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Secretaria da Educação do

Estado do Ceará - SEDUC-CE

Professor de História

Educação Brasileira
Temas Educacionais e Pedagógicos. 1 História do pensamento pedagógico brasileiro. ........................................1
1.1 Teoria da educação, diferentes correntes do pensamento pedagógico brasileiro. ...........................................4
1.2 Projeto político pedagógico. ..................................................................................................................................... 13
2 A didática e o processo de ensino e aprendizagem. 2.1 Organização do processo didático: planejamento,
estratégias e metodologias, avaliação. .......................................................................................................................... 20
2.2 A sala de aula como espaço de aprendizagem e interação. ................................................................................ 30
2.3 A didática como fundamento epistemológico do fazer docente. ....................................................................... 34
3 Principais teorias da aprendizagem. 3.1 Inatismo, comportamentalismo, behaviorismo, interacionismo,
cognitivismo. 3.2 As bases empíricas, metodológicas e epistemológicas das diversas teorias de aprendizagem.
.............................................................................................................................................................................................. 39
3.3 Contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon para a psicologia e pedagogia. .................................................. 43
3.4 Teoria das inteligências múltiplas de Gardner. .................................................................................................... 47
3.5 Psicologia do desenvolvimento: aspectos históricos e biopsicossociais. ........................................................ 53
3.6 Temas contemporâneos: bullying, o papel da escola, a escolha da profissão, transtornos alimentares na
adolescência, família, escolhas sexuais. ........................................................................................................................ 69
4 Teorias do currículo. 4.1 Acesso, permanência e sucesso do aluno na escola. .................................................. 94
4.2 Gestão da aprendizagem. 4.3 Planejamento e gestão educacional. .................................................................. 97
4.4 Avaliação institucional, de desempenho e de aprendizagem. ..........................................................................103
4.5 O Professor: formação e profissão. .......................................................................................................................123
4.6 A pesquisa na prática docente. ..............................................................................................................................125
4.7 A dimensão ética da profissão. ..............................................................................................................................133
5 Aspectos legais e políticos da organização da educação brasileira. ...................................................................138
6 Políticas educacionais para a educação básica. .....................................................................................................149
6.1 Ensino Médio. 6.1.1 Diretrizes, Parâmetros Curriculares, currículo e avaliação. 6.1.2 Interdisciplinaridade
e contextualização no Ensino Médio. 6.1.3 Ensino Médio Integrado: fundamentação legal e curricular. ......157
6.2 Educação Inclusiva. .................................................................................................................................................186
6.3 Educação, trabalho, formação profissional e as transformações do Ensino Médio. 6.4 Protagonismo Juvenil
e Cidadania. .....................................................................................................................................................................192

Administração Pública
1 Conceito de administração pública. ..............................................................................................................................1
2 Conceito de servidor público. ........................................................................................................................................3
3 Princípios da administração pública. ...........................................................................................................................4
4 Direitos e deveres dos servidores públicos. 5 Responsabilidade dos servidores públicos. 6. Servidor Estadual.
6.1 Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado do Ceará (Lei nº 9.826/1974 – 6.1.1 Do provimento
dos cargos – Capítulos I a X. 6.1.2 Dos direitos, vantagens e autorizações – Capítulos I a VI. 6.5.3 Do regime
disciplinar – título VI – Capítulos I a VII) .........................................................................................................................8
6.2 Lei nº 15.243/2012 (Disciplina o Art. 3º da lei nº 15.064/2011). .......................................................................8
6.3. Estágio Probatório Servidor Estadual (Lei nº 9.826/1974, Lei nº13.092 de 08 de janeiro de 2001, Lei
nº15.744, 29 de dezembro de 2014 e Lei nº 15.909, de 11 de dezembro de 2015) ...............................................9
6.4.Carreira do Magistério-Concurso, provimento, carga horaria e jornada de trabalho(Lei nº10.884/1984, Lei
12.066/1993, Lei nº 14.404/2009) .............................................................................................................................. 32

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6.5. Ampliação da carga horária de trabalho do Grupo MAG (LEI Nº15.451, de 23 de outubro de 2013 e o
Decreto nº31.458, de 01 de abril de 2014.) ................................................................................................................. 44
6.6. Promoção profissionais Grupo MAG (Lei nº 15.901 de 10 de dezembro de 2015, DECRETO Nº32.103, de
12 de dezembro de 2016. ................................................................................................................................................ 46
6.7. Sistema Remuneratório dos profissionais MAG de nível superior (leis nº 15.243, de 6 de dezembro de
2012, nº15.901, de 10 de dezembro de 2015, LEI Nº16.104, 12 de setembro de 2016, nº16.513, 15 de março
de 2018 e nº16.536, 06 de abril de 2018). .................................................................................................................. 50

Legislação Básica da Educação


1 Lei nº 9.394/1996 e alterações (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) ..............................................1
2 Lei nº 8.069/1990 e alterações (Estatuto da Criança e do Adolescente) ............................................................ 15
3 Constituição da República Federativa do Brasil (Art. 205 a 214) ......................................................................... 46
4 Emenda Constitucional nº 53/2006 ........................................................................................................................... 48
5 Lei nº 11.494/2007 e alterações ................................................................................................................................. 50
6 Lei nº 11.114/2005 ....................................................................................................................................................... 58
7 Lei nº 11.274/2006 ....................................................................................................................................................... 59
8 Lei nº 13.415, de 2017 .................................................................................................................................................. 59
9 Lei Federal Nº 13.005/2014 (Plano Nacional de Educação).................................................................................. 62
10 Lei Estadual Nº 16.025/2016 (Plano Estadual de Educação) ............................................................................. 76

Língua Portuguesa
1 Compreensão e interpretação de textos. .....................................................................................................................1
2 Tipologia textual. ..............................................................................................................................................................3
3 Ortografia oficial. ........................................................................................................................................................... 10
4 Acentuação gráfica. ....................................................................................................................................................... 14
5 Emprego das classes de palavras. .............................................................................................................................. 15
6 Emprego do sinal indicativo de crase. ....................................................................................................................... 41
7 Sintaxe da oração e do período. .................................................................................................................................. 44
8 Pontuação. ...................................................................................................................................................................... 54
9 Concordância nominal e verbal. ................................................................................................................................. 56
10 Regência nominal e verbal. ....................................................................................................................................... 59
11 Significação das palavras. .......................................................................................................................................... 63

Leitura e Interpretação de Dados e Indicadores


Educacionais
Leitura e interpretação de dados e indicadores educacionais envolvendo dados e informações referentes à
matrícula, à taxa de atendimento escolar, às taxas de escolarização líquida e bruta, à taxa de distorção idade-
série, às taxas de rendimento (aprovação, reprovação e abandono), aos resultados do Sistema Permanente de
Avaliação da Educação Básica do Ceará - SPAECE, do Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB, Exame
Nacional do Ensino Médio - ENEM, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB, Programa
Internacional de Avaliação de Alunos - PISA; leitura e interpretação de dados apresentados em tabelas,
gráficos e mapas; resolução de problemas que envolvam o cálculo de porcentagem com dados fornecidos em
diferentes formatos..............................................................................................................................................................1

Conhecimentos Específicos
1 Concepções do pensamento histórico, a dinâmica historiográfica e sua influência no ensino da história. 1.1
Memória, oralidade e cotidiano no ensino de História. 1.2 Currículo: cultura, gênero, direitos humanos, meio
ambiente, história local e diversidade étnico racial no ensino de História, novas abordagens teóricas e
metodológicas no ensino de História. 1.3 Novas tecnologias de comunicação e informação no ensino de
História. 1.4 Aspectos avaliativo no ensino de História ................................................................................................1
2 História Natural e História Social. 2.1 O processo de humanização e a dinâmica da formação das sociedades
humanas na Pré-história. 2.2 A Organização sócio-política, econômica, cultural religiosa do Egito, Núbia, Kush,
Ménroe, Napata, Mesopotâmia, Palestina, Fenícia, Pérsia, Grega e Romana, sua dinâmica, relações, rupturas e
transformações .................................................................................................................................................................. 11

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3 A organização sócio-política, econômica, cultural religiosa da sociedade europeia do século V ao XV sua
dinâmica, relações, rupturas e transformações. 3.1 A Cristianização da Europa. 3.2 A sociedade Oriental, o
Islamismo e a islamização da Arábia e África. 3.3 Os reinos africanos no século V ao XV. .................................. 29
4 Dinâmica, relações, rupturas e transformações da sociedade europeia do século XV ao XVIII. 4.1 As
civilizações e organizações políticas pré-coloniais Mali, Congo e Zimbabwe. 4.2 Escravidão e diáspora dos
povos africanos .................................................................................................................................................................. 38
5 Dinâmica, relações, rupturas e transformações da sociedade europeia, americana, africana e asiática do
século XVIII a contemporaneidade. 5.1 Escravidão e resistência negra e indígena no Brasil e Ceará Colonial.
5.2 As tecnologias de agricultura, de beneficiamento de cultivo, de mineração e de edificações trazidas pelos
escravizados, bem como a produção científica, artística (artes plásticas, literatura, música, dança, teatro)
política. 5.3 Cultura e religiosidade africana e indígena no Brasil e Ceará Colonial. 5.4 Movimento de
independência no Brasil e Ceará Colonial. 5.5 Organização sóciopolítica, econômica e cultural no Império:
Primeiro e Segundo Reinado e participação do Ceará. 5.6 As revoluções sociais: Cabanagem, Balaiada,
Farroupilha, Sabinada, Revolta dos Malês, Quebra Quilo; Abolição e Movimento Republicano no Brasil e Ceará.
6 Dinâmica, relações, rupturas e transformações da organização sócio-política, econômica e cultural no Brasil
e Ceará na República......................................................................................................................................................... 39
7 Atualidades ..................................................................................................................................................................... 92
8 Competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio para a
disciplina de História. .....................................................................................................................................................133

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA

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APOSTILAS OPÇÃO

Conforme Bomeny, “O grande problema do Brasil, o


analfabetismo de praticamente 80% de sua população,
aparece como uma condenação ao projeto republicano.” Essa
citação apresenta um quadro, não tão confiável em termos de
dados conforme Bomeny, mas delata a instabilidade
educacional e política da nação no inicio do século XX. Para
corrigir tal distorção, houve um empenho nacional pela
alfabetização em massa. “O remédio parecia milagroso:
Temas Educacionais e alfabetizando a população, corrigiam-se de pronto todas as
Pedagógicos. 1 História do mazelas que afetavam a sociedade brasileira em sua
pensamento pedagógico expressiva maioria”. Na verdade, vigorou o princípio da ciência
positivista com caráter liberal, como direção essencial para
brasileiro. instaurar o progresso, a inovação no país. Um destes
movimentos foi chamado de Escola Nova, tendo como base
Anísio Texeira e organizado por intelectuais inspirados nas
Pensamento Pedagógico Brasileiro1 ideias político-filosóficas de igualdade entre os homens e do
direito de todos à educação. “O movimento via na educação
O Brasil, no início do século XIX, ao cabo de três séculos de integral vinculada a um sistema estatal de ensino público, livre
colonização era um país de contrastes, de situações extremas: e aberto, como sendo capaz de modernizar o homem
de um lado o litoral e de outro o sertão, riqueza e pobreza, brasileiro, e de transformar essa espécie de “Jeca Tatu” em um
cultura popular sincrética e ortodoxia filosófica e religiosa, de sujeito laborioso, disciplinado, saudável e produtivo”.
uma devassidão de costumes e de uma rigidez impecável de Devemos considerar que esta força intelectual, desejava
comportamento, valores cristãos e de escravidão, pela educação, salvar o Brasil do estrago causado por uma
mandonismo rural e massa servil, economia exportadora e política educacional elitista, responsável pelos índices de
produção de autoconsumo, prevalecendo ainda a contradição analfabetismo, bem como pela doença que se alastrou sobre a
de um país dividido em múltiplas dicotomias. E uma delas, a nação. Nesta perspectiva, os ideais para a renovação da
educação. educação foram influenciados em grande parte pela calorosa
Lembremos que a nação brasileira, conforme Monarcha “conversão” de Anísio Teixeira no movimento educacional
era inculta, patriarca, conservadora, oligárquica e acima de norte-americano (pragmatismo), pelo qual o aprendizado
tudo, estava atrasada e doente. Na verdade, esta foi a cara do ocorre pela capacidade de observação, experimentação do
Brasil na Primeira República, que sucede o período de aluno tendo como orientador, ou facilitador o professor
escravidão, da abolição e do tempo monárquico pós- treinado para este fim.
independência. O movimento reformador queria ver contemplado as suas
Neste atravessamento, os livres-pensadores da época, com demandas político-pedagógicas por meio de um sistema
suas visões incertas de mundo, livres da religião e cheios de nacional de educação, bem como definir um programa
métodos-científicos veem no novo regime – A República, como educacional para o país. Houve muitas discussões e
derradeira abolição dos privilégios de classe, cor, raça e participações de segmentos. A Igreja acaba participando da
religião. Todavia não representou a alforria para a maioria ao discussão na tentativa de garantir seus interesses e territórios
ingresso na vida, no mercado de trabalho e em especial na enquanto formadora de mentes e de condutas. Já, os
educação. Isto porque não houve esclarecimento e conquista educadores reformistas que elaboraram em 1932 o Manifesto
das massas humanas, sob os princípios das luzes e virtudes da Educação Nova, defendendo a democratização da educação
que por sinal foram a euforia da aurora da Primeira República, - escola pública gratuita e laica.
mas que, infelizmente esquecida e apagadas as luzes e as Em contrapartida, outro movimento buscava estabelecer a
virtudes postas de lado, em favor da “[...] depravação dos proposta de Fernando Azevedo, que tem como base a distinção
costumes, à predominância dos vícios oligárquicos [...], à clara entre educação para elite, enquanto civilizadora e, a
transformação da liberdade em licenciosidade, à instrução educação para a massa, enquanto força instintiva e afetiva. As
popular reduzida ao ler e escrever de poucos”. Na verdade discussões se estenderam, e os pioneiros são acusados de
milhares de excluídos da alfabetização. partidários de ideais contrários aos interesses da nação. O
E o Estado-República? Após treze anos, o governo nada fez interessante é que este grupo objetivava ser reconhecido como
para ensinar o povo a ler e escrever. De repente o governo base para uma sociedade capitalista, liberal e de livre-
acorda e se depara com a possível ruína da nação, das elites e mercado.
do povo, pois o ímpeto modernizador republicano se perderá. Todavia, no pós 1930, alguns interesses educacionais da
Sem povo não existe nação e não temos povo no Brasil, porque nação foram reclamados na Reforma de Capanema, e houve a
não temos educação nacional organizada. retomada das campanhas sanitaristas, que viabilizaram as
A intervenção ou medicação para esta crise foi indicada em Reformas no Ensino Secundário tendo como base as
1927, na 1ª Conferência Nacional de Educação, no qual orientações humanistas de caráter elitista; criação do Sistema
profissionais especialmente do campo da saúde e do ensino de Ensino Profissional (Senai, Sesi, Senac, Sesc) direcionado ao
por meio do lema norte-americano: sanitation over all, visam povo visando formar mão-de-obra qualificada e, Reforma
a higienização do povo através do saneamento do meio físico, Universitária objetivando um padrão nacional de organização.
social e moral eliminando a “doença endêmica multiforme e a Em suma, criados para incorporar a massa inculta ao mercado
ignorância do povo”. de trabalho e este efeito permanece até hoje.
O povo é inculto e está doente! Acreditem, a educação e a
saúde são o elixir com direito a bula que deverá higienizar e Por uma prática libertadora
educar o povo. Tomando, lendo e seguindo a risca a bula o
povo terá acesso à riqueza, ao progresso, ao civismo, ao No atravessamento de ideais, Germano, diz que a vida
respeito e moralidade tão desejados ao povo ou do povo para política do Brasil sempre esteve enlaçada pelas Forças
alguém? Armadas e em especial pelo exército, principalmente a partir

1 Texto adaptado de MÜLLER, C. A. baseado no livro de GADOTTI, M.

Pensamento Pedagógico Brasileiro.

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APOSTILAS OPÇÃO

da segunda metade do século XIX, com a Guerra do Paraguai, a negação do passado, do caminho já percorrido pelos outros. É
qual revelou conflitos entre o Exército e o Poder Imperial. a sua transformação e, ao mesmo tempo, a conservação do que
Esses laços se estenderam à abolição da escravatura em 1888; há de fundamental e original nele, e a elaboração de uma
na instauração da República em 1889; cooperou para o fim da síntese qualitativa.
República em 1930; auxiliou no estabelecimento da ditadura Em outro movimento, de acordo com Gadotti, o educador e
de Vargas, período conhecido como Estado Novo; destituiu o antropólogo Brandão nos apresenta a educação popular como
mesmo Vargas em 1945, bem como, esteve presente no alternativa à educação dominante e à conquista de novas
suicídio de Vargas; e, instaurou o golpe de Estado de 1964. formas de organização de classes. Esse deslocamento
O Estado Novo constitui-se, de acordo com Germano, na aconteceria através de uma educação como processo de
consolidação do domínio burguês no Brasil e este movimento humanização ao longo da vida e de maneira variada.
efetiva uma acentuada intervenção do Estado na economia, na Então, o processo de ensino-aprendizagem não é algo
modernização, na educação, entre outros, fazendo com que os imposto e sim um ato de conhecimento e de transformação
militares abandonem as posições reformistas e busquem neste social, pois, o aprender se daria a partir do conhecimento que
momento, o fortalecimento das “Forças Armadas, na o aluno traz consigo, ou seja, um saber popular e para o
segurança interna e na defesa externa”. Esse deslocamento dos educador é estar comprometido politicamente e, ser solidário
militares preanuncia um aspecto importante do pós 64: a e responsável por buscar a direção justa para que possam em
ideologia da Segurança Nacional. Ou seja, é o momento do conjunto construir uma consciência cidadã até que o “povo
antiliberalismo e do anticomunismo. assume de uma vez o leme e a direção do barco”.
Devido a crise econômica e política, o inicio dos anos 60 foi Nesta perspectiva, a educação popular, será um processo
crítico para as elites brasileiras. Conforme Germano, a que busca na organização e na persistência, a participação na
instabilidade e insustentabilidade do Estado em criar formação, o “fortalecimento e instrumentalização das práticas
condições favoráveis para um crescimento econômico e de e dos movimentos populares, com o objetivo de apoiar a
garantir a seletividade de classe e a reprodução da dominação passagem do saber popular ao saber orgânico, ou seja, do
política da burguesia, em 1964 é deflagrado através da saber da comunidade ao saber de classe na comunidade”.
participação da elite, de multinacionais, do Governo dos Em uma sociedade, conforme Gadotti, que se fundamenta
Estados Unidos, e das Forças Armadas como executiva, o golpe, nos princípios da eficiência e do lucro, as pessoas acabam
chamado pelos militares de Revolução de 64. A ditadura foi dissipando sua identidade e viram função alienada que segue
consolidada enquanto processo pelos chamados Atos às cegas as regras da moral, da ciência, da religião etc., que são
Institucionais - AI, por meio dos quais, os direitos civis são articuladas pelo poder mágico do discurso vigente.
aluídos. Nessa brutal repressão, milhares de pessoas Nesse contexto, Rubem Alves propõe a educação como um
tornaram-se expatriados políticos, torturadas, mortas em espaço possível de desinstalação. Ou seja, procura construir
nome da Segurança Nacional. uma educação, uma escola, enquanto espaço de prazer e da
O regime militar, deste período, realizou a Reforma fala. Este é o enfoque principal de Alves, citado por Gadotti, a
Universitária, através da Lei 5.540/68, e a Reforma do Ensino linguagem, a fala ao lado do corpo.
de 1° e 2° Graus, Lei 5.692/71. Nessas propostas, o homem O educador fala com o corpo. É no corpo de cada educador
deverá ser adestrado para a Segurança Nacional. e de cada educando que estão escritas as suas histórias. Daí a
Em um cenário de intensos discursos e ações, surgem necessidade de lê-lo e relê-lo constantemente. O corpo é o
ideais em favor de reformas estruturais na sociedade primeiro livro que devemos descobrir; por isso, é preciso
brasileira. Em um primeiro momento, Paulo Freire traz a reaprender a linguagem do amor, das coisas belas e das coisas
possibilidade de compreendermos que pela educação, boas, para que o corpo se levante e se disponha a lutar.
enquanto prática libertadora será possível ampliar a Mostra a importância da formação do educador
participação das massas e conduzi-las à sua organização comprometido consigo mesmo e com o aluno, capaz de
crescente, conforme Gadotti citando Freire: superar a burocratização e a uniformização a que são
[...] as elites (intelectuais) são assistencionalistas e não submetidos. Inquietando-se com o papel da saber e com a
têm receio de recorrer à repressão e ao autoritarismo crescente desumanização das relações humanas.
quando se sentem ameaçadas. Por outro lado, as classes Nas palavras de Gadotti, é valorizar o prazer, o sentimento,
médias estão em busca de ascensão social e se apoiam nas a arte e a paixão na educação e na vida humana. O melhor
elites. Desta forma, a solução para transformar a sociedade método? O método do amor é melhor do que o racional para
opressora está nas mãos das massas populares, educar, aprender e ensinar.
“conscientes e organizadas”. E por que não nos deixarmos envolver pela paixão de
Nessa perspectiva, a pedagogia do oprimido3, enquanto conhecer o mundo? Eis a proposta de prática pedagógica de
processo, buscaria a superação de uma cultura colonial para Madalena Freire, na qual é possível o exercício do diálogo
uma sociedade aberta. Esse movimento deveria buscar a desde a primeira educação articulando conhecer e viver,
conscientização do sujeito articulado com uma práxis envolvidos pela paixão.
desafiadora e transformadora da realidade. Para tanto, torna- O trabalho de Madalena Freire, conforme Gadotti busca
se imprescindível estabelecer um diálogo crítico horizontal superar a dicotomia entre o cognitivo e o afetivo para que a
(oposta ao eletismo) como condição para favorecer e sustentar educação seja um processo prazeroso. Nas palavras de
o amor, a humildade, a esperança, fé e confiança nas relações Madalena Freire: o ato de conhecer é tão vital como comer ou
entre os sujeitos para descobrirem-se como sujeitos históricos dormir, e eu não podemos comer ou dormir por alguém. A
no processo. escola em geral tem esta prática, a de que o conhecimento pode
Em linhas gerais, Paulo Freire, conforme Gadotti ser doado, impedindo que a criança e, também, os professores
caracteriza duas concepções opostas de educação: a o construam. Só assim a busca do conhecimento não é
concepção bancária literalmente burguesa, pois, o educador é preparação para nada, e sim VIDA, aqui e agora. E é vida que
o que sabe e julga e os alunos meros objetos. Em contrapartida, precisa ser resgatada pela escola.
a concepção problematizadora funda-se justamente na relação A partir do vivido da criança, o educador pode planejar e
dialógico-dialética entre educador e educando – ambos organizar as atividades escolares sem perder a direção
aprendem juntos, ambos se emancipam. pedagógica e o seu papel organizativo. As atividades se
Ser fiel a Paulo Freire significa, antes de mais nada, configuram a partir dos interesses das crianças, da sua
reinventá-lo e reinventar-se como ele. Nisto, aliás, consiste a vivência, para que o processo de construção do conhecimento
superação (aufhebung) na dialética: não é nem a cópia e nem a e do afetivo, por exemplo, a alfabetização e a construção de um

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sistema de representação (leitura e escrita), fluam salários ao corpo docente e claro, convencer os pais a
naturalmente na vida da criança para que quando adulto, a enviarem seus filhos à escola.
vida possa fluir sem artifícios. Passados alguns bons anos, nos deparamos com os reais
É procurando compreender as atividades espontâneas das problemas: a má qualidade das escolas, a famosa repetência e
crianças que vou, pouco a pouco, captando os seus interesses, acrescento aqui a qualidade das aprendizagens. Como após
os mais diversos. As propostas de trabalho que não apenas tantas reformas, investimentos, e elaborações de políticas e
faço às crianças, mas que também com elas discuto, ações à educação, persistem ainda as elevadas taxas de evasão
expressam, e não poderia deixar de ser assim, aqueles e repetência e muitas outras dificuldades?
interesses. Creio que muitas escolas hoje estão afastadas não de uma
Não é de estranhar, pois, que as crianças se encontrem nas concepção democrática e libertadora. Isto porque, na grande
suas atividades e as percebam como algo delas, ao mesmo maioria dos PPP das escolas, estas propostas, conceitos se
tempo em que vão entendendo o meu papel de organizadora e fazem presentes na escrita. Mas, no planejamento, na prática,
não de “dona” de suas atividades. no exercício diário da intervenção pedagógica em sala de aula,
Creio que cabe aos professores o exercício proposto por esta práxis não se faz presente.
Freire, de se permitirem entender a espontaneidade dos Tristemente, encontramos influência de uma pedagogia,
nossos alunos (crianças, jovens, adultos), enquanto condição conforme Gadotti, do bom senso, e do silêncio, desconectada
possível para desestabilizar uma pedagogia atrelada desde da vida dos educadores e dos alunos. “Uma vida opaca e
muito tempo à autoridade, para reprodução homogeneizadora conciliadora, e na qual é preciso ser falso, esconder interesses,
e, como “campo de vigilância sobre o tempo, o espaço, o montar estratégias, ser “esperto” e “levar vantagem.
movimento, os gestos, para produzir corpos submissos, Entretanto, se o Brasil precisa de mais e melhor educação,
exercitados e dóceis”. conforme previsto no Programa de Governo de Dilma Rousseff
Na verdade, o movimento proposto e quando articulado às é porque a qualidade do ensino é um dos pilares que sustenta
práticas pedagógicas é dar sentido não somente para as a proposta por meio da valorização do professor. Valoração,
atividades, mas também às relações que se constituem no renovação, ação. Eis o sentido, das formações e\ou
espaço pedagógico. Esse deslocamento chama para uma nova capacitações que deverão propiciar ao professor a
postura não somente ao professor, mas também ao aluno. redescoberta da sua função e tarefa - assumidas em juramento.
Ao professor, Gadotti citando Chauí cabe algumas Fazer com que o professor saia de um monólogo e busque
perguntas: qual há de ser a função do educador atual? Como entender as relações recíprocas existentes entre domínio do
romper com essa violência chamada modernização? Como não saber e o domínio do saber fazer. Ou seja, tomar consciência
cair nas armadilhas do conhecer para não pensar, adquirir e do seu verdadeiro exercício, como dinamizador do processo de
reproduzir para não criar, consumir em lugar de realizar o ensino-aprendizagem e organizador da intervenção
trabalho de reflexão? pedagógica. Esse processo de reflexão em formação pode
tornar consciente os modelos teóricos e epistemológicos que
Ampliando ideais, emancipando ideias. se evidenciam na sua prática, para então refletir sobre o saber
e o saber fazer. Essa situação levará o professor a rever o que
Refletindo sobre os discursos, os ideais e práticas do ontem propôs e se dispor a novas possibilidades, modificando sua
e do hoje, salvo importantes exceções, percebe-se a constância proposta, dispondo-se a repensá-la, ou manter a mesma
não somente na nossa história política, mas também à proposição.
educação voltada, nas palavras de Germano, para manobras do Neste sentido, penso que a questão pontual para uma
alto, estabelecendo a continuidade, as restaurações, as melhor educação seja a possibilidade do professor estabelecer
intervenções e exclusões das massas populares por meio do relações entre teoria e prática, assumindo seu papel no
autoritarismo. processo de ensino-aprendizagem e a importância deste
Não é para menos que a insígnia, conforme Gadotti, da trabalho ser em conjunto entre professor x aluno, professor x
tradição brasileira é a influência de oligarquias que professor. É buscar dar sentido ao que somos ao que fazemos
“compartilham” interesses para conservar o controle do e por que fazemos.
poder. Na verdade as colocações apresentadas nos mostram o
Hoje, esses conceitos e práticas se estendem e respingam esforço para permitir um processo de ensino-aprendizagem
na educação com um novo figurino, uma nova e boa voltado à constituição de sentidos, ou seja, produzir
maquiagem em nome do moderno. Todavia, modernizar ainda significado mostrando ao aluno o que aquele conteúdo tem a
significa, de acordo com Gadotti citando Florestan Fernandes, ver com a vida dele e por que é importante e como aplicá-lo em
reajustar as economias periféricas às estruturas e aos uma situação real. Chamar os professores, conforme Mello,
dinamismos das economias centrais e é claro, ao bom para uma reflexão sobre a própria prática pedagógica: o que se
andamento dos negócios. faz e com quais objetivos se faz. Torna-se muito importante ter
Nesta perspectiva, uma coisa é certa: de um passado muito um parâmetro de como estamos para saber o que precisamos
presente o pensamento pedagógico brasileiro busca uma mudar. Ninguém muda se não tem consciência do que precisa
práxis, conforme Germano, de resistência à dominação de mudar. Já sabemos o que mudar?
classe, ao domínio estrangeiro, ao imperialismo e à Penso que se este movimento estiver, conforme Gadotti, a
transplantação cultural, configurando-se como um construir um caminho próprio, libertando-se de um
instrumento de luta em favor da identidade nacional, mediante pensamento transplantado, buscando realmente a superação
a valorização e o fortalecimento das raízes culturais do povo e transformação das dependências enraizadas nos modelos,
brasileiro em busca da construção de um futuro melhor, nos paradigmas e das teorias elaboradas em outros contextos,
diferente do passado/presente. em especial aqueles de países hegemônicos, estaremos sim,
Todavia devemos considerar de acordo com Gadotti, para caminhando para um comprometimento real para a
o qual a crise do modelo de educação voltada para a rigidez e transformação social.
inflexibilidade não é apenas interna à escola e sim de acordo Um processo, uma luta contra si mesmo à tomada de
com os autores Schwartzman e Brock, que o problema da consciência e contínua; o engajamento, por uma real mudança.
educação no Brasil, em um primeiro momento, estava
erroneamente pautado na falta de escolas, às crianças que não
iam para a escola, e à carência de verbas. Neste sentido, foi
considerada, a necessidade de construir escolas, melhores

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exigindo, através do Concílio de Trento (1562), que as


1.1 Teoria da educação, pregações ocorressem em vernáculo, ou seja, na língua
diferentes correntes do popular da região em que se estivesse.
Após o Discurso do Método, João Amos Comênio (1592-
pensamento pedagógico 1670) escreveu a Didática Magna (1657), como método
brasileiro. pedagógico. Ensinar palavras, como sombras das coisas,
Comênio dizia que a escola deveria ensinar o conhecimento
das coisas. O pensamento pedagógico moderno caracterizava-
O pensamento pedagógico moderno: iluminista, se pelo realismo.
positivista, socialista, escolanovista, fenomenológico- John Locke (16321704) perguntavase de que serviria o
existencialista, antiautoritário, crítico2. latim para a sociedade, que trabalha nas fábricas. Ensinar
mecânica e cálculo era mais importante. Mas as classes
O Pensamento Moderno. dirigentes continuavam aprendendo latim e grego: um bom
cidadão deveria recitar versos de Horácio ou Ovídio aos
Nos séculos XVI e XVII, surge uma classe social contra o ouvidos apaixonados de sua namorada. As humanidades
modo de produção feudal. Modificou e concentrou novos continuavam fazendo parte da educação da nobreza e do clero.
meios de produção, iniciando um sistema de cooperação, Locke, em seu Ensaio sobre o entendimento humano,
começando um trabalho em série que se estruturou no século combateu o inatismo, antepondo a ideia da experiência
XX. Assim, a produção não se apresentava mais isoladamente, sensorial, ou seja, nada existe em nossa mente que não tenha
passando a constituir um esforço coletivo. sua origem nos sentidos.
Essa sociedade buscou o domínio sobre a natureza, A pedagogia realista é contra o formalismo humanista,
desenvolvendo técnicas, artes, estudos, como a matemática, pregando a superioridade do domínio do mundo exterior
astronomia, ciências físicas, geografia, medicina e biologia. sobre o domínio do mundo interior, a supremacia das coisas
Giordano Bruno (15481600) desenvolveu a astronomia; sobre as palavras. Desenvolveu a paixão pela razão
Galileu Galilei (15641642) construiu um telescópio, descobriu (Descartes) e o estudo da natureza (Bacon). De humanista, a
os satélites de Júpiter e a lei da gravidade; William Harvey educação tornase científica. O conhecimento só possuía valor
(15781657) teorizou a circulação do sangue; Francis Bacon quando preparava para a vida e para a ação.
(15611626) criou uma nova organização para as ciências, O surto das ciências naturais, da física, da química, da
propondo a diferença entre a fé e a razão, não se envolvendo biologia, despertou interesse pelos estudos científicos e
nas divergências religiosas que deixam em dúvida a abandonou os estudos de autores clássicos e das línguas da
compreensão da realidade – criou o método indutivo de cultura grecoIatina. Até a moral e a política deveriam ser
investigação que foi uma de suas obras que se opôs ao método modeladas pelas ciências da natureza. A educação não era
de Aristóteles de dedução. Bacon é considerado o precursor do mais considerada um meio para aperfeiçoar o homem. A
método científico moderno. René Descartes (1596 1650), educação e a ciência eram consideradas um fim em si mesmo.
escritor do Discurso do Método, mostra os caminhos para o O cristianismo afirmava que era preciso saber para amar.
estudo e a pesquisa, que além de criticar o ensino humanista, Ao contrário, dizia Bacon, saber é poder, sobretudo poder
propôs a matemática como ciência perfeita. sobre a natureza. Dividia as ciências em da memória ou
Descartes confirmou o dualismo da filosofia, quando se histórica, da imaginação ou poética, e da razão ou filosófica.
referiu à relação entre o pensamento e o ser. Convicto do Locke colabora com a educação da seguinte forma: a
potencial da razão humana, criou um método novo, o de criança, ao nascer, era, segundo ele, uma tábula rasa, um papel
conhecimento do mundo substituindo a fé pela razão e pela em branco sobre o qual o professor podia escrever de tudo.
ciência. Tornase assim o pai do racionalismo. Procurou Comênio, considerado o grande educador e pedagogo
conciliar a religião e a ciência, mas sofreu influência da moderno e um dos maiores reformadores sociais de sua época,
burguesia no século XVII, considerada, ao lado das ideias foi o primeiro a propor um sistema articulado de ensino,
progressistas da França, o medo das classes populares. reconhecendo o igual direito de todos ao saber. Para ele, a
Descartes apresentou, pelo Discurso do Método, quatro educação deveria ser permanente, isto é, acontecer durante
princípios: toda a vida. Afirmava que a educação nunca termina porque
nós sempre estamos sendo homens e, portanto, estamos
- Não considerar como verdadeiro o que não se conhecesse, sempre nos formando.
ou seja, evitar a precipitação não conceituando o que não se Comênio é defensor de que a organização do sistema
apresentasse claro ou se apresentasse com dúvida. educacional deveria compreender 24 anos, correspondendo a
- Dividir cada dificuldade encontrada em número de quatro tipos de escolas: a escola Materna, dos 0 aos 6 anos; a
parcelas possíveis e necessárias para melhor resolvêIas. escola Elementar ou Vernácula, dos 6 aos 12 anos; a escola
- Conduzir ordenadamente os pensamentos, pelas coisas Latina ou Ginásio, dos 12 aos 18; e a
mais simples e fáceis, e pouco a pouco chegar até o Academia ou Universidade, dos 18 aos 24 anos. Em cada
conhecimento das mais complicadas. família deveria existir uma escola Materna; em cada município
- Numerar tudo e revisar, para ter a certeza de nada omitir. ou aldeia, uma escola Primária; em cada cidade, um Ginásio; e
em cada capital, uma Universidade.
Descartes, precursor da filosofia moderna, escreveu sua O ensino deveria ser unificado, todas as escolas deveriam
principal obra em francês, uma das línguas populares à época, ser articuladas. Seriam assim distribuídas: a escola Materna
possibilitando acessibilidade de um maior número de pessoas. cultivaria os sentidos e ensinaria a criança a falar; a escola
O latim medieval se representava como o representante da Elementar desenvolveria a língua materna, a leitura e a escrita,
religião, da filosofia, da diplomacia e da literatura. Já o incentivando a imaginação e a memória, além do canto, das
comércio se utilizava das línguas como o italiano, o espanhol, ciências sociais e da aritmética. A escola Latina se destinaria,
o holandês, o francês, o inglês e o alemão. sobretudo, ao estudo das ciências. Para os estudos
No século XVI, ocorreu uma grande revolução linguística, universitários, recomendava trabalhos práticos e viagens.
exigindo dos educadores o bilinguismo, ou seja o latim e o Aí se formariam os guias espirituais e os funcionários. À
vernáculo. A Igreja percebeu a importância desse conflito, academia só deveriam ter acesso os mais capazes.

2 UNINOVE. História do Pensamento Pedagógico.

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Como se vê, apesar dos avanços, a educação das classes obrigatoriedade escolar, como na Prússia, em 1717. Na
populares e a democratização do ensino ainda não se colocava Alemanha, cresce a intervenção do Estado na educação, com as
como questão central. Aceitava-se facilmente a divisão entre o Escolas Normais, e planos que se voltam para a grande
trabalho intelectual e o trabalho manual, resultado da própria revolução pedagógica nacional francesa do final do século.
divisão social. Para as classes dominantes, o ideal era a Nunca se havia discutido tanto a formação do cidadão por
formação do galant homme, que almejava a conquista de uma meio das escolas como durante os seis anos da Revolução
posição nas cortes. Daí teve-se na época um enorme Francesa. A escola pública é o resultado dessa revolução
desenvolvimento das academias cavalheirescas. burguesa. Os teóricos iluministas buscavam uma educação
Os grandes educadores da ocasião eram na verdade inspirada nos princípios da democracia, laica e gratuita. Com
clérigos ou preceptores de príncipes e nobres. Essa educação ela a ideia da unificação do ensino público acontece em todos
nobre procurava desenvolver a curiosidade, a instrução os graus, mas ainda era elitista, pois só os com maior
atraente e diversificada, por meio, de historietas e fábulas, com capacidade podiam prosseguir até a universidade.
finalidade moral e religiosa. Ser honesto, sábio, ter bom gosto O iluminismo busca libertar a repressão dos monarcas e o
e espírito nobre e galanteador. Assim a educação da classe despotismo do clero. O movimento pela liberdade individual
dominante seria composta pelo clero e pela nobreza. iniciado no período anterior busca refúgio no ideal de vida do
Já no século XVII surge a luta das camadas populares pelo bom selvagem, livre de todos os condicionamentos sociais. É
acesso à escola. Instigada pelos novos intelectuais iluministas lógico que essa liberdade só podia ser praticada por poucos,
e por novas ordens religiosas, a classe trabalhadora, em aqueles que eram, livres do trabalho material, e que tinham
formação, podia e devia ter um papel na mudança social. O sua sobrevivência garantida por um regime econômico de
acesso à formação tornou-se essencial para articular seus exploração do trabalho.
interesses e elaborar sua própria cultura de resistência. O estado natural do homem é demonstrado pelo espaço
Entre os protestantes, os metodistas, por exemplo, que Rousseau dedicou para uma sociedade existente entre os
impulsionaram as escolas dominicais, que, embora homens primitivos, exemplificando os índios das Américas.
pretendessem utilizar a escola como veículo de formação Sua obra Emílio mostra o personagem de mesmo nome,
religiosa, possibilitavam o acesso de crianças pobres e educado sem contato com outros homens e com nenhuma
necessitadas ao saber. Alguns principados alemães religião, apenas no convívio com a natureza. Sem contato com
providenciaram uma legislação específica da escola, além de se ninguém, Emílio fica apenas nas mãos de um preceptor ideal,
criar bibliotecas públicas ainda no século XVII. Rousseau.
No século seguinte surgem as bibliotecas circulantes. Ao A educação não deveria apenas instruir, mas permitir que
contrário da ordem dos jesuítas, surgiram várias ordens a natureza acontecesse na criança, sem reprimi-la buscar
religiosas católicas que se dedicavam à educação popular: a modelos. Na teoria da bondade natural do homem é que se
congregação dos oratorianos, fundada por Filipe Néri (1515- baseia Rousseau, sustentando que só os instintos e os
1595) ; a Sociedade dos Irmãos das Escolas Cristãs, fundada interesses naturais deveriam direcionar. Direcionava-se para
por Jean Baptiste de La Salle (1651 1719). Muitas dessas uma educação racionalista e negativa, ou seja, de restrição da
escolas ofereciam ensino inteiramente gratuito e na forma de experiência.
internato. Tratava-se, contudo, de uma educação filantrópica e Rousseau foi precursor da escola nova, iniciada no século
assistencialista. XIX, teve grande êxito na primeira metade do século XX, sendo
Esses dois modelos de educação, o primeiro real e público, ainda hoje muito presente. Suas filosofias tiveram muita
e o segundo religioso e privado, foram exportados para as influência sobre os educadores da época, como Pestalozzi,
colônias: para a América britânica, o modelo das escolas Herbart e Froebel.
dominicais protestantes; para a América espanhola e Rousseau dividiu a educação em três momentos: a infância
portuguesa, as escolas católicas. (natureza até 12 anos) ; maturidade (força, razão e paixões,
dos 12 aos 20 anos devendo ter o desenvolvimento científico
O Pensamento Iluminista maior para a vida social) ; a sabedoria e o casamento (dos 20
aos 25anos).
Entre 1453 e 1789, determinase o período da Idade No século XVIII, Rousseau realiza a transição do controle
Moderna, com o predomínio do sistema absolutista, da educação da Igreja para o Estado, e nessa época
concentrando o poder nas mãos do clero e da nobreza. desenvolveu-se o esforço da burguesia em estabelecer o
A Revolução Francesa acabou com essa situação. Ela já controle civil (não religioso) da educação por meio da
fazia parte do discurso dos grandes pensadores daquela época, instituição do ensino público nacional, assim o controle da
denominados de iluministas. Voltados para a racionalidade e o Igreja sobre a educação e os governos civis foi aos poucos
combate a favor das liberdades, contra o pensamento da Igreja decaindo com o crescente poder da sociedade econômica.
e a prepotência dos governantes. Esses pensadores eram A Revolução Francesa baseou-se também nas exigências
também chamados de enciclopedistas, pelas ideias liberais populares de um sistema educacional. A Assembleia
publicada sob a supervisão de Diderot e D'Alembert com o Constituinte de 1789 elaborou vários projetos de reforma
nome de Enciclopédia. escolar e de educação nacional. O mais importante é o projeto
Entre os iluministas, destacase JeanJacques Rousseau de Condorcet (17431794) propondo o ensino universal para
(17121778), precursor de uma nova era na história da eliminar a desigualdade.
educação. Constituiu-se no marco que separa a velha da nova Contudo, a educação proposta não era exatamente a
escola. Entre suas obras, citamos: Sobre a Desigualdade entre mesma para todos, pois admitia-se a desigualdade natural
os Homens, O contrato social e Emílio. Rousseau resgata a entre os homens. Condorcet reconheceu que as mudanças
relação entre a educação e a política, e centraliza o tema da políticas precisavam ser acompanhadas de reformas
infância na educação. educacionais. Foi partidário da autonomia do ensino, ou seja,
A criança não seria mais considerada um adulto em cada indivíduo deveria conduzir-se por si mesmo. Demonstrou
miniatura, mas viveria em um mundo próprio necessário de ser defensor da educação feminina para que as futuras mães
compreensão; o educador deve fazer-se educando de seu pudessem educar seus filhos, pois considerava as mulheres
educando; a criança nasce boa, o adulto é que perverte a mestras naturais.
criança. As ideias revolucionárias tiveram grande influência no
No século XVIII as camadas populares reivindicam a pensamento pedagógico de outros países, principalmente na
educação pública, e pela primeira vez o Estado instituiu a Alemanha e na Inglaterra, criando seus sistemas nacionais de

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educação, e na América do Norte a participação do Estado na tenha sido criada por ele mesmo, livre do instinto, por meio de
educação era significativa. sua própria razão.
A Revolução Francesa tentou plantar no educando a A nova classe mostrou, ao apagar das luzes da Revolução
consciência de classe, centro do conteúdo programático, pois a de 1789, que não estava de todo em seu projeto a igualdade
burguesia tinha clareza do que queria da educação, pois dos homens na sociedade e na educação. Uns acabaram
trabalhadores com formação de cidadãos seriam mais recebendo mais educação do que outros. Aos trabalhadores,
participativos de uma nova sociedade liberal e democrática. Os diria Adam Smith (17231790), economista político burguês,
pedagogos revolucionários foram os primeiros políticos da que será preciso ministrar a educação apenas em conta-gotas.
educação. Alguns, como Lepelletier (17601793), pretenderam A educação popular deveria fazer com que os pobres
que nenhuma criança recebesse outra formação que não a aceitassem de bom grado a pobreza. Anunciava-se o princípio
revolucionária, por meio de internatos obrigatórios, gratuitos fundamental de educação burguesa, sendo uma educação
e mantidos pelas classes dirigentes. Essa ideia, porém, não distinta para cada classe, pois a classe dirigente teria a
obteve êxito. Seu autor morreu na guilhotina. No final, a instrução para governar, e a classe trabalhadora, a educação
própria revolução recusou o programa educacional de para o trabalho. Essa concepção dualista da educação deverá
universalização da educação criado por ela mesma. ser sistematizada no século XIX pelo pensamento pedagógico
Froebel (17821852) foi o idealizador dos jardins da positivista.
infância, pois considerava que o desenvolvimento da criança
dependia de uma atividade espontânea (o jogo), uma atividade O Pensamento Positivista
construtiva (o trabalho manual) e um estudo da natureza.
Valorizava a expressão corporal, o gesto, o desenho, o A concepção da educação burguesa no século XVIII foi
brinquedo, o canto e a linguagem. Para ele a auto atividade consolidada pelo pensamento positivista. No iluminismo e na
representava a base e o método de toda a instrução. Como sociedade burguesa duas forças opostas se fizeram presentes
Herbart, valorizava os interesses naturais da criança. Via a no final do século XVIII. O movimento popular e socialista, e o
linguagem como a primeira forma de expressão social e o movimento elitista burguês. Eles chegam ao século XIX
brinquedo como uma forma de auto expressão. denominados de marxismo de Karl Marx, e de positivismo de
Depois de Froebel, os jardins da infância se multiplicaram Augusto Comte.
até fora da Europa, atingindo até os Estados Unidos. Suas Comte estudou na escola politécnica de Paris, recebendo
ideias ultrapassaram a educação infantil. Os fabricantes de influência de alguns intelectuais, como Joseph Louis Lagrange,
brinquedos, jogos, livros, material recreativo e jornais para matemático e o astrônomo Pierre Simon de La Place.
crianças foram influenciados pelas ideias de Froebel. Inspirou- Secretário de SaintSimon, seguiu a orientação para o
se nele John Dewey, um dos fundadores do pensamento estudo das ciências sociais e as ideias de que os fenômenos
escolanovista. sociais como os físicos podem ser reduzidos a leis, e de que
O iluminismo educacional representou o fundamento da todo conhecimento científico e filosófico deve ter por
pedagogia burguesa, que até hoje insiste predominantemente finalidade o aperfeiçoamento moral e político da humanidade.
na transmissão de conteúdos e na formação social Comte tem como sua principal obra o Curso de Filosofia
individualista. A burguesia percebeu a necessidade de oferecer Positiva, composta de seis volumes, publicadas entre 1830 e
instrução, mínima para a massa trabalhadora. Por isso, a 1842. Separado de sua primeira mulher, conheceu Clotilde de
educação se dirigiu para a formação do cidadão disciplinado. Vaux, cuja morte ocorreria no ano seguinte. Com ela viveu em
O surgimento dos sistemas nacionais de educação, no século perfeita comunhão espiritual.
XIX, foi o resultado e a expressão da importância que a Depois da perda de Clotilde, Comte transformoua na sua
burguesia, como classe ascendente, emprestou à educação. musa inspiradora para uma nova religião, cujas ideias se
Além de Rousseau, outro grande teórico destacase nesse encontram na obra Política Positiva, ou Tratado de Sociologia
período: é o alemão Emanuel Kant (17241804). Descartes instituindo a religião da humanidade (18511854). A segunda
defendia que todo conhecimento era inato e Locke que todo parte de sua vida teve como objetivo transformar a filosofia em
saber era adquirido pela experiência. Kant supera essa religião, assim como a primeira parte tentou transformar a
contradição, ou seja, mesmo negando a teoria platônico ciência em filosofia.
cartesiana das ideias inatas, mostrou que algumas coisas eram Para Augusto Comte, a derrota do iluminismo e dos ideais
inatas como à noção de espaço e de tempo, que não existem revolucionários deveuse à ausência de concepções científicas.
como realidades fora da mente, mas apenas como formas para Para ele, a política tinha de ser uma ciência exata. Já Marx
pensar as coisas apresentadas pelos sentidos. Por outro lado, buscava as razões do fracasso na própria revolução burguesa,
sustentou que o conhecimento do mundo exterior provém de que era contraditória, ou seja, proclamava a liberdade e a
experiência sensível das coisas. igualdade, mas não as realizaria enquanto não mudasse o
Admirador de Rousseau, Kant acreditava que o homem é o sistema econômico que instaurava a desigualdade na base da
que a educação faz dele através da disciplina, da didática, da sociedade.
formação moral e da cultura. Uma verdadeira ciência, para Comte, analisa todos os
Para Kant, espaço, tempo, causalidade e outras relações fenômenos, tanto humanos, como os de fatos, sendo, portanto,
não eram realidades exteriores. Essa afirmação foi acentuada uma ciência positiva. Tanto nas ciências da natureza quanto
por outros filósofos alemães, entre eles, Fichte (17621814) e nas ciências humanas, o afastar qualquer preconceito ou
Hegel (17701831), que acabaram negando a existência de pressuposto ideológico seria coerente. A ciência precisava ser
qualquer objeto fora da mente, pois é o idealismo subjetivo e neutra. Leis naturais e harmônicas regem a sociedade. O
absoluto que mais tarde será rebatido por Karl Marx. positivismo é a doutrina que consolida a ordem pública,
O que a moderna ciência da educação, na definição de seus desenvolvendo nas pessoas uma sábia resignação ao seu
conceitos básicos, chama de aculturação, socialização e estado de fato. Nada de doutrinas críticas, destrutivas,
personalização, representa algumas das descobertas de Kant. subversivas e revolucionárias como as do iluminismo da
Para ele, o educando necessita realizar esses atos, pois é o Revolução Francesa ou as do socialismo, ou seja, só uma
sujeito que tem de cultivar-se, civilizar-se, para assim doutrina positiva serviria de base da formação científica da
corresponder à natureza. Assim, o verdadeiro objetivo do sociedade.
homem é que desenvolva inteiramente, por si mesmo, tudo o Comte combateu o espírito religioso, mas acabou
que está acima da ordem mecânica de sua existência animal e propondo a instituição do que chamou religião da humanidade
não participe de nenhuma outra felicidade e perfeição que não para substituir a Igreja.

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Segundo ele, a humanidade passou por três etapas Para os pensadores positivistas, a libertação social e
sucessivas: o estado teológico, durante o qual o homem política passava pelo desenvolvimento da ciência e da
explicava a natureza por agentes sobrenaturais; o estado tecnologia, sob o controle das elites.
metafísico, no qual tudo se justificava por meio de noções O positivismo nasceu como filosofia, mas, ao dar uma
abstratas como essência, substância, causalidade, etc.; e o resposta ao social, afirmouse como ideologia. A expressão do
estado positivo, o atual, em que se buscam as leis científicas. positivismo no Brasil inspirou a Velha República e o golpe
Da Lei dos Três Estados, Comte formalizou o sistema militar de 1964. Nessa ideologia da ordem, o país não seria
educacional, afirmando que em cada homem as fases mais governado pelas paixões políticas, mas pela
históricas se reproduziriam, que cada indivíduo repetiria as racionalidade dos cientistas desinteressados e eficientes, os
fases da humanidade. tecnocratas.
Na primeira fase, a da infância, a aprendizagem não teria A tecnocracia, principalmente pós 64, nos oferece um
um caráter formal, transformaria gradativamente o fetichismo exemplo prático do ideal social positivista, preocupado apenas
natural iniciando uma concepção abstrata do mundo. Na com a manutenção dos fatos sociais, e entre eles, a existência
segunda, a da adolescência e da juventude, o homem concreta das classes. Isso serviu muito às elites brasileiras,
adentraria no estudo sistemático das ciências. quando sentiram seus privilégios ameaçados pela organização
Aos poucos, o homem na idade madura chegaria ao estado crescente da classe trabalhadora. Daí terem recorrido aos
positivo, passando do estado metafísico. Não mais abraçaria a dirigentes militares, que são as elites ordeiras, vislumbradas
religião de um Deus abstrato, e ratificaria a religião do Grande por Comte.
Ser, a Humanidade. A educação formaria, portanto, a A teoria educacional de Durkheim opõese à de Rousseau.
solidariedade humana. Este afirmava que o homem nasce bom e a sociedade o
Na realidade, a Lei dos Três Estados, de Comte, acabava perverte; Durkheim declarava que o homem nasce egoísta e só
esbarrando com a evolução dos educandos. Estes, de modo a sociedade pode tornáIo solidário. Por isso, a educação, se
algum, seguiam uma previsão tão positiva. De fato, as crianças definia como ação exercida pelas gerações adultas sobre as
não imaginavam forças divinas para explicar o mundo e nem gerações que não se encontravam ainda preparadas para a
os jovens se mostravam muito preocupados com as abstrações vida social.
metafísicas, ou seja, elas não explicam a evolução da história. O pensamento positivista, na pedagogia, gerou o
Seguindo Comte, Herbert Spencer (18201903) deixou a pragmatismo que só considerava válida a formação utilizada
concepção religiosa do mestre e valorizou o princípio da na vida presente. Entre esses pensadores, temos Alfred North
formação científica na educação. Buscou conhecimentos que Whitehead (18611947), para quem a educação é a arte de
realmente contavam para os indivíduos se desenvolverem, e utilizar os conhecimentos, Bertrand Russel (1872 1970) e
concluiu que os conhecimentos adquiridos na escola Ludwig Wittgenstein (18891951). Esses últimos estavam
necessitavam, ante de tudo, possibilitar uma vida melhor, com preocupados com a formação do espírito científico e com o
relação à saúde, ao trabalho, à família, para a sociedade em desenvolvimento da lógica. Apesar do pouco entusiasmo que
geral. os educadores progressistas brasileiros demonstraram pelo
Essa tendência cientificista na educação continuava o pensamento pedagógico positivista, ele trouxe muitas
movimento sensorialista dois séculos antes. Mas, na prática, a contribuições para o avanço da educação, principalmente pela
introdução das ciências no currículo escolar ocorreu muito crítica que exerceu sobre o pensamento humanista cristão. No
vagarosamente, resistindo à dominação da filosofia, da Brasil, o positivismo influenciou o primeiro projeto de
teologia e das línguas clássicas. formação do educador, no final do século passado. O valor
A tendência cientificista ganhou força com o dado à ciência no processo pedagógico justificaria maior
desenvolvimento da sociologia em geral e da sociologia da atenção ao pensamento positivista. É inegável sua
educação. Afinal, o positivismo negava a metodologia das contribuição ao estudo científico da educação.
ciências sociais em relação às ciências naturais, identificando- O Pensamento Socialista
as, e essa identificação será posteriormente criticada pelo
marxismo. A educação socialista formouse do movimento popular
Um dos principais expoentes na sociologia da educação pela democratização do ensino. Esse movimento compartilhou
positivista foi Émilie Durkheim (18581917), que considerava da presença de intelectuais comprometidos com essa causa e
a educação como imagem e reflexo da sociedade. com a transformação social. O conceito socialista de educação
A educação é um fato fundamentalmente social, e a se opõe ao da burguesia.
pedagogia seria a teoria dessa prática social. Durkheim é o Na educação socialista essas ideias não são recentes, mas
verdadeiro mestre da sociologia positivista moderna. Em por não atender aos interesses dominantes, têm sido relegadas
Regras do Método Sociológico, afirma que a primeira regra é a um plano inferior.
considerar os fatos sociais como coisas. A sociedade se A república de Platão já seria a manifestação do
compara a um animal, ou seja, possui um sistema de órgãos em comunismo utópico, pois ligava a educação à política. Thomas
que cada um desempenha um papel específico. Alguns deles Morus (14781535) fez decididamente a crítica da sociedade
seriam naturalmente mais privilegiados do que outros, e esse egoísta e propôs em seu livro Utopia o fim da propriedade, a
privilégio, por ser natural, representa um fenômeno normal, redução da jornada de trabalho para seis horas diárias, a
como em todo organismo vivo, predominando a lei da educação laica e a coeducação.
sobrevivência dos mais capacitados (evolucionismo) e a luta O francês Graco Babeuf (17601796) educou seus filhos
pela vida, em nada modificável. formulando princípios da pedagogia socialista, entre eles uma
Esse conjunto de ideias pedagógicas e sociais revela o escola pública e única para todos, manisfestandose, no seu
caráter conservador e reacionário do positivismo na educação. Manifesto dos Plebeus, contra a educação dominante e
O positivismo é a doutrina que visa à substituição da opressora aos interesses do povo, relacionando ao seu estado
manipulação do real pela visão científica, e que acabou de miséria.
estabelecendo uma nova fé, a fé na ciência, que vinculou a A primeira educação pública socialista foi anunciada por
imaginação científica à pura observação experimental. Seu Marx (18181883) e Engels (18201895) e desenvolvida por
lema sempre foi a ordem e o progresso, acreditando que para Vladimir Ilich Lênin (18701924). Marx e Engels nunca
progredir seria preciso ordem, e que a pior ordem é sempre realizaram uma análise sistemática da escola e da educação,
melhor do que qualquer desordem. Portanto, o positivismo pois suas ideias encontramse vinculadas ao longo de vários
tornou-se uma ideologia da ordem social. trabalhos. A problemática educativa foi colocada de modo

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ocasional e fragmentada, mas sempre no contexto da crítica coletivamente e se organizassem autonomamente. Auto-
das relações sociais e das linhas para a sua modificação. No seu organização e trabalho coletivo para superar o autoritarismo
Manifesto do Partido Comunista, defendem uma educação professoral da escola burguesa.
pública e gratuita para todas as crianças, baseados nos Para que houvesse essa autoorganização, Pistrak
seguintes princípios: a eliminação do trabalho de crianças na procurava mostrar a importância da aprendizagem para a vida
fábrica, a associação entre educação e produção material, a do educando e a necessidade dela para a prática de uma
educação politécnica abrangendo três aspectos: mental, físico determinada ação. O professor seria um conselheiro. Só a
e técnico, adequados à idade das crianças, jovens e adultos, e assembleia dos alunos podia estabelecer punições. Os
da inseparabilidade da educação da política, portanto, da mandatos de representação dos alunos seriam curtos para
totalidade do social e da articulação entre o tempo livre e o possibilitar alternância.
tempo de trabalho, isto é, o trabalho, o estudo e o lazer. Os métodos escolares seriam ativos e vinculados ao
Marx defende o trabalho infantil, mas que este trabalho trabalho manual, seja no trabalho agrícola, seja no trabalho
deva ser regulamentado, de maneira que em nada se pareça industrial; o aluno tinha de se sentir participativo do
com a exploração infantil capitalista. Ele sustenta, por razões progresso da produção, segundo sua capacidade física e
fisiológicas, que as crianças e os jovens de qualquer sexo mental. O aluno não iria à fábrica para trabalhar, mas para
devem dividirse em três classes, tendo cada uma delas um compreender a totalidade do trabalho. Na fábrica, dizia
tratamento específico: de 9 a 12 anos, com jornada de trabalho Pistrak, eclode toda a problemática do nosso tempo.
de duas horas por dia, de 13 a 15 anos, com jornada de A sua visão educacional coincidiu com o período de
trabalho de quatro horas por dia; e de 15 a 17 anos, com ascensão das massas na Revolução Russa, a qual exigia a
jornada de trabalho de seis horas por dia. formação de homens vinculados ao presente, inalienados, mais
Já Mikhail Bakunin (18141876) propõe a luta contra o preocupados em criar o futuro do que em cultuar o passado, e
elitismo educacional da burguesia, que é imoral, e Francisco cuja busca do bem comum superasse o individualismo e o
Ferrer Guardia (18591909), seguidor de Bakunin, defendia egoísmo. Devese a Pistrak o projeto da revolução soviética no
uma educação racional, laica, integral e científica, baseada nos plano da educação, especialmente no nível do ensino primário
seguintes princípios: da ciência e da razão, do e secundário. Enfatizou a necessidade de criar uma nova
desenvolvimento harmônico da inteligência e da vontade, do instituição escolar na sua estrutura e no seu espírito,
moral e do físico, do exemplo e da solidariedade, e da suprimindo a contradição entre a necessidade de criar um
adaptação dos métodos à idade dos educandos. Ferrer é novo tipo de homens e as formas da educação tradicional. Isso
considerado um dos educadores mais importantes do implicava uma profunda mudança na instituição escolar, e
pensamento pedagógico antiautoritário. preferiu então optar pela criação da nova instituição no lugar
Lênin atribuiu grande importância à educação no processo da transformação da velha estrutura.
de transformação social. Como um dos revolucionários a
assumir o controle de um governo, pôde experimentar na A Educação da Escola Nova
prática a implantação das ideias socialistas na educação.
Acreditando que a educação deveria desempenhar um A Escola Nova é o movimento de renovação da educação,
importante papel na construção de uma nova sociedade, depois da escola pública burguesa, de maior significado. A
afirmando que mesmo a educação burguesa que tanto fundamentação do ato pedagógico na ação, na atividade da
criticava era melhor que a ignorância. A educação pública criança, já se estruturava desde a escola alegre de Vitorino de
deveria ser política, pois o trabalho no terreno do ensino é a Feltre (13781446), que seguia a pedagogia romântica e
mesma luta para derrotar a burguesia, e ainda declaramos naturalista de Rousseau; mas só no começo do século XX que
publicamente que a escola à margem da vida, à margem da teve consequências importantes sobre os sistemas
política, é falsa e hipócrita. educacionais e a forma de pensar dos professores.
Exceto a Rússia, na Europa não existe nenhum país tão O escolanovismo se expandiu no mundo, resultando uma
bárbaro, no qual as massas populares tenham sido espoliadas renovação que valorizou a auto formação e a espontaneidade
do ensino, da cultura, e do saber, por isso, no decreto de 26 de da criança. A Escola Nova propõe uma educação instigadora de
dezembro de 1919, obrigava todos os analfabetos de 8 a 50 mudança social e, ao mesmo tempo, uma transformação da
anos de idade a aprender a ler e a escrever em sua língua. sociedade, e a sociologia da educação e a psicologia
Nas notas escritas entre abril e maio de 1917, para a educacional também contribuíram para essa renovação.
revisão do programa do partido, Lênin defendeu a anulação da Um dos pioneiros da Escola Nova foi Adolphe Ferrieri
obrigatoriedade de um idioma do Estado, o ensino geral e (18791960), educador, escritor e conferencista suíço. Ferrieri
politécnico, gratuito e obrigatório até os 16 anos, a lecionou no Instituto JeanJacques Rousseau, de Genebra, e foi
distribuição gratuita de alimentos, roupas e material escolar, a talvez o mais convicto divulgador da escola ativa e da educação
transmissão da instrução pública aos organismos nova na Europa. Suas ideias se basearam em concepções
democráticos da administração autônoma local, a abstenção biológicas, transformandose depois numa filosofia
do poder central de toda a intervenção no estabelecimento de espiritualista. Considerava que o impulso espiritual é a raiz da
programas escolares e na seleção do pessoal docente, a eleição vida, e que o dever da educação seria conservar ou aumentar
direta dos professores pela própria população e o direito desta esse impulso. Para ele, o ideal da escola ativa é a atividade
de destituir os indesejáveis, a proibição dos patrões de utilizar espontânea, pessoal e produtiva.
o trabalho das crianças até os 16 anos, a limitação da jornada Em 1899 fundou o Bureau Internacional das Escolas
de trabalho dos jovens de 16 a 20 anos a quatro horas, a Novas, em Genebra, e devido à criação de inúmeras escolas
proibição de que os jovens trabalhassem à noite em empresas novas com tendências diferentes, em 1919 o Bureau aprovou
insalubres ou nas minas. trinta itens considerados básicos para a nova pedagogia, e para
Pistrak, um dos primeiros educadores da Revolução Russa, uma escola se enquadrar no movimento, deveria cumprir pelo
seguindo a filosofia de Lênin, dizia não existir prática menos dois terços das exigências, ou seja, a Educação Nova
revolucionária sem teoria revolucionária, e ainda que sem a seria integral, intelectual, moral e física, ativa, prática, com
teoria pedagógica revolucionária não existe a prática trabalhos manuais obrigatórios, individualizada, autônoma,
pedagógica revolucionária. Atribuía ao professor um papel de campestre em regime de internato e coeducação.
militante ativo; dos alunos esperavase que trabalhassem Ferrieri coordenou a articulação internacional da Escola
Nova e, conseguiu sintetizar correntes pedagógicas distintas
em suas manifestações, porém unidas na preocupação de

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colocar a criança no centro das perspectivas educativas. consequente, um trabalho manual, tendo em vista a
Criticava a escola tradicional, afirmando que ela substituiu a diversidade globalizada de ensino, e um ambiente natural.
alegria de viver pela inquietude, o regozijo pela gravidade, o Outra contribuição da Escola Nova é o método dos centros
movimento espontâneo pela imobilidade, as risadas pelo de interesse do belga Ovide Decroly (18711932). Esses
silêncio. centros seria para ele a família, o universo, o mundo vegetal, o
John Dewey (18591952), educador norteamericano, foi o mundo animal, etc. Educar a partir das necessidades infantis.
primeiro a formular o novo ideal pedagógico, afirmando que o Os centros de interesse desenvolviam a observação, a
ensino deveria darse pela ação e não pela instrução. Para ele, a associação e a expressão, e diferenciavam-se do método dos
educação continuamente reconstruía a experiência concreta, projetos porque os primeiros não possuem um fim nem
ativa, produtiva, de cada um. implicam a realização de alguma coisa, pois as necessidades
A educação de Dewey era essencialmente pragmática e fundamentais da criança são: alimentares, proteger-se contra
instrumentalista, buscando a convivência democrática sem, a intempérie e os perigos, e agir através de uma atividade
porém, pôr em questão a sociedade de classes. A experiência social, recreativa e cultural.
concreta da vida se apresentava sempre diante de problemas Teve grande importância também a experiência da médica
que a educação poderia ajudar a resolver, recorrendo a uma italiana Maria Montessori (18701952), que passou para as
escala de cinco estágios do ato de pensar, que ocorrem diante crianças normais seu método de recuperação de crianças
de algum problema, e, portanto, o problema nos faria pensar. deficientes. Na Casa Dei Bambini (casa de crianças), para a pré-
São eles: uma necessidade sentida, a análise da dificuldade, escola, construiu uma enorme quantidade de jogos e materiais
as alternativas de solução do problema, a experimentação de pedagógicos que, com algumas variações, são ainda hoje
várias soluções, até que o teste mental aprove uma delas, e a utilizados em milhares de préescolas.
ação como a prova final para a solução proposta, que deve ser Pela primeira vez na história da educação, construiu-se um
verificada de maneira científica. ambiente escolar com objetos pequenos para que a criança
Conforme tal visão, a educação era essencialmente um tivesse pleno domínio deles, como mesas, cadeiras, estantes,
processo e não um produto, um processo de reconstrução e etc. Com materiais concretos, Montessori conseguia fazer com
reconstituição da experiência, um processo de melhoria que as crianças, pelo tato, pela pressão, pudessem distinguir as
permanente da eficiência individual. O objetivo da educação se cores, as formas dos objetos, os espaços, os ruídos, a solidez,
encontraria no próprio processo, e o fim dela estaria nela. A etc. Explorou técnicas completamente novas, como a lição do
educação se confundiria com o próprio processo de viver. silêncio que ensinava a dominar a fala, e a lição da obscuridade
Aumentar o rendimento da criança, seguindo os próprios para educar as percepções auditivas.
interesses vitais dela. Foram de grande importância para a Escola Nova o suíço
Essa rentabilidade serviria aos interesses da nova Édouard Claparece (18731940), Jean Piaget (18961980), o
sociedade burguesa, ou seja, a escola deveria preparar os pedagogo francês Roger Cousinet (18811973), Burrhus
jovens para o trabalho, para a atividade prática e para o Frederick Skinner (19041990), Paulo Freire (19212005), e
exercício da competição. tantos outros.
Nesse sentido, a Escola Nova acompanhou o A influência da pedagogia escolanovista tem sido enorme.
desenvolvimento e o progresso capitalistas, representou uma Muitas são as escolas que revelam a mesma filosofia
exigência desse desenvolvimento, propôs a construção de um educacional: as "classes nouvelles" francesas que deram
homem novo dentro do projeto burguês de sociedade, porém origem, na década de 60, no Brasil, aos ginásios vocacionais, às
poucos foram os pedagogos escolanovistas que ultrapassaram escolas ativas, às escolas experimentais, aos colégios de
o pensamento burguês para evidenciar a exploração do aplicação das universidades, às escolas piloto, às escolas livres,
trabalho e a dominação política, próprias da sociedade de às escolas comunitárias, aos lares escolas, às escolas
classes. individualistas, às escolas do trabalho, às escolas não diretivas
Só o aluno poderia ser autor de sua própria experiência, e outras.
daí o paidocentrismo, ou seja, o aluno como centro na Escola Os métodos, centro de interesses da Escola Nova, se
Nova. Essa atitude necessitava de métodos ativos e criativos aperfeiçoaram e levaram para a sala de aula o rádio, o cinema,
também centrados no aluno. Assim, os métodos de ensino a televisão, o dvd, o computador e as máquinas de ensinar,
significaram o maior avanço da Escola Nova. inovações que atingem, de múltiplas maneiras, nossos
Muitas foram as contribuições neste sentido, por exemplo, educadores, muitos deles adaptando-se diante de tantos meios
o método dos projetos, de Willian Heard Kilpatrick (1871- e técnicas propostas. Por isso, hoje, cada vez mais os
1965), é centrado numa atividade prática dos alunos, cujos educadores insistem na necessidade de buscar a análise de sua
projetos poderiam ser manuais, como uma construção; de prática, a discussão do cotidiano da escola, sem o que de nada
descoberta, como uma excursão; de competição, como um adiantam tantas inovações, planos e técnicas, por mais
jogo; de comunicação, como a narração de um conto, etc. Esse modernos e atraentes que sejam.
projeto passaria por algumas etapas, como designar o fim,
preparar o projeto, executáIo apreciando o seu resultado. Pensamento Existencialista
Discípulo de Dewey, Kilpatrick preocupavase, com a
formação do homem para a democracia e para uma sociedade A partir do século XX, as grandes correntes filosóficas
em constante mutação. Para ele, a educação baseiase na vida dividiram a pedagogia em duas grandes correntes: a da
para tornáIa melhor, ou seja, a educação é a reconstrução da essência e a da existência. Essa oposição parte de concepções
vida em etapas cada vez mais elaboradas. E a base da educação antropológicas pedagógicas também distintas.
está na atividade, ou melhor, na auto atividade decidida. A pedagogia da essência iniciase com Platão e foi
A pedagogia norteamericana recorreu ao método de desenvolvida pelo cristianismo, pois Platão distinguiu no
projetos sistematizados para globalizar o ensino a partir de homem o que pertence ao mundo das sombras, como o corpo,
atividades manuais. Classificavamse os projetos em quatro o desejo, e os sentidos do que pertence ao mundo das ideias,
grupos: de produção, de consumo, de resolução, ou de ou seja, o espírito na sua forma pensante. A pedagogia da
aperfeiçoamento de alguma técnica. essência investiga tudo o que é experimentado pelo homem e
Para Kilpatrick, as características de um bom projeto concebe a educação como ação no indivíduo definindo a sua
didático eram: um plano de trabalho, de preferência manual, essência, e o cristianismo manteve, transformou e
uma atividade motivada por meio de uma intenção desenvolveu essa concepção.

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Realçou a oposição entre duas esferas da realidade: Fenomenologia


verdadeira e eterna por um lado, aparente e temporal por
outro, o movimento reformista protestante que recolocou a A fenomenologia contribuiu muito para recolocar na
ideia de que o homem pode ser tudo, e que a individualidade é educação a preocupação antropológica. "Fenômeno" é o que se
uma das formas preciosa de realização da essência humana. mostra, o que se manifesta. A fenomenologia estuda o que
Daí surge, indícios de renovação do pensamento pedagógico, aparece e o que está escondido nas aparências, uma vez que
inspirandose nos direitos e nas necessidades das crianças. No aquilo que aparece, nem sempre é real. Contudo, a aparência
século XVI, Vives já tinha criado os alicerces de uma teoria também faz parte do ser. O método fenomenológico procura
psicológica do ensino. Erguiase, assim, uma verdadeira descrever e interpretar os fenômenos, os processos e as coisas
revolução contra a pedagogia tradicional. pelo que eles são, sem preconceitos. Mais do que um método,
Já se defendia o direito do homem viver de acordo com é uma atitude. Husserl diz que a atitude de "ir à coisa mesma"
suas crenças, iniciando o conflito entre a pedagogia da sem premeditações, sem ser conduzido por técnicas de
essência e a pedagogia fundada na existência. O indivíduo não manipulação das coisas. Mas isto não significa a recusa de toda
se repete, sendo uma pessoa única, condenada a ser ela précompreensão. Toda précompreensão de um fenômeno,
mesma, devendo recomeçar perpetuamente uma luta toda interpretação é continuamente orientada pela maneira de
dramática, já que aspira algo de mais elevado do que ela se colocar a questão elaborada pelo sujeito a partir de um
própria. Já Stirner atacara a pedagogia da essência, conceito. O único pressuposto não estranho à atitude
procurando mostrar que o seu erro está em impor aos fenomenológica é aquele em que toda compreensão é uma
indivíduos um ideal ultrapassado e uma religião a serviço da relação vital do intérprete com a coisa mesma. Daí a
sociedade e do Estado. complementaridade necessária entre fenomenologia e
Nietzsche criticava as tendências democráticas do ensino e conceito. A fenomenologia desenvolveu particularmente a
as tentativas de ligar a escola às necessidades econômicas e interpretação de textos.
sociais do país, e ao analisar a genealogia da moral, ele tentava O pensamento pedagógico existencialista e
provar que o ideal e as normas morais são obras dos homens fenomenológico foi muito influenciado pelos filósofos
fracos. franceses Jean Paul Sartre e Paul Ricoeur.
Em resumo, a pedagogia da essência propõe um programa Sartre dirigiu os grupos existencialistas e fundou a revista
para levar a criança a conhecer sistematicamente as etapas do literária e política Les Temps Modernes, fez extensas viagens e
desenvolvimento da humanidade, e a pedagogia da existência, travou polêmicas em diversas áreas, dedicandose também às
a organização e a satisfação das necessidades atuais da criança atividades políticas de esquerda.
por meio do conhecimento e da ação. Segundo Sartre, o homem é absoluto, não havendo nada de
Durkheim desenvolveu a concepção positivista de espiritual acima dele. Por determinadas condições biológicas,
educação, que buscava existencializar a pedagogia da essência. a sua existência precede a essência, o que significa que a
Ele criticava as concepções de educação baseadas no ideal de criatura humana chega ao mundo apenas biologicamente, e só
homem. A educação devia se moldar às necessidades da depois, através da convivência, adquire uma essência humana
sociedade em que está inserida. A existencialização da determinada.
pedagogia da essência se desdobrou em duas vertentes: uma O homem sofre a influência não só da ideia que tem de si,
priorizando as necessidades da criança e a outra a do grupo mas também de como pretende ser. Esses impulsos orientam-
social. no para um determinado tipo de existência, pois um indivíduo
A educação nova, como expressão de pedagogia moderna, não pode ser outra coisa senão aquilo em que se constitui.
veio como uma esperança para as dúvidas levantadas pela Como não há nada superior a ele, sua marcha se depara com o
pedagogia da existência, mas introduziu novas dúvidas em nada.
relação à formação social das novas gerações, pois é na Depois da Segunda Guerra Mundial, Sartre quis
pedagogia moderna que a contradição essência/ existência se compreender melhor o mundo, passando a adotar uma atitude
apresenta com mais nitidez. Com base nesse conflito prática. Desde então se manifestou em seu pensamento uma
consolidaramse duas tendências: uma tentando ligar a abertura para o social. Ele mudou seu conceito de liberdade,
pedagogia da existência ao ideal e a outra unindo a pedagogia aderindo ao marxismo. Seu projeto definitivo era agora lutar
da essência à vida concreta. Suchodolski sustentava que a pelo socialismo.
pedagogia deve ser simultaneamente da existência e da Paul Ricoeur nasceu em Valença. Não se pode situar
essência e que esta síntese exige condições que a sociedade Ricoeur apenas no movimento fenomenológico, apesar de que
burguesa não apresenta. Segundo ele, o mais importante é que parte considerável de sua obra referese à compreensão do
cada homem tenha garantias e condições existenciais para método e dos temas da fenomenologia de Husserl, Heidegger,
construir sua própria essência. Jaspers, Sartre e MerleauPonty. Os pensamentos
A filosofia existencialista provocou um grande movimento desenvolvidos por Ricoeur surgiram de um diálogo crítico com
de renovação da educação. A tarefa da educação, para a esses filósofos. É fundamental notar seu encontro com o
filosofia existencial, consiste em afirmar a existência concreta pensamento de Gabriel MareeI e sua íntima relação com o
da criança, aqui e agora. A existência do ser humano não é igual grupo personalista da revista Esprit dirigida por Emmanuel
à de outra coisa qualquer. Ela está sempre sendo, se formando, Mounier.
não é estática. O homem precisa decidirse, comprometerse, O pensamento de Ricoeur tem características afirmativas
escolher; e encontrarse com o outro. frente ao negativismo de alguns existencialistas. Tal atitude se
Com isso, muitas necessidades novas foram incorporadas refere à afirmação e à reconciliação do homem por inteiro com
à pedagogia contemporânea, o desafio, a decisão, o seu mundo. A reconstituição dessa unidade se efetua à base do
compromisso, o diálogo, a dúvida, as próprias do chamado reconhecimento da transcendência, do mistério. O que não
humanismo moderno. significa entregarse a uma filosofia irracionalista e obscura. O
Entre os filósofos existencialistas que tiveram forte mistério não é incompatível com a clareza e sim torna possível
influência na educação, destacamos: Martin Buber (1878- a clareza profunda. O emprego do método fenomenológico é a
1966), Maurice Merleauponty (19081961), Emmanuel tal ponto indispensável, que só mediante o mesmo pode
Mounier (19051950), Jean Paulo Sartre (19051980), Georges chegarse à compreensão dos fenômenos estudados. Para
Gusdorf (1912), Paul Ricoeur (1913) e Claude Pantillon (1938- Ricoeur, estes fenômenos são humanos, enquanto o humano
1980). esteja ligado ao mundo e suspenso no transcendente. Desses

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fenômenos Ricoeur tem se ocupado, em especial da preparar homens rebeldes, que pudessem participar do
voluntariedade do problema do mal. patrimônio universal.
A Escola Normal Racionalista foi fechada pelo governo
O Pensamento Antiautoritária conservador da Espanha. O ex bibliotecário da escola lançou
uma bomba contra o carro do rei da Espanha. Por isso Ferrer
A escola nova e o pensamento pedagógico existencial foi condenado à morte em 1909, após uma solicitação da Igreja
culminaram com a educação antiautoritária, pois os liberais e Católica.
os marxistas afirmavam que a liberdade deveria ser o Outra escola livre foi a de Summerhill, na Inglaterra,
princípio e o objetivo da educação. preconizada por Alexander S. Neill (18831973),
Freud (18561939) foi um de seus inspiradores; mesmo representando a perspectiva liberal, não progressista, mas
não sendo um pedagogo, teve grande influência na educação. igualmente baseada no princípio da afirmação da liberdade
O pai da psicanálise, ao descobrir o fenômeno da transferência sobre a autoridade.
(relação professoraluno), e mostrando a prática repressiva da Neill, escocês, trabalhou inicialmente em escolas públicas
sociedade e da escola em relação à sexualidade, influenciou a como professor e diretor, fundou a Escola Internacional
mentalidade dos educadores. Hellerau, na Alemanha, e a Escola Experimental, o internato
Freud defendia que muitos desajustes dos adultos Summerhill, em 1921, que dirigiu até sua morte.
tivessem suas origens nos conflitos e nas frustrações infantis. Com base na doutrina de Rousseau, integrou as teses de
Essa ênfase foi uma das mais discutidas no início da Freud e Reich, propondo a realização do postulado de uma
psicanálise. educação sem violência. Afinal, para Rousseau e também na
A educação, segundo Freud, representa um modelar as opinião do educador escocês, o homem recém-nascido é bom
crianças de acordo com os valores dos que vão morrer, sendo em essência. Se ele puder crescer em plena liberdade, se
o agente transmissor do princípio da realidade e do prazer. transformará em um homem feliz e, consequentemente, bom.
Dessa forma, a educação obriga a criança a renunciar às A obra de Neill começou a ser divulgada no Brasil a partir de
tendências naturais, acomodando o desenvolvimento do seu 1963 pela Editora Ibrasa, que lançou os livros Liberdade Sem
ego às exigências morais e culturais do superego. A psicanálise Medo, Liberdade sem Excesso, Liberdade no Lar, Liberdade na
sugere uma prática educativa nãorepressiva e respeitadora da Escola, Amor e Juventude, e muitos outros títulos.
criança. Partilhavam dessas mesmas ideias outros pensadores,
Baseado em Freud, o educador francês Mendel como: Carl R. Rogers (19021987) Cèlestin Freinet
desenvolveu numerosos estudos sobre a autoridade e seus (18961966), e Henry Wallon (18791962).
mecanismos de imposição, principalmente a paterna. Propôs a Confiavam na natureza da criança, no autogoverno, na auto
abertura da escola para a política e, desde cedo, a tomada de regulação do ensino aprendizagem, pois a dinâmica interna da
poder pelos jovens nas instituições, a fim de superar o liberdade é capaz por si mesma de conduzir a vida e a
autoritarismo institucional. experiência até as mais ricas e variadas formas de vivência, e a
Guardia, fundador da escola moderna, racionalista e missão do professor era de estimular o pensamento e não
libertária, foi o mais destacado crítico da escola tradicional, injetar doutrinas.
apoiandose no pensamento iluminista. O objetivo da educação é que a criança viva a sua vida e não
Ferrer, em Paris, aproximouse das ideias de libertação e a do adulto, que trabalhe alegre e positivamente, anulando o
racionalismo pedagógico, que em toda a Europa se subconsciente adquirido da família. A escola deve desafiar o
contrapunham à educação tradicional, reacionária e clerical. poder, o ódio e a moral.
Foi um revolucionário que acreditava no valor da educação A criança deve fazer tudo o que quiser. Mas o querer tem
como remédio absoluto para os males da sociedade. que ser regulado pelas decisões tomadas coletivamente em
Consideravase um professor que amava as crianças e queria assembleias, quando são estabelecidos horários, normas,
preparáIas para, com liberdade de pensamento e ação, conteúdos, etc. Desenvolver um sistema formal a respeito dos
enfrentar uma nova era. Na Espanha conservadora, ele objetivos e métodos da educação. O princípio básico é a
defendia a coeducação, não fazendo distinção entre sexos ou liberdade interior, individual. As crianças devem ser livres
classes sociais. Argumentava que dessa forma ajudaria a nova internamente, livres do medo, da hipocrisia, do ódio e da
geração a criar uma sociedade mais justa. Para materializar intolerância.
sua pedagogia racional e científica, necessitava de um corpo
docente adequado. Daí a criação de uma escola de professor, a O Pensamento Crítica
Escola Normal Racionalista, definida a seguir pelo próprio
Ferrer, como a escola emancipadora do século XX. Os métodos tradicionais da educação foram criticados pelo
A principal obra do pedagogo espanhol é La Escuela escolanovismo, aliado ao marxismo e ao positivismo enquanto
Moderna. Para ele, a ignorância e o erro estão na base das pensamento antiautoritário, já os existencialistas e
diferenças e dos antagonismos de classe. Para emancipar um fenomenologistas, perguntavamse o que estava errado na
indivíduo, seria necessária, desde a infância, a vontade de educação para formar homens que se odiavam tanto. O
conhecer a origem da injustiça social para que, com seu otimismo pedagógico do começo do século XX não resistiu a
conhecimento, possa combatêIa. A razão natural e a ciência tanta violência.
dariam lugar à liberdade, à fraternidade e à solidariedade A partir da segunda metade deste século, a crítica à
entre os homens. Porém, a única via para resolver os educação e à escola se acentuou, substituindo o otimismo por
problemas da sociedade seria a revolução. A educação, para uma crítica radical. Entre os maiores críticos encontramos
contribuir na revolução, deveria formar homens livres que Louis Althusser, e os sociólogos, também franceses, Pierre
saberiam como agir na sociedade. Para isso, a escola deveria Bourdieu e Jean Claude Passeron. Suas ideias tiveram grande
abolir todo instrumento de coerção e repressão. A tarefa da influência no pensamento pedagógico brasileiro da década de
educação seria preparar os futuros revolucionários; a ação 70, demonstrando o quanto a educação reproduz a sociedade,
política e social seria mediatizada pela ação pedagógica. daí serem frequentemente chamados críticoreprodutivistas.
Existiriam uma disciplina artificial, baseada num Esses autores formularam as teorias da escola enquanto
autoritarismo cego, e uma disciplina natural, que não se utiliza aparelho ideológico do Estado, a da escola enquanto violência
de sanções arbitrárias. A rebeldia seria a única reação possível simbólica e da escola dualista.
à injustiça. A escola não poderia provocar rebeldia, mas sim Althusser sustentou que a função própria da escola
capitalista consistiria na reprodução da sociedade e que toda

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ação pedagógica seria uma imposição arbitrária da cultura das os filhos de pais de profissões liberais, industriais, quadros
classes dominantes, Bourdieu e Passeron sustentaram que a médios e superiores. Os autores mostram que os filhos das
escola constituía-se no instrumento mais acabado do classes dominantes, em média, têm melhores notas e são os
capitalismo para reproduzir as relações de produção e a que menos repetem o ano.
ideologia do sistema, e Baudelot e Establet, analisando a escola Esses autores chegaram à conclusão de que existem, na
capitalista na França, demonstraram a existência de duas verdade, duas redes escolares: a secundária superior (SS),
grandes redes escolares, que corresponderiam às suas classes praticamente reservada aos 25% de filhos da classe
fundamentais da sociedade: a burguesia e o proletariado. dominante, e a primária profissional (PP) para os 75% que
Assim, embora o sistema educativo liberal burguês afirme que constituem as classes dominadas.
é democrático, reproduziu através da escola a divisão social do O crescimento das possibilidades de escolarização de
trabalho, perpetuou a injustiça e difundiu os ideais burgueses todas as classes sociais não mudou a distribuição de
de vida, como a competição e o individualismo. probabilidade para alcançar os níveis mais elevados do ensino,
de acordo com as diferentes classes sociais.
O primeiro livro de que Althusser participou, Pour Marx, é Na rede PP, o conteúdo é dominado pelas noções
obra coletiva. Nele, como em Lire Le Capital, propôs uma nova adquiridas no ensino primário, sempre revistas e repetidas. Na
interpretação da obra de Marx, destacando que só a partir de rede SS, os conteúdos são uma preparação para o ensino
1848 o autor adotou uma concepção materialista e dialética. superior. Na rede SS cultivase a abstração, enquanto o ensino
Voltou-se em seguida para o pensamento leninista; mostrando na rede PP permanece ligado ao concreto. Essa divisão de
como o líder da revolução soviética, conduziu sua concepção conteúdos corresponde à oposição entre teoria e prática, na
de luta de classes no plano filosófico. Seu último livro, ideologia burguesa do conhecimento.
Resposta a John Lewis, é o de um pensador para quem a Os conteúdos culturais também variam de uma rede para
filosofia não existe desligada da prática política, pois a sua outra. Na rede SS se consome a cultura própria da classe
filosofia é a luta de classes na teoria. dominante, na rede PP os alunos recebem a mesma cultura,
Uma análise do marxismo exigiria, segundo Althusser, um mas de forma degradada, empobrecida, vulgarizada, o que dá
rigoroso exame dos conceitos nas obras de Marx. Ele distingue à ideologia SS o caráter de dominante. Na rede PP, o objetivo é
a filosofia (o materialismo dialético) e a ciência (o que os alunos se submetam à ideologia dominante, enquanto a
materialismo histórico). A teoria materialista do rede SS prepara os futuros agentes e intérpretes dessa
conhecimento, ao contrário da teoria positivista, não ideologia.
esconderia a relação entre teoria e método. Os positivistas Diante desse quadro, a ideologia escolar vêse obrigada a
reduziriam a ciência ao rigor metodológico. Ao contrário, os dar uma explicação. A preferida é a da diferença entre os dons
marxistas condicionaram o rigor metodológico das ciências à naturais. Esse postulado ideológico encontra seu auge na
teoria, isto é, os fins ao objetivo, à sua concepção do mundo. determinação do quociente de inteligência (QI) de cada aluno,
Segundo Althusser, a dupla escola família substituiu o cuja distribuição milagrosamente coincide com a distribuição
binômio igreja família como aparelho ideológico dominante. por classes sociais.
Afinal, é a escola que tem, durante muitos anos, uma audiência A linguagem desempenha um papel importante na divisão
obrigatória. Bourdieu e Passeron desenvolveram a teoria da e discriminação. São os alunos das classes populares que têm
reprodução baseada no conceito de violência simbólica. Para maiores problemas na leitura e escrita, logo na primeira série.
eles, toda ação pedagógica é objetivamente uma violência A escola reforça apenas a linguagem burguesa, a norma
simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário. A culta, desconsiderando
arbitrariedade é a cultura dominante. O "poder arbitrário" é as práticas linguísticas das crianças pobres.
baseado na divisão da sociedade em classes. A ação pedagógica
tende à reprodução cultural e social simultaneamente. Referências
Este poder necessita camuflar sua arbitrariedade de duas
formas: a autoridade pedagógica e a autonomia relativa da BENJAMIN, Walter. A Criança, o Brinquedo e a Educação. São Paulo, 1984.
CAPRILES, René. O Nascimento da
escola. A autoridade pedagógica dissimula o poder arbitrário, Pedagogia Socialista. São Paulo: Scipione, 1989
apresentandoo como relação puramente psicológica. Ela FURTER, Pierre. Educação e Reflexão. Petrópolis: Vozes, 1970.
implica o trabalho pedagógico como processo de inculcação, GADOTTI, Moacir. História do Pensamento Pedagógico. Série Educação. São
criando nas crianças da classe dominada um habitus (sistema Paulo: Ática, 2004.
LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. São
de princípios da arbitrariedade cultural, interiorizados e Paulo: Nacional, 1987.
duráveis). MANACORDA, Mario Aligliero. História da Educação: da Antiguidade
A ação pedagógica da escola seria precedida pela ação aos Nossos Dias. São Paulo: Cortez, 1989. MARROU, Henri Irene.
História da Educação na Antiguidade. São Paulo: Zahar, 1998
pedagógica primária, no aparelho ideológico que é a família. MARZ, Fritz. Os Grandes Educadores. São Paulo: EPU, 1987.
Dadas as diferenças em formação e informação que a criança NILSEN NETO, Henrique. Filosofia da Educação.
recebe, conforme sua posição na hierarquia social, ela traz um São Paulo: Melhoramentos, 1998.
determinado capital cultural para a escola. ROSA, Maria da Glória. A História da Educação Através dos Textos. Cultrix.
São Paulo. 1971
Já que na escola a cultura burguesa constitui a norma, para SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker Ferreira. A História da Evolução da
as crianças das classes dominantes a escola pode significar Pedagogia. Belo Horizonte: Interlivros, 1989.
continuidade, enquanto para os filhos da classe dominada a SCHWARTZ, Bertrand. A Educação Amanhã. Petrópolis: Vozes, 1976
SKINNER, Burrhus Frederic. O Mito da Liberdade. São Paulo: Summus, 1983.
aprendizagem se torna uma verdadeira conquista. O sistema SNYDERS, G BENJAMIN, Walter. A Criança, o Brinquedo e a Educação. São
de ensino institucionaliza a autoridade pedagógica, ocultando Paulo, 1984.
desta forma seu caráter arbitrário. SUNNY, Gustavo. Filosofias Pedagógicas. Porto
Alegre: Melhoramentos, 1992.
TEIXEIRA, Anísio. Pequena Introdução à Filosofia da Educação. Rio de
Baudelot e Establet empreenderam um estudo profundo Janeiro: Nacional, 1978.
do sistema escolar francês, destruindo a representação TORRES, Rosa Maria. Revolução e Educação Popular. São
ideológica da escola única. Segundo eles, na França, os dados Paulo: Papirus, 1992.
TRATENBERG, Maurício. Educação e Sociedade. São Paulo: Cortez, 1985.
estatísticos mostram que 25% dos alunos deixam a escola ao
atingir a idade do ensino obrigatório e mais 50% abandonam
o curso nos quatro anos seguintes. Os restantes 25%
percorrem o sistema de ensino nobre e frequentam as
universidades e grandes escolas. São, na sua grande maioria,

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Questões

01. Entre os iluministas, destacase JeanJacques Rousseau 1.2 Projeto político


(17121778). Rousseau resgata a relação: pedagógico.
(A) das novas mentalidades educacionais ocorridas na
idade antiga.
(B) dos meios de comunicação entre professores e
pedagogos. Projeto Político-Pedagógico
(C) dos currículos existentes na Europa, principalmente
na Inglaterra. Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
(D) das instituições educacionais existentes na América Educação Nacional (LDB), em 1996, toda escola precisa ter um
do Norte. projeto político-pedagógico (o PPP, ou simplesmente Projeto
(E) entre a educação e a política, e centraliza, o tema da Pedagógico).
infância na educação No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim
projectu, particípio passado do verbo projicere, que significa
02. Para Augusto Comte, a derrota do iluminismo e dos lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa,
ideais revolucionários deveuse à ausência de concepções empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral de
científicas. Para ele, a política tinha de: edificação.
A) se envolver com pressupostos socialistas. Segundo Veiga3, ao construirmos os projetos de nossas
B) negar a existência do positivismo. escolas, planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar.
C) ser uma ciência exata. Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o
D) ser voltada para os anseios da sociedade popular. possível. É antever um futuro diferente do presente.
E) manter os burgueses administrando a industrialização.
Nas palavras de Gadotti4:
03. O positivismo é a doutrina que visa à substituição da Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas
manipulação do real pela visão científica, e que acabou para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado
estabelecendo uma nova fé, a fé na ciência, que vinculou a confortável para arriscar-se, atravessar um período de
imaginação científica à pura observação experimental. Seu instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da
lema sempre foi: promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o
(A) não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje. presente. Um projeto educativo pode ser tomado com a
(B) defender os fracos e oprimidos. promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam
(C) estabelecer a segurança da população. visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores
(D) a ordem e o progresso. e autores.
(E) ajudar quem cedo madruga.
Nessa perspectiva, o Projeto Político-Pedagógico vai além
04. A república de Platão já seria a manifestação do de um simples agrupamento de planos de ensino e de
comunismo utópico, pois ligava a educação à política. Thomas atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em
Morus (14781535) fez decididamente a crítica da sociedade seguida arquivado ou encaminhado às autoridades
egoísta e propôs em seu livro Utopia: educacionais como prova do cumprimento de tarefas
(A) o fim da propriedade, a redução da jornada de burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os
trabalho para seis horas diárias, a educação laica e a co- momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo
educação. da escola.
(B) um novo currículo educacional para as escolas O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação
socialista, porém seguindo a filosofia burguesa. intencional, com um sentido explícito, com um compromisso
(C) Uma nova escola patrocinada pela burguesia em definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da
parceria com o Estado. escola é, também, um projeto político por estar intimamente
(D) Que toda a educação socialista tivesse embasamento articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses
na educação britânica. reais e coletivos da população majoritária. É político no
(E) que todos os professores fossem concursados pelo sentido de compromisso com a formação do cidadão para um
Estado. tipo de sociedade.

05. O escolanovismo se expandiu no mundo, resultando “A dimensão política se cumpre na medida em que ela se
uma renovação que valorizou a auto formação e a realiza enquanto prática especificamente pedagógica”.
espontaneidade da criança. A Escola Nova propõe uma
educação instigadora de mudança social e, ao mesmo tempo, Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da
uma transformação da sociedade. O que também contribuiu efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do
para essa renovação? cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e
(A) O Estado e a sociologia da educação. criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas
(B) A sociologia da educação e a psicologia educacional. e as características necessárias às escolas de cumprirem seus
(C) A psicologia educacional e a pedagogia socialista. propósitos e sua intencionalidade.
(D) A pedagogia socialista e o clero. Político e pedagógico têm assim uma significação
E) O clero e o Estado. indissociável. Neste sentido é que se deve considerar o projeto
político-pedagógico como um processo permanente de
Gabarito reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de
1. E / 2. C / 03.D / 04. A / 05. B alternativas viáveis a efetivação de sua intencionalidade, que
“não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva”.

3VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola: uma 4GADOTTI, Moacir. "Pressupostos do projeto pedagógico". In: MEC, Anais da
construção possível. 14ª edição Papirus, 2002. Conferência Nacional de Educação para Todos. Brasília, 1994.

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Por outro lado, propicia a vivência democrática necessária Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de
para a participação de todos os membros da comunidade organização das instâncias superiores, implicando uma
escolar e o exercício da cidadania. Pode parecer complicado, mudança substancial na sua prática. Para que a construção do
mas trata-se de uma relação recíproca entre a dimensão projeto político-pedagógico seja possível não é necessário
política e a dimensão pedagógica da escola. convencer os professores, a equipe escolar e os funcionários a
trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma espontânea, mas
O Projeto Político-Pedagógico, ao se constituir em propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a
processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar realizar o fazer pedagógico de forma coerente.
uma forma de organização do trabalho pedagógico que A escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima
supere os conflitos, buscando eliminar as relações para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as
competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da
rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e
que permeia as relações no interior da escola, diminuindo qualidade.
os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça O projeto político-pedagógico não visa simplesmente a um
as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. rearranjo formal da escola, mas a uma qualidade em todo o
processo vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organização do
Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a trabalho pedagógico da escola tem a ver com a organização da
organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como uma
organização da escola num todo e como organização da instituição social, inserida na sociedade capitalista, que reflete
sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social no seu interior as determinações e contradições dessa
imediato, procurando preservar a visão de totalidade. sociedade.
Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto Está hoje inserido num cenário marcado pela diversidade.
político-pedagógico busca a organização do trabalho Cada escola é resultado de um processo de desenvolvimento
pedagógico da escola na sua globalidade. de suas próprias contradições. Não existem duas escolas
A principal possibilidade de construção do projeto iguais. Diante disso, desaparece aquela arrogante pretensão de
político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, saber de antemão quais serão os resultados do projeto. A
de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto arrogância do dono da verdade dá lugar à criatividade e ao
significa resgatar a escola como espaço público, lugar de diálogo. A pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da
debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva. história da educação da nossa época. Por isso, não deve existir
Portanto, é preciso entender que o projeto político- um padrão único que oriente a escolha do projeto das escolas.
pedagógico da escola dará indicações necessárias à Não se entende, portanto, uma escola sem autonomia para
organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do estabelecer o seu projeto e autonomia para executá-lo e avaliá-
professor na dinâmica interna da sala de aula. lo. A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte
Buscar uma nova organização para a escola constitui uma da própria natureza do ato pedagógico. A gestão democrática
ousadia para os educadores, pais, alunos e funcionários. E para da escola é, portanto uma exigência de seu projeto político-
enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial pedagógico.
que fundamente a construção do projeto político-pedagógico. Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de
A questão é, pois, saber a qual referencial temos que mentalidade de todos os membros da comunidade escolar.
recorrer para a compreensão de nossa prática pedagógica. Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de
Nesse sentido, temos que nos alicerçar nos pressupostos de que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do
uma teoria pedagógica crítica viável, que parta da prática Estado e não uma conquista da comunidade.
social e esteja compromissada em solucionar os problemas da
educação e do ensino de nossa escola. A gestão democrática da escola implica que a
Uma teoria que subsidie o projeto político-pedagógico e, comunidade, os usuários da escola, sejam os seus dirigentes e
por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve estar gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou meros
ligada aos interesses da maioria da população. Faz-se receptores dos serviços educacionais. Os pais, alunos,
necessário, também, o domínio das bases teórico- professores e funcionários assumem sua parte na
metodológicas indispensáveis à concretização das concepções responsabilidade pelo projeto da escola.
assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas5
que: Há pelo menos duas razões, que justificam a implantação
de um processo de gestão democrática na escola pública:
As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de 1º: a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela
luta, de correlações de força – às vezes favoráveis, às vezes deve dar o exemplo.
desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”, 2º: porque a gestão democrática pode melhorar o que é
com apoio dos professores e pesquisadores. Não poderão ser específico da escola, isto é, o seu ensino.
inventadas por alguém, longe da escola e da luta da escola.
A participação na gestão da escola proporcionará um
Se a escola nutre-se da vivência cotidiana de cada um de melhor conhecimento do funcionamento da escola e de todos
seus membros, coparticipantes de sua organização do trabalho os seus atores. Proporcionará um contato permanente entre
pedagógico à administração central, seja o Ministério da professores e alunos, o que leva ao conhecimento mútuo e, em
Educação, a Secretaria de Educação Estadual ou Municipal, não consequência, aproximará também as necessidades dos
compete a eles definir um modelo pronto e acabado, mas sim alunos dos conteúdos ensinados pelos professores.
estimular inovações e coordenar as ações pedagógicas O aluno aprende apenas quando ele se torna sujeito da sua
planejadas e organizadas pela própria escola. própria aprendizagem. E para ele tornar-se sujeito da sua
Em outras palavras, as escolas necessitam receber aprendizagem ele precisa participar das decisões que dizem
assistência técnica e financeira decidida em conjunto com as respeito ao projeto da escola que faz parte também do projeto
instâncias superiores do sistema de ensino. de sua vida.

5FREITAS Luiz Carlos. "Organização do trabalho pedagógico". Palestra proferida


no 11 Seminário Internacional de Alfabetização e Educação. Novo Hamburgo,
agosto de 1991.

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A autonomia e a participação - pressupostos do projeto Igualdade: de condições para acesso e permanência na


político-pedagógico da escola, não se limitam à mera escola. Saviani7 alerta-nos para o fato de que há uma
declaração de princípios consignados em alguns documentos. desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto
Sua presença precisa ser sentida no conselho de escola ou de chegada deve ser garantida pela mediação da escola. O
colegiado, mas também na escolha do livro didático, no autor destaca: Portanto, só é possível considerar o processo
planejamento do ensino, na organização de eventos culturais, educativo em seu conjunto sob a condição de se distinguir a
de atividades cívicas, esportivas, recreativas. Não basta apenas democracia com a possibilidade no ponto de partida e
assistir reuniões. democracia como realidade no ponto de chegada. Igualdade de
A gestão democrática deve estar impregnada por certa oportunidades requer, portanto, mais que a expansão
atmosfera que se respira na escola, na circulação das quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento com
informações, na divisão do trabalho, no estabelecimento do simultânea manutenção de qualidade.
calendário escolar, na distribuição das aulas, no processo de
elaboração ou de criação de novos cursos ou de novas Qualidade: que não pode ser privilégio de minorias
disciplinas, na formação de grupos de trabalho, na capacitação econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto
dos recursos humanos, etc. político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade
para todos. A qualidade que se busca implica duas dimensões
Então não se esqueça: indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está
1- O projeto político pedagógico da escola pode ser subordinada a outra; cada uma delas tem perspectivas
entendido como um processo de mudança e definição de um próprias.
rumo, que estabelece princípios, diretrizes e propostas de ação
para melhor organizar, sistematizar e significar as atividades Formal ou Técnica - enfatiza os instrumentos e os
desenvolvidas pela escola como um todo. Sua dimensão métodos, a técnica. A qualidade formal não está afeita,
política pedagógica pressupõe uma construção participativa necessariamente, a conteúdos determinados. Demo8 afirma
que envolve ativamente os diversos segmentos escolares e a que a qualidade formal: “(...) significa a habilidade de manejar
própria comunidade onde a escola se insere. meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos
2- Quando a atuação ocorre em um planejamento desafios do desenvolvimento”.
participativo, as pessoas ressignificam suas experiências,
refletem suas práticas, resgatam, reafirmam e atualizam Política - a qualidade política é condição imprescindível da
valores. Explicitam seus sonhos e utopias, demonstram seus participação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos.
saberes, suas visões de mundo, de educação e o conhecimento, Quer dizer “a competência humana do sujeito em termos de se
dão sentido aos seus projetos individuais e coletivos, fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade
reafirmam suas identidades estabelecem novas relações de humana”.
convivência e indicam um horizonte de novos caminhos, Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de
possibilidades e propostas de ação. Este movimento visa que a qualidade centra-se no desafio de manejar os
promover a transformação necessária e desejada pelo coletivo instrumentos adequados para fazer a história humana. A
escolar e comunitário e a assunção de uma intencionalidade qualidade formal está relacionada com a qualidade política e
política na organização do trabalho pedagógico escolar. esta depende da competência dos meios.
3- Para que o projeto seja impregnado por uma A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as
intencionalidade significadora, é necessário que as partes maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que garantir
envolvidas na prática educativa de uma escola estejam a meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos.
profundamente integradas na constituição e que haja vivencia Qualidade para todos, portanto, vai além da meta quantitativa
dessa intencionalidade. A comunidade escolar então tem que de acesso global, no sentido de que as crianças, em idade
estar envolvida na construção e explicitação dessa mesma escolar, entrem na escola. É preciso garantir a permanência
intencionalidade. dos que nela ingressarem. Em síntese, qualidade “implica
consciência crítica e capacidade de ação, saber e mudar”.
Processos e Princípios de Construção O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96, no exige dos educadores, funcionários, alunos e pais a definição
artigo 12, define claramente a incumbência da escola de clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins.
elaborar o seu projeto pedagógico. Assim, todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de
Além disso, explicita uma compreensão de escola para cidadão que pretendem formar. As ações especificas para a
além da sala de aula e dos muros da escola, no sentido desta obtenção desses fins são meios. Essa distinção clara entre fins
estar inserida em um contexto social e que procure atender às e meios é essencial para a construção do projeto político-
exigências não só dos alunos, mas de toda a sociedade. pedagógico.
Ainda coloca, nos artigos 13 e 14, como tarefa de
professores, supervisores e orientadores a responsabilidade Gestão Democrática: é um princípio consagrado pela
de participar da elaboração desse projeto. Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica,
A construção do projeto político-pedagógico numa administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica
perspectiva emancipatória se constitui num processo de na prática administrativa da escola, com o enfrentamento das
vivência democrática à medida que todos os segmentos que questões de exclusão e reprovação e da não permanência do
compõem a comunidade escolar e acadêmica dele devam aluno na sala de aula, o que vem provocando a marginalização
participar, comprometidos com a integridade do seu das classes populares. Esse compromisso implica a construção
planejamento, de modo que todos assumem o compromisso coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à educação
com a totalidade do trabalho educativo. das classes populares.
Segundo Veiga6, a abordagem do projeto político- A gestão democrática exige a compreensão em
pedagógico, como organização do trabalho da escola como um profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica.
todo, está fundada nos princípios que deverão nortear a escola Ela visa romper com a separação entre concepção e execução,
democrática, pública e gratuita: entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar

6VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola: uma 7 SAVIANI, Dermeval. "Para além da curvatura da 'vara". In: Revista Ande no 3.
construção possível. 12ª edição Papirus, 2002. São Paulo, 1982.
8 DEMO Pedro. Educação e qualidade. Campinas, Papirus,1994.

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o controle do processo e do produto do trabalho pelos propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento profissional


educadores. dos professores articulado com as escolas e seus projetos.
Implica principalmente o repensar da estrutura de poder A formação continuada deve estar centrada na escola
da escola, tendo em vista sua socialização. A socialização do e fazer parte do projeto político-pedagógico.
poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o Assim, compete à escola:
individualismo; da reciprocidade, que elimina a exploração; da - proceder ao levantamento de necessidades de formação
solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, que anula continuada de seus profissionais;
a dependência de órgãos intermediários que elaboram - elaborar seu programa de formação, contando com a
políticas educacionais das quais a escola é mera executora. participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido de
A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a fortalecer seu papel na concepção, na execução e na avaliação
ampla participação dos representantes dos diferentes do referido programa.
segmentos da escola nas decisões/ações administrativo- Daí, passarem a fazer parte dos programas de formação
pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques9: A continuada, questões como cidadania, gestão democrática,
participação ampla assegura a transparência das decisões, avaliação, metodologia de pesquisa e ensino, novas
fortalece as pressões para que sejam elas legítimas, garante o tecnologias de ensino, entre outras.
controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo, Inicialmente, convém alertar para o fato de que
contribui para que sejam contempladas questões que de outra essa tomada de consciência, dos princípios do projeto político-
forma não entrariam em cogitação. pedagógico, não pode ter o sentido espontaneísta de se cruzar
Neste sentido, fica claro entender que a gestão os braços diante da atual organização da escola, que inibe a
democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de participação de educadores, funcionários e alunos no processo
ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na de gestão.
construção do projeto político-pedagógico e na sua gestão. É preciso ter consciência de que a dominação no interior
da escola efetiva-se por meio das relações de poder que se
Liberdade: o princípio da liberdade está sempre associado expressam nas práticas autoritárias e conservadoras dos
à ideia de autonomia. O que é necessário, portanto, como ponto diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamente, bem
de partida, é o resgate do sentido dos conceitos de autonomia como por meio das formas de controle existentes no interior
e liberdade. A autonomia e a liberdade fazem parte da própria da organização escolar. Por outro lado, a escola é local de
natureza do ato pedagógico. O significado de autonomia desenvolvimento da consciência crítica da realidade.
remete-nos para regras e orientações criadas pelos próprios
sujeitos da ação educativa, sem imposições externas. Estratégia de Planejamento
Definição de marco/referência: é necessário definir o
Para Rios10, a escola tem uma autonomia relativa e a conjunto de ideias, de opções e teorias que orientará a prática
liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é da escola. Para tanto, é preciso analisar em que contexto a
uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora, a escola está inserida. Para assim definir e explicitar com que
liberdade é uma experiência de educadores e constrói-se na tipo de sociedade a escola se compromete, que tipo de pessoas
vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos livres com os ela buscará formar e qual a sua intencionalidade político,
outros, não, apesar dos outros”. Se pensamos na liberdade na social, cultural e educativa. Esta assunção permite clarear os
escola, devemos pensá-la na relação entre administradores, critérios de ação para planejar como se deseja a escola no que
professores, funcionários e alunos que aí assumem sua parte se refere à dimensão pedagógica, comunitária e
de responsabilidade na construção do projeto político- administrativa.
pedagógico e na relação destes com o contexto social mais É um momento que requer estudos, reflexões teóricas,
amplo. análise do contexto, trabalho individual, em grupo, debates,
A liberdade deve ser considerada, também, como elaboração escrita. Devem ser criadas estratégias para que
liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e todos os segmentos envolvidos com a construção do projeto
o saber direcionados para uma intencionalidade definida político-pedagógico possam refletir, se posicionar acerca do
coletivamente. contexto em que a escola se insere. É necessário partir da
realidade local, para compreendê-la numa dimensão mais
Valorização do magistério: é um princípio central na ampla. Então se deve analisar e discutir como vivem as pessoas
discussão do projeto político-pedagógico. A qualidade do da comunidade, de onde vieram quais grupos étnicos a
ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar compõem, qual o trabalho que realizam como são as relações
cidadãos capazes de participar da vida socioeconômica, deste trabalho, como é a vida no período da infância,
política e cultural do país relacionam-se estreitamente a juventude, idade adulta e a melhor idade (idoso) nesta
formação (inicial e continuada), condições de trabalho comunidade, quais são as formas de organização desta
(recursos didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação comunidade, etc.
integral à escola, redução do número de alunos na sala de aula A partir da reflexão sobre estes elementos pode-se discutir
etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à a relação que eles têm no tempo histórico, no sentido de
profissionalização do magistério. perceber mudanças ocorridas na forma de vida das pessoas e
O reforço à valorização dos profissionais da educação, da comunidade. Analisar o que tem de comum e tentar fazer
garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional relação com outros espaços, com a sociedade como um todo.
permanente, significa “valorizar a experiência e o Discutir como se vê a sociedade brasileira, quais são os valores
conhecimento que os professores têm a partir de sua prática que estão presentes, como estes são manifestados, se as
pedagógica”. pessoas estão satisfeitas com esta sociedade e o seu modo de
organização.
A formação continuada é um direito de todos os
profissionais que trabalham na escola, uma vez que não só ela Para delimitar o marco doutrinal do projeto político-
possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na pedagógico propõe-se discutir: que tipo de sociedade nós
qualificação e na competência dos profissionais, mas também queremos construir, com que valores, o que significa ser

9MARQUES, Mário Osório. "Projeto pedagógico: A marca da escola". In: Revista 10RIOS, Terezinha. "Significado e pressupostos do projeto pedagógico". In: Série
Educação e Contexto. Projeto pedagógico e identidade da escola no 18. ljuí, Ideias. São Paulo, FDE,1982.
Unijuí, abr./jun. 1990.

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sujeito nesta sociedade, como a escola pode colaborar com organização que reduza os efeitos de sua divisão do trabalho,
a formação deste sujeito durante a sua vida. de sua fragmentação e do controle hierárquico.
Nessa perspectiva, a construção do projeto político-
Para definirmos o marco operativo sugere-se que pedagógico é um instrumento de luta, é uma forma de
analisemos a concepção e os princípios para o papel que a contrapor-se à fragmentação do trabalho pedagógico e sua
escola pode desempenhar na sociedade. rotinização, à dependência e aos efeitos negativos do poder
autoritário e centralizador dos órgãos da administração
Propomos a partir da leitura de textos, da compreensão de central.
cada um, discutir com todos os segmentos como queremos que As etapas de elaboração de um projeto pedagógico podem
seja nossa escola, que tipo de educação precisamos assim ser definidas:
desenvolver para ajudar a construir a sociedade que
idealizamos como entendemos que ser a proposta pedagógica Cronograma de trabalho e definição da divisão de
da escola, como devem ser as relações entre direção, equipe tarefas: definição da periodicidade e das tarefas para a
pedagógica, professores, alunos, pais, comunidade, como a elaboração do projeto pedagógico. Definir um prazo faz com
escola pode envolver a comunidade e se fazer presente nela, que haja organização e compromisso com o trabalho de
analisando qual a importância desta relação para os sujeitos elaboração.
que dela participam.
É importante reiterar que, quando se busca uma nova
Diagnóstico: é o segundo passo da construção do projeto organização do trabalho pedagógico, está se considerando que
e se constitui num momento importante que permite uma as relações de trabalho, no interior da escola deverão estar
radiografia da situação em que a escola se encontra na calçadas nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de
organização e desenvolvimento do seu trabalho pedagógico participação coletiva, em contraposição à organização regida
acima de tudo, tendo por base, o marco referencial, fazer pelos princípios da divisão do trabalho da fragmentação e do
comparações e estabelecer necessidades para se chegar à controle hierárquico.
intencionalidade do projeto. É nesse movimento que se verifica o confronto de
interesses no interior da escola. Por isso todo esforço de se
O documento produzido sobre o marco referencial deve gestar uma nova organização deve levar em conta as condições
ser lido por todos. Com base neste documento deve-se concretas presentes na escola. Há uma correlação de forças e é
elaborar um roteiro de discussão para comparar todos os nesse embate que se originam os conflitos, as tensões, as
elementos que aparecem no documento com a prática social rupturas, propiciando a construção de novas formas de
vivida, ou seja, discutir como de fato se dá a relação entre relações de trabalho, com espaços abertos à reflexão coletiva
escola e a comunidade, como ela trabalha com os que favoreçam o diálogo, a comunicação horizontal entre os
conhecimentos que os alunos trazem da sua prática social, diferentes segmentos envolvidos com o processo educativo, a
como os conteúdos são escolhidos, como os professores descentralização do poder.
planejam o seu trabalho pedagógico da escola, como e quando
se avalia o trabalho na sala de aula e o trabalho pedagógico da Histórico da instituição: sua criação, ato normativo,
escola, quem participa desta avaliação, como a escola tem origem de seu nome, etc.
definido a sua opção teórica no trabalho pedagógico, como se
dão as relações e a participação de alunos, professores, Abrangência da ação educativa referente:
coordenadores, diretores, pais, funcionários e comunidade na - Nível de ensino e suas etapas;
organização do trabalho pedagógico escolar. - Modalidades de educação que irá atender;
Estes dados precisam ser sistematizados e discutidos por - Aos profissionais, considerando: à área, o trabalho da
todos da equipe que elabora o projeto. Com a finalização do equipe pedagógica e administrativa;
diagnóstico da escola e de sua relação com a comunidade - À comunidade externa: entorno social.
pode-se definir um plano de ação e as grandes estratégias que
devem ser perseguidas para atingir a intencionalidade Objetivos: gerais, observando os objetivos definidos pela
assumida no marco referencial. instituição.

Propostas de Ação: este é o momento em que se procura Princípios legais e norteadores da ação: a instituição
pensar estratégias, linhas de ação, normas, ações concretas deve observar ainda os planos e Políticas (federal, estadual ou
permanentes e temporárias para responder às necessidades municipal) de Educação. A partir da identificação dos
apontadas a partir do diagnóstico tendo por referência sempre princípios registrados nas legislações em vigor, deve explicitar
à intencionalidade assumida. Assim, cada problema o sentido que os mesmos adquirem em seu contexto de ação.
constatado, cada necessidade apontada é preciso definir uma
proposta de ação. Currículo: identificar o paradigma curricular em
Esta proposta de ação pode ser pensada a partir de grandes concordância com sua opção do método, da teoria que orienta
metas. Para cada meta pode-se definir ações permanentes, sua prática. Implica, necessariamente, a interação entre
ações de curto, médio e longo prazo, normas e estratégias para sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um
atingir a meta definida. Além disso, é preciso justificar cada referencial teórico que o sustente. Na organização curricular é
meta, traçar seus objetivos, sua metodologia, os recursos preciso considerar alguns pontos básicos:
necessários, os responsáveis pela execução, o cronograma e
como será feita a avaliação. 1º - é o de que o currículo não é um instrumento neutro. O
Com base nesses três momentos que devem estar currículo passa ideologia, e a escola precisa identificar e
dialeticamente articulados elabora-se o projeto político- desvelar os componentes ideológicos do conhecimento escolar
pedagógico, o qual precisa também de forma coletiva ser que a classe dominante utiliza para a manutenção de
executado, avaliado e (re)planejado. privilégios. A determinação do conhecimento escolar,
portanto, implica uma análise interpretativa e crítica, tanto da
Etapas cultura dominante, quanto da cultura popular. O currículo
Devemos analisar e compreender a organização do expressa uma cultura.
trabalho pedagógico, no sentido de se gestar uma nova

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2º - é o de que o currículo não pode ser separado do A organização do tempo do conhecimento escolar é
contexto social, uma vez que ele é historicamente situado e marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é,
culturalmente determinado. consequentemente, organizado em períodos fixos de tempo
3º - diz respeito ao tipo de organização curricular que a para disciplinas supostamente separadas. O controle
escola deve adotar. Em geral, nossas instituições têm sido hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desperdiçado e
orientadas para a organização hierárquica e fragmentada do controlado pela administração e pelo professor.
conhecimento escolar. Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo,
4º - refere-se a questão do controle social, já que o mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais,
currículo formal (conteúdos curriculares, metodologia e reduzindo, também, as possibilidades de se institucionalizar o
recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica) implica currículo integração que conduz a um ensino em extensão.
controle. Por outro lado, o controle social é instrumentalizado Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se
pelo currículo oculto, entendido este como as “mensagens necessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo
transmitidas pela sala de aula e pelo ambiente escolar”. períodos de estudo e reflexão de equipes de educadores
fortalecendo a escola como instância de educação continuada.
Assim, toda a gama de visões do mundo, as normas e os É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu
valores dominantes são passados aos alunos no ambiente conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
escolar, no material didático e mais especificamente por aprendendo. É preciso tempo para acompanhar e avaliar o
intermédio dos livros didáticos, na relação pedagógica, nas projeto político-pedagógico em ação. É preciso tempo para os
rotinas escolares. Os resultados do currículo oculto estudantes se organizarem e criarem seus espaços para além
“estimulam a conformidade a ideais nacionais e convenções da sala de aula.
sociais ao mesmo tempo que mantêm desigualdades
socioeconômicas e culturais”. Acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico:
Orientar a organização curricular para fins emancipatórios parâmetros, mecanismos de avaliação interna e externa,
implica, inicialmente desvelar as visões simplificadas de responsáveis, cronograma.
sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser Esses são alguns elementos que devem ser abordados no
humano como alguém que tende a aceitar papéis necessários projeto pedagógico.
à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social na Geralmente encontram-se documentos com a seguinte
visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para a organização: apresentação, dados de identificação,
contestação e a resistência à ideologia veiculada por organograma, histórico, filosofia, pressupostos teóricos e
intermédio dos currículos escolares. metodológicos, objetivos, organização curricular, processo de
avaliação da aprendizagem, avaliação institucional, processo
Ensino, aprendizagem e avaliação: orientações didáticas de formação continuada, organização e utilização do espaço
e metodológicas quanto à educação infantil, ensino físico, projetos/programas, referências, anexos, apêndices,
fundamental, ensino médio, educação especial, educação de dentre outros:
jovens e adultos, educação profissional. Mecanismos de
acompanhamento pedagógico, de recuperação paralela, de Finalidades
avaliação: indicadores de aprendizagem, diretrizes, Segundo Veiga12, a escola persegue finalidades. É
procedimentos e instrumentos de recuperação e avaliação. importante ressaltar que os educadores precisam ter clareza
das finalidades de sua escola. Para tanto há necessidade de se
Programa de formação continuada: concepção, refletir sobre a ação educativa que a escola desenvolve com
objetivos, eixos, política e estratégia. base nas finalidades e nos objetivos que ela define. As
finalidades da escola referem-se aos efeitos intencionalmente
Formas de relacionamento com a comunidade: pretendidos e almejados.
concepção de educação comunitária, princípios, objetivos e Alves13 afirma que há necessidade de saber se a escola
estratégias. dispõe de alguma autonomia na determinação das finalidades
e, consequentemente, seu desdobramento em objetivos
Organização do tempo e do espaço escolar: cronograma específicos. O autor enfatiza que: interessará reter se as
de atividades. finalidades são impostas por entidades exteriores ou se são
- diárias, semanais, bimestrais, semestrais, anuais. definidas no interior do território social e se são definidas por
- estudo, planejamento, enriquecimento curricular, ação consenso ou por conflito ou até se é matéria ambígua,
comunitária. imprecisa ou marginal.
- normas de utilização de espaços comuns da instituição. Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola
deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho
O tempo é um dos elementos constitutivos da organização de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Nesse
do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o tempo: sentido, ela procura alicerçar o conceito de autonomia,
determina o início e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado
férias, os períodos escolares em que o ano se divide, os os outros níveis da esfera administrativa educacional.
feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas à avaliação, os A ideia de autonomia está ligada à concepção
períodos para reuniões técnicas, cursos etc. emancipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não
O horário escolar, que fixa o número de horas por semana pode depender dos órgãos centrais e intermediários que
e que varia em razão das disciplinas constantes na grade definem a política da qual ela não passa de executora. Ela
curricular, estipula também o número de aulas por professor. concebe seu projeto político-pedagógico e tem autonomia para
Tal como afirma Enguita11. executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova atitude de
(...) As matérias tornam-se equivalentes porque ocupam o liderança, no sentido de refletir sobre as finalidades
mesmo número de horas por semana e, são vistas como tendo sociopolíticas e culturais da escola.
menor prestígio se ocupam menos tempo que as demais.

11ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: Educação e trabalho no 13ALVES José Matias. Organização, gestão e projeto educativo das escolas. Porto
capitalismo. Porto Alegre, Artes Médicas, 1989. Edições Asa, 1992.
12 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola:

uma construção possível. 12ª edição Papirus, 2002.

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Estrutura Organizacional possível há necessidade de se instalarem mecanismos


A escola, de forma geral, dispõe de dois tipos básicos de institucionais visando à participação política de todos os
estruturas: administrativas e pedagógicas. envolvidos com o processo educativo da escola.

Administrativas - asseguram praticamente, a locação e a Contudo, a participação da coordenação pedagógica


gestão de recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem nesse processo é fundamental, pois o trabalho é garantir a
parte, ainda, das estruturas administrativas todos os satisfação do bom atendimento em prol de toda a
elementos que têm uma forma material como, por exemplo, a instituição.
arquitetura do edifício escolar e a maneira como ele se
apresenta do ponto de vista de sua imagem: equipamentos e Avaliação
materiais didáticos, mobiliário, distribuição das dependências Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos a
escolares e espaços livres, cores, limpeza e saneamento básico reflexão com base em dados concretos sobre como a escola
(água, esgoto, lixo e energia elétrica). organiza-se para colocar em ação seu projeto político-
pedagógico. A avaliação do projeto político-pedagógico, numa
Pedagógicas - que, teoricamente, determinam a ação das visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade
administrativas, “organizam as funções educativas para que a escolar, busca explicar e compreender ceticamente as causas
escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades”. As da existência de problemas bem como suas relações, suas
estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmente, às mudanças e se esforça para propor ações alternativas (criação
interações políticas, às questões de ensino e de aprendizagem coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica.
e às de currículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se todos Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global,
os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho analisam o projeto político-pedagógico, não como algo
pedagógico. estanque desvinculado dos aspectos políticos e sociais. Não
rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um
A análise da estrutura organizacional da escola visa compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia
identificar quais estruturas são valorizadas e por quem, das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar
verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da
claro que a escola é uma organização orientada por própria organização do trabalho pedagógico.
finalidades, controlada e permeada pelas questões do poder. A Considerando a avaliação dessa forma é possível salientar
análise e a compreensão da estrutura organizacional da escola dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato
significam indagar sobre suas características, seus polos de dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto político-
poder, seus conflitos. pedagógico. Segundo, ela imprime uma direção às ações dos
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os educadores e dos educandos.
pressupostos que embasam a estrutura burocrática da escola O processo de avaliação envolve três momentos: a
que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a descrição e a problematização da realidade escolar, a
modificar a realidade social. Para realizar um ensino de compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e
qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que a proposição de alternativas de ação, momento de criação
romper com a atual forma de organização burocrática que coletiva.
regula o trabalho pedagógico – pela conformidade às regras A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser
fixadas, pela obediência a leis e diretrizes emanadas do poder instrumento de exclusão dos alunos provenientes das classes
central e pela cisão entre os que pensam e executam, que trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favorecer
conduz a fragmentação e ao consequente controle hierárquico o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de
que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos produzidos
ordem e a disciplina. historicamente e deve ser resultante de um processo coletivo
Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao de avaliação diagnóstica.
avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e
vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando a Questões
realidade escolar, estabelecendo relações, definindo
finalidades comuns e configurando novas formas de organizar 01. (SEDUC-RO - Professor – História – FUNCAB) Quanto
as estruturas administrativas e pedagógicas para a melhoria ao Projeto Político-Pedagógico, é INCORRETO afirmar que ele:
do trabalho de toda a escola na direção do que se pretende. (A) deve ser democrático.
Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos (B) precisa ser construído coletivamente.
disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade (C) confere identidade à escola.
escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecendo, (D) explicita a intencionalidade da escola.
no coletivo, seu projeto político-pedagógico, propiciando (E) mostra-se abrangente e imutável.
consequentemente a construção de uma nova forma de
organização.
02. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência – Área de
Processo de Decisão Pedagogia CESPE) Julgue o item a seguir, relativo a projeto
Na organização formal de nossa escola, o fluxo das tarefas político-pedagógico, que, nas instituições, pode ser
das ações e principalmente das decisões é orientado por considerado processo de permanente reflexão e discussão a
procedimentos formalizados, prevalecendo as relações respeito dos problemas da organização, com o propósito de
hierárquicas de mando e submissão, de poder autoritário e propor soluções que viabilizem a efetivação dos objetivos
centralizador. almejados.
Uma estrutura administrativa da escola adequada à
realização de objetivos educacionais, de acordo com os Os pressupostos que norteiam o projeto político-
interesses da população, deve prever mecanismos que pedagógico estão desvinculados da proposta de gestão
estimulem a participação de todos no processo de decisão. democrática.
Isto requer uma revisão das atribuições especificas e ( ) Certo ( ) Errado
gerais, bem como da distribuição do poder e da
descentralização do processo de decisão. Para que isso seja

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03. (Prefeitura de Palmas/TO - Professor - Língua


Espanhola – FDC) “O projeto político-pedagógico antecipa um 2 A didática e o processo de
futuro diferente do presente. Não é algo que é construído e ensino e aprendizagem. 2.1
arquivado como prova do cumprimento de tarefas
burocráticas.” (Ilma Passos)
Organização do processo
didático: planejamento,
Segundo a autora, o projeto político-pedagógico, estratégias e metodologias,
comprometido com uma educação democrática e de
qualidade, caracteriza- se fundamentalmente como:
avaliação.
(A) atividades articuladas, com temas selecionados
semestralmente. A Didática e o processo de formação e prática do
(B) planejamento global, com conteúdos selecionados por profissional da Educação
série.
(C) ação intencional, com compromisso definido Como arte a Didática não objetiva apenas o conhecimento
coletivamente. por conhecimento, mas procura aplicar os seus próprios
(D) plano anual, com objetivos definidos pelos professores. princípios com a finalidade de desenvolver no indivíduo as
(E) instrumento técnico, com definição metodológica. habilidades cognoscitivas, tornando-os críticos e reflexivos,
desenvolvendo assim um pensamento independente.
04. (IFRN - Professor - Didática) A construção do projeto
político-pedagógico da escola exige a definição de princípios, Processos Didáticos Básicos, Ensino e Aprendizagem
objetivos, estratégias e, acima de tudo, um trabalho coletivo Anteriormente convém ressaltar o conceito atual de
para a sua operacionalização. Numa perspectiva crítica e didática segundo a análise etimológica, o contexto histórico em
democrática, o projeto político-pedagógico da escola que prevaleceram determinados conceitos, a problemática
proporciona: educacional e sua relevância para o ensino.
I - melhoria da organização pedagógica, administrativa e Etimologicamente a palavra ‘didática’ significa ‘expor
financeira da escola, bem como o estabelecimento de novas claramente’, ‘demonstrar’, ‘ensinar’, ‘instruir’. Em primeira
relações pessoais e interpessoais na instituição; instância, este sentido mais originário corresponde
II - redimensionamento da prática pedagógica dos aproximadamente a tudo aquilo que é ‘próprio para o ensino’.
professores e formação continuada do quadro docente. Levando em consideração o seu significado etimológico
III - planejamento a curto prazo para definir aplicação de percebemos que a didática está intimamente ligada ao
medidas emergenciais na escola, de modo a superar certas processo de ensino-aprendizagem, e a tudo que se refere ao
dificuldades, detectar outras e propor novas ações. ato de ensinar e aprender.
IV - a superação de práticas pedagógicas fragmentadas e a A Didática foi concebida como base de uma reforma
garantia total de um ensino de qualidade. educacional importante pela primeira vez no século XVII, com
João Amós Comenius, em sua obra Didática Magna. Nesta
Assinale a opção em que todas as afirmativas estão época, ele havia observado que a educação se dava de maneira
corretas: muito espontânea, permeada de puro praticismo, não havia
(A) I, II e III. sistematização, organização ou planejamento. Com o objetivo
(B) I e IV. de organizar e sistematizar a educação, Comenius escreveu a
(C) I, II e IV. Didática Magna, que pretendia estabelecer os fundamentos da
(D) I e II ‘arte universal de ensinar tudo a todos’, privilegiando
sobretudo o professor, o método e o conteúdo.
05. (Pref. Maceió/AL - Professor - Área 1º ao 5º ano - A didática então surge como objeto de estudo no processo
COPEVE/UFAL/2017) Não se constrói um Projeto Político de ensino/aprendizagem, pois este está inserido em todas as
Pedagógico sem norte, sem rumo. Por isso, todo projeto práticas educacionais, em todos os níveis de ensino, e cada
pedagógico da escola é também político (GADOTTI e ROMÃO, prática educacional evidencia uma intenção, ideologia,
1997). Dadas as afirmativas, objetivos e meios para serem atingidos. Desta forma ocorre o
I. O Projeto Político Pedagógico deve ter como marco processo de ensino aprendizagem, que em momento algum é
fundamental a participação democrática, o ser multicultural, neutro, apolítico ou isolado de sua realidade político social.
mantendo o convívio com base em hierarquias fixas. Assim, a Didática é o principal ramo de estudo da
II. O Projeto Político Pedagógico deve registrar, orientar, pedagogia, pois ela situa-se num conjunto de conhecimentos
estabelecer ações, metas e estratégias que tenham como pedagógicos, investiga os fundamentos, as condições e os
objetivo o disciplinamento dos corpos e das mentes. modos de realização da instrução e do ensino, portanto é
III. O Projeto Político Pedagógico de uma escola é fruto de considerada a ciência de ensinar. Nesse contexto, o professor
uma ação cotidiana e que precisa tomar decisões para o bem tem como papel principal garantir uma relação didática entre
de toda comunidade escolar. ENSINO x APRENDIZAGEM.
Segundo Libâneo14, o professor tem o dever de planejar,
Verifica-se que está(ão) correta(s) dirigir e controlar esse processo de ensino, bem como
(A) I, apenas. estimular as atividades e competências próprias do aluno para
(B) III, apenas. a sua aprendizagem. A condição para o processo de ensino
(C) I e II, apenas. requer uma clara e segura compreensão do processo de
(D) II e III, apenas. aprendizagem, ou seja, deseja entender como as pessoas
(E) I, II e III. aprendem e quais as condições que influenciam para esse
aprendizado. Assim, ressalta que podemos distinguir a
Gabarito aprendizagem em dois tipos: aprendizagem casual e a
01.E / 02.Errado / 03.C / 04.D / 05.B aprendizagem organizada.

14 LIBÂNEO, José Carlos. A Didática e as exigências do processo de

escolarização: formação cultural e científica e demandas das práticas


socioculturais.

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A) Aprendizagem casual: É quase sempre espontânea, exame objetivo e crítico de fatos e fenômenos da natureza e
surge naturalmente da interação entre as pessoas com o das relações sociais, habilidades de expressão verbal e escrita.
ambiente em que vivem, ou seja, através da convivência social, O processo de ensino deve estimular o desejo e o gosto pelo
observação de objetos e acontecimentos. estudo, mostrando assim a importância do conhecimento para
a vida e o trabalho, nesse processo o professor deve criar
B) Aprendizagem organizada: É aquela que tem por situações que estimule o indivíduo a pensar, analisar e
finalidade específica aprender determinados conhecimentos, relacionar os aspectos estudados com a realidade que vive.
habilidades e normas de convivência social. Este tipo de Essa realização consciente das tarefas de ensino e
aprendizagem é transmitido pela escola, que é uma aprendizagem é uma fonte de convicções, princípios e ações
organização intencional, planejada e sistemática, as que irão relacionar as práticas educativas dos alunos,
finalidades e condições da aprendizagem escolar é tarefa propondo situações reais que façam com que os indivíduos
específica do ensino. reflitam e analisem de acordo com sua realidade.
Entretanto, o caráter educativo está relacionado aos
Esses tipos de aprendizagem têm grande relevância na objetivos do ensino crítico e é realizado dentro do processo de
assimilação ativa dos indivíduos, favorecendo um ensino. É através desse processo que acontece a formação da
conhecimento a partir das circunstâncias vivenciadas pelo consciência crítica dos indivíduos, fazendo-os pensar
mesmo. independentemente, por isso o ensino crítico, chamado assim
O processo de assimilação de determinados por implicar diretamente nos objetivos sócio-políticos e
conhecimentos, habilidades, percepção e reflexão é pedagógicos, também os conteúdos, métodos escolhidos e
desenvolvido por meios atitudinais, motivacionais e organizados mediante determinada postura frente ao contexto
intelectuais do aluno, sendo o professor o principal orientador das relações sociais vigentes da prática social.
desse processo de assimilação ativa, é através disso que se É através desse ensino crítico que os processos mentais
pode adquirir um melhor entendimento, favorecendo um são desenvolvidos, formando assim uma atitude intelectual.
desenvolvimento cognitivo. Nesse contexto os conteúdos deixam de serem apenas
Através do ensino podemos compreender o ato de matérias, e passam então a ser transmitidos pelo professor aos
aprender que é o ato no qual assimilamos mentalmente os seus alunos formando assim um pensamento independente,
fatos e as relações da natureza e da sociedade. Esse processo para que esses indivíduos busquem resolver os problemas
de assimilação de conhecimentos é resultado da reflexão postos pela sociedade de uma maneira criativa e reflexiva.
proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas ações
mentais que caracterizam o pensamento. Entendida como As contribuições da Didática na formação do
fundamental no processo de ensino a assimilação ativa profissional da Educação
desenvolve no indivíduo a capacidade de lógica e raciocínio, Como vimos anteriormente à didática estuda o processo de
facilitando o processo de aprendizagem do aluno. ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos fazem
O nível cognitivo refere-se à aprendizagem de parte, de modo a criar condições que garantam uma
determinados conhecimentos e operações mentais, aprendizagem significativa dos alunos. Nessa perspectiva, a
caracterizada pela apreensão consciente, compreensão e didática torna-se o principal ramo de estudos da pedagogia,
generalização das propriedades e relações essenciais da pois é necessário dominar bem todas as teorias para que haja
realidade, bem como pela aquisição de modos de ação e uma boa prática educativa, assim o educador dispõe de
aplicação referentes a essas propriedades e relações. De recursos teóricos para organizar e articular o processo de
acordo com esse contexto podemos despertar uma ensino e aprendizagem.
aprendizagem autônoma, seja no meio escolar ou no ambiente Segundo Libâneo15, o trabalho docente também chamado
em que estamos. de atividade pedagógica tem como objetivos primordiais:
Pelo meio cognitivo, os indivíduos aprendem tanto pelo
contato com as coisas no ambiente, como pelas palavras que A) Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e
designam das coisas e dos fenômenos do ambiente. Portanto duradouro possível dos conhecimentos científicos;
as palavras são importantes condições de aprendizagem, pois B) Criar as condições e os meios para que os alunos
através delas são formados conceitos pelos quais podemos desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais de modo
pensar. que dominem métodos de estudo e de trabalho intelectual
O ensino é o principal meio de progresso intelectual dos visando a sua autonomia no processo de aprendizagem e
alunos, através dele é possível adquirir conhecimentos e independência de pensamento;
habilidades individuais e coletivas. Por meio do ensino, o C) Orientar as tarefas de ensino para objetivo educativo de
professor transmite os conteúdos de forma que os alunos formação da personalidade, isto é, ajudar os alunos a
assimilem esse conhecimento, auxiliando no desenvolvimento escolherem um caminho na vida, a terem atitudes e convicções
intelectual, reflexivo e crítico. que norteiem suas opções diante dos problemas e situações da
Por meio do processo de ensino o professor pode alcançar vida real.
seu objetivo de aprendizagem, essa atividade de ensino está
ligada à vida social mais ampla, chamada de prática social, Além dos objetivos da disciplina e dos conteúdos, é
portanto o papel fundamental do ensino é mediar à relação fundamental que o professor tenha clareza das finalidades que
entre indivíduos, escola e sociedade. ele tem em mente, a atividade docente tem a ver diretamente
com “para que educar”, pois a educação se realiza numa
O Caráter Educativo do Processo de Ensino e o Ensino sociedade que é formada por grupos sociais que tem uma visão
Crítico diferente das finalidades educativas.
No desempenho da profissão docente, o professor deve ter Nota-se que a problemática que permeia a educação em
em mente a formação da personalidade dos alunos, não apenas torno da didática, consiste na dificuldade de mediar
no aspecto intelectual, como também nos aspectos morais, conhecimento prático e teórico, na medida em que muitos
afetivos e físicos. Como resultado do trabalho escolar, os educadores apresentam uma concepção fragmentada e
alunos vão formando o senso de observação, a capacidade de ambígua desta interação, chegando ao ponto de dissociá-las.
Essa separação entre teoria e prática impossibilita os

15 LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

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profissionais da educação de articular a teoria em proveito da Educação, iniciava-se um debate nacional sobre a formação de
prática, pois uma subsidia a outra. Como resultado dessa pedagogos e professores, com base na crítica da legislação
separação a prática educativa tende a reduzir-se ao extremo vigente e na realidade constatada nas instituições formadoras.
do praticismo. Nesse sentido a didática visa contribuir para a O marco histórico de detonação do movimento pela
superação dessa dificuldade proporcionando ao profissional reformulação dos cursos de formação do educador foi a I
da educação embasamento teórico-prático. Conferência Brasileira de Educação realizada em São Paulo em
Os profissionais da educação precisam ter um pleno 1980, abrindo-se o debate nacional sobre o curso de pedagogia
“domínio das bases teóricas científicas e tecnológicas, e sua e os cursos de licenciatura. A trajetória desse movimento
articulação com as exigências concretas do ensino”, pois é destaca-se pela densidade das discussões e pelo êxito na
através desse domínio que ele poderá estar revendo, mobilização dos educadores, mas o resultado prático foi
analisando e aprimorando sua prática educativa. modesto, não se tendo chegado até hoje a uma solução
A prática educativa não pode ocorrer de maneira razoável para os problemas da formação dos educadores, nem
espontânea, sem planejamento, metas e instrumentos, ela no âmbito oficial nem no âmbito das instituições
deve estabelecer objetivos, os quais devem ser atingidos universitárias.
utilizando-se da didática, que certamente facilitará o caminho A discussão sobre a identidade do curso de pedagogia, que
a ser trilhado segundo meios viáveis e de acordo com cada remonta aos pareceres de Valnir Chagas16 na condição de
realidade educacional, em proveito da ideia de homem que se membro do antigo Conselho Federal de Educação, é retomada
deseja formar, de acordo com a sociedade em que este homem nos encontros do Comitê Nacional Pró-formação do Educador,
está inserido, pois “a didática não se limita só ao fazer, só ação mais tarde transformada em Associação Nacional pela
prática, mas também se vincula as demais instâncias e Formação dos Profissionais da Educação, e é bastante
aspectos da educação formal”. recorrente para pesquisadores da área. Estes já apontavam,
em meados dos anos 80, a necessidade de se superar a
Dessa forma, o trabalho do professor é reflexo de uma fragmentação das habilitações no espaço escolar, propondo a
AÇÃO x REFLEXÃO x AÇÃO, ou seja, é papel do professor superação das habilitações e especializações pela valorização
planejar a aula (AÇÃO), criar condições favoráveis de estudo do pedagogo escolar:
dentro da sala de aula, estimulando a curiosidade e a
criatividade dos alunos (REFLEXÃO), reelaborar as aulas após (...) a posição que temos assumido é a de que a escola pública
observadas as necessidades dos educandos (NOVA AÇÃO). necessita de um profissional denominado pedagogo, pois
entendemos que o fazer pedagógico, que ultrapassa a sala de
Entretanto é necessário que haja uma interação mútua aula e a determina, configura-se como essencial na busca de
entre docentes e discentes, pois não há ensino se os alunos não novas formas de organizar a escola para que esta seja
desenvolverem suas capacidades e habilidades mentais, ou efetivamente democrática. A tentativa que temos feito é a de
seja, o professor dirige as atividades de aprendizagem dos avançar da defesa corporativista dos especialistas para a
alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria necessidade política do pedagogo, no processo de
aprendizagem. Portanto, podemos dizer que o processo democratização da escolaridade.
didático se baseia no conjunto de atividades do professor e dos
alunos, sob a direção do professor, apenas como mediador, O curso de pedagogia – sem entrar agora no mérito de sua
para que haja uma assimilação ativa de conhecimentos e função, isto é, de formar professores ou especialistas ou ambos
desenvolvimento das habilidades dos alunos. – pouco se alterou em relação à Resolução no 252/69.
Assim, é necessário para o planejamento de ensino que o Experiências alternativas foram tentadas em algumas
professor compreenda as relações entre educação escolar, os instituições e o antigo CFE expediu alguns pareceres sobre
objetivos pedagógicos e tenha um domínio seguro dos “currículos experimentais”, mas nenhum deles, a rigor,
conteúdos ao qual ele leciona, sendo assim capaz de conhecer apresenta algo realmente inovador. Possíveis “novidades” no
os programas oficiais e adequá-los ás necessidades reais da chamado “curso de pedagogia” seriam, por exemplo, a
escola e de seus alunos. atribuição, ao lado de outras, da formação em nível superior de
Um professor que aspira ter uma boa didática necessita professores para as séries iniciais do Ensino Fundamental,
aprender a cada dia como lidar com a subjetividade do aluno, supressão das habilitações (administração escolar, orientação
sua linguagem, suas percepções e sua prática de ensino. Sem educacional, supervisão escolar etc.) e alterações na
essas condições o professor será incapaz de elaborar denominação de algumas disciplinas. Alterações geralmente
problemas, desafios, perguntas relacionadas com os inócuas, pois na maior parte dos casos foi mantida a prática da
conteúdos, pois essas são as condições para que haja uma grade curricular e os mesmos conteúdos das antigas
aprendizagem significativa. No entanto para que o professor disciplinas, por exemplo, Organização do trabalho pedagógico
atinja efetivamente seus objetivos, é preciso que ele saiba manteve o conteúdo da anterior Administração escolar.
realizar vários processos didáticos coordenados entre si, tais Em relação aos cursos de licenciatura, também não houve
como o planejamento, a direção do ensino da aprendizagem e nenhuma mudança substantiva desde a Resolução no 292/62
da avaliação. do CFE, que dispunha sobre as matérias pedagógicas para a
Portanto é a didática que fundamenta a ação docente, é licenciatura. O que se tentou foram diferentes formas de
através da didática que a teoria e a prática se consolidam de organização do percurso da formação, umas mantendo o 3+1
forma viável e eficaz, pois ela se ocupa do processo de ensino já presente em 1939, outras distribuindo as disciplinas
nas várias dimensões, não se restringindo apenas a educação pedagógicas ao longo do curso específico. Quanto ao local da
escolar, mas investiga e orienta a formação do educador na sua formação pedagógica, em alguns lugares ela foi mantida nas
totalidade. faculdades de educação, em outros, foi deslocada, total ou
parcialmente, aos institutos/departamentos/cursos.
Formação de profissionais da educação: visão crítica e Atualmente, a atuação do Ministério da Educação e do CNE
perspectiva de mudança na regulamentação da LDB no 9.394/96 tem provocado a
Há cerca de 20 anos, por iniciativa de movimentos de mobilização dos educadores de todos os níveis de ensino para
educadores e, em paralelo, no âmbito do Ministério da rediscutir a formação de profissionais da educação. A nosso

16 CHAGAS, Valnir. Formação do magistério: Novo sistema. São Paulo: Atlas,


1976.

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ver, não bastam iniciativas de formulação de reformas integrará a estrutura organizacional das faculdades de
curriculares, princípios norteadores de formação, novas educação e destinar-se-á à formação de professores para a
competências profissionais, novos eixos curriculares, base educação básica, da educação infantil ao Ensino Médio.
comum nacional etc. Faz-se necessária e urgente a definição Distinguindo o curso de pedagogia (stricto sensu) e o curso
explícita de uma estrutura organizacional para um sistema de formação de professores para as séries iniciais do Ensino
nacional de formação de profissionais da educação, incluindo Fundamental.
a definição dos locais institucionais do processo formativo. Na
verdade, reivindicamos o ordenamento legal e funcional de Formação teórico-prática articulada na formação
todo o conteúdo do Título VI da Lei de Diretrizes e Bases. inicial e contínua
As investigações recentes sobre formação de professores
O disposto nos artigos 61 caput e incisos e, 62 caput, da apontam como questão essencial o fato de que os professores
LDB é o seguinte: desempenham uma atividade teórico-prática. É difícil pensar
na possibilidade de educar fora de uma situação concreta e de
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar uma realidade definida. A profissão de professor precisa
básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido combinar sistematicamente elementos teóricos com situações
formados em cursos reconhecidos, são: práticas reais. Por essa razão, ao se pensar um currículo de
I – professores habilitados em nível médio ou superior para formação, a ênfase na prática como atividade formadora
a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e aparece, à primeira vista, como exercício formativo para o
médio; futuro professor. Entretanto, em termos mais amplos, é um
II – trabalhadores em educação portadores de diploma de dos aspectos centrais na formação do professor, em razão do
pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, que traz consequências decisivas para a formação profissional.
supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com Atualmente, em boa parte dos cursos de licenciatura, a
títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; aproximação do futuro professor à realidade escolar acontece
III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de após ele ter passado pela formação “teórica”, tanto na
curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim. disciplina especifica como nas disciplinas pedagógicas. O
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos caminho deve ser outro. Desde o ingresso dos alunos no curso,
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de é preciso integrar os conteúdos das disciplinas em situações
áreas afins à sua formação ou experiência profissional, da prática que coloquem problemas aos futuros professores e
atestados por titulação específica ou prática de ensino em lhes possibilitem experimentar soluções. Isso significa ter a
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das prática, ao longo do curso, como referente direto para
corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente contrastar seus estudos e formar seus próprios conhecimentos
para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei e convicções a respeito. Ou seja, os alunos precisam conhecer
nº 13.415, de 2017) o mais cedo possível os sujeitos e as situações com que irão
V - profissionais graduados que tenham feito trabalhar. Significa tomar a prática profissional como instância
complementação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho permanente e sistemática na aprendizagem do futuro
Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) professor e como referência para a organização curricular.
(...) Significa, também, a articulação entre formação inicial e
formação continuada. Por um lado, a formação inicial estaria
Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação estreitamente vinculada aos contextos de trabalho,
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, possibilitando pensar as disciplinas com base no que pede a
admitida, como formação mínima para o exercício do prática; cai por terra aquela ideia de que o estágio é aplicação
magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do da teoria. Por outro, a formação continuada, a par de ser feita
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade na escola a partir dos saberes e experiências dos professores
normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de 2017) adquiridos na situação de trabalho, articula-se com a formação
inicial, indo os professores à universidade para uma reflexão
A proposta básica é a de que a formação dos profissionais mais apurada sobre a prática. Em ambos os casos, estamos
da educação para atuação na educação básica far-se-á, diante de modalidades de formação em que há interação entre
predominantemente, nas atuais faculdades de educação, que as práticas formativas e os contextos de trabalho. Com isso,
oferecerão curso de pedagogia, cursos de formação de institui-se uma concepção de formação centrada na ideia de
professores para toda a educação básica, programa especial de escola como unidade básica da mudança educativa, em que as
formação pedagógica, programas de educação continuada e de escolas são consideradas “espaços institucionais para a
pós-graduação. As faculdades de educação terão sob sua inovação e a melhoria e, simultaneamente, como contextos
responsabilidade a formulação e a coordenação de políticas e privilegiados para a formação contínua de professores”
planos de formação de professores, em articulação com as pró- (Escudero e Botia17).
reitorias ou vice-reitorias de graduação das universidades ou
órgãos similares nas demais Instituições de Ensino Superior, A favor de um curso específico de pedagogia
com os institutos/faculdades/departamentos das áreas Conforme vimos considerando, as faculdades de educação
específicas e com as redes pública e privada de ensino. sediariam, de forma articulada, o curso de pedagogia e a
O curso de pedagogia destinar-se-á à formação de formação inicial e continuada de professores. O que é esse
profissionais interessados em estudos do campo teórico- curso de pedagogia? Trata-se de curso para a realização da
investigativo da educação e no exercício técnico-profissional investigação em estudos pedagógicos, tomando a pedagogia
como pedagogos no sistema de ensino, nas escolas e em outras como campo teórico e como campo de atuação profissional.
instituições educacionais, inclusive as não-escolares. Como campo teórico, destina-se à formação de profissionais
Os cursos de formação de professores e os programas que desejem aprimorar a reflexão e a pesquisa sobre a
mencionados, abrangendo todos os níveis da educação básica, educação e o ensino da pedagogia, propriamente dita. Como
serão realizados num Centro de Formação, Pesquisa e campo de atuação profissional, destina-se à preparação de
Desenvolvimento Profissional de Professores – CFPD, que pesquisadores, planejadores, especialistas em avaliação,

17 ESCUDERO, Juan M. e BOTIA, Bolívar. "Inovação e formação centrada na CANÁRIO, Rui (orgs.). Escolas e mudança: O papel dos Centros de Formação.
escola. Uma perspectiva da realidade espanhola". In: AMIGUINHO, Abílio e Lisboa: Educa, 1994.

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gestores do sistema e da escola, coordenadores pedagógicos A existência desse curso tem como suporte algumas
ou de ensino, comunicadores especializados para atividades premissas:
escolares e extraescolares, animadores culturais, de
especialistas em educação a distância, de educadores de A) O fenômeno educativo sujeita-se à pluralidade de
adultos no campo da formação continuada etc. abordagens, à medida que a educação é objeto de várias
A ampliação do campo educacional e, por consequência, da ciências que o abordam de seu enfoque específico. O estudo da
atuação pedagógica é uma realidade constatada por muitos educação tem um caráter de multirreferencialidade – abarca
autores. tanto modalidades educativas escolares quanto
O curso de pedagogia proposto tem correlatos em extraescolares, como os movimentos sociais, a educação
praticamente todos os países do mundo, embora em alguns ambiental, educação comunitária, educação de grupos sociais
lugares, especialmente na Europa, receba a designação de marginalizados e de minorias sociais. Não é que se descarte o
“ciências da educação”. Poder-se-ia perguntar: por que não fato de que a educação escolar seja, ainda hoje, a forma
chamar esse curso de ciências da educação e não de histórica predominante de prática educativa. Mas, mesmo em
pedagogia? Libâneo18 aponta, em publicação recente, quatro benefício de uma educação escolar mais aberta e mais
posições a respeito desse assunto e sobre a denominação articulada com outras instâncias educativas fora de seu marco
“ciências da educação” escreve: próprio, a ideia é a de que o educativo não se restrinja ao
escolar, uma vez que abrange as relações mais amplas entre o
(..) tal denominação (...) é criticada por provocar dispersão indivíduo e o meio humano, social, físico, ecológico, cultural,
no estudo da problemática educativa, levando a uma postura econômico.
pluridisciplinar ao invés de interdisciplinar. Ou seja, a
autonomia dada a cada uma das ciências da educação levaria a B) Se, por um lado, a compreensão ampliada da educação
enfoques parciais da realidade educativa, comprometendo a fortalece as ciências da educação pelo fato de a pedagogia não
unidade temática e abrindo espaço para os vários ser a única área científica que tem a educação como objeto de
reducionismos (sociológico, psicológico, econômico...), como estudo, por outro, não descaracteriza a especificidade da
aliás a experiência brasileira tem confirmado. pedagogia como uma das ciências da educação. Com efeito,
cada uma das chamadas ciências da educação (sociologia da
Assim, assume-se que a pedagogia se apoia nas ciências da educação, psicologia da educação, linguística aplicada à
educação, mas não perde com isso sua autonomia educação, economia da educação etc.) aborda o fenômeno
epistemológica e não se reduz ao campo conceitual de uma ou educativo da perspectiva de seus próprios conceitos e
outra, nem ao conjunto dessas ciências. métodos de investigação, ao passo que a pedagogia se
A pluridimensionalidade do fenômeno educativo não distingue por estudar o fenômeno educativo em sua
elimina sua unicidade, que permite “estabelecer um corpo totalidade, inclusive para integrar os enfoques parciais
cientifico que tem o fenômeno educativo em seu conjunto daquelas ciências em função de uma aproximação global e
como objeto de estudo, com a finalidade expressa de dar intencionalmente dirigida aos problemas educativos.
coerência à multiplicidade de ações parcializadas”. Nessa
concepção, a pedagogia promove a síntese integradora dos C) Um currículo de pedagogia, além de contemplar como
diferentes processos analíticos que correspondem a cada uma objeto de investigação a pluralidade das práticas educativas,
das ciências da educação em seu objeto específico de estudo. concentra sua temática investigativa nos saberes pedagógicos,
Também Pimenta19 discute detidamente a questão com a contribuição das ciências da educação, na forma de
recorrendo a vários autores, argumentando pela necessidade inter-relação entre os saberes científicos. Ou seja, assume-se o
de a pedagogia postular sua especificidade epistemológica, de entendimento de pedagogia como ciência da prática social da
modo a não se conformar com uma mera posição de campo educação para daí se definirem saberes pedagógicos. A
aplicado de outras ciências que também estudam a educação. integração de conhecimentos pela inter-relação entre saberes
Com base nisso, firma sua posição de que a pedagogia tem sua decorre não apenas da pluralidade que caracteriza o fenômeno
significação epistemológica assumindo-se como ciência da educativo, mas também de uma tendência irrefreável das
prática social da educação. ciências no mundo contemporâneo buscarem a integração
Diferentemente das demais ciências da educação, a entre os saberes, sem perder de vista a especificidade
pedagogia é ciência da prática. Ela não se constrói como disciplinar.
discurso sobre a educação, mas a partir da prática dos
educadores tomada como referência para a construção de O currículo terá uma forte orientação para a pesquisa, seja
saberes, no confronto com os saberes teóricos. (...) O como prática acadêmica, seja como atitude. Ressaltem-se, aí,
objeto/problema da pedagogia é a educação enquanto prática os vínculos entre o ensino e a pesquisa, a pesquisa como forma
social. Daí seu caráter específico que a diferencia das demais básica de construção do saber, em confronto, em
(ciências da educação), que é o de uma ciência prática – parte questionamento, com os saberes já estabelecidos e como
da prática e a ela se dirige. A problemática educativa e sua instrumento para desenvolvimento das competências do
superação constituem o ponto central de referência para a pensar. Tal concepção de pedagogia deveria transpassar toda
investigação. a formação pedagógica nos cursos de formação de professores,
Defendemos, pois, a criação do curso de pedagogia, um da educação infantil ao Ensino Médio.
curso que oferece formação teórica, científica e técnica para
interessados no aprofundamento da teoria e da pesquisa A defesa de um local institucional específico para
pedagógica e no exercício de atividades pedagógicas formar professores
específicas (planejamento de políticas educacionais, gestão do A atividade docente vem se modificando em decorrência
sistema de ensino e das escolas, assistência pedagógico- de transformações nas concepções de escola e nas formas de
didática a professores e alunos, avaliação educacional, construção do saber, resultando na necessidade de se repensar
pedagogia empresarial, animação cultural, produção e a intervenção pedagógico-didática na prática escolar. Um dos
comunicação nas mídias etc.). aspectos cruciais dessas transformações, os quais têm se
evidenciado em avaliações educacionais como o Saresp, é o

18 LIBÂNEO, José C. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 19 PIMENTA, Selma G. O pedagogo na escola pública. São Paulo: Loyola, 1988.
1998.

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investimento na qualidade da formação dos docentes e no humanas e naturais, da cultura e das artes; conteúdos didático-
aperfeiçoamento das condições de trabalho nas escolas, para pedagógicos (diretamente relacionados ao campo da prática
que estas favoreçam a construção coletiva de projetos profissional); conteúdos relacionados a saberes pedagógicos
pedagógicos capazes de alterar os quadros de reprovação, mais amplos (do campo teórico da prática educacional) e
retenção e da qualidade social e humana dos resultados da conteúdos ligados à explicitação do sentido da existência
escolarização. humana (individual, sensibilidade pessoal e social). E
Tem sido unânime a insatisfação de gestores, identidade que é profissional. Ou seja, a docência constituiu
pesquisadores e professores com as formas convencionais de um campo específico de intervenção profissional na prática
se formar professores em nosso país. Realizados em dois social – não é qualquer um que pode ser professor.
níveis de ensino – Médio e Superior –, os atuais cursos não dão Uma visão progressista de desenvolvimento profissional
conta de preparar o professor com a qualidade que se exige exclui uma concepção de formação baseada na racionalidade
hoje desse profissional. No nível médio, realiza-se a formação técnica (em que os professores são considerados mero
dos professores das quatro séries iniciais do Ensino executores de decisões alheias) e assume a perspectiva de
Fundamental e, em alguns casos, a formação dos professores considerá-los em sua capacidade de decidir e de rever suas
para a educação infantil. Às vezes esses profissionais são práticas e as teorias que as informam, pelo confronto de suas
formados no nível superior (nos atualmente chamados cursos ações cotidianas com as produções teóricas, pela pesquisa da
de pedagogia). Os professores para as séries seguintes do prática e a produção de novos conhecimentos para a teoria e a
Ensino Fundamental e para o Ensino Médio são formados no prática de ensinar. Considera, assim, que as transformações
nível superior, recorrendo ao velho esquema dos cursos de das práticas docentes só se efetivam na medida em que o
bacharelado e licenciatura. Conforme mencionamos professor amplia sua consciência sobre a própria prática, a da
anteriormente, essas modalidades de formação já sala de aula e a da escola como um todo, o que pressupõe
demonstraram historicamente seu esgotamento (em nosso conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade.
país e em vários outros). Dentro desse quadro, o Dessa forma, os professores contribuem para a criação, o
aprimoramento do processo de formação de professores desenvolvimento e a transformação nos processos de gestão,
requer muita ousadia e criatividade para que se construam nos currículos, na dinâmica organizacional, nos projetos
novos e mais promissores modelos educacionais necessários à educacionais e em outras formas de trabalho pedagógico. Por
urgente e fundamental tarefa de melhoria da qualidade do esse raciocínio, reformas gestadas nas instituições, sem tomar
ensino no país. os professores como parceiros/autores, não transformam a
A LDB no 9.394/96, em seu art. 62, estabelece como regra escola na direção da qualidade social. Em consequência,
que a formação dos docentes para a educação fundamental e valorizar o trabalho docente significa dotar os professores de
para a educação infantil far-se-á em nível superior. A elevação perspectivas de análise que os ajudem a compreender os
da formação docente em nível superior, reivindicação antiga contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais nos
dos educadores em nosso país e já consolidada em grande quais se dá sua atividade docente.
parte dos países desenvolvidos, fica assim contemplada. No Nas últimas décadas assistimos a uma ampliação das
mesmo art. 62, no entanto, admite-se como formação mínima oportunidades de acesso à escola, em que pesem as diferenças
para as séries iniciais e para a educação infantil, “a oferecida entre as regiões. Poder-se-ia concluir que o país tem uma
em nível médio, na modalidade Normal”, Redação dada pela lei escola que realizou a inclusão social de todos? Não nos parece,
nº 13.415, de 2017. pois a essa ampliação quantitativa, em grande parte resultante
da reivindicação dos educadores e da população, não
Que professor queremos formar? correspondeu a melhoria das condições de trabalho, de
Na sociedade contemporânea, as rápidas transformações jornada, de organização e funcionamento, de formação e
no mundo do trabalho, o avanço tecnológico configurando a valorização do professor, fatores essenciais para a qualidade
sociedade virtual e os meios de informação e comunicação do ensino. Sem isso, a escola quantitativamente ampliada
incidem com bastante força na escola, aumentando os desafios permanece excludente. Ao desenvolver um ensino aligeirado,
para torná-la uma conquista democrática efetiva. Não é tarefa impossibilita a inserção social de crianças e jovens de classes
simples nem para poucos. Transformar as escolas em suas sociais mais pobres em igualdade de condições com aqueles
práticas e culturas tradicionais e burocráticas – as quais, por dos segmentos economicamente favorecidos, acentuando a
meio da retenção e da evasão, acentuam a exclusão social – em exclusão social.
escolas que eduquem as crianças e os jovens, propiciando-lhes Uma escola que inclua, ou seja, que eduque todas as
um desenvolvimento cultural, científico e tecnológico que lhes crianças e jovens, com qualidade, superando os efeitos
assegure condições para fazerem frente às exigências do perversos das retenções e evasões, propiciando-lhes um
mundo contemporâneo, exige esforço do coletivo da escola – desenvolvimento cultural que lhes assegure condições para
professores, funcionários, diretores e pais de alunos –, dos fazerem frente às exigências do mundo contemporâneo,
sindicatos, dos governantes e de outros grupos sociais precisa de condições para que, com base na análise e na
organizados. valorização das práticas existentes que já apontam para
Não se ignora que esse desafio precisa ser formas de inclusão, se criem novas práticas: de aula, de gestão,
prioritariamente enfrentado no campo das políticas públicas. de trabalho dos professores e dos alunos, formas coletivas,
Todavia, não é menos certo que os professores são currículos interdisciplinares, uma escola rica de material e de
profissionais essenciais na construção dessa nova escola. experiências, como espaço de formação contínua, e tantas
Entendendo que a democratização do ensino passa pela sua outras. Por sua vez, os professores contribuem com seus
formação, sua valorização profissional, suas condições de saberes específicos, seus valores, suas competências, nessa
trabalho, pesquisas e experiências inovadoras têm apontado complexa empreitada, para o que se requer condições salariais
para a importância do investimento no desenvolvimento e de trabalho, formação inicial de qualidade e espaços de
profissional dos professores. O desenvolvimento profissional formação contínua.
envolve formação inicial e contínua articuladas a um processo Dada a natureza do trabalho docente, que é ensinar como
de valorização identitária e profissional dos professores. contribuição ao processo de humanização dos alunos
Identidade que é epistemológica, ou seja, que reconhece a historicamente situados, espera-se dos processos de formação
docência como um campo de conhecimentos específicos que desenvolvam conhecimentos e habilidades, competências,
configurados em quatro grandes conjuntos, a saber: conteúdos atitudes e valores que possibilitem aos professores ir
das diversas áreas do saber e do ensino, ou seja, das ciências construindo seus saberes-fazeres docentes a partir das

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necessidades e desafios que o ensino como prática social lhes didática da aula têm por finalidade proporcionar um trabalho
coloca no cotidiano. Espera-se, pois, que mobilizem os mais significativo e bem elaborado para a transmissão dos
conhecimentos da teoria da educação e do ensino, das áreas do conteúdos. O estabelecimento desses caminhos proporciona
conhecimento necessárias à compreensão do ensino como ao professor um maior controle do processo e aos alunos uma
realidade social, e que desenvolvam neles a capacidade de orientação mais eficaz, que vá de acordo com previsto.
investigar a própria atividade (a experiência) para, a partir As indicações das etapas para o desenvolvimento da aula,
dela, constituírem e transformarem os seus saberes-fazeres não significa que todas elas devam seguir um cronograma
docentes, num processo contínuo de construção de suas rígido, pois isso depende dos objetivos, conteúdos da
identidades como professores. disciplina, recursos disponíveis e das características dos
Em síntese, dizemos que o professor é um profissional do alunos e de cada aluno e situações didáticas especificas.
humano que: ajuda o desenvolvimento pessoal/intersubjetivo Dentro da organização da aula destacaremos agora seus
do aluno; um facilitador do acesso do aluno ao conhecimento Componentes Didáticos, que são também abordados em
(informador informado); um ser de cultura que domina de alguns trabalhos como elementos estruturantes do ensino
forma profunda sua área de especialidade (científica e didático. São eles: os objetivos (gerais e específicos), os
pedagógica/educacional) e seus aportes para compreender o conteúdos, os métodos, os meios e as avaliações.
mundo; um analista crítico da sociedade, portanto, que nela
intervém com sua atividade profissional; um membro de uma Objetivos
comunidade de profissionais, portanto, científica (que produz São metas que se deseja alcançar, para isso usa-se de
conhecimento sobre sua área) e social. diversos meios para se chegar ao esperado. Os objetivos
Esse profissional deve ser formado nas universidades, que educacionais expressam propósitos definidos, pois o professor
é o lugar da produção social do conhecimento, da circulação da quando vai ministrar a aula já vai com os objetivos definidos.
produção cultural em diferentes áreas do saber e do Eles têm por finalidade, preparar o docente para determinar o
permanente exercício da crítica histórico-social. que se requer com o processo de ensino, isto é prepará-lo para
estabelecer quais as metas a serem alcançadas, eles
A Organização da Aula e Seus Componentes Didáticos constituem uma ação intencional e sistemática.
do Processo Educacional Os objetivos são exigências que requerem do professor um
A aula é a forma predominante pela qual é organizado o posicionamento reflexivo, que o leve a questionamentos sobre
processo de ensino e aprendizagem. É o meio pelo qual o a sua própria prática, sobre os conteúdos os materiais e os
professor transmite aos seus alunos conhecimentos métodos pelos quais as práticas educativas se concretizam. Ao
adquiridos no seu processo de formação, experiências de vida, elaborar um plano de aula, por exemplo, o professor deve levar
conteúdos específicos para a superação de dificuldades e em conta muitos questionamentos acerca dos objetivos que
meios para a construção de seu próprio conhecimento, nesse aspira, como O que? Para que? Como? E Para quem ensinar? É
sentido sendo protagonista de sua formação humana e escolar. isso só irá melhorar didaticamente as suas ações no
É ainda o espaço de interação entre o professor e o planejamento da aula.
indivíduo em formação constituindo um espaço de troca Não há prática educativa sem objetivos; uma vez que estes
mútua. A aula é o ambiente propício para se pensar, criar, integram o ponto de partida, as premissas gerais para o
desenvolver e aprimorar conhecimentos, habilidades, atitudes processo pedagógico. Os objetivos são um guia para orientar a
e conceitos, é também onde surgem os questionamentos, prática educativa sem os quais não haveria uma lógica para
indagações e respostas, em uma busca ativa pelo orientar o processo educativo.
esclarecimento e entendimento acerca desses Para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça de
questionamentos e investigações. modo mais organizado faz-se necessário, classificar os
Por intermédio de um conjunto de métodos, o educador objetivos de acordo com os seus propósitos e abrangência, se
busca melhor transmitir os conteúdos, ensinamentos e são mais amplos, denominados objetivos gerais e se são
conhecimentos de uma disciplina, utilizando-se dos recursos destinados a determinados fins com relação aos alunos,
disponíveis e das habilidades que possui para infundir no chamados de objetivos específicos.
aluno o desejo pelo saber.
Deve-se ainda compreender a aula como um conjunto de Objetivos Gerais: exprimem propósitos mais amplos
meios e condições por meio das quais o professor orienta, guia acerca do papel da escola e do ensino diante das exigências
e fornece estímulos ao processo de ensino em função da postas pela realidade social e diante do desenvolvimento da
atividade própria dos alunos, ou seja, da assimilação e personalidade dos alunos. Por isso ele também afirma que os
desenvolvimento de habilidades naturais do aluno na objetivos educacionais transcendem o espaço da sala de aula
aprendizagem educacional. Sendo a aula um lugar privilegiado atuando na capacitação do indivíduo para as lutas sociais de
da vida pedagógica refere-se às dimensões do processo transformação da sociedade, e isso fica claro, uma vez que os
didático preparado pelo professor e por seus alunos. objetivos têm por fim formar cidadãos que venham a atender
Aula é toda situação didática na qual se põem objetivos, os anseios da coletividade.
conhecimentos, problemas, desafios com fins instrutivos e
formativos, que incitam as crianças e jovens a aprender. Cada Objetivos Específicos: compreendem as intencionalidades
aula é única, pois ela possui seus próprios objetivos e métodos específicas para a disciplina, os caminhos traçados para que se
que devem ir de acordo com a necessidade observada no possa alcançar o maior entendimento, desenvolvimento de
educando. habilidades por parte dos alunos que só se concretizam no
A aula é norteada por uma série de componentes, que vão decorrer do processo de transmissão e assimilação dos
conduzir o processo didático facilitando tanto o estudos propostos pelas disciplinas de ensino e aprendizagem.
desenvolvimento das atividades educacionais pelo educador Expressam as expectativas do professor sobre o que deseja
como a compreensão e entendimento pelos indivíduos em obter dos alunos no decorrer do processo de ensino. Têm
formação; ela deve, pois, ter uma estruturação e organização, sempre um caráter pedagógico, porque explicitam a direção a
afim de que sejam alcançados os objetivos do ensino. ser estabelecida ao trabalho escolar, em torno de um programa
Ao preparar uma aula o professor deve estar atento às de formação.
quais interesses e necessidades almeja atender, o que
pretende com a aula, quais seus objetivos e o que é de caráter
urgente naquele momento. A organização e estruturação

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APOSTILAS OPÇÃO

Conteúdos ensino regulam as formas de interação entre ensino e


Os conteúdos de ensino são constituídos por um conjunto aprendizagem, professor e os alunos, na qual os resultados
de conhecimentos. É a forma pela qual, o professor expõe os obtidos é assimilação consciente de conhecimentos e
saberes de uma disciplina para ser trabalhado por ele e pelos desenvolvimento das capacidades cognoscitivas e operativas
seus alunos. Esses saberes são advindos do conjunto social dos alunos.
formado pela cultura, a ciência, a técnica e a arte. Constituem Segundo Libâneo a escolha e organização os métodos de
ainda o elemento de mediação no processo de ensino, pois ensino devem corresponder à necessária unidade objetivos-
permitem ao discente através da assimilação o conhecimento conteúdos-métodos e formas de organização do ensino e as
histórico, cientifico, cultural acerca do mundo e possibilitam condições concretas das situações didáticas. Os métodos de
ainda a construção de convicções e conceitos. ensino dependem das ações imediatas em sala de aula, dos
O professor, na sala de aula, utiliza-se dos conteúdos da conteúdos específicos, de métodos peculiares de cada
matéria para ajudar os alunos a desenvolverem competências disciplina e assimilação, além disso, esses métodos implica o
e habilidades de observar a realidade, perceber as conhecimento das características dos alunos quanto à
propriedades e características do objeto de estudo, capacidade de assimilação de conteúdos conforme a idade e o
estabelecer relações entre um conhecimento e outro, adquirir nível de desenvolvimento mental e físico e suas características
métodos de raciocínio, capacidade de pensar por si próprios, socioculturais e individuais.
fazer comparações entre fatos e acontecimentos, formar A relação objetivo-conteúdo-método procuram mostrar
conceitos para lidar com eles no dia-a-dia de modo que sejam que essas unidades constituem a linhagem fundamental de
instrumentos mentais para aplicá-los em situações da vida compreensão do processo didático: os objetivos, explicitando
prática. Neste contexto pretende-se que os conteúdos os propósitos pedagógicos intencionais e planejados de
aplicados pelo professor tenham como fundamento não só a instrução e educação dos alunos, para a participação na vida
transmissão das informações de uma disciplina, mas que esses social; os conteúdos, constituindo a base informativa concreta
conteúdos apresentem relação com a realidade dos discentes para alcançar os objetivos e determinar os métodos; os
e que sirvam para que os mesmos possam enfrentar os métodos, formando a totalidade dos passos, formas didáticas e
desafios impostos pela vida cotidiana. Estes devem também meios organizativos do ensino que viabilizam a assimilação
proporcionar o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos conteúdos, e assim, o atingimento dos objetivos.
e cognitivas do aluno, que o levem ao desenvolvimento crítico No trabalho docente, os professores selecionam e
e reflexivo acerca da sociedade que integram. organizam seus métodos e procedimentos didáticos de acordo
Os conteúdos de ensino devem ser vistos como uma com cada matéria. Dessa forma destacamos os principais
relação entre os seus componentes, matéria, ensino e o métodos de ensino utilizado pelo professor em sala de aula:
conhecimento que cada aluno já traz consigo. Pois não basta método de exposição pelo professor, método de trabalho
apenas a seleção e organização lógica dos conteúdos para independente, método de elaboração conjunta, método de
transmiti-los. Antes os conteúdos devem incluir elementos da trabalho em grupo. Nestes métodos, os conhecimentos,
vivência prática dos alunos para torná-los mais significativos, habilidades e tarefas são apresentados, explicadas e
mais vivos, mais vitais, de modo que eles possam assimilá-los demonstradas pelo professor, além dos trabalhos planejados
de forma ativa e consciente. Ao proferir estas palavras, o autor individuais, a elaboração conjunta de atividades entre
aponta para um elemento de fundamental importância na professores e alunos visando à obtenção de novos
preparação da aula, a contextualização dos conteúdos. conhecimentos e os trabalhos em grupo. Dessa maneira
designamos todos os meios e recursos matérias utilizados pelo
A) Contextualização dos conteúdos professor e pelos alunos para organização e condução
A contextualização consiste em trazer para dentro da sala metódica do processo de ensino e aprendizagem.
de aula questões presentes no dia a dia do aluno e que vão
contribuir para melhorar o processo de ensino e Avaliação Escolar
aprendizagem do mesmo. Valorizando desta forma o contexto A avaliação escolar é uma tarefa didática necessária para o
social em que ele está inserido e proporcionando a reflexão trabalho docente, que deve ser acompanhado passo a passo no
sobre o meio em que se encontra, levando-o a agir como processo de ensino e aprendizagem. Através da mesma, os
construtor e transformador deste. Então, pois, ao selecionar e resultados vão sendo obtidos no decorrer do trabalho em
organizar os conteúdos de ensino de uma aula o professor conjunto entre professores e alunos, a fim de constatar
deve levar em consideração a realidade vivenciada pelos progressos, dificuldades e orientá-los em seus trabalhos para
alunos. as correções necessárias.
A avaliação escolar é uma tarefa complexa que não se
B) A relação professor-aluno no processo de ensino e resume à realização de provas e atribuição de notas, ela
aprendizagem cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de
O professor no processo de ensino é o mediador entre o controle em relação ao rendimento escolar.
indivíduo em formação e os conhecimentos prévios de uma A função pedagógico-didática refere-se ao papel da
matéria. Tem como função planejar, orientar a direção dos avaliação no cumprimento dos objetivos gerais e específicos
conteúdos, visando à assimilação constante pelos alunos e o da educação escolar. Ao comprovar os resultados do processo
desenvolvimento de suas capacidades e habilidades. É uma de ensino, evidencia ou não o atendimento das finalidades
ação conjunta em que o educador é o promotor, que faz sociais do ensino, de preparação dos alunos para enfrentar as
questionamentos, propõem problemas, instiga, faz desafios exigências da sociedade e inseri-los ao meio social. Ao mesmo
nas atividades e o educando é o receptor ativo e atuante, que tempo, favorece uma atitude mais responsável do aluno em
através de suas ações responde ao proposto produzindo assim relação ao estudo, assumindo-o como um dever social. Já a
conhecimentos. O papel do professor é levar o aluno a função de diagnóstico permite identificar progressos e
desenvolver sua autonomia de pensamento. dificuldades dos alunos e a atuação do professor que, por sua
vez, determinam modificações do processo de ensino para
Métodos de Ensino melhor cumprir as exigências dos objetivos. A função do
Métodos de ensino são as formas que o professor organiza controle se refere aos meios e a frequência das verificações e
as suas atividades de ensino e de seus alunos com a finalidade de qualificação dos resultados escolares, possibilitando o
de atingir objetivos do trabalho docente em relação aos diagnóstico das situações didáticas.
conteúdos específicos que serão aplicados. Os métodos de

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No entanto, a avaliação durante a pratica escolar tem sido B) desenvolver, em colaboração com outras instituições
bastante criticada sobre tudo por reduzir-se à sua função de (Estado, sindicatos etc.), a formação contínua e o
controle, mediante a qual se faz uma classificação quantitativa desenvolvimento profissional dos professores;
dos alunos relativa às notas que obtiveram nas provas. Os C) realizar pesquisas na área de formação e
professores não têm conseguido usar os procedimentos de desenvolvimento profissional de professores;
avaliação que sem dúvida, implicam o levantamento de dados D) preparação profissional de professores que atuam no
por meio de testes, trabalhos escritos etc. Em relação aos Ensino Superior.
objetivos, funções e papel da avaliação na melhoria das
atividades escolares e educativas, tem-se verificado na pratica Esses objetivos configuram um projeto pedagógico próprio
escolar alguns equívocos. para a formação e o desenvolvimento profissional de
O mais comum é tomar a avaliação unicamente como o ato professores.
de aplicar provas, atribuir notas e classificar os alunos. O
professor reduz a avaliação à cobrança daquilo que o aluno Por que em um centro específico e nas faculdades de
memorizou e usa a nota somente como instrumento de educação?
controle. Tal ideia é descabida, primeiro porque a atribuição A inserção na estrutura das faculdades (centros) de
de notas visa apenas o controle formal, com objetivo educação do CFPD pretende ser uma virada de rumo na
classificatório e não educativo; segundo porque o que importa formação de professores. É preciso uma mudança radical nas
é o veredito do professor sobre o grau de adequação e formas institucionais e curriculares de formação de
conformidade do aluno ao conteúdo que transmite. Outro professores, superando o atual esquema do bacharelado e da
equívoco é utilizar a avaliação como recompensa aos bons licenciatura, que não responde mais às necessidades
alunos e punição para os desinteressados, além disso, os prementes de qualificação profissional para um tempo novo.
professores confiam demais em seu olho clínico, dispensam Centrar a formação de professores numa instituição modelar
verificações parciais no decorrer das aulas e aqueles que como têm sido as faculdades de educação e atribuir-lhe a
rejeitam as medidas quantitativas de aprendizagem em favor responsabilidade de concatenar, no âmbito das universidades,
de dados qualitativos. as políticas e planos de formação de professores, em estreita
O entendimento correto da avaliação consiste em articulação com os institutos, faculdades ou departamentos
considerar a relação mútua entre os aspectos quantitativos e das áreas especificas, pode ser garantia não apenas de
qualitativos. A escola cumpre uma função determinada melhoria da qualidade de formação, mas da profissionalidade
socialmente, a de introduzir as crianças, jovens e adultos no do professorado, de modo que se configurem sua identidade e
mundo da cultura e do trabalho, tal objetivo não surge seu estatuto profissional.
espontaneamente na experiência das crianças, jovens e As faculdades de educação têm sido, ao longo destas
adultos, mas supõe as perspectivas traçadas pela sociedade e décadas, local da produção do conhecimento sobre educação e
controle por parte do professor. Por outro lado, a relação ensino que, na maioria das vezes, tem sido ignorado pelos
pedagógica requer a independência entre influências externas institutos/departamentos/cursos específicos. No entanto, os
e condições internas do aluno, pois nesse contexto o professor problemas encontrados nas atuais faculdades de educação e
deve organizar o ensino objetivando o desenvolvimento que exigem destas uma reformulação, referem-se, a nosso ver,
autônomo e independente do aluno. de um lado, à ambiguidade nelas presente quanto ao
tratamento das “ciências da educação” dissociadas das
Centro de Formação, Pesquisa e Desenvolvimento questões referentes à profissionalidade docente e, de outro, à
Profissional de Professores (CFPD): uma proposta ambiguidade dos cursos de pedagogia que, ao se restringirem
à formação dos professores das séries iniciais do Ensino
Tendo argumentado sobre a especificidade da pedagogia e Fundamental ou à formação técnico-burocrática dos
da formação de pedagogos stricto sensu, não identificados com “especialistas”, conforme tratamos no item anterior, perderam
professores, e explicitado a importância da formação destes, sua especificidade de produção do conhecimento na área
ampliada para o conceito de desenvolvimento profissional, educacional.
passamos a propor a nossa visão da formação de professores. Há que se considerar, ainda, a desigualdade de importância
Um ponto de vista radical sobre essa questão leva ao entre os saberes constitutivos da docência na formação dos
enfrentamento do desafio da definição dos locais professores, privilegiando aqueles relacionados às
institucionais para a formação desses profissionais e de competências didático-pedagógicas do ensino (metodologias e
orientações explícitas sobre a organização curricular, práticas de ensinar), considerados de modo fragmentado e
assegurando um suporte legal de marcos institucionais e dissociados das áreas específicas e apenas disciplinares e os
curriculares nacionais. Dessa forma, acreditamos que são relacionados aos saberes pedagógicos mais amplos. Estes, via
necessárias decisões por parte das instâncias normativas do de regra, desarticulados daqueles. Por sua vez, os
sistema educacional que considerem o tratamento global da institutos/departamentos/cursos, via de regra, desenvolvem
questão, revendo os locais institucionais de formação – de os conteúdos específicos das áreas, ignorando a docência como
modo a superar os evidentes (e consensuais) problemas e atividade profissional de seus egressos e, portanto, ignorando
impasses que têm marcado a formação de professores tanto os conhecimentos pedagógicos/educacionais necessários à
nas faculdades de educação como nos institutos/ mediação profissional dos especialistas em atividades de
departamentos/cursos das universidades – e estabelecendo ensinar.
orientações mais específicas para a organização curricular dos Considerem-se, também, as enormes dificuldades que
cursos, contemplando a formação pedagógica e a específica no ambos, faculdades de educação e institutos, encontram para
âmbito dos saberes disciplinares. valorizar e efetivar a pesquisa sobre ensino e docência nas
Por isso, sugerimos que a Faculdade (Centro) de Educação respectivas instituições, por tratarem de área
incorpore em sua estrutura, ao lado do curso de pedagogia, o tradicionalmente menos prestigiada na comunidade científica
Centro de Formação, Pesquisa e Desenvolvimento Profissional nacional e internacional. Já há um consenso em algumas
de Professores – CFPD – que terá quatro objetivos: universidades, faculdades de educação, institutos,
comunidades científicas e nas áreas de ensino e entidades de
A) formação e preparação profissional de professores para educadores, de que a formação de professores precisa se
atuar na educação básica: educação infantil, Ensino constituir em um projeto pedagógico próprio, articulado entre
Fundamental e Ensino Médio; diferentes instâncias de formação de professor. O que

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favoreceria, inclusive, a valorização dessa área na comunidade M) um sólido curso de graduação em que estará presente a
científica, em termos de verbas para projetos, pesquisas, unidade ensino/pesquisa/extensão, elevando o estatuto da
experiências inovadoras e até articulação entre as instâncias formação de professores e assegurando a valorização
de formação inicial e os locais sociais de exercício da profissão profissional, situando todos os professores no mesmo nível de
docente. formação e salários;
Um centro específico de formação, pesquisa e N) a ampliação da responsabilidade das faculdades de
desenvolvimento profissional de professores possibilitaria a educação e o reconhecimento da importância do seu papel na
superação da hoje dicotômica visão da docência. O exercício formação de professores, assim como a redefinição das
profissional em um dado nível do ensino configura uma responsabilidades dos institutos/faculdades/departamentos
dimensão de uma totalidade que é a docência. Em qualquer das áreas do conhecimento, na formação dos professores
nível (e local: escolar e não-escolar) em que ocorra, à docência dentro de um projeto mais explícito de formação profissional
configura uma visão de conjunto, de totalidade (à semelhança do professorado;
do médico que, em qualquer campo de ação que atue, é O) a eleição da prática como elemento integrante de todo o
médico!) e um processo contínuo. Os atuais cursos de percurso de formação, constituindo um princípio
formação não lidam com essa categoria. Os professores que epistemológico da formação (e não um apêndice);
atuam nas séries finais do Ensino Fundamental ignoram a P) a incorporação de contribuições de experiências bem-
problemática e as questões essenciais da docência nos demais sucedidas de formação em nosso país.
segmentos, o que traz problemas insuperáveis nos resultados
do ensino e do processo formativo, pois seus profissionais A formação de professores para qualquer um dos níveis de
operam à docência como um conjunto de “gavetas ensino no CFPD estará assentada na compreensão de que a
fragmentadas e justapostas”, negando a característica de escolaridade constitui um processo contínuo e uma totalidade,
complexidade do fenômeno ensino. superando a atual fragmentação. Além disso, possibilitará que
os graduados complementem e ampliem sua formação para
Em que o CFPD avança na discussão sobre a formação de atuar em diferentes níveis de ensino.
professores: Com base em diagnósticos de necessidades e demandas, o
CFPD oferecerá programas para atendimento específico, por
A institucionalização do CFPD possibilita a incorporação exemplo, na formação inicial para professores leigos, para a
dos princípios que os educadores construíram ao longo dos população indígena; desenvolvimento profissional de
últimos anos (explicitados nas pesquisas, nas experiências, na professores que já atuam nos sistemas escolares e outros. Tais
vivência profissional, nos movimentos de educadores pela programas poderão ser objeto de convênios com Secretarias
formação profissional e em diversos fóruns de debates): de Educação, sindicatos etc. Por seu potencial formativo,
A) introduz o conceito de desenvolvimento profissional, integrarão o projeto pedagógico de formação inicial do CFPD.
superando uma visão dicotômica da formação inicial e da
formação contínua; Referência:
B) toma a pesquisa como componente essencial da/na SANTOS, E. P. dos; BATISTA, I. C.; M. L. da S.; SILVA, M. de F. F. da. O
processo didático educativo: Uma análise reflexiva sobre o processo de
formação. Incorpora as recentes contribuições da formação do ensino e a aprendizagem. Disponível em:
professor/pesquisador baseadas na epistemologia da prática, http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/processo-didatico-
propondo percursos de formação teórico/práticos, nos quais a educativo-analise-reflexiva-sobre-processo-ensino-aprendizagem.htm
pesquisa é tanto formação do docente como este também se LIBANEO, José Carlos; PIMENTA, Selma Garrido. Formação de
profissionais da educação: visão crítica e perspectiva de mudança. Educ.
forma como pesquisador; Soc., Campinas, v. 20, n. 68, p. 239-277, Dec. 1999.
C) a formação é especialmente voltada para a
profissionalidade docente e para a construção da identidade Questões
do professor. Experiências bem-sucedidas (especialmente as
realizadas em alguns cursos de pedagogia) mostram que os 01. (Prefeitura de Alto Piquiri/ PR - Educador Infantil
cursos que se voltaram para tematizar a formação e o exercício – KLC). A Didática é um ramo de estudo da Pedagogia que:
da docência como objeto de formação e pesquisa podem se (A) investiga a natureza das finalidades da educação numa
constituir em espaços mais férteis na produção de sociedade.
conhecimento e mais compromissados com a prática social da (B) busca em outras ciências os conhecimentos que
docência; esclarecem o fenômeno educativo.
D) investe em sólida formação teórica nos quatro campos (C) estuda a dinâmica das relações sociais e o processo do
que constituem os saberes da docência; desenvolvimento humano.
E) considera a prática social concreta da educação como (D) investiga os fundamentos, condições e modos de
objeto de reflexão/formação; realização da instrução e do ensino.
F) considera a visão de totalidade do processo (E) nenhuma alternativa está correta
escolar/educacional;
G) constitui um projeto pedagógico coletivo e 02. (Prefeitura de Nova Friburgo/RJ– Professor-
interdisciplinar para a formação, desenvolvendo em igualdade EXATUS-PR/2015) Em relação à Didática, é incorreto afirmar
de importância os quatro campos dos saberes da docência que:
(conteúdos formativos, conforme o Documento Norteador); (A) contribui para transformar a prática pedagógica da
H) eleva a formação de todos os professores ao Ensino escola, ao desenvolver a compreensão articulada entre os
Superior; conteúdos a serem ensinados e as práticas sociais.
I) valoriza a atividade intelectual, crítica e reflexiva da (B) não compete refletir acerca dos objetivos sócio-
docência como elemento de melhoria da qualidade da políticos e pedagógicos, ao selecionar os conteúdos e métodos
formação profissional dos professores; de ensino.
J) apresenta currículo e percursos de formação abertos, (C) realiza-se por meio de ação consciente, intencional e
permitindo um vai-e-vem entre as várias instituições da planejada, no processo de formação humana, estabelecendo-
universidade que desenvolvem conteúdos formativos para a se objetivos e critérios socialmente determinados.
docência. (D) sua finalidade é converter objetivos sócio-políticos e
L) O CFPD assegurará ainda: pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e
métodos em função desses objetivos.

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03. (UFPE - Pedagogo – COVEST-COPSET). Das favorecendo a possibilidade de observar e de intervir de forma
alternativas abaixo, assinale a compatível com a didática. diferenciada e contingente nas necessidades dos alunos/as. Do
(A) Didática relaciona-se com o estudo dos elementos conjunto de relações necessárias para facilitar a aprendizagem
substantivos ou nucleares do currículo. se deduz uma série de funções dos professores, que Zabala
(B) Didática é reconhecida como um espaço próprio no caracteriza da seguinte maneira:
domínio científico da educação.
(C) Didática é caracterizada como um todo, organizada em a) Planejar a atuação docente de uma maneira
função de propósitos e de saberes educativos. suficientemente flexível para permitir adaptação às
(D) Didática é ligada ao estudo dos processos e práticas necessidades dos alunos em todo o processo de
pedagógicas institucionalizadas. ensino/aprendizagem. Por um lado, uma proposta de
(E) Didática está associada ao conteúdo, ao programa dos intervenção suficientemente elaborada; e por outro, com uma
processos de formação. aplicação extremamente plástica e livre de rigidez, mas que
nunca pode ser o resultado da improvisação.
04. (SEDUC/CE - Professor Pleno I – CESPE). Com b) Contar com as contribuições e os conhecimentos dos
relação às características e às propriedades relativas à didática alunos, tanto no início das atividades como durante sua
e à formação dos professores, assinale a opção correta. realização.
(A) A relação entre o professor, o aluno e o ensino de c) Ajudá-los a encontrar sentido no que estão fazendo para
conceitos científicos constitui uma tríade na qual convergem que conheçam o que têm que fazer, sintam que podem fazê-lo e
apenas estudos teóricos de diferentes domínios do que é interessante fazê-lo.
conhecimento. d) Estabelecer metas ao alcance dos alunos para que possam
(B) Didática é a articulação entre teoria e prática na ser superadas com o esforço e a ajuda necessários.
formação do professor. e) Oferecer ajudas adequadas, no processo de construção do
(C) A formação do professor de biologia é complexa e aluno, para os progressos que experimenta e para enfrentar os
envolve inúmeras disciplinas que, pela especificidade de cada obstáculos com os quais se depara.
uma delas, não devem se complementar. f) Promover atividade mental autoestruturante que permita
(D) Um dos princípios gerais da didática é o foco em estabelecer o máximo de relações com novo conteúdo,
conteúdos e atividades de ensino que tenham sentido atribuindo-lhe significado no maior grau possível e fomentando
essencialmente pedagógicos. os processos de meta-cognição que lhe permitam assegurar o
(E) Uma formação global e integral de professores de controle pessoal sobre os próprios conhecimentos e processos
biologia requer especialização do professor em determinada durante a aprendizagem.
disciplina do curso. g) Estabelecer um ambiente e determinadas relações
presididos pelo respeito mútuo e pelo sentimento de confiança,
Respostas que promovam a autoestima e o autoconceito.
01. D. / 02. B. / 03. A. / 04. B. h) Promover canais de comunicação que regulem os
processos de negociação, participação e construção.
i) Potencializar progressivamente a autonomia dos alunos
na definição de objetivos, no planejamento das ações que os
2.2 A sala de aula como conduzirão aos objetivos e em sua realização e controle,
espaço de aprendizagem e possibilitando que aprendam a aprender.
interação j) Avaliar os alunos conforme suas capacidades e seus
esforços, levando em conta o ponto pessoal de partida e o
processo através do qual adquirem conhecimentos e
incentivando a autoavaliação das competências como meio
As relações interativas em sala de aula para favorecer as estratégias de controle e regulação da própria
atividade.
As Relações Interativas em Sala de Aula: o papel dos
professores e dos alunos20 Concluindo, Zabala afirma que os princípios da concepção
Para Zabala as relações de que se estabelecem entre os construtivista do ensino e da aprendizagem escolar
professores, os alunos e os conteúdos de aprendizagem proporcionam alguns parâmetros que permitem orientar a
constituem a chave de todo o ensino e definem os diferentes ação didática e que, de maneira específica ajuda a caracterizar
papéis dos professores e dos alunos. A concepção tradicional as interações educativas que estrutura a vida de uma classe,
atribui ao professor o papel de transmissor de conhecimentos estabelecendo as bases de um ensino que possa ajudar os
e controlador dos resultados obtidos. alunos a se formarem como pessoas no contexto da instituição
Ao aluno cabe interiorizar o conhecimento que lhe é escolar.
apresentado. A aprendizagem consiste na reprodução da A criação de ambientes interativos em sala de aula exige
informação. Esta maneira de entender a aprendizagem um contexto de ensino-aprendizagem criativo, aberto e
configura uma determinada forma que relacionar-se em dinâmico, permitindo que o aluno tenha um papel interativo e
classe. Na concepção construtivista ensinar envolve responsável na sua aprendizagem.
estabelecer uma série de relações que devem conduzir à Desse modo, se faz necessário uma plataforma de trabalho
elaboração, por parte do aprendiz, de representações pessoais correspondente. O uso de pedagogias interativas que levem o
sobre o conteúdo. aluno a desenvolver processos cognitivos e sociais de
Trata-se de um ensino adaptativo, isto é, um ensino com aprendizagem, contribuem para excelentes resultados de
capacidade para se adaptar às diversas necessidades das aproveitamentos na escola, sendo que os alunos se sentem
pessoas que o protagonizam. Portanto, os professores podem mais motivados.
assumir desde uma posição de intermediário entre o aluno e a Infelizmente o uso de tecnologias nas escolas não acontece
cultura, a atenção para a diversidade dos alunos e de situações na prática, e a culpa disso não é exclusivamente à falta de
à posição de desafiar, dirigir, propor, comparar. Tudo isso dinheiro, preparação de professores ou equipamentos, mas
sugere uma interação direta entre alunos e professores,

20 Texto adaptado de CARDOSO, M. A. baseado na obra de ZABALA, Antoni. A

prática educativa: como ensinar.

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principalmente a cultura predominante em nosso país, de que Esta ideia não é propriamente original. Desde Sócrates até
o conhecimento não pode ir de encontro a novos métodos de os dias de hoje, ela foi questionada por poucas teorias ou
ensino, ficando engessado. explicações. Entretanto, nem todas explicam do mesmo modo
É válido destacar que a iniciativa que levou ao em que consiste esta base, quais são as suas características,
desenvolvimento da Peer Instruction foi uma técnica que papel desempenha na aprendizagem posterior e,
implantada em sala de aula, onde foi explorada a interação sobretudo, como podemos ou devemos ensinar coisas novas
com cada aluno durante as preleções. Esse método vale-se de ao aluno a partir desta base (a não ser que decidamos, em um
apresentações curtas através de pontos-chaves, exercício de ilusão, que o gênio da lâmpada tornou o nosso
acompanhadas de um conceito que já traz a resposta. Aqui, o desejo realidade).
aluno traz a resposta e a justificativa para tal, de modo que o
professor analisa-as e mostra os pontos que precisam ser A natureza ativa e construtiva do conhecimento22
superados. A isso damos o nome de classrrom feedback Sempre que nós, professores e professoras, nos propomos
systems. ensinar determinados conteúdos escolares aos alunos e alunas
O grande desafio encontrado nas salas de aula é o uso de de nossa classe, colocamos em funcionamento, quase sem
tecnologias de baixo custo, valendo-se de smartphones, pretender, uma série complexa de ideias sobre o que significa
tablets, que podem ser utilizados por qualquer aluno com aprender na escola e sobre como se pode ajudar os estudantes
facilidade, proporcionando um ambiente interativo em sala de nesse processo.
aula. Essas ideias, que viemos forjando ao longo de nossa
O ensino-aprendizagem que geralmente é utilizado na sala atividade educacional, graças à experiência e à reflexão,
de aula é aquele em que o professor pergunta e o aluno constituem nossa concepção de aprendizagem e ensino. Esta,
responde, caso tenha interesse, devendo para isso levantar o que é nossa própria teoria, atua como referência-chave para a
braço. Seria ultrapassado ou ineficaz? Alguns defendem que tomada de decisões sobre o quê, quando e como ensinar e
não é tão eficaz pelo fato dos alunos mais tímidos não avaliar. No entanto, nem todos os profissionais de uma mesma
conseguirem interagir e até mesmo com a participação de escola compartilham as mesmas ideias, e por isso, quando é
todos os alunos fica difícil ficaria difícil a administração da sala preciso tomar uma decisão de equipe (por exemplo: quando é
e o tempo despendido para passar todo o plano de aula. melhor começar a ler? com que método? que livro didático
Contudo, os alunos podem tirar suas dúvidas com o professor pode ser mais útil para trabalhar Matemática na 5ª série da
em momentos de intervalo. Educação Primária? etc.), costumam misturar-se argumentos
contraditórios, que é melhor compreender e avaliar do que
Como isso acontece na prática? Baseado na obra: O censurar ou simplesmente rejeitar.
Construtivismo na sala de aula:21 O propósito geral é conseguir interpretar melhor as ideias
que professores e alunos têm sobre o processo de
Professor: Júlio, responda: por que os judeus foram expulsos aprendizagem escolar e identificar sua limitação ou não. A
da Espanha? seguir, analisaremos algumas das concepções mais habituais
Júlio: Porque não se deixaram fotografar. entre os docentes sobre esse tema. Em particular, exporemos
Professor: Como? De onde você tirou isso? a ideia que têm do aluno e aluna que aprendem, da concepção
Júlio: É o que está no livro. de aprendizagem e como concebem o papel do ensino nesse
Professor: Está, é? Onde? processo. Esta proposta será o parâmetro para aprofundar a
Júlio: Aqui, olhe: "porque não se retrataram". concepção que, a nosso ver, seja mais potente entre todas; e,
enfim, mais especificamente, tentaremos expor o que implica
É provável que, como professores, se tivéssemos em para o aluno e a aluna aprender diferentes tipos de conteúdos
nossas mãos a lâmpada de Aladim, três desejos não escolares: conceitos, procedimentos e atitudes.
pareceriam suficientes para tentar resolver os problemas que
enfrentamos em nossa tarefa cotidiana. No entanto, se nos Algumas concepções da aprendizagem e do ensino escolar
concedessem apenas três oportunidades, é provável que um mais habituais entre os docentes
dos nossos desejos fosse que a mente de nossos alunos A maioria dos docentes estaria de acordo em afirmar que
estivesse em branco, como uma lousa limpa na qual aqueles que aprendem são os alunos e alunas de nossas
poderíamos ir escrevendo o que queremos que aprendam. classes.
Supondo que este desejo nos fosse concedido, o pobre gênio da Entretanto, longe dessa primeira aproximação geral, a
lâmpada teria um bom trabalho para ir apagando as lousas de explicação que daríamos dessa afirmação seria muito
nossos alunos até deixá-las completamente limpas. diferente, como também o seria nossa prática em aula. Como
frisamos anteriormente, no intuito de analisar as
As mentes de nossos alunos estão bem longe de parecerem características das concepções de aprendizagem e ensino
lousas limpas, e a concepção construtivista assume este fato escolar mais difundidas entre os professores, vamos
como um elemento central na explicação dos processos de apresentá-las a seguir:
aprendizagem e ensino na sala de aula. Do ponto de vista desta
concepção, aprender qualquer um dos conteúdos escolares 1. A aprendizagem escolar consiste em conhecer as
pressupõe atribuir um sentido e construir os significados respostas corretas para as perguntas formuladas pelos
implicados em tal conteúdo. professores. O ensino proporciona aos alunos o reforço
Pois bem, essa construção não é efetuada a partir do zero, necessário para obter essas respostas.
nem mesmo nos momentos iniciais da escolaridade. O aluno 2. A aprendizagem escolar consiste em adquirir os
constrói pessoalmente um significado (ou o reconstrói do conhecimentos relevantes de uma cultura. Nesse caso, o
ponto de vista social) com base nos significados que pôde ensino proporciona aos alunos a informação de que
construir previamente. necessitam.
Justamente graças a esta base é possível continuar 3. A aprendizagem escolar consiste em construir
aprendendo, continuar construindo novos significados. conhecimentos. Os alunos e as alunas elaboram, mediante sua
atividade pessoal, os conhecimentos culturais. Por tudo isso, o

21 C. Coll, E. Martín, T. Mauri, M. Miras, J. Onrubia, I. Solé, A. Zabala. 6ª edição, 22 C. Coll, E. Martín, T. Mauri, M. Miras, J. Onrubia, I. Solé, A. Zabala. 6ª edição,

editora: Ática, 2006, págs: 57-58. editora: Ática, 2006, págs: 79-83.

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ensino consiste em prestar aos alunos a ajuda necessária para diferenciar entre os que conseguem ou não ser bem-sucedidos
que possam ir construindo-os. nesse processo, pois a expectativa dos professores é que os
Embora a primeira postura apresente características alunos e alunas que não o conseguirem agora, provavelmente
muito diferentes das duas restantes e mantenha com elas nunca o conseguirão. Nesse caso, se forem acumulando notas
escassos pontos de contato, a segunda e a terceira concepções ruins, a atuação habitual dos professores consiste em
podem ser relacionadas entre si, pois ambas ocupam-se de recomendar-lhes que estudem mais, porém não explicarão
como os alunos adquirem conhecimentos, porém divergem na como podem fazê-lo. Se os alunos não conseguem responder
explicação desse processo. adequadamente, continuarão aplicando-lhes sanções na
esperança de que algum dia reajam positivamente. Notas
Conhecer as respostas corretas ruins, ficar sem sair na hora do recreio, expulsão da sala de
Os professores (pelo menos em algumas situações que aula, copiar cem vezes a resposta correta são exemplos de tudo
podemos conhecer no papel de alunos) não costumam explicar isso. E quando isso falha, a sanção torna-se mais rigorosa. Ou
a lição. seja, atua-se aumentando o número de notas ruins pessoais, de
Há ocasiões em que nem mesmo a leem ou comentam em recreios perdidos, a quantidade de dias de expulsão ou o
voz alta, dedicando a maior parte do tempo a formular número de vezes que a resposta correta deve ser copiada.
perguntas aos alunos com a finalidade de comprovar se eles Finalmente, se os alunos continuam sem reagir, um mau
dispõem ou não do repertório adequado de respostas. Sua resultado é augurado diretamente: "Você sabe o que faz, mas
tarefa principal é reforçar positivamente as respostas corretas se continuar assim não vai passar de ano". E sem qualquer
e sancionar as errôneas. indicação, exceto a de que estudem mais, exigem que
A cada aula, antes de terminar, os professores assinalam a continuem tentando (investindo mais esforço, mais tempo) ou
parte do texto que será objeto de perguntas na próxima aula. que pensem em abandonar os estudos, caso isso seja possível.
Na outra aula, depois que alunos e alunas dedicaram os
momentos iniciais a repassar em silêncio e individualmente a O que permite aos alunos aprender determinadas
lição, pede-se que alguns deles, seguindo as normas atitudes?23
estabelecidas, respondam todas aquelas perguntas que o Saberes pessoais dos alunos
professor ou a professora desejem formular lhes, 1. Estar familiarizado com certas normas e possuir
normalmente em voz alta, diante de toda a classe. Esse sistema tendências de comportamento que se manifestam em
de ensino permite que os professores identifiquem, quase situações específicas, perante objetos e pessoas concretas que
imediatamente, o acerto ou o erro nas respostas dos alunos, sirvam de base às novas normas e atitudes objeto de
adjudicando-lhes, também de modo imediato, um prêmio ou aprendizagem.
um castigo. 2. Poder recordar, entre todos os que estão na memória,
Geralmente, estes últimos adotam a forma de uma nota boa avaliações, juízos ou sentimentos que merecem determinadas
ou ruim, que é anotada na lista correspondente, ao lado do coisas, pessoas, objetos e situações mais relevantes e
nome do aluno ou da aluna, sem que ninguém possa remediar especialmente relacionados com a nova norma ou atitude.
isso. Quem não lembra da caderneta onde o professor ou 3. Mostrar-se disposto a expressar a outros suas ideias ou
professora anotava rigorosamente as qualificações resultantes opiniões, por meio da palavra, do gesto ou de qualquer outro
das respostas dos alunos? modo possível, como medida para obter algum grau de
Quem não ficou expectante diante da possibilidade de que consciência sobre elas e conseguir que outros também as
o dedo do professor se detivesse justo no momento de chamá- conheçam. A consciência pública e privada de uma atitude
la entre os "escolhidos" para expor a lição do dia? constitui um elemento importante para a aprendizagem de
Nessa concepção, a aprendizagem é vista como aquisição outras novas, porque torna possível, de acordo com as
de respostas adequadas graças a um processo mecânico de possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem dos
reforços positivos ou negativos. Os professores acreditam que alunos, que eles reflitam sobre os próprios comportamentos e
a conduta que desejam dos alunos (a resposta correta) pode ideias, analisem suas relações e implicações mútuas e avaliem
ser determinada externamente mediante o uso do prêmio ou o grau de coerência ou discrepância entre, por exemplo, sua
do castigo, ou seja, por meio de notas. Nesse sentido, os alunos atitude e outras informações novas sobre a realidade, as
são considerados receptores passivos de reforços. atitudes ou opiniões de pessoas queridas e significativas e
Os professores entendem que sua tarefa consiste em também entre a própria atitude e a ação ou comportamento
suscitar e ir aumentando o número correto de respostas no próprio.
repertório individual do aluno, e também em avaliar o que e 4. Poder elaborar o significado da nova norma ou atitude,
quanto ele responde mais corretamente do que ontem. Nesse ligando-a ao próprio comportamento e opinião, e internalizá-
processo, dificilmente é discutida a relevância do conteúdo la. Para isso pode ser necessário:
escolar ou das perguntas do professor, e a resposta correta é a. Formar para si uma ideia ou representação da norma ou
aquela que reproduz fielmente o texto objeto de estudo. atitude objeto de aprendizagem. Nesse sentido, são atividades
Em geral, nesse caso, os professores não costumam importantes: colocar-se no ponto de vista do outro para
identificar sua função com a de educar, mas com a de um conseguir interpretar suas ideias, tomando consciência do
especialista que conhece a fundo a matéria objeto de estudo e conflito ou da contradição entre tendências de atitude;
que exerce, pela autoridade outorgada por esse fato, um bom observar o comportamento daqueles que nos inspiram afeto,
controle da conduta dos alunos da classe. Tudo isso faz com respeito ou admiração; formular perguntas para conseguir
que exista um interesse relativo, entre os docentes, em familiarizar-se com determinadas normas e atitudes e
conhecer o que o aluno e a aluna fazem 'para conseguir dar as compreender sua origem e significado.
respostas adequadas. Não são consideradas relevantes Também pode ser útil participar de atividades para rever,
perguntas como: Por que respondem corretamente? Isto se redefinir, anular ou substituir uma determinada norma ou
deve a algum processo complexo de elaboração da informação defender ou não uma atitude, argumentando com os valores
do texto? É possível influenciá-lo? O que diferencia alunos e em que se sustenta, e aos quais se concede ou não importância
alunas que o conseguem daqueles que quase nunca o pessoal. Tudo isso de acordo com o nível de desenvolvimento
conseguem? Desse ponto de vista profissional, importante é pessoal.

23 C. Coll, E. Martín, T. Mauri, M. Miras, J. Onrubia, I. Solé, A. Zabala. 6ª edição,

editora: Ática, 2006, págs: 117-121.

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b. Comportar-se de acordo com determinados padrões e próprios do grupo escolar como microcultura, a
normas ou modelos de atitudes, com a intenção, inicialmente, regulamentação, gestão e funcionamento do grupo, o uso de
e responder às demandas feitas pelas pessoas pelas quais comuns, as notas e avaliações etc.).
sentimos afeto, admiração ou respeito e, finalmente, com a 5. Uma determinada organização das atividades de
ideia de demonstrar coerência entre a atitude e a norma que aprendizagem de conteúdos na escola facilita a aprendizagem
mantemos e os valores aos quais concedemos importância de determinadas atitudes muito importantes, tais como a
pessoal. Ir elaborando, na medida do possível, critérios cooperação, a solidariedade, a equidade e a fraternidade. No
pessoais de comportamento ético para poder dar maior entanto, se quisermos que o aluno aprenda essas atitudes e
relevância a determinadas normas e atitudes em situações outras, não menos significativas do ponto de vista humano,
concretas e progredir na consecução da autonomia pessoal e não podemos deixar de planejar expressamente sua
moral. aprendizagem (informar sobre suas características,
5. Poder aceitar tudo o que implica a mudança de atitude exemplificar, debater, atribuir-lhes significado identificando
com confiança e segurança em si. O fato de poder ou não as em situações cotidianas e reais para os alunos, mostrar
mostrar uma atitude determinada não depende apenas de modelos de comportamento que as incluem e permitir que
conhecer os argumentos que a sustentam, mas da sejam exercidas e praticadas na escola).
possibilidade de relacioná-la com determinados afetos, 6. Procurar modelos das atitudes que se pretende que os
emoções e motivos que, as vezes, nos impedem de mudar. alunos e alunas aprendam na escola e oferecer o apoio e o
Toda inovação pessoal implica certo grau de temor e tempo necessário para que possam ensaiar, testar e imitar.
pressupõe a aceitação de algum tipo de risco. Animar, exigir e apoiar os alunos que tentam mudar, tentando
A mudança de atitude na escola é possível se o aluno e a fazer com que eles aceitem o apoio dos demais do grupo e
aluna contam com o apoio de um coletivo (como o grupo da avaliem as críticas que recebem, o trabalho realizado e os
classe) que avalia positivamente essa modificação de atitudes sucessos alcançados. Os professores devem estar preparados
e aceita o desafio da mudança constituindo-se como para apoiar os alunos naqueles momentos em que podem
referencial e suporte graças à qualidade das relações geradas sentir insegurança ou em que manifestem resistência à
no mesmo. Isto é, os alunos estarão em melhores condições de mudança.
aprender atitudes se a escolha e o grupo de classe permitem a A aprendizagem de atitudes se apoia, como demonstramos
discussão dos argumentos que as apoiam, regulam as na elaboração de representações conceituais e no domínio de
exigências de mudança mediante a participação a cooperação determinados procedimentos (estratégias de memória,
e a responsabilidade de todos os seus membros aceitam o estratégias de relação com os outros etc.). Por sua vez, as
conflito como algo necessário e não necessariamente negativo atitudes estão na base do desenvolvimento pessoal de
e enfocam os problemas sem dramatismos exagerados nem estratégias de direção, orientação e manutenção da própria
culpas desmoralizadoras. atividade de aprendizagem. Por exemplo, atitudes como o
rigor ou a curiosidade baseiam-se no exercício experiente de
Intervenção dos professores na construção de atitudes dos certos procedimentos e, por sua vez, ajudam os alunos a
alunos perseverar na consecução da qualidade da atividade. Da
1. O grupo escolar deve ter claramente estabelecidos (e mesma forma, o respeito pela diversidade (atitude) permite
compartilhar as normas que os regulam) os critérios de valor que as pessoas continuem interessadas em conhecer as
pelos quais é regido. A qualidade da interação que se características de outros (conceitos) até conseguir apreciá-los
estabelece na escola e no grupo, tomando como base os valores em toda a sua identidade, sem necessidade de comparações
estabelecidos, atuará como referencial de ajustamento da desqualificadoras e reciprocamente. Poder chegar a conhecer,
própria ação pessoal e da atividade compartilhada. Isto é, apreciar e avaliar outras pessoas por aquilo que elas são
alguém se dispõe a comportar-se de uma determinada implica também conhecer-se e apreciar-se, em suma, confiar
maneira ou a acatar uma norma se considerar que há consenso nas próprias capacidades e autoestima.
a respeito entre os membros do grupo, fundamentalmente
entre aqueles que aprecia ou aos quais atribui valor ou Questões
autoridade.
2. Os professores devem facilitar o conhecimento e a 01. (Prefeitura de Juatuba/MG - Professor de Educação
análise das normas existentes no centro escolar e no grupo de Básica I – CONSULPLAN). “A concepção construtivista do
classe pura que os alunos possam compreendê-las e respeitá- ensino e da aprendizagem e a natureza dos diferentes
las. Também devem ficar claramente estabelecidas as formas conteúdos estabelecem determinados parâmetros nas
de participação para que os alunos as conheçam e contribuam atuações e relações que acontecem em aula, envolvendo um
para melhorá-las, para trocá-las por outras ou anulá-las, se for conjunto de relações interativas necessárias para facilitar a
o caso. É importante regular o cumprimento e o aprendizagem.” NÃO é uma função dos professores, segundo
desenvolvimento das normas e acordos estabelecidos. tal concepção:
3. É função dos professores ajudar os alunos a (A) Contar com as contribuições e os conhecimentos dos
relacionarem significativamente as normas a determinadas alunos, tanto no início das atividades quanto durante sua
atitudes que se pretende que desenvolvam em situações avaliação.
concretas (no laboratório, no trabalho em grupo, nos espaços (B) Planejar a atuação de uma maneira suficientemente
comuns da escola, em uma saída, em uma exposição dos flexível, para permitir adaptação às necessidades dos alunos
professores etc.). Nesse sentido, pode ser útil apresentar as em todo o processo educativo.
normas e atitudes vinculando-as a situações concretas e (C) Avaliar os alunos através de fórmulas em que o
familiares para os alunos, a fim de que possam apreender controle da avaliação recaia em situações e momentos alheios
claramente os argumentos que as sustentam e alguns dos aos processos individuais de aprendizagem e imprescindíveis
comportamentos que as exemplificam em realidades para promover a capacidade de aprender a aprender.
concretas. (D) Promover atividade mental autoestruturante, que
4. Facilitar a participação e o intercâmbio entre alunos e permita estabelecer o máximo de relações com o novo
alunas para debater opiniões e ideias sobre os diferentes conteúdo, atribuindo‐lhes significado no maior grau possível e
aspectos que dizem respeito à sua atividade na escola (a fomentando os processos de metacognição que lhes permitam
relevância ou não de estudar e aprender determinados assegurar o controle pessoal sobre os próprios conhecimentos
conteúdos, os objetivos da escola e da sociedade, os costumes e processos durante a aprendizagem.

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02. (Prefeitura de São José dos Campos/SP - Assistente


em Gestão Municipal – VUNESP). Uso das novas tecnologias 2.3 A didática como
em sala de aula
Em um mundo tecnológico, integrar novas tecnologias à
fundamento epistemológico
sala de aula ainda é pouco frequente e um desafio para do fazer docente.
docentes. Em muitos casos, a formação não considera essas
tecnologias, e se restringe ao teórico, ou seja, o professor
precisa buscar esse conhecimento em outros espaços. Isso Didática
nem sempre funciona, pois frequentar cursos de poucas horas
nem sempre garante ao professor segurança e domínio dessas Libâneo24 pontua que os alunos costumam comentar entre
tecnologias. si: “gosto desse professor porque ele tem didática”. Outros
Muitos educadores já perceberam o potencial dessas dizem: “com essa professora a gente tem mais facilidade de
ferramentas e procuram levar novidades para a sala de aula, aprender”. Provavelmente, o que os alunos estão querendo
seja com uma atividade prática no computador, com dizer é que esses professores têm um modo acertado de dar
videogame, tablets e até mesmo com o celular. aula, que ensinam bem, que com eles, de fato, aprendem.
O fato é que o uso dessas tecnologias pode aproximar
alunos e professores, além de ser útil na exploração dos Então, o que é ter didática?
conteúdos de forma mais interativa. O aluno passa de mero A didática pode ajudar os alunos a melhorar seu
receptor, que só observa e nem sempre compreende, para um aproveitamento escolar?
sujeito mais ativo e participativo.
A tecnologia também auxilia o professor na busca por O que um professor precisa conhecer de didática para que
conteúdos a serem trabalhados. O Google, por exemplo, criou possa levar bem o seu trabalho em sala de aula?
um espaço próprio para a educação, o Google Play for Considerando as mudanças que estão ocorrendo nas
Education – cuja versão em português ainda está sem data de formas de aprender e ensinar, principalmente pela forte
lançamento. O programa faz uma peneira por disciplina e série influência dos meios de informação e comunicação, o que
para sugerir aplicativos educacionais específicos para tablets. mudar na prática dos professores?
O professor pode, por exemplo, criar um grupo da sala em que É certo que a maioria do professorado tem como principal
todos os alunos poderão acessar o aplicativo, facilitando a objetivo do seu trabalho conseguir que seus alunos aprendam
participação. da melhor forma possível. Por mais limitações que um
A ideia não é abandonar o quadro negro, mas hoje, com professor possa ter (falta de tempo para preparar aulas, falta
todos os avanços, existe a necessidade de adequação, de de material de consulta, insuficiente domínio da matéria,
abertura para o novo, a fim de tornar as aulas mais atraentes, pouca variação nos métodos de ensino, desânimo por causa da
participativas e eficientes. desvalorização profissional, etc.), quando entra em classe, ele
(Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br. Acesso em 24.10.2014. tem consciência de sua responsabilidade em proporcionar aos
Adaptado)
alunos um bom ensino.
De acordo com o autor do texto, o uso das tecnologias em
Apesar disso, saberá ele fazer um bom ensino, de modo que
sala de aula pode contribuir para:
os alunos aprendam melhor?
(A) distanciar professores e alunos, dada a atração que os
É possível melhorar seu desempenho como professor?
conteúdos digitais exercem sobre os adolescentes.
Qual é o sentido de “mediação docente” nas aulas?
(B) diminuir o rendimento dos alunos, em face da intensa
interação deles com os conteúdos digitais.
Os Estilos de Professor
(C) tornar as aulas mais interativas, com o aluno
Há diversos tipos de professores. Os mais tradicionais
desempenhando um papel mais ativo na exploração dos
contentam-se em transmitir a matéria que está no livro
conteúdos.
didático, por meio de aula expositiva. É o estilo professor-
(D) tumultuar as aulas, diante da dificuldade para
transmissor de conteúdo. Suas aulas são sempre iguais, o
disciplinar o uso de aparelhos como tablets e celulares em sala
método de ensino é quase o mesmo para todas as matérias,
de aula.
independentemente da idade e das características individuais
(E) tornar os alunos mais dispersivos, apenas
e sociais dos alunos. Pode até ser que essas práticas de passar
espectadores de ferramentas com as quais não sabem
a matéria, dar exercícios e depois cobrar o conteúdo na prova,
interagir.
tenham algum resultado positivo. Mesmo porque alguns
alunos aprendem “apesar do professor”.
03. Grande parte dos professores não costumam
O mais comum, no entanto, é o aluno memorizar o que o
identificar sua função com a de educar, mas com a de um
professor fala, decorar a matéria e mecanizar fórmulas,
especialista que conhece a fundo a matéria objeto de estudo e
definições etc. A aprendizagem que decorre desse tipo ensino
que exerce, pela autoridade outorgada por esse fato, um bom
(vamos chamá-la de mecânica, repetitiva) serve para
controle da conduta dos alunos da classe.
responder questões de uma prova, sair-se bem no vestibular
( ) Certo ( ) Errado
ou num concurso, mas ela não é duradoura, ela não ajuda o
aluno a formar esquemas mentais próprios. O aluno que
Gabarito
aprende mecanicamente, na maior parte dos casos, não
01. C / 02. C / 03. Certo
desenvolve raciocínio próprio, não forma generalizações
conceituais, não é capaz de fazer relações entre um conceito e
outro, não sabe aplicar uma relação geral para casos
particulares.

24 LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2010. LIBÂNEO, J. C. A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a teoria
histórico-cultural da atividade e a contribuição de Vasili Davydov. In: Revista
Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 27, 2004.

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O professor transmissor de conteúdo não favorece uma criativa com os conhecimentos e a realidade, tornando
aprendizagem sólida porque o conteúdo que ele passa não esses conceitos e métodos meios de sua atividade.
se transforma em meio de atividade subjetiva do aluno. Ou
seja, o aluno não dá conta de explicar uma ideia, uma Sugerimos para quem deseja um ensino eficaz, tendo em
definição, com suas próprias palavras, não saber aplicar o vista aprendizagens mais sólidas dos alunos, a metáfora do
conhecimento em situações novas ou diferentes, nem na professor-mediador. Quais são as características do professor
sala de aula nem fora dela. A participação do aluno é pouco mediador? O que caracteriza uma didática baseada no
solicitada, e quando o professor faz uma pergunta, ele princípio da mediação? Numa formulação sintética, boa
próprio imediatamente a responde. didática significa um tipo de trabalho na sala de aula em que o
É possível que entre os professores que se utilizam professor atua como mediador da relação cognitiva do aluno
desses procedimentos de ensino haja alguns que levem os com a matéria. Há uma condução eficaz da aula quando o
alunos a aprender os conceitos de forma mais sólida, que professor assegura, pelo seu trabalho, o encontro bem
saibam lidar de forma autônoma com os conceitos. Mas não sucedido entre o aluno e a matéria de estudo. Em outras
é o caso da maioria. O que se vê nas instituições de ensino palavras, o ensino satisfatório é aquele em que o professor
superior é um ensino meramente expositivo, empírico, põe em prática e dirige as condições e os modos que
repetitivo, memorístico. asseguram um processo de conhecimento pelo aluno.
Os alunos desses professores não aprendem
solidamente, ou seja, não sabem lidar de forma Vejamos isso mais detalhadamente.
independente com os conhecimentos, não “interiorizam” os
conceitos, o modo de pensar, raciocinar e atuar, próprios da Uma pedagogia que valoriza os conteúdos e as ações
matéria que está sendo ensinada e, assim, os conceitos não mentais correspondentes ao modo de constituição desses
se transformam em instrumentos mentais para atuar com conteúdos
a realidade. Uma boa didática, na perspectiva da mediação, é aquela
que promove e amplia o desenvolvimento das capacidades
O estilo professor-facilitador aplica-se a professores que se intelectuais dos alunos por meio dos conteúdos. Conforme a
julgam mais atualizados nas metodologias de ensino, eles teoria histórico-cultural, formulada inicialmente pelo
tentam variar mais os métodos e procedimentos. Alguns deles psicólogo e pedagogo russo Lev Vygotsky, o objetivo do ensino
preocupam-se, realmente, com certas características é o desenvolvimento das capacidades mentais e da
individuais e sociais dos alunos, procuram saber os subjetividade dos alunos através da assimilação consciente e
conhecimentos prévios ou as experiências dos alunos, tentam ativa dos conteúdos, em cujo processo se leva em conta os
estabelecer diálogo ou investir mais no bom relacionamento motivos dos alunos. O ensino é meio pelo qual os alunos se
com os alunos. Outros tentam inovar organizando trabalhos apropriam das capacidades humanas formadas
em grupo ou estudo dirigido, utilizando recursos audiovisuais, historicamente e objetivadas na cultura material e espiritual.
dando tarefas que requerem algum tipo de pesquisa. Essa apropriação se dá pela aprendizagem de conteúdos,
Há, também, em algumas áreas de conhecimento, habilidades, atitudes, formadas pela humanidade ao longo da
professores que entendem que a melhor forma de aprender é história. Conforme as próprias palavras de Vygotsky:
colocar os alunos no laboratório na crença de que, fazendo
experiências, lidando com materiais, assimilam melhor a A internalização de formas culturais de comportamento
matéria. Essas formas de trabalho didático, sem dúvida, envolve a reconstrução da atividade psicológica tendo
trazem mais vantagens do que aquelas do ensino tradicional. como base as operações com signos. (...) A internalização
Entretanto, quase sempre esses professores acabam voltando das atividades socialmente enraizadas e historicamente
às práticas tradicionais, por exemplo, não sabem utilizar a desenvolvidas constitui o aspecto característico da
atividade própria do aluno para eles próprios formando psicologia humana.
conceitos.
Com efeito, ao avaliar a aprendizagem dos alunos pedem Esse processo de interiorização ou apropriação tem as
respostas memorizadas e a repetição de definições ou seguintes características:
fórmulas. Mesmo utilizando técnicas ativas e respeitando mais a) O desenvolvimento mental dos alunos depende da
o aluno, as mudanças metodológicas ficam apenas na forma, transmissão-apropriação de conhecimentos, habilidades,
mantendo empobrecidos os resultados da aprendizagem, ou valores, que vão sendo constituídos na história da humanidade;
aluno não forma conceitos, não aprende a pensar com b) O papel do ensino é propiciar aos alunos os meios de
autonomia, não interioriza ações mentais. Ou seja, sua domínio dos conceitos, isto é, dos modos próprios de pensar e de
atividade mental continua pouco reflexiva. atuar da matéria ensinada, de modo a formar capacidades
Poderíamos mencionar outros estilos de professor: o intelectuais com base nos procedimentos lógicos e investigativos
professor-técnico (preocupado pelo lado operacional, da ciência ensinada;
prático da sua matéria, seu objetivo é saber-fazer, não fazer- c) A ação de ensinar, mais do que “passar conteúdo”, consiste
pensar-fazer); o professor-laboratório (acha que única em intervir no processo mental de formação de conceitos por
forma eficaz de aprender é a pesquisa ou a demonstração parte dos alunos, com base na matéria ensinada;
experimental); o professor-comunicador (o típico professor d) As relações intersubjetivas na sala de aula implicam,
de cursinhos que só sabe trabalhar o conteúdo fazendo graça, necessariamente, a compreensão dos motivos dos alunos, isto é,
não dando conta de colocar o próprio conteúdo no campo de seus objetivos e suas razões para se envolverem nas atividades
interesses e motivos do aluno). de aprendizagem.
e) A aprendizagem se consolida melhor se forem criadas
Em resumo, muitos professores não sabem como ajudar situações de interlocução, cooperação, diálogo, entre professor
o aluno a, através de formas de mobilização de sua e alunos e entre os alunos, em que os alunos tenham chance de
atividade mental, elaborar de forma consciente e formular e opera com conceitos.
independente o conhecimento para que possa ser utilizado
nas várias situações da vida prática. As atividades que Na mesma linha teórica, Davydov afirma que o papel do
organizam não levam os alunos a adquirir conceitos e ensino é desenvolver nos alunos as capacidades intelectuais
métodos de pensamento, habilidades e capacidades necessárias para assimilar e utilizar com êxito os
mentais, para poderem lidar de forma independente e conhecimentos. Ele escreve:

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Os pedagogos começam a compreender que a tarefa da A Didática e o Trabalho dos Professores


escola contemporânea não consiste em dar às crianças uma A didática é uma disciplina que estuda o processo de
soma de fatos conhecidos, mas em ensiná-las a orientar-se ensino no qual os objetivos, os conteúdos, os métodos e as
independentemente na informação científica e em qualquer formas de organização da aula se combinam entre si, de
outra. Isto significa que a escola deve ensinar os alunos a modo a criar as condições e os modos de garantir aos
pensar, quer dizer, desenvolver ativamente neles os alunos uma aprendizagem significativa. Ela ajuda o
fundamentos do pensamento contemporâneo para o qual é professor na direção e orientação das tarefas do ensino e
necessário organizar um ensino que impulsione o da aprendizagem, fornecendo-lhe mais segurança
desenvolvimento. Chamemos esse ensino de profissional.
desenvolvimental.
Conforme Davydov, para que o ensino esteja voltado para Em que consiste o processo de ensino e aprendizagem? O
o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos, é princípio básico que define esse processo é o seguinte: o
preciso que o professor conheça quais são os métodos de núcleo da atividade docente é a relação ativa do aluno com a
investigação utilizados pelo cientista (em relação à matéria matéria de estudo, sob a direção do professor. O processo de
que ensina), pois é nesses métodos que encontrará as ensino consiste de uma combinação adequada entre o papel de
capacidades intelectuais a serem formadas pelos estudantes direção do professor e a atividade independente, autônoma e
enquanto estudam a matéria. Em outras palavras, para criativa do aluno.
aprender a pensar e a agir com base nos conteúdos de uma O papel do professor, portanto é o de planejar, selecionar e
matéria de ensino é preciso que os alunos dominem aquelas organizar os conteúdos, programar tarefas, criar condições de
ações mentais associadas a esses conteúdos, as quais são estudo dentro da classe, incentivar os alunos para o estudo, ou
encontradas nos procedimentos lógicos e investigativos seja, o professor dirige as atividades de aprendizagem dos
próprios da ciência que dá origem a esses conteúdos. Conclui- alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria
se, daí, que a um professor não basta dominar o conteúdo, é aprendizagem. Não há ensino verdadeiro se os alunos não
preciso que saiba mais três coisas: desenvolvem suas capacidades e habilidades mentais, se não
assimilam pessoal e ativamente os conhecimentos ou se não
a) qual é o processo de pesquisa pelo qual se chegou a esse dão conta de aplicá-los, seja nos exercícios e verificações feitos
conteúdo, ou seja, a epistemologia da ciência que ensina; em classe, seja na prática da vida.
b) por quais métodos e procedimentos ensinará seus alunos Podemos dizer, então, que o processo didático é o conjunto
a se apropriarem dos conteúdos da ciência ensinada e, de atividades do professor e dos alunos sob a direção do
especialmente, das ações mentais ligadas a esses conteúdos; professor, visando à assimilação ativa pelos alunos dos
c) quais são as características individuais e socioculturais conhecimentos, habilidades e hábitos, atitudes,
dos alunos e os motivos que os impulsionam, de modo a saber desenvolvendo suas capacidades e habilidades intelectuais.
ligar os conteúdos com esses motivos. Nessa concepção de didática, os conteúdos escolares e o
desenvolvimento mental se relacionam reciprocamente, pois o
Para M. Castells, a tarefa das escolas e dos processos progresso intelectual dos alunos e o desenvolvimento de suas
educativos é o de desenvolver em quem está aprendendo a capacidades mentais se verificam no decorrer da assimilação
capacidade de aprender, em razão de exigências postas pelo ativa dos conteúdos. Portanto, o ensino e a aprendizagem
volume crescente de dados acessíveis na sociedade e nas redes (estudo) se movem em torno dos conteúdos escolares visando
informacionais, da necessidade de lidar com um mundo o desenvolvimento do pensamento.
diferente e, também, de educar a juventude em valores e ajudá- Mas, qual é a dinâmica do processo de ensino? Como se
la a construir personalidades flexíveis e eticamente ancoradas. garante o vínculo entre o ensino (professor) e a aprendizagem
Também E. Morin expressa com muita convicção a exigência efetiva decorrente do encontro cognitivo e afetivo entre o
de se desenvolver uma inteligência geral que saiba discernir o aluno e a matéria?
contexto, o global, o multidimensional, a interação complexa A pesquisa mais atual sobre a didática utiliza a palavra
dos elementos. Escreve esse autor: “mediação” para expressar o papel do professor no ensino, isto
é, mediar a relação entre o aluno e o objeto de conhecimento.
(...) o desenvolvimento de aptidões gerais da mente permite Na verdade, trata-se de uma dupla mediação: primeiro, tem-se
melhor desenvolvimento das competências particulares ou a mediação cognitiva, que liga o aluno ao objeto de
especializadas. Quanto mais poderosa é a inteligência geral, conhecimento; segundo, tem-se a mediação didática, que
maior é sua faculdade de tratar problemas especiais. A assegura as condições e os meios pelos quais o aluno se
compreensão dos dados particulares também necessita da relaciona com o conhecimento. Sendo assim, a especificidade
ativação da inteligência geral, que opera e organiza a de toda didática está em propiciar as condições ótimas de
mobilização dos conhecimentos de conjunto em cada caso transformação das relações que o aprendiz mantém com o
particular. (...) Dessa maneira, há correlação entre a saber. Escreve D´Ávila:
mobilização dos conhecimentos de conjunto e a ativação da A relação com o saber é, portanto, duplamente
inteligência geral. mediatizada: uma mediação de ordem cognitiva (onde o
desejo desejado é reconhecido pelo outro) e outra de natureza
Em síntese, esses estudos destacam, nos processos do didática que torna o saber desejável ao sujeito. É aqui que as
ensinar a aprender e a pensar em um campo de conhecimento, condições pedagógicas e didáticas ganham contornos, no
o papel ativo dos sujeitos na aprendizagem e, especialmente, a sentido de garantir as possibilidades de acesso ao saber por
necessidade dos sujeitos desenvolverem habilidades de parte do aprendiz educando.
pensamento, competências cognitivas, como meio para A força impulsionadora do processo de ensino é um
compreender e atuar no mundo da profissão, da política, da adequado ajuste entre os objetivos/conteúdos/métodos
cultura. Esses meios da atividade aprender são aprendidos organizados pelo professor e o nível de conhecimentos,
pelo estudante quando desenvolve as ações mentais conexas experiências e motivos do aluno. O movimento permanente
aos conteúdos, isto é, o modo próprio de pensar, pesquisar e que ocorre a cada aula consiste em que, por um lado, o
agir que corresponde à ciência, arte ou tecnologia ensinadas. professor propõe problemas, desafios, perguntas,
relacionados com conteúdos significativos, instigantes e
acessíveis; por outro lado, os alunos, ao assimilar consciente e
ativamente a matéria, mobilizam seus motivos, sua atividade

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mental e desenvolvem suas capacidades e habilidades. articulados entre si, formando uma unidade: Podemos
Portanto, um bom planejamento de ensino depende da análise expressar essa ideia de duas maneiras:
e organização dos conteúdos junto com a análise e - à medida que o aluno forma conceitos científicos, incorpora
consideração dos motivos dos alunos. processos de pensamento e vice-versa.
Essa forma de compreender o ensino é muito diferente do - enquanto forma o pensamento teórico-científico, o aluno
que simplesmente passar a matéria ao aluno. É diferente, desenvolve ações mentais mediante a solução de problemas que
também, de dar atividades aos alunos para que fiquem suscitam sua atividade mental.
“ocupados” ou aprendam fazendo. O processo de ensino é um
constante vai-e-vem entre conteúdos e problemas que são Com isso, o aluno assimila o conhecimento teórico e as
colocados e as características de desenvolvimento e capacidades e habilidades relacionadas a esse conhecimento.
aprendizagem dos alunos. É isto que caracteriza a dinâmica da Sendo assim, o papel da escola é ajudar os alunos a
situação didática, numa perspectiva histórico-cultural. desenvolver suas capacidades mentais, ao mesmo tempo em
Insistimos bastante na exigência didática de partir do nível que se apropriam dos conteúdos. Nesse sentido, a
de conhecimentos já alcançado, da capacidade atual de metodologia de ensino, mais do que o conjunto dos
assimilação e do desenvolvimento mental do aluno, dos procedimentos e técnicas de ensino, consiste em
motivos do aluno. Ou seja, não existe o aluno em geral, mas um instrumentos de mediação para ajudar o aluno a pensar
aluno vivendo numa sociedade determinada, que faz parte de com os instrumentos conceituais e os processos de
um grupo social e cultural determinado, sendo que essas investigação da ciência que se ensina. Por exemplo, a boa
circunstâncias interferem na sua capacidade de aprender, nos pedagogia da física é aquela que consegue traduzir
seus valores e atitudes, na sua linguagem e suas motivações. didaticamente o modo próprio de pensar, investigar e atuar
Ou seja, a subjetividade (os motivos) e a experiência da própria física. Boa pedagogia da geografia é aquela cujo
sociocultural concreta dos alunos são o ponto de partida para aluno sai das aulas pensando, raciocinando, investigando e
a orientação da aprendizagem. Um professor que aspira ter atuando como o modo próprio de pensar, raciocinar,
uma boa didática necessita aprender a cada dia como lidar com investigar e atuar da geografia.
a subjetividade dos alunos, seus motivos, sua linguagem, suas Trata-se, assim, de fazer a junção entre o conteúdo e o
percepções, sua prática de vida. Sem essa disposição, será desenvolvimento das capacidades de pensar. A ideia central
incapaz de colocar problemas, desafios, perguntas, contida nessa teoria é simples: ensinar é colocar o aluno numa
relacionados com os conteúdos, condição para se conseguir atividade de aprendizagem. A atividade de aprendizagem é a
uma aprendizagem significativa. própria aprendizagem, ou seja, com base nos conteúdos,
Essas considerações mostram o traço mais marcante de aprender habilidades, desenvolver capacidades e
uma didática crítico-social na perspectiva histórico-cultural: o competências para que os alunos aprendam por si mesmos.
trabalho docente como mediação entre a cultura elaborada, É essa ideia que Davydov defende: a atividade de aprender
convertida em saber escolar, e o aluno que, para além de um consiste em encontrar soluções gerais para problemas
sujeito psicológico, é um sujeito portador da prática social específicos, é apreender os conceitos mais gerais que dão
viva. O modo adequado de realizar a mediação didática, pelo suporte a um conteúdo, para aplicá-los a situações concretas.
trabalho dos professores, é o provimento aos alunos dos meios Esse modo de ver o ensino significa dizer que o ensino mais
de aquisição de conceitos científicos e de desenvolvimento das compatível com o mundo da ciência, da tecnologia, dos meios
capacidades cognitivas e operativas, dois elementos da de comunicação, é aquele que contribui para que o aluno
aprendizagem escolar interligados e indissociáveis. aprenda a raciocinar com a própria cabeça, que forme
conceitos e categorias de pensamento decorrentes da ciência
O ensino e o desenvolvimento do pensamento – O que está aprendendo, para lidar praticamente com a realidade.
ensino para o desenvolvimento humano Os conceitos, nessa maneira de ver, são ferramentas mentais
A teoria do ensino desenvolvimental de Vasíli Davydov, para lidar praticamente com problemas, situações, dilemas
baseada na teoria histórico-cultural de Vygotsky, sustenta tese práticos, etc.
de que o bom ensino é o que promove o desenvolvimento Explicitando essa ideia numa formulação mais completa,
mental, isto é, as capacidades e habilidades de pensamento. podemos dizer: o modo de lidar pedagogicamente com algo,
Segundo Vygotsky, a aprendizagem e o ensino são formas depende do modo de lidar epistemologicamente com algo,
universais de desenvolvimento mental. Para Davydov, a considerando as condições do aluno e o contexto sociocultural
atividade de aprendizagem está assentada no conhecimento em que ele vive (vale dizer, as condições da realidade
teórico-científico, ou seja, no desenvolvimento do pensamento econômica, social, etc.). Trata-se, portanto, de unir no ensino a
teórico e nas ações mentais que lhe correspondem. lógica do processo de investigação com os produtos da
É importante esclarecer que, na teoria histórico-cultural investigação. Ou seja, o acesso aos conteúdos, a aquisição de
elaborada entre outros por Vygotsky, Leontiev e Davídov, conceitos científicos, precisa percorrer o processo de
pensamento teórico ou conceito não tem o sentido de “estudar investigação, os modos de pensar e investigar da ciência
teoria”, de lidar com o conteúdo só na teoria. Na teoria ensinada. Não basta aprender o que aconteceu na história, é
histórico-cultural, conceito não se refere apenas às preciso pensar historicamente. Pensar matematicamente
características e propriedades dos fenômenos em estudo, mas sobre matemática, biologicamente sobre biologia,
a uma ação mental peculiar pela qual se efetua uma reflexão linguisticamente sobre português.
sobre um objeto que, ao mesmo tempo, é um meio de Essa forma de entender a atividade de ensino das
reconstrução mental desse objeto pelo pensamento. disciplinas específicas requer do professor não apenas o
Nesse sentido, pensar teoricamente é desenvolver domínio do conteúdo, mas, também, dos procedimentos
processos mentais pelos quais chegamos aos conceitos e os investigativos da matéria que está ensinando e das formas de
transformamos em ferramentas para fazer generalizações pensamento, habilidades de pensamento que propiciem uma
conceituais e aplicá-las a problemas específicos. Como escreve reflexão sobre a metodologia investigativa do conteúdo que se
Seth Chaiklin, conceito significa um conjunto de está aprendendo. Ensinar, portanto, é adquirir meios do
procedimentos para deduzir relações particulares de uma pensar, através dos conteúdos. Em outras palavras, é
relação abstrata. desenvolver nos alunos o pensamento teórico, que é o
O ensino, portanto, propicia a apropriação da cultura e da processo através do qual se revela a essência e o
ciência, e o desenvolvimento do pensamento, por meio da desenvolvimento dos objetos de conhecimento e com isso a
formação e operação com conceitos. São dois processos aquisição de métodos e estratégias cognoscitivas gerais de

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cada ciência, em função de analisar e resolver problemas. definem e lhe dão unidade. Este núcleo conceitual contém a
Escreve a esse respeito Rubtsov: generalização esperada para que o aluno a interiorize, de
modo a poder deduzir relações particulares da relação
A aquisição de um método teórico geral visando à básica identificada.
resolução de uma série de problemas concretos e práticos, b) Construir a rede de conceitos básicos que dão suporte
concentrando-se naquilo que eles têm em comum e não na a esse núcleo conceitual, com as devidas relações e
resolução específica de um entre eles, constitui-se numa articulações (mapa conceitual).
das características mais importantes da aprendizagem. c) Estudo da gênese e dos processos investigativos do
Propor um problema de aprendizagem a um escolar é conteúdo, de modo a extrair ações mentais, habilidades
confrontá-lo com uma situação cuja solução, em todas as cognitivas gerais a formar no estudo da matéria.
suas variantes concretas, pede uma aplicação do método d) Formulação de tarefas de aprendizagem, com base
teórico geral. em situações-problema, que possibilitem a formação de
(...) Podemos definir o processo de resolução de um habilidades cognitivas gerais e específicas em relação à
problema como o da aquisição das formas de ação matéria.
características dos conteúdos teóricos. O termo “forma de e) Prever formas de avaliação para verificar se o aluno
ação geral”, também chamado de forma de ação universal, desenvolveu ou está desenvolvendo a capacidade de
designa aquilo que é obtido como resultado ou modo de utilizar os conceitos como ferramentas mentais.
funcionamento essencial para trazer soluções para os
problemas de aprendizagem; mais do que soluções, é este A Didática e as Diretrizes Curriculares para a
resultado particular que constitui o objeto desses Educação Básica
problemas.
A estrutura didática da Educação Básica instituída pela Lei
Nesses termos, o papel da didática é: a) ajudar os alunos a n°. 9.394 de 20 de dezembro de 1996 envolve escolas de
pensar teoricamente (a partir da formação de conceitos); b) diferentes níveis: Educação Infantil, Ensino Fundamental e
ajudar o aluno a dominar o modo de pensar, atuar e investigar Ensino Médio, além de modalidades específicas de ensino,
a ciência ensinada; c) levar em conta a atividade psicológica do como a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Profissional
aluno (motivos) e seu contexto sociocultural e institucional. e a Educação Especial.
Para chegar à consecução desses objetivos, o professor Conforme o artigo 22 desta lei: “A educação básica tem por
precisa saber como trabalhar a matéria no sentido da finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação
formação e operação com conceitos. Para isso, no trabalho com comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-
os conteúdos, podem ser seguidos três momentos: lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores”. Essas finalidades devem ser analisadas de acordo
1º) Análise do conteúdo da matéria para identificar um com os pressupostos filosóficos e políticos contidos na
princípio geral, ou seja, uma relação mais geral, um Constituição Brasileira vigente. Portanto, todas as atividades
conceito nuclear, do qual se parte para ser aplicado a de ensino-aprendizagem devem obrigatoriamente convergir
manifestações particulares desse conteúdo. para as finalidades constitucionalmente estabelecidas.
2º) Realizar por meio da conversação dirigida, do A Educação Infantil é o primeiro nível da Educação Básica
diálogo com os alunos, da colocação problemas ou casos, e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança
tarefas que possibilitem deduções do geral para o até seis anos, considerando os aspectos físico, psicológico,
particular, ou seja, aplicação do princípio geral (relação intelectual e social e completando a ação da família e da
geral, conceito nuclear) a problemas particulares. comunidade. Segundo o artigo 30 da LDB, é oferecida em dois
3º) Conseguir com que o aluno domine os níveis: “I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de
procedimentos lógicos do pensamento (ligados à matéria) até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de 4
que têm caráter generalizante. Ao captar a essência, isto é, (quatro) a 5 (cinco) anos de idade.”.
o princípio interno explicativo do objeto e suas relações
internas, o aluno se apropria dos métodos e estratégias O Ensino Fundamental, segundo artigo 32 da
cognitivas dos modos de atividades anteriores LDB, obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na
desenvolvidas pelos cientistas; o aluno reproduz em sua escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por
mente o percurso investigativo de apreensão teórica do objetivo a formação básica do cidadão, mediante:
objeto realizado pela prática científica e social. I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
Todos esses momentos devem estar conectados com os cálculo;
motivos e objetivos subjetivos do aluno, ampliados com as II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
necessidades sociais de estudar e aprender interpostos pelo político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se
professor, na sua condição de educador. fundamenta a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
O caminho didático: sugestões para elaboração de tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
planos de ensino formação de atitudes e valores;
Ao assumir o ensino de uma matéria, os professores IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
geralmente partem de um conteúdo já estabelecido num solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
projeto pedagógico-curricular. O procedimento da análise de assenta a vida social.
conteúdo indicado na didática desenvolvimental pode levar a § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino
uma organização do conteúdo muito diferente da existente na fundamental em ciclos.
instituição, ou seja, os temas podem ser os mesmos, mas a § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular
sequência e a lógica de estruturação podem ser outras. por série podem adotar no ensino fundamental o regime de
Os procedimentos a serem utilizados em relação à progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo
formulação de conteúdos, objetivos e metodologia podem ser de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo
os seguintes: sistema de ensino.
a) Identificar, o núcleo conceitual da matéria (essência, § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
princípio geral básico) e as relações gerais básicas que a língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a

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utilização de suas línguas maternas e processos próprios de 02. (SEE-AL - Todos os Cargos – CESPE) Com relação à
aprendizagem. didática e à sua prática histórico-social, julgue o item a seguir.
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino O enfoque tecnicista da didática busca estratégia objetiva,
a distância utilizado como complementação da aprendizagem racional e neutra do processo de ensino-aprendizagem, em
ou em situações emergenciais. contraposição ao enfoque humanista.
§ 5° O currículo do ensino fundamental incluirá, ( ) Certo ( ) Errado
obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 03. (Prefeitura de Nova Friburgo- RJ- Professor-
de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do EXATUS-PR) Em relação à Didática, é incorreto afirmar que
Adolescente, observada a produção e distribuição de material (A) contribui para transformar a prática pedagógica da
didático adequado. escola, ao desenvolver a compreensão articulada entre os
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído conteúdos a serem ensinados e as práticas sociais.
como tema transversal nos currículos do ensino fundamental. (B) não compete refletir acerca dos objetivos sócio-
políticos e pedagógicos, ao selecionar os conteúdos e métodos
O Ensino Médio, conforme o artigo 35 da LDB, é a etapa de ensino.
final da Educação Básica, com duração mínima de três anos. (C) realiza-se por meio de ação consciente, intencional e
Tem como finalidades: planejada, no processo de formação humana, estabelecendo-
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos se objetivos e critérios socialmente determinados.
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o (D) sua finalidade é converter objetivos sócio-políticos e
prosseguimento de estudos; pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do métodos em função desses objetivos.
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou Gabarito
aperfeiçoamento posteriores; 01. D / 02. Certa. / 03. B
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico;
3 Principais teorias da
IV - a compreensão dos fundamentos científico-
tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria aprendizagem. 3.1 Inatismo,
com a prática, no ensino de cada disciplina. comportamentalismo,
A Educação de Jovens e de Adultos – EJA é a modalidade de
behaviorismo, interacionismo,
ensino prevista nos artigos 37 e 38 da LDB para jovens e cognitivismo. 3.2 As bases
adultos concluírem o Ensino Fundamental ou Médio. empíricas, metodológicas e
A Educação Profissional não se coloca como um nível de
epistemológicas das diversas
ensino, mas tipo de formação que se integra ao trabalho, à
ciência e à tecnologia e conduz ao permanente teorias de aprendizagem.
desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Está
regulamentada nos artigos 39, 40 e 41 da LDB.
Teorias da Aprendizagem
A Educação Especial, de acordo com o artigo 58 da LDB, é
uma modalidade de educação oferecida preferentemente na A Aprendizagem na Concepção Histórico Cultural25
rede regular de ensino, para educandos com deficiência, A aprendizagem é um dos principais objetivos de toda
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou prática pedagógica, e a compreensão ampla do que se entende
superdotação. por aprender é fundamental na construção de uma proposta
de educação, também mais aberta e dinâmica, definindo, por
Questões consequência, práticas pedagógicas transformadoras.
À medida que a sociedade se torna cada vez mais
01. (SEDUC-PI - Professor – Informática – NUCEPE) A dependente do conhecimento, é necessário questionar e
Didática constitui disciplina essencial nos processos de mudar certos pressupostos que fundamentam a educação
formação de professores, notadamente articulando o saber, o atual. A aprendizagem é uma atividade contínua, iniciando-se
saber-ser e o saber-fazer. No contexto dessa análise, pode-se nos primeiros minutos da vida e estendendo-se ao longo dela.
afirmar CORRETAMENTE, acerca da concepção tradicional de Isto significa expandir o conceito de aprendizagem: ele não
Didática que: deve estar restrito ao período escolar e pode ocorrer, tanto na
(A) refere-se a um conjunto de procedimentos universais infância, quanto na vida adulta. A escola é um – entre muitos
relativos à docência; outros – ambientes em que será possível adquirir
(B) afirma a neutralidade científica do método, a conhecimento. Para tanto, educadores precisam incorporar os
preocupação com os meios desvinculados dos fins e do mais recentes resultados das pesquisas sobre aprendizagem e
contexto; assumir a função de propiciar oportunidades para o aluno
(C) caracteriza-se por transcender métodos e técnicas de gerar e não somente consumir conhecimento, desenvolvendo
ensino, buscando articular escola/sociedade; capacidades internas para poder continuar a aprender ao
(D) compreende uma doutrina da instrução, revelando-se longo da vida.
como um conjunto de normas prescritivas centradas no A construção de uma pessoa mais autônoma, no processo
método; de aprender, torna-a mais autônoma no processo de viver – de
(E) caracteriza-se por estabelecer métodos e técnicas de definir os rumos de sua vida. Mas, para que isso não se
educação desvinculados dos princípios educacionais. transforme em uma ação individualista, é fundamental
transformar a prática pedagógica em uma prática mediadora,

25 LEITE, C. A. R.; LEITE, E. C. R.; PRANDI, L. R. A aprendizagem na concepção

histórico cultural. Akrópolis Umuarama, v. 17, n. 4, p. 203-210, out. / dez. 2009.

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comprometida, coerente, ao mesmo tempo consciente e teóricos de campo e os teóricos do processamento da


competente. informação ou psicologia cognitiva.
A ação educativa – evidenciada a partir de suas práticas – A corrente do empirismo tem como princípio
permite aos alunos avançar em saltos na aprendizagem e no fundamental considerar que o ser humano, ao nascer, é como
desenvolvimento. E a ação sobre o que o adulto consegue fazer, uma "tábula rasa" e tudo deve aprender, desde as capacidades
com a ajuda do outro, para que consiga fazê-lo sozinho. sensoriais mais elementares aos comportamentos
Entretanto, é princípio de toda instituição de ensino adaptativos, mas complexos Gaonac´h e Golder26. A mente é
(principalmente da escola) garantir a aprendizagem a todos, considerada inerte, e as ideias vão sendo gravadas a partir das
visto que todos são capazes de aprender. percepções. Baseado neste pressuposto, a inteligência é
Dentro de uma concepção de aprendizagem como concebida como uma faculdade capaz de armazenar e
construção de conhecimento, estudos na linha histórico- acumular conhecimento.
cultural, como os de Vygotsky e de seus precursores Oliveira, O inatismo ou nativismo argumenta que a maioria dos
Fontana; Meier e Garcia têm sido foco de muitos estudos, traços característicos de um indivíduo é fixado desde o
vários dos quais têm implicações diretas na área da educação, nascimento e que a hereditariedade permite explicar uma
trazendo contribuições indiscutíveis para o processo ensino- grande parte das diferenças individuais físicas e psicológicas
aprendizagem. Gaonac´h e Golder27. As formas de conhecimento estão pré-
Os autores afirmam que o ser humano não é moldado por determinadas no sujeito que aprende.
outros seres humanos, mas modifica-se com os outros, Para os associacionistas, o principal pressuposto consiste
trocando experiências, interagindo com o meio social em que em explicar que o comportamento complexo é a combinação
vive. Todo esse processo de transformação ocorre vinculado de uma série de condutas simples. Como precursores desta
ao processo de mediação social. corrente são de pensamento pode-se citar Edward L.
As considerações propostas por Vygotsky revelam que a Thorndike e B.F. Skinner, Pettenger e Gooding28 e suas
mediação possibilita a constituição de processos mentais respectivas teorias do comportamento reflexo ou estímulo-
superiores. Uma atividade é mediada quando é socialmente resposta.
significativa, e a fonte de mediação pode ser um instrumento Para Thorndike apud Pettenger e Gooding, o padrão básico
que regula a ação do indivíduo sobre objetos externos; um da aprendizagem é uma resposta mecanicista às forças
sistema de símbolos, que medeia processos psicológicos do externas. Um estímulo provoca uma resposta. Se a resposta é
próprio ser humano; ou a interação com outros seres recompensada, é aprendida.
humanos. Já para Skinner, a ênfase é dada à questão do controle do
Vygotsky deu especial atenção ao estudo de signos como comportamento pelos reforços que ocorrem com a resposta ou
mediadores, entendidos como algo que representa ideias, após a mesma com o propósito de atingir metas específicas ou
situações ou objetos; o signo tem função de auxiliar a memória definir comportamentos manifestos.
humana, utilizado para lembrar, registrar ou acumular As grandes escolas da corrente dos Teóricos de Campo, são
informações. Durante o desenvolvimento cultural da criança, o representadas, na Gestalt pelos alemães Wertheimer, Koffka e
signo e o instrumento, ambos caracterizados por sua função Köhler, e na Fenomenologia, por Combs e Snygg, Pettenger e
mediadora, se inter-relacionam conforme o homem interage Gooding29. Nestas escolas prevalece a concepção de que as
com o mundo. pessoas são capazes de pensar, perceber e de responder a uma
A teoria sobre a aprendizagem sócio histórica e a produção dada situação, de acordo com as suas percepções e
do conhecimento esteve, desde a origem, intimamente ligada interpretações desta situação. Diferentemente das primeiras,
ao fato de o homem ser social e histórico e, ao mesmo tempo, em que o comportamento é sequencial, do mais simples ao
de ser produto e produtor de sua história e de sua cultura mais complexo, nesta corrente, o todo ou total é mais que a
“pela” e na interação social. Tal abordagem abre a soma das partes.
possibilidade de redimensionamento da teoria e da prática do Na Gestalt, o paradigma de aprendizagem é a solução de
estudo das relações entre a escolarização, atividade mental e problemas e ocorre do total para as partes. Consiste também
desenvolvimento da criança, ao assumir a natureza mediada na organização dos padrões de percepção. Segundo Fialho30,
da cognição: a ação do sujeito sobre o objeto é mediada na Gestalt há duas maneiras de se aprender a resolver
socialmente, pelo outro e pelos signos. Daí a relevância e a problemas: pelo aprendizado conduzido ou pelo aprendizado
motivação para o presente estudo. pelo entendimento. Isto significa que conforme a organização
Desse modo, ancorada numa pesquisa bibliográfica com da situação de aprendizagem, dirigida (instrucionista) ou
enfoque na perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento autodirigida (ativa), o indivíduo aprende, entretanto, deve-se
humano, que considera o processo de conceitualização como promover situações de aprendizagem que sejam
uma prática social dialógica “mediada pela palavra”, e suficientemente ricas para que o aprendiz possa fazer escolhas
pedagógica “mediada pelo outro”, o presente artigo tem como e estabelecer relações entre os elementos de uma situação.
objetivo estudar aspectos práticos da teoria de histórico- Escolher entre as quais para ele, aprendiz, conduza a uma
cultural, visando aos desdobramentos que essa teoria tem no estruturação eficaz de suas percepções e significados.
cotidiano do processo ensino-aprendizagem. Os teóricos do Processamento da Informação ou
Psicologia Cognitiva, de origem mais recente, reúnem
Principais teorias de aprendizagem diversas abordagens. Estes teóricos estudam a mente e a
As principais interpretações das questões relativas à inteligência em termos de representações mentais e processos
natureza da aprendizagem remetem a um passado histórico da subjacentes ao comportamento observável. Consideram o
filosofia e da psicologia. Diversas correntes de pensamento se conhecimento como sistema de tratamento da informação.
desenvolveram, definindo paradigmas educacionais como o Segundo Misukami31, uma abordagem cognitivista implica em
empirismo, o inatismo ou nativismo, os associacionistas, os estudar cientificamente a aprendizagem como um produto

26 GAONAC’H, Daniel; GOLDER, Caroline. Profession Enseignant: Manual de 29 PETTENGER, Owene, GOODING, C. Thomas. Teorias da aprendizagem na

Psycolgie.pour Fenseignement. Paris: Hachette Education, 1995. prática Educacional. São Paulo: EPU, 1977.
27 GAONAC’H, Daniel; GOLDER, Caroline. Profession Enseignant: Manual de 30 FIALHO, Francisco Antonio Pereira. Sistemas de Educação à Distância.

Psycolgie.pour Fenseignement. Paris: Hachette Education, 1995. UFSC. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis,
28 PETTENGER, Owene, GOODING, C. Thomas. Teorias da aprendizagem na 1998. Notas de aula.
prática Educacional. São Paulo: EPU, 1977. 31 MISUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as Abordagens do Processo.

Temas Básicos de Educação e Ensino. São Paulo: EPU, 1986.

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resultante do ambiente, das pessoas ou de fatores externos a No sistema cognitivo do sujeito esses processos estão
ela. Como as pessoas lidam com estímulos ambientais, normalmente em equilíbrio. A perturbação desse equilíbrio
organizam dados, sentem e resolvem problemas, adquirem gera um conflito ou uma lacuna diante do objeto ou evento, o
conceitos e empregam símbolos constituem, pois, o centro da que dispara mecanismos de equilibração. A partir de tais
investigação. Em essência, na psicologia cognitiva, as perturbações produzem-se construções compensatórias que
atividades mentais são o motor dos comportamentos. buscam novo equilíbrio, melhor do que o anterior.
Opondo-se à concepção behavorista, os teóricos Assim, pode-se distinguir quatro estágios de
cognitivos preocupam-se em desvendar a "caixa preta" da desenvolvimento lógico:
mente humana. A noção de representação é central nestas
pesquisas. A representação é definida como toda e qualquer Sensório Motor (0-2 anos)
construção mental efetuada a um dado momento e em um Tratando-se da fase inicial do desenvolvimento da vida,
certo contexto. este nível é caracterizado como pré-verbal constituída pela
Portanto, memória, percepção, aprendizagem, resolução organização reflexiva e pela a inteligência prática. Neste
de problemas, raciocínio e compreensão, esquemas e estágio a criança baseia-se em esquemas motores para
arquiteturas mentais são alguns dos principais objetos de resolver seus problemas, que são essencialmente práticos.
investigação da área, cujas aplicações vêm sendo utilizadas na Além disso, o indivíduo vive o momento presente sendo
construção de modelos explícitos em formas de programas de incapaz de referir-se ao futuro, ou evocar o passado.
computador (softwares), gráficos, arquiteturas ou outras Durante esta fase os bebês começam a desenvolver
esquematizações do processamento mental, em especial nos símbolos mentais e utilizar palavras, um processo conhecido
sistemas de Inteligência Artificial. como simbolização. O bebê relaciona tudo ao seu próprio
Os princípios construtivistas fornecem um conjunto de corpo como se fosse o centro do mundo
diretrizes a fim de auxiliar projetistas e professores na criação
de meios ambientes colaboracionistas direcionados ao ensino, Pré-operatório (2-7 anos)
que apoiem experiências autênticas, atraentes e reflexivas. Os Este período é o que mais teve atenção de Piaget. É
estudantes podem trabalhar juntos na construção do caracterizado pela explosão linguística e a utilização de
entendimento e do significado através de práticas relevantes. símbolos. Dada a esta capacidade da linguagem, os esquemas
O construtivismo é uma filosofia de aprendizagem que de ação são interiorizados (esquemas representativos ou
descreve o que significa saber alguma coisa, o que é a simbólicos). Nota-se ainda a ausência de esquemas
realidade. As concepções tradicionais de aprendizagem conceituais, assim como o predomínio da tendência lúdica.
admitem que o conhecimento é um objeto, algo que pode ser Prevalece nesta fase a transdução, modelo primitivo de
transmitido do professor para o aluno. raciocínio, que se orienta de particular para particular.
O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente A partir dos quatro anos o tipo dominante de raciocínio é
do próprio aprendizado, mediante a experimentação, a o denominado intuição, fundamentado na percepção e que
pesquisa em grupo, o estimulo a dúvida e o desenvolvimento desconhece a reversibilidade e a conservação.
do raciocínio, entre outros procedimentos. A partir de sua A criança ainda é incapaz de lidar como dilemas morais,
ação, vai estabelecendo as propriedades dos objetos e embora possua senso do que é bom ou mal. O indivíduo
construindo as características do mundo. apresenta um comportamento egocêntrico, tendo um papel
limitado e a impossibilidade assumir o papel de outras
A abordagem construtivista de Jean Piaget pessoas, é rígido (não flexível) que tem como ponto de
As respostas às questões sobre a natureza da referência a própria criança. Ainda é latente a incapacidade de
aprendizagem de Piaget são dadas à luz de sua epistemologia analisar vários aspectos de uma dada situação.
genética, na qual o conhecimento se constrói pouco a pouco, à Uma consequência deste egocentrismo é a incapacidade da
medida em que as estruturas mentais e cognitivas se criança de colocar seu próprio ponto de vista como igual aos
organizam, de acordo com os estágios de desenvolvimento da demais. Desconhecendo a opinião alheia, o indivíduo não sente
inteligência. necessidade de justificar seus raciocínios perante outros.
A inteligência é antes de tudo adaptação. Esta
característica se refere ao equilíbrio entre o organismo e o Operatório concreto (7-11 anos)
meio ambiente, que resulta de uma interação entre Recebe este nome, já que a criança age sobre o mundo
assimilação e acomodação. concreto, real e visível. Surge o declínio do egocentrismo,
A assimilação e a acomodação são, pois, os motores da sendo substituído pelo pensamento operatório (envolvendo
aprendizagem. A adaptação intelectual ocorre quando há o vasta gama de informações externas à criança). O indivíduo
equilíbrio de ambas. pode, desde já, ver as coisas a partir da perspectiva dos outros.
Segundo discorre Ulbritch32, a aquisição do conhecimento Surge os processos de pensamento lógico, limitados,
cognitivo ocorre sempre que um novo dado é assimilado à sendo capazes de serializar, ordenar e agrupar coisas em
estrutura mental existente que, ao fazer esta acomodação classes, com base em características comuns. Assim como a
modifica-se, permitindo um processo contínuo de renovação capacidade de conservação e reversibilidade através da
interna. Na organização cognitiva, são assimiladas o que as observação real (o pensamento da criança ainda é de natureza
assimilações passadas preparam, para assimilar, sem que haja concreta).
ruptura entre o novo e o velho. O pensamento operatório é denominado concreto, pois a
Pela assimilação, justificam-se as mudanças quantitativas criança somente pensa corretamente se os exemplos ou
do indivíduo, seu crescimento intelectual mediante a materiais que ela utiliza para apoiar o pensamento existem
incorporação de elementos do meio a si próprio. mesmo e podem ser observados. Ela ainda não consegue
Pela acomodação, as mudanças qualitativas de pensar abstratamente, tendo como base proposições e
desenvolvimento modificam os esquemas existentes em enunciados. Com o desenvolvimento destas habilidades
função das características da nova situação; juntas justificam a notamos aparecimento de esquemas conceituais.
adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas As crianças começam a desenvolver um senso moral,
cognitivas. juntamente com um código de valores.

32 ULBRICHT, Vânia Ribas. Modelagem de um Ambiente Hipermfdia de (Doutorado em Engenharia de Produção). Coordenadoria de Pós-graduação,
Construção do Conhecimento em Geometria Descritiva^ Florianópolis, 1997. Tese UFSC. p.20-25.

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APOSTILAS OPÇÃO

Operatório formal (12 anos em diante) conhecimentos e desenvolvimento mental possui


Característica essencial a distinção entre o real e o características individuais e particulares.
possível. Nesse sentido, significados socioculturais, historicamente
A criança se torna capaz de raciocinar logicamente, mesmo produzidos, são internalizados pelo homem de forma
se o conteúdo do seu raciocínio é falso. Logo, surge a individual e, por isso, ganham um sentido pessoal; “a palavra,
determinação da realidade tendo como base o caráter a língua, a cultura relaciona-se com a realidade, com a própria
hipotético-dedutivo, representando a última aquisição vida e com os motivos de cada indivíduo”. No processo de
mental quando o adolescente se liberta do concreto. Assim o internalização, o que é interpessoal, inicialmente, transforma-
jovem obtém a capacidade de pensar abstratamente e se em intrapessoal.
compreender o conceito de probabilidade. O nível de desenvolvimento real pode ser entendido
Aparecimento da reversibilidade e sua explicação como referente àquelas conquistas que já estão consolidadas
mediante inversão ou negação e comparada à reciprocidade de na criança, àquelas funções ou capacidades que ela já
relações. aprendeu e domina, pois já consegue utilizar sozinha, sem
assistência de alguém mais experiente da cultura (pai, mãe,
A abordagem sócio construtiva do desenvolvimento professor, criança mais velha etc.). Este nível indica, assim, os
cognitivo de Lev Vygotsky processos mentais da criança que já se estabeleceram; ciclos
As inquietações de Vygotsky sobre o desenvolvimento da de desenvolvimento que já se completaram.
aprendizagem e a construção do conhecimento perpassavam No entendimento de Vygotsky, a zona de
pela produção da cultura, como resultado das relações desenvolvimento potencial ou mediador é toda atividade
humanas. Por conta disso, ele procurou entender o e/ou conhecimento que a criança ainda não domina, mas que
desenvolvimento intelectual a partir das relações histórico- se espera que ela seja capaz de saber e/ou realizar,
sociais, ou seja, buscou demonstrar que o conhecimento é independentemente de sua etnia, religião ou cultura. É
socialmente construído pelas e nas relações humanas. justamente por isso que as relações entre desenvolvimento e
Baseado nas teses do materialismo histórico, Vygotsky aprendizagem ocupam lugar de destaque em sua obra.
destacou que as origens das formas superiores de A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre
comportamento consciente deveriam ser buscadas nas o que a criança já pode realizar sozinha e aquilo que ela
relações sociais que o sujeito mantém com o mundo exterior, somente é capaz de desenvolver com o auxílio de alguém. Na
na atividade prática. Para descobrir as fontes dos zona de desenvolvimento proximal, o aspecto fundamental é a
comportamentos especificamente humanos, era preciso realização de atividade com o auxílio de um mediador. Por
libertar-se dos limites do organismo e empreender estudos isso, segundo Vygotsky, essa é a zona cooperativa do
que pudessem explicar como os processos maturacionais conhecimento. O mediador ajuda a criança a concretizar o
entrelaçam-se aos processos culturalmente determinados desenvolvimento que está próximo, ou seja, ajuda a
para produzir as funções psicológicas superiores típicas do transformar o desenvolvimento potencial em
homem. desenvolvimento real.
Dessa feita, a convivência social é fundamental para Fialho33 destaca que, para Vygotsky, o desenvolvimento
transformar o homem de ser biológico a ser humano social, e humano compreende um processo dialético, caracterizado
a aprendizagem que advém das relações sociais ajuda a pela periodicidade, irregularidade no desenvolvimento das
construir os conhecimentos que dão suporte ao diferentes funções, metamorfose ou transformação qualitativa
desenvolvimento. de uma forma em outra, entrelaçando fatores internos e
Para Vygotsky, o homem possui natureza social, uma vez externos e processos adaptativos.
que nasce em um ambiente carregado de valores culturais: na
ausência do outro, o homem não se faz homem. Partindo desse A abordagem de Henri Wallon
pressuposto, o autor criou uma teoria de desenvolvimento da A gênese da inteligência para Wallon é genética e
inteligência, na qual afirma que o conhecimento é sempre organicamente social, ou seja, "o ser humano é organicamente
intermediado. social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura
Nessa perspectiva, a criança nasce apenas com funções para se atualizar" Dantas34. Nesse sentido, a teoria do
psicológicas elementares e, a partir do aprendizado da cultura, desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na
essas funções se transformam em funções psicológicas psicogênese da pessoa completa.
superiores. Entretanto, essa evolução não se dá de forma O estudo de Wallon é evidenciado na criança
imediata e direta, as informações recebidas do meio social são contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as etapas do
intermediadas, de forma explícita ou não, pelas pessoas que desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas,
interagem com as crianças. É essa intermediação que dá às retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa
informações um caráter valorativo e significados sociais e profundas mudanças nas anteriores.
históricos. Nesse sentido, a passagem dos estágios de
As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas
cérebro humano fundamentam-se em sua ideia de que as por reformulação, instalando-se no momento da passagem de
funções psicológicas superiores são construídas ao longo da uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança.
história social do homem. Na sua relação com o mundo, Conflitos se instalam nesse processo e são de origem exógena
mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos quando resultantes dos desencontros entre as ações da criança
culturalmente, o ser humano cria as formas de ação que o e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e pela cultura
distinguem de outros animais. e endógenos e quando gerados pelos efeitos da maturação
Vale dizer que essas informações não são interiorizadas nervosa, Galvão35. Esses conflitos são propulsores do
com o mesmo teor com que são recebidas, ou seja, elas sofrem desenvolvimento.
uma reelaboração interna, uma linguagem específica em cada Estágio impulsivo-emocional (1°ano de vida): nesta fase
pessoa. Em outras palavras, cada processo de construção de predominam nas crianças as relações emocionais com o

33 FIALHO, Francisco Antonio Pereira. Sistemas de Educação à Distância. 34 DANTAS, Heloysa. Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência

UFSC. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis, segundo Wallon. In: TAILLE,Yves de la e et all. Piaget, Vigotsky, Waalon. Teorias
1998. Notas de aula. Psicogenéticas em Discussão. São Paulo: Summus, 1992.
35 GALVÃO, Izabel. Henri Wallon. Uma concepção dialética do
desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes,1995.

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ambiente. Trata-se de uma fase de construção do sujeito, em


que a atividade cognitiva se acha indiferenciada da atividade
afetiva. Nesta fase vão sendo desenvolvidas as condições 03. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional -
sensório-motoras (olhar, pegar, andar) que permitirão, ao CESPE/2017) Teóricos como Piaget e Vygotsky evidenciaram
longo do segundo ano de vida, intensificar a exploração que a criança se desenvolve na interação com o meio histórico-
sistemática do ambiente. cultural em que vive. Considerando essa informação e tendo
em vista que a criança precisa do outro, da natureza e da inter-
Estágio sensório-motor (um a três anos, relação possível entre esses elementos, julgue o próximo item.
aproximadamente): ocorre neste período uma intensa Brincar é imprescindível na infância, pois é nessa ação que
exploração do mundo físico, em que predominam as relações a criança elabora sua forma de estar no mundo, vivencia o
cognitivas com o meio. A criança desenvolve a inteligência lúdico e desenvolve sua potência de criação. Essa experiência
prática e a capacidade de simbolizar. No final do segundo ano, proporciona aprendizagem e desenvolvimento.
a fala e a conduta representativa (função simbólica) ( ) Certo ( ) Errado
confirmam uma nova relação com o real, que emancipará a
inteligência do quadro perceptivo mais imediato. Ou seja, ao 04. (Prefeitura de Lauro Muller/SC - Professor de
falarmos a palavra "bola", a criança reconhecerá Pedagogia - Instituto Excelência/2017) Sobre os pensadores
imediatamente do que se trata, sem que precisemos mostrar o da educação, assinale a alternativa CORRETA sobre a teoria de
objeto a ela. Dizemos então que ela já adquiriu a capacidade de Vygotsky:
simbolizar, sem a necessidade de visualizar o objeto ou a (A) Sua teoria mostra que o indivíduo só recebe um
situação a qual estamos nos referindo. determinado conhecimento se estiver preparado para recebê-
Personalismo (três aos seis anos, aproximadamente): lo. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo
nesta fase ocorre a construção da consciência de si, através das tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e
interações sociais, dirigindo o interesse da criança para as transformá-lo. O que implica os dois polos da atividade
pessoas, predominando assim as relações afetivas. Há uma inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação à medida
mistura afetiva e pessoal, que refaz, no plano do pensamento, que incorpora a seus quadros todo o dado da experiência; é
a indiferenciação inicial entre inteligência e afetividade. acomodação à medida que a estrutura se modifica em função
do meio, de suas variações.
Estágio categorial (seis anos): a criança dirige seu (B) Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento
interesse para o conhecimento e a conquista do mundo do indivíduo como resultado de um processo sócio histórico,
exterior, em função do progresso intelectual que conseguiu enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse
conquistar até então. Desta forma, ela imprime às suas desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico-
relações com o meio uma maior visibilidade do aspecto social. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela
cognitivo. interação do sujeito com o meio.
Para Wallon, o mérito da Educação é desenvolver o (C) O comportamento é construído numa interação entre o
máximo as potencialidades de cada indivíduo. É nesse mesmo meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica é caracterizada
indivíduo que devem ser buscadas as possibilidades de como interacionista.
superação, compensação e equilíbrio funcionais. (D) Nenhuma das alternativas.

Questões 05. (DPU - Técnico em Assuntos Educacionais -


CESPE/2016) Acerca das teorias psicológicas que
01. (Prefeitura de São Luís/MA - Cargos de Magistério I fundamentam a aprendizagem humana, julgue o item a seguir.
e II - CESPE/2017) Na perspectiva de Jean Piaget, em uma Jean Piaget, que estudou o desenvolvimento da mente
situação que envolva o cometimento de erro pelo aluno no relacionando-o à adaptação biológica, dividiu em fases ou
processo de aprendizagem, o professor deve: estágios o desenvolvimento cognitivo da criança e denominou
(A) Corrigir o aluno, dando-lhe, imediatamente, a resposta como estágio pré-conceitual o momento em que a criança
correta. reconhece um objeto sem, contudo, o diferenciar dos demais
(B) Punir o aluno, pois essa é a melhor forma de eliminar o da mesma categoria.
erro. ( ) Certo ( ) Errado
(C) Levar o aluno a refletir sobre por que errou, dando-lhe
a oportunidade de reconstruir a compreensão do Respostas
conhecimento. 01. C. / 02. E. / 03. Certo. / 04. B. / 05. Errado.
(D) Ignorar o erro, pois, ao longo do tempo, o aluno
descobrirá, sozinho, a compreensão correta do conteúdo.
(E) Fazer o aluno repetir a resposta certa quantas vezes 3.3 Contribuições de Piaget,
forem necessárias para que ele consiga decorá-la.
Vygotsky e Wallon para a
02. (Prefeitura de São Luís/MA - Cargos de Magistério I psicologia e pedagogia.
e II - CESPE/2017) Assinale a opção que apresenta o processo
de resolução dos conflitos cognitivos que, para Jean Piaget,
representa a construção da aprendizagem. 36ABORDAGENS VYGOTSKIANA, WALLONIANA E
(A) Reforço positivo. PIAGETIANA
(B) Zona de desenvolvimento proximal.
(C) Estágios do desenvolvimento sensório-motor, pré- A perspectiva vygotskiana
operatório, operatório concreto e formal. Na abordagem da Psicologia Sócio Histórica, algumas
(D) Aprendizagem condicionada. categorias são centrais. Para efeitos da análise do episódio
(E) Assimilação, acomodação e equilibração. selecionado, duas delas se destacam e, por essa razão, serão

36 DAVIS, Claudia Leme Ferreira; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; RIBEIRO, Psicologia da Educação, São Paulo, 34, 1º sem. de 2012, pp. 63-83. Adaptado.
Marilda Pierro de Oliveira; RACHMAN, Vivian Carla Bohm. Abordagens https://revistas.pucsp.br/index.php/psicoeduca/article/view/28043/19749.
vygotskiana, walloniana e piagetiana: diferentes olhares para a sala de aula. Acesso em abril de 2017.

Educação Brasileira 43
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brevemente apresentadas. A primeira delas é a de mediação, escolas organizadas em moldes tradicionais oferecem poucas
entendida como "uma instância que relaciona objetos, ocasiões de se viver experiências desse tipo, nas quais os
processos ou situações entre si ou, ainda, como um conceito alunos podem, com o professor e com os colegas, elaborar
que designa um elemento que viabiliza a realização de outro e compreensões comuns mais sofisticadas. Em escolas como a
que, embora distinto dele, garante a sua efetivação, dando-lhe observada, os professores tendem a dominar a sala de aula,
concretude". Adotar a categoria teóricometodológica da reduzindo drasticamente a participação dos alunos em sala. É
mediação implica não aceitar dicotomias e, sobretudo, tentar o caso desse episódio.
se aproximar das determinações que, dialeticamente, Outro aspecto interessante de uma pedagogia com base
constituem o sujeito. É por meio da mediação que se explica e sócio histórica é ancorar o ensino nas experiências e
se compreende como o homem, membro da espécie humana, habilidades prévias dos alunos, partindo do NDR e
só se torna humano nas relações sociais que mantém com seus encaminhando-se para o NDP, cabendo ao docente auxiliar os
semelhantes e com sua cultura. Nesse sentido, a escola, por educandos durante esse percurso, atuando na ZDP. Nessa
meio de seus professores, exerce uma mediação central na ótica, cabe salientar que um bom ensino é aquele em que o
constituição dos sujeitos-alunos, uma vez que é com seu professor identifica o que os alunos já dominam - suas
auxílio que eles conquistam novos saberes, apropriam-se de experiências, habilidades e pontos de vista - articulando-o com
sua "humanidade" e constroem, paulatinamente, formas os conhecimentos, habilidades ou ponto de vista científico. Na
próprias de pensar, sentir e agir. escola tradicional, em contrapartida, os professores muitas
Uma segunda categoria importante a ser aqui discutida é a vezes se dedicam a ensinar regras, conceitos abstratos e
relação desenvolvimento-aprendizagem. Tendo Piaget como descrições conceituais, quando na verdade, seria mais
interlocutor, Vygotski postula que o ensino, quando proveitoso auxiliar as crianças oferecendo-lhes experiências
adequadamente organizado, leva à aprendizagem, e essa nas quais pudessem compreender como esses foram
última, por sua vez, impulsiona ciclos de desenvolvimento que elaborados e como podem ser empregadas no cotidiano. Isso
até então estavam em estado embrionário: novas funções requer contextualização.
psicológicas superiores passam assim a existir. Esse novo Três níveis de contextualização podem ser utilizados pelos
desenvolvimento, mais adiantado, abre novas possibilidades professores. O primeiro requer que se ativem os
de aprendizagem que, se vierem a ocorrer, impulsionarão mais conhecimentos/experiências/habilidades prévias dos alunos,
uma vez o desenvolvimento, permitindo novas aprendizagens algo bastante individualizado e pessoal. O segundo nível
e, assim, sucessivamente. Nesse sentido, aprendizagem e envolve conectar aquilo que é conhecido de cada criança às
desenvolvimento constituem uma unidade, visto um ser experiências concretas do conjunto das crianças, ampliando os
constitutivo do outro, ou seja, um não é sem o outro. Nas contextos em que o conhecido pode ser
palavras do autor: situado/empregado/reconhecido. O terceiro nível indica ser
[...] a característica essencial da aprendizagem é que preciso conectar o conhecido ao que 'precisa-ser-aprendido',
engendra a área de desenvolvimento proximal, ou seja, que faz envolvendo os estudantes na busca de conexões vitais entre
nascer estimula e ativa na criança um grupo de processos eles. O conhecido - agora amplamente contextualizado e pleno
internos de desenvolvimento no âmbito das inter-relações com de concretude - articula-se com o novo, mediante a ajuda do
outros, que, na continuação, são absorvidos pelo curso interior professor, através de um processo ativo de análise e
de desenvolvimento e se convertem em aquisições internas da interpretação, totalmente diverso da simples associação.
criança. Atuando em conformidade com esse aspecto, o professor evita
que os alunos aprendam apenas abstrações dissociadas do real
A partir dessa visão, Vygotski defende a presença de dois e sem vínculos com suas experiências.
níveis de desenvolvimento: o primeiro, denominado "nível de Nesse sentido, Donovan, Bransford e Pellegrino elucidam
desenvolvimento real" (NDR), refere-se a tudo aquilo que o que, quando a compreensão inicial dos alunos sobre
sujeito é capaz de realizar por si só, sozinho, sem contar com a determinado assunto (conceitos cotidianos) não é articulada
ajuda de ninguém. Já o segundo, ou nível de desenvolvimento às informações que lhes são apresentadas (conceitos
proximal (NDP), explicita que há situações em que o sujeito só científicos), eles podem não compreender o que lhes foi
consegue fazer/pensar/sentir algo se contar com o auxílio de ensinado ou dominam relativamente o assunto apenas para
alguém mais experiente. Entre o que o sujeito consegue fazer efeitos de testes e avaliações. De fato, quando isso acontece,
por si mesmo e o que só o faz mediante a ajuda do Outro está eles tornam a pautar seu pensamento em hipóteses e conceitos
a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), um conceito cotidianos, tão logo deixem a sala de aula. Não aprenderam o
metafórico, que indica uma compreensão particular de ensino: que era esperado.
ao se fornecer assistência na ZDP, leva-se o aluno a realizar Adicionalmente, como a aula é planejada levando em conta
sozinho aquilo que antes só o fazia com o amparo de alguém. diferentes NDR, o planejamento do ensino requer atividades
Vygotski expõe assim seu pensamento: diversificadas, a serem realizadas concomitantemente, pelos
diferentes grupos de alunos. Com isso, soluciona-se um
[...] a aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento; fenômeno muito frequente nas salas de aula organizada nos
mas uma correta organização da aprendizagem da criança moldes tradicionais: planejar uma única aula e/ou atividade
conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de para alunos com diferentes conhecimentos e experiências,
processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia algo que, se benéfico para alguns alunos, exclui do ensino tanto
produzir-se sem a aprendizagem. os menos e os mais experientes. Ao planejar uma aula sem
considerar os conhecimentos prévios dos educandos,
Análise do episódio a partir da perspectiva vygotskiana tampouco suas particularidades, a prática pedagógica
Tentando empregar as categorias acima, na tentativa de homogeneíza-se, tratando como iguais crianças que na
construir uma pedagogia com base sócio histórica, é possível verdade são diferentes. O resultado é que uns não
dizer que uma forma de promover a aprendizagem é envolver acompanham a aula e outros nela se aborrecem. Essa parece
os alunos em uma atividade colaborativa. Trata-se, pois, de ser a situação de Pedro, o menino que aparece, no episódio,
agrupar crianças com distintos níveis de experiência, com o braço levantado.
habilidades e conhecimentos, para trabalharem juntas, Outro aspecto a ser salientado diz respeito à importância
buscando alcançar um mesmo objetivo, discutindo quais são de desenvolver o domínio da linguagem ao longo das aulas,
as melhores formas de se chegar a ele e assumindo o risco de algo que a professora observada parece desconhecer. Para ela,
colocar suas hipóteses à prova. É interessante notar que a participação dos alunos no momento em que está expondo

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um dado conteúdo desconcentra e atrapalha: não traz nenhum e) mediação rica, variada e entusiasmada do docente, no
benefício à classe. De fato, a literatura aponta que os docentes sentido de incentivar seus alunos a gostar do que estão
seguem fielmente a tradição pedagógica, na qual a aula é aprendendo, apontando e criando, constantemente,
entendida como mera repetição de algo já elaborado - e tido oportunidades para ouvir os demais, a respeitar as opiniões dos
como pronto ou definitivo - e não de algo a ser construído outros, a argumentar, a reconhecer os "erros" e a enfrentar
coletivamente. conflitos de ideias, sem transformá-las em conflitos entre
Assim, a professora explica e pede aos alunos que façam pessoas.
sozinhos, sem interação com os colegas, um exercício de
consolidação. As crianças tentam, sem saber ao certo o que Tudo isso faz com que "escolas e salas de aulas se
aprenderam e, menos ainda, como empregar esse suposto aproximem mais de seus alunos, tornando o ensino uma
conhecimento na tarefa. O mundo real, aparentemente atividade colaborativa interpessoal", algo extremamente
excluído da sala de aula, precisa ser recuperado e uma valorizado pela abordagem vygotskiana e, tal como vemos, por
excelente forma de fazer isso é escutar o que as crianças têm a uma pedagogia de base sócio histórica.
dizer, pois, sem isso, não há como aquilatar o que conhecem e
o que ignoram; não se contextualiza aos novos conceitos; não A perspectiva piagetiana
se criam condições para confrontar pontos de vistas, discutir Como em relação aos autores anteriores, serão expostas a
ideias, organizar e expressar o próprio pensamento. seguir, algumas ideias centrais do pensamento piagetiano, de
De fato, ao oferecer oportunidades para o modo a apresentar a fundamentação na qual se baseará a
desenvolvimento da linguagem, o docente contribui, análise do episódio de sala de aula já descrito anteriormente,
concomitantemente, para a organização do pensamento do meta desse artigo. Inicialmente será discutido como Piaget
aluno. O diálogo ocupa posição tão central na visão de concebe o processo de aprendizagem e a relação
Vygotski, que esse autor chega a definir o ato de pensar como aprendizagem/desenvolvimento, bem como a relação sujeito
diálogo (interno) com si mesmo (ou seja, com as ideias de e objeto de conhecimento. Em seguida, as ideias de Piaget que
vários Outros que já foram apropriadas ou aprendidas). Cabe, têm implicações mais diretas para a prática pedagógica serão
pois, criar um clima de entusiasmo diante do aprender, comentadas.
encorajando os alunos a se envolverem coletivamente na
tarefa, aprendendo uns com os outros e todos com a Apesar de ser muitas vezes identificado como um autor
professora, a resolver problemas reais, progressivamente que elaborou uma teoria do desenvolvimento cognitivo sem
mais complexos e abstratos. A conversa auxilia o pensamento, dar relevância aos processos de aprendizagem, Piaget concebe
torna-o cada vez mais flexível (pois se é forçado a perceber que esses processos como intimamente relacionados, pois
há muitos e diversificados pontos de vista acerca de um único dialogam o tempo todo. Esse autor, adotando uma perspectiva
evento), ensina que é preciso ouvir quando se quer ser ouvido, epistemológica construtivista e interacionista, apresenta
que é preciso argumentar e defender boas ideias. Em uma concepções sobre os processos de aprendizagem e
conversa rica em torno de um conteúdo interessante, há uma desenvolvimento que não poderiam se assemelhar nem à
intensa negociação de sentidos e significados, algo que postura empirista, nem à postura apriorista. Para ele, o
estimula, ao mesmo tempo, o desenvolvimento afetivo, desenvolvimento cognitivo não se reduz à aprendizagem -
cognitivo e social. Não se trata de tumultuar a sala de aula e, entendida como ação dos estímulos ou dos acontecimentos
sim, de desenvolver habilidades comunicativas, algo que sobre o ser humano -, mas também não é visto como a
envolve pensamento e análise, nunca repetição. Com isso, atualização de estruturas já presentes no indivíduo ao nascer.
inegavelmente se sai do NDR e se alcança o NDP. Ao contrário, ele entende que é por meio da interação com
Em síntese, o episódio analisado mostra que a professora o meio que o sujeito constrói suas estruturas mentais e seu
não aproveita as oportunidades de promover o conhecimento: no contato com eventos físicos e/ou sociais, o
desenvolvimento linguístico de seus alunos, ficando presa a sujeito os transforma para poder apreendê-los - mecanismo de
um procedimento rígido de dar aula, no qual só o docente fala assimilação - e, simultaneamente, esses mesmos eventos
e os alunos escutam. Se ocasiões para discutir as relações exercem pressões sobre os instrumentos de assimilação do
estabelecidas pelas crianças entre o velho e o novo forem indivíduo, transformando-os. É por meio desse jogo de
escassas, os alunos não terão como se expressar e a professora mecanismos, necessariamente complementares e dissociados
não poderá, consequentemente, intervir em seus modos de entre si, que o indivíduo desenvolve continuamente seus
pensar, sentir e agir, elucidando dúvidas, aprofundando ideias esquemas e estruturas cognitivas. Essa construção contínua é
e tornando-as cada vez mais complexas. Pode-se concluir, explicada pela equilibração, processo interno que incita o
então, que uma pedagogia inspirada na abordagem sócio sujeito a transformar suas estruturas mentais tendo em vista
histórica envolve: sua otimização, ou seja, tendo em vista patamares cada vez
mais complexos de compreensão da realidade física, social e
a) atividades diversificadas, para contemplar os diferentes cultural que o rodeia.
níveis de experiências e conhecimentos dos alunos; No intuito de melhor precisar o papel das contribuições
b) interação entre pares, para favorecer a troca e, portanto, advindas da experiência e daquelas advindas dos fatores
a inclusão de todos nas atividades pedagógicas, além da internos de organização e integração dessas mesmas
colaboração e da negociação dos sentidos dos conceitos em jogo, experiências aos esquemas ou estruturas já construídas, o
uma vez que as crianças aprendem umas com as outras, sempre autor distingue duas "formas" de aprendizagem: uma em
mediante a orientação do professor; sentido estrito e outra em sentido amplo. A primeira refere-se
c) oportunidades para o corpo discente trabalhar às aquisições que se dão com base nas experiências vividas
coletivamente, enquanto o professor exerce uma rica mediação, pelo indivíduo e por ele elaboradas num plano inicial da
levando o grupo-classe a explicitar o que faz, como faz e por que apreensão dos objetos ou das situações. Já a segunda engloba
o faz; - em sentido amplo - as aprendizagens em sentido estrito,
d) diálogo constante (entre alunos e dos alunos com o assim como outros processos não derivados da experiência
professor), pois, quando isso se passa, laços mais sólidos de com os objetos, processos entendidos como mecanismos
amizade e níveis mais elevados de afinidade se desenvolvem internos de reorganização das aquisições prévias (devidos à
entre os alunos, permitindo que mais crianças discutam e experiência ou não), que levam à evolução dos conhecimentos
negociem seu entendimento sobre os conteúdos trabalhados; e, solidariamente, à evolução dos patamares de compreensão

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do indivíduo. A ideia de aprendizagem em sentido amplo defende que seria mais proveitoso privilegiar, no processo
confunde-se, então, com a de desenvolvimento cognitivo. pedagógico, as relações entre colegas, o trabalho em grupo, o
Nessa perspectiva, o processo de aprendizagem, que em autogoverno, ou seja, implementar formas de trabalhar em
tese seria desencadeado no contexto escolar, pode ser sala de aula em que os estudantes possam tomar decisões e se
entendido como uma das variantes da aprendizagem em responsabilizar por aspectos de sua vida escolar. A
sentido estrito, que alimenta e é realimentada, dialoga com o aprendizagem de condutas cooperativas e do trabalho em
desenvolvimento e é necessariamente complementada por grupo fomentaria, no entender de Piaget, discussões entre
mecanismos internos, o principal deles sendo a equilibração, indivíduos "iguais", considerando seus níveis de conhecimento
mecanismo interno de autorregulação, presente em todos os e lugar ocupado no contexto de sala de aula. Por conseguinte,
organismos. favoreceria verdadeiras trocas entre eles, a coordenação de
Assim, para Piaget, a aprendizagem em sentido estrito não pontos de vista e a conquista da autonomia.
é condição suficiente para engendrar o desenvolvimento, mas
é condição necessária. Daí a importância que tem a Análise do episódio a partir da perspectiva piagetiana
aprendizagem em sua teoria e, não por acaso, o autor esteve, No episódio em foco alguns aspectos da situação tornam-
em sua vida, constantemente ligado aos órgãos internacionais se muito salientes. As carteiras dos alunos enfileiradas, a mesa
encarregados de pensar a educação. Muito embora, da professora à frente, sobre um tablado. A professora não
comparativamente ao conjunto de sua obra, os textos voltados interrompe sua fala para ouvir o aluno; tem convicção que as
à educação sejam em número pequeno, em muitos deles Piaget intervenções do grupo atrapalham suas explicações;
falou aos professores, que podem neles encontrar uma pressupõe que o que os educandos têm a dizer não se
referência na qual se inspirar para desenvolverem uma práxis relacionam com o conteúdo que está ministrando. Explica que
favorecedora da aprendizagem e do desenvolvimento das sua expectativa é a de que todos os alunos a acompanhem e
crianças e dos jovens. desenvolve a aula a partir de seu próprio ponto de vista. A
Outro aspecto da teoria de Piaget contido na ideia de dinâmica proposta é centrada em um único tipo de interação
autorregulação, mas que se faz importante destacar para social: a do professor com os alunos.
efeitos da análise a que se procederá mais à frente, é a de que Em tese, a aula centrada na figura do professor e na sua
a construção dos conhecimentos é "automotivada". Essa tese perspectiva, que é aquela de quem domina o conteúdo,
foi muito bem traduzida por De La Taille, ao enunciar uma das dificultaria a atividade construtiva dos estudantes e o
principais teses piagetianas: a de que a inteligência é uma exercício da reflexão. Sem poder elaborar sobre o que está
adaptação do indivíduo aos desafios colocados pelo meio físico sendo dito, provavelmente os alunos apenas memorizarão as
e social. Esse autor esclarece que, diante da impossibilidade de lições, para poderem reproduzi-las em momento oportuno,
resolver um problema, o sujeito é capaz de modificar seus quando forem induzidos a isso, como, por exemplo, nas provas.
pontos de vista, remanejar ou criar ideias, elaborar hipóteses É cabível, portanto, questionar o quanto tais conhecimentos se
e testá-las, de modo a superar o conflito gerado pela tornarão condição para a construção de novas estruturas ou
incapacidade de resolver tal problema. ampliarão a capacidade de aprender; indagar quanto do que é
A implicação clara dessa asserção para o processo de aprendido em tais circunstâncias funciona como condição de
ensino e aprendizagem que ocorre na escola, talvez hoje tão assimilação para qualquer outro conhecimento; ou ainda
repetida, mas nem sempre bem compreendida, é a de que para inquirir se, ao tentar dar conta do conteúdo, a professora
motivar o aluno a aprender é preciso colocar-lhe problemas e percebe as possíveis consequências educacionais de seu fazer.
desafios. Mas se conhecer é um "ato de interpretação", ou seja, Em síntese, quais são as metas educacionais almejadas?
se o indivíduo assimila os dados do real aos seus sistemas de Na perspectiva de Piaget, a prática pedagógica em questão
significação, é preciso estar atento às manifestações dos parece estar mais a serviço da acumulação de conteúdos do
alunos para constatar se, de fato, os supostos desafios que da formação de indivíduos que sabem pensar e que, no
colocados pelo professor constituem situações que futuro, estariam aptos para agir de forma autônoma e crítica.
desencadeiam ações construtivas dos alunos, voltadas aos De fato, ao não ouvir o que os alunos têm a dizer sobre o
conteúdos a serem aprendidos. Deve-se insistir, então, que não assunto em pauta, é quase impossível ao professor ir ao
basta colocar questões ou problemas que supostamente, na encontro de seus pontos de vista, identificar seus
visão do professor, constituem desafios aos alunos: é conhecimentos prévios, perceber como apreendem aquilo que
necessário que eles efetivamente os percebam como desafios. foi falado. Se o conhecimento é um ato de interpretação, se a
A seguir, essas colocações fundamentais do autor, compreensão de algo depende do patamar de
apresentadas em textos que têm implicações mais diretas para desenvolvimento cognitivo do indivíduo - ou, na linguagem
a educação, serão resgatadas. piagetiana, de seus instrumentos de assimilação - não ouvir a
Para Piaget, o objetivo da educação é formar o pensamento manifestação dos educandos torna impossível ao professor
do aluno, é formar indivíduos autônomos do ponto de vista apresentar objetos de conhecimento que possam ser por eles
intelectual e moral. Nesse sentido, mais do que buscar a assimilados. Não é de se admirar que muitas vezes os alunos
acumulação de conteúdos, a escola deveria se preocupar em apresentem dispersão e desinteresse pela aula, como bem
ensinar o aluno a pensar, a construir suas verdades, a exemplifica a atitude de Pedro, descrita no episódio em
demonstrá-las, a defender seus pontos de vista, a fazer análise.
perguntas e pesquisas por conta própria. Em síntese, deveria Para dar conta de responder às perguntas que
formar o aluno de modo que ele aprendesse a construir desencadearam esta análise é preciso ainda indicar caminhos
conhecimentos tanto no domínio intelectual quanto moral. na direção do aprimoramento da prática pedagógica da
Caberia ao professor entender a perspectiva de seus alunos professora focalizada. Entende-se ser necessário que ela vá ao
para propor-lhes questões, problemas e desafios a serem encontro do ponto de vista dos alunos, preocupe-se em
resolvidos. Caberia, também, cuidar para que sua autoridade compreender como apreendem e como aprendem o que lhes é
não se transformasse em impedimento para a conquista da ensinado. Ouvir o que os educandos têm a dizer não implica
autonomia por parte do aluno. defender um ensino individualizado, como pode parecer,
Privilegiar, na prática pedagógica, somente um tipo de talvez, à primeira vista. Entretanto, é preciso pensar em
relação interpessoal - aquela que ocorre entre o professor e estratégias que permitam um acompanhamento mais próximo
aluno - dificultaria a formação do ponto de vista próprio dos do aluno pelo professor, que possibilitem aos estudantes
educandos, já que a tendência seria a de aceitar as verdades tomar iniciativas, expor suas questões, manifestar seus
enunciadas pelo professor. Com base nessa asserção, Piaget interesses e compartilhar opiniões. Adicionalmente, é

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fundamental considerar as diferenças relativas aos níveis de - Predominância funcional. Ocorre nova definição dos
compreensão e de construção dos conhecimentos escolares, contornos da personalidade, desestruturados devido às
para que se possam elaborar planejamentos a elas adequados. modificações corporais resultantes da ação hormonal. Questões
Afinal, há hoje clareza da diversidade presente na escola e da pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.
tão almejada meta da inclusão.
Os caminhos que a teoria, em princípio, oferece aos O referido autor ressalta ainda que na sucessão de estágios
docentes apontam para estratégias de cunho variado; há uma alternância entre as formas de atividades e de
empregadas em diferentes momentos do planejamento diário interesses da criança, denominada de "alternância funcional",
e adaptadas aos diferentes conteúdos; que impliquem onde cada fase predominante (de dominância, afetividade,
momentos de trabalho em duplas, trios, pequenos grupos ou cognição), incorpora as conquistas realizadas pela outra fase,
mesmo tarefas individuais; em que as fontes de consulta construindo-se reciprocamente, num permanente processo de
disponíveis envolvam, sem sombra de dúvida a professora, integração e diferenciação.
mas também materiais didáticos e os próprios colegas, que,
cooperativamente, trabalham em prol do desenvolvimento de
cada um e do grupo classe. Nesse sentido, vale esclarecer que 3.4 Teoria das inteligências
não há nada a opor, por exemplo, à maneira expositiva de
lecionar, tal como Ruth faz no episódio em pauta, desde que o múltiplas de Gardner.
faça de modo interessante, permitindo a participação dos
alunos, procurando suscitar-lhes a atividade construtiva.
O Educador Celso Antunes37 explica os conceitos de
Perspectiva de Wallon inteligência múltipla segundo Howard Gardner. As pesquisas
A abordagem de Henri Wallon de Gardner representam verdadeiro símbolo educacional
A gênese da inteligência para Wallon é genética e contemporâneo, ao sinalizar que o que se descobre sobre a
organicamente social, ou seja, "o ser humano é organicamente mente humana, constitui não apenas saber acadêmico, mas
social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura instrumento de ação pedagógica imprescindível
para se atualizar".
Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Howard Gardner possui um currículo indiscutível.
Wallon é centrada na psicogênese da pessoa completa. Professor de Educação e Diretor do Projeto Zero, no Harvard
Para Galvão, o estudo de Wallon é centrado na criança Graduate Scholl of Education e professor adjunto de
contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as etapas do Neurologia na Boston University Scholl of Medicine, é autor de
desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas, inúmeros livros e criador de uma teoria educacional conhecida
retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa e aplicada no mundo inteiro. Além da notoriedade pública e
profundas mudanças nas anteriores. reconhecimento como um dos mais influentes educadores
Nesse sentido, a passagem dos estágios de deste século, em 1981 recebeu o Mac Arthur Prize Fellowship
desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas e, em 1990, tornou-se o primeiro norte-americano a ser
por reformulação, instalando-se no momento da passagem de condecorado com o Louisville Grawemeyr Award in Educatio,
uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança. prêmios que por sua expressão e grandeza já sintetizam o
Conflitos se instalam nesse processo e são de origem admirável perfil de suas pesquisas e de suas obras.
exógena quando resultantes dos desencontros entre as ações Ninguém melhor que Gardner, entretanto, para falar sobre
da criança e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e ele mesmo. Em seu livro lançado no Brasil no ano 2000 pela
pela cultura e endógenos e quando gerados pelos efeitos da Editora Objetiva (Inteligência - Um conceito reformulado)
maturação nervosa. Esses conflitos são propulsores do descreve-se ao falar sobre seus pensamentos. "Nada em minha
desenvolvimento. juventude diria que eu viria ser um estudioso (e um teórico)
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano da inteligência.
apresentados por Galvão sucedem-se em fases com
predominância afetiva e cognitiva: Quando criança, eu era bom aluno e me saia bem em testes,
Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de vida. portanto a questão da inteligência era relativamente simples
A predominância da afetividade orienta as primeiras reações para mim. Na verdade, em outra vida, talvez eu passasse a
do bebê às pessoas, às quais intermediam sua relação com o defender a visão clássica da inteligência, como tantos de meus
mundo físico; contemporâneos brancos do sexo masculino que já estão
Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos. A envelhecendo. Típico garoto judeu que detestava ver sangue, eu
aquisição da marcha e da prensão, dão à criança maior (e muitos outros em meu mundo) pretendia ser advogado. Só em
autonomia na manipulação de objetos e na exploração dos 1965, ao terminar a minha graduação no Harvard College,
espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da resolvi fazer pós-graduação em psicologia. A princípio, como
função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-se outros adolescentes, eu estava fascinado com as questões da
ao fato da ação do pensamento precisar dos gestos para se psicologia que intrigam o leigo: emoções, personalidade,
exteriorizar. O ato mental "projeta-se" em atos motores. Como psicopatologia. Meus heróis em Sigmund Freud e meu professor,
diz Dantas, para Wallon, o ato mental se desenvolve a partir do o psicanalista Erik Erikson, que havia sido analisado pela filha
ato motor; de Freud, Anna. No entanto, depois de ter conhecido Jerome
- Personalismo, ocorre dos três aos seis anos. Nesse estágio Bruner, um pioneiro na pesquisa da cognição e do
desenvolve-se a construção da consciência de si mediante as desenvolvimento humano, e de ter lido as obras de Bruner e de
interações sociais, reorientando o interesse das crianças pelas seu mestre, o psicólogo suíço Jean Piaget, resolvi fazer pós
pessoas; graduação em psicologia do desenvolvimento cognitivo."
- Categorial. Os progressos intelectuais dirigem o interesse
da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do As pesquisas de Gardner representam verdadeiro símbolo
mundo exterior; educacional contemporâneo, ao sinalizar que o que se
descobre sobre a mente humana, constitui não apenas saber

37 Disponível em: http://revistaeducacao.uol.com.br/formacao-


docente/0/artigo233099-1.asp

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acadêmico, mas instrumento de ação pedagógica conjunção de fatores genéticos e estímulos ambientais
imprescindível. Mostrou de forma coerente que todos os seres desenvolvidos dentro e fora da escola. Uma pessoa sem
humanos possuem diferentes tipos de mente e que pais e distúrbios ou disfunções cerebrais é portador de todas as
professores podem tornar possível uma educação inteligências ainda que seja diversificado o potencial desta ou
personalizada, destacando que na imensa diversidade que daquela;
existe em cada um, deve solidificar-se a certeza de que nenhum A ocorrência de disfunções cerebrais adquiridas ou não,
ser humano é perfeito em tudo, mas todos, absolutamente pode afetar uma ou mais inteligências, sem que isso implique
todos, possuem potencial de grandezas diversas, forças em um comprometimento integral. Em outras palavras, é
pessoais que devidamente reconhecidas coloca uma nova possível neste ou naquele indivíduo a existência de um
linha educacional a serviço do integral desenvolvimento dificuldade ou distúrbio de aprendizagem que afete uma ou
humano e da extrema grandeza da singularidade de sua mente mais inteligências, sem que isso impeça o desenvolvimento
potencial das demais.
O que é Inteligência Cada uma das inteligências pode ser identificada através
de diferentes manifestações e estas, apenas para efeitos
Inteligência é a faculdade de entender, compreender, didáticos, poderiam ser consideradas sub-inteligências. Desta
conhecer. Inteligência é também juízo, discernimento, forma a inteligência linguística por exemplo pode se
capacidade de se adaptar, de conviver. Constitui potencial manifestar através da escrita, da oralidade ou da sensibilidade
biopsicológico não especificamente humano, mas que em e emoções despertadas pela intensidade com que se capta
seres humanos assume dimensão inefável. É, para Gardner, mensagens verbais ou escritas;
uma capacidade para resolver problemas e serve também para O valor maior ou menor que a sociedade empresta a esta
criar ideias ou produtos considerados válidos. As criaturas ou àquela inteligência subordina-se à cultura inerente e ao
humanas possuem nível elevado de inteligência e por isso são tempo e local em que se vive. Em alguns espaços geográficos,
criativas, revelam capacidade de compreender e de inventar e por exemplo, a capacidade musical se sobrepõe à linguística e
ao acolher uma informação, atribuir-lhe significado e produzir em outros atribui-se valor maior a capacidade matemática que
respostas pertinente. a administração de situações emocionais próprias ou em
É a inteligência que permite dar sentido as coisas que terceiros;
vemos e a vida que temos e que nos leva a conversa interior, Ainda que qualquer faixa etária mostre-se sensível ao
resgates de "arquivos" da memória, capacidade de raciocínio, estímulo das inteligências, existem idades em que as mesmas
criação de objetivos e invenção de saídas quando parece não respondem mais favoravelmente aos incentivos. Para a maior
existir indícios de sua existência. Inteligência é saber pensar, parte das inteligências a fase da vida mais sensível ao
possuir vontade para fazê-lo, criar e usar símbolos e graças a progresso estende-se dos dois aos quinze anos de idade. O
eles realizar conquistas extraordinárias, fazendo surgir o mito, cérebro humano é órgão que se compromete pelo desuso e
a linguagem, a arte e a ciência. Somos quem somos porque portanto as diferentes inteligências necessitam de estímulos
lembramo-nos das coisas que nos são próprias e nos diversificados desde a vida pré-natal até idades bastante
emocionamos, e a inteligência faz com que cada ser humano avançadas;
seja um ser único e compreenda plenamente o significado
dessa individualidade. Ao se pesquisar a inteligência humana e a evolução desse
conceito, desde quando a neurologia pode beneficiar-se de
O Que Sabemos e o que ainda não sabemos sobre a estudos do cérebro em pessoas vivas, alguns poucos críticos
Inteligência Humana enfatizaram que falar-se em Inteligências Múltiplas seria
simplesmente "fragmentar-se a idéia de Inteligência", criando-
A certeza de que trabalhando as inteligências múltiplas em se um modismo. Nada mais errado que supor que a
sala de aula se está desenvolvendo linha de ação coerente com identificação de inteligências diferentes "fragmenta" ou
os saberes antropológicos, sociológicos e neuroanatômicos apenas classifica aspectos particularizados de um todo. A
sobre a inteligência humana se apoia em algumas evidências localização cerebral de áreas específicas para operar saberes
indiscutíveis. Entre estas, cabe destacar. específicos - como a área de Broca e de Wernicke para a
Como as inteligências constituem potencial biopsicológico linguagem - mostra que não existe uma inteligência global que
de emprego imediato no dia a dia e recurso essencial para se busca dividir, mas núcleos cerebrais distintos que operam
ajudar-nos a resolver problemas, adaptar-se as circunstâncias, competências específicas, ainda que o cérebro humano
criar e aprender, quem busca trabalhá-las em sala de aula funcione mais ou menos como uma orquestra e áreas
necessita perceber que o conhecimento não é uma "coisa" que diferentes se envolvem para a apresentação de um resultado
vem de fora ou se capta do meio, mas um processo interativo aparentemente único. O fato de se ouvir, por exemplo, o
de construção e reconstrução interior e assim não pode ser destaque do piano em uma melodia não significa que
"transferido" de um indivíduo para outro. Levando-se em reconhecê-lo implica em "fragmentar" a orquestra.
conta essa assertiva descobre-se que o conhecimento é Não existe uma única abordagem pedagógica para o
autoconstruído e as inteligências são educáveis, isto é trabalho com as inteligências múltiplas em sala de aula e,
sensíveis a progressiva evolução, desde que adequadamente portanto, não existem "receitas" definitivas sobre como
trabalhadas. A escola pode ser, portanto, um espaço estimulá-las.
fomentador de novas maneiras de pensar.
Ainda que possam existir debates acadêmicos sobre a Concluindo algumas das evidências destacadas por
quantidade de inteligências que o ser humano possui, a Gardner, seria lícito reafirmar que trabalhar com inteligências
classificação mais aceita é a de Howard Gardner que descreve múltiplas não se afigura como um método de ensino cujo
em cada pessoa a existência de oito ou nove inteligências emprego supõe uma mudança radical na forma como antes se
(Howard Gardner fala-nos em oito inteligências efetivamente trabalhava. Ao contrário, estimular com atividades, jogos e
comprovadas e uma nona (inteligência existencial) que ainda estratégias as diferentes inteligências de nossos alunos é
depende de maior aprofundamento e revisão para se possível, não é complicado, não envolve custos ou despesas
acrescentar as oito conhecidas) claramente diferenciadas. materiais significativas e pode ser desenvolvido para qualquer
faixa etária e nível de escolaridade e em qualquer disciplina
O potencial humano quanto as inteligências é do currículo escolar.
extremamente diversificado e essa diversidade deve-se a

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Mitos e Fantasias em desenvolver projetos para efetivamente conhecer e


estimular mentes, descobrindo em que são efetivamente
A teoria das Inteligências Múltiplas alcançou larga capazes. Uma boa avaliação, portanto, deveria ser "o mais
popularidade em quase todo mundo e, dessa forma, as idéias direta possível", orientando o aprender para fazer e
que enfatizavam seu emprego em sala de aula assumiram verificando como ocorreu essa construção.
inevitáveis desvios. Em uma obra recente Gardner faz uma A essas proposições julgamos interessante acrescentar
análise desses mitos, entre os quais destacamos alguns: que um estímulo às inteligências somente ganha sentido se
Uma variedade de testes necessitam ser desenvolvidos promovido através de um projeto, se estabelecido a partir de
para que possamos avaliar o potencial de cada uma das oito ou objetivos e trabalhados com pertinácia e com competência.
nove inteligências humanas. Não se estimula inteligências acidentalmente ou com ações
É um erro supor que possa se avaliar inteligências por esporádicas.
testes, quantificando esse potencial. Uma avaliação coerente
da inteligência espacial, por exemplo, deve permitir que o A Teoria das Inteligências Múltiplas
aluno explore uma área e perceba se consegue se orientar de
maneira confiável, transferindo essa aprendizagem para áreas Em 1983, Howard Gardner, psicólogo da Universidade de
desconhecidas. Os estímulos, dessa forma, devem conduzir a Harvard concluiu o manuscrito " As Estruturas da Mente" (
um progressivo aperfeiçoamento que um criterioso Artmed, 1994 ) que buscava ultrapassar a noção comum de
diagnóstico, acompanhado de relatórios da ação do aluno (e inteligência, como um potencial que cada ser humano possuía
não testes padronizados) revelará. em maior ou menor extensão e que este potencial pudesse ser
Uma inteligência é mais ou menos como uma disciplina medido por instrumentos verbais padronizados como teste de
escolar e, dessa forma, a Língua Portuguesa por exemplo Q.I. Baseando-se no conceito de que inteligência é a capacidade
deveria explorar competências linguísticas, a Matemática de resolver problemas ou de criar produtos que sejam
exploraria competências lógico-matemáticas e assim por valorizados dentro de um ou mais cenários culturais e
diante. tomando como referência científica evidências biológicas e
Nada mais errado que acreditar nesse mito. A inteligência antropológicas introduziu oito critérios distintos para uma
é uma nova forma de construção de habilidades, baseada em inteligência e propôs sete competência humanas, mais tarde
capacidade e potenciais biológicos e psicológicos e não pode elevadas para oito ou eventualmente nove .
ser confundida com disciplinas escolares, que são A teoria de Gardner mudou de forma significativa o
organizações de saberes aglutinados por pessoas. Em conceito de escola e de aula e abriu novas luzes sobre as
qualquer disciplina é possível trabalhar-se uma ou várias competências humanas, mostrando que o sistema tradicional
inteligências. de avaliação baseado na capacidade de dominar conceitos
escolares específicos necessitava de imperiosa renovação e
Uma inteligência é a mesma coisa que um estilo de que não mais havia sentido em se conceber este aluno mais
aprendizagem ou um método de ensino. inteligente que outro apenas porque dominava com maior ou
menor facilidade as explanações de seu professor ou os
Um estilo de aprendizagem é uma abordagem que se aplica conceitos do livro didático.
da mesma maneira em diferentes conteúdos; um método de Hoje, pouco mais de vinte anos após a publicação dos
ensino é uma sequência de operações com vistas a pensamentos de Gardner, a idéia das inteligências múltiplas
determinados resultados e, dessa forma, o trabalho com evoluiu do campo das especulações e constitui uma nova
estímulos às inteligências permite adaptar-se a diferentes maneira de ensinar e, sobretudo, uma outra forma de conceber
estilos de aprendizagem e sua aplicação não constitui método a capacidade dos alunos e a aula centrada em sua
de ensino que para ser implantado pressupõe a substituição individualidade. A despeito disso tudo, entretanto, ainda existe
do método utilizado. Gardner enfatiza que não existe "receita" algumas dificuldades em se situar com clareza a diferença que
pedagógica única e forma universal de trabalhar-se as Gardner propôs para sua "teoria" e a "prática" da mesma.
múltiplas inteligências. "Teoria" e "prática" parecem ser palavras muito amigas e
que gostam de andar juntas. Mas, enquanto a palavra "teoria"
A teoria das Inteligências Múltiplas é incompatível com a recebe o desdém e desprezo, como algo que valha apenas no
existência de uma inteligência geral. papel mas não possui validade efetiva, a palavra "prática" ao
contrário, recebe quase sempre o aplauso, revelando caráter
A teoria das Inteligências Múltiplas não questiona a de autenticidade e funcionando para valer. "Teoria" significa
existência de uma inteligência geral mas sim seu campo de um conjunto de idéias científicas sistematizadas e pode muitas
conhecimento, admitindo que mesmo pessoas aparentemente vezes assegurar indiscutível validade prática. É, por exemplo,
bem dotadas em uma inteligência pouco serão capazes de o que acontece com a Teoria das Inteligências Múltiplas.
realizar se não forem expostas a matérias que exijam essa Os argumentos propostos por Gardner para mostrar a
inteligência. Quanto mais "inteligente" e diversificado for o multiplicidade das inteligências parecem ser indiscutíveis. A
ambiente e quanto mais incisivas as intervenções de lesão ou disfunção parcial do cérebro humano implica na
mediadores, mais capazes se tornarão as pessoas e menos perda de ações relativas a ou as inteligências especifica a essa
importante será sua herança genética. área atingida e não a todas, assim como a manifestação da
Sintetizando, seria possível afirmar que a Teoria das genialidade humana, destaca que alguns mostram exponencial
Inteligências Múltiplas endossa três proposições essenciais: inteligência linguística, como é o caso de Sheakespeare por
Não somos todos iguais. Todo indivíduo, entretanto, é exemplo, mas outros se projetaram por sua inteligência
portador de forças cognitivas específicas que o diversifica e o musical como Mozart, matemática como ocorreu com Einsten,
singulariza. corporal nitidamente presente em Garrincha, Pelé e outros e
Não temos com igual intensidade todos os tipos de ainda muitas outras.
inteligência pois temos mentes diferentes. Nesse sentido, toda
avaliação que busca comparar ou nivelar seres humanos Ao lançar sua teoria, Gardner falava em sete inteligências,
apresenta-se eivada de preconceitos. mas estudos e pesquisas posteriores elevaram esse número
A educação funciona de modo mais eficaz se essas para nove, admitindo que tal diversidade pode ainda vir a ser
diferenças forem levadas em consideração, se forças pessoais ampliada quando ainda mais profundamente se conhecer a
forem reconhecidas e se pais e professores empenharem-se mente humana. Em linhas gerais, portanto, todas as pessoas

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sem disfunções cerebrais agudas apresentam em diferentes palestrantes e poetas, mostra-se expressiva também em
níveis de grandeza, as inteligências: pessoas que cultuam a palavra e a construção de idéias verbais
ou escritas. Consiste na capacidade de pensar com palavras e
- Espacial, expressa pela capacidade de relacionar o espaço de usar a linguagem para expressar e avaliar significados
próprio com o espaço do entorno, percebendo e complexos. Crianças com expressiva capacidade linguística
administrando distâncias e pontos de referências, bem como surpreendem pelo vocabulário que conhecem e utilizam,
revelando a capacidade em perceber visuo-espacialmente adoram ler, escrever e contar histórias, mostrando interesse
diferentes objetos, eventualmente transformando-os ou por rima, trocadilhos, charadas e jogos com palavras.
combinando-os em novas posições. Extremamente nítida em
grandes arquitetos, manifesta-se também em pessoas que - Sonora ou Musical expressa na capacidade em combinar
revelam facilidade em imaginar e percorrer referências e compor a música, encadeando sons em uma sequência lógica
espaciais, como alguns motoristas de praça de grandes e rítmica e estruturando melodias. É a inteligência que se
cidades. Instiga a capacidade em pensar de maneira manifesta com mais extraordinário esplendor em maestros,
tridimensional e permite que a pessoa possua imagens compositores e muitos outros. Destaca pessoas com extrema
externas e internas dos objetos através do espaço e sensibilidade para a entoação, ritmo, melodia e o tom. Crianças
decodifique com facilidade as informações gráficas. Crianças com expressiva inteligência sonora mostram-se sensíveis a
com elevado nível de inteligência espacial percebem com sons e seus ambientes, recordando com facilidade de ritmos e
facilidade a mudança de algo em um cômodo de sua casa, melodias. As que sentem-se cercadas por ambiente musical,
detectando alterações mesmo sutis em ambientes que motivam-se com instrumentos e incorporam a música como
conhecem. Parecem "pensar" através de imagens visuais e elemento comum as suas vidas. Muitas entre elas acumulam
muitas vezes destacam-se em atividades artísticas ou jogos coleção de CDs e parece que os fones de ouvido fazem parte da
que envolvem montagens. Não poucas são fascinadas por estrutura orgânica de seus rostos.
máquinas e possuem elevada habilidade manual, mas não se
interessam muito por atividades rotineiras, refugiando-se em - Intrapessoal é a inteligência de quem expressa grande
aventuras imaginárias. facilidade para estabelecer relações afetivas com o próprio eu,
construindo uma percepção apurada de si mesmo, fazendo
- Cinestésico-corporal, identificada à capacidade em despontar a autoestima e aprofundando o autoconhecimento
controlar e utilizar o corpo, ou uma parte do mesmo em de sentimentos, temperamentos e intenções. Presente de
atividades motoras complexas e em situações específicas, forma mais acentuada em psicanalistas, mostra-se bem
assim como manipular objetos de formas criativa e caracterizada em assistentes sociais, alguns professores e
diferenciada. Marcante em pessoas que dançam muito bem, outras profissões. Crianças com inteligência intrapessoal
praticam a mímica com precisão ou são hábeis em elevada desde cedo demonstram saber "quem realmente são",
modalidades esportivas diversas. Facilita a sintonização de não se preocupando muito sobre o que pensam a seu respeito.
diferentes habilidades físicas. Crianças com elevada Valorizam a privacidade e ainda que não gostem muito de
inteligência espacial apresentam capacidade incomum em misturarem-se a multidão, costumam ser admiradas pelos
controlar o corpo e expressar-se por mímicas e caretas, colegas.
precisando a toda hora mover-se, retorcer-se usando
sensações corporais para processarem informações, - Interpessoal muito nítida em pessoas que revelam
aprendendo bem menos por ouvir e muito mais por fazer. extrema capacidade em compreender a natureza humana em
outras pessoas, procedendo uma verdadeira "leitura do outro"
- Lógico-matemática, ligada a competência em quanto seus aspectos emocionais, assim como a destacada
compreender os elementos da linguagem lógico-matemática, facilidade para relações interpessoais e a compreensão da
permitindo ordenar símbolos numéricos e algébricos assim dinâmica dos grupos sociais. Crianças com fortes habilidades
como quantidades, espaço e tempo. Presente na Engenharia, nessa inteligência relacionam-se muito bem com outras
na Física e na Matemática, também se manifesta na pessoas, fazem amizade com extrema facilidade e como
contabilidade, programadores de computação e outras apresentam elevada sensibilidade para compreender
profissões que recorrem a lógica e os números. Crianças que sentimentos de terceiros não raramente são escolhidas para
apresentam uma elevada inteligência lógico-matemática liderar grupos, organizar campanhas comunitárias
adoram separar, classificar e organizar objetos e brinquedos,
aprendem a calcular rapidamente e são excelentes em jogos - Existencial, ligada a capacidade de se situar sobre os
que envolvem lógica e estratégia e no manejo e compreensão limites mais extremos do cosmos e também em relação a
dos desafios ligados a computação. elementos da condição humana como o significado da vida, o
sentido da morte, o destino final do mundo físico e ainda
- Naturalista, associada a sensibilidade de percepção e outras reflexões de natureza filosófica ou metafísica. Marcante
compreensão dos elementos naturais e da interdependência em pessoas com forte espiritualidade é a inteligência dos
entre a vida animal e vegetal e os ecossistemas e a leitura filósofos, sacerdotes, xamãs, gurus e ainda outros.
coerente e racional da natureza em todo seu esplendor.
Marcante no naturalista, botânico, jardineiro e paisagista tem De maneira geral é possível crer que todas as pessoas sem
em Darwin seu expoente mais extraordinário. Induz a problemas mentais específicos possuam todas as nove
observações de padrões na natureza, identificando e inteligências com algumas bem mais acentuadas e
classificando sistemas naturais. As crianças com elevada desenvolvidas que as outras. Trabalhos específicos
inteligência naturalista interessam-se muito por animais e desenvolvidos em sala de aula contribuem de forma efetiva
pela vida rural, sabendo quase que intuitivamente separar, para "acordar" todas as inteligências nos alunos, ampliando
organizar e classificar e ilustrar tudo que diz respeito a plantas sua criatividade e desenvolvendo-o de forma coerente e
e sobretudo a animais. holística.

- Linguística, voltada a capacidade em adquirir, Inteligências, Talentos e Aptidões


compreender e dominar as expressões da linguagem
colocando em ação a semântica e a beleza na construção da Já ouvimos não poucas vezes educadores indagarem se o
sintaxe. Manifesta em escritores, romancista, jornalistas, conceito de Inteligências Múltiplas não caracteriza "roupagem

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nova" para o que antes se conhecia como aptidão ou mesmo A presença das inteligências na história evolutiva da
como talento. Não existe necessariamente um erro em humanidade
denominar de aptidão esta ou aquela inteligência, mas
enquanto a idéia de "aptidão" mais se aproxima de Ao que tudo indica desde quanto nossa espécie definiu-se
"habilidade" ou de "capacidade", a inteligência como antes se como "homo sapiens" já se percebia claramente a existência de
observou constitui potencial biopsicológico inerente à espécie diferentes inteligências, marcando pessoas especiais neste ou
e sua validade se expressa pela capacidade de resolver naquele grupo. Em outras palavras, desde antes da invenção
problemas ou de criar algo novo. A "aptidão", "performance" da escrita já era possível detectar em um grupo cultural a
ou mesmo o "talento" parece-nos mais claramente associada a existência de pessoas com maior projeção em cada uma das
idéia de que simbolizam estados avançados desta ou daquela oito ou nove inteligências.
inteligência. O potencial é inerente à evolução, mas a
habilidade é conquista educacional com ou sem a intervenção A sensibilidade da inteligência a uma avaliação
de mediadores. Podemos afirmar, por exemplo, que ao driblar
seus adversários e dessa forma livrar-se do problema de uma Todas as inteligências humanas podem ser percebidas em
marcação cerrada o atleta está explorando sua inteligência suas manifestações, apresentando-se como pouco expressivas
corporal, mas driblará melhor, com mais aguda performance em alguns, moderadas em outros e elevadas em terceiros.
porquê usou essa inteligência com talento ou com maior Embora inexiste um "teste" padrão para quantificar esta ou
habilidade. Ao se assistir o drible de dois atletas não podemos aquela inteligência, todas as culturas sabem manifestar seu
negar a clara evidência de uma inteligência cinestésico- apreço por inteligências elevadas nas manifestações
corporal em ação, mas ao constatar que este dribla melhor que conhecidas. Em outras palavras, qualquer cultura, mesmo as
aquele, podemos inferir que isso ocorre porque possui maior ágrafas, reconhecem a existência de gênios linguísticos, gênios
habilidade, talvez porquê tenha treinado mais intensamente e lógico-matemáticos, gênios musicais e assim por diante.
que essa mesma habilidade poderá ser alcançado por seu
colega se se empenhar cada vez mais, desde é claro que seu Análise de desempenho específico
potencial seja similar.
Muito além da simplicidade do exemplo exposto e Gardner demonstra que, ao examinar estudos psicológicos
desejando propor elementos teóricos (de natureza específicos, é possível identificar inteligências operando de
neurológica, sociológica e antropológica) mais sólidos para maneira quase que isolada uma das outras. Esse fundamentos
caracterizar uma inteligência e, desta forma, isolá-la de nos mostra que raramente percebe-se "gênios absolutos" isto
palavras que podem gerar alguma confusão, Gardner é, pessoas excepcionais em todas as inteligências,
estabeleceu oito fundamentos que caracterizariam os prevalecendo potencialidades magníficas em matemática, na
elementos para aceitarmos uma inteligência. construção de textos, na composição musical e assim por
Esses fundamentos se aplicam as nove inteligência até esta diante.
data aferida, mesmo considerando que cada inteligência possa
manifestar-se através de diferentes aptidões. Os fundamentos A possibilidade de uma codificação através de um sistema
sugeridos por Gardner são: simbólico.

Isolamento de uma ou outra inteligência por lesão cerebral. Cada inteligência possui símbolos próprios universais e
assim como as linguagens faladas e escritas caracterizam a
Uma inteligência pode ser danificada por uma disfunção ou símbolo estrutural da inteligência linguística, os sinais
lesão cerebral específica a área do cérebro em que a mesma aritméticos, geométricos e os números externam os símbolos
encontra-se alojada. Uma pessoa, por exemplo, que sofra uma lógico-matemáticos. Da mesma forma as notas musicais
lesão da área de Broca ou de Wernick (lobo frontal esquerdo) externam símbolos da composição sonora, existem linguagens
apresenta claras deficiências linguísticas e apresentar gráficas espaciais usadas por engenheiros e arquitetos, a ação
problemas para ler, escrever e falar; corporal na dança e nos esportes é de validade internacional
como o é o riso, o choro e outras manifestações espaciais das
A existência de savant emoções inerente as inteligências pessoais.

A palavra savant é usada com frequência para Operações centrais especifica de cada inteligência
determinadas pessoas de exponencial talento em uma ou
outra aptidão desta ou daquela inteligência, mesmo com sérios Da mesma forma como cada uma das inteligências
comprometimentos em suas ações relativas a outras conhecidas usam sistemas simbólicos específicos, existe
inteligências. Existem não poucos autistas com sérios também um conjunto de operações centrais que servem para
problemas linguísticos ou interpessoais, mas com fortíssima acionar atividades inerentes a esta ou aquela inteligência. O
inteligência lógico-matemática ou mesmo musical. Os savants excelente desempenho cinestésico-corporal, por exemplo
revelam inteligência - ou parte da mesma - superior, enquanto inclui a necessidade do domínio de certas rotinas motoras
suas outras inteligências operam em baixo nível. específicas, tal como a construção de um belo texto também
envolve procedimentos centrais específicos à inteligência
Momentos definitos de sua manifestação ao longo da vida linguística.

Cada atividade desta ou daquela inteligência parece Inteligências Múltiplas e a Sala de Aula
apresentar um ciclo desenvolvimental nítido, onde se destaca
a faixa etária em que surge, o momento de maior índice de Constitui mérito indiscutível na obra de Gardner a
desenvolvimento e um padrão próprio e específico de declínio praticidade de sua teoria e, portanto, o uso em sala de aula,
com o envelhecimento. Ainda que a manifestação desse ciclo independente do nível de ensino com o qual se trabalha e o
possa variar de inteligência para inteligência, tende a ser o conteúdo que se busca ministrar. A idéia essencial da teoria é
mesmo em todas as pessoas, independente de sua cultura ou assumir que todo aluno pode expressar saberes através de
de seu ambiente geográfico. diferentes linguagens e que, devidamente estimulado, pode
explorar sua potencialidade de forma diversificada. O texto
abaixo, apenas como exemplo, procura mostrar a extrema

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diversidade dessa aplicação e, nesse sentido, enfatiza uma das Concluindo a síntese sobre a aplicabilidade dos
inúmeras perspectivas de aplicação da teoria das Inteligências fundamentos das idéias de Gardner no contexto da realidade
Múltiplas em sala de aula. de nossas salas de aula, apresentamos o quando-síntese
" Faça de conta que em frente à sala, o professor acabou de abaixo.
fazer uma análise do tema "Capitanias Hereditárias". Se
preferir, ao invés deste, o tema tratado foi a "Como extrair-se
raiz quadrada", "O funcionamento do pâncreas", "O quadro MATERIAI
climato-botânico da Região Sudeste", ou outro tema qualquer. INTELIGÊNCI ALGUMAS AÇÃO
S DE
No exemplo que se dará, o tema é pouco importante e o que AS ATIVIDADES DOCENTE
ENSINO
modela a ação do professor será seu procedimento, Colagens,
ministrando aula desta ou daquela disciplina, para este ou Atividades
gráficos, Explorar o
para aquele nível. artísticas,
frisas do uso de
apresentações
tempo, linguagens
Ao concluir sua exposição e esclarecer dúvidas visuais, metáforas,
mapas, alternativas,
interpretativas, solicita uma síntese sobre o que falou, através visualização e
massa de solicitar a
da qual, alunos organizados em pequenos grupos, deverão se mapas conceituais.
ESPACIAL modelagem transferência
expressar. Alguns poderão fazer uso de uma linguagem textual Concursos
, argila, de textos para
e, dessa forma, apresentarão sua síntese com palavras e, fotográficos,
lápis de cor, desenhos,
portanto, com frases significativas, textos elucidativos, metáforas por
recursos gráficos,
manchetes marcantes, reportagens realistas. Na execução meio de imagens,
táteis. quadros-
desse trabalho, a atividade centrada na expressão verbal, símbolos gráficos
Coleção de síntese
imporá ao aluno um uso consistente de sua inteligência diversos.
fotos.
linguística. Mas, enquanto esse grupo busca a melhor forma de
Solicitar o uso
expressão verbal, um outro por exemplo, pode estar
de
pesquisando o tema para expressar o conteúdo do mesmo,
movimentos
possível de ser exemplificado por equações, médias,
Instrument do corpo para
grandezas, gráficos e proporções.
os de expressar
montagem, conhecimento
Enquanto o primeiro grupo "mergulhou" no tema, mas
tampinhas, s de
buscou resposta linguística; o segundo grupo não fez Teatro, dança,
blocos, disciplinas
pesquisas menos intensas e conclusivas, mas expressou suas mímica, exercícios
equipament descritivas.
respostas por uma visão lógico-matemática. O tema é o de relaxamento,
CINESTÉSICA os Exercícios
mesmo, mas áreas cerebrais diferentes foras usadas por atividades
-CORPORAL esportivos, sobre
grupos diferentes. Da mesma forma, o mesmo tema poderá diversas que
recursos consciência
suscitar a um terceiro grupo uma resposta visuoespacial e, envolvam o uso do
manipuláve física.
assim, buscará sua expressão através de mapas e de gráficos, corpo
is, peças Propostas
de frisas do tempo e de colagens, de mapa conceituais ou
LEGO. sobre
outras manifestações da linguagem pictográfica. Observe que,
Mapas cozinhar,
nesse exemplo, três grupos diferentes, centrados em um
corporais. costurar,
mesmo tema, buscaram seu aprofundamento e sua integral
jardinagem,
significação explorando diferentes inteligências.
realidades
Mas, será que esse tema ou conteúdo - seja ele qual for -
virtuais.
não poderá, por exemplo, ser pesquisado através de uma visão
Calculadora
sonora ou musical e, por essa via, propondo-se como letra de
s, ábacos,
uma samba, valsa ou trovas populares? Será que os alunos
jogos
empenhados nessa busca o estarão estudando menos
matemático
profundamente? Será, por exemplo, que além da linguagem Desafios, Empenhar-se
s, desafios
linguística ou verbal, lógico-matemática, espacial ou sonora problemas, em
que
não seria o mesmo tema um excelente desafio para se propor enigmas, desenvolver a
explorem a
discussões que envolvessem a linguagem corporal cinestésico, atividades capacidade de
naturalista, inter ou intrapessoal? grandeza,
cientificas de expressar
proporções,
Observe que qualquer conteúdo, de qualquer disciplina, experimentação, pensamentos
perspectiva
pode ser analisando segundo a visão doentia e exclusivista de LÓGICO- desafios através de
s. Uso de
uma única inteligência, mas pode também, com alunos se MATEMÁTIC numéricos, gráficos,
escalas
revezando em funções que com o tempo de alternam, ser A pensamentos busca de
diversas.
trabalhado de forma interdisciplinar, valendo-se de outras críticos. Concursos proporções,
Computado
linguagens e, por esse caminho, explorando outras sobre resolução de médias,
r e, quando
inteligências. Percebe-se pelo exposto que usar as problemas lógicos, grandezas e
possível,
inteligências múltiplas em classes populares é tão simples criação de códigos, outros
computado
quanto agir com bom senso. linguagens de elementos
r fora de
computação. lógicos
uso para
Mas, cuidado. Existe o bom senso de ontem e o bom senso
desmontag
de agora. O bom senso egoísta e exclusivista de antigamente
que buscava normatizar a humanidade, valorizando apenas em e
análise.
uma de suas muitas linguagens e, dessa forma, excluindo todos
quantos na mesma não eram excelentes e o bom senso de Excursões, Aquários, Proposição de
agora que, ao admitir o aluno como singularidade holística, atividades terrários, desafios que
NATURALIST
permite a expressão de seu saber através de diferentes formas, diversas ao ar hortas envolvam
A
exercitando diferentes inteligências." livre, experiências coletivas, conhecimento
de classificação pequenos de animais e

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animais e vegetais, museus ou plantas, pessoal de


pesquisas sobre o coleções transposição pesquisas.
mundo animal e naturalistas de temas para Trabalhos em
organização de . um enfoque grupo, organização Jogos
ecossistemas. naturalista, de micro coletivos,
Caminhadas organização cooperativas e relação de
naturalistas, etc. de diários de projetos de apoio atividades
campo e comunitário, sociais, Estímulo a
registros de organização de arquivo de cooperação,
atividades ao INTERPESSO
campanhas projetos de proposta de
ar livre AL
filantrópicas, ação campanhas
Aprendizagem reuniões sociais. comunitári diversas.
rítmica, Propostas para a, fontes de
apresentação de Sugestão para atividades apoio a
corais abordando Gravador, a criação de compartilhadas, ações
temas escolares, coleção de paródias, exercícios de coletivas.
seleção e criação fitas, organização simulações.
de músicas instrument de grupos
envolvendo os os musicais, para
SONORA conteúdos coleção de apresentação
disciplinares. CDs. de temas 3.5 Psicologia do
Dramatizações e Aparelhos escolares com desenvolvimento: aspectos
Concertos. Visitas de ritmos
históricos e biopsicossociais.
a apresentações reprodução diversos e uso
musicais. sonora. de fundo
Vinculação de musical
conceitos à Psicologia do Desenvolvimento38
música.
Estímulos No século XXI psicólogos do desenvolvimento enfrentam
para novos desafios uma vez que as novas concepções de atuação
pesquisas profissional que enfatizam a prevenção e a promoção de saúde
bibliográficas, fazem com que profissionais de várias áreas busquem na
Explanações,
exploração de psicologia do desenvolvimento subsídios teóricos e
debates,
Livros diferentes metodológicos para sua prática profissional. O que está em
organização de
diversos, habilidades questão é o desenvolvimento harmônico do indivíduo, que
telejornais ou
dicionários operatórias integra não apenas um aspecto, mas todas as dimensões do
jornais impressos
de vários como desenvolvimento humano sejam elas: biológicas, cognitivas,
ou murais, jogos
tipos, sintetizar, afetivas ou sociais.
de palavras e
coleção de analisar,
atividades que
jornais e relatar, A delimitação conceitual do campo da Psicologia do
explorem a
LINGÜISTICA revistas, descrever e Desenvolvimento
narração, leitura
portfólios outras, O desenvolvimento humano envolve o estudo de variáveis
ou redação.
sobre desafios afetivas, cognitivas, sociais e biológicas em todo ciclo da vida.
Organização de
temas, sobre Desta forma faz interface com diversas áreas do conhecimento
grupos para
concurso de interpretação como: a biologia, antropologia, sociologia, educação, medicina
debates sobre
redação, de textos, entre outras.
filmes assistidos,
trovas e concursos de Tradicionalmente o estudo do desenvolvimento humano
clubes literários,
outros manchetes, focou o estudo da criança e do adolescente, ainda hoje muitos
concursos linguísti
trovas e dos manuais de psicologia do desenvolvimento abordam
cos.
poemas para apenas esta etapa da vida dos indivíduos.
expressar O interesse pelos anos iniciais de vida dos indivíduos tem
diferentes origem na história do estudo científico do desenvolvimento
conteúdos humano, que se inicia com a preocupação com os cuidados e
Orientação Recursos com a educação das crianças, e com o próprio conceito de
Exploração de infância como um período particular do desenvolvimento.
individual, diversos
atividades No entanto, este enfoque vem mudando nas últimas
exploração de para
que envolvam décadas, e hoje há um consenso de que a psicologia do
pesquisas sobre a autoavaliaç
a significação desenvolvimento humano deve focar o desenvolvimento dos
autoestima, ão,
dos fatos indivíduos ao longo de todo o ciclo vital. Ao ampliar o escopo
aceitação de organização
INTRAPESSO apreendidos de estudo do desenvolvimento humano, para além da infância
produções de
AL no uso diário, e adolescência, a psicologia do desenvolvimento acaba por
individualizadas, portfólios,
ajuda para a fazer interface também com outras áreas da psicologia. Só para
oportunidade de diários,
contextualiza citar algumas áreas temos: a psicologia social, personalidade,
opções para materiais
ção do educacional, cognitiva.
manifestações diversificad
apreendido Assim surge a necessidade de se delimitar esse campo de
diferenciadas do os sobre
no cotidiano atuação, definindo o que há de específico na psicologia do
conhecimento projetos,
vivido. desenvolvimento humano. A necessidade de se integrar ao
adquirido. orientação

38Texto adaptado de Márcia Elia da Mota, disponível em


http://pepsic.bvsalud.org/

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estudo do desenvolvimento humano uma perspectiva pois permitem que se acompanhe o desenvolvimento dos
interdisciplinar, que adote uma metodologia de pesquisa indivíduos ao longo do tempo, ao mesmo tempo em que,
própria, faz com que alguns autores sugiram que o estudo controlam-se as múltiplas variáveis que afetam o
desenvolvimento humano constitua um campo de atuação desenvolvimento.
independente da Psicologia, que tem sido chamado de “Ciência Os teóricos que trabalham na abordagem do Curso da Vida,
do Desenvolvimento Humano”. chamam atenção para algumas das limitações deste tipo de
Pesquisadores do desenvolvimento humano concordam abordagem, que estudam apenas uma coorte de cada vez, não
que um dos objetos de estudo do psicólogo do permitindo inferências sobre o comportamento entre
desenvolvimento é o estudo das mudanças que ocorrem na gerações. Apontam para a necessidade de incluir outras
vida dos indivíduos. Papalia e Olds, por exemplo, definem coortes históricas em estudos sobre o desenvolvimento
desenvolvimento como “o estudo científico de como as pessoas humano, ressaltando a necessidade de estudos longitudinais
mudam ou como elas ficam iguais, desde a concepção até a de coorte, mais amplos que os estudos longitudinais
morte”. tradicionais.
A definição destes autores salienta o fato de que psicólogos Além da Teoria do Curso da Vida, teóricos de diversas
do desenvolvimento estudam as mudanças, mas não nos abordagens chamam a atenção para a necessidade de se
oferece nenhuma informação sobre questões fundamentais ao considerar as questões metodológicas específicas ao estudo do
estudo do desenvolvimento humano. O que muda? Como desenvolvimento e as limitações das metodologias
muda? E quando muda? Estas são perguntas frequentes nas tradicionais Assim, pelas questões acima citadas,
pesquisas sobre o desenvolvimento, e são frequentemente consideramos que uma melhor definição de Psicologia do
abordadas de forma distintas pelas diferentes abordagens Desenvolvimento seria “O estudo, através de metodologia
teóricas que descrevem o desenvolvimento humano. específica e levando em consideração o contexto sócio
Dizer que ao longo do tempo mudanças ocorrem na vida histórico, das múltiplas variáveis, sejam elas cognitivas,
dos indivíduos não nos esclarece estas questões. O tempo é afetivas, biológicas ou sociais, internas ou externas ao
apenas uma escala, não é uma variável psicológica. Portanto, é indivíduo que afetam o desenvolvimento humano ao
preciso entender como as condições internas e externas ao longo da vida”.
indivíduo afetam e promovem essas mudanças. As mudanças Através da identificação dos fatores que afetam o
no desenvolvimento são adaptativas, sistemáticas e desenvolvimento humano podemos pensar sobre trabalhos de
organizadas, e refletem essas situações internas e externas ao intervenção mais eficazes, que levem a um desenvolvimento
indivíduo que tem que se adaptar a um mundo em que as harmônico do indivíduo. Sendo assim, os conhecimentos
mudanças são constantes. gerados por essa área da psicologia trazem grandes
Variáveis internas podem ser entendidas como aquelas contribuições para os trabalhos de prevenção e promoção de
ligadas à maturação orgânica do indivíduo, as bases genéticas saúde. Aqui a concepção de saúde adquire uma perspectiva
do desenvolvimento. mais ampla e engloba os diversos contextos que fazem parte
Recentemente, os processos inatos que promovem o da vida dos indivíduos (escola, trabalho, família).
desenvolvimento humano voltam a ser discutidos por teóricos O desenvolvimento humano39 se realiza em períodos que
do desenvolvimento humano. se distinguem entre si pelo predomínio de estratégias e
As variáveis externas são aquelas ligadas à influência do possibilidades específicas de ação, interação e aprendizagem.
ambiente no desenvolvimento. As abordagens sistêmicas de Os períodos de desenvolvimento são, normalmente,
investigação do desenvolvimento humano há muito chamam referidos como infância, adolescência, maturidade e velhice. É
atenção para a importância de se entender as diversas mais adequado, porém, pensarmos o processo de
interações que ocorrem nos múltiplos contextos em que o desenvolvimento humano em termos das transformações
desenvolvimento se dá. Incluindo-se nesta discussão uma sucessivas que o caracterizam, transformações que são
análise do momento histórico em que o indivíduo se marcadas pela evolução biológica (que é constante para todos
desenvolve. os seres humanos) e pela vivência cultural.
Biaggio argumenta que a especificidade da psicologia do
desenvolvimento humano está em estudar as variáveis Plasticidade Cerebral
externas e internas aos indivíduos que levam as mudanças no O cérebro humano apresenta uma grande plasticidade.
comportamento em períodos de transição rápida (infância, Plasticidade é a possibilidade de formação de conexões entre
adolescência e envelhecimento). Teorias contemporâneas do neurônios a partir das sinapses. A plasticidade se mantém pela
desenvolvimento aceitam que as mudanças são mais marcadas vida toda, embora sua amplitude varie segundo o período de
em períodos de transição rápida, mas mudanças ocorrem ao formação humana. Assim é que, quanto mais novo o ser
longo de toda a vida do indivíduo, não só nestes períodos. humano, maior plasticidade apresenta. Certas conexões se
Portanto, é preciso se ampliar o escopo do entendimento do fazem com uma rapidez muito grande na criança pequena. É
que é o estudo do desenvolvimento humano. isto que possibilita o desenvolvimento da linguagem oral, a
Para que se leve a termo estas considerações, as pesquisas aprendizagem de uma ou mais línguas maternas
em desenvolvimento humano utilizam metodologia específica, simultaneamente, o domínio de um instrumento musical, o
entre elas a mais comumente usada são os estudos desenvolvimento dos movimentos complexos e a perícia de
longitudinais. A “International Society for the Study of alguns deles, como aqueles envolvidos no ato de desenhar, de
Behavioral Development” lançou em 2005 uma edição especial correr, de nadar...
intitulada “Longitudinal Research on Human Development: Consequentemente a infância é o período de maior
Approachs, Issues and New Directions”. Nesta edição se discute plasticidade e isto atende, naturalmente, ao processo intenso
as contribuições e limitações dos estudos longitudinais para a de crescimento e desenvolvimento que ocorre neste período.
produção do conhecimento na psicologia do desenvolvimento. Assim, a plasticidade atende às necessidades da espécie.
Cillessen ressalta que estudos longitudinais se aplicam as Que possibilidades concretas são estas de formação de
várias áreas do conhecimento não apenas a Psicologia do conexões? O cérebro humano dispõe de cerca de 100 bilhões
Desenvolvimento. Também não se aplicam apenas a estudos de neurônios, sendo que cada um pode chegar a estabelecer
de longo prazo e com muitos indivíduos, mas na psicologia do cerca de 1000 sinapses, em certas circunstâncias ainda
desenvolvimento adquirem uma importância fundamental, mais. Desta forma, as possibilidades são de trilhões de

39 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag1.pdf

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conexões, o que significa que a capacidade de aprender de caminhos de desenvolvimento. O computador é um bom
cada um de nós é absolutamente muito ampla. exemplo: modificou as formas de lidar com informações,
Enquanto espécie, o ser humano apresenta, desde o provocando mudanças nos caminhos da memória. A presença
nascimento, uma plasticidade muito grande no cérebro, de novos elementos imagéticos e cinestésicos repercute no
podendo desenvolver várias formas de comportamento, desenvolvimento de funções psicológicas como a atenção e a
aprender várias línguas, utilizar diferentes recursos e imaginação.
estratégias para se inserir no meio, agir sobre ele, avaliar, Considerando, então, que o cérebro se desenvolve do
tomar decisões, defender-se, criar condições de sobrevivência diálogo entre a biologia da espécie e a cultura, verifica-se que,
ao longo de sua vida. na escola, o currículo é um fator que interfere no
A plasticidade cerebral também permite que áreas do desenvolvimento da pessoa.
cérebro destinadas a uma função específica possam assumir Os “conteúdos” escolhidos para o currículo irão, sem
outras funções, como, por exemplo, o córtex visual no caso das dúvida, ter um papel importante na formação. As atividades
crianças que nascem cegas. Como esta parte do cérebro não para conduzirem às aprendizagens, precisam estar adequadas
será “chamada a funcionar”, pois o aparelho da visão apresenta às estratégias de desenvolvimento próprias de cada idade. Em
impedimentos (então não manda informação a partir da outras palavras, a realização do currículo precisa mobilizar
percepção visual para o cérebro), ela poderá assumir outras algumas funções centrais do desenvolvimento humano, como
funções. a função simbólica, a percepção, a memória, a atenção e a
Plasticidade cerebral é, também, a possibilidade de realizar imaginação.
a “interdisciplinaridade” do cérebro: áreas desenvolvidas por
meio de um tipo de atividade podem ser “aproveitadas” para Linguagem e Imagens mentais: Percepção, Memória e
aprender outros conhecimentos ou desenvolver áreas relativas Imaginação Desenvolvimento da Função Simbólica
a outro tipo de atividade. Por exemplo, áreas desenvolvidas pela A partir da sua ação e interação com o mundo (a natureza,
música, como a de ritmo, são “aproveitadas” no ato da leitura da as pessoas, os objetos) e das práticas culturais, a criança
escrita ou a de divisão do tempo na aprendizagem de constitui o que chamamos de função simbólica, ou seja, a
matemática. possibilidade de representar, mentalmente, por símbolos o
que ela experiencia, sensivelmente, no real.
A ação da criança depende da maturação orgânica e das O desenvolvimento da função simbólica no ser humano é
possibilidades que o meio lhe oferece: ela não poderá realizar de extrema importância, uma vez que é por meio do exercício
uma ação para a qual não tenha o substrato orgânico, assim desta função que o ser humano pode construir significados e
como não fará muitas delas, mesmo que biologicamente apta, acumular conhecimentos.
se a organização do seu meio físico e social não propiciar sua Todo ensino na escola, de qualquer área do conhecimento,
realização ou se os adultos não a ensinarem. implica na utilização da função simbólica. As atividades que
O ser humano aprende somente as formas de ação que concorrem para a formação da função simbólica variam
existirem em seu meio, assim como ele aprende somente a conforme o período de desenvolvimento. Por exemplo, o
língua ou as línguas que aí forem faladas. As estratégias de desenho e a brincadeira de faz-de-conta são atividades
ação e os padrões de interação entre as pessoas são definidos simbólicas próprias da criança pequena, que antecedem a
pelas práticas culturais. escrita: na verdade, elas criam as condições internas para que
Isto significa que a cultura é constitutiva dos processos de a criança aprenda a ler e a escrever.
desenvolvimento e de aprendizagem. A linguagem escrita, a matemática, a química, a física, o
A criança se constitui enquanto membro do grupo por sistema de notação da dança, da música são manifestações da
meio da formação de sua identidade cultural, que possibilita a função simbólica. As aprendizagens escolares são
convivência e sua permanência no grupo. Simultaneamente ela apropriações de conhecimentos formais, ou seja,
constitui sua personalidade que a caracterizará como conhecimentos organizados em sistemas. Sistematizar é
indivíduo único. estabelecer conceitos, ordená-los em níveis de complexidade
Os comportamentos e ações privilegiados em cada cultura com regras internas que regulam a relação entre os elementos
são, então, determinantes no processo de desenvolvimento da que os compõem. Todo conhecimento formal é representado,
criança. simbolicamente, pela linguagem de cada sistema.
A vida no coletivo sempre envolve a cultura: as
brincadeiras, o faz de conta, as festas, os rituais, as celebrações Por exemplo:
são todas situações em que a criança se constitui como ser de a) a2 = b2 + c2
cultura. b) 15 + 36 = 51
c) O gato correu atrás do cachorro.
Desenvolvimento cultural O cachorro correu atrás do gato
O desenvolvimento tecnológico e o processo de
globalização da informação por meio da imagem modificaram
os processos de desenvolvimento cultural por introduzirem Em b e c temos uma regra importante que é o valor
novas formas de mediação. As novas gerações desenvolvem-se posicional: a posição dos elementos simbólicos determina o
com diferenças importantes em relação às gerações significado (1 e 5) 15 é diferente de 51. O mesmo se aplica ao
precedentes, por meio, por exemplo, da interação com a gato que corre atrás do cachorro, em que se explicita a ação
informática, com as imagens presentes por meio urbano inversa do cachorro que corre atrás do gato.
(várias formas de propaganda, como cartazes, outdoors A função simbólica é a atividade mais básica das ações que
móveis). O mesmo acontece com crianças nas zonas rurais com acontecem na escola, tanto do educador como do educando.
o advento da eletricidade e da TV, ou com crianças indígenas Quando os elementos do currículo não mobilizam
que passaram a experienciar o processo de escolarização e, adequadamente o exercício desta função, a aprendizagem não
também, em vários casos a presença de novos instrumentos se efetua.
culturais como o rádio, a TV, câmeras de vídeo, fotografia, Nesta dimensão do simbólico, as artes destacam-se, pois
entre outros. são elas as formas mais complexas de atividade simbólica
O desenvolvimento do cérebro é função da cultura e dos humana. Anteriores aos conhecimentos formais, elas
objetos culturais existentes em um determinado período propiciaram a estruturação dos movimentos e das imagens de
histórico. Novos instrumentos culturais levam a novos

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forma que eles pudessem evoluir culturalmente para sistemas Quanto à natureza, temos vários tipos de memória. Temos
de registros. a memória implícita, a memória explícita e a operacional. A
memória explícita pode ser semântica ou episódica.
Percepção Para as aprendizagens escolares, precisam ser mobilizadas
A percepção é realizada pelos cinco sentidos externos. O a memória explicita semântica e a memória operacional.
ser humano desenvolve estes sentidos desde que não haja Para a formação de novas memórias dos conteúdos
impedimentos nos órgãos dos sentidos ou nas estruturas escolares ao aluno precisa, desde o início da escolarização, ser
cerebrais que processam a percepção de cada um deles. ensinado o que fazer e como para aprender os conhecimentos
Quando isto acontece, um sentido “compensa” o outro: a envolvidos nas aprendizagens escolares. O aluno precisa ser
pessoa desenvolve mais o tato quando não enxerga, capaz de “refazer” o processo da aprendizagem. Refazer
desenvolve mais a visão quando não ouve. Nestes casos, implica tanto em recapitular o conteúdo ensinado, como em
também, o ser humano pode desenvolver os dois subsentidos retomar as atividades (humanas) que o levaram a “guardar” o
externos que são a vibração e o calor. conteúdo na memória de longa duração.
Isso revela que os sentidos funcionam com
interdependência, o que tem uma relevância fundamental para Memória explícita semântica
os professores, pois o ensino deve mobilizar várias dimensões Também chamada de declarativa, a memória explícita
da percepção para que o aluno possa “guardar” conteúdos na semântica inclui as memórias que podem ser explicitadas pela
memória de longa duração. linguagem. Este tipo de memória engloba aquilo que pode ser
Há maior empenho em perceber algo quando há algum lembrado por meio das imagens, símbolos ou sistemas
interesse neste “algo”. Por exemplo, quando alguém ouve uma simbólicos. A capacidade da memória declarativa está ligada à
música de um cantor de quem gosta muito, fica atento e evoca organização de informações em padrão.
a melodia ou a letra. Se for uma canção nova e se reconhece a Pesquisas demonstram que o ser humano se lembra “mais
voz do cantor, mobiliza os processos mentais da memória facilmente” daquilo que está organizado segundo regras. Isto
auditiva a partir da percepção auditiva, ou seja, seleciona a implica na existência de padrões internos. Todas as linguagens
canção, destacando-a das outras informações sonoras e/ou são organizadas por padrões: a linguagem das ciências, das
ruídos presentes no ambiente. várias áreas do conhecimento, a linguagem escrita, a
Por outro lado, a percepção pode criar um interesse novo. matemática, a cartográfica, a linguagem da dança, da música.
Ao ser introduzida a um conhecimento novo, uma pessoa pode Toda atividade artística também depende de utilização de
se interessar ou não por ele, dependendo das estratégias elementos que se organizam em padrões, que têm regras
utilizadas por quem o introduz. Assim, em sala de aula, não é próprias em cada forma de arte.
somente o conteúdo que motiva, mas, sobretudo, como o Na escrita, os padrões aparecem nas cinco dimensões da
professor trabalha com o conteúdo, seja ele da escrita, artes ou linguagem, embora apareçam, mais fortemente, na sintaxe. Por
ciências. isto, a sintaxe é o elemento forte, o instrumentador da língua
A percepção visual é o processamento de atributos do escrita. A palavra solta é um símbolo, a palavra na construção
objeto como cor, forma e tamanho. Ela acontece em regiões do sintática surge como estrutura. Na linguagem oral humana, o
córtex cerebral e há fortes indicações de que estas regiões eixo forte do padrão é o verbo. Há maior resiliência no cérebro
sejam as mesmas ou estejam muito próximas daquelas que para os símbolos que representam a ação humana, uma vez
“guardariam” a memória dos objetos. Desta forma, percepção que o movimento é o grande recurso na espécie para o
e memória estão muito próximas nas aprendizagens escolares. desenvolvimento cultural e tecnológico, além de ser a matéria
bruta primeira da comunicação entre humanos e de expressão
Memória das emoções.
Toda aprendizagem envolve a memória. Todo ser humano As pessoas tendem a memorizar, mais facilmente, aquilo
tem memória e utiliza seus conteúdos a todo o momento. São em que elas conseguem aplicar padrões. Para as
três os movimentos da memória: o de arquivar, o de evocar e aprendizagens escolares isto é fundamental: o ensino bem
o de esquecer. Ao entrar em contato com algo novo, o ser sucedido é aquele que “instrumentaliza” a pessoa para
humano pode criar novas memórias, ou seja, arquiva este construir, aplicar, reconhecer e “manipular” padrões.
conhecimento, experiência ou ideia em sua memória de longa
duração. As impressões gravadas na memória de longa Memória operacional
duração, a partir das experiências vividas, podem ser Como o próprio nome diz, a memória operacional se ocupa
“evocadas”, trazidas à consciência. Outras experiências, das operações, ou seja, um sistema de ações organizadas,
informações, vivências, imagens e ideias são esquecidas. segundo a natureza do comportamento. Por exemplo, está na
Sabemos que estes movimentos têm uma participação do memória operacional o comportamento de andar, de dirigir,
sistema límbico no qual se originam nossas emoções. A de dançar. São comportamentos que se efetuam, muito
memória é modulada pela emoção. Isto quer dizer que os rapidamente, para os quais não há “tempo” para comandos do
estados emocionais podem “interferir”, facilitando ou cérebro. São comportamentos que têm uma ordem de
reforçando a formação de novas memórias, assim como movimentos a ser seguida e esta ordem já está “fixada” na
podem, também, enfraquecer ou dificultar a formação de uma memória.
nova memória. Na memória operacional estão as conjugações verbais, isto
Quanto ao tempo, os tipos de memória são muito é, os tempos futuro, presente e passado do verbo. Assim, a
importantes para o educador, pois as aprendizagens escolares organização da ação no tempo se realiza com a participação
dependem da formação de novas memórias de longa duração. deste tipo de memória. Este fato tem implicações para as
Muitas vezes, no entanto, os conteúdos ficam no nível da curta aprendizagens escolares. Com estas descobertas somos
duração e desaparecem rapidamente. O desafio da pedagogia levados a rever o ensino da sintaxe em português: a gramática
é formular metodologias de ensino que transformem esta é necessária para o aluno, pois fornece estrutura para a
primeira ação da memória (curta duração) em memórias de apropriação e organização da linguagem escrita e a
longa duração. É importante mencionar aqui que temos, organização das informações em todas as matérias.
também, a possibilidade de formar uma memória ultrarrápida
que desaparece após a sua utilização, como quando, por
exemplo, gravamos um número de telefone para discá-lo e,
logo em seguida, já o esquecemos.

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APOSTILAS OPÇÃO

Imaginação - A Capacidade Imaginativa na Espécie significativas entre elementos que não estavam conectados
Humana entre si. A imaginação cria condições de aprendizagem.
Se considerarmos a evolução de nossa espécie, veremos Temos assim que a relação entre imaginação e memória
que ela é pautada pela invenção, ou seja, pela criação de tem sentido duplo: a base para o funcionamento da imaginação
objetos, de sistemas, de linguagens, tecnologia, teorias, ciência, são os elementos que estão contidos na memória e o próprio
arte, códigos etc. Toda produção cultural é resultante de um funcionamento da imaginação desenvolve a memória (por
processo cumulativo de invenções, pequenas e grandes, que meio do processo imaginativo, novas mediações semióticas
dão base para as invenções futuras. são realizadas, dando à pessoa uma maior complexidade aos
A comunicação, atividade primordial da espécie, ganha a sistemas contidos na memória de longa duração).
cada geração novos processos, novas tecnologias. O ser
humano dedica grande parte de sua criatividade a ampliar e Porque a imaginação é importante na aprendizagem?
desenvolver meios de comunicação e meios de transporte que
facilitem os processos comunicativos e que tornem mais ágeis 1. Ela está na origem da construção do conhecimento
os deslocamentos das pessoas. que vamos ensinar.
A possibilidade de criar depende, na nossa espécie, da O conhecimento científico e o conhecimento estético foram
imaginação, função psicológica pela qual nós somos capazes de produzidos a partir do exercício da imaginação humana nos
unir elementos percebidos e experiências em novas redes de vários períodos históricos.
conexão. O funcionamento da imaginação e seu
desenvolvimento, embora relacionados às outras funções 2. Ela está na origem do conhecimento que será
psicológicas superiores, têm uma grande autonomia e se construído pelo aluno.
manifestam tanto na ação como no ato de aprender. A imaginação motiva. Muitos educadores concordarão que
Desta forma, podemos dizer que para as aprendizagens a motivação é um fator importante para o educando
escolares a imaginação desempenha um papel central e deve aprender. Motivar implica em mobilização para, interesse
ser considerada no planejamento, na alocação de tempo das em, envolvimento com o objeto de aprendizagem.
atividades dentro e fora da sala de aula, nas situações comuns Esta disponibilidade para aprender envolve, do ponto de
do cotidiano escolar. Os alunos devem, também, ser vista psicológico, a imaginação.
acompanhados avaliativamente na evolução de sua
imaginação. Por exemplo, podemos motivar o aluno para um fenômeno
científico que será estudado com o concurso da mobilização da
A ligação entre imaginação e memória imaginação: como será que a energia elétrica surge na
Vygotsky trata da diferença entre reprodução e criação: represa? Como será que a luz chega à lâmpada?
ambas atividades têm apoio na memória, mas diferem pelo Que será que acontece com a semente debaixo da terra?
alcance temporal. Reproduzir algo, mentalmente, se apoia na Como será que o computador guarda tanta informação?
experiência sensível anterior. Por exemplo, construo uma Porque o rio muda de cor?
imagem mental da casa onde moravam meus avós, pelos Levantar hipóteses para qualquer destas questões implica
elementos gravados na memória, mas crio uma imagem em ter liberdade de pensamento. Isto é, a capacidade
mental da casa dos avós de uma personagem em um romance imaginativa no ser humano tem como base a liberação da
a partir dos elementos oferecidos pelo autor. Ou seja, no experiência sensível imediata, desta forma a pessoa pode lidar,
segundo caso uso a imaginação para criar este espaço livremente, com o acervo mental que detém de imagens,
utilizando, com certeza, elementos percebidos, anteriormente, informações, sensações colhidas nas várias experiências de
mas que se combinam entre si, de acordo com a relação vida, juntamente com as emoções e sentimentos que as
dialógica estabelecida com o texto no ato da leitura, acompanharam.
diferentemente, do primeiro caso em que busco a O desenvolvimento humano e a aprendizagem, na escola,
fidedignidade da imagem mental, tendo a casa concreta como envolvem, precisamente, esta dialética de receber informações
referencial. por meio dos sentidos e ter a possibilidade de ir além delas
pelas funções mentais.
Vygotsky coloca que a primeira experiência se apoia na
análise do passado. Ela é uma reprodução do que se viveu, O desenvolvimento humano na teoria de Piaget
enquanto que no segundo é uma realização do presente De acordo com a publicação de Marcia Regina Terra40 o
projetada no futuro. A criação literária dá esta possibilidade de estudo do desenvolvimento do ser humano constitui uma área
partilhamento na criação, pois possibilita ao leitor a superação do conhecimento da Psicologia em que concentram-se no
do texto para a criação das imagens de cada personagem, que esforço de compreender o homem em todos os seus aspectos,
é constituída pelos dados oferecidos de sua personalidade, de englobando fases desde o nascimento até o seu mais completo
suas ações, de suas formas de pensamento, criação de imagens grau de maturidade e estabilidade. Tal esforço, conforme
do contexto. mostra a linha evolutiva da Psicologia, tem culminado na
A imaginação na realidade não se “desprega” da memória, elaboração de várias teorias que procuram reconstituir, a
mas recria com os elementos da memória. Imaginar implica, partir de diferentes metodologias e pontos de vistas, as
portanto, em se liberar das conexões que estão feitas dos condições de produção da representação do mundo e de suas
elementos percebidos, para “reutilizar” estes elementos em vinculações com as visões de mundo e de homem dominantes
outras configurações. em cada momento histórico da sociedade.
Temos aí duas implicações importantes: primeiramente, Assim, dentre essas tantas teorias tem-se a de Jean Piaget,
que a imaginação não é dada na espécie, é construída. Segundo, que, como as demais, busca compreender o desenvolvimento
que ela é parte integrante do processo de aprendizagem, do ser humano. No entanto, ela se destaca de outras pelo seu
porque aprender significa, exatamente, ser capaz de caráter inovador quando introduz uma 'terceira visão'
estabelecer conexões entre informações, construindo representada pela linha interacionista que constitui uma
significado. Podemos ver que, neste segundo caso, a tentativa de integrar as posições dicotômicas de duas
imaginação é base para o estabelecimento destas novas redes, tendências teóricas que permeiam a Psicologia em geral -
uma vez que ela é a função psicológica que estabelece relações o materialismo mecanicista e o idealismo - ambas

40 http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/

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APOSTILAS OPÇÃO

marcadas pelo antagonismo inconciliável de seus Psicologia Psicologia


postulados que separam de forma estanque o físico e o Interacionismo
Objetivista Subjetivista
psíquico. Materialismo
Um outro ponto importante a ser considerado, segundo Idealismo Piaget
mecanicista
estudiosos, é o de que o modelo piagetiano prima pelo rigor Privilegia o
científico de sua produção, ampla e consistente ao longo de 70 psiquismo, para
anos, que trouxe contribuições práticas importantes, Privilegia o
ela o
principalmente, ao campo da Educação - muito embora, dado externo,
conhecimento é
curiosamente aliás, a intenção de Piaget não tenha assim todo o É um “meio termo”
anterior à
propriamente incluído a ideia de formular uma teoria conhecimento entre o objetivismo
experiência, ou
específica de aprendizagem. vem da e o subjetivismo.
seja, é o
Tendo em vista o objetivo da teoria piagetiana que de experiências do
indivíduo que
acordo com Coll e Gillièron é "compreender como o sujeito se indivíduo.
“age” sobre o
constitui enquanto sujeito cognitivo, elaborador de
objeto.
conhecimentos válidos" cabe algumas considerações sobre o
É o meio Nessa visão o
método piagetiano sobre o desenvolvimento humano.
ambiente e processo evolutivo
objetos que As vivências humano tem uma
1. A visão interacionista de Piaget: a relação de
cercam o inatas e origem biológica
interdependência entre o homem e o objeto do
indivíduo bem inerentes ao ser que é ativada pela
conhecimento
como suas humano que ação e interação do
Introduzindo uma terceira visão teórica representada pela
experiências possibilitam o organismo com o
linha interacionista, as ideias de Piaget contrapõem-se,
conforme mencionamos mais acima, às visões de externas que conhecimento. meio ambiente -
possibilitam o físico e social - que
duas correntes antagônicas e inconciliáveis que permeiam a
conhecimento o rodeia.
Psicologia em geral: o objetivismo e o subjetivismo. Ambas as
correntes são derivadas de duas grandes vertentes da Filosofia
(o idealismo e o materialismo mecanicista) que, por sua vez, 2. O processo de equilibração: a busca pelo
são herdadas do dualismo radical de Descartes que propôs a pensamento lógico
separação estanque entre corpo e alma, id est, entre físico e Pode-se dizer que o "sujeito epistêmico" protagoniza o
psíquico, ou seja, para ele havia uma ruptura radical entre o papel central do modelo piagetiano, pois a grande
corpo e a alma que eram distintos e independentes entre si. preocupação da teoria é desvendar os mecanismos
Assim sendo, a Psicologia objetivista, privilegia o dado processuais do pensamento do homem, desde o início da sua
externo, afirmando que todo conhecimento provém da vida até a idade adulta.
experiência; e a Psicologia subjetivista, em contraste, calcada Nesse sentido, a compreensão dos mecanismos de
no substrato psíquico, entende que todo conhecimento é constituição do conhecimento, na concepção de Piaget,
anterior à experiência, reconhecendo, portanto, a primazia do equivale à compreensão dos mecanismos envolvidos na
sujeito sobre o objeto. formação do pensamento lógico, matemático. Como lembra La
Desta forma as duas teorias distintas entre si privilegiam Taille, "(...) a lógica representa para Piaget a forma final do
cada uma a sua proposta ora o subjetivismo, as experiências equilíbrio das ações. Ela é um sistema de operações, isto é, de
internas, as vivências e tudo que é inerente ao indivíduo e ora ações que se tornaram reversíveis e passíveis de serem
o objetivismo com tudo que é externo ao indivíduo não compostas entre si'".
havendo assim um meio termo entre ambas. Com base nisso Piaget sustenta que a gênese do
Sendo assim, considerando insuficientes essas duas conhecimento está no próprio sujeito, ou seja, o pensamento
posições para explicar o processo evolutivo da filogenia lógico não é inato ou tampouco externo ao organismo mas é
humana, Piaget formula o conceito de epigênese, fundamentalmente construído na interação homem-objeto,
argumentando que "o conhecimento não procede nem da assim o desenvolvimento da filogenia humana se dá através de
experiência única dos objetos nem de uma programação inata um mecanismo auto regulatório que tem como base condições
pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com biológicas (que são inatas) e que são ativadas pela ação e
elaborações constantes de estruturas novas". interação do organismo com o meio ambiente tanto físico
Quer dizer, o processo evolutivo da filogenia humana tem quanto social.
uma origem biológica que é ativada pela ação e interação do Está implícito nessa ótica de Piaget que o homem é
organismo com o meio ambiente - físico e social - que o rodeia, possuidor de uma estrutura biológica que o possibilita
significando entender com isso que as formas primitivas da desenvolver o mental, no entanto, esse fato por si só não
mente, biologicamente constituídas, são reorganizadas pela assegura o desencadeamento de fatores que propiciarão o seu
psique socializada, ou seja, existe uma relação de desenvolvimento, haja vista que este só acontecerá a partir da
interdependência entre o sujeito conhecedor e o objeto a interação do sujeito com o objeto a conhecer. Por sua vez, a
conhecer. relação com o objeto, embora essencial, da mesma forma
Esse processo, por sua vez, se efetua através de um também não é uma condição suficiente ao desenvolvimento
mecanismo auto regulatório que consiste no processo de cognitivo humano, uma vez que para tanto é preciso, ainda, o
equilibração progressiva do organismo com o meio em exercício do raciocínio. Por assim dizer, a elaboração do
que o indivíduo está inserido. pensamento lógico demanda um processo interno de reflexão.
Deste modo considera-se que as experiências internas, Tais aspectos deixam à mostra que, ao tentar descrever a
inatas do indivíduo em relação direta com o meio externo origem da constituição do pensamento lógico, Piaget focaliza o
é o que produz o conhecimento, ou seja, o social em processo interno dessa construção.
conjunto com o individual é que forma a estrutura Simplificando ao máximo, o desenvolvimento humano, no
completa do ser humano e, a cada novo contato com o modelo piagetiano, é explicado segundo o pressuposto de que
meio existem reorganizações para que se atinja existe uma conjuntura de relações interdependentes entre o
novamente o estado de equilíbrio o indivíduo com o meio sujeito conhecedor e o objeto a conhecer. Esses fatores que são
que o cerca. complementares envolvem mecanismos bastante complexos e
intrincados que englobam o entrelaçamento de fatores que são

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complementares, tais como: o processo de maturação do adaptação intelectual (...) É muito difícil, se não impossível,
organismo, a experiência com objetos, a vivência social e, imaginar uma situação em que possa ocorrer assimilação sem
sobretudo, a equilibração do organismo ao meio. acomodação, pois dificilmente um objeto é igual a outro já
O conceito de equilibração torna-se especialmente conhecido, ou uma situação é exatamente igual a outra.
marcante na teoria de Piaget pois ele representa o fundamento Vê-se nessa ideia de "equilibração" de Piaget a marca da
que explica todo o processo do desenvolvimento humano. sua formação como biólogo que o levou a traçar um paralelo
Trata-se de um fenômeno que tem, em sua essência, um entre a evolução biológica da espécie e as construções
caráter universal, já que é de igual ocorrência para todos os cognitivas. Tal processo pode ser representado pelo seguinte
indivíduos da espécie humana mas que pode sofrer variações processo:
em função de conteúdos culturais e do meio em que o
indivíduo está inserido. Nessa linha de raciocínio, o trabalho
de Piaget leva em conta a atuação de dois elementos básicos ao
desenvolvimento humano: os fatores invariantes e os fatores
variantes.

(a) Os fatores invariantes: Piaget postula que, ao nascer,


o indivíduo recebe como herança uma série de estruturas
biológicas - sensoriais e neurológicas - que permanecem
constantes ao longo da sua vida. São essas estruturas
biológicas que irão predispor o surgimento de certas
estruturas mentais. Em vista disso, na linha piagetiana,
considera-se que o indivíduo carrega consigo duas marcas Dessa perspectiva, o processo de equilibração pode ser
inatas que são a tendência natural à organização e à adaptação, definido como um mecanismo de organização de estruturas
significando entender, portanto, que, em última instância, o cognitivas em um sistema coerente que visa a levar o indivíduo
'motor' do comportamento do homem é inerente ao ser. a construção de uma forma de adaptação à realidade. Haja
(b) Os fatores variantes: são representados pelo conceito vista que o "objeto nunca se deixa compreender totalmente", o
de esquema que constitui a unidade básica de pensamento e conceito de equilibração sugere algo móvel e dinâmico, na
ação estrutural do modelo piagetiano, sendo um elemento que medida em que a constituição do conhecimento coloca o
se transforma no processo de interação com o meio, visando à indivíduo frente a conflitos cognitivos constantes que
adaptação do indivíduo ao real que o circunda. Com isso, a movimentam o organismo no sentido de resolvê-los.
teoria psicogenética deixa à mostra que a inteligência não é Em última instância, a concepção do desenvolvimento
herdada, mas sim que ela é construída no processo interativo humano, na linha piagetiana, deixa ver que é no contato com o
entre o homem e o meio ambiente (físico e social) em que ele mundo que a matéria bruta do conhecimento é 'arrecadada',
estiver inserido. pois que é no processo de construções sucessivas resultantes
Em síntese, pode-se dizer que, para Piaget, o equilíbrio é o da relação sujeito-objeto que o indivíduo vai formar o
norte que o organismo almeja mas que paradoxalmente nunca pensamento lógico.
alcança, haja vista que no processo de interação podem É bom considerar, ainda, que, na medida em que toda
ocorrer desajustes do meio ambiente que rompem com o experiência leva em graus diferentes a um processo de
estado de equilíbrio do organismo, eliciando esforços para que assimilação e acomodação, trata-se de entender que o mundo
a adaptação se restabeleça. Essa busca do organismo por das ideias, da cognição, é um mundo inferencial. Para avançar
novas formas de adaptação envolvem dois mecanismos que no desenvolvimento é preciso que o ambiente promova
apesar de distintos são indissociáveis e que se complementam: condições para transformações cognitivas, id est, é necessário
a assimilação e a acomodação. que se estabeleça um conflito cognitivo que demande um
A assimilação consiste na tentativa do indivíduo em esforço do indivíduo para superá-lo a fim de que o equilíbrio
solucionar uma determinada situação a partir da do organismo seja restabelecido, e assim sucessivamente.
estrutura cognitiva que ele possui naquele momento No entanto, esse processo de transformação vai depender
específico da sua existência. Representa um processo sempre de como o indivíduo vai elaborar e assimilar as suas
contínuo na medida em que o indivíduo está em constante interações com o meio, isso porque o estado conquistado na
atividade de interpretação da realidade que o rodeia e, equilibração do organismo reflete as elaborações
consequentemente, tendo que se adaptar a ela. Como o possibilitadas pelos níveis de desenvolvimento cognitivo que
processo de assimilação representa sempre uma tentativa de o organismo detém nos diversos estágios da sua vida.
integração de aspectos experienciais aos esquemas Deste modo, por toda a vida do indivíduo ele passa por
previamente estruturados, ao entrar em contato com o objeto processos de assimilação e acomodação buscando atingir o
do conhecimento o indivíduo busca retirar dele as informações estado de equilibração, porém a conquista desse estado está
que lhe interessam deixando outras que não lhe são tão diretamente relacionada com os níveis de desenvolvimento do
importantes, visando sempre a restabelecer a equilibração do indivíduo nos diversos estágios de sua vida.
organismo. A esse respeito, para Piaget, os modos de relacionamento
A acomodação, por sua vez, consiste na capacidade de com a realidade são divididos em 4 períodos distintos, no
modificação da estrutura mental antiga para dar conta de processo evolutivo da espécie humana que são caracterizados
dominar um novo objeto do conhecimento. Quer dizer, a "por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor" no
acomodação representa "o momento da ação do objeto decorrer das diversas faixas etárias ao longo do seu processo
sobre o sujeito" emergindo, portanto, como o elemento de desenvolvimento. São eles:
complementar das interações sujeito-objeto.
Em síntese, toda experiência é assimilada a uma estrutura - 1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos)
de ideias já existentes (esquemas) podendo provocar uma - 2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos)
transformação nesses esquemas, ou seja, gerando um - 3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)
processo de acomodação. - 4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em
Como observa Rappaport, os processos de assimilação e diante)
acomodação são complementares e acham-se presentes
durante toda a vida do indivíduo e permitem um estado de

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Cada uma dessas fases é caracterizada por formas É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de
diferentes de organização mental que possibilitam as substituir um objeto ou acontecimento por uma
diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a representação, e esta substituição é possível, conforme Piaget,
realidade que o rodeia. De uma forma geral, todos os graças à função simbólica. Assim este estágio é também muito
indivíduos passam por esses períodos na mesma sequência, conhecido como o estágio da Inteligência Simbólica.
porém o início e o término de cada uma delas pode sofrer Contudo, Macedo lembra que a atividade sensório-motor
variações em função das características da estrutura biológica não está esquecida ou abandonada, mas refinada e mais
de cada indivíduo e da riqueza (ou não) dos estímulos sofisticada, pois verifica-se que ocorre uma crescente
proporcionados pelo meio ambiente em que ele estiver melhoria na sua aprendizagem, permitindo que a mesma
inserido. Por isso mesmo é que esta forma de divisão nessas explore melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais
faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida. sofisticados movimentos e percepções intuitivas.

3. Os Estágios Cognitivos Segundo Piaget41 A criança deste


Piaget, quando descreve a aprendizagem, tem um enfoque estágio:
diferente do que normalmente se atribui à esta palavra. Piaget
separa o processo cognitivo inteligente em duas palavras: - É egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se
aprendizagem e desenvolvimento. Para Piaget, segundo colocar, abstratamente, no lugar do outro.
Macedo, a aprendizagem refere-se à aquisição de uma - Não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter uma explicação
resposta particular, aprendida em função da experiência, (é fase dos "por quês").
obtida de forma sistemática ou não. Enquanto que o - Já pode agir por simulação, "como se".
desenvolvimento seria uma aprendizagem de fato, sendo este - Possui percepção global sem discriminar detalhes.
o responsável pela formação dos conhecimentos. - Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos.

Sensório-motor Exemplos: Mostram-se para a criança, duas bolinhas de


Para Piaget o universo que circunda a criança é massa iguais e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança
conquistado mediante a percepção e os movimentos (como a nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas
sucção, o movimento dos olhos, por exemplo). são diferentes. Não relaciona as situações.
Neste estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o
bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar Operatório-concreto
mentalmente o meio, é nesse período que a criança começa a Conforme Nitzke, neste estágio a criança desenvolve
discriminar ainda que de forma pouco desenvolvida o meio noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade,...,
que o cerca. sendo então capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair
Segundo Lopes, as noções de espaço e tempo são dados da realidade. Apesar de não se limitar mais a uma
construídas pela ação, configurando assim, uma inteligência representação imediata, depende do mundo concreto para
essencialmente prática, ou seja, é no contato direto com o abstrair.
objeto que o bebe começa a construir a noção de espaço e de Um importante conceito desta fase é o desenvolvimento da
tempo de forma que ainda não há, neste período, uma reversibilidade, ou seja, a capacidade da representação de uma
construção simbólica desenvolvida. ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a
Considerando que esse período é marcado pela construção transformação observada.
prática das noções de objeto, espaço, causalidade e é assim que
os esquemas vão "pouco a pouco, diferenciando-se e Exemplos: Despeja-se a água de dois copos em outros, de
integrando-se, no mesmo tempo em que o sujeito vai se formatos diferentes, para que a criança diga se as quantidades
separando dos objetos podendo, por isso mesmo, interagir continuam iguais. A resposta é afirmativa uma vez que a
com eles de forma mais complexa." Nitzke diz que o contato criança já diferencia aspectos e é capaz de "refazer" a ação.
com o meio é direto e imediato, sem representação ou
pensamento. Operatório-formal
De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o
Exemplos: O bebê pega o que está em sua mão; "mama" o indivíduo adquire a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele
que é posto em sua boca; "vê" o que está diante de si. consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante
Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá- a idade adulta. Isso não quer dizer que ocorra uma estagnação
lo e levá-lo a boca. das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na
adolescência, como enfatiza Rappaport, "esta será a forma
Pré-operatório predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Seu
Para Piaget, o que marca a passagem do período sensório- desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de
motor para o pré-operatório é o aparecimento da função conhecimentos tanto em extensão como em profundidade,
simbólica ou semiótica, ou seja, é a emergência da linguagem. mas não na aquisição de novos modos de funcionamento
Assim, conforme demonstram as pesquisas psicogenéticas, a mental".
emergência da linguagem acarreta modificações importantes A representação agora permite à criança uma abstração
em aspectos cognitivos, afetivos e sociais da criança, uma vez total, não se limitando mais à representação imediata e nem às
que ela possibilita as interações interindividuais e fornece, relações previamente existentes.
principalmente, a capacidade de trabalhar com Agora a criança é capaz de pensar logicamente, formular
representações para atribuir significados à realidade. Tanto é hipóteses e buscar soluções, sem depender mais só da
assim, que a aceleração do alcance do pensamento neste observação da realidade. Em outras palavras, as estruturas
estágio do desenvolvimento, é atribuída, em grande parte, às cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de
possibilidades de contatos interindividuais fornecidos pela desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio
linguagem. lógico a todas as classes de problemas.

41Tafner,
M. A construção do conhecimento segundo PIAGET. s/d. Em
http://www.cerebromente.org.br/

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Exemplos: Se lhe pedem para analisar um provérbio como c) uma outra contribuição importante do enfoque
"de grão em grão, a galinha enche o papo", a criança trabalha psicogenético foi lançar luz à questão dos diferentes estilos
com a lógica da ideia (metáfora) e não com a imagem de uma individuais de aprendizagem; (PCN); entre outros.
galinha comendo grãos.
Em resumo, conforme aponta Coll, as relações entre teoria
4. As consequências do modelo piagetiano para a ação psicogenética x educação, apesar dos complicadores
pedagógica decorrentes da "dicotomia entre os aspectos estruturais e os
Conforme mencionado anteriormente, a teoria aspectos funcionais da explicação genética" e da tendência dos
psicogenética de Piaget não tinha como objetivo principal projetos privilegiarem, em grande parte, um reducionismo
propor uma teoria de aprendizagem. A esse respeito, Coll faz a psicologizante em detrimento ao social, pode-se considerar
seguinte observação: "ao que se sabe, ele nunca participou assim que a teoria psicogenética trouxe contribuições
diretamente nem coordenou uma pesquisa com objetivos importantes ao campo da aprendizagem escolar.
pedagógicos". Não obstante esse fato, de forma contraditória
aos interesses previstos, portanto, o modelo piagetiano, Origens do pensamento e da língua e o significado das
curiosamente, veio a se tornar uma das mais importantes palavras e a formação de conceitos de acordo com
diretrizes no campo da aprendizagem escolar, por exemplo, Vygotsky42
nos USA, na Europa e no Brasil, inclusive. Assim como no reino animal, para o ser humano
De acordo com Coll as tentativas de aplicação da teoria pensamento e linguagem têm origens diferentes. Inicialmente
genética no campo da aprendizagem são numerosas e o pensamento não é verbal e a linguagem não é intelectual.
variadas, no entanto os resultados práticos obtidos com tais Convém ressaltar porém que o desenvolvimento da
aplicações não podem ser considerados tão frutíferos. Uma das linguagem e do pensamento se cruzam, assim com cerca dos
razões da difícil penetração da teoria genética no âmbito da dois anos de idade as curvas de desenvolvimento do
escola deve-se, principalmente, segundo o autor, "ao difícil pensamento e da linguagem, até então separadas, encontram-
entendimento do seu conteúdo conceitual como pelos método se para, a partir daí, dar início a uma nova forma de
de análise formalizante que utiliza e pelo estilo às vezes comportamento. É a partir deste ponto que o pensamento
'hermético' que caracteriza as publicações de Piaget". O autor começa a se tornar verbal e a linguagem racional. Inicialmente
ressalta, também, que a aplicação educacional da teoria a criança aparenta usar linguagem apenas para interação
genética tem como fatores complicadores, entre outros: superficial em seu convívio, mas, a partir de certo ponto, esta
linguagem penetra no subconsciente para se constituir na
a) as dificuldades de ordem técnica, metodológicas e estrutura do pensamento da criança. Sendo assim se torna
teóricas no uso de provas operatórias como instrumento de possível à criança utilizar a linguagem de forma racional,
diagnóstico psicopedagógico, exigindo um alto grau de atribuindo-lhe significados.
especialização e de prudência profissional, a fim de se evitar os A partir do momento que a criança descobre que tudo tem
riscos de sérios erros; um nome, cada novo objeto que surge representa um
b) a predominância no "como" ensinar coloca o objetivo do problema que a criança resolve atribuindo-lhe um nome.
"o quê" ensinar em segundo plano, contrapondo-se, dessa forma, Quando lhe falta a palavra para nomear este novo objeto, a
ao caráter fundamental de transmissão do saber acumulado criança recorre ao adulto. Esses significados básicos de
culturalmente que é uma função da instituição escolar, por ser palavras assim adquiridos funcionarão como embriões para a
esta de caráter preeminentemente político-metodológico e não formação de novos e mais complexos conceitos.
técnico como tradicionalmente se procurou incutir nas ideias da
sociedade; Pensamento, linguagem e desenvolvimento
c) a parte social da escola fica prejudicada uma vez que o intelectual
raciocínio por trás da argumentação de que a criança vai atingir De acordo com Vygotsky, todas as atividades cognitivas
o estágio operatório secundariza a noção do desenvolvimento básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história
do pensamento crítico; social e acabam se constituindo no produto do
d) a ideia básica do construtivismo postulando que a desenvolvimento histórico-social de sua comunidade.
atividade de organização e planificação da aquisição de Portanto, as habilidades cognitivas e as formas de estruturar o
conhecimentos estão à cargo do aluno acaba por não dar conta pensamento do indivíduo não são determinadas por fatores
de explicar o caráter da intervenção por parte do professor; congênitos. São, isto sim, resultado das atividades praticadas
e) a ideia de que o indivíduo apropria os conteúdos em de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo
conformidade com o desenvolvimento das suas estruturas se desenvolve. Consequentemente, a história da sociedade na
cognitivas estabelece o desafio da descoberta do "grau ótimo de qual a criança se desenvolve e a história pessoal desta criança
desequilíbrio", ou seja, o objeto a conhecer não deve estar nem são fatores cruciais que vão determinar sua forma de pensar.
além nem aquém da capacidade do aprendiz conhecedor. Neste processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem
Por outro lado, como contribuições contundentes da teoria tem papel crucial na determinação de como a criança vai
psicogenética podem ser citados, por exemplo: aprender a pensar, uma vez que formas avançadas de
a) a possibilidade de estabelecer objetivos educacionais uma pensamento são transmitidas à criança através de palavras.
vez que a teoria fornece parâmetros importantes sobre o Para Vygotsky, um claro entendimento das relações entre
'processo de pensamento da criança' relacionados aos estádios pensamento e língua é necessário para que se entenda o
do desenvolvimento; processo de desenvolvimento intelectual. Linguagem não é
b) em oposição às visões de teorias behavioristas que apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela
consideravam o erro como interferências negativas no processo criança. Existe uma inter-relação fundamental entre
de aprendizagem, dentro da concepção cognitivista da teoria pensamento e linguagem, um proporcionando recursos ao
psicogenética, os erros passam a ser entendidos como outro. Desta forma a linguagem tem um papel essencial na
estratégias usadas pelo aluno na sua tentativa de aprendizagem formação do pensamento e do caráter do indivíduo.
de novos conhecimentos (PCN);

42 Texto adaptado disponível em http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/vigo.html

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Zona de desenvolvimento próximo (ou proximal) surdo, cego, mas sim a sociedade que vem criando estes limites
Um dos princípios básicos da teoria de Vygotsky é o para que os deficientes não se desenvolvam totalmente.
conceito de "zona de desenvolvimento próximo". Zona de A segunda tese refere-se à origem cultural das funções
desenvolvimento próximo representa a diferença entre a psíquicas que se originam nas relações do indivíduo e seu
capacidade da criança de resolver problemas por si própria e contexto social e cultural, isso mostra que a cultura é parte
a capacidade de resolvê-los com ajuda de alguém. Em outras constitutiva da natureza humana, pois o desenvolvimento
palavras, teríamos uma "zona de desenvolvimento mental humano não é passivo, nem tão pouco independente do
autossuficiente" que abrange todas as funções e atividades que desenvolvimento histórico e das formas sociais da vida. O
a criança consegue desempenhar por seus próprios meios, sem desenvolvimento mental da criança é um processo continuo de
ajuda externa. Zona de desenvolvimento próximo, por sua vez, aquisições, desenvolvimento intelectual e linguístico
abrange todas as funções e atividades que a criança ou o aluno relacionado à fala interior e pensamento e impondo estruturas
consegue desempenhar apenas se houver ajuda de alguém. superiores, ao saber de novos conceitos evita-se que a criança
Esta pessoa que intervém para orientar a criança pode (pais, tenha que reestruturar todos os conceitos que já possui.
professor, responsável, instrutor de língua estrangeira) Vygotsky tinha como objetivo constatar como as funções
quanto um colega que já tenha desenvolvido a habilidade psicológicas, tais como memória, a atenção, a percepção e o
requerida. pensamento aparecem primeiro na forma primária para,
Uma analogia interessante nos vem à mente quando posteriormente, aparecerem em formas superiores, assim é
pensamos em zona de desenvolvimento próximo. Em possível perceber a importante distinção realizada entre as
mecânica, quando regula-se o ponto de um motor a explosão, funções elementares (comuns aos animais e aos humanos) e as
este deve ser ajustado ligeiramente à frente do momento de funções psicológicas superiores (especificamente vinculada
máxima compressão dentro do cilindro, para maximizar a aos humanos).
potência e o desempenho. A terceira tese refere-se a base biológica do funcionamento
A ideia de zona de desenvolvimento próximo é de grande psicológico o cérebro é o órgão principal da atividade mental,
relevância em todas as áreas educacionais. Uma implicação sendo entendido como um sistema aberto, cuja estrutura e
importante é a de que o aprendizado humano é de natureza funcionamento são moldados ao longo da história, podendo
social e é parte de um processo em que a criança desenvolve mudar sem que ajam transformações físicas no órgão.
seu intelecto dentro da intelectualidade daqueles que a A quarta tese faz referência à característica mediação
cercam. De acordo com Vygotsky, uma característica essencial presente em toda a vida humana em que usamos técnicas e
do aprendizado é que ele desperta vários processos de signos para fazermos mediação entre seres humanos e estes
desenvolvimento internamente, os quais funcionam apenas com o mundo. A linguagem é um signo mediador por
quando a criança interage em seu ambiente de convívio. excelência por isso Vygotsky a confere um papel de destaque
no processo de pensamento. Sendo esta uma capacidade
Teoria Vygotskiana43 exclusiva da humanidade. Através da fala podemos organizar
Vygotsky trabalha com teses dentro de suas obras nas as atividades práticas e das funções psicológicas. As pesquisas
quais são possíveis descrever como: à relação indivíduo/ de Vygotsky foram realizadas com a criança na fase em que
sociedade em que afirma que as características humanas não começa a desenvolver a fala, pois se acreditava que a
estão presentes desde o nascimento, nem são simplesmente verdadeira essência do comportamento se dá a partir da
resultados das pressões do meio externo, elas são resultados mesma. É na atividade pratica, ou seja, na coletividade que a
das relações homem e sociedade, pois quando o homem pessoa se aproveita da linguagem e dos objetos físicos
transforma o meio na busca de atender suas necessidades disponíveis em sua cultura, promovendo assim seu
básicas, ele transforma-se a si mesmo. A criança nasce apenas desenvolvimento, dando ênfase aos conhecimentos histórico-
com as funções psicológicas elementares e a partir do cultural, conhecimentos produzidos e já existentes em seu
aprendizado da cultura, estas funções transformam-se em cotidiano.
funções psicológicas superiores, sendo estas o controle
consciente do comportamento, a ação intencional e a liberdade O desenvolvimento e a aprendizagem
do indivíduo em relação às características do momento e do Vygotsky dá um lugar de destaque para as relações de
espaço presente. O desenvolvimento do psiquismo humano é desenvolvimento e aprendizagem dentro de suas obras. Para
sempre mediado pelo outro que indica, delimita e atribui ele a criança inicia seu aprendizado muito antes de chegar à
significados à realidade, dessa forma, membros imaturos da escola, mas o aprendizado escolar vai introduzir elementos
espécie humana vão aos poucos se apropriando dos modos de novos no seu desenvolvimento. A aprendizagem é um
funcionamento psicológicos, comportamento e cultura. Neste processo contínuo e a educação é caracterizada por saltos
caso podemos citar a importância da inclusão de fato, onde as qualitativos de um nível de aprendizagem a outro, daí a
crianças com alguma deficiência interajam com crianças que importância das relações sociais, desse modo dois tipos de
estejam com desenvolvimento além, realizando a troca de desenvolvimento foram identificados: o desenvolvimento real
saberes e experiências, onde ambos passam a aprender junto. que se refere àquelas conquistas que já são consolidadas na
Vygotsky defende a educação inclusiva e acessibilidade criança, aquelas capacidades ou funções que realiza sozinha
para todos. Devido ao processo criativo que envolve o domínio sem auxílio de outro indivíduo, habitualmente costuma-se
da natureza, o emprego de ferramentas e instrumentos, o avaliar a criança somente neste nível, ou seja, somente o que
homem pode ter uma ação indireta, planejada tendo ou não ela já é capaz de realizar e o desenvolvimento potencial que se
deficiência, assim, pessoas com deficiência auditiva, visuais, e refere àquilo que a criança pode realizar com auxílio de outro
outras podem ter um alto nível de desenvolvimento, a escola indivíduo.
deve permitir que dominem depois superem seus saberes do Neste caso as experiências são muito importantes, pois ele
cotidiano. As crianças cegas podem alcançar o mesmo aprende através do diálogo, colaboração, imitação... A
desenvolvimento de uma criança normal, só que de modo distância entre os dois níveis de desenvolvimentos chamamos
diferente, por outra via, é muito importante para o pedagogo de zona de desenvolvimento potencial ou proximal, o período
conhecer essa peculiaridade, é a lei da compensação, não é o que a criança fica utilizando um ‘apoio’ até que seja capaz de
limite biológico que determina o não desenvolvimento do realizar determinada atividade sozinha. Por isso Vygotsky

43COELHO, L.; PISONI, S. Vygotsky: sua teoria e a influência na educação. Revista


e-Ped- FACOS/ CNEC Osório. Vol 02/2012.

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afirma que “aquilo que é zona de desenvolvimento proximal diálogo criando situações onde o aluno possa expor aquilo que
hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja, sabe. Assim os registros, as observações são fundamentais
aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela tanto para o planejamento e objetivos quanto para a avaliação.
será capaz de fazer sozinha amanhã”. O conceito de zona de
desenvolvimento proximal é muito importante para pesquisar Infância e Adolescência
o desenvolvimento e o plano educacional infantil, porque este
permite avaliar o desenvolvimento individual. Aqui é possível Infância
elaborar estratégias pedagógicas para que a criança possa Memória dos bebês44
evoluir no aprendizado uma vez que esta é a zona cooperativa Você consegue se lembrar de alguma coisa que aconteceu
do conhecimento, assim, o mediador ajuda a criança a antes dos seus 2 anos de idade? Provavelmente não. Os
concretizar o desenvolvimento que está próximo, ou seja, cientistas do desenvolvimento propuseram várias explicações
ajuda a transformar o desenvolvimento potencial em para esse fenômeno comum. Uma explicação, sustentada por
desenvolvimento real. Piaget e outros, é que eventos dessa época não são
O desenvolvimento e a aprendizagem estão inter- armazenados na memória, porque o cérebro ainda não está
relacionados desde o momento do nascimento, o meio físico suficientemente desenvolvido. Freud, por outro lado,
ou social influenciam no aprendizado das crianças de modo acreditava que as primeiras lembranças estão armazenadas,
que chegam as escolas com uma série de conhecimentos porém reprimidas, porque são emocionalmente
adquiridos, na escola a criança desenvolverá outro tipo de perturbadoras. Outros pesquisadores sugerem que as crianças
conhecimento. só conseguem armazenar eventos na memória quando podem
Assim se divide o conhecimento em dois grupos: aqueles falar sobre eles.
adquiridos da experiência pessoal, concreta e cotidiana em Pesquisas mais recentes que utilizam o condicionamento
que são chamados de ‘conceitos cotidianos ou espontâneos’ operante com tarefas não verbais e apropriadas para a idade
em que são caracterizados por observações, manipulações e sugerem que o processamento da memória nos bebês pode
vivências diretas da criança já os ‘conceitos científicos’ não ser fundamentalmente diferente do que acontece com
adquiridos em sala de aula se relacionam àqueles não crianças mais velhas e adultos, salvo que o tempo de retenção
diretamente acessíveis à observação ou ação imediata da dos bebês é mais curto. Esses estudos constataram-que os
criança. A escola tem papel fundamental na formação dos bebês repetirão uma ação dias ou semanas mais tarde - se eles
conceitos científicos, proporcionando à criança um foram periodicamente lembrados da situação em que a
conhecimento sistemático de algo que não está associado a sua aprenderam.
vivência direta principalmente na fase de amadurecimento. Em uma série de experimentos realizados por Carolyn
O brinquedo é um mundo imaginário onde a criança pode Rovee-Collier e associados, os bebês foram submetidos a
realizar seus desejos, o ato de brincar é uma importante fonte condicionamento operante para mexer a perna e ativar um
de promoção de desenvolvimento, sendo muito valorizado na móbile preso a um dos tornozelos por uma fita. Bebês de 2 a 6
zona proximal, neste caso em especial as brincadeiras de ‘faz meses, aos quais foram apresentados os mesmos móbiles dias
de conta’. Sendo estas atividades utilizadas, em geral, na ou semanas depois, repetiam os chutes, mesmo quando seu
Educação Infantil fase que as crianças aprendem a falar (após tornozelo não mais estava preso ao móbile. Quando os bebês
os três anos de idade), e são capazes de envolver-se numa viram esses móbiles, deram mais chutes do que antes do
situação imaginária. Através do imaginário a criança condicionamento, mostrando que o reconhecimento dos
estabelece regras do cotidiano real. móbiles acionava a lembrança de sua experiência inicial com
Mesmo havendo uma significativa distância entre o esses objetos. Em uma tarefa semelhante, crianças de 9 a 12
comportamento na vida real e o comportamento no meses foram condicionadas a pressionar uma alavanca para
brinquedo, a atuação no mundo imaginário e o fazer um trem de brinquedo percorrer um circuito. A extensão
estabelecimento de regras a serem seguidas criam uma zona de tempo que uma resposta condicionada podia ser retida
de desenvolvimento proximal, na medida em que impulsionam aumentou com a idade, de dois dias para crianças de 2 meses
conceitos e processos em desenvolvimento. a 13 semanas para crianças de 18 meses.
A memória de bebês novos sobre um comportamento
Vygotsky e a educação parece estar associada especificamente ao indicativo original.
A escola se torna importante a partir do momento que Bebês entre 2 e 6 meses repetiam o comportamento aprendido
dentro dela o ensino é sistematizado sendo atividades somente quando viam o móbile ou o trem original. Entretanto,
diferenciadas das extraescolares e lá a criança aprende a ler, crianças entre 9 e 12 meses experimentavam o
escrever, obtém domínio de cálculos, entre outras, assim comportamento em um trem diferente se não mais que duas
expande seus conhecimentos. Também não é pelo simples fato semanas se passassem desde o treinamento.
da criança frequentar a escola que ela estará aprendendo, isso Um contexto familiar pode melhorar a evocação quando a
dependerá de todo o contexto seja questão política, econômica lembrança de alguma coisa enfraqueceu. Crianças de 3, 9 e 12
ou métodos de ensino. Conforme foi visto até aqui, aulas onde meses inicialmente podiam reconhecer o móbile ou o trem
o aluno fica ouvindo e memorizando conteúdos não basta para num ambiente diferente daquele onde foram treinadas, mas
se dizer que o aprendizado ocorreu de fato, o aprendizado não depois de passado muito tempo. Lembretes não verbais
exige muito mais. O trabalho pedagógico deve estar associado periódicos por meio de uma breve exposição ao estímulo
à capacidade de avanços no desenvolvimento da criança, original podem manter uma lembrança desde a primeira
valorizando o desenvolvimento potencial e a zona de infância até entre 1 e 2 anos de idade.
desenvolvimento proximal. A escola deve estar atenta ao Pelo menos um importante pesquisador da memória
aluno, valorizar seus conhecimentos prévios, trabalhar a partir refuta a alegação de que as memórias condicionadas sejam
deles, estimular as potencialidades dando a possibilidade de qualitativamente as mesmas das crianças mais velhas e dos
este aluno superar suas capacidades e ir além ao seu adultos. De uma perspectiva evolucionista do
desenvolvimento e aprendizado. Para que o professor possa desenvolvimento, as habilidades se desenvolvem à medida
fazer um bom trabalho ele precisa conhecer seu aluno, suas que podem realizar funções úteis na adaptação ao ambiente. O
descobertas, hipóteses, crenças, opiniões desenvolvendo conhecimento procedural e perceptual demonstrado logo

44PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano, 12ª edição, 2013,


editor: AMGH.

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cedo pelos bebês ao chutar um móbile para ativá-lo não é a parte com base nas informações dadas pelo cuidador.
mesma coisa que a memória explícita de uma criança mais Pontuações separadas, chamadas Cle quocientes de
velha ou de um adulto sobre eventos específicos. A primeira desenvolvimento (ODs), são calculadas para cada escala. Os
infância é uma fase de grandes transformações, e é improvável ODs são muito úteis para detectar, logo no início, perturbações
que a retenção de experiências específicas seja útil por muito emocionais e déficits sensoriais, neurológicos e ambientais, e
tempo. Essa pode ser uma das razões de os adultos não se podem ajudar pais e profissionais a planejar o atendimento
lembrarem de eventos que aconteceram quando eram bebês. das necessidades da criança.
Mais adiante discutiremos pesquisas sobre o cérebro que
lançam alguma luz sobre o desenvolvimento da memória na Intervenção Precoce
primeira infância. 45 A intervenção precoce é um processo sistemático de
planejamento e fornecimento de serviços terapêuticos e
Abordagem psicométrica: testes de desenvolvimento e educacionais para famílias que precisam de ajuda para
de inteligência satisfazer as necessidades de desenvolvimento de bebês e
Embora não haja um consenso científico claro sobre a crianças em idade pré-escolar.
definição de comportamento inteligente, a maioria dos
profissionais concorda que o comportamento inteligente é Fundamentos do desenvolvimento psicossocial
orientado para uma meta e é adaptativo: direcionado para se Embora os bebês apresentem os mesmos padrões de
adaptar às circunstâncias e condições de vida. A inteligência desenvolvimento, cada um deles, desde o início, exibe uma
permite às pessoas adquirir, lembrar e utilizar conhecimento; personalidade distinta: a combinação relativamente coerente
entender conceitos e relações; e resolver os problemas do dia de emoções, temperamento, pensamento e comportamento é
a dia. que torna cada pessoa única. De maneira geral, bebês podem
A natureza precisa da inteligência tem sido debatida por ser alegres; outros se irritam com facilidade. Há crianças que
muitos anos, e também a melhor maneira de medi-la. O gostam de brincar com as demais; outras preferem brincar
movimento moderno para testar a inteligência teve início no sozinhas. Esses modos característicos de sentir, pensar e agir,
começo do século XX, quando administradores de escolas em que refletem influências tanto inatas quanto ambientais,
Paris pediram ao psicólogo A1fred Binet que elaborasse um afetam a maneira como a criança responde aos outros e se
modo de identificar crianças que não pudessem acompanhar o adapta ao seu mundo. Da primeira infância em diante, o
trabalho escolar e precisassem de instruções especiais. O teste desenvolvimento da personalidade se entrelaça com as
desenvolvido por Binet e seu colega Theodore Simon foi o relações sociais; e essa combinação chama-se
precursor dos testes psicométricos que avaliam a inteligência desenvolvimento psicossocial.
por números. Ao explorarmos o desenvolvimento psicossocial, primeiro
O objetivo da aplicação de testes psicométricos é medir focalizaremos as emoções, os blocos de construção da
quantitativamente os fatores que supostamente constituem a personalidade; em seguida, o temperamento ou disposição; e
inteligência (tais como compreensão e raciocínio) e, a partir depois as primeiras experiências sociais da criança na família.
dos resultados dessa medida, prever o desempenho futuro Finalmente, discutiremos como os pais moldam as diferenças
(como o desempenho escolar). Os testes de 01 (quociente de comportamentais entre meninos e meninas.
inteligência) consistem em perguntas ou tarefas que devem
mostrar quanto das habilidades medidas a pessoa possui, Emoções
comparando seu desempenho com normas estabeleci das para Emoções, como tristeza, alegria e medo, são reações
um grupo extenso que compôs a amostra de padronização. subjetivas à experiência e que estão associadas a mudanças
Para crianças em idade escolar, as pontuações no teste de fisiológicas e comportamentais. O medo, por exemplo, é
inteligência podem servir para prever o desempenho na escola acompanhado de aceleração dos batimentos cardíacos e,
com razoável precisão e confiabilidade. Testar bebês e geralmente, de ações de autoproteção. O padrão característico
crianças pequenas já é outra questão. Como os bebês não de reações emocionais de uma pessoa começa a se desenvolver
podem nos dizer o que sabem e como pensam, a maneira mais durante a primeira infância e constitui um elemento básico da
óbvia de aferir sua inteligência é avaliando o que sabem fazer. personalidade. As pessoas diferem na frequência e na
Mas se eles não pegarem um chocalho, é difícil saber se não o intensidade com que sentem uma determinada emoção, nos
fizeram porque não sabiam como, não estavam com vontade, tipos de eventos que podem produzi-la, nas manifestações
não perceberam o que se esperava deles ou simplesmente físicas que demonstram e no modo como agem em
perderam o interesse. consequência disso. A cultura também influencia o modo como
as pessoas se sentem em relação a uma situação e a maneira
Testes de desenvolvimento infantil como expressam suas emoções.
Embora seja praticamente impossível medir a inteligência Algumas culturas asiáticas, que enfatizam a harmonia
de um bebê, é possível testar seu desenvolvimento. Os testes social, desencorajam expressões de raiva, mas dão muita
de desenvolvimento comparam o desempenho do bebê numa importância à vergonha. O oposto geralmente é verdadeiro na
série de tarefas com normas estabelecidas baseadas na cultura norte-americana, que enfatiza a autoexpressão, a
observação do que um grande número de bebês e crianças autoafirmação e a autoestima.
pequenas sabe fazer em determinadas idades.
As Escalas Bayley de Desenvolvimento Infantil (Bayley, Quando aparecem as emoções?
1969, 1993,2005) constituem um teste de desenvolvimento O desenvolvimento emocional é um processo ordenado;
amplamente utilizado e elaborado para avaliar crianças entre emoções complexas desdobram-se de outras mais simples. De
1 mês e 3 anos e meio. Pontuações na Bayley-IIl indicam os acordo com um dos modelos, o bebê revela sinais de
pontos fortes e fracos e as competências de uma criança em contentamento, interesse e aflição logo após o nascimento.
cada uma tías cinco áreas do desenvolvimento: cognitivo, Trata--se de respostas difusas, reflexas, a maior parte
linguagem, motor, socioemocional e comportamento fisiológicas, à estimulação sensorial ou a processos internos.
adaptativo. Uma escala opcional de classificação do Aproximadamente nos próximos seis meses, esses estados
comportamento pode ser preenchida pelo examinador, em emocionais iniciais se diferenciam em verdadeiras emoções:

45ROVEE-COLLIER, C.; HARTSHORN, k. & DIRUBBO, M. Long-term maintenance of


infant memory. Developmental Psychobiology.

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alegria, surpresa, tristeza, repugnância, e depois raiva e medo Erikson identificou o período entre 18 meses e 3 anos
- reações a eventos que têm significado para o bebê. Conforme como o segundo estágio no desenvolvimento da
será discutido mais adiante, a emergência dessas emoções personalidade, autonomia versus vergonha e dúvida, marcado
básicas, ou primárias, está relacionada à maturação pela passagem do controle externo para o autocontrole. Tendo
neurológica. atravessado a primeira infância com um senso de confiança
As emoções autoconscientes, como o constrangimento, a básica no mundo e uma autoconsciência florescente, a criança
empatia e a inveja, surgem somente depois que a criança pequena começa a substituir o julgamento dos cuidadores pelo
desenvolveu a auto consciência: compreensão cognitiva de seu próprio. A "virtude" que emerge durante esse estágio é a
que ela tem uma identidade reconhecível, separada e diferente vontade. O treinamento do controle das necessidades
do resto de seu mundo. Essa consciência da própria identidade fisiológicas é um passo importante em direção à autonomia e
parece emergir entre 15 e 24 meses. A autoconsciência é ao autocontrole; o mesmo acontece com a linguagem.
necessária para que a criança possa estar consciente de ser o À medida que a criança torna-se mais apta a expressar seus
foco da atenção, identificar-se com o que outras "identidades" desejos, ela passa a ter mais poder. Como a liberdade sem
estão sentindo, ou desejar o que outra pessoa tem. limites não é segura nem saudável, disse Erikson, vergonha e
Por volta dos 3 anos, tendo adquirido autoconsciência e dúvida ocupam um lugar necessário. As crianças pequenas
mais algum conhecimento sobre os padrões, regras e metas precisam que os adultos estabeleçam limites apropriados;
aceitas de sua sociedade, a criança torna-se mais capacitada assim, a vergonha e a dúvida ajudam-nas a reconhecer a
para avaliar seus próprios pensamentos, planos, desejos e necessidade desses limites.
comportamento com relação àquilo que é considerado Nos Estados Unidos, os "terríveis dois anos" assinalam um
socialmente apropriado. Só então ela pode demonstrar desejo de autonomia. Crianças pequenas precisam testar as
emoções auto avaliadoras como orgulho, culpa e vergonha. noções de que são indivíduos, têm algum controle sobre seu
mundo e possuem novos e emocionantes poderes. São levadas
Crescimento do cérebro e desenvolvimento emocional a experimentar suas novas ideias, exercitar suas próprias
O desenvolvimento do cérebro após o nascimento está preferências e tomar suas próprias decisões. Esse desejo se
intimamente ligado a mudanças na vida emocional: as manifesta na forma de negativismo, a tendência a gritar "Não!"
experiências emocionais são afetadas pelo desenvolvimento só para resistir à autoridade. Quase todas as crianças
do cérebro e podem causar efeitos duradouros na estrutura ocidentais exibem algum grau de negativismo; geralmente
cerebral. começa antes dos 2 anos de idade, com tendência a atingir o
Quatro importantes mudanças na organização do cérebro máximo aos 3 anos e meio ou 4 anos e declina por volta dos 6
correspondem aproximadamente a mudanças no anos. Cuidadores que consideram as expressões de
processamento emocional. Durante os três primeiros meses, autoafirmação da criança como um esforço normal e saudável
começa a diferenciação das emoções básicas à medida que o por independência contribuem para seu senso de competência
córtex cerebral torna-se funcional e faz emergir as percepções e evitam excesso de conflitos.
cognitivas. Diminuem o sono REM e o comportamento reflexo, Surpreendentemente, os "terríveis dois anos" não são
incluindo o sorriso neonatal espontâneo. universais. Em alguns países em desenvolvimento, a transição
A segunda mudança ocorre por volta dos 9 ou 10 meses, da primeira para a segunda infância é relativamente suave e
quando os lobos frontais começam a interagir com o sistema harmoniosa.
límbico, uma das regiões do cérebro associada às reações
emocionais. Ao mesmo tempo, estruturas límbicas como o As raízes do desenvolvimento moral: socialização e
hipocampo tornam-se maiores e mais semelhantes à estrutura internalização
adulta. Conexões entre o córtex frontal e o hipotálamo e o Socialização é o processo pelo qual a criança desenvolve
sistema límbico, que processam a informação sensorial, hábitos, habilidades, valores e motivações que as tornam
podem facilitar a relação entre as esferas cognitiva e membros responsáveis e produtivos de uma sociedade. A
emocional. À medida que essas conexões tornam-se mais aquiescência às expectativas parentais pode ser vista como um
densas e mais elaboradas, o bebê poderá ao mesmo tempo primeiro passo em direção à submissão aos padrões sociais. A
experimentar e interpretar emoções. socialização depende da internalização desses padrões.
A terceira mudança ocorre durante o segundo ano, quando Crianças bem- sucedidas na socialização não mais obedecem a
o bebê desenvolve a autoconsciência, as emoções regras ou comandos apenas para obter recompensas ou evitar
autoconscientes e maior capacidade para regular suas punições; elas fazem dos padrões da sociedade seus próprios
emoções e atividades. Essas mudanças, que coincidem com padrões
maior mobilidade física e com o comportamento exploratório,
podem estar relacionadas à mielinização dos lobos frontais. Contato com outras crianças
A quarta mudança ocorre por volta dos 3 anos, quando Embora os pais exerçam uma grande influência sobre a
alterações hormonais no sistema nervoso autônomo vida dos filhos, o relacionamento com as outras crianças - seja
(involuntário) coincidem com a emergência das emoções dentro de casa ou fora - também é importante já a partir da
avaliadoras. Subjacente ao desenvolvimento de emoções como primeira infância.
a vergonha pode estar um afastamento da dominância por
parte do sistema simpático, a parte do sistema autônomo que Irmãos
prepara o corpo para a ação, enquanto amadurece o sistema O relacionamento entre irmãos desempenha um papel
parassimpático, a parte do sistema autônomo envolvida na distinto na socialização. Conflitos entre irmãos podem tornar-
excreção e na excitação sexual. se um veículo para a compreensão de relações sociais. Lições e
habilidades aprendidas nas interações com os irmãos são
Desenvolvimento da autonomia passadas para os relacionamentos fora de casa
À medida que a criança amadurece - fisicamente, É comum os bebês se apegarem a seus irmãos e irmãs mais
cognitivamente e emocionalmente - ela é levada a buscar sua velhos. Embora a rivalidade possa estar presente, a afeição
independência em relação aos vários adultos aos quais está também estará. Quanto mais o apego dos irmãos aos pais for
apegada. "Eu fazer!" é a frase típica da criança quando começa um apego seguro, melhor será o relacionamento entre eles
a usar seus músculos e sua mente para tentar fazer tudo No entanto, à medida que os bebês tornam-se mais
sozinha - não somente andar, mas alimentar-se, vestir-se e independentes e autoconfiantes, inevitavelmente entram em
explorar o mundo. conflito com os irmãos - pelo menos na cultura norte-

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americana. O conflito entre irmãos aumenta dramaticamente Entretanto, uma crise de identidade raramente é
depois que a criança mais nova atinge os 18 meses. Durante os totalmente resolvida na adolescência; questões relativas à
próximos meses, os irmãos mais novos começam a ter uma identidade surgem repetidamente durante toda a vida adulta.
participação mais intensa nas interações familiares e se
envolvem com maior frequência nas disputas em família. À Erikson: identidade x confusão de identidade
medida que isso acontece, eles tornam-se mais conscientes das A principal tarefa da adolescência, dizia Erikson, é
intenções e dos sentimentos dos outros. Começam a confrontar a crise de identidade versus confusão de
reconhecer o tipo de comportamento que vai transtornar ou identidade, ou confusão de identidade versus confusão de
irritar os irmãos mais velhos e quais os comportamentos papel, de modo a tornar-se um adulto singular com uma
considerados "feios" ou "bons". percepção coerente do self e com um papel valorizado na
À medida que se desenvolve a compreensão cognitiva e sociedade. O conceito da crise de identidade baseou-se em
social, o conflito entre irmãos tende a se tornar mais parte na experiência pessoal de Erikson. Criado na Alemanha
construtivo, e o irmão mais novo participa de tentativas de como o filho bastardo de uma mulher judia dinamarquesa que
reconciliação. O conflito construtivo entre irmãos ajuda as havia se separado do seu primeiro marido, Erikson jamais
crianças a reconhecerem as necessidades, os desejos e os conheceu o pai biológico. Embora tenha sido adotado aos 9
pontos de vista uns dos outros, e também ajuda a aprender anos de idade pelo segundo marido de sua mãe, um pediatra
como brigar, discordar e chegar a um acordo no contexto de judeu alemão, ele se sentia confuso a respeito de quem era.
um relacionamento seguro e estável. Debateu-se durante algum tempo antes de encontrar sua
vocação. Quando viajou para os Estados Unidos, precisou
Sociabilidade com outras crianças redefinir sua identidade como imigrante.
Bebês e - mais ainda - crianças pequenas mostram A identidade, segundo Erikson, forma-se quando os jovens
interesse em pessoas de fora do círculo familiar, resolvem três questões importantes: a escolha de uma
principalmente pessoas de seu tamanho. Nos primeiros meses, ocupação, a adoção de valores sob os quais viver e o
eles olham, sorriem e arrulham para outros bebês. Dos 6 aos desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória.
12 meses, cada vez mais querem tocá-los, além de sorrir e Durante a terceira infância, as crianças adquirem as
balbuciar para eles. Por volta de I ano, quando os principais habilidades necessárias para obter sucesso em suas
itens de sua agenda são aprender a andar e a manipular respectivas culturas. Quando adolescentes, elas precisam
objetos, os bebês prestam menos atenção às outras pessoas. encontrar maneiras de usar essas habilidades. Quando os
Essa fase, porém, é curta. A partir de aproximadamente I ano e jovens têm problemas para fixar-se em uma identidade
meio até quase 3 anos de idade, a criança demonstra cada vez ocupacional- ou quando suas oportunidades são
mais interesse no que as outras crianças fazem e uma artificialmente limitadas -, eles correm risco de apresentar
compreensão cada vez maior de como lidar com elas. comportamento com consequências negativas sérias, tal como
Crianças pequenas aprendem imitando umas às outras. atividades criminosas.
Brincadeiras como a de seguir o líder ajudam a estabelecer um De acordo com Erikson, a moratória psicossocial, um
vínculo com as outras crianças, preparando-as para período de adiamento que a adolescência proporciona,
brincadeiras mais complexas durante os anos pré-escolares. A permite que os jovens busquem compromissos aos quais
imitação das ações uns dos outros resulta em uma possam ser fiéis. Os adolescentes que resolvem essa crise de
comunicação verbal mais frequente (algo como "Entre na identidade satisfatoriamente desenvolvem a virtude da
casinha", "Não faça isso!" ou "Olhe pra mim"), que ajuda os fidelidade: lealdade constante, fé ou um sentimento de
pares a coordenar atividades conjuntas. A atividade integração com uma pessoa amada ou com amigos e
cooperativa desenvolve-se durante o segundo e o terceiro ano companheiros. Fidelidade também pode ser uma identificação
à medida que cresce a compreensão social. Assim como com um conjunto de valores, uma ideologia, uma religião, um
acontece com os irmãos, o conflito também pode ter um movimento político, uma busca criativa ou um grupo étnico.
propósito: ajuda a criança a aprender a negociar e a resolver A fidelidade é uma extensão da confiança. Na primeira
disputas. infância, é importante que a confiança nos outros supere a
Evidentemente, algumas crianças são mais sociáveis que desconfiança; na adolescência, torna-se importante que a
outras, refletindo traços de temperamento como o seu humor própria pessoa seja confiável. Os adolescentes estendem sua
habitual, disposição para aceitar pessoas desconhecidas e confiança a mentores e aos entes queridos. Ao compartilhar
capacidade para se adaptar à mudança. A sociabilidade pensamentos e sentimentos, o adolescente esclarece uma
também é influenciada pela experiência. Bebês que passam possível identidade ao vê-la refletida nos olhos do ser amado.
algum tempo com outros bebês, como nas creches, tornam-se Entretanto, essas intimidades do adolescente diferem da
sociáveis mais cedo do que aqueles que passam quase todo o intimidade madura, que envolve maior compromisso,
tempo em casa. sacrifício e conciliação.
Erikson via como o principal perigo desse estágio a
Adolescentes46 confusão de identidade ou de papel que pode atrasar
A busca da identidade A busca da identidade - que Erikson consideravelmente a maturidade psicológica. (Ele não
definiu como uma concepção coerente do self, constituída de resolveu sua crise de identidade até os 20 e poucos anos.)
metas, valores e crenças com os quais a pessoa está Algum grau de confusão de identidade é normal. De acordo
solidamente comprometida - entra em foco durante os anos da com Erikson, ela é responsável pela natureza aparentemente
adolescência. O desenvolvimento cognitivo dos adolescentes caótica de grande parte do comportamento dos adolescentes e
lhes possibilita construir uma "teoria do self". Como Erikson pela penosa auto consciência deles. Grupos fechados e
enfatizou, o esforço de um adolescente para compreender o intolerância com as diferenças, ambos marcas registradas do
self não é "uma espécie de enfermidade do amadurecimento". cenário social adolescente, são defesas contra a confusão de
Ele faz parte de um processo saudável e vital fundamentado identidade.
nas realizações das etapas anteriores - na confiança, A teoria de Erikson descreve o desenvolvimento da
autonomia, iniciativa e produtividade - e lança os alicerces identidade masculina como norma. De acordo com ele, um
para lidar com os desafios da idade adulta. homem não é capaz de estabelecer uma intimidade real até ter

46PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano, 12ª edição, 2013,


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adquirido uma identidade estável, enquanto as mulheres se pesquisa verificou que as meninas parecem passar pelo
definem através do casamento e da maternidade (algo que processo de formação de identidade mais cedo que os
talvez fosse mais verdadeiro na época em que Erikson meninos. Por exemplo, um estudo com mais de 300
desenvolveu sua teoria do que na atualidade). Desse modo, as adolescentes mostrou que durante um período de quatro anos
mulheres (ao contrário dos homens) desenvolvem a meninas latinas passaram por exploração, resolução e
identidade por meio da intimidade, não antes dela. Conforme afirmação de sentimentos positivos em relação a suas
veremos, essa orientação masculina da teoria de Erikson foi identidades étnicas, enquanto os meninos apresentaram
alvo de críticas. Ainda assim, seu conceito de crise de aumentos apenas na afirmação. Este achado é importante
identidade inspirou muitas pesquisas valiosas. porque o aumento na exploração - que os meninos não
demonstraram - era o único fator ligado a aumento na
Fatores étnicos na formação da identidade autoestima.
Para muitos jovens de grupos minoritários, a raça ou a O termo socialização cultural refere-se a práticas que
etnia é fundamental na formação da identidade. ensinam as crianças sobre sua herança racial ou étnica,
Um estudo de 940 adolescentes, estudantes universitários promovem costumes e tradições culturais e alimentam o
e adultos afro-americanos encontrou evidência de todos os orgulho racial/ étnico e cultural. Os adolescentes que
quatro estados de identidade em cada faixa etária. Apenas 27 passaram por socialização cultural tendem a ter identidade
dos adolescentes estavam no grupo de identidade realizada, étnica mais forte e mais positiva do que aqueles que não a
comparado com 47 dos estudantes universitários e 56 dos experimentaram.
adultos. Em vez disso, os adolescentes eram mais propensos a
estar na moratória, ainda explorando o que significa ser afro- Sexualidade
americano. Vinte e cinco por cento dos adolescentes estavam Ver-se como um ser sexual, reconhecer a própria
em execução, com sentimentos sobre a identidade afro- orientação sexual, chegar a um acordo com as primeiras
americana baseados em sua educação familiar. Os três grupos manifestações da sexualidade e formar uniões afetivas ou
(realização, moratória e execução) relataram mais sexuais, tudo isto faz parte da aquisição da identidade sexual.
consideração positiva por serem afro americanos do que os 6 A consciência da sexualidade é um aspecto importante da
de adolescentes que eram difusos (nem comprometidos nem formação da identidade que afeta profundamente a auto
em processo de exploração). Aqueles de qualquer idade que imagem e os relacionamentos. Embora este processo seja
estavam no estado realizado eram mais propensos a ver a raça impulsionado biologicamente, sua expressão é, em parte,
como central em sua identidade. E, alcançar este estágio de definida culturalmente.
formação da identidade racial tem aplicações práticas. Embora Durante o século XX, uma mudança importante nas
o efeito seja mais forte para os homens do que para as atitudes e no comportamento sexual nos Estados Unidos e em
mulheres, aumentos na identidade racial do período de um outros países industrializados trouxe uma aceitação mais
ano foram relacionados com uma diminuição no risco de generalizada do sexo antes do casamento da
sintomas depressivos, mesmo quando fatores como auto homossexualidade e de outras formas de atividade sexual
estima são controlados. anteriormente desaprovadas. Com o acesso difundido à
Outro modelo focaliza-se em três aspectos da identidade internet, o sexo casual com conhecidos virtuais que se
racial/étnica: conexão com o próprio grupo racial/étnico, conectam por meio das salas de bate-papo online ou de sites
consciência de racismo e realização incorporada, a crença de de encontro de solteiros tornou-se mais comum.
que a realização acadêmica é uma parte da identidade do Telefones celulares, e-mail e mensagens instantâneas
grupo. Um estudo longitudinal de jovens de grupos facilitam que adolescentes solitários arranjem esses contatos
rninoritários de baixa renda revelou que os três aspectos da com pessoas anônimas, sem a supervisão dos adultos.
identidade parecem estabilizar-se e até aumentar
ligeiramente na metade da adolescência. Portanto, a Velhice47
identidade racial/étnica pode atenuar as tendências a uma O envelhecimento econômico de uma população que está
queda nas notas e na ligação com a escola durante a transição envelhecendo depende da proporção de pessoas saudáveis e
do ensino fundamental para o ensino médio. Por outro lado, a fisicamente capazes dessa população. A tendência é
percepção de discriminação durante a transição para a encorajadora. Alguns problemas que eram considerados
adolescência pode interferir na formação da identidade inevitáveis agora são entendidos como resultantes do estilo de
positiva e levar a problemas de conduta ou a depressão. Como vida ou doenças, e não do envelhecimento.
exemplo, as percepções de discriminação em adolescentes O envelhecimento primário é um processo gradual e
sino-americanos estão associadas com sintomas depressivos, inevitável de deterioração física que começa cedo na vida e
alienação e queda no desempenho acadêmico. Os fatores de continua ao longo dos anos, não importa o que as pessoas
proteção são pais carinhosos e envolvidos, amigos pró-sociais façam para evita-lo. Assim, o envelhecimento secundário é
e desempenho acadêmico forte. uma consequência inevitável de ficar velho. O envelhecimento
Um estudo longitudinal de 3 anos com 420 adolescentes secundário resulta de doenças, abusos e maus hábitos, fatores
norte-americanos de ascendência africana, latina e europeia que em geral podem ser comparadas ao conhecido debate
examinou duas dimensões da identidade étnica: estima do natureza experiência.
grupo (sentir-se bem em relação à própria etnia) e exploração Uma classificação mais significativa é a idade funcional,
do significado da etnia na vida da pessoa. A estima do grupo que é a capacidade de uma pessoa interagir em um ambiente
aumentou durante a adolescência, especialmente para afro- físico e social em comparação com outros da mesma idade
americanos e latinos, para os quais ela era mais baixa de início. cronológica. Podemos encontrar casos de pessoas com 90 anos
A exploração do significado da etnia aumentou apenas na de idade que estão mais jovens do que umas com 60 anos, por
metade da adolescência, talvez refletindo a transição de estarem bem de saúde.
escolas fundamentais de bairros relativamente homogêneos A senescência é um período marcado por declínios no
para escolas secundárias de etnia mais diversa. As interações funcionamento físico associados ao envelhecimento.
com os membros de outros grupos étnicos podem estimular a As teorias de programação genética sustentam que o corpo
curiosidade dos jovens sobre sua própria identidade étnica. A da pessoa envelhece de acordo com o relógio evolutivo normal

47PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano, 12ª edição, 2013,


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inato dos genes. Estudos sobre gêmeos constataram que as 02. (IFB - Psicólogo – FUNIVERSA). Durante o processo
diferenças genéticas são responsáveis por aproximadamente de ensino e de aprendizagem, o lúdico contribui para a
um quarto da variância no tempo de vida adulto humano. Essa construção de várias funções no desenvolvimento psicológico
influência genética é mínima antes dos 60, mas aumenta da criança. Em relação ao papel do lúdico no desenvolvimento
depois dessa idade. infantil, especialmente na educação infantil e no ensino
Algumas mudanças físicas costumam estar associadas ao fundamental, assinale a alternativa correta.
envelhecimento, sendo óbvias para um observador causal, (A) Atividades lúdicas são desaconselháveis dentro da sala
embora afetem mais algumas pessoas do que outras. A pele de aula, pois promovem a indisciplina e o descontrole da
mais velha tende a se tornar mais pálida e menos elástica; e organização do trabalho pedagógico.
assim como a gordura e os músculos encolhem, a pele fica (B) São prejudiciais ao desenvolvimento mental da criança
enrugada. São comuns varizes nas pernas. O cabelo fica mais atividades que promovem fantasia e fuga da realidade durante
fino, grisalho e depois branco, e os pelos do corpo tornam-se as brincadeiras.
mais ralos. (C) Para estimular, condicionar e controlar processos
O envelhecimento no cérebro varia muito de uma pessoa psicológicos complexos, as atividades lúdicas adequadas são
para outra. O cérebro pode reorganizar os circuitos neuronais exclusivamente as que usam brinquedos pedagógicos.
para responder ao desafio do envelhecimento neurobiológico. (D) Atividades lúdicas devem fazer parte dos processos de
Há uma diminuição na quantidade ou densidade do ensino e de aprendizagem para favorecerem a mediação
neurotransmissor dopamina devido à perda de sinapses. Os simbólica entre a realidade e o desenvolvimento da
receptores de dopamina são importantes na medida em que subjetividade da criança.
ajudam a regular a atenção. (E) As brincadeiras de imitação, por não interferirem nos
Nem todas as manifestações no cérebro são destrutivas. Os desenvolvimentos afetivo, cognitivo e psicanalítico, são as
pesquisadores descobriram que cérebros mais velhos podem mais importantes para a aprendizagem da criança, pois
criar novas células nervosas a partir de células-tronco – algo determinam como ela irá se adaptar aos limites do mundo e
impensado no passado. dos papéis sociais das suas relações parentais.

Principais problemas comportamentais e mentais 03. (FUNTELPA - Psicólogo - IDECAN). Sobre o


Muitos idosos com problemas comportamentais e mentais desenvolvimento psicológico, Vygotsky afirma que “A
tendem a não procurar ajuda. Alguns desses problemas são internalização de formas culturais de comportamento envolve
intoxicação medicamentosa, delírio, transtornos metabólicos, a reconstrução da atividade psicológica...” Tal afirmativa
baixo funcionamento da tireoide, pequenos ferimentos da denota que:
cabeça, alcoolismo e depressão. (A) O uso de signos externos é também radicalmente
A depressão está associada a outros problemas de saúde. reconstruído.
Pelo fato de a depressão estar associada a outros problemas de (B) Os processos psicológicos permanecem tal como
saúde, um diagnóstico preciso, prevenção e tratamento aparecem nos animais.
adequado podem ajudar pessoas idosas a viverem mais tempo (C) As mudanças nas operações linguísticas são tímidas.
e permanecerem mais ativas. A depressão pode ser tratada (D) A fala egocêntrica se fortalece fazendo surgir a fala
com drogas, psicoterapia, antidepressivos. externa.
O Mal de Alzheimer é uma das mais comuns e mais temidas (E) Deixam de ser internalizadas as atividades sociais e
doenças terminais entre as pessoas idosas. Gradualmente, históricas.
rouba dos pacientes a inteligência, a consciência e até mesmo
a habilidade de controlar as funções de seu corpo, e finalmente 04. (Prefeitura de Fortaleza/CE- Psicólogo- Prefeitura
os mata. Os sintomas clássicos do mal de Alzheimer são a de Fortaleza/CE-2016) Ao se falar de zona de
diminuição da capacidade de memória, deterioração da desenvolvimento proximal, está-se referindo à teoria de
linguagem e deficiências no processamento espacial e visual. O desenvolvimento de:
principal sintoma é incapacidade de lembrar acontecimento (A) Henri Wallon.
recente ou absorver novas informações. (B) Lev Vygotsky.
A memória episódica é particularmente vulnerável aos (C) Carl Gustav Jung.
efeitos do envelhecimento; efeitos que são agrados à medida (D) Jean Piaget.
que as tarefas da memória tornam-se mais complexas ou
exigentes, ou requerem a livre recordação de informações, em 05. (CEFET/RJ - Psicólogo - CESGRANRIO) A posição de
oposição ao reconhecimento de material previamente visto. Vygotsky sobre a relação entre desenvolvimento e
aprendizagem é que o
Questões (A) desenvolvimento é dependente da maturação e
condiciona o aprendizado.
01. (Prefeitura de Quixadá/CE - Psicólogo – ACEP). (B) desenvolvimento é definido como a substituição de
Sobre as fases do desenvolvimento humano e os fatores respostas inatas a partir do aprendizado.
psicológicos do desenvolvimento, assinale a alternativa (C) aprendizado e o desenvolvimento são coincidentes e
CORRETA. contemporâneos.
(A) Freud abordou a construção das estruturas mentais do (D) aprendizado alavanca o desenvolvimento devido ao
pensamento pautadas na epistemologia genética. estabelecimento das relações sociais.
(B) A interação e a socialização, segundo Piaget, são (E) processo de desenvolvimento da criança é
mecanismos importantes que favorecem a autorregulação do independente do aprendizado.
ser humano.
(C) No Construtivismo, o período da criança entre 02 a 07 Gabarito
anos caracteriza-se como estágio pré-operacional. 01.C / 02.D / 03.A / 04.B / 05.D
(D) Vygotsky associou o desenvolvimento da inteligência
da criança aos processos de assimilação e acomodação.

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Os atos de bullying ferem princípios constitucionais –


3.6 Temas contemporâneos: respeito à dignidade da pessoa humana – e ferem o Código
Civil, que determina que todo ato ilícito que cause danos a
bullying, o papel da escola, a outrem gera o dever de indenizar. O responsável pelo ato de
escolha da profissão, bullying pode também ser enquadrado no Código de Defesa do
transtornos alimentares na Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço
aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que
adolescência, família, escolhas ocorram dentro do estabelecimento de ensino/trabalho.
sexuais.
O bullying e os direitos da criança e do adolescente
O Estatuto da Criança e do Adolescente positivou
Bullying diversas garantias e medidas protetivas com o propósito
de afiançar um desenvolvimento sadio aos infanto-
Bullying48 é um termo da língua inglesa (bully = juvenis. O comportamento discriminatório e agressivo
“valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes dos bullies atenta acintosamente contra o respeito e a
agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, dignidade de suas vítimas ferindo os direitos estatutários
que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por transcritos abaixo: Estatuto.
um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o
objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
possibilidade ou capacidade de se defender, sendo qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer
poder. atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

O bullying se divide em duas categorias: Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao
a) bullying direto, que é a forma mais comum entre os respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de
agressores masculinos e desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e
b) bullying indireto, sendo essa a forma mais comum entre sociais garantidos na Constituição e nas leis. [...].
mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento
social da vítima. Em geral, a vítima teme o(a) agressor(a) em Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da
razão das ameaças ou mesmo a concretização da violência, integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
física ou sexual, ou a perda dos meios de subsistência. abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos
O bullying é um problema mundial, podendo ocorrer em pessoais.
praticamente qualquer contexto no qual as pessoas interajam,
tais como escola, faculdade/universidade, família, mas pode Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e
ocorrer também no local de trabalho e entre vizinhos. Há uma do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento
tendência de as escolas não admitirem a ocorrência do desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
bullying entre seus alunos; ou desconhecem o problema ou se
negam a enfrentá-lo. Esse tipo de agressão geralmente ocorre A violação de quaisquer desses direitos afeta a dignidade
em áreas onde a presença ou supervisão de pessoas adultas é do infanto-juvenil, incidindo, portanto, em dano moral. Sendo
mínima ou inexistente. Estão inclusos no bullying os apelidos assim, as vítimas de bullying poderão contender judicialmente
pejorativos criados para humilhar os colegas. pelo devido ressarcimento, conforme orienta Mattia: O
As pessoas que testemunham o bullying, na grande atentado ao direito à integridade moral gera a configuração de
maioria, alunos, convivem com a violência e se silenciam em dano moral, que, no caso, será pleiteado pela criança ou
razão de temerem se tornar as “próximas vítimas” do agressor. adolescente através de seu representante legal. A indenização
No espaço escolar, quando não ocorre uma efetiva intervenção por dano moral não mais suscita dúvidas, é a consagração do
contra o bullying, o ambiente fica contaminado e os alunos, dano moral direto, em face dos termos do princípio
sem exceção, são afetados negativamente, experimentando constitucional previsto no art. 5º, X, que dispõe: “São
sentimentos de medo e ansiedade. invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano
tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima. material ou moral decorrente de sua violação.”
Tendem a adquirir sérios problemas de relacionamento, Mas, antes que o dano moral ao infanto-juvenil
podendo, inclusive, contrair comportamento agressivo. Em efetivamente ocorra, temos o dever de comunicar essa
casos extremos, a vítima poderá tentar ou cometer suicídio. iminência ao Conselho Tutelar que é o órgão - administrativo,
O(s) autor(es) das agressões geralmente são pessoas que municipal, permanente e autônomo - encarregado pela
têm pouca empatia, pertencentes às famílias desestruturadas, sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e
em que o relacionamento afetivo entre seus membros tende a do adolescente. O artigo 13 do Estatuto trata dessa
ser escasso ou precário. Por outro lado, o alvo dos agressores obrigatoriedade de comunicação à autoridade competente no
geralmente são pessoas pouco sociáveis, com baixa capacidade caso de conhecimento de maus tratos perpetrados contra
de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si e crianças e adolescentes. Aqueles que não o fizerem incorrerão
possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de na pena prevista no art. 245: Estatuto.
solicitar ajuda.
No Brasil, uma pesquisa realizada com alunos de escolas Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico,
públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra
bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. As três criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao
cidades brasileiras com maior incidência dessa prática são: Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de
Brasília, Belo Horizonte e Curitiba. outras providências legais.

48CAMARGO, O."Bullying"; Brasil Escola. Disponível em


http://brasilescola.uol.com.br.

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Quanto ao contexto em que está inserido o artigo 13 no Questões


Estatuto, Rossato, Lépore e Cunha pontuam que vale ressaltar
que apesar de alocado em meio a dispositivos que versam 01. (IFB - Cargos de nível Superior - CESPE) A formação
sobre o direito à saúde e obrigações dos profissionais dessa das crianças e dos jovens ocorre por meio de sua participação
área, o dever de comunicação de maus tratos também se na rede de relações que constitui a dinâmica social. Na
estende a outros profissionais, a exemplo de professores, convivência com pessoas, seja com adultos, seja com seus
responsáveis por estabelecimentos de ensino, dentre outros, pares, a criança e o jovem se apropriam dos conhecimentos e
conforme explicita a redação do art. 245 do Estatuto, que desenvolvem hábitos e atitudes de convívio social, como a
considera infração administrativa o descumprimento dessa cooperação e o respeito humano. Daí a importância do grupo
determinação legal. Mesmo porque, em se tratando de como elemento formador.
responsáveis por escolas de ensino fundamental – etapa de Tendo o texto acima como referência inicial, julgue os itens
ensino onde, conforme pesquisa da PLAN BRASIL, se verificou que se seguem, relacionados com a sala de aula como espaço
a maior incidência de bullying - a lei foi específica ao tratar do de aprendizagem e interação.
assunto:
“Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino O bullying pode-se caracterizar mesmo que o
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: comportamento aversivo seja apenas verbal.
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; [...].” ( ) Certo ( ) Errado
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar,
esgotados os recursos escolares; 02. (IF-RR - Pedagogo - FUNCAB) O Bullying, praticado
III - elevados níveis de repetência. em muitos espaços escolares, como também em espaços
sociais diversos, tem revelado o quanto alguns atos carregam
Na cartilha lançada pelo Conselho Nacional de Justiça formas preconceituosas de ver e se relacionar com o outro. De
encontramos a seguinte orientação dada aos responsáveis uma maneira geral o Bullying é um ato de:
pelos estabelecimentos de ensino nos casos de bullying: A (A) valorização da diversidade.
escola é corresponsável nos casos de bullying, pois é lá (B) brincadeira.
onde os comportamentos agressivos e transgressores se (C) homofobia.
evidenciam ou se agravam na maioria das vezes. A direção (D) violência.
da escola (como autoridade máxima da instituição) deve (E) racialismo.
acionar os pais, os Conselhos Tutelares, os órgãos de
proteção à criança e ao adolescente etc. Caso não o faça 03. (IFB - Psicólogo - FUNIVERSA) A prática da violência
poderá ser responsabilizada por omissão. Em situações no ambiente escolar não é um fenômeno recente. Apesar de
que envolvam atos infracionais (ou ilícitos) a escola parecer mais frequente, precisa ser percebida como um
também tem o dever de fazer a ocorrência policial. Dessa reflexo das interações sociais mais amplas que envolvem a
forma, os fatos podem ser devidamente apurados pelas família, a escola e a sociedade como um todo. Entre as várias
autoridades competentes e os culpados responsabilizados. formas de violência que acontecem no seio da escola, o bullying
Tais procedimentos evitam a impunidade e inibem o tem-se destacado. Acerca dessa forma de violência, assinale a
crescimento da violência e da criminalidade infanto-juvenil. alternativa incorreta.
No entanto, a intervenção deve ser ponderada, na medida (A) O bullying envolve atitudes agressivas, repetidas e
em que, se, por um lado, deve fazer cessar a humilhação, por intencionais.
outro, deve estimular na vítima do bullying a capacidade de (B) Pode abranger agressão de natureza física, psicológica
autodefesa, evitando uma superproteção prejudicial.” ou sexual.
Considerando o caráter multidisciplinar do tema em questão e (C) Aparecem, entre as ações típicas, xingamentos, elogios,
a necessidade das escolas estarem preparadas para lidar com intimidação, humilhação e discriminação.
a questão, Calhau diz que atualmente um grande número de (D) Identificam-se agressores, vítimas e espectadores
escolas mantém em seus quadros pedagogos e psicólogos, que, como participantes do bullying.
em sendo chamados para ajudar, poderão contribuir muito (E) Acontece sem uma motivação aparente em uma relação
com a solução dos problemas. A orientação deve nortear a ação desigual de força.
desses profissionais. Chamar a polícia e o Ministério Público, a
meu ver, somente nos casos mais graves. Gabarito
A solução, dentro do possível, deve ser conseguida 01. Certo. / 02. D. / 03.C.
compartilhando o problema com o grupo de alunos, tendo em
vista que os alunos tendem a voltar a praticar os atos de O Papel da Escola
bullying assim que se colocarem sem supervisão. Sobre a
atuação das escolas cabe, também, se necessário, reprimir atos Sabe-se que a escola não é responsável sozinha pelas
de indisciplina praticados por alunos e aplicar as penalidades transformações sociais, porém é nela que acontece a
pedagógicas nos casos previstos no regimento escolar ou intervenção pedagógica, resultando no processo de ensino e
interno. Entretanto, deve esgotar todos os recursos aprendizagem. É preciso então, que ela tenha consciência da
sociopedagógicos a ela inerente, inclusive ter uma equipe sua importância para desenvolver no educando a formação
especializada de profissionais, como psicopedagogos e crítica e dar condições para que ele possa participar das
profissionais afins, para atuar de forma preventiva nos decisões da sua comunidade local ou mundial.
distúrbios ou problemas de aprendizagem. Porém, sendo
inócua a tentativa de resolver o problema diretamente com os A escola, enquanto instituição social, é um dos espaços
alunos e esgotadas todas as possibilidades pertinentes ao caso privilegiados de formação e informação, em que a
concreto “é o caso de acionar o Conselho Tutelar e o Ministério aprendizagem dos conteúdos deve estar em consonância
Público. com as questões sociais que marcam cada momento
Finalmente, gostaríamos de destacar que, antes que seja histórico. Ou seja, deve estar relacionada ao cotidiano dos
necessário o acionamento das autoridades competentes, a alunos, desde o aspecto local ao global.
prevenção sempre será o melhor a ser feito pelos
estabelecimentos de ensino. Diante disso, a escola deve deixar de ser uma agência
transmissora de informações e transformar-se num lugar onde

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a informação seja produzida e o conhecimento seja familiares do aluno, nas quais se incluem as do trabalho e do
significante. O educando afirma sua identidade através do exercício da cidadania;
conhecimento e competências adquiridos na escola. c) A aplicação de conhecimentos constituídos na escola às
Segundo Libâneo49 a formação de atitudes e valores, situações da vida cotidiana e da experiência espontânea
perpassando as atividades de ensino, adquire, portanto, um permite seu entendimento, crítica e revisão.
peso substantivo na educação escolar, por que se a escola
silencia valores, abre espaço para Diante desse relato, a escola deve trabalhar de forma que
os valores dominantes no âmbito social. adapte os conteúdos à realidade e à diversidade de cultural, e
Dessa forma, a escola, diante das transformações que que a teoria e a prática estejam em consonância com as
ocorrem no mundo, não pode deixar de recolocar valores situações vividas pelos alunos. É fundamental que ela ofereça
humanos fundamentais como o reconhecimento da condições e liberdade ao professor para que ele possa
diversidade e das diferenças, da justiça, assim como o respeito desenvolver um bom trabalho frente ao aluno, visando a sua
à vida como suporte de convicções. aprendizagem como cidadão e como ser capaz de realizar
A escola não é a que detém o saber, mas é a responsável tarefas em sociedade, uma vez que a aprendizagem é um
por preparar o aluno para as exigências postas pela sociedade. processo continuo e inacabado e não um fim com o objetivo de
Ela não deve resumir-se ao papel de repassar conteúdos que formar apenas profissionais para o campo de trabalho.
não estejam norteados com a realidade do aluno, como num Hoje, ainda se observa que a responsabilidade de formar e
processo “bancário”, ou seja, o acúmulo de conhecimento que informar incide sobre o professor. Quando ele realiza uma
o educando não sabe mobilizar quando sai da escola, frente as estratégia diferente para repassar os conteúdos, outros
suas aspirações pessoais. segmentos da escola questionam se o tempo é suficiente para
atingir toda a programação. No entanto o compromisso da
A escola brasileira, hoje, encontra-se voltada para escola deve ser com o conhecimento do aluno, como ele se dá,
conteúdos que vão ajudar o aluno a ingressar numa e não com a transmissão de conteúdos programados
universidade ou no campo de trabalho, pois os professores previamente sem a análise das necessidades do educando.
precisam cumprir um programa preestabelecido pela O professor precisa de liberdade e autonomia para lidar
instituição como um fim, e não como um meio para a com os conteúdos que vão provocar a inquietação do aluno.
aquisição do conhecimento ou a informação da cidadania Para isso, a escola deve contribuir oferecendo-lhe condições
do aluno. para atuar, apoiando-o nas suas ideias com o mesmo objetivo
de formar pessoas que podem mudar toda uma nação. Muito
Charlot50 afirma “a escola ideal é aquela que faz sentido mais que ensinar conteúdos, a escola tem a responsabilidade
para todos e na qual o saber é fonte de prazer”, assim, a escola de contribuir para a construção da cidadania e o respeito às
que se deseja é a que promova saberes que o aluno entenda. diversidades.
Um recurso importante que provoca interesse no aluno,
hoje é o computador. O que se pode perceber são alunos Orientação Vocacional e Profissional
querendo aulas diferentes utilizando esse recurso, porém com
o objetivo de conversar com pessoas pela internet, e não para A decisão52 em relação a qual atividade seguir começa
pesquisar. A escola precisa conscientizar o aluno que pode geralmente no fim do ensino médio, com a proximidade do
usar esse recurso nas aulas, mas deve orientá-los para a Vestibular.
pesquisa. Na escolha da profissão a ser escolhida ter
De acordo com os PCNs51 é importante a contextualização autoconhecimento é essencial. É indispensável definir os
no currículo como forma de facilitar a aplicação da experiência traços da sua personalidade, suas aptidões, habilidades e
escolar para a compreensão de experiência pessoal em níveis gostos pessoais que definirão os caminhos a serem trilhados.
sistemáticos e abstratos e o aproveitamento de experiência Este processo pode ser feito pelo próprio adolescente com
pessoal para facilitar a concretização dos conhecimentos que auxílio da família e amigos, mas a ajuda profissional pode
a escola trabalha. A contextualização, nesse sentido é utilizada facilitar a escolha. A orientação vocacional ou profissional
como um recurso pedagógico para a constituição do pode ser feita por psicólogos, e até mesmo com o auxílio do
conhecimento; é um processo continuo de habilidades orientador educacional.
intelectuais superiores. A escolha de qual profissão seguir deve ser feita a partir do
A aprendizagem contextualizada em relação ao conteúdo autorreflexão. Primeiro é preciso conhecer a si mesmo. Saber
busca desenvolver o pensamento mais elevado, não apenas a quais seus pontos fortes e fracos, as habilidades, as pretensões
aquisição de fatos independentes da vida real. No processo, a e os desejos para o futuro. Em seguida procurar saber quais
aprendizagem é sócio interativa, envolve os valores, as são as áreas que mais despertam a atenção ou com as quais se
relações de poder e o significado do conteúdo entre os alunos tem mais facilidade.
envolvidos. No contexto, propõe-se não apenas trazer o real
para a sala de aula, mas criar condições para que os alunos Autoconhecimento é determinante para a escolha da
revejam os eventos da vida real numa outra perspectiva. profissão, pois é onde descubro quais são minhas reais
habilidades, competências, interesses, descubro qual é a
De acordo com o Art. 9º do referido Parecer, na minha real personalidade.
observância da Contextualização, as escolas terão presente
que:
a) Na situação de ensino e aprendizagem, o conhecimento
é transposto da situação em que foi criado, inventado ou
produzido, e por causa desta transposição didática deve ser
relacionado com a prática ou a experiência do aluno a fim de
adquirir significado;
b) A relação entre teoria e prática requer concretização dos
conteúdos curriculares em situações mais próximas e

49Idem 51 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Ensino Médio. Ministério da


50 CHARLOT, Bernard. Fala mestre. In: NOVA ESCOLA, nº 196, p.15-18, Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília, 1999.
outubro, 2006. 52 GONÇALVES, J. Orientação Vocacional. Brasil Escola.

Educação Brasileira 71
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Diferença entre orientação vocacional e orientação significando "algo que se dá a alguém", com o sentido de algo
profissional: externo que se acrescenta ao indivíduo e educere com a ideia
de "conduzir para fora", "fazer sair", "tirar de", que sugere a
Orientação Vocacional Orientação Profissional liberação das forças que estão latentes e que dependem de
estimulação para virem à tona. Origem esta que nos apresenta
A orientação vocacional
No processo de orientação uma grande contradição: em uma mesma raiz, sentidos
pretende ajudar a pessoa a
profissional busca-se diferentes, expressando diferentes concepções de educação.
conhecer o seu perfil e,
auxiliar o indivíduo na Uma compreendida como a transmissão de conhecimentos e
assim, perceber quais são
descoberta de seus valores socioculturais às novas gerações, algo externo. Outra
suas áreas de interesse, o
conhecimentos e de suas entendida como processo de desenvolvimento das
que vai bem além dos testes.
habilidades, assim como potencialidades dos indivíduos, algo interno, que se extrai.
Porém, apresentar apenas
conhecer as fontes de Diferentes modelos epistemológicos de educação.
essa informação deixa o
treinamento para Em cada uma das definições epistemológicos de educação
jovem perdido em um mar
aprimorar as suas explicitados anteriormente, decorrem concepções e práticas
de opções. Aí que entra a
competências profissionais. de educação escolar específicas. Na concepção em que o centro
orientação profissional.
do processo é o professor, obedecendo ao modelo tradicional
de educação, o professor fala, o aluno escuta, o professor
A escolha da profissão - Professor
decide o que fazer, o aluno executa, o professor ensina o aluno
A escolha profissional53 é umas das mais importantes
aprende. "Segundo a epistemologia deste professor, o
dentre as tantas que realizamos em nosso cotidiano, em nosso
indivíduo, ao nascer, nada tem em termos de conhecimento: é
viver.
uma folha de papel em branco." E de onde vem o
Várias e diversas são as razões que motivam a escolha de
conhecimento, então? Do meio social. A ação deste professor
uma profissão, dentre elas podemos salientar: a possibilidade não é neutra. O empirismo sustenta suas crenças.
de destaque social, a influência familiar, a questão salarial, as Já nas concepções em que o centro do processo é o aluno,
perspectivas do mercado, entre outras. o professor é um facilitador, um auxiliar e deve interferir o
No contexto sociocultural atual o ser professor/professora mínimo possível. Pode, no máximo, auxiliar a aprendizagem, já
não é uma carreira profissional atrativa devido a múltiplos que o aluno possui um saber que ele precisa apenas trazer à
fatores, destacadamente o fator econômico, isto é, a questão consciência. Para os aprioristas que sustentam as crenças
salarial não é atrativa. No entanto, observamos que os cursos deste professor, o indivíduo nasce com o conhecimento já
de licenciaturas, ofertados no ensino superior, são procurados
programado na sua herança genética. Aqui, o professor
(obviamente, não como outrora) e cursados.
renuncia "àquilo que seria a característica fundamental da
Considerando a observação exposta acima, passível de
ação docente: a intervenção na aprendizagem do aluno." E
constatação, buscamos inquirir o que motiva jovens
como avaliar neste modelo epistemológico? O aluno avalia se
estudantes a optarem por ser professor, bem como se a escola
aprendeu ou não.
é refletida ou meramente, uma aleatória.
Porém, nas concepções em que o diálogo é princípio,
A construção de respostas frente à problematização está
professor e aluno ensinam e aprendem em comunhão
na perspectiva da ressignificação da ação docente, pois é no construindo o conhecimento. A relação em uma destas salas de
íntimo de cada um, na sua história de vida, que residem as aula é horizontal, o professor considera o saber do aluno e
razões da suas escolhas e sendo a profissão docente de grande propicia um ambiente favorável para expandir este
relevância social, optar por ser professor deve ser uma escolha conhecimento. O aluno, por sua vez, sente-se importante e
consciente e tomada a partir de algumas reflexões. Segundo capaz de transformar a realidade. "O resultado desta sala de
Gadotti, "escolher a profissão de professor não é escolher uma aula é a construção e a descoberta do novo". O construtivismo
profissão qualquer", pois muitos são os desafios e
sustenta as crenças deste professor.
responsabilidades desta profissão.
A partir do construtivismo conceitua-se educação como
Este texto é organizado em três partes, sendo elas:
um processo pelo qual se busca o melhoramento, a excelência
"Educação e ser professor: breve conceituação e apreciação",
do viver. A excelência da família, da escola, da sociedade, do
"Uma importante decisão: escolha profissional" e "Ser
mundo. Logo, é processo contínuo de construção e
professor: motivação, expectativas e análise reflexiva".
reconstrução concretizando-se com humanos. Nisso consiste
importância e sua função social, isto é, da responsabilidade de
Educação e Ser Professor
formar mentes e ações, sociedades e mundos.
Ao pensarmos em educação é correto afirmar que ela A responsabilidade e a importância do professor neste
existe em todos os lugares e em todos os momentos da vida do cenário são de grande proporção, pois este se torna, agente da
ser humano. Estamos sempre aprendendo e ensinando desde mudança social e deve primeiramente conscientizar-se de sua
o momento em que nascemos. "Da família à comunidade, a função como formador de opinião, de personalidade, de
educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as caráter. E jamais minimizar sua prática à mera transmissão de
incontáveis práticas dos mistérios do aprender". Educamo-nos conhecimentos e técnicas prontas.
sempre. Ensinamos e aprendemos em todos os espaços que
O reencantamento da educação requer a união entre
frequentamos. "A educação é a prática mais humana,
sensibilidade social e eficiência pedagógica. Portanto, o
considerando-se a profundidade e a amplitude de sua
compromisso ético, político do (a) educador (a) deve
influência na existência dos homens".
manifestar-se primordialmente na excelência pedagógica e na
No entanto, existe um lugar onde ensinar e aprender é
colaboração um clima esperançador no próprio contexto
razão primordial. Um lugar que é o espaço próprio da
escolar.
educação formal, apesar de todas as outras maneiras possíveis
Estando consciente de que pode influenciar no contexto
para concretizar o ato educativo: a escola! Este estudo é social e sabendo que a transmissão de conhecimentos já não é
dedicado a esta especificidade educativa, isto é, a educação suficiente, cabem ao educador muitos e complexos desafios.
escolar. Em nossa concepção, fundamentada no construtivismo,
Objetivando conceituar este importante fenômeno da vida ser professor vai além de transmitir conhecimentos com
humana, recorremos à sua origem que, segundo Garcia técnicas prontas. O professor torna-se educador, pois assume
relaciona-se aos verbos latinos educãre (alimentar, criar),

53 ECCO, I. POR QUE SER PROFESSOR? 2010.

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a tarefa de educar e não somente preparar seus alunos para b) Fatores econômicos:
algo. "Podemos aprender a ler, escrever sozinhos, podemos Em relação à escolha profissional é perfeitamente
aprender geografia e a contar sozinhos, porém não perceptível a influência das condições econômicas na decisão
aprendemos a ser humano sem a relação e o convívio com do jovem. Aquela pessoa que se obrigou a procurar emprego
outros humanos que tenham aprendido essa difícil tarefa." desde muito cedo por necessidade financeira, a não ser que
Assim, o professor deve ser um constante pesquisador e conte com muita sorte, certamente não escolheu o que fazer.
incentivar seus alunos a serem pesquisadores, também, além Precisou aceitar o que o mercado de trabalho ofereceu. E assim
de ensiná-los a filtrar as informações e os conhecimentos trabalhar em algo e fazer carreira somente pelo fato de
constatados nesta pesquisa. A criticidade é uma qualidade sustentar-se. Estes, em muitos casos nem pensam em cursar
indispensável ao educador responsável. Aceitar tudo como lhe uma universidade devido aos custos que isto implica.
é apresentado é uma característica desta sociedade desigual e Para os "sortudos" que trabalham de dia e conseguem
desumanizada presente na atualidade. frequentar a universidade à noite, a realidade não é muito mais
O professor-educador deve agir como problematizador, fácil, já que provavelmente o valor do curso influenciou na
instigador, orientador e precisa estar consciente de que a decisão. Para estes, o fator econômico está também no fato de
aprendizagem só acontece num clima de liberdade e não conseguirem aproveitar tudo que poderiam da aula, pois
questionamento e ela só é efetiva se tem um sentido pessoal. O trabalharam o dia inteiro e já estão cansados. Muito melhor
importante é aprender a aprender e ser professor é criar as seria poder somente estudar, até porque seu trabalho difere
circunstâncias favoráveis para tal. bastante do que vê em aula.
Portanto, escolher a profissão docente não é escolher uma
profissão qualquer. E esta decisão deve acontecer em um c) Fatores sociais:
contexto de reflexão e responsabilidade. O que comumente Os fatores sociais estão basicamente relacionados à classe
motiva a escolha profissional? Existe reflexão? É realmente social na qual o indivíduo pertence e que na maioria das vezes
uma "escolha"? determina se ele poderá ou não fazer curso superior.
Observando os contextos sociais próximos infelizmente
Escolha Profissional podemos perceber que as profissões são divididas por classe
Escolher! Ação comum em nossa vida. Escolhemos roupas, social e que dificilmente esta realidade se altera. Cursar
escolhemos comida, escolhemos filmes, músicas. Porém, em medicina não é uma realidade comum em comunidades
certo momento precisamos fazer uma escolha que se difere pobres onde os jovens não dispõem do dinheiro e nem do
destas tantas do cotidiano pela importância. É a escolha tempo necessário para realizar esta atividade e precisam
profissional. trabalhar para se sustentar e estudar a noite quando os cursos
Este é um momento indiscutivelmente importante na vida oferecidos são outros.
de qualquer pessoa. É um momento de fazer projetos sobre o A convivência social também é determinante na nossa
que se pretende ser, o que se pretende fazer, decidir a vida que escolha, pois somos fruto da sociedade onde vivemos. "É
se quer levar. Pois passamos no trabalho grande porcentagem impossível se pensar o homem como algo separado de seu
da nossa existência. Daí a importância de se fazer uma escolha meio social." As profissões que são valorizadas pela sociedade
consciente e responsável. E se levarmos em consideração que em que vivemos certamente estarão em nossa lista de
esta é uma decisão que não tomamos sozinhos e que não possibilidades. Pois a profissão, também, é vista como uma
afetará somente a nossa vida constata-se a amplitude desta forma de ascensão social importante.
escolha.
Diante de tais fatos, almejando conhecer o que motiva a d) Fatores educacionais:
escolha da profissão docente faz-se necessária também uma Os fatores educacionais referem-se ao fato de o sistema
reflexão sobre os fatores que comumente motivam a escolha educacional como um todo influenciar na escolha profissional.
profissional como um todo, pois, muitos e variados são os Desde que ingressamos na escola estamos sendo influenciados
fatores que influenciam na decisão da carreira. Embora na pelas pessoas e suas profissões. As meninas da educação
realidade sempre atuem juntos Soares, para fins puramente infantil já decidiram: vão ser professoras! Os meninos
didáticos, divide os fatores determinantes na escolha também: bombeiros!
profissional em: fatores políticos, fatores econômicos, fatores A estrutura da educação no país exerce influência sobre a
sociais, fatores educacionais, fatores familiares e fatores escolha profissional. A escola em si, a maneira como se
psicológicos. organiza, seus métodos e objetivos influenciam. Os
professores e sua maneira de conduzir a aula despertam
a) Fatores políticos: interesses e também repulsas à sua especialidade.
É de certa forma fácil identificar o viés da política A escolha profissional não tem sido abordada na escola
predominante na educação e na preparação do jovem para a com a objetividade e o respeito que merece. Na maioria das
"escolha" do trabalho, observando as tendências pedagógicas. vezes, esta importante orientação é trabalhada em dois ou três
Nas tendências liberais o jovem é levado a acreditar que a períodos nas séries finais do Ensino Fundamental e Ensino
escolha profissional é algo só seu que sua escolha não interfere Médio, ou seja, às vésperas da escolha. O que causa aflição e
em nada na sociedade. Já nas tendências progressistas o jovem desespero, tornando este momento ainda mais desesperador.
é conscientizado sobre a importância da sua escolha no Isto é feito por meio de testes vocacionais e rápidas palestras,
contexto social. Cada governo, segundo sua política, seu quando deveria ser uma construção de toda a vida escolar do
interesse, opta por uma estratégia educacional e de preparar aluno.
para a escolha profissional. Exemplo: "Com o regime militar
elevou-se o número de alunos em todos os níveis desde a pré - e) Fatores familiares:
escola até as pós - graduações, mas o funil educacional Como sabemos, a família é parte importante na vida de
manteve-se um sério problema e a má qualidade de ensino qualquer indivíduo e no momento da escolha profissional este
agravou-se". Nesse período era preciso mostrar ao exterior um grupo exerce grande influência, seja positiva ou
povo escolarizado e não necessariamente educado. A regra era negativamente. Todo o pai tem projetos para o seu filho e estes
formar muitos técnicos e nenhum filósofo. estão presentes na maneira como acompanha seu
desenvolvimento, mesmo sem querer, a família exerce papel
decisivo na hora da escolha da carreira.

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f) Fatores psicológicos: tarefa docente não apenas ensinar conteúdos, mas também
Os fatores psicológicos dizem respeito ao conhecimento ensinar a pensar certo".
que o jovem tem sobre si mesmo. Sobre sua história de vida, Assaré aponta os motivos para ser professor em forma de
sobre suas preferências, suas aptidões. Fatores que passam poesia: "Com muita certeza digo. Ele é seu grande amigo. Quem
despercebidos pela escola e que deveriam ser mais vive sem professor. Vaga nas trevas sem luz".
estimulados pela família. Raí pensa que ser professor "É uma das profissões mais
Para uma escolha profissional consciente e reflexiva o bonitas. Só recuperamos nosso país se todas as crianças e
jovem deve primeiramente conhecer-se. Isto possibilitará que jovens tiverem a oportunidade de aprender com professores
saiba com mais precisão em que profissão terá maior envolvidos de verdade com a educação".
realização e possibilidade de sucesso. Para tanto, pode-se Gardner acredita que um motivo importante para ser
lembrar de situações em que esteve em contato com profissões professor é a oportunidade de "aprimorar-se a cada dia mais e
diferentes e quais suas reações a cada uma delas. mais a cada dia".
A escolha profissional é uma temática complexa que não é Nowil aponta o motivo essencial para se professor em sua
determinada por um ou dois fatores. Na verdade, ao escolher opinião: "O mundo depende dos mestres para despertar nos
a profissão estamos evidenciando uma bagagem que alunos a compreensão que pode gerar a verdadeira paz e
acumulamos durante toda a nossa vida e esta decisão não é justiça entre os homens".
nada fácil. Fica claro que a escolha profissional é um processo Por fim, os motivos para escolher a profissão docente
dinâmico, permeado por fatores subjetivos, emocionais e resumem-se nas seguintes categorias: amor, identificação,
pessoais. Fazer uma boa escolha requer conhecimento e compromisso, responsabilidade social, querer formar
reflexão sobre si mesmo, sobre as profissões, sobre o mundo a cidadãos melhores para um mundo melhor.
nossa volta. A melhor escolha é a realizada de forma mais
consciente, considerando-se o que se quer e pode, Questões
considerando-se, ainda, as condições sociais, econômicas e
políticas em que se vive. Porém, algo é certo e definitivo: 01. (IF-PA- Psicólogo- FUNRIO/2016) Um dos fatores de
escolhida a profissão é preciso ser competente no que se faz. grande relevância na escolha de uma ocupação profissional diz
Um profissional competente é o profissional capaz de respeito a
refletir sobre sua profissão de modo a produzir conhecimento, (A) capacidade de reação.
tornando sua atividade algo cada vez mais estimulante e (B) critérios financeiros.
gratificante, impedindo a massificação e a burocratização de (C) adaptação a valores.
seu trabalho. Isto levará consequentemente a lutar por um (D) diferenças de apropriação.
mundo melhor. Em se tratando da profissão docente esta (E) diferenças individuais.
reflexão e ressignificação faz-se necessária quase que
diariamente, pois não lidamos com objetos e sim com seres 02. (SEDUC-AM-Pedagogo- CESPE) Julgue o item
humanos. E nossa visão do mundo e da vida é concretizada subsequente, no que se refere às funções do supervisor
com pessoas. Por isso, escolher ser professor não é uma escolar.
escolha qualquer. Deve ser tomada em um contexto de Compete ao supervisor escolar coordenar a orientação
reflexão e consciência. Na prática, será que isso acontece? O vocacional do educando, incorporando-a ao processo
que motiva a escolha da profissão docente? Quais fatores educativo global.
influenciam nesta decisão? ( ) Certo ( ) Errado
Em um contexto social e cultural onde ser professor não é
uma carreira muito atrativa devido a vários fatores, Gabarito
observamos que os cursos de licenciaturas assim mesmo são 01. E / 02. Errado
procurados. Muitas pessoas ainda objetivam dedicar-se ao
educar profissionalmente. Por quê? Transtornos Alimentares

Motivação, Expectativas e Análise Reflexiva Os transtornos alimentares54 são qualquer tipo de


Em concordância com o decorrer deste texto, ser professor alteração relacionada à alimentação de alguma pessoa, essa
é algo importante e significativo socialmente. Escolher esta alteração pode ser devida a fatores metabólicos, fisiológicos,
profissão deve ser uma decisão tomada de forma reflexiva e econômicos e psicológicos. Este tipo de transtorno teve um
consciente porque muitos são os desafios desta carreira. aumento significativo na população após o início da
Alves afirma que o principal motivo para ser professor é globalização, sendo estudado vários fatores que podem
"Amar as crianças e querer tê-las como companheiras." influenciar na vida dessas pessoas que se tornam vítima do
Maringoni acredita que "Ser Revolucionário. Resgatar o ideal distúrbio alimentar. Um dos fatores principais são os
de transformar o mundo por meio das pessoas e, assim fazer socioculturais que atualmente tem uma grande valorização à
com que as gerações aprendam a respeitar o ser humano e o magreza, estabelecendo um “padrão de beleza” que é
planeta em que vivemos" é o principal motivo para escolher a impossível de ser atingido pela maioria, isso leva a sociedade
profissão de professor". rejeita e discrimina pessoas consideradas obesas. Por causa
Para Chauí o motivo essencial é que "Ser professor é no desse culto a busca pela magreza se torna constante em
mínimo uma obrigação política. Não podemos aceitar uma pessoas que ver o “corpo ideal” como o principal incentivo
população de excluídos da educação e da cultura. Nossa para o seu sucesso, atratividade e autoestima elevada.
profissão só tem sentido se despertar a consciência social por O mais belo precioso e resplandecente de todos os
meio do conhecimento e promover o exercício da razão como objetivos de consumo é o CORPO. A sua redescoberta, após
forma de libertação". uma era milenária de puritanismo, sob o signo da libertação
Perrenoud motiva a escolha desta profissão com esta física e sexual, a sua onipresença (em especial o corpo
afirmação: "Transmitir conhecimento é uma honra, um dever". feminino...) na publicidade, na moda e na cultura das massas –
Segundo Freire a dimensão política da profissão é o maior o culto higiênico, dietético e terapêutico com que se rodeia, a
motivo para escolhê-la: "A certeza de que faz parte de sua obsessão pela juventude, elegância, virilidade/ feminilidade,
cuidados, regimes, praticas sacrificiais que com ele se

54https://bit.ly/2uZOIkL

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conectam, o Mito do Prazer que o circunda – tudo hoje desidratação, queda de cabelos, nem fome e distúrbios
testemunha que o corpo se tornou objeto de salvação. gastrointestinais.
(BAUDRILLARD, MARLE) A mortalidade varia de 5% a 20%, sendo a arritmia
As pessoas mais atingidas são adolescentes cardíaca uma das principais causas da morte súbita nos
principalmente do sexo feminino, pois são mais vulneráveis a pacientes anoréticos, além das alterações metabólicas e
insatisfação com a aparência física, o que define a chamada eletrolíticas. São indicativos de mortalidade: duração da
distorção da imagem corporal, e também a fatores emocional doença, perda intensa de pesa, ausência de suporte da familiar,
envolvendo a convivência com os familiares, colega, trabalho e comportamento compulsivo e recorrências múltiplas.
o principal a mídia. A mídia tem um papel fundamental no (NÓBREGA, Fernando)
desencadeamento desse distúrbio, por ter um acesso imediato
da exposição de imagens de corpos magros idealizados. As Fatores de risco
famílias que são muitas perfeccionistas e superprotetoras,
sempre têm uma preocupação maior com o peso dos filhos, e Alguns fatores de risco podem levar pessoas a
isso muitas vezes pode ocasiona o surgimento dessa doença. desenvolveram um quadro de anorexia. Confira:
Os portadores dessas síndromes podem apresentar outros - Mulheres têm mais chances de desenvolver a doença do
transtornos psiquiátricos associados, especialmente a que homens, apesar de o número de homens de todas as idades
transtornos de ansiedade, do controle de impulsos, da com anorexia ter aumentado nos últimos anos. Uma hipótese
personalidade, abuso de substancias e do humor. Os para justificar isso é que a mídia e a publicidade estejam
transtornos alimentares podem levar a pessoa à morte, as influenciando no padrão ideal de beleza masculina cada vez
complicações decorrentes estão associadas ao tempo de com mais frequência e intensidade, mostrando que a pressão
evolução da doença, a velocidade da perda de peso, a social sobre a questão da beleza e do corpo magro não faz mais
suscetibilidade individual e aos métodos compensatórios tanta distinção de gênero.
utilizados. Essa perda excessiva de peso pode ocasiona uma - Anorexia é um distúrbio muito comum entre
desnutrição e desidratação. Também tem alterações ósseas adolescentes, principalmente por conta da pressão social
mesmo em adolescentes, como o hipogonadismo que contribui existente nessa fase da vida e todas as mudanças que ocorrem
para o “envelhecimento ósseo”, a osteopenia e até mesmo no corpo e na mente. Entretanto, pessoas de todas as idades
osteoporose que favorece para a ocorrência de fraturas podem desenvolver o problema, sendo considerado raro
patológicas. Além disso, a mineração óssea fica muito abaixo somente em indivíduos acima dos 40
do normal, por causa da falta da ingestão de cálcio, proteínas e - Estudos mostram que alguns genes possam estar
vitaminas D, isso leva a uma diminuição no crescimento linear diretamente relacionados ao desenvolvimento da anorexia
desse jovem. Podem ocasiona várias doenças, como obesidade, - Histórico familiar, ou seja, ter um parente que apresenta
ortorexia e sendo os principais transtornos alimentares a ou apresentou algum distúrbio alimentar pode aumentar as
bulimia nervosa e anorexia nervosa. chances de desenvolver anorexia também
- O ato de perder ou ganhar peso pode desencadear em
ANOREXIA NERVOSA reações das mais variadas, desde elogios até críticas. Elas
podem, por isso, levar uma pessoa a recorrer a dietas cada vez
Caracteriza pela intensa perda de peso à custa de uma mais extremas e ao surgimento da anorexia
restrição alimentar auto imposta, com ou sem comportamento - Grandes mudanças na vida e na rotina podem acarretar
bulímicos, em busca desenfreada pela magreza. A anorexia no desenvolvimento de distúrbios alimentares, entre eles a
nervosa ocasiona a distorção da imagem corporal, por sempre anorexia. Exemplos: mudança de escola, casa ou trabalho,
que se olha no espelho afirma que está gorda, mesmo sendo morte de um ente querido e términos de relacionamento
percebida por todos a sua intensa magreza. Essa aparência - Pessoas ligadas ao esporte e ao mundo artístico, são mais
esquelética é a principal evidencia que pode ser percebida propensas a desenvolver anorexia também, pois trabalham
pelos familiares de que essa pessoa possa estar com anorexia. com a própria imagem e sofrem julgamentos por um número
Tem um quadro de restrição alimentar, sendo que muitas maior de pessoas
vezes passam dias sem comer apenas bebendo água, é - A mídia e a sociedade são grandes responsáveis pela
frequente o aumento compulsivo de atividades físicas, anorexia. A televisão e revistas de moda, bem como os
provocam vômitos após a ingestão de algum alimento e a estereótipos sociais de beleza, despertam nas pessoas a
utilização de substancias, como diuréticos, laxativos e sensação de que só serão felizes e populares se seguirem um
anorexígenos. determinado padrão – alimentado diariamente pelos meios de
Com essa preocupação excessiva com o peso leva essas comunicação e reproduzido em todos os círculos sociais.
pessoas a ter um grande interesse por tudo sobre os alimentos,
para saber quais são mais calóricos e sempre busca maneira O tratamento da anorexia nervosa deve ser realizado por
de ingeri-los em uma quantidade mínima. Um dos principais uma equipe multidisciplinar. Em primeiro lugar tem que ter o
hábitos de pessoa com essa doença é esconder alimentos nos restabelecimento do peso e de alguns hábitos alimentares
armários, banheiros, roupas e em caixas, para que possam adequados, a médio e longo prazo modificar as alterações
comer sem que as pessoas que convive com ela possa ver, mas psíquicas. O nutricionista tem como objetivo avaliação e o
sempre depois de ingeri-los provoca o vômito. Com isso a monitoramento nutricional, que inclui dietoterapia,
perda de peso é vista como uma conquista notável e como sinal aconselhamento e uso de suplementos nutricionais
de extraordinária disciplina, mas com o ganho de peso é específicos, para obter um equilíbrio entre os nutrientes que
percebido como um inaceitável fracasso do autocontrole. Esse estão em falta no organismo e a educação nutricional com a
aumento de peso ocasiona a baixa autoestima e um controle orientação para praticas alimentares adequadas. O principal
mais rígido e perfeccionista, essa preocupação com o peso objetivo a ser alcançado é o peso ideal para a idade do
podem apresentar distúrbios emocionais como depressão. paciente, para isso deve usar um guia alimentar e um
A falta da ingestão de alimentos provoca a falta excessiva planejamento de refeições são essenciais para fornecer
de nutrientes, levando a desenvolver desnutrição energética escolhas alimentares adequadas, com uma dieta balanceada,
proteica e a desregulação dos hormônios, ocasionando a que atenda às necessidades nutricionais do paciente.
amenorreia que é três períodos menstruais consecutivos.
Outros sintomas dessa doença são fraqueza, humor irritável,

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APOSTILAS OPÇÃO

BULIMIA NERVOSA das refeições, evitando dietas e além de exercícios excessivos,


tem uma alimentação equilibrada com a ingestão de gorduras
Caracteriza por períodos de compulsão alimentar, onde e fibras para promover a saciedade. E estabelecer estratégicas
tem a ingestão excessiva de alimentos em um curto espaço de de controle, evitando exposição aos riscos, como fazer
tempo com sensação de perda de controle, chamados de compras de alimentos muitos calóricos quando não estiver
episódios bulímicos, que pela tentativa de não ganhar peso é com fome. A internação hospitalar é raramente necessária,
acompanhado de métodos compensatórios, como vômitos sendo indicadas apenas em casos que tenha sintomas
auto induzido, uso de laxantes, anorexígenos e diuréticos. purgativos persistente, como alterações hemodinâmicas,
Como a anorexia nervosa, tem algumas profissões que convulsões e hipocalemia. E o tratamento com psiquiátrica é
determina o maior risco de desenvolver bulimia, como atletas, indicado quando houver um elevado risco de suicídio.
jóqueis, artistas e profissionais da moda, em que o controle de
peso é mais exigente. “Cerca de 30% de pacientes que buscam OBESIDADE
tratamento para este transtorno apresentam história anterior
de anorexia nervosa.” (NÓBREGA, Fernando, p.501). É definida como um distúrbio do metabolismo energético,
Os episódios bulímicos está associado a fome exagerada e doença crônica, complexa de etiologia multifatorial. Sendo que
também para atender estado emocionais ou estressantes, com seu desenvolvimento ocorre pela associação de fatores
isso ingerem alimentos bastantes calóricos e que seja de fácil genéticos e comportamentais.
preparo, como pizza, chocolate, sanduiche, bolos e vários
outros. Esse descontrole é sempre acompanhado O que é?
posteriormente por sentimento de culpa, angústia e vergonha.
Pessoas com bulimia nervosa se diferencia do anoréxico Denomina-se obesidade uma enfermidade caracterizada
por ter comportamento que busca apenas não ganhar peso pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, associada a
sem o desejo excessivo de emagrecer, sendo que na maioria problemas de saúde, ou seja, que traz prejuízos à saúde do
das vezes os bulímicos têm o peso normal, e também por não indivíduo.
tem uma distorção da imagem corporal tão intensa quanto os
anoréxicos. Com isso é mais difícil de diagnosticar essa doença, Como se desenvolve ou se adquire?
nem mesmo a família desconfia de que pode estar acontecendo
algo de errado com os hábitos alimentares dessa adolescente. Nas diversas etapas do seu desenvolvimento, o organismo
Apesar de uma aparecia saudável, pessoas com bulimia humano é o resultado de diferentes interações entre o seu
nervosa podem diagnostica uma serie de complicações patrimônio genético (herdado de seus pais e familiares), o
orgânicas. O mais comum são as inflamações no tubo digestivo ambiente socioeconômico, cultural e educativo e o seu
provocadas pelo esforço repetido de vomitar, outras doenças ambiente individual e familiar. Assim, uma determinada
provocadas são alterações nos dentes por causa do pH ácido pessoa apresenta diversas características peculiares que a
que vem do estômago quando esta vomitando e também distinguem, especialmente em sua saúde e nutrição.
alterações da função intestinal, com presença de diarreia e má A obesidade é o resultado de diversas dessas interações,
absorção de agua e sai minerais, levando a desencadear nas quais chamam a atenção os aspectos genéticos, ambientais
desidratação e nas meninas têm a menstruação irregular. O e comportamentais. Assim, filhos com ambos os pais obesos
uso de excessivo de diuréticos, além de provocar edema, apresentam alto risco de obesidade, bem como determinadas
favorece infecções urinarias e pode levar à insuficiência renal. mudanças sociais estimulam o aumento de peso em todo um
Essas complicações podem desenvolver deficiências de grupo de pessoas. Recentemente, vem se acrescentando uma
vitaminas e sais minerais, como cálcio, potássio e magnésio, série de conhecimentos científicos referentes aos diversos
que são essenciais para o organismo e também podem surgir mecanismos pelos quais se ganha peso, demonstrando cada
complicações cardiovasculares. vez mais que essa situação se associa, na maioria das vezes,
com diversos fatores.
Fatores de risco Independente da importância dessas diversas causas, o
ganho de peso está sempre associado a um aumento da ingesta
- Fatores genéticos, psicológicos, traumáticos, familiares, alimentar e a uma redução do gasto energético
sociais ou culturais podem contribuir para seu correspondente a essa ingesta. O aumento da ingesta pode ser
desenvolvimento. A bulimia provavelmente ocorre devido a decorrente da quantidade de alimentos ingeridos ou de
mais de um fator. modificações de sua qualidade, resultando numa ingesta
- A bulimia afeta muito mais mulheres do que homens e é calórica total aumentada. O gasto energético, por sua vez, pode
mais comum em mulheres adolescentes e em jovens adultas. estar associado a características genéticas ou ser dependente
- A genética também pode ser um fator de risco para a de uma série de fatores clínicos e endócrinos, incluindo
bulimia. Estudos mostram que ter um parente com bulimia doenças nas quais a obesidade é decorrente de distúrbios
pode favorecer o desenvolvimento da doença. No entanto, hormonais.
ainda não está certo se é um fator genético que predispõe à
bulimia ou o comportamento familiar que favorece a doença. O que se sente?

O tratamento da bulimia, se assemelha ao de anorexia O excesso de gordura corporal não provoca sinais e
nervosa, deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, sintomas diretos, salvo quando atinge valores extremos.
com a atendimento psiquiátrico, psicológico e nutricional. Mas Independente da severidade, o paciente apresenta
devem priorizar três aspectos fundamentais: a regulação de importantes limitações estéticas, acentuadas pelo padrão
hábitos alimentares, diminuição das possibilidades de atual de beleza, que exige um peso corporal até menor do que
compulsão e de período de jejum. A conduta nutricional visa o aceitável como normal.
interromper o ciclo vicioso de episódios de ingestão excessiva Pacientes obesos apresentam limitações de movimento,
de alimentos e comportamentos compensatórios inadequados tendem a ser contaminados com fungos e outras infecções de
e a trata outras doenças que se desenvolveu por causa do pele em suas dobras de gordura, com diversas complicações,
quadro clinico, como diabete, depressão e uso excessivo de podendo ser algumas vezes graves. Além disso, sobrecarregam
medicamentos. Melhorar os hábitos alimentares como se sua coluna e membros inferiores, apresentando a longo prazo
alimenta a cada três horas sem ingerir nada entre os intervalos degenerações (artroses) de articulações da coluna, quadril,

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joelhos e tornozelos, além de doença varicosa superficial e A obesidade apresenta ainda algumas características que
profunda (varizes) com úlceras de repetição e erisipela. são importantes para a repercussão de seus riscos,
A obesidade é fator de risco para uma série de doenças ou dependendo do segmento corporal no qual há predominância
distúrbios que podem ser: da deposição gordurosa, sendo classificada em:

Doenças Distúrbios Obesidade Difusa ou Generalizada


·Hipertensão arterial ·Distúrbios lipídicos
Obesidade Androide ou Troncular (ou Centrípeta), na qual o
·Doenças cardiovasculares ·Hipercolesterolemia paciente apresenta uma forma corporal tendendo a maçã. Está
·Diminuição de HDL associada com maior deposição de gordura visceral e se
·Doenças cerebrovasculares relaciona intensamente com alto risco de doenças metabólicas
("colesterol bom")
e cardiovasculares (Síndrome Plurimetabólica)
·Diabetes Mellitus tipo II ·Aumento da insulina
Obesidade Ginecoide, na qual a deposição de gordura
·Câncer ·Intolerância à glicose
predomina ao nível do quadril, fazendo com que o paciente
·Distúrbios apresente uma forma corporal semelhante a uma pera. Está
·Osteoartrite
menstruais/Infertilidade associada a um risco maior de artrose e varizes.
·Coledocolitíase ·Apnéia do sono
Essa classificação, por definir alguns riscos, é muito
Assim, pacientes obesos apresentam severo risco para importante e por esse motivo fez com que se criasse um índice
uma série de doenças e distúrbios, o que faz com que tenham denominado Relação Cintura-Quadril, que é obtido pela
uma diminuição muito importante da sua expectativa de vida, divisão da circunferência da cintura abdominal pela
principalmente quando são portadores de obesidade mórbida circunferência do quadril do paciente. De uma forma geral se
(ver a seguir). aceita que existem riscos metabólicos quando a Relação
Cintura-Quadril seja maior do que 0,9 no homem e 0,8 na
Como o médico faz o diagnóstico? mulher. A simples medida da circunferência abdominal
também já é considerado um indicador do risco de
A forma mais amplamente recomendada para avaliação do complicações da obesidade, sendo definida de acordo com o
peso corporal em adultos é o IMC (índice de massa corporal), sexo do paciente:
recomendado inclusive pela Organização Mundial da Saúde.
Esse índice é calculado dividindo-se o peso do paciente em Risco Risco Muito
quilogramas (Kg) pela sua altura em metros elevada ao Aumentado Aumentado
quadrado (quadrado de sua altura). O valor assim obtido Homem 94 cm 102 cm
estabelece o diagnóstico da obesidade e caracteriza também os
Mulher 80 cm 88 cm
riscos associados conforme apresentado a seguir:

IMC ( kg/m2) Grau de Risco Tipo de obesidade A gordura corporal pode ser estimada também a partir da
18 a 24,9 Peso saudável Ausente medida de pregas cutâneas, principalmente ao nível do
cotovelo, ou a partir de equipamentos como a Bioimpedância,
25 a 29,9 Moderado Sobrepeso (Pré-Obesidade) a Tomografia Computadorizada, o Ultrassom e a Ressonância
30 a 34,9 Alto Obesidade Grau I Magnética. Essas técnicas são úteis apenas em alguns casos,
35 a 39,9 Muito Alto Obesidade Grau II nos quais se pretende determinar com mais detalhe a
constituição corporal.
Obesidade Grau III Na criança e no adolescente, os critérios diagnósticos
40 ou mais Extremo
("Mórbida") dependem da comparação do peso do paciente com curvas
padronizadas, em que estão expressos os valores normais de
Conforme pode ser observado, o peso normal, no indivíduo peso e altura para a idade exata do paciente.
adulto, com mais de 20 anos de idade, varia conforme sua De acordo com suas causas, a obesidade pode ainda ser
altura, o que faz com que possamos também estabelecer os classificada conforme a tabela a seguir.
limites inferiores e superiores de peso corporal para as Classificação da Obesidade de Acordo com suas
diversas alturas conforme a seguinte tabela: Causas:

Peso Inferior Peso Superior Obesidade por Distúrbio Nutricional


Altura (cm) Dietas ricas em gorduras
(kg) (kg)
145 38 52 Dietas de lancheiras

150 41 56 Obesidade por Inatividade Física


155 44 60 Sedentarismo
Incapacidade obrigatória
160 47 64 Idade avançada
165 50 68
Obesidade Secundária a Alterações Endócrinas
170 53 72
Síndromes hipotalâmicas
175 56 77 Síndrome de Cushing
180 59 81 Hipotireoidismo
Ovários Policísticos
185 62 85 Pseudohipaparatireoidismo
190 65 91 Hipogonadismo
Déficit de hormônio de crescimento

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Aumento de insulina e tumores pancreáticos produtores aproximadamente 50 a 60% de carboidratos, 25 a 30% de


de insulina gorduras e 15 a 20% de proteínas.
Não são recomendadas dietas muito restritas (com menos
Obesidades Secundárias de 800 calorias, por exemplo), uma vez que essas apresentam
Sedentarismo riscos metabólicos graves, como alterações metabólicas,
Drogas: psicotrópicos, corticoides, antidepressivos acidose e arritmias cardíacas.
tricíclicos, lítio, fenotiazinas, ciproheptadina, Dietas somente com alguns alimentos (dieta do abacaxi,
medroxiprogesterona por exemplo) ou somente com líquidos (dieta da água)
Cirurgia hipotalâmica também não são recomendadas, por apresentarem vários
problemas. Dietas com excesso de gordura e proteína também
Obesidades de Causa Genética são bastante discutíveis, uma vez que pioram as alterações de
Autossômica recessiva gordura do paciente além de aumentarem a deposição de
Ligada ao cromossomo X gordura no fígado e outros órgãos.
Cromossômicas (Prader-Willi)
Síndrome de Lawrence-Moon-Biedl Exercício

Cabe salientar ainda que a avaliação médica do paciente É importante considerar que atividade física é qualquer
obeso deve incluir uma história e um exame clínico detalhados movimento corporal produzido por músculos esqueléticos que
e, de acordo com essa avaliação, o médico irá investigar ou não resulta em gasto energético e que exercício é uma atividade
as diversas causas do distúrbio. Assim, serão necessários física planejada e estruturada com o propósito de melhorar ou
exames específicos para cada uma das situações. Se o paciente manter o condicionamento físico.
apresentar "apenas" obesidade, o médico deverá proceder a O exercício apresenta uma série de benefícios para o
uma avaliação laboratorial mínima, incluindo hemograma, paciente obeso, melhorando o rendimento do tratamento
creatinina, glicemia de jejum, ácido úrico, colesterol total e com dieta. Entre os diversos efeitos se incluem:
HDL, triglicerídeos e exame comum de urina.
Na eventual presença de hipertensão arterial ou suspeita -a diminuição do apetite,
de doença cardiovascular associada, poderão ser realizados
também exames específicos (Rx de tórax, eletrocardiograma, -o aumento da ação da insulina,
ecocardiograma, teste ergométrico) que serão úteis -a melhora do perfil de gorduras,
principalmente pela perspectiva futura de recomendação de
exercício para o paciente. -a melhora da sensação de bem-estar e autoestima.
A partir dessa abordagem inicial, poderá ser identificada
também uma situação na qual o excesso de peso apresenta
importante componente comportamental, podendo ser O paciente deve ser orientado a realizar exercícios
necessária a avaliação e o tratamento psiquiátrico. regulares, pelo menos de 30 a 40 minutos, ao menos 4 vezes
A partir das diversas considerações acima apresentadas, por semana, inicialmente leves e a seguir moderados. Esta
julgamos importante salientar que um paciente obeso, antes atividade, em algumas situações, pode requerer profissional e
de iniciar qualquer medida de tratamento, deve realizar uma ambiente especializado, sendo que, na maioria das vezes, a
consulta médica no sentido de esclarecer todos os detalhes simples recomendação de caminhadas rotineiras já provoca
referentes ao seu diagnóstico e as diversas repercussões do grandes benefícios, estando incluída no que se denomina
seu distúrbio. "mudança do estilo de vida" do paciente.

Como se trata? Questões

O tratamento da obesidade envolve necessariamente a 01. (BANPARÁ-Médico do Trabalho-INAZ do


reeducação alimentar, o aumento da atividade física e, Pará/2014) Caracteriza-se por uma ingestão
eventualmente, o uso de algumas medicações auxiliares. descontrolada e compulsiva de alimentos, geralmente
Dependendo da situação de cada paciente, pode estar indicado seguida por uma purgação:
o tratamento comportamental envolvendo o psiquiatra. Nos (A) Bulimia Nervosa.
casos de obesidade secundária a outras doenças, o tratamento (B) Anorexia.
deve inicialmente ser dirigido para a causa do distúrbio. (C) Compulsão Alimentar Restritiva.
(D) Dunkorexia.
Reeducação Alimentar (E) Compulsão Alimentar Simples.

Independente do tratamento proposto, a reeducação 02.(UFGD-Médico Psiquiatra-INSTITUTO AOCP/2014)


alimentar é fundamental, uma vez que, através dela, Em relação à anorexia, assinale a alternativa correta
reduziremos a ingesta calórica total e o ganho calórico (A) É caracterizada por compulsão alimentar, como ingerir
decorrente. Esse procedimento pode necessitar de suporte mais alimentos do que a maioria das pessoas em
emocional ou social, através de tratamentos específicos circunstâncias similares e em um período semelhante de
(psicoterapia individual, em grupo ou familiar). Nessa tempo, com uma forte sensação de perda de controle.
situação, são amplamente conhecidos grupos de reforço (B) Refere-se a um excesso da adiposidade corporal.
emocional que auxiliam as pessoas na perda de peso. (C) É caracterizada por um comportamento obstinado e
Independente desse suporte, porém, a orientação dietética proposital direcionado a perder peso, baixo, peso,
é fundamental. preocupação com o peso corporal e alimentação, padrões
Dentre as diversas formas de orientação dietética, a mais peculiares de manejo dos alimentos, medo intenso de aumento
aceita cientificamente é a dieta hipocalórica balanceada, na de peso, alterações da imagem corporal e amenorreia.
qual o paciente receberá uma dieta calculada com quantidades (D) Sentem seus corpos grotescos e desagradáveis e que os
calóricas dependentes de sua atividade física, sendo os outros os veem com hostilidade e desprezo. Esse sentimento
alimentos distribuídos em 5 a 6 refeições por dia, com está fortemente associado à autoconsciência e ao
comprometimento do desempenho social.

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(E) O aumento da atividade física é recomendado com o casal e a prole, num sentido mais largo, cinge a todas as
frequência como parte de um regime de redução de peso, pessoas ligadas pelo vínculo da consanguinidade, cujo alcance
associado com uma dieta rica em colágeno e glútem. é mais dilatado, ou mais circunscrito.
Finalizando Carlos Roberto Gonçalves traz família de uma
03. (TJ-PE - Analista Judiciário - Medicina – forma abrangente como “todas as pessoas ligadas por vínculo
Psiquiátrica – FCC/2012) Com relação à Anorexia Nervosa de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral
(AN), é correto afirmar: comum, bem como unidas pela afinidade e pela adoção”. E
(A) A prevalência gira em torno de 5 a 10% da população também de uma forma mais específica como, “parentes
com uma predominância do sexo feminino. consanguíneos em linha reta e aos colaterais até o quarto
(B) As principais comorbidades associadas a esse quadro grau”.
são o transtorno bipolar e quadros psicóticos. Dessa forma, a partir do conceito, pode-se perceber que
(C) Os principais transtornos de personalidade associam- família é, unidade básica da sociedade formada por
se aos subtipos de AN, havendo uma maior prevalência de indivíduos com ancestrais em comum ou ligados por laços
transtorno de personalidade bor- derline no subtipo restrito e afetivos. Podendo também ser considerada como, um
de personalidade anancástico e evitativo no subtipo purgativo. conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a
(D) Alguns dos fatores de má evolução da doença podem interação dos membros da mesma, considerando-a,
incluir baixo peso no início do tratamento, presença de igualmente, como um sistema, que opera através de
comorbidades psiquiátricas, uso de métodos purgativos, caos padrões transacionais.
familiar e demora na busca por tratamento.
(E) O tratamento envolve equipe multidisciplinar, sendo o Os Tipos de Família
principal o uso de medicações que aumentem o apetite como a Por muito tempo, a organização familiar fora comandada
olanzapina e a mirtazapina. pelo modelo matriarcal, ou seja, modelo que surgiu do vínculo
sanguíneo, biológico e instintivo da mãe para com o filho.
Gabarito Nesse modelo a mãe, a figura da mulher no lar, destacava por
01. A / 02. C / 03.C sua autoridade. Após a fase utilização de tal modelo, criou-se
um novo sistema de costumes, ou seja, o das famílias
Conceito de Família55 patriarcais, tendo como característica principal a
inquestionável e arbitrária autoridade do pai. O homem
De acordo com Caio Mário, família em sentido genérico e destacou nas atividades do campo, da batalha e da caça, e
biológico é o conjunto de pessoas que descendem de tronco tornou figura principal.
ancestral comum; em senso estrito, a família se restringe ao A família num sentido sociológico recoloca-se em estágios
grupo formado pelos pais e filhos; e em sentido universal é de comprovação fática prevalecendo na ocorrência de indução
considerada a célula social por excelência. de fenômenos sociais e políticos de aceitação.
No que concerne à família, Silvio Rodrigues num conceito Para Mac Lennan, Morgan, Spencer, Engels, D’aguano,
mais amplo, diz ser a formação por todas aquelas pessoas Westermarck, Gabriel Tarde, Bachofen, em embasamentos de
ligadas por vínculo de sangue, ou seja, todas aquelas pessoas monumentos históricos estabelece observância aos
provindas de um tronco ancestral comum, o que inclui, dentro “primitivos atuais”, ou seja, as tribos indígenas, para a
da órbita da família, todos os parentes consanguíneos. Num reconstituição das origens.
sentido mais estrito, constitui a família o conjunto de pessoas Em um período evolutivo como um todo, a mulher este
compreendido pelos pais e sua prole. reservada a um lar, fato este, que a família ocidental viveu
Já Maria Helena Diniz discorre sobre família no sentido longo período sob forma “patriarcal”.
amplo como todos os indivíduos que estiverem ligados pelo Como ressalta Caio Mário em que atualmente Cícero alude
vínculo da consanguinidade ou da afinidade, chegando a à figura valetudinária o tônus emocional com plena autoridade
incluir estranhos. No sentido restrito é o conjunto de pessoas de um patriarcal não se condicionando a idade avançada e a
unidas pelos laços do matrimônio e da filiação, ou seja, quase cegueira.
unicamente os cônjuges e a prole. Em Roma, a família era organizada em função do princípio
Cezar Fiúza, considera família de modo lato sensu, como da autoridade abrangendo a eles subordinados. O pater era ao
sendo “uma reunião de pessoas descendentes de um tronco mesmo tempo chefe político, sacerdote e juiz, comandava
ancestral comum, incluídas aí também as pessoas ligadas pelo como um todo, impondo-lhes pena corporal. A mulher vivia
casamento ou pela união estável, juntamente com seus subordinada a esta autoridade, em nenhum momento
parentes sucessíveis, ainda que não descendentes”, como adquirindo autonomia, se passando a função de filho e de
também define em modo stricto sensu dizendo que: “família é esposa sem direitos próprios. Só a esta autoridade pater que
uma reunião de pai, mãe e filhos, ou apenas um dos pais com lhe adquiria bens, domínio sobre o patrimônio familiar.
seus filhos”. Com o passar do tempo houve alterações a este rigor
Segundo Paulo Nader, Família consiste em "uma conhecendo-se o casamento, a instigação ao patrimônio
instituição social, composta por mais de uma pessoa física, que independente para os filhos em relação aos militares
se irmanam no propósito de desenvolver, entre si, a contraídos como soldado.
solidariedade nos planos assistencial e da convivência ou Daí podemos falar em poder familiar, como já falamos que
simplesmente descendem uma da outra ou de um tronco no poder familiar não é mais absoluto no sentido do poder que
comum". conferia aos pais sobre domínio dos filhos, mas sim focado no
Sintetizando a conceituação desse instituto, Silvio Venosa, poder afetivo, cabendo aos pais a corresponsabilidade e
assevera que a Família em um conceito amplo, "é o conjunto parceria nos direitos e deveres dos filhos e a missão de
de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar", equilibrá-los.
em conceito restrito, "compreende somente o núcleo formado Neste contexto, diante da promulgação da nossa Carta
por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder". Magna, foram devolvidos parâmetros ao reconhecimento da
Washington de Barros Monteiro ainda menciona que, família como base da sociedade fundando princípios, efeitos e
enquanto a família num sentido restrito, abrange tão somente

55 Texto baseado na obra de MOTA, T. S.; ROCHA, R. F.; MOTA, G. B. C. Família

– Considerações gerais e historicidade no âmbito jurídico. 2011.

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as obrigações, incumbindo a responsabilidade de proteção da


Conceito muito comum em relação a nossa legislação civil.
família ao Estado. Carlos Roberto Gonçalves diz ser contrato de direito de
Portanto o artigo 226 da Carta Magna identifica formas de família que regula a união entre marido e mulher.
entidades familiares diversificadas como a união estável,
sendo reconhecida a união entre homem e mulher com
características de duradoura, ininterrupta e com objetivo de - Família Substituta
constituir família, devendo a lei facilitar sua conversão em A família substituta é favorável da família moderna, assim
casamento, a família monoparental, como comunidade nas palavras de Marlusse Pestana Daher, que prossegue:
formada por qualquer dos pais e seus descendentes e o
“É aquela que se propõe trazer para dentro dos umbrais da
casamento, a união mais comum, feita em contrato solene.
própria casa, uma criança ou adolescente que por
Segundo Dimitre Soares “as relações de família são,
qualquer circunstância foi desprovido da família natural,
portanto, amplamente afetadas pelas transformações da
para que faça parte integrante dela, nela se desenvolva e
globalização, que abre espaço para as manifestações plurais de
seja”.
comportamento”. Ainda fala da necessidade do ordenamento
Pode-se constatar nestas palavras a apropriada natureza
jurídico se adequar a interpretação das relações de família,
da Colocação em Família Substituta, porquanto expõe que
visando a desordem nos “parâmetros tradicionais de é na solidariedade que incide todo o alicerce deste
organização familiar”. instituto. A necessidade de um, sendo satisfeita pela
Com relação as modificações do conceito de família e das possibilidade de ajuda do outro.
diversas formas de constituição de família com o passar dos A colocação em família substituta pode ocorrer de três
anos, Soares ainda fala que: formas: guarda, tutela e adoção.
“O mundo contemporâneo requer a adequação do
fenômeno de internacionalização de Direitos Humanos às - Família Alternativa
normas de direito interno. Assim, novos temas como a
Dividida em famílias homossexuais e família comunitárias,
igualdade de gênero, a democratização de uniões livres, a
sendo nesta o papel dos pais e da escola descentralizado
reconstrução do parâmetro parental, a socioafetividade, a
como ocorre nas famílias tradicionais, sendo todos os
inseminação artificial ou as uniões homoafetivas incrementam
adultos responsáveis pela educação e criação das crianças
o debate que descamba, necessariamente, na concepção
e adolescentes; a primeira se trata de um casal do mesmo
tradicional dos modelos familiares, passando a ser necessário
sexo que vivem juntos tendo filhos adotados ou biológicos
que se repense os critérios de igualdade e de cidadania
de um dos parceiros ou de ambos.
aplicáveis a estes e inúmeros outros casos.”
A partir daí, pode-se concluir que existem novas espécies - Família Moderna
de família como substituta, alternativa, moderna, extensa e E o modelo de família em que o pai perde o autoritarismo,
ampliada, sócioafetiva entre outras. e mãe deixa de cuidar única e exclusivamente da casa e dos
filhos e passa a competir com o homem, sendo assim todos
Quadro – tipos de Famílias que compõem a família passam a ter influência dentro dos
lares, expondo suas opiniões, participando efetivamente,
- Família Natural com base no respeito, no amor, na afetividade, no carinho,
A família natural é tida como a mais comum, pois é aquela na atenção.
que possui laços sanguíneos, constituída por pais e filhos,
provinda do modelo de família através do casamento ou da - Família Extensa e Ampliada
união estável. O artigo 25, parágrafo único, da Lei 12.010/09, que trata
da reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente,
- Família Monoparental introduz família extensa ou ampliada como sendo espécie
Família constituída por um de seus genitores e filho, ou da família natural, distinta da família substituta, in verbis:
seja, por mãe e filho, ou pai e filho, decorrente de produção “Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se
independente, separação dos cônjuges, morte, abandono, estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade
podendo ser biologicamente constituída e por adoção. do casal, formada por parentes próximos com os quais a
Reconhecida como entidade familiar na Carta Magna, criança ou o adolescente convive e mantém vínculos de
artigo 226, §4º: “comunidade formada por qualquer dos afinidade e afetividade”.
pais e seus descendentes”.
- Família Sócioafetiva
- União Estável Consolida-se a família sócioafetiva como um novo
União estável é entidade familiar, que constitui união entre elemento no Direito Brasileiro contemporâneo,
homem e mulher, fora do casamento, sendo esta transpondo os limites fixados pela Constituição Federal de
duradoura, pública, com fins de constituir família, e 1988, porém incorporados dos seus princípios. Quando
possuem fidelidade recíproca. declarada a convivência familiar e comunitária, a não
discriminação de filhos, a corresponsabilidade dos pais
- Casamento quanto ao exercício do poder familiar e o núcleo
Casamento é a terceira e última entidade familiar trazida monoparental reconhecido como entidade familiar está
pelo Constituição Federal de 1988, considerando a mais concretizada a chamada família sócioafetiva. Os vínculos
antiga, mais conhecida e aceita pela sociedade, e a mais de afeto se sobrepõem à verdade biológica, convocando
formal. assim, os pais a uma "paternidade responsável".
Conforme Silvio Rodrigues:
“Casamento é o contrato de direito de família que tem por
fim promover a união do homem e da mulher, de
conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações
sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua
assistência.”

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Função social da família, da escola e interdependência Relação família-escola


dos sistemas família e escola56 Tendo como pano de fundo a divisão de responsabilidades
Educação e escola têm uma relação estreita, apesar de esta no que concerne à educação e socialização de crianças e jovens
não configurar uma relação de dependência, pois há uma e a relação que se estabelece entre as instituições familiares e
distinção entre a educação escolar e a educação que ocorre escolares, pesquisas e levantamentos acerca desta relação
fora da escola. De acordo com Guzzo, o sentido etimológico da passam a ser objeto de estudo de diversas áreas do
palavra educar significa promover, assegurar o conhecimento, como a psicologia, a sociologia, a educação,
desenvolvimento de capacidades físicas, intelectuais e morais, entre outras.
sendo que, de forma geral, tal tarefa tem sido de Considerando as várias perspectivas e abordagens
responsabilidade dos pais. relativas ao tema, os trabalhos e pesquisas sobre a temática da
De acordo com Bock, Furtado e Teixeira, o grupo familiar relação família-escola podem ser organizados em dois grandes
tem uma função social determinada a partir das necessidades grupos, denominados enfoque sociológico e enfoque
sociais, sendo que entre suas funções está, principalmente, o psicológico.
dever de garantir o provimento das crianças para que possam No enfoque sociológico a relação família-escola é vista em
exercer futuramente atividades produtivas, bem como o dever função de determinantes ambientais e culturais. A relação
de educá-las para que "tenham uma moral e valores entre educação e classe social mostra um certo conflito entre
compatíveis com a cultura em que vivem". Nesse mesmo as finalidades socializadoras da escola (valores coletivos) e a
sentido, Oliveira resume a função da família dizendo que "a educação doméstica (valores individuais), ou seja, entre a
educação moral, ou seja, a transmissão de costumes e valores organização da família e os objetivos da escola. As famílias que
de determinada época torna-se, nesta perspectiva, seu não se enquadram no suposto modelo desejado pela escola são
principal objetivo" consideradas as grandes responsáveis pelas disparidades
A responsabilidade familiar junto às crianças em escolares. Seguindo este enfoque, faz-se necessário, para o
termos de modelo que a criança terá e do desempenho de bom funcionamento da escola, que as famílias adotem as
seus papéis sociais é tradicionalmente chamada de mesmas estratégias de socialização por elas utilizadas.
educação primária, uma vez que tem como tarefa Assim, a representação de modelo familiar certo/correto
principal orientar o desenvolvimento e aquisição de ganha projeção e se naturaliza, tendo a própria escola como
comportamentos considerados adequados, em termos disseminadora da ideia de que algumas famílias operam de
dos padrões sociais vigentes em determinada cultura. modo diverso do seu objetivo. Em função dessa divergência, as
A escola é a instituição que tem como função a estratégias de socialização das famílias passam a ser a
socialização do saber sistematizado, ou seja, do preocupação da escola, de forma que esta amplia seus âmbitos
conhecimento elaborado e da cultura erudita. De acordo de ação, tentando assumir ou tentando substituir a família em
com Saviani, a escola se relaciona com a ciência e não com sua ampla missão socializadora. Para Oliveira, há uma
o senso comum, e existe para proporcionar a aquisição de intenção que passa muitas vezes despercebida nessa tentativa
instrumentos que possibilitam o acesso ao saber de aproximação e colaboração, que é a de promover uma
elaborado (ciência) e aos rudimentos (bases) desse saber. educação para as famílias tidas como "desestruturadas". O
A contribuição da escola para o desenvolvimento do ambiente escolar exerce um poder de orientação sobre os pais
sujeito é específica à aquisição do saber culturalmente para que estes possam educar melhor os filhos e estes, por sua
organizado e às áreas distintas de conhecimento. No que vez, possam frequentar a escola.
diz respeito à família, "um dos seus papéis principais é a Enquanto no enfoque sociológico a família é
socialização da criança, isto é, sua inclusão no mundo responsabilizada pela formação social e moral do indivíduo, no
cultural mediante o ensino da língua materna, dos enfoque psicológico ela é responsabilizada pela formação
símbolos e regras de convivência em grupo, englobando a psicológica. A ideia de que a família é a referência de vida da
educação geral e parte da formal, em colaboração com a criança - o locus afetivo e condição sine qua non de seu
escola". desenvolvimento posterior - será utilizada para manter certa
Escola e família têm suas especificidades e suas ligação entre o rendimento escolar do aluno e sua dinâmica
complementariedades. Embora não se possa supô-las como familiar, colocando, mais uma vez, a família no lugar de
instituições completamente independentes, não se pode desqualificada.
perder de vista suas fronteiras institucionais, ou seja, o Nesse enfoque, as razões de ordem emocional e afetiva
domínio do objeto que as sustenta como instituições. ganham um colorido permanente quanto ao entendimento da
Esses dois sistemas têm objetivos distintos, mas que se relação família-escola e da ocorrência do fracasso escolar.
interpenetram, uma vez que "compartilham a tarefa de Ganha status natural a crença de que uma "boa" dinâmica
preparar as crianças e os jovens para a inserção crítica, familiar é responsável pelo "bom" desempenho do aluno. As
participativa e produtiva na sociedade". A divergência entre descrições centradas no plano afetivo ganham a atenção dos
escola e família está na tarefa de ensinar, sendo que a primeira professores que, com algum conhecimento de psicologia,
tem a função de favorecer a aprendizagem dos conhecimentos levam esse discurso para dentro da sala de aula e passam, em
construídos socialmente em determinado momento histórico, um processo naturalizado por todos, a avaliar e analisar o
de ampliar as possibilidades de convivência social e, ainda, de comportamento dos alunos.
legitimar uma ordem social, enquanto a segunda tem a tarefa Posto desta forma, nota-se que o enfoque sociológico
de promover a socialização das crianças, incluindo o aborda os determinantes ambientais e culturais presentes na
aprendizado de padrões comportamentais, atitudes e valores relação família-escola, destacando que cabe à escola cumprir
aceitos pela sociedade. as exigências sociais, enquanto o enfoque psicológico
Desta forma entende-se que, apesar de escola e família considera os determinantes psicológicos presentes na
serem agências socializadoras distintas, as mesmas estrutura familiar como os grandes responsáveis pelo
apresentam aspectos comuns e divergentes: compartilham a desencontro entre objetivos e valores nas duas instituições.
tarefa de preparar os sujeitos para a vida socioeconômica e Assim, em uma espécie de complementaridade, encontra-se
cultural, mas divergem nos objetivos que têm nas tarefas de um velado enfrentamento da escola com a família,
ensinar. aparentemente diluído nos grandes projetos de participação e

56 Oliveira, C. B. E. de; Marinho-Araújo, C. M. A relação família-escola:

intersecções e desafios. Estud. Psicol.: Campinas vol. 2010.

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de parceria entre esses dois sistemas, podendo-se afirmar que apoio na realização de tarefas, trabalhos e atividades de
em ambos os enfoques destacam-se dois aspectos principais: aprendizagem) ou de questões políticas (pais com poder
deliberativo na escola, participando e influenciando a tomada
1) a incapacidade da família para a tarefa de educar os de decisões). Os modelos pouco se referem às ações da escola
filhos e e dos professores no sentido de promover a relação família-
2) a entrada da escola para subsidiar essa tarefa, escola; tais ações são referidas somente nas ocasiões em que
principalmente quando se trata do campo moral. cabe à escola informar aos pais acerca do regulamento interno
da escola, dos programas escolares e de progressos e
A partir destas colocações, vê-se que a relação família- dificuldades dos filhos.
escola está permeada por um movimento de culpabilização e Ao listar as "16 maneiras de envolver os pais na escola",
não de responsabilização compartilhada, além de estar Marques fez uma adaptação do trabalho de Joyce Epstein e
marcada pela existência de uma forte atenção da escola elaborou uma lista de procedimentos que podem favorecer a
dirigida à instrumentalização dos pais para a ação educacional, aproximação das famílias. Entretanto, tal lista menciona,
por se acreditar que a participação da família é condição exclusivamente, ações a serem desencadeadas pelos pais no
necessária para o sucesso escolar. contexto familiar, sem haver menção à interação família-
A quem caberia a responsabilidade de construir essa escola.
relação? No relato de muitos professores há a afirmação de Além de tais ações se referirem apenas a atitudes a serem
que, apesar de abrirem as portas da escola à participação dos adotadas pelos pais, fica explícita, entre as maneiras listadas, a
pais, esses são desinteressados em relação à educação dos crença existente acerca da necessidade de orientar e ensinar
filhos, na medida em que atribuem à escola toda a aos pais sobre como ensinar seus filhos: "explicar aos pais
responsabilidade pela educação. Esta argumentação dos certas técnicas de ensino" ou "propor aos pais que treinem os
professores "visa, apenas, culpar a vítima e é uma visão filhos, ajudando-os a fazer exercícios de leitura, matemática,
pessimista das relações escola/pais", a partir da qual não se etc."
consegue dar passos positivos para ultrapassar os obstáculos Tais atitudes decorrem da noção da escola de que o
à relação família-escola. envolvimento dos pais aparece relacionado à participação e
Ao contrário dos professores que acreditam que os pais é colaboração nas atividades propostas pela escola e no
que devem ir à escola mostrando-se interessados pelo interesse pelo desempenho de seus filhos. As expectativas
desenvolvimento de seus filhos e pela relação entre família e quanto à participação dos pais envolvem o acompanhamento
escola, Tancredi e Reali, acreditam que a construção da da tarefa de casa ou a formação do aluno em termos de
parceria entre escola e família é função inicial dos professores, disciplina, respeito e comportamento adequado.
pois eles são elementos-chave no processo de aprendizagem. Junto a diretores e professores percebe-se, também, a
Dada a formação profissional específica que têm, as tentativas pouca tendência da escola para buscar uma parceria. É
de aproximação e de melhoria das relações estabelecidas com interessante observar a colocação acerca do posicionamento
as famílias devem partir, preferencialmente, da escola, pois contraditório dos diretores e professores que, por um lado,
"transferir essa função à família somente reforça sentimentos "acusaram os pais de falta de compreensão ou aceitação dos
de ansiedade, vergonha e incapacidade aos pais, uma vez que problemas das crianças, e o pouco retorno de seus esforços
não são eles os especialistas em educação". para ajudá-los", mas, por outro lado, sentem-se invadidos pela
Todavia, apesar desse discurso em que se fala que a escola presença dos pais, pois consideram que os pais não sabem
é que deve ir às famílias, os modelos de envolvimento entre as participar com uma relação de colaboração, mas sim de
famílias e a escola focalizam principalmente os pais e se cobrança, uma vez que não entendem do processo de ensino-
referem pouco às ações dos professores e da escola na aprendizagem.
promoção da relação família-escola, como mostram os À família são impostos limites para entrar em questões
modelos propostos por Joyce Epstein, Don Davies e Owen próprias da escola, como no campo pedagógico. Mas o mesmo
Heleen. parece não acontecer com a escola em relação à sua entrada na
família, pois aquela acredita estar autorizada a penetrar nos
Para exemplificar, o modelo de Joyce Epstein defende a problemas domésticos e a lidar com eles, além de se considerar
existência de cinco tipos de envolvimento: apta a estabelecer os parâmetros para a participação e o
envolvimento da família.
a) os pais ajudarem os filhos em casa, que diz respeito à
função dos pais em atender as necessidades básicas dos filhos e Questões
em organizar a rotina familiar diária;
b) os professores comunicarem-se com os pais, que se refere 01. (UFC- Assistente Social- INSTITUTO AOCP) A família
à função da escola de informar os pais acerca do regulamento monoparental é aquela
interno da escola, dos programas escolares e dos progressos e (A) composta pela união de um homem e uma mulher.
dificuldades dos filhos; (B) composta por um homem e uma mulher oriundos ou
c) envolvimento dos pais na escola, apoiando não de outra relação.
voluntariamente a organização de festas e alunos com (C) composta pela mulher mãe e seus filhos.
dificuldades de aprendizagem; (D) composta pelo homem pai e seus filhos.
d) envolvimento dos pais em atividades de aprendizagem, (E) formado por qualquer dos pais e seus descendentes.
em casa, participando da realização de trabalhos, projetos e
deveres de casa; 02. (IF-PR- Assistente de Alunos- CETRO) Além da
e) envolvimento dos pais na direção das escolas, relação parentalidade/ filiação, outras relações de parentesco
influenciando e participando da tomada de decisões, se possível. compõem uma família. A família composta pelos avós, tios,
primos, irmãos, cunhados, estando ou não dentro do mesmo
O aspecto mais comum entre os três modelos57 refere-se domicílio, refere-se à
ao fato de que em todos a ação dos pais é priorizada, seja (A) família natural.
diante de questões pedagógicas (ensino tutorial em casa ou na (B) família acolhedora.
escola, trabalho voluntário dos pais na escola e na sala de aula, (C) família extensa.

57 Modelos de Joyce Epstein, Don Davies e Owen Heleen.

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(D) família de apoio. A sexualidade, assim como a inteligência, será construída a


(E) família acolhedora. partir das possibilidades individuais e de sua interação com o
meio e a cultura. Os adultos reagem, de uma forma ou de outra,
03. (SEE-MG- Professor de Educação Básica- FCC) Para aos primeiros movimentos exploratórios que a criança faz em
estimular a participação das famílias no ambiente escolar, a seu corpo e aos jogos sexuais com outras crianças. As crianças
escola deve recebem então, desde muito cedo, uma qualificação ou
(A) acolher as famílias para que todas sintam-se bem “julgamento” do mundo adulto em que está imersa, permeado
naquele ambiente e possam expor sua opinião e desenvolver de valores e crenças que são atribuídos à sua busca de prazer,
reuniões para compartilhar o trabalho realizado na escola o que comporá a sua vida psíquica.
apresentando sugestões de como os pais podem dar suporte Nessa exploração do próprio corpo, na observação do
para seus filhos. corpo de outros, e a partir das relações familiares é que a
(B) planejar o acolhimento dos pais no início do ano e nas criança se descobre num corpo sexuado de menino ou menina.
datas comemorativas e propiciar atendimentos em uma Preocupa-se então mais intensamente com as diferenças entre
reunião semestral de pais para explicitar os problemas os sexos, não só as anatômicas, mas também com todas as
disciplinares ou dificuldades de aprendizagem dos alunos. expressões que caracterizam o homem e a mulher. A
(C) realizar reuniões com as famílias no início e no final do construção do que é pertencer a um ou outro sexo se dá pelo
ano letivo para informar as regras da escola e avaliar os tratamento diferenciado para meninos e meninas, inclusive
avanços dos alunos, além de realizar o atendimento individual nas expressões diretamente ligadas à sexualidade e pelos
dos pais cujos filhos apresentam problemas na escola. padrões socialmente estabelecidos de feminino e masculino.
(D) estabelecer regras claras de convivência no espaço Esses padrões são oriundos das representações sociais e
escolar apontando possibilidades e limites da participação dos culturais construídas a partir das diferenças biológicas dos
pais na unidade e desenvolver um sistema de comunicação sexos e transmitidas pela educação, o que atualmente recebe a
eficiente para que os pais estejam bem informados sobre os denominação de relações de gênero. Essas representações
acontecimentos da escola. absorvidas são referências fundamentais para a constituição
da identidade da criança.
Gabarito
01. E / 02. C / 03. A As formulações conceituais sobre sexualidade infantil
datam do começo deste século e ainda hoje não são conhecidas
Sexualidade ou aceitas por parte dos profissionais que se ocupam de
crianças, inclusive educadores. Para alguns, as crianças são
A sexualidade tem grande importância no seres “puros” e “inocentes” que não têm sexualidade a
desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois expressar, e as manifestações da sexualidade infantil possuem
independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona- a conotação de algo feio, sujo, pecaminoso, cuja existência se
se com a busca do prazer, necessidade fundamental dos seres deve à má influência de adultos. Entre outros educadores, no
humanos. Nesse sentido, a sexualidade é entendida como algo entanto, já se encontram bastante difundidas as noções da
inerente, que se manifesta desde o momento do nascimento existência e da importância da sexualidade para o
até a morte, de formas diferentes a cada etapa do desenvolvimento de crianças e jovens.
desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualidade construída Em relação à puberdade, as mudanças físicas incluem
ao longo da vida, encontra-se necessariamente marcada pela alterações hormonais que, muitas vezes, provocam estados de
história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e excitação incontroláveis, ocorre intensificação da atividade
sentimentos, expressando-se então com singularidade em masturbatória e instala-se a função genital. É a fase das
cada sujeito. Indissociavelmente ligado a valores, o estudo da descobertas e experimentações em relação à atração e às
sexualidade reúne contribuições de diversas áreas, como fantasias sexuais. A experimentação dos vínculos tem relação
Antropologia, História, Economia, Sociologia, Biologia, com a rapidez e a intensidade da formação e da separação de
Medicina, Psicologia e outras mais. Se, por um lado, sexo é pares amorosos entre os adolescentes.
expressão biológica que define um conjunto de
características anatômicas e funcionais (genitais e É uma questão bastante atual e presente no cotidiano de
extragenitais), a sexualidade é, de forma bem mais ampla, todos os profissionais da educação a postura a ser adotada,
expressão cultural. Cada sociedade cria conjuntos de dentro das escolas, em face das manifestações da sexualidade
regras que constituem parâmetros fundamentais para o dos alunos.
comportamento sexual de cada indivíduo. Nesse sentido,
a proposta de Orientação Sexual considera a sexualidade Como dito anteriormente, sexo também é coisa de
nas suas dimensões biológica, psíquica e sociocultural. criança59. Tendo sempre em mente que cada criança é uma
criança, vamos pensar o desenvolvimento sexual da criança.
Sexualidade na infância e na adolescência58 Tomando por base os modos de viver e expressar a
dimensão humana, temos seis períodos distintos – primeira
Os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as infância, fase pré-escolar, segunda infância, adolescência,
primeiras vivências de prazer. Essas primeiras experiências maturidade e terceira idade. Aqui vamos nos ater apenas aos
sensuais de vida e de prazer não são essencialmente três primeiros: primeira infância (0 a 2 anos), fase pré-escolar
biológicas, mas constituirão o acervo psíquico do indivíduo, (2 a 6 anos) e segunda infância (6 a 10 anos).
serão o embrião da vida mental no bebê. A sexualidade infantil
se desenvolve desde os primeiros dias de vida e segue se - Primeira infância (0 a 2 anos):
manifestando de forma diferente em cada momento da
infância. A sua vivência saudável é fundamental na medida em “A educação sexual começa a partir das atitudes dos pais,
que é um dos aspectos essenciais de desenvolvimento global no momento em que decidem ter filhos”.
dos seres humanos. As primeiras atitudes dos pais podem proporcionar ou um
ambiente afetivo e amoroso, ou um ambiente ríspido e

58 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares 59 Colunista Portal Educação, 2013 em http://www.portaleducacao.com.br.
Nacionais: Orientação Sexual. Portal MEC.

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tumultuado. Esse ambiente será a primeira influência no É a conhecida fase dos porquês. Além das perguntas, as
desenvolvimento da criança. É “nos primeiros anos de vida que crianças querem ver e saber. Com tantas perguntas, é um bom
se estabelecem as bases do comportamento erótico do adulto momento para ensinar às crianças os nomes corretos das
e se inicia a formação de uma sexualidade saudável”. partes de seu corpo.
Neste período (0 a 2 anos) a criança começa a explorar seu Como parte de seu desenvolvimento a masturbação
mundo através de seu corpo, de suas sensações. Será através aparece como curiosidade natural da criança de seu corpo e
do gosto, do cheiro, do toque, do olhar e do ouvir que a criança suas sensações. É um jogo exploratório de sensações. Não tem
vai experimentar o prazer. Essa relação com seu corpo e com a mesma conotação da masturbação na adolescência e no
os sentidos formará suas atitudes sexuais mais tarde. adulto. Assim, é um bom momento para ensinar às crianças
A relação que essa criança tem com seus cuidadores sobre a intimidade. O público e o privado. Não precisa
também será definidor das suas atitudes relacionais. Esse problematizar a situação, apenas orientar. A repressão é
primeiro vínculo é um primeiro passo. Ele será fortalecido, ou indesejada.
não, no seu desenvolvimento. Além de se tocarem, as crianças exploram também os
É nessa fase que começamos a amar e sermos amados. A outros. É a fase da conhecida “brincadeira de médico”. Se a
nossa capacidade de amar e de se relacionar está diretamente brincadeira for entre crianças da mesma idade não há razão
ligada a esse aprendizado na infância. para se preocupar, é conhecimento não abuso.
Nessa fase o pensamento é mágico e fantasioso, por isso
- Fase pré-escolar (2 a 6 anos): devem ser evitadas conversas como a da “cegonha” e da
“sementinha”. As respostas devem ser claras e objetivas o
Essa fase tem quatro momentos importantes: suficiente para satisfazer a curiosidade da criança. Ela quer
saber do fato, a maldade está na cabeça do(a) adulto(a). Outro
1. Formação da Identidade de gênero: cuidado com as histórias fantasiosas é que elas podem gerar
fantasias negativas, temores e culpas. Desnecessário.
A identidade de gênero é a condição de pertencer a um
sexo. Nesta fase a criança começa a definir-se como menino ou - Segunda Infância (6 a 10 anos):
menina. Os pais e educadores(as) devem, neste momento,
favorecer o processo de identificação da criança, através da Período no qual a sexualidade entra em latência. Ou seja,
brincadeira. Mostrar as diferenças e semelhanças entre ser entra em adormecimento para ser mais bem elaborada. É um
menino e ser menina (evitar ao máximo estereótipos!). momento de sensualidade, pois as crianças estão aptas a
Reforçar a visão de sexo da criança, sem nunca desvalorizar o experimentar as sensações. Por isso, há muitos jogos sexuais
sexo oposto. A questão não é superioridade/inferioridade, mas nesta fase. O lúdico aparece na imitação de modelos. É um
sim diferenças. momento em que pais e educadores(as) devem tomar cuidado
com o que falam e com o que fazem. A criança está em
2. Assimilação do papel sexual (social): constante observação. Assim, é um bom momento para
transmitir informações e valores (confiança, respeito, amor,
O papel sexual diz respeito ao comportamento que a honestidade, responsabilidade), as crianças estão prestando
criança terá diante sua identidade de gênero. Importante atenção.
evitar a manutenção de preconceitos de comportamentos É nesse período que se fortalece a identidade de gênero e
tipicamente masculinos e/ou femininos. prepara a criança para o próximo período, a puberdade.

3. Aprendizagem e controle dos esfíncteres O que são jogos sexuais?

É a primeira oportunidade da criança de aprender e Definição: são brincadeiras que ajudam a satisfazer a
exercer o autocontrole, através do treinamento do controle curiosidade sexual.
dos esfíncteres. Alguns tipos:
Segundo as considerações de Figueirêdo Netto, a - Cócegas;
aprendizagem do controle dos esfíncteres, no que se refere ao - Pegar nos próprios genitais e nos dos / das coleguinhas;
desenvolvimento da sexualidade, tem fundamental - Brincadeiras de médico;
importância, pois: - Brincadeiras de papai e mamãe.
a) “As áreas genitais se encontram na mesma zona do
corpo que intervém na excreção. Os músculos que participam Atenção: essas brincadeiras devem ser feitas com crianças
deste ato são exatamente os mesmos que posteriormente da mesma idade.
atuarão na resposta sexual. Ainda sobre os jogos sexuais, Suplicy afirma que “os
b) O ato de reter e expulsar os excrementos (urina e fezes) professores constataram que em geral os jogos sexuais são
produz prazer sensual, pela tensão e alívio ou relaxamento, realizados na hora do recreio. As crianças escolherem um
que acompanham estes comportamentos. lugar protegido, fora da vista do adulto; não tiram a roupa e
c) O controle voluntário desses músculos, assim como as brincam de médico e de papai-e-mamãe. Se esses jogos forem
sensações prazerosas deles resultantes, são associados à observados, mas não atrapalharem nenhuma atividade, não
sexualidade”. precisam ser interrompidos, pois fazem parte do
Para não adiantar nem atrasar esse processo da criança é desenvolvimento sexual da criança. O professor só deve estar
preciso ter em mente que ele(a) poderá ter este tipo de atento para que não haja coação nessas brincadeiras”.
controle entre os dois e três anos de idade. Adiantar ou atrasar
esse momento pode ser prejudicial ao desenvolvimento da
criança. Importante, ainda, salientar que pais e educadores
devem evitar relacionar questões negativas (como sujo, feio,
associar a castigos e chantagens), no decorrer do treinamento
do controle dos esfíncteres.
4. Interesses e curiosidades sexuais:

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Sexualidade e escola: um espaço de intervenção60 h) garantir a ética do trabalho tanto para os alunos como
para os professores;
Desde a antiguidade a sexualidade vem gerando polêmicas, i) garantir a liberdade de opinião e o respeito do grupo
mexendo com a sensação e fantasia das pessoas, associada a pelas dúvidas de seus colegas, sem monopólio da verdade de
coisas feias, inconvenientes e impróprias. Apesar da revolução ambas as partes.
sexual, da globalização e dos meios de comunicação terem O primeiro conteúdo indispensável neste trabalho é a
contribuído para uma modificação nas atitudes morais e nas diferenciação de sexo e sexualidade e também de Educação
questões ligadas ao sexo e sexualidade, esse assunto ainda Sexual e Orientação Sexual, que são muito confundidos na
assim continua sendo um tabu. maioria das vezes. O educador de Orientação Sexual deve ser
O estudo da sexualidade envolve o crescimento global do uma pessoa aberta, livre de mitos e preconceitos referentes à
indivíduo, tanto intelectual, físico, afetivo-emocional e sexual sexualidade para melhor ministrar a turma sem causar
propriamente dito. A maioria dos pais acham constrangedor problemas com a instituição, pais, alunos e professores,
conversar sobre sexo com seus filhos, ora pela educação podendo abordar os assuntos através de aulas expositivas,
recebida de seus pais, ora pela repressão ou por não saberem dinâmica de grupo, folhetos explicativos, filmes e outros
como abordar o tema. Assim, os filhos na maioria da vezes, materiais referentes ao tema. O trabalho não envolve nota ou
ficam sem respostas para suas dúvidas, gerando conflitos ou reprovação.
acidentes inesperados por terem informações errôneas ao Para finalizar seguem dois lembretes essenciais: é
consultar variadas fontes impróprias. necessário ressaltar a importância dos pais nesse processo
A maior parte dos adolescentes passam seu tempo na para que estes não se acomodem, julgando a escola
escola onde começam a se sociabilizar, aflorando sua responsável pelo processo da educação sexual de seus filhos;
sexualidade devido ao desenvolvimento corporal gerado pelos não cabe ao professor de Orientação Sexual virar conselheiro
hormônios. A escola é o ambiente onde a interação com o ou confidente dos alunos. Deve, se necessário, encaminhar
mundo ao redor e com as pessoas que o cercam acontece. para um profissional especializado.
Depois do ambiente familiar é a escola que complementa a
educação dada pela família onde são abordados temas mais Os jovens e a sexualidade61
complexos que no dia-a-dia não são ensinados e aprendidos,
tendo esta uma imensa responsabilidade na formação afetiva Para realizar uma prática adequada de Orientação Sexual
e emocional de seus alunos. E quanto ao assunto sexo e com jovens, é necessário que o profissional conheça o público
sexualidade? Qual o papel da escola frente a esse tema? A beneficiário de sua ação, ou seja, de quem e com quem falamos
escola não deve nem vai tomar o lugar da família, mas cabe a na condição de educadores.
ela possibilitar uma aprendizagem correta, já que essa
instituição visa o crescimento do indivíduo como um todo. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei
A educação sexual acontece no seio familiar. É uma 8.069, de 13 de julho de 1.990 – Art. 2º) “considera-se criança,
experiência pessoal contida de valores e condutas [...], a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
transmitidos pelos pais e por pessoas que o cercam desde aquela entre doze e dezoito anos de idade” (Brasil, 1990).
bebê. Já a Orientação Sexual é dada pela escola onde são feitas
discussões e reflexões à respeito do tema de uma maneira Muitos autores que se preocupam com a temática da
formal e sistematizada que constitui em uma proposta objetiva infância e juventude afirmam que não é possível definir o
de intervenção por parte dos educadores. período que compreende a infância e a adolescência apenas
O que nos cabe é refletir acerca da importância da pela faixa etária. Quando podemos afirmar que uma criança
Orientação Sexual na Escola para a construção da cidadania, de deixou de sê-lo e passou a ser adolescente? Quais
uma sociedade livre de falso moralismo e mais feliz. O trabalho comportamentos são considerados infantis, juvenis e/ou
de Orientação Sexual tem como objetivo principal as adultos? Estes são questionamentos complexos.
mudanças nos padrões de comportamento, levando-se em Em todos os questionamentos que formulamos a respeito
conta três aspectos fundamentais: a transmissão de dos seres humanos, devemos sempre conceber o homem
informações de maneira verdadeira; a eliminação do enquanto ser integral, biopsicossocial. Desta forma,
preconceito e a atuação na área afetivo-emocional. Para se precisamos considerar as dimensões biológica, psicológica e
fazer um bom trabalho de Orientação Sexual dentro da escola social das pessoas, compreendendo que estas não são
é importante dar atenção a alguns passos: separadas, mas integradas na existência humana.
a) apresentar um projeto para a instituição com o objetivo Em relação à dimensão biológica, percebemos que uma
do trabalho; criança começa a deixar de sê-lo quando ela vivencia o período
b) fazer uma reunião com os pais e professores para do desenvolvimento humano chamado de puberdade. Para
esclarecer quaisquer dúvidas que possam surgir ao longo do esta discussão, tomaremos como referência o trabalho de
trabalho e explicar o papel de ambos junto à escola neste Gewandsznajder.
projeto; Na puberdade, o corpo do menino ou da menina passa por
c) observar a demanda da escola para que se atinja a um processo de transformação, deixando de ser um corpo
expectativa desta; infantil para se tornar um corpo adulto, ou seja, pronto para
d) a partir das séries estabelecidas para o trabalho entrar reprodução.
em contato com elas para explicar como este será A faixa etária que corresponde a este período é variável.
administrado; Em geral, a puberdade ocorre nos garotos entre 11 e 13 anos e
e) colher, por meio de “bilhetinhos sigilosos,” dúvidas e nas garotas entre 10 e 12 anos. É necessário saber que estas
curiosidades de cada aluno garantindo-lhes total sigilo; idades não são fixas, podendo variar de pessoa para pessoa.
f) após levantar as dúvidas e curiosidades fazer uma Tanto em garotos quanto em garotas ocorre o chamado
estruturação do programa a ser cumprido em diferentes séries “estirão”, ou seja, um crescimento do corpo acentuado em um
(conteúdo, horário, encontros, local), para uma maior eficácia; curto período de tempo. O “estirão” costuma iniciar mais cedo
g) estabelecer um contrato (regras sugeridas pelo grupo); nas meninas que nos meninos, razão pela qual as meninas por
volta dos 12 anos de idade são frequentemente mais altas que

60 BERALDO, F. N.de M. Sexualidade e escola: um espaço de intervenção. Psicol. 61 BRANCO, M. A. O.; PINTO, M. J. C.; VIANNA, a. M. S. A. Orientação Sexual
Esc. Educ. (Impr.) vol.7 no.1 Campinas, 2003. com Jovens: Construindo um Exercício Responsável da Sexualidade. Simpósio
Internacional de Educação Sexual da UEM, 2009.

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os meninos. Também tanto em garotos quanto em garotas Outro fator importante a ser abordado é o prolongamento
ocorre o aparecimento de pêlos pubianos e axilares. A pele se da juventude. Atualmente vivenciamos uma clara dificuldade
torna mais oleosa e o corpo, através do suor, passa a ter um em delimitar o término deste período. Não é raro
cheiro característico de pessoa adulta, diferenciando-se da encontrarmos pessoas que pretendem terminar seus estudos,
criança. incluindo até cursos de mestrado e doutorado, antes de
decidirem morar sozinhos ou casaram-se, e então deixar de
Nos garotos ocorre o aparecimento da barba, e a laringe se morar com seus pais.
alarga provocando a tendência da voz se tornar mais grave. Partindo da premissa de todas estas transformações
Também ocorre o aumento da massa muscular, com contemporâneas, é interessante tomarmos a definição do
consequente ampliação da força física, e o aumento do pênis e Conselho Nacional da Juventude no que diz respeito a estender
testículos. até os 29 anos a faixa etária das pessoas que são consideradas
Nas garotas ocorre o aumento dos seios, quadris, nádegas jovens.
e coxas, dando ao corpo o aspecto de mulher em fase adulta. A São estes jovens que constituem o público beneficiário da
partir da puberdade a garota passa a menstruar, característica prática de Orientação Sexual, no enfoque deste trabalho.
que sinaliza que seu organismo está pronto para gerar filhos.
É preciso deixar claro que puberdade não é sinônimo de Orientação Sexual X Educação Sexual
adolescência. Puberdade compreende as transformações
corporais que tornam o corpo humano adequado para a Os autores que se preocupam atualmente com a temática
reprodução, deixando de ser um corpo infantil para tornar-se da Orientação Sexual formulam questionamentos a respeito do
um corpo adulto. A adolescência compreende um período mais termo que deve ser utilizado para definir tais práticas. Quando
extenso e significativo que a puberdade, sendo esta etapa falamos em Orientação Sexual e em Educação Sexual,
constituinte daquela. utilizamos a mesma definição para as duas expressões?
O termo adolescência vem do termo latino adolescere, que De acordo com Ribeiro falamos em Educação Sexual
significa “crescer, engrossar, tornar maior”. Em relação à quando nos referimos aos “processos culturais contínuos [...]
dimensão psicológica, segundo Canosa Gonçalves et. al. e que direcionam os indivíduos para diferentes atitudes e
Tavares, as crianças que se tornam adolescentes também comportamentos ligados à manifestação de sua sexualidade”.
passam por transformações. A principal delas é em relação à Nesta definição, podemos pensar que a educação sexual tem
própria identidade. Neste momento, o adolescente necessita seu início no nascimento de cada indivíduo, sendo que o
se reconhecer num corpo transformado, que não é mais o processo educacional acontece através da relação deste
corpo infantil que ele tinha, e que agora é um corpo adulto, indivíduo com seu meio social. Então, as “atitudes e
visivelmente modificado. comportamentos ligados à manifestação da sexualidade” são
Outro passo importante é a consolidação de si próprio construídos por cada pessoa em contato com a sociedade, ou
enquanto pessoa “independente”, sob o ponto de vista da seja, amigos, grupos religiosos e/ou de convivência, meios de
determinação de suas escolhas pessoais e da responsabilidade comunicação e, principalmente, a família. Portanto, a
que elas trazem. É neste momento que pode haver uma sociedade pratica ações educativas em sexualidade em relação
divergência, e até um questionamento, com as regras aos indivíduos que a constituem. Porém, em grande parte das
determinadas pela família e pela sociedade. vezes, estas ações se tornam “deseducativas”, na medida em
Na adolescência é comum ocorrer uma identificação muito que reproduzem e perpetuam tabus, desinformações e
intensa do jovem com seu grupo de “iguais”, em geral outros atitudes repressivas em relação à sexualidade humana.
jovens. Não é raro este grupo (galera, turma, etc.) compartilhar Para Ribeiro, a Orientação Sexual pressupõe uma
um determinado modo de conversar, de se vestir, enfim, de se intervenção institucionalizada, sistematizada e realizada por
comportar. Esta identificação com o grupo é importante na profissionais especialmente preparados para exercer esta
construção da própria identidade (pessoal, sexual, social) do função. Diferencia-se, portanto, da Educação Sexual, que
adolescente. acontece durante toda a vida das pessoas, e que diz respeito ao
Em geral, nesta fase do desenvolvimento ocorrem as processo educacional referente às atitudes em relação à
primeiras manifestações da sexualidade adulta, ou seja, o sexualidade. Desta forma, podemos pensar a Orientação
primeiro beijo, o “ficar”, o namoro, as primeiras experiências Sexual enquanto prática interventiva na vida das pessoas,
eróticas. Trata-se de uma busca pelo outro para um prática que intervém na Educação Sexual que todas elas
relacionamento afetivo-sexual. “A adolescência é uma fase de receberam em contato com a sociedade em que vivem.
descobertas, de desafios e a sexualidade humana talvez seja,
para a maioria dos jovens, o aspecto mais interessante desta Citando Suplicy et. al. “Orientação Sexual é um processo de
jornada”. intervenção sistemática na área de sexualidade, realizado
Em relação à dimensão social, precisamos considerar que principalmente nas escolas e envolve o desenvolvimento sexual
a adolescência enquanto processo de desenvolvimento compreendido como: saúde reprodutiva, relações interpessoais,
humano não é universal, ou seja, não é igual para todos os afetividade, imagem corporal, autoestima e relações de gênero.
jovens. Cada um vivenciará a sua adolescência de acordo com Enfoca as dimensões fisiológicas, sociológicas, psicológicas e
suas condições de vida, o seu lugar de moradia, a dinâmica de espirituais da sexualidade, através do desenvolvimento das
sua família de origem, as características de acesso à escola ou áreas cognitiva, afetiva e comportamental, incluindo as
aos serviços de saúde, as modalidades de lazer a que tem habilidades para a comunicação e a tomada responsável de
acesso, dentre outros condicionantes. Todas as decisões”.
transformações vivenciadas pelo jovem são construídas
mediante as relações sociais que eles estabelecem. Não existe Percebemos a concordância de Suplicy et. al. com Ribeiro
um “padrão”. Cada indivíduo, a partir de sua realidade social, em afirmar que a Orientação Sexual é uma prática
vivenciará sua juventude de forma particular. interventiva sistemática na área da sexualidade. Suplicy et.
Não devemos pensar a juventude como crise, mas como um al., na definição citada, enfatiza que a Orientação Sexual deve
processo do ciclo vital do jovem. Isto quer dizer que devemos ser pensada e executada a partir da consideração do
compreender o jovem não enquanto um “problema” ou um orientando enquanto ser integral, ou seja, devem ser
“fardo”. Deve ser compreendido sempre a partir da sua pessoa consideradas suas dimensões fisiológicas, sociológicas,
em condição peculiar de desenvolvimento inserida num psicológicas e espirituais no exercício de sua sexualidade.
determinado contexto sociocultural. Além disso, a Orientação Sexual deve contemplar diversos

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aspectos do desenvolvimento sexual dos indivíduos, ou seja, as meninas estavam proibidas de ler tal obra, pois deveriam
saúde reprodutiva, relações interpessoais, afetividade, manter-se inocentes e ser iniciadas na vida sexual apenas por
imagem corporal, autoestima e relações de gênero. seus maridos. Interessante ressaltar que, do grupo de meninas
Compreende-se o ser humano enquanto ser sexuado inserido excluídas do acesso ao conteúdo da obra, não fazem parte as
num meio social, que continuamente se relaciona com outros prostitutas. Estas eram consideradas uma tentação para os
seres humanos. Desta forma, amplia-se o enfoque da meninos enquanto aquelas eram chamadas de meninas de
Orientação Sexual no Brasil que, no início e meados do século “boa família”.
XX priorizava a dimensão biológica da sexualidade. No final do Entre as décadas de 1920 e 1940, mesma época em que foi
século XX e nos dias atuais, deve-se compreender a publicado o manual citado por Chauí, foram publicados vários
sexualidade enquanto manifestação humana, com outros livros de orientação sexual cientificamente
desdobramentos além da mera reprodução e da possibilidade fundamentados, escritos por médicos, professores e até
de contágio de doenças sexualmente transmissíveis. Tais sacerdotes. Assim foi criada a sexologia enquanto campo
aspectos não devem ser descartados, mas deve-se somar a eles oficial do saber médico.
outros aspectos como o prazer, as relações afetivas e os papéis
sexuais na (re)definição de gênero. Concomitante à consolidação do conhecimento científico
Neste contexto, Santos e Bruns apontam que um dos da época em relação à sexualidade, a Igreja Católica imprime
objetivos da Orientação Sexual é levar o indivíduo a valorizar severa repressão às práticas sexuais da população brasileira.
o prazer, o respeito mútuo, possibilitando-lhe uma vivência Desta forma, a década de 50 é considerada pobre no sentido de
mais íntegra e feliz. não contar com nenhuma iniciativa no campo da Orientação
Sexual.
Breve histórico da Orientação Sexual no Brasil Na década de 60 surgem as primeiras experiências de
Orientação Sexual nas escolas dos estados de Minas Gerais
No Brasil, a sexualidade tem sido um aspecto polêmico do (Belo Horizonte, em 1963, no Grupo Escolar Barão do Rio
cotidiano das pessoas, desde a época da Colônia do século XVI. Branco), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, em 1964, no Colégio
O homem brasileiro branco, nos primeiros anos da Pedro Alcântara; em 1968, nos colégios Infante Dom Henrique,
colonização, mantinha relações sexuais com várias índias, Orlando Rouças, André Maurois e José Bonifácio) e São Paulo
tendo com elas muitos filhos, caracterizando um (São Paulo, de 1963 a 1968, no Colégio de Aplicação Fidelino
comportamento sexual bastante promíscuo. Figueiredo; de 1961 a 1969, nos Ginásios Vocacionais; de 1966
Com o advento da escravatura, os jovens homens filhos dos a 1969, no Ginásio Estadual Pluricurricular Experimental).
senhores de engenho eram incentivados a se relacionar Estas experiências são realizadas com base na ênfase ao
sexualmente com as escravas negras, para provar que eram aspecto biológico da sexualidade humana, tal qual era o
“machos”. As mulheres brancas eram dominadas e submetidas tratamento dado a esta questão nos livros que possibilitaram
às regras de seus pais, inicialmente, e de seus maridos, após o o surgimento da sexologia enquanto área do conhecimento da
casamento. Em geral, casavam ainda adolescentes com medicina. Além disso, estas experiências foram fortemente
homens bem mais velhos que elas. Era-lhes exigido um carregadas com as marcas da repressão das manifestações da
comportamento acanhado e humilde frente à sociedade. sexualidade.
Tal cenário brasileiro se mantém praticamente o mesmo
durante os séculos XVII, XVIII e XIX. Neste período da História Na época das primeiras experiências em Orientação Sexual
do Brasil não há registros conhecidos de Orientação Sexual nas escolas brasileiras, o país vivia seu período histórico e
enquanto intervenção sistematizada. político chamado de ditadura militar. Em 1964, a população
A preocupação com a Orientação Sexual no Brasil, assiste à chegada das forças armadas ao poder da República
enquanto tema científico e pedagógico, data do início do século Federativa do Brasil, através da imposição do Golpe de Estado.
XX. Neste momento da história brasileira registra-se a A partir daí, o regime militar reprime não só as manifestações
organização dos primeiros espaços urbanos, que originaram políticas, mas também as manifestações sexuais e as
as cidades brasileiras. Nestes locais a comunidade científica implicações nos padrões de comportamento delas
brasileira se organizava sofrendo forte influência europeia. decorrentes.
Em 1968, a deputada federal do Rio de Janeiro Júlia
Barroso e Bruschini afirmam que, no início do século XX, Steinbruk apresentou um projeto de lei que previa a
esta influência europeia manifesta-se no Brasil através de introdução obrigatória da Educação Sexual nas escolas
algumas correntes médicas e higienistas de sucesso na Europa. brasileiras. Tal projeto de lei não foi transformado em
Tais correntes pregavam a necessidade de uma Educação legislação porque o então Ministério da Educação e Cultura,
Sexual eficaz no combate à masturbação e às doenças venéreas através de sua Comissão Moral e Civismo, rejeitou o projeto,
(termo utilizado na época para referir-se às doenças demonstrando o severo receio por parte dos gestores da
sexualmente transmissíveis – DST´s) e que preparasse a educação brasileira da época em relação ao tratamento de
mulher para desempenhar adequadamente seu “nobre papel questões sexuais com os estudantes.
de esposa e de mãe”. Notamos que, logo no início de suas Na década de 70, cresce a censura do governo militar e há
atividades no Brasil, a Orientação Sexual carrega uma um quase desaparecimento de projetos de Orientação Sexual
característica de incitação do medo aos jovens (combate à nas escolas brasileiras. Apenas em 1978, com a abertura
masturbação e às doenças sexualmente transmissíveis – política trazida pelo presidente Ernesto Geisel, a Prefeitura
DST´s), além de ser impregnada pela chamada ideologia de Municipal de São Paulo implantou projetos de Orientação
gênero machista (preparar a mulher para desempenhar Sexual em três escolas, os quais, posteriormente, foram
adequadamente seu papel de esposa e mãe). ampliados para muitas escolas municipais, envolvendo
Neste momento, emerge a produção de teses, livros e orientadores educacionais e professores de Ciências e
manuais que tratam da Orientação Sexual, todos baseados no Biologia. Em 1979, a rede pública estadual paulista iniciou um
modelo médico higienista vigente. Referenciando este período, trabalho de informação aos estudantes sobre os aspectos
Chauí cita uma obra datada de 1938, de autoria de Oswaldo biológicos da reprodução, por intermédio da disciplina de
Brandão da Silva, intitulada Iniciação Sexual-Educacional. Este Ciências e Programas de Saúde da Secretaria de Educação do
livro, segundo consta, tinha um conteúdo destinado somente Estado de São Paulo.
aos “meninos de valor”. Segundo esta autora, o autor da obra Ao fim da década de 70 e durante a década de 80, surgem
não explica o significado do termo “valor”, mas fica claro que novas ações no plano da Orientação Sexual, como o

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aparecimento de serviços telefônicos, programas de rádio e de repressiva da sexualidade humana, desejando que uma
televisão, enciclopédias e fascículos, congressos e encontros Orientação Sexual possa produzir uma atitude sexualmente
de professores. Proliferam as iniciativas na rede particular de abstinente dos jovens brasileiros, desejo que se mostra
ensino. Nasce nessa época a SBRASH – Sociedade Brasileira de absolutamente inalcançável e indesejável. De outro modo, a
Sexualidade Humana. preocupação advinda dos pais e educadores quanto ao número
de gestações na adolescência pode ser um ponto de partida
De 1989 a 1992, na cidade de São Paulo, foi desenvolvido para propiciar espaços abertos de discussão, onde o jovem
um abrangente projeto de Orientação Sexual nas escolas possa refletir sobre sua própria sexualidade, no sentido de
municipais, com a participação do renomado GTPOS (Grupo de conscientemente poder efetuar escolhas para sua vida, que
Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual). Este projeto incluem ter ou não filhos. Para tal escolha, o jovem, que num
atingiu 30.000 alunos e foram capacitados 1.105 professores futuro próximo se tornará um adulto, deve ter conhecimento e
para oferecer ações de orientação sexual nas escolas. autonomia sobre o uso de métodos contraceptivos.
Nota-se que, desde as primeiras experiências de projetos Outra preocupação de pais e educadores que mobiliza a
de Orientação Sexual na década de 1960, não existiram ações execução de programas de Orientação Sexual são as doenças
continuadas, sendo que estes projetos historicamente ficaram sexualmente transmissíveis uma vez que, ao iniciar a vida
atrelados às vontades político-partidárias de prefeitos ou sexual, muitos jovens, ainda que possuam conhecimento de
governadores. prevenção, não utilizam preservativo.
Ribeiro corrobora dizendo que, somente com a aprovação Infelizmente a maioria dos programas brasileiros de
da LDB – Lei de Diretrizes e Bases em 1996 e o Orientação Sexual não é contínua. Caracterizam-se muitas
estabelecimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais em vezes pelo oferecimento de palestras pontuais sobre
1997 como linhas a serem seguidas para se concretizar a meta sexualidade. Este tipo de programa não atinge os objetivos de
da educação para o exercício da cidadania, a Orientação Sexual propiciar elementos para uma construção adequada do
teve oficialmente reconhecida sua necessidade e importância exercício da sexualidade dos jovens. Para trazer efetivos
enquanto ação educativa escolar. benefícios à juventude, o processo de educação precisa de
continuidade, de vínculo, de tempo, de reconhecimento.
Os programas de Orientação Sexual
Orientação Sexual como tema transversal
Podemos constatar na maioria dos programas de
Orientação Sexual executados no Brasil, ainda nos dias atuais, O governo federal brasileiro, através do Ministério da
uma tendência de mostrar apenas os problemas e possíveis Educação - MEC, em seus Parâmetros Curriculares Nacionais
más consequências da sexualidade. Em geral, no conteúdo (1997), estabelece a Orientação Sexual no Ensino
destes programas são enfatizadas (quando não são exclusivas) Fundamental enquanto tema transversal, isto é, um assunto a
as DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis e as gravidezes ser trabalhado em todas as disciplinas escolares, por
precoces na adolescência, com maternidade e/ou paternidade quaisquer professores que se sintam mobilizados, sempre que
indesejadas. Este conteúdo não sensibiliza os jovens para a houver espaço na grade curricular ou em horários
discussão construtiva do tema sexualidade humana. Eles extraclasses.
costumam não se sentir à vontade para receber uma adequada Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN,
Orientação Sexual, pois identificam claramente a repressão “propõe-se que a Orientação Sexual oferecida pela escola aborde
sexual que experimentam em seu meio social, aqui também com as crianças e os jovens as repercussões das mensagens
reproduzida pelos profissionais orientadores sexuais. transmitidas pela mídia, pela família e pelas demais instituições
Em contato com um conteúdo de Orientação Sexual que da sociedade. Trata-se de preencher lacunas nas informações
prioriza os problemas advindos de uma vivência inadequada que a criança e o adolescente já possuem e, principalmente, criar
da sexualidade e não os aspectos afetivos, prazerosos, e de a possibilidade de formar opinião a respeito do que lhes é ou foi
respeito às relações humanas, os jovens costumam não apresentado. A escola, ao propiciar informações atualizadas do
perceber uma relação coerente entre o conteúdo abordado e ponto de vista científico e ao explicitar e debater os diversos
suas próprias experiências reais concretas. Comenta-se que o valores associados à sexualidade e aos comportamentos sexuais
sexo traz problemas, mas a maioria dos jovens percebe suas existentes na sociedade, possibilita ao aluno desenvolver
experiências sexuais como prazerosas, surgindo aí um atitudes coerentes com os valores que ele próprio eleger como
paradoxo. seus”.
Desta forma, urge a necessidade da discussão de conteúdos
adequados à realidade dos jovens para que eles possam Percebemos o complexo dever atribuído à Orientação
realmente tomar atitudes responsáveis na vivência de suas Sexual no âmbito escolar na medida em que é sua função a
sexualidades. Assim, um programa efetivo de Orientação reflexão contínua sobre as informações constantes recebidas
Sexual deve reconhecer o exercício prazeroso da sexualidade, pelos jovens em suas relações sociais. Daí decorre a
sem deixar de contemplar as medidas de proteção à saúde e os necessidade de que os profissionais que executam programas
métodos contraceptivos para tornar possível a emergência de de Orientação Sexual tenham conhecimentos científicos
maternidades e paternidades responsáveis, no momento de suficientes e adequados para abordar as demandas cotidianas
escolha consciente de cada pessoa que deseje ter filhos. da juventude em relação à sexualidade. É preciso que, pela
Nos dias atuais, percebe-se a crescente preocupação de Orientação Sexual, os jovens possam formar suas opiniões a
alguns pais e educadores diante do número de gestações na respeito do tema para propiciar um pleno exercício de suas
adolescência. Segundo o Ministério da Saúde, enquanto a taxa sexualidades.
de fecundidade de mulheres adultas tem caído nas últimas Apesar da clara proposição dos PCN de conceber a
quatro décadas, entre as mulheres jovens existe uma relação Orientação Sexual no âmbito escolar enquanto tema
inversamente proporcional. “Desde os anos 90, a taxa de transversal extremamente importante para a formação de
fecundidade entre adolescentes aumentou 26%. valores conscientes pelos jovens em relação à sexualidade,
Tal preocupação mobiliza e estimula o avanço das ações muitas dificuldades têm permanecido no exercício diário desta
em orientação sexual, o que pode ser intensamente benéfico prática educacional. Como sexo é um assunto intensamente
para os jovens, visto que eles poderão ter maior acesso a repleto de repressões em nossa sociedade ocidental, muitos
programas desta natureza. No entanto, cabe questionar se pais educadores não manifestam interesse sobre o tema, deixando
e educadores ainda mantêm seu foco sob uma concepção

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de buscar formação adequada para o trabalho de Orientação Gonçalves um bom educador sexual é “aquele que convive
Sexual com a juventude. com os jovens no dia-a-dia, que os conhece e é
Além dos profissionais diretamente em contato com os reconhecido por eles, e que tem em sua prática
jovens, há uma grande parcela de educadores que são profissional os pressupostos da educação”.
dirigentes de estabelecimentos educacionais e, reproduzem as Desafiante para o trabalho do educador sexual com
mesmas repressões sociais em relação à sexualidade, não jovens é utilizar métodos e técnicas que prendam a
contribuindo positivamente para a execução de bons atenção deste público, que provoquem reflexão e que
programas de Orientação Sexual, uma vez que não acreditam sejam capazes de fazer com que o jovem se comprometa
que este tema seja importante para a comunidade estudantil consigo próprio e com suas parcerias.
ou acreditam que falar sobre sexualidade com jovens É imprescindível que o educador sexual possua
estudantes pode induzi-los à prática precoce de relações conhecimentos científicos adequados sobre desenvolvimento
sexuais. humano, constituição dos órgãos sexuais, saúde reprodutiva,
A Orientação Sexual na escola ainda tem um extenso métodos de prevenção às DST´s e/ou contraceptivos,
caminho a ser trilhado para que a sexualidade, presente na relacionamentos interpessoais e relações de gênero. Não é
vida de todas as pessoas, possa ser tratada (e aprendida) pelos necessário que o profissional detenha estes conhecimentos em
profissionais da educação e seus respectivos educandos sem nível de especialista em sexualidade humana, mas deve
os massacrantes e silenciadores tabus e com respeito e continuar buscar atualizar tais saberes, afim de oferecer uma
propriedade, para inibir práticas inadequadas e produzir prática de qualidade em relação à Orientação Sexual.
práticas saudáveis do exercício da sexualidade. Nesta realidade, o desafio proposto ao orientador sexual é
que, através de seu trabalho, possa propiciar condições para
O Educador/Orientador Sexual que os jovens reflitam a respeito de suas sexualidades e
possam exercê-las de maneira saudável. Segundo Vitiello
Retomando a discussão sobre a definição dos termos educar é dar ao educando condições e meios para que cresça
“educação sexual” e “orientação sexual” presente no item interiormente.
“Orientação Sexual X Educação Sexual” deste trabalho,
encontramos com maior frequência na literatura especializada Mas afinal como é diversidade sexual/de gênero no
o termo “educador sexual” referindo-se àquele profissional ambiente escolar?
que exerce a prática educacional de Orientação Sexual,
enquanto prática institucionalizada e sistematizada. Desta Gênero e sexualidade: diálogos e conflitos
forma, neste momento, utilizaremos o termo “educador
sexual” para fazermos referência a este profissional Marcas epistemológicas
especializado e não aos membros da família e demais relações O modo de compreender a diferença evoluiu no sentido de
interpessoais dos jovens, que contribuem para a sua educação pensa-la junto com o seu duplo, seu contrário, seu avesso, ou
em um sentido mais amplo, conforme Vitiello. seja, ela é sempre relacional e dificilmente bipolarizada. Esse
Segundo Canosa Gonçalves, o desenvolvimento modo de compreensão aguça a sensibilidade humana e sua
psicossexual é um processo único e pessoal, que sofre condição de experimentar, de se (auto)inventar.
transformações ao longo do processo por diversos aspectos do A relevância do debate crítico ancorado no domínio
comportamento sexual humano sendo eles: constituição discursivo da heterossexualidade que, pretensiosamente
biológica do indivíduo (hereditariedade, níveis hormonais), hegemônica e unificada em um modo de ser, desconsidera
relações familiares, padrão econômico, características outras formas que não atendem às suas práticas discursivas.
culturais, adoção da fé, entre outros. Pensamos que essa situação reflete-se diretamente nas
Portanto, o educador sexual, ao realizar sua prática, está práticas curriculares, prejudicando o entendimento de
inserido neste complexo contexto do comportamento humano diversas relações sociais e culturais presentes na escola, e mais
e deve intervir nesta realidade. Os jovens com os quais o amplamente, na sociedade. Estamos entendendo como
educador sexual trabalhará trazem em suas histórias de vida currículos as ações escolares, culturais e tecnológicas
diversas realidades, variadas construções biopsicossociais em (arquitetura, livros didáticos, vestimentas, músicas, conteúdos
um mesmo grupo de jovens orientandos. Cabe ao educador e dizeres científicos, meios midiáticos e outros) que,
sexual ter capacidade para perceber tais diferenças e pautar significadas na cultura, ensinam e regulam o corpo,
suas ações de maneira a privilegiar a diversidade, num produzindo subjetividades e arquitetando formas e
contexto de respeito às escolhas pessoais de cada jovem. Ao configurações de viver na sociedade.
educador sexual é requerida abertura intelectual, moral e
afetiva para tornar possível a realização da Orientação Sexual Os equívocos
com jovens tão diversos. Recorda-se que, no Brasil, a homossexualidade deixou de
se configurar como doenças nos instrumentos médicos (mais
A Orientação Sexual deve ser uma prática ofertada a todos precisamente como desvio mental e transtorno sexual), em
os jovens, mas não uma prática arbitrária e unidimensional, fevereiro de 1985. Essa alteração foi fruto de uma intensa
que reproduz os preconceitos repressivos de nossa sociedade. campanha, liderada pelo antropólogo Luiz Mott, junto com o
Assim, o educador sexual deve ser flexível em relação às Conselho Federal de Medicina (CFM) que, por resolução,
diversas orientações afetivo-sexuais, às religiosidades, enfim, retirou a homossexualidade da lista de doença. Sendo
diversas concepções construídas sobre sexualidade na história importante lembrar que, já em 1973, a American Psychiatric
pessoal de cada jovem. Orientação Sexual “se destina à pessoa Association, afirmara que a homossexualidade não tinha
humana, com a prerrogativa de igualdade entre os seres ligação alguma com qualquer tipo de patologia e propusera a
humanos, em primeiro lugar”. sua retirada do Manual de Diagnóstico e Estatística de
O educador sexual deve apresentar adequação sexual, isto Transtornos Mentais (DSM-IV). Já a Organização Mundial de
é, reconhecer-se enquanto pessoa sexuada, com suas Saúde (OMS), somente no dia 17 de maio de 1990, reuniu-se
preferências e limites, e não influenciar as decisões dos jovens em Assembleia Geral e retirou a homossexualidade de sua lista
a partir destas preferências. Diferenciar-se pessoalmente de de doenças mentais, declarando que ela não constituía um
quem orienta é imprescindível para que o educador sexual distúrbio, uma doença ou perversão. Assim, o que antes tinha
possa propiciar condições para reflexão ao jovem para que sido classificado, estabelecido e difundido como desvio e
este possa realizar suas próprias escolhas. Segundo Canosa

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anormalidade, a partir dessa assembleia, seria considerado Diversidade e educação: apontamentos sobre
normal. sexualidade e gênero na escola
Se aceitarmos a sexualidade assim como a experiência Desde as décadas de 1960 e 1970, expressivas mudanças
estão condicionadas pela necessidade humana de se construir socioculturais e históricas ocorreram, no que se refere às
nas interações sociais, culturais e históricas, aceitaremos perspectivas das relações de gênero e sexualidade. Essas
também que não há uma única sexualidade. A ausência de mudanças se acentuaram de modo significativo, a partir, não
liberdade impede o movimento de busca pela completude, na apenas da atuação de movimentos sociais, mas também da
qual a sexualidade, como dimensão da humanidade, se emergência da discussão da AIDS nos anos 80.
constitui. Novas maneiras de entender e discutir as questões foram
Existe um nexo entre a sexualidade, a vida e a curiosidade sendo consideradas, com desdobramentos na esfera social e
pelo saber. Esse movimento infinito em busca de completude política (por meio de Organizações Não
e em busca de conhecimento é fator que constitui o ser Governamentais/ONGs, de movimentos sociais e de políticas
humano e seu desejo de liberdade. públicas) e, na esfera acadêmica, com a efetivação de estudos
No entanto, ainda que pareça contraditório, não confiamos em vários campos de conhecimento, que têm direcionado seu
no desejo como princípio, condição e direito de liberdade. Não foco para a sexualidade e as relações de gênero, como
cremos, em absoluto, que haja desejo anterior a um conjunto fenômenos a serem conhecidos de modo mais fundamentado,
de normas ou acordos sociais que o faça livre. Nós o pensamos expandindo sua discussão para outros aspectos, como os das
como criado singularmente, mas em redes de relações. identidades e seus fundamentos históricos e culturais.
Sem dúvidas, a compreensão da sexualidade poderá Sexo e sexualidade são frequentemente tomados como
contribuir, de modo significativo, para novas possibilidades de sinônimos; todavia, sexo admite uma compreensão referida ao
construção de conhecimentos e caminhos de busca do saber. aspecto natural, biológico, da distinção física entre o homem e
Não se trata, portanto, de aprisioná-la nos discursos sobre o a mulher. No senso comum, o sentido de sexo remete ao ato
ato sexual, mas de aproveitá-la em seu potencial sexual. Já a sexualidade refere-se à esfera mais ampla, dos
epistemológico. Essa análise é especialmente oportuna e sentimentos, das interações entre as pessoas.
necessária à escola. Recorda-se e reafirma-se, portanto, que a sexualidade,
como construção social, tem absorvido, historicamente, em
A discussão na escola seus significados, elementos das relações de gênero,
Na escola, as atitudes de hostilidade às identidades sexuais frequentemente submetidas a prescrições de como homens e
dissidentes são capazes de gerar inúmeras situações de mulheres devem vivenciá-las. Contudo, apesar da sexualidade
violências homofóbicas. Algumas, que não se encontram na estar imbricada, implícita ou explicitamente às relações de
esfera dos números e dados quantitativos, são vivenciadas no gênero, essas não são consideradas sinônimas63. A vivência da
silêncio e ocultadas na invisibilidade. sexualidade não é determinada por normas padronizadas às
A discriminação afirma o “direito” dos que discriminam e a quais homens e mulheres devem se adaptar. Esse é um dos
subalternidade dos que são discriminados. Nesse sentido, ela princípios que motivam e sustentam significados mas amplos
é observada nos espaços-tempos escolares. As identidades da sexualidade e promovem a sua problematização, que
vinculadas às expectativas de gênero e/ou sexo biológico estão incorpora aportes como os que são revistos nas relações de
no interior das hierarquizações e classificações sociais, tanto gênero.
quanto nos currículos e, mais amplamente, nas ações e
relações do cotidiano escolar. Problematização das relações de gênero: revisão de dados
A sexualidade, infelizmente, é algo temido e capaz de gerar históricos e conceituais
tantos discursos na sociedade, na ciência e na cultura. Sua O entendimento das relações de gênero implica a noção de
estreita relação com o conhecimento amedronta os que se que, no decorrer da vida, por intermédio das mais díspares
nutrem da arrogância, porque fragiliza suas verdades e instituições e práticas sociais, os sujeitos se constituem como
certezas. homens e mulheres, em uma ação que não é unidimensional,
coerente ou congruente e que também sempre estará
Foucault62 nos ajuda a observar que é preciso fortalecer, inacabada ou incompleta.
aprofundar e prosseguir contra a dicotomia e lógica binária, Sendo assim, partindo desse pressuposto de incompletude,
até que as oposições binárias deixem de ter sentido e se encontra-se fundamento para realçar a noção de gênero na
consolidem convivências solidárias, em contextos sem educação, já que essa disposição teórica expande socialmente
discriminações e violências. Como estratégia para fazer difuso a própria ideia de educação, podendo-se entender que educar
o antigo jogo de poder que se instala na relação entre opressor envolve um conjunto de forçasse de processos, em cuja
e oprimido, a proposta foucaultiana é a “proliferação” de dinâmica os sujeitos aprendem a se aceitar como homens e
saberes sobre os seres humanos e as relações e de poder que mulheres, na esfera das sociedades e dos grupos que estão
os oprimem, de tal modo que o modelo jurídico de poder como inseridos. Essa é mais uma premissa que contribui para a
opressão e regulação deixe de ser hegemônico. Talvez, desse desconstrução de estereótipos que limitam e reduzem a
significado de “proliferação” de saberes, possamos retirar as compreensão social, culturalmente contextualizada, de
bases para “proliferar” inúmeras e ilimitadas formas de gênero.
compreender os seres humanos, sem as violências, já tantas
vezes vivenciadas, e com tantas exterminações em massa, Identidades sexuais: revisão de perspectivas de
como na Segunda Guerra, devido à não aceitação do “outro”, a desconstrução de estereótipos
quem se atribui dessemelhança e desigualdade, É oportuno indagar se é plausível que a manifestação
potencializando os efeitos destrutivos da xenofobia que, em aparente de identidades sexuais não normativas na escola
todas as suas manifestações, incluindo as homofóbicas, conduz colabore para desajustar dispositivo de rejeição ou, ao
e justifica a aversão, o domínio ou a eliminação dos contrário, para realçá-lo, uma vez que a construção da
“estranhos”, que ameaçam e incomodam o exercício arbitrário heterossexualidade e da homossexualidade tem configurado
do poder. por meio de oposição recíproca. No mesmo sentido, é
apropriado indagar sobre o alcance político de transformação

62 FOUCAULT, M. História da sexualidade – A vontade de saber. Rio de Janeiro: 63 LOURO, G.L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-

Graal, 1988. estruturalista. 2 ed., Petrópolis: Vozes, 1998.

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para uma escolarização radicalmente não heterossexista e investimento continuado e autônomo do sujeito sobre si
excludente, com base na visibilidade dessas identidades. mesmo.
Dessa forma, enfatiza-se a relevância da efetivação de Louro parte do pressuposto antropológico de que "os
pesquisas sobre a presença de sexualidades não normativas no corpos são o que são na cultura”, isto é, que os corpos
espaço escolar como forma de ampliar vetores de análises dos adquirem seu significado apenas através dos discursos na
processos educacionais possivelmente geradores de cultura e na história. Essa vertente se afasta das discussões
antagonismos e exclusão que se contrapõem a políticas que teóricas nas quais o corpo é tido como “natural”, no qual o
realçam o princípio da autonomia na educação inclusiva e, biológico determina o gênero.
nela, o respeito ao significado plural da diversidade, sem
imposição de uma única identidade central, padrão. DESIGUALDADE: é um fenômeno social que produz uma
Contudo, o que se espera da escola, no interesse de ensinar hierarquização entre os indivíduos e/ou grupos que não
e aprender, mais amplamente, sobre sexualidade, encontra permite o tratamento igualitário (em termos de mercado de
barreiras em processos de atitudes homofóbicas que ainda trabalho, de acesso a bens e recursos, para todos e todas.
permanecem contaminando o seu ambiente. Essa desigualdade existe na divisão dos atributos entre
homens e mulheres. Esse desnível se evidencia em vários
Ninguém pode calar: homossexualidades e homofobia na contextos: familiar, social, escolar, religioso, econômico,
escola político,... Dessa forma, fica claro que existem fronteiras que
Recorda-se que, desde os anos 90, a preocupação com a separam atitudes e comportamentos tidos como apropriados,
prevenção da AIDS e da gravidez na adolescência inseriu-se válidas e legítimas relacionadas ao sexo masculino e ao
nas escolas de modo mais evidente e sistematizado. A ideia era feminino.
a de que várias disciplinas agregassem o assunto de modo
conectado com outros temas. No entanto, o tratamento DIFERENÇA: indivíduos e/ou grupos possuem várias
alicerçado em uma ótica biologizante do sexo prosseguiu, formas de distinção e de semelhanças (cor, sexo, idade,
sendo o debate sobre a diversidade de orientação sexual ainda nacionalidade). A desigualdade pauta-se por essas diferenças
incipiente ou, na melhor das hipóteses, relegado a segundo e semelhanças que constituem os indivíduos e/ou grupos.
plano.
Espera-se que a instituição escolar, como espaço de DIREITOS SEXUAIS: direitos que asseguram aos indivíduos
formação, local onde se formam cidadãos e se estudam e a liberdade e a autonomia nas escolhas sexuais, como a de
consolidam direitos, reconheça o problema da discriminação exercer a orientação sexual sem sofrer discriminações ou
gerada pela homofobia em suas salas de aula e perceba a violência. Os direitos sexuais englobam múltiplas expressões
necessidade de enfrentá-lo, no interesse de que sejam legítimas da sexualidade, como por exemplo, o direito à saúde
superadas a intolerância e a violência, que se multiplicam em – direito de cada pessoa de ver reconhecidos e respeitados o
sofrimento, silêncio, invisibilidade, medo e morte física e seu corpo (autonomia), o seu desejo e o seu direito de amar
existencial. (reconhecimento da diversidade sexual).

Para saber mais... DISCRIMINAÇÃO: ação de discriminar, tratar diferente,


excluir, marginalizar.
A seguir alguns termos relevantes a serem considerados
sobre a diversidade de gênero: ESTEREÓTIPO: é uma generalização de julgamentos
subjetivos feitos a um grupo ou a um indivíduo. Pode ser
ASSIMETRIAS DE GÊNERO: desigualdades de atribuindo valor negativo desqualificando-os e impondo-lhes
oportunidades, condições e direitos entre homens e mulheres, um lugar inferior, ou simplesmente, reduzindo determinado
gerando hierarquias. Por exemplo: no mercado de trabalho. grupo ou indivíduo a algumas características e, assim,
definindo lugares específicos a serem ocupados.
BINARISMO: forma de pensamento que separa e opõe
masculino e feminino, apoiando-se numa concepção FEMINILIDADE: se refere às características e
naturalizante dos corpos biológicos. comportamentos considerados por uma determinada cultura
associados ou apropriados às mulheres.
BISSEXUAL: pessoa que tem desejos, práticas sexuais e Caracterizar os comportamentos como “masculinos” ou
relacionamento afetivo-sexual com pessoas de ambos os “femininos” é basear-se nas noções essencialistas do
sexos; binarismo mulher/homem, isto quer dizer que, atributos que
muitas vezes são considerados femininos podem estar
CORPO: inclui além das potencialidades biológicas, todas baseados no biológico e nas diferenças físicas. Dessa forma, a
as dimensões psicológicas, sociais e culturais do aprendizado feminilidade nos homens, bem como a masculinidade nas
pelo qual as pessoas desenvolvem a percepção da própria mulheres, é considerada negativa por agir contra os papéis
vivência. Não existe um corpo humano universal – mas sim tradicionais da nossa cultura. Um estereótipo comum para
corpos marcados por experiências específicas de classe, de homens homossexuais é de que são efeminados porque
etnia, de raça, de gênero, de idade. Visto que os corpos são utilizam ou exageram comportamentos tidos como femininos,
significados e alterados pelas diferentes culturas, pelos por exemplo.
processos morais, pelos hábitos, pelas distintas opções e
possibilidades de desejo, além das diversas formas de GÊNERO: conceito formulado a partir das discussões
intervenção e produção tecnológica. Por isso, o corpo é uma trazidas do movimento feminista para expressar
produção histórica. contraposição ao sexo biológico e aos termos “sexo” e
Foucault ao analisar instituições como escolas, prisões, “diferença sexual”, distinguindo a dimensão biológica da
hospitais psiquiátricos, fábricas, fala das maneiras como as dimensão sexual e, acentuando através da linguagem, “o
diferentes disciplinas controlam, domesticam, normalizam os caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no
corpos. Sua preocupação é com as práticas sociais, sendo que sexo”. Não com a intenção de negar totalmente a biologia dos
é no corpo que se dá o controle da sociedade sobre os corpos, mas para enfatizar a construção social e histórica
indivíduos. Os corpos apresentam as marcas do processo de produzida sobre as características biológicas. Dessa forma,
passar ou não pela escola como o auto disciplinamento, o gênero seria a construção social do sexo anatômico

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demarcando que homens e mulheres são produtos da HOMOSSEXUAL: é a pessoa que tem atração sexual e
realidade social e não decorrência da anatomia dos seus afetiva por pessoas do mesmo gênero e relacionamento com
corpos. elas.

HETERONORMATIVIDADE: termo utilizado para HOMOSSEXUALIDADE: é a atração sexual e afetiva por


expressar que existe uma norma social que está relacionada ao pessoas do mesmo sexo. Cabe uma ressalva, não é correto o
comportamento heterossexual como padrão. Dessa forma, a uso do termo homossexualismo, porque reveste de conotação
ideia de que apenas o padrão de conduta heterossexual é negativa, atribuindo-lhe significado de doença e aberração.
válido socialmente, colocando em desvantagem os sujeitos que Por isso, devemos preferir a utilização dos termos
possuem uma orientação sexual diferente da heterossexual. homossexualidade, lesbianidade, bissexualidade,
travestilidade, transgeneridade e transexualidade.
HETEROSSEXISMO: Se refere à ideia de que a
heterossexualidade é a orientação sexual “normal” e “natural”. IDENTIDADE DE GÊNERO: Expressão utilizada
Considerar a heterossexualidade como “natural”, aponta para primeiramente no campo médico-psiquiátrico para designar
algo inato, instintivo e que não necessita de ser ensinado ou os “transtornos de identidade de gênero”, isto é, o desconforto
aprendido. Ao considerar a heterossexualidade “normal”, persistente criado pela divergência entre o sexo atribuído ao
contrapõe-se a ideia de que as outras orientações sexuais corpo e a identificação subjetiva com o sexo oposto.
(homossexualidade e bissexualidade, por exemplo) são um Entretanto, atualmente, a identidade de gênero corresponde à
desvio à norma e reveladoras de perturbação, não sendo experiência de cada um, que pode ou não corresponder ao sexo
encaradas como um dos aspectos possíveis na diversidade das do nascimento. Podemos dizer que a identidade de gênero é a
expressões da sexualidade humana. O heterossexismo maneira como alguém se sente e se apresenta para si ou para
funciona através de um sistema de negação e discriminação – os outros na condição de homem ou de mulher, ou de ambos,
a sociedade tende a negar a existência da homossexualidade, sem que isso tenha necessariamente uma relação direta com o
tornando-a invisível (em quantos manuais escolares existem sexo biológico. É composta e definida por relações sociais e
referências neutras ou positivas à homossexualidade?) e tende moldadas pelas redes de poder de uma sociedade. Os sujeitos
a reprimir e discriminar todos aqueles que se tornam visíveis. têm identidades plurais, múltiplas, identidades que se
transformam, que não são fixas ou permanentes, que podem
HETEROSSEXUAL: quem tem atração sexual por pessoas até ser contraditórias. Os sujeitos se identificam, social e
do sexo oposto ao seu, e relacionamento afetivo-sexual com historicamente, como masculinos e femininos e assim
elas. Heterossexuais não precisam, necessariamente, terem constroem suas identidades de gênero.
vivido experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo ou do Cabe enfatizar que a identidade de gênero trata-se da
sexo oposto para se identificarem como tal. forma que nos vemos e queremos ser vistos, reconhecidos e
respeitados, como homens ou mulheres, e não pode ser
HETEROSSEXUALIDADE COMPULSÓRIA: sistema que confundida com a orientação sexual (atração sexual e afetiva
acomoda e hierarquiza as relações de gênero, no qual o homem pelo outro sexo, pelo mesmo sexo ou por ambos).
é o modelo para todas as relações, inclusive aquelas em que ele
não está presente. IDENTIDADE SEXUAL: Identidades sexuais se constituem
através das formas como vivemos nossa sexualidade, e refere-
HOMOAFETIVO: é um termo utilizado para descrever se a duas questões diferenciadas:
relações entre pessoas do mesmo sexo e tem relação com os 1) é o modo como a pessoa se percebe em termos de
aspectos emocionais e afetivos envolvidos na relação amorosa orientação sexual;
e sexual entre essas pessoas. 2) é o modo como ela torna pública (ou não) essa
percepção de si em determinados ambientes ou situações.
HOMOFOBIA: termo usado para descrever vários Quer dizer, corresponde ao posicionamento (nem sempre
fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a permanente) da pessoa como homossexual, heterossexual, ou
discriminação e à violência contra os homossexuais (ter bissexual, e aos contextos em que essa orientação pode ser
desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação assumida pela pessoa e/ou reconhecida em seu entorno.
sexual diferente do padrão heterossexual). O termo, no
entanto, não se refere ao conceito tradicional de fobia, INTERSEXUAL OU INTERSEX: a palavra intersexual é
facilmente associável à ideia de doença e tratados com terapias preferível ao termo hermafrodita e é um termo usado para se
e antidepressivos. Atualmente, grupos lésbicos, bissexuais e referir a uma variedade de condições (genéticas e/ou
transgêneros, com o intuito de conferir maior visibilidade somáticas) com que uma pessoa nasce, apresentando uma
política à suas lutas e criticar normas e valores postos pela anatomia reprodutiva e sexual que não se ajusta às definições
dominação masculina, propõem, também, o uso dos termos de masculino e feminino, tendo parcial ou completamente
lesbofobia, bifobia e transfobia. desenvolvidos ambos os órgãos sexuais, ou um predominando
Daniel Borrillo faz uma leitura epistemológica e política sobre o outro. A intersexualidade, enquanto transgeneridade é
desse conceito, não para compreender a origem e o uma condição e não uma orientação sexual. Portanto, as
funcionamento da homossexualidade, mas para “analisar a pessoas que se autodenominam intersexuais podem se
hostilidade provocada por essa forma específica de orientação identificar como homossexuais, heterossexuais ou bissexuais.
sexual”. Segundo este autor quando a homossexualidade
requer publicamente sua expressão é que se torna LESBOFOBIA: termo usado para descrever vários
insuportável, pois rompe com a hierarquia da ordem sexual. fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a
Por isso, a tarefa pedagógica deve ser questionar a discriminação e à violência contra as lésbicas (ter desprezo,
heterossexualidade compulsória e mostrar que a hierarquia de ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação sexual
sexualidades é tão insustentável quanto a de sexos, bem como diferente do padrão heterossexual). Ver homofobia.
incluir a ideia de diversidade sexual em livros e apostilas
escolares. MACHISMO: é a crença de que os homens são superiores às
mulheres. É uma construção cultural que definiu que as
características atribuídas aos homens, tem um valor maior. Se
pensarmos na educação de meninos e meninas, veremos que

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há um tratamento diferenciado que reproduz as manifestações biológica que diferencia machos e fêmeas. Entretanto, o sexo
de machismo nos meninos, e às vezes, nas próprias meninas. não é simplesmente algo que lhe foi dado pela biologia.
Ao incentivar (infidelidade, violência doméstica, esporte, Foucault analisa o sexo biológico como um efeito discursivo. O
diferença de direitos). poder cria o corpo ao anunciá-lo sexuado, ao fazer de sua
constituição biológica um fator natural que carrega
MASCULINIDADE: Faz oposição ao termo feminilidade e características específicas e torna indiscutível a divisão dos
diz respeito a imagem estereotipada de tudo aquilo que seria humanos em dois blocos distintos (homens e mulheres). Isto
próprio dos indivíduos homens, ou seja, às características e não significa que o corpo não exista de forma sexuada. O que o
comportamentos considerados por uma determinada cultura poder cria é outra coisa: é a importância dada a esse fator
como associados ou apropriados aos homens. Ver corporal (biológico). O sexo produz, interdita, possibilita e
feminilidade, pois são conceitos relacionais que não passíveis regula o corpo limitando certos tipos de escolhas para a
de serem entendidos separadamente. produção de um corpo sexuado que seja culturalmente
aceitável e inteligível. Assim, o sexo é uma norma através da
MASCULINIDADE HEGEMÔNICA: É um modelo construído qual alguém se torna viável.
socialmente que controla, domina e substima as diversas
formas de expressão de outras masculinidades, tornando-se SEXUALIDADE: É aprendida, ou melhor, é construída ao
um padrão de masculinidade. longo de toda a vida, de muitos e diferentes modos, por todos
os sujeitos por isso, é entendida como um conceito dinâmico
MOVIMENTO FEMINISTA: o movimento feminista surgiu que se modifica conforme as posições do sujeito e suas
para questionar a organização social, política, econômica, disputas políticas. A sexualidade tem a ver tanto com o corpo,
sexual e cultural de uma sociedade profundamente como também com os rituais, o desejo, a fantasia, as palavras,
hierárquica, autoritária, masculina, branca e excludente. as sensações, emoções, imagens e experiências. Ela não tem
Sendo assim, o feminismo pode ser entendido como uma luta ligação somente com a questão do sexo e dos atos sexuais, mas
pela transformação da condição das mulheres, que é pública e também com os prazeres e sua relação com o corpo e a cultura
também privada. E que pode ser entendida, a partir de três compreendendo o erotismo, o desejo e o afeto; até questões
eixos: relativas a reprodução, saúde sexual, utilização de novas
1) como movimento social e político; tecnologias.
2) como política social;
3) e como ciência, ampliando os debates teóricos e TRANSEXUAL: pessoa que possui uma identidade de
conceituais (derivando a categoria gênero como analítica de gênero diferente do sexo designado no nascimento. Homens e
sexo). mulheres transexuais podem manifestar o desejo de se
Essas vias se entrecruzam, por diversas vezes, para submeterem a intervenções médico-cirúrgicas para
desestabilizar representações, questionar a divisão sexual da realizarem a adequação dos seus atributos físicos de nascença
sociedade, opor-se à hierarquização dos gêneros e, por isso, as (inclusive genitais) à sua identidade de gênero constituída.
teorias nem sempre podem dissociar-se de suas ações
políticas, e vice-versa. TRANSFOBIA: termo usado para descrever vários
fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a
PODER/RELAÇÕES DE PODER: nossas definições, crenças, discriminação e à violência contra transexuais (ter desprezo,
convenções, identidades e comportamentos sexuais têm sido ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação sexual
modeladas no interior de relações definidas de poder. Para diferente do padrão heterossexual). Ver homofobia.
Michel Foucault, o poder está em toda parte; não porque
englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares. O TRANSGÊNEROS OU TRANS: são termos utilizados para
poder se exerce de diversas formas: poder de produzir os reunir, numa só categoria, travestis e transexuais como
corpos que controla, produz sujeitos, fabrica corpos dóceis, sujeitos que realizam um trânsito entre um gênero e outro.
induz comportamentos. Foucault propõe que observemos o
poder como uma rede que, capilarmente, se distribui por toda TRAVESTI: pessoa que nasce do sexo masculino ou
a sociedade. Nas palavras dele: “lá onde há poder, há feminino, mas que tem sua identidade de gênero oposta a seu
resistência e, no entanto (ou melhor, por si mesmo) esta nunca sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes
se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder”. daquele imposto pela sociedade. Muitas travestis modificam
seus corpos através de hormonioterapias, aplicações de
PRECONCEITO: é um pré-conceito uma opinião que se silicone e/ou cirurgias plásticas, porém vale ressaltar que isso
emite antecipadamente alimentada pelo estereótipo, é um não é regra para todas (Definição adotada pelo Conferência
juízo preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma Nacional LGBT em 2008)
atitude discriminatória perante pessoas, lugares ou tradições
considerados diferentes ou "estranhos". ORIENTAÇÃO SEXUAL: refere-se ao sexo das pessoas que
elegemos para nos relacionar afetiva e sexualmente.
RACISMO: conjunto de princípios que se baseia na Atualmente temos três tipos de orientação sexual:
superioridade de uma raça sobre a outra. A atitude racista é heterossexual, homossexual e bissexual. Contrapõem a OPÇÃO
aquela que atribui qualidades aos indivíduos conforme seu SEXUAL entendida como escolha deliberada e realizada de
suposto pertencimento biológico a uma determinada raça. Não forma autônoma.
é apenas uma reação ao outro, mas é uma forma de
subordinação do outro. VIOLÊNCIA DE GÊNERO: É aquela oriunda do preconceito
e da desigualdade entre homens e mulheres e apoia-se no
SEXISMO: atitude preconceituosa que difere homens de estigma da virilidade masculina (legítima defesa da honra) e
mulheres definindo características específicas para cada um, da submissão feminina.
subordinando o feminino ao masculino. Quando as vítimas são crianças e adolescentes o Art. 245
do ECA, obriga os profissionais da saúde e educadores e
SEXO BIOLÓGICO: é o conjunto de características educadoras a comunicarem o fato aos órgãos competentes. Na
fisiológicas, informações cromossômicas, órgãos genitais, escola a discriminação é manifestada por meio de apelidos,
potencialidade individual para o exercício de qualquer função exclusões, perseguição, agressão física.

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Questões (B) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram


construídas a partir do século XXI.
01. (SEDUC-SP- Conhecimentos Pedagógicos- FGV) Leia (C) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram
o fragmento a seguir. “Além das novas demandas e dos entraves construídas exclusivamente depois dos movimentos
do cenário escolar e suas próprias condições de vida e de feministas.
trabalho, o professor ainda se depara com outras dificuldades (D) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram
que complicam a realização das intenções dos PCNs de ênfase construídas no decorrer da história da humanidade por meio
em parâmetros curriculares não tradicionais, como sexualidade dos costumes, ideias, atitudes, crenças e regras criadas pela
e gênero”. (Abramovay et al., 2004) sociedade.
Assinale a alternativa que apresenta a proposta que tem (E) exclusivamente às características físicas e biológicas
como objetivo mitigar o apresentado no fragmento. entre o corpo do homem e da mulher, depois que eles atingem
(A) Suspender a aplicação do tema transversal orientação a maturidade sexual.
sexual.
(B) Deixar o tema da sexualidade e da afetividade como Respostas
responsabilidade exclusiva dos professores da área de 01.C. / 02. E. / 03. D. / 04. D.
Biologia, já que configuram o “saber competente”.
(C) Capacitar os professores para lidar com o tema
sexualidade.
(D) Delegar a responsabilidade pela orientação sexual aos 4 Teorias do currículo. 4.1
movimentos sociais. Acesso, permanência e
(E) Delegar a responsabilidade pela orientação sexual às sucesso do aluno na escola.
famílias dos alunos.

02. (SEDUC-RJ- Conhecimentos Básicos- Todos os


cargos- CEPERJ) Uma das questões formativas fundamentais Teorias do Currículo
da vida humana, incorporadas pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais, é a orientação sexual. Segundo os PCNs, as questões Teoria Tradicional
relativas à orientação sexual devem constituir:
(A) uma nova disciplina com horário específico de aulas na Kliebard64 apresenta que os fundamentos da teoria
escola curricular de John Bobbit estão baseados na concepção de
(B) uma nova área de conhecimento a ser desenvolvida em administração científica de Taylor, e que a extrapolação desses
interface com as agências de educação permanente da princípios para a área de currículo transformou a criança no
sociedade objeto de trabalho da engrenagem burocrática da escola.
(C) uma área de conhecimento específica do ensino médio Neste sentido, as finalidades do currículo eram:
e tratada como disciplina - educar o indivíduo segundo as suas potencialidades;
(D) um tema específico a ser tratado nas aulas de Biologia - desenvolver o conteúdo do currículo de modo
e Sociologia suficientemente variado com o fim de satisfazer as
(E) um tema transversal que permeia as diferentes necessidades de todos os tipos de indivíduos na comunidade;
disciplinas e áreas de conhecimento - favorecer um ritmo de treinamento e de estudo que seja
suficientemente flexível;
03. (IF-PE- Assistente de alunos- IF-PE/2016) Leia a - dar ao indivíduo somente aquilo de que ele necessita;
seguinte sentença: “Temas como gênero, sexualidade e - estabelecer padrões de qualidade e quantidade
diversidade sexual estão pautados dentro das políticas sociais definitivos para o produto;
e devem ser discutidos em diferentes instâncias da sociedade”. - desenvolver objetivos educacionais precisos e que
A expressão “gênero”, na sentença transcrita, refere-se incluam o domínio ilimitado da capacidade humana através do
(A) exclusivamente às características físicas e biológicas conhecimento de hábitos, habilidades, capacidades, formas de
entre o corpo do homem e da mulher, do menino e da menina. pensamento, valores, ambições, etc., enfim, conhecer o que
(B) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram seus membros necessitam para o desempenho de suas
construídas a partir do século XXI. atividades;
(C) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram - oferecer “experiências diretas” quando essas múltiplas
construídas exclusivamente depois dos movimentos necessidades não fossem atendidas por “experiências
feministas. indiretas”.
(D) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram
construídas no decorrer da história da humanidade por meio Da transposição dos princípios gerais da administração
dos costumes, ideias, atitudes, crenças e regras criadas pela científica para a administração das escolas passou-se ao
sociedade. domínio da teoria curricular. As implicações para a prática de
(E) exclusivamente às características físicas e biológicas uma escola em que a criança é o material e a escola é a escola-
entre o corpo do homem e da mulher, depois que eles atingem fábrica e, que, portanto deve modelá-la como um produto de
a maturidade sexual. acordo com as especificações da sociedade, tem seus objetivos
voltados para um controle de qualidade.
04. (IF-PE- Assistente de Alunos- IF-PE/2016) Leia a
seguinte sentença: “Temas como gênero, sexualidade e Kliebard65, defendia que “padrões qualitativos e
diversidade sexual estão pautados dentro das políticas sociais quantitativos definitivos fossem estabelecidos para o
e devem ser discutidos em diferentes instâncias da sociedade”. produto”, considerando esse produto como o material criança,
A expressão “gênero”, na sentença transcrita, refere-se a professor deveria obter de seus alunos a maior capacidade
(A) exclusivamente às características físicas e biológicas que eles possuíssem para solucionar determinada tarefa em
entre o corpo do homem e da mulher, do menino e da menina. determinado período de tempo.

64KLIEBARD, H. Burocracia e teoria de currículo. In: MESSIK, R.; PAIXÃO, L.; 65KLIEBARD, H. Os princípios de Tyler. In: MESSIK, R.; PAIXÃO, L.; BASTOS, L.
BASTOS, L. (Orgs.). Currículo: análise e debate. São Paulo: Zahar,1980. p.107-126. (Orgs.) Currículo: análise e debate. São Paulo: Zahar, 1980. p.107-126.

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A prática docente desse currículo é facilmente deveria acontecer em sala de aula” (...) é uma “tarefa que
compreendida, pois baseia-se num modelo funcional de merece a aplicação de nossos melhores esforços”.
aplicação de conteúdos e atividades. Para Kliebard a Nesse sentido observa que “enquanto não levarmos à sério
padronização de atividades ou unidades de trabalho e dos a intensidade do envolvimento da educação com o mundo real
próprios produtos (crianças), exigiu a especificação de das alternativas e desiguais relações de poder, estaremos
objetivos educacionais e tornou a criança, em idade escolar vivendo em um mundo divorciado da realidade. As teorias,
como algo a ser modelado e manipulado, produzido de modo diretrizes e práticas envolvidas na educação não são técnicas.
que se encaixasse em seu papel social predeterminado. São intrinsecamente éticas e políticas, e em última análise
Em sequência a essa concepção fabril de currículo, envolvem – uma vez que assim se reconheça – escolhas
Kliebard apresenta o pensamento de Tyler, que afirma que o profundamente pessoais em relação ao que Marcus Raskin
professor pode controlar as experiências de aprendizagem denomina “o bem comum”.
através da “manipulação do ambiente de tal forma que crie Quanto ao professor afirma que “queria que os educadores,
situações estimulantes – situações que irão suscitar a espécie sobretudo aqueles com interesse específico no que acontece
de comportamento desejado, portanto, parte do pressuposto nas salas de aula, examinassem criticamente as suas próprias
de que “a educação é um processo de mudança nos padrões de ideias acerca dos efeitos da educação”. Esse posicionamento
comportamento das pessoas”. certamente modificaria a prática pedagógica, não no sentido
de aplicação metodológica, mas enquanto intenções
Nesse sentido, a elaboração do currículo limitava-se a provocativas à reflexão e à emancipação.
ser uma atividade burocrática, desprovida de sentido e Portanto, segundo Silva68, as teorias tradicionais
fundamentada na concepção de que o ensino estava pretendem ser apenas “teorias” neutras, científicas,
centrado na figura do professor, que transmitia desinteressadas, concentrando-se em questões técnicas e de
conhecimentos específicos aos alunos, estes vistos apenas organização, enquanto que “as teorias críticas e as teorias pós-
como meros repetidores dos assuntos apresentados. críticas argumentam que nenhuma teoria é neutra, científica
ou desinteressada, mas que está, inevitavelmente implicada
Teoria Crítica em relações de poder. Não se limita a questionar “que
conhecimentos”, mas por que esse conhecimento e não outro?
Quando Bobbitt (in Kliebard) concebeu esse currículo, Quais interesses fazem com que esse conhecimento e não
acreditamos que talvez não tenha tido a intenção de, além de outro esteja no currículo? Por que privilegiar um determinado
padronizar atividades, padronizar pessoas. Essa teoria tipo de identidade ou subjetividade e não outro?”
produziu uma concepção mecanizada de currículo que Desta forma, percebemos que as teorias críticas
perdura até hoje, mas ela abriu espaço para o campo político e pretendem trazer as relações sociais e sua discussão para a
econômico, conferindo ao currículo conteúdos implícitos de sala de aula: questões de raça, de religião, dominação política
dominação e poder, através da ideologia dominante. e ideológica, diferenças culturais, etc. A intenção é legítima
Essa foi a percepção de Michael Apple do que vinha quanto à uma educação voltada para a redução e até mesmo,
acontecendo com o currículo e que o tornou, segundo nivelação das desigualdades.
Paraskeva66, o grande precursor da Escola de Frankfurt no Trazer essas intenções para a sala de aula, concretizar essa
campo da educação e do currículo e o primeiro a reavivar, de teorização crítica do currículo na prática pedagógica não é
uma forma explícita, o cunho político do ato educativo e tarefa fácil. É possível perceber essa dificuldade sobre o que
curricular, colocando a teorização crítica como a saída para a observamos do que Moreira69 apresenta quando a teoria
compreensão do atual fenômeno da escolarização. curricular crítica é vista em crise tanto nos Estados Unidos
Aponta que Apple, em “Ideilogy and Curriculum”, denuncia como no Brasil, e revela as seguintes interpretações:
a feliz promiscuidade entre Ideologia, Cultura e Currículo e o - para Pinar, Reynolds Slattery e Taubman, como críticos à
modo como os movimentos hegemônicos (e também contra essa teoria, a crise resulta do ecletismo do discurso,
hegemônicos) se [re] [des] constroem e disputam um decorrente da amplidão desmedida de seus interesses e de
determinado conhecimento decisivo na construção e suas categorias;
manutenção de um dado senso comum com implicações - para James Ladwig, a crise resulta de um impasse teórico,
diretas nas políticas sociais, em geral e educativas e pois são fundamentalmente qualitativos e não apresentam
curriculares, em particular. E esta obra, para muitas figuras de evidências suficientes de suas proposições, o que os torna
proa no campo do currículo – Huebner, McDonald, Mann, pouco convincentes para grande parte da comunidade
Kliebard, Beane, McLaren, Giroux, Macedo – seria o inaugurar educacional tradicional;
de uma nova era no campo, em que passava-se do Tylerismo ao - para Jennifer Gore a crise é mais evidente nos trabalhos
Appleanismo. de Giroux e Peter Maclaren e são descritas em duas razões:
Paraskeva, apresenta que para Apple, a problemática do ausência de sugestões para uma prática docente crítica e a
conhecimento é considerada como pedra angular para o utilização de um discurso altamente abstrato e complexo,
estudo da escolarização como veículo de seletividade, um cujos princípios dificilmente podem ser entendidos e
conhecimento que se toma parte nas dinâmicas desiguais de operacionalizados pelos professores.
poder e de controle, no qual o processo de escolarização não é Quanto ao Brasil, apresenta que Regina Celli Cunha
inocente. considera que a concepção crítica de currículo vivencia uma
Sobre a preocupação com as formas de conhecimento crise de legitimação, por não conseguir, na prática,
difundido Apple67, considera fundamental questionar “para implementar seus princípios teóricos. Moreira revela, ainda,
quem é esse conhecimento”, demonstrando uma preocupação que a opinião dominante entre especialistas em currículo
com o que deve ser ensinado não apenas como questão acerca da crise é de que os avanços teóricos afetam pouco a
educacional, mas, sobretudo, como questão ideológica e prática docente e que essas discussões têm predominância no
política. campo acadêmico, dificilmente alcançando a escola, não
Destaca a escola e o currículo porque considera “que contribuindo para maior renovação, e que, apesar da crise, a
discutir sobre o que acontece, o que pode acontecer e o que

66 PARASKEVA, J.M. Michael Apple e os estudos [curriculares] críticos. Currículo 68 SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo.
sem Fronteiras, v.2, n. 1, p. 106-120, Jan./Jun. 2002. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
67 APPLE, M. W. Repensando ideologia e currículo. In: MOREIRA, A. F.; SILVA, T. T. 69 MOREIRA, A. F. B. A crise da teoria curricular crítica. 1999.

(Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994, p. 39-57.

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teoria curricular crítica constitui a mais produtiva tendência Fundamentos:


do campo do currículo.
Currículo Multiculturalista – nenhuma cultura pode ser
Fundamentos: julgada superior a outra.
- Crítica aos processos de convencimento, adaptação e
repressão da hegemonia dominante; Multiculturalismo – contra o currículo universitário
- Contraposição ao empiricismo e ao pragmatismo das tradicional (cultura branca, masculina e europeia e
teorias tradicionais; heterossexual).
- Crítica à razão iluminista e racionalidade técnica;
- Busca da ruptura do status quo; - As questões de gênero são uma das questões muito
- Materialismo Histórico Dialético – crítica da organização presentes nas teorias pós-críticas;
social pautada na propriedade privada dos meios de produção - O acesso à educação era desigual para homens e mulheres
(fundamentos em Marx e Gramsci); e dentro do currículo havia distinções de disciplinas
- Crítica à escola como reprodutora da hegemonia masculinas e femininas;
dominante e das desigualdades sociais. (Michael Apple) - Assim certas carreiras eram exclusivamente masculinas
sem que as mulheres tivessem oportunidades;
Principais Fundamentos: - A intenção era que os currículos percebessem as
experiências, os interesses, os pensamentos e os
- Escola Francesa: teoria da reprodução cultural – “capital conhecimentos femininos dando-lhes igual importância;
cultural”. O currículo da escola está baseado na cultura - As questões raciais e étnicas também começaram a fazer
dominante, na linguagem dominante, transmitido através do parte das teorias pós-críticas do currículo, tendo sido
código cultural (Bourdieu e Passeron) percebida a problemática da identidade étnica e racial.

- Escola de Frankfurt: crítica à racionalidade técnica da É essencial, por meio do currículo, desconstruir o texto
escola “pedagogia da possibilidade” – da resistência. Currículo racial, questionar por que e como valores de certos grupos
como emancipação e libertação. (Giroux e Freire) étnicos e raciais foram desconsiderados ou
menosprezados no desenvolvimento cultural e histórico da
Assim sendo, a função do currículo, mais do que um humanidade e, pela organização do currículo,
conjunto coordenado e ordenado de matérias, seria proporcionar os mesmos significados e valores a todos os
também a de conter uma estrutura crítica que permitisse grupos, sem supervalorização de um ou de outro.
uma perspectiva libertadora e conceitualmente crítica em
favorecimento das massas populares. As práticas Uma Análise Comparativa
curriculares, nesse sentido, eram vistas como um espaço
de defesa das lutas no campo cultural e social. Teorias Críticas Teorias Pós Críticas
- Conceitos e conhecimentos - Fim das metanarrativas;
Teoria Pós-Críticas históricos e científicos;
- Concepções; - Hibridismo;
Já a teoria pós-críticas emergiu a partir das décadas de - Teoria de currículo – - Currículo como discurso-
1970 e 1980, partindo dos princípios da fenomenologia, do conceitos; representações;
pós-estruturalismo e dos ideais multiculturais. Assim como a - Trabalho; - Cultura;
teoria crítica, a perspectiva pós-crítica criticou duramente a - - Identidade/subjetividade;
teoria tradicional, mas elevaram as suas condições para além Materialidade/objetividade;
da questão das classes sociais, indo direto ao foco principal: o - Realidade; - Discurso;
sujeito. - Classes Sociais; - Gênero, raça, etnia,
Desse modo, mais do que a realidade social dos indivíduos, sexualidade;
era preciso compreender também os estigmas étnicos e - Emancipação e libertação; - Representação e incertezas;
culturais, tais como a racialidade, o gênero, a orientação sexual
- Desigualdade Social; - Multiculturalismo;
e todos os elementos próprios das diferenças entre as pessoas.
- Currículo como resistência; - Currículo como construção
Nesse sentido, era preciso estabelecer o combate à opressão
de identidades;
de grupos semanticamente marginalizados e lutar por sua
inclusão no meio social. - Currículo oculto; - Relativismo;
A teorias pós-crítica considerava que o currículo - Definição do “o quê” e “por - Compreensão do “para
tradicional atuava como o legitimador dos modus operandi dos quê” se ensina; quem” se constrói o currículo
preconceitos que se estabelecem pela sociedade. Assim, a sua – formação de identidades.
função era a de se adaptar ao contexto específico dos - Noção de sujeito.
estudantes para que o aluno compreendesse nos costumes e
práticas do outro uma relação de diversidade e respeito. Políticas Públicas: Acesso e Permanência na Escola -
Além do mais, em um viés pós-estruturalista, o currículo um Direito70
passou a considerar a ideia de que não existe um
conhecimento único e verdadeiro, sendo esse uma questão de A história da educação pública está associada à construção
perspectiva histórica, ou seja, que se transforma nos dos direitos sociais e humanos. De forma tímida, podemos
diferentes tempos e lugares. identificar, em nossa história, inúmeros movimentos da
sociedade que exigiam e que ainda exigem a ampliação do
atendimento educacional como a ampliação da laicidade, da
obrigatoriedade, da universalização do acesso, da gestão
democrática, da ampliação da jornada escolar, da educação de
tempo integral, da garantia do padrão de qualidade. Esses

70 Texto adaptado de Adriana Maria Jacob de Souza, disponível em

http://www.unifia.edu.br/

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aspectos estão vinculados à criação de condições de oferta da Pesquisa – IBGE, 2,6% de brasileiros entre 7 e 14 anos estão
educação pública, envolvendo a educação básica e superior, fora da escola, o que representa 660 mil crianças e jovens. Essa
tendo como concepção de educação de qualidade como direito estatística inclui tanto as crianças que largaram os estudos
social. como as que nem chegaram a ser matriculadas. Dentre as
Em 1988, com a promulgação da Constituição, fica principais causas sociais e familiares são o envolvimento com
afirmado em seu Artigo 1º, que a República Federativa do drogas, trabalho precoce, falta de transporte ou
Brasil “constitui-se em Estado Democrático de Direitos”. documentação. Paralelo a esses dados, temos as taxas de
Assumir essa condição significa que o Brasil submete-se à frequência e de repetência.
ordem jurídica ou às leis de modo a proteger e salvaguardar os Estudo conduzido pelo Centro de Políticas Sociais da
direitos de todos os cidadãos. O Estado de Direito compreende Fundação Getúlio Vargas – FGV, revela que apenas 72% dos
a supremacia da lei; o princípio de legalidade; a igualdade de estudantes matriculados estão efetivamente nas salas de aula.
todos perante a lei; a garantia dos direitos individuais e sociais, Os 28% restantes, apesar de ter o nome na lista de chamada,
entre os quais a educação; a independência do magistério faltam muito ou não assistem à jornada considerada mínima
quanto à pluralidade de ideias e de concepções pedagógicas e para o aprendizado (200 dias letivos com mínimo de 800 horas
a responsabilidade em regime de colaboração entre a União, aula). O fato é que o não comparecimento desencadeia outros
Estados e Municípios, o que caracteriza a descentralização dos problemas como a repetência, distorção idade-série e a evasão
poderes. escolar.
Seu artigo 205, diz que a educação é direito de todos e visa A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
ao preparo da pessoa para o exercício da cidadania. e Cultura – UNESCO, aponta em relatório finalizado em abril de
Observamos que o constituinte dá uma definição política de 2007, que 53,8% dos que iniciam o 1º ano não chegam ao 9º,
educação: é um direito de todos e um dever do Estado e da desses, poucos retornam as salas de aulas na Educação de
família. Todos, sem distinção, têm direito à educação. Mas qual Jovens e Adultos – EJA.
educação? É considerando o previsto na legislação nacional e nos
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional dados acima citados que observamos a distância que há entre
nº 9.394/96, em seu artigo 1º, “A educação abrange os as letras da lei e a realidade educacional que nos encontramos.
processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na Necessitamos de políticas públicas articuladas com o
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e compromisso do acesso e permanência do aluno na escola e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade que todos tenham êxito durante e ao concluir seus estudos,
civil e nas manifestações culturais”. Podemos considerar dessa especialmente na escola pública. Que ao sair da escola o aluno
forma, a dimensão abrangente do fenômeno educativo. A saiba ler, escrever, interpretar, argumentar, decidir, se
educação, então, não é somente aquela que acontece na escola defender, entre tantas outras competências. Nesse sentido o
em salas de aula, mas ultrapassa os muros das instituições de sucesso escolar é o retorno da qualidade do ensino, um ensino
ensino sistematizadas e formais. democrático, direito de todos.
Ainda no artigo 205 da Constituição, encontram-se os
objetivos da educação nacional. Sendo primeiro, o pleno
desenvolvimento da pessoa – saber ser; segundo, seu preparo 4.2 Gestão da
para o exercício da cidadania – saber conviver, e terceiro, sua aprendizagem. 4.3
qualificação para o trabalho – saber fazer. Portanto,
desenvolvimento, cidadania e trabalho, são palavras centrais Planejamento e gestão
no campo das finalidades educacionais. educacional.
No artigo 206 encontram-se relacionados os princípios
que devem orientar o ensino, entre os quais: igualdades de
condições de acesso e permanência na escola; liberdade de Gestão democrática e a mobilização da equipe
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e escolar71
o saber; pluralidade de ideias e de concepções pedagógicas;
gratuidade no ensino público em estabelecimentos oficiais; E por falar em gestão, como proceder de forma mais
gestão democrática do ensino público e garantia de padrão de democrática nos sistemas de ensino e nas escolas públicas?
qualidade.
Pode-se observar que todos esses princípios do ensino A participação é educativa tanto para a equipe gestora
estão comprometidos com a educação para todos. Contudo, quanto para os demais membros das comunidades escolar e
somente o Ensino Fundamental encontra-se alicerçado pelas local. Ela permite e requer o confronto de ideias, de
políticas como obrigatório e gratuito na escola pública às argumentos e de diferentes pontos de vista, além de expor
crianças de 6 a 14 anos de idade. Com garantias de acesso e novas sugestões e alternativas. Maior participação e
permanência como atendimento ao educando, através de envolvimento da comunidade nas escolas produzem os
programas suplementares de material didático-escolar, seguintes resultados:
transporte, alimentação e assistência à saúde.
Mas é importante destacar que a democratização da - Respeito à diversidade cultural, à coexistência de ideias e
educação não se limita somente ao acesso a instituição de de concepções pedagógicas, mediante um diálogo franco,
ensino. A garantia do acesso é essencial, mas torna-se esclarecedor e respeitoso;
necessário também que todas as crianças que ingressam na - Formulações de alternativas, após um período de
escola tenham condições de permanecer com sucesso, isto é, discussões onde as divergências são expostas.
que enquanto o aluno estiver nos bancos escolares ele possa - Tomada de decisões mediante procedimentos aprovados
aprender de forma significativa os conhecimentos por toda a comunidade envolvida
indispensáveis à sua vida em sociedade. - Participação e convivência de diferentes sujeitos sociais em
No entanto, apesar da suposta universalização do Ensino um espaço comum de decisões educacionais.
Fundamental, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de A gestão democrática dos sistemas de ensino e das escolas
Domicílios, feita em 2006 pelo Instituto de Geografia e públicas requer a participação coletiva das comunidades

71 Dourado, L. F.Progestão: como promover, articular e envolver a ação das

pessoas no processo de gestão escolar? Brasília : CONSED – Conselho Nacional de


Secretários de Educação, 2001.

Educação Brasileira 97
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escolar e local na administração dos recursos educacionais da comunidade escolar e constitui-se num espaço de discussão
financeiros, de pessoal, de patrimônio, na construção e na de caráter consultivo e/ou deliberativo. Ele não deve ser o
implementação dos projetos educacionais. único órgão de representação, mas aquele que congrega as
Mas para promover a participação e deste modo diversas representações para se constituir em instrumento
implementar a gestão democrática da escola, procedimentos que, por sua natureza, criará as condições para a instauração
prévios podem ser observados: de processos mais democráticos dentro da escola. Portanto, o
- Solicitar a todos os envolvidos que explicitem seu conselho escolar deve ser fruto de um processo coerente e
comprometimento com a alternativa de ação escolhida; efetivo de construção coletiva. A configuração do conselho
- Responsabilizar pessoas pela implementação das escolar varia entre os estados, entre os municípios e até
alternativas acordadas; mesmo entre as escolas. Assim, a quantidade de
- Estabelecer normas prévias sobre como os debates e as representantes eleitos, na maioria das vezes, depende do
decisões serão realizados; tamanho da escola, do número de classes e de estudantes que
- Estabelecer regras adequadas à igualdade de participação ela possui.
de todos os segmentos envolvidos;
- Articular interesses comuns, ideias e alternativas Conselho de classe
complementares, de forma a contribuir para organizar O conselho de classe é mais um dos mecanismos de
propostas mais coletivas. participação da comunidade na gestão e no processo de
- Esclarecer como a implementação das ações serão ensino-aprendizagem desenvolvido na unidade escolar.
acompanhadas e supervisionadas; Constitui-se numa das instâncias de vital importância num
- Criar formas de divulgação das ideias e alternativas em processo de gestão democrática, pois "guarda em si a
debate como também do processo de decisão. possibilidade de articular os diversos segmentos da escola e
tem por objeto de estudo o processo de ensino, que é o eixo
Gestão democrática implica compartilhar o poder, central em torno do qual desenvolve-se o processo de trabalho
descentralizando-o. Como fazer isso? Incentivando a escolar" (DALBEN, 1995). Nesse sentido, entendemos que o
participação e respeitando as pessoas e suas opiniões; conselho de classe não deve ser uma instância que tem como
desenvolvendo um clima de confiança entre os vários função reunir-se ao final de cada bimestre ou do ano letivo
segmentos das comunidades escolar e local; ajudando a para definir a aprovação ou reprovação de alunos, mas deve
desenvolver competências básicas necessárias à participação atuar em espaço de avaliação permanente, que tenha como
(por exemplo, saber ouvir, saber comunicar suas ideias). A objetivo avaliar o trabalho pedagógico e as atividades da
participação proporciona mudanças significativas na vida das escola. Nessa ótica, é fundamental que se reveja a atual
pessoas, na medida em que elas passam a se interessar e se estrutura dessa instância, rediscutindo sua função, sua
sentir responsáveis por tudo que representa interesse comum. natureza e seu papel na unidade escolar.
Assumir responsabilidades, escolher e inventar novas
formas de relações coletivas faz parte do processo de Associação de pais e mestres
participação e trazem possibilidades de mudanças que A associação de pais e mestres, enquanto instância de
atendam a interesses mais coletivos. participação, constitui-se em mais um dos mecanismos de
A participação social começa no interior da escola, por participação da comunidade na escola, tornando-se uma
meio da criação de espaços nos quais professores, valiosa forma de aproximação entre os pais e a instituição,
funcionários, alunos, pais de alunos etc. possam discutir contribuindo para que a educação escolarizada ultrapasse os
criticamente o cotidiano escolar. Nesse sentido, a função da muros da escola e a democratização da gestão seja uma
escola é formar indivíduos críticos, criativos e participativos, conquista possível.
com condições de participar criticamente do mundo do
trabalho e de lutar pela democratização da educação. A escola, Grêmio estudantil
no desempenho dessa função, precisa ter clareza de que o Numa escola que tem como objetivo formar indivíduos
processo de formação para uma vida cidadã e, portanto, de participativos, críticos e criativos, a organização estudantil
gestão democrática passa pela construção de mecanismos de adquire importância fundamental.
participação da comunidade escolar, como: Conselho Escolar, O grêmio estudantil constitui-se em mecanismo de
Associação de Pais e Mestres, Grêmio Estudantil, Conselhos de participação dos estudantes nas discussões do cotidiano
Classes etc. escolar e em seus processos decisórios, constituindo-se num
Para que a tomada de decisão seja partilhada e coletiva, é laboratório de aprendizagem da função política da educação e
necessária a efetivação de vários mecanismos de participação, do jogo democrático. Possibilita, ainda, que os estudantes
tais como: o aprimoramento dos processos de escolha ao cargo aprendam a se organizarem politicamente e a lutar pelos seus
de dirigente escolar; a criação e a consolidação de órgãos direitos.
colegiados na escola (conselhos escolares e conselho de Articulado ao processo de constituição de mecanismos de
classe); o fortalecimento da participação estudantil por meio participação colegiada dentro da escola destaca-se também a
da criação e da consolidação de grêmios estudantis; a necessidade da participação e acompanhamento da aplicação
construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico da escola; dos recursos financeiros, tanto na escola como nos sistemas de
a redefinição das tarefas e funções da associação de pais e ensino. A responsabilidade de acompanhar e fiscalizar a
mestres, na perspectiva de construção de novas maneiras de aplicação dos recursos para a educação é de toda a sociedade.
se partilhar o poder e a decisão nas instituições. Todos os envolvidos direta e indiretamente são chamados a se
Não existe apenas uma forma ou mecanismo de responsabilizar pelo bom uso das verbas destinadas à
participação. Entre os mecanismos de participação que podem educação. Nesse sentido, pais, alunos, professores, servidores
ser criados na escola, destacam-se: o conselho escolar, o administrativos, associação de bairros, ou seja, as
conselho de classe, a associação de pais e mestres e o grêmio comunidades escolar e local têm o direito de participar, por
escolar. meio dos diferentes conselhos criados para essa finalidade.

Conselho escolar O processo de participação na escola produz, também,


O conselho escolar é um órgão de representação da efeitos culturais importantes. Ele ajuda a comunidade a
comunidade escolar. Trata-se de uma instância colegiada que reconhecer o patrimônio das instituições educativas – escolas,
deve ser composta por representantes de todos os segmentos bibliotecas, equipamentos – como um bem público comum,

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que é a expressão de um valor reconhecido por todos, o qual - Criar ambientes físicos confortáveis para assembleias e
oferece vantagens e benefícios coletivos. Sua utilização por reuniões.
algumas pessoas não exclui o uso pelas demais. É um bem de -
todos; todos podem e devem zelar pelo seu uso e sua adequada Estimularcadapresentenasreuniõesounasassembléiasaserespon
conservação. A manutenção e o desenvolvimento de um bem sabilizar por trazer, pelo menos, mais uma pessoa para o
público comum requerem algumas condições: próximo encontro.
1. Recursos financeiros adequados, regulares e bem - Tornar a escola um espaço de sociabilidade.
gerenciados, de modo a oferecer as mesmas condições de uso, - Valorizar o trabalho participativo.
acesso e permanência nas escolas a alunos em condições - Destacar a importância da integração entre as pessoas.
sociais desiguais; - Submeter o trabalho desenvolvido na escola às avaliações
2. Transparência administrativa e financeira com o da comunidade e dos conselhos ou órgãos colegiados.
controle público de ações e decisões. Desse modo, cabe ao - Valorizar a presença de cada um e de todos.
gestor informar com clareza e em tempo hábil a relação dos - Desenvolver projetos educativos voltados para a
recursos disponíveis, fazer prestações de contas, promover o comunidade em geral, não só para os alunos.
registro preciso e claro das decisões tomadas em reuniões; - Ressaltar a importância da comunidade na identidade da
3. Processo participativo de tomada de decisões, unidade escolar.
implementação, acompanhamento e avaliação. Ressaltamos - Tornar o espaço escolar disponível para comunidade.
que o cotidiano de trabalho das escolas deve ter por referência
um projeto pedagógico construído coletivamente e o apreço às Gestão escolar para o sucesso do ensino e da
decisões tomadas pelos órgãos colegiados representativos. aprendizagem72
Práticas de organização e gestão e escolas bem-
Em síntese, a gestão democrática do ensino pressupõe uma sucedidas
maneira de atuar coletivamente, oferecendo aos membros das Pesquisas acerca dos elementos da organização escolar
comunidades local e escolar oportunidades para: que interferem no sucesso escolar dos alunos mostram que o
- Reconhecer que existe uma discrepância entre a situação modo como funciona uma escola faz diferença em relação aos
real (o que é) e o que gostaríamos que fosse (o que pode vir a resultados escolares dos alunos. Embora as escolas não sejam
ser). iguais, essas pesquisas indicam características organizacionais
- Identificar possíveis razões para essa discrepância. úteis para compreensão do funcionamento das escolas,
- Elaborar um plano de ação para minimizar ou solucionar considerados os contextos e as situações escolares específicos.
esses problemas. Os aspectos a seguir aparecem em várias dessas pesquisas:

Envolvendo a comunidade na gestão da escola a) Em relação aos professores: boa formação profissional,
A gestão escolar constitui um modo de articular pessoas e autonomia profissional, capacidade de assumir
experiências educativas, atingir objetivos da instituição responsabilidade pelo êxito ou fracasso de seus alunos,
escolar, administrar recursos materiais, coordenar pessoas, condições de estabilidade profissional, formação profissional
planejar atividades, distribuir funções e atribuições. Em em serviço, disposição para aceitar inovações com base nos
síntese, se estabelecem, intencionalmente, contatos entre as seus conhecimentos e experiências; capacidade de análise
pessoas, os recursos administrativos, financeiros e jurídicos na crítico-reflexiva.
construção do projeto pedagógico da escola. A gestão b) Quanto à estrutura organizacional: sistema de
democrática, por sua vez, requer, dentre outros, a participação organização e gestão, plano de trabalho com metas bem
da comunidade nas ações desenvolvidas na escola. Envolver a definidas e expectativas elevadas; competência específica e
comunidades escolar e local é tarefa complexa, pois articula liderança efetiva e reconhecida da direção e coordenação
interesses, sentimentos e valores diversos. Nem sempre é fácil, pedagógica; integração dos professores e articulação do
mas compete às equipes gestoras pensar e desenvolver trabalho conjunto e participativo; clima de trabalho
estratégias para motivar as pessoas a se envolver e participar propício ao ensino e à aprendizagem; práticas de gestão
na vida da escola. As possibilidades de motivação são várias, participativa; oportunidades de reflexão conjunta e trocas
desde a concepção e o uso dos espaços escolares até a de experiências entre os professores;
organização do trabalho pedagógico. A mobilização das c) Autonomia da escola, criação de identidade própria, com
pessoas pode começar quando elas se defrontam com possibilidade de projeto próprio e tomada de decisões sobre
situações-problema. As dificuldades nos incentivam a criar problemas específicos; planejamento compatível com as
novas formas de organização, de participar das decisões para realidades locais; decisão e controle sobre uso de recursos
resolvê-las. Espaços de discussão possibilitam trabalhar ideias financeiros; planejamento participativo e gestão
divergentes na construção do projeto educativo. Como criar, participativa, bom relacionamento entre os professores,
ou então fortalecer, ambientes que favoreçam a participação? responsabilidades assumidas em conjunto;
Na construção de ambientes de participação e mobilização de d) Prédios adequados e disponibilidade de condições
pessoas, algumas estratégias tornam-se fundamentais. materiais, recursos didáticos, biblioteca e outros, que
Vejamos algumas: propiciem aos alunos oportunidades concretas para
aprender;
- Estar atento às solicitações da comunidade. e) Quanto à estrutura curricular: adequada seleção e
- Ouvir com atenção o que os membros da comunidade têm organização dos conteúdos; valorização das aprendizagens
a dizer. acadêmicas e não apenas das dimensões sociais e
- Delegar responsabilidades ao máximo possível de pessoas. relacionais; modalidades de avaliação formativa;
- Mostrar a responsabilidade e a importância do papel de organização do tempo escolar de forma a garantir o máximo
cada um para o bom andamento do processo. de tempo para as aprendizagens e o clima para o estudo;
- Garantir a palavra a todos. acompanhamento de alunos com dificuldades de
- Respeitar as decisões tomadas em grupo. aprendizagem.

72 LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática; 6ª edição,

São Paulo, Heccus Editora, 2013.

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f) Participação dos pais nas atividades da escola; Conforme a teoria histórico-cultural da atividade a
investimento em formar uma imagem pública positiva da atividade humana mediatiza a relação entre o ser humano e o
escola. meio físico e social. Esta relação é histórico-social, isto é,
depende das práticas sociais anteriores, de modo que a
Essas características reforçam a ideia de que a qualidade atividade conjunta acumulada historicamente influencia a
de ensino depende de mudanças no âmbito da organização atividade presente das pessoas. Ao mesmo tempo, o ser
escolar, envolvendo a estrutura física e as condições de humano, ao pôr-se em contato com o mundo dos objetos e
funcionamento, a estrutura organizacional, a cultura fenômenos, atua sobre essa realidade modificando-a e
transformando-se a si mesmo. Este entendimento decorre da
organizacional, as relações entre alunos, professores,
lei genética do desenvolvimento cultural, segundo a qual
funcionários, as práticas colaborativas e participativas. É a
“todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem
escola como um todo que deve responsabilizar-se pela
duas vezes: primeiro, no nível social e, depois, no nível
aprendizagem dos alunos, especialmente em face dos
individual. Primeiro, entre pessoas (interpsicológica) e,
problemas sociais, culturais, econômicos, enfrentados
depois, no interior da criança (intrapsicológica)”. Esse
atualmente.
princípio acentua as origens sociais do desenvolvimento
Ampliando o conceito de organização e de gestão de mental individual, especialmente o peso atribuído às
escolas mediações culturais. Sendo assim, os contextos socioculturais
Para a perspectiva que compreende a escola apenas como e institucionais atuam na formação do pensamento conceitual
organização administrativa, também conhecida como o que, em outras palavras, significa dizer que as práticas
perspectiva técnico-racional, a organização e gestão da escola sociais em que uma pessoa está envolvida influenciam o modo
diz respeito, comumente, à estrutura de funcionamento, às de pensar dessa pessoa.
formas de coordenação e gestão do trabalho, ao A teoria da atividade, assim, possibilita compreender a
influência das práticas socioculturais e institucionais nas
estabelecimento de normas administrativas, ao provimento e
aprendizagens e o papel dos indivíduos em modificar essas
utilização dos recursos materiais e financeiros, aos
práticas. De que práticas se trata? Elas referem-se tanto ao
procedimentos administrativos, etc., que formam o conjunto
contexto mais amplo da sociedade (o sistema econômico, as
de condições e meios de garantir o funcionamento da escola. A
contradições sociais, por exemplo), quanto ao contexto mais
concepção técnico-racional reduz as formas de organização
próximo, por exemplo, a comunidade em que está inserida a
apenas a esses aspectos, prevalecendo uma visão burocrática
escola, as práticas de organização e gestão, o tipo de
de organização, decisões centralizadas, baixo grau de
participação, separação entre o administrativo e o pedagógico. relacionamento entre as pessoas da escola, as atitudes dos
Abdalla indica os inconvenientes dessa concepção professores, as rotinas cotidianas, o clima organizacional, o
funcionalista e produtiva: “A organização se fecha, os material didático, o espaço físico, o edifício escolar, etc. Desse
professores se individualizam, as interações se enfraquecem, modo, as práticas sociais e culturais que ocorrem nos vários
regras são impostas, potencializa-se o campo do poder com espaços da escola são, também, mediações culturais, que
vistas a controlar as estruturas administrativas e atuam na aprendizagem das pessoas (professores,
pedagógicas”. especialistas, funcionários, alunos).
Tais práticas institucionais afetam significativamente o
Na perspectiva da escola como organização social, para
significado e o sentido, ou seja, atuam, positivamente ou
além da visão “administrativa”, as organizações escolares são
negativamente, na motivação e na aprendizagem dos alunos, já
abordadas como unidades sociais formadas de pessoas que
que, de alguma forma, eles participam nessas práticas.
atuam em torno de objetivos comuns, portanto, como lugares
O ensino é, portanto, uma atividade situada, ou seja, é uma
de relações interpessoais. A escola é uma organização em
prática social que se realiza num contexto de cultura, de
sentido amplo, uma “unidade social que reúne pessoas que
relações e de conhecimento, histórica e socialmente
interagem entre si, intencionalmente, e que opera através de
estruturas e processos próprios, a fim de alcançar os objetivos construídos. Isso significa que não é apenas na sala de aula que
da instituição”. os alunos aprendem, eles aprendem também com os contextos
Destas duas perspectivas ampliou-se a compreensão da socioculturais, com as interações sociais, com as formas de
escola como lugar de aprendizagem, de compartilhamento de organização e de gestão, de modo que a escola pode ser vista
saberes e experiências, ou seja, um espaço educativo que gera como uma organização aprendente, uma comunidade
efeitos nas aprendizagens de professores e alunos. As formas democrática de aprendizagem. As pessoas – alunos,
de organização e de gestão adquirem dois novos sentidos: professores, funcionários - respondem, com suas ações, a um
contexto institucional e pedagógico preparado para produzir
a) o ambiente escolar é considerado em sua dimensão
mudanças qualitativas na sua personalidade e na sua
educativa, ou seja, as formas de organização e gestão, o estilo
aprendizagem.
das relações interpessoais, as rotinas administrativas, a
A noção de cultura organizacional é útil para compreender
organização do espaço físico, os processos de tomada de
melhor o papel educativo das práticas de organização e gestão.
decisões, etc., são também práticas educativas;
Ela é constituída do conjunto dos significados, modos de
b) as escolas são tidas como instituições aprendentes,
portanto, espaço de formação e aprendizagem, em que as pensar e agir, valores, comportamentos, modos de funcionar
pessoas mudam com as organizações e as organizações que revelam a identidade, os traços característicos, de uma
mudam com as pessoas. instituição – escola, empresa, hospital, prisão, etc. - e das
pessoas que nela trabalham. A cultura organizacional sintetiza
A organização escolar como lugar de práticas os sentidos que as pessoas dão às coisas e situações, gerando
educativas e de aprendizagem um modo característico de pensar, de perceber coisas e de agir.
A escola entendida como espaço de compartilhamento de Isso explica, por exemplo, a aceitação ou resistência frente a
inovações, certos modos de tratar os alunos, as formas de
idéias, práticas socioculturais e institucionais, valores,
enfrentamento de problemas de disciplina, a aceitação ou não
atitudes de modos de agir, tem recebido várias denominações,
de mudanças na rotina de trabalho, etc. Segundo o sociólogo
com diferentes justificativas: comunidade de aprendizagem,
francês Forquin “A escola é, também, um mundo social, que tem
comunidade de práticas, comunidade aprendente,
suas características de vida próprias, seus ritmos e seus ritos, sua
organizações aprendentes, aprendizagem colaborativa, entre
linguagem, seu imaginário, seus modos próprios de regulação e
outras. Adotaremos aqui a noção de ensino como “atividade
situada em contextos”.

Educação Brasileira 100


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de transgressão, seu regime próprio de produção e de gestão de cuidar das questões da legislação e das diretrizes pedagógicas
símbolos”. e curriculares; cobrar responsabilidades das pessoas;
Essa afirmação mostra que, nas escolas, para além organizar horários, rotinas, procedimentos; estabelecer
daquelas diretrizes, normas, procedimentos operacionais, formas de relacionamento entre a escola e a comunidade,
rotinas administrativas, há aspectos de natureza sociocultural especialmente com as famílias; efetivar ações de avaliação do
que as diferenciam umas das outras, a maior parte deles pouco currículo e dos professores; cuidar das condições do edifício
perceptíveis ou explícitos, traço que em estudos sobre escolar e de todo o espaço físico da escola; assegurar materiais
currículo tem sido denominado de “currículo oculto”. Essas didáticos e livros na biblioteca.
diferenças aparecem nas formas de interação entre as pessoas, Tais ações representam, sem dúvida, o primeiro conjunto
nas crenças, valores, significados, modos de agir, configurando de competências de diretores e coordenadores pedagógicos.
práticas que se projetam nas normas disciplinares, na relação Falamos da escola como espaço de compartilhamento, lugar de
dos professores com os alunos na aula, na cantina, nos aprendizagem, comunidade democrática de aprendizagem,
corredores, na preparação de alimentos e distribuição da gestão participativa, etc., mas as escolas precisam ser
merenda, nas formas de tratamento com os pais, na organizadas e geridas como garantia de efetivação dos seus
metodologia de aula etc. objetivos. Uma escola democrática tem por tarefa propiciar a
As atividades compartilhadas entre direção, todos os alunos, sem distinção, educação e ensino de
professores e alunos. qualidade, o que põe a exigência de justiça. Isto supõe
A cultura organizacional aparece sob duas formas: como estrutura organizacional, regras explícitas e sua aplicação
cultura instituída e como cultura instituinte. A cultura igual para todos sem privilégios ou discriminações, garantia de
instituída refere-se a normas legais, estrutura organizacional ambiente de estudo e aprendizagem, tratamento das pessoas
definida pelos órgãos oficiais, rotinas, grade curricular, conforme critérios públicos e justificados. Por mais que tais
horários, normas disciplinares etc. A cultura instituinte é exigências pareçam como excesso de “racionalidade”, elas se
aquela que os membros da escola criam, recriam, nas suas justificam pelo fato de as escolas serem unidades sociais em
relações e na vivência cotidiana, podendo modificar a cultura que pessoas trabalham juntas em agrupamentos humanos
instituída. Neste sentido, as escolas são espaços de intencionalmente constituídos, visando objetivos de
aprendizagem, comunidades democráticas de aprendizagem aprendizagem. As escolas recebem hoje alunos de diferentes
onde se compartilham significados, criam-se outros modos de origens sociais, culturais, familiares, portadores vivos das
agir, mudam-se práticas, recria-se a cultura vigente, aprende- contradições da sociedade. É preciso que o grupo de dirigentes
se com a participação real de seus membros. As ações e professores definam formas de gestão e de convivência que
realizadas na escola nesta perspectiva implicam a adoção de regulem a organização da vida escolar e as práticas
formas de participação real das pessoas nas decisões em pedagógicas, precisamente para conter tendências de
relação ao projeto pedagógico-curricular, ao desenvolvimento discriminação e desigualdade social e assegurar a todos o
do currículo, às formas de avaliação e acompanhamento da usufruto da escolarização de qualidade.
aprendizagem escolar, às normas de funcionamento e
convivência, etc. c) A organização e a gestão implicam a gestão
participativa e a gestão da participação
Para uma revisão das práticas de organização e gestão A organização da escola requer atender a duas
das escolas necessidades: a participação na gestão, enquanto requisito
Conclui-se que não é possível à escola atingir seus democrático, e a gestão da participação, como requisito
objetivos de melhoria da aprendizagem escolar dos alunos técnico. Por um lado, as escolas precisam cultivar os processos
sem formas de organização e gestão, tanto como provimento democráticos e colaborativos de trabalho, em função da
de condições e meios para o funcionamento da escola, quanto convivência e da tomada de decisões. Por outro, precisam
como práticas socioculturais e institucionais com caráter funcionar bem tecnicamente, a fim de poder atingir
formativo. Uma revisão das práticas de organização e gestão eficazmente seus objetivos, o que implica a gestão da
precisa considerar cinco aspectos, que apresentamos a seguir: participação. A gestão participativa significa alcançar de forma
colaborativa e democrática os objetivos da escola. A
a) As práticas de organização e gestão devem estar participação é o principal meio de tomar decisões, de
voltadas à aprendizagem dos alunos. mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos, os
As práticas de organização e gestão, a participação dos conteúdos, as formas de organização do trabalho e o clima de
professores na gestão, o trabalho colaborativo, estão a serviço trabalho desejado para si próprias e para os outros. A
da melhoria do ensino e da aprendizagem. Mencionou-se participação se viabiliza por interação comunicativa, diálogo,
anteriormente que o que faz a diferença entre as escolas é o discussão pública, busca de consensos e de superações de
grau em que conseguem melhorar a qualidade da conflitos. Nesse sentido, a melhor forma de gestão é aquela que
aprendizagem escolar dos alunos. Desse modo, uma escola criar um sistema de práticas interativas e colaborativas para
bem organizada e gerida é aquela que cria as condições troca de idéias e experiências para chegar a ideias e ações
organizacionais, operacionais e pedagógico-didáticas que comuns.
permitam o bom desempenho dos professores em sala de aula, Já a gestão da participação implica repensar as práticas de
de modo que todos os seus alunos sejam bem sucedidos em gestão, seja para assegurar relações interativas, democráticas
suas aprendizagens. e solidárias, seja para buscar meios mais eficazes de
funcionamento da escola. A gestão da participação refere-se à
b) A qualidade do ensino depende do exercício eficaz da coordenação, acompanhamento e avaliação do trabalho das
direção e da coordenação pedagógica pessoas, como garantia para assegurar o sistema de relações
Há boas razões para crer que a instituição escolar não pode interativas e democráticas. Para isso, faz-se necessária uma
prescindir de ações básicas que garantem o seu bem definida estrutura organizacional, responsabilidades
funcionamento: formular planos, estabelecer objetivos, metas claras e formas eficazes de tomada de decisões grupais. As
e ações; estabelecer normas e rotinas em relação a recursos exigências de gestão e liderança por parte de diretores e
físicos, materiais e financeiros; ter uma estrutura de coordenadores se justificam cada vez mais em face de
funcionamento e definição clara de responsabilidades dos problemas que incidem no cotidiano escolar: problemas
integrantes da equipe escolar; exercer liderança; organizar e sociais e econômicos das famílias, problemas de disciplina
controlar as atividades de apoio técnico-administrativo; manifestos em agressão verbal, uso de armas, uso de drogas,

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ameaças a professores, violência física e verbal. Os problemas Questões


se acentuam com a inexperiência ou precária formação
profissional de muitos professores que levam a dificuldades no 01. (IF-PI- Pedagogo- FUNRIO) Os estudos sobre a
manejo da sala de aula, no exercício da autoridade, no diálogo administração escolar não é novo, bem como a da organização
com os alunos. Constatar esses problemas implica que não do trabalho aí realizado.
pensemos apenas em mudanças curriculares ou É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, a
metodológicas, mas em formas de organização do trabalhado existência de duas concepções, que norteiam as análises: a
escolar que articulem, eficazmente, práticas participativas e científico-racional e a crítico, de cunho sócio-político.
colaborativas com uma sólida estrutura organizacional. Na primeira delas, que é o modelo mais comum de
funcionamento das instituições de ensino, as escolas dão muita
d) Projeto pedagógico-curricular bem concebido e ênfase à estrutura organizacional, que pode ser planejada,
eficazmente executado organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices
O projeto pedagógico-curricular é uma declaração de de eficácia e eficiência, uma vez que a organização escolar se
intenções do grupo de profissionais da escola, é expressão da embasa numa percepção de “realidade objetiva, neutra,
coletividade escolar. Em sua elaboração, é sumamente técnica, que funciona racionalmente".
relevante levar-se em conta a cultura da escola ou a cultura Na segunda concepção, a organização escolar se estabelece
organizacional e, também, seu papel de instituidor de outra “basicamente como um sistema que agrega pessoas,
cultura organizacional. Para isso, uma recomendação inicial é importando bastante a intencionalidade e as interações
de que a equipe de dirigentes e professores tenha sociais, o contexto sócio-político etc., constituindo-se numa
conhecimento e sensibilidade em relação às necessidades construção social a ser construída pelos professores, alunos,
sociais e demandas da comunidade local e do próprio pais e integrantes da comunidade próxima, caracterizada pelo
funcionamento da escola, de modo a ter clareza sobre as interesse público.
mudanças a serem esperadas nos alunos em relação ao seu
desenvolvimento e aprendizagem. Com base nos dados da A visão crítica da escola resulta em diferentes formas de
realidade, é preciso que o projeto pedagógico-curricular dê viabilização da...
respostas a esta pergunta: em que comportamentos (A) administração empresarial.
cognitivos, afetivos, físicos, morais, estéticos, etc., queremos (B) administração escolar.
intervir, de forma a produzir mudanças qualitativas no (C) gestão democrática.
desenvolvimento e aprendizagem dos alunos? (D) gestão empresarial.
Além disso, é necessário ter clareza sobre os objetivos da (E) administração colegiada.
escola que, em minha opinião, é o de garantir a todos os alunos
uma base cultural e científica comum e uma base comum de 02. (IF-PB- Técnico em Assuntos Educacionais- IF-PB)
formação moral e de práticas de cidadania, baseadas em Dentre os princípios e características da gestão escolar
critérios de solidariedade e justiça, na alteridade, na participativa, destaca-se a autonomia como o fundamento da
descoberta e respeito pelo outro, no aprender a viver junto. concepção democrático-participativa de gestão escolar. Com
Isto significa: uma escolarização igual, para sujeitos diferentes, base nessa informação, a autonomia na concepção
por meio de um currículo comum a todos, na formulação de democrático-participativa de gestão escolar está expressa
Gimeno Sacristán. A partir de uma base comum de cultura em:
geral para todos, o currículo para sujeitos diferentes significa (A) A faculdade de uma pessoa de autogovernar-se, decidir
acolher a diversidade e a experiência particular dos diferentes sobre o próprio destino, gerenciamento das ações e recursos
grupos de alunos, propiciando na escola e nas salas de aula, um financeiros.
espaço de diálogo e comunicação. Um dos mais relevantes (B) A organização escolar depende exclusivamente de
objetivos democráticos no ensino será fazer da escola um lugar decisões do poder central.
em que todos os alunos e alunas possam experimentar sua (C) O êxito da gestão da escola está no controle emanado
própria forma de realização e sucesso. Para tudo isso, são pelo poder central.
necessárias formas de execução, gestão e avaliação do projeto (D) A gestão da autonomia não implica
pedagógico-curricular. corresponsabilidade dos membros da equipe escolar.
(E) A autonomia é um princípio que implica que um líder
e) A atividade conjunta dos professores na elaboração e tome as decisões para que os demais membros possam
avaliação das atividades de ensino participar do processo de gestão.
A modalidade mais rica e eficaz de formação docente
continuada ocorre pela atividade conjunta dos professores na
discussão e elaboração das atividades orientadoras de ensino.
É assim porque a formação continuada passa a ser entendida
como um modo habitual de funcionamento do cotidiano da
escola, um modo de ser e de existir da escola. Para Moura, o
projeto pedagógico se concretiza mediante a realização de
atividades pedagógicas. Para isso, os professores realizam
ações compartilhadas que exigem troca de significados,
possibilitando ampliar o conhecimento da realidade. Desse
modo, “a coletividade de formação constitui-se ao desenvolver
a ação pedagógica. É essa constituição da coletividade que
possibilita o movimento de formação do professor”.

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03. (IF-MT- Auxiliar em Administração- UFMT)


4.4 Avaliação institucional,
O novo gestor escolar de desempenho e de
Escrito por Roberta Braga aprendizagem.
Publicado em 03, Novembro de 2014.
Avaliação em questão73

A avaliação escolar, para Méndez, Esteban, Fernandes,


Hoffman, constitui-se do ato de conhecer, averiguar o que
os alunos já sabem, o que aprenderam e o que ainda falta
conhecer sobre determinado conhecimento. Essa ação
caracteriza-se por um processo formativo de avaliação que
surge da interação dos sujeitos com o mundo.
Dessa forma, o conceito de avaliação como ato de
examinar, ao qual tem o intuito de medir, comparar e, muitas
vezes, ranquear os processos diferenciados de cada aluno em
um único patamar, muito utilizado na prática docente e de
sistema é então discutido e questionado por eles.
Méndez elucida que por meio da avaliação também
adquirimos conhecimento. A avaliação deve ser entendida
As mudanças na sociedade, nas famílias e na forma de as como uma atividade crítica com o fim de promover a
pessoas perceberem a vida são constantes. Ideais autoritários aprendizagem tanto do aluno como do professor.
ficam cada vez mais enfraquecidos, e ações colaborativas O professor aprende para conhecer e para melhorar a
ganham mais força. A escola como ambiente de convívio e prática docente em sua complexidade, bem como para
educação é impactada por essas mudanças de comportamento. colaborar na aprendizagem do aluno, conhecendo as
Nesse cenário, o gestor escolar passa a ter papel ainda mais dificuldades que deve superar, o modo de resolvê-las e as
importante, uma vez que a maneira como a escola é estratégias que coloca em funcionamento.
administrada pode refletir um melhor ambiente, tanto de A avaliação é o instrumento adequado para orientar o
trabalho quanto de aprendizagem. professor na correção desses desvios. Quando somente
Apesar de não existir uma receita pronta de administração aplicada ao final de períodos, muitas vezes longos de um para
que funcione em todas as escolas, alguns princípios ajudam a o outro, chega tarde demais e passa a ter características
nortear o trabalho dos gestores [...]. “A tendência é de uma classificatórias, dado o sentido que esta tem de qualificar o que
gestão em que o poder é distribuído, em que existe incentivo os alunos apresentaram.
ao trabalho coletivo e às decisões tomadas em conjunto com
os envolvidos", observa Helena Machado de Paula A avaliação deve abrir o leque para as muitas
Albuquerque, doutora em Educação e coordenadora do curso possibilidades existentes na construção do conhecimento. O
de especialização em Gestão Educacional e Escolar da erro deve denotar um dos caminhos traçados pelo aluno
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para a para o alcance dos resultados esperados e não, como uma
especialista, o momento atual pelo qual o sistema de ensino incapacidade de resolução.
passa é o de perceber as novas necessidades e migrar, pouco a De um modo mais amplo, sem o intuito de culpabilizar o
pouco, para esse tipo de gestão. “Nós ainda estamos professor pelos maus resultados encontrados, a avaliação deve
engatinhando para perceber a escola como ela está e atender questionar qual a relação existente entre ensino oferecido e a
às necessidades reais do processo educativo", considera [...]. aprendizagem verificada. Esta deve constituir-se de uma
(Disponível em http://www.gestaoeducacional.com.br/. Acesso em reflexão contínua promovida pela interação dos sujeitos nos
13/07/2015.) mais diversos espaços onde convivem.
Hoffmann esclarece que nesse processo os sujeitos
De acordo com o texto, qual é o modelo de gestão que exercem influência uns sobre os outros pelo modo de pensar,
possibilita a distribuição do poder e incentiva o trabalho analisar e julgar seus atos em relação a si e aos outros. Reforça
coletivo e as decisões tomadas em conjunto com os também o papel da avaliação como o ato de repensar as
envolvidos? práticas pedagógicas a partir das informações por ela
(A) Gestão participativa apresentadas e por manter um constante diálogo entre as
(B) Gestão autoritária “intervenções dos docentes e dos educandos”. Para a autora:
(C) Gestão por competência
(D) Gestão mecanicista A diversificação dos instrumentos avaliativos tem uma
função estratégica na coleta de um maior número e variedade
Gabarito de informações sobre o trabalho docente e os percursos de
01.C / 02.A / 03.A aprendizagens. Desta maneira, restringir a avaliação ao
produto e a um instrumento é desperdiçar uma diversidade, no
mínimo, de informações do processo que são úteis ao
entendimento do fenômeno educativo e à tomada de decisão
para as mudanças necessárias (HOFFMANN, 2001).74

Assim, a avaliação educacional e avaliação


institucional diferenciam-se pelos processos e finalidades
a que servem. Alguns autores esclarecem que a avaliação

73 LIMEIRA, L. C. – Avaliação Institucional e Projeto Político Pedagógico – Uma 74 HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto

Trama em Permanente Construção. Universidade Católica de Brasília. Alegre: Mediação, 2001.


http://www.anpae.org.br/seminario/ANPAE2012

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educacional refere-se à avaliação da aprendizagem ou do pensar em ações que superem os problemas detectados. As
desempenho de alunos (ou de profissionais) e à avaliação mudanças, nesse sentido, vêm carregadas de resistências.
de currículos, concentrando-se no processo de
ensinoaprendizagem e nos fatores que interferem em seu A avaliação institucional
desenvolvimento. Já a avaliação institucional, por sua vez,
destina-se à avaliação de instituições (como a escola e o A avaliação institucional, diferentemente da avaliação
sistema educacional), políticas e projetos, tendo atenção individual das aprendizagens dos alunos, apresenta uma
centralizada em processos, relações, decisões e resultados amplitude bem maior porque busca compreender como
das ações de uma instituição ou do sistema educacional se processam as relações e as estruturas que compõem a
como um todo. Nesse sentido, para ser completa, a avaliação instituição.
institucional contempla e incorpora os resultados da avaliação
educacional. A avaliação institucional não é instrumento de medida de
A avaliação da aprendizagem é voltada para o atividades de indivíduos isolados, nem de trabalhos descolados
acompanhamento do desenvolvimento global dos alunos, com de seus meios de produção; não é mecanismo para exposição
caráter fundamentalmente formativo, considerando-se os pública de fragilidades ou ineficiência de profissionais
diversos aspectos da aprendizagem (cognitivo, social, afetivo, individualizados. A avaliação institucional deve ser promovida
psicomotor, entre outros) num contexto de permanente como um processo de caráter essencialmente pedagógico.
transformação social. Em decorrência do movimento de avaliação dos processos
internos das instituições superiores de ensino ocorrido desde
Já a avaliação institucional, que também apresenta os anos 80, conforme histórico apresentado por Ristoff (2000),
caráter formativo, “está voltada para compreender a as instituições públicas de ensino que atendem à Educação
escola ou o sistema educacional como espaço vivo, Básica também foram adotando tais processos de avaliação e
integrado por sujeitos ativos e participantes, na busca de sendo estimuladas a desenvolver a prática da avaliação
transformação de si próprios e da sociedade”. institucional.
As políticas públicas de educação no Brasil, impulsionadas
Dessa forma, os processos avaliativos presentes nas pelos programas financiados por organismos internacionais
escolas constituem uma complexa ação dos docentes. que definem diretrizes para políticas e programas em vários
Envolvem, ao mesmo tempo, as aprendizagens dos alunos, países do mundo, têm seguido na mesma direção. Marinho
assim como os processos de ensino necessários para que elas informa que a agenda traçada pelo Banco Mundial, por
se desenvolvam. Ao compreender diferentes atores nesses exemplo, inclui, dentre outras diretrizes, a busca do uso mais
processos, a avaliação envolve também uma diversidade de racional dos recursos, estipulando que um fator primordial
interesses, concepções e valores que orientam e, muitas vezes, para isso seria a autonomia das instituições educacionais;
criam empecilhos na sua aplicação. recomenda que se dê especial atenção aos resultados,
Para Freitas, os professores não podem ignorar a enfatizando a necessidade de que se implementem sistemas de
existência de um projeto político- pedagógico da escola que avaliação; reforça a ideia de busca da eficiência e maior
orienta os caminhos e o que se deseja alcançar no trabalho articulação entre os setores públicos e privados, tendo em
coletivo da escola. O autor esclarece ainda que as escolas não vista ampliar a oferta em educação.
devem se opor à avaliação de seu trabalho. Cabe-lhes aceitar a Seguindo essa tendência e em conformidade com as
prestação pública de contas daquilo que fazem em área tão orientações dadas por esses programas, foi criado o Índice de
importante para a sociedade. Os pactos de qualidade que Desenvolvimento da Educação Brasileira (IDEB) – Decreto
firmam internamente devem produzir resultados que se 6.069/07. Seu objetivo é verificar o cumprimento das metas
tornem visíveis externamente e que permitam algum controle estabelecidas no Termo de Adesão ao Compromisso Todos
social. pela Educação, cujo um dos eixos é o Plano de
Quando os processos avaliativos então se ampliam para o Desenvolvimento da Educação (PDE) do Ministério da
ato de ensinar, para as ações desenvolvidas pela escola no Educação – MEC (INEP-MEC).
intuito de atender a uma comunidade que busca uma educação Com a implementação dessas políticas, a avaliação
de qualidade e, também do sistema como está gerindo tais institucional passou a fazer parte do cotidiano escolar. Ao
escolas, os professores passam a ser objeto de avaliação. mobilizar cada vez mais esforços de professores e gestores em
Surgem, então, as resistências. apresentar melhores resultados, tem como um dos objetivos
Sordi e Lüdke trazem uma importante contribuição acerca proporcionar à sociedade um diagnóstico da educação
desse assunto afirmando que a avaliação vem ganhando brasileira e, a partir dele, buscar melhorias e oferecer uma
centralidade na cena política e os espaços de sua interferência educação de qualidade.
têm sido ampliados de modo marcante, ultrapassando o A avaliação institucional é um processo que leva a
âmbito da aprendizagem dos alunos. Por tratar-se de campo instituição ao autoconhecimento profundo revelando causas e
fortemente atravessado por interesses, diante dos quais apontando indicadores que norteiam o trabalho pedagógico.
posturas ingênuas não podem ser aceitas, compete aos Sendo assim, a avaliação é um mecanismo que acompanha a
profissionais da educação desenvolverem alguma implantação e viabiliza a correção dos rumos de um certo
competência para lidar com a avaliação. modelo de escola, de um certo projeto político-pedagógico”. E
Esclarecem ainda que constitui um grande desafio para o complementa que é impossível gerenciar uma instituição séria
trabalho dos professores vivenciar diferentes formas de como é a escola, que deve primar pela qualidade, competência,
avaliação dos alunos e do seu próprio trabalho desenvolvendo justiça e responsabilidade, sem, contudo, ter em mãos “um
uma relação mais madura, inclusive com os que são conjunto de informações” precisas e fidedignas, que subsidiem
designados a fazê-lo com os professores. as tomadas de decisão, não só do gestor mais de toda
As autoras também ressaltam que os professores, quando comunidade educativa.
se veem surpreendidos por políticas públicas que usam a A avaliação institucional, para Freitas, deve servir como
avaliação como recurso de gestão, reagem aos dados, ou se um espaço privilegiado para a localização e reconhecimento de
recusando a participar ativamente do processo, ou problemas, reflexão e busca de soluções. Adverte, no entanto,
culpabilizando terceiros, passando a estes a responsabilidade que a escola não deve deixar de buscar do poder público o
quanto aos maus resultados. Desperdiçam a possibilidade de cumprimento de suas responsabilidades. Esclarece ainda que
assim, pensar em avaliação institucional implica repensar o

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significado da participação dos diferentes atores na vida e no


destino das escolas. Implica recuperar a dimensão coletiva do
projeto político-pedagógico e, responsavelmente, refletir
sobre suas potencialidades, vulnerabilidades e repercussões
em nível de sala de aula, junto aos estudantes.
Desta forma, a escola precisa rever suas práticas
avaliativas no intuito de não hierarquizar os conhecimentos
trabalhados nem segregar os alunos pelos resultados que
alcançam. Há que se rever como produtora de conhecimentos
e em consequência, suas práticas também precisam ser
avaliadas.
Nesse sentido, a aprendizagem da avaliação institucional
inclui o saber posicionar-se, fruto de contínuas experiências de
participação em momentos coletivos entre todos os
envolvidos no processo de ensino: professores, gestores,
funcionários, alunos e comunidade escolar. Também, da
possibilidade de adesão e efetiva participação dos professores
numa análise mais aprofundada sobre o trabalho da escola, o
estabelecimento de metas e o planejamento de ações para a
superação de desafios. Para que isto se dê, falta aos
professores o necessário conhecimento do PPP de sua escola e
Projeto político-pedagógico em ação
o reconhecimento da importância de sua permanente
construção e avaliação coletiva.
Entre uma pluralidade de propostas voltadas para a
organização e funcionamento da escola pública, situa-se uma
Diálogo entre diferentes dimensões avaliativas
proposta nacional, que incentiva a escola a traçar seu próprio
caminho educativo, conhecida como “Projeto Político-
Embora fundamentais por abrir perspectivas para as
pedagógico”. A proposta foi incluída na Lei de Diretrizes e
diretrizes das políticas educacionais e para os debates sobre a
Bases da Educação Nacional de 1996, no inciso I do artigo 1275.
qualidade do ensino, as avaliações externas não dão conta da
Em sua importante contribuição sobre o conceito de
amplitude e complexidade do trabalho escolar. A Prova Brasil,
Projeto Político-pedagógico, Veiga esclarece que este se
por exemplo, mostra a média de desempenho dos alunos da
constitui como a própria organização do trabalho pedagógico
escola de modo geral, mas não traz detalhamentos ou
da escola. Nela, as noções de qualidade, igualdade, liberdade,
informações que permitam intervenções imediatas no
gestão democrática, entre outras, são alguns dos princípios
processo pedagógico de um ano para outro. Isso significa que
que aparecem como ponto de partida para a sua construção.
ela não fornece todas as informações necessárias para
Para a autora, ao se constituir em processo democrático, o
avançarmos na ampliação da oferta de oportunidades de
projeto político-pedagógico preocupa-se em instaurar uma
aprendizagem.
forma de organização do trabalho pedagógico que supere os
Para prosseguir com essa busca é necessário considerar as
conflitos, buscando eliminar as relações competitivas,
diferentes ferramentas avaliativas disponíveis no âmbito
corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando
interno das escolas, que são capazes de fornecer informações
impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as
adicionais e qualificadas sobre as práticas escolares, além de
relações no interior da escola, diminuindo os efeitos
complementar e dialogar com a avaliação externa: a avaliação
fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças
da aprendizagem (realizada no contexto da ação pedagógica
e hierarquiza os poderes de decisão.
do professor em sala de aula) e a avaliação institucional
(realizada pelo coletivo da escola no escopo de seu projeto
Também Souza, ao tratar sobre a funcionalidade do PPP,
pedagógico), ou seja, as avaliações internas, realizadas
acrescenta que este constitui um instrumento tanto de luta
sistematicamente pelas escolas.
contra a fragmentação do trabalho pedagógico da escola,
Para concretizar a possibilidade de diálogo entre essas três
quanto de fortalecedor de sua autonomia. Quando o Estado
formas de avaliação, parte-se do entendimento de que as três,
delega às instituições de ensino a tarefa de produzir e executar
quando relacionadas, clarificam a tomada de decisões
um projeto pedagógico, em conformidade com normas
pertinentes a situações especificas.
estabelecidas a todo o sistema de ensino, aponta o caminho
Nesse diálogo está presente um movimento de integração,
para a construção da autonomia destas por meio da gestão
que respeita o lugar de cada uma (com suas características e
democrática.
especificidades) colocando-as em igual patamar de
Para Neves, a escola precisa seguir às leis regidas pelo
importância para o avanço da aprendizagem dos alunos.
Estado. Sua autonomia é fruto de leis próprias criadas para, em
comum acordo com as já existentes, dar o devido atendimento
e respostas à comunidade que serve. A autora justifica que a
autonomia existente nas escolas é o diferencial que as faz se
organizar e agir de modo próprio, singular e isto passa a ser
reconhecido pela sociedade.
A autonomia da escola é, pois, um exercício de
democratização de um espaço público: é delegar ao diretor e
aos demais agentes pedagógicos a possibilidade de dar
respostas ao cidadão (aluno e responsável) a quem servem, em
vez de encaminhá-lo para órgãos centrais distantes onde ele
não é conhecido e, muitas vezes, sequer atendido.

75 FONSECA, Marília. O projeto político‐pedagógico e o Plano de

Desenvolvimento da Escola: duas concepções antagônicas de gestão escolar. Cad.


Cedes, Campinas, v. 23, n. 61, p. 302‐318, dez. 2003.

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A avaliação institucional, tanto externa quanto interna, Para contribuir com a construção dessa relação a empresa
deve ser o instrumento de autoavaliação das escolas para que deve buscar conhecer os interesses de seus colaboradores
estas reconduzam os processos educativos que desenvolvem para, a partir de uma análise e negociação, desenvolver ações
de forma consciente, condizente com o seu PPP e em que atendam aos principais interesses comuns e explorem as
detrimento da comunidade que atende. Por melhor que seja suas vantagens para tornar-se mais competitiva. Assim, deve
uma avaliação, se ela não for validada, sentida e vivida, pelos estar atenta para as sutilezas próprias do ser humano,
professores e envolvidos, poderá ser prejudicial ao processo observando-o com um ser formador de sua história.
como um todo. Dentre os processos de gestão de pessoas está a avaliação
de desempenho individual, através do qual as empresas
A avaliação institucional contribui para que os saberes procuram mensurar a performance de cada funcionário,
dos diferentes atores envolvidos na escola sejam comparando o resultado obtido por ele com um padrão
incorporados e reconhecidos como legítimos, pré-estabelecido. Porém, muitos dos modelos de avaliação de
intensificando a qualidade das trocas intersubjetivas que desempenho utilizados não correspondem mais às
ocorrem na escola empoderando os atores locais para a expectativas organizacionais, apresentando, em alguns casos,
ação. Ação que se orienta pelas “estratégias de critérios injustos para os avaliados e inadequados aos
compromisso” com o direito das crianças aprenderem ao objetivos da organização que os avalia. Os critérios e a forma
invés de um acatamento cego às normas e regras existentes como ocorre essa avaliação influenciam a motivação do
a que se obtém adesão sem comprometimento, como funcionário e o clima organizacional, devido a sua vinculação
resposta de conveniência às “estratégias do controle” com a remuneração, carreira profissional e, em muitos casos,
institucional. com a permanência do funcionário na empresa77

Questões Essa percepção advém da diversidade de opções de


mercado que exige cada vez mais profissionais de relevante
01. (SEAP-DF- Analista- Pedagogia- IADES) Quanto à desempenho. A realidade nos leva a refletir: Será que os
avaliação institucional, assinale a alternativa correta. modelos de avaliação de desempenho evidenciam ao sistema
(A) A avaliação institucional possibilita um olhar crítico e novos caminhos, visando a identificação e a seleção daqueles
detalhista sobre a instituição e seus colaboradores, abordando que conduzem ou conduzirão com sucesso o futuro da
vários aspectos relevantes para a organização. instituição? Será que o modelo ou instrumento concebido para
(B) A pedagogia empresarial usa a avaliação institucional avaliar permitiu promover e orientar o crescimento pessoal e
para conferir quem pode, dentro das organizações, assumir profissional das pessoas? 78
cargos de gestão.
(C) A avaliação institucional é uma particularidade de Tendências de modelos de gestão e avaliação
instituições públicas, não se aplicando a outras instituições do
setor privado. Dentre os vários mecanismos existentes para realizar a
(D) Na administração científica, entende-se a necessidade avaliação, a avaliação de desempenho certamente é aquele que
exclusiva de utilização desse instrumento pelo pedagogo apresenta maior eficiência e eficácia, desde que
empresarial ou pelo psicólogo institucional, uma vez que esses adequadamente adaptado às particularidades e cultura dos
profissionais exercem função semelhante. agentes e das instituições.
(E) Trata-se de uma abordagem exclusivamente Qualquer que seja a Instituição – governo, indústria, igreja,
pedagógica, que consiste na aplicação de provas para gestores exército, comércio, bancos, Universidades, Faculdades, entre
e colaboradores de empresas e indústrias. outros – são instituições que apresentam funções
diferenciadas, mas os problemas administrativos são
02. (IF-BA- Técnico em Assuntos Educacionais- praticamente comuns. Os seus administradores, gerentes,
FUNRIO/2016) A avaliação da escola é chamada de avaliação: diretores ou gestores, não importam as denominações, são
(A) Formativa, cujo foco são os percursos de sujeitos essenciais a toda Instituição e devem adotar
aprendizagens. princípios básicos do ato de gerir: planejar, acompanhar e
(B) Somativa, cujo resultado refere-se aos indicadores avaliar. A diferença residirá na visibilidade a uma marca
obtidos. diferencial das demais administrações que lhe antecedeu, ao
(C) Diagnóstica, cujo propósito é verificar os propor ações que busquem a objetividade do trabalho. A
conhecimentos prévios. dinâmica e o sucesso de uma gestão requerem, além da adoção
(D) Institucional, cujo apoio é o projeto político- de princípios administrativos, atitudes, valores, capacidade de
pedagógico da escola. articular ideias respeitando a pluralidade a benefício da
(E) Mediadora, cuja intenção é mediar os processos. instituição e não apenas em causa. Toda Instituição existe, não
para si mesma, mas para alcançar seus objetivos e produzir
Gabarito resultados. É em função dos objetivos e dos resultados que uma
01. A / 02. D organização deve ser dimensionada, estruturada e orientada,
um gestor pode adotar vários modelos de gestão como marco
Avaliação de Desempenho Individual76 referencial da sua administração, por exemplo, a ênfase nos
objetivos institucionais. Neste caso, darão prioridade as ações
Várias empresas têm se utilizado de modelos de gestão que que justificam a existência e a importância da Instituição, a
procuram ampliar a importância das pessoas nessa demanda, partir dos resultados pretendidos, como meio de avaliar o
devido à convicção sobre o seu impacto nos resultados desempenho institucional e o cumprimento da missão junto à
organizacionais. O estabelecimento de políticas de gestão de sociedade.
pessoas que atendam simultaneamente aos principais Sua funcionalidade acontece a partir do entendimento de
interesses da empresa e das pessoas é a base de sustentação que o resultado da avaliação poderá ser utilizado como
para uma relação proveitosa para ambas as partes envolvidas. elemento promotor de melhoria da qualidade das instituições

76 Texto adaptado de Wagner Soares Fernandes dos Santos. concentração em Avaliação Educacional). Fortaleza/ Universidade Federal do
77 LUCENA, M. D. Avaliação de desempenho. São Paulo: Atlas, 1992. Ceará, 1998.
78GURGEL, Carmesina Ribeiro. Avaliação do Desempenho Docente do Centro

de Ciências da Educação - UFPI. Dissertação (Mestrado em Educação com área de

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de forma global. Esse fenômeno ocorre porque uma das Assim, uma Instituição pode ser eficiente em suas ações e
funções da avaliação é contribuir para averiguação do pode não ser eficaz, como também, pode ser ineficiente em
grau de eficiência e eficácia das ações desenvolvidas. Três suas funções, mas apesar disso, ser eficaz.
fenômenos de origem social, segundo Bonniol explicam a Alguns indicadores de eficiência e eficácia são encontrados
universalização da cultura da avaliação como mecanismo de na literatura que torna compreensível esta situação:
regulação e, ao mesmo tempo, de emancipação:
a) o ato de avaliar estabelece ligação diretamente Indicadores de eficiência – centrar ênfase nos meios;
relacionada ao desenvolvimento das práticas democráticas, desenvolver ações corretas para cada objetivo proposto;
fortalecendo o direito do exercício da cidadania. resolver os problemas em tempo hábil; administrar
b) a aparição das práticas avaliativas de ordem corretamente o orçamento; cumprir criteriosamente o
organizacional, exigindo mudanças de paradigmas ou atitude cronograma de tarefas e obrigações; promover treinamento
de gestão; em serviço; manter instrumentos e equipamentos de trabalho
c) a necessidade de legitimar as ações institucionais em condições de funcionamento; manter harmonia no
perante a sociedade. ambiente de trabalho; promover atividades sociais; ser
presente no ambiente de trabalho.
Avaliar o desenvolvimento das práticas democráticas é
uma necessidade que surge a partir do grau de exigência do Indicadores de eficácia – gestão centrada nos resultados;
cidadão em relação aos seus direitos, a qualidade de serviços prima pelas ações corretas; dar ênfase ao alcance dos
prestados, entre outros. Assim, a exigência da avaliação, objetivos; otimizar a utilização dos recursos financeiros;
identifica-se com a necessidade de prestar conta e provocar valorizar a equipe de trabalho; manter bons equipamentos;
responsabilidades e consequências. Na opinião do referido exercer a prática de valores humanos; ter autoestima positiva
autor avaliamos porque não sabemos o que fazemos, nenhuma e saber conviver socialmente.
instituição pode afirmar que é legítima por si mesma, porque
não tem certeza de seus efeitos. O único instrumento capaz de Em busca da eficiência e da eficácia, uma Instituição deve
legitimar a validade ou não das ações de uma instituição e, adotar princípios funcionais e hierárquicos orientada para o
consequentemente, de um gestor é a avaliação. objetivo de produzir bens ou serviços. Nesta ótica, surge a
Numa visão contemporânea, administrar consiste em divisão de trabalho, as especialidades, a hierarquia e
orientar, dirigir e avaliar os esforços de um grupo de pessoas amplitude administrativa. A divisão de trabalho é importante
para um objetivo comum. Um bom gestor ou administrador é porque facilita a direção e execução das tarefas e sua
naturalmente, aquele que possibilita a sua equipe de operacionalização. Do ponto de vista administrativo pode-se
assessores alcançarem os objetivos institucionais com o apresentar em três níveis: institucional (gestor máximo e
mínimo dispêndio de recursos, de esforços e habilidade para assessores); intermediário (diretores/gerentes) e operacional
minimizar os atritos com outras atividades úteis. (coordenadores/supervisores e outros).
Administrar, nesta visão torna-se uma atividade essencial Pela necessidade de divisão do trabalho, surge a
a todo esforço humano coletivo, seja qual for o tipo de especialização, ou seja, cada órgão passa ter funções e tarefas
Instituição, pois o ser humano cada vez mais necessita de específicas, cujo objetivo é proporcionar melhorias de
cooperar com outras pessoas para atingir seus objetivos, isto métodos e incentivos no trabalho e melhorando o desempenho
é trabalhar socialmente e, como prática social a administração funcional. Ainda como consequência da divisão do trabalho e
torna-se uma ação basicamente de coordenação de atividades da diversidade profissional dentro da Instituição surge a
grupais que vem corroborar com o entendimento das novas hierarquia com a finalidade de dirigir as ações dos níveis que
tendências de modelo de gestão e avaliação de desempenho lhe estão subordinadas. A pluralidade de funções exige o
nesse século. desdobramento da função de comando, cuja missão é dirigir
Estamos na era das ideias, não há mais distância entre as para que todas as atividades sejam cumpridas
informações em virtude dos avanços tecnológicos. Diante harmonicamente.
deste contexto, vem se resgatando o lado humanista nos A hierarquia divide a Instituição em camadas ou níveis de
sistemas de gestão, onde o essencial é a interação entre as autoridade. Quando mais alto a escala hierárquica maior o
pessoas e a maior necessidade do desenvolvimento da volume de autoridade do gestor. A autoridade pode ser
criatividade, dos talentos e da sensibilidade. As tendências definida como sendo o direito formal e legítimo de tomar
ascendentes de gestão apresentam-se nas formas de decisões, transmitir ordens e alocar recursos para alcançar os
integração com o meio ambiente, com a comunidade, e com o objetivos desejados pela organização. O grau de autoridade é
potencial humano. proporcional ao grau de responsabilidade assumida pela
Sendo assim os novos paradigmas estão fundamentados pessoa. No entanto, a autoridade pode ser delegada conforme
nos talentos das pessoas, na gestão da informação, na visão a posições e funções desempenhadas.
comum, na ajuda mutua e na identidade de valores Quando um gestor transmite autoridade e
compartilhados. A partir disso quem dita as condições para o responsabilidade a uma pessoa numa determinada hierarquia,
sucesso no mercado é o próprio mercado e às empresas resta pode-se dizer que houve uma delegação. A amplitude
buscar alternativas que atendam essa nova fase. administrativa ou de comando ou de controle torna-se
necessário quando a Instituição encontra-se em fase de
Para que uma equipe de trabalho possa apresentar expansão e precisa garantir a qualidade de seus serviços. No
padrões elevados de eficiência e eficácia é preciso entender a entanto, alguns cuidados devem ser observados, pois quanto
diferença entre estas duas ações. A eficiência é voltada para mais restrita é a amplitude da estrutura organizacional menos
a melhor maneira pela qual as ações devem ser disperso as ações e melhor sua comunicação.
desenvolvidas, a fim de que os recursos sejam aplicados de Outro fator deve ser levado em conta quando estamos em
forma mais racional possível. Uma equipe eficiente deve posição de comando de uma Instituição ou parte dela é o
preocupar-se com os meios, com os métodos e procedimentos fenômeno da centralização e da descentralização.
mais indicados para assegurar a otimização da utilização dos Ambas as situações têm suas vantagens e desvantagens,
recursos. A eficácia de uma ação é medida pelo alcance dos vejamos resumidamente cada uma delas no quadro a seguir:
resultados, pela capacidade de satisfazer uma necessidade
por meio de suprimento de seus produtos, bem ou serviços.

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I- VANTAGENS questão relevante é a necessidade de adequar a avaliação ao


Gestão Centralizada Gestão Descentralizada elemento que se deseja avaliar, as informações desejadas, aos
Tomada de decisões por Rapidez nas decisões/ recursos disponíveis e ao uso pretendido para os resultados.
quem possui visão global da Ausencia de conflitos. Qualquer que seja a abordagem, a metodologia avaliativa é
Instituição. intrínseca a cada modelo. Os problemas metodológicos mais
Decisões tomadas no topo Sentimento de equidade/ comuns às práticas avaliativas são: casualidade; lentidão para
são mais bem treinadas e Informalidade e término; mecanismos de coleta de dados; dificuldade de
preparadas. democracia. identificar resultados dos programas; generalização dos
Decisões mais consistentes Mais aproximação entre resultados; limitações e tratamento apropriado dos
com os objetivos gestores e sua equipe de problemas.
Institucionais. trabalho.
Elimina esforços duplicados Substituição da Métodos Básicos de Avaliação de Desempenho
de vários tomadores de administração por Individual
decisões e reduz custos portarias/ medidas por
operacionais. informações. Para Lucena, as empresas têm uma preocupação
permanente e natural com o desempenho humano e em como
II- DESVANTAGENS torná-lo mais produtivo, uma vez que os seus resultados são
Gestão Centralizada Gestão Descentralizada consequência desse desempenho. A mensuração desse
Decisões distanciadas Falhas de informação entre os desempenho permite a empresa conhecer a performance de
dos fatos e das departamentos/ setores cada um de seus funcionários e do impacto desse desempenho
circunstâncias. envolvidos. nos resultados organizacionais, sendo esta uma função
Tomadas de decisões Maior custo pela exigencia de precípua para a organização.
tem pouco contato com melhor seleção e treinamento
A avaliação de desempenho individual é prática
as pessoas e situações dos administradores médios.
cotidiana e instrumento de mensuração que procura
envolvidas.
integrar diferentes níveis organizacionais e promover a
A comunicação pode Risco de subobjetivação. Os
melhoria da performance de todas as pessoas da
ocasionar custos gestores podem defender mais
organização.
operacionais. os objetivos de seus setores do
que os institucionais.
Avaliar significa comparar resultados alcançados com
Pode ocasionar As plíticas e procedimentos
aqueles que eram esperados/planejados, de forma que apenas
distorções e erros no podem variar enormemente
o trabalho previamente planejado deve ser objeto de
processo de nos diversos departamentos.
avaliação. Isto pressupõe a comparação entre o que se espera
comunicação.
do indivíduo em termos de realização (resultado esperado), a
sua atuação efetiva (trabalho realizado) e a existência de
Enfim, administrar numa sociedade onde todas as suas
algum mecanismo de acompanhamento, que permita corrigir
atividades são voltadas para produção de bens ou para a desvios para assegurar que a execução corresponda ao que foi
prestação de serviços especializados e, que a vida das pessoas
planejado. Na literatura são encontrados vários objetivos para
depende das Instituições e esta depende do seu trabalho,
a avaliação de desempenho individual, que variam conforme a
realmente podemos afirmar que ser gestor nesta conjuntura
abordagem dos autores. Entretanto, existem aspectos em que
requer conhecimento, maturidade, habilidade e competência
eles são convergentes, entre os quais estão a definição clara
para reunir todos estes atributos na arte de administrar. Dito
que possibilite a compreensão por todos e a sua utilização
de outra forma, administrar é a condução racional das
como ferramenta gerencial para a área de gestão de pessoas.
atividades de uma Instituição seja qual for o campo de atuação.
O ato de administrar envolve o planejamento e
A gestão de desempenho individual pode ser definida
monitoramento de todas as atividades diferenciadas pela
como um método que visa estabelecer um contrato com os
divisão de trabalho que ocorram dentro da Instituição. A
funcionários, para estabelecer os resultados esperados
capacidade de administrar é imprescindível para a existência,
pela organização, como ocorrerá o acompanhamento dos
sobrevivência e sucesso da Instituição, é preciso ser acima de
desafios propostos, a correção dos rumos, e avaliar os
tudo ser um gestor, um articulador de ideias.
resultados alcançados.
Neste sentido, a avaliação torna-se um instrumento para
subsidiar a gestão de desempenho e deve ser considerada
Como métodos básicos de avaliação do desempenho
parte integrante deste processo. A gestão de desempenho
individual podem ser citados três, que são utilizados conforme
envolve a reforma dos processos centrais de gerenciamento,
a escolha estratégica da empresa:
sendo, portanto, de responsabilidade dos gestores em cada
instituição, enquanto que a avaliação é vista como um método
- Avaliação Direta – o gestor deve emitir parecer sobre
especializado, frequentemente aplicado por especialistas ou
todo o pessoal que está sob sua responsabilidade direta. O
avaliadores externos. A maioria dos gestores vê a avaliação
ponto favorável é que o gerente imediato é quem melhor
como parte de uma estrutura mais ampla da gestão de
conhece o desempenho do funcionário. O ponto desfavorável é
desempenho, no entanto, o grau de integração entre avaliação
que a avaliação realizada pode ser contaminada por
e a gestão irá depender dos fins que se propõe com seus
disfunções na percepção gerencial, de acordo com a
resultados.
proximidade ou distanciamento que ele mantém com o
Várias abordagens sobre avaliação que partem de
avaliado.
premissas acerca da natureza do conhecimento avaliativo, da
possibilidade de criação de conhecimento confiável e quanto
- Avaliação conjunta – mostra a possibilidade de
ao melhor uso legitimo dos resultados. Não há um método
avaliador e avaliado conversarem sobre o seu desempenho e,
ideal de condução de uma avaliação, o papel da avaliação é
muitas vezes em conjunto, responderem a avaliação de
diferente em cada um dos processos de tomada de decisão e
desempenho. Tem a vantagem de ser uma prática rica por
aprendizagem, por exemplo, a avaliação econômica e
permitir um diálogo franco entre avaliador e avaliado sobre o
experimental usada para decisões orçamentárias e a avaliação
esperado e o obtido durante o período.
naturalista usada para melhoria de programas e projetos. A

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- Auto avaliação – o próprio avaliado realiza o julgamento mutuamente atendem aos objetivos da Instituição e às
sobre o seu desempenho, com base nos parâmetros aspirações do funcionário.
estabelecidos pela empresa. Este método tem como ponto A avaliação de desempenho pode ser considerada uma
favorável a diluição da centralização da avaliação. sistemática voltada para a apreciação do desempenho
individual do funcionário no exercício das atribuições
Essas técnicas de avaliação evoluíram de um modelo de inerentes a seu cargo. No Plano de Cargos, Carreira e
avaliação unilateral, onde o gerente realizava um diagnóstico Vencimentos dos Servidores Públicos (federal, estadual ou
dos pontos fortes e fracos do subordinado, para modelos de municipal) geralmente, a avaliação do desempenho é
avaliação bilateral, em que gerente e subordinado discutem concebida como instrumento técnico gerencial destinado a
em conjunto o desempenho do último, para a avaliação 360º aferir, de forma objetiva, o grau de eficiência do servidor no
que se utiliza de múltiplas fontes, ou seja, a avaliação do desempenho das atribuições do seu cargo. Usualmente, a
empregado por diversas pessoas envolvidas no trabalho, como forma mais adotada é o próprio superior hierárquico proceder
gerentes, pares, subordinados e, também, a opinião do cliente. à avaliação do desempenho de cada servidor, aferindo o
Entretanto, Resende adverte que a opinião do cliente interno e desempenho funcional. Os objetivos principais em relação ao
externo somente pode ser utilizada se as relações estiverem desempenho dos servidores na maioria são:
bem definidas e houver amadurecimento cultural para que - adequação do funcionário ao cargo;
isso ocorra. Caso contrário, podem ocorrer traumas de gestão - identificação das necessidades de treinamento;
que colocam os sistemas que estão sendo implementados e a - promoções, incentivo salarial ao bom desempenho;
direção da empresa sob o foco da descrença, tendo - melhoria do relacionamento entre o chefe e subordinado;
consequências antônimas às que foram planejadas para os - auto aperfeiçoamento do funcionário;
resultados organizacionais. - estimativa do potencial de desenvolvimento dos
Outro fator relevante é a clareza das etapas do processo de funcionários;
avaliação de desempenho que normalmente segue algumas - estímulo à maior produtividade;
etapas para ser realizada: - oportunidade de conhecimento dos padrões de
Etapa 1: Definição do Sistema da Avaliação de desempenho da instituição;
Desempenho, nessa etapa é realizada um mapeamento dos - feedback ao próprio indivíduo avaliado;
indicadores/objetivos da avaliação. - decisões sobre transferências, dispensas e progressão/
Etapa 2: Construção e validação do formulário de ascensão funcional.
avaliação, ocorre a elaboração do material a ser utilizado no
processo avaliativo. A avaliação de desempenho propiciará os seguintes
Etapa 3: Sensibilização, ocorre a conscientização e benefícios:
preparação de avaliadores e avaliados. a) para os gestores: contar com um sistema de medição
Etapa 4: Aplicação da Avaliação de Desempenho, é a capaz de neutralizar a subjetividade; melhorar o padrão de
aplicação efetiva do projeto. desempenho dos funcionários; melhorar a comunicação.
Etapa 5: Apresentação do Resultado da Avaliação de b) para os funcionários: conhecer as regras institucionais;
Desempenho, ocorre a entrevista de feedback aos avaliados. conhecer as expectativas da Instituição e do chefe; oportuniza
a auto avaliação e autocrítica do seu desempenho.
Para Stoffel a avaliação do desempenho deve ser um c) para a Instituição: avalia seu potencial humano e a
processo participativo, dinâmico, contínuo e sistematizado. contribuição de cada empregado; identifica os empregados
Participativo para ter a participação do gestor de equipe e dos que necessitam de capacitação; dinamiza a política de recursos
integrantes da equipe na negociação democrática de um plano humanos; defini o grau de contribuição de cada servidor para
de trabalho viável e ambicioso, que tenha como foco principal a instituição; identifica os desempenhos conforme qualificação
a consecução das metas organizacionais. Dinâmico para requerida pelo cargo que exerce; identifica em que medida os
considerar a evolução dos fatos e o contexto no qual estão programas de treinamento têm contribuído para a melhoria
inseridos, com flexibilidade suficiente para permitir ajustes do desempenho dos servidores; obtêm subsídios para
que se fizerem necessários à melhoria do próprio processo e redefinir o perfil requerido dos ocupantes dos cargos e
de seus resultados. Contínuo para ter caráter de ação promoção; subsídios para elaboração de planos de ação para
permanente, de forma que qualquer descontinuidade pode desempenhos insatisfatórios.
eliminar os ganhos obtidos até então e substituí-los por
sensações de descrédito e desconfiança dos funcionários para Atualmente as avaliações de desempenho podem ser
com o sistema de gestão da empresa. E sistematizado para ser desenvolvidas pelos seguintes agentes:
um procedimento metodológico com características, etapas e
sequência bem definidas e objetivos pré-estabelecidos. ∗ Chefe imediato/gerente – ninguém melhor que o chefe
imediato para avaliar o empregado. Todavia favorece a
Os modelos de avaliação de desempenho existente subjetividade, podendo desvirtuar dos objetivos de toda a
Instituição.
A sistemática de avaliação de desempenho, como ∗ Próprio servidor – exige amplo grau de abertura da
instrumento complementar a política salarial é representada Instituição e de maturidade do empregado. Requer
na forma de apreciação do desempenho do indivíduo na sua determinação de parâmetros objetivos.
função, posicionando-o individualmente, na escala ou ∗ Equipe de trabalho – avalia o desempenho, define
estrutura impessoal de salários. objetivos e metas. Requer suficiente maturidade.
Recebe diferentes denominações, tais como: avaliação de ∗ Comissão de avaliação – constituída por membros de
mérito, avaliação dos funcionários, relatórios de progresso, diversas áreas da Instituição que têm poder de decisão.
avaliação da eficiência funcional e outros termos equivalentes. Desenvolvem padrões de julgamento mais homogêneo.
Já o instrumento de plano de carreiras define as carreiras ou ∗ Servidores – “avaliação invertida”. Possibilita o chefe
agrupamento de cargos, inerentes a uma organização, de conhecer a opinião do empregado a seu respeito. Pode
forma a indicar, a cada empregado ou funcionário, os modelos transformar-se num mero canal de insatisfação, com críticas
de que dispõe para seu desenvolvimento. É um processo que não acrescentam aspectos positivos.
continuo de interação entre o funcionário e a instituição do ∗ Órgão de Recursos Humanos – trata-se de modalidade
qual resultam passos selecionados e o caminho que bastante centralizadora. Proporciona pouca liberdade aos

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avaliadores. Padroniza o desempenho das pessoas, - Objetivo 1 - Adequar os funcionários ao cargo.


desprezando suas peculiaridades. Meta 1 – Desenvolver estudo avaliativo sobre a formação e
∗ Entorno do avaliado – é uma técnica recente que titulação do servidor para saber a adequação de sua formação
procura envolver todos os agentes do processo. Uma delas é com a função ou cargo que exerce.
denominada “Avaliação 360 Graus”. A pessoa é avaliada por Indicador 1- Quantidade de servidores exercendo cargos
todos que mantêm interação: chefe, colegas, subordinados, compatíveis com formação e titulação acadêmica.
clientes externo e interno e fornecedores. Sua aplicação é
trabalhosa, mas fornece um amplo feedback. Por outro lado, pode surgir os chamados indicadores
indiretos, que emergem da forma em que o desempenho do
Não obstante, a avaliação é um processo de análise de servidor se expressa. Neste caso, a relação entre indicador e
resultados das políticas públicas institucionais, organizações, meta apresenta um caráter probabilístico e não tem
de programas e desempenhos que enfatizam a confiabilidade implicação lógica, isto porque, torna-se mais conveniente
e a utilidade das informações. Destina-se a colher melhores incrementar o número de indicadores de uma meta para
dados e reduzir as incertezas. Contudo, mesmo mediante a aumentar a probabilidade de conseguir uma medição
aplicação dos rigorosos métodos, as avaliações sempre estarão adequada.
sujeitas a algum grau de julgamento subjetivo. Uma instância
central do processo de avaliação consiste em determinar o Objetivo 1 - Adequar os funcionários ao cargo.
grau em que foram alcançadas as finalidades de um plano, Meta 1 – Desenvolver estudo avaliativo sobre a formação e
programa ou projeto. Isto requer dimensionar o objetivo em titulação do servidor para saber a adequação de sua formação
ações específicas, os quais terá metas, cuja obtenção será com a função ou cargo que exerce.
medida através de indicadores. Indicador 1 – Índice de servidor ocupando cargo
O conceito tradicional de meta é a representação indevidamente.
quantificada de um objetivo (baliza, barreira, marco, limite,
alvo, mira, objetivo, termo, limite, fim), isto é, meta é um Os indicadores da avaliação não surgem necessariamente
objetivo temporal, espacial e quantitativamente da programação realizada. Ainda que na formulação do Plano
dimensionado. Numa visão contemporânea a meta é tenham sido considerados as metas e indicadores
considerada a dimensionalização operacional dos objetivos determinados. Pode ocorrer que as metas tenham sido mal
específicos, que traduz o significado correto da operação que estabelecidas e os indicadores incorretamente definidos. Mas
se utiliza. Exemplificando a partir dos objetivos de Plano de isto não constitui uma restrição para a avaliação. Seu principal
Cargos, Carreira e Vencimento: referencial não é a programação, e sim o comportamento da
realidade como consequência da ação (plano). O objetivo da
- Objetivo 1 - Adequar os funcionários ao cargo. avaliação é verificar de que modo, em que medida foi
Meta 1 – Desenvolver estudo avaliativo sobre a formação e produzida as transformações no grupo afetado - pelo
titulação do servidor para saber a adequação de sua formação plano. A partir dessas observações é possível determinar
com a função ou cargo que exerce. quais são os indicadores (indiretos) válidos para a avaliação.
- Objetivo 2 - Identificar as necessidades de treinamento. A literatura disponibiliza vários modelos de avaliação de
Meta 2 – Promover cursos de formação continuada visando desempenho, e a avaliação de mérito, modelo que enfatiza os
promoções, incentivo salarial ao bom desempenho. critérios de desempenho, idealizado por Michael Scriven, que
define a avaliação uma atividade metodológica de coleta e
Qualquer processo de avaliação pressupõe o uso de fontes análise de dados relativos ao desempenho. Para isso, usa-se
de informação apropriadas que fornecem um conjunto de um conjunto ponderado de escalas e critérios que possibilite
dados e referências descritivas úteis para caracterizar os classificações comparativas ou numéricas.
indicadores de qualidade. Um dos princípios que podemos A maioria das instituições centra, atualmente, avaliação
estabelecer no processo avaliativo é que um indicador possa numa série de instrumentos registrados periodicamente em
estar associado, simultaneamente, a vários aspectos do forma de questionários contemplando como parâmetros listas
desempenho funcional. Neste sentido, cada indicador deverá de atributos pessoais e profissionais, seguido de valores
ser associado ao critério que estabelece, de forma detalhada, a escalares cuja função é valorar a performance do servidor
situação desejável de cada indicador. O juízo de valor sobre o (funcionário; docente ou outras categorias). O resultado desse
grau de atendimento de cada critério deverá ser construído a processo, via de regra automatizada, estabelece níveis
partir das múltiplas fontes de informações disponíveis com a diferenciados de desempenho entre as pessoas, conforme as
aplicação de técnicas e instrumentos, tais como: questionários categorias associadas à escala estabelecida para cada
de avaliação de desempenho, entrevistas e reuniões grupais, instrumento, os mais usados (ótimos, regulares e péssimos)
informações de caráter qualitativo e quantitativo, associados a uma escala 1, 2, 3,
observações, entre outros. Certamente este modelo tem gerado insatisfações entre os
Na avaliação, o indicador é a unidade que permite medir o avaliados, comprometendo a credibilidade das instituições e
alcance de um objetivo especifico. Distingue-se em indicadores os fins do processo avaliativo, pois são questionados pela falta
diretos e indiretos. de objetividade, pela burocratização do processo, além da
Indicadores diretos traduzem a obtenção do objetivo probabilidade de distorções e fatores que induzem
específico em uma relação de implicação lógica. Exemplo: Se interpretações tendenciosas e injustas. No entanto, um
aumentar à produtividade do servidor público, é um objetivo sistema de avaliação adequado cumpre além da função de
institucional, sua definição já determinou o indicador, que é escolher e selecionar os futuros líderes constitui num
“produtividade funcional” que mostrará as variações para instrumento de promoção do crescimento pessoal e
mais ou para menos que ocorreram nas realizações do profissional das pessoas. Os maiores problemas de
avaliado. Esta variação expressa o efeito do Plano de Cargo, gerenciamento acontecem quando as instituições imputam
Carreiro e Vencimento, por exemplo, como elemento aos seus servidores a responsabilidade pelo mau desempenho.
motivador ou não da melhoria do desempenho funcional. Vários estudos têm demonstrado que na realidade esse
insucesso advém do processo de gestão, ou do próprio sistema,
não sendo, portanto de responsabilidade dos servidores, mas
de gerência.

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Para saber mais... Indicadores de desempenho - 6 Es do Desempenho


Conceito79
O modelo dos 6 Es de desempenho constitui-se nas
Os indicadores são instrumentos de gestão essenciais nas dimensões de esforços que serão despendidos considerando
atividades de monitoramento e avaliação das organizações, os resultados desdobrados em outras dimensões do
assim como seus projetos, programas e políticas, pois desempenho. As dimensões de esforço são economicidade,
permitem acompanhar o alcance das metas, identificar execução e excelência; e as dimensões de resultado são
avanços, melhorias de qualidade, correção de problemas, eficiência, eficácia e efetividade.
necessidades de mudança etc.
Quantidade e qualidade dos indicadores selecionados
Pode-se dizer que os indicadores possuem,
minimamente, duas funções básicas: Quantidade: Para o trabalho com indicadores de
- a primeira é descrever por meio da geração de desempenho deve-se esquecer o mito da “Medição absoluta”.
informações o estado real dos acontecimentos e o seu Não é necessário monitorar e controlar tudo e todos ao mesmo
comportamento; tempo e na mesma hora. A postura correta é a alta seletividade.
- a segunda é de caráter valorativo que consiste em Medir apenas o que é importante e significativo. A quantidade
analisar as informações presentes com base nas ideal sofrerá mudanças pelo nível de amadurecimento da
anteriores de forma a realizar proposições valorativas. instituição no tratamento das questões que envolvem
avaliação de performance e desempenho.
Objetivo dos indicadores Pode-se começar com poucos indicadores, medindo
apenas os processos básicos, e ir aumentando gradativamente
Dessa forma os indicadores servem para: à medida que haja melhor sensibilidade institucional ao trato
- mensurar os resultados e gerir o desempenho; desse assunto.
- embasar a análise crítica dos resultados obtidos e do
processo de tomada decisão; Qualidade: As medidas devem ser úteis, fazer sentido para
- contribuir para a melhoria contínua dos processos orientar a gestão no dia a dia. A medição tem que ser orientada
organizacionais; para a melhoria do desempenho e a melhoria do desempenho
- facilitar o planejamento e o controle do desempenho; e tem que ser orientada pela medição. Se com a medição
- viabilizar a análise comparativa do desempenho da consegue-se extrair informações de gestão, ele terá qualidade.
organização.
E como fica a Avaliação de Desempenho nas escolas?
Elementos essenciais para a elaboração dos
indicadores Avaliação da aprendizagem

- Os indicadores devem contribuir de forma explícita para A avaliação apresenta-se como uma das questões mais
o cumprimento dos objetivos estratégicos (Mapa estratégico); controversas no processo de ensino aprendizagem, isto
- Devem estar intimamente relacionados às principais porque comumente avaliamos, considerando sempre a
conclusões do processo de elaboração do Planejamento realidade como algo objetivo e estável. Nesse enfoque, a
(pontos fracos, pontos fortes, oportunidades e ameaças); avaliação assume a finalidade de proporcionar uma visão
- Devem medir performance e não atividade; retrospectiva e/ou pontual sobre a aprendizagem e medir o
- Devem custar o mínimo possível e ter o máximo de que foi aprendido, legitimando a função de: recapitulação
justificativa possível; (armazenamento) e seleção social (promoção do aluno).
- Devem ser simples e de preferência exigir pouca ou A proposta de avaliação da aprendizagem, é realizada em
nenhuma explicação; função dos objetivos expressos nos planos de cursos,
- Devem permitir fixação de metas e autonomia na considerando os aspectos cognitivos, afetivos e psicossociais
obtenção das mesmas; do educando, apresentando-se em três momentos avaliativos:
- A interpretação dos dados deve subsidiar o processo diagnóstico, formativo e somativo, além de momentos
decisório. coletivos de auto e heteroavaliação entre os sujeitos do
processo de ensino e aprendizagem.
A cadeia de Valor e os 6Es do desempenho
Mensurar o desempenho da organização com base nos A avaliação diagnóstica define estratégias para detectar os
elementos da cadeia de valor permite que as organizações conhecimentos prévios dos alunos, em função do
analisem suas principais variáveis associadas ao cumprimento planejamento do professor, para que este possa estruturar e
dos seus objetivos: quantos e quais insumos são requeridos, adequar as suas atividades, ao longo do curso, às necessidades
quais ações são executadas, quantos e quais produtos/serviços de aprendizagem dos alunos.
são entregues e quais os impactos finais alcançados.
A avaliação formativa ajusta, constantemente, o processo
Cadeia de valor: de ensino e o de aprendizagem para adequar-se à evolução dos
alunos, a fim de orientar as ações educativas, de acordo com o
A cadeia de valor é definida como o levantamento de toda que será detectado na prática, mediante a observação contínua
a ação ou processo necessário para gerar ou entregar produtos e permanente.
ou serviços a um beneficiário. É a representação das atividades
de uma organização e permite melhor visualização do valor ou A avaliação somativa reconhece, quantitativamente, se os
do benefício agregado no processo. O modelo da cadeia de alunos alcançaram os resultados esperados, por meio dos mais
valor mensura o que se deve realizar para se produzir um variados instrumentos de avaliação (provas, trabalhos,
resultado significativo no futuro. pesquisas, projetos, TCC, prática profissional etc.).

79 http://www.antaq.gov.br/

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Na auto avaliação, o aluno analisa junto ao professor os - Garantir a primazia da avaliação formativa, valorizando
êxitos e fracassos do processo ensino aprendizagem, os aspectos (cognitivo, psicomotor, afetivo) e as funções
observando o material didático, a metodologia e o seu próprio (reflexiva e crítica), como caráter dialógico e emancipatório;
desempenho. - Instituir o conselho de classe como fórum permanente de
análise, discussão e decisão para o acompanhamento dos
Esse entendimento conflui na ideia da necessidade de se resultados do processo de ensino e aprendizagem;
estabelecer estratégias na formação do desempenho do aluno, - Desenvolver um processo mútuo de avaliação
para o desenvolvimento de competências, habilidades, valores docente/discente como mecanismo de viabilização da
e atitudes, ao longo do processo de ensino e aprendizagem. melhoria da qualidade do ensino e dos resultados de
Para isso, a adoção de parâmetros individuais e coletivos aprendizagem.
de desempenho dos alunos é necessária, como forma de
relacionar aos aspectos cognitivos, emocionais e sociais, Avaliação de desempenho – alunos e ensino
consequentes da ação educativa. Assim, deverão ser criados
espaços para a recuperação contínua da aprendizagem dos Todo e qualquer projeto necessita prever mecanismos de
alunos em dificuldade de acompanhamento de estudos, por acompanhamento e avaliação que possam lhe permitir a
meio de várias técnicas e instrumentos avaliativos, de forma “segurança” da sua implementação.
que estes avancem sempre junto aos demais, procurando A vivência de um Projeto Político Pedagógico pressupõe
evitar a reprovação e/ou exclusão. que seu coletivo esteja em constante e democrático processo
Em síntese, a avaliação de aprendizagem deve ser uma de avaliação, cujas bases são a crítica institucional e a criação
estratégia pedagógica substancialmente voltada para o coletiva, com vistas ao aperfeiçoamento de sua política e à
direito de aprender. Aprender implica esforço reconstrutivo emancipação de seus atores.
político, que privilegia atividades de pesquisa e elaboração Em consonância com o Plano Nacional de Educação, faz-se
própria, habilidades de argumentação e autonomia, saber necessário considerar alguns princípios que contribuirão para
pensar crítica e autocriticamente, produção de textos e a garantia de resultados positivos, no decorrer da
materiais inteligentes, com participação ativa envolvente. No implementação do Projeto Político Pedagógico, quais sejam:
dizer de Demo a aprendizagem é marcada profundamente pela - Visão ampla do processo educativo;
virtude de trabalhar os limites em nome dos desafios e os - Universalização do acesso à escola para todos;
desafios dentro dos limites”, a aprendizagem é, no seu âmago, - Busca de padrão de qualidade;
expressão política e ética. - Compromisso de longo prazo;
Enfim, o processo de avaliação de aprendizagem, coerente - Busca de integração (via princípio de colaboração) com
com a proposta seu Projeto Político Pedagógico, estabelecerá outros agentes institucionais;
estratégias pedagógicas que assegurem uma prática avaliativa - Instituição e fortalecimento de canais de participação
a serviço de uma ação democrática, por meio de instrumentos popular e democratização da gestão;
e técnicas que concretizem resultados em benefício do - Abrangência/articulação com todos os níveis e
processo ensino-aprendizagem - prova escrita e oral; modalidades de ensino;
observação; auto avaliação; trabalhos individuais e em grupo; - Busca de parcerias e intercâmbios;
portfólio; projetos e conselho de classe, sobrepondo-se este - Humanização das relações.
como espaço privilegiado de avaliação coletiva. O conselho é,
por excelência, espaço dialético com enorme potencial Dessa forma, o Projeto Político Pedagógico requer a
pedagógico e guarda em si a possibilidade de articular os previsão de instâncias em condições de promover adaptações
diversos segmentos da escola, objetivando avaliar o seu e medidas corretivas na sua operacionalização, de
processo de ensino/aprendizagem. Para tanto, dar-se-á conformidade com as mudanças e exigências da dinâmica da
relevância às ações que se seguem: realidade, por meio de um salutar acompanhamento e de uma
- Assegurar práticas avaliativas emancipatórias, como constante avaliação no itinerário do desenvolvimento de suas
instrumentos de diagnóstico e acompanhamento do processo ações.
de ensino e aprendizagem, tendo como pressupostos o diálogo Torna-se imperativa a criação de um processo contínuo e
e a pesquisa; permanente de ação/reflexão/ação como suporte da
- Contribuir para a melhoria da qualidade do processo consecução do Projeto Político Pedagógico, de forma que sua
educativo, possibilitando a tomada de decisões para o tradução possa se dar, na prática pedagógica, em sala de aula.
(re)dimensionamento e o aperfeiçoamento do mesmo; Sendo o P.P.P um projeto de cunho institucional, seu
- Assegurar a consistência entre os processos de avaliação processo de acompanhamento e avaliação deve ter correlação
e a aprendizagem pretendida, através da utilização de formas direta com a Comissão Própria de Avaliação – CPA- na
e instrumentos diversificados, de acordo com a natureza dessa perspectiva de extrair elementos do desempenho institucional
aprendizagem e dos contextos em que ocorrem; que favoreçam sempre a melhoria da qualidade dos seus
- Assegurar as formas de participação dos alunos como resultados. Para tanto, é imperativo constituir um grupo de
construtores de sua aprendizagem; coordenação que, no âmbito da instituição, mantenha um
- Assegurar o aproveitamento de estudos concluídos com trabalho periódico envolvendo atividades tais como:
êxito; Contrastar quantidades e/ou qualidades, qualificar
- Assegurar estudos de recuperação paralela ao período desempenhos, acompanhar metas, comparar situações,
letivo, em todos os cursos ofertados; comparar dinâmicas, propor padrões, distribuir expectativas,
- Diagnosticar as causas determinantes das dificuldades de permitir/suspender entrada/progressão, evitar excessos e
aprendizagem, para possível redimensionamento das práticas prevenir.
educativas; O delineamento de uma sistemática de acompanhamento e
- Diagnosticar as deficiências da organização do processo avaliação para esse P.P.P.I é a evidência da responsabilidade
de ensino, possibilitando reformulação para corrigi-lo; social que o Instituto assume no desenvolvimento das
- Estabelecer um conjunto de procedimentos que atribuições que lhes são postas pelo poder público federal, na
permitam traduzir os resultados em termos quantitativos; consecução da educação profissional. Para atendimento a uma
- Adotar transparência no processo de avaliação, proposição de tamanha envergadura torna-se imperativo:
explicitando os critérios (o que, como e para que avaliar) numa - Constituir um sistema de monitoramento e controle que
perspectiva conjunta e interativa, para alunos e professores; permita identificar os sucessos, lacunas, desvios e perdas na

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prática pedagógica, a fim de possibilitar a indicação de contextos interno e externo dessa Instituição Federal de
alternativas que concretizem melhorias e qualidades do Educação.
processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, as diretrizes de avaliação, em consonância
- Estabelecer sistemas de acompanhamento e avaliação do com as premissas oriundas das impressões iniciais da
PPP, em conjunto com a CPA, com participação representativa Comissão Própria de Avaliação (CPA) do Centro de Ensino,
dos segmentos que compõem a comunidade escolar; explicitam a tendência de nortear seu processo de
- Organizar sistemas de informações estatísticas e de avaliação/auto avaliação num plano participativo, envolvendo
divulgação das avaliações da política e dos resultados das todos os segmentos da comunidade acadêmica, baseado nos
ações político pedagógicas no ensino. seguintes eixos: estrutura organizacional, desenvolvimento do
- Avaliar a destinação dos recursos da instituição na ensino, infraestrutura física e de equipamentos, e relações
manutenção e desenvolvimento do ensino, verificando suas intra e interinstitucionais.
consequências sobre a democratização e a qualidade do O percurso reflexivo feito através desses quatro eixos
ensino, que desenvolve em todos os níveis e modalidades; revelará, além do nível das experiências vivenciadas, os
- Desencadear ações de parcerias e intercâmbios na conhecimentos disseminados ao longo do processo de
execução de programas de avaliação externa do rendimento formação profissional e a interação entre os cursos e os
escolar; contextos: local, regional e nacional. Enfim, a avaliação deve
- Promover a avaliação da política educacional, através dos apresentar: a coerência interna entre seus elementos
indicadores de qualidade; constituintes, a pertinência da estrutura curricular em relação
- Considerar, dentre outros meios, os dados e análises ao perfil desejado, o desempenho profissional e social do
qualitativas e quantitativas fornecidos pelos sistemas de egresso, com vistas a possibilitar a viabilização das mudanças
avaliação já operados pelo MEC e pelas instituições e de forma sistemática e sistêmica.
organizações que produzem estudos no campo educacional;
- Definir instrumentos e procedimentos de avaliação; Questões
- Subsidiar a revisão e ajustes das metas e ações, num
contínuo processo de aperfeiçoamento; 01. (Prefeitura de Jacareacanga/PA - Técnico em
- Publicizar os resultados obtidos; Recursos Humanos - FADESP) Avaliação de Desempenho é
- Instituir mecanismos de avaliação do desempenho (A) um sistema formal de revisão e avaliação do
docente pelo corpo discente. desempenho das pessoas ou equipes de trabalho.
(B) o modo de vigiar os funcionários em suas atividades
Diretrizes para a avaliação e acompanhamento profissionais.
(C) o trabalho feito para definir os padrões de
A intencionalidade da avaliação está na possibilidade de desligamento de funcionários.
fazer uma instituição que, verdadeiramente, eduque a todos (D) atividade exclusiva dos chefes em relação a seus
que a ela tenha acesso, superando, não só os efeitos perversos subordinados.
das retenções e evasões, mas que lhes assegure o acesso crítico
ao mundo dos conhecimentos, bem como o desenvolvimento 02. (PROCON/RJ - Agente administrativo - CEPERJ) A
de uma consciência cidadã que lhes permita enfrentar os avaliação de desempenho tem como objetivos
desafios do mundo contemporâneo, interpretando-o como fundamentais:
uma perspectiva de futuro, buscando intervir no mundo real (A) desenvolver lideranças, ampliar cargos e rotacionar
para transformá-lo qualitativamente. pessoas
A consecução de um empreendimento desta ordem requer (B) estabelecer recompensas grupais, definir autonomias e
uma sistemática de acompanhamento que extrapole a designar tarefas
apreciação individualizada dos agentes diretos do processo (C) integrar pessoas, triar candidatos e planejar carreiras
escolar. É fundamental que a comunidade acadêmica institua (D) medir o potencial humano, desenvolver a capacidade
uma cultura de avaliação sistemática e processual, que traga produtiva e fornecer oportunidade de crescimento
elementos substantivos para a melhoria da qualidade do (E) medir a efetividade operacional, integrar equipes e
trabalho que desenvolve. descrever cargos
No plano institucional, as diretrizes que se estabelecem
para a avaliação da instituição, coerentemente com as 03. (TJ/AP - Analista Judiciário - Área de Apoio
premissas que lhe dão sustentação, assumem a dimensão Especializado – Psicólogo - FCC) Um dos propósitos da
emancipatória, compreendendo a função e/ou sentido entrevista de avaliação do desempenho é
pedagógico da instituição, onde seus próprios atores devem (A) informar de modo preciso se o funcionário tem ou não
assumir o protagonismo desse processo avaliativo. A condições de permanecer na empresa.
avaliação, portanto, [...] visa engajar os agentes da ação (B) dar ao avaliado as condições de melhorar seu trabalho
educativa [...] num processo de autocrítica e de transformação, por meio de comunicação clara e inequívoca de seu padrão de
comprometendo-os com o delineamento e com a execução de um desempenho.
projeto [...], onde a participação garante o envolvimento (C) diagnosticar o potencial do colaborador visando
daqueles que vivem o cotidiano da instituição, na sua construção remunerá-lo dentro dos padrões praticados no mercado.
e/ou reconstrução. (D) fornecer subsídios à empresa e ao mercado de como
Vinculada ao sistema de avaliação global da educação seus empregados são analisados por todos os stakholders.
superior no Brasil, instituído pela Lei Federal Nº 10.861/2004, (E) disciplinar os empregados a compreenderem aquilo
a concepção de avaliação institucional, centrada naquilo que é que realmente devem realizar em seus trabalhos.
missão e destacada nesse PPI, aponta para a necessidade de
aperfeiçoar e redimensionar, atitudinalmente, as ações de uma 04. (TRT/MG - Analista Judiciário - Área
gestão e suas relações com a sociedade. O processo avaliativo administrativa - FCC) O método de avaliação de desempenho
institucional objetiva, periódica e processualmente, coletar, mais adequado para assegurar o ajustamento de funcionário
organizar, analisar e interpretar dados de natureza quali- às demandas que ele recebe do ambiente interno e externo à
quantitativa, relativos à efetividade do ensino, com vistas à organização é a advinda da
melhoria do processo educativo global, o qual envolve os (A) comissão de avaliação de desempenho.
(B) avaliação para cima.

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(C) avaliação 360°. conteúdo mais rico, a avaliação constitui uma operação
(D) auto avaliação. indispensável em qualquer sistema escolar.
(E) avaliação gerencial. Havendo sempre, no processo de ensino/aprendizagem,
um caminho a seguir entre um ponto de partida e um ponto de
05. (UFPA – Psicólogo - Área: Organizacional e do chegada, naturalmente que é necessário verificar se o trajeto
Trabalho - UFPA/2017) A ferramenta de avaliação de está a decorrer em direção à meta, se alguns pararam por não
desempenho que propõe a utilização de múltiplas fontes, ou saber o caminho ou por terem enveredado por um desvio
seja, a avaliação do empregado por clientes, pares, chefe e errado.
subordinados, incluindo sua auto avaliação, conforme É essa informação, sobre o progresso de grupos e de cada
discutido por Edwards e Ewen (1996), é denominada de um dos seus membros, que a avaliação tenta recolher e que é
(A) avaliação bilateral. necessária a professores e alunos.
(B) avaliação global de desempenho. A avaliação descreve que conhecimentos, atitudes ou
(C) modelo de avaliação de mão única. aptidões que os alunos adquiriram, ou seja, que objetivos do
(D) avaliação 360 graus. ensino já atingiram num determinado ponto de percurso e que
(E) avaliação multifatorial de desempenho. dificuldades estão a revelar relativamente a outros.
Esta informação é necessária ao professor para procurar
Gabarito meios e estratégias que possam ajudar os alunos a resolver
01.A / 02. D / 03. B / 04. C / 05. D essas dificuldades e é necessária aos alunos para se
aperceberem delas (não podem os alunos identificar
Avaliação - Aprendizagem claramente as suas próprias dificuldades num campo que
desconhecem) e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do
A avaliação80, tal como concebida e vivenciada na maioria professor e com o próprio esforço. Por isso, a avaliação tem
das escolas brasileiras, tem se constituído no principal uma intenção formativa.
mecanismo de sustentação da lógica de organização do A avaliação proporciona também o apoio a um processo a
trabalho escolar e, portanto, legitimador do fracasso, decorrer, contribuindo para a obtenção de produtos ou
ocupando mesmo o papel central nas relações que resultados de aprendizagem.
estabelecem entre si os profissionais da educação, alunos e
pais. As avaliações a que o professor procede enquadram-se
Os métodos de avaliação ocupam, sem dúvida espaço em três grandes tipos: avaliação diagnostica, formativa e
relevante no conjunto das práticas pedagógicas aplicadas ao somativa.
processo de ensino e aprendizagem. Avaliar, neste contexto,
não se resume à mecânica do conceito formal e estatístico; não Evolução da avaliação
é simplesmente atribuir notas, obrigatórias à decisão de A partir do início do século XX, a avaliação vem
avanço ou retenção em determinadas disciplinas. atravessando pelo menos quatro gerações, conforme Guba e
Para Oliveira81, devem representar as avaliações aqueles Lincoln82 são elas: mensuração, descritiva, julgamento e
instrumentos imprescindíveis à verificação do aprendizado negociação.
efetivamente realizado pelo aluno, ao mesmo tempo que 1 – Mensuração – não distinguia avaliação e medida. Nessa
forneçam subsídios ao trabalho docente, direcionando o fase, era preocupação dos estudiosos a elaboração de
esforço empreendido no processo de ensino e aprendizagem instrumentos ou testes para verificação do rendimento
de forma a contemplar a melhor abordagem pedagógica e o escolar. O papel do avaliador era, então, eminentemente
mais pertinente método didático adequado à disciplina – mas técnico e, neste sentido, testes e exames eram indispensáveis
não somente -, à medida que consideram, igualmente, o na classificação de alunos para se determinar seu progresso.
contexto sócio-político no qual o grupo está inserido e as 2 – Descritiva – essa geração surgiu em busca de melhor
condições individuais do aluno, sempre que possível. entendimento do objetivo da avaliação. Conforme os
A avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de estudiosos, a geração anterior só oferecia informações sobre o
decisão e a melhoria da qualidade de ensino, informando as aluno.
ações em desenvolvimento e a necessidade de regulações Precisavam ser obtidos dados em função dos objetivos por
constantes. parte dos alunos envolvidos nos programas escolares, sendo
necessário descrever o que seria sucesso ou dificuldade com
Origem da avaliação relação aos objetivos estabelecidos.
Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor Neste sentido o avaliador estava muito mais concentrado
e mérito ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um em descrever padrões e critérios. Foi nessa fase que surgiu o
juízo de valor sobre a propriedade de um processo para a termo “avaliação educacional”.
aferição da qualidade do seu resultado, porém, a compreensão 3 – Julgamento – a terceira geração questionava os testes
do processo de avaliação do processo ensino/aprendizagem tem padronizados e o reducionismo da noção simplista de
sido pautada pela lógica da mensuração, isto é, associa-se o ato avaliação como sinônimo de medida; tinha como preocupação
de avaliar ao de “medir” os conhecimentos adquiridos pelos maior o julgamento.
alunos. Neste sentido, o avaliador assumiria o papel de juiz,
A avaliação da aprendizagem tem seus princípios e incorporando, contudo, o que se havia preservado de
características no campo da Psicologia, sendo que as duas fundamental das gerações anteriores, em termos de
primeiras décadas do século XX foram marcadas pelo mensuração e descrição.
desenvolvimento de testes padronizados para medir as Assim, o julgamento passou a ser elemento crucial do
habilidades e aptidões dos alunos. processo avaliativo, pois não só importava medir e descrever,
A avaliação é uma operação descritiva e informativa nos era preciso julgar sobre o conjunto de todas as dimensões do
meios que emprega, formativa na intenção que lhe preside e objeto, inclusive sobre os próprios objetivos.
independente face à classificação. De âmbito mais vasto e 4 – Negociação – nesta geração, a avaliação é um processo
interativo, negociado, que se fundamenta num paradigma

80 Texto adaptado de KRAEMER, M. E. P. 82 FIRME, Tereza Penna. Avaliação: tendências e tendenciosidades. Avaliação
81 OLIVEIRA, I. B. Currículos praticados: entre a regulação e a emancipação. v Políticas Públicas Educacionais, Rio de Janeiro,1994.
Rio de Janeiro: DP & A, 2003.

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construtivista. Para Guba e Lincoln é uma forma responsiva de Pode ser chamada também de função creditativa. Também
enfocar e um modo construtivista de fazer. tem o propósito de classificar os alunos ao final de um período
A avaliação é responsiva porque, diferentemente das de aprendizagem, de acordo com os níveis de aproveitamento.
alternativas anteriores que partem inicialmente de
variáveis, objetivos, tipos de decisão e outros, ela se situa e A avaliação somativa pretende ajuizar do progresso
desenvolve a partir de preocupações, proposições ou realizado pelo aluno no final de uma unidade de
controvérsias em relação ao objetivo da avaliação, seja ele aprendizagem, no sentido de aferir resultados já colhidos
um programa, projeto, curso ou outro foco de atenção. Ela por avaliações do tipo formativa e obter indicadores que
é construtivista em substituição ao modelo científico, que permitem aperfeiçoar o processo de ensino. Corresponde a
tem caracterizado, de um modo geral, as avaliações mais um balanço final, a uma visão de conjunto relativamente a
prestigiadas neste século. um todo sobre o qual, até aí, só haviam sido feitos juízos
Neste sentido, Souza diz que a finalidade da avaliação, de parcelares.
acordo com a quarta geração, é fornecer, sobre o processo
pedagógico, informações que permitam aos agentes escolares Objetivos da avaliação
decidir sobre as intervenções e redirecionamentos que se Na visão de Miras e Solé, os objetivos da avaliação são
fizerem necessários em face do projeto educativo, definido traçados em torno de duas possibilidades: emissão de “um
coletivamente, e comprometido com a garantia da juízo sobre uma pessoa, um fenômeno, uma situação ou um
aprendizagem do aluno. Converte-se, então, em um objeto, em função de distintos critérios”, e “obtenção de
instrumento referencial e de apoio às definições de natureza informações úteis para tomar alguma decisão”.
pedagógica, administrativa e estrutural, que se concretiza por Para Nérici, a avaliação é uma etapa de um procedimento
meio de relações partilhadas e cooperativas. maior que incluiria uma verificação prévia. A avaliação, para
este autor, é o processo de ajuizamento, apreciação,
Funções do processo avaliativo julgamento ou valorização do que o educando revelou ter
As funções da avaliação são: de diagnóstico, de verificação aprendido durante um período de estudo ou de
e de apreciação. desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem.
Função diagnóstica - A primeira abordagem, de acordo Para outros autores, a avaliação pode ser considerada
com Miras e Solé83, contemplada pela avaliação diagnóstica como um método de adquirir e processar evidências
(ou inicial), é a que proporciona informações acerca das necessárias para melhorar o ensino e a aprendizagem,
capacidades do aluno antes de iniciar um processo de incluindo uma grande variedade de evidências que vão além
ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo Bloom, Hastings e do exame usual de ‘papel e lápis’.
Madaus, busca a determinação da presença ou ausência de É ainda um auxílio para classificar os objetivos
habilidades e pré-requisitos, bem como a identificação das significativos e as metas educacionais, um processo para
causas de repetidas dificuldades na aprendizagem. determinar em que medida os alunos estão se desenvolvendo
A avaliação diagnóstica pretende averiguar a posição do dos modos desejados, um sistema de controle da qualidade,
aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser propostas e pelo qual pode ser determinada etapa por etapa do processo
a aprendizagens anteriores que servem de base àquelas, no ensino/aprendizagem, a efetividade ou não do processo e, em
sentido de obviar as dificuldades futuras e, em certos casos, de caso negativo, que mudança devem ser feitas para garantir sua
resolver situações presentes. efetividade.
Função formativa - A segunda função á a avaliação
formativa que, conforme Haydt, permite constatar se os alunos
estão, de fato, atingindo os objetivos pretendidos, verificando Modelo tradicional de avaliação x modelo mais
a compatibilidade entre tais objetivos e os resultados adequado
efetivamente alcançados durante o desenvolvimento das Gadotti diz que a avaliação é essencial à educação, inerente
atividades propostas. e indissociável enquanto concebida como problematização,
Representa o principal meio através do qual o estudante questionamento, reflexão, sobre a ação.
passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo Entende-se que a avaliação não pode morrer, ela se faz
para um estudo sistemático dos conteúdos. necessária para que possamos refletir, questionar e
Outro aspecto é o da orientação fornecida por este tipo de transformar nossas ações.
avaliação, tanto ao estudo do aluno como ao trabalho do O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada
professor, principalmente através de mecanismos de histórica, sendo que seus fantasmas ainda se apresentam
feedback. como forma de controle e de autoritarismo por diversas
Estes mecanismos permitem que o professor detecte e gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz é o
identifique deficiências na forma de ensinar, possibilitando mesmo que cumprir sua função didático-pedagógica de
reformulações no seu trabalho didático, visando aperfeiçoa-lo. auxiliar e melhorar o ensino/aprendizagem.
Para Bloom, Hastings e Madaus, a avaliação formativa visa A forma como se avalia, segundo Luckesi, é crucial para a
informar o professor e o aluno sobre o rendimento da concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos
aprendizagem no decorrer das atividades escolares e a alunos o que o professor e a escola valorizam. O autor, na
localização das deficiências na organização do ensino para tabela 1, traça uma comparação entre a concepção tradicional
possibilitar correção e recuperação. de avaliação com uma mais adequada a objetivos
A avaliação formativa pretende determinar a posição do contemporâneos, relacionando-as com as implicações de sua
aluno ao longo de uma unidade de ensino, no sentido de adoção.
identificar dificuldades e de lhes dar solução.
Função somativa – Tem como objetivo, segundo Miras e
Solé determinar o grau de domínio do aluno em uma área de
aprendizagem, o que permite outorgar uma qualificação que,
por sua vez, pode ser utilizada como um sinal de credibilidade
da aprendizagem realizada.

83 MIRAS, M., SOLÉ, I. A Evolução da Aprendizagem e a Evolução do Processo Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação. Porto Alegre:
de Ensino e Aprendizagem in COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A. Artes Médicas, 1996.

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Tabela 1 – Comparação entre a concepção tradicional de qualidade e os parâmetros olhar como está sua escola
avaliação com uma mais adequada para sua obtenção (salvo nos pública no presente". Esse é
Modelo tradicional de casos de exames como o um sinal de que a sociedade já
Modelo adequado
avaliação ENEM que, de certa forma, começa a se preocupar com o
Foco na promoção – o alvo avaliam e "certificam" os distanciamento educacional
Foco na aprendizagem - o
dos alunos é a promoção. Nas diferentes grupos de práticas do Brasil com o dos demais
alvo do aluno deve ser a
primeiras aulas, se discutem educacionais e países. É esse o caminho para
aprendizagem e o que de
as regras e os modos pelos estabelecimentos de ensino). revertermos o quadro de uma
proveitoso e prazeroso dela
quais as notas serão obtidas educação "domesticadora"
obtém.
para a promoção de uma série Implicação - não há garantia para "humanizadora".
para outra. sobre a qualidade, somente os
Implicação - neste contexto, a
resultados interessam, mas Implicação - valorização da
avaliação deve ser um auxílio
Implicação – as notas vão estes são relativos. Sistemas educação de resultados
para se saber quais objetivos
sendo observadas e educacionais que rompem efetivos para o indivíduo.
foram atingidos, quais ainda
registradas. Não importa com esse tipo de
faltam e quais as
como elas foram obtidas, nem procedimento tornam-se
interferências do professor
por qual processo o aluno incompatíveis com os demais,
que podem ajudar o aluno.
passou. são marginalizados e, por isso,
Foco nas provas - são automaticamente
utilizadas como objeto de pressionados a agir da forma
pressão psicológica, sob tradicional.
pretexto de serem um
Foco nas competências - o
'elemento motivador da Mudando de paradigma, cria-se uma nova cultura
desenvolvimento das
aprendizagem', seguindo avaliativa, implicando na participação de todos os envolvidos
competências previstas no
ainda a sugestão de Comenius no processo educativo. Isto é corroborado por Benvenutti, ao
projeto educacional devem
em sua Didática Magna criada dizer que a avaliação deve estar comprometida com a escola e
ser a meta em comum dos
no século XVII. É comum ver esta deverá contribuir no processo de construção do caráter, da
professores.
professores utilizando consciência e da cidadania, passando pela produção do
ameaças como "Estudem! conhecimento, fazendo com que o aluno compreenda o mundo
Implicação - a avaliação deixa
Caso contrário, vocês poderão em que vive, para usufruir dele, mas sobretudo que esteja
de ser somente um objeto de
se dar mal no dia da prova!" preparado para transformá-lo.
certificação da consecução de
ou "Fiquem quietos! Prestem
objetivos, mas também se
atenção! O dia da prova vem aí A avaliação da aprendizagem como processo
torna necessária como
e vocês verão o que vai construtivo de um novo fazer
instrumento de diagnóstico e
acontecer..." O processo de conquista do conhecimento pelo aluno ainda
acompanhamento do
não está refletido na avaliação. Para Wachowicz &
processo de aprendizagem.
Implicação - as provas são Romanowski, embora historicamente a questão tenha
Neste ponto, modelos que
utilizadas como um fator evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática mais
indicam passos para a
negativo de motivação. Os comum na maioria das instituições de ensino ainda é um
progressão na aprendizagem,
alunos estudam pela ameaça registro em forma de nota, procedimento este que não tem as
como a Taxionomia dos
da prova, não pelo que a condições necessárias para revelar o processo de
Objetivos Educacionais de
aprendizagem pode lhes aprendizagem, tratando-se apenas de uma contabilização dos
Benjamin Bloom, auxiliam
trazer de proveitoso e resultados.
muito a prática da avaliação e
prazeroso. Estimula o Quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido
a orientação dos alunos.
desenvolvimento da pelo aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se
submissão e de hábitos de uma burocratização que leva à perda do sentido do processo e
comportamento físico tenso da dinâmica da aprendizagem.
(estresse). Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função
Os estabelecimentos de Estabelecimentos de ensino diretiva, ou seja, tem a capacidade de estabelecer a direção do
ensino estão centrados nos centrados na qualidade - os processo de aprendizagem, oriunda esta capacidade de sua
resultados das provas e estabelecimentos de ensino característica pragmática, a fragmentação e a burocratização
exames - eles se preocupam devem preocupar-se com o acima mencionadas levam à perda da dinamicidade do
com as notas que presente e o futuro do aluno, processo.
demonstram o quadro global especialmente com relação à
dos alunos, para a promoção sua inclusão social (percepção Os dados registrados são formais e não representam a
ou reprovação. do mundo, criatividade, realidade da aprendizagem, embora apresentem
empregabilidade, interação, consequências importantes para a vida pessoal dos alunos,
Implicação - o processo posicionamento, criticidade). para a organização da instituição escolar e para a
educativo permanece oculto. profissionalização do professor.
A leitura das médias tende a Implicação - o foco da escola Uma descrição da avaliação e da aprendizagem poderia
ser ingênua (não se buscam os passa a ser o resultado de seu revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse
reais motivos para ensino para o aluno e não instituída, a descrição (e não a prescrição) seria uma fonte de
discrepâncias em mais a média do aluno na dados da realidade, desde que não houvesse uma vinculação
determinadas disciplinas). escola. prescrita com os resultados.
O sistema social se contenta Sistema social preocupado A isenção advinda da necessidade de analisar a
com as notas - as notas são com o futuro - Já alertava o aprendizagem (e não julgá-la) levaria o professor e os alunos a
suficientes para os quadros ex-ministro da Educação, constatarem o que realmente ocorreu durante o processo: se o
estatísticos. Resultados Cristóvam Buarque: "Para professor e os alunos tivessem espaço para revelar os fatos tais
dentro da normalidade são saber como será um país como eles realmente ocorreram, a avaliação seria real,
bem vistos, não importando a daqui há 20 anos, é preciso principalmente discutida coletivamente.

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No entanto, a prática das instituições não encontrou uma relações estabelecidas na totalidade da situação. Neste
forma de agir que tornasse possível essa isenção: as modelo, a aprendizagem prevalece sobre o ensino, em seu
prescrições suplantam as descrições e os pré-julgamentos estatuto de autossuficiência e autorregulação, reducionismo
impedem as observações. que permanece recusando a relação ensino-aprendizagem e se
A consequência mais grave é que essa arrogância não fixando em apenas um de seus polos.
permite o aperfeiçoamento do processo de ensino e
aprendizagem. E este é o grande dilema da avaliação da “Aprendizagem é organização de conhecimentos como
aprendizagem. estruturas, ou rede construídas a partir das interações
O entendimento da avaliação, como sendo a medida dos entre sujeito e meio de conhecimento ou práticas sociais”
ganhos da aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo denúncias
há décadas, desde que as teorias da educação escolar Esta seria uma concepção de base construtivista ou
recolocaram a questão no âmbito da cognição. interacionista, comprometida com a superação dos
Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados para reducionismos anteriores (experiência advinda dos objetos X
uma avaliação de processo, indicando a possibilidade de pré-formação de estruturas) e identificada com modelos mais
realizar-se na prática pela descrição e não pela prescrição da abertos, fundados nas ideias de gênese ou processo.
aprendizagem. Por esta razão, suas principais vertentes podem ser
identificadas como “psicogenéticas” e são representadas pela
Avaliação da aprendizagem84 Epistemologia Genética Piagetiana e pela abordagem sócio-
A noção de aprendizagem está, em sua origem, associada a histórica dos psicólogos soviéticos (Vygotsky, Luria e
ideia de apreensão de conhecimento e, nesse sentido, só pode Leontierv, em especial).
ser compreendida em função de determinada concepção de
conhecimento – algo que a filosofia compreende como base ou Dois destaques merecem ser feitos em relação a essas duas
matriz epistemológica. A partir de tais concepções, podem ser vertentes:
focalizadas três possibilidades de definição de aprendizagem: 1- Na perspectiva piagetiana, aprendizagem se
identifica com adaptação ou equilibração à medida que
“Aprendizagem é mudança de comportamento supõe a “passagem de um estado de menor conhecimento a
resultante do treino ou da experiência” um estado de conhecimento mais avançado” ou “uma
construção sucessiva com elaborações constantes de
Esta seria a definição mais impregnada e dominante no estruturas novas, rumo a equilibrações majorantes”85
campo psicológico e pedagógico e, certamente, a mais (O motor para tais processos de adaptação e equilibração
resistente às proposições alternativas. Funda-se na concepção seria o conflito cognitivo diante de novos desafios ou
empirista formulada por Locke e Hume. Realimenta-se do necessidades de aprendizagem, em esforços complementares
positivismo de Comte, com seus ideais de objetividade de assimilação (polo do sujeito responsável por incorporações
científica, ao final do século XIX e se encarna como corrente de elementos do mundo exterior) e acomodação (polo
behaviorista, comportamentista ou de estímulo–resposta, no modificado do estado anterior do sujeito em função das atuais
início do século XX. Valoriza o polo do objeto e não o do sujeito, demandas apresentadas pelo objeto de conhecimento). Essa
marcando a influência do meio ou do ambiente através de posição sugere a importância de que o meio de aprendizagem
estímulos, sensações e associações. Reserva ao sujeito o papel seja alargado e pleno de significado, para que se chegue a uma
de receptáculo e reprodutor de informações, através de congruência entre a parte do sujeito e as pressões externas,
modelagens comportamentais progressivamente reforçadas e entre autorregulações e regulações externas, entre sistemas
dele expropria funções mais elaboradas que tenham relação pertinentes ao aluno e ao professor. Assim, a não-
com motivações e significações. Neste modelo, aprendizagem aprendizagem seria resultante da ausência de congruência
e ensino têm o mesmo estatuto ou identidade, pois a primeira entre os sistemas envolvidos nos processos de ensino-
é considerada decorrência linear do segundo (em outros aprendizagem.
termos: se algo foi ensinado, dentro de contingências 2- Na perspectiva sócio-histórica de Vygotsky e seus
ambientais adequadas, certamente foi apreendido...). Na colaboradores, destaca-se, no contexto dessa discussão, a
perspectiva pedagógica, essa concepção encontra plena articulação fortemente estabelecida entre aprendizagem e
afinidade com práticas mecanicistas, tecnicistas e bancárias – desenvolvimento, sendo a primeiro motor do segundo, no
metáfora utilizada por Paulo Freire, para traduzir a ideia de sentido que apresenta potência para projeta-lo até
passividade do sujeito, depositário de informações, conforme patamares mais avançados. Esta potência da
a lógica do acúmulo, a serviço da seleção e da classificação. aprendizagem se ancora nas relações entre ”zona de
desenvolvimento real” e “zona de desenvolvimento
“Aprendizagem é apreensão de configurações proximal”: a primeira referindo-se às competências ou
perceptuais através de insights”. domínios já instalados (no campo conceitual,
procedimental ou atitudinal, por exemplo) e a segunda
Esta seria a concepção que se opõe à anterior, polarizando entendida como campo aberto de possibilidades, em
em torno das condições do sujeito e não mais do objeto ou transição ou em vias de se consolidar, a partir de
meio. Funda-se em uma base filosófica de natureza intervenções ou mediações de outros – professores ou pares
racionalista ou apriorista, que percebe o conhecimento como mais experientes ou competentes em determinada área,
resultante de estruturas pré-formadas, de variáveis biológicas tarefa ou função.86
ou maturacionais e de organização perceptual de situações
imediatas. A escola psicológica alemã conhecida como Gestalt, Nesse sentido, este teórico redimensiona a relação ensino-
responsável no início do século XX, por estudos na vertente da aprendizagem, superando as dicotomias e fragmentação de
percepção, constitui umas das expressões mais fortes dessa outras concepções e valoriza o aprendizado escolar como meio
posição, tendo deixado um legado mais associado ao estudo da privilegiado para as mediações em direito a patamares
“boa forma” ou das condições capazes de propiciar soluções de conceituais mais elevados.
problemas por discernimento súbito (insight), em função de

84http://crv.educacao.mg.gov.br/ 86 VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins


85PIAGET, J. A Evolução Intelectual da Adolescência à Vida Adulta. Trad. Fontes,1984.
Fernando Becker; Tania B.I. Marques, Porto Alegre: Faculdade de Educação, 1993.

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Além disso, a perspectiva dialética dessa abordagem insere e desafetos, os valores, etc., estão necessariamente presentes
a aprendizagem em uma dimensão mais próxima de nossa nas ações humanas. Esta questão é objeto de estudo de
realidade educacional: um processo marcado por inúmeras pesquisas que apontam desacordos consideráveis
contradições, conflitos, rupturas e, até mesmo, regressões – na atribuição de valor a um mesmo trabalho ou exame
necessitando, por isso mesmo, de mediações que assegurem o corrigido por diferentes professores. E esse valor, geralmente
espaço do reconhecimento das práticas sociais dos alunos, de registrado de forma numérica, é a referência para a
seus conhecimentos prévios, dos significados e sentidos classificação do aluno e o julgamento do professor ou da escola
pertinentes às situações de aprendizagem de cada sujeito quanto à sua aprovação/reprovação.
singular e de suas dimensões compartilhadas. No contexto escolar, e no imaginário social também, o
As abordagens contemporâneas da Psicologia da significado da nota e sua identificação com a própria avaliação
Aprendizagem e dos estudos sobre reorientações curriculares tornaram-se tão fortes que num dos argumentos para a sua
apoiam-se nessas categorias para a necessária reorientação manutenção costuma ser o de que, sem ela, acabou-se a
das estratégias de aprendizagem. avaliação e o interesse ou a motivação do aluno pelos estudos.
Um enfoque superficial: centrado em estratégias Estes argumentos refletem, por um lado, a distorção da função
mnemônicas ou de memorização (reprodutoras em avaliativa na escola, que não deve confundir-se com a
contingências de provas ou exames) ou centrado em atribuição de notas: a avaliação deve servir à orientação das
passividade, isolamento, ausência de reflexão sobre aprendizagens. Por outro lado, revelam uma compreensão do
propósitos ou estratégias; maior foco na fragmentação e no desempenho do aluno como decorrente exclusivamente de sua
acúmulo de elementos; responsabilidade ou competência individual. Daí o fato da
Um enfoque profundo: centrado na intenção de avaliação assumir, frequentemente, o sentido de premiação ou
compreender, na relação das novas ideias e conceitos com o punição. Essa questão torna-se mais grave na medida que os
conhecimento anterior, na relação dos conceitos como privilégios são justificados com base nas diferenças e
experiência cotidiana, nos componentes significativos dos desigualdades entre os alunos. Fundamentada na meritocracia
conteúdos, nas inter-relações e nas condições de (a ideia de que a posição dos indivíduos na sociedade é
transcendência em relação às situações e aprendizagens do consequência do mérito individual), a Avaliação Classificatória
momento. passa a servir à discriminação e à injustiça social.
As questões mais relevantes, a partir dessas distinções Na Avaliação Classificatória trabalha-se com a ideia de
seriam: Por que um aluno se dirige para um outro tipo de verificação da aprendizagem. O termo verificar tem origem na
aprendizagem? O que faz com que mostre maior ou menor expressão latina verum facere, que significa verdadeiro. Parte-
disposição para a realização de aprendizagens significativas? se do princípio de que existe um conhecimento – uma verdade
Por que não aprende em determinadas circunstâncias? Por – que dever ser assimilado pelo aluno. A avaliação consistiria
que alunos modificam seu enfoque em função da tarefa ou da na aferição do grau de aproximação entre as aprendizagens do
mudança de estratégias dos professores? Quais os fatores de aluno e essa verdade.
mediação capazes de produzir novos patamares motivacionais Estabelece-se uma escala formulada a partir de critérios de
e novas zonas de aprendizagem e competência? qualidade de desempenho, tendo como referência o conteúdo
Tais questões sinalizam para um projeto educativo do programa. É a partir dessa escala que os alunos serão
comprometido com novas práticas e relações pedagógicas, classificados, tendo em vista seu rendimento nos instrumentos
uma lógica a serviço das aprendizagens e da Avaliação de avaliação, ou seja, o total de pontos adquiridos. De um modo
Formativa, uma concepção construtiva e propositiva sobre geral, as provas e os testes são os instrumentos mais utilizados
erros e correção dos mesmos, uma articulação entre pelo professor para medir o alcance dos objetivos traçados
dimensões cognitivas e sócio afetivas que ressignifiquem o ato para aprendizagem dos alunos. A sua formulação exige rigor
de aprender. técnico e deve estar de acordo com os conteúdos
desenvolvidos e os objetivos que se quer avaliar. A dimensão
Definindo os tipos de avaliação diagnóstica não está ausente dessa perspectiva de avaliação.
- Avaliação classificatória
Avaliação Classificatória é uma perspectiva de avaliação - Avaliação de conteúdos
vinculada à noção de medida, ou seja, à ideia de que é possível Dimensão Conceitual: A dimensão conceitual do
aferir, matemática, e objetivamente, as aprendizagens conhecimento implica que a pessoa esteja estabelecendo
escolares. A noção de medida supõe a existência de padrões de relações entre fatos para compreendê-los. Os fatos e dados,
rendimento a partir dos quais, mediante comparação, o segundo COLL, estão num extremo de um contínuo de
desempenho de um aluno será avaliado e hierarquizado. A aprendizagem e a retenção da informação simples, a
Avaliação Classificatória é realizada através de variadas aprendizagem de natureza mnemônica ou “memorística”. São
atividades, tais como exercícios, questionários, estudos dirigidos, informações curtas sobre os fenômenos da vida, da natureza,
trabalhos, provas, testes, entre outros. Sua intenção é da sociedade, que dão uma primeira informação objetiva sobre
estabelecer uma classificação do aluno para fins de o que é, quem fez, quando fez, o que foi. Os conceitos estão no
aprovação ou reprovação. outro extremo (desse contínuo da aprendizagem) e envolvem
A centralidade da aprovação/reprovação na cultura a compreensão e o estabelecimento de relações. Traduzem um
escolar impõe algumas considerações importantes em torno entendimento do porquê daquele fenômeno ser assim como é.
da nota e da ideia de avaliação como medida dos desempenhos As crianças, para aprenderem fatos, apenas os
do aluno. Para se medir objetivamente um fenômeno, é preciso memorizam. Esquecem mais rápido. Para aprenderem
definir uma unidade de medida. Sua operacionalização se dá conceitos precisam estabelecer conexões mais complexas, de
através de um instrumento. No caso da avaliação escolar, este aprendizagem significativa, identificada por autores como os
instrumento é produzido, aplicado e corrigido pelo professor, citados acima. Quando elas constroem os conceitos, os fatos
que acaba sendo, ele próprio, um instrumento de medição do vão tomando outras dimensões, informando o conceito. É
desempenho do aluno, uma vez que é ele quem atribui o valor como se os fatos começassem a ser ordenados, atribuindo
ao trabalho. Portanto, o critério de objetividade, implícito na sentido ao que se tenta entender.
ideia de avaliação como medida, perde sua confiabilidade, já Como a escola teve, durante muito tempo, a predominância
que o professor é um ser humano e, como tal, impossibilitado da concepção empirista de ensino como transmissão, a
de despir-se de sua dimensão subjetiva: a visão de mundo, as memorização era o referencial mais comum para a avaliação.
preferências pessoais, o estado de humor, as paixões, os afetos Nesse sentido, os instrumentos e momentos de avaliação

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traziam a característica de um espaço em que as pessoas exemplos de dimensões procedimentais do conhecimento:


tentavam recuperar um dado de sua memória. Um meio e saber fazer um gráfico, um cartaz, uma tabela, escrever um
realizar essa atividade por evocação (pergunta direta, com texto dissertativo, narrativo. Vale a pena, nesse caso, que o
resposta certa ou errada) ou por reconhecimento, quando lhe professor acompanhe de perto essa aprendizagem. O melhor
oferecemos pistas e apresentamos alternativas para as instrumento para isso é a observação sistemática – um
respostas. Uma hipótese a ser levantada é a de que a avaliação conjunto de ações que permitem ao professor conhecer até
foi, durante muito tempo, entendida com a recuperação dos que ponto seus alunos estão sabendo: dialogar, debater,
fatos nas memórias. Essa redução do entendimento do que é trabalhar em equipe, fazer uma pesquisa bibliográfica,
avaliar vem sendo superada nas reflexões sobre a tipologia dos orientar-se no espaço, dentre outras. Devem ser atividades
conteúdos, principalmente ao se diferenciar a aprendizagem e abertas, feitas em aula, para o professor perceber como o
a avaliação de conceitos. A construção conceitual demanda aluno transfere o conteúdo para a prática.
compreensão e estabelecimento de relações, sendo, portanto,
mais complexa para ser avaliada. - Dimensão Atitudinal
Ao decidir a legitimidade de um instrumento de avaliação, A dimensão atitudinal do conhecimento é aquela que
cada escola e cada professor precisam analisar seu alcance. indicará os valores em construção. É mais difícil de ser
Pedir ao aluno que defina um significado (técnica muito trabalhada porque não se desliga da formação mais ampla em
comum nas escolas), nem sempre proporciona boa medida outros espaços da sociedade, sendo complexa por seus
para avaliação, é uma técnica com desvantagens, pois pode componentes cognitivos (conhecimentos e crenças), afetivos
induzir a falsos erros e falsos acertos. É uma técnica que exige (sentimentos e preferências) e condutais (ações e declaração
um critério de correção muito minucioso. Ele ainda propõe de intenção). Manifesta-se mais através do comportamento
que, se a opção for por usar essa técnica, que se valide mais o referenciado em crenças e normas. Por isso, precisa ser
que o aluno expuser com as próprias palavras do que uma amplamente entendida à luz dos valores que a escola
reprodução literal. Se usarmos a técnica de múltipla escolha, o considera formadores. A aquisição de valores é alcançada
reconhecimento da definição, corre-se o risco de se cair na através do desenvolvimento de atitudes de acordo com esse
armadilha da mera reprodução de uma definição previamente sistema de valores. Depende de uma autopersuasão que está
estabelecida e mesmo de um conhecimento fragmentário, o sempre permeada por crenças que sustentam a visão que as
que coloca esse tipo de instrumento e questão na condição de pessoas têm delas mesmas e do mundo. E delas mesmas em
insuficiente para conhecer a aprendizagem de conceitos. Outra relação ao mundo. As atitudes e valores envolvem também as
possibilidade é a da exposição temática na qual o aluno debate normas.
sobre um tema incluindo comparações, estabelecendo Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às
relações. pessoas emitir um juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a
É preciso cuidado do professor para analisar se o aluno não solidariedade, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos
está procurando reproduzir termos e ideias de autores e sim outros. Atitudes são tendências relativamente estáveis das
usando sua compreensão e sua linguagem. Evidencia-se, com pessoas para atuarem de certas maneiras: cooperar com o
isso, a necessidade de se trabalhar com questões abertas. grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas
Outra técnica, - a identificação e categorização de exemplos – escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados.
por evocação (aberta) ou reconhecimento (fechada), Normas são padrões ou regras de comportamentos que as
possibilita ao professor conhecer como o aluno está pessoas devem seguir em determinadas situações sociais.
entendendo aquele conceito. Na técnica de reconhecimento o Portanto, são desenvolvidas nas interações, nas relações, nos
aluno deverá trabalhar, em questão fechada, com a debates, nos trabalhos em grupos, o que indica uma natureza
categorização. Pode ser incluída, portanto, num instrumento do planejamento das atividades de sala de aula.
como a prova objetiva. Os melhores instrumentos para se avaliar a aprendizagem
Outra possibilidade para avaliar a aprendizagem de de atitudes são a observação e autoavaliação.
conceitos seria a técnica de aplicação à solução de problemas, Para uma avaliação completa (envolvendo fatos, conceitos,
deveriam ser situações abertas, nas quais os alunos fariam procedimentos e atitudes), deve-se formalizar sempre o
exposição da compreensão que têm do conceito, tentando momento da avaliação inicial. Ela é um início de diagnóstico
responder à situação apresentada. Nesse caso, o instrumento que ajudará aos professores e alunos conhecerem o processo
mais adequado seria uma prova operatória, é importante, no de aprendizagem. O professor deve diversificar os
caso da avaliação de conceitos, resgatar sempre os instrumentos para cobrir toda a tipologia dos conhecimentos:
conhecimentos prévios dos alunos, para analisar o que estiver provas, trabalhos e observação, para avaliar fatos e conceitos,
sendo aprendido. Isso implica legitimar a avaliação inicial, o observação para concluir na avaliação da construção
momento inicial da aprendizagem. A avaliação de conceitual; observação para avaliar a aprendizagem de
aprendizagem de conceitos remete o professor, portanto, a procedimentos e atitudes; autoavaliação para avaliar atitudes
instituir também a observação como uma técnica de e conceitos.
levantamento de dados sobre a aprendizagem dos alunos, Além disso, deve-se validar o momento de avaliação inicial
ampliando as informações sobre o que o aluno está sabendo em todo o processo de aprendizagem, usando a prática de
para além dos momentos formais de avaliação, como datar o que está sendo registrado e propiciando ao próprio
momentos de provas ou outros instrumentos de verificação. aluno refletir sobre o que ele já sabe acerca de um conteúdo
novo quando se começa a estudar seriamente sobre ele.
- Dimensão Procedimental
A dimensão procedimental do conhecimento implica no Sugestões de avaliação inicial / campo atitudinal
saber fazer. Ex.: uma pesquisa tem uma dimensão Essa sugestão não substitui a avaliação inicial de cada
procedimental. O aluno precisa saber observar, saber ler, conteúdo que é introduzido, pois, é a partir dela que se pode
saber registrar, saber procurar dados em várias fontes, saber fazer uma avaliação do que realmente pode ser considerado
analisar e concluir a partir dos dados levantados. Nesse caso, aprendido.
são procedimentos que precisam ser desenvolvidos. Muitas Como são os alunos individualmente em grupos?
vezes o aluno está com uma dificuldade procedimental e não Que grupos sociais representam?
conceitual e, dependendo do instrumento usado, o professor Como se comportam e se vestem?
não identifica essa dificuldade para então ajudá-lo a superá-la, O que apreciam?
por isso é importante diferenciar essas dimensões. Outros Quais seus interesses?

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O que valorizam? Aprendizagem e formação humana são processos de


O que fazem quando não estão na escola? natureza social e cultural. É nas interações que estabelece com
Como suas famílias vivem? seu meio que o ser humano vai se apropriando dos sistemas
O que suas famílias e vizinhos fazem e o que comemoram? simbólicos, das práticas sociais e culturais de seu grupo. Esses
Como se organiza o espaço que compartilham fora da processos têm uma base orgânica, mas se efetivam na vida
escola? social e cultural, e é através deles que o ser humano elabora
Como falam, expressam seus sentimentos, seus valores, formas de conceber e de se relacionar com o mundo físico e
sua adesão/rejeição às normas, suas atitudes? social. Esses estudos sobre a formação humana e a
aprendizagem trazem implicações profundas para a educação
Feito isso, planeja-se como trabalhar as atitudes e destacam a importância do papel do professor como
importantes para a formação dos alunos na adolescência. Para mediador do processo de construção de conhecimento dos
mudança de atitudes é que são feitos os projetos. alunos. Sua ação pedagógica deve estar voltada para a
- Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às compreensão dos processos sociocognitivos dos alunos e a
pessoas emitir juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a busca de uma articulação entre os diversos fatores que
solidariedade, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos constituem esses processos – o desenvolvimento psíquico do
outros... aluno, suas experiências sociais, suas vivências culturais, sua
- Atitudes são tendências relativamente estáveis das história de vida – e as intenções educativas que pretende levar
pessoas para atuarem de certas maneiras: cooperar com o a cabo. Nesse contexto, a avaliação constitui-se numa prática
grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas que permite ao professor aproximar-se dos processos de
escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados... aprendizagem do aluno, compreender como esse aluno está
- Normas são padrões ou regras de comportamentos que a elaborando seu conhecimento. Não importa, aqui, registrar os
pessoas devem seguir em determinadas situações sociais. fracassos ou os sucessos através de notas ou conceitos, mas
entender o significado do desempenho: como o aluno
Depois de realizada a avaliação inicial, os professores terão compreendeu o problema apresentado? Que tipo de
dados para dar continuidade ao trabalho com a Avaliação elaboração fez para chegar a determinada resposta? Que
Formativa: a serviço das aprendizagens. dificuldades encontrou? Como tentou resolvê-las?
Fatos ou dados devem ser “aprendidos” de forma Na Avaliação Formativa, o desempenho do aluno deve ser
reprodutiva: não é necessário compreendê-los. Ex.: capitais de tomado como uma evidência ou uma dificuldade de
um estado ou país, data de acontecimentos, tabela de símbolos aprendizagem. E cabe ao professor interpretar o significado
químicos. Correspondem a uma informação verbal literal desse desempenho. Nessa perspectiva, a avaliação coloca-se a
como vocabulários, nomes ou informação numérica que não serviço das aprendizagens, da forma dos alunos. Trata-se,
envolvem cálculos, apenas memorização. Para isso se usa a portanto, de uma avaliação que tem como finalidade não o
repetição, buscando mesmo a automatização da informação. controle, mas a compreensão e a regulação dos processos dos
Esse processo de repetição não se adequa à construção educandos, tendo em vista auxiliá-los na sua trajetória escolar.
conceitual. Um aluno aprende, atribui significado, adquire um Isso significa entender que a avaliação, indo além da
conceito, quando o explica com suas próprias palavras. É constatação, irá subsidiar o trabalho do professor, apontando
comum o aluno dizer que sabe, mas não sabe explicar. Nesse as necessidades de continuidade, de avanços ou de mudanças
caso, eles estão num início de processo de compreensão do no seu planejamento e no desenvolvimento das ações
conceito. Precisam trabalhar mais a situação, o que vai ajudá- educativas. Caracterizando-se como uma prática voltada para
los a entender melhor, até saberem explicar com as suas o acompanhamento dos processos dos alunos, este tipo de
palavras. Esse processo de construção conceitual não é avaliação não comporta registros de natureza quantitativa
estanque, ele está em permanente movimento entre o conceito (notas ou mesmo conceitos), já que estes são insuficientes para
espontâneo, construído nas representações sociais e o revelar tais processos. Tampouco pode-se pensar, a partir
conceito científico. desta concepção, na manutenção da aprovação/reprovação.
Princípios são conceitos muito gerais, de alto nível de Isso porque este tipo de avaliação não tem como objetivo
abstração, subjacentes, à organização conceitual de uma área, classificar ou selecionar os alunos, mas interpretar e
nem sempre explícitos. Atravessam todos os conteúdos das compreender os seus processos, e promover ações que os
matérias, devendo ser o objetivo maior da aprendizagem na ajudem a avançar no seu desenvolvimento, nas suas
educação básica. Eles orientam a compreensão de noções aprendizagens. Sendo assim, a avaliação a serviço das
básicas. Assim, por exemplo, se a compreensão de conceitos aprendizagens desmistifica a ideia de seleção que está
como sociedade e cultura são princípios das áreas de humanas, implícita na discussão sobre aprovação automática. É uma
eles devem referenciar o trabalho nos conceitos específicos. avaliação que procura administrar, de forma contínua, a
Dentro de um conceito como o de sociedade, outros específicos progressão dos alunos. Trata-se, portanto, de Progressão
como o de migração, democracia, crescimento populacional, Continuada.
estariam subjacentes. Portanto, ao definir o que referenciará o A Avaliação Formativa é um trabalho contínuo de
trabalho do professor, será muito importante uma revisão regulação da ação pedagógica. Sua função é permitir ao
conceitual por área de conhecimento e por disciplina. Será professor identificar os progressos e as dificuldades dos
preciso esclarecer as características dos fatos e dos conceitos alunos para dar continuidade ao processo, fazendo as
como objetos de conhecimento. mediações necessárias para que as aprendizagens aconteçam.
Inicialmente, é fundamental conhecer a situação do aluno, o
- Avaliação formativa que ele sabe e o que ele ainda não sabe, tendo em vistas as
Essa perspectiva de avaliação fundamenta-se em várias intenções educativas definidas. A partir dessa avaliação inicial,
teorias que postulam o caráter diferenciado e singular dos organiza-se o planejamento do trabalho, de forma
processos de formação humana, que é constituída por suficientemente flexível para incorporar, ao longo do
dimensões de natureza diversa - afetiva, emocional, cultural, processo, as adequações que se fizerem necessárias. Ao
social, simbólica, cognitiva, ética, estética, entre outras. A mesmo tempo, o uso de variados instrumentos e
aprendizagem é uma atividade que se insere no processo procedimentos de avaliação, possibilitará ao professor
global de formação humana, envolvendo o compreender o processo do aluno para estabelecer novas
desenvolvimento, a socialização, a construção da propostas de ação.
identidade e da subjetividade.

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Uma mudança fundamental, sobretudo nos ciclos ou séries diferentes. Na prática, acontece conforme o objetivo da
finais do Ensino Fundamental, diz respeito à organização dos atividade e as necessidades do aluno.
professores. Agrupamentos de professores responsáveis por Ex.: oficinas de livre escolha onde alunos de diferentes
um determinado número de turmas facilita o planejamento, o turmas de um ciclo se agrupam por interesse (oficina de
desenvolvimento das atividades, a relação pessoal com os cinema, de teatro, de pintura, de jogos matemáticos, de
alunos e o trabalho coletivo. fotografia, de música, de vídeo, etc.). Projetos de trabalho
Ex.: definir um grupo de X professores para trabalhar com também permitem que a turma assuma configurações
5 turmas de um mesmo ciclo ou de séries aproximadas, diferentes, em momentos diferentes, de acordo com o
visando favorecer o trabalho voltado para determinado interesse e para atendimento às necessidades de
período de formação humana (infância, adolescência, etc.). aprendizagem.
Este tipo de organização tende a romper com a fragmentação
do trabalho pedagógico, facilitando a interdisciplinaridade e o Instrumentos de avaliação
desenvolvimento de uma Avaliação Formativa. As provas objetivas (mais conhecidas como provas de
Tendo em vista a diversidade de ritmos e processos de múltipla escolha), as provas abertas / operatórias, observação
aprendizagem dos alunos, um dos aspectos importantes da e autoavaliação são ferramentas para levantamento de dados
ação docente deve ser a organização de atividades cujo nível sobre o processo de aprendizagem. São materiais preparados
de abordagem seja diferenciado. Isso significa criar situações, pelo professor levando em conta o que se ensina e o que se
apresentar problemas ou perguntas e propor atividades que quer saber sobre a aprendizagem dos alunos. Podem ter
demandem diferentes níveis de raciocínio e de realização. A diferentes naturezas. Alguns, como as provas, são
diversificação das tarefas deve também possibilitar aos alunos instrumentos que têm uma intenção de testagem, de
que realizem escolhas. As atividades devem oferecer graus verificação, de colocar o aluno em contato com o que ele
variados de compreensão, diferentes níveis de utilização dos realmente estiver sabendo. Esses instrumentos podem ser
conteúdos, e devem permitir distintas aproximações ao elaborados em dois formatos: um de questões fechadas, de
conhecimento. múltipla escolha ou de respostas curtas, identificado como
Outro movimento importante rumo a uma Avaliação prova objetiva; outro com questões abertas. Ambos são
Formativa deve acontecer na organização dos tempos e instrumentos que possibilitam tanto a avaliação de
espaços escolares. Os tempos de aula (50min, 1h, etc.) os aprendizagem de fatos, como de aprendizagem de conceitos,
recortes de cada disciplina, os bimestres, os semestres, as embora, em relação à construção conceitual, o professor
séries, os níveis de ensino são formas de estruturar o tempo precisará inserir também instrumentos de observação.
escolar que têm como fundamento a lógica da organização dos Outra importante ferramenta é a observação: uma técnica
conteúdos. Os processos de aprender e de construir que coloca o professor como pesquisador da sua prática. Toda
conhecimento, no entanto, não seguem essa mesma lógica. A observação pressupõe registros. É um bom instrumento para
organização escolar por ciclos é uma experiência que busca avaliar a construção conceitual, o desenvolvimento de
harmonizar os tempos da escola com os tempos de procedimentos e as atitudes.
aprendizagem próprios do ser humano. Os ciclos permitem Outro instrumento é a autoavaliação, que é muito
tomar as progressões das aprendizagens mais fluidas, importante no desenvolvimento das habilidades
evitando rupturas ao longo do processo. A flexibilização do metacognitivas e na avaliação de atitudes.
tempo e do trabalho pedagógico possibilita o respeito aos Pode-se ainda utilizar questionários e entrevistas quando
diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos e a organização as situações escolares necessitarem de um aprofundamento
de uma prática pedagógica voltada para a construção do maior para levantamento de dados.
conhecimento, para a pesquisa.
Os tempos podem ser organizados, por exemplo, em torno Outra questão relevante ao processo de avaliação do
de projetos de trabalho, de oficinas, de atividades. A ensino e aprendizagem é Como avaliar o aluno com
estruturação do tempo é parte do planejamento pedagógico deficiência? 87
semanal ou mensal, uma vez que a natureza da atividade e os
ritmos de aprendizagem irão definir o tempo que será A avaliação sempre foi uma pedra no sapato do trabalho
utilizado. docente do professor. Quando falamos em avaliação de alunos
O espaço de aprendizagem também deve ser ampliado, não com deficiência, então, o problema torna-se mais complexo
pode restringir-se a sala de aula. Aprender é constituir uma ainda. Apesar disso, discutir a avaliação como um processo
compreensão do mundo, da realidade social e humana, de nós mais amplo de reflexão sobre o fracasso escolar, dos
mesmos e de nossa relação com tudo isso. Essa atividade não mecanismos que o constituem e das possibilidades de
se constitui exclusivamente no interior de uma sala de aula. É diminuir o violento processo de exclusão causado por ela,
preciso alargar o espaço educativo no interior da escola torna-se fundamental para possibilitarmos o acesso e a
(pátios, biblioteca, salas de multimídia, laboratórios, etc.) e permanência com sucesso dos alunos com deficiência na
para além dela, apropriando-se dos múltiplos espaços da escola.
cidade (parques, praças, centros culturais, livrarias, fábricas, De início, importa deixar claro um ponto: alunos com
outras escolas, teatros, cinemas, museus, salas de exposição, deficiência devem ser avaliados da mesma maneira que seus
universidades, etc.). A sala de aula, por sua vez, deve adquirir colegas. Pensar a avaliação de alunos com deficiência de
diferentes configurações, tendo em vista a necessidade de maneira dissociada das concepções que temos acerca de
diversificação das atividades pedagógicas. aprendizagem, do papel da escola na formação integral dos
A forma de agrupamento dos alunos é outro aspecto que alunos e das funções da avaliação como instrumento que
pode potencializar a aprendizagem e a Avaliação Formativa. permite o replanejamento das atividades do professor, não
Os grupos ou classes móveis – em vez de classes fixas – leva a nenhum resultado útil.
possibilitam a organização diferenciada do trabalho Nessa linha de raciocínio, para que o processo de avaliação
pedagógico e uma maior personalização do itinerário escolar do resultado escolar dos alunos seja realmente útil e inclusivo,
do aluno, na medida em que atendem melhor às suas é imprescindível a criação de uma nova cultura sobre
necessidades e interesses. A mobilidade refere-se ao aprendizagem e avaliação, uma cultura que elimine:
agrupamento interno de uma classe ou entre classes

87 SARTORETTO, Mara Lúcia. Assistiva-Tecnologia e Educação, 2010.

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- o vínculo a um resultado previamente determinado pelo para chegar ao resultado final realizamos um corte totalmente
professor; artificial no processo de aprendizagem.
- o estabelecimento de parâmetros com os quais as Pensando assim temos que fazer uma opção pelo que
respostas dos alunos são sempre comparadas entre si, como se queremos avaliar: produção ou reprodução. Quando
o ato de aprender não fosse individual; avaliamos reprodução, com muita frequência, utilizamos
- o caráter de controle, adaptação e seleção que a avaliação provas que geralmente medem respostas memorizadas e
desempenha em qualquer nível; comportamentos automatizados. Ao contrário, quando
- a lógica de exclusão, que se baseia na homogeneidade optamos por avaliar aquilo que o aluno é capaz de produzir, a
inexistente; observação, a atenção às repostas que o aluno dá às atividades
- a eleição de um determinado ritmo como ideal para a que estão sendo trabalhadas, a análise das tarefas que ele é
construção da aprendizagem de todos os alunos. capaz de realizar fazem parte das alternativas pedagógicas
utilizadas para avaliar.
Numa escola onde a avaliação ainda se define pela Vários instrumentos podem ser utilizados, com sucesso,
presença das características acima certamente não haverá para avaliar os alunos, permitindo um acompanhamento do
lugar para a aceitação da diversidade como inerente ao ser seu percurso escolar e a evolução de suas competências e de
humano e da aprendizagem como processo individual de seus conhecimentos. Um dos recursos que poderá auxiliar o
construção do conhecimento. Numa educação que parte do professor a organizar a produção dos seus alunos e por isso
falso pressuposto da homogeneidade não há espaço para o avaliar com eficiência é utilizar um portfólio.
reconhecimento dos saberes dos alunos, que muitas vezes não A utilização do portfólio permite conhecer a produção
se enquadram na lógica de classificação das respostas individual do aluno e analisar a eficiência das práticas
previamente definidas como certas ou erradas. pedagógicas do professor. A partir da observação sistemática
O que estamos querendo dizer é que todas as questões e diária daquilo que os alunos são capazes de produzir, os
referentes à avaliação dizem respeito à avaliação de qualquer professores passam a fazer descobertas a respeito daquilo que
aluno e não apenas das pessoas com deficiências. A única os motiva a aprenderem, como aprendem e como podem ser
diferença que há entre as pessoas ditas normais e as pessoas efetivamente avaliados.
com deficiências está nos recursos de acessibilidade que No caso dos alunos com deficiências, os portfólios podem
devem ser colocados à disposição dos alunos com deficiências facilitar a tomada de decisão sobre quais os recursos de
para que possam aprender e expressar adequadamente suas acessibilidade que deverão ser oferecidos e qual o grau de
aprendizagens. Por recursos de acessibilidade podemos sucesso que está sendo obtido com o seu uso. Eles permitem
entender desde as atividades com letra ampliada, digitalizadas que tomemos conhecimento não só das dificuldades, mas
em Braille, os interpretes, até uma grande gama de recursos da também das habilidades dos alunos, para que, através dos
tecnologia assistiva hoje já disponíveis, enfim, tudo aquilo que recursos necessários, estas habilidades sejam ampliadas.
é necessário para suprir necessidades impostas pelas Permitem, também, que os professores das classes comuns
deficiências, sejam elas auditivas, visuais, físicas ou mentais. possam contar com o auxílio do professor do atendimento
educacional especializado, no caso dos alunos que frequentam
Neste contexto, a avaliação escolar de alunos com esta modalidade, no esclarecimento de dúvidas que possam
deficiência ou não, deve ser verdadeiramente inclusiva e ter a surgir a respeito da produção dos alunos.
finalidade de verificar continuamente os conhecimentos que Quando utilizamos adequadamente o portfólio no
cada aluno possui, no seu tempo, por seus caminhos, com seus processo de avaliação podemos:
recursos e que leva em conta uma ferramenta muito pouco - melhorar a dinâmica da sala de aula consultando o
explorada que é a coaprendizagem. portfólio dos alunos para elaborar as atividades:
Nessa mudança de perspectiva, o primeiro passo talvez - evitar testes padronizados;
seja o de nos convencermos de que a avaliação usada apenas - envolver a família no processo de avaliação;
para medir o resultado da aprendizagem e não como parte de - não utilizar a avaliação como um instrumento de
um compromisso com o desenvolvimento de uma prática classificação;
pedagógica comprometida com a inclusão, e com o respeito às - incorporar o sentido ético e inclusivo na avaliação;
diferenças é de muito pouca utilidade, tanto para os alunos - possibilitar que o erro possa ser visto como um processo
com deficiências quanto para os alunos em geral. de construção de conhecimentos que dá pistas sobre o modo
De qualquer modo, a avaliação como processo que cada aluno está organizando o seu pensamento;
contribui para investigação constante da prática pedagógica
do professor que deve ser sempre modificada e aperfeiçoada a Esta maneira de avaliar permite que o professor
partir dos resultados obtidos, não é tarefa simples de ser acompanhe o processo de aprendizagem de seus alunos e
conseguida. Entender a verdadeira finalidade da avaliação descubra que cada aluno tem o seu método próprio de
escolar só será possível quando tivermos professores construir conhecimentos, o que torna absurdo um método de
dispostos a aceitar novos desafios, capazes de identificar nos ensinar único e uma prova como recurso para avaliar como se
erros pistas que os instiguem a repensar seu planejamento e houvesse homogeneidade de aprendizagem.
as atividades desenvolvidas em sala de aula e que considerem Nessa perspectiva, entendemos que é possível avaliar, de
seus alunos como parceiros, principalmente aqueles que não forma adequada e útil, alunos com deficiências. Mas, se
se deixam encaixar no modelo de escola que reduz o analisarmos com atenção, tudo o que o que se diz da avaliação
conhecimento à capacidade de identificar respostas do aluno com deficiência, na verdade serve para avaliar
previamente definidas como certas ou erradas. qualquer aluno, porque a principal exigência da inclusão
Segundo a professora Maria Teresa Mantoan, a educação escolar é que a escola seja de qualidade – para todos! E uma
inclusiva preconiza um ensino em que aprender não é um ato escola de qualidade é aquela que sabe tirar partido das
linear, continuo, mas fruto de uma rede de relações que vai diferenças oportunizando aos alunos a convivência com seus
sendo tecida pelos aprendizes, em ambientes escolares que pares, o exemplo dos professores que se traduz na qualidade
não discriminam, que não rotulam e que oferecem chances de do seu trabalho em sala de aula e no clima de acolhimento
sucesso para todos, dentro dos interesses, habilidades e vivenciado por toda a comunidade escolar.
possibilidades de cada um. Por isso, quando apenas avaliamos
o produto e desconsideramos o processo vivido pelos alunos

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Questões também, ajudar o educador a analisar se é preciso intervir ou


modificar determinadas situações, relações ou atividades na
01. (TSE – Analista Judiciário – Pedagogia – sala de aula.
CONSULPLAN) Para Cipriano Carlos Luckesi (2000), a
avaliação é um ato amoroso e dialógico que envolve sujeitos e, 05. (Prefeitura do Rio de Janeiro/RJ- Professor de
como tal, a primeira fase do processo de avaliação começa Ensino Fundamental- Artes Plásticas- Prefeitura do Rio de
com: Janeiro/2016).
(A) o acolhimento do sujeito avaliado. Leia o fragmento abaixo: Normalmente, quando nos
(B) a qualificação dos conhecimentos prévios. referimos ao desenvolvimento de uma criança, o que
(C) o julgamento das aprendizagens avaliadas. buscamos compreender é até onde a criança já chegou, em
(D) o diagnóstico do perfil do sujeito. termos de um percurso que, supomos, será percorrido por ela.
Assim, observamos seu desempenho em diferentes tarefas e
02. (Prefeitura de Uberlândia/MG – Professor atividades, como por exemplo: ela já sabe andar? Já sabe
Educação Básica II – Português – CONSULPLAN) A avaliação amarrar sapatos? Já sabe construir uma torre com cubos de
da aprendizagem escolar é um elemento do processo de ensino diversos tamanhos? Quando dizemos que a criança já sabe
e de aprendizagem. realizar determinada tarefa, referimo-nos à sua capacidade de
Dessa forma, a avaliação tanto serve para avaliar a realizá-la sozinha. Por exemplo, se observamos que a criança
aprendizagem dos alunos quanto o ensino desenvolvido pelo já sabe amarrar sapatos, está implícita a ideia de que ela sabe
professor. Numa perspectiva emancipatória, que parte dos amarrar sapatos, sozinha, sem necessitar de ajuda de outras
princípios da autoavaliação e da formação, podemos afirmar pessoas.
que: OLIVEIRA, Martha Kolh de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento; um
processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1991. Pág. 11
(A) os alunos também devem participar dos critérios que
servirão de base para a avaliação de sua aprendizagem.
O trecho apresenta uma das categorias de análise usada
(B) os professores devem utilizar a avaliação como um
por Vygotsky ao estudar o desenvolvimento humano, que é:
mecanismo de seleção para o processo de ensino.
(A) a zona de desenvolvimento real
(C) alunos e professores devem compartilhar dos mesmos
(B) a zona de desenvolvimento proximal
critérios que possam classificar as aprendizagens corretas.
(C) a fase potencial do pensamento formal
(D) os alunos também devem registrar o processo de
(D) a fase operatória do pensamento formal
avaliação que servirá para disciplinar o espaço da sala de aula.
03. (Prefeitura de Montes Claros/MG – PEB I –
Gabarito
UNIMONTES) De acordo com Luckesi (1999), é importante
01. A. / 02. A. / 03. B. / 04. B. / 05. A.
estar atento à função ontológica (constitutiva) da avaliação da
aprendizagem, que é de diagnóstico.

Dessa forma, a avaliação cria a base para a tomada de 4.5 O Professor: formação e
decisão. Articuladas com essa função básica estão, EXCETO: profissão.
(A) a função de motivar o crescimento.
(B) a função de propiciar a autocompreensão, tanto do
educando quanto da família.
(C) a função de aprofundamento da aprendizagem. Formação do Professor88
(D) a função de auxiliar a aprendizagem.
Nos últimos vinte anos, o tema da formação e capacitação
04. (IFC-SC-Pedagogia-Educação Infantil-IESES) No que do professor da Educação Básica destacou-se no cenário
diz respeito à avaliação no processo de aprendizagem, é educacional brasileiro.
INCORRETO afirmar que: Até pouco tempo, na década de 70 do século passado, um
(A) A avaliação é constituída de instrumentos de ambicioso programa de treinamento de professores procura
diagnóstico que levam a uma intervenção, visando à melhoria implantar novos elementos técnico-pedagógicos no ensino
da aprendizagem. Ela deve propiciar elementos diagnósticos público, introduzindo técnicas de estudo dirigido, conteúdos
que sirvam de intervenção para qualificar a aprendizagem. técnico-profissionalizantes, padronizando conteúdos através
(B) Na esfera educacional infantil, a avaliação que se faz de livros didáticos e novos contornos curriculares. O objetivo
das crianças pode ter algumas consequências e influências explícito era massificar habilidades básicas, que consolidariam
decisivas no seu processo de aprendizagem e crescimento. um contingente de profissionais minimamente capacitados
Neste sentido, a expectativa dos professores sobre os seus para o ingresso no mercado de trabalho formal, notadamente
alunos tem grande influência no que diz respeito ao industrial, em franco crescimento naquele período em que o
rendimento da aprendizagem. Nesta fase, é preciso ter uma país captava com facilidade recursos externos para realizar
visão fragmentada da criança. É aconselhável concentrar investimentos produtivos. A discussão sobre formação ficava
esforços no que as crianças não sabem fazer e, não, considerar circunscrita ao âmbito universitário, pois predominava a ideia
as suas potencialidades. de repasse de informações.
(C) A avaliação deve se dar de forma sistemática e Na década de 80, por seu turno, programas estaduais de
contínua, aperfeiçoando a ação educativa, identificando capacitação do professor procuravam consolidar algumas
pontos que necessitam de maior atenção na busca de reformas educacionais em cursos, fruto do processo recente de
reorientar a prática do educador, permitindo definir critérios redemocratização do país. Era um sinal da mudança de
para o planejamento, auxiliando o educador a refletir sobre as paradigma: da preparação para o mercado de massas para a
condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às formação de cidadãos ativos. Os formatos mais comuns para
necessidades colocadas pelas crianças. esse processo foram cursos, ainda oferecidos por profissionais
(D) Na educação infantil, a avaliação tem a finalidade de universidades, organizados por setores ou instâncias das
básica de fornecer subsídios para a intervenção na tomada de secretarias de educação ou por sindicatos da categoria de
decisões educativas e observar a evolução da criança, como professores.

88 http://crv.educacao.mg.gov.br/

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Recentemente, na década de 90, surgiram centros de sua prática pedagógica. É desse período o surgimento de
formação de professores, tanto em âmbito estadual, quanto inúmeras experiências de ensino que buscavam romper com
municipal, no caso das metrópoles, em especial, na região os programas oficiais de ensino, introduzindo novas temáticas
Centro-Sul do país. Nesses, de maneira variada, a prática do e metodologias, como a realização de entrevistas, trabalho de
professor tem sido tema privilegiado de estudos e reflexões. campo e com diversas fontes, tais como fotografias, filmes e
Desde então, tem sido enfatizada a necessidade de que a objetos da cultura material. E, inseridas nesse contexto,
prática cotidiana de sala de aula seja alvo de discussão. desencadearam-se discussões acerca da melhoria do ensino,
das reformulações curriculares e da própria formação
Em cada momento, os conteúdos, as propostas político- curricular e profissional. O espaço da sala de aula é retomado
pedagógicas e as concepções formadoras foram distintas. É como definidor de uma identidade profissional, muitas vezes
possível perceber tais distinções ao acompanhar o percurso compreendido como espaço de resistência aos modelos e
teórico da mudança na concepção de formação profissional do programas de ensino institucionalizados. Isso vai indicando a
educador. construção de uma outra concepção de formação de professor,
Na primeira metade da década de 70, o predomínio da aquela que identifica a necessidade e importância da reflexão
escola comportamental do papel da escola como instrumento sobre o fazer, sobre a prática cotidiana.
funcional de formação de uma ordem social. Skinner, autor de Num outro campo de reformulação das diretrizes
referência desta escola de pensamento, reafirmava a educacionais, a formação docente passa a ser alvo de inúmeros
inteligência como capacidade de adaptação ao meio. Os questionamentos, especialmente devido ao processo de
métodos de treinamento, objetivando a indução de hábitos e o reformulação dos cursos de Pedagogia e Licenciatura.
reflexo condicionado, eram valorizados, assim como estudos Num esforço de síntese, a década de 80 é fortemente
experimentais que procuravam descrever reações a estímulos marcada pela politização do debate sobre estratégias
programados. Desenvolvia-se, portanto, uma tecnologia educacionais, tendo na proletarização do professor o elemento
educacional. Nesse contexto, o professor foi expropriado de de articulação da crítica educacional com o movimento político
seu papel formulador, necessitando apenas ter treinamento ou sindical geral que emergia no período de democratização
capacitação para repassar informações. brasileira.
Falar em treinamento ou capacitação, dessa forma, revela
uma concepção pedagógica que não se assenta na vivência do A universidade, contudo, permanecia desprestigiando o
professor, os conflitos e desejos nascidos da sua experiência espaço escolar de Ensino Básico, identificando-o como lugar
profissional. Uma concepção que, na acepção inglesa trainning, menor do saber.
tem o sentido de aprendizagem, ou instrução ao aprendiz, o A década de 90 aprofunda a politização e centralidade do
que demonstra a permanência de traços do paradigma vigente espaço de sala de aula. Vale destacar a correspondência desse
em décadas anteriores. CANDAU (1997) chega a fazer uma movimento com a emergência da valorização dos espaços
distinção entre uma perspectiva clássica da formação privados e marcados pelas relações intersubjetivas no debate
continuada de professores com uma concepção nova em que o acadêmico, destaque que, muitas vezes, emergiu nos escritos
lócus da formação é a própria escola. Em sua análise, a autora pós-modernos. A análise das práticas políticas como fundadas
contrapõe o conceito de reciclagem: "reciclar significa refazer na microfísica do poder valorizou o cotidiano e o espaço de
o ciclo, voltar e atualizar a formação recebida (...). Trata-se, trabalho concreto, assim com as relações microssociais.
portanto, de uma perspectiva onde se enfatiza a presença nos Mas um movimento teórico mais significativo sobre o
espaços considerados tradicionalmente como o lócus da processo de formação e identidade profissional dos
produção do conhecimento (...). Nesta perspectiva, o lócus professores foi sendo construído ao longo da década. Nos anos
privilegiado é a universidade (...)". A autora questiona se a 90, o movimento de valorização do espaço de sala de aula
concepção de reciclagem, na qual, sugere-se ainda a inclusão como espaço formativo e de construção de identidades
dos conceitos de treinamento e capacitação, não estaria filiada profissionais ganha contornos teóricos com as colaborações,
à tradicional separação entre teoria e prática, entre produção em especial, de autores europeus.
e transmissão de conhecimento. Para NÓVOA, um dos expoentes dessa nova vertente
analítica, a projeção de novos significados do espaço escolar
No final da década de 70 e ao longo da de 80, o enfoque advém da transição de uma concepção técnica de trabalho
técnico e funcionalista em relação à educação passa a ser docente para perspectiva do professor reflexivo; de uma
duramente criticado. Olhares vindos da filosofia e sociologia separação entre o lugar da prática e o da teoria para a
ajudam a compreender a educação como espaço articulação entre o espaço escolar e o espaço universitário e da
transformador, articulado às questões político-sociais do país. descoberta do professor como pessoa para a necessidade de
A partir de outro referencial, a escola passa a ser concebida conceber espaços de autoconhecimento e de reflexão ética.
como reprodutora das relações sociais. Começa a tomar corpo Assim, para esse autor, houve uma mudança do
a discussão sobre a função social da escola e a sua articulação investimento da escola como projeto organizacional para um
com uma prática social global. No bojo dessa discussão, duas esforço de organizar ambientes favoráveis à formação e à
questões ganham destaque nas críticas feitas ao modelo inovação. A consequência imediata desse tipo de abordagem
predominante até então: o caráter político da prática foi a busca teórica do mesmo nível de análise, que pudesse
pedagógica e o compromisso do educador com as classes articular o espaço escolar (dimensão micro) e o sistema
populares. Esta última questão, vale registrar, mantinha educacional (dimensão macro). O dado comum das
coerência com o momento político de democratização do país, experiências reformistas advindas desse novo posicionamento
quando as forças de resistência ao regime militar ganhavam a respeito da experiência formativa dos profissionais da
expressão pública. educação foi a tomada de consciência de que é fundamental
Com efeito, para os profissionais preocupados com a que a formação de professores aconteça dentro das escolas,
formação docente, as questões educacionais passaram a ser como movimento reflexivo das tentativas, experimentações,
abordadas de forma articulada aos acontecimentos políticos demandas do processo formativo, adequação de projetos
em que vivia a sociedade brasileira. pedagógicos à realidade social, cujo protagonista é o professor.
Os significados presentes nas experiências dos A mudança de foco, ou seja, a valorização do saber
professores, vivenciadas nesse momento de mobilização experiencial suscitou um movimento de análise coletiva das
política, remeteram a questionamentos não só de seu papel, do práticas e do apoio profissional interpares, adotando como
seu trabalho, mas também de concepções que embasavam a movimento formador a reflexão sobre a experiência. NÓVOA

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adota a expressão critical friends (amigos críticos) para vivenciado espaços múltiplos de formação, absorvendo um
redefinir as novas bases da necessária relação entre volume cada vez mais crescente de informações (que se
universidade e Ensino Básico. contradizem, muitas vezes) e, assim, tende a tencionar com
projetos de formação, cujos conteúdos podem até ser
Se o reconhecimento do professor como protagonista das inovadores, mas a forma de seu desenvolvimento segrega
práticas educativas gera certo consenso teórico, as condições formadores e formandos.
para sua realização não chegaram a se efetivar. NÓVOA destaca O profissional que emerge de ações complexas e, por vezes,
a necessidade urgente de se ultrapassar o reconhecimento do contraditórias, revela um perfil docente multifacetado.
professor como investigador para a instalação de condições Análises questionam a eficácia e a pertinência da divisão
concretas que reforcem as práticas de pesquisa e de produção clássica entre espaços de produção e reprodução de
escrita dos professores no interior do sistema educacional. Em conhecimentos, em que se hierarquizam os produtos da
suma, ainda há pouca produção do próprio professor e ainda é vivência de uma mesma categoria profissional, que é a de
mais restrito o reconhecimento científico e editorial de sua educadores.
produção. O seu trabalho acaba sendo apenas objeto de estudo
e uma forma de universitários legitimarem seus livros, seus
trabalhos.
A tradução dessas observações nos encontros dedicados 4.6 A pesquisa na prática
ao debate dos projetos educacionais realizados ao longo dos docente.
anos 90 e início do século XXI foi a consagração do espaço
escolar do Ensino Básico como lócus privilegiado da
articulação entre a denominação formação inicial
(universidade) e a formação continuada, que os programas de O ensino e a aprendizagem devem observar o Trabalho e a
formação desenvolvidos por várias reformas educacionais em Pesquisa. Embora na vida real, quando um professor pede para
curso denominaram formação em serviço, valorizando o que se faça um trabalho, pressupõe-se que para sua elaboração
cotidiano e as práticas educativas realizadas em sala de aula é feita uma pesquisa. Mas será que é isso mesmo?
como formuladores da pauta dos programas de formação
profissional. Para entendermos bem esses dois pontos, vamos começar
Em Nóvoa, os dois primeiros anos da profissão são tratando da Pesquisa.
identificados como cruciais para a consolidação da identidade
profissional, o que exige um acompanhamento preciso do Pesquisa
trabalho dos novos professores, aproximando-se de uma O termo “pesquisa” significa, segundo o dicionário Aurélio,
política de proteção e auxílio permanentes em relação aos “indagação ou busca minuciosa para averiguação da realidade;
professores iniciantes. E o que ocorre, via de regra, é a investigação, inquirição”. Além disso, também significa
atribuição de turmas problemas aos professores iniciantes “investigação e estudo, minudentes e sistemáticos, com o fim
que, com raras exceções, não têm nenhum acompanhamento de descobrir ou estabelecer fatos ou princípios relativos a um
ou apoio de professores mais experientes. campo qualquer do conhecimento”. Essas definições nos
ajudam a compreender a pesquisa como uma ação de
O debate em que se insere o novo estatuto da formação conhecimento da realidade, um processo de investigação,
docente sugere, entretanto, um espaço mais complexo da minucioso e sistemático, para conhecermos a realidade ou
constituição do profissional em questão. Se o espaço da prática alguns aspectos da realidade ainda desconhecidos, seja essa
concreta do docente passa a ser considerado como espaço realidade natural ou social.
formativo por excelência, é necessária a absorção da complexa A pesquisa trata-se da atividade da Ciência responsável
relação entre comunidade, aluno e professor como eixo do por conduzir a atividade de ensino e usa frente à realidade do
processo formativo. Em várias escolas, um tempo para mundo. Desse modo, ainda que seja uma prática teórica, a
trabalho coletivo dos professores tem sido instituído na grade pesquisa leva ao pensamento e à ação.
curricular, proporcionando trocas, planejamentos e iniciativas
comuns e um significativo processo de formação docente, na Segundo Gil89:
medida em que a prática cotidiana, com seus desafios, A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos
problemas e questões, tem sido alvo de reflexão. conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de
Há que se ressaltar a existência de um profundo divórcio métodos, técnicas e outros procedimentos científicos (...) ao
entre a concepção oficial de formação e qualificação do longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a
profissional do Ensino Básico e o contexto vivenciado pelo adequada formulação do problema até a satisfatória
professor. De certa forma, o discurso oficial continua apresentação dos resultados.
caudatário do ideário tecnicista, no qual o professor é Quando falamos em pesquisa, devemos associar com a
instrumento da reforma educacional ou dos objetivos ideia de conhecimento. O conhecimento é um mecanismo de
expressos nas propostas curriculares, em virtude da compreensão e transformação do mundo, como um objeto de
persistência de modelos de gestão pautados pelo controle de libertação. É através do conhecimento que se reflete sobre o
práticas educacionais e da busca de efetivação de padrões de mundo cultural. O mundo humano é aquele construído pela
conduta e práticas profissionais. Nessa perspectiva, ele não cultura, através dos seres humanos e sua relação em sua
seria sujeito, nem mesmo objeto, mas instrumento da política relação cultural.
e dos discursos oficiais.
Conceito de Metodologia de Pesquisa90
Se já não bastasse a exclusão social do professor enquanto Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e
elaborador, o discurso oficial, ao recusar incluir a vivência do a prática exercida na abordagem da realidade. Neste sentido, a
educador na prática de formação, acaba por gestar um campo metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e
de permanente tensão e descrença na rede oficial. Em outras está sempre referida a elas. Dizia Lênin91 (1965) que “o
palavras, o professor está mudando, está mais crítico, tem método é a alma da teoria”, distinguindo a forma exterior com

89GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Altas, 1996. 91 LÊNIN, W. Cahiers philosophiques. Paris: Sociales, 1965. p.28
90 Reis, Marília Freitas de Campos Tozoni. A Pesquisa e a Produção de
Conhecimentos

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que muitas vezes é abordado tal tema (como técnicas e significativos da realidade para trabalhá-los, buscando
instrumentos) do sentido generoso de pensar a metodologia interconexão sistemática entre eles.
como a articulação entre conteúdos, pensamentos e existência.
Da forma como tratamos neste trabalho, a metodologia Teorias, portanto, são explicações parciais da realidade.
inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de Cumprem funções muito importantes:
técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro a) colaboram para esclarecer melhor o objeto de
divino do potencial criativo do investigador. investigação;
Enquanto abrangência de concepções teóricas de b) ajudam a levantar as questões, o problema, as perguntas
abordagem, a teoria e a metodologia caminham juntas, e/ou as hipóteses com mais propriedade;
intrincavelmente inseparáveis. Enquanto conjunto de c) permitem maior clareza na organização dos dados;
técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro, d) e também iluminam a análise dos dados organizados,
coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses embora não possam direcionar totalmente essa atividade, sob
teóricos para o desafio da prática. pena de anulação da originalidade da pergunta inicial.
O endeusamento das técnicas produz ou um formalismo
árido, ou respostas estereotipadas. Seu desprezo, ao contrário, Em resumo, a teoria é um conhecimento de que nos
leva ao empirismo sempre ilusório em suas conclusões ou a servimos no processo de investigação como um sistema
especulações abstratas e estéreis. organizado de proposições, que orientam a obtenção de dados
Nada substitui, no entanto, a criatividade do pesquisador. e a análise dos mesmos, e de conceitos, que veiculam seu
Feyerabend, num trabalho denominado Contra o método sentido.
(1989), observa que o progresso da ciência está associado Proposições são declarações afirmativas sobre fenômenos
mais à violação das regras do que à sua obediência. “Dada uma e/ou processos. Para alguns autores, a proposição é uma
regra qualquer, por fundamental e necessária que se afigure hipótese comprovada. As proposições de uma teoria devem ter
para a ciência, sempre haverá circunstâncias em que se torna três principais características:
conveniente não apenas ignorá-la como adotar a regra a) serem capazes de sugerir questões reais;
oposta”. Em Estrutura das Revoluções Científicas (1978) b) serem inteligíveis;
Thomas Kuhn reconhece que nos diversos momentos c) representarem relações abstratas entre coisas, fatos,
históricos e nos diferentes ramos da ciência há um conjunto de fenômenos e/ou processos.
crenças, visões de mundo e de formas de trabalhar, Ao se utilizarem de um conjunto de proposições
reconhecidos pela comunidade científica, configurando o que logicamente relacionadas, a teoria busca uma ordem, uma
ele denomina paradigma. sistemática, uma organização do pensamento, sua articulação
Porém, para Kuhn, o progresso da ciência se faz pela como real concreto, e uma tentativa de ser compreendida
quebra dos paradigmas, pela colocação em discussão das pelos membros de uma comunidade que seguem o mesmo
teorias e dos métodos, acontecendo assim uma verdadeira caminho de reflexão e ação.
revolução. Se quisermos, portanto, trilhar a carreira de pesquisador,
O método, dizia o historicista Dilthey92, é necessário por temos de nos aprofundar nas obras dos diferentes autores que
causa de nossa “mediocridade”. Para sermos mais generosos, trabalham os temas que nos preocupam, inclusive dos que
diríamos, como não somos gênios, precisamos de parâmetros trazem proposições com as quais ideologicamente não
para caminhar no conhecimento. Porém, ainda que simples concordamos.
mortais, a marca de criatividade é nossa griffe em qualquer A busca de compreensão do campo científico que nos é
trabalho de investigação. pertinente, já trilhado por antecessores e contemporâneos,
Entendemos por pesquisa a atividade básica da Ciência na nos alça a membros de sua comunidade e nos faz ombrear,
sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que lado a lado com eles, as questões fundamentais existentes, na
alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade atualidade, sobre nossa área de investigação. Ou seja, a teoria
do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a não é só o domínio do que vem antes para fundamentar nossos
pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser caminhos, mas é também um artefato nosso como
intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro investigadores, quando concluímos, ainda que
lugar, um problema da vida prática. As questões da provisoriamente, o desafio de uma pesquisa.
investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e No processo de pesquisa trabalhamos com a linguagem
circunstâncias socialmente condicionadas. São frutos de científica das proposições que são construções lógicas; e
determinada inserção no real, nele encontrando suas razões e conceitos que são construções de sentido.
seus objetivos. As funções dos conceitos podem ser classificadas em
Toda investigação se inicia por um problema com uma cognitivas, pragmáticas e comunicativas. Eles servem para
questão, com uma dúvida ou com uma pergunta, articuladas a ordenar os objetos e os processos e fixar melhor o recorte do
conhecimentos anteriores, mas que também podem demandar que deve ou não ser examinado e construído.
a criação de novos referenciais. Em seu aspecto cognitivo, o conceito é delimitador. Por
Esse conhecimento anterior, construído por outros exemplo, se decidimos analisar a influência da AIDS no
estudiosos e que lançam luz sobre a questão de nossa pesquisa, comportamento de adolescentes do sexo feminino de uma
é chamado teoria. A palavra teoria tem origem no verbo grego escola X, turma Y, eliminamos todas as outras possibilidades.
theorein, cujo significado é “ver”. A associação entre “ver” e
“saber” é uma das bases da ciência ocidental. Enquanto valorativos, os conceitos determinam com que
A teoria é construída para explicar ou compreender um conotações o pesquisador vai trabalhar. Ou seja, que corrente
fenômeno, um processo ou um conjunto de fenômenos e teórica adotará na interpretação do comportamento
processos. Este conjunto citado constitui o domínio empírico adolescente e da AIDS, por exemplo.
da teoria, pois esta tem sempre um caráter abstrato. Na sua função pragmática, o conceito tem que ser
Nenhuma teoria, por mais bem elaborada que seja, dá operativo, ou seja, ser capaz de permitir ao investigador
conta de explicar todos os fenômenos e processos. O trabalhar com ele no campo.
investigador separa, recorta determinados aspectos

92 DILTHEY, W. Introducciòn a las ciencias del espiritu. Madrìd, Revìsta de

Occidente, 1956.

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Por fim, no seu caráter comunicativo, o conceito deve ser Método é instrumento, caminho, procedimento, e por isso
de tal forma claro, específico e abrangente que permita sua nunca vem antes de concepção de realidade. É a metodologia
compreensão pelos interlocutores participantes da mesma que coloca mais propriamente a pretensão cientifica e seu
área de interesse. domínio define na prática quem é ou não cientista.
A pesquisa metodológica é um dos horizontes estratégicos
A pesquisa, portanto, é uma importante atividade de da pesquisa, que não se restringe a “decorar”. Alcança a
professores e alunos nas instituições de ensino superior, em capacidade de discutir criativamente caminhos alternativos
especial, nas instituições universitárias de ensino superior. para a ciência e mesmo de cria-los, um exemplo recente é a
Embora, no Brasil, ela se concretize mais nas instituições pesquisa participante, que além de recolocar a questão da
públicas do que nas instituições privadas, a pesquisa é teoria e da prática, apresenta ofensiva forte na linha de refazer
considerada uma das principais funções sociais do ensino caminhos científicos. Alguns tópicos da pesquisa metodológica
superior. Isso porque entendemos que o ensino superior e a podem ser:
universidade representam um espaço educativo privilegiado,
onde a produção crítica de conhecimentos contribui - discussão crítica das metodologias em uso: dialéticas,
significativamente para a sociedade. Dessa forma, a pesquisa positivismos, estruturalismos, empirismos, positivismos,
nos cursos de graduação tem o sentido de produzir estruturalismos, sistemismos:
conhecimentos atualizados e significativos para fundamentar - propostas de metodologias alternativas: pesquisa
as atividades de formação humana e profissional, mas, por participante, avaliação qualitativa, hermenêutica;
outro lado, tem também o objetivo de formar pesquisadores. A - capacidade de conferir de uma teoria a concepção
pesquisa nos cursos de graduação é conhecida, em geral, como cientifica subjacente, garimpando nas linhas e nas entrelinhas a
um trabalho de iniciação científica. postura metodológicas;
- capacidade de detectar o fundo ideológico das produções
Tipos de Pesquisa93 cientificas, já que são condicionadas também socialmente, do
A pesquisa tem seus horizontes múltiplos. Compreendida que se pode conferir a concepção de ciência e de método;
como capacidade de elaboração própria, a pesquisa condensa- - formação crítica e emancipatória de espaço próprio;
se numa multiplicidade de horizontes no contexto cientifico. É - discussão do lugar da ciência na sociedade, que, como
comum prende-la à sua construção empírica. Vamos aos tipos: técnica, tem sido tática de lucro e opressão.

- Pesquisa empírica: - Pesquisa prática:


É apenas um horizonte dela, que com exclusividade torna- Outro horizonte da pesquisa é a prática, por mais que as
se desvirtuado do conceito de pesquisa. O reconhecimento é ciências sociais, contraditórias, possam estranhar tal postura.
que não pode fazer levantamento empírico sem a associação Por caminhos surpreendentes, as ciências sociais que tratam a
dos outros horizontes como: teoria, método e prática. práxis social histórica, tornaram-se ou produto tipicamente
teórico, ou cópia teórica.
- Pesquisa teórica: Teoria e prática detêm a mesma relevância científica e
É importante por proporcionar a criatividade do constitui no fundo um todo só. Uma não substitui a outra e
intérprete. Domínio teórico significa a construção, via cada qual tem sua lógica. Não se pode realizar prática criativa
pesquisa, da capacidade de relacionar alternativas sem retorno constante à teoria, bem como não se pode
explicativas, de conhecer seus vazios e virtudes, sua historio, fecundar a teoria sem conforto com a prática.
sua consistência, potencialidade, de cultivar a polemica do A pesquisa prática que nunca pode ser bem-feita sem
diálogo construtivo, explorar chances possíveis de caminhos teoria, método e empírica, é modo de produção de
ainda não explorados. O bom teórico é aquele que sabe bem conhecimento, que possui ainda a vantagem de puxar para o
perguntar, colocando a teoria no devido lugar: instrumentação cotidiano a ciência. Pode resvalar facilmente para o senso
criativa, diante de realidade dissimulada. Quem dispõe de boa comum, mas pode adquirir tonalidades muito criativas da
teoria, sabe interpretar, ou pelo menos sabe propor caminhos sabedoria e do bom senso. Pesquisa prática não significa
de interpretação possível. Faz parte da pesquisa teórica: apenas a noção de aplicabilidade concreta, porque seria
- conhecer a fundo quadros de referência alternativos, irônica uma teoria não-aplicável, mas sobretudo a prática
clássicos e modernos, ou aos teóricos relevante; como parte integrante do processo cientifico como tal.
- atualizar-se na polemica teórica, sem modismos, para Consequência disso será que prática deve ser estritamente
abastecer-se e desinstalar-se; curricular, não fazendo sentido a noção truncada de estágio.
- elabora previsão conceitual, atribuindo significado Pesquisa prática quer dizer “olhos abertos” para realidade,
estrito aos termos básicos de cada teoria; tomando-a como mestra de nossas concepções. Quem é
- aceitar o desafio criativo de prepor a realidade à fixação inteligente sempre aprende, porque está em atitude de
teórica para que a prática não se reduza à “prática teórica “, e pesquisa.
para que a teoria se mantenha em seu devido lugar, como
instrumentação interpretativa e condição de criatividade; - Pesquisa participante:
- investir na consciência crítica, que se alimenta de É talvez a proposta mais ostensiva de valorização da
alternativas explicativas, do vaivém entre teoria e prática, dos prática como fonte de conhecimento, apesar de suas
limites de cada teoria. banalizações típicas. Defende a eliminação da separação entre
sujeito e objeto, tentando estabelecer relação dialogal de
- Pesquisa metodológica: influência mútua, teórica e prática. Conhecimento adquire a
Nela predomina a expectativa de que método se aprende, dimensão de autoconhecimento, aparecendo logo a
não cria-se. E um modelo pronto, é comum constatar, que na importância da formação da consciência crítica como primeiro
pesquisa metodológica todo cientista criativo e produtivo passo de toda proposta emancipatória. Todo conhecimento
marca sua presença no mundo científico não só pela teoria e vindo da prática necessita de elaboração teórica, mas não é
por vezes pela discussão metodológica. Preocupa-se com o menos verdadeira a postura contrária.
método, pois é sinal de competência, no mínimo de bom nível.
Teoria coloca a discussão sobre concepções de realidade.

Texto adaptado de NUNES, S. G. Pesquisa e Tecnologia: Desafio constante na Capacitação e Formação do Professor

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Segundo Demo94, na proposta de pesquisa o professor refletindo ele poderá avaliar se tem ou não condições de
deve orientar o aluno. Apesar de muitos professores não modificar seus atos, fazendo jus a responsabilidade que lhe
estarem preparados, para assumir essa postura de fora imposta.
orientadores, muitos não se sentem incentivados e deixam de Pensando nisso, aparece a figura do professor reflexivo,
lado a importância do compromisso de ensinar a metodologia que reconstrói suas práticas e saberes, pois é capaz de
de orientação aos futuros professores, para que eles possam examinar sua prática, reconhecendo os problemas e criando,
viabilizar sua postura de orientadores, além de ter capacidade logo em seguida, as hipóteses, seus valores, participando de
de ensinar o aluno a aprender. desenvolvimento curricular, fortalecendo seu grupo.
A estrutura da escola de hoje não dá margem a inovação e
emancipações do aluno, há uma necessidade de atualização Engana-se quem pensa que o professor só deve refletir
pedagógica contínua, na qual o professor seja incentivado e antes da ação, a reflexão deve ocorrer constantemente, seja
incentive seu aluno, proporcionando a criação de um espaço antes, durante ou depois do seu próprio agir – reflexão ação -
de discussão, construção coletiva e individual através de coleta Muitos estudiosos gostam de separar e dar distinções
dos dados pesquisados, (dialogar não impor conhecimento) diversas ao professor pesquisador e o professor reflexivo,
argumentar, criar espaços ainda para defesa de pensamento contudo, embora sejam usados dois tipos de professor,
assim como a crítica e a autocrítica, são meios para uma podemos entender que todos correspondem ao mesmo. Basta
formação de procedimentos desenvolvendo atitudes pensarmos que o professor pesquisador é aquele que pesquisa
consciente e contributiva para nossa sociedade. ou reflete sobre sua prática.
Não há só uma necessidade de atualização pedagógica É preciso desmistificar a educação formada apenas na base
como também a de revisitar velhos paradigmas em um tipo de pesquisa, permitindo com que o conhecimento
contextualizando-os a nossa realidade. Uma realidade e pesquisa de outros alunos sejam usados a favor da formação
sociocultural que não só respeite e valorize o indivíduo como e docência dos professores.
dê condições, para ações de transformação no meio em que
vive. Agora vamos para o ponto 2, e tratar do Trabalho,
A escola tem que, deixar de lado seu tradicional depósito apontaremos os principais pontos sobre esse assunto:
de conteúdo e humanizar-se, valorizando os conhecimentos
juntando ideias novas, permitindo a troca de conhecimentos, Trabalho como princípio educativo96,97
só assim se tornará um espaço incentivador, inovador e A concepção do trabalho como princípio educativo é a base
emancipador. para a organização e desenvolvimento curricular em seus
objetivos conteúdos e métodos.
Professor pesquisador95 Compreender a relação indissociável entre trabalho,
Como podemos definir professor? E pesquisador? ciência, tecnologia e cultura significa entender o trabalho
Lima define o professor como aquele profissional que como princípio educativo, o que não significa aprender
ministra, relaciona ou instrumentaliza os alunos para as aulas fazendo, nem é sinônimo de formar para o exercício do
ou cursos em todos os níveis educacionais, segundo trabalho. Considerar o trabalho como princípio educativo
concepções que regem esse profissional da educação e o equivale dizer que o ser humano é produtor de sua realidade
pesquisador. O professor pesquisador é aquele que exerce a e, por isto, se apropria dela e pode transformá-la. Equivale
atividade de buscar reunir informações sobre um determinado dizer, ainda, que nós somos sujeitos de nossa história e de
problema ou assunto e analisá-las, utilizando para isso o nossa realidade. Em síntese, o trabalho é a primeira mediação
método científico com o objetivo de aumentar o conhecimento entre o homem e a realidade material e social.
de determinado assunto, descobrir algo novo ou refutar O trabalho também se constitui como prática econômica,
conjecturas anteriores. obviamente porque nós garantimos nossa existência,
produzindo riquezas e satisfazendo necessidades. Na
Então o que seria professor-pesquisador? sociedade moderna a relação econômica vai se tornando
Ainda para esse autor, professor pesquisador seria aquele fundamento da profissionalização. Mas sob a perspectiva da
professor que parte de questões relativas a sua prática com o integração entre trabalho, ciência e cultura, a
objetivo de aprimorá-la. profissionalização se opõe à redução da formação para o
A pesquisa acadêmica visa a originalidade, validade e mercado de trabalho. Antes, ela incorpora valores éticos-
aceitação através da comunidade científica. O professor políticos e conteúdos históricos e científicos que caracterizam
quando pesquisa visa o conhecimento da realidade, buscando a práxis humana.
a melhoria das suas práticas pedagógicas. Quanto ao rigor o Portanto, a educação profissional não é meramente
professor pesquisa sua própria prática e encontra-se ensinar a fazer e preparar para o mercado de trabalho, mas é
envolvido com seu objeto de pesquisa. proporcionar a compreensão das dinâmicas sócio produtivas
Nas áreas da pesquisa em Ciências, como por exemplo a das sociedades modernas, com as suas conquistas e os seus
Matemática, contribui-se com a estrutura teórica, causando revezes, e também habilitar as pessoas para o exercício
um aumento no corpo de conhecimentos existentes, através de autônomo e crítico de profissões, sem nunca se esgotar a elas.
novos teoremas. Apresentados esses pressupostos, defendemos que o
Alguns estudiosos entendem que o ato de ensinar é projeto unitário de educação profissional não elide as
diferente do ato de pesquisar. Para os estudiosos que singularidades dos grupos sociais, mas se constitui como
defendem essa corrente, a formação desses profissionais síntese do diverso, tem o trabalho como o primeiro
volta-se para o desenvolvimento de competências compatíveis fundamento da educação como prática social. Além do sentido
com o exercício de cada uma dessas funções. ontológico do trabalho, a partir das finalidades atribuídas pela
Para saber o caminho que deve seguir com suas pesquisas, LDB ao ensino médio, em particular na sua forma de oferta
o professor precisa ser reflexivo, tendo em vista que somente com a educação profissional, nesta etapa da educação básica

94 Demo, Pedro. Pesquisa: Princípio científico e educativo. 9ª ed. São Paulo: 97http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download

Cortez, 2002 &alias=6695-dcn-paraeducacao-profissional-debate&category_slug=setembro-


95 Texto adaptado de BACKES, L. H. Professor pesquisador. 2010-pdf&Itemid=30192
96 Texto adaptado de MOURA, D. H. Algumas Possibilidades de Organização

do Ensino Médio a Partir de uma Base Unitária: Trabalho, Ciência, Tecnologia e


Cultura.

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toma especial importância seu sentido histórico. É onde se consciente na realidade e a compreensão do processo histórico
explicita mais claramente o modo como o saber se relaciona de construção do conhecimento.
com o processo de trabalho, convertendo-se em força Com isto queremos erigir a escola ativa e criadora
produtiva. Ressalta-se, neste caso, o trabalho também como organicamente identificada com o dinamismo social da classe
categoria econômica, a partir do qual se justificam projetos trabalhadora. Como nos diz Gramsci, essa identidade orgânica
que incorporem a formação específica para o trabalho. é construída a partir de um princípio educativo que unifique,
Na base da construção de um projeto de formação – que na pedagogia, éthos, logos e técnos, tanto no plano
enquanto reconhece e valoriza o diverso, supera a dualidade metodológico quanto no epistemológico. Isso porque esse
histórica entre formação básica e formação profissional – está projeto materializa, no processo de formação humana, o
a compreensão do trabalho no seu duplo sentido: entrelaçamento entre trabalho, ciência e cultura, revelando
a) ontológico, como práxis humana e, então, como a forma um movimento permanente de inovação do mundo material e
pela qual o homem produz sua própria existência na relação social.
com a natureza e com os outros homens e, assim, produz Quando se fala em trabalho como princípio educativo,
conhecimentos; adentra-se no campo econômico, social, histórico, fazendo com
b) histórico, que no sistema capitalista se transforma em que o trabalho seja visto pelos sentidos ontológico e histórico.
trabalho assalariado ou fator econômico, forma específica da No campo ontológico, quando o trabalho é considerado
produção da existência humana sob o capitalismo; portanto, como princípio educativo, ele é compreendido como a
como categoria econômica e práxis produtiva que, baseadas existência humana. Assim, podemos dizer que seja a busca da
em conhecimentos existentes, produzem novos própria existência que o homem gera conhecimentos, que são
conhecimentos.98 considerados históricos e culturais.
Pelo primeiro sentido, o trabalho é princípio educativo à O trabalho também é princípio educativo em seu sentido
medida que proporciona a compreensão do processo histórico histórico, através dos variados significados que o trabalho vem
de produção científica e tecnológica, como conhecimentos assumindo nas sociedades humanas. Com isso permite-se
desenvolvidos e apropriados socialmente para a compreender que no sistema capitalista, o trabalho se
transformação das condições naturais da vida e a ampliação transforma em trabalho assalariado ou fator econômico,
das capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos. capazes de auxiliar a produzir novos conhecimentos.
O trabalho, no sentido ontológico, é princípio e organiza a base O trabalho é ainda uma obrigação coletiva, já que é a partir
unitária. da produção de todos que se produz e se transforma a
Pelo segundo sentido, o trabalho é princípio educativo na existência humana, não sendo justo que muitos trabalhem
medida em que coloca exigências específicas para o processo para que poucos enriqueçam. Pior ainda é que muitos sequer
educacional, visando a participação direta dos membros da podem ou conseguem trabalhar.
sociedade no trabalho socialmente produtivo. Com este
sentido, conquanto também organize a base unitária do ensino Organização e trabalho na educação100
médio, fundamenta e justifica a formação específica para o O estudo da educação como organização de trabalho não é
exercício de profissões, essas entendidas como uma forma novo, há toda uma pesquisa sobre administração educacional
contratual socialmente reconhecida, do processo de compra e que remonta aos pioneiros da educação nova, nos anos 30.
venda da força de trabalho. Como razão da formação Esses estudos se deram no âmbito da Administração
específica, o trabalho aqui se configura também como Educacional e, frequentemente, estiveram marcados por uma
contexto. Se pela formação geral as pessoas adquirem concepção burocrática, funcionalista, aproximando a
conhecimentos que permitam compreender a realidade, na organização escolar da organização empresarial. Tais estudos
formação profissional o conhecimento científico adquire, para eram identificados com o campo de conhecimentos
o trabalhador, o sentido de força produtiva, traduzindo-se em denominado Administração e Organização Escolar ou,
técnicas e procedimentos, a partir da compreensão dos simplesmente Administração Escolar. Nos anos 80, com as
conceitos científicos e tecnológicos básicos que o discussões sobre reforma curricular dos cursos de Pedagogia
possibilitarão à atuação autônoma e consciente na dinâmica e de Licenciaturas, a disciplina passou em muitos lugares a ser
econômica da sociedade. denominada de Organização do Trabalho Pedagógico ou
Por fim, a concepção de cultura que embasa a síntese entre Organização do Trabalho Escolar, adotando um enfoque
formação geral e formação específica a compreende como as crítico, frequentemente restringido a uma análise crítica da
diferentes formas de criação da sociedade, de tal forma que o escola dentro da organização do trabalho no Capitalismo.
conhecimento característico de um tempo histórico e de um Houve pouca preocupação, com algumas exceções, com os
grupo social traz a marca das razões, dos problemas e das aspectos propriamente organizacionais e técnico-
dúvidas que motivaram o avanço do conhecimento numa administrativos da escola.
sociedade. Esta é a base do historicismo como método99, que É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, um
ajuda a superar o enciclopedismo – quando conceitos enfoque científico-racional e um enfoque crítico, de cunho
históricos são transformados em dogmas – e o espontaneísmo, sócio-político. Não é difícil aos futuros professores fazerem
forma acrítica de apropriação dos fenômenos que não distinção entre essas duas concepções de organização e gestão
ultrapassa o senso comum. da escola. No primeiro enfoque, a organização escolar é
Em um projeto unitário, ao mesmo tempo em que o tomada como uma realidade objetiva, neutra, técnica, que
trabalho se configura como princípio educativo – condensando funciona racionalmente; portanto, pode ser planejada,
em si as concepções de ciência e cultura –, também se constitui organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices
como contexto econômico (o mundo do trabalho) que justifica de eficácia e eficiência. As escolas que operam nesse modelo
a formação específica para atividades diretamente produtivas. dão muito peso à estrutura organizacional: organograma de
Do ponto de vista organizacional, essa relação deve cargos e funções, hierarquia de funções, normas e
integrar em um mesmo currículo a formação plena do regulamentos, centralização das decisões, baixo grau de
educando, possibilitando construções intelectuais elevadas; a participação das pessoas que trabalham na organização,
apropriação de conceitos necessários para a intervenção

98 LUKÁCS, G. As bases ontológicas do pensamento e da atividade do homem. 100 Texto adaptado de LIBÂNEO, José Carlos. “O sistema de organização e

Temas de Ciências Humanas. São Paulo, Ciências Humanas, nº 4, 1978, p. 1-18. gestão da escola” In: LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola - teoria
99GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. 8.ed., Rio de Janeiro: e prática. 4ª ed. Goiânia: Alternativa, 2001.
Civilização Brasileira, 1991.

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planos de ação feitos de cima para baixo. Este é o modelo mais de uma tal diferenciação de funções e saberes. Outras
comum de funcionamento da organização escolar. características desse modelo:
O segundo enfoque vê a organização escolar basicamente
como um sistema que agrega pessoas, importando bastante a - Definição explícita de objetos sócio-políticos e pedagógicos
intencionalidade e as interações sociais que acontecem entre da escola, pela equipe escolar.
elas, o contexto sócio-político etc. A organização escolar não - Articulação entre a atividade de direção e a iniciativa e
seria uma coisa totalmente objetiva e funcional, um elemento participação das pessoas da escola e das que se relacionam com
neutro a ser observado, mas uma construção social levada a ela.
efeito pelos professores, alunos, pais e integrantes da - A gestão é participativa mas espera-se, também, a gestão
comunidade próxima. Além disso, não seria caracterizado pelo da participação.
seu papel no mercado mas pelo interesse público. A visão - Qualificação e competência profissional.
crítica da escola resulta em diferentes formas de viabilização - Busca de objetividade no trato das questões da
da gestão democrática, conforme veremos em seguida. organização e gestão, mediante coleta de informações reais.
Com base nos estudos existentes no Brasil sobre a - Acompanhamento e avaliação sistemáticos com finalidade
organização e gestão escolar e nas experiências levadas a pedagógica: diagnóstico, acompanhamento dos trabalhos,
efeito nos últimos anos, é possível apresentar, de forma reorientação dos rumos e ações, tomada de decisões.
esquemática, três das concepções de organização e gestão: a - Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são
técnico-científica (ou funcionalista), a autogestionária e a avaliados.
democrático-participativa.
A concepção técnico científica baseia-se na hierarquia de Atualmente, o modelo democrático-participativo tem sido
cargos e funções visando a racionalização do trabalho, a influenciado por uma corrente teórica que compreende a
eficiência dos serviços escolares. Tende a seguir princípios e organização escolar como cultura. Esta corrente afirma que a
métodos da administração empresarial. Algumas escola não é uma estrutura totalmente objetiva, mensurável,
características desse modelo são: independente das pessoas, ao contrário, ela depende muito
das experiências subjetivas das pessoas e de suas interações
- Prescrição detalhada de funções, acentuando-se a divisão sociais, ou seja, dos significados que as pessoas dão às coisas
técnica do trabalho escolar (tarefas especializadas). enquanto significados socialmente produzidos e mantidos. Em
- Poder centralizado do diretor, destacando-se as relações de outras palavras, dizer que a organização é uma cultura
subordinação em que uns têm mais autoridades do que outros. significa que ela é construída pelos seus próprios membros.
- Ênfase na administração (sistema de normas, regras, Esta maneira de ver a organização escolar não exclui a
procedimentos burocráticos de controle das atividades), às presença de elementos objetivos, tais como as ferramentas de
vezes descuidando-se dos objetivos específicos da instituição poder externas e internas, a estrutura organizacional, e os
escolar. próprios objetivos sociais e culturais definidos pela sociedade
- Comunicação linear (de cima para baixo), baseada em e pelo Estado. Uma visão sócio crítica propõe considerar dois
normas e regras. aspectos interligados: por um lado, compreende que a
- Maior ênfase nas tarefas do que nas pessoas. organização é uma construção social, a partir da Inteligência
subjetiva e cultural das pessoas, por outro, que essa
Atualmente, esta concepção também é conhecida como construção não é um processo livre e voluntário, mas
gestão da qualidade total. A concepção autogestionária baseia- mediatizado pela realidade sociocultural e política mais ampla,
se na responsabilidade coletiva, ausência de direção incluindo a influência de forças externas e internas marcadas
centralizada e acentuação da participação direta e por igual de por interesses de grupos sociais, sempre contraditórios e às
todos os membros da instituição. Outras características: vezes conflitivos. Busca relações solidárias, formas
participativas, mas também valoriza os elementos internos do
- Ênfase nas inter-relações mais do que nas tarefas. processo organizacional- o planejamento, a organização e a
- Decisões coletivas (assembleias, reuniões), eliminação de gestão, a direção, a avaliação, as responsabilidades individuais
todas as formas de exercício de autoridade e poder. dos membros da equipe e a ação organizacional coordenada e
- Vínculo das formas de gestão interna com as formas de supervisionada, já que precisa atender a objetivos sociais e
auto-gestão social (poder coletivo na escola para preparar políticos muito claros, em relação à escolarização da
formas de auto-gestão no plano político). população.
- Ênfase na auto-organização do grupo de pessoas da As concepções de gestão escolar refletem portanto,
instituição, por meio de eleições e alternância no exercício de posições políticas e concepções de homem e sociedade. O
funções. modo como uma escola se organiza e se estrutura tem um
- Recusa a normas e sistemas de controle, acentuando-se a caráter pedagógico, ou seja, depende de objetivos mais amplos
responsabilidade coletiva. sobre a relação da escola com a conservação ou a
- Crença no poder instituinte da instituição (vivência da transformação social. A concepção funcionalista, por exemplo,
experiência democrática no seio da instituição para expandi-la valoriza o poder e a autoridade, exercidas unilateralmente.
à sociedade) e recusa de todo o poder instituído. O caráter Enfatizando relações de subordinação, determinações rígidas
instituinte se dá pela prática da participação e auto-gestão, de funções, hipervalorizando a racionalização do trabalho,
modos pelos quais se contesta o poder instituído. tende a retirar ou, ao menos, diminuir nas pessoas a faculdade
de pensar e decidir sobre seu trabalho. Com isso, o grau de
A concepção democrática-participativa baseia-se na envolvimento profissional fica enfraquecido.
relação orgânica entre a direção e a participação do pessoal da As duas outras concepções valorizam o trabalho coletivo,
escola. Acentua a importância da busca de objetivos comuns implicando a participação de todos nas decisões. Embora
assumidos por todos. Defende uma forma coletiva de gestão ambas tenham entendimentos das relações de poder dentro da
em que as decisões são tomadas coletivamente e discutidas escola, concebem a participação de todos nas decisões como
publicamente. Entretanto, uma vez tomadas as decisões importante ingrediente para a criação e desenvolvimento das
coletivamente, advoga que cada membro da equipe assuma a relações democráticas e solidárias. Adotamos, neste livro, a
sua parte no trabalho, admitindo-se a coordenação e avaliação concepção democrático-participativa.
sistemática da operacionalização das decisões tomada dentro

Educação Brasileira 130


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APOSTILAS OPÇÃO

A estrutura organizacional A Vigilância cuida do acompanhamento dos alunos em


Toda a instituição escolar necessita de uma estrutura de todas as dependências do edifício, menos na sala de aula,
organização interna, geralmente prevista no Regimento orientando-os quanto a normas disciplinares, atendendo-os
Escolar ou em legislação específica estadual ou municipal. O em caso de acidente ou enfermidade, como também do
termo estrutura tem aqui o sentido de ordenamento e atendimento às solicitações dos professores quanto a material
disposição das funções que asseguram o funcionamento de um escolar, assistência e encaminhamento de alunos.
todo, no caso a escola. Essa estrutura é comumente O serviço de Multimeios compreende a biblioteca, os
representada graficamente num organograma- um tipo de laboratórios, os equipamentos audiovisuais, a videoteca e
gráfico que mostra a inter-relações entre os vários setores e outros recursos didáticos.
funções de uma organização ou serviço. Evidentemente a
forma do organograma reflete a concepção de organização e - Setor Pedagógico
gestão. A estrutura organizacional de escolas se diferencia O setor pedagógico compreende as atividades de
conforme a legislação dos Estados e Municípios e, obviamente, coordenação pedagógica e orientação educacional. As funções
conforme as concepções de organização e gestão adotada, mas desses especialistas variam confirme a legislação estadual e
podemos apresentar a estrutura básica com todas as unidades municipal, sendo que em muitos lugares suas atribuições ora
e funções típicas de uma escola. são unificadas em apenas uma pessoa, ora são desempenhadas
por professores. Como são funções especializadas, envolvendo
Organograma Básico de Escolas habilidades bastante especiais, recomenda-se que seus
ocupantes sejam formados em cursos de Pedagogia ou
adquiram formação pedagógico-didática específica.
O coordenador pedagógico ou professor coordenador
supervisiona, acompanha, assessora, avalia as atividades
pedagógico-curriculares. Sua atribuição prioritária é prestar
assistência pedagógico-didática aos professores em suas
respectivas disciplinas, no que diz respeito ao trabalho ao
trabalho interativo com os alunos. Há lugares em que a
coordenação restringe-se à disciplina em que o coordenador é
especialista; em outros, a coordenação se faz em relação a
todas as disciplinas. Outra atribuição que cabe ao coordenador
pedagógico é o relacionamento com os pais e a comunidade,
especialmente no que se refere ao funcionamento pedagógico-
O Conselho de Escola tem atribuições consultivas, curricular e didático da escola e comunicação e interpretação
deliberativas e fiscais em questões definidas na legislação da avaliação dos alunos.
estadual ou municipal e no Regimento Escolar. Essas questões, O orientador educacional, onde essa função existe, cuida
geralmente, envolvem aspectos pedagógicos, administrativos do atendimento e do acompanhamento escolar dos alunos e
e financeiros. Em vários Estados o Conselho é eleito no início também do relacionamento escola-pais-comunidade.
do ano letivo. Sua composição tem uma certa O Conselho de Classe ou Série é um órgão de natureza
proporcionalidade de participação dos docentes, dos deliberativa quanto à avaliação escolar dos alunos, decidindo
especialistas em educação, dos funcionários, dos pais e alunos, sobre ações preventivas e corretivas em relação ao
observando-se, em princípio, a paridade dos integrantes da rendimento dos alunos, ao comportamento discente, às
escola (50%) e usuários (50%). Em alguns lugares o Conselho promoções e reprovações e a outras medidas concernentes à
de Escola é chamado de “colegiado” e sua função básica é melhoria da qualidade da oferta dos serviços educacionais e ao
democratizar as relações de poder. melhor desempenho escolar dos alunos.

Direção - Instituições Auxiliares


O diretor coordena, organiza e gerencia todas as atividades Paralelamente à estrutura organizacional, muitas escolas
da escola, auxiliado pelos demais componentes do corpo de mantêm Instituições Auxiliares tais como: a APM (Associação
especialistas e de técnicos-administrativos, atendendo às leis, de Pais e Mestres), o Grêmio Estudantil e outras como Caixa
regulamentos e determinações dos órgãos superiores do Escolar, vinculadas ao Conselho de Escola (onde este existia)
sistema de ensino e às decisões no âmbito da escola e pela ou ao Diretor.
comunidade. O assistente de diretor desempenha as mesmas A APM reúne os pais de alunos, o pessoal docente e técnico-
funções na condição de substituto eventual do diretor. administrativo e alunos maiores de 18 anos. Costuma
funcionar mediante uma diretoria executiva e um conselho
- Setor técnico-administrativo deliberativo.
O setor técnico-administrativo responde pelas atividades- O Grêmio Estudantil é uma entidade representativa dos
meio que asseguram o atendimento dos objetivos e funções da alunos criada pela lei federal n.7.398/85, que lhe confere
educação. autonomia para se organizarem em torno dos seus interesses,
A Secretaria cuida da documentação, escrituração e com finalidades educacionais, culturais, cívicas e sociais.
correspondência da escola, dos docentes, demais funcionários Ambas as instituições costumam ser regulamentadas no
e dos alunos. Responde também pelo atendimento ao público. Regime Escolar, variando sua composição e estrutura
Para a realização desses serviços, a escola conta com um organizacional. Todavia, é recomendável que tenham
secretário e escriturários ou auxiliares da secretaria. autonomia de organização e funcionamento, evitando-se
O setor técnico-administrativo responde, também, pelos qualquer tutelamento por parte da Secretaria da Educação ou
serviços auxiliares (Zeladoria, Vigilância e Atendimento ao da direção da escola.
público) e Multimeios (biblioteca, laboratórios, videoteca etc.). Em algumas escolas, funciona a Caixa Escolar, em outras
A Zeladoria, responsável pelos serventes, cuida da um setor de assistência ao estudante, que presta assistência
manutenção, conservação e limpeza do prédio; da guarda das social, econômica, alimentar, médica e odontológica aos alunos
dependências, instalações e equipamentos; da cozinha e da carentes.
preparação e distribuição da merenda escolar; da execução de
pequenos consertos e outros serviços rotineiros da escola.

Educação Brasileira 131


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- Corpo Docente renda), assim como de investimentos diretos que modifiquem


O Corpo docente é constituído pelo conjunto dos as condições de salário e de trabalho dos educadores.
professores em exercício na escola, que tem como função Na discussão sobre a relação entre escola e trabalho o que
básica realizar o objetivo prioritário da escola, o ensino. Os se afirma é que garantir aos alunos sólida formação cultural,
professores de todas as disciplinas formam, junto com a favorecendo o desenvolvimento de conhecimentos,
direção e os especialistas, a equipe escolar. Além do seu papel habilidades e atitudes de cooperação, solidariedade e justiça
específico de docência das disciplinas, os professores também contribui significativamente tanto para a inserção no mercado
têm responsabilidades de participar na elaboração do plano de trabalho quanto para a formação de uma consciência
escolar ou projeto pedagógico-curricular, na realização das individual e coletiva dos significados e contradições presentes
atividades da escola e nas decisões dos Conselhos de Escola e no mundo do trabalho e do consumo, das possibilidades de
de classe ou série, das reuniões com os pais (especialmente na transformação.
comunicação e interpretação da avaliação), da APM e das Adolescentes e jovens vivem a expectativa sobre a futura
demais atividades cívicas, culturais e recreativas da — ou presente — inserção no mundo do trabalho, assim como
comunidade. os dilemas diante dos apelos para o consumo dos produtos
valorizados por seu grupo etário. Trazem um conjunto de
Os elementos constitutivos do sistema de organização e representações acerca da sociedade e sobre a posição que nela
Gestão da Educação ocupam a partir da verificação das condições familiares e da
A gestão democrática-participativa valoriza a participação comparação com outras realidades com as quais entraram em
da comunidade escolar no processo de tomada de decisão, contato diretamente ou pela mídia. Esse conjunto de
concebe à docência como trabalho interativo, aposta na representações servirá de base para a formulação de seus
construção coletiva dos objetivos e funcionamento da escola, projetos de vida, entre os quais se inclui o projeto profissional.
por meio da dinâmica intersubjetiva, do diálogo, do consenso. A combinação escola-trabalho é corrente entre jovens de
Nos itens interiores mostramos que o processo de tomada de famílias trabalhadoras, visando complementar a renda
decisão inclui, também, as ações necessárias para colocá-la em familiar — afetada pela deterioração salarial ou o desemprego
prática. Em razão disso, faz-se necessário o emprego dos —, para melhorar o padrão de consumo, ou para garantir sua
elementos ou processo organizacional, tal como veremos permanência na escola. Muitas vezes o salário recebido pelo
adiante. jovem trabalhador representa um dinheiro que pode ser gasto
De fato, a organização e gestão refere-se aos meios de no consumo de produtos e serviços voltados para esse público.
realização do trabalho escolar, isto é, à racionalização do Porém, se não são todos que já participam de alguma forma do
trabalho e à coordenação do esforço coletivo do pessoal que mercado de trabalho, ou têm um lugar no trabalho doméstico,
atua na escola, envolvendo os aspectos, físicos e materiais, os todos refletem, em sua atuação escolar, a situação de trabalho
conhecimentos e qualificações práticas do educador, as e emprego das famílias, assim como a luta cotidiana para
relações humano-interacionais, o planejamento, a conquistar o direito de usufruir dos bens e serviços
administração, a formação continuada, a avaliação do trabalho produzidos.
escolar. Tudo em função de atingir os objetivos. Ou seja, como Direta ou indiretamente, de forma explícita ou implícita, a
toda instituição as escolas buscam resultados, o que implica escola trabalha com valores, representações e
uma ação racional, estruturada e coordenada. Ao mesmo posicionamentos relativos ao mundo do trabalho e do
tempo, sendo uma atividade coletiva, não depende apenas das consumo. Todos trazem consigo representações sobre estas
capacidades e responsabilidades individuais, mas de objetivos relações sociais, posturas frente a elas, imagens já construídas
comuns e compartilhados e de ações coordenadas e de valorização de determinadas profissões e tipos de trabalho,
controladas dos agentes do processo. assim como sua tradução em práticas de consumo, na posse ou
não de objetos ou em marcas de distinção social. A
Tais elementos ou instrumentos de ação são: desigualdade e a diversidade estão presentes nas escolas, por
Planejamento - processo de explicitação de objetivos e meio de práticas de consumo que permeiam o cotidiano
antecipação de decisões para orientar a instituição, prevendo- escolar: enquanto em algumas há a possibilidade de escolha
se o que se deve fazer para atingi-los. entre determinados materiais existentes no mercado, de
Organização - Atividade através da qual se dá a material didático, que pode se refletir no desperdício ou
racionalização dos recursos, criando e viabilizando as reaproveitamento de materiais, por exemplo, outras convivem
condições e modos para se realizar o que foi planejado. com grande carências até de materiais básicos.
Direção/Coordenação - Atividade de coordenação do Torna-se necessário problematizar como, por meio dessas
esforço coletivo do pessoal da escola. representações e das relações efetivamente vividas em seu
Formação continuada - Ações de capacitação e interior, a escola pode atuar para superar práticas e valores
aperfeiçoamento dos profissionais da escola para que realizem que discriminam trabalhadores e colaboram na aceitação da
com competência suas tarefas e se desenvolvam pessoal e pobreza e da “naturalidade” do sistema ou para sua
profissionalmente. manutenção.
Avaliação - comprovação e avaliação do funcionamento da Como a escola relaciona-se com os alunos mais pobres,
educação. frequentemente provenientes de famílias que não tiveram
acesso à escola? O fracasso escolar ou baixo desempenho de
Escola, trabalho e consumo alguns alunos é “esperado” ou se luta contra a associação da
Entende-se a escola como uma organização que trabalha pobreza ou do desemprego à incompetência ou desvalia
— que trabalha com uma tarefa específica e que, com seu pessoal? Como a escola avalia/valoriza os saberes produzidos
trabalho, prepara futuros trabalhadores —, reproduzindo nos diferentes campos de trabalho, o científico, o tecnológico,
parcialmente as representações, valores e condições de o artístico, o operário? Existe o reconhecimento dos diferentes
trabalho mais gerais, a hierarquia, a especialização, a conhecimentos como produtos do trabalho e o
precarização do trabalho formal, o impacto das novas reconhecimento dos diferentes trabalhadores como
tecnologias. Está, portanto, condicionada por fatores produtores de conhecimento? Quais são os critérios utilizados
estruturais. Pode, porém, desempenhar um papel importante para se pensar sobre o “sucesso”, sobre o “êxito”? Realização
na inclusão dos grupos sociais discriminados ou pessoal, empenho, solidariedade, contribuição para o “bem
desfavorecidos, ainda que isso dependa fundamentalmente de comum”? Ou riqueza, acúmulo de bens? Como estas e outras
políticas públicas (de alimentação, de habitação, saúde e de ideias perpassam os conteúdos ensinados nas áreas, as

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tomadas de decisão e postura dos educadores, as relações e Um terceiro aspecto que não pode ser desconsiderado
práticas do convívio escolar? refere-se à Ética que é o elemento mediador por meio da
Assim, propõe-se que a escola atue com o compromisso de Filosofia desenvolve a prática problematizadora.
uma formação cultural e política sólida e abrangente, que Terezinha destaca a necessidade de compreender de
possibilite uma compreensão crítica da situação atual e forma científica o mundo político, com a finalidade para
favoreça a participação e a cooperação. intervir nas relações na sociedade com a perspectiva de mudar
o próprio mundo político, visando o estabelecimento das
Questões relações justas.
Sua prática pedagógica destaca-se em uma educação
01. (Prefeitura de Teresópolis/RJ – Pedagogia - essencialmente entendida na ação da Filosofia Política e da
BIORIO) Por gestão participativa entende-se: Ética, na busca da compreensão entre o conhecimento do
I - envolvimento de todos que fazem parte direta ou senso comum e do saber científico, sendo que a Filosofia é o
indiretamente no processo educacional; conhecimento do saber complexo total dos objetos em
II - compartilhamento na solução de problemas e nas estudos.
tomadas de decisão do diretor escolar; A realização de um saber construído socialmente, na
III - implementação, monitoramento e avaliação dos perspectiva dialética do ser e dever ser, ou seja, do ideal de
resultados; sociedade que deve ser construída. Portanto, a educação é uma
IV - estabelecimento de objetivos claros e democráticos; ação de transformação, uma educação que não transforma não
V - visão de conjunto associada a uma posição hierárquica. é educadora.
As relações estabelecidas do ponto de vista político são
Estão corretas as afirmativas: relações de poder, que estabelecem sujeitos distintos uns
(A) I, II e III; impondo sobre a vontade dos outros por meio do poder
(B) I, III e IV; político.
(C) II, III e V; A capacidade de modificar o comportamento um do outro
(D) I, IV e V; do ponto de vista da política é diferente em relação à
intervenção a natureza.
02. Com relação à pesquisa metodológica, julgue o item A educação é uma dimensão da práxis, entendida em
abaixo: diferentes componentes: econômico, a questão do trabalho, a
produção da vida material, o político, o que rege as práticas
É um modelo pronto, onde constata-se, que na pesquisa institucionais do poder, e ético o que determinam os valores
metodológica todo cientista criativo e produtivo marca sua de tais práticas.
presença no mundo científico não só pela teoria e por vezes
pela discussão metodológica. Para Rios a Filosofia da educação atua como instrumento
( ) Certo ( ) Errado de ajuda as práticas dos sujeitos da educação, na busca da
superação das contradições, ligando as demais ciências na
03. Quanto à estrutura organizacional, constata-se que: mesma prática na defesa do mecanismo da educação, no
Toda a instituição escolar necessita de uma estrutura de caminho do fazer educativo. Educam-se quando transformam.
organização externa, geralmente prevista no Regimento Fazer educação no Brasil é antes de tudo compreender a
Escolar ou em legislação específica estadual ou municipal. realidade brasileira, sua organização no capitalismo
( ) Certo ( ) Errado entendendo os mecanismos contraditórios da própria
realidade, no processo pedagógico.
04. O atual modelo democrático-participativo tem sido Educação é um fenômeno da história política social dentro
influenciado por uma corrente teórica que compreende a do contexto social da cultura produzida, sendo a transmissão
organização escolar como cultura, construída pelos seus da mesma pelo caminho da transformação do homem através
próprios membros. do trabalho.
( ) Certo ( ) Errado O mundo apresenta duas realidades, a que se refere ao
mundo da natureza, que independe do homem, mais
Respostas especificamente as leis naturais, a outra, a produção da cultura
01. B. / 02. Certo. / 03. Errado. / 04. Certo. no mundo.
A cultura é uma construção do homem das necessidades da
natureza humana, formulada pela linguagem. As diferenças do
4.7 A dimensão ética da mundo natural com mundo artificial ou do mundo da
formulação, sendo o que o último realiza-se pelo ato da
profissão. construção e da reconstrução.
Portanto, a cultura é algo inventado, quase sempre
ideológica quando justificam fins discriminatórios, a cultura
Ética não é apenas o acúmulo dos processos de sínteses, o que se
denomina de erudição, mas o resultado do trabalho humano,
101A formação do professor é muito precária, sem
da ação do homem na transformação da natureza, nesse
dimensão ética no ato de desenvolver a prática pedagógica. sentido que nasce o aspecto da ação política para
Sendo que a mesma cumpre um papel indispensável na transformação do mundo.
educação. A cultura é transmitida por diversos meios entre eles a
O professor precisa levar em consideração dois escola, o que foi acumulado pela sociedade, objetivo do saber
aspectos fundamentais na pedagogia como método do ato científico, contra o saber ideológico e para formar pessoas
de ensinar: a questão técnica e o ato político, são como agentes da construção da sociedade, ação que
diferentes em si, mas articulados na prática pedagógica. necessariamente terá que ser política.

101VASCONCELOS, E. D. de; Ética e Competência. Resenha do livro de RIOS,


Terezinha. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 2003.

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A escola tradicional tem como objetivo desenvolver uma O que não poderá ser realizado no atual modo capitalista de
educação que sustentam as relações sociais da produção, ou produção das riquezas.
seja, na defesa ideológica do capitalismo, dividido em classes
antagônicas: burguesia e o proletariado, sustentado pela Ética Profissional: (Re) Pensando Conceitos e
principal contradição capital e trabalho. Práticas102
A escola enquanto prática de ensino coloca valores e Vivemos um momento, num país e num mundo em que as
crenças ideologias nas formulações de domínios, valores das pessoas não são incentivadas a refletir sobre seu
representações burguesas que sustentam o capitalismo comportamento ou sobre o bem coletivo. Época do
enquanto forma de dominação. individualismo exacerbado, do consumismo desenfreado, da
acumulação de bens e de informações, da busca do sucesso a
A escola brasileira é permeada pela ideologia burguesa todo custo e do descartável (quem não “serve” = produz bens
liberal, a perspectiva não é a construção da Ética, pelo menos de capital = deve ser descartado). É também a época da
no caminho da transformação justa, não existe uma crítica ao impaciência e da intolerância, onde a legitimação da hipocrisia
modelo dominante do desenvolvimento da produção e da corrupção tem consequências piores do que o próprio ato
capitalista. de corromper e falsificar.
A escola não tem perspectiva de superação das No entanto, se quisermos sobreviver como seres humanos,
contradições, sem uma análise crítica das ideologias, foi se quisermos continuar habitando este maravilhoso planeta e
formulada pela escola nova dos anos 30 a 60, uma visão crítica se quisermos manter a liberdade e a democracia, teremos que
ingênua da educação, como se a escola fosse o mecanismo de pensar e fazer ÉTICA, educando para a cidadania e para a
mudança social, se fizesse uma revolução no mundo das ideias, preservação de valores como igualdade, tolerância e
a sociedade política seria transformada. dignidade.
O pressuposto dessa ideologia iluminista como se a escola
fosse uma instituição fora do mundo da produção, a outra O que é Ética: alguns conceitos importantes
tendência ingênua pessimista, como se escola apenas Ética pode ser entendida como uma reflexão sobre
produzisse a reprodução das ideologias capitalistas, portanto comportamentos humanos, de uma maneira diferente do
a escola não seria de nenhum modo um mecanismo de que fazem os psicólogos, os sociólogos, os biólogos ou
transformação. outros estudiosos do comportamento humano103
Um compromisso autêntico pedagogicamente uma escola
que não defende os compromissos antagônicos, a educação A reflexão sobre nossas ações e a própria realização de
voltada para desenvolvimento da consciência crítica com determinadas ações e não de outras, pode ser denominada
objetivo da mudança política da sociedade, a superação dos ÉTICA.
modelos de dominação. O educador deve atuar como
intelectual orgânico no processo da produção da consciência Fazer ética é refletir sobre o comportamento humano,
crítica. buscando identificar o que é bom ou mau, correto ou incorreto,
Uma sociedade dividida em classes em que parte construtivo ou destrutivo, na perspectiva da vida e da
significativa da sociedade tem o acesso ao saber negado. A qualidade de vida individual e coletiva. De acordo com Valls, os
escola qualifica a pessoa de forma errada, com aquele que é problemas teóricos da ética podem ser separados
proprietário de um saber que não pode ser compartilhado, didaticamente em dois campos:
reforçando as atitudes do individualismo liberal. - Os problemas gerais e fundamentais (consciência,
liberdade, valor, bem, lei, etc.).
Rios acha que é possível mudar a sociedade mudando a - Os problemas específicos de aplicação concreta (ética
escola numa perspectiva de construção do espaço construindo profissional, ética política, ética sexual, bioética, etc.).
uma escola de consenso e persuasão, como explicitação dos Na vida real, esses problemas tratados de diferentes
elementos da competência e da prática docente. pontos de vista pelas diferentes áreas do conhecimento
O discurso pedagógico dominante oculto nas contradições humano, não aparecem separadamente. Além disso, ética não
na sua forma axiológica, mas por meio da própria axiologia é um conjunto de regulamentos prontos e definitivos que
poderá desocultá-las construindo o significado político da podem ser consultados quando temos que decidir sobre
transformação articulado com a questão técnica do método alguma conduta. Também não é algo que pertence à nossa
usado na construção do saber político. natureza: não há uma “natureza humana” que defina o que é
Desse modo numa ação da desconstrução e reconstrução, bom ou mau, antes da reflexão. Tudo isso depende do conjunto
o professor é sempre o mediador entre o aprendiz e a de regras pertinentes a um grupo social (moral). Vale lembrar
realidade, atuando também para a transformação de todos, que as pessoas mudam, assim como os conceitos, os valores e
com objetivo de estabelecer o diálogo entre o aluno e a as culturas se modificam com o tempo.
realidade. O que é bom ou mau passa por critérios socioculturais e
Na educação é necessária a existência entre competência históricos, antes que se tenha um posicionamento individual.
pedagógica e utopia no caminho da superação do passado e na Para Gianotti, existem muitas formas de moralidade, sendo
construção da nova sociedade política produtiva. A que cada grupo social ou profissional tem sua identidade,
competência é construída no dia a dia ao novo ideal a ser delineada por normas consentidas. A infração destas normas
atingido. A superação dos antagonismos prejudiciais ao gera censura ou mesmo a exclusão daquele grupo
humano. determinado.
Por fim Terezinha Rios ressalta a necessidade de o Quando a reflexão e a decisão relacionam-se a condutas
educador compreender a complexidade da sociedade profissionais, a questão é ainda mais importante, pois implica
capitalista naturalmente para a transformação da mesma em em se assumir normas de conduta que devem ser postas em
defesa dos direitos fundamentais da humanidade. prática no exercício da atividade profissional. Um bom
Numa profunda articulação entre técnica, a ética e a exercício profissional significa não apenas competência
política sem perder o sonho de um mundo melhor para todos. teórico-técnica, mas a capacidade de respeitar e ajudar a

102NEME, C. M. B. Ética profissional: repensando conceitos e práticas / Carmem VALLS, A.L.M. O que é ética. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense,
103

Maria Bueno Neme, Márcia Cristina Argenti Perez In: Práticas em educação 2006.
especial e inclusiva na área da deficiência mental / Vera Lúcia Messias Fialho
Capellini (org.). – Bauru: MEC/FC/SEE, 2008.

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construir a dignidade, a cidadania e o bem-estar daqueles com Embora as pessoas possuam aspectos próprios,
os quais nos relacionamos e que dependem de nossa ação. individuais, particulares, que devem ser levados em conta, têm
A Ética como ramo da Filosofia surgiu com os grandes também aspectos comuns, adquiridos na vida coletiva.
filósofos da antiga Grécia, a partir das reflexões de Sócrates, Ninguém nasce “pai”, “mãe”, “advogado”, “cientista” ou
Platão e Aristóteles, prosseguindo e se modificando com os “professor”. “Ser” isto ou aquilo, só tem sentido dentro de uma
Romanos e no decorrer de toda a história do conhecimento comunidade concreta, que se identifica com determinados
humano. paradigmas e que definem a ética de seu grupo.
No século XX, após a Segunda Guerra Mundial, o mundo se Da mesma forma, ninguém nasce cidadão: torna-se
transformou pelo sofrimento e reflexão gerados por esse cidadão pela educação. É o convívio com os outros que nos
conflito armado que afetou valores, conceitos e a vida da torna humanos, e é a educação que forma o homem para a vida
população mundial. social ou comunitária.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos baseou-se Cidadania, dignidade, autonomia, tolerância e outros
em princípios antigos que foram retomados e fortalecidos pela valores éticos não nascem com a gente. É um contínuo
Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade processo de aprendizagem; uma busca incessante do homem
constituem a fonte na qual nos inspiramos para buscar uma em sua trajetória histórica. Tais valores (abstratos) só se
vida justa, digna e cidadã, em que as discriminações e os tornam concretos (ética) por meio da análise crítica, da
preconceitos não tenham mais lugar. reflexão e do conhecimento; de sentimentos, da consciência e
de ações.
A noção ética moderna: a ética e a moral As questões éticas estão relacionadas à nossa vida
Ética não se constitui em um catálogo de valores intersubjetiva e dependem de nossa consciência moral:
particulares e alheios à prática dos grupos sociais, das valores e sentimentos; decisões e ações relacionadas aos
sociedades e das áreas do saber. Para Chauí, a ética moderna conceitos de BEM e de MAL, do que é construtivo ou
trata de um determinado coletivo, como ele se desenvolveu e destrutivo para as pessoas e para a sociedade.
como age. Já, a moral – um dos objetos da ética – é um conjunto Uma boa educação escolar é fundamental para a
de regras gerais de uma sociedade que, ao ser introjetada pelas erradicação da miséria e da ignorância, bem como para a
pessoas, torna-se uma questão de consciência individual. construção de um país melhor. Para isto, é preciso enfrentar os
Ser moral significa se adequar e viver de acordo com as dilemas e as contradições da educação e da escolarização como
normas de uma determinada sociedade. Ser imoral significa direito e oportunidade para todos.
conhecer as normas e não segui-las. O indivíduo considerado
amoral é o que não segue as normas sociais por desconhecê- As pessoas mudam; a sociedade, os modelos de família,
las ou não compreender os seus valores. as relações entre as pessoas e o estilo de vida mudaram
A ética, entretanto, está acima da moral: ela analisa e muito nas últimas décadas. A escola e o educador precisam
critica a moral, embora com ela se relacione. A moral diz refletir sobre estas mudanças e repensar valores e ações,
respeito aos conceitos abstratos de certo e errado para construindo uma nova práxis.
cada consciência, enquanto a ética procura resolver os
dilemas dos grupos por meio da reflexão e do debate A ética profissional: a ética do professor
social acerca da ação concreta desta ou daquela A base de uma sociedade democrática reside na educação
comunidade. A ética, portanto, relaciona-se com o Direito, pública de qualidade, que ofereça a todos as mesmas
com a Justiça, com a Política, com as Leis e com as práticas oportunidades educativas. Esta garantia é fundamental para o
científicas e profissionais. bem-estar e o desenvolvimento em todos os sentidos, de todas
as crianças e jovens de uma sociedade.
Ser ético significa viver coerentemente com uma linha Todos devem estar seriamente comprometidos com uma
ética, aproximando o que penso daquilo que faço, buscando o educação de qualidade que promova o desenvolvimento das
benefício e a qualidade de vida de todos, da humanidade. A capacidades das pessoas, para que possam viver uma vida
finalidade da ética é orientar a prática. plena, contribuindo para o bem-estar de toda a sociedade.
Mas como encontrar os limites, as sínteses de muitos O professor e a equipe escolar são elementos-chave para
particulares, de muitas determinações; o que é o bem para a que os princípios de igualdade de oportunidades, tolerância,
coletividade? justiça, liberdade e confiança na comunidade passem da
Ao discutir a existência ética, Chauí trata da diferenciação reflexão à ação, eliminando preconceitos e discriminações que
entre senso e consciência moral. Para a autora, nossos impedem a vida e a qualidade de vida de tantas crianças e
sentimentos e ações, assim como nossas dúvidas acerca da jovens em nossa sociedade. O exercício de critérios
correção de uma determinada decisão, exprimem nosso senso responsáveis está no centro da atividade profissional e das
moral. O julgamento (razão) sobre a decisão a tomar se dá por ações dos professores e equipe escolar.
meio de nossa consciência moral, posta em ação pelo senso A Ética profissional começa com a reflexão e deve ser
moral. O senso e a consciência moral, desta forma, relacionam- iniciada antes da prática profissional. Ao escolher uma
se aos valores (justiça, integridade, generosidade; etc.), aos profissão, todo indivíduo passa a ter responsabilidades e
sentimentos gerados pelos valores (vergonha, culpa, deveres profissionais obrigatórios. Ser ético é
admiração, raiva, dúvida, etc.), bem como às decisões tomadas basicamente aprender a agir sem prejudicar os demais,
(ações e suas consequências individuais e coletivas). pensando também na felicidade e alegria de viver.
Portanto, o senso moral e a consciência moral não são Como educador, ser ético é gerar possibilidades de
dados pela natureza: são indissociáveis da cultura, são escolha, mesmo quando as condições socioculturais são
escolhas das pessoas que vivem numa determinada cultura ou marcadas pela falta de recursos. É gerar condições para
grupo. Para Chauí, os conteúdos dos valores podem variar, mas que barreiras possam ser ultrapassadas.
sempre estão ligados a um valor mais profundo: o BEM. Por
meio de nosso juízo de valor é que definimos comportamentos Nas palavras do educador: “Não se pode oferecer uma
como BONS ou MAUS. Nosso juízo ético de valor fundamenta- escola pobre para o pobre, de tal forma que aumentem-se as
se em normas que determinam o que deve ser feito, quais barreiras para a aquisição da cultura”.
obrigações, intenções e ações são corretas ou incorretas. Diferentes autores definem a ética profissional como
um conjunto de normas de conduta com uma função
reguladora da “ética” aplicada ao exercício profissional. A

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ética profissional regularia a relação do profissional com assuma compromissos profissionais básicos consigo mesmo,
sua clientela, visando a preservação da dignidade humana com a prática profissional, seus colegas de profissão, seus
e do bem-estar no contexto social e cultural no qual a alunos, pais, comunidade e sociedade
profissão é exercida. Todas as profissões estão vinculadas
à ética profissional, mesmo que esta não se expresse por A ética na Educação Infantil104
um conjunto de normas ou código específico. As propostas pedagógicas da educação infantil devem
De modo geral, as profissões estão referidas a buscar a interação entre as diversas áreas de conhecimento e
regulamentos que determinam sua natureza e seus limites, aspectos da vida cidadã, com conteúdos básicos para a
com um caráter normativo e até mesmo jurídico. construção de conhecimentos, valores, cidadania e ética na
A ética profissional é construída a partir de questões criança.
amplas e muito importantes que vão além do campo Recentemente, a legislação educacional brasileira passou a
profissional específico. Dilemas como o aborto, a pena de reconhecer a criança, como sujeito de direitos – uma “criança
morte, a eutanásia, a violência, o suborno, a corrupção, o cidadã”. Entre os direitos estão: a educação em pré-escolas,
desemprego, dentre tantas outros que hoje enfrentamos, são creches e instituições similares.
questões morais que pedem uma profunda reflexão ética de O reconhecimento da importância da infância além do
todos os profissionais, em qualquer área da atividade contexto familiar insere-se em amplo movimento de luta em
profissional. defesa dos direitos das crianças, com participação de diversos
A ética não pode ficar confinada à dimensão privada e segmentos sociais de alcance mundial, como a Declaração
individual. Grandes problemas éticos se localizam na família, Universal dos Direitos da Criança (1959) e Convenção Mundial
na sociedade civil e no Estado. Cada profissional tem dos Direitos da Criança (1989), assim como no Brasil, a
responsabilidades que extrapolam o individual, configurando- Constituição Federal (1988), o Estatuto da Criança e do
se responsabilidades sociais que envolvem não só os que Adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e Bases (1996).
dependem de seu trabalho, mas a sociedade como um todo. Para que os direitos possam ser concretizados é necessária
a ética no trabalho da educação infantil para que as crianças
A ação profissional requer competência e eficiência, além possam alcançar a cidadania plena. Assim sendo, a
de atitudes e condutas consonantes com princípios éticos importância da investigação do assunto é o de apresentar a
essenciais. Uma classe profissional se define pela natureza ética como um dos principais fundamentos da Educação
comum do conhecimento exigido e pela identidade de Infantil, considerando que não pode existir direito nem
habilidades específicas, necessárias ao desempenho de uma respeito, se não for despertada a consciência ética em favor da
determinada profissão dentro de uma sociedade. criança.
O desempenho profissional ético, depende de qualidades O que significa a criança ser reconhecida hoje como sujeito
pessoais que podem ser adquiridas com esforço no decorrer de direitos? Que direitos possuem as crianças? Em princípio,
da atividade profissional e que, integradas ao modo de ser do pode-se considerar que a noção de direitos remete à ideia de
profissional, facilitam a incorporação e o desempenho dos cidadania; ou seja, os cidadãos são sujeitos que possuem
deveres profissionais. prerrogativas de uma vida e convivência digna, livre e
É por meio da compreensão do mundo, dos outros e de nós igualitária em relação aos seus semelhantes. Os direitos
mesmos, além das interações entre todos, que nos tornamos humanos referem-se, portanto, à própria sobrevivência e se
preparados para o incerto, aprendemos a intervir e caracterizam como históricos, inalienáveis, irrenunciáveis,
estabelecer o alicerce para a cidadania. imprescritíveis, relativos, universais, cuja concretização pode
ser exigida sempre que houver omissão do responsável.
Ética Profissional: Como é esta reflexão? Os direitos fundamentais dos cidadãos geralmente são
Alguns questionamentos podem ajudar a iniciar esta prescritos formalmente em leis e no ordenamento jurídico dos
reflexão. países, e correspondem ao dever do Estado em assegurar que
sejam cumpridos, por meio das políticas públicas. Essas
- Estou agindo coerentemente com os princípios éticos que políticas devem defender os valores éticos que constituem a
norteiam minha profissão? condição essencial de respeito à dignidade humana. Partindo
- Estou sendo um bom profissional, agindo com desses princípios que surge a ética.
competência e correção no meu dia-a-dia de trabalho? Sendo assim, é possível observar que hoje, a ética se
- No desempenho de meu trabalho, estou preocupado com apresenta como uma disciplina de formação moral na
o bem-estar e o desenvolvimento pleno de meus alunos, Educação. A ética e a educação estão unidas, porque existe a
disponibilizando oportunidades verdadeiras para que sejam necessidade de se respeitar a cultura da criança,
beneficiados por minha ação profissional? acompanhando as transformações que surgiram com seus
- Meus relacionamentos profissionais estão voltados para conceitos históricos, alcançando os dias atuais.
o respeito à dignidade humana e a construção do bem-estar no Os profissionais da Educação Infantil promovem no aluno
contexto sociocultural em que me encontro? os valores éticos, pois como foi descrito pelos autores
- O que faço está adequado ao conjunto de valores e de estudados, o educador deve ter como objetivo oferecer à
atitudes essenciais que assumi ao exercer esta profissão? criança o desenvolvimento da autonomia, capacitando-a a
Quais são esses valores e atitudes fundamentais? construir as suas próprias normas. Contudo, essa construção
- Até que ponto, com minha conduta profissional, estou deve ser orientada, pois é fundamental à criança nessa fase
promovendo a inclusão de meus alunos com necessidades escolar, aprender o que é certo ou errado, o que pode ou não
especiais; estou sendo autônomo e promovendo a autonomia prejudicar o seu semelhante.
e a tolerância; estou dialogando com meus pares estimulando Assim, verifica-se que essa questão é problema relegado
a ética discursiva, a reflexão ética, a abertura e a empatia? em relação à sua importância, porque não se cuida da
- Até que ponto estou agindo eticamente, fazendo o que formação da conduta infantil, mas deixa-se que ela se forme. É
deve ser feito, independentemente de ter ou não alguém me nesse aspecto que está envolvido um requisito essencial para
olhando, me supervisionando ou me elogiando? que a estrutura mental se oriente para uma direção correta: a
- Para que o professor desempenhe seu relevante papel disciplina.
social na promoção de uma sociedade ética, é necessário que

104 SANTOS, P. F. Ética na educação infantil.2012.

Educação Brasileira 136


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Sucede que, a mente da criança se exercita e se forma, - Favorecimento para a criação de um ambiente de
tomando conformações que jamais se alterarão trabalho harmonioso, respeitoso e agradável;
substancialmente, pois as estruturas sociais, cognitivas, físicas - Aumento no índice de confiança entre os funcionários.
e emocionais se fixam. Exemplos de atitudes éticas num ambiente de trabalho:
Nesse processo da Educação Infantil é necessário ao - Educação e respeito entre os funcionários;
educador compreender a criança em sua individualidade, - Cooperação e atitudes que visam à ajuda aos colegas de
atendendo a sua formação emocional, mas impor limites, não trabalho;
esperando pela cristalização prematura da perfeição ética. - Divulgação de conhecimentos que possam melhorar o
Sempre demonstrar que limite não é um castigo, mas ensinar desempenho das atividades realizadas na empresa;
que não se pode fazer tudo o que quer, pois é a partir da - Respeito à hierarquia dentro da empresa;
compreensão da norma de convivência que o pequeno - Busca de crescimento profissional sem prejudicar outros
aprende a diferenciar entre o seu pensamento e o dos outros colegas de trabalho;
que o cercam. Essa norma que se deve revelar viva, altiva, - Ações e comportamentos que visam criar um clima
permanente e reguladora de conduta nas mais variadas agradável e positivo dentro da empresa como, por exemplo,
situações é denominada de ética. manter o bom humor;
- Realização, em ambiente de trabalho, apenas de tarefas
Concluindo, a ética na Educação Infantil, oportuniza à relacionadas ao trabalho;
criança, a fácil integração social do ambiente: a - Respeito às regras e normas da empresa
adaptabilidade no espaço escolar, isentando-a de
prejuízos, inibições, constrangimentos e inferiorizações, Relação interpessoal
auxiliando-a a conquistar o futuro e a cidadania em sua Cinco pilares do relacionamento interpessoal no trabalho
plenitude. - Entre os relacionamentos que temos na vida, os de
trabalho são diferenciados por dois motivos: um é que não
Postura ética dos cuidadores. escolhemos nossos colegas, chefes, clientes ou parceiros; o
outro é que, independentemente do grau de afinidade que
Cuidador Infantil temos com as pessoas do ambiente corporativo, precisamos
Quem é cuidador? funcionar bem com elas para realizar algo juntos.
- Cuidador é um ser humano de qualidades especiais. - Esses ingredientes da convivência no trabalho nos
- Forte traço de amor à humanidade, de solidariedade e de obrigam a lidar com diferenças de opinião, de visão, de
doação. formação, de cultura, de comportamento… Fazer isso pode não
- Zela pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, ser fácil, mas é possível se basearmos nossos relacionamentos
educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida. interpessoais em cinco pilares: autoconhecimento, empatia,
- Atua como elo entre a criança e a família. assertividade, cordialidade e ética.
- Cuidador é um ser humano de qualidades especiais.
- Forte traço de amor a humanidade, de solidariedade e de Autoconhecimento
doação. Fundamental para administrar bem os relacionamentos,
- Zela pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, autoconhecimento implica reconhecer nossos traços de
educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida. comportamento, o impacto que causamos nos outros e que
- Atua como elo entre a criança e a família. comportamentos dos outros nos incomodam

O que é cuidar? Empatia


Cuidar é um ato de preservação, aprendido por meio das Trata-se de considerar os outros, suas opiniões,
experiências vividas e dos saberes desenvolvidos pela cultura sentimentos e motivações. A empatia também nos torna
da qual fazemos parte. Este ato se traduz em atitudes e capazes de enxergar além do próprio umbigo e ampliar nossa
comportamentos relacionados à atenção, ao zelo, ao respeito percepção da realidade com os pontos de vista dos outros.
aos limites, à cautela, tanto frente a si próprio e como frente ao Entre as várias coisas que se pode fazer para praticá-la, a mais
outro. O perfil de cuidador é próprio e individual, cujos básica é saber ouvir.
conhecimentos e habilidades se refletem nas atitudes de
cuidar de si, do outro e na própria disponibilidade interna em Assertividade
se deixar cuidar pelo outro. Para ter relacionamentos saudáveis, não basta ouvir: é
preciso também falar, expressar nossas opiniões, vontades,
Quais são as tarefas do cuidador? dificuldades. É aí que entra a assertividade, a habilidade para
De atuar, com competência e responsabilidade, realizando nos expressar de forma franca, direta, clara, serena e
as atividades com domínio as práticas de cuidados e respeitosa
desenvolvimento da criança, desde o nascimento até os 6 anos
de idade, tendo os conhecimentos fundamentais para a Cordialidade
inserção no mundo do trabalho; atuando no atendimento Tratar as pessoas com cordialidade é ser gentil, solícito e
individualizado ou coletivo. A organização curricular, bem simpático, é demonstrar consideração pelo o outro de várias
como as atividades pedagógicas propostas, visam à formas. Pode ser com o “bom dia” com que saudamos o
preparação de um profissional apto ao desenvolvimento de destinatário de nossa mensagem de e-mail, com o ato de
cuidados às crianças. segurar a porta do elevador para alguém entrar ou apanhar do
chão um objeto que o colega deixou cair. Dizer “obrigado”
A ética profissional olhando a pessoa nos olhos, oferecer-se para prestar uma
É um conjunto de atitudes e valores positivos aplicados no ajuda, cumprimentar aquele com quem cruzamos no corredor,
ambiente de trabalho. A ética no ambiente de trabalho é de mesmo saber seu nome… A cordialidade desinteressada, que
fundamental importância para o bom funcionamento das oferecemos por iniciativa própria, sem esperar nada em troca,
atividades da empresa e das relações de trabalho entre os é um facilitador do bom relacionamento no ambiente de
funcionários. trabalho
Vantagens da ética aplicada ao ambiente de trabalho:
- Maior nível de produção na empresa;

Educação Brasileira 137


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Ética Questões
Ser ético é ter atitudes que não prejudiquem os outros, não
quebrem acordos e não contrariem o que se considera certo e 01. (SEE-AL- Professor- CESPE) Em relação aos
justo. Podemos ter muito autoconhecimento, ser altamente compromissos sociais e éticos dos professores, julgue o item a
empáticos e assertivos, mas, se não nos conduzirmos pela seguir.
ética, não conseguiremos manter relacionamentos O professor é uma referência ética e moral para o alunado,
equilibrados. por isso suas ações são mais importantes que seus discursos.
Fortalecer esses pilares traz melhorias não só para nossas Sendo assim, o professor deve dar primazia aos aspectos
interações no trabalho, mas também para as de outras áreas sócio-políticos da profissão em detrimento aos aspectos
da vida – familiar, afetiva, social, de amizade. Vale a pena técnicos.
investir nisso – afinal, os relacionamentos são a melhor escola ( ) Certo ( ) Errado
para o nosso desenvolvimento pessoal.
02. (IF-SE- Auxiliar de Biblioteca- IF-SE) Qual é a melhor
Trabalho em equipe definição para Ética Profissional?
Trabalhar em equipe não é apenas trabalhar em conjunto (A) É aquela que tem alguns pressupostos acerca do
é preciso de compartilhamento. Os resultados nunca são homem e da natureza baseados na teoria da evolução: a
alcançados apenas por uma pessoa, é preciso compartilhar natureza e o homem são produtos da evolução;
com o outro para chegar ao objetivo final. (B) É aquela que na atividade político-partidária o discurso
Procurar desenvolver suas habilidades em equipe é se deve corresponder à práxis (atividade prática), visando
destacar e dar espaço para a liderança. Empresas valorizam modificar e transformar a sociedade, as relações de produção
profissionais capazes de gerir e motivar os colaboradores, e as estruturas sociais;
buscando sempre o desenvolvimento da equipe e os melhores (C) É aquela que, durante o exercício profissional, respeita
resultados. as ideias de seus colegas, os trabalhos e as soluções; porém,
Confira algumas habilidades fundamentais para se pode usá-los como de sua própria autoria para benefício da
trabalhar em equipe: instituição;
(D) É aquela que estabelece um conjunto de princípios a
Administrar conflitos: serem observados pelos indivíduos no exercício de uma
É importante saber lidar com os conflitos do dia a dia na profissão, na defesa do bem comum e da sociedade;
empresa. Neste sentido, desenvolver a habilidade de (E) É aquela que opera a partir de diversos pressupostos e
conversar para esclarecer os fatos e conciliar as necessidades conceitos que acreditam estarem revelados nas Escrituras
é sempre a melhor opção nesse momento. Assim você gera Sagradas pelo único Deus verdadeiro.
confiança e afeição da equipe.
03. (Prefeitura de Palmas- TO- Técnico Administrativo
Comunicação Educacional- COPESE-UFT) Sobre ética nas organizações é
Saber valorizar a comunicação entre você e os outros INCORRETO afirmar:
colaboradores é fundamental para o trabalho em equipe. (A) Conjunto de princípios básicos que visa disciplinar e
Escutar e falar na hora certa também é uma habilidade regular os costumes, a moral e a conduta das pessoas.
importante para que o ambiente se torne agradável e (B) O que se denomina ética profissional existe em
produtivo. praticamente todas as profissões.
(C) Os códigos de ética oferecem orientações e
Proatividade: estabelecem diretrizes para um nível digno de convivência
- Tomar atitude é um ponto positivo. Estar sempre profissional.
disposto a ajudar e a resolver os problemas ajuda no seu (D) Em sentido amplo é utilizada para conceituar deveres
desenvolvimento de sua equipe. e estabelecer regras de conduta dos indivíduos no
desempenho de suas atividades profissionais.
Inovar:
- Procurar inovar é sempre importante para o crescimento Respostas
da empresa e dos profissionais. Buscar soluções e alternativas 01. Certo / 02. D / 03. D
é fazer com que todos cheguem ao melhor resultado com mais
assertividade e o que é melhor, em pouco tempo.
5 Aspectos legais e políticos
Confiança:
- É fundamental desenvolver a confiança entre as pessoas da organização da educação
que estão a sua volta. Gerar esse sentimento é ganhar um brasileira.
espaço maior na equipe, pois você sempre será o apoio de cada
um e saberá quando e como contar com cada colaborador.
- Essas habilidades citadas são formas de aprender a Fundamentos sócio históricos e Políticos da
importância de cada gesto que você desenvolve em sua Educação105
empresa. Buscar líderes engajados e que consigam colocar em
prática o seu trabalho em equipe é essencial para o A educação para Severino, é processo inerente à vida dos
crescimento das organizações. seres humanos, intrínseco à condição da espécie, uma vez que
a reprodução dos seus integrantes não envolve apenas uma
memória genética mas, com igual intensidade, pressupõe uma
memória cultural, em decorrência do que cada novo membro
do grupo precisa recuperá-la, inserindo-se no fluxo de sua
cultura. Ao longo da constituição histórico-antropológica da
espécie, esse processo de inserção foi se dando, inicialmente,

105SEVERINO, A. J. Fundamentos Ético-Políticos da Educação no Brasil De

Hoje. Fundamentos da Educação Escolar do Brasil Contemporâneo.

Educação Brasileira 138


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de forma quase que instintiva, prevalecendo o processo de compromisso éticopolítico da educação como mediação da
imitação dos indivíduos adultos pelos indivíduos jovens, nos cidadania, para enfatizar, em seguida, a importância que a
mais diferentes contextos pessoais e grupais que tecem a escola pública ainda tem como espaço público privilegiado
malha da existência humana. Porém, com a ‘complexificação’ para um projeto de educação emancipatória.
da vida social, foram implementadas práticas sistemáticas e
intencionais destinadas a cuidar especificamente desse A educação como prática histórico-social
processo, instaurando-se então instituições especializadas Falar de fundamentos éticos e políticos da educação
encarregadas de atuar de modo formal e explícito na inserção pressupõe assumi-la na sua condição de prática humana de
dos novos membros no tecido sociocultural. Nasceram então caráter interventivo, ou seja, prática marcada por uma
as escolas. intenção interventiva, intencionando mudar situações
Sem prejuízo dos esforços e investimentos sistemáticos individuais ou sociais previamente dadas. Implica uma eficácia
que ocorrem no seio de suas práticas formais, o processo construtiva e realiza-se numa necessária historicidade e num
abrangente de educação informal continua presente e atuante contexto social. Tal prática é constituída de ações mediante as
no âmbito da vida social em geral, graças às atividades quais os agentes pretendem atingir determinados fins
interativas da convivência humana. Mas a formalização cada relacionados com eles próprios, ações que visam provocar
vez maior da interação educativa decorre da própria natureza transformações nas pessoas e na sociedade, ações marcadas
da atividade humana, que é sempre intencionalmente por finalidades buscadas intencionalmente. Pouco importa
planejada, sempre vinculada a um télos que a direciona. Desse que essas finalidades sejam eivadas de ilusões, de ideologias
modo, todos os agrupamentos sociais, quanto mais se ou de alienações de todo tipo: de qualquer maneira são ações
tornaram complexos, mais desenvolveram práticas formais de intencionalizadas das quais a mera descrição objetivada
educação, institucionalizando-as sistematicamente. obtida mediante os métodos positivos de pesquisa não
Desde sua gênese mais arcaica, essa inserção sociocultural consegue dar conta da integralidade de sua significação. O lado
envolve sempre uma significação valorativa, ainda que o mais visível do agir educacional dos homens fica profundamente
das vezes implícita nos padrões comportamentais do grupo e marcado por essa construtividade e historicidade da prática
inconsciente para os indivíduos envolvidos, pois se trata de um humana e, como tal, escapa da normatividade nomotética e de
compartilhamento subjetivamente vivenciado de sentidos e qualquer outra forma de necessidade, seja ela lógica, seja
valores. A cultura, como conjunto de signos objetivados, só é biológica, física ou mesmo social, se tomado este último
apropriada mediante um intenso processo de subjetivação. aspecto como elemento de pura objetividade. Os fenômenos de
O existir histórico dos homens realiza-se objetivamente natureza política e educacional não se determinam por pura
nas circunstâncias dadas pelo mundo material (a natureza mecanicidade, ou melhor, só a posteriori ganham objetividade
física) e pelo mundo social (a sociedade e a cultura) como mecânica, transitiva, mas, a essa altura, já perderam sua
referências externas de sua vida. No entanto, essa condição significação especificamente humana. É que eles se dão num
objetiva de seu existir concreto está intimamente articulada à fluxo de construtividade histórica, construção está
vivência subjetiva, esfera constituída de diferentes e referenciada a intenções e finalidades que comprometem toda
complexas expressões de seus sentimentos, sensibilidades, a logicidade nomotética de seu eventual conhecimento.
consciência, memória, imaginação. Esses processos põem em O caráter práxico da educação, ou seja, sua condição de
cena a intervenção subjetiva dos homens no fluxo de suas prática intencionalizada, faz com que ela fique vinculada a
práticas reais, marcando-as intensamente. Mas, ao mesmo significações que não são da ordem da fenomenalidade
tempo, as referências objetivas condicionantes da existência empírica dessa existência e que devem ser levadas em conta
atuam fortemente na gestação, na formação e na configuração em qualquer análise que se pretenda fazer dela, exigindo
dessa vivência. Daí falar-se do processo de subjetivação, modo diferenciações epistemológicas que interferem em seu perfil
pelo qual as pessoas constituem e vivenciam sua própria cognoscitivo. Educação é prática histórico-social, cujo
subjetividade. A percepção dos valores integra esse processo norteamento não se fará de maneira técnica, conforme ocorre
tanto quanto a intelecção lógica dos conceitos. Esse processo nas esferas da manipulação do mundo natural, como, por
de subjetivação é que permite aos homens atribuir exemplo, naquelas da engenharia e da medicina.
significações aos dados e situações de sua experiência do real, No seu relacionamento com o universo simbólico da
o que eles fazem sempre de forma plurivalente, pois essa existência humana, a prática educativa revela-se, em sua
atribuição de significações não leva a sentidos unívocos, essencialidade, como modalidade técnica e política de
porém, o mais das vezes, plurais e mesmo equívocos. expressão desse universo, e como investimento formativo em
A discussão dos fundamentos éticopolíticos da educação, todas as outras modalidades de práticas. Como modalidade de
objeto desta reflexão, envolve necessariamente a esfera da trabalho, atividade técnica, essa prática é estritamente
subjetivação, uma vez que implica referência a valores. Para cultural, uma vez que se realiza mediante o uso de ferramentas
conduzir essa discussão, o presente ensaio, elaborado de uma simbólicas. Desse modo, é como prática cultural que a
perspectiva filosófico-educacional, foi desenvolvido em três educação se faz mediadora da prática produtiva e da prática
movimentos, cada um deles se desdobrando em dois política, ao mesmo tempo que responde também pela
percursos. O primeiro movimento, de caráter antropológico, produção cultural. É servindo-se de seus elementos de
procura, no primeiro percurso, situar a educação como prática subjetividade que a prática educativa prepara para o mundo
humana, mediada e mediadora do agir histórico dos homens; do trabalho e para a vida social106. Os recursos simbólicos de
e, no segundo, fundamentar teoricamente a necessária que se serve, em sua condição de prática cultural, são aqueles
intencionalidade ético-política dessa prática, explicitando a constituídos pelo próprio exercício da subjetividade, em seu
sua relação com o processo de subjetivação. No segundo sentido mais abrangente, sob duas modalidades mais
movimento, de cunho histórico, busca-se no primeiro destacadas: a produção de conceitos e a vivência de valores.
momento mostrar como a experiência socioeducacional Conceitos e valores são as referências básicas para a
brasileira marcou-se por diversas subjetivações ideológicas, intencionalização do agir humano, em toda a sua abrangência.
enquanto no segundo são destacados, por sua relevância, os O conhecimento é a ferramenta fundamental de que o homem
desafios e dilemas da educação brasileira atual no contexto da dispõe para dar referências à condução de sua existência
sociabilidade neoliberal. No terceiro movimento, que tem uma histórica. Tais referências se fazem necessárias para a prática
perspectiva político pedagógica, ressalta-se, inicialmente, o produtiva, para a política e mesmo para a prática cultural.

106 SEVERINO, A. J. Educação, Sujeito e História. São Paulo: Olho d’Água, 2001.

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Ser eminentemente prático, o homem tem sua existência de liberdade, de vontade livre, de autonomia, não podendo
definida como um contínuo devir histórico, ao longo do qual alegar total determinação por fatores externos à sua decisão.
vai construindo seu modo de ser, mediante sua prática. Essa Hoje, os conhecimentos objetivos da realidade humana,
prática coloca-o em relação com a natureza, mediante as proporcionados pelas ciências humanas, de modo especial a
atividades do trabalho; em relação com seus semelhantes, psicologia, a sociologia, a economia, a etologia, a psicanálise, a
mediante os processos de sociabilidade; em relação com sua antropologia e a história, permitem identificar com bastante
própria subjetividade, mediante sua vivência da cultura precisão aquelas atitudes que são tomadas por imposição de
simbólica. Mas a prática dos homens não é uma prática forças superiores à vontade pessoal. Mas permitem ver
mecânica, transitiva, como o é a dos demais seres naturais; ela igualmente mais claro o alcance da vontade e o nível de
é uma prática intencionalizada, marcada que é por um sentido, arbítrio de que se dispõe quando se tem de escolher entre
vinculado a objetivos e fins, historicamente apresentados. várias alternativas, assim como a possibilidade de saber qual a
Além disso, a intencionalização de suas práticas também se ‘melhor’ opção cabe em cada caso. Pode-se falar então da
faz pela sensibilidade valorativa da subjetividade. O agir consciência moral, fonte de sensibilidade aos valores que
humano implica, além de sua referência cognoscitiva, uma norteiam o agir humano, análoga à consciência epistêmica, que
referência valorativa. Com efeito, a intencionalização da permite ao homem o acesso à representação dos objetos de
prática histórica dos homens depende de um processo de sua experiência geral, mediante a formação de conceitos.
significação simultaneamente epistêmico e axiológico. Daí a Assim, como tem uma consciência sensível aos conceitos, tem
imprescindibilidade das referências éticas do agir e da igualmente uma consciência sensível aos valores. Do mesmo
explicitação do relacionamento entre ética e educação. modo que a filosofia sempre se preocupou em discutir e buscar
compreender como se formam os conceitos, como se pode
A prática educacional como prática ético-política acessá-los, o que os funda, ela procura igualmente
Na esfera da subjetividade, a vivência moral é uma compreender como se justifica essa sensibilidade aos valores.
experiência comum a todos nós. Pelo que cada um pode Desenvolveu então uma área específica de seu campo de
observar em si mesmo e pelo que se pode constatar pelas mais investigação, no âmbito da axiologia, para conduzir essa
diversificadas formas de pesquisas científicas e de discussão: a ética.
observações culturais, todos os homens dispõem de uma Cabe aqui um breve esclarecimento semântico. Moral e
sensibilidade moral, mediante a qual avaliam suas ações, ética não são propriamente dois termos sinônimos, apesar da
caracterizando-as por um índice valorativo, o que se expressa etimologia análoga, em latim e em grego, respectivamente. É
comumente ao serem consideradas como boas ou más, lícitas certo que, na linguagem comum do dia-a-dia, já não se
ou ilícitas, corretas ou incorretas. Hoje se sabe, graças às distingue um conceito do outro. Mas, a rigor, moral refere-se à
contribuições das diversas ciências do campo antropológico, relação das ações com os valores que a fundam, tais como
que muitos dos padrões que marcam o nosso agir derivam de consolidados num determinado grupo social, não exigindo
imposições de natureza sociocultural, ou seja, os próprios uma justificativa desses valores que vá além da consagração
homens, vivendo em sociedade, acabam impondo uns aos coletiva em função dos interesses imediatos desse grupo. No
outros determinadas normas de comportamento e de ação. caso da ética, refere-se a essa relação, mas sempre precedida
Mas a incorporação dessas normas pressupõe uma espécie de de um investimento elucidativo dos fundamentos, das
adesão por parte das pessoas individualmente, ou seja, é justificativas desses valores, independentemente de sua
preciso que elas vivenciem, no plano de sua subjetividade, a aprovação ou não por qualquer grupo. Por isso, fala-se de ética
força do valor que lhe é, então, imposto. Os usos, os costumes, em dois sentidos correlatos: de um lado, frisa-se a
as práticas, os comportamentos, as atitudes que carregam sensibilidade aos valores justificados mediante uma busca
consigo essas características e que configuram o agir dos reflexiva por parte dos sujeitos; de outro, convencionou-se
homens nas mais diferentes culturas e sociedades constituem chamar igualmente de ética a disciplina filosófica que busca
a moral. A moralidade é fundamentalmente a qualificação elucidar esses fundamentos.
desses comportamentos, aquela ‘força’ que faz com que eles Mas de onde vem o valor dos valores? Onde se funda a
sejam praticados pelos homens em função dos valores que consciência moral? Se o homem é um ser histórico em
essa qualificação subsume. Podemos constatar que é em construção, em devir, sem vinculação determinante com a
função desses valores que as várias culturas, nos vários essência metafísica e a natureza física, naquilo que lhe é
momentos históricos, vão constituindo seus códigos morais de específico, onde ancorar a referência valorativa de sua
ação, impondo aos seus integrantes um modo de agir que consciência moral? O valor fundador dos valores que fundam
esteja de acordo com essas normas. Porém, por mais que se a moralidade é aquele representado pela própria dignidade da
encontre premido por essas normas, o homem defronta-se pessoa humana, ou seja, os valores éticos fundam-se no valor
com a experiência insuperável de que participa pessoalmente da existência humana. É em função da qualidade desse existir,
da decisão que o leva a agir dessa ou daquela maneira; sente- delineado pelas características que lhe são próprias, que se
se responsável por sua ação e muitas vezes bem ciente das pode traçar o quadro da referência valorativa, para se definir
consequências dela. Assim, a norma moral tem um caráter o sentido do agir humano, individual ou coletivo. O próprio
imperativo que o impressiona. Os valores morais impõem-se homem já é um valor em si, nas suas condições contingenciais
ao homem com força normativa e prescritiva, quase que de existência, na sua radical historicidade, facticidade,
ditando como e quando suas ações devem ser conduzidas. corporeidade, incompletude e finitude.
Quando não as segue, tem a impressão de estar fazendo o que Assim, a filosofia, por meio da ética, busca dar conta dos
não devia fazer, embora continue com um nível proporcional possíveis fundamentos desse nosso modo de ‘vivenciar’ as
de liberdade para não fazer como e quando a norma parece lhe coisas, tendo sempre em vista que é necessário ir além das
impor. justificativas imediatistas, espontaneístas e particularistas das
Se toda e qualquer ação do homem dependesse morais empíricas de cada grupo social. A ética coloca-se numa
deterministicamente de fatores alheios à sua vontade livre, perspectiva de universalidade, enquanto a moral fica sempre
então não seria o caso de se sentir responsável por elas; mas presa à particularidade dos grupos e mesmo dos indivíduos.
ocorre que, apesar de toda a gama de condicionamentos que o Mas é possível encontrar um fundamento universal para os
cercam e o determinam, há margem para a intervenção de uma valores éticos? A filosofia ocidental, como mostra sua história
avaliação de sua parte e para uma determinada tomada de milenar, sempre o procurou e continua a procurá-lo, dada a
posição e de decisão. Goza, por isso, de um determinado campo permanência das demandas da consciência ética.

Educação Brasileira 140


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A educação brasileira: determinação histórica e Pode-se afirmar que o cristianismo, a par de seus
subjetivação valorativa princípios teológicos, apresentava igualmente uma ética
A presença da educação formal e institucionalizada é traço individual, da qual decorreram as referências também para o
marcante das sociedades ocidentais, com destaque para a convívio social, dada a suprema prioridade da pessoa sobre a
sociedade europeia. No caso do Brasil, em que pese sua ainda sociedade. É a qualidade moral dos indivíduos que devia
pequena trajetória na era moderna da sociedade ocidental e a garantir a qualidade moral da sociedade. Mas o caráter
lentidão de seu desenvolvimento nos três primeiros séculos de idealizado dessas referências comprometia sua eficácia
sua inserção histórica nessa sociedade, ela não ocorreu de histórica, pois esta dependeria da causalidade da vontade,
forma diferente. O Brasil conta com uma já bastante visível insuficiente para mover a realidade social. Daí transformar-se
experiência de educação formal, experiência esta herdeira da numa ideologia, atuando apenas como ideologia. É o que
experiência europeia, forjada sob a marca da perspectiva explica sua incapacidade de impedir a prática da escravidão,
cristã, mas tributária igualmente das circunstâncias históricas apesar de, no plano teórico, tratar-se de prática incompatível
próprias do contexto local. com os valores apregoados.
Instaurada então nos idos da fase colonial sob a concepção Mas a ideologia católica dos primeiros séculos de formação
escolástica da formação humana, a educação no Brasil nasce da sociedade brasileira foi perdendo aos poucos sua
como obra do trabalho missionário dos jesuítas, fundada sob hegemonia em decorrência da mudança socioeconômica pela
uma perspectiva ideológica católica, de origem na qual o país igualmente sofreu em decorrência da lenta, extensa
Contrarreforma, e operacionalizada pedagogicamente sob o e intensa expansão do capitalismo. Embora a imersão do Brasil
modelo da escolástica. Em que pese a pequena expressão de no capitalismo não tivesse ocorrido com características
um aparelho escolar nesse período, a cultura brasileira dos idênticas ao que havia acontecido na Europa e na América do
períodos colonial e imperial foi impregnada pelo catolicismo. Norte, não se podendo nem mesmo falar de uma revolução
Com seus conceitos e valores, o catolicismo marcou a vida burguesa que o implantasse em nossas paragens, o país não
social e cultural do país, contribuindo significativamente para podia escapar à influência dessa expansão comandada
um forte processo de subjetivação de seus habitantes, sob a inicialmente pelos ingleses e, posteriormente, pelos
representação dos dogmas doutrinários católicos. americanos. Assim, a sociedade brasileira, embora
No que concerne às relações entre a educação e a ideologia conservando muitos elementos de sua fase escravista,
católica, fundada, de um lado, na teologia cristã e, de outro, na incorporou as forças produtivas do modo de produção
metafísica da escolástica tomista, prevalece a postulação de capitalista e as consequentes configurações no plano político e
uma ética essencialista, articulada ao voluntarismo moral. A cultural. Da mesma forma, novos valores passaram a marcar a
dimensão política não tem autonomia como dinâmica de subjetividade das pessoas, dando nova fisionomia à vida da
pulsão de valores propriamente sociais. Toda a defesa dos sociedade. Com o capitalismo, a oligarquia rural e o
valores cristãos é baseada na crença do poder da vontade campesinato perderam poder social, emergindo uma
individual para a condução da vida, uma vez que da postura burguesia urbano-industrial, as camadas médias e o
ética de todas as pessoas decorreria necessariamente uma proletariado, que se tornaram os novos sujeitos a conduzir a
vida coletiva harmoniosa, independentemente das condições vida nacional, impondo alterações significativas no perfil da
contextuais, da hierarquização das pessoas e da arbitrariedade vida político-social do país. Em que pesem suas reconhecidas
das ações dos mais fortes. Não sem razão, durante todo esse limitações, o processo republicano espelhou essa nova
longo período de Colônia e Império, a evolução do sistema realidade, ligando-se a novas referências ideológicas,
educacional do país, tanto do ponto de vista organizacional decorrentes de outros paradigmas filosóficos, como o
como do ponto de vista de sua função social, foi pouco iluminismo, o liberalismo, o laicismo, o positivismo.107
significativa, uma vez que a finalidade da escola encontrava-se A nova ideologia que se configurou entrou em conflito com
na continuidade da finalidade evangelizadora e pastoral da a ideologia conservadora do catolicismo, embora se trate de
Igreja, não se podendo falar de referências políticas para a conflito que não chegou a gerar uma ruptura radical na coesão
configuração da ética. Visava-se a uma ética fundada na da sociedade, em função das peculiaridades da própria
vontade individual das pessoas, o que podia se realizar configuração das classes sociais do país. A Revolução de 1930
preferencialmente na esfera privada, não se atribuindo à é um marco representativo desse novo momento vivido pela
educação a contribuição para a instauração de um espaço sociedade brasileira, referendando-o e dando-lhe maior
público de vida. Desse modo, o pouco que houve de identidade. O processo se consolidou com o fim da Segunda
institucionalização de educação escolar serviu de reforço para Guerra Mundial, quando o capitalismo, sob a égide americana,
a reprodução da ideologia dominante e das condições se instalou de forma irreversível. Com a Revolução de 1964,
econômico-sociais, marcadas pela degradação, pela opressão e esse ciclo se completou, mediante uma estruturação
pela alienação da maioria da população em relação às tecnocrática, inserindo de vez a economia do país no fluxo do
situações de trabalho, de participação política e de vivência capitalismo mundial.
cultural. O modelo econômico era o agrário exportador, Essa modernização econômica e cultural do país levou à
voltado para a produção agrícola destinada à exportação aos paulatina substituição da ideologia religiosa do catolicismo
países centrais. Todo o aparato político da época visava dar por uma ideologia laica, de inspiração liberal e republicana.
sustentação aos segmentos dominantes, que, além de Nesse novo ambiente de desenvolvimentismo e modernização,
possuírem os meios de produção e até a força de trabalho a educação institucionalizada teve seu papel extremamente
(detinham a posse da terra, a força escrava, a renda revalorizado, uma vez que lhe cabiam então tarefas
financeira), utilizavam o controle ideológico pela divulgação e importantes não só na formação cultural das pessoas mas
‘inculcação’ da concepção cristã do mundo. Assim, ao lado da também na profissionalização dos trabalhadores para as
alienação objetiva em que as pessoas se encontravam lançadas indústrias e para os diversos serviços. Além disso, as camadas
pelas condições socioeconômicas, ocorria o reforço de uma médias viam na educação um dos principais caminhos para a
percepção enviesada dessas condições pela consciência, que ascensão social, o que suscitou forte demanda pela educação.
instaura então uma alienação subjetiva. Coube ao ideário Esta deveria ser fornecida por um sistema público, laico,
católico exercer esse papel, funcionando então como ideologia imune às interferências de cunho religioso. À educação cabia
adequada ao momento histórico. então cuidar da preparação de mão-de-obra para a expansão

107 SEVERINO, A. J. Educação, Ideologia e Contra Ideologia. São Paulo: EPU,


1986.

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industrial e dos serviços, bem como da oferta de cultura e de suas reivindicações, graças a seu poder de negociação e de
status social. Este passava a ser o perfil do novo cidadão, aliança, os segmentos populares alcançaram objetivamente
imbuído de espírito público e identificado com a construção de poucas conquistas econômicas, sociais e culturais, aí incluída a
sua pátria nacional. educação, que sequer se universalizou em seus níveis iniciais.
Todo o complexo conjunto de valores, de forte inspiração Apesar de o atendimento das necessidades do povo fazer
iluminista e liberal, passou a ganhar contornos específicos, parte explícita do discurso político oficial, como se fosse o
constituindo uma nova hegemonia ideológica. O modelo objetivo primordial das políticas públicas, na realidade, no
academicista, literário e humanístico da educação cristã foi tecido socioeconômico, não ocorreram mudanças
considerado alienado em relação aos problemas sociais do significativas, nem quanto à quantidade nem quanto à
país e não tinha condições de superar os desafios do atraso qualidade. É o que mostram a injusta distribuição não só da
nacional. Só um humanismo lastreado no conhecimento renda como também dos bens culturais e os índices da
científico e expresso mediante valores liberais poderia levar o desigualdade social, que permanecem até hoje.109
país a seu verdadeiro destino. E a educação pública era o Agregou-se a essa ideologia liberal a crença no caráter
grande instrumento de que dispunha a sociedade para redentor e equalizador da educação, que, se fosse difundido
alcançar esse objetivo. Pública, laica, obrigatória e gratuita, a universalmente, eliminaria os conflitos de classe, promoveria
nova educação, nascida no bojo de uma reconstrução o progresso econômico e social e asseguraria a condição de
educacional, seria a única via para a reconstrução social. São cidadania a todas as pessoas.110
apregoados os valores ligados ao espírito científico, à ordem Com o regime militar autoritário que se estabelece no país
democrática, às metodologias renovadas de ensino, à esfera em 1964, os elementos básicos dessa concepção
pública, à cidadania e ao desenvolvimento econômico e social socioeducacional foram mantidos tecendo a política
do país. educacional, mas agregando agora um referencial a mais, que
Mas esse novo projeto encontrou dois obstáculos é aquele do valor técnico especializado da educação. Essa
insuperáveis que fizeram com que esses novos valores peculiaridade dará às políticas públicas do período e, em
continuassem sendo apenas valores ideológicos. De um lado, a particular, às políticas educacionais um feitio explicitamente
ideologia religiosa do catolicismo, embora não mais tecnicista sob uma perspectiva ideológica tecnocrática. Foi
hegemônica no plano oficial, continuou impregnando, característica do movimento conduzido pela elite empresarial
capilarmente, a vida cultural brasileira, da qual constitui, na e pelo estamento militar a ideia-força de que o
verdade, uma camada arcaica da subjetivação das massas, desenvolvimento tecnológico é a grande matriz de todo
arraigada que era no espírito do povo – e, como tal, impôs desenvolvimento econômico, desde que possa ocorrer num
resistência à recepção das novas referências. Por isso, o clima de total harmonia político-social. Daí ser a educação
impacto da nova ideologia, do lado da subjetivação, foi muito chamada a implementar uma vocação eminentemente
lento e superficial. De outro lado, o modo de produção dedicada à formação profissional, visando à preparação de
capitalista tem suas exigências férreas, suas cláusulas pétreas, mão-de-obra técnica bem qualificada de cidadãos ordeiros e
e não atua nos termos dos valores que apregoa. As políticas pacíficos. Foi imbuído desse espírito que o próprio mote do
educacionais e culturais efetivamente implementadas não novo sistema de gerenciamento da nação se expressou,
foram necessariamente coerentes, em seu caráter radical, com retomando o anacrônico lema comtiano ‘ordem e progresso’,
os valores declarados. Com isso, não se nega o efetivo que então passou a ser ‘desenvolvimento e segurança’.
desenvolvimento ocorrido no país, mas ele não aconteceu por Politicamente, o regime levou aos estertores as últimas
força da realização dos novos valores; ao contrário, ocorreu veleidades do discurso liberal populista, sufocando, inclusive
muito mais pela violência das determinações do capitalismo pela repressão violenta, todas as iniciativas atreladas ao
em sua incansável busca da acumulação, com sensibilidade ideário libertário do período anterior, pondo fim ao populismo
mínima às necessidades objetivas da maioria da população. sob todas as suas expressões. Ao mesmo tempo, o atrelamento
De qualquer modo, é correto afirmar que a ideologia que da economia nacional ao capitalismo internacional se
prevaleceu como elemento aglutinador da constituição da consolidou definitivamente, mediante uma política de
subjetividade social brasileira desse segundo período da associação e de dependência. A função do Estado nacional se
trajetória sociopolítico-educacional do país foi a ideologia redefine, gerando um Executivo forte e centralizador, com
liberal burguesa, laicizada, modernizada e modernizadora, poder de controle político-policial, modernizando e
com pretensão de ser fundada na ciência e no reconhecimento centralizando a administração pública e repelindo
da liberdade e da igualdade humanas. Impôs-se assim uma brutalmente toda contestação. Trata-se de um regime
concepção liberal do mundo, da cultura e da educação. Essa tecnoburocrático, assumidamente autoritário e repressor.
ideologia atendia aos interesses da burguesia nacional urbano Valores proclamados, seja pela ideologia católica, seja pela
industrial e justificava a modernização de todos os setores da ideologia liberal, são reenquadrados nas coordenadas da
vida social. Na verdade, estava lançando raízes para um ideologia tecnocrática, que passa a ser o critério de sua
projeto que deveria consolidar cada vez mais o capitalismo validade e sobrevivência no novo contexto social. Suas
monopolista, a serviço do qual deveria ser colocado o próprio contribuições só são aproveitadas quando não se contrapõem
Estado.108 aos novos interesses, não provocando interferências e
No entanto, assim como a ideologia católica, a ideologia questionamentos nos negócios de Estado da nova ordem
liberal não conseguiu implementar uma educação político-social. Ao mesmo tempo, o governo militar apoiava,
efetivamente voltada para a emancipação de toda a população, incentivava e induzia iniciativas, em todos os campos da vida
como pressupunha o ideário republicano, liberal e iluminista, social, que concretizassem os valores de sua nova política
limitando-se a exercer apenas seu papel ideológico, ou seja, plenamente em sintonia com o capitalismo. Assim, no campo
proclamar, como se fossem universais, valores que são educacional e cultural, favoreceu e incentivou a privatização,
realizados apenas para atender a interesses particulares de uma vez que a educação deve ser entendida e praticada como
grupos privilegiados. Enquanto as camadas dominantes um serviço, no seio de um mercado livre. A demanda por
mantiveram e ampliaram seus privilégios e as camadas médias educação, tão cara às camadas médias da população, deverá
usufruíram de algumas conquistas, vendo atendidas algumas ser atendida pela oferta do mercado dos serviços educacionais.

108 BRESSER PEREIRA, L. C. Desenvolvimento e Crise no Brasil: 1939-1967. Rio 110 XAVIER, M. E. S. P. Políticas educacionais, modelos pedagógicos e

de Janeiro: Zahar, 1968. movimentos sociais. In: MIGUEL, M. E. B. & CORRÊA, L. T. (Orgs.). A Educação
109 IBGE. PNAD: Relatório 2004. Brasília: IBGE, 2005. Escolar em Perspectiva Histórica. Campinas: Autores Associados, Capes, 2005.
p.283-291. (Memória da educação)

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Trata-se de uma política de expansão pela privatização. mercados financeiros são liberados e expandidos. Os Estados
Ademais, o Estado pós-64 tem uma visão instrumentalista da nacionais tornam-se reféns das políticas internacionais do
educação, organizada em função do crescimento grande capital. A política interna dos países, por sua vez, é
econômico.111 O conteúdo do ensino deve ser técnico, sem forçada a esse ajuste econômico, impondo a queda dos salários
conotação política de cunho crítico. Visa-se à maior reais, o crescimento do desemprego estrutural, a estatização
produtividade possível, a baixo custo, mediante o preparo de da dívida externa e a elevação da taxa de juros. Isso implica
uma mão-de-obra numerosa, com qualificação puramente também a ruptura do esquema de financiamento do setor
técnica, disciplinada e dócil, adequada ao atendimento das público.112
necessidades do sistema econômico. A ideologia tecnocrática Assim como nas fases anteriores, também agora
do período pratica um autoritarismo disciplinar intrínseco ao desencadeia-se um processo ideológico para justificar o
processo de engenharia social que deve comandar todos os modelo imposto, apresentando-o como o único capaz de
aspectos da vida da sociedade. Alicerçada realizar os objetivos emancipatórios da sociedade e, nesse
epistemologicamente no mesmo cientificismo positivista, que sentido, superando os anteriores. Mais uma vez, tem-se um
se julga legitimado pela sua eficácia tecnológica, opera a conjunto articulado de valores que são proclamados, mas não
modernização da sociedade pelo uso da sofisticação técnico- realizados. Uma retórica, que não deixa de encontrar apoios
informacional, ao mesmo tempo que, investindo pesado nos estratégicos em formulações teóricas do pensamento pós
meios de comunicação, desenvolve um intenso programa de moderno, se torna insistentemente presente em todas as
indústria cultural destinado à formação da opinião pública, frentes do debate social, fazendo sua cerrada defesa. Ao
banalizando ainda mais os conteúdos do conhecimento mesmo tempo, por meio da legislação e das medidas
disponibilizado para as massas. programáticas, o governo passa a aplicar políticas públicas que
Após 25 anos de autoritarismo exacerbado, o regime, no vão efetivando as diretrizes neoliberais, mais uma vez adiando
início da década de 1980, começa a dar sinais de exaustão. e talvez inviabilizando uma educação que possa ser mediação
Devorando seus próprios filhos, não mais satisfazia aos da libertação, da emancipação e da construção da cidadania.
interesses capitalistas que pretendiam se universalizar mundo Não sem razão, o ceticismo e a desesperança constituem a
afora. Considerou-se superada essa fase da imposição conclusão de estudiosos da questão educacional brasileira. Ao
tecnocrática, entendendo-se que os 25 anos foram suficientes falar da escola brasileira, em conclusão a seus estudos
para aplainar o terreno para uma nova etapa, agora não mais históricos sobre a educação escolar, conclui Xavier: 113
baseada na repressão violenta pela força, mas pela
impregnação sutil da subjetivação ideológica por si mesma. Ela parece ser uma instituição, se não dispensável,
Nos últimos trinta anos, o país vivencia então uma nova fase secundária para o funcionamento da sociedade brasileira, tal
marcada pela implementação da agenda neoliberal, nova como se encontra estruturada. Entretanto, é fundamental, para
proposta do capitalismo internacional. o controle das insatisfações populares e a neutralização dos
movimentos sociais contestatórios e reivindicatórios, alimentar
Os desafios da educação no contexto da sociabilidade a crença no caráter redentor da educação escolarizada. Daí a
neoliberal ênfase no discurso pedagógico, nos debates e na elaboração de
A partir dos anos 1980, o Brasil, como de resto todo o projetos educacionais e a falta de pressa em realizá-los.
Terceiro Mundo, é instado a inserir-se no novo processo de
desenvolvimento econômico e social do capitalismo em Para essa autora, ocorre uma mitificação da escola,
expansão. De preferência isso deveria ser feito sem o uso da mitificação que atua como um dos pilares da doutrina liberal
violência física de regimes repressivos. Ao contrário, deveria produzida na transição capitalista e que penetrou cedo em
acontecer num ambiente político-social de redemocratização. nossa sociedade como parte da ideologia do colonialismo. E
Nessa linha, os grandes agentes desse capitalismo quanto mais o capitalismo avançou no país, mais se solidificou
internacional sem pátria especificam, além de cobrar, via essa crença. O poder se concentrava, a riqueza crescia e
mecanismos propriamente econômicos, a adoção de suas supostamente não se distribuía porque a expansão da escola
práticas produtivas, monetárias e financeiras, não acompanhava o crescimento populacional, ou sua
comprometendo todos os países por meio de acordos qualidade não atendia às demandas sociais. “A escola não
mundiais, passando a exigir também adequações nos campos revoluciona ou transforma a sociedade que a produz e à qual
político e cultural. A meta continua sendo aquela da plena serve; ela apenas consolida e maximiza as transformações em
expansão do capitalismo, agora sem concorrências ideológicas curso quando a aparelhamos para tanto”.
significativas e numa perspectiva declarada de globalização. Essa forma atual de expressão histórica do capitalismo, sob
Fala-se então da agenda neoliberal, ou seja, de uma retomada predomínio do capital financeiro, conduzido de acordo com as
dos princípios do liberalismo clássico, mas com a devida regras de um neoliberalismo desenfreado, num momento
correção de seus desvios humanitários. O que está em pauta é histórico marcado por um irreversível processo de
a total liberação das forças do mercado, a quem cabe a efetiva globalização econômica e cultural, produz um cenário
condução da vida das nações e das pessoas. Daí a pregação do existencial em que as referências ético-políticas perdem sua
livre-comércio, da estabilização macroeconômica e das força na orientação do comportamento das pessoas, trazendo
reformas estruturais necessárias, em todos os países, para que descrédito e desqualificação para a educação. Ao mesmo
o sistema tenha alcance mundial e possa funcionar tempo que, pelas regras da condução da vida econômica e
adequadamente. Opera-se então severa crítica ao Estado do social, instaura um quadro de grande injustiça social,
Bem-Estar Social, propondo-se um estado mínimo, em seu sonegando para a maioria das pessoas as condições objetivas
papel e funções. A iniciativa política deve dar prioridade à mínimas para uma subsistência num patamar básico de
iniciativa econômica dos agentes privados. Graças às qualidade de vida, interfere profundamente na constituição da
impressionantes inovações tecnológicas, mormente na esfera subjetividade, no processo de subjetivação, manipulando e
da informática, mudam-se igualmente as relações industriais, desestabilizando valores e critérios. Prevalece um espírito de
o sistema do trabalho e o gerenciamento da produção. Os niilismo axiológico, de esvaziamento de todos os valores, de

111 MARTINS, C. B. Ensino Privado, um Retrato sem Retoques. São Paulo: 113 XAVIER, M. E. S. P. Políticas educacionais, modelos pedagógicos e

Global, 1981. movimentos sociais. In: MIGUEL, M. E. B. & CORRÊA, L. T. (Orgs.). A Educação
112 IANNI, O. O cidadão do mundo. In: LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. & Escolar em Perspectiva Histórica. Campinas: Autores Associados, Capes, 2005.
SANFELICE, J. L. (Orgs.). Capitalismo, Trabalho e Educação. 2.ed. Campinas: p.283-291. (Memória da educação)
Autores Associados, 2004. p.27-34

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fim das utopias e metanarrativas e da esperança de um futuro autocontraditório. Todas as demais formas de saber são
melhor, de incapacidade de construir projetos. A eficiência e a desqualificadas. O ceticismo e o relativismo generalizados se
produtividade são os únicos critérios válidos. Com bem impõem, sob alegação de seus compromissos com
sintetiza Goergen, “generaliza-se nesse processo para toda a metanarrativas infundadas.
cultura um aspecto da ordem econômica: a eficiência tornase Nesse contexto, prospera uma ética hedonista baseada no
padrão do bom comportamento exigido pela sociedade”.114 individualismo, de traço narcísico, que vê o homem como se
Configura-se então uma sociabilidade típica desse fosse um átomo solto, vivendo em torno de si mesmo, numa
contexto neoliberal, que se constitui atrelada a profundas sensibilidade ligada apenas ao espetáculo. Puro culto ao
mudanças provocadas pelas injunções dessa etapa da prazer que se pretende alcançar pelo consumo compulsivo e
economia capitalista na esfera do trabalho, da cidadania e da desregrado dos bens do mercado. Essa lógica fundada na
cultura. Desse modo, constata-se a ocorrência de situações de exacerbada valorização de uma suposta autonomia e
degradação, no mundo técnico e produtivo do trabalho; de suficiência do sujeito individual, no apelo ao consumo
opressão, na esfera da vida social; e de alienação, no universo desenfreado, compromete o reconhecimento e a reafirmação
cultural. Essas condições manifestam-se, em que pesem as dos valores universais da igualdade, da justiça e da equidade,
alegações em contrário de variados discursos, como referências necessárias para uma concepção mais consistente
profundamente adversas à formação humana, o que tem da humanidade, alicerçada no valor básico da dignidade
levado a um crescente descrédito quanto ao papel e à humana.
relevância da educação, como processo intencional e Coagida pela pressão das determinações objetivas, de um
sistemático. lado, e pelas interferências subjetivas, de outro, a educação é
Nesse contexto da história real, a educação é interpelada presa fácil do enviesamento ideológico, que manipula as
pela dura determinação dessa realidade, no que diz respeito às intenções e obscurece os caminhos, confundindo objetivos
condições objetivas da existência. Numa profunda inserção com interesses. Tal situação aumenta e agrava o desafio que a
histórico-social, a educação é serva da história. Aqui se paga educação enfrenta em sua dialética tarefa de, simultânea e
tributo a nossa condição existencial de seres encarnados e, contraditoriamente, inserir os sujeitos educandos nas malhas
como tais, profundamente predeterminados – esfera dos a culturais de sua sociedade e de levá-los a criticar e a superar
priori existenciais. Uma lógica perversa compromete o esforço essa inserção; assim como de fazer um investimento na
da humanização. São adversas as condições para se assegurar conformação das pessoas a sua cultura ao mesmo tempo que
a qualidade necessária para a educação. Em que pese a precisa levá-las a se tornarem agentes da transformação dessa
existência, nas esferas do Estado brasileiro, de um discurso cultura.
muito elogioso e favorável à educação, a prática real da Como a educação tem papel fundamental no processo de
sociedade política e das forças econômicas desse atual estágio subjetivação, embora não seja ela o único vetor desse
histórico não corresponde ao conteúdo de seu discurso. Esse processo, já que essa subjetivação se dá também por outras
discurso se pauta em princípios e valores elevados, mas que vias, seja no âmbito da vivência familiar, seja pelos meios de
não são sustentados nas condições objetivas para sua comunicação de massa, seja ainda por interações informais
realização histórica no plano da realidade social. das pessoas no seio da sociedade civil, ela sofre o impacto
No plano da subjetividade, utilizando-se de diferentes dessas forças geradas no bojo da dinâmica da vida social e
modalidades de intervenções ideológicas, particularmente cultural do capitalismo contemporâneo.
através dos meios de comunicação, o sistema atua fortemente
no processo da subjetivação humana. Numa frente, opera a O horizonte do compromisso éticopolítico da educação:
subversão do desejo, deturpando a significação do prazer, não em busca de uma nova sociabilidade
se investindo adequadamente no aprimoramento da No contraponto dessa situação de degradação, de opressão
sensibilidade estética. Açulam-se os corpos no sentido de fazer e de alienação, a educação é interpelada pela utopia, ou seja,
deles fogueiras insaciáveis de prazer que jamais será satisfeito. por um télos que acena para uma responsabilidade histórica
Ocorre total regressão do estético. Embora prometa a de construção de uma nova sociedade também mediante a
felicidade, não gera condições para sua efetiva realização por construção de uma nova sociabilidade. Isso decorre da
todas as pessoas. Subverte também a vontade, impedindo o condição dos homens como sendo também seres teleológicos,
exercício de sua liberdade, não deixando que o homem dispondo da necessidade e da capacidade de estabelecer fins
pratique sua condição de igualdade: não investe na formação para sua ação. É isso que ocorre com a educação; ela precisa
do cidadão, ou seja, aquele que pode agir livremente na ter intencionalidades, buscar a realização de fins previamente
sociedade de iguais. Propaga a ideia de uma democracia estabelecidos.
puramente formal. Não tem por meta o cidadão, mas o Levando em conta o seu papel no processo de subjetivação
contribuinte, o socícola, aquele que habita o locus social mas e tendo em vista que o conhecimento é a única ferramenta que
não compartilha efetivamente de sua constituição, não cabe ao educador utilizar para enfrentar esses desafios, há que
compartilha das decisões que instauram o processo político- se entender a educação como processo que faz a mediação
social. No fundo mantém-se a servidão... que até se torna entre os seus resultados e as práticas reais, pelas quais os
voluntária... Toda essa pedagogia, em vez de levar os sujeitos a brasileiros devem conduzir sua história. Assim, cabe à
entender-se no mundo, mistifica o mundo, manipulando-o educação ter em seu horizonte três objetivos intrínsecos:
para produzir a ilusão da felicidade. Prosperidade prometida
mas nunca realizada. Leva ao individualismo egoísta e 1) Desenvolver ao máximo o conhecimento científico e
narcísico, simulacro do sujeito autônomo e livre. tecnológico em todos os campos e dimensões; superar o
Essa pedagogia subverte ainda a prática do conhecimento, amadorismo e apropriar-se da ciência e da tecnologia
eliminando o seu processamento como construção dos objetos disponíveis para alicerçar o trabalho de intervenção na
que são conhecidos. Torna-se mero produto e não mais realidade natural e social.
processo, experiência de criatividade, de criticidade e de 2) Desenvolver ao máximo a sensibilidade ética e estética
competência. É literalmente tecnicizado, objetivado, buscando delinear o télos da educação com sensibilidade
empacotado. A própria ciência é vista como conhecimento profunda à condição humana; sentir a razão de ser da existência
eminentemente técnico, o que vem a ser um conceito e a pulsação da vida.

114 LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. & SANFELICE, J. L. (Orgs.). Capitalismo,

Trabalho e Educação. 2.ed. Campinas: Autores Associados, 2004

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3) Desenvolver ao máximo sua racionalidade filosófica educação, como sua tarefa essencial, a construção da
numa dupla direção: numa frente, esclarecer epistemicamente o cidadania. A educação já se deu outrora como objetivo a busca
sentido da existência, e, noutra, afastar o ofuscamento da perfeição humana, idealizada como realização da essência
ideológico dos vários discursos; construir uma contra ideologia do homem, de sua natureza; mais recentemente, essa
como ideologia universalizante que apresenta os produtos do perfeição foi concebida como plenitude da vida orgânica, como
conhecimento para atender aos interesses da totalidade dos saúde física e mental. Hoje, no entanto, as finalidades
homens. perseguidas pela educação dizem respeito à instauração e à
consolidação da condição de cidadania, pensada como
Pela sua própria natureza, a educação tende a atuar como qualidade específica da existência concreta dos homens,
força de conformação social, mas precisa atuar também como lembrando-se sempre que essa é uma teleologia
força de transformação social. A conformação nasce da historicamente situada.
necessidade de conservação da memória cultural da espécie, Com efeito, a educação só se compreende e se legitima
força centrípeta, apelo da imanência, enquanto que a enquanto for uma das formas de mediação das mediações
transformação, força centrífuga, apelo da transcendência, existenciais da vida humana, se for efetivo investimento em
busca um avanço, a criação do novo, gerando elementos que busca das condições do trabalho, da sociabilidade e da cultura
respondam pela criação de nova cultura. simbólica. Portanto, só se legitima como mediação para a
A educação conforma os indivíduos, inserindo-os na sua construção da cidadania. Por isso, enquanto investe, do lado do
sociedade, fazendo-os compartilhar dos costumes morais e de sujeito pessoal, na construção dessa condição de cidadania, do
todos os demais padrões culturais, com o fito de preservar a lado dos sujeitos sociais estará investindo na construção da
memória cultural; porém, ao transformar, impele à criação de democracia, que é a qualidade da sociedade que assegura a
nova cultura, reavaliando seus estágios anteriores de todos os seus integrantes a efetivação coletiva dessas
subjetivação. Cabe-lhe questionar os estágios vigentes de uma mediações.
perspectiva crítica, desconstruindo para reconstruir, pois o À educação cabe, como prática intencionalizada, investir
que não se transforma se petrifica. nas forças emancipatórias dessas mediações, num
É pela mediação de sua consciência subjetiva que o homem procedimento contínuo e simultâneo de denúncia,
pode intencionar sua prática, pois essa consciência é capaz de desmascaramento e superação de sua inércia de entropia, bem
elaborar sentidos e de se sensibilizar a valores. Assim, ao agir, como de anúncio e instauração de formas solidárias de ação
o homem está sempre se referenciando a conceitos e valores, histórica, buscando contribuir, com base em sua própria
de tal modo que todos os aspectos da realidade envolvidos especificidade, para a construção de uma humanidade
com sua experiência, todas as situações que vive e todas as renovada. Ela deve ser assumida como prática
relações que estabelece são atravessados por um coeficiente simultaneamente técnica e política, atravessada por uma
de atribuição de significados, por um sentido, por uma intencionalidade teórica, fecundada pela significação
intencionalidade, feita de uma referência simultaneamente simbólica, mediando a integração dos sujeitos educandos
conceitual e valorativa. Desse modo, as coisas e situações nesse tríplice universo das mediações existenciais: no
relacionam-se com nossos interesses e necessidades, por meio universo do trabalho, da produção material, das relações
da experiência dessa subjetividade valorativa, atendendo, de econômicas; no universo das mediações institucionais da vida
um modo ou de outro, a uma sensibilidade que temos, tão social, lugar das relações políticas, esfera do poder; no
arraigada quanto aquela que nos permite representar as coisas universo da cultura simbólica, lugar da experiência da
e conhece-las mediante os conceitos. identidade subjetiva, esfera das relações intencionais. Em
Com efeito, a ética só pode ser estabelecida por meio de um suma, a educação só se legitima intencionalizando a prática
processo permanente de decifração do sentido da existência histórica dos homens.
humana, tal como ela se desdobra no tecido social e no tempo Com efeito, se se espera que a educação seja de fato um
histórico, não mais partindo de um quadro atemporal de processo de humanização, é preciso que ela se torne mediação
valores, abstratamente concebidos e idealizados. Essa que viabilize, que invista na implementação dessas mediações
investigação é inteiramente compromissada com as mais básicas, contribuindo para que elas se efetivem em suas
mediações históricas da existência humana, não tendo mais a condições objetivas reais. Ora, esse processo não é automático,
ver apenas com ideais abstratos, mas também com referências não é decorrência mecânica da vida da espécie. É verdade que
econômicas, políticas, sociais, culturais. Nenhuma ação que ao superar a transitividade do instinto e, com ela, a
provoque a degradação do homem em suas relações com a univocidade das respostas às situações, a espécie humana
natureza, que reforce sua opressão pelas relações sociais, ou ganha em flexibilidade, mas simultaneamente torna-se vítima
que consolide a alienação subjetiva, pode ser considerada fácil das forças alienantes, uma vez que todas as mediações são
moralmente boa, válida e legítima. ambivalentes: ao mesmo tempo que constituem o lugar da
É por isso que, na perspectiva do modo atual de se personalização, constituem igualmente o lugar da
conceber a ética, ela se encontra profundamente entrelaçada desumanização, da despersonalização. Assim, a vida
com a política, concebida esta como a área de apreensão e individual, a vida em sociedade, o trabalho, as formas culturais,
aplicação dos valores que atravessam as relações sociais que as vivências subjetivas, podem estar levando não a uma forma
interligam os indivíduos entre si. Mas a política, por sua vez, mais adequada de existência, da perspectiva humana, mas
está intimamente vinculada à ética, pelo fato de não poder se antes a formas de despersonalização individual e coletiva, ao
ater exclusivamente a critérios técnico-funcionais, caso em império da alienação. Sempre é bom não perdermos de vista a
que se transformaria numa nova forma de determinismo ideia de que o trabalho pode degradar o homem, a vida social
extrínseco ao homem, à sua humanidade. Isso quer dizer que pode oprimi-lo e a cultura pode aliená-lo, ideologizando-o.
os valores pessoais não são apenas valores individuais; eles É por isso que, ao lado do investimento na transmissão aos
são simultaneamente valores sociais, pois a pessoa só é educandos dos conhecimentos científicos e técnicos, impõe-se
especificamente um ser humano quando sua existência garantir que a educação seja mediação da percepção das
realiza-se nos dois registros valorativos. Assim, a avaliação relações situacionais, que ela lhes possibilite a apreensão das
ética de uma ação não se refere apenas a uma valoração intrincadas redes políticas da realidade social, pois só a partir
individual do sujeito; é preciso referi-la igualmente ao índice daí eles poderão se dar conta também do significado de suas
do coletivo. atividades técnicas e culturais. Cabe ainda à educação, no
É assim que, à luz das contribuições mais críticas da plano da intencionalidade da consciência, desvendar os
filosofia da educação da atualidade, impõe-se atribuir à mascaramentos ideológicos de sua própria atividade, evitando

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assim que ela se instaure como mera força de reprodução Assim, a ética contemporânea entende que o sujeito
social e se torne força de transformação da sociedade, humano se encontra sob as injunções de sua realidade natural
contribuindo para extirpar do tecido desta todos os focos da e histórico-social, que até certo ponto o conduz, determinando
alienação.115 seu comportamento, mas que é também constituída por ele,
A análise crítica da experiência histórica da educação por meio de sua prática efetiva. Ele não é visto mais como um
brasileira mostra que ela desempenhou, em cada um dos seus sujeito substancial, soberano e absolutamente livre, nem como
cenários temporais, a função de reprodução da ideologia, um sujeito empírico puramente natural. Existe concretamente
mediante o que contribuiu para a reprodução das relações nos dois registros, na medida mesma em que é um sujeito
sociais vigentes a cada momento. Mas isso não compromete histórico-social, um sujeito cultural. É uma entidade natural
seu outro papel fundamental, que é aquele de transformar histórica, determinada pelas condições objetivas de sua
essas relações sociais, contribuindo para a elaboração de uma existência, ao mesmo tempo que atua sobre elas por meio de
contra ideologia que possa identificar-se com os interesses e sua práxis.
objetivos da maioria da população, fazendo com que os
benefícios do conhecimento possam atingir o universo da A necessidade do espaço público para um projeto
comunidade humana a que se destina. educacional comprometido com a emancipação humana: a
Esse compromisso éticopolítico da educação para com a escola pública e a cidadania
condução do destino da sociedade não pode, no entanto, ser O éticopolítico incorpora a sensibilidade aos valores da
concebido nos parâmetros da ética essencialista, de fundo convivência social, da condição coletiva das pessoas. A relação,
metafísico, ou de uma ética funcionalista, de fundo a inter-relação, a dependência recíproca entre as pessoas, é
fenomenista. Trata-se de entender sua concepção e prática também um valor ético – a eticidade que se apoia na dignidade
com base num enfoque praxista. Isso decorre de um modo humana. Essa dignidade não se referencia apenas à existência
igualmente novo de pensar o homem. Embora continue sendo social, mas também à coexistência social.
entendido como ser natural e dotado de uma identidade É a partir dessa exigência que se pode compreender a
subjetiva, que lhe permite projetar e antever suas ações, ele importância da escola para a construção da cidadania. Com
não é visto mais nem como um ser totalmente determinado efeito, para que a prática educativa real seja uma práxis, é
nem como um ser inteiramente livre. Ele é simultaneamente preciso que ela se dê no âmbito de um projeto. A escola é o
determinado e livre. Sua ação é sempre um compromisso, em lugar institucional de um projeto educacional. Isso quer dizer
equilíbrio instável entre as injunções impostas pela sua que ela deve instaurar-se como espaço-tempo, como instância
condição de ser natural e a autonomia de sujeito capaz de social que sirva de base mediadora e articuladora dos outros
intencionalizar suas ações, a partir da atividade de sua dois projetos que têm a ver com o agir humano: de um lado, o
consciência. projeto político da sociedade e, de outro, os projetos pessoais
Por práxis, entende-se a prática real do homem, dos sujeitos envolvidos na educação.
atravessada pela intencionalização subjetiva, ou seja, pela Todo projeto implica uma intencionalidade, assim como
reflexão epistêmica elucidativa e esclarecedora, que delineia suas condições reais, objetivas, de concretização, já que a
os fins e o sentido dessa ação. existência dos homens se dá sempre no duplo registro da
O que está em pauta, pois, na reflexão filosófica objetividade/subjetividade, de modo que estão sempre
contemporânea, é a radical historicidade humana. O homem lidando com uma objetividade subjetivada e com uma
concebido como ser histórico perde tanto sua fusão com a subjetividade objetivada. Configura-se aqui a complexa e
totalidade metafísica como com a natureza física do mundo. intrincada questão das relações do processo educativo com o
Desse ponto de vista, ele só é especificamente humano quando, processo social que o envolve por todos os lados. É o que vem
em que pesem suas amarras ao mundo objetivo, é capaz de ir sendo apresentado sob o enfoque da teoria do reprodutivismo
construindo-se efetivamente mediante sua ação real. Ora, a da educação, segundo a qual a escola nada mais faria do que
ética só tem a ver com sua dimensão especificamente humana, reproduzir as relações de dominação presentes no tecido
e é nessa especificidade que ela pode encontrar suas social na medida em que, como instância que lida com os
referências. instrumentos simbólicos, reproduziria os valores
Esse é o sentido da historicidade da existência humana, ou hegemônicos da sociedade, inculcando-os nas novas gerações.
seja, o homem não é a mera expressão de uma essência A escola é vista então como privilegiado aparelho ideológico
metafísica predeterminada, nem o mero resultado de um do Estado que, por sua vez, não é um representante dos
processo de transformações naturais que estaria em evolução. interesses universais da sociedade, mas tão-somente de
Ao contrário, naquilo em que o faz especificamente humano, o grupos privilegiados e, consequentemente, dominantes.
homem é um ser em permanente processo de construção, em Reapresenta-se então a questão da dialética
ininterrupto devir. Nunca está pronto e acabado, nem no plano objetividade/subjetividade. Em se tratando de processo que
individual, nem no plano coletivo, como espécie. Por sobre um lida fundamentalmente com ferramentas simbólicas, a
lastro de uma natureza físico-biológica prévia, mas que é pré- educação é ambígua, ambivalente, uma vez que a subjetividade
humana, compartilhada com todos os demais seres vivos, ele é lugar privilegiado de alienação. Trata-se ainda de múltiplas
vai se transformando e se reconstruindo como ser subjetividades envolvidas, o que potencializa a força da
especificamente humano, como ser ‘cultural’. E isso não alienação em relação aos dados da objetividade circundante.
apenas na linha de um necessário aprimoramento, de um Com efeito, a prática da educação pressupõe mediações
aperfeiçoamento contínuo ou de progresso. Ao contrário, subjetivas, a intervenção da subjetividade de todos aqueles
essas mudanças transformativas, decorrentes de sua prática, que se envolvem no processo. Dessa forma, tanto no plano de
podem até ser regressivas, nem sempre sinalizando para uma suas expressões teóricas como naquele de suas realizações
eventual direção de aprimoramento de nosso modo de ser. O práticas, a educação implica a própria subjetividade e suas
que é importante observar é que seu modo de ser vai se produções. Mas a experiência subjetiva é também uma
constituindo por aquilo que ele efetivamente faz; é sua ação riquíssima experiência das ilusões, dos erros e do falseamento
que o constitui, e não seus desejos, seus pensamentos ou suas da realidade, ameaçando assim, constantemente,
teorias... comprometer sua própria atividade. Não sem razão, pois, o
exercício da prática educativa exige, da parte dos educadores,

115 ALTHUSSER, L. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado. Lisboa, São SEVERINO, A. J. Educação, Ideologia e Contra Ideologia. São Paulo: EPU, 1986.
Paulo: Presença, Martins Fontes, s.d -SEVERINO, A. J. Educação, Ideologia e Contra
Ideologia. São Paulo: EPU, 1986.

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uma atenta e constante vigilância diante dos riscos da sua história. O que se impõe é a adequada exploração do
ideologização de sua atividade, seja ela desenvolvida na sala conhecimento, poderosa estratégia do homem para se nortear
de aula, seja em qualquer outra instância do plano no espaço social e no tempo histórico. Daí a relevância do
macrossocial do sistema de educação da sociedade. conhecimento em suas dimensões científica e filosófica,
O procedimento da consciência, no seu desempenho âmbitos nos quais há a possibilidade efetiva de se assegurar a
subjetivo, não tem a inflexibilidade mecânica e linear dos competência e a criticidade necessárias no caso de utilização
instintos. Ao representar e ao avaliar os diversos aspectos da de nossa subjetividade.
realidade, a consciência facilmente os falseia. A representação A escola se caracteriza, pois, como a institucionalização das
simbólica da realidade, que lhe cabia fazer, perde então seu mediações reais para que uma intencionalidade possa tornar-
caráter objetivo e se impregna de significações que não mais se efetiva, concreta, histórica, para que os objetivos
correspondem à realidade, e a visão elaborada pelo sujeito fica intencionalizados não fiquem apenas no plano ideal, mas
falseada. Na sua atividade subjetiva, a consciência deveria ganhem forma real.
visar e dirigir-se à realidade objetiva, atendo-se a ela. No Assim sendo, a escola se dá como lugar do
entanto, quanto mais autônoma e livre em relação à entrecruzamento do projeto político coletivo da sociedade
transitividade dos instintos, mais frágil se torna em relação à com os projetos pessoais e existenciais de educandos e
objetividade e mais suscetível de sofrer interferências educadores. É ela que viabiliza que as ações pedagógicas dos
perturbadoras. À consciência subjetiva pode ocorrer de se educadores se tornem educacionais, na medida em que se
projetar numa objetividade não-real, apenas projetada, impregna das finalidades políticas da cidadania que interessa
imaginada, ideada. É como se estivesse imaginando um mundo aos educandos. Se, de um lado, a sociedade precisa da ação dos
inventado, invertido. E assim a consciência, alienando-se em educadores para a concretização de seus fins, de outro os
relação à realidade objetiva, constrói conteúdos educadores precisam do dimensionamento político do projeto
representativos com os quais pretende explicar e avaliar os social para que sua ação tenha real significado como mediação
vários aspectos da realidade e que apresenta como sendo da humanização dos educandos. Estes encontram na escola um
verdadeiros e válidos, aptos não só a explicá-los mas também dos espaços privilegiados para a vivificação e a efetivação de
a legitimá-los. Porém, alienada, a consciência não se dá conta seu projeto.
de que tais conteúdos nem sempre estão se referindo A escola se faz necessária para abrigar e mediatizar o
adequadamente ao objeto. Na verdade, tais conteúdos – ideias, projeto educacional, imprescindível para uma sociedade
representações, conceitos, valores – são ideológicos, ou seja, autenticamente moderna. A especificidade do trabalho
têm obviamente um sentido, um significado, mas descolado do pedagógico exige uma institucionalização de meios que
real objetivo, pois referem-se de fato a um outro aspecto da vinculem educadores e educandos. A escola não pode ser
realidade que, no entanto, fica oculto e camuflado. Ocorre um substituída pelos meios de comunicação de massa; toda
falseamento da própria apreensão pela consciência, um relação pedagógica depende de um relacionamento humano
desvirtuamento de seu proceder, decorrente sobretudo da direto. Toda situação de aprendizagem, para ser educacional,
pressão de interesses sociais que, intervindo na valoração da não basta ser tecnicamente operativa; precisa ser pedagógica,
própria subjetividade, altera a relação de significação das ou seja, relacionar pessoas diretamente entre si. Aliás, a
representações. fecundidade didática dos meios técnicos já é dependente da
Esses interesses/valores que intervêm e interferem na incorporação de significados valorativos pessoais.
atividade cognoscitiva e valorativa da consciência nascem das Para que se possa falar de um projeto impregnado por uma
relações sociais de poder, das relações políticas, que tecem a intencionalidade significadora, impõe-se que todas as partes
trama da sociedade. É para legitimar determinadas relações de envolvidas na prática educativa de uma escola estejam
poder que a consciência apresenta como objetivas, universais profundamente integradas na constituição e no vivenciamento
e necessárias, portanto supostamente verdadeiras, algumas dessa intencionalidade. Do mesmo modo que, num campo
representações que, na realidade social, referem-se de fato a magnético, todas as partículas do campo estão imantadas, no
interesses de grupos particulares, em geral grupos âmbito de um projeto educacional todas as pessoas envolvidas
dominantes, detentores do poder no interior da sociedade. precisam compartilhar dessa intencionalidade, adequando
A força do processo de ideologização é, sem dúvida, um dos seus objetivos parciais e particulares ao objetivo abrangente
maiores percalços da prática educativa, porque ela atua no seu da proposta pedagógica decorrente do projeto educacional.
âmago. Mas a possibilidade da interferência da ideologia não Mas, para tanto, impõe-se que toda a comunidade escolar seja
invalida nem inviabiliza a escola. O simples fato do efetivamente envolvida na construção e na explicitação dessa
reconhecimento do poder ideologizador da educação mesma intencionalidade. É um sujeito coletivo que deve
testemunha igualmente o valor da subjetividade, seu poder de instaurá-la; e é nela que se lastreiam a significação e a
doação de significações. O que cabe, no entanto, à escola, na legitimidade do trabalho em equipe e de toda
sua auto constituição como centro de um projeto educacional, interdisciplinaridade, tanto no campo teórico como no campo
é ter presente essa ambivalência de sua própria condição de prático.
agência educativa e investir na explicitação e na crítica desses Ao investir na constituição da cidadania dos indivíduos, a
compromissos ideológicos, etapas preliminares para que educação escolar está articulando o projeto político da
possa tornar seu projeto elemento que transforma a escola em sociedade – que precisa ter seus membros como cidadãos – e
lugar também de elaboração de um discurso contra ideológico os projetos pessoais desses indivíduos que, por sua vez,
e, consequentemente, de instauração de uma nova consciência precisam do espaço social para existir humanamente.
social e até mesmo de novas relações sociais. A educação pode Em sociedades históricas passando por momentos de
se tornar também uma força transformadora do social, determinação alienadora, de opressão e de exploração,
atuando portanto contra ideologicamente. implementando projeto político voltado para interesses
Educar contra ideologicamente é utilizar, com a devida egoísticos de grupos particulares hegemônicos, como é o caso
competência e criticidade, as ferramentas do conhecimento, as de nossa sociedade brasileira atual, fica ainda mais fragilizada
únicas de que efetivamente o homem dispõe para dar sentido a força da instituição escolar nesse seu trabalho de construção
às práticas mediadoras de sua existência real. Por mais da cidadania, uma vez que o projeto educacional autêntico
ambíguos e fragilizados que sejam esses recursos da estaria necessariamente em conflito com o projeto político da
subjetividade, eles são instrumentos capazes de explicitar sociedade que, ao oprimir a maioria dos indivíduos que a
verdades históricas e de significar, com um mínimo de integram, compromete até mesmo a possibilidade de o
fidelidade, a realidade objetiva em que o homem desenvolve educador construir seu projeto pessoal. Esbarra-se aí nos

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limites impostos pela manipulação, pela expropriação e pela publica), mediante a qual poderia assegurar a todos os
alienação dos seres humanos. Muitas vezes, investir na integrantes da sociedade o acesso e o usufruto dos bens
construção de um projeto educacional é pura prática de humanos, garantindo a todos, com o máximo de equidade, o
resistência. compartilhamento do bem comum. No entanto, essa
No entanto, mesmo nesse caso, a escola se torna ainda mais expectativa tende a frustrar-se continuamente, tal a
necessária, impondo-se um investimento sistemático com fragilidade do direito em nossa sociedade. A experiência
vistas a sua sustentação e ao desenvolvimento de um projeto histórica da sociedade brasileira foi e continua sendo marcada
educacional eminentemente contra ideológico, ou seja, pela realidade brutal da violência, do autoritarismo, da
desmascarando, denunciando, criticando esse projeto político, dominação, da injustiça, da discriminação, da exclusão, enfim,
não se conformando com ele, não o aceitando passivamente. da falta do direito. É assim que o nosso não tem sido um Estado
Com as armas fornecidas pelo conhecimento, devendo realizar de direito; ele sempre foi, sob as mais variadas formas, um
seu trabalho educacional no contexto de uma sociedade Estado de fato, no qual as decisões são tomadas e
opressiva, os educadores precisam pautar-se num público de implementadas sob o império da força e da dominação. Não é
educação, concebido e articulado em instituições que gerem um agenciador dos interesses coletivos e muito menos dos
um espaço público aberto à totalidade social, sem qualquer interesses dos segmentos mais fracos da população que
tipo de restrição. constitui sua sociedade civil. Na verdade, as relações de poder
Após duas décadas sob a tutela de um Estado autoritário e no interior da sociedade brasileira continuam moldadas nas
autocrático, no qual a dimensão pública se reduzira à relações de tipo escravocrático que a fundaram, aquelas
expressão meramente tecnoburocrática do estatal, relações do tipo ‘casa-grande e senzala’, metáfora que é, na
mergulhada na voracidade consumista do momento verdade, descrição científica.
neoliberal, o sentido do público acaba deslizando para uma Desse modo, o direito acaba desvirtuado pelo seu próprio
mera identificação do civil ao mercadológico, ou seja, a enviesamento ideológico. Se, de um lado, ele é visto pelos que
sociedade civil não é mais a comunidade dos cidadãos, mas a dele dependem como meio para contar com o usufruto do bem
comunidade dos produtores e dos consumidores em relação comum, de outro ele é usado por aqueles que dele pouco
de mercado. Toda a vida social passa a ser medida e marcada precisam para salvaguardar seus privilégios. No campo
pelo compasso das transações comerciais, do que não escapa específico da educação, a legislação passa a ser então
nenhum setor da cultura, nem mesmo a educação. O dilema estratagema ideológico, prometendo exatamente aquilo que
que vivemos hoje se expressa exatamente por essa não pretende conceder. Por isso mesmo, na medida em que
ambiguidade, pela qual a dimensão pública se esvazia, grupos com interesses diferentes e opostos podem lutar por
impondo a minimização do Estado na condução das políticas eles, acabam travando uma luta ideológica, ou seja, buscam
sociais, que ficam dependentes apenas das leis do mercado, servir-se da legislação como um instrumento da garantia
tido como dinâmica própria da esfera do privado. Daí o ímpeto desses direitos. Nessa luta sem tréguas, o caráter público da
privatizante que varre a sociedade e a cultura do Brasil nas educação vai sendo, cada vez mais, comprometido.
últimas três décadas, sob o sopro incessante e denso dos É por isso mesmo que, de acordo com o atual modelo, o
ventos ideológicos do neoliberalismo. A oferta de educação, processo fundamental da história humana deve ser conduzido
assim como dos demais chamados serviços públicos, é um pelas forças da própria sociedade civil, e não mais pela
dentre outros empreendimentos econômico-financeiros a administração via aparelho do Estado. Entendese que o motor
serem conduzidos nos termos das implacáveis leis do da vida social é o mercado, e não a administração política. As
mercado. leis gerais são aquelas da economia do mercado, e não as da
Em todas as situações de ambiguidade que as atravessam, economia política. E o mercado se regula por forças
as categorias de público e de privado padecem de uma concorrenciais, nascidas dos interesses dos indivíduos e
limitação congênita que compromete sua validade político- grupos, que se ‘vetorizam’ no interior da própria sociedade
educacional, impondo aos atuais teóricos e práticos da civil – donde a proposta do Estado mínimo e os elogios à
educação uma inconclusa tarefa de redimensioná-los com fecundidade da livre iniciativa, à privatização generalizada etc.
vistas a assegurar-lhe eficácia e legitimidade. Para tanto, é Dessa situação decorrem igualmente os profundos
preciso ter presente a historicidade da construção dessas equívocos que vêm atravessando a política educacional
categorias. Assim, é necessário reconhecer a procedência da brasileira das últimas décadas, ao estender a privatização
universalidade do bem comum, mas que deve ser entendida exacerbada e sem critérios também aos assim chamados
como uma possibilidade histórica a ser realizada no fluxo do ‘serviços educacionais’, atendendo apenas às diretrizes da
tempo. Impõe-se ainda reconhecer a rica contribuição do agenda econômica neoliberal. Trata-se de prática duplamente
iluminismo liberal na construção do estado de direito como perversa. De um lado, desconhece a incapacidade econômica
tentativa de instauração de uma determinada ordenação do da maioria da população brasileira de se integrar no processo
social. Como se sabe, o direito nasceu na civilização humana produtivo de uma economia de mercado, que pressupõe um
como forma de organizar as relações entre os homens, de patamar mínimo de condições objetivas para que os agentes
modo a garantir um mínimo de simetria nessas relações, possam dela participar. Abaixo desse nível, essa participação
assegurando assim a justiça, ou seja, que um mínimo de se situará necessariamente numa esfera de marginalidade
equidade nelas reinasse. No entanto, tão logo conseguiu econômico-social. De outro lado, a perversidade do sistema se
apreender-se como uma coletividade a que se impunha uma manifesta igualmente no fato da precária qualidade de
convivência em comum, a humanidade percebeu, com base em educação que sobra para a população que dela mais precisa,
sua experiência empírica, que o tecido social não se constituía tanto nas escolas/empresas quanto nas escolas públicas ainda
como uma teia de membros iguais. O tecido social era todo mantidas pelo Estado, ou seja, tal educação ofertada não
marcado por forte hierarquização estratificada, em que ocorre habilitará essa população a ponto de lhe viabilizar a ruptura
grande desequilíbrio das forças em presença, em que alguns do círculo de ferro de sua opressão. Apenas uma elite
indivíduos ou grupos não só se opunham uns aos outros como vinculada aos segmentos dominantes dispõe de uma educação
dominavam os indivíduos ou grupos mais fracos. Uma intensa qualificada, sem dúvida alguma capaz de habilitá-la para
luta de interesses colocava esses elementos em situação de continuar no exercício da dominação.
conflito, geradora de muitas formas de violência e de opressão. O sentido do público é aquele abrangido pelo sentido do
É íntima a aproximação que os teóricos modernos fizeram bem comum efetivamente universal, ou seja, que garanta ao
entre democracia e o caráter público da atuação do Estado universo dos sujeitos o direito de usufruir dos bens culturais
(por isso mesmo, deveria ser preferencialmente uma res da educação, sem nenhuma restrição. A questão básica não é a

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da referência jurídica de manutenção dos subsistemas de A característica do sistema político brasileiro, ressaltada
ensino, mas a do seu efetivo envolvimento com o objetivo da no texto, obtém sua legitimidade da
educação universalizada. (A) dispersão regional do poder econômico.
As instituições particulares de ensino também não podem (B) polarização acentuada da disputa partidária.
eximir-se de um comprometimento que leve em conta um (C) orientação radical dos movimentos populares.
projeto político-social identificado com as necessidades (D) condução eficiente das ações administrativas.
objetivas do todo da população. O equívoco radical está em se (E) sustentação ideológica das desigualdades existentes.
entenderem e, sobretudo, em se vivenciarem apenas como
instâncias do mercado, em que os bens simbólicos da cultura 02. Educação é prática histórico-social, cujo norteamento
transformam-se em bens puramente econômicos, esvaziados se fará de maneira técnica, conforme ocorre nas esferas da
de todo conteúdo humano e humanizador. manipulação do mundo natural.
( ) Certo ( ) Errado
Pistas e recomendações:116
- A Educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro 03. A discussão dos fundamentos ético-políticos da
pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a educação, objeto desta reflexão, envolve necessariamente a
viver juntos, aprender a ser. esfera da subjetivação, uma vez que implica referência a
- Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, valores.
suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em ( ) Certo ( ) Errado
profundidade um pequeno número de matérias. O que
também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das 04. Quanto à escola, ela visa buscar o mundo real, suas
oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a necessidades, saindo ideologia e colocando em prática as reais
vida. necessidades.
- Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma ( ) Certo ( ) Errado
qualificação profissional mas, de uma maneira mais ampla,
competências que tornem a pessoa apta a enfrentar Gabarito
numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas, também, 01. E / 02. Errado / 03. Certo / 04. Certo
aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais
ou de trabalhos que se oferecem às pessoas, quer
espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer 6 Políticas educacionais
formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado
com o trabalho. para a educação básica.
- Aprender a viver juntos desenvolve a compreensão do
outro e a percepção das interdependências – realizar projetos
comuns e preparar-se para gerir conflitos – no respeito pelos Políticas Públicas Educacionais
valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.
- Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua Aspectos Históricos
personalidade, é estar à altura de agir com cada vez maior Com a criação da Secretaria de Educação Continuada,
capacidade de autonomia, discernimento e responsabilidade Alfabetização e Diversidade, conhecida pela sigla SECAD,
pessoal. Para isso, não negligenciar, na educação, nenhuma das desde 2004, o Ministério da Educação agilizou os
potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, enfrentamentos das injustiças encontradas em nosso país. O
sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar- objetivo é a universalização do acesso, a permanência e
se. aprendizagem na escola pública, com a construção
- Numa altura em que os sistemas educativos formais participativa de uma proposta de Educação Integral, através
tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento da ação articulada entre os entes federados e a organização
de outras formas de aprendizagem, importa conceber a civil, principalmente quando se diz respeito à superação das
educação como um todo. Essa perspectiva deve, no futuro, desigualdades e afirmação dos direitos mediante às
inspirar e orientar as reformas educativas, tanto em nível da diferenças.
elaboração de programas quanto na definição de novas Entre o final de 2007 e ao longo de primeiro semestre de
políticas pedagógicas. 2008, gestores municipais e estaduais, que representam a
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
Questões (UNDIME), do Conselho Nacional de Secretários de Educação
(CONSED), da Confederação Nacional dos Trabalhadores em
01. (ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio – INEP) Educação (CNTE), da Associação Nacional pela Formação de
Existe uma cultura política que domina o sistema e é Profissionais da Educação (ANFOPE), de Organizações não-
fundamental para entender o conservadorismo brasileiro. Há governamentais comprometidas com a educação pública e de
um argumento, partilhado pela direita e pela esquerda, de que professores universitários reuniram-se periodicamente, com a
a sociedade brasileira é conservadora. Isso legitimou o coordenação do SECAD e convocação do MEC, para
conservadorismo do sistema político: existiriam limites para contribuírem para o debate nacional. Nessas reuniões debatia-
transformar o país, porque a sociedade é conservadora, não se sobre uma política de Educação Integral, sustentada na
aceita mudanças bruscas. Isso justifica o caráter vagaroso da intersetorialidade da gestão pública, com uma possível
redemocratização e da redistribuição da renda. Mas não é articulação com a sociedade civil e no diálogo entre os saberes
assim. A sociedade é muito mais avançada que o sistema clássicos e contemporâneos.
político. Ele se mantém porque consegue convencer a
sociedade de que é a expressão dela, de seu conservadorismo. Base conceitual
NOBRE, M. Dois ismos que não rimam. Antes de adentrar no contexto que envolve as Políticas
Públicas Educacionais117, tem-se o entendimento do que vem

116 DELORS, Jacques (org.). Educação um tesouro a descobrir – Relatório para 117 FERREIRA, C. S.; SANTOS, E. N. dos. Políticas públicas educacionais:

a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Editora apontamentos sobre o direito social da qualidade na educação. Revista LABOR nº
Cortez, 7ª edição, 2012 11, v.1, 2014.

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a ser Política Pública, que a partir da etimologia da palavra se Educação pública no Brasil: Uma História de Encontros
refere ao desenvolvimento a partir do trabalho do Estado e Desencantos
junto à participação do povo nas decisões. A escola pública brasileira vem demonstrando,
especialmente, nas últimas décadas um processo de
Sob este entendimento conceitua-se que: desenvolvimento no contexto organizacional e de gestão,
Se “políticas públicas” é tudo aquilo que um governo faz ou partindo do princípio que a democracia gera qualidade e
deixa de fazer, políticas públicas educacionais é tudo aquilo oportunidade a todos também no âmbito escolar. Porém, a
que um governo faz ou deixa de fazer em educação. Porém, educação pública necessita mais do que oferecer escolas, mas
educação é um conceito muito amplo para se tratar das políticas é imprescindível ter docentes conscientes de seu papel
educacionais. Isso quer dizer que políticas educacionais é um educacional, tanto quanto social, bem como sejam oferecidas
foco mais específico do tratamento da educação, que em geral se as crianças oportunidades de aprendizagem a partir da
aplica às questões escolares. Em outras palavras, pode-se dizer construção de conhecimento.123
que políticas públicas educacionais dizem respeito à educação A luta por uma escola cidadã no Brasil é envolvida por uma
escolar.118 história de encontros e desencantos em que nem sempre o
foco dos projetos é a qualidade da educação e a construção da
É importante observar que as Políticas Públicas cidadania, isto é:
Educacionais não apenas se relacionam às questões Ao evidenciar um conjunto de concepções, práticas e
relacionadas ao acesso de todas as crianças e adolescentes as estruturas inovadoras, a experiência da escola cidadã aponta
escolas públicas, mas também, a construção da sociedade que possibilidades de uma educação com qualidade social, não
se origina nestas escolas a partir da educação. Neste redutora à dinâmica mercantil. O desenvolvimento de uma
entendimento, aponta-se que as Políticas Públicas cultura participativa, de uma inquietação pedagógica com a
Educacionais influenciam a vida de todas as pessoas. não-aprendizagem, da busca dos aportes teóricos da ciência da
No Brasil, com ênfase para a última década a expressão educação, legítima a ideia de que a não-aprendizagem é uma
Políticas Públicas ganhou um rol de notoriedade em todos os disfunção da escola e que a reprovação e a evasão são
campos, fala-se de Políticas Públicas para a educação, saúde, mecanismos de exclusão daqueles setores sociais que mais
cultura, esporte, justiça e assistência social. No entanto, tais necessitam da escola pública. Isso levou à convicção da
políticas nem sempre trazem os resultados esperados, pois necessidade de reinventar a escola, de redesenhá-la de acordo
somente garantir o acesso a todos estes serviços públicos não com novas concepções. Os avanços na formação em serviço
significa que estes tenham qualidade e, que efetivamente, os evidenciaram aos educadores que a estrutura convencional da
usuários terão seus direitos respeitados.119 escola está direcionada para transmissão, para o treinamento e
Diante destes aspectos tem-se que as Políticas Públicas se para a repetição, tendendo a neutralizar as novas proposições
voltam para o enfrentamento dos problemas existentes no pedagógicas, no máximo transformando-as em modismos
cotidiano das escolas, que reduzem a possibilidade de fugazes. Por isso, embora essenciais, não bastam apenas
qualidade na educação. No entanto, somente o direcionamento mudanças metodológicas, novidades teóricas, a adesão aos
destas para a educação não constitui uma forma de princípios de uma escola inclusiva, democrática, com práticas
efetivamente auxiliar crianças e adolescentes a um ensino de avaliativas voltadas ao sucesso do educando, é indispensável
melhor qualidade, posto que existam outros pontos que ainda a superação da estrutura taylorista-fordista, redefinindo
também devem ser tratados a partir das Políticas Públicas, os espaços, os tempos e os modelos de trabalho escolar.124
como os problemas de fome, drogas e a própria violência que Neste sentido, se observam que as transformações
vem se instalando nas escolas em todo o Brasil.120 vivenciadas no cenário educacional, especialmente, nas
Quando se fala em Políticas Públicas na educação a escolas públicas nas últimas décadas, estão diretamente
abordagem trata-se da articulação de projetos que envolvem o ligadas às mudanças ocorridas nos campos político, social,
Estado e a sociedade, na busca pela construção de uma econômico e cultural, que originam uma nova situação nas
educação mais inclusiva e de melhor qualidade, ou seja, que condições de vida da sociedade, seja no campo social ou
resgate a construção da cidadania.121 econômico.125
Tem-se que o sistema educativo adotado e as Políticas Compreender a necessidade de qualidade na educação e
Públicas direcionadas para a educação, são elementos que buscar a construção desta qualidade somente ocorre quando a
demonstram a preocupação do país com o seu futuro, pois escola cumpre com seu papel social e educacional.126
somente, o ensino público gratuito, inclusivo e de qualidade
pode construir uma sociedade em que as diferenças Dentre os processos que envolvem o desencanto com a
socioculturais e socioeconômicas não são tão díspares.122 educação pública, tem-se o fato de que:
Neste sentido, tem-se que as Políticas Públicas Crianças de 5ª série que não sabem ler nem escrever, salários
Educacionais estão diretamente ligadas a qualidade da baixos para todos os profissionais da escola, equipes
educação e, consequentemente, a construção de uma nova desestimuladas, famílias desinteressadas pelo que acontece com
ordem social, em que a cidadania seja construída seus filhos nas salas de aula, qualidade que deixa a desejar,
primeiramente nas famílias e, posteriormente, nas escolas e na professores que fingem que ensinam e alunos que fingem que
sociedade.

118 OLIVEIRA, Adão Francisco de. Políticas públicas educacionais: conceito e 122 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

contextualização numa perspectiva didática. In: OLIVEIRA, Adão Francisco de. educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
Fronteiras da educação: tecnologias e políticas. Goiânia-Goiás: PUC Goiás, 2010. 123 BOLZANO, Sonia Maria Nogueira. Do direito ao ensino de qualidade ao
119 SETUBAL, Maria Alice. Com a palavra... Consulex. Ano XVI. N.382. 15 de direito de aprender com qualidade – o desafio da nova década. In: LIBERTI, Wilson
Dezembro de 2012. Donizeti. Direito à educação: uma questão de justiça. São Paulo: Malheiros, 2004,
120 QUADROS, Neli Helena Bender de. Políticas públicas voltadas para a p.122.
qualidade da educação no ensino fundamental: inquietudes e provocações a partir 124 AZEVEDO, José Clovis de. Educação pública: o desafio da qualidade. Estud.

do plano de desenvolvimento da educação. [Dissertação de Mestrado em av. v.21. n.60. São Paulo. May/Aug. 2007.
Educação]. Passo Fundo - RS: Faculdade de Educação da Universidade de Passo 125 FURGHESTTI, Mara Luciane da Silva; GRECO, Maria Terêsa Cabral;

Fundo, 2008. CARDOSO, Rosinete Costa Fernandes. Ensino fundamental de nove anos: os
121 GIRON, Graziela Rossetto. Políticas públicas, educação e neoliberalismo: o impactos das políticas públicas para a alfabetização com letramento. IX ANPED
que isso tem a ver com a cidadania. Revista de Educação. PUC-Campinas. Sul Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul. 2012.
Campinas. n.24. jun. 2008. 126 SAVIANI, Demerval. História das ideais pedagógicas no Brasil. Campinas-

SP: Autores Associados, 2010.

Educação Brasileira 150


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aprendem. O quadro da Educação Brasileira (sobretudo a políticos, mídia e, nos últimos tempos, economistas, empresários,
pública) está cada vez mais desanimador. [...].127 consultores empresariais e técnicos em planejamento têm
ocupado boa parte do espaço dos educadores, emitindo receitas,
Esta realidade de desencanto com a educação brasileira soluções técnicas e, não raro, sugerindo a incompetência dos
assegura a esta um status de baixa qualidade, seja no contexto educadores para produzir soluções que empolguem a
de toda a estrutura organizacional e educacional vivenciada, qualificação do ensino. Essa invasão de profissionais não
seja nos resultados de desempenho dos estudantes no identificados ou não envolvidos com as atividades do campo
processo ensino e aprendizagem. educacional merece uma reflexão. Não se trata aqui de
Várias políticas públicas foram lançadas por todos os preconizar o monopólio da discussão da educação aos
setores do governo federal para se alcançar os objetivos educadores, mas de registrar a intensa penetração ideológica
propostos pela Constituição Federal. A título de exemplo, entre das análises, dos procedimentos e das receitas tecnocráticas à
outras políticas podem ser citadas as seguintes: educação.129
a) Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino A qualidade da educação, especialmente nas escolas
Fundamental e de Valorização do Magistério- (FUNDEB); públicas não podem ser construídas com base unicamente em
b) Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE); políticas quantitativas e privatizadoras, em que a escola
c) Programa de Dinheiro Direto na Escola (PDDE); particular seja símbolo de eficiência, mas em programas que
d) Programa Bolsa Família; tenham no resgate da qualidade da escola pública a sua força
e) Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); para alcançar efetivamente um melhor nível educacional.
f) Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); No Brasil a eficiência das escolas públicas, que poderiam
g) Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE); ser traduzidas em qualidade educacional, está intimamente
h) Exame Nacional do Ensino Médio (ENEN; ligada a influência tecnicista dos americanos e do humanismo
i) Sistema de Seleção Unificada (SISU); republicano. Porém, este humanismo é contraditório, pois não
j) Programa Universidade para Todos (PROUNI); tem por objetivo a formação de cidadãos conscientes de seus
k) Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de direitos e deveres e, sim, de seus direitos, fazendo surgir um
Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação paternalismo que oprime a escola a oferece educação e não
Infantil (PROINFÂNCIA). educação de qualidade.130
Esta qualidade não é alcançada com uma educação
O Plano Nacional de Educação é a política pública mais institucionalizada que busca fornecer conhecimento já pronto
atual e tem como objetivo a melhoria da educação. Está para que as crianças e os adolescentes continuem a
amparado na Constituição Federal e visa efetivar os deveres propagação desta sociedade mercantilizada, mas deve buscar
do Estado em relação à Educação. Os planos devem a geração e transmissão de valores éticos, morais e cidadãos
contemplar a realidade nacional, estadual e municipal, razão que efetivamente são construtores de novos conhecimentos e
pela qual se mostra de extrema relevância o diagnóstico de uma sociedade a luz da cidadania.131
realizado.
A participação de todos redunda do modelo democrático Amparo Constitucional132
assumido pelo País e previsto constitucionalmente. Mas, esta A Constituição Federal Brasileira de 1988, considerada a
participação tem outro efeito, o princípio do pertencimento da mais humana de todos os tempos, trouxe em seu bojo
coisa pública, ou seja, as pessoas tendem a se comprometer abordagens importantes para a educação. Nesta
com o que lhes pertence, o que lhes diz respeito. Quando se contextualização, o artigo 205 preleciona que:
tem um plano elaborado com a efetiva participação dos Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da
professores, educadores, pais, funcionários, vereadores, do família, será promovida e incentivada com a colaboração da
executivo, enfim de toda a sociedade, a possibilidade de não se sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
tornar um plano fictício ou dissociado da realidade local é preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
muito menor, pois cobranças advirão da sua implementação, trabalho.133
inclusive em esferas extra educacionais, com a participação do
Ministério Público e Judiciário. Não obstante aponta-se que a Constituição Federal (CF)
não traz em seu bojo somente o acesso à escola, mas o pleno
A Qualidade da Educação desenvolvimento das pessoas a partir da educação, o que
A qualidade na educação é elemento complexo devido a denota a pertinência de uma educação de qualidade. Sendo
sua abrangência e necessidade de ter nas características físicas que a CF em seu art. 205, VII, menciona a “garantia de padrão
da escola, nos docentes e na didática de ensino fatores que de qualidade” do ensino, ou seja, não apenas o acesso de
possibilitem a construção desta qualidade. Isto não significa crianças e adolescentes a escola, mas um ensino de qualidade.
dizer que nenhuma criança ou adolescente fique fora da sala Garantia está também presente no inciso IX do art. 4º da LDB.
de aula é, importante que exista qualidade nesta escola básica, Ao tratar sobre a educação à luz da Constituição Federal,
oferecida para todos.128 tem-se que segundo a: “[...] legislação brasileira, o direito à
Com a necessidade de construir uma sociedade mais justa, educação engloba os pais, o Estado e a comunidade em geral e
digna e cidadã as discussões sobre a qualidade da educação se
exacerbaram, neste campo tem-se que:
A QUALIDADE do ensino tem sido foco de discussão intensa,
especialmente na educação pública. Educadores, dirigentes

127 BENCINI, Roberta; MORAES, Trajano de; MINAMI, Thiago. O desafio da 130 LIBERATI, Wilson Donizetti. Conteúdo material do direito à educação

qualidade não dá mais para esperar: ou o Brasil coloca a Educação no topo das escolar. In: LIBERTI, Wilson Donizeti. Direito à educação: uma questão de justiça.
prioridades ou estará condenado ao subdesenvolvimento. A boa notícia é que a São Paulo: Malheiros, 2004.
situação tem jeito se a sociedade agir já. Nova Escola. Ano XXI. N.1996. Out. de 131 FURGHESTTI, Mara Luciane da Silva; GRECO, Maria Terêsa Cabral;

2006. CARDOSO, Rosinete Costa Fernandes. Ensino fundamental de nove anos: os


128BOLZANO, Sonia Maria Nogueira. Do direito ao ensino de qualidade ao impactos das políticas públicas para a alfabetização com letramento. IX ANPED
direito de aprender com qualidade – o desafio da nova década. In: LIBERTI, Wilson Sul Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul. 2012.
Donizeti. Direito à educação: uma questão de justiça. São Paulo: Malheiros, 2004, 132 Ferreira, Cleia Simone, Santos dos, Everton Neves. Políticas públicas

p.122. educacionais: apontamentos sobre o direito social da qualidade na educação


129AZEVEDO, José Clovis de. Educação pública: o desafio da qualidade. Estud. (páginas 155-156).
av. v.21. n.60. São Paulo. May/Aug. 2007 133 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição federal anotada. 9. ed. rev. e atual.

até a EC n.57/2008. São Paulo: Saraiva, 2009.

Educação Brasileira 151


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os próprios educandos, mas é obrigação do Estado garantir organização, na articulação, no desenvolvimento e na


esse direito, inclusive quando o assunto é qualidade. [...]”. 134 avaliação de suas propostas pedagógicas.
Em consonância com a Constituição Federal de 1988 a Por outro lado, a necessidade de definição de Diretrizes
educação pública de qualidade é obrigação do Estado, sendo Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica está
ainda o acesso ao ensino fundamental obrigatório e gratuito, posta pela emergência da atualização das políticas
um direito público subjetivo, BRASIL.135 educacionais que consubstanciem o direito de todo brasileiro
à formação humana e cidadã e à formação profissional, na
A Constituição Federal em seu art. 6º preceitua: vivência e convivência em ambiente educativo. Têm estas
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a Diretrizes por objetivos:
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a I – Sistematizar os princípios e diretrizes gerais da
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à Educação Básica contidos na Constituição, na LDB e demais
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta dispositivos legais, traduzindo-os em orientações que
Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, contribuam para assegurar a formação básica comum
de 2015). nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida ao currículo
e à escola;
Neste enfoque quando é negado a qualquer criança ou II – Estimular a reflexão crítica e propositiva que deve
adolescente o seu direito de frequentar uma escola e receber subsidiar a formulação, execução e avaliação do projeto
um ensino de qualidade, possibilitando a construção de políticopedagógico da escola de Educação Básica;
valores que o levam ao exercício da cidadania, se está negando III – Orientar os cursos de formação inicial e continuada de
um direito social amparado na Constituição Federal. profissionais – docentes, técnicos, funcionários – da Educação
Básica, os sistemas educativos dos diferentes entes federados
Amparo em leis federais e as escolas que os integram, indistintamente da rede a que
Na organização do Estado Brasileiro, a matéria pertençam.
educacional é conferida pela Lei nº 9.394/96136, de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB), aos diversos entes Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
federativos: União, Distrito Federal, Estados e Municípios, para a Educação Básica visam estabelecer bases comuns
sendo que a cada um deles compete organizar seu sistema de nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e
ensino, cabendo, ainda, à União a coordenação da política o Ensino Médio, bem como para as modalidades com que
nacional de educação, articulando os diferentes níveis e podem se apresentar, a partir das quais os sistemas federal,
sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e estaduais, distrital e municipais, por suas competências
supletiva (artigos 8º, 9º, 10 e 11). próprias e complementares, formularão as suas orientações
No tocante à Educação Básica, é relevante destacar que, assegurando a integração curricular das três etapas sequentes
entre as incumbências prescritas pela LDB aos Estados e ao desse nível da escolarização, essencialmente para compor um
Distrito Federal, está assegurar o Ensino Fundamental e todo orgânico.
oferecer, com prioridade, o Ensino Médio a todos que o O processo de formulação destas Diretrizes foi acordado,
demandarem. E ao Distrito Federal e aos Municípios cabe em 2006, pela Câmara de Educação Básica com as entidades:
oferecer a Educação Infantil em Creches e Pré-Escolas, e, com Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, União
prioridade, o Ensino Fundamental. Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, Conselho dos
Em que pese, entretanto, a autonomia dada aos vários Secretários Estaduais de Educação, União Nacional dos
sistemas, a LDB, no inciso IV do seu artigo 9º, atribui à União Dirigentes Municipais de Educação, e entidades
estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal representativas dos profissionais da educação, das instituições
e os municípios, competências e diretrizes para a Educação de formação de professores, das mantenedoras do ensino
Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, que privado e de pesquisadores em educação.
nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a Para a definição e o desenvolvimento da metodologia
assegurar formação básica comum. destinada à elaboração deste Parecer, inicialmente, foi
A formulação de Diretrizes Curriculares Nacionais constituída uma comissão que selecionou interrogações e
constitui, portanto, atribuição federal, que é exercida pelo temas estimuladores dos debates, a fim de subsidiar a
Conselho Nacional de Educação (CNE), nos termos da LDB e da elaboração do documento preliminar visando às Diretrizes
Lei nº 9.131/95, que o instituiu. Esta lei define, na alínea “c” do Curriculares Nacionais para a Educação Básica, sob a
seu artigo 9º, entre as atribuições de sua Câmara de Educação coordenação da então relatora, conselheira Maria Beatriz
Básica (CEB), deliberar sobre as Diretrizes Curriculares Luce. (Portaria CNE/CEB nº 1/2006)
propostas pelo Ministério da Educação. Esta competência para A comissão promoveu uma mobilização nacional das
definir as Diretrizes Curriculares Nacionais torna-as diferentes entidades e instituições que atuam na Educação
mandatórias para todos os sistemas. Ademais, atribui-lhe, Básica no País, mediante:
entre outras, a responsabilidade de assegurar a participação I – Encontros descentralizados com a participação de
da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional (artigo Municípios e Estados, que reuniram escolas públicas e
7º da Lei nº 4.024/61, com redação dada pela Lei 9.131/95), particulares, mediante audiências públicas regionais,
razão pela qual as diretrizes constitutivas deste Parecer viabilizando ampla efetivação de manifestações;
consideram o exame das avaliações por elas apresentadas, II – Revisões de documentos relacionados com a Educação
durante o processo de implementação da LDB. Básica, pelo CNE/CEB, com o objetivo de promover a
O sentido adotado neste Parecer para diretrizes está atualização motivadora do trabalho das entidades, efetivadas,
formulado na Resolução CNE/CEB nº 2/98, que as delimita simultaneamente, com a discussão do regime de colaboração
como conjunto de definições doutrinárias sobre princípios, entre os sistemas educacionais, contando, portanto, com a
fundamentos e procedimentos na Educação Básica (…) que participação dos conselhos estaduais e municipais.
orientarão as escolas brasileiras dos sistemas de ensino, na Inicialmente, partiu-se da avaliação das diretrizes
destinadas à Educação Básica que, até então, haviam sido

134 CABRAL, Karina Melissa; DI GIORGI, Cristiano Amaral Garboggini. O direito 135 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro

à qualidade da educação básica no Brasil: uma análise da legislação pertinente e de 1988.


das definições pedagógicas necessárias para uma demanda judicial. Educação. 136 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

Porto Alegre. v.35. n.1. jan./abr. 2012.

Educação Brasileira 152


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estabelecidas por etapa e modalidade, ou seja, expressando-se o CNE, o Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação
nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação e a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação;
Infantil; para o Ensino Fundamental; para o Ensino Médio; VIII – A instituição da política nacional de formação de
para a Educação de Jovens e Adultos; para a Educação do profissionais do magistério da Educação Básica (Decreto nº
Campo; para a Educação Especial; e para a Educação 6.755, de 29 de janeiro de 2009);
Escolar Indígena. IX – A aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da
Os temas considerados pertinentes à matéria objeto deste Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que institui as Diretrizes
Parecer passaram a se constituir nas seguintes ideias-força: Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos
I – As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública, que
Educação Básica devem presidir as demais diretrizes devem ter sido implantados até dezembro de 2009;
curriculares específicas para as etapas e modalidades, X – As recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo
contemplando o conceito de Educação Básica, princípios de CNE, expressas no documento Subsídios para Elaboração do
organicidade, sequencialidade e articulação, relação entre as PNE Considerações Iniciais. Desafios para a Construção do
etapas e modalidades: articulação, integração e transição; PNE (Portaria CNE/CP nº 10/2009);
II – O papel do Estado na garantia do direito à educação de XI – A realização da Conferência Nacional de Educação
qualidade, considerando que a educação, enquanto direito (CONAE), com o tema central “Construindo um Sistema
inalienável de todos os cidadãos, é condição primeira para o Nacional Articulado de Educação: Plano Nacional de Educação
exercício pleno dos direitos: humanos, tanto dos direitos – Suas Diretrizes e Estratégias de Ação”, tencionando propor
sociais e econômicos quanto dos direitos civis e políticos; diretrizes e estratégias para a construção do PNE 2011-2020;
III – A Educação Básica como direito e considerada, XII – A relevante alteração na Constituição, pela
contextualizadamente, em um projeto de Nação, em promulgação da Emenda Constitucional nº 59/2009, que,
consonância com os acontecimentos e suas determinações entre suas medidas, assegura Educação Básica obrigatória e
histórico-sociais e políticas no mundo; gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a sua oferta
IV – A dimensão articuladora da integração das diretrizes gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade
curriculares compondo as três etapas e as modalidades da própria; assegura o atendimento ao estudante, em todas as
Educação Básica, fundamentadas na indissociabilidade dos etapas da Educação Básica, mediante programas
conceitos referenciais de cuidar e educar; suplementares de material didático-escolar, transporte,
V – A promoção e a ampliação do debate sobre a política alimentação e assistência à saúde, bem como reduz,
curricular que orienta a organização da Educação Básica como anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da
sistema educacional articulado e integrado; Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os
VI – A democratização do acesso, permanência e sucesso recursos destinados à manutenção e ao desenvolvimento do
escolar com qualidade social, científica, cultural; ensino.
VII – A articulação da educação escolar com o mundo do
trabalho e a prática social; Para a comissão, o desafio consistia em interpretar essa
VIII – A gestão democrática e a avaliação; realidade e apresentar orientações sobre a concepção e
IX – A formação e a valorização dos profissionais da organização da Educação Básica como sistema educacional,
educação; segundo três dimensões básicas: organicidade,
X – O financiamento da educação e o controle social. sequencialidade e articulação. Dispor sobre a formação básica
Nacional relacionando-a com a parte diversificada, e com a
Ressalte-se que o momento em que estas Diretrizes preparação para o trabalho e as práticas sociais, consiste,
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica estão portanto, na formulação de princípios para outra lógica de
sendo elaboradas é muito singular, pois, simultaneamente, as diretriz curricular, que considere a formação humana de
diretrizes das etapas da Educação Básica, também elas, sujeitos concretos, que vivem em determinado meio ambiente,
passam por avaliação, por meio de contínua mobilização dos contexto histórico e sociocultural, com suas condições físicas,
representantes dos sistemas educativos de nível nacional, emocionais e intelectuais.
estadual e municipal. A articulação entre os diferentes Para a organização das orientações contidas neste texto,
sistemas flui num contexto em que se vivem: optou-se por enunciá-las seguindo a disposição que ocupam
I – Os resultados da Conferência Nacional da Educação na estrutura estabelecida na LDB, nas partes em que ficam
Básica (2008); previstos os princípios e fins da educação nacional; as
II – Os 13 anos transcorridos de vigência da LDB e as orientações curriculares; a formação e valorização de
inúmeras alterações nela introduzidas por várias leis, bem profissionais da educação; direitos à educação e deveres de
como a edição de outras leis que repercutem nos currículos da educar: Estado e família, incluindo-se o Estatuto da Criança e
Educação Básica; do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069/90 e a Declaração
III – O penúltimo ano de vigência do Plano Nacional de Universal dos Direitos Humanos. Essas referências levaram
Educação (PNE), que passa por avaliação, bem como a em conta, igualmente, os dispositivos sobre a Educação Básica
mobilização nacional em torno de subsídios para a elaboração constantes da Carta Magna que orienta a Nação brasileira,
do PNE para o período 2011-2020; relatórios de pesquisas sobre educação e produções teóricas
IV – A aprovação do Fundo de Manutenção e versando sobre sociedade e educação.
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Com treze anos de vigência já completados, a LDB recebeu
Professores da Educação (FUNDEB), regulado pela Lei nº várias alterações, particularmente no referente à Educação
11.494/2007, que fixa percentual de recursos a todas as Básica, em suas diferentes etapas e modalidades. Após a edição
etapas e modalidades da Educação Básica; da Lei nº 9.475/1997, que alterou o artigo 33 da LDB,
V – A criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da prevendo a obrigatoriedade do respeito à diversidade
Educação Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de cultural religiosa do Brasil, outras leis modificaram-na
Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação quanto à Educação Básica.
(Capes/MEC); A maior parte dessas modificações tem relevância social,
VI – A formulação, aprovação e implantação das medidas porque, além de reorganizarem aspectos da Educação Básica,
expressas na Lei nº 11.738/2008, da Educação Básica; ampliam o acesso das crianças ao mundo letrado, asseguram-
VII – A criação do Fórum Nacional dos Conselhos de lhes outros benefícios concretos que contribuem para o seu
Educação, objetivando prática de regime de colaboração entre desenvolvimento pleno, orientado por profissionais da

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educação especializados. Nesse sentido, destaca-se que a LDB Educação Básica do CNE, entre outras instâncias acadêmicas:
foi alterada pela Lei nº 10.287/2001 para responsabilizar a teriam eles consonância com a realidade das escolas? Esses
escola, o Conselho Tutelar do Município, o juiz competente da programas levam em consideração a identidade de cada
Comarca e o representante do Ministério Público pelo sistema, de cada unidade escolar? O fracasso do escolar,
acompanhamento sistemático do percurso escolar das averiguado por esses programas de avaliação, não estaria
crianças e dos jovens. Este é, sem dúvida, um dos mecanismos expressando o resultado da forma como se processa a
que, se for efetivado de modo contínuo, pode contribuir avaliação, não estando de acordo com a maneira como a escola
significativamente para a permanência do estudante na escola. e os professores planejam e operam o currículo? O sistema de
Destaca-se, também, que foi incluído, pela Lei nº 11.700/2008, avaliação aplicado guardaria relação com o que efetivamente
o inciso X no artigo 4º, fixando como dever do Estado efetivar acontece na concretude das escolas brasileiras?
a garantia de vaga na escola pública de Educação Infantil ou Como consequência desse método de avaliação externa, os
de Ensino Fundamental mais próxima de sua residência a toda estudantes crianças não estariam sendo punidos com
criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de resultados péssimos e reportagens terríveis? E mais, os
idade. estudantes das escolas indígenas, entre outros de situações
É relevante lembrar que a Constituição Federal, acima de específicas, não estariam sendo afetados negativamente por
todas as leis, no seu inciso XXV do artigo 7º, determina que um essas formas de avaliação?
dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais e, portanto, Lamentavelmente, esses questionamentos não têm
obrigação das empresas, é a assistência gratuita aos filhos e indicado alternativas para o aperfeiçoamento das avaliações
dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade nacionais. Como se sabe, as avaliações ENEM e Prova Brasil
em Creches e Pré-Escolas. Embora redundante, registre-se que vêm-se constituindo em políticas de Estado que subsidiam os
todas as Creches e Pré-Escolas devem estar integradas ao sistemas na formulação de políticas públicas de equidade, bem
respectivo sistema de ensino (artigo 89 da LDB). como proporcionam elementos aos municípios e escolas para
No período de vigência do Plano Nacional de Educação localizarem as suas fragilidades e promoverem ações, na
(PNE), desde o seu início até 2008, constata-se que, embora em tentativa de superá-las, por meio de metas integradas.
ritmo distinto, menos de um terço das unidades federadas (26 Além disso, é proposta do CNE o estabelecimento de uma
Estados e o Distrito Federal) apresentaram resposta positiva, Base Nacional Comum que terá como um dos objetivos nortear
uma vez que, dentre eles, apenas 8 formularam e aprovaram as avaliações e a elaboração de livros didáticos e de outros
os seus planos de educação. Relendo a avaliação técnica do documentos pedagógicos.
PNE, promovida pela Comissão de Educação e Cultura da O processo de implantação e implementação do disposto
Câmara dos Deputados (2004), pode-se constatar que, em na alteração da LDB pela Lei nº 11.274/2006,138 que
todas as etapas e modalidades educativas contempladas no estabeleceu o ingresso da criança a partir dos seis anos de
PNE, três aspectos figuram reiteradamente: acesso, idade no Ensino Fundamental, tem como perspectivas
capacitação docente e infraestrutura. Em contrapartida, nesse melhorar as condições de equidade e qualidade da Educação
mesmo documento, é assinalado que a permanência e o Básica, estruturar um novo Ensino Fundamental e assegurar
sucesso do estudante na escola têm sido objeto de pouca um alargamento do tempo para as aprendizagens da
atenção. Em outros documentos acadêmicos e oficiais, são alfabetização e do letramento.
também aspectos que têm sido avaliados de modo descontínuo Há necessidade de aproximação da lógica dos discursos
e escasso, embora a permanência se constitua em exigência normativos com a lógica social, ou seja, a dos papéis e das
fixada no inciso I do artigo 3º da LDB. funções sociais em seu dinamismo. Um dos desafios,
Salienta-se que, além das condições para acesso à escola, entretanto, está no que Arroyo139 aponta, por exemplo, em seu
há de se garantir a permanência nela, e com sucesso. Esta artigo, “Ciclos de desenvolvimento humano e formação de
exigência se constitui em um desafio de difícil concretização, educadores”, em que assinala que as diretrizes para a
mas não impossível. educação nacional, quando normatizadas, não chegam ao
O artigo 6º, da LDB, alterado pela Lei nº 11.114/2005,137 cerne do problema, porque não levam em conta a lógica social.
prevê que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula Com base no entendimento do autor, as diretrizes não
dos menores, a partir dos seis anos de idade, no Ensino preveem a preparação antecipada daqueles que deverão
Fundamental. implantá-las e implementá-las. O comentário do autor é
Reforça-se, assim, a garantia de acesso a essas etapas da ilustrativo por essa compreensão: não se implantarão
Educação Básica. Para o Ensino Médio, a oferta não era, propostas inovadoras listando o que teremos de inovar,
originalmente, obrigatória, mas indicada como de extensão listando as competências que os educadores devem aprender
progressiva, porém, a Lei nº 12.061/2009 alterou o inciso II do e montando cursos de treinamento para formá-los. É (…) no
artigo 4º e o inciso VI do artigo 10 da LDB, para garantir a campo da formação de profissionais de Educação Básica onde
universalização do Ensino Médio gratuito e para assegurar o mais abundam as leis e os pareceres dos conselhos, os palpites
atendimento de todos os interessados ao Ensino Médio fáceis de cada novo governante, das equipes técnicas, e até das
público. De todo modo, o inciso VII do mesmo artigo já agências de financiamento, nacionais e internacionais.
estabelecia que se deve garantir a oferta de educação escolar Outro limite que tem sido apontado pela comunidade
regular para jovens e adultos, com características e educativa, a ser considerado na formulação e implementação
modalidades adequadas às suas necessidades e das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores Básica, é a desproporção existente entre as unidades
as condições de acesso e permanência na escola. federadas do Brasil, sob diferentes pontos de vista: recursos
Além do PNE, outros subsídios têm orientado as políticas financeiros, presença política, dimensão geográfica,
públicas para a educação no Brasil, entre eles as avaliações do demografia, recursos naturais e, acima de tudo, traços
Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), da Prova socioculturais.
Brasil e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), Há de se reconhecer, no entanto, que o desafio maior está
definidas como constitutivas do Sistema de Avaliação da na necessidade de repensar as perspectivas de um
Qualidade da Oferta de Cursos no País. Destaca-se que tais conhecimento digno da humanidade na era planetária, pois um
programas têm suscitado interrogações também na Câmara de dos princípios que orientam as sociedades contemporâneas é

137 BRASIL. Lei nº 11.114 de 16 de maio de 2005. 139 ARROYO, Miguel G. Ciclos de desenvolvimento humano e formação de
138 BRASIL. Lei nº 11.274 de 06 de fevereiro de 2006 educadores. Educação & Sociedade, Campinas, v.20, n.68, set./dez. 1999.

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a imprevisibilidade. As sociedades abertas não têm os para que se possa avançar nas políticas educacionais
caminhos traçados para um percurso inflexível e estável. brasileiras, com vistas à melhoria da qualidade do ensino, à
Trata-se de enfrentar o acaso, a volatilidade e a formação e valorização dos profissionais da educação e à
imprevisibilidade, e não programas sustentados em certezas. inclusão social.
Há entendimento geral de que, durante a Década da Para alcançar o pleno desenvolvimento, o Brasil precisa
Educação (encerrada em 2007), entre as maiores conquistas investir fortemente na ampliação de sua capacidade
destaca-se a criação do FUNDEF, posteriormente tecnológica e na formação de profissionais de nível médio e
transformado em FUNDEB. Este ampliou as condições efetivas superior. Hoje, vários setores industriais e de serviços não se
de apoio financeiro e de gestão às três etapas da Educação expandem na intensidade e ritmos adequados ao novo papel
Básica e suas modalidades, desde 2007. Do ponto de vista do que o Brasil desempenha no cenário mundial, por se
apoio à Educação Básica, como totalidade, o FUNDEB ressentirem da falta desses profissionais. Sem uma sólida
apresenta sinais de que a gestão educacional e de políticas expansão do Ensino Médio com qualidade, por outro lado, não
públicas poderá contribuir para a conquista da elevação da se conseguirá que nossas universidades e centros tecnológicos
qualidade da educação brasileira, se for assumida por todos os atinjam o grau de excelência necessário para que o País dê o
que nela atuam, segundo os critérios da efetividade, relevância grande salto para o futuro.
e pertinência, tendo como foco as finalidades da educação Tendo em vista que a função precípua da educação, de um
nacional, conforme definem a Constituição Federal e a LDB, modo geral, e do Ensino Médio – última etapa da Educação
bem como o Plano Nacional de Educação. Básica – em particular, vai além da formação profissional, e
Os recursos para a educação serão ainda ampliados com a atinge a construção da cidadania, é preciso oferecer aos nossos
desvinculação de recursos da União (DRU) aprovada pela já jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir
destacada Emenda Constitucional nº 59/2009. Sem dúvida, seus horizontes e dotá-los de autonomia intelectual,
essa conquista, resultado das lutas sociais, pode contribuir assegurando-lhes o acesso ao conhecimento historicamente
para a melhoria da qualidade social da ação educativa, em todo acumulado e à produção coletiva de novos conhecimentos,
o País. sem perder de vista que a educação também é, em grande
No que diz respeito às fontes de financiamento da medida, uma chave para o exercício dos demais direitos
Educação Básica, em suas diferentes etapas e modalidades, no sociais.
entanto, verifica-se que há dispersão, o que tem repercutido É nesse contexto que o Ensino Médio tem ocupado, nos
desfavoravelmente na unidade da gestão das prioridades últimos anos, um papel de destaque nas discussões sobre
educacionais voltadas para a conquista da qualidade social da educação brasileira, pois sua estrutura, seus conteúdos, bem
educação escolar, inclusive em relação às metas previstas no como suas condições atuais, estão longe de atender às
PNE 2001-2010. Apesar da relevância do FUNDEF, e agora com necessidades dos estudantes, tanto nos aspectos da formação
o FUNDEB em fase inicial de implantação, ainda não se tem para a cidadania como para o mundo do trabalho. Como
política financeira compatível com as exigências da Educação consequência dessas discussões, sua organização e
Básica em sua pluridimensionalidade e totalidade. funcionamento têm sido objeto de mudanças na busca da
As políticas de formação dos profissionais da educação, as melhoria da qualidade. Propostas têm sido feitas na forma de
Diretrizes Curriculares Nacionais, os parâmetros de qualidade leis, de decretos e de portarias ministeriais e visam, desde a
definidos pelo Ministério da Educação, associados às normas inclusão de novas disciplinas e conteúdos, até a alteração da
dos sistemas educativos dos Estados, Distrito Federal e forma de financiamento. Constituem-se exemplos dessas
Municípios, são orientações cujo objetivo central é o de criar alterações legislativas a criação do FUNDEB e a ampliação da
condições para que seja possível melhorar o desempenho das obrigatoriedade de escolarização, resultante da Emenda
escolas, mediante ação de todos os seus sujeitos. Constitucional no 59, de novembro de 2009.
Assume-se, portanto, que as Diretrizes Curriculares Especificamente em relação ao Ensino Médio, o número de
Nacionais Gerais para a Educação Básica terão como estudantes da etapa é, atualmente, da ordem de 8,3 milhões. A
fundamento essencial a responsabilidade que o Estado taxa de aprovação no Ensino Médio brasileiro é de 72,6%,
brasileiro, a família e a sociedade têm de garantir a enquanto as taxas de reprovação e de abandono são,
democratização do acesso, inclusão, permanência e sucesso respectivamente, de 13,1% e de 14,3% (INEP, 2009). Observe-
das crianças, jovens e adultos na instituição educacional, se que essas taxas diferem de região para região e entre as
sobretudo em idade própria a cada etapa e modalidade; a zonas urbana e rural. Há também uma diferença significativa
aprendizagem para continuidade dos estudos; e a extensão da entre as escolas privadas e públicas.
obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica. Em resposta a esses desafios que permanecem, algumas
políticas, diretrizes e ações do governo federal foram
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio desenvolvidas com a proposta de estruturar um cenário de
e Profissionalizante possibilidades que sinalizam para uma efetiva política pública
O Brasil vive, nos últimos anos, um processo de nacional para a Educação Básica, comprometida com as
desenvolvimento que se reflete em taxas ascendentes de múltiplas necessidades sociais e culturais da população
crescimento econômico tendo o aumento do Produto Interno brasileira. Nesse sentido, situam-se a aprovação e implantação
Bruto ultrapassado a casa dos 7%, em 2010. Este processo de do FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a formulação e
crescimento tem sido acompanhado de programas e medidas implementação do Plano de Desenvolvimento da Educação
de redistribuição de renda que o retroalimentam. Evidenciam- (PDE), e a consolidação do Sistema de Avaliação da Educação
se, porém, novas demandas para a sustentação deste ciclo de Básica (SAEB), do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e
desenvolvimento vigente no País. A educação, sem dúvida, está do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). No
no centro desta questão. âmbito deste Conselho, destacam-se as Diretrizes Curriculares
O crescimento da economia e novas legislações, como o Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº
Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), a 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e o processo de
Emenda Constitucional nº 59/2009 – que extinguiu a elaboração deste Parecer, de atualização das Diretrizes
Desvinculação das Receitas da União (DRU) – e dispôs sobre Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
outras medidas, têm permitido ao País aumentar o volume de Diante o contexto de atualização geral do conjunto das
recursos destinados à Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para todas as etapas e
Tais iniciativas, nas quais o Conselho Nacional de Educação modalidades de Educação Básica que deve ser entendida a
(CNE) tem tido destacada participação, visam criar condições demanda atual, que é objeto do presente Parecer, houve

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especificamente, da definição de novas orientações para as III) Entende-se por educação especial, para os efeitos desta
instituições educacionais e sistemas de ensino, à luz das Lei, a modalidade de educação escolar oferecida
alterações introduzidas na LDB pela Lei nº 11.741/2008, no preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
tocante à Educação Profissional e Tecnológica, com foco na com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
Educação Profissional Técnica de Nível Médio, também altas habilidades ou superdotação.
definindo normas gerais para os cursos e programas IV) A educação profissional técnica de nível médio será
destinados à formação inicial e continuada ou qualificação desenvolvida nas seguintes formas: articulada com o ensino
profissional, bem como para os cursos e programas de médio; e subsequente, em cursos destinados a quem já tenha
especialização técnica de nível médio, na perspectiva de concluído o ensino fundamental.
propiciar aos trabalhadores o contínuo e articulado V) A educação escolar compõe-se de educação básica,
desenvolvimento profissional e consequente aproveitamento formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino
de estudos realizados no âmbito dos cursos técnicos de nível médio; e educação superior.
médio organizados segundo a lógica dos itinerários
formativos. Assinale a alternativa que apresente somente as
A Educação Profissional Tecnológica, de graduação e pós- proposições CORRETAS.
graduação, prevista no inciso III do art. 39 da atual LDB, será (A) I, II, V
objeto de outro Parecer e respectiva Resolução, produzidos a (B) I, III, IV
partir de estudos conduzidos por uma Comissão Especial (C) I, III, V
Bicameral, constituída no âmbito do Conselho Pleno, com a (D) III, IV
finalidade de “redimensionar, institucionalizar e integrar as (E) II, IV, V
ações da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, da
Educação de Jovens e Adultos e da Educação Profissional e 02. (IDECAN - Prefeitura de Natal - RN –
Tecnológica”. Psicólogo/2016) Acerca da Lei nº 11.494/2007, que
Especificamente em relação aos pressupostos e regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
fundamentos para a oferta de um Ensino Médio de qualidade Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
social, incluindo, também, a Educação Profissional Técnica de Educação – FUNDEB, assinale a afirmativa INCORRETA.
Nível Médio, são apresentadas as dimensões da formação (A) Prevê pelo menos 5% do montante dos impostos e
humana que devem ser consideradas de maneira integrada na transferências que compõem a cesta de recursos do FUNDEB,
organização curricular dos diversos cursos e programas somados aos, no mínimo, de 25% desses impostos e
educativos: trabalho, ciência, tecnologia e cultura. transferências em favor da manutenção e desenvolvimento do
Uma política educacional requer sua articulação com ensino.
outras políticas setoriais vinculadas a diversos ministérios (B) A União desenvolverá e apoiará políticas de estímulo
responsáveis pela definição e implementação de políticas às iniciativas de melhoria de qualidade do ensino, acesso e
públicas estruturantes da sociedade brasileira. Portanto, ao se permanência na escola, promovidas pelas unidades federadas,
pensar a Educação Profissional de forma integrada e inclusiva em especial aquelas voltadas para a inclusão de crianças e
como política pública educacional é necessário pensá-la adolescentes em situação de risco social.
também na perspectiva de sua contribuição para a (C) A instituição dos Fundos previstos da supracitada Lei e
consolidação, por exemplo, das políticas de ciência e a aplicação de seus recursos não isentam os Estados, o Distrito
tecnologia, de geração de emprego e renda, de Federal e os Municípios da obrigatoriedade da aplicação na
desenvolvimento agrário, de saúde pública, de manutenção e no desenvolvimento do ensino, na forma
desenvolvimento de experiências curriculares e de prevista na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases.
implantação de polos de desenvolvimento da indústria e do (D) A União, os Estados e o Distrito Federal desenvolverão,
comércio, entre outras. Enfim, é necessário buscar a em regime de colaboração, programas de apoio ao esforço
caracterização de seu papel estratégico no marco de um para conclusão da educação básica dos alunos regularmente
projeto de desenvolvimento socioeconômico sustentável, matriculados no sistema público de educação que cumpram
inclusivo e solidário do estado brasileiro. pena no sistema penitenciário, exceto na condição de presos
Eis o desafio enfrentado, conseguir aproximar as provisórios.
experiências da vida cotidiana, articulando com os mais
variados setores das políticas públicas. Para tanto, devemos 03. (AL/SP - Agente Técnico Legislativo Especializado
conhecer as proposições e articular com a construção de um – Pedagogia – FCC). A aproximação entre as instituições
projeto de educação integral, com qualidade social. públicas de ensino e as famílias dos estudantes é incentivada
Devemos fazer valer o que a Constituição Federal, através pelas gestões democráticas escolares, especialmente via
de seus instrumentos nos oferece, como por exemplo uma Conselhos de Escola, por se compreender que
educação pública de qualidade oferecida a todos. (A) a comunidade tem um papel político relevante e deve
se responsabilizar pelas decisões de natureza pedagógica nas
Questões escolas.
(B) a sociedade tem o direito de conhecer e fiscalizar a
01. (IF-ES - Pedagogo/2016) De acordo com a Lei de implementação das ações educativas e das políticas
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/1996, educacionais em vigor.
quanto aos Níveis e as Modalidades de Ensino da educação (C) os pais são os que melhor conhecem seus filhos e,
brasileira, analise as proposições: portanto, sabem indicar as condutas mais apropriadas para a
I) A educação superior abrangerá os seguintes cursos e escola cumprir seus objetivos educacionais.
programas: cursos sequenciais por campo de saber, de (D) a colaboração das APMs na conservação das escolas e
graduação, de pós-graduação, e de extensão. no apoio às atividades complementares é fundamental ao bom
II) O ensino médio, etapa secundária da educação básica, funcionamento das instituições.
com duração mínima de dois anos, terá como finalidade a (E) as famílias podem constituir uma base de apoio
consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos importante para a direção diante de conflitos extraescolares
adquiridos no ensino fundamental e a preparação básica para com grupos de alunos.
o trabalho.

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04. Julgue o item subsequente: A Educação Profissional Básica – em particular, vai além da formação profissional, e
Tecnológica, de graduação e pós-graduação será objeto de atinge a construção da cidadania, é preciso oferecer aos nossos
outro Parecer e respectiva Resolução, produzidos a partir de jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir
estudos conduzidos por uma Comissão Especial Unicameral, seus horizontes e dotá-los de autonomia intelectual,
constituída no âmbito do Conselho Pleno. assegurando-lhes o acesso ao conhecimento historicamente
( ) Certo ( ) Errado acumulado e à produção coletiva de novos conhecimentos,
sem perder de vista que a educação também é, em grande
05. (ANVISA - Técnico Administrativo - Área 1 – medida, uma chave para o exercício dos demais direitos
CETRO). A respeito das Políticas Públicas, é correto afirmar sociais.
que É nesse contexto que o Ensino Médio tem ocupado, nos
(A) geram bens públicos e privados. últimos anos, um papel de destaque nas discussões sobre
(B) são o resultado da atividade política. educação brasileira, pois sua estrutura, seus conteúdos, bem
(C) não possuem aspecto coercitivo. como suas condições atuais, estão longe de atender às
(D) leis orgânicas municipais são políticas públicas. necessidades dos estudantes, tanto nos aspectos da formação
(E) Estados e Municípios priorizam a ocupação do que se para a cidadania como para o mundo do trabalho. Como
convencionou denominar a high politics. consequência dessas discussões, sua organização e
funcionamento têm sido objeto de mudanças na busca da
Gabarito melhoria da qualidade. Propostas têm sido feitas na forma de
01.C / 02.D / 03.B / 04.Errado / 05.B leis, de decretos e de portarias ministeriais e visam, desde a
inclusão de novas disciplinas e conteúdos, até a alteração da
forma de financiamento. Constituem-se exemplos dessas
6.1 Ensino Médio. 6.1.1 alterações legislativas a criação do FUNDEB e a ampliação da
Diretrizes, Parâmetros obrigatoriedade de escolarização, resultante da Emenda
Constitucional n°59, de novembro de 2009.
Curriculares, currículo e A demanda provocada por essas mudanças na legislação,
avaliação. 6.1.2 por si só, já indica a necessidade de atualização das Diretrizes
Interdisciplinaridade e Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Parecer
CNE/CEB n°15/98 e Resolução CNE/CEB nº 3/98), além de se
contextualização no Ensino identificarem outros motivos que reforçam essa necessidade.
Médio. 6.1.3 Ensino Médio A elaboração de novas Diretrizes Curriculares Nacionais
Integrado: fundamentação para o Ensino Médio se faz necessária, também, em virtude das
novas exigências educacionais decorrentes da aceleração da
legal e curricular. produção de conhecimentos, da ampliação do acesso às
informações, da criação de novos meios de comunicação, das
alterações do mundo do trabalho, e das mudanças de interesse
1. Introdução
dos adolescentes e jovens, sujeitos dessa etapa educacional.
Nos dias atuais, a inquietação das “juventudes” que
O Brasil vive, nos últimos anos, um processo de
buscam a escola e o trabalho resulta mais evidente do que no
desenvolvimento que se reflete em taxas ascendentes de
passado. O aprendizado dos conhecimentos escolares tem
crescimento econômico tendo o aumento do Produto Interno
significados diferentes conforme a realidade do estudante.
Bruto ultrapassado a casa dos 7%, em 2010. Este processo de
Vários movimentos sinalizam no sentido de que a escola
crescimento tem sido acompanhado de programas e medidas
precisa ser repensada para responder aos desafios colocados
de redistribuição de renda que o retroalimentam. Evidenciam-
pelos jovens.
se, porém, novas demandas para a sustentação deste ciclo de
Para responder a esses desafios, é preciso, além da
desenvolvimento vigente no País. A educação, sem dúvida, está
reorganização curricular e da formulação de diretrizes
no centro desta questão.
filosóficas e sociológicas para essa etapa de ensino, reconhecer
O crescimento da economia e novas legislações, como o
as reais condições dos recursos humanos, materiais e
Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), a
financeiros das redes escolares públicas em nosso país, que
Emenda Constitucional nº 59/2009 – que extinguiu a
ainda não atendem na sua totalidade às condições ideais.
Desvinculação das Receitas da União (DRU) – e dispôs sobre
É preciso que além de reconhecimento esse processo seja
outras medidas, têm permitido ao País aumentar o volume de
acompanhado da efetiva ampliação do acesso ao Ensino Médio
recursos destinados à Educação.
e de medidas que articulem a formação inicial dos professores
Tais iniciativas, nas quais o Conselho Nacional de Educação
com as necessidades do processo ensino-aprendizagem,
(CNE) tem tido destacada participação, visam criar condições
ofereçam subsídios reais e o apoio de uma eficiente política de
para que se possa avançar nas políticas educacionais
formação continuada para seus professores – tanto a oferecida
brasileiras, com vistas à melhoria da qualidade do ensino, à
fora dos locais de trabalho como as previstas no interior das
formação e valorização dos profissionais da educação e à
escolas como parte integrante da jornada de trabalho – e
inclusão social.
dotem as escolas da infraestrutura necessária ao
Para alcançar o pleno desenvolvimento, o Brasil precisa
desenvolvimento de suas atividades educacionais.
investir fortemente na ampliação de sua capacidade
No sentido geral, da forma como está organizado na
tecnológica e na formação de profissionais de nível médio e
maioria das escolas, o Ensino Médio não dá conta de todas as
superior. Hoje, vários setores industriais e de serviços não se
suas atribuições definidas na Lei de Diretrizes e Bases da
expandem na intensidade e ritmos adequados ao novo papel
Educação Nacional (LDB). O trabalho “Melhores Práticas em
que o Brasil desempenha no cenário mundial, por se
Escolas de Ensino Médio no Brasil” (BID, 2010) mostrou,
ressentirem da falta desses profissionais. Sem uma sólida
entretanto, que é possível identificar, nos Estados da
expansão do Ensino Médio com qualidade, por outro lado, não
Federação, escolas públicas que desenvolvem excelentes
se conseguirá que nossas universidades e centros tecnológicos
trabalhos.
atinjam o grau de excelência necessário para que o País dê o
Com a promulgação da Lei nº 9.394/96 (LDB), o Ensino
grande salto para o futuro.
Médio passou a ser configurado com uma identidade própria,
Tendo em vista que a função precípua da educação, de um
como etapa final de um mesmo nível da educação, que é a
modo geral, e do Ensino Médio – última etapa da Educação

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Educação Básica, e teve assegurada a possibilidade de se educação e potencializa a articulação de programas e ações
articular, até de forma integrada em um mesmo curso, com a educacionais de governo.
profissionalização, pois o artigo 36-A prevê que “o Ensino A concepção de uma educação sistêmica expressa no PDE,
Médio, atendida a formação geral do educando, poderá ao valorizar conjuntamente os níveis e modalidades
prepará-lo para o exercício de profissões técnicas”. educacionais, possibilita ações articuladas na organização dos
No Brasil, nos últimos 20 anos, houve uma ampliação do sistemas de ensino. Significa compreender o ciclo educacional
acesso dos adolescentes e jovens ao Ensino Médio, a qual de modo integral, promovendo a articulação entre as políticas
trouxe para as escolas públicas um novo contingente de orientadas para cada nível, etapa e modalidade de ensino e,
estudantes, de modo geral jovens filhos das classes também, a coordenação entre os instrumentos disponíveis de
trabalhadoras. Os sistemas de ensino passam a atender novos política pública. Visão sistêmica implica, portanto, reconhecer
jovens com características diferenciadas da escola as conexões intrínsecas entre Educação Básica e Educação
tradicionalmente organizada. Situação semelhante acontece Superior; entre formação humana, científica, cultural e
com o aumento da demanda do Ensino Médio no campo, cujo profissionalização e, a partir dessas conexões, implementar
atendimento induz a novos procedimentos no sentido de políticas de educação que se reforcem reciprocamente.
promover a permanência dos mesmos na escola, evitando a Para levar adiante todas as ideias preconizadas na LDB, a
evasão e diminuindo as taxas de reprovação. educação no Ensino Médio deve possibilitar aos adolescentes,
Apesar das ações desenvolvidas pelos governos estaduais jovens e adultos trabalhadores acesso a conhecimentos que
e pelo Ministério da Educação, os sistemas de ensino ainda não permitam a compreensão das diferentes formas de explicar o
alcançaram as mudanças necessárias para alterar a percepção mundo, seus fenômenos naturais, sua organização social e
de conhecimento do seu contexto educativo e ainda não seus processos produtivos.
estabeleceram um projeto organizativo que atenda às novas O debate sobre a atualização das Diretrizes Curriculares
demandas que buscam o Ensino Médio. Atualmente mais de Nacionais para o Ensino Médio deve, portanto, considerar
50% dos jovens de 15 a 17 anos ainda não atingiram esta etapa importantes temáticas, como o financiamento e a qualidade da
da Educação Básica e milhões de jovens com mais de 18 anos Educação Básica, a formação e o perfil dos docentes para o
e adultos não concluíram o Ensino Médio, configurando uma Ensino Médio e a relação com a Educação Profissional, de
grande dívida da sociedade com esta população. forma a reconhecer diferentes caminhos de atendimento aos
De acordo com o documento “Síntese dos Indicadores variados anseios das “juventudes” e da sociedade.
Sociais do IBGE: uma análise das condições de vida da É sabido que a questão do atendimento das demandas das
população brasileira” (IBGE, 2010), constata-se que a taxa de “juventudes” vai além da atividade da escola, mas entende-se
frequência bruta às escolas dos adolescentes de 15 a 17 anos é que uma parte significativa desse objetivo pode ser alcançada
de 85,2%. Já a taxa de escolarização líquida dos mesmos por meio da transformação do currículo escolar e do projeto
adolescentes (de 15 a 17 anos) é de 50,9%. Isso significa dizer político-pedagógico.
que metade dos adolescentes de 15 a 17 anos ainda não está A atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para o
matriculada no Ensino Médio. No Nordeste a taxa de Ensino Médio deve contemplar as recentes mudanças da
escolaridade líquida é ainda inferior, ficando em 39,1%. A legislação, dar uma nova dinâmica ao processo educativo
proporção de pessoas de 18 a 24 anos de idade, dessa etapa educacional, retomar a discussão sobre as formas
economicamente ativas, com mais de 11 anos de estudos é de de organização dos saberes e reforçar o valor da construção do
15,2% e a proporção de analfabetos nessa mesma amostra projeto político-pedagógico das escolas, de modo a permitir
atinge a casa de 4,6%. diferentes formas de oferta e de organização, mantida uma
Especificamente em relação ao Ensino Médio, o número de unidade nacional, sempre tendo em vista a qualidade do
estudantes da etapa é, atualmente, da ordem de 8,3 milhões. A ensino.
taxa de aprovação no Ensino Médio brasileiro é de 72,6%, Para tratar especificamente da atualização das Diretrizes
enquanto as taxas de reprovação e de abandono são, Curriculares Nacionais para o
respectivamente, de 13,1% e de 14,3% (INEP, 2009). Observe- Ensino Médio foi criada, em janeiro de 2010, pela Portaria
se que essas taxas diferem de região para região e entre as CNE/CEB nº 1/2010, recomposta pela Portaria CNE/CEB nº
zonas urbana e rural. Há também uma diferença significativa 2/2010, a Comissão constituída na Câmara de Educação Básica
entre as escolas privadas e públicas. (CEB) do CNE, formada pelos Conselheiros Adeum Sauer
Em resposta a esses desafios que permanecem, algumas (presidente), José Fernandes de Lima (relator), Mozart Neves
políticas, diretrizes e ações do governo federal foram Ramos, Francisco Aparecido Cordão e Rita Gomes do
desenvolvidas com a proposta de estruturar um cenário de Nascimento.
possibilidades que sinalizam para uma efetiva política pública Registre-se, por oportuno, que o Conselho Nacional de
nacional para a Educação Básica, comprometida com as Educação, no cumprimento do que determina o art. 7º da Lei
múltiplas necessidades sociais e culturais da população n° 9.131/95 (que altera dispositivos da Lei nº 4.024, de 20 de
brasileira. Nesse sentido, situam-se a aprovação e implantação dezembro de 1961), vinha trabalhando na atualização das
do FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a formulação e várias Diretrizes Curriculares Nacionais. Além da elaboração
implementação do Plano de Desenvolvimento da Educação das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
(PDE), e a consolidação do Sistema de Avaliação da Educação Básica, já foram atualizadas, entre outras, as Diretrizes para a
Básica (SAEB), do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e Educação Infantil, para o Ensino Fundamental e para a
do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). No Educação de Jovens e Adultos.
âmbito deste Conselho, destacam-se as Diretrizes Curriculares Em agosto de 2010, a Secretaria de Educação Básica do
Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº Ministério da Educação (SEB/MEC) encaminhou ao CNE uma
7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e o processo de sugestão de resolução feita por especialistas daquela
elaboração deste Parecer, de atualização das Diretrizes Secretaria e outros contratados especificamente para
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. elaboração do referido documento. Juntamente com a
O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), proposta de resolução, a SEB encaminhou outros documentos
concretizado por Estados e Municípios, por meio da para subsidiar as discussões, além de disponibilizar técnicos
estruturação da adesão ao Plano de Metas Compromisso para acompanhamento dos trabalhos, dentre os quais cumpre
Todos pela Educação e respectivos Planos de Ações destacar o Diretor de Concepções e Orientações Curriculares
Articuladas (PAR), conduz à revisão das políticas públicas de para a Educação Básica, Carlos Artexes Simões, e a

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Coordenadora Geral do Ensino Médio, Maria Eveline Pinheiro XI – as recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo
Villar de Queiroz, bem como o consultor Bahij Amin Aur. CNE, expressas no documento “Subsídios para Elaboração do
A proposta foi encaminhada aos membros do Fórum dos PNE: Considerações Iniciais. Desafios para a Construção do
Coordenadores do Ensino Médio que apresentaram, além das PNE” (Portaria CNE/CP nº 10/2009);
sugestões das Secretarias Estaduais de Educação, um XII – a realização da Conferência Nacional de Educação
documento coletivo discutido na reunião do Fórum, realizada (CONAE), com tema central “Construindo um Sistema Nacional
em Natal, RN, em 1º de setembro de 2010. Em seguida, a Articulado de Educação: Plano Nacional de Educação: suas
mesma proposta foi submetida à apreciação de especialistas Diretrizes e Estratégias de Ação”, visando à construção do PNE
que deram suas sugestões na reunião conjunta com os 2011-2020;
membros da Comissão Especial da CEB e da Secretaria de XII – a relevante alteração na Constituição, pela
Educação Básica do MEC, realizada nas dependências do CNE, promulgação da Emenda Constitucional nº 59/2009, que,
em 17 de setembro de 2010. entre suas medidas, assegura Educação Básica obrigatória e
No dia 4 de outubro de 2010, a sugestão de resolução gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a sua oferta
destas Diretrizes foi discutida em audiência pública convocada gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade
pela Câmara de Educação Básica e realizada no CNE e contou própria, assegura o atendimento ao estudante, em todas as
com a participação de mais de 100 pessoas, entre educadores etapas da Educação Básica, mediante programas
e representantes de entidades. suplementares de material didático-escolar, transporte,
Destaque-se que o mesmo documento foi enviado ao alimentação e assistência à saúde, bem como reduz,
Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) que, anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da
por sua vez, o encaminhou para as Secretarias Estaduais de Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os
Educação. recursos destinados a manutenção e ao desenvolvimento do
Foram recebidas diversas contribuições individuais e de ensino;
associações, dentre as quais se destaca o documento enviado XII – a homologação das Diretrizes Curriculares Nacionais
pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e
Educação (ANPEd). Resolução CNE/CEB nº 4/2010);
Em 16 de fevereiro de 2011, o relator participou da XIV – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 8/2010, que
reunião do CONSED com os Secretários Estaduais de Educação, estabelece normas para aplicação do inciso IX do art. 4º da Lei
para informar sobre o andamento dos trabalhos de elaboração nº 9.394/96 (LDB), que trata dos padrões mínimos de
destas Diretrizes e solicitar a contribuição dos mesmos. qualidade de ensino para a Educação Básica pública;
É importante considerar que este parecer está sendo XV – iniciativas relevantes, tanto na esfera federal,
elaborado na vigência de um quadro de mudanças e propostas sobretudo com o Programa Ensino Médio Inovador do MEC,
que afetam todo o sistema educacional e, particularmente, o como na esfera estadual e, mesmo, na municipal;
Ensino Médio, dentre as quais se destacam os seguintes XVI – a consolidação de sistemas nacionais de avaliação,
exemplos: como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e o
I – os resultados da Conferência Nacional da Educação Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM);
Básica (2008); XVII – a reformulação do ENEM e sua utilização nos
II – os 14 anos transcorridos de vigência da LDB e as processos seletivos das Instituições de Educação Superior,
inúmeras alterações nela introduzidas por várias leis, bem visando democratizar as oportunidades de acesso a esse nível
como a edição de outras que repercutem nos currículos da de ensino, potencialmente induzindo a reestruturação dos
Educação Básica, notadamente no do Ensino Médio; currículos do Ensino Médio;
III – a aprovação do Fundo de Manutenção e XVIII – a criação do Índice de Desenvolvimento da
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Educação Básica (IDEB) para medir a qualidade de cada escola
Profissionais da Educação Básica (FUNDEB), regulado pela Lei e de cada rede de ensino, com base no desempenho do
nº 11.494/2007, que fixa percentual de recursos a todas as estudante em avaliações do INEP e em taxas de aprovação;
etapas e modalidades da Educação Básica; XIX – a instituição do Programa Nacional de Direitos
IV – a criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da humanos (PNDH 3), o qual indica a implementação do Plano
Educação Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Nacional de Educação em Direitos humanos (PNEDH).
Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação XX – o envio ao Congresso Nacional do Projeto de Lei que
(CAPES/MEC); trata do novo Plano Nacional de Educação para o período de
V – a formulação, aprovação e implantação das medidas 2011-2020.
expressas na Lei nº 11.738/2008, que regulamenta o piso É expectativa que estas diretrizes possam se constituir
salarial profissional nacional para os profissionais do num documento orientador dos sistemas de ensino e das
magistério público da Educação Básica; escolas e que possam oferecer aos professores indicativos
VI – a implantação do Programa Nacional do Livro Didático para a estruturação de um currículo para o Ensino Médio que
para o Ensino Médio (PNLEM); atenda as expectativas de uma escola de qualidade que garanta
VII – a instituição da política nacional de formação de o acesso, a permanência e o sucesso no processo de
profissionais do magistério da Educação Básica (Decreto nº aprendizagem e constituição da cidadania.
6.755/2009); Desse modo, o grande desafio deste parecer consiste na
VIII – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da incorporação das grandes mudanças em curso na sociedade
Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que fixam as Diretrizes contemporânea, nas políticas educacionais brasileiras e em
Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos constituir um documento que sugira procedimentos que
Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública; permitam a revisão do trabalho das escolas e dos sistemas de
IX – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2010 e da ensino, no sentido de garantir o direito à educação, o acesso, a
Resolução CNE/CEB nº 5/2010, que fixam as Diretrizes permanência e o sucesso dos estudantes, com a melhoria da
Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos qualidade da educação para todos.
Funcionários da Educação Básica pública;
X – o final da vigência do Plano Nacional de Educação
(PNE), bem como a mobilização em torno da nova proposta do
PNE para o período 2011-2020;

Educação Brasileira 159


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2. Direito à Educação III – Oferecer educação em tempo integral em 50% das


escolas públicas de Educação Básica.
2.1 Educação como direito social IV – Atingir as médias nacionais para o IDEB já previstas
no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
A educação, por meio da escolarização, consolidou-se nas V – Elevar a escolaridade média da população de 18 a 24
sociedades modernas como um direito social, ainda que não anos de modo a alcançar o mínimo de 12 anos de estudo para
tenha sido universalizada. Concebida como forma de socializar as populações do campo, da região de menor escolaridade no
as pessoas de acordo com valores e padrões culturais e ético- país e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade
morais da sociedade e como meio de difundir de forma média entre negros e não negros, com vistas à redução da
sistemática os conhecimentos científicos construídos pela desigualdade educacional.
humanidade, a educação escolar reflete um direito e VI – Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas da Educação
representa componente necessário para o exercício da de Jovens e Adultos na forma integrada à Educação
cidadania e para as práticas sociais. Profissional nos anos finais do Ensino Fundamental e no
No Brasil, constituem-se importantes instrumentos Ensino Médio.
normativos relativos à educação, além da própria Constituição VII – Duplicar as matrículas da Educação Profissional
da República Federativa do Brasil de 1988 e da Lei nº 9.394/96 Técnica de Nível Médio, assegurando a qualidade da oferta.
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), também a Lei VIII – Garantir, em regime de colaboração entre a União, os
nº 10.172/2001 (Plano Nacional de Educação para 2001- Estados, o Distrito Federal e os Municípios, que todos os
2010), embora já tenha chegado ao final de seus dez anos de professores da Educação Básica possuam formação específica
vigência. de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de
No tocante à Constituição Federal, lembra-se a importante conhecimento em que atuam.
alteração promovida pela Emenda Constitucional nº 59/2009, IX – Formar 50% dos professores da Educação Básica em
que assegura Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos
17 anos de idade, o que significa que, regularizado o fluxo formação continuada em sua área de atuação.
escolar no Ensino Fundamental, o Ensino Médio também X – Valorizar o magistério público da Educação Básica a fim
estará incluído na faixa de obrigatoriedade, constituindo-se de aproximar o rendimento médio do profissional do
em direito público subjetivo. magistério com mais de onze anos de escolaridade do
Na LDB, destaca-se que o inciso VI do art. 10 determina que rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade
os Estados incumbir-se-ão de “assegurar o Ensino equivalente.
Fundamental e oferecer, com prioridade, o Ensino Médio a XI – Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de
todos que o demandarem” (Redação dada pela Lei nº planos de carreira para os profissionais do magistério em
12.061/2009). todos os sistemas de ensino.
O PNE 2001-2010 apresentou diagnóstico e estabeleceu XII – Garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito
diretrizes, objetivos e metas para todos os níveis e dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a nomeação
modalidades de ensino, para a formação e a valorização do comissionada de diretores de escola vinculada a critérios
magistério e para o financiamento e a gestão da educação. Para técnicos de mérito e desempenho e à participação da
o Ensino Médio, estabeleceu a meta de atender 100% da comunidade escolar.
população de 15 a 17 anos até 2011, e Diretrizes para o Ensino XIII – Ampliar progressivamente o investimento público
Médio, que constituíam pressupostos para serem em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do
considerados na definição de uma política pública para essa Produto Interno Bruto (PIB) do país.
etapa.
Desde 2007, o Ministério da Educação, vem 2.2 Educação com qualidade social
implementando o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE), como uma estratégia complementar ao PNE no que se O conceito de qualidade da educação é uma construção
refere ao seu caráter executivo e de posição política de histórica que assume diferentes significados em tempos e
governo. Com prioridade na Educação Básica de qualidade, o espaços diversos e tem relação com os lugares de onde falam
PDE assume uma concepção sistêmica da educação e o os sujeitos, os grupos sociais a que pertencem, os interesses e
compromisso explícito com o atendimento aos grupos os valores envolvidos, os projetos de sociedade em jogo
discriminados pela desigualdade educacional. Além disso, (Parecer CNE/CEB nº 7/2010).
propõe envolver todos, pais, estudantes, professores e Conforme argumenta Campos (2008), para os movimentos
gestores, em iniciativas que busquem o sucesso e a sociais que reivindicavam a qualidade da educação entre os
permanência na escola. anos 70 e 80, ela estava muito presa às condições básicas de
Para a implementação dessas medidas, o PDE adotou como funcionamento das escolas, porque seus participantes, pouco
orientação estratégica a mobilização dos agentes públicos e da escolarizados, tinham dificuldade de perceber as nuanças dos
sociedade em geral, com vistas à adesão ao Plano de Metas projetos educativos que as instituições de ensino
Compromisso Todos pela Educação, a ser viabilizado mediante desenvolviam.
programas e ações de assistência técnica e financeira aos Na década de 90, sob o argumento de que o Brasil investia
Estados e Municípios. muito na educação, porém gastava mal, prevaleceram
O Projeto de Lei que cria o novo PNE estabelece 20 metas preocupações com a eficácia e a eficiência das escolas, e a
a serem alcançadas pelo país de 2011 a 2020. As metas atenção voltou-se, predominantemente, para os resultados
voltadas diretamente ou que têm relação com o Ensino Médio por elas obtidos quanto ao rendimento dos estudantes.
são: A qualidade priorizada somente nesses termos pode,
I – Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para contudo, deixar em segundo plano a superação das
toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa desigualdades educacionais.
líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%, nesta faixa Outro conceito de qualidade passa, entretanto, a ser
etária. gestado por movimentos de renovação pedagógica,
II – Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o movimentos sociais, de profissionais e por grupos políticos: o
atendimento escolar aos estudantes com deficiência, da qualidade social da educação. Ela está associada às
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou mobilizações pelo direito à educação, à exigência de
superdotação na rede regular de ensino.

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participação e de democratização e comprometida com a efetiva-se não apenas mediante participação de todos os
superação das desigualdades e injustiças. sujeitos da escola – estudante, professor, técnico, funcionário,
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a coordenador – mas também, mediante aquisição e utilização
Ciência e a Cultura (UNESCO), ao entender que a qualidade da adequada dos objetos e espaços (laboratórios, equipamentos,
educação é também uma questão de direitos humanos, mobiliário, salas-ambiente, biblioteca, videoteca, ateliê,
defende conceito semelhante (2008). Para além da eficácia e oficina, área para práticas esportivas e culturais, entre outros)
da eficiência, advoga que a educação de qualidade, como um requeridos para responder ao projeto político-pedagógico
direito fundamental, deve ser antes de tudo relevante, pactuado, vinculados às condições/disponibilidades mínimas
pertinente e equitativa. A relevância reporta-se à promoção de para se instaurar a primazia da aquisição e do
aprendizagens significativas do ponto de vista das exigências desenvolvimento de hábitos investigatórios para construção
sociais e de desenvolvimento pessoal. A pertinência refere-se do conhecimento.
à possibilidade de atender às necessidades e às características A escola de qualidade social adota como centralidade o
dos estudantes de diversos contextos sociais e culturais e com diálogo, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens, o que
diferentes capacidades e interesses. pressupõe, sem dúvida, atendimento a requisitos tais como:
A educação escolar, comprometida com a igualdade de I – revisão das referências conceituais quanto aos
acesso ao conhecimento a todos e especialmente empenhada diferentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
em garantir esse acesso aos grupos da população em sociais na escola e fora dela;
desvantagem na sociedade, é uma educação com qualidade II – consideração sobre a inclusão, a valorização das
social e contribui para dirimir as desigualdades diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
historicamente produzidas, assegurando, assim, o ingresso, a cultural, resgatando e respeitando os direitos humanos,
permanência e o sucesso de todos na escola, com a individuais e coletivos e as várias manifestações de cada
consequente redução da evasão, da retenção e das distorções comunidade;
de idade-ano/ série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução III – foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
CNE/CEB n° 4/2010, que definem as Diretrizes Curriculares aprendizagem, e na avaliação das aprendizagens como
Nacionais Gerais para a Educação Básica). instrumento de contínua progressão dos estudantes;
Exige-se, pois, problematizar o desenho organizacional da IV – inter-relação entre organização do currículo, do
instituição escolar que não tem conseguido responder às trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do professor,
singularidades dos sujeitos que a compõem. Torna-se tendo como foco a aprendizagem do estudante;
inadiável trazer para o debate os princípios e as práticas de um V – compatibilidade entre a proposta curricular e a
processo de inclusão social que garanta o acesso e considere a infraestrutura, entendida como espaço formativo dotado de
diversidade humana, social, cultural e econômica dos grupos efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
historicamente excluídos. acessibilidade;
Para que se conquiste a inclusão social, a educação escolar VI – integração dos profissionais da educação, dos
deve fundamentar-se na ética e nos valores da liberdade, estudantes, das famílias e dos agentes da comunidade
justiça social, pluralidade, solidariedade e sustentabilidade, interessados na educação;
cuja finalidade é o pleno desenvolvimento de seus sujeitos, nas VII – valorização dos profissionais da educação, com
dimensões individual e social de cidadãos conscientes de seus programa de formação continuada, critérios de acesso,
direitos e deveres, compromissados com a transformação permanência, remuneração compatível com a jornada de
social. Diante dessa concepção de educação, a escola é uma trabalho definida no projeto político-pedagógico;
organização temporal, que deve ser menos rígida, segmentada VIII – realização de parceria com órgãos, tais como os de
e uniforme, a fim de que os estudantes, indistintamente, assistência social, desenvolvimento e direitos humanos,
possam adequar seus tempos de aprendizagens de modo cidadania, trabalho, ciência e tecnologia, lazer, esporte,
menos homogêneo e idealizado. turismo, cultura e arte, saúde, meio ambiente;
A escola, face às exigências da Educação Básica, precisa ser IX – preparação dos profissionais da educação, gestores,
reinventada, ou seja, priorizar processos capazes de gerar professores, especialistas, técnicos, monitores e outros.
sujeitos inventivos, participativos, cooperativos, preparados A qualidade social da educação brasileira é uma conquista
para diversificadas inserções sociais, políticas, culturais, a ser construída coletivamente de forma negociada, pois
laborais e, ao mesmo tempo, capazes de intervir e significa algo que se concretiza a partir da qualidade da relação
problematizar as formas de produção e de vida. A escola tem, entre todos os sujeitos que nela atuam direta e indiretamente.
diante de si, o desafio de sua própria recriação, pois tudo que Significa compreender que a educação é um processo de
a ela se refere constitui-se como invenção: os rituais escolares produção e socialização da cultura da vida, no qual se
são invenções de um determinado contexto sociocultural em constroem, se mantêm e se transformam conhecimentos e
movimento. valores. Produzir e socializar a cultura inclui garantir a
A qualidade na escola exige o compromisso de todos os presença dos sujeitos das aprendizagens na escola. Assim, a
sujeitos do processo educativo para: qualidade social da educação escolar supõe encontrar
I – a ampliação da visão política expressa por meio de alternativas políticas, administrativas e pedagógicas que
habilidades inovadoras, fundamentadas na capacidade para garantam o acesso, a permanência e o sucesso do indivíduo no
aplicar técnicas e tecnologias orientadas pela ética e pela sistema escolar, não apenas pela redução da evasão, da
estética; repetência e da distorção idade ano/série, mas também pelo
II – a responsabilidade social, princípio educacional que aprendizado efetivo.
norteia o conjunto de sujeitos comprometidos com o projeto
que definem e assumem como expressão e busca da qualidade 3. O Ensino Médio no Brasil
da escola, fruto do empenho de todos.
Construir a qualidade social pressupõe conhecimento dos Em uma perspectiva histórica (UNESCO, 2009), verifica-se
interesses sociais da comunidade escolar para que seja que foi a reforma educacional conhecida pelo nome do
possível educar e cuidar mediante interação efetivada entre Ministro Francisco Campos, que regulamentou e organizou o
princípios e finalidades educacionais, objetivos, ensino secundário, além do ensino profissional e comercial
conhecimentos e concepções curriculares. Isso abarca mais (Decreto n° 18.890/31) que estabeleceu a modernização do
que o exercício político-pedagógico que se viabiliza mediante ensino secundário nacional.
atuação de todos os sujeitos da comunidade educativa. Ou seja,

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Apesar de modernizadora, essa reforma não rompeu com A LDB define como finalidades do Ensino Médio a
a tradição de uma educação voltada para as elites e setores preparação para a continuidade dos estudos, a preparação
emergentes da classe média, pois foi concebida para conduzir básica para o trabalho e o exercício da cidadania. Determina,
seus estudantes para o ingresso nos cursos superiores. ainda, uma base nacional comum e uma parte diversificada
Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, foi para a organização do currículo escolar.
instituído o conjunto das Leis Orgânicas da Educação Nacional, Na sequência, foram formuladas as Diretrizes Curriculares
que configuraram a denominada Reforma Capanema: a) Lei Nacionais para o Ensino Médio, em 1998, que destacam que as
orgânica do ensino secundário, de 1942; b) Lei orgânica do ações administrativas e pedagógicas dos sistemas de ensino e
ensino comercial, de 1943; c) Leis orgânicas do ensino das escolas devem ser coerentes com princípios estéticos,
primário, de 1946. Nas leis orgânicas firmou-se o objetivo do políticos e éticos, abrangendo a estética da sensibilidade, a
ensino secundário de formar as elites condutoras do país, a par política da igualdade e a ética da identidade. Afirmam que as
do ensino profissional, este mais voltado para as necessidades propostas pedagógicas devem ser orientadas por
emergentes da economia industrial e da sociedade urbana. competências básicas, conteúdos e formas de tratamento dos
Nessa reforma, o ensino secundário mantinha dois ciclos: conteúdos previstos pelas finalidades do Ensino Médio. Os
o primeiro correspondia ao curso ginasial, com duração de 4 princípios pedagógicos da identidade, diversidade e
anos, destinado a fundamentos; o segundo correspondia aos autonomia, da interdisciplinaridade e da contextualização são
cursos clássico e científico, com duração de 3 anos, com o adotados como estruturadores dos currículos. A base nacional
objetivo de consolidar a educação ministrada no ginasial. O comum organiza-se, a partir de então, em três áreas de
ensino secundário, de um lado, e o ensino profissional, de conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias;
outro, não se comunicavam nem propiciavam circulação de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; e
estudos, o que veio a ocorrer na década seguinte. Ciências Humanas e suas Tecnologias.
Em 1950, a equivalência entre os estudos acadêmicos e os Mesmo considerando o tratamento dado ao trabalho
profissionais foi uma mudança decisiva, comunicando os dois didático-pedagógico, com as possibilidades de organização do
tipos de ensino. A Lei Federal nº 1.076/50 permitiu que Ensino Médio, tem-se a percepção que tal discussão não
concluintes de cursos profissionais ingressassem em cursos chegou às escolas, mantendo-se atenção extrema no
superiores, desde que comprovassem nível de conhecimento tratamento de conteúdos sem a articulação com o contexto do
indispensável à realização dos aludidos estudos. Na década estudante e com os demais componentes das áreas de
seguinte, sobreveio a plena equivalência entre os cursos, com conhecimento e sem aproximar-se das finalidades propostas
a equiparação, para todos os efeitos, do ensino profissional ao para a etapa de ensino, constantes na LDB. Foi observado em
ensino propedêutico, efetivada pela primeira Lei de Diretrizes estudo promovido pela UNESCO, que incluiu estudos de caso
e Bases da Educação Nacional (Lei nº 4.024/61). em dois Estados, que os ditames legais e normativos e as
Novo momento decisivo ocorreu dez anos depois, com a concepções teóricas, mesmo quando assumidas pelos órgãos
promulgação da Lei n° 5.692/71, que reformou a Lei nº centrais de uma Secretaria Estadual de Educação, têm fraca
4.024/61, no que se refere ao, então, ensino de 1º e de 2º graus. ressonância nas escolas e, até, pouca ou nenhuma, na atuação
Note-se que ocorreu aqui uma transposição do antigo ginasial, dos professores (UNESCO, 2009).O Parecer CNE/CEB nº
até então considerado como fase inicial do ensino secundário, 7/2010 e a Resolução CNE/CEB nº 4/2010, que definem as
para constituir-se na fase final do 1º grau de oito anos. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para Educação
Para o 2º grau (correspondente ao atual Ensino Médio), a Básica, especificamente quanto ao Ensino Médio, reiteram que
profissionalização torna-se obrigatória, supostamente para é etapa final do processo formativo da Educação Básica e
eliminar o dualismo entre uma formação clássica e científica, indicam que deve ter uma base unitária sobre a qual podem se
preparadora para os estudos superiores e, outra, profissional assentar possibilidades diversas.
(industrial, comercial e agrícola), além do Curso Normal, A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em uma
destinado à formação de professores para a primeira fase do lógica que se dirige, predominantemente, aos jovens,
1º grau. A implantação generalizada da habilitação considerando suas singularidades, que se situam em um
profissional trouxe, entre seus efeitos, sobretudo para o ensino tempo determinado.
público, a perda de identidade que o 2º grau passara a ter, seja Os sistemas educativos devem prever currículos flexíveis,
a propedêutica para o ensino superior, seja a de terminalidade com diferentes alternativas, para que os jovens tenham a
profissional. Passada uma década, foi editada a Lei nº oportunidade de escolher o percurso formativo que atenda
7.044/82, tornando facultativa essa profissionalização no 2º seus interesses, necessidades e aspirações, para que se
grau. assegure a permanência dos jovens na escola, com proveito,
O mais novo momento decisivo veio com a atual lei de até a conclusão da Educação Básica.
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei Federal Pesquisas realizadas com estudantes mostram a
nº 9.394/96, que ainda vem recebendo sucessivas alterações e necessidade de essa etapa educacional adotar procedimentos
acréscimos. A LDB define o Ensino Médio como uma etapa do que guardem maior relação com o projeto de vida dos
nível denominado Educação Básica, constituído pela Educação estudantes como forma de ampliação da permanência e do
Infantil, pelo Ensino Fundamental e pelo Ensino Médio, sendo sucesso dos mesmos na escola.
este sua etapa final. Estas Diretrizes orientam-se no sentido do oferecimento
Das alterações ocorridas na LDB, destacam-se, aqui, as de uma formação humana integral, evitando a orientação
trazidas pela Lei nº 11.741/2008, a qual redimensionou, limitada da preparação para o vestibular e patrocinando um
institucionalizou e integrou as ações da Educação Profissional sonho de futuro para todos os estudantes do Ensino Médio.
Técnica de Nível Médio, da Educação de Jovens e Adultos e da Esta orientação visa à construção de um Ensino Médio que
Educação Profissional e Tecnológica. Foram alterados os apresente uma unidade e que possa atender a diversidade
artigos 37, 39, 41 e 42, e acrescido o Capítulo II do Título V com mediante o oferecimento de diferentes formas de organização
a Seção IV-A, denominada “Da Educação Profissional Técnica curricular, o fortalecimento do projeto político pedagógico e a
de Nível Médio”, e com os artigos 36-A, 36-B, 36-C e 36-D. Esta criação das condições para a necessária discussão sobre a
lei incorporou o essencial do Decreto nº 5.154/2004, organização do trabalho pedagógico.
sobretudo, revalorizando a possibilidade do Ensino Médio
integrado com a Educação Profissional Técnica,
contrariamente ao que o Decreto nº 2.208/97 anteriormente
havia disposto.

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4. Os sujeitos/estudantes do Ensino Médio instituição, nem de um suposto desinteresse dos estudantes.


As análises se tornam produtivas à medida que enfoquem a
4.1 As juventudes relação entre os sujeitos e a escola no âmbito de um quadro
mais amplo, considerando as transformações sociais em curso.
Os estudantes do Ensino Médio são predominantemente Essas transformações estão produzindo sujeitos com estilos
adolescentes e jovens. Segundo o Conselho Nacional de de vida, valores e práticas sociais que os tornam muito
Juventude (CONJUVE), são considerados jovens os sujeitos distintos das gerações anteriores (Dayrell, 2007). Entender tal
com idade compreendida entre os 15 e os 29 anos, ainda que a processo de transformação é relevante para a compreensão
noção de juventude não possa ser reduzida a um recorte etário das dificuldades hoje constatadas nas relações entre os jovens
(Brasil, 2006). Em consonância com o CONJUVE, esta proposta e a escola.
de atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Possivelmente, um dos aspectos indispensáveis a essas
Ensino Médio concebe a juventude como condição sócio- análises é a compreensão da constituição da juventude. A
histórico-cultural de uma categoria de sujeitos que necessita formação dos indivíduos é hoje atravessada por um número
ser considerada em suas múltiplas dimensões, com crescente de elementos. Se antes ela se produzia,
especificidades próprias que não estão restritas às dimensões dominantemente, no espaço circunscrito pela família, pela
biológica e etária, mas que se encontram articuladas com uma escola e pela igreja, em meio a uma razoável homogeneidade
multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais, de valores, muitas outras instituições, hoje, participam desse
produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes. jogo, apresentando formas de ser e de viver heterogêneas.
Entender o jovem do Ensino Médio dessa forma significa A identidade juvenil é determinada para além de uma
superar uma noção homogeneizante e naturalizada desse idade biológica ou psicológica, mas situa-se em processo de
estudante, passando a percebê-lo como sujeito com valores, contínua transformação individual e coletiva, a partir do que
comportamentos, visões de mundo, interesses e necessidades se reconhece que o sujeito do Ensino Médio é constituído e
singulares. Além disso, deve-se também aceitar a existência de constituinte da ordem social, ao mesmo tempo em que, como
pontos em comum que permitam tratá-lo como uma categoria demonstram os comportamentos juvenis, preservam
social. autonomia relativa quanto a essa ordem.
Destacam-se sua ansiedade em relação ao futuro, sua Segundo Dayrell, a juventude é “parte de um processo mais
necessidade de se fazer ouvir e sua valorização da amplo de constituição de sujeitos, mas que tem especificidades
sociabilidade. Além das vivências próprias da juventude, o que marcam a vida de cada um. A juventude constitui um
jovem está inserido em processos que questionam e momento determinado, mas não se reduz a uma passagem; ela
promovem sua preparação para assumir o papel de adulto, assume uma importância em si mesma.
tanto no plano profissional quanto no social e no familiar. Todo esse processo é influenciado pelo meio social
Pesquisas sugerem que, muito frequentemente, a concreto no qual se desenvolve e pela qualidade das trocas que
juventude é entendida como uma condição de transitoriedade, este proporciona”. (2003).
uma fase de transição para a vida adulta (Dayrell, 2003). Com Zibas, ao analisar as relações entre juventude e oferta
isso, nega-se a importância das ações de seu presente, educacional observa que a ampliação do acesso ao Ensino
produzindo-se um entendimento de que sua educação deva Médio, nos últimos 15 anos, não veio acompanhada de
ser pensada com base nesse “vir a ser”. Reduzem-se, assim, as políticas capazes de dar sustentação com qualidade a essa
possibilidades de se fazer da escola um espaço de formação ampliação. Entre 1995 e 2005, os sistemas de ensino estaduais
para a vida hoje vivida, o que pode acabar relegando-a a uma receberam mais de 4 milhões de jovens no Ensino Médio,
obrigação enfadonha. totalizando uma população escolar de 9 milhões de indivíduos
Muitos jovens, principalmente os oriundos de famílias (2009).
pobres, vivenciam uma relação paradoxal com a escola. Ao É diante de um público juvenil extremamente diverso, que
mesmo tempo em que reconhecem seu papel fundamental no traz para dentro da escola as contradições de uma sociedade
que se refere à empregabilidade, não conseguem atribuir-lhe que avança na inclusão educacional sem transformar a
um sentido imediato (Sposito, 2005). estrutura social desigual – mantendo acesso precário à saúde,
Vivem ansiosos por uma escola que lhes proporcione ao transporte, à cultura e lazer, e ao trabalho – que o novo
chances mínimas de trabalho e que se relacione com suas Ensino Médio se forja. As desigualdades sociais passam a
experiências presentes. tensionar a instituição escolar e a produzir novos conflitos
Além de uma etapa marcada pela transitoriedade, outra (idem).
forma recorrente de representar a juventude vê-la como um Segundo Dayrell (2009), o censo de 2000 informa que
tempo de liberdade, de experimentação e irresponsabilidade 47,6% dos jovens da Região Sudeste de 15 a 17 anos
(Dayrell, 2003). Essas duas maneiras de representar a frequentavam o Ensino Médio; no Nordeste apenas 19,9%; e a
juventude – como um “vir a ser” e como um tempo de liberdade média nacional era de 35,7%. O autor assinala, com base em
– mostram-se distantes da realidade da maioria dos jovens dados do IPEA (2008), que há uma frequência líquida no
brasileiros. Para esses, o trabalho não se situa no futuro, já Sul/Sudeste de 58%, contra 33,3% no Norte/Nordeste. Em
fazendo parte de suas preocupações presentes. que pese essa presença ser expressivamente maior na Região
Uma pesquisa realizada com jovens de várias regiões Sul do país, observa-se um quadro reiterado de desistência da
brasileiras, moradores de zonas urbanas de cidades pequenas escola também nessa região. Esse quadro parece se
e capitais, bem como da zona rural, constatou que 60% dos intensificar no Ensino Médio, devido à existência de forte
entrevistados frequentavam escolas. Contudo, 75% deles já tensão na relação dos jovens com a escola (Correia e Matos,
estavam inseridos ou buscando inserção no mundo do 2001; Dayrell, 2007; Krawczyk, 2009 apud Dayrell, 2009).
trabalho (Sposito, 2005). Ou seja, o mundo do trabalho parece Dentre os fatores relevantes a se considerar está a relação
estar mais presente na vida desses sujeitos do que a escola. entre juventude, escola e trabalho. Ainda que não se parta, a
Muitos jovens abandonam a escola ao conseguir emprego, priori, de que haja uma linearidade entre permanência na
alegando falta de tempo. Todavia, é possível que, se os jovens escola e inserção no emprego, as relações entre escolarização,
atribuíssem um sentido mais vivo e uma maior importância à formação profissional e geração de independência financeira
sua escolarização, uma parcela maior continuasse por meio do ingresso no mundo do trabalho vêm sendo
frequentando as aulas, mesmo depois de empregados. tensionadas e reconfiguradas conforme sinalizam estudos
O desencaixe entre a escola e os jovens não deve ser visto acerca do emprego e do desemprego juvenil.
como decorrente, nem de uma suposta incompetência da

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O Brasil vive hoje um novo ciclo de desenvolvimento Levantamentos específicos mostram que os estudantes do
calcado na distribuição de renda que visa à inclusão de um ensino noturno diferenciam-se dos estudantes do ensino
grande contingente de pessoas no mercado consumidor. diurno, pois estes últimos têm o estudo como principal
A sustentação desse ciclo e o estabelecimento de novos atividade/interesse, enquanto os do noturno são, na sua
patamares de desenvolvimento requerem um aporte de maioria, trabalhadores antes de serem estudantes. Do ponto
trabalhadores qualificados em todos os níveis, o que implica de vista das expectativas destes estudantes, uns objetivam
na reestruturação da escola com vistas à introdução de novos prosseguir os estudos ingressando no ensino superior,
conteúdos e de novas metodologias de ensino capazes de enquanto outros pretendem manter ou retomar sua dedicação
promover a oferta de uma formação integral. ao trabalho.
Os jovens, atentos aos destinos do País, percebem essas O fato de muitos terem retornado aos estudos depois de tê-
modificações e criam novas expectativas em relação às los abandonado, é um atestado de que acreditam no valor da
possibilidades de inserção no mundo do trabalho e em relação escolarização como uma forma de buscar melhores dias e um
ao papel da escola nos seus projetos de vida. futuro melhor. Em geral são estudantes que, não tendo
Diante do exposto, torna-se premente que as escolas, ao condição econômica favorável, não têm acesso aos bens
desenvolverem seus projetos políticopedagógicos, se culturais e, como tal, esperam que a escola cumpra o papel de
debrucem sobre questões que permitam ressignificar a supridora dessas condições. Não raras vezes, a escola noturna
instituição escolar diante de uma possível fragilização que essa é vista por esses estudantes trabalhadores como um locus
instituição venha sofrendo, quando se trata do público alvo do privilegiado de socialização.
Ensino Médio, considerando, ainda, a necessidade de Os que estudam e trabalham, em geral, enfrentam
acolhimento de um sujeito que possui, dentre outras, as dificuldades para conciliar as duas tarefas.
características apontadas anteriormente. Assim, sugerem-se Todos têm consciência de que as escolas noturnas
questões como: Que características sócio-econômico-culturais convivem com maiores dificuldades do que as do período
possuem os jovens que frequentam as escolas de Ensino diurno e isso é um fator de desestímulo.
Médio? Que representações a escola, seus professores e Segundo Arroyo (1986, in Togni e Carvalho, 2008), ao
dirigentes fazem dos estudantes? A escola conhece seus tratar do “aluno (estudante)-trabalhador”, estamos nos
estudantes? Quais os pontos de proximidade e distanciamento referindo a um trabalhador que estuda, ou seja, jovens que,
entre os sujeitos das escolas (estudantes e professores antes de serem estudantes, são trabalhadores e que “dessa
particularmente)? Quais sentidos e significados esses jovens diferenciação, não deveria decorrer qualquer interpretação
têm atribuído à experiência escolar? Que relações se podem que indique uma valorização diferente, por parte dos
observar entre jovens, escola e sociabilidade? Quais estudantes, da escolarização, mas sim, especificidades nas
experiências os jovens constroem fora do espaço escolar? relações estabelecidas na escola” (Oliveira e Sousa, 2008).
Como os jovens interagem com a diversidade? Que Desse modo, o enfrentamento das necessidades detectadas
representações fazem diante de situações que têm sido alvo de no ensino noturno passa, inicialmente, pelo reconhecimento
preconceito? Em que medida a cultura escolar instituída da diversidade que caracteriza a escola e o corpo discente do
compõe uma referência simbólica que se distancia/aproxima ensino noturno para, em seguida, adequar seus procedimentos
das expectativas dos estudantes? Que elementos da cultura aos projetos definidos para a mesma.
juvenil são derivados da experiência escolar e contribuem A própria Constituição Federal, no inciso VI do art. 208,
para conferir identidade(s) ao jovem da contemporaneidade? determina, de forma especial, a garantia da oferta do ensino
Que articulações existem entre os interesses pessoais, projetos noturno regular adequado às condições do educando. A LDB,
de vida e experiência escolar? Que relações se estabelecem no inciso VI do art. 4º, reitera este mandamento como dever
entre esses planos e as experiências vividas na escola? Em que do Estado.
medida os sentidos atribuídos à experiência escolar motivam Ainda a LDB, no § 2º do art. 23, prescreve que o calendário
os jovens a elaborar projetos de futuro? Que expectativas são escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive
explicitadas pelos jovens diante da relação escola e trabalho? climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de
Que aspectos precisariam mudar na escola tendo em vista ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas
oferecer condições de incentivo ao retorno e à permanência previsto.
para os que a abandonaram? Viabilizar as condições para que Considerando, portanto, a situação e as circunstâncias de
tais questões pautem as formulações dos gestores e vida dos estudantes trabalhadores do Ensino Médio noturno,
professores na discussão do seu cotidiano pode permitir novas cabe indicar e possibilitar formas de oferta e organização que
formas de organizar a proposta de trabalho da escola na sejam adequadas às condições desses educandos, de modo a
definição de seu projeto político-pedagógico. permitir seu efetivo acesso, permanência e sucesso nos
estudos desta etapa da Educação Básica. É óbice evidente a
4.2 Os estudantes do Ensino Médio noturno carga horária diária, a qual, se igual à do curso diurno, não é
adequada para o estudante trabalhador, que já cumpriu longa
O Ensino Médio noturno tem estado ausente do conjunto jornada laboral. Este problema é agravado em cidades
de medidas acenadas para a melhoria da Educação Básica. maiores, nas quais as distâncias e os deslocamentos do local de
Estas Diretrizes definem que todas as escolas com Ensino trabalho para a escola e desta para a morada impõe acréscimo
Médio, independentemente do horário de funcionamento, de sacrifício, levando a atraso e perda de tempos escolares.
sejam locais de incentivo, desafios, construção do Essa sobrecarga de horas no período noturno torna-se, sem
conhecimento e transformação social. dúvida, causa de desestímulo e aproveitamento precário que
Para que esse objetivo seja alcançado, é necessário ter em leva a uma deficiente formação e/ou à reprovação, além da
mente as especificidades dos estudantes que compõem a retenção por faltas além do limite legal e, no limite, de
escola noturna, com suas características próprias. abandono dos estudos.
Em primeiro lugar, cabe destacar que a maioria dos Nesse sentido, com base no preceito constitucional e da
estudantes do ensino noturno são adolescentes e jovens. Uma LDB, e respeitados os mínimos previstos de duração e carga
parte está dando continuidade aos estudos, sem interrupção, horária total, o projeto pedagógico deve atender com
mesmo que já tenha tido alguma reprovação. Outra parte, no qualidade a singularidade destes sujeitos, especificando uma
entanto, está retornando aos estudos depois de haver organização curricular e metodológica diferenciada, podendo
interrompido em determinado momento. incluir atividades não presenciais, até 20% da carga horária
diária ou de cada tempo de organização escolar, desde que haja

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suporte tecnológico e seja garantido o atendimento por como é, principalmente, o caso dos povos indígenas, do campo
professores e monitores, ou ampliar a duração para mais de 3 e quilombolas.
anos, com redução da carga horária diária e da anual, O art. 78 da LDB se detém na oferta da Educação Escolar
garantindo o mínimo total de 2.400 horas. Indígena. Da confluência dos princípios e direitos desta
educação, traduzidos no respeito à sociodiversidade; na
4.3 Os estudantes de Educação de Jovens e Adultos (EJA) interculturalidade; no direito de uso de suas línguas maternas
e de processos próprios de aprendizagem, na articulação entre
O inciso I do art. 208 da Constituição Federal determina os saberes indígenas e os conhecimentos técnico-científicos
que o dever do Estado para com a educação é efetivado com os princípios da formação integral, visando à atuação
mediante a garantia da Educação Básica obrigatória e gratuita cidadã no mundo do trabalho, da sustentabilidade
dos 4 aos 17 anos de idade, assegurada, inclusive, sua oferta socioambiental e do respeito à diversidade dos sujeitos, surge
gratuita para todos os que a ele não tiverem acesso na idade a possibilidade de uma educação indígena que possa
própria. contribuir para a reflexão e construção de alternativas de
A LDB, no inciso VII do art. 4º, determina a oferta de gerenciamento autônomo de seus territórios, de sustentação
educação escolar regular para jovens e adultos, com econômica, de segurança alimentar, de saúde, de atendimento
características e modalidades adequadas às suas necessidades às necessidades cotidianas, entre outros. Esta modalidade tem
e disponibilidades, garantindo-se, aos que forem Diretrizes próprias instituídas pela Resolução CNE/CEB nº
trabalhadores, as condições de acesso e permanência na 3/99, que fixou Diretrizes Nacionais para o Funcionamento
escola. O art. 37 traduz os fundamentos da EJA, ao atribuir ao das Escolas Indígenas, com base no Parecer CNE/CEB nº
poder público a responsabilidade de estimular e viabilizar o 14/99, A escola desta modalidade tem uma realidade singular,
acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante inscrita na territorialidade, em processos de afirmação de
ações integradas e complementares entre si e mediante oferta identidades étnicas, produção e (re)significação de crenças,
de cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, que não puderam línguas e tradições culturais. Em função de suas
efetuar os estudos na idade regular, proporcionando-lhes especificidades requer normas e ordenamentos jurídicos
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as próprios em respeito aos diferentes povos, como afirmado no
características do alunado, seus interesses, condições de vida Parecer CNE/CEB nº 14/99: “Na estruturação e no
e de trabalho, mediante cursos e exames. Esta funcionamento das escolas indígenas é reconhecida sua
responsabilidade deve ser prevista pelos sistemas educativos condição de escolas com normas e ordenamento jurídico
e por eles deve ser assumida, no âmbito da atuação de cada próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando à
sistema, observado o regime de colaboração e da ação valorização plena das culturas dos povos indígenas e a
redistributiva, definidos legalmente. afirmação e manutenção de sua diversidade étnica”.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação e A escola indígena, portanto, visando cumprir sua
Jovens e Adultos estão expressas na Resolução CNE/CEB nº especificidade, alicerçada em princípios comunitários,
1/2000, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº 11/2000, bilíngues e/ou multilíngues e interculturais, requer formação
sendo que o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 e a Resolução específica de seu quadro docente, observados os princípios
CNE/CEB nº 3/2010 instituem Diretrizes Operacionais para a constitucionais, a base nacional comum e os princípios que
Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos aspectos relativos à orientam a Educação Básica brasileira (artigos 5º, 9º, 10, 11, e
duração dos cursos e idade mínima para ingresso nos cursos inciso VIII do art. 4º da LDB), como destacado no Parecer
de EJA; idade mínima e certificação nos exames de EJA; e CNE/CEB nº 7/2010, de Diretrizes Curriculares Nacionais
Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Gerais para a Educação Básica.
Educação a Distância. A educação ofertada à população rural no Brasil tem sido
Indicam, igualmente, que mantém os princípios, objetivos objeto de estudos e de reivindicações de organizações sociais
e diretrizes formulados no Parecer CNE/CEB nº 11/2000. há muito tempo. O art. 28 da LDB estabelece o direito dos
Sendo os jovens e adultos que estudam na EJA, no geral povos do campo a uma oferta de ensino adequada à sua
trabalhadores, cabem as considerações anteriores sobre os diversidade sociocultural. É, pois, a partir dos parâmetros
estudantes do Ensino Médio noturno, uma vez que esta político-pedagógicos próprios que se busca refletir sobre a
modalidade é, majoritariamente, oferecida nesse período. Educação do Campo. As Diretrizes Operacionais para a
Assim, deve especificar uma organização curricular e Educação Básica nas Escolas do Campo estão orientadas pelo
metodológica que pode incluir ampliação da duração do curso, Parecer CNE/CEB nº 36/2001, pela Resolução CNE/CEB nº
com redução da carga horária diária e da anual, garantindo o 1/2002, pelo Parecer CNE/CEB nº 3/2008 e pela Resolução
mínimo total de 1.200 horas, ou incluir atividades não CNE/CEB nº 2/2008.
presenciais, até 20% da carga horária diária ou de cada tempo Esta modalidade da Educação Básica e, portanto, do Ensino
de organização escolar, desde que haja suporte tecnológico e Médio, está prevista no art. 28 da LDB, definindo, para
seja garantido o atendimento por professores e monitores. atendimento da população do campo, adaptações necessárias
A aproximação entre a EJA – Ensino Médio – e a Educação às peculiaridades da vida rural e de cada região, com
Profissional, materializa-se, sobretudo, no Programa Nacional orientações referentes a conteúdos curriculares e
de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses
na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA), dos estudantes da zona rural; organização escolar própria,
instituído pelo Decreto nº 5.840/2006. A proposta pedagógica incluindo adequação do calendário escolar as fases do ciclo
do PROEJA alia direitos fundamentais de jovens e adultos, agrícola e as condições climáticas; e adequação à natureza do
educação e trabalho. É também fundamentada no conceito de trabalho na zona rural. As propostas pedagógicas das escolas
educação continuada, na valorização das experiências do do campo com oferta de Ensino Médio devem, portanto, ter
indivíduo e na formação de qualidade pressuposta nos marcos flexibilidade para contemplar a diversidade do meio, em seus
da educação integral. múltiplos aspectos, observados os princípios constitucionais,
a base nacional comum e os princípios que orientam a
4.4 Os estudantes indígenas, do campo e quilombolas Educação Básica brasileira.
Especificidades próprias, similarmente, tem a educação
O Ensino Médio, assim como as demais etapas da Educação destinada aos quilombolas, desenvolvida em unidades
Básica, assumem diferentes modalidades quando destinadas a educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo
contingentes da população com características diversificadas, pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural

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de cada comunidade e formação específica de seu quadro O caráter teleológico da intervenção humana sobre o meio
docente. A Câmara de Educação Básica do CNE instituiu material, isto é, a capacidade de ter consciência de suas
Comissão para a elaboração de Diretrizes Curriculares necessidades e de projetar meios para satisfazê-las, diferencia
específicas para esta modalidade (Portaria CNE/CEB nº o ser humano dos outros animais, uma vez que estes não
5/2010). distinguem a sua atividade vital de si mesmos, enquanto o
homem faz da sua atividade vital um objeto de sua vontade e
4.5 Os estudantes da Educação Especial consciência. Os animais podem reproduzir, mas o fazem
somente para si mesmos; o homem reproduz toda a natureza,
Como modalidade transversal a todos os níveis, etapas e porém de modo transformador, o que tanto lhe atesta quanto
modalidades de ensino a Educação Especial deve estar lhe confere liberdade e universalidade. Desta forma, produz
prevista no projeto político-pedagógico da instituição de conhecimentos que, sistematizados sob o crivo social e por um
ensino. processo histórico, constitui a ciência.
O Ensino Médio de pessoas com deficiência, transtornos Nesses termos, compreende-se o conhecimento como uma
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou produção do pensamento pela qual se apreende e se
superdotação segue, pois, os princípios e orientações representam as relações que constituem e estruturam a
expressos nos atos normativos da Educação Especial, o que realidade. Apreender e determinar essas relações exige um
implica assegurar igualdade de condições para o acesso e método, que parte do concreto empírico – forma como a
permanência na escola e o atendimento educacional realidade se manifesta – e, mediante uma determinação mais
especializado na rede regular de ensino. precisa através da análise, chega a relações gerais que são
Conforme expresso no texto da Convenção sobre os determinantes do fenômeno estudado. A compreensão do real
Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo como totalidade exige que se conheçam as partes e as relações
Facultativo, “a deficiência é um conceito em evolução”, entre elas, o que nos leva a constituir seções tematizadas da
resultante “da interação entre pessoas com deficiência e as realidade. Quando essas relações são “arrancadas” de seu
barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a contexto originário e ordenadas, tem-se a teoria. A teoria,
plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em então, é o real elevado ao plano do pensamento. Sendo assim,
igualdade de oportunidades com as demais pessoas”. qualquer fenômeno que sempre existiu como força natural só
Considerando o “respeito pela dignidade inerente, a se constitui em conhecimento quando o ser humano dela se
autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as apropria tornando-a força produtiva para si. Por exemplo, a
próprias escolhas” e o entendimento da diversidade dos descarga elétrica, os raios, a eletricidade estática como
educandos com necessidades educacionais especiais, as fenômenos naturais sempre existiram, mas não são
instituições de ensino não podem restringir o acesso ao Ensino conhecimentos enquanto o ser humano não se apropria desses
Médio por motivo de deficiência. Tal discriminação “configura fenômenos conceitualmente, formulando teorias que
violação da dignidade e do valor inerentes ao ser humano”. potencializam o avanço das forças produtivas.
Cabe assim às instituições de ensino garantir a A ciência, portanto, que pode ser conceituada como
transversalidade das ações da Educação Especial no Ensino conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos
Médio, assim como promover a quebra de barreiras físicas, de socialmente ao longo da história, na busca da compreensão e
comunicação e de informação que possam restringir a transformação da natureza e da sociedade, se expressa na
participação e a aprendizagem dos educandos. forma de conceitos representativos das relações de forças
Nesse sentido, faz-se necessário organizar processos de determinadas e apreendidas da realidade. O conhecimento de
avaliação adequados às singularidades dos educandos, uma seção da realidade concreta ou a realidade concreta
incluindo as possibilidades de dilatamento de prazo para tematizada constitui os campos da ciência, que são as
conclusão da formação e complementação do atendimento. disciplinas científicas. Conhecimentos assim produzidos e
Para o atendimento desses objetivos, devem as escolas legitimados socialmente ao longo da história são resultados de
definir formas inclusivas de atendimento de seus estudantes, um processo empreendido pela humanidade na busca da
devendo os sistemas de ensino dar o necessário apoio para a compreensão e transformação dos fenômenos naturais e
implantação de salas de recursos multifuncionais; a formação sociais. Nesse sentido, a ciência conforma conceitos e métodos
continuada de professores para o atendimento educacional cuja objetividade permite a transmissão para diferentes
especializado e a formação de gestores, educadores e demais gerações, ao mesmo tempo em que podem ser questionados e
profissionais da escola para a educação inclusiva; a adequação superados historicamente, no movimento permanente de
arquitetônica de prédios escolares e a elaboração, produção e construção de novos conhecimentos.
distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade, A extensão das capacidades humanas, mediante a
bem como a estruturação de núcleos de acessibilidade com apropriação de conhecimentos como força produtiva, sintetiza
vistas à implementação e à integração das diferentes ações o conceito de tecnologia aqui expresso. Pode ser conceituada
institucionais de inclusão de forma a prover condições para o como transformação da ciência em força produtiva ou
desenvolvimento acadêmico dos educandos, propiciando sua mediação do conhecimento científico e a produção, marcada
plena e efetiva participação e inclusão na sociedade. desde sua origem pelas relações sociais que a levaram a ser
produzida. O desenvolvimento da tecnologia visa à satisfação
5. Pressupostos e fundamentos para um Ensino Médio de necessidades que a humanidade se coloca, o que nos leva a
de qualidade social perceber que a tecnologia é uma extensão das capacidades
humanas. A partir do nascimento da ciência moderna, pode-se
5.1 Trabalho, ciência, tecnologia e cultura: dimensões definir a tecnologia, então, como mediação entre
da formação humana conhecimento científico (apreensão e desvelamento do real) e
produção (intervenção no real).
O trabalho é conceituado, na sua perspectiva ontológica de Entende-se cultura como o resultado do esforço coletivo
transformação da natureza, como realização inerente ao ser tendo em vista conservar a vida humana e consolidar uma
humano e como mediação no processo de produção da sua organização produtiva da sociedade, do qual resulta a
existência. produção de expressões materiais, símbolos, representações e
Essa dimensão do trabalho é, assim, o ponto de partida significados que correspondem a valores éticos e estéticos que
para a produção de conhecimentos e de cultura pelos grupos orientam as normas de conduta de uma sociedade.
sociais.

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Por essa perspectiva, a cultura deve ser compreendida no socialmente reconhecida, do processo de compra e venda da
seu sentido mais ampliado possível, ou seja, como a articulação força de trabalho.
entre o conjunto de representações e comportamentos e o Como razão da formação específica, o trabalho aqui se
processo dinâmico de socialização, constituindo o modo de configura também como contexto. Do ponto de vista
vida de uma população determinada. organizacional, essa relação deve integrar em um mesmo
Uma formação integral, portanto, não somente possibilita currículo a formação plena do educando, possibilitando
o acesso a conhecimentos científicos, mas também promove a construções intelectuais mais complexas; a apropriação de
reflexão crítica sobre os padrões culturais que se constituem conceitos necessários para a intervenção consciente na
normas de conduta de um grupo social, assim como a realidade e a compreensão do processo histórico de
apropriação de referências e tendências que se manifestam em construção do conhecimento.
tempos e espaços históricos, os quais expressam concepções,
problemas, crises e potenciais de uma sociedade, que se vê 5.3 Pesquisa como princípio pedagógico
traduzida e/ou questionada nas suas manifestações.
Assim, evidencia-se a unicidade entre as dimensões A produção acelerada de conhecimentos, característica
científico-tecnológico-cultural, a partir da compreensão do deste novo século, traz para as escolas o desafio de fazer com
trabalho em seu sentido ontológico. que esses novos conhecimentos sejam socializados de modo a
O princípio da unidade entre pensamento e ação é promover a elevação do nível geral de educação da população.
correlato à busca intencional da convergência entre teoria e O impacto das novas tecnologias sobre as escolas afeta tanto
prática na ação humana. A relação entre teoria e prática se os meios a serem utilizados nas instituições educativas, quanto
impõe, assim, não apenas como princípio metodológico os elementos do processo educativo, tais como a valorização
inerente ao ato de planejar as ações, mas, fundamentalmente, da ideia da instituição escolar como centro do conhecimento;
como princípio epistemológico, isto é, princípio orientador do a transformação das infraestruturas; a modificação dos papeis
modo como se compreende a ação humana de conhecer uma do professor e do aluno; a influência sobre os modelos de
determinada realidade e intervir sobre ela no sentido de organização e gestão; o surgimento de novas figuras e
transformá-la. instituições no contexto educativo; e a influência sobre
A unidade entre pensamento e ação está na base da metodologias, estratégias e instrumentos de avaliação.
capacidade humana de produzir sua existência. É na atividade O aumento exponencial da geração de conhecimentos tem,
orientada pela mediação entre pensamento e ação que se também, como consequência que a instituição escolar deixa de
produzem as mais diversas práticas que compõem a produção ser o único centro de geração de informações. A ela se juntam
de nossa vida material e imaterial: o trabalho, a ciência, a outras instituições, movimentos e ações culturais, públicas e
tecnologia e a cultura. privadas, além da importância que vão adquirindo na
Por essa razão trabalho, ciência, tecnologia e cultura são sociedade os meios de comunicação como criadores e
instituídos como base da proposta e do desenvolvimento portadores de informação e de conteúdos desenvolvidos fora
curricular no Ensino Médio de modo a inserir o contexto do âmbito escolar.
escolar no diálogo permanente com a necessidade de Apesar da importância que ganham esses novos
compreensão de que estes campos não se produzem mecanismos de aquisição de informações, é importante
independentemente da sociedade, e possuem a marca da sua destacar que informação não pode ser confundida com
condição histórico-cultural. conhecimento. O fato dessas novas tecnologias se
aproximarem da escola, onde os alunos, às vezes, chegam com
5.2 Trabalho como princípio educativo muitas informações, reforça o papel dos professores no
tocante às formas de sistematização dos conteúdos e de
A concepção do trabalho como princípio educativo é a base estabelecimento de valores.
para a organização e desenvolvimento curricular em seus Uma consequência imediata da sociedade de informação é
objetivos, conteúdos e métodos. que a sobrevivência nesse ambiente requer o aprendizado
Considerar o trabalho como princípio educativo equivale a contínuo ao longo de toda a vida. Esse novo modo de ser
dizer que o ser humano é produtor de sua realidade e, por isto, requer que o aluno, para além de adquirir determinadas
dela se apropria e pode transformá-la. Equivale a dizer, ainda, informações e desenvolver habilidades para realizar certas
que é sujeito de sua história e de sua realidade. Em síntese, o tarefas, deve aprender a aprender, para continuar
trabalho é a primeira mediação entre o homem e a realidade aprendendo.
material e social. Essas novas exigências requerem um novo
O trabalho também se constitui como prática econômica comportamento dos professores que devem deixar de ser
porque garante a existência, produzindo riquezas e transmissores de conhecimentos para serem mediadores,
satisfazendo necessidades. Na base da construção de um facilitadores da aquisição de conhecimentos; devem estimular
projeto de formação está a compreensão do trabalho no seu a realização de pesquisas, a produção de conhecimentos e o
duplo sentido – ontológico e histórico. trabalho em grupo. Essa transformação necessária pode ser
Pelo primeiro sentido, o trabalho é princípio educativo à traduzida pela adoção da pesquisa como princípio pedagógico.
medida que proporciona a compreensão do processo histórico É necessário que a pesquisa como princípio pedagógico
de produção científica e tecnológica, como conhecimentos esteja presente em toda a educação escolar dos que
desenvolvidos e apropriados socialmente para a vivem/viverão do próprio trabalho. Ela instiga o estudante no
transformação das condições naturais da vida e a ampliação sentido da curiosidade em direção ao mundo que o cerca, gera
das capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos. inquietude, possibilitando que o estudante possa ser
O trabalho, no sentido ontológico, é princípio e organiza a base protagonista na busca de informações e de saberes, quer sejam
unitária do Ensino Médio. do senso comum, escolares ou científicos.
Pelo segundo sentido, o trabalho é princípio educativo na Essa atitude de inquietação diante da realidade
medida em que coloca exigências específicas para o processo potencializada pela pesquisa, quando despertada no Ensino
educacional, visando à participação direta dos membros da Médio, contribui para que o sujeito possa, individual e
sociedade no trabalho socialmente produtivo. Com este coletivamente, formular questões de investigação e buscar
sentido, conquanto também organize a base unitária, respostas em um processo autônomo de (re)construção de
fundamenta e justifica a formação específica para o exercício conhecimentos. Nesse sentido, a relevância não está no
de profissões, estas entendidas como forma contratual fornecimento pelo docente de informações, as quais, na

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atualidade, são encontradas, no mais das vezes e de forma Compreender a relação indissociável entre democracia e
ampla e diversificada, fora das aulas e, mesmo, da escola. O respeito aos direitos humanos implica no compromisso do
relevante é o desenvolvimento da capacidade de pesquisa, Estado brasileiro, no campo cultural e educacional, de
para que os estudantes busquem e (re)construam promover seu aprendizado em todos os níveis e modalidades
conhecimentos. de ensino. Os direitos humanos na educação encontram-se
A pesquisa escolar, motivada e orientada pelos presentes como princípio internacional, não só nas Resoluções
professores, implica na identificação de uma dúvida ou da ONU acerca da Década da Educação em direitos humanos,
problema, na seleção de informações de fontes confiáveis, na como no Programa Mundial de Educação em Direitos
interpretação e elaboração dessas informações e na Humanos. Conclama-se a responsabilidade coletiva de todos
organização e relato sobre o conhecimento adquirido. os países a dar centralidade à Educação em direitos humanos
Muito além do conhecimento e da utilização de na legislação geral e específica, na estrutura da política e
equipamentos e materiais, a prática de pesquisa propicia o planos educacionais, e nas diretrizes e programas de educação.
desenvolvimento da atitude científica, o que significa Educar para os direitos humanos, como parte do direito à
contribuir, entre outros aspectos, para o desenvolvimento de educação, significa fomentar processos que contribuam para a
condições de, ao longo da vida, interpretar, analisar, criticar, construção da cidadania, do conhecimento dos direitos
refletir, rejeitar ideias fechadas, aprender, buscar soluções e fundamentais, do respeito à pluralidade e à diversidade de
propor alternativas, potencializadas pela investigação e pela nacionalidade, etnia, gênero, classe social, cultura, crença
responsabilidade ética assumida diante das questões políticas, religiosa, orientação sexual e opção política, ou qualquer outra
sociais, culturais e econômicas. diferença, combatendo e eliminando toda forma de
A pesquisa, associada ao desenvolvimento de projetos discriminação.
contextualizados e interdisciplinares/ articuladores de Os direitos humanos, como princípio que norteia o
saberes, ganha maior significado para os estudantes. Se a desenvolvimento de competências, com conhecimentos e
pesquisa e os projetos objetivarem, também, conhecimentos atitudes de afirmação dos sujeitos de direitos e de respeito aos
para atuação na comunidade, terão maior relevância, além de demais, desenvolvem a capacidade de ações e reflexões
seu forte sentido ético-social. próprias para a promoção e proteção da universalidade, da
É fundamental que a pesquisa esteja orientada por esse indivisibilidade e da interdependência dos direitos e da
sentido ético, de modo a potencializar uma concepção de reparação de todas as suas violações.
investigação científica que motiva e orienta projetos de ação Em um contexto democrático, nos diversos níveis, etapas e
visando à melhoria da coletividade e ao bem comum. modalidades, é imprescindível propiciar espaços educativos
A pesquisa, como princípio pedagógico, pode, assim, em que a cultura de direitos humanos perpasse todas as
propiciar a participação do estudante tanto na prática práticas desenvolvidas no ambiente escolar, tais como o
pedagógica quanto colaborar para o relacionamento entre a currículo, a formação inicial e continuada dos profissionais da
escola e a comunidade. educação, o projeto político-pedagógico, os materiais didático-
pedagógicos, o modelo de gestão, e a avaliação, conforme
5.4 Direitos humanos como princípio norteador indica o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
(PNEDH). É nesse sentido que a implementação deste Plano é
As escolas, assim como outras instituições sociais, têm um prescrita pelo Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH
papel fundamental a desempenhar na garantia do respeito aos 3), instituído pelo Decreto nº 7.037/2009.
direitos humanos. Para isso, a escola tem um papel fundamental, devendo a
Este respeito constitui irrevogável princípio nacional, pois Educação em direitos humanos ser norteadora da Educação
nossa Constituição, já no seu preâmbulo, declara a instituição Básica e, portanto, do Ensino Médio.
de um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o 5.5 Sustentabilidade ambiental como meta universal
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem O compromisso com a qualidade da educação no século
preconceitos. Entre os princípios fundamentais do país, XXI, em momento marcado pela ocorrência de diversos
consagra o fundamento da dignidade da pessoa humana; os desastres ambientais, amplia a necessidade dos educadores de
objetivos de construir uma sociedade livre, justa e solidária, de compreender a complexa multicausalidade da crise ambiental
garantir o desenvolvimento nacional, de erradicar a pobreza e contemporânea e de contribuir para a prevenção de seus
a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e efeitos deletérios e para o enfrentamento das mudanças
regionais, e de promover o bem de todos, sem preconceitos de socioambientais globais. Esta necessidade e decorrentes
origem, etnia, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de preocupações são universais.
discriminação; além de consagrar o princípio da prevalência Tais questões despertam o interesse das juventudes de
dos direitos humanos nas suas relações internacionais. A todos os meios sociais, culturais, étnicos e econômicos, pois
Constituição estabelece, ainda, os direitos e garantias apontam para uma cidadania responsável com a construção de
fundamentais, afirmando, discriminadamente, os direitos e um presente e um futuro sustentáveis, sadios e socialmente
deveres individuais e coletivos. justos. No Ensino Médio há, portanto, condições para se criar
Após sua promulgação em 1988, novos textos legais, uma educação cidadã, responsável, crítica e participativa, que
documentos, programas e projetos vêm materializando a possibilita a tomada de decisões transformadoras a partir do
defesa e promoção dos direitos humanos. São exemplos os meio ambiente no qual as pessoas se inserem, em um processo
Programas Nacional, Estaduais e Municipais de Direitos educacional que supera a dissociação sociedade/natureza.
Humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o No contexto internacional é significativa a atuação da
Estatuto do Idoso, a Convenção Internacional sobre os Direitos Organização das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é
das Pessoas com Deficiência (que tem status constitucional), protagonista destacado. Ressalta-se, nesse âmbito, o Tratado
as leis de combate à discriminação racial e à tortura, bem como de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
as recomendações das Conferências Nacionais de Direitos Responsabilidade Global, 1992, elaborado na Conferência das
Humanos. Estas iniciativas e medidas são fundamentadas em Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-
vários instrumentos internacionais dos quais o Brasil é 92). Esse documento enfatiza a Educação Ambiental como
signatário, sob a inspiração da Declaração Universal de instrumento de transformação social e política, comprometido
Direitos Humanos, de 1948. com a mudança social, rompendo com o modelo

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desenvolvimentista e inaugurando o paradigma de sociedades O desenvolvimento científico e tecnológico acelerado


sustentáveis. impõe à escola um novo posicionamento de vivência e
Na Cúpula do Milênio, promovida em setembro de 2000 convivência com os conhecimentos capaz de acompanhar sua
pela ONU, 189 países, incluindo o Brasil, estabeleceram os produção acelerada. A apropriação de conhecimentos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), com o científicos se efetiva por práticas experimentais, com
compromisso de colocar em prática ações para que sejam contextualização que relacione os conhecimentos com a vida,
alcançados até 2015. Um dos objetivos é o de Qualidade de em oposição a metodologias pouco ou nada ativas e sem
Vida e Respeito ao Meio Ambiente, visando inserir os significado para os estudantes. Estas metodologias
princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e nos estabelecem relação expositiva e transmissivista que não
programas nacionais, e reverter a perda de recursos coloca os estudantes em situação de vida real, de fazer, de
ambientais. elaborar. Por outro lado, tecnologias da informação e
A mesma ONU instituiu o período de 2005 a 2014 como a comunicação modificaram e continuam modificando o
Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, comportamento das pessoas e essas mudanças devem ser
indicando uma nova identidade para a Educação, como incorporadas e processadas pela escola para evitar uma nova
condição indispensável para a sustentabilidade, promovendo forma de exclusão, a digital.
o cuidado com a comunidade de vida, a integridade dos De acordo com Silva, privilegiar a dimensão cognitiva não
ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social e de pode secundarizar outras dimensões da formação, como, por
gênero, o diálogo para a convivência e a paz. exemplo, as dimensões física, social e afetiva. Desse modo,
Estas preocupações universais têm crescente repercussão pensar uma educação escolar capaz de realizar a educação em
no Brasil, que, institucionalmente, possui um Ministério sua plenitude, implica em refletir sobre as práticas
específico no Governo Federal, secundado por Secretarias e pedagógicas já consolidadas e problematizá-las no sentido de
órgãos nos Estados e em Municípios. produzir a incorporação das múltiplas dimensões de
No contexto nacional, a Educação Ambiental está realização do humano como uma das grandes finalidades da
amparada pela Constituição Federal e pela Lei nº 9.795/99, escolarização básica.
que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Como fundamento dessa necessidade podemos recorrer,
Nacional de Educação Ambiental (PNEA), bem como pela por exemplo, a um dos grandes pensadores dos processos
legislação dos demais entes federativos. A PNEA entende por cognitivos, Henry Wallon, e apreender, a partir dele, essa
esta educação os processos por meio dos quais o indivíduo e a natureza multidimensional implicada nas relações de ensinar
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, e aprender. Segundo Wallon, para que a aprendizagem ocorra,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a um conjunto de condições necessita estar satisfeito: a emoção,
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, a imitação, a motricidade e o socius, isto é, a condição da
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade". interação social. Esses quatro elementos, marcados por uma
Entre os objetivos fundamentais da Educação Ambiental, estreita interdependência, geram a possibilidade de que cada
estão o desenvolvimento de uma compreensão integrada do um de nós possa se apropriar dos elementos culturais, objeto
meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, e o de nossa formação. Na ausência de qualquer um deles, esse
incentivo à participação individual e coletiva, permanente e processo ocorre de forma limitada.
responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, Do mesmo modo, assim como a dimensão emocional-
entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um afetiva foi, historicamente, tratada de modo periférico, a
valor inseparável do exercício da cidadania. E preceitua que dimensão físico-corpórea também não tem merecido a
ela é componente essencial e permanente da educação atenção necessária. Aceita, geralmente, como atributo de um
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em terreno específico – o da Educação Física Escolar – raramente
todos os níveis e modalidades do processo educativo, seja se têm disseminadas compreensões mais abrangentes que nos
formal ou não formal. Na educação formal e, portanto, também permitam entender que o crescimento intelectual e afetivo não
no Ensino Médio, deve ser desenvolvida como uma prática se realizam sem um corpo, e que, enquanto uma das dimensões
educativa integrada, contínua e permanente sem que constitua do humano, tem sua concepção demarcada histórico
componente curricular específico. culturalmente. Desse modo, ao educador é imprescindível
tomar o educando nas suas múltiplas dimensões – intelectual,
6. Desafios do Ensino Médio social, física e emocional – e situá-las no âmbito do contexto
sociocultural em que educador e educando estão inseridos.
É preciso reconhecer que a escola se constitui no principal Tomar o educando em suas múltiplas dimensões tem como
espaço de acesso ao conhecimento sistematizado, tal como ele finalidade realizar uma educação que o conduza à autonomia,
foi produzido pela humanidade ao longo dos anos. Assegurar intelectual e moral.
essa possibilidade, garantindo a oferta de educação de Para o Ensino Médio, reconhecidos seu caráter de
qualidade para toda a população, é crucial para que a integrante da Educação Básica e seu necessário
possibilidade da transformação social seja concretizada. Neste asseguramento de oferta para todos, a própria LDB aponta
sentido, a educação escolar, embora não tenha autonomia para a possibilidade de ofertar distintas modalidades de
para, por si mesma, mudar a sociedade, é importante organização, inclusive a formação técnica, com o intuito de
estratégia de transformação, uma vez que a inclusão na tratar diferentemente os desiguais, conforme seus interesses e
sociedade contemporânea não se dá sem o domínio de necessidades, para que possam ser iguais do ponto de vista dos
determinados conhecimentos que devem ser assegurados a direitos.
todos. Desse modo, dentre os grandes desafios do Ensino Médio,
Com a perspectiva de um imenso contingente de está o de organizar formas de enfrentar a diferença de
adolescentes, jovens e adultos que se diferenciam por qualidade reinante nos diversos sistemas educacionais,
condições de existência e perspectivas de futuro desiguais, é garantindo uma escola de qualidade para todos. Além disso,
que o Ensino Médio deve trabalhar. Está em jogo a recriação também é desafio indicar alternativas de organização
da escola que, embora não possa por si só resolver as curricular que, com flexibilidade, deem conta do atendimento
desigualdades sociais, pode ampliar as condições de inclusão das diversidades dos sujeitos.
social, ao possibilitar o acesso à ciência, à tecnologia, à cultura
e ao trabalho.

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6.1 Função do Ensino Médio no marco legal enquanto Educação Básica. A formação geral do estudante em
torno dos fundamentos científico-tecnológicos, assim como
A Lei nº 9.394/96 (LDB), define que a educação escolar sua qualificação para o trabalho, sustentam-se nos princípios
brasileira está constituída em dois níveis: estéticos, éticos e políticos que inspiram a Constituição
Educação Básica (formada pela Educação Infantil, o Ensino Federal e a LDB. Nesse sentido, não é possível compreender a
Fundamental e o Ensino Médio) e Educação Superior. A tríplice intencionalidade expressa na legislação de forma
Educação Básica tem por finalidade desenvolver o educando, fragmentada e estanque. São finalidades que se entrecruzam
assegurar-lhe a formação comum indispensável para o umas nas outras, fornecendo para a escola o horizonte da ação
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no pedagógica, quando se vislumbram, também, as finalidades do
trabalho e em estudos posteriores. Ensino Médio explicitadas no art. 35, da LDB:
Cury considera o conceito de Educação Básica definido na Art. 35 O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica,
LDB um conceito novo e esclarece: com duração mínima de três anos, terá como finalidade:
A Educação Básica é um conceito mais do que inovador I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
para um país que por séculos, negou, de modo elitista e adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o
seletivo, a seus cidadãos o direito ao conhecimento pela ação prosseguimento de estudos;
sistemática da organização escolar. II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
Resulta daí que a Educação Infantil é a base da Educação educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
Básica, o Ensino Fundamental é o seu tronco e o Ensino Médio se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
é seu acabamento, e é de uma visão do todo como base que se aperfeiçoamento posteriores;
pode ter uma visão consequente das partes. III – o aprimoramento do educando como pessoa humana
A Educação Básica torna-se, dentro do art. 4º da LDB, um incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
direito do cidadão à educação e um dever do Estado em intelectual e do pensamento crítico;
atendê-lo mediante oferta qualificada. E tal o é por ser IV – a compreensão dos fundamentos científico-
indispensável, como direito social, a participação ativa e crítica tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
do sujeito, dos grupos a que ele pertença, na definição de uma com a prática, no ensino de cada disciplina.
sociedade justa e democrática. A LDB estabelece, portanto, que Estas finalidades legais do Ensino Médio definem a
o Ensino Médio é etapa que completa a Educação Básica (art. identidade da escola no âmbito de quatro indissociáveis
35), definindo-a como a conclusão de um período de funções, a saber:
escolarização de caráter geral. I – consolidação dos conhecimentos anteriormente
Trata-se de reconhecê-lo como parte de um nível de adquiridos;
escolarização que tem por finalidade o desenvolvimento do II – preparação do cidadão para o trabalho;
indivíduo, assegurando-lhe a formação comum indispensável III – implementação da autonomia intelectual e da
para o exercício da cidadania, fornecendo-lhe os meios para formação ética; e
progredir no trabalho e em estudos posteriores (art. 22). IV – compreensão da relação teoria e prática.
Segundo Saviani, a educação integral do homem, a qual deve A escola de Ensino Médio, com essa identidade legalmente
cobrir todo o período da Educação Básica que vai do delineada, deve levantar questões, dúvidas e críticas com
nascimento, com as creches, passa pela Educação Infantil, o relação ao que a instituição persegue, com maior ou menor
Ensino Fundamental e se completa com a conclusão do Ensino ênfase.
Médio por volta dos dezessete anos, é uma educação de caráter As finalidades educativas constituem um marco de
desinteressado que, além do conhecimento da natureza e da referência para fixar prioridades, refletir e desenvolver ações
cultura envolve as formas estéticas, a apreciação das coisas e em torno delas. Elas contribuem para a configuração da
das pessoas pelo que elas são em si mesmas, sem outro identidade da escola no lugar da homogeneização, da
objetivo senão o de relacionar-se com elas. uniformização. Kuenzer chama a atenção para as finalidades e
Ainda, segundo Cury, do ponto de vista legal, o Ensino os objetivos do Ensino Médio, que se resumem (…) no
Médio não é nem porta para a Educação Superior e nem chave compromisso de educar o jovem para participar política e
para o mercado de trabalho, embora seja requisito tanto para produtivamente do mundo das relações sociais concretas com
a graduação superior quanto para a profissionalização técnica. comportamento ético e compromisso político, através do
No contexto desta temática, consideram-se, na LDB, os desenvolvimento da autonomia intelectual e da autonomia
artigos 2º e 35. Um explicita os deveres, os princípios e os fins moral.
da educação brasileira; o outro trata das finalidades do Ensino A escola persegue finalidades. É importante ressaltar que
Médio. os profissionais da educação precisam ter clareza das
Diz o art. 2º: finalidades propostas pela legislação. Para tanto, há
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos necessidade de refletir sobre a ação educativa que a escola
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, desenvolve com base nas finalidades e os objetivos que ela
tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu define. Uma das principais tarefas da escola ao longo do
preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho. processo de elaboração do seu projeto político-pedagógico é o
Este artigo possibilita-nos afirmar que a finalidade da trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educativa.
educação é de tríplice natureza: O projeto político-pedagógico exige essa reflexão, assim
I – o pleno desenvolvimento do educando deve ser voltado como a explicitação de seu papel social, e a definição dos
para uma concepção teórico educacional que leve em conta as caminhos a serem percorridos e das ações a serem
dimensões: intelectual, afetiva, física, ética, estética, política, desencadeadas por todos os envolvidos com o processo
social e profissional; escolar.
II – o preparo para o exercício da cidadania centrado na
condição básica de ser sujeito histórico, social e cultural; 6.2 Identidade e diversificação no Ensino Médio
sujeito de direitos e deveres;
III – a qualificação para o trabalho fundamentada na Um dos principais desafios da educação consiste no
perspectiva de educação como um processo articulado entre estabelecimento do significado do Ensino Médio, que, em sua
ciência, tecnologia, cultura e trabalho. representação social e realidade, ainda não respondeu aos
O Ensino Médio corporifica a concepção de trabalho e objetivos que possam superar a visão dualista de que é mera
cidadania como base para a formação, configurando-se passagem para a Educação Superior ou para a inserção na vida

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econômico-produtiva. Esta superação significa uma formação em modelo hegemônico ou única vertente para o Ensino
integral que cumpra as múltiplas finalidades da Educação Médio, pois ela é uma opção para os que, por uma ou outra
Básica e, em especial, do Ensino Médio, completando a razão, a desejarem ou necessitarem.
escolaridade comum necessária a todos os cidadãos. Busca-se O Ensino Médio tem compromissos com todos os jovens.
uma escola que não se limite ao interesse imediato, pragmático Por isso, é preciso que a escola pública construa propostas
e utilitário, mas, sim, uma formação com base unitária, pedagógicas sobre uma base unitária necessariamente para
viabilizando a apropriação do conhecimento e todos, mas que possibilite situações de aprendizagem variadas
desenvolvimento de métodos que permitam a organização do e significativas, com ou sem profissionalização com ele
pensamento e das formas de compreensão das relações sociais diretamente articulada.
e produtivas, que articule trabalho, ciência, tecnologia e
cultura na perspectiva da emancipação humana. 6.4 Formação e condição docente
Frente a esse quadro, é necessário dar visibilidade ao
Ensino Médio no sentido da superação daquela dupla A perspectiva da educação como um direito e como um
representação histórica persistente na educação brasileira. processo formativo contínuo e permanente, além das novas
Nessa perspectiva, a última etapa da Educação Básica precisa determinações com vistas a atender novas orientações
assumir, dentro de seus objetivos, o compromisso de atender, educacionais, amplia as tarefas dos profissionais da educação,
verdadeiramente, a todos e com qualidade, a diversidade no que diz respeito às suas práticas. Exige-se do professor que
nacional com sua heterogeneidade cultural, de considerar os ele seja capaz de articular os diferentes saberes escolares à
anseios das diversas juventudes formadas por adolescentes e prática social e ao desenvolvimento de competências para o
jovens que acorrem à escola e que são sujeitos concretos com mundo do trabalho. Em outras palavras, a vida na escola e o
suas múltiplas necessidades. trabalho do professor tornam-se cada vez mais complexos.
Isso implica compreender a necessidade de adotar Como consequência, é necessário repensar a formação dos
diferentes formas de organização desta etapa de ensino e, professores para que possam enfrentar as novas e
sobretudo, estabelecer princípios para a formação do diversificadas tarefas que lhes são confiadas na sala de aula e
adolescente, do jovem e, também, da expressiva fração de além dela.
população adulta com escolaridade básica incompleta. Uma questão a ser discutida é a função docente e a
A definição da identidade do Ensino Médio como etapa concepção de formação que deve ser adotada nos cursos de
conclusiva da Educação Básica precisa ser iniciada mediante licenciatura. De um lado, há a defesa de uma concepção de
um projeto que, conquanto seja unitário em seus princípios e formação centrada no “fazer” enfatizando a formação prática
objetivos, desenvolva possibilidades formativas com desse profissional e, de outro, há quem defenda uma
itinerários diversificados que contemplem as múltiplas concepção centrada na “formação teórica” onde é enfatizada,
necessidades socioculturais e econômicas dos estudantes, sobretudo, a importância da ampla formação do professor.
reconhecendo-os como sujeitos de direitos no momento em A LDB, no Parágrafo único do art. 61, preconiza a
que cursam esse ensino. associação entre teorias e práticas ao estabelecê-la entre os
As instituições escolares devem avaliar as várias fundamentos da formação dos profissionais da educação, para
possibilidades de organização do Ensino Médio, garantindo a atender às especificidades do exercício das suas atividades,
simultaneidade das dimensões trabalho, ciência, tecnologia e bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades
cultura e contemplando as necessidades, anseios e aspirações da Educação Básica.
dos sujeitos e as perspectivas da realidade da escola e do seu As diretrizes indicadas no I Plano Nacional de Educação
meio. 2001-2010 deram uma ideia da amplitude das qualidades
esperadas dos professores:
6.3 Ensino Médio e profissionalização I – sólida formação teórica nos conteúdos específicos a
serem ensinados na Educação Básica, bem como nos
A identidade do Ensino Médio se define na superação do conteúdos especificamente pedagógicos;
dualismo entre propedêutico e profissional. Importa que se II – ampla formação cultural;
configure um modelo que ganhe uma identidade unitária para III – atividade docente como foco formativo;
esta etapa e que assuma formas diversas e contextualizadas da IV – contato com realidade escolar desde o início até o final
realidade brasileira. do curso, integrando a teoria à prática pedagógica;
No referente à profissionalização, a LDB, modificada pela V – pesquisa como princípio formativo;
Lei nº 11.741/2008, prevê formas de articulação entre o VI – domínio das novas tecnologias de comunicação e da
Ensino Médio e a Educação Profissional: a articulada informação e capacidade para integrá-las à prática do
(integrada ou concomitante) e a subsequente, atribuindo a magistério;
decisão de adoção às redes e instituições escolares. VII – análise dos temas atuais da sociedade, da cultura e da
A profissionalização nesta etapa da Educação Básica é uma economia;
das formas possíveis de diversificação, que atende a VIII – inclusão das questões de gênero e da etnia nos
contingência de milhares de jovens que têm o acesso ao programas de formação;
trabalho como uma perspectiva mais imediata. IX – trabalho coletivo interdisciplinar;
Parte desses jovens, por interesse ou vocação, almejam a X – vivência, durante o curso, de formas de gestão
profissionalização neste nível, seja para exercício profissional, democrática do ensino;
seja para conexão vertical em estudos posteriores de nível XI – desenvolvimento do compromisso social e político do
superior. magistério;
Outra parte, no entanto, a necessita para prematuramente XII – conhecimento e aplicação das Diretrizes Curriculares
buscar um emprego ou atuar em diferentes formas de Nacionais dos níveis e modalidades da Educação Básica.
atividades econômicas que gerem subsistência. Esta O CNE, em fins de 2001, definiu orientações gerais para
profissionalização no Ensino Médio responde a uma condição todos os cursos de formação de professores do país, pelo
social e histórica em que os jovens trabalhadores precisam Parecer CNE/CP nº 9/2001, com alteração dada pelo Parecer
obter uma profissão qualificada já no nível médio. CNE/CP nº 27/2001. Após homologação destes, foi editada a
Entretanto, se a preparação profissional no Ensino Médio Resolução CNE/CP nº 1/2002 que institui Diretrizes
é uma imposição da realidade destes jovens, representando Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da
importante alternativa de organização, não pode se constituir

Educação Brasileira 171


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Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de - Meta 16 Formar 50% dos professores da Educação Básica
graduação plena. em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos
Em 2008, considerando a persistência da notória carência formação continuada em sua área de atuação.
por professores com formação específica, o MEC propôs o - Meta 17 Valorizar o magistério público da Educação
Programa Emergencial de Segunda Licenciatura para Básica a fim de aproximar o rendimento médio do profissional
Professores da Educação Básica Pública, com o objetivo de do magistério com mais de onze anos de escolaridade do
enfrentar uma demanda já existente de professores rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade
licenciados, mas que atuam em componentes curriculares equivalente.
distintos de sua formação inicial. O CNE, por meio do Parecer - Meta 18 Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de
CNE/CP nº 8/2008 e da Resolução CNE/CP nº 1/2009, planos de carreira para os profissionais do magistério em
estabeleceu Diretrizes Operacionais para a implantação desse todos os sistemas de ensino.
Programa, a ser coordenado pelo MEC em regime de Levar adiante uma política nacional de formação e
colaboração com os sistemas de ensino e realizado por condição docente pode ser considerado um grande desafio na
instituições públicas de Educação Superior. medida em que tal perspectiva implica a priorização da
A implantação de uma política efetiva de formação de educação e formação de professores como política pública de
docentes para o Ensino Médio constitui-se um grande desafio. Estado, superando, desse modo, a redução desse debate às
Um caminho para efetivação dessa política pública foi diferentes iniciativas governamentais nem sempre
sinalizado no Decreto n° 6.755/2009, que estabelece os convergentes.
seguintes objetivos para a Política Nacional de Formação de Destaque-se, por fim, que a discussão sobre a formação de
Professores: professores não pode ser dissociada da valorização
I – promover a melhoria da qualidade da Educação Básica profissional, tanto no que diz respeito a uma remuneração
pública; mais digna, quanto à promoção da adequação e melhoria das
II – apoiar a oferta e a expansão de cursos de formação condições de trabalho desses profissionais.
inicial e continuada a profissionais do magistério pelas
instituições públicas de Educação Superior; 6.5 Gestão democrática
III – promover a equalização nacional das oportunidades
de formação inicial e continuada dos professores do O currículo da Educação Básica e, portanto, do Ensino
magistério em instituições públicas de Educação Superior; Médio, exige a estruturação de um projeto educativo coerente,
IV – identificar e suprir a necessidade das redes e sistemas articulado e integrado de acordo com os modos de ser e de se
públicos de ensino por formação inicial e continuada de desenvolver dos estudantes nos diferentes contextos sociais.
profissionais do magistério; Ciclos, séries, módulos e outras formas de organização a que
V – promover a valorização do docente, mediante ações de se refere a LDB são compreendidos como tempos e espaços
formação inicial e continuada que estimulem o ingresso, a interdependentes e articulados entre si ao longo dos anos de
permanência e a progressão na carreira; duração dessa etapa educacional.
VI – ampliar o número de docentes atuantes na Educação Ao empenhar-se em garantir aos estudantes uma educação
Básica pública que tenham sido licenciados em instituições de qualidade, todas as atividades da escola e a sua gestão
públicas de ensino superior, preferencialmente na modalidade devem estar articuladas para esse propósito. O processo de
presencial; organização das turmas de estudantes, a distribuição de
VII – ampliar as oportunidades de formação para o turmas por professor, as decisões sobre o currículo, a escolha
atendimento das políticas de Educação Especial, Alfabetização dos livros didáticos, a ocupação do espaço, a definição dos
e Educação de Jovens e Adultos, Educação Indígena, Educação horários e outras tarefas administrativas e/ou pedagógicas
do Campo e de populações em situação de risco e precisam priorizar o atendimento dos interesses e
vulnerabilidade social; necessidades dos estudantes, e a gestão democrática é um dos
VIII – promover a formação de professores na perspectiva fatores decisivos para assegurar a todos eles o direito ao
da educação integral, dos direitos humanos, da conhecimento.
sustentabilidade ambiental e das relações étnico-raciais, com O projeto político-pedagógico da escola traduz a proposta
vistas à construção de ambiente escolar inclusivo e educativa construída pela comunidade escolar no exercício de
cooperativo; sua autonomia, com base no diagnóstico dos estudantes e nos
IX – promover a atualização teórico-metodológica nos recursos humanos e materiais disponíveis, sem perder de vista
processos de formação dos profissionais do magistério, as orientações curriculares nacionais e as orientações dos
inclusive no que se refere ao uso das tecnologias de respectivos sistemas de ensino. É muito importante que haja
comunicação e informação nos processos educativos; uma ampla participação dos profissionais da escola, da família,
X – promover a integração da Educação Básica com a dos estudantes e da comunidade local na definição das
formação inicial docente, assim como reforçar a formação orientações imprimidas nos processos educativos. Este
continuada como prática escolar regular que responda às projeto deve ser apoiado por um processo contínuo de
características culturais e sociais regionais. avaliação que permita corrigir os rumos e incentivar as boas
O Projeto de Lei que propõe o II Plano Nacional de práticas.
Educação, para o decênio 2011-2020, prevê, entre suas Diferentemente da ideia de texto burocrático, como muitas
diretrizes, a valorização dos profissionais da educação, o que vezes ocorre nas escolas, o projeto político-pedagógico é o
inclui o fortalecimento da formação inicial e continuada dos instrumento facilitador da gestão democrática. Quando a
docentes. Destacam-se metas que dizem respeito diretamente escola não discute o seu projeto político-pedagógico ou o faz
à essa valorização: apenas de uma forma burocrática, os professores
desenvolvem trabalhos isolados que, em geral, têm baixa
- Meta 15 Garantir, em regime de colaboração entre a eficiência.
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, que todos O desenvolvimento de todo o processo democrático
os professores da Educação Básica possuam formação depende, em muito, dos gestores dos sistemas, das redes e de
específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na cada escola, aos quais cabe criar as condições e estimular sua
área de conhecimento em que atuam. efetivação, o que implica em que sejam escolhidos e
designados atendendo a critérios técnicos de mérito e de
desempenho e à participação da comunidade escolar.

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Cabe lembrar que a gestão democrática do ensino público planejamento curricular. É preciso considerá-lo um sujeito
é um dos princípios em que se baseia o ensino, conforme com todas as suas necessidades e potencialidades, que tem
determina o inciso VIII do art. 3º da LDB, completado pelo seu uma vivência cultural e é capaz de construir a sua identidade
art. 14: pessoal e social.
Art. 3º (…) Como sujeitos de direitos, os estudantes devem tomar
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma parte ativa nas discussões para a definição das regras da
desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino. escola, sendo estimulados à auto-organização e devem ter
Art. 14 Os sistemas de ensino definirão as normas da acesso a mecanismos que permitam se manifestar sobre o que
gestão democrática do ensino público na Educação Básica, de gostam e o que não gostam na escola e a respeito da escola a
acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes que aspiram.
princípios: A descentralização de recursos, por outro lado, é
I – participação dos profissionais da educação na fundamental para o exercício da autonomia das escolas
elaboração do projeto pedagógico da escola; públicas. Por isso é necessário que a comunidade escolar, e
II – participação das comunidades escolar e local em necessariamente aqueles que ocupam os cargos de direção,
conselhos escolares ou equivalentes. dominem os processos administrativos e financeiros exigidos
Embora na LDB a gestão democrática apareça por lei. Isso evita o uso indevido dos recursos. Todos esses
especificamente como orientação para o ensino público, ela processos requerem qualificação da comunidade escolar.
está indicada, implicitamente, para todas as instituições
educacionais nos arts.12 e 13, entre as quais as instituições 6.6 Avaliação do Ensino Médio
privadas, que não devem se furtar ao processo, sob pena de
contrariarem os valores democráticos e participativos que As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
presidem nossa sociedade. Educação Básica indicam três dimensões básicas de avaliação:
A institucionalização da participação é necessária, com avaliação da aprendizagem, avaliação institucional interna e
especial destaque para a constituição de conselhos escolares externa e avaliação de redes de Educação Básica.
ou equivalentes, indicados no inciso II do art. 14, com atuação A avaliação da aprendizagem, que conforme a LDB pode
permanente, garantindo a constância do processo ser adotada com vistas à promoção, aceleração de estudos e
democrático na unidade de ensino. classificação, deve ser desenvolvida pela escola refletindo a
Outro elemento necessário para a gestão democrática, com proposta expressa em seu projeto político-pedagógico.
previsão de direitos e deveres dos sujeitos comprometidos Importante observar que a avaliação da aprendizagem deve
com a unidade educacional, é o seu regimento escolar. Convém assumir caráter educativo, viabilizando ao estudante a
que este possa assegurar à escola as condições institucionais condição de analisar seu percurso e, ao professor e à escola,
adequadas para a execução do projeto político-pedagógico e a identificar dificuldades e potencialidades individuais e
oferta de uma educação inclusiva e com qualidade social. A coletivas.
elaboração do regimento deve ser feita de forma a garantir A avaliação institucional interna é realizada a partir da
ampla participação da comunidade escolar. É essa proposta pedagógica da escola, assim como do seu plano de
participação da comunidade que pode dar protagonismo aos trabalho, que devem ser avaliados sistematicamente, de
estudantes e voz a suas famílias, criando oportunidades maneira que a instituição possa analisar seus avanços e
institucionais para que todos os segmentos majoritários da localizar aspectos que merecem reorientação.
população, que encontram grande dificuldade de se fazerem A Emenda Constitucional nº 59/2009, ao assegurar o
ouvir e de fazerem valer seus direitos, possam manifestar os atendimento da população de 4 aos 17 anos de idade, com
seus anseios e expectativas e possam ser levados em conta, oferta gratuita determina um salto significativo no processo de
tendo como referência a oferta de um ensino com qualidade democratização do ensino, garantindo não só o atendimento
para todos. para aqueles matriculados na idade tida como regular para a
A experiência mostra que é possível alcançar melhorias escolarização, como para aqueles que se encontram em
significativas da qualidade de ensino desenvolvendo boas defasagem idade-tempo de organização escolar ou afastados
práticas, adequadas à situação da comunidade de cada escola. da escola.
Em outras palavras, existem diferentes caminhos para se O esforço necessário para cumprir tais objetivos exige mais
desenvolver uma educação de qualidade social, embora todas do que investimentos em infraestrutura e recursos materiais e
elas passem pelo compromisso da comunidade e da escola. humanos. E necessário estabelecer ações no sentido de definir
Sempre que, por intermédio do desenvolvimento de um orientações e práticas pedagógicas que garantam melhor
projeto educativo democrático e compartilhado, os aproveitamento, com atenção especial para aqueles grupos
professores, a direção, os funcionários, os estudantes e a que até então estavam excluídos do Ensino Médio.
comunidade unem seus esforços, a escola chega mais perto da Um dos aspectos que deve estar presente em tais
escola de qualidade que zela pela aprendizagem, conforme o orientações é o acompanhamento sistêmico do processo de
inciso III do art. 13 da LDB. escolarização, viabilizando ajustes e correções de percurso,
Além da organização das escolas, é necessário tratar da bem como o estabelecimento de políticas e programas que
organização dos sistemas de ensino, os quais devem, concretizem a proposta de universalização da Educação
obrigatoriamente, nortear-se por Planos de Educação, sejam Básica.
estaduais, sejam municipais. A obrigação destes planos, A avaliação de redes de ensino é responsabilidade do
lamentavelmente, não vem sendo cumprida por todos os entes Estado, seja realizada pela União, seja pelos demais entes
federados, sendo que o Projeto de Lei do II Plano Nacional de federados. Em âmbito nacional, no Ensino Médio, ela está
Educação para o decênio 2011-2020 reafirma esta contemplada no Sistema de Avaliação da Educação Básica
necessidade, em seu art. 8º. (SAEB), que informa sobre os resultados de aprendizagem
Os órgãos gestores devem contribuir e apoiar as escolas estruturados no campo da Língua Portuguesa e da Matemática,
nas tarefas de organização dos seus projetos na busca da lembrando-se o Índice de Desenvolvimento da Educação
melhoria da qualidade da educação, embora se saiba que a Básica (IDEB), que mede a qualidade de cada escola e rede,
vontade da comunidade escolar é um fator determinante para com base no desempenho do estudante em avaliações do
que esse sucesso seja alcançado. Nenhum esforço é vitorioso Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira
se não for focado no sucesso do estudante. Por isso, o projeto (INEP) e em taxas de aprovação.
político-pedagógico deve colocar o estudante no centro do

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Para tratar das exigências relacionadas com o Ensino educacional, representa mais do que um documento, sendo um
Médio, além do cumprimento do SAEB, o Ministério da dos meios de viabilizar a escola democrática para todos e de
Educação vem trabalhando no aperfeiçoamento do Exame qualidade social.
Nacional do Ensino Médio (ENEM) que, gradativamente, Continua o citado Parecer indicando que a autonomia da
assume funções com diferentes especificidades estratégicas instituição educacional baseia-se na busca de sua identidade,
para estabelecer procedimentos voltados para a que se expressa na construção de seu projeto político-
democratização do ensino e ampliação do acesso a níveis pedagógico e do seu regimento escolar, enquanto
crescentes de escolaridade. Neste sentido, este exame manifestação de seu ideal de educação e que permite uma nova
apresenta hoje os seguintes objetivos, conforme art. 2º da e democrática ordenação pedagógica das relações escolares.
Portaria nº 109/2009: Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de seus
I – oferecer uma referência para que cada cidadão possa sujeitos, articular a formulação do projeto político-pedagógico
proceder à sua auto avaliação com vistas às suas escolhas com os Planos de Educação nacional, estadual e/ou municipal,
futuras, tanto em relação ao mundo do trabalho quanto em o contexto em que a escola se situa e as necessidades locais e
relação à continuidade de estudos; de seus estudantes.
II – estruturar uma avaliação ao final da Educação Básica A proposta educativa da unidade escolar, o papel
que sirva como modalidade alternativa ou complementar aos socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, as questões de
processos de seleção nos diferentes setores do mundo do gênero, etnia e diversidade cultural que compõem as ações
trabalho; educativas, a organização e a gestão curricular são
III – estruturar uma avaliação ao final da Educação Básica componentes integrantes do projeto político-pedagógico,
que sirva como modalidade alternativa ou complementar a devendo ser previstas as prioridades institucionais que a
processos seletivos de acesso aos cursos de Educação identificam, definindo o conjunto das ações educativas
Profissional e Tecnológica posteriores ao Ensino Médio e à próprias das etapas da Educação Básica assumidas, de acordo
Educação Superior; com as especificidades que lhes correspondam, preservando a
IV – possibilitar a participação e criar condições de acesso sua articulação sistêmica.
a programas governamentais; Segundo o art. 44 da Resolução CNE/CEB n° 4/2010, o
V – promover a certificação de jovens e adultos no nível de projeto político-pedagógico, instância de construção coletiva
conclusão do Ensino Médio nos termos do art. 38, §§ 1º e 2º da que respeita os sujeitos das aprendizagens, entendidos como
Lei nº 9.394/96 (LDB); cidadãos com direitos à proteção e à participação social, deve
VI – promover avaliação do desempenho acadêmico das contemplar:
escolas de Ensino Médio, de forma que cada unidade escolar I – o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do
receba o resultado global; processo educativo, contextualizados no espaço e no tempo;
VII – promover avaliação do desempenho acadêmico dos II – a concepção sobre educação, conhecimento, avaliação
estudantes ingressantes nas Instituições de Educação da aprendizagem e mobilidade escolar;
Superior. III – o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adultos –
Assim, cada um destes objetivos delineia o que justificam e instituem a vida da e na escola, do ponto de
aprofundamento de uma função do ENEM: vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconômico,
I – avaliação sistêmica, que tem como objetivo subsidiar as como base da reflexão sobre as relações vida conhecimento-
políticas públicas para a Educação Básica; cultura, professor-estudante e instituição escolar;
II – avaliação certificatória, que proporciona àqueles que IV – as bases norteadoras da organização do trabalho
estão fora da escola aferir os conhecimentos construídos no pedagógico;
processo de escolarização ou os conhecimentos tácitos V – a definição de qualidade das aprendizagens e, por
construídos ao longo da vida; consequência, da escola, no contexto das desigualdades que se
III – avaliação classificatória, que contribui para o acesso refletem na escola;
democrático à Educação Superior. VI – os fundamentos da gestão democrática, compartilhada
Nesse caminho, o ENEM vem ampliando o espectro de e participativa (órgãos colegiados e de representação
atendimento apresentando um crescimento que veio de estudantil);
156.000 inscritos e já ultrapassou 4,6 milhões. VII – o programa de acompanhamento de acesso, de
À medida que se garantir participação de amostragem permanência dos estudantes e de superação da retenção
expressiva do sistema, incluindo diferentes segmentos escolar;
escolares, se estará aproximando de uma percepção mais fiel VIII – o programa de formação inicial e continuada dos
do sistema, na perspectiva do direito dos estudantes. Nesse profissionais da educação, regentes e não regentes;
sentido, deve manter-se alinhado com estas Diretrizes e com IX – as ações de acompanhamento sistemático dos
as expectativas de aprendizagem a serem elaboradas. resultados do processo de avaliação interna e externa (SAEB,
O INEP deve continuar desenvolvendo metodologia Prova Brasil, dados estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da
adequada no sentido de alcançar esta multifuncionalidade do Educação Básica), incluindo dados referentes ao Índice de
sistema de avaliação. Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou que
complementem ou substituam os desenvolvidos pelas
7. Projeto político-pedagógico e organização curricular unidades da federação e outros;
X – a concepção da organização do espaço físico da
7.1. Projeto político-pedagógico instituição escolar de tal modo que este seja compatível com
as características de seus sujeitos, que atenda as normas de
As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a acessibilidade, além da natureza e das finalidades da educação,
Educação Básica (Parecer CNE/CEB no 7/2010 e Resolução deliberadas e assumidas pela comunidade educacional.
CNE/CEB n° 4/2010) tratam pertinentemente do projeto O primeiro fundamento para a formulação do projeto
político-pedagógico, já referido várias vezes neste Parecer, político-pedagógico de qualquer escola ou rede de ensino é a
como elemento constitutivo para a operacionalização da sua construção coletiva. O projeto político-pedagógico só
Educação Básica e, portanto, do Ensino Médio. existe de fato – não como um texto formal, mas como
Segundo o Parecer CNE/CEB n° 7/2010, o projeto político- expressão viva de concepções, princípios, finalidades,
pedagógico, interdependentemente da autonomia pedagógica, objetivos e normas que orientam a comunidade escolar – se ele
administrativa e de gestão financeira da instituição resultar do debate e reflexão do grupo que compõe a formação

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destes espaços (escola ou rede de ensino). Nesse contexto, XI – avaliação da aprendizagem, com diagnóstico
identifica-se a necessidade do grupo comprometer-se com preliminar, e entendida como processo de caráter formativo,
esse projeto e sentindo-se autores e sujeitos de seu permanente e cumulativo;
desenvolvimento. XII – acompanhamento da vida escolar dos estudantes,
Sua construção e efetivação na escola ocorrem em um promovendo o seguimento do desempenho, análise de
contexto concreto desta instituição, de sua organização resultados e comunicação com a família;
escolar, relação com a comunidade, condições econômicas e XIII – atividades complementares e de superação das
realidade cultural, entre outros aspectos. Por isso, trata-se de dificuldades de aprendizagem para que o estudante tenha
um processo político, tanto quanto pedagógico, pois ocorre em sucesso em seus estudos;
meio a conflitos, tensões e negociações que desafiam o XIV – reconhecimento e atendimento da diversidade e
exercício da democracia na escola. Em decorrência, a diferentes nuances da desigualdade, da diversidade e da
construção desse projeto é essencial e necessariamente exclusão na sociedade brasileira;
coletiva. XV – valorização e promoção dos Direitos humanos
O projeto político-pedagógico aponta um rumo, uma mediante temas relativos a gênero, identidade de gênero, raça
direção, mas, principalmente, um sentido específico para um e etnia, religião, orientação sexual, pessoas com deficiência,
compromisso estabelecido coletivamente. O projeto, ao se entre outros, bem como práticas que contribuam para a
constituir em processo participativo de decisões, preocupa-se igualdade e para o enfrentamento de todas as formas de
em instaurar uma forma de organização do trabalho preconceito, discriminação e violência sob todas as formas;
pedagógico que desvele os conflitos, as contradições, XVI – análise e reflexão crítica da realidade brasileira, de
buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e sua organização social e produtiva na relação de
autoritárias, rompendo com a rotina do mando pessoal e complementaridade entre espaços urbanos e do campo;
racionalizado da burocracia e permitindo as relações XVII – estudo e desenvolvimento de atividades
horizontais no interior da escola. socioambientais, conduzindo a educação ambiental como uma
O projeto político-pedagógico exige um compromisso prática educativa integrada, contínua e permanente;
ético-político de adequação intencional entre o real e o ideal, XVIII – práticas desportivas e de expressão corporal, que
assim como um equilíbrio entre os interesses individuais e contribuam para a saúde, a sociabilidade e a cooperação;
coletivos. XIX – atividades intersetoriais, entre outras, de promoção
A abordagem do projeto político-pedagógico, como da saúde física e mental, saúde sexual e saúde reprodutiva, e
organização do trabalho de toda a escola, está fundamentada prevenção do uso de drogas;
em princípios que devem nortear a escola democrática, entre XX – produção de mídias nas escolas a partir da promoção
os quais, liberdade, solidariedade, pluralismo, igualdade, de atividades que favoreçam as habilidades de leitura e análise
qualidade da oferta, transparência, participação. do papel cultural, político e econômico dos meios de
Com fundamento no princípio do pluralismo de ideias e de comunicação na sociedade;
concepções pedagógicas e no exercício de sua autonomia, o XXI – participação social e protagonismo dos estudantes,
projeto político-pedagógico deve traduzir a proposta como agentes de transformação de suas unidades escolares e
educativa construída coletivamente, garantida a participação de suas comunidades;
efetiva da comunidade escolar e local, bem como a permanente XXII – condições materiais, funcionais e didático-
construção da identidade entre a escola e o território no qual pedagógicas, para que os profissionais da escola efetivem as
está inserida. proposições do projeto.
Concretamente, o projeto político-pedagógico das O projeto político-pedagógico das unidades escolares deve,
unidades escolares que ofertam o Ensino Médio deve ainda, orientar:
considerar: I – dispositivos, medidas e atos de organização do trabalho
I – atividades integradoras artístico-culturais, escolar;
tecnológicas, e de iniciação científica, vinculadas ao trabalho, II – mecanismos de promoção e fortalecimento da
ao meio ambiente e à prática social; autonomia escolar, mediante a alocação de recursos
II – problematização como instrumento de incentivo à financeiros, administrativos e de suporte técnico necessários à
pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao desenvolvimento sua realização;
do espírito inventivo; III – adequação dos recursos físicos, inclusive organização
III – a aprendizagem como processo de apropriação dos espaços, equipamentos, biblioteca, laboratórios e outros
significativa dos conhecimentos, superando a aprendizagem ambientes educacionais.
limitada à memorização;
IV – valorização da leitura e da produção escrita em todos 7.2. Currículo e trabalho pedagógico
os campos do saber;
V – comportamento ético, como ponto de partida para o O currículo é entendido como a seleção dos conhecimentos
reconhecimento dos Direitos humanos, da cidadania, da historicamente acumulados, considerados relevantes e
responsabilidade socioambiental e para a prática de um pertinentes em um dado contexto histórico, e definidos tendo
humanismo contemporâneo expresso pelo reconhecimento, por base o projeto de sociedade e de formação humana que a
respeito e acolhimento da identidade do outro e pela ele se articula; se expressa por meio de uma proposta pela qual
incorporação da solidariedade; se explicitam as intenções da formação, e se concretiza por
VI – articulação teoria e prática, vinculando o trabalho meio das práticas escolares realizadas com vistas a dar
intelectual às atividades práticas ou experimentais; materialidade a essa proposta.
VII – integração com o mundo do trabalho por meio de Os conhecimentos escolares são reconhecidos como
estágios de estudantes do Ensino Médio conforme legislação aqueles produzidos pelos homens no processo histórico de
específica; produção de sua existência material e imaterial, valorizados e
VIII – utilização de diferentes mídias como processo de selecionados pela sociedade e pelas escolas que os organizam
dinamização dos ambientes de aprendizagem e construção de a fim de que possam ser ensinados e aprendidos, tornando-se
novos saberes; elementos do desenvolvimento cognitivo do estudante, bem
IX – capacidade de aprender permanente, desenvolvendo como de sua formação ética, estética e política.
a autonomia dos estudantes; Para compreender a dinâmica do trabalho pedagógico
X – atividades sociais que estimulem o convívio humano; escolar a partir do currículo, é necessário que se tome como

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referência a cultura escolar consolidada, isto é, as práticas método de trabalho centrado nos estudos, nas discussões, no
curriculares já vivenciadas, os códigos e modos de organização diálogo que não apenas problematiza, mas também propõe,
produzidos, sem perder de vista que esse trabalho se articula fortalecendo a ação conjunta que busca, nos movimentos
ao contexto sócio-histórico-cultural mais amplo e guarda com sociais, elementos para criar e recriar o trabalho da e na
ele estreitas relações. escola” (Parecer CNE/CEB nº 7/2010).
Falar em currículo implica em duas dimensões: Nesse sentido, ressalta-se a inter-relação entre projeto
I – uma dimensão prescritiva, na qual se explicitam as político-pedagógico, currículo, trabalho pedagógico e,
intenções e os conteúdos de formação, que constitui o concretamente, condição e jornada dos professores.
currículo prescritivo ou formal; e Reitera-se, com base na legislação concernente ao Ensino
II – uma dimensão não explícita, constituída por relações Médio, o quanto os princípios adotados e as finalidades
entre os sujeitos envolvidos na prática escolar, tanto nos perseguidas precisam nortear as decisões tomadas no âmbito
momentos formais, como informais das suas atividades e nos do currículo, compreendido esse como o conjunto de
quais trocam ideias e valores, constituindo o currículo oculto, experiências escolares que se desdobram a partir do
mesmo que não tenha sido pré-determinado ou intencional. conhecimento, em meio às relações sociais que se travam nos
Ambas as dimensões geram uma terceira, real, que espaços institucionais, e que afetam a construção das
concretiza o currículo vivo ou em ação, que adquire identidades dos estudantes.
materialidade a partir das práticas formais prescritas e das Currículo tem a ver com os esforços pedagógicos
informais espontâneas vivenciadas nas salas de aula e nos desdobrados na escola, visando a organizar e a tornar efetivo
demais ambientes da escola. o processo educativo que conforma a última etapa da
O conhecimento é a “matéria prima” do trabalho Educação Básica. Expressa, assim, o projeto político-
pedagógico escolar. Dada sua condição de ser produto pedagógico institucional, discutido e construído pelos
histórico-cultural, isto é, de ser produzido e elaborado pelos profissionais e pelos sujeitos diretamente envolvidos no
homens por meio da interação que travam entre si, no intuito planejamento e na materialização do percurso escolar.
de encontrar respostas aos mais diversificados desafios que se Pode-se afirmar a importância de se considerar, na
interpõem entre eles e a produção da sua existência material e construção do currículo do Ensino Médio, os sujeitos e seus
imaterial, o conhecimento articula-se com os mais variados saberes, necessariamente respeitados e acolhidos nesse
interesses. Na medida em que a produção, elaboração e currículo. O diálogo entre saberes precisa ser desenvolvido, de
disseminação do conhecimento não são neutras, planejar a modo a propiciar a todos os estudantes o acesso ao
ação educativa, melhor definindo, educar é uma ação política indispensável para a compreensão das diferentes realidades
que envolve posicionamentos e escolhas articulados com os no plano da natureza, da sociedade, da cultura e da vida.
modos de compreender e agir no mundo. Assume importância, nessa perspectiva, a promoção de um
O trabalho pedagógico ganha materialidade nas ações: no amplo debate sobre a natureza da produção do conhecimento.
planejamento da escola em geral e do currículo em particular, Ou seja, o que se está defendendo é como inserir no currículo,
no processo de ensinar e aprender e na avaliação do trabalho o diálogo entre os saberes.
realizado, seja com relação a cada estudante individualmente Mais do que o acúmulo de informações e conhecimentos,
ou ao conjunto da escola. No que se refere à avaliação, muito há que se incluir no currículo um conjunto de conceitos e
se tem questionado sobre seus princípios e métodos. Vale categorias básicas. Não se pretende, então, oferecer ao
ressaltar a necessidade de que a avaliação ultrapasse o sentido estudante um currículo enciclopédico, repleto de informações
de mera averiguação do que o estudante aprendeu, e torne-se e de conhecimentos, formado por disciplinas isoladas, com
elemento chave do processo de planejamento educacional. fronteiras demarcadas e preservadas, sem relações entre si. A
O planejamento educacional, assim como o currículo e a preferência, ao contrário, é que se estabeleça um conjunto
avaliação na escola, enquanto componentes da organização do necessário de saberes integrados e significativos para o
trabalho pedagógico, estão circunscritos fortemente a esse prosseguimento dos estudos, para o entendimento e ação
caráter de não neutralidade, de ação intencional condicionada crítica acerca do mundo.
pela subjetividade dos envolvidos, marcados, enfim, pelas Associado à integração de saberes significativos, há que se
distintas visões de mundo dos diferentes atores do processo evitar a prática, ainda frequente, de um número excessivo de
educativo escolar. Desse modo, o trabalho pedagógico define- componentes em cada tempo de organização do curso,
se em sua complexidade, e não se submete plenamente ao gerando não só fragmentação como o seu congestionamento.
controle. No entanto, isso não se constitui em limite ou Além de uma seleção criteriosa de saberes, em termos de
problema, mas indica que se está diante da riqueza do quantidade, pertinência e relevância, e de sua equilibrada
processo de formação humana, e diante, também, dos desafios distribuição ao longo dos tempos de organização escolar, vale
que a constituição dessa formação, sempre histórica, impõe. possibilitar ao estudante as condições para o desenvolvimento
O currículo possui caráter polissêmico e orienta a da capacidade de busca autônoma do conhecimento e formas
organização do processo educativo escolar. de garantir sua apropriação. Isso significa ter acesso a diversas
Suas diferentes concepções, com maior ou menor ênfase, fontes, de condições para buscar e analisar novas referências
refletem a importância de componentes curriculares, tais e novos conhecimentos, de adquirir as habilidades mínimas
como os saberes a serem ensinados e aprendidos; as situações necessárias à utilização adequada das novas tecnologias da
e experiências de aprendizagem; os planos e projetos informação e da comunicação, assim como de dominar
pedagógicos; as finalidades e os objetivos a serem alcançados, procedimentos básicos de investigação e de produção de
bem como os processos de avaliação a serem adotados. Em conhecimentos científicos. É precisamente no aprender a
todas essas perspectivas é notável o propósito de se organizar aprender que deve se centrar o esforço da ação pedagógica,
e de se tornar a educação escolar mais eficiente, por meio de para que, mais que acumular conteúdos, o estudante
ações pedagógicas coletivamente planejadas. desenvolva a capacidade de aprender, de pesquisar e de
O planejamento coletivo promove “a conquista da buscar e (re)construir conhecimentos.
cidadania plena, mediante a compreensão do significado social Por se desejar que as experiências de aprendizagem
das relações de poder que se reproduzem no cotidiano da venham a tocar os estudantes, afetando sua formação, mostra-
escola, nas relações entre os profissionais da educação, o se indispensável a promoção de um ambiente democrático em
conhecimento, as famílias e os estudantes, bem assim, entre que as relações entre estudantes e docentes e entre os
estes e o projeto político-pedagógico, na sua concepção próprios estudantes se caracterizem pelo respeito aos outros
coletiva que dignifica as pessoas, por meio da utilização de um e pela valorização da diversidade e da diferença.

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Faz-se imprescindível uma seleção de saberes e o processo de construção do conhecimento escolar pode, de
conhecimentos significativos, capazes de se conectarem aos modo mais acurado, distinguir em que momento os
que o estudante já tenha apreendido e que, além disso, tenham mecanismos implicados nesse processo favorecem ou
sentido para ele, toquem-no intensamente, como propõe dificultam as atividades docentes. Ou seja, a compreensão de
Larrosa, e, ainda, contribuam para formar identidades como se constitui os conhecimentos escolares e saberes é um
pautadas por autonomia, solidariedade e participação na fator que facilita tanto o planejamento quanto o
sociedade. desdobramento do próprio processo pedagógico.
Nesse sentido, deve ser levado em conta o que os
estudantes já sabem, o que eles gostariam de aprender e o que 7.3. Organização curricular do Ensino Médio
se considera que precisam aprender.
Nessa perspectiva, são também importantes metodologias Toda ação educativa é intencional. Daí decorre que todo
de ensino inovadoras, distintas das que se encontram nas salas processo educativo fundamenta-se em pressupostos e
de aula mais tradicionais e que, ao contrário dessas, ofereçam finalidades, não havendo neutralidade possível nesse
ao estudante a oportunidade de uma atuação ativa, processo. Ao determinar as finalidades da educação, quem o
interessada e comprometida no processo de aprender, que faz tem por base uma visão social de mundo, que orienta a
incluam não só conhecimentos, mas, também, sua reflexão bem como as decisões tomadas.
contextualização, experimentação, vivências e convivência em O planejamento curricular passa a ser compreendido de
tempos e espaços escolares e extraescolares, mediante aulas e forma estreitamente vinculada às relações que se produzem
situações diversas, inclusive nos campos da cultura, do esporte entre a escola e o contexto histórico-cultural em que a
e do lazer. educação se realiza e se institui, como um elemento, portanto,
Do professor, espera-se um desempenho competente, integrador entre a escola e a sociedade.
capaz de estimular o estudante a colaborar e a interagir com As decisões sobre o currículo resultam de um processo
seus colegas, tendo-se em mente que a aprendizagem, para seletivo, fazendo-se necessário que a escola tenha claro quais
bem ocorrer, depende de um diálogo produtivo com o outro. critérios orientam esse processo de escolha.
Cabe enfatizar, neste momento, que os conhecimentos e os O currículo não se limita ao caráter instrumental,
saberes trabalhados por professores e estudantes, assumem assumindo condição de conferir materialidade às ações
contornos e características específicas, constituindo o que se politicamente definidas pelos sujeitos da escola. Para
tem denominado de conhecimento escolar. concretizar o currículo, essa perspectiva toma, ainda, como
O conhecimento escolar apresenta diferenças em relação principais orientações os seguintes pontos:
aos conhecimentos que lhe serviram de referência, aos quais I – a ação de planejar implica na participação de todos os
se associa intimamente, mas dos quais se distingue com elementos envolvidos no processo;
bastante nitidez. II – a necessidade de se priorizar a busca da unidade entre
Os conhecimentos escolares provêm de saberes histórica e teoria e prática;
socialmente formulados nos âmbitos de referência dos III – o planejamento deve partir da realidade concreta e
currículos. Segundo Terigi, tais âmbitos de referência podem estar voltado para atingir as finalidades legais do Ensino
ser considerados como correspondendo aos seguintes Médio e definidas no projeto coletivo da escola;
espaços: IV – o reconhecimento da dimensão social e histórica do
I – instituições produtoras de conhecimento científico trabalho docente.
(universidades e centros de pesquisa); Como proporcionar, por outro lado, compreensões globais,
II – mundo do trabalho; totalizantes da realidade a partir da seleção de componentes e
III – desenvolvimentos tecnológicos; conteúdos curriculares? Como orientar a seleção de conteúdos
IV – atividades desportivas e corporais; no currículo?
V – produção artística; A resposta a tais perguntas implica buscar relacionar
VI – campo da saúde; partes e totalidade. Segundo Kosik, cada fato ou conjunto de
VII – formas diversas de exercício da cidadania; fatos, na sua essência, reflete toda a realidade com maior ou
VIII – movimentos sociais. menor riqueza ou completude. Por esta razão, é possível que
um fato contribua mais que outro na explicitação do real.
Nesses espaços são produzidos e selecionados Assim, a possibilidade de se conhecer a totalidade a partir das
conhecimentos e saberes dos quais derivam os escolares. partes é dada pela possibilidade de se identificar os fatos ou
Esses conhecimentos são escolhidos e preparados para conjunto de fatos que esclareçam sobre a essência do real.
compor o currículo formal e para configurar o que deve ser Outros aspectos a serem considerados estão relacionados com
ensinado e aprendido. a distinção entre o que é essencial e acessório, assim como o
Compreender o que são os conhecimentos escolares faz-se sentido objetivo dos fatos.
relevante para os profissionais da educação, pois permite Além disso, o conhecimento contemporâneo guarda em si
concluir que os ensinados nas escolas não constituem cópias a história da sua construção. O estudo de um fenômeno, de um
dos saberes e conhecimentos socialmente produzidos. Por problema, ou de um processo de trabalho está articulado com
esse motivo, não faz sentido pensar em inserir, nas salas de a realidade em que se insere. A relação entre partes que
aula, os saberes e as práticas tal como funcionam em seus compõem a realidade possibilita ir além da parte para
contextos de origem. Para se tornarem conhecimentos compreender a realidade em seu conjunto.
escolares, os conhecimentos e saberes de referência passam A partir dos referenciais construídos sobre as relações
por processos de descontextualização e recontextualização. A entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura e dos nexos
atividade escolar, por conseguinte, implica uma determinada estabelecidos entre o projeto político-pedagógico e a
ruptura com as atividades específicas dos campos de organização curricular do Ensino Médio, são apresentadas, em
referência. seguida, algumas possibilidades deste.
Explicitado como a concepção de conhecimento escolar Estas possibilidades de organização devem considerar as
pode influir no processo curricular, cabe discutir, normas complementares dos respectivos sistemas de ensino e
resumidamente, em que consistem os mencionados processos apoiar-se na participação coletiva dos sujeitos envolvidos,
de descontextualização e recontextualização do conhecimento bem como nas teorias educacionais que buscam as respectivas
escolar. Tais processos incluem algumas estratégias, sendo soluções.
pertinente observar que o professor capaz de melhor entender

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Ninguém mais do que os participantes da atividade escolar totalidade por meio de atividades interdisciplinares). Há dois
em seus diferentes segmentos, conhece a sua realidade e, pontos cruciais nessa proposta: a definição das disciplinas com
portanto, está mais habilitado para tomar decisões a respeito a respectiva seleção de conteúdos; e a definição das atividades
do currículo que vai levar à prática. integradoras, pois é necessário que ambas sejam efetivadas a
Compreende-se que organizar o currículo implica romper partir das inter-relações existentes entre os eixos
com falsas polarizações, oposições e fronteiras consolidadas constituintes do Ensino Médio integrando as dimensões do
ao longo do tempo. Isso representa, para os educadores que trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura.
atuam no Ensino Médio, a possibilidade de avançar na Cabem, aqui, observações referentes às atividades
compreensão do sentido da educação que é proporcionada aos integradoras interdisciplinares, como colocadas nas Diretrizes
estudantes. Esses professores são instigados a buscar relações Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer
entre a ciência com a qual trabalham e o seu sentido, enquanto CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010):
força propulsora do desenvolvimento da sociedade em geral e A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de
do cidadão de cuja formação está participando. métodos de uma disciplina para outra. Ultrapassa-as, mas sua
Após as análises e reflexões desenvolvidas, discute-se a finalidade inscreve-se no estudo disciplinar. Pela abordagem
organização curricular propriamente dita, ou seja, como os interdisciplinar ocorre a transversalidade do conhecimento
componentes curriculares podem ser organizados de modo a constitutivo de diferentes disciplinas, por meio da ação
contribuir para a formação humana integral, tendo como didáticopedagógica mediada pela pedagogia dos projetos
dimensões o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura. temáticos.
Em geral, quando se discute currículo no Ensino Médio, há A interdisciplinaridade é, assim, entendida como
uma tendência a se questionar, corretamente, o espaço dos abordagem teórico-metodológica com ênfase no trabalho de
saberes específicos, alegando-se que, ao longo da história, a integração das diferentes áreas do conhecimento.
concepção disciplinar do currículo isolou cada um deles em Continua o citado Parecer, considerando que essa
compartimentos estanques e incomunicáveis. orientação deve ser enriquecida, por meio de proposta
Os conhecimentos de cada ramo da ciência, para chegarem temática trabalhada transversalmente:
até a escola precisaram ser organizados didaticamente, A transversalidade é entendida como forma de organizar o
transformando-se em conhecimentos escolares. Estes se trabalho didático-pedagógico em que temas, eixos temáticos
diferenciam dos conhecimentos científicos porque são são integrados às disciplinas, às áreas ditas convencionais de
retirados/isolados da realidade social, cultural, econômica, forma a estarem presentes em todas elas. A
política, ambiental etc. em que foram produzidos para serem interdisciplinaridade é, portanto, uma abordagem que facilita
transpostos para a situação escolar. o exercício da transversalidade, constituindo-se em caminhos
Nesse processo, evidentemente, perdem-se muitas das facilitadores da integração do processo formativo dos
conexões existentes entre determinada ciência e as demais. estudantes, pois ainda permite a sua participação na escolha
Como forma de resolver ou, pelo menos, minimizar os dos temas prioritários. A interdisciplinaridade e a
prejuízos decorrentes da organização disciplinar escolar, têm transversalidade complementam-se, ambas rejeitando a
surgido, ao longo da história, propostas que organizam o concepção de conhecimento que toma a realidade como algo
currículo a partir de outras estratégias. É muito rica a estável, pronto e acabado.
variedade de denominações. Mencionam-se algumas dessas Qualquer que seja a forma de organização adotada, esta
metodologias e estratégias, apenas a título de exemplo, sendo deve, como indica a LDB, ter seu foco no estudante e atender
propostas que tratam da aprendizagem baseada em sempre o interesse do processo de aprendizagem.
problemas; centros de interesses; núcleos ou complexos No que concerne à seleção dos conteúdos disciplinares,
temáticos; elaboração de projetos, investigação do meio, aulas importa também evitar as superposições e lacunas, sem fazer
de campo, construção de protótipos, visitas técnicas, reduções do currículo, ratificando-se a necessidade de
atividades artístico-culturais e desportivas, entre outras. proporcionar a formação continuada dos docentes no sentido
Buscam romper com a centralidade das disciplinas nos de que se apropriem da concepção e dos princípios de um
currículos e substituí-las por aspectos mais globalizadores e Ensino Médio que integre sua proposta pedagógica às
que abranjam a complexidade das relações existentes entre os características e desenvolvimento das áreas de conhecimento.
ramos da ciência no mundo real. Igualmente importante é organizar os tempos e os espaços de
Tais estratégias e metodologias são práticas desafiadoras atuação dos professores visando garantir o planejamento,
na organização curricular, na medida em que exigem uma implementação e acompanhamento em conjunto das
articulação e um diálogo entre os conhecimentos, rompendo atividades curriculares.
com a forma fragmentada como historicamente tem sido Com relação às atividades integradoras, não cabe
organizado o currículo do Ensino Médio. especificar denominações, embora haja várias na literatura,
Nesta etapa de ensino, tais metodologias encontram cada uma com suas peculiaridades. Assume-se essa postura
barreiras em função da necessidade do aprofundamento dos por compreender que tal definição é função de cada sistema de
conceitos inerentes às disciplinas escolares, já que cada uma ensino e escola, a partir da realidade concreta vivenciada, o
se caracteriza por ter objeto próprio de estudo e método que inclui suas especificidades e possibilidades, assim como as
específico de abordagem. Dessa maneira, tem se revelado características sociais, econômicas, políticas, culturais,
praticamente difícil desenvolver propostas globalizadoras que ambientais e laborais da sociedade, do entorno escolar e dos
abranjam os conceitos e especificidades de todas as disciplinas estudantes e professores.
curriculares. Entretanto, de forma coerente com as dimensões que
Assim, as propostas voltadas para o Ensino Médio, em sustentam a concepção de Ensino Médio aqui discutido, é
geral, estão baseadas em metodologias mistas, as quais são importante que as atividades integradoras sejam concebidas a
desenvolvidas em, pelo menos, dois espaços e tempos. partir do trabalho como primeira mediação entre o homem e a
Um, destinado ao aprofundamento conceitual no interior natureza e de suas relações com a sociedade e com cada uma
das disciplinas, e outro, voltado para as denominadas das outras dimensões curriculares reiteradamente
atividades integradoras. É a partir daí que se apresenta uma mencionadas.
possibilidade de organização curricular do Ensino Médio, com Desse modo, sugere-se que as atividades integradoras
uma organização por disciplinas (recorte do real para sejam desenvolvidas a partir de várias estratégias/temáticas
aprofundar conceitos) e com atividades integradoras (imersão que incluam a problemática do trabalho de forma relacional.
no real ou sua simulação para compreender a relação parte-

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Assim sendo, a cada tempo de organização escolar as dos currículos escolares diante das exigências do regime
atividades integradoras podem ser planejadas a partir das federativo.
relações entre situações reais existentes nas práticas sociais Os conteúdos que compõem a base nacional comum e a
concretas (ou simulações) e os conteúdos das disciplinas, parte diversificada têm origem nas disciplinas científicas, no
tendo como fio condutor as conexões entre o trabalho e as desenvolvimento das linguagens, no mundo do trabalho e na
demais dimensões. tecnologia, na produção artística, nas atividades desportivas e
É, portanto, na busca de desenvolver estratégias corporais, na área da saúde, nos movimentos sociais, e ainda
pedagógicas que contribuam para compreender como o incorporam saberes como os que advêm das formas diversas
trabalho, enquanto mediação primeira entre o ser humano e o de exercício da cidadania, da experiência docente, do cotidiano
meio ambiente, produz social e historicamente ciência e e dos estudantes.
tecnologia e é influenciado e influencia a cultura dos grupos Os conteúdos sistematizados que fazem parte do currículo
sociais. são denominados componentes curriculares,10 os quais, por
Este modo de organizar o currículo contribui, não apenas sua vez, se articulam com as áreas de conhecimento, a saber:
para incorporar ao processo formativo, o trabalho como Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências
princípio educativo, como também para fortalecer as demais Humanas. As áreas de conhecimento favorecem a
dimensões estruturantes do Ensino Médio (ciência, tecnologia, comunicação entre os conhecimentos e saberes dos diferentes
cultura e o próprio trabalho), sem correr o risco de realizar componentes curriculares, mas permitem que os referenciais
abordagens demasiadamente gerais e, portanto, superficiais, próprios de cada componente curricular sejam preservados.
uma vez que as disciplinas, se bem planejadas, cumprem o A legislação, seja pela LDB seja por outras leis específicas,
papel do necessário aprofundamento. já determina componentes que são obrigatórios e que,
portanto devem ser tratados em uma ou mais das áreas de
7.4. Base nacional comum e a parte diversificada: conhecimento para compor o currículo. Outros,
integralidade complementares, a critério dos sistemas de ensino e das
unidades escolares, podem e devem ser incluídos e tratados
A organização da base nacional comum e da parte como disciplinas ou, de forma integradora, como unidades de
diversificada no currículo do Ensino Médio tem sua base na estudos, módulos, atividades, práticas e projetos
legislação e na concepção adotada nesse parecer, que contextualizados e interdisciplinares ou diversamente
apresentam elementos fundamentais para subsidiar diversos articuladores de saberes, desenvolvimento transversal de
formatos possíveis. Cada escola/rede de ensino pode e deve temas ou outras formas de organização.
buscar o diferencial que atenda às necessidades e Os componentes definidos pela LDB como obrigatórios
características sociais, culturais, econômicas e a diversidade e são:
os variados interesses e expectativas dos estudantes, I – o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o
possibilitando formatos diversos na organização curricular do conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social
Ensino Médio, garantindo sempre a simultaneidade das e política, especialmente do Brasil;
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura. II – o ensino da Arte, especialmente em suas expressões
O currículo do Ensino Médio tem uma base nacional regionais, de forma a promover o desenvolvimento cultural
comum, complementada em cada sistema de ensino e em cada dos estudantes, com a Música como seu conteúdo obrigatório,
estabelecimento escolar por uma parte diversificada. Esta mas não exclusivo;
enriquece aquela, planejada segundo estudo das III – a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da instituição de ensino, sendo sua prática facultativa ao
economia e da comunidade escolar, perpassando todos os estudante nos casos previstos em Lei;
tempos e espaços curriculares constituintes do Ensino Médio, IV – o ensino da História do Brasil, que leva em conta as
independentemente do ciclo da vida no qual os sujeitos contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação
tenham acesso à escola. do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
A base nacional comum e a parte diversificada constituem africana e europeia;
um todo integrado e não podem ser consideradas como dois V – o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e
blocos distintos. A articulação entre ambas possibilita a Indígena, no âmbito de todo o currículo escolar, em especial
sintonia dos interesses mais amplos de formação básica do nas áreas de educação artística e de literatura e história
cidadão com a realidade local e dos estudantes, perpassando brasileiras;
todo o currículo. VI – a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso;13
Voltados à divulgação de valores fundamentais ao VII – uma língua estrangeira moderna na parte
interesse social e à preservação da ordem democrática, os diversificada, escolhida pela comunidade escolar, e uma
conhecimentos que fazem parte da base nacional comum a que segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da
todos devem ter acesso, independentemente da região e do instituição.
lugar em que vivem, asseguram a característica unitária das Em termos operacionais, os componentes curriculares
orientações curriculares nacionais, das propostas curriculares obrigatórios decorrentes da LDB que integram as áreas de
dos Estados, Distrito Federal e Municípios e dos projetos conhecimento são os referentes a:
político-pedagógicos das escolas. I – Linguagens:
Os conteúdos curriculares que compõem a parte a) Língua Portuguesa.
diversificada são definidos pelos sistemas de ensino e pelas b) Língua Materna, para populações indígenas.
escolas, de modo a complementar e enriquecer o currículo, c) Língua Estrangeira moderna.
assegurando a contextualização dos conhecimentos escolares d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásticas
diante das diferentes realidades. e, obrigatoriamente, a musical.
É assim que, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais e) Educação Física.
e dos conteúdos obrigatórios fixados em âmbito nacional,
multiplicam-se as propostas e orientações curriculares de II – Matemática.
Estados e Municípios e, no seu bojo, os projetos político-
pedagógicos das escolas, revelando a autonomia dos entes III – Ciências da Natureza:
federados e das escolas nas suas respectivas jurisdições e a) Biologia;
traduzindo a pluralidade de possibilidades na implementação b) Física;

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c) Química. presentes Diretrizes. Estes alvos devem ser constituídos por


expectativas de aprendizagem dos conhecimentos escolares
IV – Ciências Humanas: da base nacional comum que devem ser atingidas pelos
a) História; estudantes em cada tempo do curso de Ensino Médio, as quais,
b) Geografia; por sua vez devem necessariamente orientar as matrizes de
c) Filosofia; competência do ENEM. Nesse sentido, o Conselho Nacional de
d) Sociologia. Educação deverá apreciar proposta dessas expectativas, a
serem elaboradas pelo Ministério da Educação, em articulação
Em decorrência de legislação específica, são obrigatórios: com os órgãos dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito
I – Língua Espanhola, de oferta obrigatória pelas unidades Federal e dos Municípios.
escolares, embora facultativa para o estudante (Lei nº
11.161/2005). 7.5. Formas de oferta e de organização do Ensino Médio
II – Tratados transversal e integradamente, permeando
todo o currículo, no âmbito dos demais componentes O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, deve
curriculares: assegurar sua função formativa para todos os estudantes,
a) a educação alimentar e nutricional (Lei nº 11.947/2009, sejam adolescentes, jovens ou adultos, atendendo:
que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do I – O Ensino Médio pode organizar-se em tempos escolares
Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da Educação no formato de séries anuais, períodos semestrais, ciclos,
Básica, altera outras leis e dá outras providências); alternância regular de períodos de estudos, grupos não
b) o processo de envelhecimento, o respeito e a valorização seriados, com base na idade, na competência e em outros
do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o
conhecimentos sobre a matéria (Lei nº 10.741/2003: Estatuto interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.
do Idoso); II – No Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3 anos,
c) a Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99: Política com carga horária mínima total de 2.400 horas, tendo como
Nacional de Educação Ambiental); referência uma carga horária anual de 800 horas, distribuídas
d) a educação para o trânsito (Lei nº 9.503/97: Código de em pelo menos 200 dias de efetivo trabalho escolar.
Trânsito Brasileiro). III – O Ensino Médio regular diurno, quando adequado aos
e) a educação em direitos humanos (Decreto nº seus estudantes, pode se organizar em regime de tempo
7.037/2009: Programa Nacional de Direitos Humanos – integral, com no mínimo 7 horas diárias;
PNDH). IV – No Ensino Médio regular noturno, adequado às
Reitera-se que outros componentes complementares, a condições de trabalhadores e respeitados os mínimos de
critério dos sistemas de ensino e das unidades escolares e duração e carga horária, o projeto pedagógico deve atender
definidos em seus projetos político-pedagógicos, podem ser com qualidade a sua singularidade, especificando uma
incluídos no currículo, sendo tratados ou como disciplinas ou organização curricular e metodológica diferenciada, e pode,
com outro formato, preferencialmente, de forma transversal e para garantir a permanência e o sucesso destes estudantes:
integradora. a) ampliar a duração para mais de 3 anos, com menor carga
Ainda nos termos da LDB, o currículo do Ensino Médio, horária diária e anual, garantido o mínimo total de 2.400 horas
deve garantir ações que promovam a educação tecnológica para o curso;
básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e b) incluir atividades não presenciais, até 20% da carga
das artes; o processo histórico de transformação da sociedade horária diária e de cada tempo de organização escolar, desde
e da cultura; e a língua portuguesa como instrumento de que haja suporte tecnológico e seja garantido o atendimento
comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da por professores e monitores.
cidadania. Deve, também, adotar metodologias de ensino e de V – Na modalidade de Educação de Jovens e Adultos,
avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes, bem observadas suas Diretrizes específicas, a duração mínima é de
como organizar os conteúdos, as metodologias e as formas de 1.200 horas, sendo que o projeto pedagógico deve atender com
avaliação de tal modo que ao final do Ensino Médio o estudante qualidade a sua singularidade, especificando uma organização
demonstre domínio dos princípios científicos e tecnológicos curricular e metodológica diferenciada que pode, para garantir
que presidem a produção moderna, e conhecimento das a permanência e o sucesso de estudantes trabalhadores:
formas contemporâneas de linguagem. a) ampliar seus tempos de organização escolar, com menor
Na perspectiva das dimensões trabalho, ciência, tecnologia carga horária diária e anual, garantida sua duração mínima;
e cultura, as instituições de ensino devem ter presente que b) incluir atividades não presenciais, até 20% da carga
formam um eixo integrador entre os conhecimentos de horária diária e de cada tempo de organização escolar, desde
distintas naturezas, contextualizando-os em sua dimensão que haja suporte tecnológico e seja garantido o atendimento
histórica e em relação à realidade social contemporânea. por professores e monitores.
Essa integração entre as dimensões do trabalho, ciência, VI – Atendida a formação geral, incluindo a preparação
tecnologia e cultura na perspectiva do trabalho como princípio básica para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para o
educativo, tem por fim propiciar a compreensão dos exercício de profissões técnicas, por articulação na forma
fundamentos científicos e tecnológicos dos processos sociais e integrada com a Educação Profissional e Tecnológica,
produtivos, devendo orientar a definição de toda proposição observadas as Diretrizes específicas, com as cargas horárias
curricular, constituindo-se no fundamento da seleção dos mínimas de:
conhecimentos, disciplinas, metodologias, estratégias, tempos, a) 3.200 horas, no Ensino Médio regular integrado com a
espaços, arranjos curriculares alternativos e formas de Educação Profissional Técnica de Nível Médio;
avaliação. b) 2.400 horas, na Educação de Jovens e Adultos integrada
Estas dimensões dão condições para um Ensino Médio com a Educação Profissional Técnica de Nível Médio,
unitário que, ao mesmo tempo, deve ser diversificado para respeitado o mínimo de 1.200 horas de educação geral;
atender com motivação à heterogeneidade e pluralidade de c) 1.400 horas, na Educação de Jovens e Adultos integrada
condições, interesses e aspirações dos estudantes. Mantida a com a formação inicial e continuada ou qualificação
diversidade, a unidade nacional a ser buscada, no entanto, profissional, respeitado o mínimo de 1.200 horas de educação
necessita de alvos mais específicos para orientar as geral;
aprendizagens comuns a todos no país, nos termos das

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VII – Na Educação Especial, Educação do Campo, Educação pode contribuir para explicitar o significado da formação na
Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, de pessoas em etapa conclusiva da Educação Básica, uma vez que materializa
regime de acolhimento ou internação e em regime de privação a formação humana integral.
de liberdade, e na Educação a Distância, devem ser observadas Para que essa educação integral constitua-se em política
as respectivas Diretrizes e normas nacionais. pública educacional é necessário que o Estado se faça presente
VIII – Os componentes curriculares que integram as áreas e que assuma uma amplitude nacional, na perspectiva de que
de conhecimento podem ser tratados ou como disciplinas, as ações realizadas nesse âmbito possam enraizar-se em todo
sempre de forma integrada, ou como unidades de estudos, o território brasileiro.
módulos, atividades, práticas e projetos contextualizados e Para que isso possa ocorrer é fundamental que as ações
interdisciplinares ou diversamente articuladores de saberes, desencadeadas nesse domínio sejam orientadas por um
desenvolvimento transversal de temas ou outras formas de regime de coordenação e cooperação entre as esferas públicas
organização. dos vários níveis, dentro do quadro de um sistema nacional de
IX – Tanto na base nacional comum quanto na parte educação, no qual cada ente federativo, com suas peculiares
diversificada a organização curricular do Ensino Médio deve competências, colabora para uma educação de qualidade.
oferecer tempos e espaços próprios para estudos e atividades A Emenda Constitucional nº 59/2009, incluiu na
que permitam itinerários formativos opcionais diversificados, Constituição Federal justamente a prescrição de que a União,
a fim de melhor responder à heterogeneidade e pluralidade de os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem organizar
condições, múltiplos interesses e aspirações dos estudantes, em regime de colaboração seus sistemas de ensino (art. 211),
com suas especificidades etárias, sociais e culturais, bem como e que será articulado o sistema nacional de educação em
sua fase de desenvolvimento. regime de colaboração, o qual é um objetivo do Plano Nacional
X – Formas diversificadas de itinerários formativos podem de Educação, de duração decenal, a ser estabelecido por lei
ser organizadas, desde que garantida a simultaneidade das (art. 214).
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura, Em nível nacional, almeja-se coordenação e cooperação
e definidas pelo projeto político-pedagógico, atendendo entre o MEC e outros Ministérios, tendo em vista a articulação
necessidades, anseios e aspirações dos sujeitos e a realidade com as políticas setoriais afins; internamente, entre suas
da escola e de seu meio. Secretarias e órgãos vinculados; e externamente, com as
XI – A interdisciplinaridade e a contextualização devem instituições de Educação Superior, os sistemas estaduais, do
assegurar a transversalidade e a articulação do conhecimento Distrito Federal e os sistemas municipais de ensino.
de diferentes componentes curriculares, propiciando a No nível de cada unidade da Federação, espera-se que haja
interlocução entre os saberes das diferentes áreas de coordenação e cooperação entre o respectivo sistema de
conhecimento. ensino, as instituições de Educação Superior e os sistemas
Note-se que as horas acima indicadas são, obviamente, de municipais de ensino. Pressupõe igualmente a cooperação
60 minutos, não se confundindo com as horas-aula, as quais entre órgãos ou entidades responsáveis pelas políticas
podem ter a duração necessária que for considerada no setoriais afins no âmbito estadual e dos municípios.
projeto de cada escola. No nível das unidades escolares é igualmente relevante a
Destaque-se que há redes escolares com Ensino Médio que criação de mecanismos de comunicação e intercâmbio,
já vêm desenvolvendo formas de oferta que atendem às visando à difusão e adoção de boas práticas que desenvolvam.
indicações acima, inclusive com ampliação da duração e da É esse regime de colaboração mútua que deve contribuir
carga horária do curso e com organização curricular flexível e para que as escolas, as redes e os sistemas de ensino possam
integradora. São exemplos desse comportamento as escolas desenvolver um Ensino Médio organicamente articulado e
que aderiram aos Programas Mais Educação e Ensino Médio sequente em relação às demais etapas da Educação Básica, a
Inovador, ambos incentivados pelo MEC na perspectiva do partir de soluções adequadas para questões centrais como
desenvolvimento de experiências curriculares inovadoras. financiamento; existência de quadro específico de professores
Ao lado das alternativas que incluem a ampliação da carga efetivos; formação inicial e continuada de docentes,
horária deve-se estimular a busca de metodologias que profissionais técnico-administrativos e de gestores;
promovam a melhoria da qualidade, sem necessariamente infraestrutura física necessária a cada tipo de instituição, entre
implicar na ampliação do tempo de permanência na sala de outros aspectos relevantes.
aula, tais como o uso intensivo de tecnologias da informação e No tocante aos profissionais da educação – gestores,
comunicação. professores, especialistas, técnicos, monitores e outros – cabe
No referente à integração com a profissionalização, papel de relevo aos gestores, seja dos sistemas, seja das
acrescenta-se que a base científica não deve ser compreendida escolas. A eles cabe liderar as equipes, criar as condições
como restrita àqueles conhecimentos que fundamentam a adequadas e estimular a efetivação do projeto político-
tecnologia específica. Ao contrário, a incorporação das ciências pedagógico e do respectivo currículo, o que requer processo
humanas na formação do trabalhador é fundamental para democrático de seleção segundo critérios técnicos de mérito e
garantir o currículo integrado. Por exemplo: história social do de desempenho, como também lhes deve ser propiciada
trabalho, da tecnologia e das profissões; compreensão, no formação apropriada, inclusive continuada, para atualização e
âmbito da geografia, da produção e difusão territorial das aprimoramento do desempenho desse papel.
tecnologias e da divisão internacional do trabalho; filosofia, Quanto aos professores, embora repetitivo, cabe reiterar a
pelo estudo da ética e estética do trabalho, além de necessidade de efetivação da sua valorização, tanto no
fundamentos da epistemologia que garantam uma iniciação referente a remuneração, quanto a plano de carreira,
científica consistente; sociologia do trabalho, com o estudo da condições de trabalho, jornada de trabalho completa em única
organização dos processos de trabalho e da organização social escola, organização de tempos e espaços de sua atuação para
do trabalho; meio ambiente, saúde e segurança, inclusive garantia de planejamento, implementação e acompanhamento
conhecimentos de ecologia, ergonomia, saúde e psicologia do conjunto das atividades curriculares, formação inicial e
trabalho, no sentido da prevenção das doenças ocupacionais. continuada, inclusive para que se apropriem da concepção e
8. Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos princípios do Ensino Médio proposto nestas diretrizes e no
e o compromisso com o sucesso dos estudantes respectivo projeto políticopedagógico, incorporando atuação
diversificada, com estratégias, metodologias e atividades
O Ensino Médio, fundamentado na integração das integradoras, contextualizadas e interdisciplinares ou
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura, diversamente articuladores de saberes.

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É oportuno lembrar que as ações do MEC voltadas para a TÍTULO I – Objeto e referencial
expansão e melhoria do Ensino Médio, como a proposição do
FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a formulação e implementação Capítulo I – Objeto
do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), do Plano de
Ações Articuladas (PAR) e vários programas, dentre estes, o Art. 1º A presente Resolução define as Diretrizes
Brasil Profissionalizado, o Ensino Médio Inovador, o Programa Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, a serem
Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM), vêm observadas na organização curricular pelos sistemas de
criando condições que favorecem a implementação destas ensino e suas unidades escolares.
Diretrizes. Parágrafo único Estas Diretrizes aplicam-se a todas as
Lembra-se, igualmente, a proposta do Custo Aluno- formas e modalidades de Ensino Médio, complementadas,
Qualidade Inicial (CAQi), que indica insumos essenciais quando necessário, por Diretrizes próprias.
associados aos padrões mínimos de qualidade para a Educação
Básica pública no Brasil, previstos na Constituição Federal Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
(inciso VII do art. 206) e na LDB (inciso IX do art. 4º), a qual foi Médio articulam-se com as Diretrizes Curriculares Nacionais
objeto do Parecer CNE/CEB nº 8/2010. No contexto do CAQi, é Gerais para a Educação Básica e reúnem princípios,
exigência um padrão mínimo de insumos, que tem como base fundamentos e procedimentos, definidos pelo Conselho
um investimento com valor calculado a partir das despesas Nacional de Educação, para orientar as políticas públicas
essenciais ao desenvolvimento dos processos e procedimentos educacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
formativos, que levem, gradualmente, a uma educação Municípios na elaboração, planejamento, implementação e
integral, dotada de qualidade social. Tais padrões mínimos são avaliação das propostas curriculares das unidades escolares
definidos como os que levam em conta, entre outros públicas e particulares que oferecem o Ensino Médio.
parâmetros: professores qualificados com remuneração
adequada; pessoal de apoio técnico e administrativo que Capítulo II – Referencial legal e conceitual
assegure o bom funcionamento da escola; escolas possuindo
condições de infraestrutura e de equipamentos adequados; Art. 3º O Ensino Médio é um direito social de cada pessoa,
definição de relação adequada entre número de estudantes e dever do Estado na sua oferta pública e gratuita a todos.
por turma e por professor, e número de salas e estudantes.
Finalmente, visando alcançar unidade nacional e Art. 4º As unidades escolares que ministram esta etapa da
respeitadas as diversidades, reitera-se que o Ministério da Educação Básica devem estruturar seus projetos político-
Educação elabore e encaminhe ao Conselho Nacional de pedagógicos considerando as finalidades previstas na Lei nº
Educação, precedida de consulta pública nacional, proposta de 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional):
expectativas de aprendizagem dos conhecimentos escolares e I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
saberes que devem ser alcançadas pelos estudantes em adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o
diferentes tempos do curso de Ensino Médio que, prosseguimento de estudos;
necessariamente, se orientem por estas Diretrizes. Esta II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
elaboração deve ser conduzida pelo MEC em articulação e educando para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
colaboração com os órgãos dos sistemas de ensino dos se adaptar a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. As expectativas posteriores;
de aprendizagem, que não significam conteúdos obrigatórios III – o aprimoramento do educando como pessoa humana,
de currículo mínimo, devem vir a ser encaradas como direito incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
dos estudantes, portanto, com resultados correspondentes intelectual e do pensamento crítico;
exigíveis por eles. IV – a compreensão dos fundamentos científico-
É imprescindível que o MEC articule e compatibilize, com tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
estas Diretrizes, as expectativas de aprendizagem, a formação com a prática.
de professores, os investimentos em materiais didáticos, e as
avaliações de desempenho e exames nacionais, especialmente Art. 5º O Ensino Médio em todas as suas formas de oferta e
o ENEM. Com essa compatibilização, o Ensino Médio, em organização, baseia-se em:
âmbito nacional, ganhará coerência e consistência, visando à I – formação integral do estudante;
sua almejada qualidade social. II – trabalho e pesquisa como princípios educativos e
Ao Ministério cabe, ainda, oferecer subsídios para a pedagógicos, respectivamente;
implementação destas Diretrizes. III – educação em direitos humanos como princípio
nacional norteador;
RESOLUÇÃO Nº 2, DE 30 DE JANEIRO 2012 IV – sustentabilidade ambiental como meta universal;
V – indissociabilidade entre educação e prática social,
Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino considerando-se a historicidade dos conhecimentos e dos
Médio. sujeitos do processo educativo, bem como entre teoria e
prática no processo de ensino-aprendizagem;
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho VI – integração de conhecimentos gerais e, quando for o
Nacional de Educação, em conformidade com o disposto no caso, técnico-profissionais realizada na perspectiva da
artigo 9º, § 1º, alínea “c” da Lei nº 4.024/61, de 20 de interdisciplinaridade e da contextualização;
dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de VII – reconhecimento e aceitação da diversidade e da
25 de novembro de 1995, nos artigos 22, 23, 24, 25, 26, 26-A, realidade concreta dos sujeitos do processo educativo, das
27, 35, 36,36-A, 36-B e 36-C da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro formas de produção, dos processos de trabalho e das culturas
de 1996, e tendo em vista o Parecer CEB/CNE nº 5/2011, a eles subjacentes;
homologado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da VIII – integração entre educação e as dimensões do
Educação, publicado no DOU de 24 de janeiro de 2011, resolve: trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura como base da
proposta e do desenvolvimento curricular.
§ 1º O trabalho é conceituado na sua perspectiva
ontológica de transformação da natureza, como realização

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inerente ao ser humano e como mediação no processo de c) o ensino da História do Brasil, que leva em conta as
produção da sua existência. contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação
§ 2º A ciência é conceituada como o conjunto de do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
conhecimentos sistematizados, produzidos socialmente ao africana e europeia;
longo da história, na busca da compreensão e transformação d) o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e
da natureza e da sociedade. Indígena, no âmbito de todo o currículo escolar, em especial
§ 3º A tecnologia é conceituada como a transformação da nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História
ciência em força produtiva ou mediação do conhecimento brasileiras;
científico e a produção, marcada, desde sua origem, pelas e) a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso;
relações sociais que a levaram a ser produzida. f) uma língua estrangeira moderna na parte diversificada,
§ 4º A cultura é conceituada como o processo de produção escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter
de expressões materiais, símbolos, representações e optativo, dentro das disponibilidades da instituição.
significados que correspondem a valores éticos, políticos e Parágrafo único. Em termos operacionais, os componentes
estéticos que orientam as normas de conduta de uma curriculares obrigatórios decorrentes da LDB que integram as
sociedade. áreas de conhecimento são os referentes a:
I – Linguagens:
Art. 6º O currículo é conceituado como a proposta de ação a) Língua Portuguesa;
educativa constituída pela seleção de conhecimentos b) Língua Materna, para populações indígenas;
construídos pela sociedade, expressando-se por práticas c) Língua Estrangeira moderna;
escolares que se desdobram em torno de conhecimentos d) Arte, em suas diferentes linguagens: cênicas, plásticas e,
relevantes e pertinentes, permeadas pelas relações sociais, obrigatoriamente, a musical;
articulando vivências e saberes dos estudantes e contribuindo e) Educação Física.
para o desenvolvimento de suas identidades e condições II – Matemática.
cognitivas e sócio afetivas. III – Ciências da Natureza:
a) Biologia;
TÍTULO II – Organização curricular e formas de oferta b) Física;
Capítulo I – Organização curricular c) Química.
IV – Ciências Humanas:
Art. 7º A organização curricular do Ensino Médio tem uma a) História;
base nacional comum e uma parte diversificada que não b) Geografia;
devem constituir blocos distintos, mas um todo integrado, de c) Filosofia;
modo a garantir tanto conhecimentos e saberes comuns d) Sociologia.
necessários a todos os estudantes, quanto uma formação que
considere a diversidade e as características locais e Art. 10. Em decorrência de legislação específica, são
especificidades regionais. obrigatórios:
I – Língua Espanhola, de oferta obrigatória pelas unidades
Art. 8º O currículo é organizado em áreas de conhecimento, escolares, embora facultativa para o estudante (Lei nº
a saber: 11.161/2005);
I – Linguagens; II – Com tratamento transversal e integradamente,
II – Matemática; permeando todo o currículo, no âmbito dos demais
III – Ciências da Natureza; componentes curriculares:
IV – Ciências Humanas. a) educação alimentar e nutricional (Lei nº 11.947/2009,
§ 1º O currículo deve contemplar as quatro áreas do que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do
conhecimento, com tratamento metodológico que evidencie a Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da Educação
contextualização e a interdisciplinaridade ou outras formas de Básica);
interação e articulação entre diferentes campos de saberes b) processo de envelhecimento, respeito e valorização do
específicos. idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir
§ 2º A organização por áreas de conhecimento não dilui conhecimentos sobre a matéria (Lei nº 10.741/2003, que
nem exclui componentes curriculares com especificidades e dispõe sobre o Estatuto do Idoso);
saberes próprios construídos e sistematizados, mas implica no c) Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99, que dispõe sobre
fortalecimento das relações entre eles e a sua contextualização a Política Nacional de Educação Ambiental);
para apreensão e intervenção na realidade, requerendo d) Educação para o Trânsito (Lei nº 9.503/97, que institui
planejamento e execução conjugados e cooperativos dos seus o Código de Trânsito Brasileiro);
professores. e) Educação em Direitos Humanos (Decreto nº
7.037/2009, que institui o Programa Nacional de Direitos
Art. 9º A legislação nacional determina componentes Humanos – PNDH 3).
obrigatórios que devem ser tratados em uma ou mais das
áreas de conhecimento para compor o currículo: Art. 11. Outros componentes curriculares, a critério dos
I – são definidos pela LDB: sistemas de ensino e das unidades escolares e definidos em
a) o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o seus projetos político-pedagógicos, podem ser incluídos no
conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social currículo, sendo tratados ou como disciplina ou com outro
e política, especialmente do Brasil; formato, preferencialmente, de forma transversal e
a) o ensino da Arte, especialmente em suas expressões integradora.
regionais, de forma a promover o desenvolvimento cultural
dos estudantes, com a Música como seu conteúdo obrigatório, Art. 12. O currículo do Ensino Médio deve:
mas não exclusivo; I – garantir ações que promovam:
b) a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da a) a educação tecnológica básica, a compreensão do
instituição de ensino, sendo sua prática facultativa ao significado da ciência, das letras e das artes;
estudante nos casos previstos em Lei; b) o processo histórico de transformação da sociedade e da
cultura;

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c) a língua portuguesa como instrumento de comunicação, V – na modalidade de Educação de Jovens e Adultos,


acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; observadas suas Diretrizes específicas, com duração mínima
II – adotar metodologias de ensino e de avaliação de de 1.200 (mil e duzentas) horas, deve ser especificada uma
aprendizagem que estimulem a iniciativa dos estudantes; organização curricular e metodológica diferenciada para os
III – organizar os conteúdos, as metodologias e as formas estudantes trabalhadores, que pode:
de avaliação de tal forma que ao final do Ensino Médio o a) ampliar seus tempos de organização escolar, com menor
estudante demonstre: carga horária diária e anual, garantida sua duração mínima;
a) domínio dos princípios científicos e tecnológicos que VI – atendida a formação geral, incluindo a preparação
presidem a produção moderna; básica para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para o
b) conhecimento das formas contemporâneas de exercício de profissões técnicas, por integração com a
linguagem. Educação Profissional e Tecnológica, observadas as Diretrizes
específicas, com as cargas horárias mínimas de:
Art. 13. As unidades escolares devem orientar a definição a) 3.200 (três mil e duzentas) horas, no Ensino Médio
de toda proposição curricular, fundamentada na seleção dos regular integrado com a Educação Profissional Técnica de
conhecimentos, componentes, metodologias, tempos, espaços, Nível Médio;
arranjos alternativos e formas de avaliação, tendo presente: b) 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, na Educação de
I – as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da Jovens e Adultos integrada com a Educação Profissional
cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de Técnica de Nível Médio, respeitado o mínimo de 1.200 (mil e
distintas naturezas, contextualizando-os em sua dimensão duzentas) horas de educação geral;
histórica e em relação ao contexto social contemporâneo; c) 1.400 (mil e quatrocentas) horas, na Educação de Jovens
II – o trabalho como princípio educativo, para a e Adultos integrada com a formação inicial e continuada ou
compreensão do processo histórico de produção científica e qualificação profissional, respeitado o mínimo de 1.200 (mil e
tecnológica, desenvolvida e apropriada socialmente para a duzentas) horas de educação geral;
transformação das condições naturais da vida e a ampliação VII – na Educação Especial, na Educação do Campo, na
das capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos; Educação Escolar Indígena, na Educação Escolar Quilombola,
III – a pesquisa como princípio pedagógico, possibilitando de pessoas em regime de acolhimento ou internação e em
que o estudante possa ser protagonista na investigação e na regime de privação de liberdade, e na Educação a Distância,
busca de respostas em um processo autônomo de devem ser observadas as respectivas Diretrizes e normas
(re)construção de conhecimentos. nacionais;
IV – os direitos humanos como princípio norteador, VIII – os componentes curriculares que integram as áreas
desenvolvendo-se sua educação de forma integrada, de conhecimento podem ser tratados ou como disciplinas,
permeando todo o currículo, para promover o respeito a esses sempre de forma integrada, ou como unidades de estudos,
direitos e à convivência humana. módulos, atividades, práticas e projetos contextualizados e
V – a sustentabilidade socioambiental como meta interdisciplinares ou diversamente articuladores de saberes,
universal, desenvolvida como prática educativa integrada, desenvolvimento transversal de temas ou outras formas de
contínua e permanente, e baseada na compreensão do organização;
necessário equilíbrio e respeito nas relações do ser humano IX – os componentes curriculares devem propiciar a
com seu ambiente. apropriação de conceitos e categorias básicas, e não o acúmulo
de informações e conhecimentos, estabelecendo um conjunto
Capítulo II – Formas de oferta e organização necessário de saberes integrados e significativos;
X – além de seleção criteriosa de saberes, em termos de
Art. 14. O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, quantidade, pertinência e relevância, deve ser equilibrada sua
concebida como conjunto orgânico, sequencial e articulado, distribuição ao longo do curso, para evitar fragmentação e
deve assegurar sua função formativa para todos os estudantes, congestionamento com número excessivo de componentes em
sejam adolescentes, jovens ou adultos, atendendo, mediante cada tempo da organização escolar;
diferentes formas de oferta e organização: XI – a organização curricular do Ensino Médio deve
I – o Ensino Médio pode organizar-se em tempos escolares oferecer tempos e espaços próprios para estudos e atividades
no formato de séries anuais, períodos semestrais, ciclos, que permitam itinerários formativos opcionais diversificados,
módulos, alternância regular de períodos de estudos, grupos a fim de melhor responder à heterogeneidade e pluralidade de
não seriados, com base na idade, na competência e em outros condições, múltiplos interesses e aspirações dos estudantes,
critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o com suas especificidades etárias, sociais e culturais, bem como
interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar; sua fase de desenvolvimento;
II – no Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3 XII – formas diversificadas de itinerários podem ser
(três) anos, com carga horária mínima total de 2.400 (duas mil organizadas, desde que garantida a simultaneidade entre as
e quatrocentas) horas, tendo como referência uma carga dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura,
horária anual de 800 (oitocentas) horas, distribuídas em pelo e definidas pelo projeto político-pedagógico, atendendo
menos 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar; necessidades, anseios e aspirações dos sujeitos e a realidade
III – o Ensino Médio regular diurno, quando adequado aos da escola e do seu meio;
seus estudantes, pode se organizar em regime de tempo XIII – a interdisciplinaridade e a contextualização devem
integral com, no mínimo, 7 (sete) horas diárias; assegurar a transversalidade do conhecimento de diferentes
IV – no Ensino Médio regular noturno, adequado às componentes curriculares, propiciando a interlocução entre
condições de trabalhadores, respeitados os mínimos de os saberes e os diferentes campos do conhecimento.
duração e de carga horária, o projeto político-pedagógico deve
atender, com qualidade, a sua singularidade, especificando TÍTULO III – Do projeto político-pedagógico e dos
uma organização curricular e metodológica diferenciada, e sistemas de ensino
pode, para garantir a permanência e o sucesso destes Capítulo I – Do projeto político-pedagógico
estudantes:
a) ampliar a duração do curso para mais de 3 (três) anos, Art. 15. Com fundamento no princípio do pluralismo de
com menor carga horária diária e anual, garantido o mínimo ideias e de concepções pedagógicas, no exercício de sua
total de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas; autonomia e na gestão democrática, o projeto político-

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pedagógico das unidades escolares, deve traduzir a proposta XVI – análise e reflexão crítica da realidade brasileira, de
educativa construída coletivamente, garantida a participação sua organização social e produtiva na relação de
efetiva da comunidade escolar e local, bem como a permanente complementaridade entre espaços urbanos e do campo;
construção da identidade entre a escola e o território no qual XVII – estudo e desenvolvimento de atividades
está inserida. socioambientais, conduzindo a Educação Ambiental como uma
§ 1º Cabe a cada unidade de ensino a elaboração do seu prática educativa integrada, contínua e permanente;
projeto político-pedagógico, com a proposição de alternativas XVIII – práticas desportivas e de expressão corporal, que
para a formação integral e acesso aos conhecimentos e saberes contribuam para a saúde, a sociabilidade e a cooperação;
necessários, definido a partir de aprofundado processo de XIX – atividades intersetoriais, entre outras, de promoção
diagnóstico, análise e estabelecimento de prioridades, da saúde física e mental, saúde sexual e saúde reprodutiva, e
delimitação de formas de implementação e sistemática de seu prevenção do uso de drogas;
acompanhamento e avaliação. XX – produção de mídias nas escolas a partir da promoção
§ 2º O projeto político-pedagógico, na sua concepção e de atividades que favoreçam as habilidades de leitura e análise
implementação, deve considerar os estudantes e os do papel cultural, político e econômico dos meios de
professores como sujeitos históricos e de direitos, comunicação na sociedade;
participantes ativos e protagonistas na sua diversidade e XXI – participação social e protagonismo dos estudantes,
singularidade. como agentes de transformação de suas unidades de ensino e
§ 3º A instituição de ensino deve atualizar, periodicamente, de suas comunidades;
seu projeto político-pedagógico e dar-lhe publicidade à XXII – condições materiais, funcionais e didático-
comunidade escolar e às famílias. pedagógicas, para que os profissionais da escola efetivem as
proposições do projeto.
Art. 16. O projeto político-pedagógico das unidades Parágrafo único. O projeto político-pedagógico deve, ainda,
escolares que ofertam o Ensino Médio deve considerar: orientar:
I – atividades integradoras artístico-culturais, tecnológicas a) dispositivos, medidas e atos de organização do trabalho
e de iniciação científica, vinculadas ao trabalho, ao meio escolar;
ambiente e à prática social; b) mecanismos de promoção e fortalecimento da
II – problematização como instrumento de incentivo à autonomia escolar, mediante a alocação de recursos
pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao desenvolvimento financeiros, administrativos e de suporte técnico necessários à
do espírito inventivo; sua realização;
III – a aprendizagem como processo de apropriação c) adequação dos recursos físicos, inclusive organização
significativa dos conhecimentos, superando a aprendizagem dos espaços, equipamentos, biblioteca, laboratórios e outros
limitada à memorização; ambientes educacionais.
IV – valorização da leitura e da produção escrita em todos
os campos do saber; Capítulo II – Dos sistemas de ensino
V – comportamento ético, como ponto de partida para o
reconhecimento dos direitos humanos e da cidadania, e para a Art. 17. Os sistemas de ensino, de acordo com a legislação
prática de um humanismo contemporâneo expresso pelo e a normatização nacional e estadual, e na busca da melhor
reconhecimento, respeito e acolhimento da identidade do adequação possível às necessidades dos estudantes e do meio
outro e pela incorporação da solidariedade; social, devem:
VI – articulação entre teoria e prática, vinculando o I – criar mecanismos que garantam liberdade, autonomia e
trabalho intelectual às atividades práticas ou experimentais; responsabilidade às unidades escolares, fortalecendo sua
VII – integração com o mundo do trabalho por meio de capacidade de concepção, formulação e execução de suas
estágios de estudantes do Ensino Médio, conforme legislação propostas político-pedagógicas;
específica; II – promover, mediante a institucionalização de
VIII – utilização de diferentes mídias como processo de mecanismos de participação da comunidade, alternativas de
dinamização dos ambientes de aprendizagem e construção de organização institucional que possibilitem:
novos saberes; a) identidade própria das unidades escolares de
IX – capacidade de aprender permanente, desenvolvendo adolescentes, jovens e adultos, respeitadas as suas condições e
a autonomia dos estudantes; necessidades de espaço e tempo para a aprendizagem;
X – atividades sociais que estimulem o convívio humano; b) várias alternativas pedagógicas, incluindo ações,
XI – avaliação da aprendizagem, com diagnóstico situações e tempos diversos, bem como diferentes espaços –
preliminar, e entendida como processo de caráter formativo, intraescolares ou de outras unidades escolares e da
permanente e cumulativo; comunidade – para atividades educacionais e socioculturais
XII – acompanhamento da vida escolar dos estudantes, favorecedoras de iniciativa, autonomia e protagonismo social
promovendo o seguimento do desempenho, análise de dos estudantes;
resultados e comunicação com a família; c) articulações institucionais e comunitárias necessárias
XIII – atividades complementares e de superação das ao cumprimento dos planos dos sistemas de ensino e dos
dificuldades de aprendizagem para que o estudante tenha projetos político-pedagógicos das unidades escolares;
sucesso em seus estudos; d) realização, inclusive pelos colegiados escolares e órgãos
XIV – reconhecimento e atendimento da diversidade e de representação estudantil, de ações fundamentadas nos
diferentes nuances da desigualdade e da exclusão na direitos humanos e nos princípios éticos, de convivência e de
sociedade brasileira; participação democrática visando a construir unidades
XV – valorização e promoção dos direitos humanos escolares e sociedade livres de preconceitos, discriminações e
mediante temas relativos a gênero, identidade de gênero, raça das diversas formas de violência.
e etnia, religião, orientação sexual, pessoas com deficiência, III – fomentar alternativas de diversificação e
entre outros, bem como práticas que contribuam para a flexibilização, pelas unidades escolares, de formatos,
igualdade e para o enfrentamento de todas as formas de componentes curriculares ou formas de estudo e de
preconceito, discriminação e violência sob todas as formas; atividades, estimulando a construção de itinerários formativos
que atendam às características, interesses e necessidades dos

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estudantes e às demandas do meio social, privilegiando Art. 22. Estas Diretrizes devem nortear a elaboração da
propostas com opções pelos estudantes. proposta de expectativas de aprendizagem, a formação de
IV – orientar as unidades escolares para promoverem: professores, os investimentos em materiais didáticos e os
a) classificação do estudante, mediante avaliação pela sistemas e exames nacionais de avaliação.
instituição, para inserção em etapa adequada ao seu grau de
desenvolvimento e experiência; Art. 23. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
b) aproveitamento de estudos realizados e de publicação, revogando-se as disposições em contrário, em
conhecimentos constituídos tanto no ensino formal como no especial a Resolução CNE/CEB nº 3, de 26 de junho de 1998.
informal e na experiência extraescolar;
V – estabelecer normas complementares e políticas
educacionais para execução e cumprimento das disposições
destas Diretrizes, considerando as peculiaridades regionais ou 6.2 Educação Inclusiva.
locais;
VI – instituir sistemas de avaliação e utilizar os sistemas de
avaliação operados pelo Ministério da Educação, a fim de
acompanhar resultados, tendo como referência as
expectativas de aprendizagem dos conhecimentos e saberes a Educação Inclusiva140
serem alcançados, a legislação e as normas, estas Diretrizes, e
os projetos político-pedagógicos das unidades escolares. Um Novo Tempo

Art. 18. Para a implementação destas Diretrizes, cabe aos Assegurar a todos a igualdade de condições para o acesso
sistemas de ensino prover: e a permanência na escola, sem qualquer tipo de
I – os recursos financeiros e materiais necessários à discriminação, é um princípio que está em nossa Constituição
ampliação dos tempos e espaços dedicados ao trabalho desde 1988, mas que ainda não se tornou realidade para
educativo nas unidades escolares; milhares de crianças e jovens: meninas e adolescentes que
II – aquisição, produção e/ou distribuição de materiais apresentam necessidades educacionais especiais, vinculadas
didáticos e escolares adequados; ou não a deficiências.
III – professores com jornada de trabalho e formação, A falta de um apoio pedagógico a essas necessidades
inclusive continuada, adequadas para o desenvolvimento do especiais pode fazer com que essas crianças e adolescentes
currículo, bem como dos gestores e demais profissionais das não estejam na escola: muitas vezes as famílias não encontram
unidades escolares; escolas organizadas para receber a todos e, fazer um bom
IV – instrumentos de incentivo e valorização dos atendimento, o que é uma forma de discriminar. A falta desse
profissionais da educação, com base em planos de carreira e apoio pode também fazer com que essas crianças e
outros dispositivos voltados para esse fim; adolescentes deixem a escola depois de pouco tempo, ou
V – acompanhamento e avaliação dos programas e ações permaneçam sem progredir para os níveis mais elevados de
educativas nas respectivas redes e unidades escolares. ensino, o que é uma forma de desigualdade de condições de
permanência.
Art. 19. Em regime de colaboração com os Estados, o Em 2003, o Brasil começa a construir um novo tempo para
Distrito Federal e os Municípios, e na perspectiva de um transformar essa realidade. O Ministério da Educação, por
sistema nacional de educação, cabe ao Ministério da Educação meio da Secretaria de Educação Especial, assume o compro-
oferecer subsídios e apoio para a implementação destas misso de apoiar os estados e municípios na sua tarefa de fazer
Diretrizes. com que as escolas brasileiras se tornem inclusivas,
democráticas e de qualidade.
Art. 20. Visando a alcançar unidade nacional, respeitadas Este compromisso se concretiza com a implementação do
as diversidades, o Ministério da Educação, em articulação e Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade. Temos
colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os por objetivo compartilhar novos conceitos, informações e
Municípios, deve elaborar e encaminhar ao Conselho Nacional metodologias - no âmbito da gestão e também da relação
de Educação, precedida de consulta pública nacional, proposta pedagógica em todos os estados brasileiros.
de expectativas de aprendizagem dos conhecimentos Estes Referenciais que acompanham o programa se
escolares e saberes que devem ser atingidos pelos estudantes constituem em importantes subsídios que abordam o
em diferentes tempos de organização do curso de Ensino planejamento da gestão da educação. Os textos apresentam a
Médio. gestão sob diferentes enfoques: o papel do município, o papel
da escola e o papel da família, desenvolvi- dos a partir de uma
Art. 21. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deve, fundamentação filosófica que afirma uma concepção da
progressivamente, compor o Sistema de Avaliação da educação especial tendo como pressuposto os direitos
Educação Básica (SAEB), assumindo as funções de: humanos.
Queremos fazer com que todas as pessoas que integram as
I– avaliação sistêmica, que tem como objetivo subsidiar as comunidades escolares brasileiras estejam mobilizadas para a
políticas públicas para a Educação Básica; mudança. Queremos fazer com que todos os municípios de
II– avaliação certificadora, que proporciona àqueles que nosso País tenham um Plano de Educação inclusivo,
estão fora da escola aferir seus conhecimentos construídos em construído democraticamente.
processo de escolarização, assim como os conhecimentos Vamos juntos, fazer com que a escola brasileira se torne
tácitos adquiridos ao longo da vida; um marco desse Novo Tempo, e ajude a fazer do Brasil um País
III– avaliação classificatória, que contribui para o acesso de Todos!
democrático à Educação Superior.
Claudia Pereira Dutra
Secretária de Educação Especial

140http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/fundamentacaofilosofica.pd

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A Fundamentação Filosófica liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade" (CF -


Brasil, 1988).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) uniu Para que a igualdade seja real, ela tem que ser relativa. Isto
os povos do mundo todo, no reconhecimento de que "todos os significa que as pessoas são diferentes, têm necessidades
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em diversas e o cumprimento da lei exige que a elas sejam
direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns garantidas as condições apropriadas de atendimento às
para com os outros em espírito de fraternidade" (Art. 1°). peculiaridades individuais, de forma que todos possam
A concepção contemporânea de Direitos Humanos, usufruir as oportunidades existentes. Há que se enfatizar aqui,
introduzida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos que tratamento diferenciado não se refere à instituição de
(1948), se fundamenta no reconhecimento da dignidade de privilégios, e sim, a disponibilização das condições exigidas, na
todas as pessoas e na universalidade e indivisibilidade desses garantia da igualdade.
direitos; universalidade, porque a condição de pessoa é
requisito único para a titularidade de direitos e A Escola Inclusiva É Espaço De Construção De Cidadania
indivisibilidade, porque os direitos civis e políticos são A família é o primeiro espaço social da criança, no qual ela
conjugados aos direitos econômicos, sociais e culturais. constrói referências e valores e a comunidade é o espaço mais
A Declaração conjuga o valor de liberdade ao valor de amplo, onde novas referências e valores se desenvolvem. A
igualdade, já que assume que não há liberdade sem igualdade, participação da família e da comunidade traz para a escola
nem tampouco igualdade sem liberdade. informações, críticas, sugestões, solicitações, desvelando
Neste contexto, o valor da diversidade se impõe como necessidades e sinalizando rumos.
condição para o alcance da universalidade e a indivisibilidade Este processo, resignifica os agentes e a prática
dos Direitos Humanos. educacional, aproximando a escola da realidade social na qual
Num primeiro momento, a atenção aos Direitos Humanos seus alunos vivem.
foi marcada pela tônica da proteção geral e abstrata, com base A escola é um dos principais espaços de convivência social
na igualdade formal; mais recentemente, passou-se a do ser humano, durante as primeiras fases de seu
explicitar a pessoa como sujeito de direito, respeitado em suas desenvolvimento. Ela tem papel primordial no
peculiaridades e particularidades. desenvolvimento da consciência de cidadania e de direitos, já
que é na escola que a criança e ao adolescente começam a
O respeito à diversidade, efetivado no respeito às conviver num coletivo diversificado, fora do contexto familiar.
diferenças, impulsiona ações de cidadania voltadas ao
reconhecimento de sujeitos de direitos, simples- mente por O Exercício Da Cidadania E A Promoção Da Paz
serem seres humanos. Suas especificidades não devem ser O conceito de cidadania em sua plena abrangência engloba
elemento para a construção de desigualdades, discriminações direitos políticos, civis, econômicos, culturais e sociais. A
ou exclusões, mas sim, devem ser norteadoras de políticas exclusão ou limitação em qualquer uma dessas esferas
afirmativas de respeito à diversidade, volta- das para a fragiliza a cidadania, não promove a justiça social e impõe
construção de contextos sociais inclusivos. situações de opressão e violência.
Exercer a cidadania é conhecer direitos e deveres no
Princípios exercício da convivência coletiva, realizar a análise crítica da
realidade, reconhecer as dinâmicas sociais, participar do
A ideia de uma sociedade inclusiva se fundamenta numa debate permanente sobre causas coletivas e manifestar-se
filosofia que reconhece e valoriza a diversidade, como com autonomia e liberdade respeitando seus pares.
característica inerente à constituição de qualquer sociedade. Tais práticas se contrapõem à violência, na medida que não
Partindo desse princípio e tendo como horizonte o cenário admitem a anulação de um sujeito pelo outro, mas fortalecem
ético dos Direitos Humanos, sinaliza a necessidade de se cada um, na defesa de uma vida melhor para todos.
garantir o acesso e a participação de todos, a todas as Uma proposta de educação para a paz deve sensibilizar os
oportunidades, independentemente das peculiaridades de educandos para novas formas de convivência baseadas na
cada indivíduo e/ou grupo social. solidariedade e no respeito às diferenças, valores essenciais na
formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres e
A Identidade Pessoal E Social E A Construção Da sensíveis para rejeitarem toda a forma de opressão e violência.
Igualdade Na Diversidade
A identidade pessoal e social é essencial para o A Atenção Às Pessoas Com Necessidades Educacionais
desenvolvimento de todo indivíduo, enquanto ser humano e Especiais
enquanto cidadão.
A identidade pessoal é construída na trama das relações A atenção educacional aos alunos com necessidades
sociais que permeiam sua existência cotidiana. Assim, há que especiais associadas ou não a deficiência tem se modificado ao
se esforçar para que as relações entre os indivíduos se longo de processos históricos de transformação social, tendo
caracterizem por atitudes de respeito mútuo, representadas caracterizado diferentes paradigmas nas relações das
pela valorização de cada pessoa em sua singularidade, ou seja, sociedades com esse segmento populacional.
nas características que a constituem. A deficiência foi, inicialmente, considerada um fenômeno
"A consciência do direito de constituir uma identidade metafísico, deter- minado pela possessão demoníaca, ou pela
própria e do reconhecimento da identidade do outro traduz-se escolha divina da pessoa para purgação dos pecados de seus
no direito à igualdade e no respeito às diferenças, assegurando semelhantes. Séculos da Inquisição Católica e posteriormente,
oportunidades diferenciadas (equidade), tantas quantas de rigidez moral e ética, da Reforma Protestante, contribuíram
forem necessárias, com vistas à busca da igualdade." para que as pessoas com deficiência fossem tratadas como a
(MEC/SEESP, 2001). personificação do mal e, portanto, passíveis de castigos,
A Constituição Federal do Brasil assume o princípio da torturas e mesmo de morte.
igualdade como pilar fundamental de uma sociedade À medida que conhecimentos na área da Medicina foram
democrática e justa, quando reza no caput do seu Art. 5° que sendo construídos, e acumulados, na história da humanidade,
"todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer a deficiência passou a ser vista como doença, de natureza
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros, incurável, gradação de menor amplitude da doença mental.
residentes no país, a inviolabilidade do direito à vida, à

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Tais ideias determinaram a caracterização das primeiras estado de segregação social, ainda que em processo de atenção
práticas sociais formais de atenção à pessoa com deficiência, educacional ou terapêutica, não condizia com o respeito aos
quais sejam, as de segregá-las em instituições fosse para seus direitos de acesso e participação regular no espaço
cuidado e proteção, fosse para tratamento médico. A esse comum da vida em sociedade, como também impedia a
conjunto de ideias e de práticas sociais denominou-se sociedade de aprender a administrar a convivência respeitosa
Paradigma da Institucionalização, o qual vigorou, e enriquecedora, com a diversidade de peculiaridades que a
aproximadamente por oito séculos. constituem.
No Brasil, as primeiras informações sobre a atenção às Começou, então, a ser delineada a ideia da necessidade de
pessoas com deficiência remontam à época do Império. construção de espaços sociais inclusivos, ou seja, espaços
Seguindo o ideário e o modelo ainda vigente na Europa, de sociais organizados para atender ao conjunto de
institucionalização, foram criadas as primeiras instituições características e necessidades de todos os cidadãos, inclusive
totais, para a educação de pessoas cegas e de pessoas surdas. daqueles que apresentam necessidades educacionais
O Paradigma da Institucionalização ainda permaneceu especiais.
como modelo de atenção às pessoas com deficiência até Estavam aí postas as bases de um novo modelo,
meados da década de 50, no século XX, momento de grande denominado Paradigma de Suportes. Este paradigma associou
importância histórica, no que se refere a movimentos sociais, a ideia da diversidade como fator de enriquecimento social e o
no mundo ocidental. Fortemente afetados pelas consequências respeito às necessidades de todos os cidadãos como pilar
das Grandes Guerras Mundiais, os países participantes da central de uma nova prática social: a construção de espaços
Organização das Nações Unidas, em Assembleia Geral, em inclusivos em todas as instâncias da vida na sociedade, de
1948, elaboraram a Declaração Universal dos Direitos forma a garantir o acesso imediato e favorecer a participação
Humanos, documento que desde então tem norteado os de todos nos equipamentos e espaços sociais, independente
movimentos de definição de políticas públicas, na maioria das suas necessidades educacionais especiais, do tipo de
desses países. deficiência e do grau de comprometimento que estas
O intenso movimento mundial de defesa dos direitos das apresentem.
minorias, que caracterizou a década de 60, associado a críticas O Brasil tem definido políticas públicas e criado
contundentes ao Paradigma da Institucionalização de pessoas instrumentos legais que garantem tais direitos. A
com doença mental e de pessoas com deficiência, determinou transformação dos sistemas educacionais tem se efetivado
novos rumos às relações das sociedades com esses segmentos para garantir o acesso universal à escolaridade básica e a
populacionais. satisfação das necessidades de aprendizagem para todos os
Começaram a ser implantados os serviços de Reabilitação cidadãos.
Profissional, especialmente, embora não exclusivamente,
voltados para pessoas com deficiência, visando prepará-las O Compromisso Com A Construção De Sistemas
para a integração, ou a reintegração na vida da comunidade. Educacionais Inclusivos
Nos anos 60 e 70, grande parte dos países, tendo como Documentos Orientadores No Âmbito Internacional
horizonte a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
passou a buscar um novo modelo, no trato da deficiência. A A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
proposição do princípio da normalização contribuiu com a produziu vários documentos norteadores para o
ideia de que as pessoas diferentes podiam ser normalizadas, desenvolvimento de políticas públicas de seus países
ou seja, capacita- das para a vida no espaço comum da membros. O Brasil, enquanto país membro da ONU e
sociedade. Este modelo caracterizou-se, gradativamente, pela signatário desses documentos, reconhece seus conteúdos e os
desinstitucionalização dessas pessoas e pela oferta de ser- tem respeitado, na elaboração das políticas públicas internas.
viços de avaliação e de reabilitação globalizada, em
instituições não residenciais, embora ainda segregadoras. Da Declaração Universal Dos Direitos Humanos (1948)
segregação total, passou-se a buscar a integração das pessoas
com deficiência, após capacitadas, habilitadas ou reabilitadas. A Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948,
A esta concepção-modelo denominou-se Paradigma de proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na
Serviços. qual reconhece que "Todos os seres humanos nascem livres e
Da década de 80 em diante, o mundo volta a experimentar iguais, em dignidade e direitos...(Art. 1°.), ...sem distinção
novas transformações. Avanços na Medicina, o alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de
desenvolvimento de novos conhecimentos na área da religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou
Educação e principalmente a criação da via eletrônica como social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra
meio de comunicação em tempo real, com qualquer parte do situação" (Art. 2°.). Em seu Artigo 7°., proclama que "todos são
mundo, vieram deter- minar novas transformações sociais. Por iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual
um lado, maior sofisticação técnico- científica permitia a proteção da lei..." . No Artigo 26°, proclama, no item 1, que
manutenção da vida e o maior desenvolvimento de pessoas "toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser
que, em épocas anteriores, não podiam sobreviver. Por outro gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar
lado, a quebra da barreira geográfica, na comunicação e no fundamental. O ensino elementar é obriga- tório. O ensino
intercâmbio de ideias e de transações, plantava as sementes da técnico e profissional deve ser generalizado..."; no item 2,
"aldeia global", que rapidamente foram germinando e estabelece que "educação deve visar à plena expansão da
definindo novos rumos nas relações entre países e sociedades personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e
diferentes. das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão,
Nesse contexto, mais do que nunca se evidenciou a a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os
diversidade como característica constituinte das diferentes grupos raciais ou religiosos..." O Artigo 27° proclama, no item
sociedades e da população, em uma mesma sociedade. Na 1, que "toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente
década de 90, ainda à luz da defesa dos direitos humanos, na vida cultural da comunidade, de usufruir as artes e de
pôde-se constatar que a diversidade enriquece e humaniza a participar no progresso científico e nos benefícios que deste
sociedade, quando reconhecida, respeitada e atendida em suas resultam".
peculiaridades. De maneira geral, esta Declaração assegura às pessoas com
Passou, então, a ficar cada vez mais evidente que a deficiência os mesmos direitos à liberdade, a uma vida digna,
manutenção de segmentos populacionais minoritários em

Educação Brasileira 188


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APOSTILAS OPÇÃO

à educação fundamental, ao desenvolvimento pessoal e social - Assegurar que, num contexto de mudança sistemática, os
e à livre participação na vida da comunidade. programas de formação do professorado, tanto inicial como
contínua, estejam voltados para atender às necessidades
Declaração De Jomtien (1990) educacionais especiais, nas escolas integradoras.

Em março de 1990, o Brasil participou da Conferência A Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a Criança,
Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia, na analisou a situação mundial da criança e estabeleceu metas a
qual foi proclamada a Declaração de Jomtien. Nesta serem alcançadas. Entendendo que a educação é um direito
Declaração, os países relembram que "a educação é um direito humano e um fator fundamental para reduzir a pobreza e o
fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, trabalho infantil e promover a democracia, a paz, a tolerância
no mundo inteiro". Declararam, também, entender que a e o desenvolvimento, deu alta prioridade à tarefa de garantir
educação é de fundamental importância para o que, até o ano de 2015, todas as crianças tenham acesso a um
desenvolvimento das pessoas e das sociedades, sendo um ensino primário de boa qualidade, gratuito e obrigatório e que
elemento que "pode contribuir para conquistar um mundo terminem seus estudos. Ao assinar esta Declaração, o Brasil
mais seguro, mais sadio, mais próspero e ambientalmente comprometeu-se com o alcance dos objetivos propostos, que
mais puro, e que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso visam a transformação dos sistemas de educação em sistemas
social, econômico e cultural, a tolerância e a cooperação educacionais inclusivos.
internacional".
Tendo isso em vista, ao assinar a Declaração de Jomtien, o Convenção Da Guatemala (1999)
Brasil assumiu, perante a comunidade internacional, o A partir da Convenção Interamericana para a Eliminação
compromisso de erradicar o analfabetismo e universalizar o de Todas as For- mas de Discriminação contra as Pessoas
ensino fundamental no país. Para cumprir com este Portadores de Deficiência os Estados Partes reafirmaram que
compromisso, o Brasil tem criado instrumentos norteadores "as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos
para a ação educacional e documentos legais para apoiar a humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que
construção de sistemas educacionais inclusivos, nas diferentes estes direitos, inclusive o de não ser submetido a
esferas públicas: municipal, estadual e federal. discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade
e da igualdade que são inerentes a todo ser humano".
Declaração De Salamanca (1994) No seu artigo I, a Convenção define que o termo deficiência
"significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza
A Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer
Especiais: Acesso e Qualidade, realizada pela UNESCO, em uma ou mais atividades essenciais da vida diária causada ou
Salamanca (Espanha), em junho de 1994, teve, como objeto agravada pelo ambiente econômico e social".
específico de discussão, a atenção educacional aos alunos com Para os efeitos desta Convenção, o termo discriminação
necessidades educacionais especiais. contra as pessoas com deficiência "significa toda a
Nela, os países signatários, dos quais o Brasil faz parte, diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência
declararam: (...) que tenham efeito ou propósito de impedir ou anular o
- Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas
fundamental à educação e que a elas deve ser dada a portadoras de deficiência de seus direitos humanos e suas
oportunidade de obter e manter um nível aceitável de liberdades fundamentais".
conhecimentos; Também define que não constitui discriminação "a
- Cada criança tem características, interesses, capacidades diferenciação ou preferência adotada pelo Estado Parte para
e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios; promover a integração social ou desenvolvimento pessoal dos
- Os sistemas educativos devem ser projetados e os portadores de deficiência desde que a diferenciação ou
programas aplicados de modo que tenham em vista toda a preferência não limite em si mesmo o direito a igualdade
gama dessas diferentes características e necessidades; dessas pessoas e que elas não sejam obrigadas a aceitar tal
- As pessoas com necessidades educacionais especiais diferenciação".
devem ter acesso às escolas comuns, que deverão integrá-las
numa pedagogia centralizada na criança, capaz de atender a Legislação Brasileira - Marcos Legais
essas necessidades;
- As escolas comuns, com essa orientação integradora, Caro (a) candidato (a), vale a pena ressaltar que as
representam o meio mais eficaz de combater atitudes legislações abaixo podem ter sofrido alterações ou terem
discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras, construir sido revogadas, porém se trata de um documento do MEC
uma sociedade integradora e dar educação para todos; não cabendo a nós realizar quaisquer alterações, mesmo
que viáveis.
A Declaração se dirige a todos os governos, incitando-os a:
- Dar a mais alta prioridade política e orçamentária à
A sociedade brasileira tem elaborado dispositivos legais
melhoria de seus sistemas educativos, para que possam
que, tanto explicitam sua opção política pela construção de
abranger todas as crianças, independentemente de suas
uma sociedade para todos, como orientam as políticas públicas
diferenças ou dificuldades individuais;
e sua prática social.
- Adotar, com força de lei ou como política, o princípio da
educação integra- da, que permita a matrícula de todas as
Constituição Federal (1988)
crianças em escolas comuns, a menos que haja razões
convincentes para o contrário;
- Criar mecanismos descentralizados e participativos, de A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
assumiu, for- malmente, os mesmos princípios postos na
planejamento, supervisão e avaliação do ensino de crianças e
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além disso,
adultos com necessidades educacionais especiais;
introduziu, no país, uma nova prática administrativa,
- Promover e facilitar a participação de pais, comunidades
representada pela descentralização do poder.
e organizações de pessoas com deficiência, no planejamento e
A partir da promulgação desta Constituição, os municípios
no processo de tomada de decisões, para atender a alunos e
foram contempla- dos com autonomia política para tomar as
alunas com necessidades educacionais especiais;
decisões e implantar os recursos e processos necessários para

Educação Brasileira 189


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garantir a melhor qualidade de vida para os cidadãos que neles Desenvolvimento de ação conjunta do Estado e da
residem. Cabe ao município, mapear as necessidades de seus sociedade civil, de modo a assegurar a plena integração da
cidadãos, planejar e implementar os recursos e serviços que se pessoa portadora de deficiência no contexto socioeconômico e
revelam necessários para atender ao conjunto de suas cultural;
necessidades, em todas as áreas da atenção pública. Estabelecimento de mecanismos e instrumentos legais e
operacionais que assegurem às pessoas portadoras de
deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos que,
Estatuto Da Criança E Do Adolescente (1990) decorrentes da Constituição e das leis, propiciam o seu bem-
estar pessoal, social e econômico;
O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n° 8.069, Respeito às pessoas portadoras de deficiência, que devem
promulgada em 13 de julho de 1990, dispõe, em seu Art. 3°, receber igualdade de oportunidades na sociedade, por
que "a criança e o adolescente gozam de todos os direitos reconhecimento dos direitos que lhes são assegurados, sem
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da privilégios ou paternalismos.
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhes por No que se refere especificamente à educação, o Decreto
lei, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar estabelece a matrícula compulsória de pessoas com
o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em deficiência, em cursos regulares, a consideração da educação
condições de liberdade e de dignidade." especial como modalidade de educação escolar que permeia
Afirma, também, que "é dever da família, da comunidade, transversalmente todos os níveis e modalidades de ensino, a
da sociedade em geral e do poder público assegurar, com oferta obrigatória e gratuita da educação especial em
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, estabelecimentos públicos de ensino, dentre outras medidas
à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à (Art. 24, I, II, IV).
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária." (Art.4°). Plano Nacional De Educação (2001)
No que se refere à educação, o ECA estabelece, em seu Art.
53, que "a criança e o adolescente têm direito à educação, A Lei n° 10.172/01, aprova o Plano Nacional de Educação
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo e dá outras pro- vidências.
para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho", O Plano Nacional de Educação estabelece objetivos e metas
assegurando: para a educação das pessoas com necessidades educacionais
I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na especiais, que dentre eles, destacam-se os que tratam:
escola; - do desenvolvimento de programas educacionais em
II - Direito de ser respeitado por seus educadores; todos os municípios, e em parceria com as áreas de saúde e
III - Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua assistência social, visando à ampliação da oferta de
residência. atendimento da educação infantil;
- dos padrões mínimos de infraestrutura das escolas para
O Art. 54 diz que "é dever do Estado assegurar à criança e atendimento de alunos com necessidades educacionais
ao adolescente": especiais;
I. ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para - da formação inicial e continuada dos professores para
os que a ele não tiveram acesso na idade própria; atendimento às necessidades dos alunos;
II. atendimento educacional especializado aos portadores - da disponibilização de recursos didáticos especializados
de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; de apoio à aprendizagem nas áreas visual e auditiva;
III. atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero - da articulação das ações de educação especial com a
a seis anos de idade; política de educação para o trabalho;
IV. atendimento no ensino fundamental, através de - do incentivo à realização de estudos e pesquisas nas
programas suplementares de material didático-escolar, diversas áreas relacionadas com as necessidades educacionais
transporte, alimentação e assistência à saúde. dos alunos;
- do sistema de informações sobre a população a ser
Em seu Art. 55 dispõe que "os pais ou responsável têm a atendida pela educação especial.
obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular
de ensino.” Convenção Interamericana Para Eliminação De Todas As
Formas De Discriminação Contra As Pessoas Com Deficiência
Lei De Diretrizes E Bases Da Educação Nacional (1996) (2001)

Os municípios brasileiros receberam, a partir da Lei de Em 08 de outubro de 2001, o Brasil através do Decreto
Diretrizes e Bases Nacionais, Lei no. 9.394, de 20.12.1996, a 3.956, promulgou a Convenção Interamericana para a
responsabilidade da universalização do ensino para os Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as
cidadãos de 0 a 14 anos de idade, ou seja, da oferta de Edu- Pessoas Portadoras de Deficiência.
cação Infantil e Fundamental para todas as crianças e jovens Ao instituir esse Decreto, o Brasil comprometeu-se a:
que neles residem. Assim, passou a ser responsabilidade do 1. Tomar as medidas de caráter legislativo, social,
município formalizar a decisão política e desenvolver os educacional, trabalhista ou de qualquer outra natureza, que
passos necessários para implementar, em sua realidade sejam necessárias para eliminar a discriminação contra as
sociogeográfica, a educação inclusiva, no âmbito da Educação pessoas portadoras de deficiência e proporcionar a sua plena
Infantil e Funda- mental. integração à sociedade (...):
a) medidas das autoridades governamentais e/ou
Política Nacional Para A Integração Da Pessoa Portadora entidades privadas para eliminar progressivamente a
De Deficiência - Decreto N° 3.298 (1999) discriminação e promover a integração na prestação ou
fornecimento de bens, serviços, instalações, programas e
A política nacional para a integração da pessoa portadora atividades, tais como o emprego, o transporte, as
de deficiência prevista no Decreto 3298/99 adota os seguintes comunicações, a habitação, o lazer, a educação, o esporte, o
princípios: acesso à justiça e aos serviços policiais e às atividades políticas
e de administração;

Educação Brasileira 190


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APOSTILAS OPÇÃO

2.Trabalhar prioritariamente nas seguintes áreas: da Assistência Social, de forma que "possam constituir-se em
a) prevenção de todas as formas de deficiência; recursos de apoio, cooperação e suporte", no processo de
b) detecção e intervenção precoce, tratamento, desenvolvimento da criança.
reabilitação, educação, formação ocupacional e prestação de O documento “Saberes e Práticas da Inclusão no Ensino
serviços completos para garantir o melhor nível de Fundamental” publicado em 2003 reconhece que:
independência e qualidade de vida para as pessoas portadoras - Toda pessoa tem direito à educação, independentemente
de deficiência; de gênero, etnia, deficiência, idade, classe social ou qualquer
c) sensibilização da população, por meio de campanhas de outra condição;
educação, destinadas a eliminar preconceitos, estereótipos e - O acesso à escola extrapola o ato da matrícula, implicando
outras atitudes que atentam contra o direito das pessoas a na apropriação do saber, da aprendizagem e na formação do
serem iguais, permitindo desta forma o respeito e a cidadão crítico e participativo;
convivência com as pessoas portadoras de deficiência. - A população escolar é constituída de grande diversidade
e a ação educativa deve atender às maneiras peculiares dos
Diretrizes Nacionais Para A Educação Especial Na alunos aprenderem.
Educação Básica (2001)
Educação Profissional
A Resolução CNE/CEB n° 02/2001, instituiu as Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, que O documento “Educação Profissional - Indicações para a
manifesta o compromisso do país com "o desafio de construir ação: a interface educação profissional/educação especial”
coletivamente as condições para atender bem à diversidade de visa estimular o desenvolvimento de ações educacionais que
seus alunos". permitam alcançar a qualidade na gestão das escolas,
Esta Resolução representa um avanço na perspectiva da removendo barreiras atitudinais, arquitetônicas e
universalização do ensino e um marco da atenção à educacionais para a aprendizagem, assegurando uma melhor
diversidade, na educação brasileira, quando ratifica a formação inicial e continuada aos professores, com a
obrigatoriedade da matrícula de todos os alunos e assim finalidade de lhes propiciar uma ligação indispensável entre
declara: teoria e prática.
"Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, Destaca ainda, a importância da articulação e parceria
cabendo às es- colas organizarem-se para o atendimento aos entre as instituições de ensino, trabalho e setores empresariais
educandos com necessidades educacionais especiais, para o desenvolvimento do Programa de Educação
assegurando as condições necessárias para uma educação de Profissional. O documento enfatiza as seguintes temáticas:
qualidade para todos." - A relação educação e trabalho no Brasil e a emergência da
Dessa forma, não é o aluno que tem que se adaptar à escola, nova legislação da Educação Profissional;
mas é ela que, consciente da sua função, coloca-se à disposição - Balizamentos e marcos normativos da Educação
do aluno, tornando-se um espaço inclusivo. A educação Profissional;
especial é concebida para possibilitar que o aluno com - Educação Profissional/Educação Especial: faces e formas;
necessidades educacionais especiais atinja os objetivos - Desdobramentos possíveis no âmbito de uma agenda de
propostos para sua educação. capacitação docente;
A proposição da política expressa nas Diretrizes, traduz o - Desafios para implementação de uma política de
conceito de escola inclusiva, pois centra seu foco na discussão Educação Profissional para o aluno da Educação Especial.
sobre a função social da escola e no seu projeto pedagógico. Direito À Educação

Documentos Norteadores Da Prática Educacional O documento “Direito à Educação - Subsídios para a Gestão
Para Alunos Com Necessidades Educacionais Especiais do Sistema Educacional Inclusivo, apresenta um conjunto de
textos que tratam da política educacional no âmbito da
Em consonância com os instrumentos legais acima Educação Especial - subsídios legais que devem embasar a
mencionados, o Brasil elaborou documentos norteadores para construção de sistemas educacionais inclusivos.
a prática educacional, visando especial- mente superar a O documento é constituído de duas partes:
tradição segregatória da atenção ao segmento populacional
constituído de crianças, jovens e adultos com necessidades Orientações Gerais
educacionais especiais. - A política educacional no âmbito da Educação Especial;
- Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Saberes E Práticas Da Inclusão Educação Básica - Parecer 17/2001;
- Fontes de Recursos e Mecanismos de Financiamentos da
O documento "Saberes e Práticas da Inclusão na Educação Educação Especial;
Infantil", publicado em 2003, aponta para a necessidade de - Evolução Estatística da Educação Especial.
apoiar as creches e as escolas de educação infantil, a fim de Marcos Legais
garantir, a essa população, condições de acessibilidade física e Trata do Ordenamento Jurídico, contendo as leis que
de acessibilidade a recursos materiais e técnicos apropriados regem a educação nacional e os direitos das pessoas com
para responder a suas necessidades educacionais especiais. deficiência, constituindo importantes subsídios para
Para tanto, o documento se refere à necessidade de embasamento legal a gestão dos sistemas de ensino.
"disponibilizar recursos humanos capacitados em educação
especial/ educação infantil para dar supor- te e apoio ao Inclui a seguinte legislação:
docente das creches e pré-escolas, ou centros de educação - Constituição da República Federativa do Brasil /88
infantil, assim como possibilitar sua capacitação e educação - Lei 7853/89 - Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras
continuada, por intermédio da oferta de cursos ou estágios em de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria
instituições comprometidas com o movimento da inclusão"; Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência -
Orienta, ainda, sobre a necessidade de divulgação "da visão CORDE, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou
de educação infantil, na perspectiva da inclusão", para as difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério
famílias, a comunidade escolar e a sociedade em geral, bem Público, define crimes e dá outra providências. (Alterada pela
como do estabelecimento de parcerias com a área da Saúde e Lei 8.028/90)

Educação Brasileira 191


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APOSTILAS OPÇÃO

- Lei 8069/90 - Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do - Portaria do Ministério do Planejamento 08/2001 -
Adolescente e dá outras providências - ECA Atualiza e consolida os procedimentos operacionais adotados
- Lei 8859/94 - Modifica dispositivos da Lei nº 6.494, de 07 pelas unidades de recursos humanos para a aceitação, como
de dezembro de 1977, estendendo aos alunos de ensino estagiários, de alunos regularmente matriculados e que
especial o direito à participação em atividades de estágio. venham frequentando, efetivamente, cursos de educação
- Lei 9394/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da superior, de ensino médio, de educação profissional de nível
Educação Nacional - LDBEN. médio ou de educação especial, vinculados à estrutura do
- Lei 9424/96 - Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e ensino público e particular.
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do
Magistério - FUNDEF. Resoluções
- Lei 10098/00 - Estabelece normas gerais e critérios - Resolução 09/78 - Conselho Federal de Educação -
básicos para a pro- moção da acessibilidade das pessoas Autoriza, excepcionalmente, a matrícula do aluno classificado
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá como superdotado nos cursos superiores sem que tenha
outras providências. concluído o curso de 2º grau.
- Lei 10172/2001 - Aprova o Plano Nacional de Educação e - Resolução 02/81 - Conselho Federal de Educação -
dá outras pro- vidências. Autoriza a concessão de dilatação de prazo de conclusão do
- Lei 10216/2001 - Dispõe sobre a proteção e os direitos curso de graduação aos alunos portado- res de deficiência
das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona física, afecções congênitas ou adquiridas.
o modelo assistencial em saúde mental. - Resolução 02/01 - Conselho Nacional de Educação -
- Lei 10436/02 - Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
- Libras e dá outras providências. Educação Básica.
- Lei 10845/2004 - Institui o Programa de - Resolução 01 e 02/02 - Conselho Nacional de Educação -
Complementação ao Atendimento Educacional Especializado Diretrizes Nacionais para a Formação de Professores da
às pessoas portadoras de deficiência, e dá outras providências Educação Básica, em nível superior, graduação plena.
- PAED. - Resolução 01/04 - Conselho Nacional de Educação -
Estabelece Diretrizes Nacionais para organização e realização
Decretos de Estágio de alunos do Ensino Profissionalizante e Ensino
- Decreto 2.264/97 - Regulamenta a Lei 9424/96 - Médio, inclusive nas modalidades de Ensino Especial e
FUNDEF, no âmbito federal, e determina outras providências. Educação de Jovens e Adultos.
- Decreto 3.298/99 - Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de
outubro de 1989, que dispõe sobre a Política Nacional para a Aviso Circular
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as - Aviso Circular nº 277/ 96 - Dirigido aos Reitores das IES
normas de proteção e dá outras providências. solicitando a execução adequada de uma política educacional
- Decreto 3030/99 - Dá nova redação ao art.2º do Decreto dirigida aos portadores de necessidades especiais.
1.680/95 que dispõe sobre a competência, a composição e o
funcionamento do Conselho Consultivo da Coordenadoria Parecer
Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. - Parecer Nº 17/01 DO CNE / Câmara de Educação Básica -
(CORDE) Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação
- Decreto 3076/99 - Cria no âmbito do Ministério da Justiça Básica.
o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de
Deficiência. (CONADE).
- Decreto 3631/00 - Regulamenta a Lei 8899/94, que 6.3 Educação, trabalho,
dispõe sobre o transporte de pessoas portadoras de formação profissional e as
deficiência no sistema de transporte coletivo interestadual.
- Decreto 3.952/01 - Dispõe sobre o Conselho Nacional de transformações do Ensino
Combate à Discriminação (CNCD). Médio. 6.4 Protagonismo
- Decreto 3956/01 -Promulga a Convenção Interamericana Juvenil e Cidadania.
para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. (Convenção da
Guatemala)
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Portarias - MEC
A Educação Profissional no Brasil141, no decorrer da
- Portaria 1793/94 -Recomenda a inclusão da disciplina
história, assumiu diferentes funções, foi norteada por muitos
Aspectos Ético - Político - Educacionais na normalização e
princípios, embasada por inúmeras teorias, desenvolvida com
integração da pessoa portadora de necessidades especiais,
base nas mais diversas práticas pedagógicas e sofreu muitas
prioritariamente, nos cursos de Pedagogia, Psicologia e em
alterações em sua estrutura. Além disso, ela sempre esteve
todas as Licenciaturas.
muito atrelada à formação de mão de obra, pois, desde seus
- Portaria 319/99 - Institui no Ministério da Educação,
primórdios, sempre fora destinada às camadas pobres da
vinculada à Secretaria de Educação Especial/SEESP a
população.
Comissão Brasileira do Braille, de caráter permanente.
A Legislação da Educação Nacional, promulgada entre
- Portaria 554/00 - Aprova o Regulamento Interno da
1942 e 1946 define como objetivo do ensino secundário e
Comissão Brasileira do Braille
normal a formação das elites condutoras do país, ficando para
- Portaria 3.284/03 - Dispõe sobre requisitos de
o ensino profissional a tarefa de oferecer formação adequada
acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para
aos filhos dos operários, aos desvalidos da sorte e aos menos
instruir os processos de autorização e de reconhecimento de
afortunados, aqueles que necessitam ingressar precocemente
cursos e de credenciamento de instituições.
na força de trabalho.

141 Texto adaptado de QUEVEDO, M. de. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO

BRASIL: formação de cidadãos ou mão de obra para o mercado de trabalho?

Educação Brasileira 192


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APOSTILAS OPÇÃO

Cristalizou-se, com isso, na sociedade brasileira, a ideia de novo quadro de leis relativas aos direitos e deveres dos
que os ensinos secundário, normal e superior eram destinados cidadãos.
aos que detinham o poder e o saber, enquanto o ensino Há que se indagar, no entanto, se de contextos e de lugares
profissional estava voltado apenas àqueles que executavam as tão diversos, em situações tão contraditórias, em classes
tarefas manuais. Promovia-se assim, com amparo legal, a sociais tão distintas, com tão diferentes ocupações... por que
separação entre os que pensam e os que fazem, e, estes atores falam em cidadania, de que cidadania falam esses
preconceituosamente, a educação profissional era grupos? O que é cidadania para o pobre? E para o rico? Para
considerada como uma educação de segunda categoria. patrão e assalariado? Para homem e mulher?
Até a década de 1970, a formação profissional era Segundo Covre, “[...] podemos afirmar que ser cidadão
sinônimo de treinamento para a produção em série e significa ter direitos e deveres, ser súdito e ser soberano. Tal
padronizada. O resultado de tal prática era a incorporação no situação está descrita na Carta de Direitos da Organização das
mercado de trabalho de operários semiqualificados que Nações Unidas (ONU), de 1948. ” Complementando a ideia a
desempenhavam tarefas simples, rotineiras e previamente autora continua:
delimitadas.
Somente a partir da década de 1980 surgiram novas Só existe cidadania se houver a prática da
formas de organização e de gestão que modificaram a reivindicação, da apropriação de espaços, da pugna para
estrutura do mundo do trabalho e as empresas passaram fazer valer os direitos do cidadão. Neste sentido, a prática
então a exigir empregados mais qualificados. Novas da cidadania pode ser a estratégia, por excelência, para a
competências passaram ser requeridas. Além da destreza construção de uma sociedade melhor. Mas o primeiro
manual, passou-se requerer competências como inovação, pressuposto dessa prática é que esteja assegurado o direito
criatividade, capacidade para o trabalho em equipe e de reivindicar os direitos, e que o conhecimento deste se
autonomia na tomada de decisões. Tudo mediado pela estenda cada vez mais a toda a população.
utilização de novas tecnologias da informação.
Atualmente, a Educação Profissional não consiste em É preciso ter presente, no entanto, a necessidade de se
simples instrumento de política assistencialista nem se trabalhar para conquistar tais direitos. É necessário ir muito
resume à simples preparação do indivíduo para execução de além da espera passiva. Deixar de ser mero receptor, ser acima
determinado conjunto de tarefas. Ao contrário, com a nova Lei de tudo sujeito daquilo que se pode conquistar.
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Educação Ainda na busca por compreender o que é cidadania torna-
Profissional passou a ter significado muito maior: o domínio se difícil não voltar a citar a autora acima mencionada:
operacional de determinado fazer, acompanhado da
compreensão global do processo produtivo, com apreensão do [...] Penso que a cidadania é o próprio direito à vida no
saber tecnológico, valorização da cultura do trabalho e sentido pleno. Trata-se de um direito que precisa ser
mobilização dos valores necessários à tomada de decisões. construído coletivamente, não só em termos de
A partir da LDB a Educação Profissional no Brasil passou a atendimento às necessidades básicas, mas de acesso a
ser considerada complementar à Educação Básica, podendo todos os níveis de existência, incluindo o mais abrangente,
ser desenvolvida em escolas, em instituições especializadas ou o papel do (s) homem (s) no Universo.
no próprio ambiente de trabalho.
A cidadania, nesta perspectiva, não é uma construção
A educação profissional, prevista no art. 39 da Lei no individual, se constrói na relação, na coletividade. Assim, os
9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases “[...] direitos de um precisam condizer com os direitos dos
da Educação Nacional), observadas as diretrizes outros, permitindo a todos o direito à vida no sentido pleno –
curriculares nacionais definidas pelo Conselho Nacional de traço básico da cidadania. ”
Educação, será desenvolvida por meio de cursos e Se considerarmos a história, constataremos que a
programas de: formação inicial e continuada de cidadania está relacionada, na sua origem, ao surgimento da
trabalhadores; educação profissional técnica de nível vida na cidade, à capacidade dos homens exercerem direitos e
médio; e educação profissional tecnológica de graduação e deveres de cidadãos. Hoje,
de pós-graduação. (DECRETO 5.154, de 23 de julho de A bandeira de luta da cidadania plena deve ser transformar
2004). o cotidiano do trabalhador em algo bom, satisfatório, sob
condições que respeitem a própria vida, dando chance
A formação profissional, acredita-se hoje, não se esgota na também à questão do desejo – a identidade do indivíduo com
conquista do certificado ou diploma. O desafio é ir além do as atividades que realiza.
preparo técnico, ultrapassar a formação de mão de obra...
Formação para além da qualificação técnica Nos tempos atuais, afirma Machado “[...] nenhuma
A indagação acerca do papel social da educação parece caracterização das funções da Educação parece mais adequada
tomar uma dimensão ainda maior quando trata da questão da do que a associação da mesma à formação do cidadão, à
Educação Profissional. Estaria ela, em nossos dias, repetindo construção da cidadania”. Percebe-se aqui o espaço por
os mesmos equívocos de outras épocas, servindo unicamente excelência, de atuação da Educação. É preciso educar para a
como forma de preparar mão de obra barata para o mercado cidadania. Retomam-se então, questionamentos que norteiam
de trabalho? Ou são constatados, como também já foram em esse texto. Como, por meio da Educação Profissional, contribuir
tempos passados, sinais de uma educação preocupada com a na formação de cidadãos, superando a mera preparação de mão
formação integral de sujeitos, de cidadãos? de obra para o mercado de trabalho?
No desejo de buscar resposta a tal questionamento, Ao tomarmos como categoria de análise a concepção de
busquemos compreender em que implica a cidadania, palavra trabalho em geral, na dimensão de produção da existência
tão ventilada no mundo contemporâneo, tão presente na fala humana, em suas múltiplas possibilidades, embora
dos políticos, nos meios de comunicação, na produção determinadas em última instância pela lógica da mercadoria, a
intelectual. Tão presente no discurso dos detentores do poder educação sempre será uma categoria fundamental para a
quanto no sonho e na expressão das camadas mais construção da cidadania.
desprivilegiadas da população. Na consciência de que a educação comprometida com a
A sociedade brasileira viveu em 1988 a experiência da formação de cidadãos passa necessariamente por uma prática
Constituinte que elaborou a Constituição Nacional, fixando um pedagógica que compreenda o ser humano na sua

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integralidade, indaga-se o que caracteriza uma prática [...] situação degradada do momento histórico-social
educativa humanizadora, que busque a formação integral, que atravessamos só faz aguçar o desafio da formação
para a cidadania. humana, necessária pelas carências ônticas e pela
contingência ontológica dos homens, mas possível pela
Severino afirma que: educabilidade humana. Quando se fala, pois, em educação
Na cultura ocidental, a educação foi sempre vista como para além de qualquer processo de qualificação técnica, o
um processo de formação humana. Essa formação significa que está em pauta é uma autêntica Bildung, uma Paideia,
a própria humanização do homem, que sempre foi formação de uma personalidade integral.
concebido como um ente que não nasce pronto, que tem
necessidade de cuidar de si mesmo como que buscando um O que está em pauta é a necessidade de uma educação que,
estágio de maior humanidade, uma condição de maior comprometida com a qualificação técnica, não perca de vista
perfeição em seu modo de ser humano. Portanto, a sua missão humanizadora na consciência de que “Nascemos
formação é o processo do devir humano como devir humanos, mas isso não basta: temos também que chegar a sê-
humanizador, mediante o qual o indivíduo natural devém lo”. Ainda há muito o que dizer…
um ser cultural, uma pessoa. Ao se propor a necessidade de uma formação humana que
supere a mera qualificação técnica, está se reforçando a
A educação, nesta perspectiva, não é apenas um processo importância da formação da personalidade integral, sem em
institucional e instrucional, o que aparece normalmente como momento algum, desmerecer o valor do preparo técnico para
um lado mais visível. Educar é fundamentalmente o exercício de uma profissão. Diante das atuais políticas de
investimento formativo da pessoa. E, educar governo e de dois complexos paradoxos: de um lado falta de
[...] para a cidadania deve significar também, pois, semear qualificação, de outro, vagas ociosas em tantas instituições de
um conjunto de valores universais, que se realizam com o tom ensino; falta mão de obra qualificada e tantas pessoas
e a cor de cada cultura, sem pressupor um relativismo ético procuram por emprego, necessitam de trabalho para ganhar
radical, francamente inaceitável, deve significar ainda a seu sustento... há que se questionar a razão destes
negociação de uma compreensão adequada dos valores “desencontros”. Além disso, indaga-se até que ponto a
acordados, sem o que as mais legítimas bandeiras podem conquista da escolaridade pode garantir a cidadania, num país
reduzir-se a meros slogans [...]. Essa tarefa de negociação é marcado por tantas contradições. A qualificação do cidadão
bastante complexa, enfrentá-la, no entanto, não é uma opção a garante-lhe emprego, sendo este um dos requisitos
ser considerada, é o único caminho que se oferece para as fundamentais para se pensar em cidadania?
ações educacionais. O que dizer aos trabalhadores? Reforçar, pura e
simplesmente, a tese oficial de que a escolarização
Neste ponto de vista, se complementada por alguma formação profissional confere
[...] há, portanto, um valor social universal que pode ser “empregabilidade” é, no mínimo, má fé. Por outro lado, afirmar
estabelecido a priori, dependendo apenas de um único que não adianta lutar por mais e melhor educação, é, mais do
compromisso ideológico, a saber, o compromisso com a que matar a esperança, eliminar um espaço importante para a
democracia, é precisamente a cidadania, incluindo construção de um outro projeto, contra hegemônico.
consequentemente a plena consciência da cidadania por Tantos outros questionamentos poderiam ser levantados
todos e o esforço educacional que permite aos indivíduos em torno do pouco interesse em envolver-se num processo
alcançarem esta consciência. formativo por parte de muitos que parecem acomodar-se
como que na espera por alternativas de sobrevivência que não
A ideia de formação é, pois, no entendimento de Severino, lhes exija esforço algum. O que pode a educação frente a tal
“[...] aquela do alcance de um modo de ser, mediante um devir, realidade? São inúmeras as situações que provam não ser a
modo de ser que se caracterizaria por uma qualidade educação, sozinha, capaz de transformar o mundo. No entanto,
existencial marcada por um máximo possível de emancipação, sem ela, não será possível, disso temos convicção, pois sem a
pela condição de sujeito autônomo. Uma situação plena de educação muitas conquistas e mudanças não teriam, com
humanidade”. Nesta perspectiva, o certeza, acontecido.
A Educação Profissional continua buscando conquistar seu
[...] imperativo moderno da inovação nos processos espaço de atuação e a confiança da sociedade, apresentando-
produtivos e do aumento da capacitação técnica dos se, na voz de muitos testemunhos, como esperança de
trabalhadores encontra limites conjunturais claros entre a formação de pessoas que, mais do que se preparar para uma
realidade mercadológica e a possibilidade de realização profissão, por meio dela, conheceram-se sujeitos de sua
profissional das pessoas. O descompasso que acentua a própria história e da história da humanidade.
insatisfação dos trabalhadores em programas de formação Constata-se, por fim, necessidade de superar a visão dual
profissional gerados ou promovidos pelas organizações e da educação ainda tão presente em muitas práticas educativas:
pelo Estado, ainda que não se discuta sobre seus vieses formação técnica ou formação humana? Elas não se
ideológicos, demonstra estratégias pouco coerentes para contrapõem, ao contrário, se complementam numa
lidar com a dimensão da formação humana. interdependência mútua na medida em que se deseja a
formação integral dos sujeitos. De que vale um discurso
A consciência de que não nascemos prontos e de que a teórico sobre cidadania a alguém que não tem espaço de
humanização é processo do qual cada ser precisa ser sujeito na atuação como profissional? E qual é o valor de um
relação com o semelhante apresenta-se cada vez mais como conhecimento técnico a quem não sabe de seu lugar enquanto
grande desafio à educação no sentido de ser ela agente ser humano no Universo? Há que se trabalhar no sentido de
dinamizador do processo de humanização, o que se trata, sem humanizar a Educação Profissional sem perder de vista a
dúvida, de objetivo que soa utópico e de difícil consecução à qualidade de uma formação científica e tecnológica de
vista da dura realidade histórica de nossa existência. No qualidade. Porque
entanto, a humanização sempre deverá ser um horizonte
constantemente almejado e buscado pois, essa Essa contraposição entre educação e instrução é hoje
notavelmente obsoleta e muito enganosa. Ninguém se
atreverá a afirmar seriamente que a autonomia cívica e
ética de um cidadão possa se forjar na ignorância de tudo o

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que é necessário para ele se desempenhar públicas de trabalho, contribuindo para a atual explosão da
profissionalmente; e o melhor preparo técnico, carente do oferta de cursos privados de educação profissional.
desenvolvimento básico das capacidades morais ou de uma No plano teórico, significa confrontar a Teoria do Capital
mínima disposição de independência política, nunca Humano e suas variantes contemporâneas, demonstrando a
formará pessoas íntegras, mas simples robôs assalariados. sua incapacidade de explicar ou contribuir com a elaboração
Acontece, pois, além do mais, que separar a educação da de políticas de trabalho emprego e renda que, de fato, incluam
instrução é, além de indesejável, impossível, pois não se de forma cidadã milhões de pessoas no mundo do trabalho.
pode educar sem instruir nem vice-versa. No plano político, significa ir além do campo educacional,
atuando também e simultaneamente nos campos da produção
Contudo, o que parece caracterizar um processo educativo e do Estado, envolvendo os sujeitos trabalhadores no debate,
verdadeiramente comprometido com a formação de cidadãos na perspectiva da construção de um verdadeiro consenso da
é seu caráter de qualificação técnica aliada à dimensão da importância da educação profissional e tecnológica apontadas
formação humana integral considerando que o que afirma nas intervenções ocorridas no Fórum Mundial.
Savater: “Nossa humanidade biológica necessita uma
confirmação posterior, algo como um segundo nascimento Conceitos e concepções
no qual, por meio do nosso próprio esforço e da relação com Formação humana integral
outros humanos, se confirme definitivamente o primeiro. ” A ideia de formação integrada sugere superar o ser
humano dividido historicamente pela divisão social do
142No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação trabalho entre a ação de executar e a ação de pensar, dirigir ou
Nacional (LDB), de 1996, diz que “a educação profissional será planejar. Trata-se de superar a redução da preparação para o
desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por trabalho ao seu aspecto operacional, simplificado, escoimado
diferentes estratégias de educação continuada, em instituições dos conhecimentos que estão na sua gênese científico-
especializadas ou no ambiente de trabalho”. São três os níveis tecnológica e na sua apropriação histórico-social. Como
de educação profissional na legislação em vigor no Brasil: formação humana, o que se busca é garantir ao adolescente, ao
- básico: cursos destinados a trabalhadores jovens e jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação
adultos. Independem de escolaridade pré-estabelecida e têm completa para a leitura do mundo e para a atuação como
por objetivo requalificar. Por se tratar de cursos livres, não cidadão pertencente a um país, integrado dignamente à sua
requerem regulamentação curricular. sociedade política. Formação que, neste sentido, supõe a
- técnico: para jovens e adultos que estejam cursando ou compreensão das relações sociais subjacentes a todos os
tenham concluído o ensino médio, mas cuja titulação fenômenos.
pressupõe a conclusão da educação básica de 11 anos; Para isto precisamos partir de alguns pressupostos, nos
- tecnológico, que dá formação superior, tanto de termos descritos por Ramos. O primeiro deles é compreender
graduação como de pós-graduação, a jovens e adultos. que homens e mulheres são seres histórico-sociais que atuam
no mundo concreto para satisfazerem suas necessidades
O papel da educação profissional e tecnológica no subjetivas e sociais e, nessa ação, produzem conhecimentos.
desenvolvimento: para além do campo educacional Assim, a história da humanidade é a história da produção da
existência humana e a história do conhecimento é a história do
No momento atual observa-se um aparente consenso dos processo de apropriação social dos potenciais da natureza
atores sociais quanto à importância da educação profissional e para o próprio homem, mediada pelo trabalho. Por isto, o
tecnológica para o desenvolvimento do país. Porém, existem trabalho é mediação ontológica e histórica na produção de
divergências profundas tanto em relação ao significado do conhecimento.
desenvolvimento, quanto ao papel desempenhado pela O segundo pressuposto é que a realidade concreta é uma
educação profissional e tecnológica nesse processo. totalidade, síntese de múltiplas relações. Totalidade significa
Em relação ao desenvolvimento, explicita-se a rejeição aos um todo estruturado e dialético, do qual ou no qual um fato ou
modelos tradicionais, excludentes e não sustentáveis social e conjunto de fatos pode ser racionalmente compreendido pela
ambientalmente, que envolvem concentração de renda e determinação das relações que os constituem.
submissão à divisão internacional do trabalho; dilapidação da Desses pressupostos decorre um princípio de ordem
força de trabalho, e das riquezas naturais; competição, epistemológica, que consiste em compreender o conhecimento
promoção do individualismo e destruição dos valores das como uma produção do pensamento pela qual se apreende e
culturas populares. se representam as relações que constituem e estruturam a
Em seu lugar, na perspectiva da outra globalização – na realidade objetiva. Apreender e determinar essas relações
esteira dos movimentos sociais que afirmam nas sucessivas exige um método, que parte do concreto empírico – forma
edições do Fórum Social Mundial que outro mundo é possível como a realidade se manifesta – e, mediante uma
– é preciso defender um desenvolvimento sócio econômico determinação mais precisa através da análise, chega a relações
ambiental, em que a inserção do Brasil no mundo se dê de gerais que são determinantes da realidade concreta. O
forma independente, garantindo a cada um, individual e processo de conhecimento implica, após a análise, elaborar a
coletivamente, a apropriação dos benefícios de tal síntese que representa o concreto, agora como uma
desenvolvimento. reprodução do pensamento conduzido pelas determinações
Seguindo este raciocínio, também deve ser rejeitada a que o constituem.
concepção que vê a educação como salvação do país e a Discutiremos aqui o primeiro sentido, de natureza
educação profissional e tecnológica como a porta da filosófica, que atribuímos à integração expressando uma
empregabilidade, entendida como condição individual concepção de formação humana, com base na integração de
necessária ao ingresso e permanência no mercado de trabalho, todas as dimensões da vida no processo educativo, visando à
de responsabilidade exclusiva dos trabalhadores. Isto significa formação omnilateral dos sujeitos. Essas dimensões são o
desmistificar a pretensa relação direta entre qualificação e trabalho, a ciência e a cultura. O trabalho compreendido como
emprego, fortemente disseminada pela mídia e assumida pelo realização humana inerente ao ser (sentido ontológico) e como
Governo Federal de 1994 a 2002, como eixo das políticas prática econômica (sentido histórico associado ao modo de

142MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete

educação profissional. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil.


São Paulo: Midiamix, 2001.

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produção); a ciência compreendida como os conhecimentos condicionamentos de classe, a saúde pública deficiente quanto
produzidos pela humanidade que possibilita o contraditório à observância dos princípios de integralidade, universalidade
avanço das forças produtivas; e a cultura, que corresponde aos e equidade – tudo isso é exemplo da persistência de uma
valores éticos e estéticos que orientam as normas de conduta condição social e cidadã perversa aos brasileiros; mas não só a
de uma sociedade. nós.
É que aquela plenitude cidadã ou democrática não pode se
Ciavatta, ao se propor a refletir sobre o que é ou que realizar por força da estrutura em que se concebe. No modo de
pode vir a ser a formação integrada pergunta: que é produção da existência hegemonizado desde a inauguração da
integrar? A autora remete o termo, ao seu sentido de Idade Moderna, o capitalismo, vigem contradições que
completude, de compreensão das partes no seu todo ou da impedem esta realização. De um lado, uma contradição
unidade no diverso, o que implica tratar a educação como econômica: convivem numa razão direta a socialização do
uma totalidade social, isto é, nas múltiplas mediações trabalho e a privatização dos meios de produção. De outro,
históricas que concretizam os processos educativos. No uma contradição política: a, por assim dizer, socialização da
caso da formação integrada ou do ensino médio integrado política, embalada na proposta democrática moderna de
ao ensino técnico, o que se quer com a concepção de soberania popular, caminha de mãos dadas com a privatização
educação integrada é que a educação geral se torne parte do poder.
inseparável da educação profissional em todos os campos Nossa carta constitucional, que o entusiasmo pós-ditadura
onde se dá a preparação para o trabalho: seja nos civil-militar batizou de constituição cidadã, alinha-se do início
processos produtivos, seja nos processos educativos como a ao fim com os princípios, as concepções e as contradições da
formação inicial, o ensino técnico, tecnológico ou superior. democracia classista. Estão lá todos os direitos, se
Significa que buscamos enfocar o trabalho como princípio desenrolando numa esteira aberta pelos direitos à
educativo, no sentido de superar a dicotomia trabalho propriedade privada e à livre iniciativa. Algo em torno de dez
manual / trabalho intelectual, de incorporar a dimensão anos após a promulgação da CF, a lei que regulamenta a
intelectual ao trabalho produtivo, de formar trabalhadores matéria educacional em suas diretrizes e bases, a LDB,
capazes de atuar como dirigentes e cidadãos. corrobora a centralidade da cidadania como valor, princípio e
fim da educação básica, o que poderíamos estender a todos os
No trabalho pedagógico, o método de exposição deve níveis e modalidades, a rigor.
restabelecer as relações dinâmicas e dialéticas entre os
conceitos, reconstituindo as relações que configuram a A educação, não obstante, ser enquadrada dentre os
totalidade concreta da qual se originaram, de modo que o direitos sociais, foi um fator decisivo em todos os países em
objeto a ser conhecido revele-se gradativamente em suas que os direitos civis e políticos se anteciparam aos sociais,
peculiaridades próprias. O currículo integrado organiza o os mais desenvolvidos economicamente. Neles, sua oferta
conhecimento e desenvolve o processo de ensino- pública e universal é experimentada e levada à condição de
aprendizagem de forma que os conceitos sejam apreendidos implementação do projeto republicano democrático da
como sistema de relações de uma totalidade concreta que se classe recém hegemonizada. Exemplos maiores, não à toa:
pretende explicar/compreender. Inglaterra e França. Portanto, junto com a educação cidadã
modernizante, patrocinada ainda que precariamente pelo
Cidadania Estado brasileiro, vem seu corolário papel de reprodução
Cidadania é conceito empregado hegemonicamente em das condições ideológicas da sociabilidade contraditória
sua acepção liberal-burguesa. Apoia-se na concepção de das desigualdades equalizadas ou igualdades assimétricas.
homem portador de direitos naturais, não obstante tal Porém, desta volta atualizado.
natureza ser sócio historicamente produzida. Tal historicidade
se faz irrefutável pela própria constatação da sucessão das Nesse e para esse contexto de cidadania que a educação é
ditas gerações de direitos humanos desde ao menos o século definida como alavanca, instrumento, quiçá privilegiado. A
XVII, com a primeira revolução burguesa, a inglesa. Estas reforma educacional da década seguinte, onde, além da LDB,
gerações costumam ser apresentadas linear e logicamente são produzidos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a
encadeadas a partir dos direitos civis, seguindo-se a dos regulamentação da educação profissional pelo Decreto
direitos políticos e, embora para muitos autores avançando 2.208/97, as DCN para educação básica e profissional, se
para além da terceira geração, substancialmente tem sua empenha por adaptar o aparelho educacional a esta nova
conclusão na dos direitos sociais. inflexão do capital. Uma educação para o consumo, adaptada à
Uma cidadania assim, aqui brevemente esboçada, será nova circunstância de pobreza e esvaziamentos dos direitos
plena se somente as três dimensões dos direitos humanos ou humanos, ao desemprego e à identidade que a cultura
naturais forem contempladas na existência social (liberdade, midiaticamente globalizada forjar. O que confere unidade ao
igualdade e propriedade). Tal plenitude se apresenta tanto contexto aqui esboçado é a certeza de que não há mais certeza
uma promessa quanto uma expectativa histórica de uma a buscar, não há mais previsibilidade a construir: há, sim,
concepção de homem e projeto de sociedade hegemonizados a apenas cálculo pragmático-epistemológico, quando muito, a se
partir de uma particularidade, qual seja da perspectiva da fazer em meio à positividade da realidade apenas discursiva. A
classe burguesa – em dado momento histórico, cumpridora de constante produção de consenso e esclarecimento de
papel revolucionário das condições materiais de produção da discursos, sempre lábeis, acompanha a labilidade do
vida social. comportamento autorregulador do mercado – por natureza,
Sabemos que a realização da razão na história, a história complexo mistério de temperamento. Esfumam-se profissões,
da liberdade do homem, não se realiza como um projetos de trajetórias pessoais, esforço de emancipação
desdobramento de si própria, nem linearmente nem por força humana pela efetiva socialização política. Para tanto, bastam
de uma dialética idealista. A emancipação humana não é uma algumas poucas competências aos filhos da classe
questão de lógica! Os direitos políticos, constata-se, são trabalhadora.
facilmente reduzidos ao ritual cívico do voto. Convivem com a
liberdade de pensamento e todos os demais direitos civis e Trabalho, ciência, tecnologia e cultura: categorias
sociais, mas o desemprego e os baixos salários, as violências indissociáveis da formação humana
urbana e no campo, a baixa qualidade e ainda precária oferta Partimos do conceito de trabalho pelo fato de o
de educação pública, o difícil acesso à justiça e seus desiguais compreendermos como uma mediação de primeira ordem no

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processo de produção da existência e objetivação da vida sociedade, no que se refere às ideologias que cimentam o bloco
humana. A dimensão ontológica do trabalho é, assim, o ponto social. Por essa perspectiva, a cultura deve ser compreendida
de partida para a produção de conhecimentos e de cultura no seu sentido mais ampliado possível, ou seja, como a
pelos grupos sociais. articulação entre o conjunto de representações e
O caráter teleológico da intervenção humana sobre o meio comportamentos e o processo dinâmico de socialização,
material, isto é, a capacidade de ter consciência de suas constituindo o modo de vida de uma população determinada.
necessidades e de projetar meios para satisfazê-las, diferencia Uma formação integrada, portanto, não somente possibilita o
o homem do animal, uma vez que este último não distingue a acesso a conhecimentos científicos, mas também promove a
sua atividade vital de si mesmo, enquanto o homem faz da sua reflexão crítica sobre os padrões culturais que se constituem
atividade vital um objeto de sua vontade e consciência. Os normas de conduta de um grupo social, assim como a
animais podem reproduzir, mas o fazem somente para si apropriação de referências e tendências estéticas que se
mesmos; o homem reproduz, porém de modo transformador, manifestam em tempos e espaços históricos, os quais
toda a natureza, o que tanto lhe atesta quanto lhe confere expressam concepções, problemas, crises e potenciais de uma
liberdade e universalidade. Desta forma, produz sociedade, que se vê traduzida e/ou questionada nas
conhecimentos que, sistematizados sob o crivo social e por um manifestações e obras artísticas.
processo histórico, constitui a ciência. A partir da compreensão do trabalho em seu sentido
Nesses termos, compreendemos o conhecimento como ontológico evidencia-se a unicidade entre as dimensões
uma produção do pensamento pela qual se apreende e se científica-tecnológica-cultural.
representam as relações que constituem e estruturam a
realidade. Apreender e determinar essas relações exige um Questões
método, que parte do concreto empírico – forma como a
realidade se manifesta – e, mediante uma determinação mais 01. (IF/AP - Técnico em Assuntos Educacionais -
precisa através da análise, chega a relações gerais que são FUNIVERSA/2016) É premissa da educação profissional:
determinantes do fenômeno estudado. A compreensão do real (A) a centralidade do trabalho como princípio
como totalidade exige que se conheçam as partes e as relações mercadológico.
entre elas, o que nos leva a constituir seções tematizadas da (B) desvincular educação, trabalho e emprego.
realidade. Quando essas relações são arrancadas de seu (C) a indissociabilidade entre teoria e prática.
contexto originário e mediatamente ordenadas, tem-se a (D) formar pesquisadores para desenvolver ciência e
teoria. A teoria, então, é o real elevado ao plano do tecnologia.
pensamento. Sendo assim, qualquer fenômeno que sempre (E) formar trabalhadores acríticos.
existiu como força natural só se constituiu em conhecimento
quando o ser humano dela se apropria tornando-a força 02. (Administrador - IF/TO/2017) Tíbia, servidora
produtiva para si. Por exemplo, a descarga elétrica, os raios, a pública federal, ocupante de cargo técnico administrativo em
eletricidade estática como fenômenos naturais sempre educação no Instituto Federal de Educação, Ciência e
existiram, mas não são conhecimentos enquanto o ser humano Tecnologia do Tocantins, ingressou no serviço público
não se apropria desses fenômenos conceitualmente, possuindo diploma de conclusão de ensino médio, requisito
formulando teorias que potencializam o avanço das forças mínimo de titulação exigido para o cargo. Após três meses de
produtivas. efetivo exercício, concluiu graduação em curso superior
A ciência, portanto, é a parte do conhecimento oferecido por instituição de ensino regularmente reconhecida
sistematizado e deliberadamente expresso na forma de pelo Ministério da Educação. Para obter acréscimo
conceitos representativos das relações de forças determinadas remuneratório em virtude da obtenção de diploma de curso de
e apreendidas da realidade considerada. O conhecimento de educação formal superior ao exigido para o cargo de que é
uma seção da realidade concreta ou a realidade concreta titular, Tíbia deverá requerer perante a Administração:
tematizada constitui os campos da ciência, as disciplinas (A) Incentivo à qualificação.
científicas. Conhecimentos assim produzidos e legitimados (B) Progressão por capacitação profissional.
socialmente ao longo da história são resultados de um (C) Promoção.
processo empreendido pela humanidade na busca da (D) Progressão por mérito profissional.
compreensão e transformação dos fenômenos naturais e (E) Aceleração.
sociais. Nesse sentido, a ciência conforma conceitos e métodos
cuja objetividade permite a transmissão para diferentes Gabarito
gerações, ao mesmo tempo em que podem ser questionados e 01.C / 02.A
superados historicamente, no movimento permanente de
construção de novos conhecimentos. Protagonismo
A revolução industrial, o taylorismo, o fordismo e a
automação expressam a história da tecnologia nos marcos da A) Introdução
transformação da ciência em força produtiva. Definem, assim, Etimologicamente, a palavra protagonismo deriva da
duas características da relação entre ciência e tecnologia. A expressão grega prõtagõnistës, e do termo francês
primeira é que tal relação se desenvolve com a produção protagoniste, assim, em suas raízes gregas é composta por
industrial. A segunda é que esse desenvolvimento visa à proto que significa “o principal, o primeiro”; agon, que significa
satisfação de necessidades que a humanidade se coloca, o que “luta”, por sua vez, agonistes significa “lutador”, “competidor”.
nos leva a perceber que a tecnologia é uma extensão das Nesse sentido, encontra-se ainda o termo semelhante
capacidades humanas. A partir do nascimento da ciência agõnídzmai, que significa “concorrer ou lutar numa assembleia
moderna, podemos definir a técnica e a tecnologia, então, de jogos públicos, numa reunião, batalha, luta judiciária.”
como mediação entre conhecimento científico (apreensão e No teatro grego, protagonista era aquele que
desvelamento do real) e produção (intervenção no real). desempenhava o papel de “personagem principal”, “ator
Entendemos cultura como o processo de produção de principal” num espetáculo trágico ou cômico. Já numa
símbolos, de representações, de significados e, ao mesmo perspectiva sociológica, a expressão protagonismo vem sendo
tempo, prática constituinte e constituída do/pelo tecido social, utilizada em referência ao ator social de uma ação voltada para
norma de comportamento dos indivíduos numa sociedade e mudanças sociais. Mas na esfera do ensino, o que implica ser
como expressão da organização político-econômica desta um jovem protagonista?

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APOSTILAS OPÇÃO

Delors em relatório internacional sobre a educação para o tecnológico. Essas transformações, em maior ou menor grau,
século XXI destaca que a escola básica passou a desempenhar manifestam-se no cotidiano.
um papel fundamental na preparação de cidadãos para uma Esse conjunto de circunstâncias indicaria, segundo
participação ativa, uma vez que os princípios democráticos diversos autores, uma urgente necessidade social de
expandiram-se por todo o mundo. Assim, para ele, a promover, de maneira sistemática, a formação de valores e
experimentação de práticas escolares pelos alunos, como atitudes cidadãs que permitam a esses sujeitos conviver de
jornais da escola, criação de parlamentos dos alunos, forma autônoma com o mundo contemporâneo. Essa formação
elaboração de regulamentos da comunidade escolar, para a chamada “moderna cidadania”, além de atender uma
simulação do funcionamento de instituições exigência social, viria a responder às angústias de adolescentes
democráticas, exercício de resoluções não-violentas de e jovens diante da efemeridade, dos desafios e das exigências
conflitos, tendem a reforçar a aprendizagem da das sociedades pós-modernas e, também, perante as novas
democracia. configurações do trabalho. O protagonismo é encarado, nesse
No entanto, sendo a educação para a cidadania e sentido, como via promissora para dar conta tanto de uma
democracia, por excelência, uma educação que não se urgência social quanto das angústias pessoais dos
limita ao espaço e tempo da educação formal, é preciso adolescentes e jovens.
implicar diretamente nela as famílias e outros membros
da comunidade. Na defesa de uma educação cívica que B) Protagonismo na escola
contemple, simultaneamente, a adesão a valores, a Uma coisa que me mobiliza é o fato de a infância ser muito
aquisição de conhecimentos e a aprendizagem de práticas curta, as crianças vão à escola para se tornar adulto e não para
de participação na vida pública, Delors (2010)143 ser criança. Dessa forma, para a escola ser um espaço das
recomenda que a educação, desde a infância e ao longo de toda crianças, ela precisa ser feita pelas crianças. Os temas
a vida, desenvolva no aluno a capacidade crítica que lhe protagonismo e a participação estão muito em voga na área da
permita ter um pensamento livre e uma ação autônoma. Trata- Educação, através do sócio-interacionismo e o construtivismo.
se, portanto, da exigência de um ensino que seja um processo
de construção da capacidade de discernimento, capaz de B.1) O que é a participação?
propiciar ao aluno a conciliação entre o exercício dos direitos Abordar a participação infantil exige atenção aos detalhes,
individuais, fundados na liberdade pública, e a prática dos já que é através dos pequenos detalhes que se consegue
deveres e da responsabilidade em relação aos outros e às constituir uma escola que se aproxima do pensamento infantil.
comunidades a que pertencem. Nos dicionários, participar significa comunicar, tomar
No contexto brasileiro, a Lei de Diretrizes e Bases da parte de algo, partilhar, ter algo em comum com outra pessoa
Educação Nacional (LDB), de 1996, e posteriormente ou grupo. Bordenave (1996)145 foi um dos primeiros teóricos
regulamentada pelas Diretrizes do Conselho Nacional de a escrever sobre diferentes níveis e possibilidades de
Educação e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, ao participação, para ele, o conceito está ligado à ideia de
deixar de ter como foco a educação apenas para o ensino tomar parte, ter um envolvimento mais profundo e ter
superior ou profissionalizante, acentua, especificamente, a suas especificidades levadas em conta.
necessidade e responsabilidade de complementação da A participação infantil está respaldada pela legislação
educação básica. Isto significa “preparar para a vida”, brasileira. A Constituição Federal de 1988 e a Convenção dos
“qualificar para a cidadania” e “capacitar para o aprendizado Direitos das Crianças preveem a participação das crianças, elas
permanente”, seja em relação ao prosseguimento dos estudos, passam a ter direito de participar. Além disso, ao falarmos de
seja em relação ao mundo do trabalho. Educação, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de
Mais do que reproduzir dados, denominar Diretrizes e Bases também incluem a participação como
classificações ou identificar símbolos, está formando para direito das crianças.
a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas Para muitos adultos é difícil compreender esse conceito,
transformações e de tão difíceis contradições, significa pois não tiveram a experiência pessoal de uma infância
saber se informar, se comunicar, argumentar, participativa. Sentavam-se à mesa do jantar, mas não podiam
compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer interferir nas conversas. Hoje, é comum montarmos uma mesa
natureza, participar socialmente, de forma prática e separada para as crianças, num “espaço kids”, onde elas podem
solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e, falar à vontade, sem nos incomodar!
especialmente, adquirir uma atitude de permanente
aprendizado. B.2) Como a participação está relacionada ao
Ora, tal formação exige um método de ensino no qual o protagonismo?
aluno tenha condições efetivas de comunicação, Quando falamos que participar significa ter suas
argumentação, resolução de problemas, participação social e especificidades levadas em conta. O protagonista é o principal
cidadã, de modo a saber propor e fazer escolhas, tomar gosto ator, mas ele precisa ter com quem se relacionar.
pelo conhecimento, ‘aprender a aprender'. Protagonismo é ser o principal ator nos acontecimentos,
Para Ferretti, Zibas e Tarturce (2004)144 o conceito de de forma que as ações sejam voltadas para si e suas
“protagonismo dos jovens/alunos” tal como proposto pelas necessidades. O aluno não é o único ator, mas é aquele
Diretrizes Curriculares Nacionais, ao enfocar a necessidade do para quem as ações são voltadas e que promove a história.
desenvolvimento de certas “competências” e “habilidades”, Acolher seus interesses faz parte de constituí-lo como
não está dissociado de questões mais amplas como as próprias protagonista.
transformações sociais e culturais das sociedades A ponte entre participação e protagonismo se dá
contemporâneas, denominadas pós-modernas. Tais justamente nos acontecimentos do dia a dia e em como
transformações configuram-se, sobretudo, por profundas acolhemos os interesses das crianças.
mudanças no campo do trabalho estruturado sob o capital,
bem como por avanços significativos nos campos científico e

143 DELORS, Jacques, et al. Da coesão social à participação democrática. In: 144 FERRETTI, Celso, ZIBAS, Dagmar, et al. Protagonismo juvenil na literatura

Educação um tesouro a descobrir: relatório para UNESCO da comissão especializada e na reforma do ensino médio. In: Cadernos de Pesquisa, v. 34, n° 122,
internacional sobre educação para o século XXI. Cortez, UNESCO, MEC. 2010. p.411-423, Maio/Agos. 2004.
145 BORDONAE, Juan E. Díaz. O que é comunicação. 1ed. São Paulo: Brasilense,

1996.

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B.3) Como promover o protagonismo dos alunos? (C) Investimento unicamente na formação inicial dos
professores.
Muitas vezes, o termo protagonismo passa aos adultos a (D) Vários aspectos que direta ou indiretamente
ideia de atentado à figura de autoridade, como se as crianças e influenciam no direito de aprender das crianças.
jovens pudessem tudo. O termo co-protagonismo pode ser
mais adequado, à medida em que é compartilhado e as 02. (UFSC – Pedagogo – Educação Infantil – UFSC/2016)
decisões são tomadas em conjunto. E esse receio de dividir o Assinale a alternativa que preenche CORRETA e
protagonismo se dá principalmente porque os analisamos a RESPECTIVAMENTE as lacunas.
partir dos nossos referenciais como adultos, temos ideias pré-
concebidas do que é ser criança e jovens e o que é bom para O trabalho com os estágios na educação infantil mostra a
elas. importância da construção de uma pedagogia centrada na
Hoje em dia, o principal nível de participação que _________ e nos convida a uma revisão da formação de
alcançamos nas escolas é o de permitir que os alunos professores de crianças de 0 a 6 anos. Na educação infantil, o
participem em atividades que nós, adultos, definimos. que deve estar em evidência é o _________ das crianças. O fato de
Abrimos um espaço para algumas coisas, mas as questões da preceder a escola de _________ não deve retirar da educação
vida cotidiana – como dormir, comer, lavar as mãos – ainda são infantil aquilo que a singulariza. (DRUMOND, 2015)
muito controladas e padronizadas. Acolher o interesse da (A) ação – movimento – ensino fundamental
turma em investigar uma lagarta encontrada no jardim, por (B) prática – cuidado – ensino fundamental
exemplo, faz parte do protagonismo, mas é apenas um nível. (C) criança – protagonismo – ensino fundamental
As crianças não são feitas só de aprendizagem na escola. A (D) criança – cuidado – formação integral
Educação Infantil, por exemplo, trabalha também com outras (E) ação – protagonismo – formação integral
esferas e, para chegarmos em um indivíduo protagonista,
temos que acolher o interesse dele pela lagarta, mas também 03. (UFRBC – Pedagogo - FUNRIO) “Um dos temas de
na hora de dormir, de comer. E não se trata apenas de uma maior expressão nessas ações é o que ficou conhecido como
questão de interesse, mas de especificidade. protagonismo juvenil.” As ações a que se refere o trecho são:
No entanto, a escola é um ambiente coletivo e muitas (A) programas direcionados à juventude com o sentido de
vezes não é viável atender todas as necessidades de cada identificar um conjunto de ações as quais o público jovem ou a
um. O importante é pensarmos em como acolher o “juventude” é objeto e/ou sujeito de tais ações.
máximo possível e dizer ao aluno por que não é possível (B) projetos de âmbito federal como o Mais Educação,
atender suas necessidades em determinado momento. PNAIC e PROEJA, cujo público alvo são os jovens.
Considerar a participação e o protagonismo como (C) propostas de ação direcionadas aos governos de países
experiência de aprendizagem pressupõe permitir que a periféricos a partir de órgãos como UNESCO, UNICEF,
pessoa entenda por que alguma coisa não pode acontecer. Fundação ABRINQ e PROJOVEM.
(D) programas aos níveis municipais, estaduais e federal
B.4) O papel do professor? que visam dar assistência à população que se encontra fora da
Estamos muito preocupados com a aprendizagem formal e rede de ensino regular. Planos de ação integrados entre as
nos esquecemos da informal, que atualmente acontece muito diferentes instâncias de administração pública que
mais na instituição de ensino do que em casa, porque os consideram todos os jovens e adultos em situação de risco
pequenos vêm para a escola cada vez mais cedo e ficam cada social.
vez mais horas por dia.
Precisa-se então, aprender a conhecer as crianças e jovens, Gabarito
e para isso, temos em mente um ideal de infância, mas 01. C / 02. C / 03. A
trabalhamos com crianças e jovens reais. Para construir uma
escola ou mesmo uma turma com a proposta do
protagonismo é preciso se apropriar em um professor
pesquisador. É o que tem perguntas sobre as crianças e
busca conhecê-las em suas especificidades, para traçar Anotações
estratégias de trabalho.
Outro ponto essencial é a escuta, estar aberto para as
falas dos alunos e considerá-las como algo sério e
importante, pois o protagonismo se dá na relação. Refletir
sobre o que elas estão falando e como nós estamos ouvindo,
dessa forma, também é importante ressaltar que só vamos
mudar esse cenário se tivermos um espaço efetivo e
sistemático dedicado à discussão das rotinas com as famílias.
A relação de comunidade com as famílias é elemento-chave de
todas as escolas que realmente trabalham com protagonismo.

Questões

01. (SEARH/RN – Professor – IDECAN/2016) A


realidade tem mostrado que um dos grandes desafios, na
implementação do ciclo de alfabetização, é o de assegurar às
crianças o direito às aprendizagens básicas nesse tempo de
três anos. Isto pressupõe que o protagonismo das ações esteja
centrado nas crianças, o que exige, necessariamente, que haja
a revisão de, EXCETO:
(A) Propostas pedagógicas.
(B) Espaços e tempos escolares.

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Educação Brasileira 200


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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

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identificadas como próprias da função administrativa, a


exemplo das concessionárias de serviços públicos (delegação)
e das organizações sociais (atividades de utilidade pública). As
atividades exercidas dessas entidades privadas não integram
a Administração Pública, uma vez que o Brasil se baseia no
critério formal.
Embora seja certo que a acepção formal ou subjetiva não
1 Conceito de deva levar em conta a atividade realizada, é frequente os
administração pública. autores a esta se referirem, identificando a Administração
Pública, em sentido subjetivo, com a totalidade do
aparelhamento de que dispõe o Estado para a execução das
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA atividades compreendidas na função administrativa, como
exemplo temos a definição de Maria Sylvia Di Pietro, “o
A expressão “Administração Pública” abrange diversas conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui
concepções. Inicialmente, temos Administração Pública em o exercício da função administrativa do Estado”.
sentido amplo (lato sensu), como o conjunto de órgãos de Pela acepção formal / subjetiva / orgânica, deve-se
governo (com função política de planejar, comandar e traçar perquirir tão somente “quem” o ordenamento jurídico
metas) e de órgãos administrativos (com função considera Administração Pública, e não “o que” (critério
administrativa, executando os planos governamentais). Num objetivo, material, funcional).
sentido estrito (stricto sensu), podemos definir Administração
Pública como o conjunto de órgãos, entidades e agentes Sentido material, objetivo ou funcional
públicos que desempenham a função administrativa do
Estado. Ou seja, num sentido estrito, a Administração Pública Nesse sentido, a Administração Pública confunde-se com a
é representada, apenas, pelos órgãos administrativos. própria função (atividade) administrativa desempenhada pelo
Estado. O conceito de Administração Pública está relacionado
Administração Pública com o objeto da Administração. Não se preocupa aqui com
Sentido amplo Sentido estrito quem exerce a Administração, mas sim com o que faz a
Administração Pública.
Órgãos governamentais Ressaltamos que a função administrativa é exercida
Exclusivamente, órgãos
(políticos) + órgãos predominantemente pelo Poder Executivo, porém, os demais
administrativos.
administrativos Poderes também a exercem de forma atípica. A doutrina
majoritária entende que as atividades administrativas
Sentido formal, subjetivo ou orgânico englobam:
Prestação de serviço público: é toda atividade que a
Sob esse aspecto, a expressão Administração Pública administração pública executa, direta ou indiretamente, sob
confunde-se com os sujeitos que integram a estrutura regime predominantemente público, para satisfação imediata
administrativa do Estado, ou seja, com quem desempenha a de uma necessidade pública, ou que tenha utilidade pública.
função administrativa. Assim, num sentido subjetivo, Polícia administrativa: são restrições ou
Administração Pública representa o conjunto de órgãos, condicionamentos impostos ao exercício de atividades
agentes e entidades que desempenham a função privadas em benefício do interesse público, exemplo as
administrativa. O conceito subjetivo representa os meios de atividades de fiscalização.
atuação da Administração Pública. Fomento: incentivo à iniciativa privada de utilidade
Entes, Entidades ou Pessoas: são as pessoas jurídicas pública, exemplo: concessão de benefícios ou incentivos
integrantes da estrutura da Administração Direta e Indireta. fiscais.
Os Entes Políticos são a União, os Estados, o Distrito Intervenção administrativa: abrange toda intervenção
Federal e os Municípios (todas com personalidade jurídica de do Estado no setor privado, exceto a sua atuação direta como
Direito Público). agente econômico. Inclui-se a intervenção na propriedade
Os Entes Administrativos são as autarquias, as fundações privada (desapropriação, tombamento) e a intervenção no
públicas, as empresas públicas e as sociedades de economia domínio econômico como agente normativo e regulador
mista (todas com personalidade jurídica de Direito Público (agências reguladoras, medidas de repressão a práticas
e/ou Privado). Nesse caso, temos entidades integrantes da tendentes à eliminação da concorrência, formação de estoques
Administração Pública que não desempenham função reguladores etc.
administrativa, e sim atividade econômica, como ocorre com a Alguns autores consideram a atuação do Estado como
maioria das empresas públicas e sociedades de economia agente econômico inclusa no grupo de atividades de
mista (CF, art. 173). administração em sentido material descrito como
Órgãos Públicos: são centros de competência, “intervenção”, nos termos do art. 173 da CF. Todavia, quando
despersonalizados, integrantes da estrutura de uma pessoa o Estado atua dessa maneira, isto é, como agente econômico,
jurídica, incumbidos das atividades da entidade a que está sujeito predominantemente ao regime de direito privado,
pertencem. A Lei nº 9.784/99 os conceitua como unidades de exercendo atividade econômica em sentido estrito.
atuação integrantes da estrutura da Administração Direta ou Nessa acepção, estaríamos adotando uma concepção
Indireta. subjetiva, atribuindo relevância à pessoa que exerce a
Agentes Públicos: segundo o art. 2º, da Lei nº 8.429/92, atividade, caracterizando uma contradição incontornável,
são todos aqueles que exercem, ainda que transitoriamente ou porque se estará abandonando o critério objetivo (o que é
sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, realizado?) e conferindo primazia ao critério subjetivo (quem
contratação ou qualquer forma de investidura ou vínculo, realiza?) em uma acepção que, por definição, deveria ser
mandato, emprego ou função pública, ou seja, são pessoas objetiva.
físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício
de alguma função estatal.
Há ainda as Entidades Privadas, não integrantes da
Administração Pública formal, que exercem atividades

Administração Pública 1
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Segundo ensina Maria Sylvia Zanella Di Pietro o conceito nobreza real. Infelizmente, a corrupção e o nepotismo
de administração pública divide-se em dois sentidos: acabaram por invadir esse tipo de administração, com o
predomínio do capitalismo e democracia burguesa.
- Objetivo (material/funcional): "Em sentido objetivo, Com a força que existia entre o capitalismo e a democracia,
material ou funcional, a Administração Pública pode ser o Estado começa a se distinguir, tornando-se inaceitável.
definida como a atividade concreta e imediata que o Estado Devido a isto separou-se as esferas de interesses privados dos
desenvolve, sob regime jurídico de direito público, para a interesses coletivos.
consecução dos interesses coletivos”. Administração Pública Burocrática: surgiu na metade do
É a atividade administrativa executada pelo Estado, por século XIX, no período da época do estado liberal, visando
seus órgãos e agente, com base em sua função administrativa. combater a corrupção e nepotismo que assolavam o país.
É a gestão dos interesses públicos, por meio de prestação de Apresentava meios que permitiam o desenvolvimento das
serviços públicos. É a administração da coisa pública (res profissões, com proteção aos seus direitos.
publica). Devido a desconfiança dos administradores públicos
- Subjetivo (Formal/Orgânico): “Em sentido subjetivo, foram necessários controles rígidos dos processos, com
formal ou orgânico, pode-se definir Administração Pública, relação a contratação pessoal, para as compras e demais
como sendo o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos demandas existentes na Administração Pública.
quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Administração Pública Gerencial: surgiu na metade do
Estado". século XX, visando atender as economias do Estado e por outro
É o conjunto de agentes, órgãos e entidades designados lado o desenvolvimento tecnológico que estava ganhando
para executar atividades administrativas. forças. Para este momento, o fulcro pairava sobre ter o cidadão
como beneficiário, reduzindo gastos e aumentando a
Em resumo: qualidade de serviços.
A palavra chave para esta forma de Administração é a
Administração Pública eficiência, seja na qualidade da prestação de serviços públicos,
seja pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas
Sentido formal / Órgãos + agentes + entidades organizações.
subjetivo / orgânico (quem faz a Adm. Pública?) O Estado encara este momento como o melhor que já
Sentido material / Atividade administrativa (o que existiu, pois presumem que todos os cidadãos estão satisfeitos,
objetivo / funcional faz a Adm. Pública?) já que na condição de clientes todas as suas necessidades estão
sendo atendidas.
Classificação da Administração Pública
Atividade Administrativa
- a prática de atos de execução realizados por seus órgãos
e agentes, que não devem ser necessariamente públicos. Os A atividade administrativa tem como objetivo fiscalizar os
atos de execução são conhecidos como atos administrativos. serviços que são garantidos pelo ente representante da
- exercer atividade voltada ao cumprimento da lei e não à coletividade. O povo irá se manifestar através da
política. administração pública, e esta dispõe de serviços aos seus
- a área da Administração Pública é limitada, pois cada representantes. Essas serviços somente podem ser prestados
órgão só poderá agir dentro do seu limite. com a atividade administrativa, seja esta em âmbito municipal,
- apresenta caráter instrumental, já que o Estado utiliza-se estadual ou federal, na sua organização direta ou indireta.
da Administração Pública para atingir seus objetivos. A atividade administrativa do Estado estava concentrada
- manter conduta hierarquizada, mantendo obediência em poder do soberano, porém com a evolução dos tempos,
entre os diversos poderes administrativos. com as ideias de Rousseau e Montesquieu, as atividades
- buscar a perfeição técnica de seus atos. estatais passaram a ser divididas entre órgãos distintos,
levando a limitação dos poderes dos governantes.
Administração Pública como Função do Estado O particular pode fazer tudo aquilo que a lei não proíbe, a
administração somente pode fazer aquilo que a lei permite.
A Administração Pública exerce suas funções por meio de A administração, no momento em que exerce seus poderes
seus agentes, órgãos e atividades públicas, garantindo com ficará subordinada à lei e ao controle de seus atos. O
isso a finalidade do Estado. A Constituição Federal disciplinou administrador por mais que haja com discricionariedade, fica
que a instituição, alteração, estruturação e atribuição de restrito a buscar uma solução que atenda ao interesse público.
competência dos órgãos da Administração Pública devem ser Na realidade, não existe um modelo padrão de
norteados por lei ou normas regulamentadoras administração pública, nem tão pouco de servidor. Na verdade
O exercício prestado pelos órgãos da Administração o que deve existir são pessoas e maneiras de trabalhar, com
deverão ser harmônicos com os princípios do Direito um modelo ético, porém seguindo o que deve fazer em sua área
Administrativo, e as ações que forem em sentido oposto serão específica.
inválidas. Devemos entender a Administração Pública no seu O servidor público federal deve evitar o cometimento de
aspecto de prestação de serviços e execução e também como irregularidades para que não lapide o patrimônio público.
direção ou gestão, ambas preveem uma relação de Infelizmente muitos servidores acabam fazendo da atividade
subordinação hierárquica. pública uma forma de enriquecerem ilicitamente com o
dinheiro público. Para tanto, é necessária a prestação de
Formas da Administração Pública contas, o cumprimento dos prazos, ter comportamento neutro.
Desta forma, o Estado tem a responsabilidade de melhorar
Com a evolução do Estado Moderno, a Administração a qualidade do funcionalismo profissional, desenvolvendo o
Pública passou por significativas mudanças, e portanto, a servidor, com o aprimoramento de seu serviço, sentindo-se
doutrina passou a usar três formas diversas para a satisfeito ao realizar suas tarefas.
Administração. Vamos a elas:
Administração Pública Patrimonialista: no
patrimonialismo, o estado é a extensão do poder soberano, de
tal maneira que os auxiliares e servidores possuíam status de

Administração Pública 2
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Questões (E) O poder de agir da administração refere-se à sua


faculdade para a prática de determinado ato de interesse
01. (SEGEP/MA - Agente Penitenciário – público.
FUNCAB/2016). Considerando que a Administração Pública
pode ser, em sentido estrito, analisada sob dois aspectos: 05. (TRE/AL - Analista Judiciário - Engenharia Civil –
objetivo ou material; e subjetivo ou orgânico ou formal, é FCC). Sobre os deveres do administrador público é correto
correto afirmar que: afirmar que
(A) a Administração Pública é uma "máquina" composta (A) o ato do Presidente da República que atentar contra a
por órgãos e entidades organizados sem hierarquia sob a probidade na administração constitui crime de
direção de um chefe de Estado. responsabilidade.
(B) no aspecto objetivo a Administração Pública pode ser (B) o dever de prestar contas abrange a prestação de
considerada o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos contas aos munícipes das atividades particulares do
quais a lei atribui o exercício da função econômica. administrador público.
(C) a Administração Pública é uma atividade subjetiva do (C) a obrigação do administrador público de agir com
governo, objetivando a realização das necessidades retidão, lealdade, justiça e honestidade, diz respeito ao dever
individuais. de eficiência.
(D) a Administração Pública é uma atividade concreta do (D) o dever da eficiência abrange a produtividade do
Estado, objetivando a realização das necessidades individuais. ocupante do cargo ou função, mas não tem relação com a
(E) o objeto da Administração Pública é a função pública, qualidade do trabalho desenvolvido.
que abrange o fomento, a polícia administrativa e o serviço (E) pela inobservância do dever de probidade que
público. caracterize improbidade administrativa, o administrador
público está sujeito, dentre outras sanções, à perda da função
02. (MPOG - Atividade Técnica - Direito, pública, porém não à suspensão dos direitos políticos.
Administração, Ciências Contábeis e Economia – FUNCAB).
O oferecimento de saneamento básico, transporte coletivo e Gabarito
educação caracterizam atividades da denominada
“administração pública". A expressão, quando reveste esse 01.E/ 02.A/ 03.B/ 04.C/ 05.A
caráter, é escrita com letras minúsculas e revela sentido:
(A) material.
(B) subjetivo. 2 Conceito de servidor
(C) personalista. público.
(D) formal.
(E) orgânico.
Servidores Públicos São servidores públicos, em sentido
03. (AL-GO -Assistente Legislativo - Assistente amplo, as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às
Administrativo – CS-UFG). Em sentido estrito, a entidades da Administração Indireta, com vínculo
Administração Pública compreende, empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres
(A) sob o aspecto objetivo, apenas os órgãos públicos.
administrativos e, sob o aspecto subjetivo, apenas a função Já os servidores públicos em sentido restrito, são aqueles
administrativa, excluídos, no primeiro caso, os órgãos que possuem uma relação com o regime estatutário, que sejam
governamentais e, no segundo, a função política. ocupantes de cargos públicos efetivos ou em comissão e se
(B) sob o aspecto subjetivo, apenas os órgãos submetam a regime jurídico de direito público.
administrativos e, sob o aspecto objetivo, apenas a função Os servidores públicos, por sua vez, são classificados em:
administrativa, excluídos, no primeiro caso, os órgãos 1. Funcionário público: titularizam cargo e, portanto,
governamentais e, no segundo, a função política. estão submetidos ao regime estatutário.
(C) sob o aspecto objetivo, apenas os órgãos 2. Empregado público: titularizam emprego, sujeitos ao
administrativos e, sob o aspecto formal, apenas a função regime celetista. Ambos exigem concurso. É o agente público
administrativa, excluídos, no primeiro caso, os órgãos que tem vínculo contratual, ou seja, sua relação com a
governamentais e, no segundo, a função política. Administração Pública decorre de contrato de trabalho.
(D) sob o aspecto subjetivo, apenas os órgãos Possui, então, vínculo de natureza contratual celetista (CLT).
administrativos e, sob o aspecto hierárquico, apenas a função Assim, o Empregado Público é regido pela CLT e o Servidor
administrativa, excluídos, no primeiro caso, os órgãos Público é regido por lei específica - no caso do servidor público
governamentais e, no segundo, a função política. federal, será regido pela Lei 8.112/90.
3. Contratados em caráter temporário: são servidores
04. (TJ/CE - Técnico Judiciário - Área Judiciária – contratados por um período certo e determinado, por força de
CESPE). Assinale a opção correta no que se refere aos poderes uma situação de excepcional interesse público. Não são
e deveres dos administradores públicos. nomeados em caráter efetivo, que tem como qualidade a
(A) Caracteriza-se desvio de finalidade quando o agente definitividade – art. 37, inc. IX, da Constituição Federal.
atua além dos limites de sua competência, buscando alcançar O trabalho temporário é regulado pela Lei nº 6.019/74 - é
fins diversos daqueles que a lei permite. aquele prestado por pessoa física a uma empresa para atender
(B) Há excesso de poder quando o agente, mesmo que à necessidade transitória de substituição de seu pessoal
agindo dentro de sua competência, exerce atividades que a lei regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de
não lhe conferiu. serviços. O vínculo empregatício do trabalhador temporário
(C) Em caso de omissão do administrador, o administrado não se dá com a empresa tomadora de serviços, mas sim com
pode exigir, por via administrativa ou judicial, a prática do ato a empresa de trabalho temporário.
imposto pela lei. Essa modalidade de contratação tem como objetivo
(D) No exercício do poder hierárquico, os agentes atender a serviços extraordinários de serviços (época de
superiores têm competência, em relação aos agentes Páscoa e Natal), além de atender à necessidade transitória de
subordinados, para comandar, fiscalizar atividades, revisar substituição de pessoal regular e permanente.
atos, delegar, avocar atribuições e ainda aplicar sanções.

Administração Pública 3
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O contrato do trabalhador temporário deve ser feito de princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
forma escrita, além de constar expressamente a causa que publicidade e eficiência, os quais em seguida serão tratados
enseja sua contratação. com mais ênfase.
Quanto ao prazo, este não poderá exceder 3 meses, caso Não obstante o exposto, se torna primeiramente
seja a mesma empresa tomadora e o mesmo empregado, salvo necessário falar de dois princípios que regem a Administração
autorização conferida pelo órgão local do Ministério do Pública de forma geral, são eles o princípio da supremacia do
Trabalho e Previdência Social. No aludido instrumento deve interesse público e o princípio da indisponibilidade do
constar expressamente o prazo que vigerá o contrato, data de interesse público. Vejamos:
início e término da prestação de serviço.
Princípio da Supremacia Do Interesse Público
Questão
Este princípio consiste na sobreposição do interesse
01. (IBGE - Analista - Processos Administrativos e público em face do interesse particular. Havendo conflito entre
Disciplinares – FGV/2016). Em matéria de regime jurídico o interesse público e o interesse particular, aquele
dos agentes públicos, especificamente quanto aos cargos em prevalecerá.
comissão e às funções de confiança, a Constituição da Podemos conceituar INTERESSE PÚBLICO como o
República dispõe que: somatório dos interesses individuais desde que represente o
(A) ambos são exercidos por cinquenta por cento de interesse majoritário, ou seja, a vontade da maioria da
servidores de carreira e cinquenta por cento de pessoas não sociedade.
concursadas com livre nomeação e exoneração; O interesse público PRIMÁRIO é o interesse direto do povo,
(B) ambos são exercidos exclusivamente por servidores de é o interesse da coletividade como um todo. Já o interesse
carreira e destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia público SECUNDÁRIO é o interesse direto do Estado como
e assessoramento; pessoa jurídica, titular de direitos e obrigações, em suma, é
(C) os cargos em comissão são providos exclusivamente vontade do Estado. Assim, a vontade do povo (interesse
por pessoas não concursadas, com livre nomeação e público PRIMÁRIO) e a vontade do Estado (interesse público
exoneração e para atribuições de direção, chefia e SECUNDÁRIO) não se confundem.
assessoramento; O interesse público SECUNDÁRIO só será legítimo se não
(D) as funções de confiança são exercidas exclusivamente contrariar nenhum interesse público PRIMÁRIO. E, ao menos
por servidores ocupantes de cargo efetivo; indiretamente, possibilite a concretização da realização de
(E) os cargos em comissão são providos exclusivamente interesse público PRIMÁRIO. Daremos um exemplo para que
por servidores ocupantes de cargo efetivo. você compreenda perfeitamente esta distinção.
Este princípio é um dos dois pilares do denominado regime
Gabarito jurídico-administrativo, fundamentando a existência das
prerrogativas e dos poderes especiais conferidos à
01.D. Administração Pública para que esta esteja apta a atingir os
fins que lhe são impostos pela Constituição e pelas leis.
O ordenamento jurídico determina que o Estado-
3 Princípios da Administração atinja uma gama de objetivos e fins e lhe
administração pública. confere meios, instrumentos para alcançar tais metas. Aqui se
encaixa o princípio da Supremacia do Interesse Público,
fornecendo à Administração as prerrogativas e os poderes
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO especiais para obtenção dos fins estabelecidos na lei.
PÚBLICA O princípio comentado não está expresso em nosso
ordenamento jurídico. Nenhum artigo de lei fala, dele, porém
Para compreender os Princípios da Administração tal princípio encontra-se em diversos institutos do Direito
Pública1 é necessário entender a definição básica de Administrativo. Vejamos alguns exemplos práticos:
princípios, que servem de base para nortear e embasar todo o - a nossa Constituição garante o direito à propriedade (art.
ordenamento jurídico e é tão bem exposto por Miguel Reale, 5º, XXII), mas com base no princípio da Supremacia do
ao afirmar que: Interesse Público, a Administração pode, por exemplo,
“Princípios são, pois verdades ou juízos fundamentais, que desapropriar uma propriedade, requisitá-la ou promover o
servem de alicerce ou de garantia de certeza a um conjunto de seu tombamento, suprimindo ou restringindo o direito à
juízos, ordenados em um sistema de conceitos relativos à dada propriedade.
porção da realidade. Às vezes também se denominam princípios - a Administração e o particular podem celebrar contratos
certas proposições, que apesar de não serem evidentes ou administrativos, mas esses contratos preveem uma série de
resultantes de evidências, são assumidas como fundantes da cláusulas exorbitantes que possibilitam a Administração, por
validez de um sistema particular de conhecimentos, como seus exemplo, modificar ou rescindir unilateralmente tal contrato.
pressupostos necessários.” - o poder de polícia administrativa que confere à
Desta forma, princípios são proposições que servem de Administração Pública a possibilidade, por exemplo, de
base para toda estrutura de uma ciência, no Direito determinar a proibição de venda de bebida alcoólica a partir
Administrativo não é diferente, temos os princípios que de determinada hora da noite com o objetivo de diminuir a
servem de alicerce para este ramo do direito público. Os violência.
princípios podem ser expressos ou implícitos, vamos nos deter Diante de inúmeros abusos, ilegalidades e arbitrariedades
aos expressos, que são os consagrados no art. 37 da cometidas em nome do aludido princípio, já existem vozes na
Constituição da República Federativa do Brasil. doutrina proclamando a necessidade de se pôr fim a este,
O caput do art. 37 afirma que a administração pública através da Teoria da Desconstrução do Princípio da
direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Supremacia. Na verdade, esvaziar tal princípio não resolverá
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos o problema da falta de probidade de nossos homens públicos.

1 http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=11022&n_link=revista_artigos_leitura

Administração Pública 4
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APOSTILAS OPÇÃO

Como afirma a maioria da doutrina, o princípio da Supremacia fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude lei.
do Interesse Público é essencial, sendo um dos pilares da Esta interpretação encontra abalizamento no artigo 5º, II, da
Administração, devendo ser aplicado de forma correta e Constituição Federal de 1988.
efetiva. Se há desvio na sua aplicação, o Poder Judiciário deve
ser provocado para corrigi-lo. Princípio da Impessoalidade

Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público Posteriormente, o artigo 37 estabelece que deverá ser
obedecido o princípio da impessoalidade. Este princípio
Este princípio é o segundo pilar do regime jurídico- estabelece que a Administração Pública, através de seus
administrativo, funcionando como contrapeso ao princípio da órgãos, não poderá, na execução das atividades, estabelecer
Supremacia do Interesse Público. diferenças ou privilégios, uma vez que deve imperar o
Ao mesmo tempo em que a Administração tem interesse social e não o interesse particular. De acordo com os
prerrogativas e poderes exorbitantes para atingir seus fins ensinamentos de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o princípio da
determinados em lei, ela sofre restrições, limitações que não impessoalidade estaria intimamente relacionado com a
existem para o particular. Essas limitações decorrem do fato finalidade pública. De acordo com a autora “a Administração
de que a Administração Pública não é proprietária da coisa não pode atuar com vista a prejudicar ou beneficiar pessoas
pública, não é proprietária do interesse público, mas sim, mera determinadas, uma vez que é sempre o interesse público que
gestora de bens e interesses alheios que pertencem ao povo. deve nortear o seu comportamento”. (DI PIETRO, Maria Sylvia
Em decorrência deste princípio, a Administração somente Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2005).
pode atuar pautada em lei. A Administração somente poderá Em interessante constatação, se todos são iguais perante a
agir quando houver lei autorizando ou determinando a sua lei (art. 5º, caput) necessariamente o serão perante a
atuação. A atuação da Administração deve, então, atender o Administração, que deverá atuar sem favoritismo ou
estabelecido em lei, único instrumento capaz de retratar o que perseguição, tratando a todos de modo igual, ou quando
seja interesse público. necessário, fazendo a discriminação necessária para se chegar
Este princípio também se encontra implícito em nosso à igualdade real e material.
ordenamento, surgindo sempre que estiver em jogo o Nesse sentido podemos destacar como um exemplo
interesse público. Exemplos da utilização deste princípio na decorrente deste princípio a regra do concurso público, onde
prática: a investidura em cargo ou emprego público depende de
- os bens públicos não são alienados como os particulares, aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas
havendo uma série de restrições a sua venda. e títulos, de acordo com a natureza e complexidade do cargo
- em regra, a Administração não pode contratar sem prévia ou emprego.
licitação, por estar em jogo o interesse público. Princípio da Moralidade Administrativa
- necessidade de realização de concurso público para
admissão de cargo permanente. A Administração Pública, de acordo com o princípio da
Sem prejuízo, voltamos a frisar que a Administração moralidade administrativa, deve agir com boa-fé,
Pública deverá se pautar principalmente nos cinco princípios sinceridade, probidade, lealdade e ética. Tal princípio acarreta
estabelecidos pelo “caput” do artigo 37 da Constituição da a obrigação ao administrador público de observar não
República Federativa do Brasil de 1988. Os princípios são os somente a lei que condiciona sua atuação, mas também, regras
seguintes: legalidade, impessoalidade, moralidade, éticas extraídas dos padrões de comportamento designados
publicidade e eficiência. como moralidade administrativa (obediência à lei).
Não basta ao administrador ser apenas legal, deve
Dica de memorização: se unirmos as iniciais dos também, ser honesto tendo como finalidade o bem comum.
principais princípios constitucionais, chegaremos à palavra Para Maurice Hauriou, o princípio da moralidade
mnemônica “L.I.M.P.E.” administrativa significa um conjunto de regras de conduta
tiradas da disciplina interior da Administração. Trata-se de
probidade administrativa, que é a forma de moralidade. Tal
Vejamos o que prevê a Carta Magna sobre o tema: preceito mereceu especial atenção no texto vigente
constitucional (§ 4º do artigo 37 CF), que pune o ímprobo
CAPÍTULO VII (pessoa não correto -desonesta) com a suspensão de direitos
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA políticos. Por fim, devemos entender que a moralidade como
Seção I também a probidade administrativa consistem
DISPOSIÇÕES GERAIS exclusivamente no dever de funcionários públicos exercerem
(prestarem seus serviços) suas funções com honestidade. Não
Artigo 37- A administração pública direta e indireta de devem aproveitar os poderes do cargo ou função para proveito
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal pessoal ou para favorecimento de outrem.
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, Princípio da Publicidade
ao seguinte: (...)
O princípio da publicidade tem por objetivo a divulgação
Princípio da Legalidade de atos praticados pela Administração Pública, obedecendo,
todavia, as questões sigilosas. De acordo com as lições do
O princípio da legalidade, um dos mais importantes eminente doutrinador Hely Lopes Meirelles, “o princípio da
princípios consagrados no ordenamento jurídico brasileiro, publicidade dos atos e contratos administrativos, além de
consiste no fato de que o administrador somente poderá fazer assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar seu
o que a lei permite. É importante demonstrar a diferenciação conhecimento e controle pelos interessados e pelo povo em
entre o princípio da legalidade estabelecido ao administrado e geral, através dos meios constitucionais...”. (MEIRELLES, Hely
ao administrador. Como já explicitado para o administrador, o Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros,
princípio da legalidade estabelece que ele somente poderá agir 2005).
dentro dos parâmetros legais, conforme os ditames Complementando o princípio da publicidade, o art. 5º,
estabelecidos pela lei. Já, o princípio da legalidade visto sob a XXXIII, garante a todos o direito a receber dos órgãos públicos
ótica do administrado, explicita que ninguém será obrigado a
Administração Pública 5
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informações de seu interesse particular, ou de interesse Princípio da autotutela


coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena
de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja Como o Poder Público está submetido a lei, sua atuação é
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, matéria voltada ao controle de legalidade e quando esse poder é
essa regulamentada pela Lei nº 12.527/2011 (Regula o exercido pela própria Administração, esses atos são
acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5 o, no denominados de autotutela.
inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art. 216 da Constituição A autotutela permite que o Poder Público anule ou revogue
Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990; seus atos administrativos, quando forem inconvenientes com
revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da a lei. Para tanto, não será necessária a intervenção do Poder
Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências). Judiciário.
Os remédios constitucionais do habeas data e mandado de Impõe-se a Administração Pública o zelo pela regularidade
segurança cumprem importante papel enquanto garantias de de sua atuação (dever de vigilância), ainda que para tanto não
concretização da transparência. tenha sido provocada.
Essa forma de controle interno se dá em dois momentos:
Princípio da Eficiência com a anulação de atos ilegais e contrários ao ordenamento
jurídico, e a revogação de atos em confronto com os interesses
Por derradeiro, o último princípio a ser abarcado pelo da Administração, cuja manutenção se afigura inoportuna e
artigo 37, da Constituição da República Federativa do Brasil de inconveniente.
1988 é o da eficiência. No entanto, essa autotutela apresenta algumas limitações
Se, na iniciativa privada, se busca a excelência e a objetivas e subjetivas, decorrentes do princípio da segurança
efetividade, na administração outro não poderia ser o jurídica.
caminho, enaltecido pela EC n. 19/98, que fixou a eficiência
também para a Administração Pública. Princípio da Igualdade
De acordo com os ensinamentos de Hely Lopes Meirelles, o
princípio da eficiência “impõe a todo agente público realizar as Também conhecido como Princípio da Isonomia, considera
atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É que a Administração Pública deve se preocupar em tratar
o mais moderno princípio da função administrativa, que já não igualmente as partes no processo administrativo, sem que haja
se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, discriminações não permitidas.
exigindo resultados positivos para o serviço público e O objetivo é tratar o administrado com urbanidade, com
satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e equidade, com congruência.
de seus membros”.2 No processo administrativo, busca-se uma decisão legal e
Outrossim, DI PIETRO explicita que o princípio da justa, pois se deve tratar igualmente os iguais e desigualmente
eficiência possui dois aspectos: “o primeiro pode ser os desiguais, na exata medida de suas desigualdades.
considerado em relação ao modo de atuação do agente público,
do qual se espera o melhor desempenho possível de suas Princípio da Finalidade
atribuições, para lograr os melhores resultados, e o segundo,
em relação ao modo de organizar, estruturar e disciplinar a A Administração Pública deve satisfazer a pretensão do
Administração Pública, também com o mesmo objetivo de interesse público, caso não seja satisfeita a vontade, leva-se à
alcançar os melhores resultados na prestação do serviço invalidade do ato praticado pelo administrador.
público”.3 Por sua atualidade merece especial referência a
questão do nepotismo, ou seja, a designação de cônjuge, Por exemplo, uma passeata de interesse coletivo,
companheiro e parentes para cargos públicos no órgão. A lei autorizadas pela Administração Pública, poderá ser dissolvida,
proíbe o nepotismo direto, aquele em que o beneficiado deve se tornar-se violenta, a ponto de causarem problemas à
estar subordinado a seu cônjuge ou parente, limitado ao coletividade (desvio da finalidade).
segundo grau civil, por consanguinidade (pai, mãe, avós,
irmãos, filhos e netos) ou por afinidade (sogros, pais dos Princípio da Motivação
sogros, cunhados, enteados e filhos dos enteados).
O Supremo Tribunal Federal ampliou essa vedação, por A motivação é um dos critérios entre a discricionariedade
meio da Súmula Vinculante nº 13, onde proíbe o nepotismo em e a arbitrariedade, levando-se a conclusão de que o que não é
todas as entidades da Administração direta e indireta de todos motivado é arbitrário.
os entes federativos, enquanto que a Lei 8.112/90 veda apenas Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello nos seguintes
para a Administração direta, às autarquias e fundações da termos:
União; estende a proibição aos parentes de terceiro grau (tios Dito princípio implica para a Administração o dever de
e sobrinhos), que alcançava apenas os parentes de segundo justificar seus atos, apontando-lhes os fundamentos de direito
grau; e proibiu-se também o nepotismo cruzado, aquele em e de fato, assim como a correlação lógica entre os eventos e
que o agente público utiliza sua influência para possibilitar a situações que deu por existentes e a providência tomada, nos
nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em cargo em casos em que este último aclaramento seja necessário para
comissão ou de confiança ou função gratificada não aferir-se a consonância da conduta administrativa com a lei
subordinada diretamente a ele. que lhe serviu de arrimo.
A vedação do nepotismo representa os princípios da Por ele, a autoridade administrativa deve demonstrar as
impessoalidade, moralidade, eficiência e isonomia, de acordo razões que permitiram tomar determinada decisão. A
com o decidido na Ação Declaratória de Constitucionalidade motivação é a exigência do Estado de Direito. Sem a
(ADC nº 12). A partir de agora, temos a palavra da Suprema explicitação dos motivos fica difícil aferir a correção do que foi
Corte, dizendo que o nepotismo ofende os princípios decidido. A falta de motivação no ato discricionário é o que
republicanos, previstos nos arts. 5º e 37 da Constituição permite a ocorrência de desvio de poder e até mesmo de
Federal. abuso, devido a impossibilidade de controle judicial, pois como

2 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: 3 PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas,
Malheiros, 2002. 2002.

Administração Pública 6
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dito anteriormente, a motivação é o que permite aferir a 02. (SEDF - Conhecimentos Básicos - CESPE/2017). Em
intenção do agente. relação aos princípios da administração pública e à
organização administrativa, julgue o item que se segue.
Princípio da Segurança Jurídica O administrador, quando gere a coisa pública conforme o
que na lei estiver determinado, ciente de que desempenha o
O Estado como garantidor deve conceder segurança papel de mero gestor de coisa que não é sua, observa o
jurídica aos cidadãos, devido a necessidade de demonstrar que princípio da indisponibilidade do interesse público.
embora seja o detentor de poder maior, deve-se dosar o ( ) Certo ( ) Errado
controle da utilização deste poder.
A Segurança Jurídica garante aos cidadãos os seus direitos 03. (MPE/RN - Técnico do Ministério Público Estadual
naturais, como por exemplo, direito à liberdade, à vida, à - COMPERVE/2017). A Administração Pública, nos termos do
propriedade, entre outro. art. 37 da Constituição Federal (CF), deve obedecer a certos
Em sentido amplo ela refere-se ao sentido geral de princípios. Tendo em vista os princípios constitucionais
garantia, proteção, estabilidade de situação ou pessoa em expressos no art. 37, da CF,
vários campos. Devemos pensar que em sentido amplo está (A) a moralidade administrativa, embora seja observada
ligada à garantia real de direitos que possuem amparo na por grande parte dos administradores, não se configura um
Constituição Federal, como por exemplo os que são princípio positivado no ordenamento jurídico brasileiro.
reconhecidos pelo artigo 5º, do citado diploma legal. (B) a publicação do nome dos servidores públicos com seus
Em sentido estrito, a segurança jurídica assume o sentido respectivos vencimentos em sítios eletrônicos, de acordo com
de garantia de estabilidade e de certeza dos negócios o entendimento do Supremo Tribunal Federal, é legítima, haja
jurídicos, admite que as pessoas saibam previamente que, vista o princípio da publicidade dos atos administrativos.
uma vez envolvidas em certa relação jurídica, está se mantém (C) o princípio da legalidade determina que a
estável, mesmo se alterar a base legal sob a qual se institui. Administração Pública não pode ser obrigada a fazer ou a
Não permite que os envolvidos sofram alterações em razão deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei.
de constante mudança legislativa. É mais voltada ao aspecto (D) o princípio da impessoalidade, de acordo com o
formal, típico do Estado de Direito Liberal e característico dos entendimento do Supremo Tribunal Federal, possibilita a
sistemas jurídicos positivados, reconhecendo o momento contratação de parentes de terceiro grau da autoridade
exato em que uma lei entra em vigor e quando pode ser nomeante para o exercício de cargo em comissão.
revogado.
04. (Prefeitura de Belo Horizonte /MG - Procurador
Princípio da Continuidade do Serviço Público Municipal – CESPE/2017). A respeito dos princípios
aplicáveis à administração pública, assinale a opção correta.
Visa não prejudicar o atendimento à população, uma vez (A) Dado o princípio da autotutela, poderá a administração
que os serviços essenciais não podem ser interrompidos. anular a qualquer tempo seus próprios atos, ainda que eles
Celso Ribeiro Bastos (in Curso de direito administrativo, 2. tenham produzido efeitos benéficos a terceiros.
ed. – São Paulo: Saraiva, 1996, p. 165.), é um dos doutrinadores (B) Apesar de expressamente previsto na CF, o princípio da
que defende a não interrupção do serviço público essencial: "O eficiência não é aplicado, por faltar-lhe regulamentação
serviço público deve ser prestado de maneira continua, o que legislativa.
significa dizer que não é passível de interrupção. Isto ocorre (C) Ao princípio da publicidade corresponde, na esfera do
pela própria importância de que o serviço público se reveste, direito subjetivo dos administrados, o direito de petição aos
o que implica ser colocado à disposição do usuário com órgãos da administração pública.
qualidade e regularidade, assim como com eficiência e (D) O princípio da autoexecutoriedade impõe ao
oportunidade"... "Essa continuidade afigura-se em alguns administrador o ônus de adequar o ato sancionatório à
casos de maneira absoluta, quer dizer, sem qualquer infração cometida.
abrandamento, como ocorre com serviços que atendem
necessidades permanentes, como é o caso de fornecimento de 05. (IF Sul/MG - Assistente em Administração - IFSUL-
água, gás, eletricidade. Diante, pois, da recusa de um serviço MG/2016). A divulgação oficial do ato da Administração para
público, ou do seu fornecimento, ou mesmo da cessação ciência do público em geral, com efeito de início da atuação
indevida deste, pode o usuário utilizar-se das ações judiciais externa, ou seja, de gerar efeitos jurídicos, corresponde à qual
cabíveis, até as de rito mais célere, como o mandado de Princípio da Administração Pública, conforme Constituição da
segurança e a própria ação cominatória". República Federativa do Brasil de 1988?
(A) Princípio da Moralidade.
Princípio da Probidade (B) Princípio da Legalidade.
(C) Princípio da Publicidade.
Consiste na honradez, caráter íntegro, honestidade. (D) Princípio da Impessoalidade.
Configura a retidão no agir, permitindo uma atuação na
administração de boa qualidade. . Gabarito

Questões 01.D/ 02.Certo/ 03.B/ 04.C/ 05. C

01. (USP - Agente Técnico de Assistência à Saúde


(Psicólogo) – USP/2017). Um servidor público utiliza sua
verba de representação ou cartão corporativo em negócios
não previstos à sua condição de pessoa pública ou do exercício
profissional. Com base nestas informações, os princípios de
Administração Pública atingidos são:
(A) Legalidade e publicidade.
(B) Moralidade e impessoalidade
(C) Impessoalidade e publicidade.
(D) Moralidade e legalidade

Administração Pública 7
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dezembro de 2020. (Nova redação dada pela Lei n.º 15.576, de


4 Direitos e deveres dos 07.04.14)
§ 4º Incidirá a contribuição previdenciária sobre a parcela
servidores públicos. prevista no caput deste artigo.
5 Responsabilidade dos § 5º Não incidirá sobre a PVR/FUNDEB o índice de revisão
servidores públicos. geral da remuneração dos servidores públicos civis do Poder
Executivo, considerando o seu caráter redistributivo.
6. Servidor Estadual. § 6º A parcela prevista no caput deste artigo constitui base
6.1 Estatuto dos de cálculo para férias e 13º salário, sendo este último calculado
Funcionários Públicos Civis do proporcionalmente ao tempo de percepção e pela respectiva
média, sempre custeada pelo FUNDEB.
Estado do Ceará (Lei nº
9.826/1974 – 6.1.1 Do Art. 2º Para fins de recebimento da PVR/FUNDEB não serão
provimento dos cargos – considerados como efetivo exercício os afastamentos em virtude
de:
Capítulos I a X. 6.1.2 Dos I - convocação para o Serviço Militar;
direitos, vantagens e II - júri e outros serviços obrigatórios;
autorizações – Capítulos I a VI. III - desempenho de função eletiva federal, estadual ou
municipal;
6.5.3 Do regime disciplinar – IV - licença especial, quando ainda não usufruída;
título VI – Capítulos I a VII) V - missão ou estudo noutras partes do território nacional ou
no estrangeiro, para os cursos de pós-graduação stricto sensu,
quando o afastamento houver sido expressamente autorizado;
VI - prisão;
Prezado(a) candidato(a), estes assuntos serão VII - disponibilidade;
estudados de forma específica em “6.3. Estágio Probatório VIII - cessão para outros órgãos, entidades ou Poderes da
Servidor Estadual” Administração Pública, com ou sem ônus para a origem.
Parágrafo único. Não farão jus ao recebimento da
PVR/FUNDEB os profissionais do Grupo Ocupacional do
6.2 Lei nº 15.243/2012 Magistério – MAG, da Educação Básica, que se encontrem
(Disciplina o Art. 3º da lei nº respondendo a processo administrativo disciplinar ou tenham
15.064/2011). sofrido pena disciplinar nos últimos 2 (dois) anos.

Art. 3º A parcela prevista no art. 1º será incorporada aos


LEI N.º 15.243, DE 06.12.124 proventos de aposentadoria dos profissionais do Grupo
Ocupacional do Magistério – MAG, da Educação Básica, desde
Disciplina o art. 3º da lei nº 15.064, de 13 de dezembro de que tenham contribuído sobre a mesma por pelo menos 60
2011, quanto à utilização, no período de outubro de 2012 a (sessenta) meses para o Sistema Único de Previdência Social dos
setembro de 2013, dos recursos do fundo de manutenção e Servidores Públicos Civis e Militares, dos Agentes Públicos e dos
desenvolvimento da educação básica – Fundeb, para a Membros de Poder do Estado do Ceará - SUPSEC.
distribuição com profissionais do grupo ocupacional do §1º Para os servidores do Grupo MAG da Educação Básica
magistério – mag, da Educação Básica, e dá outras providências. que implementarem as regras dos arts. 3º ou 6º da Emenda
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ. Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, ou do art. 3º
Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu da Emenda Constitucional nº 47, de 5 de julho de 2005, e cujo
sanciono a seguinte Lei: período de percepção por ocasião do pedido de aposentadoria
seja menor do que 60 (sessenta) meses, será observada a média
Art. 1º Fica autorizada a concessão, para os meses de aritmética do período de percepção, multiplicada pela fração
outubro de 2012 a dezembro de 2020, de Parcela Variável de cujo numerador será o número correspondente ao total de
Redistribuição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da meses trabalhados e o denominador será sempre o número 60.
Educação Básica – FUNDEB – PVR/ FUNDEB, destinada aos §2º O disposto neste artigo não se aplica aos servidores do
profissionais do Grupo Ocupacional do Magistério - MAG, da Grupo MAG da Educação Básica que venham a se aposentar
Educação Básica, que se encontrem no efetivo exercício de seus pelas regras previstas no art. 40 da Constituição Federal, com a
cargos ou funções na Secretaria da Educação do Estado do redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, de 19 de
Ceará - SEDUC, visando à valorização da carreira e ao incentivo dezembro de 2003, nos termos da legislação federal.
ao desempenho do magistério.
§ 1º O valor da parcela prevista no caput será definido de Art. 4º A PVR/FUNDEB prevista no art. 1° desta Lei será
acordo com a referência da carreira, na qual estiver enquadrado concedida aos professores graduados contratados nos termos da
o profissional, para uma jornada de 40 (quarenta) horas Lei Complementar n° 22, de 24 de junho de 2000, a ser custeada
semanais, na forma constante no anexo I desta Lei. (Nova com recursos do FUNDEB, a partir de 1° de outubro de 2012 até
redação dada pela Lei n.º 15.576, de 07.04.14) dezembro de 2020.
§ 2º O valor da parcela constante no anexo I desta Lei será Parágrafo único. O valor da parcela variável prevista no
proporcional à efetiva jornada do profissional, quando diferente caput deste artigo será de R$ 200,00 (duzentos reais) para os
de 40 (quarenta) horas semanais. professores com jornada de 40 (quarenta) horas semanais e
§ 3º É devido o pagamento da PVR/ FUNDEB aos proporcional para as demais jornadas. (Nova redação dada pela
profissionais do Grupo Ocupacional do Magistério – MAG, da Lei n.º 15.576, de 07.04.14)
Educação Básica, a partir de 1° de outubro de 2012 até

4 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-
tematica/orcamento-financas-e-tributacao/item/2234-lei-n-15-243-de-06-12-
12-d-o-13-12-12 Acesso em: 25/07/2018 às 11h:30min

Administração Pública 8
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Art. 5º Fica autorizada a concessão de abono relativo à Anexo único a que se refere a lei nº 15.576, de 07 de
integralização de 1/3 (um terço) da jornada para horas- abril de 2014.
atividade, nos termos da Lei Federal nº 11.738, de 16 de julho de
2008, aos professores do Grupo Ocupacional do Magistério –
MAG da Educação Básica e aos professores contratados nos
termos da Lei Complementar nº 22, de 24 de junho de 2000,
referente ao período de agosto a dezembro de 2012.
§1º O valor do Abono será calculado na forma prevista no
anexo II desta Lei.
§2º O Abono previsto no caput será pago em uma única
parcela no mês de dezembro do ano de 2012.

Art. 6º Após a aplicação do disposto nos artigos desta Lei, o


saldo eventualmente remanescente do FUNDEB até o limite de
80% (oitenta por cento), previsto no inciso III do art. 3º da Lei
nº 15.064, de 13 de dezembro de 2011, será rateado,
exclusivamente, entre os profissionais ativos beneficiados pela
PVR/FUNDEB, previstos no art. 1º desta Lei, pelos professores
detentores do título de Doutorado, que se encontrem em efetivo
exercício na Secretaria da Educação do Estado do Ceará –
SEDUC, e os professores contratados nos termos da Lei
Complementar nº 22, de 24 de junho de 2000, devendo ser pago
até o final do mês de março do ano subsequente ao FUNDEB
realizado.
§ 1º O rateio será proporcional à jornada de trabalho, ao
número de meses trabalhados no ano letivo e à remuneração.
(Nova redação dada pela Lei n.º 16.228, de 17.04.17)
§ 2º Para fins do rateio previsto no caput, o conjunto
remuneratório do professor efetivo é formado por vencimento
base, regência, PNI e PVR/FUNDEB.
(Nova redação dada pela Lei n.º 15.576, de 07.04.14)
Art. 7º O disposto nesta Lei não se aplica aos aposentados e
pensionistas na data de publicação desta Lei. Questão

Art. 8º Fica criada Comissão Paritária formada por 01. Segundo o que dispõe a lei nº 15.243 de 2012 julgue o
membros da Secretaria da Educação e do Sindicato APEOC para item a seguir:
acompanhar os efeitos decorrentes da aplicação da presente “Não farão jus ao recebimento da PVR/FUNDEB os
Lei, bem como da Lei nº 15.064, de 13 de dezembro de 2011 . profissionais do Grupo Ocupacional do Magistério – MAG, da
Educação Básica, que se encontrem respondendo a processo
Art. 9º As despesas decorrentes da execução desta Lei administrativo disciplinar ou tenham sofrido pena disciplinar
correrão por conta das dotações orçamentárias próprias do nos últimos 5 (cinco) anos”.
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica - ( ) Certo ( ) Errado
FUNDEB.
Gabarito
Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 01.Errado
(Nova redação dada pela Lei n.º 15.444, 10.10.13)

Art. 11. Ficam revogadas as disposições em contrário. 6.3. Estágio Probatório


PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVENO DO ESTADO DO
Servidor Estadual (Lei nº
CEARÁ, 9.826/1974, Lei nº13.092 de
em Fortaleza, 06 de dezembro de 2012. 08 de janeiro de 2001, Lei
Cid Ferreira Gomes
GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ
nº15.744, 29 de dezembro de
2014 e Lei nº 15.909, de 11 de
dezembro de 2015)

LEI Nº 9.826, DE 14 DE MAIO DE 19745

Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do


Estado.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ, faço saber que a


Assembleia Legislativa decretou e eu sanciono e promulgo a
seguinte Lei:

5 https://www.al.ce.gov.br/index.php/publicacoes-
inesp?download=593:estatuto-dos-funcionarios-2017 Acesso em: 04/07/2018 às
12h:33min

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TÍTULO I VIII- transposição;


Do Regime Jurídico do Funcionário IX- transformação.
CAPÍTULO Único
Dos Princípios Gerais Nota: com relação aos incisos III e IV, essas formas de
provimento de cargo público não existem mais no ordenamento
Art. 1º - Regime Jurídico do Funcionário Civil é o conjunto jurídico brasileiro (Constituição Federal art. 37, inciso II e
de normas e princípios, estabelecidos por este Estatuto e Constituição Estadual art. 154, inciso II).
legislação complementar, reguladores das relações entre o Há inclusive súmula vinculante sobre o assunto, é a 43: É
Estado e o ocupante de cargo público. inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie
ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso
Art. 2º - Aplica-se o regime jurídico de que trata esta lei: público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra
I- aos funcionários do Poder Executivo; a carreira na qual anteriormente investido.
II- aos funcionários autárquicos do Estado;
III- aos funcionários administrativos do Poder Legislativo; Art. 10 - O ato de provimento deverá indicar a existência de
IV- aos funcionários administrativos do Tribunal de Contas vaga, com os elementos capazes de identificá-la.
do Estado e do Conselho de Contas dos Municípios.
Art. 11 - O disciplinamento normativo das formas de
Art. 3º - Funcionário Público Civil é o ocupante de cargo provimento dos cargos públicos referidos nos itens VIII e IX do
público, ou o que, extinto ou declarado desnecessário o cargo, é art. 9º é objeto de legislação específica.
posto em disponibilidade.
CAPÍTULO II
Art. 4º - Cargo público é o lugar inserido no Sistema Do Concurso
Administrativo Civil do Estado, caracterizando-se, cada um, por
determinado conjunto de atribuições e responsabilidades de Art. 12 - Compete a cada Poder e a cada Autarquia ou órgão
natureza permanente. auxiliar, autônomo, a iniciativa dos concursos para provimento
Parágrafo único - Exclui-se da regra conceitual deste dos cargos vagos.
artigo o conjunto de empregos que, inserido no Sistema
Administrativo Civil do Estado, se subordina à legislação Art. 13 - A realização dos concursos para provimento dos
trabalhista. cargos da Administração Direta do Poder Executivo competirá
ao Órgão Central do Sistema de Pessoal.
Art. 5º - Para os efeitos deste Estatuto, considera-se Sistema § 1º - A execução dos concursos para provimento dos cargos
Administrativo o complexo de órgãos dos Poderes Legislativo e da lotação do Tribunal de Contas do Estado, do Conselho de
Executivo e suas entidades autárquicas. Contas dos Municípios e das Autarquias receberá a orientação
normativa e supervisão técnica do órgão central referido neste
TÍTULO II artigo.
Do Provimento dos Cargos § 2º - O Órgão Central do Sistema de Pessoal poderá delegar
CAPÍTULO I a realização dos concursos aos órgãos setoriais e seccionais de
Das Disposições Preliminares pessoal das diversas repartições e entidades, desde que estes
apresentem condições técnicas para efetivação das atividades
Art. 6º - Os cargos públicos do Estado do Ceará são de recrutamento e seleção, permanecendo, sempre, o órgão
acessíveis a todos brasileiros, observadas as condições prescritas delegante, com a responsabilidade pela perfeita execução da
em lei e regulamento. atividade delegada.

Art. 7º - De acordo com a natureza dos cargos, o seu Art. 14 - É fixada em cinquenta (50) anos a idade máxima
provimento pode ser em caráter efetivo ou em comissão. para inscrição em concurso público destinado a ingresso nas
categorias funcionais instituídas de acordo com a Lei Estadual
Art. 8º - Os cargos em comissão serão providos, por livre nº. 9.634, de 30 de outubro de 1972, ressalvadas as exceções a
nomeação da autoridade competente, dentre pessoas que seguir indicadas:
possuam aptidão profissional e reúnam as condições necessárias I - para a inscrição em concurso para o Grupo de Tributação
à sua investidura, conforme se dispuser em regulamento. e Arrecadação a idade limite é de trinta e cinco (35) anos.
§ 1º - A escolha dos ocupantes de cargos em comissão poderá II - e para inscrição em concurso destinado ao ingresso nas
recair, ou não, em funcionário do Estado, na forma do categorias funcionais do Grupo Segurança Pública, são fixados
regulamento. os seguintes limites máximos de idade:
§ 2º - No caso de recair a escolha em servidor de entidade da a) de vinte e cinco (25) anos, quando se tratar de ingresso
Administração Indireta, ou em funcionário não subordinado à em categoria funcional que importe em exigência de curso de
autoridade competente para nomear, o ato de nomeação será nível médio; e
precedido da necessária requisição. b) de trinta e cinco (35) anos, quando se tratar de ingresso
§ 3º - A posse em cargo em comissão determina o nas demais categorias;
concomitante afastamento do funcionário do cargo efetivo de c) independerá dos limites previstos nas alíneas anteriores a
que for titular, ressalvados os casos de comprovada acumulação inscrição do candidato que já ocupe cargo integrante do Grupo
legal. Segurança Pública.
§1º - Das inscrições para o concurso constarão,
Art. 9º - Os cargos públicos são providos por: obrigatoriamente:
I- nomeação; I- o limite de idade dos candidatos, que poderá variar de
II- promoção; dezoito (18) anos completos até cinquenta (50) anos
III- acesso; incompletos, na forma estabelecida no caput deste artigo;
IV- transferência; II- o grau de instrução exigível, mediante apresentação do
V- reintegração; respectivo certificado;
VI- aproveitamento; III- a quantidade de vagas a serem preenchidas, distribuídas
VII- reversão; por especialização da disciplina, quando referentes a cargo do

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Magistério e de atividades de nível superior ou outros de IX- ter atendido às condições especiais, prescritas em lei ou
denominação genérica; IV - o prazo de validade do concurso, de regulamento para determinados cargos ou categorias
dois (2) anos, prorrogável a juízo da autoridade que o abriu ou funcionais.
o iniciou; § 1º - A prova das condições a que se refere os itens I e II
V- descrição sintética do cargo, incluindo exemplificação de deste artigo não será exigida nos casos de transferência,
tarefas típicas, horário, condições de trabalho e retribuição; aproveitamento e reversão.
VI- tipos e Programa das Provas; § 2º - Ninguém poderá ser empossado em cargo efetivo sem
VII- exigências outras, de acordo com as especificações do declarar, previamente, que não ocupa outro cargo ou exerce
cargo. função ou emprego público da União, dos Estados, dos
§ 2º - Independerá de idade, a inscrição do candidato que Municípios, do Distrito Federal, dos Territórios, de Autarquias,
seja servidor de Órgãos da Administração Estadual Direta ou empresas públicas e sociedades de economia mista, ou
Indireta. apresentar comprovante de exoneração ou dispensa do outro
§ 3º - Na hipótese do parágrafo anterior, a habilitação no cargo que ocupava, ou da função ou emprego que exerce, ou,
concurso somente produzirá efeito se, no momento da posse ou ainda, nos casos de acumulação legal, comprovante de ter sido
exercício no novo cargo ou emprego, o candidato ainda possuir a mesma julgada lícita pelo órgão competente.
a qualidade de servidor ativo, vedada a aposentadoria
concomitante para elidir a acumulação do cargo. Art. 21 - São competentes para dar posse:
I- o Governador do Estado, às autoridades que lhe são
Art. 15 - Encerradas as inscrições, legalmente processadas, diretamente subordinadas;
para concurso destinado ao provimento de qualquer cargo, não II- os Secretários de Estado, aos dirigentes de repartições
se abrirão novas inscrições antes da realização do concurso. que lhes são diretamente subordinadas;
III- os dirigentes das Secretarias Administrativas, ou
Art. 16 - Ressalvado o caso de expressa condição básica para unidades de administração geral equivalente, da Assembleia
provimento de cargo prevista em regulamento, independerá de Legislativa, do Tribunal de Contas do Estado, e do Conselho de
limite de idade a inscrição, em concurso, de ocupante em cargo Contas dos Municípios, aos seus funcionários, se de outra
público. maneira não estabelecerem as respectivas leis orgânicas e
regimentos internos;
CAPÍTULO III IV- o Diretor-Geral do órgão central do sistema de pessoal,
Da Nomeação aos demais funcionários da Administração Direta;
V- os dirigentes das Autarquias, aos funcionários dessas
Art. 17 - A nomeação será feita: entidades.
I- em caráter vitalício, nos casos expressamente previstos
na Constituição; Art. 22 - No ato da posse será apresentada declaração, pelo
II- em caráter efetivo, quando se tratar de nomeação para funcionário empossado, dos bens e valores que constituem o seu
cargo da classe inicial ou singular de determinada categoria patrimônio, nos termos da regulamentação própria.
funcional;
III- em comissão, quando se tratar de cargo que assim deve Art. 23 - Poderá haver posse por procuração, quando se
ser provido. tratar de funcionário ausente do País ou do Estado, ou, ainda,
Parágrafo único - Em caso de impedimento temporário do em casos especiais, a juízo da autoridade competente.
titular do cargo em comissão, a autoridade competente
nomeará o substituto, exonerando-o, findo o período da Art. 24 - A autoridade de que der posse verificará, sob pena
substituição. de responsabilidade:
I- se foram satisfeitas as condições legais para a posse;
Art. 18 - Será tornada sem efeito a nomeação quando, por II- se do ato de provimento consta a existência de vaga, com
ato ou omissão do nomeado, a posse não se verificar no prazo os elementos capazes de identificá-la;
para esse fim estabelecido. III- em caso de acumulação, se pelo órgão competente foi
declarada lícita.
CAPÍTULO IV
Da Posse Art. 25 - A posse ocorrerá no prazo de 30 (trinta) dias da
publicação do ato de provimento no órgão oficial.
Art. 19 - Posse é o fato que completa a investidura em cargo Parágrafo único - A requerimento do funcionário ou de seu
público. representante legal, a autoridade competente para dar posse
Parágrafo único - Não haverá posse nos casos de poderá prorrogar o prazo previsto neste artigo, até o máximo de
promoção, acesso e reintegração. 60 (sessenta) dias contados do seu término.

Art. 20 - Só poderá ser empossado em cargo público quem CAPÍTULO V


satisfizer os seguintes requisitos: Da Fiança
I- ser brasileiro;
II- ter completado 18 anos de idade; (Ver Constituição Art. 26 - O funcionário nomeado para cargo cujo
Estadual - art. 155). provimento dependa de prestação de fiança não poderá entrar
III- estar no gozo dos direitos políticos; em exercício sem a prévia satisfação dessa exigência.
IV- estar quite com as obrigações militares e eleitorais; § 1º - A fiança poderá ser prestada em:
V - ter boa conduta; I - dinheiro;
VI- gozar saúde, comprovada em inspeção médica, na forma II- título da dívida pública da União ou do Estado, ações de
legal e regulamentar; sociedade de economia mista que o Estado participe como
VII- possuir aptidão para o cargo; acionista, e
VIII- ter-se habilitado previamente em concurso, exceto nos III- apólice de seguro-fidelidade funcional, emitida por
casos de nomeação para cargo em comissão ou outra forma de instituição oficial ou legalmente autorizada para esse fim.
provimento para a qual não se exija o concurso; § 2º - O seguro poderá ser feito pela própria repartição em
que terá exercício o funcionário.

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§ 3º - Não se admitirá o levantamento da fiança antes de § 10. Na hipótese de afastamento do servidor em estágio
tomada de contas do funcionário. probatório para os fins previstos no incisos V, VI, VIII, IX, X, XIII,
§ 4º - O responsável por alcance ou desvio de bens do Estado XV, XVI, XVIII e XIX do art. 68, fica suspenso o estágio probatório
não ficará isento da ação administrativa que couber, ainda que durante o período de afastamento, retornando o cômputo após
o valor da fiança seja superior ao dano verificado ao patrimônio retorno ao exercício efetivo, pelo prazo correspondente ao
público. afastamento. (Redação dada pela Lei 15.744/2014).
§ 11. O servidor em estágio probatório poderá exercer cargo
CAPÍTULO VI de provimento em comissão ou função de direção, chefia ou
Do Estágio Probatório assessoramento no seu órgão ou entidade de origem, com função
ou funções similares ao cargo para o qual foi aprovado em
Art. 27 - Estágio probatório é o triênio de efetivo exercício concurso público, computando-se o tempo para avaliação
no cargo de provimento efetivo, contado do início do exercício essencial de desempenho do estágio probatório.” (Redação dada
funcional, durante o qual é observado o atendimento dos pela Lei 15.819/2015).
requisitos necessários à confirmação do servidor nomeado em § 12. O servidor em estágio probatório poderá ser cedido
virtude de concurso público (Redação dada pela Lei para órgão da Administração Pública direta ou indireta para
13.092/2001). exercer quaisquer cargos de provimento em comissão ou funções
§ 1º - Como condição para aquisição da estabilidade, é de direção, chefia ou assessoramento no âmbito Federal,
obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão Municipal ou Estadual, com ônus para o destino, restando
instituída para essa finalidade. (Redação dada pela Lei suspenso o computo do estágio probatório, voltando este a ser
13.092/2001). contado a partir do término da cessão e, consequente retorno à
§ 2º - A avaliação especial de desempenho do servidor será origem.” (Redação dada pela Lei 15.927/2015).
realizada: (Redação dada pela Lei 13.092/2001).
a) extraordinariamente, ainda durante o estágio probatório, Art. 28 - O servidor que durante o estágio probatório não
diante da ocorrência de algum fato dela motivador, sem prejuízo satisfizer qualquer dos requisitos previstos no § 3º do artigo
da avaliação ordinária; (Redação dada pela Lei 13.092/2001). anterior, será exonerado, nos casos dos itens I e II, e demitido na
b) ordinariamente, logo após o término do estágio hipótese do item III.
probatório, devendo a comissão ater-se exclusivamente ao Parágrafo único - O ato de exoneração ou de demissão do
desempenho do servidor durante o período do estágio. servidor em razão de reprovação na avaliação especial de
§3º- Além de outros específicos indicados em lei ou desempenho será expedido pela autoridade competente para
regulamento, os requisitos de que trata este artigo são os nomear. (Redação dada pela Lei 13.092/2001).
seguintes: (Redação dada pela Lei 13.092/2001).
I- adaptação do servidor ao trabalho, verificada por meio de Art. 29 – O ato administrativo declaratório da estabilidade
avaliação da capacidade e qualidade no desempenho das do servidor no cargo de provimento efetivo, após cumprimento
atribuições do cargo; (Redação dada pela Lei 13.092/2001). do estágio probatório e aprovação na avaliação especial de
II- equilíbrio emocional e capacidade de integração; desempenho, será expedido pela autoridade competente para
(Redação dada pela Lei 13.092/2001). nomear, retroagindo seus efeitos à data do término do período
III- cumprimento dos deveres e obrigações do servidor do estágio probatório.
público, inclusive com observância da ética profissional.
(Redação dada pela Lei 13.092/2001). Art. 30 - O funcionário estadual que, sendo estável, tomar
§ 4º - O estágio probatório corresponderá a uma posse em outro cargo para cuja confirmação se exige estágio
complementação do concurso público a que se submeteu o probatório, será afastado do exercício das atribuições do cargo
servidor, devendo ser obrigatoriamente acompanhado e que ocupava, com suspensão do vínculo funcional nos termos do
supervisionado pelo Chefe Imediato. (Redação dada pela Lei artigo 66, item I, alíneas a, b e c desta lei.
13.092/2001). Parágrafo único - Não se aplica o disposto neste artigo aos
§ 5º - Durante o estágio probatório, os cursos de casos de acumulação lícita.
treinamento para formação profissional ou aperfeiçoamento do
servidor, promovidos gratuitamente pela Administração, serão CAPÍTULO VII
de participação obrigatória e o resultado obtido pelo servidor Do Exercício
será considerado por ocasião da avaliação especial de
desempenho, tendo a reprovação caráter eliminatório. Art. 31 - O início, a interrupção e o reinício do exercício das
(Redação dada pela Lei 13.092/2001). atribuições do cargo serão registrados no cadastro individual do
§ 6º - Fica vedada qualquer espécie de afastamento dos funcionário.
servidores em estágio probatório, ressalvados os casos previstos
nos incisos I, II, III, IV, V, VI, VIII, IX, X, XII, XIII, XV, XVI, XVII e XXI Art. 32 - Ao dirigente da repartição para onde for designado
do art. 68 da Lei nº 9.826, de 14 de maio de 1974.” (Redação o funcionário compete dar-lhe exercício.
dada pela Lei 15.744/2014).
§ 7º - O servidor em estágio probatório não fará jus a Art. 33 - O exercício funcional terá início no prazo de trinta
ascensão funcional. (Redação dada pela Lei 13.092/2001). dias, contados da data:
§ 8º - As faltas disciplinares cometidas pelo servidor após o I - da publicação oficial do ato, no caso de reintegração;
decurso do estágio probatório e antes da conclusão da avaliação II - da posse, nos demais casos.
especial de desempenho serão apuradas por meio de processo
administrativo-disciplinar, precedido de sindicância, esta Art. 34 - O funcionário terá exercício na repartição onde for
quando necessária. (Redação dada pela Lei 13.092/2001). lotado o cargo por ele ocupado, não podendo dela se afastar,
§ 9º - São independentes as instâncias administrativas da salvo nos casos previstos em lei ou regulamento.
avaliação especial de desempenho e do processo administrativo- § 1º - O afastamento não se prolongará por mais de quatro
disciplinar, na hipótese do parágrafo anterior, sendo que anos consecutivos, salvo:
resultando exoneração ou demissão do servidor, em qualquer I- quando para exercer as atribuições de cargo ou função de
dos procedimentos, restará prejudicado o que estiver ainda em direção ou de Governo dos Estados, da União, Distrito Federal,
andamento. (Redação dada pela Lei 13.092/2001). Territórios e Municípios e respectivas entidades da
administração indireta;

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II- quando à disposição da Presidência da República; imediatamente superior, um funcionário para responder pelo
III- quando para exercer mandato eletivo, estadual, federal expediente.
ou municipal, observado, quanto a este, o disposto na legislação Parágrafo único - Ao responsável pelo expediente se
especial pertinente; aplicam as disposições do art. 40, § 3º.
IV- quando convocado para serviço militar obrigatório;
V- quando se tratar de funcionário no gozo de licença para Art. 42 - Pelo tempo da substituição remunerada, o
acompanhar o cônjuge. substituto perceberá o vencimento e a gratificação de
§ 2º - Preso preventivamente, pronunciado por crime representação do cargo, ressalvado o caso de opção, vedada,
comum ou denunciado por crime inafiançável, em processo do porém, a percepção cumulativa de vencimento, gratificações e
qual não haja pronúncia, o funcionário será afastado do vantagens.
exercício, até sentença passada em julgado. CAPÍTULO X
§ 3º O funcionário afastado nos termos do parágrafo Da Progressão e Ascensão Funcionais
anterior terá direito à percepção do benefício do auxílio- SEÇÃO I
reclusão, nos termos desta Lei. (Redação dada pela Lei Da Progressão Horizontal
Complementar 159/2016).
Art. 43 – Revogado pela Lei nº 12.913/99
Art. 35 - Para os efeitos deste Estatuto, entende-se por
lotação a quantidade de cargos, por grupo, categoria funcional Art. 44 - Revogado pela Lei nº 12.913/99
e classe, fixada em regulamento como necessária ao
desenvolvimento das atividades das unidades e entidades do Art. 45 - Revogado pela Lei nº 12.913/99
Sistema Administrativo Civil do Estado.
SEÇÃO II
Art. 36 - Para entrar em exercício, o funcionário é obrigado Da Ascensão Funcional
a apresentar ao órgão de pessoal os elementos necessários à
atualização de seu cadastro individual. Art. 46 - Ascensão funcional é a elevação do funcionário de
um cargo para outro de maiores responsabilidades e atribuições
CAPÍTULO VIII mais complexas, ou que exijam maior tempo de preparação
Da Remoção profissional, de nível de vencimento mais elevado, ou de
atribuições mais compatíveis com as suas aptidões.
Art. 37 - Remoção é o deslocamento do funcionário de uma
para outra unidade ou entidade do Sistema Administrativo, Art. 47 - São formas de ascensão funcional:
processada de ofício ou a pedido do funcionário, atendidos o I - a promoção;
interesse público e a conveniência administrativa. II - o acesso;
§ 1º - A remoção respeitará a lotação das unidades ou III - a transferência.
entidades administrativas interessadas e será realizada, no
âmbito de cada uma, pelos respectivos dirigentes e chefes, Art. 48 - A promoção é a elevação do funcionário à classe
conforme se dispuser em regulamento. imediatamente superior àquela em que se encontra dentro da
§ 2º - O funcionário estadual cujo cônjuge, também servidor mesma série de classes na categoria funcional a que pertencer.
público, for designado ex-officio para ter exercício em outro
ponto do território estadual ou nacional ou for detentor de Art. 49 - Acesso é a ascensão do funcionário de classe final
mandato eletivo, tem direito a ser removido ou posto à da série de classes de uma categoria funcional para a classe
disposição da unidade de serviço estadual que houver no lugar inicial da série de classes ou de outra categoria profissional afim.
de domicílio do cônjuge ou em que funcionar o órgão sede do
mandato eletivo, com todos os direitos e vantagens do cargo. Art. 50 - Transferência é a passagem do funcionário de uma
para outra categoria funcional, dentro do mesmo quadro, ou
Art. 38 - A remoção por permuta será processada a pedido não, e atenderá sempre aos aspectos da vocação profissional.
escrito de ambos os interessados e de acordo com as demais
disposições deste Capítulo. Art. 51 - As formas de ascensão funcional obedecerão
sempre a critério seletivo, mediante provas que sejam capazes
CAPÍTULO IX de verificar a qualificação e aptidão necessárias ao desempenho
Da Substituição das atribuições do novo cargo, conforme se dispuser em
regulamento.
Art. 39 - Haverá substituição nos casos de impedimento
legal ou afastamento de titular de cargo em comissão. CAPÍTULO XI
Do Reingresso no Sistema Administrativo Estadual
Art. 40 - A substituição será automática ou dependerá de SEÇÃO I
nomeação. Da Reintegração
§ 1º - A substituição automática é estabelecida em lei,
regulamento, regimento ou manual de serviço, e proceder-se-á Art. 52 - A reintegração, que decorrerá de decisão
independentemente de lavratura de ato. administrativa ou judicial, é o reingresso do funcionário no
§ 2º - Quando depender de ato da administração, o serviço administrativo, com ressarcimento dos vencimentos
substituto será nomeado pelo Governador, Presidente da relativos ao cargo.
Assembleia, Presidente do Tribunal de Contas, Presidente do Parágrafo único - A decisão administrativa que determinar
Conselho de Contas dos Municípios, ou dirigente autárquico, a reintegração será proferida em recurso ou em virtude de
conforme o caso. reabilitação funcional determinada em processo de revisão nos
§ 3º - A substituição, nos termos dos parágrafos anteriores, termos deste Estatuto.
será gratuita, salvo se exceder de 30 dias, quando então será Art. 53 - A reintegração será feita no cargo anteriormente
remunerada por todo o período. ocupado, o qual será restabelecido caso tenha sido extinto.
Art. 41 - Em caso de vacância do cargo em comissão e até
seu provimento, poderá ser designado, pela autoridade

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Art. 54 - Reintegrado o funcionário, quem lhe houver c) que a Administração considere de interesse do Sistema
ocupado o lugar será reconduzido ao cargo anteriormente Administrativo o reingresso do aposentado na atividade.
ocupado, sem direito a qualquer indenização, ou ficará como d) (Revogado pela LC 159/2016).
excedente da lotação.
Art. 55 - O funcionário reintegrado será submetido a TÍTULO III
inspeção médica e aposentado, se julgado incapaz. Da Extinção e da Suspensão do Vínculo Funcional
CAPÍTULO I
SEÇÃO II Da Vacância dos Cargos
Do Aproveitamento
Art. 62 - A vacância do cargo resultará de:
Art. 56 - Aproveitamento é o retorno ao exercício do cargo I - exoneração;
do funcionário em disponibilidade. II - demissão;
III - ascensão funcional;
Art. 57 - A juízo e no interesse do Sistema Administrativo, os IV - aposentadoria;
funcionários estáveis, ocupantes de cargos extintos ou V - falecimento.
declarados desnecessários, poderão ser compulsoriamente
aproveitados em outros cargos compatíveis com a sua aptidão Art. 63 - Dar-se-á exoneração:
funcional, mantido o vencimento do cargo, ou postos em I - a pedido do funcionário;
disponibilidade nos termos do art. 109, parágrafo único da II - de ofício, nos seguintes casos:
Constituição do Estado. a) quando se tratar de cargo em comissão;
§ 1º - O aproveitamento dependerá de provas de b) quando se tratar de posse em outro cargo ou emprego da
habilitação, de sanidade e capacidade física mediante exames União, do Estado, do Município, do Distrito Federal, dos
de suficiência e inspeção médica. Territórios, de Autarquia, de Empresas Públicas ou de Sociedade
§ 2º - Quando o aproveitamento ocorrer em cargo cujo de Economia Mista, ressalvados os casos de substituição, cargo
vencimento for inferior ao do anteriormente ocupado, o de Governo ou de direção, cargo em comissão e acumulação
funcionário perceberá a diferença a título de vantagem pessoal, legal desde que, no ato de provimento, seja mencionada esta
incorporada ao vencimento para fins de progressão horizontal, circunstância;
disponibilidade e aposentadoria. c) na hipótese do não atendimento do prazo para início de
§ 3º - Não se abrirá concurso público, nem se preencherá exercício, de que trata o artigo 33;
vaga no Sistema Administrativo Estadual sem que se verifique, d) na hipótese do não cumprimento dos requisitos do
previamente, a inexistência de funcionário a aproveitar, estágio, nos termos do art. 27.
possuidor da necessária habilitação.
Art. 64 - A vaga ocorrerá na data:
Art. 58 - Na ocorrência de vagas nos quadros de pessoal do I- da vigência do ato administrativo que lhe der causa;
Estado o aproveitamento terá precedência sobre as demais II- da morte do ocupante do cargo;
formas de provimento, ressalvadas as destinadas à promoção e III- da vigência do ato que criar e conceder dotação para o
acesso. seu provimento ou do que determinar esta última medida, se o
Parágrafo único - Havendo mais de um concorrente à cargo já estiver criado;
mesma vaga, preferência pela ordem: IV- da vigência do ato que extinguir cargo e autorizar que
I- o de melhor classificação em prova de habilitação; sua dotação permita o preenchimento de cargo vago.
II- o de maior tempo de disponibilidade; Parágrafo único - Verificada a vaga serão consideradas
III- o de maior tempo de serviço público; abertas, na mesma data, todas as que decorrerem de seu
IV- o de maior prole. preenchimento.

Art. 59 - Será tornado sem efeito o aproveitamento e CAPÍTULO II


cassada a disponibilidade do funcionário, se este, cientificado, Da Suspensão do Vínculo Funcional
expressamente, do ato de aproveitamento, não tomar posse no
prazo legal, salvo caso de doença comprovada em inspeção Art. 65 - O regime jurídico estabelecido neste Estatuto não
médica. se aplicará, temporariamente, ao funcionário estadual:
Parágrafo único - Provada em inspeção médica a I – (Revogado pela Lei 15.744/2014).
incapacidade definitiva, a disponibilidade será convertida em II - no caso de opção em caráter temporário, pelo regime a
aposentadoria, com a sua consequente decretação. que alude o art. 106 da Constituição Federal ou pelo regime da
legislação trabalhista;
SEÇÃO III III- no caso de disponibilidade;
Da Reversão IV- no caso de autorização para o trato de interesses
particulares.
Art. 60 - Reversão é o reingresso no Sistema Administrativo
do aposentado por invalidez, quando insubsistentes os motivos Art. 66 - Os casos indicados no artigo anterior implicam em
da aposentadoria. suspensão do vínculo funcional, acarretando os seguintes
efeitos:
Art. 61 - A reversão far-se-á de ofício ou a pedido, de I - (Revogado pela Lei 15.744/2014).
preferência no mesmo cargo ou naquele em que se tenha a) (Revogado pela Lei 15.744/2014).
transformado, ou em cargo de vencimentos e atribuições b) (Revogado pela Lei 15.744/2014).
equivalentes aos do cargo anteriormente ocupado, atendido o c) (Revogado pela Lei 15.744/2014).
requisito da habilitação profissional. II - na hipótese do item II do artigo anterior, o funcionário
Parágrafo único - São condições essenciais para que a não fará jus à percepção dos vencimentos, computando-se,
reversão se efetive: entretanto, o período de suspensão do vínculo para fins de
a) que o aposentado não haja completado 60 (sessenta) anos disponibilidade e aposentadoria, obrigando o funcionário a
de idade; continuar a pagar a sua contribuição de previdência com base
b) que o inativo seja julgado apto em inspeção médica; nos vencimentos do cargo de cujas atribuições se desvinculou;

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III – (Revogado pela Lei Complementar 159/2016). XXI - nascimento de filho, até um dia, para fins de registro
IV - na hipótese de autorização de afastamento para o trato civil.
de interesses particulares, o servidor não fará jus à percepção de § 1º - Para os efeitos deste Estatuto, entende-se por acidente
vencimentos, tendo porém que recolher mensalmente o de trabalho o evento que cause dano físico ou mental ao
percentual de 33 % (trinta e três por cento) incidente sobre o funcionário, por efeito ou ocasião do serviço, inclusive no
valor de sua última remuneração para fins de contribuição deslocamento para o trabalho ou deste para o domicílio do
previdenciária, que será destinada ao Sistema Único de funcionário.
Previdência Social e dos Membros de Poder do Estado do Ceará § 2º - Equipara-se a acidente no trabalho a agressão,
– SUPSEC. (Redação dada pela Lei 13.578/2005). quando não provocada, sofrida pelo funcionário no serviço ou
§ 1° - A autorização de afastamento, de que trata o inciso IV em razão dele.
deste artigo, poderá ser concedida sem a obrigatoriedade do § 3º - Por doença profissional, para os efeitos deste Estatuto,
recolhimento mensal da alíquota de 33 % (trinta e três por entende-se aquela peculiar ou inerente ao trabalho exercido,
cento), não sendo, porém, o referido tempo computado para comprovada, em qualquer hipótese, a relação de causa e efeito.
obtenção de qualquer benefício previdenciário, inclusive § 4º - Nos casos previstos nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo, o
aposentadoria. (Redação dada pela Lei 13.578/2005). laudo resultante da inspeção médica deverá estabelecer,
§ 2° - Os valores de contribuição, referidos no inciso IV deste expressamente, a caracterização do acidente no trabalho da
artigo, serão reajustados nas mesmas proporções da doença profissional.
remuneração do servidor no respectivo cargo. (Redação dada
pela Lei 13.578/2005). Art. 69. Será computado para efeito de disponibilidade e
aposentadoria: (Redação dada pela Lei 13.578/2005).
TÍTULO IV I – o tempo de contribuição para o Regime Geral de
Dos Direitos, Vantagens e Autorizações Previdência Social – RGPS, bem como para os Regimes Próprios
CAPÍTULO I de Previdência Social – RPPS;
Do Cômputo do Tempo de Serviço II – o período de serviço ativo das Forças Armadas;
III – o tempo de aposentadoria, desde que ocorra reversão;
Art. 67 - Tempo de serviço, para os efeitos deste Estatuto, IV – a licença por motivo de doença em pessoa da família,
compreende o período de efetivo exercício das atribuições de conforme previsto no art. 99 desta Lei, desde que haja
cargo ou emprego público. contribuição.
§ 1º. No caso previsto no inciso IV, o afastamento superior a
Art. 68 - Será considerado de efetivo exercício o afastamento 6 (seis) meses obedecerá o previsto no inciso IV, do art. 66, desta
em virtude de: Lei.
I- férias; § 2º. Na contagem do tempo, de que trata este artigo, deverá
II- casamento, até oito dias; ser observado o seguinte:
III- luto, até oito dias, por falecimento de cônjuge ou I – não será admitida a contagem em dobro ou em outras
companheiro, parentes, consanguíneos ou afins, até o 2º grau, condições especiais;
inclusive madrasta, padrasto e pais adotivos; II – é vedada a contagem de tempo de contribuição, quando
IV- luto, até dois dias, por falecimento de tio e cunhado; concomitantes;
V- exercício das atribuições de outro cargo estadual de III – não será contado, por um sistema, o tempo de
provimento em comissão, inclusive da Administração Indireta contribuição utilizado para a concessão de algum benefício, por
do Estado; outro.
VI - convocação para o Serviço Militar; § 3º. O tempo de contribuição, a que alude o inciso I deste
VII- júri e outros serviços obrigatórios; artigo, será computado à vista de certidões passadas com base
VIII- desempenho de função eletiva federal, estadual ou em folha de pagamento.
municipal, observada quanto a esta, a legislação pertinente;
IX- exercício das atribuições de cargo ou função de Governo Art. 70. A apuração do tempo de contribuição será feita em
ou direção, por nomeação do Governador do Estado; anos, meses e dias. (Redação dada pela Lei 13.578/2005).
X- licença por acidente no trabalho, agressão não provocada § 1º. O ano corresponderá a 365 (trezentos e sessenta e
ou doença profissional; cinco) dias e o mês aos 30 (trinta) dias.
XI- licença especial; § 2º. Para o cálculo de qualquer benefício, depois de apurado
XII- licença à funcionária gestante; o tempo de contribuição, este será convertido em dias, vedado
XIII- licença para tratamento de saúde; qualquer forma de arredondamento.
XIV- licença para tratamento de moléstias que
impossibilitem o funcionário definitivamente para o trabalho, Art. 71. É vedado: (Redação dada pela Lei 13.578/2005).
nos termos em que estabelecer Decreto do Chefe do Poder I – o cômputo de tempo fictício para o cálculo de benefício
Executivo; previdenciário;
XV- doença, devidamente comprovada, até 36 dias por ano e II – a concessão de aposentadoria especial, nos termos do
não mais de 3 (três) dias por mês; art. 40, § 4.º da Constituição Federal, até que Lei Complementar
XVI- missão ou estudo noutras partes do território nacional Federal discipline a matéria;
ou no estrangeiro, quando o afastamento houver sido III – a percepção de mais de uma aposentadoria à conta do
expressamente autorizado pelo Governador do Estado, ou pelos Sistema Único de Previdência Social dos Servidores Públicos
Chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário; Civis e Militares, dos Agentes Públicos e dos Membros de Poder
XVII- decorrente de período de trânsito, de viagem do do Estado do Ceará – SUPSEC, ressalvadas as decorrentes dos
funcionário que mudar de sede, contado da data do cargos acumuláveis previstos na Constituição Federal;
desligamento e até o máximo de 15 dias; IV – a percepção simultânea de proventos de aposentadoria
XVIII- prisão do funcionário, absolvido por sentença decorrente de regime próprio de servidor titular de cargo
transitada em julgado; efetivo, com a remuneração de cargo, emprego ou função
XIX- prisão administrativa, suspensão preventiva, e o pública, ressalvados os cargos acumuláveis previstos na
período de suspensão, neste último caso, quando o funcionário Constituição Federal, os eletivos e os cargos em comissão
for reabilitado em processo de revisão; declarados em Lei de livre nomeação e exoneração.
XX- (Revogado pela LC 159/2016);

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§ 1º. Não se considera fictício o tempo definido em Lei como ano de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias, permitido o
tempo de contribuição para fins de concessão de aposentadoria arredondamento para um ano, na conclusão da conversão, o que
quando tenha havido, por parte do servidor, a prestação de exceder a 182 (cento e oitenta e dois) dias.
serviço ou a correspondente contribuição. § 3º - Aplicam-se aos vencimentos da disponibilidade os
§ 2º. A vedação prevista no inciso IV, não se aplica aos mesmos critérios de atualização, estabelecidos para os
membros de Poder e aos inativos, servidores e militares que, até funcionários ativos em geral.
16 de dezembro de 1998, tenham ingressado novamente no
serviço público por concurso público de provas ou de provas e CAPÍTULO IV
títulos, e pelas demais formas previstas na Constituição Federal, Das Férias
sendo-lhes proibida a percepção de mais de uma aposentadoria
pelo Sistema Único de Previdência Social dos Servidores Públicos Art. 78 - O funcionário gozará trinta dias consecutivos, ou
Civis e Militares, dos Agentes Públicos e dos Membros de Poder não, de férias por ano, de acordo com a escala organizada pelo
do Estado do Ceará – SUPSEC, exceto se decorrentes de cargos dirigente da Unidade Administrativa, na forma do regulamento.
acumuláveis previstos na Constituição Federal. § 1º - Se a escala não tiver sido organizada, ou houver
§ 3º. O servidor inativo para ser investido em cargo público alteração do exercício funcional, com a movimentação do
efetivo não acumulável com aquele que gerou a aposentadoria funcionário, a este caberá requerer, ao superior hierárquico, o
deverá renunciar aos proventos dessa. gozo das férias, podendo a autoridade, apenas, fixar a
§ 4°. O aposentado pelo Sistema Único de Previdência Social oportunidade do deferimento do pedido, dentro do ano a que se
dos Servidores Públicos Civis e Militares, dos Agentes Públicos e vincular o direito do servidor.
dos Membros de Poder do Estado do Ceará – SUPSEC, que estiver § 2º - O funcionário não poderá gozar, por ano, mais de dois
exercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este períodos de férias.
regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade, § 3º - O funcionário terá direito a férias após cada ano de
ficando sujeito às contribuições, de que trata esta Lei, para fins exercício no Sistema Administrativo.
de custeio da Previdência Social, na qualidade de contribuinte § 4º - É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao
solidário. serviço.
§ 5º - (REVOGADO pela Lei nº 12.913/99).
Art. 72 – Observadas as disposições do artigo anterior, o
servidor poderá desaverbar, em qualquer época, total ou Art. 79 - A promoção, o acesso, a transferência e a remoção
parcialmente, seu tempo de contribuição, desde que não tenha não interromperão as férias.
sido computado este tempo para a concessão de qualquer
benefício. (Redação dada pela Lei 13.578/2005). CAPÍTULO V
Das Licenças
CAPÍTULO II SEÇÃO I
Da Estabilidade e da Vitaliciedade Das Disposições Preliminares

Art. 73 - Estabilidade é o direito que adquire o funcionário Art. 80 - Será licenciado o funcionário:
efetivo de não ser exonerado ou demitido, senão em virtude de I - para tratamento de saúde;
sentença judicial ou inquérito administrativo, em que se lhe II - por acidente no trabalho, agressão não provocada e
tenha sido assegurada ampla defesa. doença profissional;
III - por motivo de doença em pessoa da família;
Art. 74 - A estabilidade assegura a permanência do IV - quando gestante;
funcionário no Sistema Administrativo. V - para serviço militar obrigatório;
VI - para acompanhar o cônjuge;
Art. 75 - O funcionário nomeado em virtude de concurso VII - em caráter especial.
público adquire estabilidade depois de decorridos dois anos de
efetivo exercício. Art. 81 - A licença dependente de inspeção médica terá a
Parágrafo único - A estabilidade funcional é incompatível duração que for indicada no respectivo laudo.
com o cargo em comissão. § 1º - Findo esse prazo, o paciente será submetido a nova
inspeção, devendo o laudo concluir pela volta do funcionário ao
Art. 76 - O funcionário perderá o cargo vitalício somente em exercício, pela prorrogação da licença ou, se for o caso, pela
virtude de sentença judicial. aposentadoria.
§ 2º - Terminada a licença o funcionário reassumirá
CAPÍTULO III imediatamente o exercício.
Da Disponibilidade Art. 82 - A licença poderá ser determinada ou prorrogada,
de ofício ou a pedido.
Art. 77 - Disponibilidade é o afastamento de exercício de Parágrafo único - O pedido de prorrogação deverá ser
funcionário estável em virtude da extinção do cargo, ou da apresentado antes de finda a licença, e, se indeferido, contar-se-
decretação de sua desnecessidade. á como licença o período compreendido entre a data do término
§ 1º - Extinto o cargo ou declarada sua desnecessidade, o e a do conhecimento oficial do despacho.
servidor ficará em disponibilidade percebendo remuneração
proporcional por cada ano de serviço, à razão de: (Redação Art. 83 - A licença gozada dentro de sessenta dias, contados
dada pela Lei 13.578/2005). da determinação da anterior será considerada como
I - 1/12.775 (um doze mil, setecentos e setenta e cinco avos) prorrogação.
da remuneração por cada dia trabalhado, se homem; e (Redação
dada pela Lei 13.578/2005). Art. 84 - O funcionário não poderá permanecer em licença
II - 1/10.950 (hum dez mil, novecentos e cinquenta avos) da por prazo superior a vinte e quatro meses, salvo nos casos dos
remuneração por cada dia trabalhado, se mulher. (Redação itens II, III, V e VI do art. 80, deste Estatuto.
dada pela Lei 13.578/2005).
§ 2º - A apuração do tempo de serviço será feita em dias, Art. 85 – (Revogado pela Lei 13.578/2005).
sendo o número de dias convertido em anos, considerando-se o

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Art. 86 - São competentes para licenciar o funcionário os SEÇÃO III


dirigentes do Sistema Administrativo Estadual, admitida a Da Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família
delegação, na forma do Regulamento.
Art. 99 – O servidor poderá ser licenciado por motivo de
Art. 87 - VETADO. doença na pessoa dos pais, filhos, cônjuge do qual não esteja
§ 1º - VETADO. separado e de companheiro(a), desde que prove ser
§ 2º - VETADO. indispensável a sua assistência pessoal e esta não possa ser
§ 3º - VETADO. prestada simultaneamente com exercício funcional. (Redação
dada pela Lei nº 13.578/05)
SEÇÃO II § 1º - Provar-se-á a doença mediante inspeção médica
Da Licença para Tratamento de Saúde realizada conforme as exigências contidas neste Estatuto
quanto à licença para tratamento de saúde.
Art. 88 - A licença para tratamento de saúde precederá a § 2º - A necessidade de assistência ao doente, na forma deste
inspeção médica, nos termos do Regulamento. artigo, será comprovada mediante parecer do Serviço de
Assistência Social, nos termos do Regulamento.
Art. 89 – O servidor será compulsoriamente licenciado § 3° - O funcionário licenciado, nos termos desta seção,
quando sofrer uma dessas doenças graves, contagiosas ou perceberá vencimentos integrais até 6 (seis) meses. Após este
incuráveis: tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia prazo o servidor obedecerá o disposto no inciso IV, do art. 66
malígna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e desta Lei, até o limite de 4 (quatro) anos, devendo retornar a
incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkson, suas atividades funcionais imediatamente ao fim do período.
espondiloartrose anquilosante, epilepsia vera, nefropatia grave, (Redação dada pela Lei nº 13.578/05)
estado avançado da doença de Paget (osteite deformante),
síndrome da deficiência imunológica adquirida – Aids, SEÇÃO IV
contaminação por radiação, com base em conclusão da Da Licença à Gestante
medicina especializada, hepatopatia e outras que forem
disciplinadas em Lei. (Redação dada pela Lei 13.578/2005). Art. 100. Fica garantida a possibilidade de prorrogação, por
mais 60 (sessenta) dias, da licença-maternidade, prevista nos
Art. 90 - Verificada a cura clínica, o funcionário licenciado arts. 7.º, inciso XVIII, e 39, § 3.º, da Constituição Federal,
voltará ao exercício, ainda quando deva continuar o tratamento, destinada às servidoras públicas estaduais. (Redação dada pela
desde que comprovada por inspeção médica capacidade para a Lei 13.881/2007).
atividade funcional. § 1º A prorrogação de que trata este artigo será assegurada
à servidora estadual mediante requerimento efetivado até o
Art. 91 - Expirado o prazo de licença previsto no laudo final do primeiro mês após o parto, e concedida imediatamente
médico, o funcionário será submetido a nova inspeção, e após a fruição da licença-maternidade de que trata o art. 7º,
aposentado, se for julgado inválido. inciso XVIII, da Constituição Federal. (Redação dada pela Lei
Parágrafo único – Na hipótese prevista neste artigo, o 13.881/2007).
tempo necessário para a nova inspeção será considerado como § 2° - Durante o período de prorrogação da licença-
de prorrogação da licença e, no caso de invalidez, a inspeção maternidade, a servidora estadual terá direito à sua
ocorrerá a cada 2 (dois) anos. (Redação dada pela Lei remuneração integral. (Redação dada pela LC 159/2016).
13.578/2005). § 3º É vedado, durante a prorrogação da licença-
maternidade tratada neste artigo, o exercício de qualquer
Art. 92 - No processamento das licenças para tratamento de atividade remunerada pela servidora beneficiária, e a criança
saúde será observado sigilo no que diz respeito aos laudos não poderá ser mantida em creche ou organização similar, sob
médicos. pena da perda do direito do benefício e consequente apuração
da responsabilidade funcional.” (Redação dada pela Lei
Art. 93 - No curso da licença, o funcionário abster-se-á de 13.881/2007).
qualquer atividade remunerada, sob pena de interrupção § 4º O pagamento dos vencimentos da servidora em
imediata da mesma licença, com perda total dos vencimentos, licença-maternidade, inclusive no período de prorrogação, é
até que reassuma o exercício. mantido por recursos do respectivo órgão de origem.
Art. 94 - O funcionário não poderá recusar a inspeção (Acrescentado pela LC 159/2016).
médica determinada pela autoridade competente, sob pena de
suspensão do pagamento dos vencimentos, até que seja SEÇÃO V
realizado exame. Da Licença para Serviço Militar Obrigatório

Art. 95 - Considerado apto em inspeção médica, o Art. 101 - O funcionário que for convocado para o serviço
funcionário reassumirá o exercício imediatamente, sob pena de militar será licenciado com vencimentos integrais, ressalvado o
se apurarem como faltas os dias de ausência. direito de opção pela retribuição financeira do serviço militar.
§1° - Ao servidor desincorporado conceder-se-á prazo não
Art. 96 - No curso da licença poderá o funcionário requerer excedente a 30 (trinta) dias para que reassuma o exercício do
inspeção médica, caso se julgue em condições de reassumir o cargo, sem perda de vencimentos. (Redação dada pela Lei nº
exercício. 13.578/05)
§2° - O servidor, de que trata o caput deste artigo,
Art. 97 - Serão integrais os vencimentos do funcionário contribuirá para o Sistema Único de Previdência Social dos
licenciado para tratamento de saúde. Servidores Públicos Civis e Militares, dos Agentes Públicos e dos
Parágrafo único. O pagamento dos vencimentos do servidor Membros de Poder do Estado do Ceará – SUPSEC, mesmo que
licenciado para tratamento de saúde é mantido por recursos do faça opção pela retribuição financeira do serviço militar.
respectivo órgão de origem. (Acrescentado pela LC 159/2016). (Redação dada pela Lei nº 13.578/05)

Art. 98 – (Revogado pela Lei n° 13.578/05). Art. 102 - O funcionário, Oficial da Reserva não remunerada
das Forças Armadas, será licenciado, com vencimentos integrais,

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para cumprimento dos estágios previstos pela legislação militar, trabalhe no mínimo o dobro do tempo em que esteve afastado,
garantido o direito de opção. ou reembolse o montante corrigido monetariamente que o
Estado desembolsou durante seu afastamento. (Redação dada
SEÇÃO VI pela Lei nº 13.578/05)
Da Licença do Funcionário para Acompanhar o § 2° - Os dirigentes do Sistema Administrativo Estadual
Cônjuge poderão, ainda, autorizar o servidor, ocupante do cargo efetivo
ou em comissão, a integrar ou assessorar comissões, grupos de
Art. 103 - O funcionário terá direito a licença sem trabalho ou programas, com ou sem afastamento do exercício
vencimento, para acompanhar o cônjuge, também servidor funcional e sem prejuízo dos vencimentos. (Acrescentado Lei nº
público, quando, de ofício, for mandado servir em outro ponto do 13.578/05)
Estado, do Território Nacional, ou no Exterior.
§ 1º - A licença dependerá do requerimento devidamente SEÇÃO II
instruído, admitida a renovação, independentemente de Das Autorizações para Incentivo à Formação
reassunção do exercício. Profissional do Funcionário
§ 2º - Finda a causa da licença, o funcionário retornará ao
exercício de suas funções, no prazo de trinta dias, após o qual Art. 111 - Poderá ser autorizado o afastamento, até duas
sua ausência será considerada abandono de cargo. horas diárias, ao funcionário que frequente curso regular de 1º
§ 3º - Existindo no novo local de residência repartição e 2º graus ou de ensino superior.
estadual, o funcionário nela será lotado, enquanto durar a sua Parágrafo único - A autorização prevista neste artigo
permanência ali. poderá dispor que a redução do horário dar-se-á por
prorrogação do início ou antecipação do término do expediente,
Art. 104 - Nas mesmas condições estabelecidas no artigo diário, conforme considerar mais conveniente ao estudante e
anterior o funcionário será licenciado quando o outro cônjuge aos interesses da repartição.
esteja no exercício de mandato eletivo fora de sua sede
funcional. Art. 112 - Será autorizado o afastamento do exercício
funcional nos dias em que o funcionário tiver que prestar exames
SEÇÃO VII para ingresso em curso regular de ensino, ou que, estudante, se
Da Licença Especial submeter a provas.

Art. 105 – Revogado pela Lei nº 12.913/99 Art. 113 - O afastamento para missão ou estudo fora do
Estado em outro ponto do território nacional ou no estrangeiro
Art. 106 - Revogado pela Lei nº 12.913/99 será autorizado nos mesmos atos que designarem o funcionário
a realizar a missão ou estudo, quando do interesse do Sistema
Art. 107 - Revogado pela Lei nº 12.913/99 Administrativo Estadual.

Art. 108 - Revogado pela Lei nº 12.913/99 Art. 114 - As autorizações previstas nesta Seção dependerão
de comprovação, mediante documento oficial, das condições
Art. 109 - VETADO. previstas para as mesmas, podendo a autoridade competente
Parágrafo único – VETADO. exigi-la prévia ou posteriormente, conforme julgar conveniente.
Parágrafo único - Concedida a autorização, na
CAPÍTULO VI dependência da comprovação posterior, sem que esta tenha sido
Das Autorizações efetuada no prazo estipulado, a autoridade anulará a
SEÇÃO I autorização, sem prejuízo de outras providências que
Das Disposições Preliminares considerar cabíveis.

Art. 110 - Os dirigentes do Sistema Administrativo Estadual SEÇÃO III


autorizarão o funcionário a se afastar do exercício funcional de Do Afastamento para o Trato de Interesses
acordo com o disposto em Regulamento: Particulares
I - sem prejuízo dos vencimentos quando:
a) for estudante, para incentivo à sua formação profissional Art. 115 – Depois de três anos de efetivo exercício e após
e dentro dos limites estabelecidos neste Estatuto; declaração de aquisição de estabilidade no cargo de provimento
b) for estudar em outro ponto do território nacional ou no efetivo, o servidor poderá obter autorização de afastamento
estrangeiro; (Redação dada pela Lei nº 13.578/05) para tratar de interesses particulares, por um período não
c) por motivo de casamento, até o máximo de 8 (oito) dias; superior a quatro anos e sem percepção de remuneração.
d) por motivo de luto até 8 (oito) dias, em decorrência de (Redação dada pela Lei nº 13.092/01)
falecimento de cônjuge ou companheiro, parentes Parágrafo único - O funcionário aguardará em exercício a
consanguíneos ou afins, até o 2º grau, inclusive madrasta, autorização do seu afastamento.
padrasto e pais adotivos;
e) por luto, até 2 (dois) dias, por falecimento de tio e Art. 116 - Não será autorizado o afastamento do
cunhado; funcionário removido antes de ter assumido o exercício.
f) for realizar missão oficial em outro ponto do território
nacional ou no estrangeiro. (Acrescida pela Lei nº 13.578/05) Art. 117 - O funcionário poderá, a qualquer tempo, desistir
II - sem direito à percepção dos vencimentos, quando se da autorização concedida, reassumindo o exercício das
tratar de afastamento para trato de interesses particulares; atribuições do seu cargo.
III - com ou sem direito à percepção dos vencimentos,
conforme se dispuser em regulamento, quando para o exercício Art. 118 - Quando o interesse do Sistema Administrativo o
das atribuições de cargo, função ou emprego em entidades e exigir, a autorização poderá ser cassada, a juízo da autoridade
órgãos estranhos ao Sistema Administrativo Estadual. competente, devendo, neste caso, o funcionário ser
§1° - Nos casos previstos nas alíneas a e b, o servidor só expressamente notificado para apresentar-se ao serviço no
poderá solicitar exoneração após o seu retorno, desde que

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prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período, findo o IV- o vencimento do dia, se não comparecer ao serviço, salvo
qual caracterizar-se-á o abandono do cargo. motivo legal ou doença comprovada, de acordo com o disposto
neste Estatuto;
Art. 119 - A autorização para afastamento do exercício para V- um terço do vencimento do dia, se comparecer ao serviço
o trato de interesses particulares somente poderá ser dentro da hora seguinte à fixação para o início do expediente,
prorrogada por período necessário para complementar o prazo quando se retirar antes de findo o período de trabalho;
previsto no art. 115 deste Estatuto. VI- um terço do vencimento, durante o afastamento por
motivo de prisão administrativa, prisão preventiva, pronúncia
Art. 120. O funcionário somente poderá receber nova por crime comum, denúncia por crime funcional ou condenação
autorização para o afastamento previsto nesta Seção após por crime inafiançável em processo no qual não haja pronúncia,
decorrido pelo menos um ano do efetivo exercício, contado da tendo direito à diferença, se absolvido;
data em que reassumiu, em decorrência do término do prazo VII- dois terços do vencimento durante o período de
autorizado ou por motivo de desistência ou de cassação da afastamento em virtude de condenação por sentença passada
autorização concedida. (Redação dada pela Lei 15.744/2014). em julgado à pena de que não resulte em demissão.
Parágrafo único - O funcionário investido em mandato
CAPÍTULO VII gratuito de vereador fará jus à percepção dos seus vencimentos
Da Retribuição nos dias em que comparecer às sessões da Câmara.
SEÇÃO I
Disposições Preliminares SEÇÃO III
Da Ajuda de Custo
Art. 121 - Todo funcionário, em razão do vínculo que
mantém com o Sistema Administrativo Estadual, tem direito a Art. 125 - Será concedida ajuda de custo ao funcionário que
uma retribuição pecuniária, na forma deste Estatuto. for designado, de ofício, para ter exercício em nova sede, mesmo
fora do Estado.
Art. 122 - As formas de retribuição são as seguintes: Parágrafo único - A ajuda de custo destina-se à
I- vencimento; indenização das despesas de viagem e de nova instalação do
II- ajuda de custo; funcionário.
III- diária;
IV - revogado pela Lei nº 12.913/99 Art. 126 - A ajuda de custo não excederá de três meses de
V - gratificações. vencimentos, salvo nos casos de designação do funcionário
§ 1º - O conjunto das retribuições constitui os vencimentos para:
funcionais. a) ter exercício fora do Estado;
§ 2º - A retribuição do funcionário disponível constitui b) serviço fora do Estado.
vencimentos para todos os efeitos legais. Parágrafo único - A ajuda de custo será arbitrada, dentro
§ 3º - A retribuição pecuniária atribuída ao funcionário não das respectivas áreas de competência, pelo Governador do
sofrerá descontos além dos previstos expressamente em lei, nem Estado, Presidente da Assembleia Legislativa, do Tribunal de
serão objetos de arresto, sequestro ou penhora, salvo quando se Justiça, do Tribunal de Contas, do Conselho de Contas dos
tratar de: Municípios e das Autarquias.
I - prestação de alimentos determinada judicialmente;
II - reposição de indenização devida à Fazenda Estadual; Art. 127 - A ajuda de custo para serviço fora do Estado será
III – auxílios e benefícios instituídos pela Administração calculada na forma disposta em Regulamento.
Pública. (Acrescentado pela Lei nº 13.369/03)
§ 4º - As reposições e indenizações devidas à Fazenda Art. 128 - O funcionário restituirá a ajuda de custo:
Pública Estadual serão descontadas em parcelas mensais, não I - quando não se transportar para a nova sede no prazo
excedentes da décima parte da remuneração do servidor, assim determinado;
entendida como o vencimento-base, acrescido das vantagens II - quando, antes de terminada a incumbência, regressar,
fixas e de caráter pessoal. (Redação alterada pela Lei nº pedir exoneração ou abandonar o serviço.
13.369/03) § 1º - A restituição é de exclusiva responsabilidade pessoal e
§ 5º - Se o funcionário for exonerado ou demitido, a quantia poderá ser feita parceladamente.
por ele devida será inscrita como dívida ativa para os efeitos § 2º - Não haverá obrigação de restituir, quando o regresso
legais. do funcionário for determinado de ofício ou por doença
comprovada, ou quando o mesmo for exonerado a pedido, após
SEÇÃO II 90 (noventa) dias de exercício na nova sede.
Do Vencimento
SEÇÃO IV
Art. 123 - Considera-se vencimento a retribuição Das Diárias
correspondente ao padrão, nível ou símbolo do cargo a que
esteja vinculado o funcionário, em razão do efetivo exercício de Art. 129 - Ao funcionário que se deslocar da sua repartição
função pública. em objeto de serviço, conceder-se-á diária a título de
indenização das despesas de alimentação e hospedagem, na
Art. 124 - O funcionário perderá: forma do Regulamento.
I- o vencimento do cargo efetivo, quando nomeado para
cargo em comissão, salvo o direito de opção e de acumulação Art. 130 - O funcionário que receber diária indevida será
lícita; obrigado a restituí-la de uma só vez, ficando, ainda, sujeito à
II- o vencimento do cargo efetivo, quando no exercício de punição disciplinar.
mandato eletivo, federal ou estadual;
III- o vencimento do cargo efetivo, quando dele afastado SEÇÃO V
para exercer mandato eletivo municipal remunerado; Do Auxílio para Diferença de Caixa

Art. 131 – Revogado pela Lei 12.913/99

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SEÇÃO VI outros que a lei determinar, tendo em vista despesas de natureza


Das Gratificações social e profissional determinadas pelo exercício funcional.

Art. 132 - Ao funcionário conceder-se-á gratificação em Art. 138 - A gratificação por regime de tempo integral, que
virtude de: se destina ao incremento das atividades de investigação
I- prestação de serviços extraordinários; científica, ou tecnológica, e aumento da produtividade, no
II- representação de Gabinete; Sistema Administrativo Estadual, será objeto de
III- exercício funcional em determinados locais; regulamentação específica.
IV- execução de trabalho relevante, técnico ou científico; § 1º - No Regulamento de que trata este artigo serão
V- serviço ou estudo fora do Estado ou do País; obedecidas as seguintes diretrizes gerais;
VI- execução de trabalho em condições especiais, inclusive I - proporcionalidade que variará de 60 % (sessenta por
com risco de vida ou saúde; cento) a 100 % (cem por cento) do valor do nível de vencimento
VII- participação em órgão de deliberação coletiva; ou função, observando-se os seguintes fatores de variação;
VIII- participação em comissão examinadora de concurso; a) complexidade da tarefa;
IX- exercício de magistério, em regime de tempo b) deslocamentos exigidos para execução das tarefas;
complementar; ou em cursos especiais, legalmente instituídos, c) a situação no mercado de trabalho;
inclusive para treinamento de funcionários; d) as condições de trabalho;
X- representação; e) as prioridades dos programas, do cargo ou grupo de
XI- regime de tempo integral; cargos; e
XII- de aumento de produtividade; f) a especialização exigida do funcionário.
XIII- exercício em órgãos fazendários. II - A atribuição da gratificação a ocupantes de cargos ou
Parágrafo único - As gratificações não definidas nesta lei grupos de cargos será condicionada a procedimentos
serão objeto de regulamento. administrativos que possibilitem a verificação das prioridades
Art. 133 - A gratificação pela prestação de serviço dos programas, para aumento da produtividade ou incremento
extraordinário é a retribuição de serviço cuja execução exija à investigação científica ou tecnológica, com as justificativas
dedicação além do expediente normal a que estiver sujeito o dos programas e subprogramas, a relação dos servidores
servidor e será paga proporcionalmente: (Redação dada pela indispensáveis à sua execução, o prazo de duração do regime e
Lei nº 12.913/99) a despesa dele decorrente.
I- por hora de trabalho adicional; ou, § 2º - Excepcionalmente e até a aplicação do Plano de
II- por tarefa especial, levando-se em conta estimativa do Classificação de Cargos de que trata a Lei nº 9.634, de 30 de
número de dias e de horas necessários para sua realização. outubro de 1972, o regime de tempo integral poderá ser
§ 1º - O valor da hora de trabalho adicional será 50% atribuído a servidores mensalistas, remanescentes das extintas
(cinquenta por cento) maior que o da hora normal de trabalho, Tabelas Numéricas de Mensalistas, inclusive tendo como base de
apurado através da divisão do valor da remuneração mensal do cálculo o nível de vencimentos do cargo correspondente à
servidor por 30 (trinta) e este resultado pelo número de horas respectiva qualificação profissional.
correspondentes à carga horária ou regime do servidor.
§ 2º - No caso do inciso II, a gratificação será arbitrada Art. 139 - A gratificação de produtividade destina-se a
previamente pelo dirigente do órgão ou entidade da incentivar o aumento de arrecadação dos tributos estaduais,
administração pública de qualquer dos Poderes, através de ato devendo ser objeto de Regulamentação.
que demonstre a proporcionalidade do pagamento, com Art. 140 - A gratificação de exercício, atribuída aos
indicação da estimativa dos dias e dos horários que serão funcionários fazendários, constantes da Lei nº 9.375, de
necessários à consecução dos serviços. 10.07.70, será objeto de regulamentação própria.
§ 3º - A despesa total mensal com o pagamento da
gratificação de que trata este artigo em nenhuma hipótese CAPÍTULO VIII
poderá exceder a 1,5% (um e meio por cento) do valor total da Do Direito de Petição
despesa mensal com pagamento de pessoal, do órgão ou
entidade considerado. Art. 141 - É assegurado ao funcionário e ao aposentado o
§ 4º - O descumprimento ao disposto neste artigo acarretará direito de requerer, representar, pedir reconsideração e
responsabilidade para o dirigente do órgão ou entidade e seus recorrer.
subordinados envolvidos, que ficarão solidariamente obrigados
a restituir ao tesouro estadual as quantias pagas a maior. Art. 142 - A petição será dirigida à autoridade competente
para decidir do pedido e encaminhada por intermédio daquela
Art. 134 - A gratificação pela representação de Gabinete a quem estiver imediatamente subordinado o requerente se for
poderá ser concedida a funcionários e a pessoas estranhas ao o caso.
Sistema Administrativo, sem qualquer vínculo, com exercício nos
gabinetes e órgãos de assessoramento técnico do referido Art. 143 - O direito de pedir reconsideração, que será
Sistema, na forma do Regulamento. exercido perante a autoridade que houver expedido o ato, ou
proferido a primeira decisão, decairá após 60 (sessenta) dias da
Art. 135 - A gratificação pela elaboração ou execução de ciência do ato pelo peticionante, ou de sua publicação quando
trabalho relevante, técnico ou científico, será arbitrada e esta for obrigatória.
atribuída pelos dirigentes do Sistema Administrativo Estadual. § 1º - O requerimento e o pedido de reconsideração de que
tratam os artigos anteriores deverão ser despachados no prazo
Art. 136 - A gratificação pela execução de trabalho em de 5 (cinco) dias e decididos dentro de 30 (trinta) dias
condições especiais, inclusive com risco de vida ou de saúde, será improrrogáveis.
atribuída pelos dirigentes do Sistema Administrativo Estadual, § 2º - É vedado repetir pedido de reconsideração ou recurso
observado o disposto em Regulamento. perante a mesma autoridade.

Art. 137 - A gratificação de representação é uma Art. 144 - Caberá recurso:


indenização atribuída aos ocupantes de cargos em comissão e I- do indeferimento do pedido de reconsideração;

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II- das decisões sobre os recursos sucessivamente § 2º - É assegurado assistência médica gratuita ao servidor
interpostos, nos termos do § 1º deste artigo. acidentado em serviço ou que tenha contraído doença
§ 1º - O recurso, interposto, perante a autoridade que tiver profissional, através do Estado. (Redação dada pela Lei n°
praticado o ato ou proferido a decisão, será dirigido à 13.578/05)
autoridade imediatamente superior e, sucessivamente, em § 3º Vetado
escala ascendente, às demais autoridades.
§ 2º - No encaminhamento do recurso observar-se-á o CAPÍTULO II
disposto na parte final do art. 142. Da Aposentadoria

Art. 145 - O pedido de reconsideração e o recurso não têm Art. 152. O servidor será aposentado, conforme as regras
efeito suspensivo, salvo disposição em contrário, e o que for estabelecidas no art. 40 da Constituição Federal. (Redação dada
provido retroagirá, nos efeitos, à data do ato impugnado. pela Lei n° 13.578/05)
Parágrafo único. A aposentadoria por invalidez será sempre
Art. 146 - O direito de pleitear na esfera administrativa precedida de licença por período contínuo não inferior a 24
prescreverá em 120 (cento e vinte) dias, salvo estipulação em (vinte e quatro) meses, salvo quando a junta médica declarar a
contrário, prevista expressamente em lei ou regulamento. incapacidade definitiva para o serviço, ou na hipótese prevista
no art. 68, inciso X. (Redação dada pela Lei n° 13.578/05)
Art. 147 - Os prazos estabelecidos neste Capítulo são fatais
e improrrogáveis, e o pedido de reconsideração e o recurso, Art. 153. O processo de aposentadoria se inicia: (Redação
quando cabíveis, interrompem a prescrição. dada pela LC 92/2011);
I - com o requerimento do interessado, no caso de
Art. 148 - Ao funcionário ou ao seu representante inatividade voluntária (Redação dada pela LC 92/2011);
legalmente constituído é assegurado, para efeito de recurso ou II - automaticamente, quando o servidor atinge a idade de
pedido de reconsideração, o direito de vista ao processo na 70 (setenta) anos (Redação dada pela LC 92/2011);
repartição competente durante todo o expediente III - automaticamente, quando o servidor for considerado
regulamentar, assegurado o livre manuseio do processo em local inválido, na data fixada em laudo emitido pela Perícia Médica
conveniente. Se o representante do funcionário for advogado, Oficial do Estado ou na ocasião, em que verificadas as demais
aplica-se o disposto na Lei Federal pertinente. hipóteses do art. 152, parágrafo único, desta Lei. (Redação dada
pela LC 92/2011).
Art. 149 - O disposto neste Capítulo se aplica, no que couber,
aos procedimentos disciplinares. Art. 154 - O funcionário quando aposentado por invalidez
terá provento integral, correspondente aos vencimentos,
TÍTULO V incorporáveis do cargo efetivo, se a causa for doença grave,
Da Previdência e da Assistência incurável ou contagiosa, a que se refere o artigo 89, ou acidente
CAPÍTULO I no trabalho, ou doença profissional, nos termos do inciso X do
Das Disposições Preliminares artigo 68; o provento será proporcional ao tempo de serviço, nos
demais casos.
Art. 150 – O Estado assegurará um sistema de previdência § 1º - Somente nos casos de invalidez decorrente de acidente
público que será mantido com a contribuição de seus servidores, no trabalho ou doença profissional, como configurados nos §§
ativos, inativos, pensionistas e do orçamento do Estado, o qual 1º, 2º, 3º e 4º do artigo 68, será aposentado o ocupante do cargo
compreenderá os seguintes benefícios: de provimento em comissão, hipótese em que o respectivo
I – quanto ao servidor: provento será integral.
a) aposentadoria; § 2º - O funcionário aposentado em decorrência da invalidez
b) salário-família do servidor aposentado (Redação dada por acidente em serviço, por moléstia profissional, ou por
pela LC 159/2016); doença grave contagiosa ou incurável, especificada em Lei, é
c) (Revogado pela LC 159/2016); considerado como em efetivo exercício, assegurando-se-lhe
d) (Revogado pela LC 159/2016); todos os direitos e vantagens atribuídas aos ocupantes de cargo
II – quanto ao dependente: de igual categoria em atividade, ainda que o mencionado cargo
a) pensão por morte; tenha ou venha a mudar a denominação de nível de classificação
b) (Revogado pela LC 159/2016); ou padrão de vencimento. (Acrescentado pela Lei nº
§ 1º - (REVOGADO pela Lei n° 13.578/05) 10.361/79)
§ 2º - (REVOGADO pela Lei n° 13.578/05)
Art. 155 – (Revogado pela Lei 12.913/99).
Art. 151 – O Estado assegurará a manutenção de um
sistema de assistência que, dentre outros, preste os seguintes Art. 156 - O servidor aposentado compulsoriamente por
benefícios e serviços aos servidores e aos seus dependentes: motivo de idade, ou nos termos do art. 154, terá os seus
(Redação dada pela Lei n° 13.578/05) proventos proporcionais ao tempo de contribuição. (Redação
I– assistência médica; dada pela Lei n° 13.578/05)
II– assistência hospitalar; § 1º - A proporcionalidade dos proventos, com base no
III– assistência odontológica; tempo de contribuição, é a fração, cujo numerador corresponde
IV– assistência social; ao total de dias de contribuição e o denominador, o tempo de
V– auxílio funeral. dias necessários à respectiva aposentadoria voluntária com
VI - auxílio-reclusão. (Acrescido pela Lei 159/2016). proventos integrais. (Redação dada pela Lei n° 13.578/05)
§ 1º - A triagem dos casos apresentados para internamento § 2º - A fração de que trata o parágrafo anterior será
hospitalar e consequente fiscalização e controle será realizado aplicada sobre o valor dos proventos calculados conforme a
por um Grupo de Trabalho, cuja composição e atribuições será média aritmética simples das maiores remunerações ou
determinado pelo Governo do Estado através do Instituto de subsídios, observando-se, previamente, que o valor encontrado
Previdência do Estado – IPEC, mediante ato próprio. (Redação não poderá exceder à remuneração do servidor no cargo efetivo
dada pela Lei n° 13.578/05) em que se der a aposentadoria. (Redação dada pela Lei n°
13.578/05)

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Art. 157 – Os proventos de aposentadoria e as pensões serão Art. 166 - A declaração do servidor será prestada a seu chefe
reajustados na mesma data em que se der o reajuste dos imediato que a examinará e, após o seu visto, a encaminhará ao
benefícios do regime geral de previdência social, ressalvadas as órgão competente para o processamento e atendimento da
aposentadorias concedidas conforme os arts. 6° e 7° da Emenda concessão.
Constitucional Estadual n° 56, de 7 de janeiro de 2004.
Art. 167 - O salário-família será concedido à vista das
CAPÍTULO III declarações prestadas, mediante simples despacho que será
Do Salário-Família comunicado ao órgão incumbido da elaboração de folhas de
pagamento.
Art. 158 - O salário-família é o auxílio pecuniário especial §1º - Será concedido ao declarante ativo ou inativo o prazo
concedido pelo Estado ao funcionário ativo e ao aposentado de 120 (cento e vinte) dias para o esclarecimento de qualquer
como contribuição ao custeio das despesas de manutenção de dúvida na declaração, o que poderá ser feito por meio de
seus dependentes. quaisquer provas admitidas em direito.
§2º - Não sendo apresentado no prazo o esclarecimento de
Art. 159 - O salário-família será pago ao servidor, em que trata o § 1º, a autoridade concedente determinará a
quotas, na proporção do respectivo número de filhos ou imediata suspensão do pagamento do salário-família, até que
equiparados, aplicando-se os mesmos parâmetros adotados pelo seja satisfeita a exigência.
Instituto Nacional do Seguro Social, quanto à referida prestação
assistencial, conforme definido em lei. (Redação dada pela Lei Art. 168 - Verificada, a qualquer tempo, a inexatidão das
159/2016). declarações prestadas, será suspensa a concessão do salário-
família e determinada a reposição do indevidamente recebido,
Art. 160 – (Revogado pela LC 159/2016). mediante o desconto mensal de 10% (dez por cento) da
remuneração líquida, em folha de pagamento. (Redação dada
Art. 161 - O salário-família será pago, ainda, nos casos em pela Lei 13.369/03)
que o funcionário deixar de perceber vencimento ou proventos,
sem perda do cargo. Art. 169 - O funcionário e o aposentado são obrigados a
comunicar a autoridade concedente, dentro do prazo de quinze
Art. 162 - (Revogado pela LC 159/2016). dias, qualquer alteração que se verifique na situação dos
dependentes, da qual decorra supressão ou redução do salário-
Art. 163 - O salário-família não servirá de base para família.
qualquer contribuição, ainda que para fim de previdência social. Parágrafo único - A não observância desta disposição
acarretará as mesmas providências indicadas no artigo
Art. 164 - Será suspenso o pagamento do salário-família ao anterior.
funcionário que comprovadamente descurar da subsistência e
educação dos seus dependentes. Art. 170 - O salário-família será devido em relação a cada
§1º - Mediante autorização judicial a pessoa que estiver dependente, a partir do mês em que tiver ocorrido o ato ou fato
mantendo os dependentes do funcionário poderá receber o que lhe der origem, deixando de ser devido igualmente em
salário-família enquanto durar a situação prevista neste artigo. relação a cada dependente no mês seguinte ao ato ou fato que
§2º - O pagamento voltará a ser feito ao funcionário tão logo determinar a sua supressão.
comprovado o desaparecimento dos motivos determinantes da
suspensão. Art. 171 - O salário-família será pago juntamente com os
vencimentos ou proventos, pelos órgãos pagadores,
Art. 165 - Para se habilitar à concessão do salário-família o independentemente de publicação do ato de concessão.
funcionário, o disponível, ou o aposentado apresentarão uma
declaração de dependentes, indicando o cargo que exercer, ou CAPÍTULO IV
no qual estiver aposentado ou em disponibilidade, mencionando Do Auxílio-Doença
em relação a cada dependente:
I- nome completo, data e local de nascimento, comprovado Art. 172 – (REVOGADO pela Lei 13.578/05).
por certidão do registro civil;
II- grau de parentesco ou dependência; CAPÍTULO V
III- no caso de se tratar de maior de 21 anos, se total e Do Auxílio-Funeral
permanentemente incapaz para o trabalho, hipótese em que
informará a causa e a espécie de invalidez; Art. 173 - Será concedido auxílio funeral à família do
IV- se o dependente vive sob a guarda do declarante. funcionário falecido, correspondente a 01 (um) mês de seus
vencimentos ou proventos, limitado o pagamento à quantia de
165 Para se habilitar à concessão do salário-família o R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais). (Redação dada pela Lei
funcionário, o disponível, ou o aposentado apresentarão uma 12.913/99)
declaração de dependentes, indicando o cargo que exercer, ou Parágrafo único - Quando não houver pessoa da família do
no qual estiver aposentado ou em disponibilidade, mencionando funcionário no local do falecimento, o auxílio-funeral será pago
em relação a cada dependente: a quem promover o enterro, mediante comprovação das
I - nome completo, data e local de nascimento, comprovado despesas.
por certidão do registro civil;
II - grau de parentesco ou dependência; CAPÍTULO VI
III - no caso de se tratar de maior de 14 (quatorze) anos, se DO AUXÍLIO-RECLUSÃO
total e permanentemente inválido para o trabalho, hipótese em (Acrescentado pela LC 159/2016)
que informará a causa e a espécie de invalidez (Redação dada
pela LC 159/2016). Art. 173-A O auxílio-reclusão é devido pelo órgão de origem
IV – (Revogado pela LC 159/2016). aos dependentes do servidor de baixa renda recolhido à prisão e
que, nessa condição, não esteja recebendo remuneração
decorrente do seu cargo. (Acrescentado pela LC 159/2016);

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§ 1º Para fins de definição da baixa renda e da qualificação §1º - Sob pena de responsabilidade, o funcionário que
dos dependentes, aplicam-se os mesmos parâmetros adotados exercer atribuições de chefia, tomando conhecimento de um fato
pelo Instituto Nacional do Seguro Social, quanto à referida que possa vir a se configurar, ou se configure como ilícito
prestação assistencial. (Acrescentado pela LC 159/2016); administrativo, é obrigado a representar perante a autoridade
§ 2º O auxílio-reclusão corresponde ao valor da competente, a fim de que esta promova a sua apuração.
remuneração do servidor, observado o limite da baixa renda, §2º - A apuração da responsabilidade funcional será feita
sendo devido pelo período máximo de 12 (doze) meses e, através de sindicância ou de inquérito.
somente, durante o tempo em que estiver recolhido à prisão sob §3º - Se o comportamento funcional irregular configurar, ao
regime fechado ou semiaberto, e enquanto for titular desse mesmo tempo, responsabilidade administrativa, civil e penal, a
cargo. (Acrescentado pela LC 159/2016); autoridade que determinou o procedimento disciplinar adotará
§ 3º O pagamento do auxílio-reclusão deve estar providências para a apuração do ilícito civil ou penal, quando
fundamentado em certidão de efetivo recolhimento à prisão, for o caso, durante ou depois de concluídos a sindicância ou o
sendo obrigatória, para a manutenção do pagamento, a inquérito.
apresentação de declaração de permanência na condição de §4º - Fixada a responsabilidade administrativa do
presidiário. (Acrescentado pela LC 159/2016). funcionário, a autoridade competente aplicará a sanção que
entender cabível, ou a que for tipificada neste Estatuto para
TÍTULO VI determinados ilícitos. Na aplicação da sanção, a autoridade
Do Regime Disciplinar levará em conta os antecedentes do funcionário, as
CAPÍTULO I circunstâncias em que o ilícito ocorreu, a gravidade da infração
Dos Princípios Fundamentais e os danos que dela provierem para o serviço estatal de terceiros.
§5º - A legítima defesa e o estado de necessidade excluem a
Art. 174 - O funcionário público é administrativamente responsabilidade administrativa.
responsável, perante seus superiores hierárquicos, pelos ilícitos §6º - A alienação mental, comprovada através de perícia
que cometer. médica oficial excluirá, também, a responsabilidade
administrativa, comunicando o sindicante ou a Comissão
Art. 175 - Considera-se ilícito administrativo a conduta Permanente de Inquérito à autoridade competente o fato, a fim
comissiva ou omissiva, do funcionário, que importe em violação de que seja providenciada a aposentadoria do funcionário.
de dever geral ou especial, ou de proibição, fixado neste Estatuto §7º - Considera-se legítima defesa o revide moderado e
e em sua legislação complementar, ou que constitua proporcional à agressão ou à iminência de agressão moral ou
comportamento incompatível com o decoro funcional ou social. física, que atinja ou vise a atingir o funcionário, ou seus
Parágrafo único - O ilícito administrativo é punível, superiores hierárquicos ou colegas, ou o patrimônio da
independentemente de acarretar resultado perturbador do instituição administrativa a que servir.
serviço estadual. §8º - Considera-se em estado de necessidade o funcionário
que realiza atividade indispensável ao atendimento de uma
Art. 176 - A apuração da responsabilidade funcional será urgência administrativa, inclusive para fins de preservação do
promovida, de ofício, ou mediante representação, pela patrimônio público.
autoridade de maior hierarquia no órgão ou na entidade §9º - O exercício da legítima defesa e de atividades em
administrativa em que tiver ocorrido a irregularidade. Se se virtude do estado de necessidade não serão excludentes de
tratar de ilícito administrativo praticado fora do local de responsabilidade administrativa quando houver excesso,
trabalho, a apuração da responsabilidade será promovida pela imoderação ou desproporcionalidade, culposos ou dolosos, na
autoridade de maior hierarquia no órgão ou na entidade a que conduta do funcionário.
pertencer o funcionário a quem se imputar a prática da
irregularidade. Art. 180 - A apuração da responsabilidade do funcionário
Parágrafo único - Se se imputar a prática do ilícito a vários processar-se-á mesmo nos casos de alteração funcional,
funcionários lotados em órgãos diversos do Poder Executivo, a inclusive a perda do cargo.
competência para determinar a apuração da responsabilidade
caberá ao Governador do Estado. Art. 181 - Extingue-se a responsabilidade administrativa:
I - com a morte do funcionário;
Art. 177 - A responsabilidade civil decorre de conduta II- pela prescrição do direito de agir do Estado ou de suas
funcional, comissiva ou omissiva, dolosa ou culposa, que entidades em matéria disciplinar.
acarrete prejuízo para o patrimônio do Estado, de suas
entidades ou de terceiros. Art. 182 - O direito ao exercício do poder disciplinar
§1º - A indenização de prejuízo causado ao Estado ou às suas prescreve passados cinco anos da data em que o ilícito tiver
entidades, no que exceder os limites da fiança, quando for o caso, ocorrido.
será liquidada mediante prestações mensais descontadas em Parágrafo único - São imprescritíveis o ilícito de abandono
folha de pagamento, não excedentes da décima parte do de cargo e a respectiva sanção.
vencimento, à falta de outros bens que respondam pelo
ressarcimento. Art. 183 - O inquérito administrativo para apuração da
§2º - Em caso de prejuízo a terceiro, o funcionário responsabilidade do funcionário produzirá, preliminarmente, os
responderá perante o Estado ou suas entidades, através de ação seguintes efeitos:
regressiva proposta depois de transitar em julgado a decisão I- afastamento do funcionário indiciado de seu cargo ou
judicial, que houver condenado a Fazenda Pública a indenizar o função, nos casos de prisão preventiva ou prisão administrativa;
terceiro prejudicado. II- sobrestamento do processo de aposentadoria voluntária;
II- proibição do afastamento do exercício, salvo o caso do
Art. 178 - A responsabilidade penal abrange os crimes e item I deste artigo;
contravenções imputados, por lei, ao funcionário, nesta III- proibição de concessão de licença, ou o seu
qualidade. sobrestamento, salvo a concedida por motivo de saúde;
IV- cessação da disposição, com retorno do funcionário ao
Art. 179 - São independentes as instâncias administrativas seu órgão de origem.
civil e penal, e cumuláveis as respectivas cominações.

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 184 - Assegurar-se-á ao funcionário, no procedimento X- guardar sigilo sobre a documentação e os assuntos de
disciplinar, ampla defesa, consistente, sobretudo: natureza reservada de que tenha conhecimento em razão do
I- no direito de prestar depoimento sobre a imputação que cargo que ocupa, ou da função que exerça;
lhe é feita e sobre os fatos que a geraram; XI- zelar pela economia e conservação do material que lhe
II- no direito de apresentar razões preliminares e finais, por for confiado;
escrito, nos termos deste Estatuto; XII- atender às notificações para depor ou realizar perícias
III- no direito de ser defendido por advogado, de sua ou vistorias, tendo em vista procedimentos disciplinares;
indicação, ou por defensor público, também advogado, XIII- atender, nos prazos de lei ou regulamentares, as
designado pela autoridade competente; requisições para defesa da Fazenda Pública;
IV- no direito de arrolar e inquirir, reinquirir e contraditar XIV- atender, nos prazos que lhe forem assinados por lei ou
testemunhas, e requerer acareações; regulamento, os requerimentos de certidões para defesa de
V- no direito de requerer todas as provas em direito direitos e esclarecimentos de situações;
permitidas, inclusive as de natureza pericial; XV- providenciar para que esteja sempre em ordem, no
VI- no direito de arguir prescrição; assentamento individual, sua declaração de família;
VII- no direito de levantar suspeições e arguir impedimentos. XVI- atender, prontamente, e na medida de sua competência,
os pedidos de informação do Poder Legislativo e às requisições
Art. 185 - A defesa do funcionário no procedimento do Poder Judiciário;
disciplinar, que é de natureza contraditória, é privativa de XVII- cumprir, na medida de sua competência, as decisões
advogado, que a exercitará nos termos deste Estatuto e nos da judiciais ou facilitar-lhes a execução.
legislação federal pertinente (Estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil). Art. 192 - O funcionário deixará de cumprir ordem de
§ 1º - A autoridade competente designará defensor para o autoridade superior quando:
funcionário que, pobre na forma da lei, ou revel, não indicar I- a autoridade de quem emanar a ordem for incompetente;
advogado, podendo a indicação recair em advogado do Instituto II- não se contiver a ordem na área da competência do órgão
de Previdência do Estado do Ceará (IPEC). a que servir o funcionário seu destinatário, ou não se referir a
§2º - O funcionário poderá defender-se, pessoalmente, se nenhuma das atribuições do servidor;
tiver a qualidade de advogado. III- for a ordem expedida sem a forma exigida por lei;
IV- não tiver sido a ordem publicada, quando tal
Art. 186 - O funcionário público fica sujeito ao poder formalidade for essencial à sua validade;
disciplinar desde a posse ou, se esta não for exigida, desde o seu V- não tiver a ordem como causa uma necessidade
ingresso no exercício funcional. administrativa ou pública, ou visar a fins não estipulados na
regra de competência da autoridade da qual promanou ou do
Art. 187 - Se no transcurso do procedimento disciplinar funcionário a quem se dirige;
outro funcionário for indiciado, o sindicante ou a Comissão VI - a ordem configurar abuso ou excesso de poder ou de
Permanente de Inquérito, conforme o caso, reabrirá os prazos autoridade.
de defesa para o novo indiciado. § 1º - Em qualquer dos casos referidos neste artigo, o
funcionário representará contra a ordem, fundamentadamente,
Art. 188 - A inobservância de qualquer dos preceitos deste à autoridade imediatamente superior a que ordenou.
Capítulo relativos à forma do procedimento, à competência e ao § 2º - Se se tratar de ordem emanada do Presidente da
direito de ampla defesa acarretará a nulidade do procedimento Assembleia Legislativa, do Chefe do Poder Executivo, do
disciplinar. Presidente do Tribunal de Contas e do Presidente do Conselho de
Contas dos Municípios, o funcionário justificará perante essas
Art. 189 - Aplica-se o disposto neste Título ao procedimento autoridades a escusa da obediência.
em que for indiciado aposentado ou funcionário em
disponibilidade. CAPÍTULO III
Das Proibições
CAPÍTULO II
Dos Deveres Art. 193 - Ao funcionário é proibido:
I - salvo as exceções constitucionais pertinentes, acumular
Art. 190 - Os deveres do funcionário são gerais, quando cargos, funções e empregos públicos remunerados, inclusive nas
fixados neste Estatuto e legislação complementar, e especiais, entidades da Administração Indireta (autarquias, empresas
quando fixados tendo em vista as peculiaridades das atribuições públicas e sociedades de economia mista);
funcionais. II- referir-se de modo depreciativo às autoridades em
qualquer ato funcional que praticar, ressalvado o direito de
Art. 191 - São deveres gerais do funcionário: crítica doutrinária aos atos e fatos administrativos, inclusive em
I- lealdade e respeito às instituições constitucionais e trabalho público e assinado;
administrativas a que servir; III- retirar, modificar ou substituir qualquer documento
II- observância das normas constitucionais, legais e oficial, com o fim de constituir direito ou obrigação, ou de
regulamentares; alterar a verdade dos fatos, bem como apresentar documento
III- obediência às ordens de seus superiores hierárquicos; falso com a mesma finalidade;
IV- continência de comportamento, tendo em vista o decoro IV- valer-se do exercício funcional para lograr proveito
funcional e social; ilícito para si, ou para outrem;
V- levar, por escrito, ao conhecimento da autoridade V- promover manifestação de desapreço ou fazer circular ou
superior irregularidades administrativas de que tiver ciência em subscrever lista de donativos, no recinto do trabalho;
razão do cargo que ocupa, ou da função que exerça; VI- coagir ou aliciar subordinados com objetivos político-
VI- assiduidade; partidários;
VII- pontualidade; VII- participar de diretoria, gerência, administração,
VIII- urbanidade; conselho técnico ou administrativo, de empresa ou sociedades
IX- discrição; mercantis;

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APOSTILAS OPÇÃO

VIII- pleitear, como procurador ou intermediário, junto aos competente, cometer falta leve, não cominável, por este
órgãos e entidades estaduais, salvo quando se tratar de Estatuto, com outro tipo de sanção.
percepção de vencimentos, proventos ou vantagens de parente Art. 198 - Aplicar-se-á a suspensão, através de ato escrito,
consanguíneo ou afim, até o segundo grau civil; por prazo não superior a 90 (noventa) dias, nos casos de
IX- praticar a usura; reincidência de falta leve, e nos de ilícito grave, salvo a expressa
X- receber propinas, vantagens ou comissões pela prática de cominação, por lei, de outro tipo de sanção.
atos de oficio; Parágrafo único - Por conveniência do serviço, a suspensão
XI- revelar fato de natureza sigilosa, de que tenha ciência em poderá ser convertida em multa, na base de 50% (cinquenta por
razão do cargo ou função, salvo quando se tratar de depoimento cento) por dia de vencimento, obrigado, neste caso, o
em processo judicial, policial ou administrativo; funcionário a permanecer em exercício.
XII- cometer a outrem, salvo os casos previstos em lei ou ato
administrativo, o desempenho de sua atividade funcional; Art. 199 - A demissão será obrigatoriamente aplicada nos
XIII- entreter-se, nos locais e horas de trabalho, com seguintes casos:
atividades estranhas às relacionadas com as suas atribuições, I- crime contra a administração pública;
causando prejuízos a estas; II- crime comum praticado em detrimento de dever inerente
XIV- deixar de comparecer ao trabalho sem causa à função pública ou ao cargo público, quando de natureza grave,
justificada; a critério da autoridade competente;
XV- ser comerciante; III- abandono de cargo;
XVI- contratar com o Estado, ou suas entidades, salvo os IV- incontinência pública e escandalosa e prática de jogos
casos de prestação de serviços técnicos ou científicos, inclusive proibidos;
os de magistério em caráter eventual; V- insubordinação grave em serviço;
XVII- empregar bens do Estado e de suas entidades em VI- ofensa física ou moral em serviço contra funcionário ou
serviço particular; terceiros;
XVIII- atender pessoas estranhas ao serviço, no local de VII- aplicação irregular dos dinheiros públicos, que resultem
trabalho, para o trato de assuntos particulares; em lesão para o Erário Estadual ou dilapidação do seu
XIX- retirar bens de órgãos ou entidades estaduais, salvo patrimônio;
quando autorizado pelo superior hierárquico e desde que para VIII- quebra do dever de sigilo funcional;
atender a interesse público. IX- corrupção passiva, nos termos da lei penal;
Parágrafo único - Excluem-se da proibição do item XVI os X- falta de atendimento ao requisito do estágio probatório
contratos de cláusulas uniformes e os de emprego, em geral, estabelecido no art. 27, § 1º, item III;
quando, no último caso, não configurarem acumulação ilícita. XI- desídia funcional;
XII- descumprimento de dever especial inerente a cargo em
Art. 194 - É ressalvado ao funcionário o direito de acumular comissão.
cargo, funções e empregos remunerados, nos casos excepcionais § 1° - Considera-se abandono de cargo a deliberada
da Constituição Federal. ausência ao serviço, sem justa causa, por trinta (30) dias
§1º - Verificada, em inquérito administrativo, acumulação consecutivos ou 60 (sessenta) dias, interpoladamente, durante
proibida e provada a boa-fé, o funcionário optará por um dos 12 (doze) meses.
cargos, funções ou empregos, não ficando obrigado a restituir o § 2º - Entender-se-á por ausência ao serviço com justa causa
que houver percebido durante o período da acumulação vedada. não só a autorizada por lei, regulamento ou outro ato
§2º - Provada a má-fé, o funcionário perderá os cargos, administrativo, como a que assim for considerada após
funções ou empregos acumulados ilicitamente devolvendo ao comprovação em inquérito ou justificação administrativa, esta
Estado o que houver percebido no período da acumulação. última requerida ao superior hierárquico pelo funcionário
interessado, valendo a justificação, nos termos deste parágrafo,
Art. 195 - O aposentado compulsoriamente ou por invalidez apenas para fins disciplinares.
não poderá acumular seus proventos com a ocupação de cargo
ou o exercício de função ou emprego público. Art. 200 - Tendo em vista a gravidade do ilícito, a demissão
Parágrafo único - Não se compreendem na proibição de poderá ser aplicada com a nota "a bem do serviço público", a
acumular nem estão sujeitos a quaisquer limites: qual constará sempre nos casos de demissão referidos nos itens
I- a percepção conjunta de pensões civis e militares; I e VII do artigo 199.
II- a percepção de pensões com vencimento ou salário; Parágrafo único - Salvo reabilitação obtida em processo
III- a percepção de pensões com vencimentos de disciplinar de revisão, o funcionário demitido com a nota a que
disponibilidade e proventos de aposentadoria e reforma; se refere este artigo não poderá reingressar nos quadros
IV- a percepção de proventos, quando resultantes de cargos funcionais do Estado ou de suas entidades, a qualquer título.
legalmente acumuláveis.
Art. 201 - Ao ato que cominar sanção, precederá sempre
CAPÍTULO IV procedimento disciplinar, assegurada ao funcionário indiciado
Das Sanções Disciplinares e seus Efeitos ampla defesa, nos termos deste Estatuto, pena de nulidade da
cominação imposta.
Art. 196 - As sanções aplicáveis ao funcionário são as Parágrafo único - As sanções referidas nos itens II e VI do
seguintes: artigo 196 serão cominadas por escrito e fundamentalmente,
I- repreensão; pena de nulidade.
II- suspensão;
III- multa; Art. 202 - São competentes para aplicação das sanções
IV- demissão; disciplinares:
V - cassação de disponibilidade; I - os Chefes dos Poderes Legislativo e Executivo, em
VI - cassação de aposentadoria. qualquer caso, e privativamente, nos casos de demissão e
cassação de aposentadoria ou disponibilidade, salvo se se tratar
Art. 197 - Aplicar-se-á a repreensão, sempre por escrito, ao de punição de funcionário autárquico;
funcionário que, em caráter primário, a juízo da autoridade

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APOSTILAS OPÇÃO

II - os dirigentes superiores das autarquias, em qualquer Art. 208 - Aplica-se à prisão administrativa o disposto no §
caso, e, privativamente, nos casos de demissão e cassação, da 2º do art. 205 deste Estatuto.
aposentadoria ou disponibilidade;
III - os Secretários de Estado e demais dirigentes de órgãos CAPÍTULO V
subordinados ou auxiliares, em todos os casos, salvo os referidos Da Sindicância
nos itens I e II;
IV - os chefes de unidades administrativas em geral, nos Art. 209 - A sindicância é o procedimento sumário através
casos de repreensão, suspensão até 30 (trinta) dias e multa do qual o Estado ou suas autarquias reúnem elementos
correspondente. informativos para determinar a verdade em torno de possíveis
irregularidades que possam configurar, ou não, ilícitos
Art. 203 - Além da pena judicial que couber, serão administrativos, aberta pela autoridade de maior hierarquia, no
considerados como de suspensão os dias em que o funcionário, órgão em que ocorreu a irregularidade, ressalvadas em
notificado deixar de atender à convocação para prestação de qualquer caso, permitida a delegação de competência:
serviços estatais compulsórios, salvo motivo justificado. I- do Governador, em qualquer caso;
II- dos Secretários de Estado, dos dirigentes autárquicos e
Art. 204 - Será cassada a aposentadoria ou disponibilidade dos Presidentes da Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas e
se ficar provado, em inquérito administrativo, que o aposentado do Conselho de Contas dos Municípios, em suas respectivas áreas
ou disponível: funcionais.
I - praticou, quando no exercício funcional, ilícito punível § 1º - Abrir-se-á, também, sindicância para apuração das
com demissão; aptidões do funcionário, no estágio probatório, para fins de
II- aceitou cargo ou função que, legalmente, não poderia demissão ou exoneração, quando for o caso, assegurada ao
ocupar, ou exercer, provada a má-fé; indiciado ampla defesa, nos termos dos artigos estatutários que
III- não assumiu o disponível, no prazo legal, o lugar disciplinam o inquérito administrativo, reduzidos os prazos
funcional em que foi aproveitado, salvo motivo de força maior; neles estabelecidos, à metade.
IV- perdeu a nacionalidade brasileira. § 2º - Aberta a sindicância, suspende-se a fluência do período
Parágrafo único - A cassação da aposentadoria ou do estágio probatório.
disponibilidade extingue o vínculo do aposentado ou do § 3º - A sindicância será realizada por funcionário estável,
disponível com o Estado ou suas entidades autárquicas. designado pela autoridade que determinar a sua abertura.
§ 4º - A sindicância precede o inquérito administrativo,
Art. 205 - A suspensão preventiva será ordenada pela quando for o caso, sendo-lhe anexada como peça informativa e
autoridade que determinar a abertura do inquérito preliminar.
administrativo, se, no transcurso deste, a entender § 5º - A sindicância será realizada no prazo máximo de 15
indispensável, nos termos do § 1º deste artigo. (quinze) dias, prorrogável por igual período, a pedido do
§ 1º - A suspensão preventiva não ultrapassará o prazo de sindicante, e a critério da autoridade que determinou a sua
90 (noventa) dias e somente será determinada quando o abertura.
afastamento do funcionário for necessário, para que, como § 6º - Havendo ostensividade ou indícios fortes de autoria do
indiciado, não venha a influir na apuração de sua ilícito administrativo, o sindicante indiciará o funcionário,
responsabilidade. abrindo-lhe o prazo de 3 (três) dias para defesa prévia. A seguir,
§ 2º - Suspenso preventivamente, o funcionário terá, com o seu relatório, encaminhará o processo de sindicância à
entretanto, direito: autoridade que determinou a sua abertura.
I - a computar o tempo de serviço relativo ao período de § 7º - O sindicante poderá ser assessorado por técnicos, de
suspensão para todos os efeitos legais; preferência pertencentes aos quadros funcionais, devendo todos
II- a computar o tempo de serviço para todos os fins de lei, os atos da sindicância serem reduzidos a termo por secretário
relativo ao período que ultrapassar o prazo da suspensão designado pelo sindicante, dentre os funcionários do órgão a que
preventiva; pertencer.
III- a perceber os vencimentos relativos ao período de § 8º - Ultimada a sindicância, não apurada a
suspensão, se reconhecida a sua inocência no inquérito responsabilidade administrativa, ou o descumprimento dos
administrativo; requisitos do estágio probatório, o processo será arquivado,
IV- a perceber as gratificações por tempo de serviço já fixada a responsabilidade funcional, a autoridade que
prestado e o salário-família. determinou a sindicância encaminhará os respectivos autos
para a Comissão Permanente de Inquérito Administrativo, que
Art. 206 - Os Chefes dos Poderes Legislativo, Executivo e funcionará:
Judiciário, os Presidentes do Tribunal de Contas e do Conselho de I- no Poder Executivo, na Governadoria, nas Secretarias de
Contas dos Municípios, os Secretários de Estado e os dirigentes Estado, órgãos desconcentrados e nas autarquias;
das Autarquias poderão ordenar a prisão administrativa do II- no Poder Legislativo, na Diretoria Geral;
funcionário responsável direto pelos dinheiros e valores III- no Tribunal de Contas e no Conselho de Contas dos
públicos, ou pelos bens que se encontrarem sob a guarda do Municípios.
Estado ou de suas Autarquias, no caso de alcance ou omissão no
recolhimento ou na entrega a quem de direito nos prazos e na CAPÍTULO VI
forma da lei. Do Inquérito Administrativo
§ 1º - Recolhida aos cofres públicos a importância desviada,
a autoridade que ordenou a prisão revogará imediatamente o Art. 210 - O inquérito administrativo é o procedimento
ato gerador da custódia. através do qual os órgãos e as autarquias do Estado apuram a
§ 2º - A autoridade que ordenar a prisão, que não poderá responsabilidade disciplinar do funcionário.
ultrapassar a 90 (noventa) dias, comunicará imediatamente o Parágrafo único - São competentes para instaurar o
fato à autoridade judiciária competente e providenciará a inquérito:
abertura e realização urgente do processo de tomada de contas. I - o Governador, em qualquer caso;
II - os Secretários de Estado, os dirigentes das Autarquias e
Art. 207 - A prisão, a que se refere o artigo anterior, será os Presidentes da Assembleia Legislativa, do Tribunal de Contas
cumprida em local especial.

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e do Conselho de Contas dos Municípios, em suas áreas efeitos deste parágrafo, para o Plenário da Assembleia e do
funcionais, permitida a delegação de competência. Tribunal, respectivamente.

Art. 211 - O inquérito administrativo será realizado por Art. 221 - O inquérito administrativo será concluído no
Comissões Permanentes, instituídas por atos do Governador, do prazo máximo de 90 (noventa) dias, podendo ser prorrogado
Presidente da Assembleia Legislativa, do Presidente do Tribunal por igual período, a pedido da Comissão, ou a requerimento do
de Contas, do Presidente do Conselho de Contas dos Municípios, indiciado, dirigido à autoridade que determinou o
dos dirigentes das Autarquias e dos órgãos desconcentrados, procedimento.
permitida a delegação de poder, no caso do Governador, ao
Secretário de Administração. Art. 222 - Em qualquer fase do inquérito será permitida a
intervenção do indiciado, por si, ou por seu defensor.
Art. 212 - As Comissões Permanentes de Inquérito
Administrativo compor-se-ão de três membros, todos Art. 223 - Havendo mais de um indiciado e diversidade de
funcionários estáveis do Estado ou de suas autarquias, presidida sanções caberá o julgamento à autoridade competente para
pelo servidor que for designado pela autoridade competente, imposição da sanção mais grave. Neste caso, os prazos
que colocará à disposição das Comissões o pessoal necessário ao assinados aos indiciados correrão em comum.
desenvolvimento de seus trabalhos, inclusive os de secretário e
assessoramento. Art. 224 - O funcionário só poderá ser exonerado, estando
respondendo a inquérito administrativo, depois de julgado este
Art. 213 - Instaurado o inquérito administrativo, a com a declaração de sua inocência.
autoridade encaminhará seu ato para a Comissão de Inquérito
que for competente, tendo em vista o local da ocorrência da Art. 225 - Recebidos os autos do inquérito, a autoridade
irregularidade verificada, ou a vinculação funcional do servidor julgadora proferirá sua decisão no prazo improrrogável de 20
a quem se pretende imputar a responsabilidade administrativa. (vinte) dias.

Art. 214 - Abertos os trabalhos do inquérito, o Presidente da Art. 226 - Declarada a nulidade do inquérito, no todo ou em
Comissão mandará citar o funcionário acusado, para que, como parte, por falta do cumprimento de formalidade essencial,
indiciado, acompanhe, na forma do estabelecido neste Estatuto, inclusive o reconhecimento de direito de defesa, novo
todo o procedimento, requerendo o que for do interesse da procedimento será aberto.
defesa.
Parágrafo único - A citação será pessoal, mediante Art. 227 - No caso do artigo anterior e no de esgotamento
protocolo, devendo o servidor dele encarregado consignar, por do prazo para a conclusão do inquérito, o indiciado, se tiver sido
escrito, a recusa do funcionário em recebê-la. Em caso de não afastado de seu cargo, retornará ao seu exercício funcional.
ser encontrado o funcionário, estando ele em lugar incerto e não
sabido, a citação far-se-á por edital, publicado no Diário Oficial CAPÍTULO VII
do Estado, com prazo de 15 (quinze) dias, depois do que, não Da Revisão
comparecendo o citado, ser-lhe-á designado defensor, nos
termos do art. 184, item III e § 1º do art. 185. Art. 228 - A qualquer tempo poderá ser requerida a revisão
do procedimento administrativo de que resultou sanção
Art. 215 - Citado, o indiciado poderá requerer suas provas disciplinar, quando se aduzam fatos ou circunstâncias que
no prazo de 5 (cinco) dias, podendo renovar o pedido, no curso possam justificar a inocência do requerente, mencionados ou
do inquérito, se necessário para demonstração de fatos novos. não no procedimento original.
Parágrafo único - Tratando-se de funcionário falecido ou
Art. 216 - A falta de notificação do indiciado ou de seu desaparecido, a revisão poderá ser requerida pelo cônjuge,
defensor, para todas as fases do inquérito, determinará a companheiro, descendente, ascendente colateral consanguíneo
nulidade do procedimento. até o 2º grau civil.

Art. 217 - Encerrada a fase probatória, o indiciado será Art. 229 - Processar-se-á a revisão em apenso ao processo
notificado para apresentar, por seu defensor, no prazo de 10 original. Parágrafo único - Não constitui fundamento para a
(dez) dias, suas razões finais de defesa. revisão a simples alegação de injustiça da sanção.

Art. 218 - Apresentadas as razões finais de defesa, a Art. 230 - O requerimento devidamente instruído será
Comissão encaminhará os autos do inquérito, com relatório dirigido à autoridade que aplicou a sanção, ou àquela que a tiver
circunstanciado e conclusivo, à autoridade competente para o confirmado, em grau de recurso.
seu julgamento. Parágrafo único - Para processar a revisão, a autoridade
que receber o requerimento nomeará uma comissão composta
Art. 219 - Sob pena de nulidade, as reuniões e as diligências de três funcionários efetivos, de categoria igual ou superior à do
realizadas pela Comissão de Inquérito serão consignadas em requerente.
atas.
Art. 231 - Na inicial, o requerente pedirá dia e hora para
Art. 220 - Da decisão de autoridade julgadora cabe recurso inquirição das testemunhas que arrolar.
no prazo de 10 (dez) dias, com efeito suspensivo, para a Parágrafo único - Será considerada informante a
autoridade hierárquica imediatamente superior, ou para a que testemunha que, residindo fora da sede onde funcionar a
for indicada em regulamento ou regimento. comissão, prestar depoimento por escrito.
Parágrafo único - Das decisões dos Secretários de Estado e
do Presidente do Conselho de Contas dos Municípios caberá Art. 232 - Concluído o encargo da comissão, no prazo de 60
recurso, com efeito suspensivo, no prazo deste artigo, para o (sessenta) dias, prorrogável por trinta (30) dias, nos casos de
Governador. Das decisões do Presidente da Assembleia força maior, será o processo, com o respectivo relatório,
Legislativa e do Tribunal de Contas caberá recurso, com os encaminhado à autoridade competente para o julgamento.

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Parágrafo único - O prazo para julgamento será de 20 Art. 242 - Nenhum tributo estadual incidirá sobre os
(vinte) dias, prorrogável por igual período, no caso de serem vencimentos, proventos ou qualquer vantagem do funcionário
determinadas novas diligências. ou do aposentado, nem sobre os atos ou títulos referentes à sua
vida funcional.
Art. 233 - Das decisões proferidas em procedimento de
revisão cabe recurso, na forma do art. 220. Art. 243 - As normas do regime disciplinar previstas neste
Estatuto, salvo as de natureza adjetiva, não se aplicam aos casos
TÍTULO VII pendentes.
Das Disposições Finais
CAPÍTULO ÚNICO Art. 244 - O afastamento do funcionário ocupante de cargo
Das Disposições Gerais e Transitórias de chefia, direção, fiscalização ou arrecadação, para disputar
mandato eletivo, dar-se-á nos termos da legislação eleitoral
Art. 234 - O órgão central do sistema de pessoal do Poder pertinente.
Executivo e os assemelhados do Poder Legislativo e entidades Parágrafo único - Durante o afastamento de que trata este
autárquicas fornecerão ao funcionário cartão de identidade, artigo o funcionário não perceberá os vencimentos ou
dele devendo constar o retrato, a impressão digital, a filiação, a vantagens do cargo que momentaneamente detinha ou de que
data de nascimento e a qualificação funcional do identificado. for ocupante efetivo, exceto o salário-família, considerando-se o
Parágrafo único - Será recolhido o cartão do funcionário afastamento como autorização para o trato de interesses
que for exonerado, demitido ou aposentado. particulares.

Art. 235 - Salvo disposição expressa em contrário, os prazos Art. 245 - Ao ex-combatente da Força do Exército, da
previstos neste Estatuto somente correrão nos dias úteis, Expedicionária Brasileira, da Força Aérea Brasileira, da
excluindo-se o dia inicial. Marinha de Guerra e da Marinha Mercante do Brasil, que tenha
participado efetivamente de operações bélicas na segunda
Art. 236 - Nos dias úteis, só por determinação dos Chefes dos Guerra Mundial, e cuja situação se encontra definida na Lei
Poderes Executivo e Legislativo poderão deixar de funcionar os Federal nº 5.315, de 12 de setembro de 1967, são assegurados os
órgãos e entidades estaduais. seguintes direitos:
I - estabilidade, se funcionário público;
Art. 237 - É assegurado aos funcionários o direito de se II - aproveitamento no serviço público, sem a exigência do
agruparem em associação de classe, sem caráter sindical ou disposto no art. 106, § 1º da Constituição do Estado;
político-partidário. III - aposentadoria com proventos integrais aos 25 (vinte e
Parágrafo único - Essas Associações, que deverão ter cinco) anos de serviço efetivo, se funcionário público da
personalidade jurídica de direito privado, representarão os que Administração direta ou autárquica;
integrarem o seu quadro social perante as autoridades IV - benefício do Instituto de Previdência;
administrativas, em matéria de interesse da coletividade V - promoção após interstício legal, e se houver vaga;
funcional. VI - assistência médica, hospitalar e educacional, se carente
de recurso.
Art. 238 - O dia 28 de outubro será consagrado ao
funcionário público estadual e comemorado, oficialmente, na Art. 246 - As atuais funções gratificadas passam à categoria
forma do que for disposto em Regulamento. de cargos em comissão, convertendo-se automaticamente os
valores das gratificações em gratificações de representação,
Art. 239 - Ressalvadas as exceções constantes de disposição mantida a simbologia vigente até definição regulamentar.
expressa em lei, bem como os casos de acumulação lícita, o
funcionário não poderá receber, mensalmente, importância Art. 247 - Aplica-se o regime desta lei aos estabilizados nos
total superior a noventa por cento da percebida pelos termos do § 2º do Art. 177 da Constituição Federal de 1967, com
Secretários de Estado. (Redação pela Lei nº 10.416/80) a redação dada pelo art. 194 da Emenda Constitucional nº 1, de
§ 1º - Ficam excluídas do limite deste artigo: 17 de outubro de 1969, desde que sujeitos ao regime do Estatuto
I - a gratificação representação; anterior, quando da aquisição da estabilidade.
II - salário-família; Parágrafo único - Com a estabilidade, as funções de caráter
III - progressão horizontal; eventual dos servidores em geral passam a ser de natureza
IV- diárias e ajuda de custo; permanente, caracterizando-se como cargo, devendo como tal,
V- gratificação pela participação em órgão de deliberação serem consideradas, para todos os efeitos.
coletiva;
VI- gratificação de exercício; Art. 248 - O funcionário que esteja com o seu vínculo
VII- gratificação por prestação de serviço extraordinário. funcional suspenso, ou no gozo de licença, poderá ser, a qualquer
§ 2º - O funcionário não perceberá, a qualquer título, tempo, citado para se defender em procedimento disciplinar, ou
importância mensal superior à recebida pelo Governador do notificado para nele prestar depoimento, ou realizar ou se
Estado, não se computando, entretanto, no cálculo, diárias, submeter a provas de natureza pericial, salvo manifesta
ajudas de custo, gratificação por serviço ou estudo fora do impossibilidade por motivo de doença, justificada perante o
Estado e a progressão horizontal. sindicante ou Comissão Permanente de Inquérito.

Art. 240 - É vedado pôr o funcionário à disposição de Art. 249 - São considerados concursos públicos, gerando
entidade de direito privado, estranha no Sistema todos os efeitos que lhe são atinentes, os exames de provas de
Administrativo, salvo em caso de convênio, ou para exercer habilitação ou seleção realizados para a admissão de
função considerada pelo sistema de relevante interesse social. candidatos a funções das extintas TNM e que se revestiram das
características essenciais dos concursos públicos, consideradas,
Art. 241 - São isentos de qualquer tributo ou emolumentos como tais, a acessibilidade a todos os brasileiros, o caráter
os requerimentos, certidões e outros papéis que interessem ao competitivo e eliminatório e ampla divulgação.
funcionário público ou a aposentado, nessas qualidades.

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APOSTILAS OPÇÃO

Parágrafo único - A declaração de equivalência será feita regulamentares que, implícita ou explicitamente, colidam com
pelo órgão central do sistema de pessoal, mediante provocação este Estatuto, especialmente a Lei nº 4.196, de 5 de setembro de
do interessado. 1958; a Lei nº 4.658, de 19 de novembro de 1959; a Lei nº 7.999,
de 11 de maio de 1965; a Lei nº 8.384, de 10 de janeiro de 1966;
Art. 250 - Reduzida a capacidade do funcionário para o a Lei nº 9.226, de 27 de novembro de 1968; a Lei nº 9.260, de 12
exercício das atribuições do cargo que ocupa, comprovada de dezembro de 1968, no que diz respeito ao funcionário
através de perícia médica oficial, será ele readaptado, mediante autárquico; a Lei nº 9.381, de 27 de julho de 1970; a Lei nº 9.443,
transferência, em cargo de atribuições compatíveis com o seu de 9 de março de 1971 e a Lei nº 9.496, de 19 julho de 1971.
novo estado psíquico ou somático.
Parágrafo único - A readaptação obedecerá ao disposto Questões
nos arts. 50 e 51 deste Estatuto.
01. (SEJUS/CE - Agente Penitenciário - INSTITUTO
Art. 251 – É permitida a consignação facultativa em folha AOC/2017). Considerando as obrigações e proibições
de pagamento inerente à remuneração, subsídios, proventos. impostas aos servidores públicos do Ceará (Lei Estadual n°
(Redação dada pela Lei 13.369/03) 9.826, de 14 de maio de 1974), assinale a alternativa correta.
§ 1º - A soma das consignações facultativas não excederá de (A) Quando o servidor público tiver ciência, em razão do
40% (quarenta por cento) da remuneração, subsídios e cargo/função que exerça, de irregularidades administrativas,
proventos, deduzidas as consignações obrigatórias. (Redação deve este informar imediatamente a autoridade superior,
dada pela Lei 13.369/03) independente de formalidade.
§ 2º - Serão computados, para efeito do cálculo previsto (B) Não ultrapassando o limite do teto salarial do
neste artigo, o vencimento-base, as vantagens fixas e as de funcionalismo público fixado por lei, pode o funcionário
caráter pessoal. (Redação dada pela Lei 13.369/03) público praticar atos de usura.
§ 3º - Não se aplica o disposto neste artigo aos ocupantes (C) Ao funcionário público, na medida de sua competência,
exclusivamente de cargo de provimento em comissão, bem como cabe cumprir as decisões judiciais recebidas, desde que tal ato
aos contratados por tempo determinado, de que trata o inciso seja autorizado por seu superior imediato, sob pena de
XIV do art. 154 da Constituição do Estado do Ceará. (Redação desobediência hierárquica administrativa.
dada pela Lei 13.369/03) (D) O servidor público deverá deixar de cumprir
determinação de autoridade superior quando não tiver a
Art. 252 - A partir de 1º. de janeiro de 1974, todas as ordem como causa uma necessidade administrativa ou
gratificações adicionais por tempo de serviço percebidas pelos pública, ou visar a fins não estipulados na regra de
funcionários deverão ser convertidas na progressão horizontal competência da autoridade da qual promanou ou do
prevista no Capítulo X, Seção I, do Título II, deste Estatuto. funcionário a quem se dirige.
Art. 253 - O Estado, na forma que dispuser Decreto do
Governador do Estado, poderá assegurar bolsa de estudo ao 02. (SEJUS/CE - Agente Penitenciário - INSTITUTO
funcionário, como incentivo à sua profissionalização, em cursos AOCP/2017). A Lei Estadual do Ceará n° 9.826/74 afirma que
não regulares de formação, treinamento, aperfeiçoamento e de sindicância é o procedimento sumário por meio do qual o
especialização profissionais, mantidos por entidades oficiais ou Estado ou suas autarquias reúnem elementos informativos
particulares, de reconhecida e notória idoneidade. para determinar a verdade em torno de possíveis
Parágrafo único - O Decreto a que se refere este artigo irregularidades que possam configurar, ou não, ilícitos
poderá dispor sobre a concessão de bolsas de estudo para administrativos. A sindicância é aberta pela autoridade de
funcionários em cursos de extensão universitária e de pós- maior hierarquia no órgão em que ocorreu a irregularidade.
graduação. Considerando o exposto, assinale a alternativa INCORRETA.
(A) De forma a evitar persecuções políticas, a sindicância
Art. 254 – A carga horária de trabalho de trinta (30) horas será realizada pelo prazo máximo e improrrogável de 15
semanais, a que estão obrigados os servidores públicos do (quinze) dias.
Sistema Administrativo Estadual, será prestada, em período e (B) Aberta a sindicância, a fluência do período do estágio
tempo corrido das segundas às sextas-feiras. (Redação probatório será suspensa.
alterada pela Lei nº 10.647/82) (C) A autoridade que designar a abertura da sindicância
Parágrafo único – Os servidores que ocupam cargo de deverá indicar o funcionário público estável que a realizará.
magistrado, procurador, assessor jurídico, professor, médico, (D) A sindicância precede o inquérito administrativo,
engenheiro, agrônomo, servidores públicos estatutários e quando for o caso, sendo-lhe anexada como peça informativa
demais atividades assemelhadas, bem como os que exercem e preliminar.
cargo em comissão terão seus regimes de trabalho definidos em
regulamento próprio. 03. (UECE - Assistente de Administração –
FUNECE/2017). Considerando o Estatuto dos funcionários
Art. 255 - Continuam em vigor as Leis e Regulamentos que Públicos Civis do Estado do Ceará (Lei 9826/74), assinale a
disciplinam os institutos previstos neste Estatuto, desde que com afirmação verdadeira.
ele não colidam, até que novas normas sejam expedidas. (A) O exercício funcional terá início no prazo de trinta dias,
contados da data da publicação oficial do ato, no caso de
Art. 256 - Os Poderes Legislativo e Executivo, no âmbito de reintegração, e da data da posse, nos demais casos.
suas respectivas competências, expedirão os atos necessários a (B) O funcionário terá exercício na repartição onde for
complementação e explicitação deste Estatuto. lotado o cargo por ele ocupado, não podendo dela se afastar
em nenhuma hipótese.
Art. 257 - Aplicam-se as disposições deste Estatuto (C) Para entrar em exercício, é facultada ao funcionário a
subsidiariamente, no que couber, ao Magistério Estadual em apresentação, ao órgão de pessoal, dos elementos necessários
todos os graus de ensino, ao pessoal da Policia Civil de carreira à atualização de seu cadastro individual.
e aos funcionários administrativos do Poder Judiciário. (D) O afastamento do funcionário da repartição onde foi
lotado nunca poderá se prolongar por mais de quatro anos
Art. 258 - Esta lei entrará em vigor a 1º de janeiro 1974, consecutivos.
ficando revogadas todas as disposições legais ou

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APOSTILAS OPÇÃO

04. (TCE/CE - Analista de Controle Externo-Auditoria “Art. 27. Estágio probatório é o triênio de efetivo exercício
Governamental – FCC). Josué é funcionário público, no cargo de provimento efetivo, contado do início do exercício
ocupando cargo efetivo no quadro da Secretaria da Fazenda funcional, durante o qual é observado o atendimento dos
Estadual. Em razão de sua formação superior na área de requisitos necessários à confirmação do servidor nomeado em
ciências contábeis, foi convidado a ocupar a função de diretor virtude de concurso público.
financeiro da empresa estatal que atua na exploração de § 1º Como condição para aquisição da estabilidade, é
rodovias estaduais. Josué, não obstante tenha se interessado obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão
pelo convite, ficou com receio de que seu afastamento instituída para essa finalidade.
desfavorecesse os direitos e vantagens a que faz jus como § 2º A avaliação especial de desempenho do servidor será
titular de cargo efetivo. A propósito desse aspecto, a Lei n° realizada:
9.826/1974 estabelece que a) extraordinariamente, ainda durante o estágio probatório,
(A) os direitos e vantagens conferidos aos ocupantes de diante da ocorrência de algum fato dela motivador, sem prejuízo
cargos públicos efetivos não se transferem aos ocupantes de da avaliação ordinária;
empregos públicos, posto que estes prescindem de concurso b) ordinariamente, logo após o término do estágio
público para serem preenchidos. probatório, devendo a comissão ater-se exclusivamente ao
(B) o afastamento de funcionário público ocupante de desempenho do servidor durante o período do estágio.
cargo efetivo não impacta no recebimento de nenhum direito § 3º Além de outros específicos indicados em lei ou
ou vantagem, em razão da irredutibilidade de vencimentos dos regulamento, os requisitos de que trata este artigo são os
servidores públicos. seguintes:
(C) em se tratando de ocupar outro cargo estadual de I – adaptação do servidor ao trabalho, verificada por meio
provimento em comissão, o tempo de serviço será computável de avaliação da capacidade e qualidade no desempenho das
para todos os fins em favor do servidor Josué. atribuições do cargo;
(D) é vedado o afastamento de servidor público ocupante II – equilíbrio emocional e capacidade de integração;
de cargo efetivo para ocupar outro cargo na Administração III – cumprimento dos deveres e obrigações do servidor
pública, tendo em vista que equivaleria a colocar o cargo público, inclusive com observância da ética profissional.
original em disponibilidade. § 4º O estágio probatório corresponderá a uma
(E) apenas o afastamento que dependa de autorização complementação do concurso público a que se submeteu o
legislativa pode ser computado como tempo de efetivo serviço. servidor, devendo ser obrigatoriamente acompanhado e
supervisionado pelo Chefe Imediato.
05. (DPE/CE - Defensor Público de Entrância Inicial – § 5º Durante o estágio probatório, os cursos de treinamento
FCC). O Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado do para formação profissional ou aperfeiçoamento do servidor,
Ceará - Lei no 9.826, de 14 de maio de 1974 - em sua redação promovidos gratuitamente pela Administração, serão de
vigente, prescreve que participação obrigatória e o resultado obtido pelo servidor será
(A) acesso é a elevação do funcionário à classe considerado por ocasião da avaliação especial de desempenho,
imediatamente superior àquela em que se encontra dentro da tendo a reprovação caráter eliminatório.
mesma série de classes na categoria funcional a que pertencer. § 6º Fica vedada qualquer espécie de afastamento dos
(B) em caso de afastamento para o trato de interesses servidores em estágio probatório, ressalvados os casos previstos
particulares e caso deseje o cômputo do tempo para fins de nos incisos I, II, III, IV, VI, X, XII, XIII, XV e XXI do art. 68 da Lei nº
aposentadoria, o servidor deverá recolher mensalmente ao 9.826, de 14 de maio de 1974.
regime próprio de previdência dos servidores públicos § 7º O servidor em estágio probatório não fará jus a
contribuição no valor de 11% (onze por cento) de sua última ascensão funcional.
remuneração. § 8º As faltas disciplinares cometidas pelo servidor após o
(C) a posse em cargo público é ato personalíssimo, não se decurso do estágio probatório e antes da conclusão da avaliação
admitindo a posse por procuração. especial de desempenho serão apuradas por meio de processo
(D) somente após o término do estágio probatório dar- se- administrativo-disciplinar, precedido de sindicância, esta
á a avaliação especial de desempenho do servidor público, quando necessária.
resultando na sua confirmação ou exoneração. § 9º São independentes as instâncias administrativas da
(E) preso preventivamente, pronunciado por crime avaliação especial de desempenho e do processo administrativo-
comum ou denunciado por crime inafiançável, em processo em disciplinar, na hipótese do parágrafo anterior, sendo que
que não haja pronúncia, o servidor será afastado do exercício resultando exoneração ou demissão do servidor, em qualquer
de seu cargo até trânsito em julgado da decisão do juízo dos procedimentos, restará prejudicado o que estiver ainda em
criminal. andamento.”
“Art. 28. O servidor que durante o estágio probatório não
Gabarito satisfizer qualquer dos requisitos previstos no § 3º do artigo
anterior, será exonerado, nos casos dos itens I e II, e demitido na
01.D/ 02.A/ 03.A/ 04.C/ 05.E hipótese do item III.
Parágrafo único. O ato de exoneração ou de demissão do
LEI Nº 13.092, DE 08.01.01 servidor em razão de reprovação na avaliação especial de
desempenho será expedido pela autoridade competente para
Altera, modifica e acrescenta dispositivos da Lei nº 9.826, de nomear.”
14 de maio de 1974, Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do “Art. 29. O ato administrativo declaratório da estabilidade
Estado, e da Lei nº 12.124, de 6 de julho de 1993, Estatuto da do servidor no cargo de provimento efetivo, após cumprimento
Polícia Civil de Carreira, e dá outras providências. do estágio probatório e aprovação na avaliação especial de
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ desempenho, será expedido pela autoridade competente para
FAÇO SABER QUE A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DECRETOU nomear, retroagindo seus efeitos à data do término do período
E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI: do estágio probatório.”
“Art. 115. Depois de três anos de efetivo exercício e após
Art. 1º Os arts. 27, 28, 29 e 115 da Lei nº 9.826, de 14 de maio declaração de aquisição de estabilidade no cargo de provimento
de 1974, passam a vigorar com as seguinte redações: efetivo, o servidor poderá obter autorização de afastamento

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para tratar de interesses particulares, por um período não “Art. 36. O disposto no inciso I, do artigo anterior, implica em
superior a quatro anos e sem percepção de remuneração.” suspensão de vínculo funcional por período não superior ao que
se fizer necessário para aquisição de estabilidade no outro
Art. 2º Os arts. 17, 18 e 36 da Lei nº 12.124, de 06 de julho de cargo, findo o qual será exonerado ou demitido.”.
1993, passam a vigorar com as seguintes redações:
“Art. 17. Estágio probatório é o triênio de efetivo exercício Art. 3º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação,
no cargo de provimento efetivo, contado do início do exercício revogadas as disposições em contrário.
funcional, durante o qual é observado o atendimento dos PALÁCIO DO GOVERNO O ESTADO DO CEARÁ, em Fortaleza,
requisitos necessários à confirmação do servidor nomeado em 08. de janeiro de 2001.
virtude de concurso público.
§ 1º Como condição para aquisição da estabilidade, é TASSO RIBEIRO JEREISSATI
obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão Governador do Estado do Ceará
instituída para essa finalidade.
§ 2º A avaliação especial de desempenho do servidor será LEI N.º 15.744, DE 29.12.146
realizada:
a) extraordinariamente, ainda durante o estágio probatório, Altera dispositivos da Lei Nº 9.826, de 14 de maio de 1974.
diante da ocorrência de algum fato dela motivador, sem prejuízo O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ.
da avaliação ordinária; FAÇO SABER QUE A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DECRETOU
b) ordinariamente, logo após o término do estágio E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI:
probatório, devendo a comissão ater-se exclusivamente ao
desempenho do servidor durante o período do estágio. Art. 1º O § 6º do art. 27 da Lei nº 9.826, de 14 de maio de
§ 3º Além de outros específicos indicados em lei ou 1974, passa a vigorar com a seguinte redação:
regulamento, os requisitos de que trata este artigo são os “Art. 27. ...
seguintes: § 6º Fica vedada qualquer espécie de afastamento dos
I - adaptação e dedicação do servidor ao trabalho, verificada servidores em estágio probatório, ressalvados os casos previstos
por meio de avaliação da capacidade e qualidade no nos incisos I, II, III, IV, V, VI, VIII, IX, X, XII, XIII, XV, XVI, XVII e XXI
desempenho das atribuições do cargo; do art. 68 da Lei nº 9.826, de 14 de maio de 1974.” (NR)
II - equilíbrio emocional e capacidade de integração;
III - respeito à dignidade e integridade física do ser humano; Art. 2º O art. 120 da Lei nº 9.826, de 14 de maio de 1974,
IV - cumprimento dos deveres e obrigações do servidor passa a vigorar com a seguinte redação:
público, inclusive com observância da ética profissional. “Art. 120. O funcionário somente poderá receber nova
§ 4º O estágio probatório corresponderá a uma autorização para o afastamento previsto nesta Seção após
complementação do concurso público a que se submeteu o decorrido pelo menos um ano do efetivo exercício, contado da
servidor, devendo ser obrigatoriamente acompanhado e data em que reassumiu, em decorrência do término do prazo
supervisionado pelo Chefe imediato. autorizado ou por motivo de desistência ou de cassação da
§ 5º Durante o estágio probatório, os cursos de treinamento autorização concedida.” (NR)
para formação profissional ou aperfeiçoamento do servidor,
promovidos gratuitamente pela Administração, serão de Art. 3º Fica acrescido na Lei nº 9.826, de 14 de maio de 1974,
participação obrigatória e o resultado obtido pelo servidor será o §10 do art. 27, com a seguinte redação:
considerado por ocasião da avaliação especial de desempenho, “Art. 27. ...
tendo a reprovação caráter eliminatório. § 10. Na hipótese de afastamento do servidor em estágio
§ 6º O servidor em estágio probatório não fará jus a probatório para os fins previstos no incisos V, VI, VIII, IX, X, XIII,
ascensão funcional. XV, XVI, XVIII e XIX do art. 68, fica suspenso o estágio probatório
§ 7º As faltas disciplinares cometidas pelo servidor após o durante o período de afastamento, retornando o cômputo após
decurso do estágio probatório e antes da conclusão da avaliação retorno ao exercício efetivo, pelo prazo correspondente ao
especial de desempenho serão apuradas por meio de processo afastamento.”(NR)
administrativo-disciplinar, precedido de sindicância, esta
quando necessária. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação,
§ 8º São independentes as instâncias administrativas da com efeitos retroativos a 1º de janeiro de 2007, em relação ao
avaliação especial de desempenho e do processo administrativo- disposto no art. 1º.
disciplinar, na hipótese do parágrafo anterior, sendo que Art. 5º Ficam revogados o inciso I do art. 65 e o inciso I,
resultando exoneração ou demissão do servidor, em qualquer alíneas “a”, “b” e “c” do art. 66 da Lei nº 9.826, de 14 de maio de
dos procedimentos, restará prejudicado o que estiver ainda em 1974.
andamento.”
“Art. 18. O servidor que durante o estágio probatório não PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO DO
satisfizer qualquer dos requisitos previstos no § 3º do artigo CEARÁ, em Fortaleza, 29 de dezembro de 2014.
anterior, será exonerado, nos casos dos itens I e II, e demitido nas
hipóteses dos itens III e IV. Cid Ferreira Gomes
§ 1º O ato de exoneração ou de demissão do servidor em GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ
razão de reprovação na avaliação especial de desempenho será Antônio Eduardo Diogo de Siqueira Filho
expedido pela autoridade competente para nomear. SECRETÁRIO DO PLANEJAMENTO E GESTÃO
§ 2º O ato administrativo declaratório da estabilidade do Fernando Antônio Costa de Oliveira
servidor no cargo de provimento efetivo, após cumprimento do PROCURADOR GERAL DO ESTADO
estágio probatório e aprovação na avaliação especial de
desempenho, será expedido pela autoridade competente para
nomear, retroagindo seus efeitos à data do término do período
do estágio probatório.”.

6 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-
tematica/trabalho-administracao-e-servico-publico/item/5127-lei-n-15-744-de-
29-12-14-d-o-30-12-14 Acesso: 25/07/2018 às 11h:45min

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LEI N.º 15.909, DE 11.12.157


6.4.Carreira do Magistério-
Altera a LEI Nº 13.991, DE 5 DE NOVEMBRO DE 2007.
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ. Concurso, provimento, carga
FAÇO SABER QUE A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DECRETOU horaria e jornada de
E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI: trabalho(Lei nº10.884/1984,
Art. 1º Fica alterado o art. 2º da Lei nº 13.991, de 5 de Lei 12.066/1993, Lei nº
novembro de 2007, que passa a ter a seguinte redação: 14.404/2009)
“Art. 2º O Conselho Estadual de Acompanhamento e
Controle Social do FUNDEB terá a seguinte composição:
I – 3 (três) representantes do Poder Executivo Estadual, LEI Nº 10.884, DE 02.02.848
respectivamente, da Secretaria da Educação – SEDUC, da
Secretaria da Fazenda – SEFAZ, e da Secretaria do Dispõe sobre o Estatuto do Magistério Oficial do Estado.
Planejamento e Gestão – SEPLAG; GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ
II – 2 (dois) representantes dos Poderes Executivos FAÇO SABER QUE A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DECRETOU
Municipais; E EU SANCIONO E PROMULGO A SEGUINTE LEI:
III – 1 (um) representante do Conselho Estadual de TÍTULO I
Educação; CAPÍTULO ÚNICO
IV – 1 (um) representante da União Nacional dos Dirigentes DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Municipais de Educação – UNDIME/CE;
V – 1 (um) representante da seccional estadual da Art. 1º - Esta Lei dispõe sobre a organização e o
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – disciplinamento das atividades do magistério no ensino de 1º e
CNTE; 2º Graus, estruturação de sua carreira e complementação de seu
VI – 2 (dois) representantes dos pais de alunos da educação regime jurídico.
pública;
VII – 2 (dois) representantes dos estudantes da educação Art. 2º - Para efeito desta Lei entende-se:
básica pública, 1 (um) dos quais indicado pela entidade estadual I - por pessoal do magistério o conjunto de professores e
de estudantes secundaristas.” (NR) especialistas em educação que atuam nas unidades escolares e
nos órgãos de educação.
Art. 1º-A. Fica acrescentado o seguinte § 3º ao art. 3º da Lei II - por funções do magistério as de docência, direção,
nº 13.991, de 5 de novembro de 2007, com a seguinte redação: planejamento, supervisão, inspeção, coordenação,
“Art. 3º ... acompanhamento, controle, avaliação, orientação, ensino e
... pesquisa.
§ 3º Representantes do Conselho Estadual de Direitos da
Criança e do Adolescente, do Conselho Tutelar, do Ministério Art. 3º - O pessoal do magistério compreende as categorias:
Público Estadual e do Poder Legislativo Estadual poderão I - Pessoal Docente;
acompanhar os trabalhos do Conselho, participando inclusive, II -Pessoal Especialista.
como observadores, de suas reuniões, assegurada a autonomia Parágrafo único - A competência do pessoal do magistério
do Conselho.” (NR) decorre, em cada grau de ensino, das disposições próprias das
leis estaduais e federais, dos regulamentos e regimentos.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
TÍTULO II
Art. 3º Ficam revogadas as disposições em contrário. DAS GARANTIAS DO MAGISTÉRIO
PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO DO Art. 4º - É assegurado ao Magistério:
CEARÁ, em Fortaleza, 11 de dezembro de 2015. I - paridade de vencimentos com o fixado para outras
categorias funcionais que exijam igual nível de formação;
Camilo Sobreira de Santana II - Igual tratamento para efeitos didáticos e técnicos, entre
o professor e o especialista subordinados ao regime das Leis do
GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ trabalho e os admitidos no regime do serviço público;
III - Não discriminação entre professores em razão do
conteúdo curricular da matéria que ensina ou do regime de
trabalho que adotam;
IV - Oportunidade de aperfeiçoamento do professor e do
especialista, através de cursos, mediante planejamento
apropriado;
V - Estruturação do Grupo de Cargos do Magistério do 1º e
2º Graus, através de avanços na carreira;
VI - Prazo máximo de 90 (noventa) dias para o início do
pagamento dos avanços verticais resultantes de maior soma de
títulos ou de aperfeiçoamento, a contar da data de sua
comprovação, devidamente reconhecida pela autoridade
competente.

7 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao- 8 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-
tematica/educacao/item/4201-lei-n-15-909-de-11-12-15-d-o-11-12-15 Acesso tematica/educacao/item/222-lei-n-10-884-de-02-02-84-d-o-de-03-02-84-dispoe-
em: 15/07/2018 às 11h:15min sobre-o-estatuto-do-magisterio-oficial-do-estado Acesso em: 25/07/2018 às
12h:00min

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TÍTULO III atividades administrativas e educacionais sob sua


DAS ATIVIDADES DO MAGISTÉRIO responsabilidade.
CAPÍTULO I
DO ENSINO SEÇÃO II
DO SUPERVISOR ESCOLAR
Art. 5º - As atividades de ensino são exercidas por
professores e Especialistas em Educação admitidos na forma Art. 14 - O Supervisor Escolar é o especialista com
desta Lei e de outras normas reguladoras da espécie. licenciatura e habilitação em Supervisão Escolar, obtida em
curso superior de graduação ou pós-graduação.
CAPÍTULO II
DO PROFESSOR E DE SUAS FUNÇÕES Art. 15 - Compete ao Supervisor Escolar prestar assistência
técnico-pedagógica à comunidade educacional visando à
Art. 6º - Professor é o docente integrante do Grupo do melhoria do processo ensino-aprendizagem.
Magistério.
Parágrafo único. Fica criado o cargo de Professor Indígena, SEÇÃO III
sendo estendido a ele todos os direitos e garantias previstos DO ORIENTADOR EDUCACIONAL
nesta Lei, até que lei posterior específica regulamente. (Redação
dada pela Lei n.º 16.025, de 30.05.16) Art. 16 - Orientador Educacional é o especialista com
licenciatura e habilitação em Orientação Educacional obtido em
Art. 7º - No desempenho de suas funções, o Professor deverá curso superior de graduação e de pós-graduação.
integrar-se na moderna filosofia de ensino, visando a
proporcionar ao educando a formação necessária ao Art. 17 - Compete ao Orientador Educacional assistir o aluno
desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de no desenvolvimento de sua personalidade à base de
auto-realização, preparação para o trabalho e para o exercício conhecimentos científicos, tendo em vista suas aptidões,
consciente da cidadania. peculiaridades físicas e mentais e adaptação ao meio social.

Art. 8º - As funções do professor são as estabelecidas nesta SEÇÃO IV


Lei e no Regimento de cada unidade escolar. DO INSPETOR ESCOLAR

Art. 9º - As funções docentes serão exercidas nas diversas Art. 18 - Inspetor Escolar é o Especialista com licenciatura e
séries do 1º e 2º graus por professores que apresentem a habilitação em Inspeção Escolar feita em curso superior de
seguinte formação mínima: graduação ou de pós-graduação.
I - até a 4ª série do Ensino de 1º Grau, habilitação específica
de 2º Grau, obtida em três séries; Art. 19 - Compete ao Inspetor Escolar inspecionar e orientar
II - até a 6ª série do Ensino de 1º Grau, habilitação específica as escolas do 1º e do 2º graus, das redes pública e particular,
do 2º Grau, acrescida de um ano letivo de estudos adicionais; visando ao cumprimento das normas legais que lhes forem
III - até a 8ª série do Ensino de 1º Grau, habilitação específica aplicáveis.
obtida em curso superior de graduação de curta duração;
IV - até a 2ª série do Ensino de 2º Grau, a habilitação de que CAPÍTULO IV
trata o inciso anterior acrescida de, no mínimo, um ano letivo de DA ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR
estudos adicionais;
V - em todo o Ensino de 1º e 2º Graus, habilitação específica Art. 20 - A Administração Escolar, no ensino de 1º e 2º Graus,
obtida em curso superior de graduação correspondente a compreende as atividades inerentes à coordenação de turnos, à
Licenciatura Plena. direção, assessoramento e assistência em unidades escolares
com atribuições básicas pertinentes ao ensino e à administração
CAPÍTULO III em unidades da Secretaria de Educação, ligados
DOS ESPECIALISTAS E DE SUAS FUNÇÕES especificamente à Educação.

Art. 10 - Especialistas em Educação são os integrantes do Art. 21 - A Direção Escolar de 1º e do 2º Graus compreende
Grupo Magistério com licenciatura e habilitação específica de a Congregação, o Conselho Técnico Administrativo e a Diretoria.
grau superior.
Art. 22 - A Congregação é o órgão deliberativo constituído
Art. 11 - Entende-se como Especialista em Educação, além de de todos os profissionais do Magistério, em efetivo exercício, na
outros que venham a ser admitidos, o Administrador Escolar, o Unidade Escolar.
Supervisor Escolar, o Orientador Educacional e o Inspetor Parágrafo único - O Presidente da Congregação é o Diretor
Escolar, observados os artigos 29, 33, 40 e 84 da Lei Federal nº da Unidade Escolar, substituído em suas faltas ou impedimentos
5.692, de 11 de agosto de 1971. pelo Vice-Diretor, designado pelo Diretor.

SEÇÃO I Art. 23 - São atribuições da Congregação:


DO ADMINISTRADOR ESCOLAR I - Aprovar o anteprojeto de regimento para ser enviado ao
Conselho de Educação do Ceará;
Art. 12 - Administrador Escolar é o especialista com II - Homologar os nomes dos indicados para compor o
licenciatura e habilitação em Administração Escolar, feita em Conselho Técnico-Administrativo;
curso superior de graduação ou de pós-graduação. III - Deliberar sobre qualquer assunto que lhe seja submetido
Parágrafo único - O Administrador Escolar poderá ser pelo Conselho Técnico-Administrativo ou pela Diretoria da
investido em cargo comissionado, observado o disposto no Art. Unidade Escolar;
28 e seus parágrafos da presente Lei. IV - Organizar a lista tríplice para escolha do Diretor da
Unidade Escolar, dentre os professores ou especialistas
Art. 13 - Compete ao Administrador Escolar planejar, devidamente habilitados para a função.
organizar, dirigir, acompanhar e avaliar a execução das

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Art. 24 - O Conselho Técnico-Administrativo é o órgão § 2º - Cada Unidade Escolar, integrante de um Complexo,


deliberativo que se constituirá de: terá um Vice-diretor e, funcionando em mais de dois turnos, três
I - Diretor; Vice-diretores.
II - Vice-diretor;
III - Um representante de cada Área de Estudo; TÍTULO IV
IV - Um representante do serviço de Supervisão Escolar; DO REGIME DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DO
V - Um representante do serviço de Orientação Educacional; MAGISTÉRIO
VI - Um representante dos Pais; CAPÍTULO I
VII - Um representante do Corpo Discente; DOS PROFESSORES
VIII - Um representante da Comunidade;
IX - Um representante dos Funcionários. Art. 32 - O regime de atividade semanal do Professor será de
Parágrafo único - O Presidente do Conselho é o Diretor da 20 ou 40 horas.
Unidade Escolar, substituído em suas faltas ou impedimentos Parágrafo único - O regime de atividade de 40 horas
pelo Vice-diretor, por ele designado. semanais será regulado por Decreto do Chefe do Poder
Executivo.
Art. 25 - Compete ao Conselho Técnico-Administrativo:
I - Elaborar o anteprojeto do Regimento da Unidade Escolar; Art. 33 - Da carga horária semanal para docente, 1/5 (um
II - Organizar o currículo pleno e aprovar o calendário quinto) será utilizado em atividades extraclasse, na escola.
escolar;
III - Emitir parecer sobre os programas de ensino e planos de Art. 34 - É vedado ao Professor utilizar as horas-atividade
curso; em serviços estranhos às suas funções.
IV - Exercer as demais atribuições estabelecidas no
Regimento. Art. 35 - O docente em regência de classe é obrigado a
cumprimento do número de horas-aula, segundo o calendário
Art. 26 - O Regimento da Unidade Escolar disciplinará o escolar, devendo recuperá-las quando, por motivo de força
funcionamento da Congregação e do Conselho Técnico- maior, estiver impossibilitado de comparecer ao
Administrativo. estabelecimento, exceto se afastado por força de dispositivo
legal.
Art. 27 - Das decisões do Conselho Técnico-Administrativo § 1º - A Unidade Escolar procederá, mensalmente, ao
cabe recurso, sem efeito suspensivo, para a Congregação e desta levantamento das faltas dadas por regentes de classe e
para o Secretário de Educação ou Conselho de Educação do organizará o calendário das aulas complementares devidas, a
Ceará, conforme o caso objeto do recurso. título de recuperação.
§ 2º - Enquanto o número de horas-aula dos docentes não
Art. 28 - A Direção da Escola será exercida pelo Diretor e estiver completo, não se dará a conclusão do ano letivo, na
Vice-Diretores, devidamente habilitados, nomeados por ato do atividade, área de estudo ou disciplina em que se verificar a
Poder Executivo, para mandato de dois (02) anos, permitidas ocorrência.
suas reconduções. § 3º - As horas-aula não recuperadas no decorrer de cada
§ 1º - O Diretor será escolhido pelo Chefe do Poder Executivo ano letivo serão passíveis de desconto no vencimento, devendo o
dentre os componentes da lista sêxtupla, organizada pela Diretor da Unidade Escolar encaminhar para as providências
congregação e os Vice-Diretores em lista sêxtupla, organizada cabíveis, ao setor competente da Secretaria de Educação, a
pelo Diretor. relação das faltas dos que deixaram de satisfazer as exigências
§ 2º - A Direção de escola recém criada será designada pelo deste artigo.
Chefe do Poder Executivo, por indicação do Delegado Regional
de Educação, por um período de (06) seis meses, quando se Art. 36 - O Professor que não esteja exercendo atividade
procederá como estabelece o parágrafo primeiro deste artigo. docente terá regime de trabalho conforme o estabelecido para
§ 3º - Exigir-se-á do Diretor a habilitação específica em os demais servidores regidos pelo Estatuto dos Funcionários
Administração Escolar ou Registro de Diretor expedido pelo Públicos Civis do Estado.
Ministério da Educação e Cultura.
§ 4º - Decreto do Chefe do Poder Executivo regulamentará o CAPÍTULO II
processo de elaboração da lista sêxtupla de que trata o DOS ESPECIALISTAS
parágrafo 1º deste artigo, constando deste Decreto a obrigação
de que cada membro da congregação escolherá apenas um Art. 37 - O regime de trabalho dos Especialistas é o
nome, sendo os seis nomes mais votados os componentes da lista consignado no Art. 32 desta Lei.
sêxtupla referida neste artigo. Parágrafo único - Os Especialistas que não estejam
exercendo atividades inerentes às suas funções têm o mesmo
Art. 29 - O Diretor e o Vice-diretor farão jus a uma regime de trabalho estabelecido no art. 36 desta Lei.
retribuição financeira conforme o disposto em Lei.

Art. 30 - A retribuição do Vice-diretor corresponderá a 70% TÍTULO V


(setenta por cento) da que percebe o Diretor. DOS DIREITOS, VANTAGENS E DEVERES
CAPÍTULO I
Art. 31 - Os Complexos Escolares, na conformidade de que DOS DIREITOS
dispõe o art. 3º da Lei Federal nº 5.692/71, terão um Diretor
incumbido de coordenar as atividades dos diversos Art. 38 - Aos profissionais de magistério, além dos direitos,
estabelecimentos que os integram. vantagens e autorizações capitulados no Estatuto dos
§ 1º - O cargo de Diretor de Complexos Escolares será Funcionários Públicos Civis do Estado, assegurar-se-ão:
exercido por especialista em Administração Escolar, com no I - Remuneração condigna;
mínimo dois (02) anos de efetivo exercício na especialização. II - Participação em cursos de atualização, aperfeiçoamento,
especialização e qualificação;
III - Adequado ambiente de trabalho;

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APOSTILAS OPÇÃO

IV - Representação em órgãos colegiados relativos à Art. 44 - Na hipótese de mais de um profissional do


educação. magistério interessar-se pelo preenchimento de vaga única, a
preferência será dada ao de Classe mais elevada, e em igualdade
SEÇÃO I de condições, ao mais antigo do magistério público estadual.
DAS FÉRIAS
Art. 45 - O profissional do magistério, quando removido, não
Art. 39 - O Profissional do Magistério de 1º e 2º Graus gozará poderá deslocar-se para a nova sede antes da publicação do ato
30 (trinta) dias de férias anuais após o 1º semestre letivo e 15 no órgão oficial.
dias após o 2º período letivo. (Redação dada pelaLei Nº 12.066,
de 13.01.93) Art. 46 - No caso de remoção, o prazo para assumir o novo
§ 1º - O Professor e o Especialista que se ausentarem da sua exercício é de até (10) dias, quando de uma cidade para outra,
Unidade Escolar, fora do período de férias, por imperiosa contados da publicação do respectivo ato, incluindo-se o período
necessidade, deverão comunicar ao Diretor respectivo, para de deslocamento.
adoção das providências cabíveis. Parágrafo único - Considerar-se-á como de efetivo exercício
§ 2º - O Profissional do magistério que exerce atividades nos o período de que trata este artigo.
diversos setores da Secretaria de Educação ou em outro órgão
da administração Pública Estadual, gozará férias na forma que Art. 47 - O profissional do magistério não poderá ser
dispõe o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado, removido quando em gozo de licença de qualquer natureza,
inclusive com direito à contagem em dobro, se deixar de usufruí- salvo se a seu pedido.
las.
§ 3º - No período de recesso escolar, após o 2º semestre Art. 48 - A remoção do pessoal do magistério poderá
letivo, o servidor ficará a disposição da unidade de trabalho verificar-se entre Unidades Escolares do Interior e da Capital,
onde atua, para treinamento e/ou para realização de trabalhos desde que haja vaga, satisfazendo o interessado as exigências de
didáticos. (Redação dada pelaLei Nº 12.066, de 13.01.93) habilitação profissional.
§ 4º - Os períodos de férias não gozadas pelo pessoal do Parágrafo único - Somente após dois (02) anos de
magistério, serão computados em dobro para fins de progressão permanência em Unidades Escolares localizadas no interior do
horizontal, aposentadoria e disponibilidade, incluindo-se na Estado, poderá o profissional do magistério ser removido para
norma ora estabelecida, períodos referentes a anos anteriores, Unidade Escolar sediada na Capital, salvo se para acompanhar
quer já estejam averbados, ou não. o cônjuge, também funcionário público.
Os beneficiados por este artigo só poderão contar em dobro,
um mês de férias não gozadas no exercício. Art. 49 - O profissional do magistério cujo cônjuge, também
servidor público, for removido, terá exercício,
SEÇÃO II independentemente de vaga, em Unidades Escolares de seu novo
DO ACESSO E DA PROMOÇÃO domicílio.

Art. 40 - O Professor e o Especialista serão elevados: Art. 50 - O Secretário de Educação, ouvidos os


I - Mediante acesso; Departamentos próprios, expedirá Portaria disciplinando o
II - Mediante promoção. processo de remoção.
§ 1º - Acesso é a elevação do profissional do magistério de SEÇÃO IV
uma para outra Classe, em razão de título de nova habilitação DO AFASTAMENTO
profissional.
§ 2º - Promoção é a elevação do profissional do magistério Art. 51 - O afastamento do profissional do magistério do seu
de nível para outro na mesma Classe, tendo em vista cursos, cargo, função ou emprego, poderá ocorrer nos seguintes casos:
estágios, seminários, trabalhos publicados de teor educacional, I - para seu aperfeiçoamento, qualificação, especialização e
tempo de serviço. atualização;
§ 3º - A Promoção será regulada por Decreto do Chefe do II - para exercer as atribuições de cargo ou função de direção
Poder Executivo. em órgão do Serviço Público Federal, Estadual ou Municipal;
III - quando no exercício da Presidência, da Secretaria Geral
Art. 41 - Atendidos os requisitos legais e regulamentares, o e da 1ª Tesouraria de qualquer entidade de representação do
Acesso será concedido por ato do Chefe do Poder Executivo, no Magistério, reconhecida pelo Governo do Estado.
prazo máximo de 90 (noventa) dias, contados da entrada do § 1º - Em qualquer dos casos enumerados neste artigo, a
requerimento no órgão competente. solicitação de afastamento poderá ser atendida, a critério da
autoridade competente, desde que não cause prejuízo ao ensino.
SEÇÃO III § 2º - O ato de afastamento será da competência do Chefe do
DA REMOÇÃO Poder Executivo.

Art. 42 - Remoção é o deslocamento do profissional do SEÇÃO V


magistério de uma outra Unidade Escolar ou serviço. DA ACUMULAÇÃO

Art. 43 - Far-se-á remoção: Art. 52 - A acumulação de cargos, funções e empregos, dar-


I - A pedido, desde que não contrarie dispositivos legais nem se-á nos termos das Constituições Federal e Estadual.
as conveniências do ensino;
II - "Ex-ofício", no interesse da administração; SEÇÃO VI
III – Por permuta das partes interessadas, com anuência DO DIREITO DE PETIÇÃO
prévia dos Diretores das Unidades Escolares.
Parágrafo único - A remoção de professores das séries Art. 53 - É assegurado aos integrantes do grupo de cargos do
iniciais de 1º Grau, nos termos do art. 139 da Constituição do magistério o direito de requerer ou representar, obedecidas as
Estado far-se-á após parecer do Conselho de Educação do Ceará. normas estabelecidas no Estatuto dos Funcionários Públicos
Civis do Estado.

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SEÇÃO VII IV - Gratificação a professores de excepcionais;


DA DEVOLUÇÃO E DA REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA V - Gratificação por efetiva regência de Classe, de acordo
com o que dispõe a Lei Estadual nº 10.206, de 20 de setembro de
Art. 54 - Nenhum ocupante do cargo do magistério poderá 1978;
ser devolvido à autoridade competente sem prévia sindicância VI -; (Revogado pela Lei N° 14.431, de 31.07.09)
realizada pela Delegacia Regional de Educação respectiva, salvo VII - Gratificação por participação em bancas
se a pedido do interessado. examinadoras.
Parágrafo único - As vantagens referidas nos incisos III, IV,
Art. 55 - A carga horária, em nenhuma hipótese, poderá ser V, VI deste artigo integrarão os proventos do pessoal do
reduzida em detrimento de menor vencimento para o cargo do magistério que passar à inatividade, inclusive por motivo de
magistério, salvo se a pedido do interessado. doença nos casos especificados em Lei.

SEÇÃO VIII Art. 63 - A gratificação constante do item III do artigo


DA PREVIDÊNCIA E DA ASSISTÊNCIA anterior será atribuída pelo Secretário de Educação, não
podendo exceder a trinta por cento (30%) do respectivo
Art. 56 - O pessoal do magistério faz jus a todos os benefícios vencimento.
e serviços decorrentes da previdência e assistência assegurados § 1º - O Secretário de Educação, ouvidos os Departamentos
aos demais Funcionários Civis do Estado. respectivos, indicará as Unidades Escolares situadas em locais
Parágrafo único - O processo de concessão dos benefícios e de difícil acesso ou em lugares inóspitos.
serviços de que trata o presente artigo obedecerá à normas § 2º - A gratificação de que trata este artigo será cancelada,
estabelecidas no Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do se o profissional do magistério for removido para outra Unidade
Estado. Escolar não situada nos locais ou lugares referidos no parágrafo
anterior.
CAPÍTULO II
DA RETRIBUIÇÃO, DO VENCIMENTO E DAS VANTAGENS Art. 64 - A gratificação mencionada no item IV do Artigo 62,
SEÇÃO I desta Lei só é devida ao profissional que exerça, efetivamente, a
DISPOSITIVOS PRELIMINARES especialização, em regência de classe e corresponderá a trinta
por cento (30%) do vencimento do cargo.
Art. 57 - Todo profissional do magistério, em razão do
vínculo que mantém com o sistema Administrativo Estadual, Art. 65 - O integrante do magistério contemplado com bolsa
tem direito a uma retribuição pecuniária, na forma deste de estudo terá direito à percepção dos vencimentos integrais e
Estatuto. demais vantagens, enquanto durar o afastamento.
Parágrafo único - Para fazer jus ao disposto neste artigo, o
Art. 58 - Sendo a carreira do magistério escalonada segundo bolsista deverá comprovar junto ao setor competente da
a habilitação, serão considerados, na fixação do vencimento os Secretaria de Educação, sua frequência ao curso.
avanços vertical e horizontal constantes do Anexo único desta
Lei. Art. 66 - O Poder Executivo instituirá prêmios anuais para
serem concedidos a profissionais do magistério, pela autoria de
Art. 59 - Ao pessoal do magistério poderão ser concedidas obras de natureza educacional, conforme se dispuser em
diárias e ajudas de custo ou outras retribuições pecuniárias, regulamento.
conforme o caso, na forma deste Estatuto. Parágrafo único - Sob proposta do Secretário de Educação,
o Chefe do Poder Executivo poderá conceder auxílios financeiros
SEÇÃO II para qualquer atividade em que, ao seu arbítrio, reconheça o
DO VENCIMENTO interesse de aperfeiçoamento ou especialização, tais como
viagens de estudo em grupo de professores, Congressos,
Art. 60 - Vencimento é a retribuição correspondente à Classe Encontros, Simpósios, Convenções, Publicações Técnico-
e ao Nível do profissional do magistério, de acordo com o Científica ou Didáticas e Similares.
estabelecido em Leis e Regulamento.
Art. 67 - Fica assegurada ao professor a percepção de
SEÇÃO III Regência de Classe quando afastado da sala de aula por licença
DAS VANTAGENS especial e para tratamento de saúde.

Art. 61 - São vantagens do pessoal do magistério: Art. 68 - O Professor regido por este Estatuto ou por Lei
I - Gratificações; Especial, em efetiva regência de classe, poderá, a seu pedido, ter
II - Ajuda de custo; reduzido em cinquenta por cento (50%), o número de horas-
III - Diárias; atividades sem prejuízo dos seus vencimentos e demais
IV - Salário família; vantagens quando:
V - Auxílio doença; I - Atingir cinquenta (50) anos de idade;
VI - Auxílio funeral. II - Completar vinte (20) anos de exercício, se do sexo
feminino e vinte e cinco (25), se do sexo masculino.
SEÇÃO VI Parágrafo único - Aos Especialistas em Educação, quando
DAS VANTAGENS ESPECÍFICAS em função nas Unidades de Ensino, aplicar-se-á o disposto neste
artigo.
Art. 62 - São vantagens especiais do Pessoal do Magistério:
I - Bolsas de estudo, mediante indicação da Secretaria de SEÇÃO IV
Educação; DA APOSENTADORIA ESPECIAL
II - Prêmio pela produção de obra ou publicação de trabalho
de sua especialidade; Art. 69 - O Professor e o Especialista em Educação, regidos
III - Gratificação por atividade em locais inóspitos ou de por este Estatuto e por Lei Especial, serão aposentados,
difícil acesso; voluntariamente, aos trinta anos de efetivo exercício, se do sexo

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masculino, e vinte e cinco (25) anos de efetivo exercício, se do poderão ser aceitos caso a oferta se verifique através da
sexo feminino, de acordo com a Emenda Constitucional Estadual Secretaria de Educação nos seus planos de trabalho.
de número 18/81, e Constituição número 13/81.
Parágrafo único - Serão contadas em dobro a licença Art. 75 - No processo de seleção dos que deverão ser
especial e as férias não gozadas para efeito de aposentadoria indicados para frequentar cursos ou estágios, observar-se-ão os
especial. seguintes critérios:
I - Que haja afinidade entre os objetivos do curso ou estágio
Art. 70 - Ao pessoal do magistério aplicar-se-á, ainda, no que e as atividades exercidas pelo candidato;
couber e não colidir com este Estatuto, o disposto no capítulo VII II - Que a seleção se processe com prioridade, entre o pessoal
da Lei Estadual de nº 9.826, (Estatuto dos Funcionários Públicos do magistério com exercício nas Unidades de Ensino;
do Estado), de 14 de maio de 1974. III - Que o intervalo entre o curso ou estágio, porventura já
frequentado pelo candidato e outros por ele pretendidos,
CAPÍTULO III obedeça ao escalonamento que atenda aos interesses do ensino
DOS DEVERES do beneficiado;
IV - Que o candidato, no momento de submeter-se à seleção,
Art. 71 - O pessoal de magistério, em face de sua missão de não esteja afastado por qualquer motivo, nem à disposição de
educar, deve preservar os valores morais e intelectuais que outros órgãos da Administração Pública.
representa perante a sociedade, além de cumprir as obrigações
inerentes à profissão, como: Art. 76 - Mediante termo de responsabilidade previamente
I - Cumprir e fazer cumprir ordens de seus superiores firmado, o beneficiado com bolsa de estudo para curso ou
hierárquicos; estágios comprometer-se-á a permanecer em atividade de
II - Ser assíduo e pontual; magistério, no órgão ou Unidade Escolar para o qual for
III - Incutir, pelo exemplo, no educando, o espírito de respeito designado pela Secretaria de Educação, por um período mínimo
à autoridade, os princípios de justiça, de solidariedade humana de dois anos.
e de amor à pátria; Parágrafo único - O não cumprimento do disposto neste
IV - Guardar sigilo sobre assuntos de sua Unidade Escolar, artigo implicará na devolução aos cofres do Estado, pelo
que não devam ser divulgados; beneficiado, a título de indenização, de todas as despesas
V - Esforçar-se pela formação integral do educando; realizadas com a bolsa ou estágio, sendo a devolução
VI - Apresentar-se nos locais de seu trabalho em trajes proporcional, quando o descumprimento for parcial.
condizentes com a profissão e conforme o estabelecido no
Regimento de sua Unidade Escolar; Art. 77 - Durante o período letivo, o profissional do
VII - Proceder na vida pública e na particular de forma que magistério somente frequentará cursos ou estágios fora do
dignifique a classe a que pertence; Estado ou País, com a autorização prévia do Chefe do Poder
VIII - Tratar com urbanidade e respeito a todos os que o Executivo.
procurem notadamente em suas atividades profissionais;
IX - Sugerir em tempo, providências que visem à melhoria da TÍTULO VII
Educação; CAPÍTULO I
X - Cumprir todas as suas obrigações funcionais previstas em DAS PROIBIÇÕES
Lei e as decorrentes de exigências administrativas;
XI - Participar na elaboração de programas de ensino e Art. 78 - É proibido ao pessoal do magistério:
assistir às reuniões pedagógicas de sua Unidade Escolar; I - Promover manifestações de caráter político-partidário
XII - Participar de cursos, seminários e solenidades, quando nos locais de trabalho;
para eles convocado ou convidado; II - Incentivar greves ou a elas aderir;
XIII - Cumprir todas as determinações regimentais de sua III - Servir-se das atividades profissionais para a prática de
Unidade Escolar ou do setor onde estiver em exercício, bem como atos que atentem contra a moral e o decoro, ou ainda usar de
as emanadas da Secretaria de Educação. meios que possam gerar desentendimentos no ambiente escolar;
IV - Utilizar-se de seu cargo para a propaganda de idéias
TÍTULO VI contrárias aos interesses nacionais.
DO APERFEIÇOAMENTO PROFISSIOINAL
CAPÍTULO II
Art. 72 - O aperfeiçoamento profissional estabelecido no DAS SANÇÕES DISCIPLINARES
item IV do art. 4º desta Lei far-se-á através de cursos e estágios
de atualização e especialização, dentro ou fora do Estado. Art. 79 - Os profissionais do magistério submetem-se ao
Parágrafo único - A Secretaria de Educação promoverá a regime disciplinar estabelecido no Estatuto dos Funcionários
Seleção dos candidatos em condições de frequentar os cursos e Públicos Civis do Estado, nas condições nele estipuladas,
estágios mencionados neste artigo. inclusive no que se refere à sindicância e ao inquérito
administrativo.
Art. 73 - Os cursos e estágios deverão ser programados, de
preferência, para o período de recesso escolar ou em turno não Art. 80 - São competentes para aplicação de sanções:
coincidente com o de atividade profissional do integrante do I - O Diretor da Unidade Escolar, nos casos de Advertência e
magistério, quando realizados no local da Unidade Escolar onde suspensão de até oito (8) dias;
tenha exercício. II - O Diretor do respectivo Departamento, na suspensão de
Parágrafo único - Os cursos e estágios serão ministrados por até trinta (30) dias;
professores e/ou especialistas devidamente habilitados, III - O Secretário de Educação, na hipótese de suspensão de
permitindo, para esse fim, a celebração de convênios com até noventa (90) dias;
Universidades, Escolas Isoladas e outras Instituições. IV - O Governador do Estado, em qualquer caso,
especialmente, no de demissão, cassação de aposentadoria ou
Art. 74 - Os cursos e estágios oferecidos por entidades disponibilidade.
nacionais ou estrangeiras, não previstas nos planos periodicos,

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TÍTULO VIII habilitação específica de 2º Grau aos licenciados em Pedagogia


DO GRUPO DE CARGOS DO MAGISTÉRIO cujo currículo tenha sido integralizado na forma do Parecer nº
CAPÍTULO I 1.302/73, do Conselho Federal de Educação.
ESTRUTURAÇÃO
Art. 86 - O ingresso no grupo de Cargos do Magistério dar-
Art. 81 - Grupo de cargos do magistério é o conjunto de se-á sempre no Nível inicial da respectiva Classe.
Categoria Funcionais composta de cargos de Professores e
Especialistas agrupados em Classes e Níveis, com remuneração Art. 87 - Após o ingresso no grupo de Cargos do Magistério,
progressiva e escalonada a partir do grau de formação mínima o seu integrante permanecerá, durante dois (2) anos de efetivo
exigida para cada Classe. exercício, em estágio probatório, período em que deverá
Parágrafo único - O Grupo de que trata este artigo será comprovar as suas aptidões para o exercício do cargo no tocante
estruturado por meio de Decreto do Chefe do Poder Executivo. à assiduidade pontualidade, idoneidade moral e capacidade
Art. 82 - Entende-se por Classe o conjunto de cargos de profissional.
mesma natureza funcional e de idêntica habilitação. Parágrafo único - Durante o estágio probatório, o
§ 1º - As Classes de que trata este artigo tem a seguinte profissional do Magistério não terá direito a promoção ou
correspondência: acesso.
CLASSE A - Professor com habilitação específica de 2º Grau,
obtida em três (3) séries; Art. 88 - Os cargos de provimento efetivo que integram o
CLASSE B - Professor com habilitação específica de 2º Grau, Grupo Magistério serão providos mediante concurso público de
obtida em quatro (4) séries, ou em (3) séries, acrescidas de (1) provas e títulos, ressalvados os casos de provimento por acesso.
ano de estudos adicionais;
CLASSE C - Professor ou especialista com habilitação Art. 89 - É permitida a transferência do ocupante do cargo
específica de Curso Superior ao nível de graduação de professor para o cargo de especialista e vice-versa, atendendo
representada por licenciatura de 1º Grau, obtida em curso de ao que dispõe o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do
curta duração; Estado e à Legislação Educacional vigente.
CLASSE D - Professor ou especialista com habilitação
específica de Curso Superior ao nível de graduação CAPÍTULO III
representada por licenciatura de 1º Grau, obtida em curso de DO CONCURSO
curta duração, acrescida, no mínimo, de um (1) ano letivo de
estudos adicionais; Art. 90 (Revogado pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93)
CLASSE E - Professor ou especialista com habilitação Art. 91 (Revogado pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93)
específica, obtida em Curso Superior de graduação,
correspondente a licenciatura plena; Art. 92 - A inscrição será aberta pelo prazo de sessenta (60)
CLASSE F¹ - Professor ou especialista com habilitação dias, anunciado por edital em jornais de grande circulação no
específica obtida em curso superior de graduação Estado, que conterá as normas e instruções necessárias.
correspondente à licenciatura plena e curso de pós-graduação à § 1º - Somente poderão inscrever-se no concurso os
nível de especialização compatível com o cargo na habilitados profissionalmente, na forma das legislações federal
conformidade do parecer 14/77, do Conselho Federal de e estadual vigentes.
Educação; § 2º - No edital do concurso deverão constar as instruções,
CLASSE F² - Professor ou especialista, com habilitação as especificações e exigências sobre a matéria.
específica na área do Magistério, obtida em curso de Mestrado; § 3º - O candidato, no ato de inscrição, deverá declarar para
CLASSE F³ - Professor ou especialista, com habilitação qual município do Estado deseja concorrer.
específica na área do Magistério, obtida em curso de Doutorado.
§ 2º - Todas as Classes, além do nível inicial, terão seis (6) Art. 93 - O concurso será realizado sessenta (60) dias após o
avanços. término das respectivas inscrições, prazo este, prorrogável por
§ 3º - As Classes e Níveis de que trata este artigo são as do mais trinta (30) dias, a critério do Secretário de Educação.
Anexo I, parte integrante desta Lei.
§ 4º - Os atuais ocupantes do Quadro Permanente, do Grupo Art. 94 - (Revogado pelaLei Nº 12.066, de 13.01.93)
do Magistério, enquadram-se, automaticamente, na inicial da
Classe a que pertencem. Art. 95 (Revogado pelaLei Nº 12.066, de 13.01.93)

Art. 83 - Os Níveis em que se dividem as Classes, com exceção Art. 96 - O período de validade do concurso é de dois (2) anos,
do inicial, são destinados a promoções, tendo em vista cursos, contados do ato de sua homologação, podendo haver
estágios, seminários, congressos e trabalhos publicados na área prorrogação desse prazo por igual período, mediante ato do
educacional, tempo de serviço. Chefe do Poder Executivo.
Parágrafo único - Os critérios de avaliação de cursos,
estágios, seminários, congressos e trabalhos publicados serão Art. 97 - Nos concursos para o cargo de Professor serão
fixados pelo Secretário de Educação. especificados as séries e o grau de ensino que se fizerem
necessário ao preenchimento de vagas, devendo o respectivo
CAPÍTULO II edital mencionar a habilitação mínima exigida do candidato,
DO INGRESSO para a inscrição.

Art. 84 - O ingresso no grupo de Cargos do Magistério dar- CAPÍTULO IV


se-á mediante concurso público, processando-se este para SEÇÃO I
qualquer das Classes de Professor e Especialista, conforme DA NOMEAÇÃO
exijam as necessidades do ensino.
Art. 98 - A nomeação para provimento de cargo de
Art. 85 - Para a inscrição em concurso destinado ao Magistério se dará em caráter efetivo, mediante ato do Chefe do
preenchimento de vaga de Professor para as quatro (4) Poder Executivo, observada a ordem de classificação dos
primeiras séries do 1º Grau, fica dispensada a comprovação de

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candidatos aprovados e mediante apresentação dos documentos Parágrafo único - Aplica-se ao Professor Contratado regime
indispensáveis à investidura. de trabalho constante do Título IV, Capítulo I, deste Estatuto e,
no que couber, as demais normas nele estabelecidas.
SEÇÃO II
DA POSSE Art. 108 - (Revogado pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93)

Art. 99 - A posse dar-se-á no prazo de trinta (30) dias, Art. 109 - (Revogado pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93)
contados da publicação do ato da nomeação, podendo ser
dilatado por igual período, a requerimento do interessado. Art. 110 - (Revogado pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93)
§ 1º - São competentes para dar posse, os Delegados
Regionais de Educação, para cuja jurisdição o professor ou Art. 111 - Os ocupantes de cargo do Quadro Suplementar do
especialista tenha sido nomeado. Magistério terão, a partir da vigência deste Estatuto, prazo de
§ 2º - Será tornado sem efeito a nomeação, quando a posse 05 (cinco) anos para concluir habilitação específica.
não se verificar no prazo estabelecido neste artigo. § 1º - A Secretaria de Educação promoverá programa
SEÇÃO III especial a fim de ser atendido o disposto neste artigo.
DO EXERCÍCIO § 2º - O prazo previsto neste artigo poderá,
excepcionalmente, ser prorrogado por ato do Chefe do Poder
Art. 100 - O exercício terá início no prazo de trinta (30) dias Executivo.
contados da data da posse.
§ 1º - O exercício será dado pelo Diretor da Unidade Escolar Art. 112 - A admissão de servidores para o magistério
ou Chefe da Sub-unidade Administrativa para onde o público estadual será feita exclusivamente sob o regime deste
profissional tenha sido nomeado; Estatuto.
§ 2º - É vedado ao integrante do magistério ter exercício fora
da Unidade Escolar ou Sub-unidade Administrativa para onde Art. 113 - Para o cargo de Delegado Regional de Educação
tiver sido designado, salvo nos casos previstos neste Estatuto; será exigida a habilitação de nível superior na área de educação,
§ 3º - Quando se tratar de Unidade Escolar localizada no preferencialmente, em Pedagogia com especialização.
interior do Estado, considerar-se-á como efetivo exercício, o Parágrafo único - A exigência estabelecida neste artigo é a
período de tempo necessário ao deslocamento, o qual será de até partir de janeiro de 1985.
dez (10) dias;
§ 4º - O início, a interrupção e o reinício do exercício deverão Art. 114 -: (Revogado pelaLei Nº 12.066, de 13.01.93)
ser comunicados, por escrito, ao respectivo Departamento, para
efeito de registro nos assentamentos individuais dos TÍTULO X
profissionais do magistério. DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art. 101. (Revogado pelaLei Nº 12.066, de 13.01.93) DA APLICAÇÃO DO PLANO DE CLASSIFICAÇÃO DE
CARGOS
TÍTULO IX SEÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS DA APROVAÇÃO E IMPLANTAÇÃO

Art. 102 - O dia 15 de outubro é consagrado aos integrantes Art. 115 - (Revogado pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93)
do magistério e será comemorado oficialmente.
Art. 116 - (Revogado pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93)
Art. 103 - É reconhecida como entidade dos profissionais do
magistério a Associação dos Professores de Estabelecimentos SEÇÃO II
Oficiais do Ceará. DA TRANSPOSIÇÃO E DA TRANSFORMAÇÃO

Art. 104 - O Estado poderá proporcionar meios para que os Art. 117 - Para efeito desta Lei considera-se:
integrantes do magistério participem de excursão cultural, nos I - TRANSPOSIÇÃO - o deslocamento de um cargo existente,
períodos de férias regulares, e estimulará publicações periódicas para outro cargo de provimento efetivo da mesma ou diferente
científicas de interesse da educação. denominação, com atribuições idênticas no Grupo de Cargos do
Magistério.
Art. 105 - Ao integrante do magistério que haja prestado II - TRANSFORMAÇÃO - A alteração das atribuições e
relevante serviços à causa da educação será concedido, pela denominação de um cargo para outro de provimento no Grupo
Secretaria de Educação, o título de EDUCADOR EMÉRITO. de Cargos do Magistério.
Parágrafo único - O título de que trata este artigo será Parágrafo único - Consideram-se, também, cargos os
entregue em ato solene, no dia 15 de outubro. empregos sob contrato e as funções remanescentes das extintas
Tabelas, nos termos do § 2º do Art. 160 da Constituição Federal,
Art. 106 - Os professores e Especialistas inativos do Grupo do de 15 de março de 1967, com a redação dada no Artigo 194 pela
Magistério terão seus proventos automaticamente reajustados, Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969.
inclusive com relação à vantagem pessoal nominalmente
identificável, guardando-se para tanto, na fixação da parcela Art. 118 - As linhas de transposição, bem como as normas
correspondente ao vencimento, idêntica proporcionalidade com reguladoras das transformações, serão objetos de Decreto do
as majorações estabelecidas para os servidores de igual cargo Chefe do Poder Executivo, obedecidos os critérios estabelecidos
ou função. nesta Lei.

Art. 107 -: (Revogado pela Lei Nº 12.066, de 13.01.93) SEÇÃO III


I - Substituir os titulares legalmente afastados; DO ENQUADRAMENTO
II - Atender às necessidades decorrentes da melhoria e
expansão do ensino; Art. 119 - Os atuais ocupantes de cargos do Quadro I - Poder
III - Executar tarefas de natureza técnica e científica, Executivo - Grupo Ocupacional Magistério - passarão a ocupar
quando o exigirem as necessidades do ensino ou da pesquisa.

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cargos de provimento efetivo, previsto no Grupo de Cargos do 1980, assegurar-se-á a gratificação por quinqüênio de efetiva
Magistério, mediante: regência de Classe.
I - Enquadramento por transposição: Parágrafo único - O início do período quinquenal da
a - dos atuais ocupantes de cargos e funções, nomeados ou gratificação que alude este artigo será contado a partir da
admitidos para atividades de magistério no serviço público vigência da Lei nº 10.206, de 20 de setembro de 1978, publicado
estadual; no Diário Oficial do Estado de 25 de setembro de 1978.
b - dos atuais ocupantes de empregos, contratados em
virtude de habilitação em concurso público ou prova seletiva de Art. 127 - Poderá exercer a função de Diretor de
caráter público e eliminatório; estabelecimento de ensino de 1º e do 2º Graus o portador de
c - dos atuais ocupantes de empregos, que tenham adquirido licença precária expedida pelo Conselho de Educação do Ceará.
estabilidade no serviço público, no exercício das atribuições de
cargos constantes das linhas de transposição; Art. 128 - Fica criada uma Comissão Paritária Permanente
II - Enquadramento por transformação: de Pessoal do Magistério (CPPM), constituída de representantes
a - dos atuais ocupantes de cargos e funções para outro do Governo do Estado, da Secretaria de Educação, de Professores
cargo mediante prévia habilitação em prova seletiva interna; e Especialistas, estes indicados por suas Associações de Classe,
b - dos atuais ocupantes de empregos, que tenham adquirido com a finalidade de acompanhar a aplicação deste Estatuto.
estabilidade no serviço público mediante prévia habilitação em
prova seletiva interna. Art. 129 - Até 31 de dezembro de 1984, o poder Executivo,
implantará, progressivamente, a estruturação das carreiras do
Art. 120 - Os atuais ocupantes de cargos, funções e empregos Magistério, a complementação de seu regime jurídico e os
do Quadro I - Poder Executivo Amparados pelo artigo 122, da demais institutos previstos nesta Lei.
Lei nº 10.374, de 20 de dezembro de 1979, passarão a constituir
o QUADRO ISOLADO, EXTINTO QUANDO VAGAR, definido em Art. 130 - Esta Lei entrará em vigor a 1º de janeiro do ano
três (03) Grupos, com quatro escalas de vencimentos, conforme de 1984, ficando revogadas as disposições legais ou
anexo II, desta Lei, com os seguintes critérios, para efeito de regulamentares que implicitamente ou explicitamente colidam
vencimentos: com o presente Estatuto, especialmente os artigos 1º, 2º e 3º e
I - Antigos Professores índices 135 e 190, no Grupo 1, Quadro seus parágrafos, da Lei número 9.050, de 28 de maio de 1968, e
Isolado; a Lei nº 9.825, de 10 de maio de 1974.
II - Antigos Professores e Especialistas índices 260, 270 e 280,
no Grupo 2, Quadro Isolado; PALÁCIO DA ABOLIÇÃO DO GOVERNO DO ESTADO DO
III - Antigos Professores e Especialistas índices 300, 320, 340 CEARÁ, em Fortaleza, aos 02 de fevereiro de 1984.
e 360, no Grupo 3, Quadro Isolado. LUIZ DE GONZAGA FONSECA MOTA
Parágrafo único - Os Profissionais do Magistério referidos Governador do Estado
neste artigo obterão seu enquadramento no quadro permanente Valdemar Nogueira Pessoa
através de transposição quando apresentarem os Nilo Sérgio Viana Bezerra
correspondentes documentos de habilitação.
Questões
Art. 121 - Aos atuais ocupantes dos cargos de Professor,
antigos níveis F, M, O e P e os já implantados no índice 135, que 01.Segundo o que dispõe a lei 10.884/84 podemos
na data da vigência desta Lei, contarem no mínimo vinte (20) afirmar:
anos de exercício no magistério, se do sexo feminino, ou vinte e “É assegurado ao Magistério: paridade de vencimentos
cinco (25) anos, se do sexo masculino, fica assegurado o direito com o fixado para outras categorias funcionais que exijam
de serem despadronizados, aplicando-se lhes, para efeito de igual nível de formação”
vencimentos, o número IV, do Grupo 1, do Quadro Isolado. ( ) Certo ( ) Errado

Art. 122 - As Substitutas Efetivas estáveis serão enquadradas 02. Segundo o que dispõe a lei 10.884/84 podemos
no Grupo de Cargos do Magistério, conforme dispõe esta Lei e afirmar:
segundo a sua habilitação. “Poderá exercer a função de Diretor de estabelecimento de
ensino de 1º e do 2º Graus o portador de licença precária
Art. 123 - Os atuais Inspetores Escolares de 1º e 2º Graus expedida pelo Conselho de Educação do Ceará”.
contratados por força do Concurso Público, conforme edital de ( ) Certo ( ) Errado
número 02/77, publicado no Diário Oficial do Estado, em 17 de
outubro de 1977, da Secretaria de Educação e constantes da Gabarito
lista classificatória, serão classificados mediante prévia
habilitação processual, por Decreto Nominativo, do Chefe do 01.Certo/ 02.Certo
Poder Executivo, no número IV, do Grupo 3, do Quadro Isolado.
LEI Nº 12.066, DE 13.01.939
Art. 124 - Os Monitores Contratados (leigos) serão
enquadrados como Professor Contratado, por Decreto do Chefe Aprova a estrutura do Grupo Ocupacional Magistério de 1º
do Poder Executivo, após apresentação de curso pedagógico. e 2º Graus - MAG, institui o Sistema de Carreira do Magistério
oficial de 1º e 2º Graus do Estado e dá outras providências.
Art. 125 - Os atuais ocupantes dos níveis finais de sua
carreira ou índices, enquadram-se automaticamente na final de O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ
sua Classe ou Grupo a que pertencerem. FAÇO SABER QUE A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DECRETOU
E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI:
Art. 126 - Aos Professores e Orientadores de Aprendizagem
contratados, regidos pela Lei nº 10.472, de 15 de dezembro de

9 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-
tematica/educacao/item/881-lei-n-12-066-de-13-01-93-d-o-de-15-01-93 Acesso
em: 25/07/2018

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Art. 1º - Ficam aprovados a Estrutura e o Sistema de § 1º A primeira etapa, de realização obrigatória, terá
Carreiras do Grupo Ocupacional Magistério de 1º e 2º Graus - caráter eliminatório e classificatória, e consistirá em provas
MAG, parte integrante do Plano de Cargos e Carreira da escritas. (Redação dada pela Lei N° 14.404, de 09.07.09)
Administração Direta e Autarquias. § 2º A segunda etapa, de realização obrigatória, terá
caráter eliminatório e classificatório, e consistirá em provas
Art. 2º - A estrutura do Grupo Ocupacional Magistério de 1º práticas. (Redação dada pela Lei N° 14.404, de 09.07.09)
e 2º Graus - MAG e o Sistema de Carreira do Magistério Oficial § 3º A terceira etapa, de realização discricionária, consistirá
do Estado contém os seguintes elementos básicos: em programa de capacitação profissional, de caráter
I - Cargo Público - conjunto de atribuições, deveres e eliminatório e classificatório, ou somente classificatório, e
responsabilidades de natureza permanente cometidas ou dependerá, para a sua realização, de previsão expressa em
cometíveis a um servidor público, com as características edital, que disporá inclusive sobre o respectivo caráter.
essenciais de criação por Lei, denominação própria, número (Redação dada pela Lei N° 14.404, de 09.07.09)
certo e pagamento pelos cofres públicos, de provimento em § 4º A quarta etapa, de caráter unicamente classificatório,
caráter efetivo ou em comissão. consistirá em prova de títulos. (Redação dada pela Lei N°
II - Função Pública - conjunto de atribuições, deveres e 14.404, de 09.07.09)
responsabilidades cometidas a um servidor público, cuja
extinção dar-se-á quando vagar. Art. 9º - No Edital de abertura do concurso público
III - Classe - conjunto de cargos/funções da mesma natureza constarão, obrigatoriamente, o programa das disciplinas, a área
funcional e semelhantes quanto aos graus de complexidade e de atuação do profissional recrutado e o caráter de ensino.
nível de responsabilidade.
IV - Carreira - conjunto de classes da mesma natureza Art. 10. O concurso público para provimento dos cargos do
funcional e hierarquizadas segundo o grau de responsabilidade Grupo Ocupacional Magistério- MAG, será promovido pela
e complexidade a elas inerentes, para desenvolvimento do Secretaria da Educação - SEDUC, com a supervisão da Secretaria
servidor nas classes dos cargos/funções que a integram. do Planejamento e Gestão. (Redação dada pela Lei N° 14.404, de
V - Referência - nível vencimental integrante da faixa de 09.07.09)
vencimentos fixado para a classe e atribuído ao ocupante do Parágrafo único. Para a realização do concurso previsto no
cargo/função em decorrência do seu progresso salarial. caput, a Secretaria da Educação poderá contratar instituição
VI - Categoria Funcional - conjunto de carreiras agrupadas pública ou privada idônea, obedecendo as prescrições da Lei de
pela natureza das atividades e pelo grau de conhecimento Licitações. (Redação dada pela Lei N° 14.404, de 09.07.09)
exigível para o seu desempenho.
VII - Grupo Ocupacional - conjunto de Categorias Funcionais Art. 11 - São vedadas e, se realizadas, consideradas nulas de
reunidas segundo a correlação e afinidade existentes entre elas pleno direito as nomeações que contrariem as disposições
quanto à natureza do trabalho e/ou o grau de conhecimentos. contidas no Artigo 8º e parágrafos, desta Lei.

Art. 3º - A estruturação do Grupo Ocupacional Magistério de Art. 12 - A carga horária de trabalho do Profissional do
1º e 2º Graus e das carreiras, dos cargos/funções e das classes se Magistério será de 40 horas semanais, ressalvado o direito
constitui de: daqueles cuja carga horária seja inferior a fixada neste Artigo.
I - Estrutura e Composição do Grupo Ocupacional, das § 1º Da carga horária semanal do docente, 1/3 (um terço)
Categorias Funcionais e das Carreiras; será utilizado em atividades extraclasse na Escola. (Nova
II - Estrutura das Classes Singulares; redação dada pela Lei n.º15.575, de 07.04.14)
III - Linhas de Transposição; § 2º - Os servidores que atualmente têm carga horária
IV - Linhas de Promoção e Acesso; diferente da fixada neste Artigo, poderão optar pela alteração
V - Hierarquização dos Cargos/Funções; da mesma, obedecidos os critérios estabelecidos no Art. 13 desta
VI - Tabela de vencimentos; Lei.
VII - Linhas de Enquadramento; e § 3º - Para realização de atividades extraclasse nas
VIII - Descrição e Especificações dos Cargos e Funções. unidades escolares os docentes que atuam nas séries iniciais do
Art. 4º - O Grupo Ocupacional Magistério de 1º e 2º Graus 1º Grau (do Pré-Escolar) à 4ª Série e no Sistema de Telensino
fica organizado em Categorias Funcionais, Carreiras, Cargos, terão sua carga mensal de trabalho acrescida de 10 (dez) horas,
Funções, Classes e Referências, na forma dos Anexos I e II desta com direito ao pagamento proporcional do acréscimo em dobro.
Lei.
Art. 13 - A alteração da carga horária semanal de 20 vinte)
Art. 5º - As Linhas de Transposição, as Linhas de Promoção para 40 (quarenta) horas, dependerá de processo seletivo
e Acesso, a Hierarquização dos Cargos/Funções e a Tabela de interno, e comprovada necessidade de mão-de-obra para suprir
vencimentos ficam definidas conforme dispõe os Anexos III, IV, V carência identificada.
e VI, partes integrantes desta Lei.
Art. 14 - É Vedado ao professor utilizar as horas de
Art. 6º - As Descrições e as Especificações das Carreiras e das atividades extraclasse em serviços estranhos às suas funções.
Classes serão aprovadas por Decreto do Chefe do Poder
Executivo. Art. 15 - O Estágio do profissional do Magistério é o período
de 2 (dois) anos, contado do início do exercício funcional,
Art. 7º - O ingresso nas carreiras do grupo Ocupacional durante o qual serão apurados os requisitos necessários à
magistério de 1º e 2º graus, dar-se-á por nomeação para cargos confirmação do servidor no cargo de provimento efetivo para o
efetivos mediante concurso público, na referência inicial de cada qual foi nomeado.
classe, respeitadas as condições de provimento indicadas no § 1º - Constituem requisitos para avaliação do servidor
Anexo IV desta Lei. durante o estágio probatório:
I - idoneidade moral;
Art. 8º O concurso público será realizado em até 4 (quatro) II - assiduidade;
etapas, definidas em edital. (Redação dada pela Lei N° 14.404, III - pontualidade;
de 09.07.09) IV - disciplina;
V - produtividade;

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VI - qualidade do trabalho; Art. 21 - O Artigo 39 e § 3º da Lei Nº 10.884, de 2 de fevereiro


VII - adaptação ao trabalho. de 1984, passam a vigorar com a seguinte redação:
§ 2º - O estágio probatório corresponderá a uma Art. 39 - O Profissional do Magistério de 1º e 2º Graus
complementação do processo seletivo, devendo o servidor em gozará 30 (trinta) dias de férias anuais após o 1º semestre letivo
exercício ser obrigatoriamente supervisionado pelo Conselho e 15 dias após o 2º período letivo."
Técnico Administrativo. "§ 3º - No período de recesso escolar, após o 2º semestre
§ 3º - No estágio probatório, os cursos de treinamento para letivo, o servidor ficará à disposição da unidade de trabalho
formação profissional ou aperfeiçoamento do servidor são do onde atua, para treinamento e/ou para realização de trabalhos
caráter competitivo e eliminatório. didáticos".
§ 4º - Os critério e a periodicidade da Avaliação dos
requisitos indicados nos Incisos I a VII serão regulamentados por Art. 22 - O desenvolvimento do Profissional do Magistério
decreto do Chefe do Poder Executivo, com a participação da nas carreiras far-se-á através da promoção, do acesso, da
Comissão Paritária Permanente de pessoal do magistério. transformação e da progressão.

Art. 16 - O servidor que, em estágio probatório, não satisfizer Art. 23 - Promoção é a elevação do profissional do
qualquer dos requisitos previstos no Artigo anterior, será Magistério de 1º e 2º Graus de uma para outra classe dentro da
exonerado. mesma série de classe, integrantes da carreira, e dependerá,
Parágrafo Único - A apuração dos requisitos exigidos no cumulativamente, de:
estágio probatório deverá processar-se de modo que a I - habilitação legal para o exercício do cargo/função
exoneração do servidor estagiário possa ser feita antes de findar integrante da classe;
o período do estágio. II - desempenho de suas atribuições;
III - cumprimento do interstício fixado em regulamento.
Art. 17 - O Chefe imediato do servidor sujeito a estágio
probatório comunicará ao órgão de pessoal, no prazo de 60 Art. 24 - Acesso é a elevação do Profissional do Magistério
(sessenta)dias antes do término deste, se o servidor de 1º e 2º Graus de uma série de classes para a referência inicial
supervisionado poderá ou não ser confirmado no cargo. de classe integrante de outra série de classes afins, dentro da
§ 1º - O órgão de pessoal diligenciará junto ao Conselho mesma carreira, em razão de título de nova habilitação
Técnico Administrativo que supervisiona o servidor em estágio profissional e dependerá, cumulativamente de:
probatório, de forma que evite este ocorrer por mero transcurso I - habilitação legal para o exercício do cargo/função
de prazo. integrante da classe;
§ 2º - De qualquer modo, caso não tenha sida adotadas II - desempenho eficaz de suas atribuições;
quaisquer providências para a supervisão objeto do estágio III - cumprimento do interstício fixado em regulamento;
probatório, este será encerrado após o decurso do prazo referido IV - observância das linhas de acesso definidas no Anexo IV
no Art. 15 desta Lei, confirmando-se o servidor no cargo, desta lei;
automaticamente. V - aprovação em seleção interna a ser realizada através de
provas escritas;
Art. 18 - Será obrigatório para o ocupante do Cargo de VI - VETADO.
Professor de ensino Técnico, durante o estágio probatório, a
Graduação em Licenciatura Plena adquirida em Cursos - Art. 25 - Transformação é a mudança do servidor de uma
ESQUEMA I OU ESQUEMA II. classe para outra classe de outra carreira diversa daquela por
ele ocupada e dependerá, cumulativamente, de: (Redação dada
Art. 19. Durante o estágio probatório, o profissional do pela Lei n° 12.102, de 11.05.93)
magistério não poderá ser afastado de suas funções de docência, I - aprovação em seleção interna realizada através de
salvo para ocupar cargos em comissão no Núcleo Gestor das provas escritas e\ou práticas quando a carreira assim exigir;
Escolas da Rede Oficial de Ensino Estadual, na sede da Secretaria II - habilitação legal para o ingresso na nova carreira ou
da Educação – SEDUC, e nas Coordenadorias Regionais de classe;
Desenvolvimento da Educação, ou para o exercício das funções III - comprovada necessidade de mão-de-obra para suprir
de Secretário de Estado, de Secretário Adjunto e de Secretário carência identificada.
Executivo, bem como para dirigente máximo de Entidade que
integre a Administração Pública Estadual Indireta. Art. 26 - Progressão é a passagem do Profissional do
§ 1º O servidor afastado de suas funções de docência, nos Magistério de 1º e 2º Graus de uma referência para outra
termos deste artigo, terá seu estágio probatório suspenso, imediatamente superior dentro da faixa vencimental da mesma
ressalvados os afastamentos para ocupar cargos em comissão classe, obedecidos os critérios de desempenho e/ou antiguidade
no Núcleo Gestor das Escolas da Rede Oficial de Ensino Estadual, e dependerá de:
nas coordenadorias regionais de desenvolvimento da Educação, I - desempenho eficaz de suas atribuições;
e nos cargos e funções similares ao cargo de professor, hipótese II - cumprimento do interstício de 365 (trezentos e sessenta
em que o estágio probatório não será suspenso. e cinco) dias.
§ 2º Os servidores atualmente afastados de suas funções,
disporão do prazo de 30 (trinta) dias, a contar da publicação Art. 27 - Os critérios específicos e os procedimentos para
desta Lei, para retornar às suas funções, sem prejuízo da aplicação dos princípios do mérito e/ou da antiguidade e das
contagem dos dias trabalhados durante o período de estágio provas seletivas para efetivação da promoção, acesso,
probatório. transformação e progressão, bem como a quantificação por
§ 3º Durante o estágio probatório não haverá ascensão classe e referência dos cargos e funções do Grupo Ocupacional
funcional. (Nova redação dada pela Lei n. 15.907, de 11.12.15) Magistério de 1º e 2º Graus, serão definidos em Decreto
Governamental no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data
Art. 20 - Os servidores integrantes do Grupo Ocupacional da vigência desta Lei, com a participação da Comissão Paritária
Magistério de 1º e 2º Graus têm lotação única e centralizada na Permanente de Pessoal do Magistério.
Secretaria de Educação, sendo expressamente proibida a sua
remoção ou redistribuição para outros órgãos e entidades do
Serviço Público Estadual.

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Art. 28 - Serão adotados, na forma e nas condições § 4º - O Profissional do magistério que apresentar
estabelecidas em Decreto, processo de avaliação de desempenho documentação comprobatória de titulação até 15 de janeiro de
que considerem: 1993, será enquadrado automaticamente na classe
I - o comportamento observável do Profissional do correspondente à nova titulação.
Magistério de 1º e 2º Graus, relativos a participação, qualidade
do trabalho, responsabilidade e produção; Art. 34 - Serão enquadrados automaticamente na Classe
II - a contribuição do profissional do Magistério para a Singular de Professor Nível 9 (nove) os Profissionais do
consecução dos objetivos da Secretaria de Educação; Magistério, exercentes de funções, portadores de Curso Superior
III - a objetividade e a adequação dos instrumentos da sem habilitação específica para o magistério.
avaliação;
IV - a periodicidade de, no mínimo 365 (trezentos e sessenta Art. 35 - Ressalvado o que dispõe o Art. 34, ficam vedados, a
e cinco) dias; partir da data da publicação desta Lei, enquadramentos nas
V - o conhecimento pelo Profissional do Magistério dos Classes Singulares, sendo os cargos integrantes destas classes
instrumentos de avaliação e seus resultados. extintos quando vagarem.
§ 1º - O Profissional do Magistério será avaliado pelo
Conselho Técnico Administrativo quando em exercício nos Art. 36 - Os Profissionais do Magistério ocupantes das
estabelecimentos oficiais de ensino e pela Comissão Setorial de Classes Singulares ao adquirirem habilitação específica para o
Avaliação de Desempenho da Secretaria de Educação quando Magistério passarão a integrar as carreiras do Grupo
em exercício na sede ou nas delegacias regionais de ensino. Ocupacional Magistério de 1º e 2º Graus, desde que aprovados
§ 2º - É assegurado ao Profissional do Magistério interpor em processo seletivo interno.
recurso perante o Conselho Técnico Administrativo do
Estabelecimento Oficial de Ensino que o avaliou e, em caso de Art. 37 - Os aposentados terão seus proventos definidos
discordância da decisão proferida nesta instância, poderá segundo a situação correspondente aos cargos ou funções do
recorrer, ainda, à autoridade imediatamente superior. Grupo Ocupacional ora estruturado e aos por eles ocupados ao
se tornarem inativos, de acordo com a classe e referência
Art. 29 - O Concurso Público para o ingresso no Grupo estabelecidas no Anexo VII desta Lei, acrescidos das vantagens a
Ocupacional Magistério de 1º e 2º Graus só ocorrerá após que fizerem jus no Ato da aposentadoria.
cumprida a etapa de desenvolvimento do servidor, por
transformação. Art. 38 -. (Revogado pela Lei N° 14.431, de 31.07.09)

Art. 30 - As atividades da capacitação e aperfeiçoamento do Art. 39 - O docente acometido de doença profissional no


Profissional do Magistério de 1º e 2º Graus, serão planejadas, exercício do magistério, poderá exercer outras atividades
organizadas, executadas e avaliadas pelo órgão de treinamento correlatas com o cargo ou função de Professor nas unidades
da Secretaria de Educação, com o objetivo de habilitar o escolares, nas delegacias regionais de ensino ou na sede da
servidor para o eficaz desempenho das atribuições inerentes à Secretaria de Educação, sem prejuízo da gratificação de
respectiva classe. regência de Classe.
Parágrafo Único - Entende-se por doença profissional
Art. 31 - Na inexistência de estrutura de formação e aquela peculiar ou inerente ao trabalho exercido, comprovada,
capacitação, o órgão de treinamento da Secretaria de Educação em qualquer hipótese, a relação de causa e efeito por junta
providenciará o incentivo à utilização de recursos externos de Médica Oficial.
formação e a estágios.
Art. 40 - Ficam revogadas os Artigos 90, 91, 94, 95, 101, 107,
Art. 32:(Revogado pela Lei N° 14.431, de 31.07.09) 108, 109, 110, 114, itens e parágrafos, 115 e 116 da Lei Nº
10.884, de 02 de fevereiro de 1984.
Art. 33 - A implantação do Grupo Ocupacional Magistério de
1º e 2º Graus - MAG será feita através de 2 (duas) modalidades Art. 41 - Os cargos do Grupo Ocupacional Magistério de 1º e
de enquadramento, a seguir enumeradas: 2º Graus, ao vagarem, serão deslocados para a Referência inicial
I - enquadramento salarial automático - consiste no da respectiva classe.
enquadramento dos atuais ocupantes de cargos e funções na
nova estrutura de carreiras, obedecendo o posicionamento Art. 42 - As despesas decorrentes da aplicação desta Lei,
vencimental determinado no Anexo VII desta lei; correrão à conta das dotações orçamentárias próprias da
II - enquadramento funcional - consiste na correção dos Secretaria de Educação, que serão suplementadas, se
desvios funcionais dos servidores que estejam exercendo insuficientes.
atribuições de Profissionais do Magistério, diversas daquelas dos
cargos ou funções por eles ocupados, por um período não Art. 43 - Revogadas as disposições em contrário,
inferior a 12 (doze) meses, mediante processo seletivo interno, especialmente a Lei Nº 11.820, de 31 de maio de 1991, esta Lei
levando-se em consideração as reais necessidades de recursos entrará em vigor na data de sua publicação, salvo quanto aos
humanos, formalizado através da transformação. efeitos financeiros que vigorarão a partir de 1º de novembro de
§ 1º - o enquadramento funcional será sempre nas classes e 1992, exceto o disposto no § 3º do Art. 12, 32, Parágrafo Único e
referências iniciais de cada série de classes, salvo se o servidor já § 4º do Art. 33, que vigorarão a partir de 1º de janeiro de 1993.
perceber vencimento superior, quando será deslocado para a
referência compatível com seu nível vencimental. PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, em
§ 2º - o enquadramento funcional dar-se-á por Decreto Fortaleza, aos 13 de janeiro de 1993.
Governamental, constando obrigatoriamente, o nome do CIRO FERREIRA GOMES
servidor, denominação do Cargo ou Função, Classe, Categoria MARIA LUIZA BARBOSA CHAVES
Funcional, Grupo Ocupacional e a Carreira, atuais e novos.
§ 3º - Os enquadramentos previstos neste Artigo aplicam-se,
exclusivamente, aos atuais servidores, por serem medidas de
caráter transitório.

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Questões Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.

01. Segundo o que dispõe a lei nº 12.066/93 podemos PALÁCIO IRACEMA, DO GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ,
afirmar: em Fortaleza, 07 de julho de 2009.
“As despesas decorrentes da aplicação desta Lei, correrão Cid Ferreira Gomes
à conta das dotações orçamentárias próprias da Secretaria de GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ
Educação, que serão suplementadas, se insuficientes”
( ) Certo ( ) Errado
6.5. Ampliação da carga
02. Segundo o que dispõe a lei nº 12.066/93 podemos horária de trabalho do Grupo
afirmar:
“Na inexistência de estrutura de formação e capacitação, o MAG (LEI Nº15.451, de 23 de
órgão de treinamento da Secretaria do planejamento outubro de 2013 e o Decreto
providenciará o incentivo à utilização de recursos externos de nº31.458, de 01 de abril de
formação e a estágios”.
( ) Certo ( ) Errado 2014.)

Gabarito
LEI N.º 15.451, DE 23.10.1311
01. Certo/ 02.Errado.
Dispõe sobre a ampliação definitiva e temporária da carga
LEI N° 14.404, DE 07.07.0910 horária de trabalho dos professores integrantes do Grupo
Ocupacional Magistério da Educação Básica - MAG, da
Altera a redação dos Arts. 8º,10 e 19 da LEI Nº 12.066, DE Secretaria da Educação.
13 DE JANEIRO DE 1993, e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ.
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ FAÇO SABER QUE A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DECRETOU
FAÇO SABER QUE A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DECRETOU E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI:
E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI:
Art. 1º Fica o Estado do Ceará, através da Secretaria da
Art. 1º Os arts. 8º, 10 e 19 da Lei Estadual nº 12.066, de 13 Educação, autorizado a ampliar para 40 (quarenta) horas
de janeiro de 1993, passam a vigorar com as seguintes redações: semanais, a carga horária do cargo de professor efetivo
“Art. 8º O concurso público será realizado em até 4 (quatro) integrante do Grupo Ocupacional Magistério da Educação
etapas, definidas em edital. Básica – MAG, do Quadro de Pessoal da Secretaria da Educação
§ 1º A primeira etapa, de realização obrigatória, terá do Estado, que tenham ingressado no cargo efetivo após 31 de
caráter eliminatório e classificatória, e consistirá em provas dezembro de 2003, para atendimento de carência definitiva
escritas. devidamente identificada nos órgãos do Sistema de Ensino da
§ 2º A segunda etapa, de realização obrigatória, terá caráter Rede Estadual.
eliminatório e classificatório, e consistirá em provas práticas.
§ 3º A terceira etapa, de realização discricionária, consistirá Art. 2º A concessão da ampliação definitiva de carga horária
em programa de capacitação profissional, de caráter dependerá da comprovação de que o professor atenda,
eliminatório e classificatório, ou somente classificatório, e cumulativamente, as seguintes condições:
dependerá, para a sua realização, de previsão expressa em I – encontrar-se em efetivo exercício em unidades escolares
edital, que disporá inclusive sobre o respectivo caráter. do Sistema de Ensino Estadual, nas Coordenadorias Regionais
§ 4º A quarta etapa, de caráter unicamente classificatório, de Desenvolvimento da Educação – CREDE, ou na Sede da
consistirá em prova de títulos. SEDUC;
Art. 10. O concurso público para provimento dos cargos do II – seja aprovado em Avaliação de Desempenho, a ser
Grupo Ocupacional Magistério- MAG, será promovido pela regulamentada por Decreto do Chefe do Poder Executivo;
Secretaria da Educação - SEDUC, com a supervisão da Secretaria III – possua habilitação específica para atendimento da
do Planejamento e Gestão. carência definitiva identificada nos órgãos do Sistema de Ensino
Parágrafo único. Para a realização do concurso previsto no Estadual;
caput, a Secretaria da Educação poderá contratar instituição IV – detenha apenas um cargo de professor efetivo
pública ou privada idônea, obedecendo as prescrições da Lei de integrante do Grupo Ocupacional Magistério da Educação
Licitações. Básica – MAG, com no máximo 20 (vinte) horas semanais de
Art. 19. Durante o estágio probatório, o profissional do trabalho;
magistério não poderá ser afastado de suas funções de docência, V – configure acumulação lícita, com observância de
salvo para ocupar cargos em comissão no Núcleo Gestor das compatibilidade de horário.
Escolas da Rede Oficial de Ensino Estadual e para ocupar cargos Parágrafo único. A concessão da ampliação definitiva de
em comissão na Sede da SEDUC ou das Coordenadorias carga horária, na forma do art. 1º desta Lei, será efetivada
Regionais de Desenvolvimento da Educação. através de ato do Chefe do Poder Executivo.
§ 1º O profissional do magistério nomeado para cargos em
comissão no Núcleo Gestor das Escolas da Rede Oficial de Ensino Art. 3º Para fins de ampliação definitiva não serão
Estadual terá seu estágio probatório disciplinado por decreto. considerados como efetivo exercício os afastamentos em virtude
§ 2º Durante o estágio probatório não haverá ascensão de:
funcional.” (NR). I - convocação para o Serviço Militar;
II - júri e outros serviços obrigatórios;
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. III - desempenho de função eletiva Federal, Estadual ou
Municipal;

10 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao- 11 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-
tematica/trabalho-administracao-e-servico-publico/item/5278-lei-n-14-404-de- tematica/educacao/item/3259-lei-n-15-451-de-23-10-13-d-o-01-11-13 Acesso
07-07-09-d-o-de-09-07-09 Acesso em: 25/07/2018 às 12h:00min em: 25/07/2018 às 14h:05min

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IV - licença especial, quando ainda não usufruída; Art. 11. A ampliação concedida sem observância do que
V - missão ou estudo, para os cursos de pós-graduação preceitua esta Lei, será anulada, com ressarcimento ao erário de
stricto sensu, quando o afastamento houver sido expressamente forma solidária pelo professor beneficiado com a ampliação e o
autorizado; agente público que lhe deu causa.
VI - prisão;
VII - disponibilidade; Art. 12. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
VIII - cessão para outros órgãos, entidades ou Poderes da
Administração Pública, com ou sem ônus para a origem. Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.
Parágrafo único. Não farão jus à ampliação definitiva os
profissionais do Grupo Ocupacional do Magistério – MAG, da PAÇO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
Educação Básica, que se encontrem respondendo a processo CEARÁ, em Fortaleza, 17 de outubro de 2013.
administrativo disciplinar ou tenham sofrido pena disciplinar
nos últimos 2 (dois) anos ou readaptados de função. Domingos Gomes de Aguiar Filho
GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ EM EXERCÍCIO
Art. 4º O valor correspondente à ampliação de carga horária Maria Izolda Cela de Arruda Coelho
prevista no art.1º será incorporada aos proventos de SECRETÁRIA DA EDUCAÇÃO
aposentadoria dos profissionais do Grupo Ocupacional do Carlos Eduardo Pires Sobreira
Magistério – MAG, da Educação Básica, desde que tenham SECRETÁRIO DO PLANEJAMENTO E GESTÃO EM
contribuído sobre a mesma por pelo menos 60 (sessenta) meses EXERCÍCIO
para o Sistema Único de Previdência Social do Estado do Ceará
– SUPSEC. Questão
§ 1º Para os servidores do Grupo MAG da Educação Básica
que implementarem as regras dos arts. 3º ou 6º da Emenda 01.Segundo o que regulamenta a lei n.º 15.451/13 julgue o
Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, ou do art. 3º item a seguir:
da Emenda Constitucional nº 47, de 5 de julho de 2005, e cujo “Fica vedada a ampliação definitiva de carga horária de
período de percepção por ocasião do pedido de aposentadoria trabalho para 40 (quarenta) horas semanais para os
seja menor do que 60 (sessenta) meses, será observada a média Professores beneficiários do disposto no art. 68 da Lei nº
aritmética do período de percepção, multiplicada pela fração 10.884, de 2 de fevereiro de 1984”.
cujo numerador será o número correspondente ao total de ( ) Certo ( ) Errado
meses trabalhados e o denominador será sempre o número 60
(sessenta). Gabarito
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica aos servidores do
Grupo MAG da Educação Básica que venham a se aposentar 01.Certo.
pelas regras previstas no art. 40 da Constituição Federal, com a
redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, de 19 de DECRETO Nº31.458, de 01 de abril de 201412.
dezembro de 2003, nos termos da legislação federal.
REGULAMENTAA LEI Nº15.451, DE 23 DE OUTUBRO DE
Art. 5º Fica vedada a ampliação definitiva de carga horária 2013, QUE DISPÕE SOBRE A AMPLIAÇÃO DEFINITIVA E
de trabalho para 40 (quarenta) horas semanais para os TEMPORÁRIA DA CARGA HORÁRIA DOS PROFESSORES
Professores beneficiários do disposto no art. 68 da Lei nº 10.884, INTEGRANTES DO GRUPO OCUPACIONAL MAGISTÉRIO –
de 2 de fevereiro de 1984. MAGDA SECRETARIADA EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ, E
DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. O GOVERNADOR DO ESTADO DO
Art. 6º O Professor integrante do Grupo Ocupacional CEARÁ, no uso das atribuições que lhe confere o art.88, incisos
Magistério - MAG, que tenha ingressado no cargo efetivo após 31 IV e VI, da Constituição do Estado do Ceará, CONSIDERANDO
de dezembro de 2003, e que não exerceu a opção pela ampliação que a educação de qualidade passa pela valorização do
definitiva poderá ter a sua carga horária de trabalho profissional do magistério; CONSIDERANDO a necessidade de
temporariamente ampliada para 40 (quarenta) horas melhor organizar a carga horária dos profissionais do
semanais, de acordo com a conveniência da Administração magistério do ensino fundamental e médio; DECRETA:
Pública.
Parágrafo único. O professor que tiver sua carga horária de Art.1º Os Professores efetivos integrantes do Grupo
trabalho ampliada temporariamente não está sujeito ao Ocupacional Magistério da Educação Básica – MAG que se
recolhimento previdenciário sobre a carga horária ampliada. enquadrem nas situações previstas nos Arts.1º e 2º da Lei
nº15.451, de 23 de outubro de 2013, poderão optar pela
Art. 7º A ampliação temporária de carga horária, de que ampliação definitiva de sua carga horária de trabalho para 40
trata esta Lei, será regulamentada por Decreto do Chefe do (quarenta) horas semanais, para o atendimento das carências
Executivo Estadual. definitivas identificadas pela Administração no Sistema
Estadual de Ensino.
Art. 8º A ampliação temporária, de que trata o art. 6º, Parágrafo único. A Secretaria da Educação – SEDUC,
dependerá de aprovação em avaliação de desempenho, na anualmente, por meio de edital, divulgará as carências
conformidade de Decreto do Chefe do Poder Executivo. definitivas identificadas no Sistema de Ensino da Rede Estadual.

Art. 9º A concessão da ampliação temporária de carga Art.2º Para participar do processo de ampliação definitiva
horária será efetivada através de ato do Secretário da de carga horária para o atendimento das carências definitivas
Educação. identificadas pela Administração no Sistema Estadual de Ensino,
o professor, além de cumprir as condições e requisitos
Art. 10. As despesas decorrentes desta Lei correrão por conta estabelecidos na Lei nº15.451, de 23 de outubro de 2013, e ser
das dotações orçamentárias da Secretaria da Educação. aprovado em avaliação de desempenho, deverá enquadrar-se ao

12

http://www.seduc.ce.gov.br/images/cogep/23_11_15/ampliacao_definitiva/decr
eto_ampliacao_definitiva.pdf Acesso em: 25/07/2018 às 14h:15min

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regramento disciplinado por meio de portaria editada pela III - maior tempo de serviço na carreira;
SEDUC. IV - maior tempo de serviço público estadual;
V - maior tempo de serviço público;
Art.3º Na Avaliação de Desempenho para fins de ampliação VI - maior idade.
definitiva de carga horária deverão ser aferidas as seguintes
dimensões: Art.7º A lotação do professor que tiver a carga horária de
I - para Professor em efetiva regência de classe: trabalho ampliada definitivamente, deverá ocorrer somente nas
a) Dimensão 1 – idoneidade moral, profissional, social e unidades escolares do Sistema de Ensino Estadual, nas
ética; Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação –
b) Dimensão 2 - qualidade, produtividade e desenvolvimento CREDE, na Superintendência Estadual da Escolas de Fortaleza –
do ensino e da aprendizagem; SEFOR ou na sede da SEDUC, onde houver carência comprovada
c) Dimensão 3 - participação na escola e relação com a e previamente divulgada, por meio de edital, pela SEDUC.
comunidade escolar;
d) Dimensão 4 - ocorrências funcionais; Art.8º Nos termos do Art.6º da Lei nº15.451, de 23 de
e) Dimensão 5 - Resultado acadêmico escolar do ano outubro de 2013, mediante a existência de comprovada
anterior. carência, e de acordo com a conveniência da Administração
II - para Professor em funções técnicas ou desempenhando Pública, poderá ser concedida a ampliação temporária da carga
função comissionada: horária dos professores efetivos da Rede Estadual de Ensino,
a) Dimensão 1 – competências gerais; desde que aprovados em Avaliação de Desempenho Profissional.
b) Dimensão 2 - conhecimento na área de atuação; §1º A avaliação de que trata o caput deste artigo será
c) Dimensão 3 - competências gerenciais; efetivada nos mesmos termos da avaliação de desempenho para
d) Dimensão 4 - ocorrências funcionais; ampliação definitiva tratada neste Decreto.
e) Dimensão 5 - Resultado acadêmico regional ou estadual §2º A lotação do Professor que tiver a carga horária de
do ano anterior. trabalho ampliada temporariamente, deverá ocorrer nas
Parágrafo único. Ocorrendo avaliação de desempenho para unidades escolares do Sistema de Ensino Estadual onde houver
fins de ampliação de carga horária de professores efetivos no carência comprovada.
ano de 2014, os resultados acadêmicos regionais ou estadual
disposto na Dimensão 5, a serem considerados, de forma Art.9º Fica o Secretário da Educação autorizado a editar
excepcional, serão os do ano de 2012. portarias necessárias ao cumprimento de disposições deste
Decreto, especialmente quanto as normas complementares e
Art.4º A Avaliação de Desempenho nas unidades de ensino, procedimentos para a implementação da ampliação definitiva e
tratada no presente Decreto, será realizada por uma comissão temporária da carga horária dos professores efetivos da Rede
escolar composta de sujeitos diretamente relacionados com a Estadual de Ensino.
atividade profissional do professor beneficiado, quais sejam:
Núcleo Gestor, Alunos, Conselho Escolar, coordenada e Art.10. Este Decreto entra em vigor na data de sua
acompanhada pela CREDE, SEFOR ou COGEP, dependendo da publicação.
lotação do avaliado e pelo próprio avaliado, por meio de auto
avaliação. Art.11. Revogam-se as disposições em contrário.
§1º A Avaliação aferirá o desempenho dos Professores no
exercício de seus cargos correspondentes ao período dos últimos PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO DO
seis meses, independentemente de terem trabalhado em regime CEARÁ, em Fortaleza,
de ampliação temporária de carga horária nesse período. aos 01 de abril de 2014.
§2º Os formulários para a aplicação da avaliação de Cid Ferreira Gomes
desempenho dos professores efetivos para fins de ampliação GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ
definitiva de carga horária, respeitando-se o disciplinado no
presente Decreto, serão estabelecidos por meio de Portaria do
Secretário da Educação. 6.6. Promoção profissionais
Grupo MAG (Lei nº 15.901 de
Art.5º Quando o professor avaliado se encontrar lotado na
CREDE, SEFOR ou sede da SEDUC, será avaliado, nos termos do 10 de dezembro de 2015,
presente Decreto, pelo chefe imediato a quem se encontre DECRETO Nº32.103, de 12 de
subordinado por período igual ou superior a 6 (seis) meses e pelo dezembro de 2016.
próprio avaliado, por meio de auto avaliação.

Art.6º Somente será considerado aprovado na avaliação de LEI N.º 15.901, DE 10.12.1513
desempenho para fins de ampliação definitiva de carga horária
o professor que obtiver a pontuação mínima de 70 (setenta) Promove a revisão do Sistema Remuneratório dos
pontos, ou seja, 70% (setenta por cento) da pontuação máxima, Profissionais de Nível Superior do Grupo Ocupacional
considerando a escala de 0 a 100 pontos atribuída aos Magistério da Educação Básica.
instrumentais de avaliação, a serem estabelecidos por Portaria O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ.
do Secretário da Educação. FAÇO SABER QUE A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DECRETOU
Parágrafo único. Ocorrendo empate entre professores que E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI:
concorram à mesma carência, para o desempate serão
utilizados os seguintes critérios: Art. 1º Fica instituída a nova tabela de vencimentos, a
I – maior tempo de lotação na unidade escolar onde exista a vigorar a partir de 1º de dezembro de 2015, dos profissionais de
carência;
II - maior tempo de serviço na classe;

13 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/component/k2/item/4182-lei-n-15-
901-de-10-12-15-republicado-por-incorrecao-d-o-15-12-15 Acesso em:
25/07/2018 às 14h:20min

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nível superior do Grupo Ocupacional MAG da Educação Básica, I - Vencimento base;


em conformidade com o anexo I desta Lei. II - Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de
§ 1º Ficam mantidos os cargos e funções do Grupo Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica –
Ocupacional MAG de nível superior previstos pela Lei nº 12.066, PVR/FUNDEB, na forma da Lei nº 15.243, de 6 de dezembro de
de 13 de janeiro de 1993, adotada a organização em níveis na 2012 e suas alterações posteriores, nas hipóteses aplicáveis; e
forma do anexo I desta Lei. III - Parcela Nominalmente Identificável – PNI, instituída
§ 2º Os profissionais do Grupo Ocupacional MAG de nível pelo § 5º do art. 1º desta Lei, quando cabível.
superior com carga horária diversa de 40 (quarenta) semanais Parágrafo único. Para o cálculo da PNI de que trata o caput
terão seu vencimento base, Gratificação por Efetiva Regência de desse artigo, considerar-se-á a diferença existente entre a soma
Classe e Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de dos valores nominais do vencimento base, do valor da Parcela
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica – Variável de Redistribuição do Fundo de Manutenção e
PVR/FUNDEB, definidos de acordo com a proporção Desenvolvimento da Educação Básica – PVR/FUNDEB, criada
correspondente à carga horária efetivamente fixada. pela Lei nº 15.243, de 6 de dezembro de 2012, e do valor da
§ 3ºFicam extintas, para os profissionais de nível superior do Parcela Nominalmente Identificável – PNI, criada pelo inciso II
Grupo Ocupacional MAG: do art. 8º da Lei nº 14.431, de 31 de julho de 2009, percebidos no
I – a Parcela Nominalmente Identificável – PNI, objeto dos mês de novembro de 2015, e a soma dos valores nominais,
arts. 7º, inciso III, 8º, inciso II, 9º, inciso III, e 10, inciso II, todos conforme estabelecido nesta Lei, do vencimento base e
da Lei nº 14.431, de 31 de julho de 2009; PVR/FUNDEB no nível estabelecido no anexo I desta Lei no qual
II – a Vantagem Pessoal Nominalmente Identificável – VPNI, o servidor tenha sido enquadrado, consideradas apenas as
prevista no art. 3º da Lei nº 15.567, de 7 de abril de 2014. parcelas remuneratórias aplicáveis a cada profissional.
§ 4º Os profissionais do Grupo Ocupacional MAG de nível
superior serão reenquadrados, a contar de 1º de dezembro de Art. 4º As aposentadorias de professores da educação básica
2015, conforme disposto no anexo II desta Lei. de nível superior, integrante do Grupo MAG e as pensões
§ 5ºO servidor enquadrado nas disposições desta Lei poderá decorrentes de seus óbitos, desde que, em ambos os casos,
perceber complemento remuneratório, a título de Parcela dotadas de paridade constitucional, observarão, no que couber,
Nominalmente Identificável - PNI, destinado a evitar eventual o disposto no art. 2º desta Lei.
decesso remuneratório, decorrente da aplicação desta Lei, na
forma disposta nos seus arts. 2º a 3º. Art. 5º As aposentadorias de especialistas em educação
básica de nível superior, integrante do Grupo MAG e as pensões
Art. 2º A remuneração do professor da educação básica de decorrentes de seus óbitos, desde que, em ambos os casos,
nível superior, integrante do Grupo MAG, será composta, a partir dotadas de paridade constitucional, observarão, no que couber,
de 1º de dezembro de 2015, de: o disposto no art. 3º desta Lei.
I - Vencimento base;
II - Gratificação por Efetiva Regência de Classe, no Art. 6º A PNI prevista no § 5º do art. 1º desta Lei será revista
percentual previsto no art. 8º desta Lei; na mesma data e no mesmo índice da revisão geral dos
III - Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de servidores civis estaduais e também terá a incidência do mesmo
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica – percentual do interstício entre as referências, decorrente da
PVR/FUNDEB, na forma e condições da Lei nº 15.243, de 6 de promoção, com ou sem titulação, do profissional do Grupo MAG,
dezembro de 2012, e suas alterações posteriores; quando ocorrer.
IV – Gratificação a Professores de Pessoas com Deficiência,
nos termos do art. 6º da Lei nº 14.431, de 31 de julho de 2009 e Art. 7º Não serão considerados para efeito de cálculo da PNI,
suas alterações posteriores, quando for o caso; e prevista no § 5º do art. 1º desta Lei, a vantagem pessoal
V - Parcela Nominalmente Identificável – PNI, instituída decorrente do exercício de cargo em comissão, a ampliação
pelo§ 5º do artigo 1º desta Lei, quando cabível. temporária de carga horária, o abono de permanência e a
Parágrafo único. Para o cálculo da PNI de que trata o caput gratificação por exercício de cargo em comissão.
deste artigo, considerar-se-á a diferença existente entre a soma
dos valores nominais do vencimento base, da Gratificação por Art. 8º A Gratificação por Efetiva Regência de Classe para o
Efetiva Regência de Classe, da Parcela Variável de professor da educação básica de nível superior, integrante do
Redistribuição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Grupo MAG, prevista no art.62, inciso V da Lei nº 10.884, de 2 de
Educação Básica – PVR/FUNDEB, criada pela Lei nº 15.243, de fevereiro de 1984, e suas alterações posteriores, incidente
6 de dezembro de 2012, da Parcela Nominalmente Identificável exclusivamente sobre o vencimento base, passa a vigorar nos
– PNI, criada pelo inciso III, do art. 7º da Lei nº 14.431, de 31 de seguintes percentuais:
julho de 2009, do valor da Vantagem Pessoal Nominalmente I – 10%(dez por cento) aos portadores de título de
Identificável – VPNI, criada pelo art. 3º da Lei nº 15.567, de 7 de licenciatura plena;
abril de 2014 e da Gratificação a Professores de Pessoas com II– 15%(quinze por cento) aos portadores de certificado de
Deficiência, nos termos do art. 6º da Lei nº 14.431, de 31 de julho Especialização, desde que ascendidos funcionalmente em razão
de 2009, percebidos no mês de novembro de 2015, e a soma dos do mesmo título;
valores nominais, conforme estabelecido nesta Lei, do III – 20% (vinte por cento) aos portadores de diploma de
vencimento base, Gratificação por Efetiva Regência de Classe, Mestre, desde que ascendidos funcionalmente em razão do
Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de Manutenção e mesmo título;
Desenvolvimento da Educação Básica - PVR/FUNDEB, e a IV – 40% (quarenta por cento) aos portadores de diploma de
Gratificação a Professores de Pessoas com Deficiência, nos Doutor, desde que ascendidos funcionalmente em razão do
termos do art. 6º da Lei nº 14.431, de 31 de julho de 2009, no mesmo título.
nível estabelecido no anexo I desta Lei no qual o servidor tenha Parágrafo único. Durante o estágio probatório não haverá
sido enquadrado, consideradas apenas as parcelas ascensão funcional.
remuneratórias aplicáveis a cada profissional.
Art. 9º Os valores constantes da Parcela Variável de
Art. 3º A remuneração do especialista em educação básica Redistribuição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
de nível superior, integrante do Grupo MAG, será composta a Educação Básica – PVR/FUNDEB, criada pela Lei nº 15.243, de
partir de 1º de dezembro de 2015 de:

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6 de dezembro de 2012, passam a vigorar na forma do anexo III Art. 12. A remuneração dos professores graduados
desta Lei. contratados nos termos da Lei Complementar nº 22, de 24 de
junho de 2000, será de R$ 2.220,18 (dois mil, duzentos e vinte
Art. 10. Fica alterada a redação dos arts.3º, 22, 23, 26 e 27 reais e dezoito centavos) para o professor de nível superior, com
da Lei nº 12.066, de 13 de janeiro de 1993, que passam a vigorar carga horária de 40 (quarenta) horas, acrescido da Parcela
com as seguintes redações: Variável de Redistribuição do Fundo de Manutenção e
“Art. 3º ... Desenvolvimento da Educação Básica – PVR/FUNDEB, na forma
IV – Linhas de promoção, com ou sem titulação; e condições da Lei nº 15.243, de 6 de dezembro de 2012 e suas
... alterações posteriores, observando-se, quanto ao valor, o
Art. 22.O desenvolvimento do Profissional do Magistério na disposto no § 3º deste artigo.
carreira far-se-á por meio da promoção, com ou sem titulação. § 1º A remuneração de que trata o caput deste artigo será
Art. 23. Promoção com titulação é a elevação entre níveis da sempre proporcional à efetiva jornada de trabalho do Professor.
carreira do profissional do Grupo MAG, em razão de titulação § 2º O valor da remuneração prevista neste artigo será
relacionada à sua área de atuação, na forma especificada revisto na mesma data e no mesmo índice das revisões aplicadas
abaixo: à referência inicial da tabela remuneratória dos profissionais de
I – titulação no nível de Licenciatura Plena, elevação para o nível superior do Grupo MAG.
nível A; § 3º A Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de
II – titulação no nível de Aperfeiçoamento, elevação para o Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica –
nível C; PVR/FUNDEB, prevista no art. 4° da Lei Nº 15.243, de 6 de
III – titulação no nível de Especialização, elevação para o dezembro de 2012, passa a ser concedida aos professores
nível F; graduados contratados nos termos da Lei Complementar n° 22,
IV – titulação no nível de Mestrado, elevação para o nível J; de 24 de junho de 2000, no valor de R$ 100,00 (cem reais)
V – titulação no nível de Doutorado, elevação para o nível M. observada a jornada de 40 (quarenta) horas semanais, cabendo
Parágrafo único. A promoção com titulação dar-se-á o pagamento proporcional em casos de carga horária
observado o prazo máximo de 90 (noventa) dias, contados do diferenciada.
protocolo do requerimento respectivo no órgão competente,
retroagindo seus efeitos à data do mesmo protocolo. Art. 13. Quando, excepcionalmente, se fizer necessária a
... contratação de professor com graduação incompleta, nos
Art. 26. Promoção sem titulação é a passagem do moldes da Lei Complementar nº 22, de 24 de junho de 2000, sua
profissional do Grupo MAG de um nível para outro remuneração será o equivalente ao valor do piso salarial
imediatamente superior, dentro da respectiva carreira, nacional para Professor com nível médio de escolarização e
obedecidos os critérios de desempenho e/ou antiguidade e jornada de trabalho de 40 (quarenta) horas.
dependerá de: Parágrafo único. A remuneração de que trata o caput deste
I – desempenho eficaz de suas atribuições; artigo será sempre proporcional à efetiva jornada de trabalho
II – cumprimento do interstício de 365 (trezentos e sessenta do Professor.
e cinco) dias.
Parágrafo único. Os profissionais de ensino superior Art. 14. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo
integrante do Grupo Ocupacional MAG poderão, na hipótese de 90 (noventa) dias de sua entrada em vigor.
deste artigo, ser promovidos entre os níveis que compõem a
carreira independentemente de sua titulação acadêmica. Art. 15. As despesas decorrentes da execução desta Lei
Art. 27. Os procedimentos para aplicação dos critérios e dos correrão por conta das dotações orçamentárias da Secretaria
demais requisitos estabelecidos nesta Lei para da Educação.
operacionalização e efetivação da promoção serão
regulamentados por Decreto do Chefe do Poder Executivo e Art. 16. Ficam revogadas as disposições em contrário,
Instruções Normativas editadas pelo Secretário da Educação, especialmente os arts. 5º, 24 e 25, bem como os incisos II e III do
com participação da Comissão Paritária Permanente do Pessoal art. 3º, todos da Lei 12.066, de 13 de janeiro de 1993.
do Magistério.” (NR)
Art. 17. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação,
Art. 11. Excepcionalmente, para dar início ao ciclo de produzindo efeitos financeiros a partir de 1º de dezembro de
promoção sem titulação, os profissionais de nível superior do 2015, salvo quanto ao disposto na parte final do seu art. 11,
Grupo Ocupacional MAG, que se encontrem em efetivo exercício caput.
e que satisfaçam, até o dia 1º de setembro de 2015, ao requisito
do cumprimento do interstício de 1825 (um mil, oitocentos e PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVRNO DO ESTADO DO
vinte e cinco) dias no nível 12, última referência do professor CEARÁ, em Fortaleza, 10 de dezembro de 2015.
especializado, constante do anexo único da Lei nº 15.064, de 13 Maria Izolda Cela de Arruda Coelho
de dezembro de 2011, farão jus à promoção sem titulação para GOVERNADORA DO ESTADO DO CEARÁ EM EXERCÍCIO
o nível imediatamente superior ao que se encontram na tabela
disposta no anexo I desta Lei, a ser efetivada em 31 de agosto de Questão
2016.
§ 1º Para os fins da contagem de tempo estabelecida no 01.De acordo com a lei nº15.901/15 julgue o item a seguir:
caput, considerar-se-á o período que o profissional de nível “O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90
superior do Grupo Ocupacional MAG permaneceu no nível 24, (noventa) dias de sua entrada em vigor”.
última referência do professor especializado, nos termos da Lei ( ) Certo ( ) Errado
nº 14.431, de 31 de julho de 2009.
§ 2° O profissional já beneficiado por outro critério de Gabarito
promoção no período entre dezembro de 2015 e 31 de agosto de
2016, não fará jus à promoção excepcional de que trata este 01.Certo
artigo.

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DECRETO Nº 32.103, de 12 de dezembro de 201614. § 5º Na hipótese em que a aferição do percentual para


promoção sem titulação resultar número ímpar, reservar-se-á o
REGULAMENTA A PROMOÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO maior número para ascensão pelo critério do desempenho.
GRUPO OCUPACIONAL MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO BÁSICA-
MAG, ESTA BELECIDA NA LEI Nº 12.066, DE 13 DE JANEIRO DE Art. 3º A contagem do interstício, para efeito de concessão
1993, E AS SUAS ALTERAÇÕES POSTERIORES, E DÁ OUTRAS da promoção sem titulação, por desempenho ou por
PROVIDÊNCIAS. antiguidade, será computado em períodos corridos e
ininterruptos.
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ, no uso das § 1º Interrompe-se a contagem do interstício, para efeito da
atribuições que lhe confere o art. 88, incs. IV e VI da Constituição promoção sem titulação, por desempenho ou por antiguidade,
Estadual, CONSIDERANDO a importância de dar quando o profissional do Grupo MAG afastar-se do exercício do
prosseguimento à política de valorização do Grupo Ocupacional cargo/função em decorrência de:
Magistério da Educação Básica – MAG; CONSIDERANDO o I - afastamento para o trato de interesses particulares;
disposto na Lei Estadual nº 12.066, de 13 de janeiro de 1993, e II - licenças sem vencimentos;
em suas alterações posteriores, especialmente a Lei nº 15.901, III - punição disciplinar que importe em pena de suspensão;
de 10 de dezembro de 2015; CONSIDERANDO a necessidade de IV - prisão decorrente de decisão judicial;
regulamentação dos processos de promoção dos profissionais do V - suspensão do vínculo funcional;
Grupo Ocupacional Magistério da Educação Básica – MAG, VI - exercício de cargo em comissão em órgãos e entidades
DECRETA: da Administração Direta, Autárquica ou Fundacional no âmbito
federal, estadual ou municipal, sem ônus para a origem, salvo
Art. 1º A promoção com titulação, a ser concedida ao nos afastamentos cuja remuneração seja ressarcida;
profissional do magistério na forma do art. 23, da Lei nº 12.066, VII - falta não recuperada.
de 13 de janeiro de 1993, com redação dada pela Lei nº Lei nº § 2º Os profissionais do Grupo MAG afastados para o
15.901, de 10 de dezembro de 2015, dar-se-á observado o prazo desempenho de mandato eletivo, para missão ou estudo ou
máximo de 90 (noventa) dias, contados do protocolo do licença superior a 6 (seis) meses, não terão direito à promoção
requerimento respectivo no órgão competente, retroagindo seus sem titulação por desempenho. § 3º Para efeito das promoções
efeitos à data do mesmo protocolo, desde que o título seja sem titulação considerar-se-á interstício: I - Para os
considerado válido, nos termos da legislação pátria vigente. profissionais de ensino superior integrantes do Grupo
Ocupacional MAG, o período corrido e ininterrupto datado entre
Art. 2º A promoção sem titulação a que se refere o art. 26 da 1º de setembro de um ano e 31 de agosto do ano subsequente;
Lei nº 12.066, de 13 de janeiro de 1993, com redação dada pela II - Para os profissionais de ensino médio integrantes do
Lei nº Lei nº 15.901, de 10 de dezembro de 2015, será concedida Grupo Ocupacional MAG o período corrido e ininterrupto datado
ao profissional do magistério que atenda às seguintes condições: entre 1º de setembro de um ano e 31 de agosto do segundo ano
I – desempenho eficaz de suas atribuições; subsequente.
II – cumprimento do interstício de 365 (trezentos e sessenta
e cinco) dias, no mesmo nível, para os profissionais de ensino Art. 4º A aferição dos fatores subjetivos (avaliação
superior integrantes do Grupo Ocupacional MAG, de acordo com profissional) para promoção sem titulação por desempenho dos
a Lei nº 15.901 de 10/12/ 2015; profissionais do Grupo Ocupacional MAG será efetivada pelo
III – cumprimento do interstício de 730 (setecentos e trinta) chefe imediato da unidade de trabalho onde o avaliado
dias, na mesma referência, para os profissionais de ensino médio encontrava-se exercendo suas atividades no interstício avaliado
integrantes do Grupo Ocupacional MAG, de acordo com a Lei nº e pelo próprio profissional, por meio de auto avaliação.
15.009 de 04/10/ 2011. Parágrafo Único. O profissional do Grupo Ocupacional MAG
§ 1º A promoção de que trata o “caput” obedecerá aos que esteja ocupando cargo de provimento em comissão ou de
critérios de desempenho e/ou antiguidade, observado o assessoramento, integrando Comissão ou Grupo de Trabalho
seguinte: Técnico e/ou prestando serviço em outro órgão ou entidade da
I - o desempenho será aferido por meio de fatores subjetivos Administração Pública federal, estadual ou municipal, mediante
(avaliação profissional) e fatores objetivos (capacitação, convênio ou cessão, com ônus para a origem ou com o
experiência profissional e resultado escolar) a serem definidos ressarcimento da remuneração, será avaliado pela chefia
por instrução normativa editada pelo Secretário da Educação; imediata do órgão onde estiver em exercício.
II - a antiguidade verificará o cumprimento do maior tempo
de serviço efetivo no nível/referência no qual se encontrar o Art. 5º A promoção sem titulação por antiguidade dos
profissional do magistério, nos termos do presente Decreto. profissionais do Grupo Ocupacional MAG contemplará o
§ 2º O número de profissionais do Grupo Ocupacional MAG a servidor que contar maior tempo de serviço efetivo no
serem promovidos sem titulação corresponderá a 60% (sessenta nível/referência em que se encontrar na respectiva carreira,
por cento) do total dos ocupantes de cargos/funções em cada observado o disposto neste Decreto.
nível/referência, dentro da mesma faixa vencimental, atendidos Parágrafo Único. A classificação para a promoção disposta
aos critérios de desempenho e antiguidade. no “caput” será por ordem decrescente, considerando-se o maior
§ 3º Do número obtido como resultado da operação prevista tempo de serviço efetivo no mesmo nível/regência.
no § 2º, deste artigo, 50% (cinquenta por cento) ascenderá por
desempenho e 50% (cinquenta por cento) por antiguidade. Art. 6º Em caso de empate na classificação da promoção sem
§ 4º Quando o quociente resultante do cálculo do percentual titulação por desempenho ou por antiguidade proceder-se-á ao
previsto para a promoção sem titulação for um número desempate, observando-se os seguintes critérios:
fracionário e a fração for igual ou superior a 0,5 (cinco décimos), I - maior tempo de serviço na carreira;
será arredondado para o número inteiro imediatamente II - maior tempo de serviço público estadual;
superior. III - maior tempo de serviço público;
IV - maior idade.

14 https://www.jusbrasil.com.br/diarios/133240740/doece-13-12-2016-pg-

1 Acesso em: 14h:37min

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Art. 7º Os fatores, os procedimentos, a aplicação dos critérios Parágrafo único. As aposentadorias dos Especialistas em
e dos demais requisitos estabelecidos neste Decreto, para Educação Básica de nível superior, integrantes do Grupo MAG e
operacionalização e efetivação da promoção sem titulação, as pensões decorrentes de seus óbitos, desde que, em ambos os
serão disciplinados, com a participação da Comissão Paritária casos, sejam beneficiadas pelo regime da paridade
Permanente dos Profissionais do Grupo MAG, por meio de constitucional, observarão, no que couber, o disposto no art. 1º
instrução normativa editada pelo Secretário da Educação. desta Lei.
Parágrafo Único. A Comissão Paritária Permanente dos
profissionais do Grupo MAG será composta por membros da Art. 2º O art. 23 da Lei nº 12.066, de 13 de janeiro de 1993,
Secretaria da Educação e membros do sindicato representativo alterada pela Lei nº 15.901, de 10 de dezembro de 2015, passa a
da categoria. vigorar com a seguinte redação:
“Art. 23. Promoção com titulação é a elevação entre os níveis
Art. 8º As promoções serão efetivadas por portaria do da carreira do profissional do Grupo MAG, em razão de
Secretário da Educação. titulação, na forma especificada abaixo:
I – titulação no nível de Licenciatura Plena, elevação para o
Art. 9º Ficam revogadas as disposições em contrário. nível A;
II – titulação no nível de Aperfeiçoamento, elevação para o
Art. 10. Este Decreto entra em vigor na data de sua nível C;
publicação, retroagindo seus efeitos à 11 de março de 2016. III – titulação no nível de Especialização, elevação para o
nível F;
PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO DO IV – titulação no nível de Mestrado, elevação para o nível J;
CEARÁ, em Fortaleza, aos 12 de dezembro de 2016. V – titulação no nível de Doutorado, elevação para o nível
M.” (N.R)
Camilo Sobreira de Santana
Art. 3º A Gratificação por Efetiva Regência de Classe para o
GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ professor da Educação Básica de nível superior, integrante do
Grupo MAG, prevista no art.62, inciso V, da Lei nº 10.884, de 2 de
fevereiro de 1984, e suas alterações posteriores, incidente
6.7. Sistema Remuneratório exclusivamente sobre o vencimento base, passa a vigorar nos
seguintes percentuais:
dos profissionais MAG de nível I – 15% (quinze por cento) aos portadores de título de
superior (leis nº 15.243, de 6 Licenciatura Plena;
de dezembro de 2012, II– 20% (vinte por cento) aos portadores de certificado de
Especialização, desde que ascendidos funcionalmente em razão
nº15.901, de 10 de dezembro do mesmo título;
de 2015, LEI Nº16.104, 12 de III – 25% (vinte e cinco por cento) aos portadores de diploma
setembro de 2016, nº16.513, de Mestre, desde que ascendidos funcionalmente em razão do
mesmo título;
15 de março de 2018 e IV – 45% (quarenta e cinco por cento) aos portadores de
nº16.536, 06 de abril de diploma de Doutor, desde que ascendidos funcionalmente em
2018). razão do mesmo título.
Parágrafo único. Durante o estágio probatório não haverá
ascensão funcional.
Prezado(a) candidato(a), as leis nº 15.243/2012 e
Art. 4º A remuneração dos professores graduados com carga
15.901/2015, foram anteriormente estudadas neste
horária de 40 (quarenta) horas, contratados nos termos da Lei
mesmo material sendo assim seguiremos com as
Complementar nº 22, de 24 de junho de 2000, passa a ser de R$
legislações para integrar o sistema remunerstório dos
2.331,81 (dois mil, trezentos e trinta e um reais e oitenta e um
profissionais MAG de nível superior.
centavos), acrescida da Parcela Variável de Redistribuição do
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica –
LEI N.º 16.104, DE 12.09.1615
PVR/FUNDEB, na forma e condições da Lei nº 15.243, de 6 de
dezembro de 2012 e suas alterações posteriores, observando-se,
Institui a Gratificação de Atividades Educacionais
quanto ao valor, o disposto no § 3º do art. 12 da Lei nº 15.901,
Especializadas - GAEE, devida aos ocupantes dos cargos e
de 10 de dezembro de 2015.
funções de especialistas em Educação Básica de Nível Superior,
integrantes do grupo MAG.
Art. 5º Os valores constantes da Parcela Variável de
Redistribuição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ.
Educação Básica – PVR/FUNDEB, criada pela Lei nº 15.243, de
FAÇO SABER QUE A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DECRETOU
6 de dezembro de 2012, passam a vigorar na forma do anexo
E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI:
único desta Lei.
Art. 1º Fica instituída a Gratificação de Atividades
Art. 6º As despesas decorrentes da execução desta Lei
Educacionais Especializadas - GAEE, devida aos ocupantes dos
correrão por conta das dotações orçamentárias da Secretaria
cargos e funções de Especialistas em Educação Básica de nível
da Educação.
superior, integrantes do Grupo MAG, de acordo com o art. 10 da
Lei nº 10.884, de 2 de fevereiro de 1984 e suas alterações
Art. 7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação,
posteriores, no percentual de 5% (cinco por cento), incidente
retroagindo seus efeitos a partir de 1º de agosto de 2016.
exclusivamente sobre o vencimento base.

15 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-
tematica/ciencia-e-tecnologia-e-educacao-superior/item/4522-lei-n-16-104-de-
12-09-16-d-o-12-09-16 Acesso em: 25/07/2018 às 14h:50min

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Art. 8º Ficam revogadas as disposições em contrário. VII - aos contratados por tempo determinado para atender
à necessidade temporária de excepcional interesse público do
PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO DO Departamento de Arquitetura e Engenharia – DAE, conforme
CEARÁ, disposto na Lei Complementar nº 124, de 10 de outubro de 2013;
em Fortaleza, 12 de setembro de 2016. VIII - aos contratados por tempo determinado para atender
à necessidade temporária de excepcional interesse público da
Camilo Sobreira de Santana Secretaria das Cidades e do Instituto de Desenvolvimento
Institucional das Cidades do Ceará - IDECI, conforme disposto na
GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ Lei Complementar nº 107, de 7 de março de 2012;
IX – aos contratados por tempo determinado para atender à
LEI N.º 16.513, DE 15.03.1816 necessidade temporária de excepcional interesse público da
Secretaria do Desenvolvimento Agrário, conforme disposto na
PROMOVE A REVISÃO GERAL DA REMUNERAÇÃO DOS Lei Complementar nº 112, de 18 de junho de 2012;
SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS DO PODER EXECUTIVO, DAS X – aos valores do prêmio de desempenho previsto no inciso
AUTARQUIAS E DAS FUNDAÇÕES PÚBLICAS ESTADUAIS, E DOS VIII do art. 2º da Lei Complementar nº 70, de 10 de novembro de
MILITARES ESTADUAIS. 2008, conforme disposto no § 3º do art. 2º da Lei Complementar
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ. nº 70, de 10 de novembro de 2008, alterado pela Lei
Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu Complementar nº 95, de 27 de janeiro de 2011;
sanciono a seguinte Lei: XI - aos admitidos por tempo determinado para atender à
necessidade temporária de excepcional interesse público da
Art. 1º O vencimento base dos servidores públicos estaduais Superintendência do Sistema Estadual de Atendimento
civis do Quadro I – Poder Executivo, das Autarquias, das Socioeducativo (SEAS), conforme disposto na Lei Complementar
Fundações Públicas Estaduais e dos militares estaduais, fica nº 163, de 5 de julho de 2016, e na Lei Complementar nº 169, de
reajustado em índice único e geral, no percentual de 3% (três 27 de dezembro de 2016;
por cento) a partir de 1º de janeiro de 2018. XII - aos contratados por tempo determinado para atender
Parágrafo único. O disposto no caput aplica-se aos valores à necessidade temporária de excepcional interesse público da
das demais parcelas remuneratórias percebidas, salvo quanto às Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos –
vantagens financeiras que dependam de previsão para a METROFOR, conforme disposto na Lei Complementar nº 164, de
alteração de seus valores. 27 de julho de 2016;
XIII - aos contratados por tempo determinado para atender
Art. 2º O benefício da pensão por morte e os proventos dos à necessidade temporária de excepcional interesse público da
servidores públicos civis, aposentados do Poder Executivo, Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos –
inclusive das Autarquias, das Fundações Públicas Estaduais e METROFOR, conforme disposto na Lei Complementar nº 165, de
dos militares estaduais da reserva e reformados ficam revistos 2 de setembro de 2016.
no mesmo índice único e geral aplicado nesta Lei para os
servidores em atividade. Art. 4º Incluídas todas as gratificações e vantagens, exceto o
adicional de férias, a maior remuneração dos militares
Art. 3º O índice da revisão geral de que trata esta Lei aplica- estaduais e dos servidores públicos civis, inativos e seus
se: pensionistas, do Poder Executivo, não poderá ultrapassar a
I - aos professores contratados de acordo com a Lei quantia correspondente ao subsídio mensal do Governador,
Complementar nº 14, de 15 de setembro de 1999, bem como aos ressalvadas as exceções constitucionalmente previstas e o
professores, graduados, detentores de diploma de nível superior, disposto na Lei nº 14.236, de 10 de novembro de 2008.
contratados por tempo determinado, nos termos da Lei
Complementar nº 22, de 24 de julho de 2000, cuja remuneração Art. 5º O auxílio-alimentação estabelecido pela Lei nº
está regulamentada no caput do art. 1º da Lei nº 14.954, de 27 15.743, de 29 de dezembro de 2014, passa a ser devido no valor
de junho de 2011; de R$ 259,57 (duzentos e cinquenta e nove reais e cinquenta e
II - aos valores constantes do anexo único do Decreto nº sete centavos), a ser pago mensalmente para todo o efetivo do
24.338, de 16 de janeiro de 1997, editado com base na Lei nº serviço ativo da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar
12.098, de 5 de maio de 1993, alterada pela Lei nº 12.656, de 26 do Estado do Ceará, de forma linear.
de dezembro de 1996;
III - à gratificação por encargo de licitação, prevista no art. Art. 6º O Poder Executivo editará Decretos prevendo as
5º da Lei Complementar nº 65, de 3 de janeiro de 2008, à novas tabelas remuneratórias dos servidores estaduais,
gratificação por encargo de desapropriação prevista no § 3º do observando a data de implantação e a aplicação dos índices de
art. 43, da Lei Complementar nº 58, de 31 de março de 2006, com revisão geral a que se refere o art. 1° desta Lei.
redação dada pela Lei Complementar nº 83, de 8 de dezembro
de 2009, à gratificação por encargo de análise e cálculo judicial Art. 7º As despesas decorrentes da execução desta Lei
prevista no art. 166-A da Lei Complementar nº 58, de 31 de correrão por conta das dotações orçamentárias próprias de
março de 2006, com redação dada pela Lei Complementar nº 95, cada órgão e entidade do Poder Executivo.
de 27 de janeiro de 2011, e à gratificação prevista no art. 3º,
incisos I e II, da Lei nº 13.920, de 24 de julho de 2007; Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação,
IV - à gratificação de serviço extraordinário prevista no art. salvo quanto aos efeitos financeiros, que vigorarão a partir de
80 da Lei nº 12.124, de 6 de julho de 1993; 1º de janeiro de 2018.
V - à gratificação por atividade disciplinar e correição
prevista no art. 21 da Lei Complementar nº 98, de 13 de junho Art. 9º Revogam-se as disposições em contrário.
de 2011;
VI - aos contratados temporariamente de acordo com o PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO DO
disposto na Lei Complementar nº 56, de 29 de março de 2006; CEARÁ,

16 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-
tematica/orcamento-financas-e-tributacao/item/6100-lei-n-16-513-de-15-03-
18-d-o-16-03-18 Acesso em: 25/07/2018 às 15h:00min

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APOSTILAS OPÇÃO

em Fortaleza, 15 de março de 2018. “Art. 2º ...


Camilo Sobreira de Santana § 1º Fica estendido o direito à percepção da Gratificação por
GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ Efetiva Regência de Classe, prevista no art. 62, inciso V, da Lei nº
10.884, de 2 de fevereiro de 1984, inclusive com os novos
LEI N.º 16.536, DE 06.04.1817 percentuais estabelecidos no caput deste artigo, aos professores
do Grupo Ocupacional do Magistério – MAG, que se encontrem
Altera os percentuais das gratificações de atividades em exercício nos órgãos que componham os sistemas estadual
educacionais especializadas – gaee, e por efetiva regência de e municipais de ensino no Estado do Ceara, na Escola de Gestão
classe, devidas aos profissionais do grupo ocupacional mag da Pública do Estado do Ceará e aos professores que se encontrem
educação básica. afastados para realização de estudos de pós-graduação, nos
termos do art. 110, inciso I, alínea “b”, da Lei nº 9.826, de 14 de
O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ. maio de 1974 e do Decreto nº 25.851, de 12 de abril de 2000,
alterado pelo Decreto nº 28.871, de 10 de setembro de 2007.”
Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu (NR)
sanciono a seguinte Lei: Parágrafo único. Ficam convalidados até a data da
publicação desta Lei os pagamentos efetuados a título de
Art. 1º A Gratificação de Atividades Educacionais Gratificação por Efetiva Regência de Classe aos professores
Especializadas – GAEEE, a que fazem jus os ocupantes dos afastados para realização de estudos de pós-graduação, os
cargos e funções de Especialistas em Educação Básica de nível termos do art. 110, inciso I, alínea “b”, da Lei nº 9.826, de 14 de
superior, integrantes do Grupo MAG, de que trata o art. 1º, da maio de 1974 e do Decreto nº 25.851, de 12 de abril de 2000,
Lei nº 16.104, de 12 de setembro de 2016, incidente alterado pelo Decreto nº 28.871, de 10 de setembro de 2007.
exclusivamente sobre o vencimento base, passa a vigorar nos
seguintes percentuais: Art. 5º As despesas correntes da execução desta Lei correrão
I – 14,5% (quatorze e meio por cento), a partir de 1º de julho por conta das dotações orçamentárias da Secretaria da
de 2018; Educação.
II – 17% (dezessete por cento), a partir de 1º de novembro
de 2018. Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 2º A Gratificação por Efetiva Regência de Classe para o Art. 7º Ficam revogadas as disposições em contrário.
professor da Educação Básica de nível superior, integrante do
Grupo MAG, prevista no art. 62, inciso V, da Lei nº 10.884, de 2 PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO DO
de fevereiro de 1984, e suas alterações posteriores, incidente CEARÁ,
exclusivamente sobre o vencimento base, passa a vigorar nos em Fortaleza, 6 de abril de 2018.
seguintes termos:
I – 24,5% (vinte e quatro e meio por cento), a partir de 1º de Camilo Sobreira de Santana
julho de 2018 e 27% (vinte e sete por cento), a partir de 1º de
novembro de 2018, aos detentores de título de Licenciatura GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ
Plena;
II- 29,5% (vinte e nove e meio por cento), a partir de 1º de
julho de 2018 e 32% (trinta e dois por cento), a partir de 1º de
novembro de 2018, aos detentores de título de Especialista,
desde que estáveis no serviço público estadual;
III- 34,5% (trinta e quatro e meio por cento), a partir de 1º
de julho de 2018 e 37% (trinta e sete por cento) a partir de 1º de
Anotações
novembro de 2018, aos detentores do título de Mestre, desde que
estáveis no serviço público estadual;
IV -54,5% (cinquenta e quatro e meio por cento), a partir de
1º de julho de 2018 e 57% (cinquenta e sete por cento) a partir
de 1º de novembro de 2018, aos detentores do título de Doutor,
desde que estáveis no serviço público estadual.

Art. 3º A Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de


Manutenção de Desenvolvimento da Educação Básica –
PVR/FUNDEB, prevista no art. 4º da Lei nº 15.243, de 6 de
dezembro de 2012, passa a ser concedida aos professores
graduados contratados nos termos da Lei Complementar nº 22,
de 24 de junho de 2000, no valor de R$ 286,69 (duzentos e
oitenta e seis reais e sessenta e nove centavos), a partir de 1º de
julho de 2018 e R$ 324,03 (trezentos e vinte e quatro reais e três
centavos) a partir de 1º de novembro de 2018, observada a
jornada de 40 (quarenta) horas semanais, cabendo o
pagamento proporcional em casos de carga horária
diferenciada.

Art. 4º Fica alterado o § 1º do art. 2º da Lei n° 15.064, de 13


de dezembro de 2011, que passa a vigorar com a seguinte
redação:

17 https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-
tematica/orcamento-financas-e-tributacao/item/6128-lei-n-16-536-de-06-04-
18-d-o-06-04-18 Acesso em: 25/07/2018

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LEGISLAÇÃO BÁSICA DA
EDUCAÇÃO

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APOSTILAS OPÇÃO

TÍTULO III
Do Direito à Educação e do Dever de Educar

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será


efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos
17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma:
a) pré-escola;
1 Lei nº 9.394/1996 e b) ensino fundamental;
alterações (Lei de Diretrizes e c) ensino médio;
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco)
Bases da Educação Nacional) anos de idade;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos
educandos com deficiência, transtornos globais do
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 19961
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
LEI DAS DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
preferencialmente na rede regular de ensino;
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e
médio para todos os que não os concluíram na idade própria;
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
TÍTULO I
do educando;
Da Educação
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
adultos, com características e modalidades adequadas às suas
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se
necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no
trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola;
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
educação básica, por meio de programas suplementares de
culturais.
material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se
à saúde;
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como
instituições próprias.
a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do
indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-
trabalho e à prática social.
aprendizagem.
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino
TÍTULO II
fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada
Art. 5° O acesso à educação básica obrigatória é direito
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
cidadãos, associação comunitária, organização sindical,
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o
qualificação para o trabalho.
Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
§ 1o O poder público, na esfera de sua competência
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes
federativa, deverá:
princípios:
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
idade escolar, bem como os jovens e adultos que não concluíram
escola;
a educação básica;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
II - fazer-lhes a chamada pública;
cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
escola.
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório,
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos
nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais
oficiais;
níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades
VII - valorização do profissional da educação escolar;
constitucionais e legais.
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo
Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na
IX - garantia de padrão de qualidade;
hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo
X - valorização da experiência extraescolar;
gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente.
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente
práticas sociais.
para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela
XII - consideração com a diversidade étnico-racial.
ser imputada por crime de responsabilidade.
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de
longo da vida. (Incluído pela Lei nº 13.632, de 2018)
ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos

1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm. Acesso em 25/07/2018


às 15h15min.

Legislação Básica da Educação 1


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APOSTILAS OPÇÃO

diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser
anterior. delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
mantenham instituições de educação superior.
Art. 6° É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula
das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
idade. I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
oficiais dos seus sistemas de ensino;
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na
seguintes condições: oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com
do respectivo sistema de ensino; a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis
II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade em cada uma dessas esferas do Poder Público;
pelo Poder Público; III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação,
no art. 213 da Constituição Federal. integrando e coordenando as suas ações e as dos seus
Municípios;
TÍTULO IV IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
Da Organização da Educação Nacional avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação
superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios V - baixar normas complementares para o seu sistema de
organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas ensino;
de ensino. VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
relação às demais instâncias educacionais. estadual.
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
nos termos desta Lei. competências referentes aos Estados e aos Municípios.

Art. 9º A União incumbir-se-á de: Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:


I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições planos educacionais da União e dos Estados;
oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios; II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao III - baixar normas complementares para o seu sistema de
Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de ensino;
seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à IV - autorizar, credenciar e supervisionar os
escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva e estabelecimentos do seu sistema de ensino;
supletiva; V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e,
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas
educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que plenamente as necessidades de sua área de competência e com
nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela
assegurar formação básica comum; Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito ensino.
Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos para VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
identificação, cadastramento e atendimento, na educação municipal.
básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se
ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a sistema único de educação básica.
educação; Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a
escolar no ensino fundamental, médio e superior, em incumbência de:
colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós- financeiros;
graduação; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das estabelecidas;
instituições de educação superior, com a cooperação dos IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada
sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de docente;
ensino; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e rendimento;
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando
superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. processos de integração da sociedade com a escola;
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos,
de Educação, com funções normativas e de supervisão e e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e
atividade permanente, criado por lei. rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a pedagógica da escola;
União terá acesso a todos os dados e informações necessários de VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
todos os estabelecimentos e órgãos educacionais. competente da Comarca e ao respectivo representante do

Legislação Básica da Educação 2


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APOSTILAS OPÇÃO

Ministério Público a relação dos alunos que apresentem Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do nas seguintes categorias: (Regulamento)
percentual permitido em lei; I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que
IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou
de combate a todos os tipos de violência, especialmente a jurídicas de direito privado que não apresentem as
intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas; características dos incisos abaixo;
(Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018) II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por
X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas,
nas escolas. (Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018) inclusive cooperativas educacionais, sem fins lucrativos, que
incluam na sua entidade mantenedora representantes da
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: comunidade;
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas
estabelecimento de ensino; por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; específicas e ao disposto no inciso anterior;
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; IV - filantrópicas, na forma da lei.
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos TÍTULO V
de menor rendimento; Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além CAPÍTULO I
de participar integralmente dos períodos dedicados ao Da Composição dos Níveis Escolares
planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
VI - colaborar com as atividades de articulação da escola Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
com as famílias e a comunidade. I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio;
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão II - educação superior.
democrática do ensino público na educação básica, de acordo CAPÍTULO II
com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: DA EDUCAÇÃO BÁSICA
I - participação dos profissionais da educação na elaboração Seção I
do projeto pedagógico da escola; Das Disposições Gerais
II - participação das comunidades escolar e local em
conselhos escolares ou equivalentes. Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o
educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no
escolares públicas de educação básica que os integram trabalho e em estudos posteriores.
progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e
de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries
financeiro público. anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de
períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
I - as instituições de ensino mantidas pela União; organização, sempre que o interesse do processo de
II - as instituições de educação superior criadas e mantidas aprendizagem assim o recomendar.
pela iniciativa privada; § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando
III - os órgãos federais de educação. se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no
País e no exterior, tendo como base as normas curriculares
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito gerais.
Federal compreendem: § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a
Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o
II - as instituições de educação superior mantidas pelo Poder número de horas letivas previsto nesta Lei.
Público municipal;
III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas e Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
mantidas pela iniciativa privada; será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas
respectivamente. para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar,
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;
integram seu sistema de ensino. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem: primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de a) por promoção, para alunos que cursaram, com
educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal; aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;
II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas b) por transferência, para candidatos procedentes de outras
pela iniciativa privada; escolas;
III - os órgãos municipais de educação. c) independentemente de escolarização anterior, mediante
Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis avaliação feita pela escola, que defina o grau de
classificam-se nas seguintes categorias administrativas: desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, inscrição na série ou etapa adequada, conforme
mantidas e administradas pelo Poder Público; regulamentação do respectivo sistema de ensino;
II - privadas, assim entendidas as mantidas e administradas III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular
por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. por série, o regimento escolar pode admitir formas de

Legislação Básica da Educação 3


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APOSTILAS OPÇÃO

progressão parcial, desde que preservada a sequência do III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de situação similar, estiver obrigado à prática da educação física;
ensino; IV - amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de outubro
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de de 1969;
séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na V - (Vetado)
matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros VI - que tenha prole.
componentes curriculares; § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
V - a verificação do rendimento escolar observará os contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação
seguintes critérios: do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do africana e europeia.
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os § 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela Lei nº
eventuais provas finais; 13.415, de 2017)
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com § 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as
atraso escolar; linguagens que constituirão o componente curricular de que
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante trata o § 2º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de
verificação do aprendizado; 2016).
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; § 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério dos
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os temas
preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo transversais de que trata o caput. (Redação dada pela Lei nº
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de 13.415, de 2017)
ensino em seus regimentos; § 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme componente curricular complementar integrado à proposta
o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no
de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por mínimo, 2 (duas) horas mensais.
cento do total de horas letivas para aprovação; § 9º Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos de todas as formas de violência contra a criança e ao
escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos
certificados de conclusão de cursos, com as especificações currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo
cabíveis. como diretriz a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do Criança e do Adolescente), observada a produção e distribuição
caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino de material didático adequado.
médio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de § 9º-A. A educação alimentar e nutricional será incluída
ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos mil entre os temas transversais de que trata o caput. (Incluído pela
horas anuais de carga horária, a partir de 2 de março de 2017. Lei nº 13.666, de 2018)
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) O § 9º-A, somente terá validade a partir de 12/11/2018,
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de tendo em vista que a Lei nº 13.666/2018 entrará em vigor
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, em 180 dias.
adequado às condições do educando, conforme o inciso VI do art. § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
4º. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular
dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e de
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades homologação pelo Ministro de Estado da Educação. (Incluído
responsáveis alcançar relação adequada entre o número de pela Lei nº 13.415, de 2017)
alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais do
estabelecimento. Art. 26.A - Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo
vista das condições disponíveis e das características regionais e da história e cultura afro-brasileira e indígena.
locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto § 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo
neste artigo. incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
caracterizam a formação da população brasileira, a partir
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas
a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o
estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas
pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes
da economia e dos educandos. à história do Brasil.
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger, § 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
realidade social e política, especialmente do Brasil. educação artística e de literatura e história brasileiras.
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões
regionais, constituirá componente curricular obrigatório da Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos
escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à
sendo sua prática facultativa ao aluno: ordem democrática;
I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis II - consideração das condições de escolaridade dos alunos
horas; em cada estabelecimento;
II - maior de trinta anos de idade; III - orientação para o trabalho;

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IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
desportivas não-formais. solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
assenta a vida social.
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações fundamental em ciclos.
necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular
de cada região, especialmente: por série podem adotar no ensino fundamental o regime de
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo
reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo
II - organização escolar própria, incluindo adequação do sistema de ensino.
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
climáticas; língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, aprendizagem.
indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a
órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que distância utilizado como complementação da aprendizagem ou
considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de em situações emergenciais.
Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a § 5o O currículo do ensino fundamental incluirá,
manifestação da comunidade escolar. obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças
e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de
Seção II julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do
Da Educação Infantil Adolescente, observada a produção e distribuição de material
didático adequado.
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação § 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como
básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da tema transversal nos currículos do ensino fundamental.
criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte
família e da comunidade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina
2013) dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
Art. 30. A educação infantil será oferecida em: religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os
três anos de idade; procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e
anos de idade. admissão dos professores.
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos
as seguintes regras comuns: conteúdos do ensino religioso.
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá
mesmo para o acesso ao ensino fundamental; pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula,
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na
distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho escola.
educacional; § 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada § 2º O ensino fundamental será ministrado
integral; progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de
IV - controle de frequência pela instituição de educação pré- ensino.
escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por
cento) do total de horas; Seção IV
V - expedição de documentação que permita atestar os Do Ensino Médio
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com
Seção III duração mínima de três anos, terá como finalidades:
Do Ensino Fundamental I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de prosseguimento de estudos;
9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
cidadão, mediante: se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo aperfeiçoamento posteriores;
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do III - o aprimoramento do educando como pessoa humana,
cálculo; incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema intelectual e do pensamento crítico;
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos
fundamenta a sociedade; dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática,
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, no ensino de cada disciplina.
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
formação de atitudes e valores; Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme

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diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei nº
áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 13.415, de 2017)
I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº § 1º A organização das áreas de que trata o caput e das
13.415, de 2017) respectivas competências e habilidades será feita de acordo com
II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. (Redação
13.415, de 2017) dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído pela I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
Lei nº 13.415, de 2017) II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela Lei § 2º Revogado pela Lei nº 11.741/08
nº 13.415, de 2017) § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o caput itinerário formativo integrado, que se traduz na composição de
do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá estar componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular
harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser - BNCC e dos itinerários formativos, considerando os incisos I a
articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, V do caput. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) § 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino § 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de
médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de educação vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino
física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº 13.415, de médio cursar mais um itinerário formativo de que trata o caput.
2017) (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação
obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às com ênfase técnica e profissional considerará: (Incluído pela Lei
comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas nº 13.415, de 2017)
línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profissional;
preferencialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino. II - a possibilidade de concessão de certificados
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) intermediários de qualificação para o trabalho, quando a
§ 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base formação for estruturada e organizada em etapas com
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e terminalidade. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de § 7º A oferta de formações experimentais relacionadas ao
acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei inciso V do caput, em áreas que não constem do Catálogo
nº 13.415, de 2017) Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
§ 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conselho
esperados para o ensino médio, que serão referência nos Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inserção no
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos,
Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) contados da data de oferta inicial da formação. (Incluído pela
§ 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a Lei nº 13.415, de 2017)
formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho § 8º A oferta de formação técnica e profissional a que se
voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua refere o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou em
formação nos aspectos físicos, cognitivos e sócio emocionais. parceria com outras instituições, deverá ser aprovada
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) previamente pelo Conselho Estadual de Educação, homologada
§ 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação pelo Secretário Estadual de Educação e certificada pelos
processual e formativa serão organizados nas redes de ensino sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
por meio de atividades teóricas e práticas, provas orais e § 9º As instituições de ensino emitirão certificado com
escritas, seminários, projetos e atividades on-line, de tal forma validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio
que ao final do ensino médio o educando demonstre: (Incluído ao prosseguimento dos estudos em nível superior ou em outros
pela Lei nº 13.415, de 2017) cursos ou formações para os quais a conclusão do ensino médio
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que seja etapa obrigatória. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº 13.415, de § 10. Além das formas de organização previstas no art. 23, o
2017) ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o
II - conhecimento das formas contemporâneas de sistema de créditos com terminalidade específica. (Incluído pela
linguagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que reconhecer competências e firmar convênios com instituições de
deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes educação a distância com notório reconhecimento, mediante as
arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto seguintes formas de comprovação: (Incluído pela Lei nº 13.415,
local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: (Redação de 2017)
dada pela Lei nº 13.415, de 2017) I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de
I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei nº 2017)
13.415, de 2017) II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei experiência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela
nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação dada III - atividades de educação técnica oferecidas em outras
pela Lei nº 13.415, de 2017) instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei nº 13.415,
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação dada de 2017)
pela Lei nº 13.415, de 2017) IV - cursos oferecidos por centros ou programas
ocupacionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)

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V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais ou Seção V


estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Da Educação de Jovens e Adultos
VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou
educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído pela Lei Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
nº 13.415, de 2017) àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá
escolha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da
previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) vida. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018)
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos
Seção IV-A jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,
consideradas as características do alunado, seus interesses,
Art. 36.A- Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões permanência do trabalhador na escola, mediante ações
técnicas. integradas e complementares entre si.
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, § 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
facultativamente, a habilitação profissional poderão ser preferencialmente, com a educação profissional, na forma do
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou regulamento.
em cooperação com instituições especializadas em educação
profissional. Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames
supletivos, que compreenderão a base nacional comum do
Art. 36.B- A educação profissional técnica de nível médio currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter
será desenvolvida nas seguintes formas: regular.
I - articulada com o ensino médio; § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os
concluído o ensino médio. maiores de quinze anos;
Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores
médio deverá observar: de dezoito anos.
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos
curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos
Educação; mediante exames.
II - as normas complementares dos respectivos sistemas de
ensino; CAPÍTULO III
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
de seu projeto pedagógico. Da Educação Profissional e Tecnológica

Art. 36.C- A educação profissional técnica de nível médio Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no
articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos
será desenvolvida de forma: diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o trabalho, da ciência e da tecnologia.
ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a § 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica
conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a
médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula construção de diferentes itinerários formativos, observadas as
única para cada aluno; normas do respectivo sistema e nível de ensino.
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio § 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os
ou já o estejam cursando, efetuando-se matrículas distintas para seguintes cursos:
cada curso, e podendo ocorrer: I – de formação inicial e continuada ou qualificação
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as profissional;
oportunidades educacionais disponíveis; II – de educação profissional técnica de nível médio;
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as III – de educação profissional tecnológica de graduação e
oportunidades educacionais disponíveis; pós-graduação.
c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de § 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de
intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne a
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. objetivos, características e duração, de acordo com as diretrizes
curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de
Art. 36.D- Os diplomas de cursos de educação profissional Educação.
técnica de nível médio, quando registrados, terão validade
nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em
educação superior. articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional técnica de educação continuada, em instituições especializadas ou no
de nível médio, nas formas articulada concomitante e ambiente de trabalho.
subsequente, quando estruturados e organizados em etapas com
terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados de Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional
qualificação para o trabalho após a conclusão, com e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de
aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento
qualificação para o trabalho. ou conclusão de estudos.
Art. 42. As instituições de educação profissional e
tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à

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capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de um candidato preencher o critério inicial. (Incluído pela Lei
de escolaridade. nº 13.184, de 2015)
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará as
CAPÍTULO IV competências e as habilidades definidas na Base Nacional
Da Educação Superior Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017)

Art. 43. A educação superior tem por finalidade: Art. 45. A educação superior será ministrada em instituições
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de
espírito científico e do pensamento reflexivo; abrangência ou especialização.
II - formar diplomados nas diferentes áreas de
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem
para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, como o credenciamento de instituições de educação superior,
e colaborar na sua formação contínua; terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação processo regular de avaliação.
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere este
entendimento do homem e do meio em que vive; artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção na
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da
e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de autonomia, ou em descredenciamento.
outras formas de comunicação; § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento responsável por sua manutenção acompanhará o processo de
cultural e profissional e possibilitar a correspondente saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessários,
concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo para a superação das deficiências.
adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do § 3º No caso de instituição privada, além das sanções
conhecimento de cada geração; previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação poderá
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo resultar em redução de vagas autorizadas e em suspensão
presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços temporária de novos ingressos e de oferta de cursos. (Alterado
especializados à comunidade e estabelecer com esta uma pela Lei 13.530/2017).
relação de reciprocidade; § 4º É facultado ao Ministério da Educação, mediante
VII - promover a extensão, aberta à participação da procedimento específico e com aquiescência da instituição de
população, visando à difusão das conquistas e benefícios ensino, com vistas a resguardar os interesses dos estudantes,
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e comutar as penalidades previstas nos §§ 1o e 3o deste artigo por
tecnológica geradas na instituição. outras medidas, desde que adequadas para superação das
VIII - atuar em favor da universalização e do deficiências e irregularidades constatadas. (Alterado pela Lei
aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a 13.530/2017).
capacitação de profissionais, a realização de pesquisas § 5º Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Federal
pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que deverão adotar os critérios definidos pela União para
aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº 13.174, autorização de funcionamento de curso de graduação em
de 2015) Medicina.” (Incluído pela Lei 13.530/2017).

Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular,
e programas: independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos
níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos exames finais, quando houver.
requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde que § 1º As instituições informarão aos interessados, antes de
tenham concluído o ensino médio ou equivalente; cada período letivo, os programas dos cursos e demais
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualificação
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido dos professores, recursos disponíveis e critérios de avaliação,
classificados em processo seletivo; obrigando-se a cumprir as respectivas condições, e a publicação
III - de pós-graduação, compreendendo programas de deve ser feita, sendo as 3 (três) primeiras formas
mestrado e doutorado, cursos de especialização, concomitantemente: (Redação dada pela lei nº 13.168, de 2015).
aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em I - em página específica na internet no sítio eletrônico oficial
cursos de graduação e que atendam às exigências das da instituição de ensino superior, obedecido o seguinte:
instituições de ensino; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como
requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº 13.168, de
ensino. 2015)
§ 1º Os resultados do processo seletivo referido no inciso II b) a página principal da instituição de ensino superior, bem
do caput deste artigo serão tornados públicos pelas instituições como a página da oferta de seus cursos aos ingressantes sob a
de ensino superior, sendo obrigatória a divulgação da relação forma de vestibulares, processo seletivo e outras com a mesma
nominal dos classificados, a respectiva ordem de classificação, finalidade, deve conter a ligação desta com a página específica
bem como do cronograma das chamadas para matrícula, de prevista neste inciso; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
acordo com os critérios para preenchimento das vagas c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio
constantes do respectivo edital. eletrônico, deve criar página específica para divulgação das
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as instituições informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº 13.168,
públicas de ensino superior darão prioridade de matrícula ao de 2015)
candidato que comprove ter renda familiar inferior a dez d) a página específica deve conter a data completa de sua
salários mínimos, ou ao de menor renda familiar, quando mais última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)

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II - em toda propaganda eletrônica da instituição de ensino Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas
superior, por meio de ligação para a página referida no inciso I; como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de
(Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) seleção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos
III - em local visível da instituição de ensino superior e de desses critérios sobre a orientação do ensino médio, articulando-
fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) se com os órgãos normativos dos sistemas de ensino.
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, de
acordo com a duração das disciplinas de cada curso oferecido, Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares
observando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) de formação dos quadros profissionais de nível superior, de
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano,
diferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela lei que se caracterizam por: (Regulamento)
nº 13.168, de 2015) I - produção intelectual institucionalizada mediante o
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do início estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto
das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e
c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo docente nacional;
até o início das aulas, os alunos devem ser comunicados sobre as II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação
alterações; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) acadêmica de mestrado ou doutorado;
V - deve conter as seguintes informações: (Incluído pela lei III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral.
nº 13.168, de 2015) Parágrafo único. É facultada a criação de universidades
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição de especializadas por campo do saber.
ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular de Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às
cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída pela lei nº universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes atribuições:
13.168, de 2015) I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e
c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas em programas de educação superior previstos nesta Lei,
cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará naquele obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualificação respectivo sistema de ensino;
profissional do docente e o tempo de casa do docente, de forma II - fixar os currículos dos seus cursos e programas,
total, contínua ou intermitente. (Incluída pela lei nº 13.168, observadas as diretrizes gerais pertinentes;
de 2015) III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa
§ 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento científica, produção artística e atividades de extensão;
nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade
instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca institucional e as exigências do seu meio;
examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em
seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino. consonância com as normas gerais atinentes;
§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, salvo VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
nos programas de educação a distância. VII - firmar contratos, acordos e convênios;
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, no VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de
período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral,
qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a bem como administrar rendimentos conforme dispositivos
oferta noturna nas instituições públicas, garantida a necessária institucionais;
previsão orçamentária. IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma
prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, estatutos;
quando registrados, terão validade nacional como prova da X - receber subvenções, doações, heranças, legados e
formação recebida por seu titular. cooperação financeira resultante de convênios com entidades
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por públicas e privadas.
elas próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições § 1º Para garantir a autonomia didático-científica das
não-universitárias serão registrados em universidades universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e pesquisa
indicadas pelo Conselho Nacional de Educação. decidir, dentro dos recursos orçamentários disponíveis, sobre:
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por universidades (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
estrangeiras serão revalidados por universidades públicas que I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos;
tenham curso do mesmo nível e área ou equivalente, (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
respeitando-se os acordos internacionais de reciprocidade ou II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada pela
equiparação. Lei nº 13.490, de 2017)
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por III - elaboração da programação dos cursos; (Redação dada
universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por pela Lei nº 13.490, de 2017)
universidades que possuam cursos de pós-graduação IV - programação das pesquisas e das atividades de
reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e em extensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
nível equivalente ou superior. V - contratação e dispensa de professores; (Redação dada
pela Lei nº 13.490, de 2017)
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei nº
transferência de alunos regulares, para cursos afins, na hipótese 13.490, de 2017)
de existência de vagas, e mediante processo seletivo. § 2º As doações, inclusive monetárias, podem ser dirigidas a
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na setores ou projetos específicos, conforme acordo entre doadores
forma da lei. e universidades. (Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017)
§ 3º No caso das universidades públicas, os recursos das
Art. 50. As instituições de educação superior, quando da doações devem ser dirigidos ao caixa único da instituição, com
ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus destinação garantida às unidades a serem beneficiadas.
cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade de (Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017)
cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio.

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e habilidades ou superdotação:
financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus planos I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
de carreira e do regime jurídico do seu pessoal. organização específicos, para atender às suas necessidades;
§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições II - terminalidade específica para aqueles que não puderem
asseguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental,
poderão: em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e menor tempo o programa escolar para os superdotados;
administrativo, assim como um plano de cargos e salários, III - professores com especialização adequada em nível
atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos médio ou superior, para atendimento especializado, bem como
disponíveis; professores do ensino regular capacitados para a integração
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformidade desses educandos nas classes comuns;
com as normas gerais concernentes; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva
III - aprovar e executar planos, programas e projetos de integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral, para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho
de acordo com os recursos alocados pelo respectivo Poder competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins,
mantenedor; bem como para aqueles que apresentam uma habilidade
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais; superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais
peculiaridades de organização e funcionamento; suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino
VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com regular.
aprovação do Poder competente, para aquisição de bens
imóveis, instalações e equipamentos; Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro nacional
VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras de alunos com altas habilidades ou superdotação matriculados
providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial na educação básica e na educação superior, a fim de fomentar a
necessárias ao seu bom desempenho. execução de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento
§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser pleno das potencialidades desse alunado. (Incluído pela Lei
estendidas a instituições que comprovem alta qualificação para nº 13.234, de 2015)
o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação realizada
pelo Poder Público. Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu estabelecerão critérios de caracterização das instituições
Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
desenvolvimento das instituições de educação superior por ela exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
mantidas. financeiro pelo Poder Público.
Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa
Art. 56. As instituições públicas de educação superior preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
existência de órgãos colegiados deliberativos, de que habilidades ou superdotação na própria rede pública regular de
participarão os segmentos da comunidade institucional, local e ensino, independentemente do apoio às instituições previstas
regional. neste artigo.
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão
setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e TÍTULO VI
comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e Dos Profissionais da Educação
modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha
de dirigentes. Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar
básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido
Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o formados em cursos reconhecidos, são:
professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de I – professores habilitados em nível médio ou superior para
aulas. a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e
médio;
CAPÍTULO V II – trabalhadores em educação portadores de diploma de
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL pedagogia, com habilitação em administração, planejamento,
supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas;
desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim.
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
habilidades ou superdotação. respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades atestados por titulação específica ou prática de ensino em
da clientela de educação especial. unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente
ou serviços especializados, sempre que, em função das condições para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas nº 13.415, de 2017)
classes comuns de ensino regular. V - profissionais graduados que tenham feito
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste complementação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho
artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao longo da Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017)
vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo único do art.
60 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018)

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APOSTILAS OPÇÃO

Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, § 2º As instituições de ensino responsáveis pela oferta de
de modo a atender às especificidades do exercício de suas cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão critérios
atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e adicionais de seleção sempre que acorrerem aos certames
modalidades da educação básica, terá como fundamentos: interessados em número superior ao de vagas disponíveis para
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o os respectivos cursos. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas
competências de trabalho; § 3º Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem definidos
II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios em regulamento pelas universidades, terão prioridade de
supervisionados e capacitação em serviço; ingresso os professores que optarem por cursos de licenciatura
III – o aproveitamento da formação e experiências em matemática, física, química, biologia e língua portuguesa.
anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)

Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, I - cursos formadores de profissionais para a educação
admitida, como formação mínima para o exercício do básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação
magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade do ensino fundamental;
normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de 2017) II - programas de formação pedagógica para portadores de
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios, diplomas de educação superior que queiram se dedicar à
em regime de colaboração, deverão promover a formação educação básica;
inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de III - programas de educação continuada para os
magistério. profissionais de educação dos diversos níveis.
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos
profissionais de magistério poderão utilizar recursos e Art. 64. A formação de profissionais de educação para
tecnologias de educação a distância. administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação
§ 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará educacional para a educação básica, será feita em cursos de
preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo uso graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a
de recursos e tecnologias de educação a distância. critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a
§ 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios base comum nacional.
adotarão mecanismos facilitadores de acesso e permanência em
cursos de formação de docentes em nível superior para atuar na Art. 65. A formação docente, exceto para a educação
educação básica pública. superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas
§ 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios horas.
incentivarão a formação de profissionais do magistério para
atuar na educação básica pública mediante programa Art. 66. A preparação para o exercício do magistério
institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente
matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena, nas em programas de mestrado e doutorado.
instituições de educação superior. Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por
§ 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota universidade com curso de doutorado em área afim, poderá
mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do ensino suprir a exigência de título acadêmico.
médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de
graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos
Nacional de Educação - CNE. profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos
§ 7o (Vetado). termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério
§ 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes terão público:
por referência a Base Nacional Comum Curricular. (Incluído I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e
pela lei nº 13.415, de 2017) títulos;
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com
Art. 62. A- A formação dos profissionais a que se refere o licenciamento periódico remunerado para esse fim;
inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo III - piso salarial profissional;
técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo IV - progressão funcional baseada na titulação ou
habilitações tecnológicas. habilitação, e na avaliação do desempenho;
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou incluído na carga de trabalho;
em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos VI - condições adequadas de trabalho.
de educação profissional, cursos superiores de graduação plena § 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício
ou tecnológicos e de pós-graduação. profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos
termos das normas de cada sistema de ensino.
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas de § 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8o do
educação básica a cursos superiores de pedagogia e licenciatura art. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções de
será efetivado por meio de processo seletivo diferenciado. magistério as exercidas por professores e especialistas em
(Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) educação no desempenho de atividades educativas, quando
exercidas em estabelecimento de educação básica em seus
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no caput diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da
deste artigo os professores das redes públicas municipais, docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação
estaduais e federal que ingressaram por concurso público, e assessoramento pedagógico.
tenham pelo menos três anos de exercício da profissão e não § 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, ao
sejam portadores de diploma de graduação. (Incluído pela Lei Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de concursos
nº 13.478, de 2017) públicos para provimento de cargos dos profissionais da
educação.

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TÍTULO VII VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção


Dos Recursos financeiros de programas de transporte escolar.

Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e
originários de: desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino,
Distrito Federal e dos Municípios; ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise,
II - receita de transferências constitucionais e outras precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua
transferências; expansão;
III - receita do salário-educação e de outras contribuições II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter
sociais; assistencial, desportivo ou cultural;
IV - receita de incentivos fiscais; III - formação de quadros especiais para a administração
V - outros recursos previstos em lei. pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;
IV - programas suplementares de alimentação, assistência
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte e formas de assistência social;
cinco por cento, ou o que consta nas respectivas Constituições ou V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
Leis Orgânicas, da receita resultante de impostos, beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
compreendidas as transferências constitucionais, na VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação,
manutenção e desenvolvimento do ensino público. quando em desvio de função ou em atividade alheia à
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela manutenção e desenvolvimento do ensino.
União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos
Estados aos respectivos Municípios, não será considerada, para Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e
efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a desenvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos
transferir. balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que se
§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.
mencionadas neste artigo as operações de crédito por Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão,
antecipação de receita orçamentária de impostos. prioritariamente, na prestação de contas de recursos públicos, o
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição Federal,
mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e
estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o na legislação concernente.
caso, por lei que autorizar a abertura de créditos adicionais, com Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito
base no eventual excesso de arrecadação. Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as oportunidades educacionais para o ensino fundamental,
efetivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de
percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas assegurar ensino de qualidade.
a cada trimestre do exercício financeiro. Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa da será calculado pela União ao final de cada ano, com validade
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para o ano subsequente, considerando variações regionais no
ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela educação, custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino.
observados os seguintes prazos:
I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos
mês, até o vigésimo dia; Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente, as
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de qualidade
dia de cada mês, até o trigésimo dia; de ensino.
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula
de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente. de domínio público que inclua a capacidade de atendimento e a
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito
monetária e à responsabilização civil e criminal das autoridades Federal ou do Município em favor da manutenção e do
competentes. desenvolvimento do ensino.
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo será
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e definida pela razão entre os recursos de uso
desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas à constitucionalmente obrigatório na manutenção e
consecução dos objetivos básicos das instituições educacionais desenvolvimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao
de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a: padrão mínimo de qualidade.
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a
demais profissionais da educação; União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada
II - aquisição, manutenção, construção e conservação de estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos que
instalações e equipamentos necessários ao ensino; efetivamente frequentam a escola.
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
ensino; exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua
precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V do
ensino; art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade de
V - realização de atividades-meio necessárias ao atendimento.
funcionamento dos sistemas de ensino;
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo
públicas e privadas; anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos
VII - amortização e custeio de operações de crédito Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei, sem
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo; prejuízo de outras prescrições legais.

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Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas § 2º A União regulamentará os requisitos para a realização
públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, de exames e registro de diploma relativos a cursos de educação
confessionais ou filantrópicas que: a distância.
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam § 3º As normas para produção, controle e avaliação de
resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela de programas de educação a distância e a autorização para sua
seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto; implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino,
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação; podendo haver cooperação e integração entre os diferentes
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra sistemas.
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder § 4º A educação a distância gozará de tratamento
Público, no caso de encerramento de suas atividades; diferenciado, que incluirá:
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos recebidos. I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios de
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na forma comunicação que sejam explorados mediante autorização,
da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, concessão ou permissão do poder público;
quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública II - concessão de canais com finalidades exclusivamente
de domicílio do educando, ficando o Poder Público obrigado a educativas;
investir prioritariamente na expansão da sua rede local. III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão Público, pelos concessionários de canais comerciais.
poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive
mediante bolsas de estudo. Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições
de ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições
TÍTULO VIII desta Lei.
Das Disposições Gerais
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de
Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal
das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos sobre a matéria.
índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa,
para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
povos indígenas, com os seguintes objetivos: admitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a fixadas pelos sistemas de ensino.
recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas
identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências; Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respectivas
às informações, conhecimentos técnicos e científicos da instituições, exercendo funções de monitoria, de acordo com seu
sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-índias. rendimento e seu plano de estudos.

Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação própria
sistemas de ensino no provimento da educação intercultural às poderá exigir a abertura de concurso público de provas e títulos
comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados para cargo de docente de instituição pública de ensino que
de ensino e pesquisa. estiver sendo ocupado por professor não concursado, por mais
§ 1º Os programas serão planejados com audiência das de seis anos, ressalvados os direitos assegurados pelos arts. 41
comunidades indígenas. da Constituição Federal e 19 do Ato das Disposições
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos Constitucionais Transitórias.
Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos:
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna Art. 86. As instituições de educação superior constituídas
de cada comunidade indígena; como universidades integrar-se-ão, também, na sua condição de
II - manter programas de formação de pessoal especializado, instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciência e
destinado à educação escolar nas comunidades indígenas; Tecnologia, nos termos da legislação específica.
III - desenvolver currículos e programas específicos, neles
incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas TÍTULO IX
comunidades; Das Disposições Transitórias
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático
específico e diferenciado. Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um
§ 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo de ano a partir da publicação desta Lei.
outras ações, o atendimento aos povos indígenas efetivar-se-á, § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação
nas universidades públicas e privadas, mediante a oferta de desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano
ensino e de assistência estudantil, assim como de estímulo à Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos
pesquisa e desenvolvimento de programas especiais. seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre
Educação para Todos.
Art. 79-A. (Vetado) § 2º (Revogado)
§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e,
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro supletivamente, a União, devem:
como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. I - (Revogado)
a) (Revogado)
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a b) (Revogado)
veiculação de programas de ensino a distância, em todos os c) (Revogado)
níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e adultos insuficientemente escolarizados;
regime especiais, será oferecida por instituições especificamente
credenciadas pela União.

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APOSTILAS OPÇÃO

III - realizar programas de capacitação para todos os IV. É garantida a vaga na escola pública de educação
professores em exercício, utilizando também, para isto, os infantil ou de ensino fundamental mais próxima da residência
recursos da educação a distância; a toda criança a partir do dia em que completar 4 anos de
IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino idade.
fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação V. É garantido acesso público e gratuito aos ensinos
do rendimento escolar. fundamental e médio para todos os que não os concluíram na
§ 4º (Revogado) idade própria, porém vedado acesso aos níveis mais elevados
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino capacidade de cada um.
fundamental para o regime de escolas de tempo integral.
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao É correto o que afirma em:
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados aos (A) I, II e III, apenas.
seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimento do art. (B) I e IV, apenas.
212 da Constituição Federal e dispositivos legais pertinentes (C) II, III e V, apenas.
pelos governos beneficiados. (D) I, IV e V, apenas.

Art. 87.A- (Vetado). 02. (Prefeitura Municipal de Alumínio/SP - Auxiliar de


Desenvolvimento Infantil - VUNESP/2016) A Lei Federal nº
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os 9.394, de 20.12.1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Municípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino às Nacional), introduziu uma série de inovações em relação à
disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir da Educação Básica, dentre as quais,
data de sua publicação. (A) a construção de identidade das creches e pré-escolas
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos e com base nas diferenciações em relação à classe social das
regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos crianças.
respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes (B) o atendimento obrigatório e gratuito no ensino
estabelecidos. fundamental e gratuidade extensiva apenas à Educação
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o disposto Infantil das crianças a partir dos 4 anos de idade.
nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. (C) o atendimento em creches e pré-escolas pelos órgãos
de assistência social, prioritariamente.
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham a (D) o entendimento da creche e pré-escola como um favor
ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da aos socialmente menos favorecidos.
publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de (E) a integração das creches nos sistemas de ensino,
ensino. compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa da
Educação Básica.
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime
anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo 03. (TJ/GO- Analista Judiciário- Pedagogia- FGV) A
Conselho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste, educação escolar, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da
pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, é dever da família
autonomia universitária. e do Estado.
Cabe ao Estado garantir, a partir da nova redação do Art.
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 4º da LDB instituída pela Lei nº 12.796, de 2013:
(A) educação básica obrigatória e gratuita dos seis aos
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de 20 quatorze anos de idade;
de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968, não (B) educação infantil e ensino fundamental obrigatórios e
alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de gratuitos;
1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs (C) ensino fundamental e ensino médio obrigatórios e
5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, gratuitos;
e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer (D) educação básica obrigatória e gratuita a todos que
outras disposições em contrário. desejarem cursá-la;
(E) educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos
Questões dezessete anos de idade.

01. (SEAP/DF- Professor- IBFC) De acordo com o que 04. (Pref. Mun. de Palhoça/SC – Professor de Educação
disserta a Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Infantil – Pref. Mun. de Palhoça/2016) Assinale a
Brasileira (LDB), julgue os itens a seguir: alternativa FALSA:
I. A LDB reconhece que a educação abrange os processos (A) A educação superior somente será ministrada em
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na instituições de ensino superior públicas, com variados graus
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino, de abrangência ou especialização.
nos movimentos sociais e nas manifestações culturais. Por (B) Os cursos de pós-graduação serão oferecidos em
isso, a lei disserta, expressamente, que a educação escolar diversas instituições públicas ou privadas.
deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. (C) A educação superior será oferecida tanto em
II. A educação básica é obrigatória e gratuita dos 6 anos aos instituições públicas como nas privadas.
17 anos de idade, organizada da seguinte forma: pré-escola, (D) A educação superior será ministrada em instituições
ensino fundamental e ensino médio. Sendo a educação infantil de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus
gratuita às crianças de até 6 anos de idade de abrangência ou especialização.
III. O atendimento ao educando é previsto, em todas as
etapas da educação básica, por meio de programas
suplementares de material didático-escolar e alimentação.
Transporte e assistência à saúde não estão expressamente
previstos na LDB 9394/96, sendo deixados à lei ordinária.

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05. (Pref. Mun. de Nova Friburgo/RJ - Secretário b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de
Escolar - EXATUS/PR) A questão é concernente a Lei de relevância pública;
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Nº 9394/96)”. c) preferência na formulação e na execução das políticas
Segundo a LDB, a educação escolar compõe-se de: sociais públicas;
(A) Educação Básica e Educação Infantil. d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
(B) Educação Infantil e Ensino Fundamental. relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
(C) Educação Básica e Educação Superior.
(D) Educação Básica, Educação Infantil e Educação Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
Superior. qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer
Gabarito atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
01.B / 02.E / 03.E / 04.A / 05.C
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os
fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os
direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar
2 Lei nº 8.069/1990 e da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
alterações (Estatuto da
Criança e do Adolescente) Título II
Dos Direitos Fundamentais
Capítulo I
Do Direito à Vida e à Saúde
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 19902
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à
DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
ADOLESCENTE E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio
e harmonioso, em condições dignas de existência.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos
programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento
Título I reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção
Das Disposições Preliminares humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento
pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e Único de Saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
ao adolescente. § 1o O atendimento pré-natal será realizado por
profissionais da atenção primária. (Redação dada pela Lei nº
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a 13.257, de 2016)
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela § 2o Os profissionais de saúde de referência da gestante
entre doze e dezoito anos de idade. garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte direito de opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
e um anos de idade. de 2016)
§ 3o Os serviços de saúde onde o parto for realizado
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da hospitalar responsável e contra referência na atenção primária,
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por bem como o acesso a outros serviços e a grupos de apoio à
lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, § 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal,
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam- inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências
se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de do estado puerperal.
nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, § 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser
religião ou crença, deficiência, condição pessoal de prestada também a gestantes e mães que manifestem interesse
desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, em entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição mães que se encontrem em situação de privação de liberdade.
que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) § 6o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)
acompanhante de sua preferência durante o período do pré-
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a pela Lei nº 13.257, de 2016)
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, § 7o A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento
à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, materno, alimentação complementar saudável e crescimento e
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a
comunitária. criação de vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer § 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável
circunstâncias; durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções

2http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em 25/07/2018 às


15h17min.

Legislação Básica da Educação 15


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cirúrgicas por motivos médicos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
2016) inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
§ 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da cuidados intermediários, deverão proporcionar condições para
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré- a permanência em tempo integral de um dos pais ou
natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente.
pós-parto. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à
mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico,
custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra
atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único de criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao
Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de
sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento outras providências legais.
integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) § 1o As gestantes ou mães que manifestem interesse em
entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da
propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de § 2o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de
liberdade. entrada, os serviços de assistência social em seu componente
§ 1o Os profissionais das unidades primárias de saúde especializado, o Centro de Referência Especializado de
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão
ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na
à alimentação complementar saudável, de forma contínua. faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) de violência de qualquer natureza, formulando projeto
§ 2o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se
deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei nº
de leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) 13.257, de 2016)

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de
saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a: assistência médica e odontológica para a prevenção das
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil,
prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos; e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua alunos.
impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem § 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos
prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado do
administrativa competente; parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica § 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde
de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal,
prestar orientação aos pais; integral e inter setorial com as demais linhas de cuidado
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem direcionadas à mulher e à criança. (Incluído pela Lei nº 13.257,
necessariamente as intercorrências do parto e do de 2016)
desenvolvimento do neonato; § 3º A atenção odontológica à criança terá função educativa
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nascer,
a permanência junto à mãe. por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no
VI - acompanhar a prática do processo de amamentação, sexto e no décimo segundo anos de vida, com orientações sobre
prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a saúde bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo § 4º A criança com necessidade de cuidados odontológicos
técnico já existente. (Incluído pela Lei nº 13.436, de 2017) especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. (Incluído
pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado § 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus
voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro
Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção,
acesso a ações e serviços para promoção, proteção e em consulta pediátrica de acompanhamento da criança, de risco
recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de para o seu desenvolvimento psíquico. (Incluído pela Lei nº
2016) 13.438, de 2017)
§ 1o A criança e o adolescente com deficiência serão
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas Capítulo II
necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
reabilitação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao
àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de
outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e
habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de sociais garantidos na Constituição e nas leis.
acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades
específicas. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
§ 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou aspectos:
frequente de crianças na primeira infância receberão formação I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
específica e permanente para a detecção de sinais de risco para comunitários, ressalvadas as restrições legais;
o desenvolvimento psíquico, bem como para o acompanhamento II - opinião e expressão;
que se fizer necessário. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) III - crença e culto religioso;

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IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; a autoridade judiciária competente, com base em relatório
V - participar da vida familiar e comunitária, sem elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar,
discriminação; decidir de forma fundamentada pela possibilidade de
VI - participar da vida política, na forma da lei; reintegração familiar ou pela colocação em família substituta,
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da § 2º A permanência da criança e do adolescente em
integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, programa de acolhimento institucional não se prolongará por
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessidade que
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada
pessoais. pela autoridade judiciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
2017)
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e § 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou
do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento adolescente à sua família terá preferência em relação a
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em
serviços e programas de proteção, apoio e promoção, nos termos
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser do § 1º do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos
educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Redação dada pela
cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, Lei nº 13.257, de 2016)
educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos § 4º Será garantida a convivência da criança e do
integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas
qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá- hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade
los ou protegê-los. responsável, independentemente de autorização judicial.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: § 5º Será garantida a convivência integral da criança com a
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional.
aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
adolescente que resulte em: § 6º A mãe adolescente será assistida por equipe
a) sofrimento físico; ou especializada multidisciplinar. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
b) lesão; 2017)
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel
de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em
a) humilhe; entregar seu filho para adoção, antes ou logo após o nascimento,
b) ameace gravemente; ou será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído
c) ridicularize. pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 1º A gestante ou mãe será ouvida pela equipe
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, que
responsáveis, os agentes públicos executores de medidas apresentará relatório à autoridade judiciária, considerando
socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional e puerperal.
crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante § 2º De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá
como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer determinar o encaminhamento da gestante ou mãe, mediante
outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções sua expressa concordância, à rede pública de saúde e assistência
cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo social para atendimento especializado. (Incluído pela Lei nº
com a gravidade do caso: 13.509, de 2017)
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de § 3º A busca à família extensa, conforme definida nos termos
proteção à família; do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará o prazo
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual período.
psiquiátrico; (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; § 4º Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento não existir outro representante da família extensa apto a
especializado; receber a guarda, a autoridade judiciária competente deverá
V - advertência. decretar a extinção do poder familiar e determinar a colocação
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão da criança sob a guarda provisória de quem estiver habilitado a
aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras adotá-la ou de entidade que desenvolva programa de
providências legais. acolhimento familiar ou institucional. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)
Capítulo III § 5º Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária ambos os genitores, se houver pai registral ou pai indicado, deve
Seção I ser manifestada na audiência a que se refere o § 1º do art. 166
Disposições Gerais desta Lei, garantido o sigilo sobre a entrega. (Incluído pela Lei
nº 13.509, de 2017)
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e § 6º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família § 7º Os detentores da guarda possuem o prazo de 15
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em (quinze) dias para propor a ação de adoção, contado do dia
ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. (Redação seguinte à data do término do estágio de convivência. (Incluído
dada pela Lei nº 13.257, de 2016) pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 1º Toda criança ou adolescente que estiver inserido em § 8º Na hipótese de desistência pelos genitores - manifestada
programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua em audiência ou perante a equipe interprofissional - da entrega
situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo da criança após o nascimento, a criança será mantida com os

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genitores, e será determinado pela Justiça da Infância e da Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
Juventude o acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos
e oitenta) dias. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
§ 9º É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento, descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que
respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. (Incluído pela Lei nº alude o art. 22.
13.509, de 2017)
§ 10 (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Seção II
Da Família Natural
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de
acolhimento institucional ou familiar poderão participar de Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade
programa de apadrinhamento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
2017) Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou
§ 1º O apadrinhamento consiste em estabelecer e ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e
proporcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos
instituição para fins de convivência familiar e comunitária e com os quais a criança ou adolescente convive e mantém
colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, vínculos de afinidade e afetividade.
moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro. (Incluído pela
Lei nº 13.509, de 2017) Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser
§ 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio
§ 3º Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou
adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvimento. outro documento público, qualquer que seja a origem da
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) filiação.
§ 4º O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
será definido no âmbito de cada programa de apadrinhamento, nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar
com prioridade para crianças ou adolescentes com remota descendentes.
possibilidade de reinserção familiar ou colocação em família
adotiva. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito
§ 5º Os programas ou serviços de apadrinhamento apoiados personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser
pela Justiça da Infância e da Juventude poderão ser executados exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
por órgãos públicos ou por organizações da sociedade restrição, observado o segredo de Justiça.
civil. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 6º Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os Seção III
responsáveis pelo programa e pelos serviços de acolhimento Da Família Substituta
deverão imediatamente notificar a autoridade judiciária Subseção I
competente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Disposições Gerais

Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante
ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
filiação. § 1º Sempre que possível, a criança ou o adolescente será
previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as
condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a implicações da medida, e terá sua opinião devidamente
legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em considerada
caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária § 2º Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será
competente para a solução da divergência. necessário seu consentimento, colhido em audiência.
§ 3º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida.
destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações § 4º Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela
judiciais. ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que
direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa,
cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento
direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas, definitivo dos vínculos fraternais.
assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. § 5o A colocação da criança ou adolescente em família
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) substituta será precedida de sua preparação gradativa e
acompanhamento posterior, realizados pela equipe
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela
familiar. execução da política municipal de garantia do direito à
§ 1o Não existindo outro motivo que por si só autorize a convivência familiar.
decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido § 6ºEm se tratando de criança ou adolescente indígena ou
em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda
incluída em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e obrigatório.
promoção. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade
§ 2o A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas
a destituição do poder familiar, exceto na hipótese de instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos
condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclusão, contra fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Constituição
o próprio filho ou filha. Federal;

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APOSTILAS OPÇÃO

II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio § 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais,
de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia; distritais e municipais para a manutenção dos serviços de
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse de
federal responsável pela política indigenista, no caso de crianças recursos para a própria família acolhedora. (Incluído pela Lei nº
e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe 13.257, de 2016)
interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso.
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo,
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério
pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a Público.
natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar
adequado. Subseção III
Da Tutela
Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá
transferência da criança ou adolescente a terceiros ou a Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a
entidades governamentais ou não-governamentais, sem pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.
autorização judicial. Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia
decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica
Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira necessariamente o dever de guarda.
constitui medida excepcional, somente admissível na
modalidade de adoção. Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer
documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável art. 1.729 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da
encargo, mediante termo nos autos. sucessão, ingressar com pedido destinado ao controle judicial do
ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170
Subseção II desta Lei.
Da Guarda Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados
os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última
moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu vontade, se restar comprovado que a medida é vantajosa ao
detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. tutelando e que não existe outra pessoa em melhores condições
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, de assumi-la.
podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos
procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art.
estrangeiros. 24.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos
de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir Subseção IV
a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o Da Adoção
direito de representação para a prática de atos determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á
de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive segundo o disposto nesta Lei.
previdenciários. § 1º A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se
§ 4º Salvo expressa e fundamentada determinação em deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de
contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a manutenção da criança ou adolescente na família natural ou
medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.
da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o § 2º É vedada a adoção por procuração.
exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de § 3º Em caso de conflito entre direitos e interesses do
prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos,
específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público. devem prevalecer os direitos e os interesses do adotando.
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito
forma de guarda, de criança ou adolescente afastado do anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela
convívio familiar. dos adotantes.
§ 1º A inclusão da criança ou adolescente em programas de
acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com
institucional, observado, em qualquer caso, o caráter os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o
temporário e excepcional da medida, nos termos desta Lei. de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo a pessoa ou casal matrimoniais.
cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá § 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro,
receber a criança ou adolescente mediante guarda, observado o mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge
disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei. ou concubino do adotante e os respectivos parentes.
§ 3º A União apoiará a implementação de serviços de § 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus
acolhimento em família acolhedora como política pública, os descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e
quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação
temporário de crianças e de adolescentes em residências de hereditária.
famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que não
estejam no cadastro de adoção. (Incluído pela Lei nº 13.257, de Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos,
2016) independentemente do estado civil.

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§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do § 5º O estágio de convivência será cumprido no território
adotando. nacional, preferencialmente na comarca de residência da
§ 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe,
sejam casados civilmente ou mantenham união estável, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do juízo da
comprovada a estabilidade da família. comarca de residência da criança. (Incluído pela Lei nº 13.509,
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais de 2017)
velho do que o adotando.
§ 4º Os divorciados, os judicialmente separados e os ex Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença
companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do
acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o qual não se fornecerá certidão.
estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais,
período de convivência e que seja comprovada a existência de bem como o nome de seus ascendentes.
vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o
guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão. registro original do adotado.
§ 5º Nos casos do § 4º deste artigo, desde que demonstrado § 3º A pedido do adotante, o novo registro poderá ser
efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua
compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei nº 10.406, residência.
de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil § 4º Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após constar nas certidões do registro.
inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do § 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e,
procedimento, antes de prolatada a sentença. a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do
prenome.
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais § 6º Caso a modificação de prenome seja requerida pelo
vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o
disposto nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei.
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e § 7º A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em
saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no
pupilo ou o curatelado. § 6º do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data
do óbito.
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do § 8º O processo relativo à adoção assim como outros a ele
representante legal do adotando. relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu
§ 1º O consentimento será dispensado em relação à criança armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida
ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido a sua conservação para consulta a qualquer tempo.
destituídos do poder familiar. § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de adoção
§ 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos de em que o adotando for criança ou adolescente com deficiência
idade, será também necessário o seu consentimento. ou com doença crônica.
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez por
com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90 igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade
(noventa) dias, observadas a idade da criança ou adolescente e judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
as peculiaridades do caso. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
2017) Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem
§ 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no
adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após
durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a completar 18 (dezoito) anos.
conveniência da constituição do vínculo. Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser
§ 2º A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu
dispensa da realização do estágio de convivência. pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e
§ 2º-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste artigo psicológica.
pode ser prorrogado por até igual período, mediante decisão
fundamentada da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder
13.509, de 2017) familiar dos pais naturais.
§ 3º Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou
domiciliado fora do País, o estágio de convivência será de, no Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca
mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco) ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes em
dias, prorrogável por até igual período, uma única vez, mediante condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas na
decisão fundamentada da autoridade judiciária. (Redação dada adoção.
pela Lei nº 13.509, de 2017) § 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia
§ 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo, deverá consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério
ser apresentado laudo fundamentado pela equipe mencionada Público.
no § 4o deste artigo, que recomendará ou não o deferimento da § 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não
adoção à autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das
2017) hipóteses previstas no art. 29.
§ 4º O estágio de convivência será acompanhado pela equipe § 3º A inscrição de postulantes à adoção será precedida de
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude,
execução da política de garantia do direito à convivência preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da execução da política municipal de garantia do direito à
conveniência do deferimento da medida. convivência familiar.

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§ 4º Sempre que possível e recomendável, a preparação § 1o A adoção internacional de criança ou adolescente


referida no § 3º deste artigo incluirá o contato com crianças e brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando
adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em restar comprovado:
condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, I - que a colocação em família adotiva é a solução adequada
supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância ao caso concreto; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
e da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação
programa de acolhimento e pela execução da política municipal da criança ou adolescente em família adotiva brasileira, com a
de garantia do direito à convivência familiar. comprovação, certificada nos autos, da inexistência de
§ 5º Serão criados e implementados cadastros estaduais e adotantes habilitados residentes no Brasil com perfil compatível
nacional de crianças e adolescentes em condições de serem com a criança ou adolescente, após consulta aos cadastros
adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção. mencionados nesta Lei; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
§ 6º Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais 2017)
residentes fora do País, que somente serão consultados na III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi
inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadastros consultado, por meios adequados ao seu estágio de
mencionados no § 5º deste artigo. desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida,
§ 7º As autoridades estaduais e federais em matéria de mediante parecer elaborado por equipe interprofissional,
adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei.
troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria do § 2º Os brasileiros residentes no exterior terão preferência
sistema. aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança
§ 8º A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 ou adolescente brasileiro.
(quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes § 3º A adoção internacional pressupõe a intervenção das
em condições de serem adotados que não tiveram colocação Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção
familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que internacional.
tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros
estadual e nacional referidos no § 5º deste artigo, sob pena de Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento
responsabilidade. previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes
§ 9º Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela adaptações:
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com posterior I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar
comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira. criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de
§ 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria
pretendentes habilitados residentes no País com perfil de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido
compatível e interesse manifesto pela adoção de criança ou aquele onde está situada sua residência habitual;
adolescente inscrito nos cadastros existentes, será realizado o II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar
encaminhamento da criança ou adolescente à adoção que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá
internacional. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) um relatório que contenha informações sobre a identidade, a
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar,
em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os
e recomendável, será colocado sob guarda de família motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção
cadastrada em programa de acolhimento familiar. internacional;
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o
dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a
Público. Autoridade Central Federal Brasileira;
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de IV - o relatório será instruído com toda a documentação
candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe
nos termos desta Lei quando: interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação
I - se tratar de pedido de adoção unilateral; pertinente, acompanhada da respectiva prova de vigência;
II - for formulada por parente com o qual a criança ou V - os documentos em língua estrangeira serão devidamente
adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; autenticados pela autoridade consular, observados os tratados
III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva
legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que tradução, por tradutor público juramentado;
o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e
afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do
má-fé ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de
desta Lei. acolhida;
§ 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade
candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, que Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira
preenche os requisitos necessários à adoção, conforme previsto com a nacional, além do preenchimento por parte dos
nesta Lei. postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos
§ 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe esta
interessadas em adotar criança ou adolescente com deficiência, Lei como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo
com doença crônica ou com necessidades específicas de saúde, de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no
além de grupo de irmãos. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) máximo, 1 (um) ano;
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da
pretendente possui residência habitual em país-parte da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança
Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade
das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Central Estadual.
Internacional, promulgada pelo Decreto no3.087, de 21 junho de § 1o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar,
1999, e deseja adotar criança em outro país-parte da admite-se que os pedidos de habilitação à adoção internacional
Convenção. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) sejam intermediados por organismos credenciados.

Legislação Básica da Educação 21


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§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão
credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros digital do seu polegar direito, instruindo o documento com cópia
encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção autenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado.
internacional, com posterior comunicação às Autoridades § 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a
Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de imprensa qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das
e em sítio próprio da internet. crianças e adolescentes adotados.
§ 3o Somente será admissível o credenciamento de § 11. A cobrança de valores por parte dos organismos
organismos que: credenciados, que sejam considerados abusivos pela Autoridade
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de Central Federal Brasileira e que não estejam devidamente
Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade comprovados, é causa de seu descredenciamento.
Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do § 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser
adotando para atuar em adoção internacional no Brasil; representados por mais de uma entidade credenciada para
II - satisfizerem as condições de integridade moral, atuar na cooperação em adoção internacional.
competência profissional, experiência e responsabilidade § 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domiciliado
exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, podendo ser
Federal Brasileira; renovada.
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua § 14. É vedado o contato direto de representantes de
formação e experiência para atuar na área de adoção organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com
internacional; dirigentes de programas de acolhimento institucional ou
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento familiar, assim como com crianças e adolescentes em condições
jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade de serem adotados, sem a devida autorização judicial.
Central Federal Brasileira. § 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá limitar
§ 4o Os organismos credenciados deverão ainda: ou suspender a concessão de novos credenciamentos sempre que
I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e julgar necessário, mediante ato administrativo fundamentado.
dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do
país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e
Autoridade Central Federal Brasileira; descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de
II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e organismos estrangeiros encarregados de intermediar pedidos
de reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação de adoção internacional a organismos nacionais ou a pessoas
ou experiência para atuar na área de adoção internacional, físicas.
cadastradas pelo Departamento de Polícia Federal e aprovadas Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser
pela Autoridade Central Federal Brasileira, mediante efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente e
publicação de portaria do órgão federal competente; estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de
III - estar submetidos à supervisão das autoridades Direitos da Criança e do Adolescente.
competentes do país onde estiverem sediados e no país de
acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em
situação financeira; país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção
IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a tenha sido processado em conformidade com a legislação
cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem vigente no país de residência e atendido o disposto na Alínea “c”
como relatório de acompanhamento das adoções internacionais do Artigo 17 da referida Convenção, será automaticamente
efetuadas no período, cuja cópia será encaminhada ao recepcionada com o reingresso no Brasil.
Departamento de Polícia Federal; § 1º Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea “c” do
V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser
Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.
Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do § 2º O pretendente brasileiro residente no exterior em país
relatório será mantido até a juntada de cópia autenticada do não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no
registro civil, estabelecendo a cidadania do país de acolhida Brasil, deverá requerer a homologação da sentença estrangeira
para o adotado; pelo Superior Tribunal de Justiça.
VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o
cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país de
certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos. origem da criança ou do adolescente será conhecida pela
§ 5º A não apresentação dos relatórios referidos no § 4o deste Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de
artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar a habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à
suspensão de seu credenciamento. Autoridade Central Federal e determinará as providências
§ 6º O credenciamento de organismo nacional ou necessárias à expedição do Certificado de Naturalização
estrangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção Provisório.
internacional terá validade de 2 (dois) anos. § 1º A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério
§ 7º A renovação do credenciamento poderá ser concedida Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela
mediante requerimento protocolado na Autoridade Central decisão se restar demonstrado que a adoção é manifestamente
Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao término contrária à ordem pública ou não atende ao interesse superior
do respectivo prazo de validade. da criança ou do adolescente.
§ 8º Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu § 2º Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista
a adoção internacional, não será permitida a saída do adotando no § 1º deste artigo, o Ministério Público deverá imediatamente
do território nacional. requerer o que for de direito para resguardar os interesses da
§ 9º Transitada em julgado a decisão, a autoridade criança ou do adolescente, comunicando-se as providências à
judiciária determinará a expedição de alvará com autorização Autoridade Central Estadual, que fará a comunicação à
de viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando, Autoridade Central Federal Brasileira e à Autoridade Central do
obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente país de origem.
adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços

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Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores
país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da
origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da
ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o criação e o acesso às fontes de cultura.
adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à
Convenção referida, o processo de adoção seguirá as regras da Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União,
adoção nacional. estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços
para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas
Capítulo IV para a infância e a juventude.
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
Capítulo V
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, Do Direito à Profissionalização e à Proteção no
visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para Trabalho
o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,
assegurando-se lhes: Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na anos de idade, salvo na condição de aprendiz.
escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores; Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei
recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-
estudantis; profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua legislação de educação em vigor.
residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos
ciência do processo pedagógico, bem como participar da seguintes princípios:
definição das propostas educacionais. I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino
regular;
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao II - atividade compatível com o desenvolvimento do
adolescente: adolescente;
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para III - horário especial para o exercício das atividades.
os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
ensino médio; assegurada bolsa de aprendizagem.
III - atendimento educacional especializado aos portadores
de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos,
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários.
a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de
2016) Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e trabalho protegido.
da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime
do adolescente trabalhador; familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em
VII - atendimento no ensino fundamental, através de entidade governamental ou não-governamental, é vedado
programas suplementares de material didático-escolar, trabalho:
transporte, alimentação e assistência à saúde. I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito e as cinco horas do dia seguinte;
público subjetivo. II - perigoso, insalubre ou penoso;
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu
público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
autoridade competente. IV - realizado em horários e locais que não permitam a
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no frequência à escola.
ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais
ou responsável, pela frequência à escola. Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho
educativo, sob responsabilidade de entidade governamental ou
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao
matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. adolescente que dele participe condições de capacitação para o
exercício de atividade regular remunerada.
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: em que as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, produtivo.
esgotados os recursos escolares; § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho
III - elevados níveis de repetência. efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu
trabalho não desfigura o caráter educativo.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e
novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à
metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre
crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental outros:
obrigatório.

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I - respeito à condição peculiar de pessoa em serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento; desenvolvimento.
II - capacitação profissional adequada ao mercado de
trabalho. Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da
prevenção especial outras decorrentes dos princípios por ela
Título III adotados.
Da Prevenção
Capítulo I Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará
Disposições Gerais em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos
desta Lei.
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou
violação dos direitos da criança e do adolescente. Capítulo II
Da Prevenção Especial
Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Seção I
Municípios deverão atuar de forma articulada na elaboração de Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e
políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o Espetáculos
uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e
difundir formas não violentas de educação de crianças e de Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
adolescentes, tendo como principais ações: regulará as diversões e espetáculos públicos, informando sobre
I - a promoção de campanhas educativas permanentes para a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem,
a divulgação do direito da criança e do adolescente de serem locais e horários em que sua apresentação se mostre
educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento inadequada.
cruel ou degradante e dos instrumentos de proteção aos direitos Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e
humanos; espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada
Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada no
Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do certificado de classificação.
Adolescente e com as entidades não governamentais que atuam
na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões
adolescente; e espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa
III - a formação continuada e a capacitação dos profissionais etária.
de saúde, educação e assistência social e dos demais agentes que Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente
atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou
do adolescente para o desenvolvimento das competências exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.
necessárias à prevenção, à identificação de evidências, ao Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão,
diagnóstico e ao enfrentamento de todas as formas de violência no horário recomendado para o público infanto juvenil,
contra a criança e o adolescente; programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica de informativas.
conflitos que envolvam violência contra a criança e o Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou
adolescente; anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a transmissão, apresentação ou exibição.
garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a atenção
pré-natal, e de atividades junto aos pais e responsáveis com o Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários
objetivo de promover a informação, a reflexão, o debate e a de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas de
orientação sobre alternativas ao uso de castigo físico ou de programação em vídeo cuidarão para que não haja venda ou
tratamento cruel ou degradante no processo educativo; locação em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão
VI - a promoção de espaços inter setoriais locais para a competente.
articulação de ações e a elaboração de planos de atuação Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão
conjunta focados nas famílias em situação de violência, com exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a
participação de profissionais de saúde, de assistência social e de faixa etária a que se destinam.
educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos
direitos da criança e do adolescente; Art. 78. As revistas e publicações contendo material
Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser
com deficiência terão prioridade de atendimento nas ações e comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de
políticas públicas de prevenção e proteção. seu conteúdo.
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que
Art. 70-B.As entidades, públicas e privadas, que atuem nas contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam
áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar, em protegidas com embalagem opaca.
seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e
comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus- Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público
tratos praticados contra crianças e adolescentes. infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias,
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco,
comunicação de que trata este artigo, as pessoas encarregadas, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais
por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou da pessoa e da família.
ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças e
adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustificado Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explorem
retardamento ou omissão, culposos ou dolosos. comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por casas de
jogos, assim entendidas as que realizem apostas, ainda que
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito à informação, eventualmente, cuidarão para que não seja permitida a entrada
cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e

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e a permanência de crianças e adolescentes no local, afixando III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e
aviso para orientação do público. psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração,
abuso, crueldade e opressão;
Seção II IV - serviço de identificação e localização de pais,
Dos Produtos e Serviços responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de: direitos da criança e do adolescente.
I - armas, munições e explosivos; VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar
II - bebidas alcoólicas; o período de afastamento do convívio familiar e a garantir o
III - produtos cujos componentes possam causar efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e
dependência física ou psíquica ainda que por utilização adolescentes;
indevida; VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio
seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças
dano físico em caso de utilização indevida; maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente I - municipalização do atendimento;
em hotel, motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos
autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável. direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e
controladores das ações em todos os níveis, assegurada a
Seção III participação popular paritária por meio de organizações
Da Autorização para Viajar representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;
III - criação e manutenção de programas específicos,
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da observada a descentralização político-administrativa;
comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais
sem expressa autorização judicial. vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do
§ 1º A autorização não será exigida quando: adolescente;
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, V - integração operacional de órgãos do Judiciário,
se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência
região metropolitana; Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de
b) a criança estiver acompanhada: agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, atribua autoria de ato infracional;
comprovado documentalmente o parentesco; VI - integração operacional de órgãos do Judiciário,
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados
ou responsável. da execução das políticas sociais básicas e de assistência social,
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou para efeito de agilização do atendimento de crianças e de
responsável, conceder autorização válida por dois anos. adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar
ou institucional, com vista na sua rápida reintegração à família
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a de origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamente
autorização é dispensável, se a criança ou adolescente: inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; modalidades previstas no art. 28 desta Lei;
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado VII - mobilização da opinião pública para a indispensável
expressamente pelo outro através de documento com firma participação dos diversos segmentos da sociedade.
reconhecida. VIII - especialização e formação continuada dos
profissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos da
criança ou adolescente nascido em território nacional poderá criança e sobre desenvolvimento infantil; (Incluído pela Lei nº
sair do País em companhia de estrangeiro residente ou 13.257, de 2016)
domiciliado no exterior. IX - formação profissional com abrangência dos diversos
direitos da criança e do adolescente que favoreça a
Parte Especial intersetorialidade no atendimento da criança e do adolescente e
Título I seu desenvolvimento integral; (Incluído pela Lei nº 13.257, de
Da Política de Atendimento 2016)
Capítulo I X - realização e divulgação de pesquisas sobre
Disposições Gerais desenvolvimento infantil e sobre prevenção da violência.
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e
do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos
ações governamentais e não-governamentais, da União, dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do
estados, do Distrito Federal e dos municípios. adolescente é considerada de interesse público relevante e não
será remunerada.
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
I - políticas sociais básicas;
II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência
social de garantia de proteção social e de prevenção e redução
de violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências;
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

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Capítulo II Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de


Das Entidades de Atendimento acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os
Seção I seguintes princípios
Disposições Gerais I - preservação dos vínculos familiares e promoção da
reintegração familiar;
Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela II - integração em família substituta, quando esgotados os
manutenção das próprias unidades, assim como pelo recursos de manutenção na família natural ou extensa;
planejamento e execução de programas de proteção e III - atendimento personalizado e em pequenos grupos;
socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em regime IV - desenvolvimento de atividades em regime de
de: coeducação;
I - orientação e apoio sócio familiar; V - não desmembramento de grupos de irmãos;
II - apoio socioeducativo em meio aberto; VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras
III - colocação familiar; entidades de crianças e adolescentes abrigados;
IV - acolhimento institucional; VII - participação na vida da comunidade local;
V - prestação de serviços à comunidade; VIII - preparação gradativa para o desligamento;
VI - liberdade assistida; IX - participação de pessoas da comunidade no processo
VII - semiliberdade; e educativo.
VIII - internação. § 1º O dirigente de entidade que desenvolve programa de
§ 1º As entidades governamentais e não governamentais acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para todos
deverão proceder à inscrição de seus programas, especificando os efeitos de direito.
os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no § 2º Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o de acolhimento familiar ou institucional remeterão à
qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses,
fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária. relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança ou
§ 2º Os recursos destinados à implementação e manutenção adolescente acolhido e sua família, para fins da reavaliação
dos programas relacionados neste artigo serão previstos nas prevista no § 1º do art. 19 desta Lei.
dotações orçamentárias dos órgãos públicos encarregados das § 3º Os entes federados, por intermédio dos Poderes
áreas de Educação, Saúde e Assistência Social, dentre outros, Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a
observando-se o princípio da prioridade absoluta à criança e ao permanente qualificação dos profissionais que atuam direta ou
adolescente preconizado pelo caput do art. 227 da Constituição indiretamente em programas de acolhimento institucional e
Federal e pelo caput e parágrafo único do art. 4º desta Lei. destinados à colocação familiar de crianças e adolescentes,
§ 3º Os programas em execução serão reavaliados pelo incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério Público e
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no Conselho Tutelar.
máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para § 4º Salvo determinação em contrário da autoridade
renovação da autorização de funcionamento: judiciária competente, as entidades que desenvolvem
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem programas de acolhimento familiar ou institucional, se
como às resoluções relativas à modalidade de atendimento necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos de
prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do assistência social, estimularão o contato da criança ou
Adolescente, em todos os níveis; adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.
atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela § 5º As entidades que desenvolvem programas de
Justiça da Infância e da Juventude; acolhimento familiar ou institucional somente poderão receber
III - em se tratando de programas de acolhimento recursos públicos se comprovado o atendimento dos princípios,
institucional ou familiar, serão considerados os índices de exigências e finalidades desta Lei.
sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família § 6º O descumprimento das disposições desta Lei pelo
substituta, conforme o caso. dirigente de entidade que desenvolva programas de
acolhimento familiar ou institucional é causa de sua destituição,
Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade
funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos administrativa, civil e criminal.
Direitos da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o § 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos
registro ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à
respectiva localidade. atuação de educadores de referência estáveis e
§ 1º Será negado o registro à entidade que: qualitativamente significativos, às rotinas específicas e ao
a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto
de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; como prioritárias. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
b) não apresente plano de trabalho compatível com os
princípios desta Lei; Art. 93. As entidades que mantenham programa de
c) esteja irregularmente constituída; acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e determinação da autoridade competente, fazendo comunicação
deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Juventude, sob pena de responsabilidade.
Adolescente, em todos os níveis. Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade
§ 2º O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o
cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias
Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua para promover a imediata reintegração familiar da criança ou
renovação, observado o disposto no § 1º deste artigo. do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível ou
recomendável, para seu encaminhamento a programa de
acolhimento familiar, institucional ou a família substituta,
observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei.

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Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento
internação têm as seguintes obrigações, entre outras: que descumprirem obrigação constante do art. 94, sem prejuízo
I - observar os direitos e garantias de que são titulares os da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou
adolescentes; prepostos:
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto I - às entidades governamentais:
de restrição na decisão de internação; a) advertência;
III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas b) afastamento provisório de seus dirigentes;
unidades e grupos reduzidos; c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e d) fechamento de unidade ou interdição de programa.
dignidade ao adolescente; II - às entidades não-governamentais:
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da a) advertência;
preservação dos vínculos familiares; b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos d) cassação do registro.
vínculos familiares; § 1º Em caso de reiteradas infrações cometidas por
VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de entidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao
necessários à higiene pessoal; Ministério Público ou representado perante autoridade
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive
adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; suspensão das atividades ou dissolução da entidade.
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e § 2º As pessoas jurídicas de direito público e as organizações
farmacêuticos; não governamentais responderão pelos danos que seus agentes
X - propiciar escolarização e profissionalização; causarem às crianças e aos adolescentes, caracterizado o
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; descumprimento dos princípios norteadores das atividades de
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, proteção específica.
de acordo com suas crenças;
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; Título II
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo Das Medidas de Proteção
máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à Capítulo I
autoridade competente; Disposições Gerais
XV - informar, periodicamente, o adolescente internado
sobre sua situação processual; Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
de adolescentes portadores de moléstias infectocontagiosas; forem ameaçados ou violados:
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
adolescentes; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
XVIII - manter programas destinados ao apoio e III - em razão de sua conduta.
acompanhamento de egressos;
XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício Capítulo II
da cidadania àqueles que não os tiverem; Das Medidas Específicas de Proteção
XX - manter arquivo de anotações onde constem data e
circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser
ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a
acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences e qualquer tempo.
demais dados que possibilitem sua identificação e a
individualização do atendimento. Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as
§ 1º Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao
deste artigo às entidades que mantêm programas de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
acolhimento institucional e familiar. Parágrafo único. São também princípios que regem a
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este artigo aplicação das medidas:
as entidades utilizarão preferencialmente os recursos da I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de
comunidade. direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos
previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição
Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abriguem Federal;
ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que em caráter II - proteção integral e prioritária: a interpretação e
temporário, devem ter, em seus quadros, profissionais aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser
capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho Tutelar voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que
suspeitas ou ocorrências de maus-tratos. crianças e adolescentes são titulares;
III - responsabilidade primária e solidária do poder público:
Seção II a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a
Da Fiscalização das Entidades adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos
casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade
Art. 95. As entidades governamentais e não-governamentais primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo
referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo da municipalização do atendimento e da possibilidade da
Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares. execução de programas por entidades não governamentais;
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e
serão apresentados ao estado ou ao município, conforme a direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da
origem das dotações orçamentárias. consideração que for devida a outros interesses legítimos no
âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto

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V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da § 3º Crianças e adolescentes somente poderão ser
criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela encaminhados às instituições que executam programas de
intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada; acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária,
competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo na qual obrigatoriamente constará, dentre outros
seja conhecida; I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida ou de seu responsável, se conhecidos;
exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com
indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da pontos de referência;
criança e do adolescente; III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser los sob sua guarda;
a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao
ou o adolescente se encontram no momento em que a decisão é convívio familiar.
tomada; § 4º Imediatamente após o acolhimento da criança ou do
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser adolescente, a entidade responsável pelo programa de
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para com acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano
a criança e o adolescente; individual de atendimento, visando à reintegração familiar,
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em
proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência contrário de autoridade judiciária competente, caso em que
às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua família também deverá contemplar sua colocação em família
natural ou extensa ou, se isso não for possível, que promovam a substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.
sua integração em família adotiva; (Redação dada pela Lei nº § 5º O plano individual será elaborado sob a
13.509, de 2017) responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou
adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser § 6º Constarão do plano individual, dentre outros:
informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
intervenção e da forma como esta se processa; II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a
adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou
responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja
ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos esta vedada por expressa e fundamentada determinação
e na definição da medida de promoção dos direitos e de judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação
proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela em família substituta, sob direta supervisão da autoridade
autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ judiciária.
1º e 2º do art. 28 desta Lei. § 7º O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no
local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e,
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. como parte do processo de reintegração familiar, sempre que
98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, identificada a necessidade, a família de origem será incluída em
as seguintes medidas: programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social,
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o
termo de responsabilidade; adolescente acolhido.
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; § 8º Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
oficial de ensino fundamental; institucional fará imediata comunicação à autoridade
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5
comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de § 9º Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração
2016) da criança ou do adolescente à família de origem, após seu
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; orientação, apoio e promoção social, será enviado relatório
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; pormenorizada das providências tomadas e a expressa
VII - acolhimento institucional; recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; responsáveis pela execução da política municipal de garantia do
IX - colocação em família substituta. direito à convivência familiar, para a destituição do poder
§ 1º O acolhimento institucional e o acolhimento familiar familiar, ou destituição de tutela ou guarda.
são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo
de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de destituição do
possível, para colocação em família substituta, não implicando poder familiar, salvo se entender necessária a realização de
privação de liberdade. estudos complementares ou de outras providências
§ 2º Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para indispensáveis ao ajuizamento da demanda. (Redação dada pela
proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das Lei nº 13.509, de 2017)
providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou
criança ou adolescente do convívio familiar é de competência foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas
exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento
a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo familiar e institucional sob sua responsabilidade, com
interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada
garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do um, bem como as providências tomadas para sua reintegração
contraditório e da ampla defesa.

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familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser
modalidades previstas no art. 28 desta Lei. determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade,
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar sobre a Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será
implementação de políticas públicas que permitam reduzir o submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de
número de crianças e adolescentes afastados do convívio proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo
familiar e abreviar o período de permanência em programa de dúvida fundada.
acolhimento.
Capítulo III
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo Das Garantias Processuais
serão acompanhadas da regularização do registro civil.
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade
de nascimento da criança ou adolescente será feito à vista dos sem o devido processo legal.
elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade
judiciária. Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as
§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de seguintes garantias:
que trata este artigo são isentos de multas, custas e I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
emolumentos, gozando de absoluta prioridade. infracional, mediante citação ou meio equivalente;
§ 3º Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se
procedimento específico destinado à sua averiguação, conforme com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas
previsto pela Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992. necessárias à sua defesa;
§ 4º Nas hipóteses previstas no § 3º deste artigo, é III - defesa técnica por advogado;
dispensável o ajuizamento de ação de investigação de IV - assistência judiciária gratuita e integral aos
paternidade pelo Ministério Público se, após o não necessitados, na forma da lei;
comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para competente;
adoção. VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a responsável em qualquer fase do procedimento.
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimento são
isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta Capítulo IV
prioridade. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Das Medidas Socioeducativas
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida Seção I
do reconhecimento de paternidade no assento de nascimento e Disposições Gerais
a certidão correspondente. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de
2016) Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a
autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as
Título III seguintes medidas:
Da Prática de Ato Infracional I - advertência;
Capítulo I II - obrigação de reparar o dano;
Disposições Gerais III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita V - inserção em regime de semiliberdade;
como crime ou contravenção penal. VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua
dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser infração.
considerada a idade do adolescente à data do fato. § 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
admitida a prestação de trabalho forçado.
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança § 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência
corresponderão as medidas previstas no art. 101. mental receberão tratamento individual e especializado, em
local adequado às suas condições.
Capítulo II
Dos Direitos Individuais Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e
100.
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade
senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a
fundamentada da autoridade judiciária competente. VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes da
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação autoria e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de
dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado remissão, nos termos do art. 127.
acerca de seus direitos. Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre
que houver prova da materialidade e indícios suficientes da
Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde autoria.
se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à
autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou
à pessoa por ele indicada.
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de
responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.

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Seção II Seção VII


Da Advertência Da Internação

Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, Art. 121. A internação constitui medida privativa da
que será reduzida a termo e assinada. liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade
e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Seção III § 1º Será permitida a realização de atividades externas, a
Da Obrigação de Reparar o Dano critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa
determinação judicial em contrário.
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo
patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do fundamentada, no máximo a cada seis meses.
dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a excederá a três anos.
medida poderá ser substituída por outra adequada. § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o
adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de
Seção IV semiliberdade ou de liberdade assistida.
Da Prestação de Serviços à Comunidade § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de
idade.
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida
realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, § 7º A determinação judicial mencionada no § 1º poderá ser
hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária.
como em programas comunitários ou governamentais. Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as quando:
aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave
jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos ameaça ou violência a pessoa;
e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a II - por reiteração no cometimento de outras infrações
frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da
Seção V medida anteriormente imposta.
Da Liberdade Assistida § 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste
artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se decretada judicialmente após o devido processo legal.
afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, § 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação,
auxiliar e orientar o adolescente. havendo outra medida adequada.
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade
entidade ou programa de atendimento. exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade,
seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada compleição física e gravidade da infração.
ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive
Ministério Público e o defensor. provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.

Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade,
da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros, os seguintes:
entre outros: I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do
I - promover socialmente o adolescente e sua família, Ministério Público;
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social; III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do IV - ser informado de sua situação processual, sempre que
adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; solicitada;
III - diligenciar no sentido da profissionalização do V - ser tratado com respeito e dignidade;
adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela
IV - apresentar relatório do caso mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
Seção VI VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
Do Regime de Semiliberdade IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio
pessoal;
Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e
desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, salubridade;
possibilitada a realização de atividades externas, XI - receber escolarização e profissionalização;
independentemente de autorização judicial. XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e
existentes na comunidade. desde que assim o deseje;
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando- XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local
se, no que couber, as disposições relativas à internação. seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles
porventura depositados em poder da entidade;

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XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos Título V


pessoais indispensáveis à vida em sociedade. Do Conselho Tutelar
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. Capítulo I
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender Disposições Gerais
temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se
existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e
interesses do adolescente. autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente,
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e definidos nesta Lei.
mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas
de contenção e segurança. Art. 132. Em cada Município e em cada Região
Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
Capítulo V Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
Da Remissão pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela
população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para (uma) recondução, mediante novo processo de escolha.
apuração de ato infracional, o representante do Ministério
Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar,
processo, atendendo às circunstâncias e consequências do fato, serão exigidos os seguintes requisitos:
ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e I - reconhecida idoneidade moral;
sua maior ou menor participação no ato infracional. II - idade superior a vinte e um anos;
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da III - residir no município.
remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou
extinção do processo. Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, dia
e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o quanto à remuneração dos respectivos membros, aos quais é
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem assegurado o direito a:
prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir I - cobertura previdenciária;
eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3
em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a (um terço) do valor da remuneração mensal;
internação. III - licença-maternidade;
IV - licença-paternidade;
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá V - gratificação natalina.
ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal e
expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários ao
Ministério Público. funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e
formação continuada dos conselheiros tutelares.
Título IV
Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: de idoneidade moral.
I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
comunitários de proteção, apoio e promoção da família; Capítulo II
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Das Atribuições do Conselho
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas
psiquiátrico; nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; a VII;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando
sua frequência e aproveitamento escolar; as medidas previstas no art. 129, I a VII;
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a III - promover a execução de suas decisões, podendo para
tratamento especializado; tanto:
VII - advertência; a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação,
VIII - perda da guarda; serviço social, previdência, trabalho e segurança;
IX - destituição da tutela; b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de
X - suspensão ou destituição do poder familiar. descumprimento injustificado de suas deliberações.
Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que
incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da
e 24. criança ou adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou competência;
abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade
judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o
afastamento do agressor da moradia comum. adolescente autor de ato infracional;
Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a VII - expedir notificações;
fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de
o adolescente dependentes do agressor. criança ou adolescente quando necessário;

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IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da § 1º A assistência judiciária gratuita será prestada aos que
proposta orçamentária para planos e programas de dela necessitarem, através de defensor público ou advogado
atendimento dos direitos da criança e do adolescente; nomeado.
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância
violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada
Constituição Federal; a hipótese de litigância de má-fé.
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações
de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados
possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente e os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos assistidos
junto à família natural. por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos ou processual.
profissionais, ações de divulgação e treinamento para o Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador
reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses
adolescentes. destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o carecer de representação ou assistência legal ainda que
Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio eventual.
familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público,
prestando-lhe informações sobre os motivos de tal Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e
entendimento e as providências tomadas para a orientação, o administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a
apoio e a promoção social da família. que se atribua autoria de ato infracional.
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se
ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha fotografia, referência ao nome, apelido, filiação, parentesco,
legítimo interesse. residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.
Capítulo III
Da Competência Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se
refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de judiciária competente, se demonstrado o interesse e justificada
competência constante do art. 147. a finalidade.

Capítulo IV Capítulo II
Da Escolha dos Conselheiros Da Justiça da Infância e da Juventude
Seção I
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Disposições Gerais
Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e realizado
sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas
Criança e do Adolescente, e a fiscalização do Ministério Público. especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo
§ 1º O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por
ocorrerá em data unificada em todo o território nacional a cada número de habitantes, dotá-las de infraestrutura e dispor sobre
4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano o atendimento, inclusive em plantões.
subsequente ao da eleição presidencial.
§ 2º A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10 de Seção II
janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. Do Juiz
§ 3º No processo de escolha dos membros do Conselho
Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da
entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na
natureza, inclusive brindes de pequeno valor. forma da lei de organização judiciária local.

Capítulo V Art. 147. A competência será determinada:


Dos Impedimentos I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à
Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido falta dos pais ou responsável.
e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, § 1º Nos casos de ato infracional, será competente a
irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as regras
ou madrasta e enteado. de conexão, continência e prevenção.
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, § 2º A execução das medidas poderá ser delegada à
na forma deste artigo, em relação à autoridade judiciária e ao autoridade competente da residência dos pais ou responsável,
representante do Ministério Público com atuação na Justiça da ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou
Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional adolescente.
ou distrital. § 3º Em caso de infração cometida através de transmissão
Título VI simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma
Do Acesso à Justiça comarca, será competente, para aplicação da penalidade, a
Capítulo I autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou
Disposições Gerais rede, tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou
retransmissoras do respectivo estado.
Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou
adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente
Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. para:

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I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente,
Público, para apuração de ato infracional atribuído a na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade
extinção do processo; judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; técnico.
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servidores
individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis pela
adolescente, observado o disposto no art. 209; realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer outras
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei ou por
entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; determinação judicial, a autoridade judiciária poderá proceder
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de à nomeação de perito, nos termos do art. 156 da Lei no 13.105,
infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente; de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (Incluído
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, pela Lei nº 13.509, de 2017)
aplicando as medidas cabíveis.
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente Capítulo III
nas hipóteses do art. 98, é também competente a Justiça da Dos Procedimentos
Infância e da Juventude para o fim de: Seção I
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; Disposições Gerais
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda
ou modificação da tutela ou guarda; Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação
casamento; processual pertinente.
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna § 1º É assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade
ou materna, em relação ao exercício do poder familiar; absoluta na tramitação dos processos e procedimentos previstos
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando nesta Lei, assim como na execução dos atos e diligências
faltarem os pais; judiciais a eles referentes.
f) designar curador especial em casos de apresentação de § 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus
queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia do
ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em dobro
adolescente; para a Fazenda Pública e o Ministério Público. (Incluído pela Lei
g) conhecer de ações de alimentos; nº 13.509, de 2017)
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento
dos registros de nascimento e óbito. Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não
corresponder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério Público.
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para
desacompanhado dos pais ou responsável, em: o fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua
a) estádio, ginásio e campo desportivo; família de origem e em outros procedimentos necessariamente
b) bailes ou promoções dançantes; contenciosos.
c) boate ou congêneres;
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas; Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
II - a participação de criança e adolescente em: Seção II
a) espetáculos públicos e seus ensaios; Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
b) certames de beleza.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do
judiciária levará em conta, dentre outros fatores: poder familiar terá início por provocação do Ministério Público
a) os princípios desta Lei; ou de quem tenha legítimo interesse.
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas; Art. 156. A petição inicial indicará:
d) o tipo de frequência habitual ao local; I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
e) a adequação do ambiente a eventual participação ou II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do
frequência de crianças e adolescentes; requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se
f) a natureza do espetáculo. tratando de pedido formulado por representante do Ministério
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo Público;
deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as III - a exposição sumária do fato e o pedido;
determinações de caráter geral. IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo,
o rol de testemunhas e documentos.
Seção III
Dos Serviços Auxiliares Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão do
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamento
proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a
equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade.
Infância e da Juventude. § 1º Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária
determinará, concomitantemente ao despacho de citação e
Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras independentemente de requerimento do interessado, a
atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, realização de estudo social ou perícia por equipe

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interprofissional ou multidisciplinar para comprovar a presença § 5º Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a
de uma das causas de suspensão ou destituição do poder autoridade judicial requisitará sua apresentação para a oitiva
familiar, ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e
observada a Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017. (Incluído pela Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária
Lei nº 13.509, de 2017) dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco dias, salvo
§ 2º Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é quando este for o requerente, designando, desde logo, audiência
ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe de instrução e julgamento.
interprofissional ou multidisciplinar referida no § 1º deste § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
artigo, de representantes do órgão federal responsável pela § 2º Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público,
política indigenista, observado o disposto no § 6º do art. 28 desta serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmente o parecer
Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) técnico, salvo quando apresentado por escrito, manifestando-se
sucessivamente o requerente, o requerido e o Ministério Público,
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez dias, pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada um, prorrogável por mais
oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem 10 (dez) minutos. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas e § 3º A decisão será proferida na audiência, podendo a
documentos. autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para
§ 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os meios sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei
para sua realização. nº 13.509, de 2017)
§ 2º O requerido privado de liberdade deverá ser citado § 4º Quando o procedimento de destituição de poder familiar
pessoalmente. for iniciado pelo Ministério Público, não haverá necessidade de
§ 3º Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver nomeação de curador especial em favor da criança ou
procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, informar
qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho do Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento
dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, na hora que será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de
designar, nos termos do art. 252 e seguintes da Lei nº 13.105, de notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir
16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (Incluído pela esforços para preparar a criança ou o adolescente com vistas à
Lei nº 13.509, de 2017) colocação em família substituta. (Redação dada pela Lei nº
§ 4º Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local 13.509, de 2017)
incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo de 10 Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a
(dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios suspensão do poder familiar será averbada à margem do
para a localização. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) registro de nascimento da criança ou do adolescente.

Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir Seção III


advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família, Da Destituição da Tutela
poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado dativo, ao
qual incumbirá a apresentação de resposta, contando-se o prazo Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o
a partir da intimação do despacho de nomeação. procedimento para a remoção de tutor previsto na lei processual
Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.
liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento da
citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor. Seção IV
Da Colocação em Família Substituta
Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária
requisitará de qualquer repartição ou órgão público a Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de
apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou a colocação em família substituta:
requerimento das partes ou do Ministério Público. I - qualificação completa do requerente e de seu eventual
cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste;
Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido II - indicação de eventual parentesco do requerente e de seu
concluído o estudo social ou a perícia realizada por equipe cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente,
interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judiciária especificando se tem ou não parente vivo;
dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, III - qualificação completa da criança ou adolescente e de
salvo quando este for o requerente, e decidirá em igual prazo. seus pais, se conhecidos;
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
partes ou do Ministério Público, determinará a oitiva de V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
suspensão ou destituição do poder familiar previstas nos arts. Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão
1.637 e 1.638 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código também os requisitos específicos.
Civil), ou no art. 24 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509,
de 2017) Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido
§ 3º Se o pedido importar em modificação de guarda, será expressamente ao pedido de colocação em família substituta,
obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança ou este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição
adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de
de compreensão sobre as implicações da medida. advogado.
§ 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem § 1º Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: (Redação
identificados e estiverem em local conhecido, ressalvados os dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
casos de não comparecimento perante a Justiça quando I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes,
devidamente citados. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de devidamente assistidas por advogado ou por defensor público,
2017) para verificar sua concordância com a adoção, no prazo

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máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo da Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada
petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por termo para atendimento de adolescente e em se tratando de ato
as declarações; e (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) infracional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a
II - declarará a extinção do poder familiar. (Incluído pela Lei atribuição da repartição especializada, que, após as
nº 13.509, de 2017) providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o
§ 2º O consentimento dos titulares do poder familiar será adulto à repartição policial própria.
precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela
equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido
em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade
medida. policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único,
§ 3º São garantidos a livre manifestação de vontade dos e 107, deverá:
detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o
informações. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) adolescente;
§ 4º O consentimento prestado por escrito não terá validade II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
se não for ratificado na audiência a que se refere o § 1º deste III - requisitar os exames ou perícias necessários à
artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) comprovação da materialidade e autoria da infração.
§ 5º O consentimento é retratável até a data da realização Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a
da audiência especificada no § 1o deste artigo, e os pais podem lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez) dias, contado da ocorrência circunstanciada.
data de prolação da sentença de extinção do poder familiar.
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o
§ 6º O consentimento somente terá valor se for dado após o adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial,
nascimento da criança. sob termo de compromisso e responsabilidade de sua
§ 7º A família natural e a família substituta receberão a apresentação ao representante do Ministério Público, no mesmo
devida orientação por intermédio de equipe técnica dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela social, deva o adolescente permanecer sob internação para
execução da política municipal de garantia do direito à garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem
convivência familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de pública.
2017)
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do
das partes ou do Ministério Público, determinará a realização de Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão
estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional, ou boletim de ocorrência.
decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no § 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade
caso de adoção, sobre o estágio de convivência. policial encaminhará o adolescente à entidade de atendimento,
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda provisória que fará a apresentação ao representante do Ministério Público
ou do estágio de convivência, a criança ou o adolescente será no prazo de vinte e quatro horas.
entregue ao interessado, mediante termo de responsabilidade. § 2º Nas localidades onde não houver entidade de
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial.
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, À falta de repartição policial especializada, o adolescente
e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adolescente, dar- aguardará a apresentação em dependência separada da
se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese,
dias, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressuposto Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial
lógico da medida principal de colocação em família substituta, encaminhará imediatamente ao representante do Ministério
será observado o procedimento contraditório previsto nas Público cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.
Seções II e III deste Capítulo.
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios
poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento, de participação de adolescente na prática de ato infracional, a
observado o disposto no art. 35. autoridade policial encaminhará ao representante do Ministério
Público relatório das investigações e demais documentos.
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o
disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47. Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato
Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente sob infracional não poderá ser conduzido ou transportado em
a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento compartimento fechado de veículo policial, em condições
familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias. integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.

Seção V Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do


Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão,
Adolescente boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente
autuados pelo cartório judicial e com informação sobre os
Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem antecedentes do adolescente, procederá imediata e
judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária. informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou
responsável, vítima e testemunhas.
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o
infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade policial representante do Ministério Público notificará os pais ou
competente.

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responsável para apresentação do adolescente, podendo Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou
requisitar o concurso das polícias civil e militar. responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos
mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a
anterior, o representante do Ministério Público poderá: remissão, ouvirá o representante do Ministério Público,
I - promover o arquivamento dos autos; proferindo decisão.
II - conceder a remissão; § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de internação ou colocação em regime de semiliberdade, a
medida socioeducativa. autoridade judiciária, verificando que o adolescente não possui
advogado constituído, nomeará defensor, designando, desde
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida logo, audiência em continuação, podendo determinar a
a remissão pelo representante do Ministério Público, mediante realização de diligências e estudo do caso.
termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no
serão conclusos à autoridade judiciária para homologação. prazo de três dias contado da audiência de apresentação,
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas
cumprimento da medida. arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, será
autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao
fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para
membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o cada um, prorrogável por mais dez, a critério da autoridade
arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.
judiciária obrigada a homologar.
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do comparecer, injustificadamente à audiência de apresentação, a
Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder a autoridade judiciária designará nova data, determinando sua
remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária, condução coercitiva.
propondo a instauração de procedimento para aplicação da
medida socioeducativa que se afigurar a mais adequada. Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão
§ 1º A representação será oferecida por petição, que conterá do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do
o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e, procedimento, antes da sentença.
quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida
oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer
judiciária. medida, desde que reconheça na sentença:
§ 2º A representação independe de prova pré-constituída da I - estar provada a inexistência do fato;
autoria e materialidade. II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato ato infracional;
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a conclusão IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o
do procedimento, estando o adolescente internado ato infracional.
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias. Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o
adolescente internado, será imediatamente colocado em
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária liberdade.
designará audiência de apresentação do adolescente, decidindo,
desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação, Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de
observado o disposto no art. 108 e parágrafo. internação ou regime de semiliberdade será feita:
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão I - ao adolescente e ao seu defensor;
cientificados do teor da representação, e notificados a II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou
comparecer à audiência, acompanhados de advogado. responsável, sem prejuízo do defensor.
§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a § 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á
autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente. unicamente na pessoa do defensor.
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade § 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá
judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença.
determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva
apresentação. Seção V-A
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a sua (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou Da Infiltração de Agentes de Polícia para a
responsável. Investigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de
Criança e de Adolescente
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela
autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet
estabelecimento prisional. com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, 241,
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A,
definidas no art. 123, o adolescente deverá ser imediatamente 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
transferido para a localidade mais próxima. 1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes regras: (Incluído
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente pela Lei nº 13.441, de 2017)
aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em I - será precedida de autorização judicial devidamente
seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites da
podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério Público;
responsabilidade. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

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II - dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público ou Seção VI


representação de delegado de polícia e conterá a demonstração Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
de sua necessidade, o alcance das tarefas dos policiais, os nomes Atendimento
ou apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os
dados de conexão ou cadastrais que permitam a identificação Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades em
dessas pessoas; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) entidade governamental e não-governamental terá início
III - não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem mediante portaria da autoridade judiciária ou representação do
prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não exceda Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde conste,
a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua efetiva necessariamente, resumo dos fatos.
necessidade, a critério da autoridade judicial. (Incluído pela Lei Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a
nº 13.441, de 2017) autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão liminarmente o afastamento provisório do dirigente da
requisitar relatórios parciais da operação de infiltração antes entidade, mediante decisão fundamentada.
do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º deste artigo.
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste artigo, de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar
consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) documentos e indicar as provas a produzir.
I - dados de conexão: informações referentes a hora, data,
início, término, duração, endereço de Protocolo de Internet (IP) Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo necessário,
utilizado e terminal de origem da conexão. (Incluído pela Lei nº a autoridade judiciária designará audiência de instrução e
13.441, de 2017) julgamento, intimando as partes.
II - dados cadastrais: informações referentes a nome e § 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o
endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenticado Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações
para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
ou código de acesso tenha sido atribuído no momento da § 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo
conexão. de dirigente de entidade governamental, a autoridade judiciária
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não será oficiará à autoridade administrativa imediatamente superior
admitida se a prova puder ser obtida por outros meios. (Incluído ao afastado, marcando prazo para a substituição.
pela Lei nº 13.441, de 2017) § 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade
judiciária poderá fixar prazo para a remoção das
Art. 190-B. As informações da operação de infiltração serão irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo
encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela será extinto, sem julgamento de mérito.
autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído pela § 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da
Lei nº 13.441, de 2017) entidade ou programa de atendimento.
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso
aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao Seção VII
delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de
de garantir o sigilo das investigações. (Incluído pela Lei nº Proteção à Criança e ao Adolescente
13.441, de 2017)
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade
Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua administrativa por infração às normas de proteção à criança e
identidade para, por meio da internet, colher indícios de autoria ao adolescente terá início por representação do Ministério
e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado
241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por
218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de duas testemunhas, se possível.
1940 (Código Penal). (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) § 1º No procedimento iniciado com o auto de infração,
Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a
observar a estrita finalidade da investigação responderá pelos natureza e as circunstâncias da infração.
excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) § 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-
se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso contrário, dos
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público poderão motivos do retardamento.
incluir nos bancos de dados próprios, mediante procedimento
sigiloso e requisição da autoridade judicial, as informações Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para
necessárias à efetividade da identidade fictícia criada. (Incluído apresentação de defesa, contado da data da intimação, que será
pela Lei nº 13.441, de 2017) feita:
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado
Seção será numerado e tombado em livro específico. (Incluído na presença do requerido;
pela Lei nº 13.441, de 2017) II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente
habilitado, que entregará cópia do auto ou da representação ao
Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;
eletrônicos praticados durante a operação deverão ser III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for
registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e encontrado o requerido ou seu representante legal;
ao Ministério Público, juntamente com relatório IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não
circunstanciado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal.
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no
caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a
apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministério Público,
policial, assegurando-se a preservação da identidade do agente por cinco dias, decidindo em igual prazo.
policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos adolescentes
envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

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Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério
necessário, designará audiência de instrução e julgamento. Público e determinará a juntada do estudo psicossocial,
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão designando, conforme o caso, audiência de instrução e
sucessivamente o Ministério Público e o procurador do julgamento.
requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou
prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a
que em seguida proferirá sentença. juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos
ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual
Seção VIII prazo.
Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito
Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil, nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua
apresentarão petição inicial na qual conste: convocação para a adoção feita de acordo com ordem
I - qualificação completa; cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de
II - dados familiares; crianças ou adolescentes adotáveis.
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou § 1º A ordem cronológica das habilitações somente poderá
casamento, ou declaração relativa ao período de união estável; deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses
IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser
de Pessoas Físicas; essa a melhor solução no interesse do adotando.
V - comprovante de renda e domicílio; § 2º A habilitação à adoção deverá ser renovada no mínimo
VI - atestados de sanidade física e mental; trienalmente mediante avaliação por equipe interprofissional.
VII - certidão de antecedentes criminais; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
VIII - certidão negativa de distribuição cível. § 3º Quando o adotante candidatar-se a uma nova adoção,
será dispensável a renovação da habilitação, bastando a
Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 avaliação por equipe interprofissional. (Incluído pela Lei nº
(quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério 13.509, de 2017)
Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá: § 4º Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do perfil
interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedida.
que se refere o art. 197-C desta Lei; (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos § 5º A desistência do pretendente em relação à guarda para
postulantes em juízo e testemunhas; fins de adoção ou a devolução da criança ou do adolescente
III - requerer a juntada de documentos complementares e a depois do trânsito em julgado da sentença de adoção importará
realização de outras diligências que entender necessárias. na sua exclusão dos cadastros de adoção e na vedação de
renovação da habilitação, salvo decisão judicial fundamentada,
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe sem prejuízo das demais sanções previstas na legislação vigente.
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios
que permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habilitação à
para o exercício de uma paternidade ou maternidade adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável por igual
responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei. período, mediante decisão fundamentada da autoridade
§ 1º É obrigatória a participação dos postulantes em judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude,
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela Capítulo IV
execução da política municipal de garantia do direito à Dos Recursos
convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção
devidamente habilitados perante a Justiça da Infância e da Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da
Juventude, que inclua preparação psicológica, orientação e Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas
estímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de adolescentes socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei nº 5.869,
com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), com as
específicas de saúde, e de grupos de irmãos. (Redação dada pela seguintes adaptações:
Lei nº 13.509, de 2017) I - os recursos serão interpostos independentemente de
§ 2º Sempre que possível e recomendável, a etapa preparo;
obrigatória da preparação referida no § 1º deste artigo incluirá II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração,
o contato com crianças e adolescentes em regime de o prazo para o Ministério Público e para a defesa será sempre de
acolhimento familiar ou institucional, a ser realizado sob 10 (dez) dias;
orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça III - os recursos terão preferência de julgamento e
da Infância e da Juventude e dos grupos de apoio à adoção, com dispensarão revisor;
apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento IV - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
familiar e institucional e pela execução da política municipal de V - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
garantia do direito à convivência familiar. (Redação dada pela VI - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
Lei nº 13.509, de 2017) VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior
§ 3º É recomendável que as crianças e os adolescentes instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso de
acolhidos institucionalmente ou por família acolhedora sejam agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho
preparados por equipe interprofissional antes da inclusão em fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo de
família adotiva. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) cinco dias;
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da remeterá os autos ou o instrumento à superior instância dentro
participação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a de vinte e quatro horas, independentemente de novo pedido do

Legislação Básica da Educação 38


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recorrente; se a reformar, a remessa dos autos dependerá de c) requisitar informações e documentos a particulares e
pedido expresso da parte interessada ou do Ministério Público, instituições privadas;
no prazo de cinco dias, contados da intimação. VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências
investigatórias e determinar a instauração de inquérito policial,
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149 para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção à
caberá recurso de apelação. infância e à juventude;
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as
desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas
internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou de corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos
difícil reparação ao adotando. interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e
ao adolescente;
Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer dos X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade
genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que deverá por infrações cometidas contra as normas de proteção à
ser recebida apenas no efeito devolutivo. infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da
responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
destituição de poder familiar, em face da relevância das atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de
questões, serão processados com prioridade absoluta, devendo pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à
ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que aguardem, remoção de irregularidades porventura verificadas;
em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão colocados XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos
em mesa para julgamento sem revisão e com parecer urgente do serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assistência
Ministério Público. social, públicos ou privados, para o desempenho de suas
atribuições.
Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis
para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas
contado da sua conclusão. hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e esta Lei.
Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da data § 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem
do julgamento e poderá na sessão, se entender necessário, outras, desde que compatíveis com a finalidade do Ministério
apresentar oralmente seu parecer. Público.
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício de
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a suas funções, terá livre acesso a todo local onde se encontre
instauração de procedimento para apuração de criança ou adolescente.
responsabilidades se constatar o descumprimento das § 4º O representante do Ministério Público será responsável
providências e do prazo previstos nos artigos anteriores. pelo uso indevido das informações e documentos que requisitar,
nas hipóteses legais de sigilo.
Capítulo V § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII
Do Ministério Público deste artigo, poderá o representante do Ministério Público:
a) reduzir a termo as declarações do reclamante,
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta Lei instaurando o competente procedimento, sob sua presidência;
serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica. b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade
reclamada, em dia, local e horário previamente notificados ou
Art. 201. Compete ao Ministério Público: acertados;
I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo; c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às públicos e de relevância pública afetos à criança e ao
infrações atribuídas a adolescentes; adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os adequação.
procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar,
nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for
como oficiar em todos os demais procedimentos da competência parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa
da Justiça da Infância e da Juventude; dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar
a especialização e a inscrição de hipoteca legal e a prestação de documentos e requerer diligências, usando os recursos cabíveis.
contas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de
bens de crianças e adolescentes nas hipóteses do art. 98; Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a caso, será feita pessoalmente.
proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos
à infância e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
3º inciso II, da Constituição Federal; acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para instruí- juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
los:
a) expedir notificações para colher depoimentos ou Art. 205. As manifestações processuais do representante do
esclarecimentos e, em caso de não comparecimento Ministério Público deverão ser fundamentadas.
injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela
polícia civil ou militar; Capítulo VI
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de Do Advogado
autoridades municipais, estaduais e federais, da administração
direta ou indireta, bem como promover inspeções e diligências Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou
investigatórias; responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na

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solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que trata Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses
esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para todos coletivos ou difusos, consideram-se legitimados
os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o concorrentemente:
segredo de justiça. I - o Ministério Público;
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os
integral e gratuita àqueles que dela necessitarem. territórios;
III - as associações legalmente constituídas há pelo menos
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos
de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a
processado sem defensor. autorização da assembleia, se houver prévia autorização
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado estatutária.
pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro § 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os
de sua preferência. Ministérios Públicos da União e dos estados na defesa dos
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento interesses e direitos de que cuida esta Lei.
de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto, § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por
ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato. associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se poderá assumir a titularidade ativa.
tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido
indicado por ocasião de ato formal com a presença da Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
autoridade judiciária. interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às
Capítulo VII exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo
Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos extrajudicial.
e Coletivos
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes.
responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as normas
e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta do Código de Processo Civil.
irregular: § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública
I - do ensino obrigatório; ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder
II - de atendimento educacional especializado aos público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei,
portadores de deficiência; caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do
III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças de mandado de segurança.
zero a cinco anos de idade (Redação dada pela Lei nº 13.306, de
2016). Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
educando; específica da obrigação ou determinará providências que
V - de programas suplementares de oferta de material assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educando § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
do ensino fundamental; justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao
VI - de serviço de assistência social visando à proteção à juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia,
família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como citando o réu.
ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem; § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na
VII - de acesso às ações e serviços de saúde; sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de
VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
privados de liberdade. fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em
promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida desde o
direito à convivência familiar por crianças e adolescentes. dia em que se houver configurado o descumprimento.
X - de programas de atendimento para a execução das
medidas socioeducativas e aplicação de medidas de proteção. Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido
XI - de políticas e programas integrados de atendimento à pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do
criança e ao adolescente vítima ou testemunha de violência. respectivo município.
(Incluído pela Lei nº 13.431, de 2017) § 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito
§ 1º As hipóteses previstas neste artigo não excluem da em julgado da decisão serão exigidas através de execução
proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada
coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos pela igual iniciativa aos demais legitimados.
Constituição e pela Lei. § 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro
§ 2º A investigação do desaparecimento de crianças ou ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em
adolescentes será realizada imediatamente após notificação aos conta com correção monetária.
órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos portos,
aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de transporte Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes todos os dados recursos, para evitar dano irreparável à parte.
necessários à identificação do desaparecido.
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa de
no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, peças à autoridade competente, para apuração da
cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, responsabilidade civil e administrativa do agente a que se
ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência atribua a ação ou omissão.
originária dos tribunais superiores.

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Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da Título VII


sentença condenatória sem que a associação autora lhe Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, Capítulo I
facultada igual iniciativa aos demais legitimados. Dos Crimes
Seção I
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao Disposições Gerais
réu os honorários advocatícios arbitrados na conformidade do §
4º do art. 20 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados
de Processo Civil), quando reconhecer que a pretensão é contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem
manifestamente infundada. prejuízo do disposto na legislação penal.
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a
associação autora e os diretores responsáveis pela propositura Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as
da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das custas, normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, as
sem prejuízo de responsabilidade por perdas e danos. pertinentes ao Código de Processo Penal.

Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e incondicionada.
quaisquer outras despesas.
Seção II
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá Dos Crimes em Espécie
provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe
informações sobre fatos que constituam objeto de ação civil, e Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de
indicando-lhe os elementos de convicção. estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter
registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à
tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica,
propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério Público declaração de nascimento, onde constem as intercorrências do
para as providências cabíveis. parto e do desenvolvimento do neonato:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá Parágrafo único. Se o crime é culposo:
requerer às autoridades competentes as certidões e informações Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de quinze
dias. Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto,
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10
organismo público ou particular, certidões, informações, exames desta Lei:
ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser Pena - detenção de seis meses a dois anos.
inferior a dez dias úteis. Parágrafo único. Se o crime é culposo:
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a
propositura da ação cível, promoverá o arquivamento dos autos Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade,
do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato
fundamentadamente. infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação judiciária competente:
arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta Pena - detenção de seis meses a dois anos.
grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior do Ministério Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede
Público. à apreensão sem observância das formalidades legais.
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de
arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
público, poderão as associações legitimadas apresentar razões apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata
escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do comunicação à autoridade judiciária competente e à família do
inquérito ou anexados às peças de informação. apreendido ou à pessoa por ele indicada:
§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a exame Pena - detenção de seis meses a dois anos.
e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público,
conforme dispuser o seu regimento. Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua
§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a
promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão constrangimento:
do Ministério Público para o ajuizamento da ação. Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as Art. 233. Revogado.


disposições da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985.
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa,
de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão
logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta


Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

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Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do adolescente:
Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Pena - detenção de seis meses a dois anos. § 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de
pequena quantidade o material a que se refere o caput deste
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem artigo.
o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o § 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a
fim de colocação em lar substituto: finalidade de comunicar às autoridades competentes a
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e
241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por:
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a I - agente público no exercício de suas funções;
terceiro, mediante paga ou recompensa: II - membro de entidade, legalmente constituída, que inclua,
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes
efetiva a paga ou recompensa. referidos neste parágrafo;
III - representante legal e funcionários responsáveis de
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de
ao envio de criança ou adolescente para o exterior com computadores, até o recebimento do material relativo à notícia
inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder
lucro: Judiciário.
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. § 3º As pessoas referidas no § 2º deste artigo deverão manter
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça sob sigilo o material ilícito referido.
ou fraude:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente
correspondente à violência. em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de
adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou qualquer outra forma de representação visual:
registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende,
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material
recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação produzido na forma do caput deste artigo.
de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste
artigo, ou ainda quem com esses contracena. Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por
§ 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela
o crime: praticar ato libidinoso.
I - no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
exercê-la; Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
II - prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação I - facilita ou induz o acesso à criança de material contendo
ou de hospitalidade; ou cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela
III - prevalecendo-se de relações de parentesco praticar ato libidinoso;
consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de II - pratica as condutas descritas no caput deste artigo com
tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou
qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu sexualmente explícita.
consentimento.
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica qualquer situação que envolva criança ou adolescente em
envolvendo criança ou adolescente. atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins
primordialmente sexuais.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma,
ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou munição ou explosivo:
pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
I - assegura os meios ou serviços para o armazenamento das ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a
fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo; adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
II - assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de produtos cujos componentes possam causar dependência física
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o ou psíquica:
caput deste artigo. Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o
§ 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1º deste fato não constitui crime mais grave.
artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação
do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de
estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha caso de utilização indevida:

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APOSTILAS OPÇÃO

Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho
Tutelar:
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais Pena - multa de três a vinte salários de referência,
definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
exploração sexual
Pena - reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado
de bens e valores utilizados na prática criminosa em favor do dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou da
Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere:
Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o Pena - multa.
crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé. (Redação dada § 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de multa,
pela Lei nº 13.440, de 2017) a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do
§ 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente estabelecimento por até 15 (quinze) dias.
ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de § 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30
criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e
artigo. terá sua licença cassada.
§ 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação
da licença de localização e de funcionamento do Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer
estabelecimento. meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de Lei:
18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou Pena - multa de três a vinte salários de referência,
induzindo-o a praticá-la: aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo
pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do
meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. local de exibição, informação destacada sobre a natureza da
§ 2º As penas previstas no caput deste artigo são diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no
aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou certificado de classificação:
induzida estar incluída no rol do art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de Pena - multa de três a vinte salários de referência,
julho de 1990. aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

Capítulo II Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer


Das Infrações Administrativas representações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade a
que não se recomendem:
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, em caso de reincidência, aplicável, separadamente, à casa de
pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade.
casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão,
confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente: espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de
Pena - multa de três a vinte salários de referência, sua classificação:
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada
em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá
Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade determinar a suspensão da programação da emissora por até
de atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos II, dois dias.
III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. classificado pelo órgão competente como inadequado às
crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão do
documento de procedimento policial, administrativo ou judicial espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze
relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato dias.
infracional:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. programação em vídeo, em desacordo com a classificação
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou atribuída pelo órgão competente:
parcialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o
ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
sua identificação, direta ou indiretamente.
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste desta Lei:
artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão Pena - multa de três a vinte salários de referência,
da publicação ou a suspensão da programação da emissora até duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
por dois dias, bem como da publicação do periódico até por dois apreensão da revista ou publicação.
números. (Expressão declara inconstitucional pela ADIN 869-2)
Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
Art. 248. (Revogado pela Lei nº 13.431, de 2017) empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso de
criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres participação no espetáculo:
inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda,

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APOSTILAS OPÇÃO

Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso integral à primeira infância em áreas de maior carência
de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o socioeconômica e em situações de calamidade. (Redação dada
fechamento do estabelecimento por até quinze dias. pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da
Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providenciar Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a
a instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos deste
50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: artigo.
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três § 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a
mil reais). forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Municipal dos
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade Direitos da Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais
que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de referidos neste artigo.
adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas ou § 5º Observado o disposto no § 4º do art. 3º da Lei nº 9.249,
casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes em de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata o inciso I do
regime de acolhimento institucional ou familiar. caput:
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a
Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de limite em conjunto com outras deduções do imposto; e
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar II - não poderá ser computada como despesa operacional na
imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de apuração do lucro real.
que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em
entregar seu filho para adoção: Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário de
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de que trata o
mil reais). inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração de
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de Ajuste Anual.
programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito § 1º A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até
à convivência familiar que deixa de efetuar a comunicação os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apurado na
referida no caput deste artigo. declaração:
I - (Vetado);
Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso II II - (Vetado);
do art. 81: III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 § 2º A dedução de que trata o caput:
(dez mil reais); I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso II do
comercial até o recolhimento da multa aplicada. caput do art. 260;
II - não se aplica à pessoa física que:
Disposições Finais e Transitórias a) utilizar o desconto simplificado;
b) apresentar declaração em formulário; ou
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da c) entregar a declaração fora do prazo;
publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo III - só se aplica às doações em espécie; e
sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em
política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece o vigor.
Título V do Livro II. § 3º O pagamento da doação deve ser efetuado até a data de
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios vencimento da primeira quota ou quota única do imposto,
promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às observadas instruções específicas da Secretaria da Receita
diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei. Federal do Brasil.
§ 4º O não pagamento da doação no prazo estabelecido no §
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedução, ficando a
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença de imposto
distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, devido apurado na Declaração de Ajuste Anual com os
sendo essas integralmente deduzidas do imposto de renda, acréscimos legais previstos na legislação.
obedecidos os seguintes limites: § 5º A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no respectivo ano-
apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos Direitos
real; e da Criança e do Adolescente municipais, distrital, estaduais e
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado nacional concomitantemente com a opção de que trata o caput,
pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado respeitado o limite previsto no inciso II do art. 260.
o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de 1997.
§ 1º Revogado. Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260
§ 1º-A. Na definição das prioridades a serem atendidas com poderá ser deduzida:
os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais e I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurídicas
municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão que apuram o imposto trimestralmente; e
consideradas as disposições do Plano Nacional de Promoção, II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para
Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente.
Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacional pela Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do
Primeira Infância. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) período a que se refere a apuração do imposto.
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos
direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei
utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações podem ser efetuadas em espécie ou em bens.
subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamente Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem ser
percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de depositadas em conta específica, em instituição financeira
guarda, de crianças e adolescentes e para programas de atenção

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APOSTILAS OPÇÃO

pública, vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-
260. calendário e o valor dos recursos previstos para implementação
das ações, por projeto;
Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação,
contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente por projeto atendido, inclusive com cadastramento na base de
nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo dados do Sistema de Informações sobre a Infância e a
em favor do doador, assinado por pessoa competente e pelo Adolescência; e
presidente do Conselho correspondente, especificando: VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados com
I - número de ordem; recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e nacional, estaduais, distrital e municipais.
endereço do emitente;
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada
doador; Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incentivos
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
V - ano-calendário a que se refere a doação. Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts.
§ 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo pode 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por ação
ser emitido anualmente, desde que discrimine os valores doados judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá atuar de
mês a mês. ofício, a requerimento ou representação de qualquer cidadão.
§ 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve conter Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
a identificação dos bens, mediante descrição em campo próprio da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria da Receita
ou em relação anexa ao comprovante, informando também se Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano, arquivo
houve avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço dos eletrônico contendo a relação atualizada dos Fundos dos
avaliadores. Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital,
estaduais e municipais, com a indicação dos respectivos
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador deverá: números de inscrição no CNPJ e das contas bancárias específicas
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante mantidas em instituições financeiras públicas, destinadas
documentação hábil; exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos,
quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil
pessoa jurídica; e expedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto nos
III - considerar como valor dos bens doados: arts. 260 a 260-K.
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última
declaração do imposto de renda, desde que não exceda o valor Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da
de mercado; criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações a
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei serão
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será efetuados perante a autoridade judiciária da comarca a que
considerado na determinação do valor dos bens doados, exceto pertencer a entidade.
se o leilão for determinado por autoridade judiciária. Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos
estados e municípios, e os estados aos municípios, os recursos
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D e referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei, tão
260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo de 5 logo estejam criados os conselhos dos direitos da criança e do
(cinco) anos para fins de comprovação da dedução perante a adolescente nos seus respectivos níveis.
Receita Federal do Brasil.
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, as
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das atribuições a eles conferidas serão exercidas pela autoridade
contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente judiciária.
nacional, estaduais, distrital e municipais devem:
I - manter conta bancária específica destinada Art. 263. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
exclusivamente a gerir os recursos do Fundo; (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações:
II - manter controle das doações recebidas; e 1) Art. 121 ............................................................
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal do § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço,
Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
seguintes dados por doador: profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
a) nome, CNPJ ou CPF; socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
em bens. homicídio, a pena é aumentada de um terço, se o crime é
praticado contra pessoa menor de catorze anos.
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações 2) Art. 129 ...............................................................
previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do Brasil § 7ºAumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das
dará conhecimento do fato ao Ministério Público. hipóteses do art. 121, § 4º.
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do 3) Art. 136.................................................................
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado
divulgarão amplamente à comunidade: contra pessoa menor de catorze anos.
I - o calendário de suas reuniões; 4) Art. 213 ..................................................................
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:
atendimento à criança e ao adolescente; Pena - reclusão de quatro a dez anos.
III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem 5) Art. 214...................................................................
beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:
do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou municipais; Pena - reclusão de três a nove anos.

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 264. O art. 102 da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de (D) Somente I está correta.
1973, fica acrescido do seguinte item: (E) Todas estão corretas.
"Art. 102 ....................................................................
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. " 03. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional -
CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, (ECA) - Lei n.º 8.069/1990 - e da CF, julgue o item seguinte.
da administração direta ou indireta, inclusive fundações Conforme o ECA, professores que submeterem estudantes
instituídas e mantidas pelo poder público federal promoverão sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a
edição popular do texto integral deste Estatuto, que será posto constrangimento serão passíveis de detenção de um a seis
à disposição das escolas e das entidades de atendimento e de meses.
defesa dos direitos da criança e do adolescente. ( ) Certo ( ) Errado

Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla 04. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional -
divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos meios de CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
comunicação social. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) (ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte.
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será Os conselhos tutelares das regiões administrativas do DF
veiculada em linguagem clara, compreensível e adequada a são compostos por seis membros indicados pela SEE/DF, com
crianças e adolescentes, especialmente às crianças com idade mandatos fixos de quatro anos.
inferior a 6 (seis) anos. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de ( ) Certo ( ) Errado
2016)
05. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional -
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
publicação. (ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte.
Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão ser Situação hipotética: Maurício completou quatorze anos de
promovidas atividades e campanhas de divulgação e idade e deseja trabalhar, mas não quer abandonar seus
esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei. estudos. Assertiva: Nesse caso, o direito de proteção especial
permite que Maurício seja admitido ao trabalho, cabendo ao
Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e 6.697, de Estado garantir seu acesso à escola.
10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais ( ) Certo ( ) Errado
disposições em contrário.
Gabarito
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e 102º 01.B / 02.B / 03.Errado / 04.Errado / 05.Certo
da República.

FERNANDO COLLOR 3 Constituição da República


Questões Federativa do Brasil (Art. 205
a 214)
01. (Prefeitura de Sul Brasil/SC - Agente Educativo -
ALTERNATIVE CONCURSOS/2017) De acordo com o
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
é proibido qualquer trabalho a menores: DE 19883.
(A) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de
aprendiz. PREÂMBULO
(B) De quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz. Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em
(C) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado
aprendiz. Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
(D) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição de sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
aprendiz. desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos
(E) De dezessete anos de idade, inclusive na condição de de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
aprendiz. fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna
e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
02. (Prefeitura de Sul Brasil/SC - Educador Social - promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
ALTERNATIVE CONCURSOS/2017) De acordo com o CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 69,
o adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no CAPÍTULO III
trabalho, observados os seguintes aspectos: DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
I. Respeito à condição peculiar de pessoa em SEÇÃO I
desenvolvimento. DA EDUCAÇÃO
II. Capacitação profissional adequada ao mercado de
trabalho. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da
III. Remuneração do adolescente em relação ao trabalho família, será promovida e incentivada com a colaboração da
prestado. sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
(A) Somente I e III estão corretas. preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
(B) Somente I e II estão corretas. trabalho.
(C) Somente II e III estão corretas.

3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
Acesso em: 04/07/2018

Legislação Básica da Educação 46


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Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e
princípios: regionais.
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na § 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá
escola; disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o fundamental.
pensamento, a arte e o saber; § 2º - O ensino fundamental regular será ministrado em
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; também a utilização de suas línguas maternas e processos
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos próprios de aprendizagem.
oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso Municípios organizarão em regime de colaboração seus
exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das sistemas de ensino.
redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos
53, de 2006) Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e
VII - garantia de padrão de qualidade. supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades
VIII - piso salarial profissional nacional para os educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante
profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal
federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) e aos Municípios;
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
trabalhadores considerados profissionais da educação básica e fundamental e na educação infantil.
sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão
seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do prioritariamente no ensino fundamental e médio.
Distrito Federal e dos Municípios. § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático- colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino
científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obrigatório.
obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente
pesquisa e extensão. ao ensino regular.
§ 1º É facultado às universidades admitir professores,
técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e
pesquisa científica e tecnológica. cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado e desenvolvimento do ensino.
mediante a garantia de: § 1º - A parcela da arrecadação de impostos transferida pela
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos
17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para
gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a
própria; transferir.
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; § 2º - Para efeito do cumprimento do disposto no "caput"
III - atendimento educacional especializado aos portadores deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal,
de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art.
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 213.
5 (cinco) anos de idade; § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
da criação artística, segundo a capacidade de cada um; obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional
do educando; de educação.
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da § 4º - Os programas suplementares de alimentação e
educação básica, por meio de programas suplementares de assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados
material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistência com recursos provenientes de contribuições sociais e outros
à saúde. recursos orçamentários.
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito § 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de
público subjetivo. financiamento a contribuição social do salário-educação,
§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder recolhida pelas empresas na forma da lei. (Vide Decreto nº
Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da 6.003, de 2006)
autoridade competente. § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da
§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no contribuição social do salário-educação serão distribuídas
ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
ou responsáveis, pela frequência à escola. educação básica nas respectivas redes públicas de ensino.

Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas
seguintes condições: públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional; confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus
excedentes financeiros em educação;
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino
fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum

Legislação Básica da Educação 47


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II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola


comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, 4 Emenda Constitucional nº
no caso de encerramento de suas atividades.
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser 53/2006
destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e
médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência
de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 53, DE 19 DE DEZEMBRO
rede pública na localidade da residência do educando, ficando o DE 2006
Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão
de sua rede na localidade. Dá nova redação aos arts. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e Constituição Federal e ao art. 60 do Ato das Disposições
fomento à inovação realizadas por universidades e/ou por Constitucionais Transitórias.
instituições de educação profissional e tecnológica poderão
receber apoio financeiro do Poder Público. (Redação dada pela AS MESAS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS E DO SENADO
Emenda Constitucional nº 85, de 2015) FEDERAL, nos termos do § 3º do art. 60 da Constituição Federal,
promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de
duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional Art. 1º A Constituição Federal passa a vigorar com as
de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, seguintes alterações:
objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar “Art. 7º .....................................................................................
a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos ....................................................................................................
níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o
poderes públicos das diferentes esferas federativas que nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;
conduzam a: “Art. 23. ...................................................................................
I - erradicação do analfabetismo; Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para
II - universalização do atendimento escolar; a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os
III - melhoria da qualidade do ensino; Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
IV - formação para o trabalho; bem-estar em âmbito nacional.
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. “Art. 30. ...................................................................................
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos ...................................................................................................
públicos em educação como proporção do produto interno VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União
bruto. e do Estado, programas de educação infantil e de ensino
fundamental;
Questões “Art. 206. .................................................................................
....................................................................................................
01. (IF/PI - Professor - Administração - IFPI/2016) A V - valorização dos profissionais da educação escolar,
Constituição Federal de 1988, também denominada de garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso
Constituição Cidadã, estabeleceu no Capítulo III, exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das
especificamente no Art. 206, os princípios que regem o ensino redes públicas;
no Brasil. Dentre estes, a gestão do ensino público passou a ser: ....................................................................................................
(A) Autônoma e livre de qualquer poder, considerando os VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais
princípios de igualdade e liberdade do ensino. da educação escolar pública, nos termos de lei federal.
(B) Democrática em todos estabelecimentos de ensino Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de
públicos e privados. trabalhadores considerados profissionais da educação básica e
(C) Democrática do ensino público, na forma da lei. sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de
(D) Oligárquica em todas as escolas em conformidade com seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do
o projeto pedagógico de cada escola. Distrito Federal e dos Municípios.
(E) Participativa e democrática em todas as instituições de “Art. 208. .................................................................................
ensino, em consonância com o que preconiza o direito público. ....................................................................................................
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até
02. (IF/TO – Técnico de laboratório – IFTO/2017) 5 (cinco) anos de idade;
Considerando as normas constitucionais sobre a educação, “Art. 211. .................................................................................
assinale a alternativa INCORRETA. ....................................................................................................
(A) As instituições de pesquisa científica e tecnológica § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente
gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de ao ensino regular.
gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio de “Art. 212. .................................................................................
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. ....................................................................................................
(B) O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito § 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de
público subjetivo do cidadão. financiamento a contribuição social do salário-educação,
(C) O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder recolhida pelas empresas na forma da lei.
Público, ou de sua oferta irregular, importa responsabilidade § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da
da autoridade competente. contribuição social do salário-educação serão distribuídas
(D) É vedado às instituições de pesquisa científica e proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
tecnológica admitir professores, técnicos e cientistas educação básica nas respectivas redes públicas de ensino.”
estrangeiros.
(E) A gestão democrática do ensino público é um dos Art. 2º O art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais
princípios do sistema educacional brasileiro. Transitórias passa a vigorar com a seguinte redação: (Vigência)
“Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da
Gabarito promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados, o
01.C/ 02.D. Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos recursos a

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que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à fins deste inciso os valores previstos no inciso VII do caput deste
manutenção e desenvolvimento da educação básica e à artigo;
remuneração condigna dos trabalhadores da educação, IX - os valores a que se referem as alíneas a, b, e c do inciso
respeitadas as seguintes disposições: VII do caput deste artigo serão atualizados, anualmente, a partir
I - a distribuição dos recursos e de responsabilidades entre o da promulgação desta Emenda Constitucional, de forma a
Distrito Federal, os Estados e seus Municípios é assegurada preservar, em caráter permanente, o valor real da
mediante a criação, no âmbito de cada Estado e do Distrito complementação da União;
Federal, de um Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da X - aplica-se à complementação da União o disposto no art.
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação 160 da Constituição Federal;
- FUNDEB, de natureza contábil; XI - o não-cumprimento do disposto nos incisos V e VII do
II - os Fundos referidos no inciso I do caput deste artigo serão caput deste artigo importará crime de responsabilidade da
constituídos por 20% (vinte por cento) dos recursos a que se autoridade competente;
referem os incisos I, II e III do art. 155; o inciso II do caput do art. XII - proporção não inferior a 60% (sessenta por cento) de
157; os incisos II, III e IV do caput do art. 158; e as alíneas a e b cada Fundo referido no inciso I do caput deste artigo será
do inciso I e o inciso II do caput do art. 159, todos da Constituição destinada ao pagamento dos profissionais do magistério da
Federal, e distribuídos entre cada Estado e seus Municípios, educação básica em efetivo exercício.
proporcionalmente ao número de alunos das diversas etapas e § 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
modalidades da educação básica presencial, matriculados nas deverão assegurar, no financiamento da educação básica, a
respectivas redes, nos respectivos âmbitos de atuação melhoria da qualidade de ensino, de forma a garantir padrão
prioritária estabelecidos nos §§ 2º e 3º do art. 211 da mínimo definido nacionalmente.
Constituição Federal; § 2º O valor por aluno do ensino fundamental, no Fundo de
III - observadas as garantias estabelecidas nos incisos I, II, III cada Estado e do Distrito Federal, não poderá ser inferior ao
e IV do caput do art. 208 da Constituição Federal e as metas de praticado no âmbito do Fundo de Manutenção e
universalização da educação básica estabelecidas no Plano Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Nacional de Educação, a lei disporá sobre: Magistério - FUNDEF, no ano anterior à vigência desta Emenda
a) a organização dos Fundos, a distribuição proporcional de Constitucional.
seus recursos, as diferenças e as ponderações quanto ao valor § 3º O valor anual mínimo por aluno do ensino fundamental,
anual por aluno entre etapas e modalidades da educação básica no âmbito do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
e tipos de estabelecimento de ensino; Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
b) a forma de cálculo do valor anual mínimo por aluno; - FUNDEB, não poderá ser inferior ao valor mínimo fixado
c) os percentuais máximos de apropriação dos recursos dos nacionalmente no ano anterior ao da vigência desta Emenda
Fundos pelas diversas etapas e modalidades da educação básica, Constitucional.
observados os arts. 208 e 214 da Constituição Federal, bem como § 4º Para efeito de distribuição de recursos dos Fundos a que
as metas do Plano Nacional de Educação; se refere o inciso I do caput deste artigo, levar-se-á em conta a
d) a fiscalização e o controle dos Fundos; totalidade das matrículas no ensino fundamental e considerar-
e) prazo para fixar, em lei específica, piso salarial se-á para a educação infantil, para o ensino médio e para a
profissional nacional para os profissionais do magistério público educação de jovens e adultos 1/3 (um terço) das matrículas no
da educação básica; primeiro ano, 2/3 (dois terços) no segundo ano e sua totalidade
IV - os recursos recebidos à conta dos Fundos instituídos nos a partir do terceiro ano.
termos do inciso I do caput deste artigo serão aplicados pelos § 5º A porcentagem dos recursos de constituição dos Fundos,
Estados e Municípios exclusivamente nos respectivos âmbitos de conforme o inciso II do caput deste artigo, será alcançada
atuação prioritária, conforme estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. gradativamente nos primeiros 3 (três) anos de vigência dos
211 da Constituição Federal; Fundos, da seguinte forma:
V - a União complementará os recursos dos Fundos a que se I - no caso dos impostos e transferências constantes do inciso
refere o inciso II do caput deste artigo sempre que, no Distrito II do caput do art. 155; do inciso IV do caput do art. 158; e das
Federal e em cada Estado, o valor por aluno não alcançar o alíneas a e b do inciso I e do inciso II do caput do art. 159 da
mínimo definido nacionalmente, fixado em observância ao Constituição Federal:
disposto no inciso VII do caput deste artigo, vedada a utilização a) 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centésimos por
dos recursos a que se refere o § 5º do art. 212 da Constituição cento), no primeiro ano;
Federal; b) 18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos por
VI - até 10% (dez por cento) da complementação da União cento), no segundo ano;
prevista no inciso V do caput deste artigo poderá ser distribuída c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano;
para os Fundos por meio de programas direcionados para a II - no caso dos impostos e transferências constantes dos
melhoria da qualidade da educação, na forma da lei a que se incisos I e III do caput do art. 155; do inciso II do caput do art.
refere o inciso III do caput deste artigo; 157; e dos incisos II e III do caput do art. 158 da Constituição
VII - a complementação da União de que trata o inciso V do Federal:
caput deste artigo será de, no mínimo: a) 6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por
a) R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no primeiro cento), no primeiro ano;
ano de vigência dos Fundos; b) 13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por
b) R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no segundo cento), no segundo ano;
ano de vigência dos Fundos; c) 20% (vinte por cento), a partir do terceiro ano.
c) R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos milhões § 6º (Revogado).
de reais), no terceiro ano de vigência dos Fundos; § 7º (Revogado).
d) 10% (dez por cento) do total dos recursos a que se refere
o inciso II do caput deste artigo, a partir do quarto ano de Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data
vigência dos Fundos; de sua publicação, mantidos os efeitos do art. 60 do Ato das
VIII - a vinculação de recursos à manutenção e Disposições Constitucionais Transitórias, conforme estabelecido
desenvolvimento do ensino estabelecida no art. 212 da pela Emenda Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996,
Constituição Federal suportará, no máximo, 30% (trinta por até o início da vigência dos Fundos, nos termos desta Emenda
cento) da complementação da União, considerando-se para os Constitucional.

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III - imposto sobre a propriedade de veículos automotores


5 Lei nº 11.494/2007 e previsto no inciso III do caput do art. 155 combinado com o
inciso III do caput do art. 158 da Constituição Federal;
alterações IV - parcela do produto da arrecadação do imposto que a
União eventualmente instituir no exercício da competência que
lhe é atribuída pelo inciso I do caput do art. 154 da Constituição
LEI Nº 11.494, DE 20 DE JUNHO DE 20074 Federal prevista no inciso II do caput do art. 157 da Constituição
Federal;
Regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da V - parcela do produto da arrecadação do imposto sobre a
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação propriedade territorial rural, relativamente a imóveis situados
- FUNDEB, de que trata o art. 60 do Ato das Disposições nos Municípios, prevista no inciso II do caput do art. 158 da
Constitucionais Transitórias; altera a Lei nº 10.195, de 14 de Constituição Federal;
fevereiro de 2001; revoga dispositivos das Leis n. 9.424, de 24 de VI - parcela do produto da arrecadação do imposto sobre
dezembro de 1996, 10.880, de 9 de junho de 2004, e 10.845, de 5 renda e proventos de qualquer natureza e do imposto sobre
de março de 2004; e dá outras providências. produtos industrializados devida ao Fundo de Participação dos
Estados e do Distrito Federal – FPE e prevista na alínea a do
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso inciso I do caput do art. 159 da Constituição Federal e no Sistema
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Tributário Nacional de que trata a Lei no 5.172, de 25 de
outubro de 1966;
CAPÍTULO I VII - parcela do produto da arrecadação do imposto sobre
DISPOSIÇÕES GERAIS renda e proventos de qualquer natureza e do imposto sobre
produtos industrializados devida ao Fundo de Participação dos
Art. 1° É instituído, no âmbito de cada Estado e do Distrito Municípios – FPM e prevista na alínea b do inciso I do caput do
Federal, um Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da art. 159 da Constituição Federal e no Sistema Tributário
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação Nacional de que trata a Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966;
- FUNDEB, de natureza contábil, nos termos do art. 60 do Ato VIII - parcela do produto da arrecadação do imposto sobre
das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT. produtos industrializados devida aos Estados e ao Distrito
Parágrafo único. A instituição dos Fundos previstos no caput Federal e prevista no inciso II do caput do art. 159 da
deste artigo e a aplicação de seus recursos não isentam os Constituição Federal e na Lei Complementar no 61, de 26 de
Estados, o Distrito Federal e os Municípios da obrigatoriedade dezembro de 1989; e
da aplicação na manutenção e no desenvolvimento do ensino, na IX - receitas da dívida ativa tributária relativa aos impostos
forma prevista no art. 212 da Constituição Federal e no inciso VI previstos neste artigo, bem como juros e multas eventualmente
do caput e parágrafo único do art. 10 e no inciso I do caput do incidentes.
art. 11 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de: § 1° Inclui-se na base de cálculo dos recursos referidos nos
I - pelo menos 5% (cinco por cento) do montante dos incisos do caput deste artigo o montante de recursos financeiros
impostos e transferências que compõem a cesta de recursos do transferidos pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Fundeb, a que se referem os incisos I a IX do caput e o § 1° do art. Municípios, conforme disposto na Lei Complementar nº 87, de 13
3° desta Lei, de modo que os recursos previstos no art. 3° desta de setembro de 1996.
Lei somados aos referidos neste inciso garantam a aplicação do § 2° Além dos recursos mencionados nos incisos do caput e
mínimo de 25% (vinte e cinco por cento) desses impostos e no § 1° deste artigo, os Fundos contarão com a complementação
transferências em favor da manutenção e desenvolvimento do da União, nos termos da Seção II deste Capítulo.
ensino;
II - pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) dos demais Seção II
impostos e transferências. Da Complementação da União

Art. 2° Os Fundos destinam-se à manutenção e ao Art. 4° A União complementará os recursos dos Fundos
desenvolvimento da educação básica pública e à valorização dos sempre que, no âmbito de cada Estado e no Distrito Federal, o
trabalhadores em educação, incluindo sua condigna valor médio ponderado por aluno, calculado na forma do Anexo
remuneração, observado o disposto nesta Lei. desta Lei, não alcançar o mínimo definido nacionalmente, fixado
de forma a que a complementação da União não seja inferior aos
CAPÍTULO II valores previstos no inciso VII do caput do art. 60 do ADCT.
DA COMPOSIÇÃO FINANCEIRA § 1° O valor anual mínimo por aluno definido nacionalmente
Seção I constitui-se em valor de referência relativo aos anos iniciais do
Das Fontes de Receita dos Fundos ensino fundamental urbano e será determinado contabilmente
em função da complementação da União.
Art. 3° Os Fundos, no âmbito de cada Estado e do Distrito § 2° O valor anual mínimo por aluno será definido
Federal, são compostos por 20% (vinte por cento) das seguintes nacionalmente, considerando-se a complementação da União
fontes de receita: após a dedução da parcela de que trata o art. 7o desta Lei,
I - imposto sobre transmissão causa mortis e doação de relativa a programas direcionados para a melhoria da
quaisquer bens ou direitos previsto no inciso I do caput do art. qualidade da educação básica.
155 da Constituição Federal;
II - imposto sobre operações relativas à circulação de Art. 5° A complementação da União destina-se
mercadorias e sobre prestações de serviços de transportes exclusivamente a assegurar recursos financeiros aos Fundos,
interestadual e intermunicipal e de comunicação previsto no aplicando-se o disposto no caput do art. 160 da Constituição
inciso II do caput do art. 155 combinado com o inciso IV do caput Federal.
do art. 158 da Constituição Federal; § 1° É vedada a utilização dos recursos oriundos da
arrecadação da contribuição social do salário-educação a que

4http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm.

Acesso em 25/07/2018 às 15h34min.

Legislação Básica da Educação 50


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se refere o § 5º do art. 212 da Constituição Federal na formação por alternância, observado o disposto em
complementação da União aos Fundos. regulamento. (Incluído pela Lei nº 12.695, de 2012)
§ 2° A vinculação de recursos para manutenção e § 2o As instituições a que se refere o § 1o deste artigo deverão
desenvolvimento do ensino estabelecida no art. 212 da obrigatória e cumulativamente:
Constituição Federal suportará, no máximo, 30% (trinta por I - Oferecer igualdade de condições para o acesso e
cento) da complementação da União. permanência na escola e atendimento educacional gratuito a
Art. 6° A complementação da União será de, no mínimo, 10% todos os seus alunos;
(dez por cento) do total dos recursos a que se refere o inciso II II - Comprovar finalidade não lucrativa e aplicar seus
do caput do art. 60 do ADCT. excedentes financeiros em educação na etapa ou modalidade
§ 1° A complementação da União observará o cronograma previstas nos §§ 1o, 3o e 4o deste artigo;
da programação financeira do Tesouro Nacional e contemplará III - assegurar a destinação de seu patrimônio a outra escola
pagamentos mensais de, no mínimo, 5% (cinco por cento) da comunitária, filantrópica ou confessional com atuação na etapa
complementação anual, a serem realizados até o último dia útil ou modalidade previstas nos §§ 1o, 3o e 4o deste artigo ou ao
de cada mês, assegurados os repasses de, no mínimo, 45% poder público no caso do encerramento de suas atividades;
(quarenta e cinco por cento) até 31 de julho, de 85% (oitenta e IV - Atender a padrões mínimos de qualidade definidos pelo
cinco por cento) até 31 de dezembro de cada ano, e de 100% órgão normativo do sistema de ensino, inclusive,
(cem por cento) até 31 de janeiro do exercício imediatamente obrigatoriamente, ter aprovados seus projetos pedagógicos;
subsequente. V - Ter certificado do Conselho Nacional de Assistência
§ 2° A complementação da União a maior ou a menor em Social ou órgão equivalente, na forma do regulamento.
função da diferença entre a receita utilizada para o cálculo e a § 3o Será admitido, até a universalização da pré-escola
receita realizada do exercício de referência será ajustada no 1° prevista na Lei no 13.005, de 25 de junho de 2014, o cômputo das
(primeiro) quadrimestre do exercício imediatamente matrículas das pré-escolas, comunitárias, confessionais ou
subsequente e debitada ou creditada à conta específica dos filantrópicas, sem fins lucrativos, conveniadas com o poder
Fundos, conforme o caso. público e que atendam a crianças de quatro a cinco anos,
§ 3° O não-cumprimento do disposto no caput deste artigo observadas as condições previstas nos incisos I a V do § 2o,
importará em crime de responsabilidade da autoridade efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado, realizado
competente. pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira - INEP. (Redação dada pela Lei nº 13.348, de
Art. 7° Parcela da complementação da União, a ser fixada 2016)
anualmente pela Comissão Intergovernamental de § 4o Observado o disposto no parágrafo único do art. 60 da
Financiamento para a Educação Básica de Qualidade instituída Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e no § 2 o deste artigo,
na forma da Seção II do Capítulo III desta Lei, limitada a até 10% admitir-se-á o cômputo das matrículas efetivadas, conforme o
(dez por cento) de seu valor anual, poderá ser distribuída para censo escolar mais atualizado, na educação especial oferecida
os Fundos por meio de programas direcionados para a melhoria em instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem
da qualidade da educação básica, na forma do regulamento. fins lucrativos, conveniadas com o poder público, com atuação
Parágrafo único. Para a distribuição da parcela de recursos exclusiva na modalidade.
da complementação a que se refere o caput deste artigo aos § 5o Eventuais diferenças do valor anual por aluno entre as
Fundos de âmbito estadual beneficiários da complementação instituições públicas da etapa e da modalidade referidas neste
nos termos do art. 4° desta Lei, levar-se-á em consideração: artigo e as instituições a que se refere o § 1o deste artigo serão
I - a apresentação de projetos em regime de colaboração por aplicadas na criação de infraestrutura da rede escolar pública.
Estado e respectivos Municípios ou por consórcios municipais; § 6o Os recursos destinados às instituições de que tratam os
II - o desempenho do sistema de ensino no que se refere ao §§ 1o, 3o e 4o deste artigo somente poderão ser destinados às
esforço de habilitação dos professores e aprendizagem dos categorias de despesa previstas no art. 70 da Lei nº 9.394, de 20
educandos e melhoria do fluxo escolar; de dezembro de 1996.
III - o esforço fiscal dos entes federados;
IV - a vigência de plano estadual ou municipal de educação Art. 9o Para os fins da distribuição dos recursos de que trata
aprovado por lei. esta Lei, serão consideradas exclusivamente as matrículas
presenciais efetivas, conforme os dados apurados no censo
CAPÍTULO III escolar mais atualizado, realizado anualmente pelo Instituto
DA DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira -
Seção I INEP, considerando as ponderações aplicáveis.
Disposições Gerais § 1o Os recursos serão distribuídos entre o Distrito Federal,
os Estados e seus Municípios, considerando-se exclusivamente as
Art. 8o A distribuição de recursos que compõem os Fundos, matrículas nos respectivos âmbitos de atuação prioritária,
no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, dar-se-á, entre conforme os §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição Federal,
o governo estadual e os de seus Municípios, na proporção do observado o disposto no § 1o do art. 21 desta Lei.
número de alunos matriculados nas respectivas redes de § 2o Serão consideradas, para a educação especial, as
educação básica pública presencial, na forma do Anexo desta matrículas na rede regular de ensino, em classes comuns ou em
Lei. classes especiais de escolas regulares, e em escolas especiais ou
§ 1o Será admitido, para efeito da distribuição dos recursos especializadas.
previstos no inciso II do caput do art. 60 do ADCT, em relação às § 3o Os profissionais do magistério da educação básica da
instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem rede pública de ensino cedidos para as instituições a que se
fins lucrativos e conveniadas com o poder público, o cômputo referem os §§ 1o, 3o e 4o do art. 8o desta Lei serão considerados
das matrículas efetivadas: (Redação dada pela Lei nº 12.695, de como em efetivo exercício na educação básica pública para fins
2012) do disposto no art. 22 desta Lei.
I - Na educação infantil oferecida em creches para crianças § 4o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão,
de até 3 (três) anos; (Incluído pela Lei nº 12.695, de 2012) no prazo de 30 (trinta) dias da publicação dos dados do censo
II - Na educação do campo oferecida em instituições escolar no Diário Oficial da União, apresentar recursos para
credenciadas que tenham como proposta pedagógica a retificação dos dados publicados.

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 10. A distribuição proporcional de recursos dos Fundos registradas em ata circunstanciada, lavrada conforme seu
levará em conta as seguintes diferenças entre etapas, regimento interno.
modalidades e tipos de estabelecimento de ensino da educação
básica: § 2° As deliberações relativas à especificação das
I - creche em tempo integral; ponderações serão baixadas em resolução publicada no Diário
II - pré-escola em tempo integral; Oficial da União até o dia 31 de julho de cada exercício, para
III - creche em tempo parcial; vigência no exercício seguinte.
IV - pré-escola em tempo parcial; § 3° A participação na Comissão Intergovernamental de
V - anos iniciais do ensino fundamental urbano; Financiamento para a Educação Básica de Qualidade é função
VI - anos iniciais do ensino fundamental no campo; não remunerada de relevante interesse público, e seus membros,
VII - anos finais do ensino fundamental urbano; quando convocados, farão jus a transporte e diárias.
VIII - anos finais do ensino fundamental no campo;
IX- ensino fundamental em tempo integral; Art. 13. No exercício de suas atribuições, compete à
X - ensino médio urbano; Comissão Intergovernamental de Financiamento para a
XI - ensino médio no campo; Educação Básica de Qualidade:
XII - ensino médio em tempo integral; I - especificar anualmente as ponderações aplicáveis entre
XIII - ensino médio integrado à educação profissional; diferentes etapas, modalidades e tipos de estabelecimento de
XIV - educação especial; ensino da educação básica, observado o disposto no art. 10 desta
XV - educação indígena e quilombola; Lei, levando em consideração a correspondência ao custo real
XVI - educação de jovens e adultos com avaliação no da respectiva etapa e modalidade e tipo de estabelecimento de
processo; educação básica, segundo estudos de custo realizados e
XVII - educação de jovens e adultos integrada à educação publicados pelo Inep;
profissional de nível médio, com avaliação no processo. II - fixar anualmente o limite proporcional de apropriação
XVIII - formação técnica e profissional prevista no inciso V de recursos pelas diferentes etapas, modalidades e tipos de
do caput do art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. estabelecimento de ensino da educação básica, observado o
(Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) disposto no art. 11 desta Lei;
§ 1o A ponderação entre diferentes etapas, modalidades e III - fixar anualmente a parcela da complementação da
tipos de estabelecimento de ensino adotará como referência o União a ser distribuída para os Fundos por meio de programas
fator 1 (um) para os anos iniciais do ensino fundamental direcionados para a melhoria da qualidade da educação básica,
urbano, observado o disposto no § 1o do art. 32 desta Lei. bem como respectivos critérios de distribuição, observado o
§ 2o A ponderação entre demais etapas, modalidades e tipos disposto no art. 7° desta Lei;
de estabelecimento será resultado da multiplicação do fator de IV - elaborar, requisitar ou orientar a elaboração de estudos
referência por um fator específico fixado entre 0,70 (setenta técnicos pertinentes, sempre que necessário;
centésimos) e 1,30 (um inteiro e trinta centésimos), observando- V - elaborar seu regimento interno, baixado em portaria do
se, em qualquer hipótese, o limite previsto no art. 11 desta Lei. Ministro de Estado da Educação.
§ 3o Para os fins do disposto neste artigo, o regulamento VI - fixar percentual mínimo de recursos a ser repassado às
disporá sobre a educação básica em tempo integral e sobre os instituições de que tratam os incisos I e II do § 1° e os §§ 3° e 4°
anos iniciais e finais do ensino fundamental. do art. 8°, de acordo com o número de matrículas efetivadas. (
§ 4o O direito à educação infantil será assegurado às § 1° Serão adotados como base para a decisão da Comissão
crianças até o término do ano letivo em que completarem 6 Intergovernamental de Financiamento para a Educação Básica
(seis) anos de idade. de Qualidade os dados do censo escolar anual mais atualizado
realizado pelo Inep.
Art. 11. A apropriação dos recursos em função das § 2° A Comissão Intergovernamental de Financiamento para
matrículas na modalidade de educação de jovens e adultos, nos a Educação Básica de Qualidade exercerá suas competências em
termos da alínea c do inciso III do caput do art. 60 do Ato das observância às garantias estabelecidas nos incisos I, II, III e IV
Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT, observará, em do caput do art. 208 da Constituição Federal e às metas de
cada Estado e no Distrito Federal, percentual de até 15% universalização da educação básica estabelecidas no plano
(quinze por cento) dos recursos do Fundo respectivo. nacional de educação.

Seção II Art. 14. As despesas da Comissão Intergovernamental de


Da Comissão Intergovernamental de Financiamento Financiamento para a Educação Básica de Qualidade correrão
para a Educação Básica de Qualidade à conta das dotações orçamentárias anualmente consignadas
ao Ministério da Educação.
Art. 12. Fica instituída, no âmbito do Ministério da
Educação, a Comissão Intergovernamental de Financiamento CAPÍTULO IV
para a Educação Básica de Qualidade, com a seguinte DA TRANSFERÊNCIA E DA GESTÃO DOS RECURSOS
composição:
I - 1 (um) representante do Ministério da Educação; Art. 15. O Poder Executivo federal publicará, até 31 de
II - 1 (um) representante dos secretários estaduais de dezembro de cada exercício, para vigência no exercício
educação de cada uma das 5 (cinco) regiões político- subsequente:
administrativas do Brasil indicado pelas seções regionais do I - a estimativa da receita total dos Fundos;
Conselho Nacional de Secretários de Estado da Educação - II - a estimativa do valor da complementação da União;
CONSED; III - a estimativa dos valores anuais por aluno no âmbito do
III - 1 (um) representante dos secretários municipais de Distrito Federal e de cada Estado;
educação de cada uma das 5 (cinco) regiões político- IV - o valor anual mínimo por aluno definido nacionalmente.
administrativas do Brasil indicado pelas seções regionais da Parágrafo único. Para o ajuste da complementação da
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - União de que trata o § 2° do art. 6° desta Lei, os Estados e o
UNDIME. Distrito Federal deverão publicar na imprensa oficial e
§ 1° As deliberações da Comissão Intergovernamental de encaminhar à Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da
Financiamento para a Educação Básica de Qualidade serão Fazenda, até o dia 31 de janeiro, os valores da arrecadação

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APOSTILAS OPÇÃO

efetiva dos impostos e das transferências de que trata o art. 3° do § 1° do art. 24 desta Lei os extratos bancários referentes à
desta Lei referentes ao exercício imediatamente anterior. conta do fundo.
§ 7° Os recursos depositados na conta específica a que se
Art. 16. Os recursos dos Fundos serão disponibilizados pelas refere o caput deste artigo serão depositados pela União,
unidades transferidoras ao Banco do Brasil S.A. ou Caixa Distrito Federal, Estados e Municípios na forma prevista no § 5°
Econômica Federal, que realizará a distribuição dos valores do art. 69 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
devidos aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
Parágrafo único. São unidades transferidoras a União, os Art. 18. Nos termos do § 4º do art. 211 da Constituição
Estados e o Distrito Federal em relação às respectivas parcelas Federal, os Estados e os Municípios poderão celebrar convênios
do Fundo cuja arrecadação e disponibilização para distribuição para a transferência de alunos, recursos humanos, materiais e
sejam de sua responsabilidade. encargos financeiros, assim como de transporte escolar,
acompanhados da transferência imediata de recursos
Art. 17. Os recursos dos Fundos, provenientes da União, dos financeiros correspondentes ao número de matrículas assumido
Estados e do Distrito Federal, serão repassados pelo ente federado.
automaticamente para contas únicas e específicas dos Governos Parágrafo único. (VETADO)
Estaduais, do Distrito Federal e dos Municípios, vinculadas ao
respectivo Fundo, instituídas para esse fim e mantidas na Art. 19. Os recursos disponibilizados aos Fundos pela União,
instituição financeira de que trata o art. 16 desta Lei. pelos Estados e pelo Distrito Federal deverão ser registrados de
§ 1° Os repasses aos Fundos provenientes das participações forma detalhada a fim de evidenciar as respectivas
a que se refere o inciso II do caput do art. 158 e as alíneas a e b transferências.
do inciso I do caput e inciso II do caput do art. 159 da
Constituição Federal, bem como os repasses aos Fundos à conta Art. 20. Os eventuais saldos de recursos financeiros
das compensações financeiras aos Estados, Distrito Federal e disponíveis nas contas específicas dos Fundos cuja perspectiva
Municípios a que se refere a Lei Complementar no 87, de 13 de de utilização seja superior a 15 (quinze) dias deverão ser
setembro de 1996, constarão dos orçamentos da União, dos aplicados em operações financeiras de curto prazo ou de
Estados e do Distrito Federal e serão creditados pela União em mercado aberto, lastreadas em títulos da dívida pública, na
favor dos Governos Estaduais, do Distrito Federal e dos instituição financeira responsável pela movimentação dos
Municípios nas contas específicas a que se refere este artigo, recursos, de modo a preservar seu poder de compra.
respeitados os critérios e as finalidades estabelecidas nesta Lei, Parágrafo único. Os ganhos financeiros auferidos em
observados os mesmos prazos, procedimentos e forma de decorrência das aplicações previstas no caput deste artigo
divulgação adotados para o repasse do restante dessas deverão ser utilizados na mesma finalidade e de acordo com os
transferências constitucionais em favor desses governos. mesmos critérios e condições estabelecidas para utilização do
§ 2° Os repasses aos Fundos provenientes dos impostos valor principal do Fundo.
previstos nos incisos I, II e III do caput do art. 155 combinados
com os incisos III e IV do caput do art. 158 da Constituição CAPÍTULO V
Federal constarão dos orçamentos dos Governos Estaduais e do DA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS
Distrito Federal e serão depositados pelo estabelecimento oficial
de crédito previsto no art. 4° da Lei Complementar no 63, de 11 Art. 21. Os recursos dos Fundos, inclusive aqueles oriundos
de janeiro de 1990, no momento em que a arrecadação estiver de complementação da União, serão utilizados pelos Estados,
sendo realizada nas contas do Fundo abertas na instituição pelo Distrito Federal e pelos Municípios, no exercício financeiro
financeira de que trata o caput deste artigo. em que lhes forem creditados, em ações consideradas como de
§ 3° A instituição financeira de que trata o caput deste manutenção e desenvolvimento do ensino para a educação
artigo, no que se refere aos recursos dos impostos e básica pública, conforme disposto no art. 70 da Lei nº 9.394, de
participações mencionados no § 2° deste artigo, creditará 20 de dezembro de 1996.
imediatamente as parcelas devidas ao Governo Estadual, ao § 1° Os recursos poderão ser aplicados pelos Estados e
Distrito Federal e aos Municípios nas contas específicas Municípios indistintamente entre etapas, modalidades e tipos de
referidas neste artigo, observados os critérios e as finalidades estabelecimento de ensino da educação básica nos seus
estabelecidas nesta Lei, procedendo à divulgação dos valores respectivos âmbitos de atuação prioritária, conforme
creditados de forma similar e com a mesma periodicidade estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição Federal.
utilizada pelos Estados em relação ao restante da transferência § 2° Até 5% (cinco por cento) dos recursos recebidos à conta
do referido imposto. dos Fundos, inclusive relativos à complementação da União
§ 4° Os recursos dos Fundos provenientes da parcela do recebidos nos termos do § 1° do art. 6° desta Lei, poderão ser
imposto sobre produtos industrializados, de que trata o inciso II utilizados no 1o (primeiro) trimestre do exercício
do caput do art. 159 da Constituição Federal, serão creditados imediatamente subsequente, mediante abertura de crédito
pela União em favor dos Governos Estaduais e do Distrito adicional.
Federal nas contas específicas, segundo os critérios e
respeitadas as finalidades estabelecidas nesta Lei, observados os Art. 22. Pelo menos 60% (sessenta por cento) dos recursos
mesmos prazos, procedimentos e forma de divulgação previstos anuais totais dos Fundos serão destinados ao pagamento da
na Lei Complementar nº 61, de 26 de dezembro de 1989. remuneração dos profissionais do magistério da educação
§ 5° Do montante dos recursos do imposto sobre produtos básica em efetivo exercício na rede pública.
industrializados de que trata o inciso II do caput do art. 159 da Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput deste
Constituição Federal a parcela devida aos Municípios, na forma artigo, considera-se:
do disposto no art. 5º da Lei Complementar nº 61, de 26 de I - remuneração: o total de pagamentos devidos aos
dezembro de 1989, será repassada pelo Governo Estadual ao profissionais do magistério da educação, em decorrência do
respectivo Fundo e os recursos serão creditados na conta efetivo exercício em cargo, emprego ou função, integrantes da
específica a que se refere este artigo, observados os mesmos estrutura, quadro ou tabela de servidores do Estado, Distrito
prazos, procedimentos e forma de divulgação do restante dessa Federal ou Município, conforme o caso, inclusive os encargos
transferência aos Municípios. sociais incidentes;
§ 6° A instituição financeira disponibilizará, II - profissionais do magistério da educação: docentes,
permanentemente, aos conselhos referidos nos incisos II, III e IV profissionais que oferecem suporte pedagógico direto ao

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exercício da docência: direção ou administração escolar, III - no Distrito Federal, por no mínimo 9 (nove) membros,
planejamento, inspeção, supervisão, orientação educacional e sendo a composição determinada pelo disposto no inciso II deste
coordenação pedagógica; parágrafo, excluídos os membros mencionados nas suas alíneas
III - efetivo exercício: atuação efetiva no desempenho das b e d;
atividades de magistério previstas no inciso II deste parágrafo IV - em âmbito municipal, por no mínimo 9 (nove) membros,
associada à sua regular vinculação contratual, temporária ou sendo:
estatutária, com o ente governamental que o remunera, não a) 2 (dois) representantes do Poder Executivo Municipal, dos
sendo descaracterizado por eventuais afastamentos quais pelo menos 1 (um) da Secretaria Municipal de Educação
temporários previstos em lei, com ônus para o empregador, que ou órgão educacional equivalente;
não impliquem rompimento da relação jurídica existente. b) 1 (um) representante dos professores da educação básica
Art. 23. É vedada a utilização dos recursos dos Fundos: pública;
I - no financiamento das despesas não consideradas como de c) 1 (um) representante dos diretores das escolas básicas
manutenção e desenvolvimento da educação básica, conforme o públicas;
art. 71 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996; d) 1 (um) representante dos servidores técnico-
II - como garantia ou contrapartida de operações de crédito, administrativos das escolas básicas públicas;
internas ou externas, contraídas pelos Estados, pelo Distrito e) 2 (dois) representantes dos pais de alunos da educação
Federal ou pelos Municípios que não se destinem ao básica pública;
financiamento de projetos, ações ou programas considerados f) 2 (dois) representantes dos estudantes da educação básica
como ação de manutenção e desenvolvimento do ensino para a pública, um dos quais indicado pela entidade de estudantes
educação básica. secundaristas.
§ 2° Integrarão ainda os conselhos municipais dos Fundos,
CAPÍTULO VI quando houver, 1 (um) representante do respectivo Conselho
DO ACOMPANHAMENTO, CONTROLE SOCIAL, Municipal de Educação e 1 (um) representante do Conselho
COMPROVAÇÃO E Tutelar a que se refere a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990,
FISCALIZAÇÃO DOS RECURSOS indicados por seus pares.
§ 3° Os membros dos conselhos previstos no caput deste
Art. 24. O acompanhamento e o controle social sobre a artigo serão indicados até 20 (vinte) dias antes do término do
distribuição, a transferência e a aplicação dos recursos dos mandato dos conselheiros anteriores:
Fundos serão exercidos, junto aos respectivos governos, no I - pelos dirigentes dos órgãos federais, estaduais, municipais
âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos e do Distrito Federal e das entidades de classes organizadas, nos
Municípios, por conselhos instituídos especificamente para esse casos das representações dessas instâncias;
fim. II - nos casos dos representantes dos diretores, pais de alunos
§ 1° Os conselhos serão criados por legislação específica, e estudantes, pelo conjunto dos estabelecimentos ou entidades
editada no pertinente âmbito governamental, observados os de âmbito nacional, estadual ou municipal, conforme o caso, em
seguintes critérios de composição: processo eletivo organizado para esse fim, pelos respectivos
I - em âmbito federal, por no mínimo 14 (quatorze) pares;
membros, sendo: III - nos casos de representantes de professores e servidores,
a) até 4 (quatro) representantes do Ministério da Educação; pelas entidades sindicais da respectiva categoria.
b) 1 (um) representante do Ministério da Fazenda; § 4° Indicados os conselheiros, na forma dos incisos I e II do
c) 1 (um) representante do Ministério do Planejamento, § 3° deste artigo, o Ministério da Educação designará os
Orçamento e Gestão; integrantes do conselho previsto no inciso I do § 1° deste artigo,
d) 1 (um) representante do Conselho Nacional de Educação; e o Poder Executivo competente designará os integrantes dos
e) 1 (um) representante do Conselho Nacional de Secretários conselhos previstos nos incisos II, III e IV do § 1° deste artigo.
de Estado da Educação - CONSED; § 5° São impedidos de integrar os conselhos a que se refere o
f) 1 (um) representante da Confederação Nacional dos caput deste artigo:
Trabalhadores em Educação - CNTE; I - cônjuge e parentes consanguíneos ou afins, até 3o
g) 1 (um) representante da União Nacional dos Dirigentes (terceiro) grau, do Presidente e do Vice-Presidente da República,
Municipais de Educação - UNDIME; dos Ministros de Estado, do Governador e do Vice-Governador,
h) 2 (dois) representantes dos pais de alunos da educação do Prefeito e do Vice-Prefeito, e dos Secretários Estaduais,
básica pública; Distritais ou Municipais;
i) 2 (dois) representantes dos estudantes da educação básica II - tesoureiro, contador ou funcionário de empresa de
pública, um dos quais indicado pela União Brasileira de assessoria ou consultoria que prestem serviços relacionados à
Estudantes Secundaristas - UBES; administração ou controle interno dos recursos do Fundo, bem
II - em âmbito estadual, por no mínimo 12 (doze) membros, como cônjuges, parentes consanguíneos ou afins, até 3o
sendo: (terceiro) grau, desses profissionais;
a) 3 (três) representantes do Poder Executivo estadual, dos III - estudantes que não sejam emancipados;
quais pelo menos 1 (um) do órgão estadual responsável pela IV - pais de alunos que:
educação básica; a) exerçam cargos ou funções públicas de livre nomeação e
b) 2 (dois) representantes dos Poderes Executivos exoneração no âmbito dos órgãos do respectivo Poder Executivo
Municipais; gestor dos recursos; ou
c) 1 (um) representante do Conselho Estadual de Educação; b) prestem serviços terceirizados, no âmbito dos Poderes
d) 1 (um) representante da seccional da União Nacional dos Executivos em que atuam os respectivos conselhos.
Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME; § 6° O presidente dos conselhos previstos no caput deste
e) 1 (um) representante da seccional da Confederação artigo será eleito por seus pares em reunião do colegiado, sendo
Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE; impedido de ocupar a função o representante do governo gestor
f) 2 (dois) representantes dos pais de alunos da educação dos recursos do Fundo no âmbito da União, dos Estados, do
básica pública; Distrito Federal e dos Municípios.
g) 2 (dois) representantes dos estudantes da educação § 7° Os conselhos dos Fundos atuarão com autonomia, sem
básica pública, 1 (um) dos quais indicado pela entidade estadual vinculação ou subordinação institucional ao Poder Executivo
de estudantes secundaristas;

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local e serão renovados periodicamente ao final de cada para prestar esclarecimentos acerca do fluxo de recursos e a
mandato dos seus membros. execução das despesas do Fundo, devendo a autoridade
§ 8° A atuação dos membros dos conselhos dos Fundos: convocada apresentar-se em prazo não superior a 30 (trinta)
I - não será remunerada; dias;
III - requisitar ao Poder Executivo cópia de documentos
II - é considerada atividade de relevante interesse social; referentes a:
III - assegura isenção da obrigatoriedade de testemunhar a) licitação, empenho, liquidação e pagamento de obras e
sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício serviços custeados com recursos do Fundo;
de suas atividades de conselheiro e sobre as pessoas que lhes b) folhas de pagamento dos profissionais da educação, as
confiarem ou deles receberem informações; quais deverão discriminar aqueles em efetivo exercício na
IV - veda, quando os conselheiros forem representantes de educação básica e indicar o respectivo nível, modalidade ou tipo
professores e diretores ou de servidores das escolas públicas, no de estabelecimento a que estejam vinculados;
curso do mandato: c) documentos referentes aos convênios com as instituições
a) exoneração ou demissão do cargo ou emprego sem justa a que se refere o art. 8° desta Lei;
causa ou transferência involuntária do estabelecimento de d) outros documentos necessários ao desempenho de suas
ensino em que atuam; funções;
b) atribuição de falta injustificada ao serviço em função das IV - realizar visitas e inspetorias in loco para verificar:
atividades do conselho; a) o desenvolvimento regular de obras e serviços efetuados
c) afastamento involuntário e injustificado da condição de nas instituições escolares com recursos do Fundo;
conselheiro antes do término do mandato para o qual tenha sido b) a adequação do serviço de transporte escolar;
designado; c) a utilização em benefício do sistema de ensino de bens
V - veda, quando os conselheiros forem representantes de adquiridos com recursos do Fundo.
estudantes em atividades do conselho, no curso do mandato,
atribuição de falta injustificada nas atividades escolares. Art. 26. A fiscalização e o controle referentes ao
§ 9° Aos conselhos incumbe, ainda, supervisionar o censo cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição Federal e
escolar anual e a elaboração da proposta orçamentária anual, do disposto nesta Lei, especialmente em relação à aplicação da
no âmbito de suas respectivas esferas governamentais de totalidade dos recursos dos Fundos, serão exercidos:
atuação, com o objetivo de concorrer para o regular e I - pelo órgão de controle interno no âmbito da União e pelos
tempestivo tratamento e encaminhamento dos dados órgãos de controle interno no âmbito dos Estados, do Distrito
estatísticos e financeiros que alicerçam a operacionalização dos Federal e dos Municípios;
Fundos. II - pelos Tribunais de Contas dos Estados, do Distrito
§ 10. Os conselhos dos Fundos não contarão com estrutura Federal e dos Municípios, junto aos respectivos entes
administrativa própria, incumbindo à União, aos Estados, ao governamentais sob suas jurisdições;
Distrito Federal e aos Municípios garantir infraestrutura e III - pelo Tribunal de Contas da União, no que tange às
condições materiais adequadas à execução plena das atribuições a cargo dos órgãos federais, especialmente em
competências dos conselhos e oferecer ao Ministério da relação à complementação da União.
Educação os dados cadastrais relativos à criação e composição
dos respectivos conselhos. Art. 27. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
§ 11. Os membros dos conselhos de acompanhamento e prestarão contas dos recursos dos Fundos conforme os
controle terão mandato de, no máximo, 2 (dois) anos, permitida procedimentos adotados pelos Tribunais de Contas
1 (uma) recondução por igual período. competentes, observada a regulamentação aplicável.
§ 12. Na hipótese da inexistência de estudantes Parágrafo único. As prestações de contas serão instruídas
emancipados, representação estudantil poderá acompanhar as com parecer do conselho responsável, que deverá ser
reuniões do conselho com direito a voz. apresentado ao Poder Executivo respectivo em até 30 (trinta)
§ 13. Aos conselhos incumbe, também, acompanhar a dias antes do vencimento do prazo para a apresentação da
aplicação dos recursos federais transferidos à conta do prestação de contas prevista no caput deste artigo.
Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar - PNATE
e do Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Art. 28. O descumprimento do disposto no art. 212 da
Atendimento à Educação de Jovens e Adultos e, ainda, receber e Constituição Federal e do disposto nesta Lei sujeitará os Estados
analisar as prestações de contas referentes a esses Programas, e o Distrito Federal à intervenção da União, e os Municípios à
formulando pareceres conclusivos acerca da aplicação desses intervenção dos respectivos Estados a que pertencem, nos
recursos e encaminhando-os ao Fundo Nacional de termos da alínea e do inciso VII do caput do art. 34 e do inciso III
Desenvolvimento da Educação - FNDE. do caput do art. 35 da Constituição Federal.

Art. 25. Os registros contábeis e os demonstrativos Art. 29. A defesa da ordem jurídica, do regime democrático,
gerenciais mensais, atualizados, relativos aos recursos dos interesses sociais e individuais indisponíveis, relacionada ao
repassados e recebidos à conta dos Fundos assim como os pleno cumprimento desta Lei, compete ao Ministério Público dos
referentes às despesas realizadas ficarão permanentemente à Estados e do Distrito Federal e Territórios e ao Ministério
disposição dos conselhos responsáveis, bem como dos órgãos Público Federal, especialmente quanto às transferências de
federais, estaduais e municipais de controle interno e externo, e recursos federais.
ser-lhes-á dada ampla publicidade, inclusive por meio § 1° A legitimidade do Ministério Público prevista no caput
eletrônico. deste artigo não exclui a de terceiros para a propositura de
Parágrafo único. Os conselhos referidos nos incisos II, III e ações a que se referem o inciso LXXIII do caput do art. 5º e o § 1º
IV do § 1° do art. 24 desta Lei poderão, sempre que julgarem do art. 129 da Constituição Federal, sendo-lhes assegurado o
conveniente: acesso gratuito aos documentos mencionados nos arts. 25 e 27
I - apresentar ao Poder Legislativo local e aos órgãos de desta Lei.
controle interno e externo manifestação formal acerca dos § 2° Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os
registros contábeis e dos demonstrativos gerenciais do Fundo; Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados
II - por decisão da maioria de seus membros, convocar o para a fiscalização da aplicação dos recursos dos Fundos que
Secretário de Educação competente ou servidor equivalente receberem complementação da União.

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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 30. O Ministério da Educação atuará: I - R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais), no 1°


I - no apoio técnico relacionado aos procedimentos e (primeiro) ano de vigência dos Fundos;
critérios de aplicação dos recursos dos Fundos, junto aos II - R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais), no 2°
Estados, Distrito Federal e Municípios e às instâncias (segundo) ano de vigência dos Fundos; e
responsáveis pelo acompanhamento, fiscalização e controle III - R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e quinhentos
interno e externo; milhões de reais), no 3° (terceiro) ano de vigência dos Fundos.
II - na capacitação dos membros dos conselhos; § 4° Os valores a que se referem os incisos I, II e III do § 3°
III - na divulgação de orientações sobre a operacionalização deste artigo serão atualizados, anualmente, nos primeiros 3
do Fundo e de dados sobre a previsão, a realização e a utilização (três) anos de vigência dos Fundos, de forma a preservar em
dos valores financeiros repassados, por meio de publicação e caráter permanente o valor real da complementação da União.
distribuição de documentos informativos e em meio eletrônico § 5° Os valores a que se referem os incisos I, II e III do § 3°
de livre acesso público; deste artigo serão corrigidos, anualmente, pela variação
IV - na realização de estudos técnicos com vistas na definição acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC,
do valor referencial anual por aluno que assegure padrão apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
mínimo de qualidade do ensino; Estatística – IBGE, ou índice equivalente que lhe venha a
V - no monitoramento da aplicação dos recursos dos Fundos, suceder, no período compreendido entre o mês da promulgação
por meio de sistema de informações orçamentárias e financeiras da Emenda Constitucional no 53, de 19 de dezembro de 2006, e
e de cooperação com os Tribunais de Contas dos Estados e 1° de janeiro de cada um dos 3 (três) primeiros anos de vigência
Municípios e do Distrito Federal; dos Fundos.
VI - na realização de avaliações dos resultados da aplicação § 6° Até o 3° (terceiro) ano de vigência dos Fundos, o
desta Lei, com vistas na adoção de medidas operacionais e de cronograma de complementação da União observará a
natureza político-educacional corretivas, devendo a primeira programação financeira do Tesouro Nacional e contemplará
dessas medidas se realizar em até 2 (dois) anos após a pagamentos mensais de, no mínimo, 5% (cinco por cento) da
implantação do Fundo. complementação anual, a serem realizados até o último dia útil
de cada mês, assegurados os repasses de, no mínimo, 45%
CAPÍTULO VII (quarenta e cinco por cento) até 31 de julho e de 100% (cem por
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS cento) até 31 de dezembro de cada ano.
Seção I § 7° Até o 3° (terceiro) ano de vigência dos Fundos, a
Disposições Transitórias complementação da União não sofrerá ajuste quanto a seu
montante em função da diferença entre a receita utilizada para
Art. 31. Os Fundos serão implantados progressivamente nos o cálculo e a receita realizada do exercício de referência,
primeiros 3 (três) anos de vigência, conforme o disposto neste observado o disposto no § 2° do art. 6° desta Lei quanto à
artigo. distribuição entre os fundos instituídos no âmbito de cada
Estado.
§ 1° A porcentagem de recursos de que trata o art. 3o desta
Lei será alcançada conforme a seguinte progressão: Art. 32. O valor por aluno do ensino fundamental, no Fundo
I - para os impostos e transferências constantes do inciso II de cada Estado e do Distrito Federal, não poderá ser inferior ao
do caput do art. 155, do inciso IV do caput do art. 158, das efetivamente praticado em 2006, no âmbito do Fundo de
alíneas a e b do inciso I e do inciso II do caput do art. 159 da Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Constituição Federal, bem como para a receita a que se refere o Valorização do Magistério - FUNDEF, estabelecido pela Emenda
§ 1° do art. 3° desta Lei: Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996.
a) 16,66% (dezesseis inteiros e sessenta e seis centésimos por § 1° Caso o valor por aluno do ensino fundamental, no Fundo
cento), no 1° (primeiro) ano; de cada Estado e do Distrito Federal, no âmbito do Fundeb,
b) 18,33% (dezoito inteiros e trinta e três centésimos por resulte inferior ao valor por aluno do ensino fundamental, no
cento), no 2° (segundo) ano; e Fundo de cada Estado e do Distrito Federal, no âmbito do
c) 20% (vinte por cento), a partir do 3° (terceiro) ano, Fundef, adotar-se-á este último exclusivamente para a
inclusive; distribuição dos recursos do ensino fundamental, mantendo-se
II - para os impostos e transferências constantes dos incisos as demais ponderações para as restantes etapas, modalidades e
I e III do caput do art. 155, inciso II do caput do art. 157, incisos tipos de estabelecimento de ensino da educação básica, na forma
II e III do caput do art. 158 da Constituição Federal: do regulamento.
a) 6,66% (seis inteiros e sessenta e seis centésimos por § 2° O valor por aluno do ensino fundamental a que se refere
cento), no 1° (primeiro) ano; o caput deste artigo terá como parâmetro aquele efetivamente
b) 13,33% (treze inteiros e trinta e três centésimos por praticado em 2006, que será corrigido, anualmente, com base no
cento), no 2° (segundo) ano; e Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela
c) 20% (vinte por cento), a partir do 3° (terceiro) ano, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
inclusive. ou índice equivalente que lhe venha a suceder, no período de 12
§ 2° As matrículas de que trata o art. 9o desta Lei serão (doze) meses encerrados em junho do ano imediatamente
consideradas conforme a seguinte progressão: anterior.
I - para o ensino fundamental regular e especial público: a
totalidade das matrículas imediatamente a partir do 1° Art. 33. O valor anual mínimo por aluno definido
(primeiro) ano de vigência do Fundo; nacionalmente para o ensino fundamental no âmbito do Fundeb
II - para a educação infantil, o ensino médio e a educação de não poderá ser inferior ao mínimo fixado nacionalmente em
jovens e adultos: 2006 no âmbito do Fundef.
a) 1/3 (um terço) das matrículas no 1° (primeiro) ano de
vigência do Fundo; Art. 34. Os conselhos dos Fundos serão instituídos no prazo
b) 2/3 (dois terços) das matrículas no 2° (segundo) ano de de 60 (sessenta) dias contados da vigência dos Fundos, inclusive
vigência do Fundo; mediante adaptações dos conselhos do Fundef existentes na data
c) a totalidade das matrículas a partir do 3° (terceiro) ano de publicação desta Lei.
de vigência do Fundo, inclusive.
§ 3° A complementação da União será de, no mínimo:

Legislação Básica da Educação 56


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Art. 35. O Ministério da Educação deverá realizar, em 5 § 2° Aplicar-se-ão para a constituição dos Conselhos
(cinco) anos contados da vigência dos Fundos, fórum nacional Municipais de Educação as regras previstas no § 5° do art. 24
com o objetivo de avaliar o financiamento da educação básica desta Lei.
nacional, contando com representantes da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Municípios, dos trabalhadores da Art. 38. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
educação e de pais e alunos. Municípios deverão assegurar no financiamento da educação
Art. 36. No 1° (primeiro) ano de vigência do Fundeb, as básica, previsto no art. 212 da Constituição Federal, a melhoria
ponderações seguirão as seguintes especificações: da qualidade do ensino, de forma a garantir padrão mínimo de
I - creche - 0,80 (oitenta centésimos); qualidade definido nacionalmente.
II - pré-escola - 0,90 (noventa centésimos); Parágrafo único. É assegurada a participação popular e da
III - anos iniciais do ensino fundamental urbano - 1,00 (um comunidade educacional no processo de definição do padrão
inteiro); nacional de qualidade referido no caput deste artigo.
IV - anos iniciais do ensino fundamental no campo - 1,05 (um
inteiro e cinco centésimos); Art. 39. A União desenvolverá e apoiará políticas de estímulo
V - anos finais do ensino fundamental urbano - 1,10 (um às iniciativas de melhoria de qualidade do ensino, acesso e
inteiro e dez centésimos); permanência na escola, promovidas pelas unidades federadas,
VI - anos finais do ensino fundamental no campo - 1,15 (um em especial aquelas voltadas para a inclusão de crianças e
inteiro e quinze centésimos); adolescentes em situação de risco social.
VII - ensino fundamental em tempo integral - 1,25 (um Parágrafo único. A União, os Estados e o Distrito Federal
inteiro e vinte e cinco centésimos); desenvolverão, em regime de colaboração, programas de apoio
VIII - ensino médio urbano - 1,20 (um inteiro e vinte ao esforço para conclusão da educação básica dos alunos
centésimos); regularmente matriculados no sistema público de educação:
IX - ensino médio no campo - 1,25 (um inteiro e vinte e cinco I - que cumpram pena no sistema penitenciário, ainda que
centésimos); na condição de presos provisórios;
X - ensino médio em tempo integral - 1,30 (um inteiro e II - aos quais tenham sido aplicadas medidas
trinta centésimos); socioeducativas nos termos da Lei no 8.069, de 13 de julho de
XI - ensino médio integrado à educação profissional - 1,30 1990.
(um inteiro e trinta centésimos);
XII - educação especial - 1,20 (um inteiro e vinte centésimos); Art. 40. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
XIII - educação indígena e quilombola - 1,20 (um inteiro e deverão implantar Planos de Carreira e remuneração dos
vinte centésimos); profissionais da educação básica, de modo a assegurar:
XIV - educação de jovens e adultos com avaliação no I - a remuneração condigna dos profissionais na educação
processo - 0,70 (setenta centésimos); básica da rede pública;
XV - educação de jovens e adultos integrada à educação II - integração entre o trabalho individual e a proposta
profissional de nível médio, com avaliação no processo - 0,70 pedagógica da escola;
(setenta centésimos). III - a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.
§ 1° A Comissão Intergovernamental de Financiamento para Parágrafo único. Os Planos de Carreira deverão contemplar
a Educação Básica de Qualidade fixará as ponderações capacitação profissional especialmente voltada à formação
referentes à creche e pré-escola em tempo integral. continuada com vistas na melhoria da qualidade do ensino.
§ 2° Na fixação dos valores a partir do 2° (segundo) ano de
vigência do Fundeb, as ponderações entre as matrículas da Art. 41. O poder público deverá fixar, em lei específica, até
educação infantil seguirão, no mínimo, as seguintes pontuações: 31 de agosto de 2007, piso salarial profissional nacional para os
I - creche pública em tempo integral - 1,10 (um inteiro e dez profissionais do magistério público da educação básica.
centésimos); Parágrafo único. (VETADO)
II - creche pública em tempo parcial - 0,80 (oitenta
centésimos); Art. 42. (VETADO)
III - creche conveniada em tempo integral - 0,95 (noventa e
cinco centésimos); Art. 43. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2007, fica
IV - creche conveniada em tempo parcial - 0,80 (oitenta mantida a sistemática de repartição de recursos prevista na Lei
centésimos); no 9.424, de 24 de dezembro de 1996, mediante a utilização dos
V - pré-escola em tempo integral - 1,15 (um inteiro e quinze coeficientes de participação do Distrito Federal, de cada Estado
centésimos); e dos Municípios, referentes ao exercício de 2006, sem o
VI - pré-escola em tempo parcial - 0,90 (noventa pagamento de complementação da União.
centésimos).
Art. 44. A partir de 1° de março de 2007, a distribuição dos
Seção II recursos dos Fundos é realizada na forma prevista nesta Lei.
Disposições Finais Parágrafo único. A complementação da União prevista no
inciso I do § 3° do art. 31 desta Lei, referente ao ano de 2007,
Art. 37. Os Municípios poderão integrar, nos termos da será integralmente distribuída entre março e dezembro.
legislação local específica e desta Lei, o Conselho do Fundo ao
Conselho Municipal de Educação, instituindo câmara específica Art. 45. O ajuste da distribuição dos recursos referentes ao
para o acompanhamento e o controle social sobre a distribuição, primeiro trimestre de 2007 será realizado no mês de abril de
a transferência e a aplicação dos recursos do Fundo, observado 2007, conforme a sistemática estabelecida nesta Lei.
o disposto no inciso IV do § 1° e nos §§ 2°, 3°, 4° e 5° do art. 24 Parágrafo único. O ajuste referente à diferença entre o total
desta Lei. dos recursos da alínea a do inciso I e da alínea a do inciso II do §
§ 1° A câmara específica de acompanhamento e controle 1° do art. 31 desta Lei e os aportes referentes a janeiro e
social sobre a distribuição, a transferência e a aplicação dos fevereiro de 2007, realizados na forma do disposto neste artigo,
recursos do Fundeb terá competência deliberativa e será pago no mês de abril de 2007.
terminativa.

Legislação Básica da Educação 57


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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 46. Ficam revogados, a partir de 1° de janeiro de 2007, investimentos em educação e deve garantir recursos para a
os arts. 1º a 8º e 13 da Lei nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996, Educação Básica:
e o art. 12 da Lei n° 10.880, de 9 de junho de 2004, e o § 3º do (A) nos seus três níveis de ensino e em suas cinco
art. 2º da Lei nº 10.845, de 5 de março de 2004. modalidades.
(B) no seu primeiro nível de ensino e em suas quatro
Art. 47. Nos 2 (dois) primeiros anos de vigência do Fundeb, modalidades.
a União alocará, além dos destinados à complementação ao (C) nos seus dois níveis de ensino e em suas três
Fundeb, recursos orçamentários para a promoção de programa modalidades.
emergencial de apoio ao ensino médio e para reforço do (D) nos seus três níveis de ensino e em suas quatro
programa nacional de apoio ao transporte escolar. modalidades.
(E) nos seus níveis de ensino e em suas duas modalidades.
Art. 48. Os Fundos terão vigência até 31 de dezembro de 05. (Prefeitura de Natal/RN – Psicólogo –
2020. IDECAN/2016) Acerca da Lei nº 11.494/2007, que
regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Art. 49. Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação. Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação – FUNDEB, assinale a afirmativa INCORRETA.
ANEXO (A) Prevê pelo menos 5% do montante dos impostos e
Disponível em: transferências que compõem a cesta de recursos do FUNDEB,
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- somados aos, no mínimo, de 25% desses impostos e
2010/2007/lei/l11494.htm transferências em favor da manutenção e desenvolvimento do
ensino.
Questões (B) A União desenvolverá e apoiará políticas de estímulo
às iniciativas de melhoria de qualidade do ensino, acesso e
01. (Prefeitura de Salesópolis – SP - Professor de permanência na escola, promovidas pelas unidades federadas,
Ensino Infantil - INTEGRI) De acordo com o Artigo 7º da Lei em especial aquelas voltadas para a inclusão de crianças e
Federal 11.494/07 estabelece que a parcela da adolescentes em situação de risco social.
complementação da União, a ser fixada anualmente pela (C) A instituição dos Fundos previstos da supracitada Lei e
Comissão Intergovernamental de Financiamento para a a aplicação de seus recursos não isentam os Estados, o Distrito
Educação Básica de Qualidade instituída na forma da Seção II Federal e os Municípios da obrigatoriedade da aplicação na
do Capítulo III desta Lei, limitada a até: manutenção e no desenvolvimento do ensino, na forma
(A) 10% (dez por cento) de seu valor anual, poderá ser prevista na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases.
distribuída para os Fundos por meio de programas (D) A União, os Estados e o Distrito Federal desenvolverão,
direcionados para a melhoria da qualidade da educação básica, em regime de colaboração, programas de apoio ao esforço
na forma do regulamento. para conclusão da educação básica dos alunos regularmente
(B) 15% (quinze por cento) de seu valor anual, poderá ser matriculados no sistema público de educação que cumpram
distribuída para os Fundos por meio de programas pena no sistema penitenciário, exceto na condição de presos
direcionados para a melhoria da qualidade da educação básica, provisórios.
na forma do regulamento.
(C) 20% (vinte por cento) de seu valor anual, poderá ser Gabarito
distribuída para os Fundos por meio de programas 01. A / 02. Errado / 03. A / 04. A / 05. D
direcionados para a melhoria da qualidade da educação básica,
na forma do regulamento.
(D) 25% (vinte e cinco por cento) de seu valor anual,
poderá ser distribuída para os Fundos por meio de programas 6 Lei nº 11.114/2005
direcionados para a melhoria da qualidade da educação básica,
na forma do regulamento.
LEI Nº 11.114, DE 16 DE MAIO DE 20055
02. Acerca da Lei n. 11.494/2007, julgue o item abaixo:
Pelo menos 50% dos recursos anuais totais dos Fundos
Altera os arts. 6°, 30, 32 e 87 da Lei n° 9.394, de 20 de
serão destinados ao pagamento da remuneração dos
dezembro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início
profissionais do magistério da educação básica em efetivo
do ensino fundamental aos seis anos de idade.
exercício na rede pública.
( ) Certo ( ) Errado
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
03. (Prefeitura de São Paulo/SP – Analista –
VUNESP/2015) O Fundeb é o fundo de
Art. 1° Os arts. 6°, 30, 32 e 87 da Lei n° 9.394, de 20 de
(A) natureza contábil e de âmbito estadual.
dezembro de 1996, passam a vigorar com a seguinte redação:
(B) natureza contábil e de âmbito municipal e estadual.
"Art. 6°. É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula
(C) transferência obrigatória e de âmbito municipal.
dos menores, a partir dos seis anos de idade, no ensino
(D) natureza orçamentária e de âmbito municipal.
fundamental." (NR)
(E) natureza orçamentária e de âmbito estadual.
"Art. 30. ..........................................................................
.......................................................................................
04. (UFRJ – Pedagogo – PR4UFRJ/2016) O FUNDEB foi
II – (VETADO)"
criado, em 2007, para cumprir o objetivo de universalizar o
"Art. 32. O ensino fundamental, com duração mínima de oito
atendimento à educação básica pública, com qualidade. O
anos, obrigatório e gratuito na escola pública a partir dos seis
FUNDEB caracteriza-se por uma distribuição dos
anos, terá por objetivo a formação básica do cidadão mediante:
................................................................................" (NR)

5http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11114.htm.

Acesso em 25/07/2018 às 15h37min.

Legislação Básica da Educação 58


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"Art. 87. ............................................................................ ..................................................................................." (NR)


.........................................................................................
§ 3° .................................................................................. Art. 4° O § 2° e o inciso I do § 3° do art. 87 da Lei n° 9.394, de
I – matricular todos os educandos a partir dos seis anos de 20 de dezembro de 1996, passam a vigorar com a seguinte
idade, no ensino fundamental, atendidas as seguintes condições redação:
no âmbito de cada sistema de ensino:
a) plena observância das condições de oferta fixadas por "Art. 87 ...................................................................................
esta Lei, no caso de todas as redes escolares; ...................................................................................
b) atingimento de taxa líquida de escolarização de pelo § 2° O poder público deverá recensear os educandos no
menos 95% (noventa e cinco por cento) da faixa etária de sete a ensino fundamental, com especial atenção para o grupo de 6
catorze anos, no caso das redes escolares públicas; e (seis) a 14 (quatorze) anos de idade e de 15 (quinze) a 16
c) não redução média de recursos por aluno do ensino (dezesseis) anos de idade.
fundamental na respectiva rede pública, resultante da § 3° ...................................................................................
incorporação dos alunos de seis anos de idade; I – matricular todos os educandos a partir dos 6 (seis) anos
.................................................................................." (NR) de idade no ensino fundamental;
a) (Revogado)
Art. 2° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, b) (Revogado)
com eficácia a partir do início do ano letivo subsequente. c) (Revogado)
..................................................................................." (NR)
Brasília, 16 de maio de 2005; 184° da Independência e 117°
da República. Art. 5° Os Municípios, os Estados e o Distrito Federal terão
prazo até 2010 para implementar a obrigatoriedade para o
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA ensino fundamental disposto no art. 3° desta Lei e a abrangência
da pré-escola de que trata o art. 2° desta Lei.
Questões
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
01. É dever exclusivo dos pais efetuar a matrícula dos
menores, a partir dos seis anos de idade, no ensino Brasília, 6 de fevereiro de 2006; 185° da Independência e
fundamental." 118° da República.
( ) Certo ( ) Errado LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

02. O ensino fundamental, com duração mínima de oito Questões


anos, obrigatório e gratuito na escola pública a partir dos seis
anos, terá por objetivo a formação básica do cidadão. 01. O poder público deverá recensear os educandos no
( ) Certo ( ) Errado ensino fundamental, com especial atenção para o grupo de 5
(cinco) a 14 (quatorze) anos de idade e de 15 (quinze) a 16
Gabarito (dezesseis) anos de idade.
01.Errado / 02.Certo ( ) Certo ( ) Errado

02. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9


(nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6
7 Lei nº 11.274/2006 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do
cidadão
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito
LEI Nº 11.274, DE 6 DE FEVEREIRO DE 20066
01.Errado / 02.Certo
Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei n° 9.394, de
20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos 8 Lei nº 13.415, de 2017
para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir
dos 6 (seis) anos de idade.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso LEI Nº 13.415, DE 16 DE FEVEREIRO DE 20177
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Altera as Leis nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
Art. 1° (VETADO) estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494,
de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção
Art. 2° (VETADO) e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho
Art. 3° O art. 32 da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º de maio de
passa a vigorar com a seguinte redação: 1943, e o Decreto-Lei no 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga
a Lei no 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de
"Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em
9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 Tempo Integral.
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
cidadão, mediante: Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

6http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11274.htm. 7http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm.

Acesso em 25/07/2018 às 15h44min. Acesso em 25/07/2018 às 15h49min.

Legislação Básica da Educação 59


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Art. 1º O art. 24 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
passa a vigorar com as seguintes alterações: esperados para o ensino médio, que serão referência nos
“Art. 24. ........................................................... processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas Comum Curricular.
para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a
por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho
excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver; voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua
................................................................................. formação nos aspectos físicos, cognitivos e sócio-emocionais.
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação
caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino processual e formativa serão organizados nas redes de ensino
médio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de por meio de atividades teóricas e práticas, provas orais e
ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos mil escritas, seminários, projetos e atividades on-line, de tal forma
horas anuais de carga horária, a partir de 2 de março de 2017. que ao final do ensino médio o educando demonstre:
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, presidem a produção moderna;
adequado às condições do educando, conforme o inciso VI do art. II - conhecimento das formas contemporâneas de
4º.” (NR) linguagem.”

Art. 2º O art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Art. 4º O art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
passa a vigorar com as seguintes alterações: passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 26. ........................................................... “Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela
................................................................................. Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos,
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes
regionais, constituirá componente curricular obrigatório da arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto
educação básica. local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
................................................................................. I - linguagens e suas tecnologias;
§ 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto II - matemática e suas tecnologias;
ano, será ofertada a língua inglesa. III - ciências da natureza e suas tecnologias;
................................................................................. IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério dos V - formação técnica e profissional.
sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os temas § 1º A organização das áreas de que trata o caput e das
transversais de que trata o caput. respectivas competências e habilidades será feita de acordo com
................................................................................. critérios estabelecidos em cada sistema de ensino.
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de I - (revogado);
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular II - (revogado);
dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e de .................................................................................
homologação pelo Ministro de Estado da Educação.” (NR) § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto
itinerário formativo integrado, que se traduz na composição de
Art. 3º A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular
vigorar acrescida do seguinte art. 35-A: - BNCC e dos itinerários formativos, considerando os incisos I a
“Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá V do caput.
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme ..................................................................................
diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes § 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de
áreas do conhecimento: vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino
I - linguagens e suas tecnologias; médio cursar mais um itinerário formativo de que trata o caput.
II - matemática e suas tecnologias; § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação
III - ciências da natureza e suas tecnologias; com ênfase técnica e profissional considerará:
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o caput produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá estar parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profissional;
articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, II - a possibilidade de concessão de certificados
ambiental e cultural. intermediários de qualificação para o trabalho, quando a
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino formação for estruturada e organizada em etapas com
médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de educação terminalidade.
física, arte, sociologia e filosofia. § 7º A oferta de formações experimentais relacionadas ao
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será inciso V do caput, em áreas que não constem do Catálogo
obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conselho
línguas maternas. Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inserção no
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos,
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar contados da data de oferta inicial da formação.
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, § 8º A oferta de formação técnica e profissional a que se
preferencialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade refere o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou em
de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino. parceria com outras instituições, deverá ser aprovada
§ 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base previamente pelo Conselho Estadual de Educação, homologada
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e pelo Secretário Estadual de Educação e certificada pelos
oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de sistemas de ensino.
acordo com a definição dos sistemas de ensino. § 9º As instituições de ensino emitirão certificado com
validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio

Legislação Básica da Educação 60


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ao prosseguimento dos estudos em nível superior ou em outros Art. 9º O caput do art. 10 da Lei no 11.494, de 20 de junho de
cursos ou formações para os quais a conclusão do ensino médio 2007, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso XVIII:
seja etapa obrigatória. “Art. 10. ...........................................................
§ 10. Além das formas de organização previstas no art. 23, o ................................................................................
ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o XVIII - formação técnica e profissional prevista no inciso V
sistema de créditos com terminalidade específica. do caput do art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências ........................................................................” (NR)
curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
reconhecer competências e firmar convênios com instituições de Art. 10. O art. 16 do Decreto-Lei no 236, de 28 de fevereiro
educação a distância com notório reconhecimento, mediante as de 1967, passa a vigorar com as seguintes alterações:
seguintes formas de comprovação: “Art. 16. ...........................................................
I - demonstração prática; .................................................................................
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra § 2º Os programas educacionais obrigatórios deverão ser
experiência adquirida fora do ambiente escolar; transmitidos em horários compreendidos entre as sete e as vinte
III - atividades de educação técnica oferecidas em outras e uma horas.
instituições de ensino credenciadas; § 3º O Ministério da Educação poderá celebrar convênios
IV - cursos oferecidos por centros ou programas com entidades representativas do setor de radiodifusão, que
ocupacionais; visem ao cumprimento do disposto no caput, para a divulgação
V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais ou gratuita dos programas e ações educacionais do Ministério da
estrangeiras; Educação, bem como à definição da forma de distribuição dos
VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou programas relativos à educação básica, profissional,
educação presencial mediada por tecnologias. tecnológica e superior e a outras matérias de interesse da
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de educação.
escolha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional § 4º As inserções previstas no caput destinam-se
previstas no caput.” (NR) exclusivamente à veiculação de mensagens do Ministério da
Educação, com caráter de utilidade pública ou de divulgação de
Art. 5º O art. 44 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, programas e ações educacionais.” (NR)
passa a vigorar acrescido do seguinte § 3º:
“Art. 44. ........................................................... Art. 11. O disposto no § 8º do art. 62 da Lei no 9.394, de 20
.................................................................................. de dezembro de 1996, deverá ser implementado no prazo de dois
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará as anos, contado da publicação da Base Nacional Comum
competências e as habilidades definidas na Base Nacional Curricular.
Comum Curricular.” (NR)
Art. 12. Os sistemas de ensino deverão estabelecer
Art. 6º O art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, cronograma de implementação das alterações na Lei no 9.394,
passa a vigorar com as seguintes alterações: de 20 de dezembro de 1996, conforme os arts. 2º, 3º e 4º desta
“Art. 61. ........................................................... Lei, no primeiro ano letivo subsequente à data de publicação da
Base Nacional Comum Curricular, e iniciar o processo de
................................................................................. implementação, conforme o referido cronograma, a partir do
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos segundo ano letivo subsequente à data de homologação da Base
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de Nacional Comum Curricular.
áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
atestados por titulação específica ou prática de ensino em Art. 13. Fica instituída, no âmbito do Ministério da
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das Educação, a Política de Fomento à Implementação de Escolas de
corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente Ensino Médio em Tempo Integral.
para atender ao inciso V do caput do art. 36; Parágrafo único. A Política de Fomento de que trata o caput
V - profissionais graduados que tenham feito prevê o repasse de recursos do Ministério da Educação para os
complementação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho Estados e para o Distrito Federal pelo prazo de dez anos por
Nacional de Educação. escola, contado da data de início da implementação do ensino
........................................................................” (NR) médio integral na respectiva escola, de acordo com termo de
compromisso a ser formalizado entre as partes, que deverá
Art. 7º O art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, conter, no mínimo:
passa a vigorar com as seguintes alterações: I - identificação e delimitação das ações a serem financiadas;
“Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação II - metas quantitativas;
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, III - cronograma de execução físico-financeira;
admitida, como formação mínima para o exercício do IV - previsão de início e fim de execução das ações e da
magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do conclusão das etapas ou fases programadas.
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade
normal. Art. 14. São obrigatórias as transferências de recursos da
.................................................................................. União aos Estados e ao Distrito Federal, desde que cumpridos os
§ 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes terão critérios de elegibilidade estabelecidos nesta Lei e no
por referência a Base Nacional Comum Curricular.” (NR) regulamento, com a finalidade de prestar apoio financeiro para
o atendimento de escolas públicas de ensino médio em tempo
Art. 8º O art. 318 da Consolidação das Leis do Trabalho - integral cadastradas no Censo Escolar da Educação Básica, e
CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º de maio de 1943, que:
passa a vigorar com a seguinte redação: I - tenham iniciado a oferta de atendimento em tempo
“Art. 318. O professor poderá lecionar em um mesmo integral a partir da vigência desta Lei de acordo com os critérios
estabelecimento por mais de um turno, desde que não ultrapasse de elegibilidade no âmbito da Política de Fomento, devendo ser
a jornada de trabalho semanal estabelecida legalmente, dada prioridade às regiões com menores índices de
assegurado e não computado o intervalo para refeição.” (NR)

Legislação Básica da Educação 61


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desenvolvimento humano e com resultados mais baixos nos conta de dotação consignada nos orçamentos do FNDE e do
processos nacionais de avaliação do ensino médio; e Ministério da Educação, observados os limites de
II - tenham projeto político-pedagógico que obedeça ao movimentação, de empenho e de pagamento da programação
disposto no art. 36 da Lei no 9.394, de 20 dezembro de 1996. orçamentária e financeira anual.
§ 1º A transferência de recursos de que trata o caput será
realizada com base no número de matrículas cadastradas pelos Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Estados e pelo Distrito Federal no Censo Escolar da Educação
Básica, desde que tenham sido atendidos, de forma cumulativa, Art. 22. Fica revogada a Lei no 11.161, de 5 de agosto de
os requisitos dos incisos I e II do caput. 2005.
§ 2º A transferência de recursos será realizada anualmente,
a partir de valor único por aluno, respeitada a disponibilidade Brasília, 16 de fevereiro de 2017; 196º da Independência e
orçamentária para atendimento, a ser definida por ato do 129º da República.
Ministro de Estado da Educação. MICHEL TEMER
§ 3º Os recursos transferidos nos termos do caput poderão José Mendonça Bezerra Filho
ser aplicados nas despesas de manutenção e desenvolvimento
previstas nos incisos I, II, III, V e VIII do caput do art. 70 da Lei Questões
no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, das escolas públicas
participantes da Política de Fomento. 01. A carga horária mínima anual será de oitocentas horas
§ 4º Na hipótese de o Distrito Federal ou de o Estado ter, no para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas
momento do repasse do apoio financeiro suplementar de que por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar,
trata o caput, saldo em conta de recursos repassados excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;
anteriormente, esse montante, a ser verificado no último dia do ( ) Certo ( ) Errado
mês anterior ao do repasse, será subtraído do valor a ser
repassado como apoio financeiro suplementar do exercício 02. Com base na Lei 13.415/2017, julgue o item abaixo:
corrente. O Conselho Deliberativo do FNDE disporá, em ato próprio,
§ 5º Serão desconsiderados do desconto previsto no § 4º os sobre condições, critérios operacionais de distribuição,
recursos referentes ao apoio financeiro suplementar, de que repasse, execução e prestação de contas simplificada do apoio
trata o caput, transferidos nos últimos doze meses. financeiro.
( ) Certo ( ) Errado
Art. 15. Os recursos de que trata o parágrafo único do art. 13
serão transferidos pelo Ministério da Educação ao Fundo Gabarito
Nacional do Desenvolvimento da Educação - FNDE, 01.Certo / 02.Certo
independentemente da celebração de termo específico.

Art. 16. Ato do Ministro de Estado da Educação disporá sobre 9 Lei Federal Nº
o acompanhamento da implementação do apoio financeiro
suplementar de que trata o parágrafo único do art. 13. 13.005/2014 (Plano Nacional
de Educação)
Art. 17. A transferência de recursos financeiros prevista no
parágrafo único do art. 13 será efetivada automaticamente pelo
FNDE, dispensada a celebração de convênio, acordo, contrato ou LEI Nº 13.005, DE 25 DE JUNHO DE 20148
instrumento congênere, mediante depósitos em conta corrente
específica. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras
Parágrafo único. O Conselho Deliberativo do FNDE disporá, providências.
em ato próprio, sobre condições, critérios operacionais de
distribuição, repasse, execução e prestação de contas A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
simplificada do apoio financeiro. Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 18. Os Estados e o Distrito Federal deverão fornecer, Art. 1° É aprovado o Plano Nacional de Educação - PNE, com
sempre que solicitados, a documentação relativa à execução dos vigência por 10 (dez) anos, a contar da publicação desta Lei, na
recursos recebidos com base no parágrafo único do art. 13 ao forma do Anexo, com vistas ao cumprimento do disposto no art.
Tribunal de Contas da União, ao FNDE, aos órgãos de controle 214 da Constituição Federal.
interno do Poder Executivo federal e aos conselhos de
acompanhamento e controle social. Art. 2° São diretrizes do PNE:
I - erradicação do analfabetismo;
Art. 19. O acompanhamento e o controle social sobre a II - universalização do atendimento escolar;
transferência e a aplicação dos recursos repassados com base no III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase
parágrafo único do art. 13 serão exercidos no âmbito dos na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas
Estados e do Distrito Federal pelos respectivos conselhos de discriminação;
previstos no art. 24 da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007. IV - melhoria da qualidade da educação;
Parágrafo único. Os conselhos a que se refere o caput V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase
analisarão as prestações de contas dos recursos repassados no nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade;
âmbito desta Lei, formularão parecer conclusivo acerca da VI - promoção do princípio da gestão democrática da
aplicação desses recursos e o encaminharão ao FNDE. educação pública;
VII - promoção humanística, científica, cultural e
Art. 20. Os recursos financeiros correspondentes ao apoio tecnológica do País;
financeiro de que trata o parágrafo único do art. 13 correrão à

8http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm.

Acesso 13/07/2018 às 09h27m

Legislação Básica da Educação 62


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VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos Art. 6° A União promoverá a realização de pelo menos 2
públicos em educação como proporção do Produto Interno (duas) conferências nacionais de educação até o final do
Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de decênio, precedidas de conferências distrital, municipais e
expansão, com padrão de qualidade e equidade; estaduais, articuladas e coordenadas pelo Fórum Nacional de
IX - valorização dos (as) profissionais da educação; Educação, instituído nesta Lei, no âmbito do Ministério da
X - promoção dos princípios do respeito aos direitos Educação.
humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. § 1° O Fórum Nacional de Educação, além da atribuição
referida no caput:
Art. 3° As metas previstas no Anexo desta Lei serão I - acompanhará a execução do PNE e o cumprimento de
cumpridas no prazo de vigência deste PNE, desde que não haja suas metas;
prazo inferior definido para metas e estratégias específicas. II - promoverá a articulação das conferências nacionais de
educação com as conferências regionais, estaduais e municipais
Art. 4° As metas previstas no Anexo desta Lei deverão ter que as precederem.
como referência a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios § 2° As conferências nacionais de educação realizar-se-ão
- PNAD, o censo demográfico e os censos nacionais da educação com intervalo de até 4 (quatro) anos entre elas, com o objetivo
básica e superior mais atualizados, disponíveis na data da de avaliar a execução deste PNE e subsidiar a elaboração do
publicação desta Lei. plano nacional de educação para o decênio subsequente.
Parágrafo único. O poder público buscará ampliar o escopo
das pesquisas com fins estatísticos de forma a incluir informação Art. 7° A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
detalhada sobre o perfil das populações de 4 (quatro) a 17 atuarão em regime de colaboração, visando ao alcance das
(dezessete) anos com deficiência. metas e à implementação das estratégias objeto deste Plano.
§ 1° Caberá aos gestores federais, estaduais, municipais e do
Art. 5° A execução do PNE e o cumprimento de suas metas Distrito Federal a adoção das medidas governamentais
serão objeto de monitoramento contínuo e de avaliações necessárias ao alcance das metas previstas neste PNE.
periódicas, realizados pelas seguintes instâncias: § 2° As estratégias definidas no Anexo desta Lei não elidem
I - Ministério da Educação - MEC; a adoção de medidas adicionais em âmbito local ou de
II - Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e instrumentos jurídicos que formalizem a cooperação entre os
Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; entes federados, podendo ser complementadas por mecanismos
III - Conselho Nacional de Educação - CNE; nacionais e locais de coordenação e colaboração recíproca.
IV - Fórum Nacional de Educação. § 3° Os sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e
§ 1° Compete, ainda, às instâncias referidas no caput: dos Municípios criarão mecanismos para o acompanhamento
I - divulgar os resultados do monitoramento e das avaliações local da consecução das metas deste PNE e dos planos previstos
nos respectivos sítios institucionais da internet; no art. 8o.
II - analisar e propor políticas públicas para assegurar a § 4° Haverá regime de colaboração específico para a
implementação das estratégias e o cumprimento das metas; implementação de modalidades de educação escolar que
III - analisar e propor a revisão do percentual de necessitem considerar territórios étnico-educacionais e a
investimento público em educação. utilização de estratégias que levem em conta as identidades e
§ 2° A cada 2 (dois) anos, ao longo do período de vigência especificidades socioculturais e linguísticas de cada comunidade
deste PNE, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas envolvida, assegurada a consulta prévia e informada a essa
Educacionais Anísio Teixeira - INEP publicará estudos para comunidade.
aferir a evolução no cumprimento das metas estabelecidas no § 5° Será criada uma instância permanente de negociação e
Anexo desta Lei, com informações organizadas por ente cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
federado e consolidadas em âmbito nacional, tendo como Municípios.
referência os estudos e as pesquisas de que trata o art. 4°, sem § 6° O fortalecimento do regime de colaboração entre os
prejuízo de outras fontes e informações relevantes. Estados e respectivos Municípios incluirá a instituição de
§ 3° A meta progressiva do investimento público em instâncias permanentes de negociação, cooperação e pactuação
educação será avaliada no quarto ano de vigência do PNE e em cada Estado.
poderá ser ampliada por meio de lei para atender às § 7° O fortalecimento do regime de colaboração entre os
necessidades financeiras do cumprimento das demais metas. Municípios dar-se-á, inclusive, mediante a adoção de arranjos de
§ 4° O investimento público em educação a que se referem o desenvolvimento da educação.
inciso VI do art. 214 da Constituição Federal e a meta 20 do
Anexo desta Lei engloba os recursos aplicados na forma do art. Art. 8° Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão
212 da Constituição Federal e do art. 60 do Ato das Disposições elaborar seus correspondentes planos de educação, ou adequar
Constitucionais Transitórias, bem como os recursos aplicados os planos já aprovados em lei, em consonância com as diretrizes,
nos programas de expansão da educação profissional e superior, metas e estratégias previstas neste PNE, no prazo de 1 (um) ano
inclusive na forma de incentivo e isenção fiscal, as bolsas de contado da publicação desta Lei.
estudos concedidas no Brasil e no exterior, os subsídios § 1° Os entes federados estabelecerão nos respectivos planos
concedidos em programas de financiamento estudantil e o de educação estratégias que:
financiamento de creches, pré-escolas e de educação especial na I - assegurem a articulação das políticas educacionais com
forma do art. 213 da Constituição Federal. as demais políticas sociais, particularmente as culturais;
§ 5° Será destinada à manutenção e ao desenvolvimento do II - considerem as necessidades específicas das populações
ensino, em acréscimo aos recursos vinculados nos termos do art. do campo e das comunidades indígenas e quilombolas,
212 da Constituição Federal, além de outros recursos previstos asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultural;
em lei, a parcela da participação no resultado ou da III - garantam o atendimento das necessidades específicas
compensação financeira pela exploração de petróleo e de gás na educação especial, assegurado o sistema educacional
natural, na forma de lei específica, com a finalidade de inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades;
assegurar o cumprimento da meta prevista no inciso VI do art. IV - promovam a articulação interfederativa na
214 da Constituição Federal. implementação das políticas educacionais.
§ 2° Os processos de elaboração e adequação dos planos de
educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de

Legislação Básica da Educação 63


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que trata o caput deste artigo, serão realizados com ampla Nacional de Educação, responsável pela articulação entre os
participação de representantes da comunidade educacional e da sistemas de ensino, em regime de colaboração, para efetivação
sociedade civil. das diretrizes, metas e estratégias do Plano Nacional de
Educação.
Art. 9° Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão
aprovar leis específicas para os seus sistemas de ensino, Art. 14° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
disciplinando a gestão democrática da educação pública nos
respectivos âmbitos de atuação, no prazo de 2 (dois) anos Brasília, 25 de junho de 2014; 193º da Independência e
contado da publicação desta Lei, adequando, quando for o caso, 126º da República.
a legislação local já adotada com essa finalidade. DILMA ROUSSEFF
Guido Mantega
Art. 10° O plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os José Henrique Paim Fernandes
orçamentos anuais da União, dos Estados, do Distrito Federal e Miriam Belchior
dos Municípios serão formulados de maneira a assegurar a
consignação de dotações orçamentárias compatíveis com as ANEXO
diretrizes, metas e estratégias deste PNE e com os respectivos
planos de educação, a fim de viabilizar sua plena execução. Metas e Estratégias

Art. 11° O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-
Básica, coordenado pela União, em colaboração com os Estados, escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e
o Distrito Federal e os Municípios, constituirá fonte de ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a
informação para a avaliação da qualidade da educação básica atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de
e para a orientação das políticas públicas desse nível de ensino. até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE.
§ 1° O sistema de avaliação a que se refere o caput produzirá,
no máximo a cada 2 (dois) anos: Estratégias:
I - indicadores de rendimento escolar, referentes ao
desempenho dos (as) estudantes apurado em exames nacionais 1.1) definir, em regime de colaboração entre a União, os
de avaliação, com participação de pelo menos 80% (oitenta por Estados, o Distrito Federal e os Municípios, metas de expansão
cento) dos (as) alunos (as) de cada ano escolar periodicamente das respectivas redes públicas de educação infantil segundo
avaliado em cada escola, e aos dados pertinentes apurados pelo padrão nacional de qualidade, considerando as peculiaridades
censo escolar da educação básica; locais;
II - indicadores de avaliação institucional, relativos a 1.2) garantir que, ao final da vigência deste PNE, seja
características como o perfil do alunado e do corpo dos (as) inferior a 10% (dez por cento) a diferença entre as taxas de
profissionais da educação, as relações entre dimensão do corpo frequência à educação infantil das crianças de até 3 (três) anos
docente, do corpo técnico e do corpo discente, a infraestrutura oriundas do quinto de renda familiar per capita mais elevado e
das escolas, os recursos pedagógicos disponíveis e os processos as do quinto de renda familiar per capita mais baixo;
da gestão, entre outras relevantes. 1.3) realizar, periodicamente, em regime de colaboração,
§ 2° A elaboração e a divulgação de índices para avaliação levantamento da demanda por creche para a população de até
da qualidade, como o Índice de Desenvolvimento da Educação 3 (três) anos, como forma de planejar a oferta e verificar o
Básica - IDEB, que agreguem os indicadores mencionados no atendimento da demanda manifesta;
inciso I do § 1° não elidem a obrigatoriedade de divulgação, em 1.4) estabelecer, no primeiro ano de vigência do PNE,
separado, de cada um deles. normas, procedimentos e prazos para definição de mecanismos
§ 3° Os indicadores mencionados no § 1° serão estimados por de consulta pública da demanda das famílias por creches;
etapa, estabelecimento de ensino, rede escolar, unidade da 1.5) manter e ampliar, em regime de colaboração e
Federação e em nível agregado nacional, sendo amplamente respeitadas as normas de acessibilidade, programa nacional de
divulgados, ressalvada a publicação de resultados individuais e construção e reestruturação de escolas, bem como de aquisição
indicadores por turma, que fica admitida exclusivamente para a de equipamentos, visando à expansão e à melhoria da rede física
comunidade do respectivo estabelecimento e para o órgão de escolas públicas de educação infantil;
gestor da respectiva rede. 1.6) implantar, até o segundo ano de vigência deste PNE,
§ 4° Cabem ao Inep a elaboração e o cálculo do Ideb e dos avaliação da educação infantil, a ser realizada a cada 2 (dois)
indicadores referidos no § 1°. anos, com base em parâmetros nacionais de qualidade, a fim de
§ 5° A avaliação de desempenho dos (as) estudantes em aferir a infraestrutura física, o quadro de pessoal, as condições
exames, referida no inciso I do § 1°, poderá ser diretamente de gestão, os recursos pedagógicos, a situação de acessibilidade,
realizada pela União ou, mediante acordo de cooperação, pelos entre outros indicadores relevantes;
Estados e pelo Distrito Federal, nos respectivos sistemas de 1.7) articular a oferta de matrículas gratuitas em creches
ensino e de seus Municípios, caso mantenham sistemas próprios certificadas como entidades beneficentes de assistência social na
de avaliação do rendimento escolar, assegurada a área de educação com a expansão da oferta na rede escolar
compatibilidade metodológica entre esses sistemas e o nacional, pública;
especialmente no que se refere às escalas de proficiência e ao 1.8) promover a formação inicial e continuada dos (as)
calendário de aplicação. profissionais da educação infantil, garantindo,
progressivamente, o atendimento por profissionais com
Art. 12° Até o final do primeiro semestre do nono ano de formação superior;
vigência deste PNE, o Poder Executivo encaminhará ao 1.9) estimular a articulação entre pós-graduação, núcleos
Congresso Nacional, sem prejuízo das prerrogativas deste de pesquisa e cursos de formação para profissionais da
Poder, o projeto de lei referente ao Plano Nacional de Educação educação, de modo a garantir a elaboração de currículos e
a vigorar no período subsequente, que incluirá diagnóstico, propostas pedagógicas que incorporem os avanços de pesquisas
diretrizes, metas e estratégias para o próximo decênio. ligadas ao processo de ensino-aprendizagem e às teorias
educacionais no atendimento da população de 0 (zero) a 5
Art. 13° O poder público deverá instituir, em lei específica, (cinco) anos;
contados 2 (dois) anos da publicação desta Lei, o Sistema

Legislação Básica da Educação 64


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1.10) fomentar o atendimento das populações do campo e como das situações de discriminação, preconceitos e violências
das comunidades indígenas e quilombolas na educação infantil na escola, visando ao estabelecimento de condições adequadas
nas respectivas comunidades, por meio do redimensionamento para o sucesso escolar dos (as) alunos (as), em colaboração com
da distribuição territorial da oferta, limitando a nucleação de as famílias e com órgãos públicos de assistência social, saúde e
escolas e o deslocamento de crianças, de forma a atender às proteção à infância, adolescência e juventude;
especificidades dessas comunidades, garantido consulta prévia 2.5) promover a busca ativa de crianças e adolescentes fora
e informada; da escola, em parceria com órgãos públicos de assistência social,
1.11) priorizar o acesso à educação infantil e fomentar a saúde e proteção à infância, adolescência e juventude;
oferta do atendimento educacional especializado complementar 2.6) desenvolver tecnologias pedagógicas que combinem, de
e suplementar aos (às) alunos (as) com deficiência, transtornos maneira articulada, a organização do tempo e das atividades
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, didáticas entre a escola e o ambiente comunitário, considerando
assegurando a educação bilíngue para crianças surdas e a as especificidades da educação especial, das escolas do campo e
transversalidade da educação especial nessa etapa da educação das comunidades indígenas e quilombolas;
básica; 2.7) disciplinar, no âmbito dos sistemas de ensino, a
1.12) implementar, em caráter complementar, programas organização flexível do trabalho pedagógico, incluindo
de orientação e apoio às famílias, por meio da articulação das adequação do calendário escolar de acordo com a realidade
áreas de educação, saúde e assistência social, com foco no local, a identidade cultural e as condições climáticas da região;
desenvolvimento integral das crianças de até 3 (três) anos de 2.8) promover a relação das escolas com instituições e
idade; movimentos culturais, a fim de garantir a oferta regular de
1.13) preservar as especificidades da educação infantil na atividades culturais para a livre fruição dos (as) alunos (as)
organização das redes escolares, garantindo o atendimento da dentro e fora dos espaços escolares, assegurando ainda que as
criança de 0 (zero) a 5 (cinco) anos em estabelecimentos que escolas se tornem polos de criação e difusão cultural;
atendam a parâmetros nacionais de qualidade, e a articulação 2.9) incentivar a participação dos pais ou responsáveis no
com a etapa escolar seguinte, visando ao ingresso do (a) acompanhamento das atividades escolares dos filhos por meio
aluno(a) de 6 (seis) anos de idade no ensino fundamental; do estreitamento das relações entre as escolas e as famílias;
1.14) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do 2.10) estimular a oferta do ensino fundamental, em especial
acesso e da permanência das crianças na educação infantil, em dos anos iniciais, para as populações do campo, indígenas e
especial dos beneficiários de programas de transferência de quilombolas, nas próprias comunidades;
renda, em colaboração com as famílias e com os órgãos públicos 2.11) desenvolver formas alternativas de oferta do ensino
de assistência social, saúde e proteção à infância; fundamental, garantida a qualidade, para atender aos filhos e
1.15) promover a busca ativa de crianças em idade filhas de profissionais que se dedicam a atividades de caráter
correspondente à educação infantil, em parceria com órgãos itinerante;
públicos de assistência social, saúde e proteção à infância, 2.12) oferecer atividades extracurriculares de incentivo aos
preservando o direito de opção da família em relação às (às) estudantes e de estímulo a habilidades, inclusive mediante
crianças de até 3 (três) anos; certames e concursos nacionais;
1.16) o Distrito Federal e os Municípios, com a colaboração 2.13) promover atividades de desenvolvimento e estímulo a
da União e dos Estados, realizarão e publicarão, a cada ano, habilidades esportivas nas escolas, interligadas a um plano de
levantamento da demanda manifesta por educação infantil em disseminação do desporto educacional e de desenvolvimento
creches e pré-escolas, como forma de planejar e verificar o esportivo nacional.
atendimento;
1.17) estimular o acesso à educação infantil em tempo Meta 3: universalizar, até 2016, o atendimento escolar para
integral, para todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos e elevar,
conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de
para a Educação Infantil. matrículas no ensino médio para 85% (oitenta e cinco por
cento).
Meta 2: universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos
para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e Estratégias:
garantir que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos
alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último 3.1) institucionalizar programa nacional de renovação do
ano de vigência deste PNE. ensino médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas com
abordagens interdisciplinares estruturadas pela relação entre
Estratégias: teoria e prática, por meio de currículos escolares que organizem,
de maneira flexível e diversificada, conteúdos obrigatórios e
2.1) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração eletivos articulados em dimensões como ciência, trabalho,
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, deverá, até o linguagens, tecnologia, cultura e esporte, garantindo-se a
final do 2o (segundo) ano de vigência deste PNE, elaborar e aquisição de equipamentos e laboratórios, a produção de
encaminhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida de material didático específico, a formação continuada de
consulta pública nacional, proposta de direitos e objetivos de professores e a articulação com instituições acadêmicas,
aprendizagem e desenvolvimento para os (as) alunos (as) do esportivas e culturais;
ensino fundamental; 3.2) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração
2.2) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e com os entes federados e ouvida a sociedade mediante consulta
Municípios, no âmbito da instância permanente de que trata o § pública nacional, elaborará e encaminhará ao Conselho
5º do art. 7º desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de Nacional de Educação - CNE, até o 2° (segundo) ano de vigência
aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a base deste PNE, proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e
nacional comum curricular do ensino fundamental; desenvolvimento para os (as) alunos (as) de ensino médio, a
2.3) criar mecanismos para o acompanhamento serem atingidos nos tempos e etapas de organização deste nível
individualizado dos (as) alunos (as) do ensino fundamental; de ensino, com vistas a garantir formação básica comum;
2.4) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do 3.3) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e
acesso, da permanência e do aproveitamento escolar dos Municípios, no âmbito da instância permanente de que trata o §
beneficiários de programas de transferência de renda, bem 5° do art. 7° desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de

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aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a base Estratégias:


nacional comum curricular do ensino médio;
3.4) garantir a fruição de bens e espaços culturais, de forma 4.1) contabilizar, para fins do repasse do Fundo de
regular, bem como a ampliação da prática desportiva, Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
integrada ao currículo escolar; Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, as
3.5) manter e ampliar programas e ações de correção de matrículas dos (as) estudantes da educação regular da rede
fluxo do ensino fundamental, por meio do acompanhamento pública que recebam atendimento educacional especializado
individualizado do (a) aluno (a) com rendimento escolar complementar e suplementar, sem prejuízo do cômputo dessas
defasado e pela adoção de práticas como aulas de reforço no matrículas na educação básica regular, e as matrículas
turno complementar, estudos de recuperação e progressão efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado, na
parcial, de forma a reposicioná-lo no ciclo escolar de maneira educação especial oferecida em instituições comunitárias,
compatível com sua idade; confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas
3.6) universalizar o Exame Nacional do Ensino Médio - com o poder público e com atuação exclusiva na modalidade, nos
ENEM, fundamentado em matriz de referência do conteúdo termos da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007;
curricular do ensino médio e em técnicas estatísticas e 4.2) promover, no prazo de vigência deste PNE, a
psicométricas que permitam comparabilidade de resultados, universalização do atendimento escolar à demanda manifesta
articulando-o com o Sistema Nacional de Avaliação da pelas famílias de crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos com
Educação Básica - SAEB, e promover sua utilização como deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
instrumento de avaliação sistêmica, para subsidiar políticas habilidades ou superdotação, observado o que dispõe a Lei no
públicas para a educação básica, de avaliação certificadora, 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e
possibilitando aferição de conhecimentos e habilidades bases da educação nacional;
adquiridos dentro e fora da escola, e de avaliação classificatória, 4.3) implantar, ao longo deste PNE, salas de recursos
como critério de acesso à educação superior; multifuncionais e fomentar a formação continuada de
3.7) fomentar a expansão das matrículas gratuitas de ensino professores e professoras para o atendimento educacional
médio integrado à educação profissional, observando-se as especializado nas escolas urbanas, do campo, indígenas e de
peculiaridades das populações do campo, das comunidades comunidades quilombolas;
indígenas e quilombolas e das pessoas com deficiência; 4.4) garantir atendimento educacional especializado em
3.8) estruturar e fortalecer o acompanhamento e o salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços
monitoramento do acesso e da permanência dos e das jovens especializados, públicos ou conveniados, nas formas
beneficiários (as) de programas de transferência de renda, no complementar e suplementar, a todos (as) alunos (as) com
ensino médio, quanto à frequência, ao aproveitamento escolar e deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
à interação com o coletivo, bem como das situações de habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de
discriminação, preconceitos e violências, práticas irregulares de educação básica, conforme necessidade identificada por meio de
exploração do trabalho, consumo de drogas, gravidez precoce, avaliação, ouvidos a família e o aluno;
em colaboração com as famílias e com órgãos públicos de 4.5) estimular a criação de centros multidisciplinares de
assistência social, saúde e proteção à adolescência e juventude; apoio, pesquisa e assessoria, articulados com instituições
3.9) promover a busca ativa da população de 15 (quinze) a acadêmicas e integrados por profissionais das áreas de saúde,
17 (dezessete) anos fora da escola, em articulação com os assistência social, pedagogia e psicologia, para apoiar o
serviços de assistência social, saúde e proteção à adolescência e trabalho dos (as) professores da educação básica com os (as)
à juventude; alunos (as) com deficiência, transtornos globais do
3.10) fomentar programas de educação e de cultura para a desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
população urbana e do campo de jovens, na faixa etária de 15 4.6) manter e ampliar programas suplementares que
(quinze) a 17 (dezessete) anos, e de adultos, com qualificação promovam a acessibilidade nas instituições públicas, para
social e profissional para aqueles que estejam fora da escola e garantir o acesso e a permanência dos (as) alunos (as) com
com defasagem no fluxo escolar; deficiência por meio da adequação arquitetônica, da oferta de
3.11) redimensionar a oferta de ensino médio nos turnos transporte acessível e da disponibilização de material didático
diurno e noturno, bem como a distribuição territorial das próprio e de recursos de tecnologia assistiva, assegurando,
escolas de ensino médio, de forma a atender a toda a demanda, ainda, no contexto escolar, em todas as etapas, níveis e
de acordo com as necessidades específicas dos (as) alunos (as); modalidades de ensino, a identificação dos (as) alunos (as) com
3.12) desenvolver formas alternativas de oferta do ensino altas habilidades ou superdotação;
médio, garantida a qualidade, para atender aos filhos e filhas de 4.7) garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua
profissionais que se dedicam a atividades de caráter itinerante; Brasileira de Sinais - LIBRAS como primeira língua e na
3.13) implementar políticas de prevenção à evasão modalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua,
motivada por preconceito ou quaisquer formas de aos (às) alunos (as) surdos e com deficiência auditiva de 0 (zero)
discriminação, criando rede de proteção contra formas a 17 (dezessete) anos, em escolas e classes bilíngues e em escolas
associadas de exclusão; inclusivas, nos termos do art. 22 do Decreto no 5.626, de 22 de
3.14) estimular a participação dos adolescentes nos cursos dezembro de 2005, e dos arts. 24 e 30 da Convenção sobre os
das áreas tecnológicas e científicas. Direitos das Pessoas com Deficiência, bem como a adoção do
Sistema Braille de leitura para cegos e surdos-cegos;
Meta 4: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 4.8) garantir a oferta de educação inclusiva, vedada a
(dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do exclusão do ensino regular sob alegação de deficiência e
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso promovida a articulação pedagógica entre o ensino regular e o
à educação básica e ao atendimento educacional especializado, atendimento educacional especializado;
preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de 4.9) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do
sistema educacional inclusivo, de salas de recursos acesso à escola e ao atendimento educacional especializado,
multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, bem como da permanência e do desenvolvimento escolar dos
públicos ou conveniados. (as) alunos (as) com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
beneficiários (as) de programas de transferência de renda,
juntamente com o combate às situações de discriminação,

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preconceito e violência, com vistas ao estabelecimento de com o poder público, a fim de favorecer a participação das
condições adequadas para o sucesso educacional, em famílias e da sociedade na construção do sistema educacional
colaboração com as famílias e com os órgãos públicos de inclusivo.
assistência social, saúde e proteção à infância, à adolescência e
à juventude; Meta 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final
4.10) fomentar pesquisas voltadas para o desenvolvimento do 3° (terceiro) ano do ensino fundamental.
de metodologias, materiais didáticos, equipamentos e recursos
de tecnologia assistiva, com vistas à promoção do ensino e da Estratégias:
aprendizagem, bem como das condições de acessibilidade dos
(as) estudantes com deficiência, transtornos globais do 5.1) estruturar os processos pedagógicos de alfabetização,
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação; nos anos iniciais do ensino fundamental, articulando-os com as
4.11) promover o desenvolvimento de pesquisas estratégias desenvolvidas na pré-escola, com qualificação e
interdisciplinares para subsidiar a formulação de políticas valorização dos (as) professores (as) alfabetizadores e com
públicas intersetoriais que atendam as especificidades apoio pedagógico específico, a fim de garantir a alfabetização
educacionais de estudantes com deficiência, transtornos globais plena de todas as crianças;
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação que 5.2) instituir instrumentos de avaliação nacional periódicos
requeiram medidas de atendimento especializado; e específicos para aferir a alfabetização das crianças, aplicados
4.12) promover a articulação intersetorial entre órgãos e a cada ano, bem como estimular os sistemas de ensino e as
políticas públicas de saúde, assistência social e direitos escolas a criarem os respectivos instrumentos de avaliação e
humanos, em parceria com as famílias, com o fim de desenvolver monitoramento, implementando medidas pedagógicas para
modelos de atendimento voltados à continuidade do alfabetizar todos os alunos e alunas até o final do terceiro ano
atendimento escolar, na educação de jovens e adultos, das do ensino fundamental;
pessoas com deficiência e transtornos globais do 5.3) selecionar, certificar e divulgar tecnologias
desenvolvimento com idade superior à faixa etária de educacionais para a alfabetização de crianças, assegurada a
escolarização obrigatória, de forma a assegurar a atenção diversidade de métodos e propostas pedagógicas, bem como o
integral ao longo da vida; acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em que
4.13) apoiar a ampliação das equipes de profissionais da forem aplicadas, devendo ser disponibilizadas,
educação para atender à demanda do processo de escolarização preferencialmente, como recursos educacionais abertos;
dos (das) estudantes com deficiência, transtornos globais do 5.4) fomentar o desenvolvimento de tecnologias
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, educacionais e de práticas pedagógicas inovadoras que
garantindo a oferta de professores (as) do atendimento assegurem a alfabetização e favoreçam a melhoria do fluxo
educacional especializado, profissionais de apoio ou auxiliares, escolar e a aprendizagem dos (as) alunos (as), consideradas as
tradutores (as) e intérpretes de Libras, guias-intérpretes para diversas abordagens metodológicas e sua efetividade;
surdos-cegos, professores de Libras, prioritariamente surdos, e 5.5) apoiar a alfabetização de crianças do campo, indígenas,
professores bilíngues; quilombolas e de populações itinerantes, com a produção de
4.14) definir, no segundo ano de vigência deste PNE, materiais didáticos específicos, e desenvolver instrumentos de
indicadores de qualidade e política de avaliação e supervisão acompanhamento que considerem o uso da língua materna
para o funcionamento de instituições públicas e privadas que pelas comunidades indígenas e a identidade cultural das
prestam atendimento a alunos com deficiência, transtornos comunidades quilombolas;
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou 5.6) promover e estimular a formação inicial e continuada
superdotação; de professores (as) para a alfabetização de crianças, com o
4.15) promover, por iniciativa do Ministério da Educação, conhecimento de novas tecnologias educacionais e práticas
nos órgãos de pesquisa, demografia e estatística competentes, a pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação entre
obtenção de informação detalhada sobre o perfil das pessoas programas de pós-graduação stricto sensu e ações de formação
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas continuada de professores (as) para a alfabetização;
habilidades ou superdotação de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos; 5.7) apoiar a alfabetização das pessoas com deficiência,
4.16) incentivar a inclusão nos cursos de licenciatura e nos considerando as suas especificidades, inclusive a alfabetização
demais cursos de formação para profissionais da educação, bilíngue de pessoas surdas, sem estabelecimento de
inclusive em nível de pós-graduação, observado o disposto no terminalidade temporal.
caput do art. 207 da Constituição Federal, dos referenciais
teóricos, das teorias de aprendizagem e dos processos de ensino- Meta 6: oferecer educação em tempo integral em, no
aprendizagem relacionados ao atendimento educacional de mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de
alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos
e altas habilidades ou superdotação; (as) alunos (as) da educação básica.
4.17) promover parcerias com instituições comunitárias,
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas Estratégias:
com o poder público, visando a ampliar as condições de apoio ao
atendimento escolar integral das pessoas com deficiência, 6.1) promover, com o apoio da União, a oferta de educação
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou básica pública em tempo integral, por meio de atividades de
superdotação matriculadas nas redes públicas de ensino; acompanhamento pedagógico e multidisciplinares, inclusive
4.18) promover parcerias com instituições comunitárias, culturais e esportivas, de forma que o tempo de permanência dos
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas (as) alunos (as) na escola, ou sob sua responsabilidade, passe a
com o poder público, visando a ampliar a oferta de formação ser igual ou superior a 7 (sete) horas diárias durante todo o ano
continuada e a produção de material didático acessível, assim letivo, com a ampliação progressiva da jornada de professores
como os serviços de acessibilidade necessários ao pleno acesso, em uma única escola;
participação e aprendizagem dos estudantes com deficiência, 6.2) instituir, em regime de colaboração, programa de
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou construção de escolas com padrão arquitetônico e de mobiliário
superdotação matriculados na rede pública de ensino; adequado para atendimento em tempo integral,
4.19) promover parcerias com instituições comunitárias, prioritariamente em comunidades pobres ou com crianças em
confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas situação de vulnerabilidade social;

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6.3) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, ano de estudo, e 80% (oitenta por cento), pelo menos, o nível
programa nacional de ampliação e reestruturação das escolas desejável;
públicas, por meio da instalação de quadras poliesportivas, 7.3) constituir, em colaboração entre a União, os Estados, o
laboratórios, inclusive de informática, espaços para atividades Distrito Federal e os Municípios, um conjunto nacional de
culturais, bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitórios, banheiros indicadores de avaliação institucional com base no perfil do
e outros equipamentos, bem como da produção de material alunado e do corpo de profissionais da educação, nas condições
didático e da formação de recursos humanos para a educação de infraestrutura das escolas, nos recursos pedagógicos
em tempo integral; disponíveis, nas características da gestão e em outras dimensões
6.4) fomentar a articulação da escola com os diferentes relevantes, considerando as especificidades das modalidades de
espaços educativos, culturais e esportivos e com equipamentos ensino;
públicos, como centros comunitários, bibliotecas, praças, 7.4) induzir processo contínuo de auto avaliação das escolas
parques, museus, teatros, cinemas e planetários; de educação básica, por meio da constituição de instrumentos
6.5) estimular a oferta de atividades voltadas à ampliação de avaliação que orientem as dimensões a serem fortalecidas,
da jornada escolar de alunos (as) matriculados nas escolas da destacando-se a elaboração de planejamento estratégico, a
rede pública de educação básica por parte das entidades melhoria contínua da qualidade educacional, a formação
privadas de serviço social vinculadas ao sistema sindical, de continuada dos (as) profissionais da educação e o
forma concomitante e em articulação com a rede pública de aprimoramento da gestão democrática;
ensino; 7.5) formalizar e executar os planos de ações articuladas
6.6) orientar a aplicação da gratuidade de que trata o art. dando cumprimento às metas de qualidade estabelecidas para a
13 da Lei no 12.101, de 27 de novembro de 2009, em atividades educação básica pública e às estratégias de apoio técnico e
de ampliação da jornada escolar de alunos (as) das escolas da financeiro voltadas à melhoria da gestão educacional, à
rede pública de educação básica, de forma concomitante e em formação de professores e professoras e profissionais de serviços
articulação com a rede pública de ensino; e apoio escolares, à ampliação e ao desenvolvimento de recursos
6.7) atender às escolas do campo e de comunidades pedagógicos e à melhoria e expansão da infraestrutura física da
indígenas e quilombolas na oferta de educação em tempo rede escolar;
integral, com base em consulta prévia e informada, 7.6) associar a prestação de assistência técnica financeira à
considerando-se as peculiaridades locais; fixação de metas intermediárias, nos termos estabelecidos
6.8) garantir a educação em tempo integral para pessoas conforme pactuação voluntária entre os entes, priorizando
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas sistemas e redes de ensino com Ideb abaixo da média nacional;
habilidades ou superdotação na faixa etária de 4 (quatro) a 17 7.7) aprimorar continuamente os instrumentos de avaliação
(dezessete) anos, assegurando atendimento educacional da qualidade do ensino fundamental e médio, de forma a
especializado complementar e suplementar ofertado em salas englobar o ensino de ciências nos exames aplicados nos anos
de recursos multifuncionais da própria escola ou em instituições finais do ensino fundamental, e incorporar o Exame Nacional do
especializadas; Ensino Médio, assegurada a sua universalização, ao sistema de
6.9) adotar medidas para otimizar o tempo de permanência avaliação da educação básica, bem como apoiar o uso dos
dos alunos na escola, direcionando a expansão da jornada para resultados das avaliações nacionais pelas escolas e redes de
o efetivo trabalho escolar, combinado com atividades ensino para a melhoria de seus processos e práticas
recreativas, esportivas e culturais. pedagógicas;
7.8) desenvolver indicadores específicos de avaliação da
Meta 7: fomentar a qualidade da educação básica em todas qualidade da educação especial, bem como da qualidade da
as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da educação bilíngue para surdos;
aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias nacionais 7.9) orientar as políticas das redes e sistemas de ensino, de
para o Ideb: forma a buscar atingir as metas do Ideb, diminuindo a diferença
entre as escolas com os menores índices e a média nacional,
IDEB 2015 2017 2019 2021 garantindo equidade da aprendizagem e reduzindo pela
Anos iniciais do ensino 5,2 5,5 5,7 6,0 metade, até o último ano de vigência deste PNE, as diferenças
fundamental entre as médias dos índices dos Estados, inclusive do Distrito
Anos finais do ensino 4,7 5,0 5,2 5,5 Federal, e dos Municípios;
fundamental 7.10) fixar, acompanhar e divulgar bienalmente os
Ensino médio 4,3 4,7 5,0 5,2 resultados pedagógicos dos indicadores do sistema nacional de
avaliação da educação básica e do Ideb, relativos às escolas, às
Estratégias: redes públicas de educação básica e aos sistemas de ensino da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
7.1) estabelecer e implantar, mediante pactuação assegurando a contextualização desses resultados, com relação
interfederativa, diretrizes pedagógicas para a educação básica a indicadores sociais relevantes, como os de nível
e a base nacional comum dos currículos, com direitos e objetivos socioeconômico das famílias dos (as) alunos (as), e a
de aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) para transparência e o acesso público às informações técnicas de
cada ano do ensino fundamental e médio, respeitada a concepção e operação do sistema de avaliação;
diversidade regional, estadual e local; 7.11) melhorar o desempenho dos alunos da educação
7.2) assegurar que: básica nas avaliações da aprendizagem no Programa
a) no quinto ano de vigência deste PNE, pelo menos 70% Internacional de Avaliação de Estudantes - PISA, tomado como
(setenta por cento) dos (as) alunos (as) do ensino fundamental instrumento externo de referência, internacionalmente
e do ensino médio tenham alcançado nível suficiente de reconhecido, de acordo com as seguintes projeções:
aprendizado em relação aos direitos e objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento de seu ano de estudo, e 50% PISA 2015 2018 2021
(cinquenta por cento), pelo menos, o nível desejável; Média dos resultados em 438 455 473
b) no último ano de vigência deste PNE, todos os (as) matemática, leitura e ciências
estudantes do ensino fundamental e do ensino médio tenham
alcançado nível suficiente de aprendizado em relação aos 7.12) incentivar o desenvolvimento, selecionar, certificar e
direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de seu divulgar tecnologias educacionais para a educação infantil, o

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ensino fundamental e o ensino médio e incentivar práticas adoção das providências adequadas para promover a
pedagógicas inovadoras que assegurem a melhoria do fluxo construção da cultura de paz e um ambiente escolar dotado de
escolar e a aprendizagem, assegurada a diversidade de métodos segurança para a comunidade;
e propostas pedagógicas, com preferência para softwares livres 7.24) implementar políticas de inclusão e permanência na
e recursos educacionais abertos, bem como o acompanhamento escola para adolescentes e jovens que se encontram em regime
dos resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas; de liberdade assistida e em situação de rua, assegurando os
7.13) garantir transporte gratuito para todos (as) os (as) princípios da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da
estudantes da educação do campo na faixa etária da educação Criança e do Adolescente;
escolar obrigatória, mediante renovação e padronização 7.25) garantir nos currículos escolares conteúdos sobre a
integral da frota de veículos, de acordo com especificações história e as culturas afro-brasileira e indígenas e implementar
definidas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e ações educacionais, nos termos das Leis nos 10.639, de 9 de
Tecnologia - INMETRO, e financiamento compartilhado, com janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008, assegurando-
participação da União proporcional às necessidades dos entes se a implementação das respectivas diretrizes curriculares
federados, visando a reduzir a evasão escolar e o tempo médio nacionais, por meio de ações colaborativas com fóruns de
de deslocamento a partir de cada situação local; educação para a diversidade étnico-racial, conselhos escolares,
7.14) desenvolver pesquisas de modelos alternativos de equipes pedagógicas e a sociedade civil;
atendimento escolar para a população do campo que 7.26) consolidar a educação escolar no campo de populações
considerem as especificidades locais e as boas práticas nacionais tradicionais, de populações itinerantes e de comunidades
e internacionais; indígenas e quilombolas, respeitando a articulação entre os
7.15) universalizar, até o quinto ano de vigência deste PNE, ambientes escolares e comunitários e garantindo: o
o acesso à rede mundial de computadores em banda larga de desenvolvimento sustentável e preservação da identidade
alta velocidade e triplicar, até o final da década, a relação cultural; a participação da comunidade na definição do modelo
computador/aluno (a) nas escolas da rede pública de educação de organização pedagógica e de gestão das instituições,
básica, promovendo a utilização pedagógica das tecnologias da consideradas as práticas socioculturais e as formas particulares
informação e da comunicação; de organização do tempo; a oferta bilíngue na educação infantil
7.16) apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar e nos anos iniciais do ensino fundamental, em língua materna
mediante transferência direta de recursos financeiros à escola, das comunidades indígenas e em língua portuguesa; a
garantindo a participação da comunidade escolar no reestruturação e a aquisição de equipamentos; a oferta de
planejamento e na aplicação dos recursos, visando à ampliação programa para a formação inicial e continuada de profissionais
da transparência e ao efetivo desenvolvimento da gestão da educação; e o atendimento em educação especial;
democrática; 7.27) desenvolver currículos e propostas pedagógicas
7.17) ampliar programas e aprofundar ações de específicas para educação escolar para as escolas do campo e
atendimento ao (à) aluno (a), em todas as etapas da educação para as comunidades indígenas e quilombolas, incluindo os
básica, por meio de programas suplementares de material conteúdos culturais correspondentes às respectivas
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; comunidades e considerando o fortalecimento das práticas
7.18) assegurar a todas as escolas públicas de educação socioculturais e da língua materna de cada comunidade
básica o acesso à energia elétrica, abastecimento de água indígena, produzindo e disponibilizando materiais didáticos
tratada, esgotamento sanitário e manejo dos resíduos sólidos, específicos, inclusive para os (as) alunos (as) com deficiência;
garantir o acesso dos alunos a espaços para a prática esportiva, 7.28) mobilizar as famílias e setores da sociedade civil,
a bens culturais e artísticos e a equipamentos e laboratórios de articulando a educação formal com experiências de educação
ciências e, em cada edifício escolar, garantir a acessibilidade às popular e cidadã, com os propósitos de que a educação seja
pessoas com deficiência; assumida como responsabilidade de todos e de ampliar o
7.19) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, controle social sobre o cumprimento das políticas públicas
programa nacional de reestruturação e aquisição de educacionais;
equipamentos para escolas públicas, visando à equalização 7.29) promover a articulação dos programas da área da
regional das oportunidades educacionais; educação, de âmbito local e nacional, com os de outras áreas,
7.20) prover equipamentos e recursos tecnológicos digitais como saúde, trabalho e emprego, assistência social, esporte e
para a utilização pedagógica no ambiente escolar a todas as cultura, possibilitando a criação de rede de apoio integral às
escolas públicas da educação básica, criando, inclusive, famílias, como condição para a melhoria da qualidade
mecanismos para implementação das condições necessárias educacional;
para a universalização das bibliotecas nas instituições 7.30) universalizar, mediante articulação entre os órgãos
educacionais, com acesso a redes digitais de computadores, responsáveis pelas áreas da saúde e da educação, o atendimento
inclusive a internet; aos (às) estudantes da rede escolar pública de educação básica
7.21) a União, em regime de colaboração com os entes por meio de ações de prevenção, promoção e atenção à saúde;
federados subnacionais, estabelecerá, no prazo de 2 (dois) anos 7.31) estabelecer ações efetivas especificamente voltadas
contados da publicação desta Lei, parâmetros mínimos de para a promoção, prevenção, atenção e atendimento à saúde e
qualidade dos serviços da educação básica, a serem utilizados à integridade física, mental e emocional dos (das) profissionais
como referência para infraestrutura das escolas, recursos da educação, como condição para a melhoria da qualidade
pedagógicos, entre outros insumos relevantes, bem como educacional;
instrumento para adoção de medidas para a melhoria da 7.32) fortalecer, com a colaboração técnica e financeira da
qualidade do ensino; União, em articulação com o sistema nacional de avaliação, os
7.22) informatizar integralmente a gestão das escolas sistemas estaduais de avaliação da educação básica, com
públicas e das secretarias de educação dos Estados, do Distrito participação, por adesão, das redes municipais de ensino, para
Federal e dos Municípios, bem como manter programa nacional orientar as políticas públicas e as práticas pedagógicas, com o
de formação inicial e continuada para o pessoal técnico das fornecimento das informações às escolas e à sociedade;
secretarias de educação; 7.33) promover, com especial ênfase, em consonância com as
7.23) garantir políticas de combate à violência na escola, diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura, a formação
inclusive pelo desenvolvimento de ações destinadas à de leitores e leitoras e a capacitação de professores e
capacitação de educadores para detecção dos sinais de suas professoras, bibliotecários e bibliotecárias e agentes da
causas, como a violência doméstica e sexual, favorecendo a comunidade para atuar como mediadores e mediadoras da

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leitura, de acordo com a especificidade das diferentes etapas do 9.4) criar benefício adicional no programa nacional de
desenvolvimento e da aprendizagem; transferência de renda para jovens e adultos que frequentarem
7.34) instituir, em articulação com os Estados, os Municípios cursos de alfabetização;
e o Distrito Federal, programa nacional de formação de 9.5) realizar chamadas públicas regulares para educação de
professores e professoras e de alunos e alunas para promover e jovens e adultos, promovendo-se busca ativa em regime de
consolidar política de preservação da memória nacional; colaboração entre entes federados e em parceria com
7.35) promover a regulação da oferta da educação básica organizações da sociedade civil;
pela iniciativa privada, de forma a garantir a qualidade e o 9.6) realizar avaliação, por meio de exames específicos, que
cumprimento da função social da educação; permita aferir o grau de alfabetização de jovens e adultos com
7.36) estabelecer políticas de estímulo às escolas que mais de 15 (quinze) anos de idade;
melhorarem o desempenho no Ideb, de modo a valorizar o 9.7) executar ações de atendimento ao (à) estudante da
mérito do corpo docente, da direção e da comunidade escolar. educação de jovens e adultos por meio de programas
Meta 8: elevar a escolaridade média da população de 18 suplementares de transporte, alimentação e saúde, inclusive
(dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, de modo a alcançar, no atendimento oftalmológico e fornecimento gratuito de óculos,
mínimo, 12 (doze) anos de estudo no último ano de vigência em articulação com a área da saúde;
deste Plano, para as populações do campo, da região de menor 9.8) assegurar a oferta de educação de jovens e adultos, nas
escolaridade no País e dos 25% (vinte e cinco por cento) mais etapas de ensino fundamental e médio, às pessoas privadas de
pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não liberdade em todos os estabelecimentos penais, assegurando-se
negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia formação específica dos professores e das professoras e
e Estatística - IBGE. implementação de diretrizes nacionais em regime de
colaboração;
Estratégias: 9.9) apoiar técnica e financeiramente projetos inovadores
na educação de jovens e adultos que visem ao desenvolvimento
8.1) institucionalizar programas e desenvolver tecnologias de modelos adequados às necessidades específicas desses (as)
para correção de fluxo, para acompanhamento pedagógico alunos (as);
individualizado e para recuperação e progressão parcial, bem 9.10) estabelecer mecanismos e incentivos que integrem os
como priorizar estudantes com rendimento escolar defasado, segmentos empregadores, públicos e privados, e os sistemas de
considerando as especificidades dos segmentos populacionais ensino, para promover a compatibilização da jornada de
considerados; trabalho dos empregados e das empregadas com a oferta das
8.2) implementar programas de educação de jovens e ações de alfabetização e de educação de jovens e adultos;
adultos para os segmentos populacionais considerados, que 9.11) implementar programas de capacitação tecnológica
estejam fora da escola e com defasagem idade-série, associados da população jovem e adulta, direcionados para os segmentos
a outras estratégias que garantam a continuidade da com baixos níveis de escolarização formal e para os (as) alunos
escolarização, após a alfabetização inicial; (as) com deficiência, articulando os sistemas de ensino, a Rede
8.3) garantir acesso gratuito a exames de certificação da Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, as
conclusão dos ensinos fundamental e médio; universidades, as cooperativas e as associações, por meio de
8.4) expandir a oferta gratuita de educação profissional ações de extensão desenvolvidas em centros vocacionais
técnica por parte das entidades privadas de serviço social e de tecnológicos, com tecnologias assistivas que favoreçam a efetiva
formação profissional vinculadas ao sistema sindical, de forma inclusão social e produtiva dessa população;
concomitante ao ensino ofertado na rede escolar pública, para 9.12) considerar, nas políticas públicas de jovens e adultos,
os segmentos populacionais considerados; as necessidades dos idosos, com vistas à promoção de políticas
8.5) promover, em parceria com as áreas de saúde e de erradicação do analfabetismo, ao acesso a tecnologias
assistência social, o acompanhamento e o monitoramento do educacionais e atividades recreativas, culturais e esportivas, à
acesso à escola específicos para os segmentos populacionais implementação de programas de valorização e
considerados, identificar motivos de absenteísmo e colaborar compartilhamento dos conhecimentos e experiência dos idosos e
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios para a à inclusão dos temas do envelhecimento e da velhice nas escolas.
garantia de frequência e apoio à aprendizagem, de maneira a
estimular a ampliação do atendimento desses (as) estudantes na Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento)
rede pública regular de ensino; das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos
8.6) promover busca ativa de jovens fora da escola fundamental e médio, na forma integrada à educação
pertencentes aos segmentos populacionais considerados, em profissional.
parceria com as áreas de assistência social, saúde e proteção à
juventude. Estratégias:

Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 10.1) manter programa nacional de educação de jovens e
(quinze) anos ou mais para 93,5% (noventa e três inteiros e adultos voltado à conclusão do ensino fundamental e à
cinco décimos por cento) até 2015 e, até o final da vigência deste formação profissional inicial, de forma a estimular a conclusão
PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% da educação básica;
(cinquenta por cento) a taxa de analfabetismo funcional. 10.2) expandir as matrículas na educação de jovens e
adultos, de modo a articular a formação inicial e continuada de
Estratégias: trabalhadores com a educação profissional, objetivando a
elevação do nível de escolaridade do trabalhador e da
9.1) assegurar a oferta gratuita da educação de jovens e trabalhadora;
adultos a todos os que não tiveram acesso à educação básica na 10.3) fomentar a integração da educação de jovens e adultos
idade própria; com a educação profissional, em cursos planejados, de acordo
9.2) realizar diagnóstico dos jovens e adultos com ensino com as características do público da educação de jovens e
fundamental e médio incompletos, para identificar a demanda adultos e considerando as especificidades das populações
ativa por vagas na educação de jovens e adultos; itinerantes e do campo e das comunidades indígenas e
9.3) implementar ações de alfabetização de jovens e adultos quilombolas, inclusive na modalidade de educação a distância;
com garantia de continuidade da escolarização básica;

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10.4) ampliar as oportunidades profissionais dos jovens e próprias da atividade profissional, à contextualização
adultos com deficiência e baixo nível de escolaridade, por meio curricular e ao desenvolvimento da juventude;
do acesso à educação de jovens e adultos articulada à educação 11.5) ampliar a oferta de programas de reconhecimento de
profissional; saberes para fins de certificação profissional em nível técnico;
10.5) implantar programa nacional de reestruturação e 11.6) ampliar a oferta de matrículas gratuitas de educação
aquisição de equipamentos voltados à expansão e à melhoria da profissional técnica de nível médio pelas entidades privadas de
rede física de escolas públicas que atuam na educação de jovens formação profissional vinculadas ao sistema sindical e entidades
e adultos integrada à educação profissional, garantindo sem fins lucrativos de atendimento à pessoa com deficiência,
acessibilidade à pessoa com deficiência; com atuação exclusiva na modalidade;
10.6) estimular a diversificação curricular da educação de 11.7) expandir a oferta de financiamento estudantil à
jovens e adultos, articulando a formação básica e a preparação educação profissional técnica de nível médio oferecida em
para o mundo do trabalho e estabelecendo inter-relações entre instituições privadas de educação superior;
teoria e prática, nos eixos da ciência, do trabalho, da tecnologia 11.8) institucionalizar sistema de avaliação da qualidade da
e da cultura e cidadania, de forma a organizar o tempo e o educação profissional técnica de nível médio das redes escolares
espaço pedagógicos adequados às características desses alunos públicas e privadas;
e alunas; 11.9) expandir o atendimento do ensino médio gratuito
10.7) fomentar a produção de material didático, o integrado à formação profissional para as populações do campo
desenvolvimento de currículos e metodologias específicas, os e para as comunidades indígenas e quilombolas, de acordo com
instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e os seus interesses e necessidades;
laboratórios e a formação continuada de docentes das redes 11.10) expandir a oferta de educação profissional técnica de
públicas que atuam na educação de jovens e adultos articulada nível médio para as pessoas com deficiência, transtornos globais
à educação profissional; do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
10.8) fomentar a oferta pública de formação inicial e 11.11) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos
continuada para trabalhadores e trabalhadoras articulada à cursos técnicos de nível médio na Rede Federal de Educação
educação de jovens e adultos, em regime de colaboração e com Profissional, Científica e Tecnológica para 90% (noventa por
apoio de entidades privadas de formação profissional cento) e elevar, nos cursos presenciais, a relação de alunos (as)
vinculadas ao sistema sindical e de entidades sem fins lucrativos por professor para 20 (vinte);
de atendimento à pessoa com deficiência, com atuação exclusiva 11.12) elevar gradualmente o investimento em programas
na modalidade; de assistência estudantil e mecanismos de mobilidade
10.9) institucionalizar programa nacional de assistência ao acadêmica, visando a garantir as condições necessárias à
estudante, compreendendo ações de assistência social, permanência dos (as) estudantes e à conclusão dos cursos
financeira e de apoio psicopedagógico que contribuam para técnicos de nível médio;
garantir o acesso, a permanência, a aprendizagem e a conclusão 11.13) reduzir as desigualdades étnico-raciais e regionais no
com êxito da educação de jovens e adultos articulada à educação acesso e permanência na educação profissional técnica de nível
profissional; médio, inclusive mediante a adoção de políticas afirmativas, na
10.10) orientar a expansão da oferta de educação de jovens forma da lei;
e adultos articulada à educação profissional, de modo a atender 11.14) estruturar sistema nacional de informação
às pessoas privadas de liberdade nos estabelecimentos penais, profissional, articulando a oferta de formação das instituições
assegurando-se formação específica dos professores e das especializadas em educação profissional aos dados do mercado
professoras e implementação de diretrizes nacionais em regime de trabalho e a consultas promovidas em entidades
de colaboração; empresariais e de trabalhadores
10.11) implementar mecanismos de reconhecimento de
saberes dos jovens e adultos trabalhadores, a serem Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação
considerados na articulação curricular dos cursos de formação superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para
inicial e continuada e dos cursos técnicos de nível médio. 33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24
(vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e
Meta 11: triplicar as matrículas da educação profissional expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das novas
técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo matrículas, no segmento público.
menos 50% (cinquenta por cento) da expansão no segmento
público. Estratégias:

Estratégias: 12.1) otimizar a capacidade instalada da estrutura física e


11.1) expandir as matrículas de educação profissional de recursos humanos das instituições públicas de educação
técnica de nível médio na Rede Federal de Educação superior, mediante ações planejadas e coordenadas, de forma a
Profissional, Científica e Tecnológica, levando em consideração ampliar e interiorizar o acesso à graduação;
a responsabilidade dos Institutos na ordenação territorial, sua 12.2) ampliar a oferta de vagas, por meio da expansão e
vinculação com arranjos produtivos, sociais e culturais locais e interiorização da rede federal de educação superior, da Rede
regionais, bem como a interiorização da educação profissional; Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e do
11.2) fomentar a expansão da oferta de educação sistema Universidade Aberta do Brasil, considerando a
profissional técnica de nível médio nas redes públicas estaduais densidade populacional, a oferta de vagas públicas em relação à
de ensino; população na idade de referência e observadas as
11.3) fomentar a expansão da oferta de educação características regionais das micro e mesorregiões definidas
profissional técnica de nível médio na modalidade de educação pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
a distância, com a finalidade de ampliar a oferta e democratizar IBGE, uniformizando a expansão no território nacional;
o acesso à educação profissional pública e gratuita, assegurado 12.3) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos
padrão de qualidade; cursos de graduação presenciais nas universidades públicas
11.4) estimular a expansão do estágio na educação para 90% (noventa por cento), ofertar, no mínimo, um terço das
profissional técnica de nível médio e do ensino médio regular, vagas em cursos noturnos e elevar a relação de estudantes por
preservando-se seu caráter pedagógico integrado ao itinerário professor (a) para 18 (dezoito), mediante estratégias de
formativo do aluno, visando à formação de qualificações

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aproveitamento de créditos e inovações acadêmicas que procedimentos adotados na área de avaliação, regulação e
valorizem a aquisição de competências de nível superior; supervisão, em relação aos processos de autorização de cursos e
12.4) fomentar a oferta de educação superior pública e instituições, de reconhecimento ou renovação de
gratuita prioritariamente para a formação de professores e reconhecimento de cursos superiores e de credenciamento ou
professoras para a educação básica, sobretudo nas áreas de recredenciamento de instituições, no âmbito do sistema federal
ciências e matemática, bem como para atender ao défice de de ensino;
profissionais em áreas específicas; 12.20) ampliar, no âmbito do Fundo de Financiamento ao
12.5) ampliar as políticas de inclusão e de assistência Estudante do Ensino Superior - FIES, de que trata a Lei nº
estudantil dirigidas aos (às) estudantes de instituições públicas, 10.260, de 12 de julho de 2001, e do Programa Universidade
bolsistas de instituições privadas de educação superior e para Todos - PROUNI, de que trata a Lei no 11.096, de 13 de
beneficiários do Fundo de Financiamento Estudantil - FIES, de janeiro de 2005, os benefícios destinados à concessão de
que trata a Lei no 10.260, de 12 de julho de 2001, na educação financiamento a estudantes regularmente matriculados em
superior, de modo a reduzir as desigualdades étnico-raciais e cursos superiores presenciais ou a distância, com avaliação
ampliar as taxas de acesso e permanência na educação superior positiva, de acordo com regulamentação própria, nos processos
de estudantes egressos da escola pública, afrodescendentes e conduzidos pelo Ministério da Educação;
indígenas e de estudantes com deficiência, transtornos globais 12.21) fortalecer as redes físicas de laboratórios
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, de multifuncionais das IES e ICTs nas áreas estratégicas definidas
forma a apoiar seu sucesso acadêmico; pela política e estratégias nacionais de ciência, tecnologia e
12.6) expandir o financiamento estudantil por meio do inovação.
Fundo de Financiamento Estudantil - FIES, de que trata a Lei no Meta 13: elevar a qualidade da educação superior e ampliar
10.260, de 12 de julho de 2001, com a constituição de fundo a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo
garantidor do financiamento, de forma a dispensar exercício no conjunto do sistema de educação superior para
progressivamente a exigência de fiador; 75% (setenta e cinco por cento), sendo, do total, no mínimo, 35%
12.7) assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de (trinta e cinco por cento) doutores.
créditos curriculares exigidos para a graduação em programas
e projetos de extensão universitária, orientando sua ação, Estratégias:
prioritariamente, para áreas de grande pertinência social;
12.8) ampliar a oferta de estágio como parte da formação 13.1) aperfeiçoar o Sistema Nacional de Avaliação da
na educação superior; Educação Superior - SINAES, de que trata a Lei no 10.861, de 14
12.9) ampliar a participação proporcional de grupos de abril de 2004, fortalecendo as ações de avaliação, regulação
historicamente desfavorecidos na educação superior, inclusive e supervisão;
mediante a adoção de políticas afirmativas, na forma da lei; 13.2) ampliar a cobertura do Exame Nacional de
12.10) assegurar condições de acessibilidade nas Desempenho de Estudantes - ENADE, de modo a ampliar o
instituições de educação superior, na forma da legislação; quantitativo de estudantes e de áreas avaliadas no que diz
12.11) fomentar estudos e pesquisas que analisem a respeito à aprendizagem resultante da graduação;
necessidade de articulação entre formação, currículo, pesquisa 13.3) induzir processo contínuo de auto avaliação das
e mundo do trabalho, considerando as necessidades econômicas, instituições de educação superior, fortalecendo a participação
sociais e culturais do País; das comissões próprias de avaliação, bem como a aplicação de
12.12) consolidar e ampliar programas e ações de incentivo instrumentos de avaliação que orientem as dimensões a serem
à mobilidade estudantil e docente em cursos de graduação e pós- fortalecidas, destacando-se a qualificação e a dedicação do
graduação, em âmbito nacional e internacional, tendo em vista corpo docente;
o enriquecimento da formação de nível superior; 13.4) promover a melhoria da qualidade dos cursos de
12.13) expandir atendimento específico a populações do pedagogia e licenciaturas, por meio da aplicação de
campo e comunidades indígenas e quilombolas, em relação a instrumento próprio de avaliação aprovado pela Comissão
acesso, permanência, conclusão e formação de profissionais Nacional de Avaliação da Educação Superior - CONAES,
para atuação nessas populações; integrando-os às demandas e necessidades das redes de
12.14) mapear a demanda e fomentar a oferta de formação educação básica, de modo a permitir aos graduandos a
de pessoal de nível superior, destacadamente a que se refere à aquisição das qualificações necessárias a conduzir o processo
formação nas áreas de ciências e matemática, considerando as pedagógico de seus futuros alunos (as), combinando formação
necessidades do desenvolvimento do País, a inovação geral e específica com a prática didática, além da educação para
tecnológica e a melhoria da qualidade da educação básica; as relações étnico-raciais, a diversidade e as necessidades das
12.15) institucionalizar programa de composição de acervo pessoas com deficiência;
digital de referências bibliográficas e audiovisuais para os 13.5) elevar o padrão de qualidade das universidades,
cursos de graduação, assegurada a acessibilidade às pessoas direcionando sua atividade, de modo que realizem,
com deficiência; efetivamente, pesquisa institucionalizada, articulada a
12.16) consolidar processos seletivos nacionais e regionais programas de pós-graduação stricto sensu;
para acesso à educação superior como forma de superar exames 13.6) substituir o Exame Nacional de Desempenho de
vestibulares isolados; Estudantes - ENADE aplicado ao final do primeiro ano do curso
12.17) estimular mecanismos para ocupar as vagas ociosas de graduação pelo Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, a
em cada período letivo na educação superior pública; fim de apurar o valor agregado dos cursos de graduação;
12.18) estimular a expansão e reestruturação das 13.7) fomentar a formação de consórcios entre instituições
instituições de educação superior estaduais e municipais cujo públicas de educação superior, com vistas a potencializar a
ensino seja gratuito, por meio de apoio técnico e financeiro do atuação regional, inclusive por meio de plano de
Governo Federal, mediante termo de adesão ao programa de desenvolvimento institucional integrado, assegurando maior
reestruturação, na forma de regulamento, que considere a sua visibilidade nacional e internacional às atividades de ensino,
contribuição para a ampliação de vagas, a capacidade fiscal e pesquisa e extensão;
as necessidades dos sistemas de ensino dos entes mantenedores 13.8) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos
na oferta e qualidade da educação básica; cursos de graduação presenciais nas universidades públicas, de
12.19) reestruturar com ênfase na melhoria de prazos e modo a atingir 90% (noventa por cento) e, nas instituições
qualidade da decisão, no prazo de 2 (dois) anos, os privadas, 75% (setenta e cinco por cento), em 2020, e fomentar

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a melhoria dos resultados de aprendizagem, de modo que, em 5 14.15) estimular a pesquisa aplicada, no âmbito das IES e
(cinco) anos, pelo menos 60% (sessenta por cento) dos das ICTs, de modo a incrementar a inovação e a produção e
estudantes apresentem desempenho positivo igual ou superior a registro de patentes.
60% (sessenta por cento) no Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes - ENADE e, no último ano de vigência, pelo menos Meta 15: garantir, em regime de colaboração entre a União,
75% (setenta e cinco por cento) dos estudantes obtenham os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de 1 (um)
desempenho positivo igual ou superior a 75% (setenta e cinco ano de vigência deste PNE, política nacional de formação dos
por cento) nesse exame, em cada área de formação profissional; profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do
13.9) promover a formação inicial e continuada dos (as) caput do art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
profissionais técnico-administrativos da educação superior. assegurado que todos os professores e as professoras da
educação básica possuam formação específica de nível superior,
Meta 14: elevar gradualmente o número de matrículas na obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em
pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual que atuam.
de 60.000 (sessenta mil) mestres e 25.000 (vinte e cinco mil)
doutores. Estratégias:

Estratégias: 15.1) atuar, conjuntamente, com base em plano estratégico


que apresente diagnóstico das necessidades de formação de
14.1) expandir o financiamento da pós-graduação stricto profissionais da educação e da capacidade de atendimento, por
sensu por meio das agências oficiais de fomento; parte de instituições públicas e comunitárias de educação
14.2) estimular a integração e a atuação articulada entre a superior existentes nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - defina obrigações recíprocas entre os partícipes;
CAPES e as agências estaduais de fomento à pesquisa; 15.2) consolidar o financiamento estudantil a estudantes
matriculados em cursos de licenciatura com avaliação positiva
14.3) expandir o financiamento estudantil por meio do Fies pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior -
à pós-graduação stricto sensu; SINAES, na forma da Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004,
14.4) expandir a oferta de cursos de pós-graduação stricto inclusive a amortização do saldo devedor pela docência efetiva
sensu, utilizando inclusive metodologias, recursos e tecnologias na rede pública de educação básica;
de educação a distância; 15.3) ampliar programa permanente de iniciação à
14.5) implementar ações para reduzir as desigualdades docência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, a
étnico-raciais e regionais e para favorecer o acesso das fim de aprimorar a formação de profissionais para atuar no
populações do campo e das comunidades indígenas e magistério da educação básica;
quilombolas a programas de mestrado e doutorado; 15.4) consolidar e ampliar plataforma eletrônica para
14.6) ampliar a oferta de programas de pós-graduação organizar a oferta e as matrículas em cursos de formação inicial
stricto sensu, especialmente os de doutorado, nos campi novos e continuada de profissionais da educação, bem como para
abertos em decorrência dos programas de expansão e divulgar e atualizar seus currículos eletrônicos;
interiorização das instituições superiores públicas; 15.5) implementar programas específicos para formação de
14.7) manter e expandir programa de acervo digital de profissionais da educação para as escolas do campo e de
referências bibliográficas para os cursos de pós-graduação, comunidades indígenas e quilombolas e para a educação
assegurada a acessibilidade às pessoas com deficiência; especial;
14.8) estimular a participação das mulheres nos cursos de 15.6) promover a reforma curricular dos cursos de
pós-graduação stricto sensu, em particular aqueles ligados às licenciatura e estimular a renovação pedagógica, de forma a
áreas de Engenharia, Matemática, Física, Química, Informática assegurar o foco no aprendizado do (a) aluno (a), dividindo a
e outros no campo das ciências; carga horária em formação geral, formação na área do saber e
14.9) consolidar programas, projetos e ações que objetivem didática específica e incorporando as modernas tecnologias de
a internacionalização da pesquisa e da pós-graduação informação e comunicação, em articulação com a base nacional
brasileiras, incentivando a atuação em rede e o fortalecimento comum dos currículos da educação básica, de que tratam as
de grupos de pesquisa; estratégias 2.1, 2.2, 3.2 e 3.3 deste PNE;
14.10) promover o intercâmbio científico e tecnológico, 15.7) garantir, por meio das funções de avaliação, regulação
nacional e internacional, entre as instituições de ensino, e supervisão da educação superior, a plena implementação das
pesquisa e extensão; respectivas diretrizes curriculares;
14.11) ampliar o investimento em pesquisas com foco em 15.8) valorizar as práticas de ensino e os estágios nos cursos
desenvolvimento e estímulo à inovação, bem como incrementar de formação de nível médio e superior dos profissionais da
a formação de recursos humanos para a inovação, de modo a educação, visando ao trabalho sistemático de articulação entre
buscar o aumento da competitividade das empresas de base a formação acadêmica e as demandas da educação básica;
tecnológica; 15.9) implementar cursos e programas especiais para
14.12) ampliar o investimento na formação de doutores de assegurar formação específica na educação superior, nas
modo a atingir a proporção de 4 (quatro) doutores por 1.000 respectivas áreas de atuação, aos docentes com formação de
(mil) habitantes; nível médio na modalidade normal, não licenciados ou
14.13) aumentar qualitativa e quantitativamente o licenciados em área diversa da de atuação docente, em efetivo
desempenho científico e tecnológico do País e a competitividade exercício;
internacional da pesquisa brasileira, ampliando a cooperação 15.10) fomentar a oferta de cursos técnicos de nível médio e
científica com empresas, Instituições de Educação Superior - IES tecnológicos de nível superior destinados à formação, nas
e demais Instituições Científicas e Tecnológicas - ICTs; respectivas áreas de atuação, dos (as) profissionais da educação
14.14) estimular a pesquisa científica e de inovação e de outros segmentos que não os do magistério;
promover a formação de recursos humanos que valorize a 15.11) implantar, no prazo de 1 (um) ano de vigência desta
diversidade regional e a biodiversidade da região amazônica e Lei, política nacional de formação continuada para os (as)
do cerrado, bem como a gestão de recursos hídricos no profissionais da educação de outros segmentos que não os do
semiárido para mitigação dos efeitos da seca e geração de magistério, construída em regime de colaboração entre os entes
emprego e renda na região; federados;

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15.12) instituir programa de concessão de bolsas de estudos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD,
para que os professores de idiomas das escolas públicas de periodicamente divulgados pela Fundação Instituto Brasileiro
educação básica realizem estudos de imersão e aperfeiçoamento de Geografia e Estatística - IBGE;
nos países que tenham como idioma nativo as línguas que 17.3) implementar, no âmbito da União, dos Estados, do
lecionem; Distrito Federal e dos Municípios, planos de Carreira para os
15.13) desenvolver modelos de formação docente para a (as) profissionais do magistério das redes públicas de educação
educação profissional que valorizem a experiência prática, por básica, observados os critérios estabelecidos na Lei no 11.738, de
meio da oferta, nas redes federal e estaduais de educação 16 de julho de 2008, com implantação gradual do cumprimento
profissional, de cursos voltados à complementação e da jornada de trabalho em um único estabelecimento escolar;
certificação didático-pedagógica de profissionais experientes. 17.4) ampliar a assistência financeira específica da União
aos entes federados para implementação de políticas de
Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% valorização dos (as) profissionais do magistério, em particular
(cinquenta por cento) dos professores da educação básica, até o o piso salarial nacional profissional.
último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos (as) os (as)
profissionais da educação básica formação continuada em sua Meta 18: assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existência
área de atuação, considerando as necessidades, demandas e de planos de Carreira para os (as) profissionais da educação
contextualizações dos sistemas de ensino. básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para
o plano de Carreira dos (as) profissionais da educação básica
Estratégias: pública, tomar como referência o piso salarial nacional
profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do
16.1) realizar, em regime de colaboração, o planejamento art. 206 da Constituição Federal.
estratégico para dimensionamento da demanda por formação
continuada e fomentar a respectiva oferta por parte das Estratégias:
instituições públicas de educação superior, de forma orgânica e
articulada às políticas de formação dos Estados, do Distrito 18.1) estruturar as redes públicas de educação básica de
Federal e dos Municípios; modo que, até o início do terceiro ano de vigência deste PNE,
16.2) consolidar política nacional de formação de 90% (noventa por cento), no mínimo, dos respectivos
professores e professoras da educação básica, definindo profissionais do magistério e 50% (cinquenta por cento), no
diretrizes nacionais, áreas prioritárias, instituições formadoras mínimo, dos respectivos profissionais da educação não docentes
e processos de certificação das atividades formativas; sejam ocupantes de cargos de provimento efetivo e estejam em
16.3) expandir programa de composição de acervo de obras exercício nas redes escolares a que se encontrem vinculados;
didáticas, paradidáticas e de literatura e de dicionários, e 18.2) implantar, nas redes públicas de educação básica e
programa específico de acesso a bens culturais, incluindo obras superior, acompanhamento dos profissionais iniciantes,
e materiais produzidos em Libras e em Braille, sem prejuízo de supervisionados por equipe de profissionais experientes, a fim de
outros, a serem disponibilizados para os professores e as fundamentar, com base em avaliação documentada, a decisão
professoras da rede pública de educação básica, favorecendo a pela efetivação após o estágio probatório e oferecer, durante
construção do conhecimento e a valorização da cultura da esse período, curso de aprofundamento de estudos na área de
investigação; atuação do (a) professor (a), com destaque para os conteúdos a
16.4) ampliar e consolidar portal eletrônico para subsidiar serem ensinados e as metodologias de ensino de cada disciplina;
a atuação dos professores e das professoras da educação básica, 18.3) realizar, por iniciativa do Ministério da Educação, a
disponibilizando gratuitamente materiais didáticos e cada 2 (dois) anos a partir do segundo ano de vigência deste
pedagógicos suplementares, inclusive aqueles com formato PNE, prova nacional para subsidiar os Estados, o Distrito
acessível; Federal e os Municípios, mediante adesão, na realização de
16.5) ampliar a oferta de bolsas de estudo para pós- concursos públicos de admissão de profissionais do magistério
graduação dos professores e das professoras e demais da educação básica pública;
profissionais da educação básica; 18.4) prever, nos planos de Carreira dos profissionais da
16.6) fortalecer a formação dos professores e das educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
professoras das escolas públicas de educação básica, por meio licenças remuneradas e incentivos para qualificação
da implementação das ações do Plano Nacional do Livro e profissional, inclusive em nível de pós-graduação stricto sensu;
Leitura e da instituição de programa nacional de 18.5) realizar anualmente, a partir do segundo ano de
disponibilização de recursos para acesso a bens culturais pelo vigência deste PNE, por iniciativa do Ministério da Educação, em
magistério público. regime de colaboração, o censo dos (as) profissionais da
educação básica de outros segmentos que não os do magistério;
Meta 17: valorizar os (as) profissionais do magistério das 18.6) considerar as especificidades socioculturais das
redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu escolas do campo e das comunidades indígenas e quilombolas no
rendimento médio ao dos (as) demais profissionais com provimento de cargos efetivos para essas escolas;
escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência 18.7) priorizar o repasse de transferências federais
deste PNE. voluntárias, na área de educação, para os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios que tenham aprovado lei específica
Estratégias: estabelecendo planos de Carreira para os (as) profissionais da
educação;
17.1) constituir, por iniciativa do Ministério da Educação, 18.8) estimular a existência de comissões permanentes de
até o final do primeiro ano de vigência deste PNE, fórum profissionais da educação de todos os sistemas de ensino, em
permanente, com representação da União, dos Estados, do todas as instâncias da Federação, para subsidiar os órgãos
Distrito Federal, dos Municípios e dos trabalhadores da competentes na elaboração, reestruturação e implementação
educação, para acompanhamento da atualização progressiva dos planos de Carreira.
do valor do piso salarial nacional para os profissionais do
magistério público da educação básica; Meta 19: assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos,
17.2) constituir como tarefa do fórum permanente o para a efetivação da gestão democrática da educação,
acompanhamento da evolução salarial por meio de indicadores associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à

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consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas 20.2) aperfeiçoar e ampliar os mecanismos de
públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto. acompanhamento da arrecadação da contribuição social do
salário-educação;
Estratégias: 20.3) destinar à manutenção e desenvolvimento do ensino,
em acréscimo aos recursos vinculados nos termos do art. 212 da
19.1) priorizar o repasse de transferências voluntárias da Constituição Federal, na forma da lei específica, a parcela da
União na área da educação para os entes federados que tenham participação no resultado ou da compensação financeira pela
aprovado legislação específica que regulamente a matéria na exploração de petróleo e gás natural e outros recursos, com a
área de sua abrangência, respeitando-se a legislação nacional, e finalidade de cumprimento da meta prevista no inciso VI do
que considere, conjuntamente, para a nomeação dos diretores e caput do art. 214 da Constituição Federal;
diretoras de escola, critérios técnicos de mérito e desempenho, 20.4) fortalecer os mecanismos e os instrumentos que
bem como a participação da comunidade escolar; assegurem, nos termos do parágrafo único do art. 48 da Lei
19.2) ampliar os programas de apoio e formação aos (às) Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, a transparência e
conselheiros (as) dos conselhos de acompanhamento e controle o controle social na utilização dos recursos públicos aplicados
social do Fundeb, dos conselhos de alimentação escolar, dos em educação, especialmente a realização de audiências
conselhos regionais e de outros e aos (às) representantes públicas, a criação de portais eletrônicos de transparência e a
educacionais em demais conselhos de acompanhamento de capacitação dos membros de conselhos de acompanhamento e
políticas públicas, garantindo a esses colegiados recursos controle social do Fundeb, com a colaboração entre o Ministério
financeiros, espaço físico adequado, equipamentos e meios de da Educação, as Secretarias de Educação dos Estados e dos
transporte para visitas à rede escolar, com vistas ao bom Municípios e os Tribunais de Contas da União, dos Estados e dos
desempenho de suas funções; Municípios;
19.3) incentivar os Estados, o Distrito Federal e os 20.5) desenvolver, por meio do Instituto Nacional de Estudos
Municípios a constituírem Fóruns Permanentes de Educação, e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, estudos e
com o intuito de coordenar as conferências municipais, acompanhamento regular dos investimentos e custos por aluno
estaduais e distrital bem como efetuar o acompanhamento da da educação básica e superior pública, em todas as suas etapas
execução deste PNE e dos seus planos de educação; e modalidades;
19.4) estimular, em todas as redes de educação básica, a 20.6) no prazo de 2 (dois) anos da vigência deste PNE, será
constituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e implantado o Custo Aluno-Qualidade inicial - CAQi, referenciado
associações de pais, assegurando-se lhes, inclusive, espaços no conjunto de padrões mínimos estabelecidos na legislação
adequados e condições de funcionamento nas escolas e educacional e cujo financiamento será calculado com base nos
fomentando a sua articulação orgânica com os conselhos respectivos insumos indispensáveis ao processo de ensino-
escolares, por meio das respectivas representações; aprendizagem e será progressivamente reajustado até a
19.5) estimular a constituição e o fortalecimento de implementação plena do Custo Aluno Qualidade - CAQ;
conselhos escolares e conselhos municipais de educação, como 20.7) implementar o Custo Aluno Qualidade - CAQ como
instrumentos de participação e fiscalização na gestão escolar e parâmetro para o financiamento da educação de todas etapas e
educacional, inclusive por meio de programas de formação de modalidades da educação básica, a partir do cálculo e do
conselheiros, assegurando-se condições de funcionamento acompanhamento regular dos indicadores de gastos
autônomo; educacionais com investimentos em qualificação e remuneração
19.6) estimular a participação e a consulta de profissionais do pessoal docente e dos demais profissionais da educação
da educação, alunos (as) e seus familiares na formulação dos pública, em aquisição, manutenção, construção e conservação
projetos político-pedagógicos, currículos escolares, planos de de instalações e equipamentos necessários ao ensino e em
gestão escolar e regimentos escolares, assegurando a aquisição de material didático-escolar, alimentação e
participação dos pais na avaliação de docentes e gestores transporte escolar;
escolares; 20.8) o CAQ será definido no prazo de 3 (três) anos e será
19.7) favorecer processos de autonomia pedagógica, continuamente ajustado, com base em metodologia formulada
administrativa e de gestão financeira nos estabelecimentos de pelo Ministério da Educação - MEC, e acompanhado pelo Fórum
ensino; Nacional de Educação - FNE, pelo Conselho Nacional de
19.8) desenvolver programas de formação de diretores e Educação - CNE e pelas Comissões de Educação da Câmara dos
gestores escolares, bem como aplicar prova nacional específica, Deputados e de Educação, Cultura e Esportes do Senado Federal;
a fim de subsidiar a definição de critérios objetivos para o 20.9) regulamentar o parágrafo único do art. 23 e o art. 211
provimento dos cargos, cujos resultados possam ser utilizados da Constituição Federal, no prazo de 2 (dois) anos, por lei
por adesão. complementar, de forma a estabelecer as normas de cooperação
entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, em
Meta 20: ampliar o investimento público em educação matéria educacional, e a articulação do sistema nacional de
pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete educação em regime de colaboração, com equilíbrio na
por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o (quinto) repartição das responsabilidades e dos recursos e efetivo
ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez cumprimento das funções redistributiva e supletiva da União no
por cento) do PIB ao final do decênio. combate às desigualdades educacionais regionais, com especial
atenção às regiões Norte e Nordeste
Estratégias: 20.10) caberá à União, na forma da lei, a complementação
de recursos financeiros a todos os Estados, ao Distrito Federal e
20.1) garantir fontes de financiamento permanentes e aos Municípios que não conseguirem atingir o valor do CAQi e,
sustentáveis para todos os níveis, etapas e modalidades da posteriormente, do CAQ;
educação básica, observando-se as políticas de colaboração 20.11) aprovar, no prazo de 1 (um) ano, Lei de
entre os entes federados, em especial as decorrentes do art. 60 Responsabilidade Educacional, assegurando padrão de
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e do § 1° do qualidade na educação básica, em cada sistema e rede de ensino,
art. 75 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que tratam aferida pelo processo de metas de qualidade aferidas por
da capacidade de atendimento e do esforço fiscal de cada ente institutos oficiais de avaliação educacionais;
federado, com vistas a atender suas demandas educacionais à 20.12) definir critérios para distribuição dos recursos
luz do padrão de qualidade nacional; adicionais dirigidos à educação ao longo do decênio, que

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considerem a equalização das oportunidades educacionais, a II. A execução do PNE e o cumprimento de suas metas
vulnerabilidade socioeconômica e o compromisso técnico e de serão objeto de monitoramento contínuo e de avaliações
gestão do sistema de ensino, a serem pactuados na instância periódicas ao longo dos 10 (dez) anos de sua vigência.
prevista no § 5° do art. 7° desta Lei. III. Compete ao INEP divulgar os resultados do
monitoramento e das avaliações em seu sítio institucional.
Questões Assinale a alternativa que contém a resposta CORRETA.
(A) Apenas as assertivas I e III são verdadeiras.
01. (SAP/SP- Analista Sócio Cultural-Pedagogia- (B) Apenas a assertiva III é falsa
VUNESP) O Plano Nacional de Educação (PNE) constitui-se em (C) Apenas a assertiva II é falsa.
uma importante política educacional, traça diretrizes e metas (D) Apenas a assertiva III é verdadeira.
para a Educação no Brasil e tem prazo de até dez anos para que (E) Apenas assertiva I é verdadeira.
todas elas sejam cumpridas. Entre as principais metas estão a
melhoria da qualidade do ensino e a erradicação do 05. (IF/SC- Técnico de Laboratório- Eletroeletrônica) O
analfabetismo. É correto afirmar que o PNE é um plano Plano Nacional de Educação – PNE aprovado em 2014 ao se
(A) global, de toda a educação. tratar especificamente da Educação Profissional, estabeleceu
(B) da União. em sua Meta 11 - triplicar as matrículas da educação
(C) de governo. profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade
(D) da Secretaria de Educação. da oferta e pelo menos 50% (cinquenta por cento) da expansão
(E) da rede de ensino estadual ou municipal. no segmento público.
São estratégias para atingir a Meta 11 do PNE nos
02. (UFPE- Pedagogo- COVEST-COPSET) Quais das próximos 10 anos, EXCETO.
alternativas são compatíveis com as diretrizes estabelecidas (A) Elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos
no PNE para a educação básica? cursos técnicos de nível médio na Rede Federal de Educação
1) Assegurar que, em cinco anos, pelo menos 50%, e, em Profissional, Científica e Tecnológica para 90% (noventa por
10 anos, a totalidade das escolas disponham de equipamento cento) e elevar, nos cursos presenciais, a relação de alunos por
de informática para modernização da administração e para professor para 20 (vinte).
apoio à melhoria do ensino e da aprendizagem. (B) Expandir as matrículas de educação profissional
2) Adotar medidas para a universalização progressiva das técnica de nível médio na Rede Federal de Educação
redes de comunicação, para melhoria do ensino e da Profissional, Científica e Tecnológica, levando em
aprendizagem. consideração a responsabilidade dos Institutos na ordenação
3) Assegurar a autonomia das escolas, tanto no que diz territorial, sua vinculação com arranjos produtivos, sociais e
respeito ao projeto pedagógico como em termos de gerência culturais locais e regionais, bem como a interiorização da
de recursos mínimos para a manutenção do cotidiano escolar. educação profissional.
4) Adotar medidas para ampliar a oferta diurna e manter a (C) Elevar gradualmente o investimento em programas de
oferta noturna suficiente para garantir o atendimento dos assistência estudantil e mecanismos de mobilidade acadêmica,
alunos que trabalham. visando a garantir as condições necessárias à permanência dos
5) Proceder, em dois anos, a uma revisão da organização estudantes e à conclusão dos cursos técnicos de nível médio.
didático-pedagógica e administrativa do ensino noturno, de (D) Reduzir as desigualdades étnico-raciais e regionais no
forma a adequá-lo às necessidades do aluno trabalhador, sem acesso e permanência na educação profissional técnica de
prejuízo da qualidade do ensino. nível médio, inclusive mediante a adoção de políticas
Estão corretas: afirmativas
(A) 1, 2 e 3, apenas. (E) Otimizar a capacidade dos recursos físicos e humanos
(B) 2, 3 e 4, apenas. já existentes nas Instituições da Rede Federal de Educação
(C) 1, 2, 3 4, apenas. Profissional Científica e Tecnológica mediante ações
(D) 4, 3, 2 e 5, apenas. planejadas e coordenadas de forma a ampliar e interiorizar o
(E) 1, 2, 3, 4 e 5. acesso à educação profissional.

03. (IF/SP- Professor-Pedagogia- FUNDEP) Sobre o Gabarito


Plano Nacional de Educação (PNE), é INCORRETO afirmar que 01.A / 02.E / 03.C / 04.B / 05.E
(A) o ‘Dia do Plano Nacional de Educação’, é comemorado,
anualmente, em 12 de dezembro.
(B) entre os seus objetivos está o da democratização da 10 Lei Estadual Nº
gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais. 16.025/2016 (Plano Estadual
(C) compete exclusivamente ao Estado, com base no Plano
Nacional de Educação, elaborar o plano decenal. de Educação)
(D) para esse plano, a melhoria da qualidade do ensino
perpassa pela valorização do magistério, uma vez que os
docentes exercem um papel decisivo no processo educacional. LEI N.º 16.025, DE 30.05.169

04. (IF/SC- Técnico de Laboratório- Eletroeletrônica) Dispõe sobre o Plano Estadual De Educação (2016/2024).
Em 2014, após anos de construção foi aprovado o Plano
Nacional de Educação - PNE, por meio da Lei nº 13.005, com O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ.
vistas a dar cumprimento ao artigo 214 da Constituição FAÇO SABER QUE A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DECRETOU
Federal Brasileira. Sobre o PNE, analise as assertivas abaixo. E EU SANCIONO A SEGUINTE LEI:
I. São diretrizes do PNE a erradicação do analfabetismo e a
promoção do princípio da gestão democrática da educação Art. 1º Fica instituído, na forma do anexo único, o Plano
pública. Estadual de Educação do Ceará - PEE, com metas e estratégias

9https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-

tematica/educacao/item/4019-lei-n-16-025-de-30-05-16-d-o-01-06-16. Acesso
em 25/07/2018 às 16h00min.

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fixadas para o período de 2016 a 2024, na área da educação, III - analisar e propor estratégias de investimento público
como resultado da participação da comunidade escolar e da em educação para atender ao cumprimento das metas do PEE;
sociedade civil. IV - assegurar, aos alunos inseridos por este Plano Estadual
de Educação, a ascensão ao ano subsequente, exclusivamente,
Art. 2º O Plano Estadual de Educação é o instrumento mediante critério meritocrático e de desempenho.
balizador e norteador das políticas públicas relacionadas à § 2º As ações para composição do Conselho de Pais e Mestres,
educação no Estado do Ceará, o qual contempla metas e estabelecido no inciso VI deste artigo, serão definidas mediante
estratégias a serem viabilizadas pelo Estado e por seus portaria da Secretaria da Educação do Estado do Ceará –
municípios, em colaboração com a União e guardando SEDUC.
conformidade com o Plano Nacional de Educação, aprovado § 3º Dentre os membros do Conselho a que se refere o
pela Lei Federal nº 13.005, de 24 de junho de 2014, e com a Lei parágrafo anterior, deverão estar presentes ao menos 1 (um)
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Federal nº representante da Associação de Pais e Mestres da Criança
9.394, de 20 de dezembro de 1996. Deficiente do Ceará e 1 (um) representante da Federação das
Parágrafo único. É vedada a inserção de uma única corrente Apaes do Estado do Ceará – FEAPAES- CE.
ideológica ou doutrina não provada ou amplamente § 4º A representação da sociedade civil, estabelecida no
controversa na educação estadual, em obediência aos princípios inciso VII, será formada por:
normatizados na Constituição Federal de 1988 e art. 12, inciso I – 1 (um) representante de uma instituição pública de
IV, do Pacto de San José da Costa Rica. ensino superior;
II – 1 (um) representante de uma instituição particular de
Art. 3º São diretrizes do Plano Estadual de Educação: ensino superior;
I - erradicação do analfabetismo; III – 1 (um) representante de uma instituição particular de
II - universalização do atendimento escolar; ensino de reconhecido destaque em educação básica;
III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase IV – 1 (um) representante da Ordem dos Advogados do Brasil
na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas – Seccional Ceará;
de discriminação; V – 1 (um) representante do Centro de Defesa da Criança e
IV - melhoria da qualidade do ensino; do Adolescente do Ceará – CEDECA;
V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase VI – 1 (um) representante da Associação dos Jovens
nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade, Empresários do Ceará – AJE;
em especial no respeito ao próximo, na solidariedade, na VII – 1 (um) representante de uma federação do setor
honestidade e no trabalho com dignidade; produtivo;
VI - promoção da educação para o respeito aos direitos VIII – 1 (um) representante de uma federação de
humanos, às diferenças e à sustentabilidade socioambiental; trabalhadores.
VII - promoção humanística, cultural, científica e
tecnológica do Ceará; Art. 5º A medição de índices relativos à educação deve ser
VIII - valorização dos profissionais da educação; realizada a partir de indicadores claros, objetivos, regulares e
IX – garantir a equidade educacional, promovendo um que permitam uma análise comparativa com os demais Estados
sistema inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades de e um diagnóstico eficaz da educação cearense.
ensino; Parágrafo único. Para fins do disposto no caput deste artigo,
X - fortalecimento da gestão democrática da educação e dos será dada preferência a indicadores de reconhecimento
princípios que a fundamentam; internacional, nacional ou regional, nesta ordem, tais como o
XI – promoção da educação para o respeito aos pais e PISA e o IDEB.
responsáveis, bem como aos demais entes familiares, com ênfase
na valorização das famílias; Art. 6º O Estado promoverá, em colaboração com os
XII – priorizar a instituição do ensino integral na rede municípios e com a União, até o ano de 2024, pelo menos, 2
educacional pública cearense; (duas) conferências estaduais de educação, com intervalo de até
XIII – priorizar os investimentos educacionais nos 4 (quatro) anos entre elas, com o objetivo de avaliar e monitorar
municípios e regiões com níveis baixos de IDH e IDH-E; a execução do plano e subsidiar ajustes e revisões, bem como já
XIV – garantir a superação das desigualdades educacionais, visando à elaboração do próximo Plano Estadual de Educação.
com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas § 1º A conferência estadual de educação e o processo de
as formas de discriminação; elaboração do próximo Plano Estadual de Educação serão
XV – impede, sob quaisquer pretextos, a utilização de realizados com ampla participação de representantes da
ideologia de gênero na educação estadual. comunidade educacional e da sociedade civil.
§ 2º As datas de realização das conferências estaduais, a que
Art. 4º A execução do PEE e o cumprimento de suas metas se refere o caput deste artigo, serão disponibilizadas no sítio
serão objeto de monitoramento contínuo e de avaliações eletrônico do Governo do Estado, em ambiente de fácil acesso e
periódicas por parte das seguintes instâncias: publicadas com antecedência mínima de 30 (trinta) dias,
I - Secretaria Estadual da Educação; assegurando que a informação chegue a todos os
II - Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior; parlamentares, Câmaras e Prefeituras cearenses, de modo a
III - Comissão de Educação da Assembleia Legislativa; possibilitar a efetiva participação da sociedade civil e dos
IV - Conselho Estadual de Educação; demais interessados.
V - Fórum Estadual de Educação;
VI - Conselho de Pais e Mestres; Art. 7º O Estado e os municípios manterão regime de
VII - Representação da sociedade civil; colaboração com a participação da União para implemento das
VIII - Conselhos Municipais de Educação. metas e das estratégias do PEE, compartilhando
§ 1º Compete, ainda, às instâncias referidas nos incisos responsabilidades, e, entre outras medidas, instituindo,
do caput: instância permanente de negociação, cooperação e pactuação
I - divulgar os resultados do monitoramento e das entre gestores municipais e estaduais de educação.
avaliações; § 1º O Estado, em colaboração com os municípios, de acordo
II - analisar e propor políticas públicas para assegurar a com a Lei Federal nº 13.005 de 2014, divulgará o PEE e a
implementação das estratégias e o cumprimento das metas; progressiva implementação das estratégias para a

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concretização das metas constantes do anexo único desta Lei, de Art. 14. Fica acrescido parágrafo único ao art. 6º da Lei nº
forma a garantir o amplo acesso da população ao plano. 10.884/84, com a seguinte redação:
§ 2º O Estado poderá desenvolver políticas de incentivo aos “Art. 6º ...
municípios que cumprirem as metas nos seus Planos Municipais Parágrafo único. Fica criado o cargo de Professor Indígena,
de Educação. sendo estendido a ele todos os direitos e garantias previstos
nesta Lei, até que lei posterior específica regulamente.” (NR)
Art. 8º O PEE, instituído nos termos desta Lei, estará sujeito
a reexame por uma comissão formada pelos conselheiros do Art. 15. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Conselho Estadual de Educação e por 8 (oito) representantes da
sociedade civil, a qual, após ampla discussão, encaminhará, em Art. 16. Revogam-se as disposições em contrário.
até 24 (vinte e quatro) meses após o início da vigência do plano,
propostas de alterações ou ajustes à Secretaria da Educação do PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO DO
Estado – SEDUC, que, após analisar as sugestões, encaminhará CEARÁ, em Fortaleza, 30 de maio de 2016.
projeto para aprovação da Assembleia Legislativa. Camilo Sobreira de Santana
§ 1º Para fins do reexame previsto no caput deste artigo, GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ
serão realizadas, nos 6 (seis) meses que antecedem o prazo final Iniciativa: PODER EXECUTIVO
estabelecido, assembleias, fóruns de discussão regionalizados e
audiências públicas, com ampla participação da sociedade civil, ANEXO ÚNICO, A QUE SE REFERE O ART. 1º DA LEI N.º
assegurada a participação de profissionais da educação, de pais 16.025, DE 30 DE MAIO DE 2016.
ou responsáveis e demais interessados. PLANO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO – 2016/2024
§ 2º A representação da sociedade civil será composta por:
I – 1 (um) representante de uma instituição pública de Meta 1: Apoiar os municípios para, até 2016, universalizar
ensino superior; a Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro)
II – 1 (um) representante de uma instituição particular de a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de Educação Infantil
ensino superior; em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por
III – 1 (um) representante de uma instituição particular de cento) das crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos de idade até 2024,
ensino de reconhecido destaque em educação básica; onde pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) do total ofertado
IV – 1 (um) representante do Conselho de Pais e Mestres; seja em tempo integral.
V- 1 (um) representante da Ordem dos Advogados do Brasil Estratégias:
– Seccional Ceará; 1.1. promover, em regime de colaboração entre os entes
VI – 1 (um) representante do Centro de Defesa da Criança e federados, a implementação de metas de expansão da educação
do Adolescente do Ceará – CEDECA; infantil, nas respectivas redes públicas de ensino, segundo
VII – 1 (um) representante da Associação dos Jovens padrão nacional de qualidade, considerando as peculiaridades
Empresários do Ceará – AJE; locais;
VIII – 1 (um) representante de uma federação do setor 1.2. construir, junto com os municípios, sociedade e
produtivo. movimentos sociais a Política Estadual de Educação Infantil,
bem como, assessorar e monitorar a elaboração e
Art. 9º No ano de 2024, será promovida a avaliação global implementação da referida política nas redes municipais;
do plano, acompanhada da elaboração do próximo Plano 1.3. estimular, orientar e apoiar os municípios que ainda não
Estadual de Educação, a vigorar no período subsequente. possuem seus próprios Sistemas de Ensino e Conselhos
Parágrafo único. O processo de elaboração a que se refere Municipais de Educação para que venham a criá-los,
o caput deverá contar com ampla participação de considerando que a eles compete a normatização da Educação
representantes da comunidade educacional e da sociedade civil. Infantil;
1.4. criar uma coordenadoria estadual de educação infantil
Art. 10. As despesas decorrentes das ações e metas previstas e articular junto aos gestores municipais a criação de uma
no Plano Estadual de Educação correrão por conta dos coordenadoria municipal de educação infantil, visando a efetiva
orçamentos da Secretaria Estadual da Educação, da Secretaria implementação da Política Pública de Educação Infantil;
da Ciência, Tecnologia e Educação Superior, das secretariais 1.5. assessorar tecnicamente, a partir do primeiro ano de
municipais de Educação, bem como de repasses e convênios vigência do plano, os municípios no levantamento da demanda
firmados com a União, além de contar com a participação de por creche para a população de 0 (zero) a 3 (três) anos de idade
entidades não governamentais. e da demanda por pré-escola para a população de 4 (quatro) a
5 (cinco) anos de idade, publicando, a cada ano, os resultados
Art. 11. O Estado, no prazo de 2 (dois) anos contados da dos levantamentos realizados, como forma de apoiar o
publicação desta Lei, deverá atualizar o Sistema Estadual de planejamento e a oferta e verificar o atendimento da demanda
Educação, responsável pela articulação entre os sistemas de manifesta;
ensino estadual e municipais, em regime de colaboração com a 1.6. manter e ampliar, em regime de colaboração e
União e os municípios, de acordo com a Lei Federal nº 13.005 de respeitadas as normas de acessibilidade, programa de
2014, para a efetivação das diretrizes, metas e estratégias do construção e reestruturação de instituições de educação infantil
PEE e do Plano Nacional de Educação – PNE. e escolas, bem como de aquisição de equipamentos específicos e
adequados, recursos pedagógicos e tecnologia de apoio aos
Art. 12. Os Planos Plurianuais, a Lei de Diretrizes portadores de deficiência, visando à expansão e à melhoria da
Orçamentárias e a Lei de Orçamento Anual do Estado serão rede física das escolas públicas e das instituições de Educação
elaborados de modo a dar suporte às metas previstas no Plano Infantil;
Estadual de Educação. 1.7. promover estratégias, em regime de colaboração, com
base em parâmetros nacionais de qualidade, para implantação
Art. 13. O Poder Executivo deverá encaminhará Assembleia da avaliação da Educação Infantil, a ser realizada a cada 2
Legislativa do Estado do Ceará, até o final do primeiro semestre (dois) anos, a fim de aferir a infraestrutura física, o quadro de
do nono ano do Plano de que trata o anexo único desta Lei, o pessoal, as condições de gestão, os recursos pedagógicos, a
projeto de lei referente ao PEE para o próximo decênio, contendo situação de acessibilidade, entre outros indicadores relevantes;
diagnóstico, diretrizes, metas e estratégias.

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1.8. acompanhar e monitorar, em regime de colaboração, a nesse nível de ensino e na aquisição de materiais pedagógicos e
articulação da oferta de matrículas gratuitas em creches permanentes (mobiliário adequado, parques infantis e outros);
certificadas como entidades beneficentes de assistência social na 1.17. garantir que, ao final da vigência deste PNE, seja
área da Educação, com a expansão da oferta na rede escolar inferior a 10% (dez) por cento a diferença entre as taxas de
pública, gratuita, laica e de qualidade, não podendo a laicidade frequência à educação infantil das crianças de até 3 (três) anos
do Estado ser confundida com o laicismo, logo, com a oriundas do quinto de renda familiar per capita mais elevado e
intolerância religiosa; as do quinto de renda familiar per capita mais baixo;
1.9. ofertar formação inicial e continuada para os 1.18. fomentar o atendimento das populações do campo e
professores de Educação Infantil, priorizando temáticas das comunidades indígenas e quilombolas na educação infantil
específicas para esta 1ª etapa da educação básica, bem como nas respectivas comunidades, por meio do redimensionamento
formação continuada para atuar no atendimento de alunos com da distribuição territorial da oferta, limitando a nucleação de
necessidades especiais, inclusive, nos estabelecimentos de escolas e o deslocamento de crianças, de forma a atender às
ensino, creches ou similares que deverão acolher as crianças especificidades dessas comunidades, garantido consulta prévia
com APLV dentre outras intolerâncias alimentares, prestando- e informada;
lhes assistência que possam necessitar, seja pelo corpo docente 1.19. promover a busca ativa de crianças em idade
e equipe de apoio, que deverão ser devidamente capacitados correspondente à educação infantil, em parceria com órgãos
para esta finalidade, baseado em parâmetros nacionais de públicos de assistência social, saúde e proteção à infância,
qualidade e garantindo a implementação de política estadual de preservando o direito de opção da família em relação às
formação para esses profissionais, a qual deverá ser comunicada crianças de até 3 (três) anos;
à Assembleia Legislativa. 1.20. o Estado acompanhará a cobertura das matrículas na
1.10. propor, junto às instituições de formação superior, a educação infantil, apoiando os municípios para o alcance das
adequação de cursos específicos para os professores de metas deste Plano;
Educação Infantil, de modo a estimular a elaboração de 1.21. os municípios, com apoio do Estado e da União,
currículos e propostas que incorporem os avanços de pesquisas empreenderão ações para implantar espaços lúdicos de
ligadas ao processo de ensino e aprendizagem e às teorias interatividade, tais como, brinquedoteca, ludoteca, biblioteca
educacionais no atendimento integral das crianças de 0 (zero) a infantil, parques infantis, espaços de teatro e danças;
5 (cinco) anos de idade; 1.22. criar e implementar, em até 4 (quatro) anos, um
1.11. realizar pesquisas e consultas prévias sobre as sistema de avaliação para a Educação Infantil no Estado do
populações do campo e comunitárias, indígenas e quilombolas Ceará;
na educação infantil, para apoiar o atendimento e o 1.23. promover a inclusão das crianças diagnosticadas com
redimensionamento da distribuição territorial da oferta, Alergia à Proteína do Leite de Vaca – APLV, e demais
limitando a nucleação de escolas de forma a atender às intolerâncias alimentares nos estabelecimentos de ensino,
especificidades dessas comunidades; creches ou similares públicos e privados nos municípios para o
1.12. promover a cooperação técnica, pedagógica e alcance das metas deste plano;
financeira com os municípios, em colaboração com a União, na 1.24. oferecer, em regime de colaboração com os municípios,
oferta do atendimento educacional especializado, orientação nutricional às escolas que possuam estudantes
complementar e suplementar aos alunos e às crianças com público-alvo da Educação Especial.
deficiência, necessidades especiais de alimentação, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, Meta 2: Universalizar, em regime de colaboração com a
assegurando a educação bilíngue para crianças surdas, União e municípios, o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos para
educação em braile para crianças cegas e a transversalidade da toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e fortalecer
educação; estratégias de colaboração com municípios para que, pelo
1.13. implementar, em caráter complementar, programas de menos, 95% (noventa e cinco) por cento dos alunos concluam
orientação e apoio às famílias, por meio da articulação das essa etapa na idade recomendada até 2024.
áreas da educação, meio ambiente, saúde e assistência social, Estratégias:
com foco no desenvolvimento integral das crianças de até 5 2.1. assessorar tecnicamente os municípios para realizar
(cinco) anos de idade; levantamento da demanda por localidades e aprimorar arranjos
1.14. apoiar os municípios na organização das redes da rede escolar com a União e municípios, com apoio técnico à
escolares e institucionais, garantindo o atendimento da criança construção e adaptação da estrutura física das escolas;
de 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade, em estabelecimentos que 2.2. fortalecer mecanismos que fomentam, quando
atendam a parâmetros nacionais de qualidade e a articulação e necessária, aos estudantes que apresentem problemas de
a integração com a etapa escolar seguinte, visando ao ingresso aprendizagem, a intervenção pedagógica, baseados nos
da criança de 6 (seis) anos de idade, de acordo com a legislação sistemas de avaliação externa e acompanhamento dos
vigente, no Ensino Fundamental de forma a preservar as estudantes, visando a compreensão, a explicitação e a correção
especificidades da Educação Infantil e a facilitar a adaptação da dos déficits na aprendizagem, com ênfase na conclusão da
criança a essa nova etapa de ensino; Educação Básica, desde que os métodos de ensino adotados
1.15. apoiar os municípios no acompanhamento e respeitem as diretrizes do PNE e do PEE;
monitoramento do acesso e da permanência das crianças na 2.3. mapear os estudantes com maior nível de
Educação Infantil, em especial dos beneficiários de programas vulnerabilidade social e beneficiários de programas de
de transferência de renda, em colaboração com as famílias e transferência de renda até o 3º (terceiro) ano da vigência deste
com os órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à plano, utilizando o Cadastro Único como instrumento de gestão
infância; intersetorial, criando políticas específicas e intersetoriais, para
1.16. estimular e apoiar o acesso à Educação Infantil em garantir as condições de acesso, permanência e qualidade no
tempo integral, para todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) Ensino Fundamental considerando as especificidades regionais
anos, incluindo o regime de colaboração entre Estado e da população urbana, do campo, indígena e quilombola;
municípios, na expansão e melhoria da rede física (construção, 2.4. garantir, em regime de colaboração com a União, Estado
ampliação e reforma) de unidades de Educação Infantil (creches e municípios, transporte escolar de qualidade, integrado entre
e pré-escola), na (re) elaboração das propostas curricular e as redes municipais e estadual, para todos os estudantes da rede
pedagógica, na formação continuada de professores que atuam pública que residem na zona rural e que dele necessitem,
avançando no gerenciamento dos projetos e programas

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relacionados ao financiamento, renovação da frota e aquisição 2.19. garantir, progressivamente, acesso às bibliotecas e
de ônibus adequados; cinematecas escolares, inclusive nos finais de semana, com
2.5. ampliar modelos de intervenção sistêmica em regime de acervo atualizado e acesso à comunidade;
colaboração com os municípios e a União, com ênfase na 2.20. desenvolver mecanismos que permitam a identificação
melhoria dos resultados educacionais nos anos finais do Ensino e o mapeamento das causas de distorção idade/série no Ensino
Fundamental da rede pública, assegurando ações de apoio ao Fundamental, de modo a possibilitar a elaboração de
desenvolvimento do ensino e aprendizagem do 6º (sexto) ao 9º estratégias para redução gradativa do índice;
(nono) ano; 2.21. mapear os estudantes com maior nível de
2.6. mapear e dar publicidade a modelos pedagógicos vulnerabilidade social e inseridos nos serviços de acolhimento
exitosos, com ênfase na articulação entre o fim do Ensino até o 3º (terceiro) ano da vigência deste Plano, criando políticas
Fundamental e o início o Ensino Médio até o 3º (terceiro) ano da específicas e intersetoriais, para garantir as condições de acesso,
vigência deste plano, desde que os mesmos estejam de acordo permanência e qualidade no Ensino Fundamental considerando
com as normas estabelecidas no PNE e no PEE e respeitem às as especificidades regionais da população urbana, do campo,
disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente e o art. 12, indígena e quilombola, conforme a Nota Técnica nº 23 –
inciso IV, do Pacto de San José da Costa Rica; CGDH/DPEDHUC/SECADI/MEC;
2.7. articular políticas de incentivo aos estudantes do 6º 2.22. estimular a publicização dos planos pedagógicos dos
(sexto) ao 9º (nono) ano do Ensino Fundamental, com ênfase no estabelecimentos de ensino em ambiente visível e de fácil acesso,
fortalecimento do itinerário formativo, no estímulo à frequência bem como a disponibilização destes em sítio eletrônico próprio
escolar e à continuidade dos estudos, e garantia da matrícula e da escola, de forma a possibilitar um maior acompanhamento
da qualidade do ensino; dos métodos de ensino aplicados e uma contribuição adequada
2.8. implementar, em regime de colaboração com os e mais efetiva dos pais ou responsáveis e da comunidade para a
municípios e considerando suas especificidades, programas formação dos jovens;
para correção do fluxo escolar dos alunos em distorção 2.23. implantar, em regime de colaboração com os
idade/ano e com baixo desempenho acadêmico no Ensino municípios, ações voltadas para uma cultura de
Fundamental; empreendedorismo, sob uma óptica transversal e relacionada
2.9. pactuar entre a União, o Estado e os municípios, no com a dimensão pedagógica;
âmbito da instância permanente de que trata o § 5º do art. 7º da 2.24. garantir o atendimento de crianças de 0 (zero) a 3
Lei nº 13.005/2014, a implantação dos direitos e objetivos de (três) anos, quando da ausência de vagas na instituição de
aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a base ensino própria de acolhimento desses alunos, por instituições de
nacional comum curricular do Ensino Fundamental; ensino de bairros ou comunidades próximas, devendo ser aberto
2.10. criar mecanismos para o acompanhamento edital que leve em consideração o Custo Aluno Qualidade – CAQ,
individualizado dos alunos do Ensino Fundamental; na seleção da instituição que acolherá os estudantes.
2.11. fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do
acesso, da permanência e do aproveitamento escolar dos Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para
beneficiários de programas de transferência de renda, bem toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos e elevar,
como das situações de discriminação, preconceitos e violências até o final do período de vigência deste PEE, a taxa líquida de
na escola, visando ao estabelecimento de condições adequadas matrículas no Ensino Médio para 85% (oitenta e cinco) por
para o sucesso escolar dos alunos, em colaboração com as cento.
famílias e com órgãos públicos de assistência social, saúde e Estratégias:
proteção à infância, adolescência e juventude; 3.1. identificar as maiores causas da evasão e abandono dos
2.12. promover a busca ativa de crianças e adolescentes fora jovens de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos que não estão
da escola, em parceria com órgãos públicos de assistência social, estudando e promover busca ativa, principalmente, dos que se
saúde e proteção à infância, adolescência e juventude; encontram em situação de alta vulnerabilidade social,
2.13. desenvolver tecnologias pedagógicas que combinem, desenvolvendo mecanismos que estimulem a permanência dos
de maneira articulada, a organização do tempo e das atividades estudantes na escola, em colaboração com as famílias e com
didáticas entre a escola e o ambiente comunitário, considerando órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à
as especificidades da educação especial, das escolas do campo e adolescência e juventude;
das comunidades indígenas e quilombolas; 3.2. promover o incremento e a ampliação do Programa
2.14. promover a relação das escolas com instituições e Alfabetização na Idade Certa, criando-se até 2017 o PAIC + 9,
movimentos culturais, a fim de garantir a oferta regular de como forma de fortalecer o Ensino Fundamental, estimulando a
atividades culturais para a livre fruição dos alunos dentro e fora permanência do aluno e sua consequente condução para o
dos espaços escolares, assegurando ainda que as escolas se Ensino Médio na idade correta;
tornem polos de criação e difusão cultural; 3.3. expandir para, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) as
2.15. incentivar a participação dos pais ou responsáveis no matrículas em Tempo Integral no Ensino Médio, visando ao
acompanhamento das atividades escolares dos filhos por meio desenvolvimento de atividades pedagógicas focadas no
do estreitamento das relações entre as escolas e as famílias; desenvolvimento de atividades cognitivas, culturais, esportivas,
2.16. oferecer atividades extracurriculares de incentivo aos socioemocionais, a estimular no estudante a noção de
estudantes e de estímulo a habilidades, inclusive mediante sociabilidade, a partir do respeito para com o próximo, e o senso
certames e concursos nacionais e estaduais; de responsabilidade, a partir de uma compreensão de direitos e
2.17. promover atividades de desenvolvimento e estímulo a deveres; com ênfase à elaboração do projeto de vida dos
habilidades esportivas nas escolas, interligadas a um plano de estudantes, orientação ao mundo do trabalho, inclusive por
disseminação do desporto educacional e de desenvolvimento meio de equipe técnica especializada na área de Psicologia,
esportivo nacional e estadual, na perspectiva da educação visando à identificação de aptidões e à inserção no Ensino
inclusiva; Superior;
2.18. efetivar parceria com as áreas de saúde, assistência 3.4. fortalecer e reformular regionalmente o Programa Mais
social e cidadania, redes de apoio aos sistemas estadual e Educação, bem como ainda criar e apoiar outros programas de
municipais de ensino, para atender o público da educação atividades complementares escolares, assegurando
especial, em todos os níveis; infraestrutura física adequada e formação dos profissionais,
com contrapartida financeira do Governo Estadual, como forma
de viabilizar o reforço aos alunos que apresentam dificuldades

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de aprendizagem, reduzindo a quantidade de reprovações e Profissionalizante e Educação do Campo Contextualizada para


evasões no Ensino Fundamental; a convivência com o Semiárido;
3.5. criar espaço de discussão com vistas à implementação e 3.14. proporcionar formação específica e continuada aos
ao fortalecimento de programas de reorganização do Ensino profissionais da rede pública para atendimento às necessidades
Médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas com educativas especiais, bem como garantir, nos espaços
abordagens interdisciplinares estruturadas pela relação entre a educativos, as Salas de Recursos Multifuncionais e o
teoria e a prática, por meio de currículos escolares que fortalecimento dos NAPE - Núcleo de Atendimento Pedagógico
organizem, de maneira flexível e diversificada, conteúdos Especializado;
obrigatórios e eletivos articulados em dimensões como ciência, 3.15. implementar ações formativas e curriculares que
trabalho, linguagens, tecnologia, cultura e esporte; fortaleçam a pesquisa, o trabalho, o empreendedorismo, a
3.6. pactuar com a União, conforme dispositivo de que trata criatividade e o protagonismo;
o § 5º do art. 7º da Lei nº 13.005/2014, a implantação dos 3.16. apoiar, fomentar e estimular os organismos colegiados,
resultados da consulta nacional sobre os direitos e objetivos de como espaço de participação e exercício da cidadania e do
aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a base protagonismo juvenil;
nacional comum curricular do Ensino Médio; 3.17. promover a formação continuada de professores,
3.7. construir a identidade do Ensino Médio, com respeito à discutir práticas curriculares e elaborar materiais didáticos
identidade do estudante e à orientação familiar, de forma a sobre História, Geografia e Literatura do Ceará, objetivando sua
proporcionar formação humana, cidadã, crítica, ética, efetividade na aprendizagem dos alunos do Ensino Médio, a
participativa e para o trabalho, numa perspectiva integrada, partir da implementação progressiva como conteúdo nas
assegurando um ensino de qualidade; disciplinas curriculares;
3.8. reestruturar e implementar a avaliação processual e 3.18. estabelecer e assegurar padrões mínimos de
sistêmica do ensino-aprendizagem, objetivando a melhoria da funcionamento da escola, com base nos parâmetros utilizados
qualidade do ensino e buscando a redução da repetência e para elaborar o Custo Aluno Qualidade - CAQ;
evasão; 3.19. promover políticas de equidade na oferta de Ensino
3.9. universalizar a participação dos alunos do 3º (terceiro) Médio, com especial atenção às áreas de maior vulnerabilidade
ano do Ensino Médio no Exame Nacional do Ensino Médio - no Estado, em colaboração com as famílias e com órgãos
ENEM, articulando-o com o Sistema Nacional de Avaliação da públicos de assistência social, saúde e proteção à adolescência e
Educação Básica – SAEB, e o Sistema Permanente de Avaliação à juventude;
da Educação Básica do Ceará – SPAECE, e promover sua 3.20. implementar políticas de prevenção à evasão motivada
utilização como instrumento de avaliação sistêmica, para por preconceito ou quaisquer formas de discriminação, criando
subsidiar políticas públicas para a educação básica, de rede de proteção contra formas associadas de exclusão;
avaliação certificadora, possibilitando aferição de 3.21. respeitar a quantidade máxima de alunos por sala, de
conhecimentos e habilidades adquiridos dentro e fora da escola, acordo com os critérios utilizados para elaboração do CAQ;
e de avaliação classificatória, como critério de acesso ao Ensino 3.22. fortalecer o regime de colaboração entre os entes
Superior, possibilitando acesso em tempo hábil aos resultados federados para oferta de transporte escolar criando
das avaliações; mecanismos de controle social;
3.10. criar, ampliar e fortalecer em âmbito Estadual 3.23. implementar políticas de permanência de estudantes
mecanismos de articulação, incentivo e apoio, a exemplo de de origem popular e/ou egressos de Escola Pública no Ensino
bolsas de assistência, dentre outros, para os estudantes do Superior com programas de bolsas de estudos, moradia e
Ensino Médio que ingressem no Ensino Superior; transportes;
3.11. assegurar ao aluno do Ensino Médio noturno um ensino 3.24. implementar estudo de demanda estadual para
de qualidade, com currículo diferenciado e formação específica atender de forma equitativa a oferta da matrícula para o Ensino
de professores, equipando a unidade escolar com material Médio nas diversas comunidades,bairros e cidades;
didático e tempo pedagógico, que atendam a sua especificidade 3.25. garantir a fruição de bens e espaços culturais, de forma
e otimização do planejamento e do espaço escolar - biblioteca, regular, bem como a ampliação da prática desportiva, e da
laboratórios e outros, com ênfase à elaboração do projeto de prática artística, integrada ao currículo escolar;
vida dos estudantes, orientação ao mundo do trabalho em 3.26. criar e pactuar com os municípios programas e ações
parcerias com instituições públicas, privadas e ONGs, de forma a para correção de fluxo do Ensino Fundamental e Médio;
proporcionar a esta demanda iguais oportunidades de 3.27. manter e expandir a oferta de matrículas gratuitas de
aprendizagem; Ensino Médio integrado à educação profissional, observando-se
3.12. promover e garantir fóruns permanentes de discussão as peculiaridades das populações do campo, das comunidades
sobre as especificidades do Ensino Médio noturno, com vista à indígenas e quilombolas e das pessoas com deficiência;
reorganização do currículo e ao tempo escolar do ensino 3.28. fomentar programas de educação e de cultura para a
noturno regular de forma a proporcionar ao aluno um ensino população urbana e do campo de jovens, na faixa etária de 15
mais adequado à sua necessidade; (quinze) a 17 (dezessete) anos, e de adultos, com qualificação
3.13. implementar e aperfeiçoar políticas de currículo, social e profissional para aqueles que estejam fora da escola e
formação continuada de professores e de aquisição de material com defasagem no fluxo escolar;
pedagógico que garantam a inserção de conhecimentos sobre 3.29. desenvolver formas alternativas de oferta do Ensino
educação ambiental, relações étnico-raciais, demais segmentos Médio, garantida a qualidade, para atender aos filhos e filhas de
populacionais que sofrem preconceitos e opressões em razão de profissionais que se dedicam a atividades de caráter itinerante;
sua nacionalidade, condição social e local de nascimento, raça, 3.30. estimular a participação dos adolescentes nos cursos
cor, religião, origem étnica, convicção política ou filosófica, das áreas tecnológicas e científicas;
deficiência física ou mental, doença, idade, atividade 3.31. fortalecer a relação e o diálogo entre rede estadual e
profissional, estado civil, classe social, sexo, orientação sexual e redes municipais de ensino, no tocante ao mapeamento e
moral familiar, respeitando-se a orientação dos pais e/ou monitoramento dos alunos egressos do Ensino Fundamental, a
responsáveis, educação inclusiva, educação financeira e do fim de assegurar suas matrículas no Ensino Médio;
consumo, educação musical, noções de direito, educação para o 3.32. garantir a renovação da estrutura do Ensino Médio,
trânsito, educação científica e educação política nas propostas com base na aquisição de equipamentos e laboratórios, na
curriculares das escolas de Ensino Médio Regular, produção de material didático específico e na articulação com
instituições acadêmicas, esportivas e culturais.

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Meta 4: Universalizar, até 2024, em regime de colaboração escolares, sendo vedado às instituições particulares a cobrança
entre estados e municípios, para a população de 4 (quatro) a 17 de valores adicionais de qualquer natureza em suas
(dezessete) anos, o atendimento escolar aos alunos com mensalidades, anuidades e matrículas para tanto ou para
deficiência, distúrbios psicológicos alimentares, transtornos garantia de acessibilidade e inclusão na escola;
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, 4.10. promover parcerias com instituições comunitárias,
preferencialmente, na rede regular de ensino, garantindo o confessionais ou filantrópicas, sem fins lucrativos, conveniadas
atendimento educacional especializado em salas de recursos com o poder público, visando ampliar a oferta do AEE para
multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, apoiar a escolarização do público-alvo da Educação Especial;
públicos ou comunitários, nas formas complementar e 4.11. desenvolver e tornar acessível, em articulação com as
suplementar, em escolas ou serviços especializados, públicos ou Instituições de Ensino Superior -IES, pesquisas voltadas para a
conveniados. elaboração de metodologias, materiais didáticos, equipamentos
Estratégias: e recursos de tecnologia assistiva, com vistas à promoção do
4.1. garantir e efetivar a escolarização de qualidade dos ensino e da aprendizagem, bem como das condições de
educandos, público-alvo da Educação Especial, na faixa etária acessibilidade dos estudantes públicos da Educação Especial;
de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, na rede regular de ensino, 4.12. redimensionar, institucionalizar e descentralizar a
associada ao Atendimento Educacional Especializado – AEE, por estrutura organizacional, pedagógica e jurídica do Centro de
meio de diferentes serviços e instituições afins, de caráter Referência em Educação e Atendimento Especializado do Ceará
público ou privado, sem fins lucrativos; - CREAECE, implantando polos nas macrorregiões do Estado;
4.2. desenvolver um processo permanente de mobilização, 4.13. ofertar cursos de formação continuada na área de
sensibilização e comunicação junto a gestores, professores, Educação Especial e inclusiva para os professores que atuam
profissionais e demais membros da comunidade escolar para nas salas de aula regular, em todos os níveis e modalidades de
garantia do acesso e permanência do público-alvo da Educação ensino, bem como para os profissionais que atuam nas Salas de
Especial na escola regular; Recursos Multifuncionais, em equipes técnicas educacionais com
4.3. implementar uma política de formação inicial e foco na referida área e que estejam atuando na gestão escolar;
continuada para os profissionais envolvidos com a inclusão do 4.14. contabilizar, para fins do repasse do Fundo de
público-alvo da Educação Especial nas escolas regulares, com a Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
diversificação das estratégias de oferta e a utilização de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, as
recursos das tecnologias de comunicação e informação; matrículas dos estudantes da educação regular da rede pública
4.4. ampliar o número de Salas de Recursos Multifuncionais que recebam atendimento educacional especializado
– SRM, em escolas urbanas, do campo, indígenas, de complementar e suplementar, sem prejuízo do cômputo dessas
comunidades quilombolas e de povos tradicionais, para matrículas na educação básica regular, e as matrículas
garantia da oferta do Atendimento Educacional Especializado – efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado, na
AEE, no contraturno e monitorar, por meio de um educação especial oferecida em instituições comunitárias,
acompanhamento pedagógico eficaz, os serviços das SRM em confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas
funcionamento; com o poder público e com atuação exclusiva na modalidade, nos
4.5. qualificar o atendimento e o desempenho dos termos da Lei n° 11.494, de 20 de junho de 2007;
professores que atuam nas SRM por meio de formação 4.15. garantir atendimento educacional especializado em
continuada, garantindo acompanhamento pedagógico salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços
sistematizado, aquisição de recursos materiais necessários ao especializados, públicos ou conveniados, nas formas
desenvolvimento dos serviços ofertados nesses ambientes, complementar e suplementar, a todos os alunos com
observando as especificidades das escolas do campo, indígenas e deficiências, matriculados na rede pública de educação básica,
quilombolas; conforme necessidade identificada por meio de avaliação,
4.6. Garantir um programa específico de recursos ouvidos a família e o aluno;
financeiros permanentes, como complemento às iniciativas de 4.16. fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do
programas federais, destinados à acessibilidade de 100% (cem acesso à escola e ao atendimento educacional especializado,
por cento) das escolas públicas, por meio da adequação bem como da permanência e do desenvolvimento escolar dos
arquitetônica, conforme as normas da Associação Brasileira de alunos com deficiências beneficiários de programas de
Normas Técnicas - ABNT, da oferta de transporte acessível, da transferência de renda, juntamente ao combate às situações de
disponibilização de material didático próprio e de recursos de discriminação, preconceito e violência, com vistas ao
tecnologia assistiva; estabelecimento de condições adequadas para o sucesso
4.7. garantir que a Educação Especial seja integrada à educacional, em colaboração com as famílias e com os órgãos
proposta pedagógica da escola, de forma a atender às públicos de assistência social, saúde e proteção à infância, à
necessidades de estudantes com deficiência, transtornos globais adolescência e à juventude;
do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, a 4.17. promover o desenvolvimento de pesquisas
partir do 1º (primeiro) ano de vigência do Plano Estadual de interdisciplinares para subsidiar a formulação de políticas
Educação - PEE; públicas intersetoriais que atendam às especificidades
4.8. garantir a oferta de educação bilíngue em Língua educacionais de estudantes com deficiências que requeiram
Brasileira de Sinais – LIBRAS, como primeira língua e, na medidas de atendimento especializado;
modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda 4.18. promover a articulação intersetorial entre órgãos e
língua, aos estudantes surdos e com deficiência auditiva de 4 políticas públicas de saúde, assistência social e direitos
(quatro) a 17 (dezessete) anos de idade, em escolas e classes humanos, em parceria com as famílias, com o fim de desenvolver
bilíngues e em classes comuns do ensino regular, bem como a modelos de atendimento voltados à continuidade do
adoção do Sistema Braille de leitura para cegos e surdos cegos, atendimento escolar, na educação de jovens e adultos, das
em todos os níveis e modalidades de ensino; pessoas com deficiência e transtornos globais do
4.9. garantir a presença de profissionais de apoio desenvolvimento com idade superior à faixa etária de
(psicopedagogos e psicólogos) e/ou acompanhante escolarização obrigatória, de forma a assegurar a atenção
especializado na rede estadual de ensino em que estejam integral ao longo da vida;
matriculados estudantes público-alvo da AEE – Atendimento 4.19. incentivar a inclusão nos cursos de licenciatura e nos
Educacional Especializado, nos casos onde são necessários, para demais cursos de formação para profissionais da educação,
o desenvolvimento da autonomia desses sujeitos nos espaços inclusive em nível de pós-graduação, observado o disposto

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no caput do art. 207 da Constituição Federal, dos referenciais Meta 6: Oferecer, até 2024, em regime de colaboração,
teóricos, das teorias de aprendizagem e dos processos de ensino- Educação em Tempo Integral em, no mínimo, 50% (cinquenta
aprendizagem relacionados ao atendimento educacional de por cento) das escolas públicas e instituições de educação
alunos com deficiências; infantil, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por
4.20. desenvolver indicadores para avaliação da cobertura e cento) dos estudantes da educação básica.
qualidade do padrão de oferta da Educação Especial; Estratégias:
4.21. reservar, no mínimo 5% (cinco por cento), das vagas 6.1. ampliar em regime de colaboração com a união e
das escolas profissionalizantes para as pessoas portadoras de municípios, a oferta de educação básica pública em tempo
deficiência; integral, por meio de atividades complementares de
4.22. aprovar Lei Estadual, dentro de até 1 (um) ano após a acompanhamento pedagógico e multidisciplinares, artísticas,
publicação desta Lei, criando e regulamentando a função do (a) culturais e esportivas, de forma que o tempo de permanência das
cuidador (a) para alunos com deficiência e transtornos globais crianças e dos alunos nas instituições de educação infantil e na
de desenvolvimento; escola, ou sob sua responsabilidade, passe a ser igual ou superior
4.23. realizar o mapeamento da demanda de pessoas com a 7 (sete) horas diárias durante todo o ano letivo, com a
deficiência e transtornos globais do desenvolvimento não ampliação progressiva da jornada de trabalho dos professores
matriculadas nas unidades escolares das redes públicas e em uma única instituição de educação infantil e escola;
privada, por meio de colaboração com os municípios e dos 6.2. apoiar a institucionalização do programa nacional de
órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à ampliação e reestruturação das instituições de educação
infância, à adolescência e à juventude, de modo a proporcionar infantil e escolas públicas, por meio da instalação e manutenção
sua inclusão na rede regular de ensino. de quadras poliesportivas, parques infantis, laboratórios,
inclusive de informática e língua estrangeira. Espaços para
Meta 5: Apoiar os municípios para alfabetizar todas as atividades culturais, salas de aula temáticas, bibliotecas,
crianças, no máximo, ao final do 2º (segundo) ano do Ensino auditórios, cozinhas, refeitórios, banheiros e outros
Fundamental. equipamentos;
Estratégias: 6.3. assegurar a produção e distribuição de material
5.1. fortalecer as estruturas estaduais, regionais e didático para as escolas de tempo integral;
municipais de gestão do Programa Alfabetização na Idade 6.4. promover a formação continuada dos profissionais da
Certa, para os anos iniciais do Ensino Fundamental, com o educação que atuam nas escolas de tempo integral;
monitoramento de sua execução, a realização de avaliações 6.5. adequar as escolas da rede estadual e apoiar os
diagnósticas da aprendizagem, a realização de formações municípios na adequação das instituições de educação infantil e
continuadas de professores, entre outras medidas necessárias, das escolas, para atendimento em tempo integral (mobiliário,
de forma a aprimorar o formato de apoio e a interlocução do alimentação e arquitetura apropriados para as faixas etárias),
Governo Estadual com os municípios; prioritariamente em comunidades mais carentes;
5.2. fortalecer a articulação dos processos pedagógicos de 6.6. ofertar o tempo integral para crianças, adolescentes,
alfabetização com as estratégias desenvolvidas na pré-escola, jovens e adultos com deficiências, altas habilidades, transtornos
com qualificação e valorização dos professores alfabetizadores, globais do desenvolvimento e para as escolas e instituições de
a fim de garantir a alfabetização plena de todas as crianças; educação infantil do campo, indígenas, quilombolas e demais
5.3. ampliar e fortalecer tecnologias educacionais voltadas grupos tradicionais, garantindo profissionais especializados;
à alfabetização e letramento, com acompanhamento dos 6.7. adotar medidas para otimizar o tempo de permanência
resultados individuais dos alunos; das crianças e dos alunos nas instituições de educação infantil e
5.4. apoiar a alfabetização de crianças do campo, indígenas, na escola, ampliando a jornada para o efetivo trabalho escolar
quilombolas e de populações itinerantes, com a produção de e de cuidados, articulado com atividades recreativas, esportivas,
materiais didáticos específicos, e desenvolver instrumentos de científicas, culturais e a promoção da saúde nas instituições de
acompanhamento que considerem o uso da língua materna educação infantil;
pelas comunidades indígenas e a identidade cultural das 6.8. apoiar, prioritariamente, o atendimento em instituições
comunidades quilombolas, campesinas e indígenas; de educação infantil e em escolas com atendimento em tempo
5.5. criar um Centro de Pesquisa de Alfabetização, a partir integral das crianças, adolescentes e jovens residentes em
de parcerias acadêmicas, pelo qual sejam fortalecidas as municípios e comunidades vulneráveis, buscando equiparação
formações pedagógicas e sejam possíveis consultorias do atendimento entre aqueles oriundos do quinto de renda
acadêmicas voltadas à melhoria de políticas como o Programa familiar per capita mais elevado e os do quinto de renda
de Alfabetização na Idade Certa; familiar per capita mais baixo;
5.6. utilizar os instrumentos de avaliação nacional e 6.9. promover a articulação das escolas de tempo integral
estadual, periódicos e específicos para aferir a alfabetização das com os diferentes espaços educativos, culturais e esportivos e
crianças, aplicados a cada ano, bem como estimular os sistemas com equipamentos públicos, como centros comunitários,
de ensino e as escolas a criarem os respectivos instrumentos de bibliotecas, praças, parques, museus, teatros, cinemas e
monitoramento, implementando medidas pedagógicas para planetários, garantindo ainda intercâmbio com as comunidades
alfabetizar todos os alunos e alunas até o final do 2º (segundo) quilombolas, indígenas e tradicionais e seus espaços
ano do Ensino Fundamental; socioculturais, respeitando o seu modo de vida e organização
5.7. promover e estimular a formação inicial e continuada de social;
professores para a alfabetização de crianças, com o 6.10. atender às escolas do campo e de comunidades
conhecimento de novas tecnologias educacionais e práticas indígenas e quilombolas na oferta de educação em tempo
pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação entre integral, com base em consulta prévia e informada,
programas de pós-graduação stricto sensu e ações de formação considerando-se as peculiaridades locais;
continuada de professores para a alfabetização; 6.11. adotar medidas para otimizar o tempo de permanência
5.8. apoiar a alfabetização das pessoas com deficiência, dos alunos na escola, direcionando a expansão da jornada para
considerando as suas especificidades, inclusive a alfabetização o efetivo trabalho escolar, combinado com atividades
bilíngue de pessoas surdas, sem estabelecimento de recreativas, esportivas e culturais;
terminalidade temporal. 6.12. fortalecer o Programa de Ampliação da Oferta
Municipal de Educação Infantil, sob a óptica da oferta em tempo
integral, de modo a dar continuidade e ampliar a política de

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editais para a construção de Centros de Educação Infantil, por jovens, principalmente os que estão em situação de
meio de cooperação técnica e financeira do Estado aos vulnerabilidade social;
municípios. 7.15. garantir nos currículos escolares conteúdos sobre a
história e as culturas afro-brasileira e indígenas e implementar
Meta 7: Fomentar a qualidade da educação básica em todas ações educacionais, nos termos das Leis nºs 10.639, de 9 de
as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008, assegurando-
aprendizagem, garantindo o acesso e a permanência de todos os se a implementação das respectivas diretrizes curriculares
estudantes na escola, de modo a melhorar as médias no ENEM, nacionais, por meio de ações colaborativas com instituições de
IDEB e PISA, garantindo a execução das metas estabelecidas Ensino Superior, fóruns de educação para a diversidade étnico-
pelo PNE. racial, conselhos escolares, equipes pedagógicas e a sociedade
Estratégias: civil;
7.1. instituir programa articulado de formação continuada 7.16. respeitar e incentivar a articulação entre os ambientes
de professores na educação básica, articulando ações com os escolares e comunitários, garantindo a preservação da
municípios e o programa nacional de formação de professores; identidade cultural de populações do campo, indígenas,
7.2. articular, em parceria com os municípios, elaboração e quilombolas e demais povos tradicionais, por meio de
implementação de currículos contextualizados, organizações pedagógicas e de gestão que considerem as
interdisciplinares e multidimensionais que contemple direitos e práticas socioculturais de tais grupos, de acordo com as
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos para diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação
cada ano do Ensino Fundamental e Médio, em todas as áreas do e o disposto no Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010;
conhecimento, de acordo com a diversidade étnico-cultural e as 7.17. reformular e garantir a continuidade das políticas de
práticas pedagógicas contextualizadas tendo como eixos premiação para estudantes, escolas e municípios, e estabelecer
norteadores as questões ambientais, políticas e econômicas, políticas de estímulo para a melhoria do desempenho nas
articulado à proposta da Base Nacional Comum e às Diretrizes avaliações externas, de modo a valorizar a equidade, o mérito
Curriculares Nacionais da Educação Básica; do corpo docente, da gestão e da comunidade escolar;
7.3. estabelecer ações efetivas voltadas para a prevenção, 7.18. criar e fortalecer estratégias de preparação dos
promoção, atenção e atendimento à saúde e à integridade física, estudantes de Ensino Médio para a realização de exames de
mental e emocional dos profissionais da educação (efetivos e ingresso ao Ensino Superior;
temporários) como condição primordial para a melhoria da 7.19. criar política de busca da equidade entre as escolas do
qualidade educacional; Estado nos indicadores de desempenho, como IDEB, SPAECE e
7.4. estabelecer a avaliação diagnóstica nas turmas de 1º ENEM, com especial ênfase às localizadas em zonas de alta
(primeiro) ano do Ensino Médio, fomentando o processo vulnerabilidade;
contínuo de autoavaliação das escolas, baseado na proposta 7.20. garantir políticas de combate à violência na escola,
curricular do PAIC e da Base Nacional Comum; com o desenvolvimento de práticas de mediação escolar,
7.5. ampliar o sistema de avaliações em larga escala, inclusive pelo desenvolvimento de ações destinadas à
principalmente voltados aos anos finais do Ensino Fundamental, capacitação de educadores para detecção dos sinais de suas
de forma que haja uma avaliação continuada em todos os anos; causas, como a violência doméstica e sexual, com a criação das
7.6. promover a regulação da oferta da educação básica pela comissões de atendimento, notificação e prevenção à violência
iniciativa privada, de forma a garantir a qualidade e o doméstica contra criança e adolescente nas escolas estaduais
cumprimento da função social da educação; conforme Lei Estadual nº 13.230/2002, favorecendo a adoção
7.7. aprimorar estratégias de acompanhamento pedagógico das providências adequadas para promover a construção da
do trabalho realizado nas escolas, por docentes, gestores e cultura de paz e um ambiente escolar seguro;
superintendentes escolares; 7.21. firmar parcerias com empresas públicas, privadas e
7.8. promover e financiar o desenvolvimento de uma cultura Organizações Não Governamentais, para implementação de
de projetos pedagógicos articulados e integrados à Política cursos preparatórios para o Enem, que contemplem os 3 (três)
Educacional do Estado; anos do Ensino Médio, a partir do início do ano letivo;
7.9. disponibilizar e ampliar acervo literário voltado para o 7.22. instituir índice de desenvolvimento da educação que
público infanto-juvenil, facilitando o acesso à cultura e incentivo leve em conta o fluxo escolar, a proficiência dos alunos e a
à leitura, contemplando as várias áreas do conhecimento; equidade nos resultados;
7.10. ampliar, até o 5º (quinto) ano de vigência deste plano, 7.23. garantir recursos de estímulo para iniciação científica,
o acesso à rede mundial de computadores, em banda larga, pesquisa de campo, olimpíadas de conhecimento, feiras e visitas
promovendo a utilização pedagógica das tecnologias da técnicas;
informação e da comunicação, melhorando e atualizando os 7.24. garantir o acesso a transporte gratuito para todos os
equipamentos tecnológicos, contemplando todos os segmentos estudantes da educação escolar obrigatória, mediante
da escola; renovação e padronização da frota de veículos de acordo com as
7.11. garantir infraestrutura adequada às escolas, especificações do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
condizente às características geoambientais das diferentes Tecnologia - INMETRO;
regiões do Ceará, em especial do semiárido, a fim de promover 7.25. promover a articulação dos programas da área da
ambientes que fomentem a aprendizagem, a cultura, o esporte e educação, de âmbito local e nacional, com os de outras áreas,
o lazer; como saúde, trabalho e emprego, assistência social, esporte e
7.12. adquirir equipamentos técnico-pedagógicos de cultura, possibilitando a criação de rede de apoio integral às
qualidade para suporte ao desenvolvimento das aulas e famílias, como condição para a melhoria da qualidade
atividades extraclasse, com garantia de formação e manutenção educacional;
para o seu uso efetivo; 7.26. fomentar a produção científica e cultural, nos anos
7.13. fortalecer e aprimorar as funcionalidades dos sistemas finais do Ensino Fundamental, através de feiras científicas e
de acompanhamento informatizados no Estado e nos mostras culturais;
municípios, a exemplo do SIGE; 7.27. assegurar que: a) no 5º (quinto) ano de vigência deste
7.14. oferecer suporte às escolas, em parceria com as PEE, pelo menos 70% (setenta por cento) dos alunos do Ensino
Secretarias de Saúde e Assistência Social, com serviços de Fundamental e do Ensino Médio tenham alcançado nível
psicólogos, psicopedagogos, assistentes sociais e profissionais de suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de
enfermagem, a fim de aumentar a inclusão e permanência dos aprendizagem e desenvolvimento de seu ano de estudo, e 50%

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(cinquenta por cento), pelo menos, o nível desejável; b) no último 7.38. o Estado divulgará, anualmente, os resultados
ano de vigência deste PEE, todos os estudantes do Ensino educacionais apurados pelo Sistema Permanente de Avaliação
Fundamental e do Ensino Médio tenham alcançado nível da Educação Básica do Ceará - SPAECE, dos sistemas de ensino
suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de e suas escolas, para subsidiar as políticas municipais e estadual
aprendizagem e desenvolvimento de seu ano de estudo, e 80% de educação;
(oitenta por cento), pelo menos, o nível desejável; 7.39. promover com especial ênfase, em consonância com as
7.28. formalizar e executar os planos de ações articuladas diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura, a formação
dando cumprimento às metas de qualidade estabelecidas para a de leitores e leitoras e a capacitação de professores e
educação básica pública e às estratégias de apoio técnico e professoras, bibliotecários e bibliotecárias e agentes da
financeiro voltadas à melhoria da gestão educacional, à comunidade para atuar como mediadores e mediadoras da
formação de professores e professoras e profissionais de serviços leitura, de acordo com a especificidade das diferentes etapas do
e apoio escolares, à ampliação e ao desenvolvimento de recursos desenvolvimento e da aprendizagem;
pedagógicos e à melhoria e expansão da infraestrutura física da 7.40. melhorar o desempenho dos alunos da educação básica
rede escolar; nas avaliações de aprendizagem do Programa Internacional de
7.29. associar a prestação de assistência técnica financeira Avaliação de Estudantes – PISA, tomado como instrumento
à fixação de metas intermediárias, nos termos estabelecidos externo de referência, internacionalmente conhecido;
conforme pactuação voluntária entre os entes, priorizando 7.41. estimular a utilização de dispositivos móveis, tais
sistemas e redes de ensino com IDEB abaixo da média estadual; como tablets compartilhados, notebooks ou
7.30. estimular a utilização de tecnologias educacionais e computadores desktops, como ferramentas para o aprendizado,
incentivar práticas pedagógicas inovadoras que assegurem a através do uso de jogos de aprendizagem, laboratórios virtuais,
melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem do aluno, bibliotecas virtuais em nuvens, simuladores virtuais, dentre
assegurada a diversidade de métodos e propostas pedagógicas, outros, visando a melhoria da qualidade do ensino, a
com preferência para softwares livres e recursos educacionais aprendizagem do aluno e a redução do custo;
abertos; 7.42. promover ações e programas que estimulem a cultura
7.31. apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar de Direitos Humanos, favorecendo ambientes de formação e
mediante transferência direta de recursos financeiros à escola, fruição cultural e pedagógica em práticas de educação em
garantindo a participação da comunidade escolar no direitos humanos nas escolas;
planejamento e na aplicação dos recursos, visando à ampliação 7.43. garantir o acesso à educação regular, com carga
da transparência e ao efetivo desenvolvimento da gestão horária prevista na LDB, aos adolescentes com menos de 15
democrática; (quinze) anos em cumprimento de medida de internação no
7.32. ampliar programas e aprofundar ações de sistema socioeducativo, assegurando a efetividade das normas
atendimento ao aluno, em todas as etapas da educação básica, da Lei nº 8.069/90 e da Lei nº 12.594/2012;
por meio de programas suplementares de material didático e 7.44. fomentar ações e projetos de combate ao uso de drogas,
escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; mobilizando professores, alunos e familiares com o propósito de
7.33. assegurar, progressivamente, a todas as escolas detectar as causas da presença de tóxicos no ambiente escolar e
públicas de educação básica o acesso à energia elétrica, suprimir os malefícios do uso de drogas no aprendizado e
abastecimento de água tratada, esgotamento sanitário e desenvolvimento social dos envolvidos;
manejo dos resíduos sólidos, garantir o acesso dos alunos a 7.45. estimular o ensino e a prática do desenvolvimento
espaços para a prática esportiva, a bens culturais e artísticos e sustentável no ambiente escolar, dispondo de sistemas de coleta
a equipamentos e laboratórios de ciências e, em cada edifício seletiva de lixo nas escolas e de ações de conscientização sobre a
escolar, garantir a acessibilidade às pessoas com deficiência e importância da preservação do meio ambiente;
uma alimentação especial para os portadores de patogenias 7.46. incluir, no ensino das práticas artísticas na educação
alimentares; básica, conteúdo que considere a diversidade étnico-cultural do
7.34. prover equipamentos e recursos tecnológicos digitais Ceará, valorizando as matrizes de formação de nosso povo;
para a utilização pedagógica no ambiente escolar a todas as 7.47. promover o ensino de temas concernentes ao racismo
escolas públicas da educação básica, criando, inclusive, no mundo, no Brasil e no Ceará e assegurar políticas de
mecanismos para implementação das condições necessárias enfrentamento ao racismo incluindo a capacitação de
para a universalização das bibliotecas nas instituições educadores para incidir sobre o ambiente escolar promovendo
educacionais, com acesso a redes digitais de computadores, um ambiente de diversidade e respeito;
inclusive a internet; 7.48. acompanhar e divulgar bienalmente os resultados
7.35. implementar políticas de inclusão e permanência na pedagógicos dos indicadores do SAEB e do IDEB e, trienalmente,
escola para adolescentes e jovens que se encontram em regime os indicadores do PISA, relativos às instituições da rede pública
de liberdade assistida e em situação de rua, assegurando os de educação básica do Estado e dos municípios, assegurando a
princípios da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da contextualização desses resultados, com relação a indicadores
Criança e do Adolescente; sociais relevantes, como os de nível socioeconômico das famílias
7.36. desenvolver currículos e propostas pedagógicas dos alunos, a transparência e o acesso público às informações
específicas para educação escolar para as escolas do campo e técnicas de concepção e operação do sistema de avaliação;
para as comunidades indígenas e quilombolas, incluindo os 7.49. assegurar avaliação prévia e específica do material
conteúdos culturais correspondentes às respectivas escolar, voltado para crianças e adolescentes, no mínimo, nos
comunidades e considerando o fortalecimento das práticas seguintes itens: racismo, preconceito, discriminação e
socioculturais e da língua materna de cada comunidade orientação sexual;
indígena, produzindo e disponibilizando materiais didáticos 7.50. intensificar o apoio e incentivo aos municípios a
específicos, inclusive para os alunos com deficiência; adquirirem ônibus para conduzirem os alunos com a finalidade
7.37. mobilizar as famílias e setores da sociedade civil, de erradicar a utilização do transporte ‘pau-de-arara’;
articulando a educação formal com experiências de educação 7.51. garantir a implementação da oferta da disciplina de
popular e cidadã, com os propósitos de que a educação seja artes em todas as séries da educação básica, que deverá ser
assumida como responsabilidade de todos e de ampliar o ministrada por profissionais habilitados considerando-se a
controle social sobre o cumprimento das políticas públicas formação específica dos professores nos componentes de Dança,
educacionais; Teatro, Música e Artes Visuais, garantindo-se a realização de
concurso público para tanto.

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Meta 8: Elevar, até 2024, em regime de colaboração, a uma cultura de acolhimento, respeito, inclusive quanto a todos
escolaridade média da população de 18 (dezoito) a 29 (vinte e os preconceitos e opressões em razão de sua nacionalidade,
nove) anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 (doze) anos de condição social e local de nascimento, raça, cor, religião, origem
estudo no último ano, para as populações do campo, os povos étnica, convicção política ou filosófica, deficiência física ou
tradicionais, e demais segmentos populacionais que sofrem mental, doença, idade, atividade profissional, estado civil, classe
preconceitos e opressões em razão de sua nacionalidade, social, sexo, orientação sexual e moral familiar, respeitando-se a
condição social e local de nascimento, raça, cor, religião, origem orientação dos pais e/ou responsáveis;
étnica, convicção política ou filosófica, deficiência física ou 8.9. garantir acesso gratuito a exames de certificação da
mental, doença, idade, atividade profissional, estado civil, classe conclusão dos ensinos fundamental e médio;
social, sexo, orientação sexual e moral familiar, respeitando-se a 8.10. a Secretaria da Educação do Estado do Ceará – SEDUC,
orientação dos pais e/ou responsáveis, e os 25% (vinte e cinco em colaboração com os municípios e Secretarias de Assistência
por cento) mais pobres, e igualar a escolaridade média entre Social, acompanhará famílias com filhos com baixa frequência,
negros e não negros, declarados à Fundação Instituto Brasileiro evasão ou abandono escolar.
de Geografia e Estatística - IBGE.
Estratégias: Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população com 15
8.1. ampliar e assegurar a oferta da matrícula da Educação (quinze) anos ou mais, erradicar o analfabetismo absoluto e
de Jovens e Adultos – EJA, nos espaços já existentes em todas as reduzir em 50% (cinquenta) por cento a taxa de analfabetismo
redes de ensino, observando a territorialidade e as funcional, até 2024.
especificidades dos segmentos populacionais considerados; Estratégias:
8.2. criar políticas específicas para elevação da escolaridade 9.1 estruturar e implementar uma política pública para o
de jovens e adultos nos municípios com Índice de enfrentamento, de forma efetiva e eficiente, do analfabetismo
Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM, muito baixo, baixo absoluto e funcional no Estado, em regime de colaboração com
e médio, considerando as especificidades das populações a União e os municípios, no prazo máximo de 2 (dois) anos, após
indígena, quilombola, demais povos tradicionais, e demais aprovação do Plano;
segmentos populacionais que sofrem preconceitos e opressões 9.2. integrar a alfabetização de jovens e adultos à oferta de
em razão de sua nacionalidade, condição social e local de escolarização, como primeira etapa da educação básica da
nascimento, raça, cor, religião, origem étnica, convicção política população de 15 (quinze) anos ou mais;
ou filosófica, deficiência física ou mental, doença, idade, 9.3. garantir a formação mínima dos professores
atividade profissional, estado civil, classe social, sexo, orientação alfabetizadores, exigida pela Lei nº 9.394/96, qualificando-os
sexual e moral familiar, respeitando-se a orientação dos pais conforme as especificidades de cada região, e assegurando-lhes
e/ou responsáveis; as mesmas condições funcionais da categoria do magistério;
8.3. garantir a oferta da EJA integrada à educação 9.4. garantir a continuidade dos estudos dos adultos que
profissional para os 25% (vinte e cinco por cento) mais pobres, foram alfabetizados pelo Programa Brasil Alfabetizado - PBA,
as populações do campo, indígena, quilombola, povos com o compartilhamento de responsabilidades entre os entes
tradicionais, e demais segmentos populacionais que sofrem federados;
preconceitos e opressões em razão de sua nacionalidade, 9.5. garantir a institucionalização da oferta do Programa
condição social e local de nascimento, raça, cor, religião, origem Luz do Saber de forma integrada à política de alfabetização de
étnica, convicção política ou filosófica, deficiência física ou jovens e adultos, objetivando a inclusão digital e de outras
mental, doença, idade, atividade profissional, estado civil, classe tecnologias afins, de acordo com especificidades do público
social, sexo, orientação sexual e moral familiar, respeitando-se a atendido;
orientação dos pais e/ou responsáveis, tendo as escolas 9.6. elaborar política específica de atendimento à população
profissionalizantes e Centro de Educação de Jovens e Adultos – com mais de 29 (vinte e nove) anos não alfabetizada,
CEJA, como instâncias ofertantes dos cursos; articulando a EJA integrada à Educação Profissional, às
8.4. elaborar estudos, em até 2 (dois) anos após a publicação necessidades específicas desse grupo;
do Plano, para identificar as necessidades e demandas da 9.7. garantir, em parceria com a Secretaria da Saúde, a
população do campo, os mais pobres, negros, indígenas, execução do Programa Nacional Oftalmológico com
quilombolas, demais povos tradicionais do Ceará e demais fornecimento gratuito de óculos para os alunos da educação de
segmentos populacionais que sofrem preconceitos e opressões jovens e adultos;
em razão de sua nacionalidade, condição social e local de 9.8 implantar políticas de incentivo fiscal às empresas que
nascimento, raça, cor, religião, origem étnica, convicção política colaborarem com projetos de escolarização de seus
ou filosófica, deficiência física ou mental, doença, idade, funcionários;
atividade profissional, estado civil, classe social, sexo, orientação 9.9. realizar diagnóstico dos jovens e adultos com Ensino
sexual e moral familiar, respeitando-se a orientação dos pais Fundamental e Médio incompletos, para identificar a demanda
e/ou responsáveis, para elevar a escolaridade nos diferentes ativa por vagas na educação de jovens e adultos;
níveis e modalidades da educação básica; 9.10. realizar chamadas públicas regulares para educação
8.5. implementar programas de EJA para os grupos fora da de jovens e adultos, promovendo-se busca ativa em regime de
escola e com defasagem idade série, associados a estratégias de colaboração entre entes federados e em parceria com
combate à evasão e que garantam a continuidade da organizações da sociedade civil;
escolarização, após a alfabetização inicial; 9.11. assegurar a oferta de educação de jovens e adultos, nas
8.6. promover a chamada de matrícula para incentivar a etapas de Ensino Fundamental e Médio, com ênfase em cursos
inclusão escolar dos segmentos populacionais considerados profissionalizantes, às pessoas privadas de liberdade em todos
nesta meta, em parceria com áreas da assistência social, da os estabelecimentos penais, assegurando-se formação específica
saúde e de proteção à juventude; dos professores e implementação de diretrizes nacionais em
8.7. institucionalizar programas e desenvolver tecnologias regime de colaboração;
para a correção de fluxo, para acompanhamento pedagógico 9.12. considerar, nas políticas públicas de jovens e adultos,
individualizado, para a recuperação e progressão parcial, bem as necessidades dos idosos, com vistas à promoção de políticas
como priorizar estudantes com rendimento escolar defasado, de erradicação do analfabetismo, ao acesso a tecnologias
considerando as especificidades dos segmentos populacionais; educacionais e atividades recreativas, culturais e esportivas, à
8.8. garantir a formação inicial e continuada de professores, implementação de programas de valorização e
gestores e demais profissionais da educação para desenvolver

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compartilhamento dos conhecimentos e experiência dos idosos e tempo e o espaço pedagógicos adequados às características
à inclusão dos temas do envelhecimento e da velhice nas escolas; desses alunos;
9.13. executar ações de atendimento ao estudante da 10.11. fomentar a produção de material didático, o
educação de jovens e adultos por meio de programas desenvolvimento de currículos e metodologias específicas, os
suplementares de transporte, alimentação e saúde, inclusive instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e
atendimento oftalmológico e fornecimento gratuito de óculos, laboratórios e a formação continuada de docentes das redes
em articulação com a área da saúde. públicas que atuam na educação de jovens e adultos articulada
à educação profissional;
Meta 10: Oferecer, em regime de colaboração, no mínimo, 10.12. fomentar a oferta pública de formação inicial e
25% (vinte e cinco por cento) das matrículas de educação de continuada para trabalhadores e trabalhadoras articulada à
jovens e adultos na forma integrada à educação profissional, educação de jovens e adultos, em regime de colaboração e com
progressivamente até 2024. apoio de entidades privadas de formação profissional
Estratégias: vinculadas ao sistema sindical e de entidades sem fins lucrativos
10.1. estimular a adesão, por parte dos municípios, ao de atendimento à pessoa com deficiência, com atuação exclusiva
Programa ProJovem Urbano/Campo, como forma de ampliar as na modalidade;
possibilidades de articulação entre EJA e formação profissional 10.13. implementar mecanismos de reconhecimento de
no Ensino Fundamental; saberes dos jovens e adultos trabalhadores, a serem
10.2. expandir a oferta de formação profissional, por meio considerados na articulação curricular dos cursos de formação
de política estadual e do Programa Nacional de Acesso ao inicial e continuada e dos cursos técnicos de nível médio;
Ensino Técnico e Emprego – PRONATEC, e PRONATEC Campo, 10.14. estabelecer parcerias com o Ministério da Educação,
articulados à EJA, nos ensinos Fundamental e Médio, utilizando IFCE e entidades integrantes do Sistema S, como o SENAR, SESC,
os ambientes já existentes nas Escolas Estaduais de Educação SENAI, SEST e SEBRAE, além de outras instituições, para a
Profissional – EEEP e CEJA, dispensando especial atenção às ampliação do número de turmas de EJA, cujas atividades
mesorregiões mais pobres do Estado e que apresentam menor estejam integradas à educação profissional.
IDHM;
10.3. criar programa de assistência ao estudante, Meta 11: Assegurar 30% (trinta por cento) das matrículas
abrangendo ações de assistência social e financeira, visando de Ensino Médio articuladas à Educação Profissional e Técnica,
contribuir para a garantia do acesso, permanência e sucesso na até 2024.
aprendizagem dos alunos, observando as especificidades das Estratégias:
populações do campo, estimulando a conclusão, com êxito, da 11.1. ampliar, a partir da análise de demanda, o número de
EJA articulada à educação profissional; escolas que ofertam educação profissional técnica de nível
10.4. estimular a adesão, por parte dos municípios, aos médio, assegurando a sua sustentabilidade e garantindo a
programas de educação de jovens e adultos integrados à qualidade em âmbito público;
educação profissional, como forma de ampliar as possibilidades 11.2. ampliar o número de matrículas articuladas à
de articulação entre EJA e formação profissional no Ensino Educação Profissional de nível Médio através dos cursos
Fundamental; ofertados com apoio do PRONATEC;
10.5. garantir acesso e permanência com qualidade, na 11.3. otimizar os espaços com condições de oferta de cursos
modalidade EJA às populações menos favorecidas, em situação técnicos de nível médio no horário noturno, utilizando-se os
de vulnerabilidade social (negros, quilombolas, índios, espaços das Escolas Estaduais de Educação Profissional e
camponeses, povos tradicionais, público da educação especial e Regulares;
demais segmentos populacionais que sofrem preconceitos e 11.4. garantir às Escolas Profissionais adaptadas o padrão
opressões em razão de sua nacionalidade, condição social e local básico estabelecido pelo MEC;
de nascimento, raça, cor, religião, origem étnica, convicção 11.5. capacitar os professores utilizando a base nacional
política ou filosófica, deficiência física ou mental, doença, idade, comum curricular, em consonância com o Plano Estadual de
atividade profissional, estado civil, classe social, sexo, orientação Educação, numa visão integrada e multidisciplinar dos
sexual e moral familiar, respeitando-se a orientação dos pais conteúdos;
e/ou responsáveis), e/ou em situação de privação de liberdade 11.6. ampliar em parceria com o sistema S a oferta de cursos
(presidiários e socioeducandos); técnicos e FIC (Formação Inicial e Continuada), oportunizando
10.6. expandir e assegurar as matrículas na EJA nas redes a inserção de estudantes no mercado de trabalho;
públicas, de modo a articular a formação inicial e continuada de 11.7. fomentar a expansão das matrículas de ensino
trabalhadores à educação profissional, objetivando a elevação integrado à educação profissional, observando-se as
do nível de escolaridade e qualificação profissional da peculiaridades das populações do campo, das comunidades
população adulta; indígenas e quilombolas, das pessoas com deficiência e
10.7. expandir e assegurar a oferta da EJA articulada à comunidades tradicionais;
educação profissional, em parceria com instituições 11.8. estimular a expansão do estágio na educação
governamentais afins, para atender as pessoas privadas de profissional técnica de nível médio e do ensino médio regular,
liberdade nos estabelecimentos penais e os jovens em conflito preservando-se seu caráter pedagógico integrado ao itinerário
com a lei, nos Centros de Medidas Socioeducativas, assegurando- formativo do aluno, visando à formação de qualificações
se formação específica dos professores e das professoras; próprias da atividade profissional, à contextualização
10.8. promover formação inicial e continuada para docentes curricular e ao desenvolvimento da juventude;
que atuam na EJA integrada à educação profissional; 11.9. ampliar a oferta de programas de reconhecimento de
10.9. ampliar as oportunidades profissionais dos jovens e saberes para fins de certificação profissional em nível técnico;
adultos com deficiência e baixo nível de escolaridade, por meio 11.10. ampliar a oferta de matrículas gratuitas de educação
do acesso à educação de jovens e adultos articulada à educação profissional técnica de nível médio pelas entidades privadas de
profissional; formação profissional vinculadas ao sistema sindical e entidades
10.10. estimular a diversificação curricular da educação de sem fins lucrativos de atendimento à pessoa com deficiência,
jovens e adultos, articulando a formação básica e a preparação com atuação exclusiva na modalidade;
para o mundo do trabalho e estabelecendo inter-relações entre 11.11. elevar gradualmente o investimento em programas
teoria e prática, nos eixos da ciência, do trabalho, da arte, da de assistência estudantil e mecanismos de mobilidade
tecnologia e da cultura e da cidadania, de forma a organizar o acadêmica, visando a garantir as condições necessárias à

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permanência dos estudantes e à conclusão dos cursos técnicos implementando programa de incentivo à permanência e
de nível médio; conclusão dos alunos;
11.12. fomentar e garantir estudos e pesquisas sobre a 12.8. institucionalizar programa de composição de acervo
articulação entre formação, currículo, pesquisa e mundo do bibliográfico e audiovisual vinculada às novas tecnologias para
trabalho, considerando as necessidades econômicas, sociais e cursos de graduação e pós-graduação, assegurada a
culturais do Estado; acessibilidade às pessoas com deficiência;
11.13. institucionalizar sistema de avaliação da qualidade 12.9. estimular mecanismos para ocupar as vagas em cada
da educação profissional técnica de nível médio das redes período letivo na educação superior pública, bem como a
escolares públicas e privadas; expansão e reestruturação das instituições de educação
11.14. realizar o acompanhamento dos egressos da rede superior estaduais públicas, por meio de apoio técnico e
pública de educação nas instituições de ensino superior ou financeiro do Governo Federal, mediante termo de adesão a
escolas técnicas, de modo a avaliar a qualidade da formação programa de reestruturação, na forma de regulamento, que
recebida, a partir da comprovação da continuidade dos estudos considere a sua contribuição para ampliação de vagas e
e do ingresso dos jovens no mercado de trabalho. diversificação da oferta e que contemple as necessidades das
regionais em suas especificidades;
Meta 12: Elevar, até 2024, em regime de colaboração entre 12.10. reestruturar os procedimentos adotados na área de
a União, Estado e municípios, a taxa bruta de matrícula na avaliação, regulação e supervisão, em relação aos processos de
Educação Superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa autorização de cursos e instituições, de reconhecimento ou
líquida para 33% (trinta e três por cento) da população de 18 renovação de reconhecimento de cursos superiores e de
(dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da credenciamento ou recredenciamento de instituições, no âmbito
oferta e expansão para, pelo menos, 60% (sessenta por cento) do Sistema Estadual de Ensino;
das novas matrículas no segmento público. 12.11. fortalecer, ampliar, qualificar e manter os
Estratégias: profissionais e as redes físicas e virtuais de laboratórios
12.1. ampliar e otimizar a capacidade instalada da multifuncionais das IES e ICTs nas áreas estratégicas nacionais
estrutura física e de recursos humanos das instituições públicas de ciência, tecnologia e inovação;
de educação superior, sobretudo as estaduais, mediante ações 12.12. melhorar as condições de deslocamento dos
planejadas e coordenadas, de forma a ampliar e interiorizar o estudantes aos centros de ensino superior com
acesso à graduação; corresponsabilidade dos entes federados;
12.2. ampliar oferta de vagas, e de novos cursos, nas 12.13. criar formas de acompanhamento estudantil quanto
modalidades de licenciatura plena, bacharelado e cursos à orientação vocacional e de desempenho nos cursos, além de
tecnológicos, por meio da expansão e interiorização da Rede projetos de pesquisa e extensão desde o início do curso.
Estadual e Federal de Educação Superior, da Rede Estadual e Apresentar as possibilidades de atuação profissional das
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e do diversas áreas;
Sistema Universidade Aberta do Brasil, considerando a 12.14. revisar as propostas curriculares dos cursos de
densidade populacional, a oferta de vagas públicas em relação à licenciatura nas universidades estaduais, de forma a adaptá-las
população na idade de referência e observadas as ao contexto de cada nível de ensino e os diferentes públicos de
características regionais das micros e mesorregiões; atendimento: afrodescendente, indígena, população do campo;
12.3. elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos 12.15. ampliar a oferta de estágio como parte da formação
cursos de graduação presenciais nas universidades públicas na educação superior;
para 90% (noventa por cento), ofertar, no mínimo, um terço das 12.16. expandir atendimento específico a populações do
vagas em cursos noturnos e elevar a relação de estudante por campo e comunidades indígenas e quilombolas, em relação a
professor para 18 (dezoito), mediante estratégias de acesso, permanência, conclusão e formação de profissionais
aproveitamento de créditos e inovações acadêmicas que para atuação nessas populações;
valorizem a aquisição de competências de nível superior; 12.17. fomentar estudos e pesquisas que investiguem formas
12.4. ampliar as políticas de inclusão e de assistência de articulação entre formação, currículo, pesquisa e mundo do
estudantil dirigidas aos estudantes de instituições públicas, trabalho, considerando as necessidades econômicas, sociais e
bolsistas de instituições privadas de educação superior, e culturais do Estado.
expandir o número de beneficiários do Fundo de Financiamento
Estudantil – FIES, e do Programa Universidade Para Todos – Meta 13: Manter, em regime de colaboração, a qualidade da
PROUNI, de modo a reduzir as desigualdades étnico-raciais e Educação Superior assegurando que a proporção de mestres e
ampliar as taxas de acesso e permanência na educação superior doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do
de estudantes egressos da escola pública, afrodescendente, Sistema de Educação Superior seja de 75% (setenta e cinco por
indígena, população do campo e de estudantes com deficiência, cento), sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta e cinco por cento)
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou doutores, buscando aumentar a equidade entre as instituições e
superdotação, de forma apoiar seu acesso acadêmico; cursos da Educação Superior, até 2024.
12.5. assegurar e incentivar através de programas Estratégias:
acadêmicos, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de créditos 13.1. participar do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino
curriculares exigidos para a graduação em programas e Superior – SINAES, fortalecendo as ações de avaliação,
projetos de extensão universitária, orientando sua ação, regulação e supervisão;
prioritariamente, para áreas de grande pertinência 13.2. ampliar a cobertura do Exame Nacional de
socioeconômica; Desempenho de Estudantes – ENADE, de modo a aumentar o
12.6. consolidar e ampliar programas e ações de incentivo à quantitativo de estudantes e de áreas avaliadas no que diz
mobilidade e permanência estudantil e docente em curso de respeito à aprendizagem resultante da graduação;
graduação e pós-graduação, em âmbito nacional e 13.3. incentivar e fortalecer o processo contínuo de
internacional, no modelo do Programa Ciência Sem Fronteiras; autoavaliação das instituições de educação superior,
12.7. mapear a demanda e fomentar a oferta de cursos de destacando-se a qualificação e a dedicação do corpo docente;
nível superior para professores, destacadamente a que se refere 13.4. elevar o Padrão de Qualidade das IES, direcionando sua
à formação nas áreas de ciências e matemática, considerando as atividade, de modo que realizem, efetivamente, pesquisa
necessidades do desenvolvimento do País, a inovação institucionalizada, articulada à programa de pós-graduação
tecnológica e a melhoria da qualidade da educação básica, stricto sensu;

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13.5. fomentar a formação de parcerias entre instituições 14.10. promover o intercâmbio científico e tecnológico,
públicas e privadas de Ensino Superior, com vistas a nacional e internacional, entre as instituições de ensino,
potencializar a atuação regional qualificada, inclusive por meio pesquisa e extensão.
de plano de desenvolvimento integrado, assegurando maior
visibilidade nacional e internacional das atividades de ensino, Meta 15: Apoiar a criação da política nacional de formação
pesquisa e extensão; dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III
13.6. promover a formação inicial e continuadas dos do caput do art. 61 da Lei nº 9.394/ 96, a ser criada em 1 (um)
profissionais técnico-administrativos da educação superior; ano de aprovação da Lei 13.005/2014 e garantir, em regime de
13.7. proporcionar a melhoria da qualidade dos cursos de colaboração, que todos os professores e as professoras da
pedagogia e licenciaturas, por meio de instrumento próprio de educação básica possuam formação específica de nível superior
avaliação aprovado pela Comissão Nacional de Avaliação da na área em que atuam e elevar gradualmente o número dos
Educação Superior – CONAES, integrando-os às demandas e profissionais não docentes de nível superior.
necessidades das redes de educação básica, combinando Estratégias:
formação geral e específica com a prática didática, além da 15.1. promover o levantamento anual dos professores sem
educação para o respeito às diferenças, de qualquer natureza, e licenciatura específica na área de atuação;
às necessidades das pessoas com deficiência; 15.2. implantar e implementar, até o segundo ano de
13.8. elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos vigência do PEE, programas específicos de formação voltados às
cursos de graduação presenciais nas universidades públicas, de áreas do conhecimento, onde houver defasagem, de profissionais
modo a atingir 90% (noventa por cento) e, nas instituições sem licenciatura na área de atuação;
privadas, 75% (setenta e cinco por cento), em 2020, e fomentar 15.3. garantir e aprimorar os sistemas de lotação de
a melhoria dos resultados de aprendizagem, de modo que, em 5 professores, levando em consideração as especificidades de cada
(cinco) anos, pelo menos 60% (sessenta por cento) dos sistema de ensino e condição geográfica, dando ênfase à
estudantes apresentem desempenho positivo igual ou superior a formação específica na área de atuação;
60% (sessenta por cento) no Exame Nacional de Desempenho de 15.4. articular com as instituições de nível superior a
Estudantes - ENADE e, no último ano de vigência, pelo menos reforma curricular dos cursos de licenciatura, objetivando a
75% (setenta e cinco por cento) dos estudantes obtenham renovação pedagógica, com foco no aprendizado do estudante e
desempenho positivo igual ou superior a 75% (setenta e cinco o cuidado da criança;
por cento) nesse exame, em cada área de formação profissional; 15.5. promover, em regime de cooperação entre a União, o
Estado e os municípios, ações conjuntas a fim de organizar a
Meta 14: Elevar, em regime de colaboração, gradualmente oferta de cursos de formação inicial e continuada, por área e
o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de habilitação, baseada no mapeamento das demandas de
modo a atingir a titulação anual de 1700 (mil e setecentos) formação dos profissionais da educação, que atuam tanto na
mestres e 650 (seiscentos e cinquenta) doutores até 2024. cidade quanto no campo, considerando os princípios da
Estratégias: educação do campo e da educação para a convivência com o
14.1. expandir a oferta de cursos, democratizando o acesso semiárido;
aos programas de pós-graduação stricto sensu, acadêmicos e 15.6. criar polos de formação na área de atuação de
profissionais, utilizando inclusive metodologias, recursos e professores nas regiões mais críticas de acordo com o
tecnologias de educação semipresenciais, especialmente mapeamento do item 15.1;
doutorado, nos campi novos abertos em decorrência de 15.7. fortalecer as instituições de nível superior públicas
expansão e interiorização das instituições superiores públicas; para garantir a formação dos profissionais da educação;
14.2. implementar ações para reduzir as desigualdades 15.8. diagnosticar a carência de professores e apoiar a
étnico-raciais e regionais e para favorecer o acesso das política nacional de formação dos profissionais da educação de
populações do campo e das comunidades indígenas e que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº 9.394/
quilombolas a programas de mestrado e doutorado; 96, a ser criada em 1 (um) ano de aprovação da Lei 13.005/2014
14.3. consolidar programas, projetos e ações que objetivem e garantir, em regime de colaboração, que todos os professores
a internacionalização da pesquisa e da pós-graduação do da educação básica possuam formação específica de nível
Estado, incentivando a atuação em rede e o fortalecimento de superior na área em que atuam;
grupos de pesquisa; 15.9. ampliar programa permanente de iniciação à docência
14.4. ampliar o investimento principalmente em pesquisas a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, a fim de
aplicadas com foco em desenvolvimento e estímulo à inovação, aprimorar a formação de profissionais para atuar no magistério
bem como incrementar a formação de recursos humanos para da educação básica;
inovação que valorize a diversidade regional, a biodiversidade e 15.10. consolidar e ampliar plataforma eletrônica para
os recursos hídricos do semiárido, voltados ao desenvolvimento organizar a oferta e as matrículas em cursos de formação inicial
sustentável do Estado; e continuada de profissionais da educação, bem como para
14.5. estimular a produção e publicação científicas também divulgar e atualizar seus currículos eletrônicos;
na educação básica, conectando a mesma com a formação 15.11. implementar programas específicos para formação
inicial e continuada de professores; de profissionais da educação para as escolas do campo e de
14.6. expandir o financiamento da pós-graduação stricto comunidades indígenas e quilombolas e para a educação
sensu por meio das agências oficiais de fomento; especial;
14.7. estimular a integração e a atuação articulada entre a 15.12. promover a reforma curricular dos cursos de
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – licenciatura e estimular a renovação pedagógica, de forma a
CAPES, e as agências estaduais de fomento à pesquisa; assegurar o foco no aprendizado do aluno, dividindo a carga
14.8. manter e expandir programa de acervo digital de horária em formação geral, formação na área do saber e
referências bibliográficas para os cursos de pós-graduação, didática específica e incorporando as modernas tecnologias de
assegurada a acessibilidade às pessoas com deficiência; informação e comunicação, em articulação com a base nacional
14.9. estimular a participação dos acadêmicos, comum dos currículos da educação básica, de que tratam as
especialmente mulheres, em particular aqueles ligados às áreas estratégias 2.1, 2.2, 3.2 e 3.3 do Plano Nacional de Educação;
de Engenharia, Matemática, Física, Química, Informática e 15.13. garantir, por meio das funções de avaliação,
outros no campo das ciências; regulação e supervisão da educação superior, a plena
implementação das respectivas diretrizes curriculares;

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15.14. valorizar as práticas de ensino e os estágios nos cursos 16.11. ampliar a oferta de bolsas de estudo para pós-
de formação de nível médio e superior dos profissionais da graduação dos professores e demais profissionais da educação
educação, visando ao trabalho sistemático de articulação entre básica;
a formação acadêmica e as demandas da educação básica; 16.12. fortalecer a formação dos professores das escolas
15.15. implementar cursos e programas especiais para públicas de educação básica, por meio da implementação das
assegurar formação específica na educação superior, nas ações do Plano Nacional do Livro e Leitura e da instituição de
respectivas áreas de atuação, aos docentes com formação de programa nacional de disponibilização de recursos para acesso
nível médio na modalidade normal, não licenciados ou a bens culturais pelo magistério público;
licenciados em área diversa da de atuação docente, em efetivo 16.13. garantir a todos os profissionais da educação da rede
exercício; pública, efetivos ou temporários, a disponibilização de cursos
15.16. fomentar a oferta de cursos técnicos de nível médio e gratuitos e obrigatórios, interligados com as suas áreas de
tecnológicos de nível superior destinados à formação, nas atuação e com carga horária anual mínima de 20 (vinte) h/a, de
respectivas áreas de atuação, dos profissionais da educação de modo a possibilitar a contínua atualização destes profissionais.
outros segmentos que não os do magistério;
15.17. desenvolver modelos de formação docente para a Meta 17: Valorizar os profissionais da educação das redes
educação profissional que valorizem a experiência prática, por públicas de educação básica do Ceará de forma a equiparar, no
meio da oferta, na rede estadual de educação profissional, de mínimo, seu rendimento médio aos dos demais profissionais com
cursos voltados à complementação e certificação didático- escolaridade equivalente no Brasil, até o final do 5º (quinto) ano
pedagógica de profissionais experientes. de vigência deste Plano.
Estratégias:
Meta 16: Formar, em nível de pós-graduação, no mínimo, 17.1. apresentar, discutir e definir, até o final do 2º
50% (cinquenta por cento) dos professores de educação básica, (segundo) ano de vigência deste PEE, proposta de equiparação
até 2024, e garantir a todos os profissionais da educação básica salarial para os profissionais do magistério da Educação Básica
formação continuada em sua área de atuação, considerando as da rede do Estado do Ceará em articulação com as entidades
necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de classistas da educação;
ensino. 17.2. garantir boas condições de trabalho, com a
Estratégias: implementação de políticas públicas voltadas à valorização dos
16.1. elaborar, executar e efetivar um Planejamento profissionais da educação e concretização das políticas de
Estratégico para formação continuada stricto e lato sensu em formação, como forma de melhoria da qualidade da educação,
parceria com as instituições estaduais e federais; possibilitando a permanência dos trabalhadores da educação do
16.2. articular, promover e assegurar em parceria com o campo e da cidade;
Ministério da Educação o aumento da oferta de cursos de 17.3. garantir o cumprimento da legislação nacional quanto
formação continuada para profissionais da educação básica, à jornada de trabalho dos profissionais da educação da rede
cujos conteúdos ministrados devem estar concordes com os pública de ensino;
princípios e as diretrizes deste PEE e respeitar as disposições do 17.4. priorizar lotação em uma única escola e promover
Estatuto da Criança e do Adolescente; gradativamente a admissão em regime de dedicação exclusiva
16.3. criar, implantar e consolidar uma Política Estadual de dos profissionais do magistério nas redes estadual da educação
Formação que estimule e garanta aos profissionais da educação básica;
formação em sua área de atuação, elaborada junto aos 17.5. garantir a assistência à saúde e ao atendimento
segmentos representativos; médico-hospitalar e odontológico aos profissionais da educação
16.4. articular com o MEC e as universidades públicas a pública estadual através da revitalização do ISSEC – Instituto de
criação e ampliação da oferta de vagas stricto sensu, para Saúde dos Servidores do Estado do Ceará;
profissionais da educação, ofertadas nas macrorregiões do 17.6. criar programas que garantam a segurança no
Estado; trabalho, visando, dentre outros objetivos, exterminar toda
16.5. criar oferta de mestrado profissional e doutorado nas forma de violência contra o professor, no exercício de suas
macrorregiões, de forma gradativa e por etapas, de modo a atividades laborais, inclusive realizando-se pesquisas que
atender todos os professores da educação básica em todas as objetivem detectar as causas de agressões promovidas contra os
áreas do conhecimento; profissionais do magistério, para que sejam implementadas
16.6. promover e possibilitar, em regime de colaboração com estratégias específicas e efetivas contra essa espécie de
os municípios, a oferta e o acesso a cursos de formação violência;
continuada para educação básica; 17.7. implementar, no âmbito do Estado, planos de Carreira
16.7. ampliar e garantir recursos para o financiamento de para os profissionais do magistério das redes públicas de
cursos stricto sensu, para profissionais da educação da rede educação básica, observados os critérios estabelecidos na Lei nº
estadual, previsto na Lei nº 14.367, de 10 de junho de 2009; 11.738, de 16 de julho de 2008, com implantação gradual do
16.8. normatizar a liberação dos profissionais da educação cumprimento da jornada de trabalho em um único
básica durante o período do curso stricto sensu acadêmico e estabelecimento escolar;
profissional, objetivando o alcance da formação de 50% 17.8. criar programas que assegurem o cuidado com a saúde
(cinquenta por cento) dos professores da educação básica em integral do professor, investindo na medicina preventiva, com
pós-graduação até o final do PEE; ênfase nas doenças ocupacionais que atingem os profissionais
16.9. formar os profissionais da educação não docentes por da educação, através da ampliação do acesso a tratamentos
meio de programas de formação continuada, viabilizando sua preventivos nas áreas da Fonoaudiologia, Psicologia e Medicina
participação, quando aprovada sua participação pelos órgãos do Trabalho, dentre outras;
governamentais; 17.9. proporcionar um ambiente de trabalho docente
16.10. expandir programa de composição de acervo de obras adequado do ponto de vista da salubridade, verificando-se a
didáticas, paradidáticas e de literatura e de dicionários, e luminosidade do local, a ventilação, a aquisição e utilização de
programa específico de acesso a bens culturais, incluindo obras instrumentos tecnológicos voltados para a facilitação do
e materiais produzidos em Libras e em Braille, sem prejuízo de exercício da atividade;
outros, a serem disponibilizados para os professores da rede 17.10. realizar o levantamento do rendimento médio
pública de educação básica, favorecendo a construção do auferido pelos profissionais da educação dos municípios
conhecimento e a valorização da cultura da investigação; cearenses que alcançaram destaque nacional ou internacional

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pela qualidade no ensino, obtendo os melhores índices nos 19.2. garantir e ampliar os programas de apoio e formação
indicadores educacionais, e fazer uma comparação aos conselheiros dos conselhos de acompanhamento e controle
qualiquantitativa com o rendimento médio auferido pelos social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
profissionais com escolaridade equivalente dos demais Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação -
municípios cearenses, em especial com os que obtiveram os FUNDEB, dos conselhos de alimentação escolar, dos conselhos
piores índices educacionais, estimulando os demais municípios a municipais de educação e aos representantes educacionais em
promover, gradativamente, a equiparação dos rendimentos de demais conselhos de acompanhamento de políticas públicas,
seus profissionais da educação com os daqueles municípios, garantindo, em regime de colaboração com os municípios, a
considerando as condições socioeconômicas e geográficas esses colegiados recursos financeiros, espaço físico adequado,
locais. equipe técnica, equipamentos e meios de transporte para visitas
à rede escolar, com vistas ao bom desempenho de suas funções;
Meta 18: Assegurar Plano de Cargos, Carreira e Salários – 19.3. incentivar, orientar e apoiar os municípios na
PCCS, dos profissionais da educação básica e superior pública e constituição de Fóruns Permanentes de Educação, para o
de todos os profissionais do Sistema Estadual de Ensino, de acompanhamento da execução deste PEE e seus Planos
acordo com o art. 61, incisos I, II, III da Lei nº 9.394/96 – LDB, Municipais de Educação;
no prazo de 2 (dois) anos de vigência deste Plano e sua 19.4. garantir na rede pública estadual, e estimular em todas
atualização até o ano de 2024 e, em regime de colaboração, as redes de educação básica, a constituição e o fortalecimento
fomentar a criação e atualização dos planos de carreira para os de grêmios estudantis e entidades representativas de pais,
profissionais da educação nos municípios, tomando como assegurando-lhes, tanto na rede estadual quanto municipal, em
referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei regime de colaboração, espaços adequados e condições de
federal, nos termos do inciso VII do art. 206 da Constituição funcionamento nas escolas e fomentando a sua articulação
Federal. orgânica com os conselhos escolares, por meio das respectivas
Estratégias: representações;
18.1. manter mesa de negociação com as entidades 19.5. apoiar tecnicamente os municípios que manifestem
sindicais/associações representativas dos profissionais da interesse em constituírem sistemas próprios;
educação; 19.6. fomentar a instituição dos sistemas municipais,
18.2. assegurar a periódica realização de concurso público atribuindo aos Conselhos Municipais de Educação funções
para suprimento de todas as carências efetivas nos quadros dos normativas, consultivas, deliberativas, fiscalizadoras e
profissionais da educação, nas redes estadual e municipais, mobilizadoras;
conforme estabelece o art. 37, inciso I da Constituição Federal e 19.7. garantir programas de formação de conselheiros e
art. 67, inciso I, da LDB; equipes técnicas, assegurando-se condições de funcionamento e
18.3. considerar as especificidades socioculturais das escolas autonomia;
do campo e das comunidades indígenas e quilombolas no 19.8. estimular a constituição e o fortalecimento de
provimento de cargos efetivos para essas escolas; conselhos escolares como instrumentos de participação e
18.4. assegurar e garantir a existência de comissões fiscalização na gestão escolar, inclusive por meio de programas
permanentes de profissionais da educação de todos os sistemas de formação de conselheiros, assegurando-se condições de
de ensino, para subsidiar os órgãos competentes na elaboração, funcionamento e autonomia;
reestruturação e implementação dos planos de carreira; 19.9. estimular e assegurar a participação e a consulta de
18.5. criar o Grupo Ocupacional das Atividades profissionais da educação, alunos e seus familiares na
Administrativas Operacionais da Educação – ADOE, e das formulação dos projetos político-pedagógicos, currículos
atividades de Nível Superior da Educação - ANSE, com amparo escolares, planos de gestão escolar e regimentos escolares;
no art. 61, incisos II e III da Lei nº 9.394/96 (LDB), no tópico 382 19.10. garantir e ampliar a autonomia pedagógica,
do documento final da CONAE 2014, no art. 2º da Resolução 05, administrativa e de gestão financeira (no que se refere aos
de 3 de agosto de 2010, do Conselho Nacional de Educação e no processos burocráticos a fim de acelerar a aquisição de bens e
art. 226, § 1º da Constituição do Estado do Ceará; serviços) nos estabelecimentos de ensino;
18.6. efetivar o plano de carreira previsto no art. 226, § 1º 19.11. implementar, em até 2 (dois) anos, programas
da Constituição do Estado do Ceará, para fins de progressão específicos de formação continuada, inclusive lato e stricto
funcional na carreira, por meio de progressão do desempenho, sensu, para diretores, gestores escolares e equipes técnicas de
por antiguidade e automática por merecimento na forma da acompanhamento às escolas, em colaboração com os municípios
letra “c” da disposição constitucional já mencionada; que aderirem aos programas;
18.7. debater junto aos municípios a nacionalização da 19.12. criar mecanismos para a seleção pública e unificada
carreira dos profissionais do magistério; das equipes técnicas dos órgãos regionais de educação, no
18.8. garantir a progressão funcional, baseada na titulação âmbito da rede estadual, garantindo transparência no processo
e na avaliação de desempenho, assegurada na criação do Plano e critérios de mérito e de desempenho para o acesso;
de Cargos e Carreira dos profissionais da educação. 19.13. fortalecer e ampliar projetos, como o Professor
Diretor de Turma, como instrumento de gestão democrática, nas
Meta 19: Assegurar condições, no prazo de 1 (um) ano, para escolas públicas estaduais e incentivar e apoiar as escolas da
a efetivação da gestão democrática da educação, associada a rede municipal que aderirem;
critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à 19.14. estimular a participação da comunidade escolar e da
comunidade escolar. sociedade civil na elaboração, apropriação, divulgação,
Estratégias: acompanhamento e avaliação do PEE;
19.1. priorizar o repasse de transferências voluntárias e 19.15. promover práticas de gestão democráticas,
cooperações técnicas do Estado, na área da educação, para os protagonismo estudantil, aprendizagem cooperativa, cultura de
municípios que tenham aprovado legislação específica que paz e estímulo ao planejamento participativo, envolvendo o
regulamente a matéria na área de sua abrangência, estudante como ator do processo educativo e gestão escolar;
respeitando-se a legislação nacional e estadual, e que considere, 19.16. promover formação continuada de professores e
conjuntamente, para a nomeação dos diretores e diretoras de demais profissionais da escola nos princípios da gestão
escola, critérios técnicos de mérito e desempenho, através de democrática e na especificidade de suas funções alinhando
seleção pública, de provas de títulos, bem como a participação concepções, procedimentos e respeitando diferenças;
da comunidade escolar;

Legislação Básica da Educação 91


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APOSTILAS OPÇÃO

19.17. apoiar, por meio do Conselho Estadual de 20.10. garantir, em regime de colaboração, o financiamento
Educação, os municípios que manifestem interesse em do transporte escolar de qualidade, aprimorando os
constituírem Conselhos Municipais de Educação, como mecanismos de repasse e cooperação entre as redes, levando em
instrumento de participação e normatização da gestão consideração a quantidade de matrículas, as características
educacional; geográficas e demográficas dos municípios;
19.18. apoiar, por meio do Conselho Estadual de 20.11. garantir, por meio de parcerias, através da Secretaria
Educação, os municípios que manifestem interesse em da Educação – SEDUC, a transferência de recursos para Escolas
instituírem sistemas municipais, de forma a atribuir aos Família Agrícola para viabilizar a formação de jovens do campo
Conselhos Municipais de Educação funções normativas, pela oferta de cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, com
consultivas, deliberativas, fiscalizadoras e mobilizadoras; habilitação em agropecuária;
19.19. oferecer apoio técnico aos municípios, na elaboração 20.12. realizar, de 2 (dois) em 2 (dois) anos, após a sua
e aprovação de legislação específica, respeitando-se a legislação aprovação, o monitoramento deste PEE com a participação das
nacional, para fins de regulamentação da seleção e nomeação organizações da sociedade civil, Fórum Estadual de Educação e
de diretores e diretoras de escola, a partir de critérios técnicos Conselho Estadual de Educação, com o objetivo de garantir as
de mérito e desempenho e da participação da comunidade necessárias adequações ou atualizações para sua
escolar. implementação;
20.13. nos prazos e parâmetros estabelecidos na legislação
Meta 20: Colaborar para a ampliação do investimento federal, o Estado do Ceará implementará o Custo Aluno-
público em Educação pública de forma a atingir, no mínimo, o Qualidade inicial – CAQi, referenciado no conjunto de padrões
patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto – PIB, mínimos estabelecidos na legislação educacional e cujo
do País até o 5º (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, financiamento será calculado com base nos respectivos insumos
o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio. indispensáveis ao processo de ensino-aprendizagem e será,
Estratégias: progressivamente, reajustado até a implementação plena do
20.1. o cumprimento das metas deste Plano Estadual de Custo Aluno Qualidade – CAQ;
Educação é vinculado à manutenção da progressiva elevação 20.14. o Estado do Ceará implementará nos prazos e
dos percentuais constitucionais estaduais para a educação e ao parâmetros estabelecidos na legislação federal o Custo Aluno
aumento da transferência de recursos da união; Qualidade – CAQ, como referência para o financiamento da
20.2. garantir fontes de financiamento permanentes e educação de todas etapas e modalidades da educação básica
sustentáveis para todos os níveis, etapas e modalidades da abrangidas por este Plano, a partir do cálculo e do
educação básica, observando-se as políticas de colaboração acompanhamento regular dos indicadores de gastos
entre os entes federados, e a capacidade de atendimento e do educacionais com investimentos em qualificação e remuneração
esforço fiscal de cada ente federado, com vistas a atender suas do pessoal docente e dos demais profissionais da educação
demandas educacionais à luz do custo aluno qualidade; pública, em aquisição, manutenção, construção e conservação
20.3. definir e aperfeiçoar os mecanismos de controle social de instalações e equipamentos necessários ao ensino e em
e de planejamento, execução e acompanhamento de receitas e aquisição de material didático-escolar, alimentação e
despesas envolvendo a Secretaria da Educação e de Ciência, transporte escolar;
Tecnologia e Educação Superior do Ceará, bem como garantir a 20.15. o CAQ será definido, em valor e conteúdo, nos prazos
efetividade e impactos de seus projetos e programas; e parâmetros estabelecidos na legislação federal e serão
20.4. estabelecer, garantir e efetivar a articulação entre as continuamente ajustados, com base em metodologia formulada
metas deste Plano e os demais instrumentos orçamentários da por grupo de trabalho que tenha, no mínimo, participação do
União, do Estado e dos municípios, os Planos Municipais de Fórum Estadual de Educação, Secretaria Estadual da Educação,
Educação, os Planos de Ações Articuladas e os respectivos Planos Conselho Estadual de Educação, representação de estudantes e
Plurianuais - PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, e Lei pais, representação da categoria de professores, organizações
Orçamentária Anual - LOA, em todos os níveis, etapas e não governamentais com atuação na área e a Campanha
modalidades de ensino; Nacional pelo Direito à Educação.
20.5. criar, em conformidade com a regulamentação do
Sistema Nacional de Educação em lei federal, lei estadual para Meta 21: Assegurar, ampliar e garantir, em regime de
regulamentar o regime de colaboração entre o Estado e colaboração com a União e municípios, Política de Educação
municípios, com critérios claros de apoio e suplementação, Indígena, Quilombola e do Campo.
levando em consideração as especificidades de cada município, Estratégias:
suas capacidades técnicas, de atendimento e do esforço fiscal; 21.1. universalizar, até 2024, Educação Infantil, a partir do
20.6. desenvolver, por meio do Instituto de Pesquisa 0 (zero) mês de idade, creches em período integral;
Econômica e Estratégia do Ceará - IPECE, estudos e Fundamental e Médio dentro das comunidades indígenas,
acompanhamento regular dos investimentos e custo por aluno quilombola e do campo, independente do número de alunos, de
da educação básica e superior pública, em todas as suas etapas modo a possibilitar a inserção produtiva e autonomia
e modalidades; econômica das mulheres;
20.7. aprimorar e estimular a garantia do acesso às 21.2. quando os anos iniciais do Ensino Infantil e
informações nos portais de transparência no Estado e Fundamental não puderem ser oferecidos nas próprias
municípios, objetivando a assimilação das informações de comunidades indígenas, quilombolas ou do campo, a nucleação
aplicação dos recursos pelos governos; rural levará em conta a participação das comunidades
20.8. analisar o custo efetivo atual do aluno da rede estadual interessadas na definição do local, bem como a garantia de
em suas diversas etapas e modalidades, com o objetivo de transporte escolar, evitando-se, ao máximo, o deslocamento do
estimar o impacto de adequação do custo aluno atual para o campo para a cidade;
valor do Custo Aluno Qualidade - CAQ; 21.3. mensurar a população indígena, quilombola e do
20.9. definir critérios para distribuição dos recursos campo com faixa etária de 15 (quinze) a 30 (trinta) anos com
adicionais dirigidos à educação ao longo do decênio, que vista a universalizar o atendimento da Educação de Jovens e
considerem a equalização das oportunidades educacionais, a Adultos desde os três níveis: Alfabetização, Ensino fundamental
vulnerabilidade socioeconômica e o compromisso técnico da profissional e Ensino médio profissional até 2024, devendo
gestão do sistema de ensino; considerar que os deslocamentos necessários sejam feitos nas

Legislação Básica da Educação 92


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menores distâncias possíveis, preservado o princípio 21.15. desenvolver um programa de incentivo que valorize
intracampo; as línguas maternas indígenas, principalmente o Tupi e adequar
21.4. garantia da continuidade dos estudos da juventude o Sistema de Gestão Escolar – SIGE, as especificidades da oferta
com a interiorização das Universidades Públicas e apoio aos da base diversificada, permitindo a inclusão nominal dessa e de
estudantes indígenas, quilombolas e do campo, com transporte outras disciplinas específicas no histórico acadêmico do aluno;
escolar, residência universitária, bolsa permanência, para 21.16. desenvolver um programa de estudo e abordagem das
cursarem a graduação e pós-graduação; línguas e dialetos africanos nas escolas quilombolas, visando à
21.5. assegurar a criação das categorias de professor preservação da identidade cultural;
indígena, quilombola e do campo nos quadros da administração 21.17. assegurar que a alimentação escolar seja de acordo
pública estadual, garantido Plano de Cargos, Carreira e Salários com a cultura alimentar das comunidades e de cada região
– PCCS, aos profissionais da Educação Escolar Indígena, sendo os alimentos adquiridos, preferencialmente, da
Quilombola e do Campo com base no piso salarial nacional agricultura familiar camponesa e da pesca artesanal, na forma
profissional, instituído em lei federal; da Lei;
21.6. criação de Coordenadoria específica para Educação 21.18. participação dos movimentos sociais do campo na
dos Povos do Campo junto à Secretaria da Educação do Estado gestão e implementação da política educacional do indígena,
– SEDUC, e estimular sua criação nas Secretarias de Educação quilombola e do campo, como sujeito coletivo, mobilizador e
dos Municípios para a gestão da Política educacional Indígena, organizador do projeto de educação das escolas indígena,
Quilombola, do Campo; quilombola e do campo, vinculado à realidade da classe
21.7. garantir uma Política de transporte escolar de trabalhadora;
qualidade para as comunidades indígenas, quilombola e do 21.19. assegurar, até 2024, a implantação dos projetos de
campo, que garanta o menor tempo possível no percurso pesquisa para os jovens indígenas, quilombolas e do campo,
residência-escola e que as crianças sejam transportadas do concludentes do 3º (terceiro) ano do Ensino Médio.
campo para o campo, bem como a exigência de frota com, no
máximo, 5 (cinco) anos de uso;
21.8. o Poder Executivo deve apresentar, em 1 (um) ano,
projeto de lei instituindo procedimento específico para o
credenciamento e regularização das escolas indígenas, Anotações
quilombola e do campo;
21.9. instituição de um programa específico para Educação
Infantil e Educação Especial para as escolas indígenas,
quilombola e do campo, envolvendo estrutura, salas
multifuncionais, equipamentos, materiais didáticos específicos,
formação de professores, recursos humanos necessários e
valorização das pedagogias em suas peculiaridades;
21.10. promover, em no máximo 2 (dois) anos após a
aprovação deste Plano, ajustes nos currículos das escolas
indígenas, quilombola e do campo, inserindo conteúdos
(recursos hídricos e tecnologias sociais de convivência com o
semiárido, sucessão rural, associativismo e cooperativismo,
cultura local, saberes e experiências dos sujeitos da região, meio
ambiente, ecossistemas costeiros, manejo do bioma caatinga,
manejo sustentável de solo, desenvolvimento local sustentável,
economia solidária, abordagem que vise desenvolver cultura de
superação do preconceito e discriminação aos segmentos
populacionais, inclusive por racismo, por sua orientação sexual,
machismo, intolerância religiosa e geração, etnia, agroecologia,
gestão territorial, medicina tradicional, pintura corporal e
rituais indígenas, etc) que atendam a realidade e as
especificidades dessas comunidades;
21.11. garantir, até 2020, para todas as escolas dos povos do
campo recursos para o plano de soberania hídrica nas escolas,
visando ao fornecimento, fontes d’água de captação e
armazenamento e elaborar plano, com cronograma de
implementação, de infraestrutura para escolas indígenas,
quilombolas e do campo contemplando construção, reforma,
soberania hídrica, ampliação das escolas e oferta de energia
elétrica e/ou de fontes renováveis, telecomunicação e internet
de qualidade em todas elas;
21.12. garantir um programa de formação continuada para
profissionais da educação indígena, quilombola e do campo,
garantindo a especificidade e o fortalecimento da identidade de
cada escola, compartilhando com os sujeitos envolvidos e suas
organizações;
21.13. garantir o projeto político pedagógico vinculado à
concepção de educação indígena, quilombola e do campo nas
escolas de acordo com a sua identidade;
21.14. apoiar e incentivar a produção de livros e materiais
didáticos específicos pelos povos indígenas, quilombola e do
campo para fortalecer a proposta da base diversificada;

Legislação Básica da Educação 93


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LÍNGUA PORTUGUESA

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APOSTILAS OPÇÃO
Não saber interpretar corretamente um texto pode gerar
inúmeros problemas, afetando não só o desenvolvimento
profissional, mas também o desenvolvimento pessoal. O mundo
moderno cobra de nós inúmeras competências, uma delas é a
proficiência na língua, e isso não se refere apenas a uma boa
comunicação verbal, mas também à capacidade de entender
aquilo que está sendo lido. O analfabetismo funcional está
1 Compreensão e interpretação relacionado com a dificuldade de decifrar as entrelinhas do
de textos. código, pois a leitura mecânica é bem diferente da leitura
interpretativa, aquela que fazemos ao estabelecer analogias e
criar inferências. Para que você não sofra mais com a análise de
textos, elaboramos algumas dicas para você seguir e tirar suas
Interpretação de Texto
dúvidas.
Uma interpretação de texto competente depende de
A leitura é o meio mais importante para chegarmos ao
inúmeros fatores, mas nem por isso deixaremos de contemplar
conhecimento, portanto, precisamos aprender a ler e não
alguns que se fazem essenciais para esse exercício. Muitas vezes,
apenas “passar os olhos sobre algum texto”. Ler, na verdade,
apressados, descuidamo-nos das minúcias presentes em um
é dar sentido à vida e ao mundo, é dominar a riqueza de
texto, achamos que apenas uma leitura já se faz suficiente, o que
qualquer texto, seja literário, informativo, persuasivo, narrativo,
não é verdade. Interpretar demanda paciência e, por isso, sempre
possibilidades que se misturam e as tornam infinitas. É preciso,
releia, pois uma segunda leitura pode apresentar aspectos
para uma boa leitura, exercitar-se na arte de pensar, de captar
surpreendentes que não foram observados anteriormente.
ideias, de investigar as palavras… Para isso, devemos entender,
Para auxiliar na busca de sentidos do texto, você pode também
primeiro, algumas definições importantes:
retirar dele os tópicos frasais presentes em cada parágrafo,
isso certamente auxiliará na apreensão do conteúdo exposto.
Texto
Lembre-se de que os parágrafos não estão organizados, pelo
O texto (do latim textum: tecido) é uma unidade básica de
menos em um bom texto, de maneira aleatória, se estão no lugar
organização e transmissão de ideias, conceitos e informações de
que estão, é porque ali se fazem necessários, estabelecendo
modo geral. Em sentido amplo, uma escultura, um quadro, um
uma relação hierárquica do pensamento defendido, retomando
símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um filme, uma novela de
ideias supracitadas ou apresentando novos conceitos.
televisão também são formas textuais.
Para finalizar, concentre-se nas ideias que de fato foram
explicitadas pelo autor: os textos argumentativos não costumam
Interlocutor
conceder espaço para divagações ou hipóteses, supostamente
É a pessoa a quem o texto se dirige.
contidas nas entrelinhas. Devemos nos ater às ideias do autor,
isso não quer dizer que você precise ficar preso na superfície
Texto-modelo
do texto, mas é fundamental que não criemos, à revelia do
“Não é preciso muito para sentir ciúme. Bastam três – você,
autor, suposições vagas e inespecíficas. Quem lê com cuidado
uma pessoa amada e uma intrusa. Por isso todo mundo sente.
certamente incorre menos no risco de tornar-se um analfabeto
Se sua amiga disser que não, está mentindo ou se enganando.
funcional e ler com atenção é um exercício que deve ser
Quem agüenta ver o namorado conversando todo animado com
praticado à exaustão, assim como uma técnica, que fará de nós
outra menina sem sentir uma pontinha de não-sei-o-quê? (…)
leitores proficientes e sagazes. Agora que você já conhece nossas
É normal você querer o máximo de atenção do seu namorado,
dicas, desejamos a você uma boa leitura e bons estudos!
das suas amigas, dos seus pais. Eles são a parte mais importante
Fonte: http://portugues.uol.com.br/redacao/dicas-para-uma-boa-
da sua vida.”
interpretacao-texto.html
(Revista Capricho)
Modelo de Perguntas
Questões
1) Considerando o texto-modelo, é possível identificar quem
é o seu interlocutor preferencial?
O uso da bicicleta no Brasil
Um leitor jovem.
A utilização da bicicleta como meio de locomoção no Brasil
2) Quais são as informações (explícitas ou não) que permitem
ainda conta com poucos adeptos, em comparação com países
a você identificar o interlocutor preferencial do texto?
como Holanda e Inglaterra, por exemplo, nos quais a bicicleta
Do contexto podemos extrair indícios do interlocutor
é um dos principais veículos nas ruas. Apesar disso, cada vez
preferencial do texto: uma jovem adolescente, que pode ser
mais pessoas começam a acreditar que a bicicleta é, numa
acometida pelo ciúme. Observa-se ainda , que a revista Capricho
comparação entre todos os meios de transporte, um dos que
tem como público-alvo preferencial: meninas adolescentes.
oferecem mais vantagens.
A linguagem informal típica dos adolescentes.
A bicicleta já pode ser comparada a carros, motocicletas
e a outros veículos que, por lei, devem andar na via e jamais
09 DICAS PARA MELHORAR A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
na calçada. Bicicletas, triciclos e outras variações são todos
01) Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do
considerados veículos, com direito de circulação pelas ruas e
assunto;
prioridade sobre os automotores.
02) Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a
Alguns dos motivos pelos quais as pessoas aderem à bicicleta
leitura;
no dia a dia são: a valorização da sustentabilidade, pois as bikes
03) Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo
não emitem gases nocivos ao ambiente, não consomem petróleo
menos duas vezes;
e produzem muito menos sucata de metais, plásticos e borracha;
04) Inferir;
a diminuição dos congestionamentos por excesso de veículos
05) Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
motorizados, que atingem principalmente as grandes cidades; o
06) Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do
favorecimento da saúde, pois pedalar é um exercício físico muito
autor;
bom; e a economia no combustível, na manutenção, no seguro e,
07) Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor
claro, nos impostos.
compreensão;
No Brasil, está sendo implantado o sistema de
08) Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada
compartilhamento de bicicletas. Em Porto Alegre, por exemplo,
questão;
o BikePOA é um projeto de sustentabilidade da Prefeitura, em
09) O autor defende ideias e você deve percebê-las;
parceria com o sistema de Bicicletas SAMBA, com quase um
Fonte: http://portuguesemfoco.com/09-dicas-para-melhorar-a-
ano de operação. Depois de Rio de Janeiro, São Paulo, Santos,
interpretacao-de-textos-em-provas/
Sorocaba e outras cidades espalhadas pelo país aderirem a

Língua Portuguesa 1
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APOSTILAS OPÇÃO
esse sistema, mais duas capitais já estão com o projeto pronto Considerando a relação entre o título e a imagem, é correto
em 2013: Recife e Goiânia. A ideia do compartilhamento é concluir que um dos temas diretamente explorados no cartum é
semelhante em todas as cidades. Em Porto Alegre, os usuários (A) o aumento da circulação de ciclistas nas vias públicas.
devem fazer um cadastro pelo site. O valor do passe mensal é (B) a má qualidade da pavimentação em algumas ruas.
R$ 10 e o do passe diário, R$ 5, podendo-se utilizar o sistema (C) a arbitrariedade na definição dos valores das multas.
durante todo o dia, das 6h às 22h, nas duas modalidades. Em (D) o número excessivo de automóveis nas ruas.
todas as cidades que já aderiram ao projeto, as bicicletas estão (E) o uso de novas tecnologias no transporte público.
espalhadas em pontos estratégicos.
A cultura do uso da bicicleta como meio de locomoção 04. Considere o cartum de Douglas Vieira.
não está consolidada em nossa sociedade. Muitos ainda não
sabem que a bicicleta já é considerada um meio de transporte, Televisão
ou desconhecem as leis que abrangem a bike. Na confusão de
um trânsito caótico numa cidade grande, carros, motocicletas,
ônibus e, agora, bicicletas, misturam-se, causando, muitas vezes,
discussões e acidentes que poderiam ser evitados.
Ainda são comuns os acidentes que atingem ciclistas. A
verdade é que, quando expostos nas vias públicas, eles estão
totalmente vulneráveis em cima de suas bicicletas. Por isso
é tão importante usar capacete e outros itens de segurança. A
maior parte dos motoristas de carros, ônibus, motocicletas e
caminhões desconhece as leis que abrangem os direitos dos
ciclistas. Mas muitos ciclistas também ignoram seus direitos
e deveres. Alguém que resolve integrar a bike ao seu estilo de
vida e usá-la como meio de locomoção precisa compreender
que deverá gastar com alguns apetrechos necessários para (http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br.
poder trafegar. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, Adaptado)
as bicicletas devem, obrigatoriamente, ser equipadas com
campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos É correto concluir que, de acordo com o cartum,
pedais, além de espelho retrovisor do lado esquerdo. (A) os tipos de entretenimento disponibilizados pelo livro ou
(Bárbara Moreira, http://www.eusoufamecos.net. Adaptado) pela TV são equivalentes.
(B) o livro, em comparação com a TV, leva a uma imaginação
01. De acordo com o texto, o uso da bicicleta como meio de mais ativa.
locomoção nas metrópoles brasileiras (C) o indivíduo que prefere ler a assistir televisão é alguém
(A) decresce em comparação com Holanda e Inglaterra que não sabe se distrair.
devido à falta de regulamentação. (D) a leitura de um bom livro é tão instrutiva quanto assistir
(B) vem se intensificando paulatinamente e tem sido a um programa de televisão.
incentivado em várias cidades. (E) a televisão e o livro estimulam a imaginação de modo
(C) tornou-se, rapidamente, um hábito cultivado pela idêntico, embora ler seja mais prazeroso.
maioria dos moradores.
(D) é uma alternativa dispendiosa em comparação com os Leia o texto para responder às questões:
demais meios de transporte.
(E) tem sido rejeitado por consistir em uma atividade Propensão à ira de trânsito
arriscada e pouco salutar.
Dirigir um carro é estressante, além de inerentemente
02. A partir da leitura, é correto concluir que um dos perigoso. Mesmo que o indivíduo seja o motorista mais seguro
objetivos centrais do texto é do mundo, existem muitas variáveis de risco no trânsito, como
(A) informar o leitor sobre alguns direitos e deveres do clima, acidentes de trânsito e obras nas ruas.
ciclista. E com relação a todas as outras pessoas nas ruas? Algumas
(B) convencer o leitor de que circular em uma bicicleta é não são apenas maus motoristas, sem condições de dirigir, mas
mais seguro do que dirigir um carro. também se engajam num comportamento de risco – algumas até
(C) mostrar que não há legislação acerca do uso da bicicleta agem especificamente para irritar o outro motorista ou impedir
no Brasil. que este chegue onde precisa.
(D) explicar de que maneira o uso da bicicleta como meio de Essa é a evolução de pensamento que alguém poderá
locomoção se consolidou no Brasil. ter antes de passar para a ira de trânsito de fato, levando um
(E) defender que, quando circular na calçada, o ciclista deve motorista a tomar decisões irracionais.
dar prioridade ao pedestre. Dirigir pode ser uma experiência arriscada e emocionante.
Para muitos de nós, os carros são a extensão de nossa
03. Considere o cartum de Evandro Alves. personalidade e podem ser o bem mais valioso que possuímos.
Dirigir pode ser a expressão de liberdade para alguns, mas
Afogado no Trânsito também é uma atividade que tende a aumentar os níveis de
estresse, mesmo que não tenhamos consciência disso no
momento.
Dirigir é também uma atividade comunitária. Uma vez que
entra no trânsito, você se junta a uma comunidade de outros
motoristas, todos com seus objetivos, medos e habilidades ao
volante. Os psicólogos Leon James e Diane Nahl dizem que um
dos fatores da ira de trânsito é a tendência de nos concentrarmos
em nós mesmos, descartando o aspecto comunitário do ato de
dirigir.
Como perito do Congresso em Psicologia do Trânsito, o
Dr. James acredita que a causa principal da ira de trânsito não
são os congestionamentos ou mais motoristas nas ruas, e sim
como nossa cultura visualiza a direção agressiva. As crianças
aprendem que as regras normais em relação ao comportamento
(http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br) e à civilidade não se aplicam quando dirigimos um carro. Elas

Língua Portuguesa 2
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APOSTILAS OPÇÃO
podem ver seus pais envolvidos em comportamentos de disputa Narração
ao volante, mudando de faixa continuamente ou dirigindo em
alta velocidade, sempre com pressa para chegar ao destino.
Para complicar as coisas, por vários anos psicólogos Expõe um fato, relaciona mudanças de situação, aponta
sugeriam que o melhor meio para aliviar a raiva era descarregar antes, durante e depois dos acontecimentos (geralmente);
a frustração. Estudos mostram, no entanto, que a descarga de É um tipo de texto sequencial;
frustrações não ajuda a aliviar a raiva. Em uma situação de ira
de trânsito, a descarga de frustrações pode transformar um Relato de fatos;
incidente em uma violenta briga. Presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo;
Com isso em mente, não é surpresa que brigas violentas
aconteçam algumas vezes. A maioria das pessoas está Apresentação de um conflito;
predisposta a apresentar um comportamento irracional quando Uso de verbos de ação;
dirige. Dr. James vai ainda além e afirma que a maior parte das
pessoas fica emocionalmente incapacitada quando dirige. O que Geralmente, é mesclada de descrições;
deve ser feito, dizem os psicólogos, é estar ciente de seu estado O diálogo direto é frequente.
emocional e fazer as escolhas corretas, mesmo quando estiver
tentado a agir só com a emoção. Dissertação
(Jonathan Strickland. Disponível em: http://carros.hsw.uol.com.br/
furia-no-transito1 .htm. Acesso em: 01.08.2013. Adaptado)
Expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa;
05. Tomando por base as informações contidas no texto, é É um tipo de texto argumentativo.
correto afirmar que
(A) os comportamentos de disputa ao volante acontecem à Defesa de um argumento:
medida que os motoristas se envolvem em decisões conscientes. a) apresentação de uma tese que será defendida,
(B) segundo psicólogos, as brigas no trânsito são causadas b) desenvolvimento ou argumentação,
pela constante preocupação dos motoristas com o aspecto c) fechamento;
comunitário do ato de dirigir. Predomínio da linguagem objetiva;
(C) para Dr. James, o grande número de carros nas ruas é
o principal motivo que provoca, nos motoristas, uma direção Prevalece a denotação.
agressiva.
(D) o ato de dirigir um carro envolve uma série de Carta
experiências e atividades não só individuais como também
sociais. Esse é um tipo de texto que se caracteriza por envolver um
(E) dirigir mal pode estar associado à falta de controle das remetente e um destinatário;
emoções positivas por parte dos motoristas.
É normalmente escrita em primeira pessoa, e sempre visa um
Respostas tipo de leitor;
1. (B) / 2. (A) / 3. (D) / 4. (B) / 5. (D) É necessário que se utilize uma linguagem adequada com
o tipo de destinatário e que durante a carta não se perca a
visão daquele para quem o texto está sendo escrito.
2 Tipologia textual.
Descrição

É a representação com palavras de um objeto, lugar, situação


Tipos Textuais ou coisa, onde procuramos mostrar os traços mais particulares
ou individuais do que se descreve. É qualquer elemento que seja
Para escrever um texto, necessitamos de técnicas que apreendido pelos sentidos e transformado, com palavras, em
implicam no domínio de capacidades linguísticas. Temos dois imagens.
momentos: o de formular pensamentos (o que se quer dizer) Sempre que se expõe com detalhes um objeto, uma pessoa
e o de expressá-los por escrito (o escrever propriamente dito). ou uma paisagem a alguém, está fazendo uso da descrição. Não
Fazer um texto, seja ele de que tipo for, não significa apenas é necessário que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista do
escrever de forma correta, mas sim, organizar ideias sobre observador varia de acordo com seu grau de percepção. Dessa
determinado assunto. forma, o que será importante ser analisado para um, não será
E para expressarmos por escrito, existem alguns modelos de para outro.
expressão escrita: Descrição – Narração – Dissertação. A vivência de quem descreve também influencia na hora de
transmitir a impressão alcançada sobre determinado objeto,
Descrição pessoa, animal, cena, ambiente, emoção vivida ou sentimento.

Expõe características dos seres ou das coisas, apresenta uma Exemplos:


visão; (I) “De longe via a aleia onde a tarde era clara e redonda. Mas
a penumbra dos ramos cobria o atalho.
É um tipo de texto figurativo; Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores,
Retrato de pessoas, ambientes, objetos; pequenas surpresas entre os cipós. Todo o jardim triturado
pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o
Predomínio de atributos; meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de
Uso de verbos de ligação; abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.”
Frequente emprego de metáforas, comparações e outras (extraído de “Amor”, Laços de Família, Clarice Lispector)
figuras de linguagem;
Tem como resultado a imagem física ou psicológica. (II) Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole,
aplicado, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em
reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinquenta
minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o
cérebro. Reunia a isso grande medo ao pai. Era uma criança fina,

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pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola Características Linguísticas:
depois do pai e retiravase antes. O mestre era mais severo com O enunciado narrativo, por ter a representação de
ele do que conosco. um acontecimento, fazer-transformador, é marcado pela
temporalidade, na relação situação inicial e situação final,
(Machado de Assis. “Conto de escola”. Contos. 3ed. São enquanto que o enunciado descritivo, não tendo transformação,
Paulo, Ática, 1974, págs. 3132.) é atemporal.
Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintático-
Esse texto traça o perfil de Raimundo, o filho do professor da semânticas encontradas no texto que vão facilitar a compreensão:
escola que o escritor frequentava. - Predominância de verbos de estado, situação ou indicadores
Deve-se notar: de propriedades, atitudes, qualidades, usados principalmente
- que todas as frases expõem ocorrências simultâneas (ao no presente e no imperfeito do indicativo (ser, estar, haver,
mesmo tempo que gastava duas horas para reter aquilo que os situar-se, existir, ficar).
outros levavam trinta ou cinquenta minutos, Raimundo tinha - Ênfase na adjetivação para melhor caracterizar o que é
grande medo ao pai); descrito;
- por isso, não existe uma ocorrência que possa ser - Emprego de figuras (metáforas, metonímias, comparações,
considerada cronologicamente anterior a outra do ponto de sinestesias).
vista do relato (no nível dos acontecimentos, entrar na escola é - Uso de advérbios de localização espacial.
cronologicamente anterior a retirar-se dela; no nível do relato,
porém, a ordem dessas duas ocorrências é indiferente: o que o Recursos:
escritor quer é explicitar uma característica do menino, e não - Usar impressões cromáticas (cores) e sensações térmicas.
traçar a cronologia de suas ações); Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor alegre do
- ainda que se fale de ações (como entrava, retirava-se), todas sol.
elas estão no pretérito imperfeito, que indica concomitância em - Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exatas,
relação a um marco temporal instalado no texto (no caso, o ano concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um céu
de 1840, em que o escritor frequentava a escola da Rua da Costa) sereno, uma pureza de cristal.
e, portanto, não denota nenhuma transformação de estado; - As sensações de movimento e cor embelezam o poder da
- se invertêssemos a sequência dos enunciados, não natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde transparente
correríamos o risco de alterar nenhuma relação cronológica que deslumbrava e enlouquecia qualquer um.
poderíamos mesmo colocar o últímo período em primeiro lugar - A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez do
e ler o texto do fim para o começo: O mestre era mais severo com texto. Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O pessoal,
ele do que conosco. Entrava na escola depois do pai e retirava-se muito crente.
antes...
A descrição pode ser apresentada sob duas formas:
Características: Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a passagem
- Ao fazer a descrição enumeramos características, são apresentadas como realmente são, concretamente. Ex: “Sua
comparações e inúmeros elementos sensoriais; altura é 1,85m. Seu peso, 70 kg. Aparência atlética, ombros largos,
- As personagens podem ser caracterizadas física e pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos negros e lisos”.
psicologicamente, ou pelas ações; Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Exemplo:
- A descrição pode ser considerada um dos elementos “ A casa velha era enorme, toda em largura, com porta central
constitutivos da dissertação e da argumentação; que se alcançava por três degraus de pedra e quatro janelas de
- é impossível separar narração de descrição; guilhotina para cada lado. Era feita de pau-a-pique barreado,
- O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, mas sim a dentro de uma estrutura de cantos e apoios de madeira-de-lei.
capacidade de observação que deve revelar aquele que a realiza; Telhado de quatro águas. Pintada de roxo-claro. Devia ser mais
- Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exemplo: velha que Juiz de Fora, provavelmente sede de alguma fazenda
“(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo que tivesse ficado, capricho da sorte, na linha de passagem da
desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea variante do Caminho Novo que veio a ser a Rua Principal, depois
e fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que a Rua Direita – sobre a qual ela se punha um pouco de esguelha
parecem conformados expressamente para esposas da multidão e fugindo ligeiramente do alinhamento (...).” (Pedro Nava – Baú
(...)” (Raul Pompéia – O Ateneu); de Ossos)
- Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, não
existe relação de anterioridade e posterioridade entre seus Descrição Subjetiva: quando há maior participação da
enunciados; emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são
- Devem-se evitar os verbos e, se isso não for possível, que transfigurados pela emoção de quem escreve, podendo opinar
se usem então as formas nominais, o presente e o pretério ou expressar seus sentimentos. Ex: “Nas ocasiões de aparato é
imperfeito do indicativo, dando-se sempre preferência aos que se podia tomar pulso ao homem. Não só as condecorações
verbos que indiquem estado ou fenômeno. gritavam-lhe no peito como uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu!
- Todavia deve predominar o emprego das comparações, dos Aristarco todo era um anúncio; os gestos, calmos, soberanos,
adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido ao texto. calmos, eram de um rei...” (“O Ateneu”, Raul Pompéia)
“(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra
A característica fundamental de um texto descritivo é essa esperança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par-
inexistência de progressão temporal. Pode-se apresentar, numa de-frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso, mandando
descrição, até mesmo ação ou movimento, desde que eles sejam por lei, de sobregoverno.”
sempre simultâneos, não indicando progressão de uma situação (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas)
anterior para outra posterior. Tanto é que uma das marcas
linguísticas da descrição é o predomínio de verbos no presente Os efeitos de sentido criados pela disposição dos elementos
ou no pretérito imperfeito do indicativo: o primeiro expressa descritivos:
concomitância em relação ao momento da fala; o segundo, em Como se disse anteriormente, do ponto de vista da progressão
relação a um marco temporal pretérito instalado no texto. temporal, a ordem dos enunciados na descrição é indiferente,
Para transformar uma descrição numa narração, bastaria uma vez que eles indicam propriedades ou características que
introduzir um enunciado que indicasse a passagem de um ocorrem simultaneamente. No entanto, ela não é indiferente do
estado anterior para um posterior. No caso do texto II inicial, ponto de vista dos efeitos de sentido: descrever de cima para
para transformá-lo em narração, bastaria dizer: Reunia a isso baixo ou viceversa, do detalhe para o todo ou do todo para o
grande medo do pai. Mais tarde, Iibertou-se desse medo... detalhe cria efeitos de sentido distintos.
Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio”, de
Bocage:

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Magro, de olhos azuis, carão moreno, Descrição de pessoas (I):
bem servido de pés, meão de altura, - Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer
triste de facha, o mesmo de figura, aspecto de caráter geral.
nariz alto no meio, e não pequeno. - Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, cor
da pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas).
Incapaz de assistir num só terreno, - Desenvolvimento: características psicológicas
mais propenso ao furor do que à ternura; (personalidade, temperamento, caráter, preferências,
bebendo em níveas mãos por taça escura inclinações, postura, objetivos).
de zelos infernais letal veneno. - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
geral.
Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão,1968, pág. 497.
Descrição de pessoas (II):
O poeta descreve-se das características físicas para as - Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer
características morais. Se fizesse o inverso, o sentido não seria aspecto de caráter geral.
o mesmo, pois as características físicas perderiam qualquer - Desenvolvimento: análise das características físicas,
relevo. associadas às características psicológicas (1ª parte).
O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a - Desenvolvimento: análise das características físicas,
visualizar uma cena. É como traçar com palavras o retrato de associadas às características psicológicas (2ª parte).
um objeto, lugar, pessoa etc., apontando suas características - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
exteriores, facilmente identificáveis (descrição objetiva), ou geral.
suas características psicológicas e até emocionais (descrição
subjetiva). A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É uma
Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjetivos, estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam.
também denominado adjetivação. Para facilitar o aprendizado Porque toda técnica descritiva implica contemplação e
desta técnica, sugere-se que o concursando, após escrever seu apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o redator, ao descrever,
texto, sublinhe todos os substantivos, acrescentando antes ou precisa possuir certo grau de sensibilidade. Assim como o pintor
depois deste um adjetivo ou uma locução adjetiva. capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma
descrição focaliza cenas ou imagens, conforme o permita sua
Descrição de objetos constituídos de uma só parte: sensibilidade.
- Introdução: observações de caráter geral referentes à
procedência ou localização do objeto descrito. Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser não-
- Desenvolvimento: detalhes (lª parte) formato (comparação literária ou literária. Na descrição não-literária, há maior
com figuras geométricas e com objetos semelhantes); dimensões preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular.
(largura, comprimento, altura, diâmetro etc.) Por ser objetiva, há predominância da denotação.
- Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) material, peso, cor/
brilho, textura. Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua um tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto linguagem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para
como um todo. descrever aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os
compõem, para descrever experiências, processos, etc.
Descrição de objetos constituídos por várias partes: Exemplo:
- Introdução: observações de caráter geral referentes à Folheto de propaganda de carro
procedência ou localização do objeto descrito. Conforto interno - É impossível falar de conforto sem incluir
- Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários das o espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomodando
partes que compõem o objeto, associados à explicação de como tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat
as partes se agrupam para formar o todo. Variant possuem direção hidráulica e ar condicionado de
- Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um todo elevada capacidade, proporcionando a climatização perfeita do
(externamente) formato, dimensões, material, peso, textura, cor ambiente.
e brilho. Porta-malas - O compartimento de bagagens possui
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua capacidade de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto em litros, com o encosto do banco traseiro rebaixado.
sua totalidade. Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em
plástico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para
Descrição de ambientes: evitar a deformação em caso de colisão.
- Introdução: comentário de caráter geral.
- Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura global do Textos descritivos literários: Na descrição literária
ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade e predomina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de
aroma (se houver). associações conotativas que podem ser exploradas a partir de
- Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a objetos descrições de pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambientes;
lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, esculturas ou situações e coisas. Vale lembrar que textos descritivos também
quaisquer outros objetos. podem ocorrer tanto em prosa como em verso.
- Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira no
ambiente. Narração

Descrição de paisagens: A Narração é um tipo de texto que relata uma história real,
- Introdução: comentário sobre sua localização ou qualquer fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo
outra referência de caráter geral. apresenta personagens que atuam em um tempo e em um
- Desenvolvimento: observação do plano de fundo espaço, organizados por uma narração feita por um narrador.
(explicação do que se vê ao longe). É uma série de fatos situados em um espaço e no tempo,
- Desenvolvimento: observação dos elementos mais tendo mudança de um estado para outro, segundo relações
próximos do observador explicação detalhada dos elementos de sequencialidade e causalidade, e não simultâneos como na
que compõem a paisagem, de acordo com determinada ordem. descrição. Expressa as relações entre os indivíduos, os conflitos e
- Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acerca as ligações afetivas entre esses indivíduos e o mundo, utilizando
da impressão que a paisagem causa em quem a contempla. situações que contêm essa vivência.

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APOSTILAS OPÇÃO
Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), Existem três tipos de foco narrativo:
o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e - Narrador-personagem: é aquele que conta a história na
com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narração qual é participante. Nesse caso ele é narrador e personagem ao
predomina a ação: o texto narrativo é um conjunto de ações; mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa.
assim sendo, a maioria dos verbos que compõem esse tipo de - Narrador-observador: é aquele que conta a história como
texto são os verbos de ação. O conjunto de ações que compõem alguém que observa tudo que acontece e transmite ao leitor, a
o texto narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo de história é contada em 3ª pessoa.
texto recebe o nome de enredo. - Narrador-onisciente: é o que sabe tudo sobre o enredo
As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas e as personagens, revelando seus pensamentos e sentimentos
personagens, que são justamente as pessoas envolvidas íntimos. Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas vezes, aparece
no episódio que está sendo contado. As personagens são misturada com pensamentos dos personagens (discurso
identificadas (nomeadas) no texto narrativo pelos substantivos indireto livre).
próprios.
Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem Estrutura:
querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar)  as ações do - Apresentação: é a parte do texto em que são apresentados
enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre alguns personagens e expostas algumas circunstâncias da
uma ação ou ações  é chamado de espaço, representado no texto história, como o momento e o lugar onde a ação se desenvolverá.
pelos advérbios de lugar. - Complicação: é a parte do texto em que se inicia
Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer propriamente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem,
“quando” ocorreram as ações da história. Esse elemento da conduzindo ao clímax.
narrativa é o tempo, representado no texto narrativo através - Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu
dos tempos verbais, mas principalmente pelos advérbios de momento crítico, tornando o desfecho inevitável.
tempo. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele - Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações
que indica ao leitor “como” o fato narrado aconteceu. dos personagens.
A história contada, por isso, passa por uma introdução
(parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo Tipos de Personagens:
desenvolvimento do enredo (é a história propriamente dita, Os personagens têm muita importância na construção de um
o meio, o “miolo” da narrativa, também chamada de trama) texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser principais ou
e termina com a conclusão da história (é o final ou epílogo). secundários, conforme o papel que desempenham no enredo,
Aquele que conta a história é o narrador,  que pode ser pessoal podem ser apresentados direta ou indiretamente.
(narra em 1ª pessoa: Eu) ou impessoal (narra em 3ª pessoa: A apresentação direta acontece quando o personagem
Ele). aparece de forma clara no texto, retratando suas características
Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos físicas e/ou psicológicas, já a apresentação indireta se dá quando
de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos os personagens aparecem aos poucos e o leitor vai construindo
substantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes a sua imagem com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir de
do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai fazendo.
pelos verbos, formando uma rede: a própria história contada.
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a - Em 1ª pessoa:
história. Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a
história e é o protagonista.
Elementos Estruturais (I): Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acreditar,
- Enredo: desenrolar dos acontecimentos. eu estava lá e vi.
- Personagens: são seres que se movimentam, se relacionam
e dão lugar à trama que se estabelece na ação. Revelam-se por - Em 3ª pessoa:
meio de características físicas ou psicológicas. Os personagens
podem ser lineares (previsíveis), complexos, tipos sociais Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pessoa.
(trabalhador, estudante, burguês etc.) ou tipos humanos (o Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como
medroso, o tímido, o avarento etc.), heróis ou antiheróis, sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo:
protagonistas ou antagonistas.
- Narrador: é quem conta a história. Tipos de Discurso:
- Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico. Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente
- Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: o para o personagem, sem a sua interferência.
tempo convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o tempo Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem
interior, subjetivo. diz, sem lhe passar diretamente a palavra.
Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do
Elementos Estruturais (II): personagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente
Personagens Quem? Protagonista/Antagonista recente. Surgiu com romancistas inovadores do século XX.
Acontecimento O quê? Fato
Tempo Quando? Época em que ocorreu o fato Sequência Narrativa:
Espaço Onde? Lugar onde ocorreu o fato
Modo Como? De que forma ocorreu o fato Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias:
Causa Por quê? Motivo pelo qual ocorreu o fato uma coordenase a outra, uma implica a outra, uma subordinase
Resultado - previsível ou imprevisível. a outra.
Final - Fechado ou Aberto. A narrativa típica tem quatro mudanças de situação:
- uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um
Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-se dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo);
de tal forma, que não é possível compreendê-los isoladamente, - uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma
como simples exemplos de uma narração. Há uma relação competência para fazer algo);
de implicação mútua entre eles, para garantir coerência e - uma em que a personagem executa aquilo que queria ou
verossimilhança à história narrada. devia fazer (é a mudança principal da narrativa);
Quanto aos elementos da narrativa, esses não estão, - uma em que se constata que uma transformação se deu e
obrigatoriamente sempre presentes no discurso, exceto as em que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens
personagens ou o fato a ser narrado. (geralmente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os
maus).

Língua Portuguesa 6
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APOSTILAS OPÇÃO
Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se o aspecto linear e constituindo o que se denomina “flashback”.
pressupõem logicamente. Com efeito, quando se constata a O narrador que usa essa técnica (característica comum no
realização de uma mudança é porque ela se verificou, e ela cinema moderno) demonstra maior criatividade e originalidade,
efetuase porque quem a realiza pode, sabe, quer ou deve fazêla. podendo observar as ações ziguezagueando no tempo e no
Tomemos, por exemplo, o ato de comprar um apartamento: espaço.
quando se assina a escritura, realizase o ato de compra; para
isso, é necessário poder (ter dinheiro) e querer ou dever Exemplo - Personagens
comprar (respectivamente, querer deixar de pagar aluguel ou
ter necessidade de mudar, por ter sido despejado, por exemplo). “Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr.
Algumas mudanças são necessárias para que outras se Amâncio não viu a mulher chegar.
deem. Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar um Não quer que se carpa o quintal, moço?
bambu ou outro instrumento para derrubála. Para ter um carro, Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face
é preciso antes conseguir o dinheiro. escalavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do
passado, os olhos).”
Narrativa e Narração (Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre: Mercado
Aberto, p. 5O)
Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A narratividade
é um componente narrativo que pode existir em textos que Exemplo - Espaço
não são narrações. A narrativa é a transformação de situações.
Por exemplo, quando se diz “Depois da abolição, incentivouse Considerarei longamente meu pequeno deserto, a redondeza
a imigração de europeus”, temos um texto dissertativo, que, escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco de algum rio. Não
no entanto, apresenta um componente narrativo, pois contém havia, em todo o caso, como negarlhe a insipidez.”
uma mudança de situação: do não incentivo ao incentivo da (Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann. Porto
imigração européia. Alegre: Movimento, 1981, p. 51)
Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto,
o que é narração? Exemplo - Tempo
A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três características:
- é um conjunto de transformações de situação (o texto de “Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembrase: a
Manuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, preenche mulher lhe pediu que a chamasse cedo.”
essa condição);
- é um texto figurativo, isto é, opera com personagens e fatos (Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4)
concretos (o texto “Porquinho-daíndia» preenche também esse
requisito); Tipologia da Narrativa Ficcional:
- as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal - Romance
que, entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e - Conto
posterioridade (no texto “Porquinhodaíndia» o fato de ganhar - Crônica
o animal é anterior ao de ele estar debaixo do fogão, que por - Fábula
sua vez é anterior ao de o menino leválo para a sala, que por seu - Lenda
turno é anterior ao de o porquinhoda-índia voltar ao fogão). - Parábola
- Anedota
Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre - Poema Épico
pertinente num texto narrativo, mesmo que a sequência linear
da temporalidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no Tipologia da Narrativa NãoFiccional:
romance machadiano Memórias póstumas de Brás Cubas, - Memorialismo
quando o narrador começa contando sua morte para em - Notícias
seguida relatar sua vida, a sequência temporal foi modificada. - Relatos
No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da leitura, as relações - História da Civilização
de anterioridade e de posterioridade.
Resumindo: na narração, as três características explicadas Apresentação da Narrativa:
acima (transformação de situações, figuratividade e relações - visual: texto escrito; legendas + desenhos (história em
de anterioridade e posterioridade entre os episódios relatados) quadrinhos) e desenhos.
devem estar presentes conjuntamente. Um texto que tenha só - auditiva: narrativas radiofonizadas; fitas gravadas e discos.
uma ou duas dessas características não é uma narração. - audiovisual: cinema; teatro e narrativas televisionadas.

Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto Dissertação


narrativo:
- Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o que A dissertação é uma exposição, discussão ou interpretação
aconteceu, quando e onde. de uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar algum tema.
- Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos Pressupõe um exame crítico do assunto, lógica, raciocínio,
personagens. clareza, coerência, objetividade na exposição, um planejamento
- Desenvolvimento: detalhes do fato. de trabalho e uma habilidade de expressão.
- Conclusão: consequências do fato. É em função da capacidade crítica que se questionam
pontos da realidade social, histórica e psicológica do mundo
Caracterização Formal: e dos semelhantes. Vemos também, que a dissertação no seu
Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspecto significado diz respeito a um tipo de texto em que a exposição
narrativo apresenta, até certo ponto, alguma subjetividade, de uma ideia, através de argumentos, é feita com a finalidade
porquanto a criação e o colorido do contexto estão em função de desenvolver um conteúdo científico, doutrinário ou artístico.
da individualidade e do estilo do narrador. Dependendo do Observe-se que:
enfoque do redator, a narração terá diversas abordagens. Assim - o texto é temático, pois analisa e interpreta a realidade
é de grande importância saber se o relato é feito em primeira com conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um homem
pessoa ou terceira pessoa. No primeiro caso, há a participação particular e do que faz para chegar a ser primeiroministro, mas
do narrador; segundo, há uma inferência do último através da do homem em geral e de todos os métodos para atingir o poder);
onipresença e onisciência. - existe mudança de situação no texto (por exemplo, a
Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação dos mudança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte
acontecimentos: esses podem oscilar no tempo, transgredindo no momento em que se tornam primeirosministros);

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APOSTILAS OPÇÃO
- a progressão temporal dos enunciados não tem importância, Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial,
pois o que importa é a relação de implicação (clamar contra a de forma organizada e progressiva. É a parte maior e mais
corrupção da corte implica ser corrupto depois da nomeação importante do texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas:
para primeiroministro). - Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com
este tipo de abordagem.
Características: - Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a ideia
principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a definição.
- ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é - Comparação: estabelecer analogias, confrontar situações
temático; distintas.
- como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação; - Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta pontos
- ao contrário do texto narrativo, nele as relações de favoráveis e desfavoráveis.
anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm maior - Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato ou
importância o que importa são suas relações lógicas: analogia, descrever uma cena.
pertinência, causalidade, coexistência, correspondência, - Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados estatísticos.
implicação, etc. - Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para
- a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de prováveis resultados.
redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem - Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve
características próprias a cada tipo de texto. apresentar questionamento e reflexão.
  - Refutação: questiona-se praticamente tudo: conceitos,
São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvimento valores, juízos.
/ Conclusão. - Causa e Consequência: estruturar o texto através dos
porquês de uma determinada situação.
Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresenta a - Oposição: abordar um assunto de forma dialética.
ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento. - Exemplificação: dar exemplos.
Tipos:
- Divisão: quando há dois ou mais termos a serem discutidos. Conclusão: é uma avaliação final do assunto, um fechamento
Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que integrado de tudo que se argumentou. Para ela convergem todas
olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...” as ideias anteriormente desenvolvidas.
- Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um - Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese.
fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início no começo - Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um
dos anos 80, com os conhecidos altos índices de inflação que pensamento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão de
a década colecionou, agravou vários dos históricos problemas quem lê.
sociais do país. Entre eles, a violência, principalmente a urbana,
cuja escalada tem sido facilmente identificada pela população 1º Parágrafo – Introdução
brasileira.”
- Proposição: o autor explicita seus objetivos. A. Tema: Desemprego no Brasil.
- Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma Contextualização: decorrência de um processo histórico
coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”? Quer problemático.
se sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano!
Faça parte desse time de vencedores desde a escolha desse 2º ao 6º Parágrafo – Desenvolvimento
momento!
- Contestação: contestar uma ideia ou uma situação. Ex: “É B. Argumento 1: Exploram-se dados da realidade que
importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é a remetem a uma análise do tema em questão.
solução no combate à insegurança.” C. Argumento 2: Considerações a respeito de outro dado da
- Características: caracterização de espaços ou aspectos. realidade.
- Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex: D. Argumento 3: Coloca-se sob suspeita a sinceridade de
“Em 1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com quem propõe soluções.
televisores. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de E. Argumento 4: Uso do raciocínio lógico de oposição.
aparelhos receptores instalados do mundo). Ao todo, existem
no país 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas) e 7º Parágrafo: Conclusão
2.624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais recebidos). F. Uma possível solução é apresentada.
(...)” G. O texto conclui que desigualdade não se casa com
- Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato. modernidade.
- Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assunto do
texto. Ex: “A principal característica do déspota encontra-se no É bom lembrarmos que é praticamente impossível opinar
fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das regras sobre o que não se conhece. A leitura de bons textos é um dos
que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu poder, recursos que permite uma segurança maior no momento de
escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre exclusivamente de dissertar sobre algum assunto. Debater e pesquisar são atitudes
sua vontade, de seu prazer e de suas necessidades.” que favorecem o senso crítico, essencial no desenvolvimento de
- Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que um texto dissertativo.
compõem o texto.
- Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz a Ainda temos:
pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo Tema: compreende o assunto proposto para discussão, o
futebol não é uma prova de alienação?” assunto que vai ser abordado.
- Suspense: alguma informação que faça aumentar a Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo
curiosidade do leitor. discutido.
- Comparação: social e geográfica. Argumentação: é um conjunto de procedimentos
- Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à linguísticos com os quais a pessoa que escreve sustenta suas
distância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo opiniões, de forma a torná-las aceitáveis pelo leitor. É fornecer
das massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades argumentos, ou seja, razões a favor ou contra uma determinada
que marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verdadeira tese.
doença do século...”
- Narração: narrar um fato. Estes assuntos serão vistos com mais afinco posteriormente.

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APOSTILAS OPÇÃO
Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são: - O Novo Código Nacional de trânsito divide as faltas em
- toda dissertação é uma demonstração, daí a necessidade de várias categorias.
pleno domínio do assunto e habilidade de argumentação;
- em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao tema; Comparação: A frase nuclear pode-se desenvolver através
- a coerência é tida como regra de ouro da dissertação; da comparação, que confronta ideias, fatos, fenômenos e
- impõem-se sempre o raciocínio lógico; apresenta-lhes a semelhança ou dessemelhança.
- a linguagem deve ser objetiva, denotativa; qualquer Exemplo:
ambiguidade pode ser um ponto vulnerável na demonstração
do que se quer expor. Deve ser clara, precisa, natural, original, “A juventude é uma infatigável aspiração de felicidade; a
nobre, correta gramaticalmente. O discurso deve ser impessoal velhice, pelo contrário, é dominada por um vago e persistente
(evitar-se o uso da primeira pessoa). sentimento de dor, porque já estamos nos convencendo de que a
felicidade é uma ilusão, que só o sofrimento é real”.
O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresentar: (Arthur Schopenhauer)
uma frase contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou
mais frases que explicitem tal ideia. Causa e Consequência: A frase nuclear, muitas vezes,
Exemplo: “A televisão mostra uma realidade idealizada encontra no seu desenvolvimento um segmento causal (fato
(ideia central) porque oculta os problemas sociais realmente motivador) e, em outras situações, um segmento indicando
graves. (ideia secundária)”. consequências (fatos decorrentes).
Vejamos:
Ideia central: A poluição atmosférica deve ser combatida Tempo e Espaço: Muitos parágrafos dissertativos marcam
urgentemente. temporal e espacialmente a evolução de ideias, processos.

Desenvolvimento: A poluição atmosférica deve ser Explicitação: Num parágrafo dissertativo pode-se
combatida urgentemente, pois a alta concentração de elementos conceituar, exemplificar e aclarar as ideias para torná-las mais
tóxicos põe em risco a vida de milhares de pessoas, sobretudo compreensíveis.
daquelas que sofrem de problemas respiratórios: Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue proveniente do
coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão umbilical e na
- A propaganda intensiva de cigarros e bebidas tem levado ligação entre os pulmões e o coração, todas as artérias contém
muita gente ao vício. sangue vermelho-vivo, recém-oxigenado. Na artéria pulmonar,
- A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação porém, corre sangue venoso, mais escuro e desoxigenado, que o
criados pelo homem. coração remete para os pulmões para receber oxigênio e liberar
- A violência tem aumentado assustadoramente nas cidades gás carbônico”.
e hoje parece claro que esse problema não pode ser resolvido
apenas pela polícia. Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, deve
- O diálogo entre pais e filhos parece estar em crise delimitar-se o tema que será desenvolvido e que poderá ser
atualmente. enfocado sob diversos aspectos. Se, por exemplo, o tema é a
- O problema dos sem-terra preocupa cada vez mais a questão indígena, ela poderá ser desenvolvida a partir das
sociedade brasileira. seguintes ideias:

O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras: - A violência contra os povos indígenas é uma constante na
história do Brasil.
Enumeração: Caracteriza-se pela exposição de uma série de - O surgimento de várias entidades de defesa das populações
coisas, uma a uma. Presta-se bem à indicação de características, indígenas.
funções, processos, situações, sempre oferecendo o complemento - A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio
necessário à afirmação estabelecida na frase nuclear. Pode-se brasileiro.
enumerar, seguindo-se os critérios de importância, preferência, - A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena.
classificação ou aleatoriamente.
Exemplo: Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver, deve
fazer a estruturação do texto.
1- O adolescente moderno está se tornando obeso por várias
causas: alimentação inadequada, falta de exercícios sistemáticos A estrutura do texto dissertativo constitui-se de:
e demasiada permanência diante de computadores e aparelhos
de Televisão. Introdução: deve conter a ideia principal a ser desenvolvida
(geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura do texto, por
2- Devido à expansão das igrejas evangélicas, é grande o isso é fundamental. Deve ser clara e chamar a atenção para dois
número de emissoras que dedicam parte da sua programação à itens básicos: os objetivos do texto e o plano do desenvolvimento.
veiculação de programas religiosos de crenças variadas. Contém a proposição do tema, seus limites, ângulo de análise e a
hipótese ou a tese a ser defendida.
3- Desenvolvimento: exposição de elementos que vão
- A Santa Missa em seu lar. fundamentar a ideia principal que pode vir especificada
- Terço Bizantino. através da argumentação, de pormenores, da ilustração, da
- Despertar da Fé. causa e da consequência, das definições, dos dados estatísticos,
- Palavra de Vida. da ordenação cronológica, da interrogação e da citação. No
- Igreja da Graça no Lar. desenvolvimento são usados tantos parágrafos quantos
forem necessários para a completa exposição da ideia. E esses
4- parágrafos podem ser estruturados das cinco maneiras expostas
- Inúmeras são as dificuldades com que se defronta o governo acima.
brasileiro diante de tantos desmatamentos, desequilíbrios Conclusão: é a retomada da ideia principal, que agora deve
sociológicos e poluição. aparecer de forma muito mais convincente, uma vez que já
- Existem várias razões que levam um homem a enveredar foi fundamentada durante o desenvolvimento da dissertação
pelos caminhos do crime. (um parágrafo). Deve, pois, conter de forma sintética, o
- A gravidez na adolescência é um problema seríssimo, objetivo proposto na instrução, a confirmação da hipótese
porque pode trazer muitas consequências indesejáveis. ou da tese, acrescida da argumentação básica empregada no
- O lazer é uma necessidade do cidadão para a sua desenvolvimento.
sobrevivência no mundo atual e vários são os tipos de lazer.

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APOSTILAS OPÇÃO
5) Nas seguintes palavras:
bexiga, bruxa, coaxar, faxina, graxa, lagartixa, lixa, lixo, puxar,
3 Ortografia oficial. rixa, oxalá, praxe, roxo, vexame, xadrez, xarope, xaxim, xícara, xale,
xingar, etc.

Ortografia Emprega-se o dígrafo Ch:


1) Nos seguintes vocábulos:
A ortografia se caracteriza por estabelecer padrões para a bochecha, bucha, cachimbo, chalé, charque, chimarrão,
forma escrita das palavras. Essa escrita está relacionada tanto chuchu, chute, cochilo, debochar, fachada, fantoche, ficha, flecha,
a critérios etimológicos (ligados à origem das palavras) quanto mochila, pechincha, salsicha, tchau, etc.
fonológicos (ligados aos fonemas representados). É importante
compreender que a ortografia é fruto de uma convenção. A Para representar o fonema /j/ na forma escrita, a grafia
forma de grafar as palavras é produto de acordos ortográficos considerada correta é aquela que ocorre de acordo com a origem
que envolvem os diversos países em que a língua portuguesa é da palavra. Veja os exemplos:
oficial. A melhor maneira de treinar a ortografia é ler, escrever e gesso: Origina-se do grego gypsos
consultar o dicionário sempre que houver dúvida. jipe: Origina-se do inglês jeep.

O Alfabeto Emprega-se o G:
O alfabeto da língua portuguesa é formado por 26 letras. Cada 1) Nos substantivos terminados em -agem, -igem, -ugem
letra apresenta uma forma minúscula e outra maiúscula. Veja: Exemplos: barragem, miragem, viagem, origem, ferrugem
Exceção: pajem
a A (á) b B (bê)
c C (cê) d D (dê) 2) Nas palavras terminadas em -ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio
e E (é) f F (efe) Exemplos: estágio, privilégio, prestígio, relógio, refúgio
g G (gê ou guê) h H (agá)
i I (i) j J (jota) 3) Nas palavras derivadas de outras que se grafam com g
k K (cá) l L (ele) Exemplos: engessar (de gesso), massagista (de massagem),
m M (eme) n N (ene) vertiginoso (de vertigem)
o O (ó) p P (pê)
q Q (quê) r R (erre) 4) Nos seguintes vocábulos:
s S (esse) t T (tê) algema, auge, bege, estrangeiro, geada, gengiva, gibi, gilete,
u U (u) v V (vê) hegemonia, herege, megera, monge, rabugento, vagem.
w W (dáblio) x X (xis)
y Y (ípsilon) z Z (zê) Emprega-se o J:
1) Nas formas dos verbos terminados em -jar ou -jear
Observação: emprega-se também o ç, que representa o Exemplos:
fonema /s/ diante das letras: a, o, e u em determinadas palavras. arranjar: arranjo, arranje, arranjem
despejar: despejo, despeje, despejem
Emprego das letras K, W e Y gorjear: gorjeie, gorjeiam, gorjeando
Utilizam-se nos seguintes casos: enferrujar: enferruje, enferrujem
a) Em antropônimos originários de outras línguas e seus viajar: viajo, viaje, viajem
derivados.
Exemplos: Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Taylor, 2) Nas palavras de origem tupi, africana, árabe ou exótica
taylorista. Exemplos: biju, jiboia, canjica, pajé, jerico, manjericão, Moji

b) Em topônimos originários de outras línguas e seus 3) Nas palavras derivadas de outras que já apresentam j
derivados. Exemplos:
Exemplos: Kuwait, kuwaitiano. laranja- laranjeira loja- lojista lisonja -
lisonjeador nojo- nojeira
c) Em siglas, símbolos, e mesmo em palavras adotadas como cereja- cerejeira varejo- varejista rijo- enrijecer
unidades de medida de curso internacional. jeito- ajeitar
Exemplos: K (Potássio), W (West), kg (quilograma), km
(quilômetro), Watt. 4) Nos seguintes vocábulos:
berinjela, cafajeste, jeca, jegue, majestade, jeito, jejum, laje,
Emprego de X e Ch traje, pegajento
Emprega-se o X:
1) Após um ditongo. Emprego das Letras S e Z
Exemplos: caixa, frouxo, peixe Emprega-se o S:
Exceção: recauchutar e seus derivados 1) Nas palavras derivadas de outras que já apresentam s no
radical
2) Após a sílaba inicial “en”.
Exemplos: enxame, enxada, enxaqueca Exemplos:
Exceção: palavras iniciadas por “ch” que recebem o prefixo análise- analisar catálise- catalisador
“en-” casa- casinha, casebre liso- alisar
Exemplos: encharcar (de charco), enchiqueirar (de chiqueiro),
encher e seus derivados (enchente, enchimento, preencher...) 2) Nos sufixos -ês e -esa, ao indicarem nacionalidade, título
ou origem
3) Após a sílaba inicial “me-”. Exemplos:
Exemplos: mexer, mexerica, mexicano, mexilhão burguês- burguesa inglês- inglesa
Exceção: mecha chinês- chinesa milanês- milanesa

4) Em vocábulos de origem indígena ou africana e nas palavras 3) Nos sufixos formadores de adjetivos -ense, -oso e -osa
inglesas aportuguesadas. Exemplos:
Exemplos: abacaxi, xavante, orixá, xará, xerife, xampu catarinense gostoso- gostosa amoroso- amorosa
palmeirense gasoso- gasosa teimoso- teimosa

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APOSTILAS OPÇÃO
4) Nos sufixos gregos -ese, -isa, -osa expandir- expansão pretender- pretensão verter-
Exemplos: versão expelir- expulsão
catequese, diocese, poetisa, profetisa, sacerdotisa, glicose, estender- extensão suspender- suspensão
metamorfose, virose converter - conversão repelir- repulsão

5) Após ditongos Emprega-se Ç:


Exemplos: Nos substantivos derivados dos verbos “ter” e “torcer”
coisa, pouso, lousa, náusea Exemplos:
ater- atenção torcer- torção
6) Nas formas dos verbos pôr e querer, bem como em seus deter- detenção distorcer-distorção
derivados manter- manutenção contorcer- contorção
Exemplos:
pus, pôs, pusemos, puseram, pusera, pusesse, puséssemos Emprega-se o X:
quis, quisemos, quiseram, quiser, quisera, quiséssemos Em alguns casos, a letra X soa como Ss
repus, repusera, repusesse, repuséssemos Exemplos:
auxílio, expectativa, experto, extroversão, sexta, sintaxe, texto,
7) Nos seguintes nomes próprios personativos: trouxe
Baltasar, Heloísa, Inês, Isabel, Luís, Luísa, Resende, Sousa,
Teresa, Teresinha, Tomás Emprega-se Sc:
Nos termos eruditos
8) Nos seguintes vocábulos: Exemplos:
abuso, asilo, através, aviso, besouro, brasa, cortesia, acréscimo, ascensorista, consciência, descender, discente,
decisão,despesa, empresa, freguesia, fusível, maisena, mesada, fascículo, fascínio, imprescindível, miscigenação, miscível,
paisagem, paraíso, pêsames, presépio, presídio, querosene, plebiscito, rescisão, seiscentos, transcender, etc.
raposa, surpresa, tesoura, usura, vaso, vigésimo, visita, etc.
Emprega-se Sç:
Emprega-se o Z: Na conjugação de alguns verbos
1) Nas palavras derivadas de outras que já apresentam z no Exemplos:
radical nascer- nasço, nasça
Exemplos: crescer- cresço, cresça
deslize- deslizar razão- razoável vazio- esvaziar descer- desço, desça
raiz- enraizar cruz-cruzeiro
Emprega-se Ss:
2) Nos sufixos -ez, -eza, ao formarem substantivos abstratos a Nos substantivos derivados de verbos terminados em “gredir”,
partir de adjetivos “mitir”, “ceder” e “cutir”
Exemplos: Exemplos:
inválido- invalidez limpo-limpeza macio- maciez agredir- agressão demitir- demissão ceder- cessão
rígido- rigidez discutir- discussão
frio- frieza nobre- nobreza pobre-pobreza surdo- progredir- progressão t r a n s m i t i r - t r a n s m i s s ã o
surdez exceder- excesso repercutir- repercussão

3) Nos sufixos -izar, ao formar verbos e -ização, ao formar Emprega-se o Xc e o Xs:


substantivos
Exemplos: Em dígrafos que soam como Ss
civilizar- civilização hospitalizar- hospitalização Exemplos:
colonizar- colonização realizar- realização exceção, excêntrico, excedente, excepcional, exsudar

4) Nos derivados em -zal, -zeiro, -zinho, -zinha, -zito, -zita Observações sobre o uso da letra X
Exemplos: 1) O X pode representar os seguintes fonemas:
cafezal, cafezeiro, cafezinho, arvorezinha, cãozito, avezita /ch/ - xarope, vexame

5) Nos seguintes vocábulos: /cs/ - axila, nexo


azar, azeite, azedo, amizade, buzina, bazar, catequizar, chafariz,
cicatriz, coalizão, cuscuz, proeza, vizinho, xadrez, verniz, etc. /z/ - exame, exílio

6) Nos vocábulos homófonos, estabelecendo distinção no /ss/ - máximo, próximo


contraste entre o S e o Z
Exemplos: /s/ - texto, extenso
cozer (cozinhar) e coser (costurar)
prezar( ter em consideração) e presar (prender) 2) Não soa nos grupos internos -xce- e -xci-
traz (forma do verbo trazer) e trás (parte posterior) Exemplos: excelente, excitar

Observação: em muitas palavras, a letra X soa como Z. Veja os Emprego das letras E e I
exemplos: Na língua falada, a distinção entre as vogais átonas /e/ e /i /
exame exato exausto exemplo existir exótico pode não ser nítida. Observe:
inexorável

Emprego de S, Ç, X e dos Dígrafos Sc, Sç, Ss, Xc, Xs Emprega-se o E:


Existem diversas formas para a representação do fonema /S/. 1) Em sílabas finais dos verbos terminados em -oar, -uar
Observe: Exemplos:
magoar - magoe, magoes
Emprega-se o S: continuar- continue, continues
Nos substantivos derivados de verbos terminados em
“andir”,”ender”, “verter” e “pelir” 2) Em palavras formadas com o prefixo ante- (antes, anterior)
Exemplos: Exemplos: antebraço, antecipar

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APOSTILAS OPÇÃO
3) Nos seguintes vocábulos: Observações:
cadeado, confete, disenteria, empecilho, irrequieto, mexerico, - No início dos versos que não abrem período, é facultativo o
orquídea, etc. uso da letra maiúscula.

Emprega-se o I : Por Exemplo:


1) Em sílabas finais dos verbos terminados em -air, -oer, -uir “Aqui, sim, no meu cantinho,
Exemplos: vendo rir-me o candeeiro,
cair- cai gozo o bem de estar sozinho
doer- dói e esquecer o mundo inteiro.”
influir- influi
- Depois de dois pontos, não se tratando de citação direta, usa-
2) Em palavras formadas com o prefixo anti- (contra) se letra minúscula.
Exemplos: Por Exemplo:
Anticristo, antitetânico “Chegam os magos do Oriente, com suas dádivas: ouro,
incenso, mirra.” (Manuel Bandeira)
3) Nos seguintes vocábulos:
aborígine, artimanha, chefiar, digladiar, penicilina, privilégio, b) Nos antropônimos, reais ou fictícios.
etc. Exemplos:
Pedro Silva, Cinderela, D. Quixote.
Emprego das letras O e U
Emprega-se o O/U: c) Nos topônimos, reais ou fictícios.
A oposição o/u é responsável pela diferença de significado de Exemplos:
algumas palavras. Veja os exemplos: Rio de Janeiro, Rússia, Macondo.
comprimento (extensão) e cumprimento (saudação,
realização) d) Nos nomes mitológicos.
soar (emitir som) e suar (transpirar) Exemplos:
Dionísio, Netuno.
Grafam-se com a letra O: bolacha, bússola, costume,
moleque. e) Nos nomes de festas e festividades.
Exemplos:
Grafam-se com a letra U: camundongo, jabuti, Manuel, tábua Natal, Páscoa, Ramadã.

Emprego da letra H f) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais.


Esta letra, em início ou fim de palavras, não tem valor fonético. Exemplos:
Conservou-se apenas como símbolo, por força da etimologia e ONU, Sr., V. Ex.ª.
da tradição escrita. A palavra hoje, por exemplo, grafa-se desta
forma devido a sua origem na forma latina hodie. g) Nos nomes que designam altos conceitos religiosos,
políticos ou nacionalistas.
Emprega-se o H: Exemplos:
1) Inicial, quando etimológico Igreja (Católica, Apostólica, Romana), Estado, Nação, Pátria,
Exemplos: hábito, hesitar, homologar, Horácio União, etc.

2) Medial, como integrante dos dígrafos ch, lh, nh Observação: esses nomes escrevem-se com inicial minúscula
Exemplos: flecha, telha, companhia quando são empregados em sentido geral ou indeterminado.
Exemplo:
3) Final e inicial, em certas interjeições Todos amam sua pátria.
Exemplos: ah!, ih!, eh!, oh!, hem?, hum!, etc.
Emprego FACULTATIVO de letra maiúscula:
4) Em compostos unidos por hífen, no início do segundo a) Nos nomes de logradouros públicos, templos e edifícios.
elemento, se etimológico Exemplos:
Exemplos: anti-higiênico, pré-histórico, super-homem, etc. Rua da Liberdade ou rua da Liberdade
Igreja do Rosário ou igreja do Rosário
Observações: Edifício Azevedo ou edifício Azevedo
1) No substantivo Bahia, o “h” sobrevive por tradição. Note que
nos substantivos derivados como baiano, baianada ou baianinha 2) Utiliza-se inicial minúscula:
ele não é utilizado. a) Em todos os vocábulos da língua, nos usos correntes.
Exemplos:
2) Os vocábulos erva, Espanha e inverno não possuem a carro, flor, boneca, menino, porta, etc.
letra “h” na sua composição. No entanto, seus derivados eruditos
sempre são grafados com h. Veja: b) Nos nomes de meses, estações do ano e dias da semana.
herbívoro, hispânico, hibernal. Exemplos:
janeiro, julho, dezembro, etc.
Emprego das Iniciais Maiúsculas e Minúsculas segunda, sexta, domingo, etc.
1) Utiliza-se inicial maiúscula: primavera, verão, outono, inverno
a) No começo de um período, verso ou citação direta.
Exemplos: c) Nos pontos cardeais.
Disse o Padre Antonio Vieira: “Estar com Cristo em qualquer Exemplos:
lugar, ainda que seja no inferno, é estar no Paraíso.” Percorri o país de norte a sul e de leste a oeste.
Estes são os pontos colaterais: nordeste, noroeste, sudeste,
“Auriverde pendão de minha terra, sudoeste.
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que à luz do sol encerra Observação: quando empregados em sua forma absoluta, os
As promessas divinas da Esperança…” pontos cardeais são grafados com letra maiúscula.
(Castro Alves) Exemplos:
Nordeste (região do Brasil)

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APOSTILAS OPÇÃO
Ocidente (europeu) Função de
Oriente (asiático) Exemplos:
substantivo
– vem
Lembre-se: Não é fácil encontrar o
acompanhado
Depois de dois-pontos, não se tratando de citação direta, usa- Porquê porquê de toda confusão.
de artigo ou
se letra minúscula. pronome
Dê-me um porquê de sua
Exemplo: saída.
“Chegam os magos do Oriente, com suas dádivas: ouro,
incenso, mirra.” (Manuel Bandeira)
1. Por que (pergunta)
2. Porque (resposta)
Emprego FACULTATIVO de letra minúscula:
3. Por quê (fim de frase: motivo)
a) Nos vocábulos que compõem uma citação bibliográfica.
4. O Porquê (substantivo)
Exemplos:
Crime e Castigo ou Crime e castigo
Emprego de outras palavras
Grande Sertão: Veredas ou Grande sertão: veredas
Em Busca do Tempo Perdido ou Em busca do tempo perdido
Senão: equivale a “caso contrário”, “a não ser”: Não fazia coisa
nenhuma senão criticar.
b) Nas formas de tratamento e reverência, bem como em
Se não: equivale a “se por acaso não”, em orações adverbiais
nomes sagrados e que designam crenças religiosas.
condicionais: Se não houver homens honestos, o país não sairá
Exemplos:
desta situação crítica.
Governador Mário Covas ou governador Mário Covas
Papa João Paulo II ou papa João Paulo II
Tampouco: advérbio, equivale a “também não”: Não
Excelentíssimo Senhor Reitor ou excelentíssimo senhor reitor
compareceu, tampouco apresentou qualquer justificativa.
Santa Maria ou santa Maria.
Tão pouco: advérbio de intensidade: Encontramo-nos tão
pouco esta semana.
c) Nos nomes que designam domínios de saber, cursos e
disciplinas.
Trás ou Atrás = indicam lugar, são advérbios.
Exemplos:
Traz - do verbo trazer.
Português ou português
Línguas e Literaturas Modernas ou línguas e literaturas
Vultoso: volumoso: Fizemos um trabalho vultoso aqui.
modernas
Vultuoso: atacado de congestão no rosto: Sua face está
História do Brasil ou história do Brasil
vultuosa e deformada.
Arquitetura ou arquitetura
Questões
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/
01. Que mexer o esqueleto é bom para a saúde já virou
fono24.php
até sabedoria popular. Agora, estudo levanta hipóteses sobre
Emprego do Porquê
........................ praticar atividade física..........................benefícios
Orações para a totalidade do corpo. Os resultados podem levar a novas
Interrogativas Exemplo: terapias para reabilitar músculos contundidos ou mesmo para
.......................... e restaurar a perda muscular que ocorre com o
(pode ser Por que devemos nos avanço da idade.
substituído por: preocupar com o meio (Ciência Hoje, março de 2012)
Por por qual motivo, ambiente?
Que por qual razão) As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e
respectivamente, com:
Exemplo: (A) porque … trás … previnir
Equivalendo (B) porque … traz … previnir
a “pelo qual” Os motivos por que não (C) porquê … tras … previnir
respondeu são desconhecidos. (D) por que … traz … prevenir
(E) por quê … tráz … prevenir
Exemplos:
02.
Você ainda tem coragem de
Final de
Por perguntar por quê?
frases e seguidos
Quê
de pontuação
Você não vai? Por quê?

Não sei por quê!


Exemplos:
Conjunção
A situação agravou-se
que indica
porque ninguém reclamou.
explicação ou Considerando a ortografia e a acentuação da norma-
causa padrão da língua portuguesa, as lacunas estão, correta e
Ninguém mais o espera,
Porque porque ele sempre se atrasa. respectivamente, preenchidas por:
(A) mal ... por que ... intuíto
Conjunção de (B) mau ... por que ... intuito
Exemplos:
Finalidade – (C) mau ... porque ... intuíto
equivale a “para (D) mal ... porque ... intuito
Não julgues porque não te
que”, “a fim de (E) mal ... por quê ... intuito
julguem.
que”.
03. Assinale a alternativa que preenche, correta e
respectivamente, as lacunas do trecho a seguir, de acordo com
a norma-padrão.

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APOSTILAS OPÇÃO
Além disso, ___certamente ____entre nós ____do fenômeno da Ex.: herói – médico – céu(ditongos abertos)
corrupção e das fraudes.
(A) a … concenso … acerca acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”, “e” e
(B) há … consenso … acerca “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado:
(C) a … concenso … a cerca Ex.: tâmara – Atlântico – pêssego – supôs
(D) a … consenso … há cerca
(E) há … consenço … a cerca acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com
artigos e pronomes.
04. Assinale a alternativa cujas palavras se apresentam Ex.: à – às – àquelas – àqueles
flexionadas de acordo com a norma-padrão.
(A) Os tabeliãos devem preparar o documento. trema (¨) – De acordo com a nova regra, foi totalmente
(B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis. abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado em palavras
(C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local. derivadas de nomes próprios estrangeiros.
(D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos. Ex.: mülleriano (de Müller)
(E) Cuidado com os degrais, que são perigosos!
til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vogais
Respostas nasais.
01. D/02. D/03. B/04. D Ex.: coração – melão – órgão – ímã

Regras fundamentais:
4 Acentuação gráfica.
Palavras oxítonas:
Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”, “o”,
“em”, seguidas ou não do plural(s):
Acentuação Pará – café(s) – cipó(s) – armazém(s)

A acentuação é um dos requisitos que perfazem as regras Essa regra também é aplicada aos seguintes casos:
estabelecidas pela Gramática Normativa. Esta se compõe de
algumas particularidades, às quais devemos estar atentos, Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, seguidos
procurando estabelecer uma relação de familiaridade e, ou não de “s”.
consequentemente, colocando-as em prática na linguagem Ex.: pá – pé – dó – há
escrita.
Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, seguidas
Regras básicas – Acentuação tônica de lo, la, los, las.
respeitá-lo – percebê-lo – compô-lo
A acentuação tônica implica na intensidade com que são
pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá de Paroxítonas:
forma mais acentuada, conceitua-se como sílaba tônica. As Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
demais, como são pronunciadas com menos intensidade, são - i, is
denominadas de átonas. táxi – lápis – júri
De acordo com a tonicidade, as palavras são classificadas - us, um, uns
como: vírus – álbuns – fórum
- l, n, r, x, ps
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a automóvel – elétron - cadáver – tórax – fórceps
última sílaba. - ã, ãs, ão, ãos
Ex.: café – coração – cajá – atum – caju – papel ímã – ímãs – órfão – órgãos

Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica se - Dica: Memorize a palavra LINURXÃO. Para quê? Repare que
evidencia na penúltima sílaba. essa palavra apresenta as terminações das paroxítonas que são
Ex.: útil – tórax – táxi – leque – retrato – passível acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM =fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim
ficará mais fácil a memorização!
Proparoxítonas - São aquelas em que a sílaba tônica se
evidencia na antepenúltima sílaba. - ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou não de “s”.
Ex.: lâmpada – câmara – tímpano – médico – ônibus
água – pônei – mágoa – jóquei
Como podemos observar, mediante todos os exemplos
mencionados, os vocábulos possuem mais de uma sílaba, mas Regras especiais:
em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente:
são os chamados monossílabos, que, quando pronunciados, Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” ( ditongos abertos),
apresentam certa diferenciação quanto à intensidade. que antes eram acentuados, perderam o acento de acordo com
Tal diferenciação só é percebida quando os pronunciamos a nova regra, mas desde que estejam em palavras paroxítonas.
em uma dada sequência de palavras. Assim como podemos
observar no exemplo a seguir: Cuidado: Se os ditongos abertos estiverem em uma
palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu) ainda são
“Sei que não vai dar em nada, seus segredos sei de cor”. acentuados. Mas caso não forem ditongos perdem o acento.
Ex.:
Os monossílabos em destaque classificam-se como tônicos;
Antes Agora
os demais, como átonos (que, em, de).
assembléia assembleia
idéia ideia
Os Acentos Gráficos
jibóia jiboia
apóia (verbo apoiar) apoia
acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a”, “i”, “u” e
sobre o “e” do grupo “em” - indica que estas letras representam
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, acompanhados
as vogais tônicas de palavras como Amapá, caí, público, parabéns.
ou não de “s”, haverá acento:
Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre aberto. 

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APOSTILAS OPÇÃO
Ex.: saída – faísca – baú – país – Luís sendo acentuada para diferenciar-se de pode (terceira
pessoa do singular do presente do indicativo). Ex:
Observação importante:
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando hiato Ela pode fazer isso agora.
quando vierem depois de ditongo: Ex.: Elvis não pôde participar porque sua mão não deixou...

Antes Agora O mesmo ocorreu com o verbo pôr para diferenciar da


bocaiúva bocaiuva preposição por.
feiúra feiura
- Quando, na frase, der para substituir o “por” por “colocar”,
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi abolido. então estaremos trabalhando com um verbo, portanto: “pôr”;
Ex.: nos outros casos, “por” preposição. Ex:

Antes Agora Faço isso por você.


crêem creem Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
vôo voo
Questões
- Agora memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos que,
no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais acento 01. “Cadáver” é paroxítona, pois:
como antes: CRER, DAR, LER e VER. A) Tem a última sílaba como tônica.
B) Tem a penúltima sílaba como tônica.
Repare: C) Tem a antepenúltima sílaba como tônica.
1-) O menino crê em você D) Não tem sílaba tônica.
Os meninos creem em você.
2-) Elza lê bem! 02. Assinale a alternativa correta.
Todas leem bem! A palavra faliu contém um:
3-) Espero que ele dê o recado à sala. A) hiato
Esperamos que os dados deem efeito! B) dígrafo
4-) Rubens vê tudo! C) ditongo decrescente
Eles veem tudo! D) ditongo crescente

- Cuidado! Há o verbo vir: 03. Em “O resultado da experiência foi, literalmente,


Ele vem à tarde! aterrador.” a palavra destacada encontra-se acentuada pelo
Eles vêm à tarde! mesmo motivo que:
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quando A) túnel
seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z: B) voluntário
C) até
Ra-ul, ru-im, con-tri-bu-in-te, sa-ir, ju-iz D) insólito
E) rótulos
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se estiverem
seguidas do dígrafo nh: 04. Assinale a alternativa correta.
ra-i-nha, ven-to-i-nha. A) “Contrário” e “prévias” são acentuadas por serem
paroxítonas terminadas em ditongo.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem B) Em “interruptor” e “testaria” temos, respectivamente,
precedidas de vogal idêntica: encontro consonantal e hiato.
xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba C) Em “erros derivam do mesmo recurso mental” as palavras
grifadas são paroxítonas.
As formas verbais que possuíam o acento tônico na raiz, com D) Nas palavras “seguida”, “aquele” e “quando” as partes
“u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i” não destacadas são dígrafos.
serão mais acentuadas. Ex.: E) A divisão silábica está correta em “co-gni-ti-va”, “p-si-có-
lo-ga” e “a-ci-o-na”.
Antes Depois
apazigúe (apaziguar) apazigue 05. Todas as palavras abaixo são hiatos, EXCETO:
argúi (arguir) argui A) saúde
B) cooperar
Acentuam-se os verbos pertencentes à terceira pessoa do C) ruim
plural de: D) creem
E) pouco
ele tem – eles têm
ele vem – eles vêm (verbo vir) Respostas
1-B / 2-C / 3-B / 4-A / 5-E
A regra prevalece também para os verbos conter, obter, reter,
deter, abster. 
ele contém – eles contêm
5 Emprego das classes de
ele obtém – eles obtêm palavras.
ele retém – eles retêm
ele convém – eles convêm
Classes de Palavras
Não se acentuam mais as palavras homógrafas que antes
eram acentuadas para diferenciá-las de outras semelhantes Artigo
(regra do acento diferencial). Apenas em algumas exceções,
como: Artigo é a palavra que, vindo antes de um substantivo, indica
se ele está sendo empregado de maneira definida ou indefinida.
A forma verbal pôde (terceira pessoa do singular do Além disso, o artigo indica, ao mesmo tempo, o gênero e o
pretérito perfeito do modo indicativo) ainda continua número dos substantivos.

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APOSTILAS OPÇÃO
Classificação dos Artigos - Nunca deve ser usado artigo depois do pronome relativo
cujo (e flexões).
Artigos Definidos: determinam os substantivos de maneira Este é o homem cujo amigo desapareceu.
precisa: o, a, os, as. Por exemplo: Eu matei o animal. Este é o autor cuja obra conheço.

Artigos Indefinidos:  determinam os substantivos - Não se deve usar artigo antes das palavras casa (no sentido
de maneira vaga:  um, uma, uns, umas. Por exemplo: Eu de lar, moradia) e terra (no sentido de chão firme), a menos que
matei um animal. venham especificadas.
Eles estavam em casa.
Combinação dos Artigos Eles estavam na casa dos amigos.
É muito presente a combinação dos artigos definidos e Os marinheiros permaneceram em terra.
indefinidos com preposições. Este quadro apresenta a forma Os marinheiros permanecem na terra dos anões.
assumida por essas combinações:
- Não se emprega artigo antes dos pronomes de tratamento,
Preposições Artigos com exceção de senhor(a), senhorita e dona.
- o, os Vossa excelência resolverá os problemas de Sua Senhoria.
a ao, aos - Não se une com preposição o artigo que faz parte do nome
de do, dos de revistas, jornais, obras literárias.
Li a notícia em O Estado de S. Paulo.
em no, nos
por (per) pelo, pelos Morfossintaxe
a, as um, uns uma, umas Para definir o que é artigo é preciso mencionar suas relações
à, às - - com o substantivo. Assim, nas orações da língua portuguesa,
o artigo exerce a função de adjunto adnominal do substantivo
da, das dum, duns duma, dumas a que se refere. Tal função independe da função exercida pelo
na, nas num, nuns numa, numas substantivo:
pela, pelas - - A existência é uma poesia.
Uma existência é a poesia.
- As formas à e às indicam a fusão da preposição  a com o
artigo definido a. Essa fusão de vogais idênticas é conhecida Questões
por crase.
01. Determine o caso em que o artigo tem valor qualificativo:
Constatemos as circunstâncias em que os artigos se A) Estes são os candidatos que lhe falei.
manifestam: B) Procure-o, ele é o médico! Ninguém o supera.
C) Certeza e exatidão, estas qualidades não as tenho.
- Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do numeral D) Os problemas que o afligem não me deixam descuidado.
“ambos”: E) Muito é a procura; pouca é a oferta.
Ambos os garotos decidiram participar das olimpíadas.
02. Em qual dos casos o artigo denota familiaridade?
- Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso do A) O Amazonas é um rio imenso.
artigo, outros não: B) D. Manuel, o Venturoso, era bastante esperto.
São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia... C) O Antônio comunicou-se com o João.
D) O professor João Ribeiro está doente.
- Quando indicado no singular, o artigo definido pode indicar E) Os Lusíadas são um poema épico
toda uma espécie:
O trabalho dignifica o homem. 03.Assinale a alternativa em que o uso do artigo está
substantivando uma palavra.
- No caso de nomes próprios personativos, denotando a ideia A) A liberdade vai marcar a poesia social de Castro Alves.
de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso do artigo: B) Leitor perspicaz é aquele que consegue ler as entrelinhas.
O Pedro é o xodó da família. C) A navalha ia e vinha no couro esticado.
D) Haroldo ficou encantado com o andar de bailado de Joana.
- No caso de os nomes próprios personativos estarem no E) Bárbara dirigia os olhos para a lua encantada.
plural, são determinados pelo uso do artigo:
Os Maias, os Incas, Os Astecas... Respostas
1-B / 2-C / 3-D
- Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a) para
conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (o artigo), o Substantivo
pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) Tudo o que existe é ser e cada ser tem um nome. Substantivo é
Toda classe possui alunos interessados e desinteressados. a classe gramatical de palavras variáveis, as quais denominam
(qualquer classe) os seres. Além de objetos, pessoas e fenômenos, os substantivos
também nomeiam:
- Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é facultativo: -lugares: Alemanha, Porto Alegre...
Adoro o meu vestido longo. Adoro meu vestido longo. -sentimentos: raiva, amor...
- A utilização do artigo indefinido pode indicar uma ideia de -estados: alegria, tristeza...
aproximação numérica: -qualidades: honestidade, sinceridade...
O máximo que ele deve ter é uns vinte anos. -ações: corrida, pescaria...
- O artigo também é usado para substantivar palavras Morfossintaxe do substantivo
oriundas de outras classes gramaticais:
Não sei o porquê de tudo isso. Nas orações de língua portuguesa, o substantivo em geral
exerce funções diretamente relacionadas com o verbo: atua

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APOSTILAS OPÇÃO
como núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi necessário
direto ou indireto) e do agente da passiva. Pode ainda funcionar repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, mais outra
como núcleo do complemento nominal ou do aposto, como abelha...
núcleo do predicativo do sujeito ou do objeto ou como núcleo No segundo caso, utilizaram-se duas palavras no plural.
do vocativo. Também encontramos substantivos como núcleos No terceiro caso, empregou-se um substantivo no singular
de adjuntos adnominais e de adjuntos adverbiais - quando essas (enxame) para designar um conjunto de seres da mesma espécie
funções são desempenhadas por grupos de palavras.  (abelhas).
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
Classificação dos Substantivos
Substantivo Coletivo:  é o substantivo comum que, mesmo
1-  Substantivos Comuns e Próprios estando no singular, designa um conjunto de seres da mesma
Observe a definição: espécie.
Formação dos Substantivos
s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas casas e edifícios, Substantivos Simples e Compostos
dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a sede de município
é cidade). 2. O centro de uma cidade (em oposição aos bairros). Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a terra.

Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas e O substantivo chuva é formado por um único elemento ou
edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada  cidade. radical. É um substantivo simples.
Isso significa que a palavra cidade é um substantivo comum. Substantivo Simples:  é aquele formado por um único
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de uma elemento.
mesma espécie de forma genérica. Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja agora:
cidade, menino, homem, mulher, país, cachorro. O substantivo guarda-chuva é formado por dois elementos
(guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Estamos voando para Barcelona. Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou mais
elementos.
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da espécie Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
cidade. Esse substantivo é  próprio. Substantivo Próprio:  é  
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de forma Substantivos Primitivos e Derivados
particular. Meu limão meu limoeiro,
meu pé de jacarandá...
Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
O substantivo limão é primitivo, pois não se originou de
2 - Substantivos Concretos e Abstratos nenhum outro dentro de língua portuguesa.
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de nenhuma
LÂMPADA MALA outra palavra da própria língua portuguesa.
O substantivo limoeiro é derivado, pois se originou a partir
Os substantivos lâmpada e mala  designam seres com da palavra limão.
existência própria, que são independentes de outros seres. São Substantivo Derivado:  é aquele que se origina de outra
assim, substantivos concretos. palavra.
Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que existe,
independentemente de outros seres. Flexão dos substantivos
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variável
quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por exemplo,
Obs.: os substantivos concretos designam seres do mundo pode sofrer variações para indicar:
real e do mundo imaginário. Plural: meninos
Feminino: menina
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, Brasília, Aumentativo: meninão
etc. Diminutivo: menininho
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantasma, etc.
  Flexão de Gênero
Observe agora: Gênero  é a propriedade que as palavras têm de indicar
sexo real ou fictício dos seres. Na língua portuguesa,
Beleza exposta há dois gêneros:  masculino  e  feminino. Pertencem ao
Jovens atrizes veteranas destacam-se pelo visual. gênero masculino os substantivos que podem vir precedidos dos
artigos o, os, um, uns. Veja estes títulos de filmes:
O substantivo beleza designa uma qualidade. O velho e o mar
Substantivo Abstrato:  é aquele que designa seres que Um Natal inesquecível
dependem de outros para se manifestar ou existir. Os reis da praia
Pense bem: a beleza não existe por si só, não pode ser  
observada. Só podemos observar a beleza numa pessoa ou coisa Pertencem ao gênero feminino os substantivos que podem
que seja bela. A beleza depende de outro ser para se manifestar. vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
Portanto, a palavra beleza é um substantivo abstrato. A história sem fim
Os substantivos abstratos designam estados, qualidades, Uma cidade sem passado
ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser abstraídos, As tartarugas ninjas
e sem os quais não podem existir.
vida (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
(sentimento).  
Substantivos Biformes (= duas formas):  ao indicar nomes
3 - Substantivos Coletivos de seres vivos, geralmente o gênero da palavra está relacionado
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, outra ao sexo do ser, havendo, portanto, duas formas, uma para o
abelha, mais outra abelha. masculino e outra para o feminino. Observe: gato – gata, homem
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. – mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.

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APOSTILAS OPÇÃO
Substantivos Uniformes: são aqueles que apresentam uma Sobrecomuns:
única forma, que serve tanto para o masculino quanto para o
feminino. Classificam-se em: Entregue as crianças à natureza.
- Epicenos: têm um só gênero e nomeiam bichos. A palavra crianças refere-se tanto a seres do sexo masculino,
a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem o artigo nem
fêmea. um possível adjetivo permitem identificar o sexo dos seres a que
- Sobrecomuns: têm um só gênero e nomeiam pessoas. se refere a palavra. Veja:
a criança, a testemunha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, A criança chorona chamava-se João.
o indivíduo. A criança chorona chamava-se Maria.
Outros substantivos sobrecomuns:
- Comuns de Dois Gêneros: indicam o sexo das pessoas por a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa
meio do artigo. criatura.
o colega e a colega, o doente e a doente, o artista e a artista. o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O
Saiba que: cônjuge de Marcela faleceu
- Substantivos de origem grega terminados em ema ou oma,
são masculinos. Comuns de Dois Gêneros:
o axioma, o fonema, o poema, o sistema, o sintoma, o teorema.
- Existem certos substantivos que, variando de gênero, Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
variam em seu significado. Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora) o É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma vez
capital (dinheiro) e a capital (cidade) que a palavra motorista é um substantivo uniforme. O restante
da notícia informa-nos de que se trata de um homem.
Formação do Feminino dos Substantivos Biformes A distinção de gênero pode ser feita através da análise do
a) Regra geral: troca-se a terminação -o por -a. artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substantivo.
aluno - aluna o colega - a colega
um jovem - uma jovem
b) Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao artista famoso - artista famosa
masculino.
freguês - freguesa - A palavra personagem é usada indistintamente nos dois
gêneros.
c) Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino de três a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
formas: preferência pelo masculino:
- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa O menino descobriu nas nuvens os personagens dos contos de
- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã carochinha.
- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona b) Com referência a mulher, deve-se preferir o feminino:
O problema está nas mulheres de mais idade, que não aceitam
Exceções: barão – baronesa ladrão- ladra sultão - sultana a personagem.
Não cheguei assim, nem era minha intenção, a criar uma
d) Substantivos terminados em -or: personagem.
- acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora - Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
- troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz fotográfico Ana Belmonte.

e) Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: Observe o gênero dos substantivos seguintes:
cônsul - consulesa abade - abadessa poeta - poetisa
duque - duquesa conde - condessa profeta - profetisa Masculinos
o tapa
f) Substantivos que formam o feminino trocando o -e final o eclipse
por -a: o lança-perfume
elefante - elefanta o dó (pena)
o sanduíche
g) Substantivos que têm radicais diferentes no masculino e o clarinete
no feminino: o champanha
bode – cabra boi - vaca o sósia
o maracajá
h) Substantivos que formam o feminino de maneira especial, o clã
isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores: o hosana
czar – czarina réu - ré o herpes
o pijama
Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes
Femininos
- Epicenos: a dinamite
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros. a áspide
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso ocorre a derme
porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma para indicar a hélice
o masculino e o feminino. a alcíone
a filoxera
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma para a clâmide
designar os dois sexos. Esses substantivos são chamados de a omoplata
epicenos. No caso dos epicenos, quando houver a necessidade a cataplasma
de especificar o sexo, utilizam-se palavras macho e fêmea. a pane
a mascote
A cobra macho picou o marinheiro. a gênese
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. a entorse
a libido

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APOSTILAS OPÇÃO
- São geralmente masculinos os substantivos de origem o caixa (funcionário da caixa)
grega terminados em -ma: a caixa (recipiente, setor de pagamentos)
o grama (peso)
o quilograma o lente (professor)
o plasma a lente (vidro de aumento)
o apostema
o diagrama o moral (ânimo)
o epigrama a moral (honestidade, bons costumes, ética)
o telefonema
o estratagema o nascente (lado onde nasce o Sol)
o dilema a nascente (a fonte)
o teorema
o apotegma Flexão de Número do Substantivo
o trema
o eczema Em português, há dois números gramaticais: o singular, que
o edema indica um ser ou um grupo de seres, e
o magma o plural, que indica mais de um ser ou grupo de seres. A
característica do plural é o “s” final.
Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
Plural dos Substantivos Simples
Gênero dos Nomes de Cidades:
a) Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e “n”
Com raras exceções, nomes de cidades são femininos. fazem o plural pelo acréscimo de “s”.
A histórica Ouro Preto. pai – pais ímã - ímãs hífen - hifens (sem acento, no
A dinâmica São Paulo. plural).
A acolhedora Porto Alegre. Exceção: cânon - cânones.
Uma Londres imensa e triste.
b) Os substantivos terminados em “m” fazem o plural em
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre. “ns”.
homem - homens.
Gênero e Significação:
c) Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural
Muitos substantivos têm uma significação no masculino e pelo acréscimo de “es”.
outra no feminino. revólver – revólveres raiz - raízes
Observe: Atenção: O plural de caráter é caracteres.

o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os d) Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-se
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à frente no plural, trocando o “l” por “is”.
de um bloco carnavalesco, manejando um bastão) quintal - quintais caracol – caracóis hotel - hotéis
a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou Exceções: mal e males, cônsul e cônsules.
proibição de trânsito)
e) Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de duas
o cabeça (chefe) maneiras:
a cabeça (parte do corpo) - Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
o cisma (separação religiosa, dissidência) Obs.: a palavra réptil pode formar seu plural de duas
a cisma (ato de cismar, desconfiança) maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).

o cinza (a cor cinzenta) f) Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de duas


a cinza (resíduos de combustão) maneiras:
- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o acréscimo
o capital (dinheiro) de “es”: ás – ases / retrós - retroses
a capital (cidade) - Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam invariáveis:
o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
o coma (perda dos sentidos)
a coma (cabeleira) g) Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural de três
maneiras.
o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro) - substituindo o -ão por -ões: ação - ações
a coral (cobra venenosa) - substituindo o -ão por -ães: cão - cães
- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
o crisma (óleo sagrado, usado na administração da crisma e h) Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: o
de outros sacramentos) látex - os látex.
a crisma (sacramento da confirmação)
Plural dos Substantivos Compostos
o cura (pároco) A formação do plural dos substantivos compostos depende
a cura (ato de curar) da forma como são grafados, do tipo de palavras que formam
o composto e da relação que estabelecem entre si. Aqueles que
o estepe (pneu sobressalente) são grafados sem hífen comportam-se como os substantivos
a estepe (vasta planície de vegetação) simples:
aguardente e aguardentes girassol e girassóis
o guia (pessoa que guia outras) pontapé e pontapés malmequer e malmequeres
a guia (documento, pena grande das asas das aves)
O plural dos substantivos compostos cujos elementos são
o grama (unidade de peso) ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e discussões.
a grama (relva) Algumas orientações são dadas a seguir:

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APOSTILAS OPÇÃO
a) Flexionam-se os dois elementos, quando formados de: Plural dos Substantivos Estrangeiros
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-perfeitos Substantivos ainda não aportuguesados devem ser escritos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens como na língua original, acrescentando -se “s” (exceto quando
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras terminam em “s” ou “z”).
os shows os shorts os jazz
b) Flexiona-se somente o segundo elemento, quando Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acordo com
formados de: as regras de nossa língua:
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas os clubes os chopes
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e alto- os jipes os esportes
falantes as toaletes os bibelôs
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos os garçons os réquiens

c) Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando Observe o exemplo:


formados de: Este jogador faz gols toda vez que joga.
substantivo + preposição clara + substantivo = água-de- O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
colônia e águas-de-colônia
substantivo + preposição oculta + substantivo = cavalo- Plural com Mudança de Timbre
vapor e cavalos-vapor
substantivo + substantivo que funciona como determinante Certos substantivos formam o plural com mudança de
do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do termo timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato fonético
anterior. chamado metafonia (plural metafônico).
palavra-chave - palavras-chave
bomba-relógio - bombas-relógio
notícia-bomba - notícias-bomba Singular Plural Singular Plural
homem-rã - homens-rã corpo (ô) corpos (ó) osso (ô) ossos (ó)
esforço esforços ovo ovos
d) Permanecem invariáveis, quando formados de: fogo fogos poço poços
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora forno fornos porto portos
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os saca-rolhas fosso fossos posto postos
imposto impostos rogo rogos
e) Casos Especiais olho olhos tijolo tijolos
o louva-a-deus e os louva-a-deus
o bem-te-vi e os bem-te-vis
Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bolsos,
o bem-me-quer e os bem-me-queres
esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
o joão-ninguém e os joões-ninguém.
Obs.: distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
molho (ó) = feixe (molho de lenha).
Plural das Palavras Substantivadas
Particularidades sobre o Número dos Substantivos
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras classes
gramaticais usadas como substantivo, apresentam, no plural, as
a) Há substantivos que só se usam no singular:
flexões próprias dos substantivos.
o sul, o norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
Pese bem os prós e os contras.
O aluno errou na prova dos noves.
b) Outros só no plural:
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
as núpcias, os víveres, os pêsames, as espadas/os paus
Obs.: numerais substantivados terminados em “s” ou “z” não
(naipes de baralho), as fezes.
variam no plural.
Nas provas mensais consegui muitos seis e alguns dez.
c) Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do singular:
bem (virtude) e bens (riquezas)
Plural dos Diminutivos
honra (probidade, bom nome) e honras (homenagem,
títulos)
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final e
acrescenta-se o sufixo diminutivo.
d) Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas com
pãe(s) + zinhos = pãezinhos
sentido de plural:
animai(s) + zinhos = animaizinhos
Aqui morreu muito negro.
botõe(s) + zinhos = botõezinhos
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
improvisadas.
farói(s) + zinhos = faroizinhos
tren(s) + zinhos = trenzinhos
Flexão de Grau do Substantivo
colhere(s) + zinhas = colherezinhas
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir as
flore(s) + zinhas = florezinhas
variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
mão(s) + zinhas = mãozinhas
papéi(s) + zinhos = papeizinhos
- Grau Normal - Indica um ser de tamanho considerado
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
normal. Por exemplo: casa
funi(s) + zinhos = funizinhos
pé(s) + zitos = pezitos
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho do ser.
Classifica-se em:
Plural dos Nomes Próprios Personativos
Analítico = o substantivo é acompanhado de um adjetivo que
indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas sempre
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
que a terminação preste-se à flexão.
aumento. Por exemplo: casarão.
Os Napoleões também são derrotados.
As Raquéis e Esteres.
- Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho do ser.
Pode ser:

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APOSTILAS OPÇÃO
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo que África afro- / Por exemplo: Cultura afro-americana
indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de Alemanha germano- ou teuto- / Por exemplo:
diminuição. Por exemplo: casinha. Competições teuto-inglesas
América américo- / Por exemplo: Companhia
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.php
américo-africana
Questões Bélgica belgo- / Por exemplo: Acampamentos belgo-
franceses
01. A flexão de número do termo “preços-sombra” também
China sino- / Por exemplo: Acordos sino-japoneses
ocorre com o plural de
(A) reco-reco. Espanha hispano- / Por exemplo: Mercado hispano-
(B) guarda-costa. português
(C) guarda-noturno.
Europa euro- / Por exemplo: Negociações euro-
(D) célula-tronco.
americanas
(E) sem-vergonha.
França franco- ou galo- / Por exemplo: Reuniões
02. Assinale a alternativa cujas palavras se apresentam franco-italianas
flexionadas de acordo com a norma-padrão.
Grécia greco- / Por exemplo: Filmes greco-romanos
(A) Os tabeliãos devem preparar o documento.
(B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis. Inglaterra anglo- / Por exemplo: Letras anglo-
(C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local. portuguesas
(D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos.
Itália ítalo- / Por exemplo: Sociedade ítalo-
(E) Cuidado com os degrais, que são perigosos!
portuguesa
03. Indique a alternativa em que a flexão do substantivo está Japão nipo- / Por exemplo: Associações nipo-
errada: brasileiras
A) Catalães.
Portugal luso- / Por exemplo: Acordos luso-brasileiros
B) Cidadãos.
C) Vulcães.
Flexão dos adjetivos
D) Corrimões.
Respostas
O adjetivo varia em gênero, número e grau.
1-D / 2-D / 3-C
Gênero dos Adjetivos
Adjetivo
Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou
(masculino e feminino). De forma semelhante aos substantivos,
característica do ser e se relaciona com o substantivo.
classificam-se em: 
Ao analisarmos a palavra bondoso, por exemplo, percebemos
Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e
que, além de expressar uma qualidade, ela pode ser colocada ao
outra para o feminino.
lado de um substantivo: homem bondoso, moça bondosa, pessoa
bondosa.
Por exemplo: ativo e ativa, mau e má, judeu e judia.
Já com a palavra bondade, embora expresse uma qualidade,
não acontece o mesmo; não faz sentido dizer: homem bondade,
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino
moça bondade, pessoa bondade. 
somente o último elemento.
Bondade, portanto, não é adjetivo, mas substantivo.
Por exemplo: o moço norte-americano, a moça norte-
americana. 
Morfossintaxe do Adjetivo:
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro
Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como
de uma oração) relativas aos substantivos, atuando como adjunto
para o feminino. Por exemplo: homem feliz e mulher feliz.
adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto).
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no
feminino. Por exemplo: conflito político-social e desavença
Adjetivo Pátrio
político-social.
Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe
alguns deles:
Número dos Adjetivos
Estados e cidades brasileiros:
Plural dos adjetivos simples
Alagoas alagoano Os adjetivos simples flexionam-se no plural de acordo com
as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substantivos
Amapá amapaense
simples.
Aracaju aracajuano ou aracajuense Por exemplo:
mau e maus
Amazonas amazonense ou baré
feliz e felizes
Belo Horizonte belo-horizontino ruim e ruins
boa e boas
Brasília brasiliense
Cabo Frio cabo-friense Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função
de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que estiver
Campinas campineiro ou campinense
qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo,
ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra  cinza  é
Adjetivo Pátrio Composto  originalmente um substantivo; porém, se estiver qualificando
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro um elemento, funcionará como adjetivo. Ficará, então, invariável.
elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita. Logo: camisas cinza, ternos cinza.
Observe alguns exemplos: Veja outros exemplos:

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APOSTILAS OPÇÃO
Motos vinho (mas: motos verdes) Por exemplo: Pedro é maior do que Paulo - Comparação de
Paredes musgo (mas: paredes brancas). dois elementos.
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos). Pedro é  mais grande  que pequeno -  comparação de duas
qualidades de um mesmo elemento.
Adjetivo Composto
4) Sou  menos alto  (do) que  você.  = Comparativo de
É aquele formado por dois ou mais elementos. Normalmente, Inferioridade
esses elementos são ligados por hífen. Apenas o último elemento Sou menos passivo (do) que tolerante.
concorda com o substantivo a que se refere; os demais ficam
na forma masculina, singular. Caso um dos elementos que Superlativo
formam o adjetivo composto seja um substantivo adjetivado,
todo o adjetivo composto ficará invariável. Por exemplo:  a O superlativo expressa qualidades num grau muito
palavra rosa é originalmente um substantivo, porém, se estiver elevado ou em grau máximo. O grau superlativo pode ser
qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Caso se absoluto ou relativo e apresenta as seguintes modalidades:
ligue a outra palavra por hífen, formará um adjetivo composto; Superlativo Absoluto:  ocorre quando a qualidade de um
como é um substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apresenta-se
ficará invariável. Por exemplo: nas formas:
Camisas rosa-claro. Analítica: a intensificação se faz com o auxílio de palavras
Ternos rosa-claro. que dão ideia de intensidade (advérbios). Por exemplo: O
Olhos verde-claros. secretário é muito inteligente.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar. Sintética: a intensificação se faz por meio do acréscimo de
Telhados marrom-café e paredes verde-claras. sufixos.
Por exemplo:
Observe O secretário é inteligentíssimo.
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer adjetivo
composto iniciado por cor-de-... são sempre invariáveis. Observe alguns superlativos sintéticos: 
- O adjetivo composto pele-vermelha têm os dois elementos
flexionados.
benéfico beneficentíssimo
Grau do Adjetivo bom boníssimo ou ótimo

Os adjetivos flexionam-se em grau para indicar a comum comuníssimo


intensidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: cruel crudelíssimo
o comparativo e o superlativo.
difícil dificílimo
Comparativo doce dulcíssimo

Nesse grau, comparam-se a mesma característica fácil facílimo


atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais características fiel fidelíssimo
atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igualdade,
de superioridade ou de inferioridade. Observe os exemplos Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de um ser
abaixo: é intensificada em relação a um conjunto de seres. Essa relação
pode ser:
1) Sou tão alto como você.  = Comparativo de Igualdade De Superioridade: Clara é a mais bela da sala.
No comparativo de igualdade, o segundo termo da De Inferioridade: Clara é a menos bela da sala.
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou quão.
Note bem:
2) Sou  mais alto  (do) que  você.  = Comparativo de 1)  O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
Superioridade Analítico dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, etc.,
No comparativo de superioridade analítico, entre os dois antepostos ao adjetivo.
substantivos comparados, um tem qualidade superior. A forma é 2)  O superlativo absoluto sintético apresenta-se sob duas
analítica porque pedimos auxílio a “mais...do que” ou “mais...que”. formas : uma erudita, de origem latina, outra popular, de origem
vernácula. A forma erudita é constituída pelo radical do adjetivo
3) O Sol é  maior (do) que  a Terra.  = Comparativo de latino +  um dos sufixos -íssimo, -imo ou érrimo. Por exemplo:
Superioridade Sintético fidelíssimo, facílimo, paupérrimo.
A forma popular é constituída do radical do adjetivo
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de português + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. 3) Em vez dos superlativos normais seriíssimo, precariíssimo,
necessariíssimo, preferem-se, na linguagem atual, as formas
São eles: seríssimo, precaríssimo, necessaríssimo, sem o desagradável
bom-melhor hiato i-í.
pequeno-menor
mau-pior Questões
alto-superior
grande-maior 01. Leia o texto a seguir.
baixo-inferior
Violência epidêmica
Observe que: 
a) As formas menor e pior são comparativos de superioridade, A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora
pois equivalem a mais pequeno e mais mau, respectivamente. possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes
b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas sociais, é nos bairros pobres que ela adquire características
(melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações feitas epidêmicas.
entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se usar A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades
as formas analíticas mais bom, mais mau, mais grande e mais de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes
pequeno. centros urbanos e se dissemina pelo interior.

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APOSTILAS OPÇÃO
As estratégias que as sociedades adotam para combater a B) Supremo/ ínfimo;
violência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito C) Superamigo/ paupérrimo;
pouco no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços D) Muito amigo/ Bastante pobre
ocorridos no campo das infecções, câncer, diabetes e outras
enfermidades. Respostas
A agressividade impulsiva é consequência de perturbações 1-B / 2-C / 3-D
nos mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências
agressivas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas Pronome
que os tornam despreparados para lidar com as frustrações de
seus desejos. Pronome é a palavra que se usa em lugar do nome, ou a ele
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que se refere, ou ainda, que acompanha o nome qualificando-o de
tiveram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao alguma forma.
desenvolvimento psicológico pleno. A moça era mesmo bonita. Ela morava nos meus sonhos!
A revisão de estudos científicos permite identificar três [substituição do nome]
fatores principais na formação das personalidades com maior
inclinação ao comportamento violento: A moça que morava nos meus sonhos era mesmo bonita!
1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos, [referência ao nome]
humilhadas ou desprezadas nos primeiros anos de vida.
2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes Essa moça morava nos meus sonhos!
transmitiram valores sociais altruísticos, formação moral e não [qualificação do nome]
lhes impuseram limites de disciplina. Grande parte dos pronomes não possuem significados
3) Associação com grupos de jovens portadores de fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro de
comportamento antissocial. um contexto, o qual nos permite recuperar a referência exata
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças daquilo que está sendo colocado por meio dos pronomes no
que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à ato da comunicação. Com exceção dos pronomes interrogativos
falta de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, e indefinidos, os demais pronomes têm por função principal
esses fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta a apontar para as pessoas do discurso ou a elas se relacionar,
violência crescente nas cidades. indicando-lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a dessa característica, os pronomes apresentam uma forma
resposta do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o específica para cada pessoa do discurso.
criminoso fica impedido de delinquir apenas enquanto estiver
preso. Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
Ao sair, estará mais pobre, terá rompido laços familiares [minha/eu: pronomes de 1ª pessoa = aquele que fala]
e sociais e dificilmente encontrará quem lhe dê emprego. Ao
mesmo tempo, na prisão, terá criado novas amizades e conexões Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
mais sólidas com o mundo do crime. [tua/tu: pronomes de 2ª pessoa = aquele a quem se fala]
Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda.
Obrigados a optar por uma repressão policial mais ativa, A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
aumentaremos o número de prisioneiros. As cadeias continuarão [dela/ela: pronomes de 3ª pessoa = aquele de quem se fala]
superlotadas.
Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a Em termos morfológicos, os pronomes são palavras
criminalidade e tratar os que ingressaram nela. variáveis  em gênero (masculino ou feminino) e em número
Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência através
Precisamos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os do pronome seja coerente em termos de gênero e número
policiais a executar sua função com dignidade, criar leis que (fenômeno da concordância) com o seu objeto, mesmo quando
acabem com a impunidade dos criminosos bem-sucedidos e este se apresenta ausente no enunciado.
construir cadeias novas para substituir as velhas.
Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas Fala-se de Roberta. Ele  quer participar do desfile
preventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão da nossa escola neste ano.
capazes de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los [nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância
na sociedade por meio da educação formal de bom nível, das adequada]
práticas esportivas e da oportunidade de desenvolvimento [neste: pronome que determina “ano” = concordância
artístico. adequada]
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concordância
(Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado) inadequada]

Em – características epidêmicas –, o adjetivo epidêmicas Existem seis tipos de pronomes:  pessoais, possessivos,
corresponde a – características de epidemias. demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
Assinale a alternativa em que, da mesma forma, o adjetivo
em destaque corresponde, corretamente, à expressão indicada. Pronomes Pessoais
A) água fluvial – água da chuva.
B) produção aurífera – produção de ouro. São aqueles que substituem os substantivos, indicando
C) vida rupestre – vida do campo. diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve
D) notícias brasileiras – notícias de Brasília. assume os pronomes “eu” ou “nós”, usa os pronomes “tu”, “vós”,
E) costela bovina – costela de porco. “você” ou “vocês” para designar a quem se dirige e “ele”, “ela”,
“eles” ou “elas” para fazer referência à pessoa ou às pessoas de
02.Não se pluraliza os adjetivos compostos abaixo, exceto: quem fala.
A) azul-celeste Os pronomes pessoais variam de acordo com as funções
B) azul-pavão que exercem nas orações, podendo ser do caso reto ou do caso
C) surda-muda oblíquo.
D) branco-gelo
Pronome Reto
03.Assinale a única alternativa em que os adjetivos não
estão no grau superlativo absoluto sintético: Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sentença,
A) Arquimilionário/ ultraconservador; exerce a função de sujeito ou predicativo do sujeito.

Língua Portuguesa 23
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APOSTILAS OPÇÃO
Nós lhe ofertamos flores. - Trouxeste o pacote? - Não contaram a novidade a
vocês?
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gênero
(apenas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a principal - Sim, entreguei-to ainda há - Não, no-la contaram.
flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa forma, o pouco.
quadro dos pronomes retos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular: eu No português do Brasil, essas combinações não são usadas;
- 2ª pessoa do singular: tu até mesmo na língua literária atual, seu emprego é muito raro. 
- 3ª pessoa do singular: ele, ela
- 1ª pessoa do plural: nós Atenção:
- 2ª pessoa do plural: vós Os pronomes o, os, a, as assumem formas especiais depois
- 3ª pessoa do plural: eles, elas de certas terminações verbais. Quando o verbo termina em -z,
-s ou -r, o pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo
Atenção: esses pronomes não costumam ser usados como tempo que a terminação verbal é suprimida.
complementos verbais na língua-padrão. Frases como “Vi Por exemplo: fiz + o = fi-lo
ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu até aqui”, fazei + o = fazei-os
comuns na língua oral cotidiana, devem ser evitadas na língua dizer + a = dizê-la
formal escrita ou falada. Na língua formal, devem ser usados os
pronomes oblíquos correspondentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a Quando o verbo termina em som nasal, o pronome assume
na praça”, “Trouxeram-me até aqui”. as formas no, nos, na, nas. Por exemplo:
Obs.: frequentemente observamos a  omissão  do pronome viram + o: viram-no
reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias formas repõe + os = repõe-nos
verbais marcam, através de suas desinências, as pessoas do retém + a: retém-na
verbo indicadas pelo pronome reto. tem + as = tem-nas
Fizemos boa viagem. (Nós)
Pronome Oblíquo Tônico
Pronome Oblíquo
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sentença, precedidos por preposições, em geral as preposições a, para, de
exerce a função de complemento verbal (objeto direto ou  e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função
indireto) ou complemento nominal. de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica forte.
O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim
Ofertaram-nos flores. (objeto indireto) configurado:
Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma variante
do pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica a função - 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo
diversa que eles desempenham na oração: pronome reto marca - 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento da - 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela
oração. - 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com - 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou tônicos. - 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas

Pronome Oblíquo Átono Observe que as únicas formas próprias do pronome tônico
são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As demais
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não são repetem a forma do pronome pessoal do caso reto.
precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica  fraca. - As preposições essenciais introduzem sempre pronomes
Ele me deu um presente. pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso reto. Nos
contextos interlocutivos que exigem o uso da língua formal, os
O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim configurado: pronomes costumam ser usados desta forma:
- 1ª pessoa do singular (eu): me Não há mais nada entre mim e ti.
- 2ª pessoa do singular (tu): te Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe Não há nenhuma acusação contra mim.
- 1ª pessoa do plural (nós): nos Não vá sem mim.
- 2ª pessoa do plural (vós): vos
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes Atenção:
Há construções em que a preposição, apesar de surgir
Observações: anteposta a um pronome, serve para introduzir uma oração cujo
O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se verbo está no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ter sujeito
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união entre o expresso; se esse sujeito for um pronome, deverá ser do caso
pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por acompanhar reto.
diretamente uma preposição, o pronome “lhe” exerce sempre a
função de objeto indireto na oração. Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Não vá sem eu mandar.
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos
diretos como objetos indiretos. - A combinação da preposição  “com” e alguns pronomes
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
objetos diretos. conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos
frequentemente exercem a função de  adjunto adverbial de
Saiba que: companhia.
Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem combinar-se Ele carregava o documento consigo.
com os pronomes o, os, a, as, dando origem a formas como mo,
mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, lhas; no-lo, no-los, no- - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas por “com
la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Observe o uso dessas formas nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais são reforçados
nos exemplos que seguem: por palavras como outros, mesmos, próprios, todos, ambos ou
algum numeral.

Língua Portuguesa 24
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APOSTILAS OPÇÃO
Você terá de viajar com nós todos. - Os pronomes de tratamento representam uma forma
Estávamos com vós outros quando chegaram as más notícias. indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao
Ele disse que iria com nós três. tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo,
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado
Pronome Reflexivo supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.

São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcionem b)  3ª pessoa:  embora os pronomes de tratamento dirijam-
como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito da oração. se à  2ª pessoa, toda a concordância deve ser feita com a 3ª
Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação expressa pelo pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessivos e os
verbo. pronomes oblíquos empregados em relação a eles devem ficar
O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado: na 3ª pessoa.
- 1ª pessoa do singular (eu): me, mim. Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promessas,
Eu não me vanglorio disso. para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.
Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
c) Uniformidade de Tratamento:  quando escrevemos ou
- 2ª pessoa do singular (tu): te, ti. nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo do
Assim tu te prejudicas. texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente. Assim,
Conhece a ti mesmo. por exemplo, se começamos a chamar alguém de “você”, não
poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo. na terceira pessoa.
Guilherme já se preparou. Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus
Ela deu a si um presente. cabelos. (errado)
Antônio conversou consigo mesmo. Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos seus
cabelos. (correto)
- 1ª pessoa do plural (nós): nos. Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus
Lavamo-nos no rio. cabelos. (correto)

- 2ª pessoa do plural (vós): vos. Pronomes Possessivos


Vós vos beneficiastes com a esta conquista.
São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo (coisa
Eles se conheceram. possuída).
Elas deram a si um dia de folga. Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do singular)

A Segunda Pessoa Indireta Observe o quadro:

A chamada segunda pessoa indireta manifesta-se quando Número Pessoa Pronome


utilizamos pronomes que, apesar de indicarem nosso singular primeira meu(s), minha(s)
interlocutor ( portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na
terceira pessoa. É o caso dos chamados pronomes de tratamento, singular segunda teu(s), tua(s)
que podem ser observados no quadro seguinte: singular terceira seu(s), sua(s)

Pronomes de Tratamento plural primeira nosso(s), nossa(s)


plural segunda vosso(s), vossa(s)
Vossa Alteza V. A. príncipes, duques
Vossa Eminência V. Ema.(s) cardeais plural terceira seu(s), sua(s)
Vossa Reverendíssima V. Revma.(s) sacerdotes e bispos
Vossa Excelência V. Ex.ª (s) altas autoridades e Note que: A forma do possessivo depende da pessoa
oficiais-generais gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam com
Vossa Magnificência V. Mag.ª (s) reitores de o objeto possuído.
universidades Ele trouxe seu apoio e sua contribuição naquele momento
Vossa Majestade V. M. reis e rainhas difícil.
Vossa Majestade Imperial V. M. I. Imperadores
Vossa Santidade V. S. Papa Observações:
Vossa Senhoria V. S.ª (s) tratamento
cerimonioso 1 - A forma “seu” não é um possessivo quando resultar da
Vossa Onipotência V. O. Deus alteração fonética da palavra senhor.
- Muito obrigado, seu José.
Também são pronomes de tratamento o senhor, a
senhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empregados 2 - Os pronomes possessivos nem sempre indicam posse.
no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tratamento Podem ter outros empregos, como:
familiar. Você e vocês são largamente empregados no português a) indicar afetividade.
do Brasil; em algumas regiões, a forma  tu  é de uso frequente; - Não faça isso, minha filha.
em outras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito à b) indicar cálculo aproximado.
linguagem litúrgica, ultraformal ou literária. Ele já deve ter seus 40 anos.
c) atribuir valor indefinido ao substantivo.
Observações: Marisa tem lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
a) Vossa Excelência X Sua Excelência:  os pronomes de
tratamento que possuem “Vossa (s)”  são empregados em 3- Em frases onde se usam pronomes de tratamento, o
relação à pessoa com quem falamos. pronome possessivo fica na 3ª pessoa.
Espero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este Vossa Excelência trouxe sua mensagem?
encontro.
Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da pessoa. 4- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo
Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua Excelência, o concorda com o mais próximo.
Senhor Presidente da República, agiu com propriedade. Trouxe-me seus livros e anotações.

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APOSTILAS OPÇÃO
5- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblíquos O casamento seria um desastre. Todos o pressentiam.
átonos assumem valor de possessivo. c)  Para evitar a repetição de um verbo anteriormente
Vou seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos.) expresso, é comum empregar-se, em tais casos, o verbo fazer,
chamado, então, verbo vicário (= que substitui, que faz as vezes
Pronomes Demonstrativos de).
Ninguém teve coragem de falar antes que ela o fizesse.
Os pronomes demonstrativos são utilizados para explicitar a d)  Em frases como a seguinte,  este  se refere à pessoa
posição de uma certa palavra em relação a outras ou ao contexto. mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em primeiro
Essa relação pode ocorrer em termos de espaço, no tempo ou lugar.
discurso. O referido deputado e o Dr. Alcides eram amigos íntimos;
aquele casado, solteiro este. [ou então: este solteiro, aquele casado]
No espaço: e) O pronome demonstrativo tal pode ter conotação irônica.
Compro este carro (aqui). O pronome este indica que o carro A menina foi a tal que ameaçou o professor?
está perto da pessoa que fala. f) Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em com
Compro esse carro (aí). O pronome  esse  indica que o carro pronome demonstrativo:  àquele, àquela, deste, desta, disso,
está perto da pessoa com quem falo, ou afastado da pessoa que nisso, no, etc.
fala. Não acreditei no que estava vendo. (no = naquilo)
Compro aquele carro (lá). O pronome aquele diz que o carro
está afastado da pessoa que fala e daquela com quem falo. Pronomes Indefinidos
 
Atenção:  em situações de fala direta (tanto ao vivo quanto São palavras que se referem à terceira pessoa do discurso,
por meio de correspondência, que é uma modalidade escrita de dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quantidade
fala), são particularmente importantes o este e o esse - o primeiro indeterminada.
localiza os seres em relação ao emissor; o segundo, em relação Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
ao destinatário. Trocá-los pode causar ambiguidade. plantadas.
Não é difícil perceber que  “alguém”  indica uma pessoa
Dirijo-me a essa universidade com o objetivo de solicitar de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
informações sobre o concurso vestibular. (trata-se da universidade imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser humano
destinatária). que seguramente existe, mas cuja identidade é desconhecida ou
Reafirmamos a disposição  desta  universidade em participar não se quer revelar. 
no próximo Encontro de Jovens. (trata-se da universidade que
envia a mensagem). Classificam-se em:

No tempo: - Pronomes Indefinidos Substantivos:  assumem o lugar


Este ano está sendo bom para nós. O pronome este se refere do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase. São
ao ano presente. eles:  algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, ninguém,
Esse ano que passou foi razoável. O pronome esse se refere a outrem, quem, tudo.
um passado próximo. Algo o incomoda?
Aquele ano foi terrível para todos. O pronome aquele está se Quem avisa amigo é.
referindo a um passado distante.
  - Pronomes Indefinidos Adjetivos:  qualificam um ser
- Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade
invariáveis, observe: aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s).
Cada povo tem seus costumes.
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s). Certas pessoas exercem várias profissões.
Invariáveis: isto, isso, aquilo.
Note que: Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora
- Também aparecem como pronomes demonstrativos: pronomes indefinidos adjetivos:
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e puderem algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo. demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.) nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
Essa rua não é a que te indiquei. (Esta rua não é aquela que quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
te indiquei.) tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias.
- mesmo(s), mesma(s):
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem. Menos palavras e mais ações.
- próprio(s), própria(s): Alguns se contentam pouco.
Os próprios alunos resolveram o problema.
Os pronomes indefinidos podem ser divididos
- semelhante(s): em variáveis e invariáveis. Observe:
Não compre semelhante livro.
- tal, tais: Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário, tanto,
Tal era a solução para o problema. outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca, vária,
tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer, alguns, nenhuns,
Note que: todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos, algumas,
nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quantas.
a)  Não raro os demonstrativos aparecem na frase, em Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada, algo,
construções redundantes, com finalidade expressiva, para cada.
salientar algum termo anterior. Por exemplo:
Manuela, essa é que dera em cheio casando com o José Afonso. São  locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um,
Desfrutar das belezas brasileiras, isso é que é sorte! qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), seja quem for,
b)  O pronome demonstrativo neutro  ou  pode representar seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= certo), tal e qual, tal ou
um termo ou o conteúdo de uma oração inteira, caso em que qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
aparece, geralmente, como objeto direto, predicativo ou aposto. Cada um escolheu o vinho desejado.

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APOSTILAS OPÇÃO
Indefinidos Sistemáticos d) O pronome “cujo” não concorda com o seu antecedente,
mas com o consequente. Equivale a do qual, da qual, dos quais,
Ao observar atentamente os pronomes indefinidos, das quais.
percebemos que existem alguns grupos que criam oposição
de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm sentido Este é o caderno cujas folhas estão rasgadas.
afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm sentido negativo; (antecedente) (consequente)
todo/tudo,  que indicam uma totalidade afirmativa, e  nenhum/
nada, que indicam uma totalidade negativa; alguém/ninguém, e) “Quanto” é pronome relativo quando tem por antecedente
que se referem à pessoa, e  algo/nada, que se referem à coisa; um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo:
certo, que particulariza, e qualquer, que generaliza.
Essas oposições de sentido são muito importantes na Emprestei tantos quantos foram necessários.
construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas (antecedente)
vezes dependem a solidez e a consistência dos argumentos
expostos. Observe nas frases seguintes a força que os pronomes Ele fez tudo quanto havia falado.
indefinidos destacados imprimem às afirmações de que fazem (antecedente)
parte:
Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado f)  O pronome  “quem” se refere a pessoas e vem sempre
prático. precedido de preposição.
Certas  pessoas conseguem perceber sutilezas: não são
pessoas quaisquer. É um professor a quem muito devemos.
(preposição)
Pronomes Relativos
g)  “Onde”, como pronome relativo, sempre possui
São aqueles que representam nomes já mencionados antecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar.
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem as A casa onde morava foi assaltada.
orações subordinadas adjetivas.
O racismo é um sistema  que  afirma a superioridade de um h) Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou em
grupo racial sobre outros. que.
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros = Sinto saudades da época em que (quando) morávamos no
oração subordinada adjetiva). exterior.
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” e
introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra “sistema” i) Podem ser utilizadas como pronomes relativos as palavras:
é antecedente do pronome relativo que. - como (= pelo qual)
O antecedente do pronome relativo pode ser o pronome Não me parece correto o modo como você agiu semana
demonstrativo o, a, os, as. passada.
Não sei o que você está querendo dizer. - quando (= em que)
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem Bons eram os tempos quando podíamos jogar videogame.
expresso.
Quem casa, quer casa. j)  Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
numa só frase.
Observe: O futebol é um esporte.
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os quais, O povo gosta muito deste esporte.
cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, quantas. O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.
k)  Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
Note que: ocorrer a elipse do relativo “que”.
a)  O pronome  “que”  é o relativo de mais largo emprego, A sala estava cheia de gente que conversava, (que) ria,
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser substituído (que) fumava.
por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu antecedente for
um substantivo. Pronomes Interrogativos

O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual) ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, referem-
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais) se à 3ª pessoa do discurso de modo impreciso. São pronomes
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais) interrogativos: que, quem, qual (e variações), quanto (e variações).

b)  O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente Quem fez o almoço?/ Diga-me quem fez o almoço.
pronomes relativos: por isso, são utilizados didaticamente para Qual das bonecas preferes? / Não sei qual das bonecas
verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que podem ter preferes.
várias classificações) são pronomes relativos. Todos eles são Quantos passageiros desembarcaram? / Pergunte quantos
usados com referência à pessoa ou coisa por motivo de clareza passageiros desembarcaram.
ou depois de determinadas preposições:
Sobre os pronomes:
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o
qual me deixou encantado. (O uso de “que”, neste caso, geraria O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de
ambiguidade.) sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo quando
desempenha função de complemento. Vamos entender,
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas primeiramente, como o pronome pessoal surge na frase e que
dúvidas? (Não se poderia usar “que” depois de sobre.) função exerce. Observe as orações:
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
c) O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e se 2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia ajudá-
refere a uma oração. lo.

Não chegou a ser padre, mas deixou de ser poeta, que era a Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele”
sua vocação natural. exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso reto.

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APOSTILAS OPÇÃO
Já na segunda oração, observamos o pronome “lhe” exercendo Mas você saberá quando eu o retuitar ou mencionar seu
função de complemento, e, consequentemente, é do caso oblíquo. nome no sítio, e poderá falar comigo. Meus seguidores também
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso, podem se interessar pelos seus tuítes e começar a seguir você.
o pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para a Em suma, nós continuaremos não nos conhecendo, mas as
segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se devia pessoas que estão ________ nossa volta podem virar amigas entre
ajudar.... Ajudar quem? Você (lhe). si.
Importante: Em observação à segunda oração, o emprego do Adaptado de: COSTA, C. C.. Disponível em:
pronome oblíquo “lhe” é justificado antes do verbo intransitivo <http://super.abril.com.br/cotidiano/como-internet-
“ajudar” porque o pronome oblíquo pode estar antes, depois ou estamudando-amizade-619645.shtml>.
entre locução verbal, caso o verbo principal (no caso “ajudar”)
estiver no infinitivo ou gerúndio. Considere as seguintes afirmações sobre a relação que se
Eu desejo lhe perguntar algo. estabelece entre algumas palavras do texto e os elementos a que
Eu estou perguntando-lhe algo. se referem.
I. No segmento que nascem, a palavra que se refere a
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos: amizades.
os primeiros não são precedidos de preposição, diferentemente II. O segmento elos fracos retoma o segmento uma forma
dos segundos que são sempre precedidos de preposição. superficial de amizade.
- Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu III. Na frase Nós não nos conhecemos, o pronome Nós refere-
estava fazendo. se aos pronomes eu e você.
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que
eu estava fazendo. Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
Questões (B) Apenas II.
(C) Apenas III.
01. Observe as sentenças abaixo. (D) Apenas I e II.
I. Esta é a professora de cuja aula todos os alunos gostam. (E) I, II e III.
II. Aquela é a garota com cuja atitude discordei - tornamo-
nos inimigas desde aquele episódio. 03. Observe a charge a seguir.
III. A criança cuja a família não compareceu ficou inconsolável.

O pronome ‘cuja’ foi empregado de acordo com a norma


culta da língua portuguesa em:
(A) apenas uma das sentenças
(B) apenas duas das sentenças.
(C) nenhuma das sentenças.
(D) todas as sentenças.

02. Um estudo feito pela Universidade de Michigan constatou


que o que mais se faz no Facebook, depois de interagir com
amigos, é olhar os perfis de pessoas que acabamos de conhecer.
Se você gostar do perfil, adicionará aquela pessoa, e estará
formado um vínculo. No final, todo mundo vira amigo de todo
mundo. Mas, não é bem assim. As redes sociais têm o poder de
transformar os chamados elos latentes (pessoas que frequentam Em relação à charge acima, assinale a afirmativa inadequada.
o mesmo ambiente social, mas não são suas amigas) em elos (A) A fala do personagem é uma modificação intencional de
fracos – uma forma superficial de amizade. Pois é, por mais uma fala de Cristo.
que existam exceções _______qualquer regra, todos os estudos (B) As duas ocorrências do pronome “eles” referem-se a
mostram que amizades geradas com a ajuda da Internet são pessoas distintas.
mais fracas, sim, do que aquelas que nascem e se desenvolvem (C) A crítica da charge se dirige às autoridades políticas no
fora dela. poder.
Isso não é inteiramente ruim. Os seus amigos do peito (D) A posição dos braços do personagem na charge repete a
geralmente são parecidos com você: pertencem ao mesmo de Cristo na cruz.
mundo e gostam das mesmas coisas. Os elos fracos, não. Eles (E) Os elementos imagísticos da charge estão distribuídos de
transitam por grupos diferentes do seu e, por isso, podem lhe forma equilibrada.
apresentar novas pessoas e ampliar seus horizontes – gerando
uma renovação de ideias que faz bem a todos os relacionamentos, Respostas
inclusive às amizades antigas. O problema é que a maioria das 01. A\02. E\03. B
redes na Internet é simétrica: se você quiser ter acesso às
informações de uma pessoa ou mesmo falar reservadamente com Verbo
ela, é obrigado a pedir a amizade dela. Como é meio grosseiro
dizer “não” ________ alguém que você conhece, todo mundo acaba Verbo  é a classe de palavras que se flexiona em pessoa,
adicionando todo mundo. E isso vai levando ________ banalização número, tempo, modo e voz. Pode indicar, entre outros
do conceito de amizade. processos: ação (correr); estado (ficar); fenômeno (chover);
É verdade. Mas, com a chegada de sítios como o Twitter, ficou ocorrência (nascer); desejo (querer).
diferente. Esse tipo de sítio é uma rede social completamente O que caracteriza o verbo são as suas flexões, e não os seus
assimétrica. E isso faz com que as redes de “seguidores” e possíveis significados. Observe que palavras como corrida,
“seguidos” de alguém possam se comunicar de maneira muito chuva e nascimento têm conteúdo muito próximo ao de alguns
mais fluida. Ao estudar a sua própria rede no Twitter, o sociólogo verbos mencionados acima; não apresentam, porém, todas as
Nicholas Christakis, da Universidade de Harvard, percebeu possibilidades de flexão que esses verbos possuem.
que seus amigos tinham começado a se comunicar entre si
independentemente da mediação dele. Pessoas cujo único ponto Estrutura das Formas Verbais
em comum era o próprio Christakis acabaram ficando amigas. Do ponto de vista estrutural, uma forma verbal pode
No Twitter, eu posso me interessar pelo que você tem a dizer e apresentar os seguintes elementos:
começar a te seguir. Nós não nos conhecemos. a)  Radical:  é a parte invariável, que expressa o significado
essencial do verbo. Por exemplo:

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APOSTILAS OPÇÃO
fal-ei; fal-ava; fal-am. (radical fal-) d) São impessoais, ainda:
1. o verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo.
b) Tema: é o radical seguido da vogal temática que indica a Ex.: Já passa das seis.
conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: fala-r 2. os verbos  bastar  e  chegar, seguidos da preposição  de,
indicando suficiência. Ex.: 
São três as conjugações: Basta de tolices. Chega de blasfêmias.
1ª - Vogal Temática - A - (falar) 3. os verbos  estar  e  ficar  em orações tais como  Está bem,
2ª - Vogal Temática - E - (vender) Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal,  sem referência
3ª - Vogal Temática - I - (partir) a sujeito expresso anteriormente. Podemos, ainda, nesse caso,
classificar o sujeito como  hipotético, tornando-se, tais verbos,
c) Desinência modo-temporal: é o elemento que designa o então, pessoais.
tempo e o modo do verbo. 4. o verbo deu + para da língua popular, equivalente de “ser
Por exemplo: possível”. Por exemplo:
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo.) Não deu para chegar mais cedo.
falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo.) Dá para me arrumar uns trocados?

d)  Desinência número-pessoal:  é o elemento que designa - Unipessoais:  são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se
a pessoa do discurso ( 1ª, 2ª ou 3ª) e o número (singular ou apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural.
plural). A fruta amadureceu.
falamos (indica a 1ª pessoa do plural.) As frutas amadureceram.
falavam (indica a 3ª pessoa do plural.)
Obs.: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos
Observação:  o verbo pôr, assim como seus derivados pessoais na linguagem figurada:
(compor, repor, depor, etc.), pertencem à 2ª conjugação, pois a Teu irmão amadureceu bastante.
forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar de haver Entre os unipessoais estão os verbos que significam vozes de
desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas formas do animais; eis alguns:
verbo: põe, pões, põem, etc. bramar: tigre
bramir: crocodilo
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas cacarejar: galinha
coaxar: sapo
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura dos cricrilar: grilo
verbos com o conceito de acentuação tônica, percebemos com
facilidade que nas formas rizotônicas, o acento tônico cai no Os principais verbos unipessoais são:
radical do verbo: opino, aprendam,  nutro, por exemplo. Nas 1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer,
formas arrizotônicas, o acento tônico não cai no radical, mas sim ser (preciso, necessário, etc.).
na terminação verbal: opinei, aprenderão, nutriríamos. Cumpre  trabalharmos bastante. (Sujeito:  trabalharmos
bastante.)
Classificação dos Verbos Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover.)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova.)
Classificam-se em: 2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da
a) Regulares:  são aqueles que possuem as desinências conjunção que.
normais de sua conjugação e cuja flexão não provoca alterações
no radical. Faz  dez anos que deixei de fumar. (Sujeito:  que deixei de
fumar.)
Por exemplo: canto     cantei      cantarei     cantava      cantasse Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não vejo Cláudia.
b) Irregulares:  são aqueles cuja flexão provoca alterações (Sujeito: que não vejo Cláudia)
no radical ou nas desinências. Obs.: todos os sujeitos apontados são oracionais.
Por exemplo: faço     fiz      farei     fizesse
c) Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação - Pessoais:  não apresentam algumas flexões por motivos
completa. Classificam-se em impessoais, unipessoais e pessoais. morfológicos ou eufônicos. Por exemplo:
verbo falir. Este verbo teria como formas do presente do
- Impessoais: são os verbos que não têm sujeito. indicativo falo, fales, fale, idênticas às do verbo falar - o que
Normalmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os provavelmente causaria problemas de interpretação em certos
principais verbos impessoais são: contextos.
a)  haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se verbo computar. Este verbo teria como formas do presente do
ou fazer (em orações temporais). indicativo computo, computas, computa - formas de sonoridade
Havia poucos ingressos à venda. (Havia = Existiam) considerada ofensiva por alguns ouvidos gramaticais. Essas
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram) razões muitas vezes não impedem o uso efetivo de formas
Haverá reuniões aqui. (Haverá = Realizar-se-ão) verbais repudiadas por alguns gramáticos: exemplo disso é
Deixei de fumar há muitos anos. (há = faz) o próprio verbo computar, que, com o desenvolvimento e a
popularização da informática, tem sido conjugado em todos os
b) fazer, ser e estar (quando indicam tempo) tempos, modos e pessoas.
Faz invernos rigorosos no Sul do Brasil.
Era primavera quando a conheci. d) Abundantes:  são aqueles que possuem mais de uma
Estava frio naquele dia. forma com o mesmo valor. Geralmente, esse fenômeno costuma
ocorrer no particípio, em que, além das formas regulares
c) Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas
são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer, curtas (particípio irregular). Observe:
escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci mal-
humorado”, usa-se o verbo  “amanhecer”  em sentido figurado.
Qualquer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, Infinitivo Particípio regular Particípio irregular
deixa de ser impessoal para ser pessoal.
Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu) Anexar Anexado Anexo
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu) Dispersar Dispersado Disperso

Língua Portuguesa 29
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APOSTILAS OPÇÃO
Infinitivo Pessoal: por ser eu, por seres tu, por ser ele, por
Eleger Elegido Eleito
sermos nós, por serdes vós, por serem eles.
Envolver Envolvido Envolto
SER - Formas Nominais
Imprimir Imprimido Impresso
Matar Matado Morto Formas Nominais
Infinitivo: ser
Morrer Morrido Morto
Gerúndio: sendo
Pegar Pegado Pego Particípio: sido
Soltar Soltado Solto
Infinitivo Pessoal : ser eu, seres tu, ser ele, sermos
nós, serdes vós, serem eles.
e) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical
em sua conjugação.
ESTAR - Modo Indicativo
Por exemplo: 
Ir Pôr Ser Saber Presente: eu estou, tu estás, ele está, nós estamos, vós estais,
eles estão.
vou ponho sou sei
Pretérito Imperfeito: eu estava, tu estavas, ele estava, nós
vais pus és sabes estávamos, vós estáveis, eles estavam.
ides pôs fui soube Pretérito Perfeito Simples: eu estive, tu estiveste, ele
fui punha foste saiba esteve, nós estivemos, vós estivestes, eles estiveram.
foste seja Pretérito Perfeito Composto: tenho estado.
Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu estivera, tu
f) Auxiliares estiveras, ele estivera, nós estivéramos, vós estivéreis, eles
São aqueles que entram na formação dos tempos estiveram.
compostos e das locuções verbais. O verbo principal, quando Pretérito Mais-que-perfeito Composto: tinha estado
acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das formas Futuro do Presente Simples: eu estarei, tu estarás, ele
nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio. estará, nós estaremos, vós estareis, eles estarão.
                         Futuro do Presente Composto: terei estado.
  Vou                       espantar           as          moscas. Futuro do Pretérito Simples: eu estaria, tu estarias, ele
(verbo auxiliar)       (verbo principal no infinitivo) estaria, nós estaríamos, vós estaríeis, eles estariam.
Futuro do Pretérito Composto: teria estado.
Está                    chegando            a         hora     do    debate.
(verbo auxiliar)      (verbo principal no gerúndio)                  ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo
                   
Obs.: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e Presente: que eu esteja, que tu estejas, que ele esteja, que
haver. nós estejamos, que vós estejais, que eles estejam.
Pretérito Imperfeito: se eu estivesse, se tu estivesses, se
Conjugação dos Verbos Auxiliares ele estivesse, se nós estivéssemos, se vós estivésseis, se eles
estivessem.
SER - Modo Indicativo Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse estado
Futuro Simples: quando eu estiver, quando tu estiveres,
Presente: eu sou, tu és, ele é, nós somos, vós sois, eles são. quando ele estiver, quando nós estivermos, quando vós
Pretérito Imperfeito: eu era, tu eras, ele era, nós éramos, estiverdes, quando eles estiverem.
vós éreis, eles eram. Futuro Composto: Tiver estado.
Pretérito Perfeito Simples: eu fui, tu foste, ele foi, nós
fomos, vós fostes, eles foram. Imperativo Afirmativo: está tu, esteja ele, estejamos nós,
Pretérito Perfeito Composto: tenho sido. estai vós, estejam eles.
Mais-que-perfeito simples: eu fora, tu foras, ele fora, nós Imperativo Negativo: não estejas tu, não esteja ele, não
fôramos, vós fôreis, eles foram. estejamos nós, não estejais vós, não estejam eles.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tinha sido. Infinitivo Pessoal: por estar eu, por estares tu, por estar ele,
Futuro do Pretérito simples: eu seria, tu serias, ele seria, por estarmos nós, por estardes vós, por estarem eles.
nós seríamos, vós seríeis, eles seriam.
Futuro do Pretérito Composto: terei sido. Formas Nominais
Futuro do Presente: eu serei, tu serás, ele será, nós seremos, Infinitivo: estar
vós sereis, eles serão. Gerúndio: estando
Futuro do Pretérito Composto: Teria sido. Particípio: estado

SER - Modo Subjuntivo ESTAR - Formas Nominais

Presente: que eu seja, que tu sejas, que ele seja, que nós Infinitivo Impessoal: estar
sejamos, que vós sejais, que eles sejam. Infinitivo Pessoal: estar, estares, estar, estarmos, estardes,
Pretérito Imperfeito: se eu fosse, se tu fosses, se ele fosse, estarem.
se nós fôssemos, se vós fôsseis, se eles fossem. Gerúndio: estando
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse sido. Particípio: estado
Futuro Simples: quando eu for, quando tu fores, quando ele
for, quando nós formos, quando vós fordes, quando eles forem. HAVER - Modo Indicativo
Futuro Composto: tiver sido.
Presente: eu hei, tu hás, ele há, nós havemos, vós haveis, eles
SER - Modo Imperativo hão.
Pretérito Imperfeito: eu havia, tu havias, ele havia, nós
Imperativo Afirmativo: sê tu, seja ele, sejamos nós, sede havíamos, vós havíeis, eles haviam.
vós, sejam eles. Pretérito Perfeito Simples: eu houve, tu houveste, ele
Imperativo Negativo: não sejas tu, não seja ele, não sejamos houve, nós houvemos, vós houvestes, eles houveram.
nós, não sejais vós, não sejam eles. Pretérito Perfeito Composto: tenho havido.

Língua Portuguesa 30
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APOSTILAS OPÇÃO
Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu houvera, tu Imperativo Negativo: não tenhas tu, não tenha ele, não
houveras, ele houvera, nós houvéramos, vós houvéreis, eles tenhamos nós, não tenhais vós, não tenham eles.
houveram. Infinitivo Pessoal: por ter eu, por teres tu, por ter ele, por
Pretérito Mais-que-Prefeito Composto: tinha havido. termos nós, por terdes vós, por terem eles.
Futuro do Presente Simples: eu haverei, tu haverás, ele
haverá, nós haveremos, vós havereis, eles haverão. g) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com
Futuro do Presente Composto: terei havido. os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na mesma
Futuro do Pretérito Simples: eu haveria, tu haverias, ele pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais
haveria, nós haveríamos, vós haveríeis, eles haveriam. acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no próprio
Futuro do Pretérito Composto: teria havido. sentido do verbo (reflexivos essenciais). Veja:
- 1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os
HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos: abster-se,
ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos
Modo Subjuntivo verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já está implícita
Presente: que eu haja, que tu hajas, que ele haja, que nós no radical do verbo. Por exemplo:
hajamos, que vós hajais, que eles hajam. Arrependi-me de ter estado lá.
Pretérito Imperfeito: se eu houvesse, se tu houvesses, se A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem
ele houvesse, se nós houvéssemos, se vós houvésseis, se eles um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mesma,
houvessem. pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse havido. pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante do
Futuro Simples: quando eu houver, quando tu houveres, verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-
quando ele houver, quando nós houvermos, quando vós se que o pronome apenas serve de reforço da ideia reflexiva
houverdes, quando eles houverem. expressa pelo radical do próprio verbo.  
Futuro Composto: tiver havido. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e
respectivos pronomes): 
Modo Imperativo Eu me arrependo 
Imperativo Afirmativo: haja ele, hajamos nós, havei vós, Tu te arrependes 
hajam eles. Ele se arrepende 
Imperativo Negativo: não hajas tu, não haja ele, não Nós nos arrependemos 
hajamos nós, não hajais vós, não hajam eles. Vós vos arrependeis 
Infinitivo Pessoal: por haver eu, por haveres tu, por haver Eles se arrependem
ele, por havermos nós, por haverdes vós, por haverem eles.
 - 2. Acidentais:  são aqueles verbos transitivos diretos em que
HAVER - Formas Nominais a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto representado por
pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito
Infinitivo Impessoal: haver, haveres, haver, havermos, faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em geral, os verbos
haverdes, haverem. transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser
Infinitivo Pessoal: haver conjugados com os pronomes mencionados, formando o que se
Gerúndio: havendo chama voz reflexiva. Por exemplo: Maria se penteava.
Particípio: havido A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode
ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo:  Maria
TER - Modo Indicativo penteou-me.
 
Presente: eu tenho, tu tens, ele tem, nós temos, vós tendes, Observações:
eles têm. 1- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes
Pretérito Imperfeito: eu tinha, tu tinhas, ele tinha, nós oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
tínhamos, vós tínheis, eles tinham. sintática.
Pretérito Perfeito Simples: eu tive, tu tiveste, ele teve, nós 2- Há verbos que também são acompanhados de pronomes
tivemos, vós tivestes, eles tiveram. oblíquos átonos, mas que não são essencialmente pronominais,
Pretérito Perfeito Composto: tenho tido. são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes,
Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu tivera, tu tiveras, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do sujeito,
ele tivera, nós tivéramos, vós tivéreis, eles tiveram. exercem funções sintáticas.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tinha tido. Por exemplo:
Futuro do Presente Simples: eu terei, tu terás, ele terá, nós Eu me feri. = Eu(sujeito) - 1ª pessoa do singular me (objeto
teremos, vós tereis, eles terão. direto) - 1ª pessoa do singular
Futuro do Presente: terei tido.
Futuro do Pretérito Simples: eu teria, tu terias, ele teria, Modos Verbais
nós teríamos, vós teríeis, eles teriam.
Futuro do Pretérito composto: teria tido. Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo
verbo na expressão de um fato. Em Português, existem três
TER - Modo Subjuntivo e Imperativo modos: 
Indicativo - indica uma certeza, uma realidade. Por exemplo:
Modo Subjuntivo Eu sempre estudo.
Presente: que eu tenha, que tu tenhas, que ele tenha, que Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade. Por
nós tenhamos, que vós tenhais, que eles tenham. exemplo: Talvez eu estude amanhã.
Pretérito Imperfeito: se eu tivesse, se tu tivesses, se ele Imperativo  - indica uma ordem, um pedido. Por
tivesse, se nós tivéssemos, se vós tivésseis, se eles tivessem. exemplo: Estuda agora, menino.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse tido.
Futuro: quando eu tiver, quando tu tiveres, quando ele tiver, Formas Nominais
quando nós tivermos, quando vós tiverdes, quando eles tiverem.
Futuro Composto: tiver tido. Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas
que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
Modo Imperativo advérbio), sendo por isso denominadas  formas nominais.
Imperativo Afirmativo: tem tu, tenha ele, tenhamos nós, Observe: 
tende vós, tenham eles. - a) Infinitivo Impessoal:  exprime a significação do verbo

Língua Portuguesa 31
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APOSTILAS OPÇÃO
de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de - Futuro do Pretérito (composto)  -  Enuncia um fato que
substantivo. Por exemplo: Viver é lutar. (= vida é luta) poderia ter ocorrido posteriormente a um determinado fato
É indispensável combater a corrupção. (= combate à) passado. Por exemplo:  Se eu tivesse ganho esse dinheiro, teria
O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente viajado nas férias.
(forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
É preciso ler este livro. Era preciso ter lido este livro. 2. Tempos do Subjuntivo

b) Infinitivo Pessoal:  é o infinitivo relacionado às três - Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento
pessoas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não atual. Por exemplo: É conveniente que estudes para o exame.
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; - Pretérito Imperfeito  -  Expressa um fato passado, mas
nas demais, flexiona- -se da seguinte maneira: posterior a outro já ocorrido. Por exemplo: Eu esperava que
ele vencesse o jogo.
2ª pessoa do singular: Radical + ES Ex.: teres(tu)
1ª pessoa do plural: Radical + MOS Ex.:termos (nós) Obs.: o pretérito imperfeito é também usado nas construções
2ª pessoa do plural: Radical + DES Ex.:terdes (vós) em que se expressa a ideia de condição ou desejo. Por exemplo:
3ª pessoa do plural: Radical + EM Ex.:terem (eles) Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.
- Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato totalmente
Por exemplo: terminado num momento passado. Por exemplo: Embora tenha
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação. estudado bastante, não passou no teste.
- Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que pode
- c) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou ocorrer num momento futuro em relação ao atual. Por exemplo:
advérbio. Por exemplo:  Quando ele vier à loja, levará as encomendas.
Saindo  de casa, encontrei alguns amigos. (função de Obs.: o futuro do presente é também usado em frases que
advérbio) indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se ele vier à loja,
Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (função adjetivo) levará as encomendas.
Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso; - Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato posterior
na forma composta, uma ação concluída. Por exemplo: ao momento atual mas já terminado antes de outro fato
Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro. futuro. Por exemplo:  Quando ele  tiver saído do hospital, nós o
Tendo trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro. visitaremos.

- d) Particípio:  quando não é empregado na formação dos Presente do Indicativo


tempos compostos, o particípio indica geralmente o resultado
de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e 1ª conjugação/2ª conjugação/3ª conjugação / Desinência
grau. Por exemplo: pessoal
Terminados os exames, os candidatos saíram. CANTAR VENDER PARTIR
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma cantO vendO partO O
relação temporal, assume verdadeiramente a função de adjetivo cantaS vendeS parteS S
(adjetivo verbal). Por exemplo: canta vende parte -
Ela foi a aluna escolhida para representar a escola. cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
Tempos Verbais cantaM vendeM parteM M

Tomando-se como referência o momento em que se fala, Pretérito Perfeito do Indicativo


a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.
Veja: 1ª conjugação/2ª conjugação/3ª conjugação/Desinência
pessoal
1. Tempos do Indicativo CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
- Presente  - Expressa um fato atual. Por exemplo: cantaSTE vendeSTE partISTE STE
Eu estudo neste colégio. cantoU vendeU partiU U
- Pretérito Imperfeito  - Expressa um fato ocorrido num cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
momento anterior ao atual, mas que não foi completamente cantaSTES vendeSTES partISTES STES
terminado. Por exemplo: Ele  estudava  as lições quando foi cantaRAM vendeRAM partiRAM AM
interrompido.
- Pretérito Perfeito (simples)  -  Expressa um fato ocorrido Pretérito mais-que-perfeito
num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado.
Por exemplo: Ele estudou as lições ontem à noite. 1ª conj. / 2ª conj. / 3ª conj. /Desin. Temp. /Desin. Pess.
- Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato que teve 1ª/2ª e 3ª conj.
início no passado e que pode se prolongar até o momento atual. CANTAR VENDER PARTIR - -
Por exemplo: Tenho estudado muito para os exames. cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
- Pretérito-Mais-Que-Perfeito - Expressa um fato ocorrido cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
antes de outro fato já terminado. Por exemplo: Ele já  tinha cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
estudado  as lições quando os amigos chegaram. (forma cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
composta) Ele já estudara as lições quando os amigos chegaram. cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M
(forma simples)
- Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que deve Pretérito Imperfeito do Indicativo
ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual.
Por exemplo:  Ele estudará as lições amanhã. 1ª conjugação / 2ª conjugação / 3ª conjugação
- Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato que deve CANTAR VENDER PARTIR
ocorrer posteriormente a um momento atual, mas já terminado cantAVA vendIA partIA
antes de outro fato futuro. Por exemplo: Antes de bater o sinal, cantAVAS vendIAS partAS
os alunos já terão terminado o teste. CantAVA vendIA partIA
- Futuro do Pretérito (simples) - Enuncia um fato que pode cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
ocorrer posteriormente a um determinado fato passado. Por cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
exemplo: Se eu tivesse dinheiro, viajaria nas férias. cantAVAM vendIAM partIAM

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APOSTILAS OPÇÃO
Futuro do Presente do Indicativo Imperativo

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Imperativo Afirmativo


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente
cantar ás vender ás partir ás do indicativo a 2ª pessoa do singular (tu) e a segunda pessoa do
cantar á vender á partir á plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm,
cantar emos vender emos partir emos sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja: 
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão Pres. do Indicativo Imperativo Afirm. Pres. do Subjuntivo
Eu canto --- Que eu cante
Futuro do Pretérito do Indicativo Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
CANTAR VENDER PARTIR Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
cantarIA venderIA partirIA Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA Imperativo Negativo
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a
cantarIAM venderIAM partirIAM negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo


Que eu cante ---
Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a Que tu cantes Não cantes tu
desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do Que ele cante Não cante você
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1ª conjugação) ou Que nós cantemos Não cantemos nós
pela desinência -A (nos verbos de 2ª e 3ª conjugação). Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles
1ª conj./2ª conj./3ª conju./Des.Temp./Des.temp./Des. pess
1ª conj. 2ª/3ª conj. Observações:
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø - No modo imperativo não faz sentido usar na 3ª pessoa
cantES vendAS partAS E A S (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
cantE vendA partA E A Ø ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
cantEIS vendAIS partAIS E A IS - O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu),
cantEM vendAM partAM E A M sede (vós).

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo Infinitivo Impessoal

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, CANTAR VENDER PARTIR
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse
tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de número Infinitivo Pessoal
e pessoa correspondente.
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. Des. temporal Desin. pessoal CANTAR VENDER PARTIR
1ª /2ª e 3ª conj. cantar vender partir
CANTAR VENDER PARTIR cantarES venderES partirES
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø cantar vender partir
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S cantarMOS venderMOS partirMOS
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø cantarDES venderDES partirDES
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíssemos SSE MOS cantarEM venderEM partirEM
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSE vendeSSEM partiSSEM SSE M Questões

Futuro do Subjuntivo 01. Considere o trecho a seguir. É comum que objetos


___ esquecidos em locais públicos. Mas muitos transtornos
Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência poderiam ser evitados se as pessoas ______ a atenção voltada
-STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, obtendo- para seus pertences, conservando-os junto ao corpo. Assinale a
se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas
desinência temporal -R mais a desinência de número e pessoa do texto.
correspondente. (A) sejam … mantesse
(B) sejam … mantivessem
1ª conj. / 2ª conj. / 3ª conj. / Des. temp. /Desin. pess. (C) sejam … mantém
1ª /2ª e 3ª conj. (D) seja … mantivessem
CANTAR VENDER PARTIR (E) seja … mantêm
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES 02. Na frase –… os níveis de pessoas sem emprego estão
cantaR vendeR partiR R Ø apresentando quedas sucessivas de 2005 para cá. –, a locução
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS verbal em destaque expressa ação
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES (A) concluída.
cantaREM vendeREM PartiREM R EM (B) atemporal.
(C) contínua.

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APOSTILAS OPÇÃO
(D) hipotética. à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda,
(E) futura. ao lado, em volta
de negação  : Não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de
03. (Escrevente TJ SP Vunesp) Sem querer estereotipar, forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum
mas já estereotipando: trata--se de um ser cujas interações sociais de dúvida: Acaso, porventura, possivelmente,
terminam, 99% das vezes, diante da pergunta “débito ou crédito?”. provavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe
Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de de afirmação: Sim, certamente, realmente, decerto,
(A) considerar ao acaso, sem premeditação. efetivamente, certo, decididamente, realmente, deveras,
(B) aceitar uma ideia mesmo sem estar convencido dela. indubitavelmente
(C) adotar como referência de qualidade. de exclusão: Apenas, exclusivamente, salvo, senão, somente,
(D) julgar de acordo com normas legais. simplesmente, só, unicamente
(E) classificar segundo ideias preconcebidas. de inclusão: Ainda, até, mesmo, inclusivamente, também
de ordem: Depois, primeiramente, ultimamente
Respostas de designação: Eis
1-B / 2-C / 3-E de interrogação: onde?(lugar), como?(modo),
quando?(tempo), por quê?(causa), quanto?(preço e intensidade),
Advérbio para quê?(finalidade)

O  advérbio, assim como muitas outras palavras existentes Locução adverbial 


na Língua Portuguesa, advém de outras línguas. Assim sendo, É reunião de duas ou mais palavras com valor de advérbio.
tal qual o adjetivo, o prefixo “ad-” indica a ideia de proximidade, Exemplo:
contiguidade. Carlos saiu às pressas. (indicando modo)
Maria saiu à tarde. (indicando tempo)
Essa proximidade faz referência ao processo verbal, no
sentido de caracterizá-lo, ou seja, indicando as circunstâncias Há locuções adverbiais que possuem advérbios
em que esse processo se desenvolve.  correspondentes.
Exemplo:
O advérbio relaciona-se aos verbos da língua, no sentido de Carlos saiu às pressas. = Carlos saiu apressadamente.
caracterizar os processos expressos por ele. Contudo, ele não
é modificador exclusivo desta classe (verbos), pois também Apenas os advérbios de intensidade, de lugar e de modo são
modifica o  adjetivo e até outro advérbio. Seguem alguns flexionados, sendo que os demais são todos invariáveis. A única
exemplos: flexão propriamente dita que existe na categoria dos advérbios
é a de grau:
Para quem se diz  distantemente alheio  a esse assunto,
você está até bem informado.
Superlativo:  aumenta a intensidade. Exemplos: longe
Temos o advérbio “distantemente” que modifica o adjetivo - longíssimo, pouco - pouquíssimo, inconstitucionalmente -
alheio, representando uma qualidade, característica. inconstitucionalissimamente, etc;
Diminutivo: diminui a intensidade.
O artista canta muito mal. Exemplos: perto - pertinho, pouco - pouquinho, devagar -
devagarinho, 
Nesse caso, o advérbio de intensidade “muito” modifica outro
advérbio de modo – “mal”. Em ambos os exemplos pudemos Questões
verificar que se tratava de somente uma palavra funcionando
como advérbio. No entanto, ele pode estar demarcado por 01. Leia os quadrinhos para responder a questão.
mais de uma palavra, que mesmo assim não deixará de ocupar
tal função. Temos aí o que chamamos de  locução adverbial,
representada por algumas expressões, tais como: às vezes, sem
dúvida, frente a frente, de modo algum, entre outras.

Mediante tais postulados, afirma-se que, dependendo das


circunstâncias expressas pelos advérbios, eles se classificam em
distintas categorias, uma vez expressas por:    
de modo: Bem, mal, assim, depressa, devagar, às pressas, às
claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse
jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado
a lado, a pé, de cor, em vão, e a maior parte dos que terminam
em -mente: calmamente, tristemente, propositadamente,
pacientemente, amorosamente, docemente, escandalosamente,
bondosamente, generosamente
de intensidade: Muito, demais, pouco, tão, menos, em
excesso, bastante, pouco, mais, menos, demasiado, quanto, quão,
tanto, que(equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de
muito, por completo.
de tempo: Hoje, logo, primeiro, ontem, tarde outrora,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim,
afinal, breve, constantemente, entrementes, imediatamente,
primeiramente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes,
à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de
quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos,
em breve, hoje em dia
de lugar: Aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás, (Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano. Português. Volume
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo, aonde, Único)
longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro, afora,
alhures, nenhures, aquém, embaixo, externamente, a distância,

Língua Portuguesa 34
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APOSTILAS OPÇÃO
No primeiro e segundo quadrinhos, estão em destaque dois tempo, a resposta foi sim. Aqueles que não simpatizavam muito
advérbios: AÍ e ainda. com Pitágoras podiam simplesmente escolher carreiras nas
Considerando que advérbio é a palavra que modifica quais os números não encontravam muito espaço, como direito,
um verbo, um outro advérbio ou um adjetivo, expressando jornalismo, as humanidades e até a medicina de antigamente.
a circunstância em que determinado fato ocorre, assinale Como observa Steven Pinker, ainda hoje, nos meios
a alternativa que classifica, correta e respectivamente, as universitários, é considerado aceitável que um intelectual se
circunstâncias expressas por eles. vanglorie de ter passado raspando em física e de ignorar o beabá
A) Lugar e negação. da estatística. Mas ai de quem admitir nunca ter lido Joyce ou
B) Lugar e tempo. dizer que não gosta de Mozart. Sobre ele recairão olhares tão
C) Modo e afirmação. recriminadores quanto sobre o sujeito que assoa o nariz na
D) Tempo e tempo. manga da camisa.
E) Intensidade e dúvida. Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida
prática. Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma
02. Leia o texto a seguir. ponta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental, mesmo
para quem não pretende ser engenheiro ou seguir carreiras
Impunidade é motor de nova onda de agressões técnicas.
Como sobreviver à era do crédito farto sem saber calcular as
Repetidos episódios de violência têm sido noticiados nas armadilhas que uma taxa de juros pode esconder? Hoje, é difícil
últimas semanas. Dois que chamam a atenção, pela banalidade até posicionar-se de forma racional sobre políticas públicas sem
com que foram cometidos, estão gerando ainda uma série de assimilar toda a numeralha que idealmente as informa.
repercussões. Conhecimentos rudimentares de estatística são pré-requisito
Em Natal, um garoto de 19 anos quebrou o braço da para compreender as novas pesquisas que trazem informações
estudante de direito R.D., 19, em plena balada, porque ela teria relevantes para nossa saúde e bem-estar.
recusado um beijo. O suposto agressor já responde a uma ação A matemática está no centro de algumas das mais intrigantes
penal, por agressão, movida por sua ex-mulher. especulações cosmológicas da atualidade. Se as equações da
No mesmo final de semana, dois amigos que saíam de uma mecânica quântica indicam que existem universos paralelos,
boate em São Paulo também foram atacados por dois jovens isso basta para que acreditemos neles? Ou, no rastro de Eugene
que estavam na mesma balada, e um dos agredidos teve a perna Wigner, podemos nos perguntar por que a matemática é tão
fraturada. Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem eficaz para exprimir as leis da física.
sucesso, de duas garotas que eram amigas dos rapazes que Releia os trechos apresentados a seguir.
saíam da boate. Um dos suspeitos do ataque alega que tudo não - Aqueles que não simpatizavam muito com Pitágoras
passou de um engano e que o rapaz teria fraturado a perna ao podiam simplesmente escolher carreiras nas quais os números
cair no chão. não encontravam muito espaço... (1.º parágrafo)
Curiosamente, também é possível achar um blog que diz - Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma
que R.D., em Natal, foi quem atacou o jovem e que seu braço se ponta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental...(3.º
quebrou ao cair no chão. parágrafo)
Em ambos os casos, as câmeras dos estabelecimentos
felizmente comprovam os acontecimentos, e testemunhas vão Os advérbios em destaque nos trechos expressam, correta e
ajudar a polícia na investigação. respectivamente, circunstâncias de
O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se A) afirmação e de intensidade.
quebrando por aí ao cair no chão, não é mesmo? As agressões B) modo e de tempo.
devem ser rigorosamente apuradas e, se houver culpados, que C) modo e de lugar.
eles sejam julgados e condenados. D) lugar e de tempo.
A impunidade é um dos motores da onda de violência que E) intensidade e de negação.
temos visto. O machismo e o preconceito são outros. O perfil
impulsivo de alguns jovens (amplificado pela bebida e por Respostas
outras substâncias) completa o mecanismo que gera agressões. 1-B / 2-C / 3-B
Sem interferir nesses elementos, a situação não vai mudar.
Maior rigor da justiça, educação para a convivência com o outro, Preposição
aumento da tolerância à própria frustração e melhor controle
sobre os impulsos (é normal levar um “não”, gente!) são alguns Preposição  é uma palavra invariável que serve para ligar
dos caminhos. termos ou orações. Quando esta ligação acontece, normalmente
(Jairo Bouer, Folha de S.Paulo, 24.10.2011. Adaptado) há uma subordinação do segundo termo em relação ao
primeiro. As preposições são muito importantes na estrutura
Assinale a alternativa cuja expressão em destaque apresenta da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores
circunstância adverbial de modo. semânticos indispensáveis para a compreensão do texto.
A) Repetidos episódios de violência (...) estão gerando ainda
uma série de repercussões. Tipos de Preposição
B) ...quebrou o braço da estudante de direito R. D., 19, em
plena balada… 1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente
C) Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem como preposições.
sucesso, de duas amigas… A, ante, perante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre,
D) Um dos suspeitos do ataque alega que tudo não passou para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
de um engano...
E) O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se 2.  Preposições acidentais: palavras de outras  classes
quebrando por aí… gramaticais que podem atuar como preposições.
Como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão,
03. Leia o texto a seguir. visto.

Cultura matemática 3.  Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo


Hélio Schwartsman como uma preposição, sendo que a última palavra é uma delas.
Abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de
SÃO PAULO – Saiu mais um estudo mostrando que o ensino acordo com, em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de,
de matemática no Brasil não anda bem. A pergunta é: podemos graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por
viver sem dominar o básico da matemática? Durante muito trás de.

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APOSTILAS OPÇÃO
A preposição, como já foi dito, é invariável. No entanto pode - Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
unir-se a outras palavras e assim estabelecer concordância em termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
gênero ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela Cheguei a sua casa ontem pela manhã.
Não queria, mas vou ter que ir à outra cidade para procurar
Vale ressaltar que essa concordância não é característica da um tratamento adequado.
preposição, mas das palavras às quais ela se une.
- Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o lugar e/
Esse processo de junção de uma preposição com outra ou a função de um substantivo.
palavra pode se dar a partir de dois processos: Temos Maria como parte da família. / A temos como parte
da família
1. Combinação: A preposição não sofre alteração. Creio que conhecemos nossa mãe melhor que ninguém. /
preposição a + artigos definidos o, os Creio que a conhecemos melhor que ninguém.
a + o = ao
preposição a + advérbio onde 2. Algumas relações semânticas estabelecidas por meio das
a + onde = aonde preposições:
Destino = Irei para casa.
2. Contração: Quando a preposição sofre alteração. Modo = Chegou em casa aos gritos.
Lugar = Vou ficar em casa;
Preposição + Artigos Assunto = Escrevi um artigo sobre adolescência.
De + o(s) = do(s) Tempo = A prova vai começar em dois minutos.
De + a(s) = da(s) Causa = Ela faleceu de derrame cerebral.
De + um = dum Fim ou finalidade = Vou ao médico para começar o
De + uns = duns tratamento.
De + uma = duma Instrumento = Escreveu a lápis.
De + umas = dumas Posse = Não posso doar as roupas da mamãe.
Em + o(s) = no(s) Autoria = Esse livro de Machado de Assis é muito bom.
Em + a(s) = na(s) Companhia = Estarei com ele amanhã.
Em + um = num Matéria = Farei um cartão de papel reciclado.
Em + uma = numa Meio = Nós vamos fazer um passeio de barco.
Em + uns = nuns Origem = Nós somos do Nordeste, e você?
Em + umas = numas Conteúdo = Quebrei dois frascos de perfume.
A + à(s) = à(s) Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
Por + o = pelo(s) Preço = Essa roupa sai por R$ 50 à vista.
Por + a = pela(s)
Questões
Preposição + Pronomes
De + ele(s) = dele(s) 01. Leia o texto a seguir.
De + ela(s) = dela(s)
De + este(s) = deste(s) “Xadrez que liberta”: estratégia, concentração e reeducação
De + esta(s) = desta(s)
De + esse(s) = desse(s) João Carlos de Souza Luiz cumpre pena há três anos e dois
De + essa(s) = dessa(s) meses por assalto. Fransley Lapavani Silva está há sete anos
De + aquele(s) = daquele(s) preso por homicídio. Os dois têm 30 anos. Além dos muros,
De + aquela(s) = daquela(s) grades, cadeados e detectores de metal, eles têm outros pontos
De + isto = disto em comum: tabuleiros e peças de xadrez.
De + isso = disso O jogo, que eles aprenderam na cadeia, além de uma válvula
De + aquilo = daquilo de escape para as horas de tédio, tornou-se uma metáfora para o
De + aqui = daqui que pretendem fazer quando estiverem em liberdade.
De + aí = daí “Quando você vai jogar uma partida de xadrez, tem que pensar
De + ali = dali duas, três vezes antes. Se você movimenta uma peça errada,
De + outro = doutro(s) pode perder uma peça de muito valor ou tomar um xeque-mate,
De + outra = doutra(s) instantaneamente. Se eu for para a rua e movimentar a peça
Em + este(s) = neste(s) errada, eu posso perder uma peça muito importante na minha
vida, como eu perdi três anos na cadeia. Mas, na rua, o problema
Em + esta(s) = nesta(s)
maior é tomar o xeque-mate”, afirma João Carlos.
Em + esse(s) = nesse(s)
O xadrez faz parte da rotina de cerca de dois mil internos
Em + aquele(s) = naquele(s)
em 22 unidades prisionais do Espírito Santo. É o projeto “Xadrez
Em + aquela(s) = naquela(s)
que liberta”. Duas vezes por semana, os presos podem praticar
Em + isto = nisto
a atividade sob a orientação de servidores da Secretaria de
Em + isso = nisso Estado da Justiça (Sejus). Na próxima sexta-feira, será realizado
Em + aquilo = naquilo o primeiro torneio fora dos presídios desde que o projeto foi
A + aquele(s) = àquele(s) implantado. Vinte e oito internos de 14 unidades participam da
A + aquela(s) = àquela(s) disputa, inclusive João Carlos e Fransley, que diz que a vitória
A + aquilo = àquilo não é o mais importante.
“Só de chegar até aqui já estou muito feliz, porque eu não
Dicas sobre preposição esperava. A vitória não é tudo. Eu espero alcançar outras coisas
devido ao xadrez, como ser olhado com outros olhos, como
1. O “a” pode funcionar como preposição, pronome pessoal estou sendo olhado de forma diferente aqui no presídio devido
oblíquo e artigo. Como distingui-los? ao bom comportamento”.
Segundo a coordenadora do projeto, Francyany Cândido
- Caso o “a” seja um artigo, virá precedendo a um substantivo. Venturin, o “Xadrez que liberta” tem provocado boas mudanças
Ele servirá para determiná-lo como um substantivo singular no comportamento dos presos. “Tem surtido um efeito positivo
e feminino. por eles se tornarem uma referência positiva dentro da unidade,
A dona da casa não quis nos atender. já que cumprem melhor as regras, respeitam o próximo e
Como posso fazer a Joana concordar comigo? pensam melhor nas suas ações, refletem antes de tomar uma
atitude”.

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APOSTILAS OPÇÃO
Embora a Sejus não monitore os egressos que ganham a Cada informação está estruturada em torno de um verbo:
liberdade, para saber se mantêm o hábito do xadrez, João Carlos segurou, mostrou, viu. Assim, há nessa frase três orações:
já faz planos. “Eu incentivo não só os colegas, mas também 1ª oração: A menina segurou a boneca 2ª oração: e  mostrou
minha família. Sou casado e tenho três filhos. Já passei para a 3ª oração: quando viu as amiguinhas.
minha família: xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo A segunda oração liga-se à primeira por meio do “e”, e a
vai ter que aprender porque vai rolar até o torneio familiar”. terceira oração liga-se à segunda por meio do “quando”. As
“Medidas de promoção de educação e que possibilitem que o palavras “e” e “quando” ligam, portanto, orações.
egresso saia melhor do que entrou são muito importantes. Nós
não temos pena de morte ou prisão perpétua no Brasil. O preso Observe: Gosto de natação e de futebol.
tem data para entrar e data para sair, então ele tem que sair Nessa frase as expressões de natação, de futebol são partes
sem retornar para o crime”, analisa o presidente do Conselho ou termos de uma mesma oração. Logo, a palavra  “e” está
Estadual de Direitos Humanos, Bruno Alves de Souza Toledo. ligando termos de uma mesma oração.
(Disponível em: www.inapbrasil.com.br/en/noticias/xadrez-que-
liberta-estrategia-concentracao-e-reeducacao/6/noticias. Adaptado) Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações
ou dois termos semelhantes de uma mesma oração.
No trecho –... xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo
vai ter que aprender porque vai rolar até o torneio familiar.– o Morfossintaxe da Conjunção
termo em destaque expressa relação de
A) espaço, como em – Nosso diretor foi até Brasília para falar As conjunções, a exemplo das preposições, não exercem
do projeto “Xadrez que liberta”. propriamente uma função sintática: são conectivos.
B) inclusão, como em – O xadrez mudou até o nosso modo
de falar. Classificação - Conjunções Coordenativas- Conjunções
C) finalidade, como em – Precisamos treinar até junho para Subordinativas
termos mais chances de vencer o torneio de xadrez.
D) movimento, como em – Só de chegar até aqui já estou Conjunções coordenativas
muito feliz, porque eu não esperava. Dividem-se em:
E) tempo, como em – Até o ano que vem, pretendo conseguir
a revisão da minha pena. - ADITIVAS: expressam a ideia de adição, soma.
Ex. Gosto de cantar e de dançar.
02. Considere o trecho a seguir. Principais conjunções aditivas: e, nem, não só...mas também,
O metrô paulistano, ________quem a banda recebe apoio, não só...como também.
garante o espaço para ensaios e os equipamentos; e a estabilidade
no emprego, vantagem________ que muitos trabalhadores sonham, - ADVERSATIVAS: Expressam ideias contrárias, de oposição,
é o que leva os integrantes do grupo a permanecerem na de compensação.
instituição. Ex. Estudei, mas não entendi nada.
Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo,
As preposições que preenchem o trecho, correta, todavia, no entanto, entretanto.
respectivamente e de acordo com a norma-padrão, são:
A) a ...com - ALTERNATIVAS: Expressam ideia de alternância.
B) de ...com Ou você sai do telefone ou eu vendo o aparelho.
C) de ...a Principais conjunções alternativas: Ou...ou, ora...ora, quer...
D) com ...a quer, já...já.
E) para ...de
- CONCLUSIVAS: Servem para dar conclusões às orações. Ex.
03. Assinale a alternativa cuja preposição em destaque Estudei muito, por isso mereço passar.
expressa ideia de finalidade. Principais conjunções conclusivas: logo, por isso, pois
A) Além disso, aumenta a punição administrativa, de R$ (depois do verbo), portanto, por conseguinte, assim.
957,70 para R$ 1.915,40.
B) ... o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que - EXPLICATIVAS: Explicam, dão um motivo ou razão. Ex. É
o bafômetro e o exame de sangue eram obrigatórios para melhor colocar o casaco porque está fazendo muito frio lá fora.
comprovar o crime. Principais conjunções explicativas: que, porque, pois (antes
C) “... Ele é encaminhado para a delegacia para o perito fazer do verbo), porquanto.
o exame clínico”...
D) Já para o juiz criminal de São Paulo, Fábio Munhoz Conjunções subordinativas
Soares, um dos que devem julgar casos envolvendo pessoas - CAUSAIS
embriagadas ao volante, a mudança “é um avanço”. Principais conjunções causais: porque, visto que, já que, uma
E) Para advogados, a lei aumenta o poder da autoridade vez que, como (= porque).
policial de dizer quem está embriagado... Ele não fez o trabalho porque não tem livro.

Respostas - COMPARATIVAS
Principais conjunções comparativas: que, do que, tão...como,
1-B / 2-B / 3-B mais...do que, menos...do que.
Ela fala mais que um papagaio.
Conjunção
- CONCESSIVAS
Conjunção  é a palavra invariável que liga duas orações ou Principais conjunções concessivas: embora, ainda que,
dois termos semelhantes de uma mesma oração. Por exemplo: mesmo que, apesar de, se bem que.
Indicam uma concessão, admitem uma contradição, um fato
A menina segurou a boneca e mostrou quando viu as inesperado. Traz em si uma ideia de “apesar de”.
amiguinhas.
Deste exemplo podem ser retiradas três informações: Embora estivesse cansada, fui ao shopping. (= apesar de estar
cansada)
1-) segurou a boneca 2-) a menina mostrou 3-) viu as Apesar de ter chovido fui ao cinema.
amiguinhas

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APOSTILAS OPÇÃO
- CONFORMATIVAS o sinal do celular de um advogado tocando a “Ode à alegria”, de
Principais conjunções conformativas: como, segundo, Beethoven −, mas quase nada disso será resultado imediato de
conforme, consoante um trabalho físico de mãos ou vozes humanas, como se dava no
Cada um colhe conforme semeia. passado.
Expressam uma ideia de acordo, concordância, conformidade. Desde que Edison inventou o cilindro fonográfico, em1877,
existe gente que avalia o que a gravação fez em favor e desfavor
- CONSECUTIVAS da arte da música. Inevitavelmente, a conversa descambou para
Expressam uma ideia de consequência. os extremos retóricos. No campo oposto ao dos que diziam que a
Principais conjunções consecutivas: que (após “tal”, “tanto”, tecnologia acabaria com a música estão os utópicos, que alegam
“tão”, “tamanho”). que a tecnologia não aprisionou a música, mas libertou-a, levando
Falou tanto que ficou rouco. a arte da elite às massas. Antes de Edison, diziam os utópicos,
as sinfonias de Beethoven só podiam ser ouvidas em salas de
- FINAIS concerto selecionadas. Agora, as gravações levam a mensagem
Expressam ideia de finalidade, objetivo. de Beethoven aos confins do planeta, convocando a multidão
Todos trabalham para que possam sobreviver. saudada na “Ode à alegria”: “Abracem-se, milhões!”. Glenn Gould,
Principais conjunções finais: para que, a fim de que, porque depois de afastar-se das apresentações ao vivo em 1964, previu
(=para que), que dentro de um século o concerto público desapareceria no éter
eletrônico, com grande efeito benéfico sobre a cultura musical.
- PROPORCIONAIS (Adaptado de Alex Ross. Escuta só. Tradução Pedro Maia
Principais conjunções proporcionais: à medida que, quanto Soares. São Paulo, Cia. das Letras, 2010, p. 76-77)
mais, ao passo que, à proporção que.
À medida que as horas passavam, mais sono ele tinha. No entanto, a música não é mais algo que fazemos nós mesmos,
ou até que observamos outras pessoas fazerem diante de nós.
- TEMPORAIS
Principais conjunções temporais: quando, enquanto, logo Considerando-se o contexto, é INCORRETO afirmar que o
que. elemento grifado pode ser substituído por:
Quando eu sair, vou passar na locadora. A) Porém.
B) Contudo.
Importante: C) Todavia.
D) Entretanto.
Diferença entre orações causais e explicativas E) Conquanto.

Quando estudamos Orações Subordinadas Adverbiais (OSA) 02. Observando as ocorrências da palavra “como” em –
e Coordenadas Sindéticas (CS), geralmente nos deparamos Como fomos programados para ver o mundo como um lugar
com a dúvida de como distinguir uma oração causal de uma ameaçador… – é correto afirmar que se trata de conjunção
explicativa. Veja os exemplos: (A) comparativa nas duas ocorrências.
(B) conformativa nas duas ocorrências.
1º) Na frase “Não atravesse a rua, porque você pode ser (C) comparativa na primeira ocorrência.
atropelado”: (D) causal na segunda ocorrência.
a) Temos uma CS Explicativa, que indica uma justificativa ou (E) causal na primeira ocorrência.
uma explicação do fato expresso na oração anterior.
b) As orações são coordenadas e, por isso, independentes 03. Leia o texto a seguir.
uma da outra. Neste caso, há uma pausa entre as orações que
vêm marcadas por vírgula. Participação
Não atravesse a rua. Você pode ser atropelado. Num belo poema, intitulado “Traduzir-se”, Ferreira Gullar
b) Outra dica é, quando a oração que antecede a OC (Oração aborda o tema de uma divisão muito presente em cada um de
Coordenada) vier com verbo no modo imperativo, ela será nós: a que ocorre entre o nosso mundo interior e a nossa atuação
explicativa. junto aos outros, nosso papel na ordem coletiva. A divisão não é
Façam silêncio, que estou falando. (façam= verbo imperativo) simples: costuma-se ver como antagônicas essas duas “partes”
de nós, nas quais nos dividimos. De fato, em quantos momentos
2º) Na frase “Precisavam enterrar os mortos em outra cidade da nossa vida precisamos escolher entre o atendimento de um
porque não havia cemitério no local.” interesse pessoal e o cumprimento de um dever ético? Como poeta
a) Temos uma OSA Causal, já que a oração subordinada e militante político, Ferreira Gullar deixou-se atrair tanto pela
(parte destacada) mostra a causa da ação expressa pelo expressão das paixões mais íntimas quanto pela atuação de um
verbo da oração principal. Outra forma de reconhecê- convicto socialista. Em seu poema, o diálogo entre as duas partes
la é colocá-la no início do período, introduzida pela é desenvolvido de modo a nos fazer pensar que são incompatíveis.
conjunção como - o que não ocorre com a CS Explicativa.
Como não havia cemitério no local, precisavam enterrar os mortos Mas no último momento do poema deparamo-nos com esta
estrofe:
em outra cidade. “Traduzir uma parte na outra parte − que é uma questão de
b) As orações são subordinadas e, por isso, totalmente vida ou morte − será arte?”
dependentes uma da outra.
O poeta levanta a possibilidade da “tradução” de uma parte
Questões na outra, ou seja, da interação de ambas, numa espécie de
espelhamento. Isso ocorreria quando o indivíduo conciliasse
01. Leia o texto a seguir. verdadeiramente a instância pessoal e os interesses de uma
A música alcançou uma onipresença avassaladora em nosso comunidade; quando deixasse de haver contradição entre a razão
mundo: milhões de horas de sua história estão disponíveis em particular e a coletiva. Pergunta-se o poeta se não seria arte esse
disco; rios de melodia digital correm na internet; aparelhos tipo de integração. Realmente, com muita frequência a arte se
de mp3 com 40 mil canções podem ser colocados no bolso. No mostra capaz de expressar tanto nossa subjetividade como nossa
entanto, a música não é mais algo que fazemos nós mesmos, ou identidade social.
até que observamos outras pessoas fazerem diante de nós. Nesse sentido, traduzir uma parte na outra parte significaria
Ela se tornou um meio radicalmente virtual, uma arte sem vencer a parcialidade e chegar a uma autêntica participação,
rosto. Quando caminhamos pela cidade num dia comum, nossos de sentido altamente político. O poema de Gullar deixa-nos essa
ouvidos registram música em quase todos os momentos − pedaços hipótese provocadora, formulada com um ar de convicção.
de hip-hop vazando dos fones de ouvido de adolescentes no metrô, (Belarmino Tavares, inédito)

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APOSTILAS OPÇÃO
Os seguintes fatos, referidos no texto, travam entre si uma b) Sintetizar uma frase apelativa
relação de causa e efeito: Cuidado! Saia da minha frente.
A) ser poeta e militante político / confronto entre As interjeições podem ser formadas por:
subjetividade e atuação social a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô.
B) ser poeta e militante político / divisão permanente em b) palavras: Oba!, Olá!, Claro!
cada um de nós c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!, Ora
C) ser movido pelas paixões / esposar teses socialistas bolas!
D) fazer arte / obliterar uma questão de vida ou morte A ideia expressa pela interjeição depende muitas vezes
E) participar ativamente da política / formular hipóteses da entonação com que é pronunciada; por isso, pode ocorrer que
com ar de convicção uma interjeição tenha mais de um sentido. Por exemplo:
Oh! Que surpresa desagradável! (ideia de contrariedade)
Respostas Oh! Que bom te encontrar. (ideia de alegria)
1-E / 2-E / 3-A
Classificação das Interjeições
Interjeição
Comumente, as interjeições expressam sentido de:
- Advertência: Cuidado!, Devagar!, Calma!, Sentido!,
Interjeição  é a palavra invariável que exprime emoções,
Atenção!, Olha!, Alerta!
sensações, estados de espírito, ou que procura agir sobre o
- Afugentamento: Fora!, Passa!, Rua!, Xô!
interlocutor, levando-o a adotar certo comportamento sem que,
- Alegria ou Satisfação: Oh!, Ah!,Eh!, Oba!, Viva!
para isso, seja necessário fazer uso de estruturas linguísticas
- Alívio: Arre!, Uf!, Ufa! Ah!
mais elaboradas. Observe o exemplo:
- Animação ou Estímulo: Vamos!, Força!, Coragem!, Eia!,
Droga! Preste atenção quando eu estou falando!
Ânimo!, Adiante!, Firme!, Toca!
No exemplo acima, o interlocutor está muito bravo. Toda sua
- Aplauso ou Aprovação: Bravo!, Bis!, Apoiado!, Viva!, Boa!
raiva se traduz numa palavra: Droga!
- Concordância: Claro!, Sim!, Pois não!, Tá!, Hã-hã!
Ele poderia ter dito: - Estou com muita raiva de você! Mas usou
- Repulsa ou Desaprovação: Credo!, Irra!, Ih!, Livra!, Safa!,
simplesmente uma palavra. Ele empregou a interjeição Droga!
Fora!, Abaixo!, Francamente!, Xi!, Chega!, Basta!, Ora!
As sentenças da língua costumam se organizar de forma
- Desejo ou Intenção: Oh!, Pudera!, Tomara!, Oxalá!
lógica: há uma sintaxe que estrutura seus elementos e os distribui
- Desculpa: Perdão!
em posições adequadas a cada um deles. As interjeições, por
- Dor ou Tristeza: Ai!, Ui!, Ai de mim!, Que pena!, Ah!, Oh!,
outro lado, são uma espécie de “palavra-frase”, ou seja, há uma
Eh!
ideia expressa por uma palavra (ou um conjunto de palavras -
- Dúvida ou Incredulidade: Qual!, Qual o quê!, Hum!, Epa!,
locução interjetiva) que poderia ser colocada em termos de uma
Ora!
sentença.
- Espanto ou Admiração: Oh!, Ah!, Uai!, Puxa!, Céus!, Quê!,
Veja os exemplos:
Caramba!, Opa!, Virgem!, Vixe!, Nossa!, Hem?!, Hein?, Cruz!, Putz!
Bravo! Bis!
- Impaciência ou Contrariedade: Hum!, Hem!, Irra!, Raios!,
bravo  e  bis: interjeição / sentença (sugestão): «Foi muito
Diabo!, Puxa!, Pô!, Ora!
bom! Repitam!»
- Pedido de Auxílio: Socorro!, Aqui!, Piedade!
Ai! Ai! Ai! Machuquei meu pé...
- Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!, Viva!,
ai: interjeição / sentença (sugestão): “Isso está doendo!” ou
Adeus!, Olá!, Alô!, Ei!, Tchau!, Ô, Ó, Psiu!, Socorro!, Valha-me,
“Estou com dor!”
Deus!
- Silêncio: Psiu!, Bico!, Silêncio!
A interjeição é um recurso da linguagem afetiva, em que
- Terror ou Medo: Credo!, Cruzes!, Uh!, Ui!, Oh!
não há uma ideia organizada de maneira lógica, como são as
sentenças da língua, mas sim a manifestação de um suspiro, Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis, isto é,
um estado da alma decorrente de uma situação particular, um não sofrem variação em gênero, número e grau como os nomes,
momento ou um contexto específico. Exemplos: nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e voz como os
Ah, como eu queria voltar a ser criança! verbos. No entanto, em uso específico, algumas interjeições
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição sofrem variação em grau. Deve-se ter claro, neste caso, que
Hum! Esse pudim estava maravilhoso! não se trata de um processo natural dessa classe de palavra,
hum: expressão de um pensamento súbito = interjeição mas tão só uma variação que a linguagem afetiva permite.
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.
O significado das interjeições está vinculado à maneira
Locução Interjetiva
como elas são proferidas. Desse modo, o tom da fala é que dita
o sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto de
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
enunciação. Exemplos:
expressão com sentido de interjeição. Por exemplo
Psiu!
Ora bolas!
contexto:  alguém pronunciando essa expressão na rua;
Quem me dera!
significado da interjeição (sugestão):  “Estou te chamando! Ei,
Virgem Maria!
espere!”
Meu Deus!
Psiu!
Ai de mim!
contexto:  alguém pronunciando essa expressão em um
Valha-me Deus!
hospital; significado da interjeição (sugestão):  “Por favor, faça
Graças a Deus!
silêncio!”
Alto lá!
Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
Muito bem!
puxa: interjeição; tom da fala: euforia
Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
Observações:
puxa: interjeição; tom da fala: decepção
1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. Por
As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
exemplo:
a)  Sintetizar uma frase  exclamativa, exprimindo alegria,
tristeza, dor, etc.
Ué! = Eu não esperava por essa!
Você faz o que no Brasil?
Perdão! = Peço-lhe que me desculpe.
Eu? Eu negocio com madeiras.
Ah, deve ser muito interessante.

Língua Portuguesa 39
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APOSTILAS OPÇÃO
2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é o seu Ordinais: indicam a ordem ou lugar do ser numa série dada:
tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes gramaticais primeiro, segundo, centésimo, etc.
podem aparecer como interjeições. Fracionários: indicam parte de um inteiro, ou seja, a divisão
Viva! Basta! (Verbos) dos seres: meio, terço, dois quintos, etc.
Fora! Francamente! (Advérbios) Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação dos
seres, indicando quantas vezes a quantidade foi aumentada:
3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-frase” dobro, triplo, quíntuplo, etc.
porque sozinha pode constituir uma mensagem.
Socorro! Leitura dos Numerais
Ajudem-me! 
Silêncio! Separando os números em centenas, de trás para frente,
Fique quieto! obtêm-se conjuntos numéricos, em forma de centenas e, no
início, também de dezenas ou unidades. Entre esses conjuntos
4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imitativas, usa-se vírgula; as unidades ligam-se pela conjunção “e”.
que exprimem ruídos e vozes. 1.203.726 = um milhão, duzentos e três mil, setecentos e vinte
Pum! Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! e seis.
Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-quá!, etc. 45.520 = quarenta e cinco mil, quinhentos e vinte.

5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com a sua Flexão dos numerais


homônima  “oh!”, que exprime admiração, alegria, tristeza, etc.
Faz-se uma pausa depois do” oh!” exclamativo e não a fazemos Os numerais cardinais que variam em gênero são um/uma,
depois do “ó” vocativo. dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/duzentas em
diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatrocentas, etc.
“Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!» (Olavo Bilac)  Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam em número:
Oh! a jornada negra!» (Olavo Bilac) milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais são invariáveis.

6) Na linguagem afetiva, certas interjeições, originadas Os numerais ordinais variam em gênero e número:
de palavras de outras classes, podem aparecer flexionadas no primeiro segundo milésimo
diminutivo ou no superlativo. primeira segunda milésima
Calminha! Adeusinho! Obrigadinho! primeiros segundos milésimos
Interjeições, leitura e produção de textos primeiras segundas milésimas

Usadas com muita frequência na língua falada informal, Os numerais multiplicativos são invariáveis quando atuam
quando empregadas na língua escrita, as interjeições costumam em funções substantivas:
conferir-lhe certo tom inconfundível de coloquialidade. Além Fizeram o dobro do esforço e conseguiram o triplo de
disso, elas podem muitas vezes indicar traços pessoais do falante produção.
- como a escassez de vocabulário, o temperamento agressivo ou Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
dócil, até mesmo a origem geográfica. É nos textos narrativos - flexionam-se em gênero e número:
particularmente nos diálogos - que comumente se faz uso Teve de tomar doses triplas do medicamento.
das interjeições com o objetivo de caracterizar personagens Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e número.
e, também, graças à sua natureza sintética, agilizar as falas. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/duas terças
Natureza sintética e conteúdo mais emocional do que partes
racional fazem das interjeições presença constante nos textos Os numerais coletivos flexionam-se em número. Veja: uma
publicitários. dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/ É comum na linguagem coloquial a indicação de grau nos
morf89.php numerais, traduzindo afetividade ou especialização de sentido.
É o que ocorre em frases como:
Numeral “Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade!
Numeral é a palavra que indica os seres em termos O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda
numéricos, isto é, que atribui quantidade aos seres ou os situa divisão de futebol)
em determinada sequência.
Os quatro últimos ingressos foram vendidos há pouco. Emprego dos Numerais
[quatro: numeral = atributo numérico de “ingresso”]
Eu quero café duplo, e você? *Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em
[duplo: numeral = atributo numérico de “café”] que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até décimo e a
A primeira pessoa da fila pode entrar, por favor! partir daí os cardinais, desde que o numeral venha depois do
[primeira: numeral = situa o ser “pessoa” na sequência de substantivo:
“fila”] Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
os números indicam em relação aos seres. Assim, quando a Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
expressão é colocada em números (1, 1°, 1/3, etc.) não se trata Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
de numerais, mas sim de algarismos. Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a
ideia expressa pelos números, existem mais algumas palavras *Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal
consideradas numerais porque denotam quantidade, proporção até nono e o cardinal de dez em diante:
ou ordenação. São alguns exemplos: década, dúzia, par, Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
ambos(as), novena. Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)

Classificação dos Numerais *Ambos/ambas são considerados numerais. Significam “um


e outro”, “os dois” (ou “uma e outra”, “as duas”) e são largamente
Cardinais: indicam contagem, medida. É o número básico: empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez
um, dois, cem mil, etc. referência.

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APOSTILAS OPÇÃO
Pedro e João parecem ter finalmente percebido a importância Respostas
da solidariedade. Ambos agora participam das atividades 1-B / 2-D / 3-B
comunitárias de seu bairro.
6 Emprego do sinal indicativo de
Obs.: a forma “ambos os dois” é considerada enfática.
Atualmente, seu uso indica afetação, artificialismo. crase.

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - - Crase
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço A palavra crase é de origem grega e significa «fusão»,
quatro quarto quádruplo quarto «mistura». Na língua portuguesa, é o nome que se dá à «junção»
cinco quinto quíntuplo quinto de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da
seis sexto sêxtuplo sexto preposição “a” com o artigo feminino “a” (s), com o “a” inicial dos
sete sétimo sétuplo sétimo pronomes aquele(s), aquela (s), aquilo e com o “a” do relativo a
oito oitavo óctuplo oitavo qual (as quais). Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para
nove nono nônuplo nono indicar a crase. O uso apropriado do acento grave depende da
dez décimo décuplo décimo compreensão da fusão das duas vogais. É fundamental também,
onze décimo primeiro - onze avos para o entendimento da crase, dominar a regência dos verbos
doze décimo segundo - doze avos e nomes que exigem a preposição  “a”. Aprender a usar a
treze décimo terceiro - treze avos crase, portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência
catorze décimo quarto - catorze avos simultânea de uma preposição e um artigo ou pronome. 
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos Observe:
dezessete décimo sétimo - dezessete avos Vou a + a igreja.
dezoito décimo oitavo - dezoito avos Vou à igreja.
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos No exemplo acima, temos a ocorrência da
trinta trigésimo - trinta avos preposição  “a”,  exigida pelo verbo  ir (ir a algum lugar) e a
quarenta quadragésimo - quarenta avos ocorrência do artigo “a” que está determinando o substantivo
cinquenta quinquagésimo - cinquenta avos feminino igreja. Quando ocorre esse encontro das duas vogais e
sessenta sexagésimo - sessenta avos elas se unem, a união delas é indicada pelo acento grave. Observe
setenta septuagésimo - setenta avos os outros exemplos:
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos Conheço a aluna.
cem centésimo cêntuplo centésimo Refiro-me à aluna.
duzentos ducentésimo - ducentésimo No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer
trezentos trecentésimo - trecentésimo algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto
quinhentos quingentésimo - quingentésimo (referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição  “a”.
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo Portanto, a crase é possível, desde que o termo seguinte seja
setecentos septingentésimo - septingentésimo feminino e admita o artigo feminino “a” ou um dos pronomes já
oitocentos octingentésimo - octingentésimo especificados.
novecentos nongentésimo Veja os principais casos em que a crase NÃO ocorre:
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo 1-) diante de substantivos masculinos:
milhão milionésimo - milionésimo Andamos a cavalo.
bilhão bilionésimo - bilionésimo Fomos a pé.

Questões 2-) diante de  verbos no infinitivo:


A criança começou a falar.
01.Na frase “Nessa carteira só há duas notas de cinco reais” Ela não tem nada a dizer.
temos exemplos de numerais:
A) ordinais; Obs.: como os verbos não admitem artigos, o “a” dos
B) cardinais; exemplos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase.
C) fracionários;
D) romanos; 3-) diante da maioria dos pronomes e das expressões de
E) Nenhuma das alternativas. tratamento, com exceção das formas senhora, senhorita e dona:
Diga a ela que não estarei em casa amanhã.
02.Aponte a alternativa em que os numerais estão bem Entreguei a todos os documentos necessários.
empregados. Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem.
A) Ao papa Paulo Seis sucedeu João Paulo Primeiro.
B) Após o parágrafo nono virá o parágrafo décimo. Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes
C) Depois do capítulo sexto, li o capitulo décimo primeiro. podem ser identificados pelo método: troque a palavra feminina
D) Antes do artigo dez vem o artigo nono. por uma masculina, caso na nova construção surgir a forma ao,
E) O artigo vigésimo segundo foi revogado. ocorrerá crase. Por exemplo:

03. Os ordinais referentes aos números 80, 300, 700 e 90 Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo indivíduo.)
são, respectivamente Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao senhor.)
A) octagésimo, trecentésimo, septingentésirno, Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao próprio
nongentésimo Cláudio para sair mais cedo.)
B) octogésimo, trecentésimo, septingentésimo, nonagésimo
C) octingentésimo, tricentésimo, septuagésimo, nonagésimo 4-) diante de numerais cardinais:
D) octogésimo, tricentésimo, septuagésimo, nongentésimo Chegou a duzentos o número de feridos
Daqui a uma semana começa o campeonato.

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APOSTILAS OPÇÃO
Casos em que a crase SEMPRE ocorre: Refiro-me a + aquele atentado.
1-) diante de palavras femininas: Preposição Pronome
Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
Sempre vamos à praia no verão. Refiro-me àquele atentado.
Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.
Sou grata à população. O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo
Fumar é prejudicial à saúde. indireto referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposição,
Este aparelho é posterior à invenção do telefone. portanto, ocorre a crase. Observe este outro exemplo:

2-) diante da palavra “moda”, com o sentido de “à moda de” Aluguei aquela casa.


(mesmo que a expressão moda de fique subentendida):
O jogador fez um gol à (moda de) Pelé.  O verbo “alugar” é transitivo direto (alugar algo) e não exige
Usava sapatos à (moda de) Luís XV. preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso.
Estava com vontade de comer frango à (moda de) passarinho. Veja outros exemplos:
O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro. Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho.
Quero agradecer àqueles que me socorreram.
3-) na indicação de horas: Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai.
Acordei às sete horas da manhã. Não obedecerei àquele sujeito.
Elas chegaram às dez horas.
Foram dormir à meia-noite. Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais

4-) em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e as
que participam palavras femininas. Por exemplo: quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses pronomes
exigir a preposição  «a»,  haverá crase. É possível detectar a
à tarde às ocultas às pressas à medida que ocorrência da crase nesses casos utilizando a substituição do
à noite às claras às escondidas à força termo regido feminino por um termo regido masculino. 
Por exemplo:
à vontade à beça à larga à escuta A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.
às avessas à revelia à exceção de à imitação de O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade
à esquerda às turras às vezes à chave Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a crase.
à direita à procura à deriva à toa Veja outros exemplos:
São normas às quais todos os alunos devem obedecer.
à proporção Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
à luz à sombra de à frente de
que Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam
à responder nenhuma das questões.
semelhança às ordens à beira de A sessão à qual assisti estava vazia.
de
Crase com o Pronome Demonstrativo “a”
Crase diante de Nomes de Lugar
A ocorrência da crase com o pronome
Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do demonstrativo “a” também pode ser detectada através da
artigo “a”. Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo que substituição do termo regente feminino por um termo regido
diante deles haverá crase, desde que o termo regente exija a masculino. 
preposição “a”. Para saber se um nome de lugar admite ou não Veja:
a anteposição do artigo feminino “a”, deve-se substituir o termo Minha revolta é ligada à do meu país.
regente por um verbo que peça a preposição  “de”  ou  “em”. A Meu luto é ligado ao do meu país.
ocorrência da contração  “da”  ou  “na”  prova que esse nome de As orações são semelhantes às de antes.
lugar aceita o artigo e, por isso, haverá crase. Os exemplos são semelhantes aos de antes.
Por exemplo: Suas perguntas são superiores às dele.
Vou  à  França. (Vim  da [de+a] França. Estou  na [em+a] Seus argumentos são superiores aos dele.
França.) Sua blusa é idêntica à de minha colega.
Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.) Seu casaco é idêntico ao de minha colega.
Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália)
Vou  a  Porto Alegre. (Vim  de Porto Alegre. Estou em Porto A Palavra Distância
Alegre.) 
Se a palavra  distância  estiver especificada, determinada, a
- Minha dica: use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou A crase deve ocorrer.
volto DE, crase PRA QUÊ?” Por exemplo:
Ex: Vou a Campinas. = Volto de Campinas. Sua casa fica  à  distância de 100 Km daqui. (A palavra está
Vou à praia. = Volto da praia. determinada)
Todos devem ficar  à  distância de 50 metros do palco. (A
- ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado, palavra está especificada.)
ocorrerá crase. Veja:
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = Se a palavra  distância  não estiver especificada, a
mesmo que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” crase não pode ocorrer. 
Irei à Salvador de Jorge Amado. Por exemplo:
Os militares ficaram a distância.
Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele (s), Gostava de fotografar a distância.
Aquela (s), Aquilo Ensinou a distância.
Dizem que aquele médico cura a distância.
Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo Reconheci o menino a distância.
regente exigir a preposição “a”. Por exemplo:

Língua Portuguesa 42
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APOSTILAS OPÇÃO
Observação: por motivo de clareza, para evitar ambiguidade, Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na
pode-se usar a crase. ordem dada:
Veja: A) à – a – a
Gostava de fotografar à distância. B) a – a – à
Ensinou à distância. C) à – a – à
Dizem que aquele médico cura à distância. D) à – à – a
E) a – à – à
Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA
1-) diante de nomes próprios femininos: 03 “Nesta oportunidade, volto ___ referir-me ___ problemas já
Observação: é facultativo o uso da crase diante de nomes expostos ___ V. Sª ___ alguns dias”.
próprios femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe: a) à - àqueles - a - há 
Paula é muito bonita. Laura é minha amiga. b) a - àqueles - a - há 
A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga. c) a - aqueles - à - a 
d) à - àqueles - a - a 
Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo e) a - aqueles - à - há
feminino diante de nomes próprios femininos, então podemos
escrever as frases abaixo das seguintes formas: 04. Leia o texto a seguir.
Entreguei o cartão a Paula. Entreguei o cartão a
Roberto. Comunicação
Entreguei o cartão à Paula. Entreguei o cartão ao
Roberto. O público ledor (existe mesmo!) é sensorial: quer ter um autor
ao vivo, em carne e osso. Quando este morre, há uma queda de
2-) diante de pronome possessivo feminino: popularidade em termos de venda. Ou, quando teatrólogo, em
Observação: é facultativo o uso da crase diante de termos de espetáculo. Um exemplo: G. B. Shaw. E, entre nós, o
pronomes possessivos femininos porque é facultativo o uso do suave fantasma de Cecília Meireles recém está se materializando,
artigo. Observe: tantos anos depois.
Minha avó tem setenta anos. Minha irmã está Isto apenas vem provar que a leitura é um remédio para
esperando por você. a solidão em que vive cada um de nós neste formigueiro. Claro
A minha avó tem setenta anos. A minha irmã está que não me estou referindo a essa vulgar comunicação festiva e
esperando por você. efervescente.
Porque o autor escreve, antes de tudo, para expressar-se. Sua
Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de comunicação com o leitor decorre unicamente daí. Por afinidades.
pronomes possessivos femininos, então podemos escrever as É como, na vida, se faz um amigo.
frases abaixo das seguintes formas: E o sonho do escritor, do poeta, é individualizar cada
formiga num formigueiro, cada ovelha num rebanho − para que
Cedi o lugar a minha avó. Cedi o lugar a meu avô. sejamos humanos e não uma infinidade de xerox infinitamente
Cedi o lugar à minha avó. Cedi o lugar ao meu avô. reproduzidos uns dos outros.
Mas acontece que há também autores xerox, que nos invadem
3-) depois da preposição até: com aqueles seus best-sellers...
Fui até a praia. ou Fui até à praia. Será tudo isto uma causa ou um efeito?
Acompanhe-o até a porta. ou Acompanhe-o até à porta. Tristes interrogações para se fazerem num mundo que já foi
A palestra vai até as cinco horas da tarde. ou civilizado.
A palestra vai até às cinco horas da tarde.
(Mário Quintana. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1.
Questões ed., 2005. p. 654)

01. No Brasil, as discussões sobre drogas parecem limitar- Claro que não me estou referindo a essa vulgar comunicação
se ______aspectos jurídicos ou policiais. É como se suas únicas festiva e efervescente.
consequências estivessem em legalismos, tecnicalidades O vocábulo a deverá receber o sinal indicativo de crase se o
segmento grifado for substituído por:
e estatísticas criminais. Raro ler ____respeito envolvendo A) leitura apressada e sem profundidade.
questões de saúde pública como programas de esclarecimento B) cada um de nós neste formigueiro.
e prevenção, de tratamento para dependentes e de reintegração C) exemplo de obras publicadas recentemente.
desses____ vida. Quantos de nós sabemos o nome de um médico D) uma comunicação festiva e virtual.
ou clínica ____quem tentar encaminhar um drogado da nossa E) respeito de autores reconhecidos pelo público.
própria família?
05. O Instituto Nacional de Administração Prisional
(Ruy Castro, Da nossa própria família. Folha de S.Paulo, (INAP) também desenvolve atividades lúdicas de apoio______
17.09.2012. Adaptado) ressocialização do indivíduo preso, com o objetivo de prepará-
lo para o retorno______ sociedade. Dessa forma, quando em
liberdade, ele estará capacitado______ ter uma profissão e uma
As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e
vida digna.
respectivamente, com:
(Disponível em:
(A) aos … à … a … a
www.metropolitana.com.br/blog/qual_e_a_importancia_da_
(B) aos … a … à … a ressocializacao_de_presos. Acesso em: 18.08.2012. Adaptado)
(C) a … a … à … à
(D) à … à … à … à Assinale a alternativa que preenche, correta e
(E) a … a … a … a respectivamente, as lacunas do texto, de acordo com a norma-
padrão da língua portuguesa.
02. Leia o texto a seguir. A) à … à … à
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu B) a … a … à
______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do C) a … à … à
procedimento de Camilo. Vimos que ______ cartomante restituiu- D) à … à ... a
lhe ______ confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o E) a … à … a
que fez.
(Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias. Rio de Respostas
Janeiro: Globo, 1997, p. 6) 1-B / 2-A / 3-B / 4-A / 5-D

Língua Portuguesa 43
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APOSTILAS OPÇÃO
Sujeito Predicado
7 Sintaxe da oração e do
período. Pobreza não é vileza.
Os sertanistas capturavam os índios.
Oração Um vento áspero sacudia as árvores.

Oração: é todo enunciado linguístico dotado de sentido, Sujeito: é equivocado dizer que o sujeito é aquele que pratica
porém há, necessariamente, a presença do verbo. A oração uma ação ou é aquele (ou aquilo) do qual se diz alguma coisa. Ao
encerra uma frase (ou segmento de frase), várias frases ou um fazer tal afirmação estamos considerando o aspecto semântico
período, completando um pensamento e concluindo o enunciado do sujeito (agente de uma ação) ou o seu aspecto estilístico
através de ponto final, interrogação, exclamação e, em alguns (o tópico da sentença). Já que o sujeito é depreendido de uma
casos, através de reticências. análise sintática, vamos restringir a definição apenas ao seu
Em toda oração há um verbo ou locução verbal (às vezes papel sintático na sentença: aquele que estabelece concordância
elípticos). Não têm estrutura sintática, portanto não são orações, com o núcleo do predicado. Quando se trata de predicado verbal,
não podem ser analisadas sintaticamente frases como: o núcleo é sempre um verbo; sendo um predicado nominal, o
núcleo é sempre um nome. Então têm por características básicas:
Socorro! - estabelecer concordância com o núcleo do predicado;
Com licença! - apresentar-se como elemento determinante em relação ao
Que rapaz impertinente! predicado;
Muito riso, pouco siso. - constituir-se de um substantivo, ou pronome substantivo
ou, ainda, qualquer palavra substantivada.
Na oração as palavras estão relacionadas entre si, como
partes de um conjunto harmônico: elas formam os termos Exemplo:
ou as unidades sintáticas da oração. Cada termo da oração
desempenha uma função sintática. Geralmente apresentam dois A padaria está fechada hoje.
grupos de palavras: um grupo sobre o qual se declara alguma está fechada hoje: predicado nominal
coisa (o sujeito), e um grupo que apresenta uma declaração (o fechada: nome adjetivo = núcleo do predicado
predicado), e, excepcionalmente, só o predicado. Exemplo: a padaria: sujeito
padaria: núcleo do sujeito - nome feminino singular
A menina banhou-se na cachoeira.
A menina – sujeito No interior de uma sentença, o sujeito é o termo determinante,
banhou-se na cachoeira – predicado ao passo que o predicado é o termo determinado. Essa posição
Choveu durante a noite. (a oração toda predicado) de determinante do sujeito em relação ao predicado adquire
sentido com o fato de ser possível, na língua portuguesa, uma
O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo em sentença sem sujeito, mas nunca uma sentença sem predicado.
número e pessoa. É normalmente o «ser de quem se declara Exemplo:
algo», «o tema do que se vai comunicar».
O predicado é a parte da oração que contém “a informação As formigas invadiram minha casa.
nova para o ouvinte”. Normalmente, ele se refere ao sujeito, as formigas: sujeito = termo determinante
constituindo a declaração do que se atribui ao sujeito. invadiram minha casa: predicado = termo determinado
Há formigas na minha casa.
Observe: O amor é eterno. O tema, o ser de quem se declara há formigas na minha casa: predicado = termo determinado
algo, o sujeito, é “O amor”. A declaração referente a “o amor”, ou sujeito: inexistente
seja, o predicado, é «é eterno».
O sujeito sempre se manifesta em termos de sintagma
Já na frase: Os rapazes jogam futebol. O sujeito é “Os rapazes”, nominal, isto é, seu núcleo é sempre um nome. Quando esse
que identificamos por ser o termo que concorda em número e nome se refere a objetos das primeira e segunda pessoas, o
pessoa com o verbo “jogam”. O predicado é “jogam futebol”. sujeito é representado por um pronome pessoal do caso reto (eu,
tu, ele, etc.). Se o sujeito se refere a um objeto da terceira pessoa,
Núcleo de um termo é a palavra principal (geralmente um sua representação pode ser feita através de um substantivo, de
substantivo, pronome ou verbo), que encerra a essência de um pronome substantivo ou de qualquer conjunto de palavras,
sua significação. Nos exemplos seguintes, as palavras amigo e cujo núcleo funcione, na sentença, como um substantivo.
revestiu são o núcleo do sujeito e do predicado, respectivamente: Exemplos:
Eu acompanho você até o guichê.
“O amigo retardatário do presidente prepara-se para eu: sujeito = pronome pessoal de primeira pessoa
desembarcar.” (Aníbal Machado) Vocês disseram alguma coisa?
A avezinha revestiu o interior do ninho com macias plumas. vocês: sujeito = pronome pessoal de segunda pessoa
Marcos tem um fã-clube no seu bairro.
Os termos da oração da língua portuguesa são classificados Marcos: sujeito = substantivo próprio
em três grandes níveis: Ninguém entra na sala agora.
ninguém: sujeito = pronome substantivo
- Termos Essenciais da Oração: Sujeito e Predicado. O andar deve ser uma atividade diária.
o andar: sujeito = núcleo: verbo substantivado nessa oração
- Termos Integrantes da Oração: Complemento Nominal e
Complementos Verbais (Objeto Direto, Objeto indireto e Agente Além dessas formas, o sujeito também pode se constituir
da Passiva). de uma oração inteira. Nesse caso, a oração recebe o nome de
oração substantiva subjetiva:
- Termos Acessórios da Oração: Adjunto Adnominal,
Adjunto Adverbial, Aposto e Vocativo. É difícil optar por esse ou aquele doce...
É difícil: oração principal
Termos Essenciais da Oração: São dois os termos essenciais optar por esse ou aquele doce: oração substantiva subjetiva
(ou fundamentais) da oração: sujeito e predicado. Exemplos:
O sujeito é constituído por um substantivo ou pronome, ou
por uma palavra ou expressão substantivada. Exemplos:

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APOSTILAS OPÇÃO
O sino era grande. nenhum ser. São construídas com os verbos impessoais, na 3ª
Ela tem uma educação fina. pessoa do singular: Havia ratos no porão; Choveu durante o jogo.
Vossa Excelência agiu com imparcialidade. Observação: São verbos impessoais: Haver (nos sentidos
Isto não me agrada. de existir, acontecer, realizar-se, decorrer), Fazer, passar, ser
e estar, com referência ao tempo e Chover, ventar, nevar, gear,
O núcleo (isto é, a palavra base) do sujeito é, pois, um relampejar, amanhecer, anoitecer e outros que exprimem
substantivo ou pronome. Em torno do núcleo podem aparecer fenômenos meteorológicos.
palavras secundárias (artigos, adjetivos, locuções adjetivas, etc.).
Exemplo: “Todos os ligeiros rumores da mata tinham uma Predicado: assim como o sujeito, o predicado é um
voz para a selvagem filha do sertão.” (José de Alencar) segmento extraído da estrutura interna das orações ou das
frases, sendo, por isso, fruto de uma análise sintática. Nesse
O sujeito pode ser: sentido, o predicado é sintaticamente o segmento linguístico
que estabelece concordância com outro termo essencial
Simples: quando tem um só núcleo: As rosas têm espinhos; da oração, o sujeito, sendo este o termo determinante (ou
“Um bando de galinhas-d’angola atravessa a rua em fila indiana.” subordinado) e o predicado o termo determinado (ou principal).
Composto: quando tem mais de um núcleo: “O burro e o Não se trata, portanto, de definir o predicado como “aquilo
cavalo nadavam ao lado da canoa.” que se diz do sujeito” como fazem certas gramáticas da língua
Expresso: quando está explícito, enunciado: Eu viajarei portuguesa, mas sim estabelecer a importância do fenômeno
amanhã. da concordância entre esses dois termos essenciais da oração.
Oculto (ou elíptico): quando está implícito, isto é, quando Então têm por características básicas: apresentar-se como
não está expresso, mas se deduz do contexto: Viajarei amanhã. elemento determinado em relação ao sujeito; apontar um
(sujeito: eu, que se deduz da desinência do verbo); “Um soldado atributo ou acrescentar nova informação ao sujeito.
saltou para a calçada e aproximou-se.” (o sujeito, soldado, está
expresso na primeira oração e elíptico na segunda: e (ele) Exemplo:
aproximou-se.); Crianças, guardem os brinquedos. (sujeito:
vocês) Carolina conhece os índios da Amazônia.
Agente: se faz a ação expressa pelo verbo da voz ativa: O Nilo sujeito: Carolina = termo determinante
fertiliza o Egito. predicado: conhece os índios da Amazônia = termo
Paciente: quando sofre ou recebe os efeitos da ação expressa determinado
pelo verbo passivo: O criminoso é atormentado pelo remorso;
Muitos sertanistas foram mortos pelos índios; Construíram-se Nesse exemplo podemos observar que a concordância é
açudes. (= Açudes foram construídos.) estabelecida entre algumas poucas palavras dos dois termos
Agente e Paciente: quando o sujeito realiza a ação expressa essenciais. No exemplo, entre “Carolina” e “conhece”. Isso se dá
por um verbo reflexivo e ele mesmo sofre ou recebe os efeitos porque a concordância é centrada nas palavras que são núcleos,
dessa ação: O operário feriu-se durante o trabalho; Regina isto é, que são responsáveis pela principal informação naquele
trancou-se no quarto. segmento. No predicado o núcleo pode ser de dois tipos: um
Indeterminado: quando não se indica o agente da ação nome, quase sempre um atributo que se refere ao sujeito da
verbal: Atropelaram uma senhora na esquina. (Quem atropelou oração, ou um verbo (ou locução verbal). No primeiro caso,
a senhora? Não se diz, não se sabe quem a atropelou.); Come-se temos um predicado nominal (seu núcleo significativo é um
bem naquele restaurante. nome, substantivo, adjetivo, pronome, ligado ao sujeito por
um verbo de ligação) e no segundo um predicado verbal (seu
Observações: núcleo é um verbo, seguido, ou não, de complemento(s) ou
- Não confundir sujeito indeterminado com sujeito oculto. termos acessórios). Quando, num mesmo segmento o nome e o
- Sujeito formado por pronome indefinido não é verbo são de igual importância, ambos constituem o núcleo do
indeterminado, mas expresso: Alguém me ensinará o caminho. predicado e resultam no tipo de predicado verbo-nominal (tem
Ninguém lhe telefonou. dois núcleos significativos: um verbo e um nome). Exemplos:
- Assinala-se a indeterminação do sujeito usando-se o Minha empregada é desastrada.
verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência a qualquer agente predicado: é desastrada
já expresso nas orações anteriores: Na rua olhavam-no com núcleo do predicado: desastrada = atributo do sujeito
admiração; “Bateram palmas no portãozinho da frente.”; “De tipo de predicado: nominal
qualquer modo, foi uma judiação matarem a moça.”
- Assinala-se a indeterminação do sujeito com um verbo O núcleo do predicado nominal chama-se predicativo
ativo na 3ª pessoa do singular, acompanhado do pronome se. O do sujeito, porque atribui ao sujeito uma qualidade ou
pronome se, neste caso, é índice de indeterminação do sujeito. característica. Os verbos de ligação (ser, estar, parecer, etc.)
Pode ser omitido junto de infinitivos. funcionam como um elo entre o sujeito e o predicado.
Aqui vive-se bem.
Devagar se vai ao longe. A empreiteira demoliu nosso antigo prédio.
Quando se é jovem, a memória é mais vivaz. predicado: demoliu nosso antigo prédio
Trata-se de fenômenos que nem a ciência sabe explicar. núcleo do predicado: demoliu = nova informação sobre o
sujeito
- Assinala-se a indeterminação do sujeito deixando-se o tipo de predicado: verbal
verbo no infinitivo impessoal: Era penoso carregar aqueles
fardos enormes; É triste assistir a estas cenas repulsivas. Os manifestantes desciam a rua desesperados.
predicado: desciam a rua desesperados
Normalmente, o sujeito antecede o predicado; todavia, a núcleos do predicado: desciam = nova informação sobre o
posposição do sujeito ao verbo é fato corriqueiro em nossa sujeito; desesperados = atributo do sujeito
língua. tipo de predicado: verbo-nominal
Exemplos:
Nos predicados verbais e verbo-nominais o verbo é
É fácil este problema! responsável também por definir os tipos de elementos que
Vão-se os anéis, fiquem os dedos. aparecerão no segmento. Em alguns casos o verbo sozinho basta
“Breve desapareceram os dois guerreiros entre as árvores.” para compor o predicado (verbo intransitivo). Em outros casos
(José de Alencar) é necessário um complemento que, juntamente com o verbo,
constituem a nova informação sobre o sujeito. De qualquer
Sem Sujeito: constituem a enunciação pura e absoluta de um forma, esses complementos do verbo não interferem na tipologia
fato, através do predicado; o conteúdo verbal não é atribuído a do predicado.

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APOSTILAS OPÇÃO
Entretanto, é muito comum a elipse (ou omissão) do verbo, “Trabalho honesto produz riqueza honrada.” (Marquês de
quando este puder ser facilmente subentendido, em geral por Maricá)
estar expresso ou implícito na oração anterior. Exemplos: “Então, solenemente Maria acendia a lâmpada de sábado.”
(Guedes de Amorim)
“A fraqueza de Pilatos é enorme, a ferocidade dos algozes
inexcedível.” (Machado de Assis) (Está subentendido o verbo é Dentre os verbos transitivos diretos merecem destaque os
depois de algozes) que formam o predicado verbo nominal e se constrói com o
“Mas o sal está no Norte, o peixe, no Sul” (Paulo Moreira da complemento acompanhado de predicativo. Exemplos:
Silva) (Subentende-se o verbo está depois de peixe) Consideramos o caso extraordinário.
“A cidade parecia mais alegre; o povo, mais contente.” (Povina Inês trazia as mãos sempre limpas.
Cavalcante) (isto é: o povo parecia mais contente) O povo chamava-os de anarquistas.
Julgo Marcelo incapaz disso.
Chama-se predicação verbal o modo pelo qual o verbo
forma o predicado. Observações: Os verbos transitivos diretos, em geral, podem
Há verbos que, por natureza, tem sentido completo, ser usados também na voz passiva; Outra característica desses
podendo, por si mesmos, constituir o predicado: são os verbos verbos é a de poderem receber como objeto direto, os pronomes
de predicação completa denominados intransitivos. Exemplo: o, a, os, as: convido-o, encontro-os, incomodo-a, conheço-as; Os
verbos transitivos diretos podem ser construídos acidentalmente
As flores murcharam. com preposição, a qual lhes acrescenta novo matiz semântico:
Os animais correm. arrancar da espada; puxar da faca; pegar de uma ferramenta;
As folhas caem. tomar do lápis; cumprir com o dever; Alguns verbos transitivos
diretos: abençoar, achar, colher, avisar, abraçar, comprar,
Outros verbos há, pelo contrário, que para integrarem castigar, contrariar, convidar, desculpar, dizer, estimar, elogiar,
o predicado necessitam de outros termos: são os verbos de entristecer, encontrar, ferir, imitar, levar, perseguir, prejudicar,
predicação incompleta, denominados transitivos. Exemplos: receber, saldar, socorrer, ter, unir, ver, etc.

João puxou a rede. Transitivos Indiretos: são os que reclamam um


“Não invejo os ricos, nem aspiro à riqueza.” (Oto Lara complemento regido de preposição, chamado objeto indireto.
Resende) Exemplos:
“Não simpatizava com as pessoas investidas no poder.” “Ninguém perdoa ao quarentão que se apaixona por uma
(Camilo Castelo Branco) adolescente.” (Ciro dos Anjos)
“Populares assistiam à cena aparentemente apáticos e
Observe que, sem os seus complementos, os verbos puxou, neutros.” (Érico Veríssimo)
invejo, aspiro, etc., não transmitiriam informações completas: “Lúcio não atinava com essa mudança instantânea.” (José
puxou o quê? Não invejo a quem? Não aspiro a quê? Américo)
Os verbos de predicação completa denominam-se “Do que eu mais gostava era do tempo do retiro espiritual.”
intransitivos e os de predicação incompleta, transitivos. Os (José Geraldo Vieira)
verbos transitivos subdividem-se em: transitivos diretos,
transitivos indiretos e transitivos diretos e indiretos Observações: Entre os verbos transitivos indiretos importa
(bitransitivos). distinguir os que se constroem com os pronomes objetivos lhe,
Além dos verbos transitivos e intransitivos, quem encerram lhes. Em geral são verbos que exigem a preposição a: agradar-lhe,
uma noção definida, um conteúdo significativo, existem os de agradeço-lhe, apraz-lhe, bate-lhe, desagrada-lhe, desobedecem-
ligação, verbos que entram na formação do predicado nominal, lhe, etc. Entre os verbos transitivos indiretos importa distinguir
relacionando o predicativo com o sujeito. os que não admitem para objeto indireto as formas oblíquas
Quanto à predicação classificam-se, pois os verbos em: lhe, lhes, construindo-se com os pronomes retos precedidos de
Intransitivos: são os que não precisam de complemento, preposição: aludir a ele, anuir a ele, assistir a ela, atentar nele,
pois têm sentido completo. depender dele, investir contra ele, não ligar para ele, etc.
“Três contos bastavam, insistiu ele.” (Machado de Assis) Em princípio, verbos transitivos indiretos não comportam
“Os guerreiros Tabajaras dormem.” (José de Alencar) a forma passiva. Excetuam-se pagar, perdoar, obedecer, e
“A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.” pouco mais, usados também como transitivos diretos: João
(Marquês de Maricá) paga (perdoa, obedece) o médico. O médico é pago (perdoado,
obedecido) por João. Há verbos transitivos indiretos, como
Observações: Os verbos intransitivos podem vir atirar, investir, contentar-se, etc., que admitem mais de uma
acompanhados de um adjunto adverbial e mesmo de um preposição, sem mudança de sentido. Outros mudam de sentido
predicativo (qualidade, características): Fui cedo; Passeamos com a troca da preposição, como nestes exemplos: Trate de sua
pela cidade; Cheguei atrasado; Entrei em casa aborrecido. vida. (tratar=cuidar). É desagradável tratar com gente grosseira.
As orações formadas com verbos intransitivos não podem (tratar=lidar). Verbos como aspirar, assistir, dispor, servir, etc.,
“transitar” (= passar) para a voz passiva. Verbos intransitivos variam de significação conforme sejam usados como transitivos
passam, ocasionalmente, a transitivos quando construídos com diretos ou indiretos.
o objeto direto ou indireto.
- “Inutilmente a minha alma o chora!” (Cabral do Nascimento) Transitivos Diretos e Indiretos: são os que se usam com
- “Depois me deitei e dormi um sono pesado.” (Luís Jardim) dois objetos: um direto, outro indireto, concomitantemente.
- “Morrerás morte vil da mão de um forte.” (Gonçalves Dias) Exemplos:
- “Inútil tentativa de viajar o passado, penetrar no mundo No inverno, Dona Cléia dava roupas aos pobres.
que já morreu...” (Ciro dos Anjos) A empresa fornece comida aos trabalhadores.
Oferecemos flores à noiva.
Alguns verbos essencialmente intransitivos: anoitecer, Ceda o lugar aos mais velhos.
crescer, brilhar, ir, agir, sair, nascer, latir, rir, tremer, brincar,
chegar, vir, mentir, suar, adoecer, etc. De Ligação: Os que ligam ao sujeito uma palavra ou
expressão chamada predicativo. Esses verbos, entram na
Transitivos Diretos: são os que pedem um objeto direto, isto formação do predicado nominal. Exemplos:
é, um complemento sem preposição. Pertencem a esse grupo: A Terra é móvel.
julgar, chamar, nomear, eleger, proclamar, designar, considerar, A água está fria.
declarar, adotar, ter, fazer, etc. Exemplos: O moço anda (=está) triste.
Comprei um terreno e construí a casa. A Lua parecia um disco.

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Observações: Os verbos de ligação não servem apenas de “Nunca mais ele arpoara um peixe-boi.” (Ferreira Castro)
anexo, mas exprimem ainda os diversos aspectos sob os quais Procurei o livro, mas não o encontrei.
se considera a qualidade atribuída ao sujeito. O verbo ser, por Ninguém me visitou.
exemplo, traduz aspecto permanente e o verbo estar, aspecto
transitório: Ele é doente. (aspecto permanente); Ele está doente. O objeto direto tem as seguintes características:
(aspecto transitório). Muito desses verbos passam à categoria - Completa a significação dos verbos transitivos diretos;
dos intransitivos em frases como: Era =existia) uma vez uma - Normalmente, não vem regido de preposição;
princesa.; Eu não estava em casa.; Fiquei à sombra.; Anda com - Traduz o ser sobre o qual recai a ação expressa por um
dificuldades.; Parece que vai chover. verbo ativo: Caim matou Abel.
- Torna-se sujeito da oração na voz passiva: Abel foi morto
Os verbos, relativamente à predicação, não têm classificação por Caim.
fixa, imutável. Conforme a regência e o sentido que apresentam
na frase, podem pertencer ora a um grupo, ora a outro. Exemplos: O objeto direto pode ser constituído:
O homem anda. (intransitivo) - Por um substantivo ou expressão substantivada: O lavrador
O homem anda triste. (de ligação) cultiva a terra.; Unimos o útil ao agradável.
- Pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos:
O cego não vê. (intransitivo) Espero-o na estação.; Estimo-os muito.; Sílvia olhou-se ao
O cego não vê o obstáculo. (transitivo direto) espelho.; Não me convidas?; Ela nos chama.; Avisamo-lo a
tempo.; Procuram-na em toda parte.; Meu Deus, eu vos amo.;
Não dei com a chave do enigma. (transitivo indireto) “Marchei resolutamente para a maluca e intimei-a a ficar
Os pais dão conselhos aos filhos. (transitivo direto e indireto) quieta.”; “Vós haveis de crescer, perder-vos-ei de vista.”
- Por qualquer pronome substantivo: Não vi ninguém na
Predicativo: Há o predicativo do sujeito e o predicativo do loja.; A árvore que plantei floresceu. (que: objeto direto de
objeto. plantei); Onde foi que você achou isso? Quando vira as folhas do
livro, ela o faz com cuidado.; “Que teria o homem percebido nos
Predicativo do Sujeito: é o termo que exprime um atributo, meus escritos?”
um estado ou modo de ser do sujeito, ao qual se prende por um
verbo de ligação, no predicado nominal. Exemplos: Frequentemente transitivam-se verbos intransitivos, dando-
A bandeira é o símbolo da Pátria. se-lhes por objeto direto uma palavra cognata ou da mesma
A mesa era de mármore. esfera semântica:
“Viveu José Joaquim Alves vida tranquila e patriarcal.”
Além desse tipo de predicativo, outro existe que entra na (Vivaldo Coaraci)
constituição do predicado verbo-nominal. Exemplos: “Pela primeira vez chorou o choro da tristeza.” (Aníbal
O trem chegou atrasado. (=O trem chegou e estava Machado)
atrasado.) “Nenhum de nós pelejou a batalha de Salamina.” (Machado
O menino abriu a porta ansioso. de Assis)
Todos partiram alegres. Em tais construções é de rigor que o objeto venha
acompanhado de um adjunto.
Observações: O predicativo subjetivo às vezes está
preposicionado; Pode o predicativo preceder o sujeito e até Objeto Direto Preposicionado: Há casos em que o objeto
mesmo ao verbo: São horríveis essas coisas!; Que linda direto, isto é, o complemento de verbos transitivos diretos, vem
estava Amélia!; Completamente feliz ninguém é.; Raros são os precedido de preposição, geralmente a preposição a. Isto ocorre
verdadeiros líderes.; Quem são esses homens?; Lentos e tristes, principalmente:
os retirantes iam passando.; Novo ainda, eu não entendia certas - Quando o objeto direto é um pronome pessoal tônico:
coisas.; Onde está a criança que fui? Deste modo, prejudicas a ti e a ela.; “Mas dona Carolina amava
Predicativo do Objeto: é o termo que se refere ao objeto de mais a ele do que aos outros filhos.”; “Pareceu-me que Roberto
um verbo transitivo. Exemplos: hostilizava antes a mim do que à ideia.”; “Ricardina lastimava o
O juiz declarou o réu inocente. seu amigo como a si própria.”; “Amava-a tanto como a nós”.
O povo elegeu-o deputado. - Quando o objeto é o pronome relativo quem: “Pedro
Severiano tinha um filho a quem idolatrava.”; “Abraçou a todos;
Observações: O predicativo objetivo, como vemos dos deu um beijo em Adelaide, a quem felicitou pelo desenvolvimento
exemplos acima, às vezes vem regido de preposição. Esta, em das suas graças.”; “Agora sabia que podia manobrar com ele, com
certos casos, é facultativa; O predicativo objetivo geralmente aquele homem a quem na realidade também temia, como todos
se refere ao objeto direto. Excepcionalmente, pode referir-se ali”.
ao objeto indireto do verbo chamar. Chamavam-lhe poeta; - Quando precisamos assegurar a clareza da frase, evitando
Podemos antepor o predicativo a seu objeto: O advogado que o objeto direto seja tomado como sujeito, impedindo
considerava indiscutíveis os direitos da herdeira.; Julgo construções ambíguas: Convence, enfim, ao pai o filho amado.;
inoportuna essa viagem.; “E até embriagado o vi muitas “Vence o mal ao remédio.”; “Tratava-me sem cerimônia, como a
vezes.”; “Tinha estendida a seus pés uma planta rústica da um irmão.”; A qual delas iria homenagear o cavaleiro?
cidade.”; “Sentia ainda muito abertos os ferimentos que aquele - Em expressões de reciprocidade, para garantir a clareza e a
choque com o mundo me causara.” eufonia da frase: “Os tigres despedaçam-se uns aos outros.”; “As
companheiras convidavam-se umas às outras.”; “Era o abraço de
Termos Integrantes da Oração duas criaturas que só tinham uma à outra”.
- Com nomes próprios ou comuns, referentes a pessoas,
Chamam-se termos integrantes da oração os que completam principalmente na expressão dos sentimentos ou por amor da
a significação transitiva dos verbos e nomes. Integram (inteiram, eufonia da frase: Judas traiu a Cristo.; Amemos a Deus sobre
completam) o sentido da oração, sendo por isso indispensável à todas as coisas. “Provavelmente, enganavam é a Pedro.”; “O
compreensão do enunciado. São os seguintes: estrangeiro foi quem ofendeu a Tupã”.
- Complemento Verbais (Objeto Direto e Objeto Indireto); - Em construções enfáticas, nas quais antecipamos o objeto
- Complemento Nominal; direto para dar-lhe realce: A você é que não enganam!; Ao
- Agente da Passiva. médico, confessor e letrado nunca enganes.; “A este confrade
conheço desde os seus mais tenros anos”.
Objeto Direto: é o complemento dos verbos de predicação - Sendo objeto direto o numeral ambos(as): “O aguaceiro
incompleta, não regido, normalmente, de preposição. Exemplos: caiu, molhou a ambos.”; “Se eu previsse que os matava a
As plantas purificaram o ar. ambos...”.

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- Com certos pronomes indefinidos, sobretudo referentes a Como atestam os exemplos acima, o objeto indireto é
pessoas: Se todos são teus irmãos, por que amas a uns e odeias a representado pelos substantivos (ou expressões substantivas)
outros?; Aumente a sua felicidade, tornando felizes também aos ou pelos pronomes. As preposições que o ligam ao verbo são: a,
outros.; A quantos a vida ilude!. com, contra, de, em, para e por.
- Em certas construções enfáticas, como puxar (ou arrancar)
da espada, pegar da pena, cumprir com o dever, atirar com os Objeto Indireto Pleonástico: à semelhança do objeto direto,
livros sobre a mesa, etc.: “Arrancam das espadas de aço fino...”; o objeto indireto pode vir repetido ou reforçado, por ênfase.
“Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou Exemplos: “A mim o que me deu foi pena.”; “Que me importa
da linha, enfiou a linha na agulha e entrou a coser.”; “Imagina-se a mim o destino de uma mulher tísica...? “E, aos brigões,
a consternação de Itaguaí, quando soube do caso.” incapazes de se moverem, basta-lhes xingarem-se a distância.”

Observações: Nos quatro primeiros casos estudados a Complemento Nominal: é o termo complementar reclamado
preposição é de rigor, nos cinco outros, facultativa; A substituição pela significação transitiva, incompleta, de certos substantivos,
do objeto direto preposicionado pelo pronome oblíquo átono, adjetivos e advérbios. Vem sempre regido de preposição.
quando possível, se faz com as formas o(s), a(s) e não lhe, Exemplos: A defesa da pátria; Assistência às aulas; “O ódio ao
lhes: amar a Deus (amá-lo); convencer ao amigo (convencê- mal é amor do bem, e a ira contra o mal, entusiasmo divino.”;
lo); O objeto direto preposicionado, é obvio, só ocorre com “Ah, não fosse ele surdo à minha voz!”
verbo transitivo direto; Podem resumir-se em três as razões
ou finalidades do emprego do objeto direto preposicionado: Observações: O complemento nominal representa o
a clareza da frase; a harmonia da frase; a ênfase ou a força da recebedor, o paciente, o alvo da declaração expressa por um
expressão. nome: amor a Deus, a condenação da violência, o medo de
assaltos, a remessa de cartas, útil ao homem, compositor
Objeto Direto Pleonástico: Quando queremos dar destaque de músicas, etc. É regido pelas mesmas preposições usadas
ou ênfase à ideia contida no objeto direto, colocamo-lo no no objeto indireto. Difere deste apenas porque, em vez de
início da frase e depois o repetimos ou reforçamos por meio do complementar verbos, complementa nomes (substantivos,
pronome oblíquo. A esse objeto repetido sob forma pronominal adjetivos) e alguns advérbios em –mente. Os nomes que
chama-se pleonástico, enfático ou redundante. Exemplos: requerem complemento nominal correspondem, geralmente, a
O dinheiro, Jaime o trazia escondido nas mangas da camisa. verbos de mesmo radical: amor ao próximo, amar o próximo;
O bem, muitos o louvam, mas poucos o seguem. perdão das injúrias, perdoar as injúrias; obediente aos pais,
“Seus cavalos, ela os montava em pelo.” (Jorge Amado) obedecer aos pais; regresso à pátria, regressar à pátria; etc.

Objeto Indireto: É o complemento verbal regido de Agente da Passiva: é o complemento de um verbo na voz
preposição necessária e sem valor circunstancial. Representa, passiva. Representa o ser que pratica a ação expressa pelo verbo
ordinariamente, o ser a que se destina ou se refere à ação verbal: passivo. Vem regido comumente pela preposição por, e menos
“Nunca desobedeci a meu pai”. O objeto indireto completa a frequentemente pela preposição de: Alfredo é estimado pelos
significação dos verbos: colegas; A cidade estava cercada pelo exército romano; “Era
conhecida de todo mundo a fama de suas riquezas.”
- Transitivos Indiretos: Assisti ao jogo; Assistimos à missa e
à festa; Aludiu ao fato; Aspiro a uma vida calma. O agente da passiva pode ser expresso pelos substantivos ou
- Transitivos Diretos e Indiretos (na voz ativa ou passiva): pelos pronomes:
Dou graças a Deus; Ceda o lugar aos mais velhos; Dedicou sua As flores são umedecidas pelo orvalho.
vida aos doentes e aos pobres; Disse-lhe a verdade. (Disse a A carta foi cuidadosamente corrigida por mim.
verdade ao moço.)
O agente da passiva corresponde ao sujeito da oração na voz
O objeto indireto pode ainda acompanhar verbos de outras ativa:
categorias, os quais, no caso, são considerados acidentalmente A rainha era chamada pela multidão. (voz passiva)
transitivos indiretos: A bom entendedor meia palavra basta; A multidão aclamava a rainha. (voz ativa)
Sobram-lhe qualidades e recursos. (lhe=a ele); Isto não lhe Ele será acompanhado por ti. (voz passiva)
convém; A proposta pareceu-lhe aceitável.
Observações:
Observações: Há verbos que podem construir-se com dois Frase de forma passiva analítica sem complemento agente
objetos indiretos, regidos de preposições diferentes: Rogue a expresso, ao passar para a ativa, terá sujeito indeterminado
Deus por nós.; Ela queixou-se de mim a seu pai.; Pedirei para e o verbo na 3ª pessoa do plural: Ele foi expulso da cidade.
ti a meu senhor um rico presente; Não confundir o objeto direto (Expulsaram-no da cidade.); As florestas são devastadas.
com o complemento nominal nem com o adjunto adverbial; Em (Devastam as florestas.); Na passiva pronominal não se declara
frases como “Para mim tudo eram alegrias”, “Para ele nada é o agente: Nas ruas assobiavam-se as canções dele pelos
impossível”, os pronomes em destaque podem ser considerados pedestres. (errado); Nas ruas eram assobiadas as canções dele
adjuntos adverbiais. pelos pedestres. (certo); Assobiavam-se as canções dele nas
ruas. (certo)
O objeto indireto é sempre regido de preposição, expressa
ou implícita. A preposição está implícita nos pronomes objetivos Termos Acessórios da Oração
indiretos (átonos) me, te, se, lhe, nos, vos, lhes. Exemplos:
Obedece-me. (=Obedece a mim.); Isto te pertence. (=Isto Termos acessórios são os que desempenham na oração
pertence a ti.); Rogo-lhe que fique. (=Rogo a você...); Peço- uma função secundária, qual seja a de caracterizar um ser,
vos isto. (=Peço isto a vós.). Nos demais casos a preposição é determinar os substantivos, exprimir alguma circunstância. São
expressa, como característica do objeto indireto: Recorro a três os termos acessórios da oração: adjunto adnominal, adjunto
Deus.; Dê isto a (ou para) ele.; Contenta-se com pouco.; Ele adverbial e aposto.
só pensa em si.; Esperei por ti.; Falou contra nós.; Conto com
você.; Não preciso disto.; O filme a que assisti agradou ao Adjunto adnominal: É o termo que caracteriza ou determina
público.; Assisti ao desenrolar da luta.; A coisa de que mais os substantivos. Exemplo: Meu irmão veste roupas vistosas.
gosto é pescar.; A pessoa a quem me refiro você a conhece.; Os (Meu determina o substantivo irmão: é um adjunto adnominal
obstáculos contra os quais luto são muitos.; As pessoas com – vistosas caracteriza o substantivo roupas: é também adjunto
quem conto são poucas. adnominal).
O adjunto adnominal pode ser expresso: Pelos adjetivos:
água fresca, terras férteis, animal feroz; Pelos artigos: o

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APOSTILAS OPÇÃO
mundo, as ruas, um rapaz; Pelos pronomes adjetivos: nosso tio, Rapaz impulsivo, Mário não se conteve.
este lugar, pouco sal, muitas rãs, país cuja história conheço, Mensageira da ideia, a palavra é a mais bela expressão da
que rua?; Pelos numerais: dois pés, quinto ano, capítulo sexto; alma humana.
Pelas locuções ou expressões adjetivas que exprimem qualidade,
posse, origem, fim ou outra especificação: O aposto, às vezes, refere-se a toda uma oração. Exemplos:
- presente de rei (=régio): qualidade Nuvens escuras borravam os espaços silenciosos, sinal de
- livro do mestre, as mãos dele: posse, pertença tempestade iminente.
- água da fonte, filho de fazendeiros: origem O espaço é incomensurável, fato que me deixa atônito.
- fio de aço, casa de madeira: matéria
- casa de ensino, aulas de inglês: fim, especialidade Um aposto pode referir-se a outro aposto:
“Serafim Gonçalves casou-se com Lígia Tavares, filha do
Observações: Não confundir o adjunto adnominal formado velho coronel Tavares, senhor de engenho.” (Ledo Ivo)
por locução adjetiva com complemento nominal. Este representa
o alvo da ação expressa por um nome transitivo: a eleição do O aposto pode vir precedido das expressões explicativas isto
presidente, aviso de perigo, declaração de guerra, empréstimo é, a saber, ou da preposição acidental como:
de dinheiro, plantio de árvores, colheita de trigo, destruidor
de matas, descoberta de petróleo, amor ao próximo, etc. O Dois países sul-americanos, isto é, a Bolívia e o Paraguai,
adjunto adnominal formado por locução adjetiva representa não são banhados pelo mar.
o agente da ação, ou a origem, pertença, qualidade de alguém Este escritor, como romancista, nunca foi superado.
ou de alguma coisa: o discurso do presidente, aviso de amigo,
declaração do ministro, empréstimo do banco, a casa do O aposto que se refere a objeto indireto, complemento
fazendeiro, folhas de árvores, farinha de trigo, beleza das nominal ou adjunto adverbial vem precedido de preposição:
matas, cheiro de petróleo, amor de mãe.
O rei perdoou aos dois: ao fidalgo e ao criado.
Adjunto adverbial: É o termo que exprime uma circunstância “Acho que adoeci disso, de beleza, da intensidade das
(de tempo, lugar, modo, etc.) ou, em outras palavras, que modifica coisas.” (Raquel Jardim)
o sentido de um verbo, adjetivo ou advérbio. Exemplo: “Meninas De cobras, morcegos, bichos, de tudo ela tinha medo.
numa tarde brincavam de roda na praça”. O adjunto adverbial
é expresso: Pelos advérbios: Cheguei cedo.; Ande devagar.; Vocativo: (do latim vocare = chamar) é o termo (nome, título,
Maria é mais alta.; Não durma ao volante.; Moramos aqui.;
apelido) usado para chamar ou interpelar a pessoa, o animal ou
Ele fala bem, fala corretamente.; Volte bem depressa.; Talvez
a coisa personificada a que nos dirigimos:
esteja enganado.; Pelas locuções ou expressões adverbiais: Às
vezes viajava de trem.; Compreendo sem esforço.; Saí com meu
“Elesbão? Ó Elesbão! Venha ajudar-nos, por favor!” (Maria
pai.; Júlio reside em Niterói.; Errei por distração.; Escureceu
de Lourdes Teixeira)
de repente.
“A ordem, meus amigos, é a base do governo.” (Machado de
Assis)
Observações: Pode ocorrer a elipse da preposição antes
“Correi, correi, ó lágrimas saudosas!” (Fagundes Varela)
de adjuntos adverbiais de tempo e modo: Aquela noite, não
dormi. (=Naquela noite...); Domingo que vem não sairei. (=No
Observação: Profere-se o vocativo com entoação exclamativa.
domingo...); Ouvidos atentos, aproximei-me da porta. (=De
Na escrita é separado por vírgula(s). No exemplo inicial, os
ouvidos atentos...); Os adjuntos adverbiais classificam-se de
pontos interrogativo e exclamativo indicam um chamado alto e
acordo com as circunstâncias que exprimem: adjunto adverbial
de lugar, modo, tempo, intensidade, causa, companhia, meio, prolongado. O vocativo se refere sempre à 2ª pessoa do discurso,
assunto, negação, etc. É importante saber distinguir adjunto que pode ser uma pessoa, um animal, uma coisa real ou entidade
adverbial de adjunto adnominal, de objeto indireto e de abstrata personificada. Podemos antepor-lhe uma interjeição de
complemento nominal: sair do mar (ad.adv.); água do mar (adj. apelo (ó, olá, eh!):
adn.); gosta do mar (obj.indir.); ter medo do mar (compl.nom.).
“Tem compaixão de nós , ó Cristo!” (Alexandre Herculano)
Aposto: É uma palavra ou expressão que explica ou esclarece, “Ó Dr. Nogueira, mande-me cá o Padilha, amanhã!”
desenvolve ou resume outro termo da oração. Exemplos: (Graciliano Ramos)
D. Pedro II, imperador do Brasil, foi um monarca sábio. “Esconde-te, ó sol de maio, ó alegria do mundo!” (Camilo
“Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência.” Castelo Branco)
(Carlos Drummond de Andrade) O vocativo é um tempo à parte. Não pertence à estrutura da
oração, por isso não se anexa ao sujeito nem ao predicado.
O núcleo do aposto é um substantivo ou um pronome
substantivo: Questões
Foram os dois, ele e ela.
Só não tenho um retrato: o de minha irmã. 01. O termo em destaque é adjunto adverbial de intensidade
em:
O aposto não pode ser formado por adjetivos. Nas frases
seguintes, por exemplo, não há aposto, mas predicativo do (A) pode aprender e assimilar MUITA coisa
sujeito: (B) enfrentamos MUITAS novidades
Audaciosos, os dois surfistas atiraram-se às ondas. (C) precisa de um parceiro com MUITO caráter
As borboletas, leves e graciosas, esvoaçavam num balé de (D) não gostam de mulheres MUITO inteligentes
cores. (E) assumimos MUITO conflito e confusão

Os apostos, em geral, destacam-se por pausas, indicadas, na 02. Assinale a alternativa correta: “para todos os males, há
escrita, por vírgulas, dois pontos ou travessões. Não havendo dois remédios: o tempo e o silêncio”, os termos grifados são
pausa, não haverá vírgula, como nestes exemplos: respectivamente:
Minha irmã Beatriz; o escritor João Ribeiro; o romance Tóia;
o rio Amazonas; a Rua Osvaldo Cruz; o Colégio Tiradentes, etc. (A) sujeito – objeto direto;
“Onde estariam os descendentes de Amaro vaqueiro?” (B) sujeito – aposto;
(Graciliano Ramos) (C) objeto direto – aposto;
(D) objeto direto – objeto direto;
O aposto pode preceder o termo a que se refere, o qual, às (E) objeto direto – complemento nominal.
vezes, está elíptico. Exemplos:

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APOSTILAS OPÇÃO
03. Assinale a alternativa em que o termo destacado é objeto As orações coordenadas são classificadas em assindéticas e
indireto. sindéticas.
(A) “Quem faz um poema abre uma janela.” (Mário Quintana)
(B) “Toda gente que eu conheço e que fala comigo / Nunca - As orações coordenadas são assindéticas (OCA) quando
teve um ato ridículo / Nunca sofreu enxovalho (...)” (Fernando não vêm introduzidas por conjunção. Exemplo:
Pessoa) Os torcedores gritaram, / sofreram, / vibraram.
(C) “Quando Ismália enlouqueceu / Pôs-se na torre a sonhar OCA OCA OCA
/ Viu uma lua no céu, / Viu uma lua no mar.” (Alphonsus de
Guimarães) “Inclinei-me, apanhei o embrulho e segui.” (Machado de
(D) “Mas, quando responderam a Nhô Augusto: ‘– É a Assis)
jagunçada de seu Joãozinho Bem-Bem, que está descendo para “A noite avança, há uma paz profunda na casa deserta.”
a Bahia.’ – ele, de alegre, não se pôde conter.” (Guimarães Rosa) (Antônio Olavo Pereira)
“O ferro mata apenas; o ouro infama, avilta, desonra.”
04. “Recebeu o prêmio o jogador que fez o gol”. Nessa frase (Coelho Neto)
o sujeito de “fez”?
(A) o prêmio; - As orações coordenadas são sindéticas (OCS) quando vêm
(B) o jogador; introduzidas por conjunção coordenativa. Exemplo:
(C) que; O homem saiu do carro / e entrou na casa.
(D) o gol; OCA OCS
(E) recebeu.
As orações coordenadas sindéticas são classificadas de
05. Assinale a alternativa correspondente ao período onde acordo com o sentido expresso pelas conjunções coordenativas
há predicativo do sujeito: que as introduzem. Pode ser:
(A) como o povo anda tristonho!
(B) agradou ao chefe o novo funcionário; - Orações coordenadas sindéticas aditivas: e, nem, não só...
(C) ele nos garantiu que viria; mas também, não só... mas ainda.
(D) no Rio não faltam diversões; Saí da escola / e fui à lanchonete.
(E) o aluno ficou sabendo hoje cedo de sua aprovação. OCA OCS Aditiva

Respostas Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção


01. D\02. C\03. D\04. C\05. A que expressa idéia de acréscimo ou adição com referência à
oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa aditiva.
Período
A doença vem a cavalo e volta a pé.
Período: Toda frase com uma ou mais orações constitui um As pessoas não se mexiam nem falavam.
período, que se encerra com ponto de exclamação, ponto de “Não só findaram as queixas contra o alienista, mas até
interrogação ou com reticências. nenhum ressentimento ficou dos atos que ele praticara.”
O período é simples quando só traz uma oração, chamada (Machado de Assis)
absoluta; o período é composto quando traz mais de uma - Orações coordenadas sindéticas adversativas: mas,
oração. Exemplo: Pegou fogo no prédio. (Período simples, oração porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto.
absoluta.); Quero que você aprenda. (Período composto.)
Estudei bastante / mas não passei no teste.
Existe uma maneira prática de saber quantas orações há OCA OCS Adversativa
num período: é contar os verbos ou locuções verbais. Num
período haverá tantas orações quantos forem os verbos ou as Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção
locuções verbais nele existentes. Exemplos: que expressa idéia de oposição à oração anterior, ou seja, por
Pegou fogo no prédio. (um verbo, uma oração) uma conjunção coordenativa adversativa.
Quero que você aprenda. (dois verbos, duas orações)
Está pegando fogo no prédio. (uma locução verbal, uma A espada vence, mas não convence.
oração) “É dura a vida, mas aceitam-na.” (Cecília Meireles)
Deves estudar para poderes vencer na vida. (duas locuções
verbais, duas orações) - Orações coordenadas sindéticas conclusivas: portanto,
por isso, pois, logo.
Há três tipos de período composto: por coordenação, por
subordinação e por coordenação e subordinação ao mesmo Ele me ajudou muito, / portanto merece minha gratidão.
tempo (também chamada de misto). OCA OCS Conclusiva

Período Composto por Coordenação – Orações Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção
Coordenadas que expressa ideia de conclusão de um fato enunciado na oração
anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa conclusiva.
Considere, por exemplo, este período composto:
Passeamos pela praia, / brincamos, / recordamos os tempos Vives mentindo; logo, não mereces fé.
de infância. Ele é teu pai: respeita-lhe, pois, a vontade.
1ª oração: Passeamos pela praia
2ª oração: brincamos - Orações coordenadas sindéticas alternativas: ou,ou... ou,
3ª oração: recordamos os tempos de infância ora... ora, seja... seja, quer... quer.
As três orações que compõem esse período têm sentido
próprio e não mantêm entre si nenhuma dependência sintática: Seja mais educado / ou retire-se da reunião!
elas são independentes. Há entre elas, é claro, uma relação de OCA OCS Alternativa
sentido, mas, como já dissemos, uma não depende da outra
sintaticamente. Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma
As orações independentes de um período são chamadas conjunção que estabelece uma relação de alternância ou escolha
de orações coordenadas (OC), e o período formado só de com referência à oração anterior, ou seja, por uma conjunção
orações coordenadas é chamado de período composto por coordenativa alternativa.
coordenação.

Língua Portuguesa 50
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APOSTILAS OPÇÃO
Venha agora ou perderá a vez. 05. Os dias já eram quentes, mas a água do mar ainda estava
“Jacinta não vinha à sala, ou retirava-se logo.” (Machado de fria, por isso as praias permaneciam desertas.
Assis)
“Em aviação, tudo precisa ser bem feito ou custará preço Período Composto por Subordinação
muito caro.” (Renato Inácio da Silva)
“A louca ora o acariciava, ora o rasgava freneticamente.” Observe os termos destacados em cada uma destas orações:
(Luís Jardim) Vi uma cena triste. (adjunto adnominal)
Todos querem sua participação. (objeto direto)
- Orações coordenadas sindéticas explicativas: que, Não pude sair por causa da chuva. (adjunto adverbial de
porque, pois, porquanto. causa)
Vamos andar depressa / que estamos atrasados.
OCA OCS Explicativa Veja, agora, como podemos transformar esses termos em
Observe que a 2ª oração é introduzida por uma conjunção orações com a mesma função sintática:
que expressa ideia de explicação, de justificativa em relação Vi uma cena / que me entristeceu. (oração subordinada
à oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa com função de adjunto adnominal)
explicativa. Todos querem / que você participe. (oração subordinada
com função de objeto direto)
Leve-lhe uma lembrança, que ela aniversaria amanhã. Não pude sair / porque estava chovendo. (oração
“A mim ninguém engana, que não nasci ontem.” (Érico subordinada com função de adjunto adverbial de causa)
Veríssimo)
Em todos esses períodos, a segunda oração exerce uma
Questões certa função sintática em relação à primeira, sendo, portanto,
subordinada a ela. Quando um período é constituído de pelo
01. Relacione as orações coordenadas por meio de menos um conjunto de duas orações em que uma delas (a
conjunções: subordinada) depende sintaticamente da outra (principal), ele
(A) Ouviu-se o som da bateria. Os primeiros foliões surgiram. é classificado como período composto por subordinação. As
(B) Não durma sem cobertor. A noite está fria. orações subordinadas são classificadas de acordo com a função
(C) Quero desculpar-me. Não consigo encontrá-los. que exercem: adverbiais, substantivas e adjetivas.
  
02. Em: “... ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar Orações Subordinadas Adverbiais
das ondas...” a partícula como expressa uma ideia de:
(A) causa As orações subordinadas adverbiais (OSA) são aquelas
(B) explicação que exercem a função de adjunto adverbial da oração principal
(C) conclusão (OP). São classificadas de acordo com a conjunção subordinativa
(D) proporção que as introduz:
(E) comparação
  - Causais: Expressam a causa do fato enunciado na oração
03. “Entrando na faculdade, procurarei emprego”, oração principal. Conjunções: porque, que, como (= porque), pois que,
sublinhada pode indicar uma ideia de: visto que.
(A) concessão Não fui à escola / porque fiquei doente.
(B) oposição OP OSA Causal
(C) condição
(D) lugar O tambor soa porque é oco.
(E) consequência Como não me atendessem, repreendi-os severamente.
   Como ele estava armado, ninguém ousou reagir.
04. Assinale a sequência de conjunções que estabelecem, “Faltou à reunião, visto que esteve doente.” (Arlindo de
entre as orações de cada item, uma correta relação de sentido. Sousa)
1. Correu demais, ... caiu.
2. Dormiu mal, ... os sonhos não o deixaram em paz. - Condicionais: Expressam hipóteses ou condição para a
3. A matéria perece, ... a alma é imortal. ocorrência do que foi enunciado na principal. Conjunções: se,
4. Leu o livro, ... é capaz de descrever as personagens com contanto que, a menos que, a não ser que, desde que.
detalhes. Irei à sua casa / se não chover.
5. Guarde seus pertences, ... podem servir mais tarde. OP OSA Condicional

(A) porque, todavia, portanto, logo, entretanto Deus só nos perdoará se perdoarmos aos nossos
(B) por isso, porque, mas, portanto, que ofensores.
(C) logo, porém, pois, porque, mas Se o conhecesses, não o condenarias.
(D) porém, pois, logo, todavia, porque “Que diria o pai se soubesse disso?” (Carlos Drummond de
(E) entretanto, que, porque, pois, portanto Andrade)
A cápsula do satélite será recuperada, caso a experiência
05. Reúna as três orações em um período composto por tenha êxito.
coordenação, usando conjunções adequadas. - Concessivas: Expressam ideia ou fato contrário ao da
oração principal, sem, no entanto, impedir sua realização.
Os dias já eram quentes. Conjunções: embora, ainda que, apesar de, se bem que, por mais
A água do mar ainda estava fria. que, mesmo que.
As praias permaneciam desertas. Ela saiu à noite / embora estivesse doente.
OP OSA Concessiva
Respostas Admirava-o muito, embora (ou conquanto ou posto que
ou se bem que) não o conhecesse pessoalmente.
01. Embora não possuísse informações seguras, ainda assim
Ouviu-se o som da bateria e os primeiros foliões surgiram. arriscou uma opinião.
Não durma sem cobertor, pois a noite está fria. Cumpriremos nosso dever, ainda que (ou mesmo quando
Quero desculpar-me, mas consigo encontrá-los. ou ainda quando ou mesmo que) todos nos critiquem.
  Por mais que gritasse, não me ouviram.
02. E\03. C\04. B

Língua Portuguesa 51
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APOSTILAS OPÇÃO
- Conformativas: Expressam a conformidade de um fato À medida que se vive, mais se aprende.
com outro. Conjunções: conforme, como (=conforme), segundo. À proporção que avançávamos, as casas iam rareando.
O trabalho foi feito / conforme havíamos planejado. O valor do salário, ao passo que os preços sobem, vai
OP OSA Conformativa diminuindo.

O homem age conforme pensa. Orações Subordinadas Substantivas


Relatei os fatos como (ou conforme) os ouvi.
Como diz o povo, tristezas não pagam dívidas. As orações subordinadas substantivas (OSS) são aquelas
O jornal, como sabemos, é um grande veículo de informação. que, num período, exercem funções sintáticas próprias de
substantivos, geralmente são introduzidas pelas conjunções
- Temporais: Acrescentam uma circunstância de tempo ao integrantes que e se. Elas podem ser:
que foi expresso na oração principal. Conjunções: quando, assim
que, logo que, enquanto, sempre que, depois que, mal (=assim que). - Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: É
Ele saiu da sala / assim que eu cheguei. aquela que exerce a função de objeto direto do verbo da oração
OP OSA Temporal principal. Observe: O grupo quer a sua ajuda. (objeto direto)
O grupo quer / que você ajude.
Formiga, quando quer se perder, cria asas. OP OSS Objetiva Direta
“Lá pelas sete da noite, quando escurecia, as casas se
esvaziam.” (Carlos Povina Cavalcânti) O mestre exigia que todos estivessem presentes. (= O
“Quando os tiranos caem, os povos se levantam.” (Marquês mestre exigia a presença de todos.)
de Maricá) Mariana esperou que o marido voltasse.
Enquanto foi rico, todos o procuravam. Ninguém pode dizer: Desta água não beberei.
- Finais: Expressam a finalidade ou o objetivo do que foi O fiscal verificou se tudo estava em ordem.
enunciado na oração principal. Conjunções: para que, a fim de
que, porque (=para que), que. - Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta: É
Abri a porta do salão / para que todos pudessem entrar. aquela que exerce a função de objeto indireto do verbo da oração
OP OSA Final principal. Observe: Necessito de sua ajuda. (objeto indireto)
Necessito / de que você me ajude.
“O futuro se nos oculta para que nós o imaginemos.” OP OSS Objetiva Indireta
(Marquês de Maricá)
Aproximei-me dele a fim de que me ouvisse melhor. Não me oponho a que você viaje. (= Não me oponho à sua
“Fiz-lhe sinal que se calasse.” (Machado de Assis) (que = viagem.)
para que) Aconselha-o a que trabalhe mais.
“Instara muito comigo não deixasse de frequentar as Daremos o prêmio a quem o merecer.
recepções da mulher.” (Machado de Assis) (não deixasse = Lembre-se de que a vida é breve.
para que não deixasse)
- Oração Subordinada Substantiva Subjetiva: É aquela
- Consecutivas: Expressam a consequência do que foi que exerce a função de sujeito do verbo da oração principal.
enunciado na oração principal. Conjunções: porque, que, como Observe: É importante sua colaboração. (sujeito)
(= porque), pois que, visto que. É importante / que você colabore.
A chuva foi tão forte / que inundou a cidade. OP OSS Subjetiva
OP OSA Consecutiva
A oração subjetiva geralmente vem:
Fazia tanto frio que meus dedos estavam endurecidos. - depois de um verbo de ligação + predicativo, em construções
“A fumaça era tanta que eu mal podia abrir os olhos.” (José do tipo é bom, é útil, é certo, é conveniente, etc. Ex.: É certo que
J. Veiga) ele voltará amanhã.
De tal sorte a cidade crescera que não a reconhecia mais. - depois de expressões na voz passiva, como sabe-se, conta-
As notícias de casa eram boas, de maneira que pude se, diz-se, etc. Ex.: Sabe-se que ele saiu da cidade.
prolongar minha viagem. - depois de verbos como convir, cumprir, constar, urgir,
ocorrer, quando empregados na 3ª pessoa do singular e seguidos
- Comparativas: Expressam ideia de comparação com das conjunções que ou se. Ex.: Convém que todos participem
referência à oração principal. Conjunções: como, assim como, da reunião.
tal como, (tão)... como, tanto como, tal qual, que (combinado com
menos ou mais). É necessário que você colabore. (= Sua colaboração é
Ela é bonita / como a mãe. necessária.)
OP OSA Comparativa Parece que a situação melhorou.
Aconteceu que não o encontrei em casa.
A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro.” Importa que saibas isso bem.
(Marquês de Maricá)
Ela o atraía irresistivelmente, como o imã atrai o ferro. - Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal:
Os retirantes deixaram a cidade tão pobres como vieram. É aquela que exerce a função de complemento nominal de um
Como a flor se abre ao Sol, assim minha alma se abriu à luz termo da oração principal. Observe: Estou convencido de sua
daquele olhar. inocência. (complemento nominal)
Estou convencido / de que ele é inocente.
Obs.: As orações comparativas nem sempre apresentam OP OSS Completiva Nominal
claramente o verbo, como no exemplo acima, em que está
subentendido o verbo ser (como a mãe é). Sou favorável a que o prendam. (= Sou favorável à prisão
- Proporcionais: Expressam uma ideia que se relaciona dele.)
proporcionalmente ao que foi enunciado na principal. Estava ansioso por que voltasses.
Conjunções: à medida que, à proporção que, ao passo que, quanto Sê grato a quem te ensina.
mais, quanto menos. “Fabiano tinha a certeza de que não se acabaria tão cedo.”
(Graciliano Ramos)
Quanto mais reclamava / menos atenção recebia.
OSA Proporcional OP - Oração Subordinada Substantiva Predicativa: É aquela
que exerce a função de predicativo do sujeito da oração principal,

Língua Portuguesa 52
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APOSTILAS OPÇÃO
vindo sempre depois do verbo ser. Observe: O importante é sua Deus, que é nosso pai, nos salvará.
felicidade. (predicativo) Valério, que nasceu rico, acabou na miséria.
O importante é / que você seja feliz. Ele tem amor às plantas, que cultiva com carinho.
OP OSS Predicativa Alguém, que passe por ali à noite, poderá ser assaltado.

Seu receio era que chovesse. (Seu receio era a chuva.) Orações Reduzidas
Minha esperança era que ele desistisse. Observe que as orações subordinadas eram sempre
Meu maior desejo agora é que me deixem em paz. introduzidas por uma conjunção ou pronome relativo e
Não sou quem você pensa. apresentavam o verbo numa forma do indicativo ou do
subjuntivo. Além desse tipo de orações subordinadas há outras
- Oração Subordinada Substantiva Apositiva: É aquela que se apresentam com o verbo numa das formas nominais
que exerce a função de aposto de um termo da oração principal. (infinitivo, gerúndio e particípio). Exemplos:
Observe: Ele tinha um sonho: a união de todos em benefício
do país. (aposto) - Ao entrar nas escola, encontrei o professor de inglês.
Ele tinha um sonho / que todos se unissem em benefício do (infinitivo)
país. - Precisando de ajuda, telefone-me. (gerúndio)
OP OSS Apositiva - Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário.
(particípio)
Só desejo uma coisa: que vivam felizes. (Só desejo uma
coisa: a sua felicidade) As orações subordinadas que apresentam o verbo numa das
Só lhe peço isto: honre o nosso nome. formas nominais são chamadas de reduzidas.
“Talvez o que eu houvesse sentido fosse o presságio disto: de Para classificar a oração que está sob a forma reduzida,
que virias a morrer...” (Osmã Lins) devemos procurar desenvolvê-la do seguinte modo: colocamos
“Mas diga-me uma cousa, essa proposta traz algum motivo a conjunção ou o pronome relativo adequado ao sentido e
oculto?” (Machado de Assis) passamos o verbo para uma forma do indicativo ou subjuntivo,
As orações apositivas vêm geralmente antecedidas de dois- conforme o caso. A oração reduzida terá a mesma classificação
pontos. Podem vir, também, entre vírgulas, intercaladas à oração da oração desenvolvida.
principal. Exemplo: Seu desejo, que o filho recuperasse a
saúde, tornou-se realidade. Ao entrar na escola, encontrei o professor de inglês.
Quando entrei na escola, / encontrei o professor de inglês.
Observação: Além das conjunções integrantes que e se, OSA Temporal
as orações substantivas podem ser introduzidas por outros Ao entrar na escola: oração subordinada adverbial temporal,
conectivos, tais como quando, como, quanto, etc. Exemplos: reduzida de infinitivo.
Não sei quando ele chegou.
Diga-me como resolver esse problema. Precisando de ajuda, telefone-me.
Se precisar de ajuda, / telefone-me.
Orações Subordinadas Adjetivas OSA Condicional
Precisando de ajuda: oração subordinada adverbial
As orações subordinadas Adjetivas (OSA) exercem condicional, reduzida de gerúndio.
a função de adjunto adnominal de algum termo da oração
principal. Observe como podemos transformar um adjunto Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário.
adnominal em oração subordinada adjetiva: Assim que acabou o treino, / os jogadores foram para o
Desejamos uma paz duradoura. (adjunto adnominal) vestiário.
Desejamos uma paz / que dure. (oração subordinada OSA Temporal
adjetiva) Acabado o treino: oração subordinada adverbial temporal,
reduzida de particípio.
As orações subordinadas adjetivas são sempre introduzidas
por um pronome relativo (que , qual, cujo, quem, etc.) e podem Observações:
ser classificadas em:
- Há orações reduzidas que permitem mais de um tipo de
- Subordinadas Adjetivas Restritivas: São restritivas desenvolvimento. Há casos também de orações reduzidas
quando restringem ou especificam o sentido da palavra a que se fixas, isto é, orações reduzidas que não são passíveis de
referem. Exemplo: desenvolvimento. Exemplo: Tenho vontade de visitar essa
O público aplaudiu o cantor / que ganhou o 1º lugar. cidade.
OP OSA Restritiva - O infinitivo, o gerúndio e o particípio não constituem
orações reduzidas quando fazem parte de uma locução verbal.
Nesse exemplo, a oração que ganhou o 1º lugar especifica Exemplos:
o sentido do substantivo cantor, indicando que o público não Preciso terminar este exercício.
aplaudiu qualquer cantor mas sim aquele que ganhou o 1º lugar. Ele está jantando na sala.
Essa casa foi construída por meu pai.
Pedra que rola não cria limo. - Uma oração coordenada também pode vir sob a forma
Os animais que se alimentam de carne chamam-se reduzida. Exemplo:
carnívoros. O homem fechou a porta, saindo depressa de casa.
Rubem Braga é um dos cronistas que mais belas páginas O homem fechou a porta e saiu depressa de casa. (oração
escreveram. coordenada sindética aditiva)
“Há saudades que a gente nunca esquece.” (Olegário Saindo depressa de casa: oração coordenada reduzida de
Mariano) gerúndio.
- Subordinadas Adjetivas Explicativas: São explicativas Qual é a diferença entre as orações coordenadas explicativas
quando apenas acrescentam uma qualidade à palavra a que se e as orações subordinadas causais, já que ambas podem ser
referem, esclarecendo um pouco mais seu sentido, mas sem iniciadas por que e porque? Às vezes não é fácil estabelecer a
restringi-lo ou especificá-lo. Exemplo: diferença entre explicativas e causais, mas como o próprio nome
indica, as causais sempre trazem a causa de algo que se revela na
O escritor Jorge Amado, / que mora na Bahia, / lançou um oração principal, que traz o efeito.
novo livro. Note-se também que há pausa (vírgula, na escrita) entre
OP OSA Explicativa OP a oração explicativa e a precedente e que esta é, muitas vezes,

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APOSTILAS OPÇÃO
imperativa, o que não acontece com a oração adverbial causal. especificidades semânticas e pragmáticas. Vejamos as principais
Essa noção de causa e efeito não existe no período composto por funções dos sinais de pontuação conhecidos pelo uso da língua
coordenação. Exemplo: Rosa chorou porque levou uma surra. portuguesa.
Está claro que a oração iniciada pela conjunção é causal, visto
que a surra foi sem dúvida a causa do choro, que é efeito. Ponto
Rosa chorou, porque seus olhos estão vermelhos. O 1- Indica o término do discurso ou de parte dele.
período agora é composto por coordenação, pois a oração - Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em que
iniciada pela conjunção traz a explicação daquilo que se revelou se encontra.
na coordena anterior. Não existe aí relação de causa e efeito: o - Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite.
fato de os olhos de Elisa estarem vermelhos não é causa de ela
ter chorado. - Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava.

Ela fala / como falaria / se entendesse do assunto. 2- Usa-se nas abreviações - V. Exª. - Sr.
OP OSA Comparativa OSA Condicional
Ponto e Vírgula ( ; )
Questões 1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma
importância.
01. Na frase: “Maria do Carmo tinha a certeza de que estava -  “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão pelo pão
para ser mãe”, a oração destacada é: a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida; os de
(A) subordinada substantiva objetiva indireta nenhum espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)
(B) subordinada substantiva completiva nominal
(C) subordinada substantiva predicativa 2- Separa partes de frases que já estão separadas por
(D) coordenada sindética conclusiva vírgulas.
(E) coordenada sindética explicativa - Alguns quiseram verão, praia e calor; outros montanhas, frio
e cobertor.
02. “Na ‘Partida Monção’, não há uma atitude inventada.
Há reconstituição de uma cena como ela devia ter sido na 3- Separa itens de uma enumeração, exposição de motivos,
realidade.” A oração sublinhada é: decreto de lei, etc.
(A) adverbial conformativa - Ir ao supermercado;
(B) adjetiva - Pegar as crianças na escola;
(C) adverbial consecutiva - Caminhada na praia;
(D) adverbial proporcional - Reunião com amigos.
(E) adverbial causal
Dois pontos
03.“Esses produtos podem ser encontrados nos 1- Antes de uma citação
supermercados com rótulos como ‘sênior’ e com características - Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:
adaptadas às dificuldades para mastigar e para engolir dos
mais velhos, e preparados para se encaixar em seus hábitos de 2- Antes de um aposto
consumo”. O segmento “para se encaixar” pode ter sua forma - Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à tarde
verbal reduzida adequadamente desenvolvida em e calor à noite.
(A) para se encaixarem.
(B) para seu encaixotamento. 3- Antes de uma explicação ou esclarecimento
(C) para que se encaixassem. - Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo a
(D) para que se encaixem. rotina de sempre.
(E) para que se encaixariam.
4- Em frases de estilo direto
04. A palavra “se” é conjunção integrante (por introduzir  Maria perguntou:
oração subordinada substantiva objetiva direta) em qual das - Por que você não toma uma decisão?
orações seguintes?
(A) Ele se mordia de ciúmes pelo patrão. Ponto de Exclamação
(B) A Federação arroga-se o direito de cancelar o jogo. 1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto,
(C) O aluno fez-se passar por doutor. súplica, etc.
(D) Precisa-se de operários. - Sim! Claro que eu quero me casar com você!
(E) Não sei se o vinho está bom.
2- Depois de interjeições ou vocativos
05. “Lembro-me de que ele só usava camisas brancas.” A - Ai! Que susto!
oração sublinhada é: - João! Há quanto tempo!
(A) subordinada substantiva completiva nominal
(B) subordinada substantiva objetiva indireta Ponto de Interrogação
(C) subordinada substantiva predicativa Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
(D) subordinada substantiva subjetiva “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo)
(E) subordinada substantiva objetiva direta   Reticências
1- Indica que palavras foram suprimidas.
Respostas - Comprei lápis, canetas, cadernos...
01. B\02. A\03. D\04. E\05. B
2- Indica interrupção violenta da frase.
“- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
8 Pontuação.
3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida
- Este mal... pega doutor?

Pontuação 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito


- Deixa, depois, o coração falar...
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem
para compor a coesão e a coerência textual além de ressaltar

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APOSTILAS OPÇÃO
Vírgula (E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora,
Não se usa vírgula experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou
*separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se a esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse
diretamente entre si: ajudar a revelar quem era a sua dona.
a) entre sujeito e predicado.
Todos os alunos da sala    foram advertidos.  02. Assinale a opção em que está corretamente indicada a
Sujeito                            predicado ordem dos sinais de pontuação que devem preencher as lacunas
da frase abaixo:
b) entre o verbo e seus objetos. “Quando se trata de trabalho científico ___ duas coisas devem
O trabalho custou            sacrifício             aos realizadores.  ser consideradas ____ uma é a contribuição teórica que o trabalho
             V.T.D.I.              O.D.                      O.I. oferece ___ a outra é o valor prático que possa ter.
A) dois pontos, ponto e vírgula, ponto e vírgula
c) entre nome e complemento nominal; entre nome e adjunto B) dois pontos, vírgula, ponto e vírgula;
adnominal. C) vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
A surpreendente reação do governo contra os sonegadores D) pontos vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
despertou reações entre os empresários. E) ponto e vírgula, vírgula, vírgula.
adj. adnominal nome adj. adn. complemento nominal
03. Os sinais de pontuação estão empregados corretamente
Usa-se a vírgula: em:
A) Duas explicações, do treinamento para consultores
- Para marcar intercalação: iniciantes receberam destaque, o conceito de PPD e a construção
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abundância, de tabelas Price; mas por outro lado, faltou falar das metas de
vem caindo de preço. vendas associadas aos dois temas.
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão B) Duas explicações do treinamento para consultores
produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos. iniciantes receberam destaque: o conceito de PPD e a construção
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indústrias de tabelas Price; mas, por outro lado, faltou falar das metas de
não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não querem abrir vendas associadas aos dois temas.
mão dos lucros altos. C) Duas explicações do treinamento para consultores
iniciantes receberam destaque; o conceito de PPD e a construção
- Para marcar inversão: de tabelas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas de
a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração): vendas associadas aos dois temas.
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fechadas. D) Duas explicações do treinamento para consultores
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos iniciantes, receberam destaque: o conceito de PPD e a construção
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma. de tabelas Price, mas, por outro lado, faltou falar das metas de
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de maio vendas associadas aos dois temas.
de 1982. E) Duas explicações, do treinamento para consultores
iniciantes, receberam destaque; o conceito de PPD e a construção
- Para separar entre si elementos coordenados (dispostos de tabelas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas, de
em enumeração): vendas associadas aos dois temas.
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais. 04. Assinale a alternativa em que o período, adaptado da
revista Pesquisa Fapesp de junho de 2012, está correto quanto à
- Para marcar elipse (omissão) do verbo: regência nominal e à pontuação.
Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco. (A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapidamente,
seu espaço na carreira científica ainda que o avanço seja mais
- Para isolar: notável em alguns países, o Brasil é um exemplo, do que em
outros.
- o aposto: (B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam rapidamente
São Paulo, considerada a metrópole brasileira, possui um seu espaço na carreira científica; ainda que o avanço seja mais
trânsito caótico. notável, em alguns países, o Brasil é um exemplo!, do que em
outros.
- o vocativo: (C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam rapidamente
Ora, Thiago, não diga bobagem. seu espaço, na carreira científica, ainda que o avanço seja mais
notável, em alguns países: o Brasil é um exemplo, do que em
Questões outros.
(D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapidamente
01. Assinale a alternativa em que a pontuação está seu espaço na carreira científica, ainda que o avanço seja mais
corretamente empregada, de acordo com a norma-padrão da notável em alguns países – o Brasil é um exemplo – do que em
língua portuguesa. outros.
(A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora, (E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapidamente,
experimentasse, a sensação de violar uma intimidade, procurou seu espaço na carreira científica, ainda que, o avanço seja mais
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse notável em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que em
ajudar a revelar quem era a sua dona. outros.
(B) Diante, da testemunha o homem abriu a bolsa e, embora
experimentasse a sensação, de violar uma intimidade, procurou 05. Assinale a alternativa em que a frase mantém-se correta
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse após o acréscimo das vírgulas.
ajudar a revelar quem era a sua dona. (A) Se a criança se perder, quem encontrá-la, verá na pulseira
(C) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora instruções para que envie, uma mensagem eletrônica ao grupo
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou ou acione o código na internet.
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse (B) Um geolocalizador também, avisará, os pais de onde o
ajudar a revelar quem era a sua dona. código foi acionado.
(D) Diante da testemunha, o homem, abriu a bolsa e, embora (C) Assim que o código é digitado, familiares cadastrados,
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou recebem automaticamente, uma mensagem dizendo que a
a esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse criança foi encontrada.
ajudar a revelar quem era a sua dona.

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APOSTILAS OPÇÃO
(D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha, chega primeiro 7) Em casos relativos à concordância com locuções
às, areias do Guarujá. pronominais, representadas por “algum de nós, qual de vós,
(E) O sistema permite, ainda, cadastrar o nome e o telefone quais de vós, alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário nos
de quem a encontrou e informar um ponto de referência atermos a duas questões básicas:
- No caso de o primeiro pronome estar expresso no plural,
Resposta o verbo poderá com ele concordar, como poderá também
1-C 2-C 3-B 4-D 5-E concordar com o pronome pessoal: Alguns de nós o receberemos.
/ Alguns de nós o receberão.
9 Concordância nominal e - Quando o primeiro pronome da locução estiver expresso
no singular, o verbo permanecerá, também, no singular:  Algum
verbal. de nós o receberá.  

8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo pronome


Concordância Verbal “quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa do singular
ou poderá concordar com o antecedente desse pronome:   
Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos nos Fomos nós  quem  contou  toda a verdade para ela. / Fomos
referindo à relação de dependência estabelecida entre um termo nós quem contamos toda a verdade para ela.
e outro mediante um contexto oracional. Desta feita, os agentes
principais desse processo são representados pelo sujeito, que no 9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela palavra
caso funciona como subordinante; e o verbo, o qual desempenha “que”, o verbo deverá concordar com o termo que antecede essa
a função de subordinado.  palavra: Nesta empresa somos nós que tomamos as decisões. /
Dessa forma, temos que a concordância verbal caracteriza- Em casa sou eu que decido tudo.   
se pela adaptação do verbo, tendo em vista os quesitos “número
e pessoa” em relação ao sujeito. Exemplificando, temos: O aluno 10) No caso de o sujeito aparecer representado por
chegou expressões que indicam porcentagens, o verbo concordará com o
Temos que o verbo apresenta-se na terceira pessoa do numeral ou com o substantivo a que se refere essa porcentagem:   
singular, pois faz referência a um sujeito, assim também expresso 50% dos funcionários aprovaram a decisão da diretoria. / 50%
(ele).  Como poderíamos também dizer: os alunos chegaram do eleitorado apoiou a decisão.
atrasados. Observações:
Temos aí o que podemos chamar de princípio básico. - Caso o verbo aparecer anteposto à expressão de
Contudo, a intenção a que se presta o artigo em evidência é porcentagem, esse deverá concordar com o numeral: Aprovaram
eleger as principais ocorrências voltadas para os casos de sujeito a decisão da diretoria 50% dos funcionários.     
simples e para os de sujeito composto. Dessa forma, vejamos:  - Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no singular:
1% dos funcionários não aprovou a decisão da diretoria.  
Casos referentes a sujeito simples - Em casos em que o numeral estiver acompanhado de
determinantes no plural, o verbo permanecerá no plural: Os
1) Em caso de sujeito simples, o verbo concorda com o 50% dos funcionários apoiaram a decisão da diretoria. 
núcleo em número e pessoa: O aluno chegou atrasado. 
11) Nos casos em que o sujeito estiver representado por
2) Nos casos referentes a sujeito representado por pronomes de tratamento, o verbo deverá ser empregado na terceira
substantivo coletivo, o verbo permanece na terceira pessoa do pessoa do singular ou do plural:  Vossas Majestades gostaram das
singular:  A multidão, apavorada, saiu aos gritos. homenagens. Vossa Majestade agradeceu o convite.  
Observação:
- No caso de o coletivo aparecer seguido de adjunto adnominal 12) Casos relativos a sujeito representado por substantivo
no plural, o verbo permanecerá no singular ou poderá ir para o próprio no plural se encontram relacionados a alguns aspectos
plural: Uma multidão de pessoas saiu aos gritos. que os determinam:
Uma multidão de pessoas saíram aos gritos. - Diante de nomes de obras no plural, seguidos do verbo ser,
este permanece no singular, contanto que o predicativo também
3) Quando o sujeito é representado por expressões partitivas, esteja no singular:  Memórias póstumas de Brás Cubas  é  uma
representadas por “a maioria de, a maior parte de, a metade de, criação de Machado de Assis.   
uma porção de, entre outras”, o verbo tanto pode concordar - Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo também
com o núcleo dessas expressões quanto com o substantivo permanece no plural: Os  Estados Unidos  são  uma potência
que a segue: A  maioria  dos alunos  resolveu  ficar.   A maioria mundial.
dos alunos resolveram ficar. - Casos em que o artigo figura no singular ou em que ele nem
aparece, o verbo permanece no singular:  Estados Unidos é uma
4) No caso de o sujeito ser representado por expressões potência mundial. 
aproximativas, representadas por “cerca de, perto de”, o verbo
concorda com o substantivo determinado por elas: Cerca de Casos referentes a sujeito composto
vinte candidatos se inscreveram no concurso de piadas. 1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas
gramaticais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, estando
5) Em casos em que o sujeito é representado pela expressão relacionado a dois pressupostos básicos:
“mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais de - Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as
um candidato se inscreveu no concurso de piadas.   demais: Eu, tu e ele faremos um lindo passeio.
Observação: - Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá
- No caso da referida expressão aparecer repetida ou flexionar na 2ª ou na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos.
associada a um verbo que exprime reciprocidade, o verbo, Tu e ele são primos.
necessariamente, deverá permanecer no plural: Mais de um
aluno, mais de um professor contribuíram na campanha de 2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer anteposto
doação de alimentos.  ao verbo, este permanecerá no plural: O pai e seus dois
Mais de um formando se abraçaram durante as solenidades filhos compareceram ao evento.  
de formatura. 
3) No caso em que o sujeito aparecer posposto ao verbo, este
6) Quando o sujeito for composto da expressão “um dos poderá concordar com o núcleo mais próximo ou permanecer
que”, o verbo permanecerá no plural: Esse jogador foi  um dos no plural: Compareceram  ao evento  o pai e seus dois filhos.
que atuaram na Copa América. Compareceu ao evento o pai e seus dois filhos.

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APOSTILAS OPÇÃO
4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém com Para um humanista, a dor humana é sempre prioridade a se
mais de um núcleo, o verbo deverá permanecer no singular: considerar.
Meu esposo e grande companheiro merece toda a felicidade do (Salvador Nicola, inédito)
mundo.
O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se no
5) Casos relativos a sujeito composto de palavras sinônimas singular para preencher adequadamente a lacuna da frase:
ou ordenado por elementos em gradação, o verbo poderá (A) A nenhuma de nossas escolhas ...... (poder) deixar de
permanecer no singular ou ir para o plural: Minha vitória, corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
minha conquista, minha premiação são frutos de meu esforço. (B) Não se ...... (poupar) os que governam de refletir sobre o
/ Minha vitória, minha conquista, minha premiação é fruto de peso de suas mais graves decisões.
meu esforço. (C) Aos governantes mais responsáveis não ...... (ocorrer)
Questões tomar decisões sem medir suas consequências.
(D) A toda decisão tomada precipitadamente ...... (costumar)
01. A concordância realizou-se adequadamente em qual sobrevir consequências imprevistas e injustas.
alternativa? (E) Diante de uma escolha, ...... (ganhar) prioridade,
(A) Os Estados Unidos é considerado, hoje, a maior potência recomenda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor
econômica do planeta, mas há quem aposte que a China, em humana.
breve, o ultrapassará.
(B) Em razão das fortes chuvas haverão muitos candidatos 04. Em um belo artigo, o físico Marcelo Gleiser, analisando a
que chegarão atrasados, tenho certeza disso. constatação do satélite Kepler de que existem muitos planetas
(C) Naquela barraca vendem-se tapiocas fresquinhas, pode com características físicas semelhantes ao nosso, reafirmou sua
comê-las sem receio! fé na hipótese da Terra rara, isto é, a tese de que a vida complexa
(D) A multidão gritaram quando a cantora apareceu na (animal) é um fenômeno não tão comum no Universo.
janela do hotel! Gleiser retoma as ideias de Peter Ward expostas de modo
persuasivo em “Terra Rara”. Ali, o autor sugere que a vida
02. “Se os cachorros correm livremente, por que eu não microbiana deve ser um fenômeno trivial, podendo pipocar até
posso fazer isso também?”, pergunta Bob Dylan em “New em mundos inóspitos; já o surgimento de vida multicelular na
Morning”. Bob Dylan verbaliza um anseio sentido por todos Terra dependeu de muitas outras variáveis físicas e históricas,
nós, humanos supersocializados: o anseio de nos livrarmos o que, se não permite estimar o número de civilizações
de todos os constrangimentos artificiais decorrentes do fato extra terráqueas, ao menos faz com que reduzamos nossas
de vivermos em uma sociedade civilizada em que às vezes nos expectativas.
sentimos presos a uma correia. Um conjunto cultural de regras Uma questão análoga só arranhada por Ward é a da
tácitas e inibições está sempre governando as nossas interações inexorabilidade da inteligência. A evolução de organismos
cotidianas com os outros. complexos leva necessariamente à consciência e à inteligência?
Uma das razões pelas quais os cachorros nos atraem é o fato Robert Wright diz que sim, mas seu argumento é mais
de eles serem tão desinibidos e livres. Parece que eles jogam matemático do que biológico: complexidade engendra
com as suas próprias regras, com a sua própria lógica interna. complexidade, levando a uma corrida armamentista entre
Eles vivem em um universo paralelo e diferente do nosso - um espécies cujo subproduto é a inteligência.
universo que lhes concede liberdade de espírito e paixão pela Stephen J. Gould e Steven Pinker apostam que não. Para
vida enormemente atraentes para nós. Um cachorro latindo ao eles, é apenas devido a uma sucessão de pré-adaptações e
vento ou uivando durante a noite faz agitar-se dentro de nós coincidências que alguns animais transformaram a capacidade
alguma coisa que também quer se expressar. de resolver problemas em estratégia de sobrevivência. Se
Os cachorros são uma constante fonte de diversão para rebobinássemos o filme da evolução e reencenássemos o
nós porque não prestam atenção as nossas convenções sociais. processo mudando alguns detalhes do início, seriam grandes as
Metem o nariz onde não são convidados, pulam para cima chances de não chegarmos a nada parecido com a inteligência.
do sofá, devoram alegremente a comida que cai da mesa. Os (Adaptado de Hélio Schwartsman. Folha de S. Paulo,
cachorros raramente se refreiam quando querem fazer alguma 28/10/2012)
coisa. Eles não compartilham conosco as nossas inibições. Suas
emoções estão ã flor da pele e eles as manifestam sempre que A frase em que as regras de concordância estão plenamente
as sentem. respeitadas é:
(Adaptado de Matt Weistein e Luke Barber. Cão que (A) Podem haver estudos que comprovem que, no passado,
late não morde. Trad. de Cristina Cupertino. S.Paulo: Francis, as formas mais complexas de vida - cujo habitat eram oceanos
2005. p 250) ricos em nutrientes - se alimentavam por osmose.
(B) Cada um dos organismos simples que vivem na natureza
A frase em que se respeitam as normas de concordância sobrevivem de forma quase automática, sem se valerem de
verbal é: criatividade e planejamento.
(A) Deve haver muitas razões pelas quais os cachorros nos (C) Desde que observe cuidados básicos, como obter energia
atraem. por meio de alimentos, os organismos simples podem preservar
(B) Várias razões haveriam pelas quais os cachorros nos a vida ao longo do tempo com relativa facilidade.
atraem. (D) Alguns animais tem de se adaptar a um ambiente cheio de
(C) Caberiam notar as muitas razões pelas quais os cachorros dificuldades para obter a energia necessária a sua sobrevivência
nos atraem. e nesse processo expõe- se a inúmeras ameaças.
(D) Há de ser diversas as razões pelas quais os cachorros nos (E) A maioria dos organismos mais complexos possui um
atraem. sistema nervoso muito desenvolvido, capaz de se adaptar a
(E) Existe mesmo muitas razões pelas quais os cachorros mudanças ambientais, como alterações na temperatura.
nos atraem.
05. De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, a
03. Uma pergunta concordância verbal está correta em:
(A) Ela não pode usar o celular e chamar um taxista, pois
Frequentemente cabe aos detentores de cargos de acabou os créditos.
responsabilidade tomar decisões difíceis, de graves (B) Esta empresa mantêm contato com uma rede de táxis
consequências. Haveria algum critério básico, essencial, para que executa diversos serviços para os clientes.
amparar tais escolhas? Antonio Gramsci, notável pensador (C) À porta do aeroporto, havia muitos táxis disponíveis para
e político italiano, propôs que se pergunte, antes de tomar a os passageiros que chegavam à cidade.
decisão: - Quem sofrerá?

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APOSTILAS OPÇÃO
(D) Passou anos, mas a atriz não se esqueceu das calorosas g) É bom, é necessário, é proibido
lembranças que seu tio lhe deixou. 1- Essas expressões não variam se o sujeito não vier
(E) Deve existir passageiros que aproveitam a corrida de táxi precedido de artigo ou outro determinante.
para bater um papo com o motorista. Canja é bom. / A canja é boa.
É necessário sua presença. / É necessária a sua presença.
Respostas É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A entrada
01. C\02. A\03. C\04. E\05. C é proibida.

Concordância Nominal h) Muito, pouco, caro


1- Como adjetivos: seguem a regra geral.
Concordância nominal é que o ajuste que fazemos aos Comi muitas frutas durante a viagem.
demais termos da oração para que concordem em gênero e Pouco arroz é suficiente para mim.
número com o substantivo. Teremos que alterar, portanto, o Os sapatos estavam caros.
artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome. Além disso, temos
também o verbo, que se flexionará à sua maneira. 2- Como advérbios: são invariáveis.
Comi muito durante a viagem.
Regra geral: O artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome Pouco lutei, por isso perdi a batalha.
concordam em gênero e número com o substantivo. Comprei caro os sapatos.
- A pequena criança é uma gracinha.
- O garoto que encontrei era muito gentil e simpático. i) Mesmo, bastante
1- Como advérbios: invariáveis
Casos especiais: Veremos alguns casos que fogem à regra Preciso mesmo da sua ajuda.
geral mostrada acima. Fiquei bastante contente com a proposta de emprego.

a) Um adjetivo após vários substantivos 2- Como pronomes: seguem a regra geral.
1 - Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o plural Seus argumentos foram bastantes para me convencer.
ou concorda com o substantivo mais próximo. Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou.
- Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.
- Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui. j) Menos, alerta
1- Em todas as ocasiões são invariáveis.
2 - Substantivos de gêneros diferentes: vai para o Preciso de menos comida para perder peso.
plural masculino ou concorda com o substantivo mais próximo. Estamos alerta para com suas chamadas.
- Ela tem pai e mãe louros.
- Ela tem pai e mãe loura. k) Tal Qual
1- “Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda com o
3 - Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoriamente consequente.
para o plural. As garotas são vaidosas tais qual a tia.
- O homem e o menino estavam perdidos. Os pais vieram fantasiados tais quais os filhos.
- O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui.
l) Possível
b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos 1- Quando vem acompanhado de “mais”, “menos”, “melhor”
1 - Adjetivo anteposto normalmente concorda com o mais ou “pior”, acompanha o artigo que precede as expressões.
próximo. A mais possível das alternativas é a que você expôs.
Comi delicioso almoço e sobremesa. Os melhores cargos possíveis estão neste setor da empresa.
Provei deliciosa fruta e suco. As piores situações possíveis são encontradas nas favelas da
2 - Adjetivo anteposto funcionando como predicativo: cidade.
concorda com o mais próximo ou vai para o plural.
Estavam feridos o pai e os filhos. m) Meio
Estava ferido o pai e os filhos. 1- Como advérbio: invariável.
Estou meio (um pouco) insegura.
c) Um substantivo e mais de um adjetivo 2- Como numeral: segue a regra geral.
1- antecede todos os adjetivos com um artigo. Comi meia (metade) laranja pela manhã.
Falava fluentemente a língua inglesa e a espanhola.
n) Só
2- coloca o substantivo no plural. 1- apenas, somente (advérbio): invariável.
Falava fluentemente as línguas inglesa e espanhola. Só consegui comprar uma passagem.
2- sozinho (adjetivo): variável.
d) Pronomes de tratamento Estiveram sós durante horas.
1 - sempre concordam com a 3ª pessoa.
Vossa Santidade esteve no Brasil. Questões

e) Anexo, incluso, próprio, obrigado 01. Indique o uso INCORRETO da concordância verbal ou
1 - Concordam com o substantivo a que se referem. nominal:
As cartas estão anexas. (A) Será descontada em folha sua contribuição sindical.
A bebida está inclusa. (B) Na última reunião, ficou acordado que se realizariam
Precisamos de nomes próprios. encontros semanais com os diversos interessados no assunto.
Obrigado, disse o rapaz. (C) Alguma solução é necessária, e logo!
(D) Embora tenha ficado demonstrado cabalmente a
f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a) ocorrência de simulação na transferência do imóvel, o pedido
1 - Após essas expressões o substantivo fica sempre no não pode prosperar.
singular e o adjetivo no plural. (E) A liberdade comercial da colônia, somada ao fato de D.
João VI ter também elevado sua colônia americana à condição de
Renato advogou um e outro caso fáceis. Reino Unido a Portugal e Algarves, possibilitou ao Brasil obter
Pusemos numa e noutra bandeja rasas o peixe. certa autonomia econômica.

Língua Portuguesa 58
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APOSTILAS OPÇÃO
02. Aponte a alternativa em que NÃO ocorre silepse (de A mãe agrada ao filho. -> agradar significa “causar agrado ou
gênero, número ou pessoa): prazer”, satisfazer.
(A) “A gente é feito daquele tipo de talento capaz de fazer a
diferença.” Logo, conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
(B) Todos sabemos que a solução não é fácil. “agradar a alguém”.
(C) Essa gente trabalhadora merecia mais, pois acordam às
cinco horas para chegar ao trabalho às oito da manhã. Saiba que:
(D) Todos os brasileiros sabem que esse problema vem de O conhecimento do uso adequado das preposições é um
longe... dos aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e
(E) Senhor diretor, espero que Vossa Senhoria seja mais também nominal). As preposições são capazes de modificar
compreensivo. completamente o sentido do que se está sendo dito. Veja os
exemplos:
03. A concordância nominal está INCORRETA em: Cheguei ao metrô.
(A) A mídia julgou desnecessária a campanha e o Cheguei no metrô.
envolvimento da empresa.
(B) A mídia julgou a campanha e a atuação da empresa No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo
desnecessária. caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração “Cheguei
(C) A mídia julgou desnecessário o envolvimento da empresa no metrô”, popularmente usada a fim de indicar o lugar a que se
e a campanha. vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente. Aliás, é
(D) A mídia julgou a campanha e a atuação da empresa muito comum existirem divergências entre a regência coloquial,
desnecessárias. cotidiana de alguns verbos, e a regência culta.

04. Complete os espaços com um dos nomes colocados nos Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos de
parênteses. acordo com sua transitividade. A transitividade, porém, não é
(A) Será que é ____ essa confusão toda? (necessário/ um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes
necessária) formas em frases distintas.
(B) Quero que todos fiquem ____. (alerta/ alertas)
(C) Houve ____ razões para eu não voltar lá. (bastante/ Verbos Intransitivos
bastantes) Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
(D) Encontrei ____ a sala e os quartos. (vazia/vazios) importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
(E) A dona do imóvel ficou ____ desiludida com o inquilino. aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
(meio/ meia) a) Chegar, Ir
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adverbiais
05. Quanto à concordância nominal, verifica-se ERRO em: de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
(A) O texto fala de uma época e de um assunto polêmicos. indicar destino ou direção são: a, para.
(B) Tornou-se clara para o leitor a posição do autor sobre o Fui ao teatro.
assunto.       Adjunto Adverbial de Lugar
(C) Constata-se hoje a existência de homem, mulher e
criança viciadas. Ricardo foi para a Espanha.
(D) Não será permitido visita de amigos, apenas a de                   Adjunto Adverbial de Lugar
parentes. b) Comparecer
Respostas O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido
por em ou a.
01. D\02. D\03. B Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o último
jogo.
04. a) necessária b) alerta c) bastantes d) vazia e) meio
Verbos Transitivos Diretos
05. C Os verbos transitivos diretos são complementados por
objetos diretos. Isso significa que  não  exigem preposição  para
o estabelecimento da relação de regência. Ao empregar esses
10 Regência nominal e verbal. verbos, devemos lembrar que os pronomes oblíquos o, a, os,
as atuam como objetos diretos. Esses pronomes podem assumir
as formas lo, los, la, las (após formas verbais terminadas em -r,
-s ou -z) ou no, na, nos, nas (após formas verbais terminadas em
Regência Verbal e Nominal sons nasais), enquanto  lhe e lhes são, quando complementos
verbais, objetos indiretos.
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação que São verbos transitivos diretos, dentre outros: abandonar,
ocorre entre um verbo (ou um nome) e seus complementos. abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, admirar,
Ocupa-se em estabelecer relações entre as palavras, criando adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar, castigar,
frases não ambíguas, que expressem efetivamente o sentido condenar, conhecer, conservar,convidar, defender, eleger, estimar,
desejado, que sejam corretas e claras. humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar, proteger, respeitar,
socorrer, suportar, ver, visitar.
Regência Verbal Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente como o
verbo amar:
Termo Regente:  VERBO Amo aquele rapaz. / Amo-o.
Amo aquela moça. / Amo-a.
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre Amam aquele rapaz. / Amam-no.
os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais).
O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa Obs.: os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos para
capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de indicar posse (caso em que atuam como adjuntos adnominais).
conhecermos as diversas significações que um verbo pode Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
assumir com a simples mudança ou retirada de uma preposição.  Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira)
Observe: Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor)
A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar.

Língua Portuguesa 59
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APOSTILAS OPÇÃO
Verbos Transitivos Indiretos Obs.: a mesma regência do verbo  informar é usada  para os
Os verbos transitivos indiretos são complementados por seguintes:  avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.
objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exigem uma
preposição  para o estabelecimento da relação de regência. Comparar
Os pronomes pessoais do caso oblíquo de terceira pessoa que Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
podem atuar como objetos indiretos são o “lhe”, o “lhes”, para preposições  “a”  ou  “com” para introduzir o complemento
substituir pessoas. Não se utilizam os pronomes o, os, a, as como indireto.
complementos de verbos transitivos indiretos. Com os objetos Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma criança.
indiretos que não representam pessoas, usam-se pronomes
oblíquos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos Pedir
pronomes átonos lhe, lhes.  Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na forma
de oração subordinada substantiva) e indireto de pessoa.
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: Pedi-lhe                 favores.
a) Consistir - Tem complemento introduzido pela Objeto Indireto    Objeto Direto
preposição “em”.                                      
A modernidade verdadeira consiste em direitos iguais para Pedi-lhe                     que mantivesse em silêncio.
todos. Objeto Indireto           Oração Subordinada Substantiva
b) Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complementos                                                            Objetiva Direta
introduzidos pela preposição “a”.
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. Saiba que:
Eles desobedeceram às leis do trânsito. 1) A construção  “pedir para”,  muito comum na linguagem
c) Responder - Tem complemento introduzido pela cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua culta. No
preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a entanto, é considerada correta quando a palavra licença estiver
quem” ou “ao que” se responde. subentendida.
Respondi ao meu patrão. Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
Respondemos às perguntas. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz uma
Respondeu-lhe à altura. oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo (para
Obs.:  o verbo  responder, apesar de transitivo indireto ir entregar-lhe os catálogos em casa).
quando exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva 2) A construção  “dizer para”,  também muito usada
analítica. Veja: popularmente, é igualmente considerada incorreta.
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente. Preferir
d) Simpatizar e  Antipatizar - Possuem seus complementos Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto
introduzidos pela preposição “com”. indireto introduzido pela preposição “a”. Por Exemplo:
Antipatizo com aquela apresentadora. Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
Simpatizo com os que condenam os políticos que governam Prefiro trem a ônibus.
para uma minoria privilegiada. Obs.: na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem
termos intensificadores, tais como:  muito, antes, mil vezes, um
Verbos Transitivos Diretos e Indiretos milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo existente
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompanhados no próprio verbo (pre).
de um objeto direto e um indireto. Merecem destaque, nesse
grupo: Mudança de Transitividade versus Mudança de
Significado
Agradecer, Perdoar e Pagar
São verbos que apresentam objeto direto Há verbos que, de acordo com a mudança de transitividade,
relacionado a coisas e objeto indireto relacionado a pessoas. apresentam mudança de significado. O conhecimento das
Veja os exemplos: diferentes regências desses verbos é um recurso linguístico
Agradeço    aos ouvintes         a audiência. muito importante, pois além de permitir a correta interpretação
                   Objeto Indireto      Objeto Direto de passagens escritas, oferece possibilidades expressivas a
Cristo ensina que é preciso perdoar     o pecado        ao pecador. quem fala ou escreve. Dentre os principais, estão:
                                                                 Obj. Direto       Objeto Indireto
Paguei      o débito        ao cobrador. AGRADAR
               Objeto Direto      Objeto Indireto 1) Agradar é transitivo direto no sentido de fazer carinhos,
acariciar.
- O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com Sempre agrada o filho quando o revê. / Sempre o agrada
particular cuidado. Observe: quando o revê.
Agradeci o presente. / Agradeci-o. Cláudia não perde oportunidade de agradar o gato. / Cláudia
Agradeço a você. / Agradeço-lhe. não perde oportunidade de agradá-lo.
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. 2) Agradar é transitivo indireto no sentido de causar agrado
Paguei minhas contas. / Paguei-as. a, satisfazer, ser agradável a.  Rege complemento introduzido
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes. pela preposição “a”.
O cantor não agradou aos presentes.
Informar O cantor não lhes agradou.
- Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa. ASPIRAR
Informe os novos preços aos clientes. 1) Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos (o ar), inalar.
preços) Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)

- Na utilização de pronomes como complementos,  veja as 2)  Aspirar  é transitivo indireto no sentido de  desejar, ter
construções: como ambição.
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços. Aspirávamos a melhores condições de vida. (Aspirávamos a
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou sobre elas)
eles)

Língua Portuguesa 60
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APOSTILAS OPÇÃO
Obs.: como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pessoa, PROCEDER
mas coisa, não se usam as formas pronominais átonas “lhe” 1)  Proceder  é intransitivo no sentido de  ser decisivo,
e “lhes” e sim as formas tônicas “a ele (s)”, “ a ela (s)”.  Veja o ter cabimento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se,
exemplo: agir.  Nessa segunda acepção, vem sempre acompanhado de
Aspiravam a uma existência melhor. (= Aspiravam a ela) adjunto adverbial de modo.
As afirmações da testemunha procediam, não havia como
ASSISTIR refutá-las.
1)  Assistir  é transitivo direto no sentido de  ajudar, prestar Você procede muito mal.
assistência a, auxiliar. Por Exemplo:
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. 2) Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição”
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. de”) e  fazer, executar  (rege complemento introduzido pela
preposição “a”) é transitivo indireto.
2) Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presenciar, O avião procede de Maceió.
estar presente, caber, pertencer. Procedeu-se aos exames.
O delegado procederá ao inquérito.
Exemplos:
Assistimos ao documentário. QUERER
Não assisti às últimas sessões. 1)  Querer  é transitivo direto no sentido de  desejar, ter
Essa lei assiste ao inquilino. vontade de, cobiçar.
Obs.: no sentido de  morar, residir,  o verbo  “assistir”  é Querem melhor atendimento.
intransitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de lugar Queremos um país melhor.
introduzido pela preposição “em”.
Assistimos numa conturbada cidade. 2)  Querer  é transitivo indireto no sentido de  ter afeição,
estimar, amar.
CHAMAR Quero muito aos meus amigos.
1)  Chamar  é transitivo direto no sentido de  convocar, Ele quer bem à linda menina.
solicitar a atenção ou a presença de. Despede-se o filho que muito lhe quer.
Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá chamá-la.
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. VISAR
1)  Como transitivo direto, apresenta os sentidos de  mirar,
2)  Chamar  no sentido de  denominar, apelidar  pode fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo O homem visou o alvo.
preposicionado ou não. O gerente não quis visar o cheque.
A torcida chamou o jogador mercenário.
A torcida chamou ao jogador mercenário. 2)  No sentido de  ter em vista, ter como meta, ter como
A torcida chamou o jogador de mercenário. objetivo, é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
A torcida chamou ao jogador de mercenário. O ensino deve sempre visar ao progresso social.
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
CUSTAR público.
1) Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor Questões
ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial.
Frutas e verduras não deveriam custar muito. 01. Todas as alternativas estão corretas quanto ao emprego
correto da regência do verbo, EXCETO:
2) No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo ou (A) Faço entrega em domicílio.
transitivo indireto. (B) Eles assistem o espetáculo.
Muito custa          viver tão longe da família. (C) João gosta de frutas.
            Verbo   Oração Subordinada Substantiva Subjetiva  (D) Ana reside em São Paulo.
       Intransitivo                       Reduzida de Infinitivo (E) Pedro aspira ao cargo de chefe.

Custa-me (a mim)  crer que tomou realmente aquela atitude. 02. Assinale a opção em que o verbo
        Objeto                 Oração Subordinada Substantiva Subjetiva  chamar é empregado com o mesmo sentido que
        Indireto                                     Reduzida de Infinitivo apresenta em __ “No dia em que o chamaram de Ubirajara,
Quaresma ficou reservado, taciturno e mudo”:
Obs.: a Gramática Normativa condena as construções que (A) pelos seus feitos, chamaram-lhe o salvador da pátria;
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por pessoa. (B) bateram à porta, chamando Rodrigo;
Observe o exemplo abaixo: (C) naquele momento difícil, chamou por Deus e pelo Diabo;
Custei para entender o problema.  (D) o chefe chamou-os para um diálogo franco;
Forma correta: Custou-me entender o problema. (E) mandou chamar o médico com urgência.

IMPLICAR 03. A regência verbal está correta na alternativa:


1) Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos: (A) Ela quer namorar com o meu irmão.
a) dar a entender, fazer supor, pressupor (B) Perdi a hora da entrevista porque fui à pé.
Suas atitudes implicavam um firme propósito. (C) Não pude fazer a prova do concurso porque era de menor.
(D) É preferível ir a pé a ir de carro.
b)  Ter como consequência, trazer como consequência,
acarretar, provocar 04. Em todas as alternativas, o verbo grifado foi empregado
Liberdade de escolha implica amadurecimento político de um com regência certa, exceto em:
povo. (A) a vista de José Dias lembrou-me o que ele me dissera.
2) Como transitivo direto e indireto, significa comprometer, (B) estou deserto e noite, e aspiro sociedade e luz.
envolver (C) custa-me dizer isto, mas antes peque por excesso;
Implicaram aquele jornalista em questões econômicas. (D) redobrou de intensidade, como se obedecesse a voz do
mágico;
Obs.: no sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo (E) quando ela morresse, eu lhe perdoaria os defeitos.
indireto e rege com preposição “com”.
Implicava com quem não trabalhasse arduamente.

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APOSTILAS OPÇÃO
05. A regência verbal está INCORRETA em: Generoso com
(A) Proibiram-no de fumar. Propício a
(B) Ana comunicou sua mudança aos parentes mais íntimos. Benéfico a
(C) Prefiro Português a Matemática. Grato a, por
(D) A professora esqueceu da chave de sua casa no carro da Próximo a
amiga. Capaz de, para
(E) O jovem aspira à carreira militar. Hábil em
Relacionado com
Respostas Compatível com
01. B\02. A\03. D\04. B\05. D Habituado a
Relativo a
Regência Nominal Contemporâneo a, de
    Idêntico a
É o nome da relação existente entre um nome (substantivo,
adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa Advérbios
relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo
da regência nominal, é preciso levar em conta que vários nomes Longe de Perto de
apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que
derivam. Conhecer o regime de um verbo significa, nesses casos, Obs.: os advérbios terminados em  -mente tendem a seguir
conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
Verbo  obedecer  e os nomes correspondentes: todos regem paralelamente a; relativa a; relativamente a.
complementos introduzidos pela preposição «a”.Veja:
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém. Questões

Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados 01. Assinale a alternativa em que a preposição “a” não deva
da preposição ou preposições que os regem. Observe-os ser empregada, de acordo com a regência nominal.
atentamente e procure, sempre que possível, associar esses
nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece. (A) A confiança é necessária ____ qualquer relacionamento.
(B) Os pais de Pâmela estão alheios ____ qualquer decisão.
Substantivos (C) Sirlene tem horror ____ aves.
(D) O diretor está ávido ____ melhores metas.
Admiração a, por (E) É inegável que a tecnologia ficou acessível ____ toda
Devoção a, para, com, por população.
Medo a, de
Aversão a, para, por 02. Quanto a amigos, prefiro João.....Paulo,.....quem sinto......
Doutor em simpatia.
Obediência a
Atentado a, contra (A) a, por, menos
Dúvida acerca de, em, sobre (B) do que, por, menos
Ojeriza a, por (C) a, para, menos
Bacharel em (D) do que, com, menos
Horror a (E) do que, para, menos
Proeminência sobre
Capacidade de, para 03. Assinale a opção em que todos adjetivos podem ser
Impaciência com seguidos pela mesma preposição:
Respeito a, com, para com, por
(A) ávido, bom, inconsequente
Adjetivos (B) indigno, odioso, perito
Acessível a (C) leal, limpo, oneroso
Diferente de (D) orgulhoso, rico, sedento
Necessário a (E) oposto, pálido, sábio
Acostumado a, com
Entendido em 04. “As mulheres da noite,......o poeta faz alusão a colorir
Nocivo a Aracaju,........coração bate de noite, no silêncio”. A opção que
Afável com, para com completa corretamente as lacunas da frase acima é:
Equivalente a
Paralelo a (A) as quais, de cujo
Agradável a (B) a que, no qual
Escasso de (C) de que, o qual
Parco em, de (D) às quais, cujo
Alheio a, de (E) que, em cujo
Essencial a, para
Passível de 05. Com relação à Regência Nominal, indique a alternativa
Análogo a em que esta foi corretamente empregada.
Fácil de
Preferível a (A) A colocação de cartazes na rua foi proibida.
Ansioso de, para, por (B) É bom aspirar ao ar puro do campo.
Fanático por (C) Ele foi na Grécia.
Prejudicial a (D) Obedeço o Código de Trânsito.
Apto a, para
Favorável a Respostas
Prestes a 01. D\02. A\03. D\04. D\05. A
Ávido de

Língua Portuguesa 62
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APOSTILAS OPÇÃO
Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e
diferentes na escrita.
11 Significação das palavras. - Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir).
- Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar).
- Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de
Significação das palavras consertar).
- Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar).
Na língua portuguesa, uma PALAVRA (do latim parabola, que - Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar).
por sua vez deriva do grego parabolé) pode ser definida como - Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar).
sendo um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente - Censo (recenseamento) e senso (juízo).
com a ideia associada a este conjunto. - Cerrar (fechar) e serrar (cortar).
- Paço (palácio) e passo (andar).
Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproximado. - Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo).
Exemplo: - Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar =
- Alfabeto, abecedário. anular).
- Brado, grito, clamor. - Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão
- Extinguir, apagar, abolir, suprimir. (tempo de uma reunião ou espetáculo).
- Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial.
Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pronúncia.
pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os - Caminhada (substantivo), caminhada (verbo).
sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por - Cedo (verbo), cedo (advérbio).
matizes de significação e certas propriedades que o escritor não - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir).
pode desconhecer. Com efeito, estes têm sentido mais amplo, - Livre (adjetivo), livre (verbo livrar).
aqueles, mais restrito (animal e quadrúpede); uns são próprios - Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).
da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés, pertencem - Alude (avalancha), alude (verbo aludir).
à esfera da linguagem culta, literária, científica ou poética
(orador e tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo). Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na
A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, pronúncia: Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente,
em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos: tetânico e titânico, atoar e atuar, degradar e degredar, cético e
- Adversário e antagonista. séptico, prescrever e proscrever, descrição e discrição, infligir
- Translúcido e diáfano. (aplicar) e infringir (transgredir), osso e ouço, sede (vontade
- Semicírculo e hemiciclo. de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e cumprimento,
- Contraveneno e antídoto. deferir (conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente,
- Moral e ética. divergir, adiar), ratificar (confirmar) e retificar (tornar reto,
- Colóquio e diálogo. corrigir), vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e
- Transformação e metamorfose. vultuoso (congestionado: rosto vultuoso).
- Oposição e antítese.
O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinonímia, Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma significação.
palavra que também designa o emprego de sinônimos. A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos:
- Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as
Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos: plantas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de
- Ordem e anarquia. gado.
- Soberba e humildade. - Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó.
- Louvar e censurar. - Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao véu
- Mal e bem. do palato.
Podemos citar ainda, como exemplos de palavras
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido polissêmicas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que
oposto ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/ têm dezenas de acepções.
antipático, progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/
implícito, ativo/inativo, esperar/desesperar, comunista/ Sentido Próprio e Figurado das Palavras
anticomunista, simétrico/assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial. Pela própria definição acima destacada podemos perceber
que a palavra é composta por duas partes, uma delas relacionada
Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às a sua forma escrita e os seus sons (denominada significante) e a
vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exemplos: outra relacionada ao que ela (palavra) expressa, ao conceito que
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). ela traz (denominada significado).
- Aço (substantivo) e asso (verbo). Em relação ao seu SIGNIFICADO as palavras subdividem-se
Só o contexto é que determina a significação dos homônimos. assim:
A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por isso é - Sentido Próprio - é o sentido literal, ou seja, o sentido comum
considerada uma deficiência dos idiomas. que costumamos dar a uma palavra.
O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto - Sentido Figurado -  é o sentido  “simbólico”,  “figurado”, que
fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em: podemos dar a uma palavra.
Vamos analisar a palavra  cobra utilizada em diferentes
Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes contextos:
no timbre ou na intensidade das vogais. 1. A cobra picou o menino. (cobra = tipo de réptil peçonhento)
- Rego (substantivo) e rego (verbo). 2. A sogra dele é uma cobra. (cobra = pessoa desagradável, que
- Colher (verbo) e colher (substantivo). adota condutas pouco apreciáveis)
- Jogo (substantivo) e jogo (verbo). 3. O cara é cobra em Física! (cobra = pessoa que conhece muito
- Apoio (verbo) e apoio (substantivo). sobre alguma coisa, “expert”)
- Para (verbo parar) e para (preposição). No item 1 aplica-se o termo cobra em seu sentido comum
- Providência (substantivo) e providencia (verbo). (ou literal); nos itens 2 e 3 o termo cobra é aplicado em sentido
- Às (substantivo), às (contração) e as (artigo). figurado.
- Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de Podemos então concluir que um mesmo significante (parte
per+o). concreta) pode ter vários significados (conceitos).

Língua Portuguesa 63
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APOSTILAS OPÇÃO
Fonte: das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que toda aquela
http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/oficial-de-justica-tjm- gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres
sp/lingua-portuguesa-sentido-proprio-e-figurado-das-palavras.html bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os
rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos molambos
Denotação e Conotação em tiras não encobriam lanhos, escaras e escalavros – a vitória
- Denotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o tão longamente apetecida decaía de súbito. Repugnava aquele
seu significado primitivo e original, com o sentido do dicionário; triunfo. Envergonhava. Era, com efeito, contraproducente
usada de modo automatizado; linguagem comum. Veja este compensação a tão luxuosos gastos de combates, de reveses e de
exemplo: milhares de vidas, o apresamento daquela caqueirada humana –
Cortaram as asas da ave para que não voasse mais. do mesmo passo angulhenta e sinistra, entre trágica e imunda,
passando-lhes pelos olhos, num longo enxurro de carcaças e
Aqui a palavra em destaque é utilizada em seu sentido molambos...
próprio, comum, usual, literal. Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender
- DICA - Procure associar Denotação com Dicionário: trata- uma arma, nem um peito resfolegante de campeador domado:
se de definição literal, quando o termo é utilizado em seu sentido mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais,
dicionarístico. moças envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma
- Conotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris
seu significado secundário, com o sentido amplo (ou simbólico); desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos
usada de modo criativo, figurado, numa linguagem rica e aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando;
expressiva. Veja este exemplo: crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de
Seria aconselhável cortar as asas deste menino, antes que velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e
seja tarde mais. mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.
Já neste caso o termo (asas) é empregado de forma figurada,
fazendo alusão à ideia de restrição e/ou controle de ações; (CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos.
disciplina, limitação de conduta e comportamento. Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.)

Questões Em qual das alternativas abaixo NÃO há um par de sinônimos?


a) Armistício – destruição
01. McLuhan já alertava que a aldeia global resultante das b) Claudicante – manco
mídias eletrônicas não implica necessariamente harmonia, c) Reveses – infortúnios
implica, sim, que cada participante das novas mídias terá um d) Fealdade – feiura
envolvimento gigantesco na vida dos demais membros, que terá e) Opilados – desnutridos
a chance de meter o bedelho onde bem quiser e fazer o uso que
quiser das informações que conseguir. A aclamada transparência 03. Atento ao emprego dos Homônimos, analise as palavras
da coisa pública carrega consigo o risco de fim da privacidade sublinhadas e identifique a alternativa CORRETA: 
e a superexposição de nossas pequenas ou grandes fraquezas a) Ainda vivemos no Brasil a  descriminação  racial. Isso é
morais ao julgamento da comunidade de que escolhemos crime! 
participar. b) Com a crise política, a renúncia já parecia eminente.
Não faz sentido falar de dia e noite das redes sociais, apenas c) Descobertas as manobras fiscais, os políticos irão
em número de atualizações nas páginas e na capacidade dos agora expiar seus crimes. 
usuários de distinguir essas variações como relevantes no d) Em todos os momentos, para agir corretamente, é preciso
conjunto virtualmente infinito das possibilidades das redes. Para o bom censo. 
achar o fio de Ariadne no labirinto das redes sociais, os usuários e) Prefiro macarronada com molho, mas sem  estrato de
precisam ter a habilidade de identificar e estimar parâmetros, tomate. 
aprender a extrair informações relevantes de um conjunto finito
de observações e reconhecer a organização geral da rede de que 04. Assinale a alternativa em que as palavras podem servir
participam. de exemplos de parônimos:
O fluxo de informação que percorre as artérias das redes a) Cavaleiro (Homem a cavalo) – Cavalheiro (Homem gentil).
sociais é um poderoso fármaco viciante. Um dos neologismos b) São (sadio) – São (Forma reduzida de Santo).
recentes vinculados à dependência cada vez maior dos jovens c) Acento (sinal gráfico) – Assento (superfície onde se senta).
a esses dispositivos é a “nomobofobia” (ou “pavor de ficar sem d) Nenhuma das alternativas.
conexão no telefone celular”), descrito como a ansiedade e o
sentimento de pânico experimentados por um número crescente 05. Na língua portuguesa, há muitas palavras parecidas,
de pessoas quando acaba a bateria do dispositivo móvel ou seja no modo de falar ou no de escrever. A palavra sessão, por
quando ficam sem conexão com a Internet. Essa informação, exemplo, assemelha-se às palavras cessão e seção, mas cada
como toda nova droga, ao embotar a razão e abrir os poros da uma apresenta sentido diferente. Esse caso, mesmo som, grafias
sensibilidade, pode tanto ser um remédio quanto um veneno diferentes, denomina-se homônimo homófono. Assinale a
para o espírito. alternativa em que todas as palavras se encontram nesse caso.
(Vinicius Romanini, Tudo azul no universo das redes. a) taxa, cesta, assento
Revista USP, no 92. Adaptado) b) conserto, pleito, ótico
c) cheque, descrição, manga
As expressões destacadas nos trechos –  meter o bedelho d) serrar, ratificar, emergir
/ estimar  parâmetros / embotar a razão – têm sinônimos
adequados respectivamente em: 06. A fuga dos rinocerontes
a) procurar / gostar de / ilustrar Espécie ameaçada de extinção escapa dos caçadores da
b) imiscuir-se / avaliar / enfraquecer maneira mais radical possível – pelo céu.
c) interferir / propor / embrutecer
d) intrometer-se / prezar / esclarecer Os rinocerontes-negros estão entre os bichos mais visados
e) contrapor-se / consolidar / iluminar da África, pois sua espécie é uma das preferidas pelo turismo de
caça. Para tentar salvar alguns dos 4.500 espécimes que ainda
02. A entrada dos prisioneiros foi comovedora (...) Os restam na natureza, duas ONG ambientais apelaram para uma
combatentes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam- solução extrema: transportar os rinocerontes de helicóptero. A
se; comoviam-se. O arraial, in extremis, punhalhes adiante, ação utilizou helicópteros militares para remover 19 espécimes –
naquele armistício transitório, uma legião desarmada, com 1,4 toneladas cada um – de seu habitat original, na província
mutilada faminta e claudicante, num assalto mais duro que o de Cabo Oriental, no sudeste da África do Sul, e transferi-los para

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APOSTILAS OPÇÃO
a província de Lampopo, no norte do país, a 1.500 quilômetros Ela sempre pertenceu ao segundo tipo de pessoa. Sempre teve
de distância, onde viverão longe dos caçadores. Como o trajeto tempo de sobra, por isso sempre leu romances longos, e passou
tem áreas inacessíveis de carro, os rinocerontes tiveram de tardes longas vendo pela milésima vez a segunda temporada de
voar por 24 quilômetros. Sedados e de olhos vendados (para “Grey’s Anatomy” mas, por ter tempo demais, acabava sobrando
evitar sustos caso acordassem), os rinocerontes foram içados tempo demais para se preocupar com uma hérnia imaginária,
pelos tornozelos e voaram entre 10 e 20 minutos. Parece meio ou para tentar fazer as pazes com pessoas que nem sabiam que
brutal? Os responsáveis pela operação dizem que, além de mais estavam brigadas com ela, ou escrever cartas longas dentro da
eficiente para levar os paquidermes a locais de difícil acesso, o cabeça para o ex-namorado, os pais, o país, ou culpar o sol ou
procedimento é mais gentil. a chuva, ou comentar “e esse calor dos infernos?”, achando que
(BADÔ, F. A fuga dos rinocerontes a culpa é do mau tempo quando na verdade a culpa é da sobra
Superinteressante, nº 229, 2011.) de tempo, porque se ela não tivesse tanto tempo não teria nem
tempo para falar do tempo.
A palavra radical pode ser empregada com várias acepções, Quando se conheceram, ele percebeu que não adiantava
por isso denomina-se polissêmica. Assinale o sentido correr atrás do tempo porque o tempo sempre vai correr mais
dicionarizado que é mais adequado no contexto acima. rápido, e ela percebeu que às vezes é bom correr para pensar
a) Que existe intrinsecamente num indivíduo ou coisa. menos, e pensar menos é uma maneira de ser feliz, e ambos
b) Brusco; violento; difícil. perceberam que a felicidade é uma questão de tempo. Questão
c) Que não é tradicional, comum ou usual. de ter tempo o suficiente para ser feliz, mas não o bastante para
d) Que exige destreza, perícia ou coragem. perceber que essa felicidade não faz o menor sentido.
(Gregório Duvivier. Folha de S.
07. O gavião Paulo, 30.11.2015. Adaptado)

Gente olhando para o céu: não é mais disco voador. Disco É correto afirmar que o título do texto tem sentido
voador perdeu o cartaz com tanto satélite beirando o sol e a lua. a) próprio, indicando os obstáculos que cada personagem
Olhamos todos para o céu em busca de algo mais sensacional e encontra quando depara com o tempo.
comovente – o gavião malvado, que mata pombas. b) próprio, fazendo referência às reações das pessoas às
O centro da cidade do Rio de Janeiro retorna assim à atitudes das personagens.
contemplação de um drama bem antigo, e há o partido das c) figurado, indicando que o tempo é intangível, pouco
pombas e o partido do gavião. Os pombistas ou pombeiros importando as consequências de subestimá-lo.
(qualquer palavra é melhor que “columbófilo”) querem matar d) figurado, indicando o contraste na maneira como as
o gavião. Os amigos deste dizem que ele não é malvado tal; na personagens se relacionam com o tempo.
verdade come a sua pombinha com a mesma inocência com que e) figurado, se associado a “ele”, mas próprio, se associado a
a pomba come seu grão de milho. “ela”, pois se trata do tempo real.
Não tomarei partido; admiro a túrgida inocência das pombas
e também o lance magnífico em que o gavião se despenca sobre 09. A entrada dos prisioneiros foi comovedora (...) Os
uma delas. Comer pombas é, como diria Saint-Exupéry, “a combatentes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam-
verdade do gavião”, mas matar um gavião no ar com um belo tiro se; comoviam-se. O arraial, in extremis, punhalhes adiante,
pode também ser a verdade do caçador. naquele armistício transitório, uma legião desarmada,
Que o gavião mate a pomba e o homem mate alegremente o mutilada faminta e claudicante, num assalto mais duro que o
gavião; ao homem, se não houver outro bicho que o mate, pode das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que toda aquela
lhe suceder que ele encontre seu gavião em outro homem. gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres
                     bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os
 (Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana, 1999. Adaptado) rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos molambos
em tiras não encobriam lanhos, escaras e escalavros – a vitória
O termo gavião, destacado em sua última ocorrência no tão longamente apetecida decaía de súbito. Repugnava aquele
texto – … pode lhe suceder que ele encontre seu gavião em outro triunfo. Envergonhava. Era, com efeito, contraproducente
homem. –, é empregado com sentido compensação a tão luxuosos gastos de combates, de reveses e de
a) próprio, equivalendo a inspiração. milhares de vidas, o apresamento daquela caqueirada humana –
b) próprio, equivalendo a conquistador. do mesmo passo angulhenta e sinistra, entre trágica e imunda,
c) figurado, equivalendo a ave de rapina. passando-lhes pelos olhos, num longo enxurro de carcaças e
d) figurado, equivalendo a alimento. molambos...
e) figurado, equivalendo a predador. Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender
uma arma, nem um peito resfolegante de campeador domado:
08. CONTRATEMPOS mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais,
moças envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma
Ele nunca entendeu o tédio, essa impressão de que existem fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris
mais horas do que coisas para se fazer com elas. Sempre faltou desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos
tempo para tanta coisa: faltou minuto para tanta música, faltou aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando;
dia para tanto sol, faltou domingo para tanta praia, faltou noite crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de
para tanto filme, faltou ano para tanta vida. velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e
Existem dois tipos de pessoa. As pessoas com mais coisa que mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.
tempo e as pessoas com mais tempo que coisas para fazer com
o tempo. (CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos.
As pessoas com menos tempo que coisa são as que buzinam Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.)
assim que o sinal fica verde, e ficam em pé no avião esperando
a porta se abrir, e empurram e atropelam as outras para entrar Em qual dos trechos foi empregada palavra ou expressão em
primeiro no vagão do trem, e leem livros que enumeram os sentido conotativo?
“livros que você tem que ler antes de morrer” ao invés de ler a) “A entrada dos prisioneiros foi comovedora”
diretamente os livros que você tem de ler antes de morrer. b) “Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender
Esse é o caso dele, que chega ao trabalho perguntando onde uma arma, nem um peito resfolegante...”
é a festa, e chega à festa querendo saber onde é a próxima, e c) “Era, com efeito, contraproducente compensação a tão
chega à próxima festa pedindo táxi para a outra, e chega à outra luxuosos gastos de combates...”
percebendo que era melhor ter ficado na primeira, e quando d) “...os arcabouços esmirrados e sujos...”
chega a casa já está na hora de ir para o trabalho. e) “faces túmidas e mortas, de cera, bustos dobrados, andar
cambaleante”

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APOSTILAS OPÇÃO
10. O termo (ou expressão) em destaque, que está empregado
em seu sentido próprio, denotativo, ocorre em:
a) Estou morta de cansada.
b) Aquela mulher fala mal de todos na vizinhança! É
uma cobra.
c) Todo cuidado é pouco. As paredes têm ouvidos.
d) Reclusa desde que seu cachorrinho  morreu, Filomena
finalmente saiu de casa ontem.
e) Minha amiga é tão agitada! A bateria dela nunca acaba!

Respostas
01. B\02. A\03. C\04. A\05. A\06. C\07. E\08. D\09.
E\10. D

Anotações

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LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE
DADOS E INDICADORES
EDUCACIONAIS

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APOSTILAS OPÇÃO

escolar. Não existe um padrão ou uma receita única para


uma escola de qualidade. Qualidade é um conceito
dinâmico, reconstruído constantemente. Cada escola tem
autonomia para refletir, propor e agir na sua busca pela
qualidade da educação.
Os Indicadores da Qualidade na Educação foram criados
para ajudar a comunidade escolar a avaliar e melhorar a
qualidade da escola. Este é seu objetivo principal.
Leitura e interpretação de Compreendendo seus pontos fortes e fracos, a escola tem
condições de intervir para melhorar sua qualidade conforme
dados e indicadores seus próprios critérios e prioridades. Para tanto, identificamos
educacionais envolvendo dados sete elementos fundamentais – aqui nomeados como
e informações referentes à dimensões – que devem ser considerados pela escola na
reflexão de sua qualidade. Para avaliar essas dimensões, foram
matrícula, à taxa de criados alguns sinalizadores de qualidade de aspectos
atendimento escolar, às taxas importantes da realidade escolar: os indicadores.
de escolarização líquida e Com um bom conjunto de indicadores tutelares, de
bruta, à taxa de distorção educação, dos direitos da criança, tem-se, de forma simples e
acessível, organizações não-governamentais (ONGs), um
idade-série, às taxas de quadro de sinais que possibilitam órgãos públicos e
rendimento (aprovação, universidades, enfim, toda diretores, alunos, funcionários,
reprovação e abandono), aos conselheiros.
resultados do Sistema O que são os indicadores da qualidade na educação?1
Permanente de Avaliação da Os Indicadores da Qualidade na Educação constituem
Educação Básica do Ceará - uma proposta metodológica de autoavaliação
SPAECE, do Sistema de participativa capaz de mobilizar e envolver os diferentes
atores da escola – estudantes, professores/as, gestores/as,
Avaliação da Educação Básica - familiares, funcionários/as, representantes de
SAEB, Exame Nacional do organizações locais etc. – em discussões sobre a qualidade
Ensino Médio - ENEM, Índice de da educação escolar. A metodologia foi desenvolvida por um
Desenvolvimento da Educação conjunto amplo de instituições parceiras e envolveu o esforço
de especialistas, profissionais de educação, gestores e ativistas
Básica - IDEB, Programa da sociedade civil comprometidos com a garantia do direito
Internacional de Avaliação de humano à educação no Brasil.
Alunos - PISA; leitura e A coleção Indicadores busca fomentar a disseminação e o
enraizamento de processos participativos e democráticos de
interpretação de dados avaliação, planejamento e monitoramento de práticas e
apresentados em tabelas, políticas educacionais. O primeiro Indicadores a ser criado foi
gráficos e mapas; resolução de o do Ensino Fundamental (2004), seguido dos Indicadores de
problemas que envolvam o Qualidade na Educação Infantil (2008) e, depois o Indicadores
de Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola (2013).
cálculo de porcentagem com Este último aborda o racismo como um grande obstáculo –
dados fornecidos em diferentes ainda negado e invisibilizado – à melhoria da qualidade
formatos. educacional.
Os Indicadores constituem uma proposta de avaliação cujo
conceito de qualidade na educação destaca as condições
A Qualidade da Nossa Escola concretas do atendimento educacional (infraestrutura,
condições de trabalho dos/das profissionais de educação,
É muito comum ouvir que o ensino público no Brasil é de número de estudantes por turma etc.), os processos de
má qualidade. Mas o que é qualidade? Será que uma escola realização do trabalho nas unidades educacionais (tempo de
considerada de qualidade cem anos atrás ainda hoje seria vista trabalho coletivo, formação continuada de profissionais de
assim? Será que uma escola boa para a população que vive no educação, gestão democrática, planejamento e avaliação etc.)
interior da floresta amazônica também é boa para quem mora e a relação entre esses e os resultados educacionais que se
nos centros urbanos? almeja. Ela é ancorada na participação da comunidade escolar
Como todos vivemos num mesmo país e num mesmo e tem em vista os desafios referentes à superação das
tempo histórico, é provável que compartilhemos muitas desigualdades e das discriminações nas instituições
noções gerais sobre o que é uma escola de qualidade. A educativas.
maioria das pessoas certamente concorda com o fato de
que uma escola boa é aquela em que os alunos aprendem Como utilizar os Indicadores da Qualidade na Educação
coisas essenciais para sua vida, como ler e escrever, Não existe uma forma única para o uso dos Indicadores da
resolver problemas matemáticos, conviver com os colegas, Qualidade da Educação. Este é um instrumento flexível que
respeitar regras, trabalhar em grupo. Quem pode definir pode ser usado de acordo com a criatividade e a experiência de
bem esse conceito de qualidade na escola e ajudar nas cada escola. Contudo, apresentaremos algumas dicas, que
orientações gerais sobre essa qualidade, de acordo com os podem ser adaptadas. Recomendamos que a escola constitua
contextos socioculturais locais, é a própria comunidade uma equipe para organizar o processo, planejar como será
feita a mobilização da comunidade, providenciar os materiais

1 Ação Educativa. O uso dos Indicadores da Qualidade na Educação na

construção e revisão participativas de Planos de Educação. São Paulo: Ação


Educativa, 2013.

Leitura e Interpretação de Dados 1


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necessários e preparar espaços para as reuniões dos grupos, a todas as perguntas sejam respondidas, buscando chegar,
plenária final e também as atividades relativas ao depois da discussão, a consensos sobre a situação da escola em
planejamento. A mobilização da comunidade escolar para relação aos indicadores ou identificando as opiniões
participar da avaliação é o primeiro ponto importante no uso conflitantes quando não for possível estabelecer um consenso.
dos Indicadores. Quanto mais segmentos e pessoas O relator será responsável por tomar nota e expor na plenária
participarem da avaliação da escola e se engajarem em ações o resultado da discussão do grupo. As perguntas referem-se a
para sua melhoria, maiores serão os ganhos para a sociedade ações, atitudes ou situações que mostram como está a escola
e para a educação. É fundamental que as pessoas sejam em relação ao tema abordado pelo indicador.
preparadas para o debate que se fará em torno da qualidade A qualidade da educação: perspectivas e desafios2
da escola. Professores, diretores e coordenadores pedagógicos O delineamento e a explicitação de dimensões, fatores e
normalmente estão mais familiarizados com os termos indicadores de qualidade da educação e da escola têm ganhado
utilizados na área da educação. Mas o mesmo pode não importância, mesmo que, em alguns casos, como mera
acontecer com pais, mães, alunos e outros funcionários da retórica, na agenda de governos, movimentos sociais, pais,
escola. Por isso, é muito importante que todos os segmentos estudantes e pesquisadores do campo da educação. Nessa
da comunidade sejam convidados a participar, não somente direção, no caso brasileiro, ressalta-se que a efetivação de uma
aqueles mais atuantes no dia-a-dia. A escola deve usar escola de qualidade se apresenta como um complexo e grande
criatividade para mobilizar pais, alunos, professores, desafio. No Brasil, nas últimas décadas, registram-se avanços
funcionários e outras pessoas da comunidade para o debate em termos de acesso e cobertura, sobretudo no caso do ensino
sobre sua qualidade. Cartas para os pais, faixa na frente da fundamental. Tal processo carece, contudo, de melhoria no
escola, divulgação no jornal ou na rádio local e discussão da tocante a uma aprendizagem mais efetiva.
proposta em sala de aula são algumas possibilidades. É Debater tais questões remete à apreensão de um conjunto
fundamental que as pessoas sejam preparadas para o debate de determinantes que interferem, nesse processo, no âmbito
que se fará em torno da qualidade da escola. Professores, das relações sociais mais amplas, envolvendo questões
diretores e coordenadores pedagógicos normalmente estão macroestruturais, como concentração de renda, desigualdade
mais familiarizados com os termos utilizados na área da social, educação como direito, entre outras. Envolve,
educação. Mas o mesmo pode não acontecer com pais, mães, igualmente, questões concernentes à análise de sistemas e
alunos e outros funcionários da escola. Por isso, é importante unidades escolares, bem como ao processo de organização e
que se garanta uma apropriação, por parte de toda a gestão do trabalho escolar, que implica questões como
comunidade escolar, dos objetivos dos Indicadores da condições de trabalho, processos de gestão da escola, dinâmica
Qualidade na Educação e dos principais conceitos utilizados. curricular, formação e profissionalização docente. Em outras
Uma boa explicação sobre a atividade a ser realizada, sobre o palavras, é fundamental ressaltar que a educação se articula
conteúdo e os objetivos desta publicação nas salas de aulas, a diferentes dimensões e espaços da vida social sendo, ela
além de outros espaços da escola, pode ser um caminho própria, elemento constitutivo e constituinte das relações
interessante. Assim, os alunos participarão com mais sociais mais amplas. A educação, portanto, é perpassada
propriedade e poderão ser estimulados a pensar em como dar pelos limites e possibilidades da dinâmica pedagógica,
as explicações necessárias aos pais e a outros membros da econômica, social, cultural e política de uma dada
comunidade escolar antes do dia previsto para a discussão. sociedade.
Para tanto, será necessário fazer uma reunião prévia com
professores, coordenadores pedagógicos e funcionários. É Qualidade da educação ou da escola: situando o
importante também conversar com o Conselho Escolar e horizonte analítico
torná-lo parceiro na realização da ação. O Conselho também A discussão acerca da qualidade da educação remete à
pode facilitar o diálogo com os pais e as mães. Este definição do que se entende por educação. Para alguns, ela se
instrumento foi elaborado com base em elementos da restringe às diferentes etapas de escolarização que se
qualidade da escola: as dimensões. São sete dimensões: apresentam de modo sistemático por meio do sistema escolar.
ambiente educativo, prática pedagógica e avaliação, ensino e Para outros, a educação deve ser entendida como espaço
aprendizagem da leitura e da escrita, gestão escolar múltiplo, que compreende diferentes atores, espaços e
democrática, formação e condições de trabalho dos profissionais dinâmicas formativas, efetivado por meio de processos
da escola, espaço físico escolar e, por fim, acesso, permanência e sistemáticos e assistemáticos. Tal concepção vislumbra as
sucesso na escola. possibilidades e os limites interpostos a essa prática e sua
A qualidade da escola envolve essas dimensões, mas relação de subordinação aos macroprocessos sociais e
certamente deve haver outras. Cada uma dessas dimensões é políticos delineados pelas formas de sociabilidade vigentes.
constituída por um grupo de indicadores. Os indicadores, por Nessa direção, a educação é entendida como elemento
sua vez, são avaliados por perguntas a serem respondidas constitutivo e constituinte das relações sociais mais amplas,
coletivamente. A resposta a essas perguntas permite à contribuindo, contraditoriamente, desse modo, para a
comunidade escolar avaliar a qualidade da escola quanto transformação e a manutenção dessas relações.
àquele indicador, se a situação é boa, média ou ruim. É a Com essa compreensão, este estudo situa a escola como
avaliação dos indicadores que leva à avaliação da dimensão espaço institucional de produção e de disseminação, de modo
como um todo. Nossa proposta é de que os participantes da sistemático, do saber historicamente produzido pela
comunidade escolar sejam divididos em grupos por humanidade. Assim, sem secundarizar a importância dos
dimensões. Se houver número suficiente de pessoas, cada diferentes espaços e atores formativos (a família, o movimento
grupo pode se encarregar de uma dimensão. Caso contrário, social, a igreja, a mídia etc.), busca-se situar a discussão
um mesmo grupo pode trabalhar com duas ou três dimensões. relativa à qualidade, tendo por norte pedagógico a função
Para viabilizar a participação de todos na discussão, é social da escola.
conveniente que os grupos não tenham mais de vinte pessoas. Que conceitos, representações ou concepções sinalizam
Cada grupo deve ser composto por representantes dos vários uma escola de qualidade? Quais são os principais conceitos e
segmentos da comunidade escolar, elegendo um coordenador definições que embasam os estudos, as práticas e as políticas
e um relator. O coordenador cuidará, primeiramente, para que educativas, bem como as dimensões e os fatores que apontam

2 DOURADO, L.F.; OLIVEIRA, J. F. de. A qualidade da educação: perspectivas e

desafios. Cad. Cedes, Campinas/2009.

Leitura e Interpretação de Dados 2


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APOSTILAS OPÇÃO

a construção de uma educação de qualidade? É possível uma país em que os indicadores educacionais revelam enormes
escola de qualidade para todos? Tais questões revelam a disparidades?
complexidade da temática da qualidade no campo educativo. Em análise anterior, Dourado, Oliveira e Santos
Nessa direção, um primeiro aspecto a ser ressaltado é que apresentam reflexões acerca da qualidade da educação, com
qualidade é um conceito histórico, que se altera no tempo e no base na revisão de literatura relativa a temática, envolvendo o
espaço, ou seja, o alcance do referido conceito vincula-se às levantamento de estudos, avaliações e pesquisas e, ainda, a
demandas e exigências sociais de um dado processo histórico. contribuição dos países membros das Cúpulas das Américas,
Caso se tome como referência o momento atual, tal perspectiva com base em instrumento de coleta de dados produzido para
implica compreender que embates e visões de mundo se esse fim. No referido estudo, os autores revelam que a
apresentam no cenário atual de reforma do Estado, de qualidade da educação é um fenômeno complexo, abrangente,
rediscussão dos marcos da educação –- como direito social e que envolve múltiplas dimensões, não podendo ser
como mercadoria – entre outros. apreendido apenas por um reconhecimento da variedade e das
Outra questão fundamental consiste em identificar, no quantidades mínimas de insumos indispensáveis ao
âmbito das políticas internacionais, quais são os desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem; nem,
compromissos assumidos pelos diferentes países na área da muito menos, pode ser apreendido sem tais insumos. Em
educação, como tais compromissos se configuram em outros termos, a qualidade da educação envolve dimensões
políticas, programas e ações educacionais e como eles se extra e intraescolares e, nessa ótica, devem se considerar os
materializam no cotidiano escolar. Por outro lado, é diferentes atores, a dinâmica pedagógica, ou seja, os processos
fundamental apreender quais são as políticas indutoras de ensino-aprendizagem, os currículos, as expectativas de
advindas dos referidos organismos multilaterais e que aprendizagem, bem como os diferentes fatores extraescolares
concepções balizam tais políticas. Para tanto, é fundamental que interferem direta ou indiretamente nos resultados
problematizar a ênfase dada à teoria do capital humano, educativos.
sobretudo pelo Banco Mundial, identificando o papel Os autores ressaltam, ainda, com base em revisão
reservado à educação, bem como as diferentes feições bibliográfica de várias pesquisas, a importância de identificar
assumidas por ela no que concerne à escola de qualidade. quais são os elementos objetivos no entendimento do que vem
No tocante à organização da educação nacional, sem a ser uma escola eficaz ou uma escola de qualidade,
perder de vista as injunções internacionais no campo, é procurando compreender os custos básicos de manutenção e
importante compreender o papel dos sistemas e das escolas desenvolvimento. Por outro lado, indicam a importância de
como espaços de regulação e de produção de uma dada identificação das condições objetivas e subjetivas da
dinâmica pedagógica, bem como o papel dos diferentes atores organização e gestão escolar e da avaliação de qualidade da
institucionais ou não do processo de construção das referidas educação, por meio de processos de gestão, da dinâmica
regulações. pedagógica e, consequentemente, do rendimento escolar dos
Tais considerações sinalizam a apreensão de múltiplos estudantes. Nesse contexto, sinalizam que tais elementos
fatores e regulações que permeiam o que supostamente se podem, em parte, ser tratados como aspectos objetivos para a
entende por uma escola de qualidade. construção de condições de qualidade em uma escola
Ao considerar o caso brasileiro, em que a oferta de considerada eficaz ou que produz resultados positivos. Ao
escolarização se efetiva por meio dos entes federados (União, mesmo tempo, alertam que, aliados aos aspectos objetivos,
estado e municípios), com base na estruturação de sistemas merecem destaque as características da gestão financeira,
educativos próprios, pode-se afirmar que tal processo vem se administrativa e pedagógica, os juízos de valor, as
efetivando, historicamente, por intermédio do binômio propriedades que explicitam a natureza do trabalho escolar,
descentralização e desconcentração das ações educativas. Esta bem como a visão dos agentes escolares e da comunidade
constatação revela o quadro complexo, relativo ao referente ao papel e às finalidades da escola e do trabalho nela
estabelecimento de parâmetros de qualidade em um cenário desenvolvido.
desigual e combinado que caracteriza a educação brasileira. Tais considerações ratificam a necessária priorização da
Este cenário é fortemente marcado por desigualdades educação como política pública, a ser efetivamente
regionais, estaduais, municipais e locais e por uma grande assegurada, o que implica: aumento dos recursos destinados à
quantidade de redes e normas nem sempre articuladas. Nesse educação, regulamentação do regime de colaboração entre os
contexto, como avançar para a construção de indicadores entes federados, otimização e maior articulação entre as
comuns? Como assegurar educação de qualidade para todos? políticas e os diversos programas de ações na área; efetivação
Tais questões contribuem para deslindar o cenário da gestão democrática dos sistemas e das escolas,
complexo do quadro nacional e, ao mesmo tempo, permitem, consolidação de programas de formação inicial e continuada,
com base em análise das políticas e programas articulados com a melhoria dos planos de carreira dos
governamentais, identificar a adoção histórica de uma profissionais da educação etc.
determinada lógica político-pedagógica voltada para a Tendo como norte a perspectiva apontada, é importante
ampliação das oportunidades educacionais, por meio da desenvolver uma análise articulada dos diferentes aspectos
inclusão de etapas e modalidades educativas, sem fazer que interferem no processo de construção de uma escola de
avançar, contudo, a adjetivação da qualidade pretendida. qualidade, sem perder de vista a concepção de homem e de
Corroborando tal processo, vale destacar que os sociedade que se almeja construir.
compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, ao lado
de outros chefes de Estado e de governo, buscam qualificar o A construção de uma escola de qualidade socialmente
tipo de educação a ser oferecido. No entanto, a temática da referenciada: dimensões e desafios
qualidade da educação ainda não se faz presente efetivamente A legislação brasileira no campo educacional, com
nos diversos programas, projetos e ações governamentais. destaque para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Considerando esses compromissos, como assegurar (LDB) e para o Plano Nacional da Educação (PNE), revela a
educação inicial a todas as crianças, garantir a educação importância da definição de padrões de qualidade de ensino.
obrigatória e ampliar a oferta de educação secundária para Tal questão apresenta, contudo, dificuldades e diferenças
75% dos jovens (índice estabelecido para o atendimento desse significativas no que concerne à definição de um padrão único
nível de ensino), bem como oferecer oportunidades de de qualidade, envolvendo questões em termos de variedade e
educação continuada de qualidade a toda a população, em um de quantidades mínimas, por aluno-ano, insumos

Leitura e Interpretação de Dados 3


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indispensáveis ao processo de ensino e de aprendizagem, O plano do sistema – condições de oferta do ensino –


custo-aluno, relação aluno-professor etc. refere-se à garantia de instalações gerais adequadas aos
Nesse sentido, sem sinalizar a adoção ou não de padrão padrões de qualidade, definidos pelo sistema nacional de
único de qualidade, entende-se que é fundamental estabelecer educação em consonância com a avaliação positiva dos
a definição de dimensões, fatores e condições de qualidade a usuários; ambiente escolar adequado à realização de
serem considerados como referência analítica e política no atividades de ensino, lazer e recreação, práticas desportivas e
tocante à melhoria do processo educativo e, também, à culturais, reuniões com a comunidade etc.; equipamentos em
consolidação de mecanismos de controle social da produção, à quantidade, qualidade e condições de uso adequadas às
implantação e monitoramento de políticas educacionais e de atividades escolares; biblioteca com espaço físico
seus resultados, visando produzir uma escola de qualidade apropriado para leitura, consulta ao acervo, estudo
socialmente referenciada. individual e/ou em grupo, pesquisa on-line, entre outros;
Com essa compreensão, Darling-Hammond e Ascher acervo com quantidade e qualidade para atender ao
ressaltam que as dimensões e fatores de qualidade da trabalho pedagógico e ao número de alunos existentes na
educação devem expressar relações de: escola; laboratórios de ensino, informática, brinquedoteca,
a) validade – entre os objetivos educacionais e os entre outros, em condições adequadas de uso; serviços de
resultados escolares, não se reduzindo a médias ou similares; apoio e orientação aos estudantes; condições de
b) credibilidade – tendo em vista elementos que possam acessibilidade e atendimento para portadores de
ser confiáveis em termos do universo escolar; necessidades especiais; ambiente escolar dotado de
c) incorruptibilidade – ou melhor, fatores que tenham condições de segurança para alunos, professores,
menor margem de distorção; funcionários, pais e comunidade em geral; programas que
d) comparabilidade – ou seja, aspectos que permitam contribuam para uma cultura de paz na escola; definição
avaliar as condições da escola ao longo do tempo. de custo-aluno anual adequado que assegure condições de
A qualidade da educação, portanto, não se circunscreve a oferta de ensino de qualidade.
médias, em um dado momento, a um aspecto, mas configura- O plano de escola – gestão e organização do trabalho
se como processo complexo e dinâmico, margeado por um escolar – trata da estrutura organizacional compatível com a
conjunto de valores como credibilidade, comparabilidade, finalidade do trabalho pedagógico; planejamento,
entre outros. Ratifica-se, portanto, que qualidade da educação monitoramento e avaliação dos programas e projetos;
é um conceito polissêmico e multifatorial, pois a definição e a organização do trabalho escolar compatível com os
compreensão teórico-conceitual e a análise da situação escolar objetivos educativos estabelecidos pela instituição, tendo
não podem deixar de considerar as dimensões extraescolares em vista a garantia da aprendizagem dos alunos;
que permeiam tal temática. mecanismos adequados de informação e de comunicação
Dourado, Oliveira e Santos traçam um importante cenário entre os todos os segmentos da escola; gestão
para a análise das dimensões intra e extraescolares. democrático participativa, incluindo condições
Inicialmente, definem o horizonte das dimensões administrativas, financeiras e pedagógicas; mecanismos
extraescolares envolvendo dois níveis: o espaço social e as de integração e de participação dos diferentes grupos e
obrigações do Estado. O primeiro refere-se, sobretudo, à pessoas nas atividades e espaços escolares; perfil
dimensão socioeconômica e cultural dos entes envolvidos adequado do dirigente da escola, incluindo formação em
(influência do acúmulo de capital econômico, social e cultural nível superior, forma de provimento ao cargo e
das famílias e dos estudantes no processo de ensino- experiência; projeto pedagógico coletivo da escola que
aprendizagem); a necessidade do estabelecimento de políticas contemple os fins sociais e pedagógicos da escola, a
públicas e projetos escolares para o enfrentamento de atuação e autonomia escolar, as atividades pedagógicas e
questões como fome, drogas, violência, sexualidade, famílias, curriculares, os tempos e espaços de formação;
raça e etnia, acesso à cultura, saúde etc.; a gestão e organização disponibilidade de docentes na escola para todas as
adequada da escola, visando lidar com a situação de atividades curriculares; definição de programas
heterogeneidade sociocultural dos estudantes; a consideração curriculares relevantes aos diferentes níveis, ciclos e
efetiva da trajetória e identidade individual e social dos etapas do processo de aprendizagem; métodos
estudantes, tendo em vista o seu desenvolvimento integral e, pedagógicos apropriados ao desenvolvimento dos
portanto, uma aprendizagem significativa; o estabelecimento conteúdos; processos avaliativos voltados para a
de ações e programas voltados para a dimensão econômica e identificação, monitoramento e solução dos problemas de
cultural, bem como aos aspectos motivacionais que aprendizagem e para o desenvolvimento da instituição
contribuem para a escolha e permanência dos estudantes no escolar; tecnologias educacionais e recursos pedagógicos
espaço escolar, assim como para o engajamento em um apropriados ao processo de aprendizagem; planejamento
processo de ensino-aprendizagem exitoso. O segundo diz e gestão coletiva do trabalho pedagógico; jornada escolar
respeito à dimensão dos direitos dos cidadãos e das obrigações ampliada ou integrada, visando a garantia de espaços e
do Estado, cabendo a este último ampliar a obrigatoriedade da tempos apropriados às atividades educativas;
educação básica; definir e garantir padrões de qualidade, mecanismos de participação do aluno na escola; valoração
incluindo a igualdade de condições para o acesso e adequada dos usuários no tocante aos serviços prestados
permanência na escola; definir e efetivar diretrizes nacionais pela escola.
para os níveis, ciclos e modalidades de educação ou ensino; O plano do professor – formação, profissionalização e
implementar sistema de avaliação voltado para subsidiar o ação pedagógica – relaciona-se ao perfil docente:
processo de gestão educativa e para garantir a melhoria da titulação/qualificação adequada ao exercício
aprendizagem; implementar programas suplementares, de profissional; vínculo efetivo de trabalho; dedicação a uma
acordo com as especificidades de cada estado e município, tais só escola; formas de ingresso e condições de trabalho
como: livro didático, merenda escolar, saúde do escolar, adequadas; valorização da experiência docente;
transporte escolar, recursos tecnológicos, segurança nas progressão na carreira, por meio da qualificação
escolas. permanente e outros requisitos; políticas de formação e
Em seguida, os autores apresentam as dimensões valorização do pessoal docente: plano de carreira,
intraescolares em quatro planos, destacando os elementos que incentivos, benefícios; definição da relação
devem compor cada uma delas. alunos/docente adequada ao nível, ciclo ou etapa de
escolarização; garantia de carga horária para a realização

Leitura e Interpretação de Dados 4


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de atividades de planejamento, estudo, reuniões h) a estrutura e as características da escola, em especial


pedagógicas, atendimento a pais etc.; ambiente profícuo quanto aos projetos desenvolvidos, o ambiente educativo e/ou
ao estabelecimento de relações interpessoais que clima organizacional, o tipo e as condições de gestão, a gestão
valorizem atitudes e práticas educativas, contribuindo da prática pedagógica, os espaços coletivos de decisão, o
para a motivação e solidariedade no trabalho; projeto político-pedagógico da escola, a participação e
atenção/atendimento aos alunos no ambiente escolar. integração da comunidade escolar, a visão de qualidade dos
O plano do aluno – acesso, permanência e desempenho agentes escolares, a avaliação da aprendizagem e do trabalho
escolar – refere-se ao acesso e condições de permanência escolar realizado, a formação e condições de trabalho dos
adequadas à diversidade socioeconômica e cultural e à profissionais da escola, a dimensão do acesso, permanência e
garantia de desempenho satisfatório dos estudantes; sucesso na escola, entre outros, são aspectos que traduzem
consideração efetiva da visão de qualidade que os pais e positiva ou negativamente a qualidade da aprendizagem na
estudantes têm da escola e que levam os estudantes a escola;
valorarem positivamente a escola, os colegas e os i) a qualidade do ambiente escolar e das instalações
professores, bem como a aprendizagem e o modo como também concorre para a definição de condições de oferta de
aprendem, engajando-se no processo educativo; ensino de qualidade;
processos avaliativos, centrados na melhoria das j) os processos de organização e gestão da escola e escolha
condições de aprendizagem, que permitam a definição de do diretor, sobretudo, no tocante aos processos de
padrões adequados de qualidade educativa e, portanto, democratização, são fundamentais, haja vista que, em
focados no desenvolvimento dos estudantes; percepção processos marcados por uma maior participação de
positiva dos alunos quanto ao processo de ensino- professores, alunos, pais e funcionários, ocorre progressivo
aprendizagem, às condições educativas e à projeção de fortalecimento da autonomia e da democratização da escola;
sucesso no tocante a trajetória acadêmico-profissional. no caso de democratização da escolha do diretor, essa
dinâmica, ao enfatizar processos de participação mais ampla e
À guisa de conclusão, destacam-se, a seguir, alguns se articular com outros fatores, como formação inicial e
aspectos fundamentais concernentes à construção de um continuada, além de experiência profissional, formação
movimento nacional em prol da qualidade da educação. Nesse específica e capacidade de comunicação e de motivação dos
sentido, entende-se que: diferentes segmentos da comunidade escolar, pode contribuir
a) as dimensões, intra e extraescolares, devem ser para a melhoria da qualidade de ensino;
consideradas de maneira articulada na efetivação de uma l) associada à necessidade de uma sólida política de
política educacional direcionada à garantia de escola de formação inicial e continuada, bem como à estruturação de
qualidade para todos, em todos os níveis e modalidades; planos de carreira compatíveis aos profissionais da educação,
b) a construção de uma escola de qualidade deve destaca-se a importância de políticas que estimulem fatores
considerar a dimensão socioeconômica e cultural, uma vez que como motivação, satisfação com o trabalho e maior
o ato educativo escolar se dá em um contexto de posições e identificação com a escola como local de trabalho, como
disposições no espaço social (de conformidade com o acúmulo elementos fundamentais para a produção de uma escola de
de capital econômico, social e cultural dos sujeitos-usuários da qualidade;
escola), de heterogeneidade e pluralidade sociocultural, de m) a satisfação e o engajamento ativo da comunidade
problemas sociais que repercutem na escola, tais como escolar e, sobretudo, do estudante e do professor no processo
fracasso escolar, desvalorização social dos segmentos menos político-pedagógico e, fundamentalmente, no processo de
favorecidos, incluindo a autoestima dos alunos etc.; ensino-aprendizagem são fatores de fundamental importância
c) a criação de condições, dimensões e fatores para a oferta para a melhoria do desempenho escolar e sucesso do
de um ensino de qualidade social deve desenvolver-se em estudante com qualidade na escola.
sintonia com ações direcionadas à superação da desigualdade
socioeconômica-cultural presente nas regiões; Em contrapartida quais as causas da Baixa Qualidade?3
d) o reconhecimento de que a qualidade da escola para Como explicar esta situação da qualidade sofrível da
todos, entendida como qualidade social, implica garantir a educação? Certamente, há aqui mais que a enigmática questão
promoção e atualização histórico-cultural, em termos de de saber por que Joãozinho não sabe ler. Como apontamos,
formação sólida, crítica, ética e solidária, articulada com uma das grandes dificuldades de compreensão é o
políticas públicas de inclusão e de resgate social; reducionismo, seja em função da dificuldade de abarcar a
e) os processos educativos e os resultados escolares, em totalidade das possíveis causas, seja pela fixação em alguma
termos de uma aprendizagem mais significativa, resultam de delas (busca de “bodes expiatórios”). Nossa intenção aqui é
ações concretas com o objetivo de democratização dos trazer alguns elementos para ajudar o entendimento deste
processos de organização e gestão, exigindo rediscussão das problema tão grave (e tão antigo).
práticas curriculares, dos processos formativos, do Se algo está acontecendo é porque existem condições —
planejamento pedagógico, dos processos de participação, da objetivas e subjetivas— para tal (tornou-se possível
dinâmica da avaliação e, portanto, do sucesso escolar dos historicamente). A arma da crítica não pode esquecer a crítica
estudantes; das armas. O desafio, portanto, é analisar as condições que
f) as relações entre alunos por turma, alunos por docente e geram tal possibilidade. As dificuldades para a alteração da
alunos por funcionário são aspectos importantes das prática educativa são de toda ordem. Levantamos, muito
condições da oferta de ensino de qualidade, uma vez que sinteticamente, as seguintes hipóteses para explicar a não-
menores médias podem ser consideradas componentes aprendizagem dos alunos (e a não-mudança da escola):
relevantes para uma melhor qualidade do ensino oferecido; - Desmonte Social: crise de valoração, desemprego,
g) o financiamento público é fundamental para o violência, exclusão social, intolerância, preconceito, trabalho
estabelecimento de condições objetivas para a oferta de infantil, consumismo, desorientação e reestruturação familiar.
educação de qualidade e para a implementação de escolas O aluno (e o professor), como ser concreto, sofre o reflexo
públicas de qualidade, envolvendo estudos específicos (não-mecânico) de todo este contexto.
relativos aos diferentes níveis, etapas e modalidades - Desmonte Material e Simbólico do Sistema de Ensino:
educativas; escolas funcionando sem condições adequadas de instalações,

3 VASCONCELLOS, C. dos S. O Desafio da Qualidade da Educação. Libertad.

Leitura e Interpretação de Dados 5


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equipamentos, recursos; classes superlotadas, falta de - Tem interesse pessoal na mudança, já que não está fácil
biblioteca, quadra, laboratório. Por outro lado, há a seu trabalho
progressiva queda do mito da ascensão social através do - Está em todo lugar (capilaridade, poder de rede)
estudo; cada vez mais pais e alunos se dão conta que a escola - Pode agir intencional, sistemática e coletivamente.
não cumpre a promessa de garantir um bom emprego, vindo A ação inovadora do professor depende, antes de tudo, do
então a fatídica pergunta: “Então, para quê estudar?”, diante da seu Querer. O Querer é decorrente da Necessidade e/ou do
qual os adultos, que também perderam os mapas, têm muita Desejo. Por um lado, o professor tem seu desejo pouco
dificuldade de responder. provocado na medida em que, em função da frágil formação,
- Desmonte Objetivo e Subjetivo do Professor: a seu contato com as grandes obras pedagógicas é muito restrito
deterioração das condições objetivas (formação, salário, (comumente tem acesso aos comentadores e não diretamente
condições de trabalho e valorização social) acabou afetando aos clássicos); da mesma forma, pouco conhece das práticas
profundamente a subjetividade do professor, a ponto de ter inovadoras que estão em andamento no mundo e no país. Por
sido criada uma categoria para explicar tal situação (mal-estar outro lado, não sente muita necessidade de mudança de sua
docente) ou se aplicar a ele a categoria Burnout (síndrome de prática por avaliar-se positivamente.
desistência).
- Currículo Disciplinar Instrucionista: a organização do Na educação escolar, temos a presença muito forte do
currículo em disciplinas provoca distorções uma vez que a senso comum. Três fatores contribuem para isso. Primeiro,
importância maior é do saber e não do sujeito. A história das todo mundo já ensinou algo a alguém. Segundo, muitos
disciplinas escolares deixa claro como, com o tempo, o passaram pela escola e aprenderam como ela deve ser (o
interesse do aluno, que era decisivo a princípio, dá lugar à problema do Imprinting, da estampagem psicológica que a
preocupação com a própria disciplina e seu corpo de criança sofre logo ao entrar na escola). Terceiro, a própria
especialistas. A existência de um programa a ser cumprido, formação frágil do professor.
custe o que custar, torna a relação pedagógica artificial, na
medida em que os objetivos estão dados previamente, O SPAECE
independentemente da realidade dos alunos. O saber é
fragmentado, dificultando a compreensão da realidade, bem O Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do
como a aprendizagem significativa por parte do aluno. Ceará (SPAECE)4 foi implementado em 1992 pela Secretaria da
Favorece em muito a fragmentação do cotidiano da escola Educação (SEDUC), com o objetivo de promover um ensino de
(organização de horários de 50 minutos de aula para cada qualidade e equânime para todos os alunos da rede pública do
disciplina). estado. O Quadro 1 sintetiza a evolução do SPAECE, a partir de
- Avaliação Classificatória e Excludente: por mais seu início.
paradoxal que possa parecer inicialmente, entendemos que a Por considerar a importância da avaliação como
avaliação que vem sendo praticada por muitas escolas é fator instrumento eficaz de gestão, em 2007, a SEDUC ampliou a
de não-aprendizagem (e não-mudança). Isto ocorre porque abrangência do SPAECE, incorporando a avaliação da
não abarca o todo (concentra-se na avaliação do aluno), nem alfabetização e expandindo a avaliação do Ensino Médio para
se volta sobre si mesma (meta-avaliação), sobre caráter as três séries, de forma censitária. Assim, o SPAECE passou a
classificatório e excludente. compreender a avaliação de leitura dos alunos do 2º ano do EF
(SPAECE-Alfa) e o domínio das competências e das habilidades
Como saímos desta? esperadas para as demais etapas de escolaridade, nas
Pela complexidade do problema, não devemos esperar disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática para os
saídas simplistas, reducionistas. Como diz o ditado africano, É alunos do 5º e 9º anos do EF e nas turmas de 1ª, 2ª e 3ª séries
preciso toda uma aldeia para se educar uma criança. A prática do EM. As informações coletadas, a cada edição, identificam o
das escolas que fazem diferença deixa muito clara a nível de proficiência e a evolução do desempenho dos alunos
necessidade de se mudar as estruturas e as pessoas, as pessoas do estado.
e as estruturas. Esta ideia, aparentemente tão simples, é de São aplicados, também, desde 2008, questionários
difícil assimilação em função da tradição do pensar contextuais aos alunos, a partir do 5º ano do EF, e a
dicotômico, onde se valoriza um aspecto ou (exclusivo) outro. professores e diretores. O SPAECE utiliza três tipos de
A reversão do quadro de fracasso passa necessariamente questionários: o primeiro é dirigido aos alunos, permitindo a
por algumas exigências básicas. elaboração de indicadores relacionados ao perfil
socioeconômico e hábitos de estudo, abrangendo também
1-Externas à Escola algumas dimensões do ambiente de aprendizagem; o segundo
- Formação (Inicial e Continuada) destina-se aos professores da Língua Portuguesa e
- Salário/Plano de Carreira/Concurso Matemática; e o terceiro, aos diretores. Tais questionários
- Condições de trabalho (trabalho coletivo constante, possibilitam traçar o perfil educacional, a experiência e a
número de alunos, instalações e equipamentos, quadro formação profissional, a prática docente e a gestão escolar de
funcional completo, material didático) Família assumir suas todos os envolvidos na área educacional, propiciando a
responsabilidades na educação dos filhos Valorização social da associação entre o desempenho dos alunos e as variáveis
escola e dos seus profissionais. contextuais.
Em 2010, os alunos da Educação de Jovens e Adultos – EJA
2-Internas à Escola EF 2º Segmento, EJA em 1º Período e 2º Período – passaram a
- Revisão das práticas e posturas dos profissionais que ter acompanhamento, por meio de resultados apresentados de
atuam na escola. Sim, há uma parte que nos cabe! Por mais que modo independente daqueles alcançados pelos alunos do
todas as medidas externas sejam tomadas, quem vai estar no ensino regular (EF e EM) nas avaliações do SPAECE. Esse
cotidiano do processo de ensino-aprendizagem será o modelo de divulgação permitiu, assim, melhor
professor. Tem, portanto, um papel fundamental: acompanhamento dos alunos desta modalidade de ensino,
- Atua no núcleo mesmo do processo de ensino- com resultados próprios e ações e intervenções adequadas a
aprendizagem esse público, objetivando uma melhor qualidade no
aprendizado.

4 http://www.spaece.caedufjf.net/o-programa/

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Em 2012, os testes da 3ª série do EM e 2º período da EJA Um olhar para cada etapa de escolaridade e modalidade de
EM foram organizados em quatro áreas, em convergência com ensino
a proposta da Matriz de Referência para o ENEM, do Ministério
da Educação. Os testes de Língua Portuguesa e Matemática do A idealização do SPAECE-Alfa surge em decorrência da
SPAECE consideraram também as respectivas matrizes do prioridade do atual governo com a alfabetização das crianças
SPAECE e receberam a denominação de testes de Linguagens logo nos primeiros anos de escolaridade, expressa por meio do
e Códigos e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Programa Alfabetização na Idade Certa (PAIC). O SPAECE-Alfa
Foram também aplicados os testes para as áreas de Ciências da consiste numa avaliação anual, externa e censitária para
Natureza (Física, Química e Biologia) e de Ciências Humanas identificar e analisar o nível de proficiência em leitura dos
(História, Geografia, Filosofia e Sociologia), além da prova de alunos do 2º ano do Ensino Fundamental matriculados nas
Redação. Nesta edição, os alunos das escolas municipais e escolas da rede pública (estadual e municipais), possibilitando
estaduais do Ceará foram avaliados no 2º ano do Ensino construir um indicador de qualidade sobre a habilidade em
Fundamental, em Língua Portuguesa (Leitura). Os alunos do 5º leitura de cada aluno.
e 9º anos e 2º segmento da EJA Ensino Fundamental e da 1ª e A Avaliação dos alunos do 5º e 9º anos do Ensino
2ª séries e 1º período da EJA Ensino Médio foram avaliados nas Fundamental e da EJA Anos Finais (presencial; rede estadual)
disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. é feita em caráter censitário para as etapas avaliadas, com
No ano de 2013, foram avaliados o nível de leitura dos periodicidade anual. A referida avaliação é realizada com a
alunos do 2º ano (SPAECE-Alfa) e o domínio das competências finalidade de diagnosticar o estágio de conhecimento, bem
e das habilidades esperadas para as demais etapas de como analisar a evolução do desempenho dos alunos do 5º e
escolaridade nas disciplinas de Língua Portuguesa e de 9º anos (regular e EJA presencial da rede estadual), com os
Matemática dos alunos do 5º e 9º anos do EF, das 1ª, 2ª e 3ª fatores associados a este desempenho, produzindo
séries do EM e nas turmas da EJA do EF (2º segmento) e da EJA informações que possibilitem a definição de ações prioritárias
do EM (1º e 2º períodos). A avaliação foi realizada de forma de intervenção na Rede Pública de ensino (estadual e
censitária para os alunos do 2º e 5º anos do EF, da 1ª série do municipal).
EM e para os alunos da EJA presencial Anos Finais do EF A Avaliação do Ensino Médio é realizada, anualmente, de
(2ºsegmento) e da EJA presencial do EM (1º e 2º períodos). No forma censitária, na 1ª série do Ensino Médio. Para as 2ª e 3ª
9º ano do EF, a avaliação foi amostral, em decorrência da séries, a aplicação foi censitária no período de 2008 a 2012,
Avaliação Nacional do Rendimento Escolar – ANRESC/Prova passando a ser amostral a partir de 2013. Mesmo em uma
Brasil em 2013. E nas 2ª e 3ª séries do EM, o SPAECE também avaliação amostral, tem-se a participação de alunos de todas
foi amostral em virtude de os alunos dessas séries as escolas da Rede Estadual de ensino. Assim, nas avaliações
participarem do ENEM 2013. As amostras foram selecionadas do 5º e 9º anos do EF, os dados coletados permitem analisar a
a partir dos dados do Censo Escolar 2013. Ressalta-se que evolução do desempenho dos alunos do EM, bem como traçar
esses dados amostrais (9º ano do EF e 2ª e 3ª séries do EM) um perfil dos alunos e pesquisar os fatores contextuais
mantiveram a série histórica do SPAECE, implantado no ano associados ao desempenho desses alunos.
de 1992. Para os alunos da Educação de Jovens e Adultos, oferecida
Em 2014, a avaliação dos alunos da 2ª e 3ª séries do EM de forma presencial, são realizadas avaliações nos Anos Finais
continuou sendo realizada de forma amostral, com do Ensino Fundamental e Ensino Médio da Rede Estadual de
representatividade por escola. Nas demais etapas, a avaliação educação: uma avaliação para o 2º segmento da EJA Ensino
foi censitária nos 2º, 5º e 9º anos do Ensino Fundamental (EF); Fundamental e outra voltada para os 1º e 2º períodos do
1ª série do Ensino Médio (EM) e EJA presencial (2º segmento Ensino Médio.
do EF; 1º e 2º períodos do EM). Assim, como em anos
anteriores, com exceção de 2012, foram avaliados o nível de Avaliações de desempenho: IDEB, SAEB e PISA
leitura dos alunos do 2º ano (SPAECE-Alfa) e o domínio das
competências e das habilidades esperadas para as demais 5Avaliações da aprendizagem
etapas de escolaridade nas disciplinas de Língua Portuguesa e As avaliações da aprendizagem são coordenadas pelo
de Matemática dos alunos do 5º e 9º anos do EF, das 1ª, 2ª e 3ª Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
séries do EM e nas turmas da EJA do EF (2º segmento) e da EJA Teixeira – Inep. O Inep é uma autarquia federal vinculada ao
do EM (1º e 2º períodos). Ministério da Educação MEC, cuja missão é promover estudos,
O conjunto de informações coletadas pelo SPAECE permite pesquisas e avaliações sobre o Sistema Educacional Brasileiro
diagnosticar a qualidade da educação pública em todo o estado com o objetivo de subsidiar a formulação e implementação de
do Ceará, produzindo resultados por aluno, turma, escola, políticas públicas para a área educacional a partir de
município, credes e estado. Ao mesmo tempo, os resultados parâmetros de qualidade e equidade, bem como produzir
têm servido de base para implementação de políticas públicas informações claras e confiáveis aos gestores, pesquisadores,
educacionais e de práticas pedagógicas inovadoras nas escolas educadores e público em geral.
estaduais e municipais. O SPAECE tornou-se um instrumento
essencial na fomentação de debate público e na promoção de Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB -
ações orientadas para a melhoria e execução da O Ideb foi criado INEP em 2007, em uma escala de zero a dez.
democratização do ensino, garantindo a todos igualdade de Sintetiza dois conceitos igualmente importantes para a
acesso e permanência na escola qualidade da educação: aprovação e média de desempenho
Esta avaliação permite montar um quadro sobre os dos estudantes em língua portuguesa e matemática. O
resultados da aprendizagem dos alunos, com seus pontos indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação
fracos e fortes, e sobre as características dos professores e escolar, obtidos no Censo Escolar, e das médias de
gestores das escolas estaduais. Em se tratando de uma desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb e a Prova Brasil.
avaliação de característica longitudinal, possibilita, ainda,
acompanhar o progresso de aprendizagem de cada aluno ao A série histórica de resultados do Ideb se inicia em 2005, a
longo do tempo. partir de onde foram estabelecidas metas bienais de qualidade
a serem atingidas não apenas pelo País, mas também por

5 Disponível em <http://portal.mec.gov.br/mais-educacao/190-secretarias-

112877938/setec-1749372213/18843-avaliacoes-da-aprendizagem> Acesso em
04 de abril de 2017.

Leitura e Interpretação de Dados 7


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escolas, municípios e unidades da Federação. A lógica é a de jovens para exercer o papel de cidadãos na sociedade
que cada instância evolua de forma a contribuir, em conjunto, contemporânea.
para que o Brasil atinja o patamar educacional da média dos As avaliações do Pisa acontecem a cada três anos e
países da OCDE. Em termos numéricos, isso significa progredir abrangem três áreas do conhecimento – Leitura, Matemática e
da média nacional 3,8, registrada em 2005 na primeira fase do Ciências – havendo, a cada edição do programa, maior ênfase
ensino fundamental, para um Ideb igual a 6,0 em 2022, ano do em cada uma dessas áreas. Em 2000, o foco foi em Leitura; em
bicentenário da Independência. 2003, Matemática; e em 2006, Ciências. O Pisa 2009 iniciou um
novo ciclo do programa, com o foco novamente recaindo sobre
Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB - O o domínio de Leitura; em 2012, novamente Matemática; e em
Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb é composto 2015, Ciências. Em 2015 também foram inclusas as áreas de
por dois processos: a Avaliação Nacional da Educação Básica – Competência Financeira e Resolução Colaborativa de
Aneb e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar – Anresc. Problemas.
A Aneb é realizada por amostragem das Redes de Ensino, em Além de observar tais competências, o Pisa coleta
cada unidade da Federação e tem foco nas gestões dos informações para a elaboração de indicadores contextuais que
sistemas educacionais. Por manter as mesmas características, possibilitam relacionar o desempenho dos alunos a variáveis
a Aneb recebe o nome do Saeb demográficas, socioeconômicas e educacionais. Essas
(http://portal.inep.gov.br/web/guest/caracteristicas-saeb) informações são coletadas por meio da aplicação de
em suas divulgações. A Anresc é mais extensa e detalhada que questionários específicos para os alunos, para os professores
a Aneb e tem foco em cada unidade escolar. Por seu caráter e para as escolas.
universal, recebe o nome de Prova Brasil em suas divulgações. Os resultados desse estudo podem ser utilizados pelos
A partir de 2013, haverá a Avaliação Nacional de Alfabetização governos dos países envolvidos como instrumento de trabalho
– ANA. Esta nova avaliação, que deve ser aplicada anualmente na definição e refinamento de políticas educativas, tornando
a partir deste ano, terá caráter censitário e avaliará a mais efetiva a formação dos jovens para a vida futura e para a
qualidade, equidade e eficiência do ciclo de alfabetização das participação ativa na sociedade.
redes públicas.
Países participantes
Prova Brasil - A Prova Brasil é aplicada censitariamente Atualmente, participam do Pisa os 34 países membros da
aos alunos de 5º e 9º anos do ensino fundamental público, nas OCDE e vários países convidados. Os resultados do Pisa 2012
redes estaduais, municipais e federais, de área rural e urbana, congregaram 65 países – total que leva em conta algumas
em escolas que tenham no mínimo 20 alunos matriculados na economias que não podem ser consideradas países, como
série avaliada. A Prova Brasil oferece resultados por escola, Hong Kong, Macao, Shangai e Taiwan. Durante as edições
município, Unidade da Federação e país que são utilizados no também ocorrem alterações entre os participantes: em 2012
cálculo do Ideb. foram incluídos Vietnam, Chipre, Costa Rica, Emirados Árabes
Unidos e Malásia. Outros países participaram da edição do Pisa
As avaliações realizadas a cada dois anos, quando são 2009 e saíram da edição do Pisa 2012, como Panamá, Trinidad
aplicadas provas de Língua Portuguesa e Matemática, além de e Tobago, Quirguistão, Azerbaijão e Dubai (EAU). Essas
questionários socioeconômicos aos alunos participantes e à alterações mostram que o estabelecimento de qualquer
comunidade escolar. ranking entre países deve ser ponderado por edição do
programa.
Provinha Brasil - A Provinha Brasil é uma avaliação
diagnóstica do nível de alfabetização das crianças Grupo Ibero-americano do Pisa
matriculadas no segundo ano de escolarização das escolas O GIP – Grupo Ibero-americano do Pisa – surgiu a partir da
públicas brasileiras. Essa avaliação acontece em duas etapas, constatação de que países como Brasil, México e Uruguai
uma no início e a outra ao término do ano letivo. A aplicação enfrentavam problemas semelhantes na implementação do
em períodos distintos possibilita aos professores e gestores Pisa e que, portanto, a colaboração entre eles poderia render
educacionais a realização de um diagnóstico mais preciso que bons frutos. Inicialmente concebido como um grupo dos países
permite conhecer o que foi agregado na aprendizagem das latino-americanos participantes do Pisa 2006, a união logo
crianças, em termos de habilidades de leitura dentro do contou com a adesão da Espanha e de Portugal e acabou se
período avaliado. identificando como Grupo Ibero-americano do Pisa. O GIP foi
oficialmente instituído em setembro de 2005, em encontro
6PISA patrocinado pelo Inep e realizado na cidade do Rio de Janeiro,
O Programme for International Student Assessment (Pisa) – com a participação de representantes de Argentina, Chile,
Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – é uma Colômbia, Espanha, México, Portugal e Uruguai, além do Brasil.
iniciativa de avaliação comparada, aplicada de forma amostral No Pisa 2009, três novos países latino-americanos
a estudantes matriculados a partir do 8º ano do ensino participaram e foram agregados à constituição do GIP:
fundamental na faixa etária dos 15 anos, idade em que se Panamá, Peru e Costa Rica.
pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na Desde a formação do GIP, tem sido intensa a colaboração
maioria dos países. entre os países participantes. Dentre as atividades
O Pisa é coordenado pela Organização para Cooperação e desenvolvidas, destaca-se o Relatório Ibero-americano do Pisa
Desenvolvimento Econômico (OCDE), havendo uma 2006, elaborado conjuntamente pelos oito países
coordenação nacional em cada país participante. No Brasil, a participantes do Pisa à época, sob a coordenação de Espanha e
coordenação do Pisa é responsabilidade do Inep. México. Abaixo, segue a versão original desse relatório em
O objetivo do Pisa é produzir indicadores que contribuam espanhol.
para a discussão da qualidade da educação nos países
participantes, de modo a subsidiar políticas de melhoria do Participação sul-americana
ensino básico. A avaliação procura verificar até que ponto as O Brasil é o único país sul-americano que participa do Pisa
escolas de cada país participante estão preparando seus desde sua primeira aplicação, tendo iniciado os trabalhos com
esse programa em 1998. Argentina e Peru fizeram parte, em

6http://portal.inep.gov.br/pisa. Acesso em maio de 2017.

Leitura e Interpretação de Dados 8


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2001, da experiência Pisa Plus: um estudo longitudinal para Em sua 11ª edição, em 2008, o Enem já alcançava mais de
desenvolver os domínios de Leitura, Matemática e Ciências ao 4 milhões de inscritos e 2,9 milhões de participantes.
longo de um ano escolar. A grande expansão do número de candidatos ao Enem, teve
No entanto, em 2003, somente Brasil e Uruguai entraram início em 2000, quando várias universidades, entre elas a USP
no programa. No Pisa 2006 houve adesão de um número maior e a Unicamp, passaram a considerar a nota da prova como
de países da América do Sul, com a volta da Argentina e a critério de acesso ao ensino superior. A popularização
entrada do Chile e da Colômbia (além do Brasil e do Uruguai). definitiva do Enem veio em 2004, quando o Ministério da
Em 2009, o Peru incorporou-se ao grupo, totalizando seis Educação instituiu o Programa Universidade para Todos –
países sul-americanos. No Pisa Plus de 2010, participou, ProUni e vinculou a concessão de bolsas em instituições de
também, o Estado de Miranda, Venezuela. ensino superior privadas à nota obtida no exame. Além de
representar uma possibilidade concreta de bolsa (integral ou
Exame Nacional do Ensino Médio – Enem parcial) do ProUni, o Enem passou a significar também a
O Enem é um exame de caráter voluntário, implantado pelo possibilidade de uma vaga em várias instituições de ensino
MEC em 1998, que avalia o desempenho individual do aluno superior do país, entre elas as universidades públicas. Cerca de
ao término do ensino médio, visando aferir o desenvolvimento 500 instituições de ensino superior já utilizam em 2009 os
das competências e habilidades necessárias ao exercício pleno resultados do exame em seus processos seletivos, seja de
da cidadania. forma complementar ou substitutiva.
A prova, interdisciplinar e contextualizada, é composta por
uma redação e uma parte objetiva. Em 2017 contará com uma Questões
prova de 180 questões, elaborada a partir de conteúdos
referentes às disciplinas cursadas durante todo o Ensino 01. (FUB- Cargos de Nível Médio- CESPE) Há gente no
Médio. Elas deverão ser divididas em quatro grandes grupos: Brasil interessada em importar dos Estados Unidos da
Linguagens, Códigos e suas tecnologias, Matemática e suas América (EUA) o Teach for America, o mais bem-sucedido
tecnologias, Ciências da Natureza e suas tecnologias e Ciências programa feito para atrair os melhores estudantes de ensino
Humanas e suas tecnologias, cada caderno com 45 questões. médio para a carreira de professor. No Brasil, os professores
Cada participante do Enem recebe o Boletim Individual de têm saído da parte menos qualificada da pirâmide - justamente
Resultados, contendo duas notas: uma para a parte objetiva da aquela habitada por 20% dos alunos com o mais baixo
prova e outra para a redação, além de uma interpretação dos rendimento escolar do país. Qualquer iniciativa para mudar
resultados obtidos para cada uma das competências avaliadas isso será mais do que bem-vinda.
nas duas partes da prova. Os resultados individuais são O Teach for America consegue atrair os mais talentosos
sigilosos. alunos para a docência oferecendo-lhes algo bem concreto.
As escolas que tiveram mais de 90% de seus alunos da Depois de dois anos no papel de professor de escola pública -
terceira série do ensino médio presentes ao exame podem tempo mínimo de estada no programa -, esses jovens
solicitar um boletim com a média do conjunto de seus ingressam quase que automaticamente em algumas das
estudantes. Este boletim informa, ainda, a nota média do país, maiores empresas americanas, com as quais o Teach for
possibilitando uma comparação dos resultados. Também America estabeleceu uma produtiva parceria. Para as
estão entre os objetivos do Enem: empresas, recrutar gente que passou por lá significa encurtar
- conferir ao cidadão parâmetro para autoavaliação, com o complicado processo de busca por bons profissionais. Pela
vistas à continuidade de sua formação e inserção no mercado estreita peneira do programa só passam os realmente capazes.
de trabalho; Para se ter uma ideia, apenas os alunos de ótimo boletim
- criar referência nacional para os egressos de qualquer têm direito à inscrição e, ainda assim, 85% deles ficam de fora.
das modalidades do ensino médio; É essa rigorosa seleção que atrai os próprios estudantes.
- fornecer subsídios às diferentes modalidades de acesso à Sobreviver a ela é um sinal claro de excelência, algo que faz
educação superior; todo mundo querer ostentar um carimbo do Teach for America
- constituir-se em modalidade de acesso a cursos no currículo.
profissionalizantes pós-médio. No final, uma parcela deles acaba optando pela carreira de
A prova do Enem tem como base a seguinte matriz de professor, coisa que jamais haviam pensado antes. A maioria,
competências especialmente definida para o exame: no entanto, acaba deixando o programa depois dos dois anos
- demonstrar domínio básico da norma culta da língua previstos, mas não sem antes causar um impacto gigantesco no
portuguesa e do uso das diferentes linguagens: matemática, nível do ensino. Os estudantes certamente irão beneficiar-se
artística, científica, entre outras; desse empurrão ao longo de toda a vida escolar. Mais do que
- construir e aplicar conceitos das várias áreas do isso: muitos dos que já passaram pelo Teach for America
conhecimento para compreensão de fenômenos naturais, de continuam envolvidos com educação, em diferentes graus e
processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e áreas de atuação. Por tudo isso, não faria mal ao Brasil trilhar
das manifestações artísticas; caminho parecido.
- selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e Mônica Weinberg. Tomara que dê certo. Internet: <veja.abril.com.br> (com
adaptações).
informações representados de diferentes formas, para
enfrentar situações-problema segundo uma visão crítica, com
Considerando as ideias do texto, julgue os itens que se
vistas à tomada de decisões;
seguem.
- organizar informações e conhecimentos disponíveis em
Infere-se do texto que a pouca qualificação dos professores
situações concretas, para a construção de argumentações
influencia a qualidade da educação.
consistentes;
( ) Certo ( ) Errado
- recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola
para elaboração de propostas de intervenção solidária na
02. (SEDUC-AM- Pedagogo- CESPE) Considerando a
realidade, considerando a diversidade sociocultural como
organização do trabalho na escola, julgue o item que se segue.
inerente à condição humana no tempo e no espaço.
Educação de qualidade é a que garante ao aluno ótimo
O Enem é realizado anualmente, com aplicação
rendimento em provas oficiais como os vestibulares.
descentralizada das provas. Em 1998, seu primeiro ano de
( ) Certo ( ) Errado
aplicação, o exame contou com um número modesto de 157
mil inscritos e 115 mil participantes.

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03. (IF-PR- Professor Pedagogia- FUNCAB) Sobre a Observação: nas tabelas e nos gráficos podemos notar que
qualidade na educação é correto afirmar que: a um título e uma fonte. O título é utilizado para evidenciar a
(A) a qualidade total é a mais adequada a ser implantada principal informação apresentada, e a fonte identifica de onde
nas escolas. os dados foram obtidos.
(B) a qualidade formal define os objetivos éticos de
intervenção na realidade. Tipos de Gráficos
(C) o mais importante e relevante oficialmente é a Gráfico de linhas: são utilizados, em geral, para
qualidade social do ensino. representar a variação de uma grandeza em certo período de
(D) os meios, instrumentos e procedimentos de educação tempo.
fazem a qualidade política. Marcamos os pontos determinados pelos pares
(E) a qualidade social decorre da concepção economicista ordenados (classe, frequência) e os ligados por segmentos de
e pragmática. reta. Nesse tipo de gráfico, apenas os extremos dos
segmentos de reta que compõem a linha oferecem
04. (IF-Baiano- Assistente Social- FCM/2017) O Índice informações sobre o comportamento da amostra. Exemplo:
de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é um
indicador que mede a qualidade do aprendizado nacional. Os
dois componentes utilizados para calcular o IDEB são
(A) a taxa de desigualdade educacional / a média da taxa
de rendimento escolar.
(B) a taxa de analfabetismo de pessoas com 10 anos ou
mais / a taxa de reprovação na educação básica.
(C) a taxa de distorção idade-série / a média da nota anual
dos alunos de Língua Portuguesa e de Matemática.
(D) a taxa de abandono escolar / a média de alunos nas
turmas das disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática.
(E) a taxa de aprovação / as médias de desempenho nos
exames da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação
Básica (SAEB). Gráfico de barras: também conhecido como gráficos de
colunas, são utilizados, em geral, quando há uma grande
05. (CISCOPAR- Pedagogo- CISCOPAR) O Instituo quantidade de dados. Para facilitar a leitura, em alguns casos,
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira os dados numéricos podem ser colocados acima das colunas
(INEP) criou em 2005 a Avaliação Nacional do Rendimento correspondentes. Eles podem ser de dois tipos: barras
Escolar (Anresc), mais conhecida como: verticais e horizontais.
(A) SAEB.
(B) Prova Brasil. Gráfico de barras verticais: as frequências são indicadas
(C) Aneb. em um eixo vertical. Marcamos os pontos determinados pelos
(D) ENEM. pares ordenados (classe, frequência) e os ligamos ao eixo das
(E) Vestibular. classes por meio de barras verticais. Exemplo:

Gabarito

01. Certa / 02. Errado / 03. C / 04. E / 05. C

TABELAS E GRÁFICOS

O nosso cotidiano é permeado das mais diversas


informações, sendo muito delas expressas em formas de
tabelas e gráficos7, as quais constatamos através do noticiários
televisivos, jornais, revistas, entre outros. Os gráficos e tabelas
fazem parte da linguagem universal da Matemática, e
compreensão desses elementos é fundamental para a leitura
de informações e análise de dados.
A parte da Matemática que organiza e apresenta dados Gráfico de barras horizontais: as frequências são
numéricos e a partir deles fornecer conclusões é chamada de indicadas em um eixo horizontal. Marcamos os pontos
Estatística. determinados pelo pares ordenados (frequência, classe) e os
Tabelas: as informações nela são apresentadas em linhas ligamos ao eixo das classes por meio de barras horizontais.
e colunas, possibilitando uma melhor leitura e interpretação. Exemplo:
Exemplo:

Fonte: SEBRAE

7 https://www.infoenem.com.br http://mundoeducacao.bol.uol.com.br

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Observação: em um gráfico de colunas, cada barra deve Pictograma ou gráficos pictóricos: em alguns casos,
ser proporcional à informação por ela representada. certos gráficos, encontrados em jornais, revistas e outros
meios de comunicação, apresentam imagens relacionadas ao
Gráfico de setores: são utilizados, em geral, para contexto. Eles são desenhos ilustrativos. Exemplo:
visualizar a relação entre as partes e o todo.
Dividimos um círculo em setores, com ângulos de
medidas diretamente proporcionais às frequências de classes.
A medida α, em grau, do ângulo central que corresponde a
uma classe de frequência F é dada por:
360°
𝛼= .𝐹
𝐹𝑡
Onde:
Ft = frequência total

Exemplo

Histograma: o consiste em retângulos contíguos com base


nas faixas de valores da variável e com área igual à frequência
relativa da respectiva faixa. Desta forma, a altura de cada
retângulo é denominada densidade de frequência ou
Para acharmos a frequência relativa, podemos fazer uma simplesmente densidade definida pelo quociente da área pela
regra de três simples: amplitude da faixa. Alguns autores utilizam a frequência
400 --- 100% absoluta ou a porcentagem na construção do histograma, o que
160 --- x pode ocasionar distorções (e, consequentemente, más
x = 160 .100/ 400 = 40%, e assim sucessivamente. interpretações) quando amplitudes diferentes são utilizadas
nas faixas. Exemplo:
Aplicando a fórmula teremos:

360° 360°
−𝐹𝑢𝑡𝑒𝑏𝑜𝑙: 𝛼 = .𝐹 → 𝛼 = . 160 → 𝛼 = 144°
𝐹𝑡 400

360° 360°
−𝑉ô𝑙𝑒𝑖: 𝛼 = .𝐹 → 𝛼 = . 120 → 𝛼 = 108°
𝐹𝑡 400

360° 360°
−𝐵𝑎𝑠𝑞𝑢𝑒𝑡𝑒: 𝛼 = .𝐹 → 𝛼 = . 60 → 𝛼 = 54°
𝐹𝑡 400

360° 360°
−𝑁𝑎𝑡𝑎çã𝑜: 𝛼 = .𝐹 → 𝛼 = . 20 → 𝛼 = 18°
𝐹𝑡 400
Polígono de Frequência: semelhante ao histograma, mas
Como o gráfico é de setores, os dados percentuais serão construído a partir dos pontos médios das classes. Exemplo:
distribuídos levando-se em conta a proporção da área a ser
representada relacionada aos valores das porcentagens. A
área representativa no gráfico será demarcada da seguinte
maneira:

Com as informações, traçamos os ângulos da


circunferência e assim montamos o gráfico:

Gráfico de Ogiva: apresenta uma distribuição de


frequências acumuladas, utiliza uma poligonal ascendente
utilizando os pontos extremos.

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Esse gráfico foi usado em uma palestra na qual o orador


ressaltou uma queda da participação do agronegócio no PIB
brasileiro e a posterior recuperação dessa participação, em
termos percentuais.
Segundo o gráfico, o período de queda ocorreu entre os
anos de
A) 1998 e 2001.
B) 2001 e 2003.
C) 2003 e 2006.
D) 2003 e 2007.
E) 2003 e 2008.
Cartograma: é uma representação sobre uma carta Resolução
geográfica. Este gráfico é empregado quando o objetivo é de
figurar os dados estatísticos diretamente relacionados com Segundo o gráfico apresentado na questão, o período de
áreas geográficas ou políticas. queda da participação do agronegócio no PIB brasileiro se
deu no período entre 2003 e 2006. Esta informação é extraída
através de leitura direta do gráfico: em 2003 a participação
era de 28,28%, caiu para 27,79% em 2004, 25,83% em 2005,
chegando a 23,92% em 2006 – depois deste período, a
participação volta a aumentar.
Resposta: C

(Enem) O gráfico mostra a variação da extensão média de


gelo marítimo, em milhões de quilômetros quadrados,
comparando dados dos anos 1995, 1998, 2000, 2005 e 2007.
Os dados correspondem aos meses de junho a setembro. O
Ártico começa a recobrar o gelo quando termina o verão, em
meados de setembro. O gelo do mar atua como o sistema de
resfriamento da Terra, refletindo quase toda a luz solar de
volta ao espaço. Águas de oceanos escuros, por sua vez,
absorvem a luz solar e reforçam o aquecimento do Ártico,
ocasionando derretimento crescente do gelo.

Interpretação de tabelas e gráficos

Para uma melhor interpretação de tabelas e gráficos


devemos ter em mente algumas considerações:
- Observar primeiramente quais informações/dados estão
presentes nos eixos vertical e horizontal, para então fazer a
leitura adequada do gráfico;
- Fazer a leitura isolada dos pontos. Com base no gráfico e nas informações do texto, é possível
- Leia com atenção o enunciado e esteja atento ao que inferir que houve maior aquecimento global em
pede o enunciado. (A)1995.
(B)1998.
Exemplos (C) 2000.
(D)2005.
(Enem) O termo agronegócio não se refere apenas à (E)2007.
agricultura e à pecuária, pois as atividades ligadas a essa
produção incluem fornecedores de equipamentos, serviços Resolução
para a zona rural, industrialização e comercialização dos
produtos. O enunciado nos traz uma informação bastante importante
O gráfico seguinte mostra a participação percentual do e interessante, sendo chave para a resolução da questão. Ele
agronegócio no PIB brasileiro: associa a camada de gelo marítimo com a reflexão da luz solar
e consequentemente ao resfriamento da Terra. Logo, quanto
menor for a extensão de gelo marítimo, menor será o
resfriamento e portanto maior será o aquecimento global.
O ano que, segundo o gráfico, apresenta a menor extensão
de gelo marítimo, é 2007.

Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).


Almanaque abril 2010. São Paulo: Abril, ano 36 (adaptado)

Leitura e Interpretação de Dados 12


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que impliquem o recolhimento de dados e a análise de


informações. Essa característica da vida contemporânea traz
ao currículo de Matemática uma demanda em abordar
elementos da estatística, da combinatória e da probabilidade,
desde os ciclos iniciais” (BRASIL, 1997).
Observe os gráficos e analise as informações.

Resposta: E

Mais alguns exemplos:

01. Todos os objetos estão cheios de água.

Qual deles pode conter exatamente 1 litro de água?


(A) A caneca
(B) A jarra
(C) O garrafão
(D) O tambor

O caminho é identificar grandezas que fazem parte do dia


a dia e conhecer unidades de medida, no caso, o litro. Preste
atenção na palavra exatamente, logo a resposta está na
alternativa B.
A partir das informações contidas nos gráficos, é correto
02. No gráfico abaixo, encontra-se representada, em afirmar que:
bilhões de reais, a arrecadação de impostos federais no (A) nos dias 03 e 14 choveu a mesma quantidade em
período de 2003 a 2006. Nesse período, a arrecadação anual Fortaleza e Florianópolis.
de impostos federais: (B) a quantidade de chuva acumulada no mês de março foi
maior em Fortaleza.
(C) Fortaleza teve mais dias em que choveu do que
Florianópolis.
(D) choveu a mesma quantidade em Fortaleza e
Florianópolis.

02. (DEPEN – Agente Penitenciário Federal – CESPE)

(A) nunca ultrapassou os 400 bilhões de reais.


(B) sempre foi superior a 300 bilhões de reais.
(C) manteve-se constante nos quatro anos.
(D) foi maior em 2006 que nos outros anos.
(E) chegou a ser inferior a 200 bilhões de reais.
Analisando cada alternativa temos que a única resposta
correta é a D.
Ministério da Justiça — Departamento Penitenciário Nacional
— Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen,
Questões Relatório Estatístico Sintético do Sistema Prisional Brasileiro,
dez./2013 Internet:<www.justica.gov.br> (com adaptações)
01. (Pref. Fortaleza/CE – Pedagogia – Pref. Fortaleza)
“Estar alfabetizado, neste final de século, supõe saber ler e A tabela mostrada apresenta a quantidade de detentos
interpretar dados apresentados de maneira organizada e no sistema penitenciário brasileiro por região em 2013.
construir representações, para formular e resolver problemas Nesse ano, o déficit relativo de vagas — que se define pela

Leitura e Interpretação de Dados 13


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razão entre o déficit de vagas no sistema penitenciário e a 05. (SEJUS/ES – Agente Penitenciário – VUNESP)
quantidade de detentos no sistema penitenciário — Observe os gráficos e analise as afirmações I, II e III.
registrado em todo o Brasil foi superior a 38,7%, e, na
média nacional, havia 277,5 detentos por 100 mil
habitantes.
Com base nessas informações e na tabela apresentada,
julgue o item a seguir.
Em 2013, mais de 55% da população carcerária no
Brasil se encontrava na região Sudeste.
( )certo ( ) errado

03. (TJ/SP – Estatístico Judiciário – VUNESP) A


distribuição de salários de uma empresa com 30
funcionários é dada na tabela seguinte.

Salário (em salários mínimos) Funcionários


1,8 10
2,5 8
3,0 5
5,0 4
8,0 2
I. Em 2010, o aumento percentual de matrículas em
15,0 1
cursos tecnológicos, comparado com 2001, foi maior que
1000%.
Pode-se concluir que II. Em 2010, houve 100,9 mil matrículas a mais em
(A) o total da folha de pagamentos é de 35,3 salários. cursos tecnológicos que no ano anterior.
(B) 60% dos trabalhadores ganham mais ou igual a 3 III. Em 2010, a razão entre a distribuição de matrículas
salários. no curso tecnológico presencial e à distância foi de 2 para
(C) 10% dos trabalhadores ganham mais de 10 salários. 5.
(D) 20% dos trabalhadores detêm mais de 40% da renda
total. É correto o que se afirma em
(E) 60% dos trabalhadores detêm menos de 30% da renda (A) I e II, apenas.
total. (B) II, apenas.
(C) I, apenas.
04. (TJ/SP – Estatístico Judiciário – VUNESP) (D) II e III, apenas.
Considere a tabela de distribuição de frequência seguinte, (E) I, II e III.
em que x i é a variável estudada e fi é a frequência absoluta
dos dados. 06. (DEPEN – Agente Penitenciário Federal – CESPE)
xi fi
30-35 4
35-40 12
40-45 10
45-50 8
50-55 6
TOTAL 40
Assinale a alternativa em que o histograma é o que
melhor representa a distribuição de frequência da tabela.

A partir das informações e do gráfico apresentados,


julgue o item que se segue.
Se os percentuais forem representados por barras
verticais, conforme o gráfico a seguir, então o resultado
será denominado histograma.

( ) Certo ( ) Errado
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APOSTILAS OPÇÃO

Comentários Lucro e Prejuízo

01. Resposta: C. É a diferença entre o preço de venda e o preço de custo.


02. Resposta: CERTO. Caso a diferença seja positiva, temos o lucro(L), caso seja
03. Resposta: D. negativa, temos prejuízo(P).
04. Resposta: A.
05. Resposta: E. Lucro (L) = Preço de Venda (V) – Preço de Custo (C).
06. Resposta: ERRADO.
Podemos ainda escrever:
PORCENTAGEM C + L = V ou L = V - C
P = C – V ou V = C - P
Razões de denominador 100 que são chamadas de
razões centesimais ou taxas percentuais ou simplesmente de A forma percentual é:
porcentagem8. Servem para representar de uma
maneira prática o "quanto" de um "todo" se está
referenciando.
Costumam ser indicadas pelo numerador seguido do
símbolo % (Lê-se: “por cento”).

𝒙
𝒙% =
𝟏𝟎𝟎
Exemplos:
Exemplos:
1) Um objeto custa R$ 75,00 e é vendido por R$ 100,00.
1) A tabela abaixo indica, em reais, os resultados das
Determinar:
aplicações financeiras de Oscar e Marta entre 02/02/2013 e
a) a porcentagem de lucro em relação ao preço de custo;
02/02/2014.
b) a porcentagem de lucro em relação ao preço de venda.

Resolução:
Preço de custo + lucro = preço de venda → 75 + lucro =100
→ Lucro = R$ 25,00
Notamos que a razão entre os rendimentos e o saldo em
02/02/2013 é: 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
𝑎) . 100%
𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜
50 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑂𝑠𝑐𝑎𝑟, 𝑛𝑜 𝐵𝑎𝑛𝑐𝑜 𝐴; ≅ 33,33% 𝑏) . 100%
500 𝑝𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎
= 25%
50
, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑀𝑎𝑟𝑡𝑎, 𝑛𝑜 𝐵𝑎𝑛𝑐𝑜 𝐵.
400 2) O preço de venda de um bem de consumo é R$ 100,00.
O comerciante tem um ganho de 25% sobre o preço de custo
Quem obteve melhor rentabilidade? deste bem. O valor do preço de custo é:
A) R$ 25,00
Uma das maneiras de compará-las é expressá-las com o B) R$ 70,50
mesmo denominador (no nosso caso o 100), para isso, vamos C) R$ 75,00
simplificar as frações acima: D) R$ 80,00
E) R$ 125,00
50 10
𝑂𝑠𝑐𝑎𝑟 ⇒ = , = 10%
500 100 Resolução:
50 12,5 𝐿
𝑀𝑎𝑟𝑡𝑎 ⇒ = , = 12,5% . 100% = 25% ⇒ 0,25 , o lucro é calculado em cima do
400 100 𝐶
Preço de Custo(PC).
Com isso podemos concluir, Marta obteve uma
rentabilidade maior que Oscar ao investir no Banco B. C + L = V → C + 0,25. C = V → 1,25. C = 100 → C = 80,00
Resposta D
2) Em uma classe com 30 alunos, 18 são rapazes e 12 são
moças. Qual é a taxa percentual de rapazes na classe? Aumento e Desconto Percentuais
Resolução:
A) Aumentar um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo
𝒑
A razão entre o número de rapazes e o total de alunos é
18 por (𝟏 + ).V .
𝟏𝟎𝟎
30
. Devemos expressar essa razão na forma centesimal, isto é, Logo:
𝒑
precisamos encontrar x tal que: VA = (𝟏 + ).V
𝟏𝟎𝟎
18 𝑥
= ⟹ 𝑥 = 60
30 100 Exemplos:
E a taxa percentual de rapazes é 60%. Poderíamos ter 1 - Aumentar um valor V de 20% , equivale a multiplicá-
divido 18 por 30, obtendo: lo por 1,20, pois:
18 20
= 0,60(. 100%) = 60% (1 + ).V = (1+0,20).V = 1,20.V
100
30

8IEZZI, Gelson – Fundamentos da Matemática – Vol. 11 – Financeira e http://www.porcentagem.org


Estatística Descritiva http://www.infoescola.com
IEZZI, Gelson – Matemática Volume Único

Leitura e Interpretação de Dados 15


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APOSTILAS OPÇÃO

2 - Aumentar um valor V de 200%, equivale a multiplicá- multiplicação 1,21; concluímos que esses dois aumentos
lo por 3, pois: significam um único aumento de 21%.
200
(1 + ).V = (1+2).V = 3.V Observe que: esses dois aumentos de 10% equivalem a
100
21% e não a 20%.
3) Aumentando-se os lados a e b de um retângulo de 15%
2) Dois descontos sucessivos de 20% equivalem a um
e 20%, respectivamente, a área do retângulo é aumentada de:
único desconto de:
(A)35% 𝑝
(B)30% Utilizando VD = (1 − ).V → V. 0,8 . 0,8 → V. 0,64 . .
100
(C)3,5% Analisando o fator de multiplicação 0,64, observamos que
(D)3,8% esse percentual não representa o valor do desconto, mas sim
(E) 38% o valor pago com o desconto. Para sabermos o valor que
representa o desconto é só fazermos o seguinte cálculo:
Resolução: 100% - 64% = 36%
Área inicial: a.b Observe que: esses dois descontos de 20% equivalem a
Com aumento: (a.1,15).(b.1,20) → 1,38.a.b da área inicial. 36% e não a 40%.
Logo o aumento foi de 38%.
Resposta E 3) Certo produto industrial que custava R$ 5.000,00
sofreu um acréscimo de 30% e, em seguida, um desconto de
B) Diminuir um valor V em p%, equivale a multiplicá-lo 20%. Qual o preço desse produto após esse acréscimo e
por (𝟏 −
𝒑
).V. desconto?
𝟏𝟎𝟎 𝑝
Logo: Utilizando VA = (1 + ).V para o aumento e VD = (1 −
100
𝒑 𝑝
V D = (𝟏 − ).V ).V, temos:
𝟏𝟎𝟎 100
VA = 5000 .(1,3) = 6500 e VD = 6500 .(0,80) = 5200,
Exemplos: podemos, para agilizar os cálculos, juntar tudo em uma única
1) Diminuir um valor V de 20%, equivale a multiplicá-lo equação:
por 0,80, pois: 5000 . 1,3 . 0,8 = 5200
20
(1 − ). V = (1-0,20). V = 0, 80.V Logo o preço do produto após o acréscimo e desconto é
100 de R$ 5.200,00
2) Diminuir um valor V de 40%, equivale a multiplicá-lo
Questões
por 0,60, pois:
40
(1 − ). V = (1-0,40). V = 0, 60.V 01. (Pref. Maranguape/CE – Prof. de educação básica –
100
GR Consultoria e Assessoria) Marcos comprou um produto e
3) O preço do produto de uma loja sofreu um desconto de pagou R$ 108,00, já inclusos 20% de juros. Se tivesse
8% e ficou reduzido a R$ 115,00. Qual era o seu valor antes comprado o produto, com 25% de desconto, então, Marcos
do desconto? pagaria o valor de:
(A) R$ 67,50
Temos que V D = 115, p = 8% e V =? é o valor que (B) R$ 90,00
queremos achar. (C) R$ 75,00
𝑝
V D = (1 − ). V → 115 = (1-0,08).V → 115 = 0,92V → V = (D) R$ 72,50
100
115/0,92 → V = 125
O valor antes do desconto é de R$ 125,00. 02. (Câmara Municipal de São José dos Campos/SP –
Analista Técnico Legislativo – VUNESP) O departamento de
𝒑 𝒑 Contabilidade de uma empresa tem 20 funcionários, sendo que
A esse valor final de (𝟏 + ) ou (𝟏 − ), é o que
𝟏𝟎𝟎 𝟏𝟎𝟎 15% deles são estagiários. O departamento de Recursos
chamamos de fator de multiplicação, muito útil para Humanos tem 10 funcionários, sendo 20% estagiários. Em
resolução de cálculos de porcentagem. O mesmo pode ser um relação ao total de funcionários desses dois departamentos, a
acréscimo ou decréscimo no valor do produto. fração de estagiários é igual a
(A) 1/5.
Abaixo a tabela com alguns fatores de multiplicação: (B) 1/6.
(C) 2/5.
(D) 2/9.
(E) 3/5.

03. (Pref. Maranguape/CE – Prof. de educação básica –


GR Consultoria e Assessoria) Quando calculamos 15% de
1.130, obtemos, como resultado
Aumentos e Descontos Sucessivos (A) 150
(B) 159,50;
São valores que aumentam ou diminuem sucessivamente. (C) 165,60;
Para efetuar os respectivos descontos ou aumentos, fazemos (D) 169,50.
uso dos fatores de multiplicação.
04. (ALMG – Analista de Sistemas – FUMARC) O
Vejamos alguns exemplos: Relatório Setorial do Banco do Brasil publicado em
1) Dois aumentos sucessivos de 10% equivalem a um 02/07/2013 informou:
único aumento de...? [...] Após queda de 2,0% no mês anterior, segundo o
𝑝
Utilizando VA = (1 + ).V → V. 1,1, como são dois de Cepea/Esalq, as cotações do açúcar fecharam o último mês com
100
10% temos → V. 1,1 . 1,1 → V. 1,21 Analisando o fator de alta de 1,2%, atingindo R$ 45,03 / saca de 50 kg no dia 28. De
acordo com especialistas, o movimento se deve à menor oferta

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de açúcar de qualidade, além da firmeza nas negociações por 09. (PM/SE – Soldado 3ª Classe – FUNCAB) Numa
parte dos vendedores. Durante o mês de junho, o etanol mostrou liquidação de bebidas, um atacadista fez a seguinte promoção:
maior recuperação que o açúcar, com a cotação do hidratado Cerveja em lata: R$ 2,40 a unidade.
chegando a R$ 1,1631/litro (sem impostos), registrando alta de Na compra de duas embalagens com 12 unidades cada,
6,5%. A demanda aquecida e as chuvas que podem interromper ganhe 25% de desconto no valor da segunda embalagem.
mais uma vez a moagem de cana-de-açúcar explicam cenário
mais positivo para o combustível. Alexandre comprou duas embalagens nessa promoção e
Fonte: BB-BI Relatório Setorial: Agronegócios-junho/2013 - publicado em revendeu cada unidade por R$3,50. O lucro obtido por ele com
02/07/2013.
a revenda das latas de cerveja das duas embalagens completas
foi:
Com base nos dados apresentados no Relatório Setorial do
(A) R$ 33,60
Banco do Brasil, é CORRETO afirmar que o valor, em reais, da
(B) R$ 28,60
saca de 50 kg de açúcar no mês de maio de 2013 era igual a
(C) R$ 26,40
(A) 42,72
(D) R$ 40,80
(B) 43,86
(E) R$ 43,20
(C) 44,48
(D) 54,03
10. (Pref. Maranguape/CE – Prof. de educação básica –
GR Consultoria e Assessoria) Marcos gastou 30% de 50% da
05. (Câmara de Chapecó/SC – Assistente de Legislação
quantia que possuía e mais 20% do restante. A porcentagem
e Administração – OBJETIVA) Em determinada loja, um sofá
que lhe sobrou do valor, que possuía é de:
custa R$ 750,00, e um tapete, R$ 380,00. Nos pagamentos com
(A) 58%
cartão de crédito, os produtos têm 10% de desconto e, nos
(B) 68%
pagamentos no boleto, têm 8% de desconto. Com base nisso,
(C) 65%
realizando-se a compra de um sofá e um tapete, os valores
(D) 77,5%
totais a serem pagos pelos produtos nos pagamentos com
cartão de crédito e com boleto serão, respectivamente:
Comentários
(A) R$ 1.100,00 e R$ 1.115,40.
(B) R$ 1.017,00 e R$ 1.039,60.
01. A. /02. B. /03. D. /04. C. /05. B. /06. E. /07. E. /
(C) R$ 1.113,00 e R$ 1.122,00.
08. A./ 09. A. /10. B.
(D) R$ 1.017,00 e R$ 1.010,00.

06. (UFPE - Assistente em Administração – COVEST)


Um vendedor recebe comissões mensais da seguinte maneira:
5% nos primeiros 10.000 reais vendidos no mês, 6% nos
próximos 10.000,00 vendidos, e 7% no valor das vendas que
excederem 20.000 reais. Se o total de vendas em certo mês foi
Anotações
de R$ 36.000,00, quanto será a comissão do vendedor?
(A) R$ 2.120,00
(B) R$ 2.140,00
(C) R$ 2.160,00
(D) R$ 2.180,00
(E) R$ 2.220,00

07. (UFPE - Assistente em Administração – COVEST)


Uma loja compra televisores por R$ 1.500,00 e os revende com
um acréscimo de 40%. Na liquidação, o preço de revenda do
televisor é diminuído em 35%. Qual o preço do televisor na
liquidação?
(A) R$ 1.300,00
(B) R$ 1.315,00
(C) R$ 1.330,00
(D) R$ 1.345,00
(E) R$ 1.365,00

08. (Câmara de São Paulo/SP – Técnico Administrativo


– FCC) O preço de venda de um produto, descontado um
imposto de 16% que incide sobre esse mesmo preço, supera o
preço de compra em 40%, os quais constituem o lucro líquido
do vendedor. Em quantos por cento, aproximadamente, o
preço de venda é superior ao de compra?

(A) 67%.
(B) 61%.
(C) 65%.
(D) 63%.
(E) 69%.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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se propagam por meio das tecnologias da informação e da


comunicação. O acúmulo e a velocidade dos acontecimentos
afetam não só os referentes temporais e identitários, os
valores, os padrões de comportamento, construindo novas
subjetividades, como também induzem os jovens a viverem,
como diz Hobsbawm (1995), “numa espécie de presente
contínuo” e, portanto, com fracos vínculos entre a experiência
pessoal e a das gerações passadas.
Auxiliar os jovens a construírem o sentido do estudo da
1 Concepções do História constitui, pois, um desafi o que requer ações
educativas articuladas. Trata-se de lhes oferecer um
pensamento histórico, a contraponto que permita ressignifi car suas experiências no
dinâmica historiográfica e sua contexto e na duração histórica da qual fazem parte, e também
influência no ensino da apresentar os instrumentos cognitivos que os auxiliem a
transformar os acontecimentos contemporâneos e aqueles do
história. 1.1 Memória, passado em problemas históricos a serem estudados e
oralidade e cotidiano no investigados.
ensino de História. 1.2 Com essa nova versão dos parâmetros curriculares de
História, procura-se buscar a sintonia com os anseios dos
Currículo: cultura, gênero, professores quanto a suas visões a respeito das necessidades
direitos humanos, meio de formação dos jovens do nosso tempo e com suas
ambiente, história local e concepções a respeito da História e do seu ensino.
diversidade étnico racial no O currículo do ensino médio e a disciplina História
ensino de História, novas Cada disciplina que compõe o currículo do ensino médio
abordagens teóricas e pode ser comparada a uma peça que é parte inseparável de um
conjunto. A História adquire seu pleno sentido para o ensino-
metodológicas no ensino de aprendizagem quando procura contribuir, com sua
História. 1.3 Novas tecnologias potencialidade cognitiva e transformadora, para que os
de comunicação e informação objetivos da educação sejam plenamente alcançados.
Auxiliar os jovens a melhor na sociedade e dela
no ensino de História. 1.4 participarem de forma ativa e crítica. As concepções e os
Aspectos avaliativo no ensino encaminhamentos foram passando de amplas definições para
de História concretizações mais específicas. Na construírem o sentido do
estudo da História constitui, pois, um desafio que requer ações
educativas articuladas.
A partir dos anos 1980, o assunto “reformas do ensino”
* Candidato(a). Os conteúdos do Tópico 1 e do foi-se propagando cada vez mais. Assim, além dos estudos
Tópico 8 (Competências e Habilidades...) se teóricos que se produziram e de práticas renovadas e
completam. Para que o material não fique repetitivo, pioneiras, diversas medidas de cunho legal foram sendo
focaremos aqui nas Orientações Curriculares tomadas para que o ensino desempenhasse a função social que
Nacionais para o Ensino de História e no Tópico 8 lhe cabia, no sentido de auxiliar as pessoas a viverem a
trabalharemos com o texto dos Parâmetros educação, definida como direito de todos e dever do Estado,
Curriculares Nacionais, como sugerido pelo edital. recebeu dispositivos amplos que foram detalhados na Lei de
Apenas não se esqueça que ambos se completam Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (para o
nesses dois tópicos, os manteremos na íntegra em cada ensino médio, ver especialmente os Artigos 26, 27, 35 e 36);
pedaço para evitar confusão entre seus conteúdos. estes, por sua vez, foram ainda mais definidos e explicitados
pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
Conhecimentos de História (OCN Ensino Médio) (1998).
Por que História Para esclarecermos qual é o papel que ocupa a disciplina
História no contexto do ensino médio, é necessário recorrer às
“Papai, então me explica para que serve a História” grandes linhas que são trabalhadas nesses textos legais.
Marc Bloch Segundo a LDB, Artigo 22, as finalidades da educação, além de
abrangentes, são desafiadoras: “A educação básica tem por
Milhares são os jovens que, como o garoto do qual fala finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação
Marc Bloch na introdução do seu livro, escrito em 1943, comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-
Apologia da História ou o ofício de historiador, dirigem essa lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
questão ao seu professor de História. Responder aos jovens superiores”. Já as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
essa questão requer muito mais do que saber falar a eles com Ensino Médio estabelecem como finalidade “[...] vincular a
clareza, simplicidade e correção sobre o que é a História. educação com o mundo do trabalho e a prática social,
Requer oferecer-lhes condições para refletirem criticamente consolidando a preparação para o exercício da cidadania e
sobre suas experiências de viver a história e para propiciando preparação básica para o trabalho” (DCNEM,
identificarem as relações que essas guardam com experiências Artigo 1o).
históricas de outros sujeitos em tempos, lugares e culturas ...o ensino de História, articulando-se com as outras
diversas das suas. disciplinas, busca oferecer aos alunos possibilidades de
Os jovens vivem e participam de um tempo de múltiplos desenvolver competências que os a prepará-lo para outra
acontecimentos que precisam ser compreendidos na sua etapa escolar ou para o exercício profissional.
historicidade. No entanto, a compreensão da historicidade dos A nova identidade atribuída ao ensino médio define-o,
acontecimentos tem sido dificultada não só pela sua portanto, como uma etapa conclusiva da educação básica para
quantidade e variedade, mas também pela velocidade com que a população estudantil. O objetivo é o de preparar o educando

Conhecimentos Específicos 1
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para a vida, para o exercício da cidadania, para sua inserção que em verdade, para sermos rigorosos, costumam gerar
qualificada no mundo do trabalho, e capacitá-lo para o apenas integrações e/ou ações multidisciplinares. O
aprendizado permanente e autônomo, não se restringindo interdisciplinar se obtém por outra via, qual seja, por uma
sobre si mesmos. prática docente comum na qual diferentes disciplinas
Instrumentalizem a refle volver competências que os mobilizam, por meio da associação ensino-pesquisa, múltiplos
instrumentalizem a refletir sobre si mesmos, a se inserir e a conhecimentos e competências, gerais e particulares, de
participar ativa e criticamente no mundo social, cultural e do maneira que cada disciplina dê a sua contribuição para a
trabalho. Procura-se, portanto, contribuir para que a construção de conhecimentos por parte do educando, com
disparidade e as tensões existentes entre os objetivos que vistas a que o mesmo desenvolva plenamente sua autonomia
visam à preparação para o vestibular, à preparação para o intelectual.
trabalho e à formação da cidadania possam ser atenuadas. Para que o princípio pedagógico da interdisciplinaridade
Pretende-se que o ensino médio atinja um grau de qualidade possa efetivamente presidir os trabalhos da escola, faz-se
em que o aluno dele egresso tenha todas as condições para necessária uma profunda reestruturação do ponto de vista
enfrentar a continuidade dos estudos no ensino superior e organizacional, físico-espacial, de pessoal, de laboratórios, de
para se posicionar na escolha das profissões que melhor se materiais didáticos. Daí o poder estratégico do projeto
coadunem com suas possibilidades e habilidades. político-pedagógico da escola como instrumento capaz de
Nessa perspectiva, o ensino médio buscará, também, mobilizar o conjunto dos profissionais que nela trabalham,
superar a oferta de disciplinas compartimentadas e assim como a comunidade, para que se possam conseguir as
descontextualizadas de suas realidades sociais e culturais condições que possibilitem implantar as reformas pedagógicas
próximas, espacial e temporalmente, não só no interior da área preconizadas.
das ciências humanas, como no interior das outras áreas e Outro eixo estruturador do currículo, a contextualização, é
entre elas. Apontam-se como princípios estruturadores do entendido como o trabalho de atribuir sentido e significado
currículo a interdisciplinaridade, a contextualização, a aos temas e aos assuntos no âmbito da vida em sociedade. Os
definição de conceitos básicos da disciplina, a seleção dos conhecimentos produzidos pelos estudiosos da História e do
conteúdos e sua organização, as estratégias didático- ensino da História, no âmbito das universidades, por exemplo,
pedagógicas. Esse conjunto de preocupações consubstancia- são referências importantes para a construção dos
se, ganha concretude e garantia de efetivação, a médio e a conhecimentos escolares na dimensão da sala de aula.
longo prazos, no projeto pedagógico da escola, elaborado com Nessa compreensão, portanto, a referência à
a participação efetiva da direção, dos professores, dos alunos contextualização vai muito além daquela intenção de “situar”
e dos agentes da comunidade em que se situa a escola. fatos e acontecimentos que estão sendo estudados na pretensa
Para fazer frente à necessidade vital de formação para a referência a aspectos gerais de uma situação histórica,
vida, o ensino pautasse pelo conceito de educação externos à produção do conhecimento em pauta, como se fosse
permanente, tendo em vista o desenvolvimento de necessário descrever o “pano de fundo” no qual eles estariam
competências cognitivas, socioafetivas, psicomotoras e das “inseridos”. Evita-se, também, entender a contextualização
que incentivam uma intervenção consciente e ativa na como se fosse apenas e tão-somente a referência a temas
realidade social em que vive o aluno. Dentre essas específicos e candentes do cotidiano dos alunos. Estes poderão
competências, podem-se enumerar, segundo as DCNEM: a e deverão ser pontos de partida para a problematização do
autonomia intelectual e o pensamento crítico; a capacidade de trabalho com a História, mas isso não substitui a dimensão
aprender e continuar aprendendo, de saber se adequar de temporal da realidade humana. Como se afirma nas DCNEM:
forma consciente às novas condições de ocupação ou “A relação entre teoria e prática requer a concretização dos
aperfeiçoamento, de constituir significados sobre a realidade conteúdos curriculares em situações mais próximas e
social e política, de compreender o processo de transformação familiares do aluno, nas quais se incluem as do trabalho e do
da sociedade e da cultura; o domínio dos princípios e dos exercício da cidadania” (Artigo 9o, II). Cabe ainda lembrar que
fundamentos científico-tecnológicos para a produção de bens, o trabalho de contextualização busca compreender a
serviços e conhecimentos. O trabalho com a disciplina História correlação entre as dimensões de realidades local, regional e
estará atento ao desenvolvimento dessas competências mais global, sem o que se torna impossível compreender o real
gerais e, ao mesmo tempo, à busca das competências que são significado da vida cotidiana do aluno do ponto de vista
específicas do conhecimento histórico. Cabe ao professor histórico.
priorizar e selecionar as competências que são mais
adequadas ao desenvolvimento de acordo com os contextos A HISTÓRIA NO ENSINO MÉDIO
específicos da escola e dos alunos.
O princípio pedagógico da interdisciplinaridade é aqui Questões de conteúdo
entendido especificamente como a prática docente que visa ao Seria muito difícil chegar a um acordo sobre os assuntos,
desenvolvimento de competências e de habilidades, à temas ou objetos de estudo que deveriam fazer parte do
necessária e efetiva associação entre ensino e pesquisa, ao currículo de História. E ainda é mais complexo e arbitrário
trabalho com diferentes fontes e diferentes linguagens, à direcionar a escolha para uma ou outra opção teórico-
suposição de que são possíveis diferentes interpretações metodológica, seja em relação ao conhecimento histórico seja
sobre temas/assuntos. Em última análise, o que está em jogo é em relação aos posicionamentos didático-pedagógicos. Além
a formação do cidadão por meio do complexo jogo dos de sua quase infinita variedade, pois o objeto da História são
exercícios de conhecimento e não apenas a transmissão– todas as ações humanas na dimensão do tempo, a escolha dos
aquisição de informações e conquistas de cada uma das temas, dos assuntos ou dos objetos consagrados pela
disciplinas consideradas isoladamente. A questão da historiografia depende necessariamente de posições
interdisciplinaridade está claramente exposta nos PCN+, metodológicas assumidas ou mesmo de preferências
Ciências Humanas, p. 15-16. ideológicas. Em vista disso, no caso da História, optou-se por
O que é preciso compreender é que, precisamente por apresentar como parâmetros os conceitos básicos que
transcender cada disciplina, o exercício dessas competências e sustentam o conhecimento histórico e podem articular as
dessas habilidades está presente em todas elas, ainda que com práticas dos professores em sala de aula.
diferentes ênfases e abrangências. Por isso, o caráter Alguns conceitos básicos do conhecimento histórico fazem
interdisciplinar de um currículo escolar não reside nas parte do arcabouço constituído, ao longo dos tempos, pela
possíveis associações temáticas entre diferentes disciplinas, prática dos historiadores. Paulatinamente, o processo do

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conhecimento histórico foi tomando formas que o História


diferenciaram do de outras disciplinas cognitivas também O conceito “história” tem sido tomado em um duplo
elaboradas segundo métodos rigorosos. significado. Sob um aspecto, história são todas as ações
Os posicionamentos ideológicos ou as proposições de humanas realizadas no decorrer dos tempos,
ordem metodológica, não há como não trabalhar com esses independentemente de terem sido ou não objeto de
conceitos, ou, pelo menos, com uma parte importante deles. O conhecimento dos estudiosos. É o que se poderia chamar de
que diferencia as diversas concepções de História é a forma matéria-prima para o trabalho dos historiadores, que, por sua
como esses conceitos e procedimentos são entendidos e vez, foram construindo suas representações cognitivas. A
trabalhados. As propostas pedagógicas, sejam elas quais essas representações cognitivas dá-se o nome de História, em
forem, têm um compromisso implícito com essas práticas geral grafada com maiúscula para distinguir da história como
historiográficas ao produzirem o conhecimento histórico acontecimento. O objetivo primeiro do conhecimento histórico
escolar, resguardadas as devidas especificidades e é a compreensão dos processos e dos sujeitos históricos, o
particularidades. desvendamento das relações que se estabelecem entre os
Importa perceber quais conceitos e procedimentos de grupos humanos em diferentes tempos e espaços. Os
análise e interpretação, construídos e empregados na e pela historiadores estão atentos às diferentes e múltiplas
prática da produção do conhecimento, são imprescindíveis possibilidades e alternativas que se apresentam nas
para permitir aos alunos do ensino básico apropriarem-se de sociedades, tanto nas de hoje quanto nas do passado, as quais
uma formação histórica que os auxilie em sua vivência como emergiram da ação consciente ou inconsciente dos homens.
cidadãos. Para iniciar o aluno nos processos de ensino- Procuram apontar, também, os desdobramentos que se
aprendizagem, sugere-se uma reflexão sobre alguns conceitos impuseram com o desenrolar das ações desses sujeitos.
e procedimentos do conhecimento histórico considerados Um dos objetivos do ensino de História, talvez o primeiro
fundamentais. A partir dessas considerações, é possível iniciar e o que condiciona os demais, é levar os alunos a considerarem
um debate construtivo para corrigir, redimensionar, como importante a apropriação crítica do conhecimento
confirmar, ampliar e sugerir outras possibilidades. produzido pelos historiadores, que está contido nas narrativas
É preciso levar em consideração, em primeiro lugar, que os de autores que se utilizam de métodos diferenciados e podem
conceitos históricos somente podem ser entendidos na sua até mesmo apresentar versões e interpretações díspares sobre
historicidade. Isso quer dizer que os conceitos criados para os mesmos acontecimentos. Essa leitura crítica presidirá
explicar certas realidades históricas têm o significado voltado também os materiais didáticos colocados à disposição dos
para essas realidades, sendo equivocado empregá-los alunos, especialmente os livros didáticos.
indistintamente para toda e qualquer situação semelhante. A aprendizagem de metodologias apropriadas para a
Dessa forma, os conceitos, quando tomados em sua acepção construção do conhecimento histórico, seja no âmbito da
mais ampla, não podem ser utilizados como modelos, mas pesquisa científica seja no do saber histórico escolar, torna-se
apenas como indicadores de expectativas analíticas. Ajudam- um mecanismo essencial para que o aluno possa apropriar-se
nos e facilitam o trabalho a ser realizado no processo de de um olhar consciente no que tange à sociedade e a si mesmo.
conhecimento, na indagação das fontes e na compreensão de Ciente do caráter provisório do conhecimento, o aluno terá
realidades históricas específicas. condições de se exercitar nos procedimentos próprios da
Registre-se que é possível distinguir os “conceitos”, na História: problematização das questões propostas;
escala de compreensão, entre aqueles que são mais delimitação do objeto; estudo da bibliografia produzida sobre
abrangentes e os que se referem a realidades mais o assunto; busca de informações; levantamento e tratamento
especificamente determinadas. Quando se atribui ao conceito adequado das fontes; percepção dos sujeitos históricos
uma compreensão mais ampla, relacionada a realidades envolvidos (indivíduos, grupos sociais); estratégias de
histórico-sociais semelhantes, esse pode receber a verificação e confirmação de hipóteses; organização dos dados
denominação de “categoria”. Por exemplo, as categorias coletados; refinamento dos conceitos (historicidade);
trabalho, homem, continente, revolução, etc. Nesse sentido, os proposta de explicação dos fenômenos estudados; elaboração
conceitos ou categorias são abertos, são vetores à espera de da exposição; redação de textos. Dada a complexidade do
concretizações, a serem elaborados por meio de objeto de conhecimento, é imprescindível que se incentive a
conhecimentos específicos, de acordo com os procedimentos prática interdisciplinar.
próprios da disciplina História. No momento em que se atribui Faz parte da construção do conhecimento histórico, no
a essas categorias suas especificidades históricas, como âmbito dos procedimentos que lhe são próprios, a ampliação
trabalho assalariado, trabalho servil, trabalho escravo, por do conceito de fontes históricas que podem ser trabalhadas
exemplo, já se está lidando com conceitos que, por sua vez, pelos alunos: documentos oficiais; textos de época e atuais;
poderão receber ainda mais especificações, como trabalho mapas; gravuras; imagens de histórias em quadrinhos;
servil na Germânia, na Francônia, e assim por diante; a poemas; letras de música; literatura; manifestos; relatos de
revolução socialista, a revolução industrial, etc. Não se pode viajantes; panfletos; caricaturas; pinturas; fotos; reportagens
usar indevidamente o caráter universal que o conceito e matérias veiculadas por rádio e televisão; depoimentos
efetivamente tem para tirar-lhe a historicidade. Não seria provenientes da pesquisa levada a efeito pela chamada
conveniente, por exemplo, atribuir à “democracia” uma História oral, etc. O importante é que se alerte para a
dimensão essencialista, como se ela existisse à guisa de necessidade de as fontes receberem um tratamento adequado,
modelo a ser imitado. O que existe são democracias de acordo com sua natureza.
historicamente praticadas na Grécia, no século XIX, a É preciso deixar claro, porém, que o ensino básico não se
democracia liberal, a socialista, a brasileira atual, etc. Os propõe a formar “pequenos historiadores”. O que importa é
conceitos propriamente ditos seriam, então, considerados que a organização dos conteúdos e a articulação das
representações de um objeto ou fenômeno histórico por meio estratégias de trabalho levem em conta esses procedimentos
de suas características. para a produção do conhecimento histórico. Com isso, evita-se
Tendo como referência os princípios anteriormente passar para o educando a falsa sensação de que os
enunciados para o ensino médio (competências, conhecimentos históricos existem de forma acabada, e assim
interdisciplinaridade, contextualização), apresenta-se a seguir são transmitidos.
uma proposta de explicitação dos conceitos estruturadores
para a disciplina História.

Conhecimentos Específicos 3
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Processo histórico assim como da história dos homens em geral. O tempo pode
A História busca explicar tanto as permanências e as ser considerado o estruturador do pensamento e da ação
regularidades das formações sociais quanto as mudanças e as humanos.
transformações que se estabelecem no embate das ações O conceito de tempo supõe também que se estabeleçam
humanas. A descrição factual e linear dos acontecimentos não relações entre continuidade e ruptura, permanências e
leva a um conhecimento significativo. Na verdade, o passado mudanças/transformações, sucessão e simultaneidade, o
humano constitui um conjunto de comportamentos antes, o agora e o depois. Sendo assim, é necessário lembrar
intimamente interligados que tem uma razão de ser, ainda que, que o tempo histórico não tem uma dimensão homogênea, mas
no mais das vezes, imperceptível aos nossos olhos. O processo comporta durações variadas, como tem sido largamente
histórico resulta da captação cognitiva dessas práticas, discutido na historiografia. Eis a importância de se
ordenadas e estruturadas de maneira racional agentes considerarem os diversificados ritmos do tempo histórico
históricos são pelos historiadores. Parte-se do princípio de o quando situados na duração dos fenômenos sociais e naturais.
ponto de partida para que não há caminhos preestabelecidos É justamente a compreensão dos fenômenos sociais na
para entendermos os processos da História, seja no sentido duração temporal que permite o exercício explicativo das
idealista seja nas concepções de etapas predeterminadas pelas periodizações. Essas são frutos de concepções de mundo, de
quais a humanidade deva trilhar. Assim, são os problemas que metodologias e até mesmo de ideologias diferenciadas.
os indivíduos e as sociedades colocam constantemente a si As considerações sobre a riqueza e a complexidade do
mesmos, na trajetória da trama social que é por princípio conceito de tempo são imprescindíveis para que sejam
indeterminada, que fazem com que os homens optem pelos evitados os anacronismos, não tão raros, nas explicações
caminhos possíveis e desenhem os acontecimentos que históricas. O anacronismo consiste em atribuir a determinadas
passam a ser registrados. Os registros ou as evidências da luta sociedades do passado nossos próprios sentimentos ou
dos agentes históricos são o ponto de partida para se razões, e, assim, interpretar essas ações ou aplicar critérios e
entenderem os processos históricos. conceitos que foram elaborados para uma determinada época,
Deve-se ressaltar, igualmente, que o conceito de processo em circunstâncias específicas, para avaliar outras épocas de
histórico supõe a enunciação resultante de uma construção características diferentes.
cognitiva dos estudiosos. No entanto, embora os processos não
tenham existido exatamente como descritos, eles são Sujeitos históricos
sedimentados na realidade social. A dimensão de elaboração Perceber a complexidade das relações sociais presentes no
no sentido de uma aquisição cognitiva em permanente cotidiano e na organização social mais ampla permite indagar
construção permite entender a possibilidade das diversas qual o lugar que o indivíduo ocupa na trama da História e como
interpretações do passado histórico, dependentes de são construídas as identidades pessoais e as sociais, em
posicionamentos teóricos e metodológicos diferenciados. dimensão temporal. Os sujeitos históricos, que se configuram
Assim, a História, concebida como processo, intenta na inter-relação complexa, duradoura e contraditória das
aprimorar o exercício da problematização da vida social como identidades sociais e pessoais, são os verdadeiros
ponto de partida para a investigação produtiva e criativa, construtores da História.
buscando identificar relações sociais de grupos locais, Conceber a História como resultado da ação de sujeitos
regionais, nacionais e de outros povos; perceber diferenças e históricos significa não atribuir o desenrolar do processo
semelhanças, conflitos/contradições e solidariedades, como vontade de instituições, tais como o Estado, os países, a
igualdades e desigualdades existentes nas sociedades; escola, etc., ou como resultante do jogo de categorias de análise
comparar problemáticas atuais e de outros momentos, (ou conceitos): sistemas, capitalismo, socialismo, etc. É
posicionar-se de forma analítica e crítica diante do presente e perceber também que a trama histórica não se localiza nas
buscar as relações possíveis com o passado. ações individuais, mas no embate das relações sociais no
Nesse quadro conceitual de processo, dimensiona-se a tempo.
compreensão do conceito de “fato histórico”, de
“acontecimento”, que resulta de uma construção social da qual Trabalho
faz parte o historiador e tem importância fundamental, como A categoria “trabalho” é aqui entendida como um modo de
ponto referencial das relações sociais, no cotidiano da História. sustentação e autopreservação do gênero humano, que se
No entanto, o sentido pleno dos acontecimentos, em sua expressa nas transformações impostas pelo homem à natureza
dimensão micro, resolve-se quando remetido aos processos e às formações sociais e culturais historicamente construídas.
que lhe emprestam as possibilidades explicativas. Enfim, o fato Trata-se de conceito fundamental para a compreensão da
histórico toma sentido se considerado como constitutivo dos formação e do fazer histórico da humanidade em toda a sua
processos históricos, e nessa escala deve ser compreendido. diversidade.
Entende-se o trabalho na sua diversidade social,
Tempo (temporalidades históricas) econômica, política e cultural, pois o trabalho não se refere
A dimensão da temporalidade é considerada uma das somente às formas de produzir formalmente e historicamente
categorias centrais do conhecimento histórico. Considera-se aceitas nas diversas sociedades históricas, tais como a
fundamental levar o aluno a perceber as diversas escravidão, a servidão e o trabalho assalariado, mas também
temporalidades no decorrer da História e sua importância nas ao trabalho relacionado à esfera doméstica, à prática
formas de organizações sociais e de conflitos. Sendo um comunitária, às manifestações artísticas e intelectuais, à
produto cultural forjado pelas necessidades concretas das participação nas instâncias de representação políticas,
sociedades historicamente situadas, o tempo representa um trabalhistas, comunitárias e religiosas. Essas diferentes formas
conjunto complexo de vivências humanas. Por isso a de produzir e organizar a vida individual e coletiva
necessidade de relativizar as diferentes concepções de tempo intercambiam-se com diversas perspectivas ou abordagens.
e as periodizações propostas, e de situar os acontecimentos Dentre elas podem-se destacar as de gênero (a participação
históricos nos seus respectivos tempos. É de se ressaltar a das mulheres e dos homens nas relações entre trabalho formal,
importância das periodizações, dos calendários e das informal e doméstico); de parentesco ou de comunidade
contagens dos tempos como foram sendo historicamente (posição dos membros na hierarquia da família e da
construídos para que o aluno elabore, de forma comunidade relacionados a sua ocupação profissional); de
problematizada, seus próprios pontos de referência como geração (as transformações históricas na relação entre o
marcos para as explicações de sua própria história de vida, trabalho formalmente aceito em uma sociedade e o trabalho

Conhecimentos Específicos 4
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infantil, além do trabalho como formação educativa nas interétnicas. O estudo da África e das culturas afro-brasileiras,
dimensões professor/ aluno, mestre/aprendiz, entre outras); assim como o olhar atento às culturas indígenas, darão
e de poder (tensões e conflitos entre os diferentes agentes consistência à compreensão da diversidade e da unidade que
sociais, profissionais e políticos). fazem da História do Brasil o complexo cultural que lhe dá vida
e sentido.
Poder
O poder pode ser entendido como o complexo de relações Memória
entre os sujeitos históricos nas diversas formações sociais e Um compromisso fundamental da História encontra-se na
nas relações entre as sociedades. Articula-se com todos os sua relação com a memória. O direito à memória faz parte da
conceitos presentes neste documento, pois as relações de cidadania cultural e revela a necessidade de debates sobre o
poder permeiam o processo de construção do conhecimento conceito de preservação das obras humanas em toda a sua
histórico e são um dos fatores de significação que delimitam o diversidade étnico-cultural. A constituição do patrimônio
que seria a consciência histórica, que marca os diversos modos cultural diverso e múltiplo e sua importância para a formação
da apreensão e da construção do mundo historicamente de uma memória social e nacional, sem exclusões e
constituído e suas respectivas interpretações. Além disso, o discriminações, são abordagens necessárias aos educandos. É
exercício do poder encontra-se presente nos usos sociais que necessário chamar a atenção dos alunos para os usos
se fazem da História tanto para legitimar poderes quanto para ideológicos a que a memória histórica está sujeita, que muitas
execrar o passado de inimigos políticos, sociais ou de qualquer vezes constituem “lugares de memória”, estabelecidos pela
outra natureza. sociedade e pelos poderes constituídos, que escolhem o que
As relações de poder são exercidas nas diversas instâncias deve ser preservado e relembrado e o que deve ser silenciado
das sociedades históricas, como as do mundo do trabalho e as e “esquecido” (ver PCNEM 99, p. 54).
das instituições, como, por exemplo, as escolas, as prisões, as Enfatize-se também a riqueza que o conceito de memória
fábricas, os hospitais, as famílias, as comunidades, os Estados vem adquirindo no âmbito da História com os trabalhos de
nacionais, as Igrejas e os organismos internacionais políticos, autores estrangeiros e nacionais. Evidencia-se, por exemplo,
econômicos e culturais, os quais se transformam na sua que os lugares da memória são criações da sociedade
relação com as formações sociais historicamente constituídas. contemporânea para impor determinada memória, que a
É na inter-relação entre essas instituições (sociais, políticas, concepção de memória nacional ou identidade regional
étnicas e religiosas) e nas relações de dominação, hegemonia, constitui formas de violência simbólica que silenciam e
dependência, convencimento, submissão, resistência, uniformizam a pluralidade de memórias associadas aos
convivência, autonomia e independência entre elas que se diversos grupos sociais. Por isso, a questão da memória ou da
torna possível a compreensão de suas construções políticas educação patrimonial associasse à valorização da pluralidade
como algo próprio da formação histórica do ser humano. Não cultural e ao questionamento da construção do patrimônio
se pode esquecer também o processo de invenção das cultural pelos órgãos públicos, que, historicamente, vêm
tradições, que expressa muito bem as articulações entre alijando a memória de grupos sociais (como os escravos ou
mudanças e permanências no campo das relações políticas. operários) daquilo que se concebe como memória nacional.
Nesse aspecto, o conceito de poder facilita o entendimento É oportuno lembrar, igualmente, que a memória
da construção histórica do conceito de cidadania e do processo construída a favor de interesses políticos ou ideológicos pode
de constituição da participação política nas mais diversas ser contraditada ou questionada a partir de pesquisas
instituições marcadas por consensos, tensões e conflitos historiográficas calcadas em processos científicos de
revelados em toda a sua historicidade. conhecimento. Nesse contexto, é fundamental que sejam
introduzidas as conquistas historiográficas conseguidas nas
Cultura últimas décadas sobre a memória dos povos e das nações que
A ampliação do conceito de cultura, fruto da aproximação estiveram presentes em todos os momentos da História do
das disciplinas História e Antropologia, enriquece o âmbito Brasil, aí incluídos índios, africanos e imigrantes. Em educação
das análises, caminhando, de forma positiva, para a abertura patrimonial enfatiza-se a importância de a escola atuar para
do campo científico da História Cultural. O recurso à Filosofia, mapear e divulgar os bens culturais relacionados com o
por sua vez, enriquece e amplia o conceito, especialmente no cotidiano dos diversos grupos, mesmo aqueles bens que ainda
que se refere à ideia de cultura como formação advinda da não foram reconhecidos pelos poderes instituídos e pelas
“paidéia” (ligada à educação) e da cultura humanista, culturas dominantes.
renascentista e iluminista. Na articulação dessas abordagens Introduzir na sala de aula o debate sobre o significado de
(histórica, antropológica e filosófica), o conceito de cultura festas e monumentos comemorativos, de museus, arquivos e
pode alcançar maior abrangência e significado. áreas preservadas permite a compreensão do papel da
A cultura não é apenas o conjunto das manifestações memória na vida da população, dos vínculos que cada geração
artísticas e materiais. É também constituída pelas formas de estabelece com outras gerações, das raízes culturais e
organização do trabalho, da casa, da família, do cotidiano das históricas que caracterizam a sociedade humana. Retirar os
pessoas, dos ritos, das religiões, das festas. As diversidades alunos da sala de aula e proporcionar-lhes o contato ativo e
étnicas, sexuais, religiosas, de gerações e de classes constroem crítico com ruas, praças, edifícios públicos, festas e outras
representações que constituem as culturas e que se expressam manifestações imateriais da cultura constituem excelente
em conflitos de interpretações e de posicionamentos na oportunidade para o desenvolvimento de uma aprendizagem
disputa por seu lugar no imaginário social das sociedades, dos significativa e crítica de preservação e manutenção da
grupos sociais e de povos. memória.
A cultura, que confere identidade aos grupos sociais, não
pode ser considerada produto puro ou estável. As culturas são Cidadania
híbridas e resultam de trocas e de relações entre os grupos A atenção dada à questão da cidadania participativa, no seu
humanos. Dessa for de apropriação de uns mais, podem impor sentido pleno, focada nos direitos às diferenças, é recente na
padrões uns sobre os outros, ou também receber influências, historiografia. Atualmente, o conjunto de preocupações que
constituindo processos de apropriações de significados e norteia o conhecimento histórico e suas relações com o ensino
práticas que contém elementos de acomodação–resistência. vivenciado na escola leva ao aprimoramento de atitudes e
Daí a importância dos estudos dos grupos e culturas que valores imprescindíveis ao exercício pleno da cidadania, tais
compõem a História do Brasil, no âmbito das relações como: atenção ao conhecimento autônomo e crítico;

Conhecimentos Específicos 5
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valorização de si mesmo contra qualquer tipo de injustiça e Conceitos básicos da História


mentira social; valorização do patrimônio sociocultural, Habilidades para o trabalho com a História
próprio e de outros povos, incentivando o respeito à Elaboração e condução das atividades didáticas
diversidade; valorização dos direitos conquistados pela
cidadania plena, aí incluídos os correspondentes deveres, seja História
dos indivíduos, dos grupos e dos povos, na busca da
consolidação da democracia. É de se ressaltar o papel central • Reconhecer o papel das diferentes linguagens:
da História em alicerçar a prática da cidadania, especialmente escrita, pictórica, fotográfica, oral, eletrônica, etc.
ao colocar em evidência a diversidade das culturas que • Compreender textos de natureza histórica (obras de
integram a história dos povos. historiadores, materiais didáticos).
Assim, é necessário incorporar a cidadania como objeto do • Organizar a produção do conhecimento.
ensino de História. No desenvolvimento dos conteúdos, a • Produzir textos analíticos e interpretativos sobre os
historicidade do conceito de cidadania torna-se objeto do processos históricos a partir das categorias e dos
ensino de História, ao ressaltar as experiências de participação procedimentos metodológicos da História.
dos indivíduos e dos grupos sociais na construção coletiva da • Reconhecer os diferentes agentes sociais e os
sociedade, assim como os obstáculos e a redução dos direitos contextos envolvidos na produção do conhecimento histórico.
do cidadão ao longo da história. A importância e o sentido do • Ter consciência de que o objeto da História são as
conceito consolidam-se ainda mais com o estudo do processo relações humanas no tempo e no espaço.
de ampliação da concepção de cidadania, por meio do • Perceber os processos históricos como dinâmicos e
movimento de incorporação dos direitos sociais e dos direitos não determinados por forças externas às ações humanas.
humanos ao lado dos direitos civis e políticos. • Exercitar-se nos procedimentos metodológicos
específicos para a produção do conhecimento histórico.
Questões metodológicas • Praticar a interdisciplinaridade.
A mobilização dos conceitos no trabalho pedagógico • a importância de tomar os conhecimentos prévios
escolar como instrumentos de conhecimento supõe a dos alunos como referência para adequar o planejamento e as
articulação entre os conceitos estruturadores da disciplina intervenções didáticas;
História e as habilidades necessárias para trabalhá-la como • a adequação do planejamento dos programas com a
um processo de conhecimento. Os conceitos estruturadores da realidade sócio- econômica da escola e dos alunos.
História, além de expressarem o arcabouço da prática da • que as atividades são procedimentos didáticos
tradição historiográfica, são os pontos nucleares a partir dos relacionados aos aspectos metodológicos;
quais se definem as habilidades e as competências específicas • a importância da prática pedagógica interdisciplinar;
a serem conquistadas por meio do ensino da História.
Ademais, a concepção de um ensino/aprendizagem criativo Processo histórico
que coloque o aluno no centro do processo supõe a
mobilização de atividades adequadas. • Compreender o passado como construção cognitiva
No quadro proposto a seguir, são apontados os conceitos que se baseia em registros deixados pela humanidade e pela
estruturadores da História anteriormente tratados; são natureza (documentos, fontes).
descritas as habilidades decorrentes da prática do • Perceber que o fato histórico (dimensão micro)
conhecimento histórico e as expectativas como conhecimento. adquire sentido relacionado aos processos históricos
Além disso, são indicadas algumas das condições necessárias (dimensão macro).
para que as atividades didáticas propiciem o exercício do • Buscar os sentidos das ações humanas que parecem
conhecimento histórico produzido na e para a escola, pois se disformes e desconectadas.
trata de um processo de ensino/aprendizagem. • Entender que os processos sociais resultam de
tomadas de posição diante de variadas possibilidades de
Quadro: Articulação entre conceitos, habilidades, encaminhamento.
atividades didáticas • Reconhecer nas ações e nas relações humanas as
Conceitos básicos da História permanências e as rupturas, as diferenças e as semelhanças, os
Habilidades para o trabalho com a História confl itos e as solidariedades, as igualdades e as desigualdades.
Elaboração e condução das atividades didáticas • Aceitar a possibilidade de várias interpretações.
Historicidade dos conceitos
• Perceber os conceitos como representações gerais do Conceitos básicos da História
real social organizadas pelo pensamento. Habilidades para o trabalho com a História
• Compreender os conceitos como expectativas Elaboração e condução das atividades didáticas
analíticas que auxiliam na indagação das fontes e das
realidades históricas. Processo histórico
• Considerar a dinâmica dos conceitos, que adquirem
especificidade a partir da construção de representações. • Problematizar a vida social, o passado e o presente,
na dimensão individual e social.
Na elaboração da proposta de ensino, levar em conta: • Comparar problemáticas atuais e de outros
• a necessidade de problematizar a relação entre o momentos históricos. • que é necessário evitar a
conhecimento prévio dos alunos e os conhecimentos simples memorização e repetição de definições;
históricos; • o uso da memorização associado aos procedimentos
de compreensão, análise, síntese, interpretação, criatividade,
História inventividade, curiosidade, autonomia intelectual;
• Reconhecer a natureza específica de cada fonte • o cuidado em relacionar, nas atividades,
histórica. competências gerais e específicas com conceitos
• Criticar, analisar e interpretar fontes documentais de estruturadores da História, de forma explícita ou implícita;
natureza diversa.

Conhecimentos Específicos 6
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Tempo • Situar as diversas produções da cultura – as


• Reconhecer que as formas de medir o tempo são linguagens, as artes, a filosofia, a religião, as ciências, as
produtos culturais resultantes das necessidades de sociedades tecnologias e outras manifestações sociais – nos contextos
diversificadas. históricos de sua constituição e significação.
• Perceber que as temporalidades históricas e as • Perceber e respeitar as diversidades étnicas, sexuais,
periodizações propostas são criações sociais. religiosas, de gerações e de classes como manifestações
• Estar atento às referências temporais (sequência, culturais por vezes conflitantes.
simultaneidade, periodização), que permitem ao aluno se
situar historicamente e ante as realidades presentes e Memória
passadas.
• Estabelecer relações entre as dinâmicas temporais: • Ter consciência de que a preservação da memória
continuidade–ruptura, permanências–mudanças, sucessão– histórica é um direito do cidadão.
simultaneidade, antes–agora–depois. • Identificar o papel e a importância da memória
• Perceber que os ritmos e as durações do tempo são histórica para a vida da população e de suas raízes culturais.
resultantes de fenômenos sociais e de construções culturais.
• Evitar anacronismos ao não atribuir valores da
sociedade presente a situações históricas diferentes. Conceitos básicos da História
Habilidades para o trabalho com a História
Sujeito histórico Elaboração e condução das atividades didáticas
• Compreender que a História é construída pelos sujeitos
históricos, ressaltando-se: – o lugar do indivíduo; Memória
– as identidades pessoais e sociais; • Identificar e criticar as construções da memória de
– que a história se constrói no embate dos agentes cunho propagandístico e político.
sociais, individuais e coletivos; • Valorizar a pluralidade das memórias históricas
– que as instituições são criações das ações sociais, no deixadas pelos mais variados grupos sociais.
decorrer dos tempos, e não adquirem vontade nem ações • Atuar sobre os processos de construção da memória
próprias; social, partindo da crítica dos diversos “lugares de memória”
– a importância apenas relativa de personalidades socialmente instituídos.
históricas que ocuparam lugar mais destacado nos processos • Compreender a importância da escola e dos alunos
históricos. na preservação dos bens culturais de sua comunidade e região.

Trabalho • o combate a todas as formas de preconceitos;


• Compreender o trabalho como elemento primordial nas • a indignação diante das injustiças.
transformações históricas. • a atenção às contradições, às mudanças e às
Conceitos básicos da História transformações sociais, evitando-se a passividade no processo
Habilidades para o trabalho com a História ensino/aprendizagem.
Elaboração e condução das atividades didáticas
Cidadania
Trabalho
• Aprimorar atitudes e valores individuais e sociais.
• Entender como o trabalho está presente em todas as • Exercitar o conhecimento autônomo e crítico.
atividades humanas: social, econômica, política e cultural. • Sentir-se um sujeito responsável pela construção da
• Perceber as diferentes formas de produção e História.
organização da vida social em que se destacam a participação • Praticar o respeito às diferenças culturais, étnicas, de
de homens e mulheres, de relações de parentesco, da gênero, religiosas, políticas.
comunidade, de múltiplas gerações e de diversas formas de • Auxiliar na busca de soluções para os problemas da
exercício do poder. comunidade.
• a distinção entre saber acadêmico e conhecimento • Indignar-se diante das injustiças.
voltado para o desenvolvimento de competências, habilidades • Construir a identidade pessoal e social na dimensão
e conceitos, que é próprio do ensino/aprendizagem da escola; histórica a partir do reconhecimento do papel do indivíduo nos
• Perceber a complexidade das relações de poder entre processos históricos simultaneamente como sujeito e como
os sujeitos históricos. produto destes.
• Captar as relações de poder nas diversas instâncias • Ter consciência da importância dos direitos pessoais
da sociedade, como as organizações do trabalho e as e sociais e zelar pelo cumprimento dos deveres.
instituições da sociedade organizada – sociais, políticas, • Incorporar os direitos sociais e humanos além dos
étnicas e religiosas. direitos civis e políticos.
• Perceber como o jogo das relações de dominação, • Posicionar-se diante de fatos presentes a partir da
subordinação e resistência fazem parte das construções interpretação de suas relações com o passado.
políticas, sociais e econômicas.cicio da cidadania plena e da PERSPECTIVAS DE AÇÃO PEDAGÓGICA
democracia;
A seleção e a organização dos conteúdos
Cultura É dever da escola propiciar os meios para que os alunos
adquiram de forma crítica e ativa o conjunto de conhecimentos
• Compreender a cultura como um conjunto de socialmente elaborados e considerados necessários ao
representações sociais que emerge no cotidiano da vida social exercício da cidadania. As dificuldades acentuam-se quando se
e se solidifica nas diversas organizações e instituições da trata de explicitar o que deve ser entendido como
sociedade. “necessários”, especialmente quando se pensa que o termo
• Perceber que as formações sociais são resultado de deveria referir-se a todos os alunos brasileiros.
várias culturas. A seleção dos conteúdos, entendidos aqui como o conjunto
de temas e assuntos de cunho histórico a ser organizado para

Conhecimentos Específicos 7
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fins didático-pedagógicos em sala de aula, pressupõe a trabalho individual do professor, sem, contudo, perder as
articulação das preocupações descritas neste documento: referências discutidas e determinadas pelo grupo. Com efeito,
... a importância dos conteúdos não é relegada a segundo esse planejamento é parte integrante das opções, das
plano em favor da educação por com- da diretrizes e dos objetivos traçados no âmbito das Secretarias
contextualização; conceitos estruturadores da disciplina; e de Educação dos estados, das microrregiões e dos municípios
articulação com as habilidades significativamente para fins quando estabelecem projetos de implantação didático-
escolares, que o currículo da escola e de cada disciplina pedagógicos elaborados em conjunto com todos os agentes
específica toma corpo e ocupa lugar estrategicamente central envolvidos – gestores, professores, técnicos e representações
no processo educativo. Portanto, a importância dos conteúdos de pais e alunos.
e do seu tratamento didático pedagógico não é relegada a Outro marco definidor de planejamentos em que se efetiva
segundo plano em favor da educação por competências. A a seleção dos conteúdos é a escola, com seu projeto político-
seleção, a organização e a escolha de estratégias pedagógico, que necessariamente traduz a percepção das
metodológicas é que são informadas pelo conjunto das pessoas envolvidas na prática educativa daquele ambiente.
proposições que fazem parte da nova concepção de educação São relevantes as considerações sobre a realidade da
presente na LDBEN, nas leis e nos documentos subsequentes. comunidade em que está inserida a escola, inclusive no que diz
A qualidade das estratégias didático-pedagógicas, por sua respeito a valores que devem ser desenvolvidos na
vez, é que irá garantir o sucesso dos enfoques educacionais comunidade escolar, como o respeito às diferenças e o
anteriormente apontados: a prática pedagógica planejada e estímulo ao cultivo e à vivência de valores democráticos.
interdisciplinar; as atividades que levem os alunos a buscar Tendo como referência os pontos enfocados
soluções de problemas; a contextualização que confira anteriormente, cabe ao professor a responsabilidade última e
significado a temas e assuntos; a mobilização de instrumentos pessoal de elaborar os programas e selecionar os conteúdos
de análise, de conceitos, de habilidades e a prática constante para sua prática pedagógica. É nesse momento que se
da pesquisa, que, por recorrer a fontes diversificadas e evidenciam suas concepções sobre a sociedade, a educação e a
passíveis de interpretações variadas, se relaciona História, sem que sejam permitidas as imposições de agentes
permanentemente com o ensino e dele é parte indissociável. externos à comunidade escolar, como a legislação ou o
As orientações que são citadas no quadro anterior, item mercado editorial. Ao mesmo tempo, deve-se garantir que os
“Elaboração e condução das atividades didáticas”, além de princípios e os objetivos construídos paulatinamente pela
muitas outras, quando assumidas de forma consciente pelo comunidade de educadores e pelos professores de História –
conjunto dos agentes da educação, deverão fazer parte lembrados neste documento – se coadunem com as escolhas
integrante do projeto político-pedagógico da escola. relativas ao conhecimento histórico a ser construído pelos
Passa a ser consenso também entre os profissionais da alunos e mediado pelo professor.
História, ainda que com menor intensidade, que os conteúdos Com o intuito de subsidiar os professores na tarefa de
a serem trabalhados em qualquer dos níveis de ensino– escolher os conteúdos de História, cabe lembrar as
pesquisa (básico, médio, superior, pós-graduado) não são todo observações do professor Marc Ferro no livro A História
o conhecimento socialmente acumulado e criticamente vigiada (1989), no qual afirma que se devem selecionar
transmitido a respeito da “trajetória da humanidade”. acontecimentos que:
Forçosamente, devem ser feitas escolhas e seleções.
Em contrapartida, tendo em vista a diversidade dos • foram considerados importantes pelas sociedades
enfoques teórico-metodológicos que se foram construindo, que os vivenciaram e mobilizaram as populações que os
especialmente nas últimas décadas, não é possível pensar em presenciaram, nos quais o conjunto da sociedade se sentiu
uma metodologia única para a pesquisa e para a exposição dos partícipe;
resultados, nem mesmo para a prática pedagógica do ensino • foram conservados pela memória das sociedades
de História. Assim, as escolhas e as seleções estão como grandes acontecimentos;
condicionadas ao entendimento que o professor tem a respeito • ocasionaram uma mudança na vida dos Estados e das
dos conhecimentos históricos e do processo de sociedades, tendo, dessa forma, efeito a longo prazo;
ensino/aprendizagem. • sendo significativos, deram origem a múltiplas
interpretações, ainda hoje debatidas não só em estudos
A seleção dos conteúdos acadêmicos como também pelos diferentes
A necessária seleção dos conteúdos faz parte de um grupos/instituições que compõem as sociedades;
conjunto formado pela preocupação com o saber escolar, com • atingem um patamar cujo alcance ultrapassa o
as competências e com as habilidades. Por isso, os conteúdos próprio limite dos lugares onde aconteceram;
não podem ser trabalhados independentemente, pois não • permanecem vivos por meio das inúmeras obras que
constituem um fim em si mesmos, como vem sendo suscitam: romances, textos históricos, filmes.
constantemente lembrado, “mas meios básicos para constituir
competências cognitivas ou sociais, priorizando-as sobre as Diversidade na apresentação dos conteúdos.
informações” (DCNEM, Artigo 5º, I). São considerados meios A organização dos conteúdos, uma parte essencial na
para a aquisição de capacidades que auxiliem os alunos a construção do currículo, está intimamente ligada à concepção
produzir bens culturais, sociais e econômicos devendo sua de ensino que sustenta o projeto pedagógico da escola. Por
seleção e escolha estar em consonância com as problemáticas isso, sua escolha não é aleatória, tendo relação também com a
sociais marcantes de cada momento histórico. Além do mais, concepção de História subjacente à prática pedagógica. Esse
eles são concebidos não apenas como a organização dos conjunto de especificidades explica a grande variedade de
fenômenos sociais historicamente situados na exposição de propostas curriculares, desde as mais clássicas até as mais
fatos e de conceitos, mas abrangem também os procedimentos, recentes tentativas de inovações. Cada uma delas apresenta
os valores, as normas e as atitudes, seja em sala de aula, seja qualidades e limitações que serão avaliadas pelos professores
no projeto pedagógico da escola. segundo suas convicções metodológicas, concepções de
Para se proceder à seleção dos conteúdos e programar as História, de Educação e do próprio ensino de História. A título
atividades didáticas, indicam-se alguns critérios que poderão de exemplo, podem ser citadas:
servir como orientação básica aos professores. a) o exemplo clássico de organização dos conteúdos é o
O planejamento do trabalho escolar é feito em diversas que se constitui a partir das temporalidades. Preponderante
fases: algumas requerem trabalho coletivo, e outras exigem o ainda na maioria das escolas brasileiras, o tempo, considerado

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em sua dimensão cronológica, continua sendo a medida didáticos, a importância que merece a História da África. Essa
utilizada para explicar a “trajetória da humanidade”. A lacuna, que está sendo revista paulatinamente pela produção
periodização que se impôs desde o século XIX – História historiográfica, deverá ser eliminada por causa do papel
Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea – está presente histórico que os africanos trazidos para o Brasil
em grande parte dos livros didáticos e do currículo das escolas. desempenharam na construção da sociedade brasileira, assim
Retrocede-se às origens, estabelecendo-se trajetórias como pela importância da herança cultural que vem sendo
homogêneas do passado ao presente, em que a organização construída pelos brasileiros de origem africana. A força do
dos acontecimentos é feita a partir da perspectiva da evolução. Decreto Lei nº 10.639, que torna obrigatório o ensino da
Por isso, o que caracteriza a organização dos conteúdos, nesse História da África, não terá respaldo se a historiografia não der
contexto, é a linearidade e a sequencialidade; ainda maior impulso à cultura africana no Brasil. É de se
b) mais recentemente, vem-se tentando a superação da ressaltar a clareza com que a LDB, em seu artigo 26, se refere
sequencialidade e da linearidade em alguns currículos, os à questão:
quais tomam a chamada História integrada como fi o condutor Art. 26A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e
da sua organização. Assim, América e Brasil figuram junto a médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino
povos da pré-história, da Europa e da Ásia, fazendo-se sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § I - O conteúdo
presente, por vezes, a História da África. Nota-se em grande programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o
parte dos livros didáticos que optam por essa forma de estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros
organizar os conteúdos de História uma diminuição no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da
considerável dos assuntos referentes ao Brasil e pouquíssimo sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro
ou nenhum espaço para a História da África; nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do
c) há propostas diferenciadas, em que os conteúdos são Brasil. § II - Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-
organizados a partir de temas selecionados ou eixos temáticos, Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo
esperando-se maior liberdade e criatividade por parte dos escolar, em especial na Educação Artística e de Literatura e
professores. A organização e a seleção dos conteúdos a partir História Brasileiras.
de uma concepção ampliada de currículo escolar foram
elaboradas de forma mais sistematizada e aprofundada nas Cuidados especiais
propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Seja qual for a proposta apresentada e assumida pela
Ensino Fundamental, assim como para o Ensino Médio. Nas escola e pelo professor, há cuidados especiais a serem
Orientações Educacionais Complementares, PCN+ Ensino tomados. O primeiro refere-se ao envolvimento do aluno com
Médio de 2002, a opção pela organização programática de o objeto de estudo trabalhado. Na exposição factual e linear
assuntos a partir de eixos temáticos é assumida na que supõe o aluno como receptáculo de ensinamentos, além
apresentação geral para as Ciências Humanas e para todas as dos textos expositivos e detalhados, utilizam-se exercícios
disciplinas da área; voltados especificamente para o teste de compreensão e de
d) nota-se ainda uma via intermediária: mantém-se a fixação de conteúdos. A preocupação com o desenvolvimento
opção pela exposição cronológica dos eventos históricos de competências e habilidades não faz parte dos horizontes
consagrados pela historiografia, mas agora intercalada ou dessas propostas pedagógicas.
informada por exercícios e atividades chamados estratégicos, Já as propostas curriculares correntes, que concebem o
por meio dos quais os alunos são levados a perceber todos os currículo e a educação a partir de padrões–referências–
meandros da construção do conhecimento histórico, instados perspectivas mais atualizados, constroem a trama expositiva
a se envolver nas problemáticas comuns ao presente e ao procurando envolver o aluno por meio da problematização
passado estudado e encorajados a assumir atitudes que os dos temas, de sua abordagem, da relação necessária com o
levem a posicionar-se como cidadãos. Aproximam-se assim as mundo cultural do aluno. As atividades constituem o cerne do
preocupações com a sequencialidade dos conteúdos e as trabalho pedagógico apresentado, pensado sempre do ponto
finalidades da educação na formação de indivíduos de vista da construção de um conhecimento escolar
conscientes e críticos, com autonomia intelectual; significativo. A preocupação não é com a quantidade de
e) outra construção possível, algumas vezes praticada, conteúdos a serem apresentados ou com as lacunas de
consiste em manter, como fio organizador, a periodização conteúdo de História a serem preenchidas, de acordo com a
consagrada como “pano de fundo” para a elaboração de lista de assuntos tradicionalmente utilizados na escola. A
problemáticas capazes de atingir o objetivo de tornar preocupação é com o modo de trabalhar historicamente os
significativa a aprendizagem da História. A estruturação temas–assuntos–objetos em pauta, sejam eles organizados em
temática possibilita discussões de ordem historiográfica em eixos temáticos norteadores ou por hierarquização de
diferentes períodos históricos e abre a possibilidade de se assuntos ou objetos construídos pela perspectiva do tempo
considerarem os momentos históricos na dimensão da cronológico.
sucessão, da simultaneidade, das contradições, das rupturas e
das continuidades. A cronologia não é simplesmente linear, Construção e uso dos conceitos e dos procedimentos
pois leva em consideração que tempos históricos são passíveis no processo de ensino-aprendizagem
de diversificados níveis e ritmos de duração; Dada a natureza abstrata das operações cognitivas
f) muitas outras experiências de composição curricular relacionadas ao pensamento histórico, é importante levar os
poderiam ainda ser elencadas. Basta lembrar que, em muitos alunos a identificarem elementos de compreensão de
casos, a organização dos conteúdos é assumida de forma conteúdos históricos nas suas experiências sociais.
responsável pelos professores, tendo como referência suas Desenvolver capacidades de compreensão e de explicação
experiências docentes ou as orientações dos órgãos histórica requer, no entanto, a apropriação e o uso de vários
responsáveis pelas políticas educacionais dos estados e dos conceitos.
municípios. Há Secretarias Estaduais de Educação que, com Qualquer campo de conhecimento é constituído por um
maior ou menor intensidade e envolvimento, têm trabalhado conjunto de conceitos que lhe conferem especificidade e
no sentido de estabelecer diretrizes ou roteiros para as cientificidade. Na História, os conceitos representam um
organizações curriculares da História, cuja diversidade pode reagrupamento de fatos para tornar possível, por meio de uma
ser verificada a partir das possibilidades já apontadas. ou duas palavras, a comunicação de ideias e relações
Por fim, ressalta-se que ainda é muito raro encontrar nas complexas historicamente constituídas. Por meio dos
organizações curriculares, tanto das escolas como dos livros conceitos pode-se, pois, distinguir e organizar o real.

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A cognição histórica é composta de conceitos, e um elementos fundamentais do processo de


conjunto deles foi selecionado para fazer parte da proposição ensino/aprendizagem situam-se no aluno, no professor, na
do presente documento de referência nacional para o ensino escola e na comunidade. Esse conjunto de atores elabora seus
da História no ensino médio. No entanto, há de se reconhecer planos de trabalho consubstanciado no projeto político-
que a construção e o domínio desses conceitos, assim como o pedagógico da escola.
entendimento do seu valor para a compreensão e a O primeiro passo para conseguir o planejamento escolar é
interpretação históricas, não é fácil para a maioria dos jovens a adequação – a ser realizada pelos estados da Federação – dos
que frequentam o ensino médio no nosso país. Os conceitos objetivos traçados para o ensino médio pela legislação e pelas
históricos, mais do que sintetizarem ideias e raciocínios, recomendações dos órgãos federais. O projeto pedagógico da
representam para a História uma expectativa, um norte escola deverá estar em sintonia com o planejamento das
analítico; além disso, possuem sua história, ou seja, guardam respectivas Secretarias de Educação e ser elaborado em
as marcas do momento histórico em que se desenvolveram e consonância com representantes de todos os agentes
se consolidaram. envolvidos (gestores, professores, técnicos e representações
Há um consenso entre os a identificarem elementos de de pais e alunos).
estudiosos da aquisição dos conteúdos hisceitos de que esses A prática pedagógica levou à convicção de que toda e
só começam a teóricos nas suas experiências se desenvolver qualquer reforma que se pretenda é dependente da
quando os alunos tiverem alcançado certo nível em relação aos consciência que os dirigentes e os profissionais da educação
conceitos cotidianos que lhes são correlatos. Afirma-se que são têm do papel da escola e da organização de seu currículo.
os conceitos cotidianos que abrem caminho para o Segundo a LDB, Artigo 12, “os estabelecimentos de ensino,
desenvolvimento dos conceitos científicos. Muitos dos respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino,
conceitos históricos, no entanto, constroem-se por meio de terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta
vivências compartilhadas em diferentes grupos que difundem pedagógica; VI - articular-se com as famílias e a comunidade,
e perpetuam preconceitos e estereótipos a respeito de criando processos de integração da sociedade com a escola”. A
realidades passadas e presentes. Esses devem ser objeto de proposta pedagógica da escola é obra comum dos dirigentes,
problematização constante em sala de aula, usando-se para dos professores e da comunidade, ressaltando-se o lugar
isso a análise de evidências históricas situadas em seu central da competência e da responsabilidade da direção da
contexto de produção. escola. Há pesquisas que apontam a relação íntima entre o
Observa-se que muitas vezes os alunos respondem a ensino de qualidade ministrado na escola e a competência de
questões relativas aos conceitos científicos de forma que esses seu(sua) diretor(a).
parecem “carentes de riqueza de conteúdo proveniente da Ressalte-se ainda a importância da participação consciente
experiência pessoal” (Vygotsky, 1998, p. 135). Na História, dos professores na elaboração da proposta pedagógica, que
porém, os alunos não têm experiência pessoal direta com os integra seu plano de trabalho, elaborado segundo o previsto na
conceitos apresentados. Tornar esses conceitos acessíveis e proposta. A formação sólida dos profissionais que atuam no
carregados de significado para os alunos é um grande desafio sistema de ensino é condição imprescindível para a
para os professores de História. Recorrer à analogia e, implantação de reformas educacionais. Daí a responsabilidade
principalmente, torná-los capazes de utilizar os das instituições que se dedicam à formação superior de
procedimentos históricos de análise das diferentes fontes historiadores-professores em estruturar propostas e práticas
pode permitir aos alunos a construção de tais conceitos. As curriculares que visem ao domínio não apenas do conteúdo,
fontes, tratadas como documentos históricos, fornecem das teorias e metodologias do conhecimento histórico, mas
elementos a partir dos quais podem ser identificados traços também ao domínio das proposições teóricas e metodológicas
comuns às situações nelas representadas, estimuladas a respeito do processo de ensino/aprendizagem da História. A
comparações e identificadas especificidades de cada momento formação básica, constantemente realimentada pela formação
histórico. Tendo os conceitos sido construídos e ou permanente, fornecerá a consistência necessária para que os
apropriados, tornam-se instrumentos de novas indagações às professores-historiadores desempenhem suas funções na
fontes e aos conhecimentos históricos produzidos. elaboração e na execução do projeto pedagógico da escola.
Promover o trânsito entre os conceitos cotidianos e os Para que as reformas preconizadas nos documentos
conceitos históricos, assim como orientar os alunos na oficiais – LDBEM, DCNEM, PCNEM – passem do plano dos
construção e ou na apropriação desses últimos, constitui preceitos à realidade do sistema de ensino no país, faz-se
sempre um desafio que deve ser levado em conta na necessária uma profunda reelaboração na concepção e nas
proposição das atividades didático-pedagógicas. estruturas das escolas, que supõe uma tomada de posição das
O projeto político-pedagógico da escola e o ensino de autoridades educacionais do ponto de vista organizacional,
História físico-espacial, de pessoal, de laboratórios, de materiais
A proposta para essas Orientações Curriculares de História didáticos, além de uma revisão radical na estrutura de
está calcada em alguns eixos norteadores: os sujeitos do trabalho dos profissionais da educação. Os princípios
processo de ensino/aprendizagem – aluno e professor; a pedagógicos da interdisciplinaridade, da contextualização e do
finalidade do ensino médio – formação geral para a vida; lugar central da formação para a vida e para o exercício da
competências, interdisciplinaridade e contextualização como cidadania somente poderão tomar corpo e constituir impulso
princípios pedagógicos básicos; a identificação dos conceitos para um ensino de qualidade quando forem assumidos no
estruturadores da História como horizonte para a seleção e a conjunto da escola. Projetos específicos que contemplem
organização dos conteúdos; a importância das atividades políticas afirmativas de inclusão social, como as da diversidade
didáticas. Buscam-se também apontar os alicerces mais étnica, religiosa, sexual, além da defesa do meio ambiente,
duradouros para a construção de um sistema de ensino que poderão fazer com que a História e as demais disciplinas
tenha abrangência nacional e durabilidade condizente com as encontrem efetivamente um ponto de entrosamento que possa
necessidades do trabalho pedagógico: a experiência didático- ser considerado consistente, e não forçado e meramente
pedagógica, que se traduz em documentos oficiais formal e legalista.
historicamente situados, como LDBEN e DCNEM; os Em síntese, o que define a montagem de um currículo
organismos estaduais que assumem a operacionalização das escolar e o lugar da disciplina História, em conformidade com
diretrizes mais gerais, como as Secretarias de Educação; por os princípios estabelecidos pela LDBEN e pelas Diretrizes
fim, a escola contextualizada na comunidade à qual presta seus Curriculares para o Ensino Médio, é a sintonia com a
serviços educacionais. No entanto, em última análise, os concepção de educação que embasa os princípios. A seleção

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dos conteúdos de História, à luz dos princípios aqui sendo potencializadas pelos movimentos de reorientação
enunciados, e as estratégias didático-pedagógicas ao mesmo curricular em todo o país, os livros didáticos distribuídos a
tempo em que expressam a alma do processo de nível nacional, não contemplam ainda a “totalidade” de
ensino/aprendizagem, são de competência dos professores, nossa História e apresentam uma supremacia da História da
em reflexão constante na elaboração do projeto político- região:
pedagógico das respectivas escolas. (A) Sul
É nesse exercício de elaboração do saber escolar que se (B) Sudeste
promove a formação contínua dos docentes. A finalidade das (C) Centro-Oeste
Orientações Curriculares não é estabelecer uma espécie de (D) Nordeste
“currículo mínimo” de conteúdos de História para o ensino (E) Norte
médio. O conjunto de considerações presentes neste Gabarito
documento tem por finalidade explicitar a filosofia e os
princípios educacionais inspiradores dos dispositivos legais 01.A / 02.B
que passaram a nortear o sistema de ensino no país e suas
referências à disciplina História. São orientações que buscam
auxiliar e orientar os docentes na elaboração dos currículos
apropriados aos alunos das escolas em que atuam. Assim, 2 História Natural e
essas orientações são concebidas como indicativas daquelas História Social. 2.1 O processo
exigências consideradas imprescindíveis para que o professor de humanização e a dinâmica
e a escola elaborem os currículos de História que melhor se
coadunem com as necessidades de formação dos alunos de da formação das sociedades
suas respectivas regiões e escolas, que têm perfis e humanas na Pré-história. 2.2 A
necessidades específicas. Organização sócio-política,
Questões1 econômica, cultural religiosa
do Egito, Núbia, Kush, Ménroe,
01. (SEAP–DF – Professor de História – IBFC) Tempo e Napata, Mesopotâmia,
temporalidade são consideradas categorias centrais para o
conhecimento histórico, segundo as Orientações Curriculares Palestina, Fenícia, Pérsia,
para o Ensino Médio: Grega e Romana, sua
I. É fundamental levar o aluno a perceber as diversas dinâmica, relações, rupturas e
temporalidades no decorrer da História e sua importância nas
formas de organizações sociais e de conflitos; transformações
II. Tempo e temporalidade representam um conjunto
complexo de vivências humanas, produto cultural forjado
pelas necessidades concretas das sociedades historicamente
situadas; A Vida na Pré-História
III. Importante ressaltar as periodizações dos calendários
e das contagens dos tempos como foram sendo historicamente
construídos para que o aluno elabore, de forma O período humano que chamamos de pré-história é
problematizada, seus próprios pontos de referência como bastante grande. Corresponde aos tempos desde o surgimento
marcos para as explicações de sua própria história de vida, do Homem até a invenção da escrita, que ocorreu a
assim como da história dos homens em geral. aproximadamente há 5.000 anos na Mesopotâmia.
Quando surgiu o conceito de pré-história no século XIX, os
É correto o que se afirma em: historiadores consideravam somente como documentos de
(A) I, II e III. estudo fontes escritas. Então convencionou-se chamar de pré-
(B) I e II, apenas. história o período anterior à escrita. Hoje os pesquisadores já
(C) II e III, apenas. não concordam mais com esta expressão, pois o homem é um
(D) Apenas III. ser histórico e este conceito não consegue abarcar a
diversidade de povos e culturas existentes no mundo, pois
02. (IFC-SC – Professor História – IFC) O livro didático ainda hoje existem tribos espalhadas pelo planeta que não
não pode ser compreendido isoladamente, fora do contexto desenvolveram a escrita. Vivem eles na pré-História? Então
escolar e social. É um produto cultural com suas sabemos que ao usar esta expressão devemos fazer ressalvas,
especificidades e conformado segundo a lógica da mas podemos usá-la tranquilamente por ser um convenção
sociedade onde está inserido. Numa sociedade capitalista, consagrada. Para podermos compreender melhor a pré-
como a brasileira, tal recurso didático não poderia fugir à História, os historiadores dividem o período em dois
lógica que rege esta sociedade, em que as classes momentos: O Paleolítico (pedra lascada), que vai do
dominantes procuram veicular as visões que lhes surgimento do Homem até aproximadamente 10000 atrás,
interessam e neutralizar possíveis oposições. No entanto, quando foi inventada a escrita. Depois temos o período
dentro da produção de livros didáticos de História, é Neolítico (pedra nova), que vai até a invenção da escrita.
possível fazer uma crítica interna ao nosso segmento, Os principais registros fósseis permitem concluir que o
mesmo fazendo uma ressalva, de que a produção do homem surgiu na África e de lá se espalhou para outros
conhecimento historiográfico é recente em nosso país e continentes. Migrou para a Ásia e para a Europa. O
“refém” da recente propagação dos programas de pós- povoamento da América ocorreu mais tarde. Os registros para
graduação em História. Apesar das mudanças que vêm estudarmos esta época são pinturas rupestres e pontas de

1 Disponível em: <https://www.qconcursos.com/questoes-de- _video=&possui_comentarios_gerais=&possui_comentarios=&possui_anotacoes=&


concursos/questoes/search?utf8=%E2%9C%93&todas=on&q=orienta%C3%A7% sem_dos_meus_cadernos=&sem_anuladas=&sem_desatualizadas=&sem_anuladas
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flechas e lanças de pedra ou Sílex, que eram A partir do momento em que aprende a controlá-lo, a vida
rudimentarmente lascadas para se tornarem instrumentos ficou muito mais fácil. Agora acabava a necessidade de
para os homens. As comunidades eram tribais e pequenas e aguardar um fenômeno da natureza para sua obtenção. Carnes
não eram fixos a um território, ou seja, eram populações poderiam ser cozidas ou assadas, o que tornava seu gosto mais
nômades de caçadores e coletores. Viviam em um local até agradável e permitia uma duração maior antes de começar a
que os recursos se esgotassem ou se tornassem insuficientes se decompor, assim como os legumes e raízes. O fogo também
para a tribo, que passava a buscar novos locais para viver. ajudou o ser humano a se proteger de animais, permitindo
Nesta época já ocorre o domínio do fogo. Há registros de uma vida mais tranquila.
instrumentos musicais e estatuetas femininas que datam de
aproximadamente 35000 anos. A arte rupestre e a comunicação
Antes da invenção da escrita, o ser humano utilizava outras
A vida na pré-história formas de se expressar. A principal delas foram as pinturas
Durante esse grande espaço de tempo o homem aprendeu rupestres. A arte rupestre é compreendida como o amplo
a viver em sociedade e aprendeu como moldar a natureza e os conjunto de desenhos, pinturas e inscrições feitas pelo ser
elementos a seu favor. Ferramentas eram criadas e problemas humano.
eram solucionados de acordos com as necessidades e desafios Essas pinturas eram feitas em superfícies de rochas, em
que se colocavam diante do ser humano paredes de cavernas e paredões, cujos materiais mais usados
A pré-história pode ser dividida em alguns períodos, de são o sangue, saliva, argila, e excrementos de morcegos. As
acordo com a maneira de vida e as técnicas que as pessoas pinturas representavam cenas da vida do cotidiano, como
utilizavam, sendo eles: pessoas em diversas atividades que iam dos atos sexuais,
partos, e rituais às caçadas. Também eram representados
Paleolítico animais, isoladamente ou atacando grupos de pessoas.
Durante o paleolítico o ser humano era nômade, ou seja, As pinturas mais antigas encontradas até o momento
não possuía um local fixo de residência, movendo-se de acordo foram encontradas nas atuais regiões da Indonésia, França e
com as necessidades de caça e alimentação do ambiente em Espanha. Os exemplares encontrados possuem idade entre 35
que viviam. Quando sua sobrevivência era dificultada pela mil e 40 mil anos, com representações de mãos humanas e
falta de alimentos as famílias que compunham os grupos animais de caça.
humanos migravam para novos locais. Normalmente
abrigavam-se em cavernas e grutas para fugir do frio e dos
predadores. Durante esse período o ser humano tinha seu
sustento através da caça de animais de pequeno, médio e
grande porte, da pesca e da coleta de produtos silvestres
(frutos, raízes, mel, entre outros)
O animais abatidos eram fonte de outros recursos, como
peles e ossos. As peles poderiam ser utilizadas para a
confecção de roupas, que ajudavam a manter o corpo
aquecido, e os ossos poderiam ser transformados em
ferramentas Pintura rupestre encontrada na região da França, representando animais
As ferramentas fabricadas e utilizadas durante esse Fonte:http://www.portaldarte.com.br/04-pintura-rupestre/lascaux-
policromicos.jpg
período eram feitas de pedras lascadas e como anteriormente
descrito, ossos de animais. Eram utilizadas principalmente
para cortes, raspagens e perfurações e também para a caça. As pinturas rupestres formam uma importante forma de
comunicação do ser humano na pré-história. Através da
pintura nas superfícies de rochas o homem conseguiu vencer
a barreira do tempo e deixar suas marcas de maneira
permanente.
Além da pintura, oralidade, ou seja, os sons e a fala foram
outro meio encontrado pelo ser humano para se comunicar.
Acredita-se que quando o ser humano começa a viver em
pequenos agrupamentos durante o período paleolítico a
utilização de sons e gestos passa a ser empregada para indicar
objetos e ações que eram realizadas em conjunto. Os sons
produzidos eram limitados a um pequeno conjunto, já que a
fala não havia sido completamente desenvolvida por esses
Exemplo de ferramenta do período paleolítico grupos.
Fonte:http://www.historyofinformation.com/images/biface_small.jpg

Período neolítico
A descoberta do fogo
Segundo apontam os estudos, o período neolítico teria se
O fogo foi muito importante para o ser humano que viveu
iniciado por volta de 12 mil anos atrás. Esse período trouxe
durante a pré-história. Antes de seu domínio, o ser humano
importantes mudanças na vida do ser humano, com o domínio
dependia da natureza e de acontecimentos como a queda de
de elementos da natureza que resultariam na agricultura,
um raio em uma floresta para obtê-lo. Esse fogo poderia ser
melhor desenvolvimento de ferramentas e a sedentarização.
utilizado para a iluminação de cavernas, a preparação de um
Após sobreviver da coleta de plantas e raízes, o ser humano
alimento ou para esquentar-se do frio.
descobre que quando uma semente era depositada no solo,
Segundo apontam os estudos, o Homo Erectus, um ser de
após algum tempo ocorria a germinação, que resultava no
maior capacidade intelectual que seus antecessores, descobriu
crescimento de uma planta semelhante à que havia sido
que a partir da fricção, ou seja, o movimento de esfregar duas
consumida. O plantio de várias sementes do mesmo tipo
pedras uma na outra gerava uma pequena fagulha, que se feita
garantiu a produção de alimentos, que poderiam ser
próxima a materiais de fácil combustão poderia criar uma
consumidos após as colheitas. O ser humano também descobre
chama para iniciar uma fogueira.
que algumas plantas possuem adaptação melhor em diferentes
épocas do ano, o que gerava a necessidade de cultivar

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APOSTILAS OPÇÃO

diferentes tipos de planta ao longo das estações para conseguir Os primeiros habitantes do continente praticavam
produzir alimentos o ano todo. principalmente a caça e a coleta de frutos, utilizando
A partir do cultivo de seus alimentos, era necessário criar instrumentos feitos de pedra lascada. Utilizavam fogueiras
mecanismos para o armazenamento de suas colheitas. O ser para se aquecer, cozinhar alimentos e defender-se de animais
humano passa a produzir instrumentos feitos a partir do barro selvagens. Por volta de 5000 anos atrás alguns povos começam
(argila), como panelas, potes e bacias. a praticar a agricultura, após a revolução neolítica, que
O domínio do cultivo de plantas pelo ser humano é permitiu a utilização de ferramentas mais elaboradas e
entendido como o início da atividade agrícola. A partir desse contribuiu para a sedentarização de vários grupos. A cerâmica
momento não era mais necessária a mudança de local em local também é desenvolvida no período neolítico, como forma de
para garantir a sobrevivência e a obtenção de alimentos, agora armazenar os alimentos que passaram a ser cultivados. No
é possível tê-los em um único lugar, sem precisar se deslocar. território brasileiro destacam-se os povos Tupi, Guarani e
Essa garantia de alimentos em local fixo garantiu ao ser Caraíbas como praticantes da agricultura.
humano o necessário para tornar-se sedentário, ou seja,
abandonar o nomadismo e fixar-se em um único local que Pinturas rupestres
fosse propicio para a agricultura. Muitos dos antigos habitantes do território brasileiro
Além dos processos de agricultura e sedentarismo, o buscaram alojamento em cavernas. Nas paredes dessas
homem do neolítico passar a domesticar animais, como o boi, cavernas foram encontradas pinturas que retratam cenas do
o cavalo e a ovelha. Esses animais passam a fazer parte da vida, cotidiano de vida dessas pessoas, com representações de
servindo a diversas funções como obtenção de carne para caçadas, de partos e relações sexuais. As figuras eram
alimentação, o transporte de pessoas e cargas e a produção de desenhadas a partir da mistura de sangue de animais, carvão e
vestimentas para se aquecer em períodos de frio. minerais dissolvidos em água. As pinturas rupestres
Outra grande mudança se dá na maneira de produzir representam parte importante da pesquisa arqueológica no
ferramentas e utensílios. Ao invés do lascamento de pedras, Brasil, servindo como fonte para a datação de sítios
característico do período paleolítico, agora utiliza-se a arqueológicos
chamada pedra polida, através de um processo de fabricação
que permitia criar instrumentos mais afiados e precisos

Idade dos metais


A partir desse período, o ser humano aprender a extrair e
trabalhar o metal, de maneira a moldá-lo de acordo com suas
necessidades. A utilização de metais se iniciou com a extração
e produção do cobre, utilizado para fabricar armas mais
afiadas e resistentes que aquelas feitas de pedra. Mais tarde
aprendeu que poderia misturá-lo com o estanho para produzir
uma liga metálica mais resistente, que ficou conhecida como Fonte:http://www.revistaea.org/img/claudia21_html_60586f2a.jpg
bronze. Pintura Rupestre representando animais, Parque Nacional da Serra da
É a partir da idade dos metais que surgem os primeiros Capivara, Piauí.
núcleos urbanos e as primeiras cidades. Os mais antigos
indícios apontam que as primeiras cidades teriam surgido no População Sambaqui: As populações que habitaram o
atual Oriente Médio. Entre as mais antigas estão as cidades de litoral, desde cerca de 6 mil anos atrás acumularam próximo a
Jericó na Palestina, Biblos no Libano e Çatal Hüyük na Turquia. suas moradias ao longo do tempo os restos de alimentos,
Além de serem centros urbanos estabelecidos, contavam com conchas e ossos de peixe. Esses depósitos deram origem aos
um sistema de religião que já se desenvolvia desde o período sambaquis. O termo sambaqui é de origem Tupi-Guarani e
neolítico e também com atividades comerciais. significa “monte de conchas”.
A dieta desses povos era baseada em peixes, crustáceos e
A pré-história e as origens do homem americano moluscos. Os instrumentos e ferramentas fabricados por esses
O Brasil possui um grande período de ocupação humana povos eram compostos de arpões e anzóis, além de
antes da chegada dos portugueses em 1500.Existem diversas instrumentos polidos Pela grande abundancia de alimentos
teorias para explicar a chegada do ser humano ao continente que o mar proporcionava, esses povos fixavam-se em pontos
americano, que variam entre 40 e 15 mil anos atrás específicos, sem a necessidade de migração. Os sambaquis
A teoria mais difundida é de que os primeiros seres também eram utilizados para o sepultamento dos mortos e
humanos chegaram na América, vindos da Ásia, através da podem ser encontrados em diversos pontos da costa
travessia do Estreito de Bering, localizado entre os Estados brasileira, de nordeste a sul, além de outros países.
Unidos(Alaska) e a Rússia. A ideia é de que a última glaciação
garantiu a passagem segura entre os continentes. A partir daí Questões
o ser humano teria se espalhado pelo continente de maneira
gradual, ocupando territórios até chegar ao Brasil. 01. Nas últimas décadas o Piauí vem figurando como um
Outra teoria aceita é a de que o homem americano tenha tema obrigatório nas discussões sobre o primitivo
chegado através das ilhas polinésias em embarcações povoamento do território americano, o que decorre,
rudimentares na costa sul-americana. principalmente, dos achados arqueológicos da Serra da
A arqueóloga Niède Guidon descobriu no município de São Capivara, no município piauiense de São Raimundo Nonato.
Raimundo Nonato, no Piauí, diversos vestígios, como ossos de Sobre esse assunto, assinale, nas alternativas a seguir, aquela
animais, ferramentas de pedra, e pinturas rupestres que que está INCORRETA:
podem indicar uma ocupação ainda mais antiga do território, (A) Os municípios de São Raimundo Nonato, no Piauí, e de
com datações que podem alcançar até 45.000 anos. A Central, na Bahia, detêm os mais antigos vestígios da presença
arqueóloga defende a ideia de que os seres humanos chegaram humana na região nordeste.
ao continente americano em diversas levas migratórias, vindas (B) O acervo arqueológico de São Raimundo Nonato é
de várias partes da África e da Ásia em períodos diferentes, o administrado pela FUMDHAM - Fundação Museu do Homem
que poderia explicar a grande variedade linguística Americano.
encontrada entre os povos nativos. (C) A arqueóloga Niede Guidon, personalidade mais
conhecida entre os profissionais que atuam junto ao acervo
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arqueológico de São Raimundo Nonato, tem protagonizado, ao


longo dos anos, vários conflitos e polêmicas com o governo do 04. São fatos ligados à Revolução Neolítica:
Piauí, com órgãos federais como o IBAMA e até mesmo, com (A) Vida nômade e organização em tribos.
nativos do município de São Raimundo Nonato. (B) terras pertencentes ao Estado e escravismo.
(D) Os achados arqueológicos de São Raimundo Nonato, no (C) domesticação de plantas e animais e sedentarização do
Piauí, assim como aqueles encontrados na Bahia, impõem uma homem.
revisão das teorias sobre o povoamento da América e não (D) escravidão, impostos em trabalho e vassalagem,
deixam dúvidas quanto à natureza autóctone do homem (E) pintura em cavernas, vida nômade, caça e coleta de
americano. vegetais.
(E) Hoje, apesar de ainda ser forte a tese do povoamento
da América ter-se dado através do Estreito de Behring, os 05.
estudiosos, a partir de acervos arqueológicos como os do Piauí,
consideram seriamente a hipótese de múltiplas correntes de
povoamento. Quanto à data da chegada dos primeiros
povoadores, ainda há muitas controvérsias, não estando, em
rigor, nada definitivamente estabelecido.

02. Tradicionalmente, podemos definir a pré-história


como o período anterior ao aparecimento da escrita. Portanto,
esse período é anterior há 4000 a.C, pois foi por volta desta
época que os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme.
Com base nesse entendimento, qual a alternativa que
apresenta características das atividades do homem na fase
paleolítica?
(A) Os homens aprenderam a polir a pedra. A partir de
então, conseguiram produzir instrumentos (lâminas de corte,
machados, serras com dentes de pedra) mais eficientes e mais
bem acabados. Analisando a linha do tempo, no período que vai do
(B) Os homens descobriram uma forma nova de obter surgimento do homem até o desenvolvimento da agricultura,
alimentos: a agricultura, que os obrigou a conservar e cozinhar encontra-se a fase
os cereais. (A) Neolítica.
(C) Semeando a terra, criando gado, produzindo o próprio (B) da invenção da escrita.
alimento, os homens não tinham mais por que mudar (C) dos Metais.
constantemente de lugar e tornaram-se sedentários. (D) da Antiguidade.
(D) Os homens conheciam uma economia comercial e já (E) Paleolítica.
praticavam os juros. Gabarito
(E) Os homens ainda não produziam seus alimentos, não 01.D / 02.E / 03.C / 04.C / 05.E
plantavam e nem criavam animais. Em verdade, eles
coletavam frutos, grãos e raízes, pescavam e caçavam animais.
Antiguidade Oriental
03.

O Crescente Fértil

Crescente Fértil é o nome da região conhecida como o lar


das primeiras civilizações. A Mesopotâmia faz parte dessa
região, uma faixa de terra junto ao Mar Mediterrâneo e o
nordeste da África.
A origem desse nome é devida ao seu traçado em forma de
semicírculo que lembra a Lua no quarto crescente e também
pela presença de grandes rios, cujos vales apresentavam solos
férteis propícios para a prática da agricultura. As duas
características explicam o nome: lua CRESCENTE + solo
FÉRTIL.
Foram essas áreas férteis em uma região árida que
atraíram a fixação de povos nômades e impulsionaram a
agricultura baseada na irrigação. Merecem destaque no
Pintura rupestre da Toca do Pajaú período a Mesopotâmia e o Egito.
Nesses vales – todo o Crescente Fértil, junto aos rios Nilo,
A pintura rupestre mostrada na figura anterior, que é um Tigre e Eufrates – se desenvolveram algumas das grandes
patrimônio cultural brasileiro, expressa civilizações da Antiguidade Oriental como a egípcia,
(A) o conflito entre os povos indígenas e os europeus babilônica, persa, fenícia, assíria, entre outras.
durante o processo de colonização do Brasil.
(B) a organização social e política de um povo indígena e a
hierarquia entre seus membros.
(C) aspectos da vida cotidiana de grupos que viveram
durante a chamada pré-história do Brasil.
(D) os rituais que envolvem sacrifícios de grandes
dinossauros atualmente extintos.
(E) a constante guerra entre diferentes grupos paleoíndios
da América durante o período colonial.

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da influencia e riqueza. As grandes pirâmides de Gizé,


consideradas maravilhas honorarias do mundo moderno,
foram construidas durante o Antigo Império, atribuídas aos
faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos.
Uma nobreza privilegiada cooperava na administração e
na exploração dos camponeses, também acumulando grande
poder. Esse fortalecimento levou-a a tentar assumir o controle
direto do Estado.
Seguiu-se um período de anarquia em que praticamente
cada nobre se julgava em condições de ocupar o trono
faraônico; o clero aproveitou-se para expandir seu poder
político, apoiando diferentes postulantes ao trono de acordo
com seus interesses.

O Médio Império (2000 a 1750 a.C.)


Fonte: www.infoescola.com O Médio Império caracterizou-se por uma nova dinastia e
uma nova capital: Tebas. O Egito havia se expandido em
A seguir veremos algumas características dessas direção ao sul, aperfeiçoou sua rede de canais de irrigação e
civilizações. estabeleceu colônias mineradoras no Sinai (Península do
Sinai). A procura por cobre (escasso na região) e seu
Egito consequente comércio com outros povos fez com que o Egito
ficasse conhecido de outras populações do Oriente Médio.
A civilização egípcia desenvolveu-se no nordeste da África Alguns povos procedentes da Ásia Menor desencadearam
às margens do rio Nilo. Situado em meio a dois desertos (Líbia uma série de ataques em direção ao vale do Nilo. Após diversos
e Arábia), o Egito aproveitou suas características geográficas ataques de povos diferentes, foram os hicsos, povo semita que
que contavam com as cheias do Nilo para tornar o solo fértil e já utilizava o cavalo e o ferro que derrotaram as forças
prover grandes área de plantio. faraônicas do Sinai e ocuparam a região do delta do Egito, onde
Foi ali que houveram duas grandes mudanças: se instalaram de 1750 a 1580 a.C.
1 - as comunidades primitivas iniciaram um processo de Foi durante essa dominação estrangeira que os hebreus se
divisão por território (em busca das melhores terras). Surgiu estabeleceram no Egito.
nesse momento a figura dos primeiros líderes. Eles se
destacaram dominando terras, agregando ou expulsando O Novo Império (1580 a 1085 a.C.)
famílias dependendo de suas relações. O faraó Amósis I expulsou os hicsos, dando início a uma
2 – duas figuras surgiram como consequência desse fato. A fase militarista e expansionista da história egípcia. Sob o
figura do camponês (famílias que não tinham mais a posse da reinado de Tutmés III, a Palestina e a Síria foram conquistadas,
terra) e os nomarcas (líderes que tinha o domínio das terras e estendendo o domínio do Egito até as nascentes do rio
abrigavam essas famílias). Eufrates.
O termo normarca deriva justamente dessas áreas. Essas Durante esse período de apogeu, o faraó Amenófis IV
unidades de terra independentes eram chamadas de nomos, empreendeu uma revolução religiosa e política. O soberano
logo o chefe de um nomo era o nomarca. substituiu o politeísmo tradicional, cujo deus principal era
Os nomos não demoraram a entrar em choque uns com os Amon-Ra, por Aton, simbolizado pelo disco solar. Essa medida
outros fazendo com que os nomos menores desaparecessem tinha por finalidade eliminar a supremacia dos sacerdotes, que
anexados ao mais fortes. ameaçavam sobrepujar o poder real.
Não tardou para que esses agrupamentos crescessem e O faraó passou a denominar-se Akhnaton, atuando como
dessem origem a apenas dois grandes nomos (reinos), e por supremo sacerdote do novo deus. A revolução religiosa teve
consequência, dois grandes líderes. Divididos com domínios fim com o novo faraó Tutancaton, que restaurou o politeísmo
ao sul e ao norte eles ficaram conhecido como Alto e Baixo e mudou seu nome para Tutancâmon.
Egito. Com a instauração da capital em Tebas, os faraós da
O reino do sul tinha como símbolo uma coroa branca e o dinastia de Ramsés II (1320-1232 a.C.) prosseguiram as
reino do norte era simbolizada por uma coroa vermelha. conquistas. O esplendor do período foi demonstrado pela
Por volta de 3200 a. C o nomarca do sul, Menés, venceu o construção de grandes templos, como os de Luxor e Karnak.
normarca do norte unificando o Egito e colocando em sua As dificuldades do período começaram a surgir com as
cabeça as coroas branca e vermelha. A capital do reino passou constantes ameaças de invasão das fronteiras. No ano 663 a.C.,
a ser Tinis, e Menés tomou-se o primeiro faraó. Com ele, os assírios invadiram o Egito.
começam as grandes dinastias (famílias reais que governaram
o Egito por quase 3.000 anos). O Renascimento Saíta (663 a 525 a.C.)
O período historico em que as dinasticas governaram o Os assírios foram expulsos do Egito pelo faraó Psamético I,
Egito é considerado extenso, e por isso a História do Egito é que também mudou a capital transferindo-a para a cidade de
comumente dividida em três partes: Saís, no delta do rio Nilo. Após isso houve também uma
- Antigo Império: de 3200 a.C. até 2200 a.C. ampliação do comercio, incentivada pelos faraós que o
- Médio Império: de 2200 a.C. a 1750 a.C. sucederam.
- Novo Império: de 1580 a.C. a 1085 a.C. As lutas pela posse do trono levaram o Egito à ruína. Os
camponeses se rebelaram e a nobreza disputava o poder com
O Antigo Império (3200 a 2200 a.C.) o clero. Novas invasões aconteceram, fragmentando ainda
Os sucessores de Menés continuaram a governar por mais mais o poder do Egito:
de mil anos, e durante todo esse período o Egito Antigo viveu Diversas invasões seguiram não possibilitando ao Egito se
um isolamento quase completo. O faraó possuia poderes reestruturar como Estado. Finalmente os romanos o invadem
imensos, e era visto como uma encarnação do deus do Sol, Rá. em 30 a.C., pondo fim ao Egito como Estado independente.
Foi durante o Antigo Império que a classe religiosa
(representada pelos sacerdotes) conquistaram poder através

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Economia do Egito Antigo Por último e em pequeno número estavam os escravos que
A economia do Egito estava baseada principalmente na se dedicavam a diferentes tipos de trabalhos, podendo ser
agricultura, com o cultivo de cereais como o trigo e a cevada, desde escravos domésticos até trabalhadores rurais.
além do cultivo de linho e papiro. O pastoreio completava os
trabalhos na terra, com a criação de rebanhos de gado bovino Religião
e ovino. No Egito antigo, como em quase toda a Antiguidade a
A agricultura foi amplamente favorecida pelo rio Nilo e seu religião assumia a forma politeísta, compreendendo uma
regime de cheias. A cheia do Rio Nilo era gerada por chuvas na enorme variedade de deuses e divindades menores.
África Oriental e pelo degelo nas terras altas etíopes. Muitos animais eram venerados e possuíam um culto
A forma como a agricultura era praticada causava espanto especial, como era o caso do gato, do crocodilo, do íbis, do
e curiosidade nos estrangeiros. O historiador grego Heródoto, escaravelho e do boi Apis; havia também divindades híbridas,
em sua obra Histórias, escreveu: “O Egito é uma dádiva do Nilo”, com corpo humano e cabeça de animal: Hator (a vaca), Anúbis
associando a formação do Egito à presença e utilização do rio. (o chacal), Hórus (o falcão protetor do faraó). Havia ainda
Em sua obra, Heródoto também relata sobre a maneira deuses antropomórficos (forma humana), como Osíris e sua
como era feito o cultivo: esposa Isis.
O Mito de Osíris ilustra bem a religiosidade dos egípcios, a
“Em todo o mundo, ninguém obtém os frutos da terra com ponto de terem se decidido a erigir túmulos e templos em
tão pouco trabalho. Não se cansam de sulcar a terra com arado homenagem à morte e à vida futura.
e enxada, nem têm nenhum dos trabalhos que todos os homens A preocupação com a vida futura era grande e os cuidados
têm para garantir as colheitas. O rio sobe, irriga os campos e, com os mortos eram contínuos, bastando lembrar as
depois de os ter irrigado, torna a baixar. Então, cada um semeia cerimônias fúnebres, nas quais se realizavam as oferendas de
o seu campo e nele introduz os porcos para que as sementes alimentos e de incenso.
penetrem na terra; depois, só têm de aguardar o período da Acreditava-se em um julgamento após a morte, quando o
colheita. Os porcos também lhe servem para debulhar o trigo, deus Osíris iria colocar em uma balança o coração do
que é depois transportado para o celeiro.” indivíduo, para julgar seus atos. Os justos e os bons teriam
como recompensa a reincorporação e depois iriam para uma
Ao longo do Nilo estendiam-se plantações cuidadas pelos espécie de Paraíso.
felás (camponeses egípcios), desenvolvendo-se rapidamente Por volta de 1360 a.C., o Egito passou por um período de
graças ao aperfeiçoamento das técnicas de plantio e monoteísmo (o culto a um único deus) em que o culto foi
semeadura. A charrua, puxada pelos bois e o emprego de direcionado a Aton.
metais propiciaram grandes colheitas. Essa mudança fez parte de um tentativa do faraó em limitar
Teoricamente, as terras pertenciam ao faraó, porém a o poder do clero. Além disso ele mudou seu palácio para longe
nobreza detinha grande parte delas. Enormes armazéns dos templos e organizou um novo clero. Esse plano funcionou
guardavam as colheitas que eram administradas pelo Estado. enquanto Amenófis III esteve no poder. Com sua morte, as
De um modo geral, a economia egípcia é enquadrada no coisas retornaram ao estágio anterior e o antigo clero voltou a
modo de produção asiático, em que a propriedade geral das ter maior poder no Egito.
terras pertencia ao Estado e as relações sociais de produção
fundamentavam-se no regime de servidão coletiva. As Influências
comunidades camponesas, presas à terra que cultivavam, A arquitetura foi uma das heranças deixadas pelo Egito que
entregavam os resultados da produção ao Estado, os pesquisadores melhor puderam analisar. Muitos edifícios
representado pela pessoa do rei. construídos no Egito antigo chegaram até nós em bom estado
de conservação. Pirâmides, hipogeus, templos e palácios de
A sociedade egípcia dimensões gigantescas ainda são estudados e visitados.
O Egito é considerado uma Sociedade Hidráulica, cuja A pintura egípcia prendeu-se principalmente a temas da
organização está relacionada com os períodos de seca e cheia Natureza e da vida cotidiana, sendo muitas vezes
dos rios. Nesse tipo de sociedade, a distinção social começou a acompanhada de hieróglifos explicativos.
se fazer notar através do domínio das áreas férteis: os donos A escrita ideográfica, nascida no Egito, evoluiu para o
das terras ocupavam as áreas mais altas da sociedade alfabeto fonético com os fenícios. Utilizando três formas de
enquanto os camponeses, sua base. escrita (hieroglífica, hierática e demótica), os egípcios
O topo da pirâmide social era ocupado pelo faraó e sua deixaram-nos obras religiosas como o Livro dos Mortos e o
família. Hino ao Sol, além da literatura popular de contos e lendas.
A seguir vinham os sacerdotes. Eles, junto da nobreza que A decifração da escrita egípcia foi feita por Jean-François
detinha a posse das terras também tinham destaque na Champollion que, observando e comparando os diversos tipos
sociedade egípcia. de escrita encontrados em um achado arqueológico,
Com o crescimento do comércio e do artesanato durante o estabeleceu um método de leitura graças ao grego arcaico que
Médio Império, surgiu uma classe média empreendedora, a também se encontrava no texto. Surgiu assim a ciência
qual chegou a conquistar uma certa posição social e alguma conhecida como Egiptologia, a qual vem constantemente
influência no governo. evoluindo com novas descobertas e restaurações.
Os burocratas passaram a ocupar um lugar de destaque na As ciências exatas também tiveram oportunidade de
administração, principalmente no que tangia ao recolhimento expansão, uma vez que as necessidades de ordem prática
da produção dos camponeses. Os escribas tinham lugar de forçaram o desenvolvimento da Astronomia e da Matemática.
destaque nesse segmento e seu poder variava de acordo com a A Geometria desenvolveu-se pela necessidade de se
confiança que a nobreza ou o faraó depositavam neles. remarcarem as terras quando as águas do Nilo voltavam a seu
Os artesãos e os camponeses ocupavam uma posição leito. A Medicina, por sua vez, está de certa forma ligada à
abaixo. própria prática da mumificação, o que a levou a um
Apesar de o governo manter escolas públicas, estas
formavam em sua maioria escribas destinados a trabalhar na
administração do Estado Faraônico.

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desenvolvimento razoável; por outro lado, a farmacopeia2 facilitavam no registro de bens, marcas de propriedade,
egípcia notabilizou-se por sua variedade. Havia instituições de cálculos e transações comerciais.
sacerdotes-médicos e os papiros atestam o regular Por volta de 2300 a.C, os invasores acádios conquistaram a
conhecimento de doenças e a própria especialização da Mesopotâmia, dos quais se destacou o rei Sargão I, o “soberano
atividade médica. dos quatro cantos da terra”, e primeiro rei mesopotâmico.
Por fim, a mumificação constituiu uma técnica de grande Novas invasões estrangeiras arruinaram o Império Acádio,
importância na civilização do Egito antigo. Os métodos, até e em breve os sumérios ressurgiram, com destaque para o
hoje pouco conhecidos, produziram resultados notáveis que se governo de Dungui. Este, mais curto desta vez deu lugar aos
podem ver em museus de diversas partes do mundo. amoritas, que fundariam o Primeiro Império da Mesopotâmia.

Mesopotâmia O Primeiro Império Mesopotâmico


Os amoritas submeteram os sumério-acadianos e
A origem do nome Mesopotâmia vem do grego (meso = no transformaram a sua cidade (Babilônia) em capital do Império.
meio; pótamos = rio). Ela é uma antiga região do Oriente À força das conquistas, o comércio cresceu e a Babilônia
Médio, compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, e onde transformou-se num dos principais centros urbanos e
predominavam condições semelhantes ao Egito, pois os dois políticos da Antiguidade, o centro do Império Babilônico.
rios forneciam facilidades para o transporte de mercadorias, O mais destacável imperador amorita foi Hamurabi
pesca e agricultura. (1792-1750 a.C.), que, além de estender as fronteiras do
Apesar da presença das enchentes periódicas dos rios, a Império desde o Golfo Pérsico até a Assíria, elaborou o
Mesopotâmia apresentou certas dificuldades no primeiro código completo de leis: O “Código de Hamurabi “.
estabelecimento de populações ribeirinhas, pois, ao contrário Considerado o maior ordenamento jurídico da
do que acontecia no Egito com o rio Nilo, essas cheias eram Antiguidade Oriental, ele era composto de 282 leis, muitas das
irregulares. Além disso, o clima mais seco e as doenças quais compiladas do direito sumeriano, e incluía a conhecida
tropicais tornavam o trabalho do solo mais difícil, apesar de “lei de Talião” — “olho por olho, dente por dente…” Hoje, o
sua fertilidade. Código de Hamurabi, gravado num monumento de uma só
Outra diferença em relação ao Egito é quanto às diferentes pedra encontrado em 1901, está no museu do Louvre, em Paris
sociedades que lá habitaram. Enquanto no Egito tivemos o (França).
desenvolvimento da civilização egípcia, na Mesopotâmia Após Hamurabi, o Império foi golpeado por várias
tivemos o desenvolvimento de diferentes povos e sociedades. invasões, como a dos hititas e a dos cassitas, acabando por
*A Mesopotâmia é uma região e não um país. desaparecer.
Sumérios, acádios, amoritas, cassitas, assírios, caldeus
e mais um sem-número de povos lutaram pela posse das terras O Império Assírio
aráveis. Os povos das planícies (agricultores) viviam Os assírios formavam um povo que antes de 2500 a.C.
assediados desde a época dos primeiros estabelecimentos estabeleceu-se no norte da Mesopotâmia, na região de Assur.
humanos na área pelos povos das montanhas, que viviam mais Eram guerreiros famosos pela crueldade com que tratavam os
do saque e do pastoreio. povos vencidos. Sob governo de Sargão II, os assírios
As civilizações da Baixa Mesopotâmia puderam conquistaram o Reino de Israel4. Posteriormente, no governo
desenvolver-se mais, notabilizando-se por seus aspectos de Tiglat-Falasar, tomaram a cidade da Babilônia.
econômicos e culturais. Surgiram, assim, importantes Dois outros importantes soberanos assírios foram
sociedades hidráulicas, com a instituição de um Estado Senaqueribe, que transferiu a capital de Assur para Nínive, e
baseado na posse das terras e no controle das águas dos rios. Assurbanipal, construtor da famosa biblioteca de Nínive e
Estendendo-se da Mesopotâmia em direção ao vale do rio conquistador do Egito. Após sua morte, o Império entrou em
Indo, encontra-se o Planalto Iraniano. Grande parte dele está lento declínio, com diversas revoltas internas.
acima de 2.000 metros: aqui e ali surgem bruscas elevações, Finalmente, Nabupolasar, comandando os caldeus e
cujos vales são regados pelos rios que buscam o mar. A região contando com a ajuda dos medos, destruiu o Império Assírio,
toda é pouco irrigada e por isso grande parte dela é desértica. inaugurando o Segundo Império Babilônico (612 a.C.).
A partir do II milênio a.C., essa região foi ocupada por
grupos de pastores de origem ariana, os quais deram origem a O Segundo Império Babilônico
dois remos distintos: ao norte, a Média; e ao sul, a Pérsia. Após o período assírio, a Babilônia voltou a ser a capital da
Mesopotâmia, agora sob o domínio dos caldeus. O apogeu do
Os Sumérios Acadianos Império Babilônico se deu com Nabucodonosor (604-561 a.C.).
Os sumérios fixaram-se na Caldéia por volta de 3500 a.C., Durante o seu reinado, a Palestina foi conquistada e seu povo,
fundando diversas cidades-Estado, como Ur, Uruk, Nipur e o hebreu, transportado como escravo para a Babilônia:
Lagash. Cada cidade-Estado era governada por reis absolutos episódio conhecido “Cativeiro da Babilônia”.
(com total poder em suas mãos), chamados Patesi, que Nabucodonosor foi o responsável também pela construção
lutavam entre si pelo predomínio na Caldéia. dos “Jardins Suspensos da Babilônia”, considerados uma das
Os sumérios foram os criadores da escrita mesopotâmica, sete maravilhas do mundo antigo. Após a morte de
a escrita cuneiforme. Inicialmente essa escrita era composta Nabucodonosor, iniciou-se a decadência do Império Caldeu
de marcas simples, depois de pictogramas3, e evoluíram para (babilônico). Em 539 a.C., a Babilônia foi conquistada pelos
formas mais abstratas. Os primeiros documentos eram Persas, comandados pelo imperador Ciro I.
gravados em tabuletas de argila, em sequências verticais. Esse foi o fim da Mesopotâmia com autonomia política,
Quando os sumérios queriam que seus registros fossem agora transformada em província persa.
permanentes, as tabuletas cuneiformes eram colocadas em um
forno tornando-as permanentes. A Economia mesopotâmica
A escrita cuneiforme foi uma forma de se expressar muito A principal atividade econômica era a agricultura,
difícil de ser decifrada, pois possuía mais de 2000 sinais. O seu produzindo sobretudo trigo e cevada. O artesanato e o
principal uso foi na contabilidade e na administração, pois comércio atingiram alto grau de desenvolvimento

2 Conjunto de informações técnicas que definem o nome das substâncias e 3 Símbolos que representam objetos ou conceitos (ideias)
medicamentos básicos. 4 Reino formado após a unificação das 12 tribos de Israel

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transformando a Babilônia num dos grandes centros Média (555 a.C.). Em seguida, Ciro derrotou Creso, rei da Lídia,
comerciais da Antiguidade. A sociedade possuía uma estrutura e conquistou o Segundo Império Babilônico, permitindo que os
piramidal, como a egípcia: no topo, o rei e a elite econômico- hebreus retomassem à Palestina.
militar que faziam parte do Estado; na base, os camponeses, Ciro buscou unificação econômica de seu império, além de
servindo coletivamente o governo, e por último os escravos5. garantir que os povos conquistados mantivessem seus
O governo era uma monarquia teocrática, absoluta, mas próprios costumes, língua e tradição. Foi visto pelos hebreus
com uma religiosidade menos acentuada que a do Egito. O rei como um libertador do jugo dos caldeus.
absoluto, os funcionários públicos e os sacerdotes formavam Cambises, filho e sucessor de Ciro, conquistou o Egito na
uma aristocracia controladora das melhores terras e de toda a batalha de Pelusa (525 a.C.), vencendo o faraó Psamético III.
produção. Compunham a elite social mesopotâmica, Morreu quando se preparava para voltar à Pérsia, a fim de
subjugando a grande massa de camponeses e escravos. sufocar uma revolta.
Em 522, Dario I subiu ao poder e com ele, o Império Persa
Religião atingiu o apogeu. Seus domínios estendiam-se desde a Trácia,
A maior parte dos costumes dos povos mesopotâmicos na Europa, até a Ásia Central. Dario consolidou o despotismo
descende dos sumérios, incluindo a religião. Acreditavam em real, dando à sua pessoa um caráter semidivino. Dividiu o
vários deuses (eram politeístas), representantes de vários império em satrápias6, cuja administração civil e militar era
astros. Os principais eram: Marduk, o deus da Babilônia e do confiada aos nobres escolhidos; não obstante, as satrápias
comércio; Shamash, o sol; Anu, o céu; Enlil, deus do ar; Ea, da eram vigiados por funcionários reais (os “olhos e ouvidos do
água; Ishtar, deusa do amor e da guerra; e Tamus, deus da rei”), que percorriam as províncias fiscalizando a ação dos
vegetação. dirigentes. Houve estímulos ao comércio e o florescimento de
Os mesopotâmicos criaram o mito de Marduk e a lenda do várias capitais (Susa, Persépolis e Pasárgada), pois a Corte
Dilúvio: acreditavam que o deus Marduk fora o criador do céu persa se deslocava periodicamente.
e da terra, dos astros e do homem, e que ajudara Gilgamesh a Dario envolveu-se em uma disputa pela hegemonia
sobreviver ao dilúvio em uma arca com vários animais e comercial nos mares Egeu e Negro e, apoiado por seus aliados
membros de sua família. fenícios, deu início às Guerras Médicas, sendo derrotado pelos
Para os mesopotâmicos, a religião servia para obter atenienses na batalha de Maratona.
recompensas terrenas imediatas; não acreditavam na vida A queda do grande Império Persa teve início no reinado de
após a morte. Os rituais religiosos, comandados pelos Xerxes, que também foi derrotado pelos gregos (batalha de
sacerdotes, faziam dos templos (zigurates) o eixo da Salamina); o fim de sua independência política veio com a
religiosidade mesopotâmica. Esses templos às vezes derrota e morte de Dario III perante a investida dos gregos e
compreendiam também celeiros, armazéns e oficinas, neles se macedônios, comandados por Alexandre Magno.
definindo o estoque e a distribuição do excedente agrícola
tomado dos camponeses. A economia e a sociedade do Império persa
Durante o reinado de Dario I, o império persa viveu um
Cultura período de prosperidade econômica, através do estímulo ao
A ciência foi importante para o desenvolvimento das comércio e a agricultura. Um dos fatores que contribuíram
sociedades na Mesopotâmia. Fosse para conhecer o regime das para o aumento da atividade comercial foi a introdução do
cheias dos rios Tigre e Eufrates ou para calcular a dárico, cunhado em ouro ou prata, de peso fixo e com a efígie
movimentação dos astros, os mesopotâmicos desenvolveram do rei (inovação trazida da Lídia), que instituiu um padrão
um conhecimento científico notável. monetário no reino.
Os sacerdotes, a partir das observações feitas do alto dos A construção de estradas, bem como um eficiente
Zigurates desenvolveram a astronomia, descobrindo cinco policiamento efetuado por tropas reais, permitiram um
planetas, dividindo o círculo em 360 graus, criando o processo tráfego maior de caravanas que buscavam alcançar a
aritmético da multiplicação e dividindo o dia em 12 horas de Mesopotâmia, provenientes de partes distantes da Ásia. Os
120 minutos cada uma. Como acreditavam na influência dos correios reais facilitavam as comunicações e dizia-se que “na
astros sobre o dia-a-dia das pessoas, criaram a astrologia e o capital podia-se comer o peixe pescado no mar no mesmo dia”.
uso dos horóscopos, elaborando os 12 signos do zodíaco. Na O Império Persa nasceu do conflito entre as tribos pastoras
matemática, além da multiplicação, criaram também a raiz e agricultoras. Quando o persa Ciro se impôs pela força, a
quadrada e a cúbica. nobreza agrária e guerreira também se sobrepôs. O povo,
Na arquitetura, inovaram com a aplicação do sistema de constituído de artesãos, agricultores e pastores, que podiam
arcos, abóbadas e cúpulas, e, na escultura, com o uso do baixo- ser recrutados para a guerra, ocupava uma posição superior
relevo em trabalhos de cerâmica, marfim e metais preciosos. aos escravos.
Na literatura, destacaram-se “O Mito da Criação” e a “Epopeia Entre os persas, o poder da camada sacerdotal era menor
de Gilgamesh”. No Direito, o “Código de Hamurabi” sobressai do que na maioria das civilizações da Antiguidade Oriental.
como a maior obra jurídica da região.
Religião
O Império Persa A religião entre os persas caracterizou-se pela prática do
Dualismo, que segundo a tradição, foi proposta por Zaratustra
No leste da Mesopotâmia, região do Planalto iraniano, (Também chamado Zoroastro), através dos escritos contidos
conviviam medos e persas, povos de origem indo-europeia que no Zend-Avesta. O dualismo espalhou-se pela Ásia, e com
desenvolveram uma intensa atividade pastoril. algumas alterações, é praticado até hoje.
Ciro, rei dos persas foi quem unificou os dois povos e deu O princípio do dualismo é a crença na existência dos
início ao Império Persa, o maior até então organizado na Ásia princípios opostos: o bem, representado pelo deus Aura-
Ocidental. Esse império desapareceu com a expansão Mazda, e o mal, representado por Ahriman. A ideia é de que
macedônica. ambos viviam em constante luta pelo controle das ações
Ciro foi responsável pela unificação política do Planalto humanas. Os homens, agindo corretamente, estariam
Iraniano e a criação do Império Persa, após anexar o Reino da ajudando o bem a vencer o mal. Zaratustra previa que no final

5 BARDINE, RENAN. Mesopotâmia. Disponível em: < 6 Províncias, unidades administrativas.


https://www.coladaweb.com/historia/mesopotamia>

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dos tempos Aura-Mazda venceria e os que ficassem ao lado do - Período dos Patriarcas;
mal seriam destruídos. - Período dos Juízes;
O dualismo persa acabou por influenciar o Cristianismo, no - Período dos Reis.
que tange à dicotomia entre Céu e Inferno. Previa a vinda de
um Messias e se apresentava na condição de religião revelada. No período dos patriarcas, que foi a primeira parte da
A religião persa sofreu influência da Mesopotâmia, acabando história política dos hebreus, a população esteve sob o
por adotar fórmulas de horóscopos e a predição do futuro domínio de uma liderança. Um membro de uma das tribos
através da posição dos astros. O culto de Mitra (auxiliar de possuía o poder jurídico, militar e religioso. Com relação à
Aura-Mazda) chegou a influenciar os próprios romanos, que o atividade econômica os hebreus sustentavam-se por meio de
representavam pelo Sol. trabalhos pastoris de caráter nômade, ou seja, o povo
deslocava-se constantemente para regiões mais férteis.
A cultura Persa Conduzidos por Abraão, deixaram a cidade de Ur, na
Os persas procuraram fora das suas fronteiras os Mesopotâmia, e se fixaram na Palestina (Canaã a Terra
elementos que marcaram suas construções. Influências Prometida), por volta de 2000 a.C.
egípcias e mesopotâmicas fizeram-se sentir na arquitetura e a A Palestina era uma pequena faixa de terra, que se estendia
esculturas persas e os restos de seus palácios evidenciam esse pelo vale do rio Jordão. Limitava-se ao norte, com a Fenícia, ao
ecletismo cultural. sul com as terras de Judá, a leste com o deserto da Arábia e a
Os palácios do Império Persa possuíam alicerces de pedra, oeste com o mar Mediterrâneo.
vastos terraplanos, paredes de tijolos, colunas finas e Governados por patriarcas, os hebreus viveram na
elegantes, com capitéis esculpidos com cabeças de touro ou de palestina durante três séculos. Os principais patriarcas
cavalo. O teto era forrado com madeira pintada. Muros hebreus, foram Abraão (o primeiro patriarca), Isaac, Jacó
recobertos de baixos-relevos ou ladrilhos esmaltados (também chamado Israel, daí o nome israelita), Moisés e Josué.
caracterizam as principais construções existentes. Por volta de 1750 a.C. uma grande seca atingiu a Palestina.
Os hebreus foram obrigados a deixar a região e buscar
Hebreus melhores condições de sobrevivência no Egito. Permaneceram
no Egito cerca de 400 anos, até serem perseguidos e
Antepassados do povo judeu, os hebreus têm sua trajetória escravizados pelos faraós. Liderados pelo patriarca Moisés, os
marcada por migrações e pelo monoteísmo. O Antigo hebreus abandonaram o Egito em 1250 a.C., retornando à
Testamento da bíblia cristã é uma das maiores fontes de Palestina. Essa saída em massa dos hebreus do Egito é
informação sobre o povo Hebreu, já que cria uma mitologia conhecida como Êxodo.
para a criação desse povo. O período dos juízes tem início com a volta dos hebreus à
A Origem dos Hebreus Palestina. Sob a liderança de Josué, os hebreus tiveram de lutar
Os hebreus originam-se da região da Palestina, localizada contra os cananeus e posteriormente, contra os filisteus. Josué
entre o deserto da Arábia, Líbano e Síria. Na proximidade do (sucessor de Moisés), distribuiu as terras conquistadas entre
Mar Mediterrâneo e cruzada pelo rio Jordão, a região da as doze tribos de Israel. Nesse período os hebreus passaram a
Palestina era considerada um dos mais importantes centros se dedicar à agricultura, a criação de animais e ao comércio,
comerciais do mundo antigo. Era uma região de conflito, uma tornando-se, portanto, sedentários.
vez que era habitada por diferentes povos que disputavam No período de lutas pela conquista da Palestina, que durou
territórios, bens e poder, sendo palco da histórica briga entre quase dois séculos, os hebreus foram governados pelos juízes.
árabes e palestinos, que perdura até os dias de hoje. Os juízes eram chefes políticos, militares e religiosos. Embora
Os hebreus são um povo com origem semita7, que se comandassem os hebreus de forma enérgica, não tinham uma
diversificaram de outros povos contemporâneos a eles por estrutura administrativa permanente. Entre os mais famosos
meio de uma crença religiosa monoteísta e por possuírem um juízes destaca-se Sansão, que ficou conhecido por sua grande
líder religioso, Moisés. força. Outros juízes importantes foram Gedeão e Samuel.
A palavra hebreu significa: "povo do outro lado do rio”, Os conflitos e problemas sociais criaram a necessidade de
como referência ao Rio Jordão, uma vez que a base de seu um comando militar unificado, o que levou os hebreus a
povoado deu-se após realizarem a travessia do rio e se fixarem adotarem a monarquia. O objetivo era centralizar o poder nas
na chamada “terra de Canaã”. A civilização hebraica foi uma mãos de um rei e assim, ter mais força para enfrentar os povos
das que mais exerceu influência sobre a civilização presente inimigos, como os filisteus. Foi o início do período dos reis.
em todas as partes do mundo, uma vez que a sua religião, o O primeiro rei dos hebreus foi Saul (1010 a.C.). Depois veio
judaísmo, forneceu subsídios para a constituição do o rei Davi (1006-966 a.C.), conhecido por ter vencido os
cristianismo e do islamismo. filisteus. Com a conquista de toda a Palestina, a cidade de
A população hebraica era organizada em vários clãs Jerusalém tornou-se a capital política e religiosa dos hebreus.
patriarcais, que na verdade eram tribos seminômades. Essas O sucessor de Davi foi seu filho Salomão, que terminou a
tribos familiares dedicavam-se à criação de gado em pastagem organização da monarquia hebraica e alcançou o apogeu do
próximas a oásis espalhados pelo deserto da Arábia. Através reino. Durante o reinado de Salomão (966-926 a.C.), houve um
de suas crenças, os hebreus fundaram uma religião monoteísta grande desenvolvimento comercial e foram construídos
baseada no culto ao Deus Javé (Yahweh). Os hebreus seguiam palácios, fortificações, e o Templo de Jerusalém. Além das
líderes “escolhidos” por Javé e consideravam-se uma nação construções, Salomão criou um poderoso exército, organizou a
santa que deveria expandir a sua população pela terra. Desse administração e o sistema de impostos. Montou uma luxuosa
modo, as famílias eram muito numerosas em integrantes. As corte com muitos funcionários e grandes despesas.
mulheres recebiam o papel de criar os filhos e manter o lar, Para poder sustentar uma corte tão luxuosa, Salomão
enquanto os homens tinham a função de administrar as tribos obrigava o povo hebreu a pagar pesados impostos. O preço
e obter o sustento da família. dessa exploração foi o surgimento de revoltas sociais.
É possível dividir a trajetória dos Hebreus em três Com a morte de Salomão, essas revoltas provocaram a
períodos: divisão religiosa e política das tribos e o fim da monarquia
unificada.

7 Relativo ao grupo étnico e linguístico ao qual se atribui Sem como ancestral,

e que compreende os hebreus, os assírios, os aramaicos, os fenícios e os árabes, ou


membro desse grupo.

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Formaram-se dois reinos: Prometida; o Pentecostes, que recorda a entrega dos Dez
- Ao norte, dez tribos formaram o reino de Israel, com Mandamentos a Moisés; o Tabernáculo, que relembra a longa
capital em Samaria; permanência dos hebreus no deserto, durante o Êxodo.
- Ao sul, as duas tribos restantes formaram o reino de Na literatura, o melhor exemplo são os livros bíblicos do
Judá, com capital em Jerusalém. Velho Testamento, dentre os quais destacam-se os Salmos, o
Cântico dos Cânticos, o Livro de Jó e os Provérbios.
Em 722 a.C., os reinos de Israel foram conquistados pelos
assírios, comandados por Sargão II. Grande parte dos hebreus Fenícios
foi escravizada e espalhada pelo Império Assírio.
Em 587 a.C., o reino de Judá foi conquistado pelos Essa civilização desenvolveu-se na Fenícia, território do
babilônios, comandados por Nabucodonosor. Os babilônios atual Líbano. Os fenícios foram povos de origem semita, assim
destruíram Jerusalém e aprisionaram os hebreus, levando-os como os hebreus. Por volta de 3000 a.C., estabeleceram-se
para a Babilônia. numa estreita faixa de terra com cerca de 35 km de largura,
Os hebreus permaneceram presos até 538 a.C., quando o situada entre as montanhas do Líbano e o mar Mediterrâneo.
rei persa Ciro II conquistou a Babilônia. Os hebreus puderam Com 200 km de extensão, corresponde a maior parte do litoral
então retornar à Palestina, que se tornara província do do atual Líbano e uma pequena parte da Síria.
Império Persa e reconstruíram o templo de Jerusalém. Por habitarem uma região montanhosa e com poucas
A partir dessa época, os hebreus conseguiram conquistar a terras férteis, os fenícios dedicaram-se à pesca e ao comércio
autonomia política da Palestina, que se tornou sucessivamente marítimo.
província dos impérios persa, macedônio e romano. Diferente de outros povos, os fenícios não chegaram a
Durante o domínio romano na Palestina, o sentimento de fundar um reino. A rivalidade entre as diversas cidades-
unidade dos hebreus fortaleceu-se, levando-os a se revoltar estados levou-as, no máximo, a constituir uma confederação.
contra Roma. No ano 70 d.C. o imperador romano Tito, sufocou A cidade de Biblos alcançou prestígio por volta de 2500
uma rebelião hebraica e destruiu o segundo templo de a.C., expandindo seu comércio e poderio por uma grande área
Jerusalém. Os hebreus, então, dispersaram-se por várias do Mediterrâneo. Sidon teve o seu período por volta de 1400
regiões do mundo. Esse episódio ficou conhecido como a.C., mantendo durante séculos sua supremacia sobre todo o
Diáspora (Dispersão). comércio realizado no mar. Finalmente, coube a Tiro alcançar
No ano de 136, sofreram a Segunda Diáspora no reinado de a hegemonia marítima, tendo acesso às rotas mais longínquas.
Adriano (imperador romano), em que os judeus foram Como outros povos, os fenícios entraram em decadência,
definitivamente expulsos da Palestina. caindo sob o domínio dos assírios, babilônios e, finalmente,
Dispersos pelo mundo, o povo israelita organizou-se em dos persas. A colônia fenícia de Cartago, no norte da África,
pequenas comunidades. Unidos, preservaram os elementos subsistiu até o século II a.C., quando foi destruída pelos
básicos de sua cultura, como a linguagem, a religião e alguns romanos no final das Guerras Púnicas.
objetivos comuns, entre eles voltar um dia à Palestina. Assim,
os hebreus se mantiveram como nação, embora não As atividades econômicas e a sociedade fenícia
constituíssem um Estado. A proximidade do Egito, com sua grande produção de
Somente em 1948, os judeus puderam se reunir num cereais, a abundância de madeira de cedro e um litoral extenso
Estado independente, com a determinação da ONU fizeram dos fenícios hábeis navegadores.
(Organização das Nações Unidas), que criou o Estado de Israel. Os fenícios desenvolveram extraordinariamente o
Decisão que criou sérios problemas na região do Oriente artesanato comercial, produzindo em série objetos facilmente
Médio, pois com a saída dos judeus da Palestina, no século I, negociáveis no mundo antigo, tais como armas, vasos, adornos
outros povos, principalmente de origem árabe ocuparam e de bronze e cobre, tecidos e até mesmo objetos de vidro, que
fixaram-se na região. A oposição dos árabes à existência do alcançavam ótimos preços. Conheciam todas as rotas de
Estado de Israel, tem resultado em contínuos conflitos na navegação do Mediterrâneo e, transpondo o Estreito de
região. Gibraltar, alcançaram as Ilhas Britânicas. Chegaram mesmo a
fazer uma viagem de circunavegação da África, a soldo de um
Religião faraó egípcio.
Diferentemente da maioria dos povos da região, a religião O comércio de escravos propiciava grandes lucros; muitos,
hebraica era monoteísta (crença em um único deus), e não porém, eram trazidos para a Fenícia a fim de trabalhar nas
politeísta (crença em vários deuses e divindades) como os oficinas de artesanato. Os fenícios fundaram colônias nas
egípcios, por exemplo. Além disso, também possuíam a ideia margens do mar Mediterrâneo, as quais funcionavam como
do messianismo. entrepostos de comércio e abastecimento. As mais conhecidas
A ideia messiânica foi divulgada pelos profetas. colônias fenícias foram as cidades de Cartago, no Norte da
Acreditavam na vinda de um messias, um enviado de Deus África, e Cádiz, na Espanha.
para conduzir os homens à salvação eterna. Para os cristãos Os fenícios detiveram a hegemonia comercial do
(católicos e protestantes) esse messias é Jesus Cristo. Os Mediterrâneo (talassocracia8) e foram sérios concorrentes dos
judeus não consideram Jesus como messias, e sim como gregos, etruscos e romanos.
apenas um dos muitos profetas e pregadores que existiram na A maior parte da população fenícia era constituída de
época. Os judeus continuam aguardando a vinda do messias. marinheiros e artesãos pobres, os quais trabalhavam em
A doutrina fundamental da religião hebraica (o Judaísmo) função de uma classe rica que vivia do comércio marítimo.
encontra-se no Pentateuco, contido no Velho Testamento da Essa classe de mercadores detinha não só o poder político das
Bíblia. O Pentateuco é composto pelos primeiros livros da cidades-Estado, mas também a riqueza e o controle das
bíblia: Gênesis, Êxodo, Deuteronômio, Números e Levítico. Os atividades comerciais. Os escravos e mercenários eram
hebreus chamam esse livro de Torá. facilmente conseguidos nas viagens pelo Mediterrâneo;
A religião hebraica prescreve uma conduta moral enquanto os primeiros trabalhavam como remadores ou
orientada pela justiça, a caridade e o amor ao próximo. Entre artesãos, os segundos protegiam as naus e as muralhas das
as principais festas judaicas, destacam-se: a Páscoa, que grandes cidades-portos
comemora a saída dos hebreus do Egito em busca da Terra

8 Nação baseada no poder marítimo.

Conhecimentos Específicos 20
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A religião dos fenícios (C) a formação de uma aristocracia, que enriquecera com o
comércio e com a apropriação das terras dos camponeses
A religião dos fenícios, assim como outros povos da região endividados.
adquiriu caráter politeísta. Cada cidade possuía um Baal (D) a conquista de Jerusalém por Nabucodonosor, quando
(deus) protetor: Melcart, em Tiro; Adonis, em Biblos; e Eshum, os judeus foram despojados de suas terras e deportados para
em Sidon. Cartago tinha como protetor Moloc. Os fenícios a Babilônia.
possuíam ainda divindades menores protetoras do comércio, (E) ao domínio persa, como Ciro, o Grande, que massacrou
das rotas, dos navios etc. Entre os rituais religiosos estavam o milhares de camponeses hebreus.
sacrifício de animais e pessoas, como forma de agradar as
divindades. 03. (ENEM) O Egito é visitado anualmente por milhões de
turistas de todos os quadrantes do planeta, desejosos de ver
O Alfabeto com os próprios olhos a grandiosidade do poder esculpida em
pedra há milênios: as pirâmides de Gizé, as tumbas do Vale dos
Os fenícios desenvolveram o alfabeto em função de suas Reis e os numerosos templos construídos ao longo do Nilo. O
atividades comerciais – a necessidade de manter registros - que hoje se transformou em atração turística era, no passado,
Além das técnicas de navegação e dos conhecimentos interpretado de forma muito diferente, pois
geográficos, provenientes da exploração das rotas marítimas, (A) significava, entre outros aspectos, o poder que os
os fenícios trouxeram um fator de inegável valor para o faraós tinham para escravizar grandes contingentes
progresso da humanidade. A partir dos ideogramas egípcios, populacionais que trabalhavam nesses monumentos.
desenvolveram um alfabeto fonético de 22 letras, que mais (B) representava para as populações do alto Egito a
tarde foi adaptado pelos gregos e romanos. Provavelmente possibilidade de migrar para o sul e encontrar trabalho nos
fizeram isso buscando simplificar as operações comerciais, canteiros faraônicos.
uma vez que não deixaram no campo literário, ou em qualquer (C) significava a solução para os problemas econômicos,
outra atividade artística, algo de similar importância. uma vez que os faraós sacrificavam aos deuses suas riquezas,
Também foram as inestimáveis contribuições que os construindo templos.
fenícios deram para a astronomia e a matemática, que foram (D) representava a possibilidade de o faraó ordenar a
ciências largamente aperfeiçoadas por eles. sociedade, obrigando os desocupados a trabalharem em obras
públicas, que engrandeceram o próprio Egito.
Questões (E) significava um peso para a população egípcia, que
condenava o luxo faraônico e a religião baseada em crenças e
01. (UFPE) Entre os povos do oriente médio, os hebreus superstições.
foram os que mais influenciaram a cultura da civilização
ocidental, uma vez que o cristianismo é considerado como uma 04. (FGV-SP) Das alternativas abaixo, a que melhor
continuação das tradições religiosas hebraicas. caracteriza a sociedade fenícia é:
A partir do texto anterior, assinale a alternativa incorreta:
(A) Originários da Arábia, os hebreus constituíram dois (A) a existência de um Estado centralizado e o
reinos: o de Judá e o de Israel na Palestina. monoteísmo;
(B) As guerras geraram a unidade política dos hebreus. (B) o monoteísmo e a agricultura;
Essa unidade se firmou primeiro em torno de juízes e, depois, (C) o comércio e o politeísmo;
em volta dos reis. (D) as cidades-Estados e o monoteísmo;
(C) Os profetas surgiram na Palestina por volta dos séculos (E) a agricultura e a forma de Estado centralizado.
VIII e VII a.C., quando ocorreu uma onda de protestos dos
trabalhadores contra os comerciantes. 05. (UNESP) Na região onde atualmente se encontra o
(D) A religião hebraica passou por diversas fases, Líbano, instalou-se, no III milênio a. C., um povo semita, que
evoluindo do politeísmo ao monoteísmo difundido pelos passou a ocupar a estrita faixa de terra, com cerca de 200
profetas. quilômetros de comprimento, apertada entre o mar e as
(E) Os hebreus organizaram-se social e economicamente montanhas. Várias razões os levaram ao comércio marítimo,
com base na propriedade da terra, o que deu início à Diáspora. merecendo destaque sua proximidade geográfica com o Egito;
a costa, que oferecia lugares para bons portos; e os cedros,
02. (UFRN) Entre os hebreus da Antiguidade, os profetas principal riqueza, usados na construção de navios.
eram considerados mensageiros de Deus, lembrando ao povo O contido nesse parágrafo refere-se ao povo:
as demandas da justiça e da Lei dadas por Javé. Isaías, um dos (A) fenício.
profetas dessa época, em nome de Javé proclamou: (B) hebreu.
Ai dos que decretam leis injustas; dos que escrevem leis de (C) sumério.
opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o (D) hitita.
direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e (E) assírio.
roubarem os órfãos! (Isaías 10:1-2)
Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até Gabarito
que não haja mais lugar, e ficam como únicos moradores no
meio da terra! (Isaías 5:8) 01.E / 02.C / 03.A / 04.C / 05.A
Esses pronunciamentos do profeta Isaías estão ligados a
uma época da história hebraica em que ocorreu:
(A) a saída dos hebreus do Egito, sob o comando de Moisés, Antigos Impérios Africanos
e o estabelecimento em Canaã, conquistando as terras dos
povos que ali habitavam.
(B) a imigração para o Egito, quando os hebreus receberam Na apresentação das grandes civilizações africanas, em
terras férteis no delta do rio Nilo, por influência de José, que 1000 a.C., povos semitas da Arábia emigram para a atual
exercia ali o cargo de governador. Etiópia. Depois, em 715 a.C. o Rei de Cush, funda no Egito a 25a
dinastia. Em 533 a.C. transfere sua capital de Napata para
Meroé, onde, cerca de cinquenta anos depois, já se encontra

Conhecimentos Específicos 21
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uma metalurgia do ferro, altamente desenvolvida. Por volta do O Império do Mali


ano 100 a.C. desabrocha, na Etiópia, o Reino de Axum. O tempo Os fundados do Antigo Mali teriam sido caçadores
que se passou até a chegada dos árabes à África Ocidental foi, reunidos em confrarias ligadas pelos mesmos ritos e
durante muitos séculos, considerado um tempo obscuro, face celebrações da religião tradicional. O fervor com que
à absoluta ausência de relatos escritos, que só apareceram nos praticavam a religião de seus ancestrais veio até bem depois
séculos XVI e XVII, com o “Tarik-Al-Fattah” e o “Tarik-Es- do advento do Islã. Conquistando o que restara do Antigo Gana,
Sudam”, redigidos, respectivamente, por Muhammad Kati e em 1240, Sundiata Keita, expandiu seu império, que já era
Abderrahman As Saadi, ambos nascidos em Tombuctu. Mas o oficialmente muçulmano desde o século anterior. E, o Mali se
trabalho de arqueólogos do século XX, aliado aos relatos da torna legendário, principalmente sob o mansa (rei) Kanku
tradição oral, conseguiu resgatar boa parte desse passado. O Mussá, que, em 1324, empreendeu a peregrinação a Meca com
mais antigo desses reinos foi o da Etiópia. Entre os séculos III a intenção evidente de maravilhar os soberanos árabes. O
e VII, a Etiópia teve como vizinhos outros reinos cristãos: o Antigo Império Gana teve seu apogeu entre os anos 700 e 1200
Egito e a Núbia, contudo, com a expansão do islamismo essas d.C. Acredita-se que o florescimento desse império remonte ao
duas últimas regiões caíram sob o domínio árabe e a Etiópia século IV. Fundado por povos berberes, segundo uns, e por
persistiu como único grande reino cristão da África. Antes do outros, por negros mandeus, mandês ou mandingas, do grupo
efetivo início do processo de islamização do continente soninkê. O antigo nome desse império era Uagadu, que
africano, a África Ocidental vai conhecer um padrão de ocupava uma área tão vasta quanto à da moderna Nigéria e,
desenvolvimento bastante alto. E, os antigos Estados de Gana, incluía os territórios que hoje constituem o Mali ocidental e o
do Mali, do Songai, do Iorubá e Benin, são excelentes exemplos sudeste da Mauritânia. Kumbi Saleh foi uma das suas últimas
de pujança das civilizações pré-islâmicas. Império do Gana capitais. Segundo relatos históricos, o Antigo Império de Gana
era tão rico em ouro, que seu imperador, adepto da religião
O Antigo Império Gana tradicional africana, tal como seus súditos, eram denominados
Teve seu apogeu entre os anos 700 e 1200 d.C. Acredita-se “o senhor de ouro”. Com a concorrência de outras potências no
que o florescimento desse império remonte ao século IV. comércio do ouro, o Antigo Império Gana começou a declinar.
Fundado por povos berberes, segundo uns, e por outros, por Até que, por volta de 1076 d.C., em nome de uma fé islâmica
negros mandeus, mandês ou mandingas, do grupo soninkê. O ortodoxa, os berberes da dinastia dos almorávidas, vindos do
antigo nome desse império era Uagadu, que ocupava uma área Magrebe, atacam e conquista Kumbi Saleh, capital do Império
tão vasta quanto à da moderna Nigéria e, incluía os territórios de Gana. No século XVI chegou a ser o mais importante
que hoje constituem o Mali ocidental e o sudeste da entreposto comercial do império, mas os mesmos fatores que
Mauritânia. Kumbi Saleh foi uma das suas últimas capitais. causaram a decadência da «cidade irmã» – o comércio
Segundo relatos históricos, o Antigo Império de Gana era tão marítimo dos portugueses, a ocupação marroquina e, depois,
rico em ouro, que seu imperador, adepto da religião francesa – acabaram por torná-la num insignificante centro
tradicional africana, tal como seus súditos, eram denominados agrícola dotado de magníficos exemplares de arquitetura
“o senhor de ouro”. Com a concorrência de outras potências no islâmica. Djenné foi igualmente um importante centro de
comércio do ouro, o Antigo Império Gana começou a declinar. peregrinação e cultura, atraindo peregrinos e estudantes de
Até que, por volta de 1076 d.C., em nome de uma fé islâmica toda a África ocidental. Durante muito tempo foi uma
ortodoxa, os berberes da dinastia dos almorávidas, vindos do verdadeira escola de juristas. Os seus monumentos, entre os
Magrebe, atacam e conquista Kumbi Saleh, capital do Império quais se destaca uma Grande Mesquita que remonta ao século
de Gana.O atual Gana, que antigamente se chamava Costa de XIII, recorrem ao mesmo tipo de material e técnicas
Ouro, deve o seu nome moderno ao de um antigo império que construtivas que os de Tombuctu. O que dá origem a
dominava a África Ocidental durante a Idade Média. O velho problemas de conservação muito semelhantes.
Gana ficava a muitos quilómetros mais para norte do atual,
entre o deserto do Saara e os rios Níger e Senegal. O Gana foi Império Songai
provavelmente fundado durante os anos 300. Desde essa data A organização do Songai era mais elaborada ainda que a do
até 770 os seus governantes constituíram a dinastia dos Mali. O Império Songai teria suas origens num antepassado
Magas, uma família berbere, apesar do povo ser constituído lendário, o gigante comilão Faran Makan Botê, do clã dos
por negros das tribos Soninque. Em 770 os Magas foram pescadores sorkôs. Por volta de 500 d.C., diz ainda a tradição,
derrubados pelos Soninques, e o império expandiu-se que guerreiros berberes, chefiados por Diá Aliamen teriam
grandemente sob o domínio de Kaya Maghan Sisse, que foi rei chegado à curva norte do Níger, tomando o poder dos sorkôs.
cerca de 790.Nessa altura o Gana começou a adquirir uma A partir daí, a dinastia dos Diá reina em Kukya, uma ilha perto
reputação de ser uma terra de ouro. Atingiu o máximo da sua do Níger, até 1009, quando o reino se converte oficialmente ao
glória durante os anos 900 e atraiu a atenção dos Árabes. islamismo e transfere a capital para Goa, onde a dinastia reina
Depois de muitos anos de luta, a dinastia dos Almorávidas até 1335. Nesse ano, o povo songhai se liberta do Antigo Mali,
berberes subiu ao poder, embora não o tenha conservado de quem se tornara vassalo em 1275 e, começa a conquistar as
durante muito tempo. O império entrou em declínio e em 1240 regiões vizinhas. O Império Songhai, também conhecido como
foi destruído pelo povo de Mali. Os soninkés habitavam a o Império Songhay foi um estado pré-colonial africano e
região ao sul do deserto do Saara. Este povo estava organizado grande civilização oriental, em Mali. Do início do século XV até
em tribos que constituíam um grande império. Este império o final do século 16, Songhai foi um dos maiores impérios
era comandado por reis conhecidos como caia-maga. Viviam africanos da história. Este império tinha o mesmo nome de seu
da criação de animais, da agricultura e da pesca. Habitavam grupo étnico líder, os Songhai. Sua capital era a cidade de Gao,
uma região com grandes reservas de ouro. Extraíam o ouro onde uma pequeno estado Songhai já existia desde o século XI.
para trocar por outros produtos com os povos do deserto Sua base de poder era sobre a volta do rio Níger nos dias atuais
(berberes). A região de Gana, tornou-se com o tempo, uma área Níger e Burkina Faso. Antes do Império Songhai, a região tinha
de intenso comércio. Os habitantes do império deviam pagar sido dominada pelo Império Mali, uma das civilizações mais
impostos para a nobreza, que era formada pelo caia-maga, ricas da história do mundo. Mali tornou-se famoso devido à
seus parentes e amigos. Um exército poderoso fazia a proteção sua imensa riqueza obtida através do comércio com o mundo
das terras e do comércio que era praticado na região. Além de árabe, e os lendários hajj de Mansa Musa. No início do século
pagar impostos, as aldeias deviam contribuir com soldados e XV, o Império do Mali começou a declinar. As disputas pela
lavradores, que trabalhavam nas terras da nobreza. sucessão enfraqueceram a coroa e muitos afastaram-se. Os
Songhai foram um deles, fazendo a cidade proeminente de Gao

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a sua nova capital. A cidade do Songhai originou-se na região Oranian, pai de Xangô, sendo então, intimamente aparentado
de Dendi, do noroeste de Nigéria e o rio expandido chega com Oyó e Ifé. A primeira dinastia a reinar teve, segundo mitos,
gradualmente de Níger, no século VIII. No ano 800, primeiro doze Obas (reis) e terminou por uma revolta, quando
estabeleceram uma cidade do mercado florescendo em Gao. se constituiu em reino. Seu apogeu ocorreu no século XIV, com
Aceitaram o Islão em torno do ano 1000. Por diversos séculos, a capital Edo, que perdura até hoje. A cultura nagô, evidenciada
dominaram os estados adjacentes pequenos, quando foram nesta pesquisa, tem procedência no grupo dos escravos
controlados ao mesmo tempo pelo império poderoso de Mali sudaneses do império iorubá, acima citado, em suas origens.Na
ao oeste. verdade a denominação “nagô” foi dada, no Brasil, a língua
iorubá que foi, na Bahia, a “língua geral” dos escravos, tendo
Império Kanem-Bornu dominado as línguas faladas pelos escravos de outras nações.
Outro grande Estado da África Negra, florescido por essa O iorubá compreende vários subgrupos e dialetos, entre os
época, no norte da atual Nigéria, foi Kanem-Bornu, em torno quais o Egbá, que inclui o grupo Ketu e Ijexá, das tribos do
do ano 800 d.C. As cidades-estados haussás, situadas entre o mesmo nome, cujos rituais foram adotados, principalmente o
Níger e o Chade que se encontram em uma grande Ketu, pelos candomblés mais conservadores. Do ewe “anago”,
encruzilhada. Constituíram-se por volta do século XII, em nome dado pelos daomeanos aos povos que falavam o Iorubá,
redor das vias comerciais que ligavam Trípolis e o Egito à tanto na Nigéria como no Daomé (atual Benin), Togo e
floresta tropical, por um lado, e, por outro lado, o Níger ao alto arredores, e que os franceses chamavam apenas nagô. O reino
vale do Nilo pelo Darfur. Os haussás ou a classe dirigente são possuí uma origem mítica: teria sido fundado por Oranian, um
negros que habitavam muito mais ao norte e a leste do que ioruba. A sede é a cidade de Ubini. No século XVI é proibido a
hoje. Junto com o Mali e o Songai, um dos mais vastos impérios escravidão masculina, numa política de estímulo demográfico.
dos grandes séculos africanos foi o Kanem-Bornu. A sua O oba mantinha o monopólio na produção e circulação do
influência, no seu período de maior esplendor, estendia-se da marfim e da Pimenta.O território onde o Benim se localiza era
Tripolitânia e do Egito até ao Norte dos Camarões atuais e do ocupado no período pré-colonial por pequenas monarquias
Níger ao Nilo. Nas origens do Kanem encontra-se a conjunção tribais, das quais a mais poderosa foi a do reinado Fon de
dos nômades e dos sedentários. Daomé. A partir do século XVII, os portugueses estabelecem
entrepostos no litoral, conhecido então como Costa dos
Império Iorubá Escravos. Os negros capturados são vendidos no Brasil e no
A sudeste da atual Nigéria constituíra-se o poderoso e Caribe. No século XIX, a França, em campanha para abolir o
dinâmico grupo Ibo. Possuía uma estrutura ultrademocrática comércio de escravos, entra em guerra com reinos locais. Em
que favorecia a iniciativa individual. A unidade sociopolítica 1892, o reinado Fon é subjugado e o país torna-se protetorado
era a aldeia. No sudoeste, desenvolveram-se os principados francês, com o nome de Daomé. Em 1904 integra-se à África
iorubás e aparentados, entre os séculos VI e XI. As suas origens, Ocidental Francesa. O domínio colonial encerra-se em 1960,
mergulhadas na mitologia dos deuses e semideuses, não nos quando Daomé torna-se independente, tendo Hubert Maga
fornecem, do ponto de vista cronológico, informações como primeiro presidente. A partir de 1963, o país mergulha
suficientes. O grande passado de todos estes príncipes é na instabilidade política, com seis sucessivos golpes militares.
Odudua. Seria ele próprio filho de Olodumaré, que para muitos Em 1972, um grupo de oficiais subalternos toma o poder e
seria o Nimrod de que fala a Bíblia, ou segundo a piedosa institui um regime esquerdista, liderado pelo major Mathieu
tradição islâmica, de Lamurudu, rei de Meca. O seu filho Kérékou, que governa até 1990. Kérékou nacionaliza
Okanbi, teria tido sete filhos que vieram a ser todos “cabeças companhias estrangeiras, estatiza empresas privadas de
coroadas”, a reinar em Owu, Sabé, Popo. Benin, Olé, Ketu e Oyó. grande porte e cria programas populares de saúde e educação.
Por volta do século XII, Ifé era uma cidade-estado cujo A doutrina oficial do Estado é o marxismo-leninismo, mas a
soberano o Oni, era reconhecido como chefe religioso pelas agricultura e o comércio permanecem em mãos privadas. Em
outras cidades iorubás. É que Ifé, fora o lugar a partir de onde 1975, o país passa a designar-se Benim. O regime político entra
as terras se teriam espalhado sobre as águas originais para, em crise na década de 1980, e o governo recorre a
segundo a tradição, fazerem nascer o mundo. Os iorubás foram empréstimos estrangeiros. Uma onda de protestos, em 1989,
expulsos da antiga Oyó pelos Nupês (Tapas) estabelecendo-se leva Kérékou a promover uma abertura política e econômica.
no que é a Oyó de hoje. A partir do século XVI o poder da Com a instituição do pluripartidarismo, surgem mais de 50
cidade-Estado de Oyó cresce até unificar toda as cidades- partidos. Nicéphore Soglo, chefe do governo de transição
Estado ioruba. O alafin (rei de Oió) exerce a soberania formado em 1990, é eleito presidente em 1991.
temporal dos iorubas e também começa a questionar a
legitimidade de Ifé, deificando Xangô, antigo rei oioano, como Grécia
divindade principal. No século XVII o Império de Oyó dominará
grande parte da Nigéria, incluindo o Reino de Daomé. A Situada na Europa Meridional, entre os mares Jônio, Egeu
civilização dos iorubas alcançou grande prosperidade, e Mediterrâneo, a Grécia é um país montanhoso, em cuja costa
notavelmente em relação à vida urbana. Censos iorubas de existem muitos golfos e enseadas. A pobreza do solo e o litoral
1850 revelam 10 cidades com mais de 100 mil habitantes. O recortado com muitas ilhas, contribuiu para que os gregos se
Império de Oyo Yoruba (c. 1400 - 1835) foi um império da tornassem excelentes navegadores, lançando-os à conquista
África Ocidental onde é hoje a Nigéria ocidental. O império foi de outras regiões mais produtivas.
criado pelos Yoruba, no século XV e cresceu para se tornar um Diferente do país que conhecemos hoje, no passado a
dos maiores estados do Oeste africano encontradas pelos Grécia era formada por diversos territórios que se espalhavam
exploradores coloniais. Aumentou a vantagem riqueza pelos mares que a cercavam. O próprio nome Grécia não era
adquirida através do comércio e de sua posse de uma poderosa utilizado, pois os habitantes da região chamavam a Grécia
cavalaria. O império de Oyo foi o estado mais importante Antiga de Hélade e a si de helenos. Os povos que ali habitavam
politicamente na região de meados século XVII ao final do julgavam-se autóctones descendentes de Heleno, filho de
século XVIII, dominando não só outras monarquias Yoruba nos Deucalião, que havia escapado de um dilúvio provocado por
dias atuais Nigéria, República do Benim, e Togo, mas também Júpiter, pai dos Deuses. Daí o nome de Hélade.
outras monarquias africanas, sendo a mais notável o reino Fon
do Dahomey localizado no que é hoje a República do
Benim).Império do BeninFamoso por sua arte, o Benin, situado
ao sudeste de Ifé, foi fundado, segundo a tradição, também por

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Por volta do segundo milênio a.C., a ilha de Creta, graças ao


Antiguidade Ocidental seu comércio marítimo possuía uma civilização bastante
complexa.
As comunidades neolíticas das costas do mar Egeu foram
A Grécia Primitiva muito influenciadas pela metalurgia. O comércio de metais e as
A Ilíada e A Odisseia, poemas atribuídos a Homero, nos novas armas conferiram superioridade a alguns povos,
fornecem muitos conhecimentos sobre a Grécia Antiga. provocando mudanças em sua organização.
A Ilíada narra a guerra entre os gregos e os troianos. A A civilização grega teve suas raízes mais profundas na
causa dessa guerra foi o rapto da bela Helena, esposa de cultura cretense, desenvolvida nos milênios III a.C. e II a.C,
Menelau, por Páris, filho do rei de Tróia ou Ileo (daí Ilíada). baseada na agricultura e em um rico comércio marítimo.
Comandados por Agamenon os gregos atacaram os A partir de 2200 a.C, a ilha de Creta adquiriu um papel
troianos. preponderante na região do mar Egeu. Localizada nas
Durante as lutas Aquiles foi o destaque grego enquanto proximidades do Egito e da Ásia Menor, seu esplendor se
Heitor era o herói troiano. iniciou em torno do ano 2000 a.C, época na qual a cidade de
Protegido pelo deus Hefaísto, que lhe cedera uma Cnossos dominava a ilha.
armadura impenetrável, Aquiles atacou os troianos que A sociedade minoica era governada por príncipes, que
fugiram, exceto o corajoso Heitor, que enfrentou Aquiles. criaram um império marítimo. Dentre eles destacou-se o
Apesar da bravura, Heitor foi morto por Aquiles que acabou legendário Minos (o mesmo da lenda do minotauro), que teria
profanando o seu cadáver. construído numerosos palácios em Cnossos, a cidade mais
O irmão de Heitor, Paris, que jurara vingança, acabou importante de Creta. Por isso, a cultura cretense também é
matando Aquiles após feri-lo com uma flecha em seu único denominada cultura minoica.
lugar vulnerável: o calcanhar, daí o termo calcanhar de Aquiles A economia, construída sobre uma base agrícola, evoluiu
que quer dizer o ponto fraco de uma pessoa. para o comércio. A aplicação do torno à cerâmica e o domínio
Não conseguindo tomar Tróia pela força, os gregos usaram da metalurgia impulsionaram a exportação e a importação.
da astúcia… Além de produtos agrícolas, os cretenses exportavam suas
Após terem celebrado a paz com os troianos, os gregos manufaturas e importavam matérias-primas: cobre do Chipre
enviaram à Tróia um grande cavalo de madeira como presente e estanho da Europa ocidental. Eles eram os intermediários
(daí a expressão “presente-de-grego”). Acontece que dentro comerciais entre os povos vizinhos. O comércio favoreceu o
desse cavalo estavam os melhores guerreiros gregos. Estes, já desenvolvimento da vida das pessoas nas cidades.
dentro da cidade, abriram as portas para que o exército grego A arte minoica esteve bastante presente na construção dos
liquidasse os troianos que foram apanhados desprevenidos. palácios e sobretudo na decoração de seus interiores. As obras
Foi assim que os gregos conquistaram Tróia, após uma artísticas, que anteriormente tinham apenas inspiração
guerra de durou 10 anos. religiosa, sofreram mudanças graças às transformações
Hoje acredita-se que apesar da aventura contada no obra, ocorridas na vida e na mentalidade da sociedade. Assim, elas
os gregos forçaram a invasão a Tróia por causa de sua deixaram de ter caráter apenas sagrado e passaram a ter
localização estratégica para o comércio marítimo no mar Egeu. sentido próprio, voltadas à simples contemplação. Destacam-
A Odisseia narra as aventuras de Ulisses (ou Odisseu), rei se as elegantes pinturas em afresco que representavam cenas
da Ítaca, que após a destruição de Tróia procura retornar a sua da vida cotidiana.
fiel esposa Penélope, que prometera escolher um noivo, assim Os minoicos utilizavam dois tipos de escrita, Linear A e
que terminasse de tecer um manto. Acontece que na esperança Linear B. O primeiro ainda não é bem conhecido, mas o
da chegada de Ulisses ela desmanchava, à noite, o trabalho que segundo está ligado à escrita grega.
fizera durante o dia. Atraídos pelo desenvolvimento de Creta, por volta de 1400
Finalmente, Ulisses chegou. Disfarçado em mendigo, se a.C, os aqueus invadiram e conquistaram a ilha. Contudo, não
dirigiu ao local onde se celebrava a festa em honra do destruíram a cultura cretense; ao contrário, procuraram
deus Apolo. Nesta festa, Penélope propôs que aquele que assimilá-la e preservá-la, de onde surgiu a civilização micênica.
conseguisse disparar o arco e as flechas de Ulisses ela A Civilização Micênica é considerada uma das sociedades
desposaria. Todos tentaram, sem sucesso. mais sofisticadas da cultura grega pela grande disseminação
Ulisses, graças à interferência de Telêmaco, seu filho, que artística e pela avançada organização política que via as
sabia de seu segredo, disparou as doze flechas. Em seguida mulheres com igualdade.
venceu os seus adversários e revelou-se a Penélope, que não Entretanto, ao contrário das civilizações gregas mais
acreditava ser aquele velho esfarrapado o seu esposo. Para antigas que adoravam uma deusa-mãe, os micênicos passaram
contornar a situação, a deusa Atenéia devolveu a Ulisses a sua a louvar Poseidon, que eles acreditavam ser o governador
juventude e também a obediência a seu povo. máximo da Terra. Acredita-se que nesta civilização se dá início
No final do período homérico, o aumento populacional e a às primeiras lendas da Mitologia Grega, pois ao fim deste
falta de terras acabou desagregando a comunidade primitiva. período o deus principal passou a ser Zeus.
As terras coletivas foram divididas pelo páter (chefe de O sistema político e econômico era centrado na figura do
família) entre seus parentes mais próximos, surgindo dessa rei, mas pouco se sabe sobre a hierarquia social da época.
forma à propriedade privada e a hierarquização da sociedade Alguns especialistas sustentam que, abaixo dos reis, havia uma
em classes distintas. forte organização militar detentora de grandes lotes de terra.
Dessa forma, de um lado formou-se uma poderosa Os escravos, trabalhadores livres e comerciantes faziam parte
aristocracia que possuía as melhores terras e controlava o da escala social mais baixa.
poder político, do outro lado os despossuídos que passaram a Os micênicos eram grandes navegadores e construíram
trabalhar para os aristocratas ou se dedicaram ao comércio e embarcações bem mais avançadas que as iniciadas pelos
ao artesanato. Outros ainda acabaram emigrando para novas minoicos. Este povo, que se caracterizava pelo aspecto
terras. guerreiro, construiu barcos de carga que eram propícias ao
combate. Como armamento, os micênicos começaram a
O Povo Grego utilizar o ferro e o bronze.
Na verdade a civilização grega resultou numa mistura de Não se sabe ao certo qual foi o real motivo de
diversos povos. desaparecimento dessa civilização, mas alguns historiadores
acreditam que a invasão dos dórios na região de Creta foi o

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principal motivo. Os dórios acabaram com toda a potência A Acrópole era uma fortificação onde estavam os
marítima iniciada pelos micênicos e a ilha de Creta, que se monumentos, os templos e os palácios dos governantes.
tornara uma das regiões mais desenvolvidas da Grécia, perdeu Atenas e Esparta foram as pólis com maior
sua hegemonia com sua divisão em cidades-Estado. Os dóricos reconhecimento através dos tempos, com fama até os dias
entraram violentamente na Grécia pouco depois da Guerra de atuais.
Tróia, por volta de 1100 a.C. Eram mais poderosos que os
Aqueus do ponto de vista bélico, pois possuíam armas feitas de Esparta
ferro. Com a invasão de Creta as cidades micênicas foram Esparta localizava-se na região da Lacônia, que ocupava a
destruídas. parte sudeste da Península do Peloponeso, ao extremo sul da
Os dóricos não conseguiram absorver as conquistas Grécia, sendo uma das primeiras cidades-Estado. Foi fundada
micênicas, como a escrita, e a urbanização praticamente pelos dórios, por volta do século IX a.C., após a submissão dos
desapareceu. A Grécia viveu um período conhecido como aqueus.
idade obscura ou período Homérico (recebeu este nome por Durante o Período Homérico, os dórios vivenciaram o
conta das poucas fontes, e sendo as obras Ilíada e Odisseia de sistema gentílico, como as demais regiões da Grécia. Nesse
Homero as principais), do qual se conhece muito pouco. período, as terras que haviam sido conquistadas aos aqueus
Com a invasão dórica muitos habitantes fugiram da foram distribuídas entre os guerreiros, que as trabalhavam
Península do Peloponeso, essa foi a primeira diáspora grega. coletivamente, sob um regime patriarcal. No século VII a.C., em
razão da escassez de terras e do crescimento da população
Cidades-Estado dória, teve início a expansão vitoriosa sobre a Planície
A história da Grécia Antiga caracteriza-se pela presença da Messênia; os messênios foram reduzidos à condição de
cidade-Estado (pólis). Havia ao todo cerca de 160 cidades- escravos. Esse fato promoveu profundas alterações na
Estado na Grécia, todas elas soberanas, com destaque para estrutura econômica e fundiária de Esparta. As propriedades
Atenas e Esparta. A independência dessas cidades resultou de coletivas desapareceram, cedendo lugar a uma vasta
vários fatores: o relevo montanhoso, que dificultava as propriedade estatal, denominada de terra cívica — as terras
comunicações terrestres; o litoral recortado e as numerosas centrais e mais férteis da planície.
ilhas existentes no Mar Egeu, que estimulavam a navegação; a Essas terras foram divididas em cerca de 8.000 lotes, que
ausência de uma base econômica interna sólida, que poderia foram distribuídos aos guerreiros dórios, detentores da posse
aglutinar os gregos em um Estado-nação. Contudo, os gregos útil da terra cívica. Recebiam também cerca de seis escravos
passaram por um processo de dispersão que os levou a fundar para realizar os trabalhos. As terras periféricas foram
numerosas colônias no litoral do Mediterrâneo e do Mar divididas entre os aqueus, que detinham a propriedade
Negro. Essas colônias vieram a tornar-se outras tantas privada sobre a terra, podendo vendê-la ou dividi-la.
cidades-Estado, de forma que não se estabeleceu uma unidade A conquista da Planície Messênia promoveu uma
política entre elas. Entretanto, como havia unidade cultural reestruturação social em Esparta. Basicamente, após a
(identidade de língua, etnia, religião e costumes), por isso conquista da Planície, a sociedade era composta de esparciatas
podemos falar em um Mundo Grego, mas não em um Império (cidadãos e guerreiros de origem dória, que constituíam a
Grego. camada social superior e recebiam educação militar), periecos
Nessa época, os gregos viviam em pequenas comunidades (aqueus, habitantes da periferia, que, apesar de serem homens
agrícolas autossuficientes — os genos – cujos membros eram livres, não eram considerados cidadãos) e hilotas (escravos).
aparentados entre si e obedeciam à autoridade de um pater A sociedade era estamental, rigidamente hierarquizada e sem
famílias. A propriedade da terra era coletiva. O sistema mobilidade social.
gentílico desintegrou-se quando o crescimento demográfico Até o século VII a.C., a legislação de Esparta—Grande Retra
tornou insuficiente a produção dos genos. Os parentes mais — estabelecia que o governo deveria ser exercido por dois reis
próximos do pater famílias (os eupátridas) apropriaram-se (diarquia), por um conselho e por uma assembleia. A sucessão
das terras, transformando-as em propriedade privada; quanto ao trono era hereditária e duas famílias dividiam o poder: os
aos parentes mais afastados, estes se transformaram em Ágidas e os Euripôntidas. O Conselho, denominado Gerúsia,
camponeses sem terra ou então emigraram. Separando-se dos era formado pelos homens idosos e tinha um caráter apenas
camponeses, os eupátridas passaram a morar em locais consultivo. A Assembleia, Ápela, era o órgão mais importante,
fortificados que, com o correr do tempo e o desenvolvimento e os cidadãos tomavam as decisões finais sobre todos os
do comércio, deram origem às polis. assuntos. A Constituição e a organização política eram
Constituída por um aglomerado urbano, abrangia toda a praticamente imutáveis, pois eram atribuídas à lendária figura
vida pública de um pequeno território e geralmente de Licurgo, personagem histórica que, por ter um caráter
encontrava-se protegida por uma fortaleza. Compreendia a divino, imprimia essa divinização às normas por ele criadas.
totalidade dos cidadãos, exceto os escravos, metecos e Com o processo de conquista da Planície Messênia concluído
membros de populações subjugadas e distinguia-se de outras no século VII a.C., as transformações políticas foram
cidades pelo nome dos seus habitantes. proporcionais às mudanças socioeconômicas. O governo
A criação da pólis foi favorecida pelo progresso da passou por uma transformação conservadora e mais uma vez
agricultura, do comércio e pelo aparecimento da indústria essas alterações foram atribuídas a Licurgo. Esparta adotou a
têxtil, bem como pela intensificação da vida política. Quando oligarquia como forma de governo. A antiga Gerúsia passou a
os habitantes de povoações disseminadas transferiram a sua monopolizar o poder e, nesse momento, compunha-se de 28
residência para perto das fortalezas, a acrópole se converteu gerontes (cidadãos com mais de 60 anos), com poderes
no centro político da pólis. vitalícios.
A pólis era uma organização social constituída por O Poder Executivo passou a ser exercido pelos éforos, cinco
cidadãos livres que discutiam e elaboravam as leis relativas à magistrados escolhidos pelos gerontes, com o mandato de um
cidade. Dentro dos limites de uma pólis ficavam a Ágora e a ano. A antiga Ápela aprovava as leis apenas por aclamação,
Acrópole, além dos espaços urbano e rural. A agricultura era a correspondendo, nesse contexto, a um órgão formal de
base da economia da pólis. decisões políticas, de caráter meramente consultivo. A
A Ágora era uma grande praça pública, um espaço onde os diarquia continuou a existir, mas os seus poderes políticos
cidadãos se reuniam para atividades comerciais, discussões foram esvaziados, restando-lhe o exercício do poder
políticas e manifestações cívicas e religiosas. sacerdotal e as atribuições militares. O caráter conservador de
Esparta resultou da preocupação da minoria esparciatas em

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APOSTILAS OPÇÃO

manter a maioria hilota subordinada. Daí o militarismo do A Democracia em Atenas passaria ainda por algumas
estamento dominante, a xenofobia (aversão ao estrangeiro) e reformas, o que aconteceu em 507 a.C com o legislador
o laconismo (forma sintética de expressão), que sufocavam o Clístenes, que recebeu o título de “pai da democracia”.
surgimento de ideias e restringiam o espírito crítico.
A educação espartana estava voltada para a guerra, Educação
moldando os homens, desde crianças, que se preparavam para Na antiguidade, a cidade-estado grega de Atenas destacou-
tornar-se soldados. se nas áreas de artes, teatro, literatura e outras atividades
Esse processo de formação militar começava quando ainda culturais. Desta forma, a educação ateniense refletiu os anseios
criança, quando um grupo de anciãos observava as crianças, e valores desta sociedade.
que não poderiam ter problemas físicos e de saúde. Caso a A educação ateniense tinha como objetivo principal à
criança fosse completamente saudável ela ficaria sob a guarda formação de indivíduos completos, ou seja, com bom preparo
da sua mãe até os sete anos de idade; após, quem se tornaria físico, psicológico e cultural.
responsável pela criança era o próprio Estado. Por volta dos sete anos de idade, o menino ateniense era
Assim, ao sete anos, a criança “entrava” para o exército orientado por um pedagogo. Na escola, os jovens estudavam
onde permaneceria até seus doze anos de idade, quando música, artes plásticas, Filosofia, etc.
receberia alguns ensinamentos para que conhecesse a As atividades físicas também faziam parte da vida escolar,
dinâmica do estado Espartano e principalmente as tradições pois os atenienses consideravam de grande importância a
de seu povo, e após esses ensinamentos entrariam de fato em manutenção da saúde corporal.
um treinamento militar. Já as meninas de Atenas não frequentavam escolas, pois
Aprendiam a combater com eficácia, eram testados ficavam aos cuidados da mãe até o casamento.
fisicamente e psicologicamente, além de aprenderem a
sobrevivência em condições extremas e diversas, e Cidadania e Democracia na Antiguidade
principalmente aprendiam a obedecer seus superiores. Se por Comumente consideramos como antiguidade o período
algum acaso esses jovens soldados não conseguissem que vai do surgimento da escrita, por volta de 3000 a.C na
completar essas missões pela qual eram submetidos, ocorriam Mesopotâmia, até a queda do Império Romano do Ocidente, no
punições. ano de 476 d.C. Diferentes povos se desenvolveram na Idade
O teste final na vida do soldado espartano era realizado aos Antiga, entre elas as civilizações do Egito, Mesopotâmia, China,
seus 17 anos. Esse teste era conhecido como Kriptia e as civilizações clássicas como Grécia e Roma, os Persas, os
funcionava como um jogo, onde os soldados escondiam de dia Hebreus, os Fenícios, além dos Celtas, Etruscos, Eslavos, dos
em campo para ao anoitecer, saírem a caça do maior número povos germanos (visigodos, ostrogodos, anglos, saxões,) entre
de escravos (hilotas) possíveis. outros. Ela surge como um período histórico de fundamental
Passando por esses processos de seleções o jovem importância, destacadamente por suas criações e legados,
espartano já poderia integrar oficialmente os exércitos e teria muitos dos quais lançaram as bases para a construção de
direito também a um lote de terras. muitas sociedades atuais.
Aos trinta anos de idade o soldado poderia ganhar a Além de ser o período do surgimento da escrita, a
condição de cidadão e isso o dava o direito de participar de antiguidade também viu nascerem os jogos olímpicos, a
todas as decisões e leis que seriam colocadas na mesa pela organização do conhecimentos, o surgimento de diversas
Apela, e aos sessenta anos o indivíduo poderia sair do exército cidades e a criação do Estado enquanto instituição capaz de
podendo integrar a Gerúsia. regulamentar o convívio entre os homens. A partir de então, o
crescente nível de complexidade das civilizações comportou
Atenas também o fortalecimento das relações políticas.
De origem jônica, Atenas se apresentou como um padrão
para o desenvolvimento para outras cidades-estados gregas. A Política
região cercada de montanhas, foi poupada de uma ocupação Os sistemas de governo na Antiguidade estavam baseados
dos Dórios. Ao lado de Esparta, a cidade de Atenas é em elementos teocráticos, ou seja, sustentados por uma visão
caracterizada como um modelo a ser seguido, isso pois, nessa religiosa e dominado por uma pequena elite política. O Faraó
cidade aconteceu a formação e o desenvolvimento da no Egito era visto como um enviado dos deuses, e, em alguns
Democracia. Essa palavra em sua origem representa: DEMO casos, como uma reencarnação divina. Nos povos
(povo) KRATOS (poder), ou seja, poder do povo. A Democracia mesopotâmicos, assim como em grande parte das demais
é até hoje o regime político utilizado na maioria dos países civilizações do período, eram frequentes as interferências do
Ocidentais, inclusive no Brasil. sacerdote em assuntos políticos.
Em 621 a.C, o legislador Drákon foi o encarregado de
escrever as primeiras leis escritas em Atenas, codificou O exemplo de Esparta
portanto as antigas leis conhecidas pela tradição oral. Nada Até o século VII a.C., a legislação de Esparta —Grande Retra
mudou em relação à legislação, os eupátridas continuavam — estabelecia que o governo deveria ser exercido por dois reis
sendo os que detinham os maiores direitos políticos, por isso, (diarquia), por um conselho e por uma assembleia. A sucessão
aconteceram em Atenas várias manifestações dos Thetas ao trono era hereditária e duas famílias dividiam o poder: os
(camada social marginalizada, camponeses, servos...) que Ágidas e os Euripôntidas.
queriam participar da política ateniense, lutando O conselho, denominado Gerúsia, era formado pelos
principalmente contra a escravidão por dívida que ainda homens idosos e tinha um caráter apenas consultivo. A
existia em Atenas. Assembleia, Ápela, era o órgão mais importante, e os cidadãos
Somente em 594 a.C. com o legislador Sólon, aconteceram tomavam as decisões finais sobre todos os assuntos.
reformas políticas em Atenas mais próximas dos interesses A Constituição e a organização política eram praticamente
dos Thetas. Sólon decretou a lei seisachtéia, a proibição da imutáveis, pois eram atribuídas a lendária figura de Licurgo,
escravidão por dívida, além de determinar o confisco de terras personagem histórica que, por ter um caráter divino, imprimia
dos eupátridas e uma divisão de terras para as famílias mais essa divinização às normas por ele criadas.
pobres, isso resultou numa grande paz e estabilidade social. Com o processo de conquista da Plante Messênia concluído
No plano jurídico decretou a eunomia, a igualdade de todos no seculo VII a C., as transformações políticas foram
perante a lei. Essa reforma foi decisiva para o desenvolvimento proporcionais às mudanças socioeconômicas. O governo
de um sentimento democrático em Atenas. passou por uma transformação conservadora e mais una vez

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essas alterações foram atribuídas a Licurgo. Esparta adotou a Patrícios (descendentes dos fundadores);
oligarquia como forma de governo. A antiga Gerúsia passou a Plebeus (descendentes dos estrangeiros);
monopolizar o poder e, nesse momento, compunha-se de 28 Escravos (prisioneiros de guerra e os que não
gerontes (cidadãos com mais de 60 anos), com poderes saldavam suas dívidas).
vitalícios. O Poder Executivo passou a ser exercido pelos Existiam também os clientes, que eram homens livres,
éforos, cinco magistrados escolhidos pelos gerontes, com o dependentes de um aristocrata romano que lhes fornecia terra
mandato de um ano. A antiga Ápela aprovava as leis apenas para cultivar em troca de uma taxa e de trabalho
por aclamação, correspondendo, nesse contexto, a um órgão A cidadania em Roma era garantida aos homens livres.
formal de decisões políticas, de caráter meramente consultivo. Apesar da garantia ao homens livres, não eram todos aqueles
A diarquia continuou a existir, mas os seus poderes políticos considerados livres que tinham o direito de exercê-la.
foram esvaziados, restando-lhe o exercício do poder Inicialmente apenas os patrícios possuíam direitos políticos,
sacerdotal e as atribuições militares. O caráter conservador de civis e religiosos. O cargo de senador, por exemplo, era vitalício
Espana resultou da preocupação da minoria esparciata em e exclusivo apenas para os patrícios. Essa diferenciação entre
manter a maioria hilota (escravos) subordinada. Daí o patrícios e plebeus gerou diversos conflitos. Após a reforma do
militarismo do estamento dominante, a xenofobia (aversão ao Rei Sérvio Túlio, os plebeus tiveram acesso ao serviço militar
estrangeiro) e o laconismo (forma sintética de expressão), que e lhes foram assegurados alguns direitos políticos. Só a partir
sufocavam o surgimento de ideias e restringiam o espirito de 450 a.C., com a elaboração da famosa Lei das Doze Tábuas,
crítico. foi assegurada aos plebeus uma maior participação política, o
A sociedade espartana era composta de esparciatas que se deveu em muito à expansão militar romana.
(cidadãos e guerreiros de origem dória, que constituíam a
camada social superior e recebiam educação militar), Direito Romano
periecos (aqueus, habitantes da periferia, que, apesar de Direito romano é um termo histórico-jurídico que se
serem homens livres, não eram considerados cidadãos) e refere, originalmente, ao conjunto de regras jurídicas
hilotas (escravos). observadas na cidade de Roma e, mais tarde, ao corpo de
A sociedade era estamental, rigidamente hierarquizada e direito aplicado ao território do Império Romano e, após a
sem mobilidade social. queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C., ao
A política nos exemplos citados possui uma maneira de território do Império Romano do Oriente. Mesmo após 476, o
organização pautada na hierarquia e na participação de um direito romano continuou a influenciar a produção jurídica dos
seleto grupo de pessoas, que governavam e mantinham o reinos ocidentais resultantes das invasões bárbaras, embora
poder através da justificativa divina e também familiar. um seu estudo sistemático no ocidente pós-romano esperaria
Apesar do caráter oligárquico da política na Antiguidade, a chamada redescoberta do Corpo de Direito Civil pelos
algumas experiências merecem destaque por mudarem esse juristas italianos no século XI.
cenário, aumentando a participação da população nos Os historiadores do direito costumam dividir o direito
assuntos políticos. romano em fases. Um dos critérios empregados para tanto é o
da evolução das instituições jurídicas romanas, segundo o qual
A democracia em Atenas o direito romano apresentaria quatro grandes épocas:
A democracia, governo do povo (demo = povo,
cracia=governo), foi implantada em Atenas, por volta de 510 Época Arcaica (753 a.C. a 130 a.C.)
a.C., quando Clístenes comandou um revolta contra o último Época Clássica (130 a.C. a 230 d.C.)
tirano que governou a cidade-estado. As reformas políticas Época Pós-Clássica (230 d.C. a 530 d.C.)
adotadas por Clístenes visavam a resolver os graves conflitos Época Justiniana (530 d.C. a 565 d.C.)
sociais decorrentes da estratificação social em Atenas. A influência do direito romano sobre os direitos nacionais
O regime político democrático instituído por Clístenes europeus é imensa e perdura até hoje. Uma das grandes
tinha por princípio básico a noção de que “todos os cidadãos divisões do direito comparado é o sistema romano-germânico,
têm o mesmo direito perante as leis”. adotado por diversos Estados continentais europeus e
baseado no direito romano. O mesmo acontece com o sistema
E quem eram os cidadãos? jurídico em vigor em todos os países latino-americanos.
Somente os homens atenienses maiores de 21 eram Durante o primeiro período da história romana, que vai até
considerados cidadãos, ou seja, eram excluídos da vida a criação da república em 510 a.C. o direito era baseado nos
política as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os jovens. costumes, com a ligação do Direito Sagrado ao humano.
A democracia de Atenas era, dessa forma, elitista, patriarcal e No período republicano, que vai de 510 a.C. até Augusto,
escravista, porque apenas uma pequena minoria de homens em 27 a.C., no Direito Romano prevalecia o jus gentium
proprietários de escravos poderia exercê-la. sobressaindo sobre o jus fas (Direito Sagrado, religioso), que
Os cidadãos participavam da Assembleia do Povo, órgão era o direito comum para todos os povos que habitavam o
de decisão que ficava a cargo de aprovar ou rejeitar os projetos Mediterrâneo, além do conceito do bonum et aequum, e o
apresentados para a cidade. Esses projetos eram elaborados conceito da boa-fé;
pelo Conselho dos Quinhentos, um conjunto de 500 cidadãos O período do Direito clássico, é considerando a época
eleitos anualmente. Após serem aprovados pela Assembleia do áurea da jurisprudência, indo do reinado de Augusto até o
Povo, os projetos eram executados, em tempos de paz, pelos imperador Diocleciano. Existe uma participação maior dos
estrategos. jurisconsultos, que são os conhecedores do Direito na época,
A democracia ateniense acabou por volta de 404 a.C., além da substituição do direito magistratural (jus
quando a cidade-estado foi derrotada por Esparta na Guerra honorarium) que auxiliava, e supria o cerne originário do
do Peloponeso, voltando a ser governada por uma oligarquia. Direito Quiritário; no lugar deste surge o cognitio extra
ordinem, administração da justiça de aplicação particular do
Roma imperador.
Em Roma, também existia a ideia de cidadania como O último período do Direito Romano acontece após o
capacidade para exercer direitos políticos e civis e a distinção imperador Diocleciano (século IV d.C.), e vai até a morte do
entre os que possuíam essa qualidade e os que não a possuíam. imperador Justiniano. Durante este período que surgiu o
A sociedade romana era composta basicamente de três direito pós-clássico, havendo a ausência de grandes
classes: jurisconsultos, e ocorrendo uma adaptação das leis em face da

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nova religião Cristã que ficou popular no império. Durante este (D) Era erroneamente chamado de democrático pois
período ocorre a formação do direito moderno, que começa a negava a existência de representantes eleitos pelo povo
ser codificado a partir do século VI d.C. pelo imperador (E) A inexistência de escravos em Atenas levava a uma
Justiniano. participação quase total da população da Cidade-Estado na
Apesar de proteger as liberdades individuais e reconhecer política.
a autonomia da família com o pátrio poder, o Direito Romano
não assegurava a perfeita igualdade entre os homens, 04. (FEI) A Guerra do Peloponeso, ocorrida na Grécia entre
admitindo a escravidão e discriminando os despossuídos. Ao 431 e 401 a.C., foi:
lado da desigualdade extrema entre homens livres e escravos, (A) Uma guerra defensiva empreendida pelos gregos
o Direito Romano admitia a desigualdade entre os próprios contra a invasão dos persas e a ameaça de perda de suas
indivíduos livres, institucionalizando a exclusão social. principais praças de comércio do Mar Mediterrâneo;
(B) Uma luta entre dórios e aqueus na época da ocupação
Questões do território grego que resultou na formação das cidades de
Esparta e Atenas;
01. (MPE-SP – Analista Técnico Científico – Pedagogo – (C) Uma luta comandada pelas cidades de Esparta e
VUNESP-2016)9 Das alternativas a seguir, assinale aquela Corinto contra a hegemonia da Confederação de Delos -
que define corretamente o modelo de democracia cuja liderada por Atenas - sobre o território grego;
experiência mais marcante e conhecida foi a da Grécia (D) Uma guerra entre gregos e romanos, pelo desejo de
Antiga. Esse modelo, conhecido como democracia direta, é implantação de uma cultura hegemônica sobre os povos do
(A) uma forma em que o cidadão escolhe seus Oriente Próximo;
representantes, que devem eleger os responsáveis pela (E) Uma invasão do território grego pelas tropas de
condução do poder público, nos diferentes níveis. Alexandre - O Grande, na época de expansão do Império
(B) o sistema de eleição em que todos os cidadãos Macedônico que herdara de seu pai.
participam da escolha dos candidatos à eleição para os
diferentes cargos eletivos. 05. (PUC-PR) A Civilização Grega apresentou unidade
(C) o sistema em que o eleitor vota diretamente no seu cultural e fragmentação política. Sobre o assunto, assinale a
representante para o Poder Executivo e Legislativo. alternativa correta:
(D) quando as decisões são tomadas por cada um dos (A) Quando as tribos arianas ou indo-europeias dos
cidadãos, administrar sem intermediários. aqueus, eólicos, jônios e dóricos penetraram na Grécia
(E) o sistema em que o cidadão escolhe, entre os encontraram a região desabitada, o que facilitou-lhes a fixação.
candidatos do seu distrito, aquele que deverá participar da (B) A conquista da Grécia por Felipe II da Macedônia foi
eleição em nível municipal. anterior ao domínio romano na região.
(C) Atenas e Esparta, as principais polis gregas foram
02. (TJ-RS – Historiógrafo – FAURGS) Foram os gregos igualmente fundadas pelos descendentes dos eólicos, o que
os primeiros a interessar-se pelas culturas chamadas explica serem suas economias iguais, baseadas na pesca,
bárbaras. A partir desse interesse, foi rompido o ciclo de artesanato e intenso comércio, inclusive marítimo.
produção dos anais dinásticos e iniciou-se o movimento (D) Tanto Atenas quanto Esparta implantaram governos
que propunha uma reflexão mais ampla sobre a sociedade tipicamente democráticos nos séculos V e IV a.C., tendo a
em geral. Assim nascia a história ocidental. A respeito da primeira, contudo, mantido a forma monárquica de governo.
História produzida na Grécia Antiga, qual das afirmações (E) A agressividade das polis, ou cidades-estados de Tebas
abaixo está INCORRETA? e Corinto, provocou a primeira onda colonizadora grega, que
(A) Fundamentava-se na coleta e cotejo de informações e povoou inclusive as ilhas do mar Egeu.
na sua guarda em arquivos.
(B) Cabia ao historiador dizer a verdade sobre os Gabarito
acontecimentos que achava digno relatar.
(C) Representou a emergência de um discurso sobre o 01.D / 02.A / 03.B / 04.C / 05.B
passado que aspirava à verdade.
(D) Demonstrava interesse pelo estrangeiro e apresentava
digressões etnográficas e geográficas.
(E) Baseava-se na observação direta, por meio do
testemunho do historiador, e na valorização da tradição oral.

03. (FEI)10 Atenas foi considerada o berço do regime


democrático no mundo antigo. Sobre o regime democrático
ateniense, é CORRETO afirmar que:
(A) Era baseado na eleição de representantes para as
Assembleias Legislativas, que se reuniam uma vez por ano na
Ágora e deliberavam sobre os mais variados assuntos.
(B) Apenas os homens livres eram considerados cidadãos
e participavam diretamente das decisões tomadas na Cidade-
Estado
(C) Os estrangeiros e mulheres maiores de 21 anos podiam
participar livremente das decisões tomadas nas assembleias
da Cidade-Estado.

9 https://www.qconcursos.com/questoes-de- ernos=&sem_anuladas=&sem_desatualizadas=&sem_anuladas_impressao=&sem_
concursos/questoes/search?utf8=%E2%9C%93&todas=on&q=Gr%C3%A9cia&in desatualizadas_impressao=&caderno_id=&migalha=&data_comentario_texto=&d
stituto=&organizadora=&prova=&ano_publicacao=&cargo=&escolaridade=&mo ata=&minissimulado_id=&resolvidas=&resolvidas_certas=&resolvidas_erradas=&
dalidade=&disciplina=550&assunto=&esfera=&area=&nivel_dificuldade=&period nao_resolvidas=
o_de=&periodo_ate=&possui_gabarito_comentado_texto_e_video=&possui_coment 10 http://www.questoesdosvestibulares.com.br/2015/05/historia-idade-
arios_gerais=true&possui_comentarios=&possui_anotacoes=&sem_dos_meus_cad antiga-grecia-antiga.html

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Propriedade dupla, isto é, copropriedade, no manso


servil. (O senhor detinha a posse legal e o servo, a posse útil da
3 A organização sócio- terra.)
política, econômica, cultural Levando-se em consideração que a maior parte da
produção obtida pelo servo não se conservava em suas mãos,
religiosa da sociedade pois passava para o senhor feudal, seu interesse era mínimo.
europeia do século V ao XV Associando-se a este fato o de que os trabalhos agrícolas eram
sua dinâmica, relações, realizados coletivamente, tolhendo a iniciativa individual, eles
resultavam em baixo nível da técnica e pequena
rupturas e transformações. produtividade: para cada grão semeado, colhiam-se dois. Daí o
3.1 A Cristianização da regime de divisão das terras cultiváveis em três campos,
Europa. 3.2 A sociedade destinados alternadamente para o plantio de cereais e de
forragem, reservando-se o terceiro para o descanso (pousio).
Oriental, o Islamismo e a Realizava-se a rotação trienal dos campos, com vistas a
islamização da Arábia e África. impedir o esgotamento do solo.
3.3 Os reinos africanos no
século V ao XV

O Feudalismo

O Feudalismo, ou sistema feudal, corresponde ao modo de


organização da vida durante a Idade Média na Europa
Ocidental. Suas origens remontam à crise do Império Romano
a partir do século III.
A Idade Média abrange um longo período da história
europeia, e é comum dividi-la em duas fases: Alta Idade Sociedade Feudal
Média e Baixa Idade Média. De acordo com as bases materiais descritas não havia
- A Alta Idade Média, é o período que vai do século V ao possibilidade de mobilidade social nos feudos: a sociedade era,
XI, corresponde à formação e consolidação do sistema feudal; portanto, estamental. O princípio de estratificação era o
- A Baixa Idade Média, é o período que vai século XI ao XV, nascimento, surgindo então duas camadas básicas: senhores e
caracteriza-se pela crise do feudalismo e início da formação do servos. Existiam também categorias intermediárias, tais como
sistema capitalista. os vilões (camponeses livres) e os ministeriais (corpo de
A formação do sistema feudal tem início com a crise do funcionários livres do senhor).
século III do Império Romano e acentua-se no século V, com O número de escravos reduziu-se cada vez mais, pois não
as invasões dos povos germânicos. A queda do escravismo, a havia guerras de expansão para apresá-los; além disso, a Igreja
formação do colonato e a posterior implantação de um regime condenava a escravização de cristãos. Por outro lado, os vilões
servil constituem o passo decisivo para a formação do sistema. tendiam a se tornar servos, pois de nada lhes adiantava a
Por outro lado, os germanos que invadiram o Império liberdade dentro da insegurança reinante: o fundamental era
Romano levaram consigo relações sociais comunitárias de a obtenção de proteção.
exploração coletiva das terras e subordinação aos grandes No topo da hierarquia social estavam os senhores feudais.
chefes militares (comitatus). As invasões, além de despovoar Os senhores feudais viviam com suas famílias em casas
as cidades, aumentando a população rural, dificultaram as fortificadas. Nas regiões mais ricas, os nobres habitavam em
comunicações e provocaram o isolamento das localidades, castelos.
forçando-as a adotar uma economia de subsistência Na base da sociedade feudal estavam os servos, que
autossuficiente. representavam aproximadamente 98% da população de um
O feudalismo pode ser definido de vários modos. A melhor feudo. Os servos viviam nas terras do senhor e a ele deviam
maneira, porém, é defini-lo conforme suas relações sociais uma série de serviços como a corveia, a talha e as banalidades.
básicas: relações vassálicas (entre os senhores ou nobreza), Na corveia o servo ficava obrigado a trabalhar nas terras
relações comunitárias (entre os servos) e relações servis (que do nobre por alguns dias da semana;
ligavam o mundo dos senhores ao mundo dos servos). Na talha, o camponês ficava obrigado a entregar ao senhor
Esta última ligação se processava por meio das obrigações, feudal parte de sua produção;
que resultavam das imposições feitas pelo senhor aos servos, Nas banalidades o servo era obrigado a pagar pela
de realizar paga mentos em produtos ou serviços, e que utilização do moinho, do forno e demais utensílios
constituem a própria essência do feudalismo. Tais obrigações pertencentes ao senhor.
eram costumeiras e não contratuais, como ocorre no sistema Mão-morta, uma espécie de taxa que o servo devia pagar
capitalista. Note-se que o servo era vinculado ao feudo, dele ao senhor feudal para permanecer no feudo quando o pai
não podendo sair. morria.
Tostão de Pedro (10% da produção), que o servo devia
Feudos pagar à Igreja de sua região.
A posse de bens variava de acordo com as circunstâncias: Outra classe social existente no feudo era o clero, os
Propriedade privada, no manso senhorial (terra do membros da Igreja. Os clérigos eram os responsáveis pela
senhor); transmissão religiosa e cultural. Também eram os
Propriedade coletiva, nos pastos e bosques (de uso responsáveis pelas leis, que nesta época eram transmitidas
comum para senhores e servos); pela interpretação religiosa. Isto tudo garantia ao clero a
responsabilidade pelo caráter moral da sociedade. E, não por
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acaso, que foi neste período que a Igreja Católica se Clero regular (aqueles que viviam nos mosteiros), que
transformou na mais poderosa instituição da Idade Média. O obedecia às regras de sua ordem religiosa: beneditinos,
domínio da Igreja foi garantido por ela ser a única com acesso franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinianos.
ao saber. Afinal, somente os membros do clero podiam ser
instruídos de educação e, consequentemente, eram os poucos No ponto mais alto da hierarquia eclesiástica estava o
que sabiam ler e escrever. O clero era sustentado pelos dízimos papa, bispo de Roma, considerado sucessor do apóstolo Pedro.
entregues à Igreja. Nem sempre a autoridade do papa era aceitar por todos os
A definição do bispo Adalberon de León para a sociedade membros da Igreja, mas em fins do século VI ela acabou se
medieval reflete muito bem o pensamento da época, pois para firmando, devido, em grande parte, à atuação do papa Gregório
o bispo “na sociedade feudal o papel de alguns é rezar, de Magno.
outros é guerrear e de outros trabalhar”. Para a Igreja Além da autoridade religiosa, o papa contava também com
medieval, cada indivíduo tinha um importante papel na o poder temporal da Igreja, isto é, o poder advindo da riqueza
sociedade, por isso, deveria executar a sua função com zelo e que acumulara com as grandes doações de terras feitas pelos
gratidão como se estivesse trabalhando para o próprio Deus. fiéis em troca da salvação.
Com isso, a Igreja garantia a manutenção da sociedade tal e Calcula-se que a Igreja Católica tenha chegado a controlar
qual ela era. um terço das terras cultiváveis da Europa Ocidental.
O papa, desde 756, era o administrador político do
Patrimônio de São Pedro, o Estado da Igreja, constituído por
um território italiano doado pelo rei Pepino, dos francos.
O poder temporal da Igreja levou o papa a envolver-se em
diversos conflitos políticos com monarquias medievais.
Exemplo marcante desses conflitos é a Questão da
Investiduras, no século XI, quando se chocaram o papa
Gregório VII e o imperador do Sacro Império Romano
Germânico, Henrique IV.

Questão das Investiduras e o Movimento Reformista


A Questão das Investiduras refere-se ao problema de a
quem caberia o direito de nomear sacerdotes para os cargos
eclesiásticos, ao papa ou ao imperador.
As raízes desse conflito remontam a meados do século X,
quando o imperador Oto I, do Sacro Império Romano
Germânico, iniciou um processo de intervenção política nos
assuntos da Igreja a fim de fortalecer seus poderes. Fundou
bispados e abadias, nomeou seus titulares e, em troca da
proteção que concedia ao Estado da Igreja, passou a exercer
total controle sobre as ações do papa.
Relações Vassálicas Durante esse período, a Igreja foi contaminada por um
O poder político no sistema feudal era exercido pelos clima crescente de corrupção, afastando-se de sua missão
senhores feudais, daí seu caráter localista. Não tendo religiosa e, com isso, perdendo sua autoridade espiritual. As
autoridade efetiva, os reis apenas aparentavam poder, pois na investiduras (nomeações) feitas pelo imperador só visavam os
prática existia uma descentralização político-administrativa. interesses locais. Os bispos e os padres nomeados colocavam
Impossibilitados de defender o reino, os soberanos o compromisso assumindo com o soberano acima da
delegaram essa tarefa aos senhores feudais. Por isso, e com fidelidade ao papa.
vistas a se protegerem, os senhores procuravam relacionar-se No século XI surgiu um movimento reformista, visando
diretamente por um compromisso: o juramento de fidelidade. recuperar a autoridade moral da Igreja, liderado pela Ordem
O senhor feudal que o prestasse tornar-se-ia vassalo e aquele Religiosa de Cluny. Os ideais dos monges de Cluny foram
que o recebesse seria seu suserano. Na hierarquia feudal, ganhando força dentro da Igreja, culminando com a eleição, em
suseranos e vassalos tinham obrigações recíprocas, pois à 1073, do papa Gregório VII, antigo monge daquela ordem
homenagem prestada pelo vassalo correspondia o benefício reformista.
concedido pelo suserano. Essa relação definia-se em um rito Eleito papa, Gregório VII tomou uma série de medidas que
denominado "cerimônia de investidura" ou "cerimônia de julgou necessárias para recuperar a moral da Igreja. Instituiu
adubamento". o celibato dos sacerdotes (proibição de casamento), em 1074,
e proibiu que o imperador investisse sacerdotes em cargos
Igreja Medieval eclesiásticos, em 1075. Henrique IV, imperador do Sacro
Em meio à desorganização administrativa, econômica e Império, reagiu furiosamente à atitude do papa e considerou-
social produzida pelas invasões germânicas e ao o deposto. Gregório VII, em resposta, excomungou Henrique
esfacelamento do Império Romano, a Igreja Católica, com sede IV. Desenvolveu-se, então, um conflito aberto entre o poder
em Roma, conseguiu manter-se como instituição. temporal do imperador e o poder espiritual do papa.
Consolidando sua estrutura religiosa e difundindo o Esse conflito foi resolvido somente em 1122, pela
cristianismo entre os povos bárbaros. Concordata de Worms, assinada pelo papa Calixto III e pelo
Valendo-se de sua crescente influência religiosa, a Igreja imperador Henrique V. Adotou-se uma solução de meio termo:
passou a exercer importante papel em diversos setores da vida caberia ao papa a investidura espiritual dos bispos
medieval, servindo como instrumento de unificação, diante da (representada pelo báculo), isto é, antes de assumir a posse da
fragmentação política da sociedade feudal. terra de um bispado, o bispo deveria jurar fidelidade ao
Os sacerdotes da Igreja era divididos em duas categorias: imperador.
Clero secular (aqueles que viviam no mundo fora dos
mosteiros), hierarquizado em padres, bispos, arcebispos etc. Inquisição
Nos países cristãos, nem sempre a fé popular manifestava-
se nos termos exatos pretendidos pela doutrina católica. Havia

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uma série de doutrinas, crenças e superstições, denominadas A Igreja Católica, para tentar conter a crise, propôs a "Paz
heresias, que se chocavam com os dogmas da Igreja. de Deus" (proteção aos cultivadores, viajantes e mulheres) e a
Para combater essas heresias, o papa Gregório IX criou, em "Trégua de Deus" (na qual os dias para realizar guerras
1231, os tribunais da Inquisição, cuja missão era descobrir e ficavam limitados a 90 por ano). Porém, essa intervenção da
julgar os heréticos. Os condenados pela inquisição eram Igreja não foi suficiente para conter a crise e a violência
entregues às autoridades administrativas do Estado, que se feudais.
encarregavam da execução das sentenças. As penas aplicadas
a cada caso iam desde a confiscação de bens até a morte em Cruzadas
fogueiras. Como as tentativas anteriores não obtiveram o resultado
O processo inquisitorial cumpria basicamente as seguintes esperado, a Igreja propôs as Cruzadas, uma contraofensiva da
etapas: o tempo de graça, o interrogatório e a sentença. cristandade diante do avanço do Islã. A Europa, que, entre os
séculos VIII e XI, não teve condições de reagir contra os árabes,
Vida cultural passava a reunir nesse momento as condições necessárias:
Quando se compara a produção cultural da Idade Média - Mão-de-obra militar marginalizada e ociosa;
com a Antiguidade ou a Modernidade, ela é considerada - Controle espiritual e religioso que a Igreja exercia sobre
tradicionalmente um período de trevas. Ao longo do tempo, o homem medieval, que o levou a crer na necessidade de
esse conceito tem sofrido algumas revisões, graças à resgatar o Santo Sepulcro e combater o infiel muçulmano;
reabilitação da Idade Média por certos autores que nela - Poder papal que se fortalecera quando Gregário VII
encontram as raízes culturais do Mundo Moderno e - num impôs sua autoridade a Henrique IV, na Querela das
sentido mais imediato - do Renascimento. Investiduras:
Também é importante lembrar que a Igreja foi a grande -A Igreja do Ocidente pretendia a reunificação da
mantenedora da cultura durante o Período Feudal, apesar de o cristandade, quebrada pelo Cisma de 1054;
fazer de forma que justificasse suas ideias e dogmas. O - O desejo do imperador de Constantinopla em afastar o
privilégio da leitura e da escrita também estava vinculado à perigo que os muçulmanos representavam;
Igreja. - Para Urbano II, o papa do exílio imposto pela Querela das
Já na crise do feudalismo, com a expansão comercial e a Investiduras, convocar as Cruzadas demonstrava prestígio e
criação das universidades, o pensamento filosófico autoridade perante toda a Igreja.
desenvolveu-se, surgindo, então, a escolástica ("filosofia da
escola"), produzida por São Tomás de Aquino, autor da Suma Em 1095, durante Concílio de Clermont, Urbano II
Teológica. O ideal tomista era conciliar o racionalismo convocou a cristandade para uma guerra santa contra o Islã.
aristotélico com o espiritualismo cristão, harmonizando fé e Foram realizadas oito Cruzadas, entre 1095 e 1270.
razão. Apesar da mobilização realizada pelas Cruzadas, elas são
consideradas um insucesso, que se deve em primeiro lugar ao
Baixa Idade Média e as Mudanças na Sociedade Feudal caráter superficial da ocupação. A presença cristã no Oriente
Na Baixa Idade Média, ocorreu a transição para o sistema Médio não criou raízes entre as populações locais. Outra razão
capitalista. Ao mesmo tempo, surgiram novas classes sociais, foi a anarquia feudal, que enfraquecia as colônias militares
principalmente a burguesia, que auxiliou a realeza no processo estabelecidas em território inimigo. A luta fratricida foi uma
de centralização política. constante entre as ordens religiosas e os cruzados latinos.
A questão fundamental para entender as mudanças
durante a Baixa Idade Média é a crise do feudalismo. A
produção feudal era baseada no trabalho servil, sendo limitada
e estática, o que, por sua vez, representava o baixo nível de
técnica do sistema feudal.
No século XI, cessaram as ondas invasoras, criando uma
certa estabilidade na Europa, além de condições de segurança
para o aumento da circulação de mercadorias. Houve uma
maior redistribuição da produção, gerando um crescimento
demográfico que não foi acompanhado pelo aumento da oferta
de empregos e alimentos.
Com o aumento da circulação de mercadorias e a
introdução de novos artigos de luxo, os senhores feudais
passaram a ter necessidade de aumentar as suas rendas. Para
obter mais recursos, eles eram obrigados a aumentar as
obrigações dos servos, que, pressionados, partiam para as
cidades em busca de uma vida melhor. A solução para a crise
seria a substituição do regime de trabalho servil pelo trabalho Fonte: 10emtudo.com.br
assalariado, porém essa mudança incentivou a evolução do
modo de produção feudal para o capitalista, o que não seria Consequências das Cruzadas
viável num curto período. As Cruzadas não se limitaram às expedições ao Oriente. Ao
Dessa forma, a crise do feudalismo ocorreu pela mesmo tempo, os reinos ibéricos de Leão, Castela, Navarra e
incapacidade da antiga estrutura econômica de sustentar as Aragão começavam a Reconquista da Península Ibérica contra
mudanças, o que foi gerando uma nova organização do modo os muçulmanos. A ofensiva teve início com a tomada da cidade
de vida. de Toledo, em 1036, e concluiu-se, em 1492, com a tomada de
A crise do sistema feudal deu origem a um processo de Granada. A vitória dos italianos sobre os muçulmanos no Mar
marginalização social, quer pela fuga dos servos, quer pelos Tirreno e norte da África fez com que as cidades italianas
deserdamentos ocorridos na camada senhorial. Essa iniciassem o seu domínio sobre o Mediterrâneo, lançando as
marginalização trouxe como consequência o aumento da sementes do comércio e do capitalismo. As relações entre
belicosidade, marcada por assaltos e sequestros a ricos Ocidente e Oriente foram redinamizadas depois de séculos de
cavaleiros. bloqueio, e as mercadorias orientais se espalhavam pela
Europa. O contato com o Oriente trouxe o conhecimento de

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novas técnicas de produção, fabricação de tecidos e Guerra, Fome e Peste


metalurgia. O crescimento que a Europa obteve nos séculos anteriores
sofreu um forte golpe no século XIV. As mudanças climáticas
Renascimento do Comércio geraram um grave colapso no abastecimento agrícola e, apesar
As transformações econômicas e sócias entre os séculos XI dos diversos avanços tecnológicos verificados no campo, como
e XIV na Europa foram imensos. A crise do feudalismo a invenção da charrua, da ferradura, a difusão dos moinhos
acentuou-se, principalmente depois das cruzadas. Ao voltarem de vento, a produção não era suficiente para abastecer a
das batalhas em terras orientais, os cruzados traziam consigo população europeia, que duplicou entre o ano 1000 e o ano
produtos de luxo, como tapetes persas, porcelanas chinesas, 1300, levando boa parte da população a passar fome.
tecidos finos ou especiarias (temperos como cravo, canela e Entre 1346 e 1352, o continente foi assolado pela Peste
pimenta), que atraíam a população europeia, proporcionado o Negra, uma epidemia decorrente das péssimas condições de
Renascimento do Comércio. higiene das cidades, transmitida ao ser humano através das
Por haverem estabelecido feitorias nessas regiões mais pulgas dos ratos-pretos ou outros roedores, matando cerca de
afastadas, os europeus abriram um novo eixo comercial 30 milhões de pessoas, mais de um terço da população
ligando o Ocidente ao Oriente. As principais rotas de comércio europeia na época. A situação ficou ainda mais grave depois
eram feitas pelo mar Mediterrâneo e estavam sob o controle que a nobreza da França e Inglaterra deram início à
de cidades como Gênova, Veneza, Pisa, Constantinopla, chamada Guerra dos Cem Anos, conflito que se estendeu de
Barcelona e Marselha. No mar Báltico e no mar do Norte, o 1337 a 1453 provocando grande número de mortos em ambos
domínio ficava por conta de cidades como Hamburgo, Bremen os países. Outras guerras ocorreram também na Península
e pela região de Flandres (Países Baixos). ibérica, na Itália e na Alemanha.

Burgos e Burgueses O cristianismo, a Igreja Católica e os reinos bárbaros


Com a retomada do comércio, muitos europeus deixaram
o campo e foram viver dentro dos burgos - vilas fortificadas A conversão religiosa dos bárbaros
com muralhas, construídas entre os séculos IX e X e Ao longo de sua trajetória, a Igreja Cristã teve grande papel
posteriormente abandonadas -, onde esperavam encontrar na divulgação e expansão do cristianismo pelos vastos
melhores condições de vida. Em pouco tempo, contudo, esses territórios dominados pela população romana. Inicialmente,
lugares tomaram-se pequenos e as pessoas viram-se obrigadas como bem sabemos, os cristãos realizavam a pregação do
a se instalar do lado de fora de suas muralhas. Cristianismo, mesmo com as perseguições empreendidas
Essa população, formada principalmente por artesãos, pelos romanos que se opunham ferrenhamente ao conteúdo
operários e comerciantes, acabou dando origem a novos das crenças disseminadas. Com o crescimento da religião, o
burgos em vários pontos da Europa. Seus habitantes, por Império Romano acabou revertendo tal situação ao oficializar
oposição aos nobres que viviam em castelos, ficaram o Cristianismo e, desse modo, observamos a configuração de
conhecidos como burgueses. uma hierarquia que mais tarde consolidaria a presença da
O aumento do comércio e do volume de negociações gerou Igreja como instituição atuante.
uma nova necessidade: a padronização de unidades de valor. Entre os séculos III e IV, a Igreja Cristã realizava a
O uso de moedas tornou-se essencial, substituindo o escambo disseminação do Cristianismo com o apoio do Império
ou troca de mercadorias. Com a criação das moedas, surgiram Romano, que oferecia enormes facilidades para que
também primeiras casas bancárias, responsáveis pelas populações inteiras paulatinamente se voltassem para a nova
operações de câmbio e empréstimos a juros. Toda essa religião. Contudo, essa situação veio a se transformar com o
dinâmica fez com que o dinheiro passasse a ganhar advento das invasões bárbaras, as quais trouxeram uma
importância e a terra e a produção agropecuária deixassem de variedade de povos, culturas e crenças para os antigos
ser a base da riqueza na Europa. domínios imperiais. A partir de então, diferentes estratégias
Com o aumento do comércio, e, consequentemente, dos deveriam ser elaboradas para que os clérigos cristãos
lucros, os mercadores e banqueiros conquistavam conseguissem penetrar no interior dos recém-formados reinos
maior status social e passaram a ansiar pelo poder político. A bárbaros e, de tal forma, garantir a sobrevivência da religião.
burguesia ganhava prestígio e espaço, aproximando-se dos O cristianismo é uma religião que surgiu por volta do
reis e emprestando-lhes dinheiro em troca de medidas século I, na região que hoje compreende a atual Palestina. Seu
políticas favoráveis ao comércio. Ao mesmo tempo, os principal representante é Jesus Cristo de Nazaré. É atualmente
senhores feudais viam-se envolvidos em dívidas, muitas delas a religião com mais seguidores no mundo, com pouco mais de
decorrentes das altas despesas com as Cruzadas. dois bilhões de seguidores, sendo a maioria de católicos.
Segundo a fé cristã, Deus mandou seu filho único para o
Humanismo mundo, Jesus Cristo, destinado a ser o salvador dos homens.
Além dos empreendimentos comerciais, o maior contato A religião Cristã, assim como o judaísmo e o Islamismo é
entre os burgueses e os monarcas financiou o surgimento de uma religião monoteísta, ou seja, tem a crença baseada em um
novas universidades. Com a expansão comercial surgiu a único deus. Possui diversas variações, sendo as mais comuns o
necessidade de formar pessoas que entendessem de direito e Catolicismo, Protestantismo e também a igreja ortodoxa. Os
comércio. Com a criação das universidades, a difusão do católicos são a maioria, com mais da metade da população
conhecimento deixou de ser algo exclusivo da Igreja, e o ensino cristã.
tomou-se laico, voltado cada vez mais para questões Durante o período de vida de Jesus a região em que viveu
mundanas. era dominada pelo império romano, e sua vida é contada na
As aulas voltaram-se para os textos clássicos, bíblia pelo Novo Testamento. Apesar de ser considerado o
principalmente os dos gregos e romanos, e as atenções dos Messias, salvador da humanidade, as autoridades o viam como
estudiosos dirigiam-se a diversas áreas do saber e das artes. um falso profeta. Por essa razão foi perseguido e executado.
Iniciava-se o Humanismo, movimento cultural que viria a Após sua morte, e apesar da proibição do culto cristão, seus
influenciar a Europa por quase três séculos. Até então seguidores continuaram a pregar seus ensinamentos e a
hegemônico, o pensamento da Igreja passou a ser questionado realizar encontros secretos. Durante os séculos II e III os
por religiosos e filósofos leigos. cristãos ainda são perseguidos por suas práticas, porém a
aceitação cada vez maior de sua religião dentro da sociedade
romana fez com que a religião fosse oficializada em 313 pelo

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imperador Constantino. Em 392 tornou-se a religião oficial do Entre os nobres a Igreja atuava como fornecedora de
império romano. justificativas religiosas, para as guerras contra os infiéis - as
Inicialmente, vemos que a ação da Igreja se concentrou na Guerras Santas. Entre os movimentos mais conhecidos da
formação de mosteiros em regiões rurais, na promoção de Idade Média, orientados pela Igreja, estão as Cruzadas, que
estratégias que aproximassem os clérigos dos monarcas e na contaram com o apoio dos dirigentes políticos das monarquias
melhoria da formação dos membros cristãos que feudais, para retomar a Terra Santa, então em poder dos
promoveriam o diálogo junto às populações pagãs. No entanto, turcos.
devemos salientar que esse processo de diálogo para com os No plano intelectual a Igreja Católica foi durante o período
povos bárbaros, aconteceu muito mais em função de práticas medieval, a guardiã do conhecimento sistematizado, uma vez
que não só apresentavam uma nova religião, mas também que as bibliotecas ficavam em seu poder.
colocavam em voga vários hábitos, instituições e modelos
provenientes da própria cultura clássica que se mostrava viva, Expansão do Islã
apesar da crise romana.
De forma alguma, não podemos apontar que tal Na Idade Média, os árabes formaram um vasto Império que
experiência fosse determinante para que a cultura dos povos passou a rivalizar com o Império Bizantino (ou Império
bárbaros desaparecesse ou que a Igreja tivesse seus esforços Romano do Oriente) e o Império Persa. A rápida expansão dos
radicalmente voltados para tal objetivo. Ao mesmo tempo em árabes, que constituiu um dos principais aspectos da História
que as conversões aconteciam, o processo de unificação de Medieval, resultou da unificação política e religiosa da Arábia,
tribos em reinos unificados, as novas rivalidades efetuada por Maomé, que lançou as bases da fundação do
experimentadas e a modificação das estruturas sociais primeiro Estado nacional árabe.
bárbaras também atuavam na formação de um novo mosaico
cultural. Com isso, percebemos que a cristianização ou Península Arábica
ocidentalização dos bárbaros esteve longe de configurar um A Península Arábica é uma região desértica em sua maior
tipo de transformação histórica imposta de cima para baixo. parte. Fica localizada entre o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico.
Ao longo do tempo, podemos ver que as formas de Apesar do aspecto árido da região, os diversos oásis
representação da crença cristã, a organização dos calendários, propiciaram o surgimento de postos caravaneiros, além de
o reconhecimento da santidade de alguns indivíduos e a algumas cidades situadas na proximidade da costa e dos
formação dos movimentos heréticos nos indicavam um portos.
movimento de penetração da cultura bárbara em direção ao A condição geográfica da região não despertou o interesse
Cristianismo. Por outro lado, a consolidação da hierarquia, a dos grandes impérios da antiguidade, como o romano.
manutenção de importantes traços da cultura greco-romana e
o poder de mobilização da Igreja indicavam o sentido Religião na Península Arábica
contrário dessa relação. Com isso, percebemos que as A palavra islamita quer dizer "submisso a Deus" e
negociações e trocas culturais são bem mais eficazes para muçulmano significa "crente. Os árabes acreditavam em
enxergarmos o mundo formado por bárbaros e cristãos ao espíritos (djinns), representados por árvores e pedras, e em
longo da Idade Média. uma infinidade de divindades subordinadas a um ser superior
- Alá (Deus, a divindade). O único fator de unidade religiosa era
EXPANSÃO DO CRISTIANISMO o santuário existente na cidade de Meca, a Caaba, em cujo
A Igreja Romana, detentora de diversos territórios na parte interior era guardada uma Pedra Negra, reverenciada por
central da Itália, via-se afrontada por duas grandes ameaças: todos os árabes que para lá se dirigiam em peregrinação. Ali
os povos lombardos, recém chegados à península, e o Império estavam também representados os ídolos das diversas tribos
Bizantino, que controlava a Igreja Cristã Oriental. da Arábia, que todos os anos eram visitados pelos peregrinos
A sobrevivência da Igreja Romana era ameaçada, tanto que aproveitavam para realizar suas práticas comerciais.
territorialmente como doutrinariamente – e, por isto, o projeto Com o tempo, Meca ganhou importância e tornou-se um
do papado de se projetar como força cristã universal, no grande centro comercial e parada obrigatória de caravanas e
âmbito do ocidente, poderia se combinar perfeitamente com o viajantes. Aos habitantes de Meca interessavam, sobretudo, as
projeto de expansão do povo franco, já cristianizado. A romarias que se realizavam ao final de cada ano, pois
passagem da dinastia Merovíngia para a dinastia Carolíngia, dinamizavam as trocas e enriqueciam a cidade. Sua única
através de Pepino, o Breve, é precisamente assinalada por uma grande rival era Yatreb, velha cidade situada em um oásis, 350
aliança entre o reino franco e o papado, que ficou selada, quilômetros ao norte de Meca. Desse afluxo de beduínos
simbolicamente, pela unção, recebida por Pepino, das mãos de viviam os grandes comerciantes pertencentes à tribo dos
Estevão II. coraixitas, que controlavam o santuário da cidade e o poder
Durante a Idade Média, a Igreja Católica experimentou seu político local.
momento de maior poder e expressão na sociedade. Toda a
vida civil estava regulada pelas observações religiosas. Maomé
As estações do ano agrícola, as reuniões das assembleias Maomé era filho de uma família pobre (haxemitas), porém,
consultivas, o calendário anual eram marcados pelas pertencia à tribo dos coraixitas. Dedicou-se ao trabalho em
atividades religiosas. caravanas, o que lhe permitiu viajar por toda a Península
A vida cotidiana era toda impregnada por rituais católicos, Arábica e além, conhecendo outros povos do Oriente Médio.
demonstrando o grande poder da religião. As doenças, Em suas viagens também entrou em contato com o
epidemias e catástrofes eram geralmente atribuídas ao Diabo, cristianismo e o judaísmo. Após anos de trabalho nas
e eram resolvidas por meio de exorcismos, sinais da cruz e caravanas, Maomé casou-se com uma rica viúva, Kadidja.
outros simbolismos católicos. O poder da Igreja diferenciava- Após o casamento, Maomé entregou-se aos retiros
se dos demais, uma vez que além do território sob sua espirituais e meditações, sem abandonar por completo a
jurisdição política ela tinha o poder espiritual sobre quase atividade profissional. Segundo ele, teve sucessivas visões do
todo o território europeu. arcanjo Gabriel. O Arcanjo teria confiado a missão de propagar
Esse domínio consistia em estar presente na vida das uma nova religião, cuja essência se consubstanciava na
diferentes camadas sociais. A Igreja representava pela sua seguinte frase: "Maomé, tu és o Profeta do Deus único, Alá."
função religiosa, a segurança para a população medieval Maomé converteu primeiramente seus familiares e, em
atemorizada com a morte. seguida, tentou convencer os coraixitas, porém, não

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conseguindo, teve de fugir de Meca para Yatreb, que desde - Primeiro, porque os adeptos do islamismo, em sua
então passou a ser chamada Medina en Nabi, que significa “a maioria, eram crentes apegados à fé e à propagação dos ideais
Cidade que recebeu o Profeta”. religiosos;
A fuga de Maomé com seus vários familiares, ficou - Segundo, porque surgiram de imediato dois homens, Abu
conhecida como Hégira, que marca o início do calendário Bekr e Omar - os dois primeiros califas - que souberam assumir
muçulmano. Apoiando-se nos habitantes de Medina. Maomé a sucessão e a herança de Maomé, exercendo autoridade civil,
deu início à Guerra Santa contra Meca, atacando suas militar e religiosa. Um ano após a morte de Maomé, Abu Bekr
caravanas. O prestigio de Maomé cresceu com suas vitórias e, conseguiu eliminar os focos de resistência locais e consolidar
com o apelo dos beduínos, marchou contra Meca, destruindo a unificação da península. A expansão islâmica, iniciada
os ídolos da Caaba, declarando sagrado o recinto do santuário imediatamente após a morte de Maomé, foi estimulada por
e implantando definitivamente o monoteísmo. Nesse ano de diversos fatores:
630, nasceu o Islã. - Econômico - interesse pelo saque contra os vencidos
Maomé passou os últimos anos de sua vida convertendo os ("butim");
demais árabes pela força das armas. Maomé morreu em 632 - Social - alta densidade demográfica, provocada pelo
d.C., na cidade de Medina, onde construiu a primeira mesquita crescimento da população e pela grande capacidade de
do Islã, deixando elaborada a doutrina islâmica, que transmitiu miscigenação dos árabes;
a seus seguidores. As transcrições de seus ensinamentos - Político - unificação política alcançada pela unidade
consubstanciaram-se mais tarde no livro sagrado, o Corão ou religiosa;
Alcorão. A doutrina islâmica é um sincretismo fundamentado - Religioso - obediência ao preceito de Guerra Santa contra
no cristianismo e no judaísmo, bem como nas tradições os infiéis;
religiosas da própria Arábia. Prega a crença em um único Deus, - Psicológico -atração exercida pelo paraíso muçulmano,
nos anjos, no paraíso celestial e no Juízo Final. Impõe aos fiéis que prodigalizava recompensas materiais.
como princípios essenciais do dogma: peregrinar à Meca, pelo Consideram-se ainda elementos propulsores da expansão
menos uma vez na vida; dar esmolas; jejuar no mês do árabe, facilitando suas conquistas, a fraqueza dos Impérios
Ramadã; orar e pronunciar a profissão de fé cinco vezes ao dia, Bizantino e Persa e a instabilidade política dos reinos
voltados em direção a Meca; fazer a Guerra Santa (jihad), que germânicos do Ocidente.
representava uma obrigação ocasional. As tradições sobre a Omar foi o principal califa da Dinastia Haxemita.
vida de Maomé foram reunidas por seus seguidores em outro Conquistou a Síria, a Palestina, a Pérsia e o Egito.
livro, chamado Suna (Tradição), utilizado sempre que se A substituição dos califas haxemitas pelos omíadas, em
tratava de achar argumentos para impor uma decisão ou 660, levou a duas mudanças: a capital foi transferida para
definir uma norma de governo para a qual o Corão não Damasco, na Síria, e as conquistas voltaram-se para o Ocidente.
fornecesse elementos. Avançando de forma fulminante, os maometanos
conquistaram a África do Norte, a Península Ibérica e até o sul
Jihad da Gália, onde foram detidos pelos francos, liderados por
É um termo árabe que significa “luta”, “esforço” ou Carlos Martel, na Batalha de Poitiers; as ilhas de Córsega,
empenho. É muitas vezes considerado um dos pilares da fé Sardenha e Sicília também caíram sob dominação muçulmana
islâmica, que são deveres religiosos destinados a desenvolver Os árabes passavam a deter o controle sobre o Mar
o espírito da submissão a Deus. Mediterrâneo. Em 750, em Damasco, um golpe político afastou
O termo jihad é utilizado para descrever o dever dos os omíadas do poder. Nesse momento, ascendia a Dinastia
muçulmanos de disseminar a fé muçulmana. É também Abássida, formada por parentes de Maomé, instalando a
utilizado para indicar a luta pelo desenvolvimento espiritual. capital em Bagdá.
Ao contrário do que muitas vezes é dito, jihad não significa O Islamismo, é a religião que mais cresce atualmente no
uma guerra santa, implica mais uma luta interna com o mundo, mais de 1/4 da população Mundial é Muçulmana,
objetivo de melhorar o próprio indivíduo ou o mundo à sua segundo o último censo Mundial realizado pela ONU.
volta. Considera-se países muçulmanos aqueles em que os
Grupos extremistas como a Al Qaeda e o Estado Islâmico muçulmanos representem mais de 50% da população e a
apropriaram-se do termo como justificativa para as ações maioria deles são membros da Organização do Congresso
contra os considerados “infiéis” (normalmente países Islâmico, que foi fundado em 1969, com sede em Jedah na
ocidentais, como Europa e Estados Unidos) Arábia Saudita. Os presidentes e os reis destes países se
A unidade do mundo muçulmano foi quebrada após a reúnem a cada 3 anos.
morte de Maomé, com o surgimento de vários movimentos, Os países muçulmanos que não são membros do
entre os quais se destacam os sunitas e os xiitas. A divergência Congresso Islâmico são: Costa do Marfim, Albânia, Etiópia,
inicial entre os dois grupos reside na questão do direito de República Centro Africana, Tanzânia e Togo.
sucessão ao governo do Islã. Segundo o Corão, somente os Além disso há dois países Africanos em que os
parentes de Maomé poderiam substitui-lo no comando da fé. muçulmanos representam menos de 50%, e que são membros
Mas na Suna não havia a mesma afirmação sobre a questão. da Organização e são eles Uganda e Gabão11.
Assim, os xiitas constituíram o grupo fundamentalista que
aceita apenas as regras estabelecidas pelo Corão, ou seja, que Os reinos da África Ocidental
apenas os descendentes de Maomé possuem o direito de Na África, durante o período conhecido como Idade Média
governo, enquanto os sunitas abraçaram a Suna e iniciaram na história da Europa, houve grandes e poderosos reinos,
um processo de disputa sucessória com os xiitas. como os de Gana, Mali e Songai. Esses reinos, localizados na
África Ocidental, ficaram conhecidos pelo controle que tinham
Expansão Muçulmana (Séculos VII-XI) sobre as rotas de comércio e as minas de ouro na sua região.
Quando Maomé morreu, deixou Arábia unificada, com sua Realizavam comércio com diferentes partes do mundo,
capital em Meca e sob a preponderância política dos incluindo a Europa e o Oriente, através das rotas de caravanas
haxemitas. A morte de Maomé não provocou a dissolução do que atravessavam o deserto de Saara e chegavam ao norte da
Estado árabe: África. No comércio de longa distância se fazia ao mesmo

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tempo contatos e trocas de mercadorias, bem como


intercâmbios de tecnologias e conhecimentos.

Gana12
Na região entre os rios Senegal e Níger, os soninquês
(povos de origem mandê), fundaram pequenas cidades, que
desde o século 4 foram se unificando, muito provavelmente
para resistir às guerras com povos nômades. No século 8, a
região era conhecida como Império de Gana.
Os soninquês chamavam sua região de Wagadu, mas os
berberes (povos do Magreb), que chegaram ali no século 8, a
chamavam de Ghana, pois era esse o título do rei da região
(ghana: "rei guerreiro").
Por muito tempo, o deserto do Saara dificultou o acesso
Fonte: Wikimedia.org/Mapa_ghana-pt.svg/286px
dos povos do norte da África ao interior do continente. Uma
viagem do Magreb (região africana banhada pelo mar Mali
Mediterrâneo, exceto o Egito) até a bacia do rio Níger poderia O Reino de Mali era, a princípio, uma região do Império de
durar até 4 meses em pleno deserto. Gana habitada pelos mandingas. Era composto por 12 reinos
Dessa forma, enquanto o norte da África estava inserido no menores ligados entre si, e tinha como capital Kangaba. Os
comércio entre diversos povos desde a Antiguidade (gregos, mandingas chamavam seu território de Manden (= terra dos
romanos, fenícios, cartagineses, líbios, persas, egípcios, mandingas).
árabes), o reino de Gana, na África Subsaariana (ou África Após anos de guerras entre os soninquês de Gana e os
Negra), pôde se desenvolver isoladamente. almorávidas (século 11), e depois das guerras com os sossos
Somente quando os árabes conquistaram o Magreb e (século 12), Mali conseguiu sua independência e adotou o
introduziram o camelo como animal de transporte foi possível islamismo. E, apesar de passar por um período de crise política
a viagem através do deserto. A partir de então, os reinos e as e econômica, conseguiu se restabelecer e, em 1235, os
grandes riquezas da África Negra passaram a fazer parte do mandingas de Mali conquistaram o território do antigo
comércio internacional do Mediterrâneo. Império de Gana, sob a liderança de Maghan Sundiata, que
Gana já era um reino rico antes da chegada dos recebeu o título de Mansa, que na língua mandinga significa
comerciantes do norte, e são os documentos deixados por "imperador".
esses comerciantes (árabes e berberes) que nos informam o O nome que os mandingas davam ao seu império era
que foi Gana, e relatam um império extraordinário, também Manden Kurufa; o nome Mali era usado por seus vizinhos, os
chamado de Terra do Ouro. Segundo Al-Bakri, comerciante fulas, para se referir ao grande império. Manden Kurufa
árabe de Córdoba (século 11), o rei de Gana usava túnicas significa Confederação de Manden. A capital era Niani
bordadas a ouro, colares e pulseiras de ouro - e os arreios dos (atualmente uma aldeia na República da Guiné).
cavalos e as coleiras dos cachorros do rei eram de ouro. Ao contrário do Império de Gana, que somente se
O império de Gana tinha como capital Kumbi-Saleh. Dessa preocupava em manter os povos dominados, a fim de controlar
cidade, o rei e seus nobres controlavam povos vizinhos, o comércio regional, o Império de Mali se impôs de forma
obrigando-os a pagar impostos em troca de proteção. Além centralista, estabelecendo fronteiras bem definidas e
disso, Gana controlava o comércio tanto das mercadorias que formulando leis por meio de uma assembleia chamada Gbara,
eram trazidas do norte (como sal e tecidos), quanto das que composta por diversos povos do império. A aplicação da
saíam do interior da África (como ouro e escravos). Na capital, justiça era implacável, tanto que vários viajantes se referiam
o comércio era intenso: os seus 20 mil habitantes recebiam aos povos negros como "os que mais odeiam as injustiças - e
diariamente as caravanas que vinham de diversas regiões. seu imperador não perdoa ninguém que seja acusado de
Entre os séculos 9 e 10, Gana viveu seu apogeu, sendo um dos injusto". Acredita-se que o Império de Mali tivesse a extensão
mais ricos reinos do mundo, segundo Ibn Haukal, viajante da Europa Ocidental.
árabe da época. O Império de Mali se tornou herdeiro do Império de Gana,
Com o processo de islamização dos povos africanos (os pois passou a controlar todo o comércio local. O ouro extraído
primeiros convertidos foram os berberes), o Império de Gana por Mali sustentava grande parte do comércio no
(que se recusava a se converter ao Islã) foi perdendo força, até Mediterrâneo. Conta-se que, entre 1324 e 1325, Mansa Mussa,
que em 1076 os almorávidas (dinastia berbere) conquistaram em peregrinação a Meca, parou para uma visita ao Cairo e teria
e saquearam Kumbi-Saleh, transformando a cidade em um presenteado tantas pessoas com ouro, que o valor desse metal
reino tributário. A partir daí, todo império se fragmentou, o se desvalorizou por mais de 10 anos.
que possibilitou as incursões de vários povos vizinhos, um Também sob o reinado de Mussa, a cidade de Timbuktu (ou
deles os sossos, que passaram a controlar várias regiões do Tombuctu) se tornou uma das mais ricas e importantes da
antigo império. região. Sua universidade era um dos maiores centros de
cultura muçulmana da época, e produziu várias traduções de
textos gregos que ainda circulavam nos séculos XIV e XV. A
grandiosidade de Timbuktu atravessou os tempos e, no século
XIX, exploradores europeus se embrenharam pelos caminhos
africanos, seguindo o rio Níger, em busca da lendária cidade.
O Império de Mali entrou em decadência a partir do final
do século 14, em função das disputas políticas internas e das
incursões dos tuaregues (povo berbere), sendo conquistado,
no século 15, pelos songais (povo africano até então dominado
por Mali). Foi nesse mesmo século que os portugueses, em
pleno processo de expansão marítima, conheceram o já
decadente Mali.

12 Adaptado de Turci

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APOSTILAS OPÇÃO

identidade. Tinham uma origem comum, mesmo que distante


no tempo, eram vizinhos, mas eram povos distintos. Assim,
foram se formando as identidades dos grupos, mais tarde
chamadas de identidades étnicas.
Entre as principais origens dos povos africanos, está o
tronco linguístico Banto. A palavra Banto é a combinação de
‘ntu’ (ser humano) acrescido do prefixo ‘ba’, que designa
plural. Ou seja, banto (em alguns lugares é escrita como bantu)
quer dizer: ‘seres humanos’ ou ‘gente’.
A ocupação dos povos de origem banto no continente
africano, ao sul da linha do equador foi um processo lento, que
ocorreu ao longo de milhares de anos.
A primeira grande onda migratória teria se movimentado
ainda no final do IIº milênio a.C., partindo da região norte,
entre o Camarões e a Nigéria. Estes grupos cruzaram a região
Fonte: http://3.bp.blogspot.com
onde fica hoje a República Centro Africana, ocupando áreas
Cidades iorubás dentro e fora da floresta equatorial, a oeste e a leste. Ao se
A partir do século IX formaram-se as cidades da civilização estabelecerem, de forma sedentária ou semi-sedentária,
iorubá, na região da atual Nigéria, já habitada por esse povo introduziram dois sistemas diferentes de produção de
desde o século 4. alimentos, que se adaptaram respectivamente às florestas e à
Os iorubás nunca unificaram suas cidades, mas savana. Eram agricultores e foram os primeiros nesta região a
mantiveram a mesma cultura (língua, religião etc.). A cidade se organizar em aldeias e a agrupar estas aldeias em unidades
iorubá mais importante era Ifé, considerada sagrada, por ser o mais abrangentes, com cerca de 500 pessoas cada.
berço dos iorubás, segundo a crença local. Outra cidade Uma segunda onda migratória ocorreu por volta do ano
importante foi Oyo, um centro militar que, no final do século 900 a.C., quando terminava a longa expansão inicial. A esta
17, tinha se expandido até Daomé (atual Benin). altura haviam dois grandes grupos, falando línguas
Ifé foi um grande centro artesanal e artístico, e era semelhantes, porém diversas:
governada por um rei sacerdote que tinha o título de Oni, - Os bantos do oeste (norte da atual República Popular do
enquanto nas outras cidades os governantes recebiam o título Congo e leste do Gabão);
de Oba. - Os bantos do leste (atual Uganda).
Apesar do cristianismo e do islamismo terem chegado até
os iorubás, a maioria desse povo sempre se manteve fiel às Os bantos do oeste desceram para a região que atualmente
antigas tradições politeístas locais, sendo os orixás os seus compreende o norte de Angola e chegaram a uma terra mais
deuses. seca. Outros permaneceram na fronteira entre a savana e a
Ao contrário do que se acredita, a crença nos orixás não se floresta, seguindo os cursos de água. Enquanto isso, os bantos
expandiu pela África, mantendo-se exclusivamente iorubá. do leste moveram-se em direção ao Sul, para o sudeste do Zaire
Mas como muitos iorubás (chamados de nagôs ou anagôs pelos e Zâmbia atuais.
portugueses) foram transformados em escravos e trazidos à Os processos de expansão banto não representaram
força para a América, o culto aos orixás se misturou ao invasões. Eles foram parte de um movimento populacional
cristianismo imposto por portugueses e espanhóis, criando lento e irregular. Os bantos acabaram por estabelecer contatos
vários sincretismos religiosos que fazem parte da cultura com outros povos, que habitavam as regiões para onde
americana, como, por exemplo, o Candomblé e a Umbanda, no migravam. As pesquisas linguísticas e arqueológicas
Brasil, e o Vodu no Haiti (apesar de o Vodu também receber demonstram que algumas vezes os bantos mudaram seu modo
influências de outras culturas africanas). de vida, tornaram-se pastores nômades, e chegaram em alguns
A partir do século XV, as cidades iorubás iniciaram seu casos a transformar sua própria língua.
processo de declínio (apesar de Oio ter se mantido até o século Novas ondas migratórias dos grupos banto do leste
XIX). Muitos pesquisadores acreditam que a falta de unidade desceram em direção ao Sul, nos séculos iniciais da era Cristã,
política foi uma das causas desse declínio, já que os iorubás e parecem ter levado junto consigo as importantes técnicas de
não tiveram condições de se fortalecer para enfrentar o metalurgia para estas áreas. A esta altura seriam, além de
processo de escravização que lhes foi imposto. agricultores, também ferreiros. O domínio desta técnica
modificou enormemente a vida destes povos. A partir deste
A expansão Banto momento - em torno do século V - e como resultado desta
Durante os últimos milênios, as sociedades africanas verdadeira rede de movimentos de população, expandiram
passaram por longos e diversos processos migratórios e técnicas de produção de alimento e metalurgia entre os povos
adaptativos em relação ás mudanças climáticas no interior do da África subequatorial.
continente. Com o domínio das técnicas agrícolas, a produção de
Esses movimentos migratórios levaram ao surgimento de alimentos ficou assegurada, levando estes grupos ao
diversas cidades e aldeias, além de criar diferentes povos, com sedentarismo. O sedentarismo foi importante na criação da
diferentes costumes. noção de pertencimento à terra, da ligação de determinados
O surgimento de novos polos de habitação e as migrações grupos a seus territórios.
geraram diversos conflitos por territórios, o que fez com que Os contatos entre os grupos foram aumentando com as
surgissem as primeiras fronteiras entre diferentes grupos. trocas entre produtores de diferentes tipos de alimentos, de
Os grupos que compartilhavam uma história de migração acordo com a região. O inhame e o azeite de dendê, além da
comum e a conquista de um território, com o tempo caça e pesca das áreas mais próximas às florestas podiam ser
desenvolveram uma tradição e uma língua comuns. Muitas trocados por cereais e outros produtos de áreas próximas.
vezes seus vizinhos de região tinham a mesma antiga origem. Estas mudanças foram sendo acompanhadas por
Mas, o momento em que partiram na sua migração, os transformações nas organizações sociais destes grupos.
caminhos que tomaram e diferente maneira pela qual cada um Surgiram novos modos de reconhecer e se relacionar interna e
dos grupos se apossou da terra, mudaram sua história. externamente. Em alguns casos, apareceram divisões sociais
Mudando a história, mudava também a sua tradição e a sua mais profundas e em outros se criaram autoridades a partir da

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história de liderança da ocupação da terra. E, em todos os presença "importada" no continente, presença esta que já
casos, estas criações para o funcionamento da vida em estava fortemente integrada às sociedades africanas.
sociedade se basearam no mundo espiritual, parte inseparável
do entendimento da vida para estas populações. Os Reinos Africanos13
Assim, e paralelamente a esta história de ocupação de A região da África Oriental, dos reinos da Núbia, Etiópia e
grandes partes da África ao sul do equador, foram surgindo posteriormente Burundi e Uganda, sofreram grande influência
grupos que, por uma história, língua, crenças e práticas em religiosa em seu processo de organização cultural e espacial.
comum passaram a constituir povos. Isto ocorreu longamente, Conflitos religiosos entre mulçumanos e cristãos foram
entre o século V a.C e século V da nossa era. Foram surgindo decisivos para a nova organização desses reinos, a exemplo do
novas identidades de grupo. Antigo Egito, que teve que se consolidar como Estado
mulçumano entre duas potências cristãs – Bizâncio e Dongola.
A África Muçulmana O resultado desses conflitos foi à conquista de Dongola em
Atualmente o número de muçulmanos na África está 1323 pelos mulçumanos, e a tomada gradativa do controle da
estimado em mais de 300 milhões, ou seja, cerca de 27% do Núbia em 1504, o que daria um golpe de misericórdia nos
total dos seguidores da religião no mundo reinos cristãos da região. Nos casos da Núbia e da Etiópia, além
A expansão do Islã na África se deu no início mais pelo dos conflitos religiosos existentes, o comércio principalmente
comércio e pela migração do que pelas conquistas militares. A com o Egito, foi outra atividade que influenciou diretamente,
expansão do islã na África seguiu três direções: servindo como estímulo para a criação destes Estados. Esta
- Do noroeste do continente (região do Magreb), ela atividade comercial se dava por rotas que cortavam o deserto
avançou pelo Saara e alcançou a África Ocidental; - Do baixo do Saara, em caravanas puxadas por cavalos, dificultando o
para o alto vale do Nilo, chegando ao nordeste da África percurso e prejudicando consequentemente a atividade
(península da Somália e arredores); comercial, uma vez que o camelo domesticado só foi
- Comerciantes originários da porção sul-sudoeste da introduzido no Norte africano no século II da era cristã. Só a
Península Arábica e imigrantes do subcontinente indiano, partir do domínio mulçumano na região é que as atividades
criaram assentamentos no litoral do Índico e, dali, difundiram comerciais expandiram-se mais para o sul do continente.
a presença muçulmana para o interior. Portanto, os conflitos religiosos entre mulçumanos e cristãos,
O islamismo fez sua entrada no continente a partir da além das atividades comerciais exercidas entre esses povos,
África do Norte, do Egito ao Marrocos, sendo uma das foram decisivos para a organização espacial dos territórios da
primeiras regiões a ser conquistadas pela expansão inicial África Oriental, fatos que produzem reflexos atuais na cultura
árabe-islâmica (séculos VII e VIII). e na religiosidade dos Estados africanos atuais.
A partir do norte do Egito, os muçulmanos tentaram ir
mais ao sul, mas esbarraram nos exércitos da Núbia cristã. Questões
Derrotados, foram forçados a reconhecer a autonomia do
reino cristão núbio. Mas, do Norte conseguiram expandir-se 01. (FGV) "A palavra 'servo' vem de 'servus' (latim), que
para o Oeste (que, em árabe, quer dizer Magreb, nome pelo significa 'escravo'. No período medieval, esse termo adquiriu
qual esta região da África ficou conhecida). Foram pouco a um novo sentido, passando a designar a categoria social dos
pouco conseguindo dominar o Norte do continente africano, homens não livres, ou seja, dependentes de um senhor. (...) A
durante a segunda metade do século VII. A partir dali, condição servil era marcada por um conjunto de direitos
cruzaram o mar Mediterrâneo e conquistaram partes do sul da senhoriais ou, do ponto de vista dos servos, de obrigações
Europa, incluindo a Península Ibérica (Espanha e Portugal). servis". (Luiz Koshiba, "História: origens, estruturas e
Dos séculos X a XVI, mercadores muçulmanos processos")
contribuíram para o surgimento de importantes reinos na
África Ocidental, que floresceram graças ao comércio feito por Assinale a alternativa que caracterize corretamente uma
caravanas que, atravessando o Saara, punham em contato o dessas obrigações servis:
mundo mediterrâneo ao das estepes e savanas do Sudão (A) Dízimo era um imposto pago por todos os servos para
Ocidental e África centro-ocidental. A conversão de certos o senhor feudal custear as despesas de proteção do feudo.
monarcas africanos fez não só o islã avançar como criou uma (B) Talha era a cobrança pelo uso da terra e dos
florescente cultura. Assim, cidade de Tumbuktu (no atual Máli) equipamentos do feudo e não podia ser paga com mercadorias
era, no século XIV, um núcleo urbano conhecido pelo alto nível e sim com moeda.
de suas escolas islâmicas, que atraíam muçulmanos de várias (C) Mão morta era um tributo anual e per capita, que recaía
partes do mundo. apenas sobre o baixo clero, os vilões e os cavaleiros.
Na porção oriental do continente, comerciantes árabes (D) Corveia foi um tributo aplicado apenas no período
conseguiram se fixar junto ao litoral do Índico, levando a decadente do feudalismo e que recaía sobre os servos mais
gradual conversão de grupos africanos que viviam em áreas da velhos.
atual Eritréia e do leste da Etiópia. Todavia, os reinos cristãos (E) Banalidades eram o pagamento de taxas pelo uso das
do alto vale do Nilo conseguiram bloquear por séculos o instalações pertencentes ao senhor feudal, como o moinho e o
avanço muçulmano, como foi o caso dos grupos etíopes, forno.
ocupantes dos altos planaltos da Etiópia. Nos séculos
seguintes, a cultura árabe-muçulmana influenciaria grupos 02. (FATEC-SP) Uma das características a ser reconhecida
bantos que estavam em processo de expansão para a África no feudalismo europeu é:
oriental e meridional. (A) A sociedade feudal era semelhante ao sistema de
Paralelamente, comerciantes árabes cruzaram o Oceano castas.
Índico e criaram, do Chifre da África ao atual Moçambique, um (B) Os ideais de honra e fidelidade vieram das instituições
conjunto de importantes cidades-estados e fortalezas, junto ao dos hunos.
litoral e nas ilhas, cujo comércio de ouro se manteve até o (C) Vilões e servos estavam presos a várias obrigações,
início da presença portuguesa no século XVI. Às vésperas do entre elas o pagamento anual de capitação, talha e
início da colonização europeia, o islã se constituía na principal banalidades.

13 http://www.historiageralcomgd.com/2009/10/reinos-africanos.html

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(D) A economia do feudo era dinâmica, estando voltada A pratica de comercializar escravos tem início por volta do
para o comércio dos feudos vizinhos. século II a.C., depois do retorno do faraó Snerfru da região da
(E) As relações de produção eram escravocratas. Nubia trazendo milhares de prisioneiros de guerra. A pratica
de escravidão e comercio também foi praticada por gregos e
03. (FUVEST) Politicamente, o feudalismo se romanos que dominaram o norte do continente.
caracterizava pela: Após a conquista árabe do norte do continente, no século
(A) atribuição apenas do Poder Executivo aos senhores de XII, o tráfico de pessoas tem aumento significativo, que seria
terras; superado somente após a expansão marítima no século XIV
(B) relação direta entre posse dos feudos e soberania, pelos europeus, que exploraram a costa africana com o
fragmentando-se o poder central; objetivo de expandir o comercio, além de enviarem milhões de
(C) relação entre a vassalagem e suserania entre escravos para as américas onde trabalhariam principalmente
mercadores e senhores feudais; no cultivo de cana-de-açúcar e tabaco.
(D) absoluta descentralização administrativa, com Com a expansão da produção nas américas, o tráfico
subordinação dos bispos aos senhores feudais; negreiro intensificava-se para abastecer as colônias
(E) existência de uma legislação específica a reger a vida de produtoras, criando o tráfico negreiro, lucrativa pratica que
cada feudo. durou até meados do século XIX, Sendo no Brasil abolida em
1850 através da lei Eusébio de Queiroz.
04. (UNIP) O feudalismo:
(A) deve ser definido como um regime político
centralizado;
(B) foi um sistema caracterizado pelo trabalho servil;
(C) surgiu como consequência da crise do modo de
produção asiático;
(D) entrou em crise após o surgimento do comércio;
(E) apresentava uma considerável mobilidade social.

05. (PUC) A característica marcante do feudalismo, sob o


ponto de vista político, foi o enfraquecimento do Estado
enquanto instituição, porque:
(A) a inexistência de um governo central forte contribuiu
para a decadência e o empobrecimento da nobreza;
(B) a prática do enfeudamento acabou por ampliar os
feudos, enfraquecendo o poder político dos senhores;
(C) a soberania estava vinculada a laços de ordem pessoal,
tais como a fidelidade e a lealdade ao suserano;
(D) a proteção pessoal dada pelo senhor feudal a seus
súditos onerava-lhe as rendas;
(E) a competência política para centralizar o poder,
reservada ao rei, advinha da origem divina da monarquia.
Gabarito

01.E / 02.C / 03.B / 04.B / 05C

4 Dinâmica, relações,
rupturas e transformações da
sociedade europeia do século
XV ao XVIII. 4.1 As civilizações
e organizações políticas pré-
coloniais Mali, Congo e
Zimbabwe. 4.2 Escravidão e
diáspora dos povos africanos

*Conteúdos a respeito dos antigos reinos africanos


foram abordados no tópicos 2 e 3.

Tráfico Negreiro
A escravidão na África é uma pratica que acontece desde a
antiguidade, presente inclusive no Egito antigo. Entre as
formas mais comuns de escravidão estava aquela produzida
através de guerras entre tribos e etnias diferentes, em que os
membros das tribos derrotadas eram transformados em
escravos. Também poderia acontecer como forma de pagar
uma dívida para alguém, por um determinado período de
tempo.

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território foi e tem sido bastante influenciado pelo fenômeno


5 Dinâmica, relações, natural da seca14.
rupturas e transformações da Com uma colonização complexa e conturbada, marcada
pela resistência dos nativos e pelas dificuldades de adaptação
sociedade europeia, às condições particulares do território, formou-se uma
americana, africana e asiática sociedade rural baseada sobretudo na pecuária, assim como
do século XVIII a na agricultura, em especial nos vales úmidos e serras. A elite
latifundiária, através de seu poder econômico e de complexas
contemporaneidade. 5.1 relações de parentesco e afilhadagem, possuía controle de
Escravidão e resistência negra quase todos os aspectos da vida social. Os "coronéis"
e indígena no Brasil e Ceará mantinham em suas propriedades muitos dependentes que
lhes prestavam serviços ou entregavam parte de sua produção
Colonial. 5.2 As tecnologias de em troca da posse de um lote de terra, em regime praticamente
agricultura, de semifeudal, além de trabalhadores assalariados. A escravidão
beneficiamento de cultivo, de africana, embora de menor importância, foi praticada ao longo
de séculos, principalmente nas áreas onde a agricultura
mineração e de edificações floresceu.
trazidas pelos escravizados, O desenvolvimento independente do Ceará começaria
bem como a produção apenas depois de sua separação de Pernambuco em 1799, e
sua história foi sempre marcada por lutas políticas e
científica, artística (artes movimentos armados. Essa instabilidade prolongou-se
plásticas, literatura, música, durante o Império e a Primeira República, normalizando-se
dança, teatro) política. 5.3 depois da reconstitucionalização do País em 1945. As secas, os
conturbados fatores sociais e econômicos do Estado
Cultura e religiosidade acarretaram eventos importantes na história desse povo,
africana e indígena no Brasil e como o cangaço, os movimentos messiânicos, a emigração
Ceará Colonial. 5.4 Movimento para a Amazônia e para outros Estados, inclusive os do Sudeste
do Brasil. Historicamente um dos locais mais miseráveis do
de independência no Brasil e País, o Ceará tem passado por grandes transformações desde
Ceará Colonial. 5.5 a década de 1950, progressivamente se tornando um Estado
Organização sóciopolítica, predominantemente urbano, mais industrializado e com
crescente de desigualdade regional e de renda.
econômica e cultural no
Império: Primeiro e Segundo Era Colonial
Reinado e participação do As terras atualmente pertencentes ao Ceará foram doadas,
em 1535, a Antônio Cardoso de Barros, mas este não se
Ceará. 5.6 As revoluções interessou em colonizá-las e nem sequer chegou a visitar a
sociais: Cabanagem, Balaiada, capitania. Ironicamente, quando Barros decide vir à Capitania
Farroupilha, Sabinada, Revolta do Siará (como era conhecida a região correspondente aos
seguintes lotes: Capitania do Rio Grande, Capitania do Ceará e
dos Malês, Quebra Quilo; a Capitania do Maranhão), em expedição organizada, o navio
Abolição e Movimento naufraga na costa de Alagoas (1556), culminando com sua
Republicano no Brasil e Ceará. morte.
A primeira tentativa séria de colonização ocorre com Pero
6 Dinâmica, relações, rupturas Coelho de Sousa, que lidera a primeira bandeira feita em 1603,
e transformações da demonstrando por isso certo interesse em colonizar o Ceará.
organização sócio-política, A missão dos bandeiristas era explorar o rio Jaguaribe,
combater piratas, "fazer a paz" com os indígenas e tentar
econômica e cultural no Brasil encontrar metais preciosos. Após construírem o Forte de São
e Ceará na República Tiago, às margens do Rio Ceará e verificarem a inexistência de
riqueza na região, Pero Coelho passou a escravizar índios, que
se revoltaram e destruíram o forte, obrigando os europeus a
fugirem para as ribeiras do Rio Jaguaribe, onde construíram o
Forte de São Lourenço. Devido às hostilidades dos nativos e à
*Candidato(a). O primeiro texto deste tópico trata seca de 1605-1607, Pero Coelho viu-se obrigado a deixar o
apenas da História Regional. Logo depois seguiremos com Ceará.
o conteúdo relativo à História do Brasil. Diante do fracasso de Pero Coelho de conquistar as nações
indígenas, em 1607 foram enviados os padres Jesuítas
Francisco Pinto e Pereira Figueira com o intuito de evangelizar
História do Ceará
os silvícolas. Estes avançaram até a Chapada da Ibiapaba, onde
ficaram até a morte do padre Francisco Pinto em outubro do
mesmo ano. O padre Pereira Figueira, retorna a Pernambuco
Formação
em 1608, sem grandes sucessos.
O Ceará foi formado pela miscigenação de colonizadores
Em 1612, sob o comando de Martim Soares Moreno
europeus, indígenas catequizados e aculturados após grande
(considerado posteriormente o "fundador" do Ceará), foi
resistência à colonização e negros e mulatos que viviam como
construído, às margens do Rio Ceará, o Forte de São Sebastião,
trabalhadores livres ou como escravos. O povoamento do

14 História do Ceará. Ceará Cultural.


https://cearacultural.com.br/gente/historia-do-ceara.html.

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local conhecido atualmente como Barra do Ceará (divisa entre Movimentos independentistas e Império
os Municípios de Fortaleza e Caucaia). O século XIX também foi marcado por alguns movimentos
A colonização da região, iniciada no século XVII, foi revolucionários e conflitos. Em 1817, alguns cearenses,
dificultada pela forte oposição das tribos indígenas e as liderados pela família Alencar, apoiaram a Revolução
invasões de piratas europeus. Só tomou impulso com a Pernambucana. O movimento, no entanto, ficou restrito ao
construção, na embocadura do riacho Marajaitiba, do forte Cariri e, especialmente, à cidade do Crato, e foi rapidamente
holandês Schoonenborch, que em 1654, foi tomado pelos sufocado. Em 1824, já após a independência, os mesmos ideais
portugueses e passou a ser chamado Fortaleza de Nossa republicanos e liberais apareceram num movimento mais
Senhora de Assunção. Em volta dessa Fortaleza formou-se a amplo e organizado: a Confederação do Equador. Aderindo aos
segunda vila do Ceará, a vila do Forte, ou Fortaleza. Depois de revoltosos pernambucanos, várias cidades cearenses, como
muita disputa política entre Aquiraz e Fortaleza, a última Crato, Icó e Quixeramobim, demonstraram sua insatisfação
passou a ser a capital do Ceará, oficialmente a partir de 13 de com o governo imperial. Após choques com o governo
abril de 1726 (Data em que se comemora o aniversário da provisório controlado pelo Imperador Dom Pedro I, foi
cidade). estabelecida a República do Ceará em 26 de agosto de 1824,
Houve duas frentes de ocupação do território cearense: tendo Tristão Alencar como presidente do Conselho que
- a do sertão-de-fora, controlada por pernambucanos que governaria a província. A forte repressão das forças imperiais,
vinham pelo litoral; no entanto, derrotaram rapidamente o movimento rebelde
- a do sertão-de-dentro, dominada por baianos. devido a diversos motivos: a superioridade militar das tropas
do governo imperial; a pouca participação popular; as
Graças à pecuária e aos deslocamentos de pessoas das principais lideranças terem sido presas ou mortas.
áreas então mais povoadas, praticamente todo o Ceará foi Outro conflito que se destacou na história cearense foi a
ocupado ao longo do tempo, levando ao nascimento de várias Sedição de Pinto Madeira, um violento conflito entre a vila do
cidades importantes nos cruzamentos das principais estradas Crato, liderada por liberais republicanos (com maior destaque
utilizadas pelos vaqueiros, como Icó. Ao longo do século XVIII, para a família Alencar), e a de Jardim, praticamente dominada
a principal atividade econômica cearense foi a pecuária, por Pinto Madeira, de caráter absolutista e autoritário. As duas
levando muitos historiadores a falarem que o Ceará se elites locais disputavam pelo controle político do Cariri
transformou em uma "Civilização do Couro", pois a partir do cearense. Por fim, os cratenses contrataram o mercenário
couro se faziam praticamente todos os objetos necessários à francês Pierre Labatut e, reagindo com um exército formado
vida do sertanejo através de um rico artesanato. por sertanejos humildes, renderam os jardinenses. Pinto
O comércio do charque foi decisivo para a vida econômica Madeira foi julgado sumariamente no Crato, após ser
do Ceará ao longo do século XVIII e XIX. Com ele passou a considerado culpado pela morte do liberal José Pinto Cidade.
existir uma clara divisão do trabalho entre as regiões do Também no século XIX, o Ceará sofreu um verdadeiro
Estado: no litoral se encontravam as charqueadas e, no sertão, boom econômico durante o período da Guerra de Secessão
as áreas para criação de gado. O charque também permitiu o (1861-1865) nos EUA, que, afetando a cotonicultura norte-
enriquecimento de proprietários de terras e de comerciantes, americana, abriu o mercado mundial para o algodão cearense.
bem como o surgimento de um pequeníssimo mercado interno Foi nesse período que Fortaleza desbancou Aracati do posto
local. de cidade principal do Ceará: o algodão substituía o charque
Durante o auge do comércio do charque, a principal cidade em importância econômica. Porém, a Grande
cearense foi Aracati, de onde eram exportadas mas também Seca(1777/78/79), interfere na agricultura do algodão,
floresceram outros centros regionais, como Sobral, Icó, Fortaleza foi invadido pelas vítimas da estiagem, uma grande
Acaraú, Camocim e Granja. A era do charque finda-se depois parte da população cearense emigra para a Amazônia e assim
das secas de 1790/93, que devastaram o estado e contribui no boom do primeiro Ciclo da Borracha. E partir
impossibilitaram a continuação da pecuária cearense. Com desta seca o Ceará passa a ser fator de atenção dentro da
este evento a produção do charque mudou para o Rio Grande política nacional.
do Sul. Depois do outro período de seca, o Império iniciou projetos
Outras cidades nasceram a partir de aldeamentos sociais e de infraestrutura (Açude do Cedro), para amenizar as
indígenas, onde os nativos (isto é, o que restava deles) eram consequências das estiagens, fato que resultou com criação da
confinados sob o controle de jesuítas, responsáveis por sua Comissão de Açudes e Irrigação(atualmente DNOCS).
catequização e aculturação. Este foi o caso de cidades No século XIX, um movimento de grande importância
importantes como Caucaia (outrora chamada Soure), Crato, aconteceu no Ceará: a campanha abolicionista, que aboliu a
Pacajus, Messejana e Parangaba (as duas últimas atuais escravidão no Estado em 25 de março de 1884, antes da Lei
bairros de Fortaleza). Os indígenas cearenses foram, em sua áurea, que é de 1888. Foi, portanto, o primeiro estado
maior parte, massacrados, embora tenham resistido até o brasileiro a abolir a escravatura. Dentro do Ceará, o primeiro
início do século XIX. Um dos maiores exemplos de sua município a abolir a escravatura foi Acarape, que depois do
resistência foi a Guerra dos Bárbaros, na qual indígenas de evento, passou a ser chamado de Redenção. O abolicionismo
diversas tribos (Kariri,Janduim, Baiacu, Icó, Anacé, Quixelô, foi favorecido pela pouca importância da escravidão na
Jaguaribara, Kanindé, Tremembé, Acriú, etc.) se uniram para economia cearense relativamente às outras regiões do Brasil.
lutar contra os conquistadores, resistindo bravamente Contou com o apoio da Maçonaria e até mesmo de grupos
durante quase 50 anos. formados por mulheres da elite do Estado.
O Ceará torna-se administrativamente independente de Além da pequena quantidade de escravos, quando da
Pernambuco em 1799. Nas décadas anteriores, o cultivo do campanha abolicionista, muitos escravos eram vendidos para
algodão começou a despontar como uma importante atividade o trabalho em outras províncias com maior demanda de
econômica, gerando um período de prosperidade para a trabalho compulsório. Pela grande dificuldade em atracar
capitania. Com a recuperação da cotonicultura dos Estados navios, devido ao mar bravio, a capital cearense era um
Unidos da América, o algodão e o próprio Ceará entraram em péssimo ancoradouro, o que fazia dos jangadeiros um
crise, o que explica o envolvimento de cearenses na Revolução elemento de suma importância para a economia local, já que o
Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador. embarque e desembarque no porto de Fortaleza tinha que ser
feito por meio de embarcações pequenas e insubmersíveis
conhecidas como jangadas, e a forte campanha abolicionista,

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em 1881, convenceu os jangadeiros cearenses a não mais sertanejos, incitados pelo Padre Cícero e pelos coronéis,
realizar o transporte de escravos para terra firme. acreditaram ser aquela uma agressão contra o "Padim Ciço".
Sob o lema "No Ceará não se embarcam mais escravos", o Iniciou-se um verdadeiro clima de guerra santa em Juazeiro.
movimento, comandado pelo jangadeiro Francisco José do Após meses de combate, os seguidores de Padre Cícero
Nascimento, o "Dragão do Mar", hoje nome de um centro venceram as tropas de Rabelo e iniciaram uma longa marcha
cultural da cidade de Fortaleza, ganhou significativa simpatia até Fortaleza, obrigando Rabelo a renunciar ao governo
da população cearense. cearense.
Após a Sedição de Juazeiro, estabeleceu-se um certo
República Velha equilíbrio entre as oligarquias cearenses, não havendo mais
Após a proclamação da República no Brasil, em 1889, o conflitos militares entre elas. O povo, no entanto, continuou
quadro político-econômico do Ceará começou a se reprimido e sem voz.
transformar. Alguns anos depois, teria início a poderosa Além desses eventos em 1896 começou a ser construída a
oligarquia acciolina, que recebeu esse nome por ser ferrovia Sobral-Crateus por Antonio Sampaio Pires Ferreira,
comandada pelo comendador Antônio Pinto Nogueira Accioli, onde logo se estabeleceria em suas margens a cidade de Pires
que governou o estado de forma autoritária e monolítica entre Ferreira.
1896 e 1912. A situação de desesperadora miséria e abandono
social era uma marca profunda do Ceará nessa época, o que
levou ao surgimento de diversos movimentos messiânicos ao Estado Novo
longo do século XIX e XX, tendo como líderes religiosos A situação política no Ceará se modificaria bastante com a
Antônio Conselheiro (que formaria na Bahia o arraial de Revolução de 30, que levou ao poder Getúlio Vargas. Durante
Canudos), Padre Ibiapina, Padre Cícero, Beato Zé Lourenço, 15 anos, governaram o Estado interventores do Governo
etc. Surgiu também outro meio de escapar da miséria: o Federal. O primeiro interventor no Ceará foi Fernandes
cangaço. Muitos homens formaram grupos de cangaceiros que Távora, mas ele governou por pouco tempo, pois continuou
saqueavam vilas, assaltavam e amedrontavam a todos. com as práticas clientelistas e corruptas da República Velha.
O século XX, para o Ceará, foi marcado pelos ciclos de poder Os interventores não tardaram a se acomodar com as elites
dos "coronéis" e por enormes transformações de ordem social locais. O quadro político cearense esteve, nesse período,
e econômica. O século se iniciou no contexto da oligarquia influenciado por duas associações: a Liga Eleitoral Católica
acciolina, comandada, direta ou indiretamente, por Nogueira (LEC), que, por seus vínculos religiosos e apoio dos
Accioli de 1896 a 1912. Durante esse período, a família Accioli latifundiários interioranos, obteve grande penetração no
controlou, literalmente, todas as esferas do poder cearense, eleitorado cearense e apoiou segmentos fascistas que
desde os altos escalões do Governo estadual até as delegacias. organizaram a Ação Integralista Brasileira (AIB) no Ceará; e a
Então se vivia uma conturbada e violenta campanha Legião Cearense do Trabalho (LCT), organização operária
eleitoral no Ceará, graças ao Salvacionismo pretendido pelo conservadora, corporativista, anticomunista e antiliberal (na
presidente Hermes da Fonseca, que procurava enfraquecer as prática, fascista) que existiu no Ceará entre 1931 e 1937.
oligarquias regionais contrárias ao seu poder. Dentro das A LCT, após o exílio de seu líder Severino Sombra por ter
política das Salvações, foi lançada a candidatura de Franco apoiado a Revolução Constitucionalista de São Paulo em 1932,
Rabelo para o governo, enquanto Accioli apontava como seu foi perdendo poder. Ao voltar do exílio, Sombra abandonou a
candidato Domingos Carneiro. Em Fortaleza, houve uma LCT e fundou a Campanha Legionária, mas não teve sucesso,
passeata de crianças em favor de Franco Rabelo, a qual foi pois a Igreja prestava agora apoio à AIB e começavam a surgir
repreendida duramente pelas forças policiais, causando a entidades operárias de esquerda no Estado. Em 1937, por fim,
morte de algumas crianças e ferindo outras tantas. todas as associações de orientação fascista (LCT, AIB e
Em consequência, a população fortalezense se revoltou Campanha Legionária) foram extintas pelo Estado Novo de
contra o governo, mergulhando a capital em verdadeiro estado Getúlio Vargas.
de guerra civil durante três dias. Accioli teve, então, que Um importante movimento social no período varguista foi
renunciar ao governo cearense, tendo como garantia o direito o Caldeirão. De forma semelhante a Canudos, ele reuniu cerca
de permanecer vivo e poder fugir do Estado. Franco Rabelo foi de 3 mil pessoas sob a liderança do beato Zé Lourenço,
eleito para governar o Ceará logo em seguida, mas acabou paraibano que chegara a Juazeiro por volta de 1890 e era
sendo deposto por outra revolta, a Sedição de Juazeiro, entre seguidor de Padre Cícero. Aconselhado por Padre Cícero a se
1913 e 1914. estabelecer na região e trabalhar com algumas das famílias de
Juazeiro do Norte era uma cidade recém-emancipada do romeiros, arrendou um lote de terra no sítio Baixa Danta, em
Crato. Seu surgimento se deveu ao carismático Padre Cícero, Juazeiro do Norte. O sítio prosperou e começou a desagradar a
que, após ter ficado famoso devido ao suposto milagre da parte da elite, sendo difamado pelos adversários políticos de
Beata Maria de Araújo (cuja hóstia teria se transformado em Padre Cícero. Isso culminou na exigência do dono do sítio
sangue), conquistou uma imensa massa de sertanejos pobres Baixa Danta de que os camponeses e o beato deixassem a terra.
e religiosos. Muitos passaram a morar em Juazeiro, de modo Instalando-se no sítio Caldeirão, no Crato, propriedade de
que em pouco tempo o local possuía milhares de moradores. Padre Cícero, os camponeses formaram uma pequena
Como não tinha o apoio da alta hierarquia católica, Padre sociedade coletiva e igualitária, prosperando tanto que
Cícero procurou evitar que Juazeiro tivesse o mesmo fim chegaram a vender os excedentes nas cidades vizinhas. O sítio
trágico de Canudos e aliou-se ao poder político dos coronéis, tornou-se, portanto, um "mau exemplo" para os sertanejos e
posicionando-se ao lado da oligarquia de Nogueira Accioli. desagradou fortemente à Igreja e aos latifundiários que
Embora mantendo a proximidade com o povo, o padre tornou- perdiam a mão-de-obra barata. As difamações culminaram
se, para alguns, um "coronel de batinas". com a acusação de que o beato Zé Lourenço era agente
Franco Rabelo havia, em pouco tempo, perdido o apoio de bolchevique!
muitos políticos que o haviam ajudado a chegar ao poder - a Quando Padre Cícero morreu, em 1934, as terras foram
Assembleia Legislativa tentou até mesmo, sem sucesso, votar herdadas pelos padres salesianos, e os camponeses do
o impeachment do "salvacionista". Os oposicionistas tentaram, Caldeirão ficaram desamparados. Em setembro de 1936, a
então, convocar extraordinariamente a Assembleia Legislativa comunidade é dispersa e o sítio é incendiado e bombardeado.
em Juazeiro e cassaram o mandato de Rabelo. Este, que tinha Zé Lourenço e seus seguidores rumaram, então, para uma nova
ainda bastante apoio em Fortaleza, mandou tropas para comunidade. Alguns dos moradores, no entanto, resolveram se
Juazeiro do Norte, pretendendo derrotar os golpistas. Os vingar e realizaram uma emboscada, matando alguns policiais,

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o que foi respondido com um verdadeiro massacre de Distrito Industrial de Maracanaú, o BEC, a CODEC e da
camponeses pelos contingentes policiais (estima-se entre Companhia DOCAS do Ceará. Com o AI-2, Virgílio aderiu à
trezentos e mil mortos). ARENA, e seu vice Figueiredo Correia ao MDB.
O início dos anos 1940, no Ceará, foi influenciado pela
Segunda Guerra Mundial e as implantações decorridoas pelos Governo Militar
Acordos de Washington. Em Fortaleza, foi montada uma base Plácido Castelo foi eleito pela Assembleia Legislativa em
norte-americana, mudando os hábitos locais e empolgando a 1966. Durante seu governo houve perseguição política a
população, que passou a realizar diversos atos, manifestos e deputados e várias manifestações com a prisão e tortura de
passeatas contra o nazismo. O Serviço Especial de Mobilização estudantes e trabalhadores, tendo ocorrido inclusive
de Trabalhadores para a Amazônia - SEMTA, foi criado e teve atentados a bomba em Fortaleza. Criado o BANDECE e a
sua sede em Fortaleza. pavimentação da rodovia CE-060, a rodovia "do algodão".
Este realizou uma forte propaganda governamental a qual Também tem início as obras do estádio Castelão.
estimulava os sertanejos a migrar para a Amazônia, onde estes Durante o governo de César Cals se sucedeu o auge da
tornariam-se os Soldados da Borracha do Exército da repressão militar. Vários cearenses de esquerda estiveram
Borracha, isto é, explorariam o látex das seringueiras. Milhares envolvidos na Guerrilha do Araguaia. Cals procurou governar
de cearenses emigraram para o Norte, muitos dos quais tecnocraticamente, formando sua própria facção política
morreram. Porém, estas mortes não foram em vão, já que, rompendo com Virgílio Távora. Seu sucessor, Adauto Bezerra
graças aos soldados da borracha e sua mais-valia, os Estados (mandato de 1975 a 1978) não acontecem grandes mudanças.
Unidos e Aliados puderam combater os exércitos do Eixo sem Adauto volta-se politicamente para o interior com a criação de
os seringais da Ásia para abastecê-los. uma secretaria de assuntos municipais. Renuncia seu mandato
A luta contra o nazismo e o posicionamento contraditório para se eleger deputado federal. O vice-governador Waldemar
do governo brasileiro (uma ditadura de base fascista dentro do Alcântara toma posse e termina o mandato.
País lutando contra regimes autoritários fascistas no exterior) Virgílio Távora retorna ao governo em 1979 sendo o
precipitaram a derrocada do Estado Novo. Formaram-se os último eleito indiretamente e resgata seu primeiro governo
diversos partidos novos, como a UDN, o PSD, o PCB e o PSP. A com a criação do PLAMEG II. Inicia a industrialização da região
UDN e o PSD, partidos conservadores e elitistas, dominariam o noroeste do Ceará e cria o PROMOVALE (projetos de irrigação)
cenário político cearense pelas próximas décadas, enquanto o e sua esposa, a primeira dama Luiza Távora implementa
PSP, chefiado por Olavo Oliveira, seria, ao menos nos anos projetos sociais como a Central de Artesanato do Ceará. Seu
1950, o "fiel da balança" nas disputas eleitorais. O primeiro governo foi marcado pela ausência, quase que total, de
governador após a redemocratização foi Faustino oposição na Assembleia, nomeações aproximadas de 16.000
Albuquerque, da UDN. Vale lembrar que, apesar de todas as pessoas para cargos públicos e várias greves.
transformações políticas, o Ceará era então um dos locais mais Gonzaga Mota foi eleito pelo voto popular tomando posse
miseráveis do Brasil. em 1983 e rompe com os coronéis anteriores para criar seu
próprio grupo político. Seu rompimento rendeu-lhe ataques
República Nova do regime militar com a suspensão de verbas federais.
O período de República Nova no Ceará tem início com a
eleição de Faustino de Albuquerque pela UDN. Durante seu Nova República
governo, nas eleições de 1950, o candidato udenista a A Nova República começa no Ceará com a eleição de Maria
presidência, Eduardo Gomes, obteve a maior votação Luiza para o cargo de prefeita de Fortaleza em 1986. Foi a
colocando Getúlio Vargas em 3º colocado no estado. Para a primeira prefeita de capital estadual eleita pelo Partido dos
direção do governo estadual é eleito Raul Barbosa que foi um Trabalhadores e o primeiro político do sexo feminino a ser
dos responsáveis, junto com os parlamentares cearenses, pela eleito para esse cargo após o regime militar. A insatisfação com
campanha de obtenção da sede do Banco do Nordeste do a política praticada durante a ditadura militar e o movimento
Brasil, fundado em 1952, para Fortaleza. No mesmo ano o de redemocratização impulsionam as transformações no
governo federal inaugurou oficialmente o Porto do Mucuripe. poder político, com a decadência da hegemonia tradicional do
Em seu entorno foram instalados usinas termoelétricas para coronelismo.
dotar Fortaleza de energia elétrica em abundância. Gonzaga Mota deixa o governo com pagamentos atrasados
Durante a década de 1950 surgiram ou se fortaleceram ao funcionalismo e descontrole nas contas públicas, mas seu
vários dos maiores grupos econômicos do Ceará: Deib Otoch, J. candidato, o empresário Tasso Jereissati, consegue se eleger
Macêdo, M. Dias Branco, Grande Moinho Cearense e Edson com a promessa de modernizar a administração pública,
Queiroz. Paulo Sarasate foi o terceiro governador eleito no afastando-se do clientelismo dos governos anteriores;
período. Ainda na década de 1950 tem início uma nova onda promover a austeridade fiscal; e desenvolver a economia
migratória para vários estados e regiões. Em uma década, estadual. A nova gestão passa a se autodenominar "Governo
entre 1950 e 1960, o estado decaiu a taxa de representação da das Mudanças". Nas duas décadas seguintes, Jereissati e seus
população brasileira, de 5,1% para 4,5%. Em 1955 a cearense aliados passam a deter a hegemonia política no Estado, e
Emília Barreto Correia Lima foi eleita Miss Brasil. rapidamente perdem a aliança com partidos mais à esquerda,
Em 1958 foi eleito Parsifal Barroso que teve a ajuda do como o PT e o PCdoB.
governo federal para combater as mazelas decorrentes de Ciro Gomes, então prefeito de Fortaleza, se candidata em
secas, sendo a principal obra o Açude Orós inaugurado em 1990 ao cargo de governador com o apoio de Tasso e é eleito.
1961. Em Fortaleza foi inaugurado o Cine São Luis. O Com a abertura do mercado brasileiro, o Ceará recebe os
governador inicia a construção da nova sede do governo, o primeiros carros importados da marca russa Lada. Os
Palácio da Abolição, em 1962 e no mesmo ano é criado o Banco "Governos das Mudanças" priorizam o aumento dos
do Estado do Ceará (BEC). investimentos públicos e privados em infraestrutura e nos
Em 1963 Virgílio Távora foi eleito governador do Ceará. setores industrial e de serviços, enquanto o agropecuário
Seu mandato foi até o fim em 1966, mesmo com o surgimento permanece à margem. Politicamente, há uma relativa
da Ditadura militar em 1964. Seu governo foi marcado pela diminuição de poder dos "coronéis", com ampliação do poder
criação do "PLAMEG I" - Plano de Metas do Governo que visou do grande empresariado. O saneamento das contas estaduais -
a modernização da estrutura do estado com a ampliação do atingido, em parte, pela diminuição das despesas com o
porto do Mucuripe e a transmissão da energia de Paulo Afonso. funcionalismo público através de demissões e achatamentos
Foram criados ou instalados também em seu governo o salariais - garantem superávits entre 1988 e 1994, mas com a

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consolidação do Plano Real volta-se a uma predominância de  A organização colonial mostrada aqui é aquela a partir de
déficits. 1530, após o chamado período pré-colonial. É o período após
O Estado se beneficia também da guerra fiscal que então se o envio da expedição de Martin Afonso de Souza com a
iniciava, o que, somado à mão-de-obra barata, atrai várias intenção de policiar, ocupar e explorar efetivamente o
indústrias, as quais se concentram em algumas poucas território brasileiro, aceito como início real da colonização.
cidades. O crescimento médio do PIB, de 4,6%, é superior à
média nacional e nordestina nos anos 1990, continuando a As Capitanias Hereditárias
tendência iniciada na década de 1970. As ações do governo,
aliado aos esforços do empresariado local, e os incentivos de
instituições de grande importância na história econômica
recente do Ceará, como o BNB e a Sudene, foram
determinantes para tal desempenho.
O forró eletrônico se populariza na década de 1990, e o
Ceará começa a despontar, seguindo a tendência do litoral
nordestino, como um grande pólo de turismo no Brasil. Ao
longo dos anos 1990, com ações como o Programa de Saúde da
Família (PSF), o Estado também realiza grandes avanços na
redução da mortalidade infantil. A migração em direção a
Fortaleza segue forte, tendo em vista o persistente atraso do
interior em comparação com o forte crescimento da capital. A
segurança pública torna-se muito mais problemática entre
1990 e 2003, com a taxa de homicídios subindo de 8,86 para
20,15 por 100 mil habitantes, um aumento de 127%.
Tasso é eleito novamente em 1994 e reeleito em 1998,
concentrando os esforços governamentais na construção e
reforma de grandes obras, como a construção do Porto do
Pecem, o novo Aeroporto Internacional de Fortaleza, o Açude
Castanhão e o início das obras do Metrofor. O terceiro
"Governo das Mudanças" (1994-1997) se caracteriza pela Fonte: http://www.estudopratico.com.br/
privatização de empresas estatais e extinção de outros órgãos,
e pelo seguimento de políticas de inspiração neoliberal, com A implantação do regime de capitanias hereditárias no
enxugamento da máquina administrativa, racionalização dos Brasil em 1534 está vinculada com a incapacidade econômica
investimentos, aumento de taxas de contribuição da do Estado português em financiar diretamente a colonização.
aposentadoria, etc. Lembrando que o comércio com as Índias, maior responsável
Contudo, apesar de vários avanços na saúde e educação pelo excedente da balança comercial portuguesa já não era tão
básicas e do crescimento econômico estável, a chamada Era lucrativo.
Tasso não alterou a estrutura socioeconômica problemática do Por essa razão, e considerando a necessidade de se
Ceará, em especial a ausência de distribuição de renda, o que colonizar o país, D. João III decidiu dividir o território em
foi duramente questionado; a má distribuição fundiária; a capitanias hereditárias para que elas se “auto colonizassem”
enorme disparidade regional (sobretudo entre a capital e o com recursos particulares sem que a coroa tivesse que investir
interior); a parca infraestrutura fora da Região Metropolitana; dinheiro.
e os altíssimos níveis de pobreza - em 1999, segundo o Banco O regime de capitanias já havia sido aplicado com êxito nas
Mundial, cerca de metade dos cearenses viviam abaixo da linha ilhas atlânticas (Madeira, Açores, Cabo Verde e São Tomé) e no
de pobreza. próprio Brasil já existia a capitania de São João,
No início do século XXI, consolida-se a tendência de queda correspondente ao atual arquipélago de Fernando de Noronha.
na tradicional emigração de cearenses, que, no período 2001- O território brasileiro foi dividido em 14 capitanias e
2006, reverte-se para um saldo positivo de 38,3 mil pessoas, o doadas a doze donatários. Os limites de cada território
que se atribui à melhoria das condições de vida e à maior definido sempre por linhas paralelas iniciadas no litoral,
estabilidade proporcionada por programas sociais, que estavam especificados na Carta de Doação. Este documento
permitiram a fixação do pobre cearense em sua terra e o estipulava que a capitania seria hereditária, indivisível e
retorno de parte dos emigrantes. inalienável, podendo ser readquirida somente pela Coroa.
Lúcio Alcântara, eleito com o apoio de Tasso continua, em Nesse processo havia um segundo documento: o Foral,
linhas gerais, o modelo político dos governos anteriores, mas que regulamentava minuciosamente os direitos do rei. Na
não recebe apoio do próprio partido e não consegue se realidade, os donatários não recebiam a propriedade das
reeleger em 2006, rompendo com o o PSDB e mudando para o capitanias, mas apenas sua posse. Ainda assim possuíam
Partido da República após deixar o cargo. Cid Gomes, do PSB e amplos poderes administrativos, militares e judiciais,
ex-prefeito de Sobral, alcança o cargo de Governador, pondo respondendo unicamente ao soberano. Tratava-se portanto de
fim à longa hegemonia do PSDB no Estado e sinalizando um um regime administrativo descentralizado.
movimento rumo à oposição na política estadual, já São Vicente e Pernambuco foram as únicas capitanias que
demonstrado com a vitória de Luizianne Lins, do PT, na capital, prosperaram. O fracasso do projeto como um todo decorreu de
que se elegera em 2004 mesmo sem apoio real do partido, que, vários fatores: falta de coordenação entre as capitanias, grande
devido às alianças partidárias nacionais, apoiara o candidato distância da metrópole, excessiva extensão territorial, ataques
Inácio Arruda. Em 2008, Luizianne Lins é reeleita. indígenas, desinteresse de vários donatários e, acima de tudo,
insuficiência de recursos.
Motivado por esses fracassos, a saída encontrada pelo rei
Brasil Colonial foi uma mudança na forma de administrar a colônia, com a
criação do Governo-Geral.
As capitanias hereditárias não desapareceram de uma vez
Da organização da colônia ao Governo Geral
com a criação do Governo-Geral, elas foram gradualmente

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readquiridas pela Coroa até serem totalmente extintas, na um procurador, um tesoureiro e um escrivão, sob a
segunda metade do século XVIII pelo Marquês de Pombal. presidência de um juiz ordinário (juiz de paz).

* A relação de propriedades e nomes dos donatários e suas Sistema Colonial


capitanias já não é alvo de questões (é mais pedida em
vestibulares do que em concursos). De qualquer forma a lista Sociedade
segue abaixo. Sugiro que foquem sua atenção mais nas No topo da pirâmide social do período estavam os
características e motivos do fracasso do que na relação senhores de engenho. Eles dominavam a economia e a política,
capitania-donatário. exercendo poder sobre sua família e sobre outras pessoas que
viviam em seus domínios sob sua proteção – os agregados. Era
Principais Capitanias Hereditárias e seus donatários: a chamada família patriarcal.
São Vicente (Martim Afonso de Sousa), Santana, Santo Amaro Na camada intermediária estavam os homens livres, como
e Itamaracá (Pêro Lopes de Sousa), Paraíba do Sul (Pêro Gois religiosos, feitores, capatazes, militares, comerciantes,
da Silveira), Espírito Santo (Vasco Fernandes Coutinho), Porto artesãos e funcionários públicos. Alguns possuíam terras e
Seguro (Pêro de Campos Tourinho), Ilhéus (Jorge Figueiredo escravos, porém não exerciam grande influência
Correia), Bahia (Francisco Pereira Coutinho), Pernambuco individualmente, principalmente em relação à economia.
(Duarte Coelho), Ceará (António Cardoso de Barros), Baía da Na base estava a maior parte da população, que era
Traição até o Amazonas (João de Barros, Aires da Cunha e composta de africanos e índios escravizados (sendo os índios
Fernando Álvares de Andrade). a primeira tentativa de escravidão). Os escravos não eram
vistos como pessoas com direito a igualdade. Eram
Governo Geral considerados propriedade dos senhores e faziam
praticamente todo o trabalho na colônia. Os escravos nas
A ideia de D. João III era centralizar a administração zonas rurais não tinham nenhum direito na sociedade e
colonial subordinando as capitanias a um governador-geral começavam a trabalhar desde crianças.
que coordenasse e acelerasse o processo de colonização do A sociedade colonial brasileira foi um reflexo da própria
Brasil. Com esse objetivo elaborou-se em 1548 o Regimento do estrutura econômica, acompanhando suas tendências e
Governador-Geral no Brasil, que regulamentava as funções do mudanças. Suas características básicas entretanto, definiram-
governador e de seus principais auxiliares — o ouvidor-mor se logo no início da colonização segundo padrões e valores do
(Justiça), o provedor-mor (Fazenda) e o capitão-mor (Defesa). colonizador português. Assim, a sociedade do Nordeste
O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, fundador açucareiro do século XVI, essencialmente ruralizada,
de Salvador, primeira cidade e capital do Brasil. Com ele patriarcal, elitista, escravista e marcada pela imobilidade
vieram os primeiros jesuítas. social, é a matriz sobre a qual se assentarão as modificações
A administração do segundo governador-geral, Duarte da dos séculos seguintes16.
Costa, apresentou mais problemas que seu antecessor: No século XVIII, a sociedade brasileira conheceu
- revoltas dos índios na Bahia transformações expressivas. O crescimento populacional, a
- conflito entre o governador e o bispo intensificação da vida urbana e o desenvolvimento de outras
- a invasão francesa do Rio de Janeiro (criação da França atividades econômicas para atender a essa nova realidade,
Antártica). resultaram indubitavelmente da mineração. Embora ainda
conservasse o seu caráter elitista, a sociedade do século XVIII
Em compensação, o terceiro governador-geral, Mem de Sá, era mais aberta, mais heterogênea e marcada por uma relativa
mostrou-se tão eficiente que a metrópole o manteve no cargo mobilidade social, portanto mais avançada em relação à
até sua morte. Foi ele quem conseguiu expulsar os invasores sociedade rural e escravista dos séculos XVI e XVII.
franceses, com ajuda de seu sobrinho Estácio de Sá. Os folguedos (festas populares) das camadas mais pobres
Depois de Mem de Sá, por duas vezes a colônia foi dividida conviviam com os saraus e outros eventos sociais da camada
temporariamente em dois governos-gerais: a primeira teve dominante. Com relação a esta, o hábito de se locomover
como divisão a Repartição do Norte, com capital em Salvador, em cadeirinhas ou redes transportadas por escravos,
e a do Sul, com capital no Rio de Janeiro. evidencia o aparecimento do escravo urbano, com destaque
A segunda divisão foi durante a União Ibérica15, onde o para os chamados negros de ganho17.
Brasil foi transformado em duas colônias distintas: Estado do
Brasil (cuja capital era Salvador e, depois, Rio de Janeiro) e Escravos e homens livres na Colônia
Estado do Maranhão (cuja capital era São Luís e, depois, No Brasil colonial a mão de obra escrava foi utilizada
Belém). A reunificação só seria concretizada pelo Marquês de amplamente. A escravidão está presente na formação do país,
Pombal, em 1774. desde os índios aos negros que chegavam em navios, a
Além das Capitanias e do Governo-Geral, as Câmaras utilização do trabalho escravo se deu pela intenção de
Municipais nas vilas e nas cidades desempenhavam papel maximizar lucros através da super exploração do trabalho e do
menor na administração do Brasil colonial. O controle das trabalhador. Apesar da ampla utilização do trabalho escravo,
Câmaras Municipais era exercido pelos grandes proprietários este não foi o único. Uma parte da sociedade era livre,
locais, conhecidos como "homens-bons". Entre suas composta de trabalhadores livres, que no início eram apenas
competências, destacavam-se a autoridade para decidir sobre os portugueses condenados ao exílio na América como
preços de mercadorias e a fixação dos valores de alguns punição.
tributos. Ser livre, mas pertencer ao último estamento social na
As eleições para as Câmaras Municipais eram realizadas colônia significava apenas não ser escravo. Mesmo sendo
entre os já citados homens-bons. Elegiam-se três vereadores, livres, os mais pobres eram marginalizados e tinham poucas
chances de ascensão sendo privados de exigir melhores

15 *A União Ibérica foi o período em que o império português e espanhol definitivamente as relações entre Portugal e Espanha e alterou de forma marcante
estiveram sob a mesma administração. Quando D. Sebastião – Rei de Portugal - nosso território originalmente definido pelo Tratado de Tordesilhas.
desapareceu durante conflitos contra os mouros na África sem deixar herdeiros 16 https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/sociedade-colonial-
diretos, o trono português foi ocupado provisoriamente por seu tio-avô. Após seu brasileira
falecimento, Felipe II, rei da Espanha e tio de D. Sebastião assume o trono 17 Escravos que repassavam todos os ganhos de seu trabalho aos seus donos.

português. Esse período durou 60 anos (1580 – 1640). Ele influenciou

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situações econômicas. No grupo de trabalhadores livres culturais eram preservados. Tais comunidades receberam
estavam os desgredados portugueses, escravos forros diferentes nomeações: remanescentes de quilombos,
(libertos) e os pardos. quilombos, mocambos, terra de preto, comunidades negras
O cultivo do açúcar e os engenhos motivaram essa variação rurais, ou ainda comunidades de terreiro.
de posição dos trabalhadores livres, em que os senhores de
engenhos consideravam estar no topo da sociedade. A divisão Educação
da terra através das sesmarias18 beneficiava os mais abastados A história da educação no Brasil tem início com a vinda dos
que se tornavam os grandes proprietários e arrendavam uma padres jesuítas no final da primeira metade do século XVI,
parte para colonos que não possuíam condições para ter sua inaugurando a primeira, mais longa e a mais importante fase
própria terra, denominando assim os senhores de engenhos da educação no país, observando que a sua relevância
(produtores de açúcar) e os agricultores (produtores de cana). encontra-se nas consequências resultantes para a cultura e
As relações entre senhores de engenho e agricultores, unidos civilização brasileiras19.
pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado Os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao
internacional, formaram o setor açucareiro. trabalho educativo. Logo perceberam que não seria possível
converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e
A resistência à escravidão escrever.
Onde quer que tenha existido escravidão, houve De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, em
resistência escrava. No Brasil os escravizados criaram diversas 1570, vinte e um anos depois da sua chegada, já eram
maneiras de resistência ao sistema escravista durante os compostos por cinco escolas de instrução elementar – cursos
quase quatro séculos em que a escravidão existiu entre nós. A de Letras, Filosofia e Teologia -, localizadas em Porto Seguro,
resistência poderia assumir diversos aspectos: fazer “corpo Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga,
mole” na realização das tarefas, sabotagens, roubos, e três colégios, localizados no Rio de Janeiro, Pernambuco e
sarcasmos, suicídios, abortos, fugas e formação de quilombos. Bahia.
Qualquer tipo de afronta à propriedade senhorial por parte do A educação era privilégio apenas das classes abastadas,
escravizado deve ser considerada como uma forma de pois as famílias tradicionais faziam questão de terem entre
resistência ao sistema escravista. seus filhos um doutor (médico ou advogado) e um padre. A
As motivações que levavam um escravizado a fugir eram educação era usada como instrumento de legitimação da
variadas e nem todas as fugas tinham por objetivo se livrar do colonização, inculcando na população ideias de obediência
domínio senhorial. De forma contrária, às vezes, o escravizado total ao Estado português. Os jesuítas impunham um padrão
fugia à procura de um outro senhor que o comprasse; caso o educacional europeu, que desvalorizava completamente os
seu senhor não aceitasse a negociação, ele poderia continuar aspectos culturais dos índios e dos negros.
fugindo e, portanto, dando prejuízos e maus exemplos, até que Em relação às mulheres, mesmo as das famílias mais
seu senhor resolvesse vendê-lo. abastadas raramente recebiam instrução escolar, e esta
Era comum a fuga por alguns dias, quando em geral o limitava-se às aulas de boas maneiras e de prendas
escravizado ficava nas imediações da moradia de seu senhor, domésticas. As crianças escravas por sua vez estavam
às vezes para cumprir obrigações religiosas, outras para excluídas do processo educacional, não tendo acesso às
visitar parentes separados pela venda, outras ainda, para fazer escolas.
algum “bico” e, com o dinheiro, completar o valor da alforria.
Religião
A origem do processo de ocupação territorial do Brasil,
serviu também para as intenções da igreja católica.
Os Quilombos Os portugueses que vieram para o Brasil estavam inseridos
Os quilombos ou mocambos (conjunto de habitações no ideal similar ao das cruzadas, adotando o catolicismo como
miseráveis) existiram desde a época colonial até os últimos símbolo do poder da coroa.
anos do sistema escravista e assim como as fugas, foram Diante desta ideia, todo o não católico era considerado um
comuns em todos os lugares em que existiu escravidão. A inimigo em potencial, a não aceitação da fé em cristo era vista
formação de quilombos pressupõe um tipo específico de fuga, como contestação do poder do rei e afronta direta a todo
a fuga de rompimento, cujo objetivo maior era a liberdade. português, uma motivação que incentivou, dentre outros
Essa não era uma alternativa fácil a ser seguida, pois fatores, o extermínio dos indígenas, vistos como pagãos e
significava viver sendo perseguido não apenas como um infiéis.
escravo fugido, mas como criminoso. Havia também o outro lado da moeda, em que o gentil era
O Brasil teve em sua história vários grandes quilombos e o visto como potencialmente um servo da coroa e de Deus, desde
mais conhecido foi Palmares. Palmares foi um quilombo que tivesse a devida instrução. Essa ideia era defendida por
formado no século XVII, na Serra da Barriga, região entre os muitos jesuítas, como o padre Manuel da Nóbrega, conhecido
estados de Alagoas e Pernambuco. Localizado numa área de por defender o direito de liberdade dos nativos cristianizados.
difícil acesso, os aquilombados conseguiram formar um Estado Dentro deste contexto, a construção de igrejas passou a
com estrutura política, militar, econômica e sociocultural, que delimitar a conquista territorial, garantindo a soberania do
tinha por modelo a organização social de antigos reinos Estado.
africanos. Calcula-se que Palmares chegou a possuir uma
população de 30 mil pessoas. A religiosidade africana
Depois da abolição definitiva da escravidão no Brasil, em Vigiados de perto por seus senhores e fiscalizados pelos
1888, as comunidades negras deram outro sentido ao termo eclesiásticos católicos, na qualidade de escravos, considerados
“quilombo”, não sendo mais utilizado como forma de luta e utensílios de trabalho semelhantes a uma ferramenta, os
resistência ao cativeiro, mas sim como morada e sobrevivência
da família negra em pequenas comunidades onde seus valores

18 Sesmarias nada mais eram do que pedaços de terra doados a beneficiários 19 OLIVEIRA, M. B. AMANDA. Ação educacional jesuítica no Brasil colonial.

para que estes a cultivassem. Assim como no exemplo das capitanias, a posse real Revista Brasileira de História da Religiões.
ainda era da Coroa e os beneficiários, deviam cumprir uma série de exigências para http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf8/ST6/005%20-
garantir sua posse. Diferentemente das capitanias, ela não podiam ser divididas %20AMANDA%20MELISSA%20BARIANO%20DE%20OLIVEIRA.pdf
em novos lotes.

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africanos foram obrigados a aceitar a fé em cristo como ainda no período pré-colonial, anterior a 1530 com a chegada
símbolo da submissão aos europeus e a coroa portuguesa20. de Martin Afonso e o empenho dos primeiros engenhos.
Apesar disso, elementos das religiões africanas Tratamos aqui a partir do cultivo de cana e produção do
sobreviveram se ocultando em meio à simbologia cristã. açúcar.
Associações de caráter locais, as irmandades negras
contribuíram para forjar a polissemia (múltiplos sentidos de - A cana-de-açúcar
uma palavra) e sincretismo21 religioso brasileiro. Houveram muitos motivos para a escolha da cana como
Impedidos de frequentar espaços que expressavam a principal produto da colônia, sendo o principal a ocorrência do
religião católica dos brancos, as irmandades representavam solo de massapê, propício para o cultivo da cana-de-açúcar.
uma das poucas formas de associação permitidas aos negros Além disso, era um produto muito bem cotado no comércio
no contexto colonial. Surgiram como forma de conferir status europeu.
e proteção aos seus membros, sendo responsáveis pela As primeiras mudas chegaram no início da ocupação
construção de capelas, organização de festas religiosas e pela efetiva do território brasileiro, trazidas por Martim Afonso de
compra de alforrias de seus irmãos, auxiliando a ação da igreja Souza e plantadas no primeiro engenho, construído em São
e demonstrando a eficácia da cristianização da população Vicente.
escravizada. Os principais centros de produção açucareira do Brasil
Entretanto, ao se organizarem geralmente em torno da localizavam-se nos atuais estados de Pernambuco, Bahia e São
devoção a um santo específico que assumiu múltiplos Paulo.
significados, incorporando ritos e cultos que eram originais A ocupação do Brasil no Século XVI esteve profundamente
aos deuses africanos, permitiram o nascimento de religiões ligada à indústria açucareira. A economia de plantation22
afro-brasileiras como o acotundá, o candomblé e o calundu. possui relação intensa com os interesses dos proprietários de
terras que lucravam enormemente com as culturas de
Os judeus exportação.
Perseguidos pelo Tribunal do Santo Ofício na Europa, os O latifúndio formou-se nesse período tendo consequências
judeus sempre estiveram em situação de perigo iminente, até os dias de hoje. A produção da cana-de-açúcar também
sendo obrigados a converterem-se ao cristianismo em contribuiu para a vinculação dependente do país em relação
Portugal. ao exterior, a monocultura de exportação e a escravidão com
Aos olhos do Estado, os convertidos passaram a ser suas consequências. A colônia portuguesa de exploração
considerados cristãos-novos, vigiados de perto pela Inquisição prosperou graças ao sucesso comercial de sua produção.
sofrendo preconceitos e perseguições esporádicas. Em 1630 os holandeses invadiram o nordeste da colônia,
O Brasil se transformou na terra prometida para os na região de Pernambuco, que era a maior produtora de açúcar
cristãos-novos portugueses, compelidos a migrarem para na época. Durante sua permanência no Brasil, os holandeses
novas terras em além-mar. adquiriram o conhecimento de todos os aspectos técnicos e
Foi uma saída viável à recusa da aceitação de sua fé no organizacionais da indústria açucareira. Esses conhecimentos
reino, tendo em vista o fato da Inquisição nunca ter se criaram as bases para a implantação e desenvolvimento de
instalado por aqui, embora tenham sido instituídas visitações uma indústria concorrente, de produção de açúcar em grande
do Santo Ofício em 1591, 1605, 1618, 1627, 1763 e 1769. escala, na região do Caribe. A concorrência imposta pelos
Alojados sobretudo na Bahia, em Pernambuco, na Paraíba holandeses, que haviam sido expulsos pelos portugueses, fez
e no Maranhão; os cristãos-novos recém-chegados com que o Brasil perdesse o monopólio que exercia no
integraram-se rapidamente ocupando cargos nas Câmaras mercado mundial do açúcar, levando a produção a entrar em
Municipais em atividades administrativas, burocráticas e declínio.
comerciais, destacando-se também como senhores de
engenho, algo impensável em Portugal. - Outras atividades econômicas
Sem a Inquisição em seus calcanhares, os cristãos-novos Na região Nordeste a atividade pastoril expandiu-se
continuaram a exercer práticas judaicas no interior de seus rapidamente, pois o capital necessário para a montagem de
lares, mantendo vivos os laços familiares e comunitários uma fazenda de gado era bastante reduzido. As terras eram
clandestinamente e ao mesmo tempo, adotando uma postura fartas e o criador precisava somente requerer a doação de uma
pública católica respondendo a uma necessidade de adesão, sesmaria ou simplesmente apossar-se da terra.
participação e identificação. As instalações das propriedades pastoris eram comuns,
com poucas casas e alguns currais feitos com material
Cultura encontrado nas localidades. O método de criação também era
As manifestações artístico-culturais foram até o século muito simples, feito de maneira extensiva (o gado vivia solto
XVII, condicionadas às atividades desenvolvidas aos centros no campo), o que dispensava mão-de-obra numerosa ou
de educação, que eram os colégios jesuíticos. No trato social especializada.
alicerçavam-se práticas, usos e costumes que seriam Na região amazônica a geografia impedia a implantação de
marcantes para a formação da sociedade brasileira. A partir do fazendas de cultivo ou a criação de animais. Ao penetrarem os
século XVIII esse cenário mudou. rios e selvas da região os portugueses notaram que os índios
Com a emergência da mineração, inúmeras manifestações utilizavam uma grande variedade de frutas, ervas, folhas e
tornaram-se presentes, como a arte barroca (seja ela plástica raízes para fins medicinais e alimentícios. Os produtos
ou literária), as manifestações árcades e parnasianas, utilizados, em especial cacau, baunilha, canela, urucum,
principalmente ligadas a uma referência mais letrada e guaraná, cravo e resinas aromáticas foram chamados de
influenciada pelos matizes europeus (a produção cultural não drogas do sertão, e possuíam bom valor de comércio na
era mais monopólio da igreja). Europa, podendo ser vendidas como substitutas ou
Economia complementos das especiarias. Além das plantas, outras
 A primeira atividade extrativista lucrativa da colônia foi variedades de drogas do sertão incluíam: gordura de peixe-
em torno da exploração do pau-brasil. É considerado seu ápice

20 MOREIRA, S. ANTONIA. Intolerância Religiosa em Acapare. UNILAB. 21 Fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de

http://repositorio.unilab.edu.br:8080/jspui/bitstream/123456789/373/1/Anton seus elementos.


ia%20da%20Silva%20Moreira.pdf 22 Possui como características: latifúndio, mão de obra escrava e interesses

voltados à exportação.

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boi, ovos de tartaruga, araras e papagaios, jacarés, lontras e Em 1750 a capitação foi extinta, restando apenas o quinto.
felinos. Apesar disso, era exigida uma arrecadação mínima de 100
arrobas de ouro por ano. Caso não fosse atingida a arrecadação
- O Ciclo do Ouro era decretada a derrama: cobrança da quantidade que faltava
Quando foi divulgada a notícia da descoberta de jazidas para completar as 100 arrobas de arrecadação.
auríferas, muitas pessoas dirigiram-se para as regiões onde foi Conforme as jazidas foram se esgotando, a produção de
encontrado o ouro, em especial para o atual território do ouro caiu assim como a arrecadação de impostos. As suspeitas
estado de Minas Gerais. Praticamente todas as pessoas que se de sonegação de impostos e a violência da Intendência
deslocaram para a região o fizeram na intenção de dedicar-se aumentaram juntamente, gerando atritos e conflitos entre
exclusivamente na exploração do metal, deixando de lado até autoridades e mineradores, uma das causas da Inconfidência
mesmo atividades essenciais para a sobrevivência, como a Mineira de 1789.
produção de alimentos. Para a extração do ouro foram organizados dois tipos de
Isso gerou uma profunda escassez de mercadorias na empreendimentos: lavras e faiscações.
região. Era comum entre os anos de 1700 e 1730 a ocorrência As lavras eram unidades de produção relativamente
de crises de fome caso o acesso a outras regiões das quais os grandes, podendo até possuir equipamento especializado e o
produtos básicos eram adquiridos fossem interrompidas. A trabalho de mais de 100 escravos, o que exigia o investimento
situação começa a mudar com a expansão de novas atividades, de alto capital, sendo rentável apenas em jazidas de ouro de
e com a melhoria das vias de comunicação. tamanho suficientemente grande.
Nas faiscações, que eram pequenas unidades produtoras,
- Impostos e a administração da coroa trabalhavam somente algumas pessoas (por vezes eram até
Com as primeiras notícias de descobrimento das jazidas mesmo compostas de trabalhadores individuais). Era comum
em Minas Gerais, a Coroa publicou o Regimento dos a prática do envio de escravos por homens livres para
Superintendentes, Guardas-Mores e Oficiais-Deputados para faiscação, sendo o ouro encontrado dividido entre ambos.
as minas de ouro, no ano de 1702.
Para executar o regimento, cobrar impostos e Expansões Geográficas
superintender o serviço de mineração, foram criadas as
Intendências de Minas, uma para cada capitania em que Entradas e bandeiras, conquista e colonização do nordeste,
houvesse a extração de ouro. penetração na Amazônia, conquista do Sul, Tratados e limites.
Quando uma nova jazida era descoberta, era obrigatória a
comunicação para a Intendência. O Guarda-mor, então, dirigia- Bandeiras e Bandeirantes
se ao local, ordenando a demarcação do terreno a ser As bandeiras, tradicionalmente definidas como expedições
explorado. Este era dividido em lotes, que eram chamados de particulares, em oposição às entradas, de caráter oficial,
datas. contribuíram decisivamente para a expansão territorial do
As datas eram entregues através de sorteio. No dia da Brasil Colônia. A pobreza de São Paulo, decorrente do fracasso
distribuição, comunicado com certa antecedência, deviam da lavoura canavieira no século XVI, a possibilidade da
comparecer todos aqueles que estivessem interessados em existência de metais preciosos no interior e particularmente, a
receber um lote; não se admitiam procuradores ou necessidade de mão-de-obra para o açúcar nordestino durante
representantes. O descobridor da jazida não só tinha o direito a União Ibérica, levaram os paulistas a organizar a caça ao
de escolher uma data, mas também de receber um prêmio em índio, o bandeirismo de contrato e a busca mineral.
dinheiro. A Intendência separava em seguida uma data para si,
vendendo-a depois em leilão público. As datas restantes eram  As entradas tinham uma origem diferente, porém com
sorteadas entre os presentes. Encerrado o sorteio, se finalidade semelhante à dos bandeirantes. Enquanto o
sobrassem terras auríferas, fazia-se uma distribuição movimento das bandeiras tratava-se de uma expedição
suplementar. Se o número de interessados era muito grande, o particular (normalmente financiada pelos próprios paulistas)
tamanho das datas era reduzido. Normalmente as datas eram com objetivo de obter lucros (encontrando metais preciosos,
lotes com no máximo 50 metros de largura. preando índios ou comercializando as ervas do sertão), as
No início da atividade mineradora foi estabelecido um entradas eram expedições financiadas pela Coroa,
imposto para as pessoas que se dedicavam à extração: o normalmente composta por soldados portugueses e
quinto. Correspondia a 20% do ouro extraído, que deveria ser brasileiros. Embora o objetivo inicial fosse mapear o território
pago para a Coroa. Como era difícil determinar se uma barra brasileiro e facilitar a colonização, as entradas também
ou saca de ouro havia sido ou não quintada, a sonegação era envolviam-se em conflitos com os índios (principalmente
uma pratica fácil de ser realizada. aqueles que apresentavam resistência) e, como era de se
Com o objetivo de regularizar a cobrança, foi criado um esperar, também lucravam com isso.
imposto adicional chamado finta23 que não funcionou como
planejado e acabou sendo extinto. Para resolver o problema o
governo criou as Casas de Fundição, das quais a mais famosa A caça ao Índio
foi a de Minas Gerais, inaugurada em 1725. Inicialmente a caça ao índio (preação) foi uma forma de
Nas casas de fundição o minerador entregava seu ouro, que suprir a carência de mão-de-obra para a prestação de serviços
era fundido e transformado em barras, das quais era domésticos aos próprios paulistas. Porém logo transformou-se
descontado o quinto. Após as Casas de Fundição, também foi em atividade lucrativa, destinada a complementar as
proibida a comercialização e exportação de ouro em pó. É necessidades de braços escravos, bem como para a triticultura
possivelmente dessa época o surgimento dos “Santos do pau (cultura do trigo) paulista.
oco” (imagens de santos esculpidas por dentro e preenchidas Na primeira metade do século XVII os vicentinos
com ouro em pó, para fugir da fiscalização e da cobrança). (bandeirantes da Vila de São Vicente) realizaram incursões
Em 1735 a Coroa começou a cobrar um novo imposto, a principalmente contra as reduções jesuíticas espanholas,
Capitação. Era um imposto per capita, pago em ouro pelas resultando na destruição de várias missões, como as do Guairá,
pessoas e estabelecimentos comerciais da área mineradora. Itatim e Tape, por Antônio Raposo Tavares. Nesse período, os
holandeses, que haviam ocupado uma parte do Nordeste

23 30 arrobas de ouro cobradas anualmente.

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açucareiro, também conquistaram feitorias de escravos portugueses com seus exércitos para que pudesse exercer tal
negros na África, aumentando a escassez de escravos africanos direito. Assim foi estabelecida a União Ibérica, que marca a
no Brasil. centralização de Portugal e Espanha sob um mesmo governo.
A vitória política de Filipe II abriu oportunidade para que
O bandeirismo de contrato as finanças de seu país pudessem se recuperar após diversos
A ação de bandeirantes paulistas contratados pelo gastos em conflitos militares. Para tanto, tinha interesse em
governador-geral ou por senhores de engenho do Nordeste estabelecer o comércio de escravos com os portugueses que
com o objetivo de combater índios inimigos e destruir controlavam a atividade na costa africana. Além disso, o
quilombos, corresponde a uma fase do bandeirismo na controle da maior parte das possessões do espaço colonial
segunda metade do século XVII. O principal acontecimento americano permitiria a ampliação dos lucros obtidos através
desse ciclo de bandeiras foi a destruição de um conjunto de da arrecadação tributária.
quilombos situados no Nordeste açucareiro, conhecido Apesar das vantagens, o imperador espanhol manteve uma
genericamente como Palmares. significativa parcela dos privilégios e posições ocupadas por
A atuação do bandeirismo foi de fundamental importância comerciantes e burocratas portugueses.
para a ampliação do território português na América. Num Mesmo preservando aspectos fundamentais da
espaço muito curto os bandeirantes devassaram o interior da colonização lusitana, a União Ibérica também foi responsável
colônia explorando suas riquezas e arrebatando grandes áreas por algumas mudanças. Com a junção das coroas, as nações
do domínio espanhol, como é o caso das missões do Sul e inimigas da Espanha passam a ver na invasão do espaço
Sudeste do Brasil. colonial lusitano uma forma de prejudicar o rei Filipe II. Desta
Antônio Raposo Tavares, depois de destruí-las, foi até os maneira, no tempo em que a União Ibérica foi vigente, ingleses,
limites com a Bolívia e Peru atingindo a foz do rio Amazonas, holandeses e franceses tentaram invadir o Brasil.
completando assim o famoso périplo brasileiro. Por outro lado, Entre todas essas tentativas, podemos destacar
os bandeirantes agiram de forma violenta na caça de indígenas especialmente a invasão holandesa, que alcançou o monopólio
e de escravos foragidos, contribuindo para a manutenção do da atividade açucareira em praticamente todo o litoral
sistema escravocrata que vigorava no Brasil Colônia. nordestino. No ano de 1640 a Restauração definiu a vitória
portuguesa contra a dominação espanhola e a consequente
Conquistas e Tratados extinção da União Ibérica. Ao fim do conflito, a dinastia de
Fato curioso na ação das bandeiras e entradas é que eles Bragança, iniciada por dom João IV, passou a controlar
não tinham real noção do tamanho do nosso território. Era Portugal.
comum pensarem que se adentrassem o suficiente, logo
chegariam às colônias espanholas. As necessidades Invasões
econômicas (que já falamos acima) levaram os portugueses a
adentrar muito mais do que o combinado no Tratado de Invasões francesas
Tordesilhas e posteriormente obrigou os governos a A França foi o primeiro reino europeu a contestar o
reconhecerem novos acordos. Tratado de Tordesilhas que dividiu as terras descobertas na
No século XVII um evento ajudou para que essa expansão América entre Portugal e Espanha em 1494. Visitaram
ocorresse sem maiores problemas. Trata-se da União Ibérica. constantemente o litoral brasileiro desde o período da
Para a expansão territorial brasileira isso foi ótimo. Primeiro extração do pau-brasil mantendo relações amistosas com os
por estreitar as relações entre colônias portuguesas e povos indígenas locais. Deste acordo surgiu a Confederação
espanholas e depois por, quando dos portugueses adentrarem dos Tamoios (aliança entre diversos povos indígenas do
o território além do estabelecido não encontrarem nenhum litoral: tupinambás, tupiniquins, goitacás, entre outros), que
problema, afinal os espanhóis entendiam que o seu povo possuíam um objetivo em comum: derrotar os colonizadores
estava povoando a sua terra. portugueses.
Os limites estabelecidos em Tordesilhas foram tão Em 1555 os franceses fundaram na baía de Guanabara a
alterados e de forma tão definitiva (várias novas colônias já França Antártica, criando uma sociedade de influências
haviam sido estabelecidas) que um novo acordo sobre os protestantes. Através dos franceses, algumas partes do litoral
limites territoriais entre Portugal e Espanha foi estabelecido: brasileiro ganharam diversas feitorias e fortes.
o Tratado de Madri (1750). Em resumo ele reconhecia que a Por aproximadamente cinco anos ocorreram conflitos
maioria do território desbravado pertencia a Portugal, entre os portugueses e a Confederação dos Tamoios. Em 1567
baseado no princípio da posse por uso. os portugueses derrotaram a Confederação e expulsaram os
 No período colonial, que dura até o ano de 1815 quando franceses do litoral brasileiro, o que não desencorajou os
o Brasil é elevado à categoria de Reino Unido de Portugal e ideais franceses.
Algarves, ainda teremos o início dos conflitos da Cisplatina No século XVII (1612), fundaram a França Equinocial,
(1811 – 1828) – disputa entre Portugal e Espanha em torno da correspondente à cidade de São Luís, capital do estado do
fronteira do RS devido às pretensões espanholas de controlar Maranhão.
o rio da Prata -. Porém esse conteúdo é mais comumente Com a intenção de conter a expansão francesa, Portugal
pedido dentro do período imperial, talvez pelo seu final ter enviou uma expedição militar à região do Maranhão. Essa
sido após 1822. expedição atacou os franceses tanto por terra quanto por mar.
Em 1615, foram derrotados e se retiraram do Maranhão,
União Ibérica deslocando-se para a região das Guianas onde fundaram uma
Em 1578, na luta contra os mouros marroquinos em colônia, a chamada Guiana Francesa.
Alcácer-Quibir, o rei D. Sebastião de Portugal, desapareceu. Após duas tentativas mal sucedidas de estabelecimento de
Com isso teve início uma crise sucessória do trono português, uma civilização francesa no Brasil colonial, os franceses
já que o rei não deixou descendentes. O trono foi assumido por passaram a saquear através de corsários (piratas), algumas
um curto período de tempo por seu tio-avô, o cardeal Dom cidades do litoral brasileiro no século XVIII. A principal delas
Henrique, que morreu dois anos depois, sem deixar herdeiros. foi a cidade do Rio de Janeiro, de onde escoava todo ouro
Logo após, Filipe II da Espanha e neto do falecido rei extraído da colônia rumo a Portugal. Uma primeira tentativa
português D. Manuel I, demonstrou o interesse em assumir o de saque, em 1710, foi barrada pelos portugueses; entretanto,
trono português. Para alcançar o poder, além de se valer do no ano de 1711, piratas franceses tomaram a cidade do Rio de
fator parental, o monarca hispânico chegou a ameaçar os Janeiro e receberam dos portugueses um alto resgate para

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libertá-la: 600 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois. holandês do Nordeste até o Maranhão e conquistou Angola
Terminavam, então, as tentativas de invasões francesas no (fornecedora de escravos). Porém, em 1638 fracassou ao
Brasil. tentar conquistar a Bahia.
Quando Portugal restaurou sua independência e assinou a
Invasões Inglesas Trégua dos Dez Anos com a Holanda, Nassau continuou
As incursões inglesas no Brasil ficaram restritas a ataques administrando o Brasil holandês de forma exemplar.
de piratas e corsários. Urbanizou Recife, fundou um zoológico, um observatório
William Hawkins foi o primeiro corsário inglês a aportar astronômico e uma biblioteca, construiu jardins e palácios e
na colônia. Entre 1530 e 1532, percorreu alguns pontos da promoveu a vinda de artistas e cientistas para o Brasil.
costa e fez escambo de pau-brasil com os índios. Outro foi Além disso, adotou a tolerância religiosa e dinamizou a
Thomas Cavendish, que atracou em Santos em 1591. economia canavieira. Sua política garantiu o apoio da
Conhecido como “lobo-do-mar”, Cavendish estava a serviço da aristocracia local, mas entrou em choque com os objetivos da
rainha inglesa Elizabeth I. Companhia das Índias Ocidentais. O desgaste com a
O corso realizado pelos ingleses entretanto, intensificou-se Companhia levou Nassau a deixar o Brasil em 1644. Enquanto
apenas na segunda metade do século XVI, quando os conflitos isso, os próprios brasileiros organizaram a luta contra os
entre católicos e protestantes tornaram-se intensos na flamengos com a Insurreição Pernambucana. Os líderes foram
Inglaterra e os mercadores empolgaram-se com as André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique
possibilidades comerciais abertas pelas novas rotas Dias (negro) e o índio Filipe Camarão.
marítimas. Em 1648 e 1649, as duas batalhas de Guararapes foram
A primeira incursão pirata dos ingleses ao litoral brasileiro vencidas pelos nativos. Em 1652, o apoio oficial de Portugal e
foi em 1587. Em 1595, o inglês James Lancaster conseguiu as lutas dos holandeses na Europa contra os ingleses em
tomar o porto do Recife. Retirou grande volume de pau-brasil, decorrência dos prejuízos causados pelos Atos de Navegação
que levou para a Inglaterra depois de realizar saques na de Oliver Cromwell, levaram os holandeses a Capitulação da
capitania durante mais de um mês. Campina do Taborda26.
Os holandeses foram desenvolver a produção de açúcar
nas Antilhas, contribuindo para a crise do complexo açucareiro
nordestino. Mais tarde, Portugal e Holanda firmaram o
Invasões Holandesas Tratado de Paz de Haia (1661), graças a mediação inglesa.
As invasões holandesas na primeira metade do século XVII Segundo tal tratado a Holanda receberia uma indenização de 4
estão relacionadas com a criação da União Ibérica. Antes do milhões de cruzados e a cessão pelos portugueses das ilhas
domínio dos Habsburgos24, as relações comerciais e Molucas e do Ceilão, recebendo ainda o direito de
financeiras entre Portugal e Holanda eram intensas. Pouco comercializar com maior liberdade nas possessões
antes de Filipe II tornar-se rei de Portugal, os Países Baixos portuguesas, em razão da perda do Brasil holandês.
iniciaram uma guerra de independência tentando libertar-se
do domínio espanhol. Iniciada em 1568, essa guerra de As Rebeliões Nativistas
libertação culminou com a União de Utrecht25, sob a chefia de A população colonial já enraizada na terra e portanto, com
Guilherme de Orange. Em 1581, nasciam as Províncias Unidas fortes sentimentos nativistas, manifestou seu
dos Países Baixos, mas a guerra continuou. descontentamento frente às exigências metropolitanas. Em
Assim que Filipe II assumiu o trono luso, proibiu o vista disto, surgiram os primeiros sinais de rebeldia,
comércio açucareiro luso-flamengo. O embargo de navios denominados rebeliões nativistas.
holandeses em Lisboa provocou a criação de companhias
privilegiadas de comércio. Entre 1609 e 1621, houve uma Revolta de Beckman (1684)
trégua que permitiu a normatização temporária do comércio Na segunda metade do século XVII, a situação da economia
entre Brasil-Portugal e Holanda. Em 1621, terminada a trégua, maranhense que nunca fora boa, tendia a piorar. A Coroa,
os holandeses fundaram a Companhia de Comércio das Índias pressionada pelos jesuítas proibiu a escravização de
Ocidentais cujo alvo era o Brasil. Começava então a Guerra do indígenas, os quais eram a base da mão-de-obra local
Açúcar. utilizados na coleta de “drogas do sertão” e na agricultura de
A primeira invasão foi na Bahia, realizada por três mil e subsistência.
trezentos soldados. Salvador foi ocupada sem muita Visando melhorar a situação da capitania, o governo
resistência e o governador Diogo de Mendonça Furtado foi português criou em 1682 a Companhia de Comércio do
preso, tendo a cidade saqueada. A população fugiu para o Maranhão, a qual recebia o monopólio do comércio
interior onde a resistência foi organizada pelo bispo D. Marcos maranhense e em troca deveria promover o desenvolvimento
Teixeira e por Matias de Albuquerque. Os baianos também da agricultura local.
receberam a ajuda de uma esquadra luso-espanhola (“Jornada A má administração da empresa gerou uma rebelião de
dos Vassalos”) e, em maio de 1625 os holandeses foram colonos em 1684, sob a chefia dos irmãos Manoel e Thomas
expulsos. Beckman. O objetivo dos rebeldes era o fechamento da
A segunda invasão holandesa no Nordeste foi direcionada Companhia e a expulsão dos jesuítas. A revolta foi sufocada
contra Pernambuco, uma capitania rica em açúcar e pouco pela coroa, mas a Companhia encerrou suas atividades.
protegida. Olinda e Recife foram ocupadas e saqueadas. A
resistência foi comandada por Matias de Albuquerque a partir A Guerra dos Emboabas (1708-1709)
do Arraial do Bom Jesus, e durante alguns anos impediu que os Apesar da fome que assolou as Minas em 1696-1698 ter
invasores ampliassem sua área de dominação. Mas a traição de sido terrível, uma crise de desabastecimento ainda mais
Domingos Calabar alterou a situação. devastadora aconteceu na região em 1700. Três anos depois
Entre 1637 e 1644, o Brasil holandês foi governado pelo da descoberta das primeiras jazidas, cerca de 6 mil pessoas
conde Mauricio de Nassau-Siegen, que expandiu o domínio haviam chegado às minas. Na virada do século XVIII, esse

24 Poderosa família que dos séculos XVI ao XX governaram diversos reinos na 26 Acordo que estabelecia, entre tantas cláusulas que o governo holandês

Europa, entre eles Áustria, Nápoles, Sicília e Espanha. abdicava de suas terras no Brasil.
25 A União de Utrecht foi um acordo assinado na cidade holandesa de Utrecht,

em 23 de Janeiro de 1579, entre as províncias rebeldes dos Países Baixos - naquele


tempo em conflito com a coroa espanhola durante a guerra dos 80 anos.

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número quintuplicara: 30 mil mineiros perambulavam pela Unidos, que havia conquistado sua independência em 1776.
área. Após conquistada a liberdade em relação à metrópole,
Pouco depois surgiram os conflitos entre paulistas, que estabeleceriam São João del-Rei como capital, criariam a
foram os descobridores das jazidas e primeiros povoadores e Universidade de Vila Rica e dariam estímulo à abertura de
os Emboabas, forasteiros, normalmente portugueses, manufaturas têxteis e de uma siderurgia para o novo Estado.
pernambucanos e baianos. Em relação à escravidão as posições eram divergentes.
Os dois grupos disputavam o direito de exploração das A revolta foi suspensa quando participantes da
terras. Os paulistas argumentavam que deveriam ter o direito conspiração denunciaram o movimento ao governador. O
de exploração, por serem os descobridores. Já os emboabas coronel Joaquim Silvério dos Reis foi apontado como principal
defendiam que por serem cidadãos do Reino também delator. Endividado com a coroa assim como outros
possuíam o direito de exploração das riquezas. Entre 1707 e inconfidentes, o coronel resolveu separar-se do movimento e
1709, ocorreram lutas violentas entre os dois grupos, com apresentar um depoimento formal para o governador da
derrotas sucessivas por parte dos paulistas. capitania, Visconde de Barbacena. O governador suspendeu a
O governador Albuquerque Coelho e Carvalho promoveu a cobrança e mandou prender os inconfidentes.
pacificação geral em 1709, quando foi criada a capitania de São Após a confissão de Joaquim Silvério e a prisão dos
Paulo e Minas de Ouro, pertencente à coroa. suspeitos foi instituída a devassa, uma investigação levada a
cabo pelas autoridades da época, constatando que
A Guerra dos Mascates (Pernambuco, 1710-1714) envolveram-se no movimento da Capitania das Minas grandes
Luta entre os proprietários rurais de Olinda e os fazendeiros, criadores de gado, contratadores, exploradores
comerciantes portugueses de Recife, originada pela expulsão de minas, magistrados, militares, além de intelectuais luso-
dos holandeses no século XVII. Se a perda do monopólio brasileiros.
brasileiro do fornecimento de açúcar à Europa foi trágica para Dentre os inconfidentes, destacaram-se os padres Carlos
os produtores pernambucanos, não foi tanto assim para a Correia de Toledo, José de Oliveira Rolim e Manuel Rodrigues
burguesia lusitana de Recife, que passou a financiar a da Costa, além do cônego Luís Vieira da Silva; o tenente-
produção olindense, com elevadas taxas e grandes hipotecas. coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, comandante
A superioridade econômico-financeira de Recife não tinha militar da capitania, os coronéis Domingos de Abreu Vieira,
correspondente político, visto que seus habitantes também comerciante, e Joaquim Silvério dos Reis, rico
continuavam dependendo da Câmara Municipal de Olinda. Em negociante; e os letrados Cláudio Manuel da Costa, Inácio José
1710, Recife conseguiu sua emancipação político- de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga.
administrativa transformando-se em município autônomo. Os Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi o único
olindenses, comandados por Bernardo Vieira de Melo “conspirador” que não fazia parte da elite. Conhecido como
invadiram Recife, provocando a reação dos Mascates, alferes (primeiro posto militar) e dentista prático, foi talvez
chefiados por João da Mota. por sua origem o mais duramente castigado. A memória de
A luta entre as duas cidades manteve-se até 1714, quando Tiradentes passou a ser celebrada no Brasil com a
foi encerrada graças à mediação da Coroa. O esforço da Proclamação da República, quando foi considerado herói
aristocracia fora inútil: Recife manteve sua autonomia. nacional pelo regime estabelecido em 15 de novembro de
1889. Sua representação mais conhecida é muito semelhante
Os Movimentos Emancipacionistas à imagem de Cristo, reforçando a construção da imagem de
mártir.
As revoltas emancipacionistas foram movimentos sociais Assinada em 19 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, a
ocorridos no Brasil Colonial, caracterizados pelo forte anseio sentença de morte de Tiradentes cumpriu-se dois dias depois:
de conquistar a independência do Brasil com relação a ele foi enforcado, decapitado e esquartejado. Os outros
Portugal. Entre os principais motivos para esses movimentos participantes foram condenados ao desterro na África.
estavam:
- a alta cobrança de impostos; Conjuração Baiana (1798)
- limites estabelecidos pelo Pacto Colonial que obrigava o A conjuração Baiana, ou Revolta dos Alfaiates, assim
Brasil de comercializar somente com Portugal; como a Conjuração Mineira, foi influenciada pelos ideais
- a falta de autonomia e representação na criação de leis e iluministas, em especial a Revolução Francesa. Ocorrida na
tributos, além da política dominada por Portugal; Bahia em 1798, buscava a emancipação e defendeu
- os ideais iluministas e separatistas vindos da Europa e importantes mudanças sociais e políticas na sociedade.
dos Estados Unidos. Entre as causas do movimento estava a insatisfação com
Portugal pela transferência da capital para o Rio de Janeiro em
A Inconfidência Mineira (1789) 1763. Com tal mudança, Salvador (antiga capital) sofreu com a
Na segunda metade do século XVIII, a produção de ouro perda dos privilégios e a redução dos recursos destinados à
nas Minas Gerais vinha apresentando um grande declínio, o cidade. Somado a tal fator, o aumento dos impostos e
que aumentou os choques e conflitos entre a população local e exigências à colônia vieram a piorar sensivelmente as
as autoridades portuguesas. Quanto menos ouro era extraído, condições de vida da população local. O preço dos alimentos
maiores eram os boatos e ameaças do acontecimento da também gerou revolta na população. Além de caros, muitos
Derrama27, atitude que afetaria boa parte da elite local. produtos tornavam-se rapidamente escassos pelas restrições
Os grupos mais influenciados pelas ideias iluministas, que impostas sobre o comércio e as importações.
eram também os que mais teriam a perder com as medidas do Os revoltosos defendiam a separação da região do restante
governo português, resolveram tomar uma atitude dando da colônia, buscando independência de Portugal e instalando
início em 1789 ao movimento que seria chamado pela um governo baseado nos princípios da República. Também
metrópole de Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira. defendiam a liberdade de comércio (fim do pacto colonial
Os inconfidentes tinham como objetivo a imediata
separação da colônia, criando uma República moldada pelo
pensamento liberal-iluminista e pela Constituição dos Estados

27 No Brasil Colônia, a derrama era um dispositivo fiscal aplicado em Minas O quinto era a retenção de 20% do ouro em pó ou folhetas que eram direcionadas
Gerais a fim de assegurar o teto de cem arrobas anuais na arrecadação do quinto. diretamente a Coroa Portuguesa

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estabelecido), o aumento dos soldos28 e a igualdade entre as 03. (PC/SC - Investigador de Polícia – ACAFE) Sobre a
pessoas, resultando na abolição da escravidão. economia do período colonial do Brasil, todas as alternativas
O movimento ganhou o nome de Revolta dos Alfaiates pela estão corretas, exceto a:
grande adesão desses profissionais no movimento, entre eles (A) O ciclo do ouro contribuiu para a formação de núcleos
Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do urbanos no interior do Brasil e para a transferência da capital
Nascimento. Outros setores também aderiram ao movimento, da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro.
como o militar, representado pelo soldado Luís Gonzaga das (B) A propriedade agrícola no qual se baseava o sistema
Virgens. colonial tinha duas características básicas: a monocultura e o
O movimento contou com a participação de pessoas trabalho escravo.
pobres, letrados, padres, pequenos comerciantes, escravos e (C) O pau-brasil foi um dos primeiros produtos explorados
ex-escravos. no Brasil, sendo obtido pelos europeus numa relação de
A revolta foi impedida antes mesmo de começar. O ferreiro escambo com os nativos.
José da Veiga informou sobre os detalhes do movimento ao (D) O ciclo da cana-de-açúcar foi fundamental para a
governador, que pôde mobilizar tropas do exército para conter criação de um mercado econômico interno, realizando a
os revoltosos. ligação comercial entre o litoral e o interior da colônia.

Questões 04. (Prefeitura de Padre Bernardo/GO - Contador –


Itame) Entre 1708 e 1709 o estado de Minas Gerais foi palco
01. (TJ/SC - Analista Administrativo - TJ) Sobre o de um conflito marcado pela disputa pelo Ouro. Tal guerra se
Período Colonial Brasileiro, assinale a alternativa INCORRETA: baseou no conflito entre bandeirantes paulistas e forasteiros
(A) De 1500 a 1530 a economia brasileira gravitou em que buscavam a riqueza oriunda dos metais preciosos. Tal
torno do pau-brasil. Após 1530, declinando o comércio com as conflito ficou conhecido como:
Índias, a coroa portuguesa decidiu-se pela colonização do (A) Guerra das Emboabas.
Brasil. (B) Inconfidência Mineira.
(B) A extração do pau-brasil foi declarada estanco, ou seja, (C) Levante de Vila Rica.
passou a ser um monopólio real, cabendo ao rei conceder a (D) Guerra Mata Maroto.
permissão a alguém para explorar comercialmente a madeira.
O primeiro arrendatário a ser beneficiado com o estanco foi 05. (PUC) “Nenhuma outra forma de exploração agrária no
Fernando de Noronha, em 1502. Brasil colonial resume tão bem as características básicas da
(C) A administração colonial foi efetuada inicialmente por grande lavoura como o engenho de açúcar.”
meio do sistema de Capitanias Hereditárias. Com seu fracasso Alice Canabrava, in Sérgio Buarque de Holanda
foram instituídos os Governos Gerais, não para acabar com as (org.) História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro:
capitanias, mas para centralizar sua administração. Difel, 1963, tomo I, vol. 2, p. 198-206.
(D) No sistema de Capitanias hereditárias a ocupação das
terras era assegurada pela Carta de Doação e pelo Foral. A A frase pode ser considerada correta, entre outros
carta de doação determinava os direitos e deveres dos motivos, porque na produção açucareira:
donatários e o Foral cedia aos donatários as terras, bem como (A) prevalecia o regime de trabalho escravo e a grande
o poder administrativo e jurídico das mesmas. propriedade monocultora.
(E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de (B) havia emprego reduzido de mão de obra e prevalecia a
São Vicente, fundada no litoral paulista em 1532. agricultura de subsistência.
(C) prevalecia a atenção ao mercado consumidor interno e
02. (TJ/SC - Assistente Social - TJ) Sobre o Período à distribuição das mercadorias nas grandes cidades.
Colonial brasileiro, assinale a única alternativa que está (D) havia disposição modernizadora do aparato produtivo
INCORRETA: e prevalecia a mão de obra assalariada.
(A) Portugal só deu início à colonização das terras (E) prevalecia a pequena propriedade familiar e a
conquistadas, que passaram a chamar-se Brasil, devido à diversificação de culturas
pressão que sofria com o declínio de seu comércio com o
oriente e com a sistemática ameaça estrangeira no território Gabarito
brasileiro.
(B) O sistema de Capitanias Hereditárias foi implantado 01.D / 02.E / 03.D / 04.A / 05.A / 06.B
por D. João III mas não teve o sucesso esperado. Entre os
fatores que contribuíram para o fracasso das capitanias Período Joanino e a Independência
podemos citar: falta de terras férteis em algumas regiões, falta
de interesse dos donatários, conflitos com os indígenas, falta
de recursos financeiros para o empreendimento por parte de Só passando para lembrar que quando tratamos sobre
quem recebia a capitania. a chegada dos portugueses no Brasil a partir do período
(C) Tomé de Souza foi o primeiro Governador-Geral do joanino ou após o período colonial, estamos falando das
Brasil e a sede do governo geral foi estabelecida na Bahia. CORTES portuguesas, uma vez que a presença lusitana no
(D) A estrutura econômica brasileira do período colonial nosso território é ininterrupta desde o descobrimento.
tinha como principais características a monocultura, o
latifúndio, o trabalho escravo e a produção para o mercado Realizações Político-sociais das Cortes no Brasil
externo.
(E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de As mudanças econômicas e políticas que vinham soprando
Santos, fundada em 1532. suas ideias da América do Norte e da Europa para as colônias
é fator chave para entendermos porque a família real
portuguesa mudou-se com toda a sua Corte da “civilizada”
Lisboa para a abandonada colônia brasileira.

28 A palavra ¨soldo¨ (em latim ¨solidus¨), remuneração por serviços militares e

¨soldado¨, têm sua origem no nome desta moeda.

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O absolutismo viu suas bases estremecerem na segunda jardim botânico, teatros (...) Estruturalmente a cidade ganhou
metade do século XVIII principalmente pelo sucesso das iluminação pública, ruas pavimentadas, chafarizes e pontes.
Revoluções Estadunidense e Francesa com suas ideias Culturalmente a principal mudança se deu pela vinda da
democráticas. No mesmo sentido, sua política econômica - o Missão Francesa para a criação da Imperial Academia e Escola
mercantilismo - via o capitalismo industrial começar a tomar a de Belas-Artes, tendo como principal nome o artista Jean-
dianteira frente ao capitalismo comercial, marca desses Baptiste Debret.
governos. Apesar de os trabalhos realizados pela Missão Francesa
Mas foi da França o empurrão fundamental para a não influenciarem o grosso da população brasileira e carioca,
mudança da Corte lusitana29. Quando da expansão foram de grande importância para o conhecimento do Brasil
napoleônica na Europa, apenas a Inglaterra conseguia fazer na Europa.
frente aos franceses. Em uma tentativa de enfraquecer seu Como era no Rio de Janeiro que as coisas aconteciam, foi
maior adversário, a França decreta um bloqueio comercial à natural o crescimento populacional. Além do número
Inglaterra por todos os países que estavam sob sua influência, crescente de brasileiros que migravam em busca de emprego
entre eles, Portugal, que não aceita manter o bloqueio, na capital, o número de escravos também aumentou – para
desencadeando a invasão francesa, consequência da fuga da atender a maior demanda de serviços – assim como o de
Corte para o Brasil. estrangeiros que faziam negócios e já pregavam a ideia de
Os motivos que o leva a não aceitar manter o bloqueio trabalhadores assalariados.
dizem respeito a uma série de acordos econômicos entre Economicamente, apesar de D. João autorizar a instalação
Portugal e Inglaterra (mal feitos), que tornou Portugal uma de manufaturas no país, os acordos desiguais feitos com a
nação dependente. As premissas dos acordos mantinham os Inglaterra castravam as intenções empreendedoras dos
portugueses como uma economia basicamente agrária brasileiros.
enquanto os ingleses desenvolviam sua indústria. Em 1810 foi assinado o Tratado de Comércio e Navegação
O Tratado de Methuen exemplifica bem isso: Portugal em que os produtos ingleses entravam em nosso país com
forneceria vinho aos ingleses (campo) e a Inglaterra forneceria taxas menores até do que os produtos portugueses.
tecidos aos portugueses (indústria). Sem opção e por exigência
da Inglaterra, Portugal recusa o bloqueio. O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves
Por sua vez, Napoleão foi um cão que latia e também
mordia. Ao ver a recusa portuguesa nos seus planos, a França Após a derrota de Napoleão, o Congresso de Viena30
invade e divide Portugal com a Espanha (Tratado de contou com os principais representantes dos países europeus
Fontainebleau) além de declarar extinta a Dinastia dos e decidiu os caminhos que seriam tomados a partir de então.
Bragança. Em uma disputa de interesses entre Inglaterra e França, D.
João acaba sendo influenciado pelas ideias francesas e decide
A fuga para o Brasil continuar com a Corte no Brasil, além de declará-lo como
Portugal contou com o apoio naval inglês para sua fuga. Reino Unido de Portugal e Algarves.
Cerca de 15 mil pessoas que compunham a Corte fizeram a No Congresso de Viena ficou decidido que toda e qualquer
viagem que durou cerca de dois meses com escolta e medidas mudança realizada durante a expansão napoleônica seria
de segurança como colocar membros da família real em desfeita. Reis destituídos – como os casos de Portugal e
diferentes navios, caso houvesse ataques. Espanha – teriam seu governo restaurado. Essa era uma
Ao chegar, D. João tomou duas medidas que afetaram tanto medida que beneficiaria novamente a Inglaterra. Se D. João
França quanto Inglaterra, sendo: voltasse a Portugal, dificilmente ele conseguiria fazer com que
- a retaliação à Napoleão, invadindo e conquistando a as mudanças realizadas no Brasil (econômicas) voltassem ao
Guiana Francesa; e modelo antigo, aquele em que a metrópole tem controle sobre
- premiando a Inglaterra e visando o próprio conforto, a colônia.
ainda em 1808 assinou uma Carta Régia com a medida que A Inglaterra já havia estabelecido negócios e influência
ficou conhecida como “Abertura dos Portos às Nações Amigas”, dentro do nosso país, e os próprios comerciantes e classe alta
beneficiando basicamente o país inglês. brasileiros não aceitariam o retorno à condição de colônia.
A medida mudava o status do Brasil, mas beneficiou muito Do outro lado do Atlântico tínhamos uma Lisboa
os ingleses que agora não precisavam mais negociar com a financeiramente debilitada ao ponto de a Corte preferir
metrópole suas relações comerciais em território nacional. permanecer no Rio de Janeiro. A solução para manter a posição
Além das mudanças que afetavam política e economia em Lisboa e o controle sobre o Brasil foi elevá-lo a categoria de
externas, D. João também realizou mudanças internas. Reino e não mais colônia.
Temos que ter em mente que até então o Brasil é uma
colônia. Isso significa que todo o aparato administrativo, Revolução Pernambucana
judiciário e econômico são da metrópole. Com a vinda da Corte,
todos os tipos de decisões nesse sentido que eram tomadas em Todas as melhorias que foram descritas há pouco ficaram
Lisboa, teriam que ser tomadas no Rio de Janeiro e para isso restritas apenas ao Rio de Janeiro. As outras províncias do
seguiu-se uma série de mudanças: nomeou ministros de Estado, Brasil ainda sofriam com a precariedade econômica e social.
criou secretarias públicas, criou tribunais de justiça, o Banco do Esse cenário gerou descontentamento em várias regiões mas
Brasil e o Arquivo Central. apenas algumas fizeram algo a respeito, como foi o caso de
Mudanças na cidade também foram realizadas com a Pernambuco.
intenção de tornar a capital do Brasil uma cidade mais próxima Com ideais republicanos, separatistas e anti-lusitanos, a
do que a Corte estava acostumada na Europa: foram criados Revolução Pernambucana ia contra os pesados impostos,
jornais de circulação diária, uma biblioteca real com mais de 60 descaso administrativo e opressão militar.
mil exemplares vindos de Lisboa, Academias militar e da A Revolução apenas teve início após a delação do
marinha, faculdades de medicina e de direito, observatórios, movimento. Quando os líderes conspiradores foram presos, a
luta começou. A revolta chegou a contar com a participação da

29 Que se refere à Lusitânia, antiga região situada na península Ibérica. junho de 1815, cuja intenção era a de redesenhar o mapa político do continente
Atualmente, refere-se ao território português. europeu após a derrota da França napoleônica
30 O Congresso de Viena foi uma conferência entre embaixadores das grandes

potências europeias que aconteceu na capital austríaca, entre maio de 1814 e

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Paraíba e Rio Grande do Norte, porém a coroa conseguiu do fim da escravidão no país, além do pagamento da própria
encerrá-la através da força militar. dívida. A partir daí outras nações da América e do mundo
Alguns líderes foram executados e outros receberam o também reconheceram o Brasil como nação autônoma.
perdão real anos depois, como Frei Caneca.
O Primeiro Reinado (1822-1831)
O Retorno de D. João para Portugal
De cara, alguns fatores chamaram a atenção a respeito da
Lisboa e Rio de Janeiro literalmente inverteram os papeis independência do Brasil:
nesse período. Se antes Lisboa era o centro do império - éramos o único país na América que após a emancipação
português com suas instituições e riquezas colhidas pela da metrópole continuamos a viver em um regime monárquico;
forma de governo colonial, agora ela via o Rio de Janeiro - a população não teve participação alguma no processo e
assumir esse papel. até mesmo províncias mais distantes só ficaram sabendo da
Os comerciantes portugueses viram sua economia mudança meses depois;
despencar quando das assinaturas de D. João nos novos - a aceitação não foi total e pacífica como era de se esperar.
acordos com os ingleses. O Brasil era o principal mercado
lusitano. Não bastasse isso, o rei de Portugal não tinha planos Algumas regiões, principalmente aquelas com
de regressar e ainda deixou o governo do país a cargo de um conservadores portugueses e acúmulo de tropas lusitanas não
inglês (general Beresford). apenas recusaram-se a aceitar a autoridade de D. Pedro I como
Fórmula certa para insatisfação, foi o que ocorreu: Em 24 lutaram contra ela.
de agosto de 1820 eclodiu a Revolução do Porto, onde, As províncias da Bahia, Cisplatina, Maranhão, Piauí e Pará
vitoriosa, a nova Assembleia Constituinte (Cortes resistiram ao novo governo e apenas com o uso da força
portuguesas) adotou nova Constituição, exigindo o retorno da aceitaram a nova condição.
Família Real para jurar à ela e a volta do Brasil à condição de Na prática, nossa política não teve mudanças, ainda
colônia. Não foi o que aconteceu. vivíamos em uma monarquia centralizadora e mesmo os
D. João garantiu que sua família ainda governasse os dois defensores de ideias republicanas só pensavam em sua
territórios. Para agradar os portugueses, ele regressou à projeção política e não em uma mudança de fato.
Portugal. Para agradar os brasileiros ele deixou seu filho, D.
Pedro I como regente, assegurando que o Brasil não voltaria a A Primeira Constituição Brasileira
ser colônia. D. Pedro I havia convocado uma Assembleia Constituinte
antes mesmo de declarar o Brasil independente. E desde o
O dia do Fico e a Independência do Brasil primeiro momento houve desacordo.
A Assembleia, liderada pelos irmãos Andrada, tinha a
Apesar dos planos de D. João, as Cortes portuguesas não intenção de fazer uma Constituição similar à portuguesa, onde
encararam bem o fato de D. Pedro I ter ficado no Brasil como D. Pedro teria seus poderes limitados. Já o monarca, que era
regente. A partir daí ele passa a ser pressionado a voltar para conhecido por ser autoritário e centralizador trabalhou para
Portugal e prestar homenagens às Cortes. permanecer com todos os poderes em torno de si.
Por outro lado a aristocracia brasileira sabia que a única Apesar da Constituição elaborada por influência dos
forma de garantir que o país não regressasse à condição de Andrada ter a intenção de limitar os poderes de D. Pedro I, ela
colônia era apoiar o movimento emancipacionista em volta de garantia os privilégios da aristocracia rural. Popularmente
D. Pedro I. conhecida como Constituição da Mandioca31 ela garantia os
Em janeiro de 1822 com grande apoio do movimento privilégios à quem tivesse a posse da terra e defendia a
emancipacionista brasileiro D. Pedro I não cumpre às manutenção da escravidão.
exigências das Cortes e afirma que permaneceria no Brasil Acontece que essa Constituição, onde o legislativo
(“Dia do Fico”). Esse dia foi seguido de negociações e mudanças predominaria pelo executivo nem chegou a ser concluída. Em
na administração brasileira até finalmente em 7 de setembro 12 de novembro de 1823 D. Pedro I ordenou o fechamento da
do mesmo ano ser declarada a independência do Brasil. Assembleia (episódio conhecido como “Noite da Agonia”),
convocou um Conselho de Estado e encomendou a nova
O Reconhecimento da Independência Constituição do país, onde seu poder estaria assegurado.
O simples fato de D. Pedro I declarar o Brasil independente A nova Constituição dividia o Estado em quatro poderes:
não o tornava assim. Era necessário que externamente essa executivo, legislativo, judiciário e moderador. O poder
independência fosse reconhecida. Portugal, claro, não o fez. No moderador era exclusivo de D. Pedro I e estava acima de todos
início apenas alguns reinos africanos com o qual o Brasil tinha os outros. Assim ele mantinha todas as características
relações comerciais (negociação de escravos) e os Estados centralizadoras e absolutistas de uma monarquia e não via
Unidos (dois anos depois) reconheceram nossa autonomia. precedentes de verdadeira oposição.
A Inglaterra, embora continuasse fazendo negócios com o
Brasil não reconheceu de imediato a nova condição, uma vez A Confederação do Equador
que não queria perder Portugal como parceiro/dependente A tendência autoritária de D. Pedro I e a nova Constituição
dentro da Europa. Visando os próprios interesses foi ela quem desagradaram em vários aspectos muitas províncias
intercedeu para que um acordo fosse realizado entre Brasil e brasileiras. O nordeste, já marginalizado nesse período e com
Portugal. histórico de revoltas contra a coroa, novamente se
Em 29 de agosto de 1825 foi assinado o Tratado de Paz e movimentou. Com início em Pernambuco e com apoio popular,
Aliança, em que mediante o pagamento de dois milhões de outras províncias se juntaram ao movimento (Rio Grande do
libras esterlinas como indenização, e a continuidade do título Norte, Ceará e Paraíba).
de imperador do Brasil para D. João, Portugal reconhecia a Apesar de iniciada por lideranças populares, entre eles
emancipação do Brasil. Cipriano Barata e Frei Caneca, as elites regionais também
O dinheiro foi conseguido junto à Inglaterra que reviu seus apoiaram o movimento. Do ponto de vista social foi o mais
acordos comerciais com o Brasil e conseguiu o “compromisso”

31 apenas pessoas com mais de 150 alqueires de mandioca poderiam se

candidatar ou votar.

Conhecimentos Específicos 53
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APOSTILAS OPÇÃO

avançado do período com reformas sociais, mudança de interesses econômicos semelhantes, politicamente estavam
direitos políticos e abolição da escravidão. divididos entre:
Essas mesmas mudanças radicais levaram as elites
regionais a abandonar o movimento, pois temiam perder seus - restauradores (conhecidos como Caramurus, eles
próprios privilégios. defendiam a continuidade de D. Pedro I no poder e
Sem o apoio da aristocracia local e com forte repressão do acreditavam que a tranquildade política passava pela ação
governo, o levante foi contido com dezesseis membros sendo absolutista. José Bonifácio fazia parte desse grupo que foi
condenados à morte, entre eles, Frei Caneca. articulador do Golpe da Maioridade anos depois);
- liberais moderados (apesar do nome, esse grupo era
A Cisplatina composto em grande parte pela aristocracia rural. Eram contra
A região da Cisplatina32 sempre foi alvo do interesse do reformas sociais e lutavam por manter seus privilégios.
governo português que desejava expandir suas fronteiras até Defendiam a monarquia, porém de forma menos autoritária do
o rio da Prata. Após a “bagunça” feita por Napoleão às Coroas que D. Pedro I empregava. Eram chamados de Chimangos);
europeias, mais precisamente à Coroa espanhola que teve sua - liberais exaltados (era o grupo mais variado, tinha
continuidade interrompida e retomada após a queda do desde aristocratas até trabalhadores livres e sem terras. Esse
general francês, as colônias americanas viviam um período de grupo buscava reformas sociais e políticas, maior autonomia
instabilidade e descentralização. Todos os movimentos de das províncias e mudanças constitucionais. Eram conhecidos
independência dessas colônias, apesar de bem sucedidos, as como Chapéus-de-palha).
debilitaram econômica e politicamente. Foi quando dessa
instabilidade que D. João viu a oportunidade de realizar um A Regência Trina Provisória
antigo desejo português, em 1820 ele ordena às tropas A Constituição previa que caso o soberano não tivesse um
imperiais invadirem a região da Cisplatina. parente próximo com mais de 35 anos para governar em seu
Mesmo após o retorno de D. João à Portugal e à lugar, uma regência trina (composta por três pessoas) deveria
independência, a Cisplatina continuou sendo parte do Brasil fazê-lo.
(até 1828), porém à duras custas, a região nunca aceitou o Como na época em que D. Pedro I abdicou os deputados
domínio brasileiro, e constantemente D. João e posteriormente estavam de férias, foi formada uma Regência Trina Provisória.
D. Pedro I tinham de enviar expedições para conter as revoltas. Suas principais ações foram a manutenção da Constituição
Isso não apenas gerava custos aos cofres imperiais como de 1824, reintegração do ministério demitido por D. Pedro I,
também atacava a imagem do imperador, que se mostrava anistia aos presos políticos e a promulgação da Lei Regencial
incapaz de resolver a questão. A opinião pública era avessa à de abril de 1831, que limitava os poderes dos regentes.
causa de gastar com os conflitos e insistir em manter a posse
de uma região que nem era semelhante culturalmente ao povo A Regência Trina Permanente
brasileiro. Foi eleita em junho de 1831. Com o padre Digo Antônio
Enfim, em 1828, com apoio do governo argentino, as forças Feijó como ministro da justiça e composta por Bráulio Muniz,
cisplatinas fazem com que o Brasil se retire do conflito e Costa Carvalho e Francisco de Lima e Silva, essa regência teve
proclamam a República Oriental do Uruguai. como principal realização a criação da Guarda Nacional.
A imagem de D. Pedro I sai abalada após o episódio. Seguiu- A criação da Guarda Nacional gera uma série de
se a isso o misterioso assassinato de Libero Badaró (jornalista consequências que serão vistas até o século XX,
declarado opositor e crítico de D. Pedro I), maior força do principalmente no período da República Velha. A Guarda foi
movimento liberal e aumento das críticas a respeito da uma tentativa de baratear os custos da segurança no país
conduta política do imperador. “terceirizando” as funções de polícia e do exército. Os
Além da pressão política, do exército e da população, D. chamados coronéis compravam suas patentes militares e
Pedro I teve de superar uma crise sucessória. Quando D. João recebiam autonomia para organizar suas próprias forças
faleceu, D. Pedro I abdica do trono português em favor de sua armadas locais.
filha. Em Portugal é iniciado então um conflito sucessório Embora na teoria seu papel fosse garantir a ordem
entre D. Maria da Glória e o irmão de D. Pedro I, D. Miguel. regional, essa força só servia aos seus interesses, como as leis
D. Pedro passa a gastar recursos brasileiros para garantir garantiam que apenas ingressasse na Guarda quem dispusesse
o trono de sua filha, o que gera mais descontentamento de altos ganhos anuais, e estes eram apenas os grandes
nacional. Com a pressão interna e a necessidade de cuidar de proprietários de terras, apenas a aristocracia rural ficou
seus interesses em Portugal, D. Pedro I abdica do trono identificada com os coronéis.
brasileiro e retorna para seu país, deixando como herdeiro seu A mesma administração ainda promulga a “Lei Feijó” que
filho, D. Pedro II. proibia o tráfico e tornava livre todos os africanos
introduzidos em território brasileiro. Essa lei nunca foi
O Período Regencial (1831-1840) respeitada de fato e a escravidão permaneceu até 1888.

D. Pedro II, herdeiro do trono brasileiro tinha apenas cinco Ato Adicional de 1834
anos de idade quando D. Pedro I retornou a Portugal. A maioria O Ato Adicional de 1834 foi uma revisão da Constituição de
dos políticos brasileiros ainda eram favoráveis à manutenção 1824. Promulgado em 12 de agosto, possuía caráter
do império e se preocuparam com as possíveis revoltas que descentralizador, instituindo a criação de assembleias
haveriam tendo uma criança como governante. Ficou então legislativas nas províncias, a supressão do Conselho de Estado
decidido que o país seria governado por regentes até a idade e a Regência Una (governante único). O Rio de Janeiro foi
apropriada de D. Pedro II. considerado um território neutro. Também foi reduzida a
Politicamente esse foi o período mais conturbado desde a idade para o imperador ser coroado, de 21 para 18 anos.
colonização. Além dos grupos regionais que se revoltaram, o
próprio cenário político não tinha unidade. Apesar de todos Regência Una
fazerem parte basicamente dos mesmos segmentos e terem Apesar de uma tentativa frustrada de assumir o poder em
1832, abandonando o cargo de Ministro da Justiça logo em

32 província do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e, posteriormente,

do Império do Brasil. A província correspondia ao atual território do Uruguai.

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seguida, o padre Feijó obteve a maioria dos votos na eleição Revolta dos Malês (1835)
para Regente em 1835. Sendo empossado em 12 de outubro Em Salvador, nas primeiras décadas do século XIX, os
do mesmo ano para um mandato de quatro anos, não negros escravos ou libertos correspondiam a cerca de metade
completando nem dois anos no cargo. Seu governo é marcado da população. Pertenciam a vários grupos étnicos, culturais e
por intensa oposição parlamentar e rebeliões provinciais, religiosos, entre os quais os muçulmanos – genericamente
como a Cabanagem, no Pará, e o início da Guerra dos Farrapos, denominados malês -, que protagonizaram a Revolta dos
no Rio Grande do Sul. Com poucos recursos para governar e Malês, em 1835.
isolado politicamente, renunciou em 19 de setembro de 1837. O exército rebelde era formado em sua maioria, por
“negros de ganho”, escravos que vendiam produtos de porta
Segunda Regência Una em porta e, ao fim do dia, dividiam os lucros com os senhores.
Com a renúncia de Feijó e o desgaste dos liberais, os Podiam circular mais livremente pela cidade que os escravos
conservadores obtêm maioria na Câmara dos Deputados e das fazendas, o que facilitava a organização do movimento.
elegem Pedro de Araújo Lima como novo regente único do Além disso, alguns conseguiam economizar e comprar a
Império, em 19 de setembro de 1837. A segunda regência una liberdade. Os revoltosos lutavam contra a escravidão e a
é marcada por uma reação conservadora, e várias conquistas imposição da religião católica, em detrimento da religião
liberais são abolidas. A Lei de Interpretação do Ato Adicional, muçulmana.
aprovada em 12 de maio de 1840, restringe o poder provincial A repressão oficial resultou no fim da Revolta dos Malês,
e fortalece o poder central do Império. Acuados, os liberais que teve muitos mortos, presos e feridos. Mais de quinhentos
aproximam-se dos partidários de D. Pedro II. Juntos, articulam negros libertos foram degredados para a África como punição.
o chamado golpe da maioridade, em 23 de julho de 1840.
Sabinada (1837-1838)
Revoltas no Período Regencial A Sabinada ocorreu na Bahia, com o objetivo de implantar
uma república independente. Foi liderada pelo médico
Em muitas partes do império a insatisfação com o governo Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, e por isso ficou
cresceu muito, levando alguns grupos a apelarem para a luta conhecida como Sabinada. O principal objetivo da revolta era
armada e a revolta como forma de protesto. instituir uma república baiana, mas só enquanto o herdeiro do
trono imperial não atingisse a maioridade legal.
Cabanagem (1833-1840) Diferentemente de outras revoltas ocorridas no período, a
A Cabanagem foi uma revolta que ocorreu entre 1833 e sabinada não contou com o apoio das camadas populares e
1839, na região do Grão-Pará, que compreende os atuais nem com os grandes proprietários rurais da região, o que
estados do Amazonas e Pará. A revolta começou a partir de garantiu ao exército imperial uma vitória rápida.
pequenos focos de resistência que aumentaram conforme o
governo tentava sufocar os protestos, impondo leis mais Balaiada (1838-1841)
rígidas e a obrigação de participação no exército para aqueles Balaiada ocorreu no Maranhão, em 1838, e recebeu esse
que fossem considerados praticantes de atos suspeitos. A nome devido ao apelido de uma das principais lideranças do
cabanagem contou com grande participação da população movimento, Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o "Balaio",
pobre, principalmente os Cabanos, pessoas que viviam em conhecido por ser vendedor do produto.
cabanas na beira dos rios. Os revoltosos tomaram a cidade de A Balaiada representou a luta da população pobre contra
Belém, porém foram derrotados pelas tropas imperiais. os grandes proprietários rurais da região. A miséria, a fome, a
escravidão e os maus tratos foram os principais fatores de
Revolução Farroupilha (1835-1845) descontentamento que levaram a população a se revoltar.
A Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos foi uma A principal riqueza produzida na província, o algodão,
revolta promovida por grandes proprietários de terras no Rio sofria forte concorrência no mercado internacional, e com isso
Grande do Sul, conhecidos como estancieiros. O objetivo de o produto perdeu preço e compradores no exterior. Além da
seus líderes era de separar-se do restante do país. insatisfação popular, a classe média maranhense também se
A revolta começa pelo descontentamento de produtores do encontrava descontente com o governo imperial e suas
sul em relação aos produtores estrangeiros de charque, medidas econômicas, encontrando na população oprimida
principalmente os platinos e argentinos que comercializavam uma forma de combatê-lo.
e concorriam com os estancieiros pelo mercado do produto no Os revoltosos conseguiram tomar a cidade de Caxias em
Brasil, utilizado principalmente na alimentação de escravos. 1839 e estabelecer um governo provisório, com medidas que
Em 1835, insatisfeitos com o governo, os estancieiros causaram grande repercussão, como o fim da Guarda Nacional
iniciam a revolta, tendo Bento Gonçalves como principal chefe e a expulsão dos portugueses que residiam na cidade.
do movimento, comandando as tropas farroupilhas que Com a radicalização que a revolta tomou, como a adesão de
dominaram Porto Alegre. Com as vitórias obtidas foi escravos foragidos, a classe média que apoiava as revoltas
proclamado um governo independente em 1836, conhecido aliou-se ao exército imperial, o que enfraqueceu bastante o
como República do Piratini, com Bento Gonçalves como movimento e garantiu a vitória em 1841, com um saldo de
presidente. mais de 12 mil sertanejos e escravos mortos em batalhas. Os
Em 1839, o movimento farroupilha conseguiu ampliar-se. revoltosos que acabaram presos foram anistiados pelo
Forças rebeldes, comandadas por Giuseppe Garibaldi e Davi imperador.
Canabarro, conquistaram Santa Catarina e proclamaram a
República Juliana. Revolta dos Quebra-Quilos33
A revolta consegue ser contida somente após a coroação de Em 1874, a Força Policial da Paraíba teve importante
D. Pedro II e com os esforços do Barão de Caxias, encerrando participação em um acontecimento histórico. Foi a pacificação
os conflitos em 1 de março de 1845. do movimento que ficou conhecido como a Revolta de Quebra
Quilo. Nesse período havia no seio da população interiorana da
Paraíba, um sentimento de revolta com recentes
acontecimentos religiosos envolvendo o Estado, a igreja e

33 LIMA, J. B. História da PMPB. Disponível em: <


http://www.pm.pb.gov.br/arquivos/historia_da_pmpb.pdf>

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seguimentos maçônicos, que resultaram na prisão de um Bispo Os liberais mantiveram-se no poder por pouco tempo.
em Pernambuco. Ainda nessa época, o Brasil passou a adotar o Apesar de serem maioria, as pressões externas (Inglaterra) e
sistema métrico decimal, o alistamento militar e, na Paraíba, internas (Guerra dos Farrapos), e a má impressão que ficou
começava-se a cobrar o imposto de Chão, para permitir a após o uso da força nas eleições fez com que o imperador
prática de comércio nas feiras-livres. Essas medidas não eram novamente dissolve-se a Câmara e formasse um novo
bem explicadas à população. A soma desses fatos provocou o ministério, este composto por ambos os lados.
movimento que ficou conhecido como a revolução de quebra-
quilo. Centenas de pessoas, como na revolta do Ronco da Revolução Praieira
Abelha, invadiam as Vilas, quebravam os pesos e outras A Revolução Praieira ocorreu na metade do século XIX
medidas, queimavam arquivos, soltavam presos, e gritavam (1848) em um contexto onde o nordeste já sofria as
"morte aos maçons". Esses fatos ocorreram em Ingá, Fagundes, consequências econômicas da crise do açúcar, enquanto a
Areia, Campina Grande, Guarabira e outras cidades do brejo região sudeste já era a “favorita” do Império com a
paraibano. Todo efetivo da Força Policial, sob o Comando do prosperidade econômica ocasionada pelo café.
Tenente Coronel Francisco Antônio Aranha Chacon, foi Pernambuco era uma província conturbada na época:
deslocado no dia 18 de novembro de 1874 para pacificar o eram os portugueses quem controlavam o comércio e a
movimento. Depois de muitos confrontos, que duraram cerca política local. O cenário de problemas econômicos, sociais e
de dois meses, sem registros de mortes, a revolta foi pacificada políticos criou o clima para um conflito entre os partidos
e o contingente Policial retornou a Capital. Liberal e Conservador.
Os portugueses se concentravam em torno do partido
A Maioridade e a tranquilidade política conservador. Os democratas e liberais brasileiros em torno do
Toda a instabilidade do período regencial colocou tanto partido liberal. Após as eleições de 1848 que tiveram como
liberais quanto conservadores em xeque, uma vez que ambos resultado a eleição de um conservador para o cargo de
haviam ocupado o poder mas nenhum conseguiu trazer presidente de província, os liberais revoltam-se pegando em
estabilidade ao país. A ideia de antecipar a maioridade de D. armas e lançando o Manifesto ao Mundo, documento que
Pedro II começou a agradar ambos os grupos: os liberais exigia o fim dos privilégios comerciais portugueses, liberdade
esperavam que com isso teriam a chance de voltar ao governo. de imprensa, fim da monarquia e proclamação da república,
Os conservadores viam nisso uma oportunidade de preservar fim do voto censitário, extinção do poder moderador e Senado
a monarquia e manter a unidade do império. Em 1840, com vitalício.
uma regência conservadora o parlamento aprova adiantar a Com adesão popular os revoltosos chegaram a derrubar o
maioridade de D. Pedro II. presidente de província e controlar Olinda, porém as tropas
imperiais os contêm em 1849.
Segundo Reinado
O Parlamentarismo às Avessas
Ao contrário do que aconteceu com seu pai, a preparação Em 1847 D. Pedro II cria no Brasil um sistema
política de D. Pedro II parece ter sido melhor. Mesmo sem parlamentarista até então inédito no mundo.
abandonar o aspecto autoritário em seu governo, Um sistema parlamentarista tradicional funciona com o rei
politicamente ele soube trabalhar com as aristocracias rurais. (ou presidente) sendo o chefe de Estado, porém não sendo o
D. Pedro II dava a elas a condição de crescerem chefe de governo. Isso implica nas responsabilidades políticas
economicamente e em troca recebia seu apoio político. do cargo, onde o chefe de governo as têm em muito maior
Falamos em aristocracias porque nesse período uma nova quantidade.
elite agrária e mais poderosa surgiu representada pelos Normalmente é o parlamento quem elege o Primeiro
cafeicultores do sudeste frente a antiga elite nordestina. O café Ministro para chefe de governo. No Brasil as coisas
passou a ser o principal produto do país e assim permaneceu aconteceram um pouco diferentes: o Parlamentarismo às
até a república. Avessas, como ficou conhecido, contava com um novo cargo, o
de Presidente do Conselho de Ministros (que em um sistema
Liberais e Conservadores34 normal seria o Primeiro Ministro), submisso e escolhido por D.
Liberais (chamados de Luzia) e conservadores Pedro II, que poderia destitui-lo quando quisesse.
(Saquarema) diferiam em suas teorias e aspirações políticas Era uma forma de manter o parlamento e o Presidente sob
em seus discursos, porém, durante todo o Segundo Reinado controle e que acabava descaracterizando o sistema como
ficou claro que quando no poder, ambos eram iguais. Parlamentarista.
Os liberais defendiam a descentralização e autonomia das
províncias enquanto os conservadores, como o próprio nome A Influência do Café
sugere, defendiam um governo forte e centralizado. O sistema de produção rural no Brasil sempre foi o mesmo,
baseado na monocultura, grande propriedade e trabalho
escravo. Desde a crise do açúcar e esgotamento das jazidas de
As Eleições do Cacete ouro, o país procurava seu novo salvador econômico. Este se
Ao assumir, D. Pedro II vivenciou um grande impasse apresentou na figura do café, que além da mudança em relação
político: para auxiliá-lo em seu governo foi criado o Ministério à mão de obra, mostrou poucas mudanças na estrutura de
da Maioridade. O problema se deu porque o Ministério tinha produção.
sua maioria composta por liberais, enquanto a Câmara era Graças ao aumento do consumo europeu, clima e solos
composta maioritariamente por conservadores. Qualquer favoráveis, além da já estabelecida estrutura de grandes
decisão a ser tomada gerava grande debate pelas divergências propriedades e monocultura, o café já na primeira metade do
entre ambos. século XIX despontava como principal produto nacional. Das
A solução encontrada para acabar com essa disputa foi primeiras fazendas comerciais no Rio de Janeiro, até sua
dissolver a Câmara e convocar novas eleições: As Eleições do expansão para o interior de Minas Gerais, São Paulo e norte do
Cacete. O nome não foi por acaso. Para garantir a vitória, o Paraná, até quase a metade do século seguinte o café não
partido liberal colocou “capangas” para trabalhar nas eleições apenas conseguia sozinho equilibrar nossa balança comercial,
e através de coerção e ameaças eles venceram. mas foi responsável pelo desenvolvimento da malha

34 Adaptado de MARTINS. U. (Segundo Reinado – 1840 – 1889)

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ferroviária, algumas cidades que a acompanhavam e pela A Lei de Terras veio para garantir o valor de um novo
introdução da mão de obra livre. produto, a própria terra, uma vez que a escravidão via seus
Com crescente demanda, maior necessidade de braços dias contados desde a aprovação da Lei Eusébio de Queirós. A
para a lavoura, com a pressão da Inglaterra pelo fim do tráfico lei que proibia o tráfico de escravos dificultou a obtenção de
e posteriormente fim da escravidão, os cafeicultores não mão de obra para os grandes fazendeiros, que então
encontraram outra solução que não trazer trabalhadores importavam escravos de outras regiões do país. Com a
imigrantes europeus para suas fazendas. escassez de escravos, a terra passaria a ser o principal produto
Esse foi um período que marca o país em todos os aspectos: e símbolo de status (da mesma forma que ter um grande
- sociais com o surgimento de novas classes; número de escravos destacava as pessoas de maiores fortunas
- políticos com a mudança do eixo central da velha e influência, agora a terra garantia essa imagem).
oligarquia açucareira para a nova oligarquia cafeeira (Barões A Lei de Terras ainda tinha um segundo propósito: garantir
do Café); e que apenas quem tivesse capital (normalmente quem já tinha
- econômicas com o desenvolvimento de cidades, serviços terras) conseguisse obtê-las. As terras devolutas (aquelas
e ensaios de industrialização. “desocupadas”35) não mais seriam entregues por doação ou
ação de posseiros, o que garantia que os trabalhadores
Cultura dependessem de um emprego em fazendas.
A cultura no século XIX desenvolveu-se de acordo com os O governo arrecadou mais impostos com demarcação e
padrões europeus. vendas e com isso conseguiu financiar, junto de cafeicultores a
Na literatura tínhamos o romantismo como principal vinda de mão de obra imigrante no período.
gênero seguindo as devidas influências exteriores. José de
Alencar com sua obra O Guarani nos dá um bom exemplo Imigração36
disso, descrevendo o índio Peri como herói que enfrenta tribos Vários são os motivos que explicam o movimento de
menos civilizadas. imigração para o Brasil: internamente havia o preconceito dos
No campo das artes os indígenas também eram retratados grandes produtores rurais que, quando obrigados a abrir mão
de maneira ao imaginário europeu: passivos e martirizados, do trabalho escravo por motivos de lei ou econômicos, não
além de características físicas distorcidas (a obra Moema – admitiam ter que pagar para os mesmos negros trabalhar em
Victor Meirelles - é representada com pele quase branca). suas terras. Havia a desinteligência de que a partir daquele
No campo das instituições, D. Pedro II revelou-se grande momento o escravo não seria ideal para o trabalho rural e
entusiasta e apoiador. Sempre demonstrou interesses pelas ainda as aspirações do governo de uma “recolonização”,
atividades do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico principalmente da região sul ainda alvo de disputas de
Brasileiro) do qual chegou a receber o título de protetor da fronteiras ou povoada por indígenas.
instituição. Pouco depois fundou a Ópera Nacional, a Imperial Externamente víamos na Europa um exemplo inverso ao
Academia de Música e o Colégio Pedro II, onde ele Brasil: aqui tinham terras de sobra e poucos trabalhadores, lá
frequentemente fazia visitas. eles tinham muitos braços livres e poucas terras. A Europa do
Por fim, manteve incentivos financeiros em campos de século XVIII e XIX viu um aumento na taxa de natalidade,
estudo como medicina e direito. expulsão dos trabalhadores do campo e pequenos
proprietários, além de perseguições políticas e religiosas.
O caso indígena Pareceu à época uma solução natural que os imigrantes
No século XVIII a metrópole desenvolveu um projeto europeus arriscassem a sorte no novo continente.
civilizador que foi incorporado à colônia. O conceito era A região sudeste, principalmente o estado de São Paulo,
simples à primeira vista: povos que não respondiam ao poder apesar de ter tido grande influência imigrante demorou a
real precisavam ser subjugados. “engrenar”. As primeiras experiências receberam o nome de
Acontece que as elites locais ao incorporar a ideia não sistema de parceria. Nesse sistema os imigrantes
levavam em conta o fator “civilizador”, mas sim o econômico. trabalhavam no cultivo e colheita do café, e dividiam os lucros
Caso não houvesse a possibilidade de angariar recursos (de e eventuais prejuízos com o dono da terra. O maior exemplo
qualquer natureza) a intervenção não era justificada. De uma desse sistema (e seu fracasso) foi o implantado pelo Senador
forma mais simples: o projeto só aconteceu em regiões que Campos Vergueiro. Apesar da promessa, a fazenda tinha o
dariam algum retorno financeiro para as expedições, para as monopólio de tudo que os imigrantes necessitavam adquirir
elites ou para a metrópole. (sempre com preços mais elevados), o que resultava em uma
Civilizar ou não o indígena tinha um segundo lugar de dívida viciosa com o fazendeiro. Além disso, devido à
importância nessa empreitada. proximidade do contato com o trabalho escravo, o tratamento
com os imigrantes era semelhante, o que chegou a fazer com
A questão agrária que o próprio governo italiano recomendasse que seus
Do início da colonização até o século XIX a questão e a cidadãos não viessem para o Brasil.
política agrária no Brasil eram definidas pelas sesmarias. Ao Nos últimos anos do século XIX, com a situação se
mesmo tempo em que a concessão de uma sesmaria era a agravando na Itália e com a maior necessidade de mão de obra
garantia legal de posse da terra, apenas quem tivesse relações no Brasil, governo e fazendeiros oferecem melhores
e contatos políticos conseguiam esse acesso. condições, o que abre as portas definitivamente para a
Outras formas como a ação de posseiros também eram chegada do europeu.
comuns, porém até o ano de 1850 ela era ilegal mediante O sul, como falamos acima, mostrou uma colonização
algumas condições. diferente. Composto por pequenas propriedades familiares ou
O que muda em 1850 é o advento da Lei nº 601, conhecida comunidades rurais, a região não atendeu os interesses do
como Lei de Terras. A criação dessa lei não apenas afirmava a mercado externo e o governo tinha maior preocupação em
legalidade das sesmarias como garantia o direito legal da terra garantir a posse do Brasil na região do que garantir as
a posseiros (desde que as terras tivessem sido possuídas exportações da época.
anteriormente à lei e fossem devidamente cultivadas).

35 Quando falamos em terras “desocupadas” falamos do ponto de vista do 36 Adaptado: UNOPAREAD <
governo da época. Eram terras no qual o governo não havia recebido rendimentos. http://www.unoparead.com.br/sites/museu/exposicao_sertoes2/Imigrantes-e-
Indígenas e posseiros sem permissão ocupavam essas terras e eram expulsos sem migracoes.pdf>
cerimônia ou compensação.

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Tráfico negreiro, lutas abolicionistas e fim da fatores finalmente consegue se colocar em posição de forma
escravidão37 que o Brasil não podia mais ignorá-lo.
À época da independência D. Pedro I se viu pressionado As seguintes leis são o resultado dessas pressões e
por dois lados muito importantes para manter seu governo: mostram a evolução do processo de abolição:
- De um lado a Inglaterra, nação industrializada que via na
extinção do comércio de escravos (e na própria instituição Lei no 581 (Lei Eusébio de Queirós), de 4 de setembro de
escravista) maior possibilidade de capital e mercado 1850: a partir dessa data é proibido o tráfico de escravos para
consumidor. Seu apoio político e financeiro ao Brasil no o Brasil. Trocas internas entre províncias de escravos que já
processo de independência estava condicionado ao estão no país ainda são permitidas.
compromisso do país em abolir essa prática.
- Do outro lado estavam os grandes proprietários de terra, Lei no 2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de setembro de
motivo pelo qual nem D. Pedro I, nem a regência e nem D. 1871: considerava livre todos os filhos de mulheres escravas
Pedro II conseguiram cumprir o acordo. nascidas a parte dessa data.
No curto período anterior ao aumento da produção
cafeeira no país, o tráfico de escravos de fato diminuiu em Lei no 3.270 (Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-
números visto que a necessidade de mão de obra era menor. A Cotegipe), de 28 de setembro de 1885: a Lei concedia
partir do momento em que os grandes fazendeiros sentiram liberdade a escravos com mais de 60 anos de idade.
necessidade de mais braços em suas lavouras, mesmo com leis
da regência proibindo a importação de escravos, o volume Lei no 3.353 (Lei Áurea), de 13 de maio de 1888: Art. 1o É
voltou a crescer. As consequências foram a maior pressão declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.”
inglesa sobre o Brasil no aspecto político, e na prática uma
perseguição real da marinha inglesa a navios negreiros. A Questão Platina39
Sentindo a pressão britânica surtir mais efeito que a
interna, finalmente em 1850 o governo brasileiro promulga A questão da Cisplatina foi um conflito entre Brasil e
uma lei com a verdadeira intenção de cumpri-la. A Lei Eusébio Argentina pelo controle de parte da bacia do Prata,
de Queiroz, que a partir da data de sua publicação proíbe o especificamente na região Cisplatina (que corresponde ao
tráfico negreiro no Brasil. atual Uruguai).
Como o governo não tinha intenção nenhuma de acelerar o Deve-se entender que apesar de em parte da história o
processo que levaria o fim da escravidão, a Lei Eusébio de Uruguai pertencer ao Brasil ou ser tomado pela Argentina, o
Queiroz garantia apenas o fim do tráfico de importação. O conflito nunca envolveu apenas duas partes.
tráfico ou troca interna ainda era permitido, o que ocasionou Historicamente o que hoje corresponde ao território
grande deslocamente de contingente negro escravo do uruguaio foi uma colônia portuguesa (Colônia de Sacramento).
nordeste para as colheitas de café no Vale do Paraíba no Quase um século depois (1777) a colônia passa a ter domínio
sudeste. espanhol, que dura até a transferência da coroa portuguesa
Uma segunda consequencia foi que com o capital que agora para o Brasil que volta a anexá-lo.
estava “sem destino”, uma vez que a compra de escravos se Acontece que o período em que a Espanha controlou a
tornava mais difícil com o tempo, novas atividades econômicas região deixou marcas mais fortes que o período colonial
começaram a receber esse dinheiro: bancos, estradas de ferro, português (cultura e língua). Não se sentindo como parte do
indústrias, companhias de navegação... império português, a Cisplatina (Uruguai) inicia um
A modernização do pensamento econômico, mesmo que de movimento de separação.
certa forma forçada, também provocou mudanças na política A Argentina que já era independente e tinha interesses
externa do país. Em 1844 o ministro da Fazenda Alves Branco expansionistas à região não demorou a comprar o lado do
promulga uma lei que levaria seu nome, e que aumentava as Uruguai enviando além do apoio político, suprimentos.
taxas alfandegárias para os produtos importados. Era uma das O governo brasileiro não recuou, além de fazer frente ao
poucas vezes até então em nossa história que o governo Uruguai ele declarou guerra à Argentina. Apesar de haver
tomava medidas que beneficiavam nossa indústria em relação algum equilíbrio durante o início do conflito, o nosso governo
à estrangeira. sofreu com grande pressão interna. O país já estava endividado
com os gastos da independência e bancar um conflito em tão
Processo abolicionista38 pouco tempo depois causou insatisfação geral (aumento de
Em maio de 1888, a princesa Isabel Cristina Leopoldina de impostos).
Bragança conhecida posteriormente como “A Redentora” Em 1828, com mediação inglesa e se vendo muito
assina o documento que finalmente colocou fim à escravidão pressionado, Brasil e Argentina chegam a um acordo e ambos
no país. concordam que a região da Cisplatina se tornaria
A História normalmente nos ensina a respeito do ato independente. Tinha início a república do Uruguai.
generoso dessa figura, mas não podemos ignorar que o dia 13 Posteriormente Brasil e Argentina ainda brigaram
de maio foi apenas o cume de uma empreitada que vinha sendo indiretamente dentro do território uruguaio: a política do
construída há muito tempo. novo país estava dividida principalmente entre dois partidos,
A resistência à escravidão por parte dos negros existiu os “colorados” e os “blancos” (federalistas e unitários
sempre que houve a escravidão. Fugas, violência contra os respectivamente) onde o Brasil apoiava os colorados e a
senhores e formação de quilombos eram algumas das práticas Argentina os blancos.
comuns que existiam desde a colônia. A partir da segunda Internamente o Uruguai sofreu com sucessivas trocas no
metade do século XIX, talvez por algumas leis já existirem, elas comando por parte de generais ou de acordo com os interesses
se tornaram mais comuns. vizinhos até o ano de 1865, contando com grande contingente
A sociedade também já contava com um número maior de brasileiro (gaúcho) quando o general Flores assume o poder e
entusiastas que estavam dispostos a lutar pelo fim dessa cessam os conflitos internos.
prática e pressionar o governo. O império inglês junto desses

37 Adaptado de FOGUEL, I. Brasil: Colônia, Império e República. < 39 Adaptado de: JARDIM, W. C. A Geopolítica no Tratado da Tríplice Aliança.

https://bit.ly/2Iqul4S> Anais do XXVI Simpósio Nacional de História - ANPUH


38 História do Negro no Brasil. CEAO/UFBA.

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APOSTILAS OPÇÃO

A Guerra do Paraguai As consequências da Guerra


Apesar de os países aliados ganharem territórios, seu saldo
A Guerra do Paraguai foi um conflito envolvendo Brasil, comum dessa guerra foi o aumento da dívida externa além do
Paraguai, Uruguai e Argentina que durou entre os anos de número de vidas perdidas.
1864 e 1870 e teve consequências que marcam o continente Para o Paraguai as perdas foram irremediavelmente mais
até hoje. pesadas e mostram sequelas até hoje.
O Paraguai não era o país mais rico da América Latina até Cerca de 75% de sua população morreu nesse período
o início do conflito, mas é correto dizer que era o mais (90% dos homens). Ele perdeu 150.000 km² de seu território,
desenvolvido socialmente e menos dependente teve seu parque industrial destruído, sua malha ferroviária
economicamente. vendida a companhias inglesas a preço de sucata, reservas de
Desde 1811, ano de sua independência, o país fora madeira e erva-mate praticamente entregue aos estrangeiros.
governado por apenas três governantes, não encontrando a Por fim, todas as terras passaram para o controle de
turbulência política interna que aconteceu com alguns banqueiros estrangeiros que as alugavam aos paraguaios.
vizinhos, como o Uruguai.
Era Francisco Solano Lopes o líder uruguaio no período do A Crise do Império
conflito e assim como seus antecessores ele garantiu algumas
medidas que tornavam o Paraguai um país único na América A partir da década de 1870 o império brasileiro vê seus
Latina: apesar de não ser democrático, seu governo melhores dias passarem. Uma crise iniciada com o conflito do
beneficiava as camadas populares, não havia elite agrária e as Paraguai resultaria em quase vinte anos depois na
terras eram garantidas aos trabalhadores rurais, seus proclamação da república.
principais produtos (erva-mate e madeira) eram de A crise do império pode ser baseada em quatro pilares:
monopólio do Estado, a maioria das famílias tinham garantido
o direito a emprego, comida, moradia e vestuário. O - Questão abolicionista e de terras: Durante muito
analfabetismo quase não existia, não tinha dívida externa e já tempo a escravidão foi a base econômica das elites que
havia iniciado um processo de industrialização. apoiavam a monarquia. Com a grande campanha abolicionista
e as medidas graduais tomadas pelo império, a antiga
As causas da guerra aristocracia escravista que ainda apoiava D. Pedro II ficou
O Paraguai se manteve fora dos conflitos na região desde descontente com seu governo. As novas elites, que faziam
sua independência. Tinha um acordo com o Brasil que garantia fortuna com o café e se adaptaram ao trabalho livre imigrante
a autonomia uruguaia e um acordo com o Uruguai que garantia europeu, ansiavam por mais autonomia política, e passaram a
ajuda mútua. fazer grande campanha em favor da república.
Foi a partir das intervenções brasileiras no governo A sociedade, agora com crescente número de imigrantes
uruguaio (quando depôs Aguirre e assume Flores) que o também convivia com novas ideias (entre elas o
Paraguai quebra sua política de neutralidade. Considerando abolicionismo).
que o Brasil perturbava a harmonia da região e temendo que D. Pedro II se viu sem o apoio da classe média da sociedade,
ele mesmo fosse o próximo alvo (além do fato de Solano Lopes da nova aristocracia e também da antiga.
ser simpatizante de Aguirre, derrotado no Uruguai com ajuda
brasileira), o Paraguai direcionou vários avisos preventivos ao - Questão religiosa: A Constituição de 1824 declarava o
Brasil. Não surtindo efeito, no final de 1864 Solano Lopes Brasil um país oficialmente católico. A Constituição fixava que
ordena o aprisionamento do navio brasileiro Marquês de a Igreja deveria ser subordinada ao Estado, razão pelo qual já
Olinda e declara guerra do Brasil, é o início da Guerra do haviam alguns atritos. O problema maior se dá a partir de 1860
Paraguai. quando o Papa Pio IX publica a Bula Syllabus, excluindo
membros da maçonaria de irmandades católicas. Apesar de o
O conflito imperador não acatar as recomendações, os bispos de Olinda
O início do conflito envolveu apenas os dois países, porém e Belém seguem as instruções do Papa. Em consequência, D.
o próprio Paraguai acabou fomentando os seus vizinhos a se Pedro II ordena que ambos sejam presos, o que leva a Igreja a
juntarem a causa brasileira. também dar as costas a coroa.
O Paraguai mostrou clara vantagem tomando partes do
território brasileiro (MS) e posteriormente invadindo até a - Questão militar: Até a Guerra do Paraguai o exército
Argentina (queria através dela dominar o Rio Grande do Sul). brasileiro não tinha qualquer influência ou importância para o
A vantagem do país se mantém até a formação da Tríplice governo. Durante as regências a criação da Guarda Nacional
Aliança, unindo Brasil, Argentina e Uruguai. garantiu que a necessidade de um exército forte quase não
A partir daí o conflito se torna desfavorável. Apesar de o existisse.
Paraguai estar estruturado, os números não podiam ser A Guerra do Paraguai vem para mudar essa situação.
ignorados. O Paraguai contava com uma população total de Forçados a se modernizar e se estruturar, após a guerra o
800.000 habitantes no período contra 13.000.000 dos aliados. exército não apenas exige maior participação no governo do
O Rio da Prata, única via de comunicação do Paraguai para fora país como passa a ter setores contrários às ideias
do continente foi bloqueado pelo maior número de navios monarquistas.
aliados. Por fim, países como a Inglaterra ofereciam apoio Como a Coroa continuava intervindo em assuntos militares
financeiro aos aliados enquanto o Paraguai se matinha e punindo alguns de seus membros a ponto de censurar a
sozinho. imprensa em determinados assuntos relacionados às forças
A partir de 1868, muito sob o domínio de Caxias a armadas, o exército também dá as costas a monarquia e com
vantagem já havia passado para os aliados e a Guerra se passou isso deixa D. Pedro II sem nenhum apoio de peso.
apenas em território paraguaio. Em março de 1870, já com o Sem apoio após a abolição da escravatura por parte da
conflito vencido, Conde D’Eu, genro de D. Pedro II, substituto princesa Isabel, em novembro de 1889 com a ação militar, sem
de Caxias no comando das tropas aliadas persegue o restante conflitos ou participação popular, termina o império brasileiro
das forças paraguaias e executa Solano Lopes. e tem início o período Republicano.

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Questões (C) A primeira Constituição Brasileira foi outorgada em


1824, por D. Pedro I.
01. (Prefeitura de Monte Mor/SP – Agente de Transito (D) A segunda etapa da história do Brasil monárquico
– CONSESP) Historicamente, o primeiro passo para o inicia-se em 1831, com a renúncia de D. Pedro I em favor do
advento do Parlamentarismo no Brasil, ocorreu na época do filho Pedro de Alcântara, com apenas cinco anos de idade.
Império com: (E) O terceiro momento da monarquia no Brasil inicia-se
(A) A Constituição outorgada em 1824 com o reinado de Dom Pedro II, período marcado pela
(B) A criação da presidência do Conselho de Ministros por centralização do poder de um lado e pelas disputas político-
D. Pedro II partidárias entre liberais e conservadores, de outro.
(C) A abdicação de D, Pedro I
(D) A declaração da maioridade 05. (UEL/PR) “[...] explodiu na província do Grão-Pará o
movimento armado mais popular do Brasil [...]. Foi uma das
02. (IF/AL – Professor-História – CEFET/AL) No rebeliões brasileiras em que as camadas inferiores ocuparam
processo crescente que levou à abolição dos escravos o poder.”
(1888), o Brasil passou a instituir uma legislação que iria
culminar com a abolição. Em 1850 foi sancionada a Lei Ao texto podem-se associar:
Euzébio de Queiróz (proibição do tráfico de escravos). Em (A) a Regência e a Cabanagem.
contrapartida o império instituiu a Lei das Terras, que (B) o Primeiro Reinado e a Praieira.
significou: (C) o Segundo Reinado e a Farroupilha.
(A) Objetivando regularizar os quilombos que existiam no (D) o Período Joanino e a Sabinada.
Brasil, foi criada a Lei das Terras, dessa forma, os quilombolas (E) a abdicação e a Noite das Garrafadas.
poderiam permanecer nas terras ocupadas.
(B) O império objetivava com a criação da LEI DAS TERRAS Gabarito
facilitar a aquisição de terras pelos negros libertos e dificultar
para os imigrantes. 01.B / 02.E / 03.C / 04.A / 05.A
(C) A Lei das Terras tinha o objetivo de restringir terras
para os novos libertos e facilitar para os imigrantes.
(D) Pensando em proteger os negros libertos, a Lei das Brasil República
Terras seria um arcabouço jurídico que protegeria todos os
brasileiros.
(E) Visando a aumentar os valores das terras, a lei foi A palavra República possui várias interpretações, sendo a
criada dificultando, assim, a compra por parte dos libertos, mais comum a identificação de um sistema de governo cujo
favorecendo a permanência dos libertos como trabalhadores Chefe de Estado é eleito através do voto dos cidadãos ou de
nas fazendas já existentes. seus representantes, com poderes limitados e com tempo de
governo determinado.
03. (SEDUC/AM – Professor-História – FGV) A A República tem seu nome derivado do termo em latim Res
Constituição do Império do Brasil, outorgada por D. Pedro I publica, que significa algo como “coisa pública” ou “coisa do
em 1824, inaugurou formalmente um sistema político- povo”.
eleitoral que sofreu algumas alterações ao longo do período Em 15 de novembro de 1889 foi instituída a República no
monárquico (1822-1889). Brasil. Entre os fatores responsáveis para o acontecimento,
estão a crise que se instalou sobre o império, os atritos com a
Igreja e o desgaste provocado pela abolição da escravidão.
Assinale a opção que caracteriza corretamente uma Com a Guerra do Paraguai e o fortalecimento do exército, os
dessas alterações. ideais republicanos começaram a ganhar força, sendo
(A) 1834 – modificação da Constituição extinguiu o Poder abraçados também por parte da elite cafeicultora do Oeste
Moderador, assegurando a independência dos três poderes. Paulista.
(B) 1840 – interpretação parcial da Reforma
Constitucional de 1834, ampliando a autonomia dos O Movimento Republicano e a Proclamação da
legislativos provinciais. República
(C) 1847 – criação do cargo de Presidente do Conselho de
Ministros, inaugurando o “parlamentarismo às avessas”. Mesmo com a manutenção do sistema escravista e de
(D) 1855 – reforma eleitoral denominada “Lei dos latifúndio exportador, na segunda metade do século XIX o
Círculos”, extinguindo o voto distrital da Constituição do Brasil começou a experimentar mudanças, tanto na economia
Império. como na sociedade.
(E) 1881 – nova reforma eleitoral conhecida como “Lei O café, que já era um produto em ascensão ganhou mais
Saraiva”, estendendo o direito de voto aos analfabetos. destaque quando cultivado no Oeste Paulista. Juntamente com
o café na região amazônica a borracha também ganhava
04. O período monárquico no Brasil costuma ser dividido mercado.
em três momentos distintos: Primeiro Reinado (1822-1831); Com a ameaça do fim da escravidão, começaram os
Regências (1831 1840) e Segundo Reinado (1840-1889). incentivos para a vinda de trabalhadores assalariados gerando
Sobre as principais questões que marcaram esses momentos, o surgimento de um modesto mercado interno, além da
assinale a alternativa incorreta. criação de pequenas indústrias. Surgiram diversos organismos
(A) A Guerra do Paraguai marcou o Primeiro Reinado e foi de crédito e as ferrovias ganhavam cada vez mais espaço,
a grande responsável pelo enfraquecimento do poder de D. substituindo boa parte dos transportes terrestres, marítimos e
Pedro I, resultando na Independência do Brasil. fluviais.
(B) A primeira etapa da monarquia brasileira teve As mudanças citadas acima não alcançaram todo o
dificuldades para se consolidar, o Primeiro Reinado foi curto e território brasileiro. Apenas a porção que hoje abrange as
marcado por tumultos e conflitos entre D. Pedro I - que era regiões Sul e Sudeste foram diretamente impactadas, levando
português com os brasileiros. inclusive ao crescimento dos núcleos urbanos. Em outras
partes como na região Nordeste, o cultivo da cana-de-açúcar e

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do algodão, que por muito tempo representaram a maior parte grupos dominantes continuaram a sair da camada social dos
das exportações nacionais, entravam em declínio. grandes proprietários. Houve apenas uma modernização
Muitos dos produtores e da população dessas regiões em institucional.
desenvolvimento passavam a questionar o centralismo O golpe militar promovido em 15 de novembro de 1889 foi
político existente no império brasileiro que tirava a autonomia reafirmado com a proclamação civil de integrantes do Partido
local. A solução para resolver os problemas advindos da Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ao
mudança pela qual o país passava foi encontrada no sistema contrário do que aparentou, a proclamação foi consequência
federalista, capaz de garantir a tão desejada autonomia de um governo que não mais possuía base de sustentação
regional. Não é de se espantar que entre os principais política e não contou com intensa participação popular.
apoiadores do sistema federalista estivessem os produtores de Conforme salientado pelo ministro Aristides Lobo, a
café do oeste paulista, que passavam a reivindicar com mais proclamação ocorreu às vistas de um povo que assistiu tudo de
força seus interesses econômicos. forma bestializada.
Apesar das influências republicanas nas revoltas e
tentativas de separação desde o século XVIII, foi apenas na O Governo Provisório e a República da Espada
década de 1870, com a publicação do Manifesto Republicano,
que o ideal foi consolidado através da sistematização Proclamada a República, o primeiro desafio era
partidária. estabelecer um governo. O Marechal Deodoro da Fonseca ficou
O Manifesto foi publicado em 3 de dezembro de 1870, no responsável por assumir a função de Presidente até que um
jornal A República, redigido por Quintino Bocaiúva, Saldanha novo presidente fosse eleito. Os primeiros atos decretados por
Marinho e Salvador de Mendonça, e assinado por cinquenta e Deodoro foram o banimento da Família Real do Brasil,
oito cidadãos entre políticos, fazendeiros, advogados, estabelecimento de uma nova bandeira nacional, separação
jornalistas, médicos, engenheiros, professores e funcionários entre Estado e Igreja (criação de um Estado Laico, porém não
públicos. Defendia o federalismo (autonomia para as laicista), liberdade de cultos, secularização dos cemitérios e a
Províncias administrarem seus próprios negócios) e criticava Grande Naturalização, ato que garantiu a todos os estrangeiros
o poder pessoal do imperador. que moravam no Brasil a cidadania brasileira, desde que não
Após a publicação do Manifesto, entre 1870 e 1889 os manifestassem dentro de seis meses a vontade de manter a
ideais republicanos espalharam-se rapidamente pelo país. Um nacionalidade original.
dos principais frutos foi a fundação do Partido Republicano No plano econômico, Rui Barbosa assumiu o cargo de
Paulista, fundado na Convenção de Itu em 1873 e marcado pela Ministro da Fazenda lançando uma política de incentivo ao
heterogeneidade de seus membros e da efetiva participação setor industrial, caracterizada pela facilitação dos créditos
dos cafeicultores do Oeste Paulista. bancários, a especulação de ações e a emissão de papel-moeda
Os republicanos brasileiros divergiam em seus ideais, em excesso. As medidas tomadas por Rui Barbosa que
criando duas tendências dentro do partido: A Tendência buscavam modernizar o país, acabaram por gerar uma forte
Evolucionista e a Tendência Revolucionária. crise que provocou o aumento da inflação e da dívida pública,
Defendida por Quintino Bocaiuva, a Tendência a quebra de bancos e empobrecimento de pequenos
Evolucionista partia do princípio de que a transição do investidores. Essa dívida ficou conhecida como Encilhamento.
império para a república deveria ocorrer de maneira pacífica, Em 24 de fevereiro de 1891 foi eleito um Congresso
sem combates. De preferência após a morte do imperador. Constituinte, responsável por promulgar a primeira
Já a Tendência Revolucionária, defendida por Silva Constituição republicana brasileira, elaborada com forte
Jardim e Lopes Trovão, dizia que a República precisava “ser influência do modelo norte-americano. O Poder Moderador, de
feita nas ruas e em torno dos palácios do imperante e de seus uso exclusivo do imperador foi extinto, assim como o cargo de
ministros” e que não se poderia “dispensar um movimento Primeiro-Ministro, a vitaliciedade dos senadores, as eleições
francamente revolucionário”. A eleição de Quintino Bocaiúva legislativas indiretas e o voto censitário.
(maio de 1889) para a chefia do Partido Republicano Nacional Em relação ao poder do Estado, foi adotado o sistema de
expurgou dos quadros republicanos as ideias revolucionárias. tripartição entre Executivo, Legislativo e Judiciário, com um
O final da Guerra do Paraguai (1870) aumentou os sistema presidencialista de voto direto com mandato de 4 anos
antagonismos entre o Exército e a Monarquia. O exército sem reeleição. As províncias, que agora eram denominadas
institucionalizava-se. Os militares sentiam-se mal Estados, foram beneficiadas com uma maior autonomia
recompensados e desprezados pelo Império. Alguns jovens através do Sistema Federalista.
oficiais, influenciados pela doutrina de Augusto Comte Em relação ao voto, antes censitário, foi declarado o
(positivismo) e liderados por Benjamin Constant, sentiam-se sufrágio universal masculino, ou seja, “todos” os homens
encarregados de uma "missão salvadora" e estavam ansiosos alfabetizados e maiores de 21 anos poderiam votar. Na prática
por corrigir os vícios da organização política e social do país. A o voto ainda continuava restrito, visto que eram excluídos os
"mística da salvação nacional" não era privativa deste pequeno mendigos, os padres e os praças (soldados de baixa patente).
grupo de jovens. Generalizara-se entre os militares a ideia de No Brasil de 1900, cerca de 35%40 da população era
que só os homens de farda eram "puros" e "patriotas", ao passo alfabetizada. Desse total ainda estavam excluídas as mulheres,
que os civis, as “casacas” como diziam eram corruptos venais já que mesmo sem uma regra explícita de proibição na
e sem nenhum sentimento patriótico. constituição, “considerou-se implicitamente que elas estavam
A Proclamação resultou da conjugação de duas forças: o impedidas de votar”41
exército descontente, e o setor cafeeiro da economia, A Constituição também determinava que a primeira
pretendendo este eliminar a centralização vigente por meio de eleição para presidente deveria ser indireta através do
uma República Federativa que imporia ao país um sistema Congresso. Deodoro da Fonseca venceu a eleição por 129
favorável a seus interesses. votos a favor e 97 contra, resultado considerado apertado na
Portanto, a Proclamação não significou uma ruptura no época. Para o cargo de vice-presidente o Congresso elegeu o
processo histórico brasileiro: a economia continuou marechal Floriano Peixoto.
dependente do setor agroexportador. Afora o trabalho A atuação de Deodoro foi encarada com suspeita pelo
assalariado, o sistema de produção continuou o mesmo e os Congresso, já que ele buscava um fortalecimento do Poder

40 Souza, Marcelo Medeiros Coelho de. O analfabetismo no brasil sob 41 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. Página 251.
enfoque demográfico. Cad. Pesqui. Jul 1999, no.107, p.169-186. ISSN 0100-1574

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Executivo baseado no antigo Poder Moderador. Deodoro parte do Paraná e a capital Curitiba. O prolongamento do
substituiu o ministério que vinha do governo provisório por conflito, com grandes custos aos revoltosos, levou à decisão de
um outro, que seria comandado pelo Barão de Lucena, recuar e manter-se no Rio Grande do Sul.
tradicional político monárquico. Em 3 de novembro de 1891 o A revolta teve fim somente em agosto de 1895, quando os
presidente fechou o Congresso, prometendo novas eleições e a combatentes maragatos depuseram as armas e assinaram um
revisão da Constituição. acordo de paz com o presidente da república, garantindo a
A intenção do marechal era limitar e igualar a anistia para os participantes do conflito. Apesar de curta, a
representação dos Estados na Câmara, o que atingia os Revolução Federalista teve um saldo de mais de 10.000
grandes Estados que já possuíam uma participação maior na mortos, a maior parte deles de prisioneiros capturados em
política. Sem obter o apoio desejado dentro das forças conflitos e mortos posteriormente, o que garantiu o apelido de
armadas, Deodoro acabou renunciando em 23 de novembro de “revolução da degola”.
1891, assumindo em seu lugar o vice Floriano Peixoto.
Floriano tinha uma visão de República baseada na Características da Primeira República
construção de um governo estável e centralizado, com base no
exército e no apoio dos jovens das escolas civis e militares. A O período que vai de 1889, data da Proclamação da
visão de Floriano chocava-se diretamente com a visão dos República, até 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder,
grandes fazendeiros, principalmente os produtores de café de é conhecido como Primeira República. O período é marcado
São Paulo que almejavam um Estado liberal e descentralizado. pela dominação de poucos grupos políticos, conhecidos como
Apesar das diferenças, o presidente e os fazendeiros oligarquias, pela alternância de poder entre os estados de São
conviveram em certa harmonia, pela percepção de que sem Paulo e Minas Gerais (política do café-com-leite), e pelo poder
Floriano a República corria o risco de acabar, e sem o apoio dos local exercido pelos Coronéis.
fazendeiros, Floriano não conseguiria governar. Com a saída dos militares do governo em 1894, teve início
Os dois primeiros governos republicanos no Brasil o período chamado República das Oligarquias. A palavra
ganharam o nome de República da Espada devido ao fato de Oligarquia vem do grego oligarkhía, que significa “governo de
seus presidentes serem membros do exército. poucos”. Os grupos dominantes, em geral ligados ao café e ao
gado, impunham sua vontade sobre o governo, seja pela via
A Revolução Federalista legal, seja através de fraudes nas votações e criação de leis
Desde o período imperial, o Rio Grande do Sul fora palco específicas para beneficiar o grupo dominante.
de protestos e indignações com o governo, como pode ser
observado na Revolução Farroupilha, que durou de 1835 até O Coronelismo
1845. Com a Proclamação da República, a política no Estado Durante o período regencial, espaço entre a abdicação de
manteve-se instável, com diversas trocas no cargo de D. Pedro I e a coroação de D. Pedro II, diversas revoltas e
presidente estadual. Conforme aponta Fausto, entre 1889 e tentativas de separação e instalação de uma república
1893, dezessete governos se sucederam no comando do aconteceram no Brasil. Sem condições de controlar todas as
Estado42, até que Júlio de Castilhos assumiu o poder no Estado. revoltas, o governo regencial, pela sugestão de Diogo Feijó,
Dois grupos disputavam o controle do Rio Grande do Sul: o criou a Guarda Nacional.
Partido Republicano Rio-grandense (PRR) e o Partido Com o propósito de defender a constituição, a integridade,
Federalista (PF). a liberdade e a independência do Império Brasileiro, sua
O Partido Republicano era composto por políticos criação desorganiza o Exército e começa a se constituir no país
defensores do positivismo, apoiadores de Júlio de Castilhos e uma força armada vinculada diretamente à aristocracia rural,
de Floriano Peixoto. Sua base política era composta com organização descentralizada, composta por membros da
principalmente de imigrantes e habitantes do litoral e da Serra elite agrária e seus agregados. Para compor os quadros da
do Rio Grande do Sul, formando uma elite política recente. Guarda nacional era necessário possuir amplos direitos
Durante o conflito foram conhecidos como Pica-paus. políticos, ou seja, pelas determinações constitucionais,
O Partido Federalista defendia um sistema de governo poderiam fazer parte dela apenas aqueles que dispusessem de
parlamentarista e a revogação da constituição do Estado, de altos ganhos anuais.
caráter positivista. Foi fundado em 1892 e tinha como líder o Com a criação da Guarda e suas exigências para
político Silveira Martins, conhecida figura política do Partido participação, surgiram os coronéis, que eram grandes
Liberal durante o império. A base de apoio do Partido proprietários rurais que compravam suas patentes militares
Federalista era composta principalmente de estancieiros de do Estado. Na prática, eles foram responsáveis pela
campanha, que dominaram a cena política durante o império. organização de milícias locais, responsáveis por manter a
Durante o conflito ganharam o apelido de Maragatos. ordem pública e proteger os interesses privados daqueles que
O conflito teve início em fevereiro de 1893, quando os as comandavam. O coronelismo esteve profundamente
federalistas, descontentes com a imposição do governo de enraizado no cenário político brasileiro do século XIX e início
Júlio de Castilhos, pegaram em armas para derrubar o do século XX.
presidente estadual. Desde o início da revolta, Floriano Após o fim da República da Espada, os grupos ligados ao
Peixoto, então presidente do Brasil, colocou-se do lado dos setor agrário ganharam força na política nacional, gerando
republicanos. Os opositores de Floriano em todo o país uma maior relevância para os coronéis no controle dos
passaram a apoiar os federalistas. interesses e na manutenção da ordem social. Como
No final de 1893 os federalistas ganharam o apoio da comandantes de forças policiais locais, os coronéis
Revolta Armada que teve início no Rio de Janeiro, causada configuravam-se como uma autoridade quase inquestionável
pelas rivalidades entre o exército e a marinha e o nas áreas rurais.
descontentamento do almirante Custódio José de Melo, A autoridade do coronel, além de usada para manter a
frustrado em sua intenção de suceder Floriano Peixoto na ordem social, era exercida principalmente durante as eleições,
presidência. para garantir que o candidato ou grupo político que ele
Parte da esquadra naval comandada pelo almirante representasse saísse vencedor. A oposição ao comando do
deslocou-se para o Sul, ocupando a cidade de Desterro (atual coronel poderia resultar em violência física, ameaças e
Florianópolis), em Santa Catarina, e a partir daí ocupando perseguições, o que fazia com que muitos votassem a

42 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999.

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contragosto, para evitar as consequências de discordar da Na Câmara dos Deputados, uma mudança simples garantiu
autoridade local, gerando uma prática conhecida como Voto o domínio. Conhecida como Comissão de Verificação de
de Cabresto. poderes, essa ferramenta permitia decidir quais políticos
Na república velha, o sistema eleitoral era muito frágil e deveriam integrar a Câmara e quais deveriam ser “degolados”,
fácil de ser manipulado. Os coronéis compravam votos para que na gíria política da época significava ser excluído.
seus candidatos ou trocavam votos por bens materiais. Como Quando ocorriam eleições para a Câmara, os vencedores
o voto era aberto, os coronéis mandavam os capangas para os em cada estado recebiam um diploma. Na falta de um sistema
locais de votação, com o objetivo de intimidar os eleitores e de justiça eleitoral, ficava a cargo da comissão determinar a
ganhar os votos. As regiões controladas politicamente pelos validade do diploma. A comissão era escolhida pelo presidente
coronéis eram conhecidas como currais eleitorais. temporário da nova Câmara eleita, o que até antes da reforma
Os coronéis costumavam alterar votos, sumir com urnas e de Campos Salles significava o mais velho parlamentar eleito.
até mesmo patrocinavam a prática do voto fantasma. Este Com a reforma, o presidente da nova Câmara deveria ser o
último consistia na falsificação de documentos para que presidente do mandato anterior, desde que reeleito. Dessa
pessoas pudessem votar várias vezes ou até mesmo utilizar o forma, o novo presidente da Câmara seria sempre alguém
nome de falecidos nas votações. ligado ao governo, e caso algum deputado oposicionista ou que
Dessa forma, a vontade política do coronel era atendida, desagradasse o governo fosse eleito, ficava mais fácil removê-
garantindo que seus candidatos fossem eleitos em nível lo do poder.
municipal e também estadual, e garantindo também
participação na esfera federal. Convênio de Taubaté
Desde o período imperial o café figurava como principal
Prudente de Morais produto de exportação brasileiro, principalmente após a
segunda década do século XIX. Consumido em larga escala na
Floriano tentou garantir que seu sucessor fosse um aliado Europa e nos Estados Unidos, o cultivo da planta espalhou-se
político, porém as poucas bases de apoio de que dispunha não pelo vale do Paraíba fluminense e paulista. Continuando sua
lhe foram suficientes para concretizar o desejo. No dia 1 de marcha ascendente, houve expansão dos cafeeiros na
março de 1894 foi eleito o paulista Prudente de Morais, província de Minas Gerais (Zona da Mata e sul do estado), ao
encerrando o governo de membros do exército, que só mesmo tempo em que a produção se consolidava no interior
voltariam ao poder em 1910, com a eleição do marechal de São Paulo, principalmente no “Oeste Paulista”.
Hermes da Fonseca. A grande oferta causada pela produção em excesso levou a
Prudente buscou desvincular o exército do governo, uma queda do preço, visto que havia mais produto no mercado
substituindo os cargos que eram ocupados por militares por e menos pessoas interessadas em adquiri-lo.
civis, principalmente representantes da cafeicultura, O convênio de Taubaté foi um acordo firmado em 1906,
promovendo uma descentralização do poder. último ano do mandato de Rodrigues Alves (1902-1906), entre
Suas principais bandeiras eram a de uma república forte, os presidentes dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de
em oposição às tendências liberais, antimonarquistas e Janeiro, na cidade de Taubaté (SP), com o objetivo de pôr em
antilusitanas. prática um plano de valorização do café, garantindo o preço do
produto por meio da compra, pelo governo federal, do
Campos Salles excedente da produção. O acordo foi firmado mesmo contra a
vontade do presidente, e foi efetivamente aplicada por seu
Em 1898 o paulista Manuel Ferraz de Campos Salles sucessor, Afonso Pena.
assumiu a presidência no lugar de Prudente de Morais. Antes
mesmo de assumir o governo, Campos Salles renegociou a O Tratado de Petrópolis e a Borracha
dívida brasileira, que vinha se arrastando desde os tempos do O espaço físico que constitui o Estado do Acre, era, até o
império. início do século XX, considerado uma zona não descoberta, um
Para resolver a situação, ele se reuniu com os credores e território contestado pelos governos boliviano e brasileiro.
estabeleceu um acordo chamado Funding-Loan. Este acordo Em 1839, Charles Goodyear descobriu o processo de
consistia no seguinte: o Brasil fazia empréstimos e atrasava o Vulcanização, que consistia em misturar enxofre com borracha
pagamento da dívida, fazendo concessões aos banqueiros a uma temperatura elevada (140ºC/150ºC) durante certo
nacionais. Como consequência a indústria e o comércio foram número de horas. Com esse processo, as propriedades da
afetados e as camadas pobres e a classe média também foram borracha não se alteravam pelo frio, calor, solventes comuns
prejudicadas. ou óleos.
A transição de governos consolidou as oligarquias de São Apesar do surto econômico e da procura do produto,
Paulo e Minas Gerais no poder. O único entrave para um favorável para a Amazônia brasileira, havia um sério problema
governo harmônico eram as disputas políticas entre as para a extração do látex: a falta de mão-de-obra.
oligarquias locais nos Estados. O governo federal acabava Isso foi solucionado com a chegada à região de nordestinos
intervindo nas disputas, porém, a incerteza de uma (Arigós) que vieram fugindo da seca de 1877. Prisioneiros,
colaboração duradoura entre os Estados e a União ainda exilados políticos e trabalhadores nordestinos misturavam-se
permanecia. Outro fator que não permitia uma plena nos seringais do Acre, fundavam povoações, avançavam e se
consolidação política era a vontade do executivo em impor-se estabeleciam em pleno território boliviano.
ao legislativo, mesmo com a afirmação na Constituição de que A exploração brasileira na região incomodava o governo
os três poderes eram harmônicos e independentes entre si. boliviano, que resolveu tomar posse definitiva do Acre.
A junção desses fatores levou Campos Salles a criar um Fundou a vila de Puerto Alonso, em 03 de janeiro de 1889, e
arranjo político capaz de garantir a estabilidade e controlar o foram instalados postos da alfândega para arrecadar tributos
legislativo, que ficou conhecido como Política dos originados da comercialização de borracha silvestre. Essa
Governadores. atitude causou revolta entre os quase sessenta mil brasileiros
Basicamente, a política dos governadores apoiava-se em que trabalhavam nos seringais acreanos. Liderados pelo
uma ideia simples: o presidente apoiava as oligarquias seringalista José Carvalho, do Amazonas, os seringueiros
estaduais mais fortes, e em troca, essas oligarquias apoiavam rebelaram-se e expulsaram as autoridades bolivianas, em 03
e votavam nos candidatos indicados pelo presidente. de maio de 1889.

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APOSTILAS OPÇÃO

Após o episódio, um espanhol chamado Luiz Galvez O declínio da borracha


Rodrigues de Aurias liderou outra rebelião, de maior alcance Em 1876, Henry Alexander Wyckham contrabandeou
político, proclamando a independência e instalando o que ele sementes de seringueiras da região situada entre os rios
chamou de República do Acre, no local conhecido como Tapajós e Madeira e as mandou para o Museu Botânico de Kew,
Seringal Volta da Empresa, em 14 de julho de 1889. Galvez, o na Inglaterra. Muitas das sementes brotaram nos viveiros e
“Imperador do Acre”, como auto proclamava-se, contava com poucas semanas depois, as mudas foram transportadas para o
o apoio político do governador do Amazonas, Ramalho Junior. Ceilão e Malásia.
Entretanto, a República do Acre durou apenas oito meses. O Na região asiática as sementes foram plantadas de forma
governo brasileiro, signatário do Tratado de Ayacucho, de 23 racional e passaram a contar com um grande número de mão-
de março de 1867, reconheceu o direito de posse da Bolívia, de-obra, o que possibilitou uma produção expressiva, já no ano
prendeu Luiz Galvez Rodrigues de Aurias e devolveu o Acre ao de 1900. Gradativamente, a produção asiática foi superando a
governo boliviano. produção amazônica e, em 1912 há sinais de crise, culminando
Mesmo com a devolução do Acre aos bolivianos, a situação em 1914, com a decadência deste ciclo na Amazônia brasileira.
continuava insustentável. O clima de animosidade persistia e Para a economia nacional, a borracha teve suma
aumentava a cada dia. Em 11 de julho de 1901, o governo importância nas exportações, visto que em 1910, o produto
boliviano decidiu arrendar o Acre a um grupo de empresários representou 40% das exportações brasileiras. Para a
americanos, ingleses e alemães, formado pelas empresas Amazônia, o primeiro Ciclo da Borracha foi importante pela
Conway and Withridge, United States Rubber Company, e Export colonização de nordestinos na região e a urbanização das duas
Lumber. Esse consórcio constituiu o Bolivian Syndicate que grandes cidades amazônicas: Belém do Pará e Manaus.
recebeu da Bolívia autorização para colonizar a região, Durante o seu apogeu, a produção de borracha foi
explorar o látex e formar sua própria milícia, com direito de responsável por aproximadamente 1/3 do PIB do Brasil. Isso
utilizar a força para atender seus interesses. gerou muita riqueza na região amazônica e trouxe tecnologias
Os seringueiros brasileiros, a maior parte formada por que outras cidades do sul e sudeste do Brasil ainda não
nordestinos, não aceitaram a situação. Estimulados por possuíam, tais como bondes elétricos e avenidas construídas
grandes seringalistas e apoiados pelos governadores do sobre pântanos aterrados, além de edifícios imponentes e
Amazonas e do Pará, deram início, no dia 06 de agosto de 1902, luxuosos, como o Teatro Amazonas, o Palácio do Governo, o
a uma rebelião armada: a Revolta do Acre. Os seringalistas Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, no caso de
entregaram a chefia do movimento rebelde ao gaúcho José Manaus, o Mercado de São Brás, Mercado Francisco Bolonha,
Plácido de Castro, ex-major do Exército, rebaixado a cabo por Teatro da Paz, Palácio Antônio Lemos, corredores de
participar da Revolução Federalista do Rio Grande do Sul, ao mangueiras e diversos palacetes residenciais no caso de
lado dos Maragatos. Belém.
A Revolta por ele liderada, financiada por seringalistas e
por dois governadores de Estado, fortalecia-se a cada dia, na Industrialização e Greves
medida em que recebia armamentos, munições, alimentos, Ao ser proclamada a República em 1889, existiam no Brasil
além de apoio político e popular. Em todo o país ocorreram 626 estabelecimentos industriais, sendo 60% do ramo têxtil e
manifestações em favor da anexação do Acre ao Brasil. 15% do ramo de produtos alimentícios. Em 1914, o número já
A imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo exigia do era de 7.430 indústrias, com 153.000 operários.
governo brasileiro imediatas providências em defesa dos Após o incentivo para abertura de novas indústrias
acreanos. Por seu lado, o governo brasileiro procurava decorrentes do período de 1914 a 1918, em que a Europa
solucionar o impasse pela via diplomática, tendo à frente das esteve em guerra, diversas empresas produtoras
negociações o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, principalmente de matéria-prima iniciaram atividades no
o Barão do Rio Branco. Mas todas as tentativas eram inócuas e Brasil. Em 1920, o número havia subido para 13.336, com
os combates entre brasileiros e bolivianos tornavam-se mais 275.000 operários. Até 1930, foram fundados mais 4.687
frequentes e acirrados. estabelecimentos industriais.
Em meio aos conflitos, o presidente da Bolívia, general José Há que se levar em conta que a industrialização se
Manuel Pando, organizou sob seu comando uma poderosa concentrou no eixo Rio-São Paulo e, secundariamente, no Rio
expedição militar para combater os brasileiros do Acre. O Grande do Sul. O empresariado industrial era oriundo do café,
presidente do Brasil, Rodrigues Alves, ordenou que tropas do do setor importador e da elite dos imigrantes.
Exército e da Armada Naval, acantonadas no Estado de Mato Durante o período republicano fica evidente o descaso das
Grosso, avançassem para a região em defesa dos seringueiros autoridades governamentais com os trabalhadores. O país
acreanos. O enfrentamento de tropas regulares do Brasil e da passava por um momento de industrialização e os
Bolívia gerou a Guerra do Acre. trabalhadores começam a se organizar.
As tropas brasileiras, formadas por dois regimentos de Em sua maioria imigrantes europeus que possuíam uma
infantaria, um de artilharia e uma divisão naval, ajudaram forte influência dos ideais anarquistas e comunistas, os
Plácido de Castro a derrotar o último reduto boliviano no Acre, primeiros trabalhadores das fábricas brasileiras possuíam um
Puerto Alonso, hoje Porto Acre. Em consequência, no dia 17 de discurso inflamado, convocando os colegas a se unirem em
novembro de 1903, na cidade de Petrópolis, as repúblicas do associações que resultariam posteriormente na fundação dos
Brasil e da Bolívia firmaram o Tratado de Petrópolis, através primeiros sindicatos de trabalhadores.
do qual o Brasil ficou de posse do Acre, assumindo o Os líderes dos movimentos operários buscavam melhores
compromisso de pagar uma indenização de dois milhões de condições de trabalho para seus colegas como redução de
libras esterlinas ao governo boliviano e mais 114 mil ao jornada de trabalho e segurança no trabalho. Lutavam contra
Bolivian Syndicate. a manutenção da propriedade privada e do chamado “Estado
O Tratado de Petrópolis, aprovado pelo Congresso Burguês”.
brasileiro em 12 de abril de 1904, também obrigou o Brasil a Ocorreram entre 1903 e 1906 greves de pouca expressão
realizar o antigo projeto do governo boliviano de construir a pelo país, através de movimentos de tecelões, alfaiates,
estrada de ferro Madeira-Mamoré. A Bolívia, aproveitando-se portuários, mineradores, carpinteiros e ferroviários. Em
do momento político, colocou na pauta de negociações seu contrapartida, o governo brasileiro criou leis para impedir o
ambicionado projeto. Em contrapartida, reconheceu a avanço dos movimentos, como uma lei expulsando os
prioridade de chegada dos primeiros brasileiros à região e estrangeiros que fossem considerados uma ameaça à ordem e
renunciou a todos os direitos sobre as terras do Acre. segurança nacional.

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APOSTILAS OPÇÃO

A greve mais significativa do período ocorreu em 1917, a pensamento científico da época. De acordo com esse
Greve Geral em São Paulo, que contou com os trabalhadores pensamento, o mestiço brasileiro seria uma raça de
dos setores alimentício, gráfico, têxtil e ferroviário como mais características inferiores, que estava destinada ao
atuantes. O governo, para reprimir o movimento utilizou desaparecimento por conta do avanço da civilização.
inclusive forças do Exército e da Marinha. Não só Euclides da Cunha pensava da mesma forma. O
A repressão cada vez mais dura do governo através de leis, pensamento racial baseado em teorias científicas foi comum
decretos e uso de violência acabou sufocando os movimentos no Brasil da virada do século XX.
grevistas, que acabaram servindo de base para a criação no
ano de 1922, inspirado pelo Partido Bolchevique Russo, do A Guerra do Contestado
PCB, Partido Comunista Brasileiro. Os sindicatos também Na virada do século XX uma grande parte da população que
começam a se organizar no período. vivia no interior do estado era composta por sertanejos,
pessoas de origem humilde, que viviam na fronteira com o
Revoltas Paraná. A região foi palco de um intenso conflito por posse de
terras, ocorrido entre 1912 e 1916, que ficou conhecido como
Guerra de Canudos Guerra do Contestado.
A revolta em Canudos deve ser entendida como um O conflito teve início com a implantação de uma estrada de
movimento messiânico, ou seja, a aglomeração em torno de ferro que ligaria o Rio Grande do Sul a São Paulo, além de uma
uma figura religiosa capaz de reunir fiéis e trazer a esperança madeireira, em 1912, de propriedade do empresário Norte-
de uma vida melhor através de pregações. Americano Percival Farquhar.
Canudos formou-se através da liderança de Antônio A Brazil Railway ficou responsável pela construção da
Vicente Mendes Maciel, conhecido também por Antônio estrada de ferro que ligaria os dois pontos. Como forma de
Conselheiro, um beato que, andando pelo sertão pregava a remuneração por seus serviços, o governo cedeu à companhia
salvação por meio do abandono material, exigindo que seus uma extensa faixa de terra ao longo dos trilhos,
fiéis o seguissem pelo sertão nordestino. aproximadamente 15 quilômetros de cada margem do
Perseguido pela Igreja, e com um número significativo de caminho.
fiéis, Antônio Conselheiro estabeleceu-se no sertão baiano, à As terras doadas pelo governo foram entregues à empresa
margem do Rio Vaza-Barris, formando o Arraial de Canudos. na categoria de terras devolutas, ou seja, terras não ocupadas
Ali fundou a cidade santa, à qual dera o nome de Belo Monte, pertencentes à união. O ato desconsiderou a presença de
administrada pelo beato, que contava com vários subchefes, milhares de pessoas que habitavam a região, porém não
cada qual responsável por um setor (comandante da rua, possuíam registros de posse sobre a terra.
encarregado da segurança e da guerra, escrivão de Apesar do contrato firmado, de que as terras entregues à
casamentos, entre outros). companhia pudessem ser habitadas somente por estrangeiros,
A razão para o crescimento do arraial em torno da figura o principal interesse do empresário era a exploração da
de Antônio Conselheiro pode ser explicada pela pobreza dos madeira que se encontrava na região, em especial araucárias e
habitantes do sertão nordestino, aliada à fome e a insatisfação imbuias, com alto valor de mercado. Não tardou para a criação
com o governo republicano, sendo o beato um aberto defensor da Southern Brazil Lumber and Colonization Company,
da volta da monarquia. responsável por explorar a extração da madeira e que
A comunidade de Canudos, assim, sobrevivia e prosperava, posteriormente tornou-se a maior empresa do gênero na
mantendo-se por via das trocas com as comunidades vizinhas. América do Sul.
Devido a um incidente entre os moradores do arraial e o A derrubada da floresta implicava necessariamente em
governo da Bahia - uma questão mal resolvida em relação ao remover os antigos moradores regionais, gerando conflitos
corte de madeira na região - o governo estadual resolveu imediatos. Os sertanejos encontraram na figura de monges que
repreender os habitantes, enviando uma tropa ao local. Apesar vagavam pelo sertão pregando a palavra de Deus a inspiração
das poucas condições materiais dos moradores, a tropa baiana e a liderança para lutar contra o governo e as empresas
foi derrotada, o que levou o presidente da Bahia a apelar para estrangeiras. O primeiro Monge que criou pontos de
as tropas federais. resistência ficou conhecido como José Maria. Adorado pela
Canudos manteve-se firme diante das ameaças, população local, o monge era visto pelos sertanejos como um
derrotando duas expedições de tropas federais municiadas de salvador dos pobres e oprimidos, e pelo governo como um
canhões e metralhadoras, uma delas comandada pelo Coronel empecilho para os trabalhos de construção da estrada de ferro.
Antônio Moreira César, também conhecido como "corta- O governo e as empresas investiram fortemente na
cabeças" pela fama de ter mandado executar mais de cem tentativa de expulsão dos sertanejos, e em 1912 próximo ao
pessoas na repressão à Revolução Federalista em Santa vilarejo de Irani ocorreu uma intensa batalha entre governo e
Catarina. A incapacidade do governo federal em conter os população, causando a morte do Monge. A morte do líder
revoltosos, com derrotas vergonhosas, gerou diversas revoltas causou mais revolta nos sertanejos, que intensificaram a
no Rio de Janeiro. resistência, unindo sua crença em outras figuras que
Com a intenção de resolver de vez o problema, foi despontavam como lideranças, como Maria Rosa, uma jovem
organizada a 4ª expedição militar ao vilarejo, com 8.000 de quinze anos de idade, que foi considerada por historiadores
soldados sob o comando do general Artur de Andrade como Joana D'Arc do sertão. A jovem afirmava receber ordens
Guimarães. Dotada de armamento moderno, a expedição levou espirituais de batalha do Monge Assassinado.
um mês e meio para vencer os sertanejos, finalmente O conflito foi tomado como prioridade pelo governo
arrasando o arraial em agosto de 1897, quando os últimos federal, que investiu grande potencial bélico na contenção dos
defensores do vilarejo foram capturados e degolados. revoltosos, como fuzis, canhões, metralhadoras e aviões. O
Canudos foi incendiada para evitar que novos moradores conflito acaba em 1916 com a captura dos últimos lideres
se estabelecessem no local. Nos jornais e também no revoltosos. Assim como em Canudos, a Revolta do Contestado
pensamento do governo federal, a vitória sobre Canudos foi foi marcada por um forte caráter messiânico.
uma vitória “da civilização sobre a barbárie”.
Os combates ocorridos em Canudos foram contados pelo A Revolta da Vacina
Jornalista Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões. O livro A origem dessa revolta ocorrida no Rio de Janeiro deve ser
busca trazer um relato do ocorrido, através do ponto de vista procurada na questão social gerada pelas desigualdades
do autor, que possuía uma visão de “raça superior”, comum do

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sociais e agravada pela reurbanização do Distrito Federal pelo O defensivo, de ação esporádica na guarda de
prefeito Pereira Passos. propriedades rurais, em virtude de ameaças de índios, disputa
O grande destaque do período foi a Campanha de de terras e rixas de famílias;
Saneamento no Rio de Janeiro, dirigida por Oswaldo Cruz. O político, expressão do poder dos grandes fazendeiros;
Decretando-se a vacinação obrigatória contra a varíola, O independente, com características de banditismo.
ocorreu o descontentamento popular.
Isso ocorreu devido a forma que a campanha foi conduzida, O Cangaço pode ser entendido como um fenômeno social,
onde os agentes usavam da força para entrar nas casas e caracterizado por atitudes violentas por parte dos
vacinar a população. Não houve uma campanha prévia para cangaceiros, que andavam em bandos armados e espalhavam
conscientização e educação. Disso se aproveitaram os o medo pelo sertão nordestino. Promoviam saques a fazendas,
militares e políticos adversários de Rodrigues Alves. atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para
Assim, irrompeu a Revolta da Vacina (novembro de 1904), obtenção de resgates. A população que respeitava e acatava as
sob a liderança do senador Lauro Sodré. O levante foi ordens dos cangaceiros era muitas vezes beneficiada por suas
rapidamente dominado, fortalecendo a posição do presidente. atitudes. Essa característica fez com que os cangaceiros fossem
respeitados e até mesmo admirados por parte da população da
Revolta da Chibata43 época.
A Revolta da Chibata ocorreu em 22 de novembro de 1910 Como não seguiam as leis estabelecidas pelo governo,
no Rio de Janeiro. Entre outros, foi motivada pelos castigos eram perseguidos constantemente pelos policiais. Usavam
físicos que os marinheiros brasileiros recebiam. As faltas roupas e chapéus de couro para protegerem os corpos,
graves eram punidas com 25 chibatadas (chicotadas). Esta durante as fugas, da vegetação cheia de espinhos da caatinga.
situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros. Além desse recurso da vestimenta, usavam todos os
O estopim da revolta se deu quando o marinheiro conhecimentos que possuíam sobre o território nordestino
Marcelino Rodrigues foi castigado com 250 chibatadas, por ter (fontes de água, ervas, tipos de solo e vegetação) para fugirem
ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas ou obterem esconderijos.
Gerais. O navio de guerra estava indo para o Rio de Janeiro e a Existiram diversos bandos de cangaceiros. Porém, o mais
punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros, conhecido e temido da época foi o bando comandado por
desencadeou a revolta. Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), também conhecido pelo
O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o apelido de “Rei do Cangaço”. O bando de Lampião atuou pelo
comandante do navio e mais três oficiais. Já na Baia da sertão nordestino durante as décadas de 1920 e 1930.
Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos De 1921 a 1934, Lampião dividiu seu bando em vários
marinheiros do encouraçado São Paulo. subgrupos, dentre os quais os chefiados por Corisco, Moita
O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Brava, Português, Moreno, Labareda, Baiano, José Sereno e
Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o fim dos Mariano. Entre seus bandos, Lampião sempre teve grande
castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos apreço pelo bando de Corisco, conhecido como “Diabo Loiro” e
que participaram da revolta. Caso não fossem cumpridas as também grande amigo de Virgulino.
reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a Lampião morreu numa emboscada armada por uma
cidade do Rio de Janeiro (então capital do Brasil). volante46, junto com a mulher Maria Bonita e outros
cangaceiros, em 29 de julho de 1938. Tiveram suas cabeças
Segunda Revolta44 decepadas e expostas em locais públicos, pois o governo
Diante da grave situação, o presidente Hermes da Fonseca queria assustar e desestimular esta prática na região.
resolveu aceitar o ultimato dos revoltosos. Porém, após os A morte de lampião atingiu o movimento do Cangaço como
marinheiros terem entregues as armas e embarcações, o um todo, enfraquecendo e dividindo os grupos restantes.
presidente solicitou a expulsão de alguns deles. A insatisfação Corisco foi morto em uma emboscada no ano de 1940,
retornou e no começo de dezembro, os marinheiros fizeram encerrando de vez o cangaço no Nordeste.
outra revolta na Ilha das Cobras.
Esta segunda revolta foi fortemente reprimida pelo A Semana de Arte Moderna de 1922
governo, sendo que vários marinheiros foram presos em celas
subterrâneas da Fortaleza da Ilha das Cobras. Neste local, onde O ano de 1922 representou um marco na arte e na cultura
as condições de vida eram desumanas alguns prisioneiros brasileira, com a realização da Semana de Arte Moderna, de 11
faleceram. Outros revoltosos presos foram enviados para a a 18 de fevereiro. A exposição marcava uma tentativa de
Amazônia, onde deveriam prestar trabalhos forçados na introduzir elementos brasileiros nos campo da arte e da
produção de borracha. cultura, vistas como dominadas pela influência estrangeira,
O líder da revolta João Cândido foi expulso da Marinha e principalmente de elementos europeus, trazidos tanto pela
internado como louco no Hospital de Alienados. No ano de elite econômica quanto por trabalhadores imigrantes,
1912, foi absolvido das acusações junto com outros principalmente italianos que trabalhavam na indústria
marinheiros que participaram da revolta. paulista.
Na virada do século XX, São Paulo despontava como
O Cangaço no Nordeste45 segunda maior cidade do país, atrás apenas do Rio de Janeiro,
Entre o final do século XIX e começo do XX (início da capital nacional. Apesar de ocupar o segundo lugar em
República), ganharam força, no nordeste brasileiro, grupos de tamanho, a cidade possuía grande taxa de industrialização,
homens armados, conhecidos como cangaceiros. Estes grupos mais até que a capital, principalmente pelos recursos
apareceram em função principalmente das péssimas proporcionados pela produção de café.
condições sociais da região nordestina. O latifúndio que O contato proporcionado pelos novos meios de transporte
concentrava terra e renda nas mãos dos fazendeiros, deixava a e de comunicação proporcionou o contato com novas
margem da sociedade a maioria da população. tendências que rompiam com a estrutura das artes
Existiram três tipos de cangaço na história do sertão:

43 http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/revolta-da- 45 http://www.seja-ead.com.br/2-ensino-medio/ava-ead-em/3-ano/03-
chibata ht/aula-presencial/aula-5.pdf
44 http://www.abi.org.br/abi-homenageia-filho-do-lider-da-revolta-da- 46 Tropa ligeira, que não transporta artilharia nem bagagem.

chibata/

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predominante desde o renascimento. Entre elas estavam o O movimento contou com a adesão de diversos militares
futurismo, dadaísmo, cubismo, e surrealismo. descontentes com o presidente Epitácio Pessoa, que nomeara
No Brasil, o espírito modernista foi apresentado por um civil para a chefia do Ministério da Guerra. A Reação
autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Republicana conseguiu, em uma estratégia praticamente
Barreto e Graça Aranha, que se desligaram de uma literatura inédita na história brasileira, desenvolver uma campanha
de “falsas aparências”, procurando discutir ou descobrir o baseada em comícios populares nos maiores centros do país.
“Brasil real”, frequentemente “maquiado” pelo pensamento O mais importante deles foi o comício na capital federal,
acadêmico. As novas tendências apareceram em 1917, em quando Nilo Peçanha foi ovacionado pelas massas.
trabalhos: da pintora Anita Malfatti, do escultor Brecheret, do Em outubro de 1921, os ânimos dos militares foram
compositor Vila Lobos e do intelectual Oswaldo de Andrade. exaltados com a publicação de cartas no Jornal Correio da
Os modernistas foram buscar inspiração nas imagens da Manhã, do Rio de Janeiro, assinadas com o nome do candidato
indústria, da máquina, da metrópole, do burguês e do Artur Bernardes e endereçadas ao líder político mineiro Raul
proletário, do homem da terra e do imigrante. Soares. Em seu conteúdo, criticavam a conduta do ex-
Entre os escritores modernistas, o que melhor reflete o presidente e Marechal do Exército, Hermes da Fonseca, por
espírito da Semana é Oswald de Andrade. De maneira geral, ocasião de um jantar promovido no Clube Militar.
sua produção literária reflete a sociedade em que se forjou sua As cartas puseram lenha na fogueira da disputa, deixando
formação cultural: o momento de transição que une o Brasil os militares extremamente insatisfeitos com o candidato.
agrário e patriarcal ao Brasil que caminha para a Pouco antes da data da eleição dois falsários assumiram a
modernização. Ao lado de Oswald de Andrade, destaca-se autoria das cartas e comprovaram tratar-se de uma armação.
como ponto alto do Modernismo a figura de Mário de Andrade, A conspiração não teve maiores consequências, e as eleições
principal animador do movimento modernista e seu espírito puderam transcorrer normalmente em março de 1922.
mais versátil. Cultivou a poesia, o romance, o conto, a crítica, a Como era de se esperar, a vitória foi de Artur Bernardes. O
pesquisa musical e folclórica. problema foi que nem a Reação Republicana nem os militares
aceitaram o resultado. Como o governo se manteve inflexível e
Os anos 1920 e a crise política47 não aceitou a proposta da oposição de rever o resultado
eleitoral, o confronto se tornou apenas uma questão de tempo.
Após a Primeira Guerra Mundial, a classe média urbana
passava cada vez mais a participar da política. A presença O Tenentismo48
desse grupo tendia a garantir um maior apoio a políticos e Após a Primeira Guerra Mundial, vários oficiais jovens de
figuras públicas apoiados em um discurso liberal, que baixa patente, principalmente tenentes (e daí deriva o nome
defendesse as leis e a constituição, e fossem capazes de do movimento tenentista) sentiam-se insatisfeitos. Os soldos
transformar a República Oligárquica em República Liberal. permaneciam baixos e o governo não fazia menção de
Entre as reivindicações estavam o estabelecimento do voto aumentá-los. Havia um grande número deles, e as promoções
secreto, e a criação de uma Justiça Eleitoral capaz de conter a eram muito lentas. Um segundo-tenente podia demorar dez
corrupção nas eleições. anos para alcançar a patente de capitão.
Em 1919, Rui Barbosa, que já havia sido derrotado em Sua reinvindicações oficiais foram contra a desorganização
1910 e 1914, entrou novamente na disputa como candidato de e o abandono em que se encontrava o exército brasileiro. Com
oposição, enfrentando o candidato Epitácio Pessoa, que o tempo os líderes do movimento chegaram à conclusão de que
concorria como novo sucessor pelo PRM (Partido Republicano os problemas que enfrentavam não estavam apenas no
Mineiro). exército, mas também na política.
Permanecendo ausente do Brasil durante toda a Com a intenção de fazer as mudanças acontecerem, os
campanha, devido à sua atuação na Conferência de Paz da revoltosos pressionaram o governo, que não se prontificou a
França, Epitácio venceu Rui Barbosa no pleito realizado em atendê-los, o que gerou movimentos de tentativa de tomada de
abril de 1919 e retornou ao Brasil em julho para assumir a poder por meio dos militares. Esse programa conquistou
presidência da República. ampla simpatia da opinião pública urbana, mas não houve
Apesar da derrota, o candidato oposicionista conseguiu mobilização popular e nem mesmo engajamento de
atingir cerca de um terço dos votos, sem nenhum apoio da dissidências oligárquicas à revolução (com exceção do Rio
máquina eleitoral, inclusive conquistando a vitória no Distrito Grande do Sul), daí o seu isolamento e o seu fracasso.
Federal.
Mesmo com o acordo de apoio conseguido com a Política Os 18 do Forte
dos Governadores, e o controle estabelecido por São Paulo e Como citado anteriormente, a vitória de Artur Bernardes
Minas Gerais no revezamento de poder a partir da década de em março de 1922 não agradou os setores oposicionistas.
1920, estados com uma participação política e econômica Durante o período em que aguardava para assumir a posse,
considerada mediana resolveram interferir para tentar acabar que acontecia no dia 15 de novembro, houveram diversos
com a hegemonia da política do “Café com Leite”. protestos contra o mineiro.
Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia se Em junho, o governo federal interveio durante a sucessão
uniram nas eleições presidenciais de 1922, lançando um estadual em Pernambuco, fato que foi extremamente criticado
movimento político de oposição - a Reação Republicana - que por Hermes da Fonseca. O presidente Epitácio Pessoa, que
lançou o nome do fluminense Nilo Peçanha contra o candidato ainda exercia o poder, mandou prender o ex-presidente e
oficial, o mineiro Artur Bernardes. ordenou o fechamento do Clube Militar em 2 de julho.
A chapa oposicionista defendia a maior independência do As ações de Epitácio geraram uma crise que culminou em
Poder Legislativo frente ao Executivo, o fortalecimento das uma série de levantes na madrugada de 5 de julho. Na capital
Forças Armadas e alguns direitos sociais do proletariado federal, levantaram-se o forte de Copacabana, guarnições da
urbano. Todas essas propostas eram apresentadas num Vila Militar, o forte do Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1°
discurso liberal de defesa da regeneração da República Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do
brasileira. Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar,
comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio do

47 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica 48

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/Movi
mentoTenentista

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marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi de São Paulo, mas os revoltosos paulistas desconheciam tais
comandado pelos "tenentes", uma vez que a maioria da alta acontecimentos.
oficialidade se recusou a participar do levante. Em outubro, enquanto os paulistas combatiam em
Os rebeldes localizados no Forte de Copacabana passaram território paranaense, tropas sediadas no Rio Grande do Sul
a disparar seus canhões contra diversos redutos do Exército, iniciaram um levante, associadas a líderes gaúchos contrários
forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério à situação estadual. As forças rebeladas juntaram-se aos
da Guerra. As forças legais revidaram, e o forte sofreu sério paulistas em Foz do Iguaçu, no Paraná, no mês de abril de
bombardeio. 1925. Formou-se assim o contingente que deu início à marcha
Os revoltosos continuaram sua resistência até a tarde de 6 da Coluna Prestes.
de julho, quando resolveram abandonar o Forte e marchar
pela Avenida Atlântica, indo de encontro às forças do governo A Coluna Prestes
que enfrentavam. Enquanto alguns militares se rebelavam em São Paulo, Luís
Em uma troca de tiros com as forças oficiais, morreram Carlos Prestes, também militar, organizava outro grupo no Rio
quase todos os revoltosos, que ficaram conhecidos como “Os Grande do Sul. Em abril de 1925, as duas frentes de oposição,
18 do Forte de Copacabana”. Apesar do nome atribuído ao a Paulista liderada por Miguel Costa, e a Gaúcha, por Prestes,
grupo, as fontes de informação da época não são exatas, com uniram-se em Foz do Iguaçu e partiram para uma caminhada
vários jornais divulgando números diferentes. Os únicos pelo Brasil.
sobreviventes foram os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Sempre vigiados por soldados do governo, os revoltosos
Gomes, com graves ferimentos. evitavam confrontos diretos com as tropas, por meio de táticas
A Revolta de 192449 de guerrilha.
Os participantes das Revoltas de 1922 foram julgados e Por meio de comícios e manifestos, a Coluna denunciava à
punidos em dezembro de 1923, acusados de tentar promover população a situação política e social do país. Num primeiro
um golpe de Estado. Novamente o exército teve suas relações momento, não houve muitos resultados, porém o movimento
com o governo federal agravadas, com uma tensão crescente ajudou a balançar as bases já enfraquecidas do sistema
que gerou uma nova revolta militar, novamente na oligárquico e a preparar caminho para a Revolução de 1930.
madrugada, em 5 de julho de 1924 em São Paulo, articulada A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo
pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, pelo major Miguel cerca de 25 mil quilômetros através de treze estados do Brasil.
Costa, comandante do Regimento de Cavalaria da Força Estima-se que a Coluna tenha enfrentado mais de 50 combates
Pública do estado, e pelo tenente Joaquim Távora, este último contra as tropas governistas, sem sofrer derrotas.
morto durante os combates. Tiveram ainda participação A passagem da Coluna Prestes, gerava reações diversas na
destacada os tenentes Juarez Távora, Eduardo Gomes, João população. Como forma de desmoralizar o movimento, o
Cabanas, Filinto Müller e Newton Estillac Leal. governo condenava os rebeldes e associavam suas ações a
O objetivo do movimento era depor o presidente Artur assassinos e bandidos.
Bernardes, cujo governo transcorria, desde o início, sob estado Iniciando a marcha, a coluna concluiu a travessia do rio
de sítio permanente e sob vigência da censura à imprensa. Paraná em fins de abril de 1925 e adentrou no Paraguai com a
Entre as primeiras ações dos revoltosos, ganhou intenção de chegar a Mato Grosso. Posteriormente percorreu
prioridade a ocupação de pontos estratégicos, como as Goiás, entrou em Minas Gerais e retornou a Goiás.
estações da Luz, da Estrada de Ferro Sorocabana e do Brás, Após a passagem por Goiás, a Coluna partiu para o
além dos quartéis da Força Pública, entre outros. Nordeste, chegando em novembro ao Maranhão, ocasião em
Logo após a ocupação, no dia 8 de julho o presidente de São que o tenente-coronel Paulo Krüger foi preso e enviado a São
Paulo, Carlos de Campos, deixou o palácio dos Campos Elíseos, Luís. Em dezembro, penetrou no Piauí e travou em Teresina
sede do governo paulista na época. No dia seguinte, os sério combate com as forças do governo. Rumando então para
rebeldes instalaram um governo provisório chefiado o Ceará, a coluna teve outra baixa importante: na serra de
pessoalmente pelo general Isidoro. O ato foi respondido com Ibiapina, Juarez Távora foi capturado.
um intenso bombardeio das tropas legalistas sobre a cidade, Em janeiro de 1926, a coluna atravessou o Ceará, chegou
principalmente em bairros operários de São Paulo na região da ao Rio Grande do Norte e, em fevereiro, invadiu a Paraíba,
zona leste. Os bairros da Mooca, Brás, Belém e Cambuci foram enfrentando na vila de Piancó séria resistência comandada
os mais atingidos pelo bombardeio. pelo padre Aristides Ferreira da Cruz, líder político local. Após
A partir do dia 16, sucederam-se as tentativas de ferrenhos combates, a vila acabou ocupada pelos
armistício. Um dos principais mediadores foi José Carlos de revolucionários.
Macedo Soares, membro da Associação Comercial de São Continuando rumo ao sul, a coluna atravessou
Paulo. Num primeiro momento, o general Isidoro condicionou Pernambuco e Bahia e retornou para Minas Gerais, pelo norte
a assinatura de um acordo à entrega do poder a um governo do Estado. Encontrando vigorosa reação legalista e precisando
federal provisório e à convocação de uma Assembleia remuniciar-se. O comando da coluna decidiu interromper a
Constituinte. A negativa do governo federal, somada às marcha para o sul e, em manobra conhecida como "laço
consequências do bombardeio da cidade, reduziu as exigências húngaro50", retornar ao Nordeste através da Bahia. Cruzou o
dos revoltosos à concessão de uma anistia ampla aos Piauí, alcançou Goiás e finalmente chegou de volta a Mato
revolucionários em 1922 e 1924. Entretanto, nem essa Grosso em outubro de 1926.
reivindicação foi atendida. Àquela altura, o estado-maior revolucionário decidiu
Como as exigências dos revoltosos não foram atendidas e enviar Lourenço Moreira Lima e Djalma Dutra à Argentina,
a pressão do governo aumentava, a solução foi mudar a para consultar o general Isidoro Dias Lopes quanto ao futuro
estratégia. Em 27 de julho os revoltosos abandonaram a da coluna: continuar a luta ou rumar para o exílio.
cidade, indo em direção a Bauru, no interior do Estado. O Entre fevereiro e março de 1927, afinal, após uma penosa
deslocamento foi facilitado graças a eclosão de diversas travessia do Pantanal, parte da coluna, comandada por
revoltas no interior, com a tomada de prefeituras. Siqueira Campos, chegou ao Paraguai, enquanto o restante
Àquela altura, já haviam eclodido rebeliões militares no ingressou na Bolívia, onde encontrou Lourenço Moreira Lima,
Amazonas, em Sergipe e em Mato Grosso em apoio ao levante que retornava da Argentina. Tendo em vista as condições

49 50 Recebia esse nome devido ao percurso da manobra lembrar o desenho

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/Leva aplicado na platina dos uniformes dos oficiais de antigamente, o “laço húngaro”.
ntes1924

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precárias da coluna e as instruções de Isidoro, os tradição, o apoio deveria ser dado a um candidato mineiro, já
revolucionários decidiram exilar-se. que o presidente que estava no poder fora eleito por São Paulo.
Durante o tempo em que passou na Bolívia, Prestes Ao invés de apoiar um candidato mineiro, Washington Luís
dedicou-se a leituras em busca de explicações para a situação insistiu na candidatura do governador de São Paulo, Júlio
de atraso e miséria que presenciara em sua marcha pelo Prestes. A atitude do presidente gerou intensa insatisfação em
interior brasileiro. Em dezembro de 1927 foi procurado por Minas Gerais, e ajudou a alavancar o Rio Grande do Sul no
Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista cenário político.
Brasileiro, que fora incumbido de convidá-lo a firmar uma O governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada,
aliança entre "o proletariado revolucionário, sob a influência que esperava ser o indicado para a sucessão presidencial,
do PCB, e as massas populares, especialmente as massas propôs o lançamento de um movimento de oposição para
camponesas, sob a influência da coluna e de seu comandante". concorrer contra a candidatura de Júlio Prestes. O apoio partiu
Prestes, contudo, não aceitou essa aliança. Foi nesse de outros dois estados insatisfeitos com a situação política: Rio
encontro que obteve as primeiras informações sobre a Grande do Sul e Paraíba.
Revolução Russa, o movimento comunista e a União Soviética. Do Rio Grande do Sul surgiu, após inúmeras discussões
A seguir, mudou-se para a Argentina, onde leu Marx e Lênin. entre os três estados, o nome de Getúlio Vargas – governador
gaúcho eleito em 1927, que fora Ministro da Fazenda de
A defesa do café Washington Luís – para presidente, tendo como vice o nome
Os acordos para a manutenção do preço do café elevaram do governador da Paraíba e sobrinho do ex-presidente
a dívida brasileira, principalmente após as emissões de moeda Epitácio Pessoa, o pernambucano João Pessoa Cavalcanti de
realizadas entre 1921 e 1923 por Epitácio Pessoa, o que gerou Albuquerque.
uma desvalorização do câmbio e o aumento da inflação. Artur Definidos os nomes, foi formada a Aliança Liberal, nome
Bernardes preocupou-se em saldar a dívida externa brasileira, que definiu a campanha. O Partido Democrático de São Paulo
retomando o pagamento dos juros e da dívida principal a expressou seu apoio à candidatura de Getúlio Vargas,
partir do ano de 1927. enquanto alguns membros do Partido Republicano Mineiro
Com o objetivo de avaliar a situação financeira do Brasil, resolveram apoiar Júlio Prestes.
em fins de 1923 uma missão financeira inglesa, chefiada por A Aliança Liberal refletia os desejos das classes
Edwin Samuel Montagu chegou ao país. Após os estudos, a dominantes regionais que não estavam ligadas ao café,
comissão apresentou um relatório à presidência da República, buscando também atrair a classe média. Seu programa de
em que apresentava os riscos decorrentes da emissão governo defendia o fim dos esquemas de valorização do café, a
exagerada de moeda e o consequente receio dos credores implantação de alguns benefícios aos trabalhadores, como a
internacionais. aposentadoria (nem todos os setores possuíam), a lei de férias
A defesa dos preços do café representava um gasto e a regulamentação do trabalho de mulheres e menores de
entendido pelo governo federal como secundário nesse idade. Além disso, insistiam no tratamento com seriedade pelo
momento, mesmo em meio às críticas de abandono proferidas poder público das questões sociais, que Washington Luís
pelo setor cafeeiro. A solução foi passar a responsabilidade da afirmava serem “caso de polícia”. Um dos pontos marcantes da
defesa do café para São Paulo. Em dezembro de 1924 foi criado campanha da Aliança Liberal foi a participação do
o Instituto de Defesa Permanente do Café, que possuía a função proletariado.
de regular a entrada do produto no Porto de Santos e realizar
compras do produto para evitar a desvalorização. Reflexos da Crise de 1929 no Brasil
No plano externo, a quebra da bolsa de valores de Nova
O governo de Washington Luís York, seguida da crise que afetou grande parte da economia
mundial, também teve repercussões no Brasil.
Em 1926, mantendo a tradicional rotação presidencial O ano de 1929 rendeu uma excelente produção de café,
entre São Paulo e Minas Gerais, o paulista radicado tudo que os produtores não esperavam. A colheita de quase 30
Washington Luís foi indicado para a sucessão e saiu vencedor milhões de sacas na safra 1927-1928 representava
nas eleições de 1926. Seu governo seguiu com relativa aproximadamente o dobro da produção dos anos anteriores.
tranquilidade, até que em 1929 uma série de fatores, internos Esperava-se que, devido a alternância entre boas e más safras
e externos, mudaram de maneira drástica os rumos do Brasil. 1929 representasse uma colheita baixa, já que as três últimas
No plano interno, a insatisfação das camadas urbanas, em safras haviam sido boas.
especial da classe média, crescia cada vez mais. A estrutura de Aliada a ideia de uma safra baixa, estava a expectativa de
governo baseada no poder das oligarquias, dos coronéis e da lucros certos, garantidos pela Defesa Permanente do Café, o
predominância dos grandes proprietários e produtores de café que levou muitos produtores a contraírem empréstimos e
da região de São Paulo não atendia as exigências e os anseios aumentarem suas lavouras.
de boa parte da população, que não fazia parte ou não era A produção, ao contrário do esperado, graças às condições
beneficiada pelo sistema de governo. climáticas e a implantação de novas técnicas agrícolas. O
Em 1926 surgiu o Partido Democrático, de cunho liberal. O excesso do produto foi de encontro com a crise, que diminuiu
partido desponta como oposição ao PRP (Partido Republicano o consumo, e consequente o preço do café. O resultado foi um
Paulista), que repudiava o liberalismo na prática. Seus endividamento daqueles que apostaram em preços altos e não
integrantes pertenciam a uma faixa etária mais jovem em quitaram suas dívidas.
comparação aos republicanos, o que também contribuiu para Em busca de salvação para os negócios, o setor cafeeiro
agradar boa parte da classe média insatisfeita com o PRP. recorreu ao governo federal na busca de perdão das dívidas e
Formado por prestigiados profissionais liberais e filhos de de novos financiamentos. O presidente, temendo perder a
fazendeiros de café, o partido tinha como pauta a reforma do estabilidade cambial, recusou-se a ajudar o setor, fator que foi
sistema político, através da implantação do voto secreto, da explorado politicamente pela oposição.
representação de minorias, a real divisão dos três poderes e a Apesar do esforço em tentar combater o candidato de
fiscalização das eleições pelo poder judiciário. Washington Luís, a Aliança Liberal não foi capaz de derrotar
Júlio Prestes, que foi eleito presidente em 1º de Março de 1930.
A Sucessão de Washington Luís
Voltando à política do Café-com-leite, em 1929 começava a
campanha para a escolha do sucessor de Washington Luís. Pela

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A Revolução de 1930 - 1906-1909: Afonso Augusto Moreira Pena (morreu


durante o mandato)
Em 1º de março de 1930 Júlio Prestes foi eleito presidente - 1909-1910: Nilo Procópio Peçanha (vice de Afonso Pena,
do Brasil conquistando 1.091.709 votos, contra 742.794 votos assumiu em seu lugar);
recebidos por Getúlio Vargas. Ambos os lados foram acusados - 1910-1914: Marechal Hermes da Fonseca;
de cometer fraudes contra o sistema eleitoral, seja - 1914-1918: Venceslau Brás Pereira Gomes;
manipulando votos, seja impondo votos forçados através de - 1918-1919: Francisco de Paula Rodrigues Alves (eleito,
violência e ameaça. morreu de gripe espanhola, sem ter assumido o cargo);
A derrota Getúlio Vargas nas eleições de 1930 não - 1919: Delfim Moreira da Costa Ribeiro (vice de Rodrigues
significou o fim da Aliança Liberal e sua busca pelo controle do Alves, assumiu em seu lugar);
poder executivo. Os chamados “tenentes civis” acreditavam - 1919-1922: Epitácio da Silva Pessoa;
que ainda poderiam conquistar o poder através das armas. - 1922-1926: Artur da Silva Bernardes;
Buscando agir pelo caminho que o movimento tenentista - 1926-1930: Washington Luís Pereira de Sousa (deposto
havia tentado anos antes, os jovens políticos buscaram fazer pela Revolução de 1930);
contato com militares rebeldes, que receberam a atitude com - 1930: Júlio Prestes de Albuquerque (eleito presidente em
desconfiança. Entre os motivos para o receio dos tenentes, 1930, não tomou posse, impedido pela Revolução de 1930);
estava o fato de que alguns nomes, como João Pessoa e Osvaldo - 1930: Junta Militar Provisória: General Augusto Tasso
Aranha, estiveram envolvidos em perseguições, confrontos e Fragoso, General João de Deus Mena Barreto, Almirante Isaías
condenações contra o grupo. de Noronha.
Porém, depois de conversas e desconfianças dos dois lados,
os grupos chegaram a um acordo com a adesão de nomes de Questões
destaque dos movimentos da década de 20, como Juarez
Távora, João Alberto e Miguel Costa. A grande exceção foi o 01. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História
nome de Luís Carlos Prestes, que em maio de 1930 declarou- – FCC) Seu Mundinho, todo esse tempo combati o senhor. Fui
se abertamente como socialista revolucionário, e recusou-se a eu quem mandou atirar em Aristóteles. Estava preparado para
apoiar a disputa oligárquica. virar Ilhéus do avesso. Os jagunços estavam de atalaia, prontos
Os preparativos para a tomada do poder não aconteceram para obedecer. Os meus e os outros amigos, para acabar com a
da maneira esperada, deixando o movimento conspiratório em eleição. Agora tudo acabou.(In: AMADO, Jorge. Gabriela, cravo
uma situação de desvantagem. Porém, em 26 de julho de 1930 e canela)
ocorreu um fato que serviu de estopim para o movimento
revolucionário: por volta das 17 horas, na confeitaria “Glória”, O texto descreve uma realidade que, na história do Brasil,
em Recife, João Pessoa foi assassinado por João Duarte Dantas. identifica o
O crime, motivado tanto por disputas pessoais como por (A) tenentismo, que considerava o exército como a única
disputas públicas, foi utilizado como justificativa para o força capaz de conduzir os destinos do povo.
movimento revolucionário, sendo explorado seu lado público, (B) coronelismo, que se constituía em uma forma de o
e transformado João Pessoa em “mártir da revolução”. poder privado se manifestar por meio da política.
A morte de João Pessoa foi extremamente explorada por (C) mandonismo, criado com o objetivo de administrar os
seus aliados como elemento político para concretizar os conflitos no interior das elites agrárias do país.
objetivos da revolução. Apesar de ter morrido no Nordeste e (D) messianismo, entidade com poderes políticos capaz de
ser natural da região, o corpo do presidente da Paraíba foi subjugar a população por meio da força.
enterrado no Rio de Janeiro, então capital da República, fator (E) integralismo, que consistia em uma forma de a
que reuniu uma enorme quantidade de pessoas para oligarquia cafeeira demonstrar sua influência e poder político.
acompanhar o funeral. A morte de João Pessoa garantiu a
adesão de setores do exército que até então estavam 02. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História
relutantes em apoiar a causa dos revolucionários. – FCC) Para responder à questão, considere o texto abaixo.
Feitos os preparativos, no dia 3 de outubro de 1930, nos ... A forma federativa deu ampla autonomia aos Estados, com
estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e no Nordeste, a possibilidade de contrair empréstimos externos, constituir
estourou a revolução comandada por Getúlio Vargas e pelo forças militares próprias e uma justiça estadual.
tenente-coronel Góes Monteiro. As ações foram rápidas e não [...] A representação na Câmara dos Deputados,
encontraram uma resistência forte. No Nordeste, as operações proporcional ao número de habitantes dos Estados, foi outro
ficaram a cargo de Juarez Távora, que contando com a ajuda da princípio aprovado...
população, conseguiu dominar Pernambuco sem esforços. [...] A aceitação resignada da candidatura Prudente de
Em virtude do maior peso político que os gaúchos Moraes, que marcou o início da república civil oligárquica,
detinham no movimento e sob pressão das forças consolidada por Campos Sales, se deu em um momento difícil,
revolucionárias, a Junta finalmente decidiu transmitir o poder quando Floriano dependia do apoio regional [...].
a Getúlio Vargas. Num gesto simbólico que representou a (Adaptado de: FAUSTO, Boris. Pequenos ensaios de
tomada do poder, os revolucionários gaúchos, chegando ao História da República (1889-1945). São Paulo: Cebrap, 1972,
Rio, amarraram seus cavalos no Obelisco da avenida Rio p. 2-4)
Branco. Em 3 de novembro chegava ao fim a Primeira
República. O principal mecanismo para a consolidação da república a
que o texto se refere foi a
Candidato(a), segue abaixo a lista completa dos (A) política de “salvação nacional", desencadeada pelos
presidentes da República Velha com a cronologia correta: militares ligados aos grandes fazendeiros mineiros e paulistas
com a finalidade de fortalecer o poder das oligarquias
- 1889-1891: Marechal Manuel Deodoro da Fonseca; estaduais do sudeste.
- 1891-1894: Floriano Vieira Peixoto; (B) “campanha civilista" que defendia a regulamentação
- 1894-1898: Prudente José de Morais e Barros; dos preços dos produtos de exportação e garantia os
- 1898-1902: Manuel Ferraz de Campos Sales; empréstimos contraídos no exterior aos fazendeiros das
- 1902-1906: Francisco de Paula Rodrigues Alves; grandes propriedades.

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(C) “política dos governadores", que consistia na troca de A expressão “O sertão vai virar mar” está associada a uma
apoio entre governo federal e governos locais, com a finalidade personagem de um importante movimento messiânico do
de manter no poder os representantes dos grandes início da República brasileira.
fazendeiros. O personagem referido é:
(D) política do “café-com-leite", que incentivava uma (A) João Cândido.
disputa acirrada entre os representantes dos pequenos (B) Beato José Maria.
Estados e enfraquecia o poder dos fazendeiros paulistas e dos (C) Antônio Conselheiro.
mineiros. (D) Marcílio Dias.
(E) política de “valorização do café" realizada pelos (E) Barão de Drumond.
Estados contribuía para o enfraquecimento do poder local e
garantia a troca de favores entre os fazendeiros e o governo Gabarito
federal.
01.B / 02.C / 03.A / 04.C
03. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História
– FCC) Ao contrário do que sucedeu na Capital da República,
as primeiras manifestações do movimento operário em São A Era Vargas
Paulo surgiram já sob a inspiração de ideologias
revolucionárias ou classistas – o anarquismo e, em muito Dentro das divisões históricas do período republicano, a
menor grau, o socialismo reformista. As condições sócio- “Era Vargas” é dividida em três intervalos distintos:
políticas tendiam a confirmar as ideologias negadoras da 1 - um período provisório, quando assume o governo após
organização vigente na sociedade aos olhos da marginalizada o movimento de 1930;
classe operária nascente, estrangeira em sua grande maioria. 2 - um período constitucional, quando eleito após a
(...) O anarquismo se converteria, entretanto, na principal promulgação da Constituição de 1934, e;
corrente organizatória do movimento operário, tanto no Rio 3 - um autoritário, com o golpe de 1937, que deu início ao
de Janeiro como em São Paulo. período conhecido como Estado Novo.
(FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. São
Paulo: s/data, p.60-62) PERÍODO PROVISÓRIO

A corrente ideológica a que o texto se refere, e que As Forças de oposição ao Regime Oligárquico
dominou a cena do movimento operário brasileiro durante a No decorrer das três primeiras décadas do século XX
segunda década do século XX, houveram uma série de manifestações operárias, insatisfação
(A) pode ser tratada como um sistema de pensamento dos setores urbanos e movimentos de rebeldia no interior do
social visando a modificações fundamentais na estrutura da Exército (Tenentismo). Eram forças de oposição ao regime
sociedade com o objetivo de substituir a autoridade do Estado oligárquico, mas que ainda não representavam ameaça à sua
por alguma forma de cooperação não governamental entre estabilidade.
indivíduos livres. Esse quadro sofreu uma grande modificação quando, no
(B) investe contra o capital e o Estado capitalista, biênio 1921-30, a crise econômica e o rompimento da política
pretendendo substitui-lo por uma livre associação de do café-com-leite por Washington Luís colocaram na oposição
produtores diretos, possuidores dos meios de produção e na uma fração importante das elites agrárias e oligárquicas. Os
organização do sindicato único como meio de promover a acontecimentos que se seguiram (formação da Aliança Liberal,
emancipação das classes trabalhadoras. o golpe de 30) e a consequente ascensão de Vargas ao poder
(C) defende a coletivização dos meios de produção, a podem ser entendidos como o resultado desse complexo
violência nas lutas operárias e dá ênfase ao papel que os movimento político.
sindicatos desempenhariam na obra emancipadora dos Getúlio Vargas se apoiou em vários setores sociais
trabalhadores e da sociedade, e na luta operária para a liderados por frações das oligarquias descontentes com o
conquista do Estado. exclusivismo paulista sobre o poder republicano federal.
(D) argumenta que o sindicalismo operário deve ser o
articulador da autogestão e um instrumento do plano O Governo Provisório
econômico e da unidade de produção, e que as diversas Ao final da Revolução de 1930, com Washington Luís
associações produtivas devem ser coordenadas pelas deposto e exilado, Getúlio Vargas foi empossado como chefe do
federações sindicais ligadas ao Estado. governo provisório. As medidas do novo governo tinham como
(E) inclina-se pelo caminho revolucionário ao sustentar a objetivo básico promover uma centralização política e
necessidade de realizar de imediato a tese marxista segundo a administrativa que garantisse ao governo sediado no Rio de
qual o critério de distribuição de bens e serviços deveria ser Janeiro o controle efetivo do país. Em outras palavras, o
determinada pelas assembleias sindicais de cada Estado da federalismo da República Velha caía por terra.
Federação. Para atingir esse objetivo, foram nomeados interventores
para governar os estados. Eram homens de confiança,
04. (SEE/AC - Professor de Ciências Humanas – normalmente oriundos do Tenentismo, cuja tarefa era fazer
FUNCAB) Leia o texto. cumprir em cada estado as determinações do governo
provisório.
“O São Francisco lá pra cima da Bahia Esse fato e o adiamento que Getúlio Vargas foi impondo à
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar convocação de novas eleições desencadearam reações de
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato hostilidade ao seu governo, especialmente no Estado de São
que dizia que o sertão ia alagar Paulo. As eleições dariam ao país uma nova Constituição, um
O sertão vai virar mar, dá no coração presidente eleito pela população e um governo com
O medo que algum dia o mar também vire sertão.” legitimidade jurídica e política. Mas poderia também significar
a volta ao poder dos derrotados na Revolução de 30.
(Sobradinho. Sá e Guarabyra.)

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A Reação Paulista Garantiu, assim, uma certa estabilidade ao crescimento


A oligarquia paulista estava convencida da derrota que econômico. Por fim, foi muito útil para obter o apoio dos
sofreu em 24 de outubro de 1930, mas não admitia perder o assalariados urbanos à política getulista.
controle do Executivo em “seu” próprio estado. A reação Essa legislação denota a grande habilidade política de
paulista começou com a não aceitação do interventor indicado Getúlio. Ele apenas formalizou um conjunto de conquistas que,
para São Paulo, o tenentista João Alberto. Às pressões pela em boa parte, já vigoravam nas relações de trabalho nos
indicação de um interventor civil e paulista, se somou à principais centros industriais. Com isso, construiu a sua
reivindicação de eleições para a Constituinte. Essas teses imagem como “Pai dos Pobres” e benfeitor dos trabalhadores.
foram ganhando rapidamente simpatia popular.
As manifestações de rua começaram a ocorrer com o apoio O Controle Sindical
de todas as forças políticas do Estado, até por aquelas que A aprovação da legislação sindical representou um grande
tinham simpatizado com o movimento de 1930 (exemplo do avanço nas relações de trabalho no Brasil, pois pela primeira
Partido Democrático - PD). Diante das pressões crescentes, vez o trabalhador obtinha individualmente amparo nas leis
Getúlio resolveu negociar com a oligarquia paulista, indicando para resistir aos excessos da exploração capitalista.
um interventor do próprio Estado. Isso foi interpretado como Por outro lado, paralelamente à sua implantação, o Estado
um sinal de fraqueza. Acreditando que poderiam derrubar o definiu regras extremamente rígidas para a organização dos
governo federal, os oligarcas articularam com outros estados sindicatos, entre as quais a que autorizava o seu
uma ação nesse sentido. funcionamento (Carta Sindical), as que regulavam os recursos
Manifestações de rua intensificaram-se em São Paulo. da entidade e as que davam ao governo direito de intervir nos
Numa delas, quatro jovens, Miragaia, Martins, Dráusio e sindicatos, afastando diretorias se julgasse necessário.
Camargo (MMDC) foram mortos e se transformaram em Mantinha, assim, os sindicatos sob um controle rigoroso.
mártires da luta paulista em nome da legalidade
constitucional. Getúlio, por seu lado, aprovou outras PERÍODO CONSTITUCIONAL
“concessões”: elaborou o código eleitoral (que previa o voto
secreto e o voto feminino), mandou preparar o anteprojeto Eleições Presidenciais de 1934
para a Constituição e marcou as eleições para 1933. Uma vez promulgada a Constituição de 1934, a Assembleia
Constituinte converteu-se em Congresso Nacional e elegeu o
A Revolução Constitucionalista de 1932 presidente da República por via indireta: o próprio Getúlio.
A oligarquia paulista, entretanto, não considerava as Começava o período constitucional do governo Vargas.
concessões suficientes. Baseada no apoio popular que
conseguira obter e contando com a adesão de outros estados, O Governo Constitucional e a Polarização Ideológica
desencadeou em 9 de julho de 1932, a chamada Revolução Durante esse período, simultaneamente à implantação do
Constitucionalista. projeto político do governo, foram se desenhando duas
Ela visava a derrubada do governo provisório e a ideologias para o país: uma defendia um nacionalismo
aprovação imediata das medidas que Getúlio protelava. conservador, a outra, um nacionalismo revolucionário.
Entretanto, o apoio esperado dos outros estados não ocorreu
e, depois de três meses, a revolta foi sufocada. Até hoje, o - Nacionalismo conservador
caráter e o significado da Revolução Constitucionalista de Esse movimento contava com o apoio das classes médias
1932 geram polêmicas. De qualquer forma, é inegável que o urbanas, Igreja e setores do Exército. O projeto que seus
movimento teve duas dimensões: apoiadores tinham em mente decorria da leitura que eles
No plano mais aparente, predominaram as reivindicações faziam da história do país até aquele momento.
para que o país retornasse à normalidade política e jurídica, Segundo os conservadores, o aspecto que marcava mais
baseadas numa expressiva participação popular. Nesse profundamente a formação histórica do país e do seu povo era
sentido, alguns destacam que o movimento foi um marco na a tradição agrícola. Desde o descobrimento, toda a vida
luta pelo fortalecimento da cidadania no Brasil. econômica, social e política organizou-se em torno da
Num plano menos aparente, mas muito mais ativo, estava agricultura. Todos os nossos valores morais, regras de
o rancor das elites paulistas, que viam no movimento uma convivência social, costumes e tradições fincavam suas raízes
possibilidade de retomar o controle do poder político que lhe no modo de vida rural.
fora arrebatado em 1930. Dessa forma, tudo o que ameaçava essa “tradição agrícola”
Se admitirmos que existiu uma revolução em 1930, o que (estímulos a outros setores da economia, crescimento da
aconteceu em São Paulo em 1932, foi a tentativa de uma contra indústria, expansão da urbanização e suas consequências,
revolução, pois visava restaurar uma supremacia que durante como a propagação de novos valores, hábitos e costumes
mais de 30 anos fez a nação orbitar em torno dos interesses da tipicamente urbanos) representava um atentado contra a
cafeicultura. Nesse sentido, o movimento era marcado por um integridade e o caráter nacional, uma corrupção da nossa
reacionarismo elitista, contrário ao limitado projeto identidade como povo e nação.
modernizador de 1930. O movimento se caracterizava como nacionalista e
conservador por ser contrário a transformações
As Leis Trabalhistas modernizadoras de origem externa (induzidas pela
Como forma de garantir o apoio popular, Getúlio Vargas industrialização, vanguardas artísticas europeias, etc.).
consolidou um conjunto de leis que garantiam direitos aos Para que a coerência com a nossa identidade histórica
trabalhadores, destacando-se entre eles: salário mínimo, fosse mantida, os ideólogos do nacionalismo conservador
jornada de oito horas, regulamentação do trabalho feminino e propunham o seguinte: os latifúndios (grandes propriedades
infantil, descanso remunerado (férias e finais de semana), rurais) deveriam ser divididos em pequenas parcelas de terras
indenização por demissão, assistência médica, previdência a ser distribuídas. Assim, as famílias retornariam ao campo
social, entre outras. tornando o Brasil uma grande comunidade de pequenos e
A formalização dessa legislação trabalhista teve vários prósperos proprietários.
significados e implicações. Representou a primeira Podemos concluir a partir desse ideário, que eram
modificação importante na maneira de o Estado enfrentar a antilatifundiários e antiindustrialistas. Na esfera política,
questão social e definiu as regras a partir das quais o mercado defendiam um regime autoritário de partido único.
de trabalho e as relações trabalhistas poderiam se organizar.

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Nesse contexto o maior defensor dessas ideias foi o uma nova Constituição ao país, implantando, por meio desse
movimento que recebeu o nome de Ação Integralista golpe o Estado Novo.
Brasileira (AIB), cujo lema era Deus, Pátria e Família, que
tinha como seu principal líder e ideólogo Plínio Salgado. Estado Novo (1937-1945)51
Tradicionalmente, a AIB também é interpretada como uma A ditadura estabelecida por Getúlio Vargas durou oito
manifestação do nazifascismo no Brasil, pela semelhança entre anos, indo de 1937 a 1945. Embora Vargas agisse
os aspectos aparentes do integralismo e do nazifascismo: habilidosamente com o intuito de aumentar o próprio poder,
uniformes, tipo de saudação, ultranacionalismo, feroz não foi somente sua atuação que gerou o Estado Novo. Pelo
anticomunismo, tendências ditatoriais e apelo à violência menos três elementos convergiam para sua criação:
eram traços que aproximavam as duas ideologias.
Um exame mais atento, entretanto, mostra que eram 1 - A defesa de um Estado forte por parte dos cafeicultores,
projetos distintos. Enquanto o nazi fascismo era apoiado pelo que dependiam dele para manter os preços do café;
grande capital e buscava uma expansão econômico-industrial 2 - Os industriais, que seguiam a mesma linha de defesa dos
a qualquer custo, ao preço de uma guerra mundial se cafeicultores, já que o crescimento das indústrias dependia da
necessário, os integralistas queriam voltar ao campo. Num proteção estatal;
certo sentido, o projeto nazifascista era mais modernizante 3 - As oligarquias e classe média urbana, que assustavam-
que o integralista. Assim, as semelhanças entre eles escondiam se com a expansão da esquerda e julgavam que para “salvar a
propostas e projetos globais para a sociedade radicalmente democracia” era necessário um governo forte.
distintos.
Além disso Vargas tinha também o apoio dos militares, por
- Nacionalismo Revolucionário alguns motivos:
Frações dos setores médios urbanos, sindicatos,
associações de classe, profissionais liberais, jornalistas e o - Por sua formação profissional, os militares possuíam uma
Partido Comunista prestaram apoio a outro movimento visão hierarquizada do Estado, com tendência a apoiar mais
político: o nacionalismo revolucionário. Este defendia a um regime autoritário do que um regime liberal;
industrialização do país, mas sem que isso implicasse - Os oficiais de tendência liberal haviam sido expurgados
subordinação e dependência em relação às potências do exército por Vargas e pela dupla Góis Monteiro-Gaspar
estrangeiras, como a Inglaterra e os Estados Unidos. Dutra52;
O nacionalismo revolucionário propunha uma reforma - Entre os oficiais do exército estava se consolidando o
agrária como forma de melhorar as condições de vida do pensamento de que se deveria substituir a política no exército
trabalhador urbano e rural e potencializar o desenvolvimento pela política do exército. A política do exército naquele
industrial. Considerava que a única maneira de realizar esses momento visava o próprio fortalecimento, resultado atingido
objetivos seria a implantação de um governo popular no Brasil. mais facilmente em uma ditadura.
Esse movimento deu origem à Aliança Nacional Libertadora,
cujo presidente de honra era Luís Carlos Prestes, então Com todos esses fatores a seu favor, não houveram
membro do Partido Comunista. dificuldades para Getúlio instalar e manter por oito anos a
ditadura no país. Durante o período foi implacável o
As Eleições de 1938 autoritarismo, a censura, a repressão policial e política e a
Contida a oposição de esquerda, o processo político perseguição daqueles que fossem considerados inimigos do
evoluiu sem conflitos maiores até 1937. Nesse ano, Estado.
começaram a se desenhar as candidaturas para as eleições de
1938, destacando-se Armando Sales Oliveira, paulista que Política econômica do Estado Novo53
articulava com outros estados sua eleição para presidente. Por meio de interventores, o governo passou a controlar a
Getúlio Vargas, as oligarquias que lhe davam apoio e os política dos estados. Paralelamente a eles, foi criado em cada
militares herdeiros da tradição tenentista não viam com bons um dos estados um Departamento Administrativo, que era
olhos a possibilidade de retorno da oligarquia paulista ao diretamente subordinado ao Ministério da Justiça com
poder. Uma vez mantido o calendário eleitoral, isso parecia membros nomeados pelo presidente da república.
inevitável. Como forma de evitar que as eleições Cada Departamento Administrativo estudava e aprovava
acontecessem, Getúlio Vargas coloca em prática o famoso as leis decretadas pelo interventor e fiscalizava seus atos,
Plano Cohen. orçamentos, empréstimos, entre outros. Dessa forma os
Segundo as informações oficiais, forças de segurança do programas estaduais ficavam subordinados ao governo
governo tinham descoberto um plano de tomada do poder federal.
pelos comunistas. Muito bem elaborado, esse plano colocava Na área federal foi criado o Departamento Administrativo
em risco as instituições democráticas do país. do Serviço Público (DASP). Além de centralizar a reforma
Para evitar o perigo vermelho, Getúlio Vargas solicitou ao administrativa, o Departamento tinha poderes para elaborar o
Congresso Nacional a aprovação do estado de sítio, que orçamento dos órgãos públicos e controlar a execução
suspendia as liberdades públicas e dava ao governo amplos orçamentária deles.
poderes para combater a subversão. Com a criação do DASP e do Conselho Nacional de
Economia, não só a atuação administrativa e econômica do
PERÍODO AUTORITÁRIO governo passou a ser muito mais eficiente, como também
aumentou consideravelmente o poder do Estado e do
A Decretação do Estado de Sítio e o Golpe de 1937 presidente da república, agora diretamente envolvido na
A fração oligárquica paulista hesitava em aprovar a solução dos principais problemas econômicos do país,
medida, mas diante do clamor do Exército, das classes médias inclusive com a criação de órgãos especializados: o instituto do
e da Igreja, que temiam a escalada comunista, o Congresso Açúcar e Álcool, o Instituto do Mate, Instituto do Pinho, etc.
autorizou a decretação do estado de sítio. A seguir, com amplos Por meio dessas medidas, o governo conseguiu solucionar
poderes concentrados em suas mãos, Getúlio Vargas outorgou de maneira satisfatória os principais problemas econômicos

51 Adaptado de MOURA, José Carlos Pires. História do Brasil. 53 Referência: <


52 Ambos foram ministros da Guerra no período em que Vargas estava no http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-
poder. Monteiro (1934-1935). Dutra (1936-1945) 45/PoliticaAdministracao/DASP>

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da época. A cafeicultura foi convenientemente defendida, a - O Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as


exportação agrícola foi diversificada, a dívida externa foi Câmaras Municipais foram fechadas;
congelada, a indústria cresceu rapidamente, a mineração de - O sistema judiciário ficou subordinado ao poder
ferro e carvão expandiu-se e a legislação trabalhista foi executivo;
consolidada. - Os Estados eram governados por interventores
Com essas medidas, as elites enriqueceram, a classe média nomeados por Vargas, os quais, por sua vez, nomeavam os
melhorou seu padrão de vida e o operariado ganhou a prefeitos municipais;
proteção que lutou por anos para conseguir. Dessa forma, - A Polícia Especial (PE) e as polícias estaduais adquiriram
mesmo com a repressão e perseguição política em seu regime, total liberdade de ação, prendendo, torturando e assassinando
Vargas atingiu altos níveis de popularidade. qualquer pessoa suspeita de se opor ao governo;
No período de 1937 a 1940, a ação econômica do Estado - A propaganda pela imprensa e pelo rádio foi largamente
objetivava racionalizar e incentivar atividades econômicas já usada pelo governo, por meio do Departamento de Imprensa e
existentes no Brasil. A partir de 1940, com a instalação de Propaganda (DIP).
grandes empresas estatais, o Estado alterou seu papel
passando a ser um dos principais investidores do setor Os partidos políticos foram fechados (até mesmo o Partido
industrial. Integralista que mudou seu nome para Associação Brasileira
Os investimentos estatais concentravam-se na indústria de Cultura.). Em 1938 os integralistas tentaram um golpe de
pesada, principalmente a siderurgia química, mecânica governo que fracassou em poucas horas. Seus principais
pesada, metalurgia, mineração de ferro e geração de energia líderes foram presos, inclusive Plínio Salgado, que foi exilado
hidroelétrica. Esses eram setores que exigiam grandes para Portugal.
investimentos e garantiam retorno somente no longo prazo, o Nesse meio tempo, o DIP e a PE prosseguiam seu trabalho.
que não despertou o interesse da burguesia brasileira. Chefiado por Lourival Fontes, o DIP era incansável tanto na
Como saída, existiam duas opções para sua implantação: o censura quanto na propaganda, voltada para todos os setores
investimento do capital estrangeiro ou o investimento estatal. da sociedade – operários, estudantes, classe média, crianças e
O segundo foi o escolhido. A iniciativa teve êxito graças a um militares – abrangendo assuntos tão diversos quanto
pequeno número de empresários e também do exército, que siderurgia, carnaval e futebol.
associava a indústria de base com a produção de armamentos, Procurava-se assim, formar uma ideologia estadonovista
entendendo-a como assunto de segurança nacional. que fosse aceita pelas diversas camadas sociais e grupos
A maior participação do Estado na economia gerou a profissionais e intelectuais. Cabia também ao DIP o preparo
formação de novos órgãos oficiais de coordenação e das gigantescas manifestações operárias, particularmente no
planejamento econômico, destacando-se: dia 1º de Maio, quando os trabalhadores, além de
CNP – Conselho Nacional do Petróleo (1938) comemorarem o Dia do Trabalho, prestavam uma homenagem
CNAEE – Conselho Nacional de Aguas e Energia Elétrica a Vargas, apelidado de “o pai dos pobres”54.
(1939)
CME – Coordenação da Mobilização Econômica (1942) Leis trabalhistas no governo de Getúlio Vargas
CNPIC – Conselho Nacional de Política Industrial e Getúlio Vargas garantiu diversas mudanças em relação ao
Comercial (1944) trabalho e ao trabalhador durante seu governo. Decretou a
CPE – Comissão de Planejamento Econômico (1944) organização da jornada de trabalho, instituiu o Ministério do
Trabalho, criou a Lei de Sindicalização e o salário mínimo em
As principais empresas estatais criadas no período foram: 1940.
CSN – Companhia Siderúrgica Nacional (1940) As concessões garantidas por Getúlio criavam a imagem de
CVRD – Companhia Vale do Rio Doce (1942) Estado disciplinando ao mercado de trabalho em benefício dos
CNA – Companhia Nacional de Álcalis (1943) assalariados, porém também serviram para encobrir o caráter
FNM – Fábrica Nacional de Motores (1943) controlador do Estado sobre os movimentos operários.
CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco (1945) O relacionamento entre Getúlio e os trabalhadores era
muito interessante, temperado pelos famosos discursos do
Desse modo, apesar da desaceleração do crescimento governante nos quais sempre começavam pela frase
industrial ocasionado pela Segunda Guerra Mundial devido à “trabalhadores do Brasil...”. Utilizando um modelo de política
dificuldade para importar equipamentos e matéria-prima, populista, Vargas, de um lado, eliminava qualquer liderança
quando o Estado Novo se encerrou em 1945, a indústria operária que tentasse uma atuação autônoma em relação ao
brasileira estava plenamente consolidada. governo, acusando-a de “comunista”, enquanto por outro lado,
concedia frequentes benefícios trabalhistas ao operariado.
Características políticas do Estado Novo Desse modo, por meio de uma inteligente mistura de
Pode até parecer estranho, mas a ditadura estadonovista propaganda, repressão e concessões, Getúlio obteve um amplo
possuía uma constituição, que é uma característica das apoio das camadas populares.
ditaduras brasileiras, onde a constituição afirmava o poder
absoluto do ditador. A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) entrou em
A nova constituição foi apelidada de “Polaca”, elaborada vigor em 1943, durante a típica comemoração do 1º de maio.
por Francisco Campos, o mesmo responsável por criar o AI-1 Entre seus principais pontos estão:
(Ato Institucional) em 1964, que deu origem à ditadura militar - Regulamentação da jornada de trabalho – 8 horas diárias.
no Brasil. A constituição “Polaca” era extremamente - Descanso de um dia semanal, remunerado.
autoritária e concedia poderes praticamente ilimitados ao - Regulamentação do trabalho e salário de menores.
governo. - Obrigatoriedade de salário mínimo como base de salário.
Em termos práticos, o governo do Estado Novo funcionou - Direito a férias anuais.
da seguinte maneira: - Obrigatoriedade de registro do contrato de trabalho na
- O poder político concentrava-se todo nas mãos do carteira do trabalhador.
presidente da república;

54 Referência: <
http://pessoal.educacional.com.br/up/50240001/1411397/12_TERC_7_HIST_26
5a326%20(1)-%20AULA%2075.pdf>

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As deliberações da CLT priorizaram em 1943 as relações Muitos dos que lutavam contra o Fascismo na Europa não
do trabalhador urbano, praticamente ignorando o trabalhador aceitavam voltar para casa e viver em um regime autoritário.
rural que ainda representava uma grande parcela da O sentimento de revolta cresceu na população e muitas
população. Segundo dados do IBGE, em 1940 manifestações em prol da redemocratização foram realizadas,
aproximadamente 70% da população brasileira estava na zona mesmo com a forte repressão da polícia. Pressionado pelas
rural. reivindicações, em 1945 Vargas assinou um Ato Adicional que
Essas pessoas não foram beneficiadas com medidas marcava eleições para o final daquele ano.
trabalhistas específicas, nem com políticas que facilitassem o Foram formados vários partidos: UDN (União Democrática
acesso à terra e à propriedade. nacional), PSD (Partido Social Democrático), PTB (Partido
Para organizar os trabalhadores rurais, a partir da década Trabalhista Brasileiro), o PCB (Partido Comunista Brasileiro)
de 1950 surgiram movimentos sociais como as Ligas foi legalizado, além de outros menores.
Camponesas, as Associações de Lavradores e Trabalhadores Apesar dos protestos para o fim do Estado Novo, muitas
Agrícolas, até o mais estruturado destes movimentos, o MST pessoas queriam que a redemocratização ocorresse com a
(Movimento dos Trabalhadores dos Trabalhadores Rurais continuação de Getúlio no poder. Daí vem o movimento
Sem Terra), nascido nos encontros da CPT- Comissão Pastoral conhecido como “Queremismo”, que vem do slogan
da Terra, em 1985, no Paraná. “Queremos Getúlio”.
Enquanto isso, a PE continuava agindo: prendia pessoas,
sendo que a maioria jamais foi julgada, ficando apenas presas Questões
e sendo torturadas durante anos a fio.
Após o fim do Estado Novo foi formada uma comissão para 01. (MPE/GO – Secretário auxiliar – MPE/2017) Sobre
investigar as barbaridades cometidas pela polícia durante o o Estado Novo de Getúlio Vargas, é incorreto afirmar:
período de ditadura, chamada de “Comissão Parlamentar de (A) que foi implantado por Getúlio Vargas sob a
Inquérito dos Atos Delituosos da Ditadura”. Mas os justificativa de conter uma nova ameaça de golpe comunista
levantamentos feitos pela comissão em 1946 e 1947, eram no Brasil.
quase sempre abafados, fazendo-se o possível para que (B) que tomado por uma orientação socialista, o governo
caíssem no esquecimento, por duas razões: preocupava-se em obter o favor dos trabalhadores por meio
de concessões e leis de amparo ao trabalhador.
1 - A maioria dos torturadores e assassinos permaneciam (C) financiava o amplo desenvolvimento do setor
na polícia depois que a PE havia sido extinta, sendo apenas industrial brasileiro, ao realizar uma política de
transferidos para outros órgãos e funções; industrialização por substituição de importações e com
2 - Muitos civis e militares envolvidos nas torturas e criação das indústrias de base.
assassinatos fizeram mais tarde rápida carreira, chegando a (D) para dar ao novo regime uma aparência legal,
ocupar postos importantes na administração e na política. Francisco Campos redigiu uma nova Constituição inspirada
nas constituições fascistas italiana e polonesa.
Também era comum durante o período a espionagem feita (E) adotou o chamado “Estado de Compromisso”, onde
por militares e civis, que eram conhecidos como “invisíveis”. foram criados mecanismos de controle e vias de negociação
Sua função poderia ser a de espiar alguém em específico ou política responsáveis pelo surgimento de uma ampla frente de
fazer uma espionagem generalizada em escolas, apoio a Getúlio Vargas.
universidades, fábricas, estádios de futebol, transporte
público, cinemas, locais de lazer, unidades militares e 02. (IPEM/RO – Agente de Atividades Administrativas
repartições públicas. Formaram-se milhares de arquivos – FUNCAB) O processo histórico da formação do estado de
pessoais com informações minuciosas sobre as pessoas, que Rondônia possui muitos capítulos importantes, com diferentes
seriam utilizadas novamente 19 anos após o fim do Estado atores. Um dos marcos nesse processo foi a criação do
Novo, na Ditadura Militar. Território Federal do Guaporé por meio do Decreto-Lei nº
5.812, de 13 de setembro de 1943. O Presidente da República
Fim do Estado Novo que assinou o referido documento foi:
O início da Segunda Guerra Mundial em 1939, possibilitou (A) Getúlio Vargas.
algumas variações ao Brasil. (B) Gaspar Dutra.
Permitiu ao governo de Vargas neutralidade para negociar (C) Juscelino Kubitschek.
tanto com os Aliados (Estados Unidos, Inglaterra, Rússia...) (D) Jânio Quadros.
como com o Eixo (Itália, Alemanha e Japão). Conseguiu (E) João Goulart.
financiamento dos Estados Unidos para a construção da usina
siderúrgica de Volta Redonda, a compra de armamentos 03. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/2017) Em
alemães e fornecimento de material bélico norte-americano. 1945 chega ao fim o Estado Novo implantado pelo presidente
Apesar da neutralidade de Getúlio, que esperava o Getúlio Vargas. Entre as causas tivemos a(s)
desenrolar do conflito para determinar apoio ao provável (A) Revolução de 1945 realizada pelos sindicatos e
vencedor, em seu governo haviam grupos divididos e definidos apoiado pelo Partido Trabalhista Brasileiro daquela época.
sobre quem apoiar: (B) Atuação do movimento estudantil, liderado pela UNE,
Oswaldo Aranha, que era ministro das Relações que assumiu o poder apoiando o partido da União Democrática
Exteriores era favorável aos Estados Unidos, enquanto os Nacional.
generais Gaspar Dutra e Góis Monteiro eram favoráveis ao (C) Pressões norte-americanas obrigando Getúlio Vargas a
nazismo. Com a entrada dos Estados Unidos na guerra em extinguir o Estado Novo e tornar o país uma democracia.
1941 e o torpedeamento de vários navios mercantes (D) Adesão de Getúlio ao Fascismo, propiciando que ele
brasileiros, o país entra em guerra ao lado dos aliados em implante no Brasil um regime semelhante após 1945.
agosto de 1942. (E) Participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial ao lado das
Em 1944 foram mandados 25.000 soldados da Força democracias, criando uma situação interna contraditória, pois
Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália, marcando a o país vivia, até aquele ano, uma ditadura.
participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
Mais do que a vitória contra as forças do Eixo na Europa, a
Segunda Guerra Mundial teve um efeito na política brasileira.

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04. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Assinale - Os três poderes são definitivamente separados.
a opção correta a respeito do Estado Novo, implantado pela
Constituição de 1937. A separação dos três poderes visava delimitar a ação de
(A) Comparada à Constituição de 1934, a nova carta cada um deles. Esta nova lei, na verdade foi elaborada devido
apresentava como característica nítida a descentralização do à reflexão sobre os anos em que Vargas ampliou as atribuições
poder. do Poder Executivo e obteve controle sobre quase todas as
(B) O Plano Cohen serviu de pretexto para o reforço do ações do Estado. Fora isso, o mandato do presidente se
autoritarismo. estabeleceu em 5 anos, sendo proibida a reeleição para cargos
(C) A Lei de Segurança Nacional, até hoje vigente, foi do Executivo56.
proposta após a instauração da nova carta. No que se referia às leis trabalhistas, a Constituição de
(D) Plínio Salgado, líder da Ação Integralista Brasileira, foi 1946 manteve o princípio de cooperação dos órgãos sindicais
um dos grandes beneficiados pelo novo regime político. e diminuiu o controle dos mecanismos do Estado aos
(E) Imediatamente após a implantação do Estado Novo, sindicatos e seus adeptos. Já no que tocava à organização do
Getúlio Vargas substituiu todos os governadores de estado. processo eleitoral, a Carta de 1946 diluiu as bancadas
profissionais de Getúlio Vargas e aumentou a participação do
05. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/2017) “No dia voto das mulheres.
10 de novembro de 1937, tropas da polícia militar cercavam o Sendo assim, a distribuição das cadeiras na Câmara dos
Congresso Nacional e impediram a entrada dos congressistas. O Deputados foi alterada, aumentando-se as vagas para Estados
ministro da Guerra – general Dutra – se opusera a que a considerados “menores”. Porém, o Governo de Dutra feriu sua
operação fosse realizada por foças do Exército. À noite, Getúlio própria constituição, que pregava o pluripartidarismo, ao
anunciou uma nova fase política e a entrada em vigor de uma iniciar uma cassação ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Carta constitucional, elaborada por Francisco Campos” (trecho A Constituição de 1946 ficou em vigência até o Golpe
extraído do livro História do Brasil, de Boris Fausto). O período Militar em 1964. Nessa ocasião, os militares passaram a aplicar
histórico brasileiro narrado acima descreve o início: uma série de emendas para estabelecer as diretrizes do novo
(A) da Ditadura Militar regime até ser definitivamente suspensa pelos Atos
(B) da Política do Café com Leite Institucionais e pela Constituição de 196757.
(C) do Tenentismo Com o avanço da redemocratização, o movimento operário
(D) do Estado Novo ganhou vigor, com um aumento significativo no número de
(E) da Revolta da Armada sindicalizados e a eclosão de várias greves no país. Para barrar
Gabarito o avanço do movimento sindical, que contava com forte apoio
dos comunistas, Dutra, ainda no início do governo e antes da
01.B / 02.A / 03.E / 04.B / 05.D promulgação da nova Constituição, baixou um decreto
proibindo o direito de greve.
No primeiro ano do governo Dutra, por conta de uma
República Populista – Ditadura Militar conjuntura internacional favorável à cooperação entre países
capitalistas e socialistas, a atuação dos comunistas, apesar das
restrições, foi tolerada. As mudanças ocorridas no cenário
República Populista
internacional a partir de 1947, com o dissolvimento da aliança
entre os Estados Unidos e a União Soviética transformaram a
O Governo de Eurico Gaspar Dutra
situação, levando ao início da Guerra Fria. Segundo o
presidente americano Harry Truman, as potência mundiais da
O governo Dutra foi marcado internamente pela
época estavam divididas em dois sistemas nitidamente
promulgação da nova Carta Constitucional, em 18 de setembro
contraditórios: o capitalista e o comunista. E a política externa
de 1946. De caráter liberal e democrático, a Constituição de
americana voltou-se para o combate ao comunismo.
1946 iria reger a vida do país por mais duas décadas55.
No Brasil, as repercussões da Guerra Fria foram imediatas.
Em 18 de setembro de 1946 foi oficialmente promulgada a
No dia 7 de maio de 1947, após uma batalha judicial, o PCB teve
Constituição dos Estados Unidos do Brasil e o Ato das
seu registro cassado. Nesse mesmo dia, o Ministério do
Disposições Constitucionais Transitórias, o que consagrou
Trabalho decretou a intervenção em vários sindicatos e fechou
liberdades que existiam na Constituição de 1934, mas haviam
a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil criada pelo
sido retiradas em 1937.
movimento sindical em setembro de 1946 e não reconhecida
oficialmente pelo governo.
Alguns dos dispositivos regulados pela Constituição de
A exclusão dos comunistas do sistema político partidário
1946 foram:
culminou em janeiro de 1948, com a cassação dos mandatos
- A igualdade de todos os cidadãos perante a lei;
de todos os parlamentares que haviam sido eleitos pelo PCB.
- A liberdade de expressão, sem censura, fora em
Sob o impacto da cassação, o PCB lançou um manifesto
espetáculos e diversões públicas;
pregando a derrubada imediata do governo Dutra,
- Sigilo de correspondência inviolável;
considerado um governo "antidemocrático", de "traição
- Liberdade de consciência, crença e exercício de quaisquer
nacional" e "a serviço do imperialismo norte-americano"58.
cultos religiosos;
A política econômica do governo Dutra foi guiada pelo
- Liberdade de associação para fins lícitos;
plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia),
- Casa como asilo do indivíduo torna-se inviolável;
programa com grande incentivo dado à pesquisa, refino e
- Prisão apenas em flagrante delito ou por ordem escrita de
distribuição do petróleo. Por meio dessas ações de controle, o
autoridade competente e a garantia ampla de defesa do
governo Dutra conseguiu atingir uma média anual de
acusado;
crescimento econômico de 6%.
- Fim da pena de morte;

55 http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/governo-eurico- 57 https://unipdireito2015.files.wordpress.com/2015/11/sistema-eleitoral-

gaspar-dutra e-jurisprudc3aancia.doc
56 SOARES, L. M. SILVA. A dimensão pedagógica da ação ideológica de uma 58

instituição cultural do período de 1955 a 1964. http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/artigos/DoisGovernos/Cass


http://tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1031/1/Silvia%20Leticia%20Ma acaoPC
rques%20Soares.pdf

Conhecimentos Específicos 76
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APOSTILAS OPÇÃO

Em relação à política externa, a aliança com os Estados social e econômica que vigorava, visto que a mesma era
Unidos foi reforçada. Em decorrência disso, o Brasil foi um dos considerada exploradora pelos nacionalistas radicais.61
primeiros países ocidentais a romper relações com a União Após a década de 30, no primeiro governo de Vargas,
Soviética (durante a época da Guerra Fria, o país manteve-se começa-se a investir na “nacionalização dos bens do subsolo”
aliado aos estadunidenses). O Brasil tomou parte da fase inicial devido à presença de empresas estrangeiras. Um dos maiores
da Organização das Nações Unidas (ONU) como membro não incentivadores de tal campanha foi um importante escritor
permanente, participando da aprovação do Estado de Israel, brasileiro: Monteiro Lobato.
em 1947, tendo Oswaldo Aranha como Presidente da Segunda Ao voltar dos EUA, onde se encantara com a perspectiva de
Assembleia Geral da ONU. um país próspero para seus habitantes, ele se tornou um
Em nível de integração internacional, a atuação brasileira grande articulador da conscientização popular através de
se fez presente na montagem do Sistema Interamericano, palestras, artigos em jornais, livros sobre o assunto e até cartas
iniciada no Rio de Janeiro, em 1947, com a Conferência para a ao então presidente, Getúlio Vargas que, em 1939 cria o CNP –
Manutenção da Paz e da Segurança, em que as nações do Conselho Nacional de Petróleo – tornando o petróleo um
continente assinaram o Tratado Internamericano de recurso da União.
Assistência Recíproca e, no ano seguinte, na Conferência de Mais tarde, no início da década de 50 a esquerda brasileira
Bogotá, com a aprovação da criação da Organização dos lança a campanha “O Petróleo é Nosso” contra a tentativa dos
Estados Americanos (OEA). Em 1948, com o intuito de chamados “entreguistas” de propugnar a exploração do
estabelecer um foro de defesa de interesses econômicos petróleo brasileiro por empresas ou países estrangeiros
comuns, os países latino-americanos criaram a Comissão alegando que o país não possuía recursos nem técnica
Econômica para a América Latina (CEPAL)59. suficiente para fazê-lo62.
O governo Dutra pregava a não intervenção do Estado na Em resposta, Getúlio Vargas assina a Lei 2.004 de 1953,
economia e a liberdade de ação para o capital estrangeiro. Sua criando a Petrobras.
política econômica fez crescer a inflação e a dívida externa. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE)
O liberalismo econômico adotado pelo presidente Dutra, e o projeto de criação da Eletrobrás também fazem parte da
dando facilidade à livre importação de mercadorias, teve como política nacionalista, industrialista e estatizante de novo
consequência o esgotamento das divisas do país; mais tarde, o governo de Getúlio.
governo teve de modificar sua posição, restringindo algumas Desde o início do seu mandato sofreu forte oposição, sem
importações. conseguir o apoio que precisava para realizar reformas. Neste
O período que abrange os anos de 1946 a 1964, é período Vargas entra em constantes atritos com empresas
considerado pelos historiadores e cientistas sociais como a estrangeiras acusadas de enviar excessivas remessas de lucro
primeira experiência de regime democrático no Brasil. O ao exterior. Em 1952 um decreto institui um limite de 10%
período de existência da República Oligárquica ou República para tais remessas.63
Velha (1889-1930) esteve longe de representar uma Em 1953 João Goulart foi nomeado para o ministério do
experiência verdadeiramente democrática devido aos Trabalho com o objetivo de criar uma política trabalhista que
incontáveis vícios políticos mascarados por princípios de aproximasse os trabalhadores do governo, aventando-se a
legalidade jurídica prescritos nas leis60. possibilidade do aumento do salário-mínimo em 100%. A
Não obstante, o presidente Eurico Gaspar Dutra praticou campanha contra o governo voltou-se então contra Goulart.
uma política governamental deliberadamente autoritária a Jango, como era conhecido, causava profundo
partir de medidas que desrespeitou flagrantemente a descontentamento entre os militares que em 8 de fevereiro de
Constituição vigente. 1954 entregaram um manifesto ao ministério da Guerra
Chegando em 1950, os brasileiros preparavam-se para (Manifesto dos Coronéis). Getúlio pressionado e procurando
uma nova eleição para presidente da República. Mais uma vez, conciliar os ânimos, aceitou demitir João Goulart.
assim como em 1945, o cenário político nacional Os ânimos contra Getúlio se acirraram e ele procurou mais
experimentava a carência de líderes políticos nacionais. De tal do que nunca se amparar nos trabalhadores, concedendo em
forma, o PSD (Partido Social Democrático) ofereceu a 1º de maio de 1954 o aumento de 100% no salário-mínimo. A
candidatura do incógnito mineiro Cristiano Machado e a UDN oposição no congresso entra com um pedido de impeachment,
(União Democrática Nacional) apostou novamente no porém sem sucesso.
brigadeiro Eduardo Gomes. O PTB (Partido Trabalhista Embora Vargas tivesse o apoio político do PTB, do PSD, dos
Brasileiro) por sua vez, chegava à frente lançando o nome de militares nacionalistas, de segmentos da burguesia, da elite
Getúlio Vargas, que venceu com 48% dos votos válidos. agrária, dos sindicatos e de parte das massas urbanas, seu
governo sofreu forte oposição.
O governo democrático de Getúlio Vargas No meio político, o foco da oposição era a UDN. Para esse
partido, "a indústria e a agricultura deveriam desenvolver-se
Em 1950 Getúlio lança-se à presidência juntamente com livremente, de acordo com as forças do mercado, além de
Café Filho pelo PTB e PSP (Partido Social Progressista). Com a valorizar o capital estrangeiro, atribuindo-lhe o papel de
fraca concorrência, é eleito presidente do Brasil, assumindo suprir as dificuldades naturais do País.
novamente o poder, agora por vias democráticas, em 31 de A imprensa conservadora e particularmente o jornal
janeiro de 1951. Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda inicia uma violenta
De volta ao Palácio do Catete, Vargas adotou "uma fórmula campanha contra o governo. Em 5 de agosto de 1954, Lacerda
nova e mais agressiva de nacionalismo econômico”, tanto aos sofre um atentado que matou o major-aviador Rubens
aspectos internos quanto aos externos dos problemas Florentino Vaz. O incidente teve amplas repercussões e
brasileiros. A fórmula do nacionalismo radical propunha, resultou numa grave crise política.64
como o próprio nome já diz, uma mudança radical na estrutura

59 http://www2.camara.leg.br/atividade- 62 Federação da Agricultura do Estado do Paraná.


legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/old/serie-estrangeira-old http://www.sistemafaep.org.br/wp-content/uploads/2017/06/BI-1253.pdf
60 https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/governo-gaspar- 63 https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=263288

dutra-1946-1951-democracia-e-fim-do-estado-novo.htm 64 http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/estado-novo
61 SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-

1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975

Conhecimentos Específicos 77
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APOSTILAS OPÇÃO

As investigações demonstraram o envolvimento de deposição, com apenas três dias de governo. Acompanhado de
Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Getúlio. auxiliares civis e militares, Carlos Luz refugiou-se no prédio da
Fortunato acabou sendo preso. Marinha e, em seguida, partiu para a cidade de Santos, no
A pressão da oposição tornou-se mais intensa no litoral paulista.
Congresso e nos meios militares, exigia-se a renúncia de Com a morte de Vargas, a internação de Café Filho e a
Vargas. Cria-se um clima de tensão que culmina com o tiro que deposição de Carlos Luz, o próximo na linha de sucessão seria
Vargas dá no coração na madrugada de 24 de agosto de 1954. o vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, que assumiu a
Antes de suicidar-se escreveu uma Carta-Testamento, na Presidência da República e reconduziu Lott ao cargo de
realidade seu testamento político. Onde diz coisas como: ministro da Guerra.
“Contra a justiça da revisão do salário mínimo se Subitamente, Café Filho tentou reassumir o cargo, mas foi
desencadearam os ódios (…) Não querem que o trabalhador vetado por Henrique Lott e outros generais que o apoiavam.
seja livre. Não querem que o povo seja independente. (…) Eu Era acusado de conspirar contra a posse de JK e Jango. No dia
vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada 22 de novembro, o Congresso Nacional aprovou o
receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da impedimento para que ele reassumisse a Presidência da
Eternidade e saio da vida para entrar na História”.65 República. Em seu lugar, permaneceu o senador Nereu Ramos,
que transmitiu, sob Estado de Sítio, o governo ao presidente
Governo Café Filho (1954-1955) constitucionalmente eleito: Juscelino Kubitscheck, o
"presidente bossa nova".67
João Fernandes Campos Café Filho, ou simplesmente Café
Filho, como era mais conhecido no meio político, teve um curto Nereu de Oliveira Ramos
mas agitado governo. Durante os poucos mais de 14 meses em
que ocupou a Presidência da República, Café Filho teve que Nascido na cidade de Lages, em Santa Catarina, Nereu de
conciliar os problemas econômicos herdados do governo Oliveira Ramos era advogado e assumiu a presidência aos 67
anterior com o acirramento político provocado pelo cenário anos. Em virtude do impedimento do Presidente Café Filho e
aberto com a morte de Getúlio Vargas. do Presidente da Câmara dos Deputados Carlos Luz, o Vice-
Presidente do Senado Federal, assumiu a Presidência da
A sucessão presidencial República, de 11/11/1955 a 31/01/1956.
Em 1955, durante a disputa presidencial, o PSD, partido
que Vargas fundara uma década antes, lançou o nome de Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961)
Juscelino Kubitscheck (JK) à Presidência da República. Na
disputa para vice-presidente, que na época ocorria em Na eleição presidencial de 1955, o Partido Social
separado da corrida presidencial, a chapa apresentou o ex- Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) se
ministro do Trabalho do governo Vargas, João Goulart, do PTB, aliaram, lançando como candidato Juscelino Kubitschek para
sigla pela qual o ex-presidente havia sido eleito em 1950. presidente e João Goulart para vice-presidente. A União
Setores mais radicais da UDN, representados pelo Democrática Nacional (UDN) e o Partido Democrata Cristão
jornalista Carlos Lacerda, receosos de que a vitória de (PDC) disputaram o pleito com Juarez Távora.
Juscelino Kubitscheck e Jango pudesse significar um retorno
da política varguista, passaram a pedir a impugnação da chapa. O Plano de Metas
Lacerda chegou a declarar, na época, que "esse homem (JK) O governo de Juscelino Kubitschek entrou para história do
não pode se candidatar; se candidatar não poderá ser eleito; se país como a gestão presidencial na qual se registrou o mais
for eleito não poderá tomar posse; se tomar posse não poderá expressivo crescimento da economia brasileira. Na área
governar". econômica, o lema do governo foi "Cinquenta anos de
A pressão da UDN para que Café Filho impedisse a posse progresso em cinco anos de governo".
dos novos eleitos intensificou-se logo após a divulgação dos Para cumprir com esse objetivo, o governo federal
resultados oficiais, que davam a vitória à chapa PSD-PTB. De elaborou o Plano de Metas, que previa um acelerado
outro lado, entre os militares, também surgiam divergências crescimento econômico a partir da expansão do setor
quanto ao resultado das urnas. A principal delas ocorreu industrial, com investimentos na produção de aço, alumínio,
quando um coronel declarou-se contrário à posse de JK e metais não ferrosos, cimento, álcalis, papel e celulose,
Jango, numa clara insubordinação ao ministro da Guerra de borracha, construção naval, maquinaria pesada e
Café Filho, marechal Henrique Lott, que havia se posicionado a equipamento elétrico.
favor do resultado.66 O Plano de Metas teve pleno êxito, pois no transcurso da
gestão governamental a economia brasileira registrou taxas de
Carlos Luz crescimento da produção industrial (principalmente na área
de bens de capital) em torno de 80%.
A intenção de Lott em punir o coronel, entretanto,
dependia de autorização do presidente da República, que em A construção de Brasília
meio a tantas pressões foi internado às pressas num hospital A ideia de estabelecer a capital do Brasil no interior do país
do Rio de Janeiro. Afastado das atividades políticas, Café Filho nasceu ainda no século XVIII, algumas décadas após Rio de
foi substituído no dia 08 de novembro de 1955, pelo primeiro Janeiro tornar-se o centro administrativo do país, título que
nome na linha de sucessão, Carlos Luz, presidente da Câmara até então pertencia a Salvador. Os inconfidentes mineiros
dos Deputados. queriam que a capital da república, caso seu plano de
Próximo à UDN, Carlos Luz decidiu não autorizar o separação funcionasse, fosse a cidade de São João del Rey-MG.
marechal Lott a seguir em frente com a punição, o que Mesmo com a independência do Brasil em 1822, a capital
provocou sua saída do Ministério da Guerra. permaneceu no Rio.
A partir de então, Henrique Lott iniciou uma campanha Já em meados do século XIX, o historiador Francisco Adolfo
contra o presidente em exercício, que terminou na sua de Varnhagem reiniciou a luta pela transferência, propondo

65 http://www.culturabrasil.org/vargas.htm 67 https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/governo-cafe-
66 Câmara Municipal de São Paulo. filho-1954-1955-os-14-meses-do-vice-de-vargas.htm
http://www.camara.sp.gov.br/memoria/wp-
content/uploads/sites/20/2017/11/leg4_final_02.pdf

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que uma nova capital fosse construída na região onde hoje fica seus países de origem. Esse tipo de procedimento era ilegal,
a cidade de Planaltina-GO. mas as multinacionais burlavam as próprias leis locais.
Após a Proclamação da República, a ideia de transferir a Portanto, se por um lado o Plano de Metas alcançou os
capital brasileira voltou a ser tema de debate, principalmente resultados esperados, por outro, foi responsável pela
pelos problemas sanitários e as epidemias de Febre Amarela consolidação de um capitalismo extremamente dependente
que assolavam o Rio de Janeiro durante o verão, e pela posição que sofreu muitas críticas e acirrou o debate em torno da
estratégica em caso de guerra, já que o acesso a uma capital no política desenvolvimentista.
interior do território brasileiro seria dificultado para os
inimigos. Denúncias da oposição
Os constituintes de 1891 estabeleceram nas Disposições A gestão de Juscelino Kubitschek não esteve a salvo de
Transitórias, essa determinação que, não tendo sido executada críticas dos setores oposicionistas. No Congresso Nacional, a
em toda a Velha República, foi renovada na constituição oposição política ao governo de JK vinha da UDN. A oposição
promulgada em 1934. Igualmente a carta de 1946 conservou ganhou maior força no momento em que as crescentes
aquele propósito, determinando a nomeação, pelo presidente dificuldades financeiras e inflacionárias (decorrentes
da República, de uma comissão de técnicos que visassem principalmente dos gastos com a construção de Brasília)
estudos localizando, no Planalto Central, uma região onde fragilizaram o governo federal.
fosse demarcada a nova capital. A UDN fazia um tipo de oposição ao governo baseada na
Em maio de 1892, o governo Floriano Peixoto criou a denúncia de escândalos de corrupção e uso indevido do
Comissão Exploradora do Planalto Central e entregou a chefia dinheiro público. A construção de Brasília foi o principal alvo
a Louis Ferdinand Cruls, astrônomo e geógrafo belga radicado das críticas da oposição. No entanto, a ação de setores
no Rio de Janeiro desde 1874. Essa comissão tinha como oposicionistas não prejudicou seriamente a estabilidade
objetivo, conforme disposto na constituição, proceder à governamental na gestão de JK.69
exploração do planalto central da república e à consequente
demarcação da área a ser ocupada pela futura capital.68 Governabilidade e sucessão presidencial
Diversos problemas, entre eles a questão logística, Em comparação com os governos democráticos que
impediram a construção da nova capital federal, pois a antecederam e sucederam a gestão de JK na presidência da
dificuldade nos transportes e também no acesso ao Planalto República, o mandato presidencial de Juscelino apresenta o
Central tornavam a ideia inviável. melhor desempenho no que se refere à estabilidade política.
Ao assumir a presidência da República, Juscelino A aliança entre o PSD e o PTB garantiu ao Executivo
Kubitschek, logo após a sua posse, em Janeiro de 1956, afirmou Federal uma base parlamentar de sustentação e apoio político
o seu empenho “de fazer descer do plano dos sonhos a que explica os êxitos da aprovação de programas e projetos
realidade de Brasília”. Apresentando o projeto ao congresso governamentais. O PSD era a força dominante no Congresso
como um fato consumado, em setembro do mesmo ano, foi Nacional, pois possuía o maior número de parlamentares e o
aprovada a lei nº 2.874 que criou a Companhia Urbanizadora maior número de ministros no governo. Era considerado um
da Nova Capital (vulgarizada pela sigla NOVA-CAP). As obras partido conservador, porque representava interesses de
se iniciaram em Fevereiro de 1957, com apenas 3 mil setores agrários (latifundiários), da burocracia estatal e da
trabalhadores – batizados de “candangos”. burguesia comercial e industrial.
O arquiteto Oscar Niemeyer foi escolhido para a chefia do O PTB, ao contrário, reunia lideranças sindicais
Departamento de Urbanística e Arquitetura, recusando-se a representantes dos trabalhadores urbanos mais organizados e
traçar os planos urbanísticos de Brasília, insistindo na setores da burguesia industrial. O êxito da aliança entre os dois
necessidade de um concurso para a escolha do plano-piloto, partidos deu-se ao fato de que ambos evitaram radicalizar suas
aceito em março de 1957. respectivas posições políticas, ou seja, conservadorismo e
reformismo radicais foram abandonados.
Desenvolvimento e dependência externa Na sucessão presidencial de 1960, o quadro eleitoral
A prioridade dada pelo governo ao crescimento e apresentou a seguinte configuração: a UDN lançou Jânio
desenvolvimento econômico do país recebeu apoio de Quadros como candidato; o PTB com o apoio do PSB
importantes setores da sociedade, incluindo os militares, os apresentou como candidato o marechal Henrique Teixeira
empresários e sindicatos trabalhistas. O acelerado processo de Lott; e o PSP concorreu com Adhemar de Barros.
industrialização registrado no período, porém, não deixou de A vitória coube a Jânio Quadros, que obteve expressiva
acarretar uma série de problemas de longo prazo para a votação. Naquela época, as eleições para presidente e vice-
econômica brasileira. presidente ocorriam separadamente, ou seja, as candidaturas
O governo realizava investimentos no setor industrial a eram independentes. Assim, o candidato da UDN a vice-
partir da emissão monetária e da abertura da economia ao presidente era Milton Campos, mas quem venceu foi o
capital estrangeiro. A emissão monetária (ou emissão de papel candidato do PTB, João Goulart. Desse modo, ele iniciou seu
moeda) ocasionou um agravamento do processo inflacionário, segundo mandato como vice-presidente.70
enquanto que a abertura da economia ao capital estrangeiro
gerou uma progressiva desnacionalização econômica, porque Governo Jânio Quadros (1961)
as empresas estrangeiras (as chamadas multinacionais)
passaram a controlar setores industriais estratégicos da A gestão de Jânio Quadros na presidência da República foi
economia nacional. breve, duraram sete meses e encerrou-se com a renúncia.
O controle estrangeiro sobre a economia brasileira era Neste curto período, Jânio Quadros praticou uma política
preponderante nas indústrias automobilísticas, de cigarros, econômica e uma política externa que desagradou
farmacêutica e mecânica. Em pouco tempo, as multinacionais profundamente os políticos que o apoiavam, setores das
começaram a remeter grandes remessas de lucros (muitas Forças Armadas e outros segmentos sociais.
vezes superiores aos investimentos por elas realizados) para A renúncia de Jânio Quadros desencadeou uma crise
institucional sem precedentes na história republicana do país,

68 http://blogs.correiobraziliense.com.br/candangando/missao-cruls- 70

exaltava-fartura-de-agua-na-nova-capital/ http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=217
69

http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=217

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porque a posse do vice-presidente João Goulart não foi aceita O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli,
pelos ministros militares e pelas classes dominantes. assumiu o governo provisoriamente. Porém, os grupos de
oposição mais conservadores representantes das elites
A crise política dominantes e de setores das Forças Armadas não aceitaram
O governo de Jânio Quadros perdeu sua base de apoio que Jango tomasse posse, sob a alegação de que ele tinha
político e social a partir do momento em que adotou uma tendências políticas esquerdistas. Não obstante, setores
política econômica austera e uma política externa sociais e políticos que apoiavam Jango iniciaram um
independente. Na área econômica, o governo se deparou com movimento de resistência.72
uma crise financeira aguda devido a intensa inflação, déficit da
balança comercial e crescimento da dívida externa. Campanha da legalidade e posse
O governo adotou medidas drásticas, restringindo o O governador do estado do Rio Grande do Sul, Leonel
crédito, congelando os salários e incentivando as exportações. Brizola, se destacou como principal líder da resistência ao
Mas foi na área da política externa que o presidente acirrou os promover a campanha legalista pela posse de Jango. O
ânimos da oposição ao seu governo. movimento de resistência, que se iniciou no Rio Grande do Sul
Nomeou para o ministério das Relações Exteriores Afonso e irradiou-se para outras regiões do país, dividiu as Forças
Arinos, que se encarregou de alterar radicalmente os rumos da Armadas impedindo uma ação militar conjunta contra os
política externa brasileira. O Brasil começou a se aproximar legalistas. No Congresso Nacional, os líderes políticos
dos países socialistas. O governo brasileiro restabeleceu negociaram uma saída para a crise institucional.
relações diplomáticas com a União Soviética (URSS). A solução encontrada foi o estabelecimento do regime
As atitudes menores também tiveram grande impacto, parlamentarista de governo que vigorou por dois anos (1961-
como as condecorações oferecidas pessoalmente por Jânio ao 1962) reduzindo enormemente os poderes constitucionais de
guerrilheiro revolucionário Ernesto "Che" Guevara Jango. Com essa medida, os três ministros militares aceitaram,
(condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul) e ao enfim, seu retorno. Em 5 de setembro retorna ao Brasil, e é
cosmonauta soviético Yuri Gagarin, além da vinda ao Brasil do empossado em 7 de setembro.
ditador cubano Fidel Castro71. Apresentando assim indícios de
alinhamento aos governos socialistas do período. O retorno ao presidencialismo
Em janeiro de 1963, Jango convocou um plebiscito para
Independência e isolamento decidir sobre a manutenção ou não do sistema
De acordo com estudiosos do período, o presidente Jânio parlamentarista. Cerca de 80% dos eleitores votaram pelo
Quadros esperava que a política externa de seu governo se restabelecimento do sistema presidencialista. A partir de
traduzisse na ampliação do mercado consumidor externo dos então, Jango passou a governar o país como presidente, e com
produtos brasileiros por meio de acordos diplomáticos e todos os poderes constitucionais a sua disposição.
comerciais. Porém, no breve período em que governou o país sob
Porém, a condução da política externa independente regime presidencialista, os conflitos políticos e as tensões
desagradou o governo norte-americano e, internamente, sociais se tornaram tão graves que seu mandato foi
recebeu pesadas críticas do partido a que Jânio estava interrompido pelo Golpe Militar de 1º de abril de 1964.
vinculado, a UDN, sofrendo também uma forte oposição das Desde o início de seu mandato, não dispunha de base de
elites conservadoras e dos militares. apoio parlamentar para aprovar com facilidade seus projetos
Ao completar sete meses de mandato presidencial, o políticos, econômicos e sociais, por esse motivo a estabilidade
governo de Jânio Quadros ficou isolado política e socialmente. governamental foi comprometida.
Renunciou a 25 de agosto de 1961. Como saída para resolver os frequentes impasses surgidos
pela ausência de apoio político no Congresso Nacional, adotou
Política teatral uma estratégia típica do período populista, recorreu a
Especula-se que a renúncia foi mais um dos atos permanente mobilização das classes populares a fim de obter
espetaculares característicos do estilo de Jânio. Com ela, o apoio social ao seu governo.
presidente pretenderia causar uma grande comoção popular, Foi uma forma precária de assegurar a governabilidade,
e o Congresso seria forçado a pedir seu retorno ao governo, o pois limitava ou impedia a adoção por parte do governo de
que lhe daria grandes poderes sobre o Legislativo. Não foi o medidas antipopulares, ao mesmo tempo em que seria
que aconteceu. necessário o atendimento das demandas dos grupos sociais
A renúncia foi aceita e a população se manteve indiferente. que o apoiavam. Um episódio que ilustra de forma notável esse
Vale lembrar que as atitudes teatrais eram usadas tipo de estratégia política ocorreu quando o governo criou
politicamente por Jânio antes mesmo de chegar à presidência. uma lei implantando o 13º salário. O Congresso não a aprovou.
Em comícios, ele jogava pó sobre os ombros para simular Em seguida, líderes sindicais ligados ao governo mobilizaram
caspa, de modo a parecer um "homem do povo". Também os trabalhadores que entraram em greve e pressionaram os
tirava do bolso sanduíches de mortadela e os comia em parlamentares a aprovarem a lei.
público.
No poder, proibiu as brigas de galo e o uso de lança- As contradições da política econômica
perfume, criando polêmicas com questões menores, que o As dificuldades de Jango na área da governabilidade se
mantinham sempre em evidência, como um presidente tornaram mais graves após o restabelecimento do regime
preocupado com o dia a dia do brasileiro. presidencialista. A busca de apoio social junto às classes
populares levou o governo a se aproximar do movimento
Governo João Goulart (1961-1964) sindical e dos setores que representavam as correntes e ideias
nacional-reformistas.
Com a renúncia de Jânio Quadros, a presidência caberia ao Por esta perspectiva é possível entender as contradições
vice João Goulart, popularmente conhecido como Jango. No na condução da política econômica do governo. Durante a fase
momento da renúncia, se encontrava na Ásia, em visita a parlamentarista, o Ministério do Planejamento e da
República Popular da China. Coordenação Econômica foi ocupado por Celso Furtado, que

71 https://cidadeverde.com/noticias/241078/reportagem-especial-janio- 72 http://www.institutojoaogoulart.org.br/conteudo.php?id=73
quadros-os-100-anos-de-um-politico-incomum

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APOSTILAS OPÇÃO

elaborou o chamado Plano Trienal de Desenvolvimento fato de que o salário de um operário, caso recebesse o aumento
Econômico e Social. em questão, se aproximaria do salário de um oficial.
O objetivo do Plano Trienal era combater a inflação a partir (C) comunicar o suicídio de Getúlio Vargas e ler, no rádio,
de uma política de estabilização que demandava, entre outras sua carta-testamento, alegando que uma conspiração política
coisas, a contenção salarial e o controle do déficit público. Em antivarguista havia influenciado a população que agora
1963, o governo abandonou o programa de austeridade culpava a ele e ao ex-presidente pela alta inflacionária e pela
econômica, concedendo reajustes salariais para o crise econômica em curso.
funcionalismo público e aumentando o salário mínimo acima (D) renunciar a esse cargo diante da reação agressiva do
da taxa pré-fixada. empresariado e das Forças Armadas às suas medidas
Ao mesmo tempo, tentava obter o apoio de setores da trabalhistas, atitude que despertou o apoio da população a
direita realizando sucessivas reformas ministeriais e Jango e o clamor por sua permanência no cargo, fenômeno
oferecendo cargos às pessoas com influência e respaldo junto apelidado de “queremismo”.
ao empresariado nacional e os investidores estrangeiros. (E) atender às pressões dos sindicatos e propor amplas
reformas de base, insubordinando-se à autoridade de Getúlio
Polarização direita-esquerda Vargas por considerar que seu governo não estava tomando
Ao longo do ano de 1963, o país foi palco de agitações medidas suficientemente favoráveis aos trabalhadores.
sociais que polarizaram as correntes de pensamento de direita
e esquerda em torno da condução da política governamental. 02. (SEDUC/PI – Professor-História – NUCEPE)
Em 1964 a situação de instabilidade política agravou-se.
O descontentamento do empresariado nacional e das “Bossa nova mesmo é ser presidente
classes dominantes como um todo se acentuou. Por outro lado, Desta terra descoberta por Cabral
os movimentos sindicais e populares pressionavam para que o Para tanto basta ser tão simplesmente
governo programasse reformas sociais e econômicas que os Simpático, risonho, original".
beneficiassem.73 (Juca Chaves. Presidente Bossa Nova. RGE, 1957).
Atos públicos e manifestações de apoio e oposição ao
governo eclodem por todo o país. Em 13 de março, ocorreu o Considerando o período apresentado na composição, e o
comício da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), podemos
Rio de Janeiro, que reuniu 300 mil trabalhadores em apoio a afirmar CORRETAMENTE:
Jango. (A) Com seu Plano de Metas, o governo de Juscelino
Uma semana depois, as elites rurais, a burguesia industrial propunha romper com a política econômica do governo
e setores conservadores da Igreja realizaram a “Marcha da Vargas, investindo com capitais nacionais nas áreas
Família com Deus e pela Liberdade”, considerada o ápice do prioritárias para o governo, como energia, transporte,
movimento de oposição ao governo. indústria e distribuição de renda.
As Forças Armadas também foram influenciadas pela (B) Como efeito da euforia e do crescimento econômico, o
polarização ideológica vivenciada pela sociedade brasileira governo de Juscelino conseguiu reduzir drasticamente as
naquela conjuntura política, ocasionando rompimento da disparidades econômicas e sociais do país, permitindo uma
hierarquia devido à sublevação de setores subalternos. tranquilidade social que perdurou até vésperas do Golpe Civil-
Os estudiosos do tema assinalam que, a quebra de Militar.
hierarquia dentro das Forças Armadas foi o principal fator que (C) Apoiado em capitais externos, Juscelino pôde ampliar a
ocasionou o afastamento dos militares legalistas que deixaram base monetária do país e assim custear investimentos
de apoiar o governo de Jango, facilitando o movimento produtivos que permitiram o controle do déficit do orçamento
golpista. público e a redução da inflação.
(D) Seu governo coincidiu com um período de forte
Candidato(a), segue abaixo a lista completa dos otimismo, apoiado em uma visão de modernidade
presidentes da República Populista com a cronologia correta: industrializante, o que fez o presidente prometer 50 anos de
- José Linhares (1945-1946 - interino) desenvolvimento em 5 anos de mandato.
- Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) (E) Apesar de sua política populista, Juscelino agia de
- Getúlio Vargas (1951-1954) forma autoritária em sua forma de governar, condição que
- Café Filho (1954-1955) pode ser exemplificada com o episódio em que puniu o
- Carlos Luz (1955 - interino) ministro da Guerra, o general Teixeira Lott, por ter contrariado
- Nereu Ramos (1955-1956 - interino) um de seus aliados políticos, o coronel Jurandir Mamede,
- Juscelino Kubitschek (1956-1961) subordinado do general.
- Jânio Quadros (1961)
- Ranieri Mazilli (1961 - interino) 03. (IF/AL – Professor – CEFET) O Governo João Goulart
- João Goulart (1961-1964) (1961/1964) foi marcado pela interrupção e conseguinte
instalação da ditadura militar no país. O governo Goulart, na
Questões prática, ficou caracterizado em função das suas ações políticas,
como um governo:
01. (TRT/MG – Analista – FCC) O Ministro do Trabalho (A) Autoritário, com uma linha ideológica próxima ao
João Goulart provocou grande turbulência política em 1954 ao socialismo chinês.
(A) ser nomeado para esse cargo à revelia da vontade de (B) Democrático, sendo apoiado durante todo seu curto
Vargas, uma vez que era o principal líder do Partido período pelos partidos de esquerda, inclusive o partido
Trabalhista, que nele via possibilidade de reverter o clima comunista.
político desfavorável em razão da oposição exercida pela (C) Conturbado, em que foi implantado o
União Democrática Nacional. parlamentarismo, fato este, que não foi suficiente para
(B) propor um aumento de 100% no valor do salário amenizar as crises políticas do período.
mínimo, proposta que causou a indignação de setores do (D) Democrático, sendo apoiado incondicionalmente pelas
Exército insatisfeitos com sua situação e incomodados com o forças armadas.

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APOSTILAS OPÇÃO

(E) Autor das reformas de base, sendo estas apoiadas por O último ato de Castelo Branco foi a imposição de LSN (Lei
setores da chamada classe média, dos trabalhadores e do de Segurança Nacional), que estabelecia que certas ações de
empresariado mais progressista. Obteve, assim, êxito na oposição ao regime seriam consideradas “atentatórias” à
proposta de modernizar o país. segurança nacional e punidas com rigor.
Em dezembro de 1968, sob o governo do Marechal Costa e
Gabarito Silva foi instituído o AI-5, o mais duro e repressor dos atos
institucionais.
01.B / 02.D / 03.C Alguns grupos políticos contra a ditadura passaram a
atuar na clandestinidade. Alguns deles, devido ao AI-5
O Regime Militar optaram por partir para a revolta armada que adotou táticas
de guerrilha.
O início do governo militar é marcado por grande Surgiram focos de guerrilha urbana (principalmente São
perseguição política aos líderes de esquerda, tendo por Paulo) e guerrilha rural (na região do rio Araguaia). A
exemplo deputados e políticos seus mandatos cassados. Para guerrilha nunca representou um grande problema de verdade,
tanto foi criado o SNI (Serviço Nacional de Informação). pois eram pequenos e poucos grupos, mas forneceu o
O SNI era o serviço secreto do Exército e contava com argumento que a ditadura precisava para manter e aumentar
agentes infiltrados em vários setores como jornais, sindicatos, a repressão, pois tínha inclusive um inimigo interno
escolas (...). Apesar das cassações de mandato o Congresso comunista. O risco não havia passado (lembra-se que o
Nacional foi mantido e mesmo após a constituição de 67, que pretexto do golpe era afastar o risco comunista?).
institucionalizava o regime, os militares continuaram
governando através de atos institucionais74. Milagre Econômico e Repressão
Foram eles: Durante o Governo do General Médici o país viveu a maior
AI-1: Ampliação dos poderes do presidente, eleição onda de repressões e torturas da ditadura. O AI-5 era aplicado
indireta e a cassação de parlamentares de esquerda. O início com toda a força e a censura era plena. Ao mesmo tempo o país
da instalação da Ditadura. Perseguem lideranças opositoras vivia um período de propaganda ufanista (nacionalismo e
(líderes camponeses, estudantis, sindicais, partidários e enaltecimento do Brasil) e experimentava um grande
intelectuais) e são cassados mandados políticos e cargos crescimento econômico e urbano em razão do “milagre
públicos. econômico”.
AI-2: Instituiu bipartidarismo. Só podiam existir dois Foram contraídos empréstimos e concedidos créditos ao
partidos: a ARENA e o MDB. Consolida as eleições indiretas. Os consumido, mas ao mesmo tempo os salários foram
voto dos congressistas para a presidência era aberto e congelados. Esta política nos primeiros anos de aplicação
declarado dito no microfone na assembleia. Não havia gerou um enorme consumo e consequentemente gerou
oposição de fato. O congresso aprovava tudo o que os empregos (cada vez menos remunerados). Ao final da década
presidentes militares mandavam. de setenta o país amargava uma grande inflação, salários cada
AI-3: Estabelecia eleições indiretas para governadores de vez mais defasados e um aumento da desigualdade social.
estado. Votavam os deputados estaduais por voto aberto e
declarado. Movimentos de Resistência
AI-4: Convocação urgente da assembleia para a aprovação
da constituição de 67 O Movimento Estudantil
AI-5: Concede poder excepcional ao presidente que pode Entre os grupos que mais protestavam contra o governo de
cassar mandatos, cargos, fechar o congresso e estabelece o João Goulart para a implementação de reformas sociais
estado de sítio. O AI-5 eliminou as garantias individuais. estavam os estudantes, mobilizados pela União Nacional dos
Estudantes e União Brasileira dos Estudantes secundaristas.
Os presidentes eram escolhidos pelos próprios militares Quando os militares chegaram ao poder em 1964, os
em colégio eleitoral, assim como os governadores de estado e estudantes eram um dos setores mais identificados com a
prefeitos de cidades com mais de 300 mil habitantes. O voto da esquerda comunista, subversiva e desordeira; uma das formas
população em nível federal limita-se aos deputados e de desqualificar o movimento estudantil era chamá-lo de
senadores que eram ou da ARENA (conhecido como “partido baderna, como se seus agentes não passassem de jovens
do sim”) ou do MDB (conhecido como “partido do sim irresponsáveis, e isso se justificava para a intensa perseguição
senhor”). Não havia oposição real e concreta no congresso. que se estabeleceu.
Somente a permitida pelos militares. Em novembro de 1964, Castelo Branco aprovou uma lei,
Foram presidentes militares: conhecida como lei "Suplicy de Lacerda", nome do ministro
- Castelo Branco (64-67) da Educação, reorganizando as entidades e proibindo-as de
- Costa e Silva (67-69) desenvolverem atividades políticas.
- Garrastazu Médici (69-74) Os estudantes reagiram, boicotando as novas entidades
- Ernesto Geisel (74-79) oficiais e realizando passeatas cada vez mais frequentes. Ao
- Figueiredo (79-85) mesmo tempo, o movimento estudantil procurou assegurar a
existência das suas entidades legítimas, agora na
A ditadura entre 1964 e 1967 durante o governo do clandestinidade75.
Marechal Castelo Brancos foi um período mais brando dentro Em 1968 o movimento estudantil cresceu em resposta não
do contexto do regime. Os partidos foram extintos (ficou o só repressão, mas também em virtude da política educacional
bipartidarismo) e a censura ocorria, mas ainda que pequeno, do governo, que já revelava a tendência que iria se acentuar
havia um espaço para os trabalhadores e estudantes se cada vez mais no sentido da privatização da educação, cujos
manifestarem, sobretudo os artistas. As manifestações efeitos são sentidos até hoje.
proliferaram. Ocorreram grandes greves operárias em A política de privatização tinha dois sentidos: um era o
Contagem (MG) e São Paulo. estabelecimento do ensino pago (principalmente no nível
superior) e outro, o direcionamento da formação educacional

74 O Golpe de 1964 e a Ditadura Militar em Perspectiva / Carlo José 75http://repositoriolabim.cchla.ufrn.br/bitstream/123456789/111/16/O%2

Napolitano, Caroline Kraus Luvizotto, Célio José Losnak e Jefferson Oliveira Goulart 0MOVIMENTO%20ESTUDANTIL%20BRASILEIRO%20DURANTE%20O%20REGI
(orgs). - - São Paulo, SP: Cultura Acadêmica, 2014 ME%20MILITAR%201968-1970.pdf

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dos jovens para o atendimento das necessidades econômicas Greves de trabalhadores se espalharam por várias regiões do
das empresas capitalistas (mão-de-obra e técnicos país, principalmente no Nordeste.
especializados).
Estas diretrizes correspondiam à forte influência norte- A Luta Armada
americana exercida através de técnicos da Usaid (agência Militantes da Esquerda resolveram resistir ao regime
americana que destinava verbas e auxílio técnico para projetos militar através da luta armada, com a intenção de iniciar um
de desenvolvimento educacional) que atuavam junto ao MEC processo revolucionário. Entre os grupos mais notórios estão:
por solicitação do governo brasileiro, gerando uma série de
acordos que deveriam orientar a política educacional - Ação Libertadora Nacional (ALN), em que se destaca
brasileira. Carlos Marighella, ex-deputado e ex-membro do Partido
As manifestações estudantis foram os mais expressivos Comunista Brasileiro, morto numa emboscada em 1969;
meios de denúncia e reação contra a subordinação brasileira
aos objetivos e diretrizes do capitalismo norte-americano. O - Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que era
movimento estudantil não parava de crescer, e com ele a comandada pelo ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, morto
repressão. na Bahia, em 17 de setembro de 1971. Em 1969 funde-se com
No dia 28 de março de 1968 uma manifestação contra a má o Comando de Libertação Nacional (COLINA), e muda o
qualidade do ensino realizada no restaurante estudantil nome para Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
Calabouço, no Rio de Janeiro, foi violentamente reprimida pela (VAR-Palmares), que teve participação também da
polícia, resultando na morte do estudante Edson Luís Lima presidente Dilma Rousseff;
Souto76.
A reação estudantil foi imediata: no dia seguinte, o enterro - A Ação Popular, que teve origem em 1962 a partir de
do jovem estudante transformou-se em um dos maiores atos grupos católicos, especialmente influentes no movimento
públicos contra a repressão; missas de sétimo dia foram estudantil;
celebradas em quase todas as capitais do país, seguidas de
passeatas que reuniram milhares de pessoas. - Partido Comunista do Brasil (PC do B), que surge de
Em outubro do mesmo ano, a UNE (União Nacional dos um conflito interno dentro do PCB.
Estudantes), na ilegalidade convocou um congresso para a
pequena cidade de Ibiúna, no interior de São Paulo. A polícia Um dos principais feitos da ALN, em conjunto ao
descobriu a reunião, invadiu o local e prendeu os estudantes. Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8), foi o
sequestro do embaixador estadunidense Charles Ewbrick, em
Movimentos Sindicais 1969. Em nenhum lugar do mundo um embaixador dos EUA
As greves foram reprimidas duramente durante a ditadura. havia sido sequestrado. Essa façanha possibilitou aos
Os últimos movimentos operários ocorreram em 1968, em guerrilheiros negociar a libertação de quinze prisioneiros
Osasco e Contagem, sendo reavivadas somente no fim da políticos. Outro embaixador sequestrado foi o alemão-
década de 1970, com a greve de 1.600 trabalhadores no ABC ocidental Ehrefried Von Hollebem, que resultou na soltura de
paulista em 12 de maio de 1978, que marcou a volta do quarenta presos.
movimento operário à cena política. A luta armada intensificou o argumento de aumento da
Em junho do mesmo ano, o movimento espalhou-se por repressão. As torturas aumentaram e a perseguição aos
São Paulo, Osasco e Campinas. Até 27 de julho registraram-se opositores também. Carlos Marighella foi morto por forças
166 acordos entre empresas e sindicatos beneficiando cerca policiais na cidade de São Paulo. As informações sobre seu
de 280 mil trabalhadores. Nessas negociações, tornou-se paradeiro foram conseguidas também através de torturas.
conhecido em todo o país o presidente do Sindicato dos O VPR realizou ações no Vale do Ribeira em São Paulo, mas
Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luís Inácio da Silva. teve que enfrentar a perseguição militar na região. Lamarca
No dia 29 de outubro de 1979 os metalúrgicos de São Paulo conseguiu fugir para o Nordeste, mas acabou morto na Bahia,
e Guarulhos interromperam o trabalho. No dia seguinte o em 1971.
operário Santos Dias da Silva acabou morrendo em confronto O último foco de resistência a ser desmantelado foi a
com a polícia, durante um piquete na frente uma fábrica no Guerrilha do Araguaia. Desde 1967, militantes do PCdoB
bairro paulistano de Santo Amaro. As greves se espalharam dirigiram-se para região do Bico do Papagaio, entre os rios
por todo o país. Araguaia e Tocantins, onde passaram a travar contato com os
Em consequência de uma greve realizada no dia 1º de Abril camponeses da região, ensinando a eles cuidados médicos e
de 1980 pelos metalúrgicos do ABC paulista e de mais 15 auxiliando-os na lavoura.
cidades do interior de São Paulo, no dia 17 de Abril o ministro As Forças Armadas passaram a perseguir os guerrilheiros
do trabalho, Murillo Macedo, determinou a intervenção nos do Araguaia em 1972, quando descobriu a ação do grupo. O
sindicatos de São Bernardo do Campo e Santo André, desmantelamento ocorreria apenas em 1975, quando uma
prendendo 13 líderes sindicais dois dias depois. A organização força especial de paraquedistas foi enviada à região, acabando
da greve mobilizou estudantes e membros da Igreja. com a Guerrilha do Araguaia.
No Brasil, as ações guerrilheiras não conseguiram um
Ligas Camponesas amplo apoio da população, levando os grupos a se isolarem,
O movimento de resistência esteve presente também no facilitando a ação repressiva. Após 1975, as guerrilhas
campo. Além da sindicalização formaram-se Ligas praticamente desapareceram, e os corpos dos guerrilheiros do
Camponesas que, sobretudo no Nordeste, sob a liderança do Araguaia também. À época, a ditadura civil-militar proibiu a
advogado Francisco Julião, foram importantes instrumentos divulgação de informações sobre a guerrilha, e até o início da
de organização e de atuação dos camponeses. década de 2010 o exército não havia divulgado informação
Em 15 de maio de 1984 cerca de 5 mil cortadores de cana sobre o paradeiro dos corpos.
e colhedores de laranja do interior paulista entraram em greve
por melhores salários e condições de trabalho. No dia seguinte Redemocratização do País e Diretas Já.
invadiram as cidades de Guariba e Bebedouro. Um canavial foi O General Geisel assume em 74. Foi o militar que deu início
incendiado. O movimento foi reprimido por 300 soldados. à abertura política, assinalando o fim da ditadura. O fim do

76 https://www.une.org.br/2011/09/historia-da-une/

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regime foi articulado pelos próprios militares que planejaram passageiro, estava morto, praticamente partido ao meio. A
uma abertura “lenta, segura e gradual”. bomba explodira na altura de sua cintura. O motorista, um
Nas eleições parlamentares de 74 os militares imaginaram capitão, estava vivo, mas gravemente ferido e inconsciente.
que teriam a vitória da ARENA, mas o MDB teve esmagadora O Exército abriu um inquérito Policial-Militar para apurar
maioria. Em razão deste acontecimento a ditadura lança a Lei o caso e, depois de muitas averiguações, pesquisas, tomadas de
Falcão e o Pacote de Abril. A lei falcão acabava com a depoimentos, concluiu que a bomba havia sido colocada ali,
propaganda eleitoral. Todos os candidatos apareceriam o dentro do carro e sobre as pernas do sargento do Exército, por
mesmo tempo na TV, segurando seu número enquanto uma grupos terroristas. Essa foi a conclusão da Justiça Militar, e o
voz narrava brevemente seu currículo. Apesar de uma caso foi encerrado.
oposição consentida o MDB estava incomodando e o pacote de Em 1984 o deputado do PMDB Dante de Oliveira propôs
abril serviu para garantir supremacia da ARENA. uma emenda constitucional que restabelecia as eleições
A constituição poderia ser mudada somente por 50% dos diretas para presidente. A partir da emenda Dante de Oliveira
votos (garante a vitória da ARENA). Um terço dos senadores tem início o maior movimento popular pela redemocratização
teriam o papel de “senador biônico”, ou seja, indicado pela do país, as Diretas Já que pediam eleições diretas para
assembleia (sempre senadores da ARENA) e alterou o presidente no próximo ano.
coeficiente eleitoral de forma que a região nordeste (que ainda Infelizmente a emenda não foi aprovada. Em 1985
ocorria claramente o voto de “cabresto” e os eleitores votavam ocorreram eleições indiretas e formaram-se chapas para
em peso na ARENA) tivesse um maior número de deputados. concorrer à presidência. Através das eleições indiretas ganhou
Geisel pôs fim ao AI-5 em 1978. a chapa do PMDB em que o presidente eleito foi Tancredo
Em 1979 assumiu a presidência o General Figueiredo, sob Neves e seu vice José Sarney. Contudo Tancredo Neves
uma forte crise econômica resultado da política econômica do passou mal na véspera da posse e foi internado com infecção
milagre brasileiro. Em 79 foi aprovada a Lei da Anistia intestinal, não resistiu e morreu. Assumiria a presidência da
(perdão de crimes políticos), que de acordo com o governo República em 1985 José Sarney.
militar era uma anistia “ampla, geral e irrestrita”. O Governo de José Sarney foi um momento de enorme crise
O que isso queria dizer? econômica, com hiperinflação, mas um dos momentos mais
Que todos os crimes cometidos na ditadura seriam fundamentais que coroaria a redemocratização, pois foi em
perdoados, tanto o “crime” dos militantes políticos, seu governo que foi aprovada a nova constituição. Foi reunida
estudantes, intelectuais e artistas que se encontravam exilados em 1987 uma assembleia nacional constituinte (assembleia
(fora do país por motivos de perseguição política), e puderam reunida para escrever e promulgar uma nova constituição).
voltar ao Brasil, como os torturadores do regime.
Em 1979 são liberadas para a próxima eleição o voto direto A constituição de 1988
aos governadores. Também foi aprovada a “Lei Orgânica dos
Partidos” que punha fim ao bipartidarismo e foram fundados A nova constituição foi votada em meio a grandes debates
novos 5 partidos: e diferentes visões políticas. Havia muitos interesses em
- PDS (Partido Democrático Social) disputa. O voto secreto e direto para presidente foi restaurado,
- PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) proibida a censura, garantida a liberdade de expressão e
- PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) igualdade de gênero, o racismo tornou-se crime e o estado
- PDT (Partido Trabalhista Brasileiro) estabeleceu constitucionalmente garantias sociais de acesso a
- PT (Partido dos Trabalhadores) saúde, educação, moradia e aposentadoria.
Ao final de 1989 foi realizada a primeira eleição livre desde
Obs.: A lei eleitoral obrigava a votar somente em o golpe de 1964. Foi disputada em dois turnos. O segundo foi
candidatos do mesmo partido, de vereador à governador. concorrido entre o candidato Fernando Collor de Mello (PRN –
A oposição ao regime, na eleição para governador de partido da renovação nacional), contra Luís Inácio Lula da
1982, obteve vitória esmagadora. Silva. Collor ganhou a eleição, com apoio dos meios de
comunicação e governou até 1992 após ser afastado por um
A Resistência às Reformas Políticas de Figueiredo processo de impeachment. Ocorreram grandes
Assim como Geisel, o general Figueiredo teve de enfrentar manifestações populares, sobretudo estudantis, conhecidas
resistência da linha-dura às reformas políticas que estavam como o “movimento dos caras-pintadas”.
em andamento. As primeiras manifestações dos grupos que
estavam descontentes com a abertura vieram em 1980. Questões
No final desse ano e no início de 1981, bombas começaram
a explodir em bancas de jornal que vendiam periódicos 01. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História
considerados de esquerda (Jornal Movimento, Pasquim, – FCC) O processo de abertura política no Brasil, ao final do
Opinião etc.). Uma carta-bomba foi enviada à OAB e explodiu período de regime militar, foi marcado
nas mãos de uma secretária, matando-a. Havia desconfianças (A) pela denominada “teoria dos dois demônios”, discurso
de que fora uma ação do DOI-Codi (Destacamento de oficial que culpava os grupos guerrilheiros e o imperialismo
Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa soviético pelo endurecimento do autoritarismo no Brasil e nos
Interna), mas nunca se conseguiu provar nada. países vizinhos.
(B) pelo chamado “entulho autoritário”, pois a Constituição
O Caso Riocentro outorgada em 1967 continuou vigente, mantiveram-se os
Em abril de 1981, ocorreu uma explosão no Riocentro cargos “biônicos” e persistiu prática da decretação de Atos
durante a realização de um show de música popular. Dele Institucionais durante a década de 1980.
participavam inúmeros artistas considerados de esquerda (C) pela lógica do “ajuste de contas”, pois, ainda que o
pelo Regime. Quando as primeiras pessoas, inclusive governo encampasse uma abertura “lenta, gradual e
fotógrafos, se aproximaram do local da explosão, depararam irrestrita”, os setores populares organizaram greves nacionais
com uma cena dramática e constrangedora. que culminaram na realização de eleições diretas para
Um carro esporte (Puma) estava com os vidros, o teto e as presidente em 1985.
portas destroçados. Havia dois homens no seu interior, (D) pelo caráter de “transição negociada”, uma vez que
reconhecidos posteriormente como oficiais do Exército prevaleceram pressões por parte dos setores afinados com o
ligados ao DOI-Codi. O sargento, sentado no banco do

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regime e concessões dos movimentos pela democratização, em Os aspectos citados no texto permitem identificar a época
um complexo jogo político que se estendeu pelos anos 1980. a que ele se refere como sendo a da
(E) pela busca da “conciliação nacional” ao se instituírem (A) Repressão à Revolução Constitucionalista de 1932.
as Comissões da Verdade que conseguiram, com o aval do (B) Nova República, cujo primeiro presidente foi José
primeiro governo civil pós-ditadura, atender as demandas por Sarney.
“verdade, justiça e reparação” da sociedade brasileira. (C) Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder.
(D) Democracia populista, que durou de 1946 a 1964.
02. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História (E) Ditadura militar, iniciada com o golpe de 1964.
– FCC) A respeito dos Atos Institucionais decretados durante o
regime militar no Brasil, 05. (VUNESP) A imagem a seguir refere-se a um
(A) sucederam-se rapidamente totalizando cinco durante movimento da década de 1980 que contou com grande
a ditadura, sendo o último, em 1968, o que suspendeu a participação popular em várias cidades do Brasil.
garantia do direito ao habeas corpus e instituiu a censura
prévia.
(B) refletiram a intenção dos militares em preservar a
institucionalidade da democracia, uma vez que todos os atos
eram votados pelo Congresso.
(C) prestaram-se a substituir a falta de uma nova
Constituição, chegando a 20 decretações que se estenderam
até o governo Geisel.
(D) foram mais de dez e entre os objetivos de sua
promulgação destaca-se o reforço dos poderes discricionários
da Presidência da República.
(E) concentraram-se nos dois primeiros anos de governo
(Http://www.oabsp.org.br/portaldamemoria/historia-da-oab/ a-
militar e instituíram o estado de sítio e o bipartidarismo. redemocratizacao-e-o-processo-constituinte)

03. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário – História Assinale a alternativa que indica corretamente o objetivo
– FCC) O golpe de 1964, que deu início ao regime militar no deste movimento.
Brasil e que foi chamado pelos militares de “revolução de 64”, (A) Devolver à população o direito de votar nos candidatos
teve, entre seus objetivos à presidência do país.
(A) refrear o avanço do comunismo apoiado pelo (B) Anistiar os presos políticos e permitir o retorno dos
presidente Jango que, após ver concretizado seu programa exilados ao Brasil.
reformista, articulava-se para adaptar o Estado aos moldes (C) Reajustar o salário-mínimo de acordo com os índices
socialistas, por meio do projeto de uma nova constituição reais de inflação.
difundido e aplaudido no histórico Comício da Central do (D) Autorizar a justiça comum a punir políticos envolvidos
Brasil. em crimes de corrupção.
(B) reinstaurar o presidencialismo, uma vez que o regime (E) Permitir que leis propostas pela população fossem
parlamentarista pelo qual João Goulart governava favorecia discutidas no Congresso Nacional.
alianças entre partidos pequenos e grupos de esquerda
liderados pelo PTB, que tinha representação significativa na Gabarito
Câmara e no Senado. 01.D / 02.D / 03.C / 04.E / 05.A
(C) destituir o governo de João Goulart, contando com o
apoio do governo dos Estados Unidos e de parcelas da
sociedade brasileira que apoiaram, dias antes, a Marcha da República Nova
Família com Deus pela Liberdade organizada por setores
conservadores da Igreja Católica.
Nova República
(D) restaurar a ordem no país e garantir a recuperação do
equilíbrio econômico, uma vez que greves paralisavam a
Chamamos Nova República a organização do Estado
produção nacional e movimentos de apoio à reforma agrária
Brasileiro a partir da eleição indireta de Tancredo Neves pelo
se radicalizavam, caso das Ligas Camponesas que haviam
Colégio eleitoral, após o movimento pelas diretas já. No dia da
iniciado a guerrilha do Araguaia.
posse foi hospitalizado e faleceu. Então a cadeira presidencial
(E) iniciar um processo autoritário de transição política e
foi ocupada por seu vice José Sarney
econômica nos moldes do neoliberalismo, por meio de uma
A Vitória da Aliança Democrática e a posse de Sarney
estratégia defendida por entidades como o FMI, a ONU e a
Cepal, com o aval do empresariado brasileiro insatisfeito com
Em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral elegeu
o governo vigente.
Tancredo Neves, primeiro presidente civil em 20 anos. Ele
obteve 275 votos do PMDB (em 280 possíveis), 166 do PDS
04. (VUNESP) A partir dessa época, a tortura passou a ser
(em 340 possíveis), que correspondiam à dissidência da
amplamente empregada, especialmente para obter
Frente Liberal, e mais 39 votos espalhados entre os outros
informações de pessoas envolvidas com a luta armada.
partidos. No total foram 480 contra 180 do candidato
Contando com a “assessoria técnica” de militares americanos
derrotado.
que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares
O PT, por não concordar com as eleições indiretas, não
começavam a agredir no momento da prisão, invadindo casas
participou da votação. A posse do novo presidente estava
ou locais de trabalho. A coisa piorava nas delegacias de polícia
marcada para 15 de março. Um dia antes, entretanto, Tancredo
e em quartéis, onde muitas vezes havia salas de interrogatório
Neves foi internado com diverticulite. Depois de várias
revestidas com material isolante para evitar que os gritos dos
operações, seu estado de saúde se agravou, falecendo no dia
presos fossem ouvidos.
21 de abril de 1985. Com a morte do presidente eleito, assumiu
(Roberto Navarro – http://mundoestranho.abril.com.br.)
o vice, José Sarney.

Conhecimentos Específicos 85
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APOSTILAS OPÇÃO

O governo Sarney As empresas foram surpreendidas com o plano econômico


José Sarney foi o primeiro presidente após o fim da e sem liquidez pressionaram o governo. A ministra da
ditadura militar. Durante seu governo foi consolidado o economia Zélia Cardoso de Mello, faz a liberação gradativa do
processo de redemocratização do Estado brasileiro, garantido dinheiro retido, denominado de "operação torneirinha", para
liberdade sindical e participação popular na política, além da pagamento de taxas, impostos municipais e estaduais, folhas
convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, de pagamento e contribuições previdenciárias. O governo
encarregada de elaborar uma nova constituição para o Brasil. liberou os investimentos dos grandes empresários, e deixou
Entre os princípios incluídos na Constituição de 1988 retido somente o dinheiro dos poupadores individuais.
estão:
- garantia de direitos políticos e sociais; Recessão - No início do Plano Collor a inflação foi
- aumento de assistência aos trabalhadores; reduzida, pois o plano era ousado e tirava o dinheiro de
- ampliação das atribuições do poder legislativo; circulação. Porém, ao mesmo tempo em que caía a inflação,
- limitação do poder executivo; iniciava-se a maior recessão da história no Brasil, houve
- igualdade perante a lei, sem qualquer tipo de distinção; aumento de desemprego, muitas empresas fecharam as portas
- estabelecimento do racismo como crime inafiançável. e a produção diminuiu consideravelmente, com uma queda de
26% em abril de 1990, em relação a abril de 1989. As empresas
No plano econômico, o governo adotou inúmeras medidas foram obrigadas a reduzirem a produção, jornada de trabalho
para conter a inflação, como congelamento de preços e salários e salários, ou demitir funcionários. Só em São Paulo nos
e a criação de um novo plano econômico, o Plano Cruzado. primeiros seis meses de 1990, 170 mil postos de trabalho
No final de 1986, o plano começou a demonstrar sinais de deixaram de existir, pior resultado, desde a crise do início da
fracasso, acentuado pela falta de mercadorias e pressão por década de 80. O Produto Interno Bruto diminuiu de US$ 453
aumento de preços. bilhões em 1989 para US$ 433 bilhões em 1990.79
Além do Plano Cruzado, outras tentativas de conter a
inflação foram colocadas em prática durante o governo Sarney, Privatizações80 - Em 16 de agosto de 1990 o Programa
como o Plano Cruzado II, o Plano Bresser e o Plano de Verão. Nacional de Desestatização que estava previsto no Plano
No último mês do governo Sarney, em março de 1990, a Collor foi regulamentado. A Usiminas foi a primeira estatal a
inflação alcançou o nível de 84%. ser privatizada, através de um leilão em outubro de 1991.
Depois disso, mais 25 estatais foram privatizadas até o final de
O governo Collor 1993, quando Itamar Franco já estava à frente do governo
brasileiro, com grandes transferências patrimoniais do setor
No final de 1989, os candidatos Fernando Collor de Mello, público para o setor privado, com o processo de privatização
do PRN (Partido da Renovação Nacional) e Luiz Inácio Lula da dos setores petroquímicos e siderúrgico já praticamente
Silva, do PT (Partido dos Trabalhadores) disputaram as concluído. Então se inicia a negociação do setor de
primeiras eleições diretas (com voto da população) para telecomunicações e elétrico, existindo uma tentativa de limitar
presidente após a redemocratização. Com forte apoio de as privatizações à construção de grandes obras e à abertura do
setores empresariais e principalmente da mídia, Collor vence capital das estatais, mantendo o controle acionário pelo
as eleições. Estado.
Collor, durante a campanha presidencial, apresentou-se
como caçador de marajás, termo referente aos corruptos que Plano Collor II
beneficiavam-se do dinheiro público. Seus discursos possuíam A inflação entra em cena novamente com um índice mensal
forte influência do populismo, principalmente do Peronismo de 19,39% em dezembro de 1990 e o acumulado do ano chega
argentino77, dizendo-se representante dos descamisados a 1.198%, o governo se vê obrigado a tomar algumas medidas.
(população mais pobre). É decretado o Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991.
Seu governo ficou marcado pelos Planos Collor: Tinha como objetivo controlar a ciranda financeira. Para
isso extinguiu as operações de overnight e criou o Fundo de
Plano Collor78 Aplicações Financeiras (FAF) onde centralizou todas as
A inflação no período de março de 1989 a março de 1990 operações de curto prazo, acabando com o Bônus do Tesouro
chegou a 4.853%, e o governo anterior viu apenas tentativas Nacional fiscal (BTNf), que era usado pelo mercado para
fracassadas de conter a inflação. Após sua posse, Collor indexar preços.
anuncia um pacote econômico no dia 15 de março de 1990: o Passa a utilizar a Taxa Referencial Diária (TRD) com juros
Plano Brasil Novo. prefixados e aumenta o Imposto sobre Operações Financeiras
Esse plano tinha como objetivo pôr fim à crise, ajustar a (IOF). Pratica uma política de juros altos, e faz um grande
economia e elevar o país, do terceiro para o Primeiro Mundo. esforço para desindexar a economia e tenta mais um
O cruzado novo é substituído pelo "cruzeiro", bloqueia-se por congelamento de preços e salários. Um deflator é adotado para
18 meses os saldos das contas correntes, cadernetas de os contratos com vencimento após 1º de fevereiro.
poupança e demais investimentos superiores a Cr$ 50.000,00. O governo acreditava que aumentando a concorrência no
Os preços foram tabelados e depois liberados gradualmente. setor industrial conseguiria segurar a inflação, então se cria
Os salários foram pré-fixados e depois negociados entre um cronograma de redução das tarifas de importação,
patrões e empregados. reduzindo a inflação de 1991 para 481%.
Os impostos e tarifas aumentaram e foram criados outros
tributos, foram suspensos os incentivos fiscais não garantidos A queda de Collor
pela Constituição. Foi anunciado corte nos gastos públicos e Após um curto sucesso nos primeiros meses de governo, a
também se reduziu a máquina do Estado com a demissão de administração Collor passou por profundas crises. Com a taxa
funcionários e privatização de empresas estatais. O plano de inflação superior a 20%, em 1992 a impopularidade do
também previa a abertura do mercado interno, com a redução presidente cresceu. Em maio do mesmo ano, o irmão do
gradativa das alíquotas de importação. presidente, Pedro Collor, acusou Paulo Cesar Farias, que havia
sido caixa da campanha de Fernando Collor, de

77 Referente ao governo de Juan Domingo Peron na Argentina durante os anos 79 https://vdocuments.com.br/fernando-collor.html


de 1952 – 1955. 80 GANDOLPHO, C. Plano Collor completa 20 anos. Diário do Grande ABC.
78 LENARDUZZI, Cristiano, Et al. PLANO COLLOR. Adaptado http://www.dgabc.com.br/Noticia/144113/plano-collor-completa-20-anos

Conhecimentos Específicos 86
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APOSTILAS OPÇÃO

enriquecimento ilícito, obtenção de vantagens no governo e desencadeadas pela crise do México, que começou a se
ligações político financeiras com o presidente. intensificar no final de 1994.
Em junho do mesmo ano, o Congresso Nacional instalou A política de juros altos, que promoveu a entrada de
uma Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) para que capitais de curto prazo, e a abertura do país aos produtos
fossem apuradas as irregularidades apontadas. Em 29 de estrangeiros, com a queda do Imposto de Importação, foram
setembro a Câmara dos Deputados aprovou a abertura do fundamentais para complementar a introdução da nova
processo de Impeachment e em 3 de outubro o presidente foi moeda e para combater a inflação e elevar os níveis de
afastado. Em dezembro o processo foi concluído e Fernando emprego.
Collor teve seus direitos políticos cassados por oito anos, e o O sucesso do Plano Real garantiu a Fernando Henrique a
governo passou para as mãos de seu vice, Itamar Franco. vitória nas eleições de 1994 logo no primeiro turno, contra o
candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
O governo Itamar Franco (1992-1994)
O primeiro governo Fernando Henrique
Durante seu período na presidência, Itamar Franco passou
por um quadro de crescente dificuldade econômica e alianças Em seu discurso de posse, o presidente destacou como
políticas instáveis com inúmeras nomeações e demissões de prioridades a estabilização da nova moeda e a reversão do
ministros do executivo. quadro de exclusão social dos brasileiros.
Um plebiscito foi realizado em 1993 para definir a forma Assim como outros países ao redor do mundo (e seus
de governo, com uma vitória esmagadora da República respectivos blocos), o Brasil começava a dar início ao
Presidencialista. Outras opções incluíam a monarquia e o MERCOSUL.
parlamentarismo.
No ano de 1993 a economia começava a dar sinais de Mercosul86
melhora, com índice de crescimento de aproximadamente 5%, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram, em 26 de
que não ocorria desde 1986. Apesar do crescimento, houve um março de 1991, o Tratado de Assunção, com vistas a criar o
aumento na população, deixando a renda per capita com Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). O objetivo primordial
menos de 3%. do Tratado de Assunção é a integração dos Estados Partes por
Em 1994 a inflação continuou a subir, até que os efeitos do meio da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos,
Plano Real começaram a surtir efeito. do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC), da
adoção de uma política comercial comum, da coordenação de
Implantação do Plano Real81 políticas macroeconômicas e setoriais, e da harmonização de
O Plano de Fernando Henrique Cardoso, que era ministro legislações nas áreas pertinentes.
da Fazenda do governo de Itamar Franco, consistia em três A configuração atual do MERCOSUL encontra seu marco
fases: o ajuste fiscal, o estabelecimento da URV (Unidade de institucional no Protocolo de Ouro Preto, assinado em
Referência de Valor) e a instituição de uma nova moeda, o Real. dezembro de 1994. O Protocolo reconhece a personalidade
De acordo com os autores do plano, as reformas liberais do jurídica de direito internacional do bloco, atribuindo-lhe,
Estado que estavam em andamento naquele período seriam assim, competência para negociar em nome próprio acordos
fundamentais para efetividade do plano. com terceiros países, grupos de países e organismos
A primeira fase, o ajuste fiscal procurava criar condições internacionais.
fiscais adequadas para diminuir o desequilíbrio orçamentário O MERCOSUL caracteriza-se, ademais, pelo regionalismo
do Estado, principalmente sua fragilidade com financiamento, aberto, ou seja, tem por objetivo não só o aumento do comércio
que seria um dos principais problemas relacionados à inflação. intrazona, mas também o estímulo ao intercâmbio com outros
A criação do FSE (Fundo Social de Emergência), que tinha por parceiros comerciais. São Estados Associados a Bolívia (em
finalidade diminuir os custos sociais derivados da execução do processo de adesão), o Chile (desde 1996), o Peru (desde
plano e dos cortes de impostos, foi uma das principais 2003), a Colômbia e o Equador (desde 2004). Guiana e
iniciativas do governo. Suriname tornaram-se Estados Associados em 2013. Com isso,
A URV, o embrião da nova moeda, que terminou quando o todos os países da América do Sul fazem parte do MERCOSUL,
Real começou a funcionar em 1º de julho de 1994, era um seja como Estados Parte, seja como Associado.
índice de inflação formado por outros três índices: o IGP-M82, O aperfeiçoamento da União Aduaneira é um dos objetivos
da Fundação Getúlio Vargas, o IPCA83 do IBGE e o IPC84 da basilares do MERCOSUL. Como passo importante nessa
FIPE/USP. O objetivo do governo era amarrar o URV ao dólar, direção, os Estados Partes concluíram, em 2010, as
preparando o caminho para a “âncora cambial” da moeda e negociações para a conformação do Código Aduaneiro do
também evitar o caráter abrupto dos outros planos, com esta MERCOSUL.
ferramenta transitória. Dessa forma, ao contrário da proposta Na última década, o MERCOSUL demonstrou particular
de “moeda indexada” e da criação de duas moedas, apenas capacidade de aprimoramento institucional. Entre os
separaram-se duas funções da mesma moeda, pois o URV inúmeros avanços, vale registrar a criação do Tribunal
servia como uma “unidade de conta”.85 Permanente de Revisão (2002), do Parlamento do MERCOSUL
A terceira fase do plano consistiu na implementação da (2005), do Instituto Social do MERCOSUL (2007), do Instituto
nova moeda, que substituiria o Cruzeiro de acordo com a de Políticas Públicas de Direitos Humanos (2009), bem como
cotação da URV que, naquele momento, valia CR$ 2.750,00. O a aprovação do Plano Estratégico de Ação Social do MERCOSUL
governo instituiu que este valor corresponderia a R$ 1,00 que, (2010) e o estabelecimento do cargo de Alto Representante-
por sua vez, foi fixada pelo Banco Central em US$ 1,00, com a Geral do MERCOSUL (2010).
garantia das reservas em dólar acumuladas desde 1993. Merece especial destaque a criação, em 2005, do Fundo
No entanto, apesar de amarrar a moeda ao dólar, o para a Convergência Estrutural do MERCOSUL - FOCEM, por
Governo não garantiu a conversibilidade das duas moedas, meio do qual são financiados projetos de convergência
como ocorreu na Argentina. Dessa forma, o Real conseguiu estrutural e coesão social, contribuindo para a mitigação das
corresponder de uma forma mais adequada às turbulências assimetrias entre os Estados Partes.

81 Adaptado de Ipolito. 85 GHIORZI, J. B. Política Monetária dos Governos FHC e LULA. UFSC.
82 Índice Geral de Preços de Mercado. http://tcc.bu.ufsc.br/Economia295594
83 Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. 86 Adaptado de: http://www.mercosul.gov.br/index.php/saiba-mais-sobre-o-
84 Índice de Preços ao Consumidor. mercosul

Conhecimentos Específicos 87
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APOSTILAS OPÇÃO

Em operação desde 2007, o FOCEM conta hoje com uma Os resultados desse novo momento do MERCOSUL já
carteira de projetos de mais de US$ 1,5 bilhão, com particular começaram a aparecer. Entre os muitos avanços recentes,
benefício para as economias menores do bloco (Paraguai e destacam-se:
Uruguai). O fundo tem contribuído para a melhoria em setores - aprovação do Protocolo de Cooperação e Facilitação de
como habitação, transportes, incentivos à microempresa, Investimentos (2017), que amplia a segurança jurídica e
biossegurança, capacitação tecnológica e aspectos sanitários. aprimora o ambiente para atração de novos investimentos na
O Tratado de Assunção permite a adesão dos demais Países região;
Membros da ALADI87 ao MERCOSUL. Em 2012, o bloco passou - conclusão do acordo do Protocolo de Contratações
pela primeira ampliação desde sua criação, com o ingresso Públicas do MERCOSUL (2017), que cria oportunidades de
definitivo da Venezuela como Estado Parte. No mesmo ano, foi negócios para as nossas empresas, amplia o universo de
assinado o Protocolo de Adesão da Bolívia ao MERCOSUL, que, fornecedores dos nossos órgãos públicos e reduz custos para
uma vez ratificado pelos congressos dos Estados Partes, fará o governo;
do país andino o sexto membro pleno do bloco. - encaminhamento positivo da grande maioria dos
Com a incorporação da Venezuela, o MERCOSUL passou a entraves ao comércio intrabloco;
contar com uma população de 285 milhões de habitantes (70% - modernização no tratamento dos regulamentos técnicos;
da população da América do Sul); PIB de US$ 3,2 trilhões (80% - apresentação dos projetos brasileiros para Iniciativas
do PIB sul-americano); e território de 12,7 milhões de km² Facilitadoras de Comércio e Protocolo de Coerência
(72% da área da América do Sul). O MERCOSUL passa a ser, Regulatória.
ainda, ator incontornável para o tratamento de duas questões - tratamento do tema de proteção mútua de indicações
centrais para o futuro da sociedade global: segurança geográficas entre Estados Partes do MERCOSUL;
energética e segurança alimentar. Além da importante - aprovação do Acordo do MERCOSUL sobre Direito
produção agrícola dos demais Estados Partes, passa a ser o Aplicável em Matéria de Contratos Internacionais de Consumo
quarto produtor mundial de petróleo bruto, depois de Arábia (2017), que estabelece critérios para definir o direito aplicável
Saudita, Rússia e Estados Unidos. a litígios dos consumidores em suas relações de consumo.
Em julho de 2013, a Venezuela recebeu do Uruguai a Ainda há muito avanços necessários para consolidar o
Presidência Pro Tempore do bloco. A Presidência Pro Tempore Mercado Comum previsto no Tratado de Assunção, em todos
venezuelana reveste-se de significado histórico: trata-se da os seus aspectos: a livre circulação de bens, serviços e outros
primeira presidência a ser desempenhada por Estado Parte fatores produtivos, incluindo a livre circulação de pessoas; a
não fundador do MERCOSUL. plena vigência da TEC e de uma política comercial comum; a
Na Cúpula de Caracas, realizada em julho de 2014, destaca- coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais; e a
se a criação da Reunião de Autoridades sobre Privacidade e convergência das legislações nacionais dos Estados Partes.
Segurança da Informação e Infraestrutura Tecnológica do Na área institucional, é fundamental tornar o MERCOSUL
MERCOSUL e da Reunião de Autoridades de Povos Indígenas. mais ágil, moderno e dinâmico. Também há espaço para
Uma das prioridades da Presidência venezuelana, o foro avançar na racionalização da estrutura institucional do Bloco,
indígena é responsável por coordenar discussões, políticas e tornando-a mais enxuta, transparente e eficiente.
iniciativas em benefício desses povos. Foram também Nas área de cidadania e das políticas sociais, as metas estão
adotadas, em Caracas, as Diretrizes da Política de Igualdade de dadas pelo Estatuto da Cidadania e pelo PEAS. Entre as
Gênero do MERCOSUL, bem como o Plano de Funcionamento prioridades estabelecidas pelo Brasil, destacam-se a
do Sistema Integrado de Mobilidade do MERCOSUL facilitação da circulação de pessoas no MERCOSUL, por meio
(SIMERCOSUL). da modernização e simplificação dos procedimentos
Criado em 2012, durante a Presidência brasileira, o migratórios, e a plena implementação do sistema de
SIMERCOSUL tem como objetivo aperfeiçoar e ampliar as mobilidade acadêmica do MERCOSUL.
iniciativas de mobilidade acadêmica no âmbito do Bloco. O Brasil seguirá trabalhando para que o MERCOSUL dê
No segundo semestre de 2014, a Argentina assumiu a continuidade à concretização de uma agenda pragmática,
Presidência Pro Tempore do MERCOSUL. Entre os principais tendo sempre em mente os interesses dos cidadãos e
resultados da Cúpula de Paraná, Argentina, destacam-se: a empresas do bloco no fortalecimento da integração econômica
assinatura de Memorando de Entendimento de Comércio e e comercial, da democracia e da plena observância dos direitos
Cooperação Econômica entre o MERCOSUL e o Líbano; a humanos.
assinatura de acordo-quadro de Comércio e Cooperação
Econômica entre o MERCOSUL e a Tunísia; e a aprovação do Questões
regulamento do Mecanismo de Fortalecimento Produtivo do
bloco. 01. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/GO) São
Em 17 de dezembro de 2014, o Brasil recebeu Membros Plenos ou Estados Partes do Mercosul (Mercado
formalmente da Argentina a Presidência Pro Tempore do Comum do Sul), bloco econômico sediado na América do Sul,
MERCOSUL, que foi exercida no primeiro semestre de 2015. EXCETO:
No dia 17 de julho de 2015 a Presidência Pro Tempore foi (A) Brasil
passada ao Paraguai, que a exercerá por um período de seis (B) Argentina
meses. (C) Chile
O MERCOSUL na atualidade (D) Uruguai
O MERCOSUL atravessa um processo acelerado de (E) Paraguai
fortalecimento econômico, comercial e institucional. Os
Estados Partes consolidaram um modelo de integração 02. (DEMAE/GO – Técnico em Informática – CS/UFG)
pragmático, voltado para resultados concretos no curto prazo. Alguns Blocos Econômicos agregam países de um mesmo
O sentido da integração do MERCOSUL atual é a busca da continente. No caso da América do Sul, onde foi criado, em
prosperidade econômica com democracia, estabilidade 1991, o Mercado Comum do Sul (Mercosul) pelo Tratado de
política e respeito aos direitos humanos e liberdades Assunção, poucos países fazem parte deste Bloco, entre eles:
fundamentais. (A) Equador e Suriname
(B) Argentina e Uruguai

87 Associação Latino Americana de Integração

Conhecimentos Específicos 88
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(C) Peru e Guiana Francesa Logo no primeiro dia, o Real atingiu o limite máximo da
(D) Colômbia e Guiana banda, sendo desvalorizado em 8,2%, o que influenciou na
queda do valor dos títulos brasileiros no exterior e das bolsas
Gabarito de valores do mundo todo. O Banco Central tentou defender o
valor da moeda vendendo dólares, mas a saída de capitais
01.C / 02.B continuou ameaçando se aproximar do limite de 20 bilhões,
que foi acordado com o FMI no ano anterior. Nesse momento,
O segundo governo Fernando Henrique o governo não teve outra escolha senão deixar o câmbio
flutuar livremente, alcançando a cotação de R$ 1,98 em relação
Em seu segundo mandato, vencido novamente através da ao Dólar em 13 dias.
disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva, houveram Os índices de desemprego atingiram um alto nível,
dificuldades para manter o valor do Real em relação ao Dólar. alcançando 7,6 milhões de pessoas em 1999, número três
A partir de dezembro de 1994 eclodiu a crise cambial vezes maior que os 2 milhões do final da década de 1980.
mexicana, e a saída de capital especulativo relacionada à queda Apenas a Federação Russa, com 9,1 milhões e a Índia com 40
da cotação do dólar nos mercados internacionais começou a milhões possuíam taxas de desemprego maiores do que as do
colocar em xeque a estabilização da economia nacional e o Brasil.
Plano Real, que dependia em grande parte do capital No plano político, foi aprovada em 2000 a Lei de
estrangeiro. A crise mostrou que a política de contenção da Responsabilidade Fiscal, com o objetivo de controlar os
inflação com a valorização das moedas nacionais frente ao gastos do poder público e de restringir as dívidas deixadas por
dólar não poderia ser sustentável a longo prazo. prefeitos e governadores a seus sucessores.
Negando sempre à similaridade entre o Brasil, o México e
a Argentina, o governo passou a desacelerar a atividade O governo Lula
econômica e a frear a abertura internacional com a elevação da
taxa de juros, aumento das restrições às importações e Pouco antes de encerrar seu primeiro mandato, Fernando
estímulos à exportação. Com a necessidade de opor a situação Henrique aprovou uma emenda que alterou a constituição,
econômica brasileira à mexicana, como um sinal ao capital permitindo a reeleição por mais um mandato. Com o fim de seu
especulativo, o governo quis mostrar que corrigiria a trajetória segundo mandato em 2002, José Serra, que foi ministro da
de sua balança comercial, atingindo saldo positivo. saúde e um dos fundadores do PSDB foi apoiado por Fernando
Após a retomada do crescimento entre abril de 1996 e Henrique para a sucessão.
junho de 1997, a crise dos Tigres Asiáticos88, que começou com Do lado da oposição, Lula concorreu à presidência pela
a desvalorização da moeda da Tailândia, se alastrou para quarta vez, conseguindo levar a disputa para o segundo turno
Indonésia, Malásia, Filipinas e Hong Kong e acabou por atingir com o candidato tucano, quando obteve 61% dos votos
Nova York e os mercados financeiros mundiais. válidos. A vitória de Lula foi atribuída ao desejo de mudança
A crise obrigou o governo a elevar novamente as taxas de na distribuição de riquezas, entre diversos grupos sociais.
juros e decretar um novo ajuste fiscal. Novamente a fuga de Em seus dois mandatos, de 2003 a 2010, não foram
capitais voltou a assolar a economia brasileira e o Plano Real. adotadas medidas grandiosas, com o presidente buscando
A consequência foi a demissão de 33 mil funcionários ganhar progressivamente a confiança de agentes econômicos
públicos não estáveis da União, suspensão do reajuste salarial nacionais e internacionais. Foi mantida a política econômica
do funcionalismo público, redução em 15% dos gastos em do governo FHC, com a busca pelo combate da inflação por
atividades e corte de 6% no valor dos projetos de investimento meio de altas taxas de juros e estímulos à exportação. Em 2005
para 1998, o que resultou em uma diminuição de 0,12% do PIB foi saldada a dívida com o FMI.
naquele ano. Como resultado da política econômica, em julho de 2008 a
A crise se intensificou em agosto com o aumento da dívida externa total do país era de US$ 205 bilhões, e o país
instabilidade financeira na Rússia, com a desvalorização do possuía reservas internacionais acima dos US$ 200 bilhões. As
Rublo (moeda russa) e a decretação da moratória por parte do exportações bateram recordes sucessivos durante o governo
governo. Lula, com ampliação do saldo positivo da balança comercial.
A resposta brasileira foi a mesma de sempre, a elevação da No plano social, o projeto de maior repercussão e sucesso
taxa de juros básica cresceu até 49% e um novo pacote fiscal foi o Bolsa-Família, baseado na transferência direta de
surgiu no período de 1999/2001. No entanto, diferentemente recursos para famílias de baixa ou nenhuma renda. Em janeiro
das outras duas crises, o governo recorreu ao FMI (Fundo de 2009 o programa já contava com mais de 10 milhões de
Monetário Internacional) em dezembro de 1998, com quem famílias atendidas, recebendo uma remuneração que variava
obteve cerca de US$ 41,5 bilhões, comprometendo-se a: de R$ 20,00 a R$ 182,00. Para utilizar o programa, era
manter o mesmo regime cambial, acelerar as privatizações e exigência a frequência escolar e vacinação das crianças. O
as reformas liberais, realizar o pacote fiscal e assumir metas programa teve como efeito a melhoria alimentar e nutricional
com relação ao superávit primário. O que gradativamente das famílias mais pobres, além de uma leve diminuição nas
desvalorizou o Real. desigualdades sociais.
Em seu segundo mandato, destacou-se o Programa de
O fim da âncora cambial Aceleração do Crescimento (PAC).
Nos primeiros dias do segundo governo de Fernando
Henrique Cardoso, em janeiro de 1999, a repercussão da crise O Mensalão
cambial russa chegou ao seu limite no Brasil. As elevadas taxas Em 2005, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB – RJ)
de juros começavam a perder força como ferramenta de denunciou no jornal Folha de São Paulo o esquema de compra
manutenção do capital externo na economia brasileira e um de votos conhecido como Mensalão.
novo déficit recorde na conta de transações correntes obrigou No Mensalão deputados da base aliada do PT recebiam
o governo a mudar a banda cambial, que foi ampliada para R$ uma “mesada” de R$ 30 mil para votarem de acordo com os
1,32. interesses do partido. Entre os parlamentares envolvidos no
esquema estariam membros do PL (Partido Liberal), PP

88 Cingapura, Coreia do Sul, Taiwan (República da China) e Hong Kong (região

administrativa da República Popular da China).

Conhecimentos Específicos 89
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APOSTILAS OPÇÃO

(Partido Progressista), PMDB (Partido do Movimento Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras.
Democrático Brasileiro) e do PTB (Partido Trabalhista Costa era investigado pelo Ministério Público Federal por
Brasileiro). supostas irregularidades na compra pela Petrobras da
Entre os nomes mais citados do esquema estão: José refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006.
Dirceu, que na época era ministro da Casa Civil e foi apontado Indícios de que a compra da refinaria teria sido desastrosa
como chefe do esquema, Delúbio Soares era Tesoureiro do PT para a estatal - em uma época em que Dilma ainda era ministra
e foi acusado de efetuar os pagamentos aos participantes e de Minas e Energia do governo Lula e presidente do Conselho
Marcos Valério, que era publicitário e foi acusado de arrecadar Administrativo da empresa - levaram ao pedido de instalação
o dinheiro para os pagamentos. de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Duas CPIs
Outras figuras de destaque no governo e no PT também acabaram sendo criadas: uma exclusiva do Senado e uma
foram apontadas como participantes do mensalão, tais como: mista.
José Genoíno (presidente do PT), Sílvio Pereira (Secretário do Depois de meses de investigação, a CPI mista aprovou o
PT), João Paulo Cunha (Presidente da Câmara dos Deputados e relatório do deputado Marco Maia (PT-RS), que pedia o
ex-Ministro das Comunicações), Luiz Gushiken (Ministro dos indiciamento de 52 pessoas e reconhecia prejuízo de US$
Transportes), Anderson Adauto, e até mesmo o Ministro da 561,5 milhões (R$ 1,9 bilhão) à época, na compra da refinaria.
Fazenda, Antônio Palocci. Costa e Youssef assinaram com o Ministério Público
Federal acordos de delação premiada para explicar detalhes
Governo Dilma Rousseff89 do esquema e receber, em contrapartida, alívio de penas.
Em novembro de 2014, a Polícia Federal deflagrou uma
Primeira mulher presidente nova fase da Lava Jato, que envolveu buscas em grandes
As viagens internacionais e os encontros com chefes de empreiteiras como Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e outras
Estado marcaram os primeiros meses do governo Dilma em sete companhias.
razão do ineditismo de o Brasil ser representado por uma
presidente mulher. Entre as visitas mais importantes está a do Economia em desaceleração
presidente dos EUA, Barack Obama, ao Brasil, em março de No primeiro ano do governo Dilma a economia já dava
2011. sinais de desaceleração, depois de o PIB brasileiro ter crescido
Em setembro, ela foi a primeira mulher a fazer o discurso 7,5% em 2010, o maior avanço desde 1986. Em 2011, o PIB
de abertura da Assembleia Geral da ONU. Em sua fala, disse cresceu 2,7%, bem menos que os 5,5% projetados.
que era a "voz da democracia" e defendeu a criação do Estado O ponto positivo ficou por conta do emprego formal, que
Palestino. se mantinha em alta e apenas 5% da população
No roteiro de viagens de Dilma, além de países da América economicamente ativa estava desempregada. No entanto, à
do Sul, estiveram França, África, Bélgica, Grécia e Turquia. medida que o primeiro mandato avançava, a economia
apresentava mais resultados preocupantes.
Troca de ministros e 'faxina ética' Em 2012, ela cresceu 0,9%, o pior desempenho desde
Antes de completar um ano de governo, Dilma viu sete 2009. No ano seguinte, se recuperou impulsionada pela alta de
ministros caírem, seis deles por acusações de corrupção. Em investimentos - o governo fez várias linhas de financiamento -
dezembro de 2010, o recém-indicado ministro do Turismo, e a alta do PIB foi de 2,3%.
Pedro Novais, foi o primeiro integrante do governo a ser Para enfrentar a desaceleração, o governo apelou para
acusado, antes mesmo da posse. Denunciado por medidas de desoneração, tanto para o setor produtivo quanto
irregularidades cometidas quando era deputado, acabou para os consumidores. Pacotes de estímulos fiscais e
deixando a pasta em setembro de 2011. financeiros também foram lançados contra os gargalos de
O primeiro ministro a sair, no entanto, foi Antonio Palocci, infraestrutura, como nas estradas e portos.
que deixou a Casa Civil em 8 de junho do mesmo ano, um dia Segundo cálculos feitos por auditores da Receita Federal
após as acusações contra ele terem sido arquivadas pelo para a Folha de S. Paulo, as desonerações concedidas pelo
procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Palocci era governo desde 2011 somariam estimados R$ 458 bilhões em
suspeito de enriquecimento ilícito, porque teria multiplicado 2018, quando deveria terminar o segundo mandato de Dilma.
seu patrimônio em 20 vezes nos quatro anos anteriores. A A redução de impostos começou no governo Lula, como
senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) assumiu a pasta. forma de estimular o crescimento do país. No entanto, passou
Os ministros Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson a ser mais intensa quando Dilma foi eleita e avançou
Jobim (Defesa), Wagner Rossi (Agricultura), Orlando Silva fortemente no primeiro ano de mandato.
(Esportes) e Carlos Lupi (Trabalho) completaram a lista de As desonerações aumentaram a dívida bruta do país. Em
baixas. 2014, o setor público gastou R$ 32,5 bilhões a mais do que
A forma enérgica como Dilma lidou com esses episódios fez arrecadou com tributos — o equivalente a 0,63% do PIB, o
com que parte da população passasse a vê-la como a grande primeiro déficit desde 2002.
responsável pela "faxina ética" contra a corrupção.
Isso se refletiu na aprovação de 59% da população - o Pedaladas fiscais
maior índice para o primeiro mandato de um presidente desde Em 2013 começaram a ocorrer as chamadas pedaladas
a redemocratização, maior até que a popularidade de Lula nos fiscais, nome dado à prática do Tesouro Nacional de atrasar de
primeiros quatro anos na presidência, que foi de 52%. forma proposital o repasse de dinheiro para os bancos
públicos, privados e autarquias, como o INSS.
Lava Jato e Pasadena O objetivo era melhorar artificialmente as contas federais.
Deflagrada em março de 2014, a operação Lava Jato Ao deixar de transferir o dinheiro, o governo apresentava
começou a investigar um grande esquema de lavagem e desvio todos os meses despesas menores do que elas deveriam ser na
de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e prática.
políticos.
Uma das primeiras prisões, também em março, foi a do
doleiro Alberto Youssef. Dias depois, houve a prisão de Paulo

89 BBC BRASIL. De aprovação recorde ao impeachment: relembre os principais

momentos do Governo Dilma. BBC Brasil.


http://www.bbc.com/portuguese/brasil-37207258

Conhecimentos Específicos 90
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APOSTILAS OPÇÃO

Segundo Governo Dilma obstruir as investigações da Lava Jato, foi o primeiro caso no
Brasil de prisão de senador no exercício do cargo.
Eleições de 2014
A campanha presidencial foi marcada pela disputa Protestos "Fora Dilma"
acirrada por votos e pela morte do candidato do PSB, Eduardo Em um cenário de crise econômica e ajustes fiscais, a
Campos, que estava em terceiro lugar nas pesquisas e era reprovação do governo Dilma chegou a 62% em 2015, de
considerado uma via alternativa à oposição PT-PSDB. Marina acordo com o Datafolha, e levou milhares às ruas das
Silva, substituta de Campos, logo saiu do páreo. Dilma foi principais cidades do país. As principais bandeiras dos
reeleita com 51,64% dos votos válidos. manifestantes eram o combate a corrupção e a saída de Dilma
e do PT do governo. Muitos elogiavam a atuação do juiz Sérgio
Popularidade abalada Moro, da Lava Jato.
A popularidade da presidente se inverteu no segundo Realizada após novos protestos nas ruas, pesquisa do
mandato, com os efeitos da situação econômica e da crise de Datafolha indicou que o segundo mandato da petista já
governabilidade. Nos primeiros três meses de 2016, pesquisa alcançou a mais alta taxa de rejeição de um presidente desde
CNI-Ibope (Confederação Nacional da Indústria) apontou que setembro de 1992, pouco antes do impeachment de Fernando
somente 24% dos entrevistados diziam confiar em Dilma, o Collor.
pior resultado desde o início do segundo mandato do ex-
presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1999. Saída do PMDB e isolamento
A saída do PMDB, partido do vice-presidente, Michel
Ajuste fiscal e desemprego Temer, da base aliada concretizou o isolamento da presidente
No primeiro mandato, sinais de que a meta do superávit no Congresso. O afastamento da presidente dos parlamentares
primário (economia para pagar os juros da dívida) não seria se agravou com a marcha do processo de impeachment e o
cumprida levaram o governo a adotar, no primeiro mandato, convite feito a Lula para ocupar a Casa Civil.
um ajuste fiscal voltado à redução de gastos públicos. A tentativa de trazer Lula para construir pontes com os
Em 2015, encabeçado pelo então ministro da Fazenda, partidos enfrentou forte resistência e levou milhares de
Joaquim Levy, o ajuste voltou a fazer parte da agenda manifestantes às ruas, além de afastar possibilidades de novas
econômica do governo, mas para recompor as receitas. A nova alianças.
prioridade da política econômica era reequilibrar as contas
públicas. Impeachment
Para isso, Levy lançou medidas que ficaram conhecidas Em dezembro de 2015, o presidente da Câmara, Eduardo
como "pacote de maldades", com o objetivo de aumentar a Cunha, autorizou o pedido para a abertura do processo de
arrecadação federal e retomar o crescimento da economia, impeachment de Dilma Rousseff. Ele deu andamento ao
entre elas, medidas provisórias que alteraram o acesso a requerimento formulado pelos juristas Hélio Bicudo, fundador
direitos previdenciários como seguro-desemprego e pensão do PT, Janaina Paschoal e Miguel Reale Júnior. Os juristas
por morte. Logo nos primeiros meses, houve também ajustes atacaram as chamadas "pedaladas fiscais", prática atribuída ao
nos preços dos combustíveis e da eletricidade para aumentar governo de atrasar repasses a bancos públicos a fim de
a arrecadação. cumprir as metas parciais da previsão orçamentária.
No entanto, muitos economistas consideram que o corte Em abril, a Câmara aprovou a Comissão Especial do
necessário de gastos não veio, assim como o aumento de Impeachment. Por 38 votos a 27, a comissão aprovou no dia 11
impostos, o que foi agravado pela crescente dificuldade do de abril o parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO) favorável
governo de dialogar com o Congresso. à abertura do processo de afastamento da presidente. O
Em 2015, o PIB caiu 3,8%. Tarifas de ônibus e energia afastamento da presidente também passou pelo plenário da
elétrica, além de impostos e taxas, como IPVA e IPTU, Câmara, por 367 votos a favor e 137 contra.
estiveram por trás da alta da inflação, que bateu 7% nos O processo seguiu para o Senado. No dia 6 de maio, a
primeiros meses do ano. Comissão Especial do Impeachment da Casa aprovou por 15
Com a economia em crise, o mercado de trabalho passou votos a 5, o parecer do relator Antonio Anastasia (PSDB-MG),
por dificuldades, com reflexos sobre o emprego e formalização favorável à abertura de um processo contra Dilma.
do trabalho. Em seguida, o plenário decidiu por 55 votos a 20 que a
A taxa de desemprego do país cresceu para 8,5% na média petista seria processada e, assim, afastada temporariamente
no ano passado, conforme divulgação do IBGE. Esse resultado do cargo para o julgamento. Ela deixou o cargo em 12 de maio.
é o maior já medido pela Pnad Contínua (Pesquisa Nacional Em seu primeiro discurso na nova condição, Dilma Rousseff
por Amostra de Domicílios), iniciada em 2012. Em 2014, a afirmou que o processo de impeachment era "fraudulento" e
média foi de 6,8%. um "verdadeiro golpe".
Depois de uma sequência de derrotas em sua batalha para
promover o ajuste, inclusive a perda do grau de investimento Posse de temer
do país, Levy deixou o governo em dezembro de 2015.
Três horas após o afastamento de Dilma Rousseff, Michel
Lava Jato Temer foi empossado o novo presidente da República. Na
As fases da operação Lava Jato monopolizaram as primeira reunião ministerial do governo, Temer destacou que
manchetes dos jornais desde 2014. Entre os momentos mais agora a cobrança sobre o governo seria "muito maior" e
importantes estão a prisão dos presidentes da Odebrecht, rejeitou a acusação de que o impeachment foi um golpe.
Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Marques "Golpista é você, que está contra a Constituição", afirmou
de Azevedo. dirigindo-se a Dilma.
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi condenado a
15 anos e quatro meses de prisão por corrupção passiva, Repercussão e manifestações
lavagem de dinheiro e associação criminosa. Ele teria recebido Após a votação final do impeachment, houve protestos a
cerca de R$ 4,26 milhões em propinas envolvendo contratos favor e contra Temer pelo país. A Avenida Paulista, se tornou
da Petrobras. O então senador e líder do governo no Senado um exemplo da divergência de opiniões entre os
Delcídio do Amaral (ex-PT) foi preso sob acusação de tentar manifestantes. Um grupo protestava contra o impeachment,
enquanto outro comemorava seu desfecho.

Conhecimentos Específicos 91
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APOSTILAS OPÇÃO

Repercussão internacional (C) Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique


A rede norte-americana CNN deu grande destaque à Cardoso.
notícia em seu site e afirmou que a decisão é “um grande revés” (D) Tancredo Neves e Itamar Franco.
para Dilma, mas "pode não ser o fim de sua carreira política". (E) Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva.
O argentino “Clarín” afirma que o afastamento de Dilma marca
“o fim de uma era no Brasil”. O “El País”, da Espanha, chamou Gabarito
a atenção para a resistência da ex-presidente, que decidiu 01.A / 02.E / 03.C
enfrentar o processo até o final, apesar das previsões de que
seu afastamento seria concretizado.

E como fica agora?90 7 Atualidades


O rito da destituição de Dilma foi consumado e o Partido
dos Trabalhadores (PT), que a sustentava, passa à oposição
depois de 13 anos no poder. Porém o Senado manteve os
direitos políticos de Dilma, o que lhe permitirá se candidatar a
cargos eletivos e exercer funções na administração pública. Política
A saída da presidente era desejada, segundo as pesquisas, saúde
Decreto cria cotas para presidiários e ex-detentos em
por 61% dos brasileiros, o que não impede que tenha sido uma contratos de serviços à União91
comoção nacional.
Atualmente o presidente Temer está afundado em Decreto assinado nesta terça (24) pela presidente em
denúncias e escândalos e também sofre grande pressão para exercício, Cármen Lúcia, define que empresas com contratos
deixar o cargo. acima de R$ 330 mil têm que oferecer entre 3% a 6% das vagas
a presos.
Questões A presidente da República em exercício, Cármen Lúcia,
assinou nesta terça-feira (24/07) decreto para determinar que
01. (IF/AL- CEFET) O Brasil, a partir do processo de empresas contratadas pelo governo federal para prestação de
redemocratização (1985), definiu-se por medidas econômicas serviços ofereçam cotas para presidiários e ex-presidiários
que foram significativamente adotadas. Podemos afirmar que sempre que os contratos ultrapassarem R$ 330 mil. O governo
entre as medidas citadas consta: alegou que a medida visa a estimular a ressocialização de
(A) Processo de privatização em ramos da economia, como apenados.
comunicação e mineração. O decreto presidencial, de acordo com o governo, torna
(B) Prioridade na ampliação do comércio internacional “obrigatória” a contratação de presos e ex-presidiários por
com os países africanos e asiáticos. parte das empresas que vencerem licitações para serviços com
(C) Proteção da indústria nacional, por meio do aumento a administração pública federal direta e também com
de tarifas alfandegárias de importações. autarquias e fundações. Entre os serviços que poderão passar
(D) Retirada da prioridade para exportações dos produtos a ser executados por detentos e ex-presidiários estão, por
agrícolas nacionais. exemplo, atividades de consultoria, limpeza, vigilância e
(E) Um intenso programa de reforma agrária no país, alimentação.
inclusive sem indenizações das terras desapropriadas. A assessoria da Presidência informou que o decreto será
publicado na edição desta quarta (25/07) do “Diário Oficial da
02. (CESGRANRIO) Nas cidades gregas da Antiguidade, a União”.
democracia limitava-se à minoria da população. Os escravos e Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen
as mulheres não tinham direitos políticos. Além disso, só Lúcia está interinamente no comando do Palácio do
aqueles que nasciam na cidade de Atenas podiam ser cidadãos. Planalto em razão de viagens ao exterior do presidente Michel
Temer e dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e
De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, quem do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE).
NÃO pode votar no Brasil atualmente são os O decreto assinado pela presidente em exercício institui a
(A) maiores de 70 anos. “Política Nacional de Trabalho no âmbito do Sistema
(B) maiores de dezesseis anos. Prisional”, que foi apresentada nesta terça em uma entrevista
(C) estrangeiros naturalizados. coletiva concedida pelos ministros Raul Jungmann (Segurança
(D) analfabetos. Pública) e Gustavo Rocha (Direitos Humanos).
(E) que estão cumprindo o serviço militar obrigatório. “Nos editais de licitação já haverá a previsão para
contratação desses presos e, preenchidos os critérios do edital,
03. (MPE/SP – VUNESP) Com o fim da ditadura e o será obrigatório que essas empresas absorvam essa mão de
restabelecimento da normalidade democrática, a escolha do obra de forma a permitir uma maior ressocialização desse
Presidente da República passou a ocorrer por meio do voto apenado ou desse egresso”, explicou Rocha.
popular, exigindo que os candidatos expusessem suas A medida se aplica a presos provisórios, presos dos
propostas e o histórico de sua atuação política. Nos anos 1980 regimes fechado, semiaberto ou aberto, ou egressos do
e 1990, respectivamente, o Brasil conheceu um candidato sistema prisional. Conforme o decreto, as empresas terão de
popularmente chamado de “O caçador de marajás” e outro que, destinar um percentual de vagas para presos e ex-presidiários
enquanto foi Ministro da Fazenda, ganhou notoriedade pela em cada contratos firmados com o governo federal.
implantação do Plano Real, responsável pela estabilização da
economia nacional. Esses presidentes foram, respectivamente, - 3% das vagas para contratos que exijam contratação de
(A) Fernando Collor de Mello e Tancredo Neves. 200 ou menos funcionários;
(B) José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. - 4% das vagas para contratos que exijam contratação de
201 a 500 funcionários;

90 https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/07/24/decreto-presidencial-cria-
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/01/opinion/1472682823_081379.html cotas-para-presos-e-ex-presidiarios-em-contratos-de-servicos-a-uniao.ghtml.
91 Guilherme Mazui. Decreto cria cotas para presidiários e ex-detentos em Acesso em 25 de julho de 2018
contratos de serviço à União. G1 Política.

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- 5% das vagas para contratos que exijam contratação de Alberto Litti Dahmer, presidente do Sindicato dos
501 a 1 mil funcionários; Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ijuí (RS).
- 6% das vagas para contratos que exijam a contratação de "Eles [caminhoneiros] só vão aceitar [o acordo proposto
mais de 1 mil funcionários pelo governo] após saírem publicadas no 'Diário Oficial' as
medidas que foram negociadas aqui", disse José da Fonseca
Autorização judicial Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros
O ministro de Direitos Humanos ressaltou na entrevista (Abcam), uma das entidades que não tinham assinado o acordo
que caberá ao juiz responsável pela execução da pena dos na quinta-feira (24/05).
presos analisar se o detento tem condições de atuar na O grupo não tinha assinado o acordo proposto pelo
prestação de serviços para a administração pública federal. governo na quinta-feira (24/05) por entender que ele não
No caso de presidiários do regime fechado, o detento atendia às suas reivindicações. Diante da manutenção da greve
contratado deverá ter cumprimento, no mínimo, um sexto da pelos caminhoneiros, as entidades foram chamadas de volta a
pena, ter autorização do juiz da vara de execuções penais e Brasília neste domingo para negociar a nova proposta.
ainda terá que comprovar "aptidão, disciplina e De acordo com eles, com as estradas desobstruídas, serão
responsabilidade". necessários de 8 a 10 dias para normalizar o abastecimento de
Gustavo Rocha afirmou ainda que, caso não haja presídios combustível e alimentos no país.
ou ex-presidiários em determinada região onde o contrato "Daquilo que se propunha, o nosso movimento está
com a União é executado, a empresa que ganha a licitação não contemplado. Nós queríamos piso mínimo de frete, suspensão
precisará cumprir o percentual mínimo de vagas. no preço do combustível do PIS-Cofins, que está contemplado,
"É possível que em determinados locais não haja presídios queríamos a suspensão por 60 dias de novos reajustes para ter
ou egressos do sistema prisional. Em razão de uma previsibilidade e o setor se organizar. Está contemplado",
impossibilidade de contratação, essa regra pode ser afirmou Dahmer.
excepcionada", ponderou o ministro. Para ele, uma das principais conquistas para a categoria
será a fixação de um valor mínimo para o frete.
Ressocialização "Essa política de preço vai fazer com que a gente saiba a
Em meio à entrevista, Jungmann disse que a oferta de quanto está trabalhando e ninguém vai poder nos explorar
emprego para presos e ex-presidiários é fundamental para menos do que aquele valor, que será o nosso custo", disse.
criar uma "possibilidade real" de ressocialização e para
combater o "recrutamento" de facções nos presídios. Corte do PIS-Cofins e CIDE
O ministro da Segurança Pública lembrou que o Brasil tem
em torno de 726 mil presos, em um sistema prisional A proposta anunciada por Temer prevê a redução de R$
dominado por cerca de 70 facções. Jungmann informou que, do 0,46 no litro do diesel, que terá validade por 60 dias. A partir
total de apenados no Brasil, 12% trabalham e 15% estão em daí, os reajustes no valor do combustível serão feitos a cada 30
atividades educacionais. dias, decisão que, segundo o presidente, visa dar mais
"Se nós não implementarmos e não levarmos e ampliarmos "previsibilidade" aos motoristas.
um programa como esse, as facções criminosas estarão Ele informou que o corte de R$ 0,46 se dará com a redução
sempre criando a dependência, seja dos presos seja dos a zero das alíquotas do PIS-Cofins e da Contribuição de
egressos. Essa política tem uma função fundamental", Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) sobre o diesel.
defendeu Jungmann. A proposta anterior, divulgada na quinta, já contemplava o
corte na CIDE. A novidade, portanto, é a suspensão da cobrança
Caminhoneiros autônomos se dizem satisfeitos com do PIS-Cofins sobre o diesel.
nova proposta de Temer92 No caso do diesel, os valores praticados pela Petrobras são
mais da metade (55%) do preço pago pelo consumidor nos
Representantes da categoria se reuniram com o presidente postos; 7% é o custo do biodiesel, que, por lei, deve compor
em Brasília. Eles disseram que vão orientar motoristas a 10% do diesel, e 9% corresponde aos custos e lucro dos
encerrar greve após publicação das medidas no 'Diário Oficial'. distribuidores, conforme os cálculos da Petrobras, que levam
Representantes de caminhoneiros autônomos afirmaram em conta a coleta de preços entre os dias 6 e 12 de maio em 13
que aprovam as medidas para a categoria anunciadas mais regiões metropolitanas do país.
cedo neste domingo (27/05) pelo presidente Michel Temer. Cerca de 29% são tributos, sendo:
Com a nova proposta, detalhada por Temer durante - 16% ICMS, recolhido pelos Estados
pronunciamento, o governo espera encerrar a greve dos - 13% Cide e PIS-Cofins, de competência da União.
caminhoneiros, que chegou neste domingo ao sétimo dia. O ministro Carlos Marun disse que o Procon vai fiscalizar
Entre as medidas está a redução de R$ 0,46 no preço do se a redução anunciada por Temer chegará às bombas.
litro do diesel por 60 dias e a isenção de pagamento de pedágio "A redução vai chegar às bombas. O Procon está, inclusive,
para eixos suspensos de caminhões vazios. Apenas a redução editando medida e vai fazer fiscalização no sentido de que o
de R$ 0,46 no preço do diesel custará ao governo R$ 10 bilhões. nosso objetivo, de que essa redução chegue ao tanque do
No pacote, estava prevista a edição de três medidas caminhoneiro, se torne realidade", afirmou.
provisórias para atender à demanda dos caminhoneiros. As
MPs saíram em edição extra do Diário Oficial da Eixo suspenso e fretes da Conab
União publicada no fim da noite deste domingo.
Durante o pronunciamento de Temer, foram registrados Temer também anunciou a edição de três medidas
panelaços no DF, Rio de Janeiro e São Paulo. provisórias para atender a outras demandas dos grevistas. As
MPs saíram em edição extra do Diário Oficial da União
Fim da greve? publicada na noite deste domingo e preveem:
- Isenção da cobrança de pedágio para eixo suspenso de
"Saiu no 'Diário Oficial', a nossa recomendação é que caminhões vazios, em rodovias federais, estaduais e
aceitem [as propostas e liberem as estradas]", afirmou Carlos municipais;

92 FERNANDA CALGARO. Caminhoneiros autônomos se dizem satisfeitos com <https://g1.globo.com/politica/noticia/caminhoneiros-autonomos-se-dizem-


nova proposta de Temer. G1 Política. satisfeitos-com-nova-proposta-de-temer.ghtml> Acesso em 28 de maio de 2018.

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- Determinação para que 30% dos fretes da Conab sejam contrário. Segundo o IBGE, quando Temer assumiu eram 11,4
feitos por caminhoneiros autônimos; milhões e hoje, 13,7 milhões.
- Estabelecendo de tabela mínima dos fretes.
Medidas provisórias têm força de lei e começam a valer
assim que o texto é publicado no "Diário Oficial da União". A
partir daí, o Congresso Nacional terá até 120 dias para analisar
as MPs. Se isso não acontecer no prazo, as medidas perderão
validade.

Reoneração da folha

Durante o pronunciamento, o presidente afirmou que os


pontos do acordo negociado na semana passada seguem
valendo, entre eles o que tira o setor de transporte rodoviário
de carga da chamada reoneração da folha.
A proposta, que na prática eleva a arrecadação federal, já
foi aprovada pela Câmara e ainda depende de análise do
Senado. Vários setores que haviam sido atendidos com a
desoneração perderão o benefício. Segundo Temer, o setor dos
caminhoneiros não estará entre esses setores. Crises

Aos 2 anos, governo Temer festeja economia, mas Nesses dois anos à frente do Planalto, Temer enfrentou
enfrenta impopularidade, denúncias e crise política; uma série de polêmicas causadas por denúncias, delações,
relembre93 prisões de assessores mais próximos e investigações da Polícia
Federal.
Reeleito vice-presidente em 2014, Temer assumiu No ano passado, o presidente foi denunciado duas vezes ao
Presidência interinamente em 12 de maio de 2016, devido ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria Geral da
afastamento de Dilma. Três meses depois, foi efetivado após República (PGR). Os crimes: corrupção passiva, organização
impeachment da petista. criminosa e obstrução de Justiça.
Passados dois anos desde o afastamento de Dilma (o As denúncias, baseadas nas delações da JBS, fizeram Temer
impeachment só foi aprovado em 31 de agosto de 2016), viver seu momento mais dramático no governo.
Temer lidera um governo que ostenta queda da inflação e Segundo o Ministério Público, numa conversa com o dono
a redução da taxa de juros, mas que tenta lidar com o aumento da empresa, Joesley Batista, Temer deu aval ao pagamento de
no número de desempregados e com os altos índices de dinheiro para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo
rejeição. Cunha, o que o presidente nega. O encontro aconteceu no fim
Hoje, Temer conduz um governo alvo de denúncias da da noite, fora da agenda, e foi gravado por Joesley.
Procuradoria Geral da República (PGR), envolvido em crises O STF só poderia analisar as denúncias, porém, se a Câmara
políticas e no foco de investigações criminais. autorizasse. Nos dois casos, a maioria dos deputados
votou contra o prosseguimento dos processos e, com isso, as
Aprovação acusações contra Temer só poderão ser analisadas após ele
deixar o Planalto.
Nove meses após tomar posse para o segundo mandato
como vice-presidente, Temer afirmou num evento, em Investigações
setembro de 2015, que seria "difícil" Dilma Rousseff aguentar
mais três anos no Palácio do Planalto em razão da baixa Hoje, Temer é alvo de dois inquéritos que tramitam no STF.
popularidade. À época, ela tinha 8% de aprovação. Com base nas delações de executivos da JBS e da Obderecht, o
Temer assumiu a Presidência de maneira interina em maio presidente passou a ser investigado por suposto recebimento
de 2016 e no primeiro discurso afirmou que, para governar, de propina na edição do decreto dos portos e em contratos da
precisaria do "apoio do povo", que, por sua vez, precisaria Secretaria de Aviação Civil.
"aplaudir" as medidas adotadas. A pasta da Aviação foi comandada por Moreira Franco,
Hoje, a aprovação do presidente, segundo o Datafolha, é de atual ministro de Minas e Energia, e Eliseu Padilha, atual chefe
6% - 70% consideram o governo ruim ou péssimo. da Casa Civil, ambos do MDB, principais conselheiros de Temer
Em recente entrevista, Temer afirmou que um publicitário e formalmente denunciados pelo Ministério Público ao STF.
disse a ele que "aproveite a impopularidade" para fazer as Além dos dois, outras pessoas muito próximas ao
reformas necessárias ao país. presidente passaram a ser investigadas e até foram presas,
entre as quais:
Economia Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado e ex-assessor especial
de Temer;
O presidente apontou como maior desafio "estancar o José Yunes, ex-assessor especial de Temer;
processo de queda livre na atividade econômica". João Baptista Lima Filho, coronel aposentado da PM e
Em dois anos, Temer acostumou-se a badalar índices amigo de Temer;
alcançados em sua gestão, como a alta do PIB em 2017 (1%) Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Temer.
após dois anos de retração e as quedas da inflação e da taxa O presidente nega qualquer tipo de envolvimento com
básica de juros (6,5% ao ano), a menor da série histórica do irregularidades. Afirma ser vítima de uma "campanha
Banco Central, iniciada em 1986. oposicionista" para enfraquecer o governo, acrescentando que
No mercado de trabalho, contudo, o governo não é alvo de "vazamentos irresponsáveis" de dados relacionados
conseguiu reduzir o número de desempregados, pelo às investigações sobre ele.

93 MAZUI G. MATOSO, F. MARTELLO, A. Aos 2 anos, governo Temer festeja festeja-economia-mas-enfrenta-impopularidade-denuncias-e-crise-politica-


economia, mas enfrenta impopularidade, denúncias e crise política; relembre. G1 relembre.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1>
Política. <https://g1.globo.com/politica/noticia/aos-2-anos-governo-temer- Acesso em 14 de maio de 2018.

Conhecimentos Específicos 94
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APOSTILAS OPÇÃO

Sobre se tem medo de ser preso ao deixar o cargo, o Intervenção federal


presidente diz que não, acrescentando que isso seria uma Em 16 de fevereiro, o presidente decretou a intervenção
"indignidade". federal na área de segurança pública do Rio de Janeiro, a
primeira desde a Constituição de 1988.
Julgamento do TSE Com a decisão, o governador Luiz Fernando Pezão (MDB)
deixou de responder pela área, que ficou sob a gestão do
Em junho de 2017, o Tribunal Superior Eleitoral general do Exército Walter Braga Netto, escolhido por Temer
(TSE) garantiu a continuidade do governo de Michel Temer ao como interventor.
absolver, por 4 votos a 3, a chapa formada por ele e por Dilma No período, o fato de maior repercussão no Rio foi
da acusação de abuso de poder político e econômico na o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), cuja
campanha de 2014. investigação segue em curso.
A ação foi apresentada pelo PSDB após a eleição e apontava Temer também criou, neste ano, o Ministério da Segurança
mais de 20 infrações supostamente cometidas pela coligação Pública. Com isso, a Polícia Federal saiu da alçada do
encabeçada por PT e PMDB (hoje MDB). Ministério da Justiça e passou a ser subordinada à nova pasta.
Com o placar apertado, cujo voto decisivo foi dado pelo Raul Jungmann, então ministro da Defesa, assumiu a
ministro Gilmar Mendes, então presidente do TSE, Temer Segurança Pública. Para o lugar dele, Temer nomeou Joaquim
escapou da perda do atual mandato e Dilma, da inelegibilidade Silva e Luna, primeiro militar a comandar a Defesa.
por 8 anos.
Programas sociais
Reformas e concessões Nos dois anos de Temer à frente do Planalto:
Temer chegou ao poder com discurso em favor das O Bolsa Família foi reajustado duas vezes;
reformas trabalhista e previdenciária, tendo como objetivo "o O reajuste do salário mínimo ficou abaixo da inflação;
pagamento das aposentadorias e a geração de emprego". No Minha Casa, Minha Vida, de acordo com Ministério das
Nesses dois anos: Cidades, em 2016 foram contratadas 382.311 unidades
Nova lei trabalhista entrou em vigor; habitacionais. Em 2017, o governo traçou como meta contratar
Reforma do ensino médio foi sancionada; 610 mil unidades habitacionais, mas entregou 500 mil.
Reforma da Previdência parou no Congresso; A meta para este ano é contratar 650 mil unidades – até
Reforma tributária não avançou na Câmara. agora, foram contratadas 125 mil unidades.

Temer também defendeu, ao assumir o governo, o


incentivo às parcerias público-privadas (PPPs). O presidente
lançou um programa de concessões e privatizações.
Segundo dados oficiais, 74 projetos foram concluídos, o
que inclui quatro aeroportos, linhas de transmissão, terminais
portuários e blocos para exploração de óleo e gás.
Dentro do programa de concessões, uma das principais
apostas do governo para 2018 é a privatização da Eletrobras,
que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional.
O foro privilegiado não acaba hoje94
Contas públicas
A decisão do STF é apenas um primeiro (e modesto) passo
Quando Temer assumiu, afirmou ser preciso restaurar o para acabar com o absurdo incentivo à impunidade – e ainda
equilíbrio das contas públicas "trazendo a evolução do abre margem a dúvidas e manobras
endividamento no setor público de volta ao patamar de Se tudo correr como programado, termina hoje, com o voto
sustentabilidade ao longo do tempo". do ministro Gilmar Mendes, o julgamento do Supremo
Desde então, foram anunciadas algumas medidas, como a Terminal Federal (STF) a respeito do foro privilegiado – ou,
instituição de um teto para os gastos públicos; o aumento da como preferem os puristas, foro por prerrogativa de função.
tributação sobre a gasolina; a aprovação da Taxa de Longo Pela legislação brasileira, 58.660 cidadãos têm o direito de
Prazo (TLP) – que diminui, com o passar do tempo, o ser julgados em tribunais especiais, de acordo com um
pagamento de subsídios pelo governo. levantamento do jornal Folha de São Paulo. Tal contingente
Também foram anunciados programas de parcelamento inclui do presidente da República ao defensor público de
de tributos vencidos para empresas, produtores rurais e Taboão da Serra – passando por vereadores, oficiais das
estados e municípios. Esses parcelamentos, mesmo criticados Forças Armadas, juízes, procuradores, prefeitos, governadores
pela área técnica da Receita Federal – pois influenciam para e, naturalmente, deputados e senadores.
baixo o recolhimento mensal dos impostos –, contribuem para O processo em julgamento no STF examina apenas o que
elevar a arrecadação no curto prazo. fazer em relação aos 594 deputados federais e senadores. É
provável que a decisão tenha implicação para os demais
cargos, mas ela não será automática. Dependerá de decisões
posteriores da Justiça.
Sete dos ministros já votaram em favor da nova
interpretação proposta pelo relator, o ministro Luís Roberto
Barroso. Ela prevê a manutenção do foro especial apenas para
crimes cometidos no cargo, em função de atividades relativas
ao cargo.
A divergência, iniciada pelo ministro Alexandre de Moraes,
afirma que tal critério abrirá margem a interpretações
subjetivas quando casos concretos vierem a julgamento. Ele

94 GUROVITZ, HELIO. O foro privilegiado não acaba hoje. G1 Mundo. gurovitz/post/2018/05/03/o-foro-privilegiado-nao-acaba-hoje.ghtml> Acesso
Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/blog/helio- em 04 de maio de 2018.

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APOSTILAS OPÇÃO

propôs que todo crime atribuído a parlamentar seja julgado no Lula chega a Curitiba para cumprir pena por
STF a partir do momento da diplomação, até o fim do mandato, corrupção e lavagem de dinheiro95
não importando a natureza.
O argumento vitorioso de Barroso atém-se ao princípio do Ex-presidente foi condenado em segunda instância no caso
foro especial: ele existe para proteger o cargo de ingerências do triplex.
políticas. O argumento de Alexandre é de ordem prática: a O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou na noite
decisão poderá tornar os julgamentos ainda mais complexos e deste sábado (07/04) a Curitiba, onde começará a cumprir a
morosos. pena de 12 anos e 1 mês de prisão pela condenação no caso do
Ser julgado no STF é considerado um privilégio justamente triplex em Guarujá (SP).
por que, na visão predominante, lá os processos costumam Ele foi condenado por corrupção passiva e lavagem de
demorar mais, e os crimes prescrevem. dinheiro. Ele é o primeiro ex-presidente do Brasil condenado
Um estudo da FGV-Rio, tão citado quanto criticado, por crime comum.
constatou, com base na análise de 2.963 inquéritos e 822 ações Por ordem de Moro, o ex-presidente ficará preso em uma
penais entre 2002 e 2016, que o tempo médio de tramitação sala especial de 15 metros quadrados, no 4º andar do prédio
até o julgamento definitivo caiu para os primeiros (de 1.297 da PF, com cama, mesa e um banheiro de uso pessoal. Também
para 797 dias), mas cresceu num movimento constante para foi autorizada a instalação de um TV no local.
as segundas (de 65 para 1.377). O mandado de prisão foi expedido pelo juiz Sérgio Moro no
O estudo levantou casos em que um processo espera mais início da noite de quinta-feira (05/04) e, na sequência, Lula
de quatro anos por providências do relator. Numa amostra de seguiu para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em
casos entre 2012 e 2016, verificou que menos de 6% São Bernardo do Campo (SP).
começavam e terminavam no STF. Apenas 5,44% preenchiam O ex-presidente se entregou à Polícia Federal quase 26
as duas condições propostas por Barroso. O fim do foro horas após o prazo dado pelo juiz para que ele se apresentasse
representaria, portanto, um alívio na carga do tribunal, voluntariamente.
concebido como corte constitucional, não penal. Lula saiu a pé do sindicato, às 18h42, e caminhou até um
Em artigo no site Consultor Jurídico, o jurista Lenio Streck prédio próximo, onde equipes da Polícia Federal o
criticou o estudo por não determinar o período de demora que aguardavam. A saída teve de ser feita dessa maneira porque,
cabe ao inquérito policial, ao oferecimento da denúncia pelos por volta das 17h, Lula tentou sair de carro, mas foi impedido
procuradores e ao STF especificamente. Streck afirma que as pela militância.
regras para prescrição mudaram em 2010, dificultando as De carro, Lula foi levado por agentes até a
manobras protelatórias e diz que a própria natureza do Superintendência da PF em São Paulo, onde realizou exame de
julgamento criminal no STF é distinta, feita em instância única corpo de delito. Na sequência, seguiu de helicóptero para o
por um colegiado de juízes. aeroporto de Congonhas e, de lá, decolou em avião com destino
Num levantamento entre o primeiro semestre de 2015, a Curitiba.
quando já estavam consolidados a atual estrutura de O ex-presidente anunciou que se entregaria neste sábado,
julgamentos em turmas e o uso de juízes auxiliares, e o início em um discurso feito em frente à sede do sindicato. A fala
de 2017, ele verificou que 18 de 42 ações penais autuadas já durou 55 minutos e ocorreu durante ato religioso em
haviam sido julgadas – num prazo em torno de 800 dias, homenagem a ex-primeira-dama Marisa Letícia, que
eficácia bem superior à verificada no estudo da FGV-Rio. completaria 68 anos neste sábado. Lula disse que não iria
Num ponto, todos estão de acordo: as idas e vindas entre “correr”, “nem se esconder”.
as instâncias judiciárias contribuem para dilatar a duração dos Ele também criticou as decisões do Judiciário e disse que
processos. Barroso sugere, em seu voto, que o STF encerre vai provar sua inocência.
todos os processos cuja instrução já esteja concluída, mesmo
que o parlamentar perca o mandato ou adquira foro noutra Mandado de prisão
instância do Judiciário. O ex-presidente é acusado de receber o triplex no litoral de
Esse critério valeria para os processos da Operação Lava SP como propina dissimulada da construtora OAS para
Jato que lá tramitam? Dependerá de como o relator, ministro favorecer a empresa em contratos com a Petrobras. O ex-
Edson Fachin, interpretar as novas condições aos processos. É presidente nega as acusações e afirma ser inocente.
provável que ele envie a instâncias inferiores aqueles cujas Lula foi condenado por Moro na primeira instância, e
acusações digam respeito a crimes cometidos fora do cargo a condenação foi confirmada na segunda instância pela 8ª
hoje ocupado. Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Para novos processos por corrupção, a tendência é haver A defesa tentou evitar a prisão de Lula com um habeas
menos controvérsia – embora o ponto levantado pela corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal (STF), mas o
divergência do ministro Alexandre prometa doravante pairar pedido foi negado pelos ministros, por 6 votos a 5, em votação
sobre qualquer decisão, abrindo brechas para advogados encerrada na madrugada de quinta.
manobrarem em favor de seus clientes. Na tarde de quinta, o TRF-4 enviou um ofício a Moro
É preciso acabar com os absurdos do foro privilegiado no autorizando a prisão, e o juiz expediu o mandado em poucos
Brasil. Ele protege criminosos e promove a impunidade. Mas a minutos.
decisão de hoje não fará isso, ao menos não em definitivo. O Os advogados de Lula, porém, questionaram a ordem de
melhor seria o Congresso Nacional emendar a Constituição prisão porque ainda poderiam apresentar ao TRF-4 os
para resolver a questão em toda a sua extensão. Infelizmente, chamados "embargos dos embargos de declaração".
por causa da intervenção federal no Rio de Janeiro, ele está Depois, a defesa ainda tentou evitar a prisão com recursos
impedido de examinar emendas constitucionais. no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no STF, que também
foram rejeitados.

95 G1 PR. Lula chega a Curitiba para cumprir pena por corrupção e lavagem pena-por-corrupcao-passiva-e-lavagem-de-dinheiro.ghtml> Acesso em 09 de abril
de dinheiro. G1 RPC. Disponível em: de 2018.
<https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/lula-chega-a-curitiba-para-cumprir-

Conhecimentos Específicos 96
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APOSTILAS OPÇÃO

Deputados da UE pedem fim de acordo com Mercosul Gomes. As características do homicídio - uma emboscada sem
após morte de Marielle96 roubo - apontam para a hipótese de execução, que é a principal
linha de investigação da polícia.
Grupo também denunciou a violência política no Brasil Nascida e criada na favela da Maré, Marielle foi a quinta
Mais de 50 deputados do Parlamento Europeu pediram vereadora mais votada nas eleições municipais de 2016, com
nesta quinta-feira (15/03) a suspensão "imediata" das 46.502 votos. Nos últimos dias, postou mensagens nas redes
negociações para um acordo comercial entre União Europeia e sociais denunciando a violência policial no Rio.
Mercosul por conta do assassinato da vereadora Marielle "Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando
Franco, uma conhecida ativista pelos direitos humanos do Rio para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja.
de Janeiro. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra
Deputados da UE protestam contra assassinato de acabe?", escreveu no Facebook.
Marielle. O documento foi divulgado pelo jornalista Jamil Ela também chamou o 41º Batalhão da Polícia Militar de
Chade e é endereçado para a vice-presidente da Comissão "Batalhão da Morte" por causa de denúncias de crimes no
Europeia, a italiana Federica Mogherini, também responsável bairro de Acari. Marielle era crítica da intervenção militar do
pela diplomacia do bloco. Governo Federal na segurança pública do Rio de Janeiro.
"Esse assassinato se produz em um clima de crescente
violência no Brasil e em particular na cidade do Rio de Janeiro. Ficha Limpa passa a valer também para ocupantes de
A política de segurança do Governo brasileiro e do Estado do cargos eletivos97
Rio de Janeiro, baseada essencialmente no aumento da
presença de corpos policiais e militares (e que culminou na Entendimento foi defendido pelo ministro Luiz Fux, relator
intervenção do Exército brasileiro), não fez mais do que da matéria e presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
agravar o clima de violência no país", diz a carta, que é assinada Nesta quinta-feira (01/03), os ministros do Supremo
pelo eurodeputado espanhol Miguel Urbán Crespo, do partido derrubaram a chamada modulação da Lei da Ficha Limpa. Na
de esquerda Podemos. prática, isso quer dizer que a lei vale não só para os candidatos
O documento também é firmado por outros 51 nas eleições, mas também para os atuais ocupantes de cargos
europarlamentares e lembra que Marielle era relatora da eletivos.
comissão municipal criada para fiscalizar a intervenção militar Por seis votos a cinco, os ministros do Supremo decidiram
no Rio e crítica da violência policial na cidade. "A defesa das em outubro de 2017 que a Lei da Ficha Limpa deve ser aplicada
populações oprimidas e discriminadas deve ser uma para políticos condenados por abuso de poder político e
prioridade para a União Europeia. O assassinato de Marielle econômico antes de 2010, quando ela passou a vigorar. A lei
Franco pretende amedrontar os defensores dos direitos tornou o condenado inelegível por oito anos.
humanos, assim como influir nas eleições deste ano", diz o Em 2017, o ministro Luiz Fux afirmou que ter a ficha limpa
documento. é uma pré-condição para uma pessoa se candidatar, que
A carta se encerra com um pedido para que a Comissão inelegibilidade não é pena e que, por isso, não significa que a
Europeia, poder Executivo da UE, "suspenda as negociações lei vai retroagir.
comerciais, de forma imediata", com o Mercosul, "exigindo do “Há de se entender que, mesmo no caso em que o indivíduo
Brasil uma investigação independente, rápida e exaustiva que já foi atingido pela inelegibilidade, de acordo com as hipóteses
permita alcançar a verdade e a justiça". e prazos anteriormente previstos na lei complementar 64,
Os signatários pertencem ao Grupo da Esquerda Unitária vejam o grau de cognição e discussão nas ações de controle da
Europeia, que reúne 52 eurodeputados de partidos constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa, mesmo nesses
comunistas e socialistas, como o Podemos, o grego Syriza, o casos esses prazos poderão ser estendidos, se ainda em curso,
irlandês Sinn Féin, o alemão Die Link e o português Bloco de ou mesmo restaurados para que cheguem a oito anos por força
Esquerda. O grupo tem cerca de 7% dos assentos no da lex nova, desde que não ultrapasse esse prazo”.
Parlamento da UE. Mas no julgamento de outubro, faltou decidir sobre a partir
Também nesta quinta, Urbán Crespo já havia usado o de quando essa decisão seria aplicada. É o que se chama de
plenário de Estrasburgo para condenar o assassinato da modular a decisão. Nesta quinta, o ministro Ricardo
vereadora. Exibindo uma placa com a frase "Marielle Lewandowski defendeu que a lei só fosse aplicada a partir das
Presente", que virou símbolo das homenagens à política do eleições de 2018.
Psol, Urbán Crespo afirmou que o Brasil vive um clima de “Fui informado pela liderança do governo na Câmara de
"violência política pré-eleitoral". que a prosperar a decisão da Suprema Corte, alcançada por
"Esta noite, assassinaram a vereadora do Psol Marielle maioria muito estreita, de seis a cinco, nós atingiríamos o
Franco no Rio de Janeiro. Assassinaram uma ativista feminista mandato de 24 prefeitos, abrangendo cerca de 1,5 milhão, um
dos direitos humanos, anticapitalista, uma ativista assassinada número incontável de vereadores e também não se sabe ao
em um clima de violência política pré-eleitoral no Brasil", certo quantos deputados estaduais em exercício do mandato
declarou o eurodeputado. seriam atingidos”.
O espanhol ainda enviou "solidariedade" a seus Os ministros Celso de Mello, Dias Toffoli, Gilmar
"companheiros" no país latino-americano e exprimiu sua Mendes, Marco Aurélio Mello e Alexandre de
"condenação a esse clima de violência no Brasil". Ao lado de Moraes manifestaram a mesma opinião de Lewandowski.
Urbán Crespo, outros eurodeputados do Podemos exibiram Os ministros Luiz Fux, Luís Roberto Barroso, Rosa
cartazes em memória de Marielle. Weber, Luiz Edson Fachin e a presidente do Supremo, Cármen
Lúcia, ficaram contra.
Assassinato Fux argumentou que os candidatos que concorreram nas
O crime ocorreu na noite da última quarta-feira (14/03) e eleições passadas, apoiados em liminares da Justiça, sabiam do
também vitimou o motorista da vereadora, Anderson Pedro

96 AGÊNCIAS ANSA. Deputados da EU pedem fim de acordo com Mercosul após 97 JORNAL NACIONAL. Ficha Limpa passa a valer também para ocupantes de

morte de Marielle. ÉpocaNegócios. Disponível em: cargos eletivos. G1 Jornal Nacional. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-
<https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2018/03/deputados-da-ue- nacional/noticia/2018/03/ficha-limpa-passa-valer-tambem-para-ocupantes-de-
pedem-fim-de-acordo-com-mercosul-por-marielle.html> Acesso em 16 de março cargos-
de 2018. eletivos.html?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=jn>
Acesso em 02 de março de 2018.

Conhecimentos Específicos 97
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APOSTILAS OPÇÃO

risco que estavam correndo e defendeu que a Lei da Ficha ficarão com o novo ministério, saindo da alçada do Ministério
Limpa seja aplicada a todos os casos anteriores a ela. da Justiça.
“Qualquer modulação esbarraria, digamos assim, num Ele ainda informou que a pasta terá, além do ministro, um
custo político gravíssimo de termos impedido várias pessoas secretário-executivo e outros nove assessores.
de concorrer e ao mesmo tempo fechar os olhos para "Você terá um ministro de estado, um secretário-executivo
candidaturas eivadas de vício gravíssimo, reprovadas por uma e nove cargos de assessoria. Os demais é a mera transposição
lei com amplo apoio da soberania popular e chancelada a sua da Justiça para a Segurança Pública, os departamentos que
constitucionalidade. Não modulo”. saem de um ministério para outro já têm seu quadro de
A Lei da Ficha Limpa só poderia ser modulada com os votos servidores, seu orçamento, seu programa de trabalho",
favoráveis de ao menos oito dos 11 ministros. Como apenas informou o ministro.
seis ministros votaram a favor da modulação, prevalece a Torquato também explicou que a opção por criar a nova
decisão tomada pelo Supremo em outubro de 2017. Políticos pasta por meio de medida provisória se justifica pela crise na
condenados por abuso do poder econômico e político, mesmo segurança pública dos estados. Pela lei, o governo só pode
antes da aprovação da Lei da Ficha Limpa, ficam inelegíveis editar uma medida provisória em casos de relevância e
por oito anos, inclusive os eleitos nas eleições passadas. urgência.

Governo criará nesta segunda novo Ministério da Governo desiste da votação da Previdência e anuncia
Segurança Pública98 nova pauta prioritária no Congresso99

Pasta terá função de integrar e coordenar ações de Após suspensão da tramitação da reforma da Previdência,
segurança entre União e estados; PF e PRF responderão ao governo vai investir em outros projetos como a privatização
novo ministro. Criação do ministério terá de ser aprovada pelo da Eletrobras e a autonomia do Banco Central.
Congresso. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, anunciou nesta
Integrantes do governo anunciaram na noite deste segunda-feira (19/02) uma lista de 15 projetos na área
domingo (25/02) que o Ministério da Segurança Pública, econômica que o governo tentará aprovar no Congresso
anunciado nos últimos dias pelo presidente Michel Temer, Nacional, já que a tramitação da reforma da Previdência foi
será criado nesta segunda (26/02) suspensa em razão de decreto de intervenção federal no Rio de
Os detalhes sobre a criação da nova pasta foram discutidos Janeiro.
por Temer em uma reunião no Palácio do Jaburu. A legislação proíbe, durante vigência de intervenção
Participaram do encontro os ministros Eliseu Padilha federal, a aprovação de emendas à Constituição. A reforma da
(Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral), Torquato Previdência foi apresentada como uma PEC e a intervenção no
Jardim (Justiça), Raul Jungmann (Defesa), Sergio Etchegoyen Rio, na área de segurança pública, tem previsão de durar até
(Gabinete de Segurança Institucional) e Gustavo Rocha 31 de dezembro deste ano.
(interino dos Direitos Humanos), além do deputado Darcísio O anúncio foi feito em entrevista concedida no Palácio do
Perondi (PMDB-RS), um dos vice-líderes do governo na Planalto. Entre os projetos, constam a regulamentação do teto
Câmara. remuneratório, a privatização da Eletrobras e a autonomia do
Segundo o deputado, a nova estrutura será criada por meio Banco Central.
de uma medida provisória, que deve ser publicada no "Diário Pauta prioritária do governo:
Oficial da União" de terça-feira. Será o 29º ministério do
governo Temer. - Reforma do PIS/Cofins e a simplificação tributária
Por se tratar de uma MP, a criação do novo ministério - Autonomia do Banco Central
passará a valer a partir do momento de sua publicação, mas - Marco legal de licitações e contratos
terá de ser aprovada pelo Congresso em até 60 dias, que - Nova lei de finanças públicas
podem ser prorrogáveis por mais 60. - Regulamentação do teto remuneratório
Perondi afirmou ainda que o anúncio do nome do novo - Privatização da Eletrobras
ministro poderá ser feito ainda nesta segunda. Ele disse, - Reforço das agências reguladoras
porém, que ainda não há definição sobre o nome a ser - Depósitos voluntários no Banco Central
escolhido. - Redução da desoneração da folha
"Tem 10 nomes, mas não tem o nome [do novo ministro]. - Programa de recuperação e melhoria empresarial das
Poderá ser amanhã, mas nós não discutimos o nome [na estatais
reunião deste domingo]. Tem 10 nomes", disse. - Cadastro positivo
Segundo o ministro da Justiça, Torquato Jardim, que - Duplicata eletrônica
também falou com a imprensa após a reunião, Temer busca um - Distrato
perfil de "repercussão nacional" para ocupar o comando da - Atualização da Lei Geral de Telecomunicações
pasta, com capacidade de diálogo com parlamentares e - Extinção do Fundo Soberano
governadores, já que o ministério não pretende invadir a
atribuição dos estados sobre a segurança pública. Segundo Padilha, o governo definiu a nova pauta a partir
das falas dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do
Estrutura da nova pasta Senado, Eunício Oliveira, sobre a suspensão da tramitação da
Ao conversar com os jornalistas, Torquato deu mais reforma da Previdência.
detalhes sobre a estrutura do novo ministério. “Tivemos que concluir que efetivamente não se poderia
Torquato explicou Polícia Federal, Polícia Rodoviária iniciar a discussão que nós tínhamos programada para dia
Federal, Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e (19/02), a discussão da reforma da Previdência e nem
Secretaria Nacional de Segurança (que inclui a Força Nacional) poderíamos encaminhar votação”, disse Padilha.

98 MAZUI. GUILHERME. Governo criará nesta segunda novo Ministério da 99 MAZUI, G. CASTILHOS, R. Governo desiste da votação da Previdência e

Segurança Pública. G1 Política. Disponível em: anuncia nova pauta prioritária no Congresso. G1 Política. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/amanha-sai-a-criacao-do-ministerio-diz- <https://g1.globo.com/politica/noticia/governo-desiste-da-votacao-da-
perondi-sobre-pasta-da-seguranca-publica.ghtml> Acesso em 26 de fevereiro de previdencia-e-anuncia-nova-pauta-prioritaria-no-
2018. congresso.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1>
Acesso em 20 de fevereiro de 2018.

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APOSTILAS OPÇÃO

Temer decretou na sexta-feira (16/02) a intervenção em votação. “Foi aprovada por unanimidade a pré-candidatura
federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro. dele. Não temos plano B”, disse Gleisi.
Apesar de já estar em vigor desde sexta, a intervenção precisa Lula participou da reunião, discursou, disse que recorrerá
ser aprovada pelo Congresso Nacional. A votação na Câmara às instâncias em que for necessário recorrer. "Vamos batalhar
está prevista para a noite desta segunda. até o final", declarou. O ex-presidente se disse ainda alvo de
O decreto assinado por Temer nomeou o general Walter um "cartel" com o objetivo de impedir que dispute a eleição.
Braga Nettocomo interventor, responsável pela estrutura de "Eles formaram um cartel para tomar uma decisão, para
segurança do Rio, o que incluí as polícias Civil e Militar, o Corpo evitar o Lula ser candidato. Se eles tivessem encontrado um
de Bombeiros e o sistema carcerário do estado. crime que eu cometi eu estaria aqui pedido desculpas",
declarou.
Reforma adiada Ele criticou o que chamou de "corporação da Polícia
O ministro Carlos Marun reconheceu a possibilidade de Federal", que, segundo afirmou, faz "qualquer processo", com
votação da reforma da Previdência depois da eleição de perguntas "sem nexo", sem importar "a quantidade de
outubro. mentiras".
"A eleição de outubro pode oferecer as condições políticas Na esfera eleitoral, a situação de Lula só será definida no
para que venhamos a votar a reforma da Previdência", afirmou segundo semestre deste ano, quando o Tribunal Superior
Marun. Eleitoral (TSE) analisar o registro de candidatura. O PT tem até
O ministro Eliseu Padilha negou troca de interesses e disse o dia 15 de agosto para protocolar o pedido e a Corte tem até
que o governo não está fugindo da reforma da Previdência. o dia 17 de setembro para aceitar ou rejeitar a candidatura.
"Não está vinculada a questão da intervenção com a A defesa do ex-presidente Lula anunciou que irá recorrer
votação. Não houve troca de interesses. Não houve uma fuga da decisão do Tribunal Regional Federal. "Não houve qualquer
do enfrentamento da votação da reforma", disse Padilha. demonstração de elementos concretos que pudessem
De acordo com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, configurar a prática de um crime", disse o advogado Cristiano
a pauta da Previdência continua "prioritária" e "fundamental". Zanin. Como a condenação foi unânime, a possibilidade de
"A ideia é que a previdência continua como uma agenda de recursos do ex-presidente ficou reduzida.
reforma para o pais e ela é a mais importante para o setor
fiscal", afirmou Meirelles. Quase 350 mil cadastros do Bolsa Família foram
fraudados, diz auditoria101
Um dia depois da condenação, PT lança pré-
candidatura de Lula à Presidência100 Segundo relatório da Controladoria-geral da União (CGU),
foram identificadas no cadastro do benefício famílias com casa
Mesmo com possibilidade de ter candidatura barrada pela própria e carro de luxo, além de funcionários públicos.
Lei da Ficha Limpa, ex-presidente afirmou que recorrerá 'até o De acordo com o ministério do Desenvolvimento Social, o
final'. 'Não temos plano B', disse presidente do PT, Gleisi programa beneficiou, em dezembro de 2017, mais de 13
Hoffmann. milhões de famílias, que receberam benefícios com valor
Um dia depois da condenação a 12 anos e 1 mês de prisão, médio de R$ 179. O valor total transferido pelo governo federal
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi lançado nesta às famílias foi de R$ 2,4 milhões em dezembro.
quinta-feira (25/01) como pré-candidato do PT à Presidência Segundo o relatório da CGU, o governo pagou
da República durante reunião da Comissão Executiva Nacional indevidamente R$ 1,4 bilhão a pessoas que não tinham direito
do partido, em São Paulo. Além de Lula, outros 13 políticos já ao benefício. A CGU afirma que quem recebeu o dinheiro
se declararam pré-candidatos. indevidamente está sendo localizado.
Lula foi condenado pelos três desembargadores da 8ª "Não é aquele indivíduo que aumentou a renda, conseguiu
Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Por emprego, melhorou que a gente vai atrás. O que nos preocupa
unanimidade, eles rejeitaram o recurso do ex-presidente é aquele caso da pessoa que já entrou errada, tem um padrão
contra a condenação a 9 anos e 6 meses de prisão aplicada pelo de vida excelente, que está fraudando o programa de fato",
juiz federal Sérgio Moro e ampliaram a pena para 12 anos e 1 afirma Antônio Carlos Leonel, secretário federal de controle
mês. interno da CGU.
Com a condenação, o ex-presidente poderá se tornar Segundo a auditoria da CGU, famílias com casa própria e
inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. A lei prevê que carro de luxo foram identificadas no cadastro, além de
candidatos com condenação criminal a partir da segunda funcionários públicos. O levantamento foi feito entre 2016 e
instância da Justiça – caso do Tribunal Regional Federal – 2017.
ficam inelegíveis e não podem obter registro. Antes, a O Bolsa Família foi criado em 2003 para atender famílias
legislação só previa esse impedimento para condenações em condições de extrema pobreza.
definitivas, na última instância. A decisão sobre o registro da Tem direito ao benefício a família que tem renda de R$ 170
candidatura será do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). por pessoa. Algumas famílias apontadas na fiscalização da CGU
O ex-presidente foi condenado por corrupção passiva e tinham renda de mais de R$ 1.900 por pessoa.
lavagem de dinheiro, acusado de receber um apartamento Na cidade de Piancó, no sertão da Paraíba, quase 54% dos
triplex em Guarujá (SP) da empreiteira OAS em troca de moradores tinham cobertura do Bolsa Família. Depois do
favorecimento à empresa em contratos da Petrobras. A defesa pente-fino, quase metade perdeu o benefício. A cidade tinha
nega as acusações, diz que não há provas e que Lula é alvo de servidores da prefeitura e da câmara de vereadores
perseguição política. O ex-presidente afirmou após o cadastrados no programa.
julgamento que a acusação é mentirosa.
Durante a reunião da executiva, da qual participaram Benefícios cancelados
governadores, senadores e deputados do partido, a presidente O ministério do Desenvolvimento Social disse que recebeu
do PT, Gleisi Hoffman, colocou a proposta de pré-candidatura agora as informações da CGU e que vai conferir com a

100 STOCHERO, TAHIANE. Um dia depois da condenação, PT lança pré- 101 BOM DIA BRASIL. Quase 350 mil cadastros do Bolsa Família foram

candidatura de Lula à Presidência. G1, Eleições 2018. Disponível em: fraudados, diz auditoria. G1 Política. Disponível em: <
<https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/um-dia-depois-de-condenacao-pt- https://g1.globo.com/politica/noticia/quase-350-mil-cadastros-do-bolsa-
lanca-pre-candidatura-de-lula-a-presidencia.ghtml> Acesso em 26 de janeiro de familia-foram-fraudados-diz-auditoria.ghtml> Acesso em 05 de janeiro de 2017.
2018.

Conhecimentos Específicos 99
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checagem que já estava fazendo. O ministério disse, ainda, que Geddel na destinação das caixas e das malas de dinheiro. Além
está corrigindo falhas e que os cadastros passaram a ser disso, a PF identificou risco de fuga, depois da divulgação da
revistos todos meses. apreensão do dinheiro.
O governo disse que de outubro de 2016 até a semana A apreensão do dinheiro é um desdobramento da
passada, cancelou 4,7 milhões de pagamentos. Disse também Operação Cui Bono, que investiga fraudes na liberação de
que já começou a cobrar os casos mais absurdos identificados créditos da Caixa Econômica Federal. De acordo com o MPF,
pelo próprio ministério - são três mil e 200 famílias. entre 2011 e 2013, Geddel agia para beneficiar empresas com
"Nós já temos cartas enviadas para as famílias. E até este liberações de créditos e fornecia informações privilegiadas
momento, espontaneamente, 23 famílias devolveram. Ainda é para os outros membros da quadrilha que integrava.
um universo muito pequeno, mas eu acredito que, no O ex-ministro virou réu em agosto em uma ação na Justiça
andamento desse processo, nós obteremos a devolução dos R$ Federal em Brasília por obstrução de justiça. Ele é acusado de
12 milhões que foram recebidos indevidamente por essas tentar atrapalhar as investigações. Em nota divulgada após a
famílias", afirmou Alberto Beltrame, secretário-executivo do decisão da Justiça, a defesa de Geddel rechaçou as acusações, a
MDS. a que chamou de "fruto de verdadeiro devaneio e excesso
Ex-ministro Geddel Vieira Lima é preso após acusatório".
apreensão de R$ 51 milhões102 A defesa do ex-ministro não se manifestou sobre os R$ 51
milhões.
Ex-ministro já cumpria prisão domiciliar em Salvador. PF e
MPF pediram nova preventiva para evitar destruição de provas. Comissão da Câmara aprova texto-base da reforma
O ex-ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB, foi preso política; saiba o que está previsto103
preventivamente (sem prazo determinado) na manhã desta
sexta-feira (08/09), em Salvador, três dias após a Polícia A comissão da Câmara destinada à análise de uma das
Federal (PF) apreender R$ 51 milhões em um propostas que estabelecem a reforma política aprovou nesta
imóvel supostamente utilizado pelo peemedebista. quarta-feira (09/08), por 25 votos a 8, o texto-base do
A prisão foi determinada pelo juiz Vallisney de Souza relatório apresentado pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP)
Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, em uma nova fase da – saiba mais abaixo o que está previsto.
Operação Cui Bono, que investiga fraudes na Caixa Econômica O parecer de Vicente Cândido sobre a Proposta de Emenda
Federal. Além de Geddel, a PF cumpre mandado de prisão à Constituição (PEC) foi aprovado após 9 horas de sessão. Os
preventiva contra Gustavo Ferraz – que, segundo as deputados, contudo, não haviam concluído a análise do projeto
investigações, é ligado ao ex-ministro – e outros três até a última atualização desta reportagem, isso porque, após o
mandados de busca e apreensão, todos na capital baiana. texto-base, eles passaram a analisar os destaques, ou seja,
Geddel deixou o prédio pouco depois das 7h, no banco de sugestões que podem mudar a redação.
trás de uma viatura da PF, e chegou ao aeroporto Luiz Eduardo Após passar na comissão, a PEC seguirá para o plenário da
Magalhães cerca de meia hora depois. Ele será levado para Câmara, onde deverá ser aprovada em dois turnos antes de
Brasília). seguir para o Senado. A proposta precisa do apoio mínimo de
O ex-ministro já tinha sido preso preventivamente na 308 deputados.
operação, em julho, mas recebeu autorização do Como a sessão se estendia sem previsão de encerramento,
desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª a deputada Laura Carneiro (PMDB-RJ) distribuiu sanduíches a
Região, para cumprir prisão domiciliar. Embora a decisão alguns parlamentares.
judicial determine que ele seja monitorado por tornozeleira Entre outros pontos, o projeto cria um fundo para financiar
eletrônica, isso não vinha acontecendo pois o governo da Bahia campanhas eleitorais com recursos públicos e faz mudanças
não tem o equipamento. no sistema eleitoral.
Sete agentes e dois carros da PF entraram no condomínio Durante a sessão desta quarta, o relator esclareceu que o
de Geddel às 6h. Segundo a TV Bahia (afiliada da Rede Globo), parecer dele não prevê o chamado "distritão", modelo
um vendedor ambulante, que estava na região, foi levado para que ganhou força entre parlamentares e lideranças
dentro do condomínio, possivelmente para servir de partidárias nos últimos dias, embora o modelo possa ser
testemunha. incluído por meio de uma emenda apresentada por outro
Segundo o MPF, a nova fase da operação busca apreender parlamentar.
provas de crimes como corrupção passiva, lavagem de No "distritão", acaba o quociente eleitoral e os mais
dinheiro e organização criminosa, e que as medidas são votados são eleitos, ou seja, seria uma eleição majoritária,
necessárias para evitar a destruição de provas. como para presidente. Cada estado vira um distrito eleitoral.
O G1 tentou contato com a defesa de Geddel, mas não No caso de vereador, seria o município. O eleitor vota em um
obteve resposta até a última atualização desta reportagem. nome no distrito. Os mais votados são eleitos.

Fortuna em outro imóvel Sistema eleitoral


Na terça-feira (05/09), a PF apreendeu R$ 51 milhões em A proposta aprovada pela comissão estabelece o sistema
um apartamento que seria utilizado por Geddel em Salvador. distrital misto a partir de 2022 nas eleições para deputado
O dono do imóvel afirmou à PF que havia emprestado o imóvel federal, deputado estadual e vereador nos municípios com
ao ex-ministro para que ele guardasse pertences do pai, que mais de 200 mil eleitores. O modelo é uma mistura dos
morreu no ano passado. sistemas proporcional e majoritário.
Segundo o jornal "O Globo", a PF reuniu 4 provas que Pelo texto, para escolher deputados federais, por exemplo,
reforçam a ligação Geddel com o dinheiro. As impressões o eleitor votará duas vezes. Uma nos candidatos do distrito e
digitais do ex-ministro foram encontradas no próprio outra nas listas fechadas pelos partidos. A metade das vagas,
dinheiro, uma outra testemunha confirmou que o espaço tinha portanto, iria para os candidatos eleitos por maioria simples.
sido cedido a ele, e uma segunda pessoa é suspeita de ajudar

102 BOMFIM, CAMILA. Ex-ministro Geddel Vieira Lima é preso após apreensão 103 CARAM, B. CALGARO, F. Comissão da Câmara aprova texto-base da

de R$ 51 milhões. G1 Bahia. Disponível em: < reforma política; saiba o que está previsto. G1 Política. Disponível em:
http://g1.globo.com/bahia/noticia/mpf-pede-prisao-preventiva-de-geddel- <http://g1.globo.com/politica/noticia/comissao-da-camara-aprova-texto-base-
vieira-lima.ghtml> Acesso em 08 de setembro de 2017. da-reforma-politica-saiba-o-que-esta-previsto.ghtml> Acesso em 11 de agosto de
2017.

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A outra metade, preenchida conforme o quociente eleitoral 7 de janeiro: presidente da República;


pelos candidatos da lista partidária. 1º de fevereiro: deputados e vereadores.
No caso de municípios de até 200 mil eleitores, será
adotado o sistema eleitoral de lista preordenada nas eleições Suplente de senador
para vereador. A proposta reduz o número de suplentes de senadores, de
dois suplentes para um. Em caso de morte ou renúncia do
Eleições de 2018 e de 2020 titular, será feita nova eleição para o cargo, na eleição
Pela proposta elaborada pelo deputado Vicente Cândido, o subsequente. Esse substituto terá mandato somente até o
sistema eleitoral será mantido como é hoje em 2018 e em término do mandato do antecessor.
2020, no modelo proporcional com lista aberta. O texto define, ainda, que o suplente de senador será o
Nele, é possível votar tanto no candidato quanto na candidato a deputado federal que ocupar o primeiro lugar na
legenda, e um quociente eleitoral é formado, definindo quais lista preordenada do partido do titular do mandato.
partidos ou coligações têm direito de ocupar as vagas em
disputa. A partir desse cálculo, são preenchidas as cadeiras Imunidade do presidente da República
disponíveis, proporcionalmente. Inicialmente, Vicente Cândido chegou a propor estender
O sistema sofre críticas por permitir que candidatos com aos presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal
pouquíssimos votos sejam eleitos, "puxados" por aqueles com Federal (STF) a imunidade garantida ao presidente da
mais votos do mesmo partido. República.
Na proposta de Cândido, a mudança está na limitação no Pela Constituição, o presidente não pode ser investigado
número de candidatos. A depender do número de vagas a por crime cometido fora do mandato. Diante da reação
serem preenchidas, cada partido terá um limite específico de negativa de diversos integrantes da comissão, o relator
candidatos que poderá lançar. informou que retiraria a proposta do parecer.

Fundo de campanha Tentativa de adiamento


Ao apresentar o parecer, o relator Vicente Cândido (PT-SP) O PSOL tentou adiar a votação do parecer, sob a
dobrou o valor previsto de recursos públicos que serão usados justificativa de que seria preciso ouvir antes a sociedade sobre
para financiar campanhas eleitorais. o texto final, mas não conseguiu.
O projeto institui o Fundo Especial de Financiamento da "Não querer ouvir a sociedade é novamente virar de costas
Democracia, que será mantido com recursos públicos, para a opinião popular. Há uma sofreguidão de preservação de
previstos no orçamento. Na versão anterior do relatório, mandatos para o sistema continuar o mesmo", afirmou o
Cândido havia estabelecido que 0,25% da receita corrente deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
líquida do governo em 12 meses seria destinada a financiar
campanhas. Temer sanciona texto da reforma trabalhista em
Havia uma exceção somente para as eleições de 2018, com cerimônia no Planalto104
o valor do fundo em 0,5% da Receita Corrente Líquida, o que
corresponderá a cerca de R$ 3,6 bilhões. Modificações na CLT foram aprovadas pelo Senado na
No novo parecer, Vicente Cândido tornou a exceção uma última terça (11/07) em uma sessão tumultuada. Governo
regra. Pelo texto reformulado, o valor do fundo será de 0,5% prometeu alterar pontos da reforma por meio de medida
da receita corrente líquida em 12 meses, de maneira provisória.
permanente. O presidente Michel Temer sancionou nesta quinta-feira
(13/07) o projeto de reforma trabalhista aprovado pelo
Extinção do cargo de vice Congresso Nacional.
O relatório aprovado nesta quarta extingue da política A nova legislação altera regras da Consolidação das Leis do
brasileira as figuras de vice-presidente da República, vice- Trabalho (CLT) e prevê pontos que poderão ser negociados
governador e vice-prefeito. entre empregadores e empregados e, em caso de acordo
coletivo, passarão a ter força de lei. As novas regras entrarão
Vacância da presidência em vigor daqui a quatro meses, conforme previsto na nova
No caso de vacância do cargo de presidente da República, legislação.
será feita eleição 90 dias após a vaga aberta. Se a vacância Ao discursar na solenidade de sanção da reforma
ocorrer no último ano do mandato presidencial, será feita trabalhista, o peemedebista também criticou o que chama de
eleição indireta, pelo Congresso, até 30 dias após a abertura da “passionalização” na Justiça que, na opinião dele, gera
vaga. instabilidade ao país.
A regra também valerá para governadores e prefeitos. Temer argumentou que se "passionalizou" praticamente
todas as questões que vão ao Judiciário. Segundo ele, em vez
Mandato nos tribunais de aplicar "rigidamente" a lei "sem qualquer emoção", há
O texto define que os ministros do Supremo Tribunal pessoas que usam "ideologia" e "sentimentos psicológicos e
Federal (STF), do Tribunal de Contas da União (TCU) e de sociológicos".
tribunais superiores serão nomeados para mandatos de dez Temer também enalteceu a atuação do ministro do
anos. Trabalho, Ronaldo Nogueira, e do relator da proposta na
A mesma regra valerá para os membros de tribunais de Câmara, deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), na articulação
contas dos estados e dos municípios, tribunais regionais política do projeto. Na avaliação do presidente, foi "árduo o
federais e dos estados. Os juízes dos tribunais eleitorais terão percurso" para aprovar a reforma das leis trabalhistas.
mandato de quatro anos. Aprovado pela Câmara em abril, o projeto da reforma
trabalhista foi aprovado pelo Senado na última terça-feira
Posse (11/07) em uma sessão tumultuada.
As datas das posses dos eleitos passarão a ser as seguintes: Com a reforma trabalhista, a negociação entre empresas e
6 de janeiro: governadores e prefeitos; trabalhadores prevalecerá sobre a lei em pontos como

104 LIS, LAÍS. Temer sanciona texto da reforma trabalhista em cerimônia no trabalhista-em-solenidade-no-
Planalto. G1 Política. Disponível em: < planalto.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1>
http://g1.globo.com/politica/noticia/temer-sanciona-texto-da-reforma- Acesso em 14 de julho de 2017.

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parcelamento das férias, flexibilização da jornada, pela gestante, somente será permitido quando ela,
participação nos lucros e resultados, intervalo de almoço, voluntariamente, apresentar atestado de saúde”.
plano de cargos e salários e banco de horas.
Outros pontos, como FGTS, salário mínimo, 13º salário, Jornada 12x36
seguro-desemprego, benefícios previdenciários, licença- Outra ponto que o texto-prévio da MP pretende alterar é o
maternidade, porém, não poderão ser negociados. que permitia que acordo individual entre patrão e empregado
pudesse estabelecer jornada de 12 horas de trabalho por 36
'Suposta crise' horas ininterruptas de descanso. A minuta divulgada por Jucá
Em meio ao discurso sobre a reforma trabalhista, Temer quer viabilizar essa jornada após acordo coletivo, ou
afirmou que o país vive uma ‘suposta crise’, mas que há um convenção coletiva.
“entusiasmo extraordinário” em relação às políticas públicas.
“Eu faço um registro curioso: nessas últimas semanas,
certa e precisamente, em função de uma suposta crise, o que
tem acontecido é um entusiasmo extraordinário”, enfatizou. Trabalhador autônomo
O presidente também fez um balanço das medidas O texto aprovado prevê que as empresas poderão
aprovadas, citando, além da reforma trabalhista, as mudanças contratar autônomos e, ainda que haja relação de
no ensino médio e a PEC do teto de gastos. exclusividade e continuidade, o projeto prevê que isso não será
“Poderia elencar tudo que nós fizemos ao longo desses 14 considerado vínculo empregatício.
meses e olhe: não são 4 anos, não são oito anos, são 14 meses. A proposta de medida provisória quer alterar esse trecho
E, toda a modéstia de lado, estamos revolucionando o país. para vedar a celebração de cláusula de exclusividade no
Fizemos a reforma trabalhista, a do ensino médio”, destacou. contrato com trabalhadores autônomos. Além disso, prevê que
não será admitida a restrição da prestação de serviço pelo
Medida provisória autônomo a uma única empresa, sob pena de caracterização de
Diante da polêmica gerada em torno das modificações vínculo empregatício.
prometidas pelo Palácio do Planalto na legislação aprovada
nesta semana, o líder do governo no Senado, Romero Jucá Prorrogação de jornada e insalubridade
(PMDB-RR), voltou a afirmar nesta quinta que o Executivo O texto-prévio da MP também tem a intenção de modificar
federal vai editar uma medida provisória para alterar os a lei sancionada no trecho que sobre a negociação coletiva para
pontos negociados com os congressistas. estabelecimento de enquadramento do grau de insalubridade
O peemedebista afiançou durante a tramitação do projeto e prorrogação de jornada em ambientes insalubres.
no Senado as mudanças exigidas, inclusive por integrantes da Pela minuta, isso será permitido por negociação coletiva,
base aliada, como o dispositivo que permite que gestantes mas desde que sejam respeitadas normas de saúde, higiene e
trabalhem em ambientes insalubres. segurança do trabalho previstas em lei ou em normas
O acordo foi costurado com os senadores governistas para regulamentadoras do Ministério do Trabalho.
que o texto que chegou da Câmara não fosse alterado no
Senado. Se o texto retornasse para nova análise dos deputados, Outros pontos
iria atrasar a sanção das novas regras. A minuta também promete alterar outros pontos da
Segundo Jucá, o governo tem 119 dias para editar a MP que proposta relativos à contribuição previdenciária e ao
modificará a recém-aprovada reforma trabalhista. pagamento de indenizações por danos morais no ambiente do
Antes da solenidade de sanção da reforma, o líder do trabalho.
governo no Senado divulgou o texto-prévio da medida Além disso, o texto-prévio da MP que deverá ser enviada
provisória que Michel Temer deve enviar ao Congresso com ao Congresso prevê mudanças para salvaguardar a
mudanças em nove pontos da proposta. participação de sindicatos em negociações de trabalho.
Pela proposta, comissão de representantes dos
Justiça do Trabalho empregados não substituirá a função do sindicato de defender
Convidado a participar da cerimônia de sanção da reforma os direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
trabalhista, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho inclusive em questões judiciais ou administrativas, sendo
(TST), ministro Ives Gandra Filho, cumprimentou Michel obrigatória a participação dos sindicatos em negociações
Temer, em meio ao seu discurso, pelo que classificou de coletivas.
“coragem, perseverança e visão de futuro" do chefe do
Executivo federal ao "abraçar" as mudanças na legislação Contribuição sindical
trabalhista, o ajuste fiscal e a reforma previdenciária. Durante a tramitação da proposta no Senado, chegou-se a
Gandra Filho afirmou ainda que a negociação coletiva, que postular, por senadores governistas, uma sugestão de que a
é a espinha dorsal da reforma, é importante porque, na Casa Civil elaborasse uma proposta de eliminação gradual da
avaliação dele, quem trabalha em cada segmento é que sabe as obrigatoriedade da contribuição sindical.
reais necessidades daqueles trabalhadores. O objetivo era conquistar apoio de parlamentares ligados
“Aquilo que é próprio de cada categoria você estabelece a sindicatos de trabalhadores.
por negociação coletiva, quem melhor conhece as A proposta aprovada pelo Congresso retira a
necessidades de cada ramo é quem trabalha naquele ramo”, obrigatoriedade dessa contribuição, o que foi alvo de críticas
disse. de movimentos sindicais.
Veja abaixo alguns pontos que a MP deve modificar: A proposta de medida provisória apresentada nesta
quinta, no entanto, não trata do assunto.
Gestantes e lactantes
Um dos pontos que a proposta de MP deve alterar é a Questões
possibilidade de que gestantes trabalhem em locais insalubres.
O texto original previa que gestantes deveriam apresentar 01. (TJM/SP – Escrevente Técnico Judiciário – VUNESP)
atestado para que fossem afastadas de atividades insalubres De saída do governo, o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero,
de grau médio ou mínimo. acusa o ministro Geddel Vieira Lima (Governo) de tê-lo
A proposta de MP divulgada por Jucá determina que “o pressionado para favorecer seus interesses pessoais. Calero
exercício de atividades insalubres em grau médio ou mínimo,

Conhecimentos Específicos 102


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APOSTILAS OPÇÃO

diz que o articulador político do governo Temer o procurou 04. (TJ-MG – Titular de Serviços de Notas e de Registros
pelo menos cinco vezes, por telefone e pessoalmente. – Remoção – CONSUPLAN) A denominada “Operação Lava
(Folha, 19.11.2016. Disponível Jato” trata, segundo o Ministério Público Federal, do maior
em:<https://goo.gl/YjmzVm> . Adaptado) caso de corrupção e lavagem de dinheiro já apurado no
Marcelo Calero acusa Geddel Vieira Lima de pressionar o Brasil, envolvendo um grande número de políticos,
Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), empreiteiros e empresas, como a Petrobras, a Odebrecht,
órgão subordinado à Cultura, a entre outras. O nome do magistrado encarregado do
(A) aprovar projeto imobiliário de interesse particular de julgamento em primeira instância, dos crimes apurados na
Geddel localizado nas cercanias de bens históricos tombados mencionada operação é
pelo patrimônio. (A) Sérgio Moro
(B) financiar projetos de restauro de prédios históricos (B) Rodrigo Janot
que pertencem a empresários próximos a Geddel que (C) Odilon de Oliveira
pretendem explorá-los economicamente. (D) Gilmar Mendes
(C) rejeitar o tombamento de uma nova área que está em
discussão no órgão para favorecer empreendimentos que 05. (PC-AP – Agente de Polícia – FCC) O presidente
interessam a Geddel. Michel Temer sancionou em 24 de maio o projeto da nova Lei
(D) direcionar projetos, investimentos e recursos voltados da Migração. O texto será publicado no dia 25, no Diário Oficial
à preservação do patrimônio histórico na região da base da União.
eleitoral de Geddel. (Adaptado
(E) nomear aliados e políticos próximos a Geddel para de: http://brasil.estadao.com.br)
funções estratégicas e cargos de confiança do órgão, Sobre a lei da Migração são feitas as seguintes afirmações:
favorecendo o loteamento de cargos.
I. À semelhança do Estatuto do Estrangeiro, da década de
02. (CRBio-1ª Região – Auxiliar Administrativo – 1980, a nova lei está voltada para a segurança nacional.
Vunesp) O ministro (...) foi escolhido para ser o novo relator II. A nova lei determina a existência de um visto
dos processos da Operação Lava Jato no STF (Supremo temporário para pessoas que precisam fugir dos países de
Tribunal Federal), em sorteio realizado nesta quinta-feira origem, mas que não se enquadram na lei do refúgio.
(02.02) por determinação da presidente da Corte, ministra III. A lei acaba com a proibição e garante o direito do
Cármen Lúcia. imigrante de se associar a reuniões políticas e sindicatos.
O ministro vai herdar os processos ligados à operação que IV. Para especialistas, a legislação endurece o tratamento
estavam com o ministro Teori Zavaski, morto num acidente para os imigrantes, o que fere os direitos humanos e incentiva
aéreo em janeiro. Estavam sob a relatoria de Teori 16 a xenofobia.
denúncias e outros 58 inquéritos relacionados à Lava Jato.
(Uol, https://goo.gl/NANZYF, 02.02.2017. Adaptado) Está correto somente o que se afirma APENAS em
O novo relator escolhido por sorteio é o ministro (A) II e III
(A) Alexandre de Moraes (B) I e II
(B) Dias Toffoli (C) I e IV
(C) Edson Fachin (D) II e IV
(D) Gilmar Mendes (E) III e IV
(E) Luiz Fux

03. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Vunesp) O Gabarito


governo endureceu as negociações com os parlamentares e
deu um basta a novas concessões na reforma da 01.A / 02.C / 03.B / 04.A / 05.A
Previdência, rejeitando assim o lobby pesado de algumas
categorias do serviço público, sobretudo com altos salários. Economia
(O Globo, 23.04.17. Disponível
em: <https://goo.gl/E79kQQ>. Adaptado) saúde
Temer indica interino Ivan Monteiro para presidir
(A) a aplicação do fator previdenciário para servidores Petrobras105
públicos e o direito à aposentadoria com menos anos de
contribuição do que os trabalhadores privados. O presidente Michel Temer indicou nesta sexta-feira o
(B) a integralidade, que garante a aposentadoria com o engenheiro Ivan Monteiro como novo presidente-executivo da
último salário da carreira, e a paridade, que garante ao Petrobras, em substituição a Pedro Parente, que pediu
servidor aposentado reajustes salarias iguais ao do pessoal da demissão do cargo nesta manhã, em meio a ataques à política
ativa. de preços da estatal.
(C) o período mínimo de 25 anos de contribuição, que Em breve pronunciamento no Palácio do Planalto, Temer
passaria para 35 com a reforma, e o mínimo de 50 anos de afirmou que não haverá qualquer interferência do governo
idade para aposentar-se, que poderia aumentar para 60 anos. sobre a política de preços da Petrobras e apontou a nomeação
(D) a estabilidade após dez anos de serviço e o pagamento, de Monteiro, antes diretor financeiro e de relações com
aos filhos, de pensão integral vitalícia no caso de servidores investidores na companhia, como uma garantia de que o rumo
públicos que venham a falecer. da petroleira seguirá inalterado.
(E) a não contribuição dos servidores com o INSS,
destinado apenas à aposentadoria na iniciativa privada, e o
direito ao aumento real anual no valor da aposentadoria.

105 REUTERS. Temer indica interno Ivan Monteiro para presidir Petrobras. estatal,c5d3729cd2d28185e0d24bb7b7a6df4cglgdcirz.html> Acesso em 04 de
Economia. Terra. < https://www.terra.com.br/economia/temer-indica-ivan- junho de 2018.
monteiro-para-presidir-petrobras-e-nega-que-havera-interferencia-na-

Conhecimentos Específicos 103


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APOSTILAS OPÇÃO

Para baixar diesel, governo corta verba de programas Greve dos caminhoneiros afeta abastecimento e causa
de transplantes e de combate ao trabalho escravo106 alta de preços107

Mais Médicos, policiamento e programas ligados à Frigoríficos e abatedouros estão parados e foram
Educação também serão afetados interrompidas exportações calculadas em mais de R$ 200
BRASÍLIA — Para garantir a redução de R$ 0,46 no litro do milhões.
óleo diesel nas refinarias, o governo retirou recursos de áreas No terceiro dia da greve dos caminhoneiros,
sensíveis como a fiscalização de trabalho escravo e trabalho a Petrobras acenou uma bandeira branca e tentou uma trégua
infantil, programa Mais Médicos, verba de policiamento e até anunciando uma redução temporária do preço do óleo diesel.
do Sistema Nacional de Transplante. Áreas sociais e A paralisação no transporte de mercadorias e o bloqueio de
programas ligados à Educação e ao Meio Ambiente também rodovias provocaram desabastecimento em todas as regiões
serão afetadas pelos cortes, que somam R$ 9,5 bilhões. do país.
Para garantir o crédito extraordinário que será Fogo de pneus incendiados. Rodovia Fernão Dias, na
remanejado para os Ministérios de Minas e Energia e da Grande São Paulo, no fim da tarde desta quarta-feira (23/05).
Defesa, o governo precisou retirar dinheiro de 19 ministérios, Mais cedo, a manifestação foi na Régis Bittencourt. A
sendo que, ironicamente, o dos Transportes foi o mais afetado: Advocacia Geral da União conseguiu nove liminares para
terá de cortar R$ 1,4 bilhão. Também houve corte em liberar seis rodovias federais. Outros 15 pedidos ainda não
programas sociais como políticas para juventude, violência foram julgados.
contra mulheres, políticas sobre drogas e saúde indígena. A paralisação nas estradas já provoca desabastecimento.
A redução do preço do diesel foi uma concessão do governo Leite desperdiçado. Os caminhões que iam buscar cinco mil
diante da pressão da greve dos caminhoneiros que paralisou o litros, no interior do Paraná, não chegaram. “É triste porque
país por nove dias. Só no Ministério da Educação os cortes você trabalha com leite de qualidade, produz, você quer a tua
serão de R$ R$ 55,1 milhões. O dinheiro estava previsto no vaca produzindo leite e chegar e jogar fora”, lamenta a
orçamento para concessão de bolsas no Programa de Estímulo produtora rural Margareth Coller.
à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Segundo as entidades dos produtores e exportadores de
Ensino Superior (Proies). Houve ainda um corte de R$ 150 carnes, há pelo menos 129 frigoríficos e abatedouros parados,
milhões no fundo garantidor do financiamento estudantil. e foram interrompidas exportações no valor de mais de R$ 200
Além de sofrer com cortes no programa de transplantes, no milhões.
valor de R$ 1,3 milhão, o Ministério da Saúde foi vai ter de Em São Paulo, cena rara no maior entreposto de alimentos
retirar R$ 34 milhões do Programa Mais Médicos, R$ 11,8 do país, a Ceagesp. No meio do dia, muitos boxes fechados ou
milhões do programa de gratuidade do Farmácia Popular e R$ desertos. Frutas acabando, como mangas e melões. Mamão,
38,9 milhões do dinheiro que seria destinado à manutenção de que vem principalmente do Nordeste, sumiu. O feirante
unidades de saúde. O montante do corte na pasta foi de perdeu a viagem: “Tem uns 20 boxes que vendem mamão
R$179,6 milhões. papaia e não descarregaram em lugar nenhum”, conta o
No Ministério do Meio Ambiente, chama a atenção a feirante Célio Martins.
retirada de R$ 1,1 milhão da fiscalização ambiental e de R$ 2,9 No setor que comercializa batata e cebola, a movimentação
milhões do montante que seria aplicado em unidades de era muito pequena nesta quarta-feira. Basicamente de saída de
conservação. As informações sobre as áreas e ministérios que mercadoria, não de descarregamento. Um caminhão era
sofreram cortes foram publicadas numa edição extra do Diário praticamente o único de cebola. Muitos comerciantes
Oficial da União de 30 de maio. acabaram antecipando as encomendas já contando com a
Temer também cortou R$ 3,8 milhões do programa manifestação dos caminhoneiros. Um dos caminhões, por
"Criança Feliz". A inciativa da área social tinha como exemplo, chegou na madrugada de domingo (20/05). O
embaixadora a primeira-dama, Marcela Temer, que resolveu problema, é que os estoques, que hoje são muito mais de
recentemente se afastar dos holofotes. No início de 2017, os cebola do que de batata, não devem durar muito tempo. O
marqueteiros do governo tinham um ambicioso plano para efeito da antecipação já passou.
alavancar a popularidade do presidente. Umas das ideias era E o preço para quem conseguir novo fornecimento de
escalar Marcela para participar de uma série de atos oficiais batata? “Custava para nós a R$ 50 o saco, hoje se está pagando
relacionados ao “Criança Feliz”. R$ 130, R$ 140 o saco”.
Na lista está ainda o corte de R$ 1,5 milhão para o Aumento que vai chegando ao supermercado. “Nesta
"policiamento ostensivo nas rodovias e estradas federais". A quarta, nós estamos vendendo uma batata a R$ 4, um tomate a
verba, que seria usada pela Polícia Rodoviária Federal, R$ 3 reais. Esses preços, a partir de quinta-feira (24/05), vão
serviria, entre outros propósitos, para operações de ter que ser elevados pra R$ 5 a R$ 5,50”, explica o gerente do
fiscalização do transporte de cargas e aumento do supermercado Edgar Pimenta.
policiamento em feriados. Procurada pela reportagem, a PRF O transporte de combustível também parou em várias
disse que a decisão é recente e que ainda vai estudar como irá regiões do país. Em São Paulo, a prefeitura informou que 40%
remanejar os recursos para garantir o policiamento nas dos ônibus urbanos não vão circular nesta quinta-feira
estradas. (24/05). No Recife e no Rio isso já aconteceu nesta quarta. O
O governo também retirou R$ 4,1 milhões para o combate resultado para os passageiros foi atraso.
ao tráfico de drogas e proteção de bens da União. Na rubrica, Filas enormes para abastecer em várias capitais, como no
ainda estava incluído o combate ao tráfico de seres humanos, Vale do Paraíba, em São Paulo. Mesmo com o preço da gasolina
à exploração sexual infanto-juvenil e à pedofilia. nas alturas, houve confusão em filas de postos em Macaé, no
estado do Rio. E nem era a gasolina mais cara. Olha o preço no
Recife: R$ 8,99.

106 CAMPOREZ, P. BRESCIANI, E. GÓES, B. Para baixar diesel, governo corta escravo?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo
verba de programas de transplantes e de combate ao trabalho escravo. O Globo. > Acesso em 01 de junho de 2018.
Economia <https://oglobo.globo.com/economia/2018/05/31/2270-para-baixar- 107 G1. Greve dos caminhoneiros afeta abastecimento e causa alta de preços.

diesel-governo-corta-verba-de-programas-de-transplantes-de-combate-ao- G1 Jornal Nacional. <http://g1.globo.com/jornal-


trabalho- nacional/noticia/2018/05/greve-dos-caminhoneiros-afeta-abastecimento-e-
causa-alta-de-precos.html> Acesso em 24 de maio de 2018.

Conhecimentos Específicos 104


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APOSTILAS OPÇÃO

Caminhões foram escoltados pela polícia para abastecer qualidade, é informal, instável, com salários menores. Esses
aviões no Recife e em Brasília. Na capital federal, a partir da elementos todos compõem o quadro de aumento na
tarde desta quarta, só podem pousar aviões que decolem de desigualdade", destacou.
novo sem abastecimento. De acordo com os dados do IBGE, em 2017, o grupo
Segundo um relatório da Infraero, outros cinco aeroportos formado por 1% da população mais rica do país ganhou 36,1
só têm combustível para esta quarta: Recife, Maceió, Aracaju, vezes mais do que a metade mais dos pobres, tendo um
Palmas e Congonhas, em São Paulo. rendimento médio mensal de R$27.213. A pesquisa mostra
No Porto de Santos, quase parado, os navios chegam. Os também que a parcela dos 5% mais pobres da população
caminhões, não. Os motoristas defendem a paralisação. “Os brasileira teve um rendimento médio de R$40 por mês em
gastos são de 70% do frete, ficam na estrada: no diesel e nos 2017, o que representa uma queda de 18% em relação ao ano
pedágios”, conta o caminhoneiro Nilson Oliveira. anterior (R$49). Já para a população que compõe o 1% mais
Caminhões que transportam oxigênio de uso hospitalar rico do país, o rendimento encolheu em apenas 2,3%.
não estão chegando a Juazeiro, na Bahia. A maternidade, o A diminuição da renda advinda do trabalho formal também
hospital infantil e o pronto-socorro só têm estoque para mais foi um dos motivos levantados pelo coordenador de Trabalho
dois dias. “Todas as cirurgias eletivas vão ser canceladas e e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, para essa
vamos atender na urgência apenas pacientes classificados desigualdade, durante a divulgação do suplemento especial da
como vermelho e amarelo”, diz o diretor médico do hospital Pnad Contínua. "A qualidade do emprego foi baixa em 2017,
José Antônio Bandeira. com a redução da taxa de desocupação por meio do trabalho
O Procon de Pernambuco interditou na noite desta quarta- informal", disse.
feira (23/05) por 72 horas o posto que cobrava gasolina a R$ No entanto, segundo Marcolino, a pesquisa não reflete a
8,99 o litro e aplicou multa de R$ 500 mil. real desigualdade no país, uma vez que o IBGE tem um limite
A Agência Nacional de Aviação Civil recomenda que os de dados captados, se utilizando apenas das informações de
passageiros com voos marcados consultem as empresas renda gerada por emprego, Previdência, pensão, aluguel ou
aéreas antes de irem para os aeroportos por causa das políticas públicas, como o programa Bolsa Família.
dificuldades no abastecimento de querosene de aviação. "O problema dessa estatística é que ela não pega os super
ricos do Brasil, que tem investimentos na bolsa, isso só seria
Pobreza extrema aumenta 11% no último ano; captado se o IBGE fosse articulado com o imposto de renda.
economistas culpam trabalho informal108 Então, na verdade, a desigualdade no Brasil é muito maior do
que a gente falava" afirmou.
Levantamento foi baseado nos dados atualizados sobre
renda e desigualdade, publicados nesta quarta-feira (11/04) Bolsa Família
pelo IBGE
O número de pessoas em situação de extrema pobreza no A redução no número de beneficiários do programa Bolsa
Brasil passou de 13,34 milhões, em 2016, para 14,83 milhões Família no último ano, pelo governo de Michel Temer (MDB),
no ano passado. A informação, que revela um aumento de também foi apontada como um dos principais motivos para o
11,2% no índice, foi levantada pela empresa LCA Consultores aumento da desigualdade social. O IBGE apontou que pelo
com base nos dados da Pesquisa de Rendimento divulgada na menos 326 mil domicílios deixaram de receber a renda do
quarta-feira (11/04) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e programa no ano passado.
Estatística (IBGE). Para chegar ao dado, a consultoria adotou a A região Nordeste foi a mais impactada pelos cortes: ao
linha de corte do Banco Mundial, que estabelece a renda todo, 131 mil domicílios nordestinos deixaram de contar com
domiciliar por pessoa, por dia, de US$1,90 como limite para a a renda extra. Paralelamente, a região também sofreu com o
pobreza extrema nos países em desenvolvimento. maior aumento de desigualdade, tendo seu índice de Gini,
Segundo especialistas, o aumento da pobreza extrema está principal medida da desigualdade da renda, elevado de 0,555
relacionado, principalmente, ao aumento do trabalho para 0,567 entre 2016 e 2017. Para Marcolino, ambas as
informal. O estudo do IBGE analisa os dados da Pesquisa estatísticas estão relacionadas.
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, "Na região Nordeste, o salário mínimo, do Bolsa Família e
divulgada em fevereiro deste ano, que mostrou que, em da formalização do trabalho estavam tendo um impacto
dezembro de 2017, os trabalhadores informais representavam importante para reduzir as desigualdades. Com os cortes no
37,1% da população ocupada no país. De acordo com o IBGE, é Bolsa Família, as pessoas em pobreza extrema, que agora
a primeira vez na história que o número de trabalhadores sem vivem simplesmente de uma pequena renda de trabalho,
carteira assinada superou o conjunto de empregados formais. somente o fato do desemprego aumentar e ela ser demitida, já
Em entrevista ao Valor Econômico, publicada nesta quinta- a coloca em uma situação de vulnerabilidade muito grande",
feira (12/04), o economista Cosmo Donato, da LCA Consultora, afirmou.
ressaltou o fechamento de postos com carteira assinada. "No
lugar de empregos [com garantias trabalhistas e pisos No 12º corte seguido, BC baixa juro para 6,5% ao ano,
salariais], o mercado de trabalho gerou ocupações informais, novo piso histórico109
de baixa remuneração e ganho instável ao longo do tempo”,
destacou. O Taxa é a menor de toda a série histórica do Banco
Segundo Adriana Marcolino, economista do Departamento Central, que começou em 1986. Em nota, Copom sinalizou a
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos possibilidade de novo corte na Selic na próxima reunião, em
(Dieese), o aumento de vagas sem carteira assinada, junto ao maio.
não aumento real do salário mínimo, tiveram um grande Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central
impacto no aumento da desigualdade social. anunciou nesta quarta-feira (21/03) a redução da taxa básica
"No mercado de trabalho estamos com altas taxas de de juros da economia brasileira de 6,75% ao ano para 6,5% ao
desemprego, e o emprego que está sendo gerado é de baixa ano.

108 JÚIA DOLCE. Pobreza extrema aumenta 11% no último ano; economias 109 MARTELLO, A. SOUSA, Y. No 12º corte seguido, BC baixa juro para 6,5% ao

culpam trabalho informal. Brasil de Fato. Disponível em: ano, novo piso histórico. G1 Economia. Disponível em:
<https://www.brasildefato.com.br/2018/04/12/pobreza-extrema-aumenta-11- <https://g1.globo.com/economia/noticia/no-12-corte-seguido-bc-baixa-juro-
no-ultimo-ano-economistas-culpam-trabalho-informal/> Acesso em 13 de abril de para-65-ao-ano-novo-piso-historico.ghtml> Acesso em 22 de março de 2018.
2018.

Conhecimentos Específicos 105


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Foi o 12º corte consecutivo na Selic. A taxa de 6,5% ao ano juros cobrados pelos bancos, ou seja, que o crédito fique mais
é a menor desde a adoção do regime de metas para a inflação, caro e, com isso, freie o consumo, fazendo a inflação cair. Essa
em 1999, e também de toda a série histórica do BC, iniciada em medida, porém, afeta a economia e gera desemprego.
1986. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com
A decisão confirma a previsão da maior parte dos as metas predeterminadas pelo CMN, o BC reduz os juros. É o
economistas do mercado, colhida pelo próprio BC na semana que está acontecendo neste momento. Para 2018 e 2019, o
passada. Ela também afeta o rendimento das cadernetas de mercado estima um IPCA de 3,63% e de 4,20%,
poupança. respectivamente.
Em comunicado, o Copom sinalizou que pode fazer uma
nova redução moderada da taxa básica de juros na próxima Comparação com outros países
reunião, em 16 de maio. O novo corte viria para garantir que Com a redução de juros promovida pelo Copom nesta
seja alcançada, ao final do ano, a meta de inflação de 4,5%. quarta, o Brasil caiu de quinto para sexto lugar no ranking
mundial de juros reais (calculados com abatimento da inflação
prevista para os próximos 12 meses), compilado pelo
MoneYou e pela Infinity Asset Management.
Com os juros básicos em 6,5% ao ano, a taxa real do Brasil
soma 2,54% ao ano, atrás da Turquia (5,95% ao ano),
Argentina (4,56% ao ano), México (3,57% ao ano), Rússia
(3,36% ao ano) e Índia (2,67% ao ano).

Rendimento da poupança
As decisões do Banco Central sobre a Selic também afetam
o rendimento da poupança, que vai cair novamente a partir
desta quarta-feira. A regra atual, em vigor desde maio de 2012,
prevê corte nos rendimentos da poupança sempre que a Selic
estiver abaixo de 8,5% ao ano.
Nessa situação, a correção anual das cadernetas fica
limitada a um percentual equivalente a 70% da Selic, mais a
A possibilidade de novo corte contraria a expectativa dos Taxa Referencial, calculada pelo BC. A norma vale apenas para
analistas, que esperavam que a reunião desta quarta colocasse depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012.
fim ao atual ciclo de redução da Selic, iniciado em 2016. Com a nova queda dos juros, desta vez para 6,50% ao ano,
"A evolução do cenário básico tornou adequada a redução a correção da poupança passará a ser de 4,55% ao ano, mais
da taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual nesta Taxa Referencial.
reunião. Para a próxima reunião, o comitê vê, neste momento, Mesmo assim, segundo cálculos da Associação Nacional de
como apropriada uma flexibilização monetária moderada Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade
adicional [novo corte na Selic]. O Comitê julga que este (Anefac), a poupança continuará sendo uma "excelente opção
estímulo adicional mitiga o risco de postergação da de investimento, principalmente sobre os fundos cujas taxas
convergência da inflação rumo às metas", informou o Copom de administração sejam superiores a 1% ao ano".
na comunicado.
Por outro lado, o Copom informou que, se a economia 1% mais ricos concentra 28% de toda a renda no
evoluir como o previsto, não serão necessários cortes Brasil, diz estudo110
adicionais na Selic nas reuniões seguintes à de maio.
"Para reuniões além da próxima, salvo mudanças A população 1% mais rica detinha, em 2015, 28% de toda
adicionais relevantes no cenário básico e no balanço de riscos a riqueza obtida no país, mostrou um relatório sobre a
para a inflação, o Comitê vê como adequada a interrupção do desigualdade no mundo divulgado nesta quinta-feira
processo de flexibilização monetária, visando avaliar os (14/12/17). Em 2001, essa participação era de 25%.
próximos passos, tendo em vista o horizonte relevante O documento é assinado por um time de pesquisadores,
naquele momento", diz o texto. entre eles o aclamado autor do livro "O Capital no Século XXI",
A taxa definida pelo BC influencia nos juros praticados Thomas Piketty, especialista em estudos sobre desigualdade
pelos bancos. Entretanto, apesar de a Selic estar na mínima de renda.
histórica, os juros bancários seguem elevados. Em janeiro Enquanto os 50% mais pobres do Brasil eram mais de 71
(último dado disponível), as taxas do cheque especial e do milhões de pessoas em 2015, os 1% mais favorecidos
cartão de crédito rotativo estavam acima de 300% ao ano. somavam 1,4 milhão de pessoas.
O estudo também aponta que os 10% mais ricos elevaram
Como as decisões são tomadas sua riqueza de 54% para 55% neste mesmo período.
A definição da taxa de juros pelo BC tem como foco o
cumprimento da meta de inflação, fixada todos os anos pelo Extremos
Conselho Monetário Nacional (CMN). Os 50% mais pobres também tiveram um aumento da
Para 2018, a meta central de inflação é de 4,5%. Para 2019, renda, passando de 11% para 12%, um crescimento mais
é de 4,25%. O sistema, porém, prevê uma margem de rápido que os 10% mais ricos, segundo o relatório, mas com
tolerância, para cima e para baixo. Isso significa que a meta não impacto bem menos relevante devido a sua baixa renda.
seria descumprida pelo Banco Central caso a inflação neste A participação da classe média, por sua vez, caiu entre
ano ficasse entre 2,5% e 6,5%. 2001 e 2015 de 34% para 32%. Segundo o estudo, esse
Normalmente, quando a inflação está alta, o BC eleva a estreitamento da camada do meio é resultado da baixa
Selic. A expectativa é que a subida da taxa também eleve os participação da renda e baixa performance de crescimento
desta população.

110 G1. 1% mais ricos concentram 28% de toda a renda no Brasil, diz estudo. estudo.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1>
G1 Economia. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/1-mais- Acesso em 15 de dezembro de 2017.
ricos-concentram-28-de-toda-a-renda-no-brasil-diz-

Conhecimentos Específicos 106


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APOSTILAS OPÇÃO

"Enquanto a desigualdade de renda salarial declinou de Além disso, um assunto que foi muito questionado com
acordo com nossas observações, essa queda foi insuficiente essa lei, foi a maneira em que os concursos públicos ficariam
para mitigar a concentração de capital e reverter a crescente pós a lei entrar em vigor. A realidade é que o projeto não tem
concentração de renda entre os mais favorecidos", diz o nenhum ponto específico que fala sobre o serviço público, pois
estudo. é considerado muito amplo e com poucos itens pontuais que
explicam determinada área em específico.
Terceirização: como fica a partir de agora?111 Segundo o juiz federal William Douglas, a abolição de
concursos seria considerada inconstitucional. Ademais,
A sanção da lei que permite a terceirização de enquanto algumas pessoas interpretam que o projeto é só para
trabalhadores de forma irrestrita provocou muita o setor privado, outras acham, por exemplo, que empresas
controvérsia recentemente na sociedade. Diante do novo como o Banco do Brasil, que tem “economia mista”, são
cenário, é preciso as enxergar as novas implicações no afetadas pelo projeto.
mercado de trabalho com essa nova lei. Com a terceirização em vigor, as empresas tendem a se
O projeto aprovado pela Câmara e transformado em lei tornar mais produtivas e isso se refletirá em melhores serviços
pelo presidente é de 1998 e libera a terceirização de todos os e produtos com preços mais competitivos. Até serviços
setores das empresas, seja atividade fim ou atividade meio, e melhores poderão vir até mesmo do governo, uma vez que
também no serviço público, com exceção de carreiras de produzindo mais, aumenta-se a arrecadação de impostos e
Estado, como auditor e juiz. com isso orçamento público também se eleva.
A maior crítica da oposição, é que o projeto não tem
dispositivos para impedir a chamada "pejotização" - demissão Questões
de trabalhadores no regime de CLT para contratação deles
como pessoas jurídicas (PJ) - e assim restringir direitos 01. (TJ-SP – Assistente Social Jurídico – Vunesp) O
trabalhistas. Porém essa conduta continua sendo ilegal. presidente Michel Temer sancionou na noite desta sexta-feira
Explicando um pouco melhor esse termo, a PJ tem vínculos que o projeto de lei que regulamenta a terceirização no país.
caracterizam uma relação de funcionário com aquela empresa, A iniciativa foi publicada em edição extra do “Diário Oficial
mas não tem sua carteira assinada e, em geral, não tem todos da União” e inclui vetos parciais a três pontos da proposta.
os direitos trabalhistas garantidos justamente por não (Folha de S.Paulo,
trabalhar em regime CLT. Já na terceirização, uma empresa 31.03.2017)
tem empregados com carteira assinada vinculados a ela, e O projeto de lei sancionado
aloca esses funcionários para prestar serviços na empresa (A) Isenta as empresas contratantes e contratadas dos
cliente. serviços terceirizados de qualquer ação no âmbito da Justiça
Em relação às leis trabalhistas, por enquanto nada mudou. do Trabalho e determina que todos os trabalhadores
Porém, a expectativa fica sobre como será votada a lei de terceirizados devem se constituir em microempresários, dessa
flexibilização do regime trabalhista. Caso aprovada, reforma forma responsáveis pelos tributos relacionados ao trabalho.
trabalhista irá permitir que o acordado entre patrões e (B) Determina que todas as empresas privadas podem
empregados tenha poder de se sobrepor à normas trabalhistas terceirizar qualquer atividade profissional, desde que todos os
– o chamado “combinado sobre o legislado”. direitos trabalhistas sejam respeitados, e veta a utilização de
Já o lado que apoia o projeto afirma que ele irá reduzir o trabalho terceirizado para as empresas de economia mista e a
alto número de desempregados atualmente no Brasil. Para se administração pública, com exceção para a área de saúde.
ter ideia, segundo dados do IBGE, no trimestre encerrado em (C) Limita a terceirização do trabalhador à denominada
fevereiro o número de desempregados no Brasil atingiu a atividade-meio e, em caso de litígio trabalhista, as empresas
marca de 13,5 milhões de brasileiros, o maior índice da série contratadas e contratantes devem ser acionadas
histórica que se iniciou em 2012. O número de pessoas sem conjuntamente na Justiça do Trabalho e dividirão os custos das
trabalho cresceu 36% em relação ao mesmo período do ano indenizações relacionadas a tais processos.
anterior. (D) Impede que a empresa de terceirização subcontrate
Eles ainda dizem que, na medida em que as empresas outras empresas, prática denominada de quarteirização, e
passam a se focar em partes específicas do trabalho, tornam- amplia os direitos trabalhistas dos funcionários das empresas
se mais especializadas e produtivas, elevando assim os ganhos de terceirização, por exemplo o aumento da multa sobre o
em toda sua cadeia de produção. Por exemplo, quando uma valor dos depósitos do FGTS em caso de demissão sem justa
empresa contrata uma terceirizada para cuidar da limpeza de causa.
suas instalações, essa empresa reduz a quantidade de (E) Permite a terceirização de todas as atividades e
procedimentos que tem que lidar e acaba prestando um autoriza a empresa de terceirização a subcontratar outras
melhor serviço do seu “core business”. Menos recursos indo empresas para realizar serviços de contratação, remuneração
para a burocracia resultariam em maior produtividade. E e direção do trabalho e atribui à empresa terceirizada, em
maior produtividade significa melhores condições e mais casos de ações trabalhistas, o pagamento dos direitos
ganhos reais ao trabalhador. questionados na Justiça, se houver condenação.
Agora, vamos aos pontos mais parciais que foram vetados
na proposta. O primeiro deles é da possibilidade de 02. (PC-AP – Agente de Polícia – FCC) A Lei da
prorrogação do prazo de até 270 dias do contrato temporário Terceirização, foi sancionada pelo presidente Michel Temer,
de trabalho por acordo ou convenção coletiva. O segundo em 31 de março. Essa lei dispõe que:
assegura ao trabalhador temporário, salário, jornada de
trabalho e proteção previdenciária e contra acidentes I. A terceirização poderá ser aplicada a qualquer atividade
equivalentes aos trabalhadores fixos da mesma função. Por da empresa, tanto atividade-meio como atividade-fim.
fim, o terceiro e último, prevê o benefício do pagamento direto II. O tempo de duração do trabalho temporário não deve
do FGTS, férias e décimo terceiro proporcionais a empregados ultrapassar três meses ou 90 dias.
temporários contratados até trinta dias.

111 DANA, Samy. Terceirização: Como fica a partir de agora? Portal G1. dana/post/terceirizacao-como-fica-partir-de-agora.html>. Acesso em 10 de abril
Disponível em: < http://g1.globo.com/economia/blog/samy- de 2017.

Conhecimentos Específicos 107


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APOSTILAS OPÇÃO

III. Após o término do contrato, o trabalhador temporário Sociedade


só poderá prestar novamente o mesmo tipo de serviço à
empresa após esperar três meses. sa
Corte Interamericana condena Brasil por morte de
Vladimir Herzog112
Está correto somente o que se afirma APENAS em
(A) I e III Tribunal apontou o Estado brasileiro como responsável
(B) I pela violação ao direito de conhecer a verdade sobre o
(C) I e II assassinato do jornalista
(D) II e III A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH)
(E) III. condenou o Brasil pela falta de investigação e sanção dos
responsáveis pela morte do jornalista Vladimir Herzog, em
03. (BRDE – Analista de Projetos-Área Econômico- 1975, durante o regime militar, informou o tribunal nesta
financeiro – FUNDATEC) O Banco Central do Brasil está entre quarta-feira (04/07).
as principais autoridades monetárias do país e é integrante do O tribunal questionou a aplicação da lei de anistia de 1979
Sistema Financeiro Nacional. Quem é seu atual presidente? para encobrir os responsáveis pela morte de Herzog e apontou
(A) Alexandre Tombini. o Estado brasileiro como responsável pela violação ao direito
(B) Armínio Fraga. de conhecer a verdade e a integridade pessoal em detrimento
(C) Henrique Meirelles. dos familiares da vítima.
(D) Ilan Goldfajn. O caso ocorreu após a detenção de Herzog, em 25 de
(E) Michel Temer. outubro de 1975, quando foi interrogado, torturado e
assassinado "em um contexto sistemático e generalizado de
04. (PC-AP – Agente de Polícia – FCC) A economia ataques contra a população civil, considerada como opositora
brasileira voltou a crescer após oito trimestres seguidos de à ditadura brasileira", segundo a corte, sediada em San José, na
queda. Nos três primeiros meses de 2017, o Produto Interno Costa Rica.
Bruto (PIB) avançou 1,0% em relação ao 4° trimestre do ano A instância ressaltou que as principais vítimas destes
passado, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (1° ) abusos eram jornalistas e membros do Partido Comunista
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Brasileiro, durante a ditadura que governou o Brasil entre
(Adaptado 1964 e 1985.
de: http://g1.globo.com) Diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog foi
convocado pelo DOI-Codi em 1975 a prestar depoimento sobre
Um dos fatores que contribuiu para o crescimento do PIB seus vínculos com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). No
foi a dia seguinte, estava morto. No mesmo dia da prisão, o Exército
(A) expansão dos setores do comércio e de serviços. divulgou que Herzog tinha se suicidado e confirmou a versão
(B) redução do desemprego e do trabalho informal. em uma posterior investigação da jurisdição militar. A versão
(C) manutenção das taxas básicas de juros. oficial, supostamente corroborada por uma foto do jornalista
(D) expressiva expansão do agronegócio. enforcado, não convenceu.
(E) ampliação dos gastos do governo. Na imagem, Vlado estava de joelhos dobrados, com a
cabeça pendida para a direita e o pescoço preso a uma tira de
05. (Câmara Municipal de São José dos Campos/SP – pano. A "fake news" da ditadura não resistiu à verdade
Técnico Legislativo – Vunesp–2018) A decisão do indiscutível, testemunhada por colegas jornalistas de Herzog
presidente dos EUA, Donald Trump, de aumentar os impostos também detidos: ele havia sido torturado e morto pelos
de importação de aço e alumínio pode abalar o comércio militares.
mundial e a economia brasileira. O assassinato coincidia com uma greve estudantil em
(UOL, 09.03.2018. Disponível algumas das principais universidades de São Paulo.
em:<https://goo.gl/Tn1QpE> . Adaptado) Organizado por Dom Paulo Evaristo Arns, o ato inter-religioso
Uma das possíveis consequências da decisão de Trump em homenagem à Herzog reuniu 8 mil cidadãos na Catedral da
para o Brasil é Sé em outubro daquele ano. O número poderia ser maior não
(A) o aumento da produção de aço nacional, devido à fosse o esforço dos militares em dificultar o acesso da
demanda de outros países. população ao local.
(B) uma crise na oferta de aço, diante da escassez do Novas investigações foram iniciadas em 1992 e 2007, mas
produto no mercado. as duas foram arquivadas em aplicação à lei de anistia.
(C) o impacto nas siderúrgicas nacionais, que exportam Durante as audiências perante o tribunal interamericano,
muito para os EUA. "o Brasil reconheceu que a conduta estatal de prisão arbitrária,
(D) a interrupção da importação de produtos norte- tortura e morte de Vladimir Herzog causou aos familiares uma
americanos, como retaliação à decisão. dor severa, reconhecendo sua responsabilidade" no caso,
(E) a redução no consumo de petróleo, muito utilizado na informou a corte em um comunicado.
produção de aço. Em sua sentença, a Corte IDH determinou que a morte de
Herzog foi um "crime contra a humanidade", razão pela qual o
Gabarito Estado não podia invocar a prescrição do crime ou a lei de
anistia para evitar sua investigação e a sanção dos
01.E / 02.A / 03.D / 04.D / 05.C responsáveis.
Destacou ainda que o Brasil violou os direitos às garantias
judiciais e à proteção da mulher e dos filhos de Herzog, e que o
país descumpriu sua obrigação de adequar sua legislação
interna à Convenção Americana de Direitos Humanos, ao
manter a lei de anistia vigente.

112 Carta Capital. Corte Interamericana condena Brasil por Morte de Vladimir

Herzog. <https://www.cartacapital.com.br/politica/corte-idh-condena-brasil-
por-morte-de-vladimir-herzog-durante-ditadura> Acesso em 05 de julho de 2018.

Conhecimentos Específicos 108


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APOSTILAS OPÇÃO

O tribunal ordenou ao Brasil várias medidas de reparação, O documento também fala em "contribuir com a
como a investigação dos fatos ocorridos com a detenção de articulação de recursos financeiros, seja em órgãos do Poder
Herzog para identificar e sancionar os responsáveis por sua Executivo e/ou Poder Legislativo para financiamento das
tortura e morte. ações propostas no Plano de Ação".
Isso não significa que a assinatura, por si só, gere verba
Governo federal lança pacto nacional contra pública. Na seção seguinte, a própria portaria esclarece que a
LGBTfobia nesta quarta113 transferência de recursos será oficializada "por meio de
convênio específico ou outro instrumento adequado" – se, e
Portaria foi publicada na terça. Estados e DF terão de quando acontecer.
assinar adesão e criar estruturas locais, em troca de
consultoria e 'articulação de verbas' da União. Muito a percorrer
O governo federal lança nesta quarta-feira (16/05), em De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos, em
Brasília, um pacto nacional de enfrentamento à violência 2017, o Disque 100 registrou 1.720 denúncias de violações de
contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais – os direitos de pessoas LGBT.
grupos que compõem a sigla LGBT. Os governos dos estados e A cada 10 casos, 7 são referentes a episódios de
do Distrito Federal terão de manifestar, individualmente, a discriminação. A violência psicológica aparece em 53% das
adesão ao programa. denúncias, e a física, em 31%. O somatório é maior que 100%
Até a tarde desta terça (15/05), 12 estados tinham porque, muitas vezes, um único caso é composto de diferentes
confirmado presença na cerimônia de assinatura, segundo o tipos de violação.
Ministério dos Direitos Humanos. O pacto tem vigência Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), em
prevista de dois anos, prorrogáveis por igual período. 2016, 343 pessoas foram mortas pela LGBTIfobia. A sigla
A portaria que institui o Pacto Nacional de Enfrentamento usada pela entidade inclui a letra I, de intersexual – alguém
à Violência LGBTfóbica já foi publicada no Diário Oficial da que, por razões genéticas ou de desenvolvimento fetal, não se
União. Nela, o ministro dos Direitos Humanos, Gustavo Rocha, enquadra na definição típica de "masculino" ou "feminino".
cita tratados internacionais, o Programa Nacional de Direitos
Humanos instituído no país em 2009 e recomendações das 50 milhões de brasileiros vivem na linha da pobreza,
Nações Unidas sobre o tema. aponta IBGE114
De acordo com a portaria, o pacto "tem por objetivo
promover a articulação entre a União, Estados e Distrito Cerca de 25% da população possui renda familiar
Federal nas ações de prevenção e combate à LGBTfobia". O equivalente a R$ 387. Número de jovens que não trabalham
formato exato dessa articulação não consta na portaria, e deve nem estudam cresce.
ser detalhado durante a cerimônia de lançamento, à tarde. Cerca 50 milhões de brasileiros, o equivalente a 25,4% da
O lançamento do pacto nacional ocorre dois dias antes do população, vivem na linha de pobreza e possuem renda
Dia Nacional de Combate à Homofobia no Brasil, celebrado em familiar equivalente a R$ 387, ou US$ 5,5 por dia, valor
17 de maio. Nesta mesma data, em 1990, a Organização adotado pelo Banco Mundial para definir se uma pessoa é
Mundial de Saúde (OMS) retirou o termo "homossexualismo" pobre.
da lista de doenças e problemas de saúde. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (15/12) pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e fazem
Adesão e compromissos parte da pesquisa SIS 2017 (Síntese de Indicadores Sociais
Junto com a portaria, o governo também publicou o 2017). Ela indica, ainda, que o maior índice de pobreza se dá
modelo do Termo de Adesão a ser preenchido pelos governos na região Nordeste do país, onde 43,5% da população se
signatários do pacto. O documento lista alguns dos "direitos e enquadram nessa situação e, a menor, no Sul, com 12,3%.
deveres" gerados pela medida. A situação é ainda mais grave se levadas em conta os
As atribuições dos estados e do DF incluem a criação de números envolvendo crianças de 0 a 14 anos de idade. No país,
estruturas para "promoção de políticas" ligadas à população 42% dos cidadãos nesta faixa etária se enquadram nestas
LGBT, assim como "equipamentos nos órgãos estaduais para condições e sobrevivem com apenas US$ 5,5 por dia.
atendimento adequado" aos mesmos grupos. A pesquisa de indicadores sociais revela uma realidade: o
Os governos locais também terão de dar "pleno Brasil é um país profundamente desigual e a desigualdade
funcionamento" ao comitê gestor estadual, em até 60 dias após gritante se dá em todos os níveis.
a assinatura do termo. A partir daí, começa um outro prazo, de Seja por diferentes regiões do país, por gênero - as
45 dias, para a apresentação de um "plano de ação", com mulheres ganham, em geral, bem menos que os homens
cronograma e estatísticas. mesmo exercendo as mesmas funções, por raça e cor: os
As ações não se resumem à burocracia. O governo que trabalhadores pretos ou pardos respondem pelo maior
aderir ao pacto terá de incluir as políticas LGBT no Plano número de desempregados, têm menor escolaridade, ganham
Plurianual (PPA) – um documento elaborado de 4 em 4 anos, e menos, moram mal e começam a trabalhar bem mais cedo
que serve como base para a elaboração dos orçamentos anuais exatamente por ter menor nível de escolaridade.
de cada governo. Na prática, a inclusão no PPA funciona como Um país onde a renda per capita dos 20% que ganham
uma "garantia orçamentária" para o tema. mais, cerca de R$ 4,5 mil, chega a ser mais de 18 vezes que o
Os gestores que cumprirem os compromissos podem, em rendimento médio dos que ganham menos e com menores
troca, exigir contrapartidas da União. A lista de possibilidades rendimentos por pessoa, cerca de R$ 243.
inclui auxílio técnico para o cumprimento do pacto, o No país, em 2016, a renda total apropriada pelos 10% com
compartilhamento de dados de denúncias do Disque Direitos mais rendimentos (R$ 6.551) era 3,4 vezes maior que o total
Humanos (Disque 100) e a capacitação de gestores e gestoras. de renda apropriado pelos 40% (R$ 401) com menos
rendimentos, embora a relação variasse dependendo do
Dinheiro 'a combinar' estado.

113 Matheus Rodrigues. Governo Federal lança pacto nacional contra 114 DIÁRIO DE S. PAULO. 50 milhões de brasileiros vivem na linha da pobreza,

LGBTfobia nesta quarta. G1 Distrito Federal. < https://g1.globo.com/df/distrito- aponta IBGE. Diário de S. Paulo. Disponível em:
federal/noticia/governo-federal-lanca-pacto-nacional-contra-lgbtfobia-nesta- <http://www.diariosp.com.br/_conteudo/2017/12/dia_a_dia/24209-50-milhoes-
quarta.ghtml> Acesso em 16 de maio de 2018. de-brasileiros-vivem-na-linha-da-pobreza-aponta-ibge.html> Acesso em 18 de
dezembro de 2017.

Conhecimentos Específicos 109


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APOSTILAS OPÇÃO

Entre as pessoas com os 10% menores rendimentos do punidas e assim vai permanecer. O maior impacto do texto é
país, a parcela da população de pretos ou pardos chega a impedir que o aborto seja descriminalizado”, disse Gussi.
78,5%, contra 20,8% de brancos. No outro extremo, dos 10% A deputada Érika Kokay (PT-DF), no entanto, tem
com maiores rendimentos, pretos ou pardos respondiam por avaliação diferente. “Impede a discussão da interrupção da
apenas 24,8%. gravidez e traz, no mínimo, insegurança jurídica para os casos
A maior diferença estava no Sudeste, onde os pretos ou já permitidos no Código Penal”, afirmou.
pardos representavam 46,4% da população com rendimentos, Foi aprovado apenas o texto principal. Na próxima semana,
mas sua participação entre os 10% com mais rendimentos era será a vez de a comissão especial votar os destaques. Dentre as
de 16,4%, uma diferença de 30 pontos percentuais. propostas que deverão ser avaliadas está a de suprimir
justamente o trecho que determina o respeito à vida desde a
Desigualdade acentuada entre brancos e negros concepção. Uma vez avaliados os destaques, o texto fica
No que diz respeito à distribuição de renda no país, a disponível para o plenário da Casa, onde precisará de 308
Síntese dos Indicadores Sociais 2017 comprovou, mais uma votos para ser aprovado, em dois turnos.
vez, que o Brasil continua um país de alta desigualdade de
renda, inclusive, quando comparado a outras nações da Brasil elimina disparidades entre homens e mulheres
América Latina, região onde a desigualdade é mais acentuada. na educação e na saúde, mas política e economia
Segundo o estudo, em 2017 as taxas de desocupação da derrubam país em ranking global116
população preta ou parda foram superiores às da população
branca em todos os níveis de instrução. Na categoria ensino O Brasil é um dos países mais igualitários do mundo
fundamental completo ou médio incompleto, por exemplo, a quando o assunto é o acesso de homens e mulheres à educação
taxa de desocupação dos trabalhadores pretos ou pardos era e saúde, mas figura entre aqueles onde mais imperam
de 18,1%, bem superior que o percentual dos brancos: 12,1%. disparidades de gênero nos campos político e econômico.
"A distribuição dos rendimentos médios por atividade A conclusão faz parte do "The Global Gender Gap Report
mostra a heterogeneidade estrutural da economia brasileira. 2017", um estudo divulgado pelo Fórum Econômico Mundial
Embora tenha apresentado o segundo maior crescimento em nesta quinta-feira, que revela o tamanho da desigualdade em
termos reais nos cinco anos disponíveis (10,9%), os serviços 144 países e aponta quais seriam os ganhos com a reversão
domésticos registraram os rendimentos médios mais baixos desse quadro.
em toda a série. Já a Administração Pública acusou o maior Os dados mostram que desde o início da série histórica, em
crescimento (14,1%) e os rendimentos médios mais elevados", 2006, é a primeira vez que a igualdade de gênero retrocede
diz o IBGE. globalmente. No Brasil, porém, o nível de desigualdade é o
maior desde 2011 - o país caiu 23 posições no ranking,
Comissão dá aval à PEC que proíbe aborto115 figurando em 90º lugar na lista global e com o terceiro pior
desempenho na região que engloba América Latina e Caribe,
Em sessão tumultuada, vence proposta que pode restringir depois apenas de Paraguai e Guatemala.
até interrupções legais da gravidez A igualdade é medida no levantamento em uma escala de 0
A Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou a 1 - quanto mais próximo a 1, maior a igualdade entre homens
nesta quarta-feira, (08/11), um texto que, na prática, pode e mulheres. Para o Brasil, a nota registrada em 2017 ficou em
levar à proibição de todas as formas de aborto no País, 0,684, a menor desde 2011, quando estava em 0,668.
incluindo as hipóteses que atualmente são autorizadas na "A posição atual do Brasil no relatório se deve a duas
legislação e livres de punição. disparidades de gênero em particular - a política e a
Em uma sessão tumultuada, venceu a proposta de alterar a econômica", disse por email à BBC Brasil Vesselina Stefanova
Constituição para que o princípio da dignidade da pessoa Ratcheva, economista e coautora do relatório.
humana e a garantia de inviolabilidade do direito à vida Segundo ela, o país pouco progrediu ao longo dos últimos
passem a ser respeitados desde a concepção e não, como é dez anos no sentido de resolver o problema no campo
hoje, após o nascimento. A PEC havia sido apresentada econômico. Nessa área, perdeu 20 posições de 2006 para cá,
originalmente para se discutir a ampliação da licença- passando do 63º para o 83º lugar - os principais gargalos são
maternidade em caso de bebês prematuros de 120 para 240 as disparidades de salários em funções semelhantes e de renda
dias. O relator da proposta, Jorge Tadeu Mudalem (DEM-SP), obtida por meio do trabalho.
no entanto, sob influência da bancada evangélica, alterou o
texto para incluir também as mudanças relacionadas à Política
interrupção da gravidez. A desigualdade na política é outro gargalo, observa a
A mudança foi uma resposta à 1.ª Turma do Supremo economista.
Tribunal Federal que, em 2016, havia decidido não considerar "Nosso índice constata que 2017 tem a menor igualdade de
crime a prática do aborto durante o primeiro trimestre de gênero em cargos políticos no Brasil desde que começamos a
gestação, independentemente da motivação da mulher. calculá-lo, em 2006. Isso contrasta com uma região que, na
A comissão foi instalada em dezembro. Entre os 35 média, se atua fortemente para a inclusão das mulheres no
membros titulares do colegiado, só seis são mulheres. Dos campo político."
parlamentares integrantes, quase um terço tem iniciativas A participação feminina é medida pelo chamado
para restringir o direito ao aborto legal. "empoderamento político", e é considerada um dos principais
O presidente da comissão especial, deputado Evandro problemas para o país em relação à desigualdade. O Brasil foi
Gussi (PV-SP), negou que o texto aprovado nesta da 86ª para a 110ª posição no período de 11 anos englobado
quarta coloque em risco as garantias hoje existentes. no relatório - embora sua nota tenha subido de 0.061 para
Atualmente, o aborto não é punido nos casos em que a 0.101, o que indica um ambiente mais igualitário.
gravidez é resultante do estupro ou quando represente
ameaça à vida da gestante. “Hoje essas duas formas não são

115 CARDOSO, D. FORMENTI, L. Comissão dá aval à PEC que proíbe aborto. 116 Moura. R. Brasil elimina disparidades entre homens e mulheres na

Estadão Brasil. Disponível em: educação e na saúde, mas política e economia derrubam país em ranking global.
<http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,comissao-aprova-pec-que- BBC Brasil. Disponível em: < http://www.bbc.com/portuguese/brasil-
impossibilita-aborto-destaques-ainda-precisam-ser-votados,70002077147> 41853171?ocid=socialflow_twitter> Acesso em 03 de novembro de 2017.
Acesso em 09 de novembro de 2017.

Conhecimentos Específicos 110


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O estudo coloca o país entre os piores em dois aspectos: Juiz federal do DF libera tratamento de
mulheres no parlamento e em posições ministeriais, rankings homossexualidade como doença117
em que ocupa, respectivamente, a 121ª e a 134ª posições.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, a maior igualdade Ação popular questionava resolução do Conselho Federal
nesse âmbito foi registrada entre 2011 e 2015, período que de Psicologia que proibia tratamentos de reorientação sexual.
engloba a governo Dilma Rousseff. Seu sucessor, Michel Desde 1990, OMS deixou de considerar homossexualidade
Temer, foi duramente criticado ao assumir o governo doença.
nomeando apenas ministros homens - após as críticas, ele Justiça Federal do Distrito Federal liberou psicólogos a
nomeou mulheres para posições de destaque. tratarem gays e lésbicas como doentes, podendo fazer terapias
de “reversão sexual”, sem sofrerem qualquer tipo de censura
Avanços por parte dos conselhos de classe. A decisão, do juiz Waldemar
Nos campos da educação e da saúde, o Brasil se mantém Cláudio de Carvalho, é liminar e acata parcialmente o pedido
em posição estável e de liderança nos últimos anos, dividindo de uma ação popular. Esse tipo de tratamento é proibido desde
o topo do ranking com pouco mais de 30 países. Mesmo assim, 1999 por uma resolução do Conselho Federal de Psicologia. O
ainda enfrenta desafios, diz a coautora do relatório. órgão disse que vai recorrer.
"Hoje, o Brasil acabou com a desigualdade de gênero em A ação popular foi assinada por um grupo de psicólogos
nível educacional, mas, como em muitas outras economias em defensores das terapias de reversão sexual. A decisão é de
todo o mundo, desequilibra na contratação, retenção e sexta-feira (15/09). Nela, Carvalho mantém a integralidade da
remuneração, entre vários fatores analisados no relatório, que resolução, mas determina que o conselho não proíba os
impedem uma maior integração das mulheres no mercado de profissionais de fazerem atendimento de reorientação sexual.
trabalho - e de forma igualitária em todos os setores", observa Além disso, diz que os atendimentos têm caráter reservado.
Ratcheva. Na resolução 01/1999, o conselho estabelece as normas de
Nesse campo, o relatório também leva em consideração o condutas dos psicólogos no tratamento de questões
nível educacional de homens e mulheres que chegam ao envolvendo orientação sexual. De acordo com a organização,
mercado de trabalho. ela trouxe impactos positivos no enfrentamento a
O Brasil foi o único país da América Latina e um dos seis, preconceitos e proteção de direitos da população homossexual
em meio às 144 nações, a eliminar a desigualdade entre no país, “que apresenta altos índices de violência e mortes por
homens e mulheres na área de educação. Em saúde e LGBTfobia”.
sobrevivência, a diferença também está próxima do fim. Tais Para o Conselho Federal de Psicologia, terapias de
resultados são semelhantes aos registrados nos últimos anos. reversão sexual representam “uma violação dos direitos
Neste ano, somente outros cinco países conseguiram humanos e não têm qualquer embasamento científico”. Desde
resolver as disparidades nas duas áreas: República Checa, 1990, a homossexualidade deixou de ser considerada doença
Letônia, Lituânia, Eslováquia e Eslovênia. pela Organização Mundial da Saúde.
No que diz respeito à educação, são consideradas a taxa de Ainda de acordo com o conselho, a resolução não cerceia a
alfabetização e de matrículas nos ensinos primário e liberdade dos profissionais nem de pesquisas na área de
secundário. Na saúde, a análise se dá sobre a razão entre os sexualidade. O juiz mantém a resolução, mas determina que o
sexos no nascimento e a expectativa de vida saudável entre Conselho Federal de Psicologia não impeça os psicólogos de
eles. promoverem estudos ou atendimento profissional, de forma
reservada, e veta qualquer possibilidade de censura ou
Ganhos com a igualdade necessidade de licença prévia.
Globalmente, o estudo observa que apenas 58% da “O que está em jogo é o enfraquecimento da Resolução
desigualdade de gênero foi resolvida pelos países, o pior índice 01/99 pela disputa de sua interpretação, já que até agora
desde 2008. outras tentativas de sustar a norma, inclusive por meio de lei
Segundo o estudo, a igualdade deve resultar em ganhos federal, não obtiveram sucesso", afirma o conselho.
econômicos expressivos, que variam de acordo com o contexto "O Judiciário se equivoca, neste caso, ao desconsiderar a
de cada país. diretriz ética que embasa a resolução, que é reconhecer como
O texto não traz estimativas específicas para o Brasil, mas legítimas as orientações sexuais não heteronormativas, sem as
no caso do Reino Unido, por exemplo, mostra que avançar criminalizar ou patologizar. A decisão do juiz, valendo-se dos
nessa área significaria um reforço adicional de US$ 250 bilhões manuais psiquiátricos, reintroduz a perspectiva patologizante,
no Produto Interno Bruto (PIB). ferindo o cerne da Resolução 01/99.”

Nos Estados Unidos, o valor projetado é de US$ 1,7 Ação popular


trilhão. Uma das autoras da ação popular que questionava a
Há um longo caminho, no entanto, até que as disparidades resolução é a psicóloga Rozângela Alves Justino, que oferecia
registradas no estudo sejam eliminadas. No atual estágio, terapia para que gays e lésbicas deixassem de ser
estima-se que a Europa Ocidental será a região a resolver o homossexuais. Ela foi punida em 2009 pela prática.
problema mais rápido, mas ainda assim daqui a 61 anos. Na Na época, Rozângela disse ao G1 que considera a
área que englobe a América Latina e o Caribe - e que inclui o homossexualidade um distúrbio, provocado principalmente
Brasil - serão necessários 79 anos. Para a América do Norte, o por abusos e traumas sofridos durante a infância. Ela afirmou
tempo previsto chega a 168 anos. ter "aliviado o sofrimento" de vários homossexuais.
Outro ponto destacado pelo estudo é a fraca presença “Estou me sentindo amordaçada e impedida de ajudar as
feminina em áreas como engenharia, indústria e construção, pessoas que, voluntariamente, desejam largar a atração por
bem como nos segmentos de comunicação e tecnologia. Áreas pessoas do mesmo sexo", disse Rozângela na ocasião.
que, afirma o relatório, estão abrindo mão dos os benefícios da
diversidade.

117 MORAIS, RAQUEL. Juiz Federal do DF libera tratamento de tratamento-de-homossexualidade-como-doenca.ghtml> Acesso em 19 de setembro
homossexualidade como doença. G1 Distrito Federal. Disponível em: de 2017.
<https://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/juiz-federal-do-df-libera-

Conhecimentos Específicos 111


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APOSTILAS OPÇÃO

Refugiado sírio é atacado em Copacabana: 'Saia do família do sírio, que participou do curso de português
meu país!'118 oferecido pela secretaria no ano passado, para prestar a
assistência necessária.
Um refugiado sírio foi vítima de um ataque em "É inaceitável casos de xenofobia e intolerância religiosa
Copacabana, na Zona Sul do Rio. Mohamed Ali, de 33 anos, que ainda aconteçam no Rio de Janeiro. Essas pessoas saíram dos
vende esfirras e outros quitutes árabes, e foi agredido seus países por serem vítimas de algum tipo de perseguição e
verbalmente por um homem por causa do ponto de venda. Um viram no Brasil uma oportunidade de recomeço. Eles trazem
vídeo da discussão foi publicado nas redes sociais e viralizou. uma grande contribuição para a economia do estado, além da
Nas imagens é possível ver um homem com dois pedaços rica troca cultural com os fluminenses.", afirma, em nota, o
de madeira nas mãos gritando: "saia do meu país! Eu sou secretário Átila A. Nunes.
brasileiro e estou vendo meu país ser invadido por esses
homens-bombas que mataram, esquartejaram crianças, Governo Temer empurra Brasil de volta ao mapa
adolescentes. São miseráveis". Adiante no vídeo, ele ainda fala: mundial da fome119
"Essa terra aqui é nossa. Não vai tomar nosso lugar não".
Os comerciantes chegam a derrubar a mercadoria de Jornal GGN - A crise econômica aumentou o desemprego
Mohamed no chão, que pergunta o motivo da agressão. Os no Brasil e ações deflagrados no governo Temer, sob o guarda-
homens, então, falam novamente para ele sair do Brasil. chuva do ajuste fiscal, empurra o País de volta ao mapa
Mohamed está no Brasil há três anos e estava trabalhando na mundial da fome da ONU. Entre elas, a exclusão de pessoas do
esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua programa Bolsa Família e o corte no programa de agricultura
Santa Clara na sexta-feira, quando tudo aconteceu. familiar, que tem impedido centenas de milhares de pessoas
— Eu não entendi muito bem porque ele veio brigar de terem renda suficiente para comprar alimentos. É o que
comigo. De repente ele começou a gritar e me pedir para sair. aponta reportagem publicada pelo jornal O Globo neste
Ele falava muito rápido e não consegui compreender algumas domingo (09/07).
coisas. Outras pessoas que estavam traduzindo para mim. Sei Segundo o veículo, "três anos depois de o Brasil sair do
que ele falou que os muçulmanos estavam invadindo o país e mapa mundial da fome da ONU — o que significa ter menos de
falando de homens-bomba. Não esperava que isso pudesse 5% da população sem se alimentar o suficiente —, o velho
acontecer comigo. Vim para o Brasil porque a guerra me fez vir fantasma volta a assombrar famílias" no Brasil.
para cá. Vim com amor, porque os amigos sempre diziam que O alerta conta em relatório que será apresentado às
o Brasil aceita muito outras culturas e religiões, e as pessoas Nações Unidas na próxima semana, sobre o "cumprimento de
são amáveis e todos os refugiados procuram paz. Não sou um plano de ação com objetivos de desenvolvimento
terrorista, se eu fosse, eu não estaria aqui, estaria lá — disse. sustentável acordado entre os Estados-membros da ONU, a
No vídeo, ainda é possível ouvir algumas pessoas chamada Agenda 2030".
defendendo Mohamed. Uma mulher ainda o orientou a deixar O Globo ouviu de Francisco Menezes, coordenador do
o local diante da confusão. Ele, então, retira os pertences. Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Soicias e Econômicas) e
— Chegaram carros da polícia, da Guarda Municipal. Me consultor do ActionAid, que "o país atingiu um índice de pleno
falaram para registrar na polícia, mas não quis. Não quero emprego, na primeira metade desta década, mesmo os que
confusão. Quero apenas trabalhar em paz – disse. estavam em situação de pobreza passaram a dispor de
No Facebook, diversos internautas pediram desculpas a empregos formais ou informais, o que melhorou a capacidade
Mohamed em nome dos brasileiros pelo ocorrido: de acesso aos alimentos".
"Olá, Mohamed Ali, boa noite. Em nome de todos os Mas a mudança na base de dados do Bolsa Família com o
brasileiros e trabalhadores, peço desculpas pelo que você intuito de esvaziar o programa, realizada no final do ano
passou enquanto trabalhava", escreveu uma internauta. passado, além da "redução do valor investido no Programa de
"Você é bem-vindo no Brasil. Perdoe este sujeito que te Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), que
atacou, ele não sabe o que faz", disse outro. compra do pequeno agricultor e distribui a hospitais, escolas
Apesar do ocorrido e de ter medo de encontrar o homem públicas e presídios, são uma vergonha para um país que
que o ofendeu, Mohamed não tem intenção de sair do Rio ou trilhava avanços que o colocava como referência em todo o
deixar de trabalhar em Copacabana. mundo".
– Passei a trabalhar em outro ponto para não encontrá-lo O jornal lembrou que, ano passado, Temer promoveu um
novamente, mas não vou sair daqui. Mudar, trocar de casa, é "pente-fino" no Bolsa Família com a desculpa de que o
difícil. Espero apenas que não aconteça novamente. Foi muito programa estava cheio de beneficiários que adulteravam os
triste. Não quero outra briga. Fico com medo. Trabalho dados para continuar recebendo a ajuda de custo do governo
sozinho – falou. sem ter necessidade. Com esse valor "economizado", Temer
O titular da 12ª DP (Copacabana), Gabriel Ferrando, disse pretendia fazer um reajuste no programa.
ter conhecimento das imagens, mas em casos como o de Porém, segundo O Globo, o pente-fino do governo só
Mohamed, a atuação da polícia depende de uma manifestação mostrou que a pobreza no Brasil avança a passos largos, em
da vítima. meio à crise econômica.
– O ofendido não compareceu para registrar e denunciar o "O resultado [do pente-fino], porém, foi a confirmação de
feito. Ameaça e injúria dependem de manifestação de vontade um fenômeno de empobrecimento. Ao cruzar bases de dados,
da vítima. Independente disso estamos analisando as imagens a fiscalização encontrou mais de 1,5 milhão de famílias que
para tentar localizar os envolvidos. Estamos diligenciando – tinham renda menor que a declarada — haviam perdido o
disse. emprego, mas não atualizaram o cadastro — e, por isso, teriam
Em nota, a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e direito a benefícios maiores do que recebiam. Isso
Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI) afirma que corresponde a 46% dos 2,2 milhões de famílias que caíram na
acompanha o caso do refugiado agredido. O órgão repudia o malha fina por inconsistência nos dados. E o prometido
ataque de xenofobia, e afirma que já está em contato com a

118 VIANA GABRIELA. Refugiado Sírio é atacado em Copacabana: ‘Saia do meu 119 NASSIF, LUIS. Governo Temer empurra Brasil de volta ao mapa mundial

país!’. O Globo. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rio/refugiado-sirio- da fome. GGN. Disponível em: <http://jornalggn.com.br/noticia/governo-temer-
atacado-em-copacabana-saia-do-meu-pais- empurra-brasil-de-volta-ao-mapa-mundial-da-fome> Acesso em 11 de julho de
21665327?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=OGlobo> 2017.
Acesso em 04 de agosto de 2017.

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reajuste no benefício, que seria de 4,6%, foi suspenso no fim Brasil não é uma exceção. Existem inúmeras razões para a
do mês passado pelo governo, por falta de recursos." persistência do Trabalho Forçado e Trabalho análogo ao
No Facebook, a assessoria de Lula comentou a reportagem. Escravo no Brasil.
"O Brasil estava no caminho da inclusão social e da redução da Não é uma das razões para persistência do Trabalho
fome e da miséria, com programas sociais que são referência Forçado no Brasil.
em todo mundo. Com a sabotagem promovida pelos golpistas (A) Sentimento de Impunidade para os promotores do
e o golpe, o Brasil saiu desse caminho." Trabalho Forçado ou Trabalho análogo ao Escravo, na maioria
dos casos praticado em áreas distantes e/ ou desconhecidas
34% dizem ter vergonha de ser brasileiros, segundo dos trabalhadores recrutados.
Datafolha120 (B) São raros os casos de condenação criminal por
Trabalho Forçado no Brasil. A lei tem dificuldade em atingir o
Ainda segundo o levantamento, publicado pelo jornal 'Folha promotor do trabalho escravo, devido a existência de
de S.Paulo', 63% se sentem mais orgulhosos do que intermediários (“os gatos”) encarregados da contratação.
envergonhados. (C) No Brasil, a lei penal é inadequada para a
Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta terça-feira responsabilização dos infratores. Falta clareza ao qualificar
(02/05) pelo jornal "Folha de S.Paulo" apontou que 34% têm como crime de condição análoga à escravidão a submissão do
vergonha de ser brasileiros. O índice daqueles que têm mais empregado a uma jornada exaustiva ou em situação
orgulho do que vergonha de ser brasileiros é de 63%, o menor degradante.
valor para a série histórica, segundo o Datafolha. (D) A legislação penal brasileira está em descompasso com
O Datafolha questiona a população sobre o orgulho de ser o conceito universal de trabalho escravo em razão da não
brasileiro desde 2000. O menor resultado havia sido em julho adesão pelo Brasil as Convenções Internacionais que tratam
de 2016, quando 67% diziam se sentir orgulhosos. Já o menor do tema.
índice dos envergonhados havia sido em 2000, quando era de (E) Dificuldade de fiscalizar um país com as dimensões
9%. territoriais do Brasil.
A atual pesquisa ouviu 2.781 pessoas em 172 municípios
na semana passada. A margem de erro de 2 pontos percentuais Gabarito
para mais ou para menos. 01.E / 02.D
O Datafolha também ouviu as pessoas sobre a avaliação do
Brasil como lugar para viver. Para 54%, o Brasil é um país Educação
ótimo ou bom para morar, uma queda de sete pontos
percentuais desde o final do ano passado. Para 26% é regular saúde
Uneb terá cotas para trans, ciganos, portadores de
e para 20% é ruim ou péssimo. transtorno do espectro autista e pessoas com
Segundo o instituto, as duas avaliações, apesar de estar em deficiência121
queda, ainda mostram otimismo com o país, já que a maioria
sente orgulho de ser brasileiro e considera o Brasil um bom Instituição vai oferecer 5% de vagas adicionais para o
lugar para morar. público, além das que já são ofertadas normalmente. Decisão
valerá para os processos de graduação e de pós-graduação a
Questões partir de 2019.
A Universidade Estadual da Bahia (Uneb) terá sistema de
01. (CRQ – 5ª Região (RS) – Auxiliar Administrativo – cotas para transexuais, travestis, transgêneros, quilombolas,
FUNDATEC) A Declaração Universal dos Direitos Humanos ciganos e portadores de deficiência, transtorno do espectro
(DUDH) foi aprovada em 10 de dezembro de 1948 na autista e altas habilidades.
Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O De acordo com as informações divulgadas pela instituição
documento é a base de uma luta universal que visa a igualdade nesta segunda-feira (23/07), a decisão foi tomada pelo
e a dignidade de todas as pessoas e o combate à opressão e à Conselho Universitário (Consu) e começa a valer a partir de
discriminação. Os direitos humanos são essenciais a todos os 2019, em todos os processos de graduação e de pós-graduação
seres humanos e garantem as liberdades fundamentais que da universidade.
devem ser aplicadas a cada cidadão do planeta. Dentre as Segundo a Uneb, serão oferecidos 5% de vagas adicionais
alternativas abaixo, qual NÃO consta como um direito para cada um dos grupos, além das que já são ofertadas para
proclamado no documento assinado pela maioria dos países os demais. Dessa forma, as novas cotas não devem alterar o
do mundo? percentual ofertado aos não cotistas.
(A) Direito à propriedade. Atualmente, a instituição oferece 40% das oportunidades
(B) Direito de tomar parte na direção dos negócios para negros e 5% para indígenas, além das vagas de ampla
públicos do seu país; diretamente ou por intermédio de concorrência, para quem não integra o sistema de cotas, que,
representantes livremente escolhidos. segundo a instituição, corresponde a 60%.
(C) Pagamento de salário igual por trabalho igual sem Ainda conforme a Uneb, para concorrer às cotas, assim
discriminação alguma. como nos demais grupos, os candidatos das novas cotas devem
(D) Direito de abandonar o país em que se encontra, ter cursado todo o segundo ciclo do ensino fundamental e o
incluindo o seu. ensino médio exclusivamente em escola pública, além de
(E) Direito à legítima defesa. terem renda familiar mensal de até quatro salários mínimos.

Uneb
02. (ESAF – Planejamento e Orçamento – ESAF) No Fundada em 1983, a Uneb é mantida pelo Governo do
Século XXI, o Trabalho Forçado, Trabalho análogo ao Escravo Estado por intermédio da Secretaria da Educação (SEC). A
e o Trabalho Infantil ainda são uma realidade no mundo e o instituição possui 29 departamentos instalados em 24 campi:

120G1, BRASÍLIA. 34% dizem ter vergonha de ser brasileiros, segundo Datafolha. 121 G1 BA. Uneb terá cotas para trans, ciganos, portadores de transtorno do

G1, Política. Disponível em: < http://g1.globo.com/politica/noticia/34-dizem- espectro autista e pessoas com deficiência. G1 Bahia.
ter-vergonha-de-ser-brasileiros-segundo-datafolha.ghtml> Acesso em 02 de maio https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2018/07/23/uneb-tera-cotas-para-
de 2017. trans-ciganos-portadores-de-transtorno-do-espectro-autista-e-pessoas-com-
deficiencia.ghtml. Acesso em 24 de julho de 2018.

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um sediado em Salvador, onde se localiza a administração na modalidade 1, tem verba para cerca de 100 mil novas vagas
central, e os demais distribuídos em 23 importantes no ano de 2018, incluindo os dois semestres. Considerando
municípios baianos de porte médio e grande, como Feira de todas as três modalidades, 155 mil novos contratos já foram
Santana, Juazeiro, Vitória da Conquista e Barreiras. fechados no primeiro semestre, e a estimativa é oferecer 310
Atualmente, segundo o site da instituição, mais de 150 mil vagas neste ano.
opções de cursos e habilitações nas modalidades presencial e
de educação a distância (EaD) são ofertados pela universidade,
nos níveis de graduação e pós-graduação.
Além dos campi, a Uneb está presente na quase totalidade
dos 417 municípios do estado, por intermédio de programas e
ações extensionistas em convênio com organizações públicas
e privadas, que beneficiam milhões de cidadãos baianos, a
maioria pertencente a segmentos social e economicamente
desfavorecidos e excluídos. Entre eles, a alfabetização e
capacitação de jovens e adultos em situação de risco social; 'Travas' para garantir sustentabilidade
educação em assentamentos da reforma agrária e em Rossieli explicou que as mudanças fazem parte do
comunidades indígenas e quilombolas; projetos de inclusão e processo de "implantação" do Novo Fies. "A gente queria
valorização voltados para pessoas com deficiência, da terceira inclusive testar o novo modelo, a gente está em um processo
idade, LGBT. de implantação", disse ele.
A Uneb desenvolve também importantes pesquisas em "A gente veio de um cenário catastrófico, ponto. Para
todas as regiões em que atua. Alguns projetos trazem a marca termos segurança de avanço, tem que ter sustentabilidade",
da vanguarda acadêmica, a exemplo dos trabalhos nas áreas de afirmou Rossieli.
robótica e de jogos eletrônicos pedagógicos. O corpo discente O ministro diz que o retorno ao teto da semestralidade
da instituição é estimulado a participar das pesquisas por meio voltou ao patamar anterior depois que o comitê gestor
de programas de iniciação científica e de concessão de bolsas observou que, com outras medidas de controle dos valores dos
de monitoria. contratos, o Novo Fies pode manter a sustentabilidade.
Segundo ele, a nova obrigação para as instituições de
Fies vai voltar a atender cursos com mensalidade de ensino cobrarem do aluno do Fies o valor mínimo cobrado na
até R$ 7 mil, anuncia MEC122 turma em que ele estuda foi o principal mecanismo
introduzido pelo Novo Fies para evitar abusos por parte das
Valor máximo que um contrato de financiamento poderia faculdades privadas.
ter era de R$ 30 mil por semestre; mas, a partir do segundo De acordo com informações divulgadas pelo MEC, como os
semestre, ele vai ser 40% maior, para R$ 42 mil por semestre, estudantes financiados pelo Fies eram uma garantia de
ou R$ 7 mil por mês. pagamento em dia das mensalidades, já que quem paga é o
O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) voltou a governo federal, muitas instituições se aproveitaram disso
aumentar o limite máximo do valor de mensalidades para para cobrar desses estudantes uma mensalidade mais alta do
estudantes poderem fechar um contrato de financiamento, que os demais alunos daquela mesma turma do mesmo curso,
segundo anunciou nesta quarta-feira (06/06) o ministro da que Rossieli diz ser uma "mensalidade artificializada para
Educação, Rossieli Soares da Silva. Em entrevista a jornalistas aumentar o lucro de instituições".
em Brasília, ele divulgou as mudanças aprovadas na reunião
desta terça (05/06) pelo Comitê Gestor do Fies, composto por Inclusão de mais cursos de medicina
representantes de vários ministérios. "O valor mínimo por turma funcionou bem, isso traz
A partir do segundo semestre, a adesão dos estudantes vai sustentabilidade de forma muito mais clara", explicou ele. Por
contemplar cursos com mensalidades de até R$ 7 mil, ou R$ 42 isso o comitê decidiu aumentar o teto do valor da
mil por semestre. No primeiro semestre, o limite era de R$ 30 semestralidade, o que deve aumentar o número de contratos
mil, o que permitia que apenas cursos com mensalidade de até de financiamento de estudantes cursando medicina.
R$ 5 mil pudessem participar do financiamento. Segundo Segundo Rossieli, o comitê considera que a mudança pode
Rossieli, isso acabou excluindo estudantes interessados em contemplar cursos que têm valores mais altos para todos os
cursos de medicina. alunos – e não só para os alunos financiados pelo governo
Conhecido como "teto da semestralidade", esse limite de federal, principalmente os de medicina.
R$ 42 mil já existia no antigo modelo do Fies, mas foi reduzido "Atende uma demanda para cursos mais caros, como
no lançamento do Novo Fies, segundo ele, em nome da medicina, para valores que estavam mais adequados ao
"sustentabilidade" do programa. mercado."
Reportagem do G1 com dados obtidos pela Lei de Acesso à
Informação mostrou que, em fevereiro, 54% dos contratos do Novo limite de financiamento mínimo
Fies que já estavam na fase de amortização (pagamento por Outra novidade anunciada pelo MEC nesta terça é um
parte dos estudantes) tinham pelo menos um dia de atraso no limite mínimo para que o financiamento do Novo Fies seja
pagamento de parcelas. concretizado. A partir do segundo semestre, todos os contratos
De acordo com o ministro, as mudanças anunciadas nesta deverão cobrir pelo menos 50% do valor total da mensalidade
terça valem apenas para a modalidade 1 do Novo Fies e para o do estudante.
segundo semestre. As inscrições começam em julho, ainda sem Segundo Rossieli, esse valor não tinha limite mínimo e
data definida. chegou a ser de apenas 8%, dependendo a renda familiar do
No primeiro semestre, o ministro disse que 35.866 estudante e do custo da faculdade.
estudantes fecharam novos contratos de financiamento do "Se o curso custar R$ 10 mil e você pedir o financiamento,
Fies 1, e outros 16.351 estão em fase de tramitação do contrato você vai ter no mínimo [financiamento de] R$ 5 mil reais. Se o
para vagas remanescentes. O prazo para o fechamento dos menino for mais pobre, tiver mais necessidade, pode chegar a
contratos termina no dia 25/06. Segundo o MEC, o Novo Fies, 60%, 70%", explicou o ministro.

122 G1. Fies vai voltar a atender cursos com mensalidade de até R$ 7 mil, voltar-a-atender-cursos-com-mensalidade-de-ate-r-7-mil-anuncia-mec.ghtml>
anuncia MEC. G1 Educação. <https://g1.globo.com/educacao/noticia/fies-vai- Acesso em 07 de junho de 2018.

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Apesar de essa última mudança valer para o segundo Essa é a versão final da BNCC?
semestre, estudantes que já fecharam contrato no primeiro Não. A versão apresentada pelo MEC é a terceira desde o
semestre vão ter a opção de aumentar a porcentagem do início do processo de elaboração, mas ainda não é final: ela
financiamento quando renovarem o contrato a partir do ainda precisa ser analisada e votada pelo Conselho Nacional de
próximo semestre. Educação (CNE), que já confirmou que realizará audiências
pelo Brasil para ouvir as contribuições da sociedade. Porém,
alterações e emendas podem ser feitas, mas a versão não pode
Disciplinas, carga horária e impacto no Enem: veja o ser completamente reelaborada.
que deve mudar com a base curricular do ensino
médio123 A BNCC funciona como currículo para as escolas?
Não. A Base, segundo o próprio documento, é uma
A última versão da Base Nacional Comum Curricular "referência nacional comum e obrigatória para a elaboração
(BNCC) do ensino médio foi entregue pelo Ministério da dos seus currículos e propostas pedagógicas". Ela não se trata
Educação ao Conselho Nacional de Educação (CNE) na tarde do currículo escolar.
desta terça-feira (03/04). O currículo é definido em cada escola e as competências e
habilidades previstas na BNCC devem preencher 60% da carga
Abaixo, veja as principais questões sobre a medida e, na horária do ensino médio.
sequência, o que já se sabe sobre seus impactos:
Há disciplinas que deixarão de ser obrigatórias no ensino
Qual a relação com a BNCC já aprovada em dezembro? médio?
Esta é a segunda etapa na definição das diretrizes de tudo A rigor, nenhuma. A BNCC prevê que apenas matemática e
o que deve ser obrigatoriamente ensinado nas escolas de todo língua portuguesa sejam disciplinas obrigatórias nos três anos
Brasil: a primeira etapa foi concluída com a finalização da base da etapa final da educação básica. A regra, porém, não é nova.
específica para o ensino infantil e fundamental, que deve ser Apesar de os adultos de hoje terem tido aulas de química,
implementada até 2020. história, geografia, biologia e física em todos os anos do ensino
Agora, a atual versão da BNCC do ensino médio vai passar médio (ou do antigo colegial), essas matérias nunca tiveram
por audiências e debates antes de o texto ser finalizado. Depois seu ensino obrigatório por lei. A prevalência dessas aulas é, em
disso, ele será votado no Conselho Nacional de Educação (CNE) parte, explicada pelos conteúdos exigidos nos vestibulares.
e homologado pelo ministério da Educação. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) sempre manteve como
obrigatórias, nos três anos do ensino médio, apenas língua
Quando a BNCC vai sair do papel? portuguesa e matemática. Entre as demais disciplinas, as
Ainda não existe um prazo definido. Segundo Eduardo únicas que também já eram obrigatórias, mas não
Deschamps, presidente do CNE, na próxima semana os necessariamente em todos os anos, são artes, educação física,
conselheiros se reunirão para definir o cronograma. língua estrangeira e história e cultura afro-brasileira e
A BNCC referente à educação infantil e ao ensino indígena.
fundamental, que foi entregue ao CNE em abril de 2017, só foi Com a divulgação da última versão da BNCC pelo
aprovada oito meses depois, em dezembro. Agora, um comitê Ministério da Educação, a novidade é que competências e
especial do MEC orienta a implementação da nova Base habilidades das áreas de ciências humanas e da natureza
Curricular do ensino infantil e fundamental nas escolas até também passam a ser oficialmente obrigatórias no ensino
2020. médio.
Apesar de as escolas não serem obrigadas a oferecer essas
O Enem vai mudar? disciplinas em todos os três anos, elas podem fazê-lo, desde
Sim, o MEC trabalha com a necessidade de futuras que cumpram os requisitos obrigatórios, como a aplicação dos
adequações no exame. Porém, segundo o ministro da conteúdos da BNCC na carga horária mínima exigida.
Educação, Mendonça Filho, qualquer mudança no Enem só
deve ocorrer a partir de 2020. Qual a carga horária prevista pela BNCC?
"O processo de adaptação do Enem, respeitando toda essa O documento prevê que as três mil horas do ensino médio
concepção estabelecida da Base Curricular do ensino médio, sejam divididas em duas partes: 1.800 horas para os
será gradual, e certamente só a partir de 2020 em diante", conteúdos das quatro áreas do conhecimento (linguagens,
afirmou o ministro. matemática, ciências humanas e ciências da natureza), e 1.200
para os itinerários formativos, onde cada escola poderá se
Qual a relação da BNCC com a reforma instituída via MP aprofundar em uma ou mais áreas.
por Temer? "Itinerários formativos serão desenvolvidos pelos estados
A reforma foi um conjunto de novas diretrizes para o e escolas. O MEC não fará a definição de itinerários, mas sim,
ensino médio implementadas via Medida Provisória. Elas um guia de orientação para apoiar estados e municípios",
foram apresentadas pelo governo federal em 22 de setembro afirmou Maria Helena Guimarães de Castro, secretária
de 2016. A reforma flexibilizou o conteúdo que será ensinado executiva do MEC.
aos alunos, mudou a distribuição do conteúdo das 13
disciplinas tradicionais ao longo dos três anos do ciclo e deu Ensino médio em tempo integral alcança 7,9% dos
novo peso ao ensino técnico. alunos no Brasil, aponta Censo Escolar 2017124
Entretanto, para entrar de fato em vigor, a reforma precisa
da BNCC para apontar a diretriz do que se espera que os alunos Censo Escolar 2017 mostra aumento de 1,5 ponto
aprendam, para que, no passo seguinte, estados, municípios e percentual no total de adolescentes que têm jornada de sete
a rede privada elaborem seus currículos. horas nas escolas.

123 MARQUES, M. MORENO, A. C. Disciplinas, carga horária e impacto no 124 LARISSA BATISTA. Ensino Médio em Tempo Integral alcança 7,9% dos

Enem: veja o que deve mudar com a base curricular do ensino médio. G1 alunos no Brasil, aponta censo escolar 2017. Disponível em:
Educação. Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/com-base- <https://g1.globo.com/educacao/noticia/ensino-medio-em-tempo-integral-
curricular-do-ensino-medio-so-portugues-e-matematica-serao-obrigatorios-nos- alcanca-79-dos-alunos-no-brasil-aponta-censo-escolar-2017.ghtml> Acesso em 01
tres-anos-e-enem-pode-mudar-a-partir-de-2020.ghtml> Acesso em 04 de abril de de fevereiro de 2018.
2018.

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O total de alunos do ensino médio matriculados em escolas frente, mas são fundamentais para que o aluno não desista do
de tempo integral aumentou 1,5 ponto percentual entre 2016 ensino médio", diz a secretária-executiva do MEC.
e o ano passado, de acordo com o Censo Escolar 2017. Ao todo, Apesar da queda no ensino médio geral, as matrículas nos
são 7,9% de alunos nessa modalidade de ensino. Os dados cursos técnicos de nível médio da rede pública apresentaram
foram divulgados nesta quarta-feira (31/01) pelo Ministério um crescimento de 2,2% no último ano.
da Educação (MEC).
O número ainda está abaixo da meta do governo, que Censo 2017 - matrículas no ensino médio
pretende aumentar a porcentagem de vagas em tempo integral
para 13% até 2018, investindo R$ 1,5 bilhão até o fim da
gestão. É considerada escola em tempo integral aquela na qual
o estudante passa uma média de sete horas diárias em aulas
ou atividades.
Aumentar o tempo de permanência dos jovens na escola é
um dos objetivos da reforma do ensino médio, instituída por
meio de medida provisória e sancionada pelo presidente
Michel Temer em fevereiro de 2017.
“O ensino integral reflete a prioridade do MEC. Claro que a
escola nunca será integral para todo mundo, tem aluno que
precisa trabalhar. Mas é um papel importante oferecer
alternativas para que eles não abandonem a escola no
primeiro ano, que cheguem até o final", afirma Maria Helena
Guimarães de Castro, secretária-executiva do MEC e ministra
interina da Educação.
Luta contra o abandono
A manutenção dos alunos nesta etapa do ensino é um dos
Ensino médio em tempo integral
desafios para o país, que enfrenta nesta década taxas de evasão
acima de 12%, conforme estudo revelado no ano passado.
Veja a expansão entre 2011 e 2017 da taxa de matrículas
O Censo Escolar 2017 mostra que a taxa de distorção
no ensino médio de pelo menos sete horas diárias
idade-série do ensino médio é de 28,2%, permanecendo em
patamar elevado – em 2016, o percentual era de 28,0%. A
chamada distorção ocorre quando jovens que já deveriam ter
concluído a etapa ainda permanecem em busca do diploma.
A secretária-executiva do MEC criticou o alto índice de
reprovação dos alunos brasileiros. "As crianças que serão
reprovadas terão uma enorme dificuldade de continuar na
escola e ter prazer em aprender, ter curiosidade, porque a
escola continuará usando o mesmo livro", disse. "Então é inútil
reprovar se a dinâmica da escola vai se manter a mesma. Isso
é um fracasso da escola."
De acordo com dados da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), 53% dos jovens
brasileiros estavam matriculados no ensino médio em 2015,
enquanto a média dos países da OCDE é de 95%.
A estimativa é que mais de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17
anos estejam fora da escola. Ao todo, o Brasil tem cerca de 2,5
milhão de crianças fora das salas de aula.
No ensino fundamental, a porcentagem de alunos
Cai total de docentes no ensino médio
matriculados no ensino integral subiu para 13,9%. Em 2016,
Um número maior de adolescentes matriculados no ensino
ano que houve uma queda nesse indicador, o percentual era de
médio de tempo integral não significa que eles passarão mais
9,1%.
tempo dentro das salas de aula. As atividades previstas para a
“jornada estendida” também não necessariamente serão
Queda nas matrículas do ensino médio
orientadas por professores.
De acordo com o Censo, em 2017, havia 48,6 milhões de
Entre 2016 e 2017, o ensino médio brasileiro viu, na
matrículas nas 184,1 mil escolas de educação básica no Brasil.
prática, que houve redução de 1,9% no número de docentes.
Dentro desse grupo, são 7,9 milhões de matrículas no ensino
Atualmente, esse grupo tem 509,8 mil professores, sendo que
médio.
77,7% atuam na rede estadual de educação e 20,2% dão aulas
O levantamento aponta que o total de matrículas nessa
em escolas particulares.
etapa de ensino segue a tendência de queda observada nos
A maioria, nessa etapa de ensino, é formada por mulheres
últimos anos, que se deve a duas questões: menos alunos
(59,6%) e 52,9% têm mais de 40 anos de idade. Mas 6,5% dos
entraram no ensino fundamental (a matrícula do 9º ano teve
professores do ensino médio ainda não têm o nível superior
queda de 14,2% de 2013 a 2017) e menos estudantes foram
completo e 13,2% não possuem licenciatura. De acordo com os
reprovados. Esse último fato faz com que haja uma melhoria
dados do Censo Escolar 2017, 3,9% dos professores no ensino
no fluxo no ensino médio - a taxa de aprovação subiu 2,8
médio estão, atualmente, cursando o nível superior.
pontos percentuais de 2013 a 2017.
"Um número muito elevado de alunos que concluem o
nono ano nem se matriculam no ensino médio. Então essa
etapa continua sendo o gargalo." - Maria Helena
"Por isso, a prioridade da agenda do governo foi uma série
de ações, como a base comum curricular, que vai melhorar
esse quadro. Essas políticas apresentarão resultado mais para

Conhecimentos Específicos 116


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Formação de professores do ensino médio em 2017 18,1% não terminaram nem o ensino médio. Apenas 65,9%
fizeram a licenciatura e 1,2%, o bacharelado. Outros 8,5%
estão na universidade, segundo o Censo.

Formação de professores da educação infantil em


2017

As parcelas de docentes do ensino médio que são formados


na disciplina que lecionam são menores em sociologia
(27,1%), artes (41,1%), física (42,6%) e filosofia (44,22%).
Nesses quatro componentes curriculares, os professores
estudaram outro campo do conhecimento, e não o que
No ensino fundamental, 3,7% dos docentes não
ensinam aos alunos.
terminaram o ensino médio e 5% estudaram só até essa etapa.
Para reverter o quadro, a aposta do ministério é a oferta de
Existem ainda 6% que estão na faculdade e 85,3% formados
cursos a distância ou semi presenciais. "O MEC está ampliando
na universidade.
a oferta de matrículas na Universidade Aberta do Brasil, para
Sobre as disciplinas, o Censo aponta que língua estrangeira
que os professores tenham a chance de fazer ou a distância ou
têm apenas 42% dos professores com formação adequada na
em curso semi presencial os cursos de formação superior
área. Em 23,7% dos casos, os docentes desse componente
assim eles complementem a formação de casos de professores
curricular não possuem sequer ensino superior completo.
que não atuam na área pela qual foram formados", afirma
Maria Helena.
Inclusão escolar
Entre 2013 e 2017, o número de matrículas de alunos com
Escolas particulares x escolas públicas
deficiência nas escolas cresceu 22,7%: saltou de 639.888 para
O Censo Escolar 2017 mostra que os municípios são
827.243 crianças e adolescentes de 4 a 17 anos. A pesquisa
responsáveis por 61,3% das escolas brasileiras – o equivalente
inclui também estudantes com transtornos globais do
a 112,9 mil instituições de ensino. As estaduais representam
desenvolvimento e altas habilidades.
16,6% e as federais, 0,4%. A porcentagem de colégios privados
Em 2013, 14,5% deles estavam em salas especiais,
apresentou um pequeno aumento entre 2016 e 2017: foi de
reservadas apenas para pessoas com deficiência. No ano
21,5% para 21,7% das escolas de educação básica.
passado, o índice caiu para 9,1% - ou seja, 90,9% desses alunos
Considerando as etapas de ensino oferecidas pelas
estão estudando em classes comuns, em que há, juntas,
instituições, percebe-se que a maior parte delas tem vagas nos
crianças com e sem necessidades educativas especiais.
anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano). O ensino
É importante ressaltar, no entanto, que a inclusão escolar
médio, por outro lado, só está disponível em 28.558 escolas –
abrange mais do que a presença desses estudantes na escola:
15,5% do total:
é necessário que haja uma política de atendimento a elas, com
materiais didáticos adaptados, professores com formação
Número de escolas que oferecem cada etapa de ensino
adequada e acessibilidade na infraestrutura dos prédios.
(2017)
Cresceu também a parcela de alunos com deficiência que
usufruem do chamado atendimento educacional especializado
– um direito deles, reservado por lei, de ir à escola no
contraturno para receber um atendimento específico.
Uma criança que estude na turma comum pela manhã, por
exemplo, pode ir à tarde para a escola e ter um tempo
reservado para desenvolver trabalhos relacionados à
deficiência, como melhoria da coordenação motora,
socialização, etc. Em 2013, 35,2% dos alunos com
necessidades educativas especiais estavam em classes comuns
e frequentavam a sala de atendimento especializado. No ano
passado, o índice subiu para 40,1%.
É interessante notar que os municípios com menores
porcentagens de matrículas de crianças com deficiência estão
Sobre as matrículas, 0,8% dos alunos estão em escolas no Sul e no Sudeste. No Paraná, por exemplo, 16,5% das
federais, 33,4% em estaduais, 47,5% em municipais e 18,3% cidades possuem menos da metade dos alunos de 4 a 17 anos
em particulares. desse grupo em classes comuns.
Analisando a porcentagem das crianças e adolescentes
Professores na educação infantil e no fundamental com deficiência nas salas comuns, por etapa de ensino, temos
os seguintes resultados, de acordo com o Censo:
Analisando a formação dos professores na educação
infantil, 6,2% deles estudaram até o ensino fundamental e

Conhecimentos Específicos 117


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APOSTILAS OPÇÃO

Porcentagem de alunos com deficiência matriculados um aumento de 18,8%. Mas, nesse mesmo período, a expansão
em salas comuns de vagas do Sisu foi de 376%. Na edição do primeiro semestre
de 2016, o Sisu reuniu 228.071 vagas, ou seja, 43,1% do total
de novas vagas oferecidas no ensino superior público em todo
o país.

Histórico do Sisu

Sisu cresce quatro vezes em sete anos e concentra


quase metade das vagas públicas em universidades125

Levantamento do G1 mostra a expansão de vagas do


sistema do MEC, que desde 2010 usa a nota do Enem para
selecionar candidatos para cada vez mais vagas no ensino
superior público.
Criado depois da reformulação do Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) em 2009, o Sistema de Seleção Unificada
(Sisu) ganhou, em menos de uma década, o status de maior
aglutinador de vagas em graduação nas instituições públicas
do país. Entre 2010 e 2016, o número de vagas que as Fonte: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/sisu-cresce-quatro-vezes-
universidades, institutos e faculdades federais e estaduais em-sete-anos-e-concentra-quase-metade-das-vagas-publicas-em-
universidades.ghtml>
decidiram destinar ao sistema cresceu mais de quatro vezes, e
a concentração do total de vagas ofertadas no ensino superior
Distribuição de vagas
público do Brasil no Sisu saltou de 10,7% para 43%.
Nesta edição, são 100 instituições federais participantes, e
Nesta terça, o Sisu 2018 do primeiro semestre abriu as
30 estaduais. De acordo com o MEC, as instituições
inscrições para 239.601 vagas em 130 instituições.
aumentaram o número de vagas oferecidas, mas reduziram o
O levantamento foi feito pelo G1 a partir de dados
número de cursos com os quais aderiram ao sistema. O estado
divulgados ano a ano pelo Ministério da Educação e
com o maior número de vagas oferecidas é Minas Gerais, que
informações das edições do Censo da Educação Superior de
responde por 30.381 vagas, ou 12,7% do total do Sisu.
2010 e 2016, ano dos dados mais recentes disponíveis.
Rondônia, com 328, e Roraima, com 886 vagas, são os estados
com a menor oferta neste semestre.
A evolução do Sisu
Atualmente, segundo dados do MEC, só duas universidades
federais não participam do Sisu: a Universidade Federal de
Rondônia (Unir) e a Universidade Federal do Oeste do Pará.
"Ele é por adesão e não é obrigatório. Das nossas 63
universidades federais, por exemplo, atualmente 61 já ofertam
vagas", explicou Fernando Bueno, coordenador-geral de
Programas de Ensino Superior do MEC, em dezembro, quando
a nova edição foi anunciada.
"Cada instituição tinha o seu vestibular, em uma data
diferente. (...) Às vezes havia coincidência de datas e o
candidato tinha que optar por um ou por outro. O Sisu veio
para unificar."

Cotas raciais e sociais


Das 239 mil vagas oferecidas pelo Sisu 2018, 121.266 (ou
50,6%) estão reservadas para alguma modalidade de cota
social ou racial. São 103.897 vagas que seguirão a Lei Federal
de Cotas, obrigatória apenas para as instituições federais, e
Em 2010, as 47.913 vagas oferecidas por meio do Sisu 17.369 vagas de outras políticas de ação afirmativa que tanto
representaram 10,7% do total de 445.337 vagas oferecidas as instituições federais quanto as estaduais têm liberdade para
por vestibular ou outros processos seletivos de todos os cursos criar.
presenciais em universidades públicas, segundo os dados do A USP, por exemplo, vai oferecer 2.745 vagas em 102
Censo da Educação Superior. cursos pelo Sisu; dessas, 2.322 são destinadas a ações
Entre 2010 e 2016, as instituições públicas haviam afirmativas, o que representa 84,5% do total.
expandido seu número total de vagas oferecidas para 529.239,

125 MORENO, ANA CAROLINA. Sisu cresce quatro vezes em sete anos e vezes-em-sete-anos-e-concentra-quase-metade-das-vagas-publicas-em-
concentra quase metade das vagas públicas em universidades. G1 Educação. universidades.ghtml> Acesso em 23 de janeiro de 2018.
Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/sisu-cresce-quatro-

Conhecimentos Específicos 118


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O estado com o maior número de vagas reservadas para ocorreu no nível superior completo: 22,2% das pessoas
algum tipo de cota é Santa Catarina, com 60,8% do total. O brancas o possuíam, ao passo que entre as pretas ou pardas a
Piauí, com 41,9% das vagas destinadas às ações afirmativas, é proporção era de 8,8%", aponta o relatório do IBGE.
o estado com a menor porcentagem. As instituições federais
são obrigadas por lei a destinar pelo menos 50% de suas vagas Taxa de escolarização
a cotistas, somando todas as vagas oferecidas, incluindo as do A pesquisa também verificou o percentual das pessoas que
Sisu e as do vestibular tradicional. frequentavam a escola, um contingente que somava 56,5
milhões de pessoas. "Entre as crianças de 0 a 3 anos a taxa de
escolarização foi 30,4%, o equivalente a 3,1 milhões de
Analfabetismo entre pessoas pretas e pardas é mais estudantes, e entre as crianças de 4 e 5 anos, faixa
que o dobro do que entre as brancas, diz IBGE126 correspondente à pré-escola, a taxa foi de 90,2%, totalizando
4,8 milhões de estudantes".
Taxa geral de analfabetismo no país caiu para 7,2%. Entre A meta 1 do PNE estabelecia a universalização, até o ano de
as pessoas autodeclarados pretas ou pardas, índice é de 9,9%, 2016, da educação infantil na pré-escola. Entretanto a PNAD
e de 4,2% entre as brancas. constatou, em 2016, taxa de 90,2%.
Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (21) pelo Apesar de a meta não ter sido atingida, houve um aumento
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta significativo da presença de crianças de 4 a 5 anos na escola.
que, em 2016, a taxa de analfabetismo no país caiu para Em 4 anos, o índice subiu de 78,1% para 90,2%.
7,2%. Em 2015, 8% dos brasileiros com 15 anos ou mais não A PNAD também constatou que 5% dos estudantes de 6 a
sabiam ler ou escrever no país. 10 anos e 15,6% de 11 a 14 anos de idade estavam atrasados
O levantamento foi feito ao longo de 2016 por meio da em relação à etapa de ensino que deveriam estar
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua frequentando, seja por reprovação, seja por evasão.
(PNAD). Naquele ano, o total de analfabetos foi estimado em A meta 2 prevê a universalização, até 2024, do ensino
11,8 milhões de pessoas e "apresentou relação direta com a fundamental de nove anos para as pessoas de 6 a 14 anos.
idade, aumentando à medida que a idade avançava até atingir
20,4% entre as pessoas de 60 anos ou mais". Rede de ensino
O total de analfabetos mostra que o país ainda está distante Do total de estudantes, 73,5% frequentavam escola
de cumprir a Meta 9 do Plano Nacional de Educação (PNE), pública, enquanto 26,5%, escola privada. "Enquanto nos
instituído pela Lei n. 13.005. O PNE estipulava a redução da cursos até o ensino médio a rede pública corresponde a mais
taxa de analfabetismo para 6,5%, em 2015. de 70% dos estudantes, no ensino superior de graduação essa
participação se reduz a 25,7%, e na especialização, mestrado e
Taxa entre pretos ou pardos doutorado equivale a 32,9%", aponta o relatório.
Além de notar que a taxa é maior entre os mais idosos, a A pesquisa estimou que 24,8 milhões das pessoas de 14 a
pesquisa também aponta que o número é superior entre as 29 anos de idade não frequentavam escola, cursos pré-
pessoas pretas ou pardas. Se considerados apenas os vestibular, técnico de nível médio ou de qualificação
autodeclarados brancos, a taxa total de analfabetismo é de profissional, e, no caso dos mais velhos, não haviam concluído
4,2%, enquanto entre as que se declaravam pretas ou pardas o uma graduação.
índice foi de 9,9%. Em um recorte que considera as pessoas
com 60 anos ou mais, o percentual entre os dois grupos é de, Ocupação e condição de estudo
respectivamente, 11,7% e 30,7%. O IBGE também analisou a situação na ocupação e
"Essa relação foi constatada em todas as Grandes Regiões", condição de estudo para pessoas de 14 a 29 anos. "No que diz
analisa o relatório do IBGE. respeito à cor ou raça, a maior diferença entre os grupos foi
No país, a taxa de analfabetismo para os homens de 15 estimada para as pessoas que estavam não ocupadas e não
anos ou mais de idade foi 7,4% e para as mulheres, 7,0%. estudavam: 16,6% para as pessoas brancas e 23,3% para as
pretas ou pardas", aponta o relatório do IBGE.
Analfabetismo nas regiões
De acordo com o estudo, a região Nordeste apresentou a Governo decide reincorporar ensino religioso na Base
maior taxa de analfabetismo (14,8%), o que representa "em Nacional Curricular127
torno de quatro vezes mais do que as taxas estimadas para as
regiões Sudeste (3,8%) e Sul (3,6%). Na Região Norte essa taxa MEC e CNE discutem mudanças no documento voltado à
foi 8,5% e no Centro-Oeste, 5,7%. Logo, a Meta 9 do PNE para educação infantil e ensino fundamental
2015 só foi alcançada nas Regiões Sul, Sudeste e Centro- BRASÍLIA - Depois de retirar o ensino religioso da última
Oeste". versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) referente
à educação infantil e ao ensino fundamental, o Ministério da
Nível de instrução e anos de estudo Educação (MEC) recuou da decisão e resolveu reincorporar o
De acordo com o IBGE, no Brasil, 51% da população de 25 tema ao documento. A decisão recente do Supremo Tribunal
anos ou mais de idade estavam concentradas nos níveis de Federal, que considerou constitucional a oferta da disciplina
instrução até o ensino fundamental completo ou equivalente; nas escolas, mantendo a matrícula facultativa, ampliou as
26,3% tinham o ensino médio completo ou equivalente; e pressões de grupos religiosos em favor da volta do assunto
15,3%, o superior completo. para a BNCC.
"Considerando a cor ou raça, as diferenças no nível de A volta do ensino religioso está dentro de um pacote de
instrução se mostraram ainda maiores: enquanto 7,3% das últimas sugestões levantadas pelo Conselho Nacional de
pessoas brancas não tinham instrução, 14,7% das pessoas Educação (CNE), a partir de audiências públicas realizadas
pretas ou pardas estavam nesse grupo. Situação inversa pelo país neste ano, que estão sendo debatidas com o MEC

126 G1. Analfabetismo entre pessoas pretas e pardas é mais que o dobro do que 127 MARIZ, RENATA. Governo decide reincorporar ensino religiosa na Base

entre as brancas, diz IBGE. G1 Educação. Disponível em: Nacional Curricular. O Globo Sociedade. Disponível em: <
<https://g1.globo.com/educacao/noticia/analfabetismo-entre-pessoas-pretas-e- https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/governo-decide-reincorporar-
pardas-e-mais-que-o-dobro-do-que-entre-as-brancas-diz-ibge.ghtml> Acesso em ensino-religioso-na-base-nacional-curricular-
21 de dezembro de 2017. 22050225?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Glo
bo> Acesso em 10 de novembro de 2017.

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nesta quinta-feira. O CNE fará então a versão final do texto (B) FNDE
para encaminhá-lo ao ministro da Educação, a quem cabe (C) ENADE
homologar a BNCC. O documento irá definir o que deve ser (D) PROUNI
aprendido pelos alunos em cada etapa escolar. A previsão é (E) ENEM
que esteja pronto até o fim deste ano.
Segundo o secretário de Educação Básica do MEC, Rossieli 02. (PROAMUSEP – Enfermeiro – FAUEL) Em 2016,
Silva, a decisão de recolocar o ensino religioso na BNCC vem ocorreu um relevante movimento de ocupação em escolas,
de uma “sensibilidade” em torno do tema a partir das institutos e universidades federais por todo o país. Segundo
manifestações colhidas nas últimas audiências: dados divulgados pela União Brasileira dos Estudantes
— O que há é uma sensibilidade clara de que o ensino Secundaristas, mais de mil estabelecimentos estavam
religioso deve ser tratado na Base Nacional Comum. Existe ocupados no mês de outubro. Assinale a alternativa que
uma comissão do CNE específica para tratar de ensino melhor explica esse movimento de ocupações: Em 2016,
religioso e esta comissão está debruçada e trará uma proposta. ocorreu um relevante movimento de ocupação em escolas,
O presidente do CNE, Eduardo Deschamps, afirmou que a institutos e universidades federais por todo o país. Segundo
própria decisão do Supremo deixou registrada a necessidade dados divulgados pela União Brasileira dos Estudantes
de haver uma regulamentação sobre a oferta do ensino Secundaristas, mais de mil estabelecimentos estavam
religioso, embora os alunos não sejam obrigados a se ocupados no mês de outubro. Assinale a alternativa que
matricular: melhor explica esse movimento de ocupações:
— A lei fala da oferta, que é obrigatória com matrícula (A) As ocupações estiveram focadas nos graves problemas
facultativa, mas não diz como deve ser. Temos vários enfrentados pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)
documentos que podem tratar disso. Um deles é a Base. nos últimos anos.
Deschamps minimiza as pressões sofridas pelo CNE desde (B) Estudantes e professores uniram-se contra as
que a terceira versão da BNCC foi entregue pelo MEC, em abril propostas do Governo Federal para realizar operações de
deste ano, para análise, modificações e aprovação. varredura em penitenciárias do país.
— Não são pressões, mas manifestações da sociedade de (C) Foi um movimento estudantil organizado pela
maneira em geral. Essa é uma Casa para receber esse tipo de oposição peemedebista a favor do afastamento da então
manifestação. presidente Dilma Rousseff.
(D) Tratou-se de uma forma de protestos contra a
Indígenas e Quilombolas chamada “PEC do Teto” e outras medidas que afetariam o
Além da volta do ensino religioso, outras mudanças serão Ensino Médio.
feitas, como a incorporação de um detalhamento mais apurado
em língua portuguesa e na educação indígena e quilombola. A 03. (CRBio – 1ª Região – Auxiliar Administrativo –
antecipação do fim do ciclo de alfabetização para o 2º ano, em VUNESP) Alvo de protestos de estudantes em todo o país, a lei
vez do 3º ano, é outra mudança feita pelo MEC na última versão da reforma do ensino médio foi promulgada nesta quinta- -
da BNCC, mas sobre a qual não se sabe o que o CNE fará. feira (16.02) pelo presidente da República, Michel Temer, em
— Existem posicionamentos individuais de conselheiros cerimônia no Palácio do Planalto. A proposta, feita por meio de
acerca da alfabetização que podem ser divergentes da posição uma Medida Provisória, foi aprovada na semana passada pelo
do MEC. Mas a manifestação do CNE só se dará no momento Senado.
em que aprovar o parecer e a devolução final do documento. (Valor, https://goo.gl/Y3J7PW, 16.02.2017. Adaptado)
Tanto Deschamps quanto Rossieli disseram que não Essa reforma
haverá uma quarta versão da BNCC e que o cronograma está (A) cria a base nacional curricular comum e proíbe a
mantido, para que o documento seja entregue ainda neste ano participação de não docentes na sala de aula.
ao MEC. Após homologação do ministro, o texto se torna uma (B) estabelece a segmentação de disciplinas por áreas de
norma nacional. Eles minimizaram o número de críticas e conhecimento e amplia a carga horária.
sugestões colhidas nas audiências públicas feitas pelo CNE e (C) transforma Artes e Educação Física em disciplinas
que agora serão debatidas: facultativas e organiza o ensino em módulos.
— Foram 234 postagens e contribuições. Muitas delas se (D) extingue o turno integral nas escolas públicas e
repetem. E obviamente agora haverá uma análise — disse favorece a formação profissional dos jovens.
Deschamps. (E) universaliza os cursos à distância e permite ao aluno a
Ele lembrou que a primeira versão da BNCC recebeu 12 escolha de somente uma área de estudo.
milhões de intervenções e a segunda contou com 9 mil
participantes em discussões regionais. Agora, segundo Gabarito
Deschamps, são apenas “centenas de contribuições, apenas
ajustes”. 01.A / 02.D / 03.B

Questões

01. (UFFS – Farmacêutico – FAFIPA)128 Os estudantes


brasileiros de nível superior podem contar com o
financiamento das anuidades como forma de estimular a
permanência e a conclusão de curso de graduação em
instituições não gratuitas. O programa do Ministério da
Educação (MEC) destinado à concessão deste
financiamento chama-se:
(A) FIES

128 https://www.qconcursos.com/questoes-de- erais=true&possui_comentarios=&possui_anotacoes=&sem_dos_meus_cadernos=


concursos/questoes/search?utf8=%E2%9C%93&todas=on&q=fies&instituto=&or &sem_anuladas=&sem_desatualizadas=&sem_anuladas_impressao=&sem_desatu
ganizadora=&prova=&ano_publicacao=&cargo=&escolaridade=&modalidade=& alizadas_impressao=&caderno_id=&migalha=&data_comentario_texto=&data=&
disciplina=56&assunto=1327&esfera=&area=&nivel_dificuldade=&periodo_de=& minissimulado_id=&resolvidas=&resolvidas_certas=&resolvidas_erradas=&nao_re
periodo_ate=&possui_gabarito_comentado_texto_e_video=&possui_comentarios_g solvidas=

Conhecimentos Específicos 120


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APOSTILAS OPÇÃO

Meio Ambiente e Sustentabilidade Redução, que recomenda evitar o consumo de produtos


desnecessários;
sa Reutilização, que sugere que se reaproveite diversos
Olá candidato(a). No conteúdo a respeito de Meio Ambiente materiais; e
dentro dos tópicos de atualidades, teremos uma ordem um Reciclagem, que orienta reaproveitar materiais,
pouco diferente. Antes dos textos noticiados no período transformando-os e lhes dando nova utilidade.
estipulado, traremos alguns conceitos e explicações que
normalmente são cobrados independente de ser um Aquecimento Global
conteúdo veiculado através de meios de comunicação ou É uma consequência das alterações climáticas ocorridas no
não. Envolvem definições de desenvolvimento sustentável e planeta. Diversas pesquisas confirmam o aumento da
créditos de carbono por exemplo. Caso tenha alguma dúvida, temperatura média global. Conforme cientistas do Painel
por favor entre em contato conosco. Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC), da
Organização das Nações Unidas (ONU), o século XX foi o mais
quente dos últimos cinco, com aumento de temperatura média
Desenvolvimento sustentável129: é o modelo que prevê entre 0,3°C e 0,6°C. Esse aumento pode parecer insignificante,
a integração entre economia, sociedade e meio ambiente. mas é suficiente para modificar todo clima de uma região e
afetar profundamente a biodiversidade, desencadeando vários
Responsabilidade Socioambiental130: Está ligada a desastres ambientais.
ações que respeitam o meio ambiente e a políticas que tenham As causas do aquecimento global são muito pesquisadas.
como um dos principais objetivos a sustentabilidade. Todos Existe uma parcela da comunidade científica que atribui esse
são responsáveis pela preservação ambiental: governos, fenômeno como um processo natural, afirmando que o planeta
empresas e cada cidadão. Terra está numa fase de transição natural, um processo longo
e dinâmico, saindo da era glacial para a interglacial, sendo o
Gestão do Lixo aumento da temperatura consequência desse fenômeno.
O lixo ainda é um dos principais desafios dos governos na No entanto, as principais atribuições para o aquecimento
área de gestão sustentável. No entanto, na última década, o global são relacionadas às atividades humanas, que
Brasil deu um salto importante no avanço para a gestão intensificam o efeito de estufa através do aumento na queima
correta dos resíduos sólidos. de gases de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão
Para regulamentar a coleta e tratamento de resíduos mineral e gás natural. A queima dessas substâncias produz
urbanos, perigosos e industriais, além de determinar o destino gases como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e óxido
final correto do lixo, o Governo brasileiro criou a Política nitroso (N2O), que retêm o calor proveniente das radiações
Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10), aprovada em solares, como se funcionassem como o vidro de uma estufa de
agosto de 2010. plantas, esse processo causa o aumento da temperatura.
Outros fatores que contribuem de forma significativa para as
Créditos de Carbono alterações climáticas são os desmatamentos e a constante
No mercado de carbono, cada tonelada de carbono que impermeabilização do solo.
deixa de ser emitida é transformada em crédito, que pode ser Atualmente os principais emissores dos gases do efeito de
negociado livremente entre países ou empresas. estufa são respectivamente: China, Estados Unidos, Rússia,
O sistema funciona como um mercado, só que ao invés das Índia, Brasil, Japão, Alemanha, Canadá, Reino Unido e Coreia
ações de compra e venda serem mensuradas em dinheiro, elas do Sul. Em busca de alternativas para minimizar o
valem créditos de carbono. aquecimento global, 162 países assinaram o Protocolo de
Para isso é usado o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo Kyoto em 1997. Conforme o documento, as nações
(MDL), que prevê a redução certificada das emissões de gases desenvolvidas comprometem-se a reduzir sua emissão de
de efeito estufa. Uma vez conquistada essa certificação, quem gases que provocam o efeito de estufa, em pelo menos 5% em
promove a redução dos gases poluentes tem direito a relação aos níveis de 1990. Essa meta teve que ser cumprida
comercializar os créditos. entre os anos de 2008 e 2012. Porém, vários países não
Por exemplo, um país que reduziu suas emissões e fizeram nenhum esforço para que a meta fosse atingida, o
acumulou muitos créditos pode vender este excedente para principal é os Estados Unidos.
outro que esteja emitindo muitos poluentes e precise
compensar suas emissões. Lixo Eletrônico
O Brasil ocupa a terceira posição mundial entre os países Um estudo da Organização Internacional do Trabalho, OIT,
que participam desse mercado, com cerca de 5% do total destaca que 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico são
mundial e 268 projetos. produzidas todos os anos. O descarte envolve vários tipos de
equipamentos, como geladeiras, máquinas de lavar roupa,
Consumo racional131 televisões, celulares e computadores. Países desenvolvidos
É um modo de consumir capaz de garantir não só a enviam 80% do seu lixo eletrônico para ser reciclado em
satisfação das necessidades das gerações atuais, como também nações em desenvolvimento, como China, Índia, Gana e
das futuras gerações. Isso significa optar pelo consumo de Nigéria. Segundo a OIT, muitas vezes, as remessas são ilegais e
bens produzidos com tecnologia e materiais menos ofensivos acabam sendo recicladas por trabalhadores informais.
ao meio ambiente, utilização racional dos bens de consumo, Saúde - O estudo Impacto Global do Lixo Eletrônico,
evitando-se o desperdício e o excesso e ainda, após o consumo, publicado em dezembro, destaca a importância do manejo
cuidar para que os eventuais resíduos não provoquem seguro do material, devido à exposição dos trabalhadores a
degradação ao meio ambiente. Principalmente: ações no substâncias tóxicas como chumbo, mercúrio e cianeto. A OIT
sentido de rever padrões insustentáveis de consumo e cita vários riscos para a saúde, como dificuldades para
diminuir as desigualdades sociais. respirar, asfixia pneumonia, problemas neurológicos,
Adotar a prática dos três 'erres': convulsões, coma e até a morte.

129Fonte: http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20/desenvolvimento- 131Texto adaptado de http://www.wwf.org.br/natureza_


sustentavel.html brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/
130 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental.

Conhecimentos Específicos 121


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APOSTILAS OPÇÃO

Orientações - Segundo agência, simplesmente banir as considerados plausíveis, alguns especialistas acreditam que
remessas de lixo eletrônico enviadas à países em eles não explicariam, por si só, o atual elevado nível de emissão
desenvolvimento não é solução, já que a reciclagem desse de gases que tem comprometido a camada de ozônio.
material promove emprego para milhares de pessoas que Stephen Montzka, da Administração Oceânica e
vivem na pobreza. A OIT sugere integrar sistemas informais de Atmosférica dos EUA (Noaa, na Sigla em inglês), disse à BBC
reciclagem ao setor formal e melhorar métodos e condições de que "o uso generalizado do CFC-11, que parece ser evidente na
trabalho. Outro passo indicado no estudo é a criação de leis e China com base no estudo (do EIA), é bastante surpreendente".
associações ou cooperativas de reciclagem. Ele pondera, contudo, ser difícil analisar com precisão o
cálculo das emissões provenientes do uso do CFC-11 para
Textos Noticiados: "saber se é realmente possível que essa atividade explique
tudo ou quase tudo que estamos observando na atmosfera
Cientistas identificam fonte de misteriosas emissões global".
que estão destruindo camada de ozônio132
Por que a descoberta da EIA é importante?
Nos últimos meses, cientistas de todo o mundo foram Ainda que o uso de CFC-11 em fábricas chinesas não seja o
surpreendidos com um misterioso aumento das emissões de único ou mesmo o maior responsável pela emissão de gases
gases que estão comprometendo, de forma drástica, a camada que estão destruindo a camada de ozônio, a descoberta do EIA
de ozônio que protege a Terra. é importante por ter identificado que uma quantidade
Agora, um grupo de pesquisadores acredita ter descoberto considerável de químicos ilegais continua sendo usada - com a
os responsáveis pelos danos ao meio ambiente: espumas de capacidade em potencial de reverter a já observada
isolamento térmico de poliuretano, produzidas na China para recuperação da camada de ozônio.
uso em residências. A espuma de poliuretano fabricada na China representa
A Agência de Investigação Ambiental (EIA, na sigla em quase um terço da produção global desse produto. Os
inglês), com base no Reino Unido, identificou a presença de pesquisadores calculam que a produção atrasará em uma
CFC-11, ou clorofluorocarbonos-11, na produção dessas década ou mais o objetivo de fechar o buraco que permite os
espumas na China. O composto químico havia sido proibido em efeitos nocivos da radiação solar.
2010, mas está sendo usado intensamente em fábricas Como a China é signatária do Protocolo de Montreal -
chinesas. tratado de 1987, mas que entrou em vigor dois anos depois -,
O relatório da EIA apontou a construção de casas na China seria possível impor sanções comerciais contra o país. Mas
como fonte das emissões atípicas de gases. Há dois meses, desde que o protocolo foi firmado, há mais de 20 anos, nenhum
pesquisadores publicaram um estudo que mostrava que a país foi punido com sanções e dificilmente será esse o caso
esperada redução do uso de CFC-11, banido há oito anos, havia para o uso de CFC-11 na China.
desacelerado drasticamente. É provável que a China seja incentivada a reduzir a
Os pesquisadores suspeitavam que o composto continuava produção de CFC-11 e será aberta uma investigação com o
sendo usado em algum lugar do leste da Ásia. Mas a fonte exata apoio do secretariado do Protocolo de Montreal para
ainda era desconhecida. averiguar a situação no país.
Especialistas tinham receio de que o CFC-11 pudesse estar Nesta semana, representantes do Protocolo de Montreal se
sendo usado secretamente para enriquecer urânio na reúnem em Viena, na Áustria, para elaborar um plano na
produção de armas nucleares. tentativa de solucionar o problema.
Agora, os pesquisadores dizem não ter dúvidas de que a
fonte de produção do composto está vinculada ao uso de No Dia Mundial do Meio Ambiente, ONU pede fim de
espuma para isolamento térmico de casas. poluição plástica133

'Agente expansor' A cada minuto, 1 milhão de garrafas plásticas são


Os CFC-11 funcionam como um eficiente agente expansor consumidas no mundo; e todos os anos, 8 milhões de toneladas
na fabricação de espuma de poliuretano, convertendo-as em de plástico são despejadas nos mares; secretário-geral da ONU
isolantes térmicos rígidos usados, principalmente, como forro suspendeu o uso de copos plásticos no gabinete dele, segundo
no teto de residências para reduzir o custo da eletricidade e a recado dado em redes sociais.
emissão de carbono. O Dia Mundial do Meio Ambiente, marcado neste 5 de
O EIA entrou em contato com fábricas de espuma de junho, tem como mensagem central a poluição plástica
poliuretano em dez províncias na China. Depois de várias principalmente nos oceanos. Segundo dados da agência ONU
conversas com executivos de 18 empresas, os investigadores Meio Ambiente, todos os anos, 8 milhões de toneladas de
concluíram que o composto químico estava sendo usado na plástico são jogadas nos mares.
maioria dos isolantes de poliuretano produzidos pelas Segundo a agência, se nada for feito, até 2050 os oceanos
empresas. terão mais plástico que peixes. A ONU Ambiente lançou a
A razão é simples: os CFC-11 têm melhor qualidade e são campanha “Acabe com a Poluição Plástica” ou
muito mais baratos que os produtos alternativos. Apesar do #BeatPlasticPollution, na sigla em inglês.
CFC-11 ter sido banido, a fiscalização não é eficiente e, por isso,
ele continua sendo usado.
"Ficamos totalmente chocados ao descobrir que as Coleta
empresas eram muito abertas em confirmar que estavam Vários eventos estão sendo realizados pelo mundo como
usando o CFC-11 e, ao mesmo tempo, reconhecendo que era coletas de lixos nas praias e palestras de conscientização sobre
ilegal", disse à BBC Avipsa Mahapatra, do EIA. a importância de dizer não aos plásticos descartáveis. Por toda
A EIA calcula que os gases produzidos na China estão a semana passada, a ONU frisou incluindo em mensagens pelo
ligados ao aumento das emissões observado no relatório da próprio secretário-geral, António Guterres, que se o utensílio
agência em maio. No entanto, embora os achados da EIA sejam só pode ser usado uma vez, ele deve ser dispensado.

132 BBC. Cientistas identificam fonte de misteriosas emissões que estão 133 Daniela Gross. No Dia Mundial do Meio Ambiente, ONU pede fim de

destruindo camada de ozônio. BBC Brasil. poluição plástica. <https://news.un.org/pt/story/2018/06/1625911> Acesso em


https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44778158. Acesso em 13 de julho de 06 de junho de 2018.
2018.

Conhecimentos Específicos 122


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APOSTILAS OPÇÃO

Guterres chegou a gravar um vídeo para as redes sociais Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), além da Frente
dizendo que estava abolindo de seu gabinete os copos de Parlamentar Agropecuária (FPA).
plástico. A movimentação se intensificou devido à leitura do texto
relatado pelo deputado Luiz Nishimori (PR/PR), em audiência
Oceanos marcada para a próxima terça-feira, (08/05), na Comissão
A ONU News conversou com a coordenadora do Dia do Especial da Câmara que analisa o PL. De um lado, Ibama e
Meio Ambiente no Brasil e também da campanha Mares Anvisa declaram que a proposta é inconstitucional e cercada
Limpos, Fernanda Daltro. De Brasília, ela explicou que o de falhas que prejudicariam a fiscalização, ameaçando a vida
plástico é um dos maiores desafios ambientais da era atual. das pessoas. Do outro, o Mapa e a FPA afirmam que o tema é
“O plástico se tornou um material presente em tratado com “preconceito e ideologia” e que precisa ser
absolutamente todos os lugares do planeta, inclusive nas modernizado.
regiões mais remotas. E esta poluição tem uma relação direta O texto substitutivo, que foi juntado ao projeto de Lei
com a sociedade de consumo em que a gente vive hoje. Este 6.299/2002, de autoria do ministro da Agricultura, Blairo
volume de lixo se mistura à cadeia alimentar. Todas as Maggi, propõe mudanças profundas no setor, a começar pelo
espécies nos oceanos acabam tendo contato e se alimentando próprio nome com que esses produtos são chamados.
do plástico de uma forma ou de outra.” Pela proposta, o termo “agrotóxico” deixaria de existir.
Para celebrar o Dia do Meio Ambiente, o Comitê Olímpico Entraria em seu lugar a expressão “produto fitossanitário”. A
Internacional, COI, anunciou uma parceria com a ONU para responsabilidade por conceder registros de novos agrotóxicos
combater o plástico descartável. também mudaria de mãos. Hoje Ibama, Ministério da Saúde e
Atletas olímpicos de várias modalidades incluindo triátlon, Ministério da Agricultura tomam decisões de forma conjunta.
surfe, e rúgbi se comprometeram em cortar os utensílios de Com a mudança, o Ministério da Agricultura concentraria todo
plástico. o poder decisório.
O Ibama e o Ministério da Saúde teriam apenas a função de
5 trilhões de sacolas homologar pareceres técnicos, mas essas avaliações não
A cada minuto, 1 milhão de garrafas plásticas são seriam elaboradas por esses órgãos públicos. Caberia às
consumidas no mundo. Já a quantidade de sacolas plásticas próprias empresas interessadas em vender os agrotóxicos a
chega a 5 trilhões por ano. missão de apresentar essas avaliações.
De acordo com o diretor-executivo da ONU Meio Ambiente, O texto também acaba com os atuais critérios de proibição
Erik Solheim, já existe a consciência da situação alarmante, de registro de agrotóxicos no País. Segundo o Ibama e a Anvisa,
mas os impactos de longo prazo desta crise ambiental sobre a a proposta deixa brechas para que sejam vendidos no mercado
saúde ainda são pouco conhecidos. nacional produtos já banidos em boa parte do mundo,
Solheim comparou esta falta de informação ao pouco causadores de distúrbios hormonais e danos ao sistema
conhecimento que antes se tinha em relação ao tabaco, ao pó reprodutivo.
de amianto e ao mercúrio. Inconstitucional. O Estado obteve uma nota técnica do
Ainda na entrevista à ONU News, Fernanda Daltro da ONU Ibama sobre o substitutivo ao projeto de lei. O documento,
Meio Ambiente, no Brasil, destacou a importância da mudança assinado pela presidente do Ibama, Suely Araújo, foi concluído
na cabeça dos consumidores. na semana passada. O órgão se posiciona radicalmente contra
o PL, sob o argumento de que “são propostas excessivas
Canudo simplificações ao registro de agrotóxicos, sob a justificativa de
“É muito importante entender que nós, como que o sistema atual está ultrapassado e de que não estão sendo
consumidores, temos um papel ativo e simples no combate à atendidas as necessidades do setor agrícola”.
poluição plástica. E este papel está em fazer escolhas melhores. Na avaliação do Ibama, trata-se de mudanças “inviáveis ou
Não apenas em relação ao material, em deixar de usar o desprovidas de adequada fundamentação técnica e, até
plástico descartável, em todas as situações, mas simplesmente mesmo, que contrariam determinação constitucional”.
abolir das nossas vidas alguns itens que não têm real A conclusão do órgão ligado ao MMA é de que as propostas
necessidade. É o caso do canudo, por exemplo, que não chega “reduzirão o controle desses produtos pelo poder público,
a ter uma reciclagem e o consumo dele é relativamente especialmente por parte dos órgãos federais responsáveis
desnecessário na maior parte das situações. ” pelos setores da saúde e do meio ambiente”.
Entre as recomendações da ONU Ambiente para acabar “O registro dos agrotóxicos, com participação efetiva dos
com a poluição plástica estão ações simples que podem ser setores de saúde e meio ambiente, é o procedimento básico e
adotadas no dia a dia. inicial de controle a ser exercido pelo poder público e sua
Entre elas, levar a própria sacola ao supermercado, recusar manutenção e aperfeiçoamento se justificam na medida em
canudos e talheres de plástico, preferir garrafas de água que seja, primordialmente, um procedimento que previna a
reutilizáveis, catar o plástico que encontrar na rua enquanto ocorrência de efeitos danosos ao ser humano, aos animais e ao
estiver caminhando e apoiar políticas governamentais contra meio ambiente”, informa a nota técnica. Procurado pela
o uso único das sacolas de plástico. reportagem, o Ibama não comentou a análise.

Projeto de Lei do Agrotóxico abre crise no governo134 Retrocesso


Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Para presidente da Anvisa, mudança em regra para (Anvisa), Jarbas Barbosa afirma que a proposta em tramitação
agrotóxico põe em risco segurança dos brasileiros. do Congresso representaria um retrocesso para o País. “O
BRASÍLIA - Uma nova proposta de projeto de lei que projeto muda para pior as regras de registro de agrotóxicos”,
flexibiliza as regras para fiscalização e utilização de avalia.
agrotóxicos no País abriu uma crise dentro do governo, As críticas também são feitas entre especialistas em saúde
colocando o Ministério da Saúde, a Agência Nacional de pública. A pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz de
Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério do Meio Ambiente Pernambuco Aline Gurgel considera a mudança nas regras de
(MMA) e o Ibama em rota de colisão com o Ministério da registro de agrotóxicos um atraso que pode colocar em risco

134 BORGES, A. FORMENTI, L. Projeto de Lei do Agrotóxico abre crise no lei-do-agrotoxico-abre-crise-no-governo,70002295137> Acesso em 10 de maio de
governo. Estadão. <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,projeto-de- 2018.

Conhecimentos Específicos 123


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APOSTILAS OPÇÃO

tanto a saúde da população quanto o meio ambiente. “A regra criada a partir do PL 3200/15, de autoria do deputado Covatti
atual é moderna, equilibrada, pois dá um poder equivalente ao Filho (PP-RS).
Ministério da Agricultura, à Anvisa e ao Ibama. É inaceitável Segundo a FPA, a atual avaliação de risco do agrotóxicos é
que Anvisa e Ibama, que hoje têm poder de veto, passem a “restritiva porque não leva em consideração que, sempre que
exercer apenas um mero papel consultivo”, completa a usados em respeito às boas práticas agrícolas, os defensivos
pesquisadora. não oferecem riscos à saúde do agricultor, dos animais, das
As críticas de Aline à proposta vão além da restrição do plantas, dos consumidores ou ao meio ambiente”.
poder de veto da Anvisa e Ibama. A começar da sugestão de A frente ruralista afirmou que “todos os parâmetros
tratar agrotóxicos por defensivos fitossanitários. “Isso internacionais de avaliação de riscos aceitáveis para a saúde
provocaria a ocultação do risco. O agrotóxico tem toxicidade. E humana, animal e para o meio ambiente estão mantidos” e
isso precisa ficar claro para população. O termo precisa ser criticou a demora na emissão de registros de produtos.
mantido.” “Hoje, demora-se de 8 a 10 anos para aprovar o registro de
A pesquisadora é contrária também à regra que facilitaria um novo produto. Muitas vezes, quando o produto é
o registro provisório de agrotóxicos. “Feitos para algumas autorizado, já está defasado. Em países como EUA e Austrália,
moléculas, esses registros baseiam-se em informações que por exemplo, o prazo médio de registro é de três anos. A
constam em processos de registro do produto em outros demora no registro de novos defensivos agrícolas no Brasil é
países, sem que haja a devida análise dos órgãos ambientais e um dos principais gargalos da legislação”, declarou.
de saúde.”
Aline rebate ainda a justificativa apresentada pelo projeto, Ideia antiga
de que regras atuais acabam levando a um processo moroso de A proposta de afrouxar as regras para agrotóxicos no País
avaliação de aprovação de novos agrotóxicos para culturas não é nova. No ano passado, o governo preparou uma Medida
brasileiras. “A análise não pode ser simplista, movida por Provisória que facilitava o registro de agrotóxicos no País.
motivos econômicos. Estamos falando de saúde, de Redigido pelo Ministério da Agricultura com a colaboração do
preservação do meio ambiente.” setor produtivo, o texto criava uma brecha para o uso de
defensivos que atualmente são classificados como
Ideologia e preconceito cancerígenos, com risco de provocar má-formação nos fetos ou
O Ministério da Agricultura reagiu duramente às críticas. capacidade de provocar mutações celulares. Pelas regras
Em resposta encaminhada ao Estado, o Mapa afirmou que, dos atuais, qualquer produto que se encaixe nessas características
órgãos envolvidos na regulação de agrotóxicos no Brasil, é a é proibido de ser lançado no Brasil. No texto proposto na MP,
Pasta, por meio da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), esses empecilhos cairiam por terra. Bastaria que algumas
que de fato executa as fiscalizações federais de agrotóxicos. condições fossem atendidas para reduzir os riscos desses
“São feitas mais de 1.500 ações fiscais no Brasil por ano, com efeitos.
atingimento de mais de 99,9% de conformidade nos produtos
fiscalizados”, declarou. “Portanto, fiscalização é uma atividade Risco
realizada eminentemente pelos órgãos de agricultura no A proposta em tramitação no Congresso para mudar as
Brasil, considerando a área de agrotóxicos.” normas de registro de agrotóxicos colocaria em risco a saúde
Sobre o texto do projeto de lei e o relatório final do dos trabalhadores do campo, reduziria a segurança dos
deputado Luiz Nishimori, o Mapa afirmou que a proposta brasileiros em geral e, ainda, poderia provocar danos para a
“congrega uma série histórica de diversas demandas imagem de produtos brasileiros no mercado externo, afirma o
negligenciadas pelos órgãos federais nos últimos 20 anos”. A presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Pasta admitiu que “alguns pontos devem ser discutidos em (Anvisa), Jarbas Barbosa. “Seria muito prejudicial. Torço para
função de seu contexto e origem”, mas sustenta que o relatório não ser aprovada.”
representa “uma iniciativa do legislativo de ajustar o marco Em entrevista ao Estado, Barbosa afirma que seria um erro
legal e permitir a modernização da legislação nacional”. retirar a Anvisa e o Ibama da análise dos pedidos de registro
A respeito do termo “agrotóxico”, o ministério declarou de agrotóxicos, como propõe o projeto. A atribuição ficaria a
que se trata de um “neologismo brasileiro, único no planeta” e cargo do Ministério da Agricultura. “Mas quem vai fazer a
que este “reflete a intenção do legislador de comunicar o risco avaliação do impacto à saúde ou ao meio ambiente? O
para produtos que possuem, naturalmente, um perigo Ministério da Agricultura não tem experiência acumulada para
intrínseco”. Quanto à acusação do Ibama e Anvisa de que estes fazer avaliação toxicológica. Seria um retrocesso imenso.”
perderiam funções de fiscalizar o setor, o Mapa declarou que, Teoricamente, Ibama e Anvisa atuariam numa comissão criada
“no que tange ao registro e às prioridades para produtos que para fazer a avaliação, mas sem poder de veto. “O Brasil vai
serão usados fundamentalmente para controle de pragas nas passar a dar registro só levando em conta as necessidades da
lavouras brasileiras, é missão indissociável do órgão federal de indústria agrícola?”, questiona.
agricultura”. Para o setor produtivo, o sistema atual é muito burocrático
Questionado sobre o risco de entrada de substâncias e lento, o que acabaria reduzindo as chances de entrada no
proibidas no País, o Mapa afirmou que o “alinhamento da mercado de novos produtos, mais baratos, eficientes e
legislação é fundamental para trazer serenidade na regulação portanto essenciais para tornar a produção brasileira mais
de agrotóxicos no Brasil, diminuindo ruídos ideológicos e competitiva no mercado internacional.
baseando a regulação unicamente em ciência”. O presidente da Anvisa, no entanto, tem uma avaliação
“O Mapa repudia ideias de exclusão dos entes de saúde e diferente. Ele alerta que uma mudança de regras tem impacto
meio ambiente do meio regulatório, mas entende que é negativo também no mercado externo. “A ideia será a de que o
necessário incrementar com recursos o corpo técnico, as País abriu mão de uma regulação mais séria”, ponderou. O
ferramentas de informática e os conceitos pétreos científicos impacto no mercado interno também seria significativo.
para que mantenhamos a excelência e o reconhecimento
internacional de produção agropecuária”, conclui o Ministério.
O relator do texto substitutivo, deputado Luiz Nishimori,
respondeu por meio da Frente Parlamentar Agropecuária
(FPA). Em nota, a frente esclareceu que, apesar do texto ser
apensado ao PL de autoria de Blairo Maggi, a proposta base foi

Conhecimentos Específicos 124


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Saneamento avança, mas Brasil ainda joga 55% do saneamento", diz Édison Carlos, presidente executivo do
esgoto que coleta na natureza, diz estudo135 instituto.
O ritmo lento ainda vai de encontro a compromissos
Apenas 45% do esgoto do país é tratado, apontam os dados assumidos pelo país tanto em políticas públicas nacionais,
mais recentes do governo. Em 2015, na ONU, Brasil se como os do Plano Nacional de Saneamento Básico, como
comprometeu a universalizar serviços de saneamento até internacionais, como os assinados na Cúpula das Nações
2030. Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2015. O país
se comprometeu a, até 2030, universalizar o acesso a água
potável e "alcançar o acesso a saneamento e higiene
adequados e equitativos para todos".

Grandes centros urbanos


O estudo do Trata Brasil destaca ainda o desempenho das
100 maiores cidades do país em comparação com a média
nacional. Segundo Édison Carlos, estas cidades deviam puxar
o crescimento do país, já que têm estruturas públicas e
privadas mais bem desenvolvidas e abrangem cerca de 40% da
população do Brasil.
As diferenças entre os índices nacionais e os dessas
cidades, porém, são poucas. O índice de perda de água é de
39,1%, contra os 38,1% nacionais. Quanto ao tratamento de
esgoto, a situação é melhor (54,3% do esgoto tratado, contra
45%), mas o ritmo foi semelhante (aumento de 7,7 pontos
percentuais, contra 7,4).
Segundo Édison Carlos, a diminuição nos investimentos
públicos é um dos motivos para os avanços pouco
Apenas 45% do esgoto gerado no Brasil passa por
significativos no setor. De 2015 para 2016, os investimentos
tratamento. Isso quer dizer que os outros 55% são despejados
em água e esgoto no país caíram de R$ 13,26 bilhões para R$
diretamente na natureza, o que corresponde a 5,2 bilhões de
11,51 bilhões. Já entre as maiores cidades, o valor caiu de R$
metros cúbicos por ano ou quase 6 mil piscinas olímpicas de
7,11 bilhões para R$ 6,6 bilhões.
esgoto por dia. É o que aponta um novo estudo do Instituto
"O investimento estava estagnado e caiu. Além disso,
Trata Brasil obtido pelo G1 e que será divulgado nesta quarta-
desses R$ 11 bilhões de investimento nacional, cerca de R$ 4
feira (18/04).
bilhões são de São Paulo. Ou seja, esse valor oculta uma
O estudo é feito com base nos dados mais recentes do
realidade, que é a concentração grande de investimento onde
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS),
a situação já é melhor. O investimento é muito desigual", diz
que se referem ao ano de 2016. Eles foram divulgados apenas
Édison Carlos.
neste ano.
Considerando as 100 maiores cidades do país, uma
Os números indicam que o saneamento tem avançado no
comparação entre as 20 melhores e as 20 piores escancara
país nos últimos anos, mas pouco. Veja os destaques:
estas desigualdades. O investimento médio anual por
Em 2016, 83,3% da população era abastecida com água
habitante nas melhores foi de R$ 84,55; já nas piores, foi de R$
potável, o que quer dizer que os outros 16,7%, ou 35 milhões
29,31.
de brasileiros, ainda não tinham acesso ao serviço. Em 2011, o
índice de atendimento era de 82,4%. A evolução foi de 0,9
ponto percentual.
Quanto à coleta de esgoto, 51,9% da população tinha
acesso ao serviço em 2016. Já 48,1%, ou mais de 100 milhões
de pessoas, utilizavam medidas alternativas para lidar com os
dejetos – seja através de uma fossa, seja jogando o esgoto
diretamente em rios. Em 2011, o percentual de atendimento
era de 48,1% — um avanço de 3,8 pontos percentuais.
Apenas 44,9% do esgoto gerado no país era tratado em
2016. Em 2011, o índice era de 37,5% — uma evolução de 7,4
pontos percentuais.
Historicamente, os números de esgoto são piores que os de
água no país por conta da falta de prioridade nas políticas
públicas, maior custo de investimento e de dificuldade nas
obras, entre outros motivos.
Por isso, mesmo tendo apresentado a maior alta entre os
indicadores, o acesso ao tratamento no país continua baixo, já
que o esgoto que não é tratado é jogado diretamente na
natureza, causando problemas ambientais e sanitários.
"No caso do tratamento de esgoto, houve um pouco mais "As cidades não param de crescer, então mesmo as com os
de um ponto percentual de alta por ano. Se considerarmos que melhores índices continuam investindo para conseguir
não chegamos nem nos 50% de atendimento, estamos falando universalizar os serviços, trocar redes antigas e diminuir
de mais de 50 anos [para universalizar]. Isso é inaceitável. É perda de água. Por outro lado, muitas cidades apresentam
muito tempo para ter essa estrutura tão essencial, que é a do péssimos indicadores e investem pouco", diz o presidente do
Trata Brasil.

135 VELASCO, CLARA. Saneamento avança, mas Brasil ainda joga 55% do joga-55-do-esgoto-que-coleta-na-natureza-diz-estudo.ghtml> Acesso em 18 de
esgoto que coleta na natureza, diz estudo. G1. Disponível em: abril de 2018.
<https://g1.globo.com/economia/noticia/saneamento-avanca-mas-brasil-ainda-

Conhecimentos Específicos 125


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APOSTILAS OPÇÃO

O estudo ainda aponta que menos de um quarto dos Rural (CAR), hoje com 4,7 milhões de imóveis rurais
recursos arrecadados com saneamento foi reinvestido no registrados e informações detalhadas sobre a ocupação do
setor. São considerados não apenas os investimentos solo em cada propriedade.
realizados pela prestadora do serviço, mas também os feitos Segundo a nova regra, proprietários que até 2008
pelo poder público. desmataram áreas que deveriam ter sido preservadas ficariam
livres de multas e outras sanções, desde que se registrassem
Desigualdades regionais no CAR e se comprometessem a se adequar à legislação.
As diferenças entre as 100 maiores cidades do país são Se o STF julgar que essa anistia é inconstitucional, o
vistas em todos os índices de saneamento. Veja alguns governo federal poderá multar os proprietários rurais pelas
destaques: infrações cometidas antes de 2008.
Abastecimento de água: 20 municípios possuem 100% de
atendimento da população, e 41 cidades tem atendimento O que pensam agronegócio e ambientalistas
superior a 99%. A grande maioria (90 das 100) atende mais de Entidades ligadas ao agronegócio criticam a possível
80% da população com água potável. Ao mesmo tempo, anulação do perdão.
porém, apenas 30% da população de Ananindeua, no Pará, é Para Rodrigo Lima, diretor geral da consultoria Agroicone,
atendida. a mudança da regra "criaria um cenário de insegurança muito
Coleta de esgoto: dois municípios possuem 100% de grande" para os agricultores.
esgoto: Cascavel (PR) e Piracicaba (SP). Outras 10 cidades Ele afirma que a anistia é justa porque, até a aprovação do
possuem índice superior ou igual a 99% e também podem ser novo código, as regras sobre o desmatamento em
considerados universalizados. Mas, em 21 cidades, o índice propriedades privadas passaram por muitas mudanças, o que
não chega a 40%. Ananindeua novamente é a pior cidade, com dificultava seu cumprimento.
0,75% da população atendida. Segundo Lima, se a anistia for revogada, "teremos uma
Tratamento de esgoto: Mais da metade das cidades (54) situação paradoxal, na qual quem fez o CAR pode ter criado
tem menos de 60% do esgoto tratado. Apenas seis relataram provas contra ele mesmo".
tratar todo o esgoto. Em Governador Valadares (MG), Nova Já organizações ambientalistas defendem a revisão da
Iguaçu (RJ) e São João do Meriti (RJ), não há nenhum tipo de anistia. Para a bióloga Nurit Bensusan, do Instituto
tratamento. Socioambiental (ISA), o perdão "premia os proprietários que
Perda de distribuição de água: o índice considera o volume infringiram a lei".
de água produzida e o volume entregue. As perdas ocorrem "Aquele que seguiu as regras, fez tudo direitinho, vai se
por vazamentos, “gatos” etc. A média de água perdida entre as sentir um trouxa completo (se a anistia for mantida)", afirma.
100 maiores cidades foi de 39%. A cidade com menos perdas Ela diz ainda que a manutenção da regra estimularia novos
foi Palmas, com 13%, e a com maior desperdício foi Porto desmatamentos ilegais, pois criaria a expectativa de outros
Velho (71%). perdões no futuro.
Regras de compensação
STF decide se anistia do novo Código Florestal a quem Outro ponto polêmico cuja votação no STF está empatada
desmatou é válida136 trata da compensação de áreas de Reserva Legal desmatadas
além dos percentuais mínimos por meio de pagamentos para
Supremo Tribunal Federal (STF) deve concluir nesta a preservação da vegetação excedente em outras
quarta-feira um julgamento que tem dividido os membros da propriedades.
corte e terá repercussões para os agricultores e as regras de Antes do novo código, a legislação definia que
proteção ambiental no Brasil. compensação deveria ocorrer na mesma microbacia
Os ministros terminarão de analisar as quatro ações que hidrográfica da propriedade que havia desmatado além da
questionam a constitucionalidade da Lei 12.651, também conta. Após o novo código, passou-se a aceitar que a
conhecida como o novo Código Florestal, sancionada em 2012 compensação ocorresse no mesmo bioma.
pela então presidente Dilma Rousseff. Para Nurit Bensusan, do ISA, a possibilidade de
Entre os pontos questionados está o perdão a multas e compensação no mesmo bioma "pode gerar bacias
sanções a agricultores que desmataram ilegalmente até 2008, completamente desmatadas". Ela defende o retorno à regra
um dos dispositivos mais polêmicos do novo código. anterior.
Dez dos onze ministros já votaram, e por enquanto há Já Rodrigo Lima, da Agroicone, afirma que a limitação ao
empate em relação a vários pontos, incluindo a anistia. mesmo bioma não necessariamente fará com que os
O desempate caberá ao ministro Celso de Mello, membro produtores recorram a áreas distantes para a compensação.
mais antigo da corte e último a votar. Ele diz que os governos estaduais poderão definir que a
compensação ocorra no próprio Estado, pois teriam interesse
Preservação em áreas privadas em impedir a saída dos recursos movimentados por esse
A legislação brasileira determina que todo agricultor deve mercado.
manter parte de sua propriedade preservada. No bioma
amazônico, o índice de proteção exigido é de 80%, no Cerrado, Outros temas pendentes
35%, e nos demais biomas, 20%. Essa porção do território é Alguns outros pontos analisados pelo STF cuja votação está
conhecida como Reserva Legal. empatada são:
Também devem ser preservadas todas as áreas - A possibilidade de redução da Reserva Legal - de 80%
ecologicamente sensíveis das propriedades, como nascentes e para 50% - em municípios na Amazônia que tenham mais da
matas à beira de rios. Esses trechos são chamados de Áreas de metade de seu território ocupado por Terras Indígenas e/ou
Preservação Permanente (APP), considerados essenciais para Unidades de Conservação, ou nos Estados com mais de 65% do
a proteção de recursos hídricos e para a manutenção da território ocupado por Terras Indígenas e/ou Unidades de
biodiversidade. Conservação que tenham planos de Zoneamento Ecológico-
O novo Código Florestal criou um banco de dados para Econômico (instrumento que busca conciliar desenvolvimento
controlar o cumprimento dessas regras: o Cadastro Ambiental econômico e conservação ambiental);

136 BBC. STF decide se Anistia do Novo Código Florestal a quem desmatou é decide-se-anistia-do-novo-codigo-florestal-a-quem-desmatou-e-valida.ghtml>
válida. G1 Natureza. Disponível em: <https://g1.globo.com/natureza/noticia/stf- Acesso em 28 de fevereiro de 2018.

Conhecimentos Específicos 126


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APOSTILAS OPÇÃO

- A permissão para realizar atividades agropecuárias em Críticas


APPs nos topos dos morros; O ministério garante que o decreto cumprirá legislações
- A possibilidade de novas autorizações para o corte de específicas sobre a preservação da área. Ou seja, áreas de
vegetação a quem desmatou ilegalmente; proteção integral (onde não é permitida a habitação humana)
e terras indígenas serão mantidas.
Decisões já tomadas No entanto, a iniciativa foi bombardeada por especialistas
Em decisões festejadas por ambientalistas, a maioria dos brasileiros e estrangeiros, que acreditam que os prejuízos da
juízes do STF já decidiu no julgamento que: mineração serão sentidos amplamente.
- Não se pode desmatar APPs para implantar depósitos de A Amazônia brasileira chegou a ter recorde de 80% na
lixo ou instalações esportivas; queda do desmatamento entre 2004 e 2012, segundo dados do
- Todas as nascentes e olhos d'água, sejam intermitentes Ministério do Meio Ambiente. Mas voltou a crescer nos últimos
ou perenes, devem ter APPs preservadas; cinco anos - embora uma tendência comece a indicar
- APPs só podem ser desmatadas por "interesse social" ou novamente uma redução. Além disso, 2015 e 2016 foram anos
"utilidade pública" quando não houver alternativas. recordes de queimadas na região, segundo dados do Inpe.
Áreas de proteção são essenciais para conter o
Outras decisões tomadas no julgamento agradaram o desmatamento, ressalta Erika Berenguer, pesquisadora-sênior
agronegócio, entre as quais a manutenção dos seguintes do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford.
pontos do novo código: "O maior impacto não será na área de mineração, mas
- As APPs em beira de rios devem ser medidas conforme indireto. Haverá um influxo de pessoas que levará a mais
sua variação média anual, e não conforme o nível medido na desmatamento, mais retirada de madeira e mais incêndios",
cheia; explica. "É uma visão muito simplista do governo de dizer que
- Pequenas propriedades podem seguir critérios menos só uma área será afetada."
rigorosos para recuperar APPs na beira de rios; "Fora que a mineração é altamente poluidora e tem poucos
- Pequenos imóveis rurais podem plantar em regiões de benefícios para a população local, vide a situação
várzea; socioeconômica de Carajás", acrescenta Berenguer.
- Propriedades que desmataram além dos percentuais
mínimos atuais ficam dispensadas de recompor as áreas caso 'Mudará para sempre'
tenham seguido as regras vigentes no momento em que Os pesquisadores também lembraram o evento de
desmataram; Mariana, o pior acidente da mineração brasileira, em 2015,
- Propriedades podem contabilizar APPs no percentual de quando uma barragem rompeu no município de Minas Gerais,
Reserva Legal; destruindo vilarejos no entorno do Rio Doce.
- Possibilidade de empregar espécies exóticas em até 50% "O desastre aconteceu em plena Minas Gerais, totalmente
da Reserva Legal desmatada. urbanizada, imagine o controle que se tem em lugares ermos
como a Amazônia", afirma Bereguer.
Renca Jos Barlow também critica a iniciativa de Temer: "Isso
mudará a área inteira para sempre".
A polêmica decisão de Temer de abrir uma área Ele alertou para problemas sociais na região, semelhantes
gigante da Amazônia à mineração137 aos que ocorreram em Belo Monte e Altamira, e a previsão de
mudanças climáticas.
Em meados de 1980, uma região da floresta amazônica "Qualquer perda de floresta e entrada de agricultura e
entre o Pará e Amapá comparada à Serra dos Carajás por seu estradas vai baixar a resiliência das florestas para secas
potencial mineral despertava o interesse de investidores severas, aumentando incêndios florestais", afirma.
brasileiros e estrangeiros. Em entrevista à BBC, Ghillean Prance, da organização
Para salvaguardar sua exploração, o então governo militar Trustee Eden Project, da Inglaterra, considerou a quarta-
decretou em 1984 que grupos privados estavam proibidos de feira(32/08) do decreto "um dia triste para o meio ambiente
explorar a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), da Amazônia".
uma área de quase 47 mil km quadrados - maior que o
território da Dinamarca. A ideia era que a administração Processo de dois anos
federal pesquisasse e explorasse suas jazidas. A extinção do Renca é aventada desde 2015, quando
Nos anos seguintes, no entanto, o projeto avançou pouco, e começava-se a debater o marco regulatório para a mineração.
a riqueza natural da área levou à criação de nove zonas de Em novembro passado, representantes do CPRM (Companhia
proteção dentro da Renca, entre elas reservas indígenas. A de Pesquisas de Recursos Minerais), o serviço geológico
possibilidade de mineração foi, então, banida. brasileiro, testaram a popularidade da área com investidores
Mais de três décadas depois do decreto, nesta quarta-feira, numa conferência do setor em Londres.
o governo federal reabriu a área para a exploração mineral, E em abril de 2017, o Ministério de Ministério de Minas e
numa iniciativa que gera expectativa de empresas e Energia publicou uma portaria balizando os trâmites para a
preocupação de pesquisadores e ambientalistas. extinção da reserva - o decreto confirmou a mudança.
Assinado pelo presidente Michel Temer, o decreto nº 9.142 Antes mesmo da criação da Renca, na década de 1980,
extingue a Renca e libera a região para a exploração privada de houve 160 requerimentos de mineração na área, segundo
minérios como ouro, manganês, cobre, ferro e outros. levantamento da WWF. A maior parte deles foi retirada, mas
Em meio à crise econômica, o Ministério de Minas e os que restaram, em torno de dez, terão prioridade na análise
Energia argumenta que a medida vai revitalizar a mineração do governo de concessões.
brasileira, que representa 4% do PIB e produziu o equivalente Esses pedidos que deverão prosseguir compreendem uma
a US$ 25 bilhões (R$ 78 bilhões) em 2016, mas que vinha área de 15 mil quilômetros quadrados, em torno de 30% do
sofrendo com a redução das taxas de crescimento global e com total da Renca. Para o restante da área, devem ser abertas
as mudanças na matriz de consumo, voltadas hoje para a licitações.
China.

137 MILHORANCE, FLÁVIA. A polêmica decisão de Temer de abrir uma área http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41043853?ocid=socialflow_twitter>
gigante da Amazônia à mineração. BBC Brasil. Disponível em: < Acesso em 25 de agosto de 2017.

Conhecimentos Específicos 127


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APOSTILAS OPÇÃO

Temer recua e vai revogar decreto que extinguiu No dia 18 de novembro de 2016, a Justiça Federal aceitou
reserva de cobre na Amazônia138 denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF)
contra 22 pessoas e as empresas Samarco, Vale, BHP Billiton e
Governo confirmou a decisão sobre a polêmica Renca VogBR pelo rompimento da barragem e eles se tornam réus
(Reserva Nacional de Cobre e Associados), que será publicada por crimes ambientais e por homicídios.
no Diário Oficial (26/09). Segundo auxiliares, a decisão levou Dentre as denúncias, 21 pessoas são acusadas de
em conta a polêmica em torno do decreto e, diante de novas homicídio qualificado com dolo eventual - quando se assume o
pressões, o presidente decidiu deixar que o tema seja mais risco de matar. Eles ainda respondem por crimes de
debatido. Segundo fontes do Planalto, Temer vai assinar a inundação, desabamento, lesão corporal e crimes ambientais.
revogação na tarde desta segunda-feira, 25/09, e um novo A Samarco, a Vale e a BHP são acusadas de nove crimes
decreto será publicado no Diário Oficial da União de terça. Ao ambientais. A VogBR e um engenheiro respondem pelo crime
revogar o decreto, o governo restabelece as condições de apresentação de laudo ambiental falso.
originais da área, criada em 1984. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), os acusados
Em nota, o MME (Ministério de Minas e Energia) destacou podem ir a júri popular e, se condenados, terem penas de
que as razões que levaram o órgão a propor a extinção da prisão de até 54 anos, além de pagamento de multa, de
Renca permanecem as mesmas. “O País necessita crescer e reparação dos danos ao meio ambiente e daqueles causados às
gerar empregos, atrair investimentos para o setor mineral, vítimas.
inclusive para explorar o potencial econômico da região”, diz o A procuradoria pediu a qualificação do homicídio por
comunicado. motivo torpe, justificando ganância da empresa e
O debate sobre o tema será retomado “mais à frente”, impossibilidade de defesa por parte das vítimas. "Em relação
esclareceu o órgão. “O MME reafirma o seu compromisso e de ao motivo torpe, o MPF trouxe indícios de que a obtenção de
todo o governo com a preservação do meio ambiente e com as rápidos lucros, sem que se atentasse devidamente para as
salvaguardas previstas na legislação de proteção e condições da barragem, pode ter contribuído para o ocorrido",
preservação ambiental. O debate em torno do assunto deve ser descreveu o juiz Jacques de Queiroz Ferreira na decisão.
retomado em outra oportunidade mais à frente e deve ser Em março de 2017, a 12ª Vara da Justiça Federal de Minas
ampliado para um número maior de pessoas, da forma mais Gerais homologou em parte o acordo preliminar firmado entre
democrática possível.” Ministério Público Federal (MPF) e as mineradoras Samarco,
No dia 14/09, a Comissão de Meio Ambiente da Câmara já Vale e BHP Billiton, permitindo que instituições
havia pedido a revogação definitiva do decreto. "A maneira independentes façam um diagnóstico dos danos
agressiva que foi feito (o decreto) não só causou socioambientais causados pelo rompimento da barragem de
constrangimento da sociedade brasileira, mas do parlamento Fundão.
como um todo, atingiu a Câmara e o Senado", afirmou o Em julho de 2017, a Justiça Federal suspendeu o processo
presidente da comissão, Ricardo Trípoli (PSDB-SP), na ocasião. ambiental por causa da prorrogação, para 30 de outubro, do
"Estamos aguardando que o governo revogue por definitivo e prazo para que a Samarco e suas donas, a Vale e a BHP Billiton,
diga quais são os propósitos de exploração na área." cheguem a um acordo com a União e o MPF em relação às
O decreto de extinção da reserva foi assinado pelo medidas que serão tomadas como indenização pelo desastre
presidente Michel Temer no dia 23 de agosto de 2017. Diante ambiental.
da repercussão negativa, o governo fez outro decreto, o que
não aplacou as críticas. O Ministério de Minas e Energia, Justiça Federal suspende ação criminal que tornou
depois, publicou portaria para congelar por 120 dias a acusados réus por homicídio no desastre de Mariana139
proposta. O decreto também era questionado no Senado.
O decreto original provocou uma onda de protestos de A Justiça Federal em Ponte Nova, na Zona da Mata de Minas
ambientalistas e artistas, como a modelo Gisele Bündchen, que Gerais, suspendeu o processo criminal que tornou rés 22
acusaram o presidente de estar "vendendo" uma parte da pessoas e as empresas Samarco, Vale, BHP Billiton e VogBR por
Amazônia para interesses de mineradoras estrangeiras. As causa do desastre com a barragem de Fundão, em Mariana, em
críticas chegaram até ao Rock in Rio, novamente pela voz de novembro de 2015. A reportagem teve acesso à decisão, que
Gisele e da líder indígena Sônia Guajajara, que fez um protesto data de 4 de julho de 2017. A defesa do diretor-presidente
durante a apresentação de Alicia Keys. licenciado da Samarco, Ricardo Vescovi, e do diretor-geral de
O temor de ambientalistas era que, com a extinção da operações, Kleber Terra, alegou que escutas telefônicas usadas
Renca, haveria um novo interesse de empresas de mineração no processo foram feitas de forma ilícita.
pela região. Até mesmo o Ministério do Meio Ambiente tinha O despacho é assinado pelo juiz Jacques de Queiroz
se mostrado contrário a essa medida, e o ministro Sarney Filho Ferreira. Os advogados de Ricardo Vescovi e Kleber Terra
disse, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que foi pego de pediram a anulação do processo, alegando que a quebra de
surpresa com a decisão de Temer de extinguir a Renca. sigilo telefônico ultrapassou período judicialmente autorizado
e que as conversas foram analisadas pela Polícia Federal e
Desastre ambiental de Mariana usadas pelo Ministério Público Federal (MPF) na denúncia.
A barragem se rompeu no dia 5 de novembro de 2015, A pedido do MPF, companhias telefônicas foram oficiadas
destruindo o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, e pela Justiça sobre o esclarecimento das informações e o
atingindo várias outras localidades. Os rejeitos também processo fica suspenso até que elas entreguem os dados
atingiram mais de 40 cidades do Leste de Minas Gerais e do solicitados. No pedido, o MPF também se manifestou pela não
Espírito Santo. O desastre ambiental, considerado o maior e interrupção do processo, o que não foi atendido pelo juiz.
sem precedentes no Brasil, deixou 19 mortos. Um corpo nunca “Acresceram que outra nulidade ocorreu quando da
foi encontrado. determinação dirigida à Samarco para que apresentasse
cópias das mensagens instantâneas (chats) e dos e-mails

138 ARAÚJO, C. MONTEIRO, T. WARTH, A. Temer recua e vai revogar decreto 139 ZUBA, F. CRISTINI, F. ÂNGELO, P. Justiça Federal suspende ação criminal

que extinguiu reserva de cobra na Amazônia. Estadão Sustentabilidade. que tornou acusados réus por homicídio no desastre de Mariana. G1 Minas Gerais.
Disponível em: < http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,temer- Disponível em: < http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-
recua-e-vai-revogar-decreto-que-extinguir-reserva-nacional-de- mariana/noticia/justica-federal-suspende-acao-criminal-que-tornou-acusados-
cobre,70002015457> Acesso em 26 de setembro de 2017. reus-por-homicidio-no-desastre-de-mariana.ghtml> Acesso em 08 de agosto de
2017.

Conhecimentos Específicos 128


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APOSTILAS OPÇÃO

enviados e recebidos entre 01/10/2015 e 30/11/2015, visto forma garantir mais crescimento econômico e a criação de
que a empresa forneceu dados não requisitados, relativos aos novos empregos. Depois de tomar posse, Trump anunciou que
anos de 2011, 2012, 2013 e 2014, que, da mesma forma, foram teria estudado o acordo antes de tomar uma decisão sobre o
objeto de análise policial e consideradas na denúncia, assunto.
desrespeitando a privacidade dos acusados”, explica trecho da O presidente norte-americano tem poderes suficientes
decisão. para retirar os EUA do tratado. Isso porque o texto foi
O magistrado afirmou que a defesa dos réus levantou “duas denominado “acordo” para permitir que Barack Obama
graves questões que podem implicar na anulação do processo pudesse utilizar seus poderes presidenciais para ratificá-lo
desde o início” e determinou a suspensão do processo até a sem pedir a permissão do Congresso, então controlado pelo
decisão sobre as duas alegações. Partido Republicano, hostil a qualquer redução das emissões
Procurado pelo G1, o MPF contestou as alegações da defesa de poluentes. Por esse motivo, a delegação dos EUA foi
dos dois réus, afirmando que as interceptações usadas na obrigada a negociar por muitas horas sobre essa complexa
denúncia estão dentro do prazo legal. linguagem jurídica no dia da assinatura do documento.
“As interceptações indicadas pela defesa como
supostamente ilegais sequer foram utilizadas na denúncia, por Veja os principais pontos do Acordo do Clima
isso, não teriam a condição de causar nulidade no processo - Países devem trabalhar para que o aquecimento fique
penal”, informou o órgão em nota. muito abaixo de 2ºC, buscando limitá-lo a 1,5ºC
Por telefone, o advogado Paulo Freitas, que representa - Países ricos devem garantir financiamento de US$ 100
Vescovi e Terra, reforçou que considera as interceptações bilhões por ano
telefônicas ilegais. - Não há menção à porcentagem de corte de emissão de
O G1 entrou em contato com a Polícia Federal para saber gases-estufa necessária
sobre o período da quebra de sigilo telefônico, mas a - Texto não determina quando emissões precisam parar de
corporação respondeu apenas que ainda não foi informada subir
oficialmente da suspensão pela Justiça. - Acordo deve ser revisto a cada 5 anos
A Samarco, a Vale, a BHP e a VogBR disseram que não vão A decisão de Trump pode ter sérias consequências para o
se pronunciar. cumprimento das obrigações previstas pelo tratado por parte
de outros países e, mais em geral, sobre a condição climática
Trump anuncia saída dos EUA do Acordo de Paris do planeta, considerando que o aquecimento global é um
sobre mudanças climáticas140 fenômeno que já está ocorrendo e que todos os anos perdidos
na luta contra esse fenômeno aumentam o risco de provocar
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou efeitos irreversíveis sobre o clima.
nesta quinta-feira (01/06/17) a saída de seu país do Acordo Segundo levantamentos realizados por várias
de Paris sobre mudanças climáticas, mas prometeu negociar universidades e centros de pesquisa de diferentes países do
um retorno ou um novo acordo climático em termos que mundo, a saída dos EUA do Acordo de Paris acrescentaria 3
considere mais justos para os americanos. Ele disse que o atual bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) emitido por
documento traz desvantagens para os EUA para beneficiar ano na atmosfera, aumentando a temperatura da Terra entre
outros países, e prometeu interromper a implementação de 0,1º e 0,3º C até o final do século.
tudo que for legalmente possível imediatamente.
"Para cumprir o meu dever solene de proteger os Estados Apoio dividido
Unidos e os seus cidadãos, os Estados Unidos vão se retirar do A decisão de Trump foi influenciada por uma carta
acordo climático de Paris, mas iniciam as negociações para assinada por 22 senadores republicanos, incluindo o líder da
voltar a entrar no acordo de Paris ou em uma transação bancada Mitch McConnell, que defendia a retirada dos EUA do
inteiramente nova em termos justos para os Estados Unidos, tratado. Trump preferiu ignorar a opinião de alguns dos seus
suas empresas, seus trabalhadores, suas pessoas, seus assessores mais influentes, como a filha, Ivanka, o Secretário
contribuintes ", disse Trump. de Defesa, James Mattis, e o Secretário de Estado Rex Tillerson,
Logo após o anúncio, no entanto, o prefeito de Pittsburgh, os quais defendiam que ele mantivesse os Estados Unidos no
Bill Peduto, disse que irá "garantir que seguiremos as acordo. Mattis em particular salientou como o Pentágono, o
diretrizes do Acordo de Paris para nosso povo, nossa economia Ministério da Defesa dos EUA, já está produzindo uma grande
e futuro." quantidade de pesquisas sobre o aumento do nível dos mares,
O acordo, assinado em dezembro de 2015 durante a cúpula a mudança nas rotas marinhas para os navios de guerra por
da ONU sobre mudanças climáticas, COP 21, prevê que os causa do derretimento das geleiras do Ártico e os efeitos de
países devem trabalhar para que o aquecimento fique muito secas ou de inundações sobre a segurança nacional americana.
abaixo de 2ºC, buscando limitá-lo a 1,5ºC em relação aos níveis
pré-industriais. ONU
A saída dos EUA, segundo maior produtor mundial de gás O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu
de efeito estufa, pode minar o acordo internacional, o primeiro oficialmente aos EUA para que não saíssem do Acordo de Paris,
da história em que os 195 países da ONU se comprometem a sem obter nenhum resultado. Outros países, como Alemanha e
reduzir suas emissões. França, expressaram suas preocupações com a posição de
Trump sobre o meio ambiente e mudanças climáticas. Até o
Medida anunciada Papa Francisco tentou persuadir o presidente norte-
Antes de ser eleito, Trump descreveu em várias ocasiões o americano em permanecer no acordo durante sua recente
aquecimento global como uma enganação criada pela China visita no Vaticano, entregando-lhe uma cópia da encíclica
para prejudicar as empresas americanas, e anunciou que iria “Laudato si'” que o Pontífice escreveu em 2015 sobre as
“cancelar” o Acordo de Paris nos primeiros 100 dias após sua complexas questões das mudanças climáticas. Os líderes do G7
posse. criticaram a decisão de Trump de deixar o tratado e os
Uma decisão necessária, segundo ele, para favorecer as governos do Canadá, da China e a União Europeia já
empresas petrolíferas e produtores de carvão dos EUA, e dessa

140G1. Trump anuncia saída dos EUA do acordo de Paris sobre mudanças acordo-de-paris-sobre-mudancas-climaticas.ghtml> Acesso em 02 de junho de
climáticas. G1 Natureza. Disponível em: 2017.
<http://g1.globo.com/natureza/noticia/trump-anuncia-saida-dos-eua-do-

Conhecimentos Específicos 129


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informaram que continuarão a honrar seus compromissos (B) O acordo insere-se na mesma política do Protocolo de
com o Acordo de Paris mesmo se os EUA se retirarão. Kyoto, porém, diferentemente deste, não foi assinado pelos
A preocupação em nível global com a saída dos Estados Estados Unidos.
Unidos é o efeito de emulação: outros países poderiam ser (C) O principal objetivo do acordo diz respeito a limitar o
influenciados a reduzir ou atenuar seus compromissos aumento da temperatura global a no máximo 2°C em relação
internacionais sobre a questão climática ou até abandonar aos níveis pré-industriais.
completamente o acordo. (D) Grande parte dos países industrializados ainda não
A decisão de se retirar do acordo poderia sinalizar a aceitaram o acordo, o que dificulta sua implementação.
intenção de Trump de cortar outras leis que limitam a (E) O acordo tem por base a ideia de que a temperatura
produção de gases poluentes nos EUA assinadas pelo seu média global não sofre influência da ação antrópica.
antecessor Obama. Entretanto, a saída dos EUA do Acordo de
Paris não seria imediata. O processo poderá demorar até três 02. (Pref. de Lauro Muller/SC – Auxiliar
anos, assim como estabelecido no próprio acordo, com Administrativo – Instituto Excelência) Ártico tem ano
diversas batalhas jurídicas e diplomáticas muito intensas, recorde de calor e derretimento maciço de gelo. Avaliação foi
além do grave desgaste de imagem internacional dos Estados publicada no Arctic Report Card 2016, relatório revisado por
Unidos. pares de 61 cientistas de todo o mundo.
Disponível< http://g1.globo.com/natureza/noticia/artico-temano-recorde-
de-calor-e-derretimento-macico-de-gelo.ghtml>
O que é o Acordo de Paris
O Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas impõe aos
Sobre essa notícia é INCORRETO afirmar:
países signatários conter o aquecimento global em até 2º C em
(A) O Ártico quebrou recordes de calor no ano passado,
relação aos níveis pré-industriais, com o objetivo de não
quando um ar excepcionalmente quente provocou o
superar o 1,5º de aumento da temperatura mundial até 2100.
derretimento maciço de gelo e de neve e um congelamento
Já hoje as temperaturas médias são de 1º acima dos níveis
tardio no outono.
pré-industriais, uma mudança climática ocorrida em larga
(B) Os cientistas do clima dizem que as razões para o
parte nas últimas décadas. Com o acordo assinado em 2015 no
aumento do calor incluem a queima de combustíveis fósseis
final da Cúpula do Clima de Paris (COP 21), 195 países
que emitem gases causadores do efeito estufa, que prendem o
signatários se comprometeram a reduzir suas emissões de
calor na atmosfera, bem como a tendência de aquecimento do
gases de efeito estufa. Entretanto, segundo muitos cientistas
oceano El Niño, que terminou no meio do ano.
essas medidas seriam insuficientes para garantir o respeito
(C) Essa tendência de aquecimento também levou a uma
dos objetivos fixados e deveriam ser rapidamente atualizadas.
cobertura de gelo adulta e grossa que derrete facilmente.
O Acordo de Paris foi assinado na cúpula anual da ONU
(D) Nenhuma das alternativas.
sobre o clima COP 21, a vigésima-primeira cúpula das Nações
Unidas sobre o tema.
03. (TRF-5ª Região – Analista Judiciário – FCC)
Segundo o próprio acordo, os países signatários não
Desenvolvimento Sustentável
podem abandoná-lo antes de três anos, além de um quarto ano
(A) envolve iniciativas que concebem o meio ambiente de
para que o procedimento seja completado. Ou seja, Trump não
modo articulado com as questões sociais, tais como: saúde,
poderia se livrar dos vínculos legais do texto antes de 2020,
habitação e educação, e que estimulem uma visão acrítica da
sem cometer uma violação do direito internacional.
população acerca das questões ambientais.
Uma alternativa para os EUA poderia ser aquela de
(B) e crescimento econômico são sinônimos, significando
abandonar completamente a Convenção-Quadro das Nações
atividades de incentivo ao desenvolvimento do país, seguindo
Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) (a que organiza
modelos de avanço tecnológico e científico.
as cúpulas da COP), que Trump criticou fortemente em
(C) significa crescimento da economia, demonstrado pelo
diversas ocasiões no passado. Uma última opção poderia ser
aumento anual do Produto Nacional Bruto (PNB) combinado
uma renegociação dos objetivos de corte das emissões,
com melhorias tecnológicas e ganhos sociais relevantes.
obrigando todavia Washington a uma longa e difícil
(D) pode ser alcançado somente através de políticas e
negociação com os outros países.
diretrizes governamentais de estímulo à redução do
crescimento populacional do país, tendo em vista que a
Questões
dinâmica demográfica exerce forte impacto sobre o meio
ambiente em geral e os recursos naturais em particular.
01. (CRB – 6ª Região – Auxiliar Administrativo –
(E) significa crescimento econômico com utilização dos
QUADRIX) “O comitê gestor do Fundo Nacional sobre
recursos naturais, porém com respeito ao meio ambiente, à
Mudança do Clima (Fundo Clima) estabeleceu novas regras
preservação das espécies e à dignidade humana, de modo a
para o financiamento de projetos para os anos de 2017 e 2018.
garantir a satisfação das necessidades das presentes e futuras
Em reunião realizada nesta quarta-feira (30), o comitê definiu
gerações.
questões como tecnologia e adaptação para orientar os
programas que serão contemplados nos próximos dois anos.
Gabarito
Temas ligados a monitoramento e transparência também
01.C / 02.C / 03.E
estão na lista. A iniciativa busca manter a atuação do Fundo de
acordo com os compromissos assumidos pelo Brasil, no Cultura
contexto do Acordo de Paris.” s
http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2016/12/fundo-
clima-definenovas-regras-para-os-proximos-dois-anos Olá candidato(a). No conteúdo a respeito de Cultura
dentro dos tópicos de atualidades, teremos uma
A respeito do Acordo de Paris, assinale a alternativa ordem um pouco diferente. Antes dos textos
correta. noticiados no período estipulado pelo edital,
(A) Assinado em 2002, dez anos após a Rio-92, tem como traremos uma pequena introdução falando a respeito
objetivo a redução na emissão de gases que contribuem para o da cultura brasileira e sua diversidade. Caso tenha
aquecimento global. alguma dúvida, por favor entre em contato conosco.

Conhecimentos Específicos 130


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APOSTILAS OPÇÃO

A cultura no Brasil é um reflexo da formação do país já no comportamento escape novamente”, disse. “Esta é uma
período colonial, quando começam a surgir as primeiras mudança positiva. Nosso plano é trazer luz para filmes
relações entre portugueses e indígenas, nos primeiros anos do excepcionais”.
contato. Ao longo de mais de cinco séculos de transformação, Os atores Kumail Nanjiani e Lupita Nyong’o fizeram 1
ela incorpora elementos de todos aqueles que ajudaram a criar discurso sobre imigração antes de apresentarem o Oscar de
o país ou que vieram para o Brasil em buscas de vida nova. Do “Melhor Design de Produção”. Ambos citaram seus países
churrasco ao acarajé, catolicismo a umbanda, norte ao sul, o (México e Paquistão) e destacaram que os imigrantes estão em
Brasil é um país de contrastes, definidos por seus habitantes Hollywood apesar de ainda serem esquecidos. Nanjiani
que convergem seus costumes, crenças e práticas em território declarou: “Sou do Paquistão e de Iowa, 2 lugares que nenhuma
nacional. pessoa em Hollywood sabe apontar no mapa“.
Mesmo admitindo a existência de diversos estudos e
discussões antropológicas sobre o conceito de cultura, TIME’S UP
podemos considerá-la a grosso modo da seguinte forma: Após uma temporada de premiações marcadas
cultura diz respeito a um conjunto de hábitos, por manifestações a favor de igualdade salarial e contra o
comportamentos, valores morais, crenças e símbolos, dentre assédio sexual, o Oscar teve em 2018 discursos acentuados
outros aspectos mais gerais, como forma de organização sobre 1 tempo de mudança.
social, política e econômica que caracterizam uma sociedade. Um dos momentos de destaque ocorreu na apresentação
Dessa forma, podemos pensar na seguinte questão: o que da música “Stand Up for Something”, do filme “Marshall”.
caracteriza a cultura brasileira? Common e Andra Day convocaram ativistas de diversos
Certamente, ela possui suas particularidades quando movimentos a favor de minorias, como membros do Dream Act
comparada ao restante do mundo, principalmente quando nos Now, a favor do DACA (Deferred Action for Childhood
debruçamos sobre um passado marcado pela miscigenação Arrivals).
racial entre índios, europeus e africanos e que sofreu ainda a A fundadora do movimento Time’s Up, Tarana Burke,
influência de povos do Oriente Médio e da Ásia. Na prática isso anunciou que algo diferente aconteceria pela sua rede social.
reflete em aspectos religiosos, musicais, gastronômicos (...) em
que apesar de serem brasileiros, sofrem fortes influências RESUMO
europeias, indígenas e africanas. O Poder360 compilou os vencedores da noite:
A diversidade cultural reflete os diferentes costumes e Melhor filme: “A Forma da Água”;
práticas que compõem a sociedade brasileira. O Brasil é um Melhor diretor: Guillermo del Toro, por “A Forma da
país de dimensões continentais, que passou por diversos Água”;
processos de ocupação, migração, imigração e emigração, Melhor ator: Gary Oldman, por “Destino de uma Nação”;
incorporando os traços de diversos povos e sociedades para Melhor ator coadjuvante: Sam Rockwell, por “Três
compor uma cultura única e diversificada. Além disso, por anúncios para um crime”;
conter um extenso território, apresenta diferenças climáticas, Melhor atriz: Frances McDormand, por “Três anúncios
econômicas, sociais e culturais entre as suas regiões. para um crime”;
Melhor atriz coadjuvante: Allison Janney, por “Eu, Tonya”;
Textos noticiados: Melhor roteiro original: “Corra!”;
Melhor roteiro adaptado: “Call Me By Your Name”;
Em Oscar marcado por discursos a favor da Melhor Animação: “Viva – A Vida é Uma Festa”;
diversidade, “A Forma da Água” vence141 Melhor Animação em Curta-Metragem: “Dear Basketball”;
Melhor Fotografia: “Blade Runner 2049”;
O filme “A Forma da Água” foi o grande vencedor da Melhor Figurino: “Trama Fantasma”;
cerimônia. O longa conquistou 4 das 13 categorias que Melhor Maquiagem e Cabelo: “Destino de uma Nação”;
concorria. O evento foi marcado por protestos a favor da Melhor Mixagem de Som:”Dunkirk”;
diversidade e da defesa de minorias. Melhor Edição de Som: “Dunkirk”;
Pela 2ª vez consecutiva, o apresentador norte-americano Melhores Efeitos Visuais: “Blade Runner 2049”;
Jimmy Kimmel foi o anfitrião da cerimônia. Ele mencionou o Melhor Design de Produção: “A Forma da Água”;
incidente de 2017, quando os envelopes foram trocados pela Melhor Montagem: “Dunkirk”;
equipe de produção e o filme errado foi anunciado como Melhor Trilha Sonora: “A Forma da Água”;
vencedor do Oscar. Segundo Kimmel, a empresa PwC, Melhor Canção Original: “Remember Me”, de “Viva – A Vida
responsável pelo acontecido, disse que o “foco singular será no é Uma Festa”;
show e entregar os envelopes corretos“. Os atores Faye Melhor Filme Estrangeiro: “Mulher Fantástica”;
Dunaway e Warren Beatty apresentaram novamente a Melhor Curta-Metragem: “The Silent Child”;
categoria de “Melhor Filme”. Melhor Documentário: “Icarus”;
O apresentador Jimmy Kimmel falou também sobre o caso Melhor Documentário em Curta-Metragem: “Heaven is a
de “Todo Dinheiro do Mundo”, em que o ator Mark Wahlberg Traffic Jam on the 405”.
foi pago com US$ 1,5 milhão para regravar o filme enquanto
Michelle Williams recebeu US$ 80 por dia, pontuou que o caso
é mais crítico pelos 2 atores serem representados pela mesma
agência (William Morris Endeavor – WME). O filme em questão
passou por regravações após o ator Kevin Spacey ser retirado
da produção por denúncias de assédio sexual. Spacey foi
substituído por Christopher Plummer.
Ao mencionar a expulsão de Harvey Weistein da Academia,
o magnata de Hollywood acusado de inúmeros casos de
assédio sexual, Kimmel mencionou os movimentos Me Too,
Time’s Up e Never Again. “Não podemos deixar que mau

141 GOMES, R. IBARRA, P. Em Oscar marcado por discursos a favor da https://www.poder360.com.br/internacional/em-oscar-marcado-por-discursos-


diversidade, “A Forma da Água” vence. Poder 360. Disponível em: < a-favor-da-diversidade-a-forma-da-agua-vence/> Acesso em 05 de março de 2018.

Conhecimentos Específicos 131


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APOSTILAS OPÇÃO

Com exposição sobre sexualidade, Masp veta pela Cultura durante a gestão do ex-ministro Gilberto Gil e foi
primeira vez entrada de menores de 18 anos142 secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
Sérgio Sá Leitão assume o comando do Ministério da
'História da sexualidade' tem obras de artistas Cultura no lugar do ministro interino João Batista de Andrade,
consagrados como Pablo Picasso e será inaugurada nesta sexta que estava no cargo desde maio, após o deputado Roberto
(20/10) com classificação etária. Freire (PPS-PE) ter deixado a pasta.
Segundo o Museu, é a primeira vez em 70 anos que a
presença de menores, mesmo que acompanhados dos pais ou Ministério da Cultura cria teto para Lei Rouanet e
responsáveis, será vetada em uma exposição. promete maior controle144
A medida ocorre menos de um mês após o Museu de Arte
Moderna (MAM) e seus funcionários serem alvo de O ministério da Cultura anunciou nesta terça-feira (21/03)
ataques por conta de um vídeo divulgado nas redes sociais em a criação de um teto para liberação de recursos pela Lei
que uma criança aparece interagindo com a performance de Rouanet. A legislação permite a captação de verbas para
um artista nu. O caso rendeu investigação do Ministério projetos culturais por meio de incentivos fiscais para
Público. empresas e pessoas físicas. Pelas novas regras, o limite será de
Em nota, o Masp afirma que buscou orientação jurídica que R$ 700 mil para pessoas físicas e microempreendedores.
"confirmou a autoclassificação, houve a análise das obras Grandes empresas podem captar até R$ 40 milhões para até
integrantes da exposição Histórias da sexualidade, à luz dos 10 projetos, sendo que um único projeto não pode receber
critérios contidos no Guia Prático de Classificação Indicativa mais de R$ 10 milhões.
do Ministério da Justiça, tendo-se concluído que tal exposição Os cachês individuais também não poderão ultrapassar R$
deveria ser classificada como não permitida para menores de 30 mil por artista. Todas as despesas dos produtores serão
18 anos". pagas a partir de uma conta única do Banco do Brasil, e o
"Observando a regulamentação vigente e orientação ministério receberá os dados sobre cada transferência em até
jurídica sobre o tema, o MASP estabeleceu a autoclassificação 24 horas. Em 30 dias, o governo promete divulgar essas
de 18 anos, restringindo o acesso à referida exposição para informações no Portal da Transparência.
menores de idade, mesmo que acompanhados de seus Os produtos gerados a partir da Lei Rouanet também vão
responsáveis. Tal classificação será restrita às galerias da sofrer mudança. Livros e ingressos deverão ter valor médio de
exposição Histórias da sexualidade no 1º andar, 1º subsolo e R$ 150. Antes o valor limite era de R$ 200. Na prática, uma
sala de vídeo. As exposições Guerrilla Girls: gráfica, 1985- peça de teatro pode custar bem mais caro do que R$ 150, mas
2017, Pedro Correia de Araújo: Erótica e Acervo em se o valor médio (considerando também o número de meias
Transformação, nas galerias do 1º subsolo, 2º subsolo e 2º em relação ao total de ingressos comprados) ficar até este
andar, respectivamente, continuarão abertas ao público em limite, está autorizado.
geral, com classificação livre", diz a nota. Por exemplo, uma peça de teatro pode custar R$ 300, mas
Com mais de 300 obras de diversos artistas, a exposição, fazendo a média com número de cadeiras de estudantes, o
concebida em 2015, se insere na programação anual do museu, valor médio abaixa para R$ 150.
dedicada às histórias da sexualidade. As regras ainda estabelecem que o valor total da receita
Algumas obras de artistas centrais do acervo do Masp, bruta da produtora não pode ser superior ao valor previsto no
como Edgard Degas, Maria Auxiliadora da Silva, Pablo Picasso, projeto. Estão isentos dos limites de captação projetos que
Paul Gauguin, Suzanne Valadon e Victor Meirelles, estarão trabalhem com área de patrimônio e museologia.
expostas em novos contextos, oferecendo outras Segundo o Ministério da Cultura, o objetivo é trazer maior
possibilidades de compreensão e leitura. controle sobre a gestão e aproveitamento dos recursos
O material estará reunido em nove núcleos temáticos e não destinados para incentivar a cultura.
cronológicos: Corpos nus, Totemismos, Religiosidades, De acordo com a nova resolução, que substitui as regras
Performatividades de gênero, Jogos sexuais, Mercados sexuais, aprovadas em 2013, o ministério vai priorizar projetos que já
Linguagens e Voyeurismos, na galeria do primeiro andar, e tenham captado 10% dos recursos do orçamento aprovado. Na
Políticas do corpo e Ativismos, na galeria do primeiro subsolo. opinião do governo, essas são propostas com maior chance de
A mostra inclui também a sala de vídeo no terceiro subsolo, serem executadas. Atualmente, um a cada quatro projetos
como parte do núcleo Voyeurismos. consegue patrocínio suficiente para começar a fase
preparatória e ser considerado executável pelos pareceristas
Nomeação de Sérgio Sá Leitão para Cultura é do ministério.
publicada143 Os repasses da pasta foram alvos de uma operação da
Polícia Federal deflagrada em junho de 2016, a Operação Boca
Sérgio Sá Leitão assume o comando do Ministério da Cultura Livre, que segue investigando a liberação de R$ 180 milhões
no lugar do ministro interino João Batista de Andrade, que em projetos fraudulentos com recursos da lei. Em 2016, a Lei
estava no cargo desde maio, após o deputado Roberto Freire Rouanet aprovou projetos no valor total de R$ 1,142 bilhão.
(PPS-PE) ter deixado a pasta
A nomeação de Sérgio Sá Leitão para o comando do Descentralizar
Ministério da Cultura está publicada na edição desta terça- Outro ponto da resolução desta terça (21/03) é o incentivo
feira (25/07) do Diário Oficial da União. A cerimônia de posse para projetos que forem realizados nas regiões Norte,
do novo ministro ocorre às 11h, no Palácio do Planalto. Nordeste e Centro-Oeste do país. Em 2016, o ministério
Além da passagem pela direção da Agência Nacional de informou que 91,1% das liberações de recursos pela Lei
Cinema, para onde teve a indicação aprovada em abril pelo Rouanet foram para projetos no Sul e Sudeste. A mesma
Senado, Leitão ocupou a chefia de gabinete do Ministério da concentração foi registrada nos dois anos anteriores.

142 G1 SP. Com exposição sobre sexualidade, Masp veta pela primeira vez 143 AGÊNCIA BRASIL. Nomeação de Sérgio Sá Leitão para cultura é publicada.

entrada de menores de 18 anos. G1 São Paulo. Disponível em: O Tempo. Política. Disponível em:
<https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/com-exposicao-sobre-sexualidade- <http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/nomea%C3%A7%C3%A3o-
masp-veta-pela-primeira-vez-entrada-de-menores-de-18- de-s%C3%A9rgio-s%C3%A1-leit%C3%A3o-para-cultura-%C3%A9-publicada-
anos.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1> 1.1501297> Acesso em 26 de julho de 2017.
Acesso em 20 de outubro de 2017. 144 21/03/2017 – Fonte: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/ministerio-

da-cultura-cria-teto-para-lei-rouanet-e-promete-maior-controle.ghtml

Conhecimentos Específicos 132


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APOSTILAS OPÇÃO

Para reduzir esse índice de desigualdade, o limite de


orçamento poderá ser 50% maior caso o produtor cultural A elaboração destes Parâmetros Curriculares Nacionais
apresente algum projeto a ser realizado nas regiões Norte, para a área de Ciências Humanas e suas Tecnologias do Ensino
Nordeste e Centro-Oeste do país. Médio percorreu um longo caminho, desde 1996, quando se
Atualmente, os números do ministério mostram que iniciaram os estudos e a discussão de documentos
enquanto 62% dos projetos beneficiados se concentram na preliminares que embasaram as reflexões sobre seu papel no
região Sudeste; o Nordeste conta com 8,13% dos favorecidos e novo currículo.
Centro-Oeste e Norte com 3,5% e 1,2% respectivamente. A presente versão, já levando em conta as disposições do
Parecer nº 15, que integra a Resolução nº 3/98 da Câmara de
Questões Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, contou
com a participação de especialistas e professores do Ensino
01. (Prefeitura de Cipotânea/MG – Enfermeiro - REIS & Médio e levou em consideração os documentos produzidos
REIS) “Apontada como um mecanismo importante de para reflexão e as primeiras versões para a área, bem como as
financiamento cultural no Brasil, a ________________ é discussões e críticas a que foram submetidas. Também foram
constantemente alvo de críticas e voltou ao debate nacional importantes nesse processo de elaboração, os documentos
por causa da extinção – agora revertida – do Ministério da referentes às outras duas áreas do Ensino Médio, em suas
Cultura na gestão interina de Michel Temer. Esta Lei foi criada versões preliminares e na final.
em 1991, durante o governo Collor, e permite que produtores Cabe mencionar a contribuição dos profissionais
e instituições captem, junto a pessoas físicas e jurídicas, envolvidos com as primeiras versões do documento e com a
recursos para financiar projetos culturais. O valor destinado a elaboração de textos para discussão, visando à produção
esses projetos pode ser deduzido integralmente do Imposto de destes Parâmetros Curriculares, salientando-se as
Renda a pagar.” contribuições de Heloísa Dupas Penteado, Celso Favaretto,
Marque a alternativa que completa corretamente o Ângela Maria Martins e Nidia Nacib Pontuschka.
enunciado acima: Chamamos a atenção para o fato de que, neste documento,
(A) Lei Collor. ao desenvolvermos textos específicos voltados para os
(B) Lei Rouanet. conhecimentos de História, Geografia, Sociologia e Filosofia,
(C) Lei de Diretrizes e Bases da Educação. habitualmente formalizados em disciplinas escolares,
(D) Lei Echer. incluímos diversas alusões – explícitas ou não – a outros
conhecimentos das Ciências Humanas que consideramos
02. (TJ/CE – Titular de Serviços de Notas e de Registros fundamentais para o Ensino Médio. Trata-se de referências a
– IESES – 2018) As principais premiações da indústria conhecimentos de Antropologia, Política, Direito, Economia e
cinematográfica em 2018, o Globo de Ouro e o Oscar, foram Psicologia. Tais indicações não visam a propor à escola que
marcadas por manifestações contra o assédio sexual e a favor explicite denominação e carga horária para esses conteúdos na
da igualdade de gênero e da diversidade. A respeito desses forma de disciplinas. O objetivo foi afirmar que conhecimentos
dois eventos, é correto afirmar: dessas cinco disciplinas são indispensáveis à formação básica
(A) O filme “Coco”, cujo título em português é “Viva – A Vida do cidadão, seja no que diz respeito aos principais conceitos e
É uma Festa”, novo filme da Pixar ambientado em Cuba e com métodos com que operam, seja no que diz respeito a situações
um elenco totalmente latino, foi o vencedor do Oscar de concretas do cotidiano social, tais como o pagamento de
melhor animação do ano. impostos ou o reconhecimento dos direitos expressos em
(B) A atriz Daniela Vega, transexual, ganhou o Oscar de disposições legais. Na perspectiva do exercício da cidadania,
melhor atriz por sua atuação no filme “Uma mulher fantástica". importa em muito o desenvolvimento das competências
Este foi o primeiro filme estrelado por uma pessoa transexual envolvidas na leitura e decodificação do “economês” e do
a levar um Oscar. “legalês”.
(C) Em uma noite dominada por mulheres e com fortes Futuramente, a critério da escola, e obedecendo a suas
manifestações contra o assédio sexual e a favor da igualdade disponibilidades específicas, poderão até ter organização
de gênero em Hollywood, a minissérie "Big little lies" e o filme explícita e própria, mas a sugestão aqui feita é no sentido de
"Três anúncios para um crime", com quatro prêmios cada, que esses conhecimentos apareçam em atividades, projetos,
foram os principais ganhadores do Globo de Ouro 2018. programas de estudo ou no corpo de disciplinas já existentes.
(D) O ator Gary Oldman, que fez um trabalho magnífico Tanto a História quanto a Sociologia, por exemplo, englobam
interpretando Winston Churchill, levou o Oscar de melhor ator conhecimentos de Antropologia, Política, Direito e Economia.
por sua atuação no filme “Dunkirk”. O mesmo acontece com a Geografia em relação à Economia e
ainda com a Filosofia, que pode conter elementos de
Gabarito Psicologia, Política e Direito. E não se deve esquecer também
que a contextualização na Matemática poderá envolver
01.B / 02.C conhecimentos de Economia, como o cálculo de juros
aplicados a transações financeiras.

O sentido do aprendizado na área


8 Competências e Repensar o papel das Ciências Humanas na escola básica e
habilidades propostas pelos organizá-las em uma área de conhecimento do Ensino Médio
Parâmetros Curriculares implica relembrar as chamadas “humanidades”, nome
genérico que engloba as línguas e cultura clássicas, a língua e a
Nacionais do Ensino Médio literatura vernáculas, as principais línguas estrangeiras
para a disciplina de História modernas e suas literaturas, a Filosofia, a História e as Belas
Artes.
A finalidade educacional inscrita nesse humanismo
Parâmetros Curriculares Nacionais
respondia por uma formação moral e cultural de caráter
Ensino Médio
elitista, que remontava tanto à cultura clássica antiga quanto
ao humanismo renascentista, que a “modernizou”. No Brasil,
Parte IV
essa tradição esteve claramente representada nos programas
Ciências Humanas e suas Tecnologias

Conhecimentos Específicos 133


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APOSTILAS OPÇÃO

de ensino do Colégio Pedro II, principal educandário das elites indústria e na técnica. Por sua vez, as Ciências Humanas,
brasileiras durante o século XIX e parte do XX. O regime tocadas pelo mesmo sopro, e, em decorrência das importantes
republicano, nascido sob a marca do positivismo, instituindo transformações políticas e sociais ocorridas no século XIX,
“ordem e progresso” como lema, iniciou um desenvolveram-se inicialmente para criar instrumentos de
redimensionamento do papel das Ciências Naturais no ensino controle social. Seguindo a inspiração posivitista,
do país, rompendo com a tradição “bacharelesca”, na promessa transpunham para o campo da cultura os mesmos
de introduzir na escola secundária os conhecimentos voltados pressupostos aplicáveis ao estudo da natureza.
para a solução de problemas práticos, que levassem a superar Assim, incorporando as determinações que as fizeram se
o nosso “atraso”, como se dizia. desenvolver como ciências autônomas, a História cumpriu a
Isso não quer dizer, porém, que se tenha abandonado ou tarefa de construir uma identidade e uma memória coletivas,
negligenciado o ensino da Língua Portuguesa ou de História e a fim de glorificar e legitimar os feitos dos Estados nacionais;
de Geografia, disciplinas estratégicas para a conformação de a Sociologia traçou estratégias para ordenar e reordenar as
um imaginário social comprometido com um ideal de “pátria”. novas relações sociais; a Ciência Política ocupou-se do poder,
E, assim, curiosamente, o ensino das humanidades era posto de como constituí-lo e regrá-lo; o Direito encarregou-se de
em cheque no mesmo momento em que principiavam os construir um aparato legal e processos jurídicos para a
estudos que constituem os primórdios de nossas Ciências conservação ou renovação da ordem social; a Economia
Humanas, tocadas pelo mesmo pragmatismo que presidia os voltou-se para a otimização e o controle da produção e das
estudos dedicados à compreensão da natureza. trocas de bens; a Psicologia procurou compreender e amenizar
As transformações socioeconômicas e políticas por que o impacto das transformações sobre os comportamentos
passou o Brasil na virada do século XIX para o XX foram humanos; a Antropologia, em sua vertente etnográfica, lançou-
acompanhadas por uma série de trabalhos voltados para as se à descrição dos povos “exóticos”, que a expansão econômica
questões sociais, apoiados, porém, em um viés fortemente e política das grandes potências capitalistas necessitava
racista. Destacam-se dentre seus autores Tobias Barreto, Sílvio submeter; e a Geografia serviu para mapear as potencialidades
Romero, João Ribeiro, Manoel Bonfim, Euclides da Cunha e dos territórios nacionais ou daqueles a serem conquistados,
Nina Rodrigues, que, amparados em pressupostos teóricos e além de exaltar as riquezas de cada “solo pátrio”.
metodológicos extraídos de autores europeus, especialmente No século XX, a progressiva penetração dos pressupostos
de língua inglesa e alemã, refletiram sobre a realidade teóricos de Marx e Engels nas pesquisas da área instituiu ricos
brasileira, produzindo estudos jurídicos, literários, históricos, debates, cruzando perspectivas diferentes e antagônicas. O
etnológicos, folclóricos e de psicologia social. Advogando para marxismo fez aumentar, embora sob enfoque diferente, as
si um caráter científico e dedicados ao ensino – muitos no responsabilidades das Ciências Humanas perante o social. Os
Colégio Pedro II –, apontaram a necessidade de se redirecionar novos estudos, tão engajados na ação política quanto os
a educação para a construção de instrumentais de análise e outros, também visavam a dotar os homens de instrumentais
ação sobre a realidade do país. de controle sobre a vida em sociedade, na perspectiva de se
A partir dos anos 30 e 40 deste século, as Ciências direcionar a própria história.
Humanas no Brasil encontraram enorme renovação, com os Amparadas em quadros referenciais de diferentes
trabalhos de Gilberto Freire, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque inspirações, as Ciências Humanas buscaram cumprir as tarefas
de Holanda e Fernando de Azevedo. Com a fundação da que lhes foram designadas. No século XX, sem que
Universidade de São Paulo e a vinda de pesquisadores desaparecessem as concepções anteriores, novas perspectivas
estrangeiros do porte de Roger Bastide, Claude Lévi-Strauss, teóricas têm procurado minar as certezas positivas,
Fernand Braudel, Jacques Lambert, Jean Tricart, dentre outros, incorporando orientação mais relativista às análises. A crise de
tais estudos encontraram um campo fértil, dando origem a confiança gerada pelo desastre da Primeira Guerra Mundial e
seguidas gerações de sociólogos, economistas, historiadores, pelas crises econômicas que a ela se seguiram deu origem, nos
antropólogos e cientistas políticos, que se dedicaram ao estudo anos 30, a um esforço de revisão dos pressupostos positivistas,
da sociedade brasileira, em uma perspectiva de forte como o da fragmentação dos estudos. Deu-se, então,
engajamento político, que acabaria esbarrando no importante experiência interdisciplinar, unindo-se
enrijecimento da reação, no período que se seguiu a 1964. historiadores, economistas, geógrafos e sociólogos, no esforço
Ao longo desse processo de desenvolvimento das Ciências de tentar entender as razões da crise. É rico de lições perceber
Humanas, as humanidades foram progressivamente que, no momento mesmo em que atingiam sua maturidade, as
superadas na cultura escolar. Mas não foi só no Brasil que isso Ciências Humanas buscassem a alternativa interdisciplinar
se deu. A História, a Sociologia, a Ciência Política, o Direito, a como solução para seus impasses. Desse enriquecimento,
Economia, a Psicologia, a Antropologia e a Geografia – esta surgiram abordagens diversas e inovadoras, em
última, a meio caminho entre as Ciências Humanas e as antropohistória, geohistória, sociolinguística, história e
Naturais – contribuíram por toda a parte para a superação das geografia econômicas etc.
humanidades clássicas. Em sua constituição, voltaram-se para Em todo esse percurso histórico, as Ciências Humanas
o homem, não com a preocupação de formá-lo, mas de alcançaram ampla significação e prestígio nas sociedades de
compreendê-lo. Assim fazendo, passaram a circundar em nosso século e seus pesquisadores passaram a ocupar postos-
torno de um mesmo objeto principal: o humano, explorado em chave na vida política e nos órgãos da administração pública,
todas as suas vertentes. em diversas partes do mundo. No Brasil, entretanto, os anos de
A caracterização desses estudos como ciências está autoritarismo institucionalizado, pós-64, tornaram as Ciências
intimamente ligada às transformações sofridas pelas Humanas suspeitas e baniram do “ensino de 1º grau” a História
sociedades modernas, a partir das chamadas “Revoluções e a Geografia, dissolvidas nos “Estudos Sociais”, que incluíam a
Burguesas” dos séculos XVIII e XIX, que introduziram novos “Educação Moral e Cívica”, tentativa de atualização para as
paradigmas no campo da produção – a indústria – e do massas de uma educação de caráter moral, sem o componente
convívio social – a democracia representativa. cultural próprio às humanidades.
As Ciências Naturais, ao longo de sua constituição No Ensino Médio, História e Geografia sobreviveram, ao
histórica, vêm atuando como indutoras de transformações lado da “Organização Social e Política do Brasil”, espécie de
sociais e econômicas, idealizando e construindo mecanismos Geopolítica aplicada a noções básicas de Sociologia, Política e
de controle da natureza. Esse esforço de controle teve grande Direito. A “área” podia enriquecer-se ora pela Filosofia, ora
importância para o nascimento, desde a segunda metade do pela Sociologia, ora pela Psicologia, com conteúdos
século XVIII, das sociedades capitalistas amparadas na diversificados, mas não obrigatórios. O estudo da Filosofia,

Conhecimentos Específicos 134


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APOSTILAS OPÇÃO

fundamental na formação dos jovens, mas incômodo pelas pensamento crítico”; e “a compreensão dos fundamentos
questões que suscita, foi relegado ao exílio, juntamente com as científico-tecnológicos dos processos produtivos” (Art. 35). Por
artes e o latim. Sepultava-se, assim, e por completo, a educação sua vez, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
de caráter humanista. Médio, aprovadas pela Câmara de Educação Básica do
Ecoando a definição curricular oficial, o imaginário social e Conselho Nacional de Educação e homologadas pelo
o escolar ratificavam a impressão de que tais disciplinas, Ministério da Educação, asseguram a retomada e a atualização
“absolutamente inúteis” do ponto de vista da vida prática, da educação humanista, quando preveem uma organização
roubavam precioso tempo ao aprendizado da Língua escolar e curricular baseada em princípios estéticos, políticos
Portuguesa e das “Ciências Exatas”. Estes conhecimentos eram e éticos.
os que realmente importavam, na luta pela aprovação nos Ao fazê-lo, o documento reinterpreta os princípios
exames vestibulares de ingresso aos cursos superiores de propostos pela Comissão Internacional sobre Educação para o
maior prestígio social. Século XXI, da UNESCO, amparados no aprender a conhecer, no
A lógica tecnoburocrática ali presente, embora assumindo aprender a fazer, no aprender a conviver e no aprender a ser.
um viés autoritário explícito, não fazia mais do que A estética da sensibilidade, que supera a padronização e
acompanhar uma tendência geral das sociedades estimula a criatividade e o espírito inventivo, está presente no
contemporâneas. Pressionadas pelas necessidades imediatas aprender a conhecer e no aprender a fazer, como dois
de uma civilização cada vez mais apoiada nas Ciências Naturais momentos da mesma experiência humana, superando-se a
e nas tecnologias delas decorrentes, tanto as humanidades falsa divisão entre teoria e prática.
quanto as Ciências Humanas perderam o prestígio e o espaço A política da igualdade, que consagra o Estado de Direito
que detinham na sociedade e na escola. O momento, hoje, e a democracia, está corporificada no aprender a conviver, na
porém, é o de se estruturar um currículo em que o estudo das construção de uma sociedade solidária através da ação
ciências e o das humanidades sejam complementares e não cooperativa e não-individualista. A ética da identidade,
excludentes. Busca-se, com isso, uma síntese entre exigida pelo desafio de uma educação voltada para a
humanismo, ciência e tecnologia, que implique a superação do constituição de identidades responsáveis e solidárias,
paradigma positivista, referindo-se à ciência, à cultura e à compromissadas com a inserção em seu tempo e em seu
história. espaço, pressupõe o aprender a ser, objetivo máximo da ação
Destituído de neutralidade diante da cultura, o discurso que educa e não se limita apenas a transmitir conhecimentos
científico revela-se enquanto representação sobre o real, sem prontos.
se confundir com ele. Desta forma, “a tensão entre a lei e o Tais princípios são a base que dá sentido à área de Ciências
indivíduo, entre a necessidade e a liberdade, entre o universal e Humanas e suas Tecnologias. O trabalho e a produção, a
o singular, entre a linguagem formal das matemáticas e as organização e o convívio sociais, a construção do “eu” e do
línguas naturais encontraria no conceito de cultura e de “outro” são temas clássicos e permanentes das Ciências
autoprodução do homem sua matriz inteligível, de sorte a Humanas e da Filosofia. Constituem objetos de conhecimentos
integrar em um só conjunto, sistematicamente tratado, a de caráter histórico, geográfico, econômico, político, jurídico,
aparente dispersão dos fatos e dos conhecimentos.” sociológico, antropológico, psicológico e, sobretudo, filosófico.
De um lado, os desafios postos por uma sociedade Já apontam, por sua própria natureza, uma organização
tecnológica, cujos aspectos mais diretamente observáveis se interdisciplinar. Agrupados e reagrupados, a critério da escola,
modificam rapidamente, confirmando a percepção que Daniel em disciplinas específicas ou em projetos, programas e
Halévy tivera já no século passado a respeito da “aceleração da atividades que superem a fragmentação disciplinar, tais temas
história”. De outro, a necessária superação dos “anos de e objetos, ao invés de uma lista infindável de conteúdos a
chumbo” da história recente do País, com todas as suas serem transmitidos e memorizados, constituem a razão de ser
consequências nefastas para o convívio social e, em especial, do estudo das Ciências Humanas no Ensino Médio.
para a educação. Eis as novas responsabilidades que as Sintetizando e coroando essas preocupações, retornam ao
Ciências Humanas assumem hoje frente à sociedade brasileira currículo os conteúdos filosóficos. Em referência à tradição do
e aos estudantes do nível médio. estudo das humanidades, é na área de Ciências Humanas e
Nesta passagem de século e de milênio, em meio aos suas Tecnologias que eles vêm se situar. Entretanto, deve-se
enormes avanços trazidos pela ciência e pela tecnologia, mas ter em conta o caráter transdisciplinar de que se reveste a
também em meio às angústias e incertezas, a sociedade Filosofia, quer enquanto Filosofia da Linguagem, quer
brasileira, representada por seus educadores, dos mais enquanto Filosofia da Ciência. Da mesma forma, a História, que
variados níveis escolares, em diálogo com o poder público, deverá estar presente também enquanto História das
constrói a oportunidade de atualizar sua educação escolar, Linguagens e História das Ciências e das Técnicas, não na
dotando-a de recursos para lidar com os imperativos da perspectiva tradicional da História Intelectual, que se limita a
sociedade tecnológica, sem descuidar do necessário resgate da narrar biografias de cientistas e listar suas invenções e
tradição humanista. descobertas, mas da nova História Cultural, que enquadra o
Sem perder de vista a dimensão histórica e fugindo à pensamento e o conhecimento nas negociações e conflitos da
pretensão de uma volta ao século XV ou ao XIX, esse resgate se ação social6. Filosofia e História, assim, tornam-se
dá através do ideal possível de uma síntese entre humanismo instrumentais para a compreensão do significado social e
e tecnologia, em que a mão do homem e o teclado do cultural das linguagens, das ciências – naturais e humanas – e
computador estejam ambos a serviço da construção de uma da tecnologia.
sociedade mais justa e solidária. A presença das tecnologias na área de Ciências Humanas
Outro não é o imperativo que a Lei de Diretrizes e Bases da dá-se a partir do alargamento do entendimento da própria
Educação Nacional, promulgada em 20 de dezembro de 1996, tecnologia, tanto como produto quanto como processo. Se,
nos obriga a respeitar, ao estabelecer como finalidade da enquanto produto, as tecnologias apontam mais diretamente
educação “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo as Ciências da Natureza e a Matemática, enquanto processo,
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o remetem ao uso e às reflexões que sobre elas fazem as três
trabalho” (Art. 2º). E como finalidades do Ensino Médio, “a áreas de conhecimento.
consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos”; “a Entretanto, uma compreensão mais ampla da tecnologia
preparação básica para o trabalho e a cidadania”; “o como fenômeno social permite verificar o desenvolvimento de
aprimoramento como pessoa humana, incluindo a formação processos tecnológicos diversos, amparados nos
ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do conhecimentos das Ciências Humanas. É preciso, antes de

Conhecimentos Específicos 135


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tudo, distinguir as tecnologias das Ciências Humanas em sua mecanismo de memorização, através do qual os fatos, mas não
especificidade ante as das Ciências da Natureza. Enquanto as ideias, circulam de uma folha de papel a outra, do livro
estas últimas produzem tecnologias “duras”, configuradas em didático para o caderno e do caderno para a prova, caindo em
ferramentas e instrumentos materiais, as Ciências Humanas esquecimento no dia seguinte, por não encontrarem
produzem tecnologias ideais, isto é, referidas mais ressonância nem fazerem sentido para quem lê, fala, ouve ou
diretamente ao pensamento e às ideias, tais como as que escreve.
envolvem processos de gestão e seleção e tratamento de
informações, embasados em recortes sociológicos. A presença da área de Ciências Humanas e suas
Outro aspecto que permite associar as tecnologias às Tecnologias na organização curricular do Ensino Médio tem
Ciências Humanas diz respeito ao uso que estas fazem das por objetivo a constituição de competências que permitam ao
tecnologias originárias de outros campos de conhecimento, educando:
como o recurso aos satélites e à fotografia aérea na cartografia.
E, por fim, cabe ainda à área de Ciências Humanas construir a - Compreender os elementos cognitivos, afetivos, sociais
reflexão sobre as relações entre a tecnologia e a totalidade e culturais que constituem a identidade própria e a dos
cultural, redimensionando tanto a produção quanto a vivência outros.
cotidiana dos homens. Inclui-se aqui o papel da tecnologia nos
processos econômicos e sociais e os impactos causados pelas Afeitos ao princípio da ética da identidade, os
tecnologias sobre os homens, a exemplo da percepção de um conhecimentos da área devem contribuir para a construção da
tempo fugidio ou eternamente presente, em decorrência da identidade pessoal e social dos educandos.
aceleração do fluxo de informações. Contam aqui os aspectos psíquicos da formação da
Sem dúvida, é através da referência a contextos concretos personalidade em relação com os diversos contextos em que
e não abstratamente que se pode atribuir sentido às se dá, o contexto familiar, escolar, laboral, enfim, os contextos
tecnologias na área de Ciências Humanas. Na organização dos diversos grupos sociais com e nos quais o indivíduo se
curricular das escolas, a tecnologia, enquanto tema ou relaciona.
aplicação, produto ou processo, poderá constituir um Quer na perspectiva psicológica, quer na antropológica, a
excelente recurso para o tratamento contextualizado aos construção da identidade autônoma é acompanhada, em um
conhecimentos da área. movimento único, da construção da identidade dos outros.
Isso implica o reconhecimento das diferenças e imediatamente
Competências e Habilidades a aceitação delas, construindo-se uma relação de respeito e
convivência, que rejeita toda forma de preconceito,
Dentre os quatro princípios propostos para uma educação discriminação e exclusão. É o que prevê a política da igualdade.
para o século XXI – aprender a conhecer, aprender a fazer, Na base da identidade e da igualdade deverá estar a
aprender a conviver e aprender a ser – destaca-se o aprender sensibilidade, primeiro momento do se posicionar
a conhecer, base que qualifica o fazer, o conviver e o ser e socialmente, que deverá guiar o indivíduo para a indignação e
síntese de uma educação que prepara o indivíduo e a o repúdio às formas veladas ou explícitas de injustiça ou
sociedade para os desafios futuros, em um mundo em desrespeito.
constante e acelerada transformação. A educação permanente O senso de responsabilidade perante o social que daí se
e para todos pressupõe uma formação baseada no origina exige conhecimentos de História, Sociologia e Política
desenvolvimento de competências cognitivas, sócio afetivas e que deem conta da inter-relação entre o público e o privado,
psicomotoras, gerais e básicas, a partir das quais se para que se evite tanto o esmagamento do segundo pelo
desenvolvem competências e habilidades mais específicas e primeiro, quanto a projeção individualista, no sentido inverso.
igualmente básicas para cada área e especialidade de A tradição escravocrata, patrimonialista e autoritária no Brasil
conhecimento particular. Nas Diretrizes Curriculares tem produzido lamentáveis resultados em matéria de
Nacionais para o Ensino Médio, o desenvolvimento de corrupção política e social, desrespeito à ordem constitucional
competências básicas constitui um princípio de caráter e legal e abusos de toda sorte, em flagrante violação aos
epistemológico, referido no aprender a conhecer, que vem direitos de cidadania. O Ensino Médio, enquanto etapa final da
somar-se aos princípios filosóficos, já apontados. Educação Básica, deve conter os elementos indispensáveis ao
As competências abaixo descritas são consideradas exercício da cidadania e não apenas no sentido político de uma
indispensáveis para o nível médio de ensino e foram fixadas cidadania formal, mas também na perspectiva de uma
pela Resolução nº3/98, da Câmara de Educação Básica do cidadania social, extensiva às relações de trabalho, dentre
Conselho Nacional de Educação. A ausência de tais outras relações sociais.
competências implica limites à ação do indivíduo, impedindo- Por sua natureza própria, as Ciências Humanas e a Filosofia
o de prosseguir em seus estudos na área e de se preparar constituem um campo privilegiado para a discussão dessas
adequadamente para a vida em sociedade. São, portanto, questões. Mas, não se deve perder de vista que a cidadania não
indicações genéricas que devem apoiar as escolas e os deve ser encarada, no Ensino Médio, apenas como um conceito
professores na montagem de seus currículos e na proposição abstrato, mas como uma vivência que perpassa todos os
de atividades, projetos e programas de estudo ou disciplinas, aspectos da vida em sociedade. Daí, que a preparação para o
através das quais serão desenvolvidas pelos estudantes. Cabe exercício da cidadania não se esgota no aprendizado de
ainda observar preliminarmente que as competências não conhecimentos de História, Sociologia, Política ou Filosofia.
eliminam os conteúdos, pois que não é possível desenvolvê-las Antes, está presente nos usos sociais das diferentes linguagens
no vazio. Elas apenas norteiam a seleção dos conteúdos, para e na compreensão e apropriação dos significados e resultados
que o professor tenha presente que o que importa na educação dos conhecimentos de natureza científica.
básica não é a quantidade de informações, mas a capacidade Os conhecimentos de História são fundamentais para a
de lidar com elas, através de processos que impliquem sua construção da identidade coletiva a partir de um passado que
apropriação e comunicação, e, principalmente, sua produção os grupos sociais compartilham na memória socialmente
ou reconstrução, a fim de que sejam transpostas a situações construída. A ênfase em conteúdos de História do Brasil –
novas. como reza a LDB –, construídos em conexão com conteúdos da
Somente quando se dá essa apropriação e transposição de chamada História Geral, em uma relação de “figura” e “fundo”,
conhecimentos para novas situações é que se pode dizer que é parte da estratégia de autoconstrução e auto
houve aprendizado. Do contrário, o que se dá é um simplório reconhecimento, que permite ao indivíduo situar-se histórica,

Conhecimentos Específicos 136


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cultural e socialmente na coletividade, envolvendo seu destino A dimensão temporal, inscrita na memória que constrói a
pessoal no destino coletivo. Na perspectiva formativa, isso não identidade coletiva e na dinâmica dos processos sociais,
implica negar a individualidade, mas combater os excessos do completa-se na dimensão espacial, que territorializa os
individualismo. eventos e processos. Essa dimensão espacial situa a ação
Os conhecimentos de Antropologia e Sociologia humana em suas complexas relações com a paisagem natural,
contribuem igualmente para a construção da identidade social que é culturalizada a cada momento de interação.
e, sem negar os conflitos, a convivência pacífica. Dá-se especial Os conhecimentos de Geografia e de Economia estão aqui
destaque ao relativismo cultural proposto pelas correntes apontados nas relações de produção e apropriação de bens,
antropológicas surgidas após a Segunda Guerra Mundial, que que conformam as dimensões materiais da existência concreta
advogam o direito de todos os povos e culturas construírem do homem e geram desdobramentos diversos sobre a vida em
sua organização própria, respeitando da mesma forma os sociedade. Os processos de ação e controle dessas paisagens
direitos alheios. implicam responsabilidades sociais, coletivas, que assegurem
Frente às imposições de uma economia e de uma rede de a existência comum e a sobrevivência futura das comunidades
informações cada vez mais globalizadas, urge assegurar a humanas. Aqui, o diálogo interdisciplinar pode aproximar as
preservação das identidades territoriais e culturais, não como Ciências Humanas das Naturais, em reflexões conjugadas ou
sobrevivências anacrônicas, mas como realidades sociais em óticas distintas sobre os mesmos problemas.
constitutivas de sentido vivencial para os diversos grupos
humanos. Nesse sentido, a Geografia, a Antropologia e também - Compreender a produção e o papel histórico das
a História têm um significativo papel a desempenhar na instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as
formação dos futuros cidadãos, entendendo-se estes quer às práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos
como cidadãos de uma nação, quer como cidadãos do mundo. princípios que regulam a convivência em sociedade, aos
Em um mundo globalizado, em que culturas e processos direitos e deveres da cidadania, à justiça e à distribuição
políticos e econômicos parecem fugir ao controle e ao alcance, dos benefícios econômicos.
a construção de identidades solidamente alicerçadas em
conhecimentos originados nas Ciências Humanas e na Nas perspectivas temporal e sociocultural das relações de
Filosofia constitui condição imprescindível ao prosseguimento produção e apropriação de bens, importa compreender os
da vida social, evitando-se os riscos da fragmentação ou da processos passados e contínuos – bem como suas rupturas –
perda de referências existenciais, responsável por variadas em que essas relações se dão e as variantes de cultura e de
formas de reação violentas e destrutivas. grupo, bem como as relações entre grupos, que lhes dão
matizes diversos.
- Compreender a sociedade, sua gênese e Os diferentes contextos do trabalho produtivo devem ser
transformação, e os múltiplos fatores que nela intervêm, dimensionados a par da estética da sensibilidade, no agir e
como produtos da ação humana; a si mesmo como agente fazer sobre a natureza; da política da igualdade, na
social; e aos processos sociais como orientadores da distribuição justa e equilibrada dos trabalhos e dos produtos;
dinâmica dos diferentes grupos de indivíduos. e da ética da identidade, na responsabilidade social perante os
mesmos processos e produtos. A compreensão histórica e
A estética da sensibilidade transparece nesta competência social dos processos produtivos deve orientar as análises
no tanto que ela implica de ação produtiva. A identidade econômicas, políticas e jurídicas, no sentido de evitar que
humana como produtora de cultura e de história embasa as percam de vista a dimensão humana e solidária necessária à
ações tanto individuais quanto de grupos e essas ações estão convivência pacífica, justa e equânime em sociedade.
circunscritas por essa consciência. Entretanto, e justamente para propiciar que tais objetivos
No conhecimento dos processos sociais, importa sejam atingidos, a aprendizagem das Ciências Humanas deve
compreender o humano em uma perspectiva intersubjetiva: atuar na identificação e denúncia de seus obstáculos, no
como sujeito que realiza e se inscreve nos processos sócio entendimento de que as práticas sociais envolvem
históricos de forma autônoma, mas também como sujeito inevitavelmente conflitos e contradições, os quais, quando mal
envolto por uma trama social formada por outras dimensionados, ameaçam o próprio convívio social.
subjetividades. Nesse sentido, os fatos econômicos, jurídicos e O reconhecimento dessas tensões, porém, não deve
políticos devem ser entendidos sob a mesma lógica que põe o conduzir os indivíduos e os grupos em que se inserem a
humano no centro dos processos sociais e não como atitudes imobilistas nem fatalistas. Antes, deve proporcionar-
fenômenos naturalizados e alheios à ação humana. Isso lhes a consciência necessária que possibilita ações de
implica dizer que uma lei ou uma decisão política não são transformação e aperfeiçoamento da realidade social, na
abstrações produzidas por algum ente metafísico, mas perspectiva da efetiva construção da cidadania real.
produtos concretos de agentes sociais.
A compreensão dos processos de constituição e - Traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a
transformação das sociedades implica a relativização do sociedade, a economia, as práticas sociais e culturais em
tempo presente, evitando que se caia na “presentificação” condutas de indagação, análise, problematização e
absoluta, que gera tanto o descompromisso com os processos protagonismo diante de situações novas, problemas ou
sociais, quanto a desesperança diante do que nos foge ao questões da vida pessoal, social, política, econômica e
controle. Há cerca de cento e cinquenta anos, no Manifesto cultural.
Comunista, Marx e Engels já se referiam ao impacto causado
pela rapidez e inexorabilidade das transformações na A ética da identidade pressupõe uma ação consciente e
sociedade capitalista, na qual “tudo que é sólido desmancha no reflexiva, embasada nos conhecimentos sobre o homem e a
ar”, gerando desconforto, insegurança e apreensão. sociedade. Referida no pensar e no agir, essa consciência
traduz-se na capacidade de lidar com situações novas,
- Compreender o desenvolvimento da sociedade como acionando-se os conhecimentos construídos, que são
processo de ocupação de espaços físicos e as relações da redirecionados para a resolução de problemas. Isso vale tanto
vida humana com a paisagem, em seus desdobramentos para as decisões pessoais e intransferíveis do cotidiano,
político-sociais, culturais, econômicos e humanos. quanto para as grandes questões que afligem as comunidades
e a humanidade como um todo.

Conhecimentos Específicos 137


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A consciência histórica está presente na perspectiva da Da mesma forma como ocorreu historicamente com os
continuidade e da transformação, do processo temporal relógios e o tempo, diferentes tecnologias relacionadas às
direcional, porém fracionado por rupturas e novas Ciências Humanas, como processos de planejamento, gestão e
possibilidades. A ação autônoma e refletida sobre a realidade controle de informações, foram aplicadas aos contextos da
requer clareza quanto aos processos sociais e históricos, produção. Essas tecnologias, e não só aquelas diretamente
evitando o imobilismo cético ou inseguro diante de novas envolvidas com o manuseio de máquinas e ferramentas, têm
situações. As tradições sociais, culturais, econômicas, políticas, sido responsáveis por transformações radicais nos processos
jurídicas e filosóficas, embora sejam referenciais, não devem produtivos. Estamos nos referindo obviamente ao processo de
levar o indivíduo a se conformar com o já visto, o já conhecido, transformação da produção que levou à Revolução Industrial,
o já experimentado. Antes, devem impulsioná-lo à construção enquanto processo contínuo de inovações tecnológicas. Além
de alternativas, à reinvenção dos processos e das atitudes, à do emprego de equipamentos cada vez mais sofisticados, o que
superação das resistências à ação criativa, a fim de que, com a tem garantido o aumento da produtividade tem sido a
consciência do passado e os pés no presente, o pensamento e introdução de novas formas de organização do trabalho, nos
a ação se projetem para o futuro. sistemas manufatureiro, fabril ou “pós-industrial”, e na divisão
do trabalho ou na gestão informatizada e cooperativa dos
- Entender os princípios das tecnologias associadas ao processos produtivos.
conhecimento do indivíduo, da sociedade e da cultura, entre Sem dúvida, esse processo de inovação permanente e fora
as quais as de planejamento, organização, gestão e de controle imediato traz sérias consequências para a vida
trabalho de equipe, e associá-los aos problemas que se humana, a exemplo da inviabilidade de formas de produção
propõem resolver. artesanais para suprir mercados amplos. A consequência mais
drástica certamente é o desemprego. A compreensão do
Entendendo-se a tecnologia não apenas sob o ponto de impacto dessas tecnologias sobre o mundo do trabalho e a vida
vista da produção industrial, mas também sob a moderna ótica social é urgente no contexto em que vivemos, de problemas de
da comunicação e da organização produtiva, concebe-se a dimensões sempre crescentes, requerendo de todos reflexões
ideia de tecnologias próprias às Ciências Humanas ou e soluções inovadoras.
desenvolvidas a partir delas. É o caso das requeridas em
processos de planejamento e administração, no âmbito - Entender a importância das tecnologias
público ou privado, embasadas em conhecimentos contemporâneas de comunicação e informação para
econômicos, geográficos, políticos e jurídicos, mas também planejamento, gestão, organização e fortalecimento do
históricos, sociológicos, antropológicos e psicológicos. E ainda trabalho de equipe.
das tecnologias aplicadas a processos de obtenção e
organização de informações, tais como o tratamento de dados As modernas estratégias de planejamento e ação coletiva
estatísticos, na Economia, na Demografia, na Sociologia e na vêm requerendo cada vez mais o emprego de tecnologias de
História, o rastreamento do espaço na Cartografia e as comunicação e informação, que se encarregam de coletar,
pesquisas de opinião apoiadas em critérios sociológicos e processar, armazenar e comunicar dados e informações. A
psicológicos. interação resultante da combinação de informação e
comunicação age no sentido de dotar os processos de trabalho
- Entender o impacto das tecnologias associadas às de caráter mais coletivo e menos especializado.
Ciências Humanas sobre sua vida pessoal, os processos de Daí, a necessidade de serem desenvolvidas competências
produção, o desenvolvimento do conhecimento e a vida que permitam aos indivíduos aperfeiçoar a organização do
social. fazer produtivo, disseminando as instâncias decisórias e
superando a fragmentação excessiva, com vistas à construção
As Ciências Humanas têm um importante papel na de processos mais horizontais e dinâmicos, amparados no
compreensão do significado das tecnologias para as compromisso e na participação comuns. Na base desses
sociedades. Apontam tanto os processos sociais que levam os processos, encontram-se competências típicas das Ciências
homens a buscarem respostas e ferramentas para a resolução Humanas, que envolvem a construção das identidades sociais
de problemas concretos, quanto avaliam o impacto que as responsáveis e solidárias.
tecnologias promovem sobre essas mesmas sociedades.
Um exemplo disso diz respeito às concepções de tempo, - Aplicar as tecnologias das Ciências Humanas e Sociais
que têm variado intensamente ao longo da história, em função na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes
das tecnologias envolvidas na sua medição, como os relógios para sua vida.
mecânicos ou eletrônicos e os modernos cronômetros, que
asseguram precisão em medidas muito curtas. Nos diversos contextos sociais em que as tecnologias são
Esses recursos, desenvolvidos para atender necessidades empregadas – a agência de um banco, a estação ferroviária, a
no campo da produção econômica e da circulação de biblioteca, a escola, o trabalho –, são requeridas competências
mercadorias e informações, foram responsáveis por darem básicas que assegurem seu entendimento como produtos
aos homens a sensação de controle do tempo. Essa nova originados e recombinados a partir de conhecimentos
relação com o tempo, distinta das de épocas anteriores, científicos diversos e como processos a serem postos em ação,
interferiu diretamente nas rotinas do cotidiano social, em em momentos determinados, para atender a necessidades
contextos tão diversos quanto os do trabalho e do lazer. A pessoais e coletivas.
percepção social do tempo decorrente disso, por um lado, No contexto escolar, especificamente, a própria
aproxima os homens, ao fixar referenciais comuns. Por outro, organização curricular sob uma orientação interdisciplinar,
os distancia, na apropriação individualizada que fazem, a explícita e consciente tanto para os educadores quanto para os
exemplo dos relógios de pulso, que, por serem portáteis, estudantes, constitui uma oportunidade privilegiada para o
permitem que cada um organize seu próprio tempo. Na desenvolvimento de competências associadas às tecnologias
complexidade das relações sociais, entretanto, nem todos os das Ciências Humanas. E o mesmo se pode dizer a respeito da
homens dispõem do tempo da mesma forma, estabelecendo-se utilização das tecnologias de informação e comunicação para a
relações diferenciadas de maior ou menor liberdade nesse construção de redes informatizadas interativas ou a utilização
controle. Para alguns, o relógio implica libertação; para outros, das já existentes, a fim de propiciar a troca de informações ou
escravidão. o gerenciamento coletivo de projetos de estudo.

Conhecimentos Específicos 138


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Sob a ótica do desenvolvimento econômico, o domínio - Compreender a sociedade, sua gênese e transformação, e
ativo das tecnologias aplicáveis aos contextos do trabalho é os múltiplos fatores que nela intervêm, como produtos da ação
tarefa mais que necessária para a superação da situação de humana; a si mesmo como agente social; e os processos sociais
desvantagem em que sociedades emergentes como a brasileira como orientadores da dinâmica dos diferentes grupos de
se encontram. No aspecto social, a difusão do domínio dessas indivíduos.
tecnologias, como estratégia intrínseca à política da igualdade, - Entender os princípios das tecnologias associadas ao
propicia aos indivíduos meios para amenizarem as conhecimento do indivíduo, da sociedade e da cultura, entre as
consequências negativas que o próprio processo de quais as de planejamento, organização, gestão, trabalho de
transformação econômica provoca. equipe, e associá-las aos problemas que se propõem resolver.
Nesse sentido, é preciso que o fortalecimento do trabalho
de equipe decorrente da aplicação dessas tecnologias não Contextualização sociocultural
resulte somente em vantagens estritamente econômicas, nem - Compreender o desenvolvimento da sociedade como
permita que a administração, quer no âmbito público, quer no processo de ocupação de espaços físicos e as relações da vida
privado, se constitua em um fim em si mesmo. A interação e a humana com a paisagem, em seus desdobramentos políticos,
cooperação resultantes das novas tecnologias de informação e culturais, econômicos e humanos.
comunicação devem contribuir igualmente para o - Compreender a produção e o papel histórico das
aperfeiçoamento das formas de convívio social. E, para tanto, instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as às
é necessário, é imperativo, que se assegure o acesso a elas a práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos princípios
um número crescente de indivíduos e grupos sociais, na que regulam a convivência em sociedade, aos direitos e
perspectiva da igualdade. Afastam-se, com isso, os temores de deveres da cidadania, à justiça e à distribuição dos benefícios
uma sociedade tecnológica a serviço da exploração e alienação econômicos.
do homem, na qual o monopólio das tecnologias cumpre - Traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade, a
estratégias de controle político, social, econômico e cultural. economia, as práticas sociais e culturais em condutas de
A presença de uma educação tecnológica no Ensino Médio indagação, análise, problematização e protagonismo diante de
como um todo e, em particular, na área de Ciências Humanas, situações novas, problemas ou questões da vida pessoal, social,
propicia aos estudantes a construção e a apropriação de um política, econômica e cultural.
significativo instrumental tanto de análise quanto de ação - Entender o impacto das tecnologias associadas às
sobre os diversos aspectos da vida em sociedade. Os Ciências Humanas sobre sua vida pessoal, os processos de
conhecimentos envolvidos na área, por seu caráter produção, o desenvolvimento do conhecimento e a vida social.
intrinsecamente humanista, agem no sentido de despir as - Aplicar as tecnologias das Ciências Humanas e Sociais na
novas tecnologias de sua aparente artificialidade e escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua
distanciamento diante do humano. Evitam-se, com isso, os vida.
riscos de uma naturalização das tecnologias e promove-se a
culturalização de sua compreensão. E, desta forma, assegura- Conhecimentos de HISTÓRIA
se um papel novo para a aprendizagem em Ciências Humanas
na escola básica: o de humanizar o uso das novas tecnologias, - Por que ensinar História
recolocando o homem no centro dos processos produtivos e
sociais. A História, enquanto disciplina escolar, ao se integrar à
Procuramos agrupar as competências básicas e específicas área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, possibilita
da área, que foram acima descritas, com base em três grandes ampliar estudos sobre as problemáticas contemporâneas,
campos de competências de caráter geral que se aplicam às situando-as nas diversas temporalidades, servindo como
três áreas da organização curricular do Ensino Médio, arcabouço para a reflexão sobre possibilidades e/ou
compreendidas a partir de sua essência enquanto campos de necessidades de mudanças e/ou continuidades.
conhecimento. O objetivo desse rearranjo é auxiliar as equipes A integração da História com as demais disciplinas que
escolares na tarefa de construir uma proposta curricular de compõem as denominadas Ciências Humanas permite
caráter efetivamente interdisciplinar, cruzando os diversos sedimentar e aprofundar temas estudados no Ensino
conhecimentos específicos. Assim, temos competências Fundamental, redimensionando aspectos da vida em
ligadas a representação e comunicação, investigação e sociedade e o papel do indivíduo nas transformações do
compreensão e contextualização sociocultural. processo histórico, completando a compreensão das relações
As competências de representação e comunicação entre a liberdade (ação do indivíduo que é sujeito da história)
apontam as linguagens como instrumentos de produção de e a necessidade (ações determinadas pela sociedade, que é
sentido e, ainda, de acesso ao próprio conhecimento, sua produto de uma história).
organização e sistematização. O papel das disciplinas que compõem a área de Ciências
As competências de investigação e compreensão apontam Humanas, para esse nível de ensino e o momento histórico que
os conhecimentos científicos, seus diferentes procedimentos, se está vivendo, deve ser entendido em sua dimensão mais
métodos e conceitos, como instrumentos de intervenção no ampla, envolvendo a formação de uma cultura educacional.
real e de solução de problemas. Vive-se hoje em uma sociedade marcada pelo domínio do mito
As competências de contextualização sociocultural do consumo e pelas tecnologias, com ritmos de
apontam a relação da sociedade e da cultura, em sua transformações aparentemente muito acelerados e
diversidade, na constituição do significado para os diferentes informações provenientes de vários espaços, embora
saberes. predominando os meios audiovisuais, e ainda pela
fragmentação do conhecimento sobre os indivíduos e a vida
Representação e comunicação social.
- Entender a importância das tecnologias contemporâneas As concepções políticas e as referentes às ações humanas
de comunicação e informação para planejamento, gestão, nos espaços público e privado, assim como as relações
organização e fortalecimento do trabalho de equipe. homem-natureza, estão sendo modificadas. Os paradigmas
científicos que sustentavam as bases fundamentais dessas
Investigação e compreensão concepções estão sendo questionados e colocados em cheque
- Compreender os elementos cognitivos, afetivos, sociais e pelas realidades que glorificam o novo tecnológico, mas não
culturais que constituem a identidade própria e a dos outros. solucionam problemas antigos, como as desigualdades,

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preconceitos, dificuldades de percepção do “outro” e as Nesse aspecto, os estudos de inspiração marxista, que
diversas formas de convivência e de estabelecimento de privilegiavam inicialmente as análises das infraestruturas
relações sociais. A difusão da racionalidade da ciência não econômicas e das lutas de classe, passaram a incluir pesquisas
acarretou o desaparecimento de formas de representação do referentes à cultura, às ideias e aos valores cotidianos, ao
mundo e do homem submetidas a dogmas e misticismos simbólico presentes nas experiências das classes sociais e nas
variados, permanecendo crenças religiosas diversas, muitas formas de mediação entre elas. E passaram a se interessar
vezes contraditórias e paradoxais diante da presença cotidiana também pela linguagem como uma referência de análise dos
das tecnologias. discursos políticos e do processo de construção da consciência
Tais constatações sobre as incertezas e mitos vividos pelos de classe ou de identidades.
jovens da atual geração implicam delimitar com maior Ao lado desses estudos, a Nova História inspirada na e
precisão o papel educativo da área, no sentido de possibilitar continuadora da Escola dos “Annales”, tem igualmente
um Ensino Médio de caráter humanista capaz de impedir a contribuído para as indagações relativas ao funcionamento
constituição de uma visão apenas utilitária e profissional das das sociedades, de maneira a integrar as multiplicidades
disciplinas escolares. temporais, espaciais, sociais, econômicas e culturais presentes
No que se refere ao conhecimento histórico escolar, os em uma coletividade, destacando investigações sobre a
currículos atuais são indicativos das transformações história das “mentalidades” na interpretação da realidade e
paradigmáticas do campo que envolve o conhecimento das práticas sociais. Nessa vertente, as representações do
histórico como um todo. As aproximações entre a História mundo social passaram a ser analisadas como integrantes da
ensinada e a produção acadêmica têm se intensificado a partir própria realidade social e possibilitaram uma redefinição da
do final dos anos setenta, estabelecendo relações muitas vezes história cultural.
profícuas, mas que apontam para as dificuldades de consensos A aproximação entre a Antropologia e a História tem sido
e ou definições simplificadas sobre os conteúdos e métodos de importante, dando origem a abordagens históricas que
ensino. consideram a cultura não apenas em suas manifestações
O debate historiográfico tem sido intenso, com abordagens artísticas, mas nos ritos e festas, nos hábitos alimentares, nos
diversas sobre antigos temas e inclusão de novos objetos que tratamentos das doenças, nas diferentes formas que os vários
constituem as múltiplas facetas da produção humana e que se grupos sociais, ao longo dos séculos, têm criado para se
sustentam em uma pluralidade de fundamentos teóricos e comunicar, como a dança, o livro, o rádio, o cinema, as
metodológicos. caravelas, os aviões, a Internet, os tambores e a música.
A história social e cultural tem se imposto de maneira a Metodologias diversas foram sendo introduzidas,
rearticular a história econômica e a política, possibilitando o redefinindo o papel da documentação. À objetividade do
surgimento de vozes de grupos e de classes sociais antes documento – aquele que fala por si mesmo – se contrapôs sua
silenciados. Mulheres, crianças, grupos étnicos diversos têm subjetividade – produto construído e pertencente a uma
sido objeto de estudos que redimensionam a compreensão do determinada história. Os documentos deixaram de ser
cotidiano em suas esferas privadas e políticas, a ação e o papel considerados apenas o alicerce da construção histórica, sendo
dos indivíduos, rearticulando a subjetividade ao fato de serem eles mesmos entendidos como parte dessa construção em
produto de determinado tempo histórico no qual as todos seus momentos e articulações. Passou a existir a
conjunturas e as estruturas estão presentes. A produção preocupação em localizar o lugar de onde falam os autores dos
historiográfica, no momento, busca estabelecer diálogos com documentos, seus interesses, estratégias, intenções e técnicas.
o seu tempo, reafirmando o adágio que “toda história é filha do Na transposição do conhecimento histórico para o nível
seu tempo”, mas sem ignorar ser fruto de muitas tradições de médio, é de fundamental importância o desenvolvimento de
pensamento. competências ligadas à leitura, análise, contextualização e
A pesquisa histórica esforça-se atualmente por situar as interpretação das diversas fontes e testemunhos das épocas
articulações entre a micro e a macro história, buscando nas passadas – e também do presente. Nesse exercício, deve-se
singularidades dos acontecimentos as generalizações levar em conta os diferentes agentes sociais envolvidos na
necessárias para a compreensão do processo histórico. Na produção dos testemunhos, as motivações explícitas ou
articulação do singular e do geral recuperam-se formas implícitas nessa produção e a especificidade das diferentes
diversas de registros e ações humanas tanto nos espaços linguagens e suportes através dos quais se expressam. Abre-se
considerados tradicionalmente os de poder, como o do Estado aí um campo fértil às relações interdisciplinares, articulando
e das instituições oficiais, quanto nos espaços privados das os conhecimentos de História com aqueles referentes à Língua
fábricas e oficinas, das casas e das ruas, das festas e das Portuguesa, à Literatura, à Música e a todas as Artes, em geral.
sublevações, das guerras entre as nações e dos conflitos Na perspectiva da educação geral e básica, enquanto etapa
diários para sobrevivência, das mentalidades em suas final da formação de cidadãos críticos e conscientes,
permanências de valores e crenças e das transformações preparados para a vida adulta e a inserção autônoma na
advindas com a modernidade da vida urbana em seu aparato sociedade, importa reconhecer o papel das competências de
tecnológico. leitura e interpretação de textos como uma
instrumentalização dos indivíduos, capacitando-os à
- O que e como ensinar em História compreensão do universo caótico de informações e
deformações que se processam no cotidiano. Os alunos devem
O estudo de novos temas, considerando a pluralidade de aprender, conforme nos lembra Pierre Vilar, a ler nas
sujeitos em seus confrontos, alterando concepções calcadas entrelinhas. E esta é a principal contribuição da História no
apenas nos “grandes eventos” ou nas formas estruturalistas nível médio.
baseadas nos modos de produção, por intermédio dos quais A diversidade de tradições historiográficas e a pluralidade
desaparecem de cena homens e mulheres de “carne e osso”, de vinculações teóricas, no entanto, ao contrário de indicarem
tem redefinido igualmente o tratamento metodológico da crise, esgotamento ou impasses, apontam para a área da
pesquisa. A investigação histórica passou a considerar a pesquisa e do ensino de História, muitas alternativas válidas,
importância da utilização de outras fontes documentais, além além da viabilidade de criações pedagógicas. Desta forma, é
da escrita, aperfeiçoando métodos de interpretação que importante considerar as diferentes dimensões dos estudos
abrangem os vários registros produzidos. A comunicação históricos, na medida em que possibilitam forjar teorias de
entre os homens, além de escrita, é oral, gestual, sonora e ensino e aprendizagem.
pictórica.

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Nessa perspectiva, a História para os jovens do Ensino dos números dos dias e os nomes dos meses se repetirem de um
Médio possui condições de ampliar conceitos introduzidos nas ano para o outro (com base em organizações cíclicas), a
séries anteriores do Ensino Fundamental, contribuindo numeração dos anos nunca se repete (concepção linear), o que
substantivamente para a construção dos laços de identidade torna cada data um momento único e sem possibilidade de
e consolidação da formação da cidadania. repetição no tempo.”
O ensino de História pode desempenhar um papel A contribuição mais substantiva da aprendizagem da
importante na configuração da identidade, ao incorporar a História é propiciar ao jovem situar-se na sociedade
reflexão sobre a atuação do indivíduo nas suas relações contemporânea para melhor compreendê-la. Como
pessoais com o grupo de convívio, suas afetividades, sua decorrência direta disso está a possibilidade efetiva do
participação no coletivo e suas atitudes de compromisso com desenvolvimento da capacidade de apreensão do tempo
classes, grupos sociais, culturas, valores e com gerações do enquanto conjunto de vivências humanas, em seu sentido
passado e do futuro. completo.
Além de consubstanciar algumas das noções básicas O tempo histórico, compreendido nessa complexidade,
introduzidas nas séries anteriores, que contribuem e fornecem utiliza o tempo cronológico, institucionalizado, que possibilita
os fundamentos para a construção da identidade, tais como a referenciar o lugar dos momentos históricos em seu processo
de diferença e de semelhança, o ensino de História para as de sucessão e em sua simultaneidade. Fugindo à cronologia
séries do nível médio amplia e consolida as noções de tempo meramente linear, procura identificar também os diferentes
histórico. níveis e ritmos de durações temporais. A duração torna-se,
A percepção da diferença (o “outro”) e da semelhança nesse nível de ensino e nas faixas etárias por ele abarcadas, a
(“nós”) varia conforme a cultura e o tempo e depende de forma mais consubstanciada de apreensão do tempo histórico,
comportamentos, experiências e valores pessoais e coletivos. ao possibilitar que alunos estabeleçam as relações entre
O convívio entre os grupos sociais tem gerado “atitudes de continuidades e descontinuidades. A concepção de duração
identificação, distinção, equiparação, segregação, submissão, possibilita compreender o sentido das revoluções como
dominação, luta ou resignação, entre aqueles que se momentos de mudanças irreversíveis da história e favorece
consideravam iguais, inferiores ou superiores, próximos ou ainda que o aluno apreenda, de forma dialética, as relações
distantes, conhecidos ou desconhecidos, compatriotas ou entre presente-passado-presente, necessárias à
estrangeiros. Hoje em dia, a percepção do ‘outro’ e do ‘nós’ está compreensão das problemáticas contemporâneas, e entre
relacionada à possibilidade de identificação das diferenças e, presente-passado-futuro, que permitem criar projeções e
simultaneamente, das semelhanças. A sociedade atual solicita utopias.
que se enfrente a heterogeneidade e que se distinga as Pela compreensão da duração pode-se, ainda, entender, de
particularidades dos grupos e das culturas, seus valores, maneira mais efetiva, o humanismo, situando as relações
interesses e identidades. Ao mesmo tempo, ela demanda que o entre tempo histórico e tempo da natureza. O momento da
reconhecimento das diferenças não fundamente relações de criação do homem tem sido determinado, como no caso da
dominação, submissão, preconceito ou desigualdade.” sociedade ocidental cristã, por textos sagrados. O livro do
O tempo histórico pode ser compreendido em toda sua Gênesis determina que o homem surgiu na face da Terra há
complexidade, ultrapassando sua apreensão a partir das aproximadamente seis mil anos e esta datação, mesmo
vivências pessoais, psicológicas ou fisiológicas. No nível médio relativizada após as teorias evolucionistas e o
de ensino, é preciso igualmente que o tempo histórico seja desenvolvimento dos trabalhos arqueológicos, situa a visão
entendido como objeto da cultura, como criação de povos em antropocêntrica da história que estabelece, ainda fortemente,
diversos momentos e espaços. É da cultura que nascem a divisão do antes e depois da escrita como marco decisivo
concepções de tempo tão diferenciadas como o tempo mítico, para a compreensão do passado da humanidade. Quando, no
escatológico, cíclico, cronológico, noções sociais criadas entanto, situamos o homem numa escala planetária, da
pelo homem para representar as temporalidades naturais, formação das paisagens, das plantas e outros animais,
expressas nos tempos geológico e astronômico. Não se pode pensando no “tempo da natureza”, os referenciais se
esquecer, ainda, que mesmo o tempo natural reveste-se de um transformam. Percebemos o “lugar” que o homem ocupa na
caráter cultural, quando apropriado pela Geologia e pela história do planeta em uma outra dimensão temporal.
Astronomia, enquanto ciências socialmente criadas. O tempo geológico determina outras formas de
O tempo construído pelas diversas culturas é muitas vezes referenciar o tempo social. Ao situarmos a idade da Terra em
expresso nos mitos, destacando-se os que se referem às aproximadamente 4,5 bilhões de anos, podemos entender que
origens do universo e do homem, e nas religiões, que a história das sociedades humanas corresponde a uma
ultrapassam os tempos passado e presente e determinam o pequena fração de tempo da história do planeta. A
tempo de possíveis vidas futuras, constituindo o tempo compreensão da escala de tempo pode situar o papel do
salvacionista ou escatológico. As sociedades agrárias homem no processo de transformação da natureza, assim
organizaram a vida cotidiana pelo tempo cíclico, fixado pelos como dimensionar, para além do tempo presente, os limites e
momentos da plantação e da colheita e pelas estações que se o poder das ações humanas. Dentre os aspectos importantes
repetem anualmente, e vincularam o tempo cotidiano, com decorrentes da abordagem dessas temporalidades, destaca-se
seus ritmos de mudanças, ao astronômico, criando a reciprocidade das transformações promovidas pela natureza
calendários, referenciando as marcas dos acontecimentos sobre a vida dos homens e como estes mudam os ritmos de
diários e daqueles considerados significativos para a memória tempo da natureza.
coletiva. Ao se repensar o tempo histórico tendo como referência
Pode-se, então, compreender o tempo cronológico como as relações homem-natureza, pode-se ainda avançar na
instrumento de marcação e datação e entender como a cultura compreensão das diversas temporalidades vividas pela
ocidental cristã criou seu próprio calendário. Sobre o sociedade e nas formulações das periodizações e marcos de
calendário gregoriano, que marca os nossos tempos, é rupturas. Assim como defendia Lévi-Strauss, as grandes
importante considerar as formas como ele está organizado: “O transformações irreversíveis da sociedade podem ser
calendário gregoriano pode ser representado por uma linha basicamente divididas em dois grandes períodos. O primeiro
contínua e infinita. Envolve a compreensão de que cada um dos momento desse longo processo foi a revolução agrícola, com
pontos dessa linha é distinto dos outros e que cada ponto a criação da agricultura, responsável por mudanças
corresponde a uma datação. As datações são, assim, distintas significativas nas relações entre os homens, a terra e as plantas
umas das outras, especificando um dia, um mês e um ano. Apesar e animais. O segundo grande momento foi o da revolução

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industrial dos séculos XVIII e XIX, que introduziu relações pode-se selecionar conteúdos significativos para a atual
entre o homem e os recursos naturais em escala sem geração. Identificar e selecionar conteúdos significativos são
precedentes, impondo novo ritmo no processo de tarefas fundamentais dos professores, uma vez que se constata
transformações e de permanências. Esses dois momentos a evidência de que é impossível ensinar “toda a história da
correspondem à constituição de novas formas de os homens humanidade”, exigindo a escolha de temas que possam
organizarem o tempo, com novos ritmos, e de se organizarem responder às problemáticas contundentes vividas pela nossa
no seu tempo cotidiano: ao longo desse processo, o tempo da sociedade, tais como as discriminações étnicas e culturais, a
natureza foi sendo substituído pelo tempo da fábrica. pobreza e o analfabetismo.
Os ritmos da duração, conforme descritos por Fernand A organização de conteúdos por temas requer cuidados
Braudel, permitem identificar a velocidade em que as específicos com a escolha dos métodos. O estudo de temas
mudanças ocorrem e como nos acontecimentos estão articulado à apropriação de conceitos ocorre por intermédio
inseridas várias temporalidades: a curta duração, a dos de métodos oriundos das investigações históricas,
acontecimentos breves, com data e lugar determinados; na desenvolvendo a capacidade de extrair informações das
média duração, no decorrer da qual se dão as conjunturas, diversas fontes documentais tais como textos escritos,
tendências políticas e/ou econômicas, que, por sua vez, se iconográficos, musicais. A apropriação do método da pesquisa
inserem em processos de longa duração, com permanências e historiográfica, reelaborada em situações pedagógicas,
mudanças que parecem imperceptíveis. É o ritmo das possibilita interpretar documentos e estabelecer relações e
estruturas, tais como a constituição de amplos sistemas comparações entre problemáticas atuais e de outros tempos.
produtivos e de relações de trabalho, as formas de organização Torna-se necessário escolher métodos que auxiliem a
familiar e dos sistemas religiosos, a constituição de percepções capacidade de relativizar as próprias ações e as de outras
e relações ecológicas estabelecidas na relação entre o homem pessoas no tempo e no espaço.
e a natureza. Dessa maneira, trabalhar com temas variados em épocas
Podemos identificar os diferentes ritmos da duração pelo diversas, de forma comparada e a partir de diferentes fontes e
exemplo da escravidão africana brasileira. A Abolição da linguagens, constitui uma escolha pedagógica que pode
Escravidão ocorreu no dia 13 de maio de 1888, na capital do contribuir de forma significativa para que os educandos
Brasil. Trata-se de um acontecimento breve, datado e desenvolvam competências e habilidades que lhes permitam
localizado no espaço, que se explica pela conjuntura apreender as várias durações temporais nas quais os
econômica da expansão da cafeicultura de exportação com diferentes sujeitos sociais desenvolveram ou desenvolvem
necessidades urgentes de ampliação de mão-de-obra e pela suas ações, condição básica para que sejam identificadas as
conjuntura política e social que forçava rearticulacões no semelhanças, diferenças, mudanças e permanências existentes
grupo do poder monárquico e criava oposições ao regime, no processo histórico.
principalmente pelos republicanos. Mas, para compreender a O trabalho permanente com pesquisas orientadas a partir
abolição da escravidão e a forma como ela ocorreu, torna-se da sala de aula constitui importante alternativa para viabilizar
necessário situá-la no processo estrutural, em temporalidades essas sugestões pedagógicas. Sugestões que pretendem
mais longas: no processo de mudanças do sistema capitalista, desenvolver no aluno a capacidade de refletir sobre o tempo
desde sua constituição histórica, e na longa duração do presente também como processo. Entender o atual estágio
racismo. Este explica não só a permanência até hoje de tecnológico requer, por exemplo, que o aluno entenda o que é
preconceitos e discriminações em relação às populações a linguagem escrita e seu papel social, situando-a nos diversos
negras e mestiças, mas também a origem da própria suportes usados pelos homens para criá-la e dela se apropriar,
escravidão, baseada em conceitos de raça superior e inferior tais como papiros, pedras, placas de barro, papel, livros e
criados por sociedades que pretendiam dominar e explorar computadores.
outros grupos humanos. A escravidão não cria o racismo, mas Finalmente, é necessário frisar a contribuição da história
o tem como pressuposto. para as novas gerações, considerando-se que a sociedade atual
A apreensão das noções de tempo histórico em suas vive um presente contínuo, que tende a esquecer e anular a
diversidades e complexidades pode favorecer a formação do importância das relações que o presente mantém com o
estudante como cidadão, aprendendo a discernir os limites e passado. Nos dias atuais, a cultura capitalista impregnada de
possibilidades de sua atuação, na permanência ou na dogmas consumistas fornece uma valorização das mudanças
transformação da realidade histórica em que vive. no moderno cotidiano tecnológico e uma ampla difusão de
A formação de “cidadãos”, é importante ressaltar, não informações sempre apresentadas como novas e com
ocorre sem reflexões sobre seu significado. Do ponto de vista explicações simplificadas que as reduzem aos acontecimentos
da formação histórica do estudante, a questão da cidadania imediatos. Um compromisso fundamental da História
envolve escolhas pedagógicas específicas para que ele possa encontra-se na sua relação com a Memória, livrando as novas
conhecer e distinguir diferentes concepções históricas acerca gerações da “amnésia social” que compromete a constituição
dela, delineadas em diferentes épocas. O significado, por de suas identidades individuais e coletivas.
exemplo, que a sociedade brasileira atual tem de cidadania não O direito à memória faz parte da cidadania cultural e
é o mesmo que tinham os atenienses da época de Péricles, revela a necessidade de debates sobre o conceito de
assim como não é o mesmo que possuíam os revolucionários preservação das obras humanas. A constituição do Patrimônio
franceses de 1789. O sentido que a palavra assume para os Cultural e sua importância para a formação de uma memória
brasileiros atualmente, de certa maneira, inclui os demais social e nacional sem exclusões e discriminações é uma
sentidos historicamente localizados, mas ultrapassa os seus abordagem necessária a ser realizada com os educandos,
contornos, incorporando problemáticas e anseios individuais, situando-os nos “lugares de memória” construídos pela
de classes, de gêneros, de grupos sociais, locais, regionais, sociedade e pelos poderes constituídos, que estabelecem o que
nacionais e mundiais, que projetam a cidadania enquanto deve ser preservado e relembrado e o que deve ser silenciado
prática e enquanto realidade histórica. e “esquecido”.
A compreensão de cidadania em uma perspectiva Introduzir na sala de aula o debate sobre o significado de
histórica, como resultado de lutas, confrontos e negociações, e festas e monumentos comemorativos, de museus, arquivos e
constituída por intermédio de conquistas sociais de direitos, áreas preservadas, permeia a compreensão do papel da
pode servir como referência para a organização dos conteúdos memória na vida da população, dos vínculos que cada geração
da disciplina histórica. A partir de problemáticas estabelece com outras gerações, das raízes culturais e
contemporâneas, que envolvem a constituição da cidadania, históricas que caracterizam a sociedade humana. Retirar os

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alunos da sala de aula e proporcionar-lhes o contato ativo e preconizado na Lei nº 11.645/2008, a qual indica que esse
crítico com as ruas, praças, edifícios públicos e monumentos conteúdo deve ser ministrado, em especial, nas áreas de
constitui excelente oportunidade para o desenvolvimento de
uma aprendizagem significativa. (

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