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A revista feminista japonesa que desafiou o


conservadorismo do Império
Juliana Domingos de Lima 26 Set 2017 (atualizado 28/Set 16h04)

Publicação literária dos anos 1910, feita por mulheres e para mulheres, foi pioneira ao discutir igualdade e
direitos no país

FOTO: OSU SPECIAL COLLECTIONS & ARCHIVES/DOMÍNIO PÚBLICO

 ESTUDANTES JAPONESAS SENDO ALFABETIZADAS POR VOLTA DE 1915

Em 1911, no Japão e no resto do mundo, ainda era raro ler a assinatura de uma mulher impressa em um artigo. Foi
naquele ano que cinco mulheres fundaram a “Seitō”, uma revista literária japonesa voltada para o público feminino.

A ilha localizada no Pacífico vivia, na época, a era Meiji. O território japonês, governado por um imperador,
industrializava-se e modernizava-se aceleradamente.

Esse ímpeto de modernização fez com que o Estado desse oportunidade para que algumas mulheres fossem
escolarizadas, segundo o estudo (https://www.jstor.org/stable/42772154?seq=1#page_scan_tab_contents) “Estado,
Educação e Duas Gerações de Mulheres no Japão Meiji, 1868-1912”. A Universidade de Mulheres do Japão, a maior e
mais antiga universidade para mulheres do país, foi criada em 1901.
“Mesmo com a melhora na educação, esperava-se que elas se adequassem a ideias cada vez mais rigorosas sobre papéis
e comportamentos femininos. Códigos morais rígidos rondavam a castidade e os casamentos arranjados, antes uma
prática reservada às classes mais altas da sociedade, se tornavam mais comuns entre a classe média”, diz um artigo
(http://www.atlasobscura.com/articles/bluestockings-feminist-magazine-japan-sassy) do site Atlas Obscura.

O início
Parte da geração de mulheres que havia podido frequentar a escola, Raichō Hiratsuka, Yasumochi Yoshiko, Mozume
Kazuko, Kiuchi Teiko e Nakano Hatsuko tinham curiosidade intelectual e ambições que iam além de se tornarem
esposas e mães.

Elas fizeram campanha para obter inscrições e apoio de escritoras e esposas de literatos para concretizar o projeto de
publicar uma revista literária dirigida ao público feminino. O primeiro número da “Seitō” esgotou em um mês.

FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO


 CAPA DO PRIMEIRO NÚMERO DA REVISTA

O nome escolhido, “Seitō”, correspondia a uma versão do termo “bluestocking” em caracteres chineses. As bluestocking
eram mulheres intelectuais da Inglaterra do século 18, participantes de uma associação batizada de Blue Stockings
Society. No século 20, no ocidente, o termo havia adquirido uma conotação pejorativa, de pedantismo, para designar
mulheres instruídas.

Para o artigo (http://www.jstor.org/stable/10.7312/most11314) “Seitō e o ressurgimento da escrita por mulheres”, de


Jan Bardsley, ao escolherem se associar às bluestocking, o grupo de intelectuais japonesas fazia uma homenagem e, ao
mesmo tempo, se mostrava ciente da recepção pouco calorosa que esperavam para sua criatividade feminina.

Nas primeiras edições, eram publicados principalmente poemas, ensaios e textos de ficção – feitos por e para
mulheres, segundo o artigo do Atlas Obscura.

Raichō Hiratsuka, uma das fundadoras, disse (http://www.atlasobscura.com/articles/bluestockings-feminist-


magazine-japan-sassy) que a publicação não foi criada com o propósito de despertar uma consciência sobre a condição
feminina ou colaborar com o movimento feminista.

Os números banidos
Inadvertidamente, as editoras da “Seitō” se tornaram feministas pioneiras. Os pensamentos e relatos íntimos sobre a
vida dessas mulheres, que compunham boa parte da ficção publicada na revista, constituíam uma afronta à moral da
época.

Edições de “Seitō” foram, inclusive, apreendidas pela polícia por “perturbarem a paz e a ordem pública”. Em 1912, um
texto ficcional no qual uma mulher escrevia para que o amante a encontrasse na ausência do marido provocou um
desses episódios.
FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO
 RAICHO HIRATSUKA EM 1949

As mulheres que escreviam para a revista “imaginavam para si vidas muito mais completas e selvagens, tanto
emocionalmente quanto profissionalmente. Elas se apaixonavam, entregavam-se ao álcool, construíam carreiras como
escritoras, e escreviam sobre tudo isso – publicamente”, diz o texto
(http://www.atlasobscura.com/articles/bluestockings-feminist-magazine-japan-sassy) do Atlas Obscura.

Com o passar do tempo, em vez de fazê-las recuar, a controvérsia as levou a confrontar com maior ousadia temas
políticos como aborto, direito ao voto, igualdade e a castidade exigida das mulheres da época.

A experiência durou até 1916. A revista vinha enfrentando dificuldades financeiras em seu período final e, com a
entrada do Japão na 1ª Guerra Mundial (1914-18), a publicação começou a perder seu ar de novidade. No pós-guerra,
já no fim dos anos 1940, a atuação das mulheres que criaram e colaboraram com a “Seitō” passou a ser relembrada e
reconhecida como pioneira do feminismo japonês.

VEJA TAMBÉM
EXPRESSO (HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/EXPRESSO/) As milhares de gravuras e
desenhos japoneses disponíveis para download
(https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/06/12/As-milhares-de-gravuras-e-
desenhos-japoneses-dispon%C3%ADveis-para-download)

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