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A EVOLUÇÃO URBANA EM PORTUGAL

NO ÚLTIMO SÉCULO (1890-1991)


Teresa Rodrigues e Maria Luís Rocha Pinto
Professoras Auxiliares da Faculdade de Ciências Saciais e Humanas
da Univers idade Nova de Lisboa

A BS T R AC T

The porcuguese urban developmen t showed original characceristics


that are a t tached to the lack of dynamism in little u rban n u cleus and the
absence of a significan t n u mber of cities and medium -sized sma/1 towns.
This reality con trasts with the evolu tion of the bigger urban cen tres and
above ali with the coun ty's dua/ity materialized in Lisbon and Oporto: a t first
of cou n ty-cities and, more recen tly, of the metropo/itan areas.

Ao i n iciar-se o sécu l o XX Portuga l era mais u m país d e vilas e ald eias do q u e cidades
e m e n os a i n d a de gra n d e s cidad es, o q u e d e n u n cia u m claro d esfas a m e nto no contexto
europeu. Escasseavam os centros u rbanos de média di mensão e só u m déci mo da populaçã o
v i v i a em n ú cl eos c o m fu n ções u rbanas. a p esar d o arra n q u e verificado na segu n d a metade
d e Oito centos. Este facto resulta d e vá rias con d i ci o n a ntes d e foro político-a d m i n istrativo
e s o b retudo eco n ó m i co, q u e entravara m o d esej ável e p ossível processo de evo l u çã o da
frágil rede urbana naci o n a l .
M a s . a o contrá r i o d o q u e pod ería mos esperar, a fa lta d e u m a «arm a d u ra u r ba n a » ,
fa l ta essa q u e rem o n ta a o sécu l o XVI , v i u -se a i n d a agravada n estes d o i s ú lt i m os s é c u l os ,
p e l a i n capaci d a d e d e arra n q u e d e m ográ f i co m a n i festa da pelas c i d a d e s e vilas d o País
q u e não Lisboa e Porto 1.

O a u mento relativo da população u rbana em relaçã o à total foi feito à custa d esses
dois gra n d es centros. que l i d erara m o p rocesso d e desenvolvimento eco n ó m i co das zonas
n o rte e sul. A esta b i cefa l i a correspo n d i a j á e m m ea dos d o sécu l o XIX u m a b i p o larização
eco n ó m ica 2 , ra d i c al izada a part i r d e então, que Lisboa com a sua á rea e n volvente
coma n d ou, d e modo cada vez mais i n e q u ívoco, pelo menos n a ó p t i ca estrita m e n t e
p o p u l a ci o n a l . « Nos ú l t i m os 1 3 0 a n os a capital vive u m a situaçã o d e excepci o n a l i d a d e
d e m ográfica n o contexto d e u m p a í s escassa mente u r b a n iza d o », o n d e faltam os centros
u r ba n os d e média d i m ensão e onde só o Porto se d estaca. Ta l como Lisboa, ele s u rge
p ri m e i ro isolado e mais tarde ligado aos co n ce l h os vizi n hos. E m 1 99 1 , data d o ú l t i m o
recenseam ento da p o p u l ação p ortugu esa, nas regi ões d e Lisboa e Porto vivem m a i s d e
metade d o s residentes n o Continente 3.
De acordo com os d a d os existentes no caso portugu ês, a l g u n s d os q u a i s j á est u ­
d a d os, ach á m os ú t i l e l a b orar a q u i u m a s í n t e s e d o q u e h oj e s e c o n h e c e s o b re o t e m a .
É n osso o bjectivo esclarecer a forma c o m o foi s e n d o construído e evo l u i u n os ú l t i m os cem
a n os o sistema u r b a n o portugu ês, s a l i e n ta n d o as principais características que revesti u
em cada período.

POPULAÇÃO E SOCIEDADE, N . ' 3 - 1997 7


TERESA RODRIGUES E MARIA LUÍS ROCHA PINTO

1 - O P O RT U GA L D O PA S SA D O : a d i ve rs i d a d e i n t e r n a

N o q u e respeita à tra dição u rbana nacional é curioso veri ficar como a i n d a n o i n ício
do século actual se mantinham alguns dos principais traços característicos de povoam ento
h erda d os da I d a d e M é d i a , d i vi d i n d o-se o Pa ís e m duas metad es. A N o rt e , a p o p u l a çã o
con ce ntrava-se em p e q u e n a s a l deias e vilas, contrasta n d o c o m a zona S u l , o n d e s e m p re
existiram cidades de relativa d i m ensão e o n d e fi cava Lisboa, a gra n d e cidade portuguesa.
A partir d o sécu l o XV os n ú cleos populacionais com fu n ções u rbanas crescera m
sem pre a ritmos s u periores aos das zonas rurais, e m b o ra essas d i fe re n ças a u m e ntass e m
n os l ocais de m a i o r d i namismo económ ico. Sã o disso exemplo primeiro os portos marítimos
voca c i o n a d os para a construção nava l , a pesca e a navega çã o de cu rto, m é d i o e longo
curso e mais tarde os pólos i n dustriais. Na 2." m etad e do século XVI I I o crescimento
demográfico privi legiou os n úcleos populacionais do litora l face a os do i nterior. Esse p rocesso
fo i l e n to e favoreceu p r i m e i ro a fa ixa l itora l norte, na s e q u ê n cia da i ntensificaçã o dos
tratos com o continente a m erica n o , para em segu i d a se estender a o demais território e em
breve às partes centro e sul d e Portuga l . A partir dos anos 60 do século XIX acentuara m -se
as d i ferenças i nternas, pautadas a nível regional pelas dicotomias norte/st?Jl e l itoral/i nterio r,
m a u gra d o a existência d e p ó l os isolados no i nterior. O f i n a l da década d e 70 m a rc o u e m
Portugal o iníci o d e u m a fase positiva, q u e s e p rolongou até 1 9 1 1 . A populaçã o cresceu .
Tratou-se d e u m a época á u rea das zonas d e Lisboa, Porto e Covi l h ã , e m clara a l usão a o
i m pacto positivo origi nado pelo processo d e desenvolvi mento i n d ustrial.
Com efeito, d u rante o último sécu l o o cresci m e nto gl o b a l v i u -se i n f l u e n ci a d o pela
e m i gração e pelas m i grações i nternas, efectuadas e m d i recçã o às á reas m a i s i n d ustria­
l iza das e o n d e era ta m b é m s u perior o peso relativo d a p o p u lação urba n a . As pri n ci pa i s
vitimas n este processo serão o n orte e o interior n orte e centro, o n d e a saída d e efectivos
foi d u p l a , para fo ra d o d istrito e para fora do Rei n o .
O a u m e n to da p o p u l a çã o p o rtugu esa favoreceu as á reas u r b a n a s ( q u e n o s e u
conj u nto crescem 5 5 % n a 2-" m eta d e d e X I X ) , e m r e l a ç ã o às r u r a i s ( c o m u m a variação
perce ntual d e a p enas 22 o/o). A esmaga d o ra m a i oria d os distritos registaram acrésci mos
su peri o res nas zonas u rbanas, exceptua n d o Évora e Faro. Só e m Cast e l o B ra n co, Vi ana d o
Cast e l o e V i s e u a p o p u l a çã o cres c e u u n i fo r m e m e n t e . A o i n vé s , o a u m e n to fo i m u i t o
s i g n i f i c a t i vo n o q u e res p e ita à p o p u l a çã o u rb a n a d e Ave i ro , L e i r i a , S a n ta r é m , z o n a s
basta nte activas e próximas da i n f l u ência d os distritos d o Porto e L i s b o a , q u e j á então
l i d e rava m o processo d e d esenvolvi m ento eco n ó m i co naci o n a l e q uase d u p l i cara m em
m e n os d e q u a renta a n os 4
M a s , a p esar d estas t e n d ê n ci a s , Portugal c o n t i n u a rá a s e r u m País d e escassa
u rban izaçã o, polariza da e ntre estas d uas gra n d es ci dades, situação q u e reflecte u m atraso
n o contexto e u ro p e u e que se acentuou p rogressiva mente.

2 - O PROCESSO D E U R BA N IZAÇÃO E M P O RT U GA L N O ÚLTI MO S É C U L O


(18 90- 1991)

Os estudos u r b a n os em Portuga l n ã o têm s i d o m u i tos e até há p o u co t e m p o n ã o


raro privi l egiaram a perspectiva m o n ográfica, com d esta q u e para as sínteses d e t i p o h is­
tori ográ fico. N o entanto, c u m p re s u b l i n h a r o papel que n a actua l i d a d e têm desempe­
nhado outras á reas científicas, tais como a G e ogra f i a , a Sociol ogia o u a Arq uitectura , q u e

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A EVOLUÇÃO URBANA EM PORTUGAL NO ULTIMO SÉCULO 1 1 8 9 0-1 9 9 1 )

e m relação a certas é pocas e temáticas vieram com p l e m e n tar o u a b r i r n ovos c o n h e c i ­


m e ntos e perspectivas q u e h oj e poss u í m os sobre as c i d a d e s o u centros u rb a n os p o r ­
tugueses, sobretu d o para é p ocas próximas da actua l i d a d e s

A falta de i n formação estatística e a fl u idez de conceitos

A n o m e n clatura util izada n o ú l t i m o parágra fo sugere desde l ogo a l g u n s co n s i d e ­


ra n d os, a q u e n e m sem pre é d a d o o d evido re l evo , mas q u e p o d e i n fl u i r nas concl usões
a obter face ás séries estatísti cas existentes. Referi mo-nos a o significado rea l e á correcta
util ização dos conceitos de «cidade», «centro urbano», « u rban ização», « u rbanismo», só a l guns
clara m ente d estri n çáveis d os resta ntes.
Note-se, porém, que esta relativa fl u i d ez se esten d e ta m bém ás séries estatísticas
d i v u l gadas e m cada m o m e nto pelas a utori dades resp onsáveis e d e l es deriva até certo
p o n to . Por várias vezes foram m u d a d os os critérios d e reco l h a e trata m en to dos d a d o s ,
q u e n e m s e m p re fora m d evi damente e x p l i citados e q u e h oj e e ntravam o l i n ear a p rovei ­
ta m e n to e com para ção d a s fon tes. A o i g n o rá - l os, arrisca m o - n os a i ntro d u z i r marge ns d e
erro s i g n i f i cativas n a s conclusões finais.
E ntre os a utores q u e s e propuseram exp l i citar os conce itos básicos com q u e l i d a
o t e m a d a u r b a n ização refi ram-se, entre o utros possíveis, os n o m es d e A. Luci a n o d e
Sousa Fra n c o ( 1 9 6 8 ) 6 e o d e Antó n i o Lopes Vi e i ra ( 1 9 7 8 ) ? Ambos s u b l i n hara m n o s seus
estudos a d i ficuldade e m esta bel ecer u m critério ú n ico para defi n i r os con ceitos d e cidade
e p o p u l a çã o urbana e procu rara m e n u n ciar as várias perspectivas possíveis, distingu i n d o
cada uma delas e remetend o-as para a s características específicas d a s fontes estatísticas
nacionais. Entre a m u l t i p l icidade d e defi n i ções aceites s o b re o que d eve ser consid erada
uma c i d a d e , estes a u to res d estaca m três critérios, q u e p o d e m s u rg i r asso c i a d o s na
d estri n ça entre espaço rural e espaço u rb a n o . Referi m o - n os à base d e m ográ f i c a , à
geográfica (on d e se i n c l u i a a d m i n istrativa) e á sócio-eco n ó m i ca .
O p r i m e i ro baseia-se n u m press u posto mera m ente q ua n titativo. N esse s e n t i d o
d everá ser considerada ci dade t o d o o n ú cleo o n d e exista u m a p o p u l a çã o concentrada
su perior a 20 m i l i n d ivíd u os, para segu i r os l i m ites propostos e m 1 96 8 p e l a O rga n izaç ã o
das N a ç õ e s U n idas. Este va l o r n u m érico é ta m b é m utiliza d o p a r a d i sti n g u i r a p o p u l a çã o
u r b a n a da rura l .
Na perspectiva geográ f i c a , a ci dade fu nciona c o m o u m e s p a ç o centra l , e n volto
por u m a periferia d e extensão variáve l , co m a qual o centro u r b a n o mantém re lações de
quotidiano a vários níveis, como o das n ecessidades d e su bsistência o u o d e paga m ento
d e i m p ostos e rendas fu n d i á rias.
Por sua vez, o critéri o econ ó m i co con sidera cidade o u n ú cl e o u r ba n o todo o
espaço q u e centra l ize determ i na das fu n ções de tipo p o l ít i co-a d m i n istrativo, j u d i c i a l o u
econ ómico c o m o território circu n dante. N o s centros u rbanos p re d o m i n a m as activi dades
do s e c t o r terci á r i o , m a s é ta m b é m a í q u e se c e n t ra l iza m as a c t i v i d a d es e co n ó m i ca s
l iga das à i n d ústria e a o comérci o .
Na a c t u a l i d a d e f o i cri a d a u m a q ua rta categoria p a ra d e f i n i r u m a ci d a d e , q u e
co i n c i d e com o a parecimento das m etró poles. Nelas existe u m a ci d a d e p r i n c i p a l e vários
outros centros urbanos, por norma de origem mais recente ou desenvolvimento posteri or,
os q ua is mantêm rela ções de su baltern i d a d e face à gra n d e u rbe. Esta ú ltima d i fere e m
vá rios a s p e ctos b á s i c o s d a c i d a d e t ra d i c i o n a l , s o b ret u d o n o q u e resp e i ta à o c u p a ç ã o

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TERESA RODRIGUES E MARIA LUiS ROéHA PINTO

terci á ria do s e u territó r i o e á p rogressiva desertifréação de a l gumas das suas zonas o u


bai rros centrais. Vej a m -se o s casos d a s Baixas d e L isboa e Porto a.
Em relação à realidade portuguesa no último século, os dados estatísticos d isponíveis
s o b re o n ú m ero d e ci d a d es e a evol ução da p o p u l a çã o u rbana em termos q u a ntitativos
e d e d istri b u i çã o n o espaço naci o n a l fora m sendo i n cl uídos n os Recenseamentos Gerais
da População Portuguesa. rea l iza dos com peri o d i c i d a d e quase decenal a part i r de 1890.
Portuga l segu i u até 1940 os critérios na época aceites pela maior parte dos Estados
e u ro p e u s sobre o que d everia ser tido como rura l e u r b a n o . D esse modo, a s estatísticas
restringem a perspectiva d e recol h a a aspectos d e o rdE{ m a d m i n istrativa , basea d os no
regi m e j U rí d i co d e cidade o u local izaçã o d e determ i n a d o centro. D e acord o com este
pri n ci p i o . a d q u i riram o estatuto d e cidade todos os n ú cl e os p o p u laci o n a i s que foss e m
capita i s d e distrito (mesmo q u a n d o vilas, c o m o aconteceu c o m V i l a Rea l e m 1890 e 1900).
as sedes de d i ocese e as sedes de tri b u n a l de comarca (o q u e i n cl u ía a l gumas s e d es d e
concelho). Este critério não consid erava as d i m ensões demográficas. N o e ntanto, a t é 1930
eram contabilizados como urbanos todos os residentes nas vilas ca beça de concelho; em 1940
co m p u n h a m a p o p u l ação urbana todos os i n d i ví d u os resi d entes em aglom erações com
dois mil o u mais e fectivos; e e m 1960 os resi d e ntes n a capita l d e d i strito e q u a l q uer
outro n ú cleo q u e contasse dez m i l o u mais a l mas.
M u itas são as críticas que podemos fazer à q u a l i d a d e d estas séries. nas quais é
patente o pred o m í n i o de critérios j u rí d ico-a d m i n istrativos q u e n e m sem pre corres p o n d e m
a u ma rea l i d a d e urbana. Em pri m e i ro l ugar p o r q u e a l gumas v i l a s e aglom erados dispersos
por todo o Pa ís têm mais res i d entes q u e certas cidades, e m b o ra não constem no tota l
da p o p u lação u rb a n a . De pois, porq ue o l i m iar d os d o i s m i l efectivos é d e m a s i a d o b a i x o
p a r a q u e poss a m os a f i rmar sem q u a l q u e r d úvida q u e os centros ass i m sel ecci o n a d os
d esem p e n h e m de facto um papel social e eco n ó m i co « u rb a n o » 9
D esta i nsatisfa ç ã o ge n era l izada perante os res u ltados q u e possa m v i r a s e r
extraídos a part i r d e u m est u d o basea d o e m excl usivo nas estatísti cas p u b l i cadas. s u rg i u
o d esej o d e ree q uacionar o p rocesso recente d e u r b a n ização portuguesa. aj usta n d o
segu n d o n ovas perspectivas a n a l íticas a i n formação ex iste nte. A s concl usões v i n das a
l u m e nos ú lti mos a n os consegu iram e l u cidar a lguns aspectos essenciais so bre o p rocesso
de cresci m e nto d essa baixa d e p o p u l a ção.
Assim sendo, é h oj e possíve l conhecer o sistema u rba n o português e sua evo l u çã o
global. a o l o n go desta ú l t i ma centúria.

o processo de u rbanização em Portugal


de acordo com as sínteses existentes (1890- 1991)

Como atrás se expl icitou. as d i ferentes abordagens da temática da urbanização, a


complexidade dos respectivos conceitos e as d i ficuldades de i n formação estatística, to rnam
co m p l i ca d a a a b o rdagem d esta q u estã o n u ma ó ptica secular.
D este m o d o considero u -se mais correcto u t i l izar a i n formação com p i l a d a p o r Ana
Bela N u n es 10 Esta autora toma os dados contidos nos censos a nível de lugar e respectivas
d i m e n sões. o u sej a , tra ba l h a os centros a partir d e uma determi n a d a d i m ensão p o p u l a ­
ci o n a l , situ a n d o ass i m n u m a perspectiva estrita m ente d e m ográ f i ca a a b o rdagem da
evo l u çã o d o processo d e u rban ização. Mesmo n esta ó pt i ca as d i fi c u l d a des exist e m . j á
q u e a lguns d os censos n ã o d i spõem d e ta l i n formação. N u n es o p t o u p o r estimar os dados

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A EVOLUÇÃO URBANA EM PORTUGAL NO ULTIMO SÉCULO ( 1 890- 1 99 1 1

em falta para os censos de 1890, 1900, 1920 e 1930. Apesar das distorções q u e possam ter
s,ido i n trod uzidas, esta será porventura a melhor a p roximação q u e enco ntrá m os á evo l u çã o
se cular da d i m ensão d os n ú cl eos p o p u l acionais.
De acordo com esta opção metodológica, fora m excluídas quaisquer considerações
relativas ás fu nções a d m i n istrativas o u econ ó m i co-sociais que possa m ser d e f i n i doras do
que d eve ser tido como centro u rba n o . Relativa m ente á classificação a d m i n i stra t i va do
que é u rb a n o o u r u ra l , não cremos i ntroduzir envieza m e ntos s i g n i f i cativos, dado q u e
essa classificação, n o passa d o como n o p resente, t e m correspo n d i d o p o r n orma a
critérios d e í n d o l e p o l í t i ca , q u e m a i s n ã o fazem do q u e bara l h a r a n o ç ã o do q u e é o u
não urbano.
Como vimos, a parti r d e 1968 os o rga nismos da O N U a p e n as considera m como
dignos d e figu rar n a d esignação d e cidade os centros com u m a p o p u l a çã o aglom erada
d e mais d e 20 m i l h a b itantes. Poré m , as características da evo l u çã o da p o p u l a çã o portu­
guesa, a ss i m como a sua h i stória e ti pos d e p ovoamento, l eva m - n o s a ace itar tratar os
centros com mais d e 5 mil h a b itantes, sobretu d o porque se p rete n d e uma visão secular
a i n i ciar-se nos f i n a i s do sécu l o XIX.
De facto, n essa época a fas q u i a dos 20 m i l parece ser demasiado a l ta e cre m os
ser mais l ógico tomar, nesta visão secular, o l i m iar d os 1 O m i l e fectivos como d e f i n i d o r
d e centro u rb a n o . P o r o u tro l a d o , o facto d e considerarmos o s centros c o m mais d e 5 m i l
h a bita ntes permite-nos uma m e l h o r visão da evo l u ção e cresci mento dos centros p o p u l a ­
c i o n a i s d o País, q u e possa m ter a lgumas característ i cas urbanas. Relativa mente a o pata mar
dos 10 mil cremos que as principais fu n ções econ ó m i co-sociais que d e f i n e m u m a gl o m e ­
r a d o c o m o u rb a n o o u c o m o c i d a d e estarão p resentes.
N o Q u a d ro 1 a p resenta-se a p e rcentagem d e p o p u l a ç ã o u r b a n a e m re l a ç ã o á
popu lação tota l nos centros com mais d e 5 , 1 o e 20 m i l h a b i ta ntes, ou sej a , o nível de
urbanização po rtuguês no ú l t i m o século.

Q U A D R O I - N Í VEL D E U R BA N IZAÇ Ã O

(Po p u l a ção u rb a n a / p o p u l a ção tota l , em p e rc e nta g e m )

H A B I TA N T E S 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991

+ 5 000 1 4,9 1 6,2 1 7,3 1 8, 1 20,8 22,0 24,2 26,9 30, 1 34,6 39,4
+ 1 0 000 1 1 ,3 1 2 ,4 1 3, 1 1 4,2 1 6,2 1 7, 4 1 9, 3 22,3 26,5 29,7 33,2
+ 2 0 000 9, 1 1 0, 1 1 1 ,5 1 1 ,9 1 3,9 1 4, 9 1 6,2 1 7, 7 20,4 23,4 24,5

Ta nto este q u a d ro como o segu i nte, com o tota l d e centros situados acima d e cada
u m destes patamares d e m ográficos, prova m a l e n t i d ã o d o cresci m e nto da p o p u l a çã o n os
aglomera d os de mais de 5 m i l h a b itantes. Ch ega mos á ú l t i m a década do sécu l o XX com
u m a p e rcentagem d e p o p u l ação n estes n ú cleos a i n d a i n ferior a 40%. Nos centros com
d i m e nsões que i m p l i c a m característ icas urbanas (+ d e 1 O 000 res i d e n tes) este va l o r
situa-se e m 33%. Veja -se q u e e m meados do sécu l o o s centros c o m m a i s d e 1 o m i l h a b i ­
t a n t e s a i n d a n ã o ch egava m a a l be rgar u m q u i n to d a p o p u l a çã o p o r t u g u esa , o q u e
revela a proporçã o d i m i n uta d a p o p u l a çã o a viver e m p e q u e n a s cidades. S e excl u i rmos
d esta a n á l ise os va l o res obtidos através d e estimativas (a n os d e 1890, 1900, 1920 e 1930),
veri ficamos q u e em 19 1 1 n os n ú cl e os u r b a n os ou para - u rb a n os a penas viviam cerca d e

1 1
TERESA RODRIGUES E MARIA LUÍS ROCHA PINTO

6% dos portugueses. Tri nta a n os mais tard e ( 1940) este va lor subira um ponto percentual e
em 1970, o utros tri n ta a n os depois, a p o p u l a çã o a resi d i r em centros com m a i s de 5 m i l
e m e n os d e 2 0 m i l h a b itantes cont i n u ava a n ã o representar u m déci m o d a p o p u lação.
Só e m 199 1 este va lor se a p roxi m a d os 1 5%.

QUADRO 11- N Ú M E RO D E CENTRO S U R BA NO S P O R N Í V E I S DE P O P U LA Ç Ã O

H A B I TA N T E S 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991

+ 5 000 38 39 44 44 59 68 85 96 99 143 181


+ 1 0 000 11 11 11 13 17 23 32 46 61 78 1 00
+ 20 000 3 3 5 3 6 8 12 16 22 35 39

Fica assim claramente demonstrada a i n capacidade de criação d e u m tecido urbano


d e m é d i a d i mensão, quer e m períodos d e fo rte cresci mento p o p u l a ci o n a l , como o q u e
d e corre e ntre 19 1 1 e 1940, q u e r em períodos i n f l u e n ciados p e l o êxodo p o p u laciona l ,
co m o g l o b a l m ente pode ser considerado o período d e 1940 a 1970. N o entanto, n o s dois
ú l t i m os decén i os esta rea l i d a d e parece ter sofrido algumas a lterações, mas, co m o se
s a b e através dos ritmos d e cresci m e n to conce l h ios e ntre 198 1 e 199 1, a percentagem d e
15% o b t i d a para a p o p u lação a resi d i r e m n ú cl e os entre 5 e 1 O m i l h a b ita ntes ref l e cte o
fe n ó m e n o de desertificação do m u n d o r u ra l .
A o bserva çã o d o Q u a d ro 1 1 conj ugada c o m a q u e fize mos anteriormente reve l a ,
p o r sua vez, q u e , d a d o s os n íveis d e u rban iza çã o co rres p o n d e n tes, a m a i oria d o s centros
se situará nos l i m iares mais ba ixos dos pata mares criados. O u sej a , a p o p u lação m é d i a
d os centros c o m mais d e 5 m i l habitantes situar-se-à pouco a c i m a d este l i m i a r e , d e i g u a l
m o d o , a p o p u lação m é d i a d os d e mais d e 1 O m i l .
N o c a s o d a s c i d a d e s c o m mais d e 2 0 m i l h a bitantes será possíve l vis l u m b rar
d i mensões médias m u ito s u p eriores, o q u e é causado logo á partida e a o l o ngo d e todo
o período consid era d o , pelas cidades d e Lisboa e Porto, as quais i m p l i cara m a subida da
média d o gru po. A leitura destes val o res prova também q u e a percentagem d e p o p u la çã o
a res i d i r e m centros c o m m a i s de 2 0 m i l habitantes constitu i u , a o l o n g o d o sécu l o , sempre
mais de metade do tota l de populaçã o residente em centros urbanos. Este fe n ó m e n o
e n contra-se l i ga d o á macrocefa l i a da cidade d e Lisboa e e m parte ta m b é m á d o Porto,
que a n a l isaremos a d iante.
Será ainda útil veri ficar q u a n tos centros u r b a n os se situa m en tre cada u m dos
pata m a res p o p u lacionais consid erados (Qu a d ro III).

QUADRO I I I - N Ú M ERO DE C E NTROS U R BA N O S SEG U N D O A S U A P O P U LA Ç Ã O

H A B I TA N T E S 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991

5 - 1 0 000 27 27 33 31 42 45 53 50 38 65 81
1 0 - 2 0 000 8 9 6 10 11 15 20 30 39 43 61
+ 2 0 000 3 3 5 3 6 8 12 16 22 35 39

A p r i m e i ra conclusão q u e n os permitem os dados é a relativa flutuação a o l o n g o


do t e m p o do nú mero de centros c o m 5 a 1 O mil residentes. Se a com pararmos c o m o s ritmos
m é d i os de crescime nto da p o p u l a çã o po rtugu esa e n co ntrare m os a l gu mas s i m i l i t u d es
entre os d o i s p ro cessos.

12
A EVOLUÇÃO URBANA EM PORTUGAL NO ULTIMO SECULO ( 1 890- 1 99 1 !

O s períodos d e m e n o r cresc i m e nto o u d e p erdas p o p u l a c i o n a i s , corres p o n d e ntes


às épocas de gra n d es fluxos emigratórios ou de crise social e politica, origi nam a d i m i n u i çã o
d o n ú mero de pequenos centros. o u sej a , m e s m o q u a n d o a d i m ensão p o p u l a c i o n a l j a
i m p l i ca a lguma estrutura u r b a n a , esta n ã o é capaz d e i m p e d i r as m i gra ções, faze n d o
c o m q u e m u itos d esses n úcleos d e i xe m d e poss u i r o s va l o res m í n i mos exigidos. Este
fe n ó m e n o ocorre nos períodos d e 1 9 1 1 / 2 0 e d e p o i s e n tre 1 9 5 0 1 7 0 . Part i c u l a r m e n t e
acentua d o é o d ecrésci m o nos a n o s 6 0 , década d u rante a q u a l o s e u n ú m ero b a i xa d e
5 0 para 3 8 , a o q u e co rres p o n d e u ma variação n egativa de 2 4 %. P o r sua vez, os períodos
de maior crescim ento populacional n e m sem pre coincidem com os de m a i o r crescimento
dos n ú cleos e ntre os 5 e os 1 O mil h a b itantes. D e facto, se p o d e m o s constatar u m
a u m e nto v i go roso d o n ú m ero d e centros e ntre 1 9 2 0 / 3 0 e 1 9 70/ 8 1 , e m b o ra c o m m u i to
m a i o r e x p ress i v i d a d e no segu n d o caso (+ 7 1 %), já em 1 9 3 0/ 4 0 , com u m cres c i m e nto
populacional idêntico, a penas mais três centros desta d i mensão s u rge m e a p ercentage m
da p o p u l a çã o n e l e s res i d ente n ã o se a ltera.
As p e q u enas c i d a d es com 1 o a 2 0 mil h a bitantes m ostram u m p ercurso basta n te
d i ferente. o n ú m ero destas p e q u e n a s c i d a d es é s e m p re crescente, se exceptuarmos o
d e cl í n i o sofri d o e ntre 1 9 00 e 1 9 1 1 (de 9 para 6) e q u e corres p o n d e a Elvas ter pass a d o a o
pata mar i n ferior, e n q ua nto Setú bal e Funchal t i n h a m e m 1 9 1 1 ja m a i s d e 2 0 m i l h a b i ­
ta ntes. Embora o ritmo de cresci mento sofra fl utuações e seja globalmente l ento, é interes­
s a n t e veri f i c a r q u e e l e evo l u i de acordo com um p rocesso o p o sto a o dos centros com
5 a 1 O mil h a b itantes. É exacta mente nos períodos d e m e n o r cresci m e nto p o p u la ci o n a l ,
o u mesmo d e re cuo, q u e o n ú mero d estas p e q u e n a s cidades a u m e n ta d e forma m a i s
significativa, como acontece na 2 . " meta d e d o sécu lo, e ntre 1 9 5 0 e 1 9 7 0 e depois e ntre
1 9 8 1 e 1 99 1 . É como se estas p e q u enas c i d a d es constituíssem um b a l u arte de refú g i o à
a d vers i d a d e das co n d i ções p o l íticas e sóci o-eco n ó m i cas d esses períod os.
o n ú mero das c i d a d es d e mais de 20 mil h a b i ta n tes a p e n a s começa a ter u m
cresci m e nto conti n u o , e m b ora m u ito l ento, a partir d e 1 94 0 , p o i s a t é a í sofre flutuações
d i versas pouco significativas. Como veremos ad iante, uma parte do cresci m ento d o n ú mero
destas c i d a d es l i ga-se à const i t u i çã o das á reas Metropol itanas de Lisboa e Porto. Para
a l é m do q u e os n ú m eros reve l a m d e per si, va l e a pena s a l i e n tar q u e o acrésci m o é m a i s
sign i f i cativo n a década d e 7 0 , d a d o q u e e m a p e n a s d ez a n os s u rgem m a i s 2 3 c i d a d e s
desta d i mensão.
U m a o u tra a b o rdagem possível á evo l u çã o da u r b a n ização e m Portuga l a o l o n go
do sécu l o consiste na comparação e ntre os ritmos m é d i os de cresci m e nto da p o p u l ação
q u e vive nas c i d a d es e os da p o p u la çã o tota l . D esta a n á l ise f i cara a usente a p o p u l a çã o
d o s centros c o m m a i s d e 5 m a s m e n os d e 1 O m i l habitantes. Por u m l a d o porq u e , q u a n d o
co n s i d e ra d a , o a n d a m e nto da cu rva d esses n ú c l e o s q u a s e r e p ro d uz o d a p o p u l a çã o
total d o País, e m b o ra a n íve is s e m p re u m p o u co superiores; p o r o utro p o r q u e n ã o n o s
parece correcto consid erá - l os d e facto u rb a n os.
o G ráfico 1 co m p rova estas afi rmações. Através d e l e p o d e m os veri ficar a s i m i l i ­
t u d e d e a n da m e ntos e ntre as três curvas e p rovar q u e , d e a l g u m a fo rma, os ritm os d e
crescim ento u rb a n o s ã o fo rtemente con d i ci o n a d os p e l os da p o p u l a ç ã o tota l . Veri f i c a m os
ta m b é m q u e no i n ício da centúria considera d a , o ritmo m é d i o de cresci m e n to da p o p u ­
l a ç ã o u rb a n a é fra n ca m ente s u perior a o d o tota l da p o p u l a çã o , mas a pe n a s feito á custa
das c i d a d es de m a i s de 20 m i l h a bitantes, como a s o b reposição dos va l o res i n d i ca . Já na
década segu i n t e , ou m e l h o r, nos onze a n os q u e se segu e m até ao censo de 1 9 1 1 , o
i m p u lso de cresci mento das mai ores cidades é m u i to significativo, mas vam os assistir a u ma
d i m i n u i çã o do ritmo de cresci m e n to das p o p u l a ções n os centros com m a i s de 1 O m i l

13
TERESA RODRIGUES E MARIA LUiS ROCHA PINTO

res i d e n tes, o q u e co rres p o n d e mesmo a u m a perda populacional nos n ú cleos d esta


d i mensão.
Nos n ove a n os q u e se segu e m , correspondentes a o período conturbado da implan­
ta çã o da Pri m e i ra Re p ú b l ica e a u m fo rte fluxo e m igratório, a p o p u l a çã o p ortuguesa
p o u co cresce. O mesmo acontece a o tota l d e res i d e n tes nas m a i o res cidades, pelo q u e
o ritmo d e cresci mento demonstra do n o s centros c o m mais d e 1 o m i l h a b itantes é obti d o ,
p o rta nto, q uase só à custa d o cresci m e n to das c i d a d e s com 1 o a 2 0 m i l h a bitantes.
D e 1920 a 1930 a p o p u lação portugu esa sofre u m acrésci m o s i g n i f i cativo , que se
p ro l o n gará pela década segu inte. Por sua vez, o cresci m e n to u r ba n o é basta nte forte
n a q u e l a p r i m e i ra década e u m p o u co m e n o r n a segu n d a . Poré m , esse a u m e nto é então
q uase só fei to à custa d o cresci m ento das ci d a d es d e mais d e 2 0 m i l h a b itantes, como
se p o d e ver n o G rá f i co 1.

GRÁFICO 1 -PO P U LA Ç Ã O T O TA L E P O P U LAÇ Ã O D O S C E NTROS


C O M M A I S D E 1 0 E 2 0 MIL H A BITA N TES

(Ta xa s d e c re s c im e nto a n u a l m éd io , e m p e rc e n t a ge m )
3 r-------.

2,S

o,s

1890 1990

�� �------�

C • Tota1Pop. -...c.+IOOOO -.-c.+20000 I

A partir de 1940 os ritmos de cresci m e nto da p o p u l a çã o p o rtuguesa vão d e cres­


cen d o , até s e tornarem n eg at ivos e n tre 1960 e 1970. A m e s m a t e n d ê n ci a regista a
população urbana, só q u e n este caso os va lores ma ntêm-se sempre positivos e até relati­
va mente e l eva d os. Há, n o entanto, que ressaltar o facto do ritmo d e cresci m e n to das
m a i o res cidades ser s e m p re i n feri o r a o d o das p e q u e nas cidades (entre 1 O e 20 mil h a b i ­
ta ntes), c o m o o a n d a me n to da cu rva para a p o p u l a çã o e m cidades d e m a i s d e 1 o m i l
a l mas permite visua l izar.
o período segu inte volta a ser de enorme cresci m e n to p o p u l a ci o n a l , d ev i d o fu n ­
d a m enta l m ente a o retorno d a s ex-col ó n ias. Será uma vez mais a p o p u l a çã o u rb a n a n a s
maiores cidades cresce d e forma m u ito exp ressiva , regista n d o as ci dades d e m a i s d e 1 o m i l
h a b itantes m e n o res a u mentos, q u e sã o o s va l o res m í n i m os d a centú ria.

14
A EVOlUÇÃO URBA NA EM PORTUGA l NO Ú lTIMO SECUW ( 1 8 90- 1 9 9 1 )

F i n a l mente, e ntre 1 9 8 1 e 1 9 9 1 , a estagnação do a u mento p o p u laci o n a l , tra d u z i d a


n u m a taxa d e crescime nto an ual m édio próxima d e zero, va i a i n d a perm i t i r a conti n u a çã o
d o a u m e n to u r b a n o , s ó q u e a u m ritmo m u ito i n feri o r. Face aos comporta m e n tos j á
d etectados no passado não será assim d e a d m i rar q u e em época d e m e n o r crescime nto
p o p u lacional g l o b a l , sej a m os centros com p o p u l a çã o e ntre os 1 O e os 2 0 m i l h a b itantes
a crescer de fo rma mais acentuada, e as m a i o res cidades a reve larem um cresci m ento
p o u co expressivo.

os Distritos: uma realidade diversa

A a n á l ise q u e fizemos a n íve l naci o n a l fazia já p rever a existência de profu n das


d i feren ças no q u e respe ita a o p rocesso de u rban ização em Portuga l . M u i to e m b ora possa­
mos d i v i d i r o País e m l itora l / i nterior e mesmo e m n o rte/s u l , são no e n ta n to evi d e ntes as
especi f i c i d a d es reg i o n a i s a o l o ngo do século.
Nos Q u a d ros IV a VI a presentam-se as percentage n s d a p o p u lação que e m cada
d i strito e ano d e rece nseame nto h a b i tava os centros contidos nos três i nterva l os co n ­
s i d erados (de 5 a 1 O m i l h a bitantes, d e 1 O a 2 0 m i l e c o m mais d e 2 0 m i l ) , os q u a i s n o s
permitem algumas o bservações d e pormenor.
A a n á l ise das formas de evol ução d os distritos de Lisboa e Setú ba l , a S u l , e d o
Porto, a N o r t e , só ga n h a m sign i ficado q u a n d o a l iadas à ! esta const i t u i çã o das á reas
M e t ro p o l ita n a s das d u a s m a i o r e s c i d a d e s , a s q u a i s c o n st i t u e m c a s o s e x ce p c i o n a i s .
A rea l i dade vivida n estas d uas regi ões contrasta c o m o resto do País.
N este sentido basta verificar q u e e m seis d i stritos d o Con t i n e nte n u n ca exist i ra m
c i d a d es c o m m a i s d e 2 0 m i l res i d e n tes. Referimo-nos a Bej a , Braga nça, G ua rd a , Porta ­
l egre , Vila Rea l e Viana do Castel o , todos e l es situa d os no interior, à excepção d o ú l t i m o .
Em s e i s outros, o a pareci m ento d e cidades d esta d imensã o data da 2 ." meta d e d o século.
É o caso de Ave i ro e Faro nos a n os 6 0 , de Viseu em 7 0 , ou mesmo apenas, na década
segu i n te, d os distritos d e Leiria e Sa ntarém .
Por s e u t u r n o , B ej a , Évo r a , Porta l egre, Faro e o a rq u i p é l a g o d o s Aço res t ê m
d e s d e o i n ício d o sécu l o p e rcentage n s m a i s e l eva das d e p o p u l a ç ã o a v i ver e m centros
d e 5 a 2 0 mil resi d entes que os resta ntes d i stritos. N o caso de Évora , o cresc i mento da
c i d a d e c a p i t a l d e d i strito d eterm i n a a part i r d e 1 9 4 0 a e m ergê n c i a d e u m centro com
mais d e 2 0 mil h a b itantes. Se n os distritos a l entej a n os o povo a m ento concentrado é u m a
c o n sta n t e est r u t u r a l p l u r i ss e c u l a r, n o d e Faro, a s a ct i v i d a d es cost e i ra s j u st i f i c a m a
perma n e n t e existê ncia de vá rios centros de m é d i a d i m e nsã o. O cresc i m e nto d a s c i d a d es
a l ga r v i a s p rovo ca a p a r t i r d e 1 9 7 0 p e rc e n t a ge n s c a d a vez m a i s s i g n i f i ca t i va s d e
p o p u l a ç ã o a viver e m cidades acima dos 2 0 m i l h a bitantes.
Ta m b é m os Açores, na m u l t i p l i ci d a d e das suas i l has, dese nvolvera m p e q u e n os
centros p o p u lacionais, q u e se foram m a n t e n d o com m a i o r ou m e n o r cresci m e nto e a o
s a b o r d os fl uxos em igratórios. A c i d a d e d e Ponta D e l gada asce n d erá e m 1 9 4 0 a o escal ã o
su peri o r, e m b o ra e m 1 9 9 1 d esça para o nível i n feri o r a este pata mar.
O interior Norte reve la m u i to p o u co d i n a m ismo em termos do p rocesso de u rb a ­
n iza çã o, como acontece e m Braga nça, Vila Rea l , G uarda e Vise u , i n ca pazes d e criar u m a
red e u r b a n a c o m s i g n i f i c a d o . Em 1 9 2 0 , o d i strito da G u arda n ã o t i n h a s e q u er u m centro
com 5 m i l h a b itantes. N esta região, os res i d e ntes em n ú cleos u r b a n os situava m-se até
m e a d os do sécu l o na sua q uase tota l i d a d e e m n ú cl eos com p o p u lação i n feri o r a 1 o m i l
efectivos. S ó na segu n d a parte d a centúria começam a s u rgi r n estes d i stritos p e q u e nas
cidades.

15
TERESA RODRIGUES E MARIA L UiS ROCHA PINTO

Q UAD R O I V - P E R C E NTA G E M DA P O P U LAÇÃO A V I V E R EM CENTROS DE M A I S DE 5 M I L


H A B I TA NTES E M E N O S D E 10 M il EM R ElAÇÃO À P O P U lA Ç Ã O T O TA L D O D I S T R I T O

C E N TROS
1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991
P O P U LAC I O N A I S
Aveiro 4,7 6.4 6,3 -
7,7 4,8 7,8 4,1 4,0 3,7 8,3
Beja 4,6 4,7 1 2,1 1 0,2 7.7 9,2 1 3 ,8 8,2 6,8 1 0.2 8, 1
Bra ga 2,5 2,5 2,4 2 ,3 - -
3,5 2,2 1,1 0, 9 1 ,0
Braga nça 3,1 2,9 2,9 3, 1 3,3 3,3 3,6 3,5 -
3,1 5,0
caste l o Bra nco 2.7 2 ,8 2.7 3.2 2.7 4,8 - - - -
2,7
Coi m b ra 1 ,8 1 ,9 1 ,9 1 ,9 2,0 -
1 ,4 - - - -

Evora 4.4 4.7 4,0 3 ,9 8,0 5,7 5,5 8.2 6, 9 1 2.4 1 8 ,6


Faro 1 2 ,6 1 7 ,0 1 3, 1 7,4 9,5 1 0, 7 8,3 8,1 9,1 9,1 1 1 ,9
G u arda - - - -
2,0 2,2 2,5 3,2 - - -

Le iriil - -
2,1 2,3 8 ,3 8.4 4,1 7,2 3,7 2,9 3,5
Lisboa - - -
0,7 2,0 3,2 6,6 6, 1 2,9 6,8 6,5
Po rta l egre 20,6 1 1 ,5 1 5 ,8 1 5,5 1 4,8 1 1 ,6 6,8 6,7 4,6 4,9 5,3
Po rto -
1 ,0 2,2 2, 1 2.2 2,9 3,2 2,8 2,5 4,1 5,3
S a n ta ré m 4,7 4,5 5.4 5,5 1 0,0 8,6 9, 1 9,5 8,1 9,6 1 2.4
Setú b a l 5,2 8,7 1 2 ,4 7,5 6,8 8,3 3,7 2,0 7,1 8,9 1 2, 5
Viana d o caste l o 4,3 4,3 4,3 4,4 - - - - - -
5, 7
Vila Rea l 5,2 5,0 5,1 5,1 5,3 5,8 4,7 1 ,7 5,7 2,2 2,2
Viseu 3 ,6 3,7 3.4 3 ,6 4.4 1 ,5 1 ,5 1 .7 2,1 5.4
Açores 9,3 9,4 8,8 8,7 9,8 1 4,0 1 3 ,6 1 6,9 1 3 ,6 1 5,6 1 0, 8
M a d e i ra - - - - - - - - - - -

Conti n e n te 3,4 3,7 4,2 3, 8 4,6 4,3 4,8 4,1 3,3 4,8 6,3
Ilhas 6,1 5,9 5,2 4,9 5,4 7,5 7.4 9,3 7,3 7,7 5,2
Portu g a l 3,6 3,8 4,3 3 ,9 4,6 4,5 5,0 4,5 3,6 4,9 6,2

Q UAD R O V - P E R C E N TA G EM D A P O P U LAÇÃO A V I V E R E M C E N T ROS D E M A I S D E 1 0 M I L


H A B I TA N TES E M E N O S D E 2 0 M il EM RElAÇÃO À P O P U LA Ç Ã O T O TA L D O D I S T R I TO

C E N T RO S
1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991
P O P U LA C I O N A I S
Ave i ro - - - - -
2,6 2,8 7,9 4,7 4,7 1 0, 3
Bej a - - - -
4,5 4 ,4 4,8 5,7 7,8 1 0. 4 1 1 ,3
Braga - - -
5,2 2,5 2,5 3,3 - -
1 ,5 1 ,5
Braga nça - - - - - - - -
5,6 7,7 9,9
caste l o Bra n co 6,8 5,7 5,2 4, 7 4,0 4,3 4,0 4,7 7,5 2.7 2,9
Coi m bra 4, 9 4,9 5,1 5,3 -
2,4 2,4 2,5 2.7 2,9 -

Evo ra 1 0, 0 9,7 9,3 7,8 1 0, 1 - - - - - -

Fa ro -
3 ,8 7,7 9,6 9,7 1 4, 1 1 4,9 8,0 9,2 8 ,4 -

G u a rda - - - - - - - -
4,7 6,8 9,5
Leiria - - - - - -
5, 1 5,4 6,8 1 0, 5 3,6
Lisboil - - - - - - -
2,9 97 8,8 1 3 ,9
Porta l egre -
8,3 - - -
6,0 1 0,6 1 2, 1 1 4 ,6 1 9 ,6 25,8
Porto -
2,0 1 .7 1 ,7 4,1 3,5 1 ,6 5,3 7.7 4 ,6 9, 1
Sa n tarém - - - - -
2,5 2,8 3 ,6 9,5 9,9 8,5
Setú b a l 1 3,0 1 3, 7 -
5,5 6,9 7,4 7,8 1 2, 1 3,9 1 0, 4 1 7 ,0
V1a n a d o caste l o - - - -
�. 4 4,8 5,0 5,2 5,4 5,9 -

Vila Rea l - - - - - -
3,5 7,2 4,0 9,2 1 0, 8
Viseu - - - - -
2 .3 2.7 3,5 4,0 - -

Açores 1 0, 1 1 0, 2 6,0 5,8 7,1 -


3,2 4, 1 5,0 5,0 1 2,9
M a d e i ra 1 1 ,8 11 6 -
11 1 - - - - - - -

Conti n e n te 1 ,5 1 ,6 1 ,2 1 ,9 2,2 2,6 3. 2 4 ,8 6 ,3 6,5 8,8


Ilhas 1 0, 7 1 0, 7 3,5 8,1 3,9 -
1 ,8 2,3 2,7 2 ,5 6,2
Portu ga l 2.2 2,3 1 ,4 2,3 2.3 2,4 3, 1 4,6 6, 1 6 ,3 8,7
FoNn, E l a b o raçao nossa a partir d e N u n e s ( 1 9 8 9) e XIII Rece n s e a m e n to G e ral.

16
A EVOL UÇÃO URBANA EM PORTUGAL NO ÚLTIMO SÉCULO 1 1 8 90- 1 9 9 11

Q U A D R O V I - P E R C E NTA G E M DA P O P U LAÇÃO A V I V E R EM C E N T ROS DE M A I S D E 2 0 M I L


H A B I TA N TES E M RELAÇÃO À P O P U LA Ç Ã O T O TA L D E CA D A D I ST R I TO

C E N T RO S
1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991
P O P U lAC I O N A I S
Ave 1 ro - - - - - - - -
3,8 4,6 5,0
Bej a - - - - - - - - - - -

Braga 6,1 6, 1 5,8 -


6,0 5,9 5,9 1 0,8 1 2,2 1 2 ,0 17,9
Bragança - - - - - - - - - - -

Castel o Branco - - - - - -
6,3 7,3 1 0,6 1 8,3 22,3
Coi m bra - - - -
6,6 6,6 9,6 1 0, 7 1 4, 1 1 7, 1 2 7 ,0
Évo ra - - - - -
1 0, 5 1 1 ,6 1 1 ,0 1 3,4 1 9,3 2 1 ,9
Fa ro - - - - - - - -
7,7 1 4,9 1 6,5
G u a rda - - - - - - - - - - -

Leiria - - - - - - - - - -
1 6 ,6
Lisboa 60,7 62,2 63,5 65,2 65,6 66,3 64, 1 62,2 5 7 ,6 5 5 ,4 50,7
Porta l egre - - - - - - - - - - -

Porto 25,4 2 8, 1 28,6 28,9 28,7 28,0 33,1 3 2 ,4 28,9 3 1 ,2 29,9


Sa ntarém - - - - - - - - - -
5,3
Setúb a l - -
1 5,3 -
1 6,2 1 3,8 20,4 28,0 40,5 40,2 34,8
Viana d o Ca ste l o - - - - - - - - - - -

Vila Rea l - - - - - - - - - - -

Viseu - - - - - - - - -
4,7 5,1
Açores - - - - -
7,3 7,0 6,8 7,4 8,7 -

M a d e i ra - -
1 1 ,9 -
1 4,8 1 5,8 1 3,7 1 6, 1 1 6 ,0 1 7 ,4 39,2
Continente 9,9 1 0, 9 1 2 , 2 1 2 , 3 1 4 ,4 1 5 , 1 1 6 ,6 1 8 , 2 2 1 , 0 2 3 , 9 24,7
ilhas - -
4,9 -
6,7 1 1 ,3 1 0, 1 1 1 ,0 1 1 , 4 1 3,2 20,2
Portugal 9 , 1 2 3 1 0,06 1 1 ,6 9 1 1 , 4 2 1 3 ,86 1 4 , 8 5 1 6 , 1 9 1 7 , 7 3 2 0 , 3 7 2 3 , 3 6 24,5
FoNll: Elaboração n o ssa a part i r d e N u n e s (1 989) e X I I I Rece n s e a m e n to G e ral.

As resta ntes u n i dades a d m i n i strativas, situadas J U nto ao l itora l , têm um a u m ento


do n íve l de urban ização extre m a m ente l e nto, mas conti n u o . É o l e nto « engordar» d os
peq u e n os centros p o p u lacionais. Nos casos de Avei ro e Leiria este p rocesso é s e q u e n ci a l ,
m a s n o de V i a n a do Castelo e l e é bruscamente i nterro m p i d o .
o processo d e u rban i zação e m Coi m b ra é d o m i n a d o p e l a respectiva c i d a d e , q u e
u l trapassará os 2 0 m i l h a b i ta ntes e m 1 9 3 0 , secundada pela Figu e i ra d a Foz, ú n i co centro
a crescer para além daquela. A este nível, a realidade distrital coi m b rã demonstra u m a fraca
capaci dade d e urba n iza çã o , em tudo semelha nte á q u e caracteriza o i nterior.
Na Reg i ã o Autó n o m a da M a d e i r a , o F u n c h a l d o m i n a e m a b s o l uto o p ro cesso,
Em 1 9 9 1 , esta c i d a d e será a terceira m a i o r do País e n os ú l t i m os cem a n os n u n ca teve
m e n o s de 1 5 m i l h a b i ta ntes. D u rante esse período n e n h u m o utro centro m a d e i re n s e
a t i n g i u sequer 5 m i l res i d entes.

A dominação demográfica das cidades de Lisboa e Porto

Uma vez d e l i n e a d o o p a n orama evol utivo d o sistema u rb a n o português, cu m p re


dar o m erecido d esta q u e às «gra ndes cidad es» portuguesas, d e fi n i das de acordo com os
l i m ites q u a n titativos consid erados (mais de 2 0 mil resi d e n tes).

17
TERESA RODRIGUES E MARIA LUÍS ROCHA PINTO

Na vi ragem do sécu lo existiam apenas três n ú cleos com popu lação superior a 20 m i l
e fectivos. Re fe ri m o - n os a L i s b o a , Porto e B raga, q u e n o s e u conj u nto co rres p o n d i a m a
9 , 1 % do tota l de resi d e n tes no Cont i n e nte e I l has. Em meados da centúria o n ú m ero d e
cidades fixava -se e m 1 2 , corresp o n d e n d o a 1 6 , 2 % d a p o p u lação tota l . N o ú l t i m o censo
estes asce n d i a m a 3 9 e 24,5 o/o, respectiva m e nte. Ass ist i u-se porta n to a u m a u mento do
peso re lativo d e «gra n d es cidades» no contexto naci o n a l , locais onde h oj e vive cerca de
u m q u arto da p o p u l ação p o rtuguesa.
E m termos rea i s , o tota l d e centros u r b a n os acima d e 20 mil h a b itantes regis­
tara m nos ú lt i m os cem a n os um a u m e nto d e 1 2 0 0 %, que se traduz a n íve l p o p u l a c i o n a l
por u m acrésci m o d e 1 69 %. O desfasam e nto e ntre os d o i s i n d i ca d o res ve m co n f i rmar a
n e cess i d a d e de proceder à a n á l ise do p rocesso de forma mais deta l ha d a , Jà q u e e l e se
efectu o u e m m ol d es d i versos a o longo d o último sécu l o .
A p r i m e i ra conclusão a ret i ra r é a d e q u e a m a i o r parte d os n ovos centro s u r b a n o s
d o pata mar su perior poss u i u m a p o p u lação residente q u e p o u co u l trapassa os l i m ites
m í n i m os. Duma fo rma gera l , o s u rgi m e n to d e n ovos n ú cleos é d ev i d o a os ritmos d e cres­
c i m e nto global que a p o p u l ação portugu esa regista e m a l gu n s d estes períodos, e m b o ra
l h e sej a fra n ca m ente s u perior, como teste m u n h a m as taxas de cresci m e n to a n u a l m é d i o
c a l c u l a d a s para Portuga l e os m a i o res centros u rbanos a o l o n g o d o período e m a n á l ise.
(Qua d ro Vil).
D e uma forma gl o b a l são os ritmos com q u e a u m e nta m as d uas gra n d e s c i d a d es
p o rtuguesas, s o b retudo a capita l , q u e c o n d i c i o n a m a i n t e n s i d a d e de cresci m e nto d o s
centros u r b a n os. Como p o d e m os veri ficar (Q u a d ro V i l ) se retirarmos Lisboa e Porto a o
conj u nto dos n ú cleos com m a i s d e 2 0 m i l e fectivos, as t a x a s d e cresci m e n to a n u a l m é d i o
c a l c u l a d as para o s períodos i ntercensitários to rnam -se m u ito osci l a n tes.

Q UAD R O V I l - C R E S C I M E NTO D I F E R E N C I A D O D A P O P U LA Ç Ã O P O RT U G U ESA


E A R E S I D ENTE N O S P R I N C I PA I S C E N TROS U R BA N O S

( Ta xa s d e c res c im e nto a n u a l , e m p e rc e n t a g e m )

P O P U LA Ç Ã O S E M L I S B OA
A N OS + 20000 L I S B OA P O RT O
T O TA L E P O RT O

1 8 90- 1 900 0,75 1 ,7 1 0,50 1 ,72 1 ,92


1 900- 1 9 1 1 0,86 2 ,2 5 1 0,93 1 ,8 9 1 ,32
1 9 1 1 - 1 9 20 0, 1 4 0,36 - 8,40 1 ,29 0,5 1
1 920- 1 930 1 ,2 4 2,77 1 4,53 2,02 1 ,35
1 9 3 0 - 1 940 1 ,24 1 ,94 3,89 1 ,6 1 1 ,22
1 9 4 0- 1 9 5 0 0,89 1 ,85 5,97 1 ,2 1 0,71
1 9 50- 1 960 0,48 1 ,36 4, 1 6 2,40 0,76
1 9 60 - 1 9 70 - 0, 2 1 1,12 3,85 - 0,54 - 0,06
1 9 7 0- 1 9 8 1 1 ,2 9 2,44 4 , 90 0,56 0,80
1 98 1 - 1 99 1 0,03 0,5 1 2,24 - 1 ,95 - 0, 7 9
FoNTE: III a XIV Rece n s e a m e n tos G e ra i s d a População Portuguesa.

A partir d e 1 9 2 0 , os resta ntes n ú cl e os crescem a ritmos su periores aos dos d o i s


mai ores centros e, a partir de 1 960, Lisboa e Porto deixam d e a u m entar. Até 1 99 1 a ca pita l
declina a o ritmo a n u a l d e 0,6 1 % e a cidade I nvi cta praticam ente esta b i l iza ( - 0,0 1 %I a n o) ,
e m b o ra Portuga l conti n u e a evo l u i r positiva m e nte em termos d e m ográficos, beneficiando
as ci d a d es mais p o p u l osas.

18
A EVOLUÇÃO URBA NA EM PORTUGAL NO ÚLTIMO SECULO I 1 8 90- 1 9 9 1 1

Estes resultados corro boram algumas das características aceites como expli cativas
d o processo d e evolução u rbana portuguesa no sécu l o XX, com d esta q u e para o fen ó m e n o
d e b i p o l arização u rb a n a , p r i m e i ro através das c i d a d e s d e L i s b o a e Porto e n a 2 ." m eta d e
da ce ntúria, a larga n d o-se a os concelhos vizi n h os .
A evo l u çã o d a s gra n d es cidades é marcada p e l a progressiva « d o m i nação d e mográ­
fica da capita l , com um período á u reo entre 1 9 3 0 e 1 9 70, embora esbatido n os ú lt i m os a n os,
d evi d o às m u d a n ças ocorridas nas formas d e util ização d o teci d o urba n o (terciarização
do e d i fi c a d o n os bai rros centra is, a u m e n to da percentagem d e p o p u l a çã o p e n d u lar) 11.

N este contexto veri fica-se a e m e rgência d e « ci d a d e s satél ites )) e m torn o d o s d o i s


p n n ci pa i s centros, a l g u m a s das q u a i s se contam h oj e entre as gra n d es c i d a d es d o País
(Q u a d ro VIII)
Antes d e mais i m p orta conh ecer os m a i ores n ú cleos p o p u laci o n a i s e respectiva
situação geográfica. Nos p r i m e i ros a n os d este século Lisboa, Porto e B raga são a i n d a as
ú n i cas cidades com mais d e 2 0 m i l efectivos, em bora seja gra n d e a dispari dade n u mérica
entre cada uma delas. Em 1 9 1 1 j u nta m-se-lhes Setúbal e o Fu n cha l . Esta última manter -se-à
como uma das gra n d e s cidades do País, e m bora suj e i ta a decl í n i os pontuais, d ev i d os à
intensidade dos fl uxos emigratórios que caracteriza m essa Região Autónoma. Em conj u nto
com Ponta Delgada, q u e só em 1 94 0 ultra passa o l i m ite dos 20 m i l h a bita ntes, for m a m
a representação i ns u l a r n o sistema u rb a n o português.
Até 1 9 3 0 o a u m ento dos n ú cleos com maior d i m e nsão é i rregu lar. N essa d a ta
Portuga l poss u i oito n ú cleos com mais de 20 m i l h a b ita ntes. Será a partir de então q u e
se acel era o p ro cesso. D e acordo c o m o s resu ltados do Recenseamento de 1 95 0 s u rgem
q uatro n ovos n ú cleos, acrescidos cada dez a n os por outros q uatro e depois seis e treze.
Entra m os n u m a n ova fas e , marcada pelos efeitos do desenvolvi m e nto econ ó m i c o ,
n o m e a d a m e nte i n d ustri a l , q u e permite acréscimos p o p u l a c i o n a i s m u ito rá p i dos e m
zonas d e m a i o r d i n a m ismo, como os centros urbanos de G u i marães, M atosi n h os e Vila
N ova d e Gaia, a N o rte, e o Barre i ro , A l m a d a , Amadora e M oscavi d e , nas marge n s n orte e
s u l do Tej o , j u nto à ca p i ta l .
Este pan ora m a , q u e a p o nta para a progressiva conce ntra çã o u r b a n a e m torn o d e
Lisboa e Porto, será o fe n ó m e n o marca nte d a s d écadas i m e d i atas. Em 1 9 7 0 , d o s 2 2 c e n ­
t r o s refere n ci a d os com mais d e 2 0 m i l efectivos, d o i s ficam geogra f i c a m e n t e próx i m os
do Po rto e oito de Lisboa, mesmo excl u i n d o as cidades d e Braga , G u i marães, Avei ro e
Setú ba l , p róximas da á rea de i n f l u ê n cia e co n ó m i ca d a q u e l a s cidades.
Nas três últi mas d écadas essa con centração a u m e nta d e i nt e n s i d a d e , como é
patente no Q u a d ro V I I I . Em 1 99 1 , dos 3 9 ce ntros sel ecci o n a d os , c i n co situam-se na á rea
M etropol ita n a d o Porto 1 2 e catorze n a á rea Metropol itana de Lisboa 1 3 A clara s u p eriori­
d a d e da região a dj u n ta à capital é por d e m a i s evi dente.
Ass i m , em termos globais p o d e m os d etectar a existên cia d e três s u bperíodos dis­
t i n tos nas fo rmas d e cresci m e n to dos m a i ores centros u rbanos d o País. Até 1 9 4 0 predo­
m i n a m as cidades tra d i cionais. U m ritmo d e cresci m ento su peri o r a o da p o p u l a çã o global
j ust i f i ca as p ro m oções d e esca l ã o desses centros. E ntre 1 94 0 e 1 9 7 0 , e m b o ra co n t i n u e m
a asce n d e r a este nível a l g u m a s cidades a n t igas, s u rgem n ú cleos d e fo rmação rece n t e ,
q u e sofrem u m p ro cesso d e ascensão m u ito rá p i d o e se local izam na s u a m a i o ri a nas
áreas d e i n fl u ê n cia das duas m a i o res cidades d e Portuga l . Por f i m , e ntre 1 9 7 0 e 1 9 9 1 ,
desa parece m alguns centros p opulac i on ai s d e recente i n co rp o ração, dadas as a l terações
a d m i n istrativas registadas n a estrutu ra das zonas d o m i nadas p o r Lisboa e Porto, agora
n u m a perspectiva de á reas Metro p o l ita n as.

19
TERESA RODRIGUES E MARIA LUiS R OCHA PINTO

QUAD R O V I I I - AS C I D A D E S P O RT U G U ESAS COM M A I S DE 2 0 M i l H A B I TA NTES

CIDADES 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991

Lisboa X X X X X X X X X X X

Porto X X X X X X X X X X X

Braga X X X -
X X X X X X X

Setú bal X X X X X X X X X

Funcha l X -
X X X X X X X

C o i m bra X X X X X X X

Évora X X X X X X

Po nta Delgada X X X X X X

Cov i l h ã X X X X X

Matosi nhos X X X X X

Gaia X X X X X

Barre i ro X X X X X

G u i marã es X X X X

Amadora X X X X

Moscavi d e X X X X

Al mada X X X X

Ave i ro X X X

Fa ro X X X

cova da Piedade X X X

Montij o X X X

O d ivelas X X X

Queluz X X X

Agua lva X X

Algés X X

Algu e i rã o X X

Da m a i a X X

Oeira s X X

caste l o Bra nco X X

Olhão X X

Lara nj e i ra X X

Viseu X X

sacavém X X

Águas Sa ntas X X

Póvoa de Varzim X X

Vila do Conde X X

Baixa da Ba n h e i ra X X

Figu e i ra da Foz X

Caldas da Ra i n h a X

Le i ria X

Mari n h a Grande X

Alverca X

l i n d a -a -Ve l h a X

O l ive i ra do Douro X

Maia X

S.to An t. dos Cava l e i ros X

Gondomar X

Santarém X

To tal 3 3 5 3 6 8 12 16 22 35 39
o/o Total da População 9, 1 1 0, 1 1 1,7 1 1,9 1 3, 9 14,9 1 6, 2 1 7, 7 20,4 23,4 24,5

20
A EVOLUÇÃO URBANA EM PORTUGAL NO ULTIMO SECULO 1 1 8 90- 1 9 9 1 !

A a n á l ise d o peso percentual d a s cidades d e Lisboa e Porto e m relação aos


d e m a is n ú cleos co m p rova esta a f i rmação, e m bora a part i r dos a n o s 6 0 ou 7 0 d e i xe d e
ser i nteiramente correcto fa lar d essas cidades-co n c e l h o , q u e d evem s e r s u bstituídas p e l a
n ova rea l i d a d e da A . M . L . e da A . M . P.
Para ta nto observem -se as rel a ções existentes entre elas e os restantes c e ntros
d e gra n d es d i m e nsões ( Q u a d ro IX). S e exceptuarmos a a lteração veri ficada n o ano de
1 9 3 0 , veri ficamos que o peso percentual d e Lisboa e Porto decresce s e m p re desde 1 9 0 0 ,
d e m o d o p rogressiva m e nte ace l era d o . N e l a s resi d e a q u a s e tota l i d a d e da p o p u lação a
viver em gra n d es centros na vi ragem do sécu l o , em meados do m e s m o cerca de d o i s
terços d o tota l e a penas 4 0 % na actu a l i da d e , o u sej a , 9 , 8 % dos p o rtugu eses.

Q U A D R O I X - P E S O P O P U lA C I O N A l QUE R E P R ES E N TA M AS C I D A D ES D E L I S B OA E PORTO
E M R E LA Ç Ã O AO S RESTA NTES C E NTROS COM MAIS D E 20 MIL H A B I TA N TES (%)

L I S B OA
A N O S O U T RO S
E PORTO

1 8 9 0 ............................................ . 95,5 4,5


1 900 . . 96,0 4,0
191 1 . . . ........... . . . . . . . . . . . . . . 90,3 9, 7
1 9 20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85,7 1 4,3
1 9 3 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 8 7 ,3 1 2, 7
1 940 84,7 1 5,3
1 950 .. 77,3 22,7
1 96 0 . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70, 1 29,9
1 9 70 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1 ,0 3 9 ,0
1 9 8 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 49,4 50,6
1 99 1 . 40,0 60,0
FoNTE: 1 1 1 a XIV Recensea m e n tos Gerais d a Po p u lação Portuguesa.

N o entanto, s e reca l c u l armos estas p erce ntagens e m fu nção das á reas M et ro p o l i ­


ta nas, o u sej a , se agregarmos a o s tota is d e Lisboa e Porto o s n ú cleos urba n os q u e i ntegra m
as suas á reas de i n fl u ê n ci a , o btemos va l o res percentuais m a i s próximos da rea l i d a d e e
q u e re l e m bram as é p ocas de a pogeu de a m bas as cidades.
As d uas crescem d e costas voltadas para o Pa ís e até certo p o n to á s u a custa ,
sobretu d o das zonas do i n teri o r. A transferên cia de efectivos ati nge ritmos i ntensos e
contri b u i para o decresci mento de alguns centros urbanos geografica m e nte mais isolados,
d e q u e G uarda e B raga nça constituem dois exemplos entre outros. Este facto é n otório e m
L i s b o a , o n d e os n ívei s d e fecu n d i d a d e são baixos e n e m s e m p re as gerações se s u bst i ­
t u e m , p e l o q u e o evol u i r p o p u lacional se processa á custa da i m i gração. S e n d o certo q u e
o cresci m e nto u r b a n o é feito s o b retudo através d o ê x o d o r u ra l , n ã o será d e estran h a r
q u e ta m b é m d a s cidades do i nterior se m i gre para Lisboa ou m e s m o Porto , espa ços q u e
parecem oferecer m e l h o res oportu n i dades d e vi d a .
Ass i m s e n d o , veri ficamos q u e o Portugal d o século XX se m a n teve u m espaço
dese q u i l i brado n o que respeita à d i stri b u i ção d e efectivos. A persistência d os fen ó m e n os
m i gratórios e do enve l h eci me nto das estruturas popu lacionais, con d i ci o n a d os pela lentidão
do desenvolvimento econ ómico, foram causa e consequência do fenómeno de desertificação
do i nteri or e da litoral izaçã o , que caracteriza m gra n d e parte do século XX. Este p rocesso
ve i o b e n e f i ciar s o b retudo as á reas urbanas e, de ntro delas, as de m a i o r d i m ensão.

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TERESA RODRIG UES E MARIA LUiS ROCHA PINTO

Assiste-se a i n d a ao fen ó m e n o de b i p o larização d e m ográ f i ca em torno das d u a s


mai ores cidades d o Pais, que coi n cidem c o m o e i x o económico m a i s dinâmico (Lisboa - Porto).
No entanto, m u itas são as d i feren ças entre as duas cidades. A I nvi cta poss u i me no s d e
meta d e d os h a b ita ntes da ca pita l , e m bora recupere nas ú l t i mas d é cadas (4 7 % e m 1 9 0 0 ,
3 9 % e m 1 9 3 0 , 3 8 % e m 1 96 0 e 4 6 % e m 1 9 9 1 ) .
o Porto vive desde s e m p re uma situaçã o de m e n o r i d a d e d e m ográfica fa ce aos
seus conce l h os l i m ítrofes, o q u e n ã o aconteceu e m Lisboa até 1 9 7 0 . N o início d o sécu l o ,
7 3 % da p o p u lação da á rea q u e vi rá a constitu i r a AML v i v i a na c i d a d e - c o n ce l h o , va l o r q u e
i rá regista r u m a q u eda gra d u a l a partir da década d e 4 0 . Em 1 9 7 0 Lisboa a l b e rga m e n os
de metade d os resi d e ntes n essa á rea e h oJ e a cidade pouco m a i s representa q u e u m
q u arto da p o p u lação d a A M L
Apesar d a s muda nças observadas nas últi mas d écadas, a N orte e a S u l , o conj unto
urbano l i derado pelas duas cidades a l berga mais de metade dos portugueses conti n entais
(50,2 %) , p o rq u e a p erda d e efectivos nos centros h i stóricos das c i d a d es foi causada pela
tra n sferê ncia para « fo ra d e p o rtas » dos outrora res i d entes n o seu i n teri o r, mas que a e l a s
cont i n u a m diariam ente a a fl u i r. N u m contexto metropol ita n o , L i s b o a e Porto d o m i n a m o
Pa is actua l .

N O T A S

1 Luis Ba pti sta - « Domi nação d e m ogra f i ca no contexto do século XX po rtugu ê s » , i n Sociologia.
Problemas e Pra ticas n." 1 5 , Lisboa, 1 9 94, p. 5 4 .
2 David J u stino - A Formação do Espaço Económico Nacio nal, vo l. 1 1 , vega, Lisboa, 1 9 8 8 , p. 3 6 6 .

3 L u i s Baptista e Teresa Rod rigues - « D i n â m ica Pop u lacional e Densificação Urba n a : o m u n icípio d e
Lisboa n o s sécu los XIX e X X » , i n I Colóquio Temá tico O Mun icípio d e Lisboa e a Dinâmica Urbana
(Sécu los XVI-XX! , Lisboa, 1 9 9 5 (no prelo).

4 Idem, pp. 4 5 -46.

s Cf Manuel C. Te ixeira - « A h i stória urbana e m Portuga l . Desenvolvimentos recente s » , í n A nálise


Social, vo l . XXVIII ( 1 2 1 ) , 1 9 9 3 ( 2 ."), pp. 3 7 1 - 3 90.

6 «A População de Portuga l - Notas para um estudo da estrutura demografica portuguesa » , i n Boletim


do Banco Nacional Ultramarino n os 7 5 - 7 6 (3." e 4." trim estres), Lisboa, 1 9 6 8 , pp. 2 - 1 1 7 .

7 « Noções operatórias sobre cida d e , população u rbana e popul ação rura l » , in Revista de História
Econó mica e Social n." 1 , Sa da Costa E d . , Lisboa, pp. 1 0 5 - 1 2 8 .
s A. Lopes Vieira, o b . cit. , pp. 1 0 7 - 1 09 e Luis Baptista e Teresa Rod rigues, ob.cit.
9 Ide m , pp. 1 1 7 - 1 1 8.
10 Ana Bela Nunes de A l m e i d a - A rede urbana porwguesa e o moderno crescimento económico,
Prova s compleme ntares d e Do utora m ento, ISEG, Lisboa, 1 9 8 9 .
1 1 Cf Luís Baptista - «Dominação demográfica no con texto do século XX porwguês», e Luís Baptista
e Teresa Rod rigues - «Dinâmica Populacional e Densi[icação Urbana: o m u nicípio de Lisboa n os
séculos XIX e XX».
12 Referi mo-nos a Matosi nhos, G a i a , Oliveira d o Douro, Maia e Gondom ar.
1 3 I n c l u i A l m a d a , Barreiro, A m a d o r a , Moscavi d e , Cova da P i e d a d e , M o n t ij o , O d i ve l a s , Q u e l uz,
Agu a lva -Cacé m , Lara nj e i ra , Algueirão, Santo António dos cava l e i ros, Alverca , Linda-a-Ve l h a .

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