 parágrafo único, da Lei 9.507/1997 ("Con- BEM
sidera-se de caráter público todo registro ou banco de dados
contendo informações que sejam ou que possam ser transmi-
tidas a terceiros ou que não sejam do uso privativo do órgão ou
"

entidade produtora ou depositária das informações ) .

Regulamentação: Lei 9.507/1997.


Decisões sobre o tema:

A utilização de habeas data como remédio jurídico constitucional pro-


cessual destinado a garantir o direito de acesso a registros públicos e de retifi-
cação destes depende de condições prévias. É o previsto no art. 8. parágrafo °
,

único, incisos I, II e III da Lei 9.507/1997. Nesse sentido é a decisão do STF,


Pleno, RHD 22/DE
"
O habeas data configura remédio jurídico-processual, de natureza
constitucional, que se destina a garantir, em favor da pessoa interessada, o
exercício da pretensão jurídica d iscern ível em seu tríplice aspecto: (a) direi-
to de acesso aos registros existentes; (b) direito de retificação dos registros
erróneos; e (c) direito de complementação dos registros insuficientes ou
incompletos. Trata-se de relevante instrumento de ativação da jurisdição
constitucional das liberdades, que representa, no plano institucional, a
mais expressiva reação jurídica do Estado às situações que lesem, efetiva
174 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

ou potencialmente, os direitos fundamentais da pessoa quaisquer que ,

sejam as dimensões em que estes se projetem" (STF HD 75/DF, rei. Min.


,

Celso de Mello).

5.
4 Mandado de injunção
O art. 5.°
LXXI, estabelece: "Conceder-se-á mandado de injunção sempre
,

que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos


e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade à ,

"
soberania e à cidadania .

Origem: remonta aos fins do século XIV na Inglaterra, onde existia sob
,

a forma de ordem de um tribunal para que alguém fizesse ou se abstivesse de


fazer algum ato sob pena de desobediência à corte.
,

Fundamento: existe uma norma constitucional de eficácia limitada ainda


não regulamentada impedindo o exercício de um direito em caso concreto .

Finalidade: o tribunal deve determinar ao poder competente que edite


a norma geral dentro de certo prazo sob pena de, decorrido este prazo, ser
,

devolvida ao tribunal a faculdade de edição da norma .

O Supremo Tribunal Federal entendia haver apenas uma mera reco-


mendação ao Poder Legislativo para que editasse a norma sem qualquer ,

consequência no caso de não atendimento .

Segundo a doutrina pode haver a solução apenas do caso concreto pelo


,

Poder Judiciário. Este é o atual posicionamento do STF (MI 670 e 721) .

Natureza jurídica: é uma ação constitucional pois há um pedido de ,

proteção jurisdicional previsto na Constituição.


Sujeito ativo: qualquer pessoa física ou jurídica, interessada na questão.
,

Também podem ser impetrantes as associações desde que haja autorização


,

expressa dos associados.


Sujeito passivo: em face de órgão ou poder incumbido de elaborar a norma .

Quando a elaboração da norma for atribuição do Presidente da República,


do Congresso Nacional da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das
,

Mesas de uma dessas Casas Legislativas do Tribunal de Contas da União, de


,

um dos Tribunais Superiores ou do próprio Supremo Tribunal Federal caberá


,

ao STF julgar (art. 102 1, q, da CF/88).


,

Procedimento: se não houver necessidade de produção de prova é igual ,

ao mandado de segurança; caso contrário o procedimento é o ordinário.


,
Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 175

Previsões constitucionais: art. 102,1, q (STF), art. 105,1, h (STJ), 121, §



.
,
V (TSE), e 125, § 1.° (TJ).

Decisões sobre o tema:

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admite legitimidade


ativa adcausam aos sindicatos para a instauração, em favor de seus mem-
bros ou associados, do mandado de injunção coletivo (STF, Ml 472-2, j.
16.11.1994, rei. Min. Celso de Mel lo; STF, Ml 102/PE, Pleno, j. 12.02.1998,
rei. Min. CarlosVelloso).
O Supremo Tribunal Federal atribuiu efeito concreto ao pedido re-
querido pela parte em face da omissão do Poder Legislativo (Ml 670/ES,
721/DF e 712/PA).
"
A jurisprudência do STF admite legitimidade ativa ad causam aos
sindicatos para a instauração, em favor de seus membros ou associados,
do mandado de injunção coletivo." (STF, Ml 102, j. 12.02.1998, rei. p/o
ac. Min. Carlos Velloso, DJ 25.10.2002).

5 . 5 Mandado de segurança
O art. 5.°, LXIX, preceitua: "Conceder-se-á mandado de segurança para
proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder
Público".

Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua existência,


delimitado na sua extensão e apto a ser exercido no momento da impetração -
desse modo, o direito deve vir expresso em norma legal e trazer em si todos os
requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante. De regra, comprova-se
documentalmente. Caso contrário, ou seja, havendo dúvida sobre o direito,
deve-se ingressar com uma ação ordinária para demonstrá-lo e exigi-lo.
Sujeito ativo: somente o próprio titular do direito violado tem legitimi-
dade para impetrar o mandado de segurança individual. Pode ser qualquer
pessoa, física ou jurídica, desde que tenha capacidade de direito e seja titular
do direito violado.

Sujeitos passivos:
a) autoridades públicas: compreende todos os agentes públicos, ou seja,
todas as pessoas físicas que exercem alguma função estatal, como os
agentes políticos e os agentes administrativos;
DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

b) agentes de pessoas jurídicas com atribuições de Poder Público: todos


os agentes de pessoas jurídicas privadas que executem a qualquer ,

título, atividades serviços e obras públicas - por exemplo, univer-


,

sidades privadas.
Cumpre destacar que o mandado de segurança não deve ser proposto
contra a pessoa jurídica de direito público mas contra a autoridade coatora.
,

A autoridade coatora será a pessoa física que concretiza a lesão a direito


individual como decorrência de sua vontade. Não se levam em consideração
as pessoas que estabelecem regras e determinações genéricas nem tampouco
,

aquelas que meramente executam a ordem. Infere-se que os atos normativos


gerais não estão sujeitos a mandado de segurança. Além disso, não cabe man-
dado de segurança contra ato de particular e mérito de decisão impugnada .

Natureza jurídica: ação constitucional de natureza civil .

Procedimento: recebida a inicial notifica-se a autoridade coatora para


,

prestar informações em dez dias; após, os autos, com tais informações, irão
para o Ministério Público para confecção de parecer em cinco dias, seguindo-se
a sentença. Destaque-se que não há dilação de prazo para prova testemunhal ,

pericial ou vistorias. Além disso, a liminar pode ser concedida se em virtude


da demora ocorrer dano irreparável.
A participação do Ministério Público é indispensável justificada na ,

tutela do interesse público.


Prazo decadencial: 120 dias a contar da data em que o interessado tiver
conhecimento oficial do ato a ser impugnado (art. 23 da Lei 12.016/2009).
Tal prazo não se suspende nem se interrompe.
Regulamentação: Lei 12.016/2009.

cuidado
A Lei 12.016/2009 trata do procedimento do mandado de
segurança, traz disposições específicas sobre o mandado de
segurança individual e coletivo, bem como outras disposições
não previstas na Lei anterior.
Decisões sobre o tema:

As Comissões Parlamentares de Inquérito não podem decretar a condu-


ção coercitiva de testemunha, buscas e apreensões, indisponibilidade de bens
e prisão temporária (Informativo do STF 416, HC 88.015/DF e MS 25.832/DF).
O processo legislativo da emenda constitucional pode, por meio de man-
dado de segurança interposto perante o Supremo Tribunal Federal (STF), ser
objeto de controle de constitucionalidade, para o qual estariam legitimados
os parlamentares federais (deputados federais e senadores). Nesses termos:
STF, MS 20.247/DF e MS 20.471/DF
Segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, o Ministério
Público pode requisitar diretamente, ou seja, sem intervenção judicial, in-
formações revestidas de sigilo bancário ou fiscal quando se tratar de verbas
públicas. No art. 129, VI, da CF lê-se: Art. 129. São funções institucionais
"

do Ministério Público: VI - expedir notificações nos procedimentos adminis-


trativos de sua competência, requisitando informações e documentos para
instruí-los, na forma da lei complementar respectiva". No art. 8.°, VIII, da
LC 75/1993 lê-se: "Ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de
caráter público ou relativo a serviço de relevância pública (MS 21.729/DF,
"

MS 21.172/DF, entre outros).


As garantias institucionais, uma decorrência dos direitos fundamentais
de segunda geração tiveram papel importante na transformação do Estado
,

em agente concretizador dos direitos coletivos ou de coletividades, sociais,


culturais e económicos. Acentuam o princípio da igualdade (STF, MS 22.164/
SP, Pleno, j. 30.10.1995).
Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, as universidades
públicas se submetem ao controle do Tribunal de Contas da União. Aplica-se
o art. 71, II, da CF (STF, RMS-Agr 22.047/DF, entre outros).
O mandado de segurança pode ser utilizado para suscitar o controle de
constitucionalidade, inclusive de emendas constitucionais. Nesse sentido é
a doutrina e a jurisprudência: STF, MS-MC-Agr 21.077/G0.
178 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Súmulas do STF sobre o tema:

101: "O mandado de segurança não substitui a ação popular".


248: "É competente, originariamente, o Supremo Tribunal Federal,
para mandado de segurança contra ato doTribunal de Contas da União".
266: "Não cabe mandado de segurança contra lei em tese".
267: "Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível
de recurso ou correição".
268: "Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com
trânsito em julgado".
269: "O mandado de segurança não é substitutivo de ação de co-
brança".
270: "Não cabe mandado de segurança para impugnar enquadramento
da Lei 3.780, de 12.07.1960, que envolva exame de prova ou de situação
funcional complexa".
271: "Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patri-
moniais em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria".
272: "Não se admite como ordinário recurso extraordinário de decisão
denegatória de mandado de segurança".
294: "São inadmissíveis embargos infringentes contra decisão do
SupremoTribunal Federal em mandado de segurança".
299: "O recurso ordinário e o extraordinário interpostos no mesmo
processo de mandado de segurança, ou de hcibeas corpus, serão julgados
"
conjuntamente peloTribunal Pleno .

304: "Decisão denegatória de mandado de segurança, não fazendo


"
coisa julgada contra o impetrante, não impede o uso da ação própria .

319: "O prazo do recurso ordinário para o SupremoTribunal Federal,


"
em habeas corpus ou mandado de segurança, é de cinco dias .

330: "O SupremoTribunal Federal não é competente para conhecer de


mandado de segurança contra atos dosTribunais de Justiça dos Estados".
405: "Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no jul-
gamento do agravo, dela interposto, fica sem efeito a liminar concedida,
"

retroagindo os efeitos da decisão contrária .

429: "A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não


impede o uso do mandado de segurança contra omissão da autoridade".
430: "Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe
"
o prazo para o mandado de segurança .
Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 179

433: "É competente oTribunal Regional doTrabalho para julgar man-


dado de segurança contra ato de seu presidente em execução de sentença
trabalhista".

474: "Não há direito líquido e certo, amparado pelo mandado de se-


gurança, quando se escuda em lei cujos efeitos foram anulados por outra,
declarada constitucional pelo SupremoTribunal Federal".
510: "Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência
delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial".
512: "Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de
"

mandado de segurança .

597: "Não cabem embargos infringentes de acórdão que, em mandado


de segurança, decidiu, por maioria de votos, a apelação".
622: "Não cabe agravo regimental contra decisão do relator que con-
"
cede ou indefere liminar em mandado de segurança .

623: "Não gera porsi sóacompetênciaorigináriadoSupremoTribunal


Federal para conhecer do mandado de segurança com base no art. 102,1,
n, da Constituição, dirigir-se o pedido contra deliberação administrativa
doTribunal de origem, da qual haja participado a maioria ou a totalidade
de seus membros".

624: "Nãocompeteao SupremoTribunal Federal conheceroriginaria-


"
mente de mandado de segurança contra atos de outros tribunais .

625: "Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de


"

mandado de segurança .

626: "A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo de-


terminação em contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito
em julgado da decisão definitiva de concessão da segurança ou, havendo
recurso, até a sua manutenção pelo SupremoTribunal Federal, desde que
o objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da
impetração".
62 7: "No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da
competência do Presidente da República, este é considerado autoridade
coatora, ainda que o fundamento da impetração seja nulidade ocorrida
em fase anterior do procedimento
"
.

629: "A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade


de classe em favor dos associados independe da autorização destes".
630: "A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segu-
rança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte
da respectiva categoria".
631: "Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impe-
trante não promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo
"
necessário .
180 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

632: "É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a im-
"

petração de mandado de segurança .

701: "No mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público


contra decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação do
"
réu como litisconsorte passivo .

Súmulas do STJ sobre o tema:


41: "O SuperiorTribunal de Justiça não tem competência para proces-
sar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de outros
tribunais ou dos respectivos órgãos".
105: "Na ação de mandado de segurança não se admite condenação
em honorários advocatícios" .

1 69: "São inadmissíveis embargos infringentes no processo de man-


dado de segurança".
1 77: "O SuperiorTribunal de Justiça é incompetente para processar
e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de órgão
colegiado presidido por Ministro de Estado".
213: "O mandado de segurança constitui ação adequada para a de-
claração do direito à compensação tributária
"
.

333: "Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação


promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública
"
.

376: "Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de


"
segurança contra ato de juizado especial .

5 6 Mandado de segurança coletivo


.

O art. 5.°, LXX, enuncia: "O mandado de segurança coletivo pode ser
impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente consti-
tuída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses
de seus membros ou associados".

Nas alíneas citadas há a legitimação para propositura do mandado de


segurança coletivo, destacando-se que, no caso da alínea b, ele deverá ser
proposto apenas para a defesa de seus membros e associados. O mesmo ocorre
no caso de partidos políticos. É um remédio constitucional corporativo.
Saliente-se que devem estar preenchidos os demais requisitos do man-
dado de segurança individual.
Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 181

O art. 21 da Lei 12.016/2009 determina que: "O mandado de seguran-


ça coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no
Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus
integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade
de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo
menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade,
ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e
desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização
especial. Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança
coletivo podem ser: I - coletivos, assim entendidos, para efeitos desta Lei os
transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria
de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica
de base; II - individuais homogéneos, assim entendidos, para efeito desta
Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica
da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante."

note
Pode haver a dispensa do prazo de um ano tendo em vista o direi- BEM
to a ser protegido (art. 82, § 1 da Lei 8.078/1990 - "manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica r
do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido").

Decisão sobre o tema:

Segundo posicionamento do Supremo Tribunal Federal, nos mandados


de segurança coletivos impetrados por sindicato em defesa de direito subjetivo
comum aos integrantes da categoria não se exige, na inicial, a autorização
expressa dos sindicalizados (Súmula 629 do STF). É caso de legitimidade
extraordinária - substituição processual (MS 22.132/RJ, entre outros).

Súmulas do STF sobre o tema:

629: "A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade


de classe em favor dos associados independe da autorização destes".

630: "A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segu-


rança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte
da respectiva categoria".
182 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Inote
A Lei 12.016/2009 trata do procedimento do mandado de
BEM
segurança, traz disposições específicas sobre o mandado de
segurança individual e coletivo, bem como outras disposições
não previstas na Lei anterior.

5.
7 Ação popular
O art. 5.°, LXXIII estabelece:
"

, Qualquer cidadão é parte legítima para


propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou
de entidade de que o Estado participe à moralidade administrativa, ao meio
,

ambiente e ao patrimônio histórico e cultural ficando o autor, salvo compro-


,

vada má-fé , isento de custas judiciais e do ónus da sucumbência".


Finalidade: invalidar atos ou contratos administrativos ilegais e lesivos
ao patrimônio federal estadual ou municipal, ou de entes jurídicos subven-
,

cionados com o dinheiro público (mais de 50% do patrimônio) .

Sujeito ativo: cidadão brasileiro (eleitor).


Sujeito passivo: o administrador da entidade lesada e os beneficiários .

Natureza jurídica: ação constitucional de natureza civil .

Formas:

a) preventiva: ajuizada antes da consumação dos efeitos do ato podendo ,

ser deferida a suspensão liminar do ato impugnado;


b) repressiva: visa corrigir os atos danosos consumados;
c) supridora da omissão (supletiva): o autor obriga a Administração
omissa a atuar.

Cabimento: em casos como incompetência de quem praticou os atos


danosos, forma não prescrita em lei desvio de finalidade, ilegalidade do
,

objeto, entre outros.


Saliente-se que as causas intentadas contra a União poderão ser aforadas
na seção judiciária em que for domiciliado o autor naquela onde houver
,

ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a
coisa, ou, ainda no Distrito Federal (art. 109, § 2.°, da CF/88).
,
Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 183

O Ministério Público deve funcionar como fiscal da lei e substituir o


°
autor, caso venha este a desistir da ação (art. 9. Lei 4.717/65).
,

Na sentença normalmente, o juiz deverá determinar a invalidade do ato e


,

a condenação ao ressarcimento das perdas e danos por parte dos responsáveis.


A sentença de improcedência da ação, por falta de fundamento da pretensão,
faz coisa julgada; porém, se a improcedência foi por insuficiência de provas,
não faz coisa julgada, podendo a ação ser proposta novamente.
Execução: pode ser feita pelo autor, qualquer outro cidadão ou o Minis-
tério Público (se o autor não promove a execução em 60 dias da publicação
da sentença - art. 16, Lei 4.717/65). Destaque-se que a execução é contra os
responsáveis pelo ato.
Regulamentação: Lei 4.717/1965.
Decisões sobre o tema:

A ação popular e a ação civil pública podem ser utilizadas no controle de


constitucionalidade incidental, ou seja, desde que a questão constitucional
seja aventada como fundamento de outra pretensão, que não a mera decla-
ração de inconstitucionalidade da norma. Nesse sentido estão as seguintes
decisões: STF, Rcl 721-0/AL-Medida Liminar, Pleno, j. 10.02.1998; STF, Rcl
554-2/MG, Pleno, j. 26.11.1997, entre outros.
"

O mandado de segurança não substitui a ação popular" (Súmula 101


do STF).
"

Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular" (Sú-
mula 365 do STF).

É competente ajustiça Comum para julgar ação popular contra o SEBRAE


(RE 366.168/SC; Súmula 516 do STF: "O Serviço Social da Indústria - SESI
"

está sujeito à jurisdição da Justiça Estadual ) .

5.
8 Ação civil pública
O art. 129, III, estabelece: "São funções institucionais do Ministério
Público: (...) III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros inte-
resses difusos e coletivos "

Origem efinalidade: foi introduzida no Brasil pela Lei 7.347/1985, para a


proteção dos direitos do consumidor, do meio ambiente, dos bens e direitos
de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, da ordem eco-
184 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

nômica e urbanística. Posteriormente, outras leis ampliaram ou reforçaram


o seu âmbito de proteção: Lei 7.853/1989: pessoas portadoras de deficiência
(necessidades especiais); Lei 7.913/1989: investidores no mercado de valo-
res mobiliários; Lei 8.069/1990: Estatuto da Criança e do Adolescente; Lei
8.
078/1990: Código de Defesa do Consumidor; Lei 8.429/1992: probidade
administrativa entre outras.
,

Natureza jurídica: é uma ação constitucional.


Competência: funcional e absoluta do lugar do dano (art. 2.° da Lei
7. 347/1985).

Sujeito ativo: Ministério Público, Defensoria Pública, União, Estados,


Distrito Federal Municípios, autarquias, empresas públicas, fundações,
,

sociedades de economia mista, associações constituídas há pelo menos um


ano, nos termos da lei civil, e que tenham por fim a proteção de interesses
difusos e coletivos (art. 5.°, caput, I a V da Lei 7.347/1985).
,

note
Pode haver a dispensa do prazode um ano tendo em vista o direi- BEM
to a ser protegido (art. 82, § 1 °, da Lei 8.078/1990 - "manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica
do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido").

Sujeito passivo: a Administração Pública ou o particular.


O Ministério Público intervém obrigatoriamente em todas as ações civis
públicas, seja como parte, seja como fiscal da lei. É possível o litisconsórcio
facultativo entre os Ministérios Públicos da União do Distrito Federal e dos
,

Estados (art. 5.° §§ 1.° e 5.°, da Lei 7.347/1985). Em caso de desistência in-
,

fundada ou abandono da ação por associação legitimada o Ministério Público ,

ou outro legitimado assumirá a titularidade da ação (art. 5.° § 3.°, da Lei ,

7 347/1985). Inquérito civil é um procedimento administrativo preliminar


.

por meio do qual o membro do Ministério Público apura a existência ou não


de atos lesivos aos interesses difusos, coletivos ou individuais homogéneos
para a propositura de ação civil pública (art. 8.°, § 1.°, da Lei 7.347/1985).
O inquérito civil é dispensável se já houver provas suficientes para a ação.
Termo de ajustamento de conduta: é possível a transação mediante com-
promisso de ajustamento de conduta celebrado pelos órgãos públicos (art.
Cap. 16 . DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 185

5 § 6.°, da Lei 7.347/1985). As associações civis, empresas públicas, fun-


.
°
,

dações e sociedades de economia mista não podem transacionar. Trata-se de


um acordo extrajudicial, não se exigindo homologação judicial. Porém, se o
acordo for celebrado em ação judicial, será necessária a homologação judicial
para extinguir o processo.
Destaque-se que, no mandado de segurança coletivo e na ação civil
pública, a liminar será concedida, quando cabível, após a audiência do
representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se
pronunciar no prazo de 72 horas (art. 2. da Lei 8.437/1992; art. 22, § 2.°, da
°

Lei 12.016/2009).
Condenação e execução: a ação civil poderá ter por objeto a condenação
em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (art. 3. da
°

Lei 7.347/1985). Qualquer dos colegitimados pode promover a execução, e o


Ministério Público deverá promover a execução se for autor da ação ou se o
colegitimado não promover a execução em 60 dias do trânsito em julgado da
sentença (art. 15 da Lei 7.347/1985). O juiz poderá determinar multa diária
em razão do não cumprimento da sentença (astreinte), que reverterá para
um fundo destinado à reconstituição dos bens lesados. Tal fundo também
receberá os valores provenientes de condenação em dinheiro.
Interesses difusos: os titulares não são pessoas determinadas ou deter-
mináveis, mas se encontram ligados por uma situação de fato, possuindo
interesses indivisíveis - por exemplo, viver em meio ambiente sadio, respeito
aos direitos humanos, entre outros.
Interesses coletivos: seus titulares são pessoas determináveis, que se
encontram ligadas por um vínculo jurídico, possuindo interesses indivisí-
veis - por exemplo, reajuste de mensalidade de uma entidade particular de
ensino, entre outros.
Interesses individuais homogéneos: seus titulares são pessoas determina-
das, que se encontram ligadas por uma situação de fato, possuindo interesses
divisíveis - por exemplo, compradores de veículos com o mesmo defeito,
entre outros.

Decisão sobre o tema:

A ação civil pública pode ser utilizada como instrumento de controle de


constitucionalidade das leis desde que o seja incidentalmente, isto é, no curso
de um processo concreto. Nesse caso, os efeitos estarão vinculados às partes do
processo. Cabe observar que, se a questão constitucional for o objeto principal
186 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

da demanda, não se admitirá a ação civil pública pois os seus efeitos são erga
,

omnes, e desse modo haveria equiparação aos efeitos do controle concentrado


e usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido já
se manifestou o Pretório Excelso nos seguintes julgados: Rcl 633-6/SP rei. ,

Min. Francisco Rezek; Rcl 1733/SP rei. Min. Celso de Mello, entre outros.
,

Súmulas sobre o tema:

329, STj: "O Ministério Público tem legitimidade para propor ação
civil pública em defesa do patrimônio público".

643, STF: "OMinistério Público tem legitimidade para promover ação


civil pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensali-
dades escolares".
Nacionalidade

A nacionalidade define o elo que une o indivíduo a um Estado determinado,


ou seja, é a teoria que tem por objeto indicar o Estado de que depende cada um.
Como já visto, o Estado é o poder soberano de um governo, exercido
sobre uma população assentada em um território, voltado a uma finalidade.
O vínculo da nacionalidade decorre da relação entre o elemento humano
(população) e o território, submetendo-se à ordenação jurídico-política ali
existente.

A nacionalidade tem fundamental importância para um Estado soberano,


de modo que a maioria dos países determina o modo de aquisição e perda da
nacionalidade nas suas Constituições.
Para melhor compreensão do tema, há a necessidade de conhecimento
de alguns conceitos correlatos à nacionalidade:
a) população: é o conjunto dos residentes no território, sejam nacionais
ou estrangeiros. São os habitantes de um território submetidos a um
governo soberano;
b) povo: é o conjunto de habitantes dotados de capacidade eleitoral ativa
e/ou passiva. Pode ser entendido como o conjunto dos eleitores que
se qualificam pela posse da cidadania;
c) nação: é o conjunto de pessoas que partilham a mesma identidade
sócio e étnico-cultural.

Podemos deduzir que há um critério democrático para definir população,


um critério político para o conceito de povo e um critério étnico-cultural
para a nação. Destaque-se que o termo nacionalidade, em seu enfoque
jurídico, pode se distanciar do conceito de nação, pois serão nacionais todos
aqueles unidos por um vínculo político com o Estado, independentemente
de afinidades étnico-culturais.
188 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

d) nacional: é o brasileiro nato ou naturalizado ou seja, aquele que se


,

vincula por nascimento ou naturalização ao território brasileiro;


e) cidadão: é o termo que qualifica o nacional no gozo dos direitos
políticos.
gm

Inote
Não se deve confundir nacionalidade com naturalidade pois
esta é o local físico onde se nasce e não necessariamente
,
BEM
coincide com a nacionalidade. Por exemplo o indivíduo pode
,

ser londrino, por ter nascido em Londres mas ser brasileiro


,

nato, por ser filho de diplomata brasileiro que lá se encontra


em serviço (art. 12,1, ò, CF).

1 . NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DA NACIONALIDADE


No Brasil a nacionalidade é um direito de ordem constitucional (material
,

e formalmente).

2 .
ESPÉCIES DE NACIONALIDADE E PECULIARIDADES

2 7 .
Primária , de origem ou originária
Esta espécie de nacionalidade está vinculada ao fato natural do nascimento .

Adotam-se dois critérios:

a) da territorialidade (ius solis): atribui a nacionalidade a quem nasce no


território do Estado de que se trata; e
b) da consanguinidade (ius sanguinis): são nacionais os descendentes
de nacionais.

No caso da nacionalidade primária teremos o brasileiro nato.


,

2 .
2 Secundária ou adquirida
É a nacionalidade adquirida pela vontade do indivíduo ou do Estado
por meio da naturalização (fato artificial). Nesse caso, temos o brasileiro
naturalizado.

2. 3 Modos de aquisição da nacionalidade


Os modos de aquisição da nacionalidade dependem de cada Estado ,

mas em qualquer deles é involuntária sua aquisição originária (primária) ,


Cap. 17 . NACIONALIDADE 189

decorrendo da ligação do fato natural do nascimento com um critério


estabelecido pelo Estado, enquanto sua aquisição secundária é voluntária.
Como já visto, dois são os critérios para a determinação da nacionalidade
primária (nascimento):

23
. .
1 Critério da origem sanguínea (ius sanguinisj
É a nacionalidade conferida em função do vínculo do sangue, reputando-se
nacionais os descendentes de nacionais.

23
.
2 Critério da origem territorial fius solisj
.

Segundo esse critério, atribui-se a nacionalidade ao nascimento em


determinado território, ou seja, a criança deve nascer em determinado
território para possuir aquela nacionalidade.
Historicamente, os Estados de emigração (maioria dos europeus -
metrópoles) preferem o critério do ius sanguinis, pois mesmo com a saída
de sua população para outros países não há a diminuição de seus nacionais.
Por sua vez, os Estados de imigração (maioria dos americanos - ex-colônias)
acolhem o critério do ius solis, pelo qual os filhos e demais descendentes da
massa dos imigrantes passam a ter sua nacionalidade.

2 4 Reflexos da nacionalidade
.

Em virtude dos dois critérios adotados para a determinação da


nacionalidade primária, pode-se ter um polipátrida ou um apátrida.
O polipátrida é o indivíduo que possui mais de uma nacionalidade, o que
acontece, por exemplo, quando seu nascimento se vincula aos dois critérios
de determinação da nacionalidade primária. É o caso dos filhos cujos pais
são oriundos de Estado que adota o critério do ius sanguinis e nascem num
Estado que adota o do ius solis.
Apátrida ou Heimatlos (expressão alemã) significa sem pátria, ou seja,
indica que um indivíduo é desprovido de nacionalidade. É o caso dos filhos
cujos pais são oriundos de Estado que adota o critério do ius solis e que nascem
num Estado que adota o do ius sanguinis.

2 5 A nacionalidade no direito constitucional brasileiro


.

A aquisição da nacionalidade brasileira está prevista no art. 12 da


Constituição Federal vigente. De acordo com a citada regra, os brasileiros
190 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

podem ser: natos, que correspondem aos de nacionalidade primária (art.


12,1); e naturalizados que são os estrangeiros que adotam a nacionalidade
,

brasileira (art. 12, II).


No que diz respeito à legislação infraconstitucional referente à
nacionalidade existe o Estatuto dos Estrangeiros (Lei 6.815/1980, com
,

alteração da Lei 6.964/1981), definindo a situação jurídica do estrangeiro


no Brasil .

2 6 Os brasileiros natos
.

A Constituição considera brasileiro nato aquele que adquire a


nacionalidade brasileira pelo fator nascimento. Somente o art. 12 I, da ,

Constituição Federal de 1988 fornece os critérios e pressupostos para que


alguém seja considerado brasileiro nato a saber: ,

2 6
. . / Critério do ius solis (territorialidade)
São brasileiros natos os nascidos em território brasileiro, excetuados os
filhos de pais estrangeiros quando no Brasil a serviço de seu país - art. 12 ,
1 ,

a, da CF/88.

Como já visto, o território é o limite espacial dentro do qual o Estado exerce de


modo exclusivo o poder de império sobre as pessoas e os bens. São considerados
territórios brasileiros: as terras delimitadas pelas fronteiras geográficas, seus
rios lagos, baías, golfos, ilhas, bem como o espaço aéreo e o mar territorial; os
,

navios e aeronaves de guerra brasileiros onde quer que se encontrem; os navios


,

mercantes brasileiros em alto-mar ou de passagem em mar territorial estrangeiro;


as aeronaves civis brasileiras em voo sobre o alto-mar ou de passagem sobre
águas territoriais ou espaços aéreos estrangeiros.

2 6
. .
2 Critério do ius sanguinis aliado ao serviço do Brasil
São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do
Brasil (União, Estado, Município, Distrito Federal, Território e até entidades
da administração indireta). Não estão descartados os serviços realizados para
empresas privadas contratadas por entes públicos (art. 12,1, b, da CF/88).

2 6
. .
3 Critério do ius sanguinis mais a opção
São exigidas as seguintes condições: ser nascido no estrangeiro; ser
nascido de brasileiro ou brasileira, nato ou naturalizado; ser registrado em
Cap. 17 . NACIONALIDADE 191

repartição brasileira competente; vir, a qualquer tempo, a residir no Brasil;


optar, também a qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira, depois de
atingida a maioridade (art. 12,1, c, da CF/88).
Tem-se, então, a aquisição da nacionalidade primária, unindo-se o
critério do ius sanguinis, o vínculo territorial e ainda a manifestação da
vontade do interessado maior de idade, à semelhança da nacionalidade
secundária. Saliente-se que a EC 54, de 20.09.2007, determinou que os
filhos de brasileiros nascidos no estrangeiro serão brasileiros natos, desde
que seus pais providenciem o registro de seu nascimento em repartição
brasileira competente (repartição diplomática ou consular). Por fim, o art.

. da citada EC 54/2007 acrescentou o art. 95 ao ADCT, estabelecendo: "Os
nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e a data da promulgação
desta Emenda Constitucional (20.09.2007), filhos de pai brasileiro ou mãe
brasileira, poderão ser registrados em repartição diplomática ou consular
brasileira competente ou em ofício de registro, se vierem a residir na República
Federativa do Brasil" (grifo nosso).

2 7 Os brasileiros naturalizados
.

Os brasileiros naturalizados são os estrangeiros que, por meio do processo


de naturalização, adquirirem a nacionalidade brasileira. O art. 12, II, da
CF/88 vislumbra tal situação. Além da previsão constitucional, existe a
legislação infraconstitucional complementando as regras da naturalização
(Lei 818/1949, Lei 6.815/1980, Lei 6.964/1981 e Decreto 86.715/1981).
Atualmente, só se reconhece a naturalização expressa, ou seja, aquela que
depende de requerimento do naturalizando. Esta, de acordo com a doutrina,
compreende duas classes:

2 7
. . / Naturalização ordinária
É a que se concede ao estrangeiro, residente no País, que preencha os
requisitos previstos na lei de naturalização, exigidas aos originários de países
de língua portuguesa (Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Açores,
Cabo Verde, Príncipe, Goa, Gamão, Dio, Macau e Timor): apenas residência
por um ano ininterrupto e idoneidade moral (art. 12, II, a, da CF/88).

2 7
. . 2 Naturalização extraordinária
É a reconhecida aos estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes
no Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal (no Brasil
192 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

e no exterior), desde que requeiram a nacionalidade brasileira (art. 12 II, b, ,

da CF/88). Adquire-se pelo simples fato de residência no País por 15 anos ,

ininterruptos sem condenação penal. Justificativa: quem colaborou com


,

o Estado brasileiro por tanto tempo sem ter condenação penal merece esse
reconhecimento. Trata-se de um direito subjetivo do estrangeiro de qualquer
nacionalidade, residente no País, facultando-lhe pleitear a naturalização por
mero requerimento.

2 8 Aspectos jurídicos do brasileiro nato e do naturalizado


.

Quando a Constituição mencionar em seu texto o termo "brasileiro",


sem qualquer predicativo, entende-se que a expressão inclui o brasileiro
nato e o naturalizado. Quando o constituinte quiser excluir o brasileiro
naturalizado , mencionará expressamente em seu texto a expressão
"
brasileiro nato".

As distinções existentes entre o brasileiro nato e o naturalizado são


somente aquelas consignadas na Constituição. Nisso ela foi expressa no art. 12 ,

§ 2.°, segundo o qual "a lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros
"

natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição .

A Constituição Federal impõe, atualmente, as seguintes limitações aos


brasileiros naturalizados:

a) são privativos aos brasileiros natos os cargos de Presidente e Vice-


Presidente da República, Presidente da Câmara dos Deputados ,

Presidente do Senado Federal, Ministro do Supremo Tribunal Federal ,

carreira diplomática, oficial das Forças Armadas e Ministro de Estado


da Defesa (art. 12, § 3.°);
b) é privativa de cidadão brasileiro nato a função de membro do Conselho
da República (art. 89, VII);
c) o brasileiro naturalizado há menos de 10 anos não pode ser proprietário
de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens
(art. 222). Devem ser observados os §§ l.°e 2.° do referido artigo, que
restringem a participação de brasileiros naturalizados há 10 anos ou
menos nos meios de comunicação;
d) o brasileiro nato não pode ser extraditado, o que pode ocorrer com o
naturalizado em caso de crime comum, praticado antes da naturalização,
ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, na forma da lei (art. 5.°, LI).
Cap. 17 . NACIONALIDADE 193

2 9 Perda da nacionalidade
.

O caput e o § 4.° do art. 12 da CF/88 estabelecem: Será declarada a perda


da nacionalidade do brasileiro que: "I - tiver cancelada sua naturalização,
por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de
nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização,
pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como
condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos
"
civis .

O primeiro caso atingirá o brasileiro naturalizado e trata do


cancelamento da naturalização válida e eficaz, por sentença judicial,
obedecido o devido processo legal, onde se constata o exercício de atividade
nociva ao interesse nacional. O efeito do cancelamento é de desconstituição
da naturalização e atinge o ato com o trânsito em julgado da sentença,
tendo efeito ex nunc.

O segundo caso de perda da nacionalidade refere-se tanto ao brasileiro


nato quanto ao naturalizado e decorre da aquisição de outra nacionalidade
por naturalização voluntária, ou seja, o nacional adquire voluntariamente
outra nacionalidade. Esse ato engloba tanto o pedido como a aceitação da
naturalização oferecida por outro Estado.

2 .
/ 0 Reaquisição da nacionalidade brasileira
O brasileiro naturalizado que teve a naturalização cancelada por atividade
nociva ao interesse nacional poderá recuperá-la se o cancelamento for desfeito
por ação rescisória.
A ação rescisória é um remédio processual que serve para desconstituir
ou revogar acórdão ou sentença de mérito transitada em julgado. Essa ação
deverá ser proposta dentro de dois anos contados do trânsito em julgado da
decisão (art. 485 do CPC).

O que perdeu a nacionalidade por naturalização voluntária poderá


readquiri-la por decreto do Presidente da República, se estiver domiciliado
,

no Brasil (art. 36 da Lei 818/1949). Destaque-se que essa reaquisição tem


efeitos ex nunc e o nacional readquire a condição que perdera, ou seja, de
,

brasileiro nato ou naturalizado.


194 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

O Decreto 3.453/2000 delega ao Ministro da Justiça a compe-


tência para declarar a perda e a reaquisição da nacionalidade importante
brasileira.

2 .
/ 7 Institutos ligados à nacionalidade

2 11.1 Extradição
.

É o ato pelo qual um Estado entrega à Justiça de outro Estado um


indivíduo acusado de um delito ou já condenado, por considerá-lo competente
para julgá-lo e puni-lo.
Compete à União legislar sobre extradição (art. 22, XV), vigorando a
respeito os arts. 76 a 94 da Lei 6.815/1980 alterada pela Lei 6.964/1981.
,

Limites constitucionais à extradição:


a) art. 5. °
, LI, da CF/88: "Nenhum brasileiro será extraditado, salvo
o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
"

entorpecentes e drogas afins, na forma da lei ;


b) art. 5.°, LII, da CF/88: "Não será concedida extradição de estrangeiro
"

por crime político ou de opinião .

Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar originariamente


a extradição solicitada por Estado estrangeiro (art. 102,1, g da CF/88). ,

"

Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditando casado


com brasileira ou ter filho brasileiro (Súmula 421, STF).
"

note
Se for crime impuro cabe extradição - cláusula de atentado BEM
(violência contra pessoas) (art. 77, § 3.°, da Lei 6.815/1980).

2 .
11.2 Expulsão
Expulsão é um modo coativo de retirar o estrangeiro do território
nacional por delito, infração ou ato que o torne inconveniente à defesa e à
Cap. 17 . NACIONALIDADE 195

conservação da ordem interna do Estado. A União é a entidade política que


tem a competência para legislar sobre expulsão (art. 22, XV, da CF/88).
É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar
contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou
moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne
nocivo à convivência e aos interesses nacionais, entre outros casos previstos
em lei (Lei 6.815/1980, com alterações da Lei 6.964/1981, arts. 65 a 75).
Compete exclusivamente ao Presidente da República resolver sobre a
conveniência e a oportunidade da expulsão, ou sua revogação, que se fará
por decreto passível de controle de constitucionalidade e de legalidade pelo
Poderjudiciário.
Não ocorrerá a expulsão se esta implicar em extradição não admitida pelo
direito brasileiro ou quando o estrangeiro tiver (art. 75 da Lei 6.815/1980):
a) cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato
ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de 5 anos;
b) filho brasileiro que comprovadamente esteja sob sua guarda e dele
dependa economicamente.

2 .
11.3 Deportação
É a saída compulsória do estrangeiro que ingressou ou permanece
irregularmente no território nacional, ou seja, é o modo coativo de devolver o
estrangeiro ao exterior em virtude de desobediência ao ordenamento jurídico
que trata da entrada e permanência no Brasil (art. 5. XV, da CF/88).
°
,

A deportação não decorre da prática de delito no território, mas do não


cumprimento dos requisitos para entrar ou permanecer no território. Quando
o estrangeiro não se retirar voluntariamente no prazo determinado, será feita
a deportação para o país de origem ou de procedência dele, ou para outro que
consinta em recebê-lo. Não sendo ela exequível ou existindo indícios sérios
de periculosidade ou de indesejabilidade do estrangeiro, proceder-se-á a sua
expulsão. Mas não se dará a deportação se esta implicar em extradição vedada
pela lei brasileira (Lei 6.815/1980).
Em resumo:

a) extradição: há um delito praticado fora do território nacional. É vedada


de modo absoluto a de brasileiro nato, sendo possível a de brasileiro
naturalizado;

b) expulsão: há um delito praticado no território nacional por estrangeiro,


tendo como restrição casamento com brasileiro há mais de 5 anos ou
196 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

existência de filho sob sua guarda ou dependência. Não há expulsão


de brasileiro;

c) deportação: é a devolução compulsória de estrangeiro pelo não


cumprimento dos requisitos para entrar ou permanecer no território.
Não há deportação de brasileiro.
Cumpre destacar que não existe mais o instituto do banimento, que era
o envio compulsório de brasileiro para o exterior. Há inclusive, a vedação
,

constitucional de seu restabelecimento no art. 5. XLVII, d, da CF/88. Segundo


°
,

a doutrina, o banimento temporário é chamado de ostracismo.

Se na questão de prova for feita menção ao termo entrega trata-


se do tema Tribunal Penal Internacional (Estatuto de Roma
-

Decreto 4.388/2002). Nesse caso, podem ser entregues


brasileiros natos ou naturalizados e estrangeiros aoTPI.

2 .
12 A língua e os símbolos nacionais
A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil
(art. 13, caput, da CF/88), podendo as comunidades indígenas utilizar também
°
suas línguas maternas (art. 210, § 2. da CF/88). ,

A bandeira
o hino, as armas e o selo nacional são símbolos da República
,

Federativa do Brasilpodendo os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


,

ter símbolos próprios (art. 13, §§ l.°e2.°, da CF/88).

3 .
ASSUNTOS PERTINENTES AOS ESTRANGEIROS

Locomoção no território nacional: é livre como a qualquer brasileiro (art.


5° XV, da CF/88). A lei, contudo, disciplina o direito de qualquer pessoa
.
,

entrar no território nacional, nele permanecer ou dele sair só ou com seus


bens (art. 5.°, XV, da CF/88). A lei que regula esses preceitos no tocante aos
estrangeiros é o Estatuto do Estrangeiro supracitado.
Entrada: todo estrangeiro pode entrar no País desde que preencha os
,

requisitos legais e obtenha visto de entrada (de trânsito, de turista, temporário,

permanente, de cortesia, oficial ou diplomático). Não se concede visto a


estrangeiro menor de 18 anos, desacompanhado de seu responsável.
Cap. 17 . NACIONALIDADE 197

Permanência: deverá registrar-se no Ministério da Justiça e obter o


Registro Nacional de Estrangeiro (RNE).
Saída: deve obter o visto de saída. Se for registrado como permanente,
poderá retornar independentemente de visto, se o fizer dentro de dois anos.
Aquisição e perda dos direitos civis: a lei não distingue nacionais e
estrangeiros quanto à aquisição e gozo dos direitos civis. Só haverá distinção
quando a Constituição autorizar.
Limitações: a Constituição determina que cabe à lei disciplinar os
investimentos de capital estrangeiro e regular a remessa de lucros para o
exterior (art. 172 da CF/88).
A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos
"

potenciais a que se refere o caput deste artigo [jazidas e demais recursos


minerais e os potenciais de energia hidráulica] somente poderão ser
efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse
nacional, por brasileiros ou por empresa constituída sob as leis brasileiras e
que ten ha sua sede e adm i n i stração no Ra ís, na forma da lei, que estabelecerá
as condições específicas quando essas atividades se desenvolverem em
faixa de fronteira ou terras indígenas" (art. 176, § 1.°, da CF/88).

Não podem também os estrangeiros ser proprietários de empresas


jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens, nem responsáveis
por sua administração e orientação intelectual (art. 222 da CF/88).
Aquisição de direitos políticos: os estrangeiros não adquirem direitos
°
políticos, não podem votar nem ser votados (art. 14, § 2. da CF/88), nem ,

intentar ação popular (art. 5.° LXXIII, da CF/88).


,

Asilo político: é o recebimento de estrangeiro no território nacional sem os ,

requisitos de ingresso a seu pedido, para evitar punição ou perseguição no seu


,

país de origem, por delito de natureza política ou ideológica. A Constituição


Federal vigente prevê a concessão de asilo político (art. 4.° X). O asilado não
,

poderá sair do País sem prévia autorização do governo brasileiro, sob pena de
renúncia ao asilo e de impedimento de reingresso nessa condição.
Portugueses residentes no Brasil: ver Decreto 3.927/2001 - Tratado de
Amizade (art. 12 § 1.°, da CF/88).
,

Decisões sobre o tema:

As hipóteses de outorga da nacionalidade brasileira, quer se trate


"

de nacionalidade primária ou originária (da qual emana a condição de


brasileiro nato), quer secuidede nacionalidade secundária ou derivada (da
qual resulta o status de brasileiro naturalizado), decorrem, exclusivamente,
198 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

em função de sua natureza mesma, do texto constitucional, pois a questão


da nacional idade traduz matéria que se sujeita, unicamente, quanto à sua
definição, ao poder soberano do Estado brasileiro" (HC 83.113-QO, j.
26.06.2003, rei. Min. Celso de Mello, D)29.08.2003).
O brasileiro nato, quaisquer que sejam as circunstâncias e a natureza
"

do delito, não pode ser extraditado, pelo Brasil, a pedido de governo


estrangeiro, pois a Constituição da República, em cláusula que não
comporta exceção, impede, em caráter absoluto, a efetivação da entrega
extradicional daquele que é titular, seja pelo critério do jus solis, seja
pelo critério do jus sanguinis, de nacionalidade brasileira primária ou
originária. Esse privilégio constitucional, que beneficia, sem exceção, o
brasileiro nato (CF, art. 5.°, LI), não se descaracteriza pelo fato de o Estado
estrangeiro, por lei própria, haver-lhe reconhecido a condição de titular
de nacionalidade originária pertinente a esse mesmo Estado (CF, art. 12,
§ 4.°, II, a). Se a extradição não puder ser concedida, por inadmissível,
em face de a pessoa reclamada ostentar a condição de brasileira nata,
legitimar-se-á a possibilidade de o Estado brasileiro, mediante aplicação
extraterritoria I de sua própria lei penal (CP, art. 7.°, 11, ò, e respectivo § 2.°) -
e considerando, ainda, o que dispõe oTratado de Extradição Brasi l/Portugal
(art. IV) -, fazer instaurar, perante órgão judiciário nacional competente
(CPP, art. 88), a concernentepersecutiocriminis, em ordem a impedir, por
razões de caráter ético-jurídico, que práticas delituosas, supostamente
cometidas, no exterior, por brasileiros (natos ou naturalizados), fiquem
impunes" (HC 83.113-QO, j. 26.06.2003, rei. Min. Celso de Mello, D/
29.08.2003).
Direitos políticos

Os direitos políticos merecem um relevo especial na estrutura do Estado


contemporâneo. Com o advento da democracia, a cada dia uma soma maior
de pessoas interfere na vida política do País e o faz por intermédio do uso e
gozo dos direitos políticos. Tais direitos implicam em um conjunto de regras
que possibilita a participação dos cidadãos (eleitores) na distribuição do
poder no Estado. No Brasil, o cidadão participa ativamente da composição
dos Poderes Legislativo e Executivo.
De modo geral, os direitos políticos são os que asseguram a participação
do indivíduo no governo de seu país, seja votando ou sendo votado.
Infere-se que os direitos políticos estão intimamente ligados à cidadania
e consistem na reunião dos meios necessários ao exercício da chamada so-
berania popular, ou seja, o poder que os cidadãos têm por meio do voto para
interferir na estrutura do governo de um Estado.

1.
CIDADANIA

A doutrina afirma que a cidadania formal é a participação dos cidadãos


(eleitores) na vida do Estado por meio do voto, e a cidadania material ou real
vai além desse ato, com a participação da população na fiscalização e resolução
dos problemas do Estado. Pode ser externada pelas campanhas de moralização
das instituições públicas, de formação de organizações não governamentais
para incentivo e auxílio nas atividades do Estado, de denúncias de corrupção
e desvio de verbas públicas, entre outros.
Em sentido estrito (jurídico), cidadão é o indivíduo dotado de capacidade
eleitoral ativa (votar), podendo, se preencher determinadas exigências legais,
possuir também a capacidade eleitoral passiva (ser votado).
200 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

1 1 Aquisição da cidadania
.

Os direitos da cidadania adquirem-se mediante alistamento eleitoral


na forma da lei. O alistamento se faz pela qualificação e inscrição da pessoa
como eleitor perante ajustiça Eleitoral.
A qualidade de eleitor decorre do alistamento obrigatório para os bra-
,

sileiros de ambos os sexos maiores de 18 anos de idade, e facultativo para os


,

analfabetos, os maiores de 70 anos e os maiores de 16 e menores de 18 (art .

14, § 1.° I e II, da CF/88).


,

Não são alistáveis como eleitores os estrangeiros e os conscritos durante


o serviço militar obrigatório (art. 14 § 2.°, da CF/88). Os conscritos são os
,

nacionais convocados para o serviço militar obrigatório; porém se se engaja- ,

rem no serviço militar permanente serão obrigados a se alistar como eleitores.


,

Segundo a legislação infraconstitucional as providências para o alis-


,

tamento deverão se efetivar ao brasileiro nato até os 19 anos de idade e ao


naturalizado até um ano depois de adquirida a nacionalidade brasileira sob ,

pena de incorrer em multa.


Em suma, a cidadania é adquirida com a obtenção do título de eleitor
válido, qualificando o nacional como eleitor .

2 . ALISTABILIDADEE ELEGIBILIDADE

A alistabilidade diz respeito à capacidade eleitoral ativa ou seja, à ca-


,

pacidade de ser eleitor, e a elegibilidade diz respeito à capacidade eleitoral


passiva, ou seja, à capacidade de ser eleito.
Vale lembrar que nem sempre da alistabilidade decorre a elegibilidade .

Na forma da lei , existem as seguintes condições de elegibilidade (art.


14, §3.° da CF/88):
,

a) nacionalidade brasileira. No caso de candidato a Presidente e a


Vice-Presidente da República exige-se ser brasileiro nato;
,

b) alistamento eleitoral (título de eleitor);


c) pleno exercício dos direitos políticos (direito de votar e ser votado);
d) domicílio eleitoral na circunscrição eleitoral correspondente
(Presidente-será todo o País; Governadores, Senadores, Deputados
Federais, Estaduais e Distritais - será o Estado ou o Distrito Federal;
Prefeitos e Vereadores - será o Município) .
Cap. 18 . DIREITOS POLÍTICOS 201

note
Sobre o tema domicílio eleitoral o STF assim decidiu:
"O domicílio
BiM
eleitoral na circunscrição e a filiação partidária,
constituindo condições de elegibilidade (CF, art. 14, § 3.°),
revelam-se passíveis de válida disciplinação mediante simples
lei ordi nária. Os requisitos de elegibi I idade não se confundem,
no plano jurídico-conceitual com as hipóteses de inelegibilida-
de, cuja definição-além das situações já previstas diretamente
pelo próprio texto constitucional (CF, art. 14, § 5.° a § 8.°) - só
pode derivar de norma inscrita em lei complementar (CF, art.
14, § 9.°)" - STF, AD11.063-MC, j. 18.05.1994, rei. Min. Celso
de Mello, DJ 27.04.2001.

e) filiação partidária;
f) idade mínima (conforme o caso: 35 anos para Presidente da República ,

Vice-Presidente e Senador; 30 anos para Governador e Vice-Governador; 21


anos para Deputado, Prefeito e Vice-Prefeito, Juiz de Paz e Ministro de Estado;
e 18 anos para Vereador).
Ressalte-se que os inalistáveis e os analfabetos são inelegíveis.
Por fim, devemos observar que elegibilidade e inelegibilidade são ma-
térias da Constituição Federal e de competência legislativa federal naquilo
em que a própria Constituição permita ser objeto de lei complementar ou de
lei ordinária pois cabe à União legislar sobre cidadania (direitos políticos) e
,

direito eleitoral (art. 22, XIII e I, da CF/88).

3 .
SISTEMAS ELEITORAIS

O sistema eleitoral é um conjunto de regras que tem por fim organizar


as eleições. No Brasil atualmente, pode ser de dois tipos:
,

3 .
/ Sistema majoritário
É o sistema em que vence a eleição o candidato que obtiver a maioria
dos votos. Pode ser:

a) maioria simples (ou sistema de escrutínio a um só turno) pelo qual,


,

por uma única votação, se proclama o candidato que tiver obtido a


maioria simples ou relativa;
b) maioria absoluta, segundo o qual somente se considerará eleito
o candidato que obtiver a maioria absoluta de votos em primeiro
202 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

turno. Se nenhum candidato conseguir, será feito o segundo turno,


normalmente entre os dois mais votados, e desse modo um deverá
alcançar a maioria absoluta dos votos. Por esse motivo, o sistema por
maioria absoluta é também conhecido por a dois turnos ou sistema
de escrutínio a dois turnos.

O sistema majoritário, de acordo com a Constituição Federal, é usado


da seguinte forma:
a) por maioria absoluta (se necessário por dois turnos) para a eleição
de Presidente e Vice-Presidente da República (art. 77, § 2.°); de
Governador e Vice-Governador de Estado (art. 28) ou Distrito Federal
(§ 2.° do art. 32); e de Prefeito e Vice-Prefeito para Municípios com
mais de 200 mil eleitores (art. 29, II);
b) por maioria relativa para a eleição de Senadores Federais (art. 46) e
Prefeitos de Municípios com 200 mil eleitores ou menos (art. 29, II).

3 2 Sistema proporcional
.

Neste sistema, a representação se dá na mesma proporção da preferência


do eleitorado pelos partidos políticos. É o sistema adotado para a eleição de
Deputados Federais (art. 45), Deputados Estaduais (§ 1.° do art. 27), Depu-
tados Distritais (§ 3.° do art. 32) e Vereadores por extensão.
Mecanismo a ser adotado:

a) determinar os votos válidos (dados à legenda e aos candidatos);


b) determinar o quociente eleitoral, dividindo o número de votos válidos
pelo número de lugares a preencher. De acordo com o caso, despreza-
se a fração igual ou inferior a 0,5 e arredonda-se para uma fração
superior a 0,5;
c) determinar o quociente partidário, que é o número de lugares cabível
a cada partido, que se obtém dividindo o número de votos obtidos
pela legenda (incluindo os dos candidatos) pelo quociente eleitoral,
desprezada a fração;
d) distribuição dos restos: podem sobrar lugares a serem preenchidos
em consequência de restos de votos em cada legenda não suficientes
para fazer mais um eleito. O direito brasileiro adotou o método
de maior média, que consiste em adicionar mais um lugar aos
obtidos por cada um dos partidos, depois pegar o número de votos
válidos atribuídos a cada partido e dividi-lo por aquela soma. O
Cap. 18 . DIREITOS POLÍTICOS 203

primeiro lugar a preencher caberá ao partido que obtiver a maior


média repetindo-se a mesma operação tantas vezes quantos forem
,

os lugares restantes que devam ser preenchidos, até sua total


distribuição entre os partidos (Código Eleitoral, art. 109). Cabe
observar que somente concorrerão a essa distribuição os partidos
que tiverem quociente eleitoral, ou seja, que elegeram pelo menos
um candidato.

4. RESTRIÇÕES AOS DIREITOS POLÍTICOS


As restrições aos direitos políticos podem ser entendidas como as regras
que proíbem a pessoa de votar e de ser eleita, previstas na Constituição Federal
e na legislação infraconstitucional.
A privação definitiva denomina-se perda dos direitos políticos, e a priva-
ção temporária é conhecida como suspensão. A CF/88, no art. 15, não indica
expressamente quais os casos de perda e de suspensão, mas a doutrina procura
elucidar essa questão, de modo que são casos de suspensão:
a) inciso II: incapacidade civil absoluta (interdição do incapaz) - por
exemplo, enfermos mentais, os menores de 16 anos de idade, entre
outros;

b) inciso III: condenação criminal transitada em julgado, enquanto


durarem seus efeitos;
°
c) inciso V: improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4. ,

da CF/88;

d) inciso IV: recusa em cumprir obrigação a todos imposta ou prestação


alternativa, nos termos do art. 5. VIII, da CF/88.
°
,

Por conseguinte, é caso de perda o inciso I do mesmo art. 15: cancela-


mento da naturalização por sentença transitada em julgado, atentando-se
para o prazo de dois anos da ação rescisória.
A competência para decidir sobre a perda ou suspensão dos direitos
°
políticos é do Poder Judiciário (art. 5. XXXV, da CF/88).
,

5. REAQUISIÇÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS


A reaquisição dos direitos políticos suspensos se dará automaticamente,
com a cessação dos motivos que determinaram a suspensão.
No caso da escusa de consciência (art. 15, IV, da CF/88), pode a pessoa
readquiri-los ao declarar perante a autoridade competente (Ministro da Justiça
,
204 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

ou outro órgão a que a lei der competência), que está pronta para suportar o
ónus que recusou. A Lei 8.239/1991 prevê essa reaquisição quando diz que ,

o inadimplente poderá a qualquer tempo regularizar sua situação mediante


°
cumprimento das obrigações devidas (art. 4. § 2.°). ,

No caso de perda dos direitos políticos por cancelamento da naturali-


zação o indivíduo não os readquirirá mais, a menos que, por ação rescisória
,

(prazo de dois anos do trânsito em julgado), seja rescindido o julgado, de modo


que o naturalizado recuperará a nacionalidade brasileira, ficando obrigado
a novo alistamento eleitoral.

6.
INELEGIBILIDADES

São os impedimentos à capacidade eleitoral passiva. Os casos estão pre-


°
vistos dos §§ 4. a 7." do art. 14 da CF/88.

As normas constitucionais sobre inelegibilidade são de eficácia plena e


de aplicação imediata.
As inelegibilidades podem ser:

6 / Absolutas
.

Impedem que o indivíduo concorra a qualquer cargo eletivo. É um caso


excepcional e deve ser previsto apenas pela Constituição Federal. São os
seguintes casos:
a) os analfabetos podem votar, porém, não podem concorrer a nenhum
cargo político eletivo (executivo ou legislativo). Possuem apenas a
capacidade eleitoral ativa;
b) os inalistáveis são aquelas pessoas que não podem se alistar nas
repartições eleitorais, ou seja, não podem adquirir o título de
eleitor e, por consequência, não podem votar nem ser votados.
São eles os menores de 16 anos de idade, os estrangeiros, os
conscritos e os privados definitiva ou temporariamente dos seus
direitos políticos.
6 2 Relativas
.

Consistem em restrições à elegibilidade para determinados mandatos


em razão de situações especiais em que, no momento da eleição, se encontre
o cidadão. Podem ser previstas na Constituição e na legislação infraconsti-
tucional. O cidadão é elegível, mas sofre certas restrições.
Cap. 18 . DIREITOS POLÍTICOS 205

Espécies:

62 . .
/ Restrição por motivos funcionais
a) para o mesmo cargo: não existe mais (EC 16/1997 - reeleição) Os .

ocupantes dos cargos do Poder Executivo podem ser reeleitos para


um único período subsequente (art .
14 ,
§ 5.°);
b) para outros cargos: são inelegíveis para concorrer a outros cargos
os titulares de cargos do Poder Executivo que não renunciarem
aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito É uma das .

hipóteses da chamada desincompatibilização concretizada pela ,

renúncia (art. 14 § 6.°).


,

note
"

Presidente da Câmara Municipal que substitui ou sucede o


prefeito nos seis meses anteriores ao pleito é inelegível para
o cargo de vereador (CF, art. 14, § 6.°) inaplicabilidade das
,

regras do § 5.° e do § 7.° do art. 14 da CF" - RE 345 822, Rei .

Min. Carlos Velloso, julgamento em 18.11.03 DJ de 12.12.03.,

62 . .
2 Restrição por motivo de casamento parentesco ou afinidade ,

São inelegíveis no território da circunscrição (e não de jurisdição, como


,

prevê a CF/88 no art. 14, § 7.°) do titular, o cônjuge e os parentes consanguí-


neos ou afins (sogra cunhado), até o 2.° grau ou por adoção, dos ocupantes
,

dos cargos do Poder Executivo ou de quem os haja substituído dentro dos seis
meses anteriores ao pleito salvo se já titular de mandato eletivo e candidato
,

à reeleição. Essa restrição é também conhecida como inelegibilidade reflexa .

Por exemplo: o cônjuge e parentes até o 2 grau consanguíneos ou afins de


°
.

Prefeito não podem se candidatar a Vereador ou Prefeito O cônjuge e parentes .

°
até 2. grau consanguíneos ou afins de Governador não poderão se candidatar

a qualquer cargo eletivo no Estado (Vereador Prefeito, Deputado Estadual,


,

Deputado Federal Senador e Governador do mesmo Estado).


,

Cumpre observar que a Constituição permite que concorram à reeleição


o cônjuge, parente ou afim que já possuir mandato eletivo .
206 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

6 2
. . 3 Restrição dos militares
O militar alistável é elegível, nas seguintes condições: se contar com me-
nos de 10 anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; se contar com mais de
10 anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará
automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade (art. 14, § 8. )
°
.

62
. . 4 Restrição por previsão de ordem legal
A Constituição Federal, no § 9.° do art. 14, autorizou a edição de lei
complementar (Leis Complementares 64/1990 e 81/1994) para dispor sobre
outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação. Infere-se que a lei
complementar é a única espécie normativa autorizada constitucionalmente
para disciplinar a criação e estabelecer os prazos de duração de outras inelegi-
bilidades relativas, sendo-lhe proibida a criação de hipóteses de inelegibilidade
absoluta, pois estas são previstas expressamente.

6.2.5 Restrição por motivo de domicílio eleitoral na circunscrição


Os candidatos aos cargos, tanto do Executivo quanto do Legislativo,
deverão ter domicílio eleitoral na circunscrição em que concorrerem.

7. DESINCOMPATIBILIZAÇÃO
É o ato pelo qual o candidato se desvencilha da inelegibilidade a tempo
de concorrer à eleição. Em algumas hipóteses, a desincompatibilização só
se dará com o afastamento definitivo da situação funcional em que se ache
o candidato, o cônjuge ou parente. Em outros casos, basta o licenciamento
(autoridades policiais, agentes administrativos, entre outros).
O § 6.° do art. 14 da CF/88 estabelece: "Para concorrerem a outros cargos,
o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e
os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes
do pleito".
Decisões sobre o tema:
"
OTribunal, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em
duas ações diretas de inconstitucionalidade, a primeira ajuizada contra a
Resolução 22.610/2007, pelo Partido Social Cristão - PSC, e a segunda,
também contra a Resolução 22.733/2008, pelo Procurador-Geral da Re-
pública, ambas doTribunal Superior Eleitoral -TSE, as quais disciplinam
o processo de perda de cargo eletivo em decorrência de desfiIiação parti-
dária sem justa causa, bem como de justificação de desfil iação partidária.
Cap. 18 . DIREITOS POLÍTICOS 207

Preliminarmente, o Tribunal, por maioria, conheceu das ações (...). No


mérito, ju Igaram-se vál idas as resol uções i mpugnadas até que o Congresso
Nacional disponha sobrea matéria. Considerou-se a orientação fixada pelo
Supremo no julgamento dos MS 26.602/DF (DJE17.10.2008), 26.603/DF
(j. 04.10.2007) e 26.604/DF (DJE 03.10.2008), no sentido de reconhecer
aos partidos políticos o direito de postular o respeito ao princípio da fide-
lidade partidária perante o Judiciário, e de, a fim de conferir-lhes um meio
processual para assegurar concretamente as consequências decorrentes de
eventual desrespeito ao referido princípio, declarar a competência doTSE
para dispor sobre a matéria durante o si lêncio do Legislativo. Asseverou-se
que de pouco adiantaria a Corte admitir a existência de um dever, qual
seja, a fidelidade partidária, mas não colocar à disposição um mecanis-
mo ou um instrumental legal para garantir sua observância. Salientando
que a ausência do mecanismo leva a quadro de exceção, interpretou-se
a adequação das resoluções atacadas ao art. 23, IX do Código Eleitoral,
,

este interpretado conforme a CF. Concluiu-sequeaatividade normativa do


TSE recebeu seu amparo da extraordi nária circunstância de o Supremo ter
reconhecido a fidelidade partidária como requisito para permanência em
cargo eletivo e a ausência expressa de mecanismo destinado a assegurá-
-

lo"(ADIn 3.999eADIn 4.086, j. 12.11.2008, rei. Min. Joaquim Barbosa,


Informativo 528). No mesmo sentido: Al 733.387, j. 16.12.2008, rei. Min.
Celso de Mello, Informativo 533.
"

Inelegibilidade. Art. 14, § 7.°, da Constituição do Brasil. O art. 14, § 7.°,


da Constituição do Brasil deve ser interpretado de maneira a dar eficácia e
efetividadeaos postulados republicanos e democráticos da Constituição,
"

evitando-se a perpetuidade ou alongada presença de fami I iares no poder


(RE 543.11 7-AgR, j. 24.06.2008, rei. Min. Eros Grau, DJE 22.08.2008).
Elegibilidade de ex-cônjuge de prefeito reeleito. Cargo de vereador.
"

Impossibilidade. Art. 14, § 7.° da Constituição. Separação judicial no


,

curso do segundo mandato eletivo. Separação de fato no curso do primeiro


mandato eletivo. Oportuna desincompatibilização. Inocorrência. (...) A
dissolução da sociedade conjugal, no curso do mandato, não afasta a ine-
legibilidade prevista no art. 14, § 7.°, da CF. Se a separação judicial ocorrer
em meio à gestão do titular do cargo que gera a vedação, o vínculo de
parentesco, para os fi ns de i nelegibi I idade, persiste até o término do man-
dato, inviabilizando a candidatura do ex-cônjuge ao pleito subsequente,
na mesma circunscrição, a não ser que aquele se desincompatibilize seis
"
meses antes das eleições (RE 568.596, j. 01.10.2008, rei. Min. Ricardo
Lewandowski, DJE 21.11.2008).
Presidente da Câmara Municipal que substitui ou sucede o Prefeito
"

nos seis meses anteriores ao pleito é inelegível para o cargo de vereador.


CF, art. 14, § 6.°. Inaplicabilida-de das regras dos §§ 5.° e 7.° do art. 14,
CF" (RE 345.822, j. 18.11.2003, rei. Min. CarlosVelloso, DJ12.12.2003).
208 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

8. PROCESSO JUDICIAL ELEITORAL

O processo eleitoral é o conjunto de atos e procedimentos relacionados


às eleições, desde as convenções partidárias (escolha de candidatos e coliga-
ções) até a diplomação. Saliente-se que fatos anteriores à convenção partidária
poderão ser julgados pelajustiça Eleitoral, tal como abuso do poder político
ou económico.

O processo eleitoral é célere, possui regras próprias, esparsas em diversos


diplomas legais, aplicando-se, subsidiariamente, o Código de Processo Civil.
Em regra, no processo eleitoral são legitimados ativos para a propositura
das ações: o Ministério Público, os candidatos, os partidos e as coligações.
Os prazos do processo eleitoral são peremptórios e contínuos, e correm
em Secretaria ou Cartório e, a partir da data do encerramento do prazo para
registro de candidatos (cinco de julho do ano das eleições) não se suspendem
aos sábados domingos e feriados (artigo 16 - Lei Complementar 64/1990).
,

Com relação aos prazos, deve-se observar o artigo 184 do Código de Processo
Civil.

Não há custas e preparo, exceção feita ao recurso extraordinário.


Normalmente, são usados os seguintes mecanismos processuais: im-
pugnação ao registro da candidatura, ações de investigação judicial eleitoral,
recurso contra a diplomação ação de impugnação de mandato eletivo, entre
,

outros.
Leitura complementar

No intuito de complementar os assuntos referentes ao Direito Consti-


tucional, são indicados alguns temas:

1. DIREITO E SUA CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA


Três expressões latinas podem nos dar uma noção do que é o Direito:
a) ubi homo, ibijus - onde está o homem aí está o Direito;
,

b) ubi homo, ibi societas - onde está o homem aí está a sociedade;


,

c) ubi societas ibijus - onde está a sociedade, aí está o Direito.


,

Podemos inferir que o Direito existirá enquanto existir sociedade , e esta,


por sua vez, depende dos homens.
Os operadores do Direito em geral costumam defini-lo singelamente
como o conjunto de normas jurídicas que possibilitam a vida em sociedade ,

ou, ainda, a técnica para tornar possível a coexistência humana .

Classificação doutrinária do Direito:


Atualmente , a doutrina divide o Direito em três ramos:
a) Direito Público: é aquele que tutela os interesses gerais da sociedade e ,

de regra, não admite transação. São exemplos: Direito Constitucional ,

Administrativo, Processual Penal, Tributário, Internacional, entre


,

outros;

b) Direito Privado: é aquele que tutela os interesses dos particulares


e, de regra admite transação. São exemplos: Direito Civil e Direito
,

Comercial;

c) Direito Social: é aquele que tutela os interesses dos particulares sendo


,

que o Estado oferece prestações positivas direta ou indiretamente aos


mais fracos para sua melhora de vida É o Estado cuidando daqueles
.
210 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

que o construíram. São exemplos: Direito Previdenciário e Direito


do Trabalho.

2 . BREVE EVOLUÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES DOS ESTADOS


A Constituição, nos moldes que conhecemos hoje em dia, tem como
marco histórico a Revolução Francesa de 1789, que, como tal, visava estabe-
lecer e limitar o uso do poder pelo Estado.
A ideia de controle do poder teve lenta evolução histórica e cultural.
Temos como exemplo, primeiro, a Magna Carta de 1215, pela qual o Rei João
Sem-Terra pactuou com os súditos revoltados sobre direitos a serem respei-
tados. Para os doutrinadores, a previsão legal do habeas corpus em matéria
"

constitucional está consignada em seu art. 48: Ninguém poderá ser detido ,

preso ou despojado de seus costumes e liberdade senão em virtude de julga-


"

mento de seus pares, de acordo com as leis do país .

Em 1628, temos a "Petition of Rights" (Petição de Direitos), uma decla-


ração formal onde foram reafirmadas as liberdades públicas fundamentais e
o respeito às leis de habeas corpus impostas ao rei Carlos I da Inglaterra.
Um importante avanço histórico e jurídico são os contratos de coloni-
zação, típicos da história das colónias da América do Norte, que, apesar da
anuência real, já se aproximam da ideia setecentista de Constituição.
Nesse sentido, Manoel Gonçalves Ferreira Filho destaca que os peregri-
nos, mormente puritanos, chegados à América imbuídos de igualitarismo, não
encontrando na nova terra poder estabelecido, fixaram por mútuo consenso
as regras pelas quais haveriam de se governar. Firma-se, assim, pelos chefes
de família a bordo do "Mayflower", o célebre "compact" de 1620, e, desse
modo estabelecem as Fundamental Orders of Connecticut" de 1639, mais
,
"

tarde confirmadas pelo rei Carlos II, que as incorporou à Carta outorgada em
1662. Tem-se, então, a ideia de estabelecimento e organização do governo
pelos próprios governados (Curso de direito constitucional, p. 5).
A ideia de Constituição evoluiu associada às concepções do iluminismo,
que valoriza a razão e o indivíduo em detrimento do Estado, considerado um
mal necessário. É a ideologia revolucionária do século XVIII.
Montesquieu, para prevenir eventuais abusos por parte dos monarcas,
sugere a separação dos poderes, teorizada na obra O espírito das leis.
Manoel Gonçalves Ferreira Filho afirma que ao surgir, ligada que estava
a essa doutrina liberal, a ideia de Constituição escrita tinha um caráter polé-
Cap. 19 . LEITURA COMPLEMENTAR 211

mico. Não designava qualquer organização fundamental mas apenas a ideia


,

que desse ao Estado uma estrutura conforme aos princípios do liberalismo.


Era pois, uma arma ideológica contra o antigo regime, contra o absolutismo,
,

contra a confusão entre o monarca e o Estado contra uma organização acusada


,

de ser irracional. Propunha substituir tudo isso por um governo moderado ,

incapaz de abusos, zeloso defensor das liberdades individuais (Curso de direito


constitucional p. 7).
Esse conceito polemico está contemplado em uma fórmula célebre
prevista no art. 16 da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de
1789: "A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem
estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição
"

Aliado ao iluminismo há o liberalismo


movimento que busca libertar
,

a sociedade da opressão dos monarcas. Para esse movimento Constituição ,

é um documento escrito e solene que organiza o Estado adotando necessa-


,

riamente a separação dos Poderes e visando garantir os direitos do homem .

3.
ELEMENTOS DAS CONSTITUIÇÕES
Os elementos das Constituições correspondem aos seus componentes ,

que, em geral, são agrupados em títulos, capítulos e seções, em função da


conexão do conteúdo específico que os vincula.
Diversa é a classificação doutrinária a respeito do tema .
Adotou-se a
prevalente, a saber:

3 .
7 Elementos orgânicos
São normas que regulam a estrutura do Estado e do poder. Podemos
elencar, como exemplo, o Título III (Da organização do Estado) da CF/88.

3 2 Elementos limitativos
.

São aquelas normas que limitam a atuação do Estado. Manifestam-se ex-


pressamente no elenco dos direitos e garantias fundamentais, ou seja, no Título
II da Constituição Federal. Devem ser excetuados porém, os direitos sociais,
,

que compõem o Capítulo II de tal título, pois ingressam na categoria seguinte.

3 .
3 Elementos socioideológicos
São normas que expressam o compromisso das Constituições modernas
no que tange a diferençar o Estado individualista do Estado social. Na Cons-
212 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

tituição Federal de 1988, são encontrados no Capítulo II do Título II, ou seja,


sob a denominação Dos direitos sociais", e também nos Títulos VII e VIII,
"

respectivamente Da ordem económica e financeira" e "Da ordem social".


"

3. 4 Elementos de estabilização constitucional


São normas que possibilitam a integração e a harmonia constitucional.
Asseguram a solução dos conflitos constitucionais, a defesa da Constitui-
ção, do Estado e das instituições democráticas, estabelecendo os meios e as
técnicas contra sua alteração e infringência, bem como sua modificação. São
encontrados nos arts. 34 a 36 (Da intervenção nos Estados e Municípios), nos
arts. 59,1, e 60 (Da emenda à Constituição), nos arts. 102 e 103 (jurisdição
constitucional) e no Capítulo I do Título V, intitulado
"
Do estado de defesa
e do estado de sítio "

3.
5 Elementos formais de aplicabilidade
São normas que estabelecem regras de aplicação das Constituições, como
o preâmbulo, o Título IX ( Das disposições constitucionais gerais"), o Ato
"

das Disposições Constitucionais Transitórias, bem como o § 1.° do art. 5.°,


segundo o qual as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais
têm aplicação imediata.

4 . HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS


4 . 1 Constituição de 1824
Constituição política do Império do Brasil outorgada em 25.03.1824.
Também conhecida como Carta Imperial, outorgada por D. Pedro I, adotou
a forma monárquica de governo, dividiu o território em províncias, que eram
as antigas capitanias então existentes, definiu o catolicismo como religião
oficial do Império, e desse modo só os católicos apostólicos romanos podiam
ser eleitos para os cargos oficiais. Instituiu-se a formulação quadripartite de
poder, de Benjamim Constant, ou seja, os Poderes Legislativo, Executivo,
Judiciário e Moderador.
O Poder Moderador era exercido privativamente pelo Imperador, como
chefe supremo da Nação, e por seu primeiro representante, para que incessan-
temente velasse pela manutenção da independência, pelo equilíbrio e harmonia
dos demais poderes políticos. O Poder Executivo, exercido pelos Ministros de
Estado, tinha o Imperador como chefe. O Poder Judiciário era composto por
Cap. 19 . LEITURA COMPLEMENTAR 213

juízes e jurados, e o Poder Legislativo era composto por Deputados e Senadores,


sendo os primeiros eletivos e temporários e os demais, integrados por membros
vitalícios nomeados pelo Imperador dentre componentes de uma lista tríplice
eleita por província. O sufrágio era indireto e censitário.
Sob a égide desta Constituição, houve pela primeira vez a implantação
do regime parlamentarista de governo que vigorou de 1847 até 1889.
,

Por fim cabe ressaltar que foi instituída a forma unitária de Estado, com
,

forte centralização político-administrativa.

4 .
2 Constituição de 1891
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil promulgada
em 24.02.1891.

Adotou como forma de governo a República constituída pela união


,

perpétua e indissolúvel das suas antigas províncias (21) em Estados Unidos


do Brasil. Cada uma das antigas províncias formou um Estado-membro e o ,

antigo Município neutro se transformou no Distrito Federal que continuou


,

a ser a capital da União. Nasceu, portanto o Estado Federal brasileiro.


,

Adotou a formulação clássica de separação de Poderes ou seja, a doutrina


,

tripartite de Montesquieu, estabelecendo como órgãos da soberania nacional


os Poderes Legislativo Executivo e Judiciário, harmónicos e independen-
,

tes entre si. Estabeleceu-se o presidencialismo como regime de governo ,

abolindo-se o parlamentarismo sendo o Presidente da República eleito pelo


,

sufrágio direto do povo.


Ampliou a declaração de direitos humanos introduzindo expressamente
,

pela primeira vez o instituto do habeas corpus (§ 22 do art. 72).

4. 3 Constituição de 1934
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada
em 16.07.1934.

Manteve a estrutura fundamental anterior


a saber: a República, a Fede-
,

ração, a divisão dos Poderes o presidencialismo e o regime representativo.


,

Aumentou os poderes do Executivo definiu os direitos políticos e o sistema


,

eleitoral, admitindo o voto secreto, estendido às mulheres. Estabeleceu al-


guns direitos trabalhistas, como salário-mínimo, descanso semanal, férias,
e regulamentou o trabalho das mulheres e dos menores. Inovação no plano
constitucional foi a integração da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral como
órgãos do Poder Judiciário, bem como previu a Justiça do Trabalho.
214 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Introduziu o ensino primário gratuito e obrigatório e criou, no plano da


declaração de direitos, o mandado de segurança e a ação popular. Instituiu,
ao lado do Ministério Público e do Tribunal de Contas, os conselhos técnicos
como órgãos de cooperação nas atividades governamentais.
Inspirada na Constituição alemã de Weimar de 1919, houve a adoção
de capítulos referentes à ordem económica e social, à família, à educação e
à cultura. Além disso, devem-se citar as normas relativas ao funcionalismo
público e às Forças Armadas.

4 . 4 Constituição de 1937
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, outorgada por
Getúlio Vargas em 10.11.1937. Inspirada na Constituição fascista da Polónia,
recebeu o apelido de
"
Polaca".

O Brasil passou a ser um Estado apenas formalmente federal, despojando


das unidades federativas sua autonomia.

Há o fortalecimento do Poder Executivo federal, ou seja, concentram-


-

se nas mãos do Presidente da República os Poderes Executivo e Legislativo.


Getúlio Vargas legisla por via de decretos-leis que ele próprio depois aplicava
como órgão do Executivo.
Nesse período, há a suspensão dos institutos do mandado de segurança
" "

e da ação popular, bem como o surgimento do quinto constitucional .

4 . 5 Constituição de 1946
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada
em 18.09.1946.

Restaurou a autonomia das entidades federadas, criou novamente o


cargo de Vice-Presidente da República, extinto nas Constituições de 1934 e
1937 reintroduziu os remédios do mandado de segurança e da ação popular.
,

Fortaleceu o regime democrático, assegurando o pluripartidarismo.


Sob o comando desta Constituição, houve a reintrodução do regime
parlamentarista no Brasil, que durou de 1961 até 1963.

4 . 6 Constituição de 1967
O Ato Institucional 4, de 07.12.1966, convocou o Congresso Nacional
para se reunir extraordinariamente de 12.12.1966 a 24.01.1967 e promul-
Cap. 19 . LEITURA COMPLEMENTAR 215

gar (Mesa da Câmara e do Senado Federal) o projeto de Constituição que o


governo apresentou.
Em 24.01.1967 foi ela promulgada, entrando em vigor em 15.03.1967,
quando assumia a Presidência o Marechal Arthur da Costa e Silva. Preocupou-
-

se fundamentalmente com a segurança nacional, promoveu a centralização


dos Poderes no Executivo federal, reduziu a autonomia individual, permi-
tindo a suspensão dos direitos e garantias constitucionais, e, por fim, criou
as eleições indiretas para Presidente da República (Colégio Eleitoral).

4 7 Constituição de 1969
.

Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em


17.10.1969, como Emenda Constitucional 1 à Constituição do Brasil de
1967, para entrar em vigor em 30.10.1969.
Teórica e tecnicamente não se tratou de emenda, pois uma emenda cons-
titucional é um mecanismo para alterar uma parte de uma Constituição, não
fazer uma nova. A emenda só serviu como mecanismo de outorga, uma vez
que, na verdade, foi promulgado um texto integralmente reformulado. Em
que pese o texto do art. 34 do ADCT da CF/88, a doutrina prevalente entende
que tal emenda é uma verdadeira Constituição.
Outorgada por três Ministros militares (Augusto Hamann Rademaker
Grúnewald, Aurélio de Lyra Tavares e Márcio de Souza Mello), promoveu
grande concentração do poder político nas mãos do Executivo federal, à
semelhança da Constituição anterior.

4 8 Constituição de 1988
.

Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada e publicada


em 05.10.1988. É conhecida como a Constituição Cidadã", instituiu o Estado
"

Democrático de Direito, autolimitando o poder do Estado ao cumprimento


das leis que a todos subordinam, assegurou a livre participação dos cidadãos
na vida política, o sufrágio passou a ser universal, direto e secreto nas três
esferas administrativas, os analfabetos conquistaram o direito ao voto e jovens
acima de 16 anos de idade receberam o direito facul tativo de votar. Estabeleceu
também o pluripartidarismo, fortaleceu o federalismo, conferindo maior au-
tonomia aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, criou os remédios
constitucionais do habeas data, do mandado de injunção e do mandado de
segurança coletivo, acabou com a censura aos meios de comunicação, entre
outras inovações.
216 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

5 .
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA

A Administração Pública brasileira deve obedecer dentre outros, aos


,

princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade


e da eficiência (art. 37, caput, da CF/88).
A legalidade implica em que todos os atos realizados pela Administração
Pública devem estar em consonância com o ordenamento jurídico brasileiro ,

inclusive quando realiza atos discricionários.


A impessoalidade possui duas vertentes a saber: a Administração, quan-
,

do age, não o faz em nome de determinado administrador mas em nome do ,

ente político-administrativo (União, Estados Municípios e Distrito Federal).


,

De outro lado , a ação da Administração deve beneficiar toda a coletividade,


alcançando o bem comum, e não alguns poucos privilegiados.
A moralidade implica em que os atos da Administração devem ao menos
respeitar as normas jurídicas porque pressupõem a correção e a ética na sua
,

elaboração. A moralidade almeja o amor à verdade a busca do melhor e mais


,

justo para a sociedade. Para a proteção da probidade administrativa, existe


a Lei 8.429/1992.

A publicidade indica que os atos realizados pela Administração Pública ,

de regra devem ser públicos, ou seja, levados a conhecimento de todos os


,

componentes da sociedade salvo imposição legal de sigilo.


,

A eficiência determina que as ações da Administração Pública devem


buscar o maior resultado com o menor custo, seja operacional ou financeiro.
6.
ORIGEM DO TRIBUNAL DE CONTAS

A doutrina ensina que já na Antiguidade havia em Atenas, uma corte


,

de contas constituída por 10 membros eleitos anualmente pela assembleia


popular, encarregada de fiscalizar as contas públicas e de julgar o peculato.
No Brasil Império embora não existisse uma corte especializada, as
,

contas públicas já eram fiscalizadas pelo Poder Legislativo. A Constituição


de 1824 exigia a apresentação dos orçamentos à Câmara dos Deputados ,

nos termos do art. 172, assim redigido: O Ministro de Estado da Fazenda


"

havendo recebido dos outros ministros os orçamentos relativos às despesas


das suas repartições, fará na Câmara dos Deputados anualmente, logo que
,

esta estiver reunida um balanço geral de todas as despesas públicas do ano


,

futuro e da importância de todas as contribuições e rendas públicas".


Cap. 19 . LEITURA COMPLEMENTAR 217

Em 07.11.1890, o Decreto 966-A criou no Brasil o Tribunal de Contas,


porém este não chegou a ser executado nem teve regulamentação. A Consti-
tuição republicana de 1891, no seu art. 89, o instituiu, com a seguinte reda-
ção:
"

É instituído um Tribunal de Contas para liquidar as contas da receita e


despesa e verificar a sua legalidade, antes de serem prestadas ao Congresso".
Houve a regulamentação infraconstitucional por meio do Decreto 1.116, de
17.12.1892 permitindo o efetivo funcionamento.
,

Estava assim implantado, no Direito brasileiro, o Tribunal de Contas,


como órgão auxiliar do Poder Legislativo no controle externo das atividades
financeira e orçamentária da União.

7. DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA


7 / .
O Ministério Público

A doutrina ensina que o Ministério Público (Parquet) surgiu histori-


camente com o advento da divisão de Poderes do Estado moderno. Por tal
motivo, sua proximidade mais direta é com os advogados e procuradores
criados no século XIV, na França. Os advogados do rei tinham atribuições
exclusivamente cíveis, enquanto os procuradores, além das funções de de-
fesa do fisco tinham funções de natureza criminal. O Ministério Público
,

francês nasceu da fusão dessas duas instituições unidas pela ideia básica de
,

defender os interesses do soberano, que representava os interesses do próprio


Estado. Posteriormente na França, o Ministério Público veio a ser definido
,

de maneira mais clara com os Códigos Napoleónicos em especial o Código


,

de Instrução Criminal e a Lei de 20.04.1810, que lhe conferiu o importante


papel de Promotor da Ação Penal.
No Brasil, o Ministério Público encontra suas raízes no Direito lusita-
no, vigente no País nos períodos colonial, imperial e início da República. As
Ordenações Manuelinas de 1521 já mencionavam o Promotor de Justiça e
suas obrigações perante as Casas de Suplicação e nos Juízos das Terras. O
promotor atuava como um fiscal da lei e de sua execução.
Cumpre destacar que a "Lei do Ventre Livre" (Lei 2.040, de 28.09.1871)
dava ao promotor de justiça a função de protetor do fraco e indefeso (os in-
divíduos hipossuficientes), ao estabelecer que a ele cabia zelar para que os
filhos livres de mulheres escravas fossem devidamente registrados.
O Decreto 848, de 11.09.1890, que criava e regulamentava a Justiça
Federal, dispôs sobre a estrutura do Ministério Público Federal. O decreto
218 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

foi elaborado pelo Ministro da Justiça Campos Salles, que por tal motivo foi
considerado o patrono do Ministério Público.
A Constituição Federal de 1937 criou o "quinto constitucional". A
Constituição Federal de 1946 tratou do Ministério Público em título especial,
sem vinculação a qualquer dos outros Poderes da República, e instituiu os
Ministérios Públicos Federal e Estadual, garantindo-lhes a estabilidade na
função, o concurso de provas e títulos, a promoção e a remoção apenas por
representação da Procuradoria-Geral.
A Constituição Federal de 1967 subordinou o Ministério Público ao
Poder Judiciário e acabou com os "concursos internos". Ao integrar o Poder
Judiciário, o Ministério Público deu grande passo na conquista de sua auto-
nomia e independência por meio da equiparação com os magistrados. Tais
conquistas somente foram consagradas na Constituição Federal de 1988.
A Constituição Federal de 1969 (Emenda Constitucional 1) retirou as
mesmas condições de aposentadoria e vencimentos atribuídos aos juízes
(retirou o parágrafo único do art. 139) e retirou do Ministério Público a in-
dependência pela subordinação no capítulo do Poder Executivo.
A Emenda Constitucional 7 de 1977 alterou o art. 96 da Constituição
de 1969 e autorizou os Ministérios Públicos a se organizarem em carreira
por leis estaduais.
A Constituição Federal de 1988 trata do Ministério Público nos arts. 127
a 130. Podem ser considerados como pontos principais:
a) O Ministério Público é instituição permanente. Isso significa que,
enquanto o Brasil for regido por essa Constituição, o Ministério
Público não poderá ser extinto. Este é um exemplo de cláusula pétrea
implícita.
b) A unidade, a indivisibilidade e a independência funcional são princípios
institucionais do Ministério Público.

c) Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e


administrativa.

d) O ingresso na carreira do Ministério Público é feito por meio de


concurso de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos
Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em
direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se,
nas nomeações, a ordem de classificação.
Cap. 19 . LEITURA COMPLEMENTAR 219

e) No Brasil, o Ministério Público abrange o Ministério Público da União


e os Ministérios Públicos dos Estados. O Ministério Público da União
compreende os Ministérios Públicos Federal, do Trabalho, Militar,
do Distrito Federal e Territórios (art. 128).
0 O chefe do Ministério Público da União é o Procurador-Geral da
República (nomeado pelo Presidente da República após aprovação
pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal-§ l. art. 128),
°
,

e os chefes dos Ministérios Públicos Estaduais têm a denominação de


Procurador-Geral de Justiça.
g) São garantias constitucionais do Ministério Público: vitaliciedade,
após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por
sentença judicial transitada em julgado; inamovibilidade (restrição
à transferência), salvo por motivo de interesse público, mediante
decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, por
voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa;
e irredutibilidade de subsídio.

h) É função institucional do Ministério Público promover, privativamente,


a ação penal pública, o inquérito civil e a ação civil pública para
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos, entre outros.
i) O Conselho Nacional do Ministério Público foi acrescentado pela EC
45/2004 no art. 130-A.

7 2 A Advocacia Pública
.

De acordo com a Constituição Federal vigente, a Advocacia Pública da


União é exercida pela Advocacia-Geral da União (AGU), que representa a
União judicial ou extrajudicialmente, inclusive nas atividades de consultoria
e assessoramento jurídico do Poder Executivo. O chefe da instituição é o
Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República
dentre cidadãos maiores de 35 anos de idade, de notável saber jurídico e re-
putação ilibada. O ingresso nas classes iniciais da carreira é feito por meio de
concurso de provas e títulos (art. 131, §§ 1. e 2.°, da CF/88).
°

Na esfera dos Estados e do Distrito Federal existirão os Procuradores dos


Estados e do Distrito Federal, que exercerão a representação judicial e a con-
sultoria jurídica das respectivas unidades federadas. O ingresso na carreira será
por meio de concurso de provas e títulos, com a participação da Ordem dos
Advogados do Brasil em todas as suas fases. Após três anos de efetivo exercício
220 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

e de avaliações dos órgãos próprios, inclusive das Corregedorias ao Procura- ,

dor é assegurada a estabilidade (art. 132 caput e parágrafo único, da CF/88).


,

Destaque-se que na execução da dívida ativa de natureza tributária a


representação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (art .

131, §3.°, da CF/88).

7 3 Da Advocacia e da Defensoria Pública


.

A Constituição Federal vigente afirma em seu art. 133: "O advogado é


indispensável á administração da justiça sendo inviolável por seus atos e
,

manifestações no exercício da profissão nos limites da lei (Lei 8.906/1994


"

Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil - OAB) .

Para ser advogado é necessário ser bacharel em Direito e ter aprovação


no exame de Ordem dos Advogados do Brasil.
A Defensoria Pública é o órgão público incumbido da orientação jurídica
e da defesa, em todos os graus, dos necessitados (arts. 5.° LXXIV, e 134 da ,

CF/88).

Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional


e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto
no art. 99, § 2. °
, da CF/88 (art. 134, § 2.°, da CF/88).
O ingresso na carreira será por concurso de provas e títulos, garantida
a inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições
institucionais (art. 134, § 1,° da CF/88 e LC 80/1994 - organiza a Defensoria
,

Pública da União e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados).
Em alguns Estados existe a Defensoria Pública (MG SP e RJ); em outros,,

as Procuradorias dos Estados realizam a função das Defensorias Públicas.

8 .
DIREITOS SOCIAIS

Os direitos sociais vinculam-se a realizações proporcionadas pelo Estado ,

direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais que possi-


bilitam melhores condições de vida aos mais fracos, buscando a igualização
de situações sociais desiguais.
Segundo a doutrina, os direitos sociais podem ser classificados em cinco
classes: (a) relativos ao trabalhador; (b) relativos à seguridade social (direito à
saúde, à previdência e assistência social); (c) relativos à educação e à cultura;
Cap. 19 . LEITURA COMPLEMENTAR 221

(d) relativos à família, à criança, ao adolescente e ao idoso; (e) relativos ao


meio ambiente.

Além dessa, outra classificação é apresentada:


a) direitos sociais do homem como produtor: liberdade de instituição
sindical, direito de greve, direito de determinar as condições de
trabalho, direito de cooperar na gestão da empresa e direito de obter
um emprego (arts. 7. a 11 da CF/88);
°

b) direitos sociais do homem como consumidor: direito à saúde,


à alimentação, à segurança social (segurança material), ao
desenvolvimento intelectual, igual acesso das crianças e adultos
à instrução, à formação profissional e à cultura e garantia ao
desenvolvimento da família (art. 6.° e Título Vlll - Da ordem social).

9 .
SUFRÁGIO

É o direito público subjetivo de natureza política que tem o cidadão de


eleger, ser eleito e participar do governo.

9 .
7 Formas de sufrágio
Quanto à extensão, pode ser:
a) universal: é o direito de votar titularizado por todos os nacionais com
capacidade política. Essa é a forma acolhida pela nossa Constituição
Federal vigente em seu art. 14, caput;
b) restrito: é o direito de voto conferido a indivíduos qualificados por
condições económicas (censitário) ou intelectuais (capacitário).
Quanto à igualdade, pode ser:
a) igual: os votos são iguais, ou seja, têm o mesmo valor;
b) desigual: concede-se a certos eleitores em virtude de situações especiais
o direito de votar mais de uma vez ou de dispor de mais de um voto
para prover o mesmo cargo.
Espécies:
a) voto múltiplo: o eleitor tem o direito de votar mais de uma vez, ou seja,
em mais de uma circunscrição eleitoral, e pode votar, por exemplo, na
circunscrição do seu domicílio, no de seu local de trabalho, entre outros;
b) voto plural: o eleitor pode votar mais de uma vez em uma mesma
circunscrição, ou seja, poderá votar duas ou mais vezes no mesmo
local;
222 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

c) voto familiar: o eleitor chefe de família (pai) dispõe de um ou mais


votos em função do número dos membros do núcleo familiar .

Cabe observar que o voto é a manifestação do sufrágio no plano prático .

É o ato político que materializa na prática o direito de votar .

O voto tem como características ser secreto (ninguém além do eleitor, ,

deve conhecer o candidato quando da votação); igual (mesmo peso político


para todos os eleitores); livre (o cidadão vota em quem quiser e se quiser,
pois pode votar em branco ou anular o voto); pessoal (não se admite voto por
correspondência ou procuração); direto (os eleitores escolhem por si e sem
intermediários os governantes e representantes); e por fim, de acordo com a
,

nossa Constituição Federal vigente é também obrigatório (os eleitores não


,

podem se eximir de votar, salvo motivo justo).


Cumpre lembrar que escrutínio é o modo pelo qual os votos são reco-
lhidos e apurados nas eleições.
Desse modo sufrágio é um direito; voto é o exercício desse direito; e
,

escrutínio é o modo de apuração dos votos.


10. SISTEMAS POLÍTICOS

Os sistemas políticos são mecanismos relacionados ao poder e são ex-


ternados basicamente por meio de quatro critérios:
10.1 Forma de Estado

Vincula-se ao modo pelo qual está estruturado o Estado identificando ,

o modo de exercício do poder podendo ser centralizado ou descentralizado.


,

Se existir um único centro dotado de capacidade legislativa administra- ,

tiva e política, que concentra todas as competências constitucionais haverá ,

o Estado unitário ou a forma unitária de Estado.

O centro único de competências pode por sua exclusiva vontade, dele-


,

gar capacidade legislativa e administrativa - dessa forma, o próprio Estado


unitário pode ser centralizado ou descentralizado conforme delegue ou não
,

parte da sua competência exclusiva.


De outro modo, se a Constituição do Estado atribui aos entes regionais
(Estados-membros) capacidades políticas, legislativas e administrativas,
possibilitando autonomias próprias, surge o Estado Federal ou a forma fe-
derativa de Estado. Caracteriza-se pela descentralização constitucional do
poder no Estado.
Cap. 19 . LEITURA COMPLEMENTAR 223

10.2 Forma de governo


Diz respeito a quem e de que modo exerce o poder no Estado.
Se o poder for exercido pelo povo, por intermédio de representantes elei-
tos temporariamente, surge a forma de governo republicana (república), que
tem as seguintes características: (a) natureza representativa; (b) eletividade
dos mandatários; (c) temporariedade dos mandatos eletivos.
Se o poder é exercido por quem o detém naturalmente, sem representar
o povo através de mandato, surge a forma de governo monárquica (monar-
quia), que tem como características: (a) vitaliciedade; (b) hereditariedade;
(c) ausência de representatividade eletiva.

10 3
.
Regime político
Vincula-se ao acesso dos governados ao processo de formação do poder
no Estado, ou seja, é um mecanismo de participação no poder. O regime
político pode ser dividido em:
a) regime democrático: o povo participa da formação e manutenção do
poder no Estado, de regra por meio de eleições (o poder vem de baixo
para cima);
b) regime não democrático: caracteriza-se pela ausência ou restrição
da participação do povo no poder de um Estado (o poder vem de
cima para baixo), subdividindo-se em totalitário (existência de um
grande partido dominante), ditatorial (há um centro único de poder)
e autoritário (limitado pluralismo político).

10.3.1 Espécies de democracia


A participação democrática do povo no poder de um Estado pode carac-
terizar as seguintes espécies de democracia:
a) democracia direta: o povo exerce diretamente os poderes governamentais,
fazendo leis, administrando e julgando. Exemplo: democracia
ateniense e cantões suíços;
b) democracia indireta ou representativa: o poder emana do povo, que,
não podendo dirigir os negócios do Estado diariamente, em face da
complexidade de determinadas situações (o tamanho do território,
a densidade demográfica, os problemas económicos e sociais),
delega, por meio de eleições periódicas, as funções de governo para
representantes. Exemplo: Estados Unidos da América;
224 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

c) democracia semidireta: há uma democracia representativa com alguns


institutos de participação direta do povo nas funções do governo .

Exemplo: Brasil.
A Constituição Federal de 1988 aproxima-se da democracia semidireta ,

pois combina itens da democracia representativa com outros da democracia


direta.

Verifica-se tal assertiva no parágrafo único do art. 1.° onde se lê: Todo
"

o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou


diretamente , nos termos desta Constituição
"
.

A representação é constatada por meio das eleições periódicas para


os titulares dos Poderes Legislativo e Executivo (arts. 45 46, 77, entre ,

outros).

10.3.2 Institutos de participação direta do povo


Iniciativa popular - O povo (conjunto de eleitores) pode apresentar
projetos de lei, desde que subscritos por no mínimo 1% do eleitorado nacio-
nal, distribuídos em pelo menos cinco Estados com não menos de 0,3% dos ,

eleitores de cada um deles. Devem ser apresentados à Câmara dos Deputados


(art. 14, III, e art. 61, § 20, da CF/88).
Referendo popular - É uma consulta popular em que existe a ratificação
do povo sobre projetos de lei, já aprovados pelo Legislativo de modo que o ,

projeto só será aprovado se receber votação favorável do corpo eleitoral - do


contrário, reputar-se-á rejeitado (art. 14 11 da CF/88). É atribuição exclusiva
, ,

do Congresso Nacional autorizá-lo (art. 49 XV, da CF/88). ,

Plebiscito - Consistetambém, em uma consulta popular e visa decidir


,

previamente um assunto institucional ou político antes dos trâmites legislati-


vos (art. 14 1 da CF/88). Por esse motivo se diferencia do referendo popular,
, ,

que, como visto acima, versa sobre a aprovação de textos de projeto de lei ou
de emenda constitucional já aprovados pelo Poder Legislativo.
O plebiscito pode autorizar o início de um processo legislativo , enquanto
o referendo ratifica ou rejeita projeto já elaborado.
O plebiscito é indicado em casos específicos como a formação de novos ,

Estados e de novos Municípios (art. 18 §§ 3.° e 4.°). Compete ao Congresso


,

Nacional convocar o plebiscito (art. 49 XV, da CF/1988). ,


Cap. 19 . LEITURA COMPLEMENTAR 225

note
BEM
Art. 2.° do ADCT da CF/88: "No dia 7 de setembro de 1993 o *.

eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república


ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parla-
"

mentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País .

Cumpre destacar que os três institutos jurídico-constitucionais men-


cionados foram regulamentados pela Lei 9.709/1998.

/ 0.4 Regime ou sistema de governo

Refere-se ao modo pelo qual se relacionam os Poderes Executivo e Le-


gislativo. A doutrina majoritária elenca três sistemas básicos:

10.4.1 O presidencialismo
Origem - Pinto Ferreira informa que o esquema político do presiden-
cialismo nasceu nos Estados Unidos da América, com a entrada em vigor da
sua Constituição Federal de 17.09.1787, após a Revolução da Independência,
quando as 13 colónias se confederaram e depois se uniram em um regime
federativo pela influência de grandes estadistas e pensadores, como Jefferson,
Madison e Washington, orientando seu povo com sabedoria dentro das novas
circunstâncias da política nacional, para enfrentar as lutas contra a Inglaterra
(Curso de direito constitucional, p. 365).
Houve uma Assembleia Constituinte, formada pelos delegados das ex-
-

colônias americanas que se reuniram na Filadélfia, de maio a setembro de


1787, daí surgindo a Constituição Federal Norte-Americana, que criou o
regime presidencialista.
Pinto Ferreira (Curso de direito constitucional, p. 366-367) aponta as
distinções entre o regime presidencialista americano e o brasileiro.
Assim, o presidencialismo norte-americano tem três elementos funda-
mentais em sua estrutura (presidencialismo puro):
a) o Presidente da República designa os seus secretários de Estado sempre
com a anuência do Senado;
226 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

b) a iniciativa de legislar compete exclusivamente ao Congresso ,

representado pelo Senado e pela Câmara dos Representantes sendo ,

vedada qualquer possibilidade ao Presidente, ou ao seu ministério ,

de encaminhar projetos de lei outrossim, vedando-se qualquer


,

comparecimento pessoal dos Ministros ao Congresso;


c) nos EUA, o Presidente tem o poder de veto (desaprovação dada pelo
chefe de Estado a um projeto de lei). O Congresso no entanto, poderá,
,

mediante maioria qualificada de 2/3 dos seus membros em votação,

isolada das ditas Câmaras sobrepor-se ao veto presidencial.


,

O presidencialismo brasileiro (presidencialismo misto) - O Presidente


da República é eleito dentre os cidadãos maiores de 35 anos, sendo brasileiro
nato e no pleno gozo do exercício dos direitos políticos.
O Presidente escolhe o Ministério a seu contento, sem estar sujeito à
interferência do Senado como nos EUA e tem, no tocante aos poderes de
,

legislação uma competência mais ampla que no governo norte-americano,


,

pois pode encaminhar projetos de lei ao Congresso, o que é especificamente


vedado ao regime presidencial norte-americano. Tem afinal o poder de veto ,

segundo a estrutura clássica do presidencialismo, sendo que o Congresso


poderá derrubá-lo, desde que, reunido em sessão conjunta, obtenha o voto
°
da maioria absoluta dos congressistas em escrutínio secreto (art. 66, § 4. )
,
.

Características do presidencialismo:
a) É típico dos Estados que adotam a forma de governo republicana.
b) O Presidente da República exerce o Poder Executivo em sua plenitude ,

acumulando as funções de chefe de Estado chefe de governo e chefe


,

da administração pública.
c) Há o cumprimento de um mandato por tempo fixo, que não depende
da confiança do Poder Legislativo para a sua investidura ou para o
exercício do governo.
d) O Poder Legislativo (Congresso, Assembleia e Câmara) não é
parlamento, pois não participa do governo (aprovação do plano
de governo) além do que seus membros são eleitos por período
,

determinado de mandato, não se sujeitando a dissolução.


e) Há separação dos Poderes, que são independentes e harmónicos.
f) Os Ministros de Estado são simples auxiliares do Presidente da
República, que os nomeia e exonera ao seu livre arbítrio. Os Ministros
funcionam cada qual por si (isoladamente) tratando de seus problemas
,
Cap. 19 . LEITURA COMPLEMENTAR 227

sem levar em conta os vínculos com os outros Ministérios (não tem


organicidade).
g) O eventual plano de governo, mesmo quando aprovado por lei,
depende exclusivamente da coordenação do Presidente da República,
que o executará ou não, sem dar satisfação jurídica a outro Poder
(exceto nos casos de prestação de contas financeiras e orçamentárias
anuais). Executando-o mal ou mesmo não o executando, continuarão
o Presidente da República e seus Ministros no poder.

10.4.2 O parlamentarismo
Origem - Pinto Ferreira destaca que o parlamentarismo é fruto de longa
evolução histórica e política, vivenciada na Inglaterra. No ano de 1254, o
parlamento britânico se desdobrou em dois ramos - a Câmara dos Lordes e a
Câmara dos Comuns-, ocorrendo, pela primeira vez, uma eleição. A Câmara
dos Lordes era hereditária e a Câmara dos Comuns, eletiva. A partir desse
momento começava a luta entre ambas pela supremacia política. Antes dessa
data o parlamento inglês era formado apenas por nobres ligados à pessoa do
monarca (Curso de direito constitucional, p. 395-396).
No século XVII, a Câmara dos Comuns conseguiu a preponderância
(maioria) política, quando, após a Revolução Parlamentarista de 1688, o
monarca da Inglaterra, Guilherme III, chamou pela primeira vez, no ano de
1689, o chefe do partido vitorioso para formar um gabinete.
Assim, o monarca inglês deixou de convidar os favoritos da monarquia
para constituírem o gabinete e passou a convidar aqueles chefes que lideravam
a política da Câmara dos Comuns, fazendo surgir em 1689, na Inglaterra, o
regime parlamentarista.
O parlamentarismo no Brasil - O parlamentarismo no Brasil teve início
na época do Império brasileiro, quando se criou o cargo de primeiro-ministro,
por Decreto de 20 de julho de 1847, perdurando até a época da Proclamação
da República, em 1889. Neste período existiram 32 Ministérios, dos quais
23 foram presididos por nordestinos.
José Afonso da Silva destaca que, com o objetivo de se evitar que o Vice-
-

Presidente João Goulart tomasse posse como Presidente da República, em


virtude da renúncia de Jânio Quadros após sete meses de governo, é aprovada
a Emenda Constitucional Parlamentarista 4/1961. Tem-se a reintrodução do
regime parlamentarista no Brasil, que durou pouco tempo, sendo extinto com
a Emenda Constitucional 6/1963, após plebiscito que adotou a volta do regime
presidencialista (Curso de direito constitucional positivo, p. 86-87).
228 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Características do parlamentarismo:
a) É um sistema que se originou nas monarquias constitucionais e se
estendeu inicialmente às repúblicas europeias para depois ganhar o
,

mundo.

b) O Poder Executivo é dividido em duas partes:


- a chefia do Estado é exercida pelo monarca ou pelo Presidente da
República (representação);
°
- a chefia de governo é exercida pelo 1 Ministro ou Presidente
.

do Conselho, que dirige o Gabinete de Ministros ou Conselho


de Ministros.

c) O governo é, assim um corpo coletivo orgânico, de sorte que as


,

medidas governamentais implicam a atividade de todos os Ministros


e Ministérios.

d) 01.° Ministro é nomeado ou indicado pelo Chefe do Executivo e os ,

demais Ministros que compõem o Conselho (gabinetes) são indicados


°
ou nomeados pelo 1. Ministro ou indicados por este e nomeados
,

pelo Presidente da República. A investidura definitiva do 1,° Ministro


e sua permanência no cargo dependem da confiança do Parlamento .

e) A aprovação do 1.° Ministro e consequentemente, de seu Conselho


,

de Ministros pelo Parlamento faz-se pela aceitação do plano de


governo por eles apresentado. Aceitando-o, o Parlamento assume
responsabilidade de governo empenhando-se politicamente perante
,

o povo.

f) O Parlamento (participa do governo) é responsável perante os


eleitores, de maneira que a responsabilidade política se realiza do
Governo para com o Parlamento e do Parlamento para com o povo;
g) O Governo é responsável perante o Parlamento, o que significa
que o governo depende de seu apoio e confiança para governar.
Significa que se o Parlamento retirar a confiança no governo,
,

ele cai, exonera-se, porque não tem mandato nem investidura a


,

tempo certo, mas investidura de confiança - perdida esta o que pode


,

decorrer de um voto de censura ou moção (proposta) de desconfiança ,

exonera-se para dar lugar à constituição de outro Governo.

Pode ocorrer que, em vez da exoneração dos membros do governo que


perdeu a confiança do Parlamento, se prefira apurar a confiança do povo, e
Cap. 19 . LEITURA COMPLEMENTAR 229

então se utiliza o mecanismo da dissolução da Câmara, convocando-se elei-


ções extraordinárias para a formação de outro Parlamento.

10.4.3 Convencional ou diretorial

Manoel Gonçalves Ferreira Filho ensina que o sistema diretorial, co-


nhecido também como convencional ou governo de Assembleia, tem como
característica a concentração na Assembleia das decisões sobre a elaboração
das leis e as concernentes a sua aplicação (Legislativo somado ao Executivo)
(Curso de direito constitucional, p. 149-151).
Em outras palavras, ocorre o domínio do sistema político pela Assem-
bleia, não havendo Executivo separado, e, se existe um chefe de Estado, ele é
figura decorativa, nem há governo separado, porque este é exercido por uma
comissão da Assembleia. A Suíça é o exemplo mais conhecido desse sistema.
O Poder Judiciário existe, sendo independente e especializado.
Bibliografia e Sites

A Constituição e o Supremo. 2 ed. Brasília: Supremo Tribunal Federal, 2009.


Araujo, Luiz Alberto David; Nunes Jr., Vidal Serrano. Curso de direito constitu-
cional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
Bastos ,
Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Saraiva,
1997.

Bonavides, Paulo. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Malheiros,


1996.

Campanhole, Adriano; Campanhole, Hilton Lobo. Constituições do Brasil. 13. ed.


São Paulo: Atlas, 1999.
Canotilho, José Joaquim Gomes. Direito constitucional. 6. ed. Coimbra:
Almedina 1993. ,

Congresso Nacional. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: de


5 de outubro de 1988.

Cretella Jr., José. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. 2. ed. Rio de


Janeiro: Forense Universitária, 1992.
Ferreira , Pinto. Curso de direito constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1996.
_
.
Enciclopédia Saraiva do Direito. São Paulo: Saraiva, 1977. v. 62.
Ferreira Filho , Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição brasileira. 3. ed.
São Paulo: Saraiva, 1990.
_
. Curso de direito constitucional. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
_
.
Direitos humanos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.
Gomes, Luiz Flávio. Estado constitucional de direito e a nova pirâmide jurídica. São
Paulo: Premier Máxima 2008. ,

Lenza , Pedro. Direito constitucional esquematizado. 14. ed. São Paulo: Saraiva,
2010.
232 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

Macedo Jr. Ronaldo Porto. Evolução institucional do Ministério Público brasilei-


,

ro. São Paulo: Atlas 1997. ,

Mendes, Gilmar Ferreira; Coelho Inocêncio Mártires; Branco,Paulo Gustavo


,

Gonet. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007.


Moraes, Alexandre de. Direito constitucional. 16. ed. São Paulo: Atlas 2004. ,

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Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4. ed. São
Paulo: Atlas 2004. ,

Oliveira, Erival da Silva. Comissão parlamentar de inquérito. São Paulo: Lúmen


Júris, 2000.
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Direitos Humanos. São Paulo: Ed. RT 2009 (Elementos do Direito, v.
,

12).

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.
Exames de OAB - Testes e comentários. 4. ed. São Paulo: Premier
Máxima , 2007.

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.
Exames de OAB Nacional - Testes e comentários. São Paulo: Premier
Máxima ,
2005.

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. Questões comentadas dos exames da OAB CESPE-UNB. 3. ed. São Paulo:
Ed. RT, 2010.
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Introdução ao estudo do direito constitucional. São Paulo: Artchip ,
2003.

_
.
Reta final - Direito constitucional I e II. 4. ed. São Paulo: Ed. RT 2010. ,

_
.
Reta final - Direitos humanos. 3. ed. São Paulo: Ed. RT ,
2010.

_
.
Reta inal - Remédios constitucionais e súmulas vinculantes. 2. ed. São
f

Paulo: Ed. RT 2008. ,

_
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Reta final - Direito eleitoral. São Paulo: Ed. RT 2010. ,

_
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Prática constitucional. São Paulo: Premier Máxima 2009. v. 1 e 2. ,

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Prática constitucional. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Ed. RT 2010. ,

(Coleção Prática Forense).


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Vade Mecum.especialmente preparado para a OAB e Concursos. São
Paulo: Ed. RT 2011.RT Códigos.
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Piovesan Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 7. ed.


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São Paulo: Saraiva, 2007.


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Silva, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 14. ed. São Paulo:
Malheiros 1997. ,

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BIBLIOGRAFIA E SITES 233

Sites recomendados para pesquisa


www.planalto.gov.br
www.stf.jus.br
www.stj.jus.br
www.oabsp.org.br
www.prsp.mpf.gov.br
www.google.com.br
www.cjf.gov.br.
Anexo 1 -
Súmulas Vinculantes

SUPREMOTRIBUNAL FEDERAL -STF

1 . Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que,


sem ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a
eficácia de acordo constante de termo de adesão instituído pela LC110/2001.
2 . É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que
disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.
Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se
3 .

o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação


ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada
a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, re-
forma e pensão.
4 Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode
.

ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público


ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.
5 . A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo
disciplinar não ofende a Constituição.
6 . Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior
ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial.
A norma do § 3.° do art. 192 da CF/88, revogada pela EC 40/2003, que
7 .

limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada
à edição de lei complementar.
8 . São inconstitucionais o parágrafo único do art. 5.° do Dec.-lei
1 . 569/1977 e os arts. 45 e 46 da Lei 8.212/1991, que tratam de prescrição e
decadência de crédito tributário.
236 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

9O disposto no art. 127 da Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal)


.

foi recebido pela ordem constitucional vigente e não se lhe aplica o limite
,

temporal previsto no caput do art. 58 .

10. Viola a cláusula de reserva de plenário (CF/88 art. 97) a decisão ,

de órgão fracionário de Tribunal que embora não declare expressamente a


,

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público afasta sua ,

incidência no todo ou em parte.


,

11. Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado


receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia , por parte
do preso ou de terceiros justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena
,

de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e


,

de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere sem prejuízo da ,

responsabilidade civil do Estado .

12. A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o


disposto no art. 206 IV, da CF/88.
,

13.A nomeação de cônjuge companheiro ou parente em linha reta, cola-


,

teral ou por afinidade até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante


,

ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção chefia ,

ou assessoramento para o exercício de cargo em comissão ou de confiança


,

ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta


em qualquer dos Poderes da União dos Estados, do Distrito Federal e dos
,

Municípios compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola


,

a Constituição Federal.
14.É direito do defensor no interesse do representado, ter acesso amplo
,

aos elementos de prova que já documentados em procedimento investigatório


,

realizado por órgão com competência de polícia judiciária digam respeito ,

ao exercício do direito de defesa.

15.0 cálculo de gratificações e outras vantagens do servidor público não


incide sobre o abono utilizado para se atingir o salário mínimo .

ló.Osarts. 7.°, IV, e 39, § 3.° (redação da EC 19/1998) da Constituição, ,

referem-se ao total da remuneração percebida pelo servidor público .

17."Durante o período previsto no parágrafo 1,° do artigo 100 da Consti-


tuição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos" .

18. "A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal no curso do ,

mandato não afasta a inelegibilidade prevista no § 7.° do artigo 14 da Cons-


,

"

tituição Federal .
ANEXO 1 - SÚMULAS VINCULANTES 237

19. "A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de


coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes
de imóveis, não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal".
20. "A gratificação de desempenho de atividade técnico-administrativa
-

GDATA, instituída pela Lei 10.404/2002, deve ser deferida aos inativos nos
valores correspondentes a 37,5 (trinta e sete vírgula cinco) pontos no período
de fevereiro a maio de 2002 e, nos termos do artigo 5.°, parágrafo único, da
Lei 10.404/2002, no período de junho de 2002 até a conclusão dos efeitos do
último ciclo de avaliação a que se refere o artigo 1.° da medida provisória no
"

198/2004 a partir da qual passa a ser de 60 (sessenta) pontos


,
.

21. "É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios


de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo".
22. "AJustiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações
de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de
trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas
que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da
"

promulgação da Emenda Constitucional 45/2004 .

23. "AJustiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação


possessória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos
"

trabalhadores da iniciativa privada .

24. "Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto


no art. 1.° ,
incisos I a IV, da Lei 8.137/90, antes do lançamento definitivo do
tributo".

25. "É ilícita a prisão civil de depositário infiel qualquer que seja a mo-
,

dalidade do depósito".
26. "Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por
crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitu-
cionalidade do art. 2. da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de
°

avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos


do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a
"

realização de exame criminológico .

27. "Compete à justiça estadual julgar causas entre consumidor e con-


cessionária de serviço público de telefonia, quando a ANATEL não seja litis-
"

consorte passiva necessária, assistente, nem opoente .

28."É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de


admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade
de crédito tributário".
238 DIREITO CONSTITUCIONAL - Erival da Silva Oliveira

29. "É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa de um ou


,

mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto desde ,

que não haja integral identidade entre uma base e outra".


31. "É inconstitucional a incidência do Imposto Sobre Serviços de Qual-
quer Natureza - ISS sobre operações de locação de bens móveis".
32. O ICMS não incide sobre alienação de salvados de sinistro pelas
seguradoras.
Anexo 2 - Artigos da Constituição
Federal de 1988 de maior
incidência em concursos
e de leitura recomendada

Recomenda-se a leitura de toda a Constituição, não obstante segue-se


a lista dos artigos de maior incidência nas provas da OAB e nos concursos
públicos: 5. 12,14 a 17, 20 a 25, 29 a 32, 34 a 41, 51 a 58, 60 a 69, 77, 80 a
°
,

81,84 a 86,89 a 91,93 a 95,97,101 a 105,107 a 109,127 a 130,136 a 139,


150 a 156,181 a 191 e 243.
Diagramação eletrônica:
Editora Revista dos Tribunais Ltda., CNP) 60 501.293/0001-12.
.

Impressão e encadernação:
Prol Editora Gráfica Ltda
.
, CNPJ 52.007.010/0004-03.
OUTRAS PUBLICAÇÕES
Constituição da República
Federativa do Brasil
16.a edição

Manual de Direito Constitucional


Denise Vargas

Medidas Provisórias
3 a
.
edição
Clèmerson Merlin Clève

Coleção Prática Forense - vol. 1


Prática Constitucional
3 3
.
edição
Eriva! da Silva Oliveira

ed.toraRÍ?
REVISTA DOS TRIBUNAIS
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DIREITO CONSTITUCIONAL
ll.a edição revista e atualizada

Publicações desta série


V l
.
-
Direito Constitucional Direito Constitucional
V
"

V 2 -
Direito Administrativo V 12 - Direitos Humanos
.

V 3 -
Direito Tributário Direito Constitucional
.

V 13 - Remédios Constitucionais
.

V 4 - Direito Civil
.

Difusos e Coletivos
V.5- Direito Empresarial
V 14
.
-
Estatuto da Criança e do
V6
.
-
Processo Civil Adolescente
V7 -
Direito Penal
.
Difusos e Coletivos
V8
.
-
Processo Penal V 15
.
-
Direito Ambiental

V9
.
-
Direito do Trabalho Difusos e Coletivos

V IO
.
-
Ética Profissional V 16
.
-
Direito do Consumidor

V ll - Direito Internacional
.
V 17
.
-
Processo do Trabalho

0 00C04,
.

EDITORA Ri?
REVISTA DOS TRIBUNAIS

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