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Giovanni M. Guimarães
Mossoró
2019.
1 INTRODUÇÃO
Desde meados dos anos 90, as TIC’s (Tecnologias de Informações e Computação) veem
dando um salto qualitativo e quantitativo significante proporcionando um novo modo de
comunicação e entretenimento, especialmente fazendo uso do computador e do celular. Mas
isso não é tudo. O futuro mostra um quadro ainda mais surpreendente. Recentemente, li a
conclusão de Raymond Kurzweil sobre o avanço da tecnologia, dizia ele: “Não teremos 100
anos de progresso no século 21, serão mais de 20.000 anos”1 (tradução nossa) (NAIL, 2019).
Todas as épocas têm as suas técnicas próprias que se afirmam como produto e também
como fator de mudança social. Assim, os utensílios de pedra, o domínio do fogo e a linguagem
constituem as tecnologias fundamentais que, para muitos autores, estão indissociavelmente
ligadas ao desenvolvimento da espécie humana há muitos milhares de anos. Hoje em dia, as
tecnologias de informação e comunicação (TIC) representam uma força determinante do
processo de mudança social, para a qual não há retorno. Não voltaremos mais para o mundo
mais simples, mais lento e mais “desconectado”. As facilidades e os encargos da tecnologia
continuarão a penetrar todos os cantos de nossa vida.
Desse modo, surgem (ou ressurgem) hábitos novos que veem sendo fortalecidos
(reforçados) pelo próprio uso constante das TIC’s no dia a dia da população enquanto outros
vem sendo deixados de lado. Não é de admirar, por exemplo, que “o brasileiro passa em média
3 horas e 14 minutos por dia conectado com o celular, segundo indica pesquisa da associação
de marketing móvel MMA realizada pela Millward Brown Brasil e NetQuest e publicada na
Revista Exame” (AMARAL). Outra pesquisa recente aponta que o tempo gasto navegando na
internet supera o tempo gasto assistindo televisão em todo o mundo (Olhar Digital). Chega a
ser difícil acreditar que a internet só tenha cerca de 50 anos.
Acreditando que muitos desses hábitos são prejudiciais à saúde emocional, física e
mental ou mesmo social, o objetivo específico desta pesquisa é apontar respostas para uma
questão crucial no momento: É possível administrar adequadamente a tecnologia para que
ela não prejudique nossa vida?
Penso que um bom lugar para começar a discussão é Provérbios 22:3: “O prudente vê
o mal e esconde-se; mas os simples passam adiante e sofrem a pena” (ALMEIDA, 1968). Eu
particularmente gosto da paráfrase que a Nova Tradução na Linguagem de Hoje faz Provérbios
22:3: “A pessoa sensata vê o perigo e se esconde; mas a insensata vai em frente e acaba mal”
(ALMEIDA, 2000). De acordo com este verso, duas qualidades qualificam uma pessoa como
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“in the next century, we won’t experience 100 years of progress, but 20,000 years”.
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inteligente. Primeiro, ela olha para o caminho e vê os problemas chegando. Pessoas inteligentes
não são ingênuas. As pessoas espertas não procuram problemas, mas podem vê-los no caminho.
Em contraste, o simplório entra cegamente. Ele não é mau ou pecaminoso ou imoral. Apenas é
tolo e não tem bom senso. Penso que neste texto Salomão não esteja falando sobre ser
surpreendido por um problema imprevisto. Acredito que ele está falando sobre uma situação
que poderia e deveria ter sido evitada. Pessoas inteligentes estão atentas ao perigo. Em segundo
lugar, a pessoa inteligente não só discerne problemas, ela se esquiva! Ela faz o ajuste necessário
para sair do caminho do problema. Você não ganha pontos por apenas ver o problema chegando.
Na verdade, você se torna pior do que um simplório se vir o problema e não sair do caminho.
Neste artigo, o objetivo geral é compartilhar como podemos “nos esquivar” alguns dos
problemas que a tecnologia pode nos trazer.
2 DESENVOLVIMENTO
Em seu livro Irresistível: Por que você é viciado em tecnologia e como lidar com ela, Adam
Alter revela a preocupação de alguns especialistas em tecnologia. Por exemplo: até 2010 os
filhos de Steve Jobs nunca haviam usado o iPad. Jobs diz: “Limitamos a tecnologia usada por
nossos filhos em casa”. Seu biógrafo Walter Isaacson, conta que “nunca viu ninguém com um
iPad ou computador (na casa de Steve Jobs). As crianças não pareciam nem um pouco viciadas
em aparelhos”. Chris Anderson, um antigo editor da Wired (uma revista eletrônica americana),
determinava limites de tempo rígidos para o uso de qualquer dispositivo em casa, e isso porque,
segundo ele, “já vimos os perigos da tecnologia em primeira mão”. Seus cinco filhos nunca
tiveram permissão de usar aparelhos com tela em seus quartos. Evan Williams, um dos
fundadores do Blogger e do Twitter, comprava centenas de livros para seus dois filhos pequenos,
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mas se recusava a lhes dar um iPad (ALTER, 2019). Esses especialistas em tecnologia, tinham
bons motivos para se preocupar há quase uma década e esses motivos veem aumentando.
Recentemente a Revista Exame publicou em junho de 2017 que existem 5 bilhões de
usuários de smartphones no mundo (AGRELA, 2017). Esse número deverá continuar subindo
até 2022. As implicações para a vida e para o trabalho são surpreendentes. Mas, uma das
implicações que não é discutida o suficiente é o impacto que a tecnologia tem em nossa vida.
Na maioria das discussões sobre tecnologia, o foco está no conteúdo; as informações e sons e
palavras e imagens que a tecnologia fornece. O meio em si tende a desvanecer-se no pano de
fundo e no centro do palco vai para a multiplicidade de tarefas que este novo gadget pode
realizar. Mas Marshall McLuhan2 nos adverte a não minimizar o impacto da própria tecnologia.
Ele disse que “o meio é a mensagem”. O que é surpreendente nessa afirmação é que McLuhan
a escreveu em 1964. Ele continuou: “As sociedades sempre foram moldadas mais pela natureza
da mídia pela qual os homens se comunicam do que pelo conteúdo da comunicação”
(McLUHAN, 1969). Esse tipo de declaração profética feita há mais de meio século agora está
sendo validada pela neurociência. A neurociência tem sido uma grande ajuda para entender
como a tecnologia está impactando seu cérebro. Pesquisas realizadas nos últimos 20 anos
mostram definitivamente que nosso cérebro está literalmente sendo reprogramado pela
tecnologia. A neurociência nos ajudou a entender que o “cérebro” é muito mais surpreendente
do que imaginávamos. Essa realidade está por trás de um novo termo cunhado por
neurocientistas chamado neuroplasticidade.
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Marshall McLuhan foi um destacado educador, intelectual, filósofo e teórico da comunicação canadense.
Conhecido por vislumbrar a internet quase trinta anos antes de ser inventada. Famoso também por sua máxima
de que O meio é a mensagem e por ter cunhado o termo Aldeia Global. McLuhan foi um pioneiro dos estudos
culturais e no estudo filosófico das transformações sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador
e das telecomunicações.
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Isso significa que o cérebro é muito mais adaptável do que pensávamos inicialmente. A
maravilha do cérebro não é tanto que contém muita fiação como um computador. O cérebro
tem a capacidade de se reprogramar em tempo real, alterando a forma como ele processa e
funciona.
...no cérebro humano existem aproximadamente cem bilhões de neurônios (unidade básica que
processa a informação no cérebro) e, cada um destes pode se conectar a milhares de outros, fazendo
com que os sinais de informação fluam maciçamente em várias direções simultaneamente, as
chamadas conexões neurais ou sinapses” (apud Morales, 2005).
Ainda segundo esses autores, “é graças à esta adaptabilidade dos neurônios que,
quando por exemplo as pessoas ficam cegas, o cérebro pode compensar, aguçando a sensação
de audição e tato” (Ibidem). Mas penso que isso também pode ser uma maldição, no sentido
de que nosso cérebro também pode se reprogramar de algumas maneiras que não são tão úteis.
Muitos de nós, por causa do uso constante das TICs, agora têm cérebros que são literalmente
programados para esperar constante estímulo. Então, todos nós somos profundamente
impactados pelo advento da tecnologia e nosso cérebro está sendo alterado por ela.
Mas o que isso tem a ver com minha vida pessoal? Fico muito feliz por você ter
perguntado isso. O uso constante da tecnologia é um perigo para a nossa vida porquê…
Todos sabemos que nosso mundo está acelerando e há uma demanda cada vez maior por
cada segundo do seu dia. E não sabemos como desacelerar ou como desligar. Onde quer que eu
vá, eu encontro pessoas que estão fatigados e exaustos. Não importa o tamanho da cidade ou a
do trabalho que que realizam. Você não pode viver em velocidade máxima constantemente sem
distorcer sua vida.
O uso excessivo das novas tecnologias de mídia tem sido frequentemente associado, por
exemplo, à distúrbios do sono, e isso porque as pessoas têm o costume de levar consigo seus
gadgets quando vão para a cama, utilizando-os antes de dormir, mantendo-os ligados durante o
sono e, com muita frequência, interrompem o sono para checar as informações que “saltam” na
reluzente tela do aparelho. O uso exacerbado de tecnologias e mídia pode ainda acarretar em
problemas alimentares, agressividade, de comportamentos sexuais e dificuldade acadêmica.
Tempo, espaço e silêncio são amigos para a sua saúde mental. Então, ficar ligado em
gadgets tecnológicos o tempo todo tira a nossa capacidade de diminuir nosso ritmo.
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2. Impacta dramaticamente nossa capacidade de prestar atenção em nós mesmos.
CONCLUSÃO
Essa questão tem implicações enormes para minha capacidade de estar concentrado,
desfrutar de mim mesmo e conhecer-me mais. As palavras do Salmo 46:10 (“Aquietai-vos e
sabei que eu sou Deus”) podem ser a maior acusação para nós na vida. Não admira que
tenhamos problemas com a solidão, o silêncio e a meditação. Devo confessar a você que tenho
uma mente inquieta. Sempre foi um desafio para mim o “ficar quieto”. Toda a minha vida eu
fui levado a ser ativo e produtivo. E meu constante envolvimento com a tecnologia só
amplificou esse problema, entretanto, é possível administrar adequadamente a tecnologia
para que ela não prejudique nossa vida. Então, nos últimos anos tenho trabalhado para
aprender a disciplina do silêncio. Comecei apenas tentando ter alguns minutos de silêncio no
início da manhã. Ficar em silêncio tem sido realmente desafiador. Mas estou gostando dos
resultados que está tendo na minha vida. Eu estou aprendendo como é apenas estar comigo
mesmo no silêncio.
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
McLUHAN, M. O meio são as massagens. Rio de Janeiro: Record, 1969.
CARR, Nicholas. A Geração Superficial - o que a Internet está fazendo com nossos cérebros.
São Paulo, Agir, 2012. p. 114.
BÍBLIA, Português. A Bíblia de Genebra: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João
Ferreira de Almeida. Edição rev. e atualizada no Brasil. Brasília: Sociedade Bíblia do Brasil,
1969.
BÍBLIA, Português. Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH): Brasília: Sociedade Bíblia
do Brasil, 1969.
NAIL, Rob. Singularity University at Ten Years: The Global Grand Challenges, Moffett Field-
CA, 30/09/2018. Disponível em: <https://su.org/blog/singularity-university-at-ten-years-the-
global-grand-challenges/>. Acesso em: 21 fevereiro 2019.
INTERNET deve superar a tv em todo o mundo a partir de 2019 aponta estudo [2019?]
Disponível em <https://olhardigital.com.br/noticia/internet-deve-superar-a-tv-em-todo-
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AMARAL, Bruno. Tecnologia: Brasileiro usa celular por mais de três horas por dia. EXAME,
São Paulo, 16 setembro 2016. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/tecnologia/brasileiro-
usa-celular-por-mais-de-tres-horas-por-dia/>. Acesso em: 21 fevereiro 2019.
AGRELA, Lucas. Tecnologia: 5 bilhões de pessoas têm smartphones. EXAME, São Paulo, 20
junho 2017. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/tecnologia/5-bilhoes-de-pessoas-tem-
smartphones/>. Acesso em: 21 fevereiro 2019.
ALTER, Adam. Irresistível: por que você é viciado em tecnologia e como lidar com ela;
tradução Cássio de Arantes Leite. – 1 ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2018.
MORALES, Rosilene. Educação e neurociências: uma via de mão dupla. UFSCar /ANPED.
GT: Educação Fundamental / n. 13, Caxambú, 2005.