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Infecções revelam desigualdades entre os sexos

Fortes diferenças entre as respostas imunológicas de homens e mulheres lança enigma médico

Os sistemas imunológicos de
homens e mulheres respondem de
maneiras diferentes à uma
infecção - e cientistas estão
começando a notar. Uma pesquisa
apresentada na semana passada
em um encontro de microbiologia
em Boston, Massachusetts, sugere que essa
diferença pode influenciar o design de
programas de vacinação e levar a
tratamentos de doenças mais específicos.

Pistas de que mulheres e homens lidam de


maneiras diferentes com
infecções existem há algum tempo. Em 1992,
a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou de circulação uma vacina contra sarampo depois que ela foi ligada
a um aumento substancial nas mortes de garotas em testes clínicos no Senegal e Haiti. Ainda não é claro porque
os meninos não foram afetados, mas o incidente foi um dos primeiros exemplos a chamar atenção dos cientistas.

As mulheres talvez tenham desenvolvido uma resposta imunológica particularmente rápida e forte para proteger
fetos em desenvolvimento e recém nascidos, diz Marcus Altfed, um imunologista no Instituto Heinrich Pette em
Hamburgo, na Alemanha. Mas isso tem seu preço: o sistema imunológico pode ter uma super-reação e atacar o
corpo. Isso poderia explicar porque mais mulheres do que homens tendem a desenvolver doenças autoimunes
como esclerose múltipla e lupus.

Ainda assim, poucos estudos avaliam homens e mulheres separadamente, então quaisquer efeitos específicos a
cada sexo são mascarados. E muitos testes clínicos só incluem homens, porque ciclos menstruais e gravidez
podem complicar os resultados. “É um tipo de verdade inconveniente,” diz Linde Meyaard, uma imunologista da
Universidade Centro Médico Utrecht, na Holanda. “As pessoas não querem saber que o que eles estudam em um
sexo é diferente no outro.”

Agora, cientistas estão começando a destrinchar alguns mecanismos precisos. No encontro, a pesquisadora de
doenças infecciosas Katie Flanagan, da Universidade da Tasmânia, na Austrália, reportou sobre uma vacina de
tuberculose dada a crianças gambianas. Ela descobriu que a vacina suprimiu a produção de uma proteína anti-
inflamatória em meninas, mas não em meninos. Isso aumentou as respostas imunológicas das garotas, e talvez
tenha tornado a vacina mais eficiente. Hormônios também possuem um papel nisso. Estrogênio pode ativar
células envolvidas em respostas antivirais, e testosterona podem suprimir inflamações.

Tratar células nasais com componentes similares ao estrogênio antes de as expor ao vírus da gripe revelaram
maiores pistas, diz Sabra Klein, uma endocrinologista da Universidade John Hopkins, em Baltimore, Maryland.
Apenas as células das mulheres responderam aos hormônios e lutaram contra o vírus (J. Peretz et al. Am. J.
Physiol. http://doi.org/bj5w; 2016).

Fatores genéticos também podem guiar como os sexos lidam com infecções. Mayaard estuda uma proteína
chamada TLR7, que detecta vírus e ativa células imunológicas. Codificada por um gene no cromossomo X, a
proteína causa uma resposta imunológica mais forte em mulheres do que em homens (G. Karnam et al. PLoS
Pathogens http://doi.org/bj5x; 2012). Meyaard suspeita que isso ocorre porque ela contorna o processo onde um
dos dois cromossomos X da mulher é desligado para evitar que proteínas sejam expressas demasiadamente.

Um estudo marcado para começar mais tarde neste ano poderia ajudar a destrinchar a relativa influência que
genes e hormônios possuem em infecções. Altfed e seus colegas observarão 40 adultos que serão submetidos à
operações de redesignação sexual. Se hormônios femininos forem responsáveis, as mulheres transgênero do
estudo deveriam começar a mostrar uma resposta imunológica mais forte em relação à infecções e desenvolver
mais problemas auto imunes do que os homens transgênero.

Se esses resultados levarão à maiores mudanças em como drogas são administradas é uma pergunta em aberto.
Em 2014, os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH) anunciaram que pesquisadores devem reportar o sexo
dos animais usados em uma pesquisa pré-clínica. Esforços semelhantes estão acontecendo na Europa. Mas um
relatório de 2015 do Escritório de Prestação de Contas do Governo dos Estados Unidos (GAO) descobriu que o
NIH faz um trabalho ruim no que diz respeito a impor as regras que requerem que testes clínicos incluam ambos
os sexos (veja em go.nature.com/28ll4nb).

De acordo com o GAO, mesmo se os estudos incluírem ambos os sexos, a NIH também não rastreia se os
pesquisadores de fato avaliaram as diferenças entre os participantes. Klein argumenta que reunir tal informação
poderia levar a programas mais eficientes - diminuir pela metade as doses de vacina para mulheres, por exemplo.

“As pessoas estão tendendo a ignorar essa questão pelo maior tempo possível,” diz Flanagan. “As pessoas irão se
surpreender.

Sara Reardon, Revista Nature

Esse artigo foi reproduzido com permissão e foi originalmente publicado na Nature, no dia 21 de junho de 2016.
Iris Moll/ DKFZ

Tecido do coração de um camundongo: os vasos sanguíneos estão assinalados em verde.

Mudanças metabólicas podem enfraquecer


o coração
Uso de carboidratos como principal fonte de energia pode levar a insuficiência cardíaca,
dizem pesquisadores alemães

Nosso coração obtém energia principalmente dos ácidos graxos. No entanto, se alguma
mudança metabólica levar o órgão a optar por outras substâncias como “combustível” favorito
para continuar trabalhando, o resultado pode ser uma insuficiência cardíaca congestiva. É o
que sugere um estudo feito pelo Centro Alemão de Pesquisa Sobre o Câncer (DKFZ) e pelo
Hospital da Universidade de Heidelberg. A descoberta ressalta o papel do metabolismo nos
casos de insuficiência cardíaca. Os resultados também podem contribuir para o uso de certas
drogas para combater o câncer.

Presumindo-se que tudo tenha corrido bem ao longo de sua vida, em termos de saúde, o
coração de uma pessoa saudável com 75 anos de idade terá bombeado quase 180 milhões de
litros de sangue pelo corpo. O órgão bate aproximadamente 100.000 vezes por dia sem
nenhum descanso, para fazer com que oxigênio e outras substâncias vitais percorram o corpo
e alcancem até os menores capilares. No entanto, milhões de pessoas em todo o mundo têm
uma “bomba” cansada: elas sofrem de insuficiência cardíaca, que também é chamada de
insuficiência cardíaca congestiva, e experimentam sintomas como falta de ar, acúmulo
excessivo de fluido aquoso e menor capacidade de exercício. Eventualmente, o problema pode
se revelar fatal.

"Sabe-se há um tempo que a insuficiência cardíaca congestiva é resultado de uma mudança


metabólica," disse Andreas Fischer, da DKFZ. Enquanto corações saudáveis obtém mais de
75% da sua energia de ácidos graxos, corações fracos preferem carboidratos como principal
fonte de energia. No entanto, essa relação também funciona no sentido oposto. Em conjunto
com outros colegas do Centro de Pesquisa bem como do Hospital da Universidade de
Heidelberg, Fischer descobriu que uma mudança do metabolismo que transfira dos ácidos
graxos para os carboidratos o status de principal fonte de energia causa insuficiência cardíaca
congestiva.

A equipe de Fischer identificou uma molécula receptora chamada Notch-1 como a explicação
bioquímica para o efeito. Os investigadores usaram uma terapia com anticorpos que agem
principalmente nas células das paredes dos vasos sanguíneos, para desativar a Notch-1 em
camundongos, bloqueando assim a via de sinalização da parte inferior. Os animais
consequentemente desenvolveram insuficiência cardíaca. Em um experimento posterior, os
pesquisadores usaram uma artimanha genética e criaram camundongos que podiam
especificamente desligar a via do Notch-1 em células endoteliais, que cobrem as superfícies
interiores dos vasos sanguíneos. Novamente, os animais desenvolveram insuficiência cardíaca
em algumas semanas.
"Esse efeito tão claro foi uma surpresa, mesmo para nós" disse Markus Jabs, o primeiro autor
do estudo. Mas há uma explicação: "Para os nutrientes circularem das veias para os músculos
coronários, precisam ser transportados através das células endoteliais." Apesar do transporte
através das paredes dos vasos sanguíneo ter sido estudado, pouco se sabe sobre como ele é
controlado. Os pesquisadores do DKFZ perceberam que o receptor Notch-1 é um componente
chave que no transporte de ácidos graxos do sangue para o tecido muscular cardíaco.

"Com a inibição do Notch-1, o coração tem menos ácidos graxos disponíveis e o órgão muda
sua fonte de energia para a glicose,"diz Jabs. Como resultado, outro caminho de sinalização
chamado mTOR está ativado. Isso causa o crescimento do músculo coronário, o que
eventualmente leva à insuficiência coronária. Em um experimento anterior, constatou-se que
bloquear essa via pode prevenir o desenvolvimento de insuficiência cardíaca em camundongos.
Uma dieta com pouquíssimos carboidratos possui o mesmo efeito.

"No entanto, isso não significa que nós deveriamos cortar completamente os carboidratos da
nossa dieta para prevenir a insuficiência cardíaca," diz Fischer que é um físico e cientista. Ele
está convencido de que uma dieta que contém carboidratos por si só não causa insuficiência
cardíaca congestiva. "Mas os resultados mostram o imenso impacto que uma mudança
metabólica, como transtornos metabólicos hereditários ou adquiridos, tem no desenvolvimento
da insuficiência cardíaca congestiva." Portanto, o time de pesquisa pode ter encontrado um
parâmetro importante no tratamento de insuficiência cardíaca.

Além disso, os resultados relatados pelos pesquisadores DKFZ possuem implicações a longo
prazo na pesquisa do Câncer. O Notch-1 cumpre uma ampla variedade de funções no corpo e
é conhecido por ser um oncogene. As mutações que implicam a sua maior ativação podem
levar ao desenvolvimento e crescimento de tumores

Na teoria, isso faz o caminho de sinalização do Notch um alvo interessante para terapias
cancerígenas. No entanto, em vários ensaios clínicos iniciais utilizando agentes para bloquear
esta via de sinalização, participantes desenvolveram insuficiência cardíaca congestiva. "Nossos
resultados podem explicar este efeito colateral aparentemente surpreendente," disse Fischer.
"Esses agentes devem, portanto, serem usados apenas sob controle cardiológico." Os
cientistas também assumem que dietas especiais ou uma inibição adicional do caminho de
sinalização do mTOR durante o tratamento pode ajudar a prevenir o efeito colateral fatal da
insuficiência cardíaca congestiva.

Centro Alemão de Pesquisa Sobre o Câncer (DKFZ)


Shutterstock

Cérebros pró-sociais são mais propensos à


depressão
Pessoas com fortes sentimentos igualitários sentem desconforto mesmo em situações
onde são beneficiadas
Todos nós gostamos de pensar que ser gentil, responsável e justo nos levará a uma vida feliz.
Mas e se estivermos errados? E se pessoas boas realmente se “dão mal”? Um novo estudo
publicado na revista Nature Human Behavior sugere que aqueles os quais valorizam equidade
econômica são mais propensos a depressão. Aqueles que preferem ter tudo para si tendem a
ser mais felizes.

De acordo com o modelo de “orientação para valores sociais”, seres humanos podem ser
colocados, grosseiramente, em três categorias, tomando-se como base suas reações à
desigualdade econômica: 60% das pessoas são pró-sociais, o que significa que preferem ver
os recursos sendo distribuídos igualmente entre todos; 30% são individualistas, significando
que se preocupam primeiramente com a maximização de seus próprios recursos; e cerca de
10% são competitivos. Para eles, o importante é ter mais do que as outras pessoas.

Em 2010, Masahiko Haruno sugeriu, na revista Nature Neuroscience, que estruturas cerebrais
primárias, como a amígdala, “estão na raiz de uma orientação pró-social”. Seu grupo de
pesquisa descobriu que, quando expostos a desigualdades econômicas, indivíduos pró-sociais
tem uma forte ativação da amígdala, uma região evolutivamente antiga do cérebro associada
com sentimentos automáticos de estresse. Em uma simulação onde outras pessoas recebiam
mais dinheiro do que eles, as amígdalas dos pró-sociais eram ativadas. Quando recebiam mais
dinheiro do que os outros presentes na simulação, havia ativação de suas amígdalas
novamente, sugerindo sentimentos automáticos de estresse ou culpa. Por outro lado, os
individualistas não tiveram forte ativação da amígdala quando eram eles as vítimas da
desigualdade. A amígdala dos individualistas ficou relativamente inalterada quando estes
receberam, injustamente, mais dinheiro do que outras pessoas. Ambos os grupos possuíam
amígdalas sensíveis ao serem vítimas, mas os pró-sociais eram os únicos com sensibilidade
aos casos de desigualdade econômica onde eram beneficiados financeiramente. Eles tinham
amígdalas culpadas.

Em um novo estudo publicado na revista Nature Human Behavior neste mês, o grupo de
Haruno investigou a questão de uma eventual correlação do padrão pró-social de ativação com
sintomas clínicos a longo prazo de depressão. Os pesquisadores examinaram cérebros de
indivíduos pró-sociais e de individualistas utilizando imagens de ressonância magnética
funcional, técnica que permite aos neurocientistas ver quais áreas do cérebro são ativadas em
situações específicas.

Como esperado, os pró-sociais apresentaram alta atividade nas amígdalas quando expostos a
situações nas quais dinheiro estava sendo distribuído desigualmente. Isso acontecia se
recebiam mais dinheiro do que os outros e também quando eram os outros que recebiam mais.
Novamente, os individualistas só apresentaram maior atividade nas amígdalas quando outras
pessoas recebiam mais dinheiro. Uma descoberta adicional no estudo foi que o hipocampo,
outra região cerebral primitiva envolvida com respostas automáticas de estresse, também
mostrou um padrão diferente de atividade entre pró-sociais e individualistas.

Para ver se esses padrões de atividade cerebral estavam associados à depressão, os


pesquisadores utilizaram um questionário comum de depressão chamado Beck Depression
Inventory. Ele mede os sintomas de depressão clínica durante as últimas duas semanas da
pesquisa. O grupo de Haruno descobriu que possuir um padrão pró-social de ativação cerebral
associava-se a mais depressão. Isso se confirmou quando houve uma etapa de
acompanhamento com os participantes um ano depois. Há muito tempo, psiquiatras têm
sugerido que certas características de personalidade, incluindo empatia extrema e uma
propensão a se sentir culpado, estão associadas com o desenvolvimento da doença mental. O
estudo mostrou que essa sensitividade pode estar nas partes mais profundas, primitivas e
automáticas do cérebro.

Então não há mais esperança para os pró-sociais? Mauricio Delgado, neurocientista da


Universidade Rutgers, diz que há. Embora o pró-social médio possa ter uma amígdala sensível
(e também um hipocampo, a outra região cerebral primitiva do estudo ligada a estresse), há
muitas outras regiões de ordem superior do cérebro envolvidas na depressão, incluindo o
córtex pré-frontal, o qual é associado à regulação desses sentimentos automáticos, segundo
Delgado. Tanto ele quanto os autores do estudo ressaltam que pró-sociais podem se beneficiar
de psicoterapia - inclusive terapia cognitiva comportamental - para ensiná-los a ter melhor
controle sobre suas respostas primárias à desigualdade. Quanto mais conseguirem usar o
córtex pré-frontal para inibir o estresse impulsionado pela amígdala, menor poderá ser sua
propensão a terem depressão.

Também é importante observar que os participantes do estudo tinham entre 18 e 26 anos.


Pesquisadores já demonstraram que o córtex pré-frontal não amadurece completamente até
por volta dos 26 anos. Outras pesquisas de Haruno em andamento avaliam se essas
descobertas se aplicam a adultos mais velhos, com córtices pré-frontais totalmente
desenvolvidos. A esperança é que um desenvolvimento mais pleno dessa região proteja
adultos mais velhos da depressão acionada pela desigualdade.

De modo geral, as novas descobertas são ligeiramente desanimadoras para os pró-sociais,


mas elas também podem ser vistas como uma oportunidade. Pró-sociais são inclinados a
experimentar culpa e estresse quando encaram desigualdades econômicas, e isso parece estar
conectado com algumas das estruturas mais profundas e automáticas do cérebro. Contudo, ao
treinarem processos cerebrais de ordem superior como o córtex pré-frontal, pró-sociais podem
aprender a controlar essas emoções e lutar contra a depressão. Através da psicoterapia, uma
pessoa pode ter tudo isso: uma sensibilidade central à desigualdade, a qual pode levar a um
comportamento gentil, e a força para controlar essas emoções e combater a depressão. Os
pró-sociais talvez precisem se esforçar mais para fazer isso, mas estarei torcendo por eles - e
tenho certeza que todos os outros pró-sociais também estarão.

Jack Turban
Fazer exercícios não freia avanço da demência, indica pesquisa
 17 maio 2018

Mais de 300 pessoas praticaram atividades físicas por


quatro meses, mas capacidade cognitiva delas não melhorou com os exercícios

Exercícios físicos para pessoas com sintomas de demência leve ou moderada "não funcionam", de acordo com
estudo publicado na revista acadêmica British Medical Journal.

Os cientistas queriam testar sugestões, feitas por estudos anteriores, de que exercícios poderiam prevenir o
declínio de habilidades cognitivas, como no caso de pacientes com Alzheimer.

Os pesquisadores disseram que não identificaram melhora nas habilidades de raciocínio ou no comportamento
da doença ao analisar os casos de mais de 300 pessoas na casa dos 70 anos que fizeram exercícios aeróbicos e
de força durante quatro meses.

O lado positivo foi que o condicionamento físico dos que participaram da pesquisa melhorou. Mas foi
constatado que, 12 meses depois, as habilidades cognitivas das pessoas que fizeram exercícios tiveram um
declínio levemente maior do que pessoas que não fizeram.

Novos testes devem ser feitos para explorar outras formas de exercícios, dizem os pesquisadores, da
Universidade de Oxford.

Mas, atualmente, a ideia de criar programas de atividades físicas para pacientes com demência, estudada pelo
NHS, o sistema de saúde pública britânico, não parece ser um bom investimento, na avaliação dos
pesquisadores.

Bicicleta e levantamento de peso

No estudo, 329 pacientes com demência fizeram exercícios em uma academia por 60 a 90 minutos duas vezes
por semana, num período de quatro meses.

Eles fizeram pelo menos 20 minutos de bicicleta e também ergueram pesos leves enquanto se erguiam de uma
cadeira.

Os pacientes que participaram do estudo também foram orientados a fazer exercício em casa por uma hora
toda semana.

Esse grupo que fez exercício foi avaliado e comparado com um grupo de 165 pessoas - também com demência -
que receberam cuidados convencionais.
Especialistas acreditam que iniciar um regime de
exercícios uma vez que a doença esteja bem estabelecida pode ter valor limitado

Sallie Lamb, que comandou a pesquisa, disse que os resultados revelaram que apesar da nítida melhora na
condição física, esses benefícios "não se traduzem em melhoras nas habilidades cognitivas, nas atividades da
vida diária, comportamento ou na qualidade de vida relacionada à saúde", disse ela.

Após 12 meses, testes de comprometimento cognitivo mostraram declínio nos dois grupos - mas um declínio
levemente maior no grupo dos que fizeram exercícios.

Martin Rossor, professor de neurologia clínica da University College London, diz que os resultados do estudo
não surpreendem uma vez que a degeneração do cérebro começa muitos anos antes dos sintomas como, por
exemplo, em casos de Alzheimer.

"Portanto, a mensagem é que o exercício é bom, mas iniciar um regime de exercícios uma vez que a doença
esteja bem estabelecida pode ter valor limitado", acrescenta.

Sara Imarisio, que comanda o centro de pesquisas Alzheimer's Research UK, no Reino Unido, diz que outras
formas de atividades físicas poderiam ter outros efeitos e que elas devem ser pesquisadas no futuro.

Atividades físicas também podem ajudar na interação


social

Ela afirma ainda que são muitos os benefícios dos exercícios físicos, além de fazer bem à saúde.

"Para muitas pessoas, o exercício pode ser uma fonte de prazer e proporcionar oportunidades valiosas para
interação social", avalia. "Isso se aplica às pessoas que vivem com demência tanto quanto a qualquer outra
pessoa", completa Imarisio.

Por isso, apesar dos resultados do estudo, especialistas ainda recomendam exercícios físicos, vistos como uma
das melhores maneiras de reduzir o risco de contrair demência em idosos saudáveis. E avaliam que mais
pesquisas são necessárias para elaborar um programa de exercícios que seja realmente eficiente para melhorar
as condições de saúde do cérebro em quem já tem algum tipo de demência.

Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-44152395

Acesso em: 02.01.2019


Dorme menos de 6 horas por noite? Estudo indica que você tem mais chances de ter
problemas de saúde
Edison VeigaDe Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

 14 janeiro 2019
Quem dorme menos de 6 horas por noite tem maior risco de aterosclerose - um
acúmulo de placas nas artérias por todo o corpo, diz pesquisa

Um estudo divulgado nesta segunda-feira (14) pode tirar ainda mais o


sono de quem já dorme pouco. De acordo com os pesquisadores,
quem dorme menos de seis horas por noite tem maior risco de
aterosclerose - um acúmulo de placas nas artérias por todo o corpo -
em comparação com aqueles que têm sono considerado normal, ou
seja, de sete a oito horas por noite.

A pesquisa foi publicada no Journal of American College of Cardiology. Doença vascular crônica e progressiva, que
geralmente aparece em adultos e idosos, a aterosclerose é uma inflamação da camada mais interna das artérias,
também chamada de túnica íntima - justamente a parte que fica em contato direto com o sangue. Essa inflamação
ocorre como consequência do acúmulo e oxidação de lipoproteínas nas paredes arteriais.

"Este é o primeiro estudo a mostrar que o sono objetivamente medido é independentemente associado à
aterosclerose em todo o corpo, não apenas no coração", afirma o professor e nutricionista José Ordovás,
pesquisador do Centro Nacional de Investigações Cardiovasculares Carlos III, de Madri, e diretor de nutrição do
Centro de Pesquisa de Nutrição Humana Jean Mayer USDA Envelhecimento na Universidade Tufts, em
Massachussetts.

Ele lembra que estudos anteriores já mostraram que a falta de sono aumenta o risco de doenças cardiovasculares,
bem como favorecem os fatores de risco para problemas cardíacos - como alterações nos níveis de glicose, pressão
arterial, inflamações e obesidade.

Considerados os fatores de risco tradicionais para doenças cardíacas, o estudo mostrou que os que dormem menos
de seis horas têm 27% mais chance de ter aterosclerose em todo o corpo do que aqueles que dormem de sete a
oito horas. E aqueles que têm um sono de má qualidade estão 34% mais propensos a ter a doença em comparação
aos que dormem bem - o estudo avaliou a qualidade do sono considerando quantas vezes por noite a pessoa
acordou e a frequência de movimentos enquanto estava dormindo.

"Um sono mais curto, porém de boa qualidade, pode superar os efeitos prejudiciais de sua menor extensão", diz
Fuster

"É importante destacar isso: um sono mais curto, porém de boa qualidade, pode superar os efeitos prejudiciais de
sua menor extensão", comenta o cardiologista Valentin Fuster, diretor-geral do Centro Nacional de Investigações
Cardiovasculares Carlos III e editor-chefe do Journal of American College of Cardiology.

"Há duas coisas que costumamos fazer todos os dias: comer e dormir. Sabemos há muitos anos a relação entre boa
nutrição e saúde cardiovascular; no entanto, não sabemos tanto a relação entre o sono e a saúde cardiovascular",
acrescenta Ordovás.

Metodologia

Os pesquisadores monitoraram a rotina de 3.974 adultos espanhóis, todos empregados em uma mesma instituição
bancária - ou seja, com rotinas profissionais semelhantes. O cardiologista Fuster realizou exames de imagem para
detectar a prevalência e as taxas de progressão de lesões vasculares.
Aqueles que têm um sono de má qualidade estão 34% mais propensos a ter
aterosclerose em comparação aos que dormem bem

Os participantes da pesquisa tinham idade média de 46 anos e


todos nunca haviam sido diagnosticados com problemas cardíacos.
Dois terços eram homens. Todos utilizaram um aparelhinho para
monitoramento constante de atividades e movimentos, durante
sete dias. Este dispositivo mediu a rotina de sono deles de uma
maneira objetiva e precisa - ao contrário de pesquisas que se
baseiam em questionários declaratórios.

Eles foram divididos em quatro grupos: os que dormiam menos de seis horas, os que dormiam de seis a sete horas,
os que dormiam de sete a oito horas e os que dormiam mais de oito horas. Todos os participantes realizaram um
check-up do coração: ultrassonografia cardíaca 3D e tomografia computadorizada cardíaca.

Segundo os pesquisadores, a maneira como foram determinados os participantes deste estudo é o grande
diferencial em relação a outras pesquisas relacionando sono e saúde do coração. Primeiramente, pelo tamanho da
amostragem, maior do que o usual. Outra característica interessante foi o fato de que este estudo focou uma
população originalmente saudável, enquanto pesquisas assim costumam selecionar pessoas com apneia do sono
ou outros problemas.

Outras conclusões

Se dormir pouco pode ser ruim, exagerar também não é um bom hábito. Embora entre os participantes fosse
pequeno o número daqueles que dormem mais de oito horas, os pesquisadores concluíram que esse
comportamento também estaria associado ao aumento na aterosclerose, sobretudo no caso das mulheres.
Especialistas dizem que dormir mais de 8 horas de sono por noite também pode ser
prejudicial

O estudo também concluiu que consumo de álcool e cafeína estão ligados


a um sono de má qualidade. "Muitas pessoas acham que o álcool é um
bom indutor de sono, mas há um efeito que precisa ser levado em conta",
afirma Ordovás. "Se uma pessoa toma bebidas alcoólicas, ela pode
acordar depois de um curto período de sono e ter dificuldade em voltar a
dormir. E, quando consegue, geralmente é um sono de má qualidade."

O café, por sua vez, é daquelas substâncias que ora aparecem como vilãs, ora como benéficas para a saúde. De
acordo com Ordovás, mesmo que algumas pesquisas mostrem que ingerir a bebida pode trazer efeitos positivos ao
coração, tudo depende da maneira como a pessoa o metaboliza. "Dependendo da genética, se você metabolizar o
café mais rapidamente, isso certamente não afetará seu sono", comenta. "Mas se você metabolizá-lo lentamente, a
cafeína pode afetar o sono e aumentar as chances de doenças cardiovasculares."

"A medicina está entrando em uma fase fascinante. Se até agora tentávamos entender as doenças
cardiovasculares, estudos como este nos ajuda a começar a entender a saúde cardiovascular", compara Fuster.

Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46870221

Acesso em: 02.02.2019


Beber álcool todo dia reduz expectativa de vida, aponta estudo britânico
Alex TherrienRepórter de Saúde da BBC News

 20 abril 2018
A pesquisa da Universidade de Cambridge analisou 600 mil pessoas e seus
hábitos com álcool

Beber álcool todos os dias pode ser ruim para a saúde e


encurtar a vida, segundo uma pesquisa da Universidade de
Cambridge divulgada pela revista científica The Lancet.

O estudo, feito com 600 mil pessoas, estimou que os


indivíduos que consomem entre 10 e 15 drinques alcoólicos
por semana podem ter a vida encurtada em um a dois anos.
Quem passa desse ponto e consome mais de 18 drinques
por semana pode ter quatro a cinco anos a menos de vida.

No Reino Unido, desde 2016, o sistema de saúde recomenda que as pessoas não bebam mais do que 14 "unidades"
por semana - essa quantidade equivale a sete taças de vinho ou dez latas de cerveja.

Os autores do novo estudo dizem que suas descobertas estão de acordo com as novas recomendações britânicas.
Eles afirmam que não há grandes riscos de saúde para pessoas que bebem pouco.

No levantamento, foram comparadas a saúde e os hábitos de bebida de pessoas em 19 países. Em seguida, os


pesquisadores aplicaram aos dados um modelo de quanto tempo de vida uma pessoa perderia a partir dos 40 anos
de idade se continuasse bebendo da mesma forma que antes.

De acordo com eles, pessoas que bebiam o equivalente a 10 drinques por semana encurtaram suas vidas em até
seis meses.

A pesquisa também afirma que o excesso de bebida aumenta o risco de doenças cardiovasculares. A cada 12,5
unidades de álcool consumidas acima da recomendação máxima do sistema de saúde (ou seja, 12,5 após as 14
unidades semanais), o risco de ter um acidente vascular cerebral (AVC) aumenta em 14%; de hipertensão, 24%; de
ataques cardíacos, 9%, e de aneurisma fatal da aorta, 15%.
Cientistas dizem que beber vinho, mesmo com moderação, não
necessariamente é bom para o coração, como estudos mais antigos
afirmavam

Controvérsias

Beber álcool foi ligado à redução de doenças cardíacas


não fatais em estudos recentes, mas cientistas afirmam
que esse benefício é quase anulado por outras doenças
associadas ao hábito.

Estudos mais antigos sugerem que beber vinho tinto em


quantidades moderadas pode ser bom para o coração, por exemplo, mas alguns cientistas sugerem que esses
benefícios também contestam estes resultados.

Outro estudo dinamarquês afirma que beber três ou quatro vezes por semana pode diminuir o risco de diabetes
tipo 2.

"Essa nova pesquisa deixa claro que, no geral, não há benefícios para a saúde no consumo de álcool", diz Tim Chico,
professor de medicina cardiovascular na Universidade de Sheffield, que não estava envolvido no levantamento
divulgado há duas semanas.
"Embora as doenças cardíacas não fatais sejam menos prováveis em pessoas que bebem, esse benefício é
prejudicado pelo aumento do risco de outras formas de doenças fatais no coração", explica.

Os limites de consumo de álcool recomendados em Itália, Portugal e Espanha são quase 50% maiores que os do
Reino Unido - nos Estados Unidos, esse índice é quase o dobro no caso de homens. O Brasil não tem recomendação
oficial sobre os limites do consumo de álcool.

Mas Victoria Taylor, nutricionista da Fundação Britânica do Coração, instituição que financiou parte do estudo, diz
que esse tipo de recomendação deve ser encarado como um limite e não como um alvo a se alcançar. "O ideal seria
beber bem menos que isso", afirma.

Angela Wood, da Universidade de Cambridge, vai na mesma linha. "A mensagem da pesquisa é a seguinte: se você
já bebe álcool, saiba que beber menos pode ajudá-lo a viver mais e diminuir os riscos de desenvolver várias
doenças graves."

Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-43832017

Acesso em: 02.09.2019

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