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“Morreu
“ Amou” “ Perdeu-se”
amando”
“ Amou” Introdução;
Capítulo I até ao capítulo IX.
• Simão apaixona-se pela vizinha, Teresa de Albuquerque, filha de um inimigo de seu pai.
• A paixão é descoberta pelo pai de Teresa, que ameaça encerrá-la num convento.
• Tadeu de Albuquerque, para afastar a filha de Simão, planeia casá-la com o seu sobrinho,
Baltasar. Este declara-se à prima, que recusa o seu pedido. O pai da jovem ameaça-a, uma vez
mais, com a clausura do convento.
• Simão, depois de tomar conhecimento da ida de Teresa para Monchique, arquiteta um plano de
fuga para os dois, comunicando-o a Teresa por carta.
“ Perdeu-se” Desenvolvimento;
Capítulo X até ao capítulo XX.
• Teresa informa Simão, através de Mariana, da impossibilidade de fuga, por causa da grande escolta que a
acompanhará, incluindo o primo Baltasar. Simão fica furioso e decide ir ver Teresa à saída do convento. O jovem
interceta a comitiva e, agredido por Baltasar, reage, matando-o a tiro.
• O pai de Simão sabe da sua prisão, mas recusa ajudá-lo. Mariana visita Simão na prisão e informa-o de que Teresa
fora levada para o Porto, desmaiada.
• Teresa definha pouco a pouco, e o pai decide tirá-la do convento, sabendo que Simão será transferido para a
Cadeia da Relação, no Porto. Tadeu apresenta-se para levar a filha, mas esta recusa sair do convento.
• A pena de Simão é comutada em de anos de degredo para a Índia. Mariana informa Simão de que o seguirá para o
degredo.
• Teresa pede por carta a Simão que aceite os dez anos na cadeia, mas Simão responde-lhe ser preferível a morte
para os dois. Teresa, consciente de que perdera Simão e sentindo-se no limite das suas forças, anuncia-lhe a sua
opção: a morte.
• Simão embarca para a Índia com Mariana e puco depois recebe a notícia da morte de Teresa.
• Simão lê a última carta de Teresa e adoece. Nove dias depois morre e, no momento em que o seu corpo é lançado
ao mar.
a indicação de que Simão António Botelho era tio paterno do narrador-autor, cuja história lhe fora
contada por sua tia (Prefácio);
a referência ao «epíteto de “brocas” com que ainda hoje os seus descendentes em Vila Real são
conhecidos» - conferem veracidade à apresentação da personagem Domingos Botelho (Capítulo I);
a relação familiar confirmada pelo apelido de D. Rita, mãe de Simão: Castelo Branco (Capítulo I)
«a criatura mais bem formada das branduras da piedade», ll. 26-27) e solidária com os
desafortunados («amiga de todos os infelizes», l. 28).
Era filho de Domingos José Correia Botelho e de D. Rita Preciosa Caldeirão Castelo
Branco, tendo origem fidalga.
Fisicamente, tinha «estatura ordinária, cara redonda, olhos castanhos, cabelo e barba
preta» (Introdução, ll. 8-9).
Foi preso na Cadeia da Relação do Porto e degredado para a índia em 1807 «por amor»
(Introdução, l. 30).
Encarceramento por amor • Camilo condenado por crime de adultério com Ana Plácido;
• Simão desafia as convenções sociais: apaixona-se por
e rebeldia Teresa; por amor mata o primo de Teresa e é condenado
Ambos estiveram na
• Camilo em 1862
cadeia da Relação do • Simão em 1805
Porto
• O contraste entre social entre Domingos Botelho e D. Rita Preciosa: ele fidalgo de linhagem e ela
filha de um capitão de cavalos, sem qualquer dote, facto ironizado pelo narrador.
• A ironia e a caricatura na apresentação e caracterização dos pais de Simão Botelho:
• na ridicularização dos traços característicos e nos atos de Domingos Botelho e de D. Rita
Preciosa. A comprovar tal facto apresentam-se alguns exemplos: o narrador enfatiza a origem
nobre dos dois membros do casal, para depois apresentar a precária situação financeira de
ambos: a Domingos Botelho faltavam-lhe bens de fortuna, e D. Rita Preciosa «não tinha outro
dote» (l. 22) além da «formosura» e a descendência dos Caldeirões («E não tinha outro dote, se
não é dote uma série de avoengos, uns bispos, outros generais, e entre estes o que morrera
frigido em caldeirão [„.] que os descendentes do general frito se assinaram Caldeirões», ll. 22-
25);
• a caracterização de Domingos Botelho: o “brocas”, o «bacharel flautista», l. 10, o “doutor bexiga”
- que assim era na corte conhecido - para se não desconcertar a discórdia em que andam
rixados o talento e a felicidade». ll.18-20) e de D. Rita: inadequação à província, (ll. 50-54)a sua
soberba e mesquinhez (ll. 87-88);
• a relação conjugal: D. Rita impõe a sua vontade; Domingos Botelho sente-se “pequeno” perante
a altivez da mulher e acha-se feio, enquanto vê D. Rita “cada vez mais em flor e mais enfadada
do trato íntimo” (l. 101), um “viver de sobressaltos” (l. 11)
O herói é um indivíduo que se destaca, a nível social, moral, físico, etc., cuja atuação se pauta pela
afirmação de direitos fundamentais do ser humano - os ideais revolucionários de liberdade, igualdade e
fraternidade.
Características:
• uma figura excecional - superioridade física – “Os quinze anos de Simão têm aparência de vinte. É
forte de compleição; belo homem com as feições de sua mãe, e a corpulência dela; mas de todo
avesso em génio.”
• busca do absoluto, em diversos âmbitos (amoroso, social, estético, etc.);
• vivência de comportamentos de rebeldia;
• enérgico: força anímica na superação (ou tentativa de superação) de barreiras e interdições de vária
ordem – familiares, sociais, morais…;
• idealismo: individualismo e egocentrismo;
• instável: persistência na busca dos ideais; desilusão ou destruição por não alcançar os seus ideais,
• dividido entre as obrigações da sociedade e os impulsos que o fazem revoltar-se contra essas
obrigações.
• O seu irmão Manuel tem-lhe medo, por recear que o seu «génio sanguinário» (l. 7) lhe ponha a vida
em risco;
• a sua mãe, que lhe censura as más companhias, é alvo de troça;
• o seu pai, solidário com a mulher e subserviente à mesma, iguala a sua postura;
• e as irmãs, à exceção da mais nova, têm-lhe medo.
O seu comportamento
os ideias de justiça, em defesa dos mais fracos: Simão, para defender um criado do seu pai que fora
espancado por ter quebrado, inadvertidamente ou não, algumas vasilhas, envolveu-se numa rixa e
partiu todos os cântaros.
O episódio do chafariz aumentou o ego de Simão no que diz respeito à sua valentia, espicaçando-o
perigosamente para novas proezas, numa época em que os ideais da Revolução Francesa se
começavam a disseminar por Coimbra.
Simão Botelho afirma-se como um «herói romântico» por se destacar na luta pela liberdade do ser
humano (ideais jacobinos assumidos publicamente), apresentando comportamentos de rebeldia na
busca desses ideais («convive com os mais famosos perturbadores da academia»; procura
companheiros na plebe; parte em defesa de um criado que fora espancado...).
Simão defende os ideais da liberdade e o poder do povo («a clava do Hércules», l. 76) contra a tirania
que o submete de várias formas (as «mil cabeças» da «hidra», l. 75, fazendo a apologia da violência
como meio de libertação.
O Amor-Paixão
Núcleo da ação.
Sentimento avassalador, febril e egoísta.
Condição que desperta o desejo de vingança e de conservação da honra.
Responsável pela sacralização dos amantes, por aproximação com a paixão de Cristo.
“No espaço de três meses fez-se maravilhosa mudança nos costumes de Simão.
(…)Simão Botelho amava.”
O motivo dessa transfiguração: O AMOR - Simão amava a sua vizinha Teresa de Albuquerque.
Simão:
«Teve tentações de se matar, na impotência de socorrê-la» (L 29);
«Ajuizadamente discorrera ele; que a sua demora agravaria a situação de Teresa» (IL 31-32);
«A ninguém confiava o seu segredo» (L 33).
Teresa:
«para, senhora sua, lhe dar, com o coração, o seu grande património» (L 21-22);
«A apaixonada menina escrevia-lhe a miúdo» (IL 34-35).
Uma trágica decisão: “Eu hei de vê-la antes de partir para Coimbra – disse Simão”
Análise da carta
Simão repudia a resignação ao recusar uma vida sem Teresa a seu lado.
A defesa da honra e os seus sentimentos constituem os valores que norteiam a personagem, que se
revela individualista e egocêntrica na sua decisão de matar o «infame», o «miserável que [lhes]
matou a realidade de tantas esperanças formosas» (IL 59.62).
Quando se degrada a esperança de atingir ideais de facto sempre impalpáveis, o herói romântico tomba na desilusão ou é
conduzido à destruição, exatamente não abdicar desses ideais.
Análise da carta
O amor, para Simão, é viver junto da amada («A minha paixão não se conforma com a desgraça», IL 54-55), por isso
não concebe a vida sem ela («Se tens força para uma agonia lenta, eu não posso com ela», L 57).
O sentido de honra é superior a um amor vivido longe de Teresa («Poderia viver com a paixão infeliz; mas este rancor
sem vingança é um inferno», L 58).
O amor, para ele, só é possível após a morte («teu esposo do Céu, e nunca tirarás de mim os olhos da tua alma». L
61).
A linguagem conotativa associada à morte («o frio da minha sepultura» L 52, «abismo», L 68),
Este é o momento do Amor de Perdição em que a ação atinge o clímax da sua dramaticidade.
Rapidamente tudo se precipita. Baltasar está morto. Simão, preso. Teresa e Simão inelutavelmente
separados.
A concentração da ação é máxima e, como num golpe de teatro, tudo se precipita. Não há explicações;
há movimento, rapidez, ação, diálogo em que as falas vão progressivamente subindo de tom.
Simão encontrava-se cego pela vingança que lhe corroía a alma, estando consciente do ato que se
preparava para cometer. Todas as visões que lhe percorriam o pensamento eram suscitadas por essa
cegueira: Mariana a rezar por si, Teresa a apelar pela sua ajuda (note-se o termo «algozes» a
caracterizar o objeto da sua vingança) e a imagem de Baltasar, o centro do seu ódio («instintivamente
as mãos do académico se asseguravam da posse das pistolas», ll.9-10).
A tensão do encontro entre Simão e Baltasar é visível nas frases curtas («Infame... eu! e porquê?», l.
79; «Infame, e infame assassino!», l. 80), nas frases exclamativas e interrogativas, no vocabulário do
campo lexical do domínio conceptual de «insulto» («infame», «assassino», «parvo», «patife»), a
alternância entre o tratamento por «vós» e «tu» («castigando-o […] que tu podes, l 93), salientando a
pretensa superioridade de Baltasar.
A perdição
Simão reconhece estar perdido há muito, desde a altura em que foi separado de Teresa e desafiado por
Baltasar, sentindo-se ferido na sua honra. Mas, aos olhos das outras personagens, ele teria outras
saídas que não a perdição, sendo este o momento em que tudo se precipita para um desfecho trágico.
Simão deitou tudo a perder.
O definhamento de Simão
Na carta de Teresa, são referidos dois momentos em que ela e Simão sonham um sonho de felicidade, uma idealização,
tentativa irrealista de contrariar o fatalismo que os arrasta para o sofrimento e a morte. São os seguintes: «Estou vendo a
casinha que tu descrevias defronte de Coimbra, cercada de árvores, flores e aves. [...] e, animada por teu sorriso, inclinava a
face ao teu seio, como se fosse ao de minha mãe.»; «me falavas em triunfos e glórias e imortalidade do teu nome. [...] o maior
quinhão dos teus prazeres de espírito queria eu que fosse meu.»
Neste texto, sobretudo na carta de Teresa que quase totalmente o preenche, torna-se claro que o que destrói a vida das duas
personagens é a impossibilidade de viverem o seu amor. Sem o amor que lhes facultaria a realização plena, a vida não existe.
(«E que farias tu da vida sem a tua companheira de martírio?»; «Poderias tu com a desesperança e com a vida, Simão? Eu não
podia.»)
Para o romântico, é na vivência do amor que se encontra o absoluto. Nem a morte vence totalmente o amor, uma vez que a
sua natureza é profundamente espiritual e, desse modo, transcende a materialidade dos corpos. A morte de Teresa e Simão é
para eles um momento de reencontro na eternidade («— A infeliz espera-te noutro mundo, e pede ao Senhor que te resgate.»;
«Adeus! À luz da eternidade parece-me que já te vejo, Simão!»; «mas perdoa à tua esposa do Céu a culpa»).
encontra na morte a concretização do seu amor por Simão, abraçando o seu corpo
para a eternidade, como se o destino lhe reservasse essa graça no final atirando-lhe para
os braços o corpo do amado («que uma onda lhe atirou aos braços», l.188).
Neste texto, está presente a atmosfera do trágico desenlace da vida do herói romântico.
1. Simão Botelho, ao longo de todo o romance, decide e age como um herói romântico. O seu
comportamento diferencia-se do das outras personagens, contrapondo o seu carácter único e
inflexível à normalidade das reações das outras personagens. Assim, o orgulho e a valentia, a
impulsividade e a violência do ciúme, o idealismo e a força do amor-paixão acima de qualquer
ditame da razão, o individualismo e fatalismo, sobressaem em Simão. Na sua qualidade de herói
romântico, revela-se diferente, por um lado, do medo e da sensatez de Mariana e, por outro, do
sentido prático e terra-a-terra de João da Cruz. O conceito de honra por que se move assenta na
fidelidade aos sentimentos autênticos e não aos preceitos e conveniências sociais.
2. O herói romântico, Simão, é um ser que não ouve a voz comum nem se subordina aos seus
ditames. Só se deixa comandar pela força dos seus sentimentos. Assim, é fortemente individualista
e solitário. Neste texto, verificamos que a decisão de Simão de ir a Viseu e estar presente na altura
da saída de Teresa para outro convento no Porto resiste a todos os conselhos e rejeita todos os
avisos e companhias protetoras. Só a noite e a clandestinidade da fuga acompanham a sua fatal
corrida para um destino trágico, ainda assim com a penosa, mas inútil, proximidade de Mariana.
3. Simão Botelho é um «herói romântico» por se destacar na luta pela liberdade do ser humano
(ideais jacobinos assumidos publicamente), apresentando comportamentos de rebeldia na busca
desses ideais («convive com os mais famosos perturbadores da academia»; procura companheiros
na plebe; parte em defesa de um criado que fora espancado...). Destaca-se, também, na busca do
absoluto no âmbito amoroso (Teresa), apresentando força anímica na superação das barreiras e
interdições (revolta-se contra o poder patriarcal: Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque;
elimina o seu rival, Baltasar). Este idealismo de Simão condu-lo a agir sozinho, a centrar-se em si
mesmo (egocentrismo), não aceitando as soluções que a sociedade lhe apresenta, auto-
marginalizando-se (fuga; prisão em Vila Real) por significarem a assunção de uma derrota,
acabando por se destruir física e moralmente e arrastando os outros (Teresa e Mariana) nessa
destruição.
As instituições repressivas:
Família, Igreja e Justiça
2. A prioresa é caracterizada através da ironia como uma mulher algo disforme e animalesca («o
queixo superior escorrendo lágrimas... de simonte», ll. 14-15), contrastando com a descrição que
Mariana faz de Teresa, através de uma comparação que realça a delicadeza e a juventude desta
(«uma menina muito branca, alva como leite», l. 42).
3. A vida no convento e a postura dos seus membros são apresentadas ironicamente, ridicularizando-
se comportamentos. Esta sátira contrasta com a candura, a pureza de Teresa (a representar as
jovens enclausuradas por vontade dos pais, muitas das vezes para lhes repreenderem a conduta),
exaltando-se a injustiça da clausura num antro daqueles, cuja ambiência é apresentada como
perniciosa. Implicitamente, surge uma crítica ao patriarcalismo português, autoritário e intransigente,
principal responsável pela clausura de muitas jovens nestes conventos.
Simão e Teresa
• Nutrem uma profunda aversão um pelo outro;
• apego egoísta e inflexível à honra do sobrenome,
aos brasões (fidalguia ironicamente ridicularizada
Domingos Botelho e
pelo narrador);
Tadeu de Albuquerque
(o antagonismo motivado por • preferem perder os filhos a perder a sua
um preconceito de honra social) dignidade social.
Nota: Domingos Botelho acaba por interceder pelo
seu filho pressionado pela esposa, D. Rita Preciosa.
Oponentes
Opõe-se ao herói pela sua «falta de brios», ou seja,
pelo conjunto de defeitos que o caracterizam:
• presunção;
Baltasar Coutinho • vaidade (incapaz de esquecer o seu orgulho
(os valores sociais instituídos e ferido);
fossilizados) • cinismo;
• perversidade;
• cobardia;
Professor Agostinho Santos
• insensibilidade ao amor. 30
Área disciplinar de português
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição
Simão e Teresa
Apresenta um conjunto de traços que apagam, aos olhos do
leitor, os crimes que comete e que os substituem por uma
honradez e uma bondade inatas:
• o «bom bandido»;
• castiço: linguagem cheia de provérbios e ditados populares;
João da Cruz • dotado de sentimentos de gratidão: protege Simão porque
(o homem do povo) o pai deste o salvou da forca;
• aconselha o jovem com palavras sempre oportunas,
Adjuvantes lúcidas, estratégicas;
• tem atitudes de extrema coragem, e até de violência, para
defender e proteger Simão;
• muito amigo da filha.
Mariana
• Confidente e moderadora de impulsos passionais;
(a anulação perante
• facilita a troca de correspondência entre Simão e Teresa,
o amor de Simão por
assumindo-se como mensageira.
Teresa)
A tríade romântica
A tríade romântica
A tríade romântica
Rende-se à morte.
Personagem romântica: personificação do espírito de sacrifício
Professor Agostinho Santos 34