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SENADO FEDERAL
UNIVERSIDADE DO LEGISLATIVO BRASILEIRO
UNILEGIS
Brasília - DF
2008
8
Brasília - DF
2008
9
Banca Examinadora:
Aos meus queridos pais — Alonso Gonçalves de Macena (in memorian) e Adalice
Procópio de Macena — que se empenharam e me proporcionaram uma educação
moral, ética e humana na interação entre nossos semelhantes.
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AGRADECIMENTOS
Aos coordenadores Ana Lucia Coelho Romero Novelli e Antonio Carlos Lopes Burity
pelo empenho, dedicação e firmeza na condução dos trabalhos no universo alunos e
professores.
Agradecimento especial ao orientador Assis Antonio Pereira Medeiros que com seu
entusiasmo e dinamismo soube nos conduzir, passo a passo, na elaboração e
finalização do nosso trabalho de conclusão de curso.
Às secretárias Diana Rosado Malosso e Ivone Alvino de Barros Gomes que, sempre
atenciosas e pacientes, nos proveram com material didático e informações importantes
para o nosso bom desempenho durante o curso.
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RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 7
CAPÍTULO 1 ......................................................................................................................................... 10
1.1 Língua Portuguesa: recortes de um processo histórico ............................ 10
1.2 A formação do léxico e a sócio-história do Português.............................. 12
CAPÍTULO 2 ......................................................................................................................................... 15
2.1. Neologismo: texto e contexto ...................................................................... 15
2.2 Causas do neologismo .................................................................................. 16
2.3 A língua do neologismo................................................................................. 17
CAPÍTULO 3 ......................................................................................................................................... 20
3.1. Estrangeirismo: alguns conceitos ............................................................... 20
3.2. Estrangeirismo: alguns contextos.............................................................. 26
CAPÍTULO 4 ......................................................................................................................................... 30
4.1 Projeto de lei 1676/1999: a polêmica ............................................................ 30
CAPÍTULO 5 ......................................................................................................................................... 37
5.1 Em defesa do estrangeirismo na língua portuguesa ................................... 37
Considerações finais .......................................................................................................................... 45
Referências bibliográficas.................................................................................................................. 49
Anexo – A ............................................................................................................................................. 52
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INTRODUÇÃO
Para Paulo Coimbra Guedes, em artigo publicado pelo jornal Zero Hora, após
arrolar, com muita clareza, uma série de argumentos contra o mencionado projeto,
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CAPITULO 1
O português era falado pelas famílias lusitanas que para cá vinham e começou a ser
ensinado pelos jesuítas aos índios, tendo em vista a sua catequese. Criou-se, dessa
forma, um “linguajar de emergência”, uma linguagem especial falada pelos mamelucos e
mulatos e usada também pelos mercadores nas suas viagens e pelos bandeirantes e
outros aventureiros em suas expedições sertão adentro. (SMOLKA, 2000).
CAPÍTULO 2
1
VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
23
Neste sentido, o neologismo tem por condição ser necessário a uma precisão
do espírito humano, ou seja, que haja necessidade no emprego do termo a uma
expressão. No entanto, se tal necessidade não existir, poderá manter-se por certo
período, mas, certamente, desaparecerá.
Em suma, poder-se-ia listar um sem-número de incidências de novas palavras.
O ficante, por exemplo, bastante utilizado pelos adolescentes para designar o indivíduo
que namora outra pessoa sem compromisso.
preconceito lingüístico. De acordo com Maria Marta Pereira Scherre (apud Shirley Lima
da Silva Braz,2004).
CAPÍTULO 3
gay, surf, alltime resort, drive-range, talk-show, goodfellas, drive your way,
power and style, air bag, CD player, slim, hip-hop, jazz, drum’n’bass, remis,
lord, muy, keyless, outdoor, pink, deficits, over drive, e-mail, medical group,
deletou, click, drink express, laser, peeling, news, top brands, modem, dossiê,
home theater, trailer, blog, since, ideas for life, made to mix, kung fu, peer
effects, notebook, drive-ins, world cup, it’s not to, moonlight, it’s HBO,
telemarketing, world cup, best-seller, shorts e legging.
Sabemos, também, por meio dos estudos lingüísticos, que não há como isolar
uma língua, pois o contato que se tem com o meio externo traz influências incontáveis e
talvez mesmo incontroláveis. Mas este próprio contato faz com que o idioma se ajuste
às novas necessidades de comunicação.
Além disso, devemos atentar para o fato de que o Brasil é um país multicultural.
Não obstante a prevalência da língua portuguesa, segundo Zilles (2002) ainda há cerca
de 180 idiomas indígenas, remanescentes dos 1.500 que eram falados na época da
colonização, sem mencionar as línguas dos imigrantes europeus ou asiáticos e a
própria língua espanhola, amplamente difundida nas imensas fronteiras do território
brasileiro. Logo, não existe, rigorosamente, um português puro, isto porque:
[...] talvez valha a pena evocar a lição de Mário de Andrade. Ele não deixou de
ridicularizar a infestação do galicismo na vida brasileira em Amar, verbo
intransitivo, ao trazer um narrador irônico criando o estranhamento da
enumeração de termos alienígenas: “com seus frolements almofadinhas puro
flirt sem continuidade. Estou falando brasileiro”; “foram na matinê do Royal.
Estou falando brasileiro”. Entretanto, no mesmo romance, Mário adaptou
palavras como nocaute, hol, suéter; buquê, randevu etc. Assim, tudo indica a
visão lingüística muito ampla daquele que um dia revelou à discípula Oneyda
Alvarenga a frase irreverente com a qual desejava começar a Gramatiquinha:
“Pertencem à fala brasileira todas as línguas do mundo”. E é isso, “não tem
guerê nem pipoca!.
2
Marcos Antonio de Moraes é doutorando em Literatura Brasileira – USP e organizador de Correspondência Mario de Andrade a
Manual Bandeira (EDUSP/IEB, 2000).
33
Não há mal nenhum em ser um purista do idioma e condenar o uso cada vez
mais freqüente de palavras e expressões inglesas que, como uma avalanche
incontrolável, vêm despencando sobre o nosso belo português junto com
toneladas de discos, Cds, filmes e a alta, ou baixa mesmo, tecnologia, vindas
lá do Hemisfério Norte. (CYNTRÃO, 1995, p. 411) 3 .
Nesta perspectiva, ainda que defenda um idioma puro, a autora admite que os
estrangeirismos adentram a língua portuguesa e, em alguns casos, transformam-se em
neologismos infames, tornam-se palavras corriqueiras e até mesmo fora de seu devido
texto na invasão de contexto, quer seja em função do comércio – CDs e filmes – quer
seja pelo surgimento de tecnologias oriundas do exterior, entre outros. Podemos citar o
exemplo muito comum entre as pessoas, principalmente entre os jovens, quando em
substituição ao “esqueça” utilizam o “deleta”.
Acreditamos que o imperialismo lingüístico do inglês não é a força atual do
inglês em si, mas da expansão econômica, cultural e tecnológica dos Estados Unidos
da América. A língua é secundária e advém com o resto. Os homens preferem falar a
3
Rita Cristina Cyntrão é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Trabalhou por oito anos no
jornal O Globo. É pesquisadora na área de antropologia social.
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Uma língua como o inglês não teria o título de universal sem haver realizado
uma transformação lingüística, introduzindo-se em outros idiomas por intermédio do uso
de palavras emprestadas, se fazendo conhecer em todo o mundo como sendo uma
língua estrangeira ou como uma segunda língua
Conforme destaca Bechara (2003), o fenômeno de estrangeirismo – objeto
deste estudo – foi criticado por muitos durante bastante tempo, porém, o autor acredita
que atualmente, devido aos ditames e às tendências impostas e necessárias à
globalização, há uma maior flexibilidade sobre o assunto. E justifica: “Num mundo
globalizado em que vivemos onde os contatos de nações e de cultura são propiciados
por mil modos, os estrangeirismos interpenetram-se com muita facilidade e rapidez”.
No entanto, o autor salienta certo exagero e considera que alguns elementos
estrangeiros são desnecessários e não devem ser empregados no léxico nacional. De
acordo com o autor, os estrangeirismos léxicos podem se distinguir por meio de dois
grupos: os que se adaptam à língua que os recebe, porém só podem ser reconhecidos
pelos usuários que conhecem a sua história e aqueles que se mostram com a forma de
origem estrangeira. Assim escreveu:
Notamos que o bom senso pontuado por Smolka apenas evidencia, de modo
sucinto, o que pensam e esperam os outros estudiosos citados neste estudo. Sabemos
que não há como reverter ou mesmo cessar tal processo/fenômeno – estrangeirismo –
mas, contamos com a sensatez, com a educação brasileira, para a boa medida de seu
uso, a prevalência e evolução da língua portuguesa.
A absorção de palavras estrangeiras é algo natural em qualquer cultura e não
há, aparentemente, motivo para organizar uma resistência. Achamos patético escrever
xóping em vez de shopping, como se isso fosse nos preservar do domínio imperialista.
Ninguém está a perigo, a não ser o bom senso e o bom gosto.
Nas relações profissionais, há um exagero evidente. Fazer um meeting em vez
de uma reunião, apresentar um paper em vez de um relatório, aprovar um budget em
vez de um orçamento, tudo isso causa o efeito contrário ao desejado: em vez de
charmoso, fica antiquado. Assim como batizar empresas nacionais com nomes como
Quality, Responsability. E sem falar nos abomináveis Moreira’s Bar ou Silvia’s
Cabeleireiros. O apóstrofo foi uma onda, já passou. Resquícios de um deslumbramento.
De qualquer maneira, nada disso põe em risco a permanência do nosso bom e
amado idioma português, que continua sendo nossa língua falada, escrita e cantada.
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CAPÍTULO 4
4.1. Projeto de lei 1676, de 1999, do Deputado Aldo Rebelo, do PC do B, SP, que
“Dispõe sobre a promoção, a proteção a defesa e o uso da língua portuguesa e dá
outras providências.”: a polêmica
E prossegue:
Também alerta:
Será que o Deputado tem razão? No que diz respeito à graça, beleza da língua
portuguesa, sem dúvida, ele tem razão.
Entretanto, a polêmica em torno de seu projeto é instigante e divide opiniões.
De acordo com o lingüista Proença Filho (2006), o uso dos estrangeirismos vincula-se
ao contato entre os povos, a partir da proximidade geográfica ou do intercâmbio
cultural. A língua vive em contínua mudança, paralela ao organismo social que a criou.
Nessa mutação, os empréstimos que toma de outra língua, por força do contato com
outros povos, resultam de um processo válido de assimilação. O português praticado no
Brasil já incorporou um sem-número de francesismos, anglicismos, italianismos e
espanholismos tranqüilamente usados na comunicação verbal. Alguns já vestidos de
verde e amarelo, como cachecol, decolagem, filé, lasanha, salsicha; outros ainda com
sotaque, mas bem à vontade no convívio social: vestimos smoking, deliciamo-nos com
filé mignon e bacon e comemos pizza sem nenhum sobressalto verbal. A invasão
lingüística temida por alguns não é tão perigosa, pois a ameaça à soberania envolve
outros espaços: éticos, administrativos, políticos e econômicos.
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Assim, muitos podem ser os caminhos trilhados pelo dinamismo das línguas.
Palavras se criam dentro do próprio vernáculo, palavras ampliam ou restringem o seu
significado, adquirem valores pejorativos ou meliorativos, palavras migram de uma
língua para outra(s), formam ou não derivados e compostos, mantêm ou não a sua
grafia de origem, dicionarizam-se ou não. Os empréstimos lingüísticos são freqüentes e
importantes para a composição do sistema lexical de qualquer língua. O português,
como as demais línguas, sofreu e vem sofrendo interferências de outras línguas, assim
como também contribuiu para enriquecer outras com as que em algum período histórico
entrou em contato; porém nos últimos séculos algumas línguas, devido ao grande
desenvolvimento econômico, cientifico e tecnológico, interferiram de forma
avassaladora em outras línguas impondo seus valores e com eles os elementos
lingüísticos que os acompanham.
Quais os limites, portanto, para a incorporação de uma palavra estrangeira?
Será o enfatuamento dos novos ricos se esbaldando nos anglicismos? Ou a existência
de sinônimos perfeitos que substituam a contento os vocábulos estranhos? O lingüista
Ernani Terra, autor de Linguagem, Língua e Fala, separa os estrangeirismos
necessários dos desnecessários:
¾ Açougue (árabe)
¾ Estopim (catalão)
¾ Chá (chinês)
¾ Crocodilo (egípcio)
¾ Pandeiro (espanhol)
¾ Burocracia (francês)
¾ Comunista (francês)
¾ Calouro (grego moderno)
¾ Escuna (holandês)
¾ Buldogue (inglês)
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¾ Galera (italiano)
¾ Biombo (japonês)
¾ Gongo (malaio)
¾ Berinjela (persa)
¾ Escorbuto (russo)
¾ Edredão (sueco)
¾ Abacaxi (tupi-guarani)
¾ Sandália (turco)
Fonte: Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antenor
Nascentes.
De acordo com Schmitz (2000), “um idioma evolui quando entra em contato
com outros, e só alguém que não entende nada do assunto pode achar que é possível
bloquear esse intercâmbio”. Não é esta a pretensão do projeto. Muito embora, com
certo radicalismo, o projeto objetiva, na fala de seu autor, proteger a língua portuguesa
e poupar a população de usos abusivos de termos ingleses. Por exemplo, pode-se citar
“sale” e “50% off” em vez de “liquidação” e “50% de desconto”. Todavia, na concepção
de Lima (2000) “multar um lojista por uma caipirice que depõe unicamente contra ele
próprio é um exagero”.
Polêmicas à parte, no ano de 2005, a Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania deu parecer constitucional e jurídico favorável ao referido projeto de lei 1676,
de 1999, o qual proíbe o uso de expressões oral, escrita, audiovisual e eletrônica
oficial, em eventos públicos, na mídia, na produção, no consumo e na publicidade de
bens ou serviços.
Após aprovado o projeto de lei em análise e sancionado pelo Presidente da
República, será considerado prática abusiva o emprego de palavra ou expressão que
possuir equivalente em língua portuguesa. No entanto, o projeto admite o uso de
palavras ou expressões estrangeiras já registradas pelo Vocábulo Ortográfico de
Língua Portuguesa — VOLP, da Academia Brasileira de Letras. Assim, palavras como
pizza, jeans, dentre outras, continuam a vigorar.
O Deputado Aldo Rebelo afirma que a intenção principal é a promoção e a
preservação do idioma, de modo a incentivar a aprendizagem do português e coibir o
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CAPÍTULO 5
Bagno (2000) afirma que, no uso oficial do Estado, o Deputado Aldo Rebelo até
que tem uma certa razão. Mas a pretensão de penalizar as pessoas que usarem os
estrangeirismos é um absurdo ou até mesmo um autoritarismo, pois é impossível
controlar o pensamento dos usuários da língua portuguesa. A língua é usada também
para a comunicação do indivíduo consigo mesmo; ela é o veículo do pensamento:
em, por exemplo: futebol, seria ludopédio; cachecol, seria echarpe; e abajur, seria
lucivelo. Para uma melhor exemplificação, vejamos quantas palavras estrangeiras
existem no trecho abaixo, trazido na Edição nº 1 664, de 30 de agosto de 2000, da
Revista Veja Educação (articulista Lima), num artigo intitulado “O bom senso está on
sale”:
Samba Do Approach
Zeca Baleiro
Composição: Zeca Baleiro
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Eu tenho savoir-faire
Meu temperamento é light
Minha casa é hi-tech
Toda hora rola um insight
Já fui fã do Jethro Tull
Hoje me amarro no Slash
Minha vida agora é cool
Meu passado é que foi trash...
Eu tenho sex-appeal
Saca só meu background
Veloz como Damon Hill
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(http://letras.terra.com.br/zeca-baleiro/43674).
O vocabulário internetês chega até nós por meio dos aparelhos e das
tecnologias que importamos e que seguem um padrão no mundo. No meio publicitário,
o apelo comercial é o motivo pelo qual há tanto estrangeirismo presente. A vontade de
fortalecer o marketing prevalece e por esse motivo existem muitos outdoors querendo
obter lucros nos business.
Já na indústria cinematográfica transformada sutilmente em um veículo de
propaganda ideológica, principalmente estadunidense, criam-se tendências que
favorecem o uso indiscriminado dos estrangeirismos. Por exemplo, o filme MIB – Men in
the black (Os homens de preto) impôs suas expressões estrangeiras, que são notadas
quase sempre durante diálogos informais.
A entrada de empréstimos lingüísticos no português do Brasil e em qualquer
língua do mundo é um fenômeno usual e comum porque segue o processo natural de
dinâmica das línguas. As causas dos empréstimos são variadas e podem estar
relacionadas à necessidade gerada pela ausência de um termo vernacular para uma
determinada tecnologia, produto, serviço e também ao prestígio provocado pela grande
influência da cultura da qual o empréstimo se origina. No Brasil, destacamos o
crescente uso de empréstimos lingüísticos, originados do inglês estadunidense.
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É comum que a língua do povo dominador invada outra; foi assim com o
grego, o latim. A língua do império é o inglês, é natural que ela invada o
português (...) apesar do projeto ser bem-intencionado, os excessos de
puritanismos são uma balela (...) é permissivo e terrível usar estrangeirismos,
porque denota uma falta de cultura. Aqui, o ensino é fraco, a leitura é pouca,
as pessoas não têm tempo de ler, enfim, o Brasil, é um país pobre de cultura.
(NUNES, Revista Educação, 2000, p. 34).
Esse projeto é imbecil (...) Vou ter de andar com uma caderneta com todas as
expressões que já foram consagradas pelo uso? A língua portuguesa deve se
defender de si mesma. Essa lei não pega e nem vai pegar. A questão da
língua é domínio cultural e a única maneira de vencer isso é lutando pela maior
independência do país, pela difusão cultural. (NUNES, Revista Educação,
2000, p. 34).
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Para Celso Cunha (1970), a língua pode possuir uma tradição estática ou
dinâmica. A tradição estática tende à estratificação. E “a estratificação”, afirma Celso
Cunha, “é a morte letárgica do idioma” .
Podemos ainda aceitar que não conseguiremos extinguir o inglês da língua
portuguesa, nem mesmo enclausurar nossa língua em uma caixinha longe de
estrangeirismos, entretanto, ao mesmo tempo, não podemos concordar com a linha de
pensamento semelhante à do professor do Departamento de Língua Portuguesa da
PUC de São Paulo e coordenador do Projeto NURC (Projeto de Estudos da Norma
Lingüística Urbana Cultural do Brasil) Dino Preti (apud Flexa, 2000) ao fazer a seguinte
afirmação:
“As línguas vivas nunca ficam estacionárias”, diz Ronald Langacker. “Todas as
línguas”, diz ainda, “são o produto de mudanças e continuam a mudar durante todo o
tempo em que são faladas” (Langacker, 1972, p.185). A mudança — por vezes
imperceptível num primeiro momento — é gradativa e somente pode ser percebida no
decorrer dos séculos. Como já vimos, uma das maneiras pelas quais as línguas mudam
é por intermédio dos empréstimos, sobretudo os lexicais.
Estudo diacrônico de uma língua registra os vários empréstimos através dos
quais ela evoluiu. Por exemplo, do latim, emanam empréstimos do grego para as
línguas neolatinas, como também para línguas de outros grupos. Os empréstimos do
grego e do latim são sempre bem recebidos, não geram a resistência que provoca os
empréstimos tomados das línguas modernas, conhecidas como “estrangeiras”.
Em proporção menor que o latim, a língua francesa também possui um certo
grau de aceitação entre nós, em razão, provavelmente, do fato de que nossa própria
liberdade tem raízes francesas.
Ainda assim, o estrangeirismo não deve, de modo algum, ser considerado um
mal em si mesmo, pois seu emprego é altamente vantajoso para o enriquecimento,
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o abordado ao longo deste estudo, podemos afirmar que todas
as línguas apresentam variações. Na visão de Fiorin (2002), não há línguas estáticas
ou mesmo imutáveis e seria ingenuidade acreditar que no Brasil todos falam e se
compreendem mutuamente em todos os lugares do País sem levarmos em conta os
aspectos lingüísticos das variações regionais.
Da mesma forma, todos os que fazem uso do computador se habituaram a
dizer “deletar”, dar um “enter”, “Page up” e outras expressões correlatas. Não seria
possível, de pronto, abdicar de alguns termos — denominados estrangeirismos —
introduzidos no País por meio da terminologia da informática. Seguramente, é
totalmente possível passar todas as expressões em inglês para o português. Em
contrapartida, é preciso que se pense que toda evolução cultural não se processa de
imediato. Basta lembrar, à guisa de reflexão e mesmo de comparação, que a
independência do Brasil ocorreu em 1822 e que foi somente em 1836 que surgiram os
primeiros textos literários de nacionalismo exacerbado, através do Romantismo.
Por outro lado, a chamada globalização, com o mundo ligado via Internet, não é
válida como justificativa para um suposto processo de aculturação universal pela
linguagem da Informática. Em verdade, o fenômeno circunda-se a uma tecla de
computador e a essa fantástica rede de computadores interligados. É apenas ali que
funciona essa língua, ou melhor, essa linguagem universal. Extraí-la de lá e promover
sua difusão nos processos lingüísticos culturais no dia-a-dia das pessoas, é atribuir-lhe
poder que ela não tem. Se tiver contexto, vale o texto. Caso contrário, o mito vira
mistificação.
Certamente, podemos e devemos prescindir de vocábulos e expressões
idiomáticas de outras realidades alienígenas e privilegiar a língua portuguesa.
Vocábulos como “Shopping Center” pode tranqüilamente ser substituído por Centro
Comercial sem comprometimento algum de sua estética falada e atividade fim –
comércio.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Ieda Maria. Neologismo: Criação lexical. São Paulo: Ática, 1994.
BAGNO, Marcos. Cadernos do terceiro mundo, edição 223, p. 29-31, 20 jan. 2004.
______________. Preconceito lingüístico: o que é como se faz 49ª ed. São Paulo:
Edições Loyola, 2007.
BRAZ, Shirley Lima da Silva. Recepção Lingüística: o caso dos neologismo lexicais.
Disponível em: <http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno13-20.html>. Acesso
em: 18 jul. 2008.
CASTRO, Ivo. Lusa – A Matriz Portuguesa. Uma língua que veio de longe. São Paulo:
Mag Mais Rede Cultural, 2007.
DUBOIS, J e col. Dicionário de Lingüística (trad). São Paulo: Ed. Cultrix, 1998.
FIORIN, José Luiz. Considerações em torno do Projeto de Lei n. 1676/99. In: Faraco,
Carlos Alberto (Org.). Estrangeirismos guerra em torno da língua. São Paulo: Parábola,
2002.
GUEDES, Paulo Coimbra. E por que não nos defender da língua? In: Faraco, Carlos
Alberto (Org.). Estrangeirismos guerra em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2002.
LANGACKER, Ronald. A linguagem e sua estrutura. 2ª. ed.. Petrópolis: Editora Vozes,
1975.
58
LIMA, João Gabriel de. O bom senso está on sale: algumas observações sobre o
projeto de lei que proíbe o uso de palavras estrangeiras. Revista Veja Educação. Veja
on-line. Edição 1664, publicada em 30/08/2000.
SCHMITZ, John Robert. O Projeto de Lei n. 1676/99 na imprensa de São Paulo. In:
Faraco, Carlos Alberto (Org.). Estrangeirismos guerra em torno da língua. São Paulo:
Parábola, 2002.
ZILLES, Ana Maria Stahl. Ainda os equívocos no combate aos estrangeirismos. In:
FARACO, Carlos Alberto. Estrangeirismos: guerra em torno da língua. São Paulo:
Parábola, 2002.
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ANEXO – A
VI- atualizar, com base em parecer da Academia Brasileira de Letras, as normas do Formulário Ortográfico,
com vistas ao aportuguesamento e à inclusão de vocábulos de origem estrangeira no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa;
§ 1º Os meios de comunicação de massa e as instituições de ensino deverão, na forma desta lei, participar
ativamente da realização prática dos objetivos listados nos incisos anteriores.
§ 2º À Academia Brasileira de Letras incumbe, por tradição, o papel de guardiã dos elementos constitutivos
da Língua Portuguesa usada no Brasil.
Art. 3º É obrigatório o uso da Língua Portuguesa por brasileiros natos e naturalizados, e pelos estrangeiros
residentes no País há mais de 1 (um) ano, nos seguintes domínios socioculturais:
I- no ensino e na aprendizagem;
II- no trabalho;
III- nas relações jurídicas;
IV- na expressão oral, escrita, audiovisual e eletrônica oficial;
V- na expressão oral, escrita, audiovisual e eletrônica em eventos públicos nacionais;
VI- nos meios de comunicação de massa;
VII- na produção e no consumo de bens, produtos e serviços;
VIII- na publicidade de bens, produtos e serviços.
§ 1º A disposição do caput, I- VIII deste artigo não se aplica:
I- a situações que decorram da livre manifestação do pensamento e da livre expressão da atividade
intelectual, artística, científica e de comunicação, nos termos dos incisos IV e IX do art. 5º da Constituição
Federal;
II- a situações que decorram de força legal ou de interesse nacional;
III- a comunicações e informações destinadas a estrangeiros, no Brasil ou no exterior;
IV- a membros das comunidades indígenas nacionais;
V- ao ensino e à aprendizagem das línguas estrangeiras;
VI- a palavras e expressões em língua estrangeira consagradas pelo uso, registradas no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa;
VII- a palavras e expressões em língua estrangeira que decorram de razão social, marca ou patente
legalmente constituída.
§ 2º A regulamentação desta lei cuidará das situações que possam demandar:
I- tradução, simultânea ou não, para a Língua Portuguesa;
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II- uso concorrente, em igualdade de condições, da Língua Portuguesa com a língua ou línguas
estrangeiras.
Art. 4º Todo e qualquer uso de palavra ou expressão em língua estrangeira, ressalvados os casos
excepcionados nesta lei e na sua regulamentação, será considerado lesivo ao patrimônio cultural brasileiro,
punível na forma da lei.
Parágrafo único. Para efeito do que dispõe o caput deste artigo, considerar-se-á:
I- prática abusiva, se a palavra ou expressão em língua estrangeira tiver equivalente em Língua
Portuguesa;
II- prática enganosa, se a palavra ou expressão em língua estrangeira puder induzir qualquer pessoa, física
ou jurídica, a erro ou ilusão de qualquer espécie;
III- prática danosa ao patrimônio cultural, se a palavra ou expressão em língua estrangeira puder, de algum
modo, descaracterizar qualquer elemento da cultura brasileira.
Art. 5º Toda e qualquer palavra ou expressão em língua estrangeira posta em uso no território nacional ou
em repartição brasileira no exterior a partir da data da publicação desta lei, ressalvados os casos
excepcionados nesta lei e na sua regulamentação, terá que ser substituída por palavra ou expressão
equivalente em Língua Portuguesa no prazo de 90 (noventa) dias a contar da data de registro da
ocorrência.
Parágrafo único. Para efeito do que dispõe o caput deste artigo, na inexistência de palavra ou expressão
equivalente em Língua Portuguesa, admitir-se-á o aportuguesamento da palavra ou expressão em língua
estrangeira ou o neologismo próprio que venha a ser criado.
Art. 6º. A regulamentação desta lei tratará das sanções administrativas a serem aplicadas àquele, pessoa
física ou jurídica, pública ou privada, que descumprir qualquer disposição desta lei.
Art. 7º A regulamentação desta lei tratará das sanções premiais a serem aplicadas àquele, pessoa física
ou jurídica, pública ou privada, que se dispuser, espontaneamente, a alterar o uso já estabelecido de
palavra ou expressão em língua estrangeira por palavra ou expressão equivalente em Língua Portuguesa.
Art. 8º À Academia Brasileira de Letras, com a colaboração dos Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário, de órgãos que cumprem funções essenciais à justiça e de instituições de ensino, pesquisa e
extensão universitária, incumbe realizar estudos que visem a subsidiar a regulamentação desta lei.
Art. 9º O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo máximo de 1 (um) ano a contar da data de sua
publicação.
Art. 10. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
62
JUSTIFICATIVA
A História nos ensina que uma das formas de dominação de um povo sobre outro se dá pela
imposição da língua. Por quê? Porque é o modo mais eficiente, apesar de geralmente lento, para impor
toda uma cultura - seus valores, tradições, costumes, inclusive o modelo socioeconômico e o regime
político.
Foi assim no antigo oriente, no mundo greco-romano e na época dos grandes descobrimentos. E
hoje, com a marcha acelerada da globalização, o fenômeno parece se repetir, claro que de modo não
violento; ao contrário, dá-se de maneira insinuante, mas que não deixa de ser impertinente e insidiosa, o
que o torna preocupante, sobretudo quando se manifesta de forma abusiva, muitas vezes enganosa, e até
mesmo lesiva à língua como patrimônio cultural.
De fato, estamos a assistir a uma verdadeira descaracterização da Língua Portuguesa, tal a
invasão indiscriminada e desnecessária de estrangeirismos - como "holding", "recall", "franchise", "coffee-
break", "self-service" - e de aportuguesamentos de gosto duvidoso, em geral despropositados - como
"startar", "printar", "bidar", "atachar", "database". E isso vem ocorrendo com voracidade e rapidez tão
espantosas que não é exagero supor que estamos na iminência de comprometer, quem sabe até truncar, a
comunicação oral e escrita com o nosso homem simples do campo, não afeito às palavras e expressões
importadas, em geral do inglês estadunidense, que dominam o nosso cotidiano, sobretudo a produção, o
consumo e a publicidade de bens, produtos e serviços, para não falar das palavras e expressões
estrangeiras que nos chegam pela informática, pelos meios de comunicação de massa e pelos modismos
em geral.
Ora, um dos elementos mais marcantes da nossa identidade nacional reside justamente no fato
de termos um imenso território com uma só língua, esta plenamente compreensível por todos os brasileiros
de qualquer rincão, independentemente do nível de instrução e das peculiaridades regionais de fala e
escrita. Esse - um autêntico milagre brasileiro - está hoje seriamente ameaçado.
Que obrigação tem um cidadão brasileiro de entender, por exemplo, que uma mercadoria "on
sale" significa que esteja em liqüidação? Ou que "50% off" quer dizer 50% a menos no preço? Isso não é
apenas abusivo; tende a ser enganoso. E à medida que tais práticas se avolumam (atualmente de uso
corrente no comércio das grandes cidades), tornam-se também danosas ao patrimônio cultural
representado pela língua.
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O absurdo da tendência que está sendo exemplificada permeia até mesmo a comunicação oral e
escrita oficial. É raro o documento que sai impresso, por via eletrônica, com todos os sinais gráficos da
nossa língua; até mesmo numa cédula de identidade ou num talão de cheques estamos nos habituando
com um "Jose" - sem acentuação! E o que falar do serviço de "clipping" da Secretaria de Comunicação
Social da Câmara dos Deputados, ou da "newsletter" da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano
da Presidência da República, ou, ainda, das milhares de máquinas de "personal banking" do Banco do
Brasil espalhadas por todo o País?
O mais grave é que contamos com palavras e expressões na Língua Portuguesa perfeitamente
utilizáveis no lugar daquelas (na sua quase totalidade) que nos chegam importadas, e são incorporadas à
língua falada e escrita sem nenhum critério lingüístico, ou, pelo menos, sem o menor espírito de crítica e de
valor estético.
O nosso idioma oficial (Constituição Federal, art. 13, caput) passa, portanto, por uma
transformação sem precedentes históricos, pois que esta não se ajusta aos processos universalmente
aceitos, e até desejáveis, de evolução das línguas, de que é bom exemplo um termo que acabo de usar -
caput, de origem latina, consagrado pelo uso desde o Direito Romano.
Como explicar esse fenômeno indesejável, ameaçador de um dos elementos mais vitais do
nosso patrimônio cultural — a língua materna —, que vem ocorrendo com intensidade crescente ao longo
dos últimos 10 a 20 anos? Como explicá-lo senão pela ignorância, pela falta de senso crítico e estético, e
até mesmo pela falta de auto-estima?
Parece-me que é chegado o momento de romper com tamanha complacência cultural, e, assim,
conscientizar a nação de que é preciso agir em prol da língua pátria, mas sem xenofobismo ou intolerância
de nenhuma espécie. É preciso agir com espírito de abertura e criatividade, para enfrentar — com
conhecimento, sensibilidade e altivez — a inevitável, e claro que desejável, interpenetração cultural que
marca o nosso tempo globalizante. Esse é o único modo de participar de valores culturais globais sem
comprometer os locais.
A propósito, MACHADO DE ASSIS, nosso escritor maior, deixou-nos, já em 1873, a seguinte
lição: "Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos usos e
costumes. Querer que a nossa pare no século de quinhentos, é um erro igual ao de afirmar que a sua
transplantação para a América não lhe inseriu riquezas novas. A este respeito a influência do povo é
decisiva. Há, portanto, certos modos de dizer, locuções novas, que de força entram no domínio do estilo e
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ganham direito de cidade." (IN: CELSO CUNHA, Língua Portuguêsa e Realidade Brasileira, Rio de Janeiro,
Edições Tempo Brasileiro Ltda., 1981, p. 25 - na ortografia original de 1968).
Os caminhos para a ação, desde que com equilíbrio machadiano, são muitos, e estão abertos,
como apontado por EDIRUALD DE MELLO, no seu artigo O português falado no Brasil: problemas e
possíveis soluções, publicado em CADERNOS ASLEGIS, n° 4, 1998.
O Projeto de Lei que ora submeto à apreciação dos meus nobres colegas na Câmara dos
Deputados representa um desses caminhos.
Trata-se de proposição com caráter geral, a ser regulamentada no pormenor que vier a ser
considerado como necessário. Objetiva promover, proteger e defender a Língua Portuguesa, bem como
definir o seu uso em certos domínios socioculturais, a exemplo do que tão bem fez a França com a Lei n°
75-1349, de 1975, substituída pela Lei n° 94-665, de 1994, aprimorada e mais abrangente.
Quer-me parecer que o PL proposto trata com generosidade as exceções, e ainda abre à
regulamentação a possibilidade de novas situações excepcionais. Por outro lado, introduz as importantes
noções de prática abusiva, prática enganosa e prática danosa, no tocante à língua, que poderão
representar eficientes instrumentos na promoção, na proteção e na defesa do idioma pátrio.
A proposta em apreço tem cláusula de sanção administrativa, em caso de descumprimento de
qualquer uma de suas provisões, sem prejuízo de outras penalidades cabíveis; e ainda prevê a adoção de
sanções premiais, como incentivo à reversão espontânea para o Português de palavras e expressões
estrangeiras correntemente em uso.
Nos termos do projeto de lei ora apresentado, à Academia Brasileira de Letras continuará
cabendo o seu tradicional papel de centro maior de cultivo da Língua Portuguesa do Brasil.
O momento histórico do País parece-me muito oportuno para a atividade legislativa por mim
encetada, e que agora passa a depender da recepção compreensiva e do apoio decisivo da parte dos
meus ilustres pares nesta Casa.
A afirmação que acabo de fazer deve ser justificada. Primeiramente, cumpre destacar que a
sociedade brasileira já dá sinais claros de descontentamento com a descaracterização a que está sendo
submetida a Língua Portuguesa frente à invasão silenciosa dos estrangeirismos excessivos e
desnecessários, como ilustram pronunciamentos de lingüistas, escritores, jornalistas e políticos, e que
foram captados com humor na matéria Quero a minha língua de volta!, de autoria do jornalista e poeta
JOSÉ ENRIQUE BARREIRO, publicada há pouco tempo no JORNAL DO BRASIL.
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Em segundo lugar, há que ser lembrada a reação positiva dos meios de comunicação de massa
diante da situação que aqui está sendo discutida. De fato, nunca se viu tantas colunas e artigos em jornais
e revistas, como também programas de rádio e televisão, sobre a Língua Portuguesa, especialmente sobre
o seu uso no padrão culto; nesse sentido, também é digno de nota que os manuais de redação, e da
redação, dos principais jornais do País se sucedam em inúmeras edições, ao lado de grande variedade de
livros sobre o assunto, particularmente a respeito de como evitar erros e dúvidas no português
contemporâneo.
Em, terceiro lugar, cabe lembrar que atualmente o jovem brasileiro está mais interessado em se
expressar corretamente em Português, tanto escrita como oralmente, como bem demonstra a matéria de
capa - A ciência de escrever bem - da revista ÉPOCA de 14/6/99.
Por fim, mas não porque menos importante, as comemorações dos 500 anos do Descobrimento
do Brasil se oferecem como oportunidade ímpar para que discutamos não apenas o período colonial, a
formação da nacionalidade, o patrimônio histórico, artístico e cultural da sociedade brasileira, mas também,
e muito especialmente, a Língua Portuguesa como fator de integração nacional, como fruto - tal qual a
falamos - da nossa diversidade étnica e do nosso pluralismo racial, como forte expressão da inteligência
criativa e da fecundidade intelectual do nosso povo.
Posto isso, posso afirmar que o PL ora submetido à Câmara dos Deputados pretende, com os
seus objetivos, tão-somente conscientizar a sociedade brasileira sobre um dos valores mais altos da nossa
cultura — a Língua Portuguesa. Afinal, como tão bem exprimiu um dos nossos maiores lingüistas,
NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA, no Prefácio de sua Gramática Metódica da Língua Portuguesa (28ª
ed., São Paulo, Edição Saraiva, 1979), "conhecer a Língua Portuguesa não é privilégio de gramáticos,
senão dever do brasileiro que preza sua nacionalidade. ... A língua é a mais viva expressão da
nacionalidade. Como havemos de querer que respeitem a nossa nacionalidade se somos os primeiros a
descuidar daquilo que a exprime e representa, o idioma pátrio?".
Movido por esse espírito, peço toda a atenção dos meus nobres colegas de parlamento no
sentido de apoiar a rápida tramitação e aprovação do projeto de lei que tenho a honra de submeter à
apreciação desta Casa Legislativa.
Sala das Sessões, em 28 de março de 2001.
Deputado ALDO REBELO