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Você acha que todas as suas palavras ou atitudes serão distorci-
das e jogadas contra você? Você é sempre criticado e sempre
responsabilizado por tudo que há de errado no relacionamento,
mesmo que isso não faça sentido?
• Você é alvo de acessos de fúria intensos, violentos ou irracionais
que se alternam com atitudes totalmente normais e amorosas?
Ninguém acredita quando você tenta explicar que isso está
acontecendo?
• Essa pessoa parece ver só coisas boas ou só coi-
Você costuma se
sas ruins em você, sem nenhum meio-termo?
sentir manipulado,
Essa mudança de opinião costuma acontecer
controlado ou mesmo
sem nenhum motivo racional?
enganado? Você se acha
• Você tem medo de pedir mais do relaciona-
vítima de chantagem
mento, porque certamente ouvirá como resposta
emocional?
que é exigente demais ou que há algo de errado
com você? Você acha que suas necessidades não são
importantes?
• Essa pessoa deprecia ou recusa o seu ponto de vista? Você acha
que as expectativas dela sempre mudam, portanto é impossível
fazer qualquer coisa do jeito certo?
• Você é acusado de fazer coisas que nunca fez ou dizer coisas que
nunca disse? Você se sente incompreendido e, ao tentar se expli-
car, acha que a pessoa não acredita em você?
• Você costuma ser humilhado? Quando você tenta sair do rela-
cionamento, a outra pessoa faz de tudo para evitar que isso acon-
teça, usando desde declarações de amor e promessas de mudança
a ameaças claras ou veladas? Você arranja desculpas para o com-
portamento dela ou tenta se convencer de que está tudo bem?
Se respondeu sim a muitas dessas perguntas, vamos lhe dar uma boa notí-
cia: você não enlouqueceu. A culpa não é sua. E você não está sozinho.
Você está passando por isso porque alguma pessoa próxima tem caracterís-
ticas associadas ao transtorno de personalidade borderline (TPB).
Leia, a seguir, três histórias verídicas sobre pessoas que descobriram
que alguém querido tinha esse transtorno. Como todos os demais exemplos
deste livro, essas histórias são baseadas em relatos compartilhados nos gru-
pos de apoio on-line, embora tenhamos alterado muitos detalhes para ocul-
tat a identidade dos autores.
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Estar casado com uma pessoa com TPB é como estar no céu e logo depois estar
no inferno. O humor da minha mulher muda a cada segundo. Eu ficava
sempre pisando em ovos, tentando agradá-la e evitando
brigas por falar antecipadamente, rápido demais, no
tom errado ou com a expressão facial errada. O pensamento
Mesmo quando faço exatamente o que que lhe vem à mente
minha mulher quer, ela fica com raiva de agora é “Eu não fazia
mim. Um dia, me mandou levar nossos filhos ideia de que havia mais
para algum lugar qualquer, porque queria fi- gente passando por
car um tempo sozinha. Mas, ao sairmos, ela ati- isso”?
rou as chaves de casa na minha cabeça, dizendo
que eu a odiava tanto que não conseguia ficar na
mesma casa que ela. Quando as crianças e eu voltamos do cinema, agiu
como se nada tivesse acontecido. Perguntou por que eu ainda estava ner-
voso e me disse que eu ficava me apegando à raiva.
Mas nem sempre foi assim. Antes do casamento, vivemos um romance
muito intenso. Ela me idolatrava. Dizia que eu era perfeito para ela. O sexo
era incrível. Escrevi poemas de amor e dei presentes caros. Ficamos noivos em
quatro meses e, um ano depois, já estávamos casados, saindo em lua de mel
numa viagem que custou 10 mil dólares. Mas, logo após o casamento, ela
começou a transformar coisas pequenas e sem importância em montanhas de
crítica, dúvida e mágoa. Sempre me acusava de desejar outras mulheres e
citava “exemplos” imaginários para corroborar as acusações. Começou a se
sentir ameaçada pelos meus amigos e passou a cortá-los da nossa convivência.
Dizia coisas ruins sobre meu trabalho, meu passado, meus valores, meu or-
gulho, enfim, sobre qualquer coisa que dissesse respeito a mim.
Ainda assim, de vez em quando o eu “antigo” dela voltava, aquele
que achava que eu o cara mais legal do universo e por quem havia se apai-
xonado. Ela ainda é a mulher mais inteligente, engraçada e
sexy que conheço, e ainda sou muito apaixonado por
ela. O conselheiro matrimonial acha que minha Você não
mulher pode ser borderline, mas ela insiste que sou enlouqueceu. A
eu quem está acabando com nosso casamento. Ela culpa não é sua. E
acha que o conselheiro é um charlatão e não quer você não está
mais voltar nele. O que eu faço para que ela receba sozinho.
a ajuda de que precisa tanto?
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Nós percebemos que havia algo errado com nosso filho adotivo, Richard,
quando ele tinha um ano e meio. Ele era mal-humorado, chorava muito
e gritava três horas sem parar. Aos 2 anos de idade, Rich começou a ter
vários ataques de raiva por dia, e alguns duravam horas. O médico disse
simplesmente que “garotos são assim mesmo”.
Quando nosso filho tinha 7 anos, encontramos um bilhete dizendo
que ele iria se matar quando completasse 8. O professor de Rich nos indi-
cou um psiquiatra, que disse que nosso filho precisava de mais estrutura e
solidez. Tentamos reforço positivo, tentamos ser mais rígidos, tentamos até
mesmo regimes alimentares. Mas nada funcionava.
Aos 12 anos, Rich já mentia, roubava e matava aula. Estava fora
de controle. A polícia entrou em cena quando ele tentou suicídio, começou
a se cortar e ameaçou nos matar. Ele ligava para o telefone de denúncia
de abuso infantil toda vez que tentávamos impor disciplina e deixá-lo de
castigo no quarto. Nosso filho manipulava os professores da escola, a famí-
lia e até mesmo a polícia. Era muito esperto e encantava todos com sua
inteligência, sua boa aparência e seu senso de humor. Todos os terapeutas
diziam que nós éramos os culpados pelo comportamento dele. E quando
percebiam que estavam sendo enganados, Rich se recusava a voltar aos
consultórios. Os terapeutas seguintes nunca se preocupavam em ler o
prontuário dele, que já tinha vários centímetros de grossura.
Por fim, após ameaçar um professor na escola, Rich acabou indo
parar em uma clínica de tratamento de curto prazo. Muitas vezes, ouvi-
mos que ele tinha transtorno de déficit de atenção ou sofria de transtorno
de estresse pós-traumático, decorrente de algum trauma desconhecido. Um
psiquiatra disse que Rich sofria de “depressão associada a transtorno psicó-
tico”. Muitos disseram simplesmente que ele era um garoto malcriado.
Após quatro internações, descobrimos que nosso seguro de saúde não iria
cobrir mais despesas com clínicas. O hospital disse que Rich estava mal
demais para voltar para casa. E os psiquiatras nos aconselhavam a abrir
mão da guarda do nosso filho judicialmente. Não sei como, mas acabamos
encontrando um hospital público onde Rich recebeu pela primeira vez o
diagnóstico de TPB. Ali, Rich foi medicado, mas os médicos diziam que
não havia muita esperança de melhora.
Rich conseguiu se formar na escola e começou a cursar uma universi-
dade, o que acabou sendo um desastre. Ele tinha maturidade de 18 anos,
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O amor de minha mãe por mim era condicional. Quando eu não fazia o
que era preciso, como obrigações de casa ou coisa assim, ela ficava furiosa,
me dava um fora e dizia que eu era uma criança horrível que nunca teria
amigos. Mas, quando queria carinho, ela ficava amorosa, me abraçava e
falava de como éramos próximos. Era impossível prever o humor dela.
Minha mãe ficava magoada sempre que percebia que alguém estava
tomando muito tempo e energia de mim. Ela tinha ciúme até do Snoopy,
o nosso cachorro. Eu sempre achava que tinha feito algo errado ou que
havia algo errado em mim.
Ela imaginava que conseguiria me consertar ao dizer toda hora
que eu tinha que mudar. Achava defeito no meu cabelo, nos meus ami-
gos, nos meus modos à mesa, nas minhas atitudes. Exagerava e mentia
para justificar suas afirmações. Quando meu pai intervinha, ela desde-
nhava dele com um aceno de mão. Minha mãe sempre tinha que estar
certa. Ao longo dos anos, sempre tentei atender às expectativas dela.
Mas, sempre que eu conseguia, as expectativas mudavam. Apesar de to-
dos esses anos de críticas, nunca me acostumei a isso. Hoje em dia, tenho
dificuldade para me aproximar das pessoas. Não consigo confiar em
ninguém, nem mesmo na minha mulher. Em momentos especiais, quan-
do me sinto mais próximo dela, fico esperando a rejeição que sei que virá
inevitavelmente. E quando ela não faz nada que eu possa classificar
como “rejeição”, eu a afasto de algum jeito — fico bravo por alguma
coisa boba, por exemplo. Em um nível racional, sei o que acontece. Mas
me sinto sem forças para evitar isso.
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Exceções
Em algumas situações, você pode, com cuidado, conversar sobre TPB
com os possíveis portadores do transtorno:
• se eles estiverem deliberadamente procurando respostas so-
bre por que se sentem assim
• se não existir um “jogo de acusações” entre você e a pessoa
• se você abordar a pessoa de forma amorosa, garantindo-lhe
que pretende continuar ao lado dela ao longo dos anos de
tratamento. (Não faça essa promessa de forma leviana. Não
cumpri-la pode ser pior do que não prometer nada.)
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com Anita, sua esposa e possível border, ela não assume as próprias atitudes
e reclama que é sempre a “vítima”. Falar sobre tratamento, então, nem pen-
sar. Sam também acha que está sendo desonesto, pois tem um e-mail em
separado para receber informações sobre o TPB.
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Conheça os termos
Alguns termos e definições foram criados por nós para facilitar a lei-
tura deste livro.
Não border
O termo “não border” não significa “pessoa que não tem TPB”. Na
verdade, esta é uma forma abreviada de se dizer “parente, namorado, côn-
juge, amigo ou qualquer um que seja afetado pelo comportamento do bor-
der”. A natureza do relacionamento entre borders e não borders é variada:
nós entrevistamos tios, primos e colegas de trabalho.
Os não borders são um grupo heterogêneo de pessoas afetadas pelos
borders de várias formas. Alguns podem dar bastante apoio ao border, en-
quanto outros podem ser agressivos tanto verbal quanto fisicamente. Os
não borders podem, inclusive, ter suas próprias questões psicológicas, como
depressão, abuso de substâncias, transtorno de déficit de atenção e transtor-
no de personalidade borderline.
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Border
Não tente diagnosticar alguém com base em um livro. Isso só pode ser
feito por um profissional que tenha experiência na avaliação e no tratamen-
to do TPB. Pode acontecer de você nunca saber com certeza se a pessoa tem
o transtorno, porque ela pode se recusar a ser avaliada por um profissional,
ou mesmo negar que está passando por problemas. A pessoa pode até estar
em tratamento, mas não contar o diagnóstico a você.
Lembre-se sempre de que este livro é sobre você, não sobre o border.
Você tem o direito de procurar ajuda. E se estiver lidando com padrões
de comportamento como os descritos nas páginas anteriores, também
vai tirar proveito das estratégias mostradas aqui, independentemente da
existência do diagnóstico de TPB ou não.
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